Regra Da Ordem de São Bruno
Regra Da Ordem de São Bruno
Regra Da Ordem de São Bruno
Estatutos
Captulo 1
Prlogo
A graa de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunho do Esprito Santo estejam com todos vocs. Amm. 1. Para louvor da glria de Deus, Cristo, Palavra do Pai por mediao do Esprito Santo, elegeu desde o princpio a alguns homens, a quem levou solido para uni-los a si em ntimo amor. Seguindo esta vocao o Maestro Bruno entrou com seis colegas no deserto de Cartuxa, o ano do Senhor de 1084, e se instalou ali. Tanto eles como seus sucessores, permaneceram naquele lugar sob a direo do Esprito Santo, e, guiando-se pela experincia, foram criando gradualmente um gnero de vida eremtica prprio, que se transmitia a seus sucessores, no por escrito, seno com o exemplo. Mas a instncias de outros eremitrios fundados a imitao do de Cartuxa Guigo, quinto Prior de Cartuxa, ps por escrito a norma de seu propsito, que todos se comprometeram a seguir e imitar, como regra de sua observncia e como vnculo de caridade da nascente famlia. Mas como os Priores da observncia cartusiana pedissem insistentemente aos Priores e aos irmos de Cartuxa que se lhes permitisse ter na mesma Casa um Captulo Geral comum, reuniu-se o primeiro Captulo Geral durante o priorado de Antelmo, ao qual se submeteram para sempre todas as Casas, junto com a mesma Casa de Cartuxa. Por aquele ento, as monjas de Prebayn abraaram tambm espontaneamente o modo de vida cartusiana. Este foi o comeo de nossa Ordem. 2. A partir de aqui, no decurso do tempo, a tenor da experincia e das novas circunstncias, o Captulo Geral ia adaptando a forma de vida cartusiana, e estabilizando e explicando nossa instituio. Esta contnua e esmerada acomodao de nossos costumes acrescentou progressivamente o conjunto de nossas Ordenaes. Por isso, o ano do Senhor 1271, o Captulo Geral reunindo num o principal sacado dos Costumes de Guigo, das ordenaes dos Captulos Gerais e dos usos da Grande Cartuxa tomados em conjunto, promulgou os Antigos Estatutos. A estes se adicionaram o ano 1368 outros documentos, que se denominaram Novos Estatutos ; adicionados tambm documentos no ano 1509, chamaram-se Terceira Compilao. Existindo, pois, trs colees, por motivo do Conclio Tridentino foram redigidas num s corpo, o que chamamos a Nova Coleo dos Estatutos. Sua terceira edio foi aprovada em forma especfica pela Constituio Apostlica Iniunctum nobis do Papa Inocncio XI. Uma nova edio, outra vez examinada e acomodada s prescries do Cdigo de Direito Cannico ento em vigor, foi aprovada tambm em forma especfica pelo Papa Pio XI na Constituio Apostlica Umbratilem.
3. Por mandato do Conclio Ecumnico Vaticano II, empreendeu-se uma adequada renovao de nosso gnero de vida, segundo a mente dos decretos do mesmo Conclio, guardando como algo muito sagrado nosso retiro do mundo e os exerccios prprios da vida contemplativa. Por isso, o Captulo Geral do ano 1971 aprovou os Estatutos Renovados, uma vez examinados e corrigidos com a cooperao de todos os membros da Ordem. No entanto, para concord-los com o Cdigo de Direito Cannico, promulgado no ano 1983, os susoditos Estatutos, novamente revisados, dividiram-se em duas partes, das quais, a primeira que compreende os livros primeiro, segundo, terceiro e quarto, contm as Constituies da Ordem. Ns, pois, os humildes irmos, Andrs, Prior de Cartuxa, e todos os demais com potestade no Captulo Geral do ano 1989, aprovamos e confirmamos estes Estatutos. Mas no por isso queremos relegar ao esquecimento os Estatutos anteriores, sobretudo os mais antigos, seno que se mantenha vivo seu esprito na presente observncia, ainda que j no conservem fora de lei. 4. Finalmente, exortamos a todos os professos e aspirantes de nossa Religio, e lhes rogamos encarecidamente pela misericrdia e bondade de Deus (quem com tanta clemncia se dignou ajudar, dirigir e proteger a nossa famlia cartusiana, desde seus comeos at o dia de hoje, provendo-nos em abundncia de quanto conduz a nossa salvao e perfeio), que cada um em nossa vocao e ofcio, esforcemo-nos por corresponder com a maior gratido possvel a to paternal liberalidade e benevolncia de Deus nosso Senhor. O que cumpriremos, se de tal modo nos dedicamos fiel e solicitamente observncia regular contida nos presentes Estatutos, que, reta e devidamente instrudo e aperfeioado por estas disposies nosso homem exterior, no homem interior procuremos ao mesmo Deus com maior fervor, achemo-lo com mais prontido e o possuamos mais perfeitamente. E assim, com a ajuda do Senhor, possamos chegar perfeio da caridade, fim de nossa profisso e de toda vida monstica, e atingir depois a bem-aventurana eterna.
Captulo 2
Elogio de Guigo vida solitria
Os monges que louvaram a solido quiseram dar depoimento do mistrio cujas riquezas experimentavam, e que s os bem-aventurados conhecem plenamente. Ali se leva a cabo um grande mistrio, isto , de Cristo e da Igreja, cujo eminente exemplar o encontramos em Maria Santssima ; o qual est tambm inteiramente oculto em toda alma fiel, e a solido tem a virtude de revel-lo mais profundamente. No presente captulo, pois, tomado dos Costumes de Guigo, temos de ver alguns reflexos da alma daquele que teve por misso do Esprito codificar as primeiras leis de nossa Ordem. Porque estas frases do quinto Prior, segundo o antigo sentido alegrico da Sagrada Escritura retamente entendidas, tocam uma verdade sublime que nos une aos nossos Padres na fruio da mesma graa.
Na recomendao da vida solitria, que estamos chamados por vocao especial, seremos breves, por conhecer os muitos louvores que lhe tributaram tantos vares santos e sbios, e de tanta autoridade que no nos consideramos dignos de pisar suas impresses. J sabeis como no Antigo e, sobretudo, no Novo Testamento, quase todos os mais profundos e sublimes mistrios foram revelados aos servos de Deus no entre o tumulto das multides, seno estando a ss, e como os mesmos servos de Deus, quando queriam sumir-se numa meditao mais profunda, ou dedicar-se orao com mais liberdade, ou alienar-se das coisas terrenas pela elevao do alma, quase sempre se apartavam do rudo das multides e procuravam as vantagens da solido. De aqui que para tocar de algum modo o tema, Isaac sai a ss ao campo a meditar, e de crer que isto no foi nele algo isolado, seno de costume ; que Jacob, enviando todas suas coisas por diante, fica a ss, v a Deus cara a cara, e vez pela bno e a mutao do nome em melhor se torna ditoso ; atingindo mais num momento s do que durante toda a vida acompanhado. Tambm nos atesta a Escritura quanto amavam a solido Moiss, Elias, e Eliseu, quanto cresceram por ela na comunicao dos segredos divinos ; e at que ponto incessantemente corriam perigo entre os homens, e eram visitados por Deus quando estavam ss. Jeremias se senta solitrio, porque se acha penetrado da clera de Deus Pedindo que se d gua a sua cabea e a seus olhos uma fonte de lgrimas para chorar aos mortos de seu povo, solicita tambm um lugar onde poder exercitar-se mais livremente em obra to santa, dizendo: Quem me dar na solido um albergue de caminhantes?, como se no lhe fosse possvel faz-lo na cidade, indicando deste modo quanto impede a companhia o dom de lgrimas. Assim mesmo, quando diz: Bom esperar em silncio a salvao de Deus, para o qual ajuda muito a solido, adicionando depois: Bom para o homem o ter levado o jugo desde sua mocidade, com o qual nos d um motivo de grande consolo, pois quase todos abraamos este gnero de vida desde a juventude. E diz tambm: Se sentar solitrio e calar, porque se elevar sobre si mesmo; significando quase tudo o melhor do que h em nosso Instituto: quietude e solido, silncio e desejo dos dons mais elevados. Depois d a conhecer que alunos forma esta escola, dizendo: Dar sua bochecha a quem o ferir e se saciar de oprbrios. No primeiro brilha uma pacincia suma, e no segundo uma perfeita humildade. Tambm Juan Baptista, o maior dos nascidos de mulher segundo o panegrico do Salvador, ps em evidncia quanta segurana e utilidade contribui a solido. O qual, no se sentindo seguro nem pelos orculos divinos que tinham predito que, cheio do Esprito Santo desde o seio de sua me, teria de ser o precursor do Senhor no esprito e a virtude de Elias, nem pelas maravilhas de seu nascimento, nem pela santidade de seus pais, fugindo da companhia dos homens como perigosa, elegeu os apartados desertos como mais seguros, ignorando quaisquer perigos e a morte, por tanto tempo quanto habitou s no deserto. Quanta virtude adquiriu ali e quanto mrito, demonstrou-o o batismo
de Cristo e a morte sofrida por defender a justia. Fez-se tal na solido, que s ele foi digno de batizar a Cristo que tudo o purifica, e de enfrentar o crcere e a morte em defesa da verdade. O mesmo Jesus, Deus e Senhor, ainda que sua virtude no podia verse favorecida pelo retiro nem impedida pelo pblico, no entanto, para instruir-nos com seu exemplo, antes de comear seu pregao e seus milagres quis submeter-se a uma espcie de prova de tentaes e jejuns na solido. Dele diz a Escritura que, deixando a companhia de seus discpulos, subia ao morro a orar a ss. E iminente j o tempo da Paixo, deixou aos Apstolos para orar solitrio, dando-nos com isto o melhor exemplo de quanto aproveita a solido para a orao, quando no quer orar acompanhado nem de seus mesmos Apstolos. Aqui no passemos em silncio um mistrio que merece todo nosso atendimento : que o mesmo Senhor e Salvador do gnero humano se dignou mostrar-nos por si mesmo o primeiro modelo vivo de nosso Instituto, ao permanecer assim solitrio no deserto, se entregava orao e aos exerccios da vida interior, macerando seu corpo com jejuns, viglias e outros frutos de penitncia vencendo as tentaes do inimigo com armas espirituais. Agora considerai vocs mesmos quanto aproveitaram em seu esprito na solido os santos e venerveis padres, Pablo, Antonio, Hilario, Benito, e tantos outros inumerveis, e comprovareis que a suavidade da salmodia, o amor pela leitura, o fervor da orao, a profundidade da meditao, a elevao da contemplao e o batismo das lgrimas com nada se podem favorecer tanto como com a solido. Mas no vos contenteis com os poucos exemplos aqui citados em elogio de nosso modo de vida, seno vocs mesmos ide recolhendo outros muitos, tomados de vossa experincia cotidiana ou das pginas da Sagrada Escritura.
1. Os que foram Padres de nossa Religio seguiam a luz do oriente, a daqueles antigos monges que, quente ainda em seus coraes a recordao do Sangue recm derramado pelo Senhor, encheram os desertos para dedicar-se solido e a pobreza de esprito. Portanto, os monges do claustro, que seguem este mesmo caminho, convm que vivam como eles em ermos suficientemente afastados de toda moradia humana, e em celas livres de todo rudo, tanto do
mundo como da mesma Casa ; sobretudo, que permaneam alheios aos rumores do sculo. 2. Quem persevera firme na cela e por ela formado, tende a que todo o conjunto de sua vida se unifique e converta numa constante orao. Mas no poder entrar neste repouso sem ter-se exercitado no esforo de duro combate, j pelas austeridades nas que se mantm por familiaridade com a cruz, j pelas visitas do Senhor mediante as quais o prova como ouro no crisol. Assim, purificado pela pacincia, consolado e robustecido pela assdua meditao das Escrituras, e introduzido no profundo de seu corao pela graa do Esprito, poder j no s servir a Deus, seno tambm unir-se a Ele. 3. Convm tambm ocupar-se em algum trabalho manual, no tanto por simples distrao do nimo, quanto para submeter o corpo lei comum dos homens e conservar e fomentar o gosto pelos exerccios espirituais. Por isso se lhe concedem ao monge em sua cela os utenslios necessrios, a fim de evitar que se veja forado a sair dela ; porque isto no lhe est nunca permitido, a no ser para as reunies na igreja ou no claustro, e em outras ocasies previstas pela regra. Agora bem, quanto mais austera a senda que abraamos, tanto mais estritamente nos obriga a pobreza em todas as coisas de nosso uso. Porque necessrio que sigamos o exemplo de Cristo pobre, se queremos participar de suas riquezas. 4. Unidos em comunidade pelo amor ao Senhor, a orao e o zelo pela solido mostrem-se os monges do claustro como verdadeiros discpulos de Cristo, no tanto de palavra quanto de obra ; amem-se mutuamente, tendo os mesmos sentimentos, suportando-se e perdoando-se se algum tem queixa contra outro, a fim de que com uma mesma voz honrem a Deus. 5. Mantenham tambm os padres em seu esprito o ntimo vnculo pelo qual esto unidos em Cristo com os irmos. Reconheam que dependem deles para poder oferecer ao Senhor uma orao pura na quietude e a solido da cela. Recordem que o sacerdcio ao que foram elevados representa um servio Igreja principalmente nos membros mais prximos, isto , os irmos da prpria Casa. Tendo-se mtua deferncia, padres e irmos vivam na caridade que vnculo de perfeio e fundamento e cume de toda vida consagrada a Deus. 6. prprio do Prior mostrar em si mesmo a todos seus filhos, monges do claustro e leigos, um signo vivo do amor do Pai celestial, e reuni-los em Cristo de tal maneira que formem uma famlia, e cada uma de nossas Casas seja realmente, segundo a expresso de Guigo, uma igreja cartusiana. 7. A qual tem sua raiz e fundamento na celebrao do Sacrifcio Eucarstico, que signo eficaz de unidade. tambm o centro e cume de nossa vida, e ademais vitico espiritual de nosso xodo, por onde na solido retornamos por Cristo ao Pai. Assim mesmo, em todo o curso da Liturgia, Cristo como nosso Sacerdote ora por ns, e como Cabea nossa ora em ns de maneira que nele possamos reconhecer nossas vozes, e em ns a sua.
8. Na viglia noturna, nosso Ofcio se prolonga bastante, segundo antigo costume, ainda que guardando sempre uma discreta moderao. Assim se alimenta a devoo interna com a salmodia e se pode dar o tempo restante orao calada do corao sem fastio nem cansao. Segundo antigo costume nossa, todo monge do claustro est destinado, por uma admirvel graa da piedade divina, ao sagrado ministrio do altar. De onde se manifesta nele essa harmonia que, como diz Pablo VI, existe entre a consagrao monstica e a sacerdotal. A exemplo, pois, de Cristo, faz-se juntamente sacerdote e vtima, em cheiro de suavidade para Deus, e pela unio no sacrifcio do Senhor participa das riquezas insondveis de seu corao. 9. Como nosso Instituto est ordenado inteiramente contemplao, temos de guardar com toda fidelidade nossa separao do mundo. Estamos, por tanto, isentos de todo ministrio pastoral, por muito que urja a necessidade do apostolado ativo, a fim de cumprir nossa prpria misso dentro do Corpo Mstico. Mantenha Marta seu ministrio, laudvel certamente, ainda que no isento de inquietude e turvao ; mas permita a sua irm que, sentada junto aos ps do Senhor, dedique-se a contemplar que Ele Deus, a purificar seu esprito, a adentrar-se na orao do corao, a escutar o que o Senhor lhe diga em seu interior ; e assim possa agradar e ver um pouquinho, como num espelho e confusamente, como o Senhor bom, enquanto roga por sua irm e por todos os que se afanam como ela. Maria tem a seu favor no s ao mais imparcial dos juzes, seno tambm ao mais fiel dos advogados, ao mesmo Senhor, que no se limita a defender sua vocao, seno que faz seu elogio, dizendo: Maria escolheu a melhor parte, que no lhe ser tirada. Desta maneira a escusou de misturar-se nos cuidados e desassossegos de Marta, por piedosos que fossem.
Captulo 4
A guarda da cela e do silncio
A nossa principal aplicao e propsito consistem em nos dedicar ao silncio e solido da cela. Esta a terra santa e o lugar onde o Senhor e o seu servo conversam frequentemente como dois amigos. nela que muitas vezes a alma fiel se une ao Verbo de Deus, a esposa convive com o Esposo, as coisas da terra se ligam s do Cu, as humanas s divinas. Mas muito o trajeto a percorrer, por caminhos ridos e secos, antes de chegar fonte das guas e terra de promisso. Por isso convm que o que vive retirado em sua cela vele diligente e solcito para no se tentar nem aceitar nenhuma sada dela, fora das geralmente estabelecidas ; mais bem considere a cela to necessria para sua sade e vida, como o gua para os peixes e o aprisco para as ovelhas. Se se acostuma a sair dela com freqncia e por leves causas, cedo se lhe far odiosa ; pois, como diz So Agustn: Para os amigos deste mundo no h nada mais trabalhoso que no trabalhar. Pelo contrrio, quanto mais tempo guarde a cela, tanto mais a gosto viver nela, se sabe ocupar-se de uma maneira ordenada e
proveitosa na leitura, escritura, salmodia, orao, meditao, contemplao e trabalho. Enquanto, v acostumando-se calma escuta do corao, que deixe entrar a Deus por todas suas portas e sendas. Assim, com a ajuda divina, evitar os perigos que freqentemente espreitam ao solitrio : seguir na cela o caminho mais fcil e merecer ser contado entre os mornos. Os frutos do silncio os conhece quem o experimentou. Ainda que ao princpio nos resulte no duro calar, gradualmente, se somos fiis, nosso mesmo silncio ir criando em ns uma atrao para um silncio cada vez maior. Para consegui-lo, est estabelecido que no falemos uns com outros sem permisso do Presidente. O primeiro ato de caridade para com nossos irmos respeitar sua solido. Se se nos permite falar de algum assunto, seja nossa conversa to breve quanto seja possvel. Os que no so de nossa Ordem nem aspiram a entrar nela, no se hospedem em nossas celas. Os monges do claustro dedicam todos os anos oito dias a uma guarda maior da quietude da cela e do recolhimento. O que se acostumou fazer normalmente por motivo do aniversrio da Profisso. Deus nos trouxe solido para falar-nos ao corao. Seja, pois, nosso corao como um altar vivo, do que suba continuamente ante o Senhor uma orao pura, pela qual devem ser impregnados todos nossos atos.
