Jornadas de Contabilidade: Actas - 1978

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JORNADAS DE CONTABILIDADE

Aveiro —4 a 9 de Dezembro de 1978

ACTAS

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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO


AVEIRO
1 9 7 8
ACTAS
JORNADAS DE CONTABILIDADE
Aveiro —4 a 9 de Dezembro de 1978

ACTAS

UNIVERSIDADE DE AVEIRO

INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO


Publicação subsidiada
pela
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
COMISSÃO DE HONRA

Reitor da Universidade de Aveiro


Governador Civil de Aveiro
Presidente da Câmara Municipal de Aveiro
Comandante Militar
Capitão do Porto de Aveiro

COMISSÃO ORGANIZADORA

Doutor Fernando V. Gonçalves da Silva


Dr. Hernâni O. Carqueja
Dr. Carlos Figueiredo Mota
Dr. Alberto Pimenta
Dr. Rogério Fernandes Ferreira
Dr. Manuel Duarte Baganha
Dr. Joaquim José da Cunha

SECRETÁRIO DAS JORNADAS

Dr. Amílcar B. R. Amorim


1
Objectivos. Organização e Normas
Regulamentares

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1. OBJECTIVOS
A Contabilidade e de um modo geral as técnicas de gestão sofre-
ram nas últimas décadas profundas transformações e avanços. De
tal modo que os contabilistas que obtiveram a sua formação acadé-
mica nos anos quarenta ou mesmo cinquenta deparam hoje na vida
profissional com muitas novidades no domínio das nomenclaturas,
processos de trabalho, estruturas e técnicas. Mesmo os contabilistas
formados em datas mais recentes, como consequência da falta, na
maior parte das escolas, de equipamento e de instalação apropriados,
sentem muitas frustrações e mesmo angústias ao entrar na vida
profissional.
Basta recordar que os computadores, preciosos instrumentos da
vida administrativa são uma conquista dos nossos dias. De notar
ainda que já no nosso século a evolução dos sistemas de processa-
mento de dados, passou dos sistemas de «lápis e papel», como é uso
dizer-se, ao processamento de dados com computador.
Na verdade, as transformações são profundas e rápidas. As má-
quinas contográficas, o próprio cartão perfurado qUe causou justi-
ficada admiração nas nossas juventudes, sem falar nos sistemas clás-
sico ou mesmo centralizador, são já hoje etapas ultrapassadas e têm
valores muito relativos na formação do moderno contabilista.
Também a normalização contabilística, a inflação, as recentes
reformas fiscais de forte incidência nas contabilidades, os critérios
valorimétricos e de amortização, o avanço das nacionalizações e inter-
venções do Estado, a introdução de novos documentos de análise,
como o «cash flow» a «Contabilidade Social» ou de «Recursos Huma-
nos», são outras tantas fontes de problemas para o contabilista, dese-
joso, muito louvavelmente, de tudo acompanhar e de se sentir à von-
tade no seu campo profissional. Isto no plano puramente técnico.
Se, porém, nos detivermos a observar as transformações operadas
no âmbito do ensino da Contabilidade, a nossa perplexidade é também
grande. O número das escolas, a diversidade dos currículos, as suces-
sivas transformações e reconversões, os títulos, o projectado ensino
superior de curta duração, o estatuto e a qualidade dos que ao ensino
da Contabilidade se dedicam são tudo motivos de hesitação e dúvidas.

— 11
E tudo isto a contrastar com o monolitismo das carreiras académicas
de há bem pouco tempo!
Finalmente, se nos voltarmos para a vida associativa dos nossos
técnicos de contas deparamos com mais de uma dezena de associa-
ções profissionais como que a reflectir os variados níveis de prepa-
ração académica, a diversidade de estatutos profissionais e as conse-
quentes preocupações reivindicativas.
É pois a consciência destes problemas que os contabilistas sentem
no dia a dia da sua actividade profissional e a vontade de perma-
nente actualização face às mudanças assinaladas que levou os conta-
bilistas a reunirem-se, para, entre si, dialogarem, trocarem expe-
riências, ouvirem exposições, discutirem métodos.

2. ENTIDADES ORGANIZADORAS

Cremos, pois, que foi em boa hora e com plena justificação que
o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro tomou
a iniciativa de, em Junho de 1978, propor a realização das JOR-
NADAS.
Compreendendo o interesse de tal proposta, personalidades de
relevo nos domínios da Contabilidade e da Gestão aderiram à ideia
com entusiasmo.
Foi, por isso, fácil criar a Comissão Organizadora.
Esta Comissão foi assim constituída: Doutores Fernando V. Gon-
çalves da Silva, Hernâni O. Carqueja, Carlos Figueiredo Mota, Al-
berto Pimenta, Rogério Fernandes Ferreira, Manuel Duarte Baganha,
Joaquim José da Cunha.
Mas não só no âmbito de professores, tratadistas e profissionais
da Contabilidade e da Gestão a ideia mereceu apoio. Também a Rei-
toria da Universidade, o Governo Civil, a Câmara Municipal, a Capi-
tania e as autoridades militares de Aveiro, reconheceram que tal
iniciativa era susceptível de valorizar o nosso ensino, a nossa região
e os profissionais participantes.
Aderiram por isso a uma Comissão de Honra e são credores do
nosso agradecimento.
O Ministério da Educação e Investigação Científica compreen-
dendo também os nossos objectivos concedeu um subsídio sem o que
não seria possível pôr em funcionamento o indispensável SECRETA-
RIADO, suporte administrativo de qualquer iniciativa deste tipo.

3. PROGRAMA CIENTÍFICO

O programa científico realizado de 4 a 7 de Dezembro de 1978


começou com uma sessão plenária de abertura às 15 horas do dia 4.

12 —
As comunicações para as sessões de trabalho distribuiram-se pelas
seguintes SECÇÕES ou MESAS:
l.a Mesa: A Contabilidade das Empresas Públicas e Coope-
rativas
2.a Mesa: A Contabilidade das P. M. E.
3.a Mesa: A Contabilidade e a Inflação
4.a Mesa: A Contabilidade e a Gestão dos Recursos Humanos
5.a Mesa: A Contabilidade e o Fisco
6.a Mesa: A Contabilidade e a Informática
7.a Mesa: Apreciação e Revisão de Contas
8.a Mesa: História, Metodologia e Didáctica da Contabilidade
9.a Mesa: Outros Temas de Contabilidade e Gestão.
As comunicações apresentadas e os nomes que as subscrevem
dizem do alto nível científico e técnico das JORNADAS.

4. EXPOSIÇÃO DE COMPUTADORES

Firmas importadoras de equipamento diverso e de computadores


enriqueceram o programa científico com demonstrações práticas sobre
a utilização das suas marcas.
Para tal organizou-se Uma exposição daquele material onde se
apresentaram os modelos mais avançados.

5. EXPOSIÇÃO BIBLIOGRÁFICA

No sentido de proporcionar aos participantes o contacto com as


novidades bibliográficas de origem francesa, inglesa e espanhola, nos
campos temáticos da contabilidade e da gestão, a «Association Fran-
çaise pour da Diffusion du Livre» em colaboração com a Livraria
ASA, do Porto, organizou uma exposição de livros patente durante a
semana das JORNADAS na sala da BIBLIOTECA do Instituto Supe-
rior de Contabilidade e Administração de Aveiro.

6. PROGRAMA SOCIAL

Como é tradicional em congressos, as JORNADAS terminaram


com um programa social que incluiu um almoço de confraterniza-
ção, visita ao museu, à fábrica da Vista Alegre, passeio na Ria de
Aveiro, etc.

— 13
7. REGULAMENTO
No sentido de fixar em articulado as normas de organização das
JORNADAS elaborou-se um Regulamento que a seguir se trans-
creve:

REGULAMENTO
1. ORGANIZAÇÃO
1.1. (Constituição e objecto)

Com a designação de JORNADAS DE CONTABILIDADE vão de-


correr em Aveiro, de 4 a 8 de Dezembro de 1978, uma série de ses-
sões de trabalho com vista à promoção técnica e científica da Con-
tabilidade e das ciências afins. As Jornadas têm objectivos exclusiva-
mente científicos e técnicos e visam exprimir um interesse profissional
pelos mais actuais problemas do País no âmbito da Contabilidade.

1.2. (Entidade organizadora)


A iniciativa é do Instituto Superior de Contabilidade e Adminis-
tração de Aveiro e tem o patrocínio do MEC, da Universidade e do
Governo Civil da mesma cidade, dispondo de um SECRETARIADO
na Rua João Mendonça, 17-2.°, em Aveiro, com o telefone 27177.

1.3. (Órgãos das Jornadas)


A orientação superior dos trabalhos compete a uma Comissão
Organizadora apoiada administrativamente num Secretariado. Po-
derá haver também uma Comissão de Honra.

2. TEMÁTICA
2.1. (Secções ou Mesas)

Para reflexão e debate das comunicações, as JORNADAS com-


preendem 9 Secções ou Mesas, assim, designadas:

1." Mesa: A Contabilidade das Empresas Públicas e Coope-


rativas

14 —
2.a Mesa: A Contabilidade das P. M. E.
3.a Mesa: A Contabilidade e a Inflação
4.a Mesa: A Contabilidade e a Gestão dos Recursos Humanos
5.a Mesa: A Contabilidade e o Fisco
6.a Mesa: A Contabilidade e a Informática
7.a Mesa: Apreciação e Revisão de Contas
8.a Mesa: História, Metodologia e Didáctica da Contabilidade
9.a Mesa: Outros Temas de Contabilidade e Gestão.
§ único. Se o número de comunicações o vier a justificar poderá
a Comissão Organizadora criar mais Secções ou Mesas ou desdobrar
em Subsecções as Mesas aqui previstas.

3. PARTICIPANTES
3.1. (Condições de participação)
Participam nas JORNADAS as pessoas que se inscreveram até
ao dia 30 de Novembro indicando por escrito (no boletim de inscrição)
o nome completo, morada, profissão, nacionalidade e grau acadé-
mico.
3.2. (Preço da inscrição)

O preço de cada inscrição é de Esc. 300$00, que devem ser reme-


tidos juntamente com o boletim de inscrição e sem os quais esta não
é válida.
Os participantes que apresentem comunicações estão isentos do
pagamento da inscrição.

3.3. (Despesas dos participantes)

Todas as despesas de transporte e alojamento são por conta dos


participantes.
No entanto, o Secretariado recebe pedidos de reserva de aloja-
mento até 15 de Novembro de 1978.

4. COMUNICAÇÕES
4.1. (Resumo das comunicações)
Das comunicações a apresentar deverá ser feito um. resumo que
não exceda duas páginas dactilografadas a enviar ao SECRETA-

— 15
RIADO até ao dia 15 de Novembro. O SECRETARIADO não se
responsabiliza pela distribuição das comunicações nem assegura a
sua integração nos planos das sessões dos textos que lhe sejam
entregues depois dessa data.

4.2. (Apresentação gráfica das comunicações)

É obrigatória a subordinação das comunicações às seguintes ca-


racterísticas de apresentação gráfica: dactilografadas em forma de-
finitiva, só de um latío do papel, a espaço e meio, em folhas
brancas A4, com todas as margens de 2 cm. (Esta medida visa faci-
litar a duplicação das comunicações e uniformizar o seu aspecto
gráfico).

4.3. (Aceitação das comunicações)

A admissão das comunicações é da competência da Comissão


Organizadora.
4.4. (Discussão das comunicações)

Só serão discutidas as comunicações cujos autores estejam pre-


sentes e a discussão far-se-á sobre os resumos que serão distri-
buídos por todos os congressistas até 15 dias antes do início das
JORNADAS.

4.5. (Da distribuição das comunicações)

A distribuição das comunicações pelas diversas Sessões de Tra-


balho de cada Secção será feita pelo Secretariado e encontrar-se-á
descrita no Programa com indicação da data, hora e local em que as
comunicações deverão ser apresentadas.

4.6. (Da interpretação)


Para que a tradução se efectue com a maior fidelidade os dele-
gados estrangeiros que apresentem comunicações devem proceder à
entrega do texto integral da sua comunicação no SECRETARIADO a
partir da abertura da reunião.

4.7. (Da projecção)


Também deverão ser entregues no SECRETARIADO os diaposi-
tivos que estejam de acordo com os formatos indicados, e cujos titu-
lares pretendam projectá-los no decurso das sessões de trabalho.

16 —
§ único. Os diapositivos que não forem entregues, o mais tardar,
até às 9 horas do dia da sua pretendida utilização, não poderão ser
projectados.

5. TIPOS DE SESSÕES
5.1. (Sessões plenárias e sessões de trabalho)

As JORNADAS funcionarão em sessões plenárias e sessões de


trabalho.
Nas plenárias serão feitas comunicações sobre temas escolhidos
pela Comissão Organizadora de entre as matérias abrangidas pelas
secções por individualidades convidadas pela mesma Comissão. Nas
sessões de trabalho discutir-se-ão as comunicações apresentadas pelos
participantes.

5.2. (Das sessões)

Cada uma das Secções ou Mesas acima designadas tem um deter-


minado número de Sessões de Trabalho no decurso das quais serão
apresentadas e discutidas as comunicações de que tenham sido en-
viadas ao SECRETARIADO os respectivos resumos.

5.3. (Da apresentação e discussão)

As Sessões de Trabalho terão uma duração de três horas. A apre-


sentação de cada comunicação não deverá exceder 30 minutos, po-
dendo ser seguida de uma discussão de 30 minutos.
§ único. Só serão discutidas as comunicações cujos autores este-
jam presentes.

6. SESSÕES E REUNIÕES
6.1. (Do presidente das sessões)

Cada uma das sessões de trabalho será dirigida por um Presi-


dente a quem compete orientar a apresentação e a discussão das
comunicações e zelar pelo cumprimento dos períodos estabelecidos
para essa apresentação e discussão.

6.2. (Atribuições dos presidentes)


Os presidentes das Sessões podem usar da palavra sempre que
o desejem e devem estabelecer as interrupções de sessão que jul-
guem convenientes e úteis ao bom andamento dos trabalhos.

2 — 17
6.3. (Nomeação dos presidentes)

A designação dos Presidentes para as diversas Sessões é da


competência da Comissão Organizadora que elaborará a relação das
entidades convidadas para aquela função e indicará as Sessões de
Trabalho a que cada uma delas presidirá.

6.4. (Secretários das secções)

Cada Secção terá um Secretário que é o responsável pelo cum-


primento do plano estabelecido no Programa para a Secção que
secretaria.

6.5. (Atribuições dos secretários das secções)

No exercício das suas funções compete ao Secretário, de modo


especial :

a) Dar indicações ao Presidente sobre a ordem de apresentação


das comunicações;
b) Verificar se tanto a apresentação como a discussão das comu-
nicações se processa dentro dos períodos de tempo previsto neste
regulamento ;
c) Efectuar a chamada dos autores das comunicações pela ordem
prevista no Programa;
d) Elaborar a acta da Sessão de Trabalho;
e) Estabelecer a ligação entre a Secção que secretaria e a
Comissão Organizadora e
f) Comunicar ao Presidente que as transmitirá aos participantes
todas as indicações que a Comissão Organizadora faça sobre o Pro-
grama, científico ou social.
§ único. Na primeira Sessão d e trabalho de cada Secção, o
SECRETÁRIO deverá proceder à leitura das principais normas cons-
tantes deste regulamento.

6.6. (Relatório da secção)

Cada Secção elabora um relatório dos trabalhos e formulará a


Acta da Secção.

18 —
7. CONCLUSÕES E ACTAS
7.1. (Conclusões gerais das Jornadas)
Com base nos relatos das Secções, a Comissão Organizadora
elaborará a acta final que poderá ser apresentada na última Sessão
Plenária.

7.2. (Actas)

Todos os participantes têm direito a que lhes seja reservado um


exemplar das «ACTAS das JORNADAS», qUe serão publicadas no mais
curto prazo possível.
A inscrição para efeito de reserva e posterior remessa está
aberta no SECRETARIADO ao preço de 100$00 por participante.
As «ACTAS» incluem além das comunicações (ou resumos) a
relação nominal dos participantes nas JORNADAS.

7.3. (Conhecimento das normas)

Estas normas, devem ser enviadas aos participantes da reunião,


pelo menos, duas semanas antes da realização das Jornadas.

8. CALENDÁRIO DAS ACTIVIDADES


Tanto o programa científico como o programa social cumpri-
ram-se segundo o calendário/horário anexo.

9. CARTAZ

Com o objectivo de divulgar as JORNADAS entre as escolas


e os profissionais, fez-se um cartaz alusivo à iniciativa que se
distribuiu não só pelo País mas também pelo Brasil, Espanha
e França.
Dele se fez uma edição de 500 exemplares, a três cores.

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21
Sessão de Abertura

Presidida pelo Secretário de Estado do Ensino


Superior e Investigação Científica, Prof. Arantes e
Oliveira, com a presença na Mesa do Reitor da
Universidade de Aveiro, Prof. Doutor José Ernesto
Mesquita Rodrigues, Governador Civil de Aveiro,
Dr. Costa e Melo, presidente da Câmara Municipal
de Aveiro, Dr. Girão Pereira, Comandante Militar,
Capitão do Porto de Aveiro, Prof. Doutor Fernando
V. Gonçalves da Silva, Doutor Hernâni 0. Car-
queja, Doutor Carlos Figueiredo Mota, Doutor Joa-
quim José da Cunha e o Secretário das Jornadas,
Dr. Amílcar Amorim.
Discurso do presidente do Conselho
Directivo do ISCAA, Dr. Joaquim
José da Cunha

Senhor Secretário de Estado


Senhor Governador Civil
Senhor Reitor
Autoridades
Comissão de Honra
Comissão Organizadora
Congressistas
Senhoras, Senhores:

0.1. Dirigirei palavras breves, profundamente sentidas, deixando ao


Muito Ilustre Prof. Gonçalves da Silva a saudação que em nome
da Comissão Organizadora dirigirá aos Congressistas. Seja-me
no entanto permitido dizer que ao falar neste momento, sinto
regozijo, pelo que as Jornadas representam: As l. as Jornadas
de Contabilidade em Portugal, embora seja de justiça realçar
que em 1937 a Sociedade Portuguesa de Contabilidade realizou
a sua l. a Semana de Contabilidade.
Patrocinadas pelo Ministério e pelo Instituto em seu aspecto
material e científico, e pelas demais organizações sociais no
aspecto científico, e, com tanto entusiasmo por todos os órgãos
participantes, bem demonstram que o País, bem necessitado
anda, da discussão de problemas de contabilidade, e discussão
em seu termo pleno onde os temas sejam debatidos com
energia por via científica e onde nunca caiba a animosidade
pessoal.

0.2. Senhor Secretário de Estado, a sua presença aqui significa que


também o Governo é sensível aos grandes problemas das Esco-
las. Bem haja pela sua vinda e tenho a certeza de que ela

— 25
veio trazer a estas Jornadas o lustro que lhes faltava para que
o seu brilho jamais se apague.
Não é este o momento oportuno, para falarmos em Licen-
ciatura em Contabilidade. Fique Vossa Excelência descansado
que não será esta a hora nem este o local mais apropriado a
esta discussão.
Esperamos de V. Ex.a não aquele passo apressado que con-
duz a soluções mal pensadas, mas também não esperamos
aquele passo lento que conduz a soluções sem interesse no
tempo. A licenciatura em, Contabilidade por inexistente em
Portugal a este nível, é lacuna imperdoável. Parece-nos incon-
testável que ela tem de existir. Para tal, dê-se forma à comissão
a que se refere o art. 4.° do Decreto Lei n,° 327/76 ou então
haja coragem de a revogar.
Advoga-se muito que a licenciatura em Contabilidade pri-
vará o país de técnicos ao nível dos que agora forma o Instituto.
Nada mais errado pensamos nós. As escolas, a par da Licen-
ciatura poderão leccionar um curriculum profissional de nível
superior.
O que nós nos recusamos a fazer, é a limitação do pensar
em nome do fazer e sempre minhas senhoras e senhores, toda
a prática se torna estéril quando não fecundada por uma teoria
e, igualmente sempre se fecha toda a acção quando não alimen-
tada pelo labor espiritual.
Daqui, Senhor Secretário de Estado, teremos de concluir
que encurtar horizontes e a sua actividade desinteressada é
encasular a própria acção.
Trabalhamos afincada e desinteressadamente. Somos dos
poucos que acreditamos e defendemos a licenciatura em Conta-
bilidade, à custa da potenciação de bens físicos e humanos e
este nosso pensamento é como o fogo:
Só cresce, ardendo e comunicando-se.
0.3. Senhor Reitor, Magnífico Reitor da Universidade de Aveiro.
Seja-me permitido por V. Ex.a deixar o título honorífico e, dar
mais largas às minhas palavras, usando o título para mim mais
adequado:

Querido Reitor:
É esta uma Escola da sua Universidade. Que os demais
Institutos sigam o nosso caminho. O documento que permite
uma integração autêntica está elaborado. Todos, Escolas e
Governo têm dele conhecimento. É urgente dar-lhe força de
lei, e, se os demais Institutos quiserem, seguir o nosso exemplo,

26 —
melhor, não para nosso orgulho, mas para bem do Ensino Supe-
rior. Fique V. Ex.a tranquilo que perante tantos e tão bons
congressistas escreve o Instituto mais uma página grande na
sua curta existência e não desmerecerá a instituição a que per-
tence.

Srs. Congressistas:

0 Instituto Superior de Contabilidade de Aveiro, pequeno em


instalações físicas, tem dentro dele uma alma grande. Estas
Jornadas, as l.as Jornadas Portuguesas de Contabilidade permi-
tem o encontro de tantas e variadas gentes, ligadas aos sectores
da Contabilidade. Que estes dias, que vão ser de trabalho
intensivo vos una se possível ainda mais. Srs. Congressistas,
o Instituto deixa aqui um apelo:
Façam por favor, destas Jornadas, umas Jornadas de saber
e erudição, de tal forma que, aumentando os valores sociais
aumentem também a possibilidade de erguer mais alto o nível
de cada um dos valores individuais em particular e das Escolas
em geral.
Bem hajam igualmente pela vossa presença.

Da Organização das Jornadas


Senhor Secretário de Estado
Senhor Governador Civil
Senhor Reitor
Autoridades, Congressistas:

Encontrarão, V. Ex.as por certo muitos defeitos de organi-


zação.
Mas posso afirmar-vos que o Instituto empenhou nela
o melhor do seu saber, e, ao cometer a ousadia de pedir com-
preensão para as nossas falhas, não deixarei igualmente de
lembrar que a técnica organizativa provém de aprendizagem e
da experiência e importa claramente, certa especialização. Não
se nos peça aquilo que de momento ainda não podemos dar,
mas igualmente não se pense nunca em negar-nos aquilo que
já podemos oferecer.
Não irão V. Ex.as encontrar as comunicações policopiadas
e distribuídas a não ser que o apresentador claramente nos peça
e porquê?
Porque à nossa frente se apresentaram duas alternativas:
ou gastávamos as nossas escassas verbas em distribuições soltas

— 27
policopiadas ou fazíamos uma brochura colectânea dos trabalhos
que nos dignificasse a nós e às Jornadas. Escolhemos a
segunda via.
Serão pois publicados todos os trabalhos e dos debates
aqueles que na verdade representem progresso para a ciência.

0.6. A terminar, quero mais uma vez, em nome do Instituto envolver


num agradecimento sincero todos os congressistas, e neste agra-
decimento permitirão V. Ex. as que dirija uma palavra muito
amiga aos professores brasileiros que quiseram estar presentes
com trabalhos enviados e que serão lidos em altura própria,
e ao Professor Pena da Universidade de Madrid ele mesmo aqui
presente, o que muito nos honra e desvanece. Seria ingratidão
da nossa parte, esquecer o secretariado das Jornadas, que num
coleccionar de desaires e alegrias conseguiu dar realidade e
forma a um sonho que de esbatido passou à realidade da hora
que hoje vivemos. Não esqueço ainda o trabalho desenvolvido
pelo pessoal do Instituto, que ficando escondido na modéstia
do anonimato mais realça o valor de pessoal trabalhador.
Senhor Secretário de Estado, representantes dos demais
Institutos, Congressistas, termino comi uma proposta e um pedido:
A minha proposta vai para que no próximo ano, outra
Escola, tome sobre si o encargo da organização das Jornadas,
até que estas voltem a Aveiro em rotação cíclica. Deixem-me
sonhar alto mas um, dia virá, em que as Jornadas possam ser
«Ibéricas de Contabilidade» e nisto o Professor Pena pode dar
uma ajuda.
O pedido, Senhor Secretário de Estado, é no sentido de que
o Governo continue a dar o seu apoio financeiro a empreendi-
mentos de tanta valia.
Encerro com uma palavra de muito agradecimento aos
Órgãos de Comunicação Social.

28 —
Discurso do Prof. Doutor Fernando
V. Gonçalves da Silva, membro da
Comissão Organizadora das Jornadas

Ex.mo Senhor Secretário de Estado


Exmos Senhores Membros da Comissão de Honra
Prezados Colegas:

1. A presença de V. Ex.a Senhor Secretário de Estado nesta sessão


inaugural nas JORNADAS DE CONTABILIDADE, enche-nos de
júbilo e de gratidão.
De júbilo porque é sinal de bom augúrio. Prova a consi-
deração do Governo pelos profissionais da Contabilidade e a
importância que atribui ao papel que lhes cumpre desempenhar
na sociedade Portuguesa.
De gratidão porque tendo como todos os governantes uma
sobrecarregada agenda de trabalhos, V. Ex.a houve por bem consa-
grar-nos, gastar connosco, todo um dia do seu precioso tempo.
A Comissão Organizadora, certa de interpretar o sentir de
toda a classe, apresenta a V. Ex.a respeitosos cumprimentos e
pede-lhe aceite os protestos do seu fundo reconhecimento.

2. Sobremaneira nos desvanece também que estas Jornadas de


Contabilidade se realizem com o patrocínio de tão destacadas
personagens do distrito e de todos nos confessamos muito gratos
pela honra que nos deram e que confere a este nosso congresso
um significado que, de contrário, não teria.
Muito nos regozija ainda que todas as associações de técnicos
de contas e todas as revistas de contabilidade aqui estejam repre-
sentadas, que dos mais diversos pontos do país nos tenham
remetido comunicações e que tantos aqui tenham vindo prestar-nos
a sua colaboração.

— 29
Especiais saudações e agradecimentos cumpre endereçar ao
noss© prestigioso confrade espanhol Prof. Enrique Fernandez
Pena que de tão longe veio visitar-nos e cuja participação nas
Jornadas nos vai ser, decerto muito proveitosa.
Pena temos que a escassez de recursos financeiros e outras
circunstâncias obstassem à vinda de colegas de outras naciona-
lidades e, nomeadamente, do Brasil e dos demais países de expres-
são portuguesa.
A Comissão Organizadora apresenta a todos os que efectiva-
mente aqui se encontram os mais sinceros e calorosos cumpri-
mentos de boas vindas.
Faz votos por que ninguém dê por mal empregado o tempo
que as Jornadas lhe vão tomar.
Está certa de que o trabalho das várias secções vai ser
profícuo e que a possível divergência de opiniões dos que inter-
vierem nos debates em nada afectará a boa camaradagem que
estas Jornadas se destinam precisamente a fomentar.
Espera e deseja, em suma, que estes dias de convívio e troca
de impressões nos tornem mais conscientes das nossas próprias
forças, reforcem a nossa união, despertem ou avivem o propósito
de, juntos, trabalharmos pela valorização, dignificação e prestígio
da classe — classe que, neste país de poetas e retóricos, ainda
não goza da consideração a que tem jus e que, mercê de várias
circunstâncias, ainda lhe não presta os serviços que podia e devia
prestar-lhe.

3. Os problemas básicos dos Contabilistas portugueses são, desde


sempre, o da sua preparação escolar e o da sua organização pro-
fissional.
Ambos se encontram, felizmente, bem encaminhados. Mas
para que a solução dos mesmos seja a mais consentânea com os
interesses da classe e as conveniências da Nação há que promo-
ver debates e realizar inquéritos que habilitem os contabilistas
a enunciarem com precisão as suas próprias aspirações e que
habilitem os governantes a legislarem com conhecimento de causa.

4. Quanto à preparação dos técnicos de contas de que o país precisa,


está bem de ver que ela depende não só no número de escolas,
das suas instalações e equipamento, da organização e duração
dos cursos etc, mas também e principalmente da competência e
diligência dos mestres.
Tenham estes vocação e talante de bem servir, acompanhem
eles os progressos das suas disciplinas e as alterações do ambiente
económico e social em que labutam os contabilistas, estejam eles

30 —
firmemente decididos a não diplomar ignorantes — e tudo ou quase
tudo virá por acréscimo.
As condições em que actualmente funcionam alguns dos
nossos estabelecimentos de ensino são, todos o sabem, pouco
estimulantes para os que neles leccionam.
É, todavia de esperar que à agitação suceda, a acalmia.
Entrementes, bom será que os mestres sigam o exemplo daquele
provecto lavrador que avisado e convencido de que o Mundo aca-
baria no dia seguinte continuou serenamente a plantar as suas
macieiras.

5. A realização deste encontro deve-se ao Instituto Superior da


Contabilidade e Administração de Aveiro. Tal iniciativa bem pode
qualificar-se de feliz e oportuna. É tanto mais de realçar quanto
é certo que nem todas as escolas técnicas procuram: conviver,
colaborar, com as profissões correspondentes e que nem todas
parecem reconhecer que a ciência tem de ser comprovada pelos
factos.
A contabilidade é uma disciplina essencialmente concreta,
normativa e utilitária, mas disciplina de finalidade prática ime-
diata cujo perfeito domínio pressupõe adequada preparação
teórica mas exige longo contacto com as realidades.
Os conhecimentos adquiridos na escola têm de ser reforçados,
completados, pelo saber de experiências feito, pelas informações
que só no exercício da profissão, na prática do ofício, se logram
alcançar.
O valor dos técnicos — nunca é demais repeti-lo — mede-se
pelos serviços que efectivamente prestam e não pelos diplomas
que ostentam. Saber é saber fazer.
Enunciar problemas é uma coisa; equacioná-los e resolvê-los
é outra.
Por outro lado, importa não esquecer que a época do Manuel
Quintino que Júlio Diniz retratou na Família Inglesa, já terminou
há muito e que os contabilistas de agora são mais, bastante mais,
que passivos observadores e meros cronistas da vida patrimonial
das empresas. Têm de saber algo de direito e de matemática
e bastante de economia.
A contabilidade está passando por grandes transformações.
Entre as causas que a tiraram da estagnação em que ainda jazia
há algumas décadas contam-se, como é sabido, a afinação da sua
teoria, o aparecimento de novos e poderosos instrumentos de
trabalho, a necessidade sentida pelos governantes de estatísticas
baseadas nas contas das empresas, o maior interesse que os econo-
mistas manifestam agora pela disciplina, e os progressos da
informática.

— 31
Dada a crescente interdependência das nações, caminha-se
rapidamente para a normalização internacional das contas das
micro e macrounidades.
As empresas têm responsabilidades económicas e sociais.
Cumpre-lhes atender não só aos interesses dos empresários e dos
seus colaboradores mas também as conveniências da comunidade
nacional.
Assiste-se, em toda a parte, à crescente intervenção do Estado
nas actividades económicas, ou seja à progressiva socialização
de toda a economia. Ora, como dizia o outro, socialismo é conta-
bilidade. Tal dito peca por exagero mas encerra, sem dúvida,
uma boa parcela da verdade.
Efectivamente nos regimes que não respeitam a propriedade
privada nem dão rédeas às iniciativas individuais, a missão dos
contabilistas assume uma importância ainda maior que nos regi-
mes de economia de mercado. Nos primeiros, devido à contínua
intervenção da política na economia e à inexistência de preços
resultantes do livro jogo da procura e da oferta, o planeamento
e o controlo tornam-se ainda mais necessários e os juízos de efi-
ciência bastante mais difíceis de formular porque ao critério da
rendibilidade se antepõe o do serviço social.
Tudo isto complica a tarefa contabilística que consiste essen-
cialmente, como é sabido, na obtenção de informes necessários à
tomada de decisões.

6. O prestígio ou descrédito de qualquer categoria de técnicos não


podem — claro está — atribuir-se tão-somente à qualidade do en-
sino que lhes ministraram na escola.
As técnicas envelhecem depressa. Estão em contínua evo-
lução. Instrumentos e processos que ontem eram novidade, serão
amanhã velharias.
Contabilista que deseje manter-se em dia, tem de ser autodi-
dacta; tem de seguir estudando, observando e reflectindo. Quem
pára, retrograda.
A força, a influência, o peso social dos contabilistas dependem
também da sua concórdia, da sua aliança, da sUa autodisciplina.
Tratando desta matéria, vem sempre à colação o que se
passou e passa em. países de maior pendor associativista em que
os indivíduos não transferem para o Estado o encargo de tudo
prever, tudo organizar, tudo regulamentar e não atribuem à
inércia ou inépcia do legislador a culpa de todos os males que
os afligem:.
E ocorre logo invocar o exemplo da Inglaterra. Em 1980
o Institute of Chartered Acconntants vai completar 100 anos.
É quase centenário mas — permita-se-me a expressão — ainda não
criou bicho.

32 —
Graças à severidade em que nele se apreciam a competência
profissional e a idoneidade moral dos que aspiram ao grau de
«auditor» está cada vez mais sólido e afamado.
Entre nós — congratulemo-nos por isso — os principais pro-
blemas da classe parecem estar finalmente em vias de solução.
Encontram-se legalmente definidas as habilitações mínimas
que os técnicos de contas devem possuir, já existe um Plano
Oficial de Contabilidade, já temos uma Câmara de Revisores
Oficiais e já funcionam no país várias escolas análogas a esta
de Aveiro.
De ora avante, tudo ou quase tudo dependerá menos dos
governantes que de nós próprios.
E o prestígio da classe não cessará certamente de aumentar
se ela se não demitir do probo cumprimento das suas obrigações
e da firme reivindicação dos seus direitos.
7. A independência, a força e a influência dos contabilistas já são
agora, incomparavelmente maiores do que eram há meio século.
Juristas, engenheiros e economistas já nos não encaram com
sobranceria ou desdém; já nos respeitam.
E mais nos respeitarão ainda se lograrmos convencê-los das
vantagens de mais estreitamente colaborarmos com eles no estudo
e resolução de certas questões.
Tratemos, pois, de progredir, de perserverar no estudo, no
trabalho, no brioso acatamento das normas deontológicas.
No campo da economia e devido à natureza do nosso ofício,
nós, os contabilistas, estamos, melhor do que outros, em condições
de distinguir as conjecturas das certezas e as fantasias das reali-
dades. Esforcemo-nos, pois, por habituar os portugueses e pres-
tarem mais atenção à fria eloquência dos números que mane-
jamos e menos importância e crédito à inflamada oratória dos
demagogos, aos sonhos cor de rosa dos inocentes e às dogmáticas
e falaciosas proclamações dos que acreditam na própria infali-
bilidade e se permitem pontificar sobre assuntos que mal conhe-
cem.
Grande vitória será a nossa, se levarmos a bom termo tarefa
tão difícil como necessária. Se o conseguirmos, bem poderemos
então orgulharmo-nos de haver prestado ao País um serviço ines-
timável.

— 33
34 —
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35
3
Comunicações das l.a e 2.a mesas
A Contabilidade das Empresas Públicas
e Cooperativas
A Contabilidade das PME

Presidente: Doutor Mário António Soares Madureira


Rrof. Cat. do Instituto Politécnico da Covilhã

Secretário : Dr." Maria de Fátima Teixeira Lopes


Assistente do ISCAA
La Contabilídad Analítica en el Plan
General de Contabilidad Espanol
Por Enrique Fernandez Pena

Excmos. senores, senores, senoras, y estimados colegas:

Es mi deseo, con su anuência, al iniciar mi intervención, expo-


nerles en primer lugar la satisfacción que me produce el estar una
vez mas en Portugal, el haber conocido Aveiro, y el constatar
personalmente el interés que siempre se ha tenido en Portugal por
la contabilidad, circunstancia ampliamente conocida en Espana a
través de autores tan destacados como Lopes Amorin, Gonçalves da
Silva, Rogério F. Ferreira y Martim Noel Monteiro, fundamental-
mente, y tanto por sus libros, como por sus colaboraciones periódicas
en la Revista de Contabilidade e Comércio, de Porto, que tanto se
aprecia en Espana; dicho interés se ratifica por medio de estas
Jornadas, pues solo una gran inclinación puede congregar a tantos
y tan destacados profesionales en un auditório tan amplio como
en el que nos encontramos.
Fue la seguridad de obtener esta satisfacción, la que me hizo
aceptar la amable invitación recibida de los organizadores de las
Jornadas, y en concreto de los doctores Gonçalves da Silva, y Amíl-
car de Amorin, ya que ineludibles ocupaciones me habían obligado
aquellos mismos dias a no poder aceptar três invitaciones para
desplazarme, durante este mes de diciembre, a Las Palmas de Gran
Canária, Zaragoza y Valladolid.
Mi deseo de colaborar — aunque reconozco mi modestas posibi-
lidades — ai mejor conocimiento mutuo de nuestros pueblos, que
tienen características muy especiales, como ha sefialado el Prof. Gon-
çalves da Silva, en sus palabras iniciales, es lo que me dicidió,
sin dejar tiempo a la duda, a aceptar la invitación aunque fuese par-
cialmente, ya que solo dos dias puedo estar en esta sorprendente
ciudad que, como tantas otras, y tanto otros paisajes de Portugal,
impresionan gratamente ai visitante.

— 39
Para ampliar y mejorar esta colaboración, puse en conocimiento
dei Presidente del Instituto de Planificación Contable del Ministério
de Hacienda de Espana, Sr. Cubillo Valverde, la celebración, de estas
Jornadas; y su inter és, puedo manifestarles, es tambiém tan grande
en favor de un mas amplio conocimiento mutuo, que designo a los
senores Amat y Ciscar, para que asistiesen a ellas, y para que, a ser
posible, se pongan en contacto con los colegas que aqui están consi-
derando a nivel oficial el tema dela Planificación Contable, con el
fin de iniciar intercâmbios de conocimientos y experiências.
Y con tal deseo de intercambiar conocimientos es por lo que
cuando recibí la invitación de dirigirme a ustedes en estas Jornadas,
pensé inmediatamente en que el tema fuese el de la regulación de la
Contabilidad Analítica en Espana, ya que la disposición legal que la
regula ha sido firmada en 1 de Agosto último y publicada en el Boletín
Oficial el 22 de Setiembre, lo que hace que constituya una autêntica
novedad.
Para facilitar la comprensión de mi intervención en um reducido
espacio de tiempo, he traído ejemplares de la nueva regulación
espanola,... pêro ignorante de la envergadura de estas Jornadas, solo
incluí en el equipa je 75 ejemplares. Como distribuirlos entre 400 jor-
nadistas para que sir van materialmente en estos momentos? Ello
no es posible; por tanto, he de cambiar la formulación que había
preparado sobre el soporte material dei texto legal. Ello me obliga
a improvisar sobre la marcha, por 10 que solicito sus disculpas por
las deficiências que puedan observar. No obstante, espero que con
los ejemplares facilitados a la Secretaria de las Jornadas, los colegas
que mas interesados estén en el tema puedan profundizar en su
problemática.
El Plan General de Contabilidad fue aprobado en Espana, por
Decreto 530/1973 de 22 de Febrero, y publicado en el Boletín Oficial
dei Estado, los dias 2 y 3 de Abril siguientes.
Sigue la línea del Plan Contable francês, pêro la disposición que
le aprobó se referia exclusivamente a la denominada contabilidad
financiera, es decir, a los grupos:

1 — Financiación Básica
2 — Inmovilizado
3 — Existências
4 — Acreedores y deudores por operaciones de tráfico
5 — Cuentas financieras
6 — Compras y gastos por naturaleza
7 — Ventas e ingresos por naturaleza
8 — Resultados ; y
0 — Cuentas de Orden y especiales.

40 —
Quedo pendiente de realizar, como facilmente se deduce, el
Grupo 9 — Contabilidad Analítica.
Creada una Comisión para su estúdio, se encargo posteriormente
a un ponencia, constituída por dos Catedráticos de la Universidad
Autónoma de Madrid, doctores Leandro Cafnbano y Eduardo Bueno,
actualmente Vice-Rector, de dicha Universidad, y Decano de la
Facultad de Ciências Económicas y Empresariales, respectivamente.
El estúdio que propusieron fue reconsiderado por una comisión en
la que participaron, entre otros, el Prof. Dr. Goxens Duch. Elevada
ai Consejo Nacional de Contabilidad, organismo rector del Instituto
de Planificación Contable, fue aprobado en Julio último a nivel dei
Instituto, y ministerialmente por orden de 1 de Agosto de 1978.

El texto legal se divide en los siguientes capítulos:


I. Contabilidad Analítica: Delimitación y objectivos.
II. Conceptos Básicos.
III. Método de cálculo.
IV. Incorporación de los costes-oportunidad ai método de
cálculo.
V. Costes estándares y desviaciones.
VI. Cuentas de la Contabilidad Analítica.
VII. Definiciones y relaciones contables.
Referimos a todos ellos, precisaria mas tiempo del que es normal
disponer es estos casos, y por ello vamos a proceder a ofrecer Una
síntesis de los capítulos III, IV y V, con especial atención ai IV, que
recoge la incorporación de los costes-oportunidad ai método de cálculo,
ya que constituye una novedad legislativa.
Èl método de cálculo se esquematiza en el Gráfico 3.1 del texto
legal que se reproduce en las páginas que siguen y pensamos que se
facilita su comprensión en el denominado Estado de Resultados Con-
tabilidad Analítica dei Período, que se adjunta como esquema
complementado.
En función de dicho gráfico y esquema, se deduce que el método
de cálculo propuesto es el de una contabilidad dualista que recoge
los costes de la contabilidad financiera (excepto gastos financier os,
amortizaciones y provisiones), y utiliza como cuenta de contrapartida
la denominación de Control externo, equivalente a las cuentas reflejas,
del Plan francês.
Respecto a amortizaciones y provisiones, la introducción se efectua
con valoraciones adecuadas a su conceptuación económica, y se deno-
minan costes calculados; como contrapartida de los mismos se emplea
una cuenta denominada control analítico, que cumple igual misión que
las cuenta reflejas.

— 41
Computados los costes según su naturaleza, pueden reclasificarse,
si así se desea, o bien transferirse de forma directa a los centros de
coste, que se denominan de:

— Aprovisionamientos
— Transformación
— Comerciales; y
— Administración.

Además se concibe como un centro mas la recogida de los posibles


costes de subactividad.
La suma de los costes de aprovisionamiento, que incluye los de
los materiales empleados, y los costes de transformación, ofrece el
coste de los productos terminados (coste completo a nivel de fabri-
cación), que se incluyen en los inventários permanentes de los pro-
ductos.
Introducidos en la contabilidad analítica los ingresos recogidos
en la contabilidad financiera por la venta de los productos, se en-
frentan con su coste, determinado en las cuentas de los inventários
permanentes. La diferencia, constituye el margen industrial.
Deducido de este margen los costes de comercialización, se obtiene
el margen comercial. Restado dei anterior margen los costes de
administración, la diferencia constituye el Resultado de la contabilidad
analítica dei la subactividad.
De haberse producido costes de subactividad, han de deducirse
dei anterior resultado para obtener el Resultado de la contabilidad
analítica dei período.
Este resultado será distinto normalmente, ai de la Contabilidad
general. No obstante, no puede pensarse que el mismo sea autêntico
resultado económico rigurosamente hablando, pues faltan todavia com-
putar ciertos costes, los costes de capital, principalmente, y a los
cuales nos vamos a referir dentro de unos minutos.
De ser la empresa individual, también deberían incluir se como
costes-oportunidad la retribución estimada dei empresário si se desea
obtener el mencionado "esultado económico.
No obstante estas ausências, el Resultado de la contabilidad ana-
lítica dei período, es, sin duda, mas significativo que el resultado
de la Cuenta de Explotación, de la Contabilidad general.
Expuesto de una manera simplificada, este es el modelo de cál-
culo. Otras circunstancias, como el cômputo de mermas, roturas,
obsolescências, y los suplementos de costes comerciales por productos,
no se han comentado por su poça incidência en el cálculo, y aparente
complejidad.
*
* *

42 —
Estado de Resultados Contabilidad Analítica dei Período.

Subpro-
Pro- Pro- Trabajos duetos
dueto A dueto B propios resíduos Total

Ingresos 100 200 50 25 375


Costes (70) (150) (30) (17*) (267)
Mermas, roturas en semiterminados . (_ 2) ( 3) ( 1) — ( 6)
Margen industrial 28 47 19 8 102

Suplementos de costes comerciales de


produetos (5) (10) (4) (19)
Mermas, roturas y obsolescências en
produetos terminados ( 1) ( 2) — (—) ( 3)
Margen comercial por produetos . . 22 35 19 4 80

Costes comerciales générales . . . (30)


Margen comercial general . . . . 50
Costes de administración . . . . (12)
Mermas, roturas y obsolescências en
exceso ( 3)
Resultado contabilidad analítica de acti-
vidad 35
Costes de subactividad __3_

Resultado contabilidad analítica dei pe-


ríodo 32

(*) En el ouadro de cuentas estimamos debería haberse incluído una cuenta


sobre este coste. Por ejemplo: 957 —Coste de Subproductos y resíduos, ya que
se sigue el critério, posteriormente, de valorar sus existências.

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44
*
* *

El capítulo IV, según se ha anunciado, se refiere a la incorpo-


ration de los costes-oportunidad ai método de cálculo.
Esta incorporation es característica fundamental dei texto que
exponemos, y desde el capítulo I, se justificaba el tema con las
siguientes palabras: El hecho de que un equipo haya sido financiado
de una u otra forma no es algo que, bajo el estricto punto de vista
dei âmbito productivo deba tener repercusión alguna.
De aqui pues, que, en primer término, se eliminen los gastos
financieros pagados para calcular los costes de los productos; pêro
también, que posteriormente se calcule la incidência de toda la finan-
ciación, en un nuevo cálculo de los costes. Subrayamos toda la finan-
ciación, ya que se incluye la propia y la ajena.
Ahora bien, este cálculo se manifiesta dentro de un sistema cer-
rado de cuentas dentro dei Grupo 9 según se puede deducir dei Grá-
fico 4.1 que se adjunta, y del Estado de Resultados con Incorporation
de costes-oportunidad. En ambas manifestaciones la incorporación
de los costes-oportunidad, centrados fundamentalmente en los costes
de la financiación total de la empresa, aparecen adjuntos, pêro no
fundidos a las magnitudes obtenidas en el modelo de cálculo básico
dei capítulo III, ya expuesto. De esta manera se ha resuelto el pro-
blema que habría presentado una incorporación absoluta, ya que los
costes de la financiación propia no son admitidos hasta ahora, en
ningún país, como coste activable para la valoración de los inven-
tários.
Pêro esta circunstancia no impide, por otra parte, el que se
obtengan unos márgenes y resultados, con sentido económico, según
se puede leer en el Estado de Resultados con Incorporación de Costes-
-oportunidad.

Dentro dei concepto costes-oportunidad, se incluye también el


sueldo dei empresário, mediante una estimación de lo que cobraria
si prestase sus servicios como ejecutivo a una empresa ajena. Esta
inclusion tiene un efecto mas teórico que practico, ya que hoy en dia
la mayor parte de las empresas tienen ejecutivos profesionales y, por
tanto, remunerados.
Respecto a la inclusion de los costes-oportunidad financieros, se
presentan, como es sabido, diversos problemas. El texto lo reconoce

- 45
afirmando que «existen evidentes dificultades para llegar a un cálculo
riguroso». «Ahora bien, — insiste — en el marco de este trabajo no
se pretenden refinamientos excesivos, porque entonces los plantea-
mientos que si hicieran tendrían serias dificultades de aplicación.
En la práctica, el cálculo de los costes de esta naturaleza se realiza
tomando una tasa mínima como coste medio ponderado de los recursos
financieros considerados en su conjunto».

Estimada la tasa de interés imputable, se aplica sobre toda finan-


ciación precisa, incluída la que se obtiene por medio del descuento del
papel comercial. El montante así calculado se distribuye a los costes
circulantes y fijos, en función de las rotaciones dei capital circulante
respecto a los costes circulantes, y del activo fijo en relación a los
costes jijos (amortizaciones), lo que permite calcular tasas de apli-
cación específicas dividiendo la tasa de coste de financiación total
entre las rotaciones dei circulante y del fijo, respectivamente.

Las mencionadas tasas permiten calcular el coste-oportunidad de


cualquier producto, aplicándolas sobre los costes circulantes y fijos
que corresponden ai mismo.

El reparto de los costes-oportunidad referidos a la retribución dei


empresário, propone el texto legal puede realizar-se en función dei
resto de los valores aiíadidos, si bien deja camino abierto para cual-
quier otro critério de aplicación.

*
* *

46 —
Estado de Resultados con Incorporation de Costes-oportunidade
(Sin merinas, roturas ni obsolescências)

Subpro-
P rô- Pro- Trabajos duetos
ti cto A dueto B propios resíduos Total

Ingresos 100 200 50 25 375


Costes 70 150 30 17 267
Costes — opoitunidad:
— Financieros 5 4 2 1 12
— Rétribution empresário 2 2 1 1 6
77 156 33 19 285
Margen industrial en sentido económico 23 44 17 6 90
Suplemento de costes comerciales de
productos 5 10 —_ 4 19
Margen comercial por productos, en
sentido económico 18 Jí 17 2 71

Costes
générales

Costes comerciales générales 30

Costes — oportunidad:
— Financieros
— Retribution empresário _33
Margen comercial general en sentido
económico 38
Costes de administration 12
Costes — oportunidad :
— Financieros
— Retribución empresário 14
Resultado económico de la actividad . 24
Costes de subactividad
Costes — oportunidad :
— Financieros _4
Resultado económico de la contabilidad
analítica 20

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48
* *

El texto legal que regula en Espana la Contabilidad Analítica,


también incluye un capítulo, el V, dedicado a los costes estándares,
según terminologia ya admitida por la Real Academia de la Lengua.
El Gráfico 5.1 facilita la comprensión de tal inclusion, como un
afíadido ai modelo de cálculo descrito en el capítulo III. También
esperamos que el Estado de Resultados de la Contabilidad Analítica
con Costes Estándar, que se adjunta facilite la comprensión dei pro-
ceso. Ambos se reproducen en las dos últimas páginas.
En principio, el metódo de cálculo es igual al expuesto en rela-
ción a costes históricos. La única diferencia radica en que el coste
de venta, o el de los departamentos de comercialización, y adminis-
tración, se calculan según estándares y presupuestos.
Las diferencias entre los costes históricos y los estándares cons-
tituyen las desviaciones que explicitamente se manifiestan en el men-
cionado Estado de Resultados.
Las desviaciones se descomponen en desviaciones de precio, o
económicas, y desviaciones de cantidad, o técnicas, tanto en cuanto
a matérias primas, como en cuanto a los centros de aprovisionamiento,
y transformación.
Respecto ai destino de las desviaciones, ya hemos indicado se
exponen explicitamente en el Estado de Resultados. El texto legal se
manifiesta rotundo en esta materia: Pensar que las desviaciones
puedan dar lugar a una corrección en los costes de los productos es,
sin duda, un punto de vista desfasado.

*
* *

El breve esquema expuesto, resume la normativa legal espafiola


en la materia. Terminada nuestra exposisión, con mucho gusto nos
someteremos a sus preguntas; nos esforzaremos en contestarias de
la forma mas clara posible, con el deseo de que obtengan su amable
entendimiento.
Muchas gracias por su atención.

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Estado de Resultados Contabilidad Analítica con Costes Estándar
(Sin merinas, roturas ni obsolescências)

Subpro-
Pro- Pro- Trabajos duetos
ucto A dueto B prop i os resíduos Total

Ingresos 100 200 50 25 375


Coste ventas a estándar ( 70) (150) (30) (17) (267)
Desviaeiones de estándar . . . . ( 2) ( 3) (D (J0 ( 7)
Margen industrial 28 47 19 7 101
Suplementos de costes comerciales de
productos L® (_10) — (4) (19)
Margen comercial por productos 23 ST 19__ 3 82
Costes comerciales presupuestados . ( 30)
Desviaeiones de presupuestos .
Margen comercial general . . . . 49
Costes administración presupuestados ( 12)
Desviaeiones en presupuestos .

Resultado contabilidad analítica de acti-


vidad 33
Costes de subactividad ( 3)
Resultado contabilidad analítica dei pe-
ríodo 30

- 51
Investimento, Finanças e Contabilidade
— breve contributo para a sua harmonização
Por Ruy L. F. de Carvalho

1. BALANÇO E DINÂMICA EMPRESARIAL


Estranhar-se-á, talvez, o emprego do termo balanço. Foi, porém,
com intencionalidade que se preferiu tal conceito a expressões de
conteúdos mais vastos como, por exemplo, contabilidade.
De facto, se, por um, lado, a prática empresarial corrente se
vai desenvolvendo de modo a superar certas limitações, no exterior
à empresa (instituições de crédito, administração fiscal) quase tudo
gira ainda à volta do balanço. Ele se tem mostrado necessário ou,
pelo menos, uma via possível de apreciação. Sem tal documento
ou outro equivalente fica-se limitado em muitos aspectos da análise
da firma. Logo, parece mais prático melhorá-lo a destruí-lo, nem
que isso se verifique apenas em fase transitória.
Qual o estado actual dessa peça contabilística?
Em relação ao Reino Unido, lê-se em Section 149 da Companies
Act: «every balance sheet of a company shall give a true and fair
view of the state of affairs of the company as at the end of its
financial year...».
Isto, realmente, não envolve quaisquer limitações dinâmicas;
é lato de mais ou talvez exigente em excesso.
Ao nível dos SSAP (Statement Accounting Practice) pouco ou
nada se adianta. A esperança que podia pôr-se no primeiro dos quatro
«fundamental accounting concepts» o chamado «going concern»
concept: «the enterprise will continue in operational existence for
the foreseable future» é logo desmentida quando se lê: «this means
in particularly that the profit and loss account and balance sheet
assume no intention or necessity to liquidate or curtail significantly
the scale of operation».
Também o chamado «accruals corcept» acaba por ser esparti-
lhado a casos pouco relevantes.

53
0 «consistency concept» é trivial.
Do «concept of prudence» muito pode esperar-se, se não veja-se:
«provision is made for all known liabilities (expenses ande losses)
whether the amount of this is known with certainity or is a best
estimate in the light of information available». É dar luz verde a
uma multiplicidade de técnicas que apontem para o futuro empre-
sarial próximo ou longínquo. Para já, fica, todavia, um comentário
sob a forma de interrogação: Quem costuma apresentar no Balanço
ou em notas anexas, as responsabilidades por juros dos capitais em
dívida?
O SSAP 2 reconhece a existência de domínios em que possam
existir bases contabilísticas diferentes, nomeadamente:

1. Depreciation of fixed assets.


2. Treatment and amortization of intangibles such as
research and development expenditures, patents and
trade marks.
3. Stocks and work in progress.
4. Long; term contracts.
5. Deferred taxation.
6. Hire-Purchase or instalment transactions.
7. Conversion of foreign currencies.
8. Leasing; and rental transactions.
9. Repairs and renewals.
10. Consolidation policies.
11. Property and development transactions.
12. Warranties for products or services.

Embora a lista não seja exaustiva e possa variar com o tipo de


operações empresariais, não deixa dúvidas de que, em relação a
financiamentos e respectivos encargos, tudo se aceite como definiti-
vamente cristalizado, apenas com a excepção correspondente a 7.
supra. Esta afirmação não é invalidada pelo facto, pela exigência
da Companies Act no sentido de que, no Passivo, sejam apresentados
em separado:

1. Empréstimos e descobertos bancários e


2. O total dos financiamentos com vencimento superior
a 5 anos a contar da data do Balanço e respectivo plano
de amortização e juros.

J á a ED 13 (Exposure draft) (Statement of Source and Applica-


tion of Funds) recomenda a elaboração de um documento não só para
o período em análise mas igualmente para o anterior.
No que ao Relatório do Conselho de Administração se refere, a
Companies Act 1948 e 1967, entre as matérias a ser tratadas naquele

54 —
documento, indica, com notável latitude: «11. Particulars of any
matters required by members for an appreciation of the company's
affairs, unless disclosure would be harmful to the company or its
subsidiaries».
Contendo, há pouco tempo, cerca de 75 variações, o Plan Comp-
table Général domina a cena contabilística francesa, há cerca de
vinte anos. Sedutora uniformidade que mascara uma multiplicidade
de diferenças», no dizer de Michael Laferty.
O Plano contém recomendações gerais para a valorização do
Activo; o Passivo continua a contar como coisa de ciência certa,
o que não é verdade. Basta lembrar o problema das taxas de câm-
bio, as mutações nas encomendas a fornecedores (actualizações de
preços, penalizações).
O artigo 342.° da Lei de 1966 diz que as Depreciações e Provisões
se tornam necessárias para que o Balanço seja «sincère». É dispo-
sição legal que pode considerar-se de natureza dinâmica. De notar
que, só a parti: de 1965, para contrariar a tendência a limitar as
dotações para amortizações ao nível apurado dos lucros, se solicita
às empresas considerem um encargo anual equivalente, pelo menos,
à depreciação linear.
Quanto a financiamentos a médio ou longo prazo, nada se exige
sobre vencimentos e, na prática, raramente, são os mesmos indi-
cados.
O Decreto 67 236 de 23-03-77 estabelece o conteúdo do Relatório
de Gerência das Sociedades Anónimas que deve ser acompanhado
por um documento sobre os resultados financeiros (lato sensu, enten-
da-se) dos últimos cinco anos (lei de 1971). Em tal tipo de relatório
é flagrante a importância dominadora do capital próprio; ao capital
alheio só é feita referência no caso de acções convertíveis...
Em relação à Bundesrepublik Deutschland, o país da técnica, o
mais importante Estado no plano do comércio internacional, em
relação ao qual à primeira vista tudo faz pressupor a existência
por toda a parte de um materialismo no mais alto grau, é curioso
registar os termos (tradução, claro!) do juramento prestado pelo
Auditor (Wirtschaftsprúfer) no momento da sua nomeação pública:
«Juro por Deus-Todo-Poderoso que cumprirei responsável e cuida-
dosamente os deveres de Wirtscaftsprufer ; em particular obser-
varei o sigilo e formularei conscienciosa e imparcialmente relatórios
e pareceres de auditoria. Assim Deus possa ajudar-me».
A centena de milhar de AG (Aktiengesellschaft) e GmbH (Ge-
sellschaft mit beschránkter Haftung) devem, segundo a Lei, con-
formar-se, na apresentação de documentos financeiros anuais com
adequados princípios contabilísticos («Grundsãtzen ordnungsmãpiger
Buchfuhrung»).

- 55
De acordo com Rudolf Nihus, os princípios contabilísticos geral-
mente aceites podem resumir-se a três convenções fundamentais:

1.1 Uma entidade económica para um definido período de


tempo.
1.2 Continuidade.
1.3 Custos históricos.

e a três conceitos básicos:

2.1 Totalidade ou integridade.


2.2 Verdade e clareza.
2.3 Prudência.

Sabe-se que, exactamente, os custos históricos podem conduzir


à mais intensa estagnação do pensamento empresarial. A continui-
dade reduz-se à igualdade: «a transportar» = «transporte».
Infelizmente, quase por toda a parte, «clareza e verdade» são
afectadas por milhentos artifícios contabilísticos que, parece, res-
pondem apenas ao desejo quiçá inconsciente de fazer da Contabili-
dade algo de esotérico, um, domínio inteiramente vedado aos não
iniciados. Alguns contabilistas querem ignorar a existência de ver-
sões acessíveis a leigos, praticamente em todos os domínios do saber
humano.
Afinal o princípio de «clareza e verdade» é porta aberta a qual-
quer atitude criadora que obste à cristalização científica, que per-
mita o incessante ajustar de modelos conceptuais à realidade cognos-
cível.
O conceito de prudência tem a carga sinonímica conhecida: va-
lores mínimos para o Activo; valores nominais para o Passivo.
É de lembrar a crítica que há uns anos se fazia à Banca portuguesa
por, apenas com u m a ou duas excepções, não actualizar a carteira
comercial, apresentando valores nominais. Realmente, às vezes não
se pensa na actualização financeira dos activos e, de igual modo, o
valor do Passivo quase nunca envolve o registo das responsabilidades
efectivamente assumidas pela obtenção de capital alheio (juros con-
tratados). E, olimpicamente, também ignorados são outros problemas
financeiros e cambiais, hipnotizados os especialistas pela adminis-
tração fiscal, pela garantia de terceiros (qual?) ou, mais recente-
mente, pelos olhos felinos da inflação.
Prosseguindo com a Alemanha Federal, pode corrigir-se a gene-
ralidade de algumas das considerações anteriores, referindo os con-
dicionalismos legais referentes ao Passivo. Assim, as dívidas devem
ser registadas pelo valor nominal salvo para prazos iguais ou supe-
riores a quatro anos. Aqui se incluem reservas para pensões e
reformas, que devem ser actuarialmente calculadas. Em outros Es-

56 —
tados, é nítida a diferença de tratamento de tais valores patrimoniais
no caso de companhias de seguros ou no caso de outra qualquer
empresa. Há anos, numa grande cidade portuguesa, a municipali-
dade adquiriu uma grande empresa privada perdendo de entrada
muitos milhares de contos, por não ter considerado as responsabi-
lidades demo-financeiras advindas de um esquema de previdência
social privado.
A lei das sociedades por acções da República Federal da Ale-
manha, na sua secção 160, prescreve que o relatório da adminis-
tração deve tomar em consideração as responsabilidades não eviden-
ciadas no Balanço anual.
Na Holanda, tem vindo a ganhar terreno a valorimetria a preços
de substituição com o usual funcionamento: crédito a conta de Re-
serva ou débito a conta de Resultados conforme o sentido da cor-
recção.
Os resultados de inquérito à técnica de depreciação respeitante
a 1967/68 indicavam que:

51 % das companhias seguiam o processo histórico tradicional,


16 % das 259 empresas inquiridas praticava um sistema em
que: (i) o Imobilizado era valorizado a custo histórico
(ii) depreciação calculada na mesma base e deduzida
ao valor acima (iii) depreciação extra calculada na
base do valor de substituição e levada a conta do
2. membro do Balanço,
18 % praticava uma depreciação na base de valores acima
do custo histórico e
15 % tratava o Imobilizado e as respectivas depreciações a
valores de substituição segundo o esquema usual.

Exagerando um pouco, é de perguntar: Conseguirá a empresa


vender, agora, os seus produtos a preços nominais futuros? Levan-
ta-se, igualmente a questão de saber se o projecto de investimento
foi analisado nestes termos ou se não se está em: presença de uma
dupla actualização. Problema grave é que a Nação paga, em última
instância, tais exageros. Seja porque a empresa consegue vender a
elevado preço, ganha demais mas paga poucos impostos (elevadas
amortizações); seja porque a empresa não vende convenientemente
a tais preços, perde dinheiro, abre falência (ou vive à custa de
subsídios pagos por toda a Sociedade), não paga impostos e até não
deixa que outros paguem por, tendo perdido os valores correspon-
dentes aos créditos concedidos, incorrerem em perdas como resul-
tado final.
De qualquer modo e com as devidas cautelas, a valorimetria em
termos de reposição, é esforço aplaudível no sentido de fazer entrar
elementos dinâmicos nas contas (posições) anuais. Fluxos são, pois,

— 57
gerados entre as posições desactualizadas e as correspondentes a
valores de substituição. Todavia, pode detectar-se aqui, sem difi-
culdade, uma componente do resultado que não é contabilizada — a de-
rivada da não coincidência da taxa de juro nominal e a preços cor-
rentes dos financiamentos e uma taxa de juro a valores constantes
ou em condições verdadeiramente isométricas, no caso da aplicação
de fundos.

Continuando comi os Países Baixos:


Nas suas partes II e III, a Lei de 1970 refere em pormenor os
vários elementos que devem ser evidenciados nas contas anuais. Em
Imobilizado intangível podem ser incluídas deduções e despesas cor-
respondentes à obtenção de empréstimos. Tais verbas podem ser
amortizadas integralmente numi ano ou ao longo de período superior.
Claramente, se menciona também a exigência de indicar, em
relação aos empréstimos a longo prazo: (i) a fracção vencível no
ano seguinte, (ii) as respectivas taxas de juro e (iii) a duração.
São estas preocupações, semi dúvida, de molde a pressupor uma
orientação no sentido de dinamizar os documentos contabilísticos tra-
dicionais. Concretamente, no comentário do NIVRA (Nederlands Ins-
tituut van Registeraccountants) à Lei de 1970 afirma-se: «Factos
importantes que ocorram, ou se tornem conhecidos depois da data
do Balanço, mas antes da apresentação final das Contas, devem ser
considerados se puder verificar-se que, em momento ulterior, tais
factos modificam, a panorâmica dos valores activos e passivos exis-
tente à data do Balanço».
Na Bélgica, é prática contabilística corrente incluir também no
Imobilizado intangível o desconto na emissão de Obrigações, amor-
tizando-o ao longo da vida do empréstimo.
De entre as dívidas activas e passivas, exige-se a indicação das
que se vencem a mais de um ano e das que já excederam em mais
de seis meses o prazo de pagamento.
Em relação ao Luxemburgo, é de salientar um princípio eminen-
temente prático (semelhante ao que existe por exemplo, na BRD):
«qualquer elemento do Imobilizado cujo custo seja inferior a 15 000
francos é excluído do esquema de reintegrações ou amortizações».
O artigo 2 423.° do Código Civil Italiano estabelece que os admi-
nistradores devem elaborar todos os anos um Balanço e uma Conta
de Perdas e Lucros que mostrem «com> clareza e precisão a posição
financeira da companhia e os lucros obtidos ou perdas sofridas».
As amortizações devem aparecer do lado do Passivo, ainda se-
gundo o mesmo código.
A legislação dinamarquesa sobre companhias, entrada em vigor
em 1 de Janeiro de 1974, estabelece normas sobre Contabilidade tão

58 —
flexíveis que as empresas podem delas desviar-se desde que man-
tenham consistência com a «boa prática contabilística».
No modelo da Conta de Perdas e Lucros lá vêm bem expressos
«juros recebidos» e «juros pagos».
As despesas de constituição não podem ser consideradas custo
plurienal; contudo, podem ser abrangidos no Imobilizado intangível,
comissões e outros encargos directamente relacionados com emprés-
timo a longo prazo.
Com raras excepções, por toda a parte, continuam a imperar
conceitos e práticas essencialmente em termos de «stocks» (posições)
em oposição a fluxos, como pode inferir-se das parcas exemplificações
apresentadas.
No que diz respeito a Investimento, apenas o aspecto de partici-
pação financeira noutra empresa aparece, em geral, considerado.
Criticam alguns contabilistas (ingleses e holandeses, principal-
mente) os trabalhos de normalização contabilística no âmbito da
Comunidade Europeia, por serem influenciados por juristas e por
concepções franco-germânicas (influência do Dr. Wilhelm Elmen-
dorff, presidente da comissão respectiva?) de apertados planos de
contas. Ninguém se queixa, porém, do total esquecimento a que é
votado o fluxo nuclear da empresa — o investimento directo. Isto
embora quase todos os contabilistas procurem integrar-se ou traba-
lhem mesmo no domínio da análise de projectos de investimento,
percam a cabeça comi DCF ou IRR e acabem por não se eximir a
práticas de planeamento e programação. J á sem falar na doença
grave, que há anos grassou, a chamada «cash flovvite».
Marginalmente, continua-se a fundamentar pedidos de financia-
mento elaborando Balanços, Contas e Origens e Aplicações de Fundos
em termos prospectivos; mas, ao mesmo tempo parece querer evi-
tar-se a todo o custo que o Balanço e Contas e outros documentos
evidenciem, rotineiramente, para onde vai, poderá ir, ou terá de ir
a empresa. E os povos pagam os desastres a que, às vezes subita-
mente, são sentenciadas as firmas, pelo implacável juiz chamado
liquidez.
A Contabilidade como sistema de informações operativas de ges-
tão não está, em geral, em condições de dizer em tempo útil: «Aten-
ção! Dentro de 5 meses (ou dois anos, por exemplo), se... e se...
então...». Sem possibilidades de tal tipo de análise ou elaboração
de informações, onde está a acção possível a partir de peças conta-
bilísticas? Como podem desenvolver-se esquemas de recuperação ou
sobrevivência com um mínimo de eficácia, continuando a trabalhar
para maior glória de processos à Fra Luca Paccioli?
Como pode utilizar-se a Banca não como «casa de prego» sofis-
ticada mas como real dinamizador da economia?
Evidentemente que não é possível de um, momento para o outro
passar por cima das exigências e normas conservadoras e tantas

— 59
vezes paralisantes das instituições financeiras e de crédito. Para as
que desse modo actuam, um conselho (a aceitar passivamente ou a
impor por lei): revejam atitudes à luz de conceitos dinâmicos!
À Nação interessa mais que os bancos ajudem o Estado a cobrar
impostos das empresas lucrativas do que a ele entregar os seus
próprios lucros não reflectidores da inviabilidade económica dias
empresas financiadas.
Igualmente não deve a Banca esquecer que nem só de projectos
inteiramente novos vive uma Economia. Além de que, embora os
textos não o refiram, o Investimento líquido é resultante não só do
Investimento bruto e das amortizações mas também do desinvesti-
mento! Uma máquina parada é um monte de sucata; um edifício
vazio, uma ruína em potência e, mais importante ainda: pessoal
desempregado não paga Imposto Profissional ou Complementar e
evita, em parte, que os outros paguem por força do seu reduzido
poder de compra.
Sem cobrança de impostos não se constroem escolas, sem estas
não se precisa de professores e não se pode ensinar alunos. À con-
tracção da procura (poderoso estimulante do desinvestimento, da
baixa utilização de instalações, da subida de custos e preços) pro-
vocada pelo fecho de empresas viáveis existentes, juntam-se novos
ofertantes de trabalho com baixo nível educacional, por não terem
professores que, entretanto continuam desempregados...
Entra-se na «espiral da miséria» sem que com isso se consiga
evitar a «espiral inflacionista»!
Para concluir este já longo número, algumas considerações sobre
os esforços que a CEE vem realizando no sentido de harmonização
contabilística.
Na chamada Quarta Directiva, afirma-se que as mutações veri-
ficadas nos elementos do Imobilizado corpóreo devem ser eviden-
ciadas no Balanço ou nas Notas às Contas, sem esquecer todos
os pormenores de reavaliações. Todavia, a explicitação do Investi-
mento em Capital fixo continua a ser ignorada. Curiosamente
alude-se a despesas R & D ; espera-se que, um dia de um futuro não
muito longínquo, estes investimentos originem, outros constituídos por
bens tangíveis.

Quanto ao não imobilismo absoluto de cada financiamento — ponto


importante na dinamização da contabilidade — já se diz alguma
coisa: «Quando em relação a qualquer dívida, a importância a pagar
é superior à quantia recebida, a diferença deve ser relevada como
um valor activo. Deve ser indicada no Balanço e Notas às Contas
e amortizada não posteriormente à data de reembolso do capital em
dívida.
Também das notas deve constar a totalidade dos compromissos
financeiros que não tenham, tido expressão no Balanço. Julga-se

60 -
não estar aqui tacitamente incluída qualquer referência a «juros
a pagar» em períodos subsequentes, embora de acordo com, o
artigo 43 da supramencionada Quarta Directiva se considere que
o relatório anual deve conter:
— o possível futuro desenvolvimento da companhia.

Em qualquer das duas alternativas para Balanço previstas (Arti-


gos 8 e 9) se prevê a decomposição dos financiamentos segundo
vários critérios, entre eles: (i) a menos de um ano, (ii) a mais de
cinco anos e (iii) os restantes.
Em alternativas para Conta de Resultados (Artigos 20 e 21)
destrinça-se o resultado operacional do resultado do ano, mas o
resultado financeiro é tomado em sentido restricto ou seja como
resultante de operações financeiras activas e passivas e não como
resultado da empresa em termos financeiros, incluindo os implicados
pelas operações correntes.
Algumas instituições britânicas de renome no domínio da Conta-
bilidade, nomeadamente: Institute of Chartered Accountants in
England and Wales, Institute of Chartered Accountants of Scotland,
Institute of Chartered Accountants in Ireland, Association of Certi-
fied Accountants e Institute of Cost and Management Accountants,
prepararam uma alternativa para apresentação de Balanço ser
incluída na Quarta Directiva. Exige-se a apresentação de números
correspondentes não só ao ano corrente como também em relação
ao anterior.
Naquele documento, aparece, dentro do Imobilizado, ao lado de
Terrenos, Instalações e Equipamento, a rubrica Investimento, mas
exactamente aquele que não é, em geral, directamente objecto de
actividade industrial ou seja o financeiro.
P a r a quê evidenciar o Investimento? Não resulta ele da dife-
rença entre o Imobilizado bruto em dois anos sucessivos? Mesmo
quando se dispõe imediatamente dos dados referidos, desnecessário
referir o quanto é ilusório um valor assim calculado: perturbado
por reavaliações, anulações por deperecimento total, vendas, etc.
Ao pretender-se calcular o Investimento líquido aumenta ainda mais
a confusão. O próprio conceito a utilizar não se comporta passiva-
mente em relação às dificuldades de determinação.
Mas num momento em que a Banca chega a impor a condição
«tanto por posto de trabalho criado», como se faz a verificação?
Esquecendo a globalidade empresarial e atendendo somente à aqui-
sição dos equipamentos X e Y?
Há pouco mais de uma dúzia de anos, em Setembro de 1966, foi
apresentado no congresso da EFFAS (European Federation of Finan-
cial Analysts Societies), em Noordwijk, um projecto do chamado
método europeu de análise financeira.

— 61
Resultou do estudo realizado pela Comissão Permanente de
normalização estabelecida por aquela instituição, tendo por finali-
dade: «to establish a form of presentation of information given in
company accounts suitable for investment analysis and standard
on the European level».
Tal trabalho baseia-se essencialmente na apresentação de três
quadros:

— Perdas e Lucros
— Origem e Aplicação de Fundos e
— Balanço

abrangendo quatro anos em termos ex-post:

Em Perdas e Lucros, segue-se o esquema:


Vendas, Vendas Líquidas, Produção Total, Valor Acrescentado,
Resultado antes de Depreciação, Resultado antes de Impostos, Resul-
tado Final.
Na Origem e Aplicação de Fundos, segue-se uma das vias usuais:
Resultado, mais Amortizações e Provisões, Financiamentos e outras
origens de fundos, Financiamento total — isto na parte correspon-
dente à Origem, de Fundos; na Aplicação, designa-se por «Aquisição
de Imobilizado» à variação do seu quantitativo e ainda aquisições
financeiras propriamente ditas, dedução (ou adição) do Fundo de
Maneio Líquido (Net current Assets), Investimento total.
O Balanço é de nítida inspiração britânica.

2. CONTABILIDADE SECTORIALIZADA E GLOBALIDADE EM-


PRESARIAL

O que de extenso o número anterior continha vai agora ser


substituído por brevidade em relação a este e aos dois seguintes.
Fica assim esta modesta contribuição gravitando em torno do
binário:

— ortodoxia contabilista imobilista


— ultrapassar a estreiteza de vistas do conteúdo que tem
vindo a ser dado a princípios contabilísticos fundamentais
(por exemplo o da clareza e verdade).

Contributo não muito positivo para o desenvolvimento da Conta-


bilidade num sentido mais harmónico com a realidade económica
(ou alguém, pretende desta divorciá-la em definitivo?) foi o que
levou ao exagero de considerar tudo «centro de resultados» desde a

62 -
portaria à secretária da administração. Maravilhosa e interminável
rede de standards e desvios, de desvios de desvios, de agregação
de desvios, etc. Nalguns casos, pouco mais fazendo do que redes-
cobrir as propriedades formais das operações aritméticas.
Tudo isto culminando com a crença generalizada de que era
possível, em quase todos os casos, analisar, isoladamente, qualquer
projecto de investimento adentro um contexto empresarial mais
vasto e complexo.
Na «caça às bruxas» do rendível e do não rendível, do mais
rendível, alguns departamentos se viram, suprimidos, linhas de pro-
duto aniquiladas, empreitadas entregues ao exterior, que no quadro
da empresa custariam, pelo menos, metade, etc., etc.
Em Portugal, descobriu-se uma solução para todas as deficiên-
cias, quer de gestão, quer mesmo organizacionais, que, não sendo
curativa, pelo menos justifica muitos dos desastres: o 25 de Abril,
alguns dos seus governos provisórios (e constitucionais, também?)
e os grupos de pressão existentes antes e depois daquela data.
Cá fora, há muito já, que se acabou, na generalidade, com as
doutrinas de ilhotas isoladas no tecido empresarial. Na literatura
especializada já são velhas de cerca de vinte anos as considerações
que apontam para a globalidade empresarial e que a tornam exten-
siva à sua própria essência — o Investimento. Os projectos de inves-
timento são agora observados à luz de programas conjuntos de
investimento sujeitos às restrições próprias do espaço aleatório ou
determinista em que conceptual ou realmente se desenvolvem.

3. UM CUSTO SUBJECTIVO — AMORTIZAÇÃO OU REINTEGRA-


ÇÕES—OU A RESPOSTA CONVENIENTE AO AUMENTO DA
IMPORTÂNCIA RELATIVA DO IMOBILIZADO.

De modo algum se tornava necessário processo equivalente ao


das amortizações, quando a actividade empresarial se desenvolvia
ao ritmo de: «há dinheiro, então vamos comprar uma máquina nova,
por exemplo, um tear no valor de 200 contos».
Com este tear poderá tecer-se cerca de 100 000 metros, logo sai
a 2 Esc/metro, o que é bom — pensa o produtor, que vê os seus
bens claramente em aumento, não devendo nada, nem sequer aos
fornecedores.
Quem convencerá tal sujeito da actividade económica a preparar
balanços com valores de aquisição, amortizações ou reintegra-
ções, etc.? E, realmente, para quê? Ele lá compra os seus fios,
tece-os, manda acabar a fazenda e vende, em boas condições, o seu
artezanal produto; recebe a contado, paga a contado.
No dia em que este pequeno industrial vier a possuir 10 teares
poderá chegar à conclusão que a compra de mais uma unidade, no

— 63
ano seguinte, se apresenta como uma necessidade, pois nessa altura,
o primeiro tear adquirido há 10 anos já não se encontrará em
condições de realizar um trabalho capaz. E continuará assim
durante anos com a sua capacidade de produção estacionária e inves-
timento líquido nulo, como é óbvio.
Considerando, com 0 até então, o valor da compra a contado de
um tear como custo do ano, o nosso empresário torna-se um M. de
la Palisse das Amortizações. Como há muitos anos já deu a entender
o insigne mestre Prof. Dr. Gonçalves da Silva ao apresentar
exemplo de que o anterior não teve artes de ser fiel cópia.
Contudo, daqui inferir que é melhor levar aos custos do exercício
o valor de avultadas aquisições de bens de investimento ou os ele-
vados encargos financeiros dos primeiros anos da vida de certos
tipos de empréstimos é perigosa interpretação ampliativa normal-
mente evitada por quase todos os especialistas em relação ao primeiro
aspecto — elementos do activo — socorrendo-se das técnicas de amor-
tização em ordem, a superar as dificuldades.

Voltando ao exemplo anterior:

Ao fim de 10 anos de actividade, um tear está de facto incapa-


citado de produzir? Com adequadas reparações este ou outros não
poderão durar mais 5 anos? E porque não 6?
Até onde ir na substituição de peças desgastadas? E o rendi-
mento doutras unidades? E o mercado para os novos níveis mínimos
de produção? E o custo do capital alheio necessário? E que rendi-
mento mínimo é aceitável para o capital próprio? Que capital
próprio? Considerando a reavaliação dos equipamentos e instala-
ções ou não?
Em geral estabelece-se um esquema de Amortização ou Reinte-
gração pressupondo isto e aquilo, aceitando em subjectiva apreciação
um dado desenvolvimento num futuro incerto.
Não se trata aqui de escolher o critério A ou o critério B para
valorizar o consumo de uma quantidade bem determinada de Maté-
rias Primas, por exemplo. Está-se, no caso das Amortizações ou
Reintegrações, em presença de uma determinação valorimétrica com
bases objectivas quase inexistentes. Dizer que a máquina M traba-
lhou 6 000 horas num- total previsível de 50 000 não é o mesmo que
5 000 horas num total real (que não existe ex-ante: manutenção,
acidentes graves, decisão de parar a produção da unidade em
causa) de 60 000 ou de 30 000. Num caso a fracção utilizada seria
de 12 %, no outro 10 % e no último 5 %.
O tomar-se uma decisão expressa ou tácita em relação a deter-
minados valores, não faz perder o carácter de subjectividade à
escolha.

64 —
Aqui fica este reparo, esta chamada de atenção para a dicotomia:
— custos essencialmente objectivos — por exemplo, o valor do
consumo de energia eléctrica proveniente do exterior — e
— custos essencialmente subjectivos — por exemplo, o custo
por m3 da produção de água a partir de nascente própria.

O valor das Amortizações ou Reintegrações é um custo subjectivo.


Não quer isto dizer que seja inadequada a técnica de estacionarizar
as saídas de fundos correspondentes à aquisição de bens de equipa-
mento absoluta e relativamente cada vez mais valiosos. Tenha-se
em conta a capitação de investimentos, na época actual, nas diversas
actividades económicas desde a agricultura familiar (que nem sempre
quer dizer primitiva) até às unidades de preparação de combustíveis
nucleares. Comparem-se os activos de uma companhia de aviação
ou de transportes ferroviários com os das firmas que, com as suas
diligências, ajudaram a povoar o Oeste americano. Uma oficina de
velas de estearina quase não precisava de se preocupar com amor-
tizações; uma empresa produtora de energia hidroeléctrica é,
diga-se, quase toda ela Imobilizado e Amortizações.

4. UM CUSTO QUASE OBJECTIVO - ENCARGOS FINANCEIROS


PERIODIFICADOS — OU O AUMENTO DA IMPORTÂNCIA RE-
LATIVA DOS CAPITAIS ALHEIOS SEM RESPOSTA ADEQUADA.

Demonstrar-se-á que o mesmo quantitativo de encargos finan-


ceiros pagos e correspondentes ao mesmo período pode conduzir, em
circunstâncias normais, a resultados diferentes. Logo, tal custo não
é sempre objectivamente determinável ou determinado.
Claro que tal evidenciar só se tornou possível, na prática, a
partir do momento em que a importância relativa dos capitais alheios
sofre aumento substancial. Também tal prova é facilitada quando
se verifica a existência de taxas de juro elevadas.
Admita-se que uma dada empresa contrai, junto de um Banco,
um empréstimo de 10 000 contos, a um ano, com vencimento
em 1-7-79 e à taxa de 20 %. Tal financiamento é titulado por uma
livrança, que é logo descontada no banco respectivo, produzindo
8 000 contos líquidos.
A relevação contabilística em 1978 considera a dívida de
10 000 contos e os encargos financeiros pagos nesse ano, seja
2 000 contos. Nestas condições e tendo-se mantido os preços de
venda, verifica-se a existência de um pequeno prejuízo de 500 contos.
Uma outra empresa realiza operação semelhante mas a 25 %
e com juros pagáveis com a amortização única do capital em dívida.
Na sua contabilidade (ou escrituração, para uma maior propriedade
terminológica) de 1978 aparece relevado o empréstimo de 8 000 contos

65
e, como não pagou encargos financeiros nesse período, nada fica
registado.
Dispondo de «capital gratuito» e vendendo também a sua capaci-
dade de produção, realiza um lucro e 1 500 contos.
Entretanto fez planos para 1979 e chega à conclusão que deverá
fazer incidir 2 000 contos (os encargos financeiros que terá de pagar)
no preço de venda correspondente a esse ano. J á em 1978, começa
a perder encomendas (a satisfazer no ano seguinte, ao novo preço)
e acabará por fechar esse exercício com um prejuízo substancial
de alguns milhares de contos.
Para situações deste tipo, o remédio já existe e tem sido aplicado
com relativa frequência: Periodificação, proporcional ao tempo, dos
encargos financeiros pagos, reportando-os ao período de aplicação
dos capitais em dívida.
No caso presente, em cada um dos anos 1978 e 1979 incidirão
1 000 contos de encargos financeiros com indiscutível objectividade.
E se a taxa de juro fosse, no segundo caso (juros postcipados),
variável, dependente de uma taxa básica internacional a definir um
mês antes do vencimento? Ficava-se 6 meses à espera para fechar
o Balanço? E se o vencimento da operação fosse em Novembro,
ficava-se 10 meses à espera?
São os encargos financeiros pagos num período, ou o seu equiva-
lente periodificado, custos objectivos mesmo quando o seu valor em
moeda local está dependente da taxa de câmbio escolhida para a
conversão? (Qual virá ela a ser?).
Parece que nem sempre. Mas há mais.
No caso anterior, os encargos financeiros eram, nas duas empre-
sas, iguais, havendo equivalência financeira de taxas de juro.
Observe-se agora o seguinte:
Duas empresas apresentam, em relação a 1977, o seguinte
resultado:
Vendas Líquidas 3 500 contos
Pessoal 90»
Materiais 1100
Serviços Externos 800
Resultados antes de Encargos Financeiros . . 700

Qualquer delas deve 2 000 contos, vencíveis em 2-1-78 e pagou


400 contos de encargos financeiros em 1977.
Ao longo de 1978 está tudo a passar-se na mesma e o Resultado
antes de encargos financeiros será igualmente de 700 contos. Toda-
via, os Bancos financiadores das empresas actuam a partir de agora
de modo diverso, assim:
A empresa A paga ao seu Banco B 1 os 2 000 contos em dívida
por meio de (i) 300 contos gerados pelas operações de 1977 e
(ii) 1 700 contos proveniente do produto líquido do desconto de uma
livrança de 2 125 contos, a um ano e à taxa de 20 % do mesmo Banco.

66 —
Este, porém, recusa a renovação do crédito através de nova
livrança, mesmo depois da empresa ter evidenciado que se irá manter
ao longo do período 1977/82 o Resultado antes de encargos financeiros.
Curiosamente, em relação à empresa B, tudo se passa de modo
diverso. O seu Banco concede-lhe um: empréstimo de 2 000 contos
em substituição do anteriormente existente.
Tal financiamento vence juros pagos anualmente no momento
da amortização e à taxa de 20 %. O reembolso far-se-á em cinco
anuidades de 400 contos cada, vencíveis em 31-12 de 1978 e seguintes.
A instituição financeira sugere que a empresa constitua todos os
anos, com a liquidez disponível no fim do exercício, um Depósito
a Prazo que vencerá o juro de 15 %. Sabe-se que o departamento
de crédito do financiador se considera satisfeito ao receber, perto
do fim de 1978 informação semelhante à que a empresa A prestou
ao Banco B 1 ou seja, que vai manter-se o Resultado operacional
(700 contos/ano).
Como irá ver-se através da análise prospectiva realizada por
cada uma das instituições de crédito:
No caso da empresa A, o Banco recebe 425 contos de juros e tem
razões para não querer arriscar mais; no caso da empresa B, o seu
Banco será integralmente reembolsado dos 2 000 contos emprestados,
vai receber os juros respectivos à taxa de 20 % e ganhar ainda 5 %
(20 % —15 %) sobre os diferentes Depósitos a Prazo constituídos
pela empresa ao longo do período 1978/82.
Análise realizada pelo Banco B 1 em relação à empresa A:
1977 1978 1979 1980 1981 1982
Resultado antes de Encargos Fi-
nanceiros 700 700 700 700 700 700
Encargos Financeiros 400 425 463 519 604 731
Resultado 300 275 237 181 96 -31
Financiamento vencível em 2-1-78
e seg 2 000 2 000 2 125 2 313 2 595 3 018
Disponibilidades em 31-12 transfe-
ridas para o ano seg 300 275 237 181 96
Livrança — Prod. Liq 1700 1850 2 076 2 414 2 922
Análise realizada pelo Banco B 2 em relação à empresa B:
1977 1978 1979 1980 1981 1982
Resultado antes de Encargos Fi-
nanceiros 700 700 700 700 700 700
Encargos Financeiros 400 400 320 240 160 80
Resultado 300 300 380 460 540 620
Juros de D/Prazo — 45 37 39 54 83
300 345 417 499 594 703
Depósito a Prazo — 300 245 262 361 555
Disponibilidades antes da amor-
tização do empréstimo . . . . 300 645 662 761 955 1258
Amortização do empréstimo . . — 400 400 400 400 400
Disponibilidades finais . . . . 300 245 262 361 555 858
Dívida em 31-12 2 000 1600 1200 800 400

— 67
Resultados operacionais idênticos e Encargos financeiros das duas
empresas, exactamente coincidentes, no ano 1977, porém, vidas
futuras distintas... Há objectividade nisto?
Neste caso, a componente subjectiva consubstancia-se nas dife-
rentes decisões tomadas pelos estabelecimentos de crédito e que
resultam na existência de u m a mesma taxa aparente de juro, 20 %,
mas diferentes taxas efectivas : num caso (empresa A) 25 % e no
outro (empresa D) 20 %.
Como relevar tal facto, de importância vital para a empresa e
seus «stakeholders»? O simples lançamento de encargos financeiros
pagos, ainda que periodif içados, não satisfaz, como se viu.
O exemplo também serve para mostrar o contraste entre ajuda
bancária e estrangulamento da empresa através de operação rui-
nosa. (Ficará para ocasião própria, o desenvolvimento deste tema).

5. OUTRO CUSTO SUBJECTIVO - ENCARGOS FINANCEIROS


NIVELADOS OU ESTACIONARIZ ADOS -COMO RESPOSTA A
SITUAÇÃO REFERIDA NO NÚMERO ANTERIOR

A cena passa-se na sala de reuniões de uma empresa. Presentes


para discussão preliminar sobre fixação de preços de venda, dois
dirigentes: um responsável pela área financeira (F) e o outro pela
comercial (C).

F — De acordo com a condição de equilíbrio económico na base


de um lucro final de 2 500 contos chega-se à conclusão que,
em 1979, devemos vender ao preço de 2 000 Esc./t.

C — De acordo com o mercado não poderemos vender a mais


de 1 800 Esc./t. Não exagerando, devo afirmar que um preço
de 2 000 Esc./t. não reduzirá a zero as nossas vendas, toda-
via a quantidade descerá a 14 000 t, contra a possibilidade
de fornecer 20 000 t a 1 800 Esc./t. Vamos, assim, deixar
de ganhar ou mesmo perder...
A quanto é que vai ascender o custo funcional unitário?

F — A 1 000 Esc./t. E depois?

C — Depois... Nestas condições vamos perder ou deixar de ganhar


cerca de 2 000 contos, ou seja

20 000 x (1 800 - 1 000) - 1 4 000 x (2 000 - 1 000)

F — Mas não vês que se vendemos 20 000 t a 1 800 Esc./t a receita


obtida não cobre todos os custos?

68 -
C — Quais custos?

F — Materiais e Serviços 20 000, Pessoal 5 000, Gastos Gerais


2 000, Amortizações 5 500, Encargos Financeiros 5 000.
Ao todo 37 500 contos para uma produção de 20 000 toneladas.

C — Alto lá! Então daqui a dois anos já poderíamos vender mais


barato, não é? Vai-se pagando a dívida e fica-se a aguentar
menos encargos financeiros...

F —Sei lá! O que interessa são os cálculos do Departamento


de Contabilidade!

C — Vamos lá ver. Quanto pagamos (ou vamos pagar) de encar-


gos financeiros?

F — Como há pouco te disse: 5 000 contos, ou seja 20% sobre


25 000 contos de Financiamentos.

C — E isso vai manter-se ao longo do ano?

F —Bem...

C — Bem?

F — Claro que, tendo em atenção o Net Cash Flow global, se


os stocks não aumentarem e não houver investimentos,
prevê-se, realmente, a redução das dívidas e até um, reforço
das disponibilidades na ordem dos 3 000 contos. Para maior
facilidade de cálculo, considera-se que só em 31-12 o finan-
ciamento passará de 25 000 para 20 000 contos.

C — Já vi tudo! Vamos fazer contas!

F — Maria Cristina, ligue para o SPD, por favor!

M — SPD ou PSD?

F —SPD!

M — Ah ! Desculpe ! Devia ter logo percebido que eram os Socia-


listas alemães.

F — Não, menina! SPDDD... Serviço de Processamento de


Dados !

— 69
M —Ah! Toda a gente lhes chama DCO.

F — DCO?

M — Sim senhor ! DCO — Departamento de Ciências Ocultas !


Além do mais, com licença de V. Ex. as , devo informar que
eles são um bocadinho mais organizados que a Ex. ma Admi-
nistração e, por isso, tão pontuais à entrada como à saída.
Neste momento passam cinco minutos das seis. Algo a
objectar? Reinvindicações, Senhor Doutor?

F — Bom, bom, até amanhã se Deus quiser!

C — Oh pá, aguenta aí! Tenho aqui um brinquedo que me trou-


xeram...

F — Da Alemanha, 'tá-se a ver!

C — Isto chega para os nossos cálculos !

F — Aqui tens a Conta Estimada de Resultados para 1979.


Que mais queres fazer, agora?

C — Outras!

F — É pá!?

C — Vamos a isso?

CONTA ESTIMADA DE RESULTADOS PARA 1979


Programa inicial Alternativa I Alternativa II
Vendas (t) 20 000 2OO00 14 000
Esc./t 2 000 1800 2 000
Vendas Liq 40 000 36 000 28 000
Custo Func. (1000 Esc./t) . . . 20 000 20 000 14 000
Pessoal e GG 7 000 7 000 7 000
Ene. Financ. 5 000 5 000 5 000
4 000 4 000 2 000
Amortização 5 500 5 500 5 500
Resultado 2 500 —1500 —3 500

C — Como vês, com a alternativa I, em relação à II, vende-se


mais, tem-se um NCF mais elevado, reduzem-se mais as
dívidas...

F — Mas temos 1500 contos de prejuízo!

70 -
C —Qual prejuízo, qual carapuça! De outro modo, com o Pro-
grama inicial ainda teríamos maior (3 500 contos) ! Deixa-te
lá dessas concepções estáticas, lembra-te que estamos em
fase de sobrevivência e recuperação. Vejamos para onde é
que irá o «barco», nos próximos 5 anos:
1979 1980 1981 1982 1983

Resultado antes de Ene. Financ. . . 9 000 9 000 9 000 9 000 9 000


Ene. Financ 5 000 4 200 3 240 2 088 706
Resultado antes de Amort. ou Reint.
— disponível para reembolso de
Finan . 4 000 4 800 5 760 6 912 8 294
Financiamento! '.'. 21000 16 200 10 440 3 528 -
q m
Superavit — — ~~
Resultado depois de Amort. ou Rein-
tegrações -1500 -700 260 1412 2794
Utilizando outro método de cálculo de Encargos Financeiros
(vide: de Carvalho, R. L. F., Mais além do Cash Flow..., série de
artigos in Jornal do Técnico de Contas e da Empresa ou Revista
trimestral da Sociedade Portuguesa de Contabilidade) a situação
apresentar-se-ia :
1979 1980 1981 1982 1983

Resultado antes de Ene. Financ. . . 9 000 9 000 9 000 9 000 9 000


Ene. Financ 4 556 3 568 2361 886 -918
Resultado, etc 4 444 5 432 6 639 8114 9 918
Financiamento 20 556 15124 8 485 371 -
Superavit (a 20 %) — — — — *f'
Resultado -1056 -68 1139 2614 4418
C — Tu é que sabes de Contabilidade (e julgo que entendes este
termo em sentido genérico e não apenas na área restrita
das partidas dobradas), diz-me lá, não seria mais lógico
apresentar, para condições operacionais idênticas, resultados
semelhantes, ao longo dos anos?
F —Mas as condições são diferentes!

C — Essa agora!?
F —O financiamento...
C —O financiamento é para utilizar ao longo de vários anos,
não é? E isto independentemente, digamos, do método de
pagamento de juros (desde um extremo — pagá-los todos
inicialmente — ao outro — pagá-los todos só no fim do prazo
do empréstimo), julgo.

- 71
Também consideras custo de um só exercício todo o valor
de aquisição de uma máquina?
Afinal, se tivesses procurado uniformizar as coisas, sem
vistas limitadas ao horizonte temporal restrito de Um ano,
o teu preço de equilíbrio seria diferente e não terias arris-
cado a empresa a ir por água abaixo, definitivamente, como
consequência do teu conservadorismo pouco eficaz.
Pega lá nos Encargos Financeiros dos próximos 5 anos e
soma: 5 000 + 4 200 + 3 240 + 2088 + 706 = 15 234 (ou usando
o segundo método: 10 453). Agora divide por 5, obténs 3 047
(ou 2 091). Toma este valor para Encargos Financeiros de
um ano e aí tens o preço de 1 902 Esc./t (ou 1 855 Esc./t)
mais próximo do sugerido pelo mercado.

F —Assim não pode ser! Um a média aritmética simples...


C — Então diz lá como. Concordo que isto é um bocado aleatório,
direi mesmo subjectivo...

F — Concordo contigo que exagerada é a pretensão de procurar,


logo no primeiro ano, equilíbrio económico e, ainda por
cima, lucro puro... Só estou a pensar numa coisa: E os
empresários ou Conselhos de Gestão que procuram subir os
preços para conseguirem, o equilíbrio?

C —Bem, alguns não têm outra solução; quanto aos restantes,


ainda s e encontram na fase de «navegação à vela» e a
Nação pagará directa ou indirectamente os'maus resultados.
Um dia chegará, quando ninguém lhes comprar nada, em
que irão propor preços infinitos para cobrir os encargos
de estrutura.

F — Vamos interromper. Amanhã trago-te um trabalho apresen-


tado, há anos, pelo nosso colega Y, sobre uma aplicação do
sistema que, no fundo, preconizas.
Satisfeito?

O pano cai.

Moral da história: Algo vai mal nos esquemas tradicionais


e a Contabilidade é, muitas vezes, posta de lado por não servir...
à gestão, à política empresarial.
Durante muitos anos, firmas importantes regeram-se por princí-
pios financeiros que subestimavam a participação de capitais alheios,
as flutuações cambiais, as variações das taxas de juro.
Vivia-se numa economia empresarial fechada sobre si mesma.

72 -
De análise de projectos pouco se falava. A intuição vivia à solta,
sem limites.
Ao mesmo tempo, importantes equipamentos começaram a trans-
formar a composição de factores produtivos, no processso de produção.
Processos cada vez mais complexos e verticalizados conduzem a
substanciais imobilizações de trabalhos em curso. As incertezas de
abastecimento de materiais implicam estratégias de stocks.
A mais fácil movimentação de fundos à escala internacional cria
novas possibilidades de acesso ao crédito. Surgem as primeiras
fontes de recursos financeiros situadas entre capital próprio e capital
alheio. Tornam-se correntes as operações a taxa de juro variável.
Preponderando sobre tudo isto, pressões inflacionistas chamam
a atenção dos peritos para o saneamento de Balanços e Contas.
Timidamente umas vezes, teimosamente outras, a Contabilidade
tradicional, burocratizada e continuando a deixar-se enredar por
esforços no sentido de um, «custo real», satisfaz-se com a aceitação
de novos instrumentos de análise a priori e a posteriori (Cash Flow,
Orçamento). Descobre, finalmente, as delícias do Controle de Gestão
e fica-se a olhar para os desvios em relação a standards cada vez
mais hipotéticos.
Quase ao mesmo tempo, o desejo de não assumir riscos incontro-
lados faz nascer a análise de projectos de investimento, com todas
as suas grandezas e misérias.
Sai-se, definitivamente, do quadro apertado das contas anuais.
Aliás tal já se havia de certo modo concretizado com a utilização
da técnica de depreciação — primeiro grande passo num processo de
dinamização contabilística.
Estes dois últimos domínios — análise de investimentos e técnica
de depreciação — aparecem por assim dizer desligados:
— A técnica de depreciação orienta-se para a obtenção de
um Resultado Económico Anual com altos e baixos amor-
tecidos.
— A análise usual de projectos de investimento baseia-se em
resultados financeiros «lato sensu», evita o problema das
depreciações e põe de lado financiamentos e seus encargos.
Segundo o Prof. Dr. Dr. he Albach da Universidade de Bonn, a
análise de projectos de investimento não pode fazer-se isoladamente
e, para um trabalho de maximização do valor actual de um conjunto
de projectos de investimento, é importante estabelecer condiciona-
lismos não só quanto a limitações dos meios financeiros mas ainda
ter presente a sua heterogeneidade.
Pretende-se fazer com que a Contabilidade dê um passo em frente,
dinamizando não só a Aplicação de Fundos (Capital fixo e sua Depre-
ciação) mas também a sua Origem (Financiamento de projectos de
investimento e sua amortização). D e tal modo se ajudando a lançar

- 73
a ponte sobre o fosso que tem vindo a cavar-se entre uma Contabili-
dade essencialmente histórica e quase integralmente estática e as
actividades ligadas ao Planeamento empresarial.
A ideia subjacente ao presente trabalho encontra-se, de certo
modo, concretizada indirectamente nos recentes processos de «Lea-
sing». Foi posta em, prática pelo autor, em 1970 com a finalidade
de fazer ressaltar as consequências da gestão operacional, até então
sempre permanecendo em plano secundário dada a substancial inci-
dência de elevados encargos financeiros nas Contas de Resultados.
Ao mesmo tempo que se procurava mostrar o isolamento de políticas
sectoriais em que nessa empresa se vivia — primeiro passo para
salvá-la da degradação.
A ideia de nivelamento de encargos financeiros só é nova no que
diz respeito à sua aplicação consciente. Basta pensar em certo tipo
de vendas a prestações: os encargos financeiros totais juntam-se ao
capital em dívida e daí se obtém uma corrente de pagamentos mais
ou menos estacionários.
É do conhecimento geral que a evolução do valor de um bem
de equipamento
Esc. A

t
é relevada, em Contabilidade, através de uma corrente de custos
mais ou menos estacionários, tendo os processos de obtenção desses
valores periódicos sido objecto de extensa e cuidadosa análise.
Esc. A

Deste modo se faz incidir no resultado de um, ano a resultante


das expectativas referentes aos anos seguintes.

74 —
Quer dizer, o exercício deixa de ser absolutamente estático e
comportar-se neutralmente em relação ao futuro.
Quando, porém, se trata do financiamento correspondente (direc-
tamente ou não) aquele bem; de equipamento, segue-se o caminho de
considerar como pesando num só período, num só momento, o nível
de financiamento respectivo e, assim, os encargos financeiros pagos
são os considerados na 'Conta de Perdas e Lucros. Alguns contabi-
listas vão um pouco mais longe considerando o período seguinte e
contemplando situações de encargos financeiros antecipados e postci-
pados. Assim:
Esc. Ai

1 pagamento
de encargos
financeiros

!
1 1 1 nível de fi-
t„ n I n+1 nanciamento
Debita-se o Resultado do exercício n por 3/4 dos encargos finan-
ceiros pagos em t0.
Se se verificar a seguinte situação (juros postcipados) :
Esc. A

Regista-se como custo do exercício numa importância corres-


pondente a 3/4 dos encargos financeiros que virão a pagar-se em tj
segundo uma repartição proporcional ao tempo durante o qual o
correspondente capital se encontra ao dispor da empresa financiada.
Por que não estender tal esquema à vida total de cada financia-
mento ultrapassando o quadro apertado do exercício anual?
O processo de estacionarização de encargos financeiros pode se-
guir, na sua forma mais simplificada, uma das duas vias seguintes:
— considerar a extinção do financiamento tal como ele foi
contratado ou
— admitir o refinanciamento, se este se mostrar necessário,
até ao fim da vida dó projecto (caso da exploração de
recursos naturais deplecionáveis).

— 75
Uma simples solução aritmética consiste em somar os encargos
financeiros correspondentes aos diferentes períodos e calcular um
termo médio. Seja Jj a quantia a pagar por encargos financeiros
num determinado ano j e designe-se por n o número de anos durante
os quais se vai pagar encargos financeiros. Representado por T o
termo constante a calcular, virá:

T = l / n 2 Jj

Graficamente, tem-se:
Esc. A Esc. A

<>
• • • •


w >
0 t O t
Encargos financeiros a pagar Encargos financeiros a imputar

Todavia, num contexto em que o tempo .civil impera como ditador


impiedoso este tosco cálculo — função linear do tempo — não é satis-
fatório. Haverá que considerar a equivalência financeira de duas
rendas:

— a constituída pelas importâncias a pagar de acordo com


o plano de financiamento e
— a constituída por n termos constantes.

Em tais condições, o valor de T é determinável, por exemplo,


a partir de
2 Jj : ( l + i ) i - i = T • a „ ( i )

onde i designa a taxa de juro escolhida para a equivalência finan-


ceira.
A analogia com o processo de amortização ou reintegração deve
estabelecer-se com certos cuidados. De um lado, a depreciação de
um bem. de equipamento (ou despesas R&D) que se vai processando
mais ou menos regularmente ao longo do tempo; do outro, a utili-
zação de um financiamento que poderá, para o conjunto empresarial,

76 —
reduzir-se ou não ao longo do- tempo. Relembre-se, ainda, que os
encargos financeiros podem pagar-se dos modos mais diversos.

Não vai aqui desenvolver-se o tema — consequências fiscais do


processo de nivelamento de encargos financeiros. Anote-se, de pas-
sagem, que, de um modo geral, e sem grandes alterações nas leis
fiscais, beneficiariam as empresas que projectassem maiores inves-
timentos financiados por capital alheio. A conta de equalização apre-
sentar-se-ia de natureza passiva.

Esc.

ainda não dispendido mas aceitável


o redução do lucro tributável

A Administração Fiscal ajudaria automaticamente as empresas


em real expansão. No caso de esta se não verificar, pode dizer-se
que de duas uma: ou acelerava a liquidação ou apropriava-se (jus-
tamente!) de parte de um excedente de tal modo elevado que a firma
poderia vir a prescindir de capital alheio, adentro um certo horizonte
temporal, fechando-se sobre si mesma.

Nas situações correntes em que estão vivos vários projectos finan-


ciados de modos diversos, é possível, em termos pragmáticos, esta-
belecer projecções financeiras até ao fim do conjunto de projectos
ou até um dado horizonte temporal, sem esquecer os necessários
refinanciamentos (exploração de recursos naturais, ciclo de vida de
produtos). A partir daqui, tomando por base os encargos financeiros
previstos, proceder ao seu nivelamento através de uma equivalência
do tipo anteriormente exposto. É o que foi sintetizado no quadro
seguinte :

- 77
Wolf Mining Co.

(1) (2) (3) (4)


1979 4,5 10,2 -5,7 -1,7
1980 6,6 9,6 -3,0 0,4
1981 7,5 8,2 -0,7 1,3
1982 7,9 8,0 -0,1 1,7
1983 8,6 7,5 1,1 2,4
1984 9,1 7,0 2,1 2,9
1985 9,1 6,4 2,7 2,9
1986 9,1 5,7 3,4 2,9
1987 9,1 5,0 4,1 2,9
1988 9,1 4,1 5,0 2,9
1989 9,1 3,1 6,0 2,9
1990 9,1 2,4 6,7 2,9
1991 9,1 1,4 7,7 2,9
1992 9,1 0,5 8,6 2,9
1993 9,1 — 9,1 2,9
Total 126,1 79,1 47,0 33,1

Valor
actual
(7,25 % ) 59,6

(1) Resultado antes de Encargos Financeiros.


(2) Encargos Financeiros a pagar.
(3) Resultado depois de Encargos Financeiros.
(4) Resultado depois de Encargos Financeiros. Nive-
lados (T = 6,2). Taxa de actualização i = 0,0725.

Claro que as somas dos valores nominais não são convergentes,


como era de prever. Está-se em presença da estrutura «sui generis»
do espaço financeiro em que, quer se queira quer não, se desen-
volvem os fenómenos empresariais. Implicações mais genéricas das
propriedades de tal espaço, serão objecto de outra contribuição do A.
Pretender - se desenvolver uma política comercial baseada na
obtenção de um, resultado final pelo menos não negativo, na base
de encargos financeiros não nivelados, implicaria o agravar o preço
de venda de modo a tentar obter 5,7 milhões de dólares adicionais,
dada a saturação da capacidade produtiva. Esse acréscimo poderia
revelar-se desastroso. É mais provável que as operações comerciais
se desenvolvam normalmente se a empresa se contentar com 1,7 mi-
lhões (caso do nivelamento), sem alteração do supra mencionado
objectivo.
No concernente à relevação contabilística do processo, parece
transição demasiadamente brusca <t passar a registar-se, no Passivo,
as importâncias a pagar por encargos financeiros (reais ou previstos)

78 —
em relação a um certo número de anos, embora com adequada con-
trapartida de natureza activa, como é óbvio.
Por isso se sugere a utilização de uma subconta de Antecipações
Activas ou Passivas, conforme os casos.
Se o valor anual nivelado for inferior aos encargos financeiros
do período anual, a diferença aparecerá no Activo e em Resultados
incidirá apenas o valor do termo nivelado. Possivelmente durante
alguns anos, o saldo devedor aumentará até ao momento (encargos
financeiros pagos inferiores ao valor do termo nivelado) em que
começará a sua redução.
Desnecessário referir que, para além desta espinha dorsal, de-
verão por-se em funcionamento dispositivos adequados para tomar
na devida conta o problema de actualização como aliás já sucede
com certos métodos de depreciação.
De modo semelhante se procederá no caso de expansão de finan-
ciamentos (resultante quase sempre de agregação de casos indivi-
duais do tipo anteriormente descrito). Na conta de Resultados inci-
dirá uma quantia superior à do termo nivelado e constituir-se-á uma
subconta de Antecipações Passivas. Na alternativa de imputar tal
diferença (ou verba superior) ao Imobilizado em curso ou a arrancar.
À excepção de situações transitórias, um financiamento crescente,
em termos reais, só pode admitir-se globalmente, ou seja, pela con-
corrência de vários projectos de investimento, ou «tout court» perante
a existência de investimento líquido, ao longo dos anos.

RESUMO
Alguém pensará analisar o galope de um cavalo impondo, como
base do estudo, uma fotografia do mesmo com as quatro patas bem
assentes no chão?
Um balanço, nas condições em que normalmente é elaborado, na
estricta observância de princípios por vezes mais voltados às ciên-
cias jurídicas que à gestão empresarial, só pode ser útil quando,
pelo menos, associado a outro ou a documento equivalente.
A inadequação das peças e informações contabilísticas tradicio-
nais torna-se ainda maior quando, artificialmente, se pretende disso-
ciar, observar separadamente resultados reais ou possíveis dos muitos
projectos isolados (mas simultâneos) de investimento em vias de
execução ou já em funcionamento.
Face ao empolamento dos investimentos, não admira que a breve
trecho se venha a clarificar a diferença entre valores de aquisição
de equipamentos ou instalações e as verbas consideradas como custo
correspondente a um período inferior ao da vida económica daqueles.
Trata-se de situação semelhante à «compras-consumos». Porém,
pelo menos do ponto de vista físico, os consumos de bens ou ser-
viços externos são essencialmente objectivos enquanto que o processo

— 79
nivelador ou estacionarizante constituído pelo fraccionamento em
função do tempo civil ou de serviço do custo do imobilizado apresenta
feição nitidamente subjectiva ou de ilusória objectividade.
Perante a importância crescente dos capitais alheios e sua com-
posição cada vez mais complexa de que, só, dramaticamente tarde
algumas empresas se aperceberam, quase nada se fez, em Conta-
bilidade.
Num contexto em que o tempo civil impera como ditador impie-
doso, o pouco que se concretizou não conseguiu libertar-se de
concepções pouco mais do que estáticas. É o caso da periodificação
dos encargos financeiros apoiada em tosco cálculo — função linear
do tempo — na base de um período pouco superior ao ano. Algumas
situações se verificaram já também, de imputação de parte dos
encargos financeiros do período aos projectos de investimento em
curso; noutros casos, tais encargos sofrem indirectamente trata-
mento idêntico ao do imobilizado respectivo, por serem «ab initio»
considerados como parte integrante do seu custo de aquisição.
Na medida do nosso conhecimento, só muito recentemente (1971),
se fez uma aplicação concreta da estacionarização dos encargos
financeiros de uma grande empresa, envolvendo vários projectos
de investimento. O caso originou certa polémica a vários níveis:
Recusado por alguns contabilistas, aceite, em geral, por financeiros,
o processo não foi alvo de críticas aos seus aspectos essenciais, ao
ser apresentado, no ano seguinte, numa Mesa Redonda sobre Finanças
Internacionais, realizada em Bruxelas.
É precisamente tal técnica que se prestou a servir de núcleo ao
presente trabalho.
Consegue-se de tal modo dinamizar um pouco mais o Balanço,
fazendo dele constar uma conta que, além das de amortizações e
reintegrações, é altamente dependente de considerações temporais,
passadas e futuras. Ao mesmo tempo, os resultados, em vez de
afogados, de início, pelas encapeladas ondas dos encargos financeiros
de arranque, terão tendência a mostrar menores flutuações derivadas
da gestão financeira da empresa, da sua estrutura de capitais (ou
das origens de fundos) e de algumas características do esquema de
financiamento dos projectos em curso ou concluídos.
Custos completos, preços de venda e impostos sofrerão influência
profunda. Em muitos casos, ficará automaticamente eliminado o
risco de empolamento de custos unitários e suas consequências desas-
trosas sobre o preço de venda.
A analogia com o processo de depreciação é flagrante. Acontece,
todavia, que num dos casos, prevalece a óptica técnico-económica;
no outro, a financeira.
Ficará também atenuada a inoperância, a curto prazo, do resul-
tado económico ou contabilístico. Maior relevância sendo dada nos
casos, infelizmente frequentes, de recuperação económica envolvendo
uma estratégia de sobrevivência.

80 —
A Função Financeira nas Pequenas
e Médias Empresas
Por Rogério Fernandes Ferreira
RESUMO

A função financeira sempre foi significativa, embora, evidente-


mente, mais ou menos, consoante a intensidade dos capitais
envolvidos, o custo desses capitais (taxas de juro e outros encargos
directos e indirectos), as dificuldades de obtenção de fundos, o
risco das aplicações, a duração destas, a exigibilidade dos capi-
tais, etc.
Porém, em épocas de instabilidade e de crise, a importância do
aspecto financeiro amplia-se no contexto das empresas e a sua
inadequada consideração pode provocar situações de falência, ditando
o fracasso de iniciativas bem estudadas sob pontos de vista técnicos
e comerciais.
A função do gestor financeiro numa empresa de dimensão
razoável e dotada de modernos instrumentos e técnicas, terá de ser
realizada por pessoas altamente qualificadas que consigam coordenar
os programas estabelecidos em termos financeiros, proceder à esti-
mativa dos recursos e das necessidades financeiras (através de
contas, orçamentos e planos), formulando regras de segurança,
elaborando cálculos de rendibilidade necessários para a eleição das
prioridades ou alternativas, etc.
Numa empresa de menor dimensão a função financeira compe-
tirá, normalmente, ao patrão ou gerente, por vezes em colaboração
com o contabilista. Assim sendo, as importantes tarefas financeiras
dificilmente podem sem bem ponderadas pois as pequenas e médias
empresas não dispõem para isso de especializações profissionais
nem de diferenciações nas tarefas ditas administrativas.
Porque uma visão inexacta dos problemas financeiros pode inuti-
lizar os esforços dos empresários e seus colaboradores, revela-se
essencial medir os seus efeitos na condução dos negócios, ponderando
especialmente o peso actual dos encargos financeiros, designadamente

6 — 81
as suas implicações ao nível do balanço e da conta de resultados
e nos cálculos de custos e de margens de lucro.
Nota-se, por outro lado, que a inflação está conduzindo muitas
pequenas empresas a empobrecimento que a técnica tradicional da
contabilidade impede de ver, ao mesmo tempo que se constatam
impossibilidades de obter novos recursos financeiros, em face de
desequilíbrios na estrutura dos financiamentos que a inflação
acarretou.
Realça-se assim a grande necessidade de estar hoje alerta quer
perante as carências de fundos e de recursos financeiros quer
perante as fracas Utilizações e rotações de valores activos quer ainda
perante as perdas de valor do padrão monetário.
Na verdade, estamos em fase de pobreza e de carências que
provocam estrangulamentos na gestão, incumprimentos de obriga-
ções, impossibilidades de fazer compras, paralisações... E uma
empresa que hoje trabalhe com fundos e outros meios activos em
excesso vê surgirem, encargos desmedidos ou tem rendibilidades
financeiras inadequadas, dadas as altas taxas de juro actuais.
Nestes termos, os gestores das pequenas e médias empresas terão
de procurar apoios regulares para os aspectos financeiros através
de gabinetes de consultores idóneos e/ou solicitar a cooperação de
serviços específicos das instituições de crédito, Universidade e Insti-
tuto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas.

82 —
A Organização Contabilística
e o Sector Cooperativo
Por Luís Augusto Eça ale Matos

A CONTABILIDADE COMO CIÊNCIA CONCRETA


A ORGANIZAÇÃO CONTABILÍSTICA E 0 DESENVOLVIMENTO
DO COOPERATIVISMO EM PORTUGAL

Anda o sector cooperativo bastante desorganizado e atravessa,


infelizmente, em Portugal, uma crise de crescimento que resulta
da falta de estrutura empresariais.
Além de não possuir, o sector cooperativo português, um suporte
legal actualizado que lhe permita definir posições de relevo nas
estruturas da organização económica do País, muito embora a Cons-
tituição da República de 1976 dê todo o apoio fundamental às coope-
rativas, mantêm-se os vícios estruturais graves que não permitem
que o sector cooperativo se desenvolva e cresça de acordo com, a
sustenção legal que lhes tem sido prestada através de diversas leis
promulgadas após o 25 de Abril.
Agrupadas as cooperativas em uniões e federações, sem força
representativa nem apoio organizativo real (mas tantas vezes politi-
camente partidário), elas mantêm muitas das características que
impediram no passado um efectivo desenvolvimento das relações
entre cooperantes. É esse mesmo passado, ainda hoje marcada-
mente desgastante, que vem caracterizando, sem esperanças de
melhoras, algumas organizações de cúpula cooperativa como sejam
a Uniagri em Vale de Cambra, a Unicoope no Norte, a União das
Adegas Cooperativas da Estremadura, a Unileite nos Açores e tantas
outras que sofrem do mesmo anquilosamento que vem minando o
interesse dos cooperantes e provoca o desfazer das suas esperanças.
Hoje como ontem, tenhamos a ombridade de o dizer, as coopera-
tivas, embora em maior número, sofrem dos mesmos males — a falta
de organização e a pouca segurança nas suas estruturas.

- 83
Disso também é culpada a Contabilidade em Portugal pois que
não tem podido dar, dentro das medidas das suas possibilidades, o
contributo válido e necessário de forma a poder apoiar efectivamente
ou o lançamento de tantas cooperativas nascidas após o 25 de Abril
ou a reorganização de muitas outras que bem precisavam de quem
lhes proporcionasse um esquema organizativo empresarial capaz.
É efectivamente a organização contabilística aquela que pode
ser o esteio das estruturas das cooperativas, desde que estas se
subordinem- a métodos, princípios e formas de contabilização- que
lhes assegurem uma situação estável e que lhes proporcionem o vigor
necessário para que, constituindo elas o sector cooperativo, este
possa ombrear com os sectores privado e nacionalizado previstos
pela Constituição.
Quando Fayol enunciou, há já bastantes anos, as diversas fun-
ções de uma empresa, considerou a Contabilidade como uma delas,
lado a lado com a da técnica, com a comercial, com a financeira,
comi a da segurança, com, a administrativa, com a de produção, com
a de investimento e com a da gestão do pessoal. Apesar dos anos
decorridos sobre esta perspectiva, considerada por uns tantos já
ultrapassada, ainda há quem faça a distinção da Contabilidade das
demais funções, dentro de uma empresa, esquecendo a sua interde-
pendência. A Contabilidade aparece hoje em dia envolvida em todas
as restantes funções que atrás citei e não pode ser considerada uma
função isolada como pretendia Fayol.
Mas citando Bourgeois, se as funções de uma empresa forem
divididas em três ramos principais

— os que dão ordens


— os que protegem os valores
— os que transcrevem as operações

melhor se percebe a importância da organização contabilística nas


suas inter-relações com os diferentes serviços de uma empresa e o
interesse que haverá em evidenciar claramente o princípio da sepa-
ração de funções, evitando-se, através de organigramas, planear a
distribuição de serviços e de funções de forma a gerar situações em
conflito contrárias à aplicação de um eficiente control interno.
Queremos com isto dizer que a organização contabilística bem
fundamentada deve estar sempre presente para que as informações
que ela presta sobre as actividades de uma empresa sejam completas
e seguras.
A esta regra fundamental se devem subordinar as cooperativas
também como empresas que são e que, quanto a mim, têm por
obrigação revelar mais amiúde e claramente as situações financeiras
que advêm das suas actividades por entre todos os seus cooperantes,
chamando a atenção para determinados aspectos devem ser salien-

84 —
tados, para que esses cooperantes se apercebam dos prejuízos e dos
benefícios que resultam de determinadas acções ou mesmo activi-
dades das suas cooperativas.
Como haverá muitas outras regras, métodos e princípios que
interessam às cooperativas, vou explaná-los de forma que sejam
facilmente entendidos não só por quem se interessa pelo desenvol-
vimento das cooperativas em Portugal como também por todos
aqueles que se dedicam à Contabilidade e fazem dela a sua profissão.
Como diz Tuillet ninguém está mais qualificado para executar o
papel de Contabilista do qUe aquele que aprende, durante longos
anos, a disciplinar o seu trabalho, ao mesmo tempo que segue o rigor
matemático dos princípios contabilísticos.
Mas no desejo de sempre aprender as novas técnicas, através
de ensino apropriado, o Contabilista deve aperceber-se do interesse
profundo da organização contabilística, com as suas regras, métodos
e princípios, envolvidos estes, hoje mais do que nunca, em estudos
científicos. Po? isso a futura licenciatura em Contabilidade e Admi-
nistração além de ser um desejo natural perfilhado por tantos que
à causa da Contabilidade têm dado tanto do seu esforço, representa
a justa confirmação do interesse científico que a Contabilidade hoje
assume, envolvida como está em difundir informações baseadas, não
só em regras rígidas e correntes, mas em dados que resultam da
aplicação de técnicas sofisticadas para a completa organização e
control das empresas.
Possamos nós ver também, nos programas de ensino superior de
Contabilidade dos Institutos Superiores de Contabilidade e Adminis-
tração, cadeiras de Contabilidade aplicadas às cooperativas, reve-
lando a determinação dos efeitos das acções empresariais daqueles
tipos de sociedade sobre o meio social e físico que representa o
espaço português. Além disso, a formação de gestores para as
cooperativas torna-se extremamente necessária já que, entrando estas
num campo económico bastante competitivo, necessitam de um enqua-
dramento humano valorizado tecnicamente, de forma que possam
proporcionar às cooperativas um nível de organização moderno
e eficaz.
Como diria o meu colega Cabaço Pires, na edição especial da
revista «Balanço» da Associação de Estudantes do ISCAL, a Contabi-
lidade representa um sistema de mensuração e da comunicação das
empresas. Formadas como são as cooperativas, há toda a necessi-
dade de comunicar, entre os numerosos cooperantes acções e resul-
tados realizados pelas direcções das cooperativas e para isso devem
os seus gestores, devidamente preparados, revelar, através dos meios
postos ao seu alcance e sob forma organizada, as situações finan-
ceiras e patrimoniais encontradas, medindo com verdade o impacto
da acção dessas cooperativas na actividade humana que elas repre-
sentam e lhes é circundante. A chamada Responsability Social

- 85
Accounting tem pois uma aplicação lógica nas tomadas de conheci-
mento postas à disposição dos sócios cooperantes das diversas
cooperativas espalhadas pelo País.
A evolução das técnicas e da ciência contabilística resulta das
mudanças das condições de observação dos factos, especialmente
no que concerne à avaliação dinâmica dos fenómenos, despidos hoje
do absolutismo que os caracterizavam quando analisados pelos posi-
tivistas. Hoje, por exemplo, a padronização das contas, embora
eivada de defeitos, alguns bem nítidos, requer critérios científicos
de modo a que as formas de interpretação dos agrupamentos dessas
contas se possam fazer tendo em conta a orientação julgada indis-
pensável para uma boa administração, tanto a nível de empresa
como a nível nacional.
Segundo Lopes de Sá, que à Contabilidade tem prestado muito
do seu labor como homem estudioso que é, o balanço deve ser cons-
tituído por grupos científicos de contas de forma a que apresente
a verdadeira situação dos fenómenos patrimoniais pela sua natureza.
É o próprio Lopes de Sá que nos diz também que n 0 Curso Superior
de Análises de Balanços ele procura explicar as características cien-
tíficas que revelam os campos da estática e da dinâmica patrimoniais
das empresas.
Outros autores têm vindo a revelar também o sentido científico
de muitas interpretações contabilísticas. Não irei enumerá-las porque
muitos deles são já do conhecimento de todos vós.
Por outro lado, esses mesmos autores são unânimes em declarar
que as contas financeiras das empresas devem ser exactas, claras
e terem sido movimentadas através de técnicas contabilísticas
concretas. Estas técnicas, em países desenvolvidos, constituem hoje
a base das diversas normas e regulamentos dos Institutos Profissio-
nais de Contabilidade locais e fazem parte dos programas educacio-
nais das Escolas Superiores de Contabilidade existentes nesses países.
Porque essas técnicas contabilísticas são concretas e porque as
contas devem manifestar clareza e exactidão, a ciência da Conta-
bilidade terá que afirmar-se como ciência concreta.

A CONSTITUIÇÃO DAS COOPERATIVAS E A IMEDIATA COLA-


BORAÇÃO E INFLUÊNCIA DA CONTABILIDADE NESSE ACTO

Sempre que uma cooperativa seja formada, deve presidir à sua


constituição a fixação da estrutura inicial financeira mais apropriada,
isto é, deve ter-se em conta a constituição de um capital julgado
necessário para que a cooperativa possa atingir seus fins. Isto
quer dizer que, ao contrário do que pode acontecer com as sociedades

86 -
anónimas ou em nome colectivo, do sector privado, nas sociedades
cooperativas dever-se-á tender para o equilíbrio financeiro através
da equivalência entre o capital emitido e o imobilizado necessário.
Assim, num balanço de uma sociedade cooperativa, deverá constar
o capital emitido de acordo com a fixação atribuída pela Assem-
bleia Geral. Da mesma forma deverá constar o capital subscrito
e o realizado até à data do balanço, mas de uma forma clara e em
oposição ao POC (Plano Oficial de Contas). Assim na Situação
Líquida do balanço dessa cooperativa teremos:

CAPITAL

A acções (ou se quisermos A cooperações) a


B escudos cada e cuja subscrição foi de
C acções, totalmente realizadas CB
Não estando to-
talmente reali-
zadas Menos: valor ainda não realizado D
CB-D

Por outro lado e de acordo com os Estatutos das sociedades


cooperativas, os déficits ou superavits de cada exercício deveriam ser
regularizados, respectivamente por novas entradas de capital dos
cooperantes ou por transferência para conta de Reservas Livres com
vista a atender, no caso dos superavits, prejuízos futuros ou reforçar
posteriormente o capital. Lembro que, em relação a cooperativas
agrícolas e de pecuária, os resultados dos exercícios apurados podem
oscilar substancialmente de ano para ano, convindo para o efeito nos
exercícios onde se obtenham resultados favoráveis, transferi-los para
Reservas Livres. Em anos de prejuízo do exercício, o saldo da conta
de Resultados deverá ser trasferido para Reservas Livres até à
concorrência do seu montante. Tudo o que atrás mencionei deverá
constar dos Estatutos das cooperativas de forma clara e sem margem
para quaisquer dúvidas.
Os Estatutos das cooperativas também podem estabelecer _ os
cr-itérios de atribuição de encargos resultantes do facto do capital
não se encontrar totalmente subscrito ou realizado, tendo as coope-
rativas por isso que recorrer de créditos externos com a admissão
dos correspondentes juros e demais encargos. Tal significa que
poderão ser constituídas jóias a atribuir a novos cooperantes ou a
cooperantes em falta na realização do seu capital, devendo o valor
de cada jóia corresponder ao rateio dos juros pagos anualmente aos
prestamistas.

— 87
Os lançamentos serão:
1.° caso: com a emissão não totalmente 2° caso: com a emissão t o t a l m e n t e
subscrita subscrita mas não realizada
DIVERSOS Cooperantes
a Encargos Financeiros a Encargos Financeiros
Pelo rateio dos encargos fi- Pelo rateio dos encargos fi-
nanceiros referentes a em- nanceiros referentes a em-
préstimos feitos para suprir préstimos feitos para suprir
carências de capital carências de capital
Encargos Diferidos
Jóias a receber de futuros
cooperantes
Cooperantes
Pelo rateio de encargos cor
respondentes à sua falta na
realização de capital

Estas situações podem aparecer também sempre que haja aumen-


tos de capital nas cooperativas, permanecendo então todos os critérios
de contabilização atrás apontados.
A organização contabilística, no caso da constituição das coope-
rativas ou do seu aumento de capital, está pois como descrevo na
posição de orientadora de gestão, disciplinando, não de uma forma
autoritária, mas com um sentido educador e impregnado de filosofia
que convém às cooperativas. Ver-se-á que durante este meu traba-
lho, haverá fortes motivos de coordenação a serem propostos pela
organização contabilística, restando apenas que, obtido o consenso
dos técnicos na matéria, eles sirvam para disciplinar concretamente
todo o registo das operações das cooperativas, podendo contribuir
para a elaboração de legislação adequada para o sector cooperativo.
Ainda em relação às acções (ou cooperações) emitidas mas que
poderão vir a ser adquiridas temporariamente pelas cooperativas,
para sua ulterior distribuição por novos cooperantes, em período de
fecho de balanço, elas devem ser apresentadas nos balanços em
abate ao capital emitido e nunca como participações financeiras, ao
contrário do que o POC erradamente nos mostra.
Assim teremos:
CAPITAL
A acções emitidas (ou cooperações) a B escudos
cada totalmente subscritas e realizadas AB
Menos: F acções emitidas, subscritas e total-
mente realizadas, adquirida pela cooperativa
para sua ulterior distribuição PB (A —F)B
As acções adquiridas devem ser sempre tomadas pelo seu valor
nominal: mas não estando totalmente realizadas, as cooperativas
ao adquiri-las aos cooperantes tomá-las-ão apenas pelo valor líquido
de realização.
As acções próprias adquiridas e em carteira não são de maneira
nenhuma valores de activo, mas um efectivo abate ao capital emitido.
A indicação do valor nominal de cada acção (ou cooperação)
deve ser dada a conhecer nos balanços das sociedades cooperativas,
porque os valores neles constantes devem se; acompanhados de dados
que de imediato os identifiquem ou caracterizem, seguindo assim os
princípios contabilísticos geralmente aceites.

A APRESENTAÇÃO DAS CONTAS DO ACTIVO NOS BALANÇOS


DAS COOPERATIVAS

Em relação à classificação das contas do activo das empresas,


segundo orientação dada pelos países anglo-saxónicos, em Contabi-
lidade muito desenvolvidos e utilizando normas e conceitos apoiados
por institutos de índole profissional e de investigação, orientação que
eu também perfilho, essas contas podem ser apresentadas da seguinte
forma :

Activo corrente — que consiste na aglutinação de contas que


correspondem a valores disponíveis e valores realizáveis, conver-
tendo-se estes em disponíveis ou noutros realizáveis provavelmente
dentro dum determinado ciclo de operações, ciclo este que pode variar
de acordo com os negócios da empresa.

Activo fixo — que compreende contas que correspondem a valores


de natureza relativamente permanente e cuja posse permite a sua
utilização dentro das características dos negócios das empresas, não
sendo esses valores patrimoniais destinados a venda.

Activo de investimento — que aglutina contas de participação nou-


tras sociedades ou de aquisição de obrigações e títulos com o fim de
intervir nessas sociedades ou de os manter em carteira com o fim
de auferir rendimentos.

Outros valores de activo — que compreende contas que não podem


ser classificadas nos três primeiros grupos atrás citados e não cons-
tituem encargos diferidos.

Encargos diferidos — que aglutina contas que correspondem a


encargos ou custos que devem incluir-se na determinação de resul-
tados dos exercícios subsequentes.

— 89
Esta forma de classificação das contas de Activo de um balanço,
que aconselho para as empresas cooperativas, não obedece ao es-
quema de classificação do POC porque os critérios de agrupamento
das contas que adopto divergem nalguns pontos dos daquele Plano
Oficial. Longe de entrar em polémica com a Comissão de Norma-
lização Contabilística, prefiro, antes de apresentar a descriminação
das contas de Activo, invocar regras de normalização de contas que,
tendo sido1 debatidas em países estrangeiros de maior tradição no
campo da utilização da Contabilidade, oferecem garantias de clareza
e de rigor que permitem apresentar tais contas de balanço com a
adequada exposição e significado contabilístico-financeiro.
Quando falei da constituição das cooperativas, já invoquei algu-
mas das regras referentes à emissão, subscrição e realização ou libe-
ração das suas acções (ou cooperações).
Agora invoco outras regras de igual sentido contabilístico-finan-
ceiro que permitem obter uma leitura do balanço sem rodeios, leitura
que deve ser compreendida não apenas através dos números cons-
tantes do balanço mas atendendo também às notas que o acompanham
e dele fazem parte integrante.
Não apoio, por isso, o Plano Oficial de Contabilidade porque o
balanço que dele consta como figurino a ser adoptado por todas as
empresas não é acompanhado de todas as notas explicativas que
interessam nem apresenta, como conviria, os valores comparativos
do ano anterior. Esta última característica, que reputo de muito
importante, e que não é contemplada pelo POC, faz prevalecer a
regra de consistência dos princípios contabilísticos aplicados nas con-
tas dos dois exercícios apresentados. Qualquer variação de prin-
cípios de um exercício para outro provoca a elaboração de nota ou
notas ao balanço, info^mando-se as alterações havidas e qual o efeito
que elas deram lugar. Por outro lado quaisquer reclassificações de
contas feitas num exercício obrigam a reclassificações dessas mesmas
contas no balanço comparativo do ano anterior.
Irei em seguida descrever as contas de Activo, mostrando o seu
verdadeiro significado.

CONTA DE «CAIXA E BANCOS»

Deve revelar apenas os valores efectivamente disponíveis. Não


são aceitáveis nesta conta valores de vales e de cheques diferidos.
Por uma questão de princípio devem ser criadas contas separadas
para os depósitos a prazo. A conta de «caixa e bancos» pode incluir
uma subconta de «transferência de fundos» que será utilizada em
casos de necessidade de transferência de valores entre cofres de uma
mesma sociedade, tendo cada um desses cofres a sua subconta de
caixa.

90 —
Não deve a conta de «caixa e bancos» acusar montantes que pro-
venham de lançamentos feitos através de documentação com data
posterior à do encerramento do exercício.

CONTA DE «DEVEDORES COMERCIAIS»

Esta conta conterá apenas os saldos devedores de clientes resul-


tantes de facturação emitida pelas cooperativas e não cobertos por
letras aceites por esses clientes e referentes a transacções correntes
do seu negócio. Em coluna criada para o efeito, evidenciar-se-ão os
saldos de clientes do sector cooperativo. Semelhante apresentação
deve ser contemplada no balanço comparativo do exercício anterior.

CONTA DE «LETRAS A RECEBER»

Esta conta deve se; apresentada mostrando o valor das letras


registadas na empresa e em circulação e o das descontadas ou endos-
sadas. Assim, no balanço, a apresentação é a seguinte:
LETRAS A RECEBER
Valor das letras aceites, registadas e em circulação A
Menos: Letras descontadas ou endossadas B A —B

Tal como acontece em relação aos devedores comerciais, também


esta conta, em coluna separada, mostrará as letras aceites por em-
presas do sector cooperativo.

CONTA DE «DEVEDORES DIVERSOS»


Nesta rubrica serão considerados os saldos de devedores por
venda de imobilizado, sucatas e outras operações consideradas fora
das transacções correntes comerciais das cooperativas. Se houver
devedores do sector cooperativo, incluindo cooperantes, dever-se-á
evidenciar o montante dos seus saldos em coluna separada.

OUTRAS CONTAS DE «TERCEIROS DE ACTIVO»

Igualmente devem ser consideradas as contas de «Adiantamentos


de clientes», «clientes de cobrança duvidosa» e «embalagens a de-
volver por clientes», havendo sempre a preocupação de distinguir,
no balanço, os saldos dos devedores do sector cooperativo daqueles
que o não são.

— 91
CONTAS DE «EXISTÊNCIAS»

Em relação às cooperativas agrícolas e de pecuária sou de opinião


que devem existir as contas de «mercadorias ou matérias-primas em
trânsito» e de «mercadorias em poder de terceiros» que devem ser
contabilizadas pelos valores então conhecidos e correspondentes a
todas as aquisições feitas. A razão da existência destas contas pren-
de-se ao facto de existirem variações na qualidade dos produtos. As
cooperativas devem, por isso, após a recepção das mercadorias ou
matérias-primas agro-pecuárias, efectuar o control de qualidade cor-
recto e de forma a rectificar, se for caso disso, os preços inicial-
mente cotados, possibilitando incentivar a melhoria de produção e
penalização quem apresente os seus produtos em piores condições.
Não é justo, por exemplo, que todas as despesas com a rectificação
dos mostos em adegas cooperativas e que provêm das aplicações de
anidridos sulfurosos e de outros produtos, para obviar à podridão
das Uvas apresentadas, sejam rateadas por todos os cooperantes pro-
dutores, quando alguns há que bem se esmeram na boa apresentação
das suas uvas. Estas, muitas vezes, dada a sua graduação e quali-
dade, servem para fabricar vinhos que devem se? embalados conve-
nientemente e guardados como reserva, criando mais-valias que, a
meu ver, deviam ser também distribuídas pelos cooperantes que se
esforçaram na apresentação de qualidade das suas uvas.
Indicarei a seguir quais os lançamentos que as contas de «mer-
cadorias ou matérias-primas em trânsito» e de «mercadorias em poder
de terceiros» ocasionam.
Dado que muitos dos cooperantes não possuem escrita organizada,
às cooperativas interessa informar quais as quantidades recebidas e
podem-no fazer através das cópias das guias de entrada que serão
fornecidas a esses cooperantes. Por tais guias, far-se-á o lança-
mento :
Mercadorias ou Matérias-Primas em Trânsito

a Credores Comerciais — Cooperantes ou cooperativas

Com ,a utilização do preço ajustado entre cooperativas e os coope-


rantes ou entre cooperativas entre si e sujeito a rectificações futuras.
As notas de lançamento finais indicarão a valorização inicial e o ajus-
tamento que o preço das mercadorias ou matérias-primas sofreram.
Os lançamentos serão então os seguintes:

Armazéns de
a Diversos
Pelo ajustamento favorável aos credores comerciais
a Mercadorias ou Matérias-Primas em Trânsito
a Credores Comerciais — Cooperantes (ou cooperativas)

92 —
ou
Diversos
a Mercadorias ou Matérias-Primas em Trânsito
Pelo ajustamento desfavorável aos credores comerciais
Armazéns de
Credores Comerciais — Cooperantes (ou cooperativas)

0 valor dos ajustamentos deve resultar pois dos tipos de control de


qualidade feitos à entrada das mercadorias ou das matérias-primas
nas cooperativas e deve incluir o montante dos produtos necessários
à manutenção da qualidade verificada à entrada, como foi o caso do
anidrido sulforoso atrás citado.
A conta de «mercadorias em poder de terceiros» revela outras
características e deve ser movimentada através de guias de entrada-
-trânsito e onde se indicam os locais de armazenamento das merca-
dorias e os nomes dos credores comerciais que então funcionam como
fiéis depositários e cujas contas serão movimentadas, por contrapar-
tida, mediante valores de aquisição acordados e passíveis também
de ajustamentos. Logo que as mercadorias entrem nas instalações
das cooperativas adquirentes, far-se-á o lançamento

Mercadorias em trânsito
a Mercadorias em poder de terceiros
através da elaboração de uma guia de entrada que neste caso sofre
a influência da existência antecipada de uma guia de entrada-trânsito
e daí não ser movimentada a conta de Credores comerciais.
Ao fazer movimentar as contas de «mercadorias ou matérias-
primas em trânsito» e de «mercadorias em poder de terceiros», as
cooperativas passam a estabelecer os critérios de admissão das mer-
cadorias ou matérias-primas dos seus cooperantes ou de outras coope-
rativas, incentivando a qualidade. Doutra forma, arriscam-se a não
premiar quem melhor trabalha e se esforça para produzir bem, o
que infelizmente vem acontecendo em larga escala com as coopera-
tivas existentes no País.
O critério de recepção é pois extremamente importante e revela
a meu ver um factor decisivo de disciplina do sector cooperativo.
Em relação a outras contas de existências nada mais há a acres-
centar a tudo aquilo que já é conhecido. As contas de existências
dividem-se como é habitual em «mercadorias», «produtos acabados e
semi-acabados», «subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos», «pro-
dutos em curso», «matérias-primas, subsidiárias e de consumo», «em-
balagens comerciais retornáveis» e «regularização de existências»,
além das duas outras contas que atrás mencionei e cuja importância
relatei devidamente.

— 93
Para facilitar a contabilização das cooperativas, todas as des-
pesas de compras relacionadas com as mercadorias ou matérias-
-primas vendidas pelos cooperantes ou por outras cooperativas devem
ser de conta destes. Considera-se pois que as mercadorias ou ma-
térias-primas são recebidas à porta das instalações das cooperativas
adquirentes.
Os preços de compra são ajustados entre as cooperativas e os
seus cooperantes (ou entre outras cooperativas), no início de cada
ciclo produtivo, podendo o Estado contribuir com quaisquer tipos de
subsídios mas que não influem no custo das existências.
As despesas de compra dos produtos adquiridos no País a outros
credores comerciais ou no estrangeiro devem sempre que possível ser
incorporados nas facturas desses credores comerciais, com excepção
óbvia das despesas aduaneiras que serão contabilizadas através das
contas dos despachantes. Mas nestes casos, estabelecer-se-ão por
antecipação e de acordo com as taxas aduaneiras em vigor os valores
das mercadorias importadas. As variações que ocorrerem entre os
valores previstos e os reais, quando aqueles forem bem calculados,
não deverão ser significativas e por isso não são incorporadas nos
valores das existências mas em. contas de resultados.
Com referência à valorização dos inventários, especialmente dos
produtos acabados, temos que saber qual o método a aplicar — se o
peps (ou fifo), se o ueps (ou lifo), se o do preço da última factura,
se o da média simples, se o da média móvel, se o da receita bruta
do contrato terminado ou de qualquer outro método experimentado
e aceite pela técnica contabilística.
Devem as direcções das cooperativas dar a conhecer aos seus
cooperantes o significado dos métodos utilizados e a influência que
eles puderam ter na apresentação dos resultados. A sobrevalori-
zação das existências desde que aceites tecnicamente e que resul-
taram da mudança de métodos de valorização deverá ser sentida na
conta de resultados ou em nota anexa. Quanto à aplicação do valor
apurado, devem as direcções das cooperativas, através das Assem-
bleias Gerais, fazer sentir que, no caso do apuramento de resultados
finais positivos, esse valor seja transferido para Reservas Livres com
o fim de estabilizar os futuros benefícios sociais entre os cooperantes.
Se ocorrer mais tarde uma sub-avaliação das existências, tecnica-
mente aceite, às Reservas Livres criadas poderá ser abatido o valor
dessa subavaliação.
Convém informar que a aplicação dos métodos de valorização
das existências tem muito que ver com a forma como as coopera-
tivas se encontram inseridas nos sectores produtivos e comerciais do
País. Se elas porventura já se encontram integradas numa solução
vertical cooperativa de um sector produtivo, isto é, já se encontram
ligadas às formas de produção, distribuição e consumo, actividade
por actividade, há que ter em atenção os preços fixados para os con-

94 -
sumidores nas embalagens comerciais dos produtos vendidos para que
não surjam no futuro soluções que não se coadunem com a aceitação
desses mesmos preços.
Concretamente, devo dizer que as alterações das valorizações de
inventários deverão constar de notas aos balanços, mostrando-se o
efeito do desvio da consistência entre os dois exercícios mostrados.
Ainda em relação à valorização de inventários deve ter-se em
conta a base de «custo ou de mercado» que se ajusta a uma antiga
regra conservadora contabilística e que deve ser entendida como «não
considerar antecipadamente lucros e prever todos os prejuízos pos-
síveis». Quer isto dizer que se os preços de mercado descem, pre-
sume-se que os preços de venda os acompanhem. Assim, se redu-
zirmos os valores de inventário aos preços de mercado, reduzir-se-á
o resultado obtido no período em que se realizou a baixa de preço
de custo, transferindo-se os produtos em armazém para o exercício
seguinte a um preço que permitirá a obtenção de um resultado nor-
mal na sua venda. Se porventura os preços de mercado aumentarem,
o inventário mantém-se ao preço de custo de modo que não se consi-
derará antecipadamente nenhum resultado positivo.
Esta regra tem ainda muitos defensores mas em períodos de
nítida inflação as opiniões sobre a sua aplicação já divergem.
Finalmente, em relação ainda à valorização de inventários, as
mercadorias que sejam antiquadas ou hajam sofrido depreciação
efectiva devem ser retiradas dos inventários se não puderem ser
vendidas ou reutilizadas na produção. Se houver possibilidade de
venda dessas mercadorias a preços reduzidos deverá considerar-se
o facto, atribuindo o prejuízo no período em que ele for conhecido.
Mas os prejuízos resultantes de inundações e incêndios, não cobertos
pelo seguro, devem ser tratados como resultados extraordinários de
exercício.
Relativamente à conta de Provisão para Depreciação de Exis-
tências, sou de opinião que ela deverá ser contabilizada pelos valores
correspondentes a depreciações ocorridas e efectivas e nunca nas
cooperativas pela atribuição de percentagens atribuídas pelo Fisco,
permitindo que, em muitos casos, a provisão se revele insuficiente
e, em tantos outros, exagerada.

CONTAS DE IMOBILIZADO

As contas de imobilizado nos balanços das cooperativas deverão


ser divididas de acordo com o que tradicionalmente se considera,
tomando os dois grandes grupos que são

Imobilizações corpóreas
Imobilizações incorpóreas.

— 95
Em relação às chamadas imobilizações financeiras, tenho alguns
pontos a pôr e que relatarei a seguir.
Em conformidade com o POC e sem criticar para já o enquadra-
mento das contas de participações e obrigações em Imobilizações,
discordo que em qualquer balanço as subcontas de «participações
de capital na própria empresa» e «Obrigações da própria empresa»
apareçam como valores activos englobados com os restantes. Se-
gundo os princípios contabilísticos geralmente aceites, as partici-
pações de capital na própria empresa deverão ser reveladas no
balanço como valores de abate ao capital dessa empresa e as obri-
gações da própria empresa como abates dos valores passivos corres-
pondentes.
Em relação à classificação das contas englobalas no POC em
«imobilizações financeiras», eu prefiro o enquadramento de tais con-
tas em Activo de Investimento, podendo essas mesmas contas, nos
balanços das cooperativas, ser aglutinadas em «participações finan-
ceiras e outros valores de investimento». Adiante tratarei destas
contas.
Voltando às contas de imobilizado, devo informar que os juros
pagos por empréstimos realizados, em. substituição do capital ainda
não totalmente subscrito ou realizado (na convicção de que nas
cooperativas deve existir um perfeito sincronismo de valor entre o
imobilizado e o capital próprio) nunca devem ser classificados como
valores de imobilizado.
Convém lembrar que pode acontecer que algumas cooperativas
venham a receber facilidades ou mesmo doações municipais ou de
outra origem e que se encontram relacionadas com valores de imo-
bilizado — terrenos, construções, etc. Durante bastantes anos não
era prática corrente, nos países desenvolvidos, adoptar formas de
registo contabilístico dessas doações. Presentemente, discute-se se
a Contabilidade se contentará com o custo delas que é muitas vezes
apenas simbólico.
Se a doação não for ferida de condicionalismos muitas vezes
difíceis de medir, as cooperativas recebedoras dos bens, ao tomar
posse imediata deles, devem registá-los nas suas contas de imobi-
lizado pelo valor conhecido ou matricial correcto, debitando as contas
de imobilizado e creditando uma conta de resultados excepcionais
(Resultado excepcional apurado — doação de imobilizado) que, a con-
selho das direcções das cooperativas e por aprovação das Assembleias
Gerais, serão transferidos para Reservas Livres. Se entretanto a
doação efectivada contiver qualquer condição de utilização, como
por exemplo, o do bem ser utilizado pela cooperativa só nas suas
funções de produção contínua ou enquanto tal acontecer, já o lança-
mento deverá registar a contingência da doação. Assim debitar-se-á
de igual modo a conta respectiva do Activo Imobilizado e far-se-á o
crédito numa conta que poderá ser de resultados excepcionais (Resul-

96 -
tado excepcional apurado mas contingente — doação de imobilizado)
e que mais tarde poderá ser transferido para Reservas Livres, indi-
cando-se em nota ao balanço a contingência conhecida. Se esta con-
tingência desaparecer ao fim de algum tempo, a nota ao balanço
desaparecerá igualmente.
Não podem ser considerados direitos sobre bens de raiz os que
não sejam resultantes de direitos sobre bens com características de
domínio absoluto e como tal não podem ser classificados como va-
lores de activo fixo corpóreo ou tangível. Os inquilinatos prolon-
gados em X anos devem ser considerados como valores de activo
fixo incorpóreo e o seu valor corresponde às rendas pagas em ante-
cipação desses X anos. Possivelmente na chamada zona da Reforma
Agrária poderão surgir contratos desse tipo entre o Estado e as
cooperativas.
Se as cooperativas possuírem terrenos que não estejam afectos
à sua exploração ou não se espera que venham a interessar para
futuras ampliações ou modificações de estrutura, os valores de tais
terrenos devem ser registados em contas diferentes das do Activo
Imobilizado, mas enquadrados em contas de Activo de Investimento.
O mesmo acontecerá com edifícios desafectos ou sem uso.
Se os valores de imobilizado das cooperativas se encontrarem
sujeitos a quaisquer ónus ou encargos, devem essas situações ser
reveladas em notas ao balanço dessas cooperativas.
É princípio assente que os terrenos não são sujeitos a qualquer
reintegração. Mas no campo agrícola e pecuário a utilização cons-
tante dos terrenos obriga a que as cooperativas, suas proprietárias,
dispendam somas de dinheiro consideráveis para melhorar, periodica-
mente, as condições de produção. Esses gastos deverão ser contabi-
lizados numa conta denominada de «Melhorias em terrenos» que pode
ser capitalizada e sujeita a taxas de reintegrações cíclicas. Outros
tipos de gastos com terrenos poderão ser considerados nas contas
respectivas de Imobilizado como corretagens, drenagens, limpezas e
arranjos de jardins e despesas com preparação inicial dos terrenos
para os fins que forem destinados e ainda estradas ou caminhos de
acesso. Igualmente são de considerar como adições aos custos dos
terrenos os juros acumulados, até à finalização da compra desses
terrenos, e resultantes de hipotecas e outros ónus de conta das coope-
rativas adquirentes. Finalmente, se as cooperativas adquirirem ter-
renos onde existam edifícios que necessitem ser demolidos, o custo da
demolição deverá ser debitado à conta de «terrenos».
Em relação à conta de «edifícios», podemos considerar não só
os seus custos totais de construção ou de aquisição (escavações de
terrenos, licenças, construção de barracões temporários para oficinas
de construção e servindo de arrecadação para ferramentas e mate-
riais, os honorários dos engenheiros e de arquitectos, além da mão
de obra e de materiais empregues) mas também os prémios de seguro

7 - 97
referentes ao período de construção e referentes à cobertura de aci-
dentes no trabalho e de responsabilidade perante terceiros, as inde-
mnizações por reclamações de terceiros não seguras e os totais de
juros pagos por compromissos assumidos, durante o período de cons-
trução e pagos nesse período.
Relativamente a «equipamentos básicos e outras máquinas e ins-
talações», teremos que considerar não só o custo' deles mas os fretes,
direitos aduaneiros e custos adicionais de instalação mas também os
gastos necessários para ajustar ou afinar as máquinas, no período
inicial da sua laboração, e os custos de reinstalação de máquinas,
no caso de se optar por modificações estruturais de fabrico. No caso
das reinstalações, existindo ainda os custos de instalação inicial não
totalmente amortizados, devem estes ser abatidos por contrapartida
de Resultados Excepcionais.
Sobre «ferramenta e utensílios», «material de carga e transporte»,
«equipamento administrativo e social e mobiliário diverso» nada mais
haverá a acrescentar ao que por tradição se costuma registar em
Activo Fixo.
Quanto às taras e vasilhame, sendo retornáveis, porque acontece
haver uma percentagem de certa forma considerável de perdas delas
quando distribuídas pelos consumidores, devemos considerar essas
taras fora do Activo Fixo. Seguindo esse critério e se as taras não
são habitualmente facturadas aos clientes, devem as cooperativas
considerar uma «provisão para taras e vasilhame não devolvido» de
acordo com o prejuízo sofrido pela falta de devolução desse material
por parte dos clientes. Em contrapartida da «provisão» debitar-se-á
uma conta de «custo das vendas» pela dotação constituída.
A facturação que se produzir pela falta de devolução de taras
dirigida aos clientes deverá provocar o lançamento

Devedores Comerciais
a Vendas
Taras e Vasilhame.

Falando agora das reintegrações do «activo fixo corpóreo», posso


informar que a ideia que muitos contabilistas e técnicos de contas
tinham ou ainda têm de que as reintegrações resultam de deterio-
ração física de Um activo fixo corpóreo, causada pelo uso e ao des-
gaste pela acção dos elementos, é hoje largamente contestada porque
as reintegrações relacionam-se com as chamadas forças económicas
e físicas que provocam a quebra da utilidade económica desses activos
fixos corpóreos. Há hoje mesmo quem considere, como base de
avaliação, o valor de reposição dos activos fixos corpóreos conside-
rados, enveredando por aplicações de taxas de reintegração condi-

98 —
zentes com os valores de reposição considerados ou reavaliando acti-
vos fixos corpóreos.
Também as cooperativas, como quaisquer outras empresas, de-
vem estudar os problemas da inflação e seguir, por exemplo, com os
métodos de reavaliação dos seus activos fixos corpóreos. O valor
de reavaliação deverá ser considerado numa Reserva de Reavaliação,
tal como o POC indica. A criação desta reserva parece, à primeira
vista, não seguir a filosofia da criação das reservas, pois costuma
afirmar-se, com propriedade, que todas elas resultam da distribuição
de resultados, o que no caso da Reserva de Reavaliação parece não
acontecer (de uma forma clara, entenda-se). Mas, a meu ver, esta
reserva deverá constar como tal porque, segundo os princípios con-
tabilísticos geralmente aceites, fazendo parte da Situação Líquida,
ou dizem respeito a superavits pendentes de aplicação e sem fins
específicos ou se relacionam com a cativação de resultados por pru-
dência administrativa e com o fim de absorver eventos desfavoráveis
futuros. A primeira característica pode ser encontrada no tipo de
reserva que estou tratando agora. Senão, vejamos.
Ao ser estabelecida uma reavaliação de valores de activo fixo
corpóreo, fixa-se em contrapartida um valor de aumento de capital
próprio que, embora não realizado, corresponde à reavaliação efec-
tuada. Trata-se afinal de obter, sob forma potencial e no início da
reavaliação, valores correspondentes a superavits pendentes de apli-
cação futura (no caso das cooperativas apresentarem déficits subse-
quentes serão valores a abater a esses déficits).
Mas perguntar-se-á qual a forma como se transforma essa Re-
serva em superavits pendentes de aplicação futura?
Ao utilizarmos as taxas de reintegrações dos bens reavaliados,
teremos que conhecer as subtaxas correspondentes às reintegrações
a custo real ou histórico e as referentes aos aumentos por reavaliação.
Quanto a estas últimas teremos que considerar, em cada exercício,
o seguinte lançamento
Reservas para Reavaliação de Imobilizações
a Ganhos e Perdas
Resultados Extraordinários
Mais-valias monetárias de imobilização

até que os bens se extingam ou venham, a ser totalmente amortizados


e até à concorrência da reserva de reavaliação constituída.
Aos resultados extraordinários então apurados, em cada exer-
cício, podem as direcções das cooperativas atribuir os respectivos
fins.
Falando agora das contas de imobilizado incorpóreo, posso afir-
mar que, em muitos casos, as contabilidades das cooperativas terão

- 99
que as considerar. Basta, por exemplo, que existam patentes pró-
prias, contratos de arrendamento a prazo pagos antecipadamente,
beneficiações em propriedades arrendadas e despesas de organização.
Há, como todos já sabem, valores de imobilizado incorpóreo que são
amortizáveis e outros que o não são. Tudo dependerá da fixação de
uma vida útil a esses bens ou não.
Finalmente e ao contrário do que tantas vezes sucede nos balanços
de muitas firmas comerciais, devem as cooperativas apresentar os
valores de todo o seu activo fixo e as respectivas reintegrações e
amortizações, mesmo que esses valores de activo se encontrem total-
mente reintegrados ou amortizados. Só pela sua venda ou abate
esses valores devem ser retirados dos balanços.

CONTAS DE «ACTIVO DE INVESTIMENTO»

Lopes de Sá, de quem já falei atrás, apresenta os grandes grupos


do capital das empresas e entre eles menciona o de Bens de Rédito.
Diz ele que as contas nele agrupadas representam valores que se
destinam a produzir resultados pela própria natureza de aplicação.
Ora em relação às cooperativas, a denominação choca porque, em
princípio, elas não serão possuidoras de bens de rédito no seu todo,
mas de participações noutras sociedades cooperativas e com o fim
específico de colaborar ou participar na evolução do sector coope-
rativo. Por essa razão, alterámos a denominação do grupo de contas,
dentro da filosofia social que deve presidir à formação e funcio-
namento das cooperativas.
Da mesma forma que dividimos no balanço, os devedores comer-
ciais em pertencentes ao sector cooperativo ou não, também nos
valores de activo de investimento teremos que fazer o mesmo,
utilizando a coluna própria do balanço.

CONTAS DE «OUTROS VALORES DE ACTIVO»

Debaixo desta classificação de contas, deveremos considerar todas


aquelas que se relacionam com créditos a longo prazo (em princípio
a mais de um ano) e as existências que se prevejam não consumíveis
ou não vendáveis no exercício seguinte ao do balanço.
Esta conceituação corresponde à separação dos valores de activo
corrente dos que o não são.

CONTAS DE «ENCARGOS DEFERIDOS»


Este grupo de contas tem bastante importância nas cooperativas
agrícolas e pecuárias. Neste grupo, além dos encargos plurienais

100 --
vulgarmente considerados, devemos incluir os encargos de explo-
ração em curso em Dezembro de cada ano já que se mantêm, a meu
ver, duas posições irredutíveis de fecho de contas
— o período relativo aos ciclos ou campanhas das activi-
dades agropecuárias das cooperativas
— o período determinado pela lei fiscal que recai sempre
em 31 de Dezembro de cada ano.

A ser assim, os encargos de exploração correspondentes à cam-


panha não terminada em 31 de Dezembro deverão ser classificados
em Encargos Diferidos. Os gastos administrativos poderão ser
repartidos po? duodécimos, sendo distribuídos pelos ciclos de activi-
dade correspondentes e podendo ser transferidos, em parte, para
Encargos Diferidos.
Lembro que, se entretanto for conhecido qualquer prejuízo no
decorrer das campanhas em curso, no final de cada ano civil, se
deverá contabilizar esse prejuízo como pertença do período fiscal.
Há autores que, por outro lado, defendem a teoria relativa aos
resultados positivos conhecidos antes da finalização da campanha
e que podem ser considerados em resultados do exercício do período
em que foram conhecidos e antes da campanha finalizada. É uma
teoria que pode ser aceite pelas direcções das cooperativas mas
requer muito cuidado na sua aplicação.
Aceite a contabilização dos prejuízos antecipados (ou dos resul-
tados positivos), ter-se-á que valorizar essa situação com cuidado
para que não ocorram casos de valores antecipados e com efeitos
em resultados de uma forma pouco clara.

A APRESENTAÇÃO DAS CONTAS DO PASSIVO NO BALANÇO


DAS COOPERATIVAS

O cuidado maior a ter com as contas de Passivo reside no


afastamento do perigo de omissões nos balanços das cooperativas,
omissões que podem dizer respeito a valores correspondentes a res-
ponsabilidades assumidas. Algumas vezes acontece que a valorização
dessas responsabilidades não é suficientemente conhecida, o que
torna mais difícil o seu registo. Mas as contas de «provisões» aí
estão para poderem solucionar os problemas existentes. Não deve,
contudo, misturar-se valores reais com valores estimados nas
«provisões».
Em relação a determinados tipos de passivo, convém lembrar
que se se reportam a débitos de financiamento garantidos, em notas
anexas aos balanços se devem fazer as devidas referências a tais

— 101
factos indicando quais os valores do activo que servem de garantia
para o efeito.
Os valores de Passivo devem ser arrolados em 3 grandes grupos:
Passivo Corrente
Passivo' a Longo Prazo
Receitas diferidas
Irei agora falar de cada um deles.

CONTAS DE «PASSIVO CORRENTE»

Dentro deste grupo de contas, consideram-se aquelas em que,


segundo o Accounting Research Bulletin, a sua liquidação é razoa-
velmente feita pelos recursos existentes nas empresas ou pela criação
de outros tipos de «passivo corrente». O período de regularização
normal destas contas deverá coincidir com o atribuído aos valores
de activo corrente.
Se determinados valores de «activo a longo prazo» considerados
no exercício anterior se vencerem no exercício imediato ao daquele
para o qual está a ser feito o balanço, eles passam a ser conside-
rados então como «passivo corrente». Há portanto modificações de
classificação de valores, de exercícios para exercícios, de acordo
com os vencimentos dos débitos de financiamento.
Convém lembrar que muitas das «provisões» criadas e que corres-
pondem a valores estimados de encargos só vencíveis em exercícios
seguintes constam do grupo de contas de «passivo corrente», como é
o caso por exemplo das «provisões para férias e subsídios de férias».
Tal como acontece noutros grupos de contas, se os débitos de
financiamento tiverem sido obtidos através de empréstimos feitos
pelo sector cooperativo (Banco Cooperativo ou outras formas de
financiamento cooperativo), devem esses valores ser registados em
coluna própria, no balanço, segregados de outros empréstimos conse-
guidos através de outras entidades.

CONTAS DE «PASSIVO A LONGO PRAZO»

Este grupo inclui contas cuja regularização se espera fazer-se


fora do normal período seguinte ou do exercício seguinte.
Igualmente se subdividem os valores dessas contas de valores
com a sua relação íntima com o sector cooperativo ou não.
Em relação às contas de «passivo», o POC desenvolveu com
naturalidade a apresentação das respectivas contas, podendo julgar-se
que elas por si só se expressam, no seu teor contabilístico concreto.

102 -
Todavia, nada consta em relação aos «passivos contingentes» cuja
importância convém realçar.
Chamam-se «passivos contingentes» todos aqueles que, não repre-
sentando dívidas reais, podem no decorrer do tempo transformar-se
em passivos efectivos. Como exemplos teremos: litígios em curso,
responsabilidades por avales prestados, responsabilidades por garan-
tias prestadas e impostos adicionais a pagar.
Para aqueles valores, cuja responsabilidade de risco pode ser
grande, há que estabelecer «provisões» adequadas. Para outros
para as quais as possibilidades de prejuízos ou encargos possam ser
remotas, far-se-á a indicação respectiva nas notas anexas ao balanço.
Ainda em relação às provisões constituídas para fazer face aos
passivos contingentes não decorrentes aos negócios normais das
empresas, as correspondentes dotações devem ser consideradas em
«resultados extraordinários» e de preferência deduzidos dos «supe-
ravits acumulados», retidos em «reservas livres». De facto, as
probabilidades de risco variam segundo fenómenos económicos e
sociais e os valores correspondentes à sua conversão em prejuízos
ou encargos não devem ser reflectidos num só exercício.

CONTAS DE «RECEITAS DIFERIDAS»

A fim de manter o critério da especialização de exercícios e


tendo em atenção o que por mim foi dito quando tratei dos «encargos
diferidos», a propósito do desajustamento dos fins dos períodos de
campanha com os fins do ano civil, todas as receitas obtidas fora
desses períodos de campanha e dentro de cada ano civil aparecem
nas contas fiscais das cooperativas como «receitas diferidas».

AS CONTAS DE «RESULTADOS» DAS COOPERATIVAS E A IMPOR-


TÂNCIA DA SUA APRESENTAÇÃO CLARA E NORMALIZADA

É extremamente importante que as contas de «resultados» apare-


çam, no mapa de demonstração respectivo, com clareza e de uma
forma normalizada. Para isso, eu sou partidário da apresentação
do aludido mapa sob uma forma dinâmica, isto é, através do seguinte
apuramento:
VENDAS BRUTAS
Menos: Devoluções e descontos especiais
= VENDAS LÍQUIDAS
Menos: Custo das Vendas

- 103
=LUCRO BRUTO DA EXPLORAÇÃO
Menos: Despesa de Abastecimento de Depósitos ou
Armazéns próprios
Despesas de Venda
Gastos Gerais Comerciais
• = LUCRO BRUTO COMERCIAL
Menos: Gastos Administrativos
= LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO ANTES DE
IMPOSTOS
Menos: Resultados extraordinários
= LUCRO LÍQUIDO ANTES DE IMPOSTOS
Menos: Provisão para impostos
= LUCRO LÍQUIDO DEPOIS DE IMPOSTOS

Este mapa deverá conter valores de comparação do exercício


anterior e de acordo com a consistência de apresentação.
As formas estáticas e horizontais apresentadas pelo POC, porque
conservadoras e nem sempre facilmente reveladoras das diversas
fases de apuramento de resultados não são por mim perfilhadas.
Relativamente aos resultados extraordinários, as opiniões dos
tratadistas têm-se dividido e o próprio Instituto Americano de Con-
tabilistas Públicos tem vindo a emitir opiniões diversas sobre o
assunto.
Os que defendem o conceito do «superavit limpo» afirmam que
os resultados extraordinários devem ser considerados na demons-
tração de resultados, classificados convenientemente. Os que não
aceitam este princípio, dizem que n a demonstração de resultados
apenas devem ser revelados os valores correspondentes às receitas
e despesas aplicadas no exercício e que só a ele respeitam.
O Comité de Procedimentos Contabilísticos do Instituto Americano
de Contabilistas Públicos, segundo o seu boletim 43, afirma por seu
lado: «Só os valores considerados extraordinários seguintes podem
excluir-se da determinação de resultados de exercício e devem
excluir-se necessariamente quando se considere que os mesmos
possam desvirtuar 0 significado desses resultados, provocando situa-
ções que dêm lugar a juízos errados:

a) Débitos ou créditos importantes especificamente relacio-


nados com as operações de exercícios anteriores, tais
como a eliminação de provisões não utilizadas e criadas
nesses exercícios, incluindo a dos impostos.
b) Débitos ou créditos importantes referentes a vendas
ocasionais de activos não adquiridos para venda e de

104 —
tipo diferente daqueles que a sociedade utiliza no seu
comércio.
c) Prejuízos resultantes de ocorrências cujo risco não é
vulgarmente seguravel, como sejam as guerras, revoltas,
calamidades atmosféricas e catastróficas, salvo quando
tais percas constituam um risco próprio do negócio.
d) O desaparecimento dos valores do activo fixo incorpóreo.
e) O cancelamento de valores importantes de descontos ou
prémios sobre obrigações não amortizadas e da despesa
com a emissão das obrigações, à data da retirada ou
reembolso da dívida antes do seu vencimento».

Actualmente verifica-se existir controvérsia acerca das chama-


das contas de «receitas e encargos de exercícios anteriores» porque,
infelizmente, na prática tais contas foram usadas de uma forma
indiscriminada e pouco clara.
A meu ver e reconhecidas as afectações de determinados valores
a exercícios anteriores, eles deverão ser considerados em «resultados
extraordinários», podendo a Assembleia Geral por solicitação da
Direcção de cada cooperativa, fazer adicionar esses valores a «supe-
ravits não distribuídos» em Reservas Livres por razões de segurança
e de forma a manter um saldo subiciente que possa cobrir encargos
futuros.
Em relação à demonstração de resultados que as cooperativas
apresentem, devem ser revelados em separado ou em coluna própria
os valores das receitas e das despesas, por rubricas do mapa, havidas
com o sector cooperativo.
A propósito da apresentação dos estados financeiros compara-
tivos, de pelo menos dois exercícios, informo que tal apresentação
aumenta o interesse da informação prestada e revela uma maior
clareza das tendências correntes que afectam as operações das
cooperativas. Se houver lugar a notas ao mapa de demonstração de
resultados elas deverão ser feitas mesmo em relação aos resultados
extraordinários, quando for caso disso.
Quando houver alterações na apresentação de resultados de um
exercício para outro, devem as cooperativas, por consistência, modi-
ficar os valores comparativos do exercício anterior, pondo-os de
acordo com a numenclatura aplicada no exercício corrente e pres-
tando informes necessários, através das notas à demonstração de
resultados.
A presença de superavits nas demonstrações de resultados das
cooperativas, longe de revelar situações de menor cuidado na repar-
tição de rendimentos por entre os cooperantes-fornecedores, coope-
rantes-trabalhadores e consumidores, pode fornecer às direcções das
cooperativas formas de obtenção de reservas para poderem fazer
face a anos futuros para cujas explorações se prevejam dificuldades

- 105
ou situações de instabilidade e desfavor, como acontece com frequên-
cia no campo agro-pecuário.
A constituição de «reservas» nas cooperativas é pois aceitável
porque podem tomar a característica de valores necessários para
a estabilização de rendimentos.
Ao falar de «reservas», quero notar que, com a exclusão das
Reservas Legais e da Reserva para Reavaliação das Imobilizações,
não vejo outro tipo de reservas que não seja o que corresponde ao
das Reservas Livres. Todas as denominações que se queiram atri-
buir às «reservas», como se vê no POC por exemplo, não passam
de soluções de mera intenção, sem sentido contabilístico. Razão
têm os anglo-saxónicos quando aos valores apurados como superavits
e não distribuídos eles os apelidam simplesmente de «lucros retidos».

AS VANTAGENS DA APRESENTAÇÃO DAS CONTAS FINAN-


CEIRAS DAS COOPERATIVAS APOIADAS POR SERVIÇOS
DE AUDITORIA DEVIDAMENTE INTEGRADOS NA FUNÇÃO
COOPERATIVA

Em tempos o Movimento Cooperativista Português, entidade


ainda em formação, preconizava o desaparecimento dos Conselhos
Fiscais das cooperativas e a sua substituição por uma Comissão de
Fiscalização independente formada por auditores de contas suficien-
temente integrados na filosofia de funcionamento das cooperativas.
Perguntará, quem me ouve, porquê os auditores e não outros técnicos
de contas ou contabilistas?
A existência de auditores no Mundo deve-se em grande parte à
confiança que foi pedida por numerosos investidores em relação às
contas das empresas onde eles tinham investido ou desejavam investir
mais. Tratava-se assim de certificar balanços para fins de acesso
às Bolsas de Valores e de forma a fazer crer da veracidade das
contas a quem desejasse investir. Havia pois uma universalidade
de informação responsável e que se dirigia a um número potencial-
mente infinito de interessados. Ora, não acontecerá o mesmo nas
cooperativas e em relação aos cooperantes ou possíveis cooperantes
mas por interesses diversos?
A auditoria externa tem por missão averiguar da exactidão,
integridade e autenticidade das contas financeiras de qualquer
sociedade que são apresentadas pelas respectivas administrações ou
direcções. A opinião que assume essa auditoria deve revelar impar-
cialidade e ser profissionalmente capaz. Trata-se de um trabalho
de crítica independente.
Tem sido de resto através da actividade da auditoria que o
desenvolvimento da Contabilidade se tem feito sentir, nestes últi-
mos anos.

106 —
Mas a auditoria externa, além de certificar as contas financeiras
de qualquer sociedade e de apresentar a sua opinião sobre elas
e sobre a sua situação financeira e os resultados das operações
realizadas no exercício em análise, exerce assistência a essas socie-
dades, através de serviços vários como sejam os que se referem a
ajustamentos apropriados de contas, à apreciação dos sistemas de
contabilidade, à verificação do control interno existente e da sua
adaptação aos interesses da sociedade, à análise das vendas, à
tomada de posições perante situações novas, etc. Pode e deve tam-
bém a auditoria externa assessorar a direcção ou a administração
em todos os assuntos contabilísticos, financeiros, de organização
comercial e de tantos outros.
Que melhor tipo de fiscalização poderiam as cooperativas
arranjar?
Adequadas aos fins e objectivos do sector cooperativo, determi-
nadas auditorias externas podem de uma forma moderna e obvia-
mente progressiva prestar o seu contributo válido, mesmo que não
venham a constituir para já as Comissões de Fiscalização preconi-
zadas pelo Movimento Cooperativista Português.
Os cooperantes, mais do que ninguém, devem manifestar interesse
nos trabalhos de auditoria externa das suas cooperativas. Os audi-
tores externos, hoje em dia, deixaram de ser considerados uns
detectives, prontos a descobrir erros e desvios. Actualmente, eles,
desde que devidamente preparados e tecnicamente capazes, através
de normas internacionalmente aceites, estão em condições de proceder
em conformidade com. aquelas normas para que possam obter opi-
niões concretas e abalizadas sobre as contas financeiras que exami-
narem.
Por outro lado, como já fiz referência atrás, as cooperativas
devem mais amiudadamente prestar informações detalhadas das suas
posições financeiras. Os auditores externos devem então emitir a sua
opinião sobre elas, fazendo ver aos cooperantes as variações ocor-
ridas, as necessidades de aumentos de fundos, a evolução dos déficits
ou superavits, etc.
Se um dia houver lugar à substituição dos Conselhos Fiscais
Pelas Comissões de Fiscalização, constituídas por auditores externos,
como se faria a sua eleição?
Tal como acontece internacionalmente, apresentada a lista de
auditores externos pelo Movimento Cooperativista Português compe-
tirá às Assembleias Gerais das cooperativas, em solicitação das
direcções, aprovar os nomes dos componentes da Comissão de
Fiscalização.
Esta comissão, terminadj o trabalho de auditoria, emite a
opinião sobre as contas financeiras da cooperativa e assiste à sessão
da Assembleia Geral relativa à aprovação de contas, devendo forne-
cer explicações aos cooperantes, sempre que solicitada para o fazer.

- 107
Por outro lado, os relatórios produzidos periodicamente pelos
auditores externos devem ser presentes nas Assembleias Gerais e
lidos porque devem revelar as sondagens realizadas e as anomalias
encontradas e bem assim as questões levantadas em anteriores rela-
tórios e ainda não suficientemente esclarecidas ou resolvidas.
Este constante chamamento de atenção aos cooperantes para que
se interessem pela vida das suas cooperativas, através dos relatórios
dos auditores externos, deve representar, quanto a mim, um, sentido
de renovação saudável entre as cooperativas e os seus cooperantes
tão necessários e na prática tão parco.
Finalmente e em completo apoio às auditorias externas no sector
cooperativo, posso afirmar que os relatórios capazmente elaborados
e evidenciando informações rápidas e verdadeiras facilitam grande-
mente o trabalho dos dirigentes das cooperativas e porque são produ-
zidos tomando por base técnicas universalmente aceites oferecem
informações de completa funcionalidade. Assim, não serão mais os
dirigentes norteados por pura inspiração que sem as bases que a
ciência hoje oferece apenas dá lugar a actividades desordenadas
e ineficazes.

108 -
O Diário-Razão-Balancete nas P. M. E.
Por Raul Corrêa de Sousa Guimarães

NOTA PRÉVIA

0 autor deste modesto trabalho sobre o «Diário-Razão Balancete»


vem, desde 1956, a defender o sistema da escrituração do Diário,
do Razão e do Balancete Geral num só livro.
Deve-se, porém, ao ilustre professor e distinto oficial do exército
Coronel Francisco Caetano Dias, a primeira tentativa para selagem
daquele instrumento de relevação contabilística.
Com efeito, este antigo professor dos Pupilos do Exército dirigiu
ao Chefe da Secção de Finanças do 7.° Bairro Fiscal de Lisboa,
em 30 de Novembro de 1940, uma exposição para selagem de um livro
de características idênticas ao que preconizamos.
Daí resultou um primeiro despacho proferido pelo Subsecretário
de Estado das Finanças, em 2 de Janeiro de 1941, pelo qual ficou
entendido que fossem liquidadas três taxas de imposto de selo,
segundo o art. 111.0 da Tabela Geral, por cada uma das folhas ao
citado livro.
Posteriormente, e decorridos quase 12 anos, foi proferido pelo
Senhor Subsecretário do Tesouro, em 1 de Novembro de 1953 um
segundo despacho, em face do qual se esclarece que o pagamento
das três taxas só teria lugar nos casos em que o Balancete do Razão
estivesse sujeito a imposto de selo. É evidente que essa sujeição só
se justificaria quando o referido livro fosse escriturado por socie-
dades anónimas ou em comandita por acções, pois que o Balancete
do Razão só é exigido neste tipo de sociedades.
Os dois referidos despachos não foram, porém, publicados e,
assim, o sistema de escriturar num só livro o Diário, o Razão
e o Balancete Geral não foi divulgado e ficou desconhecido da maior
parte dos profissionais de Contabilidade.
No Norte do País não foi sequer submetido à selagem um único
livro e, quando, mais tarde, consultamos as Secções de Finanças da

— 109
cidade do Porto, ali fomos informados que ignoravam a existência
dos já citados despachos e que, por consequência, não poderia ser
admitido à selagem o citado livro.
Foi, então, que o autor se decidiu a criar um novo riscado e a
conseguir um despacho de legalização definitiva do «Diário-Razão-
-Balancete» ao mesmo tempo que iniciava a defesa da sua legalidade.
Em tão boa hora o fez que conseguiu a legalização do livro em causa
através de um despacho proferido em 20 de Agosto de 1955, pelo
Subsecretário de Estado do Orçamento e hoje já são em considerável
número as empresas que adoptam o referido livro na sua Conta-
bilidade.
Desde essa altura, tem o autor deste trabalho, — apenas por
uma questão meramente profissional e académica, — por vencer o
espírito rotineiro de uns e a ignorância e má fé de outros através
de palestras, das suas aulas de Contabilidade e de trabalhos publi-
cados no período compreendido entre o ano de 1956 e o presente.
Agora, que a Direcção da Associação dos Industriais Metalúr-
gicos e Metalomecânicos do Norte lhe quis dar a honra de a repre-
sentar nas Jornadas de Contabilidade, a realizar de 4 a 8 de Dezem-
bro, na cidade de Aveiro, o autor deste trabalho não quis perder
a oportunidade de, mais uma vez, defender a tese da legalidade do
«Diário-Razão-Balancete», como livro selado em substituição dos
livros obrigatórios Diário, Razão e Balancete Geral. Simultanea-
mente fará a apologia da sua adopção nas P. M. E., principalmente
naquelas sociedades que, não possuindo ainda contabilidade organi-
zada são obrigadas a essa formalidade a partir de Janeiro de 1979,
por força do art. 163.°-B aditado recentemente ao Código da Contri-
buição Industrial pelo Decreto-Lei n.° 137/78, de 12 de Junho.

O DIÁRIO-RAZÃO-BALANCETE NAS P.M.E.

A modesta dimensão de algumas empresas, muitas das quais


não possuem, ainda contabilidade devidamente organizada, impõe, a
curto prazo, a adopção de instrumentos de relevação contabilística
capazes de, simultaneamente, dar cumprimento à lei e fornecer
elementos convenientes a uma elementar mas segura análise sumária
da situação' económico-financeira.
Por outro lado, o Decreto-Lei n.° 137/78, de 12 de Junho, no seu
art. 2.°, adita ao Código da Contribuição Industrial o art. 163.°-B
pelo qual é imposta às sociedades legalmente constituídas, ainda
que pertencentes ao Grupo B, a obrigatoriedade de possuírem conta-
bilidade regularmente organizada. Pelo n.° 6 do art. 3.° do citado
decreto-lei, esta disposição entra em vigor em 1 de Janeiro de 1979.
Dado que o art. 2.° daquele importante diploma adita, ainda, ao
Código da Contribuição Industrial o art. 146.°-B, pelo qual a inobser-

110 —
vância do disposto no já citado art. 163.°-B será punida com a multa
de 10 000$00 a 200 000$00, é de supor que, neste momento, todas as
sociedades legalmente constituídas que não possuem, ainda, conta-
bilidade devidamente organizada estejam preocupadas em dar satis-
fação à nova exigência fiscal. *
Indo ao encontro dessa preocupação e no sentido de facilitar
a organização da Contabilidade dessas empresas, vamos falar de um
novo instrumento de relevação contabilística que engloba o «Diário»,
o «Razão» e o «Balancete do Razão». Trata-se de um processo já
usado em bastantes empresas, incluindo as do Grupo A, o qual tem
dado os melhores resultados, já pela simplicidade da sua execução,
já por possibilitar, num simples relance, uma análise sumária da
situação económico-financeira da empresa.
Escriturar o «Diário-Razão-Balancete», assim se chama o livro
que preconizamos, equivale a escriturar, separadamente, o «Diário»,
o «Razão» e o «Balancete do Razão».
Este processo de escriturar, num só, aqueles livros baseia-se no
conhecido «sistema de Degranges» que nos fins do Séc. XVIII obteve
larga expansão na Europa e, muito principalmente, nos Estados-
Unidos da América.
Nascido em França, no ano de 1795, E. Degranges (Pai) foi mem-
bro da Academia de Ciências de Paris. As suas teorias tiveram
larga influência na literatura pedagógica da Contabilidade que se
estendeu até à primeira metade do Séc. XIX. O seu mais célebre
trabalho intitulado La Tenue des Livres Rendu Facile teve mais de
trinta edições. Foi justamente nessa obra que Degranges apresentou
o seu arranjo do «Diário-Razão» cuja invenção parece ter sido erro-
neamente atribuída aos americanos, segundo afirma Peter Kheil, na
sua memória intitulada Uber Amerikanishe Buchsfurung».
Como livro selado o «Diário-Razão-Balancete» escritura-se, nor-
malmente, por partida mensal sintética em face dos seguintes
elementos:
a) Balancete estatístico ou equivalente, na contabilidade
mecanográfica;
b) Folha de centralização ou equivalente na contabilidade
manuscrita.
A primeira coluna dupla destina-se à revelação do movimento
ocorrido no mês; a segunda coluna destina-se ao registo do movi-
mento geral anterior; a terceira ao movimento global registado até
à data, e, finalmente, a, última coluna dupla destina-se aos saldos
das contas, ou seja, ao Balancete do Razão Geral.
P a r a se centralizar periodicamente o movimento patrimonial,
podemos lançar mão do lançamento indicado no quadro n.° 1. Uma
vez registado simultaneamente o movimento do mês, o movimento
anterior respeitante às contas movimentadas nesse mês e o movi-

— 111
mento global das mesmas contas com os correspondentes saldos,
fecha-se o lançamento e relacionam-se as contas que, tendo sido
movimentadas em meses anteriores não o foram, contudo, no mês
em causa. Finalmente, somam-se em escada as várias colunas,
conforme se indica no quadro n.° 1 e seguintes, trancando os res-
pectivos totais.
No mês seguinte, procede-se de forma idêntica e assim suces-
sivamente.
Chegados ao mês de Dezembro e depois de lançar o movimento
correspondente a este mês, pela forma já indicada, releva-se a
seguir o movimento rectificativo do Balanço e, consequentemente, do
apuramento de Resultados do Exercício, conforme se vê explanado
no quadro n.° 2.
Se, em cada mês, analisarmos a forma como está efectuada a
relevação sintética dos respectivos movimentos patrimoniais, logo
verificamos que, num dado instante, é possível determinar, suma-
riamente, a posição económica ou financeira da empresa. Pelo
exposto se vê que da relevação deste livro sintético podemos simul-
taneamente obter excelentes elementos de gestão empresarial.
Neste instrumento de relevação contabilística não há que pro-
ceder ao clássico' encerramento das contas no fim do exercício; mas
nada impede que se utilize tal prática por meio de lançamento ade-
quado, tendo sempre em vista a forma básica de escrituração do
livro em causa. Obviamente, se a tal encerramento procedermos,
teremos, necessariamente, de fazer o respectivo lançamento inverso
de reatribuição dos saldos das contas, no início do exercício imediato.
Se, pelo contrário, e como aliás aconselhamos, não fizermos o
lançamento de fecho de contas, então teremos, apenas, de proceder,
no fim do primeiro mês do exercício seguinte, como se indica no
quadro n.° 3, em que, no movimento anterior, em vez das somas do
movimento global do mês antecedente, são reproduzidos os saldos que
transitaram do Balanço.
Como facilmente se depreende, o «Diário-Razão-Balancete» «não
é um, livro diferente», mas sim um processo mais prático de conta-
bilizar «num só livro», e com a devida separação técnica, os lança-
mentos respeitantes a cada um dos livros obrigatórios Diário e Razão,
com a vantagem de, simultaneamente, poder ser escriturado o Ba-
lancete do Razão Geral, o que se torna deveras vantajoso, mormente
nas Sociedades Anónimas, em que o> Balancete do Razão é obriga-
toriamente escriturado como livro selado, por força do disposto no
art. 12.° do Decreto-Lei n.° 27 153, de 31 de Outubro de 1936.
Devemos, contudo, esclarecer que ainda há quem, possuidor de
um espírito rotineiro, tente, sem, qualquer fundamento, considerar
ilegal o referido livro. Outros afirmam, sem o demonstrar, que
aquele instrumento de relevação contabilística não se enquadra nos

112 -
preceitos da Lei Comercial. Aos primeiros poderíamos responder
muito simplesmente que o despacho de 20 de Agosto de 1955 profe-
rido pelo Subsecretário de Estado do Orçamento O consagrou a sua
incontroversa legalidade como, aliás, consta de um parecer então
produzido pelo distinto contabilista Dr. Álvares da Cunha.
Aos segundos, bastaria replicar que não se vislumbra qualquer
conflito entre a unificação dos três livros em causa e as exigências
formuladas pela lei mercantil, pois que na escrituração simultânea
do «Diário», do «Razão» e do «Balancete do Razão» se respeita, com
o maior rigor, o que é exigido no Código Comercial, tratando-se,
apenas, de uma forma mais prática de escriturar os citados livros.
Todavia, para que, a ninguém, deixe dúvidas a legalidade, a
admissibilidade e o próprio enquadramento do «Diário-Razão-Balan-
cete» nos preceitos da Lei Comercial, vamos, a seguir, desenvolver
a nossa tese, começando por uma referência à antiguidade do Código
Comercial Português, pois isso, até certo ponto, interessa ao desen-
volvimento do tema que nos propomos defender.

I
A antiguidade do Código Comercial Português justifica
uma interpretação e uma aplicação da Lei
em termos hábeis
Com efeito, mercê da reforma do sistema fiscal português ini-
ciada em 1962, com a publicação do Código do Imposto Profissional,
e cuja cúpula foi atingida com a publicação do Código do Imposto
de Transacções, o regulador das normas comerciais portuguesas enve-

C1) Do P.° n.° 12/114, L.° 4/89, mostra-se efectivamente que por despaaho
de 2 de Janeiro de 1941, de Sua Excelência o Subsecretário de Estado do
Tesouro, de 9 de Novembro de 1953, proferido no P.° 12/1111, L.° 14-S/221, foi
entendido deverem liquidar-se três taxas do imposto de selo, segundo o art.° 114.°
da Tabela Geral, por cada uma das folhas do livro com riscado especial que
serve simultaneamente para os lançamentos referentes aos livros «Diário»,
«Razão» e «Balancete do Razão».
Esclareceu ainda o segundo dos citados despachos que o pagamento das
três taxas por cada folha só é de exigir nos casos em que pelo livro de
«Balancetes do Razão» seja devido imposto.
Ora como, em virtude do preceituado no art. 0 12.° e seu § 1.° do Decreto-
-Lei N.° 27153, de 31 de Outubro de 1936, a exigência das três taxas só se
justifica quando o referido livro faça parte da contabilidade de sociedades
«anónimas» ou «comanditas por acções», importa concluir que, em relação a
outras sociedades que não sejam desta natureza, as folhas do livro de que se
trata — apenas estão sujeitas ao pagamento d e duas taxas —as dos livros
«Diário» e «Razão» — visto não serem obrigadas à selagem do livro «Balancetes
do Razão», porque este não está incluído no art.° 114.° da Tabela Geral».

8
— 113
lheceu de tal forma que, profundamente desactualizado, tornou-se
caquético e — porque não dizê-lo — moribundo.
No momento em que se anuncia para breve um novo código,
achamos, até, muito oportuno, traçar o elogio fúnebre daquele que,
sucedendo ao primeiro Código Comercial Português de 1833, elabo-
rado por Ferreira Borges, ainda vive, embora precariamente, com
a provecta idade de noventa anos.

*
* *

O primeiro Código Comercial Português apareceu em 1833, depois


dos códigos francês, prussiano e espanhol. Nele foi consignada a
primeira lei europeia regulando os cheques e apresentava mesmo
princípios bem definidos e até normas inéditas, como as da regula-
mentação dos cheques. E, tão bem organizado estava que houve
quem considerasse ser esse código o melhor até então publicado em
todo o mundo.
Não se compadecendo, porém, com tais opiniões, as necessidades
da vida comercial obrigaram os responsáveis de então a ampliar
aquele código, promovendo a sua reforma, volvidos apenas trinta
anos.
Encarregado Francisco António da Veiga Beirão de proceder ao
estudo da citada reforma, foi o segundo Código Comercial publicado
em 28 de Junho de 1888 e posto em- vigor em 1 de Janeiro do ano
seguinte.
É este código, com mais de noventa anos, qUe se mantém à laia
de camisa de forças capaz de tolher os movimentos à vida moderna,
apesar de terem sido, posteriormente, publicados alguns diplomas
legais que a evolução e a complexidade da vida económica e finan-
ceira impuseram.
Sirvo-me aqui da opinião do distinto Prof. Doutor Gonçalves da
Silva, referida num interessante esboço crítico sobre a Regulamen-
tação Legal da Escrituração Mercantil, publicado em 1938, quando,
já nessa altura, escreveu:

«Impor à vida moderna leis velhas de meio* século, é metê-la


numa camisa de forças que lhe tolhe os movimentos.»
Tem jus, portanto, à reforma semelhante código que tão bons
serviços prestou, mas que, como é óbvio, está bastante ultrapassado.
Fazemos, pois, ardentes votos para que seja publicado, dentro do
mais curto espaço de tempo, o novo Código Comercial Português.
Até lá, seremos forçados não a pôr de parte a lei ou a interpretá-la
a nosso bel-prazer mas sim, em muitos casos, a fazer uma inter-

114 -
pretação e uma aplicação em termos hábeis, a fim de evitar con-
clusões erróneas, injustas e absurdas. Semelhante tarefa não deve
ser, contudo, difícil para quem busque a «mens legislator is».
Com efeito, não há dúvida de que o legislador de 1888 não podia
prever as actuais necessidades da moderna vida económica, agra-
vadas com as exigências de uma reforma fiscal surgida numa altura
em que a gestão empresarial não estava, e ainda não está, na maior
parte das nossas empresas, suficientemente estruturada para enfren-
tar tão radical transformação, agravada, agora, com a entrada em
vigor do P. O. C.
E, se a letra da lei é um elemento indispensável à sua inter-
pretação e, até, decisivo em muitos casos, não é o único de que o
seu intérprete pode lançar mão. Outro existe, segundo o parecer
com que o Jurista, Dr. Eduardo Plácido, nos honrou sobre o «Diário-
-Razão-Balancete»: «é oi elemento lógico cujo valor na reconstituição
do pensamento do legislador (mens legislatoris) não é despiciendo».
Pelo que acaba de ser dito não se deve, pois, atender única e
simplesmente à letra da lei, mas, também, aos fins ou motivos que
a determinam.
«Com efeito — diz-nos, ainda, no seu esboço crítico o Dr. Eduardo
Plácido — há que procurar as razões da lei, a sua finalidade, o mo-
mento histórico em que nasceu, etc. Há que, numa palavra, recons-
tituir o quadro de circunstâncias que o legislador contemplou ao ela-
borar a norma para fixar com segurança o seu âmbito de aplicação
aos casos concretos.»

II

A admissibilidade legal do «Diário-Razão-Balancete»

Assente, pois, na necessidade de recorrer equilibradamente, aos


dois elementos da lei, o gramatical e o lógico, como único meio de
lhe fixar o sentido, resultará deficiente, incompleta e, portanto,
errada uma interpretação que atenda, exclusivamente, a um só desses
elementos.
A legalidade do mencionado livro sintético busca-se, desde logo,
através da interpretação simultânea destes dois elementos: o lógico
e o gramatical. No entanto, achamos conveniente prosseguir fazendo
a interpretação dos textos legais que disciplinam em bloco a escri-
turação dos comerciantes. Pretendemos, desta forma, provar inilu-
divelmente a admissibilidade legal do «Diário - Razão - Balancete».
E, assim, comecemos por interpretar o art. 20.° do Código Comercial.

— 115
Diz-nos esta disposição:
«Todo o comerciante é obrigado a ter livros que dêem a
conhecer fácil, clara e precisamente, as suas operações e for-
tuna.»

Será, pois, o livro que preconizámos dotado de características tais


que possibilite, através do seu exame, um conhecimento rápido, claro
e suficientemente preciso das transacções efectuadas, pelos comer-
ciantes?
Esta resposta só poderá ser dada pelos contabilistas que, certa-
mente, não deixarão de reconhecer que o sistema de escriturar o
«Diário-Razão-Balancete» não> é nem menos claro, nem, menos preciso
do que o velho e rotineiro processo de escriturar em livros separados
o Diário, o Razão Geral e o Balancete do movimento deste.
Se nos debruçarmos na análise dos quadros que ilustram este
trabalho e que servem para exemplificar a escrituração do livro sin-
tético em causa, concluiremos sem: esforço que o sistema proposto
torna a escrituração comercial mais clara, mais elucidativa e mais
completa, «sem deixar de realizar tudo o que o Código Comercial
exige. Preenchida esta condição nada impede que se reconheça a
sua existência e valor jurídico no plano do normativo comercial»,
foi essa, aliás, a opinião do falecido causídico, Dr. Aureliano Braga.
Não obstante darmos preferência ao «Diário-Razão-Balancete»,
reconhecemos que, neste livro de escrituração, não é focada a evo-
lução da conta e não deixaremos de concordar comi aqueles que
defendem as vantagens do exame da conta sob o ponto de vista dinâ-
mico. Mas, também, não podemos deixar de observar que os livros
obrigatórios são escriturados única e simplesmente para dar cumpri-
mento aos preceitos legais e nunca para servirem de bússula ou de
radar ao administrador. Mal deste e da sua empresa se não dispõe
de outros instrumentos de relevação contabilística, para efeitos de
gestão que a própria natureza e importância do negócio impõe e a
lei faculta. E que, assemelhando-se a empresa a uma frágil embar-
cação açoitada pela tempestade desencadeada pelos fenómenos econó-
micos e financeiros e pelas exigências de uma reforma fiscal em
franca e crescente evolução que, de um momento para o outro, exi-
giram profundas alterações na sua estrutura, tal embarcação não
pode contornar os escolhos que se lhe deparam sem o radar de uma
eficiente contabilidade. Ora, esse radar não está, evidentemente, nos
livros impostos pela Lei Comercial mas tão-somente naqueles outros
que a própria lei faculta e cujo número e espécies, bem como a forma
da sua arrumação, é autorizada no art. 30.° do Código Comercial.
Parece-nos, no entanto, que o livro proposto estaria condenado
sob o ponto de vista jurídico, se os livros de escrituração enumerados

116 —
no art. 31.° do nosso Código tivessem de ser escriturados de maneira
analítica.
Tal não acontece, porém, porque o § 1.° do art. 34.° admite a
contabilização do «Diário» quando diz:
«...poderão os respectivos lançamentos ser levados ao Diário
numa só verba semanal, quinzenal ou mensal, se a escrituração
tiver livros auxiliares, onde sejam exaradas com regularidade e
clareza, e pela ordem cronológica por que se hajam realizado,
todas as operações parcelares englobadas nos lançamentos do
Diário.»
Para demonstrar, pois, a admissibilidade legal do «Diário-Razão-
Balancete» não precisaremos de ir mais longe. Portanto, iremos
passar ao terceiro ponto do nosso tema.

III

O enquadramento do «Diário-Razão-Balancete»
nos preceitos da Lei Comercial
Afastada, pois, a objecção que poderia levantar - se quanto à
admissibilidade legal do mencionado livro sintético, passaremos,
agora, a tratar do seu enquadramento nos preceitos do Código
Comercial.
Assim, analisemos o art. 31.° que diz:
«São indispensáveis a qualquer comerciante os seguintes
livros :
— De Inventário e Balanços
— Diário
— Razão
— Copiador.»
Antes de prosseguirmos devemos, desde já, esclarecer que, salvo
melhor opinião, não se deve fazer da enumeração legal dos livros
obrigatórios um «cavalo de batalha» para condenar o livro que pre-
conizamos, porque essa enumeração, pela forma expressa no art. 31.°,
deve estar subordinada à ideia de que, há noventa anos (tão ve-
lhinho é .o nosso Código Comercial), era o que mais convinha para
da: a conhecer «fácil, clara e precisamente as operações do comer-
ciante».

- 117
Não vamos, agora, supor que o legislador de então tivesse em
mente a separação dos livros sob o ponto- de vista material e não
sob o ponto de vista funcional. Se tal acontecesse seríamos levados
a concluir de forma absurda que a Lei... era uma lei de protecção
às papelarias.
Sobre a formulação separada dos livros obrigatórios, permi-
timo-nos reproduzir, em parte um parecer que oportunamente foi
produzido pelo já citado jurista Dr. Eduardo Plácido:
«...interessa conhecer fundamentalmente os fins visados pela
lei ao estabelecer a obrigatoriedade daqueles livros...
Em última análise, a solução do problema depende dos resul-
tados dessa indagação e da correspondência com o ponto do facto
em causa. Isto porque a formulação em separado que o mencio-
nado art. 31.° faz dos livros obrigatórios não é, só por si, sus-
ceptível de excluir do seu alcance um livro com as características
do livro sintético Diário-Razão-Balancete.»

Não podíamos deixar de comungar do mesmo parecer, noutro


sector técnico, que, apesar de diferente, anda cada vez mais ligado
ao sector do Direito. Contabilidade e Direito andam sempre intima-
mente unidos e cada vez os elos que os ligam se tornam mais aper-
tados e fortalecidos por um conjunto de normas impostas pelas exi-
gências da vida moderna, o que quer dizer, pela Civilização, forja
de um surto assustadoramente crescente de necessidades.
Também não nos parece que, pelo simples facto de se reunirem
num só livro dois dos mais importantes livros obrigatórios, esses ins-
trumentos de relevação contabilística venham a perder por completo
a sua individualidade. O essencial é que, de facto, existam, de forma
independente ou reunidos. E não resta dúvida de que só por igno-
rância, por má fé ou por espírito rotineiro se poderá afirmar que,
funcionalmente, o Diário e o Razão não existem separadamente no
livro cujo uso defendemos, integrados das funções exigidas pelo
Código Comercial.
Assim, podemos desde já concluir que, sob o ponto de vista fun-
cional, não se trata de um livro diferente, mas sim, como aliás dis-
semos, de um processo mais prático de contabilização sintética e
simultânea dos livros Diário, Razão e Balancete do Razão.
«Será, portanto, legítimo recusar a validade do livro sintético em
questão, só por não se adaptar estritamente à formulação legal?»
Parece-nos responder a isto, de forma concludente, o elemento
lógico da Lei, o qual de forma alguma exclui o acolhimento daquele
instrumento sintético de relevação contabilística, justamente por nele
não se fugir às funções do Diário, do Razão e do Balancete do Razão,
exigidas pelos preceitos reguladores da matéria.

118 —
Iremos até mais longe nas nossas considerações, afirmando que,
sob o ponto de vista legal e técnico, achamos preferível a adopção
deste sistema de escrituração simultânea daqueles três livros num só.
De resto, esta nossa opinião foi defendida n 0 campo jurídico pelo
falecido e distinto jurista Dr. Aureliano Braga, quando disse que o
sistema por nós proposto «realizava tudo o que o Código Comercial
exigia pois até se integrava no disposto no art. 35.° do Código Comer-
cial, que diz na sua parte final:
«...em relação a cada uma das respectivas contas, para se
conhecer o estado e a situação de qualquer delas, sem necessi-
dade de recorrer ao exame e separação de todos os lançamentos
cronologicamente escriturados no Diário.»
Efectivamente, o Diário exige que se mantenha, em cada dia, o
registo de todas as transacções, ou seja, os actos que modifiquem ou
possam vir a modificar a fortuna do comerciante.
Tal exigência é satisfeita claramente no sistema que propomos
porque o modo de escriturar o «Diário-Razão-Balancete» integra o
que é imposto nos arts. 34.° e 35.° do Código Comercial em relação à
forma como são escriturados os livros Diário e Razão exigidos como
base da sua escrituração a qualquer comerciante.
Se examinarmos o modo como se escritura o livro em causa, logo
verificamos que este, periodicamente, põe em evidência a situação
económico-financeira da empresa, Uma vez que nele se regista, por
partida mensal, a síntese do dia a dia analítico do Diário auxiliar
ou dos diários sistemáticos e o movimento do Deve e do Haver do
livro Razão.
Ao dar-nos, ainda, simultaneamente, os valores das contas do
Razão através dos respectivos saldos relevados no respectivo balan-
cete, o comerciante fica a conhecer, em cada um destes períodos, a
situação exacta da sua fortuna, como o exige o art. 34.° do Código
Comercial.
Assim, não se vislumbrando qualquer conflito entre a unificação
dos três mencionados livros e as exigências formuladas pela lei mer-
cantil, o distinto advogado Dr. Mário Cruz, que também nos honrou
com o seu douto parecer, concluiu: «Realmente, nem a letra, nem o
espírito daqueles dispositivos legais proíbem ou desaconselham tal
reunião. E se esta, na sua aplicação prática, oferece vantagens, é
óbvio ser de recomendar a generalização do livro sintético «Diário-
Razão-Balancete».
Não há dúvida, pois, que a forma de escriturar este livro através
do sistema proposto está perfeitamente de harmonia com os princí-
pios basilares impostos pelas respectivas disposições do Código Comer-
cial no tocante à escrituração dos comerciantes. E tal sistema outro
fim não tem do que, dentro dos princípios legais, tornar mais clara,
mais fácil e mais rápida a relevação das modificações, quer qualita-
tivas, quer valorativas, ocorridas no património da empresa.

- 119
CONCLUSÕES

Resumindo o que acabámos de expor, podemos concluir:

1.° —O livro sintético «Diário-Razão-Balancete» não é um


livro de escrituração diferente, mas antes um sistema
mais prático de escriturar, simultaneamente, num só
livro, e com a devida separação, o Diário, o Razão e
o Balancete do Razão;

2.° —A Administração Fiscal aceita à selagem o livro em


questão e a Câmara de Falências lavra nele os indis-
pensáveis termos de abertura e de encerramento;

3.° — 0 «Diário-Razão-Balancete» tem perfeito enquadramento


no preceituado no art. 31.° do Código Comercial que
não impõe, de forma alguma, a existência autónoma
dos livros que indica como indispensáveis. Entender-se
de outra forma era estar em nítida oposição com o
princípio de liberdade de escrituração comercial esta-
belecido n 0 art. 30.° do mesmo Código;

4.° — Preenche o livro em questão, inteira e satisfatoriamente,


as finalidades e funções exigidas nos arts. 31.° e 35.°
do Código Comercial;

5.° — Satisfaz ao que se encontra preceituado nos arts. 29.°


e 30.° do Código Comercial;

6-° — A sua adopção não deve levantar qualquer- problema


de ordem fiscal, já porque não prejudica o disposto no
art. 51.° do Código da Contribuição Industrial e o exame
às escritas a que se referem os arts. 114.° e 115.° do
mesmo Código, já porque o despacho do Senhor Subse-
cretário de Estado do Orçamento, de 29 de Agosto
de 1955, vem demonstrar inequivocamente a sua lega-
lidade;

7.° — O «Diário-Razão-Balancete» reúne, num só livro, mas


com a devida separação técnica, os lançamentos sin-

120 —
téticos do Diário, do Razão e do Balancete do Razão,
evitando, deste modo, a relevação separada e mais mo-
rosa dos três instrumentos de relevação contabilística;

8.° — O livro em questão põe, periodicamente, em evidência,


num simples relance, a situação económico-financeira
da empresa, o que não é possível com o velho e roti-
neiro sistema de escriturar os três livros em separado;

O sistema que nos propomos defender constitui meio


complementar seguro e simples de fiscalização à Con-
tabilidade das empresas e não é menos eficiente, nem
menos válido do que aquele que nos dá os livros da
velha rotina enumerados n 0 art. 31.° do Código Comer-
cial. Pelo contrário, o sistema em causa facilitando,
simultaneamente, uma sumária e periódica análise à
situação económico - financeira das empresas, auxilia
uma eventual fiscalização à sua Contabilidade por parte
dos Serviços de Prevenção e Fiscalização Tributária.

Pelo exposto, parece-nos que numa altura em que uma boa parte
das empresas colectadas em Contribuição Industrial pelo Grupo B
não possuem escrita, era o momento exacto de aconselharmos a
adopção do nosso sistema que acabamos de expor, uma vez que as
sociedades legalmente constituídas são obrigadas a possuir Contabili-
dade devidamente organizada a partir de Janeiro de 1979.
Quanto às empresas que já possuem Contabilidade organizada,
aconselhamos, também, a adopção do «Diário-Razão-Balancete», a
partir do próximo ano. Isto porque a sua execução se reveste de
grande simplicidade, além de se traduzir em apreciável economia de
tempo, acrescendo ainda as outras vantagens atrás referidas e que,
sob o ponto de vista técnico, são de considerar.

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124 -
DISPOSIÇÕES CITADAS

1 — Código Comercial

Art. 29.°
Obrigatoriedade e fun- Todo o comerciante é obrigado a ter
ção da escrituração livros que dêem a conhecer, fácil, clara
e precisamente, as suas operações comer-
ciais e fortuna.

Art. 30.°
Liberdade de escritura- O número e espécies de livros de
ção e seus limites qualquer comerciante e a forma da sua
arrumação ficam inteiramente ao arbítrio
dele, contanto que não- deixe de ter os
livros que a lei especifica como indispen-
sáveis.

Art. 31.°
Livros obrigatórios São indispensáveis a qualquer comer-
ciante os seguintes livros:
De inventário e balanços;
Diário ;
Razão;
Copiador.
§ único. Às sociedades são, além dos
referidos, indispensáveis outros livros para
actas.
Art. 32.°
Legalização do inventá- Os livros do inventário e diário serão,
rio e do diário antes de escritos, apresentados ao juiz
presidente do tribunal do comércio da cir-
cunscrição onde tiverem de servir, para
que sejam por ele ou por algum dos seus
escrivães, a quem der comissão, numera-
das e rubricadas as folhas, e depois lan-
çados por um dos escrivães do juízo na
primeira página um termo de abertura

— 125
e outro de encerramento na última,
sendo referendados ambos os termos pelo
juiz 0).
§ 1.° Nas comarcas de Lisboa e Porto
a comissão para numeração e rubrica
pode ser dada a qualquer tabelião de
notas.
§ 2.° Se depois de começada esta
numeração e rubrica o juiz ou a pessoa
por ele encarregada de as fazer, não
as puder concluir, continuá-las-á quem o
substituir legalmente ou a pessoa a que
se der nova comissão, e o escrivão men-
cionará essa circunstância no termo de
encerramento.
Art. 34.°
Função e arrumação do O diário servirá para os comerciantes
diário registarem, dia a dia, por ordem de datas,
em assento separado, cada um dos seus
actos que modifiquem ou possam vir a
modificar a sua fortuna.
§ 1.° Se as operações relativas a
determinadas contas forem excessiva-
mente numerosas, ou quando> se hajam
realizado fora do domínio comercial, pode-
rão os respectivos lançamentos ser leva-
dos ao diário numa só verba semanal,
quinzenal ou mensal, se a escrituração
tiver livros auxiliares onde sejam exara-
das com regularidade e clareza, e pela
ordem cronológica por que se hajam rea-
lizado, todas as operações parcelares
englobadas nos lançamentos do diário.
§ 2.° Os comerciantes de retalho não
são obrigados a lançar no diário indivi-
dualmente as suas vendas, bastando que
assentem o produto ou dinheiro apurado
em cada dia, assim como o que houverem
fiado.

C1) Com' a extinção dos tribunais de comércio passou esta função a ser
desempenhada pela Câmara dos Administradores die Falências, mais tarde
designada por Câmara de Falências. Segundo o Estatuto Judiciário, art. 73.°,
alínea m) do n.° 2, compete ao síndico de falências rubricar as folhas dos
livros a que se refere este artigo.

126 -
Art. 35.°
Função e escrituração O razão servirá para escriturar o
do razão movimento de todas as operações do diá-
rio, ordenadas por débito e crédito, em
relação a cada uma das respectivas con-
tas, para se conhecer o estado e a situa-
ção de qualquer delas, sem necessidade
de recorrer ao exame e separação de todos
os lançamentos cronologicamente escritu-
rados no diário,

2 — Decreto-Lei n.° 27 153, de 31 de Outubro de 1936


(Fixa este decreto o capital pelo qual devem ser tribu-
tadas diversas sociedades anónimas e comanditas por acções)
Art. 12.°
Além dos livros obrigatórios estabe-
lecidos na lei, serão escriturados os de
balancete do razão, de contas correntes
e os de registo das folhas diárias dos
apuros das vendas a dinheiro.
§ 1.° Estes livros serão selados e con-
terão os lançamentos em dia, não se per-
mitindo atraso na sua escrita, bem como
na dos restantes legalmente estabelecidos,
superior a 90 dias.
§ 2.° A selagem dos livros das socie-
dades anónimas e comanditas por acções
será feita na secção de finanças da sua
sede. Quando os livros não sejam os pri-
meiros, é obrigatória a apresentação pré-
via do último selado, facto que constará
do livro 8-A e da verba de pagamento
de selo, indicando-se ainda o número de
folhas em branco se as houver.
§ 3.° Na selagem a que alude o pará-
grafo anterior é aplicável o art. 114.° da
tabela geral do imposto de selo, aprovada
pelo Decreto n.° 21 916, de 28 de Novem-
bro de 1932.
Art. 13.°
As contas colectivas do razão devem
ser sempre desenvolvidas em livros auxi-
liares, bem como a conta de resultados
do exercício.
— 127
3 — Código da Contribuição Industrial

Art. 22.°

Determinação do lucro O lucro tributável reportar-se-á ao


tributável saldo revelado pela conta de resultados
do exercício ou de ganhos e perdas, ela-
borada em, obediência a sãos princípios de
contabilidade, e consistirá na diferença
entre todos os proveitos ou ganhos reali-
zados no exercício anterir àquele a que
o ano fiscal respeitar e os custos ou per-
das imputáveis ao mesmo exercício, uns
e outros eventualmente corrigidos nos ter-
mos deste código.

Organização da escrita § único. As empresas organizarão a


dos contribuintes sua escrita de modo que os resultados das
actividades sujeitas ao regime geral da
contribuição industrial possam claramente
distinguir-se dos das restantes.

Art. 51.°

Deveres dos contribuin- Enquanto não se proceder à reforma


tes enquanto não se re- da legislação referente à escrituração
forma a legislação sobre comercial, devem os contribuintes orga-
escrituração comercial nizar e conservar a sua escrita de modo
a que se possa apurar clara e inequivoca-
mente e controlar o lucro tributável, com
inteira observância das disposições deste
código e nomeadamente do § único do
art. 22.°, dos §§ 1.° e 2.° do art. 43.° e
art. 50.°.

Imposição da existência § único. Poderá, entretanto, o Minis-


de determinados livros tro das Finanças, ouvida a Direcção-Geral
ou da observância de das Contribuições e Impostos e a Inspec-
certas normas ção-Geral de Finanças ou à Inspecção-
-Geral de Crédito e Seguros, tornar
obrigatória por portaria a existência de
determinados livros, documentos ou outros
elementos de escrita e a observância de
certas normas na sua arrumação.

128 —
4 — Decreto-Lei n.° 137/78, áe 12 de Junho
(Este decreto-lei adita os artigos a seguir transcritos)

Art. 146.°-B
A inobservância do disposto no ar-
tigo 163.°-B será punida com a multa de
10 000$00 a 200 000$00.

Art. 163.°-B
As sociedades legalmente constituídas,
ainda que pertencentes ao Grupo B, ficam
obrigadas a possuir contabilidade regu-
larmente organizada.

9 — 129
Custos Reais ou Custos Teóricos?
Problemática da Mão de Obra
Por José Nogueira da Costa

1. CUSTOS REAIS E CUSTOS TEÓRICOS

Todos aqueles que se interessam pelo estudo da contabilidade


de custos sabemi que tanto os custos reais como os custos teóricos
apresentam distorções — muitas vezes acentuadas — relativa-
mente ao somatório de encargos que, em rigor, uma empresa
suporta com a produção de determinado bem: produto ou
serviço.
É que, de facto, nem uns nem outros são exactos, no sentido
habitual do termo, pois aqui a exactidão é antes entendida com
o significado de que os cálculos necessários ao apuramento
desses custos foram correctamente efectuados, não só sob o ponto
de vista matemático mas também quanto à perfeita observância
dos critérios para o efeito estabelecidos com obediência a prin-
cípios de reconhecida validade.
Na verdade, a distinção entre custos reais (ou efectivos) e
custos teóricos (ou predeterminados) assenta, não num critério
segundo o qual os primeiros correspondem àquilo que, efectiva-
mente, a empresa suportou com: dada produção e os segundos ao
que se presume venha a ser despendido com uma produção a
realizar, mas sim, num ponto de vista que tem em conta a época
em que o cálculo do custo se processa. Assim, são custos reais
aqueles que são apurados após realizada a produção (custos
«a posteriori», custos «ex-post»), estando, por conseguinte, nessa
altura contabilizados (sistematicamente ou não) os encargos que
a empresa suportou com essa produção. E são custos teóricos
os que são calculados relativamente a uma produção que vai
realizar-se (ou até não), sendo os encargos a enfrentar estimados
quer em face de dados resultantes de anteriores produções ou
em custos «a posteriori», quer à custa de elementos obtidos por

— 131
recurso a análise científica do processo tecnológico de formação
do produto ou da produção do serviço, implicando medição rigo-
rosa das quantidades dos factores a consumir, dos tempos de
trabalho, etc., e do conhecimento do custo actual dos factores
ou da sua provável evolução. Podem ainda os cálculos dos custos
teóricos basear-se em dados estatísticos provenientes do exterior.
Ora, no que concerne aos custos reais, isto é, quanto aos
encargos que a empresa «suportou» com a produção de deter-
minado período — os tais custos já contabilizados, — muito tem
sido dito acerca da sua imprecisão (x), não se justificando o
alongamento destas considerações num trabalho que pretende
ser breve e, sobretudo, orientado para outra preocupação. No
entanto, não deve deixar de lembrar-se que, abstraindo mesmo
dos encargos que, correspondendo aos chamados «custos dire-
ctos», são na realidade diferentes dos valores contabilizados, por
via de regra, como custos do exercício (2), há a ter em conta os
erros que se cometerm, necessariamente, com a distribuição dos
encargos indirectos que, independentemente da impossibilidade
prática de uma periodização aceite como indiscutível, são impu-
tados às diferentes produções do período de acordo com, chaves
de repartição mais ou menos arbitrárias, portanto sempre falí-
veis.
Agora, no tocante aos custos teóricos, se é certo que os con-
dicionalismos que impedem, a obtenção de custos reais perfeitos
podem sugerir que se diga que os erros cometidos são empolados,
também é lícito admitir que, podendo basear-se em larga expe-
riência de produções ultimadas, rigorosas cronometragens de
tempos de laboração, apuramento meticuloso das quantidades dos
factores consumidos, tendo em conta as quebras que normal-
mente se verificam, perspectivas de melhorias de rendimento

(') «Rigorosamente o preço de custo real não existe» — GEORGES BROWN


in PRIX DE REVIENT, PRIX DE VENTE ET CONTRÔLE D'EXPLOITATION
DANS L'ENTREPRISE MODERNE.
(2) Por exemplo, o caso das matérias primas. Tradicionalmente, a sua
contabilização por destino, a custos reais, faz-se de acordo com o custo de
aquisição, utilizando-se, dada a frequente existência simultânea de lotes da
mesma matéria a preços diferentes, determinado critério valorimétrico. Ora,
pela impossibilidade de definir com precisão —ou até aproximação — a quota-
-parte dos encargos com a gestão de stocks por cada unidade das diferentes ma-
térias que a empresa utiliza no seu processo produtivo, esses encargos não são
normalmente contabilizados como sobrecarga do custo das matérias, mas sim
como encargos indirectos, disso resultando evidentemente imprecisão no apura-
mento do custo de produção.
E mesmo que na empresa a gestão de stocks se processe em termos muito
rudimentares, os encargos correspondentes não são de desprezar: despesas com
o pessoal do armazém de matérias, reintegração de edifícios e de equipamentos
ou rendas, energia eléctrica, despesas de conservação, seguros, quebras por der-
rames, fractura, inutilização, adulteração, furtos, etc.

132 -
dos factores por mais adequada organização da produção, pers-
pectivas da evolução dos custos dos factores, etc., os custos teó-
ricos sejam, mais correctos que os reais. Isto é, desde que os
custos teóricos sejam determinados com base em dados colhidos
em fontes da maior confiança e tratados cientificamente, pode-
mos vir a constatar que se aproximam, mais da realidade que os
p-óprios custos designados por reais ou efectivos.
Porque, na maior parte das empresas, as despesas com o
pessoal atingem um peso muito significativo como elemento do
custo de produção, interessa a sua análise aprofundada, qualquer
que seja o critério adoptado para o apuramento do referido custo.
Nesta conformidade, vão ser a seguir abordados alguns
aspectos que se consideram relevantes no estudo do problema da
mão de obra.

2. MÃO DE OBRA
A expressão «Mão de Obra» vai ser aqui usada predominan-
temente na sua acepção de «custo», isto é, como um conjunto de
encargos que a empresa suporta relativamente à força de traba-
lho O fornecida pelos seus trabalhadores fabris e que inclui
ordenados, salários, subsídios de férias e de natal, outros adju-
vantes e, na terminologia do Plano Oficial de Contabilidade (4),
os encargos sobre remunerações, tradicionalmente abarcados na
designação de «encargos sociais» (5)-
O problema da mão de obra —aliás como o de qualquer
outra componente do custo de produção, — quer se esteja a ope-
rar numa perspectiva de custos reais, quer numa óptica de custos
teóricos, implica a consideração, entre outros, de dois aspectos
essenciais: o da repartição dos encargos no tempo — periodiza-

(3) Outra acepção de mão de obra é precisamente a de «força de trabalho»


(trabalho prestado) ou, o que dá o mesmo, «trabalho predominantemente manual».
Simplesmente, esta últimia não corresponde hoje em dia ao que, para designar o
trabalho prestado na produção industrial, se entende por mão de obra, dado que,
pela generalizada mecanização das actividades industriais, grande parte das
tarefas a cargo dos trabalhadores — consistindo na vigilância das operações reali-
zadas pelas máquinas, muitas delas inteiramente automáticas — deixou de ser
predominantemente manual.
(4) Designação da subconta 654, que admite, entre outros, os desdobra-
mentos em contas d e 3.° grau de «Caixas de Previdência» e «Fundo de Desem-
prego».
(5) Por exemplo, Prof. Gonçalves da Silva in CONTABILIDADE INDUS-
TRIAL : «Encargos sociais são os custos acessórios ou complementares de mão
de obra que, de harmonia com a lei e os contratos de trabalho, as empresas
suportam a título de licenças remuneradas, subsídios de casamento, subs'dios de
gravidez, contribuições para o Fundo de Desemprego e para a Caixa Sindical de
Previdência, etc.».

- 133
ção dos gastos — e o da sua distribuição por secções, departa-
mentos ou portadores de custos (produtos, serviços, etc.).
Ora, a mão de obra, com vista à obtenção de custos de pro-
dução mais perfeitos, deve ser imputada a custos reais ou a
custos teóricos?
O Plano Oficial de Contabilidade, visando ainda apenas a
contabilidade externa ou financeira e que é obrigatoriamente
aplicado às empresas do grupo A da Contribuição Industrial,
desde 1 de Janeiro de 1978 (6), implica a necessidade de todos
os encargos com pessoal, incluindo, portanto, a mão de obra,
serem contabilizados através da conta 65 — Despesas com o pes-
soal, que se encontra desdobrada em contas do 2.° grau e do 3.°.
A citada conta, em que se registam; a débito os encargos que
a empresa vai enfrentando ao longo do ano com todo o seu pessoal
(incluindo assim os membros dos corpos gerentes ou o empresário
individual) (7), é, no final do ano, creditada no montante do seu
saldo por contrapartida da conta 81 — Resultados correntes do
exercício, aliás como acontece relativamente às restantes contas
da classe 6. Trata-se, como é óbvio, da contabilização dos encar-
gos por natureza — característica inerente à contabilidade externa
ou financeira, — nas mesmas condições em que se processam os
movimentos a débito de outros custos que são abrangidos pelas
contas 82 — Resultados extraordinários do exercício e 83 — Resul-
tados de exercícios anteriores, bem como os movimentos a cré-
dito das contas de proveitos contempladas na classe 7 e de
outros proveitos abrangidos também pelas referidas contas
82 e 83.
A contabilização por destino, ou por funções, tendo como
objectivo o apuramento dos custos de produção, é já do domínio

(6) Empresas privadas do grupo A de um modo geral, já que, quanto às


empresas públicas e com participação maioritária do sector público, o plano foi
obrigatoriamente aplicado com início no exercício de 1977. Excluem-se, no en-
tanto, as instituições de crédito (bancos) e de seguros, empresas que estão, desde
há muito, sujeitas a normalizações específicas.
O facto de se estar aqui a abordar a questão relativamente a empresas do
grupo A da contribuição industrial, não significa, como é natural, que a proble-
mática da mão de obra não tenha as mesmas implicações noutras empresas,
incluindo as do grupo B e até do grupo C. É que, se, em especial, as empresas
do grupo B, quando individualmente consideradas, se podem revelar de somenos
importância, já o mesmo deixa de acontecer desde que encaradas no seu con-
junto, constituindo um peso que não é d e desprezar, até por implicações de ordem
social, na economia do País. Obviamente, porém, tudo aquilo que se concluir
neste trabalho vale para qualquer empresa, seja ou não do grupo A.
(7) Trata-se aqui da contabilização correspondente à 1." fase do trabalho
—processamento — que, como acontece em relação a outra frase—pagamento- ,
é do âmbito da contabilidade externa; a restante fase — imputação — , que diz
respeito à contabilização por destino, é portanto do domínio da contabilidade
interna ou de custos.

134 -
da contabilidade interna ou contabilidade de custos, mais comum-
mente designada por contabilidade analítica de exploração ou
até por contabilidade industrial.
Ora, é precisamente na óptica da contabilidade de custos que,
mais propriamente, importa analisar o problema da mão de obra,
que' está a procurar-se tratar.
Importa, entretanto, observar que, por um lado, o P. O. C.
prevê a classe 9 para a contabilidade de custos, cuja estruturação
pressupõe a conveniente articulação com a contabilidade ex-
terna (8), e que, por outro — e isto mostra-se sobremaneira rele-
vante, — o estudo dos problemas da contabilidade não pode
fazer-se com subordinação exclusiva a um determinado plano ou
normalização contabilística, pois terá, nas suas formulações gera_is
e essenciais, de revestir-se de um carácter de universalidade, não
só temporal como sectorial (zona geográfica e/ou tipo de acti-
vidade).
Voltemos, portanto, à nossa questão.
Nada impede, considerando novamente o problema à luz do
P. O. C, que os encargos com o pessoal, debitados no seu con-
junto, na contabilidade externa, através da conta 65, sejam segui-
damente distribuídos, na contabilidade interna, por contas (ou
seus desdobramentos) de «Gastos Gerais de Administração»,
«Gastos de Venda» e «Mão de Obra», integrada esta ou não numa
conta de «Fabricação» ou «Exploração Fabril», por contrapartida
de uma conta reflectora (9), sem que, reciprocamente, tenha de
processar-se o correspondente crédito na conta 65.
Nesta medida, a parte dos encargos com o pessoal incluída
na conta de «Mão de Obra» será imputada aos diferentes porta-
dores de custos ou às secções ou departamentos de acordo com
as fichas de produção, fichas de tarefa ou de encomenda, folhas
de imputação de salários, etc., —mão de obra directa — bem
como à conta de Gastos Gerais de Fabrico — mão de obra indi-
Ora, desde que se adopte este procedimento, havendo assim
inteira correspondência entre o total das despesas com o pessoal

(8) Tal articulação não tem que fazer-se, necessariamente, à custa de qual-
quer conta de ligação existente, com subordinação à classe 9, tanto na contabili-
dade externa como na interna (caso do sistema monista diviso), ou de contas
reflectoras (caso do sistema duplo contabilístico). As duas contabilidades podem
estar completamente separadas, projectando-se independentemente, portanto exclu-
sivamente à custa das suas contas próprias, os valores duma na outra _e vice-
-versa, inclusivamente com expressão numérica diferente. Essa projecção, que
não tem que obedecer a uma relação fatalista, designadamente de ordem crono-
lógica, é que constitui articulação.
(9) O que não é essencial, designadamente se na contabilidade interna tor
adoptado dispositivo de relevação não digráfico.

- 135
relevadas em cada mês na contabilidade externa e o somatório
dos encargos da mesma natureza repartidos pelas citadas contas
da contabilidade interna, não há dúvida de que a contabilização
da mão de obra se está a processar a custos reais ou efectivos,
entendidas estas expressões no sentido que em. contabilidade de
custos lhes é dado e aparece referido no início deste trabalho.
Mas será, de facto, este o processo mais aconselhável para
apurar o valor de um. elemento do custo de produção — e de tanto
peso como é normalmente a mão de obra — que torne o custo final
de um bem, produzido mais ajustado à verdadeira realidade?
Fácil se torna verificar que não.
É que, como todos sabem, em cada mês aparecem apenas
contabilizados na conta «Despesas com o pessoal» os encargos
que a empresa processou e devem ser satisfeitos com referência
ao mesmo período. Simplesmente, ninguém ignora também que,
para além do ordenado ou salário e outras prestações a que,
mensalmente, cada trabalhador tem direito, a empresa deve satis-
fazer o pagamento de um subsídio de férias — a acontecer pre-
cisamente com relação a um período em- que, sendo-lhe atribuída,
concomitantemente, a remuneração normal, 0 trabalhador não
presta actividade, deixando de se registar assim por parte dele
qualquer produção, — bem com0 um subsídio de natal — o cha-
mado 13.° mês.
Quer dizer: se, por hipótese, o trabalhador tem, direito a um
mês de férias remuneradas em cada ano, recebe remunerações
equivalentes a 14 meses, trabalhando durante 11.
Portanto, para a contabilização da mão de obra (10), em cada
mês, relativamente aos encargos que, em, boa verdade, dizem
respeito ao mesmo período, deve ser considerado por trabalhador
não o que se debita na contabilidade externa, através da conta 65,
mas sim o valor resultante da relação

remuneração mensal + subsídio de férias + subsídio de natal ( u )


11 meses

acrescido dos encargos de conta da empresa sobre as referidas


retribuições.

i1 ) Obviamente que este raciocínio é válido para as restantes despesas com


o pessoal imputadas às contas de «Gastos Gerais de Administração» e «Gastos
de Venda». Simplesmente, procurou-se neste trabalho, por ser dedicado à mão
de obra, destacar esta.
(") Para simplificação, supõe-se aqui que não há lugar ao pagamento men-
sal de outras prestações, o qu e não significa que a relação não possa genera-
lizar-se a todos os casos, como é evidente, desde que se contemplem tais pres-
tações.

136 -
Significa isto que a mão de obra a imputar em cada um dos
11 meses em que o trabalhador presta actividade se traduz num
valor constante (ressalvada evidentemente a hipótese de sobre-
virem alterações da taxa salarial, caso em que os cálculos teriam
de ser reformulados), sendo nulo no mês em que as férias são
gozadas. Na contabilidade externa, porém, os valores são sem-
pre diferentes (menores nos meses em que apenas se processa
a remuneração mensal, incluindo o próprio período de inactivi-
dade, e maiores naqueles em que se processam simultaneamente
a remuneração e o subsídio) (12).
Vai proceder-se à análise desta solução, admitindo que, na
contabilidade externa, como é normal, os lançamentos relativos
ao processamento e ao pagamento correspondem de facto aos
montantes que, para efeitos de regularização em cada período,
se vão vencendo.
Considere-se, para o efeito, uma empresa que, por hipótese,
tenha 20 trabalhadores ao seu serviço e que:
— todos auferem o mesmo vencimento mensal — 11 000$00;
— todos têm direito a um mês de férias e subsídio de natal ;
— o prémio de seguro de acidentes de trabalho e doenças
profissionais é de 2 %.

1° exemplo — a empresa interrompe a sua actividade no mês


de Agosto concedendo assim as férias a todo o pessoal nesse
período.

(12) Podèr-se-ia argumentar que, sendo a contabilidade externa movimen-


tada relativamente às despesas e às receitas que, no momento da relevação, se
encontram apuradas, podia já considerar-Se desde o início do ano a sobrecarga
correspondente aos subsídios de férias e de natal. Ora, se é conhecido, por um
lado, o montante do subsídio de férias que nesse ano vai ser pago a cada tra-
balhador, visto ele se considerar vencido em 31 de Dezembro db ano anterior,
já o mesmo não acontece relativamente ao subsídio de natal cujo vencimento se
determina pela prestação de actividade à empresa desde 1 de Dezembro do ano
precedente até 30 de Novembro seguinte. Por outro lado, desde que em contra-
partida se movimentassem as contas de Outros Devedores e Credores — Remu-
nerações a Pagar e Sector Público Estatal pelos valores correspondentes às
remunerações do período acrescidos das sobrecargas referentes à quota-sparte
dos subsídios, manter-se-ia, ao longo do ano, nestas contas um saldo variável
que dificultava um controle imediato. Poder-se-ia ainda movimentar uma conta
transitória subsidiária de Outros Devedores e Credores. No entanto, não parece
recomendável nem esta —talvez a melhor —nem as outras soluções, dadas as
correcções a que inevitavelmente se teria de proceder em todas as subcontas da
conta «Despesas com o pessoal», portanto na contabilidade externa, em face dos
erros de calculo que se cometeriam por força da falibilidade das previsões, tra-
balho que se não justifica, tanto mais que não há interesse especial em que se
verifique ajustamento entre os valores movimentados nas duas contabilidades.

— 137
Tínhamos, portanto:
a) Na contabilidade externa
Mensalmente Total
Janeiro/Junho
Salários - 20 x 11000 x 1,24 (13) . . . . 272800$00 1 636 800$00

Julho
Salários 272800$00
Subsídio de férias . . . . 272800$00 545 600$00

Agosto/Novembro
Salários 272800$00 1091200$00
Dezembro
Salários 272800$00
Subsídio d e natal 272800$00 545 600$00
3 819 200$00
Total este que corresponde a
14 x (20 x 11000 x 1,24), que é o valor do encargo anual.

b) Na contabilidade interna
Na medida em que, logo a partir do mês de Janeiro, se
tinha de considerar, para além da remuneração correspon-
dente ao período, a quota-parte dos subsídios de férias e de
natal — direito a que, aliás, o trabalhador não pode legal-
mente renunciar — e do vencimento do mês de férias, vinha

3 819 200
= 347 200
11
Então :
Mensalmente Total

Janeiro/Julho . . 347 200$00 2 430 40O$00


Setembro/Dezembro 347200$00 1 388 800$00
3 819 200$00

2." exemplo — a empresa em vez de encerrar a sua actividade


durante um mês, distribui o pessoal em dois grupos iguais para
gozo de férias em Agosto e Setembro, reduzindo assim a activi-
dade nesse período a 50 %.

(13) Refere-se, como é óbvio, à aplicação de um coeficiente correspondente


aos encargos sobre remunerações, de conta da empresa: 19% — Caixa de Pre-
vidência; 3%—Fundo de Desemprego; 2% — prémio de seguro.

138 —
Vem, por conseguinte:
a) Na contabilidade externa
Mensalmente Total
Janeiro/Junho
Salários 272800$00 1636 800$00
Julho/Agosto
Salários 272800$00
Subsídio de férias — 50 % s/
sal 136400$00 409200$00 818 400$O0

Setembro/Novembro
Salários 272800$00 818 400$00
Dezembro
Salários e subsídio de natal 545 600$Q0
3 819 200$00

b) Na contabilidade interna
Mensalmente Total
Janeiro/Julho 347200$00 2 430 400$00
Agosto/Setembro — 0,5 x 347 200$00 173600$00 347 200$00
Outubro/Dezembro 347200$00 10416Q0$00
3 819 200$00

3° exemplo — As férias distribuem-se por quatro meses — Ju-


nho a Setembro — reduzindo-se a produção na parte correspon-
dente ao pessoal afastado.

Portanto:

a) Na contabilidade externa
Mensalmente Total
Janeiro/Abril
Salários 272800$00 1091200$00

Maio/Agosto
Salários 272800$00
Subsídio de férias — 0,25/sal. 68200$00 341000$00 1 364 000$00

Setembro/Novembro
Salários 272800$00 818 400$00

Dezembro
Salários e subsídio de natal _ 545 600$00
3 819 200$00

— 139
b) Na contabilidade interna

Janeiro/Maio 3472Q0$00 1736 000$00


Junho/Setembro— 0,75 x 347 200$00 260 400$00 1 041 600$00
Outubro/Dezembro 347200$00 1041 e0O$O0
3 819 200$00

Na hipótese de nem todos os trabalhadores auferirem o


mesmo salário, é evidente que os cálculos teriam de ser feitos
individualmente ou, pelo menos, separando os diferentes traba-
lhadores em grupos a que correspondessem remunerações idên-
ticas.
Além disso, o esquema apresentado diz respeito a salários
mensais, isto é, de quantitativo mensal certo independentemente
do número de dias de trabalho em cada mês e admitindo que:

A — Não há faltas que impliquem desconto na remuneração


do trabalhador;
B — A imputação da mão de obra se faz, por secções ou por
produtos, relativamente à produção de cada mês.

Na hipótese, aliás corrente, de haver faltas que dêem lugar


a dedução de salário, torna-se óbvio que deve, em cada mês, ser
efectuado o cálculo caso a caso, variando assim não só o mon-
tante a satisfazer mensalmente e a relevar na contabilidade
externa mas igualmente o valor a imputar na contabilidade
interna, através da conta de «Mão de obra».
Nesta conformidade, nos meses em que o trabalhador sofresse
perda de salário em consequência de faltas, o cômputo a consi-
derar na contabilidade interna seria obtido à custa de (14) :

(A x y + — ) (1 + r i + r2 + r3) (»)
30 11
em que d corresponde ao número de dias do mês a que é atribuído
salário, V o salário mensal (bem como o subsídio de férias e o
subsídio de natal) e r 1; r2 e r3 as percentagens, expressas em
dízimas, relativas às contribuições para a Caixa de Previdência

(14) É evidente que, na contabilidade externa, não há qualquer problema,


na medida em que basta calcular — - x V.
(15) Considera-se 3 x V pois, como é evidente, o trabalhador recebe os
2 subsídios e, no mês em que goza as férias, não pode sofrer reduções.

140 —
e para o Fundo de Desemprego e ao prémio de seguro de aciden-
tes de trabalho e doenças profissionais.
Se, porém, para além da existência de faltas com perda de
salário, a imputação da mão de obra se faz de acordo com os
tempos efectivos anotados em relação a cada produto ou serviço,
numa produção diversificada, por exemplo, como pode ser o caso
da fabricação por encomenda ou por ordens de produção, o
cálculo já não pode obedecer a um, critério de distribuição dos
encargos que a empresa suporta em cada mês, de conformidade
com a fórmula atrás apresentada. É que, para além da circuns-
tância agravante de haver, também, por vezes, faltas que não
implicam dedução no salário (mas perda de actividade), o en-
cargo a suportar no mês teria de ser imputado à produção em
face do número de dias de trabalho efectivamente aplicados.
Estamos, assim, praticamente caídos num sistema de salário
diário, embora as remunerações, como actualmente por via de
regra se pratica, sejam pagas mensalmente.
Nestas condições, o esquema a adoptar tem de basear-se
agora numa previsão do número de dias de trabalho que serão
normalmente remunerados a cada trabalhador e do número de
dias de trabalho que ele, efectivamente, deverá prestar.

Vamos, então, admitir por hipótese que:


— o trabalhador auferia o salário diário de 500$00 ;
— tinha direito a 24 dias de férias remuneradas e ao 13.° mês
(25 dias);
— se prevê que ele vá dar 17 faltas, sofrendo a correspon-
dente redução de salário (doença com baixa, por exemplo),
— bem como 11 faltas sem perda de salário (nojo, etc.) ;
— há 11 feriados no ano.

Temos, então:
365 — 52 —17 + 24 + 25 = 345 dias com direito a salário e
365 — 52 — 17 — 24—11 — 11 = 250 dias de trabalho efectivo.

E, portanto,
345
— — x 500 x 1,24 = 855$60
250

e o correspondente encargo anual de


250 x 855,6 = 213 900$00

resultado, evidentemente, igual ao que se obteria a partir de


345 x 500 x 1,24.

— 141
Assim, por cada dia de trabalho aplicado em determinada
tarefa pelo trabalhador, imputar-se-ia a importância de 855$60.
E, relativamente a quaisquer outros trabalhadores a que cor-
respondesse idêntica previsão do número de dias objecto de remu-
neração e do número de dias de prestação de trabalho efectivo,
bastaria multiplicar o respectivo salário diário pelo coeficiente

345
= 1,38, acrescentando-se ao valor obtido os
250
encargos sobre remunerações, ou então, aplicando logo o coefi-
ciente
1,38 x 1,24 = 1,7112 ao salário nominal.

Generalizando agora este esquema para todos os casos em


que a imputação da mão de obra se faça em função do número
efectivo de dias de trabalho prestado — ou até do número de
horas, bastando, como é evidente, dividir o quantitativo diário ou
o coeficiente pelo número de horas de trabalho normal —, temos
que o cálculo do valor a repartir diariamente resulta sempre da
aplicação do coeficiente, obtido por estimativa,

—— x (1 + rj + r2 + r 3 + . . . + r n )
dT

ao salário nominal de cada trabalhador.


É evidente que, trabalhando-se neste caso com previsões natu-
ralmente falíveis, vamos encontrar no fim do ano diferenças entre
a mão de obra imputada e a mão de obra processada, problema
que não provoca qualquer embaraço, pois será resolvido, exclusi-
vamente no âmbito da contabilidade interna, como qualquer outro
desvio.

3. CONCLUSÕES

Mas, afinal trata-se de custos reais ou de custos teóricos?


Na medida em, que, quanto ao último esquema apresentado, a
contabilização da mão de obra, na contabilidade interna, é feita,
pelo menos quanto às imputações, a valores previsionais, apu-
rando-se assim desvios relativamente aos custos relevados na
externa, através da conta «Despesas com, o pessoal» de acordo
com os montantes efectivamente apurados em cada momento
— o que se defende —, não há dúvida de que se trata de custos
teóricos, pelo menos no que respeita à mão de obra.

142 -
E o custo dos produtos obtidos? Este, na medida em que
seja calculado no fim do período em que se realizou a produção,
parece que poderia corresponder, em parte, à característica de
custo real.
Guardemo - nos, porém, de exageros. É que não devemos
deixar de exigir que, conjuntamente, se verifique também a outra
condição: os encargos com a produção devem ter sido efectiva-
mente suportados.
Ora, se é certo, como já se referiu, que a empresa está de
facto a suportar encargos para além daqueles que, ao longo do
ano, vão sendo documentados e relevados na contabilidade ex-
terna, no caso de a mão de obra ser imputada em face de pre-
visões fatalmente com maior ou menor margem de erro, o ver-
dadeiro valor de tais encargos só pode ser conhecido a pos-
teriori.
E quanto ao esquema precedente, em que, por a imputação
da mão de obra ser feita por secções ou por produtos, mas neste
caso relativamente ao volume de produção do mês, já podíamos,
tempestivamente, ter em conta as correcções determinadas pelas
faltas do pessoal?
Embora, em tal hipótese, a previsão comporte uma insignifi-
cante margem de erro, podendo, normalmente, dizer-se que os
valores imputados são praticamente os que a empresa realmente
suporta, o que é certo é continuarmos ainda no domínio de custos
pré-estabelecidos, tanto mais que podem surgir alterações sala-
riais não esperadas ou cuja taxa não era conhecida.
Seja como for, o que parece não oferecer dúvida é de que
os custos de produção pré-estabelecidos, quando o seu cálculo se
basear em dados e em processos cientificamente abonados, me-
recem mais confiança do que os chamados custos reais.

- 143
Créditos nas Contas de Despesas
Por A. Lopes de Sá

As contas de despesas são «unilaterais», ou seja, devem receber


normalmente apenas «débitos».
Isto deflui da «natureza» do «objecto» da conta.
Elas representam fenómenos definidos dentro de um sistema
(sistema dos resultados).
Existem, entretanto, planos que incluem elementos «credores»
dentro de tais registos.
E às vezes objecto de inclusão o «crédito» à conta de despesas.
Tais créditos decorrem, quase sempre, de «recuperações» dos
gastos.
Segundo a técnica, entretanto, e a melhor doutrina, o creditar-se
a uma conta de «Despesas» a recuperação do gasto, é erróneo.
O rehaver um custo, uma despesa qualquer, deve gerar registo
em conta de «Receitas» (quase sempre «eventuais»).
As contas não devem, segundo a teoria delas (e também o enfoque
prático) registar factos «diferentes», mas, exclusivamente, aqueles
da «mesma natureza».
A despesa é um fenómeno definido, um investimento feito para
a gestão.
A receita é uma «recuperação» do que se aplicou.
Quando vendemos uma certa mercadoria estamos «recuperando».
Quando compramos a mercadoria estamos «aplicando».
A compra é um: fenómeno e a venda é outro.
O correcto é haver uma conta para cada tipo de fenómeno, pois,
no caso, o sistema é o de «resultados».
Não é o «objecto» material, mas, o «facto» que deve ser registado.
Não é a «coisa» física que se regista, mas, o «fenómeno patri-
monial».
O certo é haver, por conseguinte, a escrituração de «fenómenos»,
tão mais definidos quanto- mais necessária a análise.

10 - 145
Quando se «vende» um produto deve-se registar o evento na
conta própria de Vendas, o mesmo ocorrendo quando se «adquirem»
as matérias, paga-se a mão de obra, etc.
Caiu em; desuso, por inadequado, o título «Mercadorias» e que
se debitava pela compra e se creditava pela venda; tal conta apre-
sentava sempre um «saldo» que «nada dizia», pois, era a mescla de
factores de «naturezas diferentes».
Uma conta de «Compras» não deve ser creditada por uma de
«Vendas», pois, enquanto aquela representa um custo esta representa
uma receita.
A manutenção de contas unilaterais, no sistema de resultados,
ajuda a analisar, comi clareza, os fenómenos e se constitui em prática
altamente esclarecedora.
Admitimos que mesmo nos casos em que a despesa é feita já
com provisão de «recuperação», necessário se faz a independência dos
registos, pois, os «momentos» das ocorrências são diferentes e as
ocorrências também.
Não se pode negar que o gasto existiu, nem que a recuperação
se operou.
Omitir o «total» gasto, em conta própria e aquele «recuperado»,
é sonegar informações.
Pode-se alegar que a despesa não foi aquela, mas, é inequívoco
que ela foi «assumida» e inequívoco que houve um; fenómeno de
«recuperação».
Ao creditarmos a conta de gastos pelo que foi reavido obtemos
um «líquido gasto», mas, omitimos a verdade, ou seja: o «total»
assumido como despesa e o «total» que conseguimos fazer retornar
como recurso.
O saldo, no caso enfocado, é inexacto em relação aos fenómenos
que verdadeiramente ocorreram.
O uso de «sub-contas» credoras em contas devedoras tende a
produzir falsidade de saldos (na quase totalidade dos casos daquelas
«unilaterais»).
O correcto é que a «sub-conta» seja uma verdadeira «análise»
da conta.
Se a conta é «devedora» as contas «analíticas» também deverão
sê-lo (o lógico é que a parte seja da natureza do todo pois ela nele
se contém: «in totó partem non est dubium contineri»).
Nossos mais ilustres doutrinadores entendem que as contas devem
ter «objecto definido» e que as variações ocorridas, de acréscimo ou
de redução só podem nelas serem registadas se «de idêntica natu-
reza»; o objecto, no caso, é o «facto», a «grandeza patrimonial»
e não outro instrumento.
É óbvio que os procedimentos do «regime integral» (contas que
representam elementos da estrutura do património) são diferentes

146 -
daqueles do «regime diferencial» (contas que representam elementos
dos resultados).
Os «componentes» da estrutura representam um «centro de factos»
e por isto as variações são analisadas «em função» deles.
Os «elementos» do resultado representam partes de um «sistema»
em dinâmica, onde custos e receitas são distintos e representam, por
si, «centros inequívocos».
A metodologia da classificação, para que tenha teor técnico,
necessita resguardar este posicionamento.
Todavia, quer nas contas integrais como nas diferenciais as
«análises» ou «sub-contas» devem ter saldos coerentes com a natu-
reza delas.
O assunto tem, merecido alguma polémica, mas, no campo da
doutrina é bem clara a posição dos mais renomados escritores.
Entendemos que as contas devem ser abertas para o registo de
«factos da mesma natureza» e que estes devem dizer respeito a
situações definidas e inequívocas.
O «crédito» na conta de despesas, resultante de «recuperação»
destas, não nos parece uma forma que vise a fornecer, com exactidão,
a ocorrência dos fenómenos sucedidos.

— 147
4
Comunicações da 3.a Mesa
A Contabilidade e a Inflação

Presidente: Dr. Carlos Figueiredo Mota


Professor do ISCAP

Secretário: Dr. Manuel Maria Portugal da Fonseca


Assistente do ISCAA
A Contabilidade e a Inflação
Por Deloitte Hashing & Sells, Lda.

INTRODUÇÃO
A inflação não é um problema novo. Ela tem feito sentir a sua
acção ao longo dos séculos e pode-se afirmar que nenhum país terá
conseguido evitar os seus efeitos até aos nossos dias. Contudo, na
última década, o agravar contínuo das suas taxas, veio tornar a
inflação um dos problemas mais candentes da actualidade. Os seus
efeitos projectam-se em múltiplos sectores e um deles é, precisa-
mente, o sector da contabilidade.
Com esta comunicação pretende-se salientar as insuficiências do
sistema tradicional de contabilização, para reflectir a rentabilidade
e situação financeira das empresas em períodos de inflação acen-
tuada, e divulgar alguns dos sistemas de contabilização mais signi-
ficativos que têm, sido adoptados ou propostos em vários países para
suprir essas insuficiências.

O MÉTODO TRADICIONAL DE CONTABILIZAÇÃO


Desde há séculos que os mapas financeiros elaborados, quer para
uso interno dos gestores, quer para fins estatutários, vêm sendo pre-
parados usando o sistema a que se convencionou chamar de «custo
histórico». Segundo este sistema, os valores incluídos nos mapas
financeiros expressam as unidades de moeda dispendida ou recebida
na data de cada transacção.
Enquanto o valor da moeda se manteve estável, esses mapas
financeiros traduziam com relativo rigor a rentabilidade e posição
financeira duma empresa. Nesta situação, poderia assumir-se que
o valor usado para contabilizar uma transacção feita em 1960, seria
ainda equivalente ao utilizado para contabilizar uma outra ocorrida
em 1970, isto é, dez anos depois; neste caso, poderia concluir-se
que era perfeitamente aceitável combinar ambos os valores nos

— 151
mesmos mapas financeiros. Escrito de outr 0 modo, num período
de estabilidade monetária, seria perfeitamente aceitável que um
activo figurasse pelo seu custo histórico em dados financeiros pre-
parados vários anos após se ter verificado a sua compra.
Identicamente, os mapas financeiros preparados segundo este
sistema continuariam: a ser um suporte válido para as decisões de
gestores em áreas tais como investimentos de capital, fixação de
preços, níveis de remunerações, distribuição de dividendos e cálculo
e pagamento de impostos.
Infelizmente, o sistema do custo histórico nunca foi idealizado
para retratar Uma conjuntura em qu e os níveis de preços sofram
alterações a taxas tão acentuadas como as que se têm verificado
nos últimos anos.

INSUFICIÊNCIAS DO SISTEMA DO CUSTO HISTÓRICO EM


PERÍODOS DE INFLAÇÃO

Entre outras, poderemos anotar três tipos principais de insufi-


ciências, que abordaremos a seguir, ilustrando a argumentação pro-
duzida com alguns exemplos sumários.

1. Interligação entre as receitas e correspondentes despesas

Tomemos o caso duma empresa que se dedica à indústria auto-


móvel. Quando um carro é produzido e vendido, os custos incorridos
na sua produção (materiais, mão-de-obra, reintegração do equipa-
mento, etc.) são debitados numa conta de resultados simultanea-
mente com a receita obtida na sua venda.
Normalmente, uma parte significativa destes custos terá sido
incorrida semanas, meses ou até, em alguns casos, anos atrás; por
exemplo, os materiais empregues são, frequentemente, comprados
com muitos meses de antecedência e o equipamento utilizado para
produzir esse carro poderá ter sido adquirido há vários anos.
Se tiverem ocorrido mudanças significativas no valor relativo da
moeda no período compreendido entre a data em que ocorreu a des-
pesa inicial e aquela em; que tal custo é debitado numa conta de
resultados, o custo que estaremos a comparar com, a receita não
representará já um custo corrente e, portanto, o lucro que será
obtido com esta venda estará distorcido. Adicionalmente, os fundos
retidos poderão ser insuficientes, quer para voltar a repor o nível
de stocks, quer para possibilitar a renovação do próprio equipa-
mento.

152 —
Vejamos dois outros exemplos:
Efeito da inflação nos lucros com stocks
000's Esc.
Setembro 30 —Peça comprada para stock 10
Dezembro 31 —Peça vendida 18
Dezembro 31 —Outra peça igual comprada para stock 12
A questão que aqui se pode pôr é: «Qual o lucro obtido por esta
empresa?». As contas baseadas no custo histórico dir-nos-ão que o
lucro obtido foi de 8 (18 —10) ; contudo, ao analisar os seus fundos
de caixa, a empresa constatará que dispõe apenas de 6 (18 —12)
disponíveis para gastar. A diferença de 2 (8 — 6), representa aquilo
a que chamaremos de parcela inflacionária ou o efeito da inflação
no lucro obtido ao custo histórico.

Efeito da inflação na reintegração do equipamento


000's Esc.
1970 — Máquina comprada para o imobilizado 10 000
Vida útil estimada — 10 anos
1977 — Custo duma máquina igual 25 000
Sendo a vida útil da máquina estimada em 10 anos, a reintegra-
ção anual, usando o sistema do custo histórico, será 1 000. Contudo,
se passados 7 anos, para comprar uma nova máquina igual tivermos
que dispender 25 000, a reintegração anual de 1 000 terá deixado de
representar quer o custo corrente do uso dessa máquina, quer uma
dotação razoável tendo em vista a sua substituição.
Estes exemplos mostram como o lucro obtido, usando o sis-
tema do custo histórico, pode estar efectivamente sobrevalorizado
devido a:
— subvalorização do custo das mercadorias vendidas
— débitos inadequados para a reintegração do equipamento.

2. Prejuízos ou lucros na retenção de meios monetários activos


ou passivos.
Para ilustrar este outro tipo de insuficiência, vejamos este
exemplo :
000's Esc 000's Esc.
X Capital 500 Caixa 500
Y Capital 500 Stocks 500
Z Capital 250 Stocks 500
Empréstimo 250

— 153
Vamos assumir que as três companhias, X, Y e Z começaram
a sua actividade em 1 de Janeiro dum, determinado ano e que não
efectuaram, quaisquer transacções até 31 de Dezembro desse mesmo
ano. Em quaisquer dos casos, as contas elaboradas ao custo histó-
rico não evidenciam quaisquer alterações na situação líquida.
Porém, no primeiro caso, a caixa terá diminuído de valor pelo
montante equivalente à inflação ocorrida nesse ano, e efectivamente,
os accionistas da companhia X estarão a perder dinheiro. No segundo
caso, a companhia Y utilizou os 000's Esc. 500 iniciais na compra
de stocks, em relação aos quais, contrariamente ao que acontece com
a caixa, é legítimo admitir que haja uma valorização, pelo menos,
equivalente à taxa de inflação para o período. Assim, os accionistas
de Y não terão perdido nem ganho dinheiro. No último caso, Z con-
seguiu financiar parcialmente a compra de stocks através dum
empréstimo; como resultado, além dos stocks manterem o seu valor
em linha com a inflação, o facto do passivo mostrar no final do
do período o mesmo valor inicial, representa, na verdade, um ganho
para os accionistas. Mesmo considerando o eventual pagamento de
juros do empréstimo, é legítimo supor que a taxa de inflação ultra-
passaria a dos juros pagos e os accionistas estariam ainda a lucrar
o valor correspondente ao diferencial entre ambos. Conforme salien-
támos no início, as contas preparadas segundo o sistema do custo
histórico mostram, o mesmo resultado para os três casos.
Um outro aspecto a considerar é o dos problemas que o uso de
lucros obtidos com a aplicação do custo histórico poderá acarretar
em áreas tais como:

Fixação de preços

A parcela de incorrecção que os lucros assim obtidos sempre


contém, poderá encobrir o facto de que os preços de venda poderão
não estar a cobrir os custos actuais. Mesmo quando tais preços
são actualizados, os aumentos decididos poderão não ter sido ós
mais adequados. Poderá surgir uma situação crítica, quando empre-
sas eficientes, perfeitamente conscientes da necessidade de aumen-
tarem os seus custos actuais, são forçadas a manter num nível baixo
os seus preços de venda, de modo a poderem competir com preços
mais baixos que outras empresas concorrentes hajam fixado, basea-
das exclusivamente em dados apurados segundo o sistema do custo
histórico.
Quando os preços de venda estão limitados por legislação sobre
controlo de preços, é da máxima importância para os gestores dis-
porem de dados actualizados, indicando os possíveis efeitos resul-
tantes dessas limitações. Adicionalmente, quando são feitos pedidos
de actualização de preços junto das entidades competentes, os dados

154 —
baseados no custo histórico, normalmente, não darão uma medida
adequada dos aumentos necessários e colocarão, logo à partida, os
gestores numa posição de desfavor perante os seus interlocutores
nas negociações.

Salários

0 uso de lucros obtidos com o custo histórico poderá resul-


tar em:

— opinião infundamentada dos gestores da possibilidade de


aumentarem o nível dos salários
— exigências desproporcionadas e artificiais por parte dos sindi-
catos
— acordos economicamente desaconselháveis, por irreais.

Dividendos

O nível de dividendos pagos por uma empresa está dependente de :


— decisões pessoais dos gestores
— expectativas dos accionistas
É provável que ambos se encontrem excessivamente optimistas
e aprovem, uma distribuição de dividendos que não seja a mais ade-
quada, se se basearem exclusivamente em dados elaborados ao custo
histórico.

Impostos
Os impostos são baseados nas disposições da legislação fiscal de
cada país. É importante para os gestores terem conhecimento de,
em que medida, o pagamento de impostos baseado nos lucros «apa-
rentes» mostrados pelo sistema do custo histórico, estará a consti-
tuir um factor extra de escoamento dos recursos da empresa, preci-
samente numa época em que mais se faz sentir a necessidade de
conservar tais recursos para combater a subida dos custos.

Financiamentos
Quanto mais as decisões financeiras forem baseadas em dados
preparados ao custo histórico, maior será o perigo dos gestores não

— 155
escolherem a via mais adequada para obterem os financiamentos e
de sobre-estimarem as possibilidades da empresa para suportar os
correspondentes encargos.

3. Distorção na apreciação da performance dos gestores e na pla-


nificação da gestão

O uso de dados baseados no sistema do custo histórico, poderá


também originar uma avaliação incorrecta da performance dos
gestores, quer internamente, quer por terceiros, tais como os accio-
nistas.

Vejamos este outro exemplo, que ilustra este tipo de insuficiência:

«Return on investment»

Investidor Data do investimento Valor investido Lucro em 1977


000's Esc. 000's Esc.
A 1966 10 000 1000
B 1976 10 000 1000

Vamos supor que ambos os investimentos foram feitos num negó-


cio similar. As contas elaboradas ao custo histórico no final de 1977,
mostram, um lucro de 1 000 para ambos os investidores, representando
um «return on investment» de 10 %. Embora pareça que ambos
conseguiram um bom. resultado, não é difícil de concluir que B con-
segiu um resultado bastante melhor. De facto:

— os 10 000 investidos por A em 1966 representam um investi-


mento superior ao investimento do mesmo valor feito por B
dez anos depois, em 1976
— o lucro obtido por A em 1977, porque baseado no custo histó-
rico, está efectivamente sobre-avaliado devido ao efeito da
inflação nos valores debitados como reintegrações.

Assim, podemos conclui: que o «return on investment» obtido


por A no seu investimento é significativamente inferior a 10 % ;
contudo, o uso de dados baseados no custo histórico indica Uma
situação mais favorável.
Já verificamos que medir a performance baseados em dados
elaborados ao custo histórico poderá ser inadequado. Qualquer pla-
neamento financeiro feito- pelos gestores baseados em, tais dados,
estará, logicamente, sujeito às mesmas insuficiências. Por exemplo,
os gestores poderão formar um juízo errado acerca da rentabilidade

156 —
a obter de novos investimentos. Igualmente importante é o facto
de que tais gestores poderão ainda falhar ao não interromper deter-
minadas operações que, embora parecendo lucrativas quando anali-
sadas à luz de contas preparadas ao custo histórico, poderão, na
realidade, estar a dar prejuízo.
Na medida em que os dados elaborados segundo o sistema do
custo histórico entram na preparação de budgets (caixa, capital,
lucros), tais budgets estarão à partida viciados pelas mesmas ine-
xactidões existentes nos dados em que se basearam. Os efeitos de
tais inexactidões poderão ser ampliados pelo uso desses budgets
como suporte de decisões visando as operações futuras duma empresa.
De tudo o qUe atrás ficou exposto, será legítimo concluirmos que,
caso a inflação se mantenha em níveis elevados, como parece ser
a tendência actual, alguma coisa terá que ser feita entre nós para
retratar os seus efeitos na contabilidade, a exemplo do que já sucede
em países como os Estados Unidos da América, a Inglaterra e a
Holanda, em que comissões especialmente designadas para o efeito,
têm desenvolvido e apresentado alguns métodos de contabilização da
inflação.

- 157
Reavalização do Imobilizado e Outros Aspectos
do Tratamento dos Efeitos da Inflação

Por Ezequiel José Santos de Sousa

INTRODUÇÃO

A inflação, que pode ser definida com o declínio do poder de


compra da moeda à medida que sobe o índice geral de preços de
bens e serviços, afecta muitos aspectos da vida económica, tais como
decisões sobre investimentos, negociações de contratos de trabalho,
políticas de preços, negócios internacionais, política fiscal, etc.
Quando a inflação é reduzida, a tendência generalizada dos res-
ponsáveis pela economia, seja esta pública ou privada, é não consi-
derarem o problema suficientemente sério para justificar uma acção
concreta. No entanto, até uma modesta mas contínua taxa de
inflação tem um efeito acumulado notável sobre os valores activos
ou passivos, cuja vida física ou económica se estenda ao longo de
um certo número de anos.
Tirando alguns curtos períodos de estabilidade, os séculos ante-
riores foram assistindo a uma constante deterioração do poder de
compra da moeda. Contudo, talvez tenha sido apenas nos últimos
50 anos, durante e após o severo período inflacionário dos anos 20
que os economistas e contabilistas começaram a pôr gradualmente
em evidência as limitações das teorias económicas clássicas bem
como do sistema convencional de contabilidade. O período de crise
monetária dos anos 70 veio dar um novo impulso à necessidade de
encarar e tentar resolver o problema da inflação nas suas várias
frentes: contabilidade, economia, direito fiscal, etc.
Aqui como em tantos outros países os contabilistas reúnem-se
para encarar o problema. Os países mais adiantados nesta matéria
são a Holanda, o Brasil, os Estados Unidos, a Inglaterra, o Canadá
e a Austrália.
As contas anuais das empresas são substancialmente preparadas
com base no valor histórico das várias rubricas que as compõem e,

— 159
além disso, em alguns casos, há bens que são periodicamente reava-
liados. Desta prática resulta que as contas se apresentam expressas
em termos de poder de compra da moeda na data em que os bens
foram adquiridos ou reavaliados, as responsabilidades incorridas ou
o capital obtido.

Esta convenção tem várias vantagens:


1. A contabilidade, como se conhece hoje em, dia, tem cerca de
500 anos de existência e as regras do jogo são conhecidas.
2. Existem princípios contabilísticos geralmente aceites com apli-
cabilidade em muitos países do mundo. Em contraste, não
existe um modelo único de contabilidade inflacionada.
3. Limita os casos possíveis de apreciação subjectiva, cujo campo
na contabilidade tradicional (custo histórico) se reduz prati-
camente às reavaliações de imobilizados.

Há em contrapartida desvantagens importantes, principalmente


em períodos de inflação elevada, as informações produzidas pela
contabilidade tradicional são dum modo geral insuficientes:
1. Os resultados do exercício estão frequentemente sobreavalia-
dos, pois os proveitos e os custos não são valorizados aos
mesmos níveis de preços. Em geral os custos são incorridos
antes de surgirem, os proveitos correspondentes e verifica-se
entretanto qUe os níveis gerais de preços aumentam. Por
isso, quanto mais longo for o ciclo económico desde a píóduçãó
até à venda, maior será a sobreavaliação dos resultados em
época de inflação.
2. Os resultados de exploração, provenientes das actividades
normais da empresa, não são diferenciados das mais-valias
ocorridas nos stocks pelo simples decurso do tempo. Como
o direito fiscal em Portugal e noutros países não contempla
esta diferença básica, a distribuição dos encargos com impos-
tos pelas empresas pode ser injusta, ou pelo menos ineficiente,
pois beneficia, por exemplo, as empresas com maior rotação
de stocks.
3. As imobilizações corpóreas e incorpóreas estão muitas vezes
subavaliadas. São já clássicos os exemplos, e é por isso que
existe legislação permitindo a reavaliação de activos, tanto em
Portugal como noutros países.
4. As medidas de rentabilidade dos activos podem falsear com-
pletamente as análises comparativas. A boa gestão opera-

160 -
cional das empresas foi e é, ainda hoje, baseada no chamado
ROI, isto é, «return on investment». No entanto, são cada
vez menos significativas as análises comparativas entre
secções duma empresa quando os imobilizados não estão valo-
rizados à mesma medida de valor, e quando não se diferencia
entre mais-valias de stocks e resultados de exploração.
5. Os lucros evidenciados nas contas tradicionais não podem ser
todos distribuídos pois parte deles torna-se necessário à manu-
tenção das actividades da empresa a um nível de custos sem-
pre crescente.
6. A comparação entre empresas ou entre períodos pode ser
completamente falseada porque se estão a comparar unidades
monetárias diferentes.

Pelas razões apresentadas, há necessidade de a contabilidade


demonstrar ou fazer reflectir os efeitos da inflação nos mapas finan-
ceiros ou notas pois é com base nestes elementos que, em grande
parte, os empresários, investidores, credores e bancos, Estado e
sindicatos tomam decisões.

REAVALIAÇÃO DO ACTIVO IMOBILIZADO EM PORTUGAL

Antes de abordarmos os vários sistemas básicos de demonstração


dos efeitos da inflação, iremos primeiro resumir a legislação portu-
guesa mais recente, permitindo a reavaliação de activos, que apareceu
por se ter reconhecido algumas das distorções descritas acima:

Decreto-Lei 126/77 de 2 de Abril de 1977

1. Permite a reavaliação de bens do activo imobilizado corpóreo.


2. Aplica-se a empresas privadas de demonstrada viabilidade
económica e que sejam objecto de saneamento económico-
-financeiro, desde que directamente acompanhado pelo Estado,
incluindo as empresas sob sua intervenção.
3. Esta reavaliação de bens do activo imobilizado corpóreo foi
considerada para efeitos fiscais desde que requerida até
2 de Abril de 1978.
4. O pedido de reavaliação deve ser dirigido ao Ministro das
Finanças e só pode ser autorizado, caso a caso, por despacho
conjunto do Ministro do Plano e Coordenação Económica, do
Ministro das Finanças e do Ministro que superintende ao
sector de actividade da empresa.

M — 161
5. Este D-L também estabelece as bases a serem utilizadas para
efeito dos cálculos da reavaliação.

Lei 39/77 de 17 de Junho de 1977

1. Esta Lei permite a concessão de isenção ou redução de imposto


de mais-valias às empresas que foram autorizadas a proceder
à reavaliação de activos nos termos do D-L 126/77 e que
tenham incorporado as reservas resultantes da reavaliação
através de aumento de capital.
2. O Ministro das Finanças decide, tendo em conta a situação
da empresa, e depois de informado pela Direcção-Geral de
Contribuições e Impostos.
3. Este benefício só é concedido às empresas que o tenham reque-
rido até 31 de Dezembro de 1978, e desde que cumpram as
formalidades previstas.

Decreto-Lei 275/77 de 5 de Julho de 1977

Não modifica ou acrescenta nada de substancial.

Decreto-Lei 353-B/77 de 29 de Agosto de 1977

Torna extensiva a aplicação do Decreto-Lei 126/77 de 2 de Abril


às empresas públicas desde que a reavaliação seja requerida até
29 de Agosto de 1978.

Decreto-Lei 126/78 de 3 de Junho de 1978

Prorroga até 31 de Dezembro de 1978 o prazo anteriormente esta-


belecido até 29 de Agosto de 1978.

Decreto-Lei 280/78 de 8 de Setembro de 1978

1. No anexo ao Decreto-Lei 126/77 de 2 de Abril de 1977 estabe-


leceu-se o princípio de que o critério geral a adoptar pelas
empresas na reavaliação dos bens do activo imobilizado cor-
póreo seria o do valor de substituição, aplicando-se os coefi-
cientes de desvalorização da moeda apenas nos casos em que
não existissem à data de reavaliação elementos idênticos ou
equiparáveis.

162 -
2. Na prática, o condicionalismo estabelecido tornou-se difícil
de cumprir pelo que as empresas preferem recorrer ao cri-
tério de actualização pelos coeficientes de desvalorização
monetária.
3. Este Decreto-Lei 280/78 consagra a possibilidade de as empre-
sas escolherem o critério de reavaliação que melhor se adapte
à sua situação específica.

Fala-se bastante, nos meios técnicos, na possibilidade de esta


legislação se tornar extensiva a outras empresas, e de ser prorrogado
o prazo das reavaliações. Mesmo que isto suceda, a manterem-se
determinados princípios subjacentes a esta legislação, não se poderá
de facto falar ainda num sistema de contabilidade inflacionária como
veremos em seguida. (Nota: já depois de feita a presente comuni-
cação, foi a faculdade de reavaliar estendida à generalidade das
empresas).

SISTEMA DE CONTABILIDADE INFLACIONADA

O desenvolvimento dum sistema de contabilidade que demonstre


ou reflicta os efeitos da inflação apresenta-se rodeado de dificuldades,
existindo variadíssimas opiniões sobre o assunto, que dão lugar a
grande volume de literatura que não cessa de aumentar.
Gostaríamos de apresentar em seguida as cinco principais alter-
nativas, actualmente existentes.

1. Demonstrações financeiras suplementares com base em alterações


nos níveis gerais ãe preços

Este sistema, também conhecido por CPP (Current Purchasing


Power Accounting) na Inglaterra e por GPLA (General Price Levai
Accounting) nos Estados Unidos da América, é uma tentativa de apre-
sentar as contas de forma que nestas se possam reflectir as varia-
ções de poder de compra da moeda; neste sistema não se procede
à avaliação dos bens patrimoniais, mas apenas à determinação do
seu valor em termos de dinheiro com poder de compra corrente.

2. Sistema de contabilidade inflacionada com base no valor actual


do património das empresas

Neste sistema, o património da empresa (bens, direitos e obri-


gações) é avaliado no início e no fim de cada exercício, sendo a
diferença considerada lucro ou prejuízo do exercício. Parece evidente

— 163
a impraticabilidade deste sistema, principalmente devido à natural
falta de garantias de independência dos avaliadores e a necessaria-
mente subjectiva natureza das suas conclusões.

3. Demonstrações financeiras suplementares com base no fluxo mo-


netário líquido
Aqui o lucro, ou prejuízo, é definido pelo aumento líquido do
esperado fluxo monetário positivo e negativo dos componentes patri-
moniais, comparando um com o outro. O valor de cada rubrica é o
valor, à data de cada balanço, do fluxo monetário que se espera que
essa rubrica venha a gerar no futuro. Este método é geralmente
pouco aconselhado uma vez que a contabilidade baseada no «cash
flow» não está ainda suficientemente desenvolvida para ser aceite.

4. Demonstrações financeiras suplementares com base no custo de


substituição
O conceito de lucro ou prejuízo neste sistema é baseado na dife-
rença entre os preços de venda e de substituição das mercadorias
ou produtos à data em que a sua venda tem lugar e, conforme a sua
designação indica, os bens são reavaliados para o valor correspon-
dente ao da sua substituição. Este processo pode obrigar a fazer
estimativas do valor de mercado dos bens, ou a utilizar índices de
preços aplicáveis especificamente aos bens e actividades de cada
empresa. Para além das dificuldades práticas envolvidas, várias
desvantagens podem desaconselhar a adopção deste método para
contabilizar os efeitos da inflação, tais como:

a) o considerável grau de subjectividade envolvido nas estima-


tivas e apreciações;
b) o facto de o custo de reposição poder variar por razões tecno-
lógicas, económicas, sociais ou legais, independentemente de
haver ou não inflação; e ainda
c) partir-se do princípio de substituição dos bens, o que é uma
decisão de gestão que não deve ser antecipada — os bens po-
dem vir ou não a tornar-se tecnicamente obsoletos, o que
torna difícil fazer previsões sobre os novos bens a adquirir.

5. Contabilização com base no custo corrente, também conhecida


como CCA (Current Cost Accounting)
Neste sistema considera-se como custo de vendas não o custo
histórico dos bens vendidos, mas sim o seu «valor para a actividade»,

164 -
determinado em bases correntes, distinguindo-se assim o lucro de
exploração das mais-valias de stocks realizadas por se terem vendido
produtos adquiridos há tempos e a preços mais baixos do que os cor-
rentes. Neste processo apenas se reavaliam os stocks e o imobilizado.
Por razões já em parte apresentadas, o actual debate nos países
em que as técnicas contabilísticas estão mais desenvolvidas concen-
t r a t e nos sistemas de demonstração financeira suplementar, com base
em alterações nos níveis gerais de preços (CPP e GPL A), e substi-
tutiva com base no custo corrente (CCA).

«CURRENT PURCHASING POWER ACCOUNTING» E «CURRENT


COST ACCOUNTING»

No sistema CPP todos os dados que aparecem no balanço e contas


de resultados são convertidos em unidades monetárias de poder de
compra relacionado com o índice de preços no consumidor, no fim
do ano. Os princípios que orientam esta conversão foram estabele-
cidos de forma a evidenciar que é a posse de bens e responsabilidades
monetárias que dá lugar respectivamente a perdas e a lucros por
inflação, o que já não acontece com a detenção de bens ou respon-
sabilidades não-monetárias. Na prática este sistema resume-se, ape-
nas, na realização dos seguintes passos:

1. Classificar as rubricas dos mapas financeiros em monetárias


e não-monetárias.
2. Determinar os factores de ajustamento apropriados.
3. Identificar e conferir o lucro/prejuízo no passivo/activo lí-
quido monetário.
4. Actualizar os valores de início do período.
5. Analisar e interpretar correctamente a conversão efectuada.
Para se tornar perfeitamente perceptível este método devem ter-se
presentes as definições dos seguintes termos:
1. Rubricas monetárias — representam bens e valores patrimo-
niais, activos ou passivos, cuja expressão em unidades mone-
tárias é fixa por contrato ou outro meio, independentemente
das alterações que se verificam no poder de compra da moeda.
Por exemplo, caixa e bancos, contas correntes de clientes,
fornecedores ou devedores e credores, financiamentos.
2. Rubricas não-monetárias — representam todos os bens ou valo-
res que não são classificáveis nas rubricas monetárias, por

- 165
exemplo, stocks, edifícios, fábricas, com excepção das que
constituem a situação líquida (capital, reservas e resultados
transitados) pois estas não são nem monetárias nem não-
-monetárias.
3. Conversão — é o processo de transformação de valores expres-
sos em unidades monetárias históricas em valores expressos
em unidades monetárias de poder de compra corrente.
4. Actualização — consiste em transformar os valores de um
período contabilístico anterior, expresso em unidades mone-
tárias com poder de compra duma certa data, em valores
expressos em unidades monetárias com poder de compra de
outra data, mais recente.
5. Contas básicas — são as contas preparadas substancialmente
de acordo com as conversações estabelecidas, com base nos
custos históricos, incluindo aquelas em que todos, ou alguns,
dos bens do activo corrente são apresentados por valores esti-
mados de realização.

Este sistema foi proposto pelo Instituto inglês de contabilistas


em Maio de 1974 (SSAP 7). Mais tarde, o Governo inglês constituiu
a Comissão Sandilands para estudar o assunto. Em 4 de Setembro
de 1975 esta Comissão rejeitou qualquer forma de ajustamento dos
valores das rubricas monetárias do activo ou do passivo e propôs
que o «Current cost accounting» substituísse efectiva e integralmente
o sistema de contabilidade tradicional, opondo-se assim ao CPP
(SSAP 7) que previa apenas a apresentação de mapas financeiros
suplementares.

Resumem-se em seguida as conclusões do relatório desta Comissão


que se consideram mais importantes:

1. As alterações médias de preços variam de pessoa para pessoa,


de entidade para entidade, de acordo com a selecção de bens
ou serviços.
2. As alterações que se vêm verificando no campo económico e
financeiro, em especial a partir dos anos 60, com a rápida
evolução dos níveis de preços, justificam uma revisão dos
princípios contabilísticos geralmente aceites no sentido de se
determinar se estes, efectivamente, permitem ainda satisfazer
de forma adequada as necessidades de informação dos utili-
zadores dos mapas financeiros.
3. Os ganhos de uma empresa podem ser (i) «resultados» ou
«a realizar», e ainda (ii) «por mais-valia», «de exploração» ou
«extraordinários». De acordo com as circunstâncias, diferen-

166 -
tes espécies de «ganhos» podem ser considerados pelas
empresas como «lucros».
4. Para produzir informação adequada, um sistema contabilís-
tico deve obedecer basicamente aos seguintes princípios:
a) A unidade de medida deve ser a moeda.
b) Os bens devem ser apresentados pelo seu «valor para
a actividade da empresa», o qual é na maioria dos
casos «o custo de reposição», mas que pode também
ser «o valor de realização» ou «valor económico».
c) As responsabilidades devem ser expressas de uma
maneira geral na mesma base utilizada para expressar
o valor dos bens activos.
d) O «lucro de exploração» deve ser apurado onerando os
resultados com 0 «valor para a actividade» dos bens
consumidos para se gerarem os valores realizados pela
empresa através das suas vendas. As mais-valias de
stocks e ganhos extraordinários devem ser segregados
e mostrados separadamente.
e) O mapa de origem e aplicação de fundos deve integrar
sempre as contas da empresa.
5. Na maior parte dos casos, em tempos inflacionários a contabi-
lidade tradicional não revela o «valor para a actividade» e
agrega nos lucros apresentados tanto mais-valias de stocks
como lucros de exploração. O reconhecimento desta situação
tem levado, em contabilidade tradicional, à tomada de medi-
das como a reavaliação de imobilizados, a prática de depre-
ciações extraordinárias, ou a adopção do sistema LIFO de
custeio de existências. Estas medidas tornaram as actuais
convenções contabilísticas mais complexas e menos uniformes,
e tornam a contabilidade tradicional cada vez menos objectiva
sem todavia alcançar a solução adequada do problema.
6. O conceito de lucro n 0 sistema CPP inclui ganhos nas rubricas
monetárias e os utilizadores das contas devem pois acaute-
lar-se contra o eventual equívoco de pensar que esse lucro
está disponível para distribuição na sua totalidade.
7. As características do CCA (Current cost accounting), reco-
mendado pela Comissão são as seguintes:
a) A unidade de medida é a moeda.
b) Os stocks e o imobilizado são apresentados no balanço
mediante avaliação.

- 167
c) O «lucro de exploração» é obtido depois de se debi-
tarem os resultados pelo «valor para a actividade» dos
bens consumidos.
d) São excluídas «mais-valias de stocks» e «resultados
extraordinários», que devem ser mostrados separa-
damente.
e) As empresas devem apresentar com as suas contas um
mapa de origem e aplicação de fundos e os dirigentes
de todas as empresas devem incluir nos seus relató-
rios comentários à adequacidade das fontes de finan-
ciamento para fazer face às necessidades do ano
seguinte.
f) O lucro determinado de acordo com o CCA deve servir
de base à determinação da matéria colectável, à fixa-
ção governamental de preços e ao cálculo das margens
de lucro em contratos com o Governo.
g) O CCA deve substituir completamente a contabilidade
tradicional, aparecendo os valores a custo histórico em
notas às contas do fim do ano.
Quando, cerca de 500 anos após a criação do sistema das partidas
dobradas, os contabilistas se começam a empenhar no estabeleci-
mento de um sistema de contabilização, ou demonstração, dos efeitos
da inflação nos mapas financeiros convencionais, não há dúvida de
que estão a tentar dar um importante, e por isso cauteloso, passo
em frente. E diz-se que estão tentando porque na verdade parece
muito difícil por agora atingir um modelo universal no desenvolvi-
mento do processo de contabilizar os efeitos da inflação. Tanto
o CPP como o CCA estão ainda numa fase inicial do debate. Pode
no entanto adiantar-se que actualmente, tanto nos EUA como na
Inglaterra, o objectivo parece ser a implementação dum sistema
misto agregando conceitos e princípios do CCA e do CPP.

ENTRADA DE PORTUGAL NA COMUNIDADE ECONÓMICA


EUROPEIA

A legislação sobre reavaliações existente em Portugal não cons-


titui, nem pretende constituir, um sistema de contabilidade inflacio-
nada. Em face da exposição anterior, é até discutível se tal
legislação não virá agravar ainda mais a situação de ruptura em
que têm caído as técnicas e princípios contabilísticos tradicionais.
Além das pressões que se possam sentir em Portugal porque existem
já, nos EUA, na Inglaterra e noutros países, soluções em fase de

168 -
debate para serem implementadas, pode ainda acrescentar-se que a
entrada de Portugal no Mercado Comum vai igualmente, nos próxi-
mos anos, pressionar os contabilistas portugueses a tentar uma
solução adequada para a demonstração dos efeitos da inflação nas
contas das empresas.
Depois de um período de dez anos de debate e negociações, foi
aprovada em 27 de Junho de 1978 pelo Conselho de Ministros da
C. E. E. a Quarta Directiva sobre demonstrações financeiras das
sociedades anónimas de responsabilidade limitada que operam na
Comunidade Económica Europeia.
Esta Directiva tem por objectivo harmonizar a preparação, apre-
sentação, auditoria e publicação das demonstrações financeiras das
sociedades anónimas de responsabilidade limitada.
De uma forma muito sumária, podemos dizer que os Estados
membros terão que introduzir legislação nos respectivos países dentro
dos próximos dois anos, e que as empresas disporão depois disso dum
período de mais 18 meses para cumprir essa legislação, no âmbito
das orientações formuladas pela Quarta Directiva sobre:

— Formato das demonstrações financeiras


— Regras sobre valorização
— Contabilidade inflacionada
— Conteúdo das notas às demonstrações financeiras
— Conteúdo do relatório anual
— Publicação (e isenções)
— Auditoria (e isenções)

Vejamos os aspectos mais importantes relacionados com a demons-


tração dos efeitos da inflação nas contas anuais:

A) Os Estados membros podem permitir oU obrigar as socie-


dades anónimas que operem nos seus países a utilizar
contabilidade inflacionada, além da contabilidade tradi-
cional, desde que informem a Comissão de que reservam
o direito de autorizar ou obrigar o uso de tal sistema.
B) A Directiva estabelece uma série de condições a que
qualquer contabilidade inflacionada deverá obedecer;
estipula designadamente que as mais-valias resultantes
de reavaliações de activos devem ser levadas a uma
reserva de reavaliação, a qual só pode ser distribuída
quando as mais-valias tenham sido realizadas.
C) A legislação de cada Estado membro definirá os limites
e regras para a aplicação do seu método de contabilizar
os efeitos da inflação; as notas às demonstrações finan-
ceiras têm que indicar o método seguido.

- 169
D) As contas básicas continuam a ser as contas com valores
históricos, mas os valores resultantes da aplicação dum
sistema de contabilidade inflacionada, tanto no balanço
como na conta de ganhos e perdas, devem ser mostrados
separadamente.

NOTA FINAL

Como se pode ve% os princípios e conceitos fundamentais que


servem de base aos sistemas de contabilidade tradicional estão aba-
lados e têm vindo a ser postos muito seriamente em causa. Por
outro lado, os contabilistas em todo o mundo nãó encontram forma
de se porem de acordo sobre um modelo uniforme de contabilidade.
O facto de os contabilistas nos EUA, na Inglaterra, e no Mercado
Comum divergirem ainda em alguns pontos fundamentais não facilita
a tarefa aos contabilistas portugueses ou de outros países menos
avançados em técnicas de contabilidade. É porém imperativo come-
çar-se a pensar seriamente no problema pois:
a) Está demonstrado que a contabilidade tradicional é pouco
objectiva ;
b) A necessidade de demonstrar os efeitos da inflação é
maior em Portugal do que nos países mais desenvolvidos,
porque tem taxas de inflação muito superiores; e
c) A entrada de Portugal na Comunidade Económica Euro-
peia vai, mais tarde ou mais cedo, exercer pressões neste
sentido.

É comum terminar apresentações deste tipo sugerindo a formação


de grupos de estudo que em regra, quando constituídos, em poucos
casos têm funcionado bem. No entanto, à falta de melhor ideia
e porque a matéria é complexa e as pessoas e entidades afectadas
são diversas, pensa-se que seria importante promover a formação
dum grupo de trabalho responsável perante o Governo, com a seguinte
constituição:
1. Membros a tempo inteiro, três ou quatro especialistas encar-
regados de estudar e propor o sistema aplicável a Portugal.
2. Membros a tempo parcial, representando pelo menos os prin-
cipais interessados (Estado, universidades, associações profis-
sionais, associações de empresários e sindicatos), exercendo
uma função de controle sobre o desenvolvimento do sistema.

170 -
As Distorções Provocadas pela Inflação
nos Balanços e Contas de Resultados
Por João José Amaral Tomás

A aceleração da alta de preços que tem afectado a economia


mundial no decurso dos últimos anos, tornou extraordinariamente
actual a questão da adaptação das contas das empresas em período
de inflação.
Manancial de informação sobre a solidez e dinamismo das uni-
dades de produção, instrumento de gestão para os dirigentes das
empresas, instrumento de determinação dos direitos dos accionistas
e de terceiros (Estado, Empregados, Banca, etc.) sobre os resul-
tados, a contabilidade desempenha múltiplas funções tanto no que
concerne aos vários utilizadores que esperam informações de natu-
reza diferente, como na protecção de direitos ou interesses por vezes
antagónicos.
Ora é evidente que a inflação degrada o elemento de avaliação
dos fluxos e dos bens (a unidade monetária) e à medida que esta
degradação se agrava, a informação vem cada vez mais incoerente
e sem sentido, visto que tanto os bens como os fluxos estão expressos
em escudos do momento da sua entrada no património ou do nasci-
mento dos débitos ou dos créditos. Não tendo as operações ocorrido
no mesmo momento, a homogeneidade aparentemente realizada pela
utilização da mesma unidade comum é ilusória, pois o valor dessa
unidade não é o mesmo ao longo do tempo. Equivale, utilizando o
feliz exemplo de Samuelson, a que na medição de objectos, utilizás-
semos, em vez de Uma fita métrica metálica, uma de borracha que
pudesse ser esticada de ocasião para ocasião.
Uma contabilidade baseada no princípio dos custos históricos
não pode, pelas razões apontadas, permitir uma estimativa do valor
económico de uma empresa, se entendermos por ele o valor actua-
lizado dos fluxos de lucros futuros que a empresa pode produzir.
É evidente que num mundo que fosse caracterizado por uma estabi-
lidade absoluta dos preços, daria informações pertinentes tanto sobre

— 171
a situação patrimonial da empresa, avaliada pelo valor a preços
correntes da situação líquida num dado momento, como sobre os
ganhos ou perdas entre duas datas, os quais são calculados quer
pela diferença entre os proveitos e os custos, quer pela comparação
das situações líquidas entre dois balanços sucessivos. No mundo
real não acontece porém esta situação, em primeiro lugar porque,
mesmo em período de estabilidade do nível geral dos preços, os
preços específicos dos diferentes bens não se mantêm inalterados.
Em segundo lugar porque em, período de inflação o valor da moeda,
tomada como unidade geral de medida, se deprecia com o tempo,
não assegurando assim a conservação do poder de compra dos capi-
tais investidos e tornando de difícil comparação valores contabili-
zados em datas diferentes. As alterações tanto dos preços relativos
como do nível geral dos preços, introduzem desvios crescentes entre
os dados que figuram na contabilidade e a realidade económica,
tanto maiores quanto' maior for a redução do poder de compra da
moeda.
Os efeitos da inflação são raramente analisados objectivamente,
o que não é de admirar se atentarmos que cada agente económico
é simultaneamente vítima e beneficiário da subida geral dos preços.
Assim, enquanto que os empresários consideram que as empresas
são vítimas da inflação em, virtude da tributação de lucros hiper-
-avaliados, o fisco embora reconhecendo a pertinência de tal argu-
mento, objecta que por outro lado as contas de resultados a custos
históricos não evidenciam! o ganho de inflação que advém para a em-
presa do seu endividamento líquido. Um estudo recente de Gilbert
Lecointre revelava que as conclusões que extraíra da análise de uma
amostra de 25 empresas, apontavam no sentido de os lucros tomando
em conta a reavaliação, serem superiores aos que a contabilidade
revelava antes da reavaliação. Este resultado verificava-se apenas
nas 8 maiores empresas e resultava de o ganho de inflação sobre o
endividamento líquido (Efect de Levier) ultrapassar em valor os
prejuízos da não reavaliação das contas.
A ausência da tomada em, conta explícita da erosão monetária
na avaliação oficial dos lucros e do capital, comporta o risco para
as empresas de um empobrecimento inconsciente ou envolve ura certo
enriquecimento discreto?
A questão mais importante é portanto saber se a empresa ganha
ou perde com a inflação.
Não procurarei dar uma resposta a tal questão pois ela depen-
deria não só da escolha de uma amostra que fosse representativa
das empresas nacionais, como também do método de reavaliação
escolhido.
Limitar-me-ei portanto a focar algumas das distorções que a
inflação introduz não só nas contas como nas estruturas de finan-
ciamento das empresas.

172 —
1. A INFLAÇÃO E O BALANÇO
O resultado de um exercício representa a diferença entre a si-
tuação líquida inscrita no balanço de abertura e no de encerramento.
Tais resultados não correspondem porém à realidade dado que são
apurados a partir de balanços «falseados» pela inflação. O primeiro
efeito da inflação é pois deturpar a avaliação da situação líquida da
empresa tal como resulta do seu balanço. Este, elaborado a custos
históricos pode ser comparado «a uma foto de família em que as
pessoas que a compõem figuram com o aspecto e o vestuário da
data da sua entrada na família (R. Caumeil)». Assim como tal foto
não permitiria representar o estado da família num dado momento,
o balanço não pode representar a situação patrimonial da empresa
no momento em que é estabelecido, dado que os valores dos activos
e dos passivos que nele figuram são precisamente os que tinham
quando da sua entrada nas contas da empresa.
A evolução dos preços origina duas séries de consequências que
estão estreitamente ligadas:
— uma sub-avaliação de todos os elementos do activo não mone-
tário cujos preços aumentaram desde a aquisição, o que é o
caso geral em período de inflação.
— Uma sub-avaliação correlativa do valor da situação líquida e
dos capitais próprios da empresa.
Deve notar-se porém que a incidência da inflação sobre as com-
ponentes do activo não é uniforme. São mais afectados os elementos
que permanecem por mais tempo ao serviço das empresas.

1.1. INCIDÊNCIA NOS VALORES IMOBILIZADOS


A avaliação dos elementos do activo imobilizado ao seu custo
histórico enferma de uma subavaliação. Quanto maior for o afas-
tamento do ano de aquisição, menos o valor bruto dos bens do activo
imobilizado corresponde ao montante necessário à sua substituição
por outro idêntico.

1.2. INCIDÊNCIA NA SITUAÇÃO LÍQUIDA


A depreciação monetária introduz diferenças importantes entre
a realidade do património de uma empresa, e a imagem que dele
dá o balanço. Assim, é desejável introduzir correctivos visando que
os documentos contabilísticos e o balanço em particular conservem
o seu interesse como instrumento de informação e análise.

— 173
É evidente que a inflação provoca um afastamento entre o valor
real das entradas feitas pelos associados e os lucros levados às
reservas, e o inscrito no balanço. No que concerne a esta questão
não há unanimidade de opinião. Assim, enquanto nos Estados Unidos
se procede à actualização dos capitais próprios para se poderem
avaliar dos direitos dos accionistas em poder de compra corrente,
em Inglaterra não se faz essa actualização alegando que os direitos
não se limitam ao valor nominal das acções, contrariamente aos
obrigacionistas que são automaticamente afectados pela inflação em
razão do carácter residual dos seus direitos.

1.3. INCIDÊNCIA SOBRE OS ELEMENTOS CIRCULANTES: (Va-


lores de exploração, valores realizáveis a curto prazo ou dispo-
níveis, dívidas a curto prazo)

Os elementos circulantes são menos afectados pelos efeitos da


depreciação monetária que as imobilizações ou as dívidas a médio
e a longo prazo, dado que a sua permanência no balanço é da ordem
de alguns meses ou semanas. Todavia, os efeitos da inflação nestes
elementos, não devem ser negligenciados. Para evitar a diminuição
da sua margem- real as empresas tentam elevar os seus preços de
venda, por forma a conservar uma margem real que permita a
reconstituição do stock em boas condições. Esta subida contribui
para a manutenção da inflação e por vezes da sua ampliação.
A aplicação das práticas contabilísticas actuais conduz pois a
considerar nos resultados a apreciação puramente nominal do stock
ligado à subida generalizada dos preços, a qual não corresponde a
nenhum enriquecimento real da empresa. Esta anomalia é corrigida
parcialmente nalguns países pela legislação fiscal que permite a cons-
tituição de provisões para alta de preços nalguns casos, e a indexação
do custo das mercadorias vendidas noutros. Quanto aos valores
realizáveis a curto prazo, sabe-se que a sua transformação em dis-
ponibilidades depende do prazo de pagamento concedido aos clientes.
A depreciação monetária provoca no decurso dos anos uma desac-
tualização dos créditos e dos débitos da empresa. Esta depreciação
é prejudicial à empresa se o montante dos seus créditos sobre ter-
ceiros ultrapassar o dos débitos e favorável no caso contrário.
O valor absoluto do ganho ou da perda que a nível dos elementos
circulantes advém para a empresa devido à depreciação monetária,
importa menos, exceptuando alguns casos particulares, que a alte-
ração no comportamento das empresas com ela relacionadas (redução
de crédito aos clientes e dos fornecedores, redução de disponibili-
dades, aceleração da subida dos preços). Isto explica por que é
frequente negligenciar os efeitos da depreciação monetária sobre os
elementos circulantes do balanço.

174 —
VAMOS TENTAR REPRESENTAR GRAFIC AMENTE OS EFEITOS
DA DEPREC IAÇÃO MONETÁRIA E DA ALTA DE PREÇOS
A NÍVEL DO C IC LO DE EXPLORAÇÃO.

ÍNDICES 100 102 104 106 108 110


I_
DE
PREÇOS
I.
-I
Mês m itt+/l m+/2 m+/3 m + /4
A depreciação
Prazo de monetária é de
pagat.° con­ cerca de 20 %
► cedido pelo por mês
fornecedor
PRAZO C ON
CEDIDO AO
CLIENTE

ARMAZENAGEM

Î I Î
Compra de Venda de Pag.t 0 ao Recebimento
mercadorias mercadorias Fornecedor do cliente
200 300 200 300
(valor nominal) (valor nominal)
Os fornecimen­ Os 300 recebidas dos
Margem aparente tos são pagos em
100 clientes terão um. poder
moeda depreciada de compra menor que
em 6 %. É uma no momento da factura­
vantagem p a r a a ção: A alta dos preços
empresa avaliada a c t u a aqui em detri­
Na realidade, no dia de venda,
a reconstituição das existências, em: mento da empresa e o
custaria, devido à alta dos pre­ prejuízo eleva­se a:
ços, 210. A margem real é 300 — 200
— 210 = 90.
200­ • 12 300
1,06 300­ 18
TÕ6~

Vemos pois que, no que concerne aos elementos circulantes, há


vantagens e inconvenientes. O saldo das vantagens e dos inconve­
nientes depende de:
— Importância das existências em valor absoluto.
— Do ritmo de rotação dos STOC KS, pois, a incidência é tanto
maior quanto mais elevado for o tempo da sua permanência
na empresa.
— Da duração do crédito concedido aos clientes.
— Da duração do crédito concedido pelos fornecedores.

— 175
1.4. INCIDÊNCIA SOBRE OS DÉBITOS A MÉDIO E LONGO
PRAZO

A depreciação monetária, tem do mesmo modo uma incidência


sobre os débitos a médio e a longo prazo, e consequentemente no
lucro da empresa, dado que o prazo que medeia entre o momento
em: que foram contraídos e o momento do seu pagamento é da ordem
de vários anos. Na realidade, a história económica recente, mostra
que a depreciação monetária é muitas vezes largamente superior
à taxa de juro a que os empréstimos foram contraídos, o que tem
como consequência a amputação do poder de compra dos credores.
Nesta situação, constata-se a existência de vantagem para a em-
presa, apesar das taxas de juro elevadas. Todavia, corre-se o perigo
de se verem os prestamistas fugir de operações que reduzem o seu
poder de compra, tornando-se sérias as consequências a nível de
financiamento das empresas. Alguns autores objectam, porém, que
o risco financeiro é mais aparente que real, visto que a existência
de mais valias latentes não contabilizadas nos balanços das empresas
constitui Uma verdadeira garantia financeira para os seus credores.
Este argumento, não é, porém, totalmente convincente, dado que,
para que essa garantia se materialize, é necessária a liquidação de
uma parte dos activos das empresas, com a consequente amputação
do seu potencial produtivo.

2. A INFLAÇÃO E OS RESULTADOS

Os resultados de um exercício podem ser obtidos quer por dife-


rença entre os proveitos e os custos, quer através da diferença da
situação líquida de dois balanços consecutivos.

Em épocas caracterizadas por inflação galopante, os resultados


apurados a custos históricos não coincidem com os resultados reais.
As principais causas do desvio entre os resultados contabilizados e
o enriquecimento real da empresa são as seguintes:

— Subavaliação das dotações das amortizações


— Errada avaliação do movimento de stocks

— Sobre-avaliação do crescimento do endividamento e dos encar-


gos financeiros das empresas.

176 -
2.1. INCIDÊNCIA SOBRE AS AMORTIZAÇÕES

As amortizações contabilizadas tomam como base os custos his-


tóricos dos elementos do activo imobilizado. Todavia, não sendo
estes um reflexo do seu valor actual, as amortizações revelam-se
insuficientes para avaliar a depreciação real e permitir a sua subs-
tituição no fim do período. Globalmente para a empresa que tem
um fluxo mais ou menos permanente de investimentos este efeito
actua no sentido de uma redução da parte do cash-flow, que pode
ser utilizado, sem pagar imposto, para autofinanciar o conjunto dos
investimentos brutos da empresa.

Devemos contudo notar que este raciocínio só é estrictamente


verdadeiro se partirmos da hipótese ideal de a empresa reter inacti-
vamente em caixa o montante correspondente às amortizações con-
tabilizadas.

2.2. A AVALIAÇÃO DAS EXISTÊNCIAS

O segundo efeito negativo da inflação sobre as empresas consiste


em inclui; no lucro a avaliação puramente nominal das existências.
O papel das existências na determinação dos resultados de um
exercício, pode ser avaliado quer na determinação do custo dos bens
consumidos, quer considerando a diferença dos stocks entre dois
balanços consecutivos como proveito ou custo do exercício.
A adopção do critério valorimétrico F. I. F. 0. ou mesmo o do
custo médio ponderado originam uma sub-avaliação do consumo dos
stocks dado que tal consumo está avaliado aos preços mais antigos,
que em período inflacionista são normalmente os mais baixos e con-
sequentemente uma sobre-avaliação do crescimento em valor real
das existências avaliado por comparação entre os dois balanços, dado
que no balanço de saída o stock se encontra avaliado ao preço mais
recente.

A contabilidade a custos históricos provoca a inclusão nos resul-


tados da avaliação meramente nominal dos stocks ligada à subida
geral dos preços, a qual não corresponde a qualquer enriquecimento
real da empresa e sua consequente tributação.

Procurarei evidenciar tal situação adaptando um exemplo de


N. Guibert extraído de um seu trabalho «Analyse de L'Appréciation
sur stocks»

12 — 177
BALANÇO INICIAL

ACTIVO PASSIVO

Si = 100 C = 80
D = 20

Si = C + D

Representamos por Si — o stock inicial


» C — o capital social
» D — as dívidas líquidas, ou seja o saldo dos
débitos menos os créditos relativamente
a terceiros.

CONTA DE EXPLORAÇÃO

DÉBITO CRÉDITO

Si = 100 SF = 120
C= 400 V = 450
DG= 50
L= 20

L = V + SF — C — DG — Si

em- que «C» representa as compras ; «Dg» — as despesas gerais ;


«L» — o lucro; «V» — as vendas e «SF» o stock final.
Se supusermos a hipótese simplificadora das compras e das des-
pesas gerais igualarem as vendas, o lucro será igual ao aumento do
stock em valor
L = SF — Si
o balanço final seria:

ACTIVO PASSIVO

SF - 1 2 0 C-80
D-20
L —20

Se imaginarmos Sf igual em volume a Si, o lucro corresponde


unicamente ao aumento do preço do stock. Representando por K o

178 —
aumento do nível geral dos preços e por K' o aumento do preço
do stock
SF = (1 + K') Si L = K' Si

Se este lucro fosse distribuído a empresa perderia substância,


podendo mesmo ser levada a diminuir a sua actividade. Não se
pense, porém que a empresa não ganhou (ou perdeu) nada. O que
não lucrou foi certamente as 20 unidades monetárias. Retomaremos
porém este exemplo quando tratarmos do endividamento líquido.
P a r a atenuar tais inconvenientes as administrações fiscais de
alguns países permitem a criação de provisões para subidas de
preços, e autorizam a utilização do critério valorimétrico L. I. F. O.
Este critério baseando-se na valorização das quantidades consumidas
pelos preços mais recentes, provoca que os consumos se aproximem
do preço corrente do ano e permite a eliminação da apreciação me-
ramente nominal do stock do seu crescimento aparente.
Contudo, se por um lado permite uma avaliação mais correcta
do resultado real, provoca em contrapartida uma sub-avaliação do
valor do stock que figura no balanço de saída.

2.3. A SOBRE-AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DO ENDIVIDA-


MENTO E DOS ENCARGOS FINANCEIROS DAS EMPRESAS

A inflação provoca sobre o endividamento líquido das empresas


duas consequências:

— Ao nível da comparação dos balanços o empolamento do cres-


cimento real do endividamento da empresa.
— Ao nível das contas de resultados, uma subestimação do lucro,
dado que este não incorpora o ganho de inflação resultante
para a empresa da desvalorização do seu endividamento lí-
quido, enquanto que os juros e os encargos são deduzidos do
resultado do exercício.

Dado que o efeito da degradação monetária no que concerne às


deformações no tempo das relações entre credores e devedores só
muito recentemente tem sido focada com muito mais ênfase, vou
analisá-lo, bem como as consequências da não reavaliação do endivi-
damento líquido sobre a situação líquida das empresas.
A recuperação dos créditos operada em moeda «desvalorizada»,
por um montante igual ao valor nominal, provoca ao credor uma
perda igual à degradação das unidades que ele recebe comparativa-
mente às que emprestou.

— 179
Representando por de o montante desta perda verificam-se duas
consequências :

— 0 efeito é simetricamente um proveito para o devedor quando


do pagamento das dívidas. Representemos por dd o seu mon-
tante.

— O resultado efectivo do bloqueamento jurídico da indexação


dos débitos e dos créditos é para a empresa igual a dd — de.

Tal diferença representa um lucro ou um, prejuízo conforme as


relações dos montantes e das respectivas idades dos débitos e cré-
ditos não reavaliados.
Mas qual a razão da não indexação dos débitos e dos créditos?
A resposta tem que ser encontrada ponderando nas consequências
sócio-políticas que tal operação ocasionaria. Além disso a estabi-
lidade nominal da unidade monetária é mantida juridicamente, e
mesmo que se considere que se trata de um a ficção jurídica, é no
quadro desta ficção que se desenrola a vida económica interna, e
nomeadamente a das empresas nas suas relações com credores e
devedores nacionais, qualquer que seja o tipo de débitos e créditos
relativamente a estes.
Retomando o exemplo de Guibert, parece-me que já podemos
justificar por que afirmámos que não se podia concluir na altura
se a empresa tinha ganho ou perdido, tão-pouco podendo quantificar
esse lucro (ou perda).
Se considerarmos que só existe lucro quando se ultrapassa o
ponto de salvaguarda do poder de compra global, e se K = 15 %
teremos :

A situação líquida inicial — C = Si — D 80 = 100 — 20

Para que não haja um empobrecimento real da empresa, no fim


do exercício, a situação líquida deveria ser no mínimo:

(Si — D) (1 + K) = (100 - 20) (1 + 0,15)

A situação líquida final era porém—Si (1 + K')— D = 100 (1 + 0,2)—20

Donde se conclui que o enriquecimento avaliado em termos de


poder de compra será pois necessariamente:

E = [Si (l + K ' ) - D ] - [ ( S i - D ) (l + K)] = Si ( K ' - K ) + D K

180 —
Podemos desdobrar tal expressão em duas partes:

— Si (K' — K) = 100 (0,20 — 0,15) = 5 que representa o enrique-


cimento respeitante à evolução relativa do preço do stock.
— DK = 20 x 0,15 = 3 representa a perda do poder de compra
do endividamento, e como a empresa é devedora líquida, tal
resultado representa um benefício para a empresa, que os
Ingleses apelidam de «Ganho sobre os elementos monetários».

Vamos analisar o modo como a reavaliação, independente do


activo, do passivo, e da situação líquida excluindo o endividamento
líquido, torna transparentes tais ganhos, os quais se mantinha numa
situação de não evidência.
Designemos por X 0 , Y 0 e Z0 o montante do activo, do passivo
e da situação líquida antes da reavaliação.
A equação fundamental do Balanço é A = P + SL.
Designemos por A A a incidência da correcção do conjunto dos
elementos do activo, incluindo a dos créditos que designamos por A"A.
O ajustamento do activo (A A) deve repercutir-se sobre o total
P + SL. Para repartir essa incidência vamos tratar distinta-
mente P e SL.
Em primeiro lugar vamos reavaliar os elementos de P como se não
houvesse obstáculo jurídico, em função das suas idades respectivas,
designado por A P o montante da rectificação teórica assim calculada.
Seguidamente atribuíamos o saldo A A — A P à situação líquida e
esta é que seria a correcção legítima de SL.
Retomemos finalmente em consideração a restrição jurídica do
normalismo monetário, evidenciando o resultado desta blocagem.
Se não ouvesse tal restrição A SL = A A — A P .
Se designarmos por A' A os activos reavaliados com exclusão dos
créditos A A = A'A + A"A.

E consequentemente:

A SL = A'A + A"A - A P

ou seja

A SL = A'A — (A P — A"A)

Esta seria a correcção legítima de SL pois é igual à correcção


dos activos diminuído deste resultado, o que equivale a dizer que na
medida em que não se reavaliam nem os débitos nem os créditos em
moeda nacional, a repercussão sobre a situação líquida da reavalia-

— 181
ção dos activos sem incluir os créditos contém um resultado igual
à incidência da reavaliação não efectuada.

A equação do balanço reavaliado passará a ser:

(X0 + A'A) - Y„ = [(Z - A"A + A P) + A SL]

É importante observar que o aumento da situação líquida resulta


da combinação de dois factores:

— O efeito combinado da gestão dos activos e dos modos de


financiamento.
— O efeito da degradação monetária sobre a situação líquida.

O cálculo directo de este último factor permite, por diferença


isolar o primeiro e aquilatar se o montante dos capitais próprios
avaliado em moeda actual é superior ou inferior, devido à gestão,
à entrada inicial também expressa em, moeda actual.

3. A INFLAÇÃO E AS ESTRUTURAS FINANCEIRAS DAS EM-


PRESAS

A contabilidade não se pode considerar economicamente neutra


dado que ela influencia as decisões de investimento e financiamento.
As distorções introduzidas pela inflação nas estruturas finan-
ceiras das empresas são principalmente as seguintes:

— Redução da liquidez a níveis extremamente baixos., Esta


redução de liquidez deve-se não só ao aumento do preço dos
stocks e dos equipamentos como também à acentuação nas
dificuldades no recebimento dos débitos dos clientes. Além
disso, a inflação leva as empresas a investir em bens cuja
revalorização é automática tais como os imóveis, dado que,
atendendo à diminuição do poder de compra dos valores dis-
poníveis, se procura uma utilização dos excedentes eventuais
de tesouraria, transformando-os em imobilizações ou em títulos
susceptíveis de aumenta" de valor com o tempo. Esta trans-
formação pode criar, por conseguinte, dificuldades à empresa
se uma alteração da conjuntura se traduzir numa necessidade
de disponibilidades.
— Necessidades de financiamento adicionais, imputáveis à subida
dos preços. São necessários fundos de maneio cada vez mais
elevados, já que estes terão que financiar níveis inflacionados

182 —
de contas a receber e de existências. O incremento do saldo
das existências deve-se, em, período de inflação, ao facto de
os custos serem mais elevados e também à necessidade de
stocks de segurança mais elevados, motivada pela falta de
produtos e pela previsão de novas subidas do preço de custo
das existências. Além disso, apesar da substituição dos equi-
pamentos ficar cada vez mais cara, as empresas são incitadas
à sua renovação não só para reconstruir as dotações das
amortizações, como também pela previsão de subidas mais
acentuadas do preço dos referidos equipamentos.
— As consequências acima referidas conduzem a um endivida-
mento crescente das empresas. O recurso ao crédito se ajuda
a -esolver os problemas imediatos, origina em contrapartida
um encarecimento dos juros e encargos correlativos e princi-
palmente coloca as empresas numa situação de dependência,
estando muitas vezes em jogo a sua própria sobrevivência.

Aproveitando a referência feita ao endividamento, parece-me que


se empola bastante o efeito de uma possível reavaliação relacio-
nada com a facilidade em obter empréstimos. De facto, tal como
A. L. CHADEAU observa: «Pensar, como fazem alguns, que a rea-
valiação aumentará a capacidade de endividamento junto dos
organismos financeiros, é presumir que estes últimos são completa-
mente vítimas da ilusão nominalista».

4. CONCLUSÕES

Depois de termos focado algumas das consequências da inflação


nos balanços, contas de resultados e estruturas financeiras, é che-
gada a altura de fazer uma síntese.
Seguindo o esquema de Robert Pirolli, tais factores podem agru-
par-se em 3 grupos:

— Em primeiro lugar as deformações contabilísticas.


— Em seguida os ganhos e perdas da inflação.
— Em terceiro lugar as necessidades de financiamento especifi-
camente ligadas à evolução dos preços.

As deformações sobre a contabilidade originam que os documen-


tos financeiros se tornem cada vez menos aptos a expressar de
forma satisfatória a situação patrimonial da empresa e avaliar os
resultados. Tais desvios dificultam ou impossibilitam medir e seguir
as realizações de uma empresa a partir de uma expressão real do

— 183
seu potencial económico e dos seus resultados económicos e finan-
ceiros. Estas distorções caracterizam-se grosso modo por uma
subavaliação do activo e dos capitais próprios e por uma errada
avaliação do capital fixo. Dado que os resultados estão empolados
e a tributação incide sobre os valores apurados a custos históricos
pode haver mesmo uma perda de substância da empresa, dado que
a base de cálculo do imposto sobre os lucros não correspondeu pois
a um enriquecimento real da empresa. Se o lucro repartido aos
associados não corresponde a um enriquecimento real da empresa,
infere-se que uma parte do activo da empresa foi, de facto, distri-
buído. Este último facto é preocupante porque o crescimento futuro
da empresa pode ser limitado, enquanto que, economicamente, a
distribuição de dividendos apresenta um carácter de ficção.
Para precisar melhor esta questão vou citar novamente Samuel-
son: «...suponha-se que os preços estão constantemente a subir.
Se eu vender os meus produtos a um preço qUe me permita pagar
a mão-de-obra e outros custos, e também as amortizações, poderá
pensar-se que não ganhei nem perdi. Que pensará o fiscal de impos-
tos que calcula as minhas amortizações com base nos preços baixos
originariamente pagos pelas minhas ferramentas e pelos meus edifí-
cios? Também ele dirá que não ganhei nem perdi. Mas na realidade
pode dizer-se que estive a vender as mercadorias com prejuízo real,
porque quando as minhas máquinas e os meus edifícios estiverem
gastos não terei dinheiro suficiente para os reconstruir ao novo nível
de preços mais elevado. O mesmo se aplica a um comerciante que
vende as suas existências a um preço inferior ao custo de substi-
tuição.
Deste modo, é necessário estar de sobreaviso em relação às
sobreavaliações fictícias monetárias, dos lucros reais em período
de inflação...».
As perdas ou ganhos da inflação nascem sempre de desfaza-
mentos temporais entre um fluxo real e a sua contrapartida mone-
tária. Quando o fluxo real de entrada procede o fluxo monetário
de saída há um benefício. Se invertermos esta situação verifica-se
uma perda devida à inflação. Existe também um ganho ou perda
de inflação em. consequência dos desfasamentos temporais entre
dois fluxos monetários ligados à mesma operação: empréstimos
concedidos e obtidos.
No caso da empresa ser devedora líquida podemos dizer que
e ao fim e ao cabo o capital alheio que suporta a maioria os pre-
juízos que a inflação provoca nas empresas.
Poderemos agora voltar a pôr a questão de saber se a empresa
ganha ou perde com a inflação, conjugando o efeito das deformações
contabilísticas com o do ganho ou perda da inflação. Não tenho
conhecimento de qualquer estudo nesse sentido feito sobre a situação
real das empresas nacionais. Vou portanto focar as conclusões de

184 —
alguns estudos estrangeiros acerca do mesmo tema. Num trabalho
recente feito nos Estados Unidos concluía-se que os lucros líquidos
corrigidos unicamente pelos efeitos das amortizações e dos stocks
eram em média inferiores de 30 a 35 % aos resultados apurados
na contabilidade a custos históricos. Tal diferença reduzia-se a
menos de 10 % desde que se tomasse em conta o ganho de inflação
ligado à depreciação do endividamento líquido.
Uma tentativa de quantificação efectuada pela Direcção Geral
dos estudos do Banco de França, concluía que para o conjunto das
empresas e tendo em conta a subida das taxas de juro provocada
pelo aumento dos preços, havia uma compensação aproximada das
perdas e ganhos da inflação.
Um estudo recente na Grã-Bretanha feito pela firma de audito-
ria «Philips and Drew» indicava que a perda financeira aparente
resultante da actualização dos valores imobilizados e da reavaliação
das amortizações era compensada pela tomada em conta da mais-
-valia monetária realizada pelas empresas em detrimento dos seus
credores. Sublinhava porém que a não tomada em conta destas
mais-valias monetárias sobre o endividamento líquido reduziria em
cerca de 2/3 o montante dos lucros declarados.
Embora a seguinte consideração saia fora do âmbito deste tra-
balho, parece-me que uma reavaliação correcta e completa dos
resultados das empresas tem forçosamente que considerar os ganhos
ou perdas da inflação, principalmente para que a informação se
aproxime mais da realidade. Discordo da sua tributação, apesar
de alguns técnicos serem de opinião contrária. Todavia, a maioria
dos especialistas estrangeiros (como por exemplo Cibert e Lecointre)
discordam da imposição alegando que é ilógico tomar em conta nas
empresas devedoras o ganho da não indexação das suas dívidas,
ignorando a perda simétrica que advém para os credores.
A terceira categoria dos efeitos é a da evolução dos preços,
das condições económicas e da inflação, de que resulta um aumento
das necessidades de financiamento específicos. Estas necessidades
de financiamento respeitam a todos os elementos do activo da
empresa que têm que ser renovados — stosks, imobilizações, fundo
de maneio, etc.
Enfermando a contabilidade a custos históricos das deficiências
que temos vindo a apontar, as opiniões dividem-se quanto à forma
de as evitar, ou corrigir. Alguns autores mais radicais parecem
visar mesmo nas suas críticas a própria estrutura do modelo conta-
bilístico. Outros porém (a maioria) pensam que os dados forne-
cidos pela contabilidade a custos históricos podem ser corrigidos para
obviar às deficiências provocadas pela inflacção.
A principal causa da não adequação da contabilidade reside
quanto a mim na não estabilidade de medida (a unidade monetária).

— 185
A questão principal será pois como dotar esta unidade evolutiva
da qualidade necessária de padrão invariável que ela não possui.
A maneira de obviar ou minorar tais distorções passa obrigato-
riamente por uma revisão global e permanente das contas. Contudo,
não nos podemos esquecer da existência de alguns paliativos que
podem provocar que tal reavaliação tenha apenas importância para
efeitos de informação.
Não procurando explicitar as múltiplas e controversas formas de
proceder à reavaliação das contas, vou citar, devido à sua complexi-
dade, alguns problemas que uma reavaliação permanente ocasiona:

— A primeira dificuldade está ligada à escolha de um conceito


de valor: valor de substituição, ou custo histórico reavaliado
pela correcção monetária?

— Optando por este último a questão põe-se na escolha dos índi-


ces: índices gerais ou índices específicos?

— Uma outra dificuldade está ligada à escolha de um conceito


de lucro: lucro da empresa considerada como unidade de
produção, ou lucro dos accionistas?

— No lucro, não se deve considerar os ganhos ou perdas da


inflação, antes pelo contrário, deve avaliar-se esse lucro em
termos de poder de compra tomando em conta tais ganhos ou
perdas?

Vou finalmente dizer qual a minha opinião sobre a generaliza-


ção das reavaliações a todas as empresas nacionais. A situação das
estruturas financeiras das empresas, a descapitalização da maioria
delas e uma inflação em ritmo ascendente, tornam tal medida de
uma urgência premente. Apesar de o ideal ser uma reavaliação de
todas as contas, a organização contabilística da maioria das empre-
sas e principalmente a diminuição acentuada das receitas fiscais
não o permitem. Nenhuma decisão quanto à reavaliação deve ser
tomada sem atender às orientações gerais da política económica e
social. Implica pois uma escolha política e não pode de modo
nenhum reduzir-se a uma simples modificação técnica dos métodos
contabilísticos actuais.
E se é evidente que as distorções que apontámos vêm apenas
parcialmente minoradas, continuando a informação a ser pelo menos
tão enviezada, como dantes, devemos notar que alguns países com
uma maior experiência no campo das reavaliações procedem apenas
à correcção do activo imobilizado, considerando ser esta a primeira
etapa necessária para uma reavaliação geral e permanente.

186 —
A Contabilização dos Juros e das Variações
Monetárias — I
Por Rogério Fernandes Ferreira

Tem-se vivido no País com taxas de inflação muito acentuadas


nos últimos anos e nada indica que se irão conseguir baixas sensíveis
a curto prazo.
Em relação aos dados patrimoniais da contabilidade do passado
há quem afirme que permitidas reavaliações ter-se-ão depois já
cifras mais adequadas na representação do património e no apura-
mento dos resultados que se configurarão por valores actualizados.
Só que com tais reavaliações ocasionais apenas se podem encontrar
novas posições de partida mas com a continuação das tensões infla-
cionárias de novo se deparará com valores inadequados e inexactos.
Em relação com as altas taxas de inflação estabelecem-se
também altas taxas de juro na concessão de crédito e nos depósitos
a prazo. Ex-governador do Banco de Portugal, em sessão pública,
observou que «as empresas que afirmam que as actuais taxas de
juro lhes trazem prejuízos baseiam-se em custos históricos e não
estão adaptados às condições criadas pela inflação».
Porém, o problema da «contabilidade da inflação» não é simples
e parece que o Governo, pelo menos nos tempos mais próximos, não
irá pôr em. prática (há razões para isso) uma contabilidade de
indexação sistemática (*).

(*) No trabalho «A Contabilidade da Inflação», que com o Dr. Alves Conde


apresentámos noutra ocasião, defendeu-se (atentando nas dificuldades e perigos
de introdução rápida, na contabilidade, da indexação geral) a adopção, entre
nós, de soluções de reavaliação ocasional ou esporádica, mas após ponderação
prévia de vários aspectos importantes que têm passado despercebidos.

- 187
Só que, se nada for feito, as empresas apresentarão, por um
lado, activos com valores desactualizados e, por outro, contas de
resultados com amortizações insuficientes e com juros de capitais
alheios a altas taxas as quais, todavia, só em pequena parte ou
mesmo em nada serão remunerações desses capitais, constituindo
propriamente forma de compensar o credor pela perda de valor que
em período de inflação sempre se verifica.
Acontece que não havendo relevação das perdas de valor provo-
cadas por erosão monetária nos financiamentos não se saberá
distrinçar as atrás citadas componentes das taxas de juro. Por outro
lado-, não se corrigindo os custos de aquisição para custos de repo-
sição, igualmente não se tomará conta das parcelas de valorização
dos diversos activos. E assim não se saberá se a empresa no activo
recuperou toda ou parte da parcela do juro que pagou aos credores
para compensação da perda de valor real que estes sofrem nos
financiamentos que efectuaram.
Mantendo-se pendente o problema do «tratamento da inflação»,
sucederá que, consoante os ramos de actividade, as estruturas dos
activos, as formas de financiamento, etc., as empresas sofrerão com
maior ou menor intensidade os reflexos da situação, uns positivos,
outros negativos. Naturalmente que insistirão, de quando em vez,
pelo diferimento de reavaliações de activo, de modo a poder expli-
citar reservas de reavaliação e a contabilizar no futuro custos de
amortização na base de valores activos actualizados.
Se a inflação pudesse ser sensivelmente atenuada a melhor
política seria de facto adoptar uma reavaliação ocasional com os
objectivos de actualização supra que naturalmente favoreceria a
aparência dos balanços e traria maior rigor aos resultados o que
na conjuntura actual se revelaria de interesse. Porém, se não se
conseguir debelar a crise estrutural em que se está vivendo, a moeda
nacional continuará a deteriorar-se e poderá entrar-se em círculo
de auto-alimentação inflacionária cujo desfecho será difícil de prever,
mas não será bom para a comunidade portuguesa.
Fundamentalmente devido a estes receios é que entendemos que
os técnicos de contabilidade não devem precipitar o uso de soluções
de «indexação sistemática», se bem que convenha proceder ao seu
estudo, para a eventualidade de uma persistente e acentuada inflação
tornar imprescindíveis as práticas de contabilização sistemática das
variações de valor da moeda. O estudo referido favoreceria côm-
putos extracontabilísticos ou a criação de sistema complementar de
contas autobalanceadas, vias que nos países que não querem ver
agravada a inflação estão, entretanto, a ser utilizadas, de forma
a suprir as actuais insuficiências da contabilização em valores
históricos.

188 —
Pode dizer-se que em todos estes problemas há imensos passos
a dar. E muito estudo a efectuar (*) que, infelizmente, não pode
ter a rapidez que os factos e as situações exigiriam.

(*) Pela nossa parte o problema preocupa-nos. A prova é que sobre ele
publicámos, entre outros, os seguintes estudos: Temas de Gestão de Empresas,
1976, vol. V: Cap. XI, Inflação; Cap. XII, Inflação e Indexação de Salários;
Cap. XIII, Indexações e Outras Fantasias; Cap. XIV, Controlos da Inflação;
Cap. XV, Efeitos das Variações Gerais dos Preços no Património e nos Resul
tados; Cap. XVI, Inflação e Indexação dos Valores Contabilísticos das Empresas;
Cap. XVII, Acerca das Reavaliações do Imobilizado.
Mais recentemente elaborámos o trabalho «A Contabilidade da Inflação», Ed.
Inst. Pol. Covilhã, 1978, em colaboração com Alves Conde.

— 189
A Contabilidade dos Juros e das Variações
Monetárias — II
Por Rogério Fernandes Ferreira

QUESTÃO

Legitimidade da qualificação como «imobilizado» ou como «pre-


juízo de exercício» de juros na parte excedente a uma remuneração
considerada normal e de flutuação cambial respeitantes a um finan-
ciamento a longo prazo para a aquisição do dito imobilizado já em
exploração.

REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO SUPRA

A questão formulada é de facto passível de controvérsia. Vendo


bem, obrigaria a grande desenvolvimento e deveria comportar indi-
cações mais concretas.
Ainda assim, admite-se que o que adiante se vai referir possa
servir para uma melhor clarificação de problemas desta natureza
que, dia a dia, estão a ser suscitados, importando que se venha a
encontrar uma maior unanimidade de vistas sobre estas matérias.
Pensa-se que o facto de o imobilizado já ter entrado em funcio-
namento ou exploração não constitui, por si, razão suficiente para
que diferenças de juros e flutuações cambiais do tipo apontado não
possam em certas circunstâncias contabilizar-se como Activo Imo-
bilizado.
Claro que o lançamento a débito de contas do Activo Imobilizado
(e não à conta de Resultados do Exercício) de acréscimos de encar-
gos para a empresa derivados de excessos de juros e de flutuações
cambiais do tipo apontado constitui procedimento passível de contes-

— 191
tacão, particularmente se for apreciado isoladamente ou sem atenção
por todos os aspectos que importa considerar. Com efeito:

— a perda de valor da moeda portuguesa em confronto com


moedas a que se reportem dívidas de uma empresa é
encargo que em rigor não tem a ver com o investimento,
mas sim com o financiamento.

Deve até notar-se que se as opções de financiamento tivessem


sido outras (ou tivessem podido- ser outras) os encargos em exame
poderiam não ter ocorrido ou ter diferente expressão; os ditos
encargos têm natureza financeira, só se correlacionando comi o inves-
timento de modo algo indirecto.
Não obstante o exposto, há que referir que as importantes
desvalorizações que se vêm verificando na moeda portuguesa são
resultado da crise e do empobrecimento do País e estão correlacio-
nadas com a inflação, pelo que se pode encontrar uma correlação
bastante perfeita e directa entre os acréscimos anormais de juros
e de flutuações cambiais e as valorizações de que os investimentos
realmente beneficiam em circunstâncias como as referidas.
Não se pode assim deixar de ter presente o destino em concreto
do financiamento quando não é para ocorrer a gastos directos
de exploração mas sim para aquisição de um investimento ou imobi-
lizado. É um facto que as flutuações cambiais e as grandes taxas
de juro são geralmente consequência e demonstração de que há perda
do poder de compra da moeda.
Tudo ponderado, ter-se-á que afirmar que a melhor solução seria
reavaliar o investimento para valor actual e confrontar ou contraba-
lançar esse ganho de reavaliação com a perda monetária. Julga-se
que soluções deste género é que são as recomendáveis e as que no
futuro se terão de revelar prática corrente, acaso a inflação e a
perda de valor de compra da moeda nacional persista.
O facto de a alternativa de contabilização apontada e sublinhada
não estar entre nós a ser considerada pode empurrar as empresas
que querem ter Uma contabilidade mais centrada na óptica de conta-
bilidade económica ou de gestão para soluções provisórias ou de
remedeio como será a de qualificar os encargos em apreciação não
como prejuízos de exercício mas sim como valores activos pendentes.
Isto é, gastos com efeitos plurienais, gastos que correspondem ou
contrabalançam reavaliações ainda não feitas dos investimentos adqui-
ridos. Trata-se assim de dar ao problema uma solução provisória
que satisfaça aspectos de contabilidade de gestão. É óbvio que o
exposto não quer dizer que em termos fiscais o problema não careça
de ser explicado. Como também se julga óbvio que se pense que
ao apreciar-se este problema se não desconhece a grande transcen-
dência que o mesmo apresenta perante a necessidade de os relatos

192 —
financeiros sobre as contas das empresas serem suficientemente expli-
cativos de modo a justificarem os procedimentos e a pô-los em
conformidade com sãos princípios de contabilidade. Aliás, estes têm
de ser, na conjuntura actual, vistos numa perspectiva que exige uma
revisão ou pelo menos uma interpretação hábil das regras que
constam do Plano Oficial de Contabilidade.
Todos estes problemas apresentam hoje extrema acuidade. Na
realidade, a intensíssima inflação que se tem vivido e as frequentes
e importantes variações das paridades monetárias entre a nossa
moeda e as moedas dos diferentes países não podem deixar de pé
o axioma da contabilização ao custo histórico e as recomendações
técnicas tradicionais que geralmente poderão aceitar-se mas para
períodos de estabilidade, o que não é agora o caso.
Com efeito, a recomendação usual de que «não devem incorpo-
r a s s e juros nas contas dos elementos de imobilÍ2ado corpóreo (*)
derivados de capitais obtidos sob a forma de empréstimo ou de
operações de compra com pagamento a prazo» não pode, em fase de
instabilidade monetária e de juros altos, ser pacificamente aceite.
Reconhece-se, todavia, que a contabilização dos encargos em
exame em Imobilizado Corpóreo poderá conduzir a situações mani-
festamente incongruentes. Vejamos o caso de uma empresa que
apresenta as seguintes discriminações (que aliás traduzem hoje situa-
ções correntes em Portugal):

BALANÇO (em contos)

1.° Equipamento — 1 milhão , Capital e Reservas — 1 milhão


2.° Equipamento — 1 milhão ' Empréstimo Português — 1 milhão
3.° Equipamento — 1 milhão Empréstimo Estrang. D. M. — 1 milhão
4° Equipamento — 1 milhão Empréstimo Estrang. Fr. Fr. —1 milhão

Suponha-se que na empresa supra se considera que: o 1.° Equi-


pamento foi financiado com Capital (Social) e Reservas; o 2.° Equi-
pamento foi financiado com o Empréstimo de entidades portuguesas;
o 3.° com, o Empréstimo Estrangeiro expresso em Marcos e o 4.° com
o Empréstimo em Francos Franceses.
É evidente que se a empresa lançar os diferentes débitos por
juros (que são a taxas sensivelmente diferentes consoante os tipos
de empréstimos e de moeda) e as flutuações cambiais (que não
existem nuns casos e não serão idênticas nos outros) em contas de

(') A prática fiscal portuguesa tem sido no sentido de se aceitarem os


débitos de tais juros em contas de imobilizado incorpóreo até à entrada em fun-
cionamento dos elementos do imobilizado corpóreo relacionado com o financia-
mento. E após a entrada em funcionamento desse imobilizado os juros passam a
ser tidos como custos de exercício.

13 — 193
Imobilizado Corpóreo, os investimentos de igual valor de aquisição
ficarão, a certa altura, com valorizações extremamente divergentes,
o que será absurdo. Porém, também não parece razoával que se
imputem à exploração global ou às explorações de cada equipamento
juros e flutuações cambiais diferentes, consoante os encargos resul-
tantes das afectações de cada um desses financiamentos às explora-
ções de cada equipamento. Isto porque as explorações não deverão
ter encargos diferentes e é razoável que em épocas de inflação os
equipamentos sofram correcções.
Julga-se que o exemplo supra é bastante sugestivo para pôr em
causa os critérios da afectação dos encargos referidos quer a Imobi-
lizado Corpóreo quer à Exploração (ões). Daí a conclusão de que
nas circunstâncias actuais talvez seja prática menos inadequada a
contabilização a débito de conta algo genérica de «Imobilizado Incor-
póreo» ou de «Gastos Plurienais» ou «Pendentes» os excedentes de
juros e as flutuações cambiais em questão.
Convirá salientar aqui que a admissão da prática exposta é via
de recurso cuja aceitação, no fim de contas, deriva de o critério
tradicional do custo histórico não servir na actualidade. Todavia, os
estudos acerca das indexações sistemáticas ou sobre outros critérios
de correcção sistemática da contabilidade em face da inflação não
se têm ainda revelado satisfatórios, além de complexos.
Confia-se assim que outras comunicações sobre o tema de «A Con-
tabilidade e a Inflação» sirvam de discussão e possibilitem reflexões
e recomendações para novas pistas de tratamento de matéria tão
difícil e sempre controversa.