Captulo 5
O trabalho na cela
O monge do claustro, sujeito lei divina do trabalho em sua prpria vocao, foge da ociosidade que, segundo os antigos, inimiga do alma. Por isso, abraa com humildade e prontido todos os trabalhos que necessariamente traz consigo uma vida pobre e solitria, a condio, no entanto, de que tudo se ordene ao exerccio da divina contemplao, que est totalmente entregado. Alm dos diversos trabalhos manuais, faz parte de sua tarefa diria o cumprimento das obrigaes de seu estado, principalmente as que se referem ao culto divino e ao estudo das cincias sagradas. Em primeiro lugar, para no perder inutilmente na cela o tempo da vida religiosa, o monge do claustro deve dedicar-se com interesse e discrio a estudos apropriados, no pela vaidade de saber ou de editar livros, seno porque uma leitura sabiamente ordenada facilita alma uma instruo mais slida e pe a base para a contemplao das coisas celestiais. Erram, pois, os que julgam que, descuidando ao princpio o estudo da palavra de Deus ou abandonando-o depois, podem elevar-se facilmente unio ntima com Deus. Assim, fixando-nos mais na substncia do contedo que no brilho aparente da
expresso estudemos os mistrios divinos com esse desejo de conhecer que nasce do amor e o inflama. Com o trabalho de mos, o monge se exercita na humildade e reduz todo seu corpo a servido, para que sua alma adquira uma maior estabilidade. De onde, nos tempos estabelecidos, lcito dedicar-se a trabalhos manuais verdadeiramente teis, porque no est bem desperdiar em bagatelas e trabalhos inteis um tempo precioso concedido a cada um para glorificar a Deus. No entanto, no fica excluda deste tempo utilidade da leitura e a orao ; mais ainda, sempre aconselhvel, enquanto se trabalha, recorrer pelo menos s breves oraes chamadas jaculatrias. Tambm pode s vezes suceder que o peso do trabalho sirva de ncora que sujeite o vaivm dos pensamentos ajudando com isso ao corao a permanecer fixo em Deus constantemente, sem fadiga mental. O trabalho um servio mediante o qual nos unimos com Cristo, que no veio ser servido seno a servir. So de louvar certamente os que se as arrumam por si ss para cuidar do mobilirio, das ferramentas e das demais coisas usadas na cela, aliviando no possvel o trabalho dos irmos. Pelo demais todos tm de ter a cela ordenada e limpa. Sempre pode o Prior impor a um pai algum trabalho ou servio para bem da Comunidade, e ele o aceita com agrado e com alegria de corao, pois no dia de sua Profisso pediu ser recebido como o mais humilde servidor de todos. Quando se encomenda um trabalho a um monge do claustro, seja sempre de tal natureza que lhe permita conservar sua liberdade interior enquanto trabalha, sem preocupar-se do ganho ou de quando tem de terminar. Porque convm que o solitrio, atendendo no tanto obra como ao fim tentado, possa manter seu corao sempre em vela Mas para que o monge permanea calmo e so na solido muitas vezes ser conveniente que goze de certa liberdade na ordenao de seu trabalho. Normalmente no se tem de chamar aos padres a trabalhar fora de suas celas, sobretudo nas obedincias dos irmos. E em caso que se destinem alguns padres a fazer um trabalho em comum, eles podero falar entre si do que requeira tal trabalho, mas no com os que chegam. Toda nossa atividade nasa sempre da fonte interior, a exemplo de Cristo, que sempre atua com o Pai, de maneira que o mesmo Pai faa as obras permanecendo nele. Assim seguiremos a Cristo em sua vida humilde e oculta de Nazar, tanto quando oramos a Deus no secreto, como quando trabalhamos por obedincia em sua presena.
Captulo 6
A guarda da clausura
Desde os princpios de nossa Ordem se pensou que, mediante o estrito rigor da clausura, se expressaria e afirmaria nossa total consagrao a Deus. Que
grande necessidade devesse mediar para sair fora, aparece suficientemente claro pelo fato de que o Prior de Cartuxa no sai nunca dos termos de seu ermo. Agora bem, como numa mesma Ordem suas observncias devem guardar-se de um modo uniforme e similar por seus professos, ns, que abraamos o propsito cartusiano, de onde nos vem o nome de Cartuxos, no admitimos facilmente excees ; mas se alguma necessidade o exigisse, sempre se tem de pedir permisso ao Reverendo Pai, salvo em algum caso urgente e nos demais previstos pelos Estatutos. O rigor da clausura se converteria numa observncia farisaica, se no fora um signo daquela pureza de corao que unicamente se promete a viso de Deus. Para consegui-la, requer-se uma grande abnegao, sobretudo da natural curiosidade que o homem sente por tudo o humano. No devemos deixar que nosso esprito se derrame pelo mundo, andando busca de notcias e rumores. Pelo contrrio, nossa parte permanecer ocultos no segredo do rosto de Deus. Temos de evitar os livros profanos ou revistas que possam turvar nosso silncio interior. Particularmente seria contrrio ao esprito da Ordem introduzir de qualquer modo no claustro jornais que tratem de poltica. Ainda mais, os Priores exortem a seus monges que sejam muito parcos nas leituras profanas. Mas esta advertncia requer uma maturidade de esprito e um domnio de si mesmo que saiba aceitar sinceramente todas as conseqncias dessa melhor parte do que elegeu, a saber: sentar-se aos ps do Senhor e escutar sua palavra. No obstante, a familiaridade com Deus no estreita o corao seno que o dilata e o capacita para abarcar nele os afs e problemas do mundo, junto com os grandes interesses da Igreja de tudo o qual convm que o monge tenha algum conhecimento. No entanto, a verdadeira solicitao pelos homens deve nascer, no da curiosidade seno da ntima comunho com Cristo. Cada qual, escutando interiormente ao Esprito, veja que o que pode admitir em sua mente sem que sofra menoscabo seu dilogo com Deus. Se chegasse at ns alguma notcia do que ocorre pelo mundo, guardemo-nos de comunic-la aos demais ; deixemos mais bem os rumores do sculo ali onde os ouvimos. Toca ao Prior informar a seus monges sobre os temas que no convm ignorar, em especial sobre a vida da Igreja e suas necessidades. Sem verdadeira necessidade, no procuremos ocasio de falar com as pessoas da Ordem e com os demais que as vezes chegam a nossa Casa. Porque no aproveita ao amigo da solido, firme no silncio e ansioso da quietude, fazer ou receber visitas sem motivo. Como est escrito: Honra teu pai e tua me, mitigamos um pouco o rigor da clausura para receber a nossos pais e a outros parentes prximos, dois dias ao ano, seguidos ou separados. Pelo demais, a no ser que, por amor do Senhor, nos o imponha uma inevitvel necessidade, evitamos a visita dos amigos e as palestras dos seculares. Sabemos que Deus digno de que se lhe oferea este sacrifcio, que ser para os homens mais proveitoso do que as nossas palavras.
Nas Casas da Ordem canonicamente constitudas se guarda estrita clausura segundo a tradio da Ordem. No se pode admitir dentro da clausura a mulheres. Quando falamos com elas, observamos a modstia prpria de um monge. Recordem os monges que a castidade pelo Reino dos Cus que professam, tem de estimar-se como dom exmio da graa, pois libera de modo singular seu corao para que mais facilmente possam unir-se a Deus com amor indiviso. Deste modo, evocam aquele maravilhoso conbio, fundado por Deus e que tem de revelar-se plenamente no sculo futuro, pelo que a Igreja tem por Esposo nico a Cristo. , pois, mister que, empenhados em guardar fielmente sua vocao, acreditem em as palavras do Senhor e, confiados no auxlio de Deus, no presumam de suas prprias foras e pratiquem a mortificao e a guarda dos sentidos. Confiem tambm em Maria, quem por sua humildade e virgindade mereceu ser a Me de Deus. Quanto proveito e alegria divina proporcionam a solido e o silncio do deserto a quem os ama, s o sabe quem o experimentou. Aqui podem os homens esforados recolher-se em seu interior quanto queiram, morar consigo, cultivar sem cessar os germes das virtudes e alimentar-se felizmente dos frutos do paraso. Aqui se adquire aquele olho limpo, cuja serena mirada fere de amores ao Esposo e cuja limpeza e pureza permite ver a Deus. Aqui se vive um lazer ativo, repousa-se numa sossegada atividade. Aqui concede Deus a seus atletas, pelo esforo do combate, a ansiada recompensa : a paz que o mundo ignora e o gozo no Esprito Santo.
Captulo 7
A abstinncia e o jejum
Cristo sofreu por ns, dando-nos exemplo para que sigamos suas impresses. O que praticamos j aceitando as penalidades e angstias desta vida, j abraando a pobreza com a liberdade de filhos de Deus e renunciando prpria vontade. Tambm, segundo a tradio monstica, corresponde-nos seguir a Cristo quando jejua no deserto, castigando nosso corpo e reduzindo-o a servido, para que nossa alma brilhe com o desejo de Deus. Os monges do claustro fazem uma abstinncia semanal, geralmente a sextafeira. Esse dia se contentam com po e gua. Em certos tempos e dias fazem jejum de Ordem, no que tm uma s comida. A penitncia corporal no devemos abra-la s por obedecer aos Estatutos ; est destinada principalmente a aliviar-nos do peso da carne para que possamos seguir com mais presteza ao Senhor.
Mas se em algum caso, ou durante uma temporada, sentisse um que alguma de nossas observncias supera suas foras, e que mais bem o entorpece do que o impulsiona ao seguimento de Cristo, decida, em filial acordo com o Prior, a mitigao que lhe convm, ao menos temporariamente. Mas, tendo sempre presente o telefonema de Cristo, indague o que est ainda dentro de suas possibilidades, e o que no pode dar ao Senhor pela observncia comum, supra-o de outro modo, negando-se a si mesmo e levando sua cruz cada dia. Convm que os novios se acostumem pouco a pouco s abstinncias e jejuns da Ordem, a fim de que tendam ao rigor da observncia com prudncia e segurana, sob a direo do Maestro. Este os ensinar particularmente a vigiar-se para no faltar sobriedade hora da refeio, s pretexto dos jejuns que tm de observar. Assim aprendero a reprimir com o esprito as obras da carne, e a levar em seu corpo a mortificao de Jesus, a fim de que tambm a vida de Jesus se manifeste em seus corpos. Segundo uma observncia introduzida por nossos primeiros Padres e guardada sempre com um zelo especial, renunciamos em nosso propsito ao uso da carne. Observe-se dita abstinncia como algo prprio da Ordem e signo do rigor eremtico no qual, com a ajuda de Deus, queremos perseverar. Nenhum de ns se d a exerccios de penitncia fora dos indicados nestes Estatutos, a no ser com o conhecimento e aprovao do Prior. Mas se o Prior quisesse dar a algum de ns uma mitigao na comida, o sonho ou em alguma outra coisa, ou impor-lhe algo duro e grave, no podemos opor-nos, no seja que ao resisti-lo, resistamos no a ele, seno ao Senhor, cujas vezes faz para com ns. Pois ainda que sejam muitas e diversas as coisas que observamos, no esperamos que nenhuma delas nos aproveite sem o bem da obedincia.
Captulo 8
O novicio
Quem, ardendo em amor divino, desejam abandonar o mundo e captar as coisas eternas, quando chegam a ns recebamo-los com o mesmo esprito. , pois, muito conveniente que os novios encontrem nas Casas onde tm de ser formados, um verdadeiro exemplo de observncia regular e de piedade, de guarda da cela e do silncio, e tambm de caridade fraterna. Se chegasse a faltar isto, mal se poder esperar que perseverem em nosso modo de vida. Aos que se apresentem como candidatos, se os tem de examinar atenciosa e prudentemente, segundo o aviso do Apstolo So Juan: Examinai se os espritos vm de Deus. Porque realmente verdadeiro que da boa ou m admisso e formao dos novios depende principalmente a prosperidade ou a decadncia da Ordem, tanto na qualidade como no nmero das pessoas. Por isso, os Priores devem informar-se com prudncia sobre sua famlia, sua vida passada e suas qualidades de alma e corpo; pela mesma razo, convir conferir a mdicos prudentes que conheam bem nosso gnero de vida.
Efetivamente, entre as dotes pelas que os candidatos vida solitria devem ser estimados, tem de contar-se, sobretudo, um juzo equilibrado e so. No acostumamos receber novios antes que tenham comeado os vinte anos ; inclusive entre os que pea ser recebidos, recebam-se to s aqueles que, a juzo do Prior e da maioria da Comunidade, tenham suficiente doutrina, piedade, maturidade e foras corporais para levar os nus da Ordem; e que sejam o bastante aptos, sem dvida para a solido, mas tambm para a vida comum. Mas convm que sejamos mais circunspetos na recepo das pessoas de idade madura, j que se adaptam mais dificilmente s observncias e nossa forma de vida ; por isso no queremos que algum seja recebido depois dos quarenta e cinco anos, sem licena expressa do Captulo Geral ou do Reverendo Pai. Tal licena se requer tambm para admitir ao noviciado a um religioso paquerado o vnculo da Profisso em outro Instituto, e se se trata de um professo de votos perptuos, o Reverendo Pai precisa o consentimento do Conselho Geral. Para admitir a algum unido anteriormente com votos a um Instituto religioso, se nos aconselha ouvir antes ao Reverendo Pai. Quando se nos apresenta algum com desejos de ser monge do claustro, primeiro se lhe pergunta em particular que motivo e da inteno o movem a isso. E se realmente se v que s procura a Deus, se o examina sobre alguns pontos que ento preciso conhecer : se tem a devida formao cultural para um monge que tem de ser promovido ao sacerdcio, se pode cantar e se tem algum impedimento cannico. No entanto, o postulante no poder iniciar o noviciado at que tenha os suficientes conhecimentos de lngua latina. Cumprido isto, expe-se ao candidato o fim de nossa vida, a glria que esperamos dar a Deus por nossa unio com sua obra redentora, e que bom e gozoso deix-lo tudo para aderir-se a Cristo. Tambm se lhe prope o duro e spero, fazendo-lhe ver, quanto seja possvel, todo o modo de vida que deseja abraar. Se ante isto segue decidido, oferecendo-se com sumo gosto a seguir um caminho duro, fiado nas palavras do Senhor, e desejando morrer com Cristo para viver com Ele, por fim se lhe aconselha que, conforme ao Evangelho, se reconcilie com aqueles que tiverem alguma coisa contra ele. Depois de uma provao de trs meses, ao menos, e no mais de um ano, o postulante, numa data determinada, apresenta-se Comunidade, que dar outro dia seu voto a respeito da admisso. O novicio, j que vai seguir a Cristo deixando todas suas coisas, entregue ao Prior integralmente o dinheiro e o demais que talvez trouxe consigo, a fim de que no seja ele mesmo seno o Prior, ou o que o Prior disponha, quem o guarde a modo de depsito. Por nossa parte, no exigimos nem pedimos absolutamente nada aos novios nem aos que querem entrar em nossa Ordem. O noviciado se prolonga durante dois anos ; tempo que o Prior poder prorrogar, mas no mais de seis meses.
No se deixe aplanar o novicio pelas tentaes que costumam espreitar aos seguidores de Cristo no deserto, nem confie em suas prprias foras, seno mais bem espere no Senhor que deu a vocao e levar a termo a obra comeada.
Captulo 9
O Maestro de novios
A formao dos novios se tem de encomendar a um Maestro que se distinga por sua prudncia, caridade e observncia regular, que esteja dotado da devida maturidade e experincia das coisas da Ordem que senta um gosto especial quietude e cela que irradie amor por nossa vocao, que entenda a diversidade de espritos e tenha uma mentalidade aberta s necessidades dos jovens. Ao ocupar-se com todo corao da perfeio espiritual de seus alunos, saiba tambm escusar os defeitos alheios. O Maestro mostre-se solcito e vigilante com respeito recepo dos novios, antepondo o mrito ao nmero. Para que um seja cartuxo no de puro nome, seno real e verdadeiramente, no basta querer ; requer-se ademais, junto com o amor solido e a nossa vida, certa aptido especial de alma e corpo, por onde se conhea a vocao divina. Tudo isto o tenha em conta o Maestro, a quem principalmente pertence o examinar e provar aos calouros. No esquea que certos defeitos, que num princpio pareciam qui de pouca monta, freqentemente costumam crescer e arraigasse mais depois da Profisso. assunto grave o recusar ou despedir a algum, e s se tem de decidir depois de madura deliberao. No entanto, receber a algum ou ret-lo longo tempo, quando consta que lhe faltam as dotes necessrias, uma falsa e quase cruel compaixo. Esteja muito em guarda o Maestro para que o novicio se decida em sua vocao com plena liberdade, e no o compila em modo algum para que faa a Profisso. O Maestro visitar ao novicio em momentos oportunos e ensinar-lhe- as observncias da Ordem que um novicio no deve ignorar. Cuidar, ademais, especialmente de que o novicio estude com interesse os Estatutos da Ordem. Ao Maestro toca tambm formar os hbitos do novicio, dirigi-lo em seus exerccios espirituais e pr remdios oportunos a suas tentaes. Esteja atencioso a que, de dia em dia, aumente o amor dos alunos para Cristo e a Igreja. Ainda que, a exemplo de nosso Pai So Bruno, deve ter entranhas de me, preciso tambm que mostre uma energia de pai, para que a formao do calouro seja monstica e varonil. Deixe, sobretudo, que os novios experimentem a vida solitria na cela e sua austeridade, e ensine-os a prestarse mutuamente auxlio espiritual com caridade sincera e singela. muito proveitoso, certamente, que o novicio se dedique ao estudo e ao trabalho manual ; mas no basta que o solitrio esteja ocupado em sua cela e persevere laudavelmente assim at a morte ; precisa, ademais, outra coisa : o esprito de orao e prece. Faltando o viver com Cristo e a ntima unio do
alma com Deus, de pouco servir a fidelidade nas cerimnias e a mesma observncia regular, e nossa vida se poderia justamente comparar a um corpo sem alma. Portanto, nada tenha mais no corao o Maestro do que inculcar este esprito e acrescent-lo com discrio, para que os novios depois de sua Profisso se acerquem cada dia mais a Deus e consigam o fim de sua vocao. Cuide muito o Maestro de ir sempre s fontes de toda vida crist, aos documentos da tradio monstica e primitiva inspirao de nossa Ordem. Exponha compridamente o esprito de nosso Pai So Bruno e vele pelas ss tradies, recopiladas principalmente por Guigo e guardadas fielmente desde o nascimento da Ordem. A partir do segundo ano, os novios comearo seus estudos, que sero prudentemente orientados para uma formao ao mesmo tempo monstica e sacerdotal, segundo as normas da Ratio Studiorum. Os monges no sejam promovidos ao sacerdcio at que estejam dotados de suficiente maturidade humana e espiritual, a fim de que possam participar mais plenamente deste dom de Deus.
Captulo 10
A Profisso
Morto ao pecado e consagrado a Deus pelo batismo, o monge pela Profisso se consagra mais plenamente ao Pai e se desembaraa do mundo, para poder tender mais retamente para a perfeita caridade. Unido ao Senhor mediante um compromisso firme e estvel, participa do mistrio da Igreja unida a Cristo com vnculo indissolvel, e d depoimento ante o mundo da nova vida adquirida pela Redeno de Cristo. Quando se acerca o fim do segundo ano de noviciado, se o novicio parece digno de ser admitido, se o apresentar Comunidade que, depois de alguns dias, bem pensado o assunto, dar seu parecer sobre a admisso do novicio. Este, por sua vez, no faa os votos seno com plena liberdade e maturidade de juzo. Esta primeira Profisso se emite por trs anos. Passado este prazo, corresponde ao Prior, depois do voto da Comunidade, admitir ao jovem professo a passar dois anos com os professos de votos solenes. Em tal caso, o monge renovar por um binio a Profisso temporria. Durante um destes dois anos normalmente o segundo , o futuro professo estar livre de estudos cannicos, a fim de se preparar com mais reflexo para os votos solenes. Porque o discpulo que segue a Cristo deve renunciar a tudo e a si mesmo, o futuro professo, antes da Profisso solene, renuncie a todos os bens que tem em ato ; pode tambm, se quer, dispor dos bens aos que tenha direito. Nenhuma pessoa da Ordem pea nada em absoluto de suas coisas ao professo temporria, nem sequer com fins piedosos, nem para dar esmola a quem seja, seno que ele deve dispor livremente de seus bens segundo lhe ele decida.
O que vai professar escreva por si mesmo a Profisso na forma e com as palavras: Eu, frei N., prometo estabilidade, obedincia e converso de meus costumes, diante de Deus e dos seus Santos, e das relquias deste ermo, que est construdo em honra de Deus e da bem-aventurada sempre Virgem Maria e de So Juan Batista, na presena de Dom N., Prior. Depois da palavra prometo, se se trata da primeira Profisso temporria, adiciona-se por trs anos, e quando esta Profisso se prorrogue, especifique-se o tempo da prorrogao; mas se se trata da Profisso solene, diga-se perptua. de saber que todos nossos ermos esto dedicados em primeiro lugar Santssima Virgem Maria e a So Juan Batista, nossos principais patronos no cu. A cdula de toda Profisso deve ser assinada pelo professo e pelo Prior que recebeu os votos, e levar consignada a data ; se a conserva no arquivo da Casa. Feita a Profisso, o que foi recebido de tal maneira se considere alheio a tudo o do mundo, que no tenha potestade sobre coisa alguma, nem sequer sobre si mesmo, sem licena de seu Prior. Dado que todos os que determinaram viver regularmente tm de praticar com grande zelo a obedincia, ns o faremos com tanta maior entrega e fervor, quanto mais estrita e austera a vocao que abraamos ; pois se, o que Deus no permita, esta obedincia faltar, tantos trabalhos careceriam de prmio De aqui que Samuel diga: Melhor obedecer do que sacrificar, e melhor a docilidade do que a gordura dos carneiros. A exemplo de Jesus Cristo, que veio cumprir a vontade de seu Pai e, tomando a forma de servo, aprendeu por seus padecimentos a obedincia, o monge se submete pela Profisso ao Prior, que faz as vezes de Deus, e se esfora por chegar medida da plenitude de Cristo.
1. Desde suas origens, nossa Ordem, como um corpo cujos membros no tm todos a mesma funo, compreende padres e irmos. Tanto uns como outros so monges, e participam da mesma vocao, ainda que de maneira diversa. Graas a esta diversidade, a famlia cartusiana pode cumprir mais
perfeitamente sua misso na Igreja. Os monges do claustro, de quem tratamos at agora, vivem no retiro de suas celas e so sacerdotes ou chamados a s-lo. Os monges leigos, dos quais vamos tratar agora com a ajuda de Deus consagram sua vida ao servio do Senhor no s pela solido seno tambm por uma maior dedicao ao trabalho manual. AOS primeiros irmos, chamados conversos, se lhes uniram no correr do tempo outra classe de irmos, os doados, que, sem fazer votos, oferecem-se por amor de Cristo Ordem mediante um contrato recproco. J que levam vida monstica, chamamo-los tambm monges. 2. Bem como os primeiros Padres de nossa Ordem seguiram as impresses daqueles antigos monges que levaram uma vida de solido e pobreza de esprito, igualmente nossos primeiros irmos, Andrs e Guern, decidiram-se a abraar uma vocao parecida. necessrio, pois, que os conversos e doados no saiam dos termos do ermo seno rara vez e obrigados pela necessidade cuidando diligentemente de manter-se alheios aos rumores do sculo. Finalmente, suas celas de tal maneira estejam isoladas que, entrando em seu interior, fechada a porta e deixando afora todos os cuidados e preocupaes, possam orar ao Pai em escondido repouso. 3. BemOs irmos, imitando a vida escondida de Jesus em Nazar, enquanto realizam os trabalhos dirios da Casa, louvam ao Senhor em suas obras, consagrando o mundo glria do Criador e ordenando as ocupaes naturais ao servio da vida contemplativa ; mas nas horas consagradas orao solitria, e quando assistem aos Ofcios divinos, dedicam-se a Deus por inteiro. Assim, pois, os lugares onde trabalham e vivem devem estar acondicionados de tal sorte que facilitem o recolhimento e, ainda providos de tudo o necessrio e til, dem a impresso de ser verdadeira manso de Deus, no um edifcio profano. 4. Unidos no amor do Senhor, na orao, no zelo pela solido e no ministrio do trabalho, os irmos vivem juntos sob a direo do Procurador. Mostrem-se, pois, verdadeiros discpulos de Cristo, no tanto de palavra quanto de obra, fomentem a caridade fraterna, tendo uns mesmos sentimentos, suportando-se mutuamente e perdoando-se se algum tem queixa contra outro, a fim de ser um s corao e uma s alma. 5. Dentro de seu prprio marco de solido, os irmos trabalham para providenciar s necessidades materiais da Casa, que lhes esto especialmente confiadas. Assim permitem aos monges do claustro consagrar-se mais livremente ao silncio da cela. Padres e irmos, discpulos daquele que no veio ser servido seno a servir manifestam de forma diversa as riquezas de nossa vida, consagrada totalmente a Deus na solido. Estas duas formas de vida, na unidade de um mesmo corpo, tm graas diferentes, mas complementares a uma da outra e com mtua comunicao de bens espirituais. Tal harmonia permite ao carisma confiado pelo Esprito Santo a nosso Pai So Bruno atingir sua plenitude. 6. Entendam os padres que pelas sagradas Ordens, com as que foram marcados, receberam no tanto uma dignidade como um servio. Ademais, o sacerdcio
ministerial e o sacerdcio batismal dos leigos esto relacionados entre si, j que ambos participam do nico sacerdcio de Cristo. Que cada qual, pois, correndo pelo caminho reto para a nica meta de nossa vocao, persevere no estado ao que foi chamado. 7. O Prior h-de ser para todos os seus filhos, monges do claustro e leigos, um signo vivo do amor do Pai celestial, unindo-os em Cristo de tal maneira que formem uma famlia e que, segundo a expresso de Guigo, cada uma de nossas Casas seja realmente, uma igreja cartusiana. 8. A qual tem sua raiz e fundamento na celebrao do Sacrifcio Eucarstico, que signo eficaz de unidade. tambm o centro e cume de nossa vida, e ademais vitico espiritual de nosso xodo, por onde na solido retornamos por Cristo ao Pai. Assim mesmo, em todo o curso da Liturgia, Cristo como nosso Sacerdote ora por ns, e como Cabea nossa ora em ns. 9. E como o caminho mais seguro para ir a Deus seguir de perto as impresses de nossos Fundadores, os irmos devem propor-se como modelos aos primeiros conversos da Grande Cartuxa, que, sem contar ainda com uma regra escrita, deram forma e esprito a seu gnero de vida. Sua recordao inundava de gozo o corao de So Bruno, e o movia a escrever: De vocs, amarssimos irmos leigos, digo : Minha alma glorifica ao Senhor ao ver a grandeza de sua misericrdia sobre vocs. Alegro-me tambm de que, ainda sem ser letrados, Deus todo-poderoso grava com seu dedo em vossos coraes no s o amor, seno tambm o conhecimento de sua santa lei. Com vossas obras, efetivamente, demonstrais o que amais e conheceis. Porque praticais com todo o cuidado e zelo possveis a verdadeira obedincia, que o cumprimento da vontade de Deus e a clave e o selo de toda vida espiritual. Obedincia que no existe nunca sem muita humildade e grande pacincia, e que sempre vai acompanhada do casto amor do Senhor e da verdadeira caridade. O qual pe de manifesto que recolheis sabiamente o fruto muito suave e vivificador da Escritura divina. Permanecei, pois, irmos meus, no estado ao que chegastes.
Captulo 12
A solido
A nossa principal aplicao e propsito consistem em encontrar Deus no silncio e na solido. Aqui, o Senhor e o seu servo conversam frequentemente como dois amigos, a alma fiel une-se muitas vezes ao Verbo de Deus, a esposa convive com o Esposo, as coisas da terra se ligam s do Cu, as humanas s divinas. Mas geralmente longo o trajeto a percorrer, por caminhos ridos e secos, at chegar fonte fonte da gua viva. No entanto, geralmente longo o caminho de peregrinao por sendas ridas e ressecas at chegar s fontes de guas vivas.
O irmo deve vigiar com atencioso cuidado a solido exterior, que com freqncia no est protegida pelo retiro do claustro e a guarda da cela. Mas de nada aproveita a solido exterior se no guarda tambm sempre a solido interior, ainda durante o trabalho, bem que sem violncia. Sempre que no assistam ao Ofcio divino na igreja nem estejam ocupados nos trabalhos das obedincias, os irmos se retiram a sua cela como ao refgio mais seguro e calmo do porto. Na qual permanecem com paz e, quanto seja possvel, sem fazer nenhum rudo, seguindo fielmente a ordem dos exerccios, fazendo-o tudo na presena de Deus, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, dando por sua mdio graas a Deus Pai. Nela se ocupam proveitosamente lendo ou meditando, sobretudo a Sagrada Escritura, que o alimento da alma, ou se entregam orao segundo suas possibilidades, no procurando nem aproveitando nenhuma ocasio para sair fora, salvo nas geralmente estabelecidas, ou que procedam da obedincia. O homem por natureza foge s vezes do silncio da solido e da quietude; pelo qual diz tambm Santo Agustn: Para os amigos deste mundo no h nada to trabalhoso como no trabalhar. Tambm podem s vezes os irmos, para seu proveito espiritual, dedicar-se a pequenos trabalhos em sua cela, com o consentimento do Procurador. O primeiro ato de caridade para com nossos irmos respeitar sua solido ; se temos permisso para falar de algum assunto em sua cela, evitemos palestras inteis. Depois do toque do ngelus da tarde no vo os irmos cela do Prior ou o Procurador sem ser chamados. Depois dessa hora s ficam com os hspedes os encarregados de servir-lhes Igualmente, quando um est na cela de outro ou em outra parte, quanto ouve esse toque vespertino deve retirar-se em seguida a no ser que tenha ordem especial de deter-se por mais tempo.
Captulo 13
A clausura
J que deixamos o mundo para sempre a fim de assistir incessantemente ante a Divina Majestade, conscientes das exigncias de nosso estado, sentimos horror por sair e percorrer lugares e cidades. Mas de nada serviria um rigor to grande na clausura, se no tendssemos por ela pureza de corao qual somente se promete a viso de Deus. Para consegui-la, requer-se uma grande abnegao, sobretudo da natural curiosidade que o homem sente por tudo o humano. No devemos permitir que nosso esprito se derrame pelo mundo, andando busca de notcias e rumores. Pelo contrrio, nossa parte permanecer ocultos no segredo do rosto do Senhor. Quando enviado um irmo a um lugar prximo, no aceita comida nem bebida de ningum, nem alojamento, sem um mandato especial, ou obrigado por alguma necessidade inevitvel e imprevista.
O Porteiro seja amvel com todos, religiosamente educado, e abstenha-se por completo do muito falar ; assim edificar aos leigos com o bom exemplo. Quando tenha que receber ou com mansido despedir a algum, faa-o com palavras atenciosas, mas muito breves. E o mesmo se manda praticar a quem faz suas vezes. Recordemos assim mesmo que os leigos no esperam do cartuxo que lhes fale de vos rumores ou de poltica ; por isso, evitando todo tema profano ou frvolo, escrevamos sempre na presena de Deus, em Cristo. O precioso carisma do celibato um dom divino que libera nosso corao de maneira excepcional e nos impulsiona a cada um, cativado por Cristo a entregar-se totalmente por Ele. Esta graa no deixa lugar nem estreiteza de corao nem ao egosmo, seno que, em resposta ao amor inefvel que Cristo nos manifestou, deve dilatar nosso amor de tal maneira que um convite irresistvel inflame a alma a sacrificar-se sempre mais plenamente. Seja, pois, o alma do monge, na solido, como um lago tranqilo, cujas guas brotam do fundo mais puro do Esprito; nenhum rudo vindo de fora as perturba e, como lmpido espelho, s refletem a imagem de Cristo.
Captulo 14
O silncio
Deus conduziu a seu servo solido para falar-lhe ao corao ; mas s o que escuta em silncio percebe o sussurro da suave brisa que manifesta ao Senhor. Ainda que ao princpio nos resulte no duro calar, gradualmente, se somos fiis, nosso mesmo silncio ir criando em ns uma atrao para um silncio cada vez maior. Por isso, no lhes est permitido aos irmos falar indistintamente o que queiram, com quem queiram ou o tempo que queiram. No entanto , podem falar do que seja til para seu trabalho, mas em poucas palavras e baixinho. Alm do que corresponde utilidade do trabalho, s podem falar com licena, tanto com os monges como com os estranhos. Como a guarda do silncio de suma importncia na vida dos irmos preciso que guardem cuidadosamente esta regra. Nos casos duvidosos no previstos pela lei, fica discrio de cada qual o julgar se lhe est permitido falar e quanto, segundo sua conscincia e a necessidade. A devoo ao Esprito que habita em ns e a caridade fraterna pedem que os irmos contem e mea suas palavras quando lhes est permitido falar. de crer que um colquio longo e inutilmente prolongado contrista mais ao Esprito Santo e dissipa mais do que poucas palavras, inclusive ilcitas, mas em seguida interrompidas. Freqentemente, a conversa que comea sendo til, degenera cedo em intil, para terminar sendo censurvel.
Os Domingos e Solenidades, e tambm os dias dedicados especialmente ao retiro, guardam com mais cuidado o silncio e a cela. Todos os dias, desde o toque vespertino do ngelus at Prima, deve reinar em toda a Casa um silncio perfeito, que no podemos quebrantar sem verdadeira e urgente necessidade. Porque este tempo da noite, segundo os exemplos da Escritura e o sentir dos antigos monges, favorece de um modo especial o recolhimento e o encontro com Deus. No se permitam tambm no os irmos dirigir a palavra sem permisso s pessoas de fora que chegam, nem conversar com eles ; unicamente se lhes permite devolver a saudao aos que encontrem ao passo ou se lhes acerquem, e responder brevemente ao que lhes perguntem, escusando-se com que no tm permisso para falar mais. A guarda do silncio e o recolhimento interior requerem uma especial vigilncia de parte dos irmos, que tm tantas ocasies de falar. No podero ser perfeitos neste ponto, se no tentam atenciosamente andar na presena de Deus.