194 —
Correcção Monetária e Valores na Contabilidade
(Ensaios de uma Teoria)

Por A. Lopes de Sá

I-EVOLUÇÃO CIENTÍFICA DO TEMA NO TEMPO

Na teorização sobre o valor, contabilmente, o problema da in-


flação foi enfocado há mais de um século.
Obviamente seria pretender demais o exigir-se dos precursores
todo um arcabouço de doutrina, considerando que só em 1840 nossa
matéria penetrou no campo científico.
As escolas italiana e alemã, do fim do século passado e do início
deste, todavia, já faziam referências aos valores de «reposição», con-
siderando o fenómeno das variações sofridas.
No Brasil, Frederico Herrmann Júnior e Francisco D'Auria, com
grande propriedade já haviam produzido enfoques que evidenciavam
suas preocupações.
Quando em 1958 publicámos o nosso livro Inflação e Balanços,
dedicando toda uma obra a esta matéria, iniciando tal literatura
específica em nosso País, entendíamos que sérios seriam os problemas
a serem resolvidos.
Actualmente sabemos que grande é o número de estudiosos que
procura enfrentar esta realidade, mas, acreditamos que o assunto
ainda não atingiu ao ponto doutrinário ideal e nem conseguiu, ainda,
uma metodologia capaz de expressar a realidade.
O que na actualidade encontramos são sistemas híbridos, cujos
efeitos não conseguiram evitar as falhas técnicas de diversas na-
turezas.
Algumas tentativas podem ser consideradas razoáveis, mas, a
mescla entre «valores históricos» e «valores reajustados», tão como
a daqueles «mistos» vem trazendo para os Balanços expressões que
se distanciam das realidades.

— 195
Todo um sistema de tentativas têm-se empregado, inclusive o de
«conversões» de balanços, mas, parece-nos que as controvérsias pros-
seguem intensas.
Em verdade, quanto maiores forem as contestações tanto maiores
serão também as tentativas, as justificativas e consequentemente os
diálogos; este, em realidade, é o processo natural para a busca da
verdade em todos os ramos do conhecimento humano.
Os ajustes monetários representam um desafio e o problema,
segundo nossa opinião, ainda não encontrou solução satisfatória, não
obstante aos métodos e normas empregados.

II —PREÇO, UTILIDADE E REALIDADE

Tão evidente é a mudança de valores através da alta dos preços


que é axiomática a realidade da mudança da expressão monetária.
O valor sofre hoje sensíveis abalos como instrumento de medida
em relação ao tempo.
Tal é a preocupação dos estudiosos que alguns admitiram a me-
dida do fenómeno patrimonial em «outras dimensões»; o evento levou
os doutrinadores à «Contabilidade Multidimensional», partindo de prá-
ticas inicialmente pragmáticas mas que visaram a enfrentar o binó-
mio: preço e realidade.
A debilidade monetária como instrumento de «expressão» parece
inequívoca, embora defluente de fenómeno «económico» e não «con-
tábil».
A inflação é uma enfermidade no organismo das Nações, embora
alguns estudiosos admitam que seja um «mal necessário» e outros
«um evento fabricado para servir a interesses particulares».
Na teoria contábil do «valor» as forças «exógenas» na formação
do preço são recebidas «passivamente»; quando «avaliámos» não nos
é dado o poder de alterar a pressão externa; a mensuração do fenó-
meno patrimonial é um acto instrumental.
Sabemos que um bem adquirido há cinco anos atrás foi «regis-
tado» ao «valor histórico», ou seja, aquele que na data da aquisição
representou o «valor efectivo» do investimento realizado.
Como, na época, aquela era a «estrutura» da qual participava
a sua expressão monetária era correcta.
Passado o tempo o bem adquiriu «outro preço», resultante de uma
«outra realidade económica».
Intrinsecamente o elemento referido não «ampliou» sua utilidade,
mas, apenas, assumiu «outra medição monetária».
Não foi o «património» que se alterou, mas, a «expressão» do seu
«valor no mercado».
Em 1973, por exemplo, o prédio do escritório que Uma empresa
ocupa foi adquirido por Cr$ 200.000,00; hoje ela ocupa o mesmo

196 —
prédio, com a mesma utilidade, porém, no mercado, só se pode
adquirir um semelhante por Cr$ 4.000.000,00, ou seja, por um valor
que representa 50 vezes aquele histórico. O que citamos é extraído
da prática, de uma «realidade» em relação a um determinado «preço».
Tal evidência entre: preço, utilidade e realidade tem sido «axio-
mática» em quase todas as Nações, na actualidade.

I I I - E X P R E S S Ã O MONETÁRIA E AJUSTE

Embora a expressão monetária sofra os seus desajustes no tempo


ela não autoriza, em sentido absoluto, a considerar «falso» o valor
histórico.
O que ainda não tangeu a muitos estudiosos de nossa disciplina
é o facto de que: valor e tempo são elementos que merecem trata-
mento específico.
Não é falso afirmar que a empresa investiu Cr$ 200.000,00 na
aquisição de um bem; o que não é verdadeiro é omitir-se «quando»
a aplicação foi feita.
Nisto encontra-se toda a base de uma metodologia científica no
campo contábil.
A «realidade» de um preço é dinâmica.
Em sentido «absoluto» é difícil, ainda, expressar-se em termos
contábeis todo o processo evolutivo do valor.
Podemos afirmar que uma empresa vendeu dois milhões de cru-
zeiros em 1978, todavia, é verdadeira a expressão monetária?
Se o produto que vende era colocado no mercado em Janeiro
de 1978 por Cr$ 1.000,00 a unidade e se em Abril de 1978 já o era
por Cr$ 1.400,00 e em Dezembro será por Cr$ 2.000,00, a venda de
Cr$ 2.000.000,00 manifesta no Balanço de Apuração contabilmente será
adequada?
No caso exemplificado partimos de um pressuposto de que as
«unidades vendidas» mensalmente são «constantes», mas, os preços
«variáveis crescentes».
Que realidade mostra, no caso, o valor? Não será falso dizer-se
que a empresa vendeu dois milhões de produtos em bases de sua
«realidade» em 31 de Dezembro?
Não é verdadeiro dizer-se que de facto isto ela vendeu em termos
históricos?
Que expressão monetária deve ser acolhida? A realidade na data
do balanço? O histórico do exercício?
Uma opção deve ser seguida, ou seja, um método precisa ser
eleito, todavia, com dose de «coerência».
Se ajustamos o «património» devemos ajustar o «resultado», mas,
não através da variação patrimonial para este ou da reditual para
aquele.

- 197
Cada sistema deve ser o tratamento específico que lhe cabe,
segundo entendemos.
Os reajustes devem respeitar os limites da «natureza dos valo-
res»; uma coisa é a «estrutura patrimonial» e outra a «estrutura
rediturial».
Esta a nossa discordância doutrinária em relação ao regime que
se adoptou no País para a Correcção Monetária.
O que a Lei 6.404/76 estabelece é, segundo entendemos, um regime
híbrido onde o resultado do exercício não se ajuste em termos do
rédito, mas, de variações patrimoniais.
Pode-se argumentar que o rédito é a posição de dois estados
patrimoniais somados algebricamente (teoria dita «monista» pelos
doutrinadores da escola aziendalista), mas, não é este o rédito que
a Lei 6.404 busca aritmeticamente, porque exclui elementos e mescla
outros.
O ajuste para que represente genuinamente o valor precisa con-
siderar, como base, a «natureza da coreecção».
Cada elemento se ajusta de per si.
Os preços não só se elevam de forma diferente (a alta do preço
do trigo no Brasil é absolutamente diferente da alta do preço do
imóvel) como precisam observar suas «realidades» em face da estru-
tura das empresas e instituições.
As bases «médias» e «uniformes» conduzem a ajustes irreais.

IV-CORRECÇÃO MONETÁRIA E BALANÇOS

Reconhecemos a dificuldade que o assunto encerra para que se


possa ter uma «realidade» através do «ajuste».
Na verdade procura-se uma «aproximação», não a «verdade».
No Brasil têm sido muitas as tentativas e não podemos deixar
de aplaudir o esforço e o valor dos técnicos fazendários.
A correcção monetária tem sido, entretanto, sempre Uma «nova
expressão» errónea dos valores, por diversas razões, mas, basica-
mente, porque:

a) As médias de alta de preços são inexpressivas;


b) Os preços sobem de forma diferente em relação a cada tipo
de bem e a cada lugar;
c) Cada empresa tem sua própria estrutura.
Acreditamos que o erro tenderá a gravar-se porque o regime
agora eleito conduz a uma hibridez acentuada.
Corrigindo-se o dito «Activo Permanente» e o dito «Património
Líquido» o «saldo» equivalerá a «Receita» ou «Custo» para fins redi-
tuais, conforme o caso.

198 —
Haverá sempre «Receita» (como equivalência, é óbvio) toda a
vez que o «Permanente» for maior que o «Património Líquido»;
haverá sempre «Custo» (equivalência) toda a vez que o «Património
Líquido» for maior que o «Permanente».
O resultado perderá sua força de expressão como medida de
«gestão» e representará uma hibridez calculada.
Parte-se do princípio que se «lucrou» por possuir-se um «perma-
nente» e de que se «perdeu» por ter capital demais não investido em
bens «fixos».
Abandonou-se a correcção do «capital de giro» e também deixou-se
de considerar que a «velocidade» é elemento «fundamental» na for-
mação do resultado e do equilíbrio financeiro.
PartiU-se apenas da consideração de duas premissas em um con-
junto onde existem diversas a serem objectivadas.
Existem empresas que dependem basicamente de seu «Imobi-
lizado» (como as Prestadoras de Serviços em geral) e outras dos
seus «estoques» (como, por exemplo, as panificadoras) ; deixou-se de
objectivar o problema «estrutural», absolutamente fundamental, para
optar por um regime de «igualdade» no que por essência é «desigual».
Esse critério, tentado em. outros Países, vem sendo contestado
por ilustres estudiosos, tão como por áreas expressivas do Poder
Público e que neles reconhece ineficácia.
Nosso objectivo, todavia, é menos a crítica que a evidência do
quanto necessitamos progredir nesta matéria.
Consideramos imperfeito o actual processo adoptado pela lei bra-
sileira porque fere aos princípios técnicos, neste trabalho eviden-
ciados. .
Connosco comungam! grandes cultores das ciências contabeis no
Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.
Sabemos que o assunto não é de singela solução, todavia, pre-
cisa ser enfrentado; a única via que reconhecemos como certa para
resolvê-lo é a da análise doutrinária, no campo científico.
Em verdade tem havido pouco desenvolvimento teórico e os es-
forços pragmáticos estão levando os Balanços a irrealidades cada
vez mais relevantes.
A incapacidade da moeda como «força de medida» precisa ser
superada por uma metodologia vigorosa.
O assunto é fascinante e devemos resolvê-lo através da cultura
contábil; os brasileiros levam grande vantagem na vivência do
assunto, pois, a inflação tem sido, na prática, uma ocorrência tra-
dicional.
Além da vivência tem o nosso País, na actualidade, um a plêiade
de grandes valores culturais que têm condições de realizarem tra-
balhos da maior expressividade, inclusive n 0 campo da tributação
onde existem inequívocos e destacados especialistas.
— 199
V -TIPOS BÁSICOS DE CORRECÇÃO

Fundamentalmente os tipos estruturais de correcção, quanto à


natureza, são:

a) do Património e
b) do Rédito.

As do Património são aquelas relativas aos componentes da estru-


tura sujeitos à variação de preço, tais como: bens de venda, bens
de rendimento, imobilizações técnicas, etc.
As do Rédito são as relacionadas com o regime de custos e
receitas e consequentemente o resultado.
Podem ocorrer em regime de compulsoriedade (como é o caso
brasileiro) ou de transitoriedade (caso de outras Nações).
Aquelas patrimoniais podem alcançar a totalidade ou, apenas,
parte do conjunto; alcança a totalidade a correcção que não exclui
nenhum elemento do sistema; é parcial aquela que abandona ele-
mentos da estrutura (como é o caso brasileiro).
Na actualidade estamos diante de ajustes parciais, defluentes de
uma correcção que selecciona apenas o Activo Fixo e o Passivo Fixo;
para determinadas empresas a correcção assim realizada terá abran-
gência, mas, para muitas outras será nitidamente parcial.
Sendo o património composto de elementos «fixos» e «circulantes»
as correcções, a rigor, para serem abrangentes deveriam alcançar a
todos os elementos que tivessem sofrido o fenómeno do desajuste.
Não ocorrendo tal evento haverá parcialidade no regime.
Pode-se alegar que o circulante supera o problema de «tempo»
porque se «renova» a prazos curtos, todavia, sabe-se, pela prática,
que isto não corresponde à verdade.
O valor dos «estoques», por exemplo; acha-se impregnado de
«partes fixas» e «semi-fixas» e que são os estoques mínimos, os de
giro lento, os de giro sazonal, etc.
Para que uma correcção seja técnica ela precisa enfocar as con-
dições de «Preço» e «realidade».
No que tange ao sistema reditual o valor pode sofrer modificações
de substância; os preços de venda e aqueles do custo oscilam durante
o exercício.
Para que se chegasse a uma realidade da expressão do resultado
necessário seria corrigir os seus «componentes».
Se o «património líquido» se corrige o rédito deveria corrigir-se
com igual critério a fim de que a medida da rentabilidade pudesse
ser operada coerentemente.
O que ocorre, entretanto, é que o resultado vai ser alterado com
o «saldo das correcções» entre os elementos fixos d e activo e passivo

200 —
e não através de «receitas» e «custos» como seria tecnicamente
correcto.
Se uma empresa, por hipótese, tivesse de Activo Fixo 100 e Pas-
sivo Fixo 100, não haveria «saldo» a integrar o sistema reditual.
O rédito^ não se tangeria, mas, na verdade, aquele apresentado
na conta de resultado deveria ter seus valores conduzidos a um
ajuste para que se pudesse mensurá-lo.
O Património líquido, se mantidas as condições de imutabilidade,
já distorceria, no segundo exercício, a medida da rentabilidade, pois,
enquanto aquele se alteraria o lucro não sofreria modificações por
correcção.
Uma coisa é a correcção do lucro (e que se deve operar através
dos elementos estruturais do sistema) e outra é a do património.
Entendemos que ambas podem ser defendidas tecnicamente em
um regime «global» (porque as parciais também provocam distor-
ções), todavia, sem que os efeitos de Um sistema integral (património)
determinem o saldo de um sistema diferencial (rédito).
Esta, pelo menos, é a posição em: que se situam os grandes mes-
tres de nossa disciplina, tão como aquela imposta pela lógica contábil
e que não se afasta dos pilares que embaçam a epistemologia (dado
o nosso carácter científico).
De facto tanto as correcções estruturais do rédito como aquelas
do património são ainda imperfeitas, fundamentalmente porque não
se conseguiu, ainda, uma sustentação doutrinária para ambas.
O regime actualmente imposto pela lei 6 400/76, em nosso enten-
dimento, é tecnicamente imperfeito e criará um substancial número
de problemas, além de dar aos valores uma acentuada hibridez.

VI-BASES HISTÓRICAS, BASES CORRIGIDAS E A TESE DOS


ARBITRARISTAS

Os critérios usados na correcção de valores têm partido de bases


diferentes; há processo onde o coeficiente de ajuste aplica-se a uma
base de «valor histórico»; existe modalidade onde o cálculo é feito
aplicando-se a correcção a um valor já corrigido (neste caso há
correcção de correcção).
Se o saldo inicial tem origem em valor histórico o coeficiente vai
ajustando sempre o «ponto de partida», em tais eventos não há «rein-
cidência» nos cálculos.
Pode ocorrer, entretanto, o caso de ajustes (como se tem obser-
vado em trabalhos de mestres de notório valor) em bases «arbi-
trárias».
Neste caso toma-se um valor «referência» e sobre ele aplica-se
um coeficiente também «estimado».

— 201
Adopta - se, igualmente, o critério de «equivalentes», ou seja,
tomada uma unidade monetária escolhida (ORTN, no caso passa
a ser um valor multiplicador) multiplica-se a mesma pelo número
de «equivalências» que ela representa em cada unidade patrimonial.
Assim, por exemplo, admite-se que certo terreno equivalha a
60 500 unidades e multiplicando-se tal expressão pela unidade mone-
tária tem-se o novo valor.
Tal processo utiliza-se em outras técnicas contábeis, também
como a de «Custos» onde, na produção variada, obtém-se o número
de «equivalências» para as unidades produzidas.
O sistema tem adeptos e convictos opositores.
Tal panorama bem nos dá conta de como em todo o Mundo
tenta-se uma solução sem, contudo, conseguir-se ainda um «corpo
de doutrina» capaz de traçar linhas seguras.
Na realidade os processos empregados têm representado mais
tentativas pragmáticas que aplicações de preceitos doutrinários
sólidos.
No caso das bases arbitrárias referidas alegam seus defensores
que «não há processo exacto de correcção», sendo inúteis quaisquer
esforços no sentido de encontrar-se a exactidão.
O pensamento de tais educadores e intelectuais situa-se no
ambiente objectivo, evidenciando que de nada adiantam os precio-
sismos onde na realidade tudo é «imaginário» (esta a expressão que
utilizam).
Em parte estão plenos de razão porque em verdade as correcções,
na prática, têm conduzido a distorções relevantes.
Enquanto os coeficientes multiplicadores forem estabelecidos de
forma «genérica» (como é agora o caso das ORTN — Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional — títulos da dívida pública que
são corrigidos monetariamente a cada trimestre, de acordo com
índices arbitrários do Poder Público, no Brasil) existirão graves
injustiças nos valores expressos pelos Balanços.
Na verdade cada empresa tem, a «sua inflação» porque o preço
das utilidades sobe ou desce sem uniformidade, atingindo cada ramo
diferentemente.
È absolutamente irreal admitir-se que a correcção de 30, 40 ou
50 % seja justa; ela será sempre excessiva ou insuficiente, conforme
o caso.
Alegar-se que os ajustes resolvem o problema, para chamar à
realidade os Balanços é desconhecer o que se passa na vida diuturna
dos negócios.
A correcção monetária não é a «expressão da verdade» e em
alguns casos nem uma «aproximação» chega a representar.
Ninguém possui, à distância, condições de corrigir o Balanço de
uma empresa em bases «reais».

202 —
O limite que hoje se adopta é mais uma «tolerância» fiscal que
um. procedimento científico.
Quem analisar um balanço confiado em tais valores jamais terá
condições de encontrar a posição adequada da situação empresarial.
Quer em bases históricas, quer corrigidas, quer arbitrárias, a
aplicação de coeficientes de «médias de elevação do custo de vida»
i de «variação do poder aquisitivo» ou qualquer outra que não seja
a encontrada dentro da «propria empresa» não têm condições de
expressar monetariamente os elementos patrimoniais.
O facto da ORTN representar a variação monetária de 30, 40, 50
* ou mais por cento nada representará de exacto em relação à reali-
dade de cada empresa.
Esta a tese dos «arbitraristas» e que é hoje a que mais se
aproxima daquela dos «multidimensionalistas» e da própria doutrina
da Contabilidade.
A «multidimensão», no caso, (Contabilidade Multidimensional)
derivar-se-ia da obtenção de uma realidade fundamentada em facto-
res múltiplos, sem o abandono da linha central do valor, mas, fora
da «dimensão histórica» ou da «reajustada» através de índices
exógenos.
O assunto comporta ampla visão e através destes lineamentos
teóricos, ensaios de um estudo, pode-se perceber o quanto existe a
pesquisar e progredir e o quanto, no momento, estamos distantes de
uma realidade, por força de matéria tecnicamente não amadurecida,
mas, aplicada no campo empresarial.

203
Avaliação de Investimentos em Contexto
Inflacionário
Por Aquiles C. Gomes
Aníbal P. Pires

RESUMO
A avaliação de investimentos em contexto inflacionário, recor-
rendo à taxa interna de rentabilidade (TIR), é feita a partir de
cash-flow anuais deflacionados para o momento de avaliação. Desen-
volve-se assim uma metodologia que torna a TIR, numa primeira
aproximação, independente das inflações anuais para o período de
exploração do investimento (sempre difíceis de estimar).
Analisa-se depois a influência da variação relativa dos preços
das diversas componentes do custo e preço dos bens produzidos,
demonstrando-se de novo ser a TIR nesta aproximação independente
das taxas de inflação (estimadas ou reais), numa aproximação bas-
tante exacta para a generalidade dos casos. Estabelece-se um, método
de cálculo simples para esta taxa, cujo verdadeiro significado se
explora. Através de um exemplo retomado ao longo da exposição
aplicam-se os conceitos e métodos desenvolvidos.

1 - CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
A análise de projectos é uma técnica bem estabelecida, aplicada
sistematicamente nas decisões de investimento pelas empresas, na
concessão de créditos por entidades financiadoras e na atribuição
de apoios por órgãos de planeamento. No entanto, em contexto
inflacionário, a avaliação dos investimentos levanta sensíveis dificul-
dades, não havendo uma metodologia de análise que seja aceite sem
reservas.
Uma tal metodologia deve ser aderente à realidade (tendo, em
particular, em conta a inflação) e originar um valor para o critério

— 205
de rentabilidade significativo (e não um resultado fictício, decor-
rente da erosão monetária). A metodologia proposta abaixo satisfaz
a estes dois critérios; para o seu correcto enquadramento impõe-se
algumas considerações básicas sobre alguns aspectos da análise de
projectos (em particular distinção fase de investimento/fase de explo-
ração, critérios de rentabilidade, fundo de maneio), que se completam
com a apresentação do exemplo que vai ser retomado ao longo deste
trabalho.

Fases de investimento e de exploração

Em projectos usuais, a uma fase de investimento (tipicamente


de dois anos, mas indo frequentemente de um a cinco anos) segue-se
uma fase de exploração que se faz coincidir com a suposta vida
útil do investimento realizado. Sendo esta tipicamente de dez anos
(embora com variações sensíveis, entre valores ainda correntes de
cinco a vinte anos), as estimativas para esta fase tomam um carácter
diferente das da fase anterior. De facto o investimento desenrola-se
no futuro imediato e, em condições normais de economia, é possível
prevê-lo com elevado rigor e risco reduzido. Pelo contrário a explo-
ração inicia-se no limiar do futuro previsível com rigor e estende-se
por períodos para os quais as previsões sobre a evolução da economia
se tornam cada vez mais difíceis e arriscadas; são frequentes os
casos em que tal período se inicia aos três anos e se estende até
treze anos depois da avaliação: não são invulgares os casos em que
a exploração surge no período futuro 5-25 anos da avaliação.
Esta diferença qualitativa na natureza da previsão raramente
é explicitada, apesar de crucial para a avaliação dos riscos do
empreendimento e para a correcta interpretação da análise efectuada.
Mais importante ainda é esta diferenciação em contexto inflacionário.
O investimento pode e deve ser avaliado atendendo à inflação previ-
sível para o período da sua realização. A exploração dificilmente
pode ser avaliada assim porque a previsão da inflação a prazo de
cinco anos é impossível mesmo para economias evoluídas e estáveis.
De facto, a inflação a prazo curto (2-3 anos) é previsível, dado
em particular a sua dependência, bem estabelecida, de factores de
política geral e financeira (em particular da evolução da massa mo-
netária e de medidas anti-conjunturais), com o atraso de 1 a 3 anos.
A médio prazo, a inflação é, em larga medida, imprevisível por de-
pender de factores políticos e económicos, internos (estabilidade,
repartição de rendimentos,...) ou externos (evolução do comércio
internacional, em particular) que escapam, mesmo ao controlo gover-
namental. Estas diferenças têm de ser reconhecidas na avaliação de
investimentos que queiram tomar em consideração a inflação.

206 —
Critérios de rentabilidade
Há dois tipos básicos de critérios de rentabilidade — os que se
apoiam na determinação e actualização dos cash-flows e os determi-
nados com base nos resultados de exploração. O primeiro tipo inclui
critérios como o valor actual, o índice de rentabilidade e a taxa
interna de rentabilidade (TIR) ; o segundo inclui as numerosas va-
riantes do RSI (Resultados sobre Investimentos), como o RSI sobre
imobilizado líquido, RSI sobre imobilizado bruto, RSI sobre capitais
permanentes, RSI sobre capitais próprios, etc.
Há fortes argumentos a favor daquele primeiro tipo de critérios,
em que um único valor define a rentabilidade total do projecto, ao
longo de toda a sua vida útil (seja esse valor a TIR, o índice de
rentabilidade ou o valor actual do empreendimento). Por outro lado,
é mais correcta, pelo menos teoricamente, a utilização de fluxos de
caixa (cash-flows) que, correspondendo às verdadeiras entradas e
saídas de dinheiro na empresa, melhor definem o seu estado que
resultados, eventualmente não concretizados, sempre dependentes de
critérios de avaliação discutíveis.
Os critérios do RSI têm como defeitos essas vantagens da TIR
(e critérios semelhantes) : em rigor exigem uma série de valores
para determinar a rentabilidade global do empreendimento; avaliam
resultados (com o que a sua determinação tem de arbitrário) e não
nas grandezas monetárias directamente mensuráveis. A contrapartida
encontra-se na simplicidade teórica do conceito (o que não se crê ser
argumento de peso) e, sobretudo, na aderência à gestão empresarial
corrente.
Em empresas descentralizadas com organização divisional, os
objectivos de gestão e o seu controlo são geralmente estabelecidos
com base num RSI adequado ao tipo de negócio. Assim a previsão
e o controlo de contribuição dum investimento para a rentabilização
dum negócio (ou alternativamente a sua rentabilidade como negócio
autónomo) é preferencialmente feita por critério deste tipo, que res-
ponsabiliza os gestores proponentes. Como tal não acontece (ou não
acontece de maneira transparente) com a TIR e semelhantes, muitas
das maiores empresas mundiais, mesmo em indústrias pesadas, con-
tinuam a adoptar critérios do tipo RSI.
Na análise aqui proposta utiliza-se exclusivamente a TIR; apesar
de os mesmos conceitos poderem ser utilizados (e já terem sido
ensaiados) com o RSI, aligeira-se assim a exposição e tornam-se mais
claras as implicações da abordagem proposta.

Fundo de maneio
A introdução do fundo de maneio requerido por um investimento
no cálculo da sua rentabilidade torna esta avaliação sempre mais

— 207
complexa por introduzir uma parcela adicional do fluxo de caixa para
o cálculo da TIR, ou fazer variar o denominador do RSI (para certos
critérios) — parcela, aliás, de estimativa difícil, susceptível de erros
acentuados. Ao tomar em consideração a inflação no cálculo de
rentabilidade acentua-se a complexidade introduzida pelo fundo de
maneio, cujo valor global depende do índice geral de preços e cuja
„ variação depende da taxa de inflação verificada.
Pode-se ou não tomar em: consideração o fundo de maneio numa
avaliação prévia, menos rigorosa, de valorizar a produção não ao
preço efectivo de venda, mas a um preço de transferência adequado;
a margem disponível entre este valor e o preço de mercado suporta
então os encargos comerciais e gerais e garante a rentabilização do
fundo de maneio «investido» no negócio. Esta aproximação é ade-
quada à avaliação de investimentos de substituição (em que não se
põe em causa a entrada num novo mercado, nem sequer a manu-
tenção de negócio existente, mas apenas o seu abastecimento em
produtos acabados), ou à avaliação de investimentos para integração
vertical na mesma empresa (em que existe portanto um mercado
cativo para toda a produção prevista).
Nesta apresentação, por razões de complexidade e de extensão,
faz-se esta aproximação, não considerando portanto a influência do
fundo de maneio e de suas variações sobre a rentabilidade do inves-
timento; numa análise mais realista, a sua introdução pode ser feita
com critérios semelhantes aos adoptados à frente.

Exemplo de demonstração

Para a ilustração da metodologia apresentada criou-se um exem-


plo fictício com as seguintes características:
— investimento instantâneo numa unidade industrial realizado
no fim do ano AO no montante de 1 000 contos;
— capacidade nominal de 50 000 unidades/ano, prevendo-se
uma produção efectiva de 40, 45, 50, 55 e 60 milhares de
unidades nos sucessivos anos Al, A2, A3 A4 e A5;
— vida útil da unidade de 5 anos, com valor residual nulo e
amortização linear;
— custos variáveis de 24$/unidade (apenas materiais) ;
— custos fixos : gastos gerais —100 contos/ano ; pessoal (mão
de obra directa e indirecta) — 750 contos/ano; manutenção
— 50 contos/ano (5 % do investimento) ;
— preço de transferência — 50$/unidade.
Supõe-se uma actividade industrial com uma intensidade de capital
relativamente elevada; admite-se um período de vida útil curto (ape-

208 —
nas para facilitar os cálculos e determinar mais facilmente as influên-
cias analisadas) ; para melhor aderência à realidade portuguesa, con-
sideram-se fixos todos os encargos com o pessoal, mesmo o directo;
admite-se que a capacidade normal de produção de 50 000 pode ser
ultrapassada em A4 e A5 sem investimentos suplementares. Numa
primeira fase (como se referiu) não se toma em consideração o
fundo de maneio requerido pela nova unidade fabril. Finalmente
considera-se o investimento instantâneo, realizável no número da
apreciação — o que é uma simplificação que não interfere na demons-
tração pretendida.

2 - INFLAÇÃO
Para tomar em consideração a inflação e a sua interação com a
avaliação de empreendimentos, é útil conhecer a origem do fenómeno
e os mecanismos da sua progressão e controlo, mas é sobretudo indis-
pensável poder descrevê-lo e, decompô-lo nas suas componentes. É o
que se faz aqui, de modo sucinto, e com uma descrição tão rigorosa
quanto possível.

índice de preços e taxa de inflação


A inflação identifica-se com a elevação de preços; para a medir
recorre-se a um índice de preços, resultante da ponderação de diversos
produtos e serviços. Em princípio, o índice que melhor determina a
inflação é o que pondera todos os bens e serviços fornecidos dentro
dum certo espaço económico — índice que corresponde ao deflacio-
nador do Produto Interno Bruto. Seja o índice de preços médio num
período P0 e no período seguinte Pi; a taxa de inflação neste se-
gundo período é

("^--l)xl00% (1)

Preferimos a utilização dum factor de inflação que é, para o mesmo


período:

P> = f - (2)

Sem elevação de preços, p t = 1; com inflação p, é superior à uni-


dade: Mais genericamente, para um período i, o factor de inflação é:

!4 — 209
Reciprocamente, conhecidos p b p2, . . . , p , obtém-se facilmente:

Pi = Pi _ ! pi = Pi _ 2. pi _ i . Pi = • • •

e, finalmente,
i
Pi = Po • Pi • Pa • • • Pi = PoTCPi (4)
i

Sendo p constante ao longo dos períodos em análise ter-se-ia sim-


plesmente:
Pi = Po-P' (5)

e, reciprocamente,

Assim, para períodos anuais e com uma inflação constante de 20 %


(p = 1,20), teremos, a partir de um índice P 0 — 100 para Ao (ano o):
Pi = 100x1,2 = 1 2 0 ; P 2 = 1 2 0 = 1 , 2 = 144; P s = 144x1,2=173;...

Inflação e preços relativos

Os preços dos bens e serviços produzidos numa economia não


evoluem ao mesmo ritmo; para cada classe de produtos pode ser
estabelecido um índice próprio, cuja evolução determina a taxa de
inflação própria. As relações entre o índice de preços M e o factor
de inflação m para uma certa classe de produtos são idênticas às
estabelecidas atrás:

Mj
mi = (7)
Mi_,

Mi = M 0 ir mi (8)
1

A observação do comportamento dos índices de preços por classes de


produto numa certa economia ao longo de períodos relativamente
longos permitiu verificar que cada índice especializado M se rela-

210 -
ciona com o índice geral P, através duma relação matemática do
tipo:
log-ML=K.i. (9)

em que i é o número de períodos (anos, geralmente) decorridos desde


aquele em que arbitrariamente se faz M0 = 100, P 0 = 100; K é uma
constante própria de cada classe de produtos. Esta relação traduz a
variação linear em papel semi-logarítmico da razão entre os índices
de preços especializado e geral (representado na escala logarítmica)
vs. tempo (representado na escala linear).
Substituindo em (9), Mi de (8) e Pi de (4), vem:
i
M 0 . ir mi
log ! =K.i (10)
Po • * pi
1

Como na origem M0 = P0 = 100, vem (atendendo a que log % = 2 log)


i i
^ log mi — £ l o g pi = K i (11)
i i

Aplicando esta relação para i = 1, vem


log m, - log Vi = K (12)
k
m, = p, . 10 (13)
m, == p, . Km (14)
k
corn Km = 10 . Para i = 2
logmt+logmj—logm—i logmj=2K (15)

donde, atendendo a (12)


m2 = p 2 . Km (16)

e, genericamente,
nu = Pi . Kœ (17)
De (9) resulta também
M, = P, . Km (18)

- 211
Significado de K
Km só depende da classe de produtos (não depende do ano de
referência para o qual se igualaram M0 e P 0 ). Km é superior à
unidade quando o preço dos produtos cresce mais rapidamente que
o índice geral de preços, como temi acontecido com actividades de
serviços ou outras com elevada componente de mão de obra nas
economias depois de 1950. Km é inferior à unidade para produtos
cujos preços crescem mais lentamente que o índice geral, o que acon­
tece para praticamente todos os produtos industriais, em que os pro­
gressos da tecnologia e da produtividade permitem tal redução de
preços relativos.
Não se pretende apresentar aqui os resultados obtidos para várias
economias ocidentais; apenas se indicam, a título de exemplo, valores
calculados para a economia francesa no período 1950­74 (próximos de
outros obtidos para a economia norte­americana), usados à frente
em cálculos sobre o exemplo apresentado:
produtos industriais de série —Km =0,974;
produtos fabricados (com montagem)—Km =0,983;
mão de obra, serviços — K n =1,0174.
Com, estes valores e com uma inflação anual de 20 %, as taxas de
inflação específicas são de 17, 18 e 22 %. Em princípio, esta va­
riação de preços relativos mantém­se mesmo em situação de inflação
nula (p = 1,0), conduzindo a variações de preços de —2,6, —1,7 e
+ 1,7 %/ano (embora neste caso a rigidez de preços possa dificultar
tais variações).

3 — AVALIAÇÃO ATEN DEN DO À IN FLAÇÃO


Começámos por considerar apenas o efeito da inflação na deter­
minação da rentabilidade do investimento; mais à frente analisare­
mos as implicações dos «preços relativos» nesta rentabilidade. C omo
se referiu, esta análise é feita exclusivamente através da TIR; a sua
adaptação a outros critérios do mesmo tipo (valor actual, índice de
rentabilidade,...) e mesmo a sua aplicação com critérios do tipo RSI
não levantam dificuldades especiais.

Fluxos de caixa e inflação


A determinação dos fluxos de caixa na fase de exploração do
novo empreendimento pode ser feita para taxas de inflação geral
previsíveis de Pi, p2, •■• (respectivamente para o primeiro, segundo ...

212
anos de exploração, designados por Al, A2 ...)• Nesta aproximação
não se considera a formação de fundo de maneio nem os impostos
sobre resultados; admite-se que todas as quantidades produzidas são
imediatamente vendidas. Para Ai vem:

Qi . r, - Q» . Vi — I, (19)

sendo para o ano i de exploração F ( o fluxo de caixa, Qt a pro-


dução, Ti o preço de venda, Vi o custo variável unitário; I inclui
todos os custos não variáveis, com exclusão da amortização. Podem
relacionar-se os valores correntes de r v f ,e' li, com os valores ins-
tantâneos verificados no fim de Ao (suposto o momento de avaliação,
de decisão e de investimento) :

Fi = (Qi . r,0 — Qi . vio — lio) (20)

ou ainda

F, = (Q,.b,„-I l 0 ). ~ = F,.-]J- (21)


em que b0 = r0 — v0

Para determinar a TIR do empreendimento, com uma vida útil de


n anos, determina-se o t que faz
F,
0 (22)
1= o (1 +1) !
F 0 ; o montante do investimento é negativo; sendo o investimento
escalonado por vários anos, Ao, A-l, A-2, ..., o somatório seria estabe-
lecido a partir do ano de início do investimento. Os fluxos F, (i- 1)
são geralmente positivos. Todos os fluxos são actualizados para o
momento da avaliação/decisão. Substituindo-se em (22) os fluxos de
caixa dos anos de exploração, vem

1 0 (23)
F0 + ^ F,
?L ° ' T (l+t) !
Com inflação constante, atendendo a (5), será:

(24)
F„ + :>
i
F,..( -S-y
— 213
Deflação dos fluxos de caixa

Ao fazer a determinação de TIR por (24) adicionam-se fluxos


que, mesmo depois da ponderação que resulta da divisão por (1 + t)1,
estão expressos em unidades monetárias diferentes. De facto um es-
cudo do fim de Al não é igual a um escudo de A2, nem a um
escudo do fim de Ao. Sem, inflação estes escudos têm valores dife-
rentes dada a sua capacidade de gerarem, resultados (lucros, juros, ...)
nos períodos intercalares; no entanto, são a mesma unidade mone-
tária, capazes de comprar a mesma quantidade de um certo produto.
Com inflação, aqueles escudos são unidades monetárias diferentes,
porque não compram a mesma quantidade de um produto.
Pretendendo-se com o cálculo da taxa de rentabilidade apurar o
resultado que um certo investimento pode gerar, é indispensável
exprimir todos os fluxos de caixa numa única «unidade monetária».
Sendo esta o escudo do momento da avaliação, há pois que proceder
a uma deflação dos fluxos futuros, cujo valor em moeda actual é

F
'-TT = F ' ' - M = F ' ° (25)

Deflacionar os fluxos de caixa para o momento da análise/decisão


é equivalente a avaliar os cash-flows futuros a preços constantes
deste momento.

TIR a preços constantes e seu significado


Com os fluxos deflacionados é possível calcular a verdadeira
taxa de rentabilidade interna do empreendimento

F + (26)
° ÍN-(TTÕ-)']=°
Esta TIR é igual à calculada a preços constantes do momento da
avaliação/decisão. Tendo sido a anterior análise a inflação cons-
tante, como é geralmente o caso, resulta de (24) e (26):

1 __| t' = 1±L (27) .


P
A TIR real é inferior à calculada com (22) ; se t = 30 % com
uma inflação de 15 % (p = 1,15), é

214 -
(13 %, portanto). Esta taxa «real» além de originar na exploração
do empreendimento os «resultado médio» indicado, garante a recu-
peração no fim daquela fase do valor do investimento inicial.
A diferença torna-se mais clara quando se anula t e t ' . Se t = 0,
0 empreendimento origina ao longo do período um montante igual ao
do investimento original (se este for de 1000 contos, geram-se
1 000 contos) o que, com inflação, não mantém o valor do investi-
mento. Para t' = 0, os resultados obtidos ao longo da exploração
igualam o valor do investimento; se o investimento foi de 1 000 contos,
serão recuperados 2 000 ou 3 000 contos, que, em moeda da altura,
valem o investimento inicial. Por outras palavras, geram-se fundos
que permitem no fim da exploração reconstruir a unidade inicial aos
preços da altura — correspondendo a rentabilidade real «nula», mas
não negativa.

Exemplo:
Para o exemplo apresentado, calcula-se a TIR em fa,ce da
inflação previsional na fase de exploração.

No exemplo
r i0 = 50$/unidade; vio = 24$/unidade; b l o = 26$/unidade
I,0 = 900 000$/ano
Q, = 35 000 + 5 000 i unidade/ano

Assim, vem (21):

Fi = í" [(35 000 + 5 000 i) 26$ — 900000$.] 1 — -

ou, a inflação constante e em contos:

Fi = ["[(35 + 5 i) 26 — 900] P1

Cmo F 0 = 1 000, ao TIR é o valor de t que faz

| (35 + 5 1 ) 2 6 - 9 0 0 = 1 m
1
1 (1+t)

— 215
Na tab, 2 apuram - se os valores para p =: 1,20 (inflação de
20 %/ano), vindo t = 47 %/ano. Deflacionando à taxa presumida de
inflação, tem-se

i (35 + 5 Q 2 6 - 9 0 0
1 (1 + t')1

sendo t' independente da taxa de inflação e os fluxos de caixa são


iguais aos obtidos a preços constantes do fim de A (Tabela 1) ; vem
então t' = 22 %/ano.

Tabela 1

Fluxos de caixa de exploração


— preços constantes —

A1 A2 A 3 A4 A 5

2 000 2 250 2 500 2 750 3 000


Custo materiais 960 1080 1200 1320 1440
Custos indirectos * . . . 900 900 900 900 900
Fluxo de caixa + 140 + 270 + 400 + 5,30 + 650

* Exclui amortização.

Tabela 2
Fluxos de caixa de exploração
— preços correntes com inflação de 20 %/ano

A1 A2 A 3 A 4 A 5

Vendas 2 400 3 240 4 320 5 702 7465


Custo materiais 1152 1555 2 074 2 737 3 583
Custos indirectos * . . . 1080 1296 1555 1866 2239
Fluxo de caixa corrente . + 168 + 389 + 691 + 1099 + 1643

Fluxo de caixa deflacio-


nado** + 140 + 270 + 400 + 530 + 660

* Exclui amortizações.
** A 20 %/ano (factores de deflação: 1,20; 1,44; 1,728; 2,0736; 2,4883).

216 —
4 -AVALIAÇÃO COM PREÇOS RELATIVOS
A variação relativa de preços é frequentemente tomada em consi-
deração no quadro da análise de investimentos em contexto inflacio-
nário. Aqui propõe-se uma abordagem sistemática do problema que,
tirando proveito das relações introduzidas atrás, facilita o cálculo
e permite dar pleno significado ao valor da taxa obtida.

Fluxos de caixa e preços relativos


Retoma-se a equação (19), decompondo li em fluxos homogéneos
F, = Q, . r, - Q» vt — H, - G, - C, (28)
sendo para o ano de exploração i, Ht os encargos com pessoal, Gi
gastos gerais e Ci os outros custos indirectos (manutenção,...). Como
cada fluxo varia a taxa própria de inflação teremos:

Mrt ^ . Mvi TT Mhi


F, = Q, . r i0 . f ^ - Qi v„ ^P- - Hi0
M ro MVo Mh0
_Gi0Mïi_CicM5L (29)
Mgo Meo

Atendendo a (18), vem


l
F, = (Q, . ri0 .K r - Qi v,o.K v » — H,0 Kh } - G i0 Kg»
- Q 0 K C ' ) A ( 30)

sendo P o índice geral de preços (Pi para o ano i e Po para o ano o).
Deflacionando para o momento de decisão vem
Fio = Qi ri0 Kr ' - Q, vi0 K r ' — H,„ Kh' - G , 0 Kg> —
- Q o Kc» (31)
Cada fluxo a preços constantes é ponderado por um factor que
traduz a variação relativa de preços no período (o, i).
A partir do Fj 0 calcula-se a taxa de rentabilidade TIR do com-
preendimento (equação 26).

TIR com preços relativos


A taxa interna de rentabilidade calculada através de fluxos de
caixa deflacionados e ajustados para as variações relativas de preços

— 217
toma um valor muito diferente da calculada, seja a preços constan-
tes, seja com taxas diferenciadas para as diversas rubricas de
exploração.
Para além da deflação de fluxos de caixa, a introdução das
variações relativas de preços, graças a ponderação pelos Ki0 dedu-
zidos de séries históricas, introduz um realismo na apreciação dos
projectos que não é possível de outro modo — a avaliação a preços
constantes não toma em consideração essa evolução futura de preços
e custos.
De (31) e tomando Ti0 como o total dos custos de exploração
do exercício (excluindo amortizações).

T,o = Qi . vi, + H, + G,0 + Q 0 (32)

é possível determinar um Kt que faça


(33)
T„ K. ' = Q, v,o Kv1 + H i0 Kh 1 + G l0 K g ' + Ci0 K 0 '

Este Kt varia de ano para ano; no entanto, a sua gama de


variação ao longo da vida dum empreendimento não é muito larga,
pelo que é possível basear um raciocínio sobre um Kt, médio, do
projecto.
A comparação Kt vs Kr determina a sensibilidade do investi-
mento à variação relativa de preços. Se, como é usualmente o caso
para um projecto industrial, K t > Kr, a variação relativa de preços
desfavorece a sua economia, porque faz crescer mais rapidamente os
custos do que os proveitos. Se, pelo contrário, Kr > Kt, como pode
acontecer para um empreendimento fornecedor de serviços, a varia-
ção relativa de preços pode favorecer a sua rentabilidade. Em qual-
quer dos casos o efeito acentua-se com o aumento da diferença
(Kt — Kr ) e com o crescimento da vida útil do projecto, dado o
potenciamento por i:
F i0 = Q, ri0 Kr » - T„ K, ' (34)

Para indústrias transformadoras em que o Km do produto e dos


materiais usados seja o mesmo (Kr = Kv ) pode-se, alternativamente,
fazer
B,o = Q 1 (r i „.-v i o ) (35)

e substituindo em (31):

Fio = Bio Kr l - lio K, ' (36)

218 —
sendo I o total das despesas não variáveis, excluindo a amortização,
e Kt o respectivo factor de preço relativo. Neste campo a compa-
ração entre Ki e Kr é mais interessante que K r vs Kt sendo as
observações de natureza geral idênticas. Ki é determinado por
k
Ht. Kh' + Gjç Kg 1 + C o K c ;
Hio + Gio + Cio

Significado da TIR

Para investimentos industriais (em que Kr < Kt ou K, < K/,


a TIR calculada com variações relativas de preços dos diversos
fluxos de caixa vem menor, por vezes muito menor, que a calculada
sobre fluxos deflacionados — por sua vez sempre menor que a obtida
sobre os fluxos de caixa correntes previsíveis. Esta dupla diferença
merece reflexão.
Esta segunda diferença corresponde à distinção entre as taxas de
juro nominais e reais em período de inflação. Se a inflação atinge
20 %/ano, uma taxa de juro nominal de 22 %/ano representa uma
taxa de juro real de 2% e uma correcção monetária de 20 %
(entenda-se por correcção monetária o acréscimo do montante do
empréstimo realizado para manter o seu valor no fim do período).
Esta diferença, muito importante, é explicitada em países como o
Brasil com uma longa experiência de inflação; aí, por exemplo,
a taxa de juro de obrigações continua a ser de 4 — 6 %/ano — mas
o seu reembolso faz-se por um montante que mantém o valor da
subscrição. Na Europa Ocidental, USA, ...esta distinção não é usual-
mente feita — mas sabe-se que as taxas reais de remuneração de
empréstimos a longo prazo não excedem os 2 — 3 %/ano (acrescidos
da taxa de risco), apesar de as taxas nominais atingirem os
8 —10 %/ano para moedas fortes.
A diferença entre t e t' é semelhante: t' tem o significado de
uma taxa de juro real, que exclui a correcção monetária; t tem o
significado de uma taxa de juro nominal, cujo valor só se entende
em face da inflação prevista.
A diferença entre taxas internas de rentabilidade calculadas
sobre fluxos de caixa deflacionados com ou sem variações relativas
de preços é mais subtil. É no entanto bem conhecido o fenómeno de
redução de preços relativos de bens industriais que tornou possível
e foi simultaneamente promovido pelo desenvolvimento económico
deste século e que decorre de ganhos sensíveis de produtividade em
pessoal e em capital ocorridos (o que reduz os custos e torna possível
as reduções de preços). Este fenómeno, reflectindo-se nas curvas
de aprendizagem, fundamenta igualmente muitas metodologias de

— 219
V

sável analisar as consequências deste fenómeno na avaliação de


projectos de investimento. A TIR assim calculada é muito mais
baixa que a habitualmente imposta como barreira para aprovação
de investimentos em muitas empresas — mas aproxima-se dos valores
usuais de rentabilidade dos negócios individualizados das mesmas
empresas. Esta avaliação adquire assim um realismo que mesmo
o cálculo a preços constantes não consegue.
Admite-se no entanto que condições particulares de mercado para
o produto a produzir possam justificar uma análise que não se apoie
exclusivamente em Km históricos para toda ou parte da vida útil
do empreendimento — que não põe em causa a metodologia, mas
apenas faz tomar precauções quanto à sua utilização, obviamente
delicada.

Aplicação
Analisa-se o exemplo considerado atendendo à variação de preços
relativos: além. dos valores de Km já apresentados, admite-se que
evoluem à taxa geral da inflação ( K m = l ) os gastos gerais e as
despesas de manutenção — estas porque resultam de gastos com
materiais fabricados (Km = 0,983) e com mão de obra (Km = 1,0174)
em valores aproximados. Assim (31) toma-se nesta situação espe-
cífica
Fio = Qi- 50. (0,974)' - Q,. 24. (0,974), - 750 000(1,0174)' -
— 100 000 (1)' - 50 000 (1)' =
= Q,. (0,974)' . 26 - 750 000 (1,0174)' — 150 000
de que resultam os valores da tabela 3; a TIR é de 7,2 %.

Tabela 3
Fluxos de caixa de exploração
— unidade monetária constante: preços relativos —

Al A 2 A 3 A4 A5

1948 2135 2 310 2 475 2 630


935 1025 1109 1188 1262
Gastos c/ pessoal . . . . 763 776 790 804 818
Gerais + manutenção . . 150 150 150 150 150
100 184 261 333 400

K 0,9935 0,9927 0,9918 0,9911 0,9904


Kj 1,0144 1,0143 1,0146 1,0147 0,0147

220 —
Na mesma tabela indicam-se os valores de K| para o conjunto
dos encargos de exploração de cada ano (com exclusão de amorti-
zações), calculado de acordo com (33). Verifica-se que ao longo do
período de exploração Kt varia relativamente pouco, sendo sempre
K| Kr (0,974). Este facto explica a sensível diminuição da TIR ao
fazer a análise com preços relativos — a TIR a preços constantes
(ou com fluxos de caixa deflacionados) atingia para este exem-
plo 22 %.
Uma análise idêntica feita através do Ki (definido pela equa-
ção 37) é também possível neste caso por ser K r = K v . Verifica-se
(Tabela 3) a ainda maior constância de Ki ; a diferença Kr — Ki,
entre os factores de variação relativa dos preços para a margem
bruta (preço de venda menos custo de materiais) e para os gastos
não variáveis, atinge aqui 0,04, ou seja 4 %. Esta é uma útil indi-
cação para a avaliação do risco e para a futura gestão do empreen-
dimento.

CONCLUSÕES

A metodologia apresentada baseia-se nas seguintes ideias base:


— em contexto inflacionário e para uma avaliação realista
de projectos de investimento, é indispensável tomar em
conta o fenómeno inflação;
— é muito difícil e raramente tem significado a previsão de #
taxas de inflação a mais de três anos (no limite cinco);
são assim de natureza diferente as previsões de inflação
para as fases de investimento (que raramente ultrapassa
três anos) e de exploração (que só excepcionalmente fica
concluída antes de cinco) ;
— a previsão da inflação na fase de investimento além de
possível é indispensável, para o que financiamento garanta
os montantes realmente indispensáveis à conclusão desta
fase;
— a previsão da inflação no período de exploração, além de
praticamente impossível, torna-se desnecessária porquanto
os fluxos de caixa deflacionados são iguais aos fluxos
avaliados a preços constantes do momento de decisão/ava-
liação ;
— a TIR calculada sobre fluxos deflacionados indica a renta-
bilidade real do empreendimento porque, mesmo nula,
garante a reconstituição do investimento no fim da sua

- 221
vida útil a preços correntes da altura; a indicação dada
é assim, idêntica à da taxa real de juro nos empréstimos
(por contraposição à taxa nominal, identificável com a
taxa de rentabilidade calculada sobre fluxos de caixa
correntes) ;
— nos cálculos de rentabilidade devem ser introduzidas as
variações relativas de preços dos diversos fluxos de caixa
que previsionalmente ocorrerão na vida útil do empreendi-
mento; tais variações serão fundamentalmente deduzidas
de séries históricas, mas devem atender a situações de
mercado (a montante ou a jusante) que conduzam, a varia-
ções relativas particulares;
— os valores da TIR sobre fluxos de caixa deflacionados e
com variações relativas de preços, embora muito mais
baixos que os valores usualmente calculados, dão indica-
ções mais válidas e mais correctas dos novos investimentos,
aproximando-se das rentabilidades usuais para empreendi-
mentos em funcionamento regular.
Comunicações da 4.a mesa
A Contabilidade e a Gestão dos Recursos
Humanos

Presidente: Dr. Ruy L. F. de Carvalho


Professor do ISCAL

Secretário: Dr. Ilídio Duarte Rodrigues


Assistente do ISCAA
O Papel da Contabilidade e do Contabilista
numa Sociedade em Mudança
Por A. Cabaço Pires

1. AS SOCIEDADES INDUSTRIAIS MODERNAS


1.1. Poderá parecer um lugar comum afirmar que todas as econo-
mias modernas assumem a forma monetária, onde os bens
produzidos são orientados para a satisfação das necessidades
através da troca. No entanto é um facto. À parte os pe-
quenos produtores agrícolas que consumirão uma grande
parte dos produtos hortícolas e dos animais que criam, a
quase totalidade do produto social chega aos seus destina-
tários — consumidores — através da troca. A existência da
moeda e o seu papel determinante na distribuição da riqueza
criada é um dado básico das economias existentes.
A divisão social do trabalho e a estreita interdependência
dos diferentes agentes económicos é, assim, um aspecto sa-
liente das modernas sociedades industriais, que deve ser
relacionada com o crescente progresso científico e tecno-
lógico e a concomitante concentração de recursos produ-
tivos. Outro dado fundamental — pelo menos das socie-
dades liberais — que condiciona e influencia decisivamente
a sua evolução, reside no carácter grupai, associativo das
sociedades industriais.
As pessoas associam-se para defenderem os seus inte-
resses de grupo. As consequências daí derivadas são fun-
damentais e a compreensão destes fenómenos é indispen-
sável se se quiser apreender o funcionamento das sociedades
actuais. De resto, as empresas, assumem a forma de grupos
humanos organizados.
Por conseguinte, as empresas produzem os bens e ser-
viços que são postos à disposição da colectividade, através
de mecanismos adequados mas, predominantemente, por in-
termédio do mercado. Para a consecução desses objectivos

15 — 225
a empresa terá de obter recursos e de vender os seus pro-
dutos e serviços a um preço que permita remunerar equili-
bradamente os agentes económicos, cujos interesses serão
necessariamente divergentes, conflituantes. O papel do em-
presário é, nestas circunstâncias, básico porque concilia (ou
deve conciliar) os diferentes interesses em jogo. Todavia,
nem sempre este facto foi correctamente entendido até por-
que os dirigentes empresariais tendem a assimilar exclusiva-
mente os interesses da empresa ao dos investidores.
O progressivo papel intervencionista do Estado parece,
neste contexto, facilmente compreensível. A harmonização
possível dos interesses não pode jamais ser deixada ao livre
arbítrio contratual das partes dadas as consequências evi-
dentes, para o conjunto da sociedade, das querelas entre
determinados grupos sociais que raramente tendem a ultra-
passar o horizonte estreito dos seus interesses concretos,
porventura legítimos.
O Estado intervém cada vez mais na actividade econó-
mica e social já não se limita ao enquadramento legal da
actividade económica e à manutenção dos serviços públicos
ligados à defesa, à saúde, à educação e à comunicação.
O Estado é proprietário de vastos sectores produtivos, redis-
tribui riqueza através dos impostos e da segurança social,
planifica e controla os fluxos fundamentais e os grandes
objectivos económicos e sociais, investe. As modernas econo-
mias caracterizam-se, pois, por uma progressiva democra-
tização tendem a ser economias fortemente mistas.
Os traços que sumariamente, descrevemos atrás, encon-
tram-se em quase todos os países desenvolvidos e em desen-
volvimento. As diferenças que se notam de país para país
radicam essencialmente em estádios diversos de desenvolvi-
mento, isto é, no peso relativo dos diferentes sectores, na
maior ou menor preponderância do sector industrial ou do
primário e nos diferentes modelos políticos e institucionais
de cada nação. Por exemplo, o peso das associações sin-
dicais é muito mais significativo nos países europeus de
tradição liberal do que nos países do terceiro mundo. Do
mesmo modo o peso da intervenção estatal é, também, maior
nos países governados por partido único.
Seja como for, o carácter fortemente intervencionista do
Estado na esfera económica-social é um, dos dados mar-
cantes do nosso tempo e tudo leva a crer que a tendência
futura parece encaminhar-se para um reforço desse inter-
vencionismo. Outro dado primordial da vida moderna re-
fere-se à internacionalização constante e crescente das rela-
ções económicas e sociais. Sem procurarmos escalpelizar
as suas causas, não deixaremos de adiantar que a rapidez
dos meios de comunicação e de transporte joga um papel
decisivo. Este factor da internacionalização da vida con-
temporânea joga uma influência enorme na evolução da
contabilidade e da profissão contabilística.

As modernas empresas industriais e comerciais são um pro-


duto da revolução industrial, filha, por sua vez, das ideias
liberais. A vida económica e política actual teve a sua gé-
nese básica nas ideias que a revolução francesa fez triunfar.
O liberalismo político prevalecente nas sociedades europeias
desenvolvidas coexistente a um liberalismo económico miti-
gado marcou e marca profundamente o desenvolvimento das
sociedades contemporâneas.
Um pouco por toda a parte a vida económica está orga-
nizada a partir de células básicas — unidades específicas
que exercem a actividade produtiva. Seja qual for o regime
político que governe, bem como o regime de propriedade
dos meios de produção a actividade económica é exercida
através de unidades específicas — entidades — dotadas de
autonomia patrimonial e administrativa que obtêm recursos
da sociedade envolvente e os transformam ou não com vista
à satisfação de necessidades. O objectivo pode ser ou não
lucrativo, mas em qualquer sistema económico, a actividade
das unidades produtivas terá de ser mensurada através do
cálculo económico.
Estes factos são básicos se quisermos compreender a
função da contabilidade e o seu carácter de universalidade.
Se a natureza da propriedade das empresas e os seus
objectivos fundamentais — por exemplo a maximização do
lucro —não condicionam, de forma decisiva o funcionamento
dos sistemas contabilísticos, também não é menos verdade
que, sendo a contabilidade essencialmente um instrumento
de mensuração e de comunicação, as formas de relato con-
tabilístico serão influenciadas pelos utentes dessa infor-
mação. Veremos adiante que a informação contabilística
solicitada por sindicatos será de uma natureza bastante dife-
rente da exigida pelos accionistas. Os primeiros acentuarão
o carácter social das informações solicitadas aos gestores.
O carácter multifacetado da informação contabilística não
tem deixado de se acentuar.

Como se sabe a contabilidade é um sistema de informação


para a gestão. Nunca será demais acentuar este carácter
instrumental da contabilidade. Ela mensura os recursos
postos à disposição da entidade, as obrigações contraídas e

— 227
os meios utilizados na obtenção desses recursos, bem como
os direitos assumidos e os meios obtidos na transmissão dos
bens e serviços produzidos. E transmite sob a forma ade-
quada, aos diferentes utilizadores os resultados dessas men-
surações, que tanto podem ser históricas como prospectivas.
Se a contabilidade é, pois, um instrumento de gerência,
isso significa que os gestores necessitam do produto dos
sistemas contabilísticos para governarem as empresas. Ne-
cessitam de outras muitas informações como é óbvio, mas
como estamos a falar da contabilidade restringir-nos-emos
à informação contabilística. Em todos os actos da nossa
vida, mesmo os mais elementares, como, por exemplo a
escolha do autocarro que nos conduza a um dado local da
cidade onde habitamos, para decidir, para escolher uma
via entre algumas, precisamos de informação. P a r a certas
decisões a necessidade da informação é vital. O carácter
científico da gestão moderna torna ainda mais premente a
existência, na empresa, de sofisticados e eficazes sistemas
de informação.

Sem nos encaminharmos para a discussão se é o progresso


económico que marca o ritmo do progresso da contabilidade
(ou de qualquer outro ramo do conhecimento) ou o con-
trário, podemos, recorrendo ao que se disse atrás e ao bom
senso, afirmar sem dificuldade que a contabilidade é um
dos factores de progresso económico e social. Esta conclu-
são que me parece evidente, explica, o interesse cada vez
maior da sociedade pelos problemas contabilísticos.
O progresso técnico e científico por um lado e o aumento
e diversificação constantes das necessidades por outro, obri-
gam por via da necessidade de aumentar a produtividade,
à concentração crescente de recursos em unidades produ-
tivas que empregam cada vez mais pessoas. Como factor
de crescimento a empresa, seja qual for a forma jurídica
de propriedade, tende a jogar um papel social determinante
e será lógico que a sociedade não descure o seu modo de
funcionamento, ou seja, a forma como é administrada.
Por outro lado, os estados modernos, intervencionistas,
recorrem cada vez mais ao lançamento de impostos forne-
cedores dos meios financeiros de que os governos necessitam
para levar a cabo os seus programas sociais, para manter
o funcionamento dos serviços colectivos e os investimentos
directos. Isto conjugado com a tendência para igualdade
dos cidadãos em todos os domínios, leva à tributação dos
rendimentos reais, impossível sem a existência de sistemas
contabilísticos adequados e sem a existência de procedi-
mentos contabilísticos uniformes.
Um dos aspectos relevantes do intervencionismo estatal
reside no planeamento económico, cuja natureza — indica-
tiva ou imperativa — está estreitamente ligada ao regime
político em vigência nos diferentes países. A planificação
económica pressupõe a existência de informações em quan-
tidade e qualidade, ou seja, os governos necessitam de
sistemas estatísticos sofisticados inviáveis sem a existência
de sistemas contabilísticos adequados nas empresas.
Se tivermos em conta o funcionamento intervencionista
dos estados actuais e o carácter interdependente dos inte-
resses dos diferentes agentes económicos (investidores,
empregados, consumidores) surgirá clara a necessidade de
harmonizar os sistemas geradores e tratadores de infor-
mação económica: contabilidade pública, contabilidade na-
cional e contabilidade empresarial, que falam, como é sabido,
linguagens diferentes.

A CONTABILIDADE NUMA SOCIEDADE EM RÁPIDA MU-


DANÇA

2.1. É evidente que o desenvolvimento da contabilidade e o


correspondente estatuto social da profissão contabilística
estão intimamente relacionados com o desenvolvimento eco-
nómico e com o modo como se exprime o funcionamento dos
sistemas económicos dos diferentes países. Não é por acaso
que a contabilidade atingiu um elevado nível de desenvol-
vimento nos países anglo-americanos e que se encontra em
relativo estado de subdesenvolvimento em países como a
França, a Itália para não falar em Portugal e Espanha.
O mesmo acontece com a organização da profissão conta-
bilística e a existência de standards contabilísticos e de
auditoria: nos países anglo-americanos a profissão conse-
guiu impor, por si própria, normas contabilísticas enquanto
que em outros países as poucas e incipientes que existem,
foram promulgadas por iniciativa governamental. Outro
tanto se poderá afirmar em relação à educação contabilís-
tica.

2.2. Tendo surgido na sua forma essencial, nas repúblicas ita-


lianas, a contabilidade passou por um processo lento de
evolução até à revolução industrial. O aparecimento das
modernas empresas capitalistas e sobretudo a vulgarização
do papel moeda e do crédito impulsionaram decisivamente

— 229
a generalização da utilização da contabilidade. O século
dezanove viu surgir a publicação, um pouco por toda a parte,
de legislação comercial que incluía preceitos e contabilidade,
o que representou um importante impulso.
Apesar destes factos positivos, deve:á ter-se presente
que a grande generalidade dos gestores e directores das
empresas não sentia, no limiar do século XX, grande neces-
sidade de utilizar a informação contabilística como instru-
mento de gerência. As contabilidades estavam orientadas
para a satisfação das exigências legais. É certo que a
profissão contabilística inglesa iniciou o processo de orga-
nização por meados do Séc. XIX, datando dessa altura a
institucionalização da auditoria externa. Mas representa-
ram acções isoladas ao contexto da Grã-Bretanha.

Deve-se aos contabilistas norte-americanos, sem dúvida


alguma, o progresso espectacular e a generalização, a nível
mundial, de normas contabilísticas e de auditoria, bem como
o elevado prestígio que a profissão contabilística usufrui
por toda a parte. E isso não aconteceu por acaso. Pelo
contrário, emergiu de toda uma estrutura económica preva-
lecente e do modo como está organizada, politicamente a
sociedade norte-americana. De facto, se é certo que a estru-
tura produtiva arrasta determinadas soluções no campo
social e jurídico, também não é menos verdade que o clima
sociopolítico, possibilitando ou não a discussão colectiva dos
problemas, condiciona o aparecimento de umas soluções e
não de outras.
A contabilidade e a profissão contabilística norte-ameri-
cana sofreram, como não podia deixar de ser, a influência
da realidade inglesa. No entanto, os contabilistas ameri-
canos souberam encontrar respostas próprias e adequadas
aos seus problemas.

A grande depressão dos anos 30, com o seu cortejo de


falências e de dramas obrigou, entre outras coisas, a ques-
tionar muitos aspectos da actividade económica e empre-
sarial. Como não podia deixar de ser a profissão contabi-
lística e o governo norte-americano tiveram de repensar
o papel da contabilidade.
Por essa altura a Bolsa de Valores criou uma Comissão
especializada para as questões contabilísticas — A SEC
(Security Exchange Comission) — com poderes para promul-
gar normas e procedimentos contabilísticos que os conta-
bilistas eram obrigados a respeitar. Simplesmente, ao
contrário de países com tradições mais autoritárias, as
normas contabilísticas não foram impostas burocraticamente
através de decretos ou leis governamentais, antes resulta-
ram de um esforço conjunto, quase sempre negociado entre
a S. E. C. e a profissão contabilística, através do American
Institute of Certified Public Accountants.
A actividade da S. E.C. e do A. I. C. P . A. tem-se orien-
tado essencialmente para a defesa dos investidores e dos
interesses estatais, nomeadamente os fiscais com predomi-
nância para os interesses dos accionistas. É certo que
outras entidades, nomeadamente os banqueiros se interessa-
vam grandemente pelos problemas contabilísticos. No
entanto, dada a filosofia económica preponderante de um
sistema orientado quase exclusivamente para a livre inicia-
tiva, o enfoque básico visava o accionista. É bom não
esquecer que o principal fornecedor de capitais às empresas
do mundo anglo-saxónico é constituído por uma multidão
de pequenos accionistas, cujo papel na gestão é mínimo e
cujos direitos a Sociedade, através da instituição de audi-
toria, procura salvaguardar. A actividade bolsista dos
países anglo-americanos é intensíssima e tem sido um factor
dos mais importantes para a evolução da contabilidade e da
profissão contabilística.
Ao contrário, em países como a França, onde a economia
assentava, até à ascensão do General de Gaulle, em peque-
nas e médias empresas, predominantemente familiares, a
contabilidade tem vivido num estado mais ou menos letár-
gico. A actividade das bolsas de valores não tinham
expressão económica significativa, a pressão dos investido-
res sobre a necessidade de relevação contabilística orientava
para os seus interesses concretos praticamente inexistente,
pelo que as poucas normas contabilísticas emitidas, com
relevância para o Plano resultaram da iniciativa do Governo,
à revelia da profissão contabilística francesa. Esta reali-
dade em nada difere do que se passa na Bélgica, na Itália,
em Portugal e na Espanha. Já o mesmo não se passa na
Inglaterra, na Holanda, na República Federal Alemã, na
Dinamarca, onde a profissão contabilística atingiu um estádio
de desenvolvimento e um estatuto invejáveis.

2.5. As coisas estão a mudar. O movimento amplo e profundo


da profissão contabilística tendente à implantação segura de
esquemas de controlo externo (auditoria) das empresas por
contabilistas independentes extravasou o mundo anglo-saxó-
nico, invadindo quase todos os países. Em 1974, uma das
oito grandes firmas internacionais de contabilistas (Arthur
Andersen & Co) abriu um escritório em Moscovo.

— 231
Podemos afirmar que salvo ilhas isoladas sem; relevân-
cia, a profissão contabilística conseguiu afirmar-se a nível
mundial. As normas do IASC — International Accounnting
Standards Committee são já seguidas em mais de 50 nações
entre as quais todos os países desenvolvidos.
Mau grado isto aspectos importantes da actividade dos
contabilistas estão sendo questionados, fazendo emergir desa-
justamentos profundos entre as necessidades das modernas
sociedades industriais e as respostas que a profissão conta-
bilística oferece, centradas ainda, na defesa quase exclusiva,
dos interesses dos investidores. No Financial Times de 11 de
Outubro podia ler-se: «A profissão contabilística americana
está colocada perante o mais severo desafio desde os
anos 30.» «Agora como então, existem pessoas que vêem
a profissão contabilística como a personificação do sis-
tema» 0 ) .

2.6. As críticas à profissão contabilística provêm dos mais diver-


sos sectores e formulam-se um pouco por toda a parte
(numa conversa que tivemos, em Dublim, aquando do
VIII Congresso da U. E. C , um contabilista finlandês mani-
festou-nos a sua preocupação pelas críticas intensas e públi-
cas dos sindicatos aos contabilistas, acusados de lacaios
dos capitalistas). Os sectores sindicais são, nos países
industrializados, extremamente sensíveis à actuação dos
contabilistas, nomeadamente dos contabilistas revisores.
Tanto ou mais que os proprietários, os empregados estão
muitíssimo interessados na marcha da actividade das empre-
sas, porque o destino das unidades produtivas, garante da
sua sobrevivência e das suas famílias, diz-lhes bastante
respeito.
A democratização económica das sociedades industriais
desenvolvidas é um facto, por muito que custe a certos
meios cujas ideias feitas acerca da divisão maniqueísta do
mundo entre capitalismo e socialismo os impede de enxergar
factos que se apresentam como evidentes a analistas desa-
paixonados. Em alguns países do norte da Europa, os tra-
balhadores estão representados nos Conselhos de Adminis-
tração das empresas e é bem de ver que isto arrasta uma
maneira diferente de encarar, por parte dos organismos
sindicais, os problemas laborais porque, ponderados à luz
dos conhecimentos que os sindicatos passam a ter da situa-
ção interna das empresas. Também não será difícil concluir

(') Cfr. Russel Palmer, The American Profession: Facing a Growing


Challenge.

232 -
que estes factos novos arrastam irreversivelmente, um repen-
sar sobre a contabilidade, os seus objectivos e a organização
da profissão contabilística por forma a atingi-los.
O contabilista dinamarquês T. Andersen resumiu, no
VIII Congresso da U. E.C. a situação da profissão contabi-
lística nos países nórdicos face a este problema.
«Desde há muitos anos que existem na Escandinávia leis
que asseguram a independência dos contabilistas revisores
e poucos litígios têm surgido acerca deste assunto. No
entanto tem-se feito ouvir outras opiniões sobre este conceito
de independência do revisor. Os trabalhadores não acredi-
tam na independência dos contabilistas revisores. Eles estão
convencidos que os revisores não fazem mais que proteger
os interesses do capitalismo e, por isso, desejam nomear os
seus próprios revisores, que teriam por missão defender os
interesses dos empregados. Na Suécia já foi proposta uma
lei com esse objectivo.»
«Os trabalhadores criticam, ainda, os contabilistas revi-
sores pela sua passividade, sustentando que os revisores se
deveriam preocupar mais com os problemas da gestão e
não somente com. a análise e a certificação das contas
anuais. Creio firmemente que esta questão da indepen-
dência, tal como é posta pelos empregados irá criar proble-
mas consideráveis aos contabilistas».
Outras críticas são feitas um pouco por todo o lado ao
modo como os contabilistas revisores exercem a sua função
que vão desde a excessiva formalização e monotomia dos
relatórios de certificação (praticamente iguais de ano para
ano) à escassez da informação fornecida pelos revisores.
Alguns Sectores, nomeadamente, os mercados financeiros
têm vindo a reclamar a certificação dos planos e dos orça-
mentos das empresas auditadas (auditoria previsional).
Outros nomeadamente os sectores laborais e pessoas ligadas
aos movimentos ecológicos reivindicam a publicação de
dados sobre o impacto da actividade da empresa sobre o
meio social e físico onde opera. A Comissão Contabilística
das Nações Unidas, num relatório recente, propôs ao seu
Secretário Geral um conjunto de medidas de políticas conta-
bilísticas a serem adoptadas pelas empresas transnacionais,
cujos relatórios e contas deverão de acordo com as conclu-
sões da Comissão, relevar um conjunto de informações de
carácter social.
Neste momento os contabilistas e escolas superiores de
contabilidade americanos estão a discutir e a investigar
acerca de esquemas de escrituração e de mensuração dos
efeitos sociais e ambientais da actividade da empresa (con-

— 233
tabilidade social). Os investigadores partindo da asserção
inquestionável de que a actividade da empresa produz
efeitos económicos e efeitos sociais e de que existindo meios
de mensurar os primeiros, estão tentando elaborar métodos
de abordagem que levem à construção de sistemas que
mensurem a performance social da empresa.
É evidente que estes esforços emergiram da constatação
de que a sociedade está a mudar. O social é crescentemente
predominante e a empresa é cada vez mais vista como uma
entidade com funções e objectivos sociais. «Os gestores
têm vindo a alterar a sua perspectiva estreita, tradicional
e unidimensional, procurando mover-se por considerações
mais amplas que ultrapassam os aspectos de estricta eficácia
económica. As empresas já não podem ater-se, exclusiva-
mente às suas relações económicas com a sociedade.
As suas práticas tenderão a ser analisadas mais em termos
de eficiência social do que de eficiência económica» (2).
Embora estas tentativas se encontrem num estado ainda
embrionário, existe já, no entanto, algum acordo quanto ao
conceito de contabilidade social e as áreas em que se devem
mensurar e relevar os custos e benefícios sociais emergentes
da actividade da empresa.
Sendo geralmente definida como uma técnica de iden-
tificação, mensuração e de relato dos efeitos sociais e
económicos, da actividade de uma instituição sobre o con-
junto da sociedade, a contabilidade social tenderá a trans-
formasse num instrumento essencial para as tomadas de
decisão gerenciais, porquanto, poderá vir a ser utilizada
quer para a gestão interna quer para o controlo externo (3).
Internamente, a contabilidade social poderá auxiliar à
obtenção dos seguintes objectivos:
i) Melhorar o processo de tomada de decisão atra-
vés de:
a) Auxiliar os gestores no processo da fixação
dos objectivos e prioridades, na planificação
e uso dos recursos financeiros, físicos e
humanos ;
b) Educar e motivar os gestores acerca das
consequências sociais das suas decisões.

(2) Cf. L. D. Parker, Accounting for Corporate Social Responsability, in


«The Chantered Accountant in Australia».
(3) Cf. o estudo monográfico de Marc J. Epstein, Eric G. Flamholtz e John
J. McDonuhh, Corporate Social Perfomance, Edição da National Association of
Accountants dos E. U. A.

234
ii) Fornecer uma base de contínua avaliação da per-
formance social da entidade.
Externamente a contabilidade social poderá:
1 — Formar bases consistentes e razoável uni-
formidade através das quais as empresas
poderão medir a performance social e rela-
tá-la nos seus mapas e relatórios periódicos;
2 — Fornecer os fundamentos para uma avalia-
ção independente da actividade da empresa,
no contexto social de que faz parte.
Quanto às áreas de impacto social da actividade da
empresa, existe algum acordo, nos países onde o problema
tem sido debatido, quanto às que a seguir tentamos identi-
ficar e definir:

i) Envolvimento comunitário.
Inclui as actividades socialmente orientadas
para o interesse do público em geral, tais como
a filantropia, a construção e o financiamento
de habitações, os serviços de saúde, o auxílio
comunitário aos empregados, os problemas de
alimentação, etc.

ii) Recursos humanos.


Abrange as actividades empresariais diri-
gidas ao bem-estar dos empregados, tais como
práticas de emprego, programas de treino e de
enriquecimento profissional, condições de traba-
lho, políticas de promoção, benefícios sociais dos
trabalhadores, etc.
iii) Contribuições da empresa para o desenvolvimento
dos recursos físicos e do ambiente.
Abarca as actividades orientadas para a
atenuação da deterioração do meio ambiente
(poluição) e para a conservação dos recursos
escassos;
iv) Contributo da empresa em produtos e serviços.
Inclui a melhoria de qualidade dos produtos
e serviços da empresa, da embalagem, da publi-
cidade, da segurança, etc.

235
Pelos objectivos que persegue e pelas áreas que cobre,
a implementação da contabilidade social representa um
enorme desafio à profissão contabilística e às universidades.
Os problemas que a contabilidade social coloca, dado o
carácter multiforme da informação a fornecer, são espinho-
sos e serão necessários alguns anos para se encontrarem
esquemas coerentes de registo, de mensuração e de relato.
Estamos, no entanto, convencidos que isso será conseguido.

Estas reflexões reconduzem-nos ao que dissemos sobre as


sociedades modernas, o carácter misto das suas economias,
a teia complexa das relações entre os diferentes grupos
sociais e o carácter fortemente intervencionista dos estados
modernos. A contabilidade é solicitada a satisfazer neces-
sidades crescentes e diversificadas de informação económica
e de informação social. São diferentes os grupos de
interesses que reivindicam! a existência de informação con-
tabilística. Muitos são os que se interrogam sobre a
possibilidade de a contabilidade satisfazer as necessidades
informativas de todos os utilizadores relevantes. Outros
advogam relatos contabilísticos diferenciados consoante as
perspectivas de análise ou conforme os destinatários da
informação contabilística. Sejam, quais forem as soluções
a encontrar e as dificuldades levantadas, a profissão conta-
bilística não poderá deixar de fazer Um esforço de reflexão
e de acção a fim de procurar novas formas de relato conta-
bilístico que possam satisfazer as sociedades de que faz
parte. Esforço que não poderá ser isolado, antes terá de
assentar na colaboração entre os contabilistas, os gestores,
os poderes públicos e as escolas superiores apropriadas.

A função da Universidade é capital e a sua análise leva-nos


ao problema da educação contabilística. Qualquer pessoa
mediamente informada sabe que o progresso de um ramo
do conhecimento depende da estrutura e nível do seu ensino
bem. como da investigação básica e aplicada. A complexi-
dade dos problemas que o contabilista terá que resolver,
o carácter altamente polivalente e interdisciplinar das stxas
áreas de intervenção arrastam a necessidade de dotar os
técnicos contabilísticos com uma educação superior exigente.
O contabilista terá de possuir uma compreensão clara da
sociedade (em. evolução rápida) onde se move. Ele tem de
integrar no seu dia a dia, a interpretação de fenómenos
sociais, políticos, económicos e jurídicos. Deve, portanto,
estar habilitado a compreender a realidade circundante.
Deve, como é óbvio, dominar as disciplinas técnicas de que
precisa para o desenvolvimento da sua missão.
O professor Edward Stamp, da Universidade de Lan-
caster, uma das maiores autoridades contabilísticas da
Grã-Bretanha, afirmava, já em 1966 que os principais pro-
blemas que se punham à profissão contabilística inglesa
e canadiana eram a educação, a investigação sobre os
princípios e a contabilidade para a inflação (4)-

2.9. Os americanos foram aqueles que até hoje, melhor souberam


resolver o problema da educação contabilística. Todas as
universidades americanas ministram os diversos graus uni-
versitários (Bachelor, Master e Doctor) e muitas são as
que possuem, centros de investigação contabilística. Aliás
mais de metade dos contabilistas diplomados em todo o
mundo saem, das universidades americanas ( s ).
As Business Schools onde, tradicionalmente, se têm for-
mado os contabilistas têm vindo a ser prgressivamente
contestadas como local apropriado para a educação conta-
bilística. 0 A. I. C. P. A. tem conseguido impor, nos Estados
Unidos, a criação de Escolas Superiores de Contabilidade
autónomas (a tendência orienta-se para a difusão destes
institutos superiores), bem como a adaptação dos currículos
às necessidades da profissão. «Consciente da importância
primordial para a nossa profissão, dos programas educa-
cionais, o A. I. C. P. A. tem-se interessado grandemente no
desenvolvimento de tais programas» (6).
Num relatório intitulado «Horizons for a profession»,
elaborado em 1969 por uma Comissão do Instituto, são expli-
citados o quadro conceptual e os conhecimentos mínimos a
serem ministrados nos cursos superiores de contabilidade,
agrupados em seis grupos fundamentais:

1. Contabilidade e revisão de contas, compreendendo os


conceitos e as funções da contabilidade e da revisão,
bem como a sua aplicação;
2. As humanidades e mais particularmente a lógica,
a ética e a comunicação escrita e oral;

(4) In Financial Accounting Theory 1: Issues and Controversies, de Zeler e


Keff. Ed Mcgrow Hill.
(9) Cf. Temas da 4." Conferência Internacional do Ensino da Contabilidade
— Berlim, Tese do Dr. Michael Chetkovich.
(6) Idem, idem.

- 237
3. As Ciências Económicas e do comportamento, com-
preendendo a micro e macro economia, a teoria da
organização e as Ciências Sociais;
4. Os Estudos Jurídicos, na medida em que eles forne-
cem os esclarecimentos imprescindíveis à compreen-
são do funcionamento e das bases filosóficas do
sistema jurídico e da sociedade, bem como o conhe-
cimento aprofundado da legislação aplicada aos
negócios;
5. Matemáticas, estatísticas e cálculo de probabilidades,
compreendendo um, conhecimento de base dos com-
putadores e de informática;
6. Os diferentes sectores da empresa, como as finanças,
o marketing, as relações de trabalho e o manage-
ments.

O mesmo relatório conclui que esta formação deverá ser


integrada num, programa de ensino superior com a duração
mínima de cinco anos.
Na Europa, principalmente nos países de expressão
latina o ensino da contabilidade encontra-se num estado de
relativo subdesenvolvimento. No entanto algumas vozes já
se começaram' a levantar e o problema tem sido objecto de
discussões amplas e profícuas.
Já se chegou a acordo, no interior da U. E. C , quanto
ao curriculum mínimo da formação dos futuros professores
de contabilidade a saber (7) :
a. Escrituração
b. Contabilidade Financeira Avançada
c. Contabilidade de Custos e de Gestão
d. Contabilidade Nacional
e. Matemáticas e Estatísticas
f. Processamento Electrónico de Dados
g. Análise de Sistemas de Informação
h. Gestão Financeira
i. Organização e Gestão de Empresas
j. Economia
k. Direito
1. Direito e Prática Fiscais
m. Revisão de Contas e Comunicação
n. Deontologia

Ver temas do VIII Congresso da E. E. C, tese do Dr. A. Ramondelli.


A mesma U. E. C. preconiza que o ensino superior de
contabilidade se deverá orientar para as seguintes especia-
lizações :

— Contabilidade de Gestão ou Interna


(compreendendo a contabilidade de custos, a orça-
mentologia e a auditoria interna)
— Contabilidade Financeira ou Externa
— Revisão de Contas

2.10. Embora não pretendamos, nem possamos elaborar um qua-


dro ainda que muito incompleto do que se passa nos países
industrializados em matéria de educação contabilística,
poderemos adiantar citando o professor Perridon, que «um
bom grande número de universidades oferecem cursos
especializados como contabilidade de custos, contabilidade
financeira ou contabilidade de gestão... mas tem-se a
impressão que todos estes cursos estão explicitamente cen-
trados sobre a prática profissional» ( 8 ).
É um facto que a pressão das organizações profissio-
nais, das empresas e outros organismos empregadores
sobre as universidades tende encaminhá-las para o predo-
mínio da prática. No entanto, as próprias associações
profissionais já se deram conta que o futuro da profissão
contabilística está intimamente dependente da investigação
básica e da procura de uma teoria geral da contabilidade
qual estrutura de referência enquadradora da prática.
As universidades terão de esforçar-se por redifinir os
seus objectivos de formação contabilística por forma
a preparar profissionais para uma sociedade em acelerada
alteração tecnológica, política e social. Paralelamente ao
ensino dos desenvolvimentos científicos e práticos corren-
tes, as universidades devem ministrar uma formação igual-
mente prospectiva de modo a que os futuros contabilistas
possam obviar a obsolência prematura. Os diplomados
pelas escolas superiores atingirão a maturidade profissional
normalmente, nos dez anos seguintes à sua saída das esco-
las, pelo que a formação prospectiva os auxiliará face às
mudanças técnicas ocorridas entretanto.

2.11. Será muito difícil prever a evolução do ensino da contabi-


lidade porque ela dependerá do futuro da profissão cuja

(8) Ver temas da IV Conferênca de Berlim.

— 239
«importância (e citamos de novo Perridon) quer como dis-
ciplina científica quer como instrumento de gerência das
empresas e da política económica e social, crescerá na
medida em que as ciências económicas se tornarem ciências
do comportamento humano (Behavioral Sciences)» (9).
Tendo em conta o que dissemos, sobre o carácter inter-
disciplinar da formação contabilística, sobre a indispensa-
bilidade de o contabilista compreender o contexto em que
actua e a necessidade de competência técnica, fácil será
concluir que o ensino superior da contabilidade irá sofrer,
num futuro previsível, uma rápida transformação.

3. A CONTABILIDADE EM PORTUGAL

3.1. A sociedade portuguesa sofreu, nos últimos anos uma pro-


funda transformação política, social e económica à luz da
qual os profissionais de contabilidade terão que equacionar
os seus problemas e orientar as suas acções para a implan-
tação de uma sólida profissão contabilística que tenha em
conta não só as novas realidades nacionais mas igualmente,
a internacionalização crescente da vida política, social, eco-
nómica e, consequentemente, da contabilidade.
O sistema económico português sofreu uma alteração
apreciável com o aparecimento de um importante sector
público e cooperativo. A pressão dos sindicatos e da opi-
nião pública sobre a actividade das empresas representa,
um dado a que não estávamos habituados e que terá, forço-
samente fortes implicações na actividade dos contabilistas.
A inflação galopante que caracteriza a nossa vida
económica presente põe problemas de conservação do patri-
mónio empresarial e de tributação que não podem já ser
ignorados e revela uma fraqueza evidente da profissão con-
tabilística portuguesa a ausência de um debate acerca dos
efeitos do constante crescimento dos preços.
3.2. Encontramos, na sociedade portuguesa, quase todos os pro-
blemas (e alguns outros) com que se confronta a profissão
nos países desenvolvidos, agravados ainda por um clima de
profunda crise estrutural que impede de ver claro e longe.
Mas os nossos problemas são ainda de outra ordem. Não
possuímos ainda uma profissão contabilística organizada.
Pelo contrário, vivemos num clima de total confusão, enro-

(9) Ver temas da IV Conferência de Berlim.

240 -
lados sobre nós mesmos, ignorando o que se passa lá fora,
numa automarginalização única na Europa onde teremos de
nos integrar. Enquanto que nos países desenvolvidos as crí-
ticas a uma profissão contabilística altamente evoluída se
centram sobre as normas e standards de auditoria, bem
como sobre a não relevação dos efeitos da inflação e dos
efeitos sociais, no nosso País ainda nem sequer consegui-
mos introduzir esquemas coerentes e eficazes de revisão de
contas.
Torna-se absolutamente imprescindível e inadiável que
as diferentes organizações que agregam os diversos grupos
de quadros contabilísticos iniciem num esforço de diálogo,
por forma a identificar as áreas de acordo possível, sem o
qual não será viável caminhar para estados de progresso
normais nos países desenvolvidos. Há que empreender, de
colaboração com a recentemente criada Comissão de Norma-
lização Contabilística, um amplo trabalho de emissão de
princípios e procedimentos contabilísticos que tenha em
conta os interesses nacionais e que possam ser compatíveis
com esquemas da C. E. E. e do I. A. S. C. Isto, se não
quisermos ir a reboque da iniciativa governamental que,
normalmente, tende a centrar a sua acção nos interesses
fiscais, estatísticos e afins.

É igualmente indispensável rever o funcionamento e a legis-


lação da revisão de contas. Tal como nasceram a Câmara
dos Revisores Oficiais de Contas e a função do revisor cons-
tituem um obstáculo intransponível à criação de uma sólida
e dignificada profissão de Revisor de Contas. De facto,
orientada para conselhos fiscais, cujo funcionamento em
nada se alterou com a inclusão, de revisores de contas
(a grande maioria em part time), a revisão de contas não
conseguirá sair do pântano em que a fizeram nascer. A re-
visão e certificação das contas das empresas nacionais a
isso obrigadas, está na mão segura das grandes firmas inter-
nacionais de contabilistas, porque ninguém acredita, ainda
(por este andar não se vê quando) nas firmas e revisores
nacionais.

Um último aspecto que desejava focar, relaciona-se com a


educação contabilística. Considero meu dever chamar a
atenção para este assunto fulcral, que não deixará de con-
dicionar o futuro da classe contabilística. É conhecido o
estado caótico a que chegou o ensino superior no nosso País.
em quase todas as áreas do conhecimento. No tocante à
contabilidade é confrangedor o panorama actual e nada nos

— 241
faz pensar que as coisas melhorarão no futuro. Como se
sabe não existem todos os graus universitários na área con-
tabilística e se dermos uma vista de olhos pelo que se passa
nas escolas superiores, onde se ensina a contabilidade, veri-
ficaremos sem, qualquer dificuldade, que o nível dos conhe-
cimentos ministrados não ultrapassa o secundário. Se ana-
lisarmos os quadros de professores nas universidades portu-
guesas não encontraremos, com certeza, mais do que um
ou dois professores catedráticos a ensinar a contabilidade,
se tanto.
Torna-se, por conseguinte, imperativo reformular todo o
ensino da micro-economia e implantar em Portugal, o ensino
superior da contabilidade em todos os graus académicos
sem o qual não teremos os agentes de ensino, em quantidade
e qualidade, necessários à formação contabilística de todos
os níveis, nem os quadros contabilísticos indispensáveis ao
crescimento económico e à nossa integração no Mercado
Comum.
Queria terminar com uma palavra de optimismo. Mau
grado a nossa sombria situação actual que, creio, ficou
patente na descrição que fizemos do panorama contabilístico
nacional e internacional, estou firmemente convencido de
que os contabilistas portugueses saberão encontrar as solu-
ções adequadas para os seus problemas, porque existem
muitas pessoas, esclarecidas e competentes, qUe estão dis-
postas a trabalhar para o bem comum.
A Contabilização do Potencial Humano
Por Policarpo Lemos

Permitam-me V. Ex.as que eu comece por distinguir a ilustre


Comissão Organizadora das JORNADAS DE CONTABILIDADE, pelo
conforto e estímulo que representam para o meu modesto labor de
estudioso, constante, da ciência contabilística, a oportunidade que me
proporcionaram de poder apresentar à esclarecida competência deste
congresso o julgamento da ideia que seguidamente vou expor, e por
isso lhe exprimo a mais afectuosa gratidão.
Também, pela saudosa recordação que tenh0 deste ambiente estu-
dantil, que muito entusiasticamente revivo, do que lhe devo pela
minha formação para o desempenho da actividade que, apesar dos
meus 68 anos de idade, ainda mantenho, e por isso dirijo as minhas
efusivas saudações a todos os participantes destas utilíssimas Jor-
nadas de Contabilidade.

A CONTABILIZAÇÃO DO POTENCIAL HUMANO

Como nasceu e se tentou divulgar a ideia da «Contabilização do


Potencial Humano»!
— Por dever de ofício, através de análises de balanços, foi-se,
pouco a pouco formando na minha imaginação a ideia da necessidade
de se incluir — em tão importante documento, de público esclareci-
mento da situação patrimonial de qualquer organização económica,
como é : um balanço — de um elemento que reputo imprescindível
para o efeito, isto é: mais um factor para a avaliação da capacidade
económica de uma empresa — de que se conhece, por agora, somente
o seu potencial financeiro — elemento, esse, considerado universal-
mente como a verdadeira mola real de toda a actividade — que se
designa por potencial humano.
Com efeito, tentei expor o meu ponto de vista, num resumido
escrito inserido na revista Cultura, de Abril de 1961 — onde foi pos-

- 243
sível aceitarem-me tão ignorado tema... Só 7 anos, depois, e pela
insistência de apresentação muito lisonjeira do distinto contabilista,
publicista muito apreciado de temas contabilísticos e antigo professor
do ensino técnico, Sr. Joaquim Travassos Lopes Mendonça Santos
(actualmente em actividade no estrangeiro), a ideia se reproduziu
na Revista de Contabilidade e Comércio, acompanhado de afirma-
ções — que muito me desvanecem — tais como :

«...que a resolução prática não é fácil, pela escolha de medida?,


todos o reconhecemos; mas isso não é razão para que lhe voltemos
as costas, abandonando a outrem a gloríola de a definir e deter-
minar»; e mais adiante, a propósito da falta de interesse pelo estudo
do assunto e, por consequência, pela demora da sua resolução:

«Mais tarde ir-se-á beber, gulosa e embevecidamente, as con-


clusões alheias, como se entre nós — e antes dos mais — nunca nin-
guém se tivesse apercebido do fenómeno e proposto, até, a colabo-
ração de todos para a sua concretização». Isto a propósito do apa-
recimento em França — anos depois de lançada a semente, por nós,
e na nossa Terra (provavelmente pouco fecunda) — de algumas obras
abordando o mesmo assunto, cada uma à sua maneira, embora
nenhuma alcançando a finalidade pretendida — a obtenção do valor
monetário, único de interesse contabilístico, como é óbvio — mas
unânimes em encarecer, com razões mais ou menos profundas, pelas
quais é vão descortinar no balanço tradicional o tal meio de acção,
com legendas como estas: «A gestão programada»; «Os rácios so-
ciais»; «Num balanço não figurou jamais o valor de maior impor-
tância no meio —o do grupo humano na empresa», etc., etc. Entre-
tanto muitas foram as individualidades de relevo, na nossa actividade
profissional, que se me dirigiram com propósitos, muito louváveis,
de incitamento para prosseguir o estudo da ideia — inovação — para
a obtenção de uma solução por meio de uma fórmula simultaneamente
racional e prática, entre outras à do Mestre insigne Lopes Amorim,
à do saudoso professos: Caetano Dias, que admitindo ser um problema
bem complexo, a estatística matemática devia procurar equacionar;
e a do meu inesquecível professor e eminente pedagogo Dr. Filomeno
Lourenço, que foi dilecto e eloquente difusor da ciência económica
entre sucessivas gerações, que a propósito me disse: «É um valor
incontestável que já devia ter-se estimado para uma mais completa
avaliação da conjuntura económica» pelo que te felicito pela ideia,
etc., etc., e depois quando em 1969 fiz uma palestra na Socidade
Portuguesa de Contabilidade, o ilustre economista e consagrado tra-
tadista da ciência contabilística e do direito fiscal, Senhor Dr. Ro-
gério Fernandes Ferreira, que me confortou com a sua concordância
com a finalidade do tema, como mais um factor para a avaliação da
capacidade económica de uma empresa.

244 -
Também, em Dezembro de 1975 a «Revue Belge de La Compta-
bilité et de L'Informatique» e sob o título «Comptabilité des res-
sources humaines», publicou um artigo a 2 páginas da autoria do
nosso colega, já citado, o competentíssimo didacta da ciência conta-
bilista Joaquim Travassos Lopes Mendonça Santos, a enaltecer a
minha ideia.
*
* *

A concepção do tema, posto à consideração do juízo universal:


— é por demais evidente que a admissão de uma ideia, no consenso
geral, carece, como é natural, da coerência da tese, no entanto, o
seu êxito estará de antemão condenado se em vez de encontrar o
indispensável acolhimento, que deve merecer toda a tentativa de
inovação — para se ajuizar da sua eficácia — ainda que através de
debate construtivo, por quantos poderiam com os seUs conhecimentos,
contribuir para lhe dar forma definitiva — deparar com a resistência
passiva resultante — quantas vezes, do despeito ou da obstinada ro-
tina, sempre avessas por comodidade mental, a tudo o que não é
ainda do domínio público... Eis o problema:—para apreciação da
situação patrimonial de uma organização económica, é evidente que
só através da leitura do balanço, se pode adquirir uma noção mais
ou menos concludente, mas para que a análise nos dê uma imagem
um tanto ou quanto explícita, é necessário que tal mapa de valores
representativos, apresente o maior número de dados, que habilitem
os seus leitores ao esclarecimento pretendido, cada um com inte-
resses bem diferentes na sua interpretação, consoante a sua posição,
por exemplo de: accionista; obrigacionista; avalista; credor; for-
necedor; banqueiro; etc., etc. Um balanço, pela sua alta impor-
tância devia exprimir a situação económica da entidade a que res-
peita, mais do que isso devia permitir a avaliação da sua capacidade
económica, para o que, infere-se a falta do elemento humano, que é,
para todos os efeitos, um capital. E, segundo o conceito da ciência
económica, se o capital é produto de um trabalho anterior, no caso
humano, creio que pode traduzir-se pela acumulação de conhecimentos
adquiridos através do ensino e da experiência, que se reflectem na
capacidade de desempenho de funções.
Por isso o capital humano, ao dispor de uma organização, é de
primordial importância para a vitalidade dessa organização:

— é bem conhecido o interesse das entidades patronais pela aqui-


sição de elementos válidos para o preenchimento dos cargos
das suas estruturas orgânicas, chegando, mesmo, a serem dis-
putados com promessas de melhores condições, das que tenham
noutras empresas (caso da procura de mão-de-obra com re-
serva de sigilo, que aparece, por vezes, na imprensa do País

- 245
e que até se generalizou entre as nações) e a propósito, li,
há anos, num diário lisboeta e, sob o título:

«Cérebros para os Est. Unidos», a seguinte notícia:

—- como consequência da evolução científica e técnica, os Estados


Unidos abriram um novo comércio, o da massa cinzenta...
Christian Rudel, no Jornal «Lacroix», indica: equipas de espe-
cialistas, daquele país, percorrem o Mundo, oferecendo exce-
lentes contratos e vantagens importantes, convencendo cien-
tistas, investigadores, médicos, engenheiros, etc., qualquer que
seja a sua nacionalidade, a emigrar para os Estados Unidos.
E mais adiante: em 3 anos a Ásia forneceu mais de 3 000 cien-
tistas. Em 4 anos da América Latina partiram, para lá,
1 837 técnicos a que se somam 720 investigadores. De 1950
a 1965 a Argentina perdeu, desta forma, 774 médicos, 853 enge-
nheiros, 75 advogados, 42 arquitectos, 77 dentistas, 48 farma-
cêuticos, 756 professores e não se referia esta estatística,
ainda, a jogadores de futebol, provavelmente porque ainda
não se tinha constituído o clube Cosmos...

Nestas condições os países do terceiro mundo, formam à sua


custa esses cientistas verdadeiros especialistas, que depois partem
com bolsas de estudo para, na realidade, desempenharem cargos
bem remunerados nos Estados Unidos, enquanto nos seus países de
origem faltam elites para o seu desenvolvimento científico. Hoje e
cada vez mais, a empresa já não é um meio material servido por
homens, mas sim: um conjunto de homens que utilizam meios ma-
teriais (técnicos e financeiros) para fornecer bens e serviços à colec-
tividade. Entretanto permito-me intercalar o seguinte exemplo para
reforçar a ideia:

Se me fosse solicitado, profissionalmente, o meu parecer sobre a


viabilidade económica de uma determinada empresa, para efeitos de
tomada de posição financeira, por exemplo, da indústria de perfu-
maria, de grande dimensão e até de elevada cotação mundial no
meio, e depois de conhecidos os dados característicos para o efeito
de satisfatória recompensa do investimento, me informassem que
ficaria todo o seu pessoal com a nova administração, menos o seu
técnico perfumista — único detentor dos segredos de fabrico das
suas reputadas marcas — era lícito perguntar para que serviria todo
aquele complexo industrial, por muito bem estruturado que estivesse,
se afinal lhe faltava o seu principal componente? Que dentro da
estrutura orgânica ocupava o cargo vital?
Como consequência da evolução técnica, pode afirmar-se que o
homem é cada vez mais, o esteio fundamental da vida económica,

246
sendo a máquina o seu complemento, por ele criada, mas sem ele
inoperante, portanto o homem é um investimento à disposição do
empresário. E assim, além dos valores imobilizados (como se sabe
constituídos pelas instalações, imóveis, máquinas, etc.) entendo que
deve considerar-se (para uma mais completa avaliação da capaci-
dade económica de uma organização) o valor do potencial humano ao
serviço do respectivo empreendimento. Remontam aos fins do século
passado e princípios deste, com o Taylorismo e Fayolismo, os tra-
balhos de investigação da doutrina administrativa e, por consequência,
sobre o problema humano no trabalho (em Inglaterra, celebraram-se
há dez anos as bodas de ouro do início do estudo da produtividade,
através do rendimento da mão-de-obra). Assim a estrutura orgânica
de uma empresa pressupõe uma disposição de postos de trabalho, ou
cargos, cujos valores podem ser equacionados, pela fórmula mais
simplista que permita comparações com outros dados e até, para
completar o conceito de capacidade económica de uma empresa, que
reputamos de maior relevância nos tempos que decorrem, em que
tudo tem de processar-se ao nível dos valores monetários. E assim,
dentro da contabilidade pode determinar-se a sua inclusão como um
valor extrapatrimonial (como qualquer valor em consignação) só
porque o homem, ao serviço de uma entidade, não foi adquirido como
qualquer bem, mas sim posto à sua disposição, enquanto estiver ao
seu serviço, com a liberdade de poder despedir-se, quando entender,
e por isso (por não lhe pertencer) contabilizado no capítulo dos va-
lores compensados (antigas contas de ordem) hoje em obediência ao
P. O. C. provavelmente na rubrica 26 — Outros Devedores e Cre-
dores, sob a designação, em subcontas, de «quadro de pessoal» e sua
contrapartida «Potencial humano», ambas com igual extensão de va-
lores, para não alterar o património real e porque se movimentam,
sempre, pelo mesmo índice.
Para atribuição do valor do cargo, concebemos, então, consti-
tuindo a finalidade da tese, e sem prejuízo da variabilidade das ta-
belas salariais das empresas da mesma actividade ou não, a seguinte
fórmula
Ra X 100 _.
= ph
r
onde Ra representa a remuneração anual, r a taxa a utilizar e Ph o
valor do potencial humano.
Exemplificando: Se a remuneração de um cargo, for de 140000$00
anuais (o que representa a rendibilidade desse cargo) e tomando para
o efeito a taxa de Crédito Público Interno sempre a mais recente
de 22 % (por hipótese) o cargo remunerado com aquele quantitativo,
corresponderia ao capital teórico de 636 363$36, da mesma forma
que, se possuíssemos este montante de dinheiro aplicado em títulos
daquela espécie ele produziria, no fim de um ano, aquele mesmo

- 247
rendimento de 140 000$00 assim somando os valores de todos os cargos
da estrutura obtém-se o montante do Potencial Humano da Empresa.
Escolhi o factor Crédito Público Interno, como índice de rendibili-
dade, por me parecer que é a espécie que oferece maior garantia
de estabilidade e, também, de aceitação geral, facilmente aplicável
a todo o tipo de empresa para a obtenção de avaliação e, ainda,
para uso genérico de correcções e actualizações técnicas nos fins dos
exercícios, deste modo, acessível a todos os graus de formação aca-
démica dos quadros técnico-contabilísticos das empresas.
Ao finalizar esta brevíssima exposição, agradeço a consideração
dispensada a tão fracas qualidades de oratória, aproveitando a opor-
tunidade para apresentar a todos as mais afectuosas saudações.

248 -
Âmbito de Aplicação da Convenção
Colectiva de Trabalho
Por Ilídio Duarte Rodrigues

I. A CONVENÇÃO COLECTIVA E A RELAÇÃO DE TRABALHO

1. Já se viu na organização dos interesses uma das marcas


específicas dos nossos tempos C1).
E por ser o homem um animal que trabalha e as sociedades
modernas civilizações de trabalho, esse sinal reflecte-se igualmente
na forma por que se estrutura o actual sistema de relações laborais.
Na verdade, a relação empresário-trabalhador, característica das
sociedades industriais, não se manteve imutável. Inicialmente, sob
o influxo do individualismo, cada indivíduo era julgado o melhor juiz
de si próprio e dos seus interesses. Daí que se entendesse nociva
toda a intervenção estatal. Daí que se abolisse toda a restrição ao
exercício da vontade individual. Daí que se revigorasse e expandisse
a ideia contrato, instrumento perfeito da concretização dos interesses
individuais de homens teoricamente livres e iguais. Quem melhor que
o empresário e o trabalhador, como pessoas livres e iguais, poderia
julgar dos seus próprios interesses? Nas suas relações a lei suprema
deveria ser, pois, o que ambos livremente acordassem ( 2 ): assim
se alcançaria «o maior bem para o maior número possível de
pessoas».
O optimismo do sistema pressupunha que a harmonia natural
— sua crença básica — resultaria inevitavelmente da acção livre de
indivíduos iguais. E a liberdade concretizava-se nomeadamente nas
liberdades de profissão, de comércio e de indústria. Daí que se

C1) KAISER — Die Reprãsentationen organisierter Interessen, Berlin, 1956.


RESCIGNO — Sindacati e partiti nel diritto privato (Jus, 1956, 1 e segs.).
(2) «Pertence às convenções livres entre indivíduo e indivíduo fixar o
salário para cada trabalhador. É de obrigação do trabalhador manter o acordo
com quem o ocupa». Le Chapelier, in Conclusões do Relatório da lei de 14-17
de Junho de 1791.

- 249
proibisse qualquer autolimitação, por via contratual, ao exercício da
profissão' do comércio ou da indústria, pela forma que o cidadão
considerasse mais conveniente. Isto porque semelhante proibição
evitava que a colectividade fosse privada do serviço de quem quer
que pretendesse exercer profissão, comércio ou indústria nas melho-
res condições e porque se impediria a potencial criação de monopólios.
Assegurar a liberdade de profissão1, de comércio e de indústria era,
pois, de interesse público: «O público tem interesse em que todas
as pessoas exerçam a sua profissão livremente /.../. Todas as inter-
ferências na liberdade de acção profissional /.../ são contrárias à
public policy» ( 3 ).
Não havia, portanto, espaço a preencher entre o Estado e o
cidadão: «Indubitavelmente, deve permitir-se aos cidadãos de certas
profissões reunirem-se para tratarem dos seus interesses comuns.
Mas /.../ já não há outras classes de corporação no Estado. Não
existem mais do que o interesse particular de cada indivíduo e o
interesse geral. A ninguém se permite que inspire um interesse
intermédio aos cidadãos ou que os separe das questões públicas por
um espírito de corporação» ( 4 ).
E as proibições de agrupamentos profissionais, que vinham já
do Ancien Régime, se bem que por motivos diversos, subsistem na
ordem, liberal: à proibição das «Lettres Patentes», de 2 de Janeiro
de 1749 ( 5 ), sucede a da Lei Le Chapelier, cujos artigos 1.° a 3.°
proíbem toda a organização quer de trabalhadores quer patronal
e os artigos 4.° a 8.° vedam o recurso à greve e ao lock-out. A cons-
tituição de agrupamentos profissionais não estava apenas vedada
como era perseguida criminalmente (lei de 22 Germinal, do ano XI
e artigos 414.° a 416.° do Código Penal, em França; Combination
Act, de 1799-1800, em Inglaterra).

2. No entanto, os trabalhadores não deixaram de se associar


secretamente e de desenvolver acções de defesa dos seus interesses
realizando greves e celebrando acordos com os dadores de trabalho.
Com efeito, a realidade, desmentindo a doutrina, impeliu os tra-
balhadores a organizarem os seus interesses. E espontaneamente

(3) CITRINE — Trade Union Law, London, 1967, pg. 34 (caso Nordenfelt).
(4) LE CHAPELIER — Conclusões do Relatório da Lei de 14-17 de Junho
de 1791.
(5) «Proibimos a todos os companheiros e trabalhadores que se reúnam
sob o pretexto da sua confraria ou que se concertem para se colocarem uns
e outros num amo ou para o abandonarem1, e também, que oponham obstáculo
a que os amos escolham por si próprios os seus operários, quer sejam franceses
ou estrangeiros».

250 -
surgem as coligações, sementes de sindicatos e fermento da contra-
tação colectiva (6).

(õ) É inegável a existência de relação íntima entre contratação colectiva,


associação sindical e greve. Por uni) lado, é paralela a evolução desses insti-
tutos, que passam por fases idênticas, de proibição primeiro, de tolerância
depois, até à consagração de cada um deles como direito dos trabalhadores.
Por outro lado, a contratação colectiva tem normalmente por sujeitos associações
sindicais, que dispõem da greve como forma de autotutela dos interesses consa-
grados pela contratação e daqueles que se pretende ver por ela acolhidos.
No entanto, essa relação íntima não significa nexo necessário. Basta
pensar que teoricamente a convenção colectiva pode ser celebrada por repre-
sentantes dos trabalhadores, não organizados em associações sindicais, como
expressamente se prevê no n.° 2 da Recomendação da O. I. T. n.° 91, relativa
a Convenções Colectivas: «on entend par «convention collective» tout accord
écrit relatif aux conditions de travail et d'emploi conclu entre, d'une part, un
employeur, un groupe d'employeurs ou une ou plusieurs orgnisations d'em-
ployeurs et, d'autre part, une ou plusieurs organisations representatives de
travailleurs, ou, en l'absence de telles organisations, les représentants des tra-
vailleurs intéressés, dûment élus et mandatés par ces derniers en conformité
avec la législation nationale».
Por outro lado são conhecidas greves desde a mais remota antiguidade,
quando a ideia de contratação colectiva era ainda impensável. Greves encon-
tramo-las no Império Novo Egípcio: o «Papyrus de Turim» relata-nos a greve
ocorrida por volta de 2100 a . C , durante a qual os trabalhadores ao serviço de
um templo na necrópole de Tebas se recusaram a trabalhar, pois «não se pode
trabalhar com o estômago vazio», e exigiram um aumento de salário em espécie
de duas bolachas por dia; sob Ramsés III, os trabalhadores do túmulo real,
por várias vezes, recusaram prosseguir o trabalho, a pretexto de irregularidades
no pagamento de salários emi espécie e no tratamento dos trabalhadores.
No período neo-babilónico, é conhecida a greve dos escultores, que diziam
«nós estamos revoltados, ninguém nos pagou os meses de Sirvan e de Tammuz».
A civilização grega, que parece não ter sofrido sobressaltos sociais violen-
tos, não deixou de conhecer movimentos grevistas sobretudo na época helenística,
durante a qual os litígios relativos ao pagamento de salários se devem ter
multiplicado. A correspondência do engenheiro Cléone revela-nos a existência
de greves no Egipto ptolomaico: «tu não ignoras o que acontece nas equipas
quando pára o trabalho». Um decreto de Paros louva um agorânomo por
«impedir os assalariados e os empresários de se prejudicarem reciprocamente,
obrigando, de acordo com as leis e contratos, uns a não fazerem greve e a
executarem a sua tarefa, ou outros a pagarem aos operários o salário devido
sem processo no tribunal».
Em Roma, no Baixo Império, a atestar movimentos grevistas, foram pro-
mulgadas normas repressivas das greves, particularmente e em curiosa anteci-
pação, nos serviços públicos e em empresas ou estabelecimentos que se desti-
navam à satisfação de necessidades vitais (sectores funerários e de transportes
de cereais, por exemplo).
E, nas Idades Média e Moderna, foram frequentes as greves — particular-
mente nos sectores de tecelagem' (Rouen, 1280), da construção civil (Bordéus,
1511), da tipografia (Lyon, 1527 a 1539 e, com ligeiras interrupções até 1572)
— aliás severamente reprimidas (em 1233, durante uma greve em Beauvais,
efectuaram-se 1500 prisões), dando lugar ao aparecimento de numerosas normas
que as proibiam e puniam (Coutume de Beauvais, de Beaumanoir, de 1279-1283:
Ordonnance de Villers-Cotterets, de 1539; Ordonnances de Moulins, de 1566;
Ordonnances de Blois, de 1576; Code Michaud, de 1692; Lettres Patentes,
de 1749).

251
Este movimento espontâneo não é exclusivo das relações laborais
pois se insere no mais amplo brotar de novos tipos de relações
sociais, que, tendo por fundamento posições de desequilíbrio contra-
tual e de supremacia privada, exteriorizam a consciência da eficácia
da acção colectiva, a qual foi sendo adquirida por vários agrupa-
mentos sociais. Assim, também isso sucedeu na vida mercantil
e industrial, onde surgiram associações com, o objectivo de disciplinar
a concorrência.
Na verdade, ao verificar-se que «a concorrência matou a concor-
rência», o< único processo viável de obstar à concentração consistiu

No entanto, estas greves tinham carácter espontâneo, não sendo organizadas


nem obedecendo a um plano prévio, o que é, de certo modo, reflexo da ausência
de autênticas associações sindicais.
Por seu lado, o movimento associativo no campo económico manifestava-se
também já desde a Antiguidade.
Na Grécia, associararo-se os mercadores — sendo exemplo típico a associa-
ção dos aeinautai de Mileto, — os autores, directores de cena, auletas, cómicos,
trágicos, guarda-roupas, que, por virtude das suas frequentes tournées, acabaram
por constituir federações regionais.
No Egipto ptolomaico, os trabalhadores, particularmente os moleiros, os
pasteleiros, os coveiros, os agricultores, os artífices e os comerciantes, prosse-
guiram' a defesa dos seus interesses profissionais, transformando era sindicatos
os agrupamentos par profissões que os Ptolomeus, seguindo a tradição faraónica,
mantiveram por facilidades administrativas.
Em Roma, desde as origens teriam existido associações mesteirais (collegia
opificumi), que, segundo a tradição, foram disciplinadas por leis de Numa e de
Sérvio Túlio. Umas vezes toleradas, outras sujeitas a fiscalização de polícia,
outras proibidas (lex Júlia, de 56 a. C.) ou sujeitas a rígido controle e tornadas
instrumento estatal (édito de Alexandre Severo, que fixa o seu número em 32 e
impõe a filiação obrigatória num deles para o exercício de qualquer indústria
ou profissão), essas associações acabaram por desaparecer com a queda do
Império Romano.
Na Idade Média, surgiram as organizações corporativas, que não deixavam
espaço para qualquer outro agrupamento profissional. Todavia, foram-se cons-
tituindo, na Baixa Idade Média e, depois, na Moderna, inúmeras associações
de trabalhadores (compagnonnages), que organizaram a defesa dos seus inte-
resses contra os empresários, rmultiplicando-se os conflitos, traduzidos em greves
e na colocação no index pelos trabalhadores de ateliers e de cidades inteiras,
como sucedeu com Montpellier, Dijon e Toulouse, por exemplo.
Todavia, essas associações ou eram meros embriões de sindicatos — caso das
compagnonnages — ou não se propunham, sequer à defesa dos interesses profis-
sionais dos trabalhadores, fim essencial das associações sindicais: as corpo-
rações medievais propunham-se fundamentalmente a conquista e manutenção
do monopólio de determinado mercado (daí a obrigatoriedade da inscrição para
o exercício de uma certa actividade; por isso, a imposição de segredo profis-
sional como norma a que os sócios deviam rigorosa obediência).
J. M. VERDIER — Syndicats, Dalloz, 1966 e actualização de 1976, vol. V do
Traité de Droit du Travail publicado sob a direcção de G. H. Camerlynck.
H. SINAY — La Grève, Dalloz, 1966, vol. VI do Taité citado.
GEORGES LEFRANC — Grèves d'hier et d'aujourd'hui.
G. GLOTZ —Le Travail dans la Grèce ancienne.
PIERRE JACCARD — História Social do Trabalho.

252 -
na associação recíproca dos pequenos concorrentes, conscientes da
sua qualidade de irmãos de infortúnio, para limitarem a produção
e subirem os preços.
Era a realidade a pôr em causa o dogma voluntarista, a subli-
nhar o carácter de instrumento de autoridade de certos contratos
— «n'ont du contrat que le nom» — e a evidenciar a importância do
poder económico das partes. A doutrina, dando-se conta desta feno-
menologia, procede à crítica do conceito de igualdade contratual (7)
e tem de fazer amplo esforço de adaptação dos conceitos gerais,
por forma a integrar a nova realidade colectiva: pessoa jurídica,
contrato, responsabilidade e fontes de direito, por exemplo, vêem
abrir-se novos capítulos na sua doutrina.
O eixo da relação laboral desloca-se do plano individual para o
colectivo. No plano económico, esta mutação é resposta à necessi-
dade de equilibrar as forças dos parceiros do mercado de trabalho.
Na verdade, o trabalhador isolado não pode estabelecer uma reserva
de preço, porque dispõe para oferta de uma única unidade — o dia
de trabalho — que necessita vender. Assim, o atrito económico pode

(7) Também o Estado verifica que é falaz a presunção de igualdade jurídica


entre as partes do contrato de trabalho. E, reconhecendo a necessidade de as
colocar em posições substancialmente iguais, por um lado, admite a possibilidade
de autotutela colectiva dos interesses individuais dos trabalhadores e, por outro,
vê-se forçado a abandonar a clássica posição liberal de não intervenção, disci-
plinando legislativamente as condições mínimas de trabalho.
A intervenção estatal fundamenta-se em evidente interesse público: à
«liberdade que oprime» há que contrapor «a lei que liberta», na fórmula de
Lacordaire. É a expressão do conflito entre individualismo e liberalismo, latente
desde o início do século XIX e amadurecido no seu último quartel, como reflexo
da transformação do capitalismo atomístico em' capitalismo molecular.
O reconhecimento da desigualdade de facto entre trabalhadores e empresá-
rios traduz-se, no plano colectivo, nomeadamente no diverso fundamento social
da liberdade de associação a uns e outros reconhecida e no diverso tratamento
dado à greve e ao lock-out.
Assim', a liberdade sindical tem tratamento autónomo (art. 57.° da C R . P.).
O seu fundamento social reside na pretensão de anular as desigualdades indi-
viduais dos sujeitos das relações de trabalho, opondo à força económica do
empresário a força social do grupo («condição e garantia da construção da
sua unidade para defesa dos seus direitos e interesses»), ao passo que a liber-
dade de associação patronal se justifica apenas por conexão com a liberdade
sindical — permite criar formações colectivas que se contraponham à pressão dos
sindicatos.
Por outro lado, o nosso ordenamento jurídico apenas legitima a greve — ver-
dadeiro direito e não simples liberdade, — proibindo expressamente o lock-out
(art. 60.° da C.R.P.). A proibição do lock-out traduz igualmente o reconheci-
mento da desigualdade das posições económicas das partes da relação de traba-
lho, ao admitir implicitamente que o recurso lícito ao lock-out anularia a tentativa
de restabelecer a igualdade substancial das partes obtida pela desigualdade
jurídica criada ao vedar a um lado o recurso à arma colectiva (lock-out) contra-
posta à que se reconhece ao outro lado (greve).
BALLETTI — Contributo alia Teoria delia Autonomia Sindacale, Milano, 1963,
págs. 226 e segs. e 253.

- 253
constrangê-lo a aceitar preço eventualmente abaixo do mínimo vital
ou, de qualquer modo, inferior ao que se formaria em mercado onde
a procura e a oferta dispusessem de igual liberdade. Associando-se
a outros e efectuando uma oferta colectiva de trabalho, o trabalhador
vê o seu poder contratual reforçado, permitindo-lhe reduzir a despro-
porção entre o salário e a produtividade. Por esses motivos se
chegou a afirmar que o poder contratual do empresário é a soma
do poder contratual de todos os trabalhadores que emprega (8)
A tutela dos interesses profissionais dos trabalhadores passou,
assim, a processar-se também de modo colectivo, como forma de se
assegurar a sua melhor satisfação.
E, na nova técnica, é a convenção colectiva o instrumento através
do qual são acolhidas e ganham relevância jurídica as pretensões
colectivas. Através da convenção colectiva obtém-se uma regula-
mentação colectiva das relações individuais de trabalho (9) (10). Essa

(B) Relativamente ao papel équilibrante dos sindicatos entre as forças con-


tratuais dos trabalhadores e dos empresários
MESSINA —í concordati di tariffe nell'ordinamento giuridico dei lavoro
BALLETTI — Contributo alia Teoria cit., pág. 253
MAZZONI —7 Rapporti Collettivi di Lavoro, Milano, 1967, págs. 36 e segs.
MARSHALL — Economies of Industry, cap. XIV.
B. I. T. — Les Négociations Collectives, págs. ÎO e segs.
É, todavia, discutível a medida em que a acção sindical influencia o nível
dos salários dado que essa parcela do rendimento nacional parece revelar certa
estabilidade. Mas deve aceitar-se que, no período de crescimento dos países
industrializados, a acção sindical tenha evitado que diminuísse a proporção dos
salários no rendimento nacional. Neste sentido, MÁRIO MURTEIRA, Economia
do Trabalho, cap. IX, pág. 149 e segs.
Não pode deixar de referir-se que alguns economistas americanos vêm
defendendo que o monopólio sindical de mão de obra seria a causa de tendência
permanente para a subida dos salários, determinando fortes fenómenos infla-
cionistas. Invocam-se, a propósito, cláusulas de convenções colectivas que res-
tringem a produção — fixação da largura máxima dos pincéis dos pintores,
estipulação do número máximo de tijolos a colocar por dia, imposição de orques-
tras «silenciosas» a emissoras de radiodifusão que utilizam discos, etc. — ou que
favorecem promoções burocráticas. Neste sentido, V. R. GOETZ, Le rôle de la
négociation et des conventions dans les sociétés industrielles modernes, in
La négociation collective et les conventions collectives dans les pays de la C. E. E.,
págs. 8 e 10 e SAMUELSON, L'Économique, Armand Colin, vol. II pág. 616.
(9) A convenção colectiva não cria qualquer relação individual de trabalho;
ela impõe apenas um determinado conteúdo à relação individual de trabalho,
quando esta surgir através da celebração do contrato individual de trabalho.
KAHN-FREUND — Umfang der normativen Wirkung des Tarifvertrags und
Wiedereinstellungsklausel, Berlin, 1928, pág. 12: «tarifliche Anordnungen... bes-
timmen lediglich, was Recht sein soil, wenn das Arbeitsverhãltnis eingegangen
ist. Sie regeln das Wie, nicht das Ob von Arbeitsvertrãgen». Também já MES-
SINA, em I concordati di tariffe citado, salientava que o contrato colectivo
regula não o «se» mas o «como» dos contratos individuais.
(10) Deve ter-se presente que a convenção colectiva não restringe as suas
funções à fixação do salário e das condições de trabalho. Sendo a definição
normativa de salários e de condições de trabalho — a que já se chamou função
legislativa da convenção colectiva — a causa típica clássica da convenção, esta

254 -
regulamentação colectiva tende a subtrair à autonomia dos particu-
lares a estipulação do contrato individual de trabalho e ao império
estadual a sua disciplina: ela torna-se a «lei da profissão», verda-
deiro «direito vivo».

3. A estipulação do contrato individual de trabalho tende a ser


subtraída à autonomia dos particulares em consequência do efeito
normativo da convenção colectiva.
O efeito normativo da convenção colectiva desenvolve-se na sua
aplicação imediata e automática (efeito automático, automatische
Wirkung, ou influência automática, unmitelbare Einwirkung) e na
sua eficácia imperativa (efeito imperativo, zwingende Wirkung),
donde resulta, em princípio, a proibição de derrogar as suas nor-
mas. Nem se compreenderia que fosse de outro modo, pois se se
permitisse a prevalência de uma cláusula do contrato individual de
trabalho que violasse qualquer disposição da convenção colectiva
estaria perdido o benefício da regulamentação colectiva.

3.1. É pela eficácia imediata que a convenção colectiva influen-


cia de forma automática o conteúdo da relação de trabalho — de
forma automática por independente da vontade das partes, isto é,
por independente do prévio acordo e mesmo do simples conhecimento
da existência da convenção colectiva pelo empresário e pelo tra-
balhador.
Todavia, reconhecer efeito imediato ou automático às convenções
colectivas não significa admitir a incorporação das suas cláusulas
no contrato individual de trabalho. O problema de concretizar o modo
como o efeito imediato influencia as relações individuais de trabalho

vai preenchendo novas funções já caracterizadas como «administrativas» e


«jurisdicionais».
Simultaneamente, assiste-se à complexificação da estrutura da convenção
colectiva, particularmente no que toca à multiplicação das instâncias contra-
tuais e à sua articulação.
Não obstante a riqueza fenomenológica que a contratação colectiva tem
vindo a manifestar e é previsível possa ainda exteriorizar, o legislador portu-
guês foi manifestamente parco nas suas previsões. Ele próprio disso teve
consciência, ao referir no preâmbulo do Deoreto-lei 164-A/76, ser «conveniente
estruturar-se um corpo de normas básicas que constituam pontos de referência
para o comportamento das partes interessadas nomeadamente no que toca aos
mecanismos disponíveis para a solução dos conflitos de trabalho». Justifica
a sua parcimónia, invocando, por um lado, «uma atitude geral não intervencio-
nista do Estado» e por outro «as vantagens de que este corpo de normas consti-
tua um suporte relativamente estável perante as variações que resultam da
dinâmica das forças sociais e da evolução das condições económicas do País».
Afigura-se, porém, que mesmo dentro desses parâmetros poderia ter sido mais
ousado nas suas previsões — a previsão e disciplina da contratação articulada,
por exemplo, poderia estimular as partes a adoptarem-na, incrementando, even-
tualmente, o movimento de contratação.

- 255
foi objecto de vasta polémica, sobretudo na Alemanha sob o regime
de Weimar, e obteve da doutrina três respostas: a teoria da incor-
poração, a teoria da combinação automática e a teoria da recepção
provisória.
Segundo a teoria da incorporação as normas colectivas passavam
a integrar o próprio contrato- individual de trabalho e, consequente-
mente, os seus efeitos subsistiriam para lá da cessação da vigência
da convenção colectiva. Semelhante concepção' desconhece a natureza
diferenciada das diversas fontes que definem o estatuto da relação
de trabalho — leis, convenção* colectiva, contrato individual de tra-
balho, etc. E, sendo a convenção colectiva aplicável mesmo quando
os sujeitos da relação individual de trabalho lhe desconhecem o con-
teúdo ou mesmo a existência, não devem as suas cláusulas equi-
parar-se automaticamente ( n ) às cláusulas expressas do contrato indi-
vidual de trabalho, por não poderem adquirir uma essência contratual
individual, que não têm. Nem se diga que a violação das normas da
convenção colectiva pode fundamentar uma acção emergente de con-
trato individual de trabalho. Existe aí situação idêntica à das acções
de contrato individual de trabalho fundamentadas na violação de
quaisquer disposições legais, sendo certo que nunca estas se consi-
deraram incorporadas no contrato' individual de trabalho.
A teoria da recepção provisória aparece como forma mitigada
da teoria da incorporação. Segundo ela, existiria uma incorporação
das cláusulas da convenção colectiva no contrato individual de tra-
balho, mas apenas durante a sua vigência. Ao cessar a vigência
da convenção colectiva, a relação individual de trabalho continuaria
a ser disciplinada pelo contrato individual, sendo expurgada de todas
as disposições que tinham por fonte a convenção colectiva. A seme-
lhante concepção são inteiramente aplicáveis as críticas formuladas
à teoria da incorporação. Além disso, ela deixa ainda por explicar
as sucessivas alterações de natureza das cláusulas das convenções
colectivas: ao serem provisoriamente incorporadas, adquiriam uma
natureza contratual individual e perdiam-na com a cesação da vi-
gência da convenção colectiva, num e noutro dos casos sem se saber
como e porquê.
Por seu lado, a teoria da combinação automática vê na convenção
colectiva uma espécie de «corpo estranho» ao contrato individual de
trabalho. As disposições das convenções colectivas são verdadeiras
e autênticas normas (n.° 4, artigo 58.° da C R . P.), que mantêm, a
sua autonomia relativamente ao contrato individual de trabalho.
E compreende-se que assim seja: as normas não são incorporadas
nas relações jurídicas que disciplinam; actuam nelas através dos
seus efeitos automático e imperativo, mas permanecem-lhes estranhas,

( n ) Nada obsta a que a incorporação seja convencionada pelos sujeitos


da relação individual de trabalho.

256 -
ficam fora delas. Daí que, ao cessar a vigência da convenção colec-
tiva, a relação de trabalho deveria reger-se exclusivamente pelo con-
trato de trabalho.
Os inconvenientes de ordem social que daí resultariam seriam
evidentes. Por isso, no nosso ordenamento jurídico foram instituídos
processos com vista a evitá-los. Por um lado, as convenções colec-
tivas (e as decisões arbitrais) mantêm-se em vigor até serem substi-
tuídas por novos instrumentos de regulamentação colectiva de tra-
balho (n.° 2, artigo 23.°, Decreto-Lei 164-A/76). Não se criam, assim,
espaços vazios em consequência da cessação de vigência — à con-
venção colectiva é assegurada uma autêntica sobrevivência, em ter-
mos mais amplos do que os previstos na legislação alemã (última
alínea do § 4.° da TVG, de 1949) (12), que admite a sobrevivência da
convenção colectiva até à sua substituição por outro acordo, mesmo
que este seja um simples contrato individual (unechte Nachwir-
kung) (13) ou na legislação francesa (art. 132.°-7, do livro I, do Code
du Travail), que admite a sobrevivência da convenção colectiva até
à entrada em vigor de outra que a substitua ou, se isso não suceder,
durante um ano (14).
Por outro lado, a redução das condições de trabalho por novo
instrumento de regulamentação colectiva de trabalho só é viável
desde que neste se refira, em termos expressos, o carácter global-
mente mais favorável relativamente ao instrumento que visa substi-
tuir (n.° 4, art. 4.° do Decreto-Lei 164-A/76). Manteve, assim, o
legislador a expressa consagração do princípio da manutenção de
regalias adquiridas, como peça fundamental que é de uma política
de progresso social (15) (16).

(12) «As disposições da convenção colectiva aplicam-se após a cessação


da convenção e até serem substituídas por outro acordo» (Abmachung).
(13) Na legislação alemã, o efeito imperativo não subsiste para além do
prazo de vigência da convenção. Daí que a doutrina fale de falsa sobrevivência
(unechte Nachwirkung). Continua, porém, a actuar o efeito imediato ou auto-
mático.
(14) «Lorsqu'une convention collective a été dénoncée, elle continue à pro-
duire effet jusqu'à l'entrée em vigueur de la convention destinée à la remplacer
ou, à défaut de la conclusion d'une convention nouvelle, pendant une durée d'un
an, sauf clause ou accord prévoyant une durée plus longue et déterminée à
compter de l'expiration du délai de préavis.
Sans préjudice de l'application des dispositions de l'alinéa précédent, en
cas de mis em cause des accords ou conventions collectives, notamment par
fusion, cession, scission ou changement d'activité, ces accords ou conventions
collectives sont maintenus en vigueur à l'égard des travailleurs antérieurement
bénéficiaires qui sont directement affectés par les mesures susindiquées, jusqu'à
leur remplacement par de nouvelles conventions, ou, à défaut de la conclusion
de celles-ci pendant une durée d'un an à compter de la date d'effet desdites
mesures».
(15) Não devem confundir-se regalias adquiridas e direitos adquiridos.
(16) A redacção do n.° 4 do art. 4.° citado suscita o problema de saber
se uma convenção colectiva pode reduzir as condições de trabalho fixadas por
portaria de regulamentação do trabalho, desde que nela se refira o carácter
globalmente mais favorável.

17 - 257
A eficácia imediata faz-se sentir desde o momento em que a con-
venção colectiva começa a produzir efeitos e até que deixe de vigorar,
quer quanto aos contratos já existentes quer quanto àqueles que vie-
rem a celebrar-se durante a sua vigência e até que esta cesse.
3.2. É pelo efeito imperativo que as normas das convenções
colectivas se impõem aos contratos individuais de trabalho, afas-
tando as cláusulas destes que contrariem aquelas. O nosso legis-
lador consagra o princípio expressamente: «A regulamentação esta-
belecida por qualquer dos modos referidos no artigo 2.° não pode
ser afastada pelos contratos individuais de trabalho/.../» (n.° 1, art. 5.°
do Decreto-Lei 164-A/76). Por isso, as normas colectivas proibitivas
são «normas jurídicas imperativamente anuladoras» e as normas
colectivas preceptivas são «normas jurídicas imperativamente inte-
gradoras». São, pois, em princípio, ineficazes as estipulações indi-
viduais que contrariem o disposto em. convenções colectivas. Todavia,
a nulidade das estipulações individuais contrárias às normas das con-
venções colectivas tem regime particular:
a) trata-se sempre de nulidade parcial que não atinge a tota-
lidade do contrato, mesmo na hipótese de as partes o não terem
querido concluir se tivessem conhecimento da ineficácia da estipu-
lação individual;
b) as estipulações individuais nulas, por virtude do efeito ime-
diato, são automaticamente substituídas pelas cláusulas das conven-
ções colectivas que aquelas tenham violado.
E as cláusulas dos contratos individuais de trabalho que violem
cláusulas de convenções colectivas são ineficazes quer a sua esti-
pulação seja anterior quer posterior à entrada em vigor da convenção
colectiva.
Todavia, a eficácia imperativa tem excepções.
Por um lado, admite-se que as próprias cláusulas da convenção
colectiva possam autorizar a sua derrogação por estipulações indivi-
duais. Neste caso, os sujeitos da relação individual de trabalho reto-
mam a liberdade de estipulação, muito embora apenas no âmbito
estrito demarcado pela própria convenção.
Por outro lado, permite-se a derrogação das normas da convenção
colectiva por estipulações que estabeleçam um tratamento mais favo-
rável para o trabalhador. Na verdade, a convenção colectiva con-
sagra apenas condições mínimas de trabalho para protecção do tra-
balhador, podendo, portanto, essas condições ser melhoradas pelo
contrato individual de trabalho'. O legislador português reconheceu
formalmente este princípio: «A regulamentação/.../ não pode ser
afastada pelos contratos individuais de trabalho, salvo para estabe-
lecer condições mais favoráveis para os trabalhadores» (n.° 1, art. 5.°,
Decreto-Lei 164-A/76).

258 -
3.3. Dotada a convenção colectiva de eficácia imperativa e sendo,
consequentemente, inderrogáveis os seus preceitos, suscita-se o pro-
blema de saber se é lícita a renúncia aos direitos dela emergentes (").
Este problema ganha particular relevância em períodos de crise,
como o que actualmente se atravessa, durante os quais, muitas vezes,
os trabalhadores se vêem colocados perante a alternativa de renun-
ciar a parte dos seus salários ou de ver encerrada a empresa onde
desenvolvem a sua actividade.
Há que distinguir se a renúncia respeita aos chamados direitos
abstractos potenciais ou virtuais ou a direitos concretos, isto é, se o
direito a que se renuncia ainda não ou já se encontra constituído e
integrado na esfera jurídica do trabalhador.
A renúncia ao direito abstracto é uniformemente considerada
nula (18).
Já a doutrina e a jurisprudência se dividem sobre a licitude da
renúncia a direitos concretos, já constituídos. Em França, ela só é
admitida após a cessação do contrato de trabalho. Na Alemanha, só
se admite a renúncia por transacção (Vergleich), aprovada pelas
partes da convenção colectiva (§ 4.°, IV da TVG de 1949) (19). Na
Itália, a renúncia a direito já nascido é simplesmente anulável, no
prazo de três meses a contar da cessação do contrato de trabalho ou
da renúncia se esta lhe for posterior.
Entre nós, o S. T. A. (3.a Secção) decidiu em ambos os sentidos:
a) inicialmente, admitiu a licitude da renúncia ao direito de
crédito já vencido, constituído por dívida de salários — Acórdão
de 18/1/77, no recurso 8 646, in Boletim do Trabalho e Emprego,
2.a série, n.° 4, ano 1977, pág. 541;
b) posteriormente, considerou irrenunciável o direito ao salário
e subsídios de férias e de Natal, não aceitando como válida a sua
renúncia quando efectuada na vigência do contrato de trabalho —
Acórdãos de 4 e 18 de Abril de 1978, nos recursos 8 985 e 9 033,
in Boletim do Trabalho em Emprego, 2.a série, n.° 6, ano 1978,
págs. 1 075 e 1 097, respectivamente.

A posição ultimamente adoptada pela 3.a Secção do S. T. A. é


defensável, pelo menos de jure constituendo. Todavia, merece re-

(") Abstrai-se do problema da licitude da renúncia (unilateral) como forma


de extinção das obrigações. Na verdade, a questão subsiste dado que o nosso
ordenamento actual prevê a remissão. Há pois, de qualquer modo que apurar
se é lícita a renúncia (remissão), concedida e aceite, dos direitos emergentes
da convenção colectiva para os trabalhadores.
(18) Foi sempre neste sentido a orientação da 3. a Secção do S. T. A. Cfr.,
por todos, Acs. de 11/1/77, a Rec. 8 634, BTE, 2.a série, n.° 3/77, pág. 362- de
10/5/77, Rec. 8 741, BTE, 2. série 5/77 pág. 796; de 29/11/77, Rec. 8 782, BTE,
2,a série, 4/78, pág. 639.

- 259
paros de jure constitute Na verdade, se se considera irrenunciável
o direito ao salário e a subsídios de férias e de Natal — não obstante
não existir disposição legal que o declare expressamente, como sucede
com o direito a férias — a renúncia a esses direitos não deveria
admitir-se nem antes nem depois da cessação do contrato de tra-
balho, pois, de outro modo, sempre teremos de concluir que, ao fim
e ao cabo, o direito ao salário é renunciável. Acresce que existem
argumentos de lege constituta que apontam no sentido da admissibili-
dade da renúncia — e são todos aqueles que foram invocados no pri-
meiro dos referidos Acórdãos (19) (20).
É indubitável o interesse do problema em causa. E, dada a
incerteza da jurisprudência — até por não poderem considerar-se
decisivos os argumentos invocados nos últimos Acórdãos — , seria
aconselhável que o próprio legislador clarificasse a questão, tendo
em conta as respostas que o problema já tem merecido de alguns
instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho (21), que apon-
tam para solução semelhante à adoptada pelo legislador da Alemanha
Federal (§ 4, IV, da TVG).

(18) ENNECCERUS-NIPPERDEY - Compêndio de Derecho dei Trabajo,


págs. 362 e segs.
(20) A argumentação expendida é, resumidamente, a seguinte:
a) é princípio geral de direito civil a extinção por renúncia pelo
credor do seu direito de crédito;
b) no direito do trabalho não existe norma que vede ao trabalhador
o direito de renunciar a recepção da soma do crédito, antes se
permite inferir da sua legitimidade através da alínea c) do n.° 1
do art. 21.° e particularmente do art. 97.°, ambos da LCT, aprovada
pelo Deoreto-lei 49 408, tendo ainda em atenção o disposto no
art. 823.°, n.° 1, ai. e) do Cód. Proc. Civil.
Os últimos acórdãos vieram afastar as razões invocadas no primeiro com
os argumentos seguintes:
a) não devem transpôr-se do direito civil para o direito do trabalho
preceitos ou princípios que a este não quadrem, isto é, que não se
coadunem com o carácter «social» que o informa ou inspira;
b) durante a vigência do contrato de trabalho, o trabalhador fica
colocado em situação psicológica próxima do temor reverenciai;
c) a renúncia ao crédito de salários é verdadeira renúncia ao salário
pois que só depois de recebido o salário este entra efectivamente
no seu património e, confundindo^se nele, deixa de ter a qualidade
de salário;
d) ao criar órgãos de fiscalização do cumprimento dos salários míni-
mos, há não só que aceitar que as normas que estabelecem tais
salários são de interesse e ordem pública, não podendo ser afas-
tadas, mas também que a lei não pode resignar-se a ver frustrada
a acção daqueles órgãos de fiscalização por posterior declaração
de renúncia pelos trabalhadores cuja protecção se visou.
(21) Por exemplo, CCT paira empregados de escritório ao serviço de empre-
sas da indústria cerâmica, cl. 54.a.

260 -
4. A convenção colectiva tende a subtrair ao império estadual
a disciplina do contrato individual de trabalho.
Desde início os grupos operários pretenderam ter participação
activa na definição da disciplina das condições de trabalho. Antes
mesmo de se instituir um ordenamento profissional com base con-
tratual, as associações de trabalhadores procuraram impor um regu-
lamento unilateral — a tarifa seria, então, obrigação solidária dos
operários de não aceitarem condições de trabalho diversas daquelas
que o próprio grupo fixou (22). E, como em qualquer ordenamento,
previam-se sanções, de carácter unilateral, como unilateral era então
o regulamento colectivo (23).
Numa fase posterior, a convenção colectiva tornou-se o instru-
mento bilateral ou plurilateral da autodisciplina colectiva das rela-
ções de trabalho. A influência da convenção colectiva ora derivou
a sua fonte de uma disposição legal que prevê a negociação' colec-
tiva, ora da liberdade permitida pelo ordenamento civil ora da sim-
ples prática tolerada. Em qualquer dos casos, mas particularmente
nos dois últimos, surge uma coacção social dos grupos distinta da
coacção do direito estadual, por se concretizar através de meios
directos das associações de classe, que, por eles, actuam uma autên-
tica Selbstexecution (24).
Ultrapassada a crença no equilíbrio espontâneo resultante da
acção dos sujeitos individuais, pensou-se, no entanto, que ele poderia
resultar da acção dos sujeitos colectivos. A contratação colectiva
tornou-se o instrumento de uma política de descentralização institu-
cional do poder normativo: constitui uma alternativa à intervenção
governamental, sendo o poder reconhecido ou cedido às associações
de empresários e de trabalhadores claramente ordenador da socie-
dade (25). Chega-se mesmo a sustentar a distinção entre governo

(22) LEROY — La Coutume Ouvrière, vol. I, pág. 150 e segs.


(23) «Tout patron, qui pour une cause illégitime mettrait un ouvrier à la
porte ou le forcerait à quitter l'atteliar de son gré sera passible du chômage de
son attelier» (estatuto da Fraternité des Corroyeurs Maroquines, de Marse-
lha de 1871).
(24) O contrato colectivo «strebt danach, nicht niir ein Rechsverhaltnis
zwische den Parteien, sondern daniiber hinaus fur alie Tarifbeteiligten eine
besondere Rechtsordnung zu sein, die diirch die Krãfte selbst, die sie erschaffèn,
geschutzt und erhalten werden soil» (SINZHEIMER — Die Idee der Sozialen Sel-
bstbestimmung im Recht, pág. 21).
(25) «This allocation of power and control to the union, in democratic
countries commonly performs two vital political functions. First, it creates cen-
ters of power and instruments of control apart from the state so that the
state does not become unmanageable or dangerously large. Collective bargaining
shortens the reach of central legal control by establishing a separate structure
of industrial government as an alternative to suffocating statismi. /.../ Second,
allocation of power to unions widens and deepens the channels of democratic

- 261
político e governo económico e a admitir que se confie às categorias
profissionais o auto-governo económico (26).
O facto é que actualmente a contratação colectiva é reconhecida
como processo normal e natural de regulamentação das relações de
trabalho. Isto mesmo resulta do artigo 4.° da Convenção da O. I. T.
n.° 98 (27).
Entre nós os n.os 3 e 4 do artigo 58.° da C. R. P. consagram
implicitamente o princípio da reserva de competência — reserva de
convenção colectiva — pois, ao reconhecer às associações sindicais o
direito de contratação colectiva, limitam simultaneamente o próprio
poder do Estado, que deve respeitá-lo e não pode intervir oti inter-
ferir no campo que àquele está reservado. Todavia, essa reserva
de competência é meramente relativa, pois sempre o legislador pode
e deve intervi1: no campo das relações de trabalho, particularmente
quando- não se manifeste a autonomia colectiva e daí resulte carência
de regulamentação de categorias profissionais. A reserva de com-
petência significa, portanto, apenas que o legislador se deve abster
de intervir onde quer que encontre uma auto-tutela de categoria (2B).
5. A convenção colectiva constitui, portanto, verdadeira «lei da
profissão» e tem extraordinária importância económica, social e po-
lítica.
Ela tem relevância à escala micro-económica, não só por força
da fixação de salários mínimos, mas também por poder impor a

expression» (CLYDE W. SUMMERS — Rapport General, in Actes du Cinquième


Congrès International de Droit du Travail e de la Sécurité Sociale, Tome I pág. 44
e segs).
(26) É interessante verificar que semelhantes ideias foram sustentadas por
correntes ideológicas de cariz bem diferenciado: doutrina sindical weimariana
(Wirtschaftsverfassung), austromarxismo e corporativismo. Mais recentemente,
ainda Georges Gurvitch sustentou a ideia de autogoverno das categorias profis-
sionais.
Por outro lado, salienta-se que semelhante concepção aliada à ideia do
Estado como supremo regulador das relações económico-sociais, esteve na base
da concepção objectiva do direito profissional, que teria por objecto as relações
de todos os grupos económicos susceptíveis de autoregulamentação colectiva.
(27) «Des mesures appropriés aux conditions nationales doivent, si néces-
saire, être prises pour encourager et promouvoir le développement et l'utilisa-
tion les plus larges de procédures de négociation volontaire de conventions
collectives entre les employeurs et les organisations d'employeurs, d'une part,
et les organisations de travailleurs, d'autre part, en vue de régler par ce moyen
les conditions d'emploi».
(28) Importa ter presente que o Estado pode impor limites à contratação
colectiva, nomeadamente por motivos de luta contra a inflação. Foi o que
sucedeu, por exemplo, nos Estados Unidos, durante a II Guerra Mundial, subor-
dinando a fixação de salários à War Labor Board; em França, nos termos de
lei de 11 de Dezembro de 1950; na Holanda, pelo decreto de 5 de Outubro
de 1945, que sujeitou as convenções colectivas à aprovação do «Colégio dos
Árbitros», constituído por membros independentes. E é o que sucede presente-
mente entre nós (Decreto-lei 121/78, na sequência de outros diplomas).

262 -
introdução na empresa de inovações tecnológicas ou de novas formas
de organização.
E não são de pequena monta os seus efeitos à escala macroeco-
nómica, nomeadamente no que toca à planificação de rendimentos de
grandes grupos sociais e às repercussões primárias e secundárias na
política de distribuição do rendimento.
Sendo a convenção colectiva a expressão, em dado momento, da
luta dialéctica entre a «vontade de acumular» e a «vontade de con-
sumir», implica ela também uma relação dialéctica entre, por um
lado, condições de trabalho e nível de salários e, por outro lado, a
capacidade económica dos sectores produtivos.
Assim, ao proceder-se à fixação de salários e de condições de
trabalho por meio de convenções colectivas de trabalho não pode
deixar de considerar-se a capacidade de pagamento do sector econó-
mico que se pretende abranger: «Nem os Sindicatos, por poderosos
que sejam, nem o Estado podem, salvo de forma puramente transi-
tória, elevar o poder de compra dos salários nominais acima da capa-
cidade de pagamento da indústria. Se os salários nominais são muito
elevados provocarão a inflação ou o desemprego» (29).
Deste modo, a contabilidade deveria ter relevante papel nas
negociações de salários e de condições de trabalho.
Afigura-se que seria vantajoso estabelecer princípios que, em
cada sector de produção — e a negociação colectiva tende a efec-
tuar-se a nível de ramo de produção — , permitisse o tratamento
contabilístico necessário a extrair conclusões sobre a situação nor-
mal e sobre as tendências duradouras de cada ramo de produção
globalmente considerado. Julga-se que semelhante tratamento con-
tabilístico não deveria limitar-se a fixar as operações ex-post dos
diversos fluxos que integrassem a actividade económica global de
cada ramo de produção, isto é, não deveria limitar-se a sistemas de
contas retrospectivas. Além destas, deveriam existir contas pros-
pectivas com vista a dar, relativamente a cada ramo de produção,
bases sólidas para uma acção futura esclarecida, por forma a pos-
sibilita- que autenticamente e de forma realista se modelasse a con-
juntura.
Por outro lado, a nível microeconómico, os empreendimentos
económicos não podem ser projectados ou transformados abstraindo
das convenções colectivas aplicáveis, elemento essencial que são no
cálculo do custo de um dos factores de produção—o trabalho. E tam-
bém aqui será ainda a contabilidade a fornece" ao gestor, por meio
de contas prospectivas, elaboradas para a hipótese de criação ou de
transformação, os elementos aptos e necessários a uma decisão escla-
recida.

(29) B. I. T. — Les Salaires, pág. 36.

- 263
É, pois, inegável a importância das regras que fixam o âmbito
de aplicação das convenções colectivas de trabalho (30) (31).

II. CÍRCULO DE SUJEIÇÃO À CONVENÇÃO COLECTIVA DE


TRABALHO

6. Não é o legislador quem fixa o âmbito de aplicação da con-


venção colectiva de trabalho (32). A delimitação das entidades pa-
tronais e dos trabalhadores, cujas relações de trabalho são regu-
ladas pela convenção colectiva, é realizada pelas próprias partes
que celebram a convenção (33).
Todavia, o legislador impõe princípios que os outorgantes devem
respeitar ao fixarem o âmbito de aplicação da convenção colectiva.
O legislador define, em abstracto, o quadro (círculo de sujeição
à convenção colectiva) dentro do qual as partes podem, em concreto,
delimitar as categorias de pessoas — entidades patronais e trabalha-

(30) Não deve esquecer-se que a regulamentação colectiva das relações indi-
viduais de trabalho é definida também por outras vias: administrativa (portarias
de regulamentação do trabalho e portarias de extensão) e por decisão arbitral.
Aborda-se aqui apenas o âmbito de aplicação das convenções colectivas de
trabalho, independentemente do seu potencial alargamento através de portaria
de extensão.
(31) A importância da determinação do âmbito de aplicação dos instrumentos
de regulamentação colectiva de trabalho exprime-se também pela frequência
com que o S. T. A. (3.a secção) foi chamado a pronunciar-se sobre casos
concretos.
Cfr., por exemplo e apenas para o primeiro semestre de 1978, B. T. E.,
2.a série, n. cs 2, pág. 297 (PRT para a indústria metalúrgica) e pág. 300 (PRT
para os transportes rodoviários) ; 3, pág. 491 (PRT para os transportes rodoviá-
rios — motoristas ao serviço de empresas de indústria cerâmica) ; 4, pág. 646
e 648 (CCT para construção civil e obras públicas), pág. 656 (CCT para empre-
gados de escritório e caixeiros do comércio do distrito de Viana do Castelo); 6,
pág. 1 087 (CCT da construção civil e obras públicas do sul para empregados de
escritório) e pág. 1092 (PRT para a indústria hoteleira).
(32) Nos artigos 9.° — epígrafe — e 8.°, alínea b) do n.° 1, do Decreto-lei
164-A/76, encontramos a expressão «âmbito de aplicação», que, no entanto, não
temi o mesmo sentido num e noutro dos artigos: no artigo 9.° pretende-se referir
o círculo de pessoas potencialmente sujeitas à convenção colectiva, por subor-
dinadas ao poder normativo dos seus outorgantes; o artigo 8.° refere-se ao
verdadeiro âmbito de aplicação da convenção colectiva — categoria de pessoas,
de entre todas aquelas que poderiam, cair no âmbito de eficácia da convenção,
que, de facto, a ela ficam sujeitas. O primeiro dos conceitos é defenido pela lei,
o segundo é fixado por cada convenção em concreto.
Para evitar confusão de conceitos designa-se o primeiro por círculo de
sujeição à convenção colectiva, reservando-se para o segundo a expressão «âmbito
de aplicação da convenção colectiva».
(33) O legislador francês declara-o expressamente: «Les conventions collecti-
ves déterminent leur champ d'application» (art.° 132-1, al. 4, do Livro I, do Code
du Travail.

264 -
dores — que ficam sujeitas à convenção colectiva de trabalho (âm-
bito de aplicação da convenção colectiva).
O âmbito de aplicação pode ser mais reduzido do que o círculo
de sujeição à convenção colectiva, mas não pode ser mais amplo ( 34 ):
é que o âmbito de aplicação é limitado pelos poderes de represen-
tação das associações sindicais e patronais outorgantes da convenção
colectiva. Assim, a integração no círculo de sujeição à convenção
colectiva constitui condição prévia para que uma pessoa possa ficar
sujeita à respectiva regulamentação de trabalho. Mas para que esta
sujeição se verifique deve simultaneamente essa pessoa integrar-se
no âmbito de aplicação da convenção colectiva.
Qual é o grupo de pessoas que integram o círculo de sujeição a
uma convenção colectiva?

6.1. São, desde logo, as entidades patronais que a subscreverem,


pois, diversamente do que sucede com os trabalhadores (35), as enti-
dades patronais podem celebrar individualmente convenções colec-
tivas de trabalho (36), caso em que a ela ficam sujeitas como seus
signatários.

6.2. São, depois, as entidades patronais inscritas nas associações


patronais signatárias e os trabalhadores ao seu serviço membros
das associações sindicais celebrantes (n.° 1, artigo 10.° do Decreto-
-Lei 164-A/76).

7. O legislador português, na esteira da doutrina e da jurispru-


dência italianas quanto aos chamados contratos colectivos de direito

( 34 ) HUECK-NIPPERDEY — Compêndio de Derecho dei Trabajo, pág. 341.


G. SPYROPOULOS — Le Droit des Conventions Collectives de Travail dans
le pays de la C. E. C. A., pág. 97.
A distinção é paralela à que, na doutrina italiana, contrapõe categoria
sindical e categoria contratual: a categoria contratual — «colectividade de pro-
dutores destinatários da convenção colectiva» — nem sempre se identifica com
a categoria sindical — «colectividade de produtores (dadores de trabalho ou
trabalhadores ) coligados por um mesmo interesse», — sendo certo que uma e
outra divergem sempre que as associações sindicais e patronais celebrem uma
convenção com eficácia limitada a parte dos seus associados.
DANILO GUERRIERI — La Categoria nell'ordinamento giuridico dei lavoro.
UNIVERSITA Dl FIRENZE (Istituto di Diritto dei Lavoro) — La Categoria
e la Contrattazione Collettiva.
(35) Actualmente, entre nós, os trabalhadores não podem celebrar directa-
mente convenções colectivas de trabalho, pois se conferiu às associações sindicais
registadas o monopólio da sua representação na outorga de convenções colectivas
(alínea a), n.° 1 e n.° 2, art. 6.° do Decreto-lei 164-A/76).
(36) Na terminologia corrente, essas convenções colectivas de trabalho
continuam a designar-se por acordos colectivos de trabalho, como no período
corporativo.

- 265
comum (37) e do legislador alemão, limitou o círculo de sujeição à
convenção colectiva exclusivamente aos inscritos nas associações
sindicais e patronais outorgantes.
Afastou-se, deste modo, a possibilidade de «extensão automá-
tica» (38), como sucede em França (39), na Bélgica (40) ou no Luxem-
burgo (41) e como se prevê na Recomendação da O. I. T. n.° 91 (42).
Mas não poderão as partes clausular a extensão da convenção
colectiva?
Desde logo poderia pôr-se em causa a existência de um interesse
legítimo das associações signatárias em alargar o âmbito de aplicação
de uma convenção colectiva a quem nelas se não encontre inscrito.
Na verdade, dir-se-á, as associações sindicais e patronais existem
para tutelar interesses dos inscritos. Isto é inegável, mas esquece a
correlação entre os interesses dos inscritos, os das associações e os
dos terceiros não inscritos mas componentes das categorias repre-
sentadas por sindicatos e associações patronais. E há motivos que
determinam que as associações não possam abstrair dos interesses
dos não inscritos. Com efeito, raramente a associação sindical e
patronal 'representará a respectiva categoria no seu todo e, por isso,
em regra a sua acção colectiva vê os seus efeitos circunscritos aos
associados. Daí resulta uma desigualdade jurídica entre os traba-
^ (37) O artigo 39.° da Constituição italiana prevê contratos colectivos com
eficácia geral: «I sindacati registrati hanno personalità giuridica. Possono,
rappresentati unitariamente in proporzione dei Ioro iscriti, stipulare contratti di
lavoro con efficacia obbligatoria per tutti gli appartenenti alie catégorie alie
quali il contratto si referiste».
Só que, dadas as dificuldades práticas em obter a representação unitária,
semelhante preceito acabou por não ter real aplicação.
(38) Não deve confuodir-se a «extensão automática», que opera por força
da lei, comi a verdadeira extensão — também admitida entre nós, — que resulta
da actuação administrativa.
(39) Art. 131.°, al. e) do livro I do Conde áu Travail: «Lorque l'employeur
est lié par les clauses de la convention collective de travail, ces clauses s'appli-
quent aux contrats de travail conclus avec lui».
A convenção colectiva é, assim, aplicável a todos os trabalhadores ao serviço
da entidade patronal sujeita à convenção colectiva.
(40) Artigos 3.°, ai. 3 da lei de 10 de Março de 1900, modificada pela lei
de 4 de Março de 1954 e art. 5.°, al. 2 da loi de 7 de Agosto de 1922, modificada
pela lei de 11 de Março de 1954: «Si aucun accord paritaire rendu obbligatoire
par arrêté royale ne règle la matière, les conventions collectives et les accords
conclus au sein des commissions paritaires /.../ suppléent au silence des parties».
Deste modo, as convenções colectivas constituem normas supletivas dos
contratos individuais de trabalho, mesmo para aqueles — entidades patronais
ou trabalhadores — que não estejam inscritos nas associações signatárias.
(41) Por arrêté grand ducal de 1945, determinou-se a aplicação das con-
venções colectivas nas empresas cujos empresários tivessem aderido individual-
mente ou estivessem: inscritos em associações outorgantes e a todos os traba-
lhadores ao seu serviço mesmo quando não inscritos.
(42) «Les dispositions d'urne convention collective devraint être applicables
à tous les travaileurs des catégories intéressés employés dans les établissements *
visés par la convention collective, à moins que la convention collective en ques-
tion ne prévoie expressément le contraire» (n.° 4 da Recomendação).

266 -
lhadores que podem fazer valer as normas emergentes da contra-
tação colectiva e aqueles outros que dessas normas não podem socor-
rer-se na estipulação do contrato individual de trabalho. Esta desi-
gualdade cria dois mercados de trabalho: Um para o qual releva
o contrato colectivo e no qual os salários e condições de trabalho
são mais onerosos e outro onde ele não tem aplicação. A existência
desses dois mercados contraria os interesses dos associados das
associações outorgantes da convenção colectiva: quanto aos traba-
lhadores, porque os empresários são tentados a criar obstáculos à
difusão do sindicato, a não admitir trabalhadores associados ou, em
» hipótese extrema, a despedi-los para admitirem não sindicalizados,
em condições mais desfavoráveis para estes; quanto aos empresá-
rios, porque vêem agravada a concorrência interna do sector, em
consequência de os não filiados poderem dispor de força de trabalho
contra o pagamento de salários mais baixos.
Assim, os interesses dos inscritos podem ser afectados pelo facto
de a convenção colectiva não ser aplicável aos não inscritos. As
associações signatárias têm, deste modo, um interesse egoísta e não
altruísta em ver alargado o âmbito de aplicação das convenções
colectivas aos não inscritos. Por parte das associações sindicais
acrescem outros interesses a reclamarem o alargamento da eficácia
das convenções colectivas: a estratégia e a vocação ideológica.

7.1. Pretendeu-se já que o problema poderia obter solução atra-


vés da própria convenção colectiva: por uma cláusula vincular-se-
-iam as entidades patronais a dar igual tratamento a todos os traba-
lhadores, quer inscritos quer não inscritos nas associações sindicais
outorgantes (43).
Este entendimento é susceptível de críticas: não dá resposta
integral às necessidades que reclamam a extensão e não se compa-
tibiliza com o nosso sistema legal de contratação colectiva. Com
efeito, assegura apenas uma extensão parcial, pois continuariam a
não ser abrangidos pela convenção colectiva as relações de trabalho
de que fossem sujeitos entidades patronais não inscritas. Todavia,
embora de acção limitada, semelhante extensão sempre teria algum
efeito útil. Mas — e fundamentalmente — não pode conceber-se a
extensão pelas partes do círculo de sujeição à convenção colectiva,
pois o legislador definiu, sem admitir excepções, a limitação da efi-
cácia da convenção a certa categoria de pessoas (art. 9.° do Decreto
-Lei 164-A/76), sendo certo que o tratamento desigual resultante para
• os inscritos e os não inscritos não é arbitrário, por ter diverso fun-
damento (44).

(43) MAZZONI, in La Categoria e la Contrattazione Collettiva, pág. 214.


» (44) G. SPYROPOULOS — Le Droit des Conventions Collectives dans les pays
de la C.E.C.A., pág. 97.
HUECK-NIPPERDEY — Compendio de Derecho dei Trabajo, págs. 341 e 342.

- 267
Na prática, perante a impossibilidade de clausularem a extensão,
por vezes, os signatários de convenções colectivas têm assumido a
recíproca obrigação de requererem conjuntamente ao Ministério do
Trabalho a extensão da convenção colectiva (45).

8. A concepção liberal e contratualista da regulamentação colec-


tiva de trabalho parece ainda prevalecer no nosso sistema legal. No
entanto, sofre certos recuos: a regulamentação estabelecida por con-
venção colectiva não pode ser afastada por contratos individuais de
trabalho, salvo para estabelecer condições mais favoráveis para os
trabalhadores (n.° 1, artigo 5.° do Decreto-Lei 164-A/76); as enti-
dades patronais inscritas em associações patronais, no início de um
processo de contratação colectiva, ficarão vinculadas à convenção ou
decisão arbitral resultante do referido processo mesmo que deixem
de ser membros da associação (n.° 2, art. 9.°, cit. Decreto-Lei); em
caso de cessão da empresa, o cessionário deverá observar, até ao
termo do prazo de vigência, o instrumento de regulamentação colec-
tiva que era aplicável ao cedente (n. c 3, art. 9.° citado).

8.1. O princípio consagrado pelo n.° 2 do artigo 9.° do Decreto-


Lei 164-A/76 constitui profunda inovação.
Esta regra ultrapassa largamente a concepção liberal da con-
venção colectiva, pois marca com uma «qualidade indelével» as enti-
dades patronais logo no início do processo de negociação, dando à
convenção colectiva maior estabilidade e assegurando maior unifor-
mização das condições de trabalho.
Fica, assim, muito pa~a trás a estreita ligação entre as quali-
dades de membro da associação outorgante e de sujeito da convenção
colectiva que as antigas legislações (lei francesa de 1919, lei holan-
desa de 1907, lei alemã de 1918) fixavam, em termos de ser possível
a fuga à aplicação da convenção colectiva, em qualquer momento,
através da demissão da associação signatária.
A inovação do legisladoí- português, afigura-se constituir um ilo-
gismo do sistema. Na verdade, o aspecto contratual da convenção
colectiva é acentuado: as associações sindicais e patronais, ao cele-
brarem a convenção, agem em representação dos seus associados,
a qual estes lhes conferem pela inscrição e podem revogar pela
demissão. Até por isso se compreende que se tenha insistido na
consulta pelas associações aos trabalhadores e às entidades patro-
nais: os representantes devem conhecer a vontade dos seus repre-
sentados, a fim de por ela moldarem o negócio que vão celebrar.
Na lógica do sistema, deveria impor-se ainda às associações, para
além da consulta, que, antes de firmarem a convenção, informassem

C5) Por exemplo, CCT celebrado entre ANCAVE e o Sindicato dos Traba-
lhadores em Carnes dos Distritos de Lisboa e Setúbal (n.° 2 da cl. 0 l.°).

268
os seus associados do respectivo conteúdo, a fim de possibilitarem
a estes subtraírem-se à sua aplicação através da demissão, anterior
à outorga, se a convenção não merecesse a sua concordância.
Afigura-se que seria tecnicamente mais correcto que apenas
ficassem vinculados à convenção colectiva as entidades patronais
inscritas em associações patronais signatárias no momento da assi-
natura da convenção. De resto, é esta a solução adoptada na gene-
ralidade dos países da Europa Ocidental.

9. O círculo de sujeição à convenção colectiva abrange todos


os inscritos nas associações outorgantes, quer a sua incrição seja
anterior quer posterior à celebração da convenção, mas neste último
caso a aplicação só tem lugar a partir do momento da inscrição e do
ingresso real (46).
Por outro lado, ficarão abrangidos no círculo de sujeição as
pessoas — entidades patronais e trabalhadores — inscritas em asso-
ciações primárias filiadas em uniões ou federações subscritoras da
convenção, desde que estas tenham outorgado em representação da-
queles.
Verifica-se, assim, que é pressuposto da aplicação de uma con-
venção colectiva a inscrição em sindicato ou associação patronal
signatários ou representados na outorga da convenção colectiva.
A inscrição e a consequente aquisição da qualidade de sócio das
associações outorgantes são problema do< direito interno associativo.
Mas para que a inscrição determine a inclusão do inscrito no círculo
de sujeição à convenção colectiva, necessário se torna que ela seja
válida (47) (48).
Já se sustentou que a pessoa tem o direito de se inscrever em
associação sindical ou patronal constituída para a tutela dos inte-
resses de todos quantos exerçam certa actividade mesmo que se
dedique a actividade diversa (49).