Captulo 15
O trabalho
Os irmos se dedicam ao trabalho nas horas assinaladas, a fim de que, providenciando s necessidades da Casa mediante seu trabalho com Jesus, o filho do Carpinteiro, orientem toda a criao glria de Deus, e glorifiquem ao Pai ao mesmo tempo que associam ao homem todo inteiro obra da Redeno. No suor e na fadiga do trabalho acham, efetivamente, uma partcula da cruz de Cristo, por onde, luz de sua Ressurreio, fazem-se partcipes dos novos cus e da nova terra. Segundo a antiga tradio monstica, o trabalho um meio muito eficaz de progresso para a caridade perfeita pela prtica das virtudes Pelo equilbrio que estabelece entre o homem interior e o exterior, o trabalho ajuda tambm ao irmo a sacar mais fruto da solido. Nas obedincias, e em tudo o que tm a seu cargo, os irmos seguem as disposies do Prior e do Procurador, aproveitando seus dotes naturais e os dons da graa no desempenho dos cargos que se lhes encomendem. Assim, pela obedincia, aumenta-se a liberdade de filhos de Deus, e com esta submisso voluntria contribuem edificao do Corpo de Cristo segundo o plano divino. O Procurador com respeito aos irmos, bem como o Encarregado de obedincia com respeito a seus ajudantes, exeram sua autoridade com esprito de servio, de sorte que manifestem a caridade com que Deus os amou. Confiram-nos e escutem-nos gostosos, salva, com tudo, sua autoridade para decidir e ordenar o que tenha que fazer. Assim todos cooperam no cumprimento do dever com uma obedincia ativa e cheia de amor.
Unidos a Cristo Jesus, que sendo rico se fez pobre por ns, os irmos trabalham sempre com esprito de pobreza. Evitam, em especial tudo esbanja, e vigiam para que as ferramentas no se estraguem. Pem, igualmente, sumo cuidado em conservar em bom estado seus instrumentos, e, sobretudo, as mquinas. O Enfermeiro e tambm o Cozinheiro, e os que tenham que atender s necessidades especiais dos enfermos, rodeiem de amor aos afligidos pela doena ; mais ainda, reconheam neles a imagem de Cristo paciente, e alegrem-se de poder servir e aliviar a Cristo nos enfermos. A vida do irmo, em primeiro lugar, ordena-se a que unido a Cristo permanea em seu amor. Assim, mediante a graa da vocao aplique-se de todo corao a ter a Deus sempre presente, j na solido da cela, j tambm em seus trabalhos.
Captulo 17
O novio
Quem, ardendo em amor divino, deseja abandonar o mundo e captar as coisas eternas, quando chegam a ns recebamo-los com o mesmo esprito. , pois, muito conveniente que os novios encontrem nas Casas onde tm de ser formados, um verdadeiro exemplo de observncia regular e de piedade, de guarda da cela e do silncio, e tambm de caridade fraterna. Se chegasse a faltar isto, mal se poder esperar que perseverem em nosso modo de vida. Aos que se apresentem como candidatos, se os tem de examinar atenciosa e prudentemente, segundo o aviso do apstolo So Juan : Examinai se os espritos vm de Deus. Porque realmente verdadeiro que da boa ou m admisso e formao dos novios depende principalmente a prosperidade ou decadncia da Ordem, tanto na qualidade como no nmero das pessoas. Por isso, os Priores devem informar-se com prudncia sobre sua famlia, sua vida passada e suas qualidades de alma e corpo ; pela mesma razo, convir conferir a mdicos prudentes que conheam bem nosso gnero de vida. Efetivamente, entre as dotes pelas que os candidatos vida solitria devem ser estimados, tem de contar-se sobretudo um juzo equilibrado e so. No acostumamos receber novios antes de que tenham comeado os vinte anos ; inclusive entre os que pea ser admitidos, recebam-se to s aqueles que, a juzo do Prior e da maioria da Comunidade, tenham suficiente piedade, maturidade e foras corporais para levar os nus da Ordem ; e sejam o bastante aptos, sem dvida para a solido, mas tambm para a vida comum. Mas convm que sejamos mais circunspetos na recepo das pessoas de idade madura, j que se acostumam mais dificilmente s observncias e nossa forma de vida ; por isso, no queremos que se receba aspirante algum ao estado de converso passados os quarenta e cinco anos, sem licena expressa do Captulo
Geral ou do Reverendo Pai. Tal licena se requer tambm para admitir ao noviciado a um religioso paquerado o vnculo da Profisso em outro Instituto, e se se trata de um professo de votos perptuos, o Reverendo Pai precisa do consentimento do Conselho Geral. Para admitir a algum unido anteriormente com votos a um Instituto religioso se nos aconselha ouvir antes ao Reverendo Pai. Quando se nos apresenta algum pedindo ser irmo nosso, necessrio que no padea nenhum impedimento legtimo, que vinga movido por reta inteno, e que seja apto para levar os nus da Ordem Razo pela qual seja interrogado devidamente sobretudo aquilo cujo conhecimento parea necessrio ou oportuno para formar um juzo reto a respeito de sua admisso. Cumprido isto, expe-se ao candidato o fim de nossa vida, a glria que esperamos dar a Deus por nossa unio com sua obra redentora, e que bom e gozoso deix-lo tudo para aderir-se a Cristo. Tambm se lhe prope o duro e spero, fazendo-lhe ver, quanto seja possvel, todo o modo de vida que deseja abraar. Se ante isto segue decidido, oferecendo-se com sumo gosto a seguir um caminho duro, fiado nas palavras do Senhor, e desejando morrer com Cristo para viver com Ele, por fim se lhe aconselha que, conforme ao Evangelho, se reconcilie com aqueles que tiverem alguma coisa contra ele. Depois de conviver uns dias conosco, se ao Prior lhe consta que pode ser recebido o aspirante, receber o manto dos postulantes de mos do Maestro de novios. Exercitar-se- em diversos trabalhos e obedincias, e assistir ao Ofcio divino, para que se acostume quanto antes nova vida. Antes de que comece o noviciado, seja provado na Casa ao menos durante trs meses e no mais de um ano. Se o postulante fosse achado humilde, obediente, casto, fiel, piedoso, equilibrado, apto para a solido e diligente no trabalho pode ser apresentado Comunidade, includos os doados perptuos. Apresentao que fazem o Vigrio, o Procurador e o Maestro, quem clara e exatamente pem de manifesto as dotes e defeitos do postulante. E se toda a Comunidade, ou a maior parte, julga que pode ser admitido, corresponde ao Prior associ-lo Ordem com a tomada do hbito monacal, tendo feito antes ao menos quatro dias de retiro. O novicio, j que se prope deixar todas as coisas para seguir a Cristo, entregue integralmente ao Prior o dinheiro e as demais coisas que talvez trouxe consigo, a fim de que sejam guardadas no por ele mesmo, seno pelo Prior ou por quem este designar. Por nossa parte, no exigimos nem pedimos absolutamente nada aos que querem entrar em nossa Ordem ou aos novios. O noviciado fato para monges leigos no vale para monges do claustro, nem vice-versa. O noviciado se prolonga durante dois anos ; tempo que o Prior pode prorrogar, mas no mais de seis meses. O candidato, ao menos antes de comear o segundo ano, eleja entre a vida dos conversos e a dos doados, espontaneamente e com toda liberdade.
O candidato que passa com votos perptuos de outra Religio nossa uma vez cumprido o postulantado como dissemos antes, se fosse apto, admitido ao noviciado dos conversos, no qual permanece cinco anos antes de ser admitido Profisso solene. Para sua admisso ao noviciado faa-se igualmente depois de passados dois anos, e depois, depois de outros dois, e finalmente antes da Profisso solene. Se algum, j no segundo ano do noviciado dos doados, ou depois de feita a Doao, fosse passar ao estado dos conversos, ao Prior corresponde determinar o ordem de toda a provao, de modo que esta dure ao menos sete anos e trs meses, e se observem as normas do Direito. O mesmo se faz quando um converso novio ou professo de votos temporrios passa ao estado de doado. No se deixe aplanar o novicio pelas tentaes que costumam espreitar aos seguidores de Cristo no deserto ; nem confie em suas prprias foras, seno mais bem espere no Senhor, que deu a vocao e levar a termo a obra comeada.
Captulo 18
A Profisso
Morto ao pecado e consagrado a Deus pelo batismo, o monge pela Profisso se consagra mais plenamente ao Pai e se desembaraa do mundo, para poder tender mais retamente para a perfeita caridade. Unido ao Senhor mediante um compromisso firme e estvel, participa do mistrio da Igreja unida a Cristo com vnculo indissolvel, e d depoimento ante o mundo da nova vida adquirida pela Redeno de Cristo. Findo laudavelmente o noviciado, o novio converso se apresenta ao Convento. Prostrado em Captulo pede misericrdia e suplica por amor de Deus ser admitido primeira Profisso em hbito dos professos, como o mais humilde servidor de todos. Depois de ter feito pelo menos oito dias de retiro espiritual, o dia estabelecido, o irmo renovar sua petio ante o Convento. Ento o Prior o admoestar sobre a estabilidade, a obedincia, a converso de costumes e restantes coisas necessrias ao estado de conversos. Depois, emitir na igreja a Profisso por trs anos. Tem-se de tentar absolutamente que o irmo, ao emitir seus votos, proceda com maturidade de juzo, e no se comprometa seno com plena liberdade. Decorrido o trinio, ao Prior corresponde, depois do voto da Comunidade admitir ao jovem professo renovao da Profisso temporria por dois anos. O Prior admite aos professos temporrios Profisso solene depois do sufrgio dos monges professos de votos solenes, e com a anuncia do Reverendo Pai.
Tambm para esta Profisso dever fazer o irmo duas vezes sua petio em Captulo, como se disse ao falar da Profisso temporria. Porque o discpulo que segue a Cristo deve renunciar a tudo e a si mesmo, o futuro professo, antes da Profisso solene, renuncie a todos os bens que tenha em ato ; pode tambm, se quer, dispor dos bens aos que tenha direito. Nenhuma pessoa da Ordem pea nada em absoluto de suas coisas ao professo temporal, nem sequer com fins piedosos, nem para dar esmola a quem seja, seno que ele disponha livremente de seus bens segundo ele decida. O dia assinalado, o que vai professar emite a Profisso na Missa conventual, depois do Evangelho ou o Credo. Ento, realmente, a entrega de si mesmo que pretende fazer com Cristo, atravs do Prior aceitada e consagrada por Deus. O que vai professar escreva por si mesmo em lngua verncula a Profisso nesta forma e com estas palavras: Eu, frei N., prometo obedincia, converso de meus costumes e perseverana neste ermo, diante de Deus e dos seus Santos e das relquias deste ermo, construdo em honra de Deus e da bem-aventurada sempre Virgem Maria e de So Juan Batista, na presena de Dom N., Prior. Se se trata da Profisso temporria, adicionem-se depois de prometo, as palavras que limitem o tempo; se da Profisso solene, diga-se perptua. de saber que todos nossos ermos esto dedicados, em primeiro lugar, bem-aventurada sempre Virgem Maria e a So Juan Batista, nossos principais patronos no cu. Todas as cdulas de Profisses, assinadas pelo Professo e pelo Prior que recebeu os votos, e com indicao da data, se guardaro no arquivo da Casa. Todos os religiosos de nossa Ordem permanecem daqui por diante professos da Casa onde, uma vez findo o noviciado, fizeram a primeira Profisso, ainda que sejam transladados a outras Casas e faam ali sua Profisso solene. Desde o momento de sua Profisso, saiba o irmo que no pode ter coisa alguma sem licena do Prior, nem ainda a bengala em que se apia quando caminha, j que j no dono nem de si mesmo. Dado que todos os que determinaram viver regularmente tm de praticar com grande zelo a obedincia, ns o faremos com tanta maior entrega e fervor, quanto mais estrita e austera a vocao que abraamos ; pois se, o que Deus no permita, esta obedincia faltar, tantos trabalhos careceriam de mrito De aqui que Samuel diga: Melhor obedecer do que sacrificar, e melhor a docilidade do que a gordura dos carneiros.
Captulo 19
A Doao
Na Casa de Deus h muitas manses : entre ns h monges do claustro e conversos, h tambm doados que, tendo abandonado igualmente o mundo, procuraram a solido da Cartuxa a fim de consagrar toda sua vida a Deus, aplicando-se orao e ao trabalho ao amparo da clausura. Pois no poucas vezes os homens mais virtuosos preferiram viver e morrer no estado de doados, para desfrutar, agregados aos filhos de So Bruno, de sua santa herana. Findo laudavelmente o noviciado, o novicio doado admitido pelo Prior a fazer a Doao temporria, depois da votao dos professos de votos solenes, e assim mesmo dos doados perptuos. O dia da Doao temporria ou perptua, o futuro doado, tendo feito ao menos quatro dias de retiro, ler sua Doao, escrita em lngua verncula, ante toda a Comunidade, antes de Vsperas, sob esta forma e com estas palavras: Eu, irmo N., por amor de nosso Senhor Jesus Cristo e pela salvao de minha alma, obrigo-me a servir a Deus fielmente como Donato, observando a obedincia e castidade, sem nada ter como prprio, para a edificao da Igreja. Por isso eu me entrego a esta Casa, em compromisso recproco, para a servir em todo o tempo, submetendo-me disciplina da Ordem, segundo as normas dos Estatutos. Depois da expresso me entrego, adicione-se por trs anos, se a Doao temporria; e se se prorroga, indique-se o tempo de prorrogao; mas se a Doao perptua, diga-se perpetuamente. Ainda que o doado viva em pobreza, conserva a propriedade e a disposio de seus bens. Mas antes do tempo da Doao perptua, ningum aliene nem permita que seja alienado nenhum de seus bens, ainda que o queira o mesmo doado. Desde este momento, o doado fica constitudo em pessoa da Ordem e incorporado a ela, podendo os Superiores, em caso de necessidade, transladlo a qualquer de nossas Casas. No entanto, no pode ser expulsado da Ordem, a no ser que faltasse gravemente a alguma de suas obrigaes, em cujo caso poder o Prior, com o consentimento de seu Conselho, anular sua Doao. Mas quando se anula um contrato de Doao, ambas as partes, a saber, o Prior em nome da Comunidade, e o mesmo doado, assinem um instrumento que d f desta resciso. Terminado o trinio, ao Prior corresponde, depois da votao da Comunidade, includos os Doados perptuos, admitir ao doado renovao temporria por dois anos. O tempo da Doao temporria pode prorrog-lo o Prior, mas no mais de um ano. Decorrido o tempo de provao, ao Prior corresponde, depois da votao da Comunidade, includos os Doados perptuos, admitir ao irmo ou Doao perptua, ou ao regime no que a Doao se renova cada trs anos ; renovaes para as quais no se repete a votao. Para a Doao perptua se requer ademais o consentimento do Reverendo Pai.
Os doados so monges dotados de costumes prprios quanto ao Ofcio divino e s demais observncias. Estes costumes se podem adaptar s necessidades de cada um, de maneira que lhe permitam viver, segundo seu caminho pessoal, nossa vocao de unio com Deus na solido e o silncio. Esta ordenada liberdade no a tomaro como uma concesso sensualidade, seno em servio da caridade. Entregam-se, por tanto, ao servio do Senhor de diferente maneira que os conversos, mas sua oferenda a Deus no menos verdadeira, nem menos ardente seu desejo de santidade. Prestam, assim mesmo, uma ajuda muito til Casa, encarregando-se as vezes de trabalhos que aos conversos lhes dificultariam a guarda de suas observncias.
Captulo 20
A formao dos irmos
Os irmos principiantes esto sujeitos direo do Maestro de novios, que sempre ser um Pai ordenado de sacerdote. Que seja, ademais, varo sobressalente em religiosidade, quietude, silncio, juzo e prudncia, que arda em autntica caridade e irradie amor de nossa vocao, que compreenda tambm a diversidade de espritos, e tenha uma mentalidade aberta s necessidades dos jovens. Sob sua tutela permanecem os conversos at sua Profisso solene, e os doados at sua Doao perptua ou at que comecem o regime no que se renova a Doao cada trs anos. O Maestro instrua a seus alunos a fim de que a vida de orao, enraizada na f e na caridade, saquem-na da genuna fonte da palavra de Deus, e a adaptem s obrigaes prprias de seu estado, como so a solido, o silncio, a liturgia e o trabalho. Promove, tambm, o entendimento e o amor de nossos Estatutos bem como das tradies da Ordem Se preocupar de que o amor dos alunos a Cristo e Igreja v em aumento de dia em dia. Uma vez por semana atende formao em comum de seus discpulos, tendo uma conferncia de ao menos meia hora de durao, na que os instrua, sobretudo, a respeito do esprito e as observncias de nosso propsito. AOS novios se lhes concede mais tempo de cela, para que possam aplicar-se melhor a sua formao espiritual. Visitando aos calouros e conversando singelamente com eles em particular o Maestro observa suas disposies espirituais e lhes d conselhos acomodados a suas necessidades especiais, para que cada um possa atingir a perfeio de sua vocao. O Procurador, que por razo de seu cargo trata diariamente com os irmos, os mover mais eficazmente virtude e orao com o exemplo de virtude e de vida de orao do que ele mesmo pratique ; porque a cincia divina se comunica melhor vivendo-a que explicando-a. Cuide-se j desde o tempo de formao de no carregar aos irmos com excessivos exerccios comuns ou observncias alheias a nossa Ordem ; vigie-
se mais bem para do que sejam iniciados na vida de orao e no verdadeiro esprito monstico. Ao Prior e ao Maestro de novios pertence o julgar, segundo sua prudncia e discrio, da idoneidade dos candidatos ou dos irmos jovens para seguir o gnero de vida da Ordem. Para que um seja cartuxo no s de nome, seno real e verdadeiramente, no basta querer ; requer-se ademais, junto com o amor solido e a nossa vida, certa aptido especial de alma e corpo. Receber a algum ou ret-lo longo tempo, quando consta que lhe faltam as dotes necessrias, uma falsa e quase cruel compaixo. Esteja muito em guarda o Maestro para que o novicio se decida em sua vocao com plena liberdade, e no o compila em modo algum para que faa a Doao ou a Profisso. Quatro vezes ao ano d conta, ante o Prior e o Conselho, do estado dos novios doados e dos novios conversos ; responda tambm s perguntas que se lhe faam sobre os demais membros do noviciado. Os irmos principiantes tenham livre acesso ao Maestro de novios e possam tratar sempre com ele, mas espontaneamente e sem coao alguma. Exortamo-los a que exponham com singeleza e confiana suas dificuldades ao Maestro, aceitando-o como eleito pela divina Providncia para dirigi-los e ajud-los. Igualmente, todos os irmos podem ir livremente ao Prior, quem, como pai comum, os receber benignamente e os visitar algumas vezes em suas celas, mostrando o mesmo interesse por todos, sem acepo de pessoas. Os irmos mais antigos, em especial os Encarregados de obedincia, contribuem eficazmente formao dos mais jovens com quem trabalham, se lhes do exemplo de observncia regular e praticam as virtudes e a orao no viver de cada dia. No entanto, abstenham-se ou pouco menos de ter conversas, ainda sobre temas espirituais, pois no devem misturar-se em coisas relativas conscincia alheia. Para que a vida espiritual dos irmos se sustente numa slida base, se lhes dar aos jovens irmos, desde o comeo de sua vida monstica, uma formao doutrinal, qual se reservar cada dia verdadeiro tempo. Tal formao tende a que o irmo se inicie nas riquezas latentes na Palavra de Deus e lhe permita adquirir uma percepo pessoal dos mistrios de nossa f, ao mesmo tempo que vai aprendendo a sacar fruto da meditao em livros slidos. O cargo de dar dita instruo corresponde ao Prior, ao Maestro e ao Procurador, quem faro de comum acordo, segundo as prescries do Captulo Geral. A formao espiritual e doutrinal dos irmos tem de ir-se completando durante toda a vida. Na consecuo deste fim ajudam ao Procurador os padres designados pelo Prior, dando cada domingo uma conferncia aos irmos. Desde Todos os Santos at Pscoa, nesta conferncia se explicam os Estatutos, e se lem os captulos que costume ler todos os anos na Comunidade dos irmos ; esta conferncia, pela que so tambm instrudos sobre as observncias da Ordem, se encomendar preferencialmente ao Procurador. Desde Pscoa at a festa de Todos os Santos, tal formao versar sobre doutrina crist, vida espiritual, e ademais sobre Sagrada Escritura e Liturgia, segundo as normas que estabelecer o Prior ; este ensino seja profundo e, ao
mesmo tempo, adaptada capacidade dos irmos. Estas duas classes de instruo, se parece oportuno, podem-se distribuir de outro modo, com a condio que no se diminua o tempo dedicado a cada uma. Assim, os irmos aprendero a sublime cincia de Jesus Cristo, se se dispem a receb-la com uma vida de orao silenciosa, oculta com Cristo em Deus. Esta a vida eterna, que conheamos ao Pai e a seu enviado, Jesus Cristo.
Livro 3
Captulo 21
A celebrao cotidiana da Liturgia
Depois de ter descrito a vida do monge escuta de Deus na cela ou no trabalho, vamos tratar agora, com a ajuda do Senhor, da Comunidade. A graa do Esprito Santo congrega aos solitrios para formar uma comunho no amor, a imagem da Igreja que uma e se estende por todas as partes. Quando nosso Pai So Bruno penetrou no deserto com seis colegas, seguia as impresses dos antigos monges, consagrados totalmente ao silncio e pobreza de esprito. Com tudo, esta graa prpria de nossos primeiros Padres consistiu em introduzir naquela vida a Liturgia cotidiana, que, conservando a fora da instituio eremtica, associasse-a mais expressamente ao cntico de louvor do que o Sumo Sacerdote, Cristo, transmitiu a sua Igreja. Esta peculiar Liturgia a conservamos como mais conforme vida contemplativa e solitria. Ao modo da sinaxis dos antigos monges, em nossa Liturgia ocupam o lugar mais eminente as viglias da noite, seguidas imediatamente de Laudes, a Eucaristia celebrada conventualmente, e tambm as Vsperas. Para estes ofcios nos reunimos na igreja. Quando nos congregamos para a Eucaristia, em Cristo presente e orante se consuma a unidade da famlia cartusiana. Esta comemorao do sacrifcio do Senhor rene cada dia a todos os monges do claustro e aos monges leigos que o desejem. Ademais, os sacerdotes na solido celebram a Eucaristia, juntamente com a Igreja ; ento a humilde oblao de sua vida no deserto assumida em Cristo para a glria de Deus Pai. No entanto, nos dias que se ajustam mais vida comunitria, os monges podem concelebrar, unidos num mesmo sacerdcio.
A orao noturna aquela na que, perseverando nas sentinelas divinas, esperamos a volta do Senhor, para que, quando chame, abramos-lhe ao instante. As Vsperas se celebram ao tempo em que o dia declina e convida s almas ao sbado espiritual. As demais Horas cannicas da Liturgia as recitamos, segundo costume, na cela. Os Domingos e Solenidades, Tera, Sexta e Nona as cantamos no coro. A Liturgia celebrada no segredo da cela se adapta vida solitria, que liberdade do alma, de tal maneira que possa harmonizar o mais possvel com a inclinao do corao, ainda quando seja sempre um ato de nossa vida comunitria. Ao toque de sino, orando todos ao mesmo tempo, obtm como resultado que toda a Casa seja um louvor da glria de Deus. Enquanto celebram o Ofcio divino, os monges se fazem voz e corao da mesma Igreja, que por meio deles oferece a Deus Pai, em Cristo culto de adorao, louvor e splica, e pede humildemente perdo pelos pecados. Cargo de suma importncia, que desempenham os monges, certamente atravs de toda sua vida, mas mais expressa e publicamente por meio da sagrada Liturgia. Sendo ocupao do monge meditar assiduamente as Sagradas Escrituras, at que se convertam em algo prprio pessoa, quando se nos apresentam pela Igreja na Sagrada Liturgia, acolhemo-las como po de Cristo. A Liturgia conventual se canta sempre. Nosso canto gregoriano, o qual sabemos que fomenta a interioridade e a sobriedade do esprito, parte tradicional e slida do patrimnio da Ordem. Os monges do claustro esto obrigados ao Ofcio divino segundo o descrevem nossos livros litrgicos. A participao dos monges leigos na Liturgia pode realizar-se de vrios modos ; em qualquer caso, participam na orao pblica da Igreja. Alm do Ofcio divino, nossos Padres nos transmitiram o Ofcio da bemaventurada Virgem Maria, cada uma de cujas Horas costuma preceder Hora correspondente do Ofcio divino. Com essas preces se celebra a perene novidade do mistrio pelo qual a bem-aventurada Virgem engendra espiritualmente a Cristo em nossos coraes. J que o Senhor nos chamou para que representemos ante Ele a toda criatura, necessrio que intercedamos por todos : por nossos irmos, familiares e benfeitores, e por todos os vivos e defuntos. Freqentemente celebramos a Liturgia da reconciliao, perptua Pscoa do Senhor, pela que nos renova a ns, pecadores, que procuramos seu rosto. Efetivamente, nossa vida espiritual depende da assdua diligente e pessoal prtica do Sacramento da Penitncia. Porque nossa vocao consiste em estar sem interrupo em vela cerca de Deus, toda nossa vida se converte numa espcie de Liturgia que em certos tempos se faz mais patente, j seja que ofereamos oraes em nome e segundo os ritos da Igreja, ou bem que sigamos os impulsos do prprio
corao. Mas no nos dividimos por esta diversidade, j que sempre exerce em ns sua sacerdcio o mesmo Senhor, orando no mesmo Esprito ao Pai.
Captulo 22
A vida comum
Quando nas celas ou nas obedincias praticamos a vida solitria, o corao se inflama e se alimenta com o fogo da divina caridade, que vnculo de perfeio, e nos constitui membros de um mesmo corpo. Este amor mtuo que nos temos, podemos manifest-lo prazenteiramente com palavras e obras, ou abnegando-nos por nossos irmos, quando nos reunimos nas horas assinaladas pelos Estatutos. A sagrada Liturgia a parte mais digna da vida comum, como queira que fundamenta a mxima unio entre ns, quando, diariamente unidos, de tal maneira participamos nela que podamos estar concordes em presena de Deus. O Captulo da Casa um lugar particularmente digno ; nele fomos recebidos um dia cada um como o mais humilde servidor de todos ; nele reconhecemos ante nossos irmos as faltas cometidas depois ; ali escutamos a leitura sagrada, e ali tambm deliberamos sobre questes que afetam ao bem comum. Em algumas Solenidades nos reunimos todos no Captulo para ouvir o sermo pronunciado pelo Prior ou por outro a quem ele tenha encarregado. Nos Domingos e Solenidades - excetuadas as Solenidades de Natal do Senhor, Pscoa e Pentecostes, e todas as que na Quaresma ocorrem entre semana depois de Nona vamos ao Captulo para atender leitura do Evangelho ou dos Estatutos. Cada duas semanas ou uma vez ao ms, segundo o costume das Casas, reconhecemos ali publicamente as faltas. Cada um pode confessar as faltas cometidas contra os irmos, contra os Estatutos, ou tambm contra as obrigaes gerais de nossa observncia. E porque no se guarda a solido do corao seno pela proteo do silncio, quem o tenha quebrantado reconhecer sempre sua falta, e sofrer alguma penitncia pblica, segundo costume. Depois da acusao, o Prior poder oportunamente fazer correes. Os irmos se renem os Domingos no Captulo ou em outro lugar, a uma hora apropriada, e ali se lhes lem e explicam os Estatutos, ou um pai encarregado pelo Prior os forma na doutrina crist. Ali mesmo reconhecem suas culpas, a no ser que tenham assistido ao Captulo juntamente com os padres. A juzo do Prior, os monges se renem no Captulo sempre que tenha que deliberar sobre um assunto, ou que o Prior pea o parecer da Comunidade. Comemos juntos no refeitrio os Domingos e Solenidades; nestes dias nos reunimos mais com freqncia dando lugar s expanses da vida de famlia. O refeitrio, ao que entramos depois de um Ofcio na igreja, recorda-nos o Jantar que Cristo consagrou ; abenoa as mesas o sacerdote que celebrou a Missa
conventual ; e enquanto se nos serve o alimento corporal, nutrimo-nos da leitura divina. Aos padres se lhes concede uma recreao comum depois do Captulo de Nona; aos irmos, a juzo do Prior, em qualquer solenidade, para quem o queiram. Uma vez ao ms h um colquio para todos os irmos ; este dia, a vontade do Prior, padres e irmos podem ter uma recreao comum, que tambm podem assistir os novios e professos temporrios. Nas recreaes recordemos o conselho do Apstolo: Alegrai-vos, tende um mesmo sentir, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estar convosco. Como a recreao uma reunio de Comunidade, evitemos ficar-nos aparte ou falar fora do lugar onde esto todos reunidos, a no ser umas poucas palavras. J que, como diz So Bruno, o nimo pusilnime, cansado pela estreita disciplina e os afs espirituais, muitas vezes se alivia e toma alento com a amenidade do deserto e a beleza do campo, os padres tm um espaciamiento (passeio) cada semana, excetuada a Semana Santa. Por sua vez, os irmos tm um espaciamiento ao ms, a gosto de cada um, quem, no entanto, devero tomar parte nele ao menos trs ou quatro vezes ao ano. Neste espaciamiento, padres e irmos, a juzo do Prior, podem passear juntos. Segundo antigo costume da Ordem, uma vez ao ano se concede um grande espaciamiento, que padres e irmos, novios e jovens professos podem fazer juntos, se o Prior o v oportuno. Nesse dia est permitido sair dos limites do espaciamiento aprovados pelo Captulo Geral, e podemos levar um pouco de comida para tomar nele. Mas ainda neste caso se tem de guardar a frugalidade cartusiana, e comer longe dos estranhos. Ademais, o Prior pode conceder outro semelhante, mas sem que se vrgula nele. Nossos espaciamientos sejam tais que favoream a unio dos espritos e seu saudvel aproveitamento. Por isso, seguindo todos o mesmo caminho, passeiem juntos para que todos possam falar alternativamente uns com outros, a no ser que, por alguma causa razovel, parea melhor formar duas ou trs grupos. E se tm que atravessar necessariamente pelos povos vizinhos, se contentaro com passar singelamente e com toda modstia, sem entrar nunca em casas de seculares. No falem com os estranhos, nem lhes dem nada. Tambm no comam nos passeios, nem bebam outra coisa que gua natural das fontes que encontrem no caminho. Estas recreaes foram estabelecidas para fomentar o amor mtuo e dar um alvio solido. Evitemos a loquacidade e as vozes e risos descompostos ; sejam nossas conversas religiosas, no vs nem mundanas, evitando cuidadosamente toda sombra de detrao ou murmurao. Quando no estejamos de acordo com outro, saibamos escut-lo, tentando compreender sua mentalidade, a fim de que tudo sirva para estreitar mais o vnculo da caridade. Trs vezes ao ano, os padres fazem obras comuns, a vontade do Prior, que tambm poder omiti-las. Entre Nona e Vsperas se faz o trabalho em comum, guardando silncio. Estes trabalhos podem durar trs dias. Alm das ajudas
que se prestem ao Sacristo, o Prior pode encarregar algum trabalho que alivie aos irmos; e assim os padres se alegraro de ter uma ocasio de participar nas tarefas dos irmos. Na semana na que se fazem obras comuns, a qualquer pai lhe lcito no assistir ao espaciamiento. Uma vez ao ms, os padres que queiram podem, com a aprovao do Prior, dedicar o tempo do passeio a algum trabalho a modo de obras comuns, com licena para falar entre eles.
Captulo 23
O Prior
A eleio do Prior
Toda Casa da Ordem onde esto presentes ao menos seis professos capazes de eleger, podem eleger a seu Prior. Mas a eleio deve fazer-se dentro dos quarenta dias ; decorrido esse tempo, prover de novo Prior o Reverendo Pai ou o Captulo Geral.
O ministrio do Prior
O Prior, a exemplo de Cristo, est entre seus irmos como quem serve ; regeos segundo o esprito do Evangelho e segundo a tradio da Ordem que ele mesmo recebeu. Se esfora por ser til a todos com sua palavra e seu exemplo de vida. Ser, em particular para os monges do claustro, dos quais procede, um modelo de quietude contemplativa, estabilidade, solido e fidelidade s observncias de sua vocao. Nem seu posto nem seu vestido se diferenciam em nada dos demais por sua dignidade ou luxo, nem tambm no leva nenhum distintivo que o d a conhecer como Prior. O Prior, que no mosteiro o pai comum de todos, deve mostrar a mesma solicitao pelos irmos e pelos padres. Os visitar de vez em quando em suas celas e obedincias. Se algum vai a sua cela, o acolher com grande caridade, e sempre escutar com agrado a cada um. Ser tal que seus monges, sobretudo nas provas possam recorrer a ele como ao regao de um pai cheio de bondade e abrir-lhe, se o desejam, sua alma livre e espontaneamente. No julgando com miras humanas, se esforar com seus monges por estar escuta do Esprito na busca comum da vontade de Deus, da que, pela misso que recebeu, intrprete para seus irmos. O Prior no deve, para fazer-se querer, relaxar a disciplina regular, porque isto no guardar as ovelhas, seno perd-las. Pelo contrrio, governe aos monges como a filhos de Deus, promovendo sua voluntria sujeio, para que na solido se conformem mais plenamente a Cristo obediente.