(46) A inscrição, pactuada comi efeitos retroactivos, em associação não


signatária combinada com a demissão igualmente com efeitos retroactivos de
associação outorgante, constitui tentativa vulgarizada de evasão às normas da
convenção colectiva. Cfr. DESPAX — Conventions Collectives, pág. 283.
Entre nós o n.° 2 do art.° 9.° do Decreto-lei 164-A/76 parece constituir
obstáculo bastante a esse tipo de fuga. Só fica aberto um caminho de evasão:
a demissão anterior ao início do processo de negociação.
(47) Vedado o recurso da demissão como forma de evasão às normas da
convenção colectiva passou o debate judiciário a centrar-se na validade da filia-
ção sindical ou na concorrência de convenções colectivas, emergente da plurali-
dade de inscrições do empresário. Cfr. DESPAX — op. cit.
(48) A preocupação de aumentar os efectivos leva muitas vezes, à admissão
de associados cuja representação não cabe ao sindicato ou à associação patronal
onde requerem a sua inscrição.
(49) NAPOLETANO — Prima incertezza nella aplicazione pratica delia norme
delegate sui tratamenti economici e normativi dei lavoratori, in Vir. econ., 1961,
págs. 563 e 564;

- 269
Semelhante doutrina é inaceitável. De facto e decisivamente,
o nosso ordenamento jurídico não é mudo quanto às possibilidades
de escolha no que toca à inscrição em associações sindicais ou patro-
nais. Assim, o trabalhador tem o direito de se inscrever «no sindi-
cato que na área da sua actividade represente a categoria respectiva»
(n.° 1, art. 16.° do Decreto-lei 215-B/75 — Lei Sindical), sendo certo
que não pode inscrever-se, «a título da mesma profissão ou activi-
dade» em sindicatos diferentes (n.° 2, art. citado). Por seu lado,
também a entidade patronal se pode inscrever em associação patronal
que «na área da sua actividade represente a respectiva categoria»
(n.° 2, art. 10.° do Decreto-lei 215-C/75 — Lei das Associações Patro-
nais). Mas, mesmo que o ordenamento fosse omisso, sempre haveria
que chegar-se a essa conclusão: a inscrição em sindicato ou asso-
ciação patronal não representativos da categoria do candidato a
sócio não tem sentido e deveria ser rejeitada pela respectiva
associação (5").
A validade da inscrição depende, pois, da coincidência não só
entre a actividade do inscrito e a da categoria representada pela asso-
ciação, mas também entre a área onde aquele a desenvolve e
aquela em que a associação exerce jurisdição.
Sendo a inscrição em associação signatária da convenção colectiva
pressuposto da sua aplicação, em bom rigor cabe a quem a invoca
alegar e provar a sua própria inscrição e da parte contrária nas
associações signatárias. Este princípio não é mais que consequência
das regras gerais sobre o ónus da prova, sendo certo que não existe
disposição especial que afaste o preceito geral.

10. Podem ainda vir a ficar sujeitos à regulamentação colectiva


das relações individuais de trabalho fixada por convenção colectiva:
a) Os inscritos em associações patronais ou sindicais e as enti-
dades patronais que a ela hajam aderido (art. 17.° do Decreto-lei
164-A/76) ;
b) As entidades patronais e os trabalhadores do mesmo sector
económico e profissional regulado, nos termos em que for determi-

PERA — Contratto di lavoro e variazione neU'inquadramento sindacale deli'


imprenditore, in Foro italiano, 1959, pág. 9q: «il singolo puó aderire a questo
o a quel sindacato in, tutta liberta, essendo l'ordinnamento del tutto mutto in
ordine ai possibili criteri di questa scelta».
(5°) BALZARINI — Le associazioni sindicali di fatto e Finteresse di cate-
goria nel giudizio avanti il consiglio di Stato.
Aí explica: «Gli iscritti ad una data associazioni sindacale vengono in
considerazione e qunidi nella rilevanze giuridica, non semplicemente quali soei
ma anche, ed essenzialmente quali appartenenti a quella determinata categoria
professionale almeno sempre e fino a quando le associazione professionale saranno
caratterizata dalFessere sindacati di categoria».

270 -
nada a sua extensão da convenção colectiva (art. 20.° do Decreto-
-lei 164-A/76).
Estes casos, porém, não integram já o círculo de sujeição à con-
venção colectiva de trabalho. A sua aplicação tem aqui já outro
fundamento: ou uma nova manifestação de autonomia colectiva
(adesão) ou um acto genérico da Administração (portaria de
extensão).

III. ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO COLECTIVA

11. Referiu-se já que são as parte quem, dentro dos seus poderes
de representação, fixa o âmbito de aplicação da convenção colectiva.
Não podem as partes ampliar o círculo de sujeição à convenção
colectiva, mas podem reduzi-lo.
Não é necessário que os destinatários da regulamentação colectiva
das relações individuais de trabalho constituam uma série aberta,
podendo ser eles individualizados concretamente.
Sustentou-se outrora que só existiria convenção colectiva quando
os seus destinatários constituíssem uma série (infinita), uma massa
flutuante de sujeitos indeterminados e indetermináveis. Não existem,
porém, razões válidas para deixa: de considerar como colectivos
os negócios que regulamentem condições de trabalho de destina-
tários determinados concretamente. Importa sim que esses negócios
não constituam fonte imediata de relações individuais de trabalho,
que não se proponham determinar o «se» mas o «como» da relação
de trabalho.
Na verdade, a determinação dos destinatários nem exclui o requi-
sito da abstracção nem o da generalidade. Não exclui a abstracção
porque esta consiste na natureza de volição preliminar, precedente
e reguladora de uma futura volição concreta. E o certo é que,
conhecidos ou desconhecidos os destinatários da convenção colectiva,
a sua causa — fixação prévia do conteúdo mínimo de uma pluralidade
de sucessivos contratos de trabalho — mantém-se inalterável. Não
exclui a generalidade, cuja essência se traduz em a norma se
dirigir a todos em geral e a ninguém em particular, até porque
generalidade não significa universalidade.
12. A definição do âmbito de aplicação da convenção colectiva
é assunto remetido à autonomia negocial das partes.
O âmbito de aplicação da convenção colectiva é delimitado, desde
logo, pela demarcação prévia das empresas abrangidas, de tal modo
que, no que toca aos trabalhadores, só são abrangidos aqueles que
se encontrem ao serviço dessas empresas.

12.1. E como se definem as empresas integradas no âmbito de


aplicação da convenção colectiva? Utilizam-se processos diversos.

- 271
É muito frequente, na prática, a utilização de um critério mera-
mente formal — o da inscrição em certa ou certas associações patro-
nais, independentemente da actividade desenvolvida (desde que repre-
sentada pela associação, entenda-se). É o que sucede, por exemplo,
com a convenção celebrada entre a Associação dos Industriais de
Cortiça do Norte e a Federação Regional do Norte dos Sindicatos
dos Trabalhadores de Escritório (in B. T. E., l. a série, n.° 2, de 1978,
pág. 159), com a convenção celebrada entre a Associação Portuguesa
de Alimentos Compostos para Animais e o Sindicato dos Trabalha-
dores Técnicos de Vendas (in B. T. E., 1." série, n.° 2, de 1978,
pág. 174). A redacção da cláusula típica que fixa o âmbito de apli- *
cação da convenção colectiva nestes casos é do seguinte teor:
«O presente contrato colectivo de trabalho obriga, por um lado, as
empresas representadas pela Associação Patronal... e, por outro
lado, os trabalhadores ao seu serviço representados pelo Sindicato...»
Semelhante critério é, de facto, meramente formal pois o pluralismo
das associações patronais e a liberdade de inscrição múltipla em
todas aquelas que representam a actividade da empresa, possibilita
a inscrição numa ou noutra associação ou simultaneamente em
várias ao livre arbítrio do interessado, o que pode concretizar-se
em numerosos problemas de concorrência ou de conflito de conven-
ções colectivas aplicáveis.
Outras vezes procede-se a uma enumeração taxativa das enti-
dades patronais destinatárias. Estas convenções são ainda muito
vulgarmente designadas por acordos colectivos de trabalho. É o que
sucede com a convenção celebrada entre o Sindicato dos Estivadores
e Trabalhadores do Porto de Aveiro e várias empresas de cargas e
descargas na área geográfica do porto de Aveiro, cujas entidades
patronais destinatárias são taxativamente enumeradas (in B. T. E.,
l. a série, n.° 8, de 1978, pág. 714). A cláusula definidora do âmbito
tem a seguinte redacção: «Este Acordo colectivo de trabalho obriga,
por um lado, os trabalhadores representados pelo Sindicato dos Esti-
vadores e Trabalhadores do Porto de Aveiro e, por outro lado, as
empresas de navegação e de pesca ou outras que exerçam a sua
actividade de cargas e descargas, estiva ou desestiva, em terra ou
a bordo, signatárias do presente acordo».
Outras vezes ainda, o âmbito de aplicação da convenção colectiva
é definido em função da actividade das empresas representadas pela
associação patronal outorgante. Na verdade, existem associações
com poder de representação bastante vasto e que, por isso, podem
celebrar convenções em representação quer de todas as empresas
suas filiadas quer apenas de algumas delas. Ora, quando pretendem
vincular apenas algumas das empresas que representam delimi-
tam-nas, nomeadamente através da indicação da actividade por elas
desenvolvida. É o que sucede com a convenção colectiva celebrada
entre a Associação Portuguesa dos Industriais de Cerâmica de Cons-

272 -
trução e a Associação Nacional dos Industriais de Barro Vermelho,
cuja cláusula 1." estipula:

«Este contrato obriga:

a) Por um lado, todas as empresas que se dedicam à actividade


da cerâmica de barro vermelho, representadas pelas associações
patronais signatárias;
b) Todos os trabalhadores ao serviço das mesmas empresas
representados pelos sindicatos signatários».
Pode ainda o âmbito ser definido através de outros critérios e
nomeadamente em função de sistemas ou métodos de produção1, da
forma legal ou da dimensão das empresas.

12.2. Por seu lado, quanto aos trabalhadores, os destinatários


são delimitados através da definição das profissões abrangidas (51).
Importa aqui um princípio fundamental: a profissão deve ser
definida pela actividade efectivamente desenvolvida e não por uma
classificação arbitrariamente convencionada ou fixada unilateral-
mente. Na verdade, existe recíproca influência entre categoria
profissional e actividade desenvolvida:

a) Por um lado, em princípio, a actividade do trabalhador deve


corresponder à categoria para que foi contratado (52) ;
b) Por outro lado, o exercício normal e não meramente transi-
tório de certa actividade determina a obrigação de atribuir ao
trabalhador a categoria que lhe corresponda segundo as respectivas
definições consagradas na convenção colectiva.
Devem ser excluídos do âmbito de aplicação da convenção
colectiva os trabalhadores cujas actividades sejam inerentes a cate-
gorias para que as partes não quiseram convencionar aquela con-
creta regulamentação colectiva, não sendo de admitir que os julga-
dores possam contribuir com quaisquer «retoques» para a delimitação
do âmbito acordado. Com efeito, caindo a definição do âmbito
plenamente no campo da autonomia colectiva, a actuação do órgão
jurisdicional deve circunscrever-se a uma simples actividade inter-
pretativa dirigida ao apuramento da vontade dos contraentes quanto
àquela definição.

(51) Aliás, actualmente é obrigatório não só que da convenção colectiva


conste a classificação das profissões abrangidas mas também a integração delas
em quadras de níveis de qualificação (n.° 2, art. 11.° do Decreto-lei 121/78,
de 2 de Junho).
(52) Diz-se em princípio pois admitem-se derrogações ao princípio geral por
parte da entidade patronal e verificados que sejam determinados requisitos,
podendo, portanto, a prestação de trabalho acordada ser objecto de variação
(jus variandi), como se prevê no art. 22.° da LCf-

18 - 273
Finalmente, importa salientar que a convenção colectiva apenas
regula aquelas relações de trabalho de que ambos os seus sujeitos
se encontrem inscritos nas associações signatárias, isto é, se integrem
no círculo de sujeição à convenção colectiva e, simultaneamente, se
encontrem abrangidos pelo âmbito de aplicação da convenção
colectiva.
Na verdade, os destinatários da convenção colectiva são-no em
função da sua pertença às categorias ou subcategorias previstas
mas não enquanto tais, antes enquanto inscritos nas associações
signatárias e enquanto sujeitos de uma relação de trabalho de que
a. parte contrária se encontre igualmente inscrita em associação
outorgante.

ASSIM, EM CONCLUSÃO

1. A convenção colectiva de trabalho tende a subtrair à auto-


nomia dos particulares a estipulação do contrato individual de
trabalho, por força do seu efeito normativo, que se desenvolve na
sua aplicação1 imediata e automática e na eficácia imperativa e se
traduz na proibição, em princípio, de derrogar as suas normas.
2. O efeito automático não se concretiza na incorporação das
cláusulas da convenção colectiva nos contratos individuais de traba-
lho: as normas colectivas concorrem cem outras fontes para a
definição do estatuto da relação de trabalho, conservando a sua
autonomia relativamente ao contrato de trabalho.
3. Para evitar os inconvenientes de ordem social que resultariam
da caducidade da convenção colectiva, o ordenamento estadual
assegura-lhe autêntica sobrevivência, mantendo a sua vigência até
ser substituída por outro instrumento de regulamentação colectiva
de trabalho.
4. Por outro lado, o ordenamento estadual manteve a consa-
gração expressa do princípio da manutenção de regalias adquiridas.
5. Pelo efeito imperativo, as normas colectivas proibitivas e
preceptivas são «normas jurídicas imperativamente anuladoras»
e «normas jurídicas imperativamente integradoras», respectivamente.
6. A convenção colectiva de trabalho, como instrumento de
autodisciplina colectiva das relações de trabalho, tende a subtrair
ao império estadual a disciplina do contrato individual de trabalho.
7. O nosso ordenamento- estadual consagra o princípio da reserva
de competência, devendo o legislador abster-se, consequentemente,
de intervir onde quer que encontre uma autotutela de categoria.
8. A convenção colectiva é expressão, em dado momento, da luta
dialéctica entre a «vontade de acumular» e a «vontade de consumir».

274 -
9. A contabilidade deveria estudar a elaboração de contas
retrospectivas e prospectivas que possibilitassem uma negociação
colectiva realista.
10. Os empreendimentos económicos não devem ser projectados
ou transformados abstraindo das convenções colectivas aplicáveis,
pois estas são elemento essencial no cálculo de custo de um dos
factores de produção — o trabalho.
11. Assim, a determinação do âmbito de aplicação das conven-
ções colectivas é problema prévio e subjacente à decisão económica,
sendo certo, de resto, que as convenções colectivas facilitam
o esforço de previsão.
12. O âmbito de aplicação das convenções colectivas é fixado
pelas próprias partes, dentro dos limites do círculo de sujeição à
convenção colectiva — definido por lei, — o qual elas podem reduzir,
mas nunca ampliar.
13. O círculo de sujeição à convenção colectiva foi limitado pelo
legislador português aos seus outorgantes e aos representados pelas
associações signatárias.
14. O ordenamento português actual não esgotou as possibili-
dades de «extensão» da regulamentação colectiva convencional por
não prever qualquer forma de «extensão automática».
15. A inscrição nas associações sindicais e patronais outorgantes
é condição necessária mas não suficiente para a inclusão no círculo
de sujeição à convenção colectiva de trabalho: importa ainda que
a inscrição seja válida por representar a associação a categoria do
inscrito na respectiva área.
16. A demissão da entidade patronal da respectiva associação,
após o início do processo de negociação, não a subtrai à sujeição à
convenção colectiva.
17. A quem invoca em juízo a aplicação de uma convenção
colectiva de trabalho incumbe alegar e provar a sua inscrição e a
da parte contrária nas associações sindicais e patronais dela outor-
gantes.
18. O âmbito de aplicação da convenção colectiva é definido
pela demarcação prévia das entidades patronais.
19. Os critérios na prática utilizados para definição das enti-
dades patronais abrangidas pela convenção colectiva de trabalho são:
a) O da inscrição em certas associações patronais;
b) O da enumeração taxativa;
c) O da actividade desenvolvida.

20. Os trabalhadores abrangidos pela convenção colectiva de


trabalho são os que, trabalhando para entidades patronais sujeitas
à convenção colectiva, exerçam actividade correspondente a cate-
goria profissional nela prevista e estejam inscritos na associação
sindical outorgante.

- 275
O Balanço Social — Nova Peça Contabilística
Por Amílcar Amorim

1. CONTABILIDADE TRADICIONAL E CONTABILIDADE SOCIE-


TAL
A Contabilidade tem sido e é mais ou menos por toda a parte,
quer a Leste quer a Ocidente, um método de registo das varia-
ções de valor do património das empresas. Elabora balanços e
contas de exploração que traduzem essencialmente fluxos econó-
micos e de relação jurídica. Por isso Garnier lhe chamou a
«álgebra do direito».
Nos nossos dias, porém, tal contabilidade «stricto sensu»
começa a contestar-se.
Na verdade é curioso salientar que se contabilizam rigorosa-
mente os stocks, por exemplo, um prato partido importado de
algures e esquece-se de registar a morte de um trabalhador no
seu trajecto para a fábrica!
Outras insuficiências podíamos referir.
Tomemos o exemplo da indústria automóvel:
— A produção em muitos casos conduz à extinção de recursos
raros: petróleo, carvão, minérios.
— Esforços físicos e nervosos exigidos ao pessoal, ruídos,
poeiras, inalação de vapores nocivos, acidentes de tra-
balho.
— Proletariado urbano, às vezes de diferentes etnias e com
dificuldades de integração.
— Infra-estruturas necessárias que pesam nos orçamentos do
Estado, estradas, pontes, meios de sinalização.
— Por sua vez a abertura de estradas obriga a expropria-
ções, abre clareiras nas florestas e altera assim o ambiente.
— Os gases rejeitados poluem a atmosfera.

— 277
— O automóvel envia ao hospital ou ao cemitério número ele-
vado de vítimas.
— Obriga a despesas consideráveis: seguro, polícia, bom-
beiros.

Tomemos outro exemplo: — a fabricação de papel:

— Destrói as florestas.
— Consome água.
— É responsável por uma importante poluição aquática.

Pelos exemplos dados nos poderemos aperceber das insufi-


ciências da contabilidade em uso porquanto a maior parte destes
fluxos não são contabilizados.
Conscientes destas realidades, os estudiosos estão mobilizando
as instituições, os políticos e os governos para se consagrarem à
modificação do que lhes parece uma insuficiência dos métodos de
registo tradicionais. Essencialmente, segundo eles, a contabili-
dade não contempla a responsabilidade social das empresas.
Este aspecto das empresas cada dia mais relevante, abrange
as relações com a comunidade, as relações com os consumidores,
a poluição, as embalagens, relações com os investidores e
accionistas e também o ambiente físico que a empresa utiliza,
as condições de trabalho que proporciona, os grupos minoritários
que emprega, as estruturas organizacionais e o estilo de direcção
que pratica, as comunicações que utiliza, a qualidade das rela-
ções sociais entre os colaboradores, os níveis de instrução e de
formação que proporciona aos seus trabalhadores, etc., etc.
O papel social da empresa tem-se alargado progressivamente.
A legislação social tem vindo a impor esse alargamento como
resposta às aspirações das massas trabalhadoras e também das
pessoas em geral cada vez mais sensibilizadas para a «qualidade
de vida»:
Poderemos dizer que o papel social da empresa (no nosso
país e mais ainda nos países altamente industrializados) tem
vindo a institucionalizar-se à medida que a legislação impõe a
segurança social, abonos de família, seguros de acidentes, férias
pagas, manutenção de gabinetes de medicina no trabalho, pen-
sões complementares, manutenção de creches, tratamento de
efluentes, luta contra a poluição, construção de bairros sociais,
etc., etc.
Podemos pois concluir que a empresa dos nossos dias mesmo
no mundo capitalista já não tem unicamente por objecto a pro-
dução e a procura de um lucro mas também, paralelamente,
o bem-estar dos trabalhadores e a melhoria das suas condições
de existência.

278 -
Verificamos assim que os domínios de acção da empresa
moderna para além do domínio tradicional de obtenção de lucro
desenvolvendo para tal a conquista de uma parte do mercado,
motivando, aumentando a produtividade, obtendo recursos finan-
ceiros e físicos e promovendo a eficácia dos dirigentes e dos
trabalhadores vem juntar-se agora um outro domínio não menos
importante, que é o da «responsabilidade social».
Esta responsabilidade, por sua vez, vai-se igualmente alar-
gando. A princípio restrita ao ambiente interno (ambiente físico,
condições de trabalho, grupos minoritários de trabalhadores, estilo
de direcção, tipo de relações sociais, formação, higiene e pre-
venção de acidentes, etc.) vê-se hoje alargada ao ambiente
externo, pelo que as empresas vêem-se responsabilizadas também
pela poluição que produzem, embalagens que lançam, nocividades
dos fabricos, relações com a comunidade, com os consumidores,
investidores e accionistas, etc. Assim é que por exemplo nos
EUA as empresas são obrigadas a combater a poluição aquática
utilizando para já, a tecnologia «possível» e daqui até 1980 a
melhor tecnologia «existente».
Também perto de nós a Fábrica de Celulose de Cacia como
consequência de decisões motivadas tem um plano de combate
à poluição aérea e fluvial, com vista à redução efectiva do
potencial poluente das instalações que lhe vai custar 350 000 con-
tos repartidos ao longo de um programa escalonado de 6 anos 0 ) .
Desenvolvem-se, por isso, esforços no sentido de contabilizar
também a responsabilidade social das empresas. É que «as
empresas já não podem ater-se, exclusivamente às suas rela-
ções económicas com a sociedade. As suas práticas tenderão
a ser analisadas mais em termos de eficiência social do que de
eficiência económica» ( 2 ).
Neste sentido poderíamos citar a decisão do Instituto Ame-
ricano de Contabilistas Públicos que nomeou recentemente uma
comissão para favorecer o desenvolvimento «de normas e de
técnicas visando medi", registar, expor e controlar as realizações
sociais».
Também a General Motors criou um órgão a que chamou
Comissão de Política Pública com objectivo idêntico.
A mesma preocupação se desprende da recente «International
Management Conference» em Tóquio, em que foi debatida a
publicação de balanços sociais à semelhança dos balanços finan-
ceiros habituais, indicando nas mesmas colunas de activo e
passivo os valores correspondentes às realizações positivas (habi-
tação para trabalhadores, pensões complementares, férias pagas,
formação, etc.) de uma parte; e de outra, os acontecimentos
negativos (horas perdidas por ausências do trabalho, greves,
acidentes de trabalho, grau de poluição produzida, etc.).

- 279
O famoso Relatório Sudreau de que falaremos mais adiante
é disso também um exemplo bem conhecido.
A nova Contabilidade a que alguns chamam Contabilidade
Social, outros Contabilidade Sócio-económica, outros ainda Conta-
bilidade Societal, teria assim por objecto, medir, somar algebri-
camente o conjunto de «utilidades» e «inutilidades» sociais para
saber se dada empresa oferece à sociedade um determinado
«proveito social líquido» ou «um prejuízo social líquido». Por
outras palavras, a nova Contabilidade propôr-se-ia medir, em
termos monetários, o conjunto de relações económicas e sociais
que normalmente se criam entre uma entidade (uma empresa
emi particular) e o ambiente físico e humano que a envolve e de
que ela se serve directa ou indirectamente, isto é, contabilizaria
os fluxos de utilidades proporcionadas à sociedade (bens, ser-
viços, bem-estar entre outros) e os fluxos de Utilidades roubadas
à sociedade (equilíbrio ecológico, extinção de recursos, desloca-
mento de massas de trabalhadores, etc.).
Tal contabilidade conduzir-nos-ia assim à determinação do
«valor acrescentado SOCIAL» da Empresa.
Sabemos que em termos económico-financeiros o valor acres-
centado bruto mede-se pela diferença compras-vendas, isto é:
Vendas — compras («consumidas» no período) = valor
acrescentado bruto.

E em) termos sócio-económicos como medir o novo conceito


«valor acrescentado SOCIAL»?
Se definirmos «valor acrescentado SOCIAL» como uma «modi-
ficação das condições de existência entendidas pelos indivíduos
ou pelos grupos, como uma melhoria, não traduzível em termos
monetários, mas podendo necessitar, para a obter, um sacrifício
monetário» imaginaremos com certeza as dificuldades que a nova
contabilidade é chamada a resolver. Na verdade contabilizar
por exemplo o conforto individual e colectivo que a empresa
proporcione, as satisfações de ordem intelectual, possibilidades
de educação e de cultura, satisfação do «ego» a partir do reco-
nhecimento individual e colectivo, o poder do pessoal na e sobre
a empresa, não são com certeza tarefas fáceis.
Apesar disso, ensaiam-se métodos, tentam-se critérios de
abordagem que conduzam à avaliação da performance social da
empresa.
Desde logo, porém, se depara com a principal dificuldade que
é o facto de muitas das «classes» ou «contas» a incluir no Balanço
Social não serem, susceptíveis de quantificação em termos mone-
tários.

280 -
Há classes quantificáveis isto é, que podem medir-se em
escudos e que não oferecem dificuldades, como por exemplo:
— As remunerações
— As médias de remunerações
— Os aumentos de salários

Porém, outras são simplesmente mensuráveis, isto é, podem


medir-se, mas não em unidades monetárias, como por exemplo:
— o leque de salários
— a frequência e a gravidade dos acidentes de trabalho
— as taxas de absentismo
— a rotação do pessoal
— as promoções internas

Outras ainda são tão-somente qualificáveis, escapando a qual-


quer quantificação ou melhor a sua quantificação pertence ao
tipo das mensurações globais sem precisões numéricas possíveis
e sem padrão de medida; o único processo de medida possível
é o número de indivíduos que reagem e a intensidade desta
reacção, valores que, na prática, são apenas possíveis de ava-
liação global, como por exemplo:
— a qualidade de acolhimento dos novos trabalhadores
— o bem-estar causado pelos horários flexíveis
— o enriquecimento das tarefas
— uma boa informação
— o respeito das organizações sindicais
— o bem-estar social (3)
— o bem-estar societal (3)

A solução das dificuldades que esta variedade de elementos


a contabilizar oferece estão sendo ensaiadas por investigadores
inter-disciplinares (contabilistas-gestores-sociólogos) havendo já
propostos vários métodos, merecendo referência os métodos dos
indicadores, das cotações e dos rácios.
Não cabe aqui pormenorizar os critérios propostos em cada
um dos métodos referidos, pois que o objecto desta comunicação
é falarmos daquilo que a lei francesa (em anexo) consagrou
como Balanço Social, que, sendo um princípio de realização da
contabilidade sócio-económica, não segue nenhum dos métodos
atrás referidos.

- 281
2. NECESSIDADE DUMA CONTABILIDADE SOCIETAL

A contabilidade sócio-económica ou societal, tal como acaba


de ser definida está ainda por realizar. Constitui, porém, uma
aspiração bem sentida pelos técnicos, inclusivamente os contabi-
listas nacionais. A Cabaço Pires ainda recentemente (4) definiu
a Contabilidade como «um sistema de mensuração e comunicação
(especializada), fundamentalmente utilizada para atingir os
seguintes objectivos:

I) avaliar a posição patrimonial da unidade económica


(a sua riqueza) e do aumento ou decréscimo do seu
património (resultados) ;
II) fornecer os elementos informativos ao controlo dos
activos, dos passivos e do património líquido;
III) assegurar o controlo dos custos dos produtos, dos
serviços e das funções;
IV) possibilitar o estabelecimento e controlo da reali-
zação das políticas, dos planos, dos programas e dos
orçamentos;
V) fornecer às entidades fiscais as informações indis-
pensáveis à tributação da riqueza gerada na
empresa ;
VI) possibilitar às entidades estatísticas os elementos
necessários à Contabilidade Nacional;
VII) mensurar o impacto da acção da empresa na acti-
vidade humana circundante (Responsability Social
Accounting).

Também Policarpo de Lemos (6) e Joaquim T.-L. Mendonça


Santos ( 6 ), embora na óptica da chamada Contabilidade de Recur-
sos Humanos, têm contributos muito apreciáveis neste campo ( 7 ).
A própria legislação portuguesa não está ausente, até pode-
ríamos dizer que estas preocupações receberam consagração a
nível constitucional. Em boa verdade a Constituição da Repú-
blica Portuguesa de 1976 no seu art. 81.° alínea j) diz que incumbe
prioritariamente ao Estado (entre outras atribuições) «assegurar
a equilibrada concorrência entre as empresas, fixando a lei a
protecção às pequenas e médias empresas económicas e social-
mente viáveis».
Este conceito embora ainda não definido na legislação ordi-
nária é, todavia, lógico relpcioná-lo, na opinião do Prof. Dr. Con-
ceição Nunes (1U) com fins que o Estado valorizaria numa

282 -
perspectiva eminentemente social e que, consequentemente, se
sobrelevaria à componente económica.
Mas, perguntamos nós, como avaliar se uma empresa é ou
não socialmente viável? E em que medida?
Neste sentido, Charles N. Stabler, no Wall Street Journal, de
Maio de 1971 (8) põe, o seguinte problema: «A empresa A distri-
bui 20 % de dividendos, mas não quer empregar Negros, e as
suas fábricas poluem o ar. Os dividendos da empresa B são
apenas de 15 % mas a sua reputação no plano social é boa. Vós
geris os investimentos de uma Caixa de Pensões. Que acção
compraríeis»?
Por outro lado os homens de negócios mandatados pela Igreja
Anglicana (Relatório de 1972) dizem explicitamente que quando
compram acções ou fazem investimentos têm em conta tanto
factores sociais como factores financeiros».
E como ponderar os factores sociais?
Os problemas aqui postos só poderiam ser tecnicamente resol-
vidos se pudéssemos dispor de um novo tipo de Contabilidade
que considerasse para além dos activos tradicionais, medisse
também a responsabilidade social das empresas.
Não há dúvida que a contabilidade «clássica» privilegia a
especificidade económica da empresa negligenciando a responsa-
bilidade social. A contabilização da acção social das empresas
é praticamente inexistente: que as condições de trabalho sejam
boas ou deploráveis, que elas poluam ou que elas invistam para
não poluir, nada disto se reflecte nas medidas tradicionais da
sua rentabilidade e do seu crescimento que resultam das contas
de exploração e dos balanços.
Assim o que importa é «nada menos do que a redefinação ou
clarificação da Contabilidade de modo a focar todos os aspectos
de controlo e medida do social» ( 9 ).
Podemos pois concluir que a contabilidade actual não é senão
uma parte, um ramo, da contabilidade social (societal) que é
preciso um dia construir. P a r a a conseguir, à contabilidade
económica e financeira em uso haverá que juntar a Contabilidade
dos Recursos Humanos (aliás já em prática nalgumas empresas
estrangeiras) bem como a Contabilidade da Responsabilidade
Social (Responsability Social Accounting) agora tacteando os
primeiros passos.
É certo qUe dadas as dificuldades já referidas será preciso
ainda muito de reflexão, de estudos e de experiências antes que
a medida da acção social de uma empresa tenha a mesma since-
ridade e a mesma relativa exactidão que a medida da situação
financeira expressa pela contabilidade em uso.
No entanto a recente legislação francesa sobre o Balanço
Social que analisaremos adiante é um princípio de concretização

- 283
das aspirações acalentadas durante anos pelos estudiosos da
contabilidade societal.

3. ANTECEDENTES DA LEGISLAÇÃO FRANCESA SOBRE O


BALANÇO SOCIAL

Os estudos para elaboração do Balanço Social parecem ter


origem nos EUA em fins dos anos sessenta.
Em 1971 a ABT ASSOCIATES, de Boston, publica a famosa
«Conta de Exploração Social».
É esta mesma empresa que no relatório e contas referente
ao ano de 1975 diz que «os esforços de pioneira que a firma
empreendeu para desenvolver um Audito Social respeitante às
suas próprias operações avançou o estado da ciência no domí-
nio da medida do social. O Audito Social da ABT chamou a
atenção do público e dos meios académicos de então porque ele
foi o primeiro Audito Social compreensivo e quantitativo realizado
por uma empresa privada e apresentado ao público ao mesmo
tempo que os documentos financeiros legais».
Porém, já anteriormente (1962) a NASA havia encarregado
o Prof Raymond Bauer de fazer investigações sobre as conse-
quências sócio-culturais do programa espacial, primeira aborda-
gem para averiguar a responsabilidade social do empreendimento.
No princípio dos anos 70 a própria Europa revela também
um verdadeiro interesse por este tipo de problema. Assim é que
empresas como a PECHINEY UGINE KUHLMANN, LA RADIO-
TECHNIQUE, I. B. M., CARREFOUR, CREUSOTLOIRE, MOET-
-HENNESSY e outras publicam também os seus «balanços sociais»
ainda, naturalmente, rudimentares, sem disciplina legal, consis-
tindo na sua maior parte em gráficos, quadros, revelando a evo-
lução e as condições de trabalho do seu pessoal, as despesas de
formação, a participação na vida sindical, as medidas e os encar-
gos com a higiene e a segurança, os tipos de horários de trabalho
adoptados, a repartição dos tempos de presença na empresa, as
férias, os despedimentos, instalações sociais, etc.
Neste período ainda vago a própria linguagem se ressente
e por isso uns falam de indicadores sociais, outros de «tableau
de bord» social, outros ainda, elementos do balanço social, balanço
social, conta de exploração social ou contabilidade social.
No fundo são as expressões com que os estudiosos pioneiros
desta matéria misturavam ideias gerais e vagas sobre a evolução
desejável dos meios de medidas e instrumentos de análise do
social.
Só em 1975 se publica, em França o Relatório da Comissão
de Estudo para a Reforma da Empresa presidida por Pierre

284 -
Sudreau e constituída por iniciativa do Presidente Giscard
d'Estaing.
Nele se diz que «a gestão financeira e económica apoia-se
numa informação quantificada e precisa. Se se deseja que a
gestão social faça parte das preocupações estratégicas da
empresa, é necessário que se abandone o relativo e subjectivo,
uma vez que, nesse campo, a quantificação se revela difícil e o
progresso costuma ser de tipo qualitativo. Chegou o momento
de proporcionar uma base quantificada ao diálogo entre as partes
social e económica da empresa, que permita medir o esforço
realizado em matéria social e fixar melhor os objectivos (...)» (")•
Neste sentido o referido Relatório propunha «estabelecer um
balanço social anual ao nível de cada empresa a partir de indi-
cadores representativos da situação social e das condições de
trabalho» (12).
Tratava-se dum primeiro passo no laborioso caminho que cul-
minaria na publicação, quase 3 anos depois, da lei do Balanço
Social da Empresa.
Assim, é só a 13 de Julho de 1977 que se publica a referida
Lei no Diário Oficial que tomou o número 77/769. A 8 de Dezem-
bro do mesmo ano o Decreto 77/1354 reforma o Código dó Tra-
balho estabelecendo a lista de informações a incluir no Balanço
Social.
Portarias da mesma data especificam a lista dos indicadores
que devem figurar no Balanço Social segundo o sector de acti-
vidade a que a empresa pertença (industrial e agrícola, comércio
e serviços, construção e obras públicas e transportes).
Será curioso conhecer as opiniões tão divergentes de algumas
instituições ligadas à vida sindical e patronal francesa aquando
da discussão do projecto de lei do balanço social.
Assim, a C. G. T. não podia «associar-se a uma operação polí-
tica demagógica tendente a enganar os trabalhadores, em parti-
cular num momento em que o poder e o patronato tentam amputar
o poder de compra dos trabalhadores».
Segundo a C. F. D. T. o balanço social tal como foi concebido
pelo governo «não fará desaparecer nem as relações de classe
que existem na empresa nem os afrontamentos nem as tensões
que as oposições de interesse nela provocam, porque este projecto
não tem incidência real sobre os poderes do empregador nem
sobre a marcha geral da empresa nem sobre os direitos dos
trabalhadores».
A C. G. T. — F. O. não é hostil em princípio ao estabeleci-
mento de um balanço social. Todavia não espera que o balanço
social seja um factor de paz nas empresas. As discussões sociais
são por princípio contraditórias e contêm em si germes de
conflito.

- 285
Por sua vez a C. F. T. C. é resolutamente favorável ao esta-
belecimento anual dum balanço social tornado obrigatório para
todas as empresas de uma certa dimensão.

4. O QUE É UM «BALANÇO SOCIAL»?


Não considerando a recente legislação francesa poderíamos,
sem o intuito de decepcionar os leitores, responder como o fez
Serge Blind (13) : «o balanço social é um termo mítico, pronun-
ciado a torto e a direito sem que saibamos bem o que queremos
dizer. Desde que uma empresa apresente alguns aspectos do seu
papel social, falamos de balanço social».
Outros, porém, reconhecem ao Balanço Social o ambicioso
papel de permitir racionalizar a gestão social da empresa,
medindo quantitativa e qualitativamente a sua vida social, a «qua-
lidade de vida» e o grau de bem-estar que proporciona não só
aos seus trabalhadores mas igualmente ao equilíbrio ecológico a
que respeita.
Na concepção francesa (mais restrita) ele pretende medir
e analisar no tempo os diferentes factores da gestão dos recursos
humanos da empresa. É um conjunto de indicadores representa-
tivos da situação social e das condições de trabalho do seu
pessoal.
De qualquer modo, como instrumento de medida do «clima
social» de uma empresa, o BS pretende figurar uma imagem
duma realidade social que é, como se sabe, complexa, instável,
e que dificilmente se presta à quantificação.
P a r a além, portanto, dos indicadores de gestão tradicionais:
tempos de execução, aumento do rendimento da mão-de-obra,
instalações, materiais utilizados, outros factores são considerados:
absentismo, instabilidade do pessoal, taxa de acidentes, clima
social, acções de formação, medidas de higiene e segurança,
níveis de satisfação, etc.
P a r a o alcançar o legislador francês não recorreu a um sis-
tema integrado de contas demográficos e sociais (como outros
tentaram) mas simplesmente (como se poderá ver no decreto,
em anexo) a uma informação estatística de um conjunto alta-
mente selectivo de preocupações sociais da generalidade das
empresas com vista à sua gestão social. Abrange 7 grandes
capítulos qualquer que seja o sector de actividade considerado:
1. Emprego
2. As remunerações e encargos acessórios
3. As condições de higiene e de segurança
4. Outras condições de trabalho
5. Formação
6. Relações profissionais
7. Outras condições de vida proporcionados pela empresa

286 —
Tratou-se, pois, somente de especificar domínios sociais impor-
tantes, identificáveis e quantificáveis.
Ficam de fora, por impossibilidade prática indicadores impor-
tantes também da vida social das empresas e do bem-estar dos
seus trabalhadores. O legislador francês foi realista, pois é
verdade que, como sublinha a OCDE (14), «aspectos maiores do
bem-estar, tais como os valores estéticos, o amor e a camara-
dagem não têm para o momento ou em próximo futuro, qualquer
possibilidade de quantificação». É esta também a opinião do
Conselho Económico e Social de França, quando sublinhou que
«é ilusório considerar que o conjunto dos dados permitindo apre-
ciar a situação da empresa no domínio social poderão ser quan-
tificados e ser integrados no balanço social».
Assim, o BS nada tem de comum com um balanço conta-
bilístico. É tão só um documento DESCRITIVO respeitante a
parte duma realidade social, baseando-se em indicadores pré-
-definidos e quantificáveis. É também RECAPITULATIVO dado
que agrupa de maneira uniforme as diversas informações de
ordem social que a lei define. Podemos dizer também que tem
carácter RETROSPECTIVO pois que a lei manda incluir no BS
não só os dados respeitantes ao ano a que se refere o Balanço
mas também dos dois imediatamente anteriores.
O termo balanço não tem aqui a significação rigorosa que
tem em Contabilidade. No domínio do social, toda a noção de
equilíbrio contabilístico entre um activo e um passivo tem sido
excluída.
Os custos sociais e o impacto económico das acções sociais
da empresa não têm o mesmo tratamento digráfico usado na
contabilidade. Porém, o Conselho Nacional de Contabilidade,
de França, nomeou em Dezembro de 1977 uma Comissão encar-
regada de aprofundar estas questões, desconhecendo-se, neste
momento as soluções avançadas neste campo.
O Ministério do Trabalho, de França, nos trabalhos prepara-
tórios da Lei de Julho de 1977 chegou a propor um número
importante de indicadores elaborados sob a forma de «rácios».
Também a Association Française des Conseillers de Direction
desenvolveu um importante trabalho nesse sentido (15). Notamos
que é grande a preferência pelos «rácios» sociais à semelhança
dos «rácios» financeiros. Até em Portugal recentemente (16)
deparei com um indicador de absentismo contruído deste modo:
1975 1978
A. Horas de trabalho possíveis 473 976 469 854
B. Horas trabalhadas 418 410 435 911
C. Asentismo real 11,72 % 7,22 %
A B
C= — x 100
A

- 287
Não foi, porém, essa a solução que veio a receber consa-
gração na lei, por isso o BS será constituído por indicadores
expressos em valores absolutos.
Assim em França as empresas abrangidas pela obrigatorie-
dade do BS apresentarão anualmente dois tipos de balanços: um
económico na forma habitual e outro elaborado conforme as
exigências da lei a que temos feito referência. Passa assim
a verificar-se na análise das contas anuais um tipo de análise
«mista» em, que um documento respeita os princípios e a técnica
contabilística e o outro (o balanço social) segue tanto na sua
elaboração como na sua apreciação e análise outros conceitos,
outras valorações.

5. OBJECTIVOS DO BALANÇO SOCIAL

As tentativas já feitas (incluindo, portanto, a da legislação


francesa) embora meritórias, apontam para um sentido restrito
do BS usando-o para apreciar a situação dos assalariados dentro
da empresa. Na verdade o BS francês não toma em consideração
a repercussão externa da actividade da empresa. É portanto
um balanço exclusivamente voltado «para dentro».
Porém, as concepções dos estudiosos apontam o BS para
quatro objectivos:

1. O BS como instrumento para a gestão social.

Com efeito não se entende um dirigente a julgar do


estado das finanças da sua empresa sem ter à sua dispo-
sição contas e balanços que lhe dêem as informações
necessárias ao seu exame. Do mesmo modo o gestor
social, o administrador, o sindicato, o público, enfim, para
fazer o diagnóstico do «clima social» duma dada empresa
necessita igualmente de utilizar meios de medida e instru-
mentos de análise caracterizadores de certos aspectos
(é ainda impossível atingir todos) desse «clima».

2. O BS interno como instrumento de informação e concer-


tação com os trabalhadores.

Neste caso pode situar-se o modelo previsto pela lei


francesa de 12/7/77. É um meio de informação, de
diálogo e de concertação. Não se trata pois de mera infor-
mação factual como no caso da Holanda em que certos
balanços sociais se confundem com o jornal da empresa
eventualmente utilizado como meio de recuperação ou de

288 -
«maquiavelismo social» (17) havendo lugar a perguntar
quern e para quê se controla a informação!
Porém, o modelo francês dada a sua normalização
fixada por lei permite fazer análises sob o ponto de vista
sociológico e interpretar os dados em termos de «clima
social». Por exemplo, estabelecer uma relação de causa
e efeito entre um nível de absentismo e o «clima social»
da empresa.
A análise inter-empresas do mesmo sector de activi-
dade ou da mesma zona geográfica é também possível.
P a r a além disso, devemos concordar que um BS deste
tipo, embora com funções quase só informacionais re-
vela-se apesar de tudo positivo.
Como afirma a AFCOD (18) «dizer que o absentismo
é de 30 %, que a antiguidade média é de 6 anos e 8 meses,
que o trajecto diário dos trabalhadores para a fábrica é
de 1 hora e 20 minutos, que a biblioteca empresta 4 livros
por trabalhador e por ano, não são hipóteses abstratas.
Pelo contrário isso é da mesma natureza que dizer: a
caixa contém 23 512 francos ou que o capital próprio re-
presenta 71,8 % do passivo».

O BS simultaneamente interno e externo, que encare a rea-


lidade social global.

Nesta hipótese o BS seria aquilo que, como já refe-


rimos, começa a definir-se como balanço societal. Inclui-
ria, para além da informação já anteriormente descrita,
a protecção do ambiente, a consideração dos recursos
raros, a luta anti-poluição, etc. Examinaria sistematica-
mente as políticas e as práticas que tenham uma inci-
dência em matéria de responsabilidade social no interior
e no exterior da empresa; analisaria os progressos regu-
larmente e reformularia as prioridades pelo menos uma
vez por ano.

O BS como um passo para a planificação do social a


médio e a longo prazo.

Um balanço social assim concebido seria um docu-


mento sobre o qual se estudariam as estratégias e os mo-
delos alternativos de gestão a prazo do social. A partir
dele se concebiam acções sistemáticas para atingir objec-
tivos, por exemplo: em 10 anos desenvolver um plano de

- 289
formação profissional dos trabalhadores da Secção X;
em 5 anos organizar as equipas autónomas; em 3 anos
estudar a implementação dos horários flexíveis nos sec-
tores X e Y; em 5 anos o plano das instalações anti-
poluição, etc., etc.
Esta concepção de BS permitiria preparar um plano
a médio e a longo prazo na gestão social; analisaria
ainda, naturalmente, as capacidades e as fraquezas destas
políticas e destas práticas.
De entre as concepções acabadas de referir entendemos que
o BS como instrumento de gestão interna e externa que vá para
além do aspecto normativo do BS mei0 de informação previsto
pela lei francesa de Julho de 1977, além de alcançar níveis de
informação e gestão já referidos melhoraria a imagem de marca
da empresa.
Os indicadores do modelo francês são necessários; o que nos
parece é que eles não são todavia suficientes.

6. EMPRESAS ABRANGIDAS

Na legislação francesa já referida a obrigação de elaborar o


BS, existe para as empresas com 300 ou mais trabalhadores de
quadro habitual, embora, numa primeira fase esse limite se fixe
em 750. Por «quadro habitual» deve entender-se para este efeito
o quadro de pessoal ao serviço da empresa de forma estável e não
esporádica. Abrange todos os trabalhadores, incluindo as cate-
gorias especiais: trabalhadores no domicílio, aprendizes, diri-
gentes, assalariados, pessoal de refeitório, etc. A obrigatoriedade
de elaboração fica escalonada no tempo, conforme se pode ver no
quadro seguinte:

ANOS CUJOS RESULTADOS SE DEVEM RECOLHER NO BS

«HÈH-, Empresas Centros de trabalho

owSS i> 750 trab. ^> 300 trab.


^> 300 trab. !> 750 trab.
ZO
o — 750 trab.

1978
1979 1978 —. 1978
1980 1978-1979 — 1978-1979
1981 1978-1979-1980 — 1978-1979-1980
1982 1979-1980-1981 1981 1979-1980-1981 1981 1
1983 1980-1981-1982 1981-1982 1980-1981-1982 1981-1982 |
1984 1981-1982-1983 1981-1982-1983 1981-1982-1983 1981-1982-1983
1985 1982-1983-1984 1982-1983-1984 1982-1983-1984 1982-1983-1984

290 -
Assim, em 1979, as empresas de 750 (ou mais) trabalhadores
já são obrigadas a incluir os dados de 1978.
A partir de dados do INSEE, 1973, o número de empresas
abrangidas pela obrigatoriedade de elaborar o BS e o número de
trabalhadores incluídos será como segue:

Limites N° de empresas N.° de trabalhadores

+ 300 4141 5 537 406

+ 750 1428 4 293 000

+ 2 000 443 3 158 569

Os tipos de empresas abrangidos são praticamente todos.


Abrange os sectores industriais e agrícolas, comércio e serviços,
construção e obras públicas e transportes.

7. DESTINATÁRIOS DO BALANÇO SOCIAL


As organizações de trabalhadores assim como a Inspecção de
Trabalho, são, na legislação francesa os destinatários privile-
giados. Os delegados sindicais e os trabalhadores da empresa
tem acesso ao documento sempre que o solicitem.
Em relação aos accionistas o BS envia-se ou fica à sua dis-
posição em condições idênticas às dos restantes documentos inte-
grantes do Relatório e Contas do Exercício.

8. SANÇÕES

Para as empresas que não elaborem o BS ou as que o apre-


sentem com omissão de capítulos obrigatórios estão previstas
sanções. Essas sanções equiparam-se às do delito de levanta-
mento de obstáculos ao funcionamento da Comissão (art. L 463-1
do Código do Trabalho) e podem implicar prisão de dois meses a
um ano (o dobro em caso de reincidência) e multa que vai de
2 000 a 10 000 F. F. ou uma destas duas penas somente. Em caso
de reincidência a multa pode ir até 20 000 F. F.

9. CONSELHOS PARA INTRODUZIR UM BALANÇO SOCIAL

Reproduzimos os conselhos que o CJD (Centre des Jeunes


Dirigeants) deu aos leitores da sua revista «Dirigeants» e que

- 291
poderão ser úteis às empresas portuguesas que queiram iniciar a
elaboração do seu «BS»:

1) Não lançar o primeiro balanço social num período de


conflito ;
2) Habituar-se a discutir com os representantes e os dele-
gados sindicais;
3) Não imaginar que as informações, mesmo salariais, serão
uma bomba. Na maior parte dos casos, elas circulam já,
clandestinamente ;
4) Não esquecer que os números conduzirão uma discussão,
ao passo que os comentários provocam a polémica;

5) O direito para cada delegado de se exprimir livremente,


à sua maneira, é em geral uma válvula de segurança e
não o contrário;
6) Reconhecer a acção sindical e a sua legitimidade;
7) Velar para que no diálogo com os sindicalistas os chefes
não se sintam lesados e suponham quebradas as linhas de
direcção e comando;
8) Confiar nos homens.

10. AUDITORIA SOCIAL

O que temos vindo a dizer sobre Balanço Social e Contabili-


dade Societal, pretende reflectir as duas concepções dominantes
nesta matéria. Uma que considera o Balanço Social um docu-
mento eminentemente contabilizável enumerando monetariamente
todos os inputs e outputs concluindo pelos lucros e prejuízos
sociais — tanto internos como externos. Aqui os fluxos sociais
e societais são expressos em termos monetários, aplicando-se-lhes
os princípios da contabilidade por partidas dobradas. Por esta via
chegaríamos ao resultado sócio-económico líquido. Vejamos o
exemplo seguinte respeitante aos investimentos societais:

292 -
Extracto de um Balanço
sócio económico

(parte dos Activos Imobilizados)

Activo Provisões Activo


Bruto Amortizações Líquido

Imobilizações Industriais
Terrenos
Prédios
Máquinas e Ferramentas
Imobilizações Financeiras
Títulos de Participação
Investim. em Recursos Humanos
Investimentos em Formação
Investimentos Societais
Conforto, Segurança e Condi-
ções de trabalho
Protecção do Ambiente
Protecção do Consumidor

De notar no presente exemplo que os Investimentos em Re-


cursos Humanos e os Investimentos societais figuram como Imo-
bilizações de destino ou vocação societal. Como é normal, as
dotações anuais para amortização deste imobilizado são encargos
do exercício e figuram por isso na Conta de Exploração res-
pectiva.

Uma outra concepção pretende, por via estatística, não su-


jeita portanto ao pragmatismo formal da digrafia, medir o im-
pacto produzido pela política social da empresa, avaliando-se
esse impacto em graus de satisfação pessoal. Foi a solução con-
sagrada na legislação francesa respeitante ao Balanço Social.
Porém, tanto num caso como noutro, isto é, quaisquer que
sejam as técnicas de registo praticadas poderá haver lugar, por
parte de órgãos externos ou mesmo internos ao exame sistemá-

- 293
tico das políticas e das práticas que tenham uma incidência em
matéria de responsabilidade social da empresa. Por isso muitos
se consideram já «auditores» sociais.

Neste sentido e graciosamente se exprime Serge Blind: «Indi-


cadores sociais, «tableau de bord» social, elementos do Balanço
Social, Balanço Social, Conta de Exploração Social ou Contabili-
dade Social... são tudo expressões onde se misturam as ideias
gerais sobre a evolução desejável do social, as elucubrações
pseudo-contabilísticas dos não contabilistas, as preocupações finan-
ceiras daqueles que se vêem já «auditores sociais».

Porém, uma coisa é certa, o Balanço Social é uma indesmen-


tível realidade legislativa em França e é uma prática salutar
em grande número de empresas dos EUA, Holanda e outros
países, com positivos resultados a vários níveis. Embora enca-
rado por modos diversos ele é todavia uma ideia em marcha
irreversível.

Por isso não nos deve surpreender a concepção de uma


«auditoria social».

Competir-lhe-ia (19) :

a) Examinar sistematicamente à escala da empresa as polí-


ticas e as práticas que tenham uma incidência em ma-
téria de responsabilidade social no interior e exterior da
empresa;

b) Analisar as capacidades e as fraquezas destas políticas e


destas práticas;

c) Preparar um plano a curto e a longo prazo de melhoria da


acção social e societal;

d) Examinar os programas regularmente e reformular as


prioridades pelo menos uma vez por ano;

e) Fazer participar no audito aqueles que são capazes de


contribuição válida;

f) Procurar novos pontos de vista, sobre as estruturas ou


a repartição das tarefas habituais, sugerindo alterações.

294 -
ANEXOS

Loi ri.0 77-769 du juillet 1977

L'Assemblée nationale et le Sénat ont adopté,


Le Président de la République promulgue la loi dont la teneur
suit:

Art. l. er — Au titre III du livre IV du Code du travail sont ajoutées


les dispositions suivantes:

CHAPITRE VIII

Bilan social

«Art. L. 438-1. — Dans les entreprises et organismes énumérés aux


alinéas 1 et 2 de l'article L. 431-1 ainsi que dans les entreprises
mentionnées à l'article L. 438-9, le chef d'entreprise établit et soumet
annuellement ao comité d'entreprise un bilan social lorsque l'effectif
habituel de l'entreprise est au moins de 300 salariés.

«Dans les entreprises comportant des établissements distincts, il


est établi, outre le bilan social de l'entreprise et selon la même
procédure, un bilan social particulier à chaque établissement dont
l'effectif habituel est au moins de 300 salariés.

«Ces obligations ne se substituent à aucune des obligations d'infor-


mation et de consultation du comité d'entreprise ou d'établissement qui
incombent au chef d'entreprise en application, soit de dispositions
législatives ou réglementaires, soit de stipulations conventionnelles.

«Art. L. 438-2. — I. — Lorsque l'effectif de l'entreprise ou de


l'établissement atteint le seuil d'assujettissement prévu à l'article
L. 438-1, le premier bilan social de l'entreprise ou de l'établissement
porte sur l'année suivant celle au cours de laquelle le seuil a été
atteint.
«Le premier bilan social peut ne concerner que l'année écoulée;
le deuxième peut ne concerner que les deux dernières années écoulées.

«IL — Lorsque l'effectif de l'entreprise ou de l'établissement


devient inférieur au seuil d'assujettissement prévu à l'article L. 438-1,
un bilan social est néanmoins présenté pour l'année en cours.
«Art L. 438-3. — Le bilan social récapitule en un document unique
les principales données chiffrées permettant d'apprécier la situation
de l'entreprise dans le domaine social, d'enregistrer les réalisations

- 295
effectuées et de mesure: les changements intervenus au cours de
l'année écoulée et des deux années précédentes.
«En conséquence, le bilan social comporte des informations sur
l'emploi, les rémunérations et charges accessoires, les conditions
d'hygiène et de sécurité, les autres conditions de travail, la formation,
les relations professionnelles ainsi que sur les conditions de vie des
salariés et de leurs familles dans la mesure où ces conditions dépen-
dent de l'entreprise.

«Art. L. 438-4. — Après consultation des organisations profession-


nelles d'employeurs et de travailleurs les plus représentatives au
niveau national, un décret en Conseil d'Etat fixe la liste des informa-
tions figurant dans le bilan social d'entreprise et dans le bilan social
d'établissement.

«Un arrêté du ou des ministres compétents adapte le nombre et la


teneur de ces informations à la taille de l'entreprise et de l'établis-
sement.
«Certaines branches d'activité peuvent être dotées, dans les
mêmes formes, de bilans sociaux spécifiques.
«Art. L. 438-5. — Sans préjudice des dispositions de l'article L. 132-1
du présent code, le comité d'entreprise ou d'établissement émet chaque
année un avis sur le bilan social.
«A cet effet, les membres du comité d'entreprise ou d'établisse-
ment reçoivent communication du project de bilan social quinze jours
au moins avant la réunion au cours de laquelle le comité émettra son
avis. Cette réunion se tient dans les quatre mois suivant la fin de la
dernière des années visées par le bilan social. Dans les entreprises
comportant un ou plusieurs établissements tenus de présenter un bilan
social d'établissement, la réunion au cours de laquelle le comité cen-
tral d'entreprise émet son avis a lieu dans les six mois suivant la fin
de la dernière des années visées par le bilan social.
«Dans le cas prévu à l'article L. 438-1, deuxième alinéa, les bilans
sociaux particuliers et les avis émis sur ces bilans par les comités
d'établissement sont communiqués aux membres du comité central
d'entreprise dans les conditions prévues à l'alinéa précédent.
«Les délégués syndicaux reçoivent communication du projet de
bilan social dans les mêmes conditions que les membres des comités
d'entreprise ou d'établissement.
«Le bilan social, éventuellement modifié pour tenir compte de
l'avis du comité compétent, est mis à la disposition de tout salarié
qui en fait la demande.

296 -
«Art. L. 438-6. Les bilans sociaux des entreprises et établisse-
ments, éventuellement modifiés pour tenir compte de l'avis du comité
compétent, ainsi que le procès-verbal de la réunion dudit comité, sont
adressés à l'inspecteur du travail dans un délai de quinze jours à
compte: de cette réunion.
«Art. L. 438-7. — Dans les sociétés par actions, le dernier bilan
social accompagné de l'avis du comité d'entreprise est adressé aux
actionnaires ou mis à leur disposition dans les mêmes conditions que
les documents prévus aux articles 162 et 168 de la loi n.° 66-537
modifiée du 24 Juillet 1966.
«Art. L. 438-8. — Le bilan social sert de base à l'application des
articles L. 432-4 (cinquième alinéa), L. 437-2 et L. 950-3 ainsi qu'à
celle des dispositions réglementaires du présent code qui prévoient
l'établissement de programmes annuels.
«Art. L. 438-9. — Des décrets en Conseil d'Etat fixent les mesures
d'adaptation nécessaires à l'application des dispositions du présent
chapitre dans les entreprises qui son tenues de constituer un comité
d'entreprise ou des organismes de représentation du personnel qui en
tiennent lieu en vertu soit de dispositions législatives ou réglemen-
taires autres que celles du code du travail, soit de stipulations conven-
tionnelles.
«Ces décrets sont pris après avis des organisations syndicales les
plus représentatives dans les entreprises intéressées.
«Art. L. 438-10. — Les dispositions du présent chapitre ne font pas
obstacle aux conventions comportant des clauses plus favorables».
Art. 2. — Le titre VI du livre IV du code du travail est complété
comme suit:
«Art. L. 463-2. — L'employeur qui ne présente pas le bilan social
d'entreprise ou d'établissement prévu à l'article L. 438-1 sera passible
des peines prévues à l'article L. 463-1 (')».
Art. 3. — Le premier bilan social sera présenté:
- au cours de l'année 1979 pour les entreprises comptant au
moins 750 salariés;
— au cours de l'année 1982 pour les entreprises comptant au
moins 300 salariés.
Les informations y figurant pourront ne concerner respective-
ment que les années 1978 et 1981.

(') Cet article prévoit: Emprisonnement de deux mois à un an, et amende


de 2 000 F à 10 000 F ou l'une de ces deux peines seulement.

- 297
Les informations figurant dans le deuxième bilan social pourront
ne concerner que les deux années antérieures à sa présentation.
Art. 4. — Les dispositions du chapitre VIII du titre III du livre IV
du code du travail relatives au bilan social sont applicables aux
établissements publics de l'Etat et des collectivités locales, non visés
aux articles L. 438-1 et L. 438-9 du code du travail ainsi qu'aux
services de l'Etat, dont les conditions de fonctionnement sont assimi-
lables à celles d'une entreprise.
Les conditions de cette application, et notamment la détermination
de l'organisme de représentation du personnel auquel le bilan social
doit être soumis, sont fixées par des décrets en Conseil d'Etat pris
après avis des organisations syndicales les plus représentatives au
plan national.

La présente loi sera exécutée comme loi de l'Etat.

Fait à Paris, le 12 juillet 1977.

Par le Président de la République:

Valéry Giscard d'Estaing.

MINISTERE DU TRAVAIL

Décret n.° 77-1354 du 8 décembre 1977 fixant, par application de l'article L. 438-4
du code du travail, la liste des informations figurant dans le bilan social
d'entreprise et dans le bilan social d'établissement.
Le Premier ministre,
Sur le rapport du ministre de l'équipement et de l'aménagement du terri-
toire, du ministre de l'agriculture et du ministre du travail.
Vu le code du travail, et notamment l'article L. 438-4;
Vu l'avis du conseil national du patronat français;
Vu l'avis de la confédération générale des petites et moyennes entreprises
et du patronat réel;
Vu l'avis de la confédération générale du travail;
Vu l'avis de la confédération française démocratique du travail;
Vu l'avis de la confédération générale du travail-Force ouvrière;
Vu l'avis de la confédération française des travailleurs chrétiens;
Vu l'avis de la confédération générale des cadres;
Vu l'avis de la fédération nationale du bois;
Vu l'avis de la confédération nationale de la mutualité, de la coopération
et du crédit agricole;

298 -
Vu en date du 10 Octobre 1977 la lettre par laquelle le ministre de l'agricul-
ture a consulté la fédération nationale des syndicats d'exploitants agricoles et
l'union nationale des syndicats d'entrepreneurs paysagistes de France;
Le Conseil d'Etat (section sociale) entendu,

Décrète:
Art. l.er—- Au titre III du livre IV du code du travail (deuxième partie)
sont ajoutées les dispositions suivantes:

CHAPITRE VII
AMÉLIORATION DES CONDITIONS DE TRAVAIL
Néant.

CHAPITRE VIII
BILAN SOCIAL

Article R. 438-1.

La liste des informations prévues à l'article L. 438-4 est établie conformé-


ment au texte annexé au présent chapitre.

Art. 2. — Le ministre de l'équipement et de l'aménagement du territoire,


le ministre de l'agriculture, le ministre du travail et le secretaire d'Etat auprès
du ministre de l'équipement et de l'aménagement du territoire (Transports) sont
chargés, chacun en ce qui le concerne, de l'exécution du présent décret, qui sera
publié au Journal officiel de la République française.

Fait à Paris, le 8 décembre 1977.

Raymond Barre.
Par le Primier ministre:

Le ministre du travail,
Christian Beullac.
Le ministre de l'équipement et de l'aménagement du territoire,
Fernand Icart.
Le ministre de l'agriculture,
Pierre Méhaignerie.

Le secrétaire d'Etat auprès du ministre de l'équipement


et de l'aménagement du territoire (Transports),
Marcel Cavaillé.

- 299
ANNEXE Nombre de départs au cours de la
période d'essai (9) I.
I EMPLOI Nombre de mutations d'un établis-
sement à un autre I.
11. Effectifs Nombre de départs volontaires en
retraite et pré-retraite (10) I.
Effectif total au 31/12 (1) I. Nombre de décès I.
Effectif permanent (2) I.
Nombre de salariés liés par un con- 15. Promotion
trat de travail à durée déterminée
au 31/12 I Nombre de salariés promus dans
Effectif mensuel moyen de l'année l'année dans une catégorie supé-
considérée (3) I. rieure (11).
Repartition par sexe de l'effectif
total au 31/12 I. 16. Chômage
Répartition par âge de l'effectif Nombre de salariés mis en chô-
total au 31/12 (4) I. mage partiel pendant l'année con-
Répartition de l'effectif total au sidérée I.
31/12 selon l'ancienneté (5) I. Nombre total d'heures de chômage
Répartition de l'effectif total au partiel p e n d a n t l'année consi-
31/12 selon la nationalité I: dérée (12) I:
français indemnisées,
étrangers non indemnisées
Répartition de l'effectif total au Nombre de salariés mis en chô-
31/12 selon une structure de quali- mage intempéries pendant l'année
fication détaillée II. considérée I.
Nombre total d'heures de chômage
12. Travailleurs extérieurs intempéries pendant l'année consi-
dérée I:
Nombre de salariés appartenant à indemnisées,
une entreprise extérieure (6). non indemnisées
Nombre de stagiaires (écoles, uni-
versités...) (7). 17. Handicapés
Nombre moyen mensuel de travail-
leurs temporaires (8). Nombre de handicapés au 31 Mars
Durée moyenne des contrats de tra- de l'année considérée (13).
vail temporaire Nombre de handicapés à la suite
d'accidents du travail intervenus
13. Embauche dans l'entreprise, employés au 31
Mars de l'année considérée.
Nombre d'embauchés par contrats
à durée indéterminée. 18. Absentéisme (14)
Nombre d'embauchés par contrats Nombre de j o u r n é e s d'absence
à durée déterminée (dont nombre (15) I.
de contrats de travailleurs saison- Nombre de journées théoriques tra-
niers) I. vaillées.
Nombre d'embauchés de salariés Nombre de journées d'absence pour
de moins de 25 ans I. maladie I.
Répartition des absences pour ma-
14. Départs ladie selon leur durée (16) I,
Total des départs I. Nombre de journées d'absence pour
Nombre de démissions I. accidents du travail et de traject
N o m b r e de licenciements pour ou maladies professionnelles I.
cause économique, dont départs en Nombre de journées d'absence pour
retraite et pré-retraite I. maternité I.
Nombre de fins de contrats à du- Nombre de journées d'absence pour
rée déterminée I. congés autorisés (événements fa-

300 -
miliaux, congés spéciaux pour les 24. Charges accessoires
femmes...) I. Avantages s o c i a u x dans l'entre-
Nombre de journées d'absence im- prise: pour chaque avantage pré-
putables à d'autres causes I. ciser le niveau de garantie pour les
categories retenues pour les effec-
II RÉMUNÉRATION ET CHARGES tifs I:
ACCESSOIRES
délai de carence maladie,
21. Montant des rémunérations (17) indemnisation de la maladie,
indemnisation des jours fériés,
Le choix est laissé dans l'utilisa- préavis et indemnités de licen-
tion de l'un ou de l'autre des grou- ciement,
pes de 2 indicateurs suivants: préavis de démission,
Masse s alar iale annuelle totale prime d'ancienneté,
(18) II. congé de maternité,
congés payés,
Effectif mensuel moyen. service militaire,
Rémunération moyenne du mois de congés pour événements fami
décembre (effectif permanent) hors liaux,
primes à périodicité non mensuelle- primes de départ en retraite,
base 40 heures II. etc..
ou Montant des versements effectués
Rémunération mensuelle m o y e n n e à des entreprises extérieurs pour
(19) IL mise à la disposition de personnel:
Part des primes à périodicité non
mensuelle dans la déclaration de entreprise de t r a v a i l tempo-
salaire IL raire,
Grille des rémunérations (20). autres entreprises (23).

22. Hiérarchie des rémunérations (17) 25. Charge salariale globale


Le choix est laissé dans l'utilisation Frais de personnel (24)
d'un des deux indicateurs suivants:
Rapport entre la moyenne des ré- Valeur ajoutée ou chiffre d'affaires
munérations des 10 % des salariés 26. Participation financière des sala-
touchant les rémunérations les plus riés
élevées et celle correspondant au
10 % des salariés touchant les ré- Montant global de la réserve de
munérations les moins élevées. participation (25).
ou Montant moyen de la participation
et/ou de l'intéressement par salarié
Rapport entre la moyenne des ré- bénéficiaire (26) I.
munérations des cadres ou assimi- Part du capital détenu par les sa-
lés (y compris cadres supérieurs et lariés (27) grâce à un système
dirigeants) et la moyenne des ré- de participation (participation aux
munérations des ouvriers non qua- résultats, intéressement, actionna-
lifiés ou assimilés (21). riat...).
Montant global des 10 rémunéra-
tions les plus élevées.
III CONDITIONS D'HYGIÈNE ET DE
23. Mode de calcul des rémunérations SÉCURITÉ
Pourcentage des salariés dont le sa- 31. Accidents de travail et de trajet
laire dépend, en tout ou partie, du
rendement (22). Taux de fréquence des accidents
Pourcentage des o u v r i e r s et em- du travail I.
ployés payés au mois sur la base Nombre d'accidents avec arrêts de
de l'horaire affiché. travail.

- 301
Nombre d'heures travaillées. Nombre de salariés atteints par des
Nombre d'accidents avec arrêt affections pathologiques à carac-
6
xlO tère professionnel et caractérisa-
Nombre d'heures travaillées tion de celles-ci.
Taux de gravité des accidents du Nombre de déclarations par l'em-
travail I. ployeur de procédés de travail sus-
Nombre de journées perdues. ceptibles de provoquer des mala-
Nombre d'heures travaillées. dies professionnelles (29).
Nombre de journées perdues
xlO3 34. Comité d'hygiène et de sécurité
Nombre d'heures travaillées Existence et nombre de C.H.S.
Nombre d'incapacités permanentes Nombre de réunions par C.H.S.
(partielles et totales) notifiées à
l'entreprise en c o u r s de l'année 35. Dépenses en matière de sécurité
considérée (distinguer français et
étrangers). Effectif formé à la sécurité dans
Nombre d'accidents mortels: l'année.
Montant des dépenses de sécurité
de travail effectuées dans l'entreprise au sens
de trajet. de l'article R 231-8 du Code du Tra-
Nombre d'accidents de trajet ayant vail.
entraîné au arrêt de travail. Taux de réalisation du programme
Nombre d'accidents dont est vic- de sécurité présenté l'année précé-
time le personnel temporaire ou de dente.
prestations de service dans l'entre- Existence et nombre de plans spéci-
prise. fiques de sécurité.
Taux et montant de la cotisation
sécurité sociale d'accidents de tra- TV AUTRES CONDITIONS DE TRA-
vail. VAIL

41. Durée et aménagement du temps


32. Répartition des accidents par élé- de travail
ments matériels (28)
Horaire hebdomadaire moyen affi-
Nombre d'accidents liés à l'exis- ché des ouvriers et employés ou
tence de risques graves - Codes 32 catégories assimilées (30) I.
à 40. Nombre de salariés ayant bénéficié
Nombre d'accidents liés à des chu- d'un repos compensateur I:
tes avec dénivellation - Code 02.
Nombre d ' a c c i d e n t s occasionnés au t i t r e du Code du Tra-
par des machines (à l'exception de vail (31)
ceux liés aux risques ci-dessus) au titre d'un système conven-
- Codes 09 à 30. tionnel.
Nombre d'accidents de circulation
- manutention - stockage - Codes 01, Nombre de s a l a r i é s bénéficiant
03, 04 et 06, 07, 08. d'un système d'horaires individua-
Nombre d ' a c c i d e n t s occasionnés lisés (32) I.
par des objets, masses, particules Nombre de s a l a r i é s occupés à
en mouvement accidentel - Code 05. temps partiel I:
Autres cas.
entre 20 et 30 heures (33)
autres formes de temps par-
33. Maladies professionnelles tiel.
Nombre et dénomination des mala- Nombre de salariés ayant béné-
dies professionnelles déclarées à la ficié tout au long de l'année con-
Sécurité Sociale au c o u r s de sidérée de 2 jours de repos hebdo-
l'année. madaire consécutifs I.

302 -
Nombre moj'en de jours de congés 46. Médecine du travail (43)
annuels (non compris le repos com-
pensateur) (34) I. Nombre d'examens cliniques (dis
Nombre de jours f é r i é s payés tinguer les travailleurs soumis à
(35) I. surveillance medicate et les au-
tres) .
42. Organisation et conteau de travail Nombre d'examens complémentai-
res (distinguer les travailleurs sou-
Nombre de personnes occupant des mis à surveillance et les autres).
emplois à horaires alternants ou Part du temps consacré par le mé-
de nuit. decin du travail à l'analyse et à
Nombre de personnes occupant des l'intervention en milieu d e travail.
emplois à horaires alternants ou de
nuit de plus de 50 ans. 47. Travailleurs inaptes
Personnel utilisé à des tâches ré-
pétitives au sens de la définition Nombre de salariés déclarés défi-
du travail à la chaîne résultant du nitivement inapts à leur emploi par
décret n.° 76-404 du 10 mai 1976 le médecin du travail.
(36) (distinguer hommes-femmes). Nombres de salariés reclassés dans
l'entreprise à la suite d'une inapti-
43. Conditions physiques de travail tude.
Nombre de personnes exposées de
façon habituelle et régulière à plus V FORMATION
de 85 dbs à leur poste de travail.
Réaliser une carte du son par ate- 51. F o r m a t i o n professionnelle con-
lier (37). tinue (44)
Nombre de salariés exposés à la Percentage de la masse salariale
chaleur au sens de la définition afferent à la formation continue.
contenue dans le décret du 10 mai Montant consacré à la formation
1976 (38). continue: formation interne, for-
Nombre de salariés travaillant aux mation effectué en application de
intempéries de façon habituelle et conventions ; versement à d e s
régulière, au sens de la définition fonds assurance formation; ver-
contenue dans lé décret du 10 mai sement auprès d'organismes agréés:
1976 (39). trésor et autres, total.
Nombre de prélèvements, d'ana- Nombre de stagiaires IL
lyses de produits toxiques et me- Nombre d'heures de stage IL
sures (40).
rémunérées
44. Transformation de l'organisation non rémunères
du travail
Décomposition par type de stages
Expériences de transformation de à titre d'exemple: adaptation, for-
l'organisation du t r a v a i l en vue ni a t i o n professionnelle, entretien
d'en améliorer le contenu (41). ou perfectionnement des connais-
sances.
45. Dépenses d'amélioration des condi-
tions de travail 52. Congés formation
Montant des dépenses consacrées à Nombre d.e salariés ayant bénéficié
l'améloration des conditions de tra- d'un congé formation non rémunéré.
vail dant l'entreprise, au sens de Nombre de salariés auxquels a été
l'article L. 437-2 du Code du Tra- refusé un congé formation.
vail (42).
Taux de réalisation du programme
d'amélioration des c o n d i t i o n s de 53. Apprentissage
t r a v a i l dans l'entreprise l'année Nombre de contrats d'appprentis-
précédente. sage conclus dans l'année.

- 303
VI RELATIONS Autres dépenses directement sup-
PROFESSIONNELLES portées par l'entreprise: logement,
transport, restauration, loisirs, va-
61. Représentants de personnel et délé- cances, divers, total (49).
gués syndicaux
Composition des comités d'entre- Autres charges sociales
prise et/ou d'établissement avec
indication, s'il y a lieu, de l'appar- Coût pour l'entreprise des presta-
tenance syndicale. tions complémentaires (maladie, dé-
Participation aux élections (par col- cès) (50).
lège) par catégories de représen- Coût pour l'entreprise des presta-
tants du personnel. tions c o m p l é m e n t a i r e s (vieil-
Volume global des crédits d'heures lesse) (51).
utilisés pendant l'année considérée. Équipements réalisés par l'entre-
Nombre de réunions avec les repré- prise et touchant aux conditions de
sentants du personnel et les délé- vie des salariés à l'occasion de
gués syndicaux p e n d a n t l'année l'exécution du travail.
considérée.
Dates et signatures et objet des
accords conclus dans l'entreprise NOTES
pendant l'année considérée
Nombre de personnes bénéficiaires I Une structure de qualification dé-
d'un congé d'éducation ouvrière taillée, em 3 ou 4 postes minimum
(45). est requise. Il est souhaitable de
faire référence à la classification
62. Information et comunication de la c o n v e n t i o n collective, de
Nombre d'heures consacrées aux l'accord d'entreprise et aux prati-
différentes formes de réunion du ques habituellement retenues dans
personnel (46). l'entreprise. A titre d'exemple la
Éléments caractéristiques du sys- répartition suivante peut être rete-
tème d'accueil. nue:
Éléments caractéristiques du sys-
tème d'information ascendante ou cadres.
descendante et niveau d'application. E. T. A. M.
Éléments caractéristiques du sys- et ouvriers.
tème d'entretiens individuels (47).
II Une structure de qualification dé-
63. Différends concernant l'application taillée en 5 ou 6 postes minimum
du droit du travail (48) est requise. Il est souhaitable de
faire référence à la classification
Nombre de recours à des modes de de la convention collective, de l'ac-
solution non juridictionnels enga- cord d' entreprise et aux pratiques
gés dans l'année. habituellement retenues dans l'en-
Nombre d'instances judiciaires en- treprise. A titre d'exemple, la ré-
gagées dans Tannés et où l'entre- partition suivante des postes peut
prise est en cause. être retenue:
Nombre de mises en demeure et
nombre de procès-verbaux de l'Ins- cadres,
pecteur du travail pendant l'année techniciens,
considérée. et agents de maîtrise,
employés qualifiés,
VII AUTRES CONDITIONS DE VIE employés non qualifiés,
RELEVANT DE L'ENTREPRISE ouvriers qualifiés,
71. Oeuvres sociales ouvriers non qualifiés.
Contribuition au financement, le
cas échéant, du comité d'entreprise Doivent en outre être distinguées
et des comités d'établissement. les catégories hommes et femmes.

304 -
(1) Effectif total: tout salarié inscrit (12) Y compris les heures indemnisées
à l'effectif au 31/12 quelle que soit au titre du chômage total en cas
la nature de son contrat de travail. d'arrêt de plus de 4 semaines con-
sécutives.
(2) Effectif permanent: les salariés à
temps plein, inscrits à l'effectif (13) Tel qu'il résulte de la déclaration
pendant toute l'année considérée et obligatoire prévue à l'article R 323-
liés par un contrat de travail à -51 du Code du Travail.
durée indéterminée.
(14) Possibilités de comptabiliser tous
(3) Somme des effectifs totaux mensuels les indicateurs de la r u b r i q u e
absentéisme, au choix, en jour-
12 nées, 1/2 journées ou heures.
(on entend par effectif total tout
salarié inscrit à l'effectif au der- (15) Ne sont pas comptés parmi les
nier jour du mois considéré). absences: les diverses sortes de
de congés, les conflits et le service
national.
(4) La répartition retenue est celle
habituellement utilisée dans l'entre-
prise, à condition de distinguer au (16) Les tranches choisies sont laisées
moins 4 catégories, dont les jeu- au choix des entreprises.
nes de moins de 25 ans.
(17) On entend par rémunération la
(5) La répartition selon l'ancienneté somme des salaires effectivement
est c e l l e habituellement retenue perçus pendant l'année par le sa-
dans l'entreprise. larié (au sens de la déclaration
annuelle des salaires).
(6) Il s'agit des catégories de travail-
leurs extérieurs dont l'entreprise (18) Masse salariale annuelle totale, au
connaît le nombre, soit parce qu'il sens de la déclaration annuelle de
figure dans le contrat signé avec salaire.
l'entreprise extérieure, soit parce
que ces travailleurs sont inscrits (19) Rémunération mensuelle moyenne:
aux efectifs. Exemple: démonstra- 1 mi
teurs dans le commerce... , . 2 — r où mi représente la masse
12 ei
salariale du mois i et ei l'effectif
(7) Stages supérieurs à une semaine. du mois i.
(8) Est considéré comme travailleur (20) Faire une grille des rémunérations
temporaire, toute personne mise à en distinguant au moins six tran-
la disposition de l'entreprise, par ches.
une entreprise de travail tempo-
raire, telle que définie à l'article (21) Pour être prises en compte, les
L. 434-1 du Code du Travail. catégories concernées doivent com-
porter au minimum 10 salariés.
(9) A ne remplir que si ces départs
son comptabilisés dans le total des (22) Distinguer les primes individuelles
départs. et les primes collectives.
(23) Prestataires de services, régies...
(10) Distinguer les différents systèmes
légaux et conventionnels de toute (24) Frais de personnel: ensemble des
nature. rémunérations et des cotisations
sociales mises légalement ou con-
(11) Utiliser les catégories de la no- ventionnellement à la charge de
menclature détaillée 11. l'entreprise.

20 - 305
(25) Le montant global de la réserve de «les travaux effectués sur des
participation est le montant de la postes de travail independents
réserve dégagée — ou de la provi- consistant en la conduite ou
sion constituée — au titre de la par- l'approvisionnement de machi-
ticipation sur les r é s u 11 a t s de nes à cycle automatique et à
l'exercice considéré. cadence préréglée en vue de
la réalisation d'opérations élé-
(26) La participation est envisagée ici mentaires et successives aux
au sens du titre IV do livre IV du différents postes de travail;
Code du Travail.
«les travaux effectués sur des
(27) Non compris les dirigeants. postes indépendants sans dis-
positif automatique d'avance-
(28) F a i r e référence aux «codes de ment des pièces où la cadence
classification des éléments maté- est imposée par le mode de
riels des accidents» (arrêté du 10 rémunération ou le t e m p s
Octobre 1974). alloué pour chaque opération
élémentaire».
(29) En application de l'article L. 498
du Code de la Sécurité Sociale. (37) Cette carte n'est à réaliser que par
les établissements qui ont une ré-
(30) Il est possible de remplacer cet ponse non nulle à l'indicateur pré-
indicateur par la somme des heu- cédent.
res travaillées durant l'année.
(31) Au sens des dispositions introduites (38) Article 70-3, d) du décret du 29 Dé-
dans le Code du Travail et le Code cembre 1945 modifié par le décret
Rural par la loi n.° 76-657 du du 10 Mai 1976: «sont considérés
16 Juillet 1976 instituant un repos comme travaux au four, les tra-
compensateur en matière d'heures vaux exposent de façon habituelle
supplémentaires de travail. et régulière à une forte chaleur
ambiante ou rayonnante résultant
(32) Au sens de l'article L. 212-4-1 du de l'utilisation d'un traitement ther-
Code du Travail. mique, d'un processus de cuisson,
de la transformation de produits en
(33) Au sens de l'article I. 212-4-2 du état de fusion, d'ignition ou d'in-
Code du Travail. candescence ou de la production
d'énergie thermique».
(34) Cet indicateur peut être calculé sur
la dernière période de référence. (39) Article 70-3, e) du décret du 29
Décembre 1949 modifié par le dé-
(35) Préciser, le cas échéant, les condi- cret du 10 Mai 1976: sont consi-
tions restrictives. dérée comme travaux exposant aux
intempéries sur les chantiers, les
(36) Article 70-3, c) du décret du 29 Dé- travaux soumis au régime d'inde-
cembre 1945 modifié par celui du mnisation d é f i n i s aux articles
10 Mai 1976: «sont c o n s i d é r é s L. 371-1 et suivants du Code de
comme travaux à la chaîne: Travail ainsi que les travaux effec-
tués de façon habituelle et régu-
«les travaux effectués dans une lière sur les chantiers souterrains
organisation comportant un dis- ou subaquatiques, ou en plein air sur
positif automatique d'avance- les constructions et ouvrages, les
ment à cadence constante des aires de stockage et de manuten-
pièces en cours de fabrication tion».
ou de montage en vue de la
réalisation d'opérations élé- (40) Renseignements t i r é s du raport
mentaires et successives aux annuel du m é d e c i n du travail
différents postes de travail; (arrêté du 10 Décembre 1971).

306 -
(41) Pour l'explication de ces expe- (46) On entend par réunion du per-
riences de l'article L. 437-1, ali- sonnel, les réunions régulières de
néa 2 du Code du Travail, donner concertation, concernant les rela-
le nombre de salariés concernés. tions et conditions de travail orga-
nisées par l'entreprise.
(42) Non compris l'évaluation des dé-
penses en matière d'hygiène et de (47) Préciser leur périodicité.
sécurité.
(48) Avec indication de la nature du
différent et, le cas échéant, de la
(43) Renseignements tirés du rapport solution qui y a mis fin.
annuel du médecin du travail (ar-
rêté du 10 Décembre 1971). (49) Dépenses consolidées de l'entre-
prise. La répartition est indiqués
(44) Conformément à la déclaration ici à titre d'exemple.
annuelle des employeurs n.° 2483
relative au financement de la for- (50) Versements directs ou par l'inter-
mation professionnelle continue. médiaire d'assurances.
(45) Au sens de l'article L. 451-1 du (51) Versements directs ou par l'inter-
Code du Travail. médiaire d'assurances.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Celulose Cacia, Política Ambiente, Publicação comemorativa dos 25 anos.

(2) L. D. Parker, Accounting for Corporate Social Responsability.

(3) Segundo as acepções do OCDE, «benvestar social» (social welbbering,


bien-être social), é sinónimo de qualidade de vida e pretende significar o
bem-estar global dos indivíduos; «bem-estar societal» engloba uma tomada
em consideração das estruturas institucionais da sociedade. A OCDE
utiliza a palavra «societal» para designar todas as questões que respeitem
à sociedade no seu conjunto (por oposição à palavra «social» que pode
tomar também outras significações).

(4) A. Cabaço Pires, A Formação dos Quadros Contabilísticos, in «Jornal do


Técnico de Contas e da Empresa», Nov. 78.
(5) Policarpo de Lemos, Contabilización dei valor dei Potencial Humano,
in «Técnica Contable», Madrid, Feb. 1979.
(6) J. T. — L. Mendonça Santos, Comptabilité des Ressources Humaines, in «Re-
vue Belge de la Comptabilité et de l'Informatique», n.° 4/75, de 31/12/75.
(7) Usamos aqui a expressão «Contabilidade de Recursos Humanos» como um
conjunto de métodos que tendem a avaliar o «capital humano» como uma
parte e somente uma parte dos activos incorpóreos, ou, como uma nova
categoria do passivo (como propõe Edmond Marqués in Contabilidad y Ges-
tion de Recursos Humanos, Édiciones Pirâmide, SA, Madrid, 1974, p. 114).
(8) Citado por John Humble, L'Audit Social, Dalloz, Paris, 1975, p. 46.

- 307
(9) Trevor GAMBLING, Societal Accounting, George Allen & Unwin, 1974, p. 9.
(10) «Jornal de Notícias» 15/5/77.
(11) Pierre SUDREAU, La Reforme de l'Entreprise, Union Générale d'Éditions,
Paris, 1975, p. 53.
(12) Pierre SUDREAU, ob cit., p. 71.
(13) Serge BLIND,Biîan Social et Mesure du Rôle Social de l'Entreprise, Éditions
d'Organisation, Paris, 1977, p. 13.
(14) OCDE.Lisie des Préocupations Sociales, Paris, 1973, p. 10.
(15) AFCOD, Les ratios sociaux, Éditions d'Organization, Paris, 1978.
(16) Semanário «O Tempo» de 13/6/1979.
(17) Edmond MARQUES, Bilan Social, Dalloz, Paris, 1978, p. 34.
(18) AFCOD.Les ratios sociaux, Les Éditions d'Organization, Paris, 1978, p. 12.
(19) John HUMBLE, L'Audit Social, p. 22.

308 -
6
Comunicações da 5.a mesa
A Contabilidade e o Fisco

Presidente: Dr. Rogério Fernandes Ferreira


Professor da Universidade Católica

Secretário: Dr. António Rocha Andrade


Assistente do ISCAA
O Lucro e a Tributação das Empresas
— algumas reflexões com vista a ensaios sobre novas
perspectivas

Por Rogério Fernandes Ferreira

As reflexões que se seguem foram por mim escritas em 1974 para


apresentar em Jornadas da Fiscalidade que afinal não se puderam
realizar. Dado o interesse do assunto revi o texto de então, fiz-lhe
acrescentos e modificações, e aqui o deixo à consideração dos parti-
cipantes destas Jornadas:
São as empresas entes sociais e jurídicos que congregam capitais,
trabalho, esforço de direcção, transformando matérias, comerciali-
zando mercadorias, prestando serviços.
Por detrás das empresas estão as pessoas que nela participam
e se bem que juridicamente se formulem diferenciações, em última
análise, são os detentores dos meios de acção das empresas — capital,
direcção e trabalho — os beneficiários directos dos seus sucessos (oU
dos seus insucessos, em caso de inadequada ou infeliz actuação).
As empresas, em especial as sociedades e as empresas públicas,
constituem realidade social juridicamente diferenciada das pessoas
singulares e colectivas que nelas participam comi capital e/ou com
trabalho. É a empresa um ente dotado de personalidade jurídica e
de capacidade para agir autónoma e independentemente, com patri-
mónio, personalidade, vontade, nome próprio, etc.
Não obstante, há quem, acentue que o aparecimento do ente
intermédio «empresa» acarreta tributações sucessivas ou duplicadas
dos mesmos ganhos, das mesmas realidades económicas 0). E, em

0) Entende-se não dever falar de «dupla tributação» pois os sujeitos jurí-


dicos são distintos — há apenas tributação repetida (em sujeitos distintos) de um
mesmo rendimento.

— 311
seguimento, concluem que a solução da tributação do ganho na
empresa societária (2) e depois nos sócios (quando distribuídos) não
é equitativa, face a outras situações em que não se tributa ou não
existe o ente intermediário «empresa societária» ( 3 ).
Claro que a essa ordem de ideias se podem opor argumentações
sob outras perspectivas, designadamente:

— a distinção da personalidade jurídica da sociedade e dos


sócios ;
— o facto de os impostos das sociedades se contabilizarem
nestas como custos de exercício, difundindo-se ou trasla-
dando-se algo imprecisamente pelo conjunto dos clientes
da empresa, seus trabalhadores, sócios, financiadores, for-
necedores, etc.;
— o lucro é realidade com autonomia formal e conceituai,
realidade que, embora residual, surge devido à existência
de organização quer específica da empresa quer do meio
económico, político e social em que a mesma actua, havendo
razão para o Estado, que no fundo representa política e
juridicamente a Nação, arrecadar uma quota-parte do
lucro gerado no meio social, através de impostos sobre
lucros.

Acontece que na fase actual os impostos sobre os lucros das


empresas ainda atingem; certo volume nas receitas do orçamento
estadual e do das autarquias locais, embora o abandono da tribu-
tação dos lucros das empresas pudesse conduzir ao aparecimento de
imposto substitutivo. Ademais, a tributação sobre os lucros das
empresas tem contribuído para o aperfeiçoamento das formas de
controle da gestão, obtenção de estatísticas várias e formação de
instrumentalidade gestiva, o que redunda em benefício da própria
empresa e meio social.
A existência do imposto sobre os lucros e dos seus meios de
controlo específicos facilitou ao Estado a liquidação e arrecadação
dos demais impostos sobre outras categorias de rendimentos ou sobre
despesas, transacções ou transmissões de patrimónios.
Todavia, a tributação sucessiva na sociedade e nos sócios não
é fenómeno negligenciável, não só no campo dos princípios mas

(2) Na empresa pública já é diferente pois por detrás está o Estado ou


outro ente público que é o titular ou o dotadotr do capital (estatutário) da em-
presa. E na empresa em nome individual não há a distinção empresa-empresário
para efeitos dos impostos sobre os lucros.
(3) Convém, no entanto, advertir que muitíssimas vezes a sociedade cons-
titui via de redução importante de impostos para os seus sócios.

312 —
também no da política e técnica fiscais. Por isso, convirá apreciar
conjuntamente a tributação das empresas pela obtenção de lucros
e a dos participantes na empresa em relação aos rendimentos e valo-
rizações que lhe são atribuídos por via de dividendos, remunerações
de gerência e de trabalho, valorizações de posições (aumentos _de
capital por incorporação de reservas), ganhos na cessão de posições
f sociais ou nas liquidações das empresas, etc., etc.
No Sistema Fiscal Português, ponderada a existência da tribu-
tação sucessiva, procura-se minorar os seus efeitos. Assim, há
tributação menor — nos sócios — sobre as atribuições de dividendos
em relação às atribuições de juros a sócios. E, no caso de sociedades
de gestão de títulos próprios, há deduções específicas que visam
evitar ou atenuar as tributações derivadas de participações finan-
ceiras sucessivas.
Convém também notar que para o exercício de actividades ditas
económicas a forma de empresa impõe-se não só porque é a mais
exigente de actuações conjugadas, de coesão de esforços e de dotação
e reunião de capitais, como também é aquela em que o carácter
institucional mais se justifica. Nas actividades das empresas abun-
dam gastos plurienais sem: corporizações, trabalha-se frequentemente
com equipamentos de utilização plurienal, e a consolidação da clien-
tela, da experiência, do «know-how» ao longo dos anos assume muito
relevo (4).
Entende-se que seria vantajoso que os estudiosos da Fiscalidade
ponderassem as consequências, os prós e contras da anulação (5) da
fórmula tributária actual do imposto sobre os lucros ou a sua substi-
tuição por outra assente nos valores acrescentados, considerando o
atrás exposto e mais as razões que seguidamente se aduzem:
— A produção ou criação de utilidades atribuída à entidade
«empresa» depende da intervenção de diversos factores produtivos
actuando através dela, coordenada e conjuntamente. Pode isolar-se
a remuneração de certos factores produtivos que actuam na empresa,
tais como: a) capital integrado nos negócios quer por sócios ou
outros dotadores de capital próprio quer por estranhos (6); b) tra-

(4) Por isso se observa que caso se pretendam formular comparações entre
a tributação nos diversos países há que ponderar diferenciações existentes nas
formas de definição, apuramento e contabilização dos ganhos.
* (5) Essa anulação respeitaria apenas aos ganhos distribuídos que, como as
demais remunerações atribuídas a outros títulos, não teriam assim tributação
nas empresas.
(6) Na realidade, é viável atribuir (contabilisticamente ao menos) remune-
ração ao próprio capital social e lucros retidos da gestão passada e à direcção
do empresário, dando-lhe até relevo que tome em conta o maior risco e a natu-
reza dessas contribuições desde que haja para o efeito o que aqui se irá deno-
minar por resíduo (em vez de lucro). Admitindo-se que não haveria resíduo

- 313
balho de direcção e trabalho executivo comprado pela empresa e reali-
zado por sócios ou titulares do capital; c) cedências diversas de bens
instrumentais de terceiros para utilização, etc. Atribuídas todas,
algumas ou até outras remunerações diferentes das respeitantes ao
atrás mencionado, poderá subsistir (subsiste geralmente) um resí-
duo, resíduo esse que constitui o lucro ou o resultado (positivo ou
negativo).
Porém, cada vez mais se discute o que é o lucro, qual a sua
adequada composição, como fazer a sua partilha, a quem deve
pertencer a sua apropriação.
Ora, uma profunda e adequada apreciação da partilha do resíduo,
exigiria se abordasse o tema sob perspectivas várias: historicistas,
eticistas e filosóficas. Após isso, far-se-ia um exame económico-
-político do fenómeno do lucro, dentro da actual estrutura económica,
política e social, e, em seguida, talvez fosse possível apontar outras
soluções de partilha do lucro diferentes das actuais. E no «direito
fiscal positivo» haveriam de adoptar-se as soluções mais compatíveis
com tal evolução.
Com efeito, julga-se útil ver posta em causa — num plano teórico,
inicialmente — a ideia de que o lucro é um pressuposto a considerar
na actividade da empresa ou no objectivo desta. Embora se pro-
penda actualmente para concluir que o lucro é objectivo a atingir
pelas empresas, não pode deixar de acentuar-se que, noutro aspecto,
o lucro é realidade operacional, instrumento de medida, cifra conta-
bilística que surgirá, aposterioristicamente, no termo de cada período
de gestão, e a que importa dar destino.
Tem-se verificado que ao longo dos tempos acrescem encargos
das empresas que são verdadeiras amputações do lucro tradicional
como é o caso dos impostos sobre os lucros e das participações nos
lucros dos corpos gerentes ou quadros directivos e trabalhadores.
Fala-se assim: em «lucro-ante» e «lucro pós-impostos e participações».
Em futuro mais ou menos longínquo o lucro poderá sofrer ainda maior
redistribuição por vários factores produtivos, isto é, pelos interve-
nientes na vida e gestão da empresa. Considera-se viável, ao menos
no campo das ideias por agora, a restituição de parcelas de lucro
a mais entidades do que tradicionalmente e às quais se atribua a

outras formas de participação no valor acrescentado se teriam de equacionar,


na certeza de que, tal sucedendo, todos os participantes nas remunerações teriam *
algo a perder. Ainda assim a nova modalidade de partilha seria mais favorável
para aqueles que nada recebiam adicionalmente nas primitivas repartições e so-
friam, por vezes mais duramente, os efeitos dos riscos. Dizer-se que só o capi-
talista perde na empresa no caso de prejuízos ou falência dos negócios é ver o
problema incompletamente. As perdas para os trabalhadores frequentemente são *
mais gravosas e dolorosas (perda de condições de subsistência ou redução do
nível de bem-estar).

314 -
formação ou a causa do lucro — pessoal da empresa, clientes, só-
cios ('), fornecedores, Estado (como comunidade prestadora de ser-
viços e representativa dos interesses gerais e sociais).
Certamente que a consideração de questões como as apontadas
conduziria a rediscussões sobre o lucro e sua tributação. Tudo isto
exige estudos que estão por efectuar o que é mais uma razão para
ventilar aqui o assunto. As acções hão-de ser precedidas por ideias,
geralmente contestáveis primeiro, abandonadas ou seguidas depois.
Enquanto esses estudos não forem efectuados de modo desenvol-
vido e sistemático é muito de admitir, considerando as suas várias
implicações, não se poder levar avante ideias como as acima des-
critas. Mas por muito que os aspectos ventilados possam consi-
derar-se revolucionários por alguns, o certo é que mais tarde ou
mais cedo o problema há-de ser posto e as comunidades que não
procurarem progredir e aperfeiçoar os métodos de obtenção e par-
tilha dos rendimentos terão, no conjunto dos seus cidadãos, menos
bem-estar e menos progresso económico-social e cultural.
Deve dizer-se que mesmo confinando a abordagem destas ques-
tões a uma perspectiva de política e de técnica fiscais, muitas van-
tagens se encontrariam na busca de uniformizações quer de conceitos
quer de técnicas e políticas tributárias.
Hoje em dia, face aos movimentos de integração económica inter-
nacional, as diferenciações tributárias ao nível internacional serão
fonte de perturbações e dificultarão a harmonia das soluções a nego-
ciar, quer em acordos internacionais especificadamente tributários
e bilaterais, quer em acordos mais amplos, de carácter económico e
social, englobando grupos de países.
Ora, a grandeza «lucro» é extremamente flexível e pode variar
em função de factores dos mais variados, entre os quais se podem
destacar os seguintes, de compilações extraídas de trabalhos nossos:
1) O próprio conceito de lucro (e a sua evolução, de acordo com
as correntes de pensamento económico e social); a natureza
cada vez mais residual que assume a grandeza lucro (8) ;

(7) Os sócios, como fornecedores do capital social da empresa, seriam


previamente embolsados da remuneração atribuída ao capital; a verificação de
prejuízos levaria os gestores ou dirigentes da empresa à prática de reestrutu-
rações que eliminassem ou diluíssem os prejuízos por todos os «interventores
da Empresa».
(8) Além de residual, a grandeza lucro é dependente das formas e propor-
ções em que os diversos factores produtivos são remunerados. Assim, os
empresários podem receber remunerações a título de salários de direcção ou
reservarem os seus ganhos para a fase de aplicação do lucro apurado. Poderão
existir grandes disparidades, de empresa para empresa, entre as proporções de
capital próprio e alheio, podendo os financiamentos aparecer sob formas de
prestações suplementares ou de suprimentos ou de capital alheio de estranhos
mas derivado de influências ou poderes dos sócios. Para as empresas públicas
a lei estabelece já a obrigatoriedade de remuneração do capital próprio.

— 315
2) Variedade de noções e de significados económicos e conta-
bilísticos de lucro:

— lucro bruto, lucro líquido, lucro puro, lucro de tesou-


raria;
— lucro por função — compras, fabrico, vendas;
— lucro por produto, lucro por sector ; 1
— lucro orgânico e lucros inorgânicos;
— lucros ordinários e lucros extraordinários, acidentais,
conjunturais;
— lucro de gestão e lucro de capital ou mais-valias ;
— lucro normal e lucro não normal (v. g. resultados de
empresas que actuam em condições deficientes ou em
regime de privilégios) ;
— lucro expurgado de custos de inactividade;
— lucro com ou sem dedução de impostos;
— lucro formal e lucro real — o conceito substancial do
lucro.

3) A possível inconstância do lucro perante as sucessivas con-


junturas e as mudanças de carácter estrutural ou de insti-
tutos jurídicos relacionados com o lucro.

4) A natureza periódica do cálculo do lucro, contrastante com


a natureza continuada da gestão ou da actividade lucrativa
exercida; nem sempre se faz (e nem sempre é possível fazer,
dada a íntima conexão dos diversos exercícios) uma perfeita
periodificação dos custos e proveitos. É frequente, especial-
mente nas empresas de maior dimensão, complexidade ou
volume de operações, surgirem para registo em dado exer-
cício encargos e rendimentos que, em rigor, deveriam movi-
mentar-se em, exercícios anteriores. Não se consegue realismo
e comparatividade entre resultados de períodos sucessivos, em
virtude de aparecerem encargos acidentais e riscos não pre-
vistos nem imputados (ou mal imputados) através de pro-
visões ;

5) As oscilações no tempo do padrão monetário que mede o


lucro; a nominalidade dos valores dos bens que são objecto
ou instrumento da gestão; as variações de valor intrínsecas
dos próprios bens:

— empresas com meios patrimoniais hipoavaliados ou


hiperavaliados; influência dessas menos ou mais-valias
no cálculo das quotas de amortização e, consequen-
temente, nos custos e nos resultados; maiores

316 —
valias nominais e maiores valias reais, maiores valias
efectivas e maiores valias potenciais; problema das
reavaliações e as suas consequências nas determina-
ções posteriores de resultados:

6) A variabilidade do luc:o em função de circunstâncias ou


factores extrínsecos à empresa:

— emigração; acréscimo ou descrécimo populacional,


guerras, catástrofes, inovação tecnológca, evolução po-
lítica, etc.;

7) A variabilidade do lucro em função de circunstâncias ou


factores intrínsecos à empresa:

— inclusão ou exclusão nos custos de produção de gastos


excessivos, extraordinários e anormais; níveis de
remunerações dos quadros directivos e do pessoal;
— consideração ou não de provisões;
— insuficiência dos critérios de valorização dos stocks
no cálculo dos recultados; valorização a custos de
aquisição, a preços de venda ou a preços de reposição;
variedade dos critérios de cálculo de custo das produ-
ções; uso de custos de aquisição ou de custos de subs-
tituição na contabilização das entradas de matérias e
mercadorias; contabilização a custos totais, a custos
variáveis, a custos de imputação racional; contabili-
zações a custos históricos ou a custos teóricos ou
padrões; subcritérios de contabilização possíveis para
registo das saídas das matérias, produtos ou merca-
dorias; custo originário, custo médio do stock, custo
cronológico directo (FIFO), custo cronológico inverso
(LIFO), etc.;

8) Discutibilidade das regras relativas aos valores sobre que


podem incidir as amortizações, seus métodos, quotas e taxas:

— valor de aquisição (há compras em boas e compras


em más condições; em virtude de práticas defeituosas
muitas empresas desconhecem os verdadeiros valores
de aquisição de certas parcelas do seu imobilizado);
— valor de substituição ou custo actual (quase sempre
de difícil determinação, pois dão-se desvalorizações
monetárias mais ou menos acentuadas, oscilações de
preços e câmbios, inovações técnicas ou variações nos

— 317
modelos construídos que complicam as comparações
de preços de bens de equipamento diferentes;
— métodos de amortização: quotas constantes, crescen-
tes, descrescentes; contemplação do valor residual e
dos custos de derrube; amortizações aceleradas, cícli-
cas, variáveis, em função dos lucros; reflexos das
amortizações nos custos, na liquidez, no autofinan-
ciamento ;
— taxas de amortização: variáveis consoante a natureza
e qualidade do imobilizado, irregularidade ou cons-
tância da sua utilização, intensidade desta, tipo de
exploração, localização, conservação, obsolescência,
duração física, período de vida legal, usura econó-
mica, etc.;
9) Dificuldades peculiares do cálculo de custos nos casos de
produções conjuntas, complementares, por fases, em depar-
tamentos ou unidades fabris; os custos de inactividade;
cálculos de economicidade ou de eficiência dos diversos
sectores ou departamentos (compras, produção, vendas) ;
10) Os propósitos dos detentores do comando real da empresa
e as influências várias a que estão sujeitos ao fixarem níveis
de capital próprio, remunerações de factores produtivos;
escrituração ou não em Ganhos e Perdas dos juros do capital
próprio e igualmente de outros encargos financeiros:
— disparidades nas proporções de capital próprio e alheio
das empresas; existência de «prestações suplementa-
res»; empresas com suprimentos ao capital e empresas
com empréstimos de terceiros; diversidade de taxas
de juro; utilização de prédios e equipamentos próprios
ou tomados de arrendamento, aluguer ou em novos
regimes (leasing, renting) de utilização de bens de
terceiros; distinções resultantes de certos empresários
arbitrarem remunerações do seu trabalho, enquanto
outros são simplesmente remunerados por força dos
lucros ;

11) As relações de dependência entre as empresas (regimes de


participação, associação ou diferenças de poder de contra-
tação), sobressaindo hoje as consequências que no apura-
mento do lucro reveste a multinacionalidade da empresa e as
relações de carácter internacional.
Os aspectos referidos, obviamente, perturbam ou dificultam quer
o significado quer a própria determinação do lucro. Um esforço

318 —
de colaboração entre os departamentos do Estado, as escolas, os
técnicos, os organismos profissionais e as associações de empresários,
poderá favorecer a formulação e concretização de mudanças estru-
turais e ambientais superadoras de dificuldades e anomalias exis-
tentes.

CONCLUINDO:

O estudo aqui esboçado mereceria tratamento mais incisivo ou


menos genérico, de modo a conseguirem-se conclusões em idênticos
termos. Consider ase que a tributação das empresas em Portugal
com base no lucro terá, por certo, de subsistir ainda por grande
lapso de tempo, mas a fácil variabilidade e o carácter residual do
lucro deverão conduzir à pesquisa de novas formas de tributação
das empresas.
Sugere-se assim que se comece a estudar a desnecessidade, incon-
veniência ou incongruência da tributação do lucro que é verba
residual com tendência para um apagamento progressivo, como atrás
se procurou salientar.
Nos países do Mercado Comum há já a tributação relativa ao
valor acrescentado, mas como imposto indirecto e repercutível nos
consumidores de bens. Acaso no futuro se queira ultrapassar o
actual esquema de tributação do lucr 0 empresarial e não prescindir
de impostos sobre a empresa aponta-se aqui, como possível caminho,
uma tributação sobre o valor acrescentado. Porém, o tipo de tribu-
tação que se aponta seria diferente do actual imposto sobre o valor
acrescentado (imposto indirecto), o que, obviamente, conduziria à
busca de conciliações.
Em suma: um feixe de questões variadas e correlativas que se
reputa útil discutir nestas Jornadas, e na mesa que se ocupa de
Contabilidade e de Fiscalidade, até porque se revela necessária a
redefinição da remuneração dos factores de produção e em especial
do lucro, atentas as evoluções e os problemas actualmente existentes
nestas matérias.

— 319
A Contabilidade e a Fraude Fiscal
Por Henrique Quintino Ferreira

1. OBJECTIVOS DA CONTABILIDADE

A contabilidade do tipo empresarial, sendo a que nos inte-


ressa no presente estudo, consiste fundamentalmente no registo
em livros e documentos das operações de natureza económica
em que a empresa intervém, por forma a conhecer-se em; qualquer
momento a posição qualitativa e quantitativa do seu património
e do seu rédito, resultante das referidas operações.
Assim, as operações da compra de bens ao exterior para
consumo no processo produtivo da empresa, os fenómenos da
produção e da distribuição dos bens produzidos, a repartição da
riqueza criada na empresa pelos factores intervenientes nessa
produção — trabalho, capital, terra e a própria organização
empresarial — são classificadas na contabilidade através das
contas, com o objectivo de informar de forma completa e
objectiva todas as entidades interessadas nesses valores, desde
os próprios gestores e empresários que dos mesmos necessitam
para orientar a gestão da empresa até ao Serviço de Estatística
Nacional, à Administração Fiscal, ao público interessado em
investir, aos trabalhadores da empresa, etc.

2. A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DA FISCALIDADE


A fiscalidade interessa-se em conhecer os registos contabi-
lísticos porque pretende tributar o rendimento da empresa e os
ganhos de capital evidenciados na contabilidade, além de fisca-
lizar outros impostos sobre o rendimento distribuído e sobre a
despesa.
A parte do valor acrescentado que pertence à empresa sob
a forma de rendimento da exploração, alguns ganhos de capital
obtidos com a transmissão de elementos do activo fixo, consti-

21 - 321
tuindo aumentos líquidos de riqueza, interessam em especial ao
Fisco para efeitos de tributação, obrigando as empresas, indivi-
duais ou colectivas, a contribuir na proporção do seu rendimento
para as despesas do Estado.
Em, relação a outros impostos sobre rendimentos do trabalho
e rendimentos de capitais, e a impostos indirectos que incidem
sobre a produção ou a venda, à Administração Fiscal interessa
recolher da contabilidade elementos que lhe permita controlar
os impostos daquele tipo que em alguns casos são calculados
pelas próprias empresas.
Pode dizer-se que uma contabilidade organizada de acordo
com os sãos princípios contabilísticos, permitindo calcular o rendi-
mento obtido pela empresa de forma correcta e registando, além
disso, outros fenómenos de natureza económica que servem de
base de incidência de vários impostos sobre o rendimento, sobre o
capital e sobre a despesa, é o instrumento fundamental de que
a Administração Fiscal se serve para atingir os seus objectivos
de uma tributação correcta e justa.

3. PROCEDIMENTOS CONTABILÍSTICOS INTENCIONALMENTE


PREPARADOS PARA REDUZIR OU EVITAR O PAGAMENTO
DE IMPOSTOS

Na prática, nem sempre são seguidos os sãos princípios con-


tabilísticos, porque há a preocupação de evitar ou reduzir o
pagamento de impostos, através de lançamentos que não corres-
pondem às operações efectivamente realizadas.
Em outros casos actua-se por omissão, isto é, não se registam
nos livros legalizados determinadas operações que efectivamente
tiveram; lugar.
Em qualquer das hipóteses o objectivo é só um e consiste em
procurar reduzir-se ou não se explicitar os valores sobre que vão
incidir as taxas dos vários impostos.
Embora alguns autores indiquem várias causas que podem
explicar a intenção do contribuinte em defraudar o Estado como:
causas políticas, económicas, psicológicas, morais e técnicas, em
nossa opinião a causa principal terá de ser a económica. Efecti-
vamente o pagamento dos impostos é um fenómeno de natureza
económica e, de Um modo geral, as pessoas, tanto físicas como
colectivas, têm; sempre uma certa relutância em reduzir o seu
património privado sem receber em troca qualquer contrapres-
tação e, daí, nos parecer que as causas que comandam as tenta-
tivas de fraude fiscal são fundamentalmente de natureza econó-
mica.

322 —
Pensamos que será conveniente apontar alguns tipos de frau-
des fiscais cometidas através da contabilidade, escolhendo os
que nos parecem mais significativos de entre u m a grande varie-
dade de casos que se conhecem.
Como é óbvio e atendendo ao título do trabalho, não trata-
remos aqui dos casos de falsificação ou viciação de escrita que
se destinam especialmente a prejudicar interesses de terceiros
com,» sócios ou accionistas, clientes, fornecedores, etc., não tendo
quaisquer consequências de natureza fiscal.

a) Grupos económicos de âmbito nacional

Ë frequente verificarem-se entre empresas do mesmo


grupo económico procedimentos contabilísticos tendentes
a reduzir a carga fiscal:

aO Vendas por preços fictícios, inferiores aos nor-


mais, de empresas sujeitas a impostos sobre os
lucros para empresas do grupo também sujeitas,
mas que apresentam prejuízos ou que beneficiam
do reporte de prejuízos.
a2) Vendas nas mesmas condições para empresas do
grupo isentas de impostos sobre os lucros ou
sujeitas a esses impostos, mas com taxas redu-
zidas.

a3) Distribuição de alguns encargos da sociedade-


-mãe pelas restantes, por forma a evidenciar
resultados fictícios nas várias empresas do grupo,
com vista ao pagamento de menos impostos sobre
os lucros.

b) Grupos económicos de âmbito internacional

bj Compra pelas empresas dependentes à sociedade-


-mãe ou a associadas de matérias primas, merca-
dorias ou elementos do imobilizado a preços
fictícios, com o objectivo de reduzir os rendi-
mentos das empresas adquirentes, através do
aumento dos custos dos bens permutáveis e das
amortizações.
Por este processo o país importador cobra menos
impostos e há maior saída de divisas para o
estrangeiro.

— 323
b2) Venda a preços fictícios para a sociedade-mãe
situada no estrangeiro, por vezes ao custo de
produção, não se recuperando, assim, os encargos
administrativos, financeiros e outros, de produtos
fabricados com matérias primas importadas da
mesma sociedade-mãe ou de suas associadas,
com o objectivo de não explicitar resultados posi-
tivos sujeitos a impostos. A entrada de divisas
no país decresce por função deste sistema.

c) Empresas importadoras e exportadoras independentes

Há casos em que não se verifica dependência econó-


mica ao nível de grupo comandado por uma empresa-mãe,
mas em que existe uma dependência desse tipo pelo
interesse económico que as firmas estrangeiras têm em
continuar a vender ou comprar a empresas nacionais.
Fornecedores estrangeiros facturam ficticiamente
mercadorias ou matérias por preços superiores aos da
concorrência, com a finalidade de reduzir os resultados
da empresa importadora, colocando-se a diferença à
ordem dos importadores no estrangeiro. Trata-se, tam-
bém, de uma fraude fiscal e de natureza monetária, obri-
gando à cobrança de menos impostos e à saída de maior
valor de divisas.
O caso contrário também se poderá verificar com
exportações por valores fictícios inferiores aos normais
de mercado.

d) Empresas sujeitas a regimes fiscais distintos

dO Empresas com sectores isentos e sujeitos — fa-


zem-se transferências do sector isento para o
sujeito de mercadorias, matérias ou produtos por
preços internos superiores aos que seriam nor-
mais em regime de concorrência, com o fim de
aumentar os resultados do sector isento ou sujeito
a redução de taxa em detrimento do sector
sujeito ao regime normal. Em empresas nestas
condições adoptam-se, por vezes, critérios de
repartição de custos comuns pelos vários secto-
res, com a preocupação de prejudicar o sector
sujeito ao regime normal.

324 —
d2) Empresas isentas temporariamente — Trata-se
dos casos em que o regime fiscal mais favorável
termina em determinada data. Há tendência
para contabilizar vendas efectuadas fora do pe-
ríodo da isenção dentro do período da isenção
para reduzir fraudulentamente os impostos ou
transferir compras do período da isenção para
fora dele, com os mesmos objectivos.

Fraudes relacionadas com os stocks

São também muito frequentes as fraudes praticadas


comi a contabilização dos stocks. Não podendo enume-
rar-se neste trabalho todos os casos conhecidos, salien-
tam-se alguns considerados como principais. Como se
sabe a principal fraude de natureza contabilística nesta
matéria é a sonegação de quantidades de stocks aos inven-
tários, proporcionando, assim, uma redução de valor dos
stocks finais e, consequentemente, uma redução dos resul-
tados tributáveis. É certo que no exercício seguinte a
redução do valor do stock inicial irá provocar uma re-
dução dos custos, mas se tal prática fraudulenta continuar
nos exercícios seguintes, e a inflação facilitar tal prática,
o Fisco continua a ser prejudicado. Este processo frau-
dulento é mais fácil de concretizar em sistemas contabi-
lísticos de inventário intermitente. Adoptando-se inven-
tário permanente a fraude pode também surgir, embora
com menor intensidade, através de quebras, que só um
estudo pormenorizado poderá levar à conclusão se são
ou não normais no sector de actividade respectivo.
Nestes casos, análises com base em margens de lucro
bruto podem por vezes detectar fraudes contabilísticas de
sonegação de stocks.

Outros tipos de fraudes contabilístico-fiscais

ft) Atribuição de proveitos não levados a crédito de


contas de resultados, mas de contas de terceiros
ou de activo fixo, com vista a esconder determi-
nados tipos de rendimentos, normalmente, de
bens mantidos como reserva ou para fruição.
f z) Venda de elementos do activo fixo, não se conta-
bilizando menos-valias ou mais-valias em contas

- 325
de resultados, mas ereditando-se apenas o valor
de venda a crédito do activo imobilizado, com a
intenção de não pagar imposto de mais-valias.

fs) Pagamento ou atribuição de ordenados e salários


a pessoas não empregadas da empresa para evi-
tar a retenção da totalidade ou parte de imposto
profissional e outros encargos de certos empre-
gados da empresa.

Muitos outros casos de fraudes contabilístico-fiscais


poderiam ser mencionados, mas não é o fim, deste traba-
lho apresentar uma lista exaustiva das várias situações
conhecidas. Apenas se tem em vista chamar a atenção
para um problema que no nosso País não tem tido da
parte das várias instituições, exceptuando a Administra-
ção Fiscal, a atenção que merece e o tratamento reque-
rido.

4. O COMBATE A FRAUDE FISCAL A NÍVEL NACIONAL E


INTERNACIONAL

A fraude fiscal constitui um flagelo para todos os países,


quer para os menos evoluídos quer para aqueles que se encon-
tram num; estado de desenvolvimento económico mais avançado.
Enquanto as Administrações Tributárias vão preparando esque-
mas mais aperfeiçoados para dar resposta mais eficaz a esse
combate, do lado do contribuinte congeminam-se processos mais
sofisticados para fugir aos impostos.
A nível dos países mais evoluídos tem-se assistido a um
esforço tendente ao aperfeiçoamento das técnicas da fiscalização,
desde o recrutamento de pessoal devidamente qualificado e pos-
suidor das qualidades indispensáveis para o desempenho de tare-
fas de tal responsabilidade até ao tratamento automático das
declarações dos contribuintes e à elaboração de estudos e pro-
gramas procurando formas mais expeditas para atingir aqueles
objectivos.
A nível de organizações internacionais que se preocupam com
a fraude fiscal, destaca-se a O. C. D. E. que vem promovendo
reuniões periódicas entre inspectores de impostos para a elabo-
ração de estudos e trocas de experiências com vista a uma apro-
ximação e colaboração entre as Administrações Fiscais dos
vários países. Existe um Comité de Assuntos Fiscais que traba-
lha permanentemente ao nível daquela organização internacional.

326 —
Em Portugal não se tem dedicado a devida atenção a este
problema, embora depois de 1974 se tenham feito alguns esforços
nesse sentido. A nossa fiscalização tributária terá de ser objecto
de uma vasta reestruturação que tem vindo a ser elaborada há
cerca de quatro anos, e que terá objectivamente de atender a
vários pontos essenciais, em especial na parte que se relaciona
com a contabilidade:

a) Quadros de pessoal com efectivos suficientes para


efectuar a cobertura de todos os contribuintes com conta-
bilidade organizada.
b) Pessoal devidamente qualificado com uma preparação
técnica de base que lhe permita proceder ao exame das
várias situações tributárias de natureza contabilística.
c) Pessoal recrutado com a preocupação de que os quadros
da fiscalização necessitam de agentes que além das qua-
lidades anteriores possuam ainda outros atributos como
coragem, independência, imaginação e iniciativa.
d) Adopção de processos evoluídos de apoio à fiscalização,
com, destaque para a informática e para os processos
estatísticos de tratamento dos dados contabilísticos cor-
rectos.

5. A IMPORTÂNCIA DA NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

A normalização contabilística é um contributo muito válido


para atenuar sensivelmente às tentativas de fraude contabilís-
tico-fiscal, embora não tenhamos dúvidas sobre a impossibilidade
de a elimina-r completamente.
Torna-se obrigatória a contabilização das várias operações,
através das regras estabelecidas no plano, facto que em certa
medida pode contribuir para a redução dos casos de fraude,
facilitando grandemente a análise das operações registadas
segundo esquemas próprios, embora se saiba que a fiscalização
tributária não deve cingir-se apenas aos elementos contabilísticos,
mas actuar fora deles, procurando a realidade económica do
contribuinte que permita pôr em causa a própria contabilidade
quando viciada.
Quanto a nós e uma vez que já existe plano oficial de conta-
bilidade, só lamentamos que o mesmo tenha sido preparado de
uma forma pouco acessível a uma parte considerável dos técni-
cos de contas e que tenha sido apresentado incompleto, não con-
tribuindo, assim, tanto como seria para desejar, para a tão

— 327
esperada normalização de que uma das vantagens seria reduzir
o número de fraudes fiscais. Bastará dizer que os autores não
são unânimes nas explicações dadas sobre o plano, por haver
interpretações subjectivas derivadas da falta de clareza de deter-
minadas partes do plano e até da omissão de certos conceitos
e esquemas fundamentais, tudo isto agravado pela demora em
constituir a Comissão de Normalização Contabilística já criada
pelo Decreto-Lei 47/77, de 7 de Fevereiro,

6. O CONTRIBUTO DAS ASSOCIAÇÕES DE TÉCNICOS DE CON-


TAS E DE OUTRAS ENTIDADES LIGADAS AOS PROBLEMAS
DA CONTABILIDADE
O problema do combate à fraude fiscal, operada através da
contabilidade, tem sido no nosso País, exceptuada a acção da
Administração Fiscal, considerado como um autêntico tabu. Não
existem publicações sobre o assunto e não temos conhecimento
de que as instituições ligadas aos problemas contabilístico-fiscais
se tenham preocupado muito com este assunto ou que tenham
empreendido acções no sentido de mentalizar os seus associados
para este tipo de problemas. Sabe-se também que no nosso
País os técnicos de contas têm estado muito dependentes econo-
micamente das entidades patronais e que não possuem ainda
um estatuto que os defenda contra certas prepotências das mes-
mas entidades.
De qualquer forma pensamos que os organismos deste tipo
podem contribuir em larga escala para a formação dos seus
associados, criando neles uma mentalidade antifraude que poderá
ajudar a implantar um clima de predisposição para a contabili-
zação correcta das operações e para o pagamento dos correspon-
dentes impostos.

7. UMA ACÇÃO PEDAGÓGICA A EMPREENDER ATRAVÉS DO


ENSINO DA CONTABILIDADE
Também dos programas de contabilidade das escolas de nível
secundário, médio e superior, se verifica que o problema das
fraudes contabilístico-fiscais não tem sido tratado devidamente.
Também aqui se deveria pensar em tratar o problema, a
qualquer nível de ensino, inserindo nos programas temas apro-
priados, cem vista a que os alunos recebessem uma formação que
lhes incutisse no espírito a responsabilidade e a gravidade da
prática de actos contabilísticos ilegais, puníveis com multas gra-
ves, com o objectivo de prejudicar a colectividade, mediante o
pagamento de impostos inferiores à real capacidade contributiva
do sujeito económico1.

328 —
A Fiscalidade no «Plano Oficial
de Contabilidade»
Por M. H. de Freitas Pereira

1. A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE PARA A FISCALI-


DADE

1.1. A contabilidade é actualmente encarada dentro da perspec-


tiva da informação económica. Pode dizer-se que ela, no plano em-
presarial, regista cada um dos actos e fluxos que integram a vida
das empresas.
As empresas são organismos vivos. Desenvolvem, deste modo,
uma actividade que as individualiza (a utilidade que criam) e, por
via dela, entram em relação com outros agentes económicos (v. g.
adquirindo recursos ou factores e vendendo o resultado da sua pro-
dução) .
Ora, na fiscalidade moderna, as unidades empresariais adqui-
rem cada vez maior relevo. Pode dizer-se que, hoje, quase não
existe operação gestiva ou administrativa numa empresa que não
tenha implicações fiscais. E quando se fala na importância fiscal
da empresa não se pode pensar apenas nos impostos em que ela
assume a figura de contribuinte mas também em todos os outros em
que lhe cabe a liquidação do imposto ou o cumprimento de alguma
obrigação acessória.
Está, deste modo, assegurado o elo entre fiscalidade e conta-
bilidade. Na medida em que esta recolhe e traduz a vida da em-
presa, a fiscalidade serve-se dela para avaliar e controlar tudo o
que nessa actividade tem incidências fiscais.

1.2. O primeiro aspecto a considerar na importância fiscal da


contabilidade está no facto de esta ao descrever a actividade em-

— 329
presarial denunciar situações objecto de tributação (v. g. a distri-
buição de um lucro, a alienação de um bem do imobilizado). No
entanto, essa denúncia não é neutra pois o próprio tratamento con-
tabilístico de uma situação objecto de tributação pode influenciar a
qualificação da mesma para efeitos fiscais ou o momento em que é
devido o imposto.
Em segundo lugar, a contabilidade é importante para apoiar o
cumprimento de obrigações acessórias por parte das empresas (v. g.
as declarações anuais de pagamento de honorários ou de comissões
a intermediários). Ela serve mesmo como meio de controle da exac-
tidão dessas declarações.
Contudo, o aspecto em que a contabilidade assume maior rele-
vância fiscal é o da tributação do lucro real evidenciado pela conta-
bilidade (sistema actualmente em vigor, entre nós, para os contri-
buintes do grupo A da contribuição industrial). Nele o resultado a
considerar para efeitos fiscais é deduzido do resultado evidenciado
pela contabilidade, o que tem vantagens quer para o fisco quer para
os contribuintes pois:

— por um lado, facilita o controle da situação económico-finan-


ceira subjacente à realidade a tributar;
— por outro, representa uma defesa para o contribuinte, pois a
administração fiscal tem de respeitar o resultado evidenciado
pela contabilidade e tomá-lo como ponto de partida para a
determinação do lucro tributável.

Este último aspecto merece ser realçado. É que a contabilidade


nos sistemas de tributação do lucro real não é apenas um elemento
de informação, entre outros, de que a Administração se pode servir
ou não para fixar a matéria colectável. Enquanto não for posta em
causa a sua autenticidade, ónus que deve caber à Administração, tem
de ser o resultado por ela evidenciado que, com as correcções enun-
ciadas pela lei, fundamenta o lucro tributável fixado (*).

0) Entre nós, por força do art. 22.° do Código da Contribuição Industrial,


para os contribuintes do grupo A, o «lucro tributável reportarse-á ao saldo reve-
lado pela conta de resultados do exercício ou de ganhos e perdas, elaborada em
obediência a sãos princípios de contabilidade». Este princípio só pode ser aban-
donado nos casos em que a matéria colectável dos contribuintes do grupo A é
determinada de harmonia com as disposições aplicáveis aos contribuintes do
grupo B, o que acontece quando, em face de exame à escrita:
— se verifique a impossibilidade de determinar ou controlar a matéria colec-
tável ;
— ressaltem dúvidas fundadas sobre se o resultado apurado corresponde ou
não à realidade.
Em; França — para citar um exemplo de um país estrangeiro — quando a
contabilidade do contribuinte é correcta na sua forma e se mostra apropriada

330 —
2. DIVERGÊNCIAS ENTRE CONTABILIDADE E FISCALIDADE

2.1. Como vimos, quando a fiscalidade dá à contabilidade im-


portância decisiva para a determinação do lucro tributável, o resul-
tado líquido contabilístico é a base de determinação do resultado
para efeitos fiscais. Isso significa, portanto, que não existe coinci-
não se reflectem apenas em correcções a posteriori ao resultado
evidenciado por esta é corrigido, de acordo com as especificações
enunciadas pela lei, para se determinar o resultado tributável.
Assim, em Portugal, o caminho que vai do resultado apurado
pela contabilidade à matéria colectável pode esquematizar-se do se-
guinte modo:

Resultado contabilístico'
I correcções de acordo com os arts. 23.° a 40.° do Código
] da Contribuição Industrial
Resultado fiscal

I deduções do art. 42.° do Código da Contribuição Indus-


trial
Lucro tributável
I deduções dos arts. 43.° e 44.° do Código da Contribuição
| Industrial e outros diplomas
Matéria colectável

2.2. No entanto, as divergências entre contabilidade e fiscalidade


não se reflectem apenas em correcções a posteriori ao resultado
contabilístico. A influência da óptica fiscal faz-se sentir também
no próprio apuramento do resultado contabilístico e é neste parti-
cular que incidem as críticas que costumam ser feitas a propósito
deste problema. Com, efeito, as contas devem reflectir com o maior
realismo possível a situação económico-financeira da empresa e im-
porta reconhecer que, em certos casos, a lei fiscal pode causar
algumas distorções na apresentação dessa situação.
É exemplo muito citado a este propósito o que se passa com
as reintegrações aceleradas. Estas verificam-se, como é sabido,
quando se regista uma reintegração por valor superior ao da (su-
posta ou prevista) depreciação real sofrida pela respectiva imobi-

para justificar o resultado declarado, este só pode ser rectificado pela Admi-
nistração Fiscal através do chamado «processo contraditório» fixado nos ar-
tigos 1649-5A e 1649-7 a 1649-7B do «Code General des Impôts».

— 331
lização e constituem um benefício fiscal dado às empresas (2)- Ora,
como para serem aceites como custos do exercício é necessário que
as reintegrações estejam contabilizadas como tais (vide, entre nós,
artigo 32.° do Código da Contribuição Industrial) o aproveitamento
pelas empresas daquele benefício conduz a que se registem como
custos reintegrações superiores às que correspondem ao depereci-
mento verificado nos respectivos bens. Daí que quer o balanço quer
a conta de resultados não traduzem com exactidão a realidade ( 3 ).
Outra divergência de grandes consequências diz respeito ao cál-
culo das provisões admissíveis fiscalmente. Nesta matéria, o fisco
ao obrigar as empresas à contabilização como custos das provisões
como condição prévia para a sua aceitação para efeitos fiscais (e não
podia proceder de outro modo):

—- ou aceita as regras contabilísticas de constituição e limita-se


apenas a corrigir aquelas que não podem ser aceites fiscal-
mente, o que se traduz em correcção a posteriori que não
afecta o resultado contabilístico;
— ou impõe regras de constituição próprias e, quando se veri-
ficam divergências entre a contabilidade e a fiscalidade quanto
a essas regras, o resultado contabilístico surge distorcido em
consequência do facto de as empresas seguirem as prescrições
fiscais e não as normas contabilísticas ( 4 ).

Entre nós, este aspecto adquire particular significado no domínio


da constituição da «provisão- para depreciação de existências». Com
efeito, de acordo com o art. 33.° do Código da Contribuição Indus-
trial, as «provisões que se destinarem a cob "ir as perdas de valor
que sofrerem, as existências» são aceites fiscalmente e, enquanto
não se dá cumprimento ao estabelecido no § 1.° daquele normativo,
estão fixadas administrativamente certas taxas e limites que dis-

(2) Camilo CIMOURDAIN DE OLIVEIRA, A reintegração acelerada como


incentivo fiscal ao investimento, Porto, 1964, pág. 60.
(3) Esta distorção é, contudo, atenuada ou mesmo anulada pelo facto de
a reintegração acelerada calculada sobre custos históricos não atingir em época
de inflação a reintegração efectiva a custos de reposição. Contudo, quando a
reintegração acelerada incide sobre activos reavaliados ou objecto de correcção
monetária a distorção persiste.
(4) Este facto de quando existem divergências entre fiscalidade e conta-
bilidade, as empresas optarem: por seguir os preceitos fiscais expliea-se facil-
mente se pensarmos na ainda escassa consciencialização dos empresários para
as finalidades extra-fiscais da contabilidade e que, quando é esse o caso, um
tratamento contabilístico fiscalmente vantajoso é naturalmente preferido a uma
solução contabilística que traduza correctamente a realidade económico-financeira
subjacente. Esta realidade miais acentua a necessidade de reduzir ao mínimo
possível as divergências entre preceitos fiscais e regras contabilísticas.

332 —
ciplinam a sua constituição. Por sua vez, o «Plano Oficial de Con-
tabilidade» prescreve (2.3.8 de XII — Valorimetria) que a «diferença
entre o custo de aquisição (ou de produção) e o preço de mercado
deve ser expresso através da provisão para depreciação de exis-
tências» (quando o primeiro daqueles valores for superior ao se-
gundo), que é, assim, a norma contabilística a que deve obedecer
a constituição desta provisão. Como é fácil de concluir existe aqui
entre fiscalidade e contabilidade uma divergência que pode assumir
— e, em geral, assume —um grande significado em termos de valor.
Ora, às empresas, numa época de inflação como a presente, não é
difícil escolher entre seguir a regra contabilística e não aproveitar
plenamente da dedução fiscal que a lei lhe permite ou vice-versa.
A divergência que tem motivações históricas face ao desenvolvi-
mento da contabilidade à data da publicação do Código da Contri-
buição Industrial já não tem, em nossa opinião, razão para continuar
a existir.

2.3, Enunciadas as formas de que normalmente se revestem as


divergências entre contabilidade e fiscalidade, importa sublinhar que,
em muitos casos, elas encontram, justificação em preocupações de que
a fiscalidade não pode alhear-se. André PLAS (5) sumaria essas
razões de distorção em três causas principais:

a) Falta de coordenação entre o património que gera o resul-


tado contabilístico e o património que gera o resultado fiscal
(v. g. no caso das regras de territorialidade do imposto);
b) Luta contra a evasão fiscal (que subordina a critérios gerais
de razoabilidade a aceitação dos custos e impõe regras espe-
cíficas quanto a alguns deles, (v. g., condições para a de-
dução das reintegrações, amortizações e provisões, limite
quanto à remuneração de sócios gerentes) ;
c) Motivações de carácter económico, que se traduzem geral-
mente em benefícios para as empresas (v. g. regime parti-
cular das mais-valias, reintegrações aceleradas, deduções por
investimento).

È à luz destas razões que devem ser ponderadas as críticas que


costumam ser feitas ao fisco a propósito da imposição de regras
que afectam a correcta apresentação dos balanços e das contas

(5) In relatório francês apresentado no seminário sobre as relações entre


contabilidade fiscal e contabilidade comercial, realizado no âmbito do XXIX Con-
gresso da IFA («International Fiscal Association») que teve lugar, em Londres,
em Setembro de 1975.

- 333
de resultados. Só deste modo, se separarão as divergências que
têm razão de existir das que devem ser pura e simplesmente eli-
minadas.

3. FISCALIDADE E NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

3.1. Como se viu, a contabilidade assume, nos dias de hoje, uma


importância crescente para a fiscalidade, designadamente por esta
incidir sobre grandezas económicas que se medem, através da con-
tabilidade (lucro, mais-valia, valor de venda, etc.).
O fisco é, assim, um utente da informação contabilística e está
interessado em que esta lhe chegue de todos os sujeitos económicos
segundo uma terminologia e classificação uniformes que traduzam
correctamente os princípios económico-financeiros subjacentes a toda
a relevação dos fenómenos que se verificam no seio da empresa.
Este objectivo é alcançado através da normalização contabilís-
tica ( 6 ).
O âmbito da normalização é questão que continua polémica. P a r a
uns, ela deve confinar-se aos mapas finais produzidos pela conta-
bilidade, deixando-se que as empresas escolham o plano de contas
que melhor lhes convier; para outros, a normalização deve implicar
a adopção de um; quadro e lista de contas, de conceituação e coorde-
nação bem, definidas e de aplicação geral, de qu e aqueles mapas se-
jam mera consequência.
Ao fisco interessa que o âmbito da normalização seja o mais
lato possível. É que quanto mais desenvolvida estiver a norma-
lização menos regras de natureza contabilística terão de ser inte-
gradas nas leis tributárias. Por outro lado, torna-se mais fácil partir
de princípios contabilísticos bem, definidos e comummente aceites
para a enunciação da disciplina fiscal correlativa.

3.2. Se a normalização contabilística é importante para medir


o imposto a pagar, o seu interesse não é menor para a função de
controle que cabe à fiscalização tributária exercer.
Com efeito, à fiscalização das empresas, que deve ser exercida
segundo os princípios gerais da auditoria contabilística, importa que:
— as declarações dos contribuintes se apresentem segundo regras
uniformes ;

(6) Não é por acaso que, em alguns países, a administração fiscal tem. im-
pulsionado a normalização contabilística.
Em Portugal, o «Anteprojecto do Plano Geral de Contabilidade» publicado
pela Direcção-Geral das Contribuições e Impostos é um ponto de referência indis-
pensável para quem queira estudar a normalização contabilística e chegou a ter
larga, implantação nas empresas.

334 —
— o conteúdo dos registos a examinar no controle externo se
apresente de uma maneira organizada, de acordo com prin-
cípios gerais pré-estabelecidos.
Qualquer um destes objectivos só tem concretização viável através
da normalização.
Por outro lado, a própria adopção de métodos menos aleatórios
de selecção dos contribuintes a fiscalizar só é verdadeiramente pos-
sível quando a normalização permitir que o cálculo de indicadores
económico-financeiros se possa fazer com um mínimo de probabili-
dades de serem representativos.
3.3. Convém, contudo, sublinhar que o interesse para a fisca-
lidade dos princípios, estrutura e desenvolvimento da normalização
contabilística não é sentido apenas pela administração fiscal. Para
as empresas é também muito importante que a normalização res-
ponda às suas necessidades de informação para com o fisco, de
modo a, sempre que possível, evitar registos extra-contabilísticos
organizados com essa finalidade ou a não aceitação da sua conta-
bilidade para efeitos fiscais.
Um plano de contabilidade tem, deste modo, de ter bem pre-
sente as informações que 0 fisco pede às empresas assim como toda
a disciplina fiscal em vigor quanto aos impostos em que a contabili-
dade é instrumento de medida da realidade a tributar.
Mas, o fisco é apenas um dos destinatários da normalização,
muito embora tenha de se reconhecer que continua a ser visualizado
por grande parte das empresas como o elemento mais importante.
Este facto objectivo, sobre o qual se podem pronunciar juízos de
valor que, contudo, em nada alteram a realidade, faz com que a
normalização contabilística tenha de ter bem presente a fiscalidade
sem, no entanto, a privilegiar em tal grau que transforme a norma-
lização em mero objectivo fiscal. Por outro lado, a administração
fiscal tem. de se ajustar à normalização contabilística, fazendo seus
todos os princípios que esta defina e que não haja razão específica
para não acolher fiscalmente.

4. ASPECTOS FISCAIS DO «PLANO OFICIAL DE CONTABILI-


DADE (POC)»

4.1. O fisco é expressamente mencionado na «Introdução» do


POC como entidade utilizadora dos dados contabilísticos cujas neces
sidades foram analisadas nos trabalhos preparatórios do mesmo (7).

(7) O Despacho que criou a «Comissão de Normalização Contabilística»


(Diário do Governo, II série, de 18/3/975) de cujo trabalho resultou o POC era
ainda mais explícito a respeito da importância da normalização contabilística

— 335
Interessa, por isso, saber qual a influência dos aspectos fiscais
no POC e as matérias em que se manifestam divergências ou insu-
ficiências do POC relativamente à fiscalidade.
Por outro- lado, um plano de contas terá forçosamente de fazer
sentir os seus efeitos no domínio tributário, importando inventariar
algumas das consequências que, a esse respeito, dele importa tirar.
O estudo destas interdependências pode perspectivar-se a dois
níveis :

— a um nível geral: o uso de uma classificação de índole fiscal


para efeitos de obrigatoriedade do POC; as consequências
do POC quanto a terminologia contabilístico-fiscal a adoptar
nos vários códigos tributários;
— a um nível específico: contas do POC em que as disposições
fiscais tiveram, importância decisiva na sua criação e delimi-
tação; aspectos de não convergência entre o POC e a fisca-
lidade; casos em que a fiscalidade é obrigada a completar
o POC.

4.2. Em vez de uma classificação de índole económica entre


grandes e pequenas e médias empresas, o POC optou, quanto às
unidades a que obrigatoriamente se aplica, por uma classificação
de índole fiscal. Assim:

— quanto à obrigatoriedade de elaboração (não de publicação)


de peças finais, o POC distingue — art. 2.° do Decreto-Lei
n.° 47/77, de 7 de Fevereiro — entre empresas públicas e do
grupo A da contribuição industrial e empresas do grupo B da
contribuição industrial (destas últimas, deduz-se, apenas as
que tiverem contabilidade regularmente organizada); (8)
— quanto à obrigatoriedade de adopção do POC, referem-se ape-
nas as empresas públicas e com participação maioritária do
sector público e as restantes empresas do grupo A da contri-
buição industrial (art. 5.° do citado Decreto-Lei).

para a fiscalidade. Aí se sublinhava que «sob o ponto de vista tributário, a


adopção de uma normalização contabilística também oferece inúmeras vantagens
tornando mais eficiente e, nalguns casos, menos controversa a missão do fisco».
Aliás, no mesmo Despacho, fazia-se referência ao «Programa de Política Econó-
mica e Social» aprovado pelo Governo Provisório de então, em, que no conjunto
de medidas a adoptar para um mais eficiente combate à evasão fiscal, se des-
tacava a «adopção de planos de contas normalizados para as empresas».
(8) O referir-se apenas empresas do grupo A e do grupo B da contribuição
industrial já levantou problemas de saber qual a situação das empresas sujeitas
ao imposto sobre a indústria agrícola.

336 —
Este critério de índole fiscal de classificação das empresas para
efeitos de aplicação do POC é agravado pelo facto de, actualmente,
serem factores de índole predominantemente jurídica os determi-
nantes para que uma empresa seja classificada no grupo A ou no
grupo B. Ë que na actual classificação faltam indicadores econó-
micos como os de volume de vendas ou de serviços prestados ou de
activo bruto qUe melhor distribuiriam os contribuintes pelos dois
grupos (9).
Por outro lado, esta classificação fiscal usada pelo POC não
tem, no actual quadro legal, qualquer consequência n 0 domínio dos
mapas contabilísticos a juntar pelas empresas às suas declarações
tributárias (10). Assim:

— as peças finais do POC elaboradas pelos contribuintes do


grupo A não têm que ser juntas à respectiva declaração m/2
por o art. 46.° do Código da Contribuição Industrial não o
exigir;
— as empresas do grupo B da contribuição industrial que tenham
contabilidade regularmente organizada têm de juntar à sua
declaração m/3 «cópias do balanço e da conta de resultados
do exercício cu de ganhos e perdas» (artigo 59.° do referido
Código), que podem não ser — e, em regra, como se fala de
«cópias», não serão — os mapas finais elaborados segundo os
modelos do POC.

4.3. Um aspecto importante quanto às consequências do POC no


domínio fiscal diz respeito à terminologia contabilística a usar nos
códigos e nas declarações fiscais.
Com efeito, visando - se com a normalização contabilística a
adopção de uma terminologia uniforme não se compreenderá que
se usem para efeitos fiscais expressões contabilísticas diferentes
das consagradas por aquela normalização a não ser nos casos em
que exista razão válida para tanto.

(9) Vide a este propósito ois arts. 11.° e 27.° da IV Directiva das Comuni-
dades Europeias sobre contas anuais (Journal officiel des Communautés euro-
péennes, de 14/8/7», N.° L222), onde se permite que as sociedades que não ultra-
passem determinados indicadores quantitativos possam elaborar balanços sinté-
ticos e reagrupar certas rubricas da conta de lucros e perdas.
(10) Isto mesmo já foi reconhecido oficialmente no ofício-circular C-3/78,
de 19 de Maio de 1978, da D. G. C. L, onde se encontra sancionado o entendi-
mento de que os documentos mencionados nas alíneas a) e b) do art. 2.° do
Decreto-Lei n.° 47/77, de 7 de Fevereiro, não têm que ser juntos às declarações
mod./2 e mod./3 da contribuição industrial, adiantando-se que as peças referidas
no referido art. 2.° são de «elaboração obrigatória para as empresas nele men-
cionadas mas unicamente para serem conservadas e exibidas quando legalmente
exigidas».

22 — 337
Há, portanto, que fazer os ajustamentos convenientes para sin-
tonizar a terminologia fiscal de natureza contabilística comi a adop-
tada pela normalização. Mas, mesmo aqui, esses ajustamentos neces-
sitam de ser feitos com um, certo espírito crítico. Exemplifiquemos
com- o caso das expressões abaixo indicadas usadas nos seguintes
códigos tributários :

— Código da Contribuição Industrial (art. 22.° e art. 59.°, alí-


nea a): conta de «resultados do exercício ou de ganhos e
perdas»;
— Código da Contribuição Predial e Imposto sobre a Indústria
Agrícola (art. 323.°, alínea a): «conta de resultados do exer-
cício ou de ganhos e perdas»;
— Código de Imposto de Mais-Valias (art. 24.°) : «conta de ganhos
e perdas»;
— Código de Imposto de Capitais (art. 59.°) : desenvolvimento
da conta de «lucros e perdas».

Ora, na terminologia do POC foi abandonada a expressão «conta


de lucros e perdas» pelo que parece que a mesma devia ser elimi-
nada dos códigos tributários e substituída pela terminologia consa-
grada no POC. Acontece, porém, que na terminologia da IV Direc-
tiva das Comunidades Europeias sobre contas anuais (Journal officiel
des Communautés européennes, de 14/8/78, N.° L 222), continua a
falar-se, unicamente aliás, em «compte de profits et pertes» pelo que,
dada a aproximação de Portugal ao Mercado Comum e a necessi-
dade de revisão consequente da nossa normalização, parece que não
é conveniente proceder a qualquer alteração.

4.4. No tocante aos aspectos específicos é, em primeiro lugar,


possível enumerar uma série de contas do POC em cuja criação e
delimitação as disposições fiscais desempenharam um papel decisivo
ou cuja interpretação não parece poder fazer-se sem referência
àquelas disposições. Sem preocupações exaustivas, inventariam-se
seguidamente, com referência a quatro impostos, algumas dessas
contas.

4.4.1. CONTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL

CONTA 29 — Provisão para cobranças duvidosas e outros


riscos e encargos.
Parece ter havido influência fiscal no desenvolvi-
mento da própria conta, na existência expressa de

338
provisão para letras descontadas e na menção nas
notas explicativas que as contas devem ser «subdi-
vididas de forma a evidenciarem as provisões ao
abrigo de legislação especial (caso do Decreto-Lei
n.° 503-C/76, de 30 de Junho)».
Por outro lado, recomenda-se expressamente o
método indirecto de contabilização face às «necessi-
dades de apresentação de contas ao fisco».

SUBCONTA 421 — Terrenos e Recursos Materiais


Invoca-se o critério fiscal para a separação do
terreno do valor da construção (no entanto, esse cri-
tério só existe para os edifícios industriais e outros
assimiláveis a estes, de acordo com a Portaria
n.° 21 867, de 12 de Fevereiro de 1966).
A separação entre terreno e construção, que
passa, deste modo, a existir na contabilidade, tem de
reflectir-se necessariamente no cálculo das reintegra-
ções respectivas. Parece, com efeito, que não se
justifica que, por um lado, sendo as reintegrações
respeitantes à construção, o seu cálculo se baseie,
como actualmente, no valor global de terrenos e cons-
trução e que, no caso dos edifícios habitacionais,
comerciais ou administrativos, a massa reintegrável
não tenha como seu limite máximo o valor da constru-
ção (que pode, em alguns casos, ser inferior ao limite
actualmente estabelecido: diferença entre valor glo-
bal de terreno e construção e 16 x rendimento colectá-
vel). ( u )

SUBCONTA 557 - Reservas Reinvestidas


Criou-se esta conta para receber as reservas «rela-
tivamente às quais tenha sido concedido o benefício
previsto no art. 44.° do Código da Contribuição Indus-
trial».
A criação desta conta é importante para efeitos
fiscais, pois, em nossa opinião, possibilitará, com ade-
quada regulamentação do citado art. 44.°, o controle

( n ) Face à disciplina actual nesta matéria, os contribuintes têm interesse,


pois a lei permite-o, em calcular as reintegrações sobre o valor global (terreno
e construção) pois estão a obter reintegrações mais elevadas do que se as cal-
cularem apenas sobre o valor da construção. Deste modo, para efeitos de mapas
de reintegrações e amortizações considerarão em globo valores contabilizadas
em duas rubricas diferentes.

— 339
da utilização das reservas reinvestidas, condição indis-
pensável para se atingir objectivo subjacente ao bene-
fício concedido — investimento com base em auto-
-financiamento.

SUBCONTA 6334 — Comissões a intermediários


A sua delimitação coincide com o art 126.° do
Código da Contribuição Industrial, disposição, aliás,
que é citada expressamente.

SUBCONTA 676 — Ofertas a clientes


Embora se possam- encontrar determinantes con-
tabilísticas autónomas para a sua subdivisão em:
— adquiridas no exterior ;
— de existências próprias ;
há convergência nesta classificação com o tratamento
fiscal diferenciado que é concedido às ofertas con-
forme a proveniência indicada.
SUBCONTA 826 — Amortizações e Reintegrações extraor-
dinárias
Embora não haja referência expressa nesse sen-
tido, a convergência terminológica parece indicar que
se visam aqui as amortizações e reintegrações pre-
vistas na alínea d) do n.° 4.° da Portaria n.° 21 867,
de 12/2/966.
SUBCONTA 827 — Multas e outras penalidades legais
Resulta evidente que a distinção feita entre multas
fiscais e outras visa satisfazer os condicionalismos do
art. 37.°, alínea d), do Código da Contribuição Indus-
trial.
SUBCONTA 8282 — Créditos incobráveis
O POC não indica qual o conteúdo desta conta,
mas a terminologia usada é convergente com a do
art. 34.° do Código da Contribuição Industrial.
SUBCONTA 8288'—Donativos e quotizações não obriga-
tórias
A especificação desta perda extraordinária é con-
vergente com o tratamento fiscal autónomo que é dado
aos donativos (art. 36.° do Código da Contribuição
Industrial) e às quotizações.
SUBCONTA 834 — Excesso de outras provisões tributadas
(art. 33.° do Código da Contribuição In-
dustrial)
Invoca-se expressamente a disposição tributária,
pelo que está explicada a finalidade de índole fiscal
desta subconta.
SUBCONTA 835 — Excessos de amortizações e reintegra-
ções tributadas
A sua raiz fiscal deriva directamente da definição
dada POC ao seu objectivo: «destina-se a recolher as
amortizações e reintegrações que tenham sido consi-
deradas excessivas para efeitos fiscais e que a em-
presa pretenda regularizar».

IMPOSTO PROFISSIONAL

SUBCONTA 6335 - Honorários


Invoca-se expressamente a alínea c) do art. 2.° do
Código de Imposto Profissional pelo que os seus con-
tornos se encontram definidos por aquela disposição
de natureza fiscal.
SUBCONTAS 652 — Ordenados e Salários e 653 — Remune-
rações adicionais.
A distinção entre o conteúdo de cada uma destas
subcontas apoia-se expressamente no art. 1.° do Código
de Imposto Profissional.

IMPOSTO DE MAIS-VALIAS

SUBCONTAS 8284 — Menos-Valias em imobilizações cor-


póreas e incorpóreas e 8294 — Mais-
-Valias ou imobilizações corpóreas e
incorpóreas
A autonomização destas perdas e ganhos das res-
tantes perdas e ganhos em imobilizações corpóreas e
incorpóreas (que são registadas respectivamente nas

— 341
subcontas 8285 e 8295) está em convergência com o
tratamento fiscal específico das mesmas (ainda que,
como é sabido, as mais-valias e menos-valias conta-
bilísticas não coincidam com as mais-valias e menos-
-valias fiscais).
A própria disciplina contabilística da alienação de
imobilizações (subconta 822), ainda que com deter-
minantes autónomas, não pode deixar de referir-se
como importante neste contexto.
Existe, contudo, uma não convergência no facto
de se ter reduzido as mais-valias e as menos-valias às
imobilizações corpóreas e incorpóreas e, para efeitos
fiscais, também poder haver mais-valias e menos-
valias na alienação de imobilizações financeiras (o
§ 5.° do art. 1.° do Código de Imposto de Mais-Valias
só afasta do regime geral quanto à transmissão one-
rosa de elementos do activo imobilizado as acções ou
outras participações sociais).

4.4.4. IMPOSTO DE TRANSACÇÕES

SUBCONTA 242 — Fazenda Pública: Imposto de Tran-


sacções
Para descrever os movimentos a inscrever nesta
conta invoca-se expressamente o disposto no art. 74.°
do Código do Imposto de Transacções, que estabelece
uma disciplina contabilística bem definida (12).
4.5 Um segundo aspecto a analisar prende-se com os casos em
que não existe convergência entre o POC e a fiscalidade, podendo
mesmo falar-se, em certos pontos, de divergência. É importante
inventariar esses casos para que se tirem as ilações que se mostrem
necessárias face, à existência ou não de causas específicas que jus-
tifique essa não convergência ou divergência.
4.5.1 Verifica-se que a classificação das imobilizações no POC
não está em conformidade com os grupos homogéneos da Portaria
n.° 21 867, de 12/Fev./1966, o que obrigará a fazer contabilisticamente
(ao nível de subcontas) ou extraconta Misticamente (através de
mapas) as adequações indispensáveis.

(12) Assimi se resolve por via legal um problema que já tinha merecido
resolução administrativa no sentido de esclarecer que a conta referida no art. 74.°
do Código de Imposto de Transacções podia ser de qualquer grau, não tendo que
ser necessariamente do 1.° grau como alguns entendiam (Ciência e Técnica
Fiscal, n.os 214/216, Out. Dez./979, pág. 191 e segs.).

342 —
Por outro lado, cria-se um tipo específico de imobilizações — os
chamados «custos plurienais», que em termos de Portaria n.° 21 867,
correspondem, em geral, a activo incorpóreo.

4.5.2. No domínio das provisões existem dois tipos de diver-


gências:
— provisões admissíveis contabisticamente que não são
aceites fiscalmente;
— modo de cálculo das provisões para depreciação de exis-
tências estabelecidas no POC que difere do que se
encontra estabelecido na lei fiscal.
Assim, o POC prevê:
— provisões para impostos sobre os lucros;
— provisões para cobranças duvidosas e outros riscos e
encargos:
— cobranças duvidosas — clientes;
— cobranças duvidosas — outros devedores ;
— para letras descontadas;
— para processos judiciais em curso;
— para acidentes no trabalho e doenças profissio-
nais;
— provisão para depreciação de existências;
— provisão para imobilizações financeiras ;
— provisão para oscilações cambiais.
Deste conjunto de provisões, aquelas que, de acordo com o
art. 33.° do Código da Contribuição Industrial, são admissíveis fiscal-
mente são as seguintes (exceptuado o caso especial das empresas
bancárias e seguradoras) :
— provisões destinadas a ocorrer a obrigações e encargos
derivados de processos judiciais em curso;
— provisões que visem a constituição da reserva técnica
necessária à cobertura dos encargos das entidades patro-
nais que não transfiram para outrem as responsabili-
dades emergentes de acidentes de trabalho e doenças
profissionais ;
— provisões para créditos de cobrança duvidosa, que
resultem da actividade normal da empresa (incluindo-se
as letras descontadas) ;
— provisões para depreciação de existências.

- 343
Por outro lado, quanto à constituição das provisões para depre-
ciação de existências, a lei fiscal estabelece o critério das taxas e
limites (§ 1.° do citado art. 33) enquanto o POC estipula a sua
constituição pela diferença entre preço de aquisição (ou de produção)
e preço de mercado, quando este for menor que aquele (13).

4.5.3. No desenvolvimento da conta de «receitas de aplicações


financeiras» (conta 77) não foram autonomizados os juros de títulos
da dívida pública, que têm tratamento fiscal específico — não são
proveitos para efeitos fiscais (n.° 3.° do art. 23.° do Código da Contri-
buição Industrial).
Sublinha-se que esta falta de desenvolvimento não se adequa,
por outro lado, à exigência que, na declaração m/2 da contribuição
industrial, é feita quanto à discriminação da rubrica «Proveitos
financeiros» na qual os «rendimentos de títulos da dívida pública»
aparecem evidenciados (10.1 do quadro 12 da referida declaração).

4.5.4. No domínio da declaração m/2 da contribuição industrial,


além, da falta de harmonização terminológica entre certas rubricas
da mesma e as do POC, existem, entre outros, os seguintes aspectos
a considerar:

A. Regularização de existências
Não existe nos quadros 15 e 16 da declaração lugar
para a tomada em consideração desta conta do POC,
pelo que, por um lado, o total da coluna de custos do
quadro 15 pode não coincidir com o «custo das exis-
tências, vendidas e consumidas» e, por outro, o total
da «variação das existências da produção» (quadro 16)
pode não coincidir com a rubrica correspondente da
«demonstração de resultados líquidos» do POC.
Para adequação do POC com a declaração m/2
torna-se necessário seguir, conforme os casos, uma das
vias seguintes:

— ou registar em «variações das existências da


produção» (linha 5 do quadro 12) e em «custo
das mercadorias (e embalagens) vendidas e/ou
das matérias-primas e outras existências consu-
midas» (linha 11 do quadro 12) os valores que
resultam directamente dos quadros 15 e 16 da
declaração, o que terá de implicar que não

(13) Sobre o problema ver n.° 2.2. in fine do presente estudo.

344 —
sejam considerados em «outros proveitos ou
ganhos» (linha 13) nem em «outros custos ou
perdas» (linha 25) os valores contabilizados
em contrapartida da movimentação da conta de
«Regularização de existências»;
— ou registar nas rubricas aludidas (linhas 5 e 15
do quadro 12) os valores que resultam das rubri-
cas semelhantes da «Demonstração de resulta-
dos líquidos» do POC, explicando a razão por
que não coincidem com os valores determinados
nos quadros 15 e 16 da declaração m/2 (alterna-
tiva que só deve ser usada para quebras anor-
mais, v. g., por virtude de incêndio).

B. Valorimetria das compras


Enquanto que, segundo o POC, as empresas podem
ou não incluir erm «compras» as despesas adicionais
de compra (vide notas explicativas à conta 31), a
declaração m/2 (nota ao quadro 15 desta) impõe que
as despesas adicionais de compra se incluam nas
compras.

C. Seguros com o pessoal


O POC estipula (nota explicativa à subconta 6325)
que todos os seguros, excepto os do ramo de acidentes
do trabalho e doenças profissionais, devem ser incluí-
dos na subconta 6325 — Seguros ; a declaração m/2
inclui, porém, os seguros de grupo em «outras despesas
com, o pessoal» (ver instruções para o preenchimento
da declaração m/2 que inclui naquela rubrica os gastos
de acção social).

D. Separação entre «Resultados Correntes», «Resultados


Extraordinários» e «Resultados de Exercícios Ante-
riores».
Na declaração m/2 não existe esta individualização
dado que a «demonstração dos resultados do exercício»
(quadro 12) não a faz.
Além disso, poderá haver falta de convergência
entre especialização dos exercícios em sentido conta-
bilístico e em sentido fiscal e, face aos condicio-
nalismos legais da correcção para efeitos fiscais dos
resultados de exercícios anteriores, a imputação con-

— 345
tabilística a exercícios anteriores de determinados
ganhos e perdas pode ter consequências desfavoráveis
para as empresas.

4.5.5. Dada a disciplina imposta pelo Código de Imposto de Tran-


sacções, no caso de haver armazéns de grosso e armazéns de retalho,
terá de verificar-se liquidação de imposto nas transferências verifi-
cadas dos primeiros para os segundos (alínea e) do art. 1.° do
respectivo Código).
O POC não faz qualquer referência à necessidade de se efectua-
rem os desenvolvimentos necessários (por exemplo, ao nível de
subcontas) de modo a facilitar o cumprimento daquela obrigação
fiscal.
4.5.6. A expressão contida nas notas explicativas à conta 53
«Prestações suplementares», ao dar a entender que no conceito de
suprimentos também se incluem as prestações suplementares, não
se harmoniza com o tratamento fiscal destas, que não têm sido
consideradas suprimentos ou abonos para os fins consignados no
n.° 5.° do art. 6.° do Código de Imposto de Capitais ( H ).

4.6. Finalmente, importa referir, quanto aos aspectos fiscais


específicos, que existem casos em que a fiscalidade é obrigada a
completar o POC, por este não cuidar de certos problemas cujo
tratamento necessita de ser uniformizado.
Esta questão salienta a necessidade de desenvolver a normali-
zação de molde a que não seja em legislação fiscal ou em resoluções
administrativas de carácter fiscal que se tenham de inscrever instru-
ções quanto a procedimentos contabilísticos.
Como exemplos de situações deste tipo pode citar-se o que acon-
tece com a reserva de reavaliação», os «subsídios de equipamento»
e os encargos financeiros suportados com a aquisição do imobilizado.
Quanto à «reserva de reavaliação», o POC, ao contrário do que
acontece, por exemplo, na já atrás citada IV Directiva da CEE
(art. 33.° da mesma), não se pronuncia sobre quais as utilizações
possíveis dessa reserva. Daí que a Administração tenha ela própria
de tomar iniciativas nesse domínio para acautelar que, através de
usos indevidos dessa reserva, se possam comprometer os objectivos
que se visam com a reavaliação (principalmente quando se prevê
a aceitação total ou parcial para efeitos fiscais do acréscimo de
custos que dela resultem) (15).

(14) Sobre o assunto, veja-se, por todos, ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA, Ques-
tões de Direito Fiscal, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, n.° 90, Lisboa, 1969,
pág. 34.
(15) Veja-se para Portugal o conteúdo do art. 6.°-A do Decreto-Lei n.° 126/77,
de 2 de Abril, introduzido pelo Decreto-Lei n.° 280/78, de 8 de Setembro.

346 —
Pelo que respeita aos «subsídios de equipamento» também nada
se diz no POC quanto à disciplina da sua contabilização. No entanto,
como aqueles subsídios são «concedidos à empresa para aquisição
ou construção de elementos do activo imobilizado» e estes são regis-
tados no activo pelo seu valor de aquisição (base para o cálculo das
respectivas reintegrações) a Administração Fiscal resolveu, face ao
silêncio do POC, que os subsídios de equipamento devem ser levados
progressivamente a resultados à medida que se efectuam as res-
pectivas reintegrações e num montante proporcional a estas (16).
Também pelo que toca ao tratamento dos encargos financeiros
suportados com a aquisição do imobilizado, o POC não contém qual-
quer orientação. Como o assunto não pode ser deixado ao livre
arbítrio das empresas, a Administração Fiscal entendeu que os refe-
ridos encargos não devam acrescer ao valor do imobilizado, distin-
guindo-se :

— os encargos financeiros relativos ao período em que


o imobilizado não se encontra em funcionamento — que
devem ser levados a uma conta de «despesas plurienais»,
a amortizar a partir do ano de entrada em funciona-
mento do imobilizado (") ;
— Os encargos financeiros respeitantes ao período em que
o imobilizado se encontra em funcionamento — que
devem ser custos na totalidade dos exercícios a que
respeitam,.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ligação entre contabilidade e fiscalidade é um facto a ter em


conta na normalização contabilística. Contudo, um plano de contas
não deve visar exclusivamente (nem predominantemente) o fisco e
este tem de procurar adaptar as suas normas com fundamento conta-
bilístico aos princípios que aquela normalização estabelecer. Existe,
por isso, um caminho a percorrer no sentido da convergência entre
normas fiscais e normas contabilísticas. Esse trajecto passa também
pelo aperfeiçoamento do «Plano Oficial de Contabilidade» e a revisão
deste, face à IV Directiva da CEE é ocasião oportuna para desen-
cadear tal processo.

(16) Doutrina sancionada por Despacho de 23/2/977, in Ciência e Técnica


Fiscal, n.os 217-219, Jan./Março —1977, págs. 251 e 252.
( n ) Doutrina sancionada por Despacho de 26/3/977, in Ciência e Técnica
Fiscal, n.os 217-219, Jan./Março —1977, pág. 255 e segs.

— 347
Algumas Implicações Fiscais do Plano
Oficial de Contabilidade
Por J. F. Lemos Pereira

1. CONTA 23 — «EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS E OBTIDOS» E AS


SUAS IMPLICAÇÕES NO DOMÍNIO DO CÓDIGO DO IMPOSTO
DE CAPITAIS.

1.1. 0 conceito de «mútuo»

Entende-se por mútuo (ou «empréstimo»), segundo o Có-


digo Civil de 1966, o «contrato pelo qual uma das partes em-
presta à outra dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a
segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género
e qualidade».
Preceitua o n.° 1.° do art. 3.° do Código do Imposto de
Capitais que «os juros de capitais mutuados em dinheiro ou
em géneros, qualquer que seja a forma por que o mútuo
se apresente», são passíveis de imposto de capitais, secção A.
O art. 14.° do mesmo código estabelece ainda, em relação
aos mútuos, a presunção de um juro mínimo de 6 %, se taxa
mais elevada não constar do título constitutivo ou não houver
sido declarada.
Caracteriza a secção A deste imposto a obrigação que
impende sobre o titular do rendimento — neste caso, o mu-
tuante — de declarar (ou fazer o manifesto das situações
sujeitas a imposto —art. 25.°), com vista às operações admi-
nistrativas do lançamento e liquidação, que precedem a co-
brança do imposto, o que não sucede em relação aos rendi-
mentos incluídos na secção B, em que a arrecadação se faz
por «retenção na fonte», isto é, independentemente de qual-
quer declaração por parte do sujeito passivo do imposto e
de intervenção dos serviços da Administração.

- 349
1,2. O conceito de «suprimento»

Na ausência de um conceito legal de «suprimento», recor-


reremos à doutrina para delimitação desta figura.
É doutrina corrente que o «suprimento» é caracteri-
zado por:
1.° — Ser um mútuo (ou empréstimo) feito pelo sócio à
sociedade;
2.° — Não ter esse mútuo (ao contrário do que sucede no
mútuo corrente) um vencimento pré-fixado;
3.° — Não ser a restituição do capital mutuado depen-
dente de interpelação do devedor pelo credor, mas
unicamente de disponibilidades financeiras e até da
conveniência da sociedade devedora 0).

Os juros de «suprimento» e outros abonos feitos pelos


sócios às sociedades são passíveis de imposto de capitais,
secção B, por força do estatuído no n.° 5 do artigo 6.° do
Código, estabelecendo-se, quanto a estes rendimentos, a
presunção legal de uma taxa mínima de 5 % (art. 19.°),
presunção essa que, louvavelmente, foi suspensa pela Lei
n.° 28/78, de 22 de Fevereiro, com aplicação aos exercícios
de 1977 a 1980.

1.3. Caso do suprimento em dinheiro que passa a ser titulado.


A doutrina mais recente da Administração Fiscal estabelece
que a aceitação de letra ou livrança por parte da sociedade
devedora só implica a extinção da obrigação resultante do
suprimento por «novação», isto é, para dar lugar à obriga-
ção cambiária representada pela letra, se desta constar
prazo de vencimento.
Se, pelo contrário, não for fixado prazo de vencimento
e se estabelece, no pacto de preenchimento, convenção em
contrário do disposto no art.° 2.° da Lei Uniforme, isto é,
se convenciona que o pagamento será efectuado na data que
o aceitante entenda, então o saque não retira ao empréstimo
do sócio a qualidade de «suprimento» para o transformar em
«mútuo», o que, em termos fiscais, significa que a situação
inicialmente passível de imposto de capitais — secção B não
se transforma em situação tributável em imposto de capitais
— secção A.

C1) Vide «NOTAS DISPERSAS SOBRE IMP. DE CAPITAIS» (in Boletim


n.° 125 da D. G. C. I págs. 117 a 140), do Dr. Braz Teixeira.

350 —
1.4. Facilmente se infere do atrás exposto que:
1.° — O suprimento é sempre um empréstimo dum sócio;
Um empréstimo dum sócio nem sempre é um supri-
mento.

2.° — 0 suprimento é abrangido pelo imposto de capi-


tais — secção B;
O empréstimo de sócio que não seja suprimento
é tributado em imposto de capitais — secção A.
1.5. Posto isto, pergunta-se: qual o enquadramento preferível
no P. O. C. para uma conta tão vulgar como a que exprime
suprimentos?

— Utilização da conta 236 — «Empréstimos de sócios»?


— Subdivisão desta em 1) suprimentos e 2) outros emprés-
timos de sócios?
— Utilização da conta 259, deixada em branco?
Note-se que, quanto a esta última sugestão, não se des-
conhece o que se diz no P. O. C, em esclarecimento à
conta 25 («esta não deve relevar operações de financia-
mento, as quais devem; ir à conta 23 — Empréstimos») ;
simplesmente, seria mais uma distorção entre o plano e as
notas explicativas, depois de tantas como as a seguir enu-
meradas :

233 — «Empréstimos (?) c/ adiantamentos ao pessoal»


(a interrogação não pertence ao Texto em apreço) ;
253 — «Sócios, c/ adiantamentos sobre lucros» (não esta-
remos aqui em face de uma operação de financia-
mento, embora de sentido contrário em relação à
do suprimento?);
254 — «Associadas, c/ adiantamentos sobre lucros».

2. AS GRANDES REPARAÇÕES DOS ELEMENTOS QUE INTE-


GRAM AS «IMOBILIZAÇÕES CORPÓREAS» E A «CONSERVA-
ÇÃO PLURIENAL» (CONTA 471, SUBCONTA DE «CUSTOS
PLURIENAIS»)

2.1. As grandes reparações dos elementos que integram as con-


tas do «imobilizado corpóreo» (grandes reparações em
edifícios, em máquinas, em viaturas, etc.) deverão, quanto
a nós, ser levadas a débito da respectiva conta de imobili-

- 351
zado (421, 423, 425), pois só assim estas contas passarão a
exprimir a sua verdadeira e real extensão e o balanço poderá
exprimir sinceramente a situação das diversas classes de
valores que o integram.
Ninguém contestará, por certo, a afirmação de que, se
uma viatura com o valor contabilístico actual (líquido de
amortização) de 100 contos sofre reparações cujo custeio se
cifra em, 700 contos, o seu valor contabilístico passará a ser
de 800 000$00. Assim sendo, a relevação da alteração patri-
monial decorrente da reparação só estará correcta, se a
conta 425 — «Material de carga e transporte» passar a
registá-la.
Por outro lado, só assim se poderá harmonizar a conta-
bilidade com, as exigências fiscais decorrentes do n.° 6.° da
Portaria 21867, norma que impõe — e muito bem — que as
grandes reparações deverão ser amortizadas a taxas decor-
rentes do número de anos de utilidade esperada (e não à
taxa máxima de 33,33 %, como o mesmo diploma legal deter-
mina em relação aos «gastos plurienais»). Acresce que não
poderá desligar-se o valor do elemento imobilizado das
grandes reparações por ele sofridas, na medida em que
estas terão de ser levadas em conta no cálculo da mais ou
menos-valia, no caso de vir a verificar-se a sua transmissão
a título oneroso.

A CONTA 676 — «OFERTAS A CLIENTES»


As instruções constantes do ofício — circular n.° 5090, de
7-12-971, da 3.a Rep. da D. G. C. L, sancionadas por despacho
ministerial de 30 do mesmo mês e ano e que vieram substituir as
constantes do ofício n.° 4201, de 15-5-965, dizem fundamentalmente
o seguinte:
«Os gastos com brindes e ofertas das empresas poderão
aceitar-se como elementos negativos do rédito para fins fis-
cais, impondo-se, porém, às empresas a observação de certas
regras tendentes a uniformizar, tanto quanto possível, a deter-
minação da matéria colectável da contribuição industrial.
Assim:
I — Brindes de publicidade e amostras comerciais ou
industriais.

Os objectos-brindes e amostras que as empresas distribuí-


rem com vista à publicidade da firma ou das suas marcas e
consequente fomento das vendas poderão considerar-se custos
abrangidos pelo disposto no n.° 2 do art. 26.°, do Código, sem
prejuízo das limitações estabelecidas no corpo do mesmo
artigo.
II — Ofertas de artigos do próprio comércio ou indústria
do contribuinte.
As ofertas em artigos que sejam objecto de comércio
ou indústria da empresa feitas fora das condições e fina-
lidades definidas no número anterior, também poderão ser
consideradas como custos, desde que a contabilidade revele
em, rubrica própria as saídas dos artigos ofertados e o res-
pectivo montante se situe dentro das limitações consignadas
no referido artigo 26.°.
III — Compras de artigos destinados a ofertas.
As despesas efectuadas com a compra de artigos para
ofertas, só poderão ser aceites como custos quando destinadas
a clientes ou a fornecedores, sem prejuízo das limitações esta-
belecidas no corpo do artigo 26.° e desde que se verifiquem
cumulativamente as seguintes condições:
a) As ofertas não sejam estranhas à gestão da empresa;
b) A contabilidade documente devidamente as aquisições
dos artigos em causa».
Tendo em. atenção a doutrina exposta e seguida pela
Administração Fiscal sobre esta matéria, afigura-se-nos que,
para harmonizar o Plano com o entendimento atrás referido,
bastaria serem introduzidas naquela conta e seus desdobra-
mentos as seguintes alterações:
676 — OFERTAS EM ESPÉCIE
6761 — De artigos adquiridos
6762 — De existências próprias
Em esclarecimento à conta 6761 poderia referir-se que
esta conta se deveria subdividir em: 1) Para ofertas a clien-
tes e/ou fornecedores; 2) Para ofertas a outras entidades.

A CONTA 838 —«OUTRAS PERDAS IMPUTÁVEIS A EXERCÍ-


CIOS ANTERIORES»

Esta conta destina-se a relevar custos ou perdas que, conta-


bilizadas em dado exercício, são imputáveis a exercício ou exer-
cícios anteriores.

23 — 353
Neste ponto estamos inteiramente concordantes com o P. O. C,
pois que as notas explicativas desta conta se coadunam perfeita-
mente com os «sãos princípios da contabilidade», dos quais faz
parte o chamado «princípio da especialização dos exercícios»,
largamente preconizado pelo legislador do Código da Contribui-
ção Industrial (vide os seus artigos 22.° e 26.°).
Parece, pois, à primeira vista, existir uma certa coordenação,
nesta matéria, entre o P. O. C. e a lei fiscal. Tal coordenação,
porém é mais aparente que real, como vamos ver.
Se no decurso do exercício de 1978 aparece um custo — admi-
tamos respeitante a direitos alfandegários por matéria-prima
importada e consumida em 1977 — que só foi conhecido e conta-
bilizado naquele outro exercício, é fora de dúvida que, seguindo
a ortodoxia do Plano, ele deve ser classificado como «perda impu-
tável a exercício anterior» e, como tal, não poderá ser conside-
rado fiscalmente custo do exercício em que foi contabilizado —
1978, antes deverá sê-lo em relação ao exercício a que é impu-
tável —1977.
Deveria, pois, fazer-se uma correcção à matéria colectável do
exercício de 1977, do que resultaria uma anulação oficiosa. Sim-
plesmente a isso. se opõe o artigo 139.° do Código e seu § 1.°, normas
que taxativamente enumeram os dois casos em- que tal anulação
oficiosa pode ser efectuada:
a) Quando, por motivos imputáveis aos serviços, tenha sido
liquidada importância superior à devida;
b) Quando, em exame à escrita do contribuinte, se verifique
que a contribuição devida é inferior à que foi liquidada.
Como, no caso em, apreço, a contabilização do custo no exer-
cício seguinte àquele a que respeitaria não é, de forma alguma,
imputável aos serviços (da Administração Fiscal), terá o contri-
buinte de aguardar passivamente que lhe seja feito exame à sua
escrita e, se não tiverem decorrido cinco anos sobre a abertura
dos cofres para a respectiva cobrança, ou sobre o pagamento
eventual, poderá então efectuar-se a competente anulação ofi-
ciosa. Note-se que o risco da não anulação oficiosa é devido
somente ao facto de, na prática, não ser dado cumprimento ao
estatuído no art. 114.°: «as escritas dos contribuintes do grupo A
serão examinadas pelo menos uma vez em cada quinquénio».
Do que acaba de referir-se facilmente se infere que, não
existindo um, sincronismo perfeito entre as regras contabilísticas
enunciadas no P. O. C. e a execução das normas fiscais que possi-
bilitem, introduzir as necessárias correcções ao resultado conta-
bilístico com, vista a uma correcta determinação da matéria
colectável, poderão da aplicação cega do Plano resultar, na prá-
tica, prejuízos irreparáveis para o contribuinte.

354 —
Acerca de Provisões e o Fisco

Por Álvaro Dória

As hesitações que durante longos anos se revelaram quanto


ao conceito do termo «Provisão», considerada esta do ponto de vista
contabilístico, fizeram que muitos técnicos de contas não soubessem
distingui-las do termo «Reserva», pelo que houve até quem os empre-
gasse indiferentemente. E assim, quando havia necessidade de se
criar uma Provisão, faziam-no em função dos resultados positivos
dos balanços, querendo isto dizer que, se tais resultados fossem
negativos, não se criavam (ou aumentavam) as Provisões, embora
com isso perigasse a clareza dos balanços. Como demonstrámos em
trabalho já antigo, não pode haver qualquer confusão entre um e
outro título, se se tiver presente que a Provisão tem em geral carácter
aleatório, ao passo que a Reserva, como reforço que é do Capital,
não pode assumir tal carácter senão em condições especiais que
todos os técnicos de contas conhecem.
Se, com o decorrer dos tempos, técnicos houve que acabaram
por distinguir as diferenças de conceito entre os dois termos, nem
por isso deixaram de considerar as Provisões no mesmo plano que
as Reservas, criando (ou aumentando) umas e outras apenas no caso
de haver resultados positivos dos balanços.
Ora o Código da Contribuição Industrial pelo art. 26.° n.° 8 veio
esclarecer completamente a situação, determinando que as Provisões
passariam, desde então, a considerar-se «custos ou perdas imputáveis
ao exercício», não as fazendo portanto depender dos resultados finais.
E assim, não há hoje motivos para dúvidas ou confusão possível
com as Reservas.
Sempre, pois, que se torne necessário criar uma provisão, esta
não poderá estar dependente dos resultados positivos de um exercí-
cio, como anteriormente tantas vezes se fazia, por ter de entrar
antes nos encargos do exercício independentemente dos resultados
que este vier depois a revelar.

- 355
O assunto pareceria assim definitivamente arrumado, se a recente
publicação do Plano Oficial de Contabilidade não viesse levantar
novo problema.
Efectivamente, entre as contas do n.° 2 do Quadro de Contas,
figura com o n.° 28 a de PROVISÕES PARA IMPOSTOS SOBRE
LUCROS, cuja l.a subconta com o n.° 281, se intitula Para contribui-
ção industrial, e a 2.a com o n.° 282 Para imposto complementar.
Aparentemente afigura-se aos técnicos providência cautelar, perfei-
tamente aceitável.
Confrontando, porém, tal disposição incluída no POC com o dis-
posto no Código- da Contribuição Industrial, verifica-se estar ela em
desacordo com; o mesmo código, que, no seu art. 37.° b), declara não
se considerarem custos ou perdas do exercício «A contribuição indus-
trial e o imposto complementar», o que é reforçado pelo n.° 6.° do
art. 26.°, que enumera os casos em que a Administração Fiscal aceita
provisões: «Encargos fiscais e parafiscais a que estiver sujeito
o contribuinte, sem prejuízo do disposto no artigo 37.°». (O sublinhado
é nosso). Já em livro publicado posteriormente, o Dr. Rogério Fer-
nandes Ferreira, com a autoridade que todos lhe reconhecemos,
escreve que a pretensão de o legislador «abarcar por uma norma
taxativa as provisões a tomar como custos considera-se procedimento
menos conveniente na medida em que não se antolha fácil prever todos
os casos que, merecendo contabilisticamente o referido tratamento,
estão de acordo com. regras tradicionais da contabilidade». (A Tribu-
tação do Lucro Real. Lisboa. 1965. Pág. 147).
Em, face da divergência apontada entre o que rezam, os dois
diplomas legais, surgir ami novas dúvidas, ainda não esclarecidas até
hoje pela Administração Fiscal. Não nos referimos já à doutrina
expressa no art. 37.° b) do código, por isso se afastar do nosso
objectivo nesta comunicação. Acentuemos de passagem que ela muito
nos surpreendeu quando da publicação do código, por não ter sido até
hoje apresentado um único protesto contra o disposto nesse artigo
pelo que ele representa de insólito do ponto de vista económico-
-contabilístico.
Presentemente, e porque a grande maioria das empresas do
grupo A, compreendidas no art. 5.° n.° 2 do Decreto-Lei que aprovou
o POC, terão de apresentar dentro em breves meses o balanço e a
demonstração de resultados líquidos relativos ao exercício em curso,
parece-nos de boa doutrina solicitar da Direcção-Geral das Contri-
buições e Impostos o esclarecimento definitivo' da dúvida que per-
siste: a incompatibilidade de seguir o disposto no art. 37.° b) do
Código da Contribuição Industrial ou o que se encontra no POC, que
aceita a criação das provisões indicadas.
Efectivamente, como se resolveria o dilema na hipótese de uma
ou mais empresas apresentarem as demonstrações de resultados
líquidos com deduções de verbas imputadas a Provisões para impos-

356 -
tos sobre lucros e a Direcção-Geral aplicasse a doutrina do art. 37.° b)
do código, imputando essas provisões aos resultados positivos apre-
sentados pela demonstração?
É isto que cabe à Administração Fiscal naturalmente resolver,
decidindo qual o critério por que de futuro terá de se optar. Tra-
tando-se de disposições legais contraditórias, impõe-se uma disci-
plina, revogando-se uma delas para se evitarem injustiças futuras,
já que as passadas não têm, remédio.
Pela nossa parte, e considerando por um lado o que impõem os
princípios da Contabilidade, e, pelo outro lado, o que a própria
razão aconselha, somos de parecer que terá de ser a citada alínea b)
do art. 37.° do Código da Contribuição Industrial que deverá revo-
gar-se por injusta, atendendo ao que de estranho e até antilógico
representa a sua doutrina. Nas suas linhas gerais ficou acima
exposto o nosso ponto de vista a tal respeito: ir mais longe ultra-
passaria muito o âmbito dos intuitos desta simples comunicação, como
já deixamos dito.

- 357
A Prestação de Contas em Contribuição
Industrial e o Plano Oficial
de Contabilidade
Por José J. Afonso Diz

1. INTRODUÇÃO

Propus-me abordar este tema baseado na minha experiência


como profissional e docente.
Não o farei exaustivamente, já que, por um lado, os que me
precederam neste lugar se referiram a ele com outros detalhes e
sob diferentes ângulos e, por outro, este lugar é próprio, não
tanto para análises e dissertações profundas dos temas, mas para
levantar questões susceptíveis de debate e para sugerir possíveis
soluções.
Referir-me-ei, em especial, à prestação de contas dos contri-
buintes do grupo A da contribuição industrial, quer porque cons-
tituem o grupo mais importante em termos de dimensão, quer
porque a respectiva tributação mais se baseia nos lucros conta
bilísticos.

2. DISSOCIAÇÃO CÓDIGO DA CONTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL —


PLANO OFICIAL DE CONTABILIDADE

2.1. Considerações Genéricas

O Decreto-Lei n.° 47/77 de 7 de Fevereiro, que aprovou


o Plano Oficial de Contabilidade (POC), apresenta no seu
preâmbulo como causas da obrigatoriedade da aplicação do
Plano «a curto prazo» os imperativos de ordem fiscal. Ser-
ve-se ainda da classificação por grupos da contribuição
industrial, prescrevendo a exigência de elaboração de peças

— 359
finais, conforme o grupo a que as empresas pertençam e
estipulando, desde logo, um início da obrigatoriedade da apli-
cação do Plano para as empresas do grupo A.
O Código da Contribuição Industrial (CCI) não faz qual-
quer referência explícita ao Plano, mesmo considerando a
legislação mais recente, nomeadamente a Lei n.° 56/77, de
4 de Agosto e, sobretudo, o Decreto-Lei n.° 137/78, de 12 de
Junho.
Sou de opinião de que ainda não teríamos Plano Oficial
se não fossem as exigências fiscais, em especial as consi-
gnadas no C. C. Industrial para os contribuintes do grupo A
(arts. 22.° a 54.°).
Na verdade, o C. C. Industrial há 15 anos que estabelece
a contabilidade regularmente organizada para as empresas
que classificou no grupo A (art. 7.°) e convida (art. 9.°) ou
obriga (art. 10.°) outras a pertencer a esse grupo.
Aliás, o espírito do legislador ao tornar exclusivos do
grupo A os benefícios dos arts. 42.°, 43.°, 44.° e 89.° é tornar
esse grupo mais atractivo para as empresas em geral, dentro
da preocupação de alargamento do âmbito da tributação
pelos lucros efectivos.
Assim sendo, não há motivo para o total divórcio entre
o Código da Contribuição Industrial e o Plano Oficial, di-
vórcio que não se compreende, tanto mais que o Estado é
o mesmo (diria mais: o Ministério das Finanças é o mesmo)
e as empresas a que se dirigem são as mesmas, isto é, abu-
sando da terminologia jurídica, o sujeito activo e o sujeito
passivo são coincidentes.
Essa total indiferença entre o C. C. Industrial e o POC
recebeu consagração administrativa através do ofício C-3/78
da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, de 19 de
Maio, segundo o qual os mapas de elaboração obrigatória
conforme o Decreto-Lei n.° 47/77 citado nada têm a ver com
a prestação de contas para efeitos fiscais nos termos dos
arts. 46.° e 47.°.

2.2. Divergências de natureza material

2.2.1. Divergências qualitativas

Não há legislação que contenha preceitos sobre


aquilo que o Código da Contribuição Industrial deno-
mina de «sãos princípios da contabilidade» p e q u e ,
apesar dos intensos esforços dispendidos, não existe

360 —
perfeita consonância de opiniões, quer sobre o al-
cance, quer sobre a consistência de tais princípios O .
E isto apesar dos formidáveis esforços com que
nos países ocidentais mais avançados sobretudo na
Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos se procura
definir os «princípios de uma ordenada contabilidade»
ou «princípios geralmente aceites de contabilidade».
Em verdade, a evolução do conceito de «sãos prin-
cípios contabilísticos» tem sido notável: primeiro, na
época liberal, foram identificados como a opinião e
prática dos comerciantes honestos. Mas como «quod
volumus facile credimus», ou, por outras palavras,
ninguém é bom juiz em causa própria, esta concepção
deu lugar à «do interesse predominante». Daqui até
ao «consensus omnium» ou consenso geral foi um
passo.
Claro que é inatingível e os americanos ficaram-se
pelos «generally accepted accounting principles».
Seja como for, explicitamente o POC adoptou
6 princípios. No entanto outros se encontram ali
implicitamente: o da clareza — as verbas devem ser
redigidas claramente de forma tal que uma pessoa
possa entendê-las — o da verdade ou da veracidade e
da integralidade (o «full disclosure» dos americanos)
o qual obriga a:
— inventariar todos os bens patrimoniais, na me-
dida em que seja tecnicamente possível;
— incluir no balanço todas as contas com um
saldo ;
— avaliar completamente todas as informações
internas e externas sobre os bens que cons-
tituem as contas anuais;
— inventariar todos os riscos efectivamente pre-
vistos ;
— evidenciar todas as verbas sem qualquer com-
pensação.

Mas, dizíamos, o POC explicita 6 princípios:

a) o da continuidade da empresa;
b) o da consistência dos exercícios;
c) o da efectivação das operações;

0) Cf. do Dr. Alberto Pimenta em «A prestação das Contas do exercício


nas sociedades comerciais», Lisboa 1972, pág. 113.

— 361
d) o do custo histórico;
e) o da recuperação do custo das existências;
f) o do conservantismo.
Porém a Administração Fiscal não os aceita todos,
especialmente estes dois últimos. Diz o POC (capí-
tulo XII, ponto 2.2.) que os créditos e os débitos cal-
culam-se em função do câmbio do dia quanto a cada
operação. Na altura do balanço, verificando-se uma
perda estimada, tendo em consideração o câmbio à
data do balanço, pode-se constituir uma provisão para
o facto; se houver ganho estimado, mantém-se o valor
já registado (em obediência ao princípio do conser-
vantismo) .
Simplesmente a Administração Fiscal não aceita
a provisão para flutuação de câmbios por não estar
prevista no art. 33.° do C. C. Industrial.
Diz ainda o POC que as imobilizações financeiras
devem ser registadas ao custo de aquisição; para
efeitos de balanço, quando se verifiquem perdas po-
tenciais, pode-se constituir provisão por esse motivo;
no caso de ganhos potenciais, mantêm-se os custos
de aquisição.
Todavia aquela provisão não é aceite para efeitos
da contribuição industrial como custo, também porque
não está contemplada no art. 33.°.
Outros exemplos podem ser dados para demonstrar
que o princípio do conservantismo não se coaduna
com as exigências fiscais. É o caso da provisão para
subsídio de férias que não é aceitável como custo do
exercício da sua constituição, pois os correspondentes
encargos só são admitidos como custos de cada exer-
cício em que o respectivo direito efectivamente se
vence.
Não é aqui o lugar para se dissertar se esta pre-
visão é ou não de ser aceite como custo de contribuição
industrial ( 2 ). Aqui interessa apenas fazer notar que
ela é razoável em termos de POC e não aceite em
termos de C. C. Industrial ( 3 ).

(2) Sobre este assunto ver a publicação «Ciência e técnica fiscal», Boletim
da DGCI, n.os 226/228, págs. 353 e seguintes.
(3) Outros exemplos podem ser apontados, nomeadamente a provisão para
pagamento de pensões de reforma, provisões relativas a garantias sobre artigos
vendidos, provisões para pagamento diferido de impostos considerados fiscal-
mente certos, etc. vd. Rogério Fernandes Ferreira em «Suprimentos Amortiza-
ções Provisões e Mais-valias» págs. 71 e seguintes. Cadernos de Ciências e
Técnica Fiscal, Lisboa 1964.

362 —
Mas o exemplo mais notável dessa dicotomia de
tratamento passa-se com a valorimetria das existên-
cias. Deixemos de lado a exigência, compreensível
aliás, do § único do art. 38.° quanto a custos padrões
e vejamos o que expressamente se diz no Cap. XII
do Plano sobre o assunto:

«...Na altura do balanço, e atendendo ao já


referido princípio de recuperação do custo das
existências, quando haja obsolescências, deterio-
ração física, quebras de preço ou de cotação, bem
como outras análogas, podem as empresas utilizar
o critério do custo ou do preço de mercado, dos
dois o mais baixo.»

E mais adiante:
«...Para a valorização ao critério de custo ou
preço de mercado, entende-se este como o custo
de reposição, ou seja aquele que a empresa teria
de suportar para substituir as existências, nas
mesmas condições, qualidade, quantidade e locais
de aquisição.»

O art. 38.° do C. C. I. tem carácter provisório pois


começa assim:
«Enquanto não forem fixadas pela DGCI regras
próprias para cada ramo de actividade...» ( 4 ).
Entretanto passaram 15 anos. De qualquer modo,
segundo o art. 38.° na redacção actual um critério
valorimétrico das existências, para ser aceite carece
de ser:
— objecto de controle contabilístico inequívoco;
— das tradições da indústria;
— uniforme;
— reconhecido como válido pela técnica contabi-
lística;
— baseado em preços de aquisição realmente pra-
ticados ou documentados (princípio do custo his-
tórico) ou em preços de reposição ou de venda
constantes de elementos oficiais ou de outros
considerados idóneos.

(4) Será que o legislador está à espera da normalização sectorial? A julgar


pelo passado recente em que a indeferença perante o POC tem persistido, parece
que não.

- 363
Portanto, para a Administração Fiscal aceitar pre-
ços de reposição ou de venda exige-se que sejam cons-
tantes de elementos oficiais ou de outros considerados
idóneos (ainda hoje não foram definidos quais).
Para o Plano Oficial o custo ou preço de mercado
é, como vimos, indiferente ao aspecto formal da inter-
venção da Administração para a oficialização ou para
a classificação de «idóneo».

2.2.2. Divergências quantitativas

Como consequência das divergências de fundo


apontadas, de natureza predominantemente qualita-
tiva, surgem as de natureza quantitativa.
Com esta afirmação pretende-se significar, por
exemplo, que, mesmo para as espécies de provisões
admitidas sob a óptica fiscal, surgem divergências
quanto aos valores admitidos, por as bases sobre que
se calculam serem também diferentes.
Reza o § 1." do art. 33.° do C. C. I. que as taxas
e os limites das provisões para cobranças duvidosas
e para depreciação de existências serão fixadas pelo
Ministro das Finanças para cada ramo de actividade,
com prévia audiência do organismo que, a nível na-
cional, representa a respectiva actividade.
Enquanto essas taxas e esses limites não são fi-
xados (5) a Administração Fiscal tem pautado a sua
acção, e por conveniência os contribuintes têm-na se-
cundado, por umas taxas constantes de um ofício —
circular da 3.a Repartição da DGCI de 1965 e para
a generalidade das actividades são, respectivamente
para a dotação anual e par a o valor acumulado, de
3 e 4 % dos créditos normais do fim do ano para a
provisão para cobranças duvidosas e 10 e 10 % das
existências finais para a provisão para a depreciação
de existências.
Temos que concordar ser esta metodologia fácil
de aplicar e fácil de controlar. E por isso a Admi-
nistração Fiscal não tem mostrado muita pressa em
que sejam fixadas as taxas nos termos do § 1." do
art. 33.°.

(5) Um projecto de portaria para o efeito elaborado há cerca de 10 anos


e sucessivamente revisto aguarda o parecer da «futura Comissão de Normali-
zação Contabilística»...
Ora este procedimento só por acaso poderá con-
duzir aos resultados que seriam obtidos aplicando os
princípios adoptados pelo POC, nomeadamente do custo
histérico e do conservantismo, de que o da recuperação
dos valores patrimoniais é, ao fim e ao cabo, um
corolário.
Como ficou dito, tais princípios conduzem a con-
sideração do

— valor cobrável nos créditos, sempre que este


seja inferior ao valor nominal;
— preço de mercado nas existências, sempre que
este seja inferior ao custo de aquisição;
— preço de negociação ou cotação nas imobiliza-
ções financeiras, sempre que este seja inferior
ao valor de compra.

As provisões respectivas devem ser criadas então,


perante a impossibilidade de recuperação do custo his-
tórico, constituindo uma correcção aos valores activos.
Atenda-se à provisão para cobranças duvidosas e
à provisão para depreciação de existências: a pri-
meira justifica-se devido à ocorrência de circunstân-
cias (suspensão de pagamentos, moratórias, ausência
em parte incerta e outras equivalentes) que permitem,
com razoabilidade, qualificar alguns créditos como
de cobrança duvidosa; a segunda justifica-se perante
a deterioração (física ou económica) de existências
ou a constatação de preços de mercado inferiores ao
custo histórico.
Perante a duabilidade de critérios CCI/POC, a
maior parte das empresas acaba por agir em termos
de economia fiscal, isto é, procura reduzir a matéria
colectável dos impostos sobre lucros ao mínimo aca-
bando por usar as provisões sem atender aos critérios
contabilísticos que justificam e determinam a sua
constituição.
Impor-se-á, portanto, a fixação das taxas a que
se refere o n.° 1 do art. 33.° por ramos de actividade,
taxas essas que seriam revistas periodicamente de
acordo com a evolução económica do País.
O problema já não surge com a mesma acuidade
nas amortizações, dado que na Portaria n.° 21 867,
de 12 de Fevereiro de 1966, que regula o assunto, já
se tomarem em atenção não só os ramos de actividade
como a natureza dos bens do imobilizado.

- 365
Uma questão que poderá levantar-se é se o mé-
todo das quotas constantes é o ideal em termos de
ecnomia de empresa, quer dizer, se é aquele que
melhor faz corresponder os valores registados como
amortização aos do efectivo deperecimento dos bens.
Esta questão torna-se ainda mais relevante se se
considerarem as medidas que permitem amortizações
acelaradas como incentivos fiscais ao investimento e
exportação (caso da Lei n.° 2 134, de 20 de Dezem-
bro de 1967, da Lei n.° 3/72 de 27 de Maio, que foi
regulamentada pelo Decreto-Lei n.° 74/74, de 28 de
Fevereiro da Lei n.° 36/77, de 17 de Junho, e da
Lei n.° 42/77, de 18 de Junho).
Na verdade, ao pe:mitirem-se as amortizações
aceleradas, tem-se em vista não tanto o desgaste
efectivo dos bens do imobilizado quanto a redução
da matéria colectável da generalidade dos impostos
sobre lucros.
Seja como for, a empresa é livre de aproveitar
esse benefício e quanto às quotas restantes, pode
pedir à DGCI autorização para usufruir de outro mé-
todo nos termos do art. 31.° do CCI.

Divergências sob o aspecto formal: os mapas do POC e as


Declarações modelo n." 2 e Modelo n.° 3 do CCI

Segundo o ofício circular a que acima se fez referência


são exigidos nos termos dos arts. 48.°, 47.° e 59." do CCI
apenas os documentos ali indicados.
Acontece porém que os mesmos divergem em alguns
aspectos dos requeridos pelo POC. Não vamos aqui analisar
uma a uma as diferenças entre a informação exigida pelo
POC e a da Modelo n.° 2 — até porque os senhores congres-
sistas não têm à mão estes instrumentos de trabalho — mas
apenas interrogarmo-nos sobre aquelas que, relacionando-se
com o balanço e a demonstração de resultados líquidos, nos
parecem mais importantes. Assim:

A. A demonstração dos resultados do exercício (qua-


dro 12) da Declaração Modelo n.° 2 não faz a dis-
tinção entre resultados correntes, resultados extraor-
dinários e resultados de exercício, enquanto essa
diferença é básica na estrutura das contas de resul-
tados do POC.
Parece que um quadro comum deveria exigir-se
podendo solicitar - se uma discriminação adicional
das rubricas julgadas relevantes pela Administração
Fiscal.

Por outro lado, as rubricas de demonstração de re-


sultados fiscais deveriam corresponder às rubricas
de custos/proveitos em termos do POC. Um exemplo
elucidativo é o de «Outras despesas com pessoal» do
quadro 12 que engloba outra com o mesmo nome (658)
mais, pelo menos, os seguros de acidentes de trabalho
e de doenças profissionais (657). Outro exemplo é o
do custo das mercadorias vendidas, das matérias pri-
mas e outras existências consumidas (quadro 15) e o
da variação das existências da produção (quadro 16)
que incluem os valores das quebras e saídas por
ofertas e não incluem as sobras e saídas por ofertas.

Embora seja mais fácil a transição do balanço ana-


lítico em termos do POC para o balanço fiscal, exis-
tem dissonâncias evitáveis. É o caso da rubrica
«Devedores e credores diversos» do balanço do Mo-
delo n.° 2 que tem um âmbito mais amplo que a do
mesmo nome do POC (269) pois além desta engloba
todas as outras (261 a 268) de «Outros devedores e
credores».
Por outro lado, enquanto no balanço/POC se
exige a total separação de débitos e créditos pelos
prazos «custo médio e longo» no balanço/POC, dá-se
especial ênfase às provisões para cada tipo de dé-
bitos.

Mas uma uniformização seria possível obter-se entre


certos mapas do modelo n.° 2 e os solicitados pelo
POC nos anexos ao balanço e à demonstração de
resultados. Por outro lado, certas informações há
que poderiam interessar ao Fisco e que constam
nesses anexos.
Exemplos mais flagrantes do primeiro caso são
os critérios valorimétricos e o mapa das provisões.
Exemplos do segundo são as informações sobre as
relações com o estrangeiro (problemas com o im-
posto de capitais e art. 51.°-A da Contribuição In-
dustrial); relações sócios com sócios e associadas
(art. 51.°-A), etc.

- 367
3. RESUMO E CONCLUSÕES

Tanto o Decreto-lei n.° 47/77, de 7 de Fevereiro, como o Plano


Oficial de Contabilidade (POC) aprovado por aquele Decreto-lei,
têm em consideração os imperativos de ordem fiscal.
Já o mesmo não acontece com o código da Contribuição Indus-
trial (CCI), em relação ao Plano Oficial de Contabilidade (POC),
nomeadamente com as alterações recentemente introduzidas.
Na verdade existem divergências no campo dos princípios
contabilísticos subjacentes, em especial no que se refere aos prin-
cípios «do conservaníismo» e «da recuperação do custo das exis-
tências».
Essas divergências manifestam-se sobremaneira em relação
às provisões e à valorimetria das existências.
Existem também divergências, em parte como consequência
das anteriores, entre os mapas propostos pelo POC e aqueles que
são exigidos na prestação de contas das empresas dos grupos A
e B pelo CCI.
Com as dicotomias apontadas perde o contribuinte e perde
a Administração: o contribuinte por ser obrigado a refazer os
mapas finais do POC de forma a satisfazerem as exigências fis-
cais, incorrendo em encargos adicionais de pessoal, de material,
etc....; a Administração, porque incorre no mesmo tipo de custos
e, além disso, cai frequentemente em procedimentos díspares pro-
piciadores, quantas vezes, de injustiças graves.
Urge, pois, pôr cobro a este estado de coisas.
Há que fazer esforços para uniformizar e enriquecer os
mapas contabilísticos, não impedindo a relevação das informações
que interessam a cada um dos destinatários destas.
A Comissão de Normalização Contabilística a constituir e as
associações dos profissionais de contabilidade terão, segundo
cremos, um grande papel a desempenhar nesta área.

368 —
7
Comunicações da 6.a Mesa
A Contabilidade e a Informática

Presidente: Dr. Joaquim José da Cunha


Assistente do ISCAA

Secretário: Dr.a Maria Armanda Teixeira Simões Dias


Assistente do ISCAA

24
Soluções de Informática à Medida
de cada Empresa
Por Araújo & Sobrinho, Sucrs.

SOLUÇÕES DE INFORMÁTICA À MEDIDA DE CADA EMPRESA

A Firma Araújo & Sobrinho, Sucrs., do Porto, e Rima, Ltd.a, de


Lisboa, representantes para todo o País dos computadores NIXDORF,
fizeram a apresentação de Software Standard inteiramente desenvol-
vido em Portugal e para as aplicações de Salários e Ordenados, Fac-
turação e Stocks, e Contabilidade Geral e Analítica.
A apresentação do Software foi acompanhado por demonstração
prática dos programas em computadores Nixdorf das séries 8830
e 8870.
Seguem-se em descrição resumida, os programas de Salários e
Ordenados, bem como os de Facturação, Stocks, Contas Correntes
e Estatísticas, e a descrição integral da Análise Funcional e Orgâ-
nica do «PACKAGE» de Contabilidade.

CONTABILIDADE

ANÁLISE ORGÂNICA

Este programa tem por objectivo imediato o lançamento nas


contas de Razão Movimento (anexo 2A,3) e a actualização (por des-
carga) das contas de Razão Principal (anexo 2C).
Simultaneamente e por decalque obter-se-á um Diário de Conta-
bilidade (anexo 4) que registará todos os movimentos efectuados.
Este Diário será aberto a partir de uma ficha de Resumo Mensal
de Contabilidade (anexo 1) que reterá todos os valores movimentados
em cada mês.

— 371
Esta ficha será lida no início de cada dia para imprimir ao Diário
de Contabilidade os valores já movimentados e no final para nela se
descarregarem os valores desse dia (débitos e créditos).
No fim do mês, quando se executarem os balancetes, esta ficha
servirá de controlo, visto que os valores mensais (débito e crédito)
dos balancetes de Integração e Razão (anexo 5) terem de ser iguais
aos valores desta ficha.
Interpretando o código de C. Custo indicado nas fichas de Razão
Movimento poder-se-ão desdobrar os lançamentos por C. Custos (48).
No fim do mês, por simples listagem, teremos os valores a imputar
a cada centro (anexo 7).
Interpretando o código de Extractos nas C/C de Clientes obter-
-se-á um Resumo de todos os lançamentos efectuados durante o mês
(Cód. = 2) ou só das Facturas e N/Crédito (Cód. = 1).
Também através das C/C de Clientes poder-se-á obter um balan-
cete que nos indicará o valor das vendas, o custo dessas vendas e o
respectivo Lucro Bruto. Como estes elementos são obtidos através
da Facturação o anexo deste balancete figurará nesse Comp.
Por simples listagem das C/C poderemos obter um Balancete
Financeiro (anexo 6) que nos indicará as idades de saldos.
Os detalhes e funcionamento dos programas virão descritos na
«Análise Funcional» que se segue.

CONTABILIDADE
ANÁLISE FUNCIONAL
I —ABERTURA DE FICHAS DE CONTABILIDADE
Cada conta terá uma ficha (anexo 2) onde serão registados todos
os elementos necessários à sua movimentação.
Para a abertura destas fichas teremos de:
1 — Introduzir uma ficha virgem.
2 — De acordo com o desenho da ficha e do quadro de memórias
fazer a introdução, inscrição e memorização dos seguintes
elementos :
a) Nome (máximo 38 letras ou espaços)
b) N.° da conta (máximo 9 inteiros)
c) N.° da sequência (máximo 9 inteiros)
NOTA: A sequência é o n.° da conta que se segue no ba-
lancete de integração.

372 -
d) Código de C. Custo (máximo 1 inteiro)

NOTA: Este código serve para indicar se a conta tem ou


não repartição de valores por C. Custo.

Assim se for = 0 — não tem repartição por C.


Custo
^ 0 — tem repartição por C. Custo

e) Grau (sempre 1 inteiro — 1 a 9)

NOTA: Esta introdução é de grande importância visto a


integração nas contas intermédias ser feita a
parti: dela.

3 — Imprimir o n.c da face (1).


4 — Imprimir o ano a vermelho e expulsar a ficha com gravação.

II - ABERTURA DE FICHAS DE C/C - CLIENTES, FORNECEDO-


RES, DEVEDORES E CREDORES, ETC.

Cada C/C terá uma ficha onde serão registados os valores neces-
sários à sua movimentação. Como as C/C Clientes (anexo 3) são
diferentes das outras teremos de por decisão de tecla indicar qual
o tipo de fichas que vamos abrir.

Para a abertura das fichas teremos de:

1 — Introduzir uma ficha virgem.


2 — De acordo com o desenho da ficha e o quadro de memória
fazer a introdução, inscrição e memorização dos seguintes
elementos :

a) Nome (máximo 30 letras ou espaços)


b) N.° da conta (mínimo 6 inteiros e máximo 10 inteiros)

NOTA: Os 4 últimos dígitos serão o n.° de ordem (n.° do


cliente, n.° do fornecedor, etc.).

c) Imprime o n.c da face (a vermelho)

NOTA: Se não estiver a abrir C/C de Clientes seguir


em 3).

— 373
Senão:

d) Limite de crédito (em contos)


e) Estabelecimento, Morada e Localidade

NOTA: As 3 linhas terão no máximo 69 letras ou espaços


e cada linha não poderá ter mais de 30 letras
ou espaços.

f) C ódigo de extracto (1 inteiro)

Cód. = 0 — Não faz extracto — não imprime nada


1 — Faz Resumo (só memoriza facturas e N/C ré­
dito) — imprime R
2 — Faz extracto (memoriza todos os lançamen­
tos) — imprime E

g) C ódigo de C ertificado de Registo (1 inteiro)

Código = 0 — Sem C ertificado de Registo


­ 1 — Com, C ertificado de Registo. Introduzir o
n.° (6 inteiros)
= 2 — Cliente estrangeiro
h) Zona/Agente (2 inteiros e 2 decimais)
i) C ondições de Pagamento (1 inteiro)
NOTA: Este código servirá para descrever as condições
de pagamento na facturação.

j) N.° do C omissionista (2 inteiros)

3 — Imprimir o ano a vermelho e expulsar a ficha com gravação.

III — ABERTURA DA FICHA DE RESUMO ME


N SAL

Todos os meses tem de se fazer a abertura da Ficha de Resumo


Mensal (anexo 1) que servirá para a abertura do Diário de C onta­
bilidade.

1 — Introduzir uma ficha virgem (branca).


2 —Imprimir: RESUMO MENSAL DE C ONTABILIDADE DE.
3 —■ Imprimir a data (mês/ano).

374 ­
4 — Gravar em tarja o mês (para controlo durante o movimento)
e expulsar a ficha com gravação.

IV — ALTERAÇÕES AS FICHAS

Com este programa será possível ajustar qualquer elemento que


figure no cabeçalho da ficha.

1 — Introduzir a ficha a alterar. Será rejeitada se virgem ou


transportada.
2 — Introduzir o código de altração (sempre 2 inteiros)

Código = 00 — Nome da conta


01 — N.° da conta
02 — N.° da sequência e grau
03 — Grau
04 — Código de c. custo
05 — Nome da conta
06 — N.° da conta
07 — Estabelecimento, morada e localidade
08 — Limite de crédito
09 — Código de extracto
10 — Código de c. registo
11 — Zona e n.° do agente
12 — N.° do comissionista
13 — Condições de Pagamento

NOTA: Os códigos 00 a 04 são para Contabilidade


Os códigos 05 a 13 são para as C/C

3 — Proceder como nos programas de aberturas e de acordo com


o código de alteração.
4 — Fazer a expulsão da ficha com gravação.

NOTA: Prever o transporte da ficha.

V — MOVIMENTO DE CONTABILIDADE

Com este programa só deverão ser movimentadas contas de


Razão Movimento.
As contas de Razão Principal serão actualizadas no fim do Movi-
mento por descarga e as contas de Razão Intermédio serão actuali-
zadas no fim do mês no balancete de Integração.

- 375
1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no leporello
de cima (vermelho) e totalmente encostado à direita.
2 — Fazer o encabeçamento do diário (anexo 4).
P a r a isso introduzir a ficha de RESUMO MENSAL DE CON-
TABILIDADE (anexo 1) que será lida e expulsa.

NOTA: Esta ficha tem de pertencer ao mês do Movimento.

Imprimir :

— Data
— Diário de Contabilidade N.° (Começa por 1 no início do
mês e depois é sequencial). Este n.° está gravado na
ficha de Resumo Mensal.
— N.° Folha (começa por 1 no início do dia e depois é sequen-
cial).
— Imprimir os valores anteriores (Débito e Crédito) que estão
gravados na ficha Mensal.
-Introduzir o Resumo Prévio (a débito e a crédito). Este
Resumo servirá para controlo na totalização.

NOTA:

1 — Dar possibilidade dos valores do Resumo Pré-


vio serem negativos e de os poder alterar em
qualquer altura.
2 — Prever o transporte automático, ou por decisão
de tecla do Diário de Contabilidade.

3 — Movimento

a) Introduzir a conta a movimentar e o n.° dela para controlo.

NOTA:

1 — Por decisão de tecla dar possibilidade de


poder abrir fichas. Neste caso proceder como
em I (fichas de Contabilidade) ou como
em II (C/Correntes).
2 — As contas de Razão só devem ser movimen-
tadas por descarga, no entanto dar possibili-
dade, por tecla premida, de poderem ser movi-
mentadas directamente.

376 -
3 — Por decisão de tecla dar possibilidade de poder
movimentar uma ficha já transportada e de
poder provocar o transporte em qualquer
altura.

b) Imprimir o n.° da conta no diário e imprimir a data (dia


mês) na ficha.
c) Introduzir e imprimir o n.° interno (máximo 6 inteiros).
d) Introduzir e imprimir o n.° do documento, vírgula, código
de descritivo (máximo 6 inteiros e 2 decimais).

Cód. descritivo = 00 — Máquina de Escrever Livre


01 — Aceite
02 — N/Crédito
03 — Cheque
04 — Factura
05 — Devolução
06 — Depósito
07 — Guia Entrada
08 — Guia Saída
09 — Juros
10 — Letras
11 — Nota de Débito
12 — Caixa
13 — Recambio
14 — Recibo
15 — Saque
16 — Fretes
17 — Transferência
18 — Papel

NOTA: Depois de imprimir o descritivo deixar a máquina


de escrever livre com possibilidade de várias
linhas.

f) Se estiver a movimentar fichas de Contabilidade e se


estas forem desdobradas por centros (Cód. C. Custo ¥= 0)
introduzir o n.° do C. Custo (01 a 48).
Se estiver a movimentar C/Correntes introduzir a data de
vencimento (MM/AA).

NOTA:
1 — Controlar que a data não seja inferior à do
processamento.

- 377
2 — No caso do mês do processamento não coincidir
com o que está gravado em tarja fazer a trans-
ferência dos valores do balancete financeiro de
acordo com o n.° de meses que a ficha esteve
sem ser movimentada ou balanceada. Guarda
em tarja o mês deste processamento.

Exemplo: O último movimento da ficha foi em


Janeiro e a data deste movimento é
Março. Em Janeiro não foi feito o
balancete financeiro.
Neste caso terá de passar os valores
a 30 dias para 90, os de 60 para 120...,
os de 180 e + 180 para desvios.

g) Introduzir a importância a movimentar (máximo 9 intei-


ros e 2 decimais).
Por tecla decidir se o valor é a débito ou a crédito e se
é para repeti? ou não lançamento.
h) Imprimir a importância na respectiva coluna e somar aos
movimentos mensais e acumulados da ficha.
i) Guardar o valor para descarga no Razão Principal
(os 2 primeiros dígitos do n.° da conta).

j) Ficha de Contabilidade

Se tiver introduzido C. Custo memorizar o valor na linha


de acordo com o n.° do centro introduzido.
Passar a (k)

Ficha de C/Correntes

Memorizar o valor para descarga na sub-conta (n.° da


conta retirando-lhe os 4 últimos dígitos)
Memorizar o mês do processamento
Se a C/Corrente for de Cliente e o código de extracto
for diferente de zero memorizar:

— Data (dia e mês)


— N.° do documento (6 dígitos)
— Código do descritivo (2 dígitos)
— Valor do movimento (9 inteiros e 2 decimais)
NOTA: Se o código de extracto for igual a 1 (Resumo)
só faz a memorização de valores se o código de
valores se o código de descritivo for igual a 02
(N/Crédito) ou 04 (Factura).

k) Imprimir o saldo da conta e voltar a c) no caso de repe-


tição de lançamento ou expulsar a ficha com gravação.

NOTA: Prever estorno.

4 — Totalização

Dar possibilidade de subtotalizar (sem descargas) ou de


totalizar.
Em qualquer dos casos terá de se imprimir o total dos débi-
tos e dos créditos.
No caso de subtotalização voltar ao movimento.
No caso de totalização e se os totais coincidirem com a soma
prévia passar a 5.
Se não dar possibilidade de:

— Fazer mais lançamentos


— Altera: a soma prévia
— Ou de Descarregar os valores

5 — Descargas

Todas as fichas que tiverem valores para serem descarre-


gados terão de ser actualizadas.

a) Imprimir no diário o n.° da conta a actualizar.


b) Introduzir a ficha pedida. Controlar que não seja virgem
nem transportada.
NOTA: Por decisão de tecla poder-se-á fazer a abertura
da ficha.

c) Imprimir na ficha:
— Data (dia e mês)
— Descarga (no'campo do descritivo)
— Valor a débito (somar aos acumulados mensais e
anuais)

- 379
— Valor a crédito (somar aos acumulados mensais e
anuais)
— Saldo geral da ficha

Expulsar a ficha com gravação


d) Se houver mais fichas a actualizar voltar a 5-a)

Senão :

— Imprimir o total Geral (débito e crédito)


— Introduzir a ficha de RESUMO MENSAL DE CONTA-
BILIDADE e imprimir nela:
— Data (dia e mês)
— Diário N.°
— N.° do diário (será gravado em tarja)
— Valor diário do débito (somá-lo ao valor mensal da
tarja)
— Valor diário do crédito (somá-lo ao valor mensal da
tarja)
— Saldo diário
Expulsar a ficha com gravação.

VI — PASSAGEM INICIAL DE SALDOS

Este programa funciona como o de MOVIMENTO DE CONTABI-


LIDADE (V) com as seguintes diferenças:
— Não tem de se introduzir o n.° interno e o n.° do documento.
— O descritivo é sempre SALDO.

VII — RECONSTITUIÇÃO DE FICHAS

Com este programa poder-se-ão introduzir os valores a débito e


crédito, mensais e acumulados pertencentes a uma ficha.
1 — Introduzir a ficha a recuperar. Será rejeitada se virgem ou
transportada.

380 -
2 — Introduzir e imprimir no diário os seguintes valores.

— Acumulativo Anual de Débito


— Valor Acumulativo de Crédito
— Valor Mensal de Débito
— Valor Mensal de Crédito

3 — Conferir visualmente e decidir por meio de tecla se.

Certo — passar a 4)
Errado — dar uma entrelinha no diário e voltar a 2)

4 — Fazer as seguintes impressões na ficha:

— Data (dia e mês)


— Valor Mensal a Débito
— Valor Mensal a Crédito

Dar uma entrelinha na ficha e no diário e imprimir:

— Valor Anual a Débito


— Valor Anual a Crédito

Imprimir o saldo da conta

5 — Fazer a expulsão da ficha com gravação.

VIII - BALANCETE DE INTEGRAÇÃO

Este programa servirá para balancear todas as fichas e lançar


nas contas de Razão Intermédio (anexo 2B e 2C) os valores movi-
mentados durante o mês nas contas de Razão Movimento. Haverá
limpeza de valores.

NOTA: Quando se fala em grau superior ou inferior deve


entender-se que o 1.° grau é inferior ao 2.°.

1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à esquerda.

- 381
Fazer o encabeçamento do Balancete (anexo 5) por decisão
de tecla e imprimir:

— Data
— N.° Folha (no início será o n.° 1 e depois será sequencial).

Listagem

a) Introduzir a ficha a balancear e limpar em tarja os valo-


res mensais (débito e crédito).

NOTA: Ao listar a 1." ficha o computador admitirá qual-


quer uma. Depois terá de se seguir a sequência
da ficha anteriormente listada. No entanto por
decisão de tecla poder-se-á contrariar essa
sequência.

b) Se a ficha que está a ser listada for de grau imediata-


mente inferior ao anteriormente movimentado terá de se
somar para gravação na ficha em acumulados mensais
e anuais (devedores e credores) os valores que estiverem
em memória para descarga nesse grau.
c) Se a ficha não for de Razão Principal (grau 1) somar
para descarga no grau imediatamente inferior os valores
mensais (débito e crédito).

NOTA: Se estiver a listar uma conta de Razão Principal


(1.° grau) sinalizar se os valores dessa ficha não
forem iguais ao somatório das contas de Razão
Movimento que lhe pertencem.

d) Expulsar a ficha com gravação e de acordo com o


impresso listar:

— N.° da Conta
— Nome
— Acumulativo Anual de Débito
— Acumulativo Anual de Crédito
— Saldo Geral
— Movimento Mensal a Débito
— Movimento Mensal a Crédito
— Saldo Mensal
4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3) ou de totalizar
(ou subtotalizar) imprimindo:
— Acumulativo Anual a Débito
— Acumulativo Anual a Crédito
— Saldo Geral Devedor
— Saldo Geral Credor
— Movimento Mensal a Débito
— Movimento Mensal a Crédito
— Saldo do Mês Devedor
— Saldo do Mês Credor

5 — Será possível por decisão de tecla fazer uma linha de balan-


cete sem ficha. Esta sequência só deverá ser utilizada se
conhecermos todos os valores da ficha que deveriam ser
listados.

Neste caso terá de se introduzir:


— Acumulativo de Débito
— Acumulativo de Crédito
— Movimento Mensal de Débito
— Movimento Mensal de Crédito
— Grau da conta (que está a listar)
— Nome
— N.° da conta que se lhe segue

6 — Prever transporte.

IX —BALANCETE DE RAZÃO PRINCIPAL

Com, este programa só poderá balancear contas de Razão Prin-


cipal (1.° grau).

Haverá limpeza dos Valores Mensais.

1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à esquerda.

- 383
2 — Fazer o encabeçamento do Balancete (anexo 5) por decisão
de tecla e imprimir:

— Data
— N.° folha (no início será o n.u 1 e depois será sequencial)

3 — Listagem
a) Introduzir a ficha a listar e limpar em tarja os valores
mensais (débito e crédito).
b) Expulsar a ficha com gravação e listar:
— N.° da Conta
— Nome
— Acumulativo Anual de Débito
— Acumulativo Anual de Crédito
— Saldo Anual
— Movimento Mensal a Débito
— Movimento Mensal a Crédito
— Saldo Mensal

4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3) ou de totalizar


(ou subtotalizar) imprimindo:

1." LINHA
— Acumulativo Anual de Débito
— Acumulativo Anual de Crédito
— Saldo Geral Devedor
— Movimento Mensal a Crédito
— Saldo Mensal Devedor

2." LINHA
— Saldo Geral Credor
— Saldo Mensal Credor

NOTA: Prever transporte.

384 -
X - ACTUALIZAÇÃO DAS CONTAS DE RAZÃO INTERMÉDIO

Com este programa só poderá movimentar fichas de Razão Inter-


médio.
Este programa destina-se a imprimir na ficha os valores que
foram nela gravados durante o balancete de integração.
Haverá limpeza dos valores que são impressos na ficha.

1 — Introduzir a ficha a actualizar.


2 — Imprimir :

— Data (dia e mês)


— Descarga (no descritivo)
— Valor a débito (mensal)
— Valor a crédito (mensal)
— Saldo Geral

3 — Expulsar a ficha com gravação.

XI —LISTAGEM DE FICHAS

Com este programa poderá listar qualque; ficha.


Por chamada de programa diferente poderá haver ou não limpeza
de valores em tarja.
Proceder como no Balancete de Razão Principal (X).

XII — BALANCETE DE CENTRO DE CUSTO

Com este programa só poderá listar fichas que tenham distri-


buição de valores por C. Custo.
Por chamada de programa diferente poderá haver ou não limpeza
de valores em tarja.

1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à esquerda.
2 — Fazer o encabeçamento do Balancete (anexo 7) por decisão
de tecla e imprimindo:

25 — 385
l.a LINHA

— Mapa de Custos
— Data
— Folha (a 1." folha será o n.° 1 e depois será sequen-
cial)

2." LINHA

— Número
— Nome
— N. C. (
.. . Ï 4 vezes
— Valor [
3 — Listagem

a) Introduzir a ficha a listar e limpar (ou não) em tarja os


valores dos C. Custo.
b) Expulsar a ficha com, gravação' e imprimir:
— N° da conta
— Nome
— N.° Centro e valor (só os centros que tenham valores)
4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3) ou de totalizar (ou
subtotalizar) imprimindo :
— N.° do centro
— Valor (só os centros que tiverem valores)

NOTA: Prever transporte.

XIII — BALANCETE COMERCIAL

Com este programa só poderá balancear C / C de Clientes


(anexo 3).
Por chamada de programa poderá haver ou não limpeza de va-
lores (valor venda, valor de custo e lucro bruto).
Este balancete só terá interesse no caso de haver facturação.

386 —
1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-
rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à esquerda.
2 — Fazer o encabeçamento do Balancete por decisão de tecla e
imprimir :

— Data
— N.° folha (no início será o n.° — 1 e depois será sequen-
cial)

3 — Listagem

a) Introduzir a ficha a listar e limpar (ou não) em tarja os


valores (valor venda, valor custo e lucro bruto).
b) Expulsar a ficha com gravação e listar:

— N.° do cliente
— Nome
— Acumulativo Anual de Débito
— Acumulativo Anual de Crédito
— Saldo Geral
— Movimento Mensal a Débito
— Movimento Mensal a Crédito
— Lucro Bruto
o, T . Lucro Bruto
— % Lucro ( — )
Valor Venda — Lucro Bruto
— Valor das Vendas Mensais
4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3)/ou de totalizar
(ou subtotalizar) imprimindo:

— Acumulativo Anual de Débito


— Acumulativo Anual de Crédito
— Saldo
— Movimento Mensal a Débito
— Movimento Mensal a Crédito
— Valor das Vendas Anuais
— Lucro Bruto
— Valor das Vendas Mensais

- 387
NOTAS:

1 — Prever transporte
2 — Os valores Mensais de Facturação são limpos.

XIV — BALANCETE FINANCEIRO

Com este programa só poderá balancear C/C.


Por chamada de programa poderá haver ou não gravação das
fichas visto que os valores passarão de 30 para 60 dias, de 60 para
90 dias,... os de mais de 180 dias somam para desvios.

1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à esquerda.
2 — Fazer o encabeçamento do Balancete (anexo 6) por decisão
de tecla e imprimir:

— Data
— N.° folha (no início é o n.° — l e depois será sequencial)

3 — Listagem

a) Introduzir a ficha a listar e fazer a transferência con-


forme o indicado no início.
b) Expulsar a ficha com (ou sem) gravação e listar:

— N.° da conta
— Nome
— Saldo da conta
— Valores (a 30, 60, 90, 120, 150, 180, + 180 dias e os
desvios só em contos).

NOTAS:

1 — Antes de fazer a listagem e no caso de o mês gravado


em tarja não coincidir com o mês do balancete terá de
fazer a transferência dos valores.

Exemplo: —O mês gravado em tarja é 01 e o mês da


data é 03. Neste caso terá de passar os
valores de 30 para 90 dias os de 60 para 120
e os de 180 e + 180 para desvios.

388 —
2 — Terá de gravar na ficha o mês do balancete + um.

4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3) ou de totalizar (ou


subtotalizar) imprimindo:

— Saldo
— Valores (30, 60, 90, 120, 150, + 180 e desvios).

NOTA: Prever transporte.

XV -ABERTURA DE C/C CLIENTES TARAS

Esta ficha só será aberta para os clientes que retiverem em seu


poder taras recuperáveis.
A abertura desta ficha será feita a partir da C/C efectiva do
Cliente.

1 — Introduzir a C/C efectiva do Cliente. Será rejeitada se for


virgem ou transportada.
2 — Expulsar a ficha (sem gravação).
3 — Introduzi: uma C/C Clientes taras. Será expulsa se não for
virgem.
4 — Imprimir o nome do Cliente e n.°.
5 — Limpar todos os restantes elementos em tarja.
6 — Guardar em tarja um sinal para distinguir este tipo de ficha
e expulsar a ficha com gravação.

XVI - ALTERAÇÕES AS C/C CLIENTES TARAS

Dada a necessidade de possíveis alterações aos elementos que


figuram no cabeçalho desta ficha, elaborou-se este programa que
permitirá fazer qualquer ajustamento a esses elementos.
1 — Introduzir a ficha a alterar. Controlar que seja ficha de
C/C de taras, e que não seja virgem ou transportada.
2 — Int-oduzir o código de alteração (sempre 1 inteiro)
Cód. = 1 — Nome do cliente
2 — N.° do cliente

— 389
3 —No caso do código de alteração ser:

= 1 — Deixar a Máquina de Escrever ficar livre para o nome


(máximo 30 letras ou espaços).
= 2 —Introduzir o n.° do cliente (máximo 9 inteiros).

4 — Expulsar a ficha com gravação.

XVII — MOVIMENTO DE C/C CLIENTES TARAS

Com este programa só poderá movimentar C / C de Clientes


(taras).

1 — Dar possibilidade de acertar 0 diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à direita.
2 — Introduzir a conta a movimentar e o n.° dela para controlo.

NOTAS:

1 — Por decisão de tecla dar possibilidade de poder mo-


vimentar fichas já transportadas e de poder provocar
o transporte.
2 — Dar possibilidade de estorno por decisão de tecla
premida.

3 — Introduzir o n.° do lançamento, vírgula o código de taras que


se vai movimentar. O código de taras pode ir de 01 a 48.
4 — Introduzir as quantidades de taras a movimentar (máximo
5 inteiros). Por tecla, decidir se o valor é a débito ou a
crédito e se é para repetir lançamento.
5 — Introduzir o valor das taras movimentadas (máximo 6 in-
teiros e 1 decimal).
6 — Imprimir o saldo da conta e

— Voltar a 3) se for para repetir lançamento

ou

— Expulsar a ficha com gravação

390 -
7 — Possibilidade de totalização imprimindo :
— Quantidade de taras debitadas
— Quantidade de taras creditadas
— Valor de taras debitado
— Valor de taras creditado

XVIII - LISTAGEM DE TARAS

Com este programa só poderá listar C/C de Clientes de taras.


Não haverá limpeza de valores.

1 — Dar possibilidade de poder acertar o diário que funciona no


leporello de cim-a (vermelho) e totalmente encostado à es-
querda.
2 — Fazer o encabeçamento do balancete por decisão de tecla e
imprimir :

l.a LINHA

— MAPA DE TARAS
— DATA
— N.° DA FOLHA

2." LINHA

— NÚMERO
— NOME
- C . T.
4 vezes
— QUANT.

3 — Listagem

a) Introduzir a ficha a listar.


Expulsar a ficha sem gravação.

- 391
b) Imprimir:

— N.° do cliente
— Nome do cliente
— Código de tara e respectiva quant. Só deverá impri-
mir os códigos que tenham movimento.
— Na 2.a linha, no campo do nome, imprimir o valor das
taras (global).

4 — Possibilidade de nova linha voltando a 3) ou de totalizar (ou


subtotalizar) imprimindo:

— Código da tara
— Quantidade

NOTA: Prever transporte.

XIX - EXTRACTOS DE C/C CLIENTES

Com este programa só poderá movimenta- C/C de Clientes cujo


código de extracto seja 1 ou 2.

1 — Dar possibilidade de acertar o impresso que funciona no


leporello de cima (vermelho) e totalmente encostado à es-
querda.
2 — Introduzir a ficha da qual se vai fazer o extracto.
3 — Limpar em tarja os valores do extracto e expulsa a ficha
com gravação.
4 — Imprimir :

— N.° extracto (introduzido no início do programa, depois é


sequencial).
— Posicionar no endereço e imprimir o nome do cliente
— Dar uma entrelinha e imprimir o n.° do Cliente e o Esta-
belecimento
— Dar uma entrelinha e imprimir a Morada
— Dar uma entrelinha e imprimir a Localidade
— Dar duas entrelinhas e imprimir o mês (por extenso) e a
data

392 -
— Posiciona no Corpo do extracto e imprimir:

S. Anterior e respectivo valor

— Documento a documento imprimir:

Data (dia/mês)
N.° do documento
Descritivo (de acordo com o programa de movimento de
contabilidade)
Valor — a débito ou crédito

Quando não houver mais documentos a imprimir posicionar no


total e imprimir o total a débito e a crédito.

— Imprimir o saldo actual da C/C no respectivo campo.

XX-PASSAGEM ANUAL DE SALDOS

Este programa só deve ser executado depois de a Contabilidade


estar encerrada.
Só devem ser movimentadas as contas de Razão Movimento. As
contas de Razão Principal são actualizadas por descarga, e as de
Razão Intermédio, depois de limpas, são actualizadas no balancete
de integração.

1 — Dar possibilidade de acertar o diário que funciona no lepo-


rello de cima (vermelho) e totalmente encostado à dreita.
2 — Introduzir o último saldo

— A débito
— A crédito

3 — Movimento

a) Introduzir a ficha a encerrar.


b) Passar o saldo para o respectivo acumulado e limpar o
outro. No caso da conta estar saldada serão limpos os
dois acumulados.
c) Somar o valor do saldo para descarga na conta do Razão
Principal (os 2 primeiros dígitos do n.° da conta).

— 393
d) Dar 2 entrelinhas e imprimir:
— O ano (a vermelho) na coluna da data.
— Balanço na coluna do descritivo.
— Saldo
Actualizar e expulsar a ficha.

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A Normalização Contabilística e a Informática
— CGAM —Um Sistema de Aplicação
Por A. Ferreira de Sousa

1 — INTRODUÇÃO

Tem a Regisconta conhecimento da apreensão e das grandes difi-


culdades, com que se debatem os técnicos contabilistas, para pode-
rem responder às exigências que lhes são impostas pelo Plano Oficial
de Contabilidade. Este plano, que por ser oficial a todos obriga ao
seu cumprimento, impõe que as empresas o adoptem e cumpram
integralmente.

É certo que são permitidas algumas adaptações, contudo estas,


não poderão pôr em causa a estrutura principal do plano.

Sendo assim, e porque o plano tem que ser cumprido, tal como foi
concebido, ou com poucas alterações, assiste-se a dois grandes grupos
de dificuldades. Por um lado, as dificuldades das empresas que não
possuem capacidade estrutural ou técnica para responderem ao
mínimo a que o plano obriga; e por outro, as dificuldades das
empresas, que pela sua maior dimensão, e porque já possuem meios
que lho permitem (referimo-nos aos serviços mecanizados através
de computadores) necessitam, e não poderão prescindir, de um maior
e diversificado volume de informação. Quanto às primeiras, não
vemos como poderão cumprir, se não reestruturarem os serviços e
enveredarem pela via da mecanização.

Quanto ao segundo caso, a solução poderá ser mais facilmente


encontrada. Estas empresas, possuem quadros técnicos e infra-estru-
turas capazes de ultrapassarem as condicionantes que o Plano Oficial
de Contabilidade lhes impõe, e assim, obterem a informação de que
necessitam através das alterações possíveis que este permita, ou

- 411
praticando uma contabilidade interna (contabilidade analítica ou de
exploração) em paralelo com a Contabilidade Financeira.

Estamos convencidos que será impraticável, senão impossível, a


obtenção de alguns mapas obrigatórios sem o auxílio de uma Conta-
bilidade Analítica, que pelo menos forneça a localização dos custos
e proveitos. Sendo assim, teremos que as empresas que quiserem
ou forem obrigadas a cumprir com. as disposições do Plano Oficial
de Contabilidade não terão outra solução que não seja a de passarem
a ter uma contabilidade interna (Analítica ou Industrial, como se
queira chamar) e sobre a qual nada há regulamentado, ficando por
isso ao critério de cada empresa a utilização do processo que mais
lhe convier. Não se conclua, porém que comungamos da ideia de
alguns, que consideram a contabilidade um mal necessário; bem longe
estamos desse conceito, pensamos até que a Contabilidade Analítica
é um meio do qual o empresário não poderá continuar a prescindir.

Queremos desde já deixar bem, claro, que não defendemos ou


atacamos o actual Plano Oficial de Contabilidade, isto porque se
assiste frequentemente a tergiversações coléricas sobre este assunto.
A nossa posição é que é salutar (finalmente) a existência de um
Plano de Contas português. Ele existe, está oficializado e chama-se
Plano Oficial de Contabilidade (POC). Muito bom, menos bom ou
com alguns defeitos, é o plano que todas as empresas são obrigadas
a cumprir a partir de Janeiro de 1978. O início desta obrigatoriedade
já não está longe, e por isso é necessário que as empresas disponham
de meios que lhes permitam poder cumprir. Poder cumprir os requi-
sitos fiscais, e obter a informação adequada ao bom funcionamento
e gestão das mesmas.

Por isso, decidimos elaborar este estudo, que poremos à dispo-


sição dos nossos clientes ou potenciais clientes, como solução (mais
uma) para este problema.

Este estudo, como veremos nos capítulos que vão seguir-se, po-
derá servir como guia orientador para a maioria das entidades que
tiverem a oportunidade de o consultarem. Contudo ele é específico,
pois é concebido para ser cumprido pelo computador Datasaab D-15.

2 —FILOSOFIA DO TRATAMENTO

Na informática actual, é sabido que o sucesso de qualquer sis-


tema de aplicação está intimamente ligado à filosofia adoptada na
elaboração desse mesmo sistema. Esta verdade que é palpável no

412 —
estudo da organização e métodos, é redundante nos sistemas que vi-
sem ser cumpridos através de meios mecanográficos (computadores).

Neste último caso, é fundamental a contribuição que a estrutura


hardware nos pode dar. No caso concreto deste estudo, verifica-se
uma combinação perfeita entre os elementos; organização e métodos,
software e hardware. Esta combinação é conseguida por duas razões
base.

A primeira, porque somos apologistas, de que a filosofia ideal de


tratamento, é aquela que nos permite a descentralização da infor-
mação e a modulação do tratamento da mesma descentralização no
que se refere à localização da informação onde ela é necessária, e
no momento oportuno, modulação no que se refere à compartimen-
tação do software em pequenos módulos estanques e autónomos.

A segunda razão prende-se com o hardware, que neste caso está


em perfeita sincronia com o que acabámos de dizer. A estrutura
hardware do Datasaab D-15 toda ela é conseguida através da com-
binação de módulos de diversas potencialidades.

Módulos de input e/ou output, localizáveis na periferia (1 500 me-


tros) do cérebro principal (unidade central) e em permanente ligação
com esta. Esta ligação que poderá ser feita através de uma linha
telefónica (e neste caso o raio deixa de ser 1 500 metros para ser
ilimitado) permite que entre os módulos e a unidade central, se esta-
beleça um diálogo ininterrompido por qualquer outra solicitação.
Outras razões atestam a modulação deste hardware, porém, não
achamos que seja este o local para os descrever, ficamo-nos por isso
pelo que foi dito, sobre este assunto, remetendo, os interessados, para
a documentação base.
Quanto à modulação de tratamento da informação, e que será
facilmente perceptível nos capítulos seguintes, há ainda a acrescentar
o seguinte: este estudo, vai ter como coordenadas, as disposições
do Plano Oficial de Contabilidade, mas nos pontos onde não choque
com estas, terá que os ultrapassar, e por aí fornecer um conjunto
de informação marginal que responda às necessidades concretas de
muitas empresas. Mas também é verdade, que essa informação mar-
ginal, tem o seu custo, nem que seja somente um custo de estrutura,
e nem todos estarão dispostos a suportá-lo.
Não poderíamos por isso modular com suficiente amplitude sem
correr o risco de subaproveitamento desses módulos. Daí que estes
sejam objecto de subdivisão controlada e supervisionada, através de

- 413
indicadores (alteráveis) gravados em tabela ou ficheiro quando da
implantação do sistema.

Vejamos pois um exemplo simples mas esclarecedor, do que foi


dito. O controlo orçamental, com o apuramento de desvios em valor
e percentagem, vai ser possível para todas as contas. Haverá casos,
em que esse controlo só terá interesse para os custos e proveitos,
haverá ainda outros em que não tem qualquer interesse.

Pois bem, não faria sentido, a criação de um módulo tão rígido,


que não permitisse a escolha da parte que mais interessasse, sem, a
obrigatoriedade de desperdício das partes restantes. Este desper-
dício seria notório, quer em tempo de utilização de equipamento,
como na ocupação da memória da mesma (disco).

Muitos outros e complexos indicadores irão ser estabelecidos ao


longo de todo o estudo, para eles, pediremos cuidada atenção no
momento e local oportuno.

414 —
Integração da informação no sistema total
No âmbito deste capítulo, resta-nos acrescentar, que de acordo
com o conceito de tudo em disco, permanentemente actualizado e
apto a ser consultado, terá este sistema (sistema de contabilidade)
de estar preparado para poder receber informação de outros sistemas
e deste modo cumprir com o conceito elementar que é o processo
das partidas dobradas. Isto leva-nos a que todos os outros sistemas,
que trabalham em, multiprocessamento, deverão fornecer a este todos
os dados contabilísticos que tenham de ser incorporados. Estes dados
aguardarão em ficheiro auxiliar a sua incorporação.

3-DESCRIÇÃO DO SISTEMA

Antes de iniciarmos a apresentação deste sistema, apresentação


que faremos em relação aos objectivos, deixando portanto os meios
para os capítulos seguintes, pensamos ser útil deixar expresso o nosso
conceito de sistema de aplicação e sistema total.
Sistema de aplicação, é a integração de procedimentos, módulos,
programas e ficheiros, que se interligam no sentido de permitir a
obtenção de determinado tipo de informação.
No caso do «CGAM» essa conjugação vai verificar-se para a
obtenção de informações relativa às Contabilidade Geral, Analítica
e Marginal. Outras aplicações resultariam em outros sistemas; por
exemplo o processamento de salários, stocks, facturação, etc.
Quanto ao sistema total, este é a resultante da integração dos
vários sistemas de aplicação. Contudo, para nós, isto só é verdade
se houver efectivamente interligação, isto é, se todos poderem tra-
balhar simultaneamente recebendo e fornecendo dados uns aos outros.
P a r a que isto se torne possível, é necessário que sejam definidas
regras, e que estas sejam cumpridas. Só assim será possível obter
o conceito de sistema total, relativamente aos sistemas «CGAM» Con-
tabilidade Geral, Analítica e Marginal e «SALORD» salários e orde-
nados. Todos os outros terão que respeitar o que aqui estiver re-
gulado.
Fica portanto reservado para estes dois sistemas o seguinte:

Ficheiros
Os compreendidos entre os números 1 e 50 inclusive.

Tabelas
Estão utilizadas as tabelas de zero a dez, sendo as
primeiras oito reservadas pelo softivare base e utilitários.
A tabela n.° 8 está definida com 150 elementos de 255 bytes
cada.

416 -
Programas
Estão reservados os programas de zero a setenta po-
dendo serem utilizados como programas comuns os se-
guintes :
LP-0 — Programa supervisor
LP-1 — Cheque dígito verificador.

Formatos
FORMATO-0 — 22222222222220-
FORMATO-1 — 222.222.222.220-
FORMATO-2 - 222.222.222.220,00-
FORMATO-3 — 222222222220,00-
FORMATO-4 — 2222222222222220
FORMATO-5 - 22.222.220,000-
FORMATO-6 — 222B222B222B2B2-
FORMATO-7 — 222222222222,0-

Constantes
CONSTANTE-0 - 00 00 00 00
CONSTANTE-1 — 00 00 00 01
CONSTANTE-2 — 00 01 00 00
CONSTANTE-3 — 09 09
CONSTANTE-4 — 00 05 00
CONSTANTE-5 - 00 02 05
CONSTANTE-6 — 00 01 00

Além dos requisitos atrás enunciados, remetemos os interessados


para a listagem da geração do sistema, relativamente ao teste ope
rating sistem e operating sistem, a elaborar quando da implantação.

Objectivos do sistema «CGAM»


São objectivos a cumprir através do sistema de tratamento de
dados intitulado «CGAM», os seguintes:
— Processamento da Contabilidade Financeira das empresas,
de acordo com as normas apresentadas no Plano Oficial
de Contabilidade.

417
-
27
— Processamento da Contabilidade Interna (Analítica ou In-
dustrial) de acordo com vários processos (adaptáveis), à
maioria das situações específicas de cada empresa.
— Contabilidade Orçamental, com o apuramento de desvios
em relação ao realizado (no mês e até à data) em valor
e percentagem.
Esta poderá verificar-se para todo o conjunto de con-
tas que constituem os quadros de contas de Contabilidade
Geral e Analítica ou para as que se entender ser mais ne-
cessário. Referimo-nos concretamente às classes de custos
e proveitos da Contabilidade Financeira.

— Contabilidade estatística, valores (saldos) de todas ou parte


das contas que constituem a Contabilidade Geral e Analí-
tica, relativos aos dois exercícios anteriores. Estabelecer-
-se-ão controlos comparativos, dos valores (saldos) reali-
zados no exercício em curso, com os dois exercícios ante-
riores.

— Tratamento de Terceiros, Clientes e Fornecedores. Neste


sistema, a informação relativa a terceiros, é a mesma
que se obtém para qualquer outra conta. Teremos que a
conta corrente resulta do desdobramento do grau anterior,
exemplo :
21 — Clientes
21.1 — Clientes c/ corrente
21.1.0001 — Sr. A
21.1.0002 —Sr. B.

Dever-se-á ter em atenção o seguinte: se o utilizador


necessitar de um sistema de facturação, ter - se - á que
adoptar outra solução que não esta. Pois que a infor-
mação que se pretende é bem diversa, tal como morada,
localidade e certificado de registo para efeitos de emissão
de facturas, e volume de compras por espécie de artigos,
zonas de vendas, etc.
Sendo assim, a informação relativa a terceiros (conta
corrente), possivelmente só os clientes, deverá ser arma-
zenado noutro ficheiro e tratado segundo o definido no
estudo próprio. Seria inevitavelmente subjectivo o que
aqui pudéssemos dizer sobre o assunto. Contudo a ligação
entre estes e a contabilidade (contas do razão) será esta-
belecido através do «CGAM». Para isso bastará que os
lançamentos contabilísticos resultantes da emissão de fac-
turas, notas de crédito ou pagamentos, sejam armazenados
no ficheiro para esse fim estudado, que é o «ficheiro de
lançamentos a aguardar integração».
Diariamente quando se inicia o movimento contabilís-
tico, é feita a pesquisa a este ficheiro, para que sejam
integrados na contabilidade os lançamentos de data igual
ou inferior.
Queremos ainda sublinhar, que outras razões nos leva-
ram a escolher esta solução. A de maior peso é a que
resulta da diversidade de input para um e outro sistema.
Os dados de input a fornecer para a execução de um lan-
çamento são bem diversas para a contabilidade ou para
terceiros. Isto porque para terceiros poderá ser útil infor-
mações do tipo controlo de crédito, responsabilidades de
letras, estatística de compras, etc.
Não queremos porém de deixar expressa a nossa con-
tribuição para a elaboração do estudo de tratamento de
informação de terceiros. P a r a isso inserimos no «CGAM»
os layouts dos registos dos ficheiros que pensamos serem
necessários. São eles:

Ficheiro n.° 9 — Base de Clientes


Ficheiro n.° 10 — Movimentos Diários de Clientes e For-
necedores
Ficheiro n.° 11 — Histórico de Clientes
Ficheiro n.° 12 — Clientes controlo de crédito e Análise
de saldos
Ficheiro n.° 13 — Base de Fornecedores
Ficheiro n.° 14 — Histórico de Fornecedores
Ficheiro n.° 15 — Fornecedores controlo de crédito e
Análise de saldos.

Contabilidade secundária, resulta da transferência automá-


tica (sem interferência do operador) dos valores lançados
na contabilidade geral.
A cada conta da contabilidade geral faremos corres-
ponder uma outra conta que poderá ter estrutura, desi-
gnação e análise diferentes. Todos os valores lançados
naquela são transferidos para esta. É assim constituído
um conjunto de ficheiros, onde fica armazenada a infor-
mação relativa a este tipo de contabilidade.
Mapas orçamentais comparativos com exercícios ante-
riores, ou outros tipos de informações serão viáveis, à seme-
lhança dos obtidos para a contabilidade geral principal.
Pensamos que esta solução responde à necessidade das
empresas que tenham que elaborar dois tipos de contabili-

— 419
dade, uma para responder às exigências fiscais e de gestão
nacional (P. O. C.) e a outra a outro tipo de quadro de
contas, imposto por exemplo pela empresa mãe, caso das
multinacionais.
Não adiantamos mais aplicações para esta solução, pois
elas poderão ser encontradas caso a caso.
Pelo que foi dito podemos desde já sintetizar que o
«CGAM» vai permitir o processamento de cinco tipos de
contabilidade, se assim se pode chamar, a saber:

Contabilidade Geral (principal)


Contabilidade Geral (plano secundário)
Contabilidade Analítica
Contabilidade Orçamental
Contabilidade Estatística.

Qualquer contabilidade tem, na sua base um quadro de


contas. Esses quadros poderão ser impostos pelas enti-
dades oficiais, caso do P. O. C , ou elaborados pelas em-
presas, caso da contabilidade interna.
Num e noutro caso, a estrutura do código de contas e
sua análise, é um problema sobre o qual teremos que nos
debruçar.
A solução deste problema no CGAM, para qualquer
tipo das contabilidades apresentadas é a seguinte:

O código de conta, é constituído por um (1) dígito no


mínimo e dezasseis (16) dígitos como máximo.
Suporta no máximo um- desenvolvimento até ao oitavo
(8.°) grau.
Cada grau, é constituído por um (1) dígito no mínimo,
e quatro (4) dígitos como máximo.
Com estes parâmetros poderemos ter combinações do
tipo:

Código de conta

a) X.X.X.X.X.X.X.X.
b) XX.XX.XX.XX.XX.XX.XX.XX.
c) x x x . x x . x . x . x . x . x X.
d) xxxx.xxx.xx.x.x.xx.x.xx.
e) XX.X.X.XXXX.
f) XX.X.X.XXX.XX.X.
etc.
Quanto aos quadros de contas, está já definido o da
contabilidade geral do Plano Oficial de Contabilidade, e que
é constituído por dez (10) classes numeradas de zero (0) a
nove (9).
P a r a a contabilidade geral (plano secundário) ficará
ao critério do utilizador.
P a r a a contabilidade analítica, embora também fique
ao critério do utilizador, sugerimos o seguinte:

A Utilização da classe nove (9) para esse fim e com a


seguinte estrutura:

90 — Contas reflectidas (ou de imputação)


91 — Reclassificação de custos
92 — Secções
93 — Centros de custo
94 — Armazéns (inventário permanente)
95 — Desvios em custos pré-estabelecidos
96 — Diferenças de Incorporação
97 — Custos de vendas
98 — Vendas
99 — Resultados da contabilidade Analítica.

A informação a que já nos referimos e que voltaremos a fazer


em pormenor mais adiante sobre os vários tipos de contabilidade fica
armazenada, por períodos estabelecidos, num suporte de dados que
no caso do Datasaab é o disco magnético. Essa informação devida-
mente catalogada dá origem a ficheiros que, por sua vez, são con-
juntos de registos. Foram assim criados conjuntos de ficheiros para
cada tipo de contabilidade. Esses ficheiros (alguns) terão que ser
constituídos quando da implantação do sistema através de compro-
vantes de abertura; outros serão obtidos automaticamente pelo re-
gisto das operações contabilísticas. Teremos assim os seguintes fi-
cheiros:

Contabilidade geral (principal)

— Ficheiro n.° 1; Base de contabilidade geral


Este ficheiro será de constituição inicial e nele ficam
registadas todas as contas que constituem o quadro de
contas da contabilidade geral, desde o primeiro au último
grau.

- 421
— Ficheiro n.° 2; Movimentos diários de contabilidade
É um, ficheiro de input, a sua função é a de receber
todos os lançamentos contabilísticos que serão feitos pelos
operadores, via teclados numéricos, das várias estações de
trabalho, com base nos documentos.
Também recebe os lançamentos da mesma data ou
inferior, que estejam a aguardar integração. Terminada
esta operação que poderá referir-se a um dia, vários dias,
uma semana ou até um mês, fornece os dados (que nele
ficaram armazenados) para a obtenção do mapa dos lan-
çamentos executados. Terminada a listagem é reposto a
zero.
Serve para fornecer a visualização (display ou impres-
sora rápida) dos lançamentos executados por cada ope-
J
rador.

— Ficheiro n.° 3; Lançamentos a aguardar integração


Estabelece a ligação doutros sistemas com o «CGAM».

— Ficheiro n.° 4; Histórico de contabilidade geral


É constituído por subproduto do movimento dos lança-
mentos contabilísticos e simultaneamente com o registo
destes. Nele ficam armazenados todos os lançamentos de
todas as contas de último grau (contabilidade geral). Serve
para no final de certo período, que achamos conveniente
ser um mês, obter o extracto de conta.

— Ficheiro n.° 5; Orçamentos


Deverá (se se pretender) ser constituído, com base em
comprovantes de abertura, para as contas que se pretender.

-Ficheiro n.° 6; Estatística ano corrente (exercício)


É um ficheiro para o qual não é necessária a consti-
tuição inicial; ele serve para nele serem armazenados os
valores mensais (saldos) do exercício relativamente às con-
tas para as quais se pretende estatística.

— Ficheiro n.° 7; Estatística 1.° ano anterior


Deve ser constituído quando da implantação do sistema,
através de comprovantes de abertura, mesmo que se des-
conheçam, ou sejam, de difícil apuramento os valores do
exercício anterior, neste caso é constituído somente com
os códigos de conta.

422 —
A constituição deste ficheiro, para todas as contas ou
parte delas, dar-nos-á automaticamente no próximo exer-
cício, os valores (saldos) do exercício anterior. No final
do exercício processa-se a rotação:

1.° Exercício anterior 2.° Exercício anterior


Exercício corrente 1.° Exercício anterior.

— Ficheiro n.° 8; Estatística 2.° ano anterior


Tem os mesmos fins e é constituído como o ficheiro
n.° 7.

— Ficheiro n.° 16; Auxiliar para ordenações


É um ficheiro de passagem, utilizado para a ordenação
dos registos (contas) de todos os tipos de contabilidade,
nos vários mapas a obter.

— Tabela de descrições de Lançamentos


Todo o lançamento tem um descritivo que identifica a
operação realizada. Esse descritivo vai ser desencadeado
através de um código que é fornecido quando do registo
dos lançamentos diários de contabilidade.

Exemplo :
Código 01 — FACTURA
02 — V / CRÉDITO
03 - CHEQUE
04 — ACEITE
05 — V / DÉBITO.

Esse descritivo vai ser memorizado em tabela e será o


utilizador a convencioná-lo.

— Ficheiro n.° 23; Tabelas de Distribuição de custos


Este ficheiro vai ser utilizado, se se optar pelo processo
de lançar contabilidade geral e a partir desta obter os va-
lores para a contabilidade analítica. Através das tabelas
de distribuição de custos e eventualmente proveitos, poder-
-se-á imputar as diversas secções ou produtos.

Contabilidade Analítica

—- Ficheiro n.° 17 — Base de contabilidade


— Ficheiro n.° 18 — Histórico de contabilidade

— 423
— Ficheiro n.° 19 — Orçamentos
— Ficheiro n.° 20 — Estatística Ano corrente
— Ficheiro n.° 21 — Estatística 1.° ano anterior
— Ficheiro n.° 22 — Estatística 2.° ano anterior

Estes ficheiros têm a mesma função e são constituídos


nas mesmas fases e pelos mesmos processos dos da conta-
bilidade geral. Neste caso, escusado será dizê-lo, contém
dados referentes a outro tipo de contabilidade.

Contabilidade Geral (plano secundário)

— Ficheiro n.° 24 — Base de Contabilidade


— Ficheiro n.° 25 — Histórico da Contabilidade
— Ficheiro n.° 26 — Orçamentos
— Ficheiro n.° 27 — Estatística Ano Corrente
— Ficheiro n.° 28 — Estatística 1.° Ano Anterior

MÓDULOS DO SISTEMA

0 sistema contempla, por um lado, o tratamento da Contabilidade


Geral Analítica nas suas partes Orçamental, Estatística e Balancetes.
Por outro, permite a exploração dos mapas exigidos pelo Plano
Oficial de Contabilidade (P. O. C.) bem como de Ratios de várias
naturezas.
Está incluída a possibilidade de tratamento automático de um
segundo quadro de contas (Plano Secundário) que serve fundamen-
talmente às empresas com interdependências internacionais.
Todo o sistema acima referenciado pode estar repetido para
várias empresas com, tratamento individualizado e simultâneo.

Temos, assim, o sistema composto pelos módulos seguintes:

1 — CONTABILIDADE FINANCEIRA

. Controlo Orçamental
. Contabilidade Estatística
. Balancetes

2 — CONTABILIDADE ANALÍTICA

. Controlo Orçamental
. Contabilidade Estatística
. Balancetes

424 —
3-MAPAS DO P . O . C .
4 - RATIOS
5-PLANO SECUNDÁRIO
. Controlo Orçamental
. Contabilidade Estatística
. Balancetes

6 — MULTIEMPRESAS

O sistema foi concebido em módulos parcelares que se inter-


ligarão por forma a dar corpo ao conjunto desejado. Cada
módulo é composto por um conjunto de programas de que^ desta-
camos, com a devida identificação dos módulos, onde estão con-
templados:

Módulos 1 e 5

PROCESSAMENTO DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Movimento contabilístico segundo as normas estabelecidas


no P. O. C.

Módulo 2

PROCESSAMENTO DA CONTABILIDADE ANALÍTICA


OU INDUSTRIAL

Tratamento da Contabilidade de Exploração com vista à


determinação de Custos e Proveitos de Funções ou da Fabricação.

Módulos 1-2-5

PROCESSAMENTO DA CONTABILIDADE ORÇAMENTAL

Com apuramento de desvios em relação ao realizado (mês


e até à data) em valor e percentagem. Esta poderá verificar-se
para todo o conjunto de contas dos três quadros ou apenas para
aqueles que se julgar necessário.

— 425
4

Módulos 1-2-5

PROCESSAMENTO DA CONTABILIDADE ESTATÍSTICA


Valores (saldos) de todas ou parte das contas que integram
os três quadros ou apenas algumas entre elas, com dados respei-
tantes aos dois exercícios anteriores.
5
Módulos 1-5
PROCESSAMENTO DAS CONTAS DE TERCEIROS
O sistema prevê um tratamento elementar integrado, das
contas de terceiros; o tratamento específico mais desenvolvido
será objecto de um módulo apropriado não considerado neste
sistema.
6
Módulos 1-2-5
EXTRACTOS DE CONTA
Com os movimentos nelas efectuados durante um período de
tempo escolhido (1, 3, 6 ou 12 meses).
A exibição poderá ser feita em papel contínuo ou através
do Display.
7
Módulo 1
MAPA DE CAIXA
Exibindo o desenvolvimento dos movimentos da mesma por
origens e destinos num dado dia.
8
Módulos 1-2-5
BALANCETE DO RAZÃO
Listando todas as contas do 1.° grau que integram os três
quadros de contas.

426 —
9
Módulos 1-2-5
BALANCETE ANALÍTICO

Listagem exaustiva dos três quadros de contas para todos


os graus, com possibilidade de agrupamento de contas conforme
uma lista de hipóteses.

10
Módulos 1-2-5
ANÁLISES ORÇAMENTAIS
Semelhantes aos agrupamentos atrás referidos contendo valo-
res orçamentados, reais e apuramento desvios mensais e até
à data.

11
Módulos 1-2-5
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Em agrupamentos do tipo dos atrás referidos com. análise
entre os valores do exercício e os dos dois exercícios anteriores.

12
Módulo 3
BALANÇO ANALÍTICO
Conforme mapa constante do P. O. C.

13
Módulo 3
BALANÇO SINTÉTICO
Conforme mapa respectivo indicado no P. O. C.

— 427
14

Módulo 3

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS LÍQUIDOS

Conforme exigências do P. O. C.

15

Módulo 3

DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS


DO EXERCÍCIO

Conforme normas do P. O. O

16

Módulo 3

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS POR FUNÇÕES


De acordo com o P. O. C.

17

Módulo 3

DESENVOLVIMENTO DAS VENDAS


Segundo as normas do P. O. C.

18

Módulo 3
DESENVOLVIMENTO DO CUSTO DAS VENDAS
Conforme exigências do P. O. C.
19

Módulo 3
DESENVOLVIMENTO DOS CUSTOS NÃO INCORPORADOS
Segundo o P. O.C.

428 -
20

Módulo 3

DESENVOLVIMENTO DOS CUSTOS DE DISTRIBUIÇÃO

Conforme o P. O. C.

21

Módulo 3

DESENVOLVIMENTO DOS CUSTOS ADMINISTRATIVOS

De acordo com o P. O. C.

22

Módulo 4

«RATIOS»

a) Financeiros
— Liquidez Imediata
— Liquidez Reduzida
— Liquidez Geral
— Autonomia Financeira
— Solvabilidade Total
— Cobertura do Imobilizado

b) Funcionamento
— Prazo médio de recebimentos de Clientes (meses)
— Duração média das existências (meses)
— Rotação do Activo Afecto
— Rotação do Investimento Total

c) Produtividade
— Em termos de Valor Acrescentado Bruto
— Em termos de Valor Acrescentado Líquido

— 429
d) Remunerações
— Remuneração Média Anual sem Encargos Sociais
(contos/pessoa)
— Remuneração Média Anual incluindo Encargos So-
ciais (contos/pessoa)
— Repartição do Valor Acrescentado Líquido

e) Económicos
— Rentabilidade do Capital Próprio antes dos Impostos
— Rentabilidade do Capital Próprio depois dos Im-
postos
— Rentabilidade do Activo Afecto à Exploração
— Rentabilidade do Investimento Total
— Rentabilidade das Vendas
NOTA: — O utilizador terá ainda a possibilidade de acrescen-
tar mais dez ratios, construídos segundo os seus
interesses, bastando, para tal, fornecer ao sistema
os respectivos componentes de cálculo (fórmula).
Sistemas de Informação: A Contabilidade
e a Informática
Por Almiro ãe Oliveira

0. INTRODUÇÃO

De entre as perspectivas disponíveis para abordar a proble-


mática da fenomenologia das unidades económicas (Macro, micro,
consumo, produção, públicas, privadas), afigura-se-nos que o
enfoque sistémicoí (Analyse par les sistèmes, System approach),
é aquele que melhor corresponde aos objectivos de análise, estudo
e compreensão das diversas manifestações factuais e estruturais
inerentes àquelas unidades económicas 0).
O que equivale a dizer que todo e qualquer fenómeno deve
ser estudado na perspectiva do conjunto que o integra, das rela-
ções que nele se estabelecem entre os diversos elementos que
o constituem, da posição relativa que cada um ocupa, e final-
mente, sem perder de vista os fins ou objectivos que tal conjunto
(Sistema) prossegue.
A análise de sistemas, permite-nos descobrir que certos de
entre eles se encontram contidos noutros:
isto é: na pirâmide hierárquica dos sistemas, o hierarquicamento
superior é mais completo e contém os que lhe são inferiores.
Ex.: sistema fiscal, sistema jurídico, sistema económico estão
contidos no sistema social.
Por outro lado,
nos sistemas Deterministas, todo o fenómeno tem a sua
causa: nas mesmas condições, as mesmas causas produzem
sempre os mesmos efeitos; enquanto

C1) Orientação defendida entre outros, por Wiener, Ashby, Churchman e


Mélèse.

— 431
nos Probabilistas, diversas causas podem produzir o mesmo
efeito e o mesmo factor e processo casual, podem gerar
outro resultados.
Na concepção tradicional, as U. E. são representadas sob
a forma de uma estrutura hierárquica, nas quais estão definidas
as relações de autoridade, e onde se descrevem as relações de
trabalho, as funções de direcção e organização.
A esta concepção sucede nos nossos dias a de Sistema Total,
que considera as U. E. como um todo dotado de existência e
características próprias, constituído por uma rede de:
— fluxo de informações
— fluxo de matérias
— fluxo de homens e comportamentos

Nesta ordem, de ideias, numa Unidade económica típica, pode-


mos sempre surpreender três tipos de sistemas (ou sub-sistemas) :
o sistema de operação, o sistema de informação e o sistema de
gestão.
O primeiro constitui-se no objectivo ou elemento teleológico
afecto à unidade ecnómica; o segundo compreende o conjunto
de elementos humanos e materiais e das relações que entre eles
se estabelecem com vista à recolha, memorização (armazena-
gem), processamento e transmissão da informação, necessária
às tomadas das decisões, que o sistema de gestão empreenderá,
com vista a adequar racionalmente, os meios disponíveis ao
objecto consignado à unidade económica.
O sistema de informação é assim, a fonte e o elo de ligação,
bem como a base de conhecimentos necessária à gestão das
unidades económicas.

Sistema de Operação

I
Meio ambiente Sistema de Informação

Î I
Sistema de Gestão

É neste enfoque que devemos perspectivar a Contabilidade


e a Informática e respectiva evolução ao longo dos tempos e das
gerações tecnológicas.

432 -
Como nos diz F. Dalle (in «A empresa do futuro», pág. 231),
«nada existe, a longo prazo, mais perfeito e mais coerente na
sua lógica interna do que um; sistema contabilístico».
A inovação e o desenvolvimento tecnológico, vieram transfor-
mar a fisionomia dos utensílios informáticos e a concepção de
soluções — o circuito integrado marcaria, por finais da década
de 60, a 3.a geração de computadores e daria início a um processo
ininterrupto da banalização da Informática.
Às grandes salas de máquinas e aos grandes «aparelhos»,
sucedem os sistemas portáteis e diversificados fisicamente pelas
unidades económicas.
De igual modo ocorre no software, aonde densas e especí-
ficas linguagens se substituem por outras cada vez mais aces-
síveis e universais.
À noção de computador sucede a de Sistema Informático —
visto que foi, que para a produção automática da informação
concorrem material (hardware), programas, elementos humanos
e outros factores, constituindo um todo verdadeiramente entrosado.
E à ideia de programa, sucede crescentemente a de Sis-
tema — como conjunto coerente e finalizado de programas com
vista à resolução de um problema definido: a Aplicação.
No final dos anos 60 é ainda possível denunciar o aparecimento
de um tipo de equipamento originário dos produtores de máquinas
de contabilidade, que de imediato são secundados por modelos
vindos dos produtores de computadores.
São os «office computers», os VRC (Visible Record Compu-
ters) os «00» (Operator Oriented), ou ainda os Ordinateurs de
Bureaux.
Dotados de tecnologia idêntica à dos computadores, vão
buscar às máquinas de contabilidade um suporte característico
das rotinas contabilísticas: a ficha.
E conhecedores da técnica dos suportes magnéticos, magne-
tizam-lhe uma faixa vertical com capacidade variável entre os
256 e os 1024 bytes.
Estava assim criado o equipamento, que em número de insta-
lações, constituía a forma mais generalizada da Informática.

1. DA INFORMÁTICA
No princípio apareceram máquinas providas de dispositivos
de soma e subtracção a que se acoplava ou não, uma máquina
de escrever.
Eram programáveis por processos físicos: o programa cons-
tituía uma parte física da máquina.

28 — 433
Podiam tratar «fichas» e faziam decalque em, mapas apro-
priados ao sistema de coordenação de contas.
De mecânicas e rudimentares (lentas no cálculo e na
impressão) que eram, transformaram-se em potentes máquinas
de contabilidade dotadas de diversos registos ou totalizadores.
Os anos 50 trouxeram os Computadores — sofisticadas máqui-
nas para o tratamento da informação.
Mas, foi durante a época de 60 que os Computadores inva-
diram a vida económica, para nos anos 70 se tornarem ferramenta
imprescindível na resolução de múltiplos problemas económicos
e sociais.
Estava assim criada a Informática.
Mas, se desde o princípio se priveligiava na noção generali-
zada, o aspecto computador, a verdade é que desde sempre,
p. ex.: a Academia Francesa de 1966, não deixou de lhe acentuar,
preferentemente a face informação ( 2 ).
A Informática, é pois, o tratamento automático da informação.
As aplicações (primeiro comerciais, depois) de Gestão, foram
sempre «o parente pobre» da Informática.
Os computadores, é certo, tinham sido de início orientados
para a resolução dos problemas «científicos».
A Informática de Gestão ( 3 ), é assim, um ramo recente da
Informática aplicada e constitui em. todo o mundo, a maioria
absoluta das aplicações dos computadores.
Desde sempre que a formação em Informática foi assegurada
pelos próprios fornecedores de equipamentos, fundamentalmente
como técnica de promoção e venda dos equipamentos.
Desde há muito, porém, que no estrangeiro se ensinam as
diversas matérias informáticas em escolas oficiais.
No que nos diz respeito, caberá referir as experiências do
ensino médio (supomos não se leccionar em mais que uma ou
duas escolas) e do ensino superior — casos dos Institutos Supe-
riores, aonde se continua a privilegiar a óptica do estudo do
utensílio (Computador), em detrimento do estudo das aplicações,
possibilidades e limitações do tratamento automático da infor-
mação.

(2) Informática (Academia Francesa, 1966): ciência do tratamento siste-


mático e eficaz da informação, especialmente por meio de máquinas automáticas,
considerada como meio do conhecimento humano e da comunicação, no contexto
técnico, económico e social.
(3) Distinguenvse hoje na Informática de Gestão as etapas: informativa
(trabalhos contabilísticos e estatísticos e aplicações independentes); directiva
(indicadores de decisão e integração das aplicações) e activa (grande número
de decisõas automatizadas e bancos de dados).

434 —
Não difere em muito o restante panorama universitário, aonde
se regem cadeiras de informática vocacionadas para o estudo
de linguagens de programação e do hardware.
A experiência recente da Faculdade de Economia do Porto,
aonde nos anos de 75/76 e 76/77 funcionou uma cadeira optativa,
anual de Informática de Gestão, não teve continuidade no plano
de estudos depois adoptado, sucedendo-lhe uma outra, semestral,
com a orientação referida: estudo de hardware e linguagens,
a que se acresceu o cálculo numérico.
A Administração Pública tem vindo a organizar cursos inten-
sivos orientados para a Informática de Gestão, que infelizmente
não tem conseguido promover na medida das suas necessida-
des — o Estado é o primeiro utilizador e as aplicações de gestão
são percentualmente maioritárias.

2. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO - SISTEMAS INFORMÁTICOS

20 — Os sistemas informáticos são uma parte integrante dos


sistemas de informação.
O processo industrializado, massivo, de produção da
informação por meios automáticos, vem a conferir impor-
tância adicional à problemática da informação.
Informação, que como bem económico que é (é escasso
e é dotado de utilidade) tem o seu custo de apropriação e
deverá gerar um determinado proveito.
Razões, pois, para que se indague sobre o que confere
«qualidade» à informação, assim como das características
e requisitos de um sistema de informação (4).
Oportuno se torna, antes de mais, surpreender os prin-
cipais momentos e dois tempos principais do ciclo da
informação (5) que em muito ajudarão a compreender os
esforços e acções de racionalização desenvolvidas no domínio
dos sistemas informáticos.

(4) O estudo da informação, recebeu grandes contributos de Fischer (1921),


Hartley (1929) e Shannon (1950), mas é com a Informática que o seu estudo se
revela de maior importância.
(5) Segue-se, comi adaptações, a escola do Institut de Controlo de Gestion
— França.
MO — momento em que os dados são recolhidos
Ml — momento em que as informações são transmitidas do sistema de gestão
M2 — momento em que a informação chega ao sistema de gestão
M3 — momento em que o sistema de operação reage (produz uma acção).

— 435
Exemplos :
— Que valor terá um sistema em que Te = 1 minuto
e Tr = 48 horas.
— Que Te deve assumir um sistema e que para Tr se
exige um valor quase nulo? (caso das reservas nas
companhias de aviação).
— Tempo de elaboração da informação (Te) : é o tempo
que decorre entre o momento em que são recolhidos
os dados (Mo) e o momento em que as informações
são transmitidas ao sistema de gestão (Ml);
— Tempo de reacção (Tr) : é o tempo que decorre entre
o momento ena que a informação chega ao sistema de
gestão (M2) e o momento em que o sistema de opera-
ções é capaz de reagir (isto é, produzir uma acção
diferente) à decisão correspondente (M3).
21 — Quanto à «qualidade» que a informação deve oferecer, expli-
citamos os seguintes elementos, que devem presidir à sua
análise.
a) A forma da informação
Geralmente, a informação compreende duas partes:
Descrição — a designação do objecto da infor-
mação
Quantificação — o valor correspondente a esse
objecto
Ex.:
designação = vendas isentas de imposto
valor = 7 917$80
A forma da informação é então a seguinte:
«as vendas isentas de imposto foram, de 7 917$80»
A designação e o valor de uma informação são
de boa qualidade na medida em que se adoptam às
necessidades.
Este grau de adaptação (ou pertinência) pode-se
medir graças a quatro critérios:
i) objectividade
ii) precisão
ih) verificabilidade
iv) fiabilidade

436 —
i) A objectividade

É objectiva a informação cujo valor cor-


responde perfeitamente ao seu objecto.
Ex.: quando se identifica a produção
total de uma U. E. com a produção efectiva,
não se está a informar objectivamente, se
ocorrem defeituosos no processo.
A objectividade depende essencialmente
da concepção dos tratamentos.
Todavia, deve-se notar que erros de
exploração podem falsear esta objectividade:
esses erros terão tanto menos consequências
quanto mais bem concebidos forem os con-
trolos.

ii) A precisão (grau de acabamento)

Só pode ser apreciada em função da


necessidade.
Ex.: a informação «custo de mão-de-
-obra situa-se entre 15 e 16 % do custo total»;
A precisão é boa para o gestor, mas é
má para o contabilista.
A precisão de uma informação depende
de dois factores principais:

a concepção
O modo de apreensão da informação:
a informação elaborada não poderá ir
além da precisão permitida pela dos
dados de base.

iii) A verificabilidade

É verificável a informação de que se


podem conhecer as fontes (reprodução de
fenómenos, provas contraditórias etc.).
Em geral, esta característica depende
de dois factores:
— a concepção de tratamentos: estes
permitem conservar «em arquivo» o
máximo de documentos de base;

— 437
— o tempo: com efeito, a verificabilidade
de uma informação apoia-se em docu-
mentos, mas também em explicações
orais; os documentos, quaisquer que
sejam os seus suportes, sofrem sempre
certa deterioração com o tempo.
A memória humana, na qual se apoiam
as explicações orais, tende também a
diminuir com o tempo.

iv) A fiabilidade

É fiável a informação cuja probabilidade


de ser errónea é diminuta.
Vimos que a informação sofre três espé-
cies de transformações:
— a recolha,
— os tratamentos e controlos,
— a transmissão.
É no decorrer destas três fases que se
podem produzir erros:
— o computador elimina mais ou menos
erros de tratamento;
— pelo contrário, os erros de recolha não
são ainda totalmente suprimidos pelos
processos actuais: é por isso que se
procura eliminá-los, multiplicando os
controlos (afixação num écran cató-
dico, dupla perfuração etc.);
— as transmissões: também devem, ser
precedidas e seguidas de numerosos
controlos.
O grau de fiabilidade das informações
foi muito aumentado pelos processos mo-
dernos.
Mas, como a intervenção do homem será
sempre necessária no ciclo da informação, a
fiabilidade será obtida não apenas pela per-
feição dos materiais, mas também pela mul-
tiplicação dos controlos.

438
b) A idade da informação
É o tempo que decorre entre a recolha dos dados
de base e a utilização da informação resultante, pelo
sistema de gestão.
Em geral a qualidade da informação é inversa-
mente proporcional à idade por duas razões principais
que dependem:
I do resultado a obter
II da relação da verificabilidade da infor-
mação com o tempo
I — Uma informação deve servir para tomar
uma decisão que produzirá uma acção A.
O ideal seria que o ciclo completo «infor-
mação/decisão/acção» fosse inferior ao tempo
que separa duas acções Al e A2; com efeito,
neste caso, cada acção seria directamente o
resultado de uma decisão.
A maior parte das vezes, a frequência
das acções Fa, é maior que Fd; certas acções
resultam, pois, de decisões do sistema de
gestão e muitas outras resultam de pertur-
bações criadas pelo meio ambiente.

Ex.: a vida de um «stock» de reabaste-


cimento mensal.
Todos os meses é tomada a decisão
de reabastecer a um certo nível
esse «stock»: esta decisão provoca
uma acção Al; mas, durante o mês,
realizam-se muitas acções que não
correspondem a nenhuma decisão:
notas de saída, deteriorações, etc.
Portanto, a frequência das acções
é muito superior à das decisões.

Vê-se que o ideal seria que Fd se apro-


ximasse de Fa: isto é, que sempre que uma
perturbação produz uma acção, deveria ser
tomada uma decisão.
No nosso exemplo, cada saída de «stock»
deveria ser seguida da pergunta: «Devo
reabastecer?».

— 439
Por conseguinte, na medida do possível,
a frequência das decisões deve-se aproximar
da frequência das acções: isso só se pode
conseguir pela redução do tempo de elabo-
ração da informação (assim como pela re-
dução do tempo de reacção do sistema de
gestão).
II — A verificabilidade da informação decresce
com o tempo: é necessário, pois, quando se
quer obter um bom grau de verificabilidade,
que o tempo de elaboração não seja dema-
siado longo.
Vê-se, portanto, que a qualidade da infor-
mação aumenta quando o tempo de elabo-
ração não seja demasiado longo.
Todavia, duas observações permitem pre-
cisar o valor desta variação:

1. Pode acontecer, para certas informa-


ções, que exista um limiar para além
do qual a qualidade seja independente
do tempo de elaboração.
Ex.: o director quer conhecer
todas as manhãs às 9 horas o total
das horas durante as quais se tra-
balhou na véspera. A fábrica está
aberta das 9 às 18 horas e fechada
das 18 às 9 horas (6).
Se o tempo de elaboração for de
vinte horas, o resultado só será conhe-
cido às 14 horas; a qualidade é má.
Se o tempo de elaboração for de
quinze horas, o resultado só será co-
nhecido às 9 horas ; a qualidade da in-
formação será boa.
Mas se o tempo de elaboração for
de dez minutos, o resultado será co-
nhecido às 18.10 horas; infelizmente,
o director já não estará lá para tomar
conhecimento e será preciso esperar
até às 9 horas do dia seguinte para
que a informação seja utilizada.

Admite-se no exemplo que o processo produtivo das informações é inin-


isto é: trabalha 24 horas por dia.
A qualidade é boa, mas não supe-
rior ao que tiver sido no caso prece-
dente.
Neste exemplo, o limiar está fi-
xado em quinze horas; uma dimi-
nuição do tempo de elaboração não
origina aumento da qualidade.
2. A fiabilidade da informação exige
numerosos controlos. Estes ocupam
muito tempo, o que quer dizer desde
logo, que o tempo total de elaboração
não poderá ser inferior ao tempo to-
tal dos controlos necessários para a
obtenção de um grau de fiabilidade
aceitável.

c) A frequência da informação

A maioria das informações são publicadas a ritmo


regular; pode-se, pois, determinar a frequência de
publicação (todos os dias, todos os meses, todas as
semanas).
Até agora, os problemas respeitantes à frequência
não se levantavam ou levantavam-se pouco; os meios
manuais de tratamento das informações eram tão
limitadas que a frequência era determinada pelos
períodos habituais que marcam o ritmo da vida econó-
mica: os documentos apareciam todos os meses ou
todos os anos, etc.
Mas os meios automáticos de tratamento da infor-
mação perturbam esta concepção: torna-se possível
aumentar consideravelmente a frequência; mas então
obtém-se uma melhoria da qualidade?
Exemplo: outrora, eram precisos quatro ou cinco
meses para estabelecer um balanço: parecia então
normal publicar balanços anuais; depois, as má-
quinas de contabilidade permitiram estabelecer o ba-
lanço em algumas semanas: publicarem-se balanços
trimestrais; em seguida, os computadores permiti-
ram estabelecer balanços em alguns dias: publica-
ram-se balanços mensais.
Agora pode-se, praticamente, estabelecer balan-
ços diários; mas convém fazê-lo? Será útil?

— 441
22 —Por outro lado, a natureza sistémica da informação decorre,
fundamentalmnte, de dois requisitos:
— unidade ou globalidade
— utilidade.
Aquela, exige a inter-relacionação de todos os elementos
que constituem o processo de produção da informação; esta
vai inculcar-lhe uma conduta económica-racional, na sua pro-
dução e disponibilidade — a afectação adequada de recursos
e o proveito adicional esperado para a sua produção e uti-
lização.

Assim, nUm sistema, a informação deverá responder aos


requisitos de:

— forma
— idade
— frequência,
mas também,
— oportunidade — é oportuna a informação quando dis-
ponível em tempo útil e na época própria
— relevância — quando a informação se mostra adequada
à utilização visada
— segurança — acesso à informação deve ser descrimi-
nado e revestir-se de cuidados necessários a impedir
quer a destruição quer a sua utilização, indevida, não
autorizada e/ou criminosa
— rentabilidade — a disponibilidade e utilização da infor-
mação deve permitir que o sistema de operação gere
proveitos adicionais.

23 —A avaliação dos Sistemas Informáticos, requer ainda a con-


temporização dos aspectos abaixo (7) :
— Os sistemas informáticos são construídos à priori

. num sistema manual os casos não previstos estarão


incluídos por analogia na lei geral, graças à inicia-
tiva de pessoas;
. um, sistema informático exige que todos os casos
tenham sido previstos; 0 estudo não pode ser feito
à medida que aparecem as oportunidades.

(7) A sistematização1 é de L. Duverger — L'efficacité des systèmes infor-


matiques.

442 -
— Os sistemas informáticos baseiam-se em ficheiros
. enquanto os administrativos estão mais ligados a
dossiers.

— Os sistemas informáticos de baixo custo são rígidos


. um computador barato oferecerá normalmente pouca
elasticidade aos problemas de crescimento das U. E.
(embora a modularidade seja uma característica
que os sistemas começam a oferecer indiscrimina-
damente) e incapaz de processar o conjunto de pro-
blemas duma empresa;
. há portanto que ponderar a relação custo e efi-
ciência.

— Os sistemas informáticos são factores de ordem


. não podem funcionar na desordem;
. convirá ter presente, porém, que rigidez e ordem
são parentes próximos.

— Os sistemas informáticos frustram os que tudo querem


fazer por eles mesmos
. os quadros que querem que todos os processamentos
sejam executados por pessoal que controlam até
ao nível de operação elementar não encontrarão
prazer na utilização dum centro informático.

— Os sistemas informáticos não são capazes de fazer tudo


. os problemas complexos podem ser de solução di-
fícil pelo computador;
. adoptar a informática não significa o desapareci-
mento de todos os processos manuais; a simbiose
dos 2 métodos será função do problema a resolver.

— Os sistemas informáticos são de natureza industrial


. o computador é como uma máquina-ferramenta total-
mente automática capaz de executar transformações
em ficheiros;
. os sistemas de exploração baseiam-se na ideia de
exploração industrial em que os casos particulares
não previstos são rejeitados, em que o conjunto su-
bordina os detalhes.

- 443
- Os sistemas informáticos baseiam-se em métodos de
gestão
As disciplinas informáticas são concebidas para
explorar os computadores após ter sido definido, um
método de gestão; é a existência dum tal método que
permite elaborar o estudo prévio indispensável para
construir um, sistema;
O computador reclama que se defina um método.
Entre os métodos ele permite abordar mais do que os
procedimentos manuais; mas reciprocamente o com-
putador não se acomoda a todos os métodos manuais.

Os sistemas informáticos não têm por finalidade o


lucro
Os sistemas informáticos são normalmente mais
caros que os manuais; mas, são capazes de promover
benefícios: devem classificar-se como investimento;
O balanço financeiro deve controlar a operação e
não condicioná-la.

A informática é uma profissão


É uma técnica (profissão, não uma ciência). Não
se improvisa um especialista informático. Portanto,
é necessário formar ou recrutar especialistas de infor-
mática para construir um sistema.
(Att: os construtores tendem a fazer confundir o
seu catálogo de máquinas com os produtos que o cliente
deseja).

A CONTABILIDADE PELA INFORMÁTICA

Duas vias poderíamos utilizar para abordar a questão da


Contabilidade pela informática:

A primeira traduzir-se-ia na escolha de uma aplicação de


Contabilidade, passando de seguida à análise funcional (e até
orgânica) nomeadamente,

— definindo e comentando o fluxograma geral da aplicação


— desenhando registos e ficheiros envolvidos
— apresentando programas, rotinas
— caracterizando inputs
— definindo outputs
— desenhando layouts de saída
—-etc.

O que seria fastidioso e impossível de prosseguir no curto


espaço de tempo de que dispomos, perdendo em generalização o
que não se ganharia em particularização, pela diversidade de
níveis de soluções disponíveis em Informática.

A segunda, orientar-se-ia para a inventariação de soluções


disponíveis em Informática, apresentação das filosofias dos sis-
temas mais generalizados e a perspectivação das tendências
diagnosticáveis nas aplicações de Contabilidade.
Referiu-se que por vocação os «office computers», são os
equipamentos especificamente orientados para o tratamento da
contabilidade.
Não que os «computadores» não se revelem capazes e efi-
cientes no tratamento da contabilidade, mas sim pelo facto de
as mais das vezes, esta aparecer, em largas zonas do tratamento,
como subproduto de diversas aplicações.
Nos VRC, o tratamento da contabilidade é, na generalidade
dos casos, uma Aplicação autónoma e característica.
Ponto é reconhecer, que esta barreira entre os dois tipos de
equipamento está cada vez mais indefinida: quer pela «descida»
dos equipamentos de grandes perfomances, quer pela ascensão
dos pequenos sistemas, a suportes, configurações e filosofias de
sistemas cada vez mais ousados... fruto da tendência decrescente
do custo do hardware (circuitos integrados, microprocessadores,
memórias, etc.).
Daí que, sistemas a discos e displays sejam hoje oferecidos
pelos ex-fornecedores de «office» e simultaneamente pelos grandes
construtores.
Da divulgação dos sistemas a discos e displays, inevitavel-
mente decorreram significativas alterações nas actuais Aplicações
de Gestão, nomeadamente na Contabilidade.
As técnicas de acesso à informação e a banalização do écran
provacarão, por certo, a tendência para o abandono do suporte
papel: mapas, listagens, extractos, etc.
Donde, será de esperar para muito breve o recuo das potentes
impressoras, em benefício da pulverização de terminais vídeo.
A informação continuará a repousar em disco ou outro suporte
magnético e apenas se imprimirá em casos estrictamente neces-
sários ,e imprescindíveis, optando-se, na maioria das vezes, pela
visualização em écran.
Racionaliza-se, assim, uma tarefa da informática, que nos
mais atentos se revela dispendiosa e tantas vezes desnecessária.

— 445
Aliás, o recente aparecimento de equipamentos de «trans-
porte» da informação do écran para o papel, é disso sinal evi-
dente.

4. A CONTABILIDADE DA INFORMÁTICA

A informática não é mais (não deve ser) um instrumento de


prestígio.
E se não gera imediatamente lucros, constitui, todavia, um
investimento (dito de segundo grau) elevado, quer de ordem estric-
tamente financeira, quer de ordem organizacional.
Importa, por isso, controlar o investimento em tratamento
automático da informação, quantificando, tanto quanto possível,
a afectação de recursos.
De entre os problemas que a contabilidade dizem respeito,
escolhemos o do cálculo do custo.
Torna-se pois, necessário computar o custo da informação,
sendo para tanto previamente necessário, surpreender-lhe os di-
versos elementos integrantes do custo.
(Problema diverso e mais rico é o do cálculo dos resultados
da produção da informação, questão de que não cuidaremos).
Na metodologia seguida e nos quadros de recolha e trata-
mento, não ocorre a digrafia (8).
É pois, um método extra-contabilístico, o adoptado, para:

— cálculo da taxa de participação do elemento humano no


sistema de informação (Q — I)
— cômputo do custo humano no sistema de informação (Q — II
e Q-III)
— cômputo do custo total de um sistema de informação,
(Q-IV)
(ver anexos).

5. DA INFORMÁTICA A TELEMÁTICA

A recente publicação do Relatório Nora/Mine (L'Informatisa-


tion de la Société, Julho/78) elaborado por solicitação do Presi-
dente da República Francesa, sobre «os meios de conduzir a
informatização da Sociedade», constitui documento de incontes-

(8) Fez-se a adaptação de um método sugerido por G. Dorget (1974).


tável valor para a análise de diagnóstico e previsão da evolução
da informática e dá bem nota da importância crescente de que
se reveste o tratamento automático da informação na Sociedade
Humana.
Particularizado à situação da França, o relatório põe con-
tudo em destaque situações e problemas comuns à generalidade
dos Países.
A introdução de um novo conceito (Telemática) evidencia a
interrelação crescente entre a Informática e as Telecomunicações
que diferentemente da electricidade, veiculará não só corrente
inerte, mas informação, o que quer dizer, Poder.
O impacto da informação automatizada por aquela nova tecno-
logia, nos domínios do emprego, das relações de comércio inter-
nacional, nas relações de poder, independência dos Povos, na
informatização da Administração Pública, será por certo enorme
e o relatório analisa alguns desses problemas.
O desenvolvimento tecnológico na área do tratamento da infor-
mação exigirá cuidados crescentes nos domínios da segurança e
fiabilidade da informação de forma a preservar os valores de
liberdade e privacidade.
Diversos países (França, Inglaterra, Suécia, Brasil, EUA,
entre outros) dispõem já de legislação adequada à regulamen-
tação do problema.

CONCLUSÕES

I. Os sistemas e o enfoque sistémico, são intrumentos de


análise e compreensão verdadeiramente adequados à pro-
blemática das unidades económicas e nomeadamente ao
processo de produção e utilização da informação.

II. A Informática é, primordialmente, Uma disciplina que


estuda os problemas inerentes à produção de informação
automatizada.
Não deve, por isso, confundir-se o estudo do utensílio
que serve a disciplina, com o objecto de estudo dessa
disciplina (a informação), como aparce nítido em pro-
gramas do ensino oficial médio e superior.

— 447
A natureza industrial da produção da informação, de
que os Sistemas Informáticos se revestem, obrigam a
centrar a atenção na «qualidade» da informação e nos
requisitos e características a exigir de um sistema de
informação automatizado

A Contabilidade é tendencialmente uma aplicação secun-


dária no domínio das Aplicações informáticas de Gestão,
excepto no âmbito dos «office computers».
Mas ainda nestes, a evolução vai no sentido de se
ver cumprida aquela tendência.
Questão de importância cada vez maior no domínio
da Informática de Gestão é a Auditoria dos Sistemas
Informáticos.

De entre os problemas específicos da Contabilidade, o


cálculo do custo de um sistema de informação automa-
tizado deve merecer a atenção e o estudo dos profissio-
nais: o investimento é vultuoso e raramente se pode,
com facilidade, suspender ou reconverter aquele inves-
timento.

À informática sucede a Telemática.


Um novo conceito que traduz uma nova era no pro-
cessamento da informação: a da integração da infor-
mática com as telecomunicações.
Que lhe sucederá?
Que sucederá à Contabilidade?
Que sucederá à Humanidade?
Quadro I
AVALIAÇÃO DAS TAXAS DE PARTICIPAÇÃO NO SISTEMA
DE INFORAMAÇÃO

Tempo Taxa de
total | partie. (%)

RECOLHA / TRANSMISSÃO / ARMAZENAGEM DA


INFORMAÇÃO
. leitura de cartas, relatórios, documentos pro-
fissionais
. consulta de listas, anuários, normas
. pesquisa da informação, documentação
. classificação, actualização de dossiers, classi-
ficadores, arquivos
. ligações telefónicas, esperas
. reuniões de informação
. deslocações c/ fim- informativo
. esperas de informação
TOTAL
GESTÃO (CRIAÇÃO, UTILIZAÇÃO, TRANSFOR-
MAÇÃO DA INFORMAÇÃO)
. tarefas rotineiras, administrativas
. redacção, ditado de instruções, notas, rela-
tórios
. assinaturas, autorizações
. verificações
. traduções

TOTAL
planificações
controlos
análises e controlo dos trabalhos € resultados
coordenação, optimização
TOTAL
PRODUÇÃO
. produção
. conservação
. montagem/desmontagem/regulação de utensí-
lios, máquinas

TOTAL
ACTIVIDADES INTELECTUAIS
. reflexão
. criação, concepção (puramente intelectuais)
. contactos sociais
TOTAL

TOTAL

39 — 449
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— 451
Quadro IV
CÔMPUTO DO CUSTO TOTAL DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO
-^^^^ Funções
Fí F2 F3 F4 F5 TOTAL
Natureza/'categ. '
custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
Cl-TOTAL
custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
C 2 — TOTAL
custo humano
custo ajudas mecânicas ,
custo equipamento
outros custos
C3 — TOTAL
custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
C 4 —TOTAL
custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
C 5 — TOTAL
custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
C 6 —TOTAL

custo humano
custo ajudas mecânicas
custo equipamento
outros custos
| TOTAL GERAL
Sistema Integrado de Informação de Gestão
e Contabilidade (!)
Por José Joaquim Januário

Um sistema integrado de informação é um conceito básico, em


pleno desenvolvimento, ainda com poucas realizações, que é tornado
acessível pela utilização de computadores.
Podemos definir um sistema de infomação como um conjunto de
regras e rotinas que regem as comunicações internas da Empresa
e destas com o exterior.
A informação, os equipamentos, os materiais e os homens, são
os recursos da organização que precisam de ser geridos para que
ela atinja os seus objectivos.
Com base naquela definição compreende-se que o sistema de
informação represente verdadeiramente a organização da Empresa
pois ele é a base que a permite manter activa quer ela use ou não
meios mais ou menos sofisticados para o tratamento da informação.
O objectivo do sistema de informação não é o de resolver os
problemas da Empresa, mas, ao tratar, compilar, arrumar e classi-
ficar a informação de que a Empresa dispõe, vai qualificar e quanti-
ficar os riscos para a tomada de decisão.
A estrutura da Empresa obriga, muitas vezes, a dividir os seus
recursos entre várias unidades operacionais e consequentemente à
criação de diferentes sistemas de gestão, por unidades ou departa-
mentos, não sendo, por esse facto fácil olhar para a Empresa como
um todo.

0) Resumo da palestra realizada em Aveiro, no âmbito das Jornadas de


Contabilidade, como introdução à demonstração de um «package» de Contabilidade
conversacional, realizada no Sistema IBM/32.
Esta palestra foi suportada com transparentes sendo a descrição que se
segue uma nova leitura desses transparentes.

- 453
Os resultados deste facto são evidentes:

Departamentos diferentes criando ficheiros com dados


semelhantes e muitas vezes com idênticos objectivos.
A Administração sem poder obter informações actuais,
válidas e precisas, que a ajudem nos processos de decisão.

Com o recurso a um sistema integrado de informação vão-se des-


cobrindo não só os problemas existentes, as necessidades e possibi-
lidades, mas, e principalmente criando os meios qUe permitem melhor
relacionar os diferentes recursos e elementos que formam a Empresa.
Será assim fácil estabelecer, através da análise as relações que
possibilitem da contabilidade chegar à gestão e através dos objecti-
vos de gestão impor regras à contabilidade.

Esquematicamente podemos ver o sistema integrado de infor-


mação (Fig. 1) como o conjunto de todas as contabilidades e registos
que se desenvolvem na Empresa, os quais, através de um processo
de análise, vão dar os elementos necessários à gestão, e desta, por
efeito do «Feed Back», irão desenvolver-se novas necessidades nos
serviços administrativos.

Dada a interpenetração de todos os elementos relacionados na


Fig. 1, para que o sistema de informação funcione perfeitamente,
a condição básica é que o registo individual de uma determinada
operação ou acontecimento tenha uma característica dinâmica, isto é,
que uma vez criado, possa participar activamente em tudo o pro-
cesso sem necessidade da sua repetição cada vez que seja utilizado.
Esta característica dinâmica dos registos só existe nos sistemas
automáticos de tratamento de informação.
Sabe-se que uma das principais características da evolução do
tratamento da informação e da utilização dos computadores reside
na melhoria irresistível da relação preço/performance, isto é, cada
vez maior poder de processamento por menos dinheiro.
Este facto é uma consequência, não só do rápido desenvolvimento
da tecnologia em comparação com outras actividades, mas também
resultado da redução dos custos de fabricação por virtude da fabri-
cação em massa, melhores técnicas de fabrico e maior automati-
zação dos processos.
Num relatório apresentado à Câmara dos Deputados dos Estados
Unidos, em 1977, dava-se conta da evolução dos custos dos diferentes

454 -
componentes dos sistemas de tratamento de informação, compa-
rando-os com a evolução do índice dos preços aos consumidores, nó
período de 1950 a 1977.
Como se poderá verificar, pela análise às Figs. 2 a 6, a evolução
das capacidades e a redução dos custos por unidade é impressionante.

CONTABILIDADE

CONT. GERAL CONT. FORNECEDORES CONT. MATERIAIS


CONT. PRODUÇÃO
CONT. PATRIMONIAL CONT. ORÇAMENTAL CONT. ANALÍTICA
SALA'RIOS
CONTAS CORRENTES FACTURAÇÃO/VENDAS LETRAS

<'
A N Á t l SE

PREVISÕES PLANOS SIMULAÇÃO


TESOURARIA OPERACIONAIS

GESTÃO STOCKS RENDIBILIDADE ANÁLISE A B C


AGING ANÁLISES RATIOS PONTOS ENCOMENDA
ANALISE VENDAS PESSOAL QUANT. ECONÓMICA
CUSTOS DE PROD.c*° A ENCOMENDAR

GESTÃO

Fig. 1 — Sistema integrado de informação.

Por exemplo, a Unidade Central de Processamento viu o custo


da realização de 100 000 operações passar de dólares $77 para dóla-
res $002, isto é, cerca de 350 vezes menos no espaço de 27 anos,
o mesmo sucedendo aos custos das bandas e discos magnéticos, menos
acentuadamente no que se refere à impressão.

— 455
FASES DO SISTEMA

Em qualquer sistema de informação encontra-se um conjunto de


fases, que podemos individualizar como:
— Criação da informação
O acto ou facto que origina uma informação que precisa
de ser guardada ou trabalhada.

1952 1958 1964 1970 ANO

Fig. 2 — Preço de um sistema para 100 000 miutiplicações.

— Recolha ou colheita da informação


A operação em que se vai registar os factos essenciais
relacionados com aquilo que foi feito.
— Validação do registo criado
Que consiste em verificar que os elementos registados estão
correctos, dentro dos limites aceitáveis. Acessoriamente

456 —
SEDUÇÃO DOS PREÇOS

DA UNIDADE CENTRAL

DE PROCESSAMENTO

(100 000 MULT:PLICAÇÔÍS)

LEITURA DE BANDA MAGNÉTICA

PNEÇO DE ItirURA DE

% 000 POSIÇOtS/SEGUNDO

1
$14.5

1
Fig. 3 — Redução dos preços da uni- Fig. 4 — Leitura de banda magnética
dade central de processamento preço de leitura de 1000 posi-
(100 000 multiplicações). ções/segundo.
CUSTO DE MEMÓRIA HM

DISCO MAGNÉTICO

(MILHÃO DE POSIÇÕES)

CUSTO DE IMPRESSÃO

(10 000 LINHASj

I_ l
SI.22

1
$22.2

1
5.7)
S 97

$215

Fig. 5 — Custo de memória em disco Fig. 6 —Custo de impressão (10 000 li-
magnético (milhão de posições). nhas).

— 457
podem-se adicionar informações, por meios automáticos
e relacionadas com necessidades futuras do tratamento
deste registo.
— Processamento
É o tratamento da informação no sentido de se obterem
os diferentes resultados pretendidos.
— Disseminação
A fase em que se faz chegar a todos os interessados os
resultados dos tratamentos efectuados.

Consoante o grau de desenvolvimento do sistema utilizado no


tratamento da informação estas fases ou são perfeitamente distintas,
ou estão misturadas com se fosse uma fase única.
Com a evolução para «postos de trabalho», a tendência é no
sentido, consoante os tipos de trabalho a realizar, em ter todas as
fases misturadas ou encontrarem-se misturadas as 3 primeiras e sepa-
radas as duas últimas.
A introdução do «posto de trabalho», ou terminal, normalmente
constituído por um, écran de visualização com teclado e muitas vezes
com uma estação de impressão anexa, trouxe não só a evolução
quanto às fases do sistema, mas também uma revolução quanto aos
conceitos de utilização.
Como veremos adiante, a introdução da informática na Empresa,
nos domínios administrativos foi feita no sentido de, por um lado
reduzir os custos operacionais, por outro realizar dentro dos tempos
próprios todos os trabalhos.
Nesta sua introdução, a época dos equipamentos clássicos basea-
dos quase que exclusivamente nos cartões perfurados para registo
e como ficheiro, a mecanização baseou-se nos processos existentes
na Empresa, isto é, na separação dos trabalhos de acordo com as
suas características e portanto no tratamento periódico deles.
É assim que em determinado período do mês se efectuava, a
contabilização dos stocks, se processavam as contas correntes, etc.
Inicialmente a introdução do computador poucas alterações veio
provocar neste processo operacional.
A revolução veio porém a dar-se noutro sentido. Com efeito
tendo a informática passado a desempenhar todas as funções desde
a fase de registo da informação ela tornou-se não só em dona de todo
o processo administrativo como impôs a sua vontade nos domínios
de: como efectuar ou preparar os documentos originais, quais as
informações a existir, a quem distribuir essas informações, etc.
Com o aparecimento do «posto de trabalho», do terminal, junto
do serviço ou departamento que origina a informação, o processo

458 —
inverte-se novamente. É o serviço que, originando a informação cria
o registo, sabe imediatamente os resultados da operação qUe execu-
tou, numa palavra ele tem no seu terminal como que um computador
exclusivamente para si e com acesso imediato ao conjunto de infor-
mações existentes na Empresa relacionadas com o trabalho que tem
de desempenhar.
A função do departamento de informática transformou-se, deixa
de ser omnipotente para, pelo contrário, servir os respectivos serviços,
dando-lhes, além do terminal, os programas que eles necessitam para
o desempenho das suas tarefas e zelando para que o computador
esteja disponível para todos, sempre que necessário.
O serviço, ao executar uma operação não tem o sentimento de
que esta se vai realizar por fases, pois estas, de acordo com os
programas, podem ser individuais com tratamento posterior por lotes,
ou individuais com tratamento imediato de todas as fases para os
registos criados.

RECOLHA OU COLHEITA DA INFORMAÇÃO

De todas as fases de um sistema de informação, iremos ver


apenas, em pequeno detalhe, as que se referem à recolha ou colheita,
pois sendo das fases mais importantes são aquelas a que em geral
se presta menos atenção.
A recolha de informação é a operação básica de todo o processo
informático e, consoante a qualidade e quantidade de informação
recolhida no registo, assim todo o processo mecanográfico se pode
ou não tornar num processo inteiramente automático e sem erros.
Num lançamento contabilístico as informações que são recolhidas
são essencialmente:
Data da operação
Tipo de operação ou lançamento
N.° de documento ou lançamento
Código das contas a debitar e/ou creditar
— Dígito de controlo (se houver)
Descrição por extenso ou codificada
Valor do lançamento
— Dígito de controlo significa o dígito que se irá acrescentar
ao código da conta ou a qualquer outra informação codifi-
cável e que permite que no momento em que se registe

— 459
esse código se possa saber se ele está ou não correcto.
É um dígito calculado segundo um a fórmula bem definida.
Utilizam-se normalmente dois tipos de cálculo conhecidos
por módulos 10 ou 11. Com o módulo 10 é possível detectar
os erros, simples, de inversão, originados por troca de
dígitos de 2 colunas consecutivas. No módulo 11 além do
tipo de erro anterior é possível detectar igualmente erros
de transposição, isto é, erros ocasionados por troca de dígi-
tos entre colunas não consecutivas.

O registo assim criado na fase de validação ser acrescentado


com outros elementos constantes vindos de ficheiros mestres.
De entre esses elementos podemos considerar, por exemplo, a des-
crição do lançamento em substituição do código, a descrição da conta,
tipos de processamento a efectuar, mapas em qu e é utilizado, se dá
origem a registos de resumos, etc.
A operação de recolha de informação é normalmente a operação
mais dispendiosa de todo o sistema, não só por ser uma operação
morosa mas principalmente por ser uma operação manual ou assistida
por equipamentos de processamento manual.
Quando existe já uma certa integração de aplicação esta fase-
-recolha pode igualmente ser uma operação automática relativa-
mente aos registos obtidos como subproduto de qualquer subsistema
do sistema total.
Por exemplo, o subsistema de facturação é pródigo neste domínio.
Assim os registos relativos às linhas de facturação, com os dados
relacionados com os produtos facturados dão origem a registos que
vão ser utilizados noutros subsistemas, nomeadamente nos subsiste-
mas de controle de existências estatísticas de vendas, análise de
resultados, etc.
Igualmente os registos criados pelo total das facturas entrarão
no subsistema de contas correntes automaticamente.

VALIDAÇÃO

Para que o registo inicialmente criado possa dar origem, poste-


riormente, a todo um processo automático de registos, mapas, aná-
lise, etc., é necessário que esse registo esteja isento de erros.
Utilizam-se vários processos para se atingir esse objectivo, nomea-
damente a verificação da operação efectuada (repetindo a operação
de colheita) e/ou o preprocessamento que é constituído por uma
passagem dos registos pelo computador para se detectarem os erros
cometidos. Nesta detecção utilizam-se certos critérios, previamente
considerados como válidos, para determinados tipos de registos.

460 —
Assim, em registos contabilísticos são normais as verificações de:

— Soma total de débitos igual à soma de créditos


— Soma dos débitos igual à soma dos créditos por lançamento
— Soma de movimentos de contas de resultados igual, mas
de sinal contrário, à soma das contas de balanço.
— Verificação de que todos os códigos de contas são válidos.
— Etc.

A GESTÃO DENTRO DO SISTEMA INTEGRADO

Na Fig. 1 são indicados vários dos elementos de gestão que se


poderão obter automaticamente a partir de uma análise sistemática
dos elementos contabilísticos.
Esta palestra de divulgação não tem nos seus objectivos a sua
descrição, mesmo sumária.
Julgo porém, de interesse mostrar, através de um exemplo,
como a partir dos elementos contabilísticos, e/ou estatísticos dispo-
níveis em forma de registos mecanográficos se poderão colher enor-
mes quantidades de informação necessárias à gestão ou à fixação
de planos futuros.
O exemplo que iremos mencionar utiliza uma técnica de simu-
lação e destina-se a mostrar como poderão ser preparados os planos
operacionais da Empresa incluindo esquemas de produção, controle
de stocks, estatísticas de vendas, previsões de tesouraria, contabili-
dade orçamental, etc.
Supúnhamos então que a nossa Empresa produz um certo número
de produtos, como por exemplo, produtos eléctricos, ou electrodo-
mésticos, ou produtos químicos para o lar, como sabões, detergen-
tes, etc.
A Empresa pretende saber como irá evoluir a sua vida financeira
ou que problemas se irão encontrar nas suas cadeias de fabrico face
a um objectivo de crescimento dos seus volumes de negócios em X%.
Vários intervenientes são chamados a analisar e comentar as
informações de que dispõem e nomeadamente:

— A Direcção de Produção, no sentido de verificar que alte-


rações serão feitas nas linhas de produção e suas conse-
quências nos custos unitários, e que espécie de investi-
mentos terão que ser feitos para manter a produção nos
níveis pretendidos. Que alterações aos custos padrões são
de considerar tendo em atenção os custos de matérias
primas e os aumentos na mão de obra.

— 461
— A Direcção Comercial, para indicar que quantidade de pro-
dutos precisa e em que épocas para manter as vendas ao
ritmo dos objectivos. Qual o esquema de cobranças a
considerar e qual o valor dos créditos que se pretende
obter, período a período.
Que esquemas de comissões ou outros incentivos de vendas
serão implementados para se atingir os objectivos fixados.

— O Serviço de Compras indicará quais os preços previsíveis


para as matérias primas e a melhor época para as encomen-
dar de modo a satisfazer as necessidades de produção.

— Os serviços Financeiros, face aos resultados da simulação,


indicarão quais as possibilidades do recurso ao crédito, no
caso de se verificar qualquer rotura. Será d e sua respon-
sabilidade verificar a rentabilidade dos objectivos face
às margens beneficiárias que se possam obter.

Todo este esquema de trabalho segue um processo interactivo até


que, seja encontrada a solução que mais se aproxime dos objectivos
ou force estes a serem, alterados.
Encontrados os resultados finais daí resultará todo um plano que
permitirá controlar toda a actividade da Empresa, desde os planos
de fabrico, aos resultados comerciais, análise d e créditos, provisões
de tesouraria, orçamentos, etc.

JUSTIFICAÇÃO ECONÓMICA DE UM SISTEMA AUTOMÁTICO


DE INFORMAÇÃO

Sendo a informação um, dos recursos da Empresa, ela terá


necessariamente um custo.
O nosso objectivo, neste momento, é tentar apurar esse custo
a fim de determinar se a utilização de meios automáticos no trata-
mento da informação se justifica do ponto de vista económico.
Todos sabemos que não é só o aspecto económico um dos deter-
minantes para a utilização de meios sofisticados pela Empresa.
Hoje em dia, talvez mais do que a economia, pretende-se através
de meios automáticos um aumento da produtividade, u m a maior soma
d e informações, não só de gestão, mas também para satisfação das
necessidades de ordem legal.
Mas sem dúvida que o aumento crescente dos custos de mão de
obra e de outros materiais obriga a pensar cada vez mais no recurso
à informática. Quanto custa então a informação à Empresa?
P a r a o determinar vamos socorrer-nos da metodologia e dos
elementos estatísticos apurados pelo Instituto de Informática de

462 —
França no decurso dos estudos por ele desenvolvidos no sentido de
encontrar um método de determinação do custo da informação na
Empresa.
O custo da informação é constituído essencialmente pela soma do
custo de: —equipamentos, mão de obra e outros meios.
Nos equipamentos encontramos como principais componentes, os
custos dos equipamentos do tratamento de informação, se existirem,
e outros meios mecânicos, dos quais destacamos, telefone, telex,
máquinas de escrever, somar, e calcular, máquinas de fotocó-
pias, etc.
No que se refere ao grupo de mão de obra, temos como verbas
principais os ordenados e custos sociais.
Como verbas diversas, e por vezes muito importantes, encontra-
mos as relacionadas com os móveis necessários à mão de obra, arqui-
vos e os próprios locais de trabalho.
Por ser a mais importante, é conveniente desdobrar a mão de
obra de modo a determinar aquela parte que se dedica à informação,
da que se destina a outras actividades de produção ou comerciais.
Assim, devemos considerar as actividades relacionadas com a
colheita ou registo da informação, registo de encomendas, pesquisa
de informação, preparação de mapas, leitura de informações, etc.
Por outro lado são também afectas à informação as actividades
operacionais de, por exemplo, facturação, contabilidade, etc.
No domínio da direcção da Empresa estão relacionados com a
informação todas as actividades de planificação e organização.
Através das entrevistas com os diferentes gestores das empresas
francesas o Instituto de Informática de França chegou à conclusão
de que os diferentes participantes de uma empresa gastavam, em
média, os seguintes tempos com a informação (Fig. 7).

Administração 80%
Direcção 80%
Chefes Tipo A 80%
Chefes Tipo B 60%
Administrativos 95%
Operários 2%

Levando em consideração a divisão por categorias e os respecti-


vos ordenados, foi possível construir um mapa qu e fornece o valor
da mão de obra no custo da informação, em percentagem dos orde-
nados e salários pagos (Fig. 8).

— 463
OCUPAÇÃO DA MAO DE OBRA
COM INFORMAÇÃO.

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Fig. 7 —Ocupação da mão de obra com informação.

Proporclon.
Tipo de Mão de Obra •/„ do Trial •/. tempo c/j°í„ despesii Custo inform custo mão
sistema In), c/ordenados em M. O. de obra

Administração 1% 80% 2,5% 2% 5,5%

Direcção 1% 80% 2,5% 2% 5,5%

Chefes tipo A 5% 80% 7% 8% 18%

Chefes tipo B 16% 60% 25% 15% 42%

Administrativos 11% 95% 10% 9% 26%

Operários 66% 2% 53% 1% 3%

100 100 35 100

Fig. 8 — Mão de obra e ordenados por categoria.

464
Do mapa anterior conclui-se pois facilmente que, para a activi-
dade representada, o sistema de informação consome:

— 35 % dos ordenados pagos

— 71 % é representado por ordenados com os chefes

— 26 % é representado exclusivamente pelos gestores

De entre outras conclusões tiradas no estudo do Instituto de Infor-


mática de França, destacam-se:

. Custo total da mão de obra 88 %

. Custo do equipamento de tratamento da informação 4%

. Custo de outros equipamentos 8%

Logo, se os ordenados representarem 25 % das receitas totais


da Empresa, podemos concluir que o sistema de informação consome
8,75 % das receitas.

(Segue-se aqui a indicação dos mapas com o custo dos compo-


nentes do sistema da informação que será a Fig. 9 e 10).

Admitindo que a introdução de meios mais sofisticados no tra-


tamento da informação vai fazer variar os tempos gastos com a
informação, quais as consequências que isto trará do ponto de vista
do custo da informação?

Suponhamos que na nossa Empresa atrás analisada os tempos


consumidos com a informação tiveram as seguintes variações:

Administração decresce 10 %
Direcção » 20 %
Chefes Tipo A » 20 %
Chefes Tipo B » 20 %
Administrativos » 10 %
Operários cresce 50 %
30 _ 465
40

37%

30

23%

20

16%

10- 9,4%
8%

4%
2.6%

Opera- Adminis- Chefe Chefe Adminis- Informa- Outros


rios trativos Produ. Admi. tração ção
EQUIPAMENTO

BASE CHEFIA AUXILIARES

i% 12%

Fig. 9 —Custo dos componentes do sistema de informação.

466 —
CONCLUSÃO
CUSTO DA MÃO DE OBRA NO SISTEMA
DE INFORMAÇÃO
. Mão de Obra 35 % dos ordenados pagos
. Chefia 71 %
. Administrativos 26 %
OUTRAS CONCLUSÕES
. Custo total da mão de obra 88 %
. Equipamento do tratamento da informação 4%
. Outros equipamentos 8%
Fig. 10 — Conclusões

O resultado será o seguinte:


Tempo 'lo dos Novo cus- Ant. custo
Tipo de Mão de Obra •/. do
lotai
c/ inlor-
macio
A Resul-
tado
ordena-
dos
to inf. Inf. em
;m M. Q. M. 0 .

Administração . . 1% 80% — 10 72% 2,5% 1,8% 2%

Direcção . . . . 1% 80% — 20 64% 2,5% 1,6% 2%

Chefes tipo A . . 5% 80% — 20 64% 7% 4,5% 6%

Chefes tipo B . . 16% 60% — 20 48% 25% 12% 15%

Administrativos 11%. 15% -10 85% 10% 8,5% 9%

Operários . . . . 66% 2% + 50 3% 53% 1,5% 1%

100 100 30% 35%

Fig. 11 — Custos da informação.


O que demonstra que o custo da informação com a mão de obra
passou de 8,75 % para 7,5 % da receita total.

— 467
QUAL O CUSTO N O FUTURO?

A evolução cada vez mais acentuada dos custos de mão de obra


e do dinheiro, consequência das crises constantes a que o mundo
tem estado sujeito, põe a Empresa perante vários dilemas.

— Deverá reduzir a informação de que dispõe quando, para


a sua gestão, dela tem necessidades, cada vez mais, e
atempadamente?

— Deverá orientar­se para sistemas integrados e automáticos


para um melhor controlo de todos os seus recursos?

A experiência dos últimos anos mostra uma evolução que se


caracteriza por:

. Mão de obra a aumentar ano após ano.

. C usto do equipamento em redução.

Vamos definir uma taxa de mecanização do seguinte modo:

Custo do equipamento
T = —■
Custo do equipamento + mão de obra

Por ela se verificaria que para:

T = 100

Só existiria despesas de equipamento. A mecanização era um


robot, tudo se faria automaticamente sem necessidade de mão de obra.

T = 0

Não há equipamento, tudo se faz manualmente.

Admitamos agora que, para determinar o custo futuro do sistema


que a mão de obra aumenta apenas 10 % por ano e que o custo do
equipamento decresce na mesma percentagem.

468 —
PROGRESSÃO DO CUSTO DO
SISTEMA DE INFORMAÇÃO

CUSTO

1 2 3 4 5 6 7 8 ANOS

Fig. 12 — Progressão do custo do sistema de informação.

— 469
O gráfico que se segue (Fig. 13) mostrará para os próximos oito
anos qual a evolução dos custos.
Supondo, a média de 100 para hoje, em cada um dos próximos
anos o custo será:

taxa Anos
mecanização

t = 1 2 3 4 5 6 7 8

0 110 121 133 146 164 177 195 214


10 108 117 127 139 151 164 180 197
20 106 113 121 130 141 153 166 180
30 104 109 115 122 131 140 150 163
40 102 105 109 114 121 127 136 146
50 100 101 103 106 111 116 121 129
60 98 97 97 98 99 103 107 112
70 96 93 91 90 89 90 91 94
80 94 89 85 81 79 78 77 77
90 92 85 79 74 69 66 62 60
100 90 81 73 66 59 53 48 43

Fig. 13 —Anotação dos custos.

Note-se que para uma taxa de mecanização igual a zero o custo


da informação passou para mais de o dobro e que se se efectuar uma
taxa de mecanização de 50 %, isto é, com um custo de equipamento
igual ao custo de mão de obra, que se manterão ao longo do período
os custos actuais.

470 —
Comunicações da 7.a Mesa
Aprovação e Revisão de Contas

Presidente: Dr. Olímpio 0. Carqueja


Revisor Oficial de Contas

Secretário: Dr. Raul Ventura Martins


Assistente do ISCAA
Algumas Reflexões sobre Princípios
Contabilísticos Tradicionais
Por Rogério Fernandes Ferreira

Quem como eu se ocupa de Contabilidade, que sobre ela escreve,


que a ensina, que tem de responder a questões, tem de servir-se do
existente, que critica, comenta, tenta aperfeiçoar...
O que é científico não pode cristalizar-se em qualquer documento
ainda que se trate de contribuição importante, de comunicação de
valia. A Ciência constrói-se e nunca está pronta — é feita de adi-
ções sucessivas, de colaborações várias. E exige modéstia, impõe
o benefício da dúvida.
Ora bem; quando no nosso País se fala de princípios de Contabi-
lidade há que lembrar predecessores. O Prof. Gonçalves da Silva
de há muitos anos que divulga as suas pesquisas e na sua obra vasta
e notável encontramos sempre ensinamentos. Sobre princípios de
contabilidade e valorimetria patrimonial há também achegas impor-
tantes do Dr. José António Sarmento, saudoso mestre, falecido antes
de poder revelar toda a pujança do seu saber. Um seu continuador
na Faculdade de Economia do Porto, o Dr. Hernâni Carqueja, tem
lançado pistas e feito reflexões interessantes sobre estas matérias.
E outros autores poderiam citar-se 0).
O Dr. Alberto Pimenta, advogado distinto, que se tem preocupado
com o direito da contabilidade, apresenta nos seus trabalhos repo-
sitório de referências de autores estrangeiros e esclarecimentos de
valia.
Temos agora o POC, que dá consagração legal a certas ideias
básicas sobre a matéria dos princípios da contabilidade (2). Porém,
essa é a parte mais frágil daquele texto legal. Aliás, também o é
o Plan General de Contabilidad de Espanha, que foi, neste Capítulo,
a fonte do POC, a base de leitura e redacção.
0) Na APOTEC têm-se feito, entretanto, sessões de discussão e divulgação
destas matérias, sendo a primeira conduzida pelo Prof. Noel Monteiro e a
segunda pelo Autor destas reflexões.

- 473
O POC, no seu último capítulo, enuncia de modo breve e pouco
preciso, princípios e critérios contabilísticos. Houve, ao que parece,
hesitações na realização de trabalho de tão grande importância.
Vingou a perspectiva de dar essencialmente relevo às peças finais,
começando pelo balanço (documento de síntese do património).
Passou-se depois às demais peças finais e a seguir é que se fez a lista
de contas e as subsequentes notas explicativas (2).
Concluindo que no P. O. C. se enunciam os princípios contabilís-
ticos de modo menos acabado, natural será ir carreando elementos
para estudos futuros, que se reputam necessários e importantes.
Agora que o associativismo de classe começa a dar passos talvez
venha a ser menos difícil o trabalho em equipa. E é na matéria da
formulação de condutas de ordem técnica e profissional que as asso-
ciações de classe e os organismos culturais têm papel importante a
desempenhar.
Entrementes não nos parece dispiciendo anotar alguns pensa-
mentos críticos sobre princípios a que a contabilização, na actuali-
dade ainda costuma obedecer.
Há que pressupor, como convém e está certo, que a contabilidade
é disciplina cujo objecto é o estudo e a representação da movimen-
tação dos valores do património e das operações de gestão- com
vista a apreciar em cada momento (passado, presente, futuro) as
situações e os resultados decorrentes das referidas movimentações
— fluxos de entradas, fluxos de saídas e saldos.
Os registos dos movimentos de valores operados nas empresas
são expressos em termos monetários, explicitados segundo critérios
e métodos que se apoiam em princípios e conceitos contabilísticos,
por vezes consignados na lei, mas quase sempre baseados em prá-
ticas que, à força de serem repetidamente adoptadas, vieram a
constituir verdadeiros princípios de aceitação pacífica ou muito
comum.

(2) Daí faltarem no P. O. C. referências a contas intermédias, interinas ou


só de movimentação dentro do exercício anual. Ora, hoje, cada vez existem
maiores necessidades de periodificações curtas para o bom desempenho da gestão.
Surgem necessidades de contas, por exemplo relativas ao seguinte:
— a periodificações ou repartições mensais — gastos a repartir por duodé-
cimos.
— a custos e a proveitos, sob perspectivas de contabilidade interna.
— a movimentos de acções ou de obrigações emitidas e subscritas.
— a responsabilidades por letras descontadas, a aberturas de crédito, a
financiamentos obtidos ou concedidos e ainda não mobilizados (ou não
mobilizados totalmente).
— a movimentos (financeiros pelo menos) entre departamentos da mesma
empresa, isto é, ligações entre sede e filiais ou outros estabelecimentos;
dir-se-á, pelo menos que não se prevêem todas as alternativas que hão-de
ser necessárias.

474 -
Não obstante, importa observar que as convenções e os princípios
contabilísticos, ainda que consignados na legislação e mesmo que
pacificamente aceites ou não contestados, poderão ser, em si, contes-
táveis e alteráveis no tempo. Tal sucederá se a contestação vier
a aumentar de força e coerência ou se o tempo e a evolução tornarem
os princípios adoptados obsoletos e inadequados. Simplesmente,
enquanto se mantiverem com aceitação generalizada e consignados
na lei, os técnicos devem-lhes acatamento operacional. Porém, será
salutar que os técnicos ponderem doutrinalmente opções divergentes
de modo a determinarem quais as mais apropriadas.
De entre os conceitos, convenções e princípios que geralmente
costumam ser enunciados relativamente às elaborações contabilís-
ticas vamos aqui dar conta dos que mais repetidamente se costumam
apresentar.

I. CONCEITOS BÁSICOS
Na apresentação destas reflexões ir-se-á seguir em parte a orien-
tação da obra Management Accounting Principles ou Contabilidade
Gerencial (trad, brasileira, ed. Atlas), de Robert Anthony.

1. CONCEITO DE AVALIAÇÃO MONETÁRIA


A contabilidade só regista factos que possam ser expressos em
termos monetários. Isto impõe séria limitação de objectivos aos
relatórios contabilísticos.
Basta pensar em factos de extrema importância ou com reflexos
significativos no património e na gestão, como sejam, por exemplo,
a saúde do presidente de um conselho de gestão, os conflitos entre
as hierarquias, as más relações humanas internas, a acção do Estado,
o ambiente politico-social onde a empresa se move, etc.
A contabilidade não dá portanto notícia completa ou adequada
de outros acontecimentos relevantes nem revela bem as condições
de funcionamento de uma empresa. Porém, há grande interesse
na expressão monetária dos factos patrimoniais e das operações
gestivas na medida em que a moeda é padrão de valores que permite
homogeneizar, somando e subtraindo elementos que sob outros
aspectos são heterogéneos. Todavia, essa homogeneização faz-se
segundo práticas (ou por razões práticas e outras) que acarretam
controvérsias e distorções. A instrumentalidade da contabilidade
impõe que se adoptem critérios e práticas uniformes e se fixem
princípios por todos conhecidos e aceites. Porém, circunstâncias
conjunturais significativas, alterações estruturais, novas necessida-
des e aquisições de conhecimentos conduzem a reformulações de
conceitos. No tocante ao uso das avaliações monetárias importa

— 475
acentuar que vivendo-se em inflação permanente a moeda deixa de
ser padrão monetário adequado, se não se tiver em conta a evolução
que sofre no tempo.
Hoje começa a acentuar-se com, mais insistência a «multidimen-
sionalidade» dos fenómenos económicos a registar e a diversidade
de objectivos que se podem assinalar à contabilidade (3), notando-se
em conformidade que embora a contabilidade seja uma disciplina
essencialmente quantitativa, os fenómenos que regista carecem cada
vez mais de ser apreciados sob várias perspectivas o que terá de
conduzir a visões quantitativas múltiplas de cada fenómeno ou de
cada conjunto de operações e de factos patrimoniais e gestivos.
Assim,, os autores, cada vez mais se manifestam contra as incon-
gruências de, por exemplo, um balanço apresentar verbas expressas
em moeda actual (numerário, dívidas a receber e a pagar), ao lado de
verbas expressas em moeda de período anterior (existências e imobi-
lizações) ou de um balanço comportar valores que não dão devida
conta de ónus futuros (as dívidas a receber e a pagar exigiriam
actualização; na valorização de uma dívida a pagar ao fim de muitos
anos haveria que ponderar-se quais os juros e outros ónus futuros,
corrigindo o seu valor em função desses elementos).

2. CONCEITO DE EMPRESA COMO ENTIDADE PRÓPRIA


As contas respeitam às empresas como entidades «a se» que se
distinguem das pessoas que se acham a elas associadas ou nelas
participam. Muitas vezes, as soluções adoptadas pretendem que se
aprecie a empresa como instituição mas por vezes os dados são
elaborados na perspectiva das pessoas ligadas à empresa (por relação
de capital ou outra). No caso de empresas em nome individual e
em sociedades de tipo familiar aquela distinção é, na prática, pouco
sentida ou acautelada. Na verdade, se um empresário em nome
individual levanta fundos, a empresa fica com menos numerário do
que anteriormente, mas o efeito real deste facto para o proprietário
será mínimo. Este saca dinheiro do seu «bolso» empresa e coloca-o
no seu «bolso» pessoal, mas esse dinheiro continua sendo seu.
No caso das grandes empresas já são mais naturais as distinções.
A empresa surge como entidade legal separada das pessoas que nela
participam.
A distinção entre a empresa como entidade «a se» e todo o mundo
que lhe é exterior será importante objectivo a assinalar à Contabi-
lidade que assim relevaria mais eficazmente as acções e responsabi-
lidades da empresa e dos gestores perante terceiros, incluindo nesta

(3) Ver nossos trabalhos sobre fins da Contabilidade de Gestão e da Con-


tabilidade Patrimonial, finalidade dos balanços contabilísticos.

476 —
designação não só clientes e fornecedores mas também os financia-
dores (de capital próprio e alheio) e os trabalhadores da empresa.

3. CONCEITO DE CONTINUIDADE DA EMPRESA

Nos registos da contabilidade, salvo configurações de outros


objectivos que importa evidenciar especificadamente (fins de liqui-
dação, fusão, etc.), pressupõe-se que a empresa continuará a operar
por período indefinidamente longo no futuro, o que trás determinadas
consequências para os critérios que adopta, nomeadamente no tocante
à valorimetria patrimonial.

4. CONCEITOS DE CUSTO

As avaliações contabilísticas dos bens que ingressam nas empre-


sas assentam tradicionalmente no conceito de custo (de custo ou
valor de aquisição) não se registando geralmente outras perspectivas
de valor nem as mudanças que por uma variedade de motivos os
bens sofrem em confronto com o dito valor de custo. Claro que se
diz «geralmente» pois há que observar que em certos casos se
reflectem mais e menos valias e deperecimentos do imobilizado
e estimativas de altas e baixas de valor das existências de matérias,
mercadorias e produtos.
Porém, o que hoje se põe em causa não é só a necessidade de
tomar em conta aquelas variações mas sim a própria utilização do
conceito do custo (de aquisição). É que continuar a assentar os registos
contabilísticos dos bens e serviços adquiridos na base dos dispêndios
efectivos com a aquisição, produção ou construção é solução que
vem dificultando a consideração de perspectivas importantes. Basta
anotar que muitas vezes existem economias ou excessos de dispên-
dios de que assim não se toma conta. Acresce que nem sempre
há aquisições, por exemplo, nos casos de «aviamento» gerado na
empresa, de patentes nela criadas ou até de marcas de fabrico ou
de comércio bem sucedidas. Hoje, muitas empresas recebem bens
ofertados (v. g. ofertas de tractores agrícolas às unidades colectivas
de produção, ou acumulam bens sem custo de aquisição — águas das
barragens). Há gastos cuja patrimonialização ou qualificação como
custo dos bens se tem de ponderar em muitos casos: encargos
financeiros em certas fases da vida da empresa ou em certas acti-
vidades (indústrias de vinhos generosos e aguardentes, construção
civil, etc); gastos de formação, publicidade, etc.

- 477
Os profanos nestas matérias geralmente cometem erros de leitura
e interpretação de documentos contabilísticos, por falta de percepção
dos conceitos supra, supondo haver perfeita correspondência entre
os dados da contabilidade e os valores reais.

II. CONVENÇÕES CONTABILÍSTICAS

Os conceitos precedentes vêm, na prática, a ser adequados e


até modificados por convenções geralmente aceites, das quais, são
mais importantes: a da uniformidade ou consistência, a da prudência
ou conservadorismo e a da materialidade.

CONSISTÊNCIA (UNIFORMIDADE)

A convenção da Uniformidade (ou consistência) impõe a toda


a empresa que em determinada operação contabilística tenha adop-
tado certo critério ou procedimento que em outros casos idênticos
ou posteriores, utilize esse mesmo critério ou procedimento. Esta
convenção resulta da necessidade da certeza, é modo de evitar ambi-
guidades inconvenientes, possíveis devido à largueza e infixidez dos
conceitos e práticas contabilísticas. De facto, quase sempre são
diversos os modos pelo quais um dado facto ou operação patrimonial
pode ser registado na contabilidade. Por exemplo, quando uma
empresa obtém um desconto no pagamento de facturas aos seUs for-
necedores esse desconto pode ser tratado como receita da empresa;
ou como redução no preço de compra das mercadorias adquiridas.
Se uma empresa mudasse frequentemente de critério no trata-
mento contabilístico de determinados factos ou operações, difíceis
seriam as apreciações e as comparações das peças contabilísticas
de um período com as de outro.
«Devido a esta convenção, as alterações no método de escriturar
as contas não se fazem levianamente. Os auditores de uma organi-
zação incluem, invariavelmente, em seu parecer (isto é, em relatório
resumindo os resultados do seu exame aos documentos anuais da
contabilidade) a declaração de que os dados foram preparados
de conformidade com os princípios contabilísticos geralmente aceites,
aplicados numa base consistente com a do ano anterior; ou, se houve
mudanças na prática, estas são expostas discriminadamente no pare-
cer» (Robert Anthony).

CONSERVADORISMO (PESSIMISMO, PRUDÊNCIA)


Esta convenção, embora não tenha hoje a aplicação sistemática
e universal que teve noutros tempos, ainda se segue com generali-

478 —
dade, ressalvando só casos de maior ilogismo e de contrariedade
a regras legais e fiscais.
Por esta convenção o contabilista é levado a optar, entre alter-
nativas, pela pessimista ou prudente. A enunciação desta convenção
apresenta-se muitas vezes assim: «não antecipar nenhum lucro e
provisionar todas as perdas possíveis», aspecto importante como
modificador do conceito de custo. Assim, por exemplo, as existên-
cias comummente são apresentadas não pelo seu custo, que é o que se
esperaria de acordo com o conceito de custo, mas de preferência
pela menor cifra entre o custo e o valor possível de recuperação».

MATERIALIDADE (SIGNIFICAÇÃO)

É regra entre os contabilistas, hoje acentuada pelos economistas


de empresa, que só deve registar-se na contabilidade o que seja
economicamente relevante. De outro modo: na forma de tratamento
do fenómeno a contabilizar há que ter em atenção a sua importância,
o significado útil do registo e o custo deste. Exemplificando:
a) Os impressos que não se gastam até ao fim do ano são bens
activos, mas dado o seu pouco relevo não figurarão no balanço
de fim de exercício.
b) Uma pequena ferramenta é por natureza, um bem do imobi-
lizado, um instrumento ao serviço da exploração, de uso
repetitivo, mas o seu pouco valor poderá aconselhar, em
determinados contextos, que se se contabilize como bem de
consumo num só exercício.

Bem refere Anthony que não há acordo quanto à linha exacta


que separa os factos merecedores de registo dos não merecedores.
A decisão depende do bom-senso. Observa-se que não há, e será
difícil haver, acordo sobre uma demarcação exacta entre os factos
merecedores de registo e os não merecedores.
Os técnicos menos experientes têm; menor sensibilidade ao custo
e utilidade da informação contabilística, pelo que, em regra são
mais meticulosos nos seus registos do que os técnicos experimen-
tados. Estes, por seu turno, debatem-se hoje com novas questões,
nomeadamente discutem a necessidade de dar relevo contabilístico
a certos factos importantes ainda que aos mesmos faltem, aprioris-
ticamente, aspectos patrimonialísticos e quantitativistas. Isto, por-
que, estando a contabilidade ao serviço da gestão, deve ela abarcar
várias facetas, compatibilizando-se com novas solicitações, designa-
damente as de carácter previsional e evolutivo.