Os monges, por sua vez, amem em Cristo e reverenciem a seu Prior, e tributem-lhe sempre humilde obedincia. Confiem nele, que tomou o cuidado de suas almas no Senhor, abandonando toda preocupao naquele que se cr faz as vezes de Cristo. No se tenham por sbios em sua prpria estimao, fiados em seu prprio juzo, seno que, inclinando seu corao verdade, escutem os conselhos de seu pai. Aos mais jovens, quando comeam a viver entre os professos solenes, aos conversos recm feitos seus votos solenes, e aos doados que j no esto sob a tutela do Maestro, no os deixe o Prior abandonados a si mesmos e ao arbtrio de sua prpria vontade, pois a experincia ensina que estes anos so os mais perigosos para nossa vocao, e que deles depende todo o resto de nossa vida. Ajude-os como pai, e inclusive como irmo, dialogando com eles singelamente em particular. Quanto seja possvel, evite o pr aos monges nos cargos mal terminaram os estudos, sobretudo no de Procurador. Vele o Prior para que se tenha normalmente o Captulo dos irmos. Cuide, ademais, de que uma vez por semana se lhes explique a doutrina crist ou os Estatutos. E como este um dever seu grave, ponha sumo empenho em que os irmos adquiram uma slida formao e se lhes proporcionem livros adequados para isso. Mostre um cuidado especial com os enfermos, tentados e afligidos, sabendo por experincia que dura pode resultar-nos as vezes a solido. Como os livros so o alimento perene de nossas almas, o Prior facilite-se gostosamente a seus monges. Convm que se nutram principalmente da Sagrada Escritura, dos Padres da Igreja e dos bons autores monsticos. Fornea-lhes tambm outros livros slidos, cuidadosamente selecionados para utilidade de cada qual. Pois na solido nos dedicamos leitura no para conhecer todas as novas opinies, seno para alimentar a f na paz e favorecer a orao. Tambm pode o Prior, se preciso, proibir algum livro a seus monges. O Prior, para tomar alguma deciso nas coisas de maior importncia relacionadas com as obedincias dos Oficiais, apie-se neles depois de ter trocado opinies e de comum acordo. Eles, por sua vez, submetam-se sempre a suas ordens com nimo filial. Aprenda ele a conhec-los com suas dificuldades, com nimo paternal, ajude-os, defenda sua autoridade em presena de todos, e, se necessrio, corrigi-los com caridade. Proceda de tal modo que no s parea interessar-se pela ordem externa, seno que, pessoalmente fiel ao Esprito, mostre a todos a caridade de Cristo Porque a paz e concrdia da Casa depende em grande parte de que os Oficiais estejam unidos com o Prior e de comum acordo. O Prior no deve comer em sua Casa com os hspedes desordenada e indiferentemente, seno somente com as pessoas s que no se lhes pode negar facilmente este atendimento, e ainda ento, quantas menos vezes, melhor.
O Prior que por velhice ou doena no pode reger sua grei nem dar-lhe exemplo de vida regular, reconhea-o humildemente e, sem esperar ao Captulo Geral, pea a misericrdia ao Reverendo Pai. Exortamos aos Definidores que no mantenham no cargo de Prior a pessoas gastadas pela velhice ou pouca sade. O Prior, cujo cargo requer no pouca abnegao, aplique-se a si mesmo aquelas palavras de Guigo: No tens de empenhar-te em que teus filhos, a cujo servio te ps o Senhor, faam o que tu queres, seno o que lhes convm. Deves submeter-te ao seu bem e no submet-los a tua vontade, porque te foram confiados, no para que te colocares acima deles, mas ao seu servio.
Captulo 26
O Procurador
O Prior pe frente dos irmos da Casa a um monge de entre os professos solenes como diligente Procurador; assim queremos que seja chamado. o qual, ainda que a exemplo de Marta, cujo ofcio aceita, tambm ele necessariamente tem que se afanar e preocupar-se de muitas coisas, no entanto, no deve abandonar completamente ou tomar averso ao silncio e quietude da cela seno mais bem recorre sempre cela, quanto se o permitem os negcios da Casa, como ao casaco do mais seguro e calmo porto, para acalmar - lendo, orando, meditando - os turbulentos movimentos de seu nimo que nascem do cuidado ou administrao das coisas exteriores; e para que possa guardar, no secreto de seu corao algo proveitoso que expor com uno e sabedoria aos irmos a ele confiados. O Procurador deve visitar em todo tempo aos monges enfermos que no assistem igreja, mostrando-se com eles solcito e amvel. Fora deste caso, no visita aos padres, nem entra em suas celas sem permisso, nem pode falar com eles fora da cela seno quando os encontre num colquio concedido pelo Presidente ; no entanto, pode mudar umas palavras porta da cela. Mas cuide muito de no difundir notcias do mundo pela Casa, pois sua funo prpria tentar que os monges possam consagrar-se quietude contemplativa. O Procurador deve velar solcito pelas obedincias dos irmos e pela sade corporal destes, atendendo-os com toda caridade. O primeiro, deles exemplo, porque mais so estimulados com fatos que com palavras ; gostosamente imitaro ao Procurador, se este imita a Cristo. Tente, sobretudo , no carregar aos irmos com excessivo trabalho ; e a fim de que possam gozar na cela do suficiente recolhimento, o tempo dedicado ao trabalho no passe normalmente de sete horas. Seja cada irmo responsvel de sua obedincia, e, a sua vez, o Procurador apie sua autoridade nos trabalhos que se lhe encomendem. Sobre eles deve conferir o irmo ao Procurador, e submeter-se a sua vontade ; no entanto, quanto o permitam as coisas, o Procurador deixe fazer aos irmos com a
devida liberdade, para que cumpram melhor suas encomendas. E se quiser mudar algo em suas obedincias, no o far sem primeiro os consultar, ou ao menos os avisar. O Procurador, como tambm os outros Oficiais da Casa, devem vigiar-se para no abusar de seu cargo e conceder-se dispensas ou coisas no necessrias, que no quereriam conceder aos demais. O Procurador deve mostrar-se atencioso com os hspedes, sair a receb-los quando chegam, e visit-los depois. Ausente o Prior, o Procurador pode deixar de ir ao refeitrio para assistir aos hspedes Mas no vrgula desordenada e indiferentemente com todos, seno somente com as pessoas s que no se lhes pode negar facilmente este atendimento ; e isto, quantas menos vezes, melhor. Fora do Procurador, e do Vigrio quando est ausente o Prior, nenhum monge assista comida dos hspedes. O Procurador que deixa a tenta, deixa tambm toda preocupao e toda coisa suprflua, para seguir a Cristo nu no deserto.
Captulo 27
Os enfermos
A doena ou a velhice nos sugerem um novo ato de f no Pai, que por meio destas penalidades nos configura mais estritamente com Cristo. Scios assim de modo especial obra da Redeno, unimo-nos mais intimamente a todo o Corpo Mstico. O Prior mostre uma peculiar solicitao e misericrdia com os enfermos, os ancios e os atribulados. E o mesmo se recomenda tambm a todos os encarregados do cuidado dos enfermos. Segundo as possibilidades da Casa, proporcione-se-lhes caritativamente quanto seja necessrio e conveniente. Todos os servios, ainda os mais particulares, que no possam eles fazer-se por si mesmos, se os prestaro os demais humildemente, sentindo-se feliz aquele a quem se lhe mande tal coisa. Os que sofrem alguma doena nervosa, particularmente gravosa na solido, sejam ajudados tudo o possvel, para que compreendam que podem dar glria a Deus esquecendo-se de si mesmos e entregando-se confiadamente vontade daquele que Pai. No entanto, preciso recordar aos enfermos, como diz So Bento, que cuidem de no contristar a seus enfermeiros pedindo coisas suprfluas ou impossveis, ou qui murmurando. A recordao da vocao que abraaram lhes far ver que, como h diferena entre um monge so e um secular so, deve t-la entre um monge enfermo e um secular enfermo. No permita Deus que por motivo da doena se lhes estreite o esprito e resulte intil a visita do Senhor. A estes, pois, se os exorta a considerar os sofrimentos de Cristo, queles, sua misericrdia. Ento, estes se sentiro animosos para suportar; aqueles, prontos para servir. Se uns e outros consideram que tudo por Cristo, quer
sendo servidos quer servindo, no existe arrogncia dum lado nem negligncia do outro; mas cada um espera do mesmo Senhor o prmio do dever cumprido; uns padecendo, outros compadecendo-se. Como pobres de Cristo, nos contentaremos com o mdico ordinrio da Casa ou, se o caso o pede, com algum especialista das cidades prximas. Se algum pai se v obrigado a recorrer a dito especialista que no seja o mdico ordinrio, o Prior lhe pode permitir que v a uma das cidades prximas designadas pelos Visitadores com o consentimento do Captulo Geral ou do Reverendo Pai, com a condio que volte o mesmo dia. Igualmente, o Prior pode permitir que seja hospitalizado um monge, mas convm que seja informado o Reverendo Pai. Nossos enfermos, dedicados solido, recebem os cuidados necessrios na prpria cela, quanto possvel. No estamos obrigados a seguir as prescries de alguns mdicos que favorecem as sadas de Casa, ou que receitam remdios ou cuidados contrrios a nossa vocao, pois s ns somos responsveis ante Deus de nossos votos. Tem-se de evitar tambm abusar de medicinas com detrimento da perfeio e da mesma sade corporal, e com encargo da Casa. Em todas estas coisas, entreguemo-nos com docilidade de alma vontade de Deus, e recordemos que a prova da doena nos prepara para o gozo eterno, sentindo com o salmista: Que alegria quando me disseram : vamos casa do Senhor.
Captulo 28
A pobreza
O monge elegeu seguir a Cristo pobre, para enriquecer-se com sua pobreza. No se apoiando no terreno seno em Deus, tem seu tesouro no cu, onde tende seu corao. Portanto, sem considerar nada como prprio, est preparado a pr gostosa e livremente em mos de sua Prior todas as coisas que se lhe concederam, quantas vezes este quiser. Os professos solenes nada tm em particular, fora das coisas que a Ordem lhes concede para o simples uso. Tambm renunciaram faculdade de pedir, receber, dar ou alienar alguma coisa sem permisso. Ainda entre ns, tambm no podemos mudar ou receber algo sem licena. Os professos de votos temporrios e os doados, ainda que conservam a propriedade de seus bens e a capacidade de adquirir outros, no tm nada consigo, como tambm no os novios. O Maestro ensine individualmente a seus alunos o desprendimento dos bens temporrios e das comodidades, e o amor pobreza. Segundo Guigo, se a um monge algum amigo ou parente lhe envia roupa ou algo pelo estilo, no se lhe d a ele, seno mais bem a outro, para que no parea que o tem como prprio. Assim, pois, nenhuma pessoa da Ordem se
atreva a reclamar o usufruto ou qualquer outro ttulo de propriedade sobre os livros ou outra coisa adquirida pela Ordem obrigado a ele; mas se se lhe concede o uso, aceite-o com agradecimento, no como de coisa prpria seno alheia. Ningum tenha nunca dinheiro a seu arbtrio, nem o guarde em seu poder. E porque o Filho do homem no teve onde reclinar sua cabea, observem-se plenamente em nossas celas a singeleza e a pobreza. Retiremos delas com perseverante empenho o suprfluo e o atraente, inclusive pedindo com agrado o parecer do Prior. No tenha nosso vestido nada de luxuoso ou suprfluo contrrio singeleza e pobreza religiosa. Pois em todas estas coisas, nossos Padres no se preocupavam seno de preservar-se do frio e cobrir a nudez, julgando que, certamente, aos cartuxos lhes corresponde a rusticidade em sua roupa e em todas as demais coisas que usam. Seguindo seu esprito, tentemos, no entanto, que tanto a roupa como a cela de cada um estejam limpas e em boa ordem. A no ser que estejamos de viagem ou enfermos, compomos a cama com monstica austeridade. Os instrumentos de certo preo s se permitiro a quem, segundo o juzo do Prior, parea necessrio. Os instrumentos msicos no esto de acordo com nossa vocao, nem os jogos, sejam do gnero que sejam. No entanto, para aprender nosso canto podem admitir-se instrumentos que educam a voz ou a gravam. Ficam totalmente excludos de entre ns os instrumentos radiofnicos. to grande a variedade das condies locais, que com freqncia o que num lugar necessrio resulta suprfluo em outro, e assim no possvel estabelecer uma lei universal para todos. Exortamos, pois, aos Priores que atendam benvolos a todas as necessidades reais de seus monges, quanto o permitam os recursos da Casa. Movidos pela caridade de Cristo, no permitam que se os possa repreender justamente em isto, nem que, por sua mesquinharia, vejam-se os monges induzidos ao vcio de propriedade A pobreza ser tanto mais grata a Deus, quanto mais voluntria, e o laudvel no carecer das comodidades do mundo, seno ter renunciado a elas.
Captulo 29
A administrao dos bens temporrios
O Prior no cuida coisas suas ou dos homens, seno as de Cristo pobre, a quem ter de dar conta de tudo. A ele lhe corresponde dirigir aos Oficiais e subordinados na administrao dos bens empreg-los com discrio, segundo Deus, a prpria conscincia e o critrio da Ordem e dos Estatutos, e velar solicitamente para que no se desperdice nada.
O Procurador apresenta ao Prior recm instalado o estado dos bens principais da Casa, tanto mveis como imveis, que ser assinado pelo Prior e seu Conselho. O ata desta relao se guardar no arquivo da Casa. Para a sustentao de nossas Casas determinaram nossos Padres no se fiar nos donativos que se recebem, seno, com a ajuda do Senhor, dispor de alguma renda anual fixa. Pois lhes parecia que por benefcios incertos no se tm de assumir nus verdadeiros, que, depois, no se podem nem sustentar nem abandonar sem grande perigo ; os quais, ademais, sentiram horror pelo costume de andar pelo mundo pedindo esmola. Cremos, no entanto, que com a ajuda de Deus nos bastaro uns recursos modestos, se persevera o empenho do antigo propsito de humildade pobreza e sobriedade na comida, no vestido e restantes coisas pertencentes a nosso uso, e se, em resumo, o desprezo do mundo e o amor de Deus, por quem se tm de suportar e fazer todas as coisas, vai crescendo de dia em dia. A ns tambm se referem s palavras do Senhor: No vos inquieteis pelo dia de manh, pois bem sabe vosso Pai celestial que de tudo isso tendes necessidade. Procurai primeiro o reino de Deus e sua justia. Ainda que a Casa pode possuir tudo o necessrio para a vida da Comunidade segundo a natureza de nosso Instituto, deve-se evitar qualquer luxo, lucro imoderado e acumulao de bens, para dar depoimento de verdadeira pobreza. Pois no basta que os monges se submetam ao Superior no uso dos bens ; preciso que, como Cristo, sejam pobres realmente, tendo seu tesouro no cu. No s se tem de evitar a suntuosidade, seno tambm a comodidade excessiva, para que tudo em nossas Casas tenha esse ar de singeleza caracterstico de nossa vocao. Nossos edifcios sejam certamente adequados e idneos para nosso modo de vida ; mas em todas partes fique a salvo neles a singeleza. Porque nossas Casas devem dar depoimento no de vo glria ou de arte, seno de pobreza evanglica. Finalmente, exortamos e rogamos a todos os Priores de nossa Ordem, pelas entranhas de Jesus Cristo, Deus e Salvador nosso, imolado por ns na lenha da Cruz, que todos se apliquem de todo corao, segundo as possibilidades de suas Casas, a fazer esmolas com grande generosidade, tendo em conta que quanto esbanjem ou imoderadamente poupem furt-lo aos pobres e s necessidades da Igreja. Assim, conservando este fim comum dos bens, imitemos aos primeiros cristos que no consideravam como prpria nenhuma coisa, seno que todas as tinham em comum.
Captulo 30
A estabilidade
O monge no oferece a Deus a perfeita oblao de si mesmo, a no ser que durante toda a vida permanea constante em seu propsito, o que livremente
promete cumprir na Profisso solene. Por tanto como esta irrevogvel, antes de faz-la pense com acalma se realmente quer entregar-se para sempre a Deus. Em fora da Profisso, o monge se insere na Comunidade como na famlia que Deus lhe deu, na que tem que se estabilizar em corpo e alma. Cada um, por tanto, uma vez que se consagrou em seu estado, seja pai ou irmo, esmere-se por perseverar e avantajar-se na vocao que foi chamado, para uma mais abundante santidade da Igreja e para maior glria da Trindade, uma e indivisvel. Os monges no criam com facilidade que tm razes de importncia para pedir a seus Superiores o traslado. A miragem e o desejo de mudanas de lugar enganaram a muitos, e desdiz do monge o estar to pendente do clima, a alimentao, o carter dos homens e outras particularidades pelo estilo. Sabemos quanto favorecem contemplao dos divinos mistrios a pacincia e a perseverana nas condies de vida que o Senhor nos assinalou. Porque impossvel que o homem centre sua alma numa s coisa, se antes no fixa perseverantemente seu corpo num lugar ; e tambm a mente deve abraar-se inquebrantavelmente a sua vocao, para poder acercar-se quele em quem no h mudana nem sombra de mudana.