— 479
III. SÃOS PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE
Embora no nosso País haja quem entenda que se devem regular
pela lei os princípios orientadores da contabilidade das empresas,
outros entendem que tais princípios deverão continuar a ser elabo-
rados pela doutrina até apresentarem maior sedimentação. A lei
deve deixar aos cuidados dos técnicos e cultores da contabilidade
e gestão a fixação das matérias que se conexionam com a filosofia
da contabilidade, as teorias económicas do valor e as normas da boa
gestão.
Estamos certos que acaso se queiram criar regras legais muitas
tarefas se terão previamente de realizar, designadamente o avanço
dos estudos contabilísticos e o prosseguimento de regulamentações
fiscais, as necessárias actualizações da lei comercial, uma regula-
mentação e prática mais adequadas dos profissionais de contabili-
dade e o estabelecimento em adequadas bases da actual Câmara de
Revisores.
No que toca à definição genérica de sãos princípios de conta-
bilidade refere Alberto Pimenta (4) que «apesar dos anteriores es-
forços dispendidos não existe ainda perfeita consonância de opiniões
quer sobre a identificação quer sobre o alcance e a consistência de
tais princípios» (5).
Não obstante, para conjugação com os conceitos e convenções
já atrás referidos, impõe-se apresentar aqui mais alguma coisa
quanto a certas regras, aliás úteis, muito genericamente utilizadas,
como é o caso das seguintes:

1 — Relativamente ao padrão (monetário) de avaliação


Há que definir métodos que tomem em consideração as cons-
tantes oscilações do valor da moeda e evitem as deturpações de que
hoje enfermam a generalidade dos documentos contabilísticos das
empresas, cujos resultados e valores patrimoniais apresentados estão
por isso a tornar-se bastante fantasiosos (6).

(4) A prestação das contas do exercício nas sociedades comerciais, ed. do


Autor, 1972, págs. 106/149.
(5) Não obstante, o Plano Oficial de Contabilidade aprovado pelo Dec-Lei
n.° 47/77, de 7 de Fevereiro, consigna, de modo aliás'algo insuficiente e insatis-
fatório, princípios contabilísticos, critérios e métodos valorimétricos.
(6) Ver nosso estudo sobre consequências da inflação nos balanços e contas
de resultados (este assunto vem tratado no último capítulo do nosso livro Gestão
Financeira, vol. I, 4.a edição, pág. 656 e seg.). Ver também os diversos estudos
contidos no nosso 5.° volume de Temas Económico-Políticos e de Gestão de
Empresas e os estudos dos Drs. Silva Lopes, Alves Conde e Rogério Ferreira,
apresentados em Jornadas de Gestão e Contabilidade e que constam' de publica-
ção editada pelo Instituto Politécnico da Covilhã.

480 —
Por outro lado, há que ter em, consideração que numa disciplina
como a contabilidade, que trabalha com valores, importa dar a devida
atenção às finalidades das avaliações (7).
Acontece que as práticas nas avaliações monetárias têm caído em
situações algo rotineiras que se inadequam hoje às necessidades ges-
tivas, constituindo um desafio directo e afrontoso a raciocínios lógicos
a que não obedecem, prejudicando-se assim não só a descoberta das
necessárias soluções como até os juízos sobre a realidade. Na ver-
dade, tem. havido no seio das instituições e entre muitos técnicos de
contabilidade a continuação de adopção de práticas tradicionais de
contabilização dos bens que, sendo registados ao custo de aquisição,
deixam de apresentar expressividade se mercê de fenómenos signi-
ficativos de erosão monetária ou de variações sensíveis no padrão
monetário, os preços mudam grandemente de expressão.
Na realidade, em épocas de inflação muito intensa é evidente
que o problema exposto se agudiza. Então, as pressões sobre o
Governo e outros poderes sobem de tom e a injustiça e consequências
de nada fazer afiguram-se revoltantes a cada vez maiores sectores
da opinião pública.
Porém, também é um facto que preceder a correcções contabi-
lísticas derivadas do fenómeno da variação da moeda suscita um
sem-número de problemas, dos quais não se pode deixar de dar
conta, seriando-se devidamente, pondo diversas questões e inter-
rogações.
Na verdade, não convém passar em claro nem minimizar a deli-
cadeza das inúmeras e importantes perspectivas de que se reveste
o dito problema das correcções monetárias das contabilidades das
empresas, em especial as correcções de tipo sistemático, que do
ponto de vista lógico seriam as preferíveis mas que comportam
inúmeras implicações de diversa ordem. Ao longo de estudos sobre
estes problemas ditos da «contabilidade da inflação» apresentamos
outras reflexões e comentários aos vários métodos de reavaliação
e de correcção monetária propostos pelos contabilistas. A delicadeza
actual destas questões impõe estudos e debates (que é intenção propor
junto de técnicos e gestores portugueses) (8).

2 — Em relação ao balanço
a) Princípio da integralidade
De acordo com este princípio o balanço tem de ser completo,
isto é, compreender todos os elementos com significado patrimonial

(') Sobre estea ponto recorda-se o que anotámos no nosso livro Gestão Fi-
nanceira, vol. I, 4. edição, Cap. II, pág. 67 e seg. e pág. 77 e seg.
(8) Cf. estudos atrás citados.

51 - 481
(valores patrimoniais concretos positivos — contas de Activo; valores
patrimoniais concretos negativos — contas de Passivo; diferença entre
Activo e Passivo ou sejam os valores patrimoniais abstractos — contas
de Situação Líquida Activa e Passiva).
Discute-se hoje se a contabilidade deve também registar valores
exirapatrimoniais e outras informações susceptíveis de expressão
quantitativa. Se tal suceder, no balanço há que acrescer as cha-
madas vulgarmente «contas de ordem». Se tal não suceder, as infor-
mações úteis que tradicionalmente eram dadas por aquelas contas
são de inscrever nos relatos sobre as contas; aliás, as contas de
ordem a figurar nos balanços devem aparecer em separado das
demais contas insertas no balanço; no plano oficial de contabilidade
não está prevista a movimentação daquelas contas mas de facto
exigem-se informações desse tipo, a prestar em anexo ao balanço
e à conta de resultados.
Para que o conteúdo do balanço seja integral tem também de
corresponder aos saldos de todas as contas que engloba, não sendo
de efectuar compensações entre contas de sinal contrário, prática
que prejudica a análise, por não permitir ver as extensões que o
balanço deve traduzir.

b) Princípios de valorimetria e da sinceridade do balanço


Diz-se por vezes que o balanço deve ser verdadeiro, mas importa
acentuar que por vezes não é fácil encontrar critérios indiscutíveis
ou únicos para a extensão a atribuir às contas.
Por isso, revela-se mais adequado pressupor que o balanço está
elaborado com sinceridade, isto é, de acordo com os princípios geral-
mente aceites, explicitando terminologia, critérios e práticas adop-
tadas sempre que essa explicitação se revele necessária para não
deixar dúvidas ou para evitar erros de leitura e apreciação.
Como critérios valorimétricos que para o efeito são aconselhados
temos os do custo de aquisição, não se contabilizando elementos, ainda
que patrimonializáveis, que não tenham originado custos específicos.
Todavia, cada vez mais e como atrás se notou, discute-se a necessi-
dade de atender a finalidades múltiplas (multidimensionalidade da
contabilidade) e às variações do padrão monetário, sugerindo-se por
isso com insistência, tanto maior quanto maiores são as pressões infla-
cionistas, a adopção de critérios correctivos que atendam às osci-
lações do padrão monetário de referência.

c) Princípio da clareza
A todas as verbas constantes do balanço devem corresponder
designações apropriadas e claras apresentando-se as contas segundo

482 —
esquemas adequados de seriação e de agrupamento em classes estabe-
lecidas de acordo com critérios pré-estabelecidos que favoreçam a
leitura e o estudo do balanço; em particular, as contas de amor-
tizações e quaisquer outras de redução do activo e do passivo devem
inscrever-se em dedução das contas a que respeitam; com fins de
clareza também convirá que exista perfeita separação entre as contas
ou parcelas representativas da Situação Líquida e as contas que res-
peitam aos elementos patrimoniais activos e passivos, registando à
parte as cifras de contas de ordem (contas extrapatrimoniais) de
que importa dar notícia.

d) Princípio da uniformidade
Este princípio é relativo, havendo que o entender nos devidos
termos. Quer com, ele dizer-se que há que manter, de balanço para
balanço, iguais critérios e procedimentos. Explicando de outro modo:
há que manter em. todos os balanços os princípios da clareza, inte-
gralidade, valorimetria e sinceridade; se houver necessidade de alte-
rações dentro de tais princípios há que as acentuar muito em especial.
Diz-se que o balanço deve obedecer aos princípios ou requisitos
supra mas importa assinalar que, vendo bem, não só o balanço mas
toda a contabilidade deverá obedecer àqueles requisitos e a outros,
como sejam, os da objectividade, utilidade e exequibilidade (9). Como
pressupostos temos: avaliação monetária, a empresa entidade «a se»,
continuidade da empresa e contabilização ao valor de custo (se não
é pagável não é registavel) (cf. conceitos e convenções atrás assi-
nalados).

3 — Relativamente ao cálculo dos resultados


A este respeito convirá dar relevo a certos princípios básicos,
acaso se queira impedir demasiada fluidez dos resultados mas, ao
mesmo tempo, importa pôr em relevo a complementaridade dos suces-
sivos exercícios económicos.
1) Princípio da especialização dos exercícios

Embora a vida da empresa se processe ininterruptamente, havendo


estreita interdependência entre os custos e os proveitos de períodos

(9) Na realidade os contabilistas têm de atender a critérios objectivos e


não a inclinações pessoais ou a subjectivismos ; só são de contabilizar factos ou
operações e proceder a registos discriminados que sejam de utilidade; a exequi-
bilidade é vista em termos económicos.

— 483
sucessivos, diversas razões conhecidas levam à «especialização», isto
é, à imputação dos custos e proveitos por exercícios.
Na verdade, exceptuando casos de pouca monta influenciados
por meras razões pragmáticas, o critério a seguir será o de lançar
as despesas e as receitas aos custos e aos proveitos do exercício a
que respeitam: (10).
No entanto, no ano da efectivação das despesas ou no do con-
sumo dos bens ou serviços correspondentes, as empresas, por vezes,
não conhecem o preço exacto desses bens ou serviços ou não obti-
veram elementos para a referida escrituração. Por isso, as empresas,
no fim de cada exercício, deverão apreciar as negociações em curso
patrimonialmente relevantes, procedendo aos ajustamentos necessá-
rios para que cada exercício comporte os custos e proveitos que
dentro de certo rigor lhe respeitam.
Todavia, convém referir que, entre nós, muitas empresas se-
guem critérios de «especialização ou competência financeira» lan-
çando na conta de Ganhos e Perdas, à medida que surgem para con-
tabilização, as receitas e despesas processadas em cada exercício.
No entanto, os sãos princípios impõem que os resultados sejam deter-
minados em termos de custos e proveitos, ou seja, em relação aos
factos económicos (consumos e respectivas contraprestações) pro-
cessados no exercício. É o chamado «regime de competência econó-
mica de exercício».

2) Princípio da realização do lucro


Outras regras mais particulares são também adoptadas na prá-
tica. Assim é regra assente nestas matérias que os resultados das
empresas se devem calcular após as vendas das mercadorias ou
serviços. Estamos aqui perante o chamado princípio da realização
do lucro isto é, que o lucro só se considera realizado após venda, que
só devem inscrever-se em. contas de Ganhos e Perdas lucros reais ou
efectivos e não são tal os lucros esperados ou potenciais.
Porém, quando as datas das vendas se afastam muito das das
produções, não parece de aceitar a regra supra sem ressalvas, par-
ticularmente no caso de produções de grande vulto, cujos ciclos se
prolonguem por vários exercícios.
Nas empresas que fabricam ou revendem mercadorias e arte-
factos de rápida manufactura e rotação comercial, nem todas as

(10) Reputa-se importante a observação de que estamos aqui pensando espe-


cialmente nas despesas que se não traduzsm em aquisições de bens estocáveis
ou de utilização plurienal, pois as imputações dos custos desses bens são ds
contabilizar, logicamente, ao longo dos vários exercícios em que s» forem veri-
ficando as utilizações, consumos ou vendas.

484 —
vendas se efectuam no ano das correspondentes produções, e estas,
por seu turno, podem também estar afastadas do ano das aquisições
de alguns dos respectivos factores produtivos. Em todo o caso, os
erros de cômputo não serão sensíveis e, porventura, compensar-se-ão
ou manter-se-ão, sistematicamente, ao longo dos sucessivos exer-
cícios.
Porém, nas empresas de ciclo de exploração plurienal (") dedi-
cadas à realização de grandes empreendimentos, de longos e variá-
veis períodos de construção, pode verif icar-se nuns exercícios o acaba-
mento de inúmeras unidades produtivas e as respectivas vendas,
enquanto noutros exercícios, não obstante serem de intensa activi-
dade, nada se acaba nem vende, pelo que a aceitação da regra de
que os resultados se processam com as vendas pode acarretar difi-
culdades diversas.
Em tais circunstâncias, julga-se não ser de tomar, a priori e
para todos os casos, a posição dogmática de que os resultados con-
tabilísticos só poderão ser apurados na ocasião da regularização final
da empreitada ou venda definitiva dos bens por mera diferença entre
o preço de venda total e o correspondente custo dos bens vendidos.

3) Princípio da atribuição funcional do lucro

É tradicional o entendimento de que o lucro se apura em relação


à função venda, esquecendo que uma empresa é, além do mais que
não importa agora referir, um «complexo gestionário», contribuindo
para a formação dos lucros todas as actividades realizadas quer dos
serviços ditos funcionais — compras, produção e venda — quer dos
demais serviços gerais e/ou auxiliares daqueles.

(") Diz-se que há ciclo de exploração plurienal quando as actividades exer-


cidas se desenrolam por tempo superior a um ano, em relação a certo fluxo de
exploração, isto é, desde a aquisição das matérias e mercadorias e compra dos
serviços necessários à exploração até à venda de bens ou serviços comercia-
lizados, compreendendo ainda, nas empresas industriais, operações internas de
extracção, transformação e acabamento dos produtos e, nas empresas comerciais,
algumas vezes, operações de simples adequação dos produtos à venda.
São inúmeras as empresas em que sucessivas operações constitutivas do
chamado «ciclo de exploração» (ou ciclo de produção lato sensu) se desenrolam
por mais de um exercício, como é o caso das empresas de construção de equipa-
mentos pesados, navios, pontes, estradas, prédios, etc.
Importa muito sublinhar que os princípios relativos ao apuramento do
rédito constituem tema importante dentro destas matérias, mas a intenção desta
Comunicação e a vastidão do tema não permitem aqui o seu desenvolvimento.
Fazemo-lo sob diversos aspectos (gestivos, jurídicos, fiscais e evidentemente
contabilísticos) em Gestão Financeira, vol. I, 4.a ed., pág. 410 e seg. e 618 e seg.

- 485
IV. PLANO OFICIAL DE CONTABILIDADE - PRINCÍPIOS E
CONCEITOS CONTABILÍSTICOS, CRITÉRIOS E MÉTODOS

O Plano Oficial de Contabilidade português, aprovado pelo De-


creto-Lei 47/77, de 7 de Fevereiro, aponta, a respeito desta matéria,
no último capítulo, orientações que já se concluíra serem insuficientes
e exigirem novos estudos e complementos.

V. OS PRINCÍPIOS NA CONTABILIDADE JURÍDICO-PATRIMO-


NIAL E NA CONTABILIDADE DE GESTÃO

Aliás, não são apenas as insuficiências e imprecisões do POC


nesta matéria que merecem reparos. É também o facto de os princí-
pios e critérios serem predominantemente dirigidos às finalidades do
balanço, deixando quase no olvido ou sem o relevo que deveriam
merecer num trabalho, dito oficial e nacional, os princípios relativos
aos apuramentos dos custos e proveitos de exercício.
Pensa-se, por isso, que é da máxima utilidade acentuar sempre
que no todo contabilístico terão de existir as duas ópticas de trata-
mento — patrimonialista e de gestão — e que as mesmas não se
excluem, antes se subsidiam e completam (12).

(12) Sem preocupação de esgotar assunto de temática tão vasta, alinhámos,


no Jornal n.° 10 da APOTEC, os caracteres que consideramos dominantes em cada
uma das duas ópticas assinaladas para contabilidade, as quais, aliás, são, entre
si, subsidiárias e complementares.

486 -
Auditoria Financeira e Revisão de Contas
Por José Rodrigues Ferreira da Cruz

INTRODUÇÃO

A auditoria financeira e a revisão de contas, apesar de terem


pontos em comum, distinguem-se uma da outra em aspectos impor-
tantes.
A evolução que se prevê para um futuro mais ou menos próximo
aponta, no entanto, para a uniformização de objectivos, de métodos
e de técnicas de trabalho. Neste contexto parece pertencer à revisão
de contas o caminho mais longo a percorrer dado ser uma disciplina
recente por comparação com as dezenas de anos em que se tem
desenvolvido a profissão de auditoria.

AUDITORIA FINANCEIRA E REVISÃO DE CONTAS

A auditoria e a revisão de contas são duas disciplinas diferentes


principalmente por três razões fundamentais:

Bases legais
Objectivos
Métodos de trabalho

Quanto à primeira das razões referidas a auditoria tem a sua


origem, principalmente, nos requisitos legais e na prática normal
a que os investidores estrangeiros estão sujeitos nos seus países,
enquanto que a revisão de contas tem a sua origem; na legislação
portuguesa sobre fiscalização das sociedades anónimas.
Os objectivos da auditoria são dar parecer técnico sobre a situa-
ção financeira, os resultados, e a origem e aplicação de fundos
evidenciados nas demonstrações financeiras. Os objectivos da revi-
são de contas são dar parecer sobre se as demonstrações financeiras

— 487
e o relatório da administração satisfazem as disposições legais e
estatutárias.
Os métodos de trabalho e as técnicas a utilizar pelos auditores
estão codificados com, grande pormenor por organizações profissionais
em diversos países, e são mandatórios. Ainda que se reconheça que
os revisores oficiais de contas aplicam técnicas de auditoria, essas
técnicas ou métodos não estão contudo definidos.
As bases legais não parecem oferecer matéria que tenha inte-
resse discuti.- no âmbito do presente trabalho. Quero, no entanto,
desenvolver um, pouco os dois outros pontos:

1. As disposições legais sobre cujo cumprimento os revisores de


contas são chamados a pronunciar-se encontram-se, principalmente,
no Código Comercial, n 0 diploma que cria a fiscalização das socie-
dades anónimas e no Plano Oficial de Contabilidade. De uma análise
destes três documentos pode concluir-se que:

a) O balanço deve ser exacto e completo, e

b) Na conta de resultados devem especificar-se determi-


nados custos e proveitos.

O requisito de exactidão é utópico porque ninguém desde o empre-


sário ou gestor até ao revisor pode afirmar que o balanço é exacto
(fazem-se, ou não, provisões para custos estimados e para perdas
previstas, reintegra-se ou amortiza-se o custo de imobilizações na
extensão em que se prevê vida útil estimada, ou na extensão que
permite o melhor aproveitamento fiscal — isto só para referir os
casos mais óbvios). Por outro lado, a especificação de custos e
proveitos não envolve qualquer critério de medição ou adequacidade
e, ainda,

2. Não se encontrando definidos entre nós métodos de trabalho


e técnicas de verificação, o revisor de contas estará perante dois
grandes problemas que são:

(i) Por um lado exigir-lhe a lei um parecer que ele, de facto,


tem dificuldade em dar;

(ii) Não dispor de um código de regras e de técnicas em que


se baseie para provar que terá, eventualmente, feito
todas as verificações, e tomado todas as medidas que
razoavelmente se espera que tome no desempenho das
suas funções.

488 —
CONCEITOS BÁSICOS DE AUDITORIA
A auditoria assenta nos seguintes conceitos básicos:
a) Independência
b) Adequada formação profissional
c) Adequado planeamento do trabalho
d) Execução cuidada
e) Adequada evidenciação do trabalho executado
f) Conclusões devidamente suportadas
g) Conclusões sobre razoável grau de exactidão

Vejamos com algum pormenor o significado de cada um destes


conceitos :

a) Independência
A independência pode ser definida como a capacidade do auditor
em actuar com integridade, honestidade e objectividade, e pressupõe
a inexistência de preconceitos para com o cliente. Contudo, indepen-
dência não implica que o auditor assuma perante o seu cliente uma
atitude policial mas, pelo contrário, implica uma atitude de impar-
cialidade tanto para com os responsáveis e detentores do capital da
empresa cliente, como para os seus credores, e outros que na mesma
tenham interesses perspectives.
Para ser independente o auditor deverá ser intelectualmente
honesto. Por outro lado, para ser reconhecido como independente
o auditor não deverá ter quaisquer compromissos para com, ou
interesses na empresa cliente, sua administração ou detentores do
capital.
A evidência da independência do auditor é reforçada quando este
é contratado por decisão da assembleia geral de accionistas.

b) Adequada formação profissional


O auditor deverá ter formação académica básica em- contabi-
lidade, análise financeira e auditoria, a qual é necessariamente
complementada por experiência profissional. Para além disso, a
formação do auditor pressupõe uma actualização profissional perma-
nente, formal, através da frequência de cursos sobre novas matérias,
tanto em contabilidade como em auditoria. Este aspecto é de tal
maneira importante nalguns países que se o auditor não cumprir o
requisito de actualização permanente mínima, em cada ano, poderá
ser impedido de exercer a profissão.

— 489
c) Adequado planeamento do trabalho

Para que o trabalho do auditor possa ser executado de uma forma


eficiente deve o mesmo ser planeado com a possível antecedência.
O plano de actuação deverá ser reduzido a escrito e conter os se-
guintes grandes capítulos:

(i) Objectivos do trabalho

(ii) Âmbito do trabalho

(iii) Relatórios a emitir

(iv) Datas de actuação

(v) Notas genéricas sobre as principais ocorrências ou pers-


pectivas de relevância económico-financeira na empresa

(vi) Linhas gerais das tarefas a realizar em cada uma das


principais áreas das contas, tendo em conta os condi-
cionalismos particulares da empresa sob exame.

Em resumo poderá afirmar-se que o documento acima referido


fornece os elementos suficientes para se saber os «quê», «quando»,
«onde», «como» e «porquê» relacionados com o trabalho a desen-
volver.

d) Execução cuidada

Por execução cuidada entende-se a adopção criteriosa de todos


os procedimentos de auditoria aplicáveis.
Adstrito a este conceito está, pois, a noção de responsabilidade
que deve imperar a cada passo do trabalho desenvolvido pelo auditor
e que se estende também ao trabalho dos seus colaboradores, quando
ele é feito por uma equipa.

e) Adequada evidenciação do trabalho executado

f) Conclusões devidamente suportadas

Todas as tarefas desenvolvidas pelo auditor deverão estar devi-


damente evidenciadas, quer através dos programas detalhados das
verificações efectuadas, como também pela documentação que con-
firme a execução desse mesmo trabalho. São estas as bases que
permitirão ao auditor obter e suportar as suas conclusões.

490 -
g) Conclusões sobre razoável grau de exactidão
Conforme já foi anteriormente desenvolvido, o auditor não tem
possibilidades de concluir se as demonstrações financeiras que exa-
mina são exactas. Com efeito, a exactidão será sempre e forçosa-
mente relativa; por um lado, em virtude da subjectividade inerente
às estimativas de vida útil do imobilizado, e das perdas previstas
com a realização de créditos de cobrança duvidosa e de existências,
isto, para citar só os casos mais óbvios. Por outro lado, em virtude
da inevitável existência de maiores ou menores erros de identificação,
classificação e registo das operações.

TÉCNICAS DE AUDITORIA
As técnicas de auditoria têm sofrido uma evolução considerável
nos últimos anos, com alterações profundas como é o caso das veri-
ficações documentais. Com efeito, estas passaram de extensas e
morosas, com alheamento quanto a rotinas e controles, para uma
grande incidência no levantamento e análise das referidas rotinas e
controles e para uma muito menor extensão de manuseamento, con-
sulta e conferência documental.
As técnicas de auditoria assentam nas seguintes bases:
a) Estudo do mercado em que a actividade se desenvolve
b) Estudo da estrutura orgânica da empresa
c) Levantamento e avaliação dos procedimentos contabilís-
ticos, rotinas documentais e controles existentes
d) Confirmação documental dos procedimentos, rotinas e con-
troles
e) Amostragens limitadas em função dos controles existentes
f) Testes globais
g) Confirmações de existências físicas e de saldos de ter-
ceiros.
Cada uma destas bases pode ser sumariamente analisada da
seguinte forma:
a) Estudo do mercado em que a actividade se desenvolve

O auditor deverá conhecer todos os condicionalismos relaciona-


dos com o mercado em que a empresa desenvolve a sua actividade,

— 491
incluindo aspectos de concorrência quer a nível nacional quer interna-
cional, e respectivas cotações, tendências desse mesmo mercado, etc.
Este é um dos elementos que permitirá ao auditor avaliar da
viabilidade económica da empresa, factor importante a considerar
na emissão do parecer.

b) Estudo da estrutura orgânica da empresa


Através da consulta e análise do organigrama da empresa, o
auditor estará em posição de obter uma visão de conjunto da em-
presa no seu todo, isto é, departamentos e filiais existentes, graus de
responsabilidade e respectiva adequacidade.

c) Levantamento e avaliação dos procedimentos contabilísticos,


rotinas documentais e controles existentes
d) Confirmação documental das rotinas e controles
e) Amostragens limitadas em função dos controles existentes

Será com base nestas técnicas de auditoria que o auditor estará


em condições de avaliar a maior ou menor confiança que poderá ter
nos documentos e registos contabilísticos da empresa. Ò levanta-
mento dos procedimentos contabilísticos, rotinas documentais e con-
troles existentes é efectuado através de consulta aos responsáveis das
diversas áreas em análise e pela apreciação das normas ou manuais
de procedimentos eventualmente existentes.
Contudo, as informações assim obtidas não permitem concluir
definitivamente sobre os procedimentos e controles existentes.
O auditor procede, pois, à verificação documental de transacções
por ele seleccionadas, em base de amostragem, a fim de confirmar
se os procedimentos e controles, tal como lhe foram descritos, estão
de facto a ser aplicados na prática. Esta verificação documental
terá maior ou menor profundidade consoante a qualidade do controle
interno existente.

f) Testes globais
Sempre que praticável, o auditor efectua verificações globais que
lhe permitam avaliar da razoabilidade dos valores relevados pela
contabilidade. Como exemplo de um teste global típico poderei re-
ferir, o cálculo do motante aproximado de vendas aplicando às quan-
tidades vendidas, apuradas a partir do trabalho desenvolvido na área
de inventários, os respectivos preços de venda.

492 —
g) Confirmações de existências físicas e de saldos de terceiros
A fim de poder confirmar a existência física de stocks o auditor
deverá presenciar a respectiva inventariação, assegurando-se de que
foram tomadas as medidas necessárias a uma correcta contagem ou
medição. Pelo mesmo motivo o auditor efectua contagens dos fundos
monetários e dos títulos de crédito existentes na empresa. Estes são
alguns dos casos típicos de confirmações de existências físicas a que
o auditor procede.
A confirmação de saldos ou valores em; poder de terceiros é outra
das técnicas seguidas pelo auditor. Esta técnica aplica-se principal-
mente a contas bancárias, a saldos de clientes, de devedores e cre-
dores, de fornecedores e de pessoal.

A INTEGRAÇÃO DE PORTUGAL NA CEE


A próxima entrada de Portugal para a Comunidade Económica
Europeia terá um impacto considerável no exercício da profissão de
revisor oficial de contas, em especial por obrigar à adopção de deter-
minadas técnicas e à observação de condicionalismos de acesso e
permanência, e vir a ficar mais alargado o âmbito das sociedades
comerciais sujeitas a auditoria e consequentemente, aumentar o nú-
mero de pessoas que vão exercer a profissão.
O requisito da auditoria está referido na Quarta Directiva apro-
vada pelo Conselho de Ministros da CEE em 27 de Junho de 1978
que também define as sociedades comerciais que ficam abrangidas
ou seja, aquelas que excedam; dois dos seguintes parâmetros:
a) Total do balanço que exceda 1 milhão de unidades de
Conta Europeia ( + 6 0 000 contos).
b) Vendas superiores a 2 milhões de unidades de Conta
( + 120 000 contos).
c) Mais de 50 empregados.

As sociedades comerciais que não excedam quaisquer dos dois


factores acima referidos, ainda que em princípio também estejam
sujeitas a exame, podem ser dispensadas dessa obrigação pelos res-
pectivos Estados membros.
A regulamentação das pessoas com qualificações profissionais
para exercer auditoria será objecto da Oitava Directiva de que já
existe um projecto publicado em Abril deste ano.
O referido projecto refere-se principalmente a aspectos relacio-
nados com a formação académica, formação e actualização profis-
sional, exames a realizar e independência.

— 493
Os candidatos a auditores poderão ser revisores e, em qualquer
dos casos, deverão ter nível universitário e um curso adequado com
exame da sua competência profissional. O exame deverá ter lugar
após 3 anos de experiência com. um, profissional autorizado. Prevê-se,
no entanto, que parte da experiência possa ser adquirida depois de
efectuado o exame.
Estão previstas também condições para autorizar pessoas com
nível educacional inferior, desde que se sujeitem ao exame profis-
sional, ou pessoas que não preencham todas as condições previstas
mas que exerçam a função à data de entrada em vigor da Directiva.
No primeiro caso serão necessários 15 anos de experiência ou 7 anos
de experiência acompanhados de treino devidamente supervisionado.
No caso de pessoas que estão já autorizadas a examinar contas
estatutárias com, base em: legislação existente, os Estados membros
poderão reconhecer o seu direito a continuar no exercício da pro-
fissão.
Um elemento novo que a Oitava Directiva traz em matéria de
independência é o auditor não poder auditar uma empresa se dela
receber honorários que ultrapassem 10 % do seu rendimento pro-
fissional total, a menos que prove que essa situação não limita a
sua independência.

CONCLUSÃO

Se considerarmos o interesse que tem sido demonstrado a nível


governamental para que Portugal se torne rapidamente um membro
efectivo da Comunidade Económica Europeia e sabendo que a Quarta
Directiva terá já efeitos sobre as contas cujo fecho se verifique
durante o ano de 1982, pelo que as contas das sociedades comerciais
dos Estados membros terão nesse ano de ser objecto de exame por
auditores devidamente autorizados, parece ser urgente que os profis-
sionais do nosso País iniciem desde já um processo que estude e
venha a facilitar a introdução em, Portugal das necessárias adaptações
para cumprimento da legislação que num futuro próximo teremos
obrigatoriedade de seguir. Por outro lado, e independentemente da
nossa entrada na CEE é imperioso e urgente que se definam os con-
ceitos básicos, os procedimentos e as técnicas de revisão de contas,
os quais poderão ser baseados no que já existe desde há muitos anos
noutros países, com as adaptações consideradas necessárias às reali-
dades existentes no nosso País.
Deveria pois ser criada uma comissão composta por elementos
representativos do Ministério das Finanças, da Universidade, da Câ-
mara dos Revisores Oficiais de Contas e dos profissionais de audi-
toria, com a finalidade de elaborar um projecto a discutir a nível
nacional.

494 —
A definição e aceitação dos conceitos básicos, procedimentos e
técnicas de revisão de contas e, simultaneamente, a definição e regu-
lamentação pormenorizada dos princípios e critérios contabilísticos
a aplicar pelas empresas são medidas necessárias, e que se torna
urgente tomar, para se preencher um vazio com o qual não deveremos
contemporizar.

— 495
Os Aspectos Superiores da Auditoria
no Sector Público
Por A. Lopes de Sá

0 conceito de Auditoria tem sofrido, por parte de alguns trata-


distas e mesmo de técnicos, deformações que não condizem com os
reais objectivos desta especialidade.
Considerar que todo o um complexo desta ordem seja destinado
à «colecta de fraudes», não nos parece justo.
É óbvio que em tal função o Contador é um parecerista, um
homem de julgamentos, mas, parece-nos, salvo melhor juízo, mais
que isto, um elemento de cúpula, capaz de emitir orientações de
alto nível.
0 auditor «interno», notadamente, tem funções bem maiores que
aquelas de «opinar» secamente sobre um estado de coisas.
Entendemos que a auditoria de «acompanhamento», exercida com
largos universos e dentro da «dinâmica» dos factos, seja, na reali-
dade, aquela que convém às administrações.
Os sistemas estruturados visando a estabelecer «ordens de julga-
mentos» sobre os fenómenos e as posições do património são aqueles
que realmente alcançam os verdadeiros objectivos da administração.
Muito além das simples «aparências», do desejo de dizer que
o balanço espelha uma adequada realidade, estão as interpretações
que ensejam as directrizes sobre as decisões e facilitam as práticas
orçamentárias.
No campo público mais que «executar» pesquisando detalhes de
erros, situa-se o dever de «orientar», extraindo dados capazes de
indicarem pontos que merecem a atenção do administrador.
Afirmar que uma posição está certa é um acto «estático», uma
função «policial» em nível contábil.
Não negamos que tal evento tenha o seu efeito, mas, reconhe-
cemos que ela não tem o grau de utilidade que exercem as capaci-
dades de «orientar» e «ensejar» medidas em benefício das «futuras
acções».
A sanidade dos balanços representa um estágio, mas, não esgota
o trabalho do auditor com a «certidão» daquele.

52
- 497
São famosas as cartas de Plínio, o Jovem, a Trajano, na
«inspecção» dos domínios romanos.
Merecem nossa citação porque dois são os grandes vultos da
História que elas envolvem.
Plínio, em suas visitas, não se preocupava em «crucificar» os
governadores das Províncias, nem os empreiteiros das obras públicas.
Ele desejava, antes de tudo, que se praticasse a virtude pela
orientação, não pela repressão.
Há um episódio digno de nota nos episódios das «auditagens»
de Plínio.
Em, certa região um empreiteiro, denominado Dione, executava
uma obra pública.
Questionara o Senado que a obra se realizara fora do projecto
e que deveria ser exigida a prestação de contas da mesma antes
da entrega.
Como isto fugia à norma o empreiteiro requereu tempo a Plínio
pedindo que em vez de apresentar os dados contábeis em Prusa
o fizesse em Nicea.
Eumolpo, com fins políticos procurava criar problemas nas pres-
tações de contas, dizendo que as provas apresentadas não eram
suficientes.
A esta altura Plínio escreveu a Trajano pedindo que opinasse,
pois, as revisões sofriam, no caso, problemas.
O Imperador, a esta altura, responde com toda a sabedoria que
lhe era peculiar e que o notabilizou perante a História.
Concedeu novos prazos, deu plena liberdade de orientação a
Plínio e acrescentou: «Tu sabes perfeitamente que não é com o medo,
nem com o terror, ou com acusações vãs de lesa majestade que eu
me propuz a obter o respeito pelo meu nome», (...nom ex metu nee
terrore hominum aut criminibus maiestatis reventiam nomini meo
adquiri).
Imprimindo sua filosofia de «rever contas» de forma «isenta de
ânimos», visando ao interesse do povo, mas, respeitando, inclusive
a quem as prestava, o Imperador António ditava, há cerca, de
2.000 anos, todo um sistema que, segundo entendemos, deve pre-
valecer.
Não é pela «desconfiança», nem pelos «excessos» de rigores que
se conseguem os trabalhos correctos em auditoria.
O que se busca na tarefa revisora não é a «incriminação», mas,
o conhecimento dos «caminhos certos» perante as finalidades.
O métodoí de trabalho pode incluir a pesquisa da fraude, como
circunstância, jamais como «finalidade».
O auditor, pela sua condição cultural e a auditoria, pela sua
estrutura técnica, poderão oferecer um desempenho muito superior
àquele limitado à «investigação» de «irregularidades».

498 -
Entendemos que aquele profissional liberal que é incumbido de
examinar a adequação, para fins de crédito do balanço perante
investidores e financiadores, deva, realmente, oferecer meios, em
seu certificado, de garantir os que «buscam garantias», mas, aquele
que desempenha para fins de «controles internos» a inspecção deve
estar acima disto.
O auditor dito' «independente» (embora acreditamos que poucos
destes se encontrem verdadeiramente) deve ser um «certificador»
de posições, mas, aquele de «controles administrativos» precisa, antes
de tudo, situar-se como um «conselheiro», um «orientador» que vise
a «ampliar» as eficiências administrativas.
No serviço público, notadamente nas empresas qUe se acham
sob a administração estatal, o profissional precisa ampliar muito
os limites de sua acção.
No mercado de capitais as coisas se processam diferentemente,
pois, acreditamos ser dever do auditor alertar o público contra as
violações praticadas contra a lei pelas empresas, tão como pelas
lesões ao direito dos accionistas; se o auditor não alerta o investidor
contra os riscos do seu dinheiro perde, no caso, sua função «pública»
e, segundo admito, torna-se «conivente» com os eventos. Alegar
que o auditor não é um «advogado», nem ura «investigador», para
encobrir conivências é atentar contra a razão, contra a Nação, contra
a propriedade alheia e lesar a milhares de pessoas que acreditaram
no certificado que enunciava a «adequação» da posição da empresa.
Dizer que o auditor «não entende de leis» e por isto não pode
detectar fraudes contra o fisco ou contra terceiros é tão primitivo
e de má fé como dizer-se que um engenheiro pode construir em
qualquer terreno vazio porque desconhece a lei que protege a pro-
priedade.
A dita «auditoria independente» deve «assumir» o papel revisor,
pois, como acto de «protecção» ou, se assim não fizer, cairá no
descrédito e na desmoralização pública, como ocorreu recentemente
em algumas Nações.
O auditor interno, aquele de apoio às administrações públicas,
entretanto, está acima, da simples «verificação».
Acreditamos que a auditoria, no sector, deva caminhar para
elevados níveis de verdadeiro assessoramento, deixando as «adequa-
ções» das posições» como elementos apenas auxiliares e complemen-
tares da sua tarefa, sem excluí-la, é óbvio, mas, sem super-estimá-la.
Não será prendendo-se a pequenos detalhes de cifras que se
prestará ajuda ao sistema, mas, buscando formas de ampliar con-
troles, de dilatar provisões, de auxiliar decisões administrativas.
Orientar, educando para a execução correcta, colectar elementos
para decisões mais efectivas, sugerir caminhos para a eficiência,
são os verdadeiros aspectos da auditoria no exame das situações
e contas públicas.

— 499
A Qualificação do Auditor: Alguns aspectos
Por Hamilton Parma

I - CONSIDERAÇÕES GERAIS
0 AUDITOR:
Auditar tem origem no verbo latino «audio, audis, audire, audivi,
auditum», o qual tem os seguintes significados:
a. ouvir, estar com os ouvidos atentos a, escutar;
b. entender, compreender;
c. ouvir dizer, ter conhecimento de, saber, ser informado;
d. escutar, obedecer, acreditar;
e. ouvir ou escutar as súplicas de;
f. ser discípulo de, ouvir as lições de, ouvir uma causa,
julgar uma causa;
g. ser bem ou mal apreciado por alguém, reputação; e
h. ser chamado, nomeado.

Há veementes indícios de que o verbo «to audit» seja originário


daquele latino, mas raízes históricas ainda não pesquisadas impedem
a afirmativa. Diz o Prof. A. Lopes de Sá:

«...Admitem alguns historiadores que seria durante o governo


de Eduardo I, na Inglaterra, que se empregaria a expressão. Nada
pode dar foros de crédito a uma afirmativa, em sentido absoluto,
— mas admite-se que a incorporação do termo latino ao idioma inglês,
para designar as funções de verificação contábil, tenha tido inspi-
rações também no regime latino.»
Os usos e costumes fizeram com que se abandonasse o qualifi-
cativo «contábil» do «auditor contábil»; o especialista intitula-se,
portanto, «auditor».

— 501
Consideramos depreciativo e pejorativo dizer-se «auditor inde-
pendente», «auditor interno», «auditor externo» e «auditor público».
Melhor nomeá-los simplesmente «auditores». A qualificação pela lei
de regência é totalmente desnecessária, pois o conteúdo técnico é o
mesmo para o profissional em quaisquer dessas três áreas. Não se
diz — «médico interno», para o qualificar o médico empregado, não
se diz «médico independente ou externo» para o autónomo, ou «mé-
dico público» para médico servidor público.
A intitulação profissional deve apresentar analogia, igualdade ou
semelhança com a das outras profissões de nível superior.
A diversificação dos significados, a mudança dos vários enfoques
conceituais, bem demonstram o enciclopedismo da técnica nor nós
manipulada, das múltiplas facetas que há dentro do nosso campo
profissional, obrigando-nos a satisfazer pré-requisitos que estão si-
tuados em elevados níveis, difíceis de serem atingidos, os quais, para
serem alcançados, exigem hercúleos esforços e sacrifícios.
A auditoria não é uma ciência; é uma técnica, e como tal, a
aplicação de conhecimentos auferidos nos vários campos científicos,
tanto das chamadas ciências exactas como sociais. É uma sofisti-
cada especialização da profissão do contador, com fortes e actuais
tendências para ser ministrada, em, grau de iniciação, a nível de
pós-graduação, como extensão universitária.

CLASSIFICAÇÃO DA AUDITORIA:

A auditoria apresenta três divisões quando estudada em relação


à legislação de regência. Na regência do direito privado temos a
auditoria interna e a externa; na de direito público, a auditoria de
governo, também chamada estatal ou governamental.
Auditoria interna é aquela praticada por empregados da própria
empresa auditada. A sua subordinação à empresa é regulada pelo
direito social, a legislação trabalhista.
Auditoria externa é aquela praticada em carácter liberal, autó-
nomo, sem vinculação empregatícia à empresa auditada. Rege-a o
direito civil e comercial.
A auditoria de governo é aquela praticada pelos servidores
públicos especializados.
Há uma controvertida classificação, a auditoria semi-interna, ou
semi-externa, caracterizada pelo exercício da função por empregados
de uma empresa controladora (holding) em uma empresa subsidiária
ou afiliada.
A auditoria governamental desdobra-se em vários itens, depen-
dendo da sua vinculação a este ou àquele Ministério, a esta ou
àquela autarquia, a este ou àquele órgão.

502 -
O pleno exercício das funções da auditoria, seja de que tipo for,
está preso ao processo de dependência da autoridade a que está
subordinada, ou à linha hierárquica, em seus vários níveis.
No caso da auditoria interna, os seus objectivos serão facilmente
atingidos se ela estiver subordinada ao presidente da empresa. Ha-
vendo níveis de subordinação, o processo estará irremediavelmente
comprometido, com sacrifícios da independência e liberdade de acção,
duas condições básicas ao desempenho daquelas funções.
Na auditoria externa, por definição e natureza, os objectivos são
também atingidos pela inexistência de subordinação à empresa au-
ditada.
Na auditoria governamental os serviços de auditoria devem ficar
subordinados à autoridade que ocupa o mais elevado grau na hierar-
quia existente.
Pelo que vimos, auditoria é género; auditoria interna, externa
ou governamental são espécies; e auditoria fiscal, providenciaria ou
de cooperativas são sub-espécies.

COMPETÊNCIA LEGAL:

A abordagem do património a ser examinado se faz pela disse-


cação dos elementos dele integrantes — as contas, reflexos dos agru-
pamentos de factos administrativos de idêntica repercussão e da
mesma natureza — e as suas conexões com os aspectos externos e
internos da empresa.
A magna Carta privilegia certas actividades, as quais são expli-
citadas na lei de regência profissional. A nossa é uma delas.
A auditoria somente pode ser praticada pelos contadores. A alínea
«C», do art. 25, do Decreto-lei n.° 9 295, de 27 de Maio de 1946,
discrimina as tarefas que somente podem ser executadas por Con-
tador registrado nos Conselhos Regionais de Contabilidade. São
Contadores os graduados nos cursos de nível superior de Ciências
Contábeis, ministrados por Faculdades oficiais ou reconhecidas, e os
provisionados na forma da lei.
No uso das suas atribuições, o Conselho Federal de Contabilidade
(CFC) baixou a Resolução n.° 107, de 13 de Dezembro de 1958,
regulamentando o citado art. 25, daquele Decreto-lei. Em seu art. 6.°,
resguardando as tarefas simultâneas do Técnico em Contabilidade
e do Contador (Contabilista é nome genérico, que engloba essas
duas categorias profissionais, uma de nível médio, outra de nível
superior), dispôs aquela Resolução:
«Art. 6.° São atribuições de contadores diplomados — inclusive
dos Bacharéis em Ciências Contábeis e, como tais inscritos como
Contadores — e dos contadores amparados pelas disposições do

- 503
art. 2.° do Decreto-lei n.° 21033, de 8-2-32, além das referidas no
parágrafo único do art. 5.°:

1. exames de escrita, em qualquer campo de actividade


profissional, inclusive perícias extrajudiciais e tidas
como inspecções normais em qualquer tipo de contabili-
dade, mesmo quando forem efectuadas por órgãos da
Administração Pública ;
2. peritagem simples;
3. exames de escrita em autarquias e entidades para-esta-
tais e extrajudiciais.
4. exames extrajudiciais de qualquer natureza, quando se
destinarem à apuração de haveres e de qualquer situação
da entidade atingida;
5. determinação da capacidade económico-financeira das
empresas, nos conflitos trabalhistas e de tarifas;
6. assistência aos Comissários nas concordatas e aos Síndi-
cos, nas falências;
7. assistência aos liquidantes de qualquer massa ou acervo;
8. verificação de haveres para levantamento do Fundo de
Comércio;
9. exames e perícia para constituição, transformação e
liquidação de sociedades comerciais de qualquer natu-
reza;
10. auditoria pública do Estado, nela compreendida a feita
para ou nos Tribunais de Contas, Federal, Estaduais e
Municipais ;
11. assistência aos Conselhos Fiscais das Sociedades por
Acções ;
12. auditoria de balanços, de contabilidade, de peças contá-
beis e auditoria analítica, compreendendo-se como tais
serviços, exame sitemático dos registros patrimoniais
das empresas e entidades, através de pesquisas, interpre-
tações, orientação e pareceres, como também investiga-
ções de carácter financeiro e contábil;
13. elaboração de certificados de exactidão de balanços de
contabilidade e peças contábeis, em forma de auditoria,
inclusive cessão, fusão, incorporação e desincorporação
de empresas;
14. Perícias judiciais de qualquer natureza, que envolvam
matéria contábil;
15. regulações e liquidações judiciais e extrajudiciais de
avarias grossas ou comuns;
16. verificação de haveres;
17. quaisquer outros exames, apurações, investigações e
perícias judiciais;

504 —
18. pareceres, laudos e estudos em matéria fiscal e que
envolvam problemas de contabilidade e fiscais;
19. estudos sobre sistemas de contabilidade de qualquer
natureza;
20. estudos sobre formas e planos de financiamento».
Há, junto aos Conselhos Regionais de Contabilidade, um cadastro
especial para auditor. As sociedades integrantes do Sistema Finan-
ceiro e as de capital aberto somente podem ser auditadas por
elementos inscritos em cadastro específico existente na Comissão de
Valores Mobiliários (CVM); inúmeras são as exigências a serem
cumpridas para a obtenção desse registro.
Na forma da legislação vigente, somente os contadores regis-
trados nos CRC (s) podem exercer e praticar a auditoria. São conta-
dores os Bacharéis em Ciências Contábeis ou aqueles provisionados
na forma de dispositivos legais de adaptação integrantes do Decreto-
-lei n.° 9 295, de 27-5-46. Alguns órgãos públicos exigem cadastra-
mento específico, tais como a IGF, BNH, CVM, e muitos outros.
Há uma tendência actual no sentido de ser solicitado ao Governo
Federal a unificação desses cadastros, pois a sua diversificação já
está começando a ser um estorvo e um empecilho legal à prerro-
gativa do exercício profissional.
A Resolução n.° 321, de 14 de Abril de 1972, do Conselho Federal
de Contabilidade, estatui, no Capítulo I — Conceituação e Síntese das
Normas, item 2, referente a Normas Relativas à Pessoa do Auditor:

«...
a) A auditoria deve ser executada por pessoa legalmente
habilitada perante o Conselho Regional de Conta-
bilidade».
Já a Res. CFC 317, de 14 de Janeiro de 1972, estabelece:
«Art. 1.° Para fins de credenciamento junto a entidades públi-
cas ou privadas, poderá inscrever-se como auditor independente:
I — o contador ou seu equiparado legal;
II — o escritório de contabilidade, organizado na forma do
disposto nos artigos 1.°, incisos II e III, e 21 da Reso-
lução CFC n.° 302/71.
Parágrafo único. Para fins desta Resolução,
considera-se auditor independente o contador que,
individualmente ou como integrante de escritório de
contabilidade, realiza tarefas típicas de auditoria,
sem vínculo de emprego ou qualquer relação de
dependência para com a entidade auditada».

— 505
O CAMPO DE TRABALHO PROFISSIONAL:

O campo de trabalho do auditor é o património empresarial e


ou o património público, tomados na sua acepção ampla. Inicial-
mente restrito às verificações e inspecções — a fase opinativa e ou
repressiva — evoluiu para as fases preventivas, interpretativas e de
orientação, onde se inclui a normativa e metodológica.

Do Prof. A. Lopes Sá são as seguintes palavras:

^ «... O exame dos controles internos, a análise dos balanços, a


análise dos recursos humanos, o estudo dos componentes patrimo-
niais além da dimensão do valor, a análise científica das probabi-
lidades e tendências do património, tudo isto inclui no campo de
exame.
«A descoberta da «fraude» que foi a básica função e o campo
essencial, por longo período, até às primeiras décadas deste século,
foi cedendo lugar a utilidades de maior significado.
«Assumiu, a seguir, importância maior, o carácter preventivo
e o exame dos controles internos passou a ter destaque especial.
«Embora conservando o campo do exame do erro e da fraude,
aquele das verificações dos controles passou a ter sua fase subs-
tancial a partir de 1940.
«Admitimos que, na actualidade, embora os campos básicos
estejam preservados, a importância deles cedeu lugar a outros
ângulos, de grande alcance.
«A busca das «verdades patrimoniais» começou a dar relevância
a ângulos não anteriormente considerados.
«Isto fez com que a auditoria tomasse por objecto de trabalhos
para fixar-se nos seus campos:
a) o controle interno;
b) a adequação de saldos demonstrados;
c) a análise das situações demonstradas;
d) a interpretação das situações;
e) as orientações e pareceres sobre os factos eviden-
ciados em relação ao fim proposto; e
f) a metodologia e normalização para ensejar o cumpri-
mento da acção verificadora».

As funções básicas da auditoria repousam em três campos dis-


tintos de actução mas interligados. São eles:
a) o assessoramento técnico;
b) a função revisora; e
c) a função pericial.

506 -
O assessoramento técnico é a mais alta sofisticação profissional.
Neste sector o auditor aplica os seus vastos conhecimentos colocando
nas mãos do empresário, do administrador público ou autoridade
governamental as opções encontradas para uma tomada de decisão
ou a conclusão de um estudo onde a sua opinião é fundamentada.
Nunca é demais cansativo repetir que não cabe ao auditor decidir,
mas sim opinar, quando actua nesse campo. A responsabilidade da
decisão é do administrador.
Em uma sequência normal de um desenvolvimento profissional,
via de regra, esta função é desempenhada em um segmento final
de carreira, posto exigir um longo amadurecimento e experiência
vivida; normalmente é a última etapa da profissão do auditor.
A função revisora apoia-se fundamentalmente no estudo da legi-
timidade do facto administrativo, da autenticidade documental e da
correcção contábil. Em se tratando de órgão que gravita em torno
do Poder Público, ou a ele próprio, outros três aspectos são também
analisados: a legalidade, a normalidade e a essencialidade dos
custos ou despesas.
A função pericial fundamenta-se na demonstração de factos, na
sua extracção e separação na sucessão temporal, com o objectivo
de colocá-los à disposição de pessoas leigas, interessadas no seu
conhecimento, face a possíveis discussões que surjam sobre os
mesmos, ou para servir como elemento probante.

COMPETÊNCIA FUNCIONAL:
Diz a Res. CFC 321/72:
«...
b) o auditor deve ser independente em todos os assuntos
relativos a seu trabalho;
c) o auditor deve aplicar o máximo de cuidado e zelo
na realização do exame e na exposição de suas
conclusões».
No inciso II, das «Normas Relativas à Pessoa do Auditor»,
tópico referente ao «Treinamento e Competência Técnico-Profis-
sional» estabelece aquela Res. CFC 321/72:
«1. A auditoria deverá ser exercida por profissional legal-
mente habilitado, registrado no CRC na categoria de
«Contador», nos termos do Decreto-lei n.° 9 295, de 25 de
Maio de 1946 e cadastrado nos termos da Resolução
CFC n.° 317/72, de 14 de Janeiro de 1972, e que tenha
conhecida experiência adquirida e mantida pelo treina-
mento técnico na função de auditor.

- 507
«2. A educação formal e a experiência profissional do
auditor se complementam. Assim, ao exercer a super-
visão sobre seus subordinados, o auditor deverá apreciar
conjuntamente esses atributos, a fim de determinar a
extensão dessa supervisão e a profundidade da revisão
de seus trabalhos. Entende-se por experiência profis-
sional o conhecimento actualizado das normas e proce-
dimentos de auditoria, dos princípios contábeis, das
modernas técnicas empresariais e dos processos evolu-
tivos ocorridos em sua profissão.

«3. O auditor deve expressar a sua opinião baseado nos


elementos objectivos do exame realizado: não pode se
deixar influenciar por factores estranhos à sua ponde-
rada interpretação dos elementos examinados, por pre-
conceitos ou quaisquer outros factores materiais ou
afectivos que pressuponham perda de sua independência».

II-FORMAÇÃO E CONHECIMENTOS BÁSICOS


DO AUDITOR

ASPECTOS CULTURAIS - GERAL E TÉCNICO:

O exercício das funções de auditoria exige um longo amadure-


cimento profissional, uma vivência real dos problemas, uma inte-
gração perfeita entre as condições de trabalho e das condições
técnicas apresentadas, cultura geral, acentuada cultura técnica,
discernimento em alta escala, bom senso e alta criatividade.
Esse exercício reflecte, na quase totalidade das vezes, um
coroamento da profissão do contador.
Vimos no tópico anterior que a norma técnica consagra, afora
a habilitação legal, para a qual se exige a escolaridade própria de
nível superior, dois factores, conjugando-os em. carácter permanente:
experiência profissional e treinamento técnico específico. Diz essa
norma que experiência profissional é o conhecimento actualizado:

a) das normas e procedimentos de auditoria;


b) dos princípios contábeis;
c) das modernas técnicas empresariais; e
d) dos processos evolutivos ocorridos em sua profissão.

O nosso campo profissional exige conhecimentos enciclopédicos.


O marco inicial já começa na graduação, no bacharelado em Ciên-

508 —
cias Contábeis; avança nos cursos de especialização, nos de exten-
são universitária, nos de actualização e reciclagem, e nunca mais
termina o processo de aperfeiçoamento. Só a morte e o abandono
da profissão registram o parâmetro final. O auditor é um profis-
sional que não pode largar os livros: leitura mínima diária de duas
horas de literatura técnica, sem se falar na de cultura geral, e do
noticiário de cada dia. O auditor tem que estar por dentro dos
acontecimentos, tem necessidade de saber da evolução dos negócios,
do comportamento da economia, enfim, não pode alhear-se. Não
basta ficar olhando os acontecimentos, mas deve neles engajar-se,
neles se integrar.
A composição dos princípios científicos, originários de vários
ramos do conhecimento humano, que apropriamos para a consecução
dos trabalhos técnicos por nós desenvolvidos, influencia na escolha
do tipo do profissional adequado. A auditoria não é uma ciência,
mas uma técnica de aplicação de conhecimentos científicos. Em um
universo de pessoas, poucas estão aptas a desenvolver actividades
de auditagem. Qualidades exigidas pelo próprio campo profissional
são raramente encontradas em elevado quantitativo de pessoas.
Essas qualidades podem ser desenvolvidas ao longo de um segmento
de prática profissional. Como são de naturezas diversas, essas
qualidades apresentam coeficientes de desenvolvimento desnive-
lados.
Sejamos claros: a auditoria, mais do que qualquer outra profis-
são de nível superior, exige mais: maior soma de conhecimentos,
elevado grau cultural, idoneidade inatacável, carácter, fiel cumpri-
mento e vivência das normas éticas.

Diz o Prof. A. Lopes Sá, em seu «Curso de Auditoria», 5.a edição,


1.° vol., pág. 52/53:
«...
Para o desempenho de suas tarefas o auditor precisa ter conhe-
cimentos técnicos e gerais da mais variada natureza como:
1. Contabilidade Geral;
2. Contabilidade Aplicada em todos os diversos ramos
(industrial, mercantil, bancária, de seguros, pública,
agrícola, pastoril, de transportes, imobiliária, de pres-
tação de serviços, etc.);
3. Auditoria Geral;
4. Auditoria Aplicada, em todos os diversos ramos (indus-
trial, mercantil, bancária, de seguros, pública, agrícola,
pastoril, de transportes, imobiliária, de prestação de
serviços, etc.);
5. Contabilidade de Custos de Produção;

— 509
6. Análise de Balanços;
7. Organização Geral;
8. Organização Aplicada;
9. Administração Geral;
10. Administração Aplicada;
11. Finanças;
12. Direito Administrativo;
13. Direito Constitucional;
14. Direito Civil;
15. Direito Comercial;
16. Direito do Trabalho;
17. Direito Fiscal e a legislação especializada de.
a. I. P.I.;
b. I. Renda;
c. I. S. O. F . ;
d. ICM;
e. ISS;
/. Assuntos aduaneiros;
g. Imposto s/ Minerais;
h. INPS;
i. Seguros, etc.
18. Técnica Comercial;
19. Técnica Industrial;
20. Técnica Bancária;
21. Técnicas diversas;
22. Merceologia;
23. Mecanografia ;
24. Economia ;
25. Sociologia;
26. Psicologia Aplicada e Turística;
27. Matemática Financeira (noções);
28. Moral e Ética;
29. Relações Humanas;
30. Noções de diversos outros ramos do saber humano como:
História Aplicada (à Contabilidade, à Economia, ao
Comércio, à Indústria, etc.), Filosofia, etc.;
31. Computação Electrónica;
32. Pesquisa Operacional, etc.;

Além destas capacidades de cultura, precisa o auditor reunir


outras, como:
1. Capacidade técnico-profissional;
2. Capacidade moral;

510 —
3. Capacidade física;
4. Capacidade financeira;
5. Capacidade acessórias, como:
a. Nome profissional;
b. Posição Social;
c. Tradição profissional;
d. Capacidade intelectual;
e. Habilidade nas relações;

6. Capacidade legal (para o exercício da profissão)».

Na opinião do Prof. Hilário Franco, afora o cumprimento das


exigências de ordem legal e regulamentar, o auditor precisa preen-
cher as seguintes condições:
1. morais e éticas:
personalidade, integridade, idoneidade, responsabili-
dade, carácter ilibado, padrão moral elevado, vida
privada irrepreensível, justiça e imparcialidade.
2. culturais:
língua pátria (para estudo e redacção de relatórios),
uma língua de uso universal (para leitura de livros,
revistas e publicações técnicas estrangeiras), mate-
mática financeira, legislação comercial, legislação
fiscal, organização e administração de empresas, eco-
nomia e finanças empresariais, economia e técnica
bancária, técnica e política comercial, relações huma-
nas e públicas, sociologia e psicologia.
3. técnicas:
normas e procedimentos de auditoria, princípios e
normas técnico-contábeis (preceitos fundamentais da
ciência contábil, preceitos secundários — convenções
contábeis — normas disciplinadoras de escrituração,
normas disciplinadoras de elaboração de balanços e
demais demonstrações contábeis), análise e interpre-
tação de balanços, sistemas contábeis, planificação
e organização contábeis.

4. intelectuais :
inteligência e agilidade mental, bom senso e critério
de julgamento, opinião própria e força de vontade,

— 511
atitude mental de independência, motivação e sede
de saber, capacidade de análise, observação e pes-
quisa, inquietação perante problemas técnicos e cul-
turais, atitude auditorial (mente aberta e curiosa).
5. de independência.

6. de integração profissional:

vivência na profissão, dignidade profissional e orgu-


lho de sua classe, ambição de progresso profissional,
independência profissional, filiação a entidades de
sua classe e respeito a esta, cooperação profissional
com colegas, consciência da responsabilidade profis-
sional.

7. de educação e civismo:

educado e compreensivo, tolerante (menos em assun-


tos morais e técnicos), respeitoso com, colegas,
clientes e funcionários deste, habilidoso no trato,
dotado de espírito público, respeitador dos direitos
de terceiros, patriota e cumpridor de leis e deveres.

QUALIDADES ESPECÍFICAS DO AUDITOR:

No tópico anterior citamos as opiniões de dois mestres brasi-


leiros sobre as bases cultural, social, ética, económica e cívica em
que se assenta o auditor.
Desejamos realçar as qualidades próprias do auditor, tão neces-
sárias ao bom desempenho das suas atribuições. Iberê Gilson as
sintetiza como sendo «dons» pessoais, uns os possuindo em elevado
grau, outros em, menor; o exercício profissional os desenvolve
através da apreciação crítica ou de treinamento especial. São as
qualidades seguintes :

a) a suspicácia;
b) a perspicácia;
b) a agilidade mental;
c) a perseverança; e
d) a tolerância.
A suspicácia nada mais é do que a transposição do primeiro
princípio de Renê Descartes, no seu célebre «Discurso sobre o
Método», também conhecido como o «princípio da evidência», con-

512 —
substanciado na famosa máxima que subtilmente contornou princípios
vigentes na sua época — a pressão religiosa — ou seja, o princípio
da verdade científica: «somente devemos aceitar como verdadeiro
o que for provado ou for evidente». O auditor é o profissional que
pratica em larga escala esse princípio.
A perspicácia, na palavra de Iberê Gilson, «é a sagacidade, a
intuição, a penetração, o talento para apreender os factos expostos
e perceber os latentes».
A agilidade mental é a rapidez de raciocínio; é entender o facto
administrativo em toda a sua extensão e em suas implicações patri-
moniais na velocidade de um raio.
A perseverança é a firmeza na busca dos objectivos traçados,
na busca empreendida, na conclusão esperada.
A tolerância é a frieza de comportamento demonstrada em uma
conclusão obtida ou a demonstração de irrepreensível auto-controle
diante de factos surpreendentes que incriminem pessoas.

QUALIDADES ESPECÍFICAS DO AUDITOR:

A perspicácia como manifestação de força mental:

São do Prof. A. Lopes de Sá as seguintes palavras:


«Outro padrão de conduta deve ser a perspicácia.
Não basta a preparação técnica, nem a cultura, se o
auditor não tem esse «sexto sentido» de ver onde os
outros não vêem. A capacidade de «penetração», de
«sagacidade» só é comum às mentes experimentadas e
bemi adestrados.
Ao auditor não pode faltar o «discernimento», a «subti-
leza» de descobrir, por indícios, por circunstâncias, o que
se esconde através de aparências».

Há algum tempo tem-nos preocupado a essência da qualidade a


que chamamos perspicácia, para alguns simples «estalos» do auditor,
para outros, uma intuição. Estamos convencidos que não se trata
nem de «estalos», ou «sorte» e nem «intuição».
Somos de opinião que se trata de um fenómeno físico, ligado
a forças mentais ainda não pesquisadas em termos científicos.
Actualmente vê-se o início dessas pesquisas através dos estudos
da parapsicologia.
Fenómenos tipificados como clarividência, premonição e telepatia
são hoje indiscutivelmente decorrentes da mente, conforme compro-
vações que vem sendo aceites pelos resultados de pesquisas que se
desenvolvem em nossos dias.

53 - 513
Acreditamos que a nossa mente dispõe de inúmeras forças que
actuam em, função das faixas de frequência das vibrações dos neuró-
nios. Dizem os biofísicos que cada neurónio armazena 1,2 watt de
energia e que o cérebro humano tem em média 20 biliões de neuró-
nios; aceitando-se tal afirmativa, podemos ver que cada cérebro
não deixa de ser uma verdadeira e potente usina geradora de
energia.
Tal volume de energia pode, dentro dos princípios físicos conhe-
cidos, produzir inúmeros campos de força, nas faixas de vibração
daquelas células. Cremos que há a possibilidade de um desses
campos de força produzir energia capaz de proporcionar ao auditor
a descoberta da irregularidade ou da fraude com muita facilidade
e rapidez, através da emissão de ondas energéticas, as quais atoa-
riam directamente sobre as mentes de terceiros, transmitindo ou
recebendo informações, ou indirectamente sobre a natureza produ-
zindo efeitos de indução.
Na auditoria fiscal, principalmente, pode-se chegar com uma
certa facilidade à constatação do que foi afirmado.
Já tivemos oportunidade de constatar a rapidez da identificação
do erro e da fraude por parte de auditores que possuíam baixo nível
cultural técnico. Fraudes sofisticadas foram detectadas.
Cremos que pesquisas poderiam ser dirigidas no sentido de
esclarecer o ponto de vista ora manifestado.

INCOMPATIBILIDADES PROFISSIONAIS:

Conceituamos a incompatibilidade funcional como sendo o impedi-


mento' ético em, face da existência de obstáculos à liberdade e à
independência do exercício profissional do auditor.
A apreciação do facto administrativo auditado está condicionada
a um resultado de julgamento. Esse julgamento é decorrente da
conclusão a que se chega o auditor através do estudo e do compor-
tamento das evidências contábeis. As evidências contábeis não se
comportam dentro de critérios rígidos, definidos, matemáticos. Há
uma área de indefinição, indeterminada, sem contornos fixos. Para
a avaliação do facto o auditor necessita em alto grau de liberdade
e de independência profissionais. Arranhadas as duas condicionais,
a incompatibilidade emergirá.
Muitas incompatibilidades já saíram do campo moral e entraram
no legal. Muitos princípios éticos acabaram-se convertendo em impe-
dimentos, em deveres e em proibições legais. O actual Estatuto
dos Funcionários Públicos Civis (Lei 1711, de 28 de Outubro de 1952)
traz em seu bojo alguns deles (arts, 194 e 195), o mesmo acontecendo
com algumas das alíneas dos arts. 482 e 483 da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) — Decreto-lei n.° 5452, de 1 de Maio de 1943.

514 -
O compadrio, o afilhadismo, as relações de parentesco, a ami-
zade profunda, o ódio, as incompatibilidades funcionais (Contador X
Tesoureiro, Vendedor X Cobrador, Almoxarife X Comprador, Cre-
dor X Devedor) são algumas configurações de irreconciliáveis
situações no desenvolvimento da acção revisora ou pericial.

A Res. CFC 321/72, no item 4, do Capítulo II, estabelece:

«4. Constituem motivos de impedimento para a execução de tra-


balhos de auditoria em relação a empresas ou pessoas, situações em
que o auditor tenha, ou tenha tido, durante o período a que se refere
o exame, com a mesma empresa ou pessoa:

a) parentesco consanguíneo, em linha recta, sem limite de grau;


colateral até o 3.° grau; ou parentesco por afinidade, até o 2.° grau,
com as pessoas, ou, em se tratando de empresa, com seus directores,
sócios principais ou proprietários, administradores, empregados que
tenham directa ingerência na sua administração ou nos seus negócios
ou, ainda, com os responsáveis por sua contabilidade;
b) relação de trabalho como empregado administrador ou cola-
borador assalariado, ainda que esta relação seja indirecta, através de
empresas coligadas, afiliadas ou subsidiárias;
c) interesse financeiro directo, imediato ou mediato ou substan-
cial interesse financeiro indirecto;
d) função ou cargo incompatíveis com a profissão de auditor».

0 Banco Central do Brasil — função absorvida pela CVM —atra-


vés da Resolução n.° 220, de 10 de Maio de 1972, aflorou algumas
incompatibilidades. Vejamo-las:

«V — No exercício de suas actividades, no âmbito do mercado


de capitais, será exigido, do auditor registado no Banco Central
(agora CVM), grau de independência desde que o auditor ou socie-
dade de auditoria, bem como, neste caso, seus sócios ou responsáveis
técnicos, não se enquadrem em qualquer das hipóteses abaixo:

a) participação na directoria ou em outros órgãos administra-


tivos ou consultivos da empresa ou coligadas; excepcionalmente,
considerar-se-á mantida a característica de independência nos casos
em que penas um dos cargos do Conselho Fiscal esteja preenchido
por auditor independente;
b) parentesco, até o 2.° grau, com directores ou membros do
Conselho Fiscal ou de outros órgãos administrativos ou consultivos
da empresa ou coligadas;
c) vínculo empregatício, participação societária ou participação
accionaria significativa na empresa, a critério do Banco Central;

- 515
d) percepção, da empresa auditada, de renda que influa ponde-
ravelmente em sua receita global, a juízo do Banco Central;
e) exercício de cargo ou função incompatível com os serviços
de auditoria, a critério do Banco Central».

No Código de Ética Profissional do Instituto dos Auditores Inde-


pendentes do Brasil —IAIB, em seu art. 6.°, encontramos o seguinte:

«Art. 6.° — O Auditor Independente, no desempenho de sua acti-


vidade profissional, obriga-se a manter critérios e conduta indepen-
dentes, objectivos e imparciais, seja no exame de demonstrações
contábeis, seja nos seus pronunciamentos. É motivo de impedimento
para a execução de trabalhos de auditores se o Auditor Independente
se enquadrar, em relação às empresas auditadas, em qualquer das
hipóteses abaixo:

a) participação na directoria ou em outros órgãos administra-


tivos ou consultivos da empresa ou coligadas;
b) parentesco, até o 2.° grau, com directores ou membros do
Conselho Fiscal ou de outros órgãos administrativos ou consultivos
da empresa ou coligadas;
c) vínculo empregatício, participação societária ou participação
accionaria significativa na empresa;
d) percepção, da empresa auditada, de renda que influa ponde-
ravelmente em sua receita global;
e) exercício de cargo ou função incompatível com os serviços
de auditoria».
Havendo incompatibilidades, ditadas pelos princípios, ou impedi-
mentos normalizados, tem o auditor obrigação profissional de anun-
ciar a sua suspeição.

ASPECTOS ÉTICOS:

Um discípulo pediu a Aristóteles um código moral pelo qual


pautaria a sua vida; respondeu o mestre: «Não posso dar-lhe um
código. Observe os homens melhores e mais sábios que você possa
encontrar e imite-os».
A Ética, para uns, é a ciência da moral; para outros, a moral
vivida, praticada. Aurélio define Ética: «estudo dos juízos de apre-
ciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação
do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada
sociedade, seja do modo absoluto». Já Moral: «conjunto de regras
de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para
qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada».

516 —
«Ética» deriva etimologicamente do grego «ethiko», com signifi-
cado semelhante a «morale», raiz de origem latina da palavra moral,
exprimindo «relativo aos costumes».
Segundo Gabriel Rebouças de Carvalho, «Ética é s ciência que
estuda os princípios em que se funda o dever. Sendo a Moral a
ciência que estuda a conduta do homem e a Ética o que se lhe refere
aos costumes, é forçoso concluir que ambas têm o mesmo objecto».
Ética é parte da moral; é a moral aplicada.
A Ética desdobra-se em duas parte: a deontologia, que é a
ciência dos deveres, e a diciologia, que é a ciência dos direitos.
Diz Ruy Azevedo Sodré: «a Ética pressupõe uma reflexão sobre
a moral. E isto porque, na verdade, vivemos e praticamos, dia a
dia, continuamente, actos dentro da moral, indistinta e insensivel-
mente, porque estamos, por tradição e costume, presos a ela. Tais
actos se enquadram nas características de género. Já a ética profis-
sional apresenta características de espécie, por dependerem estas,
em sua maioria, do juízo crítico e do livre arbítrio. A Ética pressupõe
uma reflexão sobre a moral, repetimos, porque ela nos obriga a
pensar na moralidade dos nossos actos, bitolados dentro das regras
morais e práticas, orientadoras da nossa conduta, esclarecedoras da
nossa consciência profissional».
A obediência aos princípios éticos é um imperativo da nossa
consciência. Não se admite vacilação. A sua adopção não pode sofrer
restrições: deve ser integral e incondicionada. Os princípios éticos
não estrangulam os limitados campos de actuação do profissional,
pelo contrário, alargam-no.
A infracção aos princípios éticos é punida pela sociedade com
a repulsa, com a hostilidade, ou, na posição antagónica, com a comi-
seração. Pessoalmente o infractor se auto-pune: a inquietação em
sua consciência a todo o instante o acusa da falta cometida; nela
se instala o remorso.
Em nosso campo profissional muitas das práticas morais, normas
de comportamento, já estão materializadas em texto expresso. De há
muito já possuímos o nosso Código de Ética Profissional. O primeiro
data de 1950. O em vigor, desde 1970. Lastreado no art. 10.°, do
Decreto-lei n.° 1 040, de 21 de Outubro de 1969, o Conselho Federal
de Contabilidade expediu a Resolução n.° 290, em 4 de Setembro
de 1970, que o aprovou. Os Conselhos Regionais de Contabilidade
possuem um «Tribunal de Ética Profissional» onde as infracções são
julgadas, em carácter sigiloso, com ampla defesa dos acusados.
De acordo com a gravidade do acto praticado, as penas a serem
impostas são graduadas em advertência, censura reservada, e cen-
sura pública.
É desnecessário lembrar que o julgamento por infracção à ética
profissional não exime o acusado de responder, dependendo do facto,
a processo nas áreas administrativa, civil e penal.

— 517
Na hipótese da auditoria externa o profissional sujeita-se também
ao Código existente para os Auditores Independentes. Há uma reco-
mendação do IAIB para que esses profissionais dêem obediência ao
«Código de Ética Profissional» pelo menos aprovado, bem como
existe idêntica recomendação quanto aos seus «Princípios de Ética
Profissional». Esses «Princípios» propugnam pela «independência
profissional, independência de atitudes e de decisões, intransferi-
bilidade de funções, eficiência, integridade, sigilo e discrição, impar-
cialidade e lealdade de classe».
O Código de Ética Profissional da Res. CFC 290/70 desdobra-se
em cinco capítulos. No primeiro o seu objectivo é definido: «o pre-
sente Código tem por objectivo fixar a forma pela qual devem
conduzir os contabilistas quando no exercício profissional»; no
segundo encontramos os deveres e as proibições; no terceiro o tra-
tamento dos honorários profissionais; no quarto, os deveres em
relação aos colegas e à classe e, finalmente o quinto, do tratamento
das infracções ao mesmo.
0 Código de Ética do IAIB dá um interessante tratamento a
alguns aspectos do exercício profissional. Em seu art. 7.° estabelece:

«Art. 7.° Praticará acto de descrédito à sua profissão o Auditor


Independente que, nos seus pronunciamentos sobre demonstrações
contábeis, infringir qualquer das seguintes normas mínimas:

1 — omitir facto importante, dele conhecido mas não evidenciado


nas demonstrações contábeis, cuja revelação seja necessária para
evitar erros de interpretação ou conclusões erróneas;
II — dissimular ou deixar de relatar irregularidades, informações
ou dados incorrectos que se contenham nos balanços ou em quaisquer
outras demonstrações contábeis e que sejam do seu conhecimento;
III — incorrer em negligência grave na execução de qualquer
trabalho profissional e no seu respectivo relato;
IV — desprezar ou não colher informações suficientes para ela-
borar e sustentar seus pronunciamentos, de forma a anular as propo-
sições nele contidas;
V — silenciar sobre desvios ou distorções graves dos preceitos de
Contabilidade geralmente aceites ou acerca de omissões significativas
das normas de auditoria reconhecidas e subscritas pelos membros do
Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, como geralmente
aceitas;
VI — apresentar opiniões, informações ou documentos que não
traduzem, adequadamente, a expressão do seu melhor juízo e que
ocultem ou desvirtuem os factos de maneira a induzir a erros».

518 —
Iberé Gilson assim sintetizou as normas de comportamento do
auditor :
a. exercitação da descrição;
b. esquivança da suspeita infundada;
c. fuga à vituperação pessoal; e
d. evitação da arbitrariedade.
Finalizando o tópico, desejamos transcrever as palavras do
Prof. Ivar Vieira Campos:
«O modo pelo qual o revisor se conduz no exercício de sua pro-
fissão é um dos factores decisivos para o bom êxito da revisão.
Além dos princípios estabelecidos pelo Código de Ética Profissional,
há outras normas, ou advertências, estabelecidas pela experiência.
Fernando Boter, por exemplo, selecciona as seguintes normas de
conduta para o revisor:

a. não efectuar exames superficiais;


b. não ser excessivamente meticuloso nos exames;
c. não ter receio de parecer incompetente;
d. não manter discussões com o pessoal da empresa;
e. não se basear em informações recebidas da empresa; e
f. não incriminar o contador da empresa».

A ESTRUTURA PROFISSIONAL:

A execução de qualquer trabalho obedece a um esquema pré-


-determinado, de obediência quase universal. No campo da auditoria
externa há uma hierarquia de funções, de responsabilidades, cujo
nível superior sempre é atingido pela experiência adquirida no está-
gio inferior e na qualidade dos serviços produzidos. Cada estágio
se apresenta com tarefas definidas e remuneração compatível.
Em termos médios, na auditoria externa a estrutura profissional
começa com o aspirante ou estagiário. Ao iniciante são dadas fun-
ções bem elementares, tais como conferir somas, subtracções, execu-
ção e conferência de cálculos em Notas Fiscais, e outras. Se o
aspirante apresenta condições favoráveis ao seu desenvolvimento,
passa ele para a carreira de auditor, na categoria de «auditor júnior».
Nessa categoria ele é iniciado no exercício das funções técnicas. Tem
como elemento básico de execução de trabalhos a conferência das
contas familiarizando-se com o mundo empresarial, ao cabo de certo
período, passa ele ao nível hierárquico superior onde ocupa o cargo
de «auditor sénior». Sénior já é o auditor mais experimentado, ou
«mais velho», já possui condições de solucionar problemas de certa

— 519
complexidade, já tem sob o seu controle toda a demonstração con-
tábil da^ empresa auditada. Quando não há um nível superior para
qualificá-lo, geralmente o sénior, vencido em certo período, passa
à categoria de «supervisor». Supervisor de certa quantidade de
serviços, por que do auditor júnior e do estagiário sempre ele é.
Mostrando proficiência e já possuidor de acumuladas experiências,
ascende a sénior, ou o supervisor, à categoria de gerente. A gerência
já é uma atribuição técnico-administrativa. O auditor gerente passa
a se envolver com problemas de administração da sua empresa onde
é empregado além de ter a responsabilidade técnica sobre auditores
em, determinadas áreas, região ou sector especializado. Os sistemas
linear e funcional para ele converge. Saindo-se bem, e depois de
longo período na função, é ele guindado à posição do sócio-gerente,
no qual irá zelar pelos destinos, idoneidade e crescimento da sua
empresa.
Em termos médios, e com a aptidão para a execução dos serviços
de auditagem, o auditor externo percorre os seguintes segmentos:
estagiário, 1 a 2 anos; auditor júnior, 2 a 3 anos; auditor sénior, 3 a
6 anos; auditor gerente, 4 a 10 anos.
Em> condições razoáveis, após 5 anos de experiência no cargo,
podemos considerar o profissional como auditor.

O RECRUTAMENTO, A SELECÇÃO E O TREINAMENTO DO


JÚNIOR:

A moderna Administração de Pessoal tem como valioso instrumento


administrativo a classificação de cargos; nela encontramos a menor
fracção, a fracção indivisível, o cargo;
Cargo é definido como sendo o conjunto de tarefas, incumbências
afectas a um único ocupante, das quais emergem uma série de
responsabilidades, as quais são avaliadas, gerando a remuneração,
que é previamente fixada.
Colocados os cargos em linha de crescimento de responsabili-
dades, e obviamente da remuneração correspondente, dentro de um
processo homogéneo, temos a chamada «classe».
Para todo e qualquer cargo, possuímos um ocupante enumerado
e descrito na «especificação de classe», com todas as informações
necessárias ao seu preenchimento físico:

a. qualificações mínimas
b. qualificações desejáveis
c. descrição geral das tarefas
d. exemplos típicos das tarefas
e. remuneração, directa e indirecta

520 -
«En passant» registe-se que dois distintos institutos se justapõe:
um de cargos e um de salários.
Intitula-se «em potencial» o ocupante ideal de cargo tecnicamente
definido.
A maior dificuldade está em encontrar o homem capaz de satis-
fazer as condições fixadas para o «ocupante em potencial». Esta
busca é a preocupação dos institutos de recrutamento e selecção.
No caso brasileiro o problema do recrutamento e selecção se
agiganta em nossos dias pela elevada escassez de mão de obra
qualificada no campo da auditoria. Dois factores concorrem para
este fenómeno: a estrutura da carreira de contabilista geral com
nível de equilíbrio da oferta e demanda de auditores, ocorrida
em 1972, com o advento da Circular n.° 179/72, 178/72 e Res. 220/72,
do Banco Central do Brasil, e Resolução 317 e 321/72, do Conselho
Federal de Contabilidade.
O recrutamento' de auditores se faz por vários processos. A nível
internacional, e isto já está também ocorrendo em nosso país, ele
é feito através de alunos que cursam as últimas séries do curso
superior de Ciências Contábeis, ou equivalente. Estes alunos, após
uma ligeira entrevista pessoal e um elementar teste, são convidados
para estagiarem em firmas de auditoria.
No México, segundo registo do Instituto Mexicano de Contadores
Públicos, 95 % daquele recrutamento referem-se à forma mencionada.
Nos EEUU até no Serviço Público assim se faz, principalmente na
área da auditoria fiscal.
Para os auditores funcionários públicos, a norma constitucional
exige o concurso público. Predomina actualmente a mentalidade de
que os concursos públicos devem ser classificatórios. No campo da
auditoria, face à alta especialização, tal conceituação não tem res-
paldo técnico, pois o auditor deve ser seleccionado e não classificado;
assim, para o nosso campo profissional o ideal é o retorno aos con-
cursos selectivos.
Seleccionado o profissional, equiparando-se ele ou se nivelando
ao «ocupante em potencial» do cargo, inicia-se a fase de treinamento,
e «pari passu» e aquisição paulatina da experiência profissional, da
acumulação de conhecimentos técnicos e gerais. Lembremo-nos da
norma técnica, já transcrita em tópico- anterior:

«... E que tenha experiência adquirida mantida pelo treina-


mento técnico na função de auditor».
«... A educação formal e a experiência profissional do auditor
se complementam».
«... Entenda-se por experiência profissional o conhecimento
actualizado' das normas e procedimentos de auditoria, dos

- 521
princípios conta beis, das modernas técnicas empresariais e
dos processos evolutivos ocorridos em sua profissão».

Vejamos a tradução, a respeito, das «Statement on Auditing Stan-


dards n.° 1», do «American Institute of Certified Public Accountants
-AICPA»:
«Do Treinamento- e Capacidade do Auditor Independente:
«O exame deve ser executado por pessoa ou pessoas que tenham
adequado treinamento técnico e reconhecida capacidade como
auditores».
Esta norma estabelece que, por mais capaz que seja uma pessoa
em outros campos de actividade, inclusive a dos negócios e das
finanças, ela não pode satisfazer as exigências das normas de audi-
toria, sem instrução apropriada e experiência no exercício dessa
actividade.
Na execução' do exame que o leva a emitir um parecer, o auditor
independente considera-se perito na prática contábil e nos procedi-
mentos de auditoria. Esta posição é alcançada pelo auditor através
de instrução formal que se amplia com sua experiência posterior.
O auditor independente deve submeter-se a treinamento adequado,
a fim de atingir os requisitos necessários a um profissional. Este
treinamento deve ser adquirido dentro de determinado objectivo
técnico e deve incluir grau proporcional de instrução geral. O assis-
tente que apenas se inicia na carreira de auditor, deve adquirir sua
experiência profissional através da supervisão apropriada e da
revisão de seu trabalho, por parte de um superior mais experimente.
Na prática, a natureza e a extensão da supervisão e da revisão estão
forçosamente sujeitas a grandes variações. O auditor com a respon-
sabilidade final do trabalho deve aplicar julgamento amadurecido
sobre as várias etapas da supervisão e da revisão do trabalho exe-
cutado e sobre o julgamento exercido por seus subordinados, os
quais, por sua vez, devem enfrentar as responsabilidades vinculadas
às diversas relações e atribuições de seu trabalho.
A instrução formal e a experiência profissional do auditor inde-
pendente se complementam. Assim, ao exercer a autoridade que lhe
confere um compromisso, o auditor deverá considerar estes atri-
butos e juntamente a fim de determinar o grau de supervisão exercida
sobre seus subordinados e da revisão de seus trabalhos. É neces-
sário levar em conta que o treinamento de Um profissional inclui
atenção contínua e novos avanços técnicos que ocorrem no mundo
dos negócios e em sua profissão. Ele deve estudar, entender e
aplicar novos pronunciamentos sobre princípios contábeis e procedi-
mentos de auditoria, à medida em que estes são desenvolvidos pelas
entidades normativas da profissão contábil.
N© exercício diário a profissão, o auditor independente encontra
grande variedade de critérios aplicados pelas empresas, que vão

522 -
desde um juízo verdadeiro e objectivo, até eventualmente, um caso
extremo de falsidade deliberada. Ele é encarregado de examinar
e opinar sobre as demonstrações financeiras de uma empresa porque,
através do treinamento e experiência, tornou-se perito em contabi-
lidade auditoria e adquiriu a habilidade necessária para apreciar
os factos com objectividade, e exercer julgamento independente
sobre as informações registadas nos livros contábeis ou, de alguma
outra forma, reveladas através de.seu exame. Em consequência,
seu parecer representa garantia razoável de que as informações
pertinentes às demonstrações financeiras estão apresentadas de
forma adequada».
Afora o treinamento específico, feito para a execução da audita-
gem, temos o geral, que pode compreender:
a) cursos de especialização
b) cursos de extensão universitária
c) cursos de rápida duração
d) seminários, conclaves nacionais
e) seminários, conclaves e congressos internacionais
/) estágios feitos por convénios

Diz o ditado que «ninguém aprende com a experiência dos


outros». Em nosso campo profissional é ele uma dura realidade.
Somente a vivência profissional, o cobrimento de um largo tempo
material, transforma-nos em um razoável auditor. A nossa profissão
é aquela que maior período de prática exige. A maturação e de
longo prazo. Não se faz um auditor de um dia para o outro, de um
ano para o outro, ou como vulgarmente se diz, não se faz por
decreto. O aprendizado é metódico, progressivo, acumulativo e
longo.
Não basta treinar o auditor. É necessário colocá-lo em perma-
nentes condições do exercício profissional. A reciclagem deve
atingir a todos os auditores, em períodos pré-determinados, ou em
situações emergenciais. Em auditoria não há estagnação técnica;
o processo é dinâmico e actualizado.
Nos EEUU já estão exigindo que o auditor cumpra uma carga
mínima anual de 40 horas de participação em seminários, conclaves
e certames que envolvam a categoria de auditores.
Em nosso campo profissional impera, na actualidade os princí-
pios da «educação contínua».

- 523
BIBLIOGRAFIA:

Curso de Auditoria — A. Lopes Sá.


Auditoria Interna — A. Lopes Sá.
Introdução aos Estudos de Auditoria — A. Lopes Sá.
Princípios de Auditoria — R. K. Mautz, trad. Hilário Franco.
Auditoria. Contãbil — Américo M. Florentino.
Auditoria — Arthur Holmes.
Revisões e Perícias Contábeis — Ivar Vieira C ampos.
Auditoria — Técnica a Serviço do Controle — Iberêé Gilson.
Conferência — H. Parma.
Apostilas — H. Parma.
Introdução à Auditoria Fiscal — H. Parma.
Apontamentos de Ad. Pessoal — Agostinho S. Parma.
Condições para o Exercício da Função do Auditor Independente— Hilário
Franco.
Classificação da Auditoria — Alberto Almada Rodrigues.
Dicionário Escolar Latino-Português — Ernesto Faria, MEC .
Resoluções CFC 290 e 321/72 e Código Ética Profissional.
Resolução BCB 220/72 e Circular BCB 179/72.
Ética — Gabriel Rebouças de C arvalho.
Ética Profissional e o Estatuto do Advogado — Ruy Azevedo Sodré.
Código de Ética e Princípios de Ética Profissional — áo IAIB.
Exposição de N ormas de Auditoria n.° 1 — AICPA, trad. Price, do IAIB.
Curso Prático de Auditoria Contábil — Mituo Teramae e J. Geraldo Ferreira.

524 ­
Redacção do Relatório e Parecer
do Conselho Fiscal
Por Hernâni 0. Carqueja

1. NOTAS PRÉVIAS

1.0.

Os Conselhos Fiscais ou as Comissões de Fiscalização, deveriam


ser um dos pilares da adopção de correctas práticas contabilísticas
nas empresas, como o quadro legal actual parece presumir. Contudo,
essa entidade empresarial dá ao leitor de jornais base para suspeição
quanto ao mérito do instituto jurídico a que corresponde quando aos
longos pareceres que nada dizem se contrapõem lacónicos certifi-
cados de correcção de contas que, até em primeira análise, eviden-
ciam erros de forma e substância. A sequência das ideias no texto
é, em muitos casos, esclarecedora sobre a confusão e falta de
clareza em que o C. F. existe e funciona.
Procurar uma melhoria de redacção vulgarizada de pareceres
do Conselho Fiscal sobre a prestação de contas do exercício pareceu
tarefa com cabimento nas Jornadas de Contabilidade. Grão a grão...
Pode ser que este pequeno contributo tenha utilidade.

1.1. As funções e responsabilidades do Conselho Fiscal

O diploma legal base do regime de fiscalização das sociedades


anónimas (S. A. R. L.) é o Decreto-Lei n.° 49 381 de 15 de Novembro
de 1969 (nove) cujo texto foi posteriormente alterado pelo Decreto-
-Lei n.° 648/70 de 28 de Dezembro de 1970 (artigo 1.°, 3.°, 37.° e 49.°).
Mantêm-se, entretanto, em vigor as normas do Código Comercial
de 1888 com a última redacção em tudo o que não esteja especial-
mente previsto no Decreto-Lei citado conforme o art. 4.° deste.

- 525
A responsabilidade especial resultante do desempenho de funções
como membro ou em substituição do Conselho Fiscal pode ser enten-
dida, considerando as seguintes fontes legais:

. Código Civil
. Código Comercial
. Regime de Fiscalização das Sociedades Anónimas
— Decreto-Lei n.° 49 381 c/ redacção actual
. Regime e Organização Profissional dos Revisores
— Decreto-Lei n.° 1/72 de 3 de Janeiro
. Códigos e Legislação Fiscal
. Legislação sobre a Previdência
— Decreto-Lei n.° 511/76 e 512/76 de 3 de Julho

No caso dos revisores oficiais de contas, incluídas as sociedades


de revisores, a responsabilidade é garantida por caução a prestar
nos termos dos artigos 40.°, 82.° e 83.° do Decreto-Lei n.° 1/72 e da
Portaria n.° 191/74 de 12 de Março.
A responsabilidade de membro do Conselho Fiscal, e eventual-
mente de revisor de contas, encontra-se expressamente mencionada
nos campos seguintes:

1.° —Responsabilidade perante a empresa que pode ser repre-


sentada pela administração eleita, por administração judi-
cial, por accionistas, por credores.
— ver em especial artigo 17.°, 18.°, 19.°, 27.° e 28.° do
Decreto-Lei n.° 49 381;

2.° — Responsabilidade perante credores.


— ver em especial artigo 23.° do Decreto Lei n.° 49 381;

3.° — Responsabilidade perante sócios.


— ver em especial artigo 24.° do Decrto-Lei n.° 49 381;

4.° — Responsabilidade perante outros terceiros.


— ver em especial artigo 24.° do Decreto-Lei n.° 49 381;

5.° — Responsabilidade por conselhos, recomendações ou infor-


mações.
— ver em especial artigo 485.° do Código Civil;

526 —
6.° — Responsabilidade perante o Fisco e a Previdência.
— ver em especial artigo 16.° do Processo das Contri-
buições e Impostos e artigo 4.° do Decreto-Lei
n.° 512/76 de 3 de Julho.

Sem afastar qualquer das formas de prova admitida pelo direito


e prática dos tribunais são fontes especiais de prova do desempenho
conveniente das funções de membro ou substituição de Conselho
Fiscal as seguintes formas de documentação:

1.° — Livro de actas do Conselho Fiscal

Notar as seguintes disposições legais:


— artigos 14.°, 15.° e 16.° do Decreto-Lei n.° 49 381.
Dado que o artigo 14.° não é referido no n.° 1 do
artigo 16.°, parece não ser obrigatório a reunião
trimestral quando o C. F. é substituído por socie-
dade de revisores. Note-se, contudo, a conve-
niência em realizá-la dada a normal expectativa
das empresas.

2.° — Papéis de trabalho e correspondência

Notar o texto do artigo 37.° do Decreto-Lei n.° 1/72


de 3 de Janeiro no caso especial de desempenho de
funções de revisor:

Artigo 37.°

(Deveres de comunicação e de organização de processos e registos)

1. O revisor deve organizar um processo com a documentação


relativa a cada contrato de prestação de serviços.
2. O revisor deve também ter um registo das suas actividades
profissionais, contendo as indicações que permitam a posterior fisca-
lização dos trabalhos por ele realizados.
3. Os processos e registos a que se referem os números ante-
riores devem ser conservados durante dez anos, podendo em qualquer
altura ser mandados examinar pela Câmara.

— 527
3.° — Relatório e Parecer sobre a Prestação de Contas

É sobre esta peça e dentro do contexto que temos vindo


a resumir que vamos debruçar-nos.

2. RELATÓRIO E PARECER

A disposição legal mais clara sobre o conteúdo do relatório do


Conselho Fiscal consta do Decreto-Lei n.° 49 381 de 15 de Novembro
de 1969, com o texto que a seguir se transcreve:

Artigo 35°

(Relatório do Conselho Fiscal)

1. O Conselho Fiscal deve indicar necessariamente no seu


relatório:

a) Se a contabilidade, o balanço, a conta de resultados


ou de ganhos e perdas e o relatório da administração,
na medida em que esclareça os dados contabilísticos,
satisfazem as disposições legais e estatutárias;
b) As verificações a que procedeu, e se a administração
apresentou as provas e os esclarecimentos exigidos;
c) Os critérios valorimétricos adoptados e respectiva
apreciação.

2. Quando o Conselho Fiscal entenda que devem ser modificados


quaisquer elementos sujeitos a seu exame, especificará e fundamen-
tará essas alterações.
3. Se o Conselho Fiscal averiguar factos que ponha em risco a
existência da empresa, possam prejudicar o seu desenvolvimento
ou impliquem violação da lei ou dos estatutos, deve comunicá-los aos
accionistas pela sua menção no relatório, usando, porém, da pru-
dência aconselhável para não agravar a situação.
4. O relatório será assinado por todos os membros do Conselho
Fiscal, devendo as declarações de não concordância ser fundamen-
tadas.

A análise deste artigo começa por destacar que ele não se refere
ao relatório e parecer do Conselho Fiscal a apresentar no prazo de
15 dias nos termos do n.° 3 do artigo 34.° mas somente ao relatório.
Será que relatório e parecer são diferentes?

528 -
O cotejo com a alínea g) do n.° 1 do artigo 10.° justifica a ime-
diata conclusão de que a lei distingue, nitidamente, as duas partes:
o relatório e o parecer. O conteúdo deste aparece definido com
nitidez na alínea referida cujo texto é claro:

Artigo 1°

(Obrigações do Conselho Fiscal)

Constituem obrigações do Conselho Fiscal:

g) Elaborar anualmente relatório sobre a sua acção fis-


calizadora e dar parecer sobre o relatório, balanço,
contas e propósitos apresentados pela administração.

Note-se que o Código Comercial não faz referência ao relatório


mas somente ao parecer (n.° 7 do artigo 176.° e artigo 1879.° do C. C.)
devendo entender-se o conteúdo deste como referido a

— Inventário desenvolvido do activo e passivo da sociedade


(referido por artigos 176.° e 189.°.

— Conta de ganhos e perdas


(só referido no artigo 189.°).

— Relatório da situação comercial, financeira e económica,


com indicação sucinta das operações realizadas
(referido nos artigos 176.° e 189.°).

— Proposta de dividendos e proposta destinada a constituir


o fundo de reserva legal
(referido nos artigos 176.° e 189.°).

Como, entretanto, se trata de matéria especialmente prevista no


Decreto-Lei n.c 49 381 deve entender-se, nos termos do artigo 47.°
do mesmo diploma, que as disposições do Código Comercial estão
revogadas e só devem ser consideradas como referências.

34 - 529
Pelo interesse que apresentam as soluções e referências legais
posteriores ao Decreto-Lei n.° 49 381 destaquem-se nos exemplos as
seguintes disposições relativas a empresas públicas:

Decreto-Lei n.° 72/76 de 27 de Janeiro


(Companhias de Seguros Nacionalizadas)

Artigo 21.°

(Atribuição da Comissão de Fiscalização)

Compete à Comissão de Fiscalização:

a) ...
b) ...
c) Emitir parecer acerca do orçamento, do balanço e
das contas anuais de gerência.
d) ...
e) ...

Decreto-Lei n.° 275/78 de 6 de Setembro


(Empresa Pública dos Parques Industriais)

Artigo 18.°

(Competência da Comissão de Fiscalização)

1. Compete à Comissão de Fiscalização:

g) Verificar a exactidão do balanço, da conta de explo-


ração, da demonstração dos resultados e dos restantes
elementos a apresentar anualmente pelo conselho de
gerência e emitir o parecer sobre os mesmos, bem
como sobre o relatório do referido conselho.

È evidente a falta de uniformidade entre as diferentes soluções


adoptadas para as empresas públicas traduzindo diferentes entendi-
mentos sobre a natureza e conteúdo do parecer do Conselho Fiscal.
Note-se, contudo, que nunca se faz referência ao relatório mas
somente ao parecer tal como acontecia no Código Comercial.

530 -
3. ESTRUTURA DO RELATÓRIO E PARECER DO CONSELHO
FISCAL NAS S. A. R. L. s.

Do que ficou exposto, com destaque especial para os artigos


10° e 35.° do Decreto-Lei n.° 49 381, conclui-se que na peça a produzir
pelo Conselho Fiscal devem distinguir-se

— o relatório
— do parecer

Acontece ainda que o Conselho Fiscal tem muitas vezes mandato


com âmbito diferente do legal por virtude dos estatutos sociais ou do
processo de autorga do mandato e que é normal o Conselho Fiscal
fazer propostas à Assembleia Geral de accionistas.
Tudo considerado parece haver interesse em estruturar o rela-
tório e parecer

— indicando os termos do mandato em que o relatório e


parecer é produzido
— fazendo o relatório de acção fiscalizadora
— apresentando o parecer
— e, eventualmente, formulando propostas.

O conteúdo de cada um dos passos e a redacção adoptada


dependerá do caso concreto e, dada a falta de normas profissionais
sobre o assunto, das interpretações pessoais dos elementos integran-
tes do Conselho Fiscal.

4. PRINCÍPIOS DE REDACÇÃO

Parece ter aceitação geral o princípio de que o relatório e pare-


cer do Conselho Fiscal devem ser curtos, concisos e claros.
Na medida em que estes objectivos colidem quando a clareza signi-
fica mais exposição, quando a concisão implica terminologia espe-
cializada menos clara para os não iniciados, quando a brevidade
não facilita o exacto enquadramento do relatado, o resultado final
depende muito do juízo pessoal exercido pelos subscritores.
Acessoriamente também é de notar o consenso geral quanto ao
facto que é ao Conselho de Administração que compete relatar sobre
a actividade e situação da empresa e o Conselho Fiscal só deve
acrescentar esclarecimentos na medida do necessário para dar satis-
fação aos preceitos legais. Só quando funcionar o n.° 2 do artigo 35.°
do Decreto-Lei n.° 49 381 o Conselho Fiscal se deve sentir com legi-
timidade para fazer relatos fora do que respeita a sua acção
fiscalizadora.

— 531
A inexistência de princípios contabilísticos reconhecidos de forma
expressa como geralmente aceites pelas associações profissionais
(Câmara dos Revisores de Contas, Associação dos Técnicos de Contas,
Câmara dos Técnicos de Contas, Sociedade Portuguesa de Contabi-
lidade e Associação Portuguesa de Contabilistas) justifica o alongar
dos relatórios na medida em que impede que se pressuponha que
sempre que não há menção especial a empresa respeita tais
princípios.
Note-se, contudo, que a entrada em vigor do Dec^eto-Lei n.° 47/77
de 7 de Fevereiro — Plano Oficial de Contabilidade — veio permitir
a remissão para o anexo ao balanço e demonstração de resultados
de tudo quanto respeita à indicação de critérios valorimétricos que
anteriormente encontrava cabimento no relatório do Conselho Fiscal.
À medida que sejam definidos princípios aceites ou na medida em
que seja possível remeter para alguma das peças que necessaria-
mente acompanhe o relatório e parecer, este aparecerá abreviado.
Só como atitude extrema quanto à redacção do relatório e parecer
do Conselho Fiscal considere-se a solução alemã, conforme extracto
dum relatório da empresa Grunding, que só consta do seguinte:

«De acordo com; a nossa fiscalização realizada em


conformidade com os deveres e princípios profissionais,
as contas consolidadas e o relatório que se lhes refere,
respeitam a lei alemã.

Local e data
(assinatura do Wirtschaftsfruher)».

Note-se que nesta redacção é bem claro o relatório:


«fiscalização realizada em conformidade com os deveres
e princípios profissionais»

tal como o parecer:


«as contas e o relatório que se lhes refere respeitam
a lei alemã».

Claro que a brevidade do relatório pressupõe a existência algures


da definição dos deveres e princípios profissionais. Igualmente
o parecer se baseia numa definição legal dos requisitos, pormenori-
zada e clara.
Ainda como esclarecimento ao conteúdo possível do parecer e
relatório do Conselho Fiscal note-se o texto das soluções inglesa
e americana tal como resultam das normas em vigor dos respectivos
institutos profissionais.

532 -
Solução inglesa — relatório de auditoria
Na nossa opinião as contas apresentadas da página à
página são uma imagem correcta e sincera da situação da
empresa em e dos resultados apurados e da origem e apli-
cação de fundos durante o exercício fechado em tal data, de acordo
com o princípio de custos históricos, e respeitam as leis das socie-
dades de 1947 e 1967.
Também procedemos à revisão dos mapas suplementares apresen-
tados na página e preparados conforme o princípio de custos
correntes, tal como se explica nas notas constantes da página
Na nossa opinião, os mapas e as notas anexas traduzem com since-
ridade os resultados e a situação financeira da empresa em com
base no princípio de custos correntes.
(assinatura do C. A.)

Solução americana — relatório de auditoria


Procedemos à revisão do balanço da sociedade
referido a e das corespondentes demonstrações
de resultados, balanço de origem e aplicação de fundos, notas anexas
para o exercício então terminado.
0 nosso trabalho foi desenvolvido conforme os princípios de audi-
toria geralmente aceites e de acordo com estes inclui os testes e
outros procedimentos de auditoria que consideramos adequados às
circunstâncias. Anteriormente tínhamos procedido à revisão e ela-
borado parecer sobre os mapas financeiros do ano anterior.
Na nossa opinião, os mapas e demonstrações financeiras com os
valores mencionados na coluna A representam com sinceridade a
situação financeira da empresa com referência a e os resul-
tados apurados e alterações da situação financeira para o exercício
então fechado, em conformidade com os princípios contabilísticos
geralmente aceites aplicados em base consistente com a adoptada no
exercício anterior.
Na nossa opinião, contudo, os mapas e demonstrações financeiras
com os valores mencionados na coluna B representam mais fielmente
a situação financeira da empresa com referência a e os
resultados apurados no exercício então fechado, dado que se tomaram
em consideração'as variações do valor da moeda nos textos descritos
na nota
(assinatura do C. P. A.)
Note-se que dentro da redacção adoptada quer no Reino Unido
que: nss Estados Unidos continua a manter se a necessidade de
— fazer relato sobre o trabalho efectuado
— e formular parecer dentro de premissas expressamente
indicadas.
— 533
É entendimento profissional que a não referência ao trabalho
efectuado implica que ele tenha sido executado dentro dos princípios
aceites e tenha conduzido a conclusões satisfatórias. Na medida em
que o trabalho executado não corresponda ao padrão profissional ou
as conclusões se afastem da confirmação dos mapas, os relatórios
devem indicar, claramente, o condicionalismo verificado.
Quer num caso quer noutro a existência de princípios — condu-
centes a representação sincera referida no U. K. e princípios geral-
mente aceites nos E. U. — permite redacção muito sintética.

5. CONTEÚDO NECESSÁRIO DO RELATÓRIO E PARECER

Não raro o relatório e parecer do Conselho Fiscal aparece com


redacção que parece não dizer nada para o que contribui uma certa
tradição de responsabilização muito frouxa do Conselho Fiscal. Con-
tudo, as disposições legais em vigor são claras ao impor conteúdo
mínimo necessário quer no relatório que: no parecer.

Quanto ao relatório sobre a acção fiscalizadora a lei impõe:

1. Que se indique se os mapas e relatório de prestação de


contas satisfazem as disposições legais e estatutárias (ver
alínea a) do artigo 35.°) ;
2. Que se relate sobre o trabalho efectuado e satisfação com
os resultados obtidos, designadamente quanto a escla-
recimentos e provas solicitadas pela administração (ver
alínea b) do citado artigo);
3. Que se indiquem e se apreciem os critérios valorimé-
tricos adoptados (ver alínea c) do citado artigo);
4. Que se mencionem, usando da prudência aconselhável para
defesa da empresa, as violações da lei e dos estatutos.

Quanto ao parecer, parecem existir, igualmente, preceitos sobre


o seu conteúdo pois deverá referir-se, a atender à alínea g) do
a i i g o 10.°, ao

— relatório
— balanço
— contas
— e propostas

apresentados pela administração.

534 -
Conjugando os artigos 10.°, 12.° e 34.° parece que poderá resu-
mir-se assim a actual situação legal:

1.° — O relatório deve indicar as verificações a que se procedeu


e os esclarecimentos recebidos através da administração;
2.° — O relatório deve indicar os critérios valorimétricos adopta-
dos pela empresa mas nada impede que o faça por remissão expressa
para as notas anexas ao balanço e contas de resultados na medida
em que estas os contenham, e deve apreciar a sua adequação à
empresa ;
3.° _ o parecer do Conselho Fiscal deve traduzir os resultados
da verificação da legalidade e respeito pelos estatutos mas não é
certo ter que afirmar a sinceridade das soluções usadas.

6. EXEMPLOS DE REDACÇÃO ADOPTADA

Procurando colher da prática profissional exemplos gerais para


redacção do relatório e parecer do Conselho Fiscal, parecem-nos
merecer atenção os exemplos seguintes:

a) Parecer e relatório da sociedade revisora das contas


referidas a 31 de Dezemb.-o de 1976 da empresa naciona-
lizada Amoníaco Português, SARL., conforme foi publi-
cado no Diário da República— III série — n.° 40 a
página 1948 de 17 de Fevereiro de 1978:

Relatório e Parecer da Sociedade de Revisores


Oficiais de Contas

í. No exercício das nossas funções de conselho fiscal do Amo-


níaco Português, examinámos o balanço e a conta «Ganhos e Perdas»
do exercício terminado em 31 de Dezembro de 1976;
2. Durante o mesmo exercício analisámos a regularidade dos
livros, registos e documentos contabilísticos;
3. Os nossos exames foram efectuados de acordo com as normas
usuais de revisão contabilística, através de sondagens e verificações
dos registos e documentos de contabilidade, que considerámos neces-
sários para os objectivos em vista;
4. Confirmámos as contagens físicas de caixa tanto da sede
como da fábrica, não se tendo verificado quaisquer discrepâncias
entre o valor contabilístico e o valor real existente;
5. Acompanhámos durante o ano o movimento das contas de
depósitos em bancos tendo em 31 de Dezembro, através das conci-
liações das contas bancárias, controlado os diferentes saldos e tendo
ainda verificado que os elementos de conciliação eram usuais;

- 535
6. Confirmámos as quantidades físicas de existências e concluí-
mos pela razoabilidade dos valores apresentados exceptuando as
peças de reserva que se incluem no armazém de sobressalentes e
matérias subsidiárias e cuja respectiva provisão para depreciação
é, em nossa opinião, insuficiente;
7. Durante o ano analisámos a movimentação das contas do
activo imobilizado e considerámos correcto o valor da contabilização
dos aumentos e abates;
8. Os critérios valorimétricos das existências adoptadas — custo
padrão — estão superiormente autorizados sendo revistas anualmente
pelo empresa, e conduzem com os que têm sido seguidos em exercí-
cios anteriores;
9. Verificámos que as taxas de amortizações aplicadas no activo
imobilizado contêm-se nos limites estabelecidos pela Portaria
n.° 21 867;
10. A empresa não constitui provisão para os juros dos emprés-
timos a médio e longo prazo, a pagar em 1977, que constituíram
encargo do exercício de 1976, no montante de cerca de mil e quatro-
centos contos;
11. A comissão administrativa no seu relatório expõe por forma
pormenorizada e devidamente esclarecedora, não só as acorrências
de maior significado verificadas durante o exercício, como também
a actual situação económica e financeira da empresa;
12. Tomámos conhecimento dos principais factos que foram, no
decorrer do exercício, objecto de apreciação e resolução da comissão
administrativa, tendo-nos sido sempre prestados por todos os serviços
os esclarecimentos considerados necessários para o desempenho da
nossa missão;
13. Em nossa opinião, a contabilidade, o balanço e a conta
«Ganhos e perdas» do exercício de 1976 satisfazem as disposições
legais em vigor e reflectem correctamente a situação patrimonial
da empresa;
14. Assim, e em conclusão, é nosso parecer que, com as res-
salvas anteriormente indicadas, o relatório da comissão administra-
tiva, o balanço e a conta «Ganhos e perdas» do Amoníaco Português,
relativas ao exercício de 1976, merecem aprovação.

Para facilidade de referência o texto original foi acrescentado


dos números antes de cada parágrafo.

Procedeu-se de igual modo para o seguinte outro exemplo:

b) Parecer e relatório da sociedade revisora das contas


referidas a 31 de Dezembro de 1977 da Sociedade Comer-
cial Guerin, SARL conforme foi publicado no Jornal
Novo de 16 de Novembro de 1978 a página 19.

536 —
Parecer do Conselho Fiscal

Senhores Accionistas:
1. No cumprimento das disposições legais e estatutárias acom-
panhámos os diferentes aspectos da gestão da Empresa referente ao
período a que se referem os documentos sob apreciação para compe-
tente parecer;
2. Como se explana no Relatório do Conselho de Administração
a Empresa esteve sob intervenção estatal até Março de 1977, data
a partir da qual ficou regularizado o funcionamento dos órgãos
sociais legítimos;
3. Já se referiu no parecer relativo ao exercício de 1976 que
os registos contabilísticos, ao tempo do termo da intervenção, esta-
vam de tal modo atrasados que motivou um enorme trabalho de
recuperação, tendo sido possível encerrar em fins de Março deste
ano os trabalhos respeitantes ao exercício de 1976 e agora os de 1977;
4. O Relatório do Conselho de Administração é bastante informa-
tivo e concludente sobre situações, problemas e metas que houve de
encarar, resolver e perspectivar;
5. Acompanhámos não só a gestão social corrente mas também
a elaboração das tarefas administrativas verificando com normali-
dade os documentos, registos e livros, tendo encontrado tudo em
boa ordem;
6. Foram conferidas existências, nomeadamente as de Caixa
e outros valores, sendo os critérios valorimétricos adoptados os
normais e legais em uso na Empresa, ressalvando-se a não escritu-
ração de reintegrações de alguns elementos do imobilizado em face
da reavaliação para efeitos do contrato de viabilização;
7. A Administração e responsáveis sectoriais sempre nos pres-
taram os esclarecimentos julgados úteis e necessários;
8. Nestes termos somos de parecer que se encontram em condi-
ções de merecer a vossa aprovação:
1° — O Relatório, Balanços e Contas de Resultados relativos
ao exercício de 1977;
2° — A proposta de destino dos resultados;
9. Sugerimos a formulação de um voto de apreço pelo esforço
e dedicação de todos os colaboradores desde a Administração ao mais
modesto operário.
Também é transcrição exacta com acréscimo de números de refe-
rência dos parágrafos o seguinte exemplo:
c) Parecer e relatório da sociedade revisora das contas
referidas a 31 de Dezembro de 1977 da sociedade COVTNA

— 537
— Companhia Vidreira Nacional, SARL conforme foram
publicados em O Jornal:

Parecer do Conselho Fiscal


Exercício findo em 31/12/77

1. Nos termos da lei e do mandato que V. Ex."3 nos conferiram


na Assembleia Geral de 31 de Outubro de 1977, cumpre-nos submeter
à vossa apreciação o nosso relatório e parecer:
2. Durante o período decorrente a partir da nossa nomeação
acompanhámos o desenvolvimento da actividade da empresa através
da informação contabilística e dos esclarecimentos recebidos da
Administração e serviços da empresa;
3. Efectuámos também a auditoria das Contas que nos foram
apresentadas e procedemos à leitura atenta do relatório do Conselho
de Administraçãi que acompanha as Contas da COVIN A — Compa-
nhia Vidreira Nacional, Sociedade Anónima de Responsabilidade
Limitada, à data de 31 de Dezembro de 1977;
4. Em consequência dà execuçãi das funções pelas quais este
Conselho Fiscal é responsável, tomando em consideração que:

I O anexo ao Balanço e à Demonstração de Resultados faz


parte integrante das respectivas contas;
II O Imobilizado está contabilizado ou pelo seu valor de
custo ou de reavaliação (a empresa reavaliou parte do
seu Activo Imobilizado em Esc. 45 805 344$39 em 1963).
As taxas de reintegração anual utilizadas estão de acordo
com o preceituado pela Portaria n.° 21867 de 12 de
Fevereiro de 1966, incluindo a aceleração da reintegração
por trabalhar em laboraçãi contínua;
III Pela análise efectuada das Contas a Receber, o saldo da
Provisão para Créditos de Cobrança Duvidosa poderá
não ser suficiente para cobrir õs riscos a que se refere;
IV Os impostos sobre lucros foram calculados na base duma
distribuição de dividendos de Esc. 24 000 000$00;

5. Somos do seguinte parecer:


1° — O relatório do Conselho de Administração satisfaz os
requisitos legais e estatutários;
2° — Com ressalva do expresso nas alíneas III) e IV) ante-
riores, as Contas, quando lidas em conjunto com o anexo
ao Balanço e à Demonstração de Resultados (vide
ponto 17 B) do anexo que define uma prática tradicio-

538 —
nalmente aceite em Portugal bem como com o Relatório
do Conselho áe Administração no parágrafo respeitante
à valorimetria dos terrenos, representam de forma
correcta a situação patrimonii! e financeira da Covina
— Companhia Vidreira Nacional, Sociedade Anónima de
Responsabilidade Limitada, à data de 31 de Dezembro
de 1977;
3." — Sejam aprovadas as Contas de mil novecentos e setenta
e sete nos termos em gue o Conselho de Administração
as apresenta e tomando em consideração o exposto
no n.° 2 anterior;
4." — Seja igualmente aprovada a proposta de aplicação de
resultados.
Procurando estabelece: paralelo entre os três exemplos e Usando
como referência os números dos parágrafos verifica-se:
I Qualquer dos três exemplos contém referência aos termos
do mandato:
exemplo A — parágrafo 1 (exercício de funções do Con-
selho Fiscal)
exemplo B — parágrafo 1 (cumprimento de disposições
legais e estatutárias para competente pare-
cer)
exemplo C — parágrafo 1 (termos da lei e do mandato
conferido por assembleia de )
II Qualquer dos três exemplos contém expressa indicação
das contas a que respeita:
exemplo A — parágrafo 1 (exercício terminado em 31 de
Dezembro de 1977)
exemplo B — parágrafo 8 (relativo ao exercício de 1977)
exemplo C — parágrafo 5 e 2 (à data de 31 de Dezembro
de 1977)
III Qualquer dos exemplos contém um relatório sobre os
termos em que foram desempenhadas as funções:
exemplo A — parágrafos 2 a 7 e 12.°
exemplo B — parágrafos 2, 5, 6, 7
exemplo C — parágrafos 2 e 3
IV Qualquer dos exemplos contém conclusões resultantes do
desempenho :
exemplo A — parágrafos 8 a 11 e 13.°
exemplo B — parágrafos 4, 6
exemplo C — parágrafo 4

— 539
V Qualquer dos exemplos contém a formulação do parecer
final:

exemplo A — parágrafos 13 e 14 (parecer com a ressalva


de falta de provisão para encargos do exer-
cício
exemplo B — parágrafo 8 (note-se a redacção usada)
exemplo C — parágrafo 5 (parecer com ressalva de even-
tual insuficiência de provisão para créditos
de cobrança duvidosa e ressalva sobre a
dependência da provisão para impostos rela-
tivamente aos lucros a distribuir)

VI É normal nos pareceres de Conselhos Fiscais a formula-


ção de votos, sugestões e propostas. Os pareceres
apreciados são muito sóbrios a tal respeito e só no exem-
plo B encontramos o parágrafo 8 com a sugestão dum
voto de apreço.

VII O exemplo B não afirma oue as contas representam de


forma correcta (parecer C) ou que reflectem correcta-
mente (parecer A) a situação da empresa mas afirma
só (?) que as contas merecem aprovação.

7. O PARECER «LIMPO»

Diz-se limpo todo o parecer emi que as contas sejam consideradas


como correctas face às premissas estabelecidas. Toda e qualquer
correcção a fazer expressamente indicada ou qualquer condição rela-
tiva, por exemplo, ao tipo de trabalho efectuado são tecnicamente
chamadas ressalvas ou reservas. Note-se que no exemplo C o pará-
grafo 4-IV é uma ressalva condicionada na medida em que depende
do pressuposto de ser ou não votada a distribuição de lucros pres-
suposta.
A falta de esclarecimento do uso de certa redacção legítima, por
exemplo, que se possam querer considerar os parágrafos 4 a 7 do
primeiro exemplo como indicação de limitação do trabalho efectuado.
Contudo, o parágrafo 3, ao indicar «acordo com as normas usuais
de revisão contabilística», prejudica tal interpretação.
No exemplo B o parágrafo 6 contém expressamente uma ressalva
que, contudo, não é recapitulada no parágrafo 8 que contém o parecer.
Quando não haja restrições a pôr, quer quanto ao trabalho em
que o parecer se apoia quer quanto a ajustamentos, o parecer é
limpo. Não deixa de ser limpo quando contém ressalvas condicio-
nadas a decisões a tomar pelos accionistas. O parecer limpo deve
ser a base da redacção.

540 -
Face às análises efectuadas parece-nos que:
1.° — Devem ser indicados expressamente os termos do mandato
executado e as referências do período e contas apreciadas;
2.° — Deve ser indicado expressamente se as contas do exercício
anterior foram já objecto de revisão pelos mesmos revisores, ou
quais os termos em que foram aceites como correctas. Note-se que
nos exemplos apresentados contorna-se de certa forma, a clareza
de redacção quando no exemplo C se menciona a data da Assembleia
conducente à nomeação e se adopta a redacção usada no parágrafo 2;
3.° — Devem ser indicadas as verificações efectuadas e resultados
obtidos ;
4.° — Devem fazer-se as indicações, eventualmente por remissão
para qualquer das peças objecto de parecer, exigidas pela lei ou
estatutos;
5.° — O parecer além de visar a aprovação de contas evita igual-
mente as propostas apresentadas pela administração alínea g) do
artigo 10.° do Decreto-Lei n.° 49 381);

Eis uma redacção que parece corresponder aos requisitos legais


e aos objectivos decorrentes da exposição supra quando é subscrita
por uma sociedade de revisores:

RELATÓRIO E PARECER COMENTÁRIOS E REFERÊNCIAS


DO CONSELHO FISCAL EXPLICATIVAS: —
Nos termos do mandato que nos foi Ternos do mandato: pode não re-
conferido na sequência da Assembleia sultar da assembleia mas sim de no-
Geral de / / a coberto do meação judicial; pode o relatório e pa-
artigo 4.° do Decreto-Lei n.° 49 381 de recer não ser o resultante das imposi-
15 de Novembro de 1978 e em cumpri- ções legais normais.
mento da lei e dos estatutos, cumpre-nos
apresentar o nosso relatório e parecer
sobre o relatório, balanço, conta de
resultados, notas anexas às contas e Referência das contas para dificultar
propostas apresentadas pela Adminis- trocas se esta peça aparece isolada.
tração relativamente ao exercício findo
em / /

No desempenho do nosso mandato Relatório em obediência à alínea g)


acompanhámos a actividade da empresa do n.° 1 do art. 10." do Decreto - Lei
durante o exercício principalmente atra- n.° 49 381.
vés da informação contabilística e dos
esclarecimentos recebidos da adminis- Alínea b) do n.° 1 do art. 35." do
tração e serviços, de quem recebemos Decreto-Lei n.° 49 381 (a administração
apoio conveniente ao desempenho das apresenta as provas e esclarecimentos
nossas funções. exigidos).

- 541
Efectuámos auditoria das contas e, Acção fiscalizadora desenvolvida.
em fecho de trabalho procedemos à
leitura atenta do relatório e propostas
que vos são apresentadas pelo Conselho
de Administração.
Em r e s u l t a d o do desempenho das Chamadas de atenção e conclusões
nossas funções e tomando em conside- resultantes dos exames efectuados.
ração que:
I — As contas apresentadas com- Necessidade de fazer interpretar con-
preendem o Balanço e Notas juntamente todas as peças publicadas
Anexas ao Balanço e Conta de dada a falta de tradição de consulta
Resultados que devem ser publi- das notas anexas.
cados e interpretados conjunta-
mente e são apoiados no inven-
tário e análises que legalmente
lhes devem servir de suporte;
II — Os c r i t é r i o s valorimétricos Alínea c) do n.° 1 do art. 35.° do
adoptados são os indicados nas Decreto-Lei n.° 49 381.
notas anexas e baseiam-se no
princípio de custos históricos
correspondendo às exigências
legais;
III — O relatório da Administração, Alínea a) do n.° 1 do art. 35.° con-
nos termos legais, complementa jugada com o art. 33° do Decreto-Lei
as contas e contém as referên- n.° 49 381.
cias ao estado e evolução dos
negócios sociais e faz menções
a custos, condições de mercado
e investimento de forma a per-
mitir m e l h o r compreensão da
situação da empresa;
IV —Não tomámos conhecimento de N.° 4 do art. 35.° do Decreto - Lei
violações da lei ou estatutos a n.° 49 381.
registar;
V — As provisões para i m p o s t o s Ressalva necessária sempre que haja
contabilizados pressupõem dis- lucros não distribuídos por virtude do
tribuição de resultados no va- Imposto Complementar que os atinge.
lor de conforme
vos é proposto pela Adminis-
tração;

e atendendo ao princípio de economia


fiscal e bases da contabilidade conside-
radas como de boa prática em Portu-
gal, somos do parecer que:
1.° — Merecem aprovação as contas Alínea g) do n.° 1 do art. 10° do
que vos são apresentadas com Decreto-Lei n.° 49 381.
a ressalva decorrente do con-
siderando V;
2.° — Merece igualmente aprovação a Alínea g) do n.° 1 do art. 10° do
proposta de aplicação de resul- Decreto-Lei n.° 49 381.
tados.

542 -
Entendeu o Conselho de Administra- Não existindo na legislação portu-
ção complementar a informação contida guesa normas que permitam melhorar
na prestação de contas com os seguin- a informação resultante de custos his-
tes mapas suplementares (os tóricos é de esperar que alguns empre-
que forem) preparados con- sários comecem a produzir informação
forme o princípio de custos de repo- simultânea melhor tradutora du situa-
sição, conforme se explica no pará- ção empresarial.
grafo X do respectivo relatório. Tendo
procedido à verificação dos respectivos
mapas, somos de opinião que eles tra-
duzem com' sinceridade as situações a
que respeitam, com base nos princípios
de cálculo estabelecidos.

Local, data
A sociedade de revisores oficiais
de contas no exercício de funções
do Conselho Fiscal:
Nome da sociedade Art. 68." do Decreto-Lei n.° 1/72 de
Nome do revisor responsável. de Janeiro.

8. RESSALVAS E COMPLEMENTOS A PONDERAR

Nos casos em que a informação contabilística ou os esclareci-


mentos recebidos da Administração mereçam reparos haverá que
alterar convenientemente o relato efectuado. Note-se sempre, quando
da redacção, a necessidade de não agravar a situação da empresa,
a ponderar nos termos do n.° 3 do artigos 35.° do Decreto-Lei n.° 49 381.
A mais fácil das situações é a falta de menção no relatório do
Conselho de Administração ou nas notas anexas às contas de situa-
ções que deveriam ser expressas. A solução, quando o alvitre para
fazer aditamentos necessários não for aceite pelo Conselho de Admi-
nistração, é estender o relatório de forma a complementar as peças
apreciadas e sugerir à Assembleia que vote as alterações conve-
nientes.
Quando os valores apresentados devam ser objecto de correcções,
podem estas ser indicadas nos considerandos (numerados na redacção
proposta em romano) e o parecer sobre as contas ressalvas as
reservas formuladas.
A situação de inflação, em que já quase estamos habituados
a viver, conduz à absoluta falta de significado dos valores históricos
das contas sujeitas a parecer. No caso de desejar-se complementar
a informação com valores a custos de substituição, ou valores de
mercado, ou valores indicados face ao valor da moeda deve a indi-
cação ou parecer, sobre tais valores, ser claramente separado suge-
rindo-se um parágrafo do tipo do último da redacção sugerida.

— 543
Enquanto a redacção dos pareceres não for suficientemente pací-
fica quanto ao significado a atribuir aos afastamentos do parecer
limpo base, continuará a ser possível nada dizer sob a protecção de
referir com muito pormenor as verificações efectuadas, passando
sem notas as que deveriam ser mas não foram efectuadas.
Neste campo a lei está em vigor e nada falta à Câmara dos
Revisores Oficiais de Contas para que lhe seja possível obrigar, a
melhor verdade, as empresas portuguesas. Àqueles em cujos ombros
cai o peso do futuro da revisão de contas cabe a iniciativa. Entre-
tanto note-se que na redacção que se apresenta não se diz que as
contas reflectem correctamente a situação mas somente que mere-
cem aprovação (???) face ao quadro legal existente.

(Porto, Dezembro de 1978).

544 -
9
Comunicações da 8.a Mesa
História, Metodologia e Didáctica da Con-
tabilidade

Presidente: Dr. Manuel Duarte Bagariha


Professor da Faculdade de Economia do Porto

Secretário: Dr.a Virgínia Maria Granate Costa e Sousa


Assistente do ISCAA

55
O Ensino da Contabilidade em Portugal
A necessidade duma Licenciatura em Contabilidade
Por Carlos Baptista áa Costa

1. BREVE HISTÓRIA DO ENSINO DA CONTABILIDADE

1.1. ATÉ A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA


0 início do ensino da Contabilidade em Portugal remonta
a 19 de Maio de 1759 data do Alvará que aprovou os estatu-
tos da Aula de Comércio cabendo ao Marquês de Pombal a
honra de tal criação. A este estadista, aliás, muito deve
o ensino profissional em geral.
De notar que foi Portugal o primeiro país do mundo
onde se organizou o ensino da Contabilidade pois a segunda
escola deste ramo do conhecimento só foi criada em 1764 na
cidade de Hamburgo.
Os estatutos da Aula de Comércio (cujo primeiro lente
foi João Henriques de Sousa, que implantou a Contabilidade
do Erário Régio e escreveu a «Arte de Escritura Dobrada»)
reconheciam que «a falta de formalidade na distribuição
e ordem dos livros de Comércio era uma das primeiras
causas e o mais evidente princípio da decadência e ruína de
muitos negociantes sendo a ansiedade com que todos espe-
ravam o funcionamento da Aula de Comércio o sinal seguro
de desejarem emendar esta falta que procedia da dificul-
dade de encontrar as lições e não de aplicar os estudos».
O curso ministrado na Aula de Comércio tinha a duração
de três anos decorrendo as aulas durante as manhãs e
sendo de vinte a trinta o número de alunos por turma. As
matérias leccionadas eram as seguintes: Aritmética, Estudo
dos pesos e medidas, Câmbios, Contratos de fretamento e
de seguro marítimo e Contabilidade. De notar que estas

— 547
disciplinas eram complementadas com diversas aulas prá-
ticas.
Saliente-se que a Aula de Comércio desfrutou de grande
prestígio não só pelos professores que nela ensinavam
como também pelos alunos que a frequentavam (casos de
Alexandre Herculano e do próprio Marquês de Pombal que
assistiu a algumas lições). De notar ainda, e para corro-
bora: a ideia da importância dada à Aula de Comércio, que
o júri dos exames era composto pelo lente e por dois repre-
sentantes da Junta de Comércio (organismo criado em 1756
para regulamentar as actividades económicas) tendo algu-
mas vezes assistido a tais actos o próprio rei D. José I.
No início do século XIX a Aula de Comércio perdeu um
pouco da sua importância sendo transformada por Costa
Cabral em 30 de Setembro de 1844 na Escola de Comércio
anexa à Secção Comercial do Liceu Nacional de Lisboa a
qual se viria a tornar independente do Liceu e incorporada
no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa na altura da
sua criação, em 30 de Dezembro de 1869, com os cursos
elementar e complementar.
Exactamente dezassete anos mais tarde, em 1886, Emídio
Navarro reorganizou o ensino comercial a todos os níveis.
o qual só viria a ser regulamentado por Decreto de 3 de
Fevereiro de 1888. Os cursos que passaram a existir foram
os seguintes:

* curso elementar de comércio, destinado a dar noções


elementares sobre operações comerciais e contabilidade
mercantil (duração: 1 ano);
* curso preparatório, destinado a dar a instrução prelimi-
nar necessária aos indivíduos que se destinavam a qual-
quer um dos cursos seguintes (duração: 1 ano);
* curso secundário de comércio (duração: 2 anos);
* cursos especiais de cônsules e verificadores de alfândega
(ambos com a duração de 4 anos) ;
* curso superior de comércio (duração: 5 anos).

O curriculum do Curso Superior de Comércio, que apenas


era professado no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa,
era o seguinte:
1." ANO

— Física geral e suas aplicações à indústria (teoria e


prática)

548 -
— Desenho de figura e paisagem do natural
— Inglês.

2.° ANO

— Trignometria, geometria analítica, álgebra superior e


cálculo infinitesimal (teoria e prática)
— Química mineral e orgânica e análise (teoria e prática)
— Alemão.

3.° ANO

— Tecnologia química (teoria e prática)


— Geografia e história comerciais
— Contabilidade geral e operações comerciais (teoria e
prática).

4.° ANO

— Zoologia e botânica; higiene das indústrias e das cons-


truções
— Mineralogia; geologia (teoria e prática)
— Economia política e princípios de direito administrativo,
legislação industrial (teoria e prática).

5.° ANO

— Matérias primas e mercadorias; legislação aduaneira


(teoria e prática)
— Direito comercial, marítimo e internacional. Legislação
consular
— Operações financeiras (teoria e prática)
— Visitas a alfândegas e estabelecimentos comerciais.

Decorridos pouco mais de três anos, em 8 de Outubro


de 1891, nova reorganização foi efectuada, esta da autoria
de João Franco.
As alterações introduzidas inspiraram-se no propósito de
se realizarem economias nas despesas com a educação, ideia
extensiva a todos os outros serviços públicos. Assim, supri-
miram-se os cursos elementares de comércio e o Curso Supe-
rior de Comércio pelo que o ensino comercial ficou reduzido
a três anos e dividido apenas em dois graus: o primeiro
destinado a preparar guarda livros e «negociantes de

- 549
pequeno trato» e o segundo com o objectivo de preparar
contabilistas, financeiros e «negociantes de grosso trato».
Para o ministro citado este tipo de ensino era suficiente
«para fazer a educação do pessoal dirigente da classe
comercial».
Felizmente que esta linha de pensamento não vingou
mais do que sete anos. De facto por Decreto de 30 de Junho
de 1898 da autoria de Augusto José da Cunha, os Institutos
Industriais e Comerciais passaram novamente a ministrar
o curso secundário de comércio (com a duração de três
anos) e o Curso Superior de Comércio (com a duração de
cinco anos).

DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA AO 28 DE MAIO

A necessidade de reorganizar toda a instrução pública


impôs-se ao Governo Provisório da República desde o
momento em que assumiu as responsabilidades do poder,
uma vez que era reconhecido que o atraso do País se devia
à insuficiência do nosso ensino técnico onde, sobretudo no
superior, muito se ensinava e muito pouco se aprendia, na
expressão do professor Charles Lepierre.
É assim que por Decreto de 23 de Maio de 1911 e sendo
Ministro da Educação Manuel de Brito Camacho, o Instituto
Industrial e Come-cial de Lisboa foi cindido erm duas escolas
inteiramente autónomas: O Instituto Superior Técnico e o
Instituto Superior de Comércio. A regulamentação deste
último foi efectuada em 5 de Julho de 1913 e segundo ela
o ensino ministrado no Instituto compreendia os seguintes
cursos superiores:

* Curso aduaneiro (duração: 3 anos);


* Curso consular (duração: 4 anos);
* Curso superior de comércio (duração: 5 anos).

O curriculum do Curso Superior de Comércio, no qual


é notória uma forte ponderação de cadeiras relacionadas
com matérias contabilísticas e afins, era o seguinte:

1.° ANO
— Física
— Química e elementos de análise
— Economia Política. Estatística. Legislação Industrial
— Princípios de direito natural, público, civil e adminis-
trativo
— Francês, Inglês e Alemão
— Dactilografia, Estenografia e Caligrafia.

2.° ANO

— Álgebra superior. Geometria analítica. Cálculo diferen-


cial
— Matérias primas (teoria e prática)
— Direito Comercial e Marítimo
— Geografia Económica. Comunicações e transportes
— Francês, Inglês e Alemão
— Dactilografia, Estenografia e Caligrafia.

3.° ANO

— Cálculo integral e de probabilidades. Estatística mate-


mática
— Análise e classificação pautal de mercadorias. Falsifi-
cações (teoria e prática)
— Direito internacional público
— Geografia económica de Portugal e das Colónias
— Operações comerciais. Contabilidade geral
— Francês, Inglês e Alemão
— Escritório comercial.
4.° ANO

— Direito internacional privado. Legislação consular


— Portos comerciais nacionais e estrangeiros. Armamentos
marítimos. Exploração comercial do navio. Indústrias
do mar
— Mercados comerciais. História do comércio e da indús-
tria
— Especulação comercial. Contabilidade bancária. Insti-
tuições comerciais
— Operações financeiras a longo prazo
— Francês, Inglês e Alemão
— Escritório comercial
— Prática de operações financeiras.

— 551
5.° ANO

— Direito Fiscal. Evolução do imposto. Tratados de


comércio
— Contabilidade industrial. Contabilidade do Estado
— Seguros. Instituições de previdência. Contabilidade de
seguros
— Climatologia. Higiene geral e colonial. Profilaxia inter-
nacional
— Francês, Inglês e Alemão
— Escritório comercial
— Prática de operações financeiras.

De notar que o Curso Superior de Comércio destinava-se


a «formar oomercialistas ou pessoal técnico para os cargos
de administradores, gerentes, actuários e guarda-livros de
empresas comerciais, bancárias e industriais».
Entretanto e quase simultaneamente (em 15 de Outubro
de 1914) é criada a Escola de Construções, Indústria e Comér-
cio em substituição da secção secundária do extinto Instituto
Industrial e Comercial de Lisboa e na qual se passaram a
professar dois cursos na secção comercial: o preparatório
duração: (1 ano) e o de especialização (duração: 2 anos),
o qual era preparatório para a primeira matrícula no Insti-
tuto Superior de Comércio.
O Decreto 5029 de 1 de Dezembro de 1918, depois de
exaustivamente fazer a evolução histórica do ensino técnico
em Portugal, organiza o ensino comercial do seguinte modo:

* aulas comerciais, a criar nos pequenos centros comer-


ciais e cujos cursos tinham a duração de dois anos;

* escolas elementares de comércio, a criar nos centros co-


merciais importantes e cujos cursos tinham a duração de
três anos;

* institutos comerciais (em Lisboa e no Porto) onde se era


admitido com. o curso geral do liceu e cujos cursos tinham
a duração de quatro anos;

* institutos superiores de comércio (em Lisboa e no Porto)


onde eram ministrados os cursos superiores aduaneiro,
consular e comércio.

Os Institutos Comerciais criados pelo citado Decreto fo-


ram regulamentados pelo Decreto 5 162 de 14 de Fevereiro

552 -
de 1919 tendo o de Lisboa absorvido a secção comercial da
antiga Escola de Construções, Indústria e Comércio. O seu
primeiro director foi o Dr. Luís da Silva Viegas antigo pro-
fessor dos Institutos Superiores Técnico e de Comércio e
posteriormente professor ordinário do Instituto Industrial de
Lisboa e do Instituto Comercial de Lisboa (cadeiras de
Aritmética Comercial e Álgebra Financeira), e professor
catedrático do Instituto Superior de Ciências Económicas e
Financeiras.
O curriculum do curso dos Institutos Comerciais era o
seguinte:

1.° ANO
— Matemática elementar
— Física geral
— Química geral
— Tecnologia
— Inglês
— Escritório comercial.

2.° ANO
— Matemáticas gerais
— Física geral
— Química geral
— Mineralogia e geologia
— Geografia e história económicas
— Inglês
— Escritório comercial.

3.° ANO
— Análise química
— Contabilidade geral
— Aritmética comercial
— Direito político, administrativo e civil
— Geografia e história económicas
— Inglês
— Escritório comercial.

4.° ANO

— Matérias primas e mercadorias


— Contabilidade aplicada
— Álgebra financeira

— 553
— Direito comercial e marítimo
— Higiene
— Ciência económica.
Pelo seu lado o plano de estudos do Instituto Superior
de Comércio não foi remodelado mantendo-se em vigor aquele
que havia sido decretado em 23 de Setembro de 1915 o qual
por sua vez não se afastava substancialmente do regula-
mento de 1913 a não ser no que concerne à criação de um
novo curso superior — o de Finanças.

DO 28 DE MAIO AO 25 DE ABRIL

Em 30 de Novembro de 1926 o Decreto 12 771 reorga-


nizou o ensino nos Institutos Superiores de Comércio o qual
passou a compreender um curso geral (duração: 3 anos) e
cursos especiais (cada um com a duração de 1 ano) de admi-
nistração comercial, diplomático e consular, aduaneiro e fi-
nanças. Mais tarde viria a ser também organizado um curso
complementar de ciências económicas e comerciais.
Sensivelmente na mesma data em que o Decreto acima
foi regulamentado (14 de Setembro de 1927) foi publicado o
Decreto 14 323 (em 23 de Setembro) que introduziu altera-
ções à organização do curso ministrado nos Institutos Comer-
ciais passando o mesmo a ser dividido em curso geral (du-
ração: 2 anos) e curso médio (duração: 2 anos). No en-
tanto e em termos gerais não foram introduzidas alterações
substanciais ao curriculum até então existente.
Com a criação da Universidade Técnica de Lisboa atra-
vés do Decreto 19 081 de 2 de Dezembro de 1930 extingue-se
o Instituto Superior de Comércio de Lisboa o qual deu ori-
gem ao Instituto Superior de Ciências Económicas e Finan-
ceiras (regulamentado através do Decreto 20 440 de 27 de
Outubro de 1931) onde o ensino ministrado se dividia em
quatro secções, cada uma com a duração de quatro anos:
Aduaneira; Diplomática e Consular; Financeira; Adminis-
tração Comercial.
Entretanto, o ensino ministrado nos Institutos Comerciais
foi novamente reorganizado através do Decreto 20 328 de
21 de Setembro de 1931 que criou o Curso de Contabilista,
o qual, vindo a ser regulamentado pelo Decreto 20 804 de
18 de Janeiro de 1932 constituía habilitação suficiente para:
a) peritos contabilistas dos tribunais de comércio;
b) chefes de contabilidade dos estabelecimentos fabris do
Estado e de empresas industriais e comerciais;
c) administradores de falências;
d) serviço de fiscalização e de comissários de contas de
empresas industriais e comerciais.

O curriculum do Curso de Contabilista passou a ser o


seguinte :

1.° ANO
— Matemática
— Física
— Química geral
— Geografia geral
— Economia política
— Direito político, civil e administrativo
— Francês, Inglês e Alemão.

2° ANO
— Matemática
— Elementos de análise química
— Ciências naturais. Matérias primas
— História universal
— Direito comercial e marítimo
— Francês, Inglês e Alemão
— Caligrafia
— Estenografia.
3.° ANO

— Tecnologia das mercadorias


— Geografia económica
— Cálculo comercial e financeiro
— Contabilidade geral
— Alemão
— Caligrafia
— Estenografia.
4.° ANO

— Operações bancárias. Sua contabilidade


— Contabilidade industrial e agrícola
— Instituições de previdência. Sua contabilidade
— Alemão
— Dactilografia.

Na passagem da primeira para a segunda metade do


século XX dão-se, na nossa opinião, dois factos importantes
na evolução do ensino das matérias contabilísticas e afins.

— 555
Em primeiro luga-, em Outubro de 1949, passam a existir
no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras
apenas dois cursos, ambos com a duração de cinco anos:
o de Economia e o de Finanças. E se é certo que este último
continha alguma ponderação contabilística, não é menos ver-
dade que esta área apenas era ministrada com carácter sub-
sidiário, facto este que foi aliás agravado quando, em 1972,
aquele estabelecimento de ensino deu lugar ao Instituto Su-
perior de Economia com a consequente extinção do Curso
de Finanças e criação do Curso de Gestão de Empresas.
Em segundo lugar, em Novembro de 1950, o Decreto 38031
reduz de quatro para três anos a duração do Curso de Con-
tabilista professado nos Institutos Comerciais de cujo regu-
lamento (Decreto 38 231 de 23 de Abril de 1951) se trans-
creve o respectivo curriculum:

1.° ANO
— Matemática
— Química geral e métodos de análise
— Geografia geral e económica
— História geral e económica I
— Economia Política
— Direito Civil e Administrativo
— Organização Política da Nação e Economia Corporativa I
— Francês e Inglês
— Caligrafia.
2.° ANO

— Cálculo Comercial e Financeiro I


— Matérias primas e mercadorias
— Geografia económica de Portugal e Colónias
— História geral e económica II
— Direito Comercial e Marítimo
— Organização Política da Nação e Economia Corporativa II
— Contabilidade geral
— Francês e Inglês
— Estenografia I.
3.° ANO

— Cálculo Comercial e Financeiro II


— Direito Fiscal e Aduaneiro
— Organização e Contabilidade industrial e agrícola
— Operações Bancárias e sua contabilidade
— Instituições de Previdência e sua contabilidade

556 -
— Contabilidade Pública e Administração Ultramarina
— Dactilografia
— Estenografia II.

Da comparação dos planos de curso de 1932 e 1951, algu-


mas conclusões se podem tirar:

1." — Embora o número de cadeiras tivesse permanecido


quase o mesmo (31 — 28) o Curso passou de quatro
para três anos;

2.a — Mesmo depois de se expurgarem as cadeiras equiva-


lentes às disciplinas do antigo 7.° ano liceal (alínea G)
o Curso de Contabilista continha dezanove outras
cadeiras das quais cinco especificamente dedicadas ao
ensino da contabilidade;

3.a — A única razão para a redução de quatro para três anos


do Curso de Contabilista parece pois ter residido no
facto de o Curso de Finanças ter passado de quatro
para cinco anos.

A criação do Curso preparatório para ingresso no es-


tágio pedagógico para professores do 6.° grupo, ocorrida
através do Decreto 49 205 de 25 de Agosto de 1969, fez criar
nos Contabilistas a esperança de que finalmente lhes iria
ser feita justiça através da atribuição do grau de bacharel,
o que afinal não aconteceu.
Registe-se a propósito o curriculum daquele curso, cuja
duração era de um ano e que tinha como precedência o
7.° ano liceal, alínea G e o Curso de Contabilista:

— Economia Empresarial
— Críticas das doutrinas contabilísticas — métodos contográ-
ficos
— Estatística geral e aplicada
— Psicossociologia da empresa
— História da Cultura Portuguesa no mundo.

DO 25 DE ABRIL AOS NOSSOS DIAS

Só foi (finalmente!), através do Decreto 313/75 de 26 de


Junho, sendo Ministro da Educação José Emílio da Silva,
que os Contabilistas se viram equiparados a bacharéis uma
vez que, conforme o respectivo preâmbulo, «não se justi-

— 557
ficava a discriminação profissional e social de que eram
objecto os diplomados destes institutos (comerciais) que,
depois de cumprirem um programa de estudos correspon-
dente, na prática, a um bacharelato, não tinham acesso a
este grau académico».
Esta situação viria a ser confirmada pelo Decreto-
-Lei 327/76 de 6 de Maio (quando à frente do Ministério
da Educação se encontrava Vítor Alves) que reconverteu
os Institutos Comerciais em Institutos Superiores de Conta-
bilidade e Administração, escolas estas «dotadas de perso-
nalidade jurídica e autonomia administrativa e pedagógica»
e nelas se conferindo «os graus de bacharelato, licenciatura
e doutoramento» em Contabilidade. Segundo o preâmbulo
do citado Dec "eto-Lei «para além da contabilidade, com
uma já longa tradição, pretende-se nestas escolas criar e
desenvolver um ensino que cubra a formação de técnicos
destinados sobretudo ao s actor público, tanto administrativo
como empresarial, em matérias como o controle orçamental,
a gestão de recursos humanos, financeiros e materiais, a
organização' e o tratamento da informação, etc.».
Os quatro Institutos Superiores de Contabilidade e Admi-
nistração (Aveiro, Coimbra, Lisboa e Porto) lançaram-se
então na organização dos respectivos bacharelatos em Con-
tabilidade, os quais embora não sejam idênticos em todos
eles, têm em comum as suas grandes linhas.
0 curriculum do bacharelato professado em Lisboa é o
seguinte:

1.° ANO
— Matemática
— Noções Fundamentais de Direito
— Economia I
— Organização e Gestão de Empresas
— Teoria dos Sistemas de Informação
— Contabilidade Geral e Financeira I.

2.° ANO
— Cálculo Financeiro
— Elementos de Análise Quantitativa
— Direito Comercial
— Economia II
— Contabilidade Geral e Financeira II
— Contabilidade de Custos e Gestão I.

558 —
3.° ANO
— Estatística Aplicada
— Direito Fiscal
— Gestão Financeira e Análise de Balanços
— Contabilidade de Custos e Gestão II
— Planeamento de Resultados e Controlo — Técnicas Orça-
mentais
— Revisão Contabilística (Auditoria).

Numa altura em, que os bacharelatos se encontravam


numa fase de consolidação e se começavam a dar os
primeiros passos para a criação da licenciatura, eis que
surge aquilo que se pensava impossível acontecer: O I Go-
verno Constitucional, sendo Ministro da Educação Sotto-
mayor Cardia, ao instituir através do Decreto-Lei 427-B/77
de 14 de Outubro, o ensino superior de curta duração tentou
para ele remeter os Institutos Superiores de Contabilidade
e Administração com todas as consequências inerentes.
Felizmente que a Assembleia da República, devidamente
alertada por professores e alunos dos Institutos e pela Asso-
ciação Portuguesa de Contabilistas, para a enorme injustiça
que se estava a cometer, decretou em sentido contrário, ou
seja retirou de forma inequívoca aqueles Institutos do ensino
superior de curta duração, conforme se pode ver na Lei 61/78
de 28 de Julho.
Mas a ideia de minimizar o ensino da Contabilidade em
Portugal e de despromover socialmente os Contabilistas não
morreu. De facto menos de três meses após a publicação
da citada Lei 61/78, o II Governo Constitucional no qual se
incluía o mesmo Ministro da Educação, fez publicar o De-
creto-Lei 304/78 de 12 de Outubro onde se regulamenta a
atribuição de diplomas do ensino superior que, segundo o
artigo 1.°, passam a ser nada mais nada menos do que cinco:
diploma de estudos superiores, licenciatura, mestrado, dou-
toramento e agregação!!!
Por outro lado, e segundo o artigo 50.°, o grau de ba-
charel é extinto a partir do fim do ano escolar de 1980/81.
Permita-se a abertura de um parêntesis apenas para
salientar que, enquanto um país como Portugal se permite
conceder tantos diplomas, outros países (como por exemplo
os Estados Unidos da América) apenas normalmente conce-
dem três: bacharelato, mestrado e doutoramento.
Perante os factos apontados e o consequente decréscimo
vertiginoso de alunos nos Institutos Superiores de Contabili-
dade e Administração impõe-se a pergunta: Que futuro para
o ensino da Contabilidade em Portugal?

— 559
2. A NECESSIDADE DUMA LICENCIATURA EM CONTABILI-
DADE

A resposta à pergunta «Que futuro para o ensino da Conta-


bilidade em Portugal?» só pode ser uma: a imediata criação da
licenciatura em, Contabilidade na sequência do que estabelece o
já citado Decreto-Lei 327/76 e daquilo que é prática corrente na
quase totalidade dos países desenvolvidos, com especial realce
para os anglo-saxónicos.
De facto desde há muito tempo que a Contabilidade se tornou
num ramo do conhecimento perfeitamente autónomo no quadro
do ensino da micro-economia atendendo sobretudo aos diversos
campos de actividade profissional a serem preenchidos pelos Con-
tabilistas (direcção de departamentos administrativo-contabilístico-
-financeiros, controlo de gestão, auditoria externa, finanças públi-
cas e locais, ensino e investigação, etc.).
A própria União Europeia de Peritos Contabilistas Económicos
e Financeiros, organismo fundado em 1951 e que presentemente
engloba associações profissionais de 21 países europeus (entre os
quais Portugal), é de opinião de que o ensino da Contabilidade a
nível superior deverá desenrolar-se em duas fases: a primeira
compreendendo estudos de carácter teórico conjugado com for-
mação profissional, com a duração mínima de cinco anos; a se-
guda prevendo especializações em vários ramos como sejam Con-
tabilidade Interna ou Operacional, Contabilidade Externa ou Fi-
nanceira e Auditoria.
Impõe-se pois a criação de uma licenciatura bem específica
e que se não confunda com qualquer outra já existente, de modo
a que, considerando a próxima adesão do nosso País à CEE, a
generalidade das nossas empresas passe a poder dispor de técnicos
que lhes imprimam um mínimo de eficácia nas áreas administra-
tiva, contabilística e financeira.
É um facto que em Portugal tem sido notória a dificuldade
de realizar diversas tarefas devido, entre outras causas, à falta
de quadros contabilísticos de verdadeiro nível superior. Como
exemplos podem apontar-se os seguintes:

— a quase inexistência de um verdadeiro controlo das socie-


dades através da auditoria contabilística;
— as dificuldades sentidas no preenchimento dos diversos ma-
pas constantes do modelo de propositura dos contratos de
viabilização e do sistema básico de informação de gestão;
— as grandes resistências à aplicação do Plano Oficial de
Contabilidade resultantes fundamentalmente da dificuldade
de o interpretar e pôr em prática.

560 -
Esta situação tornar-se-á sem dúvida muito mais sombria
quando as empresas do nosso País, tal como já sucede em grande
parte no estrangeiro, forem obrigadas a:

— consolidar demonstrações financeiras;


— apresentar tais demonstrações financeiras devidamente au-
ditadas;
— contabilizar os efeitos da inflação;
— aplicar normas internacionais de contabilidade (da Comu-
nidade Económica Europeia; do Comité de Normas Inter-
nacionais de Contabilidade, etc.);
— apresentar dados relativos à contabilização da sua respon-
sabilidade social;
— etc., etc.

Não deixa contudo de ser interessante constatar que, enquanto


o MEC ainda se não decidiu pela criação da licenciatura em Con-
tabilidade, as três Academias das Forças Armadas (Militar, Naval
e da Força Aérea) possuem respectivamente licenciaturas em
Administração Militar e Naval e em Intendência e Contabilidade.
Por outro lado, a nível dos Partidos representados na Assem-
bleia da República também a mesma causa tem sido geralmente
defendida bastando para tal consultar os Diários da Assembleia
da República de 14 e 16 de Dezembro do ano passado. Permi-
timo-nos no entanto destacar parte das afirmações proferidas por
um Deputado, mais tarde chamado a funções governativas, por
nos parecerem de grande interesse:

«Ë bom que fique claro, de uma vez por todas, que con-
tabilidade e administração, constitui uma ciência autónoma
em relação à economia e que, por isso mesmo, se justifica a
sua existência ao nível do ensino universitário.»

«Considero, como disse na minha intervenção, que há dois


casos totalmente diferentes: um é o do Instituto Superior de
Contabilidade e Administração, que deve ser visto autonoma-
mente e que, a meu ver, deve constituir efectivamente uma
escola universitária, porque convém que os Srs. Deputados
não esqueçam que, se foi possível aos países desenvolvidos
explorarem a organização de empresas em todo o mundo, foi

56 - 561
ií. porque desde há muito tempo têm investigadores, licenciados
" :~ e doutorados nos campos da contabilidade e da adminis-
tração.»

A parte final da transcrição acabada de fazer é de extrema


actualidade no que concerne ao nosso País, pois é sabido que as
grandes firmas multinacionais de auditoria detêm a quase tota-
lidade do nosso mercado e que ultimamente até começaram a
realizar em série cursos de contabilidade financeira e de custos,
auditoria interna, «controllership», etc., nalguns casos exclusiva-
mente dirigidos a quadros superiores de ministérios e de empresas
públicas.
Parece contudo que não são remotas as esperanças pelas
quais os Contabilistas portugueses e a Associação que os repre-
senta se vêm batendo de há longos anos.
A próprio nível governamental, e apesar de muitas contra-
dições, tem-se notado algum progresso. De facto depois de o
ex-Secretário de Estado do Ensino Superior, Cruz e Silva, ter
escrito no Diário de Notícias de 16 de Dezembro de 1977 que
«não é admissível pensar, portanto, que uma licenciatura (em
Contabilidade), de que não há experiência no nosso País possa
ser iniciada imediatamente» a mesma individualidade afirmou
aqui, nesta Universidade de Aveiro apenas quatro meses depois
(em 12 de Abril do corrente ano) que «estão a ser elaborados
estudos para que, a muito curto prazo, possa ser criada uma
licenciatura em Gestão e Contabilidade, possivelmente já a partir
do próximo ano lectivo (1978/79). Essa licenciatura, satisfazendo
uma necessidade do País, irá ser delineada tendo em conta a
necessária articulação com os cursos de Contabilidade e Admi-
nistração já existentes».
Por outro lado é também do conhecimento público que do
programa do III Governo Constitucional constava a criação da
licenciatura em Contabilidade.
Façamos pois votos de que os quatro Institutos Superiores
de Contabilidade e Administração, pondo de lado eventuais diver-
gências, algumas até logicamente resultantes do facto de os
actuais bacharelatos terem planos de estudos diferentes, consi-
gam levar avante aquilo porque todos ansiamos: a criação de
uma licenciatura em Contabilidade de carácter bem específico.

562 —
Projecto de Licenciatura em Contabilidade
e Finanças
Por Associação Portuguesa de Contabilistas

A — INTRODUÇÃO

1. POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CONTABI-


LISTAS

1.1. Entendemos que a licenciatura em Contabilidade e


Finanças é uma necessidade premente no quadro do
Ensino Superior da Microeconomia, e constitui na actua-
lidade uma das mais graves lacunas do nosso panorama
escolar.

1.2. Assim, e desde a data da sua constituição (Maio


de 1975), que a Associação Portuguesa de Contabilistas
se vem batendo pela respectiva criação.

1.3. Aliás, o problema já tem raízes históricas, porquanto


desde há muitos anos que diversos Contabilistas perse-
guem, o mesmo objectivo, como o demonstra o trabalho
denominado «Subsídio para a Reforma do Ensino da
Contabilidade — Bacharelato e Licenciatura», — elabo-
rado em 1971 pela então comissão organizadora do Sin-
dicato Nacional dos Contabilistas.

1.4. Porém a defesa pela Licenciatura em Contabilidade e


Finanças assenta em vários considerandos que justifi-
cam a nossa posição.

1.5. Razões que se prendem igualmente com uma impres-


cindível e urgente reorganização do exercício profis-
sional.

- 563
1.6. De facto e mau grado a profusão das licenciaturas exis-
tentes teremos de reconhecer que, para além de uma
notória «indisciplina profissional», o país não possui o
número suficiente de técnicos com formação superior
adequada, à altura de responder eficazmente aos múlti-
plos problemas empresariais dos nossos dias, mormente
nas áreas Contabilísticas e Financeiras.

1.7. Bastará para tanto percorrer pelo interior das nossas


empresas: (pequenas, médias ou grandes, qUer públi-
cas, nacionalizadas ou privadas) para que esta triste
realidade se nos depare com evidência.

1.8. E isto num momento em que o país, pretendendo a sua


integração no espaço económico da C. E.E., sabe vir
a encontrar uma concorrência de empresas com um
desenvolvimento tecnológico notável nas áreas acima
indicadas.
1.9. Por isso e como primeira condição, necessário se torna
que a Licenciatura em Contabilidade e Finanças se não
confunda com outras licenciaturas existentes, que vêm
insistindo na tónica «generalista».
Pretendemos uma Licenciatura bem específica.
1.10. Como segunda condição consideramos que a profundi-
dade e extensão das matérias inerentes à formação
básica e específica de um Contabilista, justificam ampla-
mente o número de anos normal em qualquer curso de
Licenciatura (cinco anos) tendo em vista que irão exer-
cer a sua actividade aos mais alto nível, em campos
como sejam:
-DIRECÇÃO DE CONTABILIDADE E FINAN-
ÇAS — compreendendo a concepção, planificação,
organização, direcção e controlo dos sistemas con-
tabilísticos e financeiros, em função das necessi-
dades da gestão e das exigências legais.
— CONTROLO DE GESTÃO — compreendendo a defi-
nição da estrutura orçamental e a criação e acom-
panhamento de sistemas de informação e controlo
de gestão.
-AUDITORIA CONTABILÍSTICA — (ou Revisão
Contabilística) compreendendo a avaliação dos
sistemas Contabilísticos e das medidas de controlo
interno, o exame e a certificação das demonstra-
ções financeiras e peritagens judiciais.
ENSINO — compreendendo a actividade formativa
de técnicos a todos os níveis, e muito especial-
mente a nível superior.
INVESTIGAÇÃO CONTABILÍSTICA — compreen-
dendo o estudo, desenvolvimento e divulgação das
teorias e práticas Contabilísticas, bem como das
Normas Internacionais de Contabilidade e Audito-
ria dimanadas principalmente pelos seguintes orga-
nismos :
— I. A. S. C. — Internacional Accounting Stan-
dards Committee.
— I. F. A. C. — International F e d e r a t i o n of
Accountants.
— U. E. C. — Union Européenne des Experts
Comptables, Économiques et Fi-
nanciers.
FINANÇAS PÚBLICAS — compreendendo uma par-
ticipação profissional activa nas Áreas da Conta-
bilidade Pública, e Tributária.
FINANÇAS LOCAIS — compreendendo uma parti-
cipação profissional activa na reorganização das
finanças locais (que a exemplo do que sucede
além fronteiras, terá de caminhar para uma orga-
nização Contabilística e Financeira, semelhante
aos modelos empresariais), o que passa pela con-
cepção e planificação de um plano de Contas
específico para as Autarquias locais.

ALGUNS ASPECTOS INTERNACIONAIS

2.1. Num estudo da American Accounting Association, publi-


cado em 1975, acerca das carências em matérias Conta-
bilísticas detectadas em diversos países em vias de
desenvolvimento, apontavam-se entre outras as seguin-
tes:
— extrema carência de Contabilistas a todos os
níveis.

- 565
— o ensino superior da Contabilidade ou não existe
ou é inadequado (em Portugal iniciou-se a nível
de Bacharelato no ano lectivo de 1975/76).
— falta grave de professores de Contabilidade.
— os livros de texto dos autores locais são inade-
quados.
— inexistência de um programa educacional Conta-
bilístico adequado.
— a informação Contabilística não está disponível
a tempo e na forma própria.
— inadequada educação Contabilística dos gestores.
— etc.

2.2. O ensino da Contabilidade a nível superior, é uma rea-


lidade na maior parte dos países industrializados
(cabendo especial referência aos Anglo-Americanos)
com relevância para os E. U. A., Canadá, Austrália,
Japão, Inglaterra, Alemanha, França, etc., etc. (nos
. E. U. A. e noutros países são conferidos ainda os graus
académicos de Mestrado e Doutoramento).

2.3. O ensino da Contabilidade a nível superior tem vindo


a merecer uma atenção e harmonização a nível interna-
cional, conforme o demonstram os diversos congressos
internacionais sobre o assunto.
A Associação Portuguesa de Contabilistas esteve repre-
sentada na IV Conferência Internacional sobre o ensino
da Contabilidade, realizado de 5 a 7 de Outubro de 1977
em Berlim, onde se apresentaram mais de 200 profes-
sores universitários, representando muitas dezenas de
universidades de todo o Mundo.

2.4. A organização profissional quer a nível nacional


quer a nível internacional atingiu um desenvolvimento
extraordinário.
Em termos internacionais, os principais organismos a
nível Mundial ou Regionais (Continentes), promovem
regularmente Congressos, onde são abordados os proble-
mas mais actuais nas áreas Contabilística/Financeira.
A Associação Portuguesa de Contabilistas, que é mem-
bro do I. F. A. C. e do I. A. S. C , esteve representada
nos dois últimos congressos Internacionais:

—11.° Congresso Internacional de Contabilidade


(nível Mundial). Munique — Outubro de 1977.

566 —
— 8.° Congresso da U. E. C. (nível Europeu com
observadores de outros Continentes). Dublin —
Setembro de 1978.
Onde se trataram de entre outros, assuntos relacionados
com:
— Informação Contabilística. As Contas Anuais.
— O tratamento no Balanço das flutuações monetá-
rias (inflação).
— Gastos de pesquisa e desenvolvimento (Contabili-
zação).
— Impostos sobre os lucros.
— Consolidação; Métodos e Contabilização.
— Auditoria Previsional.
— Contabilização dos Recursos Humanos.
— Normas internacionais de Contabilidade.
— Etc.
2.5. Em quase todos os países membros da C. E. E., para
além da auditoria e certificação das Contas anuais, que
é praticada desde há muitos anos, existe já um trata-
mento sistemático (ou não) da Contabilização dos efei-
tos da inflação, uma exigência de informação de Conta-
bilidade dos Recursos Humanos (Social Accounting),
para empresas de determinada dimensão (em França,
as que empreguem mais de 750 trabalhadores), bem
como a execução de Contas Consolidadas (grupos de
empresas, etc.).

3. A LEGISLAÇÃO EM VIGOR E A LICENCIATURA EM CON-


TABILIDADE

Decreto Lei 327/76 de 6 de Maio

3.1. DO PREAMBULO:
«Para além da contabilidade, com um a já longa
tradição, pretende-se nestas escolas (I. S. C s ) criar e
desenvolver um ensino que cubra a formação de técni-
cos destinados sobretudo ao sector público, tanto admi-
nistrativo como empresarial, em matérias como o
controle orçamental, a gestão dé recursos humanos,
financeiros e materiais, a organização e o tratamento
da informação, etc. Orientam-se assim estas escolas

— 567
para a formação de quadros que n a administração e no
controle da gestão financeira possam contribuir para
conferir aos serviços públicos e a essas empresas, uma
eficácia e um dinamismo necessários ao desenvolvi-
mento democrático do País».

3.2. DO ARTICULADO:
Artigo 2." — IV.0 2

Neles (Institutos Superiores de Contabilidade e


Administração) se conferem os graus de bachare-
lato, licenciatura e doutoramento.

Artigo 7.° — N.° 1

Organizado o bacharelato, proceder-se-á à orga-


nização do ensino da licenciatura, também por espe-
cialidades.
A obtenção da licenciatura resultará de uma das
seguintes vias:

a) Cumprimento, após a conclusão do ba-


charelato, de um plano de estudos, gene-
ricamente fixado, dois anos;
b) Cumprimento de um plano individual de
estudos, que poderá comportar exames
«ad hoc» de algumas matérias e presta-
ção de provas constituídas pela apresen-
ção e discussão, pelo candidato, perante
júri de especialistas, dos próprios traba-
lhos profissionais.

OS PARTIDOS POLÍTICOS E A LICENCIATURA EM CON-


TABILIDADE

4.1. Deputada Teresa Ambrósio (PS) — D. A. R. 1." série,


n.° 19 de 14/12/77.

«Acho que sim, que deve ser criada (a licenciatura


em Contabilidade) 0 mais rapidamente possível e arti-
culada com os actuais estudos da informação de Con-
tabilidade».
4.2. Deputada Amélia de Azevedo (PSD) — D. A. R. l.a série,
n.° 20 de 16/12/77.

«Num país como o nosso, em que amplos sectores


da economia foram nacionalizados e em que a iniciativa
privada tem papel de relevo, à face da Constituição, é
imperioso reconhecer à Contabilidade e à profissão de
Contabilista, o mérito que já internacionalmente lhe é
atribuído. A Federação Internacional de Contabilistas
é disso prova evidente, bem como o surgir de um novo
ramo de direito — o Direito Contabilístico — que co-
meça a tomar corpo.