Estatutos
Livro 4
Captulo 31
O regime da Ordem
Os primeiros Priores da Ordem, querendo assegurar a continuidade e a estabilidade do ideal cartusiano, decidiram de comum acordo celebrar um Captulo Geral na Grande Cartuxa ; todos submeteram autoridade deste Captulo suas Casas, para que as corrigisse e as conservasse em vigor, e prometeram ao mesmo obedincia, em nome prprio e de suas Comunidades. Assim se consolidou para sempre o lao de caridade que une as Casas e a todos os membros da Ordem, resolvidos a avanar prazenteiramente pela senda do Senhor. O Captulo Geral se celebra cada dois anos, e a ele assistem os Priores, os Reitores, o Procurador Geral e os Vigrios de monjas Se no pudesse assistir algum dos que esto frente das Casas, delegar num monge professo solene. Se alguma Casa no tivesse Prior, o Reverendo Pai poder convidar a algum
monge da mesma, professo de votos solenes, a que assista ao Captulo Geral. Todos os quais no Captulo gozam dos mesmos direitos e funes, a saber, os dos Priores. A Assemblia na que se renem todos os que tm os direitos de Prior, e tambm os demais monges que possivelmente se encontrem entre os Definidores, chama-se Assemblia Plenria, a qual preside o Reverendo Pai. Esta Assemblia tem potestade para opinar de todos os assuntos referentes Ordem, menos os que so concorrncia do Definitrio. Tambm d a Assemblia seu voto consultivo sobre os pontos propostos pelos Definidores, e em tais casos estes no do seu voto. O Definitrio, presidido pelo Reverendo Pai, est constitudo pelo mesmo Reverendo Pai e por oito Definidores eleitos segundo se diz em outro lugar. Exceto o Reverendo Pai, ningum pode ser eleito Definidor, se o foi j no Captulo Geral precedente. O mesmo Definitrio opina a respeito das pessoas e das Casas. Em cada Captulo Geral, segundo a comum obedincia prometida e devida ao mesmo, todos os Prelados pedem misericrdia, para que o Definitrio possa deliberar a respeito de sua absolvio ou confirmao. Pois, segundo nossa tradio, o Prior desempenha seu cargo enquanto pode exerc-lo com proveito da Comunidade a juzo do Captulo Geral. Tambm corresponde ao Definitrio nomear ao Procurador Geral, que representa Ordem ante a Sede Apostlica. No se pode estabelecer nem levar a efeito nada contra o contido nestes Estatutos que diminua o antigo rigor da Ordem cartusiana, a no ser que seja aprovado em dois Captulos sucessivos, ao menos por dois teros dos que de fato tenham dado seu voto. Se uma Ordenao, ainda que no afete ao rigor da Ordem, mudasse, no entanto, nossa observncia substancialmente em algum ponto, no pode promulgar-se, salvo que obtenha pelo menos dois teros dos votos emitidos de fato, e dever ser confirmada pelo seguinte Captulo na mesma forma. O Reverendo Pai, isto , o Prior de Cartuxa, Ministro Geral de toda a Ordem. Elege-o a Comunidade da Grande Cartuxa, mas esta eleio no tem valor jurdico at que seja aceitada pelo colgio ou reunio dos Priores, as Prioras, e os Reitores. Qualquer que tenha sido eleito Reverendo Pai, no pode recusar este ofcio. O Reverendo Pai, a quem corresponde como Ministro Geral conservar a unidade da Ordem, tem potestade ordinria sobre as monjas cartuxas. Todos os que gozam de autoridade na Ordem, considerem sempre a mente e as leis da Igreja como norma suprema segundo a qual se tm de entender as tradies da Ordem. Os Priores, a quem seus sbditos devem pronta obedincia, convm que a sua vez dem exemplo a seus religiosos,
submetendo-se humildemente s ordenaes do Captulo Geral ou do Reverendo Pai, e no as criticando adiante de outros. Para fomentar melhor a comunho de nossa Ordem com o Sumo Pontfice, o Reverendo Pai tem de enviar cada seis anos um breve relatrio sobre a situao e a vida da Ordem Sede Apostlica.
Captulo 32
A visita Cannica
O Captulo Geral, muito solcito de que nas Casas da Ordem reinem a caridade, a paz e uma fiel observncia, estabeleceu que cada dois anos se enviem Visitadores a todas elas, com o fim de expressar-lhes a solicitao da Ordem por cada uma, e com os poderes necessrios para solucionar qualquer dificuldade que possa apresentar-se. A Comunidade, desejando que a Visita seja um momento favorvel no que Deus comunica sua graa, receber com esprito de f aos Visitadores ou os Comissrios, que gozam da autoridade do Captulo Geral ou do Reverendo Pai. Cada monge se esforar com toda vontade em ajud-los ao cumprimento de seu cometido. Visitadores e monges faro tudo o possvel por estabelecer uma relao de mtua confiana. O primeiro dever dos Visitadores acolher aos monges com fraterna caridade e escut-los com sumo atendimento. Depois, se esforam por ajudar a todos a dar ao Senhor e a seus irmos o melhor de si mesmos. Exeram seu cargo, no como juzes, seno como irmos a quem os tentados e afligidos possam abrir livremente sua alma, sem temor de ver divulgadas suas confidncias. Em assunto de tanta importncia no se precipitem, seno procedam com calma. Cada um pode falar livremente com os Visitadores para expor-lhes o que requer de sua parte uma soluo ou um conselho, j se trate de sua vida pessoal ou da Comunidade. Tambm podero expor-lhes com esprito construtivo, quaisquer coisas que paream teis ao bem comum. Antes de falar de outro monge, recolhamos o corao ante Deus; porque tanto mais poderemos praticar a verdade na caridade, quanto com nimo mais dcil respondamos ao Esprito Santo. O que boamente est em paz, de ningum suspeita. Mais vale com freqncia guardar silncio, que perder tempo falando de coisas que no se podem provar, ou de futilidades, ou ainda denunciando a quem j esto em caminho de corrigir-se. Aos Visitadores corresponde no s dialogar com cada monge em particular seno tambm com a mesma Comunidade, como se faz na primeira e a ltima sesso da Visita.
A fim de que a Visita produza, com a ajuda do Senhor, frutos perdurveis, tentaro que a mesma Comunidade tome como coisa sua a prpria renovao espiritual. Os Visitadores se informaro da marcha da Comunidade e dos progressos realizados desde a ltima Visita, ou das dificuldades que tenham sobrevindo. Estimularo Comunidade a perguntar-se sobre a fidelidade ao esprito e letra da observncia regular conforme se expe nos Estatutos. Examinem tambm as contas da Casa, e vejam como se guarda a pobreza evanglica. Indicaro os remdios aos abusos que qui encontrem. A uma com os monges, e particularmente com o Prior, vejam atenciosamente com que disposies se ajudar Comunidade para que sempre progrida na fidelidade a sua vocao. Antes de dar por finda a Visita, escrevero os Visitadores na Carta as orientaes que tenham dado e as decises tomadas, e a redigiro em termos singelos e acomodados s pessoas Solcitos pela continuidade do progresso da Comunidade em seu caminho para Deus, recordaro, se preciso, alguns pontos j assinalados na Carta da Visita precedente. Ser oportuno muitas vezes pr antes ao corrente ao Prior das medidas que pensam tomar, e escutar suas observaes. Convm, efetivamente, que os Visitadores conheam as intenes pastorais do Prior para guiar a seus monges, a fim de apoi-las com eficcia. Antes de tomar uma deciso com respeito a algum, ou de fazer alguma correo, os Visitadores tentem escut-lo. Se julgam til fazer observaes a um monge, se o explicaro de palavra e de maneira que compreenda bem sua inteno. Finalmente, no se marchem da Casa sem antes segurar-se de que a Comunidade entendeu bem as intenes e prescries da Carta. Como o aproveitamento das Casas depende muito da eficcia das Visitas os Visitadores procedam em seu ofcio com solicitao e entrega, sem contentarse nunca com o cumprimento meramente formal e exterior. Pensando unicamente no bem das almas, no poupem tempo nem esforos para que sua Visita aumente nos coraes a paz e o amor de Cristo.
Captulo 33
A converso de vida
Quanto mais elevado o caminho que se nos abriu aos que herdamos de nossos Padres uma forma de vida santa, maior perigo temos de cair, no s por transgresses manifestas, seno tambm pelo peso natural da rotina. Como Deus d sua graa aos humildes, devemos recorrer sobretudo a Ele, e estar sempre em p de guerra, no seja que a vinha eleita se converta em bastarda.
O que nosso ideal de vida se mantenha a sua altura, depende mais da fidelidade de cada um do que da acumulao de leis, a adaptao de nossos usos, ou inclusive a concorrncia dos Priores. No bastaria obedecer as ordens dos Superiores e cumprir exatamente a letra dos Estatutos, se, guiados pelo Esprito, no sentssemos segundo o Esprito. O monge, desde o comeo de sua nova vida colocado na solido, fica a seu livre arbtrio. Como j no menino, seno varo, no ande flutuando levado por todo vento, seno examine o que agrada a Deus e siga-o espontaneamente, pondo em jogo, com sbria sabedoria, a liberdade dos filhos de Deus de que responsvel ante o Senhor. Que ningum, no entanto, tenha-se por sbio em sua prpria estimao ; porque quem descuida abrir seu corao a um guia experimentado, de temer que, defeituoso de discrio caminhe menos do preciso, canse-se de correr ou, detendo-se, fique dormido. Como, pois, poderemos cumprir nosso ofcio no Povo de Deus como vtimas vivas, agradveis a Deus, se nos deixamos separar do Filho de Deus, que ao mesmo tempo vida e hstia por excelncia, pela relaxao e a inmortificao, as divagaes da mente a v charlatanearia, os inteis cuidados e ocupaes; ou se o monge na cela se acha aprisionado por seu amor prprio com miserveis preocupaes? Esforcemo-nos com toda energia em estabilizar em Deus nossos pensamentos e afetos, com singeleza de corao e castidade de mente. Cada um, esquecido de si mesmo e do caminho deixado atrs, corra para a meta, para atingir o prmio a que Deus o chama desde o alto em Cristo Jesus. Mas quem no ama a seu irmo a quem v, no pode amar a Deus a quem no v. Dado que o fraterno dilogo entre os homens no se faz perfeito seno atravs do mtuo respeito das pessoas, certamente nos compete em grau mximo a ns, que moramos na Casa de Deus, dar depoimento da caridade que de Deus procede, quando recebemos amavelmente aos irmos que convivem conosco, e nos preocupamos por abraar com mente e corao o carter e os modais deles, por mais diferentes do que sejam dos nossos. Porque as inimizades, as disputas e outras coisas semelhantes, nascem geralmente do desprezo dos demais. Evitemos tudo o que possa prejudicar ao bem da paz ; sobretudo, no falemos mal de nosso irmo. Se na Casa nasce alguma dissenso entre uns monges com outros ou entre os monges e o Prior, provem-se paciente e humildemente todos os meios que possam resolver o assunto com caridade, antes de comunic-lo aos Visitadores, ao Reverendo Pai ou ao Captulo Geral. O melhor do que a paz se conserve na famlia conventual, como fruto do esforo e a unio de todos. O Prior, nesses casos, no se mostre dominante, seno como um irmo ; e se est em culpa, que a reconhea e se emende. Como por causa dos Priores em grande parte decai ou floresce o esprito nas Casas da Ordem, tentem edificar com seu exemplo, praticando antes de ensinar, sem permitir-se falar nada que o mesmo Cristo no tivesse querido dizer por eles. Entregados orao ao silncio e cela, faam-se merecedores da confiana de seus sbditos, e mantenham com eles uma verdadeira
comunho de caridade. Com benignidade e interesse vejam qual sua vida na cela e qual seu estado de nimo, para atalhar suas tentaes aos comeos, no seja que depois, quando o mal est muito arraigado, aplique-se demasiado tarde o remdio. Por ltimo hoje em dia h que evitar sobremaneira conformar-se ao mundo presente. Porque o procurar demasiado e abraar com facilidade as coisas que olham comodidade da vida, contradizem totalmente a nosso estado, especialmente porque uma novidade chama a outra. Os meios que nos concedeu a divina Providncia no so para tentar-nos uma vida de presente. O caminho para Deus fcil, pois se avana por ele no se carregando de coisas, seno desprendendo-se delas. Despojemo-nos a tal ponto que, tendo-o deixado tudo e a ns mesmos, participemos do estilo de vida de nossos primeiros Padres.
Captulo 34
>Misso da Ordem na Igreja
Quanta utilidade e gozo divino trazem consigo a solido e o silncio do deserto a quem os ama, s o sabe quem o experimentou. Mas esta melhor parte no a elegemos unicamente para nosso prprio proveito. Ao abraar a vida oculta, no abandonamos famlia humana, seno que, consagrando-nos exclusivamente a Deus, cumprimos uma misso na Igreja onde o visvel est ordenado ao invisvel, a ao contemplao. Se realmente estamos unidos a Deus, no nos encerramos em ns mesmos, seno que, pelo contrrio, nossa mente se abre e nosso corao se dilata, de tal forma que possa abarcar ao universo inteiro e o mistrio salvador de Cristo. Separados de todos unimo-nos a todos pra, em nome de todos, permanecer na presena do Deus vivo. Esta forma de vida que, quanto o permite a condio humana, orienta-se a Deus de forma direta e contnua, pe-nos num contato peculiar com a bem-aventurada Virgem Maria, que costumamos chamar Me singular dos Cartuxos. Tendendo por nossa Profisso unicamente quele que , damos depoimento ante um mundo demasiado implicado nas coisas terrenas, de que fora dele no h Deus. Nossa vida manifesta que os bens celestiais esto presentes j neste mundo preanuncia a ressurreio e antecipa de algum modo a renovao do mundo. Finalmente, pela penitncia participamos na obra de salvao de Cristo o qual isentou ao mundo escravo do pecado, especialmente com sua orao ao Pai e sacrificando-se a Si mesmo. Por isto, os que pretendemos viver este aspecto cristo da misso de Cristo, ainda que no nos dediquemos a nenhuma ao externa, no entanto exercitamos o apostolado de uma maneira preeminente. Por tanto, para louvor de Deus, a cujo fim se fundou especialmente a eremtica Ordem cartusiana, entregados quietude da cela e ao trabalho, ofereamos-
lhe um culto incessante para que, santificados na verdade, sejamos os verdadeiros adoradores que procura o Pai.
Captulo 35
Os Estatutos mesmos
Prestemos atendimento disciplina de nossos Padres, renovada e acomodada nestes Estatutos, e meditemo-la continuamente. No a abandonemos, e ela nos guardar. Amemo-la, e nos proteger. Ela a forma e o sacramento da santidade determinada por Deus para cada um de ns. Mas o Esprito o que vivifica, e quem no nos permite contentar-nos com a letra. Porque a isto tendem unicamente os presentes Estatutos, a que, guiados pelo Evangelho, percorramos o caminho de Deus e aprendamos a amplitude da caridade. O que no est expressado nos Estatutos, deixa-se ao arbtrio do Prior, com a condio que suas disposies estejam em harmonia com eles. No queremos, no entanto, que por este ou outro motivo mudem os Priores facilmente os costumes sos e religiosos de suas Casas. No entanto, tais costumes nunca podero prevalecer contra os Estatutos. Se pecar teu irmo, v e corrige-o a ss tu com ele, diz o Senhor. Isto requer uma grandssima humildade e prudncia, e danoso a no ser que se faa movimentado por pura caridade, que no procura seu proveito. Por nossa parte, desejemos tambm ns ser corrigidos. No entanto, com freqncia ser melhor encomendar as advertncias ao Prior, ao Vigrio ou ao Procurador, que as levaro a cabo segundo se o dite sua conscincia e prudncia. Os monges prestem aos Estatutos uma obedincia responsvel, no por ser vistos como se procurassem agradar aos homens, seno com singeleza de corao, temerosos de Deus. No esqueam que uma dispensa sem causa justa, nula. Ouam e cumpram tambm com toda mansido os preceitos e advertncias de seus maiores, sobretudo os do Prior, que faz as vezes de Deus. E se alguma vez erram como homens, no demorem em emendar-se para no dar ocasio ao demnio ; mais bem voltem, pelo trabalho da obedincia quele de quem o homem se tinha apartado pela negligncia da desobedincia. Contemplando todos os benefcios que o Senhor preparou aos que chamou ao deserto, alegremo-nos com nosso Pai So Bruno de ter atingido o repouso calmo do mais resguardado porto, no que somos convidados a sentir em parte a incomparvel beleza do sumo Bem. Gozemo-nos, pois, por nossa feliz sorte e pela abundncia da graa de Deus para com ns, dando sempre graas a Deus Pai que nos fez aptos para participar na herana dos santos na luz. Assim seja.
Livro 5
Captulo 36
Ritos da vida cartusiana
O que ingressa na famlia cartusiana, depois de uma primeira provao recebido como novicio : pondo suas mos entre as do Prior expressa sua sujeio e scio Ordem ; se o conduz por todos cela ou, se um novicio irmo, igreja, para dar-lhe a entender que sua vida est principalmente consagrada orao. A Profisso, e tambm a sua maneira a Doao, consumam-se ao pronunciar a frmula de Profisso ou Doao, j que um compromisso pessoal e livre. Antes de emitir os primeiros votos, ao que vai professar se lhe veste a cogula prpria dos professos, pela que se significa a converso de costumes e a consagrao a Deus ; antes do ato irrevogvel da Profisso solene, pede com particular interesse a ajuda da orao a seus irmos.
Os monges, de joelhos, coro contra coro, cantam o versculo Veni, Sancte Spiritus. Uma vez findo, inclinados todos sobre as misericrdias, o Prior diz um versculo e adiciona uma orao. Depois, o novicio conduzido por todos cela, talheres, cantando os salmos 83 (Que desejveis...), 131 (Senhor, tem-lhe em conta...) e 50 (Misericrdia...). Se bastam um ou dois, no se dizem mais. Vai primeiro o Prior, segue o novicio, depois o Procurador ou outro levando o gua bendita e, finalmente, a Comunidade por ordem de antigidade. Ao chegar o Prior porta da cela, asperge ao novio e cela mesma, dizendo: Paz a esta casa, e, tomando ao novicio pela mo, f-lo entrar ao oratrio, onde este ora ajoelhado. Terminado o salmo ou os salmos pela Comunidade seguem as preces indicadas no Ritual. Uma vez concludas as preces, o Prior impe ao novicio a obrigao de guardar a cela e todas as demais observncias e exerccios prprios de nossa Ordem, a fim de que em solido e silncio, e em assdua orao e generosa penitncia, consagre-se a s Deus. E o encomenda ao Maestro de novios.
Acabado tudo, o novicio se levanta, faz inclinao profunda, e vai a sua cadeira do coro.
Profisso solene
Sobre as cerimnias em Captulo e a preparao do altar, veja-se o n. 8. Na Missa, que do Prior, terminado o Evangelho, ou o Credo se se canta, omitida a Orao universal, o que vai professar (ou os que vo professar) acerca-se ao centro da arquibancada do presbitrio, e ali, depois de ter feito uma inclinao profunda, canta o verso: Acolhei-me, Senhor, com tua
promessa, e viverei: que no fique frustrada minha esperana.. Ao qual responde a Comunidade, de cara ao altar, o mesmo e no mesmo tom. Repetido trs vezes este verso por ambas as partes, a Comunidade, inclinada sobre as misericrdias, canta o Glria Pai..., Senhor, tem piedade..., e ora em segredo. O que vai professar se incorpora ao comear o Como era no princpio, dirige-se pelo lado direito do coro at a cadeira primeira, e, de joelhos ante o monge, que est de p, e depois ante os demais monges deste coro, diz com voz inteligvel: irmo, roga por mim; passando, depois, aos monges do coro esquerdo, faz o mesmo. Depois do qual, a Comunidade se ergue e se volta para o altar; e o que vai professar, de p ante o meio do altar e voltado para ele, l, com voz clara e inteligvel que todos a ouam, sua Profisso escrita em pergaminho ; uma vez lida, beija o altar e a oferece sobre o mesmo. Prostrado adiante da ctedra aos ps do celebrante, recebe a bno ; enquanto , a Comunidade se inclina sobre as misericrdias. O Prior canta a orao com a mo estendida sobre o professo, e se so variados a diz em plural. Depois o asperge com gua bendita. O professo volta a seu lugar. Na Prece eucarstica se faz comemorao do novo professo solene, para que seu oblao fique mais intimamente incorporada ao sacrifcio do divino Redentor.
Doao temporria
A Doao temporria se faz no Captulo, antes de Vsperas, em presena da Comunidade. O novicio, prostrado, pede misericrdia. A uma indicao do Prior, vestido com cogula eclesistica e estola branca e sentado ante o altar, levantase e diz: Suplico por amor de Deus ser admitido Doao temporria como o mais humilde servidor de todos, se a ti Pai, e Comunidade vos parecer bem.. Depois, tendo escutado a exortao do Prior, enquanto a Comunidade permanece sentada e coberta, o novicio se adianta e se ajoelha ante a arquibancada do altar. O Prior se levanta e, ajudado pelo Procurador e o Sacristo, tira-lhe a capa e a cogula pequena, dizendo: Que Deus te despoje do homem velho e de suas aes, e lhe pe a cogula longa sem bandas, dizendo: e te revista do homem novo que foi criado por Deus em verdadeira justia e santidade. Se forem variados, repete o mesmo a cada um. O novicio l ento a frmula de Doao, escrita numa folha de papel que tem na mo, e a entrega ao Prior uma vez feita a Doao. O Prior aceita a doao com estas palavras: E eu, carssimo irmo, aceito tua Doao no nome de Deus e da Ordem; e, em meu nome e no dos meus sucessores, comprometo-me prover, com corao de pai, a todas tuas necessidades espirituais e corporais, desde que permaneas fiel a tuas promessas. E que a bno de Deus todo-poderoso, Pai, + Filho e Esprito Santo, desa sobre ti e contigo permanea para sempre. R/. Amm. Depois da
palavra prometo, adiciona o tempo da Doao, se se trata da temporal; ou durante toda tua vida, se se trata da perptua. Depois, todos vo ao coro para cantar as Vsperas.
Doao perptua
A Doao perptua se faz em presena de toda a Comunidade, antes de Vsperas. Primeiro, reunida a Comunidade em Captulo, o doado se prostra ante o Prior, que est sentado e revestido de cogula eclesistica e estola branca, e pede misericrdia. Levanta-se a uma indicao do Prior, e diz: Suplico por amor de Deus ser admitido Doao perptua como o mais humilde servidor de todos, se a ti, Pai, e Comunidade vos parecer bem. Ouvida a exortao do Prior, dirigem-se todos igreja, indo o doado por trs do Prior. O doado se ajoelha na arquibancada do presbitrio, estando o Prior de p adiante dele, e os demais monges em seus lugares de p, voltados para o altar e talheres. Ento o doado l a frmula de Doao, e o Prior a aceita e o abenoa. Depois, enquanto o doado permanece ajoelhado no mesmo lugar, o Prior vai ltima cadeira do coro direito e a Comunidade, de joelhos ante as formas, canta o Sub tuum prsidium. O cantor hebdomadario adiciona um versculo, e o Prior recita uma Orao. Depois, este se deixa a cogula eclesistica no vesturio e vai a sua cadeira; tambm o doado vai a sua cadeira, e comeam as Vsperas.
Captulo 38
Eleio do Prior
Quando alguma Casa da Ordem fica sem Prior, o Vigrio deve averiguar por votao secreta dos professos solenes que tm direito a eleger, se querem fazer a eleio do novo Prior. Se ento se celebra o Captulo Geral, a Casa comunicar quanto antes sua resposta ao Definitrio. Se no quer eleger, ou se verificado um segundo escrutnio h ainda empate a votos, o Vigrio pea ao Captulo Geral ou, se ento no se celebra, ao Reverendo Pai, que segundo sua prudncia proveja Casa em sua necessidade. Se a Comunidade responde que quer eleger, o Vigrio dever admoestar seriamente no Senhor aos eleitores que a eleio de pastor de almas assunto muito rduo e de suma importncia, j que o bem ou o mal de toda a grei depende quase inteiramente de que o pastor seja bom ou mau; e que, por tanto devem proceder neste assunto com toda retido, prudncia e temor de Deus. Na eleio de Prior se deve atender antes de mais nada s dotes necessrias para o governo das almas. Tambm se requer alguma aptido para a administrao temporria, mas por si s no pode determinar a dar o voto; ademais, o cuidado do temporrio se pode encomendar a outras pessoas.
Uma vez que o Vigrio props tudo isto, prescreve-se a todos um jejum de trs dias consecutivos, a no ser que se interponha uma Solenidade ou um Domingo. Cada dia, at que tenha Prior, a Comunidade, depois de Laudes e de Vsperas canta com especial devoo o hino Veni, Creator Spiritus, como o traz o Ritual. Todos podem licitamente, mais ainda devem, conferir aos membros da Ordem que conhecem melhor s pessoas. Mas guardem-se os religiosos assim conferidos de pressionar em modo algum aos eleitores. Convocar-se- o antes possvel aos Confirmadores que devem presidir a eleio. Sero dois Priores, designados pelo Captulo Geral ou o Reverendo Pai, ou se no podem achar-se facilmente dois Priores, um com um monge (que no seja da Casa eleitora). Se nada o impede, um dos dois Confirmadores deve ser um dos Visitadores da Provncia. Os assim convocados para assistir eleio, unam-se Comunidade eleitora no silncio e a orao, sem intrometer-se na futura eleio de nenhum modo. Sua misso no designar pessoas, seno somente responder com toda verdade a quem lhes perguntem, e receber simplesmente os votos dos eleitores. O dia em que se faz a eleio, celebra-se ou concelebra a Missa do Esprito Santo, com assistncia de toda a Comunidade; preside um dos Confirmadores. Depois, o Vigrio convoca no Captulo aos Confirmadores e Comunidade. Ali, estando todos de p e descobertos, o Confirmador principal comea as preces que traz o Ritual. Depois, ele ou seu colega faz uma exortao. Terminada esta, ficam no Captulo unicamente os eleitores com os confirmadores; os demais de retiram. Ento o Confirmador principal adverte a todos os eleitores que elejam a quem segundo Deus e sua conscincia, julguem que verdadeiramente apto e idneo para o cargo de Prior naquela Casa. Depois disto, o Confirmador principal manda que cada qual v ao lugar destinado para escrever as papeletas, nas que s se pem o nome e sobrenome do proposto para Prior. Imediatamente se mete a papeleta num envelope, leva-se mesa dos Confirmadores e se joga na urna ali preparada ao efeito. Se algum dos que tm voto no pode assistir pessoalmente eleio poder escrever uma papeleta e met-la num envelope, igual que os demais. E os mesmos Confirmadores iro a sua cela, se necessrio, para recolher o voto. Feita a votao, o Confirmador principal conta as papeletas e as abre. preciso que o futuro Prior obtenha mais da metade dos votos emitidos de fato, isto , sem contar os votos nulos e as abstenes. Se nenhum os atinge, os Confirmadores daro os nomes dos que obtiveram votos e diro quantos recaram sobre cada um. Ento se queimaro ali as papeletas e se voltaro a escrever outras novas.
Se depois da terceira votao ningum fica eleito, pode-se fazer uma quarta e ltima votao o mesmo dia; antes da qual podero sair os monges fora do Captulo e trocar opinies entre si, mas sem falar com outros. Se finalmente no sai nenhum eleito, ter que escrever todo o assunto ao Reverendo Pai, quem, depois de ouvir aos Visitadores da Provncia prover Casa privada de pastor. Mas, se resulta eleito algum, o Confirmador principal dir em alta voz: Temos Prior, e dir seu nome, sua Casa de Profisso e a obedincia que tem, se ento tivesse alguma, indicando tambm o nmero de votos que obteve. Por ltimo, queimam-se todas as papeletas. Depois de publicar-se adiante de todos o nome do Prior, o Vigrio, a no ser que tenha recado sobre ele a eleio, roga aos Confirmadores que acedam a confirmar como Prior ao eleito. Os Confirmadores assinalaro um prazo, a saber, um ou dois dias, para objetar contra a forma da eleio e a pessoa do eleito. Se os Confirmadores no encontram nenhum impedimento, congregados em Captulo todos e s os eleitores, enquanto os demais se renem na igreja, confirmaro ao eleito dizendo o Confirmador principal: Ns, N. e N., humildes Priores das Casas N. e N., designados pelo Captulo Geral (ou pelo Reverendo Pai) para presidir vossa eleio, com a autoridade de nossos Estatutos vos confirmamos como Prior desta Casa a Dom N., professo de tal Casa, no nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. E a Comunidade responder: Amm. Quando um dos Confirmadores est impedido ou o eleito Prior, o outro far por si s a confirmao. Depois, o segundo Confirmador ler o processo verbal da eleio, que assinaro primeiro os Confirmadores e, depois deles, todos os eleitores. O dia em que o Prior toma posse de seu cargo, hora convinda, os Confirmadores (ou, em sua ausncia, o Vigrio e o Antiquior), tomando da cogula uno de cada lado ao novo Prior, conduzem-no cadeira prioral na igreja, seguidos por toda a Comunidade. Feita ali uma breve orao ante as formas, de joelhos e descobertos, vo todos ao Captulo, onde, depois de algumas palavras do Confirmador principal (ou do Vigrio) ao novo Prior, este faz a profisso de f segundo a norma cannica. A seguir se lhe acerca o Vigrio e, de joelhos pe suas mos juntas entre as do Prior. Ao perguntar-lhe este: Prometes obedincia?, responde: Prometo, e, recebido o sculo de paz levanta-se e se volta a seu lugar. O mesmo fazem depois do Vigrio, o Antiquior e os demais por ordem. Todo esse dia se celebra com gozo, come-se no refeitrio e no se guarda jejum, a no ser que seja tal do que nem por uma Solenidade se quebrantaria. O Ofcio que precede ao refeitrio se canta na igreja.
Livro 6
Captulo 41
A Liturgia em nossa Ordem
Cume e fonte
A Liturgia a cume qual tende a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde mana toda sua fora. Ns, que o deixamos tudo para procurar a s Deus e possu-lo mais plenamente, devemos celebrar o culto litrgico com especial fervor. Pois enquanto realizamos os ritos sagrados, especialmente a Eucaristia, ao ter acesso a Deus Pai por meio de seu Filho, o Verbo encarnado, que padeceu e foi glorificado, na efuso do Esprito Santo, conseguimos a comunho com a Santssima Trindade.
Signo de contemplao
Quando celebramos no coro o culto divino ou recitamos na cela o Ofcio, nossos lbios pronunciam a prece da Igreja universal, pois a orao de Cristo nica, e por meio da sagrada Liturgia se faz extensiva a cada um de seus membros. Ademais, entre os monges solitrios os atos litrgicos manifestam de um modo peculiar a ndole da Igreja, na qual o humano est ordenado e subordinado ao divino, o visvel ao invisvel, a ao contemplao.
Captulo 52
O canto litrgico
Os chantres
Os chantres, que esto frente de cada coro devem ser peritos para poder dirigir bem e oportunamente aos demais na salmodia e canto na forma dita, mas sob a direo e autoridade do Prior. ademais dever seu corrigir com modstia os que cantam demasiado lenta ou apressadamente, ou de modo diferente a como est prescrito, mas melhor do que o faam fora do coro.
Os chantres, em seu coro, sobem ou baixam o tom dos salmos e de todo o canto do Ofcio divino, quando parea conveniente, com o fim de que todos possam cantar comodamente. Nenhum outro, estando eles presentes, pode corrigir o canto do coro, exceto o Prior ou, em sua ausncia, o Vigrio. Perseveremos, pois, nesta maneira de salmodiar, cantando em presena da Santssima Trinidad e dos santos Anjos, inflamados em divino temor e ntimos anseios de Deus. Que o canto eleve nosso esprito contemplao das realidades eternas, e que a harmonia de nossas vozes aclame jubilosa a Deus nosso Criador.
Captulo 53
Cerimnias conventuais no Ofcio
Reunio na igreja
Logo que ouvimos o sinal para cantar conventualmente na igreja as Horas do Ofcio divino, deixando todas as outras ocupaes, devemos encaminhar-nos com prontido a ela, guardando o maior recolhimento e gravidade. Porque nada lcito antepor obra de Deus. Ao entrar na igreja, benzemo-nos com gua bendita, e vamos a nossas cadeiras; antes de entrar nas formas fazemos inclinao profunda ao Santssimo Sacramento. Fazemos tambm dita inclinao nas arquibancadas do presbitrio, sempre que a ele subimos ou dele baixamos, ou quando passamos ante o Santssimo. Ao chegar s cadeiras ficamos de p, voltados para o altar e talheres, preparando-nos em silncio para o Ofcio; dada o sinal pelo Presidente, inclinamo-nos ou nos ajoelhamos para a orao, segundo o pea o tempo. Enquanto se faz orao em silncio antes uma Hora, no entramos igreja. Pelos intervalos de silncio, nossa orao pessoal se une mais intimamente Palavra de Deus e voz pblica da Igreja. Na igreja evitamos todo rudo por reverncia divina Majestade; estamos com o devida compostura; temos as mos fora da cogula. Sempre e em todas as partes temos de ter a vista recolhida, mas principalmente na igreja e o refeitrio. Cantadas as Horas ou finda a Missa ou outro Ofcio, o Prior sai o primeiro da igreja, depois o Vigrio e, seguidamente, os demais. Ningum deve deter-se ento na igreja ou outra parte, a no ser que uma evidente necessidade o justifique.
Captulo 54
Cerimnias do Ofcio na cela
O Ofcio cannico
Se alguma vez a evidente debilidade ou a excessiva fadiga nos obriga a sentar-nos durante o Ofcio divino, ou se estamos em cama por razo de doena, rezemos, no obstante, com a reverncia possvel. Porque no Ofcio divino, onde quer que se reze, tem-se de guardar cuidadosamente reverncia e dignidade, por ser em todo lugar uma mesma a Majestade e Divindade daquele em cuja presena falamos, e que nos olha e atende.
Livro 9
Captulo 62
Sacramentos
A Penitncia
No sacramento da Penitncia o Pai das misericrdias, pelo Mistrio Pascual de seu Filho, nos reconcilia no Esprito consigo, com a Igreja e conosco mesmos. Recomendamos, pois, a todos que freqentem este sacramento pelo qual a converso do corao, fim prprio do monge, insere-se no mistrio da morte e ressurreio de Cristo. O Prior tem o dever de designar alguns monges, entre os de maior discrio, para ouvir as confisses dos demais. Ademais, qualquer pessoa da Ordem, para tranqilidade de sua conscincia, pode vlida e licitamente confessar-se com qualquer confessor que tenha faculdade para isso. A respeito da confisso de pessoas estranhas Ordem, que se tem de evitar quanto seja possvel, e das mulheres, que no se as deve confessar de nenhum modo.
Captulo 65
Sufrgios
J que somos membros os uns dos outros, convm que na orao levemos os fardos dos homens, nossos irmos, e primeiro que tudo intercedamos : (Resumo das pessoas pelas que oferecemos sufrgios : )
Pelos parentes e benfeitores recm falecidos Pela Igreja universal e pela Ordem
1. Por nosso Santo Pai em Cristo, o Papa reinante. 2. Pela conservao da unidade da Ordem. 3. Para impetrar o auxlio celestial a fim de que todos se congreguem na nica Igreja de Cristo. 4. Pela paz e tranqilidade de todas as naes, e pelos que as governam. 5. Pelas autoridades da nao de cada Casa da Ordem.
1. Pelo prprio Bispo de cada Casa. 2. Pelas pessoas da Ordem que esto em perigo de alma e corpo, e para consolao das mesmas. 3. Por todos nossos benfeitores, pelos parentes, encomendados e amigos de todas as pessoas da Ordem, e pelos que temos obrigao.
Ainda que so muitos os sufrgios que aplicamos por determinadas pessoas, confiamos em que, pela Misericrdia divina, todas nossas oraes tm de aproveitar antes de nada Igreja universal, para louvor da glria de Deus.