4.3. Deputado Nuno Abecassis (CDS)—D. A. R. 1." série,


n.° 20 de 16/12/77.
«É bom que fique claro, de uma vez por todas, que
contabilidade e administração, constitui uma ciência
autónoma em relação à economia e que, por isso mesmo,
se justifica a sua existência ao nível do ensino univer-
sitário».

«Considero, como disse na minha intervenção, que


há dois casos totalmente diferentes: um é o do Instituto
Superior de Contabilidade e Administração, que deve
ser visto autonomamente e que, a meu ver, deve cons-
tituir efectivamente uma escola universitária, porque
convém que os Srs. Deputados não esqueçam que, se
foi possível aos países desenvolvidos explorarem a orga-
nização de empresas em todo o mundo, foi porque desde
há muito tempo têm investigadores, licenciados e dou-
torados nos campos da contabilidade e da administra-
ção».

4.4. Deputado Jorge Lemos (PCP) — D. A. R. 1." série, n.° 20


de 16/12/77.
«O reconhecimento dos Institutos Superiores de Con-
tabilidade e Administração como escolas superiores, a
formação de bacharéis e a possibilidade de licenciaturas,
previstas na anterior legislação (Decreto-Lei 327/76 de
6 de Maio) era um primeiro passo nesse sentido, na
esteira do que, aliás, sucede na maioria dos países.

— 569
Disso são prova os diferentes trabalhos apresen-
tados à 4.a Conferência Internacional sobre o ensino da
Contabilidade, realizado de 5 a 7 de Outubro deste ano,
em Berlim Oeste, na República Federal da Alemanha».

Deputado Acácio Barreiros ( U D P ) — D . A. R. l. a série,


n.° 20 de 16/12/77.

«Temos de reconhecer a capacidade demonstrada


pelos professores e alunos dos Institutos Superiores (de
Contabilidade e Administração, entre outros) que, não
desmoralizando perante uma tarefa que parecia gigan-
tesca e que alguns consideravam impossível, consegui-
ram levar por diante uma reestruturação profunda e
eficaz dos respectivos cursos (bacharelatos)».

GOVERNOS E A LICENCIATURA EM CONTABILIDADE

Eng.° Marçalo Grilo (Director Geral do Ensino Supe-


rior).
«No que se refere aos Institutos Superiores de Con-
tabilidade, o caso é por um lado semelhante (...) mas
por outro, profundamente diferente, pois que em Por-
tugal não existem licenciaturas em Contabilidade.
E aqui, eu reconheço validade a algumas críticas
que têm sido feitas...»
(Diário de Notícias de 6/12/1977).

Doutor Cruz e Silva (ex-Secretári 0 de Estado do Ensino


Superior).
«Estão a ser elaborados estudos para que, a muito
curto prazo, possa ser criada uma licenciatura em Ges-
tão e Contabilidade, possivelmente já a partir do próximo
ano lectivo. Essa licenciatura, satisfazendo uma neces-
sidade do País, irá ser delineada, tendo em conta a
necessária articulação com os cursos (bacharelatos)
de Contabilidade e Administração já existentes».
(Diário de Lisboa de 13/4/1978).

Programa do 3.° Governo Constitucional.


Como é sabido, no programa do 3.° Governo Cons-
titucional, — capítulo relativo ao Ensino Superior — ,
consta a criação da licenciatura em Contabilidade.
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571
I.» ANO H/S

Matemática I 6
Noções Fundamentais de Direito 4
Economia I 4
Introdução às Ciências Sociais 3
Contabilidade Financeira I 6
23

2.° ANO H/S

Matemática II 6
Direito Comercial 3
Economia II 4
Organização e Gestão de Empresas I 3
Psicossociologia de Empresa 2
Contabilidade Financeira II 6
24

3.° ANO H/S

Estatística 4
Matemática Financeira 3
Direito Fiscal 4
Organização e Gestão de Empresas II 3
Contabilidade Financeira III 4
Contabilidade de Custos e Gestão I 6 ;
24

4." ANO H/S

Análise Quantitativa (Investigação Operacional) 4


Teoria dos Sistemas de Informação 3
Análise Financeira 3
Finanças Públicas e Locais / suas Contabilidades 4
Auditoria I 3
Contabilidade de Custos e Gestão II 6
23
5° ANO H/S

Contabilidade Nacional
Processamento Electrónico de Dados
Gestão Financeira
Análise de Investimentos
Auditoria II
Planeamento de Resultados, Técnicas Orçamentais e Controlo
Seminários
24

Programas das Cadeiras

MATEMÁTICA I (1.° ANO)

1. Conjuntos.
2. Teoria dos números.
3. Matrizes e determinantes.
4. Limites das funções reais de uma variável real.
5. Séries.
6. Funções reais de uma variável real continuidade.
7. Funções reais de uma variável real, derivadas e elasticidades,
primitivas e primitivas elásticas.

NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO (1.° ANO)

1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA NORMA JURÍDICA

1.1. O homem em sociedade.


1.2. Normas de cortesia, morais, religiosas e jurídicas.
1.3. Conceito de direito objectivo e subjectivo.
1.4. Meios de tutela do direito.
1.5. Divisões do direito.
1.6. Classificação das normas jurídicas.

- 573
1.7. Fontes de direito.
1.8. Vigência e revogação da lei.
1.9. Interpretação da norma jurídica.
1.10. Integração das lacunas da lei.
1.11. Aplicação das leis no tempo.

2. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS

2.1. As várias acepções de relação jurídica.


2.2. Os elementos da relação jurídica.
2.3. Os sujeitos: pessoas singulares.
2.4. Os sujeitos: pessoas colectivas.

3. NEGÓCIO JURÍDICO i ••

3.1. Conceito.
3.2. Noções breves sobre a invalidade dos negócios por erro,
dolo, coacção ou incapacidade acidental.
3.3. Prescrição e caducidade.
3.4. Prova dos direitos.

4. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

4.1. Conceitos de obrigação.


4.2. Fontes das obrigações.
4.3. Contratos em especial.
4.4. Garantias das obrigações.
4.5. Responsabilidade civil.
4.6. Modalidades das obrigações.

5. DIREITO DAS COISAS

5.1. Noção e aspectos mais importantes.


5.2. Os direitos de propriedade e de compropriedade.

6. DIREITO DE FAMÍLIA

6.1. Fontes das relações jurídicas familiares.


6.2. Noção de casamento e modalidades.
6.3. Regime de bens.

574 -
6.4. As dívidas dos cônjuges.
6.5. Separação dos cônjuges e dos bens.

7. DIREITO DAS SUCESSÕES


7.1. A sucessão legítima e a sucessão testamentária.
7.2. Caracteres que as distinguem, nas suas linhas essenciais.

ALGUNS ASPECTOS DO PROCESSO CIVIL


8.1. A proibição de autodefesa.
8.2. O patrocínio judiciário.
8.3. Espécies de acções.
8.4. Competência dos tribunais.
8.5. Os tribunais de comarca.
8.6. Possibilidade de fixar o tribunal competente por vontade das
partes.
8.7. Consequência da incompetência do tribunal.
8.8. Formas dos processos.
8.9. A possibilidade de pôr termo a um processo.
8.10. O valor das causas.
8.11. Alguns procedimentos cautelares.

ECONOMIA I (1.° ANO)

CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO

1. O Objecto da Economia.
2. O Carácter Científico da Economia.
3. O Método da Ciência Económica.
4. Tipos de Análise Económica.
5. A Natureza do Problema Económico.

CAPÍTULO II
ORGANIZAÇÃO DA ACTIVIDADE ECONÓMICA
1. Sistemas, regimes e estruturas económicas.
2. A morfologia da actividade económica.

- ,575
3. Classificação' dos sistemas económicos.
4. A noção de tipo de organização.
5. Valor e papel da estrutura económica.
6. Os problemas centrais da organização da actividade económica.

CAPÍTULO III

MODOS DE PRODUÇÃO E FORMAÇÕES SOCIAIS

1. Forças produtivas e relação de produção.


2. Os modos de produção.
3. A consciência social.
4. As formações sociais.
5. As mudanças de formação social.
6. O materialismo histórico.

CAPÍTULO IV

MICROECONOMIA

1. Introdução.
2. Procura e plano dos compradores.
3. Oferta e custos de produção.
4. Mercados e formação de preços.

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS (1.° ANO)

1. A natureza das ciências sociais.


2. O objectivo das ciências sociais.
3. A problemática investigação empírica.
4. A interdisciplinariedade e a conflitualidade das ciências sociais.
5. A antropologia.
6. A demografia.
7. A ecologia.
8. A sociologia.
9. A futurologia.
10. Ciências sociais e política social.

576 -
CONTABILIDADE FINANCEIRA I

1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONTABILIDADE

1.1. Fins e natureza da Contabilidade.


1.2. Ramos e especializações.
1.3. Elementos básicos do património.
1.4. A equação básica da Contabilidade.

2. ANALISE E CLASSIFICAÇÃO DAS TRANSACÇÕES

2.1. A Conta.
2.2. Débito e Crédito.
2.3. Partida simples e partida dobrada.
2.4. O Razão.
2.5. A lista das contas.
2.6. O Balancete.

3. ESCRITURAÇÃO DAS TRANSACÇÕES

3.1. O Diário.
3.2. Escrituração do Diário.
3.3. Passagem ao Razão.
3.4. Transacções repetitivas.
3.5. Razões especiais.
3.6. Diários especiais.
3.7. Sistemas de escrituração.

4. ESTUDO DAS CONTAS

4.1. Desenvolvimento do sistema de escrituração.


4.2. Estudos das contas do P. O. C.

5. PROCEDIMENTOS DE AJUSTE E FECHO DE CONTAS

5.1. O princípio da especialização dos Exercícios.


5.2. O Balancete de verificação.
5.3. Lançamento de ajuste.
5.4. Balancete Final.

37
- 577
6. MAPAS CONTABILÍSTICOS FUNDAMENTAIS

6.1. Objectivos e propriedades dos principais mapas financeiros.


6.2. 0 Balanço.
6.3. Contas de Resultados.
6.4. Anexos ao Balanço.
6.5. Mapas de origem e aplicação de fundos.

7. ESTUDO APROFUNDADO DO PLANO OFICIAL DE CONTA-


BILIDADE

MATEMÁTICA II (2.° ANO)

1. Funções reais de uma variável real. Funções deriváveis.


2. Funções reais de uma variável real. Integral de Riemann.
3. Cálculo diferencial das funções de mais de uma variável real.
4. Cálculo integral das funções de mais de uma variável real.
5. Probabilidades.
6. Variáveis aleatórias e suas distribuições.
7. Parâmetros das distribuições.
8. Funções geratrizes.
9. Distribuições mais importantes.
10. Resultados assimptóticos.

DIREITO COMERCIAL (2.° ANO)

1. Introdução.
2. Actos de comércio.
3. Relações jurídico-comerciais.
4. Os comerciantes: Aspectos gerais.
5. Obrigações especiais dos comerciantes.
6. Sociedades comerciais.
7. A falência.
8. Títulos de crédito.

578 -
ECONOMIA II (2.° ANO)

CAPÍTULO V

MACROECONOMIA
1. Introdução.
2. Escola Clássica.
3. Karl Marx.
4. Marginalistas.
5. J. M. Keynes.
CAPÍTULO VI

MOEDA E CRÉDITO

Noção de moeda.
Evolução histórica da moeda.
Sistemas monetários.
A moeda bancária.
O valor da moeda.
O orçamento e as finanças públicas.
Aspectos monetários do comércio internacional.
A moeda em sistemas de economia de direcção central.

CAPÍTULO VII

RELAÇÕES ECONÓMICAS INTERNACIONAIS

1. A cooperação económica internacional.


2. A Comunidade Económica Europeia (CEE).
3. A Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA).
4. O Conselho de Assistência Económica Mútua (COMECON).

CAPÍTULO VIU

DESENVOLVIMENTO E PLANEAMENTO ECONÓMICOS

1. Introdução. Relatividade dos conceitos de subdesenvolvimento.


2. Caracterização do subdesenvolvimento.
3. Desenvolvimento económico.
4. Planeamento económico.

- 579
CAPÍTULO X

ECONOMIA PORTUGUESA
1. Aspectos globais.
2. Relações externas.
3. Aspectos sectoriais.

ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE EMPRESAS I (2.° ANO)

I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ORGANIZAÇÃO E GESTÃO


DE EMPRESA

1. A Empresa.
2. A Empresa e o Sistema Económico.
3. As doutrinas da Organização.

II - ORGANIZAÇÃO, ESTRUTURA, COMUNICAÇÃO

1. Noção de organização e estrutura.


2. Organização da empresa.
3. Estrutura da empresa.
4. Comunicação na empresa.

Ill-PRINCIPAIS PUNÇÕES NA EMPRESA

1. Função Produção: factores e objectivos a atingir.


2. Função Aprovisionamento.

PSICOSSOCIOLOGIA DA EMPRESA (2.° ANO)

I PARTE

I — A Psicologia e a Sociologia; conceitos e domínios.


II — A evolução histórica do trabalho individual e em grupo.
III — As tendências actuais da evolução do trabalho.
IV — Os problemas resultantes da automação do trabalho.
V — Os problemas originados pela fadiga nervosa e pela mono-
tonia.
VI — A adaptação do homem ao trabalho.
VII — A adaptação do trabalho ao homem.

580 -
II PARTE

VIII — O Espírito de Grupo na Empresa.


IX — As equipas de trabalho.
X — O fortalecimento do Espírito de Grupo pelo reforço dos laços
que unem o trabalhador à empresa.
XI — A formação de dirigentes.
XII — As comunicações da empresa.
XIII — A estrutura da empresa.
XIV — A dinâmica da empresa.
XV — A formação psicológica dos quadros.
XVI — A apreciação do trabalho.
XVII — A apreciação do trabalhador.

III PARTE

X V m — Relações com outras empresas.


XIX — A empresa e o público.
XX — As Relações Públicas.

CONTABILIDADE FINANCEIRA II

1. PRINCÍPIOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1.1. Conceito de entidade.


1.2. O princípio da continuidade (going concern).
1.3. O conservantismo, princípio fundamental de mensuração.
1.4. Consistência.

2. MENSURAÇÃO E CONTROLO DOS VALORES MONETÁRIOS

2.1. Disponibilidades.
2.2. Créditos.
2.3. Débitos.
2.4. Provisões.
2.5. Normas nacionais.
2.6. Normas internacionais: C. E. E.; I. A. S. C.

3. MENSURAÇÃO E CONTROLO DAS EXISTÊNCIAS

3.1. Critérios de valorimetria.


3.2. Provisões.

- 581
3.3. Normas nacionais.
3.4. Normas internacionais: C. E. E.; I. A. S. C.

3. MENSURAÇAO E CONTROLO DAS IMOBILIZAÇÕES


4.1. Das imobilizações financeiras.
4.2. Provisões.
4.3. Das imobilizações técnicas.
4.4. Amortizações e Reintegrações.
4.5. Normas nacionais.
4.6. Normas internacionais: C. E. E.; I. A. S. C.

5. MENSURAÇAO E CONTROLO DAS ANTECIPAÇÕES


5.1. Antecipações correntes.
5.2. Custos plurienais.
5.3. Normas nacionais.
5.4. Normas internacionais.

6. MENSURAÇAO DO CAPITAL RESERVAS E RESULTADOS


6.1. Capital social e prestações suplementares.
6.2. Reservas.
6.3. Resultados Correntes.
6.4. Resultados Extraordinários e de Exercícios Anteriores.
6.5. Resultados líquidos.
6.6. Resultados transitados.
6.7. Normas nacionais.
6.8. Normas internacionais: C. E. E.; I. A. S. C.

7. MAPAS CONTABILÍSTICOS
7.1. Políticas Contabilísticas enquadradoras.
7.2. Estudo aprofundado dos diferentes mapas financeiros.
7.3. Normas nacionais.
7.4. Normas internacionais: C. E. E.; I. A. S. C.

ESTATÍSTICA (3.° ANO)

I PARTE —ESTATÍSTICA DESCRITIVA


1. Noções Fundamentais.
2. A Recolha e a Crítica dos Dados — A representação

582 —
tabular e gráfica: Coordenadas e representações
cartesianas, polares e triangulares.
3. Parametrização : — o s parâmetros de posição, de
dispersão, de assimetria, de achatamento e de con-
centração.
4. Números — índices.
5. Correlação e Regressão.
6. Ajustamentos.

II PARTE - ANÁLISE ESTATÍSTICA

1. Controlo Estatístico.
2. Amostragem.
3. Estimação.
4. Ensaio de Hipóteses.

MATEMÁTICA FINANCEIRA (3.° ANO)

CAPÍTULO I

REGIMES DE CAPITALIZAÇÃO: CONCEITOS BÁSICOS

1.1. Operações financeiras.


1.2. Capital e Juro.
1.3. Regimes particulares de capitalização.
1.4. Regime de capitalização a juro simples.
1.5. Regime de capitalização a juro composto.
1.6. Comparação entre os regimes de capitalização a juro simples
e composto.
1.7. Taxas equivalentes.
1.8. Taxa nominal e taxa efectiva ou real.

CAPÍTULO II

RENDAS

2.1. Definição e classificação de rendas.


2.2. Rendas inteiras de termos constantes.
2.3. Rendas de termos variáveis.

- 583
CAPÍTULO III

FUNDOS DE AMORTIZAÇÃO
3.1. Definição.
3.2. Aplicação dos fundos de amortização.
3.3. Problemas característicos do fundo de amortização.
3.4. Fórmulas para o cálculo dos fundos de amortização.

CAPÍTULO IV

AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
4.1. Definição.
4.2. Distinção entre amortização e fundo de amortização.
4.3. Formas de amortização.
4.4. Amortização por meio de quotas constantes.
4.5. Amortização mediante uma sucessão de quotas variáveis.
4.6. Quadros de amortização.
4.7. Plena propriedade, domínio directo e usufruto de um empréstimo.

CAPÍTULO V

EMPRÉSTIMOS POR OBRIGAÇÕES

4.1. Definição e classificação de obrigações.


5.2. Obrigações em que o vencimento dos juros coincide com as
amortizações pelo valor nominal.
5.3. Obrigações cujos juros são pagos fraccionadamente.
5.4. Obrigações a amortiza- por valor diferente do valor nominal.
5.5. Perdendo o direito ao cupão no momento da amortização das
obrigações.

DIREITO FISCAL (3.° ANO)

1." PARTE — NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO FISCAL

I —ACTIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

1. Despesas públicas e receitas públicas.


2. Enquadramento do imposto no Orçamento Geral do
Estado.
3. Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal.

584 -
II FISCALIDADE E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS

1. Natureza do Direito Fiscal.


2. Fontes do Direito Fiscal.
3. Interpretação e integração da lei fiscal.
4. Aplicação da lei fiscal no tempo e no espaço.

O IMPOSTO
m
1. Conceito de imposto.
2. Fases do imposto.
3. Garantias do pagamento do imposto.
4. Classificação dos impostos.

2.a PARTE —OS IMPOSTOS NA ESPECIALIDADE


Estudo dos impostos do sistema fiscal português, com rele-
vância para os mais intimamente ligados à vida empresarial:

I —OS IMPOSTOS SOBRE O RENDIMENTO


1. Imposto Profissional.
2. Imposto de Capitais.
3. Contribuição Industrial.
4. Contribuição Predial (referência aos aspectos mais im-
portantes) .
5. Imposto Complementar.

II — UM IMPOSTO SOBRE OS GANHOS DE CAPITAIS: o im-


posto de mais-valias.

III — OS IMPOSTOS SOBRE O CAPITAL

Ligeira referência aos seguintes impostos:


1. Sisa.
2. Imposto sobre as sucessões e doações.

IV —OS IMPOSTOS SOBRE A DESPESA

1. O imposto de transacções.
2. O imposto do selo.

- 585
V - NOÇÕES DE PROCESSO DAS CONTRIBUIÇÕES E IM-
POSTOS

ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE EMPRESAS II (3.° ANO)

I-PRINCIPAIS FUNÇÕES NA EMPRESA

1. Função Comercial

1.1. Importância e objectivos da função comercial.


1.2. Estudos comerciais.
1.3. Preparação, realização e análise das vendas.
1.4. Exportação.
1.5. Administração das vendas.
1.6. Controlo das acções comerciais.

2. Função Pessoal

2.1. Importância e objectivos da gestão de pessoal.


2.2. Missão e tarefas de um Serviço ou Direcção de Pessoal.
2.3. Políticas gerais.
2.4. Políticas particulares e técnicas de gestão de pessoal.
Previsão, Recrutamento, Selecção, Acolhimento, Análise
de Postos, Remunerações, Qualificação de Funções, etc.
2.5. Direito do trabalho.

II - TENDÊNCIAS MODERNAS DE DIRECÇÃO E ORGANIZAÇÃO


1. Direcção participativa por objectivos (DPO).
2. Cogestão.
3. Autogestão.

CONTABILIDADE FINANCEIRA III

1. A CONTABILIDADE NUM CONTEXTO INFLACIONÁRIO


1.1. O que é a inflação
1.2. Mensuração da inflação
1.3. Efeito da alteração do nível de preços na Contabilidade

586 -
1.4. Evolução histórica
1.5. A contabilidade a valores de poder de compra constante
(Current parchasing power accounting)
1.6. A contabilidade a valores correntes (Current Value Accoun-
ting)
1.7. Relato financeiro dos efeitos da inflação
1.8. Normas nacionais
1.9. Normas internacionais.

FORMAÇÃO DAS EMPRESAS


2.1. Sociedades
2.2. Organizações não lucrativas

EXPANSÃO DAS EMPRESAS


3.1. Estatutárias
Fusões e Absorções
Holding
3.2. Económicas
Filiais
Consolidações
3.3. Operações sobre o Estrangeiro

CONTRACÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES


4.1. Retiradas
4.2. Liquidações
4.3. Quase Reorganizações

DESENVOLVIMENTOS RECENTES DA DISCIPLINA

INTRODUÇÃO A CONTABILIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE


SOCIAL DA EMPRESA (SOCIAL RESPONSABILITY ACCOUN-
TING)

CONTABILIDADE DE CUSTOS E GESTÃO I (3.° ANO)

INTRODUÇÃO
1.1. A empresa industrial. Sua evolução.
1.2. Natureza e âmbito da Contabilidade de Custos.

- 587
1.3. O Ciclo da Contabilidade de Custos.
1.4. O Contabilista de Custos e as suas funções.
1.5. A contabilidade de Custos e outras técnicas quantitativas.

2. OS CUSTOS, SUA ANÁLISE E RELAÇÃO COM OS RESUL-


TADOS

2.1. Definição de Custo.


2.2. As diferentes configurações dos conceitos de despesa, custo,
perda e pagamento.
2.3. Os custos e os seus objectos.
2.4. A formação do custo dos produtos.
2.5. Os custos, os proveitos e os resultados.
2.6. Outras classificações de custo.
2.7. Análise matemática e gráfica dos custos.

3. OS ELEMENTOS DO CUSTO INDUSTRIAL

3.1. Matérias. Controlo e Contabilização.


3.2. Mão-de-obra. Controlo e Contabilização.
3.3. Gastos de Fabrico. Controlo e Contabilização.

4. OS SISTEMAS DE RELEVAÇÃO E A ORGANIZAÇÃO DA CON-


TABILIDADE ANALÍTICA

4.1. O Regulamento de Contabilidade e o Plano de Contas.


4.2. Os Sistemas de articulação das Contabilidades.
4.3. O Sistema duplo contabilístico.
4.4. A organização do Departamento de Contabilidade de Custos.

5. OS MÉTODOS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTO

5.1. Custeio por processos.


5.2. Custeio por encomendas.
5.3. Produções conjuntas, Subprodutos e Resíduos.

6. OS SISTEMAS DE CUSTEIO

6.1. Sistema de Custos Reais.


6.2. Sistema de Custos Preestabelecidos.
6.3. Sistema de Custos de Imputação Racional.
6.4. Sistema de Custos variáveis (Direct Costing).

588 -
ANÁLISE QUANTITATIVA (Investigação Operacional) (4.° ANO)

1. Natureza da investigação operacional.


2. Aspectos metodológicos.
3. Programação matemática (lineares).
4. Teoria dos grafos.
5. Fenómenos de espera.
6. Teoria dos jogos.
7. Vida dos equipamentos.
8. Gestão de stocks.
9. Técnicas de simulação.

TEORIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO (4.° ANO)

1. PROGRAMAÇÃO E CONTROLO DO TRABALHO ADMINIS-


TRATIVO

1.1. Programação do trabalho.


1.2. Controlo do trabalho.
1.3. Sistemas de representação: método PERT.

2. ANÁLISE TÁBUAS DE DECISÃO

2.1. Conceitos básicos.


2.2. Análise das tábuas de decisão.
2.3. Simplificação das tábuas de decisão.
2.4. Exercícios de análise utilizando tábuas de decisão.

3. NOÇÕES DE INFORMÁTICA DE GESTÃO

3.1. Generalidades.
3.2. Orgânica do computador.
3.3. Bases da programação.
3.4. Software.
3.5. Tratamento da informação.

- 589
ANÁLISE FINANCEIRA (4.° ANO)

FUNDAMENTOS DA ANÁLISE FINANCEIRA

1. As demonstrações contabilísticas e a óptica finan-


ceira.

1.1. O Balanço.
1.2. A Conta de Resultados Líquidos.
1.3. A situação da Tesouraria e a liquidez.
1.4. Os circuitos financeiros no quadro das demons-
trações contabilísticas.
1.5. Lucro, liquidez, fundos.

2. Apresentação das principais demonstrações contabi-


lísticas normalizadas.

2.1. Lógica contabilística e lógica financeira.

O MÉTODO DOS RÁCIOS

1. Análise dos principais rácios utilizados.

1.1. Análise do equilíbrio financeiro — Os rácios do


Balanço.
1.2. Análise do equilíbrio da Gestão — Os rácios das
Demonstrações dos Resultados Líquidos.
1.3. Análise da aplicação dos recursos — Os rácios
compostos.

2. Os principais métodos de utilização dos rácios.


2.1. Utilização tendencial.
2.2. Utilização normativa.
2.3. Utilização estatística.

3. Prática do método dos rácios.


3.1. O Método dos rácios na Banca.
3.2. O Método dos rácios no controlo financeiro e
controlo de gestão.
CAP. Ill — OS FLUXOS DE FUNDOS

1. Conceitos fundamentais.

2. Fluxo de fundos e variação do fundo de maneio.

2.1. A metodologia do fluxo de fundos.


2.3. Construção de mapas de origem e aplicação de
fundos.
2.3. Mapas de origem e aplicação de fundos norma-
lizados.

3. As necessidades de fundo de maneio.

3.1. Definição e utilidade da noção de Fundo de Ma-


neio.
3.2. Análise da natureza das necessidades de Fundo
de Maneio.
3.3. Cálculo das necessidades de Fundo de Maneio.

CAP. IV - SENSIBILIDADE E ANALISE DE RISCOS

1. A sensibilidade em análise financeira.

1.1. A sensibilidade aos Resultados Líquidos.


1.2. A sensibilidade ao Cash-Flow e as necessidades
de Fundo de Maneio.

2. O tratamento da informação.

2.1. Reformulação do conceito de fluxo de fundos.


2.2. O Mapa das variações de tesouraria.

3. Metodologia e Análise do risco.

CAP. V - DIAGNÓSTICO FINANCEIRO E PLANIFICAÇÃO

1. Diagnóstico Financeiro — metodologia.

1.1. A compreensão dos dados.


1.2. Análise previsional.

- 591
2. A planificação financeira.
2.1. Os horizontes económicos.
2.2. Os principais tipos de planificação.
2.3. Os modelos financeiros.

FINANÇAS PÚBLICAS E LOCAIS, SUAS CONTABILIDADES


(4.° ANO)
FINANÇAS PÚBLICAS:
1. Introdução.
2. Orçamento e Conta.
3. Despesas Públicas.

3.1. Despesas públicas e rendimento nacional.


3.2. Despesas públicas e emprego.
3.3. Despesas públicas e subdesenvolvimento.

4. Crédito Público.
4.1. Empréstimos públicos.
4.2. Dívida pública.

5. Receitas efectivas.
5.1. Receitas patrimoniais.
5.2. Taxas.
5.3. Impostos
— Repartição dos impostos.
— Técnica tributária.
— Efeitos económicos dos impostos.

FINANÇAS LOCAIS:

1. Introdução.
2. Estudo da Legislação em vigor.

592 -
AUDITORIA I (4.° ANO)

1. Objectivos, natureza e alcance do controlo interno e da auditoria


interna.
2. O processo do controlo interno.
3. Elementos do controlo interno.

4. Traçado de fluxogramas.
5. Medidas de controlo interno.

5.1. Generalidades.
5.2. Caixa e Depósitos à Ordem.
5.3. Vendas, Expedição, Facturação e Contas a Receber.
5.4. Compras, Recepção, Produção e Contas a Pagar.
5.5. Existências.
5.6. Imobilizações.
5.7. Folhas de Ordenados e Salários.
6. Técnicas de estatística e amostragem.

7. Organização de um departamento de Auditoria Interna.

8. O Relatório do Auditor Interno.

CONTABILIDADE DE CUSTOS E GESTÃO II (4.° ANO)

1. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DOS CUSTOS. ORÇAMENTO


FLEX/VEL
1.1. Objectivos do controlo orçamental.
1.2. Capacidade e volume (actividade): diferença entre estes con-
ceitos.
1.3. Níveis de capacidade.
1.4. Revisão da análise do comportamento dos custos estudada
em Contabilidade de Custos e Gestão I. Determinação dos
elementos fixos e variáveis dos gastos semi-variáveis : Mé-
todos dos pontos extremos, do gráfico de dispersão e dos
mínimos quadrados.
1.5. Elaboração do orçamento flexível. Análise da correlação
estatística.

38 — 593
1.6. A orçamentação flexível por meio de tratamento electrónico
de dados.
1.7. Orçamento flexível de uma secção auxiliar (departamento de
serviço).
1.8. Orçamentos flexíveis dos gastos de comercialização (marke-
ting) e de administração.

2. OS CUSTOS E O CONTROLO INTERNO DA EXPLORAÇÃO:


CUSTOS-PADRÕES

2.1. Estabelecimento de padrões e análise de desvios.


2.2. Utilidade gestiva da análise dos desvios ou variações.
2.3. O controlo estatístico da qualidade e os custos - padrões :
A dispersão, o desvio padrão, a curva normal e os gráficos
de controlo (estes, segundo o método americano).

3. PROCEDIMENTOS CONTABILÍSTICOS E CUSTO-PADRÃO.


AVALIAÇÃO DE CUSTOS E DESVIOS.

3.1. A conta de fabricação em sistema parcial e em sistema total


(conceito da técnica americana: partial plan e single plan).
3.2. Modos de contabilização das matérias a custos-padrões.
3.3. Modos de contabilização da mão-de-obra a custos-padrões.
3.4. Modos de contabilização dos gastos fabris a custos-padrões
(dois desvios, três desvios e quatro desvios).
3.5. Lançamentos de Diário relativos às variações de compo-
sição e de rendimento.
3.6. Contabilização dos produtos acabados a custos-padrões.
3.7. Controlo dos desvios e responsabilidade pelos mesmos.
3.8. Limites de tolerância no controlo dos desvios; exemplos.
3.9. Destino contabilístico dos desvios.
3.10. A revisão dos padrões.
3.11. A Análise dos desvios no sistema de custeio variável a
custos-padrões.

4. SISTEMA DE INFORMAÇÃO E DEMONSTRAÇÕES RELATIVA-


MENTE AS RESPONSABILIDADES.

4.1. Nota introdutória.


4.2. Controlo dos custos industriais e prestação de contas inerentes
à responsabilidade.
4.3. Bases fundamentais dos relatórios de custos.

594 -
5. O CUSTEIO VARIÁVEL E A MARGEM DE COBERTURA.

5.1. Definição e facetas do custeio variável (Direct Costing).


5.2. Usos internos do custeio variável.
5.3. Usos externos do custeio variável.
5.4. O custeio da distribuição e a rendibilidade dos produtos.
5.5. O «PONTO DE IGUALDADE» (Ponto de equilíbrio ou ponto
morto) e a análise das relações «CUSTO-VOLUME-RESUL-
TADOS».

6. A CONTABILIDADE AGRÍCOLA E OS CUSTOS AGRO-PECUÁ-


RIOS.

6.1. A empresa agrícola e os objectivos da gestão.


6.2. Formas jurídicas, económicas e sociais da empresa agrícola.
Cooperativas agrícolas e análise de estatutos-tipo. Regime
fiscal.
6.3. Os factores da produção agrícola e o sistema de produção.
6.4. Resultados económicos e encargos da empresa agrícola se-
gundo a nomenclatura internacional.
6.5. Organização administrativa; apreciação de organogramas.
6.6. O património da empresa agrícola.
6.7. Organização contabilística.

CONTABILIDADE NACIONAL (5.° ANO)

1. INTRODUÇÃO

1.1. Definições de CN.


1.2. Os elementos económicos da CN.
1.3. Os fluxos de valor e os fluxos monetários.
1.4. A CN. e a contabilidade da empresa.

2. MACROCONTABILIDADE

2.1. A agregação dos elementos constitutivos.


2.2. A agregação dos agentes e das actividades.
2.3. A agregação das operações.
2.4. A estrutura das macrocontabilidades.

— 595
3. SISTEMAS NORMALIZADOS DE CN.

3.1. O sistema Anglo-Saxónico.


3.2. O sistema Francês.
3.3. O sistema da ONU.
3.4. Outros sistemas.

4. A COMPARABILIDADE DOS AGREGADOS E DAS CONTAS


NACIONAIS

4.1. A comparabilidade dos agregados.


4.2. A comparação temporal.
4.3. A comparação espacial.

5. ANÁLISE ESTRUTURAL

5.1. Objectivos.
5.2. Utensílios matemáticos.
5.3. Análise «Input-Output».

6. O SISTEMA DE CN. PORTUGUESA

6.1. Estrutura e metodologia.


6.2. As fontes estatísticas.

7. AS UTILIZAÇÕES DA CN.

7.1. A Análise da evolução económica.


7.2. A previsão económica.
7.3. A utilização ao nível da empresa.

PROCESSAMENTO ELECTRÓNICO DE DADOS (5.° ANO)

1. PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PROCESSAMENTO DE DADOS

1.1. O tratamento da informação•— complementos.


1.2. Definição de Processamento de dados.
1.3. Máquinas utilizadas no processamento de dados.

596 —
2. FUNCIONAMENTO DO ORDENADOR

2.1. Representação de dados.


2.2. Códigos.
2.3. Unidade central de processamento.
2.4. Unidades de: entrada, saída, memória e especiais. «Buf-
fers».
2.5. Transmissão de dados.

3. OS SUPORTES DE REGISTO DE DADOS

3.1. O cartão perfurado.


3.2. A banda de papel perfurada.
3.3. A banda magnética.
3.4. Discos — Tambores — Folhas magnéticas.
3.5. Caracteres magnéticos e ópticos.

4 OS SISTEMAS DE PROGRAMAÇÃO

4.1. Fluxogramas.
4.2. Linguagem máquina.
4.3. Linguagens simbólicas: assembler, Cobol, Outras.
4.4. Controle e exploração.

5. O TELETRATAMENTO

5.1. Diferentes formas de teletratamento.


5.2. Terminais clássicos.
5.3. Terminais com resposta audiovisual.

6. A ANÁLISE DE SISTEMAS

6.1. Introdução.
6.2. O analista e o meio ambiente.
6.3. A captação e t"ansmissão de dados.
6.4. Pesquisa e registo de factos.
6.5. Processos de comunicação.

7. A ORGANIZAÇÃO DE FICHEIROS E PROCESSAMENTO

7.1. Noção de arquivo em ficheiros.


7.2. Ficheiros contínuos e de acesso directo.

- 597
7.3. Critérios de Escolha.
7.4. Segurança de ficheiros.

8. SISTEMA A UTILIZAR E SISTEMA DE CONTROLO

8.1. Objectivos do estudo do sistema.


8.2. Concepção geral do sistema.
8.3. Tipos de documentação e especificação.
8.4. Controlo da preparação de dados.
8.5. Validação do controlo das entradas e saídas.

9. IMPLEMENTAÇÃO

9.1. Planeamento da implementação.


9.2. Conversão de ficheiros.
9.3. Teste do sistema.
9.4. Comunicar o sistema.
9.5. Manuais e auxiliares de execução.

10. CÁLCULO DE TEMPOS. CAPACIDADE DE PRODUÇÃO E


CUSTO

10.1. Cálculo de tempos da unidade central e periféricos.


10.2. Cálculo de tempos do sistema.
10.3. Capacidade de produção e custo: Medidas do sistema e
medidas para análise de sistemas e programação.

GESTÃO FINANCEIRA (5.° ANO)

CAP. . I — GESTÃO FINANCEIRA — INTRODUÇÃO

1 — O conteúdo da gestão financeira.

1.1. Função política e gestão financeiras.


1.2. Gestão financeira e controlo de gestão.

2 — Previsão e princípios de gestão.

2.1. As previsões financeiras.


2.2. Os princípios da gestão financeira.

598 —
CAP. II —A GESTÃO FINANCEIRA DE CRÉDITO A CLIENTES

1 — 0 acordo de crédito aos clientes.

1.1. Os fundamentos da decisão.


1.2. Os componentes da política de crédito.

2 — Gestão Financeira do crédito a clientes.

2.1. Função e situação dos serviços de crédito a


clientes.
2.2. A pesquisa das informações.
2.3. O controle.
2.4. A recuperação dos créditos.
2.5. O factoring.

CAP. Ill - OS CRÉDITOS BANCÁRIOS; PRINCÍPIOS E FORMAS


DE INTERVENÇÃO DOS BANCOS

1 — Os princípios da intervenção.

1.1. As técnicas de intervenção.


1.2. As necessidades de crédito a curto termo.

2 — As formas de intervenção.

CAP. I V - O S CRÉDITOS ESPECÍFICOS

1 — O financiamento no mercado público.

1.1. A especificidade deste financiamento.


1.2. Operações de financiamento no mercado pú-
blico.

2 — Os créditos à exportação.

CAP. V - PRINCÍPIOS E LÓGICA DAS RELAÇÕES BANCÁRIAS


DAS EMPRESAS

1 — Estrutura e lógica interna do sector bancário.

2 — A oferta de crédito.

— 599
CAP. V I - G E S T Ã O DA TESOURARIA

1 — Definições gerais.

1.1. Conceito de tesouraria.


1.2. O papel do tesoureiro.

2 — Aspecto interno da gestão de tesouraria.

2.1. Previsão.
2.2. A acção do tesoureiro.
2.3. Os meios de pagamento.

3 — Aspecto externo da gestão de tesouraria.

3.1. A gestão da tesouraria ao nível nacional.


3.2. A gestão da tesouraria ao nível internacional.
3.3. Os riscos das flutuações monetárias.

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS (5.° ANO)

1. O CONCEITO DE INVESTIMENTO

1.1. O conceito de investimento.


1.2. Categorias de investimento.
1.3. Conjuntura técnica e investimentos.
1.4. Investimentos e plano a longo prazo.
1.5. Aspectos contabilísticos do investimento.
1.6. O problema das amortizações.

2. RENDIBILIDADE DOS INVESTIMENTOS

2.1. Conceito de rendibilidade.


2.2. O problema da actualização.
2.3. Método de cálculo da rendibilidade
2.4. O método dos valores actuais dos movimentos de caixa.
2.5. Rendibilidade total e parcial.

600 -
3. PROGRAMAÇÃO DOS INVESTIMENTOS

3.1. Princípios de programação.


3.2. Preparação dos elementos básicos.
3.3. Determinação de um programa de custo mínimo.
3.4. Estudo de variantes e sua escolha.

4. FINANCIAMENTO DOS INVESTIMENTOS

4.1. Estabelecimento do programa financeiro.


4.2. As fontes de capitais.
4.3. Selecção dos meios financeiros.
4.4. Acesso aos meios financeiros.
4.5. O custo do financiamento.

5. CONTROLO DOS INVESTIMENTOS

5.1. Princípios de controlo efectivo.


5.2. Controlo técnico do investimento.
5.3. Controlo financeiro do investimento.
5.4. Controlo económico do investimento.

6. ESTUDO DE CASOS

AUDITORIA II (5.° ANO)

1. Objectivo da auditoria externa. Resenha histórica da profissão


a nível mundial.
2. A legislação portuguesa sobre fiscalização das sociedades anó-
nimas. A Revisão Oficial de Contas em Portugal.
3. Conceitos básicos de auditoria externa. A independência do
auditor externo.
4. Organização de um escritório de auditores externos. Papéis de
trabalho da auditoria externa.
5. Testes de amostragem à verificação dos procedimentos contabi-
lísticos e das medidas de controlo interno.
6. Objectivos e procedimentos de auditoria externa das contas
de balanço.
7. Objectivos e procedimentos de auditoria externa das contas de
Resultados.
8. A auditoria aplicada à informática.

— 601
9. As Recomendações sobre Auditoria Externa da Union Européenne
des Experts Comptables, Economiques et Financiers.
10. O Relatório do Auditor Externo.
11. Introdução à Auditoria Previsional.

PLANEAMENTO DE RESULTADOS, TÉCNICAS ORÇAMENTAIS


E CONTROLO (5.° ANO)

l - CONCEITOS BÁSICOS DE ORÇAMENTAÇÃO:

1. Uma ferramenta da gerência.


1.1. Orçamentação.
1.2. Gestão.
1.3. Orçamentação gerencial.

2. Os modelos contabilísticos.

2.1. A contabilidade como linguagem das finanças.


2.2. A análise dos modelos contabilísticos.
2.3. A contabilidade de custos.
2.4. Os prerequisites contabilísticos.

3. O Processo orçamentário.
3.1. Orçamentos fixos e variáveis.
3.2. A gestão e as ciências do comportamento.
3.3. Orçamentação eficaz.

TI -INFORMAÇÃO BÁSICA:

1. Estimativas de vendas.
1.1. Tipos de previsões.
1.2. Previsões a curto prazo.
1.3. Desenvolvimento da previsão das vendas.
1.4. Previsão das vendas.
1.5. Métodos estatístico-matemáticos.

602 -
2. Orçamentação das vendas.

2.1 Considerações gerais.


2.2. Procedimentos orçamentários detalhados.
2.3. Casos ilustrativos.

3. Modelos de comportamento dos custos.


3.1. Inadequamento dos orçamentos fixos.
3.2. Bases dos orçamentos flexíveis.
3.3. Métodos de desenvolvimento da fórmula de custos.
3.4. Relações dos standards com os orçamentos.
3.5. A orçamentação como base da análise económica.

4. Modelos de planeamento e de coordenação.


4.1. Funções dos modelos.
4.2. Modelos matemáticos.
4.3. Modelos contabilísticos.

III - ORÇAMENTAÇÃO DOS RESULTADOS LÍQUIDOS:

1. Planos básicos e orçamentos de produção.

1.1. Planos básicos de manutenção, de vendas e de orga-


nização.
1.2. Orçamentos de produção.

2. Orçamentos de produtos, administrativos e de resultados.


2.1. Custos de produção.
2.2. Gastos da não-produção.
2.3. Planeamento dos resultados.
2.4. Taxa interna de rendimento.

IV - ORÇAMENTAÇÃO DO BALANÇO:
1. Planeamento do balanço.
1.1. Orçamentos do capital circulante.
1.2. Orçamentos dos activos.

- 603
1.3. Orçamentos do passivo.
1.4. Orçamentos da situação líquida.

2. Orçamentos de caixa.

2.1. A natureza dos orçamentos de caixa.


2.2. Procedimentos da orçamentação de caixa.

V - PLANOS A LONGO PRAZO:


1. Definição.
2. Perspectiva do planeamento.
2.1. Objectivos empresariais.
2.2. Planeamento da organização.
2.3. Procedimentos do planeamento.

3. Orçamentação de investimentos.
3.1. Planeamento.
3.2. Controlo.

VI-APLICAÇÃO E OPERAÇÕES:
1. Relatórios e controlo.
1.1. A estrutura dos relatórios.
1.2. Procedimentos de controlo.

2. Organização e instalação.
2.1. Prerequisites.
2.2. Decisões fundamentais.
2.3. Planeamento preliminar.
2.4. Programa de preinstalação.
2.5. Instalação.

3. Funcionamento do Departamento de Contabilidade Orça-


mental.
3.1. Preparação do orçamento anual.
3.2. Procedimentos post-acabamento.

604 —
SEMINÁRIOS (5.° ANO)

Apresentação de 6 casos empresariais concretos.


Resolução em grupos de trabalho, compreendendo:

— Apresentação do caso ;
— Abordagem e Metodologia de Resolução ;
— Diagnóstico ;
— Estudo ;
— Resolução ;
— Apresentação de relatórios Finais.

NOTA —Deverá ser iniciada e mantida ligação da Escola com


o IPE/CIFAG, tendo em vista a realização de seminá-
rios sobre prática de Contabilidade e Finanças, recor-
rendo-se ao método da simulação.

— 605
Conta e Método Digráfico numa Perspectiva
Conceptual Histórica
Por Martim Noel Monteiro

1. IMPORTÂNCIA DA CONTA E DO MÉTODO DIGRÁFICO NUMA


CONCEITUAÇÃO DA CONTABILIDADE

Como é sabido, as fronteiras de uma ciência, ou grupo de conhe-


cimentos constituídos em sistema, nem sempre — ou quase nunca —
têm limites bem definidos, e isto não apenas pela natural evolução
deles próprios, como das técnicas segundo as quais são aplicados
aos vários campos e, algumas vezes, pelo alargamento destes, nos
quais gravitam outras ciências entre si, de algum modo correla-
cionadas.
Todo o conhecimento provém do Homem e da sua inserção no
mundo em que vive e que o rodeia, donde uma primeira divisão entre
as ciências do Homem e as da Natureza. Entre as primeiras
contam-se as ciências sociais, ou que se ocupam dos agrupamentos
humanos e da respectiva vida de relação dos indivíduos que os
compõem, entre si e com o respectivo meio. Aí vamos encontrar
os factos da sociedade de que se ocupa a Sociologia e, entre eles,
os fenómenos da riqueza, da sua produção, circulação, repartição
e consumo, que são objecto da Economia.
Quando se quer estudar a Contabilidade, apreendê-la na sua his-
tória e conceituá-la no contexto das demais ciências, encontram-se
relações entre o grupo dos respectivos conhecimentos e muitos outros,
nomeadamente a Administração, Economia, Direito, Estatística, Finan-
ças, Matemática, Ciências Tecnológicas, Psicologia, Biologia 0), etc.
Umas vezes estas relações são de simples afinidade — de contri-
buição unívoca ou biunívoca — e outras de dependência.

C1) Jaime Lopes Amorim, Lições de Contabilidade Geral, p. 200 a 214, 1929.

- 607
Uma questão que ainda hoje se põe na atribuição ou não de
carácter científico aos conhecimentos contabilísticos tem na raiz
a sua grande interdependência com a Economia da Empresa, desde
que Gino Zappa a concebeu como integrando a doutrina da organi-
zação, a técnica administrativa e a representação «aziendal» ( 2 ).
Sabe-se que hoje a Economia da Empresa e a Contabilidade
continuam a ter independência, não> apenas no Ensino Superior, como
disciplinas distintas, mas também a nível profissional. Contudo, os
aspectos mais profundos das respectivas matérias estão intimamente
correlacionados e cada vez mais as tarefas do contabilista exigem
deste um maior conhecimento da vida económica empresarial.
E por isso sabe-se como também ainda não falta hoje quem
atribua à Contabilidade escopos, e integra nela métodos, que tradi-
cionalmente não são os seus: «... Àquela contabilidade stricto sensu,
que poderemos talvez designar por escrituração, opõe-se, portanto,
um conceito lato de contabilidade que os Alemães exprimem pelo
termo intraduzível Rechnungswesen. O Rechnungswesen alemão
engloba «... todos os processos que permitem captar e imputar nume-
ricamente as operações das empresas». Estão, portanto, dentro do
seu âmbito todos os factos empresariais que possam ser objecto de
uma expressão quantitativa...» «... compreende, portanto, a conta-
bilidade financeira, o cálculo de custos, a estatística empresarial
e o orçamento com, o respectivo controlo orçamental...» (s)
Sabe-se como o recentemente falecido Prof. Vincenzo Masi e
seus seguidores, sempre se opuseram veementemente a uma espécie
de escravidão da contabilidade à Economia da Empresa: «...Como
ciência do património, cujo objecto é o património considerado no
seu aspecto estático e dinâmico, qualitativo e quantitativo, e cujo
fim é a direcção económica do património, isto é, oportuna, prudente,
conveniente, a Contabilidade tem, verdadeiramente, uma autonomia,
uma característica própria, já que a nota distintiva, que não tem
em comum com nenhuma outra ciência, deriva, realmente, do seu
objecto, o património da «azienda» e, portanto, dos fenómenos patri-
moniais através dos quais se manifesta no seu incessante desenvol-
vimento; nos instrumentos ou nos métodos de representação de que
se vale para a sua manifestação...» (4)
Pensamos que hoje, mesmo sem se ser fiel reditualista, ou
adepto da doutrina de Zappa, se tem de reconhecer como demasiado
estreito o horizonte em, que o objecto da contabilidade se confine ao
património empresarial, sabido como o fenómeno reditual tem na

(2) Gino Zappa, Tenderize nuove negli studi di ragioneria, Veneza, 1927.
(3) Caetano Léglise da Cruz Vidal, Ensaio sobre um planeamento contabi-
lístico racional, p. 61. Lisboa, 1956.
(4) Vincenzo Masi, Teoria y Metodologia de la Contabilidad, p. 44, Edi-
torial E.J. E.S., Madrid.

608 —
empresa uma prevalência, pelos próprios objectivos desta, sobre
os aspectos patrimoniais, como as previsões e o controlo orçamental
têm tanta ou mais importância que a relevação histórica dos factos
empresariais, e como se adaptou o método contabilístico a campos
económicos mais vastos, tal o da economia social, dos recursos
humanos, do desenvolvimento económico, etc.
Mas também, sem se ser devotado patrimonialista, sa terá de
reconhecer possuir a contabilidade um campo de acção e uma meto-
dologia próprios, ainda que no primeiro gravitem outras ciências
e a segunda se adapte a novas técnicas, como as da Informática,
e se entrelace com outros métodos, como o estatístico, o computís-
tico e o orçamental.
Reduzi-la à simples escrituração, mais do que uma afronta, será
uma imprecisão científica, pois ela possui um- vasto património cultu-
ral histórico e uma metodologia inconfundível.
Não se deve confundir a «função-contabilidade» das empresas,
onde cabem todos os processos computísticos, com a «instituição-
-contabilidade» que ganhou corpo com um distinto processo metodo-
lógico e com um arsenal doutrinário muito rico que os Italianos
abrangem no termo Ragioneria, praticamente intraduzível, que a
distinguem da simples contabilità, ou técnica escriturai.
Ora — apesar de tudo — o que continua a ser inconfundível na
contabilidade é a própria conta, qu e lhe dá o nome, e aquele método
que se radicou e universalizou do século XII em diante, ou seja a
partita doppia, hoje conhecida por digrafia, ou método digráfico.
P o : isso, para uma conceituação da contabilidade, parece-nos
importante defini-los e caracterizá-los através do seu processo
histórico.

2. A CONTA-ORIGEM, EVOLUÇÃO, CONCEITUAÇÃO

O que é, quando e como apareceu a conta que está na base da


contabilidade e que lhe dá o nome?
Eis uma pergunta que parece simples, mas que é, na realidade,
complexa, pois a resposta depende, não só do conhecimento histórico
do processo pelo qual surgiu e evoluiu a conta, como da sua própria
conceituação.
Uma defeituosa concepção da conta tem dado lugar a que se
apresentem definições erróneas não só dela própria, como da conta-
bilidade.
Eis o exemplo típico de uma tal definição, pela qual nem sequer
se pode dizer que o seu auto: seja individualmente responsável,
pois tê-la-á, decerto, encontrado algures:
«...A Contabilidade é, segundo vários autores, a ciência das
contas; porém, ciência ou arte, é auxiliar indispensável da admi-

39
- 609
nistração. Com efeito, sem contabilidade, não pode um adminis-
trador prestar contas e, muito menos, orientar a sua gerência.
Podemos pois chamar-lhe a parte da administração que, por meio
de cálculos ou operações de aritmética, indica os resultados quanti-
tativos dos actos da administração» ( 5 ).
Nesta definição, como parece evidente, a par de um, até certo
ponto, surpreendente pendor aziendalista, talvez inconsciente da
respectiva doutrina, mas contudo certo, está implícita a ideia da
conta como cálculo ou operação aritmética.
Autores conspícuos, como E. Léautey e A. Guilbault, comungaram
na ideia do carácter matemático da contabilidade: «...Para estes
autores, a contabilidade é um ramo das matemáticas. O objecto da
contabilidade, estimam, seria elaborar as contas com vista a compa-
rar valores materiais. Como toda a conta se apoia numa ou várias
operações aritméticas, se depreende disso que a contabilidade «é um
ramo das matemáticas e que há-de classificar se entre as ciências
exactas» ( 6 ).
Sem entrarmos — pelo menos por ora — numa maior referência
às teorias matemáticas, metodológicas ou da contabilidade pura,
retenhamos esta afirmação curiosa de Sacristan y Zavala: «Como
tudo é susceptível de ser contado, tudo pode ser contabilizado...» (7).
Com efeito «...Toda a gente sabe como as necessidades da vida
corrente exigem que, a cada momento, se façam contagens — o pas-
tor para saber se não perdeu alguma cabeça do seu rebanho, o
operário para saber se recebeu todo o salário que lhe é devido,
a dona de casa ao regular as suas despesas pelo dinheiro de que
dispõe, o homem de laboratório ao determinar o número exacto de
segundos que deve durar uma experiência — a todos se impõe cons-
tantemente, nas mais variadas circunstâncias, a realização de
contagens...» ( 8 ).
Ao fundamentar, assim, as origens da Matemática e, mais parti-
cularmente, da aritmética, talvez o grande mestre que foi Bento de
Jesus Caraça não estivesse a pensar na achega que estava a dar
quanto às origens da contabilidade e, mais particularmente, da conta.
É que — repare-se — nos exemplos por si apresentados contam-se
factos de natureza económica — cabeças de gado do rebanho, salá-
rio do operário, despesas domésticas — a par doutro de natureza

(5) José Ribeiro da Costa Júnior, Manual de Administração e Contabilidade


Agrícola, 2.a ed., p. 55, Livraria Sá da Costa, Lisboa.
(6) Joseph-H Vlaemminck, Historia y Doctrinas de la Contabilidad, p. 259,
Editorial E. J. E. S., Madrid, 1961.
(') Citado por F. V. Gonçalves da Silva, Doutrinas Contabilísticas, p. 86,
Centro Gráfico de Famalicão, 1959.
(8) Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais da Matemática, Vol. I,
a
4. ed., p. 9, Biblioteca Cosmos, Lisboa.

610 -
diferente, como seja o da contagem de segundos de uma experiência
laboratorial.
Uns e outros são objecto da Matemática, mas só os primeiros,
que não o último, também o são das contas que compõem a conta-
bilidade. Todos implicam contagens, mas nem todos são contabili-
zados, no sentido que hoje damos a este termo.
Não parece poder haver dúvidas de que na origem da contabi-
lidade e, portanto, da conta, estão as contagens. Disse-o Melis:
«...De cada género de bens adquiridos para o seu... património e
consumo, o homem numera a unidade — «conta-o», quer dizer — e
reproduz esta operação de contar, de modo que depressa aclarará.
Esta série de unidades contadas, por ser, indiscutivelmente, o resul-
tado de contar, será denominada, mais adiante nos séculos, conta...
A história da contabilidade, no seu início — e por um longuíssimo
trato de tempo — é a história da conta. Justamente Sombart disse:
«a história da contabilidade sistemática deve iniciar-se com o mote:
ao princípio era a conta; a ratio (9).
São as contagens de natureza económica — e não outras — que
dão origem à conta que, através dos séculos, vai evoluindo e se
consubstancia na forma em que a conhecemos nos nossos dias.
E, historicamente — por muito que pese aos que, com inegável razão,
consideram potencialmente possível aplicar o método contabilístico
a campos não económicos, — a contabilidade e, portanto, as contas,
sempre se ocuparam de factos económicos.
Antes dos processos de registo e de toda e qualquer mnemo-
técnica, o homem deve ter aprendido a contar. Ele, através dos
tempos, divisou qualquer forma de linguagem escrita, criou os alga-
rismos e utilizou diversos materiais e instrumentos para com eles
escrever. «...No meio desta evolução dos meios intelectuais e dos
instrumentos materiais criados pelo homem, onde se pode procurar
o nascimento dos registos contabilísticos? Encontramo-nos aqui
noutra encruzilhada em que é preciso decidir ou esclarecer-nos sobre
que registos se podem ou não considerar como pertinentes à conta-
bilidade. Decerto que não o seriam toda e qualquer inscrição que
pretendesse narrar ou fixar a memória de feitos guerreiros ou de
caça, a vida de um chefe ou dos seus antepassados, nem qualquer
mensagem ou outro facto de natureza não económica. Como não
o seriam os desenhos de carácter meramente lúdico ou manifestações
de uma vocação artística. Os factos de ordem contabilística têm
sempre um carácter computístico, mas ainda aqui pode haver factos
desse carácter que não lhe digam respeito, tais como es dias do ano,
ou da vida de um indivíduo ou de uma viagem. Teremos de assentar
que os factos de ordem contabilística, além do carácter compu-

(9) Federigo Melis, Storia delia Ragioneria, p. 26, Dott Cesare Zuffi, Bo-
lonha, 1950.

- 611
tístico, da sua expressão numérica, são de natureza económica ou,
mais restritamente, patrimonial, como pretende Masi...» (1G).
Entre as mnemotécnicas mais antigas que se conhecem, con-
tam-se as cordas de nós que usavam Tártaros, Persas, Mexicanos
e Peruanos, de que são famosos os kioipa ou quipos. Hurões e
Iroqueses usavam conchas de cores variadas com que faziam cintos
chamados wanpun. Uma das mnemotécnicas mais antigas, mas que
ainda se projecta na actualidade, é a dos entalhes ou riscos feitos em
paus, como ainda há pouco se encontravam na Sérvia, na Itália
e mesmo usados em Portugal por camponeses analfabetos. A pala-
vra escrita só apareceria mais tarde e por um processo lento, em
cuja base deve estar o desenho. Daí a evolução para os enigmas
figurados, ou hieróglijos — tais os egípcios — e para as letras e
alfabeto, que terá tido origem nos Hicsos. Dos hieróglifos, ou
desenhos-letras, passam-se para estas e para os algarismos.
Os números árabes que usamos são uma modificação daqueles.
As verdadeiras contas mais antigas que se conhecem — e já
descobertas muito tarde — têm origem na Suméria, na Caldeia, e
datam de cerca de quatro milénios antes da nossa era. O Código de
Hamurabi, da Babilónia, é a mais antiga colecção de leis conhecida
e que data do ano 2 000 a. C. Está esculpido num bloco de diorite
e encontra-se no Museu do Louvre.
Normalmente, para as contas da época usavam-se placas de
argila onde eram gravadas e que depois se coziam e se têm conser-
vado até aos nossos dias.
E enquanto alguns, como o Dr. Budge, do British Museum, dizem
que, entre os numerosos documentos desta espécie relativos a tran-
sacções comerciais, nenhum pode ser considerado como uma conta
no sentido moderno da expressão, outros sustentam, com bons funda-
mentos, o contrário.
É evidente que a técnica de registo das contas foi evoluindo,
mesmo nesses tempos longínquos, e os textos da terceira dinastia de
Ur do terceiro milénio apresentam claro progresso em relação ao
período anterior. Desde os finais do terceiro milénio distinguem-se
claramente nas placas os elementos essenciais de uma conta: as
classes de objectos entregues, quer dizer, o título da conta; o nome
dos compradores; as quantidades entregues a cada um deles; e o
total dos fornecimentos. Numerosas placas contêm todos os elemen-
tos da conta moderna: o saldo do período anterior, a série de
assentos positivos, a série de assentos negativos e o saldo final que
se junta aos últimos, balanceando a conta (").

(I0) Martim Noel Monteiro, «A Contabilidade e o seu Mundo», Vol. I, p. 27,


Lisboa, 1965.
( n ) Vd. Joseph-H Vlaemminck, ob cit., p. 6, e Federigo Melis, ob cit.,
p. 192-193.

612 —
Trata-se do tipo de conta com secções sobrepostas e que, segundo
Mc lis, deu nascimento na Idade Média à contabilidade moderna (12).
Os números encontram-se mesclados com o texto, como mais
tarde sucederia com as cifras romanas. Os cálculos eram feitos
fora das contas, mediante uma espécie de ábacos. É de notar que
se trata de contas não apenas em natura, ou espécie, indicando as
unidades dos objectos, mas também unidades de peso, que eram
também unidades monetárias — o talento e seus submúltiplos.
As contas deste tipo desenvolvem-se nas civilizações egípcia dos
períodos faraónico, helenístico e romano e também na Grécia e em
Creta, delas existindo espécimes.
Na civilização romana as contas conhecem um grande desenvol-
vimento paralelo ao da administração pública e das empresas agrí-
colas e constam de uma série de livros de registo que constituem
um sistema ordenado.
Entretanto, neste processo histórico há uma evolução dos próprios
meios empregados e a escrita em pedra e placas de barro, dá lugar,
sucessivamente, ao cobre, ao papiro des egípcios, ao pergaminho e
às tábuas enceradas usadas pelos romanos, assim como a há dos
sistemas de escrita e de numeração.
Longe de se pretender fazer um escorço histórico, que aqui não
teria lugar, estas são simples referências ao aparecimento e evolução
da entidade conta.
Com elas pretende assentar-se que o objecto histórico da conta-
bilidade e, portanto, das contas, é de carácter económico — o patri-
mónio administrado, ou os elementos deste.
«...Numa economia natural, como a primitiva, em que se fazia
a troca directa dos bens, a conta tem de, necessariamente, exprimir
as próprias unidades destes e, depois, as unidades da sua medida
quando criados os primeiros sistemas de medição. É a conta em
natura, ou em espécie, como também se diz. Logo que se passa
à economia monetária, ao sistema de troca indirecta, e os bens e
as dívidas se exprimem pela quantia em moeda que, respectivamente,
valem ou que é devida, temos a conta de valores...» (13).
A despeito de a conta poder continuar a indicar quantidades
físicas — a conta em quantidades, — os verdadeiros sistemas de
contabilidade viriam a fundar-se mais tarde no elemento monetário,
homogeneizador de agregados, como o patrimonial, compostos de uma
variedade de bens e meios económicos.
Com a queda do Império Romano, a administração pública e a
actividade comercial, quando não cessam de todo, reduzem-se consi-
deravelmente. A economia regressa a uma forma fechada de autar-

(12) Federigo Melis, ob. cit., p. 191.


O3) Martiro Noel Monteiro, ob. cit., p. 29.

- 613
quia patrimonial e desaparecem muitas instituições romanas, entre
elas a sua contabilidade.
O século XII assinala, com-j faz ressaltar Melis, o início de uma
nova era de vida que se projecta nos séculos seguintes.
Volta a dar-se maior comunicação entre os povos, conduzindo a
um intenso tráfico comercial.
Do século XII ao século XV desenvolve-se na Itália do norte
e na Flandres um intenso comércio com outros povos. Pulula a
pequena indústria e desenvolve-se, em grande escala, a dos tecidos.
A economia monetária volta a substituir o quase total regresso à
economia natural, o crédito propaga-se e com ele surgem as letras
de câmbio e outros títulos. Aparecem os banqueiros que fazem em-
préstimos com garantia e promovem transacções comerciais impor-
tantes mediante a comandita de empresas e o seguro de navios.
Melis considera o ano de 1202 como o da demarcação' entre a
contabilidade antiga e a contabilidade moderna, que surge com a
necessidade de controlo originada pelo desenvolvimento comercial e
industrial.
Aparecem os primeiros rudimentos da contabilidade dos nossos
dias. Há quem afirme que esta contabilidade nada herdou da do
mundo antigo, mas nós pensamos que, pelo menos no que respeita
a certos instrumentos intelectuais, como o alfabeto e o sistema numé-
rico, existe qualque- espécie de herança.
De um modo ou doutro, como assinala De Roover, as causas
fundamentais da evolução da técnica das contas são o desenvolvi-
mento do crédito, as sociedades comerciais e o uso do contrato de
mandato. Onde quer que se desenvolva actividade comercial, indús-
tria e administração pública, sempre surgirá qualquer tipo de con-
tabilidade.
Os primeiros registos desta época têm a forma de simples me-
morial, até que deles se destacam as contas de devedores e de cre-
dores, que virão a constituir a chamada partida simples. As contas
dizem-se simples por cada assento constar só de débito ou só de
crédito, conforme se refira ao registo de ti-ansacção inicial ou da
sua liquidação. As contas liquidadas são traçadas, de modo a sa-
ber-se, por simples inspecção visual, quais se encontram extintas.
Aparecem nelas as expressões deve dare (deve) e deve avere (tem
a haver) que se hão-de tornar a dialéctica da contabilidade até aos
nossos dias.
Com o aparecimento das sociedades em nome colectivo — as com-
panhias — acelera-se o processo evolutivo da contabilidade.
As par das contas de pessoas, aparecem contas novas a povoar
es registos — de dinheiro, mercadorias, matérias-primas, imóveis, do-
tações às sucursais, à exploração industrial e mercantil, etc. Deve
lembrar-se como já na antiguidade tinham existido contas com este
objecto impessoal.

614 -
A empresa adquire uma personalidade própria, distinta da da-
queles que lhe fornecem o capital e a dirigem.
Aparece a conta de Capital como fundo de valores da empresa,
quer na forma colectiva, quer na de uma conta aberta a cada
sócio.
Um exemplo desta conta surge no libro déliasse sesto dei Pe-
ruzzi, dos anos de 1335-1343. Nesta fase está-se já na presença
de um sistema escriturai de representação do património em todos
os seus elementos e na sua síntese, dada pela conta de Capital.
Nestas contas usam-se as mesmas anotações dare (deve) e avere
(haver) das relativas a pessoas.
Depois surgem as contas para representar os proveitos e os
custos, os lucros (avanzi) e as perdas (disavanzi), ou seja o sistema
do rédito.
Estava-se no limiar da passagem da partida simples para a par-
tida dobrada, ou digrafia.
Antigos registos, como os da Compagnia Fini (1297-1302) e da
Compagnia Farolfi (1299-1300), guardados no Archivio di Stato, de
Florença, são testemunho disso.
Entretanto, a conta simples transformarà-se em conta dupla, ou
conta com duas secções laterais (uma para o deve e outra para o
haver), substituindo aquela e a conta de secções sobrepostas, adqui-
rindo, assim, a forma com que, com maiores ou menores alterações,
chegou aos nossos dias.
Mas a forma da conta é só um dos seus aspectos, que diz apenas
respeito à respectiva configuração, ou dispositivo, outro aspecto sendo
o do seu objecto, ou essência, que diz respeito ao seu conteúdo, àquilo
de que ela é uma mera representação.
A falta de distinção entre estes dois aspectos tem conduzido os
autores a defini-la tão-só quer como uma justaposição de contas
aritméticas e estatísticas (Léautey e Guilbault), que- como um quadro
mais ou menos detalhado das dívidas e dos créditos de uma pessoa
em relação a outra (F. Faure e Demure), ou ainda como um registo
de uma particular classe de transacções pecuniárias (Fieldhouse),
ou dispositivo para reunir assentes dos aumentos e das diminuições
dos elementos do património (Rorem & Kerrigan) (14).
Não é difícil ver que apesar da variedade, todas estas definições
têm em comum o referirem-se directamente à forma da conta — jus-
taposição, quadro, registo, dispositivo, descrição, etc. — e, acessoria-
mente, ao seu objecto, que para uns são movimentos de valores, para
outros transacções, para outros elementos patrimoniais, para outros
apenas dívidas activas e passivas, etc.
O próprio Fábio Besta, autor que claramente concretizou o objecto
da conta, definiu-a como uma «série de registos» e Gino Zappa tam-

(14) F. V. Gonçalves da Silva, ob. cit., p. 20.

— 615
bém a definiu como uma série de scritture reflectindo um dado objecto
e tendo por escopo pôr em evidência a sua grandeza variável e comen-
surável (15).
Vincenzo Masi, ao traçar a etimologia da palavra italiana ragione
(do Latim ratio, rationis) assinala que além de significar cômputo,
registo, número, valor, cálculo, também significa negócio, fazenda,
comércio, etc., e que um significado tão amplo igualmente se encontra
no termo grego logos, de onde deriva logismos (conta, cômputo, razão,
valor, cálculo, etc.).
Coube a Jean Dumarchey, quanto a nós, o mérito de definir a
conta pela sua essência.
Criticando a definição de Deschamps de ser a conta o «registo
metódico das operações relativas a um mesmo valor e efectuadas
com uma mesma pessoa», considera que ela é uma classe de unidades
de valor.
Depois de analisar a teoria do valor, Dumarchey conclui que um
produto pode ser economicamente definido como uma classe de uni-
dades de valor variável no espaço e no tempo e que, em contabili-
dade, como em todos os outros domínios do pensamento humano, não
se pode apresentar obra verdadeiramente científica senão quando se
definem classes e se constroem séries.
Se se convier dar a cada classe de unidades de valor o nome de
conta, haverá uma ciência das classes de unidades de valor, uma
ciência das contas, a que chamaremos contabilidade (16).
Unindo a concepção de Dumarchey à de Masi, Lopes Amorim de-
fine a conta como uma classe de elementos patrimoniais expressos
em unidades de valor, essencialmente variável no espaço e no tempo.
Trata-se de vincular a contabilidade ao património, enquanto os
partidários da contabilidade pura, metodológica, matemática ou esta-
tística, consideram que, ao poder representar sistemas não econó-
micos, a conta tanto pode referir-se a classes de unidades de valor
como a quaisquer out"as.
Mesmo sem se ir para o alargamento da contabilidade a campos
não económicos — o que põe o problema da falta de elemento homo-
geneizador que é a unidade monetária — , pode considerar-se numa
óptica vasta que as contas são classes de elementos dos sistemas
económicos expressas em unidades de valor, essencialmente variáveis
no espaço e no tempo (").

(15) Gino Zappa, 11 Redito di Impresa, ristampa, p. 103, Dott. Antonino


Giuffrè, Milão, 1950.
( 16 ) Jean Dumarchey, Teoria Positiva da Contabilidade, p. 107, Revista de
Contabilidade e Comércio, Porto.
(") Martini- Noel Monteiro, Teoria Relativista da Contabilidade, p. 109,
Lisboa.

616 -
3. ORIGEM E NATUREZA DO MÉTODO D1GRÁFIC0

As origens da partida dobrada, também conhecida por digrafia


ou método digráfico, nem sempre têm sido interpretadas correcta-
mente.
Como se sabe, a primeira obra impressa em que o método apa-
rece descrito foi a Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni
et Proportionalita, aparecida em 1494 e devida a Luca Pacioli, que
contém o Tratactus particularis áe computis et scripturis.
Segundo parece, antes já Benedetto Cotrugli havia escrito a sua
obra Delia Mercatura e dei Mercante perfetto onde o método tam-
bém é descrito, mas a sua publicação só se fez em 1573.
Daí o ter-se atribuído a Pacioli a invenção do mesmo, como fazia
P. Huybrechts ainda em 1900. Porém, investigações históricas pos-
teriores revelaram que o método já era adoptado antes por muitas
empresas.
Raymondo de Roover diz que a mais antiga contabilidade conhe-
cida e executada, sem dúvida, por partida dobrada foi a dos massari
de Génova (1340). Melis considera que essa primeira aplicação se
fez na Toscana, em Lucca, nos livros da Compagnia Burlamacchi
(1332-1336).
Com toda a probabilidade, o método não teve um inventor único,
mas resultou de uma evolução da partida simples.
Aliás, no decorrer do tempo também nem sempre se tem carac-
terizado bem a essência do método digráfico, mas antes de vários
modos apontados por Pierre Garnier:

1.° — A divisão da conta em duas metades: deve e haver;


2.°—A dupla anotação do mesmo facto: uma anotação a débito
e outra a crédito;
3.° — A existência de dois registos onde se assenta em separado
a mesma operação: Diário e Razão;
4.° — A existência, por um lado, de contas de pessoas e, por
outro, de contas de valores.

Sem embargo de este último facto muito dever ter contribuído


para o nascimento da digrafia, esta só se pode hoje entender como
o registo duplo de um mesmo facto, respectivamente no débito de
uma ou mais contas e no crédito doutra ou doutras.
A partida dobrada não se confunde, assim, com a conta dupla,
que tem duas secções laterais (uma para o débito e outra para o
crédito), pois ela também existe na partida simples, nem com a
dualidade de contas de pessoas e de valores.
O que caracteriza o método digráfico, em suma, é o seu carácter
balanceante, que resulta de se pôr em confronto duas séries de va-
lores quantitativamente iguais.

- 617
Porque se tem mantido, através dos séculos, o método digráfico
e não out.-o, apesar dos progressos de toda a espécie, mesmo com
incidências na contabilidade, como seja o aproveitamento de novas
tecnologias computísticas que culminam nos nossos dias com os com-
putadores?
Dizia Lopes Amorim que «...o método, de que sempre se tem ser-
vido a contabilidade, em nada se alterou através dos tempos. O mé-
todo de que ela hoje se serve é precisamente o mesmo de que ela
se servia, há muitos milhares de anos atrás, quando o crédito comer-
cial começou a ser praticado nas transacções comerciais...» e que
«...no relevamento das contas, seguiu ele sempre o processo de des-
crever, sucessivamente, em ordem cronológica, num espaço apro-
priado (folha de barro, de madeira, de papiro, de pergaminho, de
papel) as operações realizadas com cada um dos seus clientes (Des-
crição) e de as fazer seguir das respectivas importâncias (Estatís-
tica)...) e que... «Daí, o carácter misto «estatístico — descritivo —
balanceante» do método logismológico que, como se vê, é uma com-
binação em que entra o método descritivo ou histórico e o método
estatístico, que são próprios doutras ciências, e a feição balanceante,
que é a característica dominante da contabilidade...» (18).
Refere-se, assim, o Mestre não propriamente ao método digrá-
fico, mas ao método geral da contabilidade, que faz remontar à
antiguidade.
Na realidade, como diz Vlaemminck, «...desde o começo da sua
evolução até à partida dobrada, a contabilidade apresenta-se como
um instrumento de organização racional, como um dos métodos da
organização científica das empresas...» e que «...A aparição dos pri-
meiros sistemas de contas distintos da partida simples é consequência
lógica da postura em prática da necessidade da ordem e dos seus
corolários: a identificação e a classificação...», mas que «...Porém,
nos séculos seguintes, e debaixo da influência de um sector impor-
tante dos autores de obras de contabilidade, chegará a esquecer-se
o objecto da contabilidade: os autores se encastelaram no «sistema
contabilístico», como numa torre de marfim...». «...E igualmente é
a causa da proliferação de doutrinas contabilísticas, as que na maior
parte intentaram apoiar-se na pura técnica das contas, para acabar
fazendo da técnica contabilística uma espécie de Torre de Babel em
que nunca se saberá por onde se anda...» ( I9 ).
Quanto a nós, o que originou a digrafia — e nisto estamos com
Melis, Vlaemminck, Amorim e tantos outros — foi a extensão das
contas, primeiro de pessoas, na partida simples, aos elementos do
património e do rédito, até representarem todo um sistema, o sistema
patrimonial, ou do «capital e do rédito» como pretendia Ceccherelli.

(18) Jaime Lopes Amorim, ob. cit., p. 215-216.


(19) Joseph-H Vlaemminok, ob. cit., p. 74-75.

618 -
O sistema de empresa, como lhe chama Giannessi, é um micro-
cosmos, um pequeno universo, com causas e efeitos interactuantes :
sempre que há entrada de um elemento, há saída doutro de valor
igual, ou, se não o há, essa pulsação origina uma contracção ou
uma extensão do pequeno universo, na exacta medida da diferença.
A diferença entre os valores activos (elementos positivos do
sistema) e os passivos (elementos negativos), constitui a própria
expressão do sistema que, no caso, é dado pelo neto patrimonial, ou
situação líquida, como lhe chamou Dumarchey.
Juntando a diferença à série desses elementos mais fraca (nor-
malmente, mas nem sempre, a dos elementos negativos), ter-se-á
a igualdade que constitui o balanço.
Observando isto, os adeptos da teoria matemática da contabili-
dade, ou da contabilidade pura, pretendem que o método digráfico
seja extensivo a qualquer sistema mensurável.
Assim, diz D'Auria: «...Generalizando a doutrina contábil, histo-
ricamente constituída, teremos que generalizar, também, a sistema-
tografia, transferindo-lhe o método daquela doutrina, o qual tem sido
satisfatório e progressivamente aperfeiçoado...» e «...Definido o sis-
tema como composto de elementos variáveis, com finalidade e ex-
pressão próprias, cujo conhecimento se pretende a qualquer momento,
determinando causas e efeitos, os respectivos princípios são: 1.° — Os
componentes de um sistema se distinguem por suas espécies e gran-
dezas; 2.° — As variações dos componentes são compensativas e mo-
dificativas; 3.° —As parte negativas de um sistema diminuem a
soma dos componentes; 4.° — A expressão é a diferença entre a soma
dos componentes e a das partes negativas; 5.° —As variações modi-
ficativas atingem a expressão inicial do sistema e, consequentemente,
a diferença entre a expressão inicial e a actual equivale à diferença
entre factos modificativos, aumentativos e diminutivos...» (20).
Porém, quanto a nós, os adeptos desta contabilidade generali-
zada, ou sistematografia, ao chegarem a esta conclusão incontroversa,
isto é, que todo o sistema se compõe de elementos positivos e nega-
tivos, de cujo confronto resulta a expressão «C — N = E, abundam
numa inversão de ideias.
Tal inversão consistirá em considerá-la como originária da con-
tabilidade, quando, na realidade, não é mais do que o princípio das
contradições da lógica hegeliana «T<—>A = S» «conflito de tese e
antítese, igual a síntese).
«...Não há dúvida de que a dialéctica de Hegel, transposta do
campo idealista para o do ser, do real, é extensiva a todos os fenó-
menos, seja qual for a sua natureza, motivo porque não lhe escapa
o campo económico e, consequentemente, a contabilidade. Assim, não

(20) Francisco d'Auria, Primeiros Princípios de Contabilidade Pura, p. 310,


Companhia Editora Nacional, S. Paulo.

- 619
é o método digráfico que é aplicável ao Universo, mas sim a lei das
contradições por que se rege todo o universo que é aplicável à con-
tabilidade...» (21).
Estará, assim, explicada a perenidade do método digráfico, o
motivo porque este tem resistido, não só a todas as pretensas ino-
vações — partidas triplas, quádruplas, etc. — , como aos reais pro-
gressos tecnológicos qtie fazem hoje utilizar na contabilidade esses
formidáveis instrumentos que são os computadores.
É que — dê-se-lhes a volta que se lhe der — qualquer sistema
que a contabilidade represente tem sempre as duas séries de va-
lores — positivos e negativos — e uma expressão que resulta do seu
confronto.

4. CONCLUSÕES

O que, tão sucintamente, se expôs anteriormente, parece permitir


tirar as seguintes conclusões:
l.a —Uma conceituação da contabilidade que não leve em con-
sideração ser a conía o seu elemento caracterizador básico
e histórico, arrisca-se a esbater os horizontes da disciplina
e a confundi-la com ciências e técnicas que gravitam no
mesmo campo.
2.a — Contudo, a contabilidade não é, tão-só, como se tem que-
rido defini-la, a «ciência das contas», pois tal equivalerá a
circunscrevê-la ao seu método, quando é riquíssimo o seu
objecto — sistemas económicos — que ela representa, qua-
litativa e quantitativamente, com o seu método peculiar.
• 3.a — Numa perspectiva histórica, a conta surgiu como o resul-
tado das contagens de carácter económico e só nelas en-
contra substância.
4.a — Para além do aspecto formal — de registo ou quadro de
valores — , tem de se considerar o seu aspecto essencial,
que permite defini-la como uma classe de elementos dos
sistemas económicos expressos em unidades de valor, essen-
cialmente variável no espaço e no tempo, ou, mais sucinta-
mente, na expressão de Dumarchey, uma classe de unidades
de valor, essencialmente variável no espaço e no tempo.
5.a — Para além do método «estatístico—descritivo—balanceante»
que, segundo Lopes Amorim, adoptou desde as origens, em
certa fase da sua evolução e ao representar integralmente
todos os elementos de um sistema — o patrimonial ou do

(21) Martim Noel Monteiro, Teoria Relativista da Contabilidade, p. 42-43.

620 -
capital e do rédito — , a contabilidade adquiriu um método
próprio de representação da estrutura e vida desse sistema,
conhecido por método digráfico, digrafia, ou partida do-
brada.
6.a — Numa perspectiva histórica, o método digráfico não cons-
titui um invento intelectual atribuível a um só homem, mas
o resultado de uma longa elaboração das contas e da sua
aplicação progressiva.
7.a — Embora potencialmente o método digráfico possa aplicar-se
a sistemas não económicos, terá para isso de se divisar
uma medida comum a todos os elementos desses sistemas,
como é o caso da unidade monetária nos primeiros.
8.a — Ainda assim, não se deve considerar, filosoficamente, que
uma sistematografia geral tenha origem na contabilidade,
mas, ao contrário, que o método digráfico não é mais do
que uma consequência da própria estrutura dualista e dinâ-
mica dos sistemas em geral.

— 621
Conceitos Básicos e Princípios Contabilísticos
Por João José da Costa

INTRODUÇÃO

0 acelerado desenvolvimeto económico na generalidade dos


países, está na origem da necessidade de se encontrarem denomi-
nadores comuns, que proporcionem aos diversos interessados os ele-
mentos mínimos necessários à apreciação e análise comparativa do
comportamento das Empresas. De entre os referidos elementos
avultam as demonstrações financeiras.
Esta necessidade de harmonização está na origem de numerosos
estudos, projectos e planos de normalização contabilística. No
entanto, penso poder afirmar que o contributo do nosso país nesta
matéria, está longe de atingir o nível desejável.
Impõe-se, pois, da parte de todos nós assumir o compromisso de
tomarmos uma parte activa nesta fase decisiva da evolução das
técnicas e práticas contabilísticas.

O importante é que não sejamos apenas espectadores!

Chamo a atenção para o facto de que, nos Estados Unidos, existe


uma Comissão para estudo das técnicas contabilísticas que conta
com 80 profissionais a trabalhar a tempo inteiro.

CONCEITOS BÁSICOS, PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS E CRITÉ-


RIOS DE APRESENTAÇÃO

Nesta minha comunicação proponho-me abordar o enquadramento


e pôr em evidência os pontos comuns e, também, aqueles que será
necessário harmonizar, de três documentos que são, nomeadamente,
(i) o Plano Oficial de Contabilidade, (ii) a Quarta Directiva da Comu-
nidade Económica Europeia e, (iii) os Standards Contabilísticos Inter-

- 623
nacionais. Desnecessário será dizer que a referência à Quarta
Directiva e aos Standards Contabilísticos Internacionais, são conse-
quência da próxima integração de Portugal na Comunidade Econó-
mica Europeia.

(i) Plano Oficial de Contabilidade

O Plano Oficial de Contabilidade (POC), é de aplicação obriga-


tória por lei, para a maioria das empresas em Portugal. Para além
da normalização de apresentação a que obriga, pode afirmar-se que
o Plano Oficial de Contabilidade é uma primeira tentativa muito
válida aliás, para definir conceitos básicos de contabilidade, nomea-
damente,

a) continuidade da empresa
b) Consistência dos exercícios
c) efectivação^ das operações
d) custo histórico e
e) conservantismo,

e ainda, para formular determinados critérios, principalmente quanto


à valorimetria do activo das empresas e princípios contabilísticos
fora do campo da legislação fiscal.
Ele representa, pois, um primeiro reconhecimento oficial parcial
e ainda incompleto, de que a obediência a requisitos da legislação
fiscal não coincide necessariamente com uma apresentação adequada
das realidades financeiras e económicas de uma empresa.

(ii) Quarta Directiva da Comunidade Económica Europeia

A Quarta Directiva da CEE é de aplicação obrigatória por lei


peles países membros e foi aprovada no Luxemburgo, em 27 de
Junho de 1978, após negociações que decorreram durante um, período
de cerca de 10 anos.
O países membros dispõem de três anos e meio para elaborarem
a legislação adequada que permita a aplicação dos princípios con-
signados naquela Directiva, a partir de 1982.
O objectivo básico da Directiva é o de que seja atingido um
determinado grau de uniformidade na preparação, apresentação,
auditoria e publicação das contas anuais das empresas, independen-
temente do país em que estas* se situem.
O documento, o primeiro com força de lei para vários países,
estabelece apenas os standards mínimos a observar, deixando ao
cuidado dos diversos estados membros a elaboração da legislação

624 —
adicional que considerem necessária. Não se trata ainda de um
documento completo sobre a matéria, estando previsto a promul-
gação, num futuro próximo, de novas directivas versando, entre
outras, as normas aplicáveis aos bancos, às companhias de seguros
e à consolidação de contas de grupos de empresas.
A Directiva consagra conceitos básicos idênticos aos definidos
no Plano Oficial de Contabilidade.
Os critérios valorimétricos e princípios contabilísticos estabele-
cidos são pormenorizados, consideravelmente mais pormenorizados
do que no POC.
As demonstrações financeiras seguem a apresentação anglo-
-saxónica que se distingue da prevista no POC, principalmente, na
demonstração dos resultados.
A auditoria por técnicos independentes é obrigatória.

(iiii) Standards Contabilísticos Internacionais

Os Standards Contabilísticos Internacionais são formulados e


publicados por uma Comissão constituída em 29 de Junho de 1973.
A Comissão resultou de um acordo entre os organismos profissionais
representativos de nove países (Austrália, Canadá, França, Alemanha,
Japão, México, Holanda, Reino Unido e Irlanda e Estados Unidos
da América).
O objectivo da Comissão consiste em formular e publicar, no
interesse do público em geral, standards básicos de contabilidade
a serem observados na preparação e apresentação das demonstra-
ções financeiras das empresas nos países membros, e promover
também a sua aceitação pelas empresas dos países não membros.
Contrariamente ao que acontece com o POC e a Quarta Directiva,
a adopção dos standards não é obrigatória por lei; é, no entanto,
recomendada.
Com excepção do custo histórico, que não é referido, os conceitos
básicos são idênticos aos consagrados no POC e na Quarta Directiva.
Só estão ainda definidos critérios valorimétricos para existências
e princípios contabilísticos a adoptar para reintegrações e amorti-
zações. A consolidação de contas de empresas de um mesmo grupo
é também recomendada.
Em conformidade com o referido acordo, as organizações profis-
sionais membros comprometem-se a assumir, entre outras, as seguin-
tes obrigações:

a) Utilizar os standards contabilísticos promulgados pela Co-


missão.
b) Assegurar, ou, se necessário, persuadir os governos dos
respectivos países, para que as demonstrações financeiras

40 - 625
das empresas sejam preparadas em conformidade com aque-
les standards.
c) Promover a aceitação dos standards pelos organismos profis-
sionais dos países não membros.

1. Conceitos, princípios e critérios comuns

Referi acima que com excepção do custo histórico os conceitos


básicos são idênticos nos três documentos sob discussão. Com efeito,
tanto nos critérios valorimétricos como nos princípios contabilísticos
e nos critérios de apresentação das demonstrações financeiras,
existem diferenças de maior ou menos amplitude. É sobre estas que
irei seguidamente debruçar-me mais em pormenor.

2. Princípios e critérios que será necessário harmonizar em Portugal

Não vou fazer uma enumeração exaustiva das situações exis-


tentes, porque esse não é o objectivo do presente trabalho. Refiro,
pois, àquelas que me parecem ser mais importantes para ilustrar
áreas sobre as quais, os estudos a desenvolver em Portugal devem
incidir :

a) Existências
Não existe uma definição de custo padrão e não está discutido
o tratamento a adoptar para os desvios que resultarem da sua
utilização.

b) Reintegrações e amortizações de imobilizado


Nada está estabelecido quanto à necessidade de se fazerem rein-
tegrações e/ou amortizações com base na vida útil estimada dos
bens, vista esta, tanto em termos de vida física como de vida
económica dos referidos bens.

c) Encargos a liquidar
O conceito básico segundo o qual as operações realizadas num
exercício afectam os respectivos resultados, independentemente
do seu pagamento ou recebimento, requer desenvolvimento e
definição dos casos aplicáveis, pois doutro modo permite inter-
pretações diferentes e, consequentemente, tratamento diferente
de empresa para empresa.

626 -
Três outros aspectos importantes que requerem estudo são:

a) Reavaliação do imobilizado e outros efeitos da inflação


Recente legislação sobre o assunto, deu às empresas portuguesas
em situação de crise, a possibilidade de reavaliarem o seu activo
imobilizado, quer utilizando preços estimados de substituição quer,
ainda, aplicando coeficientes de correcção monetária aos custos his-
tóricos.
Não está, no entanto, tratado o problema dos efeitos da inflação
em outras áreas como existências, depreciações e CMSÍO de vendas.

b) Consolidação de contas de empresas de um mesmo grupo.


Esta matéria está tratada na Sétima Directiva da CEE, a qual
se prevê seja aprovada, ainda em 1978. Os Standards Contabilísticos
Internacionais recomendam já a consolidação de contas e definem os
procedimentos básicos a adoptar.

c) Forma de apresentação das contas anuais das Empresas e con-


teúdo das notas explicativas.
Se bem que qualquer dos documentos sob discussão defina que
as contas anuais das empresas compreendem o balanço, a conta de
resultados do exercício e as respectivas notas explicativas, obser-
vam-se algumas diferenças de forma fundamentais.
Já que as peças finais apresentadas no POC são de todos conhe-
cidas, apresento a seguir, de forma sintética, um dos modelos apro-
vados pela Quarta Directiva da CEE.

BALANÇO
ACTIVO
SÓCIOS (OU ACCIONISTAS), CONTA SUBSCRIÇÃO DE
CAPITAL xx
DESPESAS DE CONSTITUIÇÃO xx
ACTIVO IMOBILIZADO
Incorpóreo x
Corpóreo x
Participações financeiras x xx
- 627
ACTIVO CORRENTE

Existências X
Clientes e devedores e credores X
Títulos de crédito X
Caixa e bancos X XX

PAGAMENTOS ANTECIPADOS XX

PREJUÍZOS DO EXERCÍCIO XX
XX

BALANÇO

PASSIVO

CAPITAL xx
RESERVAS xx
PROVISÕES E DEPRECIAÇÕES RECTIFICATIVAS
DOS VALORES ACTIVOS xx
PROVISÕES PARA ENCARGOS PREVISTOS xx
CREDORES xx
ENCARGOS A PAGAR xx
LUCRO DO EXERCÍCIO xx
xx

Como se pode ver, as maiores diferenças de apresentação rela-


tivamente ao POC, são:

(i) A seriação das contas é inversa ao grau de liquidez do


activo, e à exigibilidade do passivo.
(ii) As provisões e depreciações e outros valores que corrigem
valores activos apresentam-se no passivo.
(iii) Segundo este modelo de balanço, não existe um membro
específico para a situação líquida.

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Vendas líquidas xx
Custo das mercadorias vendidas (xx)

628 —
Lucro bruto xx

Custos de distribuição (xx)


Despesas gerais administrativas (xx)
Outros resultados das operações xx
Rendimento das participações financeiras xx
Rendimento de outros títulos de crédito xx
Outros rendimentos xx
Provisões (xx)
Encargos financeiros (xx)
Impostos sobre lucros resultantes da actividade normal (xx)

Lucro ou prejuízo da actividade normal xx

Rendimentos extroardinários xx
Encargos extraordinários (xx)

Lucro ou prejuízo extraordinário xx

Impostos sobre os lucros extraordinários (xx)


Outros impostos (xx)

Lucro ou prejuízo do exercício xx

Este modelo assemelha-se, em certa medida, ao modelo da de-


monstração de resultados por funções. Uma análise breve, permite
concluir que se pretendem atingir os seguintes objectivos:
(i) Evidência do resultado apurado na actividade normal,
(ii) Evidência dos rendimentos e encargos extraordinários não
relacionados com a actividade normal e
(iii) Impostos que ~ecaem sobre os lucros extraordinários.

Um pormenor importante para o qual chamo a atenção, é o facto


de haver uma tendência para que as demonstrações financeiras sejam
apresentadas com valores comparativos do ano anterior.
As notas explicativas que acompanham as contas, cobrem as
matérias previstas no POC e, ainda, entre outros:

(a) Evidenciação de factos que embora tendo ocorrido poste-


riormente à data das contas possam trazer elementos que
são necessários para uma completa análise e avaliação das
mesmas.
(b) Compromissos resultantes de contratos de arrendamento, e
(c) Condições de planos complementares de reforma.

629
ACÇÕES A DESENVOLVER

Em consequência da próxima integração de Portugal na CEE há


necessidade de se começarem, desde já, a estudar os aspectos rela-
cionados com a harmonização contabilística para além de outros, não
menos importantes e mais vastos.
Aliás, esta necessidade está reconhecida oficialmente desde Feve-
reiro de 1977, data em que foi aprovado o POC. Como é do conheci-
mento geral, foi nessa data criada a Comissão de Normalização Con-
tabilística. Temos confiança na declaração então expressa de que a
Comissão integrará os interessados e tecnicamente mais válidos. No
entanto, surpreende e preocupa que passados quase dois anos a
Comissão não tenha sido ainda nomeada. Este é o primeiro aspecto
que pretendo referir. O segundo aspecto é não menos importante e
exige, por certo, uma acção ainda mais imediata por parte de todos
os interessados. Nomeadamente, uma leitura atenta daquilo que já
existe em matéria de definição de conceitos, princípios e critérios,
em especial o conteúdo do capítulo XII do POC (valorimetria) e a
sua adopção. Entenda-se a palavra adopção como um exercício sério
e devidamente ponderado por parte dos empresários ou gestores e
contabilistas.
Por ser de ocorrência pouco frequente não me referirei àquilo
que a adopção do conceito de continuidade implica, mas permito-me
perguntar o seguinte:
1. Quantas empresas evidenciam nas suas contas os efeitos de
mudanças de critérios e de princípios de um ano para o outro?
2. Quantas empresas ajustam o valor das suas existências para
um valor de realização, quando este é inferior ao custo?
3. Quantas empresas actualizam valores a pagar em moeda es-
trangeira para os câmbios em vigor à data do balanço?
4. Quantas empresas provisionam as perdas estimadas/previstas
com. a realização de créditos a clientes e outros devedores?
5. Quantas empresas ajustam o valor de imobilizações finan-
ceiras quando se verifiquem perdas potenciais?
6. Quantas empresas contabilizam todas as responsabilidades de
que têm conhecimento, incluindo os impostos sobre lucros,
independentemente do seu valor exacto ser conhecido ou ser
uma simples estimativa?
Temos, de facto, um caminho longo a percorrer.
Ele é, no entanto, extremamente estimulante e deverá ser percor-
rido num grande espírito de abertura e de coordenação de esforços
pelo Estado
pela Universidade
pelos Empresários e gestores
e pelos profissionais!

630 -
A Normalização Contabilística em Portugal
Por A. J. Alves áa Silva

Na conferência proferida, em 27 de Maio de 1946, no Instituto


Superior de Ciências Económicas e Financeiras, o Prof. Dr. F. V.
Gonçalves da Silva, disse:
«Estou, aliás convencido, que mais tarde ou mais cedo,
havemos de ter em Portugal, um plano contabilístico no
género dos que se elaboram na Alemanha e em França».

Não é minha intenção, neste trabalho, analisar o problema da


Normalização Contabilística, em todo o seu campo, nem tão-pouco
discutir e analisar os vários planos e trabalhos publicados até ao
presente.
Desejo, por agora, unicamente enumerar de forma resumida,
os ensaios que foram feitos em Portugal para que ao fim de 31 anos,
a ideia do Prof. Dr. F. V. Gonçalves da Silva se realizasse, pois
com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.° 47/77 de 7 de Fevereiro,
Portugal tem o seu Plano Oficial de Contabilidade (P. O. C.) uni-
forme para a generalidade das Empresas, dado' que um dos objectivos
principais desse Plano Contabilístico é obter de todas as Empresas
informações comparáveis.
Em Portugal as tentativas de normalização têm sido várias, e,
diversas entidades, públicas e privadas, para além de muitas contri-
buições individuais se têm debruçado sobre alguns aspectos da
normalização.
Portanto, embora a experiência de normalização ou a adopção
de um Plano único não seja corrente, diversos sectores da actividade
económica do nosso País têm adoptado uma normalização restrita,
por imposição estatal, para o registo das operações contabilísticas.
Sem nos preocuparmos com a evolução do tempo, damos a seguir
nota dos contributos para a normalização.
Entretanto observou-se uma preocupação dominante de a estudar
no aspecto do planeamento, descurando outros aspectos igualmente

- 631
relevantes, tais como terminologia, princípios contabilísticos, con-
ceitos de lucro, critérios valorimétricos, processos de cálculo de
custo, etc.
Para melhor se acompanhar este processo e a sua evolução,
vamos sintetizar as experiências e os trabalhos que têm, sido publi-
cados, sem referir outros trabalhos que têm vindo a lume nas
últimas décadas:
1935 — Polibio Garcia, — A Unificação dos Balaços.
1956 — Ensaio sobre um Planeamento Contabilístico Racional
— Dr. Cruz Vidal — É uma panorâmica geral da planificação conta-
bilística, e das necessidades para a economia da empresa nacional.
1965--Plano Geral de Contabilidade — Projecto-Contribuição
para o Plano Contabilístico Português do Sindicato Nacional dos
Empregados de Escritório do Distrito de Lisboa — Centro de Estudos.
1970 — Plano de Contabilidade para a Empresa — Grupo de Tra-
balho dos Técnicos de Contas do Sindicato dos Profissionais de Escri-
tório do Distrito de Lisboa.
1970 — Anteprojecto do Plano Geral de Contabilidade da D. G. C. I.
— 1." fase, — 2.a fase 1973.
1974 — Plano Português de Contabilidade — sob a égide da Socie-
dade Portuguesa de Contabilidade.
No que respeitam a alguns sectores específicos existem já planos
e normas jurídicas sobre a apresentação das Contas, e imposição,
através de decretos e portarias, de regras sobre o Balanço, Conta
de Resultados e Valorimetria.

Os sectores mais representativos, são:


Seguros — Indústria Seguradora
Bases para a unificação das contas de Exploração e Balanços.
Base da organização Contabilística: circulares 290 e 307.
Mais recentemente o Grémio dos Seguradores elaborou um pro-
jecto de Plano de Contas para a Indústria Seguradora, que foi
remetido para aprovação à Inspecção de Crédito e Seguros.

Plano de Contas para o Sistema Bancário


Desde 1959 que vigora para as Instituições de Crédito, um Plano
de Contas e que tem sofrido diversas alterações.
Mais recentemente, desde meados de 1976, um grupo de trabalho,
elaborou um projecto, que após a recolha de sugestões, deu origem
a um «Plano de Contas para o Sistema Bancário».

Cooperativas Agrícolas
Este sector tem um, Plano sectorial devido à iniciativa dos Ser-
viços de Inspecção da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas. O Plano

632 -
é obrigatório para todas as cooperativas, de acordo com o Despacho
Ministerial de 31-12-65.

Empresas de Rede Eléctrica Primária

Também este sector, representado por 5 empresas, elaborou um


Plano de Contas para ser aplicado por todas, com o fim de facilitar
a análise do sector.
Este Plano foi tacitamente aceite mas não resultou de imposição
obrigatória.

Sector de Produção e Exportação de Produtos Resinosos.


Também este sector elaborou um Plano através da União dos
Grémios de Industriais e Exportadores de Produtos Resinosos, que
recomendou às empresas agremiadas, sem contudo se tornar obriga-
tório por imposição legal.
Alguns diplomas têm definido o âmbito das contas, sua apresen-
tação, critérios valorimétrieos.

Estão neste caso:

Código da Contribuição Industrial — Decreto-Lei n.° 45 103.

Este Código define conceitos e âmbitos das contas, e obrigou as


Empresas a apresentar determinados documentos.

Decreto-Lei n.° 49 381 — Regime Jurídico da Fiscalização das


Sociedades Anónimas.

Este decreto-lei nos seus artigos 31.° e 32.° define e indica o que
o Balanço e a Conta de Resultados devem conter, e a forma de
apresentar as contas no Balanço (artigos 31.° n.° 2, e, 32.° n.os 2 e 3).
Mais recentemente foi publicado um estudo sobre a elaboração
das contas anuais, sua apresentação e publicação, com vista à
reforma do Direito das Sociedades Comerciais.

Decreto-Lei n.° 119/74.

Define as normas contabilísticas a que a contabilidade das socie-


dades de mediação deve obedecer. (Artigo 30.°).
Também, a Administração Pública, através de diplomas publi-
cados, tem procurado contribuir para uma melhor esquematização
dos registos contabilísticos.
No preâmbulo do Decreto-Lei n.° 47 336 de 24 de Novembro
de 1966, que alterou alguns artigos do Código do Imposto de Tran-
sacções, dizia-se:

- 633
«Os Serviços de Administração Fiscal promoverão também o esta-
belecimento de esquemas de contabilidade adequados às diversas
actividades e às exigências de fiscalização, sendo de esperar que
o próprio oferecimento ou sugestão de módulos sectoriais ou parti-
culares de escrita por parte dos sujeitos da obrigação fiscal
constitua um decisivo contributo para a simplificação imediata deste
imposto».
Igualmente os D. L. 579/70 e 580/70 de 24 de Novembro sobre
«Dupla Tributação» e «Centralização no Espaço Fiscal», se referiam
aos «Sãos Princípios de Contabilidade», expressão muito divulgada
através do- Código da Contribuição Industrial, que apesar de ser um
Código Fiscal, contribuiu grandemente para uma certa «arrumação»
das contas das nossas empresas e levou os nossos técnicos a debru-
çarem-se, com mais cuidado, sobre determinados problemas de registo
e de conceituação dos factos contabilísticos.
Através do Diário da República, II série n.° 152 — Suplemento
de 1-1-76, foi publicado o «Sistema Básico de Informação de Gestão»
que é constituído por uma série de documentos, a fim de normalizar
as informações das empresas. Também o Instituto das Participações
do Estado (I. P . E.) publicou um trabalho, designado por «Sistema
de Informação de Gestão», de muito interesse.
Para o Sector dos Transportes existe também o «Sistema Básico
de Informação».
Convém aqui referir que, nas explicações dadas quanto ao Imobi-
lizado, o I. P . E. inclui os «Prédios de Rendimento», no Imobilizado
Financeiro, enquanto o Plano Oficial de Contabilidade os situa no
Imobilizado Corpóreo.

Decreto-Lei n." 907/76 de 31 de Dezembro — Empresas Interven-


cionadas

Nos seus anexos I e II são enumerados os dados gerais da


empresa e indicadas as regras e critérios para a Correcção de
Balanços.

PLANO OFICIAL DE CONTABILIDADE

Decreto-Lei n.° 47/77 de 7 de Fevereiro

Passados que foram 31 anos, da realização da conferência do


Prof. Dr. F. V. Gonçalves da Silva, Portugal tem o seu Plano de
Contabilidade, para todas as empresas, excepto para as Instituições
de Crédito e Seguros.
Não é minha intenção fazer a análise do «Plano», mas somente

634 —
chamar a atenção para a parte final do preâmbulo do Decreto-Lei
n.° 47/77, que diz:

«O funcionamento e aperfeiçoamento do Plano exigem a


institucionalização de uma Comissão de Normalização Conta-
bilística com a maior representatividade».

Ora, pelo artigo 4.° do referido Decreto-Lei é criada a Comissão


de Normalização Contabilística, mas até à data ainda não foi
nomeada.
Este aspecto é de extrema importância, dado que compete à
Comissão de Normalização Contabilística dar parecer, solucionar
e definir muitos aspectos, quer técnicos, quer jurídicos, resultantes
da entrada em vigor do P. O. C.
O apoio da Comissão de Normalização Contabilística ao Plano,
torna-se pois indispensável, para bem das empresas, dos técnicos
e do País.
Já depois de publicado o D. L. n.° 47/77, surgiram outros diplo-
mas que criaram Contas e definiram princípios de contabilidade,
sem, que a Comissão de Normalização Contabilística fosse ouvida (até
porque ainda não existe).

Vejamos os principais:
Diário da República I série n.° 199 de 29 de Agosto — 2." Suple-
mento.

No chamado «2.° Pacote» vamos encontrar as seguintes normas,


princípios e definições:

1) D. L. 353 0/77 de 29 de Agosto — Depósitos em Moeda


Estrangeira.
Artigo 5.° Determina o procedimento contabilístico a adoptar para
os Depósitos em Moeda Estrangeira.

2) D. L. 353 P/77 de 29 de Agosto — Emissão de Obrigações


pelas Sociedades.
Artigo 4.° — Define Lucro, para efeitos deste artigo 4.°, bem como
os Resultados Líquidos do Exercício, deduzidos das Reservas Legais
ou obrigatórias, e, não se considerando como CMSÍO as Amortizações
e Provisões efectuadas para além dos máximos admitidos para
efeitos da Contribuição Industrial.

— 635
3) D. L. 353 T/7.7 de 29 de Agosto — Financiamento de Infra-
-Estruturas das Empresas Públicas de Transportes ou
Concessionários.

Todo este diploma se debruça sobre aspectos técnico-contabilís-


ticos, que passo a referir os mais importantes de forma resumida:
Artigo 2.° n.° 2 — Alude à revelação contabilística.
Artigo 4.° — Refere que as Empresas Públicas de Transportes ou
Concessionários... ficarão obrigados a abrir, nos seus registos conta-
bilísticos contas específicas de modo a darem a conhecer em cada
momento, de uma forma precisa e clara, por um lado, quais as
infra-estruturas de longa duração de conta do Estado e respectivos
montantes e, por outro lado as inerentes dotações atribuídas e as
responsabilidades financeiras assumidas.

4) Aviso n.° 11 do Banco de Portugal — Diário da Repú-


blica I série de 29 de Agosto — n.° 199.
Na caracterização das operações de financiamento, a novos
investimentos, refere-se ao Valor acrescentado.

5) Diário da República II série n.° 209 de 9 de Setembro.


Despacho sobre Planos de Investimento (E. D. P.).
Também este Despacho estabelece normas e conceitos de conta-
bilidade, para serem analisados e comentados.

6) Decreto Regulamentar 90/77 de 31 de Dezembro.


Este Diploma autorizou o Metropolitano de Lisboa, E. P. a criar
na sua escrita duas contas:
a) Infra-Estrutura de Longa Duração a Transferir para
o Estado.
b) Passivo a Cargo do Estado,
e no n.° 2 do artigo 4:° diz como proceder às correcções contabilísticas.

7) I. P. E. — Portaria 404/78 de 25 de Julho.


Artigo 5.° n.° 2 — Constituição de uma Provisão destinada à
Amortização das Obrigações.

8) Estatuto de Ferrominas — E. P. Decreto-Lei n.° 49/77 de


12 de Abril.
Prevê ho seu artigo 44.° que se houver Lucros é preciso ter em
conta os efeitos desfavoráveis da Inflação Monetária.

636 -
Mais recentemente no Colóquio realizado na Associação Portu-
guesa de Economistas sobre o «Sector Empresarial do Estado» — foi
afirmado:

«Promover a implantação de adequados sistemas de Contabili-


dade de Custos susceptíveis de propiciar a uma correcta tomada de
decisões, quanto a preços, subsídios e comparticipações».

Também no encerramento do colóquio sobre a situação da econo-


mia portuguesa, na Associação Portuguesa de Economistas, o então
Governador do Banco de Portugal, em resposta a questões levantadas,
disse:

«que em Portugal poucos parecem perceber de Contabi-


lidade, pois então praticar-se-ia uma contabilidade indexada».

Noutro passo afirmou:


«não se entender contabilidade, aconselhando quantos não
se recordam do que estudaram a socorrer-se de livros que
se encontram- à venda em inglês e francês, em condições bas-
tante acessíveis, técnica e materialmente».
Por último alerta-se para que a Comissão que estuda a futura
«Lei das Sociedades Comerciais», tenha em conta o que já está feito,
no Plano Contabilístico, pois há que empregar todos os esforços já
desenvolvidos para bem dos profissionais das Empresas e do País.
A enumeração destes factos, servem para demonstrar que não
é com a aprovação de um Plano de Contas obrigatório que se resol-
vem problemas de registo, organização e controlo das contas das
empresas, mas sim com estudos e discussões realizadas pelos técni-
cos, nas suas Associações, para que se chegue a um concenso, e, às
soluções encontradas sejam aceites por todos, como válidas e tecni-
camente viáveis.
Há pois todo um longo caminho a percorrer, e os Técnicos de
Contabilidade estão* hoje em posição de começar a encetar essa
tarefa, analisando os problemas e discutindo-os à luz da sua expe-
riência e das novas técnicas.

— 637
Lexicologia Contabilística
Por António Tomé de Brito

1. A LEXICOLOGIA

10. A Lexicologia Contabilística, compreende a selecção dos ter-


mos e expressões utilizados em Contabilidade, as suas defi-
nições, as suas relações, e a escrita e leitura dos mesmos
conforme as regras gramaticais. Por extensão inclui também
as normas de escrita e de leitura dos chamados grandes
números (em geral a partir de IO6). Não podemos expor as
regras básicas da Lexicologia, devido à reduzida amplitude
deste trabalho.

11. Desde Luca Pacioli, até à actualidade, alguns autores têm-se


interessado pela Lexicologia, mas quase sempre por forma
insuficiente. Léautey e Guilbaut, reconheceram a sua impor-
tância ao citarem o filósofo Taine: «Une science bien faite
n'est qu'une langue bien faite». Na mesma obra em que
fazem a citação, afirmam que se propõem elevar a Conta-
bilidade ao nível de ciência, e por isso estão preocupados
em fixar os termos de uma maneira precisa.
12. O desconhecimento da Lexicologia, explica a linguagem em-
pírica hoje tão vulgar em obras técnicas, com os chamados
termos sem tradução, definições confusas, e até erros gra-
maticais.

2. ASPECTOS PRÁTICOS
20. Uma ciência ou uma técnica, carecem de terminologia pró-
pria, com significados precisos e iguais para todos os que a
utilizam. Quando se empreguem termos na acepção vulgar,
como conta (aritmética) é indispensável distinguir a dife-

- 639
rença do termo técnico conta (patrimonial). Quanto aos sinó-
nimos da linguagem vulgar, convém notar que raramente são
sinónimos no aspecto técnico. Assim, temos por exemplo «en-
cargo» (elemento negativo do rédito) e «despesa» (saída de
numerário).

As diferenças entre Dicionários e Léxicos, marcam bem o


que acabamos de afirmar. Os Dicionários, são em geral
listas alfabéticas de termos, com os seus significados vul-
gares, elaborados por linguistas com a eventual colaboração
de outros especialistas. Os Léxicos, também são relações de
termos, mas de uma determinada especialidade, com o seu
significado científico ou técnico, e elaborados por especia-
listas com a colaboração de linguistas.
P a r a ilustrar o exposto vejamos os significados da pa-
lavra Balancete:

— num dicionário — Balanço parcial, balanço de verifi-


cação, resumo do balanço geral.
— num léxico — Balancete do Razão — relação da totali-
dade das contas, de forma que permite verificar a
igualdade de totais de débitos e de créditos, e dos
saldos devedores e credores.

Julgamos que a comparação das duas definições dispensa


quaisquer comentários.

Outro aspecto de grande importância é o dos estrangeirismos,


muitas vezes resultantes de neologismos mal formados, ou de
traduções improvisadas por amadores. Somos defensores dos
neologismos que obedeçam às regras usuais da língua, o que
implica conhecimentos bastante extensos. Destacamos a im-
portância dos prefixos, sufixos e afixos, e da consulta de
Léxicos multilingues.
Alguns exemplos de estrangeirismos e dos termos cor-
respondentes portugueses :

auditor — revisor
controle — verificação, certificação, conferência,
comando, domínio (e mais de 20 outras
acepções)
envelope — sobrescrito
full-time — tempo completo
input — entrada
output — saída
marketing — comercialização
part-time — tempo parcial
rentabilidade — rendibilidade
stock — existência, sortido (e mais de 10 outras
acepções).
Este problema dos estrangeirismos, resulta em grande
parte da falta de formação linguística dos técnicos, que pre-
tendem desculpar-se com a habitual frase: «são termos es-
trangeiros sem tradução».
23. Também, no aspecto da redacção dos diplomas legais, além
de algumas imprecisões e confusões tradicionais de termos
contabilísticos, vieram juntar-se os erros terminológicos do
Plano Oficial de Contabilidade. Assim, notamos a título
exemplificativo os seguintes termos paralelos:
I Encargos í Proveitos
Custos | Ganhos
I Despesas l Receitas

Depreciações I Reintegrações
Desvalorizações 1 Amortizações

Muitos outros termos poderiam ser citados, como a «Re-


serva de Reavaliação» que na realidade é a «Diferença de
Reavaliação», os títulos longos e restritivos das Contas, e até
o emprego indevido das letras iniciais minúsculas nos seus
títulos.

3. A U.E.C. E A LEXICOLOGIA

30. A «U. E. C. — Union Européenne des Experts Comptables,


Économiques et Financiers», fundada por 10 países em Paris
no ano de 1951, tem dedicado grande parte da sua actividade
ao problema lexicológico a nível de estudo europeu, mas com
possibilidade de aplicação a nível mundial.
A Sociedade Portuguesa de Contabilidade, representa Por-
tugal nesta organização, e de que é um dos dez países fun-
dadores.
Actualmente a «U. E. C», conta vinte e dois países mem-
bros e vários outros correspondentes e observadores. O nú-
mero de Institutos europeus representados é de 27, que se
calcula totalizarem algumas centenas de milhares de técnicos.

31. A Comissão de Lexicologia Contabilística da «U. E. C», cuja


secretaria é em Dússeldorf, já publicou duas edições do seu

41 — 641
«LEXIKON», com mais de mil termos, definidos em oito lín-
guas: francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, português,
holandês e dinamarquês. Está em preparação a terceira
edição do «LEXIKON», para elaboração da qual se realizam
várias reuniões durante o ano, nos diferentes países membros.

32. Os dirigentes da «U. E. C», a Assembleia dos Delegados e a


Comissão Executiva, e as várias Comissões de Estudos, con-
sideram, de fundamental importância para os seus trabalhos
o conhecimento lexicológico.
Outros Institutos e organismos internacionais como o
«Groupe d'Études des Experts Comptables» da CEE e a
«IFAC — International Federation of Accountants, de New
York», mantêm relações com a «U. E. C», e muito se inte-
ressam pelos seus trabalhos.

4. A S.P.C. E A LÉXICOWGIA

40. A S. P. C. — Sociedade Portuguesa de Contabilidade, durante


os seus 33 anos de existência, tem-se ocupado do estudo dos
principais problemas da Contabilidade, tanto no plano na-
cional como internacional. Assim, desde a apresentação e
análise de Balanços, Regulamentação dos Técnicos de Con-
tas (1949), Planos Contabilísticos (desde 1953), Fiscalidade,
Congressos, até à Lexicologia, numerosos temas têm sido
tratados.

41. A S . P. C. tem; colaborado continuamente na Comissão de


Lexicologia Contabilística da U. E. C , desde o seu início, tendo
os seus representantes procurado sempre defender a pureza
da língua e o rigor técnico das definições. A parte portu-
guesa do «LEXIKON», mereceu o honroso elogio do distinto
filólogo e dicionarista Dr. José Pedro Machado, publicado no
Boletim da Sociedade de Língua Portuguesa (Ano XVII—1966,
pág. 303 a 307).

42. A importância da Lexicologia Contabilística é cada vez maior


pela expansão da Contabilidade e evolução dos processos exe-
cutivos de escrituração. Termos provenientes da Física, da
Matemática e do Direito, bem como vários neologismos, são
hoje de uso frequente.
Nota-se infelizmente no nosso País, grande atraso na ter-
minologia utilizada no Processamento Electrónico, quase toda
de origem americana, e que as firmas vendedoras dos equi-
pamentos procuram impor. Uma boa parte desses termos já
foi devidamente traduzida para a nossa língua.

642 —
PROPOSTA

50. Como conclusão desta comunicação apresentamos a proposta


seguinte. Considerando que:

1.° — A imperiosa e urgente necessidade de se defender


a língua portuguesa, tão afectada por estrangeiris-
mos e outros erros;

2.° — os aspectos científicos e técnicos da Contabilidade,


exigem a utilização de terminologia unívoca e pre-
cisa;

3.° — é indispensável que as entidades que se dedicam ao


ensino, publicação de obras originais ou traduzidas,
elaboração de Planos Contabilísticos, legislação, ou
outras actividades relacionadas com a Contabili-
dade, tenham boa formação lexicológica;

4.° — o progresso já conseguido na lexicologia portuguesa


de Contabilidade, a nível internacional, não deve
continuar a ser quase ignorado em Portugal;

5." — a evolução natural das línguas vivas e das técnicas,


implica a revisão dos significados dos termos an-
tigos e a criação de neologismos devidamente for-
mados,

propomos a constituição da Comissão de Lexicologia Conta-


bilística, para o estudo, selecção e definição dos termos
técnicos, resposta a consultas e divulgação das normas lexi-
cológicas.
Sugerimos ainda, que esta Comissão seja formada por
representantes das Associações Contabilísticas, Institutos Su-
periores de Contabilidade e Administração, e Sociedade de
Língua Portuguesa.

643
10
Comunicações da 9.a Mesa
Outros Temas de Contabilidade e Gestão

Presidente: Doutor Fernando de Jesus


Prof. Cat. do Instituto Politécnico da Covilhã

Secretário: Dr.a Anabela dos Santos Silva Tavares


Assistente do ISCAA
Reflexões de Gestor Empresarial perante
a Economia Portuguesa
Por Rogério Fernandes Ferreira
I. POSIÇÃO ACTUAL
Considerando que as empresas sofreram embates sérios que lhes
modificaram a situação patrimonial e o sinal dos resultados, há como
que uma necessidade de rearrumação, de adequações contabilísticas,
de reestruturações financeiras, de correcção de assimetrias estrutu-
rais para o que se prevêem incentivos que possibilitem tal e que
conduzam a situações de viabilização, a metas de equilíbrio econó-
mico e financeiro de exploração.
O drama, quanto a nós, está em que o reequilíbrio e reestrutu-
ração das empresas desejado e a consecução de metas necessárias
vai prever-se em época de crise e de marasmo, em altura em qUe
o País é forçado a reduzir consumos, em que pela alta de preços
e perda de poder real de salários se vão retrair vendas e níveis de
actividade.
Ora, ainda que se reequilibrem financeiramente as empresas com
reavaliações e outros incentivos de carácter predominantemente
financeiro subsistirão os problemas económicos por resolver.
Se as reestruturações de inovação, expansão, crescimento, não
obstante insuficiências, eram o caminho encontrado para resolver
problemas de empresas em crise, acontece que a «fuga para a
frente» não está a ser agora o caminho que no Mundo em crise
se propugna.
Há países onde os excessos de custos e as insuficiências de vendas
estão a procurar resolver-se muitas vezes não buscando maiores
níveis de actividade mas procurando eliminar desperdícios, limitando
despesas, economizando. Só que medidas nos sentidos apontados
são vias que exigem compreensão e ambiência que entre nós ainda
não existem. Porém, adiar soluções, equivalerá a deteriorar ainda
mais a situação. Há quem afirme que a recuperação económica tem
de passar pela austeridade e quanto mais tarde maiores serão os
custos sociais.

- 647
Não se tem dúvidas das grandes dificuldades que no campo das
empresas apresentam sempre as vias das contenções e as restrições
de actividade.
Os economistas de empresa e os contabilistas conhecem bem as
dificuldades da reversibilidade das curvas dos custos de estrutura
das empresas para o caso de se passar para níveis mais baixos de
produção e venda, em especial se forem volumes de actividade infe-
riores ao dimensionamento económico das empresas.
Tais situações redundam em custos médios unitários muito mais
altos o que em períodos de crise e de dificuldade de vendas só pode
ocasionar prejuízos. Com o aparecimento de prejuízos surgem
ambientes de depressão, receios de projectar novos investimentos,
quebras de actividade, desemprego, eliminação das empresas mais
frágeis, falências, etc.
Após tudo isso surgirá, necessariamente, mais tarde ou mais
cedo, a retoma da economia, a reconstrução, a revitalização das
unidades económicas existentes e o aparecimento de novos empreen-
dimentos para ocorrer aos novos surtos positivos da economia.
Só que as perdas nacionais derivadas do processo, as tensões
de carácter político na sociedade, o peso excessivo e de difícil ponde-
ração dos ónus que acarreta a chegada a pontos de ruptura são
aspectos preocupantes. E os técnicos de contabilidade e de gestão
empresarial são agentes do processo pelo que haverá todo o interesse
em que os participantes destas jornadas ponderem as medidas a
adoptar ou as consequências de algo ou nada se fazer.
Claro que se poderá pensar, em face do exposto, que os esquemas
de austeridade são via a rejeitar e que devem antes procurar-se tão
somente esquemas de progresso consubstanciados na elaboração de
projectos económico-sociais que consistem, em investir, reequipar,
reconverter, produzir (mais, melhor e com maior produtividade e a
mais baixos custos), trabalhar mais, etc.
Posta assim a questão dir-se-ia que afinal o problema se traduz
em opção política, em boa ou má escolha. Ora, convém assinalar
aqui, que o problema não pode ser visto entre um ou outro querer
político. Terá sim que se encarar a realidade económico-social tal
como é ou tal como se pode conseguir que seja, através de estratégias
e acções que as forças políticas deverão conduzir, ouvindo os técnicos
e conseguindo a adesão necessária.
Reconhece-se que é difícil conseguir que as coisas sejam o que
deveriam ser, mas também se pensa que a melindrosa situação da
economia portuguesa exige a congregação de todos e uma conver-
gência de acções em que os aspectos técnico-económicos terão de
assumir o papel prevalente que lhe é exigido para a necessária
resolução correcta dos problemas da Economia Nacional e, em conco-
mitância, da Sociedade Portuguesa.

648 -
Num contexto de perplexidades como acima se acentua, natural-
mente que não se revelará fácil aos gestores empresariais a formu-
lação de estratégias e a fixação de objectivos a atingir. E, nestes
termos, a gestão sofre impasses e desenrola-se sem horizontes:
desmotivam-se os dirigentes e perturbam-se os trabalhadores. Há que
ter imaginação, há que pensar seriamente. Os portugueses têm o
dever moral de congregar esforços e actuar onde são competentes.

II. A UTILIDADE DAS ANÁLISES DAS ESTRUTURAS CONTABI-


LÍSTICAS E FINANCEIRAS
Nas disciplinas de economia é hoje usual procurar as causas de
certos comportamentos e as explicações acerca do real funcionamento
das instituições e dos agentes económicos através do estudo dos
elementos de carácter estrutural.
Na verdade, o estudo das estruturas revela muitos porquês das
situações e as dificuldades das mudanças, visto que as estruturas
são precisamente os dados da situação que, sendo (relativamente)
estáveis, implicam actuações que têm de tomar tais dados em consi-
deração, dadas as impossibilidades (ou ónus) das mudanças estru-
turais.
Quem examina economicamente Portugal verifica que se está
perante um País ainda não muito industrializado, de rendimento
médio per capita baixo, de má distribuição de rendimento, com defi-
ciências notórias na gestão, e actualmente em situação de crise
profunda nas pessoas e nas instituições. Há carências de meios
vários e impossibilidades de suprir tais carências pela pobreza de
recursos à partida e pelo agravamento dos déficits nas várias cor-
rentes de fluxos do Estado {déficits sistemáticos no Orçamento Geral
do Estado, na balança comercial e na balança de pagamentos) e das
empresas (insuficiências de proveitos em face dos custos, fraqueza
de receitas perante despesas, pouca produtividade, insuficiente uso
dos poucos meios disponíveis, etc.). Aliás, os déficits que se acumu-
lam derivam de as instituições públicas e privadas terem sido
compelidas a aumentar encargos que não tiveram concomitantes
contrapartidas de rendimentos, devido a deficiente operacionalidade,
a fraca produtividade dos meios utilizados na produção e a factos
extraordinários (greves, fugas de capitais, incompreensões, desmoti-
vações, desorganização, etc).
Acontece que numa estrutura global com deficiências dos tipos
apontados, servida por extractos populacionais algo apáticos e tecni-
camente menos evoluídos e em que nas camadas mais responsáveis
ou detentoras do poder há grande número de elementos de mentalidade
pouco evolutiva, não será fácil encontrar a imaginação suficiente
para modificar significativamente os dados estruturais de modo a
um volta face real na economia, o mesmo é dizer no nível de vida

- 649
da generalidade dos portugueses, que aliás ainda não sentiram total-
mente o peso das carências, por se viver ainda de empréstimos e
descapitalizações.
Ora, se se passar das estruturas nacionais ou globais às estru-
turas sectoriais, nomeadamente às estruturas dos agentes produtivos
que são fundamentalmente as empresas, os sintomas e as fraquezas
são idênticos. Fraqueza das estruturas humanas, das estruturas
de património, dos componentes dos custos, etc. O panorama é de
modo geral negativo e não se vislumbram melhorias.
Só que a avaliação das estruturas empresariais e das suas neces-
sidades de modificação no sentido de tornar as empresas aptas ao
cumprimento dos seus objectivos mostra que está muito por fazer.
Ora, se não for possível tornar as estruturas aptas par a o desenrolar
das acções necessárias e para obter os ganhos desejados não se
poderão encontrar vias de progresso mas sim- vias de retorno.
O quadro seguinte tem-nos servido para explicar de modo breve
o quanto que é necessário numa empresa para obter a indispensável
eficiência e rendibilidade. Na verdade começa-se por referir que
sem estruturas adequadas não há as aptidões necessárias para exercer
as acções de gestão adequadas que conduzam a bons níveis de rota-
ções (rotações entre vendas e valores de património e de capital)
e a metas de eficiência e de rendibilidade.

estruturas rotações margens


! I Y~
aptidões acções ganhos

"Nk I rendibilidade —
I — eficiência

Torna-se, por conseguinte, necessário verificar se as estruturas


das empresas são ou não compatíveis para o exercício das suas
actividades e se delas se está tirando todo o proveito.
Do exposto deduz-se a necessidade de constantes exames, averi-
guando-se, no tocante à estrutura patrimonial (*), se todo e qualquer

C1) Claro que nos estudas de Economia da Empresa outras estruturas se


devem apreciar, porventura tanto ou mais importantes do que a patrimonial.
No âmbito da contabilidade (lato sensu), há ainda que considerar a estrutura
dos custos e proveitos. Fora da contabilidade, tem-se a estrutura (do funciona-

650 —
elemento do Activo Fixo é compatível com o volume de produção ou
com a actividade que permitiu exercer e se os bens do Activo Circu-
lante têm grau de rotação satisfatório ou ainda se as proporções
entre o capital próprio e o capital alheio são as adequadas para um
financiamento regular, a baixo custo, que possibilite adequada
rendibilidade do capital próprio sem afectação da independência do
empresário perante os credores.
Havendo eficiência no emprego dos bens activos, a empresa só
não terá rendibilidade por motivos de outra ordem: — trabalha em
maus mercados, era regime demasiado competitivo e sob preços
degradantes, ou actua sob produtos tradicionais, de más margens,
etc.; ou, então, nada disso acontece, mas os prestadores de capital
alheio ou os agentes do trabalho estão a ter remunerações despro-
porcionadas com o volume de financiamento e de trabalho que
prestam às empresas, ausência de controlo, roubos, etc., afectando-se
assim a parte remuneratória que cabe ao empresário ou prestadores
de capital próprio quando não a outros participantes da empresa.
Todo este problema de apreciação de proporções dos meios entre
si e com as rotações e as rendibilidades deve constituir uma tarefa
essencial dos gestores, que para o efeito têm de munir-se de tableaux
de bord — quadros previsionais e aposteriorísticos de balanços, contas
de exploração e de resultados, rácios, etc.
Não podendo falar-se aqui em pormenor de todo o complexo estru-
tural e funcional da gestão, de que os orçamentos e as contas consti-
tuem elementos ou instrumentos motores de apreciação crítica e de
correcção e controlo, interessa, neste tema de análise, acentuar que
se uma empresa não procura dispor de uma estrutura patrimonial
equilibrada e adequada terá a eficiência da sua gestão muito com-
prometida.
É assim de assinalar a importância que ultimamente se vem
atribuindo às análises estruturais, precisamente porque se conclui
que as mesmas constituem, fundamentos para as análises conjunturais
e para o estudo das acções a desenvolver.
Será importante apreciar não só:
— a estrutura patrimonial dada pelo balanço (e seus desen-
volvimentos)
— a estrutura dos custos e proveitos dada pela conta de
exploração e resultados (e seus desenvolvimentos)
mas formular igualmente análises conjugadas.

mento) dos serviços e a estrutura do pessoal que são também de grande rele-
vância na apreciação da realidade e das potencialidades da gestão de cada
empresa.

- 651
Interessa, sobremaneira, que o exame da estrutura seja também
feito em perspectiva dinâmica, comparando:
— orçamentos e contas
— balanços e contas de resultados (de períodos sucessivos)
— mapas de custos e de valores acrescentados (idem)
— balanços de origens e aplicações de fundos (idem)
— rácios, etc.

Todos estes elementos podem dar-nos indicações sobre a evolução


das estruturas, se a situação melhora ou piora. Porém, vendo bem,
juízos sobre a estrutura adequada exigem igualmente elementos
comprovativos reportáveis à estrutura tipo ou ideal (difícil) ou à
estrutura média. Há dificuldades nesta fixação pois ainda existem
carências de normalização e é rica a variedade de casos concretos.

652 -
O Mini-Computador e a sua Importância
na Contabilidade e Gestão da Empresa
Por Carlos Alberto Gomes Luso

A organização nas Empresas tem sido preocupação permanente


de uma grande maioria das pessoas ligadas sob as mais diversas
formas à orientação dessas Empresas.
E se nas grandes empresas, por vezes, se trata somente de uma
questão de correcções a procedimentos anteriores, já o mesmo não
acontece em relação às Pequenas e Médias Empresas, que na maioria
das vezes tem de se iniciar do nada.
Razão porque, os técnicos e até os próprios empresários, deitam
hoje mão às técnicas mais sofisticadas para a solução dos seus
problemas de ordem, administrativa e estrutural.
E também um pouco por essa mesma razão, tem sido evidente
o recurso aos MINI COMPUTADORES, como forma de solução desses
problemas.
Não será portanto de admirar a inserção dos MINI COMPUTA-
DORES no nosso País nos últimos anos e a importância de que se
reveste hoje um investimento dessa ordem.
Anos volvidos parecia um luxo administrativo possuir um equipa-
mento deste tipo nos serviços. Afinal, tornou-se a pouco e pouco
uma solução para os graves problemas que têm vindo a afligir as
empresas em Portugal.
Exageradamente, chegou-se ao ponto de medir a dimensão da
empresa através do seu recrutamento ou não de um mini computador.
Empresa que possuísse um equipamento daqueles, era uma empresa
conceituada e as ordens saídas dos seus serviços eram normalmente
respeitadas.
Natural pois, que hoje em dia, quando os problemas das Empre-
sas no nosso País se vêm agravando, o mini computador ganhe uma
nova personalidade e importância na Contabilidade e Gestão das
Empresas.

- 653
Convém agora, para nos situarmos no verdadeiro campo de
análise, determo-nos um pouco sobre o conceito de cada uma das
peças já referidas:

«O Mini Computador ; a Contabilidade; a Gestão e a Empresa»

Designa-se por mini computador um equipamento electrónico


capaz de executar um certo tipo de processamento de dados, por
intermédio de programas internamente armazenados na memória
central. Os serviços prestados pelo mini computador podem ser
classificados em duas categorias distintas:

l.a — 0 tratamento da informação (contabilidade geral e ana-


lítica, salários, facturação, gestão de stocks, gestão de
produção, análise de estatísticas, etc.) ;
2.a — O apoio à decisão através de serviços de informática
(selecção de investimentos, controle de gestão, planifi-
cações, estudos, etc).

Isto, como é evidente, no campo da empresa, não devendo esque-


cer-se o papel demasiado importante, se não decisivo, que estes equi-
pamentos têm tido nos campos da Saúde, da Ciência, do Ensino, da
Tecnologia, etc.
Seria entrarmos num campo muito vasto que não é a intenção
desta comunicação, virada sim para a articulação dos valores tradi-
cionais no funcionamento gestivo das empresas e em1 particular
das P. M. E,
O mini computador tem algumas vantagens técnicas, como a
rapidez e a precisão, de entre outras, mas tem suscitado por vezes
numerosos problemas humanos. Pode causar, e tem causado nalguns
casos, por exemplo, uma redução dos efectivos de difícil reciclagem.
Algumas vezes tem prestado algumas ajudas a modificar estados
de espírito, a alterar métodos e trabalho, a preparar decisões, a
transformar estruturas, a concentrar tarefas administrativas, a disci-
plinar sistemas e até a influenciar e moralizar questões de relações
de trabalho.
Normalmente aproveita-se a altura da aquisição e instalação do
equipamento para proceder a alterações significativas nos quadros
normais de funcionamento do serviço, que doutra forma dificilmente
seriam aceites.
Essas transformações por vezes não resultam, em presença de
uma aquisição inadequada às necessidades da empresa e então respon-
sabiliza-se normalmente o mini computador ou os recursos humanos
a ele adjacentes.

654 -
É um assunto de que voltaremos a falar um pouco mais à frente,
nesta comunicação.
Passaremos a referir agora a importância da contabilidade na
empresa.
Com todo o rigor se alia a contabilidade a um conjunto de
técnicas de avaliação de fenómenos económicos. Existem vários tipos
de contabilidade. A contabilidade Nacional que avalia a actividade
económica do País. A contabilidade pública que avalia as operações
do sector público. A contabilidade da empresa avalia os elementos
da actividade económica da empresa.
É pois sobre esta última que se farão breves comentários.
Os serviços de contabilidade da empresa têm tarefas importantís-
simas a desempenhar. Essas tarefas residem fundamentalmente na
missão de coligir, conservar e transmitir o registo de todas as trocas
de fluxos monetários entre a empresa e os meios em que insere,
através naturalmente de técnicas modernas.
E dentro da própria contabilidade teremos ainda desdobramentos
importantes a considerar. A Contabilidade Geral; a Contabilidade
Analítica ou de Gestão; a Contabilidade Industrial ou de Custos, e a
Contabilidade Previsional.
Para esta articulação, de entre si, tem-se tornado difícil aos
técnicos de contas e demais pessoas interessadas nesta matéria,
organizarem um conjunto sistemático de comportamentos que tenha
apresentado resultados práticos de sensação.
Também a gestão da empresa tem papel relevante na sua
orientação.
A gestão engloba simultaneamente a Ciência, a Técnica e a
aptidão necessárias aos responsáveis pelo funcionamento de um sis-
tema de carácter económico. É como que uma dialéctica do zelo e do
método, do génio e do bom, senso.
Conforme a amplitude e a natureza do seu objecto, distinguem-se
de entre outras, a gestão orçamental, a gestão comercial, a gestão
financeira, a gestão de stocks e a gestão do pessoal.
A técnica utilizada definirá se a gestão é automatizada ou inte-
grada. Tem-se como gestão integrada um conjunto coerente de
sistemas de gestão automatizada. Diz-se que a gestão é automatizada
se a recepção e tratamento das informações e a determinação das
decisões a tomar num certo domínio são processadas por um compu-
tador ou mini computador.
Vamos agora ver a Empresa.
Do ponto de vista económico, a empresa é, o conjunto dos
factores de produção reunidos sob a participação de empresários
e trabalhadores, para através da produção de bens e serviços, atrair
uma clientela e daí obter rendimentos.
Conforme a sua estrutura, a empresa será maior ou menor. Já
agora valerá a pena determo-nos um pouco do que é a estrutura da

— 655
empresa. Em qualquer empresa coexistem duas organizações. Uma
chamada estrutura formal, é a organização teórica de que o orga-
nigrama é a esquematização. Outra, chamada estrutura informal,
é aquela que funciona na prática.
E na medição da grandeza da estrutura da empresa, teremos
necessariamente de apreciar e ponderar vários aspectos. A expressão
estrutura empresarial, comporta-os. Temos ainda na empresa, inte-
gradas nas estruturas formal e informal, a estrutura de património,
de custos, de organização e métodos, do pessoal, do poder, etc.
Começamos então agora, que está traçado o quadro da EMPRESA,
da CONTABILIDADE, DA GESTÃO e do MINI COMPUTADOR, a
compreender as reais necessidades da empresa em possuir um bom
e cuidado serviço de Contabilidade e Gestão.
E compreendemos também a razão da aquisição do mini compu-
tador, como elemento destas necessidades.
Já vimos então, medida a importância das estruturas, qUe muitas
das PMEi no nosso País não possuem realmente estruturas para dar
respostas às exigências actuais e muitas vezes chegam às pseudo
estruturas de poder conhecimento de factos gravíssimos, tão tardia-
mente que já pouco ou nada há a fazer.
Vamos tentar dar alguns exemplos, do que acabamos de dizer.
Em Outubro de um ano, é apresentado para apreciação da
Administração ou Gerência de certa empresa, o balancete da conta-
bilidade geral, em que se desvenda o quadro seguinte, em relação
ao 1.° semestre:

a) as vendas no período em relação ao ano anterior sofreram


uma quebra na ordem dos 25 % ;
b) os débitos dos clientes nesse mesmo período subiram na
ordem dos 30 % ;
c) os stocks estão acima dos valores aconselháveis;
d) na secção industrial a taxa de absentismo foi na ordem
dos 22 % sem definição do tipo de faltas;
e) não existe liquidez para os compromissos correntes.

Um quadro pouco animador, mas que chegou ao conhecimento


dos responsáveis com grande atraso.
Uma empresa nestas condições caminha espaços errados. Terá
certamente de recorrer a crédito bancário, e ao fazê-lo outros emba-
raços se levantam, pela incapacidade de resposta a algumas exigên-
cias formais.
As PME portuguesas estão a passar com efeito um período
irregular na sua vida activa. Têm-se avolumado os problemas cons-
tantemente e são hoje chamadas a dar resposta a situações, sem
que para isso os seus serviços estejam preparados.

656 —
As empresas que foram forçadas a recorrer a Créditos Bancá-
rios ou até a Contratos de Viabilização foram colocadas perante
situações difíceis e as respostas técnicas a dar no campo da Economia
e Finanças, foram em muitos casos incorrectas por deficiência das
suas estruturas.

Temos de convir que para uma empresa responder a ques-


tões, como:

Exploração económica; Balanços; Indicadores de Gestão;


Diagnósticos da situação Económica; Deficiências e Poten-
cialidades; Resultados Previsionais a atingir, etc.

sem que para isso administrativamente esteja preparada, é uma


situação tremendamente delicada, e em muitos casos, dessa resposta
depende a decisão do pedido feito e consequentemente o futuro da
continuidade.
É neste quadro que começa a ganhar forma o repensar de toda
uma administração em termos de contabilidade e gestão, que não
serve os interesses da empresa e começa a desvendar-se a sensibi-
lidade para a aquisição de um mini-computador, que, pelo menos
ajude a tomar algumas decisões e forneça dados nesse sentido.
Por vezes, verifica-se que se decide ir para uma solução deste
tipo, sem primeiro se fazer um cuidadoso estudo revelador das defi-
ciências existentes na empresa. Conclui-se que o mal está mais no
mau funcionamento dos recursos humanos, ou até no mau aproveita-
mento dos recursos existentes e nestes casos o mini-computa dor não
terá um papel tão relevante.
Países há onde existem em número já considerado satisfatório,
organizações que dão preciosa ajuda a futuros utilizadores de mini-
-computadores, estudando e sugerindo correcções, através de:
1. cuidadosas análises em organização interna;
2. estudos informáticos;
3. concepção e realização de aplicações informáticas;
4. fornecimento de organigramas e indicações de novas es-
truturas ;
5. definição e realização de sistemas evoluídos;
6. estudos para a formação de profissionais;
7. formação e metodologia;
8. recrutamento de recursos humanos;
9. recrutamento de recursos técnicos e de equipamentos.

Em Portugal já existem algumas empresas deste tipo de trabalho


auxiliar, mas tem-se sentido pouco a sua actividade na Província,

42
— 657
onde existem hoje carências grandes a estes níveis, muito especial-
mente nas zonas de maior desenvolvimento.
Além deste auxílio, os utilizadores têm ainda recurso aos serviços
altamente sofisticados de Associações criadas para consultas e desti-
nadas a utilizadores de equipamento electrónico.
Demonstrada portanto a necessidade de recurso ao equipamento
técnico e electrónico para melhoria dos serviços de contabilidade,
gestão e informática, as empresas nesses Países possuem apoio nesse
sentido, o que possibilita uma análise consciente e Uma mais fácil
decisão.
Pelo que já se disse, ninguém duvida certamente da importância
que, em qualquer parte do mundo se dá hoje à utilização de técnicas
altamente especializadas no campo da informática, da contabilidade
e da gestão das empresas, através do mini-computador.
Portugal, vive hoje uma época de grande crise económica. Como
os horizontes são bastantes sombrios, prevê-se um certo agravamento
deste fenómeno, colocando algumas empresas — PME — em maior
dificuldade.
Não se tem dado a importância que o assunto requer a esta ver-
dade Nacional, mas é um facto indesmentível. Veja-se por exemplo
a quebra do poder de compra da população activa do País, em con-
traste com as taxas elevadíssimas da inflação.
Esta situação abala naturalmente também as empresas, onde o
Estado vai recorrer-se através do arrecadar dos impostos. Maiores
portanto as necessidades de uma boa organização gestiva, muito
especialmente nos serviços administrativos, que por escala hierár-
quica poderá ser um sector mais responsabilizado.
Existe portanto nestes tempos mais próximos, uma larga faixa
de manobra para as empresas de organização de serviços.
Cabe agora saber-se escolher. A opção não é fácil se se quiser
fazer sob um critério cuidadoso e do interesse geral. Nesse sentido
c para evitar recrutamentos despropositados, lembrarei seguidamente
algumas regras que devem presidir à listagem das necessidades dos
serviços e da empresa.
Deve atender-se aos pormenores seguintes:

1. a necessidade real do equipamento;


2. a sua importância na empresa;
3. os recursos humanos disponíveis;
4. os serviços de apoio;
5. as instalações disponíveis;
6. trabalhos a exigir;
7. possibilidades e recursos financeiros.

Analisados e ponderados estes pormenores e bem definidos e


espurgados os assuntos adjacentes aos pontos que acabámos de re-

658 -
ferir, então sim, a empresa deve iniciar as suas consultas, devendo
referir correctamente todos os assuntos indispensáveis.
Por vezes não se transmitem questões de pormenor extremamente
importantes, que no futuro acarretam problemas difíceis de solu-
cionar.
Em posse das propostas dos eventuais fornecedores deve o encar-
regado da aquisição elaborar um quadro de análise que permita ao
centro de decisão concluir, para uma acertada aquisição.

No quadro teríamos:
1. firma proponente;
2. características do equipamento;
3. análise às necessidades da empresa;
4. soluções apresentadas
4.1. solicitadas pela empresa;
4.2. sugeridas pela proponente;

5. informações recolhidas sobre assistência técnica


5.1. qualidade;
5.2. custos;
5.3. rapidez de execução;
6. formas do fornecimento
6.1. compra;
6.2. aluguer;
7. custo total
7.1. moeda proposta;
7.2. valor proposto;
7.3. com ou sem encargos bancários;
7.4. com ou sem programas;
7.5. outros ónus ou descontos;
8. formas de liquidação
8.1. p. p. ou prestações mensais;
8.2. percentagens e datas dos vencimentos;
8.3. entregas por adiantamentos;
9. custo do Software
9.1. software standarizado;
9.2. software encomendado;
9.3. alterações no software;

- 659
10. custo das fichas
10.1. formato das fichas;
10.2. quantidades mínimas;
10.3. custo unidade impressa;
10.4. custo unidade virgem;

11. prazos do início da instalação


11.1. tipo de tr-abalho a iniciar;
11.2. iniciação dos recursos humanos;

12. contratos de assistência de Hardware


12.1. prazo de garantia;
12.2. custo do contrato de assistência;
12.3. cobertura das cláusulas;
12.4. deslocação dos técnicos;

13. indemnizações a considerar.

Certamente outros pormenores de análise ficarão por focar, nesta


comunicação. Os factos de que são menores os riscos após uma
análise deste tipo, estão comprovados. Será um bom preventivo para
evitar situações de desencontro que normalmente surgem sem grande
recurso a correcções.
Mas há um pormenor que não S3 deseja ocultar, pois parece cons-
tituir um aspecto complementar da análise já feita.
No ponto n.° 5 do quadro anterior fala-se em informações reco-
lhidas sobre assistência técnica. Há uma intenção expressa de con-
sultas no sentido de uma correcta informação, não só no campo da
assistência técnica-mecânica, mas também no campo da assistência
técnica-contabilística.
Um minicomputador por ser um equipamento sem deficiências a
assinalar, mas não apresentando soluções racionais, não nos parece
ser aceitável.
Se a decisão tem, de ser formalmente alicerçada em quadros de
análise que nos dêm perspectivas de perfeita garantia na qualidade
dos serviços, outros aspectos começam então a ganhar relevância nos
tratamentos a dar a futuros contactos que encaminham para soluções
adequadas e precisas à reestruturação da empresa.
As responsabilidades começam então a agigantar-se consoante o
tempo vai decorrendo no espaço que medeia a assinatura da nota de
encomenda e a data da instalação do equipamento.
E diz-se que as responsabilidades aumentam na medida em que
ainda há quem pense, que a partir do momento da instalação estão
resolvidas todas as anomalias dos serviços da empresa.

660 -
É bom que esta intenção se corrija, porquanto experiências vi-
vidas apontam no sentido contrário, pelo menos naquele período ini-
cial e que por vezes se prolonga por mais uns tempos.
Contudo, são demasiado importantes os contactos a desenvolver
com os ANALISTAS de SISTEMAS, no sentido de se constituírem as
soluções desejadas.
Alguns responsáveis pelas instalações nas empresas durante os
contactos não se rodeiam dos elementos indispensáveis à transmissão
das necessidades nos vários domínios da empresa. Práticas em uso
e com grandes resultados práticos aconselham a consultar e até
nalguns casos a chamar à presença dos ANALISTAS, os responsáveis
pelos serviços de apoio, que darão a sua opinião, não nas necessi-
dades já inventariadas, mas sim às formas de as resolver na prática.
Será uma forma de co-responsabilidade em termos de futuro.
Transmitidas as necessidades e acertadas as formas de como se
conseguirem as soluções, tempos volvidos a empresa receberá, dos
programas não standarizados, um caderno de análise teórica que se
aconselha seja analisado com grande acuidade.
Estarão aí traçadas as linhas mestras da programação a utilizar
pela empresa.
Ao fazer-se a confirmação ou correcção do caderno de análise
deve sempre entabelecer-se a data ou datas do início da instalação.
Até lá terão de ser cuidadosamente preparadas as instalações
para a recepção do equipamento. Condições de temperatura, insta-
lação eléctrica, iluminação e espaço, são factores a não desprezar e
a dar muita atenção.
Passada uma breve revista à fase imediatamente anterior à ins-
talação, vamos então ver agora como se irá processar normalmente
o seu início.
Durante este período não deve descuidar-se igualmente a prepa-
ração dos elementos a transmitir à abertura dos respectivos ficheiros.
Da transmissão de elementos correctos aos ficheiros, dependem
muitas vezes as virtudes das instalações. Há portanto que colocar
a maior atenção neste pormenor.
Claro que começa aqui a surgir uma certa dificuldade de adapta-
ção, para quem não está muito habituado a estas andanças profissio-
nais. Mas não será só essa dificuldade que surge.
Condicionamentos existem que não permitem fazer-se um trabalho
como inicialmente se sonha. Não há nenhum profissional que não
coloque toda a sua capacidade e todo o seu empenho, numa nova fase
da sua profissão.
Surgem é por vezes dificuldades que não estão bem nas mãos
do operador. O Plano Oficial de Contabilidade, por exemplo, apre-
senta à partida um certo tipo de problemas. Especialmente na
nomenclatura das contas, em certos casos demasiadamente extensas.

— 661
Também os graus das contas e sub contas, por vezes em escala
diversa, dficultam um pouco.
E normalmente dá-se nesta fase início às desilusões, como aliás,
é absolutamente natural e compreensível.
Lemos algures em, revista profissional especializada, que raro
é o programa computorizado a funcionar em pleno logo à pri-
meira vez.
Não será bem assim, certamente, mas também o acontecer, não
nos parece razão para cepticismos. Talvez sim uma forma de se
começar a ter consciência da falta que faz a leitura de um pouco
de literatura especializada em. Software e Hardware. Talvez se
colocassem as coisas numa óptica diferente.
Falámos há pouco no operador. Figura de relevo, não só nesta
fase de arranque, mas de igual modo daí para a frente. Se inicial-
mente existem problemas e o operador não está confiante no seu
trabalho, têm surgido alguns casos de complexos e frustrações
difíceis de solucionar.
Outro quadro a elaborar com um certo cuidado é aquele em
que se insere o trabalho do operador ou operadores. Falamos em
operadores propositadamente, na medida em que, é aconselhável
existir na empresa, sempre mais que do que um ou mesmo dois
profissionais habilitados a prosseguir os trabalhos em, curso.
O tempo de utilização no tocante a horário de trabalho dos
operadores é a ter em conta. Trabalhos executados por especia-
listas e ultimamente publicados apontam para que cada operador não
esteja num período superior a três horas e meia a quatro horas, execu-
tando no mini computador.
Profissionais sensibilizados pelo problema manifestaram entre-
tanto a sua discordância por lhes parecer ser precisamente esse
período em que o rendimento mais se acentua.
Aqui, como noutros campos das relações de trabalho, sUpõem-se
ter de haver um certo equilíbrio entre o profissional e o mini compu-
tador, pois do binómio homem-máquina e do seu entendimento, sur-
gem normalmente vantagens para o serviço, que se reflectem não
só na produção como na qualidade.
Pelos contactos que temos tido com bastantes profissionais
também interessados como nós nestas matérias, sente-se um certo
desencanto quanto a progressos no campo do Software.
Sente-se em muitos casos a falta de resposta cabal a situações
estatísticas e de informática, que, no pensar destes profissionais
estariam ao alcance do equipamento.
Com base na articulação de todos os movimentos contabilísticos,
espera-se em breve que os profissionais de contabilidade e os gestores
das empresas possam dispor de dados que respondam concretamente
a questões que frequentemente lhes são postas e para as quais não
têm; obtido resposta adequada.

662 —
Referiremos algumas carências neste campo.
Na parte Industrial referiremos algumas carências na articulação
entre os Planeamentos Industriais e os circuitos de distribuição de
matérias primas, subsidiárias e produtos fabricados, em conjugação
de esforços com todos os agentes envolvidos na distribuição das
Mercadorias.
Aprovisionamentos, a nível de quantidades e valores, com reflexão
na Gestão Financeira Previsional, é uma necessidade urgente a que
urge pôr termo, atendendo em grande parte aos limitados recursos
das PME para suportar a inflação e os seus custos.
Revistas técnicas da especialidade têm-nos referido alguns êxitos
na aplicação da Gestão Previsional.
Em termos de organização sentimos, como profissionais, ser uma
necessidade a aplicação prática da Gestão Previsional nas empresas
do nosso País.
E não temos visto os técnicos apresentarem soluções de software
que respondam a esta lacuna.
Sente-se igualmente a falta de programas que respondam com
base nos movimentos efectuados às estatísticas que hoje as empresas
têm de dar respostas por vezes em prazos assentuadamente curtos.

Com efeito, responder a necessidades como:

. Peças finais do Plano Oficial de Contabilidade;

. Instituto Nacional de Estatística;

. Fundo de Fomento da Exportação;

. Instituto dos Têxteis;

. Bancos ;

. Mapa do valor acrescentado;

. Indicadores de Gestão Económico/financeiros

recorrendo à imaginação de cada qual, elaborando mapas manual-


mente e dactilografando-os, quando os valores para a sua elaboração
se buscam em dados transmitidos pelo mini computador, parece não
ser a solução mais aconselhável.
Daqui fazemos um desafio aos técnicos de Software no sentido
de conjuntamente e numa finalidade única de servirmos a Técnica

— 663
Contabilística e a Informática deste País, trabalharmos para que em
futuro não muito longínquo possamos dispor de programas que dêm
resposta a este conjunto de necessidades.
Pelo que ficou dito, foi demonstrada a importância do mini com-
putador na Contabilidade e Gestão da Empresa, pesem embora ainda
as dificiências que em diversos campos existem.
Teve esta comunicação, acima de tudo, uma finalidade;
«de se rever em erros cometidos e continuados, de se res-
ponder às necessidades apontadas, não se aceitando a tran-
sacção do mini computador a não ser no sentido da organi-
zação colectiva da Contabilidade e Gestão da Empresa, e
nunca na óptica de MAIS UMA MÁQUINA VENDIDA».

664 -
Algumas Considerações sobre o Modelo
Estático Aberto de Leontief
Por Joaquim José da Cunha

I - INTRODUÇÃO
I — Descrição do sistema aberto de Leontief (') (Sistema aberto
em volume)
Consideremos uma economia formada por um conjunto de
sectores industriais.
Suponhamos que cada sector produz apenas um bem e que
estes são todos diferentes. Suponhamos a existência de uma
procura final para estes bens, que cada bem tem uma com-
ponente primária — o trabalho e que os bens intermediários
provêm doutros sectores.
Representamos, com vista a linguagem matricial por:
X i, j — a quantidade do bem produzido pelo sector i
fornecida ao sector j
mi — a procura final do bem i
tj — a quantidade de trabalho fornecida ao sector
j para a produção global do bem j
Daqui resulta que:
n
X i — 2 X ij + mi — é a produção total do bem produzido no
j= 1
sector í como procura final mi, e como

C1) Leontief saiu da U. R. S. S. para a Alemanha em 1927 e daqui para


os E. U. A. em 1931. Apresentou os seus trabalhos em 1936, embora o 1.° quadro
de trocas intersectoriais já tivesse sido publicado na U. R. S. S. em 1952.

- 665
produção 2 intermediária para os outros
sectores ( ).
n
t = j 2= 1 tj — é o trabalho distribuído como factor pri­
mário a cada indústria
n
Pj Xj = 2 pi Xjj ­(­wtj —representa a igualdade de rendi­
l=J
mentos e de custos de cada sector.
Pi são os preços sobre o mercado
de bens produzidos pelos diversos
sectores; w é a taxa de salário.
Tendo em atenção que:
«Os consumos de bens e de trabalho de cada sector indus­
trial são proporcionais à produção de cada sector».
Escrevemos:
X i,j = a i, j , x J com x i, j > 0
tj = bj x j com bj > 0

em que a iti representa o consumo do bem i necessário ao


sector j para o fabrico de uma unidade do bem j ;
b j representa o consumo do trabalho necessário ao sector j
para produzir uma unidade do bem j .
E daqui as condições de equilíbrio:
f x , = a n Xi + a12 x 2 + ... H~ai„ x n + mi

i X2 = a2i X!+a22 X2 + ... +a 2 n X n + nij


I
I x n = a nl x j + a^ x 2 + ■ • • +a n n x n + mn

t = bj x ! + b2 x , + • • ■ + b„ x „

f pi = pi a u + p2 a ai + . . . +Pn a„i +wb,


, p2 = pi a a + p2 a22 + . . . + pn an2 + wb2
I
I Pn = Pi am + pj a2n + . . . + p„ ann + wbn
2
( ) A relação traduz a igualdade de imputs-outputs, isto é, a estrutura dos
fluxos não sofre alterações em relação às respectivas produções, pelo menos
em prazos pequenos.

666 ­
Equações que em linguagem matricial, se podem escre-
ver sob a forma:
a)
a H a 12 ... ain X! rrh

x2 a
2i a22 ... a
2n X2 m2
i 1 i
X
1
+ i
ou X = A X + M
l

Xn a
nl a
n2 a
nn Xn mn

x A x M
em que:
A matriz X é a matriz definidora do programa de pro-
dução.
A matriz A é a matriz tecnológica, de grande importância,
na solução do problema, pelo que os coeficientes técnicos
a ijdevem ser cuidadosamente estimados.
A matriz M é a matriz representante dos consumos finais.
b)
XI

x2
t = bj b s . . . b n
ou t = BX
< B

X,

c)
a H a i2 . . . a in

P l P j . . . PO Pi Vi — Pn a
21 a
2 2 ••• a
2n
+w bi b 2 ... b n

ou p = PA + WB
- 667
— Análise e resolução das equações de equilíbrio atrás encon-
tradas.

x == AX + M
t =: BX
p = PA + WB

II-I. De como da análise da equação:

X = AX + M

podemos resolver o seguinte problema:

«Qual o capital que devemos colocar no início de um


período para que esse capital produza uma renda imediata
de termos antecipados constantes C em cada um dos
períodos seguintes».

A equação:

X = AX + M pode escrever-se sucessivamente:

X - A X = M - - + X . I — AX = M
--* (I —A)X = M O

E daqui, podermos induzir que:

«A produção de X fica condicionada à existência de


bens representados pelo vector AX o que no caso vertente
significa que:

Para produzir C na época zero, temos de dispor C de


imediato.
P a r a produzir C na época um, temos de dispor AC na
época 0.
Para produzir C na época dois, temos de dispor AC na
época 1 ou AC na época 0.

í1) Para leitores menos familiarizados com as operações matriciais,


recordamos que não é indiferente escrever X (I — A) ou (I — A) X.

668 -
Para produzir C na época n, temos de dispor de AC na
época n­1 ou A " ­ 1 . (AC ) na época 0.
Deste modo, o vector X, assegura a criação de um
fundo com o objectivo de garantir as anuidades neces­
sárias ao pagamento da dívida no termo do vencimento.
O vector total das quantidades de capital disponíveis
na época 0 necessárias para fornecer em cada período
um capital C é:

I + A + A 5 + ... + An C . ■]
II­I­I. Algumas considerações sobre a soma

I + A + A2 + A"

a) O parêntese tratado como uma série geométrica


conduz a:
n +1
I + A + A2 + ... + A" I­A

Se lim A n + 1 = 0, condição sempre verificada no caso


n— co
em que os valores próprios da matriz A são em
n
módulo inferior a l e 2 a^ < 1 com j = 1, 2, ... n.
i = 1

Então,

1 + A + A 2 + ... + A"

e o vector X vem dado por:


-r
-1
I­A C
x=
1
b) Sendo A uma matriz escalar, tal que a i j
1+i
isto é, quando A é o factor de actualização composta,
i a taxa de juro de período igual ao período de uma
renda, temos que:

­ 669
b.l.) 0 capital X que devemos dispor hoje para que no
fim do período produza C é:

X = AC ou X = _ — ­
1+i
b.2.) O valor actual da renda é:

-[ I _ A" + i I­A

Expressão que permite deduzir a fórmula que con­


duz ao valor actual de uma renda O­
Com efeito, sendo,

1
0 0 o
+ i cs.1
o o
1+

0 o
1+i

Uma matriz de ordem n + 1 e n e N , é:

n
1 \ ■ +1
I­A + 0 o
1+i 1 B+ 1

0 1 o
"TM

II + 1
0 ... 1
1+i

670 ­
e,
1+i
0 0
i
(I-A)-i = 0
1+i
0

I I

0 0
ini
vem: 1 \ n+x
1 T)
n +1

1+i X

n + l

i+i

Donde finalmente:

1+i

0 i+L
.c
i i

0 0 1+i

l+iN
X
« «'-(lir)"' C com a = 1, 2,... n,,

671
Fazendo K = n + 1, isto é, sendo K o número de termos da
renda e fazendo igualmente X = ] / 0 , aparece-nos a fórmula já
conhecida, para o valor actual de uma renda antecipada:
—K
1 (1 + O
V/0=C(l+i)
ou ainda:

Y0 = C. (1 + i ) . a_. com a_, =


1 - (1 + i)
k 1 k i

Exemplo de aplicação:
Suponha-se a existência de uma dívida, que deve ser liqui-
dada em 4 anuidades constantes no valor singular de 2 500 contos,
vencendo-se hoje a primeira. Qual o fundo que devemos constituir
hoje para que à taxa de 10 % garanta a satisfação da mesma?

O valor actual da renda é:

r* i 4 110
V7o = 1- X — — x 2 500
1.1

v ' 0 = 0,316987 x 11 x 2 500


\/0 = 8 717 129$00

AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA ATRAVÉS DO FUNDO


CONSTITUÍDO

Épocas Fundo Juro Valor acumulado Anuidade

0 8 717 129$ — 8 717 129$ 2 500 000$


1 6 217 129$ 621 713$ 6 838 842$ 2 500 000$
2 4 338 842$ 433 884$ 4 772 726$ 2 500 000$
3 2 272 726$ 227 274$ 2 500 000 2 500 000$

2.2. RESOLUÇÃO DAS EQUAÇÕES:

X = [I - A] . M
t = BX
P = PA + WB

672 -
a) Sendo (I—A) uma matriz regular, sendo A = Det [I — A]
a equação:
_i
X=(I—A) .M
escreve-se:

Xi SH Su ... Sin mi

x2 S21 S22 S2n m2


1 1

7A X
1

X„ Snl S
n2 Sn , n mn

em que sij = Aji representa o complemento algébrico do


elemento aj, i, isto é, a produção total bruta do bem i
necessária ao fabrico de uma unidade de consumo final
do bem j .

E daqui:

Xj = A u m , + A a m 2 + ... + A nl m„
X 2 = A12IÙ1 + A22m2 + ... + An2m 0

Xi = A i 1 m i + A 2 1 m 2 + ... + A n im n

o que nos permite dizer que as produções xi são funções


lineares das procuras finais.

b) A equação, t = BX, tem uma solução análoga.


Com efeito, escrevemos:
t = B[I — A] .M
cuja resolução não oferece dificuldades.

45 - 673
c) Igualmente, a equação:
P = PA + WB

escreve-se:
P —PA = WB «--.P [I—A] = WB
* - _ P = WB . [I — A] 1

Obs.: Nas equações de equilíbrio os coeficientes a y


e bj são dados do sistema; o vector M é também
dado.

II — APLICAÇÃO DO ESTUDO FEITO A UM PROBLEMA DE


INTERINDÚSTRIAS O
Métodos IMPUT — OUTPUT (2)
Coube a Leontief o estabelecimento de um modelo de
política económica que facultasse a previsão de como uma
variação da procura de certo bem se repercute no conjunto
de empresas interdependentes.
Para o estudo do desenvolvimento interindustrial recor-
remos à elaboração de quadros de dupla entrada onde se
registam os fluxos entre sectores de uma empresa, de um
país oU de uma região.
Tal como atrás dissemos, os quadros interindustriais são
de obtenção difícil. As informações são numerosas e o seu
tratamento moroso.
Para facilidade de exposição vamos considerar um exem-
plo envolvendo quatro sectores (3) de uma empresa.
Os sectores dos transportes, do sal, dos combustíveis e
frio, da secagem e outros.
O nosso problema vai ser o analisar em termos de vendas

C1) Atrás, quando da descrição do método, os Xij representavam tran-


sacções quantitativas, e todos os elementos de uma mesma linha estavam
mensurados numa mesma unidade. Como essas unidades, mudavam de linha
para linha, para obter as equações, só podemos efectuar somas em linha.
No entanto, esta dificuldade desaparece, se para todos os elementos da matriz
tecnológica for usada a mesma unidade, por exemplo, valores monetários.
(2) Os IMPUTS dizem respeito a todos os bens (Matérias primas, servi-
ços,...) que uma actividade utiliza. Os OUTPUTS dizem respeito a todos os
bens que uma actividade oferece.
(3) Na .análise intersectorial num país, há que considerar 60 e mais sectores.

674 -
num período, a interligação do sector i com os sectores acima
mencionados.
0 quadro que assegura a estrutura das relações interin­
dustriais (no nosso caso intersectores) e da seguinte forma:

Compras de
Transpor­ Sal Combustí­ Secagem Procura OUTPUT
Vendas de tes veis e F r i o e outros Final(1) Total(2)

Transpor­
tes x
li x
12 X
13 x
14 mi X = 2 X +m
1 J U 1

Sal X
21 x
22 ; x
23 X
24 ms! X =2 X +m
2 J 2j 2

Combustí­
veis e Frio x
31 X
32 ; X
33 x
34 m3 x =2.x +ro
3 J 3j 8

Secagem
e outros X41 X
42 X
43 x
44 m* x =2.x +m
á J 4] 4

3
IMPUT ( )
Primário — — — —

IMPUT
TOTAL ^ u 2 x„ 2,x., 1 i4
1 mL 1 „ x +2 ■.

0) Salários, lucros, impostos, importações, reservas para depreciação.


(2) Entenda­se exportações, consumo privado, consumo do Estado, inves­
timento.
(3) Ehtenda­se total das vendas.

OBSERVAÇÃO:

Do que mencionado fica entendemos que:

X H representa o total de vendas do sector transportes


ao sector transportes
X i2 representa o total de vendas do sector transportes
ao sector sal

­ 675
Daqui, estabelecemos o sistema:

Xi = X u + X 12 + X u + X M + tXít
Xj=X2l4-X22+X23+X24+ni2
X 5 = X31 + X32 + X33 + X 3 4 + m 5
X4 = X41 + X42+X43 + X44 + m 4

Fazendo X y = ai, j x j ou a « -, vem:


Xi

Xi = a n Xi + a i 2 Xj + a i 3 x 5 + a M X4 + 1111
X 2 ---a 21 Xx + aaa X s + a 23 X 3 + a24X 4 + m 2
x 5 = a 31 X! + asa x 2 + a33 x 3 + a34 x 4 + m ,
x 4 = a f l x 1 + a 4 2 x J + a43.x 3 + a44 x 4 + m 4

sistema que, como atrás foi visto assume a forma:

X = AX + M [I - A] X = M

n
Se 2 a < 1 com j = 1, 2, ... n, estamos em face de um
i=l u

s.istema aberto de Leontief e nestas condições:

X= [I-A]~1 . M
Equação matricial, que a manterem-se constantes os coe-
ficientes ay , permite explicitar quais as consequências
resultantes de alterações na procura final por sectores m i

Uma concretização da nossa aplicação, com os números


expressos em contos é a que por exemplo a seguir se
reproduz :
Compras de
Transpor- Sal Combustí- Secagem Procura OUTPUT
tes veis e Frio e outros Final Total
Vendas de

Transportes 0 50 100 200 150 500

Sal 0 0 0 900 100 1000

Combustíveis
e Frio 400 0 0 0 300 800

Secagem
e outros 50 0 200 50 1700 2000

IMPUT
Primário 50 950 500 550 0 2050

Tabela que interpretamos:

a) O sector de transportes vendeu 500 contos, dos quais:


50 contos foram adquiridos pelo sector sal;
100 contos foram adquiridos pelos sectores combus-
tíveis e frio
200 contos foram adquiridos pelos sectores secagem
e outros
150 contos foram adquiridos pela procura final.

b) Para produzir este OUTPUT foi preciso pagar:


400 contos ao sector de combustíveis
50 » » de secagem
50 » » outros imputs

De maneira inteiramente análoga, fazemos a interpre-


tação de outros OUTPUTS:
O primeiro passo no caminho da análise é a construção
da matriz tecnológica (matriz dos coeficientes técnicos).

- 677
Assim:

Xn . Xu 50
a 1,1 = = 0 ; a i , a = x— — = 1000
=0,05;a1,3_X^=100° -0,13;
2 X: 800

Xi4 200 x4i 50 _ x


4 2 _ n.
& 1,4 — 0,1; a i — ~ ^ r — u>1' a4,2 — u,
x4 2000 x, 500 x.
x 45 200 X44
a4,s = 0,25; a4,4 = = 0,03
X, 800 X4

A matriz tecnológica escreve-se então

0 0,05 0,13 0,1


0 0 0 0,45
A =
0,8 0 0 0,15
0,1 0 0,25 0,03

A mati iz X

500
1000
X
800
2 000

E a matriz da procura final

150
100
M=
100
1700

Passemos agora ao cálculo de [I — A]

678 -
1 -0,05 -0,13 —0,1
0 1 0 — 0,45
[I-A] 0 1 — 0,15
— 0,8
-0,1 0 — 0,25 0,97 (')

1 0 — 0,45 — 0,05 —0,13 --0,1


A 0 1 -0,15 - 0 , 8 1 0 -0,45 X
[I-A]
0 —0,25 0,9-3 0 —0,25 0,97

0,05 —0,13 —0,1


+ 0,1 X 1 0 - 0,45 ou A -0,80
0 1 - 0,15 ['

0,933 0,046 0,147 0,141


1 0,13 0,882 0,12 0,40
[I-A]
~Ã~ 0,791 0,04 0,95 0,25
0,3 0,02 0,26 0,9

Ou finalmente:

1,16 0,057 0,183 0,176 ~


0,163 1,102 0,15 0,50
[I-A] = 0,988 0,05 1,187 0,312
0,375 0,025 0,325 1,125

A finalizar, procuremos as consequências em termos de


Output final xi resultantes de um aumento de 50 contos na
procura final do sector de transportes, passando de 150 con-
tos para 200 contos.

(') 1 — 0,03 = 0,97.

- 679
O efeito vem dado por:

1,166 0,057 0,183 0,176 50 58


0,163 1,102 0,15 0,50 0 8
X
0,988 0,05 1,187 0,312 0 49
0,375 0,025 0,325 1,125 0 19

donde, o acréscimo de 50 contos na procura final do sector


transportes arrasta um aumento de OUTPUT final igual a
134 contos, dos quais 58 contos dizem respeito ao próprio
sector dos transportes.

BIBLIOGRAFIA:

— Mathématique áe la decision économique — Maurice Despias Dunod — Paris 1967


(esta obra foi seguida de perto).
— Linear Programming — Saul Gass — MCGraw — Hill.
— Mathematical Programming With Business — N. K. K. — MCGraw — Hill.
— Matemática Financeira — Carlos Soares e Miguel Cadilhe — Livroluz — Porto.
— Lições de Investigação Operacional — Bento Murteira — I. S. E. 1967/68.

680 -
Algumas Reflexões em torno dos Modelos
Matemáticos da Capitalização Simples
e Composta
Por Fernando de Jesus

1. É frequente encontrar em textos nacionais e estrangeiros de ma-


temática financeira (a nível elementar e superior) as seguintes
afirmações:
— 0 regime de capitalização é simples quando, para o capital
inicial, o juro produzido em vários períodos for constante
em cada período; o regime de capitalização diz-se composto
se, no fim de cada período, o juro produzido nesse período
for somado ao capital que o produziu e passarem os dois,
capital mais juro, a renderem juros no período seguinte.
— No regime de capitalização simples, o juro periódico é pago
no fim do respectivo período; no regime de capitalização
composta, esse pagamento é feito no fim do processo de
capitalização.
Qualquer destas afirmações é incorrecta, pois, em qualquer
regime de capitalização, o juro vence juro e também não é a
forma de pagamento do juro que caracteriza o regime áe capi-
talização.
É fundamental que a caracterização dos regimes de capitali-
zação simples e composta seja feita com rigor, a fim de evitar
numerosas confusões, sobretudo no espírito daqueles que se ini-
ciam nos estudos de matemática financeira.
O objectivo deste trabalho é o de contribuir para desfazer
algumas incorrecções que se encontram muito divulgadas em
torno dos dois regimes de capitalização.
2. A caracterização de um regime de capitalização pode fazer-se
de diversos modos. Adoptaremos nesta exposição um processo

— 681
elementar, com o objectivo de mostrarmos que essa caracteri-
zação não exige instrumental matemático sofisticado, podendo
assim ser facilmente assimilada pelos que se iniciam nos estudos
de matemática financeira.
Designando por Ct o montante de capital no instante t (t ^ 0),
a equação geral de capitalização pode exprimir-se na forma
1) C, = C„ F(t),
com F(t) (factor de capitalização) obedecendo aos seguintes
axiomas :
AXIOMA I. v t SÍO F(t)^l.
AXIOMA II. F(t) = 1 - - t =0.
AXIOMA III. t < t' +- -* F(t) < F(t').
Em relação a C. C é o valor acumulado (ou capitalizado)
no instante t; por outro lado, em relação a Cti C„ é o valor
actual (ou descontado) na origem :
2) Co = Q/F(t).
É costume designar VF(t) por factor de desconto.
O juro obtido no intervalo [0, t], referido ao instante t, é
dado por
3) J, = C, — C„
= Co F(t) - Co
= C0 [F(t) - 1].
Considerando os instantes t e t', tem-se, recorrendo a 1),
CV - Co F(t')
Ct = Co F(t)
e, portanto,
C../C, = F(t')/F(t),
donde resulta
4) Ct- = C, F(t')/F(t).
Em particular, para t' = t + 1, vem
5) Ct + , = C, F(t + 1)/F(t). .

682 —
Considerando o intervalo de tempo [t, t + 1], a taxa de capi-
talização, i , respeitante a este período é o acréscimo sofrido pela
unidade de capital considerada no instante t:
1 + i, = F ( t + l)/F(t),
ou
6) i, = [F(t + 1 ) - F ( t ) ] / F ( t ) .
A fórmula 5) pode agora escrever-se na forma
7) Ct + 1 = C, ( 1 + i , ) ,
ou
7) C, + i = C, + C, i,
cuja interpretação é óbvia: o capital acumulado no momento
t + 1 é igual à soma do capital no instante t com a parcela C, it ,
que é o juro produzido por C, no período [t, t + 2].
Sendo t número natural, e fazendo t = 1, 2, ..., n, a fór
mula 7) dá
C1 = C0 (1 + i0)
C2 = C, ( 1 + i , )

c n = c n _, ( i + i „ _ o
donde, multiplicando ordenadamente estas relações,
8) C„ = C0 (l + i0) ( l + i , ) . . . ( l + in_i), V » e N .
Esta fórmula mostra como se pode obter Cn , valor acumu-
lado do capital no momento n, a partir do capital inicial, C0 ,
e conhecidas as taxas de capitalização i0, i,, . . . , i „ - i .
Para qualquer t, supondo m <I t ?S m + 1 (com m natural),
as fórmulas 4) e 8) permitem escrever
9) C, = C0 (1 + i0) (1 + i,) ... (1 + im _,) F(t)/F(m).
Notando que
Ct +1 — C 0 + «M +1
C| = C0 + Jt,
a fórmula 7) pode escrever-se na forma
C0+Jt + 1 = (C0 + J , ) ( l +i»)
ou
C0 + J , + , = C0(1 + i , ) + J, (1 + i ( ) ,
donde resulta a relação

— 683
10) J, + , = C.i« + J. (1 + it),
que traduz a seguinte propriedade notável: em qualquer processo
de capitalização que se inicia com o capital C0, no momento 0,
o juro vencível no instante t + 1 decompõe-se na soma de duas
parcelas, C0 i( e Jt (1 + u), sendo a primeira o juro do capital
inicial produzido no período [t, t + 1] e a segunda o valor acu-
mulado, no instante t + 1, do juro vencido no instante t.
Em resumo, pode dizer-se que, em qualquer regime de capi-
talização, o juro vence juro.
A fórmula 10) ainda se pode escrever na forma
J1 + 1 = J, + ( C 0 + J,)i„
ou
11) J, + 1 = J, + C, i,,

i. é., em qualquer processo- de capitalização iniciado no momento 0,


o juro produzido em [0, t + 1] é igual à soma do juro produzido
em [0, t] com o juro de C( no período [t, t + 1].

3. O regime de capitalização simples é caracterizado por


12) F(t) = 1 + at (a > 0)
e, portanto,
13) C, = C„ (1 + at).
Tem-se
14) i, = [F(t + 1) - F(t)]/F(t)
= 1 + a(t + 1) — d + at)
1 + at
a
1 + at

e, em particular,

15) i0 = a,

o que permite escrever a equação de capitalização 13) na forma


16) C, = C0 (1 + i0 t),

684 —
onde i0 designa a taxa de capitalização em [0, 1], a que pode-
remos chamar taxa inicial. De 14) e 15), vem

17) i, = —ÎV-
1 + i. t
e também é fácil deduzir a formula de recorrência

1 +ii

Conclui-se assim que a taxa de capitalização no regime de


juro simples é decrescente. Um dos erros mais frequentes come-
tidos por alguns autores tem sido o de admitir a constância da
taxa de capitalização no regime de juro simples.
A fórmula 4) dá, no regime de juro simples,
1 4-i t'
19) Cr = Q . ^ °
l+i„t
— M. : :
l+lo t
= C, [ l + ( t ' - t ) i t . ] .

Em particular, com t' = t + 1, vem


20) C, + 1 = Ct(l+it)
-ci(r+TA_).
\ 1 + lo t I
Recorrendo à fórmula 9), poderemos escrever (m <; ts£ m + 1)

21) C,=C 0 (l+i„) ( l + i i ) . . . ( l + i m - i ) [ l + ( t - m ) i m ]


e, como
C, = C0 (1 + i0 t),

resulta ã relação

22) l+ti„=(H-io)(H-ii)...(l+im-i)[H- ( t - m ) i m ] ,
com m ^ t ^ m + 1.

— 685
De
c,.= G. 1 + i. f
1+Ío t
vem
c, C,
1+io t' 1+io t
ou
io
Cv . . - c
i + i0 t' 1 + ic t
que se traduz na importante propriedade
23) Ci- i,- = C , i,.

Em particular,
24) C» i0 = C, i, = C, i2 = • • • ,

o que mostra que, no regime de capitalização simples, o juro


vencido no fim de cada período [t, t + 1] (t = 0, 1, 2, ...) é cons-
tante e igual a C0 i^ . Tem-se então, neste regime, o seguinte
esquema de capitalização:

Instantes Capitais

0 C0
1 C, = C 0 ( l + i o ) = Co + C o i 0
2 C 2 =C 0 ( l + 2 i 0 ) = ( C 0 + C 0 i 0 ) + C 0 i 0 = C 1 + C 1 i i = C , (1+iO
3 C 3 =C 0 (1+3 i 0 )=C 0 ( l + 2 i 0 ) + C 0 i 0 = C 2 + C 2 i 2 =C 2 (l+i 2 )

Como
Jt = C0 i0 t,
tem-se
25) Jv = Jt + C0 i0 (f - t)

e, em particular,
26) J, + 1 = J, + C0 i0.

Quanto ao modo de pagamento dos juros no regime de capi-


talização simples, ele poderá assumir formas diversas.

686 —
Supondo, por exemplo, que o juro a vencer no fim do período
[0, t] deverá ser pago no momento ti (O^Ç ti ^ t ) , ter-se-á o
esquema :
J Jt = C0 i0 t
—I 1 1—
0 ti t

J designa o valor actual em tl de Ji = C0 i0 t. Logo,


1
27) J = C0 i0 t
i + (t — tOii,
I
= C0 i0 t .
1 i (t — tl) Jo
"*" 1 + t, i„
I
= Q i0 t
1+tip
1 + t , io

1 + ti i0
V-'O l o ï
l+ti„
= C0 t i, (1 + ti io).

Em particular, se o pagamento do juro J ( for convencionado


para o momento 0 (pagamento antecipado do juro), então
28) J = C0 t it.

Admitamos finalmente que se pretende o pagamento dos juros


no fim de cada um dos períodos de capitalização. De acordo
com o que dissemos anteriormente, os juros a pagar nos instantes
1, 2, ..., n serão, respectivamente, C0 i„, C0 h,---, C0 in_|.
Esquematicamente,

C 0 10 C 0 ij ... C 0 l n _2 *^o In—1


1 , ; ! 1 —
0 1 2 ... n- 1 n

Se os juros fossem pagos na sua totalidade no instante n,


o seu montante seria nesse momento J„ = C0 i0 n. O seu valor

— 687
actual na origem é, pela fórmula 28), C 0 n i„ . A soma dos
valores actuais na origem dos pagamentos periódicos dos juros
é, por seU turno,

*—o lo i '-'o l i i i '-'o ln —2 i *—o ln — 1

1+io T :—,
l + 2-i . + ■• • -r -l +—( n ­ l )——
i T 1+ni.
0 0

Logo, deverá ser


*~o lo j _
^'-'o, 1 l,i |
_ _ _! _'-'o
^ ° I_nÍ !—L 2^ L _ | >-o I n
^o 1 . - 1 = c J
l+i0 l + 2i0 l+ (n­l)i0 l+ni0
ou

io ln
29) + —Ji + ... + íl=i + ­ 1 = ni„.
1+io l+2i0 l+ (n­l)io l+ni0
fórmula que relaciona entre si as taxas de capitalização i 0 , ii, ...,
i n no regime de capitalização simples.

Esta fórmula também poderá ser provada pelo método de


recorrência. De facto, ela é verdadeira para n = 1, e supondo
que é válida para n, tem­se para n + 1
Ío ix
' + . . . + .'"­ 1 . + ís r =ni„' ln
l+i0 1+2 i0 i + ni0 l+(n+l)i0 l+(n+l)i0

= rn+—!—"k
L l+(n + l ) i j
(n + l) + n(n + l)i 0 .
l + (n+l)i0

1 + ni
° (n + l ) i n
1 + (n + 1) i0

r ± ■ 1 + ni ° 1(n+l)i,
Ll+(n+l)i0 i„ Jv
In + 1
(n + l)i„
ln

= ( n 4 1) in + i.

688 —
4. O regime de capitalização composta é caracterizado por
30) F(t) = (1 + a) 1 (a > 0)

e, portanto,
31) C, = C0 (1 + a)'.

A taxa de capitalização é
32) i, = [F(t + 1 ) - F ( t ) ] / F ( t )

= d + a)1 + x — (1 + a) {
(1 + a) 1
= a,

o que significa que a taxa de capitalização é constante no regime


de capitalização composta. Pode escrever-se então

it = i

e 31) transforma-se na fórmula bem conhecida


33) C, = C 0 ( l + i ) < .

É fácil mostrar que se trata do único regime de capitalização


com taxa de capitalização constante. De facto, a equação com
diferenças

[F(t + 1) - F(t)]/F(t) = i (F(o) = 1)


tem a solução F(t) = (1 + i)'.
Neste regime,

34) J, = C 0 t ( l + i ) ' - l ]

e, de acordo com a fórmula 11),


35) J,+ , = Jt + C , i.
Também aqui o modo de pagamento dos juros pode assumir
formas diversas. Assim, por exemplo, quando o pagamento dos

44
— 689
juros é feito no fim do período de capitalização, tem-se, esque-
maticamente

C0i C 0 i... C0i Qi


0 1 2 ... n- 1 n
Há muitos autores que referem este esquema como se tratasse
de capitalização simples, pois, como dizem, há pagamento dos
juros no fim de cada um dos períodos de capitalização. Do que
se disse, infere-se que não é defensável tal posição.

690 —
Os Balanços do P. O. C.
e os Balanços da C. E. E.
Por Henrique Quintino Ferreira

1. OS BALANÇOS DO P.O.C.

0 Decreto-Lei n.° 47/77, de 7 de Fevereiro, que aprovou o


Plano Oficial de Contabilidade, para as empresas, estabeleceu
dois modelos de balanço: um sintético e outro analítico.
A preocupação de elaborar os dois modelos (sintético e analí-
tico) já se notara quando da publicação do Anteprojecto do Plano
Geral de Contabilidade da Direcção-Geral das Contribuições e
Impostos, e consta, agora, também, tanto quanto sabemos, dos
modelos do novo Plano Francês, que apenas aguardava a apro-
vação, no corrente ano, das normas contabilísticas da C. E. E.,
que a França é obrigada a respeitar, para, depois de devida-
mente harmonizado, entrar em vigor naquele país.
É evidente que as exigências contabilísticas obrigam à esque-
matização de um balanço comi contas de Razão Geral (dois alga-
rismos), que será aquele que é reproduzido no livro de Inven-
tário e Balanços, e outro mais desenvolvido destinado a uma
informação mais completa dos gestores da empresa, sócios ou
accionistas, investidores, trabalhadores da empresa, fisco, esta-
tística, etc.
Para o caso que iremos tratar — comparação dos modelos
do P. O. C. com os modelos da C. E. E. — apenas interessa o
balanço sintético, por estar em causa a sua estrutura.
O balanço do P. O. C. apresenta-se, como se sabe, segundo
uma óptica de base juridico-patrimonial, que conduz ao apare-
cimento dos grandes blocos de contas do Activo (conjunto de
bens e direitos da empresa) Passivo (obrigações da empresa)
e situação líquida (diferença entre aqueles valores), sendo o
Activo e o Passivo classificados com base numa óptica finan-
ceira, por ordem decrescente de liquidez e por ordem crescente
de prazos de exibilidade, respectivamente.

— 691
Assim o balanço sintético do P. O. C. apresenta-se com a
seguinte forma:
BALANÇO
Activo Passivo
Disponibilidades Débitos a curto prazo
Créditos a curto prazo Débitos a médio e longo prazo
Existências Proveitos antecipados
Créditos a médio e longo prazo
Imobilizado Situação Líquida
Custos antecipados Capital, Reservas e Resultados Transi-
tados
Resultados apurados no exercício
Resultados aplicados
2. OS BALANÇOS DA C.E.E.
A 4.a Directiva da C. E. E aprovada em 25 de Julho do cor-
rente ano, tendo reformado a directiva aprovada em 1972, em
virtude da entrada da Grã-Bretanha, Irlanda e Dinamarca para
a Comunidade, não sofreu alterações muito significativas em
relação aos dois tipos de balanço anteriores.
Apresenta um balanço segundo o esquema clássico, isto é,
um quadro com a classificação das contas do Activo e do Passivo,
segundo a óptica económica das fontes de financiamento internas
e externas (passivo) e respectivas aplicações (activo) e outro
tipo que consiste num esquema utilizado por alguns países anglo-
-saxónicos, com base numa lista de rubricas de balanço, com
vista a fornecer várias informações:
1." Tipo: BALANÇO

Activo Passivo
A) Capital Subscrito não Realizado A) Capitais Próprios
B) Despesas de Estabelecimento C1) I —Capital Subscrito
C) Activo Imobilizado II — Prémios de Emissão
I — Incorpóreo III —Reserva de Reavaliação
II — Corpóreo IV — Reservas
III — Financeiro V —Resultados Reportados
D) Activo Circulante VI — Resultados do Exercício
I — Stocks B) Provisões para Riscos e Encargos
II — Créditos C) Dívidas
III — Valores mobiliários D) Contas de Regularização
5
(4)
IV — Bancos e Caixa E) Lucro do Exercício ( )
E) Contas de Regularização (2)
F) Prejuízo do Exercício (3)

0) Pode ser autorizada a sua inclusão em Activo Imobilizado Incorpóreo.


(2) Pode ser autorizada a sua inclusão na rubrica de créditos.
(3) Pode ser autorizada a sua inclusão nos Capitais Próprios, em Resultado
do Exercício (A-VI).
(4) Pode ser autorizada a sua inclusão na rubrica de Dívidas.
(5) Pode ser autorizada a sua inclusão nos Capitais Próprios, Resultado
do Exercício.

692 -
2° Tipo
A) Capital Subscrito não Realizado
B) Despesas de Estabelecimento
Incorpóreo
C) Activo Imobilizado Corpóreo
Financeiro
Stocks
Créditos
D) Activo Circulante Valores mobiliários
Caixa e Bancos
E) Contas de Regularização
F) Dívidas cuja duração residual não é superior a um ano
G) Activo Circulante (superior às dívidas cuja duração
residual não é supericr a um ano)
H) Montante total dos elementos do activo (depois da
dedução das dívidas cuja duração residual não é supe-
rior a um, ano)
I) Dívidas cuja duração residual é superior a um ano
J) Provisões para Riscos e Encargos
K) Contas de Regularização
L) Capitais Próprios
I — Capital Subscrito
II — Prémios de Emissão
III — Reserva de Reavaliação
IV — Reservas
V — Resultados Reportados
VI — Resultados do Exercício
Este segundo modelo do tipo anglo-saxónico tem por fina-
lidade evidenciar as rubricas do balanço e ainda de forma
directa o fundo de maneio (G/) e em que proporção é finan-
ciado o activo líquido (total do activo abatido das dívidas a
curto prazo) em função do capital, reservas e dívidas a médio
e longo prazo.

HARMONIZAÇÃO DO P. O. C. COM AS NORMAS DA C. E. E.

A exposição anterior serve para mostrar que apresentando


a C. E. E. dois tipos de balanço, só um poderá interessar ao
nosso País, quando se verificar a integração e que obrigará
ao cumprimento das normas da Comunidade.

- 693
Pensamos que apenas o 1.° tipo de balanço nos poderá inte-
ressar, visto que o 2.° tipo não tem qualquer tradição entre nós.
Atendendo às diferenças sensíveis entre os balanços do
P. O. C. e os modelos da C. E. E. pode concluir-se que haverá
que alterar o Plano Oficial de Contabilidade em relação à estru-
tura do balanço e, se se considerar que a ordem e o conteúdo
das várias classes de contas deverá ser, como parece lógico,
a que corresponde à estrutura e esquematização do balanço,
haverá que promover igualmente as correspondentes alterações,
por forma a começar-se pelos capitais permanentes (capitais
próprios e alheios estáveis), activo imobilizado, stocks, créditos
e dívidas e meios monetários.
A Espanha, a França, a Bélgica e a Alemanha adoptam já
modelos de balanços que estão muito próximos do primeiro
modelo de balanço agora oficializado pela C. E. E.

694 —
Importância da Gestão Orçamental
Por Rodrigo de Moctezuma

A aplicação da gestão orçamental às empresas, privadas ou públi-


cas, constitui sem dúvida uma grande conquista não só nos aspectos
administrativos mas também nos da justiça social.
A gestão orçamental ou previsional assenta na preparação de
planos de actividade pormenorizados os quais são expressos nas
mesmas contas e documentos contabilísticos em que se traduzem
os resultados históricos — balanços, contas de resultados, etc.
Por outro lado, tratando-se de planos pormenorizados e com as
finalidades que adiante se indicam, a sua preparação deve ser feita
numa base departamental, ou seja, por destinos; sendo somente
dentro destes que as operações previstas se agrupam por natureza.
Desta forma, o Plano é preparado com a intervenção de todos os
dirigentes e empregados que, no âmbito das suas especialidades e
funções, se responsabilizam pela realização dos objectivos acordados;
por outro lado, uma vez que na sua preparação se utilizam os esque-
mas de contabilidade histórica, o subsequente controle obtém-se
automaticamente pelo simples alinhamento de previsões e resultados
reais.
Do que se afirma ressaltam as seguintes conclusões, que funda-
mentam a posição aqui defendida:
1 — O Plano estabelece um esquema de viabilidade económica
e financeira que funcionará como uma autêntica carta de navegação.
Quando é estabelecido, sabe-se que ele não irá ser cumprido em
todos os seus pormenores pois estará sujeito a situações difíceis de
prever ou por vezes até imprevisíveis; mas que, comparado perma-
nentemente com a realidade, ele nos irá indicando as formas de
corrigir os inevitáveis desvios de rota para que se consiga chegar ao
almejado destino.
Constitui, assim, uma peça fundamental no êxito das actividades
empresariais, reforçando de forma notável a sua credibilidade.

- 695
2 — 0 Plano representa um somatório de standards que podem
e devem, portanto, ser utilizados na análise das diferentes produ-
tividades.
Constitui, portanto, uma base fundamental da eficiência e até
um meio poderoso de análise e controle dos valores históricos, o que,
tendo a maior importância para os contabilistas, torna o seu trabalho
bem mais aliciante.

3 — Devendo ser preparado e observado pela totalidade dos


empregados e dirigentes, o Plano resulta sem dúvida na melhor forma
de participação e controle a todos os níveis. Com a vantagem de
cada um intervir somente nos âmbitos exclusivos dos seus conheci-
mentos e funções sem ter acções paralisadoras em sectores fora
dos seus conhecimentos.
Constitui, em consequência, uma das melhores formas de cons-
ciencialização e intervenção das populações no processo económico,
e sem dúvida uma das grandes bases da justiça social.

4 — Permitindo a comparação de esquemas previstos com as


correspondentes realidades, o Plano é uma das melhores formas de
se avaliar a eficiência das direcções e administrações das empresas,
sobretudo para quem; oi faça do exterior.
Constitui desta forma uma poderosa fonte de informação para
a escolha dos directores e administradores abrindo maiores possi-
bilidades de realização aos técnicos mais competentes.

Por todos estes motivos — muitos outros poderiam ainda ser refe-
ridos — e ainda porque a gestão orçamental não parece estar gozando
de grandes favores no nosso País, julgo que seria de fomentar a sua
utilização; para isso, entre outras medidas que poderão ser pro-
postas sugiro:

— seja motivo de preferência, nomeadamente nos aspectos de


crédito financeiro e de admissão a bolsas de valores, a utili-
zação do sistema de gestão orçamental
— se fomente a prática de que, com os relatórios das empresas, a
comparação dos valores seja feita não só em relação a valores
reais de exercícios precedentes mas também aos do Plano
aprovado no início do respectivo exercício

— que igualmente se fomente a prática de com. os referidos rela-


tórios serem apresentados simultaneamente e em termos com-
parados os valores correspondentes dos Planos elaborados
para o exercício ou exercícios seguintes.

696 —
Avaliação das Empresas
Por Artur L. Alves Conde

1. GENERALIDADES
Trata-se, sem dúvida alguma, de um dos problemas mais deli-
cados que um técnico em economia da empresa pode enfrentar.
E não são raras as vezes em que o cálculo tem de ser elaborado,
como o demonstra a seguinte enumeração exemplificativa de
situações: negociação de uma empresa, cedência de uma parte
social, fusão e incorporação de patrimónios, expropriação, avalia-
ção de participações financeiras, sucessões, liquidações, acções
de divórcio, apoio financeiro a empresas, etc.
Sendo bem visível o interesse do problema, passamos a referir
a sua complexidade. Bastará atentar que a determinação do
valor real de um património tem de tomar em consideração,
além de factores objectivos, outros de ordem subjectiva. E quando
tal acontece, por mais aperfeiçoada que seja a técnica aplicada,
o resultado final nunca será um valor indiscutível. O valor encon-
trado, deverá ser encarado somente como uma base de apreciação.
Por tudo isto, não é de surpreender, antes pelo contrário,
o facto de, em vários casos concretos, os valores apurados por
uns técnicos serem bem diferentes daqueles que foram calculados
por outros técnicos. Por vezes, ainda, e para reforçar o que
atrás afirmamos, uns e outros surpreendem — favorável ou des-
favoravelmente — os próprios interessados na avaliação.
Contudo, é hoje possível, e tal constitui mais uma conquista
da técnica, apoiar tal determinação em fórmulas de avaliação
racionais e utilizar instrumentos mais rigorosos que a matemática
faculta. Substituídos os métodos empíricos por outros mais
racionais apuram-se números e conclusões mais lógicas, embora,
mesmo assim, podendo não receber, na maioria dos casos, a
unanimidade dos técnicos. A razão principal de tal divergência
de critérios reside, menos na escolha das fórmulas que nos crité-
rios escolhidos para a determinação dos respectivos parâmetros,
(lei de variação dos lucros futuros, lucro médio futuro, taxa de

—, 697
juro, período, etc.). Para comprovar tal diversidade de critérios
será suficiente 1er alguns capítulos das obras citadas na biblio-
grafia.
Queremos referir que em trabalhos de tal índole, não raras
vezes, é necessário recorrer a técnicas de outros ramos. Assim,
por exemplo, é normal solicitar os serviços de avaliadores (máqui-
nas, terrenos, edifícios, etc.), e de advogados (interpretação de
pactos sociais, contratos de exclusivos, de distribuição, de paten-
tes, de participações, etc.).
Elucidamos ainda que muito embora se recorra a dados facul-
tados pela contabilidade, a natureza do trabalho exorbita o campo
da técnica contabilística e é daqueles que, em nossa opinião,
muito bem se compreende no que modernamente se designa por
«economia da empresa».
Uma advertência final: não se entenda que, dada a forma
propositadamente sucinta — objectivo porventura nem sempre
atingido — como apresentamos os nossos pontos de vista, apoiados
em experiência profissional e no estudo de literatura estrangeira,
tenhamos pretendido demonstrar que encontrámos esquemas sim-
plificadores para os numerosos casos concretos que bem podem
surgir no campo das realidades, nem tão-pouco que os valores
a apurar, são de obtenção, por assim dizer, automática.
Nesta matéria, como em muitas outras, temos sempre pre-
sente as palavras com que deparámos numa das obiras que
conhecemos:
«Não existem, valores absolutos, porque não são as coisas
que nos impõem o seu valor, mas sim é o homem quem fixa
os valores».

2. CONCEITO E ELEMENTOS DO VALOR REAL DUMA EMPRESA


Como se já referiu acima a noção de valor de uma empresa
é extremamente fluida. Alguns autores buscam a seguinte siste-
matização de avaliações:
— Avaliação objectiva — valor comum (Gemeiner Wert) ;
valor do mercado (Marktwert) e
valor venal (Verkehswert)
— Avaliação subjectiva (Affektionswert).
Como se compreenderá é do primeiro tipo de avaliação que
nos vamos acupar.
Assim, teremos como princípios fundamentais da avaliação:
a unidade de avaliação (o valor global prevalece sobre os valores
parciais da empresa); a previsão (o passado só tem valor como
auxiliar das previsões) e a objectividade (apurar o valor potencial

698 —
da empresa face a realidades económicas e financeiras, sem equa-
cionar na avaliação técnica considerações subjectivas das partes
interessadas na avaliação).
Para uma empresa qualquer temos que:
Valor global = Elementos corpóreos + Elementos incorpóreos.
Se bem que não seja fácil a avaliação dos elementos corpó-
reos, é na fixação numérica dos elementos incorpóreos que reside
a maior dificuldade, por a maioria ser dificilmente cifrável (clien-
tela, localização dos estabelecimentos, renome comercial, etc).
Ainda não podemos ignorar a influência, crises económicas,
guerras, etc.) no valor duma empresa, numa dada época.
São, portanto, legítimas as seguintes interrogações:
— a clientela, manter-se-á, aumentará ou diminuirá quando
o estabelecimento passar para um novo proprietário?
— como evolucionará a conjuntura económica?
— Como se orientará a política governamental no relativo
ao sector em estudo (contingentação de importação,
política de subsídios, etc.)?
— Etc., etc.
Da resposta a tais perguntas, ou do juízo que se faça sobre
tais interrogações, assim será influenciado o valor da empresa O ,
segundo a seguinte identidade:
V = C + T (2)
C1) Certos autores, como Jackson Martindell, aconselham a que se não
deixe de proceder à avaliação da gestão, com vista à formulação dum juízo
mais rigoroso sobre o valor da empresa. Trata-se de uma análise predominante-
mente qualitativa que pode vir a influenciar — positiva ou negativamente — o cál-
culo objectivo da avaliação resultante da aplicação de fórmulas.
Para o efeito, utiliza uma Tabela do American Institut of Management.

Componentes Valor óptimo Valor mínimo


aceitável

Função económica 1000 750


Estrutura interna 500 375
Solidez dos lucros 600 450
Relações com os accionistas 700 525
Estudos e investigações 800 600
Composição e actividade do conselho de administração 800 600
Política financeira 1000 750
Rendimento da produção 1100 825
Vigor comercial 1300 975
Valor dos quadros dirigentes 2 200 1650
Total dos pontos 10 000 7 500

(2) Internacionalmente conhecido por «Goodwill».

— 699
C, também costuma ser designado como «valor substancial»
que compreende os valores corpóreos e os incorpóreos insepará-
veis da sociedade. Deve representar apenas os valores patrimo-
niais que sejam estritamente necessários à exploração. A extensão
contabilística dos diversos custos deve coincidir com a realidade.
É, por assim dizer, o «valor de continuidade» dessa empresa,
estimado este na base do custo actual de substituição. Surgirá,
assim, um balanço especial de avaliação, o qual em relação ao
balanço de gestão sofrerá, em geral, diversas correcções, atentos
os objectivos da avaliação.
No relativo à valoração dos bens do activo imobilizado pode-
riam seguir-se os princípios estabelecidos no Decreto-Lei n.° 126/77,
de 2 de Abril, eventualmente com alguns ajustamentos. Em tal
caso, é de ter em conta nos cálculos da rentabilidade futura as
actualizações das amortizações.
I, será, consequentemente, sempre assimilado ao conjunto dos
elementos incorpóreos, nomeadamente os seguintes: nom e comer-
cial, direito a uso de patentes, marcas e de processos de fabrico,
privilégios de direito e de facto sobre técnicas e vendas, posição
comercial (clientela, mercados, etc.), direito a beneficiar da taxa
de rendabilidade, indemnização pela organização montada, etc.
— e sempre que tais valores não possam ser objecto de nego-
ciação autónoma.

Para o cálculo de T existem dois métodos:

— métodos directos — os que procuram determinar directa-


mente T. Este adicionado a C proporciona-nos V.

— métodos indirectos — os que apuram directamente V e


determinam o trespasse pela indiferença:

T = V-C

Como se vê, em qualquer dos métodos, é indispensável pro-


ceder a uma avaliação especial de C, atento o fim em vista.
O nosso estudo incidirá principalmente sobre o método directo.

3. FASE PREPARATÓRIA DO CÁLCULO

Antes, porém, chamamos a atenção para a importância que


deve ser emprestada à fase preparatória, que consiste na recolha
de dados e na possível necessidade de, paralelamente, serem
organizados trabalhos auxiliares.
Algumas considerações têm plena justificação.

700 —
Numa primeira fase é indispensável proceder-se a um estudo
pormenorizado da situação a encarar.
Bem compenetrado da tarefa a realizar, é natural que o
técnico proceda à sua planificação. Sem ela, ficará, imediata-
mente, afectada a boa qualidade do trabalho final e o tempo
de execução.
Aconselha-se, portanto, que bem se medite acerca da recolha
de dados. Na impossibilidade de prever todo o material neces-
sário, consideram-se como básicos os seguintes:

— Plano de contas (compreendendo mecanismo das con-


tas).
— Balanços de exercício dos últimos 5 anos (juntamente
com os relatórios dos Conselhos de Administração
e Fiscal).
— Desenvolvimento das contas de «Exploração» e «Resul-
tados» dos últimos 5 anos.
— Balancetes disponíveis relativos aos últimos 5 anos.
— Relatórios de auditoria (interna ou/e externa) quando
existam.
— Definição dos critérios de avaliação que presidiram à
elaboração dos balanços e explicação de contabilizações
especiais.
— Nota explicativa de aplicação e distribuição de resulta-
dos nos últimos 5 anos.
— Estatística da venda nos últimos 5 anos.
— Capacidade e gestão financeira (estrutura financeira,
fundo de maneio, grande dependência do crédito).
— Relatório sobre a função económica da empresa e sua
posição nos mercados a que concorre ou se candidata,
e política de vendas.
— Potencial existente e o utilizado : análise de produti-
vidade.
— Relatório indicando as condições que regem eventuais
privilégios para exercícios de actividades (concessão,
alvarás, exclusivos, patentes, etc.).
— Relatório mencionando o ónus sobre bens activos e con-
dições aplicáveis (penhor, hipoteca, etc.).
— Descrição das possíveis obrigações que incidem sobre
o património, não revelados pela escrita (fianças pres-
tadas, processos judiciais em curso, etc.).

— 701
— Planos de actividade (novos investimentos, novos pro-
dutos, abdicação de certas explorações, encerramento
de fábricas, filiais, sucursais, etc.).
— Estudos sectoriais e índice da conjuntura económica
orçamentos de custos e proveitos.
— Organigrama da empresa. Actividade dos sócios ou
administradores na sociedade. Valia do pessoal.
— Ambiente no interior da empresa (relações laborais,
absentismo, etc.).
— Cotação na Bolsa de valores e suas variações (quando
exista).
— Informações correntes na praça sobre a sociedade (ban-
cos, concorrentes, agências de informações, etc.).
— Pacto social e suas prováveis alterações.
— Extractos de actas do conselho de administração (ou
gerência) e conselho fiscal no relativo a aconteci-
mentos relevantes para a avaliação.
— Etc., Etc.

Reconhecemos que a enumeração é ambiciosa e nem sem-


pre — caso das pequenas e médias empresas — é possível dispor
de um conjunto de informações tão valiosas. Muitas vezes terá
o técnico de se debruçar sobre elementos e informações dispersas
e construir ele próprio as informações básicas. Não deverá
esquecer também a utilidade na troca de impressões comi diversas
entidades ligadas ao organismo económico a avaliar.
Paralelamente, podem decorrer trabalhos a executar por
outros técnicos, igualmente indispensáveis (avaliação de maqui-
nismos, imóveis, existências, estudos jurídicos, etc.).
Não concebemos o cálculo dum trespasse, segundo métodos
racionais, sem- dispormos de uma estrutura mínima de elementos
básicos.

4. CÁLCULO DO TRESPASSE (T)

4.1. — Generalidades
Existem duas grandes linhas de orientação tendentes ao cál-
culo do trespasse: a teoria empírica e a teoria matemática.
A primeira advoga que, fundamentalmente, o cálculo do
trespasse deve ser apoiado na experiência, não podendo ser
apoiado em leis rígidas.

702 —
A segunda, pelo contrário, repudia as avaliações por «palpite»,
apoiando-se em princípios que apresentam um certo rigor, embora
reconhecendo que é impossível fixar regras que permitam deter-
minar exactamente o trespasse de qualquer organismo económico.

As principais críticas à teoria empírica residem fundamental-


mente no seguinte:

— é inaceitável o uso preponderante da intuição, da impro-


visação, da sensibilidade, do regateio, etc.
— a arbitariedade dos princípios que perfilha será na
base da sua construção, como o de admitir que um
coeficiente encerre em si factores tão complexos, tais
como: risco da empresa, estabilidade da clientela ven-
dida, etc.
— Etc., Etc.

Por outro lado, a teoria matemática não é isenta de críticas


Entre outras, são-lhe dirigidas as seguintes:

— que certos factores de avaliação são imponderáveis


e não podem figurar numa fórmula.
— como é possível prever com rigor a tendência da
empresa no futuro? É legítimo apoiar-nos na progres-
sividade ou degressividade dos lucros passados?
— a conjuntura económica, por exemplo, não poderá inva-
lidar todos os raciocínios que se formulem?
— Etc., Etc.

Mantendo-nos fiel à posição que assumimos em relação à


índole deste trabalho, não vamos alongar-nos em tal polémica,
embora tal não fosse destituído de interesse.
Limitamo-nos a sintetizar a nossa opinião acerca de tal con-
trovérsia
É certo que nenhuma das teorias proporciona um só método
infalível. Simplesmente, perante tal realidade, é legítima e
racional a conduta que nos leva àquela solução que apresente
menos inconvenientes.
Assim, consideramos inaceitável qualquer dos métodos da
teoria empírica, dada a fragilidade notória em que assenta toda
a sua construção.
Pela nossa parte, vamos recorrer à teoria matemática e,
consequentemente, incorrer em fórmulas que conduzam a ava-
liações alicerçadas tanto quanto possível em critérios racionais.

— 703
4.2. — Os princípios da avaliação matemática

Os princípios fundamentais são os seguintes:

1." — O valor do trespasse é função do futuro


O comprador de um trespasse preocupar-se-á, fundamental-
mente, com, os lucros futuros, ou seja formulando raciocínios
idênticos aos que presidem ao investimento de capitais noutros
sectores (compra de títulos, compra de imóveis, etc.).
É a estimativa desses lucros futuros que irá, na maioria dos
casos, determinar decisivamente sobre a inversão dos capitais,
pois ficará a conhecer-se, sob forma aproximada, a taxa de
rendimento que futuramente a aplicação dos seus capitais pro-
porcionará.
Existem, é certo, situações especiais em que o móbil da
aplicação não é o rendimento, por exemplo quando se pretenda
eliminar um concorrente perigoso.
Porém, o princípio enunciado é o que engloba a maioria das
situações.
Ora a avaliação do futuro toma também como base a análise
do passado.

2° — O conceito do valor actual


O trespasse terá de ser necessariamente reportado a uma data.
Nestas circunstâncias, intervém como básico o conceito de
valor actual e implicitamente a necessidade de ser conhecida
a taxa de juro e o período.
Em conclusão:
Basicamente, o trespasse é função das seguintes variáveis:
— I lucro médio normal
— í taxa de capitalização
— n período
Fazemos, desde já, uma advertência:
A fórmula que conduzirá ao cálculo do valor do trespasse,
e que utilizará aquelas três variáveis, terá de ser sempre enca-
rada como um simples instrumento auxiliar. O técnico, como
veremos, ao debruçar-se sobre cada uma das variáveis terá de

704 —
pôr em acção todos os seus conhecimeetos e espírito crítico face
ao caso concreto em apreciação.

4.3. — Estudo das variáveis básicas

4.3.1. — Lucro médio normal


Em primeiro lugar devem analisar-se os resultados passados.
A colheita dos dados far-se-á na conta de «Resultados» de
vários exercícios, mas nunca como pura acção mecânica. Não
esqueçamos que se pretende apurar um lucro normal, atento o fim
em vista (cálculo de um trespasse).

Nestas circunstâncias, haverá que proceder às seguintes fases


de trabalho:
1.° —Exame de contabilidade — escrituração regular
(livros, documentação, contas), critérios de avalia-
ção, veracidade dos custos e proveitos, etc.
2.° — Excluir todos os resultados — positivos ou negati-
vos — de natureza anormal (fictícios, inorgânicos,
subsídios, extraordinários).
3.° — Adicionar possíveis factos não contabilizados ou
excluir contabilizações indevidas, atenta a finalidade
(amortizações exageradas ou deficientes, o mesmo
para provisões, dívidas ou obrigações não contabi-
lizadas, etc.).
4.° — Elaborar a estrutura de custos e proveitos válida
para a acção futura.

As três primeiras fases são predominantemente de técnica


contabilística. Quanto à última são necessárias algumas consi-
derações extra-contabilísticas.
Assim, a simples passagem de uma empresa para outrem
pode ocasionar sensíveis modificações na sua estrutura. É natu-
ral, portanto, que algumas delas alterem a estrutura dos custos
e proveitos vigente. Por exemplo, o trespasse do estabelecimento
pode ocasionar um aumento de vendas. Pode ainda, o novo
proprietário não ter o mesmo acesso ao mercado de capitais, quer
na obtenção de crédito, quer no que respeita aos custos finan-
ceiros a suportar.
Ao fim e ao cabo terá de se proceder à elaboração de um
orçamento de custos e proveitos.

45 — 705
Será conveniente preparar, para cada ano, o seguinte plano:

An0
Empresa

MAPA DE CORRECÇÕES

COMPONENTES Valores Correcções Correcções Vai. Finais


contabiliz. contabilist. previsionais corrigidos

CUSTOS
+ +
=F
PROVEITOS
+ +
RESULTADO L Í Q U I D O
DO EXERCÍCIO . . .
+

É o valor final corrigido de cada ano que se considerará como


o lucro líquido normal.
Seguidamente, determinar-se-á o lucro médio normal ou o
lucro-tipo.
Bem sabemos que o lucro líquido normal quase sempre não
é significativo. Isto leva-nos à análise de vários exercícios.
Mas quantos?
As opiniões não são unânimes, embora as dominantes sejam
de 3 e 5 anos.
Aconselhamos que sejam apurados, sempre que possível, os
lucros líquidos normais dos 5 anos anteriores à data de refe-
rência do cálculo do trespasse.
Melhor será, porém, distinguirmos as seguintes situações pos-
síveis:

a) os lucros normais não revelam qualquer tendência.

Nesta hipótese aos lucros líquidos normais dos últimos 5 anos,


excluindo os valores maior e menor, apurando-se a média dos
3 exercícios residuais.

706 —
Exemplos :
Lucros líquidos
Anos normais (em contos) (*)
1973 1900
1974 1700
1975 1600
1976 2 000
1977 1800

(*) Como já definimos trata-se dos valores finais corrigidos.

Excluem-se os valores dos anos 1976 (2 000 contos) e 1975


(1 600 contos). A média será assim obtida
1 900 + 1 700 + 1 800 1 _..
= 1 800 contos
3
b) Os lucros líquidos normais apresentam uma tendência
(lucros progressivos ou degressivos).
Constatada a tendência para o aumento ou para a diminuição
dos resultados deve surgir como primeira preocupação a análise
detalhada dessa tendência. As causas podem ser múltiplas, in-
ternas ou externas. Neste aspecto os estudos económicos dispo-
níveis ou a realizar podem ser decisivos: estudos da conjuntura
nacional e internacional, estudos dos mercados nacionais e inter-
nacionais, da política governamental, etc., todos eles podendo
revelar períodos de crise ou de euforia excepcional, mercados a
explorar, crescimento económico a fazer prever aumento das
vendas (por exemplo, numa fase intensa de exportação), a re-
dução do mercado (por agravamento da carga fiscal, mudança
de gostos dos consumidores, aparecimento de substitutos, etc.) a
exigência legal de proceder a modernizações na indústria (a re-
querer, por vezes investimentos adicionais avultados), a inte-
gração ou associação a espaços económicos supranacionais, etc.
Outras vezes ainda as causas encontram-se em factos, mais
facilmente descortináveis:—condições diversas de financiamento,
utilização de reservas ocultas constituídas no passado, vendas
explosivas (mas não duradouras), lucros provenientes de repre-
sentações ainda não consolidadas, etc.

Vejamos apenas dois exemplos (em contos):


Anos Lucros Capitais investidos
1975 1200 20 000
1976 800 15 000
1977 500 10 000

— 707
O exame feito demonstrou que os Estabelecimentos de Cré-
dito que apoiavam a empresa iniciaram em 1976 uma política de
«plafond» de crédito e ficou na impossibilidade de proceder à
normal renovação dos «stocks» e daí ter sido compelida a com-
primir as suas vendas.
Ainda outro caso: a empresa guia a prática da amortização
por taxas aceleradas. Apercebendo-se que o seu imobilizado se
encontrava integralmente amortizado, e como não houve lugar à
reavaliação do imobilizado, deixou de incluir nas suas contas de
resultados as quotas de amortização.
Estudada esta situação, o técnico obteve o seguinte quadro
(em contos):
Anos Amortizações Lucros
1974 3 000 4 000
1975 4 000 3 500
1976 800 5 000
1977 — 7 000

Ora, por estes dois exemplos, embora muito simplificados,


se demonstra quão arbitrária seria o afirmar-se, pela simples
observação dos números, que no 1.° caso a empresa apresentava
a tendência para lucros degressivos e que no 2.° caso havia uma
tendência notória para lucros crescentes.
Muitos outros exemplos poderiam citar-se, mas houve apenas
a intenção de demonstrar quão pernicioso pode resultar uma
superficial análise do comportamento de expressões numéricas,
sem profundar as verdadeiras causas que motivaram tais varia-
ções, e sempre que se deixe de perscrutar o futuro, tanto quanto
possível.
É claro que nem sempre a justificação estará num só facto,
mas antes em vários. É esta interdependência de causalidades
que também contribui para a complexidade do problema.
Chamada a atenção para análise prévia, passamos, agora, a
ocupar-nos de alguns métodos de cálculo.
Supúnhamos que uma empresa apresenta os seguintes resul-
tados (em contos) :

Anos Lucros anuais


1972 2 000
1973 2100
1974 2 300
1975 3 000
1976 2 500
1977 3100

708 —
Examinando, conclui-se ser notória a tendência para lucros
crescentes ao longo do período de 6 anos, muito embora o ano
de 1976 constitua uma excepção ao ritmo crescente evidenciado.
Só o estudo das causas nos poderá orientar sobre a escolha
do método a adoptar. Alguns são possíveis:

— média de 3 anos entre os 5 últimos. Excluem-se os


resultados de 1973 (2 100 contos) e de 1977 (3 100 con-
tos). A média será:

2 300 + 3 000 + 2 500


= 2 600 contos

— média dos últimos 5 anos. O cálculo será:


2 100 + 2 300 + 3 000 + 2 500 + 3 100
= 2 600 contos

média dos 3 últimos anos :


3 000 + 2 500 + 3 100
= 2 867 contos
3

-1.° método de Retail, que consiste em multiplicar os


resultados dos 3 últimos anos pelos coeficientes 1, 2
e 3, respectivamente:
1 x 3 000 = 3 000
2 x 2 500 = 5 000
3 x 3 100 = 9300
6 17 300

O valor médio será:


17 300
= 2 883 contos
6

2.° método de Retail, que consiste em adoptar o resul-


tado do último ano, se o estudo das causas concluir
pela manutenção de tal lucro, no futuro.
Nesta hipótese, seria escolhido o valor de 3100 con-
tos, ou seja o resultado do último ano (1977).

— 709
— método de compensação aproximada:

Anos
)S Lucros Compensações Lucros
reais + — compensados
1972 2 000 2 000
1973 2100 2100
1974 2 300 250 2 510
1975 3 000 250 2 750
1976 2 500 300 2 800
1977 3100 300 2 800

Analisando a última coluna verifica­se que é razoável admitir


a tendência de lucros crescentes. Parece justificar­se a opção
pelo lucro de 2 800 contos, que aliás se repete em dois anos
(1976 e 1977).
Porém, às vezes, só se dispõe dos resultados relativos a 2
ou 3 exercícios.

ímpio (em contos) :


Anos Empresa A Empresa B

1975 . . 4 000 23 000


1976 . . 5 000 11500
1977 . . 6 000 7 000

Nestas circunstâncias, no que respeita à Empresa A, pode­


riam adoptar­se os seguintes métodos:

— média dos 3 anos 5 000


— lucro do último ano 6 000
— média dos 2 valores anteriores . . . 5 500

Quanto à Empresa B, só uma análise muito completa poderá


dar indícios dum possível método a seguir. Observe­se, antes do
mais, que a queda tem sido demasiado brusca. Será legítimo,
então, tomar como base o resultado do último ano — 7 000 contos?
Mas se a quebra prosseguir, não se registarão, até, no futuro,
prejuízos? Será apenas uma baixa transitória? Estará a em­
presa a caminho da falência?
Se concluirmos, contudo, que a empresa conseguirá sobre­
viver se se contentar apenas com a remuneração para os capitais
investidos e esse valor for, por exemplo, de 3 000 contos, seria
então o adoptado.
Se a empresa praticar o autofinanciamento por retenção de
lucros, então há que ter em conta essa prática.

710 —
Por exemplo, no método de Stuttgart mais adiante citado,
no cálculo do lucro procede-se a um abatimento de 30 % exclu-
sivamente com o objectivo de compensar as consequências de
entesouramento (em geral, parcial) dos lucros.
Em conclusão, devemos operar, no mínimo, com os resultados
de 5 anos. Sendo possível, porém, não se desprezarão os últi-
mos 7 anos. Em seguida, devemos examina? detidamente as
causas das variações. Escolher, então, Um ou algum dos vários
métodos possíveis.
De grande utilidade recorrer a métodos estatísticos ade-
quados e usar gráficos.
O importante é descortinar o lucro tendencial, de modo a pre-
figurar o mais rigorosamente possível o lucro futuro, pelo que o
valor apurado deverá ser confrontado com a estrutura previsional
dos custos/proveitos, quando existente.
Em face do nosso actual e elevado nível inflacionário é evi-
dente que tal fenómeno não poderá ser ignorado no cálculo dos
lucros futuros e até, se necessário, corrigindo os lucros conta-
bilísticos apurados no passado.
4.3.2.—Taxa de capitalização (t).
4.3.2.1 — Como bem se compreenderá a negociação dum tres-
passe rege-se pelos princípios que orientam a inversão de
capitais.
É, portanto, natural que o candidato à aquisição dum tres-
passe se preocupe com a taxa de rendimento que irá obter. Ela
será dada pela seguinte relação:
_ lucro anual esperado x 100
capital a investir
Assim, supondo que o lucro médio normal apurado é de
4 500 contos e que o vendedor tem de dispender a quantia de
18 000 contos, o comprador determinará a seguinte taxa:
t = - i ^ ? - x 100 = 25 %
18 000
Em seguida procederá ao confronto entre a taxa apurada e
as taxas que vigoram no mercado de capitais para outras colo-
cações (títulos de crédito — públicos e privados — , depósitos a
prazo, imóveis, empréstimos hipotecários, outros trespasses ofe-
recidos, etc.). E, continuando com a exemplificação, vamos
supor que a taxa mais alta para outra colocação é de 20 %.
Será, então, razoável o afirmar-se que o comprador, em face do
confronto numérico, não deverá hesitar em optar pelo primeiro
investimento?

711
A resposta terá de ser necessariamente negativa, pois exis-
tem outros factores a considerar, tais como a segurança e a
liquidabilidade. Compreensível, portanto, que o investidor numa
empresa exija uma remuneração bem mais alta que a taxa de
juro corrente no mercado financeiro.
O primeiro aspecto toma em consideração os riscos nas dife-
rentes aplicações — títulos garantidos ou não com aval do Estado,
empréstimos com ou sem garantia real, etc., e o segundo atende
à maior ou menor facilidade na realização em dinheiro da in-
versão considerada (em geral, o trespasse duma casa comercial
é mais dificilmente negociável do que um lote de títulos, princi-
palmente quando estes se encontram cotados na Bolsa de Va-
lores).
São essencialmente estes valores que vão determinar se a
diferença de taxas — 5 % , no nosso exemplo — sobreleva ou
anula, a juízo do inversor (às vezes, apoiado em consultores),
a diferença de situações quanto a risco e a liquidez.
É de considerar ainda a existência de circunstâncias espe-
ciais, tais como: eliminar concorrente perigoso, conseguir melhor
venda para certos produtos que fabrica, acesso a uma clientela
mais vasta para escoante de seus produtos ou utilização em maior
escala de serviços que presta, ser o ponto de partida para um
outro tipo de organização, conseguir uma colocação para a sua
actividade profissional para uma justificação familiar, social, etc.
Chama-se a atenção para o facto de a comparação ser
válida se as duas taxas confrontadas forem da mesma natureza
— igualmente brutas, ou igualmente líquidas — . Uma diferença,
por exemplo, devida quanto a regime de impostos, pode ter con-
sequências apreciáveis no raciocínio a formular.
No intuito de não deixar cair no empirismo tal confronto,
vários autores têm procurado obter taxas para as diferentes
situações de risco.
4.3.2.2. — Nesta ordem de ideias, terá de se obter, primeira-
mente, uma taxa-base que signifique o menor risco possível na
colocação de capitais. A esta taxa juntar-se-á um acréscimo que
procurará traduzir, tanto quanto possível, a intensidade de risco
para a situação em causa. Variará proporcionalmente com o
risco, como é natural.
No relativo a taxa-base, para operações de longo prazo, não
há unanimidade de opiniões quanto ao critério que servirá de
base. Assim, Retail indica que ela deverá ter expressão igual
à taxa de desconto do banco emissor — no nosso caso seria a do
Banco de Portugal, actualmente fixada em 18 %. Outras, porém,
opõem-se a tal raciocínio, e aconselham' que a taxa que se melhor
se adapta ao conceito formulado — risco mínimo para investi-

712 —
mentos a longo prazo — é a que vigora para as colocações em
valores de rendimento fixo cotados na Bolsa (e fundamentalmente,
os emitidos pelo Estado).
Tem sido essa a nossa opinião e em trabalhos anteriores temos
identificado a taxa-base com a taxa média (%) de juro real dos
títulos de rendimento fixo (fundos públicos), publicada nas Esta-
tísticas Financeiras (INE). Porém, na presente conjuntura o
mais realista é identificá-la com a taxa das Obrigações do
Tesouro, última emissão, que actualmente é de 22 %. Não exis-
tindo um mercado organizado, para a compra e venda de empre-
sas, o certo é que o comprador eventual de uma empresa é
levado a comparar o lucro que obteria no mercado financeiro
normal com o estimado para a empresa avaliada.
Quanto aos acréscimos transcrevemos os da obra «Les Fonds
Commerce».
Taxa-base + :

A% SITUAÇÕES

1 No caso da actividade e o mérito pessoais do comprador


desempenharem um papel quase exclusivo para reter a clien-
tela adquirida.

2 Quando os capitais investidos não sejam desprezíveis, e a


aptidão e a actividade profissionais do comprador exercem uma
influência predominante.

3 Para empresas de categoria igual à precedente que se afir-


mam particularmente estáveis, nomeadamente empresas antigas
sem variabilidades, nem flutuações violentas.

5 Empresas industriais, comerciais, financeiras, nas quais uma


capacidade profissional normal é necessária para satisfazer a
clientela, tendo por apoio imobolizações e fundos de maneio rela-
tivamente consideráveis submetidas aos acasos inevitáveis dos
negócios.

7 Empresas pertencendo igualmente à mesma categoria, mas


submetidas a acontecimentos (concorrência, moda, crise, etc),
particularmente elevados.

15 Quando a capitalização dos lucros estimados, provirem de


uma empresa, em formação ou de constituição recente, de uma
patente inédita, de uma novidade.

— 713
4.3.2.3. — Autores há que consideram mais correcto ver o risco
empresarial tomado em conta no cálculo do lucro futuro (portanto,
procedendo em geral a uma certa dedução) do que proceder no
agravamento da taxa-base de capitalização.

0 que tem de ficar bem claro é que não se deve proceder


simultaneamente às duas correcções — dedução no lucro e aumento
da taxa de capitalização — pois isso equivaleria a considerar duas
vezes o risco empresarial no cálculo do valor da empresa.
Consideram os defensores deste método que a precisão é
menor em agravar a taxa de capitalização do que proceder
à correcção do lucro, pois pequenas que sejam as variações nas
taxas de capitalização originam sempre alterações consideráveis
no valor final e, portanto, ao incluir-se o factor risco na taxa
de capitalização consegue-se apenas uma ilusão de precisão, pois
que na realidade introduz uma arbitrariedade.
Para além- do denominado «risco empresarial» existem riscos
que exorbitam o campo da actividade da empresa, tais como
riscos económicos gerais, riscos políticos e até riscos fiscais.
Para esses não há possibilidade de uma avaliação cifrada e
apenas há que contar com a sua ocorrência e a probabilidade
é tanto maior quanto maior for o período de imobilização do
capital investido.
O conhecimento (ou estudo) do ramo em que a empresa se
situa, a apreciação de conjuntura, o estudo de programações
económicas sectoriais e nacionais disponíveis, etc., são factores
a ter em conta na apreciação do «risco global».

4.3.2.4 — Taxa de imobilização

Pretende-se com tal designação significar a relação não liqui-


dabilidade dos capitais investidos nas empresas a longo prazo.
Em geral esta taxa é fixada em 50 % da taxa de juro corrente
no mercado financeiro para operações a longo prazo.
Só é aplicado aos capitais próprios da empresa, não se consi-
derando os capitais de terceiros pois esses já têrn o seu regime
de remuneração.

4.3.3 — Período (n)

Tal como acontece com a taxa de capitalização também não


é possível indicar critérios infalíveis sobre o número de anos
a adoptar.

714 —
Primeiramente, refira-se que a extensão do período depende,
em grande parte, de factores subjectivos (influência pessoal dos
proprietários — na clientela, no meio bancário, etc.)- Noutros
casos, ainda, embora não tão frequentes, procede de factores
objectivos (duração da concessão, das patentes, das represen-
tações, etc.).
Como regra geral pode afirmar-se que quanto maior for a
influência pessoal dos actuais proprietários de uma empresa,
menor deverá ser o número de anos a considerar, em caso de
cessão. Isto por se pressupor que a perda de tal influência para
o novo adquirente ocasionará o decréscimo anual do volume de
vendas e, consequentemente, também dos lucros.
Para comprovar quanto é arriscado valorizar factores sub-
jectivos, atente-se no facto de muitas empresas adquiridas,
acerca das quais se vaticina o declínio, dada a circunstância de
não mais contarem; com os seus antigos proprietários (às vezes
fundadores que, no passado, consolidaram a empresa), surgirem
em crescimento espectacular, devido às qualidades reveladas
pelos novos proprietários (maior imaginação, iniciativa, gestão
racional, etc.).

Contudo, e apenas como orientação geral, apresentamos os


seguintes:

2 a 5 anos, para as empresas aleatórias.


3 a 7 anos, para as empresas ou actividades (profissões
liberais), nas quais a actividade pessoal do
proprietário é preponderante.
5 a 8 anos, para as empresas semi-artesanais onde o «afre-
guesamento» e o capital investido são apreciá-
veis.
8 a 12 anos, para as empresas comerciais ou industriais
normais.
prazo máximo de 20 anos, para as empresas industriais ou
comerciais de primeira classe, muito estáveis,
optimamente cotadas no mercado, disfrutando
de marcas antigas reputadas, etc. Só muito
excepcionalmente deverá ser usado o limite
superior. Na prática, por se reconhecer que
não existe uma estabilidade absoluta, convirá
que o período se fixe entre os 12 e 17 anos.

— 715
duração do exclusivo, para as empresas que beneficiem duma
situação priveligiada no mercado. Será conve-
niente, contudo, fixar o valor máximo entre
os 15 e 20 anos.

Os valores acima não receberão, certamente, o acordo de


todos os técnicos, longe disso!
Existe até uma corrente moderna que defende, dada a actual
instabilidade económica, constante aparecimento de inovações
técnicas, concorrência mais acentuada, etc., que o período deve
estar limitado entre os 3 e 8 anos.
A argumentação de tal corrente é fundamentalmente alicer-
çada na verificação de que a taxa dos sobrelucros tende a dimi-
nuir por acção da concorrência.
Aconselham, ainda, que se faça uma distinção entre um
«goodwill» objectivamente condicionado baseado nas capacidades
oferecidas pela empresa e na sua real posição no mercado, e um
«goodwil» subjectivamente condicionado, atendendo principalmente
à personalidade e influência do chefe da empresa em avaliação.
Esta distinção, em termos práticos, deve limitar a margem
de avaliação, pois o primeiro tipo de «goodwill» é mais duradouro
que o segundo. Por isso se considera um período de 5 a 8 anos
para o primeiro tipo de «goodwill» e 3 a 5 anos para o segundo.

4.4 — Estudo de alguns métodos

4.4.1 — No método Retail considera-se que não seria justo


que o comprador pagasse integralmente o valor actual dos lucros
esperados O , razão que o leva a dividir ao meio entre cedente
e o concessionário a quantia calculada. De facto, o comprador,
durante o período considerado, não receberia qualquer lucro,
o que constituía flagrante injustiça.

A fórmula será simplesmente a seguinte:


o

a—I •,-.

Valor do trespasse (T) = 1 x —

Retail parte da identidade:


A — P = SL,

C1) Já sabemos que tal confronto não é muitas vezes determinante para a
decisão de investir, pois razões estratégicas ou subjectivas podem prevalecer.
Neste método o cálculo da situação líquida determina-se a
partir da avaliação do Activo e Passivo, com vista à determinação
do valor real da empresa.
Assim deverá elaborar-se um balanço especial, com base nos
critérios que presidam a confecção do balanço de liquidação. Mas
como muito bem Retail acentua o que se pretende determinar
é um valor liquidável, este respeitante a uma liquidação teorica-
mente encarada para as necessidades de cálculo, prosseguindo
a empresa a sua vida económica.

4.4.2 — No método preconizado por Viel, Bredt e Renard, só


existirá trespasse («goodwill») quando a rentabilidade da empresa
for capaz de gerar um excedente financeiro, após se encontrar
assegurada a cobertura da remuneração do respectivo valor subs-
tancial (C), à taxa de juro normal.
Neste método T é assimilado ao excedente financeiro do valor
de rendimento de uma empresa em relação ao seu valor subs-
tancial.
Quando não existam privilégios especiais de exploração (caso
das concessões) considera-se ser equitativo que apenas os sobre-
lucros de alguns anos devam ser objecto de indemnização (pago
pelo adquirente ao cedente), já que o comprador passando a
exercer a gestão da empresa passará a influenciar gradualmente
os seus resultados, ao mesmo tempo que se irá desvanecendo
a acção do anterior proprietário. Considera-se, em princípio, ser
um valor de duração limitada.
De salientar que, em relação aos parâmetros considerados
para o cálculo de T, só deve entrar em linha de conta o capital
necessário á exploração, excluindo-se, portanto, valores exceden-
tários (pessoal, capacidades de produção, etc.).
A fórmula que conduz ao cálculo do valor imaterial
(«goodwill») da empresa será a seguinte:
a
T = nl (t) (1 - 1 . C)
onde:
C — valor substancial bruto dos activos, deduzido
do endividamento corrente (créditos que não
vencem juro);
1 — lucro futuro antes da dedução dos encargos
financeiros ;
n — Período ;
t —taxa de capitalização;

(1 — t.C) — sobrelucro.

— 717
Segundo os conceitos acima o cálculo de T não é influenciado
pela origem dos fundos — capital próprio ou alheio, — apenas e —
quacionando a totalidade dos capitais investidos e necessários
à exploração.
O procedimento seguido dá flexibilidade ao adquirente de
examinar, em, separado, a temática dos «financiamentos» porven-
tura existentes (eventualmente renegociando ou substituindo por
outros mais vantajosos).

Daqui decorrem várias consequências:


— Do valor da empresa — V = C + T haverá lugar a dedu-
zir os financiamentos (dívidas vencendo juro) caso o
adquirente decida tomar sobre si tais compromissos;
— Acrescerão todos os activos não afectos à exploração
que venham a ser por acordo mútuo compreendidos na
transacção e
— Se existir uma diferença significativa entre a taxa de
capitalização utilizada na fórmula e a taxa efectiva de
remuneração dos financiamentos, é de admitir cor-
recções — para mais ou para menos — ao valor de aqui-
sição determinado pelo técnico avaliador.

4.4.3 — É também, por vezes, usado Um método combinado


denominado «método dos práticos» e que consiste em identificar
o valor global da empresa com a média aritmética do valor subs-
tancial e do valor de rendimento.

A fórmula será, então, a seguinte:


V = 1/2 [(l/t) + C]
ou:
V = C + 1/2 [(l/t) - C]
Significa que em tal cálculo o valor global da empresa é
igual ao valor substancial acrescido de metade do excedente do
valor de rendimento em relação ao próprio valor substancial,
ou seja o valor substancial é apenas acrescido de metade do
«goodwill» calculado segundo a fórmula do número anterior.

4.4.4 — Existem outros métodos que não deixam de ter a sua


aplicação, principalmente dada a sua simplicidade. Citamos dois
desses métodos:
— método de Schònwandt, estabelece que T se obtém mul-
tiplicando por um coeficiente inferior ou igual a 4 o
lucro médio, deduzido da remuneração de trabalho.

718 —
— método de Stuttgart (aplicado pelo direito fiscal alemão
à avaliação de sociedades não cotadas na Bolsa), o valor
total da empresa é identificado com o somatório de
C (valor substancial) e o triplo do desvio entre o
lucro futuro e a remuneração normal do valor a ava-
liar:

V = C + 3 (1 - t. V)

obtido V, virá:

T = V-C

CONCLUSÕES

5.1 — Este trabalho patenteia várias limitações e até lacunas.

Assim, não apreciámos outros métodos praticados na ava-


liação das empresas, nem tão pouco estudámos casos especiais
como seriam: empresas de criação recente, empresas que apre-
sentam situações deficitárias crónicas, etc.

Também não nos debruçámos sobre os critérios de valorime-


tria a adoptar na determinação do valor substancial.

5.2 — Cremos, contudo, ter demonstrado que é possível orien-


tar os trabalhos do cálculo do valor real duma empresa segundo
métodos racionais.

5.3 — Não significa isto que se obtenha sempre um resultado


rigoroso, mas tão somente que o técnico, seguindo conduta cons-
ciente, poderá fornecer aos interessados elementos de apreciação
devidamente ponderados, que os habilitem à tomada de uma
decisão alicerçada.

Não é uma ou outra fórmula que resolverá o problema, mas


sim a apreciação ponderada de um grande número de factores.
Muitos deles, não esqueçamos, são subjectivos e inevitavelmente
as dificuldades surgirão sempre que se passe à sua tradução
numérica. Os critérios adoptados não são infalíveis. Bastará
atentar quanto é aleatório cifrar qualquer antecipação económica,

— 719
como os lucros futuros. Também não menos precária é a mensu-
ração dos riscos.

Por mais vastos que sejam os conhecimentos do técnico e por


mais rigorosos que se mostre, permanecerão sempre factores
imponderáveis.

Portanto, é utópica a ideia de um trespasse ser avaliado com


precisão matemática. Como muito bem afirma um autor consa-
grado o trespasse é uma «entidade fluida».
Encarada a realidade, resta ao técnico repudiar sempre o
empirismo, e tentar encontrar soluções lógicas, mesmo que algu-
mas tenham o cunho da imperfeição, nem tudo poderá ser medido
ou previsto, mas deverá empenhar-se para que os erros e as
omissões eventualmente cometidas sejam mínimas.

5.4— Não terá o técnico de se preocupar com o facto de a


negociação dum trespasse vir a ser fechada por valor diferente
daquele que apurou, pois não pode ignorar que o poder de deci-
são não lhe pertence e também existem forças externas que o
exorbitam (lei da oferta e da procura, iminência de falência,
debilidade financeira para prosseguir, razões pessoais, etc.) e são,
em muitas circunstâncias, decisivas.
Todos reconhecerão, decerto, que a dignidade profissional do
técnico terá de ser uma constante em todo o seu trabalho. Muitas
vezes está em; jogo a fortuna, o futuro e a honra de uma ou
várias pessoas.

5.5 — Conhecemos perfeitamente a distorsão existente entre


as taxas-base por nós invocadas e os da rentabilidade da maioria
das empresas portuguesas, mas o certo é que os princípios da
técnica da avaliação da empresa estão conforme o comportamento
de Um investidor normal.

5.6 — Como observação final, lamentamos que muitas socie-


dades continuem a preceituar nos seus pactos sociais que a ava-
liação duma parte social se faça com base no último balanço
aprovado...
Quanto a nós, bastaria uma simples substituição daquela
cláusula por outra obrigando à elaboração dum balanço especial,
com vista à determinação do valor real da empresa, em situações
especiais (saída ou morte dum sócio, fusão, etc.). Evitar-se-iam,
assim-, injustiças flagrantes que tanto têm atingido interessados
(sócios, herdeiros, etc.) num património empresarial.

720 —
BIBLIOGRAFIA

Les fonds de commerce — Bertrand Fain, Victor Faure et Robert Pinoteau


(Editions Payot, Paris).
L'évaluation des fonds de commerce, des fonds d'industrie et des grands
ensembles économiques — L. Retail (Éditions Sirey).
Évaluation de gestion et jugement sur la valeur de l'entreprise — tradução
francesa) — Jackson Martindell (Éditions Hommes & Techniques).
L'évaluation des entreprises et des parts d'entreprise — Jakob Viel, Otto
Bredt e Maurice Renard (Éditions Dunod).
L'évaluation des entreprises — Études du C. N. E.C. B. (Éditions du Collège
National des Experts Comptables de Belgique).

46 — 721
11
Nota final. Como decorreram
as Jornadas. Agradecimentos
1. O TRABALHO PREPARATÓRIO DAS JORNADAS

Durante um semana cerca de 500 pessoas, entre elas, contabilistas,


economistas, técnicos de contas, juristas, gestores e até sociólogos
vindos das mais diversas localidades do País, estiveram reunidos em
Aveiro, nas Jornadas de Contabilidade.
O interesse dos temas abordados, a competência e projecção dos
autores das comunicações, a beleza da cidade que os ia receber e a
simpatia das suas gentes, eram de antemão garantia do êxito de
tamanha iniciativa a que o Instituto Superior de Contabilidade e Admi-
nistração de Aveiro, em boa hora, lançou mãos.
As expectativas, foram, porém, de largo ultrapassadas, de tal
modo que sem falsa modéstia se impõe considerar que as JORNADAS
constituíram um, acontecimento bem marcante na história da cultura
contabilística nacional.
Para alcançar tão elevado nível iniciaram-se os trabalhos de
organização em Junho do passado ano, distribuíram-se cerca de
2000 boletins de inscrição e formularam-se à volta de 50 convites
a personalidades nacionais e estrangeiras.
O trabalho continua ainda, agora no sentido de distribuir as
presentes ACTAS não só aos participantes no Congresso mas também
a universidades nacionais e algumas estrangeiras, escolas superiores
de contabilidade, bibliotecas, centros de investigação em economia,
gestão, etc., a fim de constituírem testemunho iniludível do labor
que as JORNADAS DE CONTABILIDADE representaram no seio das
actividades culturais do País.

2. A SESSÃO DE ABERTURA
A sessão de abertura das JORNADAS foi presidida pelo Senhor
Secretário de Estado do Ensino Superior e da Investigação Científica,
Prof. Arantes e Oliveira. Nela participaram também os membros da
Comissão de Honra:
Reitor da Universidade de Aveiro, Governador Civil, Presidente
da Câmara Municipal, Comandante Militar e Capitão do Porto e

- 725
ainda os membros da Comissão Organizadora das JORNADAS:
Prof. Doutor Fernando V. Gonçalves da Silva, Drs. Alberto Pimenta,
Hernâni Carqueja, Manuel Baganha, Rogério F. Ferreira, Carlos
Figueiredo Mota, Joaquim José da Cunha e Amílcar Amorim.

Dos discursos então proferidos recordam-se os seguintes passos:

O Presidente do Conselho Directivo do ISCAA e membro da


Comissão Organizadora, Dr. Joaquim José da Cunha, acentuou
a necessidade da criação em Portugal da Licenciatura em Contabi
lidade, afirmando a propósito:

«Para tal dê-se forma à Comissão a que se refere o Art. 4.° do


Dec^Lei n.° 327/76 ou então haja coragem, de o revogar».

O Prof. Doutor Fernando V. Gonçalves da Silva membro da


Comissão Organizadora das JORNADAS manifestando a satisfação
pela presença do Senhor Secretário de Estado do Ensino Superior disse
também a dado passo: «A presença de V. Ex. a , Senhor Secretário
de Estado nesta sessão inaugural enche-nos de júbilo porque é sinal
de bom augúrio. Prova a consideração do Governo pelos profis-
sionais da Contabilidade e a importância que atnbui ao papel que
lhes cumpre desempenhar na sociedade portuguesa».
Finalmente, a encerrar a sessão, o Senhor Secretário de Estado
afirmou que «um Governo responsável não pode deixar de ter em
consideração a formação de Contabilistas».

3. A PARTICIPAÇÃO DOS CONGRESSISTAS

Verificou-se numerosa e entusiástica participação que se cifrou


em 52 comunicações de técnicos nacionais, 1 francês, 6 brasileiros
e 1 espanhol. Dos 449 congressistas contavam-se dois espanhóis
representando o Instituto de Planificación Contable de Madrid e o
Prof. Fernandez Pena especialmente convidado para nos falar da
recente legislação do país vizinho sobre a classe 9 (Contabilidade
Interna) do Plan General de Contabilidad. Os trabalhos apresentados
a debate distribuiram-se pelas 9 mesas constituídas para o efeito.
Pela lista das comunicações apresentadas e discutidas pode bem
avaliar-se das preocupações científicas dos técnicos congressistas
e do justificado interesse revelado pelos participantes às sessões.
Na verdade os anfiteatros Calouste Gulbenkian e do Pavilhão Escolar
da Universidade foram pequenos para receber o grande número de

726 -
— 727
congressistas que participaram activamente no debate das comuni-
cações.

Eis os temas expostos e discutidos:

La Contabilidad Analítica en el Plan General d e Contabilidad


Espano! (Enrique Fernandez Pena) ; Investimento, Finanças e Conta-
bilidade — Breve Contributo para a sua Harmonização (Ruy L. F. de
Carvalho); A Função Financeira nas Pequenas e Médias Empresas
(Rogério Fernandes Ferreira); A Organização Contabilística e o
Sector Cooperativo (Luís Augusto Eça de Matos) ; O Diário — Razão
— Balancete nas P. M. E. (Raul Corrêa de Sousa Guimarães) ; Custos
Reais ou Custos Teóricos? Problemática da Mão de Obra (F. Nogueira
da Costa); Créditos nas Contas de Despesas (A Lopes de Sá);
A Contabilidade e a Inflação (Deloite Haskins & Sells) ; Reavaliação
do Imobilizado e outros aspectos do Tratamento dos Efeitos da Infla-
ção (Ezequiel José Santos Sousa); As distorções Provocadas pela
Inflação nos Balanços e Contas de Resultados (João José Amaral
Tomás); a Contabilidade dos Juros e das Variações monetárias I
(Rogério Fernandes Ferreira); A Contabilidade dos Juros e das
Variações Monetárias II (Rogério Fernandes Ferreira); Cor-
recção de Valores na Contabilidade (A. Lopes de Sá); O papel
da Contabilidade e do Contabilista numa sociedade em mudança
(A. Cabaço Pires) ; A Contabilização do Potencial Humano (Policarpo
Lemos) ; O Âmbito de Aplicação das Convenções Colectivas — Ques-
tão Prévia de Gestão da Empresa (Ilídio Rodrigues) ; Balanço Social
— Nova Peça Contabilística (Amílcar Amorim) ; O Lucro e a Tribu-
tação das Empresas (Rogério Fernandes Ferreira) ; A Contabilidade
e a Fraude Fiscal (Henrique Quintino Ferreira); A Fiscalização
no «Plano Oficial de Contabilidade» (M. H. de Freitas Pereira) ; Algu-
mas implicações Fiscais do P. O. C. (J. L. Lemos Pereira) ; Acerca
de Provisões e o Fisco (A. Álvaro Dória); Soluções de Informática
à Medida de cada Empresa (Araújo & Sobrinho); A Normalização
Contabilística e a Informática — CGAM — Um Sistema de Aplicação
(Regisconta) ; Sistemas de Informação: A Contabilidade e a Infor-
mática (Almiro de Oliveira); O Mini Computador e a Informática
da Empresa (Carlos Alberto Gomes Luso); Teleprocessamento (Bur-
roughs Electrónica); Sistemas Integrados Informáticos de Gestão e
Contabilidade (I. B. M.) ; Algumas Reflexões sobre princípios Conta-
bilísticos Tradicionais (Rogério Fernandes Ferreira); Auditoria
Financeira (José Rodrigues Ferreira da Cruz); Os Aspectos Supe-
riores da Auditoria no Sector Público (A. Lopes de Sá); A Qualifi-
cação do Auditor, Alguns Aspectos (Hamilton Parma); Redacção
e Parecer do Conselho Fiscal (Hernâni Carqueja); O Ensino da
Contabilidade em Portugal (Carlos Baptista da Costa); Projecto

728 —
de Licenciatura em Contabilidade e Finanças (Associação Portuguesa
de Contabilistas); Conta e Método Digráfico numa perspectiva con-
ceptual Histórica (Martim Noel Monteiro) ; Conceitos Básicos e Prin-
cípios Contabilísticos (João José da Costa); A Normalização Conta-
bilística (António Tomé de Brito) ; Reflexões de Gestor Empresarial
Perante a Economia Portuguesa (Rogério Fernandes Ferreira);
O Mini Computador e a sua importância na Contabilidade e Gestão
da Empresa (Carlos Alberto Gomes Luso); Elementos de Análise de
Actividade — Exemplos de Aplicação a uma Empresa (Enri Bague-
nier); Algumas Considerações sobre o Modelo Estático de Leontief
(Joaquim José da Cunha) ; Algumas Reflexões em torno dos Modelos
Matemáticos da Capitalização Simples e Composta (Fernando de
Jesus); Os Balanços do P. O. C. (Henrique Quintino Ferreira); Impor-
tância da Gestão Orçamental (Rodrigo de Moctezuma) ; A Prestação
de Contas em Contabilidade Industrial e o P. O. C. (José J.
Afonso Diz).
Durante a semana das JORNADAS não houve tempos livres.
De manhã, à tarde e à noite, de 4 a 8 de Dezembro as sessões de
trabalho sucediam-se ininterruptamente, com anfiteatros sempre
cheios. Após cada uma das intervenções os congressistas puseram
questões sobre as matérias abordadas, dando origem a respostas
e esclarecimentos por parte dos conferencistas num participado e vivo
debate de ideias.

4. COMO DECORREU O PROGRAMA SOCIAL

Integrado nas JORNADAS houve ainda um programa social cuja


adesão de participantes não desmereceu a frequência às sessões
técnicas. Na verdade o sarau cultural em que participaram o Grupo
de Bailado de Matosinhos e o Coral Vera Cruz que decorreu no Audi-
tório Calouste Gulbenkian e cujo programa se anexa, o almoço-con-
vívio no Hotel Imperial, a exposição de pintura de Hipólito de
Andrade, a visita à Fábrica Vista Alegre, ao Museu Regional de
Aveiro e a excursão e chá na Torreira, foram outros tantos motivos
para estreitar as boas relações entre os participantes das JORNADAS,
já iniciadas nos debates técnicos.
Finalmente parece-nos importante salientar que funcionou durante
toda a semana das JORNADAS além, de uma exposição de livros que
abrangia fundamentalmente os campos temáticos da Contabilidade
e Gestão, uma outra exposição de equipamento e material de informá-
tica. Durante os períodos de funcionamento de ambas as exposições
o interesse revelado pelos visitantes foi grande e testemunha, a nosso
juízo, a vontade de actualização dos nossos técnicos.

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730 ~
PROGRAMA DO SERÃO CULTURAL

I PARTE

GRUPO DE BAILADO DE MATOSINHOS

Coreografia e Figurino: Luísa Ramos


Execução: Maria Luísa

*
BAILADO BRANCO
Música: Extractos de vários compositores.
Intérpretes: Cristina Ribeiro, Margarida Almeida, Isabel Roscano, Paula
Faria, Lídia Reynal, Paula Grilo, Lígia Pedra e Paula Rocha.

TOQUE CLÁSSICO

Música: Paganini.
Intérpretes: Luísa Ramos, Lígia Pedra, Margarida Almeida, Maria Inês
Pereira, Paula Faria, Paula Grilo e Paula Rocha.

PAS DE DEUX

Música: Joan Baez.


Intérpretes: Cristina Ribeiro e António Pereira.

SONHO

Música: Strawinsky.
A menina: Paula Faria.
Alma gémea: Paula Grilo.
Sombras: Inês Pereira, Lígia Pedra e Paula Rocha.

CISNE

Música: Saint-Saëns.
Intérprete: Paula Faria.

FRUSTRAÇÃO

Música : Dvorak.
Intérpretes: Luísa Ramos, Cristina Ribeiro, Paula Faria, Inês Pereira.
Paula Grilo, Lígia Pedra e Paula Rocha.

— 731
II PARTE

CORAL VERA CRUZ

I
MOTETO — Michelot
SANCTUS — Duarte Lobo
SANTÍSSIMA — Harm, de Mário Sampayo Ribeiro
ADORAMUS TE —G. P. da Palestrina
LE JÉSUS EST NÉ...—(Spiritual Negro) — Harm, de M. Dautremer
AH! VINDE TODOS — Harm, de F. A. Gevaert

II

CANÇÃO DAS SACHAS — F . Lopes Graça


MARIA DA CONCEIÇÃO — F. Lopes Graça
CANTO DO NATAL — Harm, de Mário Sampayo Ribeiro
CANÇÃO DA VINDIMA —F. Lopes Graça
NATAL DE ELVAS — Harm, de Mário Sampayo Ribeiro
TIA ANICA DE LOULÉ — Harm, de Mário Sampayo Ribeiro
CANÇÃO ALEGRE DO NATAL -Harm, de F. A. Gevaert
MACHADINHA — Harm, de Mário Sampayo Ribeiro

Direcção artística de FERNANDO DE MORAES SARMENTO


Apresentação de EVANGELISTA DE MORAES SARMENTO

III PARTE

PROJECÇÃO DE FILMES

«SAL, DURO SAL»


«A FESTA DA RIA»

Realizados e gentilmente cedidos pelo conhecido cineasta amador aveirense


MANUEL PAULA DIAS.

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— 733
5. INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS JORNADAS. VOTO FINAL

A tão curta distância da semana das JORNADAS não será seguro


retirar da sua organização conclusões definitivas. Talvez a distância
focal não seja a suficiente para dar a imagem, correcta do objecto.
Todavia, alguns ensinamentos imediatos se podem colher das
JORNADAS.
Em primeiro lugar, verificou-se ser possível, mesmo sem insta-
lações adequadas, aproveitando por isso a cooperação de outras
Escolas (no nosso caso Universidade, Conservatório e Salão Cultural
da Câmara Municipal) e das instituições e empresas locais realizar
um Congresso com amplitude das JORNADAS DE CONTABILIDADE.
Não falaremos de alguns aspectos negativos que os houve.
A reduzida capacidade hoteleira da cidade ressentiu-se e criaram-se
alguns problemas de alojamento de congressistas. Tão pouco fala-
remos nas dificuldades de distribuição dos resumos das comunicações
e relatos gerais com a antecedência devida, para o que contribuiu
também o atraso no envio dos originais à Comissão Organizadora.
Porém e apesar de tudo quer-nos parecer que as JORNADAS DE
CONTABILIDADE foram uma pujante manifestação dos contabilistas
portugueses que conseguiram congregar a uma mesma mesa, conta-
bilistas, economistas, técnicos de contas, matemáticos, sociólogos,
estatísticos, etc., num esforço comum e numa interdisciplinaridade
que quanto a nós só pode produzir bons frutos à Contabilidade Na-
cional.
Assim sendo e por isso este SECRETARIADO exprime um voto
que parece ser o voto dos contabilistas portugueses:
O de que a iniciativa tenha continuidade sendo tomada em mãos
pelo Instituto do Porto ou de Lisboa ou ainda em alternativa trans-
formar as Jornadas, de nacionais, em. Luso-Espanholas, para o que
parece poder contar-se com o concurso amigo do Prof. Fernandez
Pena.
Eis o voto do SECRETARIADO não porque a tarefa seja apete-
cida e fácil mas sim porque é — assim o cremos — o sentir dos con-
tabilistas portugueses.

6. AGRADECIMENTOS

Finalmente, impõem-se palavras de sincero agradecimento:


— Aos autores das comunicações que com o seu saber e com-
petência muito contribuíram para o nível científico e té-
cnico atingido nas JORNADAS;

734 -
— Aos presidentes e secretários das Mesas que souberam con-
ferir aos trabalhos a dignidade e a organização devidas;

— Ao Professor Martim Noel Monteiro por amavelmente ter


aceite presidir à 2.a MESA de trabalhos embora, por mo-
tivo de doença fosse inesperadamente impedido de parti-
cipar. Este o motivo por que aparecem as l. a e 2.a MESAS
a trabalharem sob uma única presidência;

— À Fundação Calouste Gulbenkian pelo subsídio concedido


para a feitura das presentes ACTAS;

— Ao Ministério da Educação e Investigação Científica pelos


subsídios atribuídos às JORNADAS;

— Aos funcionários destacados no Secretariado: D. Idalina


Ferreira, Sr. Fernando Peixe e D. Leonor Cardoso pela
dedicada colaboração prestada às JORNADAS bem assim
ao restante pessoal docente, administrativo e auxiliar do
ISCAA;

— À Rádio, à Televisão e Imprensa Diária e Regional pela


ampla cobertura que fizeram do acontecimento;

— Aos órgãos da imprensa técnica:

Jornal do Técnico de Contas e da Empresa, de Lisboa;


Contabilidade e Finanças, da Associação Portuguesa
de Contabilistas;
Revista de Contabilidade e Comércio, do Porto;
Técnica Contable, de Madrid;
Boletim da Sociedade Portuguesa de Contabilidade, de
Lisboa;
Jornal de Contabilidade, da Associação Portuguesa dos
Técnicos de Contas (APOTEC)/de Lisboa;
Boletim do Sindicato dos Contabilistas do Município do
Rio de Janeiro;
Mensário do Contabilista, do Sindicato dos Contabilistas
de São Paulo (Brasil) ;
Projecção. Revista Brasileira de Tributação e Econo-
mia, de Brasília;

— 735
Boletim do Auditor Independente, publicação do Insti-
tuto dos Auditores Independentes do Brasil, de São
Paulo;
Revista Paulista de Contabilidade, de S. Paulo (Brasil),
pelas suas atentas e cuidadas reportagens.

Registamos, também, o telegrama de agradecimento e recor-


dação enviado ao Senhor José Henrique Garcia, fundador da Revista
de Contabilidade e Comércio, do Porto, redigido nos seguintes termos:
«Interpretando o sentir da Comissão Organizadora e de
numerosíssimos participantes das JORNADAS DE CONTA-
BILIDADE recordamos nesta magnífica hora altos serviços
prestados à Contabilidade Portuguesa pela Revista de Con-
tabilidade e Comércio, saudamos V. Ex.a e pedimos aceite a
expressão do nosso apreço e reconhecimento.»

7. MENSAGEM DO BRASIL

Finalmente, transcrevemos a tocante MENSAGEM que o insigne


professor catedrático A. Lopes de Sá, do Brasil, teve a gentileza de
dirigir aos contabilistas reunidos em Aveiro.
Tal MENSAGEM — inútil recordá-lo — encheu de júbilo o coração
dos presentes nas JORNADAS por ser magnífico testemunho da boa
cooperação existente entre os cultores da Contabilidade do Brasil e
Portugal.
Ao incluir nas ACTAS das JORNADAS tão significativa MENSA-
GEM queremos também, prestar calorosa e sincera homenagem aos
contabilistas do País Irmão certos de que unidos poderemos alimentar
a esperança de uma Contabilidade que orgulhe as tradições dos seus
cultores de língua portuguesa.
Os contabilistas portugueses rendem assim o seu preito de gra-
tidão aos Colegas brasileiros e do coração expressam o seu voto de
que tão afectuosa cooperação permaneça e se multiplique.

Eis o texto da referida MENSAGEM:


Mensagem aos Contabilistas reunidos em AVEIRO
para a Jornadas de Contabilidade

O convite que me fazem os ilustres patrocinadores e coordena-


dores das Jornadas de Contabilidade, muito representa para mim.
Só mesmo a impossibilidade material do tempo impede-me a pre-

736 -
sença física, todavia, espiritual e mentalmente aqui me encontro,
nesta Mensagem.
Espero que em outra oportunidade possa comparecer.
Envio-lhes, todavia, para leitura, trabalhos que acabo de pro-
duzir e que representam o pensamento nosso sobre especialização
de nossa disciplina.
Se possível, gostaria que um deles, para grande honra minha,
fosse lido pelo egrégio e grande mestre português o Prof. Martim
Noel Monteiro.
Tal mestre, como o ínclito Prof. Dr. F. V. Gonçalves da Silva
e o eminente Prof. Dr. Rogério Fernandes Ferreira, são hoje os
intelectuais lusitanos da Contabilidade mais homenageados e feste-
jados entre nós, cá no Brasil.
O entrelaçamento de nossas comunidades estreita-se, através dos
luminares e para alegria nossa desenvolve-se, cada vez mais, com
maior propriedade.
Encaminho-lhes, também, trabalho do ilustre professor doutor
Hamilton Parma, recém-produzido e que apresenta enfoques mo-
dernos de nossas técnicas.
Espero, desta forma, ainda que em parte, ter atendido à solici-
tação cultural e não afasto a possibilidade de em futuro próximo
estar entre os colegas portugueses.
Ao agradecer-lhes, pleno de uma euforia natural, de quem re-
conhece no gesto dos amigos a homenagem da classe contábil de
Portugal ao Brasil, auguro-lhes êxito e renovo minhas mais profundas
esperanças no destino de uma Contabilidade que orgulhe as tradições
de seus cultores de língua portuguesa.

47 - 737
12
Lista dos Participantes
ABRANTES, Carlos Manuel Ferreira — Contabilista — Rua Silva Carvalho, n.° 145-
-4.0-A - LISBOA.
ABRANTES, Élio Joaquim Marques — Professor do Ensino Secundário — Redonda
-BELAZAMA E CHÃO.
ADÃO, António Manuel da Cruz Ramos — Bacharel em Contabilidade e Adminis-
tração—Avenida Mário Sacramento, n.° 19 —ÍLHAVO.
AFONSO, António José — Professor da Escola Industrial e Comercial de Viseu —
VISEU.
AFONSO, Luís Esteves — Licenciado — Apartado 11 —SANTA IRIA AZÓIA.
AGUIAR, Amílcar Alves de —Rua da Bombarda, 13-c/v-Drt.° — LISBOA-1.
.ALMEIDA, Carlos Alberto Ribeiro de — Aluno do Instituto Superior de Contabili-
dade e Administração de Aveiro —Alta Vila, n.° 91 —ÁGUEDA.
ALMEIDA, Domingos Gomes Ferreira de —Avenida da Imaculada Conceição,
453-r/c.-Esq.° — BRAGA.
ALMEIDA, Fernando Manuel Martins Nunes de — Contabilista — Segadães —MOU-
RISCA DO VOUGA.
ALMEIDA, Luís Chaves de — Licenciado em Ciências Económicas e Financeiras —
Rua Silva e Albuquerque, 19-2.°-Esq.° — LISBOA-5.
ALMEIDA, Manuel Augusto Seabra de —Chefe de Serviços d e Contabilidade de
Custos e Informação — SIS - Veículos Motorizados, Ltd.a, Anadia — Rua Posta
Cavador, 4-2.°-Esq.° — ANADIA.
ALMEIDA, Maria Emília Félix de —3. a Oficial, Serviços Médico-Sociais — Con-
tabilista — Rua do Vale — FERMELA.
ALMEIDA, Maria Helena Pereira de — Estudante — Avenida Dr. Lourenço Pei-
xinho, 134 —AVEIRO.
ALMEIDA, Maria Natália Bravo Santos de —Licenciada em Gestão e Adminis-
tração de Empresas — Avenida Duque de Loulé, 86-l.°-Esq.° — LISBOA.
ALMEIDA, Teófilo Manuel da Silva — Contabilista — Rua Padre Costa, 1218-2.°-
Esq.° —S. MAMEDE DE INFESTA.
ALVES, Fernando Francisco Marques — Técnico Economista do Instituto de Apoio
às Pequenas e Médias Empresas Industriais — Rua Azevedo Coutinho, 39-5.°
— PORTO.
ALVES, Licínio Pereira — Guarda-Livros — Campimar, Ltd.a — CANTANHEDE.
ALVO, José Luís Simões Pão —Bacharel em Contabilidade — Adjunto do Director
do Gabinete de Auditoria — Rua das Pretas, 16-3.°-Esq.° — LISBOA.
AMAT DE LÉON, Evaristo — Instituto de Planificación Contable — Madrid.

- 741
AMORIM, Amílcar — Professor do ISCAA, U. A. — Casa dos Pinheiros — CANE-
LAS/SALREU.
AMORIM, Celina da Conceição Duarte Rodrigues de — Estudante — Rua Cândido
dos Reis, 127 — AVEIRO.
ANDRADE, Alfredo do Carmo — Empregado de Escritório — Praça Dr. Ferreira
Soares, 73 —AVEIRO.
ANDRADE, António Rocha — Professor do ISCAA — Avenida Lourenço Peixinho,
159 A 3.°-Drt.° — AVEIRO.
ANDRADE, Fernando de Azevedo — Professor Orientador de Estágio de Conta-
bilidade da Escola Industrial e Comercial de Viseu —Rua da Paz, 6-3.° —
VISEU.
ANDRADE, Hilário Antunes de — Contabilista — Avenida Santos Graça, 27-2.°-
Esq.° — PÓVOA DE VARZIM.
APRESENTAÇÃO, Francisco Ferreira d' — Contabilista — Rua João Antunes Gui-
marães, 37 — BRAGA.
ARAÚJO & SOBRINHO, SCRS. — Equip. Nixdorf Computer — Rua Júlio Diniz, 826
— PORTO.
ARRANHA, Manuel S. Santos — Assistente do Gestor Económico da Lever — Largo
Monterróio Mascarenhas, 1 — LISBOA.
ASSIS, Custódio Rodrigues de Jesus — Contabilista — Rua Humberto Delgado,
139-6.°-Drt.° — COIMBRA.
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CONTABILISTAS — Rua dos Douradores, 20-1."
— LISBOA-2.
ASSUNÇÃO, Manuel David R. L. — Economista — Avenida República, 1152-4.°-Esq.°
- V I L A NOVA DE GAIA.
BAGANHA, Manuel Duarte — Professor da Faculdade de Economia do Porto —
Rua Arquitecto Marques da Silva, n.° 285-3.°-C. — PORTO-2.
BAGUENIER, Henri — Rua das Praças, 554.° — LISBOA-2.
BARATA, Alberto da Silva — Contabilista e Professor do ISCAL — Avenida Es-
tados Unidos América, 17-3.°-Esq.° — LISBOA-5
BARATA, Carlos Filomeno-Contabilista —Nestlé —AVANÇA.
BARBAS, José Luís Mesquita — Licenciado em Finanças — Sipe, SARL. — CAR-
CAVELOS.
BARRETO, Francisco José Louro de Miranda — Contabilista — Rua do Lou-
reiro, 3 —AVEIRO.
BASTOS, Eugénio Resende — Director Adjunto dos Serviços Financeiros — S. JOÃO
DA MADEIRA.
BASTOS, José Ferreira — Frequência ISCAA — Caixa Geral Depósitos--
ÁGUEDA.
BATISTA, António Abel Pereira — Licenciado em Economia pela Universidade
do Porto —Rua 15 de Novembro, 168 —PORTO.
BATISTA, José Pocinho dos Santos — Contabilista — Largo Rafael Bordalo
Pinheiro, 16-LISBOA.
BERTO, Juan Ciscar — Instituto de Planificacion Contable — MADRID.
BESSA, Francisco Batista — Técnico de Contas— Arrotas —POCARIÇA.

742 —
BESSA, Jorge Manuel Pinto — Apartado 40 — CANTANHEDE.
BILÉU, José Luís de Jesus — Técnico de Contas —Bloco C-9, Lote l-6.°-B —
MIRATEJO.
BORGES, Constantino Capitão — Revisor Oficial de Contas —Rua dos Lusía-
das, 28-l.°-Esq.° - LISBOA-3.
BORRALHO, Lenia Maria Magano — Contabilista — Rua Eça de Queirós, 81 —
VERDEMILHO.
BOTELHO, Francisco Gaspar Roseiro — Contabilista — Rua Pedro A. Cabral, 119-
-l.°-Drt.° —COIMBRA.
BRAGA, José Eugénio Almeida Santos — Técnico Economista — Praceta 25 de
Abril, 54-5.°-Drt.° - VILA NOVA DE GAIA.
BRANCO, Manuel Marques — Contabilista — Rua Azenha de Cima, 372 r/c Esq.0
— MATOSINHOS
BRANDÃO, Fernando Teixeira — Professor efectivo da Escola Industrial —
S. JOÃO DA MADEIRA.
BRAZ, Norberto Lopes — Bacharel em Contabilidade — Avenida Marginal, 66-3.°-
-Esq.° —VILA REAL.
BRITES, Francisco de Sousa — Gestor Económico da Lever —Largo Monterróis
Mascarenhas — LISBOA.
BRITO, António Tomé de — Revisor Oficial de Contas — Avenida de Roma,
58-3.°-Esq.° — 1700-LISBOA.
BRITO, César Bento Nunes de — Assistente ISCAC — Licenciado em Economia
— Rua Latrangeiras — Alto S. João — COIMBRA.
BRITO, Fernando Manuel Mano de — Aluno do ISCAA — AVEIRO.
BURROUGHS ELECTRÓNICA (PORTUGAL) S. A. R. L. — Equipamento de Infor-
mática - Rua Gregório Lopes, Lote 1514 (RESTELO) - LISBOA-3.
CABRAL, António José Ascensão — Contabilista — Rua Dr. Alberto Tavares Cas-
tro—OLIVEIRA DO BAIRRO.
CABRITA, Josélia Maria Martins — Licenciada em Organização e Gestor
CABRITA, Josélia Maria Martins — Licenciada — em Organização e Gestão de
Empresas-Avenida 25 de Abril, 53-A4.°-Drt.° -ABRANTES.
CACHO, Alírio Correia da Cruz — Contabilista Cercal — OLIVEIRA DO BAIRRO.
CAEIRO, Maria Antonieta Torres Saraiva — Licenciada em Organização e Gestão
de Empresas — Rua Capitão Mouzinho de Albuquerque, n.° 15-1.° — LEIRIA.
CAESSA, Alberto Jorge Ferreira — Chefe de Secção da Contabilidade — Praceta
José Malhoa, 20-2.°-Esq.° - QUELUZ OCIDENTAL.
CAETANO, António de Sousa Simões — Industrial de Hotelaria — Rua da Pal-
meira, 9 —AVEIRO.
CAMPOS, Rosina Maria da Fonseca — Contabilista — Agras do Norte — ESGUEIRA
— AVEIRO.
CANAO, Licínio Manuel de Jesus — Contabilista — Rua Antero Quental, 52 C/E
— V. N. GAIA.
CAPITÃO, Argemiro Dias Ferreira —Rua Santa Catarina, 895-4.°-Drt.° — PORTO.
CAPUCHO, Leonel dos Santos Lourenço — Técnico de Contas — Avenida 24 de
Julho, 2-2.°-Drt.° — LISBOA-2.

- 743
CARDOSO, António Augusto Cerveira — Aluno do ISCAC — Malaposta — MOGO-
FORES.
CARDOSO, Fernando — Contabilista — Rua Artilharia Um, 106 —LISBOA.
CARIOCA, Manuel Inocêncio — Técnico de Contas — Açafora —S. João dos Lam-
pos - SINTRA.
CARQUEJA, Hernâni Olímpio — Revisor Oficial de Contas —Rua Gonçalo Sam-
paio, 271-1. ° — PORTO.
CARREIRA, Euclides Gonçalves — Economista — Apartado 40 — CANTANHEDE.
CARVALHO, António Joaquim — Licenciado em Economia e Finanças —Rua
Alexandre Herculano, Lote 2 — OEIRAS.
CARVALHO1, António Pires de — Licenciado em Direito e Assistente Eventual
do ISCAC —Rua Gomes Freire, Apartado 2 —COIMBRA.
CARVALHO, José Manuel Duarte de —Estudante ISCAA —Rua 8 de Setembro
- ÁGUEDA.
CARVALHO, José Manuel de Matos — Licenciado em Finanças — Guarda Inglesa
— COIMBRA.
CARVALHO, Orlando Pereira de —Técnico Comercial — Rua Dr. Manuel Rodri-
gues, 16 —COIMBRA.
CARVALHO, Ruy L. F. de — Licenciado em. Finanças, Prof, do ISCAL — Rua
Marquês de Fronteira, 171-1.° — LISBOA-1.
CARVALHO, Rui Sérgio Santos de —Apartado 1—ALHANDRA.
CASALEIRO, Manuel Santiago —Técnico de Contas — Avenida Fernão Maga-
lhães, 252-l.°-sala 3 —COIMBRA.
CASTRO, Angelo de Almeida e —Estudante ISCAA — Avenida Dr. Lourenço
Peixinho, 169-4.°-Drt.° — AVEIRO.
CASTRO, José Luís Campos Vieira de — Licenciado em Economia — Sipe.
S. A. R. L. — CARCAVELOS.
CHENDO, João Fernandes — Licenciado em Finanças — Instituto Politécnico —
COVILHÃ.
CISCAR BERTO, Juan — Instituto de Planificación Contable — MADRID.
CLEMENTE, Jorge Vieira — Contabilista — Apartado 139 —LEIRIA.
COELHO, José Pedro de Oliveira— Contabilista —Borralho —ÁGUEDA.
COELHO, Stélio Amaral da Silva — Técnico Verificador da D. G. Finanças —
Bloco F-l, l.o-Esq.0 Eucalipto-Sul — AVEIRO.
COLAÇO, José António da Silva — Biacharel em Contabilidade — Técnico na
Caixa Geral de Depósitos — Rua João Nascimento Costa N.° 8-3.° — LISBOA-1
COMPANHIA IBM PORTUGUESA, SARL —Praça Alvalade, 7-LISBOA-5.
CONDE, Artur Luas Alves — Travessa do Passolo, 17-1.°-C — LISBOA.
CORDEIRO, Álvaro Manuel — Contabilista — Rua Dr. Adriano Paiva, 107-2.°-Esq.°
PORTO.
COSME, José Fernandes — Fábrica Mendes Godinho, S.A.R.L., Apartado 3 —
TOMAR.
COSTA, António Barbedo —Informática — Rua do Rosário — PORTO.
COSTA, Carlos Alberto0 Baptista da — Contabilista Prof, no ISCAL —Rua Forno
Tijolo, 21-2.° Esq. — LISBOA.

744 -
COSTA, Carlos Barbedo — Contabilista — Rua do Rosário — PORTO.
COSTA, Fernando António Baptista da — Bacharelato em Economia — Rua das
Pretas, 16-3.°-Esq.° — LISBOA.
COSTA, Francisco José Ventura Mendes da — Assistente do ISCAC — Rua do
Brasil 214-2.0-C — COIMBRA.
COSTA, João José da — Contabilista — Rua Gonçalo Cristóvão, 217-13.° — PORTO.
COSTA, José Miguel Carreiras — Professor da Escola Comercial e Industrial de
Viseu - VISEU.
COSTA, José Nogueira da —Professor do ISCAP — PORTO.
COSTA, Manuel Barros da —Café Académico — OLIVEIRA DE AZEMÉIS.
CRAVO, Domingos José da Silva — Contabilista, Assistente ISCAA — Rua do
Carril, 47 —1.° —AVEIRO.
CRAVO, João Marcos da Silva — Assistente do ISCAA —Rua Passos Manuel, 10
-AVEIRO.
CRAVO, Maria do Carmo da Silva —Curso de Contabilidade e Administração —
Rua do Carril n.° 47-2.° — AVEIRO.
CRAVO, Maria Fernanda Duarte Ramalho — Contabilista — Rua do Carril, 47-1.°
— AVEIRO.
CRUCHINHO, Manuel Jorge Pombo — Economista — Avenida Pedro Álvares
Cabral, 21—ÉVORA.
CRUZ, António Ribeiro da — Bacharel em Contabilidade e Administração — Lavan-
deira — VAGOS.
CRUZ, Fernando António Peixe da — aluno do ISCAA —Rua Cimo de Vila, 108
— ÍLHAVO.
CRUZ, Joaquim de Oliveira e — Contabilista e Licenciado em Organização e
Gestão de Empresas — Avenida Lourenço Peixinho, 203 A-Sala 1 —AVEIRO.
CRUZ, José Rodrigues Ferreira — Licenciado em Finanças — Avenida 5 de Outu-
bro, 35-8.° — LISBOA.
CUNHA, Joaquim José da — Docente ISCAA — Rua da Estação Velha — SENHORA
DA HORA.
CUNHA, Manuel Acácio Silva — Contabilista — Rua Garcia da Costa, 44-1.° —
RIO TINTO.
CUNHA, Raul — Contabilista — Rua Mário Sacramento, 40-1.°— AVEIRO.
DELOITTE HASKINS + SELLS, Ltd.a — Rua Silva Carvalho, 234-4.° — LISBOA-1.
DEUS, Eurico Ferreira Ramos de — Contabilista — Rua Domingos Sequeira, 11-
-l.°-Esq.° —LISBOA-3.
DIAS, António Emídio Leal Pereira — Estudante de Economia — Rua Dr. Mário
Sacramento, 96 —AVEIRO.
DIAS, António José Lima Saraiva — Licenciado em Economia —Rua Dr. Antó-
nio de Andrade, 117-VILA DO CONDE.
DIAS, António Manuel Coutinho — Técnico Verificador da Direcção de Finanças
— Bloco F-1-1.°-Esq.° —Eucalipto Sul —AVEIRO.
DIAS, Arlindo Matos — Técnico Economista do IAPMEI —Casas da C P . —PÓ-
VOA DE SANTA IRIA.
DIAS, Hermínio Pedro Simões — Estudante do ISCAC — COIMBRA.

— 745
DIAS, Jorge Eduardo da Silva Ferreira — Licenciado em Economia — Rua Gon-
çalo Cristóvão, 198 — Apartamento 14 —PORTO.
DIAS, José Manuel da Silva Ferreira — Frequência do Instituto Superior de
Contabilidade e Administração — Rua Doutor Alberto Souto, 29-2.°-Esq.°—
AVEIRO.
DIAS, Maria Arrmanda Teixeira Simões — Professora do ISCAA — Travessa do
Mercado, n.° 52 Drt.° —AVEIRO.
DIZ, José Joaquim Afonso — Licenciado em Finanças —Rua Joaquim António
Aguiar, 27-5.°-Drt.° — LISBOA.
DIZ, Maria Odete dos Santos Gonçalves Afonso — Professora Liceal — Praceta
— Varzias, Lote C —QUEIJAS.
DORDIO, Vitor Manuel Candeias — Licenciado em- Economia — Quinta da Vista
Alegre —Lote 158-1.° — ÉVORA.
DÓRIA, António Álvaro — Técnico de Contas — Avenida Central, 60-1.° — BRAGA.
DUARTE, António Maia — Gerente Comercial — Vilar — Glória — AVEIRO.
DUARTE, António Rainho — Técnico de Contas —Rua da Alagoa — FERMEN-
TELOS.
DUARTE, Hernâni Manuel da Silva — Economista da D. G. C. I. — Rua Di-
reita, 180 —ÍLHAVO.
DUARTE, Jerónimo David Caetano — Licenciado em Finanças — Largo Monter-
roio Mascarenhas —LISBOA.
DUARTE, Maria Isabel Nobre — Licenciada em Finanças — Escola Industrial
e Comercial — LEIRIA.
EIRA, Manuel Fernando Peixoto — Economista — Avenida Dr. Gaspar Lemos, 17-
-2.°-Drt. — FIGUEIRA DA FOZ.
ESTEVÃO, Manuel Jorge — Licenciado em Finanças — Rua dos Poços, 12-1.°
— LEIRIA.
ESTEVÃO, Natália Margarida Lagartixa Guerreiro — Licenciada em: Organiza-
ção e Gestão de Empresas — Escola Industrial e Comercial — LEIRIA.
ESTIMA, Alberto Manuel Rodrigues — Contabilista — Ao c/ de Marques, Ltd a
ÁGUEDA.
ESTIMA, Maria Vera Rodrigues — Empregada de Escritório — Estudante — Rua
F. C. Albano de Melo, 110 —ÁGUEDA.
ESTIMADO, José dos Santos Ferreira — Chefe de Escritório — Rua dos Cabe-
ços, n.° 24, r/c Esq.0 — MAFRA.
FADIGAS, Joaquim dos Anjos —Prof, da Esc. Ind. e Com. Figueira da da Foz
— Rua «A Voz da Justiça», 93 — Tavarede — FIGUEIRA DA FOZ.
FARINHA, Fernando Manuel Conde — Licenciado em. Finanças —Rua de An-
gola, n.° 2 — MONTEMOR-O-NOVO.
FARO, Alexandrino Costa Lopes — Frequência do Instituto Comercial — Rua
Padre J. Pacheco Monte, 120-1.°-Drt.° — PORTO.
FERNANDES, Agostinho de Jesus Rodrigues — Auditor Contabilístico — Rua de
Cedofeita, 455-2.°-Drt.° — PORTO.
FERNANDES, Flora Augusta Ferreira Teixeira — Curso do Instituto Superior
de Contabilidade e Administração de Empresas — Avenila Praia da Vitó-
ria, 48-3.°-Drt.° — LISBOA.

746 -
FERNANDES, José Domingos da Silva Fernandes — Economista — Rua Damião
de Góis, 484 —PORTO.
FERNANDES, Pedro Duarte — Técnico de Contas — Avenida Dr. E. Ribeiro, 12-
3.0 Drt.° — ÁGUEDA.
FERNANDEZ PENA, Enrique — Catedrático de Contabilidade de Custos, da
Escuela de Estúdios Empresariales da Universidade Complutense de Madrid
- N u n e s de Balboa, 12-1.°-A - MADRID, 1.
FERREIRA, Abel João da Silva Soares — Contabilista — Rua «O Primeiro de
Janeiro», 125-4.°-Drt.°-F — PORTO.
FERREIRA, António Estevão da Naia — Licenciado em Finanças — Rua Manuel
Luís Nogueira, 72/74 — AVEIRO.
FERREIRA, António Vaz — Licenciado em Economia — Avenida Navarro, 81-
-5.°-Esq.° — COIMBRA.
FERREIRA, Fernando Américo Magalhães — Serviços Administrativos de SO-
BRINCA — AZEVEDO — CALDAS DE S. JORGE.
FERREIRA, Henrique Quintino — Técnico economista da D. G. C. I. — Rua de
Alfândega, n.° 2-LISBOA.
FERREIRA, Jorge Fonseca — Chefe da Contabilidade Financeira Lever —Largo
Monterroio Mascarenhas, 1 — LISBOA.
FERREIRA, José Carlos Fachada — Técnico Comercial — Rua Dr. Manuel Rodri-
gues, 16 —COIMBRA.
FERREIRA. José Ferrão Henriques — Licenciado em Economia —Rua Manuel
Firmino, n.° 10 — AVEIRO.
FERREIRA, Júlio Manuel Caetano — Contabilista — Rua Coronel Pereira da
Silva, 4-2.°-Drt.° - LISBOA-3.
FERREIRA, Maria de Fátima Farol Vaz — Licenciada em Organização e Gestão
de Empresas — Largo Monterroio Mascarenhas — LISBOA.
FERREIRA, Maria Isabel dos Santos — Contabilista — SEREM DE BAIXO —
MOURISCA DO VOUGA.
FERREIRA, Rogério Fernandes — Prof. Univ. Católica —Av. EUA, 97-l.°-Esq.
— LISBOA-5.
FERREIRA, Virgílio — Economista — Rua do Rosário — PORTO.
FERRO, António José Amaral — Economista — Rua Mil Fontes, 32 —PORTEL.
FERROLHO, Júlio César Duarte —Contabilista, Assistente do ISCAC — Rua Vale
Formoso, 25-l.°-Esq.° — LISBOA.
FILIPE, José Gonçalves — Apartado, 3 — TOMAR.
FONSECA, José Eurico Tavares Moutinho da — Professor do Ensino Secundário
- P . República - OLIVEIRA DO BAIRRO.
FONSECA, Manuel Maria Portugal da — Licenciado em Economia — Rua Jorge
de Lencastre, 3 —AVEIRO.
FORTES, João Serrana Naia — Contabilista, Assistente no ISCAA — Avenida 25 de
Abril, 72-3.° - AVEIRO.
FORTUNA, Fernando Lucas — Economista — Estrada da Sacor -^ GAFANHA DA
NAZARÉ.
FORTUNATO, Maria da Conceição de Jesus — Licenciada em Finanças —Rua
da Traqueira, 62-2.° - V I L A NOVA DE GAIA.

— 747
FRANÇA, Jacinto Gonçalo de Freitas — Licenciado em Finanças — Rua Mon-
teiro Lima, n.° 14 —ABRANTES.
FRANCISCO, Manuel Augusto dos Milagres — Guarda Livros — Campimóvel Ltd
- CANTANHEDE.
FREIRE, José Manuel Vicente da Silva — Licenciado em Finanças — INAPA —
Ind. Nacional de Papéis — SETÚBAL.
GALA, Fernando Domingues — Director Comercial — R. U. G. G. F , 42-5 °-Esq
-AVEIRO.
GAMA, Maria de Fátima de Sousa Pinto — Estudante I. S. C. A. A. — Estrada do
Furadouro — OVAR.
GANDARINHO, Maria Lúcia dos Anjos — Bacharel em Contabilidade — Rua
Hintze Ribeiro, 63 —AVEIRO.
GARCIA, António Domingos Henrique_ Coelho —Licenciado em Ciências Econó-
micas e Financeiras — Urbanização da Portela, Lote 147-8.°-Esq. — SACA-
VÉM.
GARRUÇO, Carlos — Estudante — I. S. C. A. C. - Aguada de Cima —ÁGUEDA.
GERALDO, Manuel José Palhinha — Contabilista—Avenida Marginal, 56-r/c-Drt °
DAFUNDO.
GERALDO, Maria dos Remédios de Almeida Morgado Palhinha — Contabilista —
Avenida Marginal, 56-r/c-Drt.° — DAFUNDO.
GOMES, Aquiles — Doutor Engenheiro — CIFAG — Rua Cidade Beira lote 20-6.° C
— LISBOA-6.
GOMES, Joaquim Alfredo Gonçalves da Silva — Licenciado em Finanças —Rua
Coelho da Rocha, n.° 67-3.° — LISBOA.
GOMES, Joaquim Martins — Empregado de Escritório na firma COLEP —Apar-
tado 14 - VALE DE CAMBRA.
GOMES, José Ferreira — Técnico de Contas — Rua 7, n.° 497 —ESPINHO.
GONÇALVES, António Manuel Duarte — Licenciado em Finanças — Avenida Ca-
louste Gulbenkian, 55-3.°-Esq.° — COIMBRA.
GONÇALVES, José Luís d e Oliveira — Estudante do ISCAA — Associação de
Estudantes — AVEIRO.
GONÇALVES, José Manuel Teixeira — Economista — Rua Pedro Hispano, n.° 1268
- PORTO.
GOUVEIA, Edgar da Rocha — Contabilista — Urbanização da Portela — Lote 186-
-l.°-Esq.° — SACAVÉM.
GOUVEIA, Manuela — Economista — Rua do Rosário — PORTO.
GREGO, Américo Vieira Fernandes — Contabilista — Travessa Rua Adriano
Serra, 2-r/c — ESGUEIRA.
GREGO, Maria Odete da Silva Cardadeiro Fernandes — Contabilista — Travessa
da Rua Adriano Serra, 2-r/c — ESGUEIRA.
GUARDADO, Joaquim Gomes — Avenida Dr. Antunes Guimarães, 776 —PORTO.
GUEDES, Manuel Ribeiro da Silva — Técnico de Contas — R. Lopes, 106-r/c-Drt.c
— LISBOA.
GUIMARÃES, Justino Artur de Seixas Correia — Técnico de Contas — Rua Fer-
reira de Castro, 15-1.° —AVEIRO.
GUIMARÃES, Maria Luísa Viana Azevedo — Rua Dr. Pedro Augusto Fer-
reira, 97-2.°-Esq.° — PORTO.

748 —
GUIMARÃES, Raul Corrêa de Sousa — R. 0. C, Bacharel em Contabilidade e
Administração — Rua Pedro Augusto Ferreira, 97-2.°-Esq.° — PORTO.
HELENO, Fernando Simões —- Licenciado em Finanças — Avenida Copacabana,
Lote 2-3.°-Esq.° — OEIRAS.
HENRIQUES, Abílio Ançã — Licenciado em Finanças —Rua Possidónio da
Silva, 62-4.°-Drt.° — LISBOA-3.
HILÁRIO, Filomeno de Oliveira Silva — Contabilista — Banco de Portugal —
LISBOA.
JANUÁRIO, José Joaquim — Economista — Rua Sá da Bandeira, 651 — PORTO.
JERÓNIMO, Ricardo Patrício Cardoso — Licenciado em Organização e Gestão
de Empresas —Rua Dr. Miguel de Almeida, 12-1.° —ABRANTES.
JESUS, Fernando de — Professor Catedrático do Instituto Politécnico da Covi-
lhã—Rua Eiffel, 15-6.° —LISBOA-1.
JESUS, José de — Contabilista — Rua de Ferragial, 33-4.° — LISBOA.
JESUS, Maria Antónia Jorge de — Licenciada em Economia — Avenida Duque de
Loulé, 86-l.°-Esq.° - LISBOA.
LAGARTO, Fernando António Barros —Curso Comercial — Gafanha da Nazaré
— AVEIRO.
LEAL, Alfredo Manuel Ferreira — Contabilista — Rua Nova das Barrocas, — 6.°-
-2.°-Drt.° —AVEIRO.
LEITÃO, Juvenal Júlio Figueiró — Contabilista — SEVER DO VOUGA.
LEMOS, Policarpo — Técnico de Contas —Rua Vasco da Gama, 12-A —S. JOÃO
DE CAPARICA — TRAFARIA.
LEÓN, Evaristo Amat de — Instituto de Planificación Comptable — MADRID.
LIMA, Emanuel Augusto Vidal — Técnico Economista da D. G. C. I —Praça
da Pedra Verde, 191-4.°-Drt.° — PORTO.
LIMA, Luís Manuel Pereira — Técnico de Contas — Urbanização Santa Isabel,
Lote 7-3.°-Esq.° — COIMBRA.
LIMA, Luís Quintino dos Santos — Economista — R. João Correia, 211 — S. JOÃO
DA MADEIRA.
LOBO, José Fernandes Barros — Técnico de Contas — Rua Cândido Figueiredo,
Edif. Benguela Esc. B, ll.°-J —LISBOA-4.
LOBO, Nuno José Faria — Assistente de Auditoria — Rua José Esteves, 27-l.°-Esq.°
— LISBOA.
LOPES, Afonso José Tito —Curso de Contabilista — Bairro Novo, 46-l.°-Drt.°
-AZURVA.
LOPES, Alberto Henriques Figueiredo — Licenciado em Economia — Bairro do
Serrado, Bloco 3-A-3.°-Drt.° — VISEU.
LOPES, Francisco Manuel Caldeira — Professor Escola Industrial S. João da
Madeira —Rua Manuel Luís Leite Júnior, Lote 8 —S. JOÃO DA MADEIRA.
LOPES, Manuel Fernandes — Técnico de Contas — Apartado 20-3770 — OLIVEIRA
DO BAIRRO.
LOURA, José Manuel Romão Gonçalves — Aluno do ISCAA — Rua Antónia Rodri-
gues, 77 —AVEIRO.
LOUREIRO, Adalberto Rodrigues — Contabilista — Rua das Garridas, n.° 2 —
LISBOA-4.

— 749
LOUREIRO, Maria C eleste — Rua das Garridas, n.° 2 —LISBOA­4.
LOURO, José Manuel de Oliveira — Bacharel em C ontabilidade e Administração
— Rua Tomás Ribeiro, 97 — LISBOA.
LUCAS, Rui José Rodrigues — Estudante — Rua de Leiria, 31­­ALC OBAÇA.
LÚCIO, Abel Folhas — Técnico de C ontas — Borralha — ÁGUEDA.
LUSO, C arlos Alberto Gomes —Rua João XXI, 2­2.°­Esq.° — LEIRIA.
LUSO, Maria Guilhermina Amado da C ruz — Rua João XXI 2­2.°­Esq.° — LEIRIA.
LUZ, Hugo Abreu da — Contabilista — Urbanização da Portela, Lote 135­E/C
— SACAVÉM. r
MACEDO, Adélio de Oliveira — Revisor Oficial de C ontas, Economista — Rua
Santo António, 238 —S. Mamede de Infesta — MATOSINHOS.
MACEDO, Mário Duarte Morais — Contabilista — Rua 1.° de Maio, 322­3.°­Esq <
— MATOSINHOS.
MACHADO, C arlos Manuel Ferreira — Licenciado em Economia —Rua Frei José
Vilaça, n.° 14 —BRAGA.
MACHADO, Eleutério Ferreira — Professor do ensino particular — TROVISCAL
— OLIVEIRA DO BAIRRO.
MACHADO, Ivo Navarro — Bacharel em C ontabilidade — Rua C omandante Rodha
e C unha, n.° 11 —AVEIRO.
MACHADO, Manuel António Nunes Marques, 5.° ano Faculdade de Economia­­
Rua Domingos Pinto Bastos — ÍLHAVO.
MADUREIRA, Mário António Soares — Professor C atedrático do Instituto Poli­
técnico da C ovilhã — Avenida Guerra Junqueiro, 10­4.°­Drt.° — LISBOA­1
MAIA, António Ascenso da —Bacharel em C ontabilidade■— Rua Frei Fortunato,
168­1.° —ALCOBAÇA.
MAIA, Luís Manuel Susana e — Contabilista — Ninho d'Âguia — ÁGUEDA.
MAIA, Rosa do C armo de Oliveira — Contabilista — Rua de Luís de C amões —
Guetimi — ESPINHO.
MAIA, Rosa Sindazunda Roque da —Aluna do ISC AA —Rua Dr. Edmundo Ma­
chado, n.° 9 —AVEIRO.
MARCELINO, José Manuel Vaz — Contabilista — Rua das Andorinhas, 4 —SE­
TÚBAL.
MARINHO, António da Silva Teixeira — Contabilista — Rua Antónia Rodrigues, 88
— AVEIRO.
MARQUES, José Luís Lopes — Director do Jornal do Técnico de Contas e da
Empresa e da C ontatec — Centro de C ontabilidade e de Finanças, Ltd.a —
Rua das Pretas, 26­2.° — LISBOA.
MARQUES, José Maria da Silva — Estudante ISC AA — Rua Dr. Mário Sacra
mento, n.° 145 —AVEIRO.
MARQUES, Maria Fernanda Barata — Bairro Luso — Apartado 1 —PRAIA DA
GRANJA.
MARTINHO, Humberto Pereira — Assistente do ISC AA —Verdemilho— AVEIRO.
MARTINS, C ésar Lutero C osta — Contabilista — Rua Azevedo C outinho, 39­3.° ­­
PORTO.

750 —
MARTINS, Esmeralda dos Santos Freire — Professora Efectiva do Ensino Básico
— Rua da Pilota — Verdemilho — AVEIRO.
MARTINS, Ester da Conceição Rocha — Contabilista — Avenida Araújo e Silva —
AVEIRO.
MARTINS, Isidoro Campos — Técnico de Contas — SIPE, SARL —CARCAVELOS.
MARTINS, José Augusto Gonçalves — Licenciado em Economia — Rua Nau Vi-
tória, 1009-1.° —PORTO.
MARTINS, Manuel Alberto — Bacharel em Contabilidade — Rua Falcão Resende,
27-1.° —COIMBRA.
MARTINS, Manuel Trindade — Economista — Machinhata da Seixa — OLIVEIRA
DE AZEMÉIS.
MARTINS, Raul Ventura — Licenciado em Finanças —Rua da Pilota — Verde-
milho — AVEIRO.
MARUJO, Dagoberto Manuel de Carvalho Chaves — Licenciado em Finanças —
Rua dos Moinhos, 57 —TOMAR.
MATIAS, Aristides Ferreira — Curso Comercial — Caves Império — SANGALHOS.
MATOS, José Augusto Graça —Curso Geral do Comércio — Largo Petiscalho —
GRANJA DO ULMEIRO.
MATOS, Luís Augusto Eça de — Contabilista — Avenida D. João V, 7-l.°-Esq.° —
DAMAIA.
MATOS, Manuel de Sá — Contabilista — Alcides Branco —VILA DA FEIRA.
MENDES, José Ilídio — Licenciado em Finanças —Rua Camilo Castelo Branco, 43
— LISBOA.
MENDES, Liliete das Dores — Licenciada em Gestão de Empresas — Rua Renato
Araújo —S. JOÃO DA MADEIRA
MEIRELES, Félix Miranda — Contabilista e Economista — Travessa da Bouça, 37
— CUSTÓIAS - MATOSINHOS.
MELO, José Neves de —Curso Comercial — Avenida 25 de Abril, 46-2.°-Esq.° —
AVEIRO.
MELO, Manuel Artur de — Curso Comercial — Lacto Açoreana, Ltd.a — Ribeira
Grande —S. MIGUEL — AÇORES.
MENESES, Miguel Ângelo Cardoso de — Curso Comercial — Caves Império —
SANGALHOS.
MIGUEL, Artur Ramalho — Técnico de Contas —Rua Pires de Campos — VIEIRA
DE LEIRIA.
MIRANDA, José Soares — Director Comercial — Borralha — ÁGUEDA.
MIRANDA, Maria Dulce Simões de Santiago — Licenciada em Finanças — Fo-
gueira — SANGALHOS.
MOCTEZUMA, Rodrigo de — Economista — Av. D. Rodrigo da Cunha, 24-l.°-Esq.°-
-Sul — LISBOA-5.
MODESTO, José Avelino Rodrigues — Contabilista — Rua Senhora da Glória, 102-
r/c. — LISBOA.
MONTEIRO, José Coelho — Assistente do ISCAC — Licenciado em Finanças —
COIMBRA.

- 751
MONTEIRO, José Humberto Angélico — Finalista do ISCAP — Rua das Fontainhas,
11 -4.°-Drt.° - PORTO.
MONTEIRO, Martim Noel — Professor de Contabilidade e Perito Contabilista —
Rua Guilherme Faria, 4-l.°-Esq.° —LISBOA-5.
MORAIS, Manuel da Fonseca — Técnico de Contas — ARRANCADA DO VOUGA.
MORAIS, Maria Teresa da Silva — Licenciada em Organização e Gestão de Em-
presas—Fundo da Vila, 97-B-3.°-Esq.° — S. JOÃO DA MADEIRA.
MOREIRA, Helena Maria da Silva Gonçalves — Licenciada em Finanças — Ave-
nida Praia da Vitória, 48-3.°-Drt.° — LISBOA.
MOREIRA, José Emídio da Silva — Contabilista — Rua de Cedofeita, 455-2.°-D 5 —
PORTO.
MOSTARDINHA, António Figueira — Empregado Bancário — Banco Nacional Ul-
tramarino — AVEIRO.
MOTA, Carlos Figueiredo — Professor do ISCAP —Rua dos Combatentes, 100 —
VILA NOVA DE GAIA.
NEGRAIS, Vítor da Conceição — Curso do ISCAA —Rua Dr. Mário Sacramento,
71-1.°-Drt.° — AVEIRO.
NEIVA, Alberto Manuel Rendeiro — Contabilista — Oliveirinha — Costa do Va-
lado — AVEIRO.
NETO, Alzira Estima da Silva Santos — Bacharel em Contabilidade — Travessa
Mário Sacramento, n.° 3-2.°-Drt.° — AVEIRO.
NETO, António Rodrigues — Bacharel em Contabilidade — Travessa Mário Sacra-
mento, n.° 3-2.°-Drt.° —AVEIRO.
NEVES, Carlos Júlio Gomes — Estudante ISCAA —AVEIRO.
NEVES, José Augusto Gaspar —Chefe de Serviços — Fábrica Nestlé — AVANÇA.
NOBRE, António José dos Santos — Técnico de Contas — Rua José E. Raposo
Magalhães, 5 —ALCOBAÇA.
NORA, Maximino António Domingues — Contabilista — Avenida da Liberdade, 334
- BRAGA.
NOVO, José António Paiva — Licenciado em Finanças — Largo Monterroio Mas-
carenhas, 1 —LISBOA.
NOVO, José Eduardo da Rosa — Contabilista — Rua João de Deus, 10 — Beco 8
— ÍLHAVO.
NUNES, Leonilde Vitaliano Afonso Baião — Licenciada em Finanças — Escola
Industrial e Comercial — LEIRIA.
NUNES, Luís Manuel Cachudo — Consultor de Gestão — Avenida Luís Bívar, 85-
-l.°-Drt.° — LISBOA.
OLIVEIRA, Almiro de Carvalho — Licenciado em: Economia — Consultor de Infor-
mática de Gestão —Rua 18, 1077-2.°-Esq.° — ESPINHO.
OLTVEIRA, Ana Margarida Leite Gonçalves de — Contabilista — Rua Eng.° Von
Haff, n.° 61 —AVEIRO.
OLIVEIRA, António Tavares da Costa — Contabilista — Rua Joaquim António de
Aguiar, 27-5.°-Drt.° — LISBOA.
OLIVEIRA, José de — Licenciado em Finanças — Instituto Politécnico — COVILHÃ.

752 -
OLIVEIRA, José António Gomes de — Profissional de Seguros — Travessa de
Santo António a Santos, 26-2.°-Esq.° — LISBOA-3.
OLIVEIRA, Manuel Marques de —Técnico de Contas —S. Paio de Oleiros —
LAMEIRO.
OLIVEIRA, Maria João Marques de — Estudante ISCAA — JOINAL — ÁGUEDA.
OLIVEIRA, Sílvio Carvalho — Contabilista — Rua Francisco Sanches, 133-2.° —
PORTO.
PACHECO, Manuel Pereira — Contabilista — Vivenda Ana Cristina, 2.° —PRAIA
DA BARRA.
PAIS, Carlos Alberto Lacerda — Contabilista — Rua Eng.° Oudinout, 52-r/c.-Drt.°
— AVEIRO.
PARMA, Hamilton — Prof. Fac. C. Económicas, U. F. M. G. — Rua Contria, 1337
— Alto Barroca —BELO HORIZONTE — MG — BRASIL 30000.
PEIXINHO, João Manuel de Castro — Estudante do ISCAA —Rua de Sá, 51-A —
AVEIRO.
PENA, Enrique Fernandez — Catedrático de Contabilidade — Rua Nunes de Bal-
boa, 12-1.°-A —MADRJD-1.
PEQUENO, José Paulo da Cruz — Bacharel em Contabilidade — Rua Carlos Mar-
noto, n.° 57 —ÍLHAVO.
PEREIRA, Alexandre Manuel da Silva — ANADIA.
PEREIRA, Américo Agostinho Martins — Bacharel em Contabilidade — Avenida
Dr. Lourenço Peixinho, 256-2.°-B — AVEIRO.
PEREIRA, António José Miranda Poças — Apartado 1 —ALHANDRA.
PEREIRA, João Manuel Esteves — Licenciado em Económicas e Financeiras —
ALFERRAREDE.
PEREIRA, Joaquim' Francisco Lemos — Licenciado em Economia — Rua Cap.
Tenente Oliveira e Cosme, 6-l.°-Esq.° — LISBOA.
PEREIRA, José António Robertes de Araújo — Licenciado em Finanças — Rua
Alves Redol, 9-2.° — LISBOA.
PEREIRA, Licínio de Jesus — Licenciado em Finanças — Quinta dos Capuchos,
Lote 36-l.°-Drt.° — LEIRIA.
PEREIRA, Manuel Estêvão Dias — Guarda-Livros — OIÃ.
PEREIRA, Manuel Henrique de Freitas — Economista da D. G. C. I. — Urba-
nização da Portela, Lote 17-1.°-Drt.° — MOSCAVIDE.
PEREIRA, Maria Liberta Banites da Silva — Técnica de Contas —Rua Cândido
dos Reis, 37 —AVEIRO.
PEREIRA, Maria da Piedade Martins Banheiro Vassalo — Licenciada em Gestão
de Empresas — Praça Alfredo da Cunha, 9-1.°—LISBOA.
PETIM, Américo Alves - Contabilista - Rua B - L o t e 19/21-4.°-A - MONTE FOR-
MOSO - COIMBRA.
PIMENTA, Alberto —Advogado —Rua António Maria Cardoso, 13-2.° - LISBOA-1.
PIMPÃO, António Maia — Licenciado em Economia —Rua Pedro A. Cabral, 56-1.°
— COIMBRA.
PIMPÃO, Maria Guia Silveira Amaral Maia — Contabilista — Rua Pedro Álvares
Cabral, 56-1.°-COIMBRA.

48 - 753
PINA, Manuel Ferreira — Gerente Administrativo — Fogueira — SANGALHOS.
PINHEIRO, António Augusto Leite Torres — Empregado de Escritório — Travessas
— S. JOÃO DA MADEIRA.
PINHEIRO, Artur Agostinho Alves — Director Administrativo — Apartado 31 —
ÍLHAVO.
PINHO, Manuel da Costa — Bacharel em Contabilidade — Monte Lírio — ESPINHO.
PINHO, Maria Adelina de Sousa Zenha e —Bacharel em Contabilidade — Monte
Lírio — ESPINHO.
PINHO, Maria de Fátima Marques Teixeira Lopes — Licenciada em Economia —
Rua do Eng.° Oudinout, 32-1.° —AVEIRO.
PINHO, Milton da Cunha — Técnico de Contas —Rua 28, n. c 583-1.° — ESPINHO.
PINTO, António José Garcia Marques — Chefe de Escritório —S. JOÃO DA
MADEIRA
PINTO, Armando Cravo Miguel —Chefe de Serviços — Mogofores — ANADIA.
PINTO, José Alberto Pinheiro — Economista — Rua Agra do Amial, 129-4.°-Esq.°
— PORTO.
PINTO, Manuel Pedro Garrilho da Silva — Licenciado em Economia — Avenida
Marechal Gomes da Costa, 500 —PORTO.
PINTO, Marina Badalo Ferreira Marques da Silva — Professora — Avenida Ma-
rechal Gomes da Costa, n.° 500 —PORTO.
PINTO, Messias de Sá — Contabilista — Rua António Bessa Leite, 1471-2.°-Esq.° —
PORTO.
PIRES, Albino Cabaço — Professor Assistente do ISCAL —Rua Sousa Pinto,
4-3.°-Drt.° —QUELUZ.
PIRES, Aníbal P. — Eng.° Químico — CNP — Rua República do Uruguai n.° 29-
-2.0-F —1700 LISBOA.
PIRES, António Jacinto Lopes — Contabilista — Rua 5, n.° 387 —ESPINHO.
PIRES, João Manuel de Castro Plácido — Licenciado em Finanças —Rua dos
Lusíadas, 3-2.°-Esq.° — LISBOA.
PIRES, José Olívio Margalho — Contabilista — Rua Artilharia 1, 106 —LISBOA.
PONTES, Álvaro da Assunção Rodrigues — Curso Comercial — Apartado 4 —
AVANÇA.
PONTES, Leonel da Silva — Técnico de Contas — Montijos — Monte Redondo —
LEIRIA.
PORTELA, Joaquim Francisco — Técnico de Contas — Rua Dr. Elísio de Castro
— FEIRA.
PORTELA, Maria da Conceição Gomes da Silva — Economista — Rua Dr. Elísio
de Castro — FEIRA.
PRICE WATERHOUSE & Ca. -Auditores — Rua Gonçalo Cristóvão, 217-13.°-
PORTO.
PRICE WATERHOUSE & Ca.—Auditores-Avenida 5 d e Outubro, 3 5 - 8 . ° -
LISBOA-1.
QUEIRÓS, Maria Olímpia Gomes Matos Veiga Oliveira —Rua Aval de Cima, 183-
-°..°-Drt.° — PORTO.
QUEIRÓS, Mário de Oliveira — Contabilista — Rua Aval de Cima, 183-3.°-Drt.°
— PORTO.

754 —
QUEIRÓS, Nelson E. Falcão — Director Comercial IBM —Rua Sá da Bandeira,
n.° 651-PORTO.
RAFAEL, Joaquim Lopes — Contabilista — Rua das Escolas, Lote C-1.°-Esq.° —
SINES.
RAMALHO, Agostinho da Silva — Técnico de Contas — Avenida Prof. Dr. Augusto
Abreu Lopes, n.° 6-2.°-Esq.° — ODIVELAS.
RAMALHO, Maria da Glória Viegas Bota — Licenciada em Finanças — Avenida
Dr. Lemos Fernandes, 6 — ÉVORA.
RANGEL, Maria José Rodrigues Guilherme — Licenciada em Finanças — Quinta
dos Capuchinhos, Lote 28 r/c-Drt.° — LEIRIA.
RATOLA, Graciete Fernandes Balseiro — Contabilista — Rua de Castela S. Ber-
nardo — AVEIRO.
REBELO, Carlos Alberto Guedes — Economista — Avenida Generosa de Al-
meida, I. 0 -VENDAS NOVAS.
REBELO, Nelson Manuel Machado — Bacharel em Contabilidade — Rua de An-
gola, 31-3.o-Drt.0-VILA NOVA DE GAIA.
REGISCONTA — Máquinas Registadoras e de Escritório, S.A.R.L.— Rua Alva-
res Cabral, 406 —PORTO.
REIS, Carlos Luís da Costa — Licenciado em Finanças — Rua Braamcamp, 82-4.°
— LISBOA.
REIS, José Lúcio dos — Estudante do ISCAL — Avenida de Loulé, 86-l.°-Esq.°
— LISBOA.
REIS, José Vieira dos —Avenida Miguel Bombarda, n.° 20 —LISBOA-1.
REIS, Manuel Mendes dos — Contabilista — Rua Artilharia Um, 106 —LISBOA.
REIS, Manuel da Silva Nogueira dos — Bacharel em Contabilidade — Avenida
25 de Abril, 72-5.°-Esq.°-Frente — AVEIRO.
RELVAS, António Correia — Macinhata do Vouga — MACINHATA DO VOUGA.
RIBEIRO, António Feliciano da Costa — Contabilista — Rua de Cedofeita, 455-
-2.°-Drt.° — PORTO
RIBEIRO, Maria da Graça Duarte — Contabilista — Rua das Arneiras, 13-17 Ma-
taduços—AVEIRO.
RIBEIRO, Miguel José Cardoso — Bacharel em Contabilidade — Avenida Comba-
tentes Grande Guerra, 126 — BARCELOS.
ROCHA, Alfredo Ângelo Pais de — Licenciado em Economia — PORTO.
ROCHA, João Guilherme Figueiredo — Director de Serviços — Rua Coronel Santos
Pedroso, 6-8.0-Drt.° — LISBOA.
ROCHA, José Carlos Gonçalves — Aluno ISCAA —Rua Geraldo Presa —AVEIRO.
ROCHA, Manuel Cravo da — Bacharel em Contabilidade — Estrada da Sacor —
GAFANHA DA NAZARÉ.
RODRIGUES, Fernando de Vasconcelos — Técnico de Contas ao c/ CETIPAL —
Apartado, 10 —AGUADA DE BAIXO.
RODRIGUES, Glória Cardoso — Técnico de Contas —Rua 28, n.° 583-1.° —
ESPINHO.
RODRIGUES, Ilídio Duarte — Licenciado em Direito e Professor do ISCAA —
Rua Ferreira de Castro, 12-1.° — AVEIRO.

- 755
RODRIGUES, Manuel Pereira — Aluno ISCAA —Rua Dr. Eugénio Ribeiro, 39-2."
-ÁGUEDA.
RODRIGUES, Marcos José — Professor do Ensino Secundário — Torre, 4-3.°-B-
Esq.° REBELVA —CARCAVELOS.
RODRIGUES, Maria Luísa Gabriela Teixeira da Fonseca Castro — Licenciada
em Finanças — Avenida António Augusto Aguiar, 2 —LISBOA.
ROSA, Artur Rodrigues da — Contabilista — Rua Aquilino Ribeiro, 10-1.°-Drt.°
-AVEIRO.
ROSA, Maria Clara Martins — Curso de Gestão de Empresas — Rua Augusto Mar-
ques Raso, 2-r/c-C — LOURES.
SÁ, A. Lopes de —Professor Catedrático — Rua Bernardo Guimarães — 2 530-
CËP 30000-BELO HORIZONTE-(BRASIL).
SÁ, Óscar José Bastos Moura de — Contabilista — Rua de Além, 271 —MATO-
SINHOS.
SACADURA, Maria Luása Cabral — Licenciada em Direito e Assist, do ISCAC
Rua General Humberto Delgado, n.° 428-2.°-Esq.° — COIMBRA.
SACCHETTI, João Lemos Barreto — Estudante do ISCAA — Rua Infante D. Hen-
rique, n.° 4-3.°-Esq.°—AVEIRO.
SALGUEIRO, João Artur Trindade — Técnico de Contas —Rua Gustavo F Pinto
Basto, 25 —AVEIRO.
SAMPAIO, Manuel José —Técnico de Contas —Rua D. Sebastião Soares de
Resende - VILA DA FEIRA.
SANTOS, Álvaro de Oliveira — Técnico de Contas — Beco - MACINHATA DO
VOUGA.
SANTOS, Frederico Guilherme Gonzaga dos —Adjunto Técnico — Contabilista —
Rua Castilho, 50-1.° — LISBOA.
SANTOS, Joaquim dos — Contabilista — Rua Cedofeita, 193 —PORTO.
SANTOS, Joaquim César de Oliveira — Licenciado em Economia — Rua Rui de
Pina, 29-2.° — VILA NOVA DE GAIA.
SANTOS, José Afonso das Neves Carneiro — Licenciado em Finanças — Escola
Comercial de Leiria — LEIRIA.
SANTOS, José Carlos Fonseca dos —Rua Capitão Lebre n.° 160 — VERDEMILHO.
SANTOS, José Fernandes Marques dos — Economista — Aguada de Baixo —
AGUADA DE BAIXO.
SANTOS, Maria Helena Mendes dos — Licenciada em Economia —Rua das Mari-
nhas, 10 —AVEIRO.
SANTOS, Maria Natércia Neves dos —Técnica de Contabilidade — Rua Direita —
Aradas — AVEIRO.
SARDO, Emanuel Vinagre da Naia — Bacharel em Contabilidade — Avenida Dou-
tor Lourenço Peixinho, 159-A-1.°-Esq.° — AVEIRO.
SARMENTO, Maria Zita de Morais — Estudante do ISCAA — Avenida Dr. Lou-
renço Peixinho, 134 —AVEIRO.
SERRA, Alda Maria Alves Pinheiro — Guarda-Livros — Rua 1.° de Maio — Alagoas
— Esgueira — AVEIRO.
SERRAS, Luís Gonzaga Freitas Nunes — Licenciado em Finanças — Célula 15,
Lote 13-1. °-Esq.° — CARNAXIDE.

756 —
SILVA, Abílio Gomes da— Rua 31, n.° 65-2.°-Esq.° — ESPINHO.
SILVA, Alexandre Manuel Baptista da — Contabilista — Rua Aires Barbosa, n.° 14
-AVEIRO.
SILVA, Álvaro Cardoso da — (Deloitte, Haskins & Sells) — Rua Silva Carva-
lho, 234-4.°-LISBOA-2.
SILVA, António José Alves da — Contabilista e Revisor Oficial de Contas —
Praça João Azevedo Coutinho, 2 —LISBOA-1.
SILVA, António Pereira da — Empregado Bancário — Cova do Ouro — ESGUEIRA
— AVEIRO.
SILVA, Carlos Alberto da Rocha Moreira — Rua de Arroios, 217-3.° Letra D —
— LISBOA-1.
SILVA, Carlos José Vieira da — Licenciado em Economia — Avenida Corte Real —
BARRA - GAFANHA DA ENCARNAÇÃO.
SILVA, Daniel Bastos da —Aluno do ISCAP — Rua Eça de Queirós, 220 —S. JOÃO
DA MADEIRA.
SILVA, Fernando V. Gonçalves da — Professor Catedrático do I. S. E. — Praça
de Alvalade, 10-4.° —LISBOA-5.
SILVA , João Alberto da Costa e — Estudante — Largo de Apresentação n.° 3-A —
AVEIRO.
SILVA, Joaquim Fernandes da —Bacharel em Contabilidade e R.O.C.—Rua
Guilherme Costa Carvalho, n.° 13 — PORTO-1.
SILVA, Joaquim Martins da — Bacharel em Contabilidade — Calçada Rinchoa
Lote 29-4.°-Drt.° — RINCHOA.
SILVA, Joaquim dos Santos — Técnico Economista da D. G.C. I. —Rua da
Fonte, 75 — Serzedo — Miramar — VILA NOVA DE GAIA.
SILVA, José Augusto Ventura da — Economista — Rua do Sr. dos Aflitos, 18 —
AVEIRO.
SILVA, José Manuel Pacheco Dias da—Licenciado em Finanças—Avenida D. Leo-
nor Fernandes, 6.° — Évora.
SILVA, Luís Gonzaga Monteiro Marques da — Técnico de Contas — Rua Central
de Francos, 336-2.°-A — PORTO.
SILVA, Manuel Carlos Costa da — Economista — Rua Anselmo Braamcamp, 229-2.°
— PORTO.
SL^VA, Manuel Lopes da — Contabilista — Rua Comendador Rainho, 652 — S. JOÃO
DA MADEIRA.
SILVA, Manuel Luís Leite da — Técnico de Contas — Rua Oliveira Junior, 339-
3.°-Esq.° — S. JOÃO DA MADEIRA.
SILVA, Manuel Marques da— Contabilista — Rua João Mendonça, n.° 31-3.°-Drt.°
— AVEIRO.
SILVA, Maria Alice Mourão de Oliveira Alves da — Praça Jeão Azevedo Cou-
tinho, 2-r/c-Esq.° —LISBOA.
SILVA, Maria Arminda Pereira da Silva Neves Vieira da — Licenciada em Eco-
nomia — Avenida João Corte Real — BARRA.
SILVA, Maria Clementina de Almeida Trindade e — Contabilista — Pereiro — Ar-
das de Caminha — ANADIA.

— 757
SILVA, Maria Eduarda Ribeiro Dias da — Licenciada em Economia — Rua Alto
de Carvalhão, 19-1.° — LISBOA-1.
SILVA, Maria Isilda Figueiredo da — Licenciada em Finanças — Rua Rosa
Araújo, 35 — LISBOA-2.
SILVA, Rogério Mário Madail da — Assistente do ISCAA — Avenida Dr. Lourenço
Peixinho, n.° 169-B-2.°-Esq.° — AVEIRO.
SILVA, Silvestre Paiva da —Bacharel em Contabilidade — Bloco F-F/2-2.°-Esq.°
— Aradas — AVEIRO.
SILVA, Vítor Manuel dos Santos — Professor da Escola Comercial e Industrial
— VISEU.
SIMAS, José Manuel de Cabedo — Auditor — Thomson Mclintock & C.a —Ave-
nida 5 de Outubro, 275-3.°-Esq.° — LISBOA.
SIMÕES, António Manuel Rodrigues — Licenciado em Economia — Rua Arro-
teia, 194 — SÃO MAMEDE DE INFESTA.
SIMÕES, Francisco Manuel Dias — Licenciado em Finanças — Rua Rui Luís
Gomes, 69-2.°-Drt.° — ENTRONCAMENTO.
SIMÕES, Manuel de Oliveira — Industrial — OLIVEIRA DO BAIRRO.
SOARES, Fernando Rui Morais — Contabilista — Travessa Santos Pousada, 118-
2.°-Esq.° - OLIVEIRA DO DOURO-VILA NOVA DE GAIA.
SOARES, Germana da Graça Silva Cinza Santos — Professora Estagiária do
6.° Grupo —Lugar do Parrinho — S. JOÃO DA MADEIRA.
SOBREDA, Cipriano Martinho — Técnico de Contas — Rua do Sol, à Graça, 30-
-l.°-Drt.°-LISBOA.
SOBREIRO, José António de Almeida Marques — Contabilista — Largo Conse-
lheiro de Queirós, n.° 29 —AVEIRO.
SOUSA, A. Ferreira de —Analista de Sistemas, da Regisconta — Rua Álvares
Cabral, 406 —PORTO.
SOUSA, António Alberto Rodrigues Tavares de — Técnico de Contas — Rua Cân-
dido dos Reis, 37 —AVEIRO.
SOUSA, Ezequiel Santos —Lie. Finanças—Avenida 5 de Outubro, 35-8.° —
LISBOA-1.
SOUSA, João Francisco Carvalho de — Contabilista — Rua OIÂ, 4-r/c — PRAIA
DA BARRA.
SOUSA, José Luís Pacheco de — Contabilista — Rua Azevedo Coutinho, 39-3.°
— PORTO,
SOUSA, Maria Vieira de — Licenciada em Finanças —Rua Cidade da Beira, 42-
4.°-F — OLIVAIS SUL —LISBOA.
SOUSA, Rui Alberto Machado de — Contabilista — Rua da Lage, 29 —MAIA.
SOUSA, Silvano Albino Mesquita de — Licenciado em Finanças — Aradas —
AVEIRO.
SOUSA, Vitorino Moreira de — Contabilista — Seixal — S. ROMÃO DO CORONADO.
SOUSA, Virgínia Maria Granate Costa e —Assistente do ISCAA —Rua Mário
Sacramento, 101-3.°-Drt.° — AVEIRO.

SCHICKLE, Maria Isabel Gomes Castro - Bairro do Luso — PRAIA DA GRANJA.

758 -
TADEU, José Serra — Licenciado em Organização e Gestão de Empresas —Rua
Estado da índia,, 12-9.°-C — SACAVÉM.
TAVARES, Abílio Carlos Campos — Economista, Revisor Oficial de Contas —Rua
das Rosas, Lote 40-MONTIJO.
TAVARES, Anabela dos Santos Silva — Licenciada em Finanças — Travessa
S. Martinho, 13-1 .°-Drt.° —AVEIRO.
TEIXEIRA, Alfredo Luís Portocarrero Pinto — Contabilista — Rua J. Nicolau de
Almeida, 789 —VILA NOVA DE GAIA.
TEIXEIRA, Carlos Manuel Duarte —Praça Velaskes, 293-1.° — PORTO.
TOMAS, Américo Fernandes — Estudante do ISCAC — COIMBRA.
TOMAS, João José Amaral — Economista da D. G. Contribuições e Impostos —
Lisboa.
VALE, João Adriano Azevedo Seixas — Licenciado em Economia — Rua Duque
de Loulé, 40-4.°JEsq.° — PORTO.
VASCONCELOS, Emílio José da Silva —Chefe de Divisão Contabilidade Fabril
- B a n c o de Portugal-LISBOA.
VEIGA, Manuel Carvalho — Contabilista — Rua Azevedo Coutinho, 39-3.° — PORTO.
VELOSA, Luís Vieira Lomelino — Licenciado em Economia —Rua Guerra Jun-
queiro, 105 —PORTO.
VIANA, João Martins — Bacharel em: Contabilidade — Rua Cândido dos Reis
- VAGOS.
VIDAL, António Manuel Mano Pinho — Empregado de Escritório — VENDA-
N O V A - 92 — ÁGUEDA.
VIEIRA, Domingos Eduardo Andia s— Empregado de Escritório — Rua das Tomá-
sias, 33 —AVEIRO.
VIEIRA, José Mota — Contabilista — Rua de Barreiros, 504 — GONDOMAR.
VIEIRA, Rui Alberto Sarrico — Contabilista — Rua Sebastião Magalhães Lima, 2-
-l.°-Drt.° —AVEIRO.
VITAL, João da Costa Santana — Contabilista — Rua Manuel José da Silva — OLI-
VEIRA DE AZEMÉIS.
ZUBER, Maria Helena Inês Quintas — Licenciada em Finanças — Quinta Santa
Catarina, Lote 7-r/c —ÉVORA.

— 759
ÍNDICE DE AUTORES

pág.

AMORIM, Amílcar 277


ARAÚJO & SOBRINHO, Sers 371
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CONTABILISTAS 563
BRITO, António Tomé de 639
CARQUEJA, Hernâni Olímpio 525
CARVALHO, Ruy L. F. de 53
CONDE, Artur Luís Alves 697
COSTA, Carlos Alberto Baptista da 547
COSTA, João José da 623
131
COSTA, F. Nogueira da :
487
CRUZ, José Rodrigues Ferreira da
CUNHA, Joaquim José da 25 e 665
DELOITTE HASKINS + SELLS 157
DIZ, José Joaquim Afonso 359
DÓRIA, António Álvaro 355
FERNANDEZ PENA, Enrique 39
FERREIRA, Rogério Fernandes 81, 187, 191, 311, 473 e 647
FERREIRA, Henrique Quintino 321 e 691
GOMES, Aquiles C 205
GUIMARÃES, Raul Corrêa de Sousa 109
JANUÁRIO, Joaquim José (IBM) 453

— 761
Pág.

JESUS, Fernando de 681


LEMOS, Policarpo. 243
LUSO, Carlos Alberto Gomes 653
MATOS, Luís Augusto Eça de 83
MOCTEZUMA, Rodrigo de 695
MONTEIRO, Martini Noel 607
OLIVEIRA, Almáro de Carvalho 431
PARMA, Hamilton 501
PEREIRA, Joaquim Francisco Lemos 349
PEREIRA, Manuel Henrique de Freitas 329
PIRES, Albino Cabaço 225
PIRES, Aníbal P 205
RODRIGUES, Ilídio Duarte 249
SÁ, A. Lopes de 145, 195 e 497
SILVA, António José Alves da 631
SILVA, Fernando V. Gonçalves da 29
SOUSA, A Ferreira de (REGISCONTA) 411
SOUSA, Ezequiel José Santos de 159
TOMÁS, João José Amaral 171

762
INDICE GERAL

Mg-
1. OBJECTIVOS. ORGANIZAÇÃO E NORMAS REGULAMENTARES . . 9

2. SESSÃO DE ABERTURA 23
Discurso do presidente do Conselho Directivo do ISCAA, Dr. Joaquim
José da Cunha 25
Discurso do Prof. Doutor Fernando V. Gonçalves da Silva, Membro
da Comissão Organizadora das Jornadas 29
a
3. COMUNICAÇÕES DAS 1.» E 2. MESAS: A CONTABILIDADE DAS
EMPRESAS PÚBLICAS E COOPERATIVAS. A CONTABILIDADE
DAS PME 37
La Contabilidade Analítica en el Plan General d e Contabilidad Es-
panol, por Enrique Fernandez Pena 39
Investimento, Finanças e Contabilidade — breve contributo para a
sua harmonização, por Ruy L. F. de Carvalho 53
A Função Financeira nas Pequenas e Médias Empresas, por Ro-
gério Fernandes Ferreira 81
A Organização Contabilística e o Sector Cooperativo, por Luís
83
Augusto Eça de Matos
O Diário-Razão-Balancete nas P . M. E., por Raul Corrêa de Sousa
Guimarães 109
Custos Reais ou Custos Teóricos? Problemática da Mão de Obra,
por José Nogueira da Costa 134
Créditos nas Contas de Despesas, por A. Lopes de Sá . . . . 145

4. COMUNICAÇÕES DA 3.a MESA: A CONTABILIDADE E A INFLAÇÃO 149


A Contabilidade e a Inflação, por Deloitte Haskins & Sells . . . 151
Reavaliação do Imobilizado e outros Aspectos do Tratamento dos
Efeitos da Inflação, por Ezequiel José Santos de Sousa . . 159
Pág,
As Distorções provocadas pela Inflação nos Balanços e Contas de
Resultados, por João José Amaral Tomás . . n\
A Contabilidade dos Juros e das Variações Monetárias I, por Ro-
gério Fernandes Ferreira lg7
A Contabilidade dos Juros e das Variações Monetárias II, por Ro-
gério Fernandes Ferreira jgj
Correcção Monetária e Valores na Contabilidade, por A. Lopes de Sá 195
Avaliação de Investimentos em Contexto Inflacionário, por Aquiles
C. Gomes e Aníbal P. Pires 205

5. COMUNICAÇÕES DA 4.a MESA: A CONTABILIDADE E A GESTÃO


DOS RECURSOS HUMANOS 223

O Papel da Contabilidade e do Contabilista numa Sociedade em


Mudança, por A. Cabaço Pires 225
A Contabilização do Potencial Humano, por Policarpo Lemos . . 243
Âmbito de Aplicação da Convenção Colectiva d e Trabalho, por Ilídio
Duarte Rodrigues 249
O Balanço Social — Nova Peça Contabilística, por Amílcar Amorim . 277

6. COMUNICAÇÕES DA 5." MESA: A CONTABILIDADE E O FISCO . 309

O Lucro e a Tributação das Empresas — Algumas reflexões com


vista a ensaios sobre novas perspectivas, por Rogério Fer-
nandes Ferreira 311
A Contabilidade e a Fraude Fiscal, por Henrique Quintino Ferreira . 321
A Fiscalidade no «Plano Oficial de Contabilidade», por M. H. de
Freitas Pereira . 329
Algumas Implicações Fiscais do Plano Oficial de Contabilidade,
por J. F. Lemos Pereira t 349
Acerca de Provisões e o Fisco, por Álvaro Dória 355
A Prestação de Contas em. Contribuição Industrial e o Plano Oficial
de Contabilidade, por José J. Afonso Diz 359

7. COMUNICAÇÕES DA 6.a MESA: A CONTABILIDADE E A INFOR-


MÁTICA 369

Soluções de Informática à Medida de cada Empresa, por Araújo


& Sobrinho, Sucrs 371
A Normalização Contabilística e a Informática — CGAM — Um Sis-
tema de Aplicação, por A. Ferreira de Sousa 411
Sistemas de Informação: A Contabilidade e a Informática, por
Almiro de Oliveira 431
Sistema Integrado de Informação de Gestão e Contabilidade, por
José Joaquim Januário (IBM) 453

764 —
Pág.
8. COMUNICAÇÕES DA 7." MESA: APROVAÇÃO E REVISÃO DE
CONTAS 471

Algumas Reflexões sobre Princípios Contabilísticos Tradicionais, por


Rogério Fernandes Ferreira 473
Auditoria Financeira e Revisão de Contas, por José Rodrigues Fer-
reira da Cruz 487
Os Aspectos Superiores da Auditoria no Sector Público, por A. Lopes
de Sá 497
A Qualificação do Auditor: Alguns Aspectos, por Hamilton Parma 501
Redacção do Relatório e Parecer do Conselho Fiscal, por Hernâni
O. Carqueja 525
a
9. COMUNICAÇÕES DA 8. MESA: HISTÓRIA, METODOLOGIA E
DIDÁCTICA DA CONTABILIDADE 545
O Ensino da Contabilidade em Portugal, por Carlos Baptista da Costa 547
Projecto de Licenciatura em Contabilidade e Finanças, por Associa
ção Portuguesa de Contabilistas 563
Conta e Método Digráfico numa perspectiva conceptual Histórica, por
Martim Noel Monteiro 607
Conceitos Básicos e Princípios Contabilísticos, por João José da Costa 623
A Normalização Contabilística em Portugal, por A. J. Alves da Silva 631
Lexicologia Contabilística, por António Tomé de Brito 639

10. COMUNICAÇÕES DA 9.a MESA: OUTROS TEMAS DE CONTABILI-


DADA E GESTÃO 645
Reflexões de Gestor Empresarial Perante a Economia Portuguesa,
por Rogério Fernandes Ferreira 647
O Mini Computador e a sua Importância na Contabilidade e Gestão
da Empresa, por Carlos Alberto Gomes Luso 653
Algumas Considerações sobre o Modelo Estático Aberto de Leontief,
por Joaquim José da Cunha 665
Algumas Reflexões em Torno dos Modelos Matemáticos de Capitali-
zação Simples e Composta, por Fernando de Jesus . . . . 681
Os Balanços do P. O. C. e os Balanços da C. E. E., por Henrique
Quintino Ferreira 691
Importância da Gestão Orçamental, por Rodrigo de Moctezuma . . 695
Avaliação das Empresas, por Artur L. Alves Conde 697

11. NOTA FINAL. COMO DECORRERAM AS JORNADAS. AGRADECI-


MENTOS 723

12. LISTA DOS PARTICIPANTES 739

índice de Autores 761


índice Geral 763

— 765
ACABOU DE IMPRIMIR-SE NO
CENTRO GRÁFICO—FAMALICÃO
EM 4 DE DEZ1MBRO DE 1 9 7 9

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