Planejamento e Execução de Atividades Interculturais Na Aula de Português para Estrangeiros

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Publicado nos ANAIS DO II CIELLA Congresso Internacional de estudos Lingusticos e Literrios na Amaznia Universidade Federal do Par, 2009, p. 893-902.

2. ISSN ? Disponvel em http://www.ufpa.br/ciella/download/anais_ciella2_v3.pdf

PLANEJAMENTO E EXECUO DE ATIVIDADES INTERCULTURAIS NA AULA DE PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS Marcos dos REIS Batista (Universidade Federal do Par) RESUMO: A sala de aula um espao de encontro, de pensar o mundo, de problematiz-lo, dentre muitas outras coisas. Quando se trata de ensino de lngua estrangeira, o espao fsico um detalhe se comparado viagem que se pode fazer quando se comea a conhecer e a aprender uma nova lngua. Nesse ambiente no se ensina somente o lingstico. Mas, tambm o cultural. Este relato de experincia tem o propsito de apresentar o planejamento e a execuo de aulas de portugus brasileiro para estrangeiros com nfase no cultural, principalmente quanto s regras sociais e quanto aos aspectos folclricos do Brasil e dos pases de origem dos aprendentes. Assim, por meio das exposies dos alunos e do professor, percebeu-se encontros e conflitos entre as culturas presentes e que por meio de atividades interculturalmente planejadas, pode-se chegar ao dilogo, sem abandonar convices a hbitos. PALAVRAS-CHAVE: interculturalidade; portugus lngua estrangeira; ensino-aprendizagem de lnguas. RSUM: La salle de classe est un espace de rencontre, de penser sur le monde, de le problmatiser, et de rflchir sur beaucoup dautres choses. Quand se traite lenseignement dune langue trangre, lespace physique est un dtail compar un voyage qui peut se faire quand on commence connatre et apprendre une nouvelle langue. Dans cette ambiance, on noffre pas seulement lenseignement linguistique ,mais aussi culturel. Ce rapport dexprience a le but de prsenter le planning et lexcution de cours de Portugais Brsilien pour une correspondance culturelle, principalement en ce qui est des rgles sociales et des aspects folkloriques du Brsil et des pays dorigines des apprenants. Ainsi, au moyen des expositions des tudiants et du professeur, on sest aperu de points de rencontres et de points conflits de cultures en prsence, et au moyen dactivits interculturelles planifies ,on peut aboutir au dialogue; sans abandonner ses convictions habituelles. MOTS CL : Inter culturalit, portugais langue trangre, enseignement-apprentissage de langues.

1. INTRODUO O objetivo de planejar atividades interculturais o de relacionar hbitos/atitudes sociais dos falantes do portugus do Brasil como meio para o ensino dessa lngua-cultura a aprendentes estrangeiros. Ao planejar atividades que tem como base a cultura, temos como objetivos especficos: expor os alunos a modelos de situao interacionais, como o encontro entre colegas de uma mesma faculdade; expor/criar verses desses modelos situacionais para cada lngua-cultura (congolesa, haitiana, alem e brasileira); apresentar, refletir, discutir e analisar todos os modelos expostos; e, dialogar a importncia de se construir uma reflexo entre as diferentes culturas, buscando ressaltar a necessidade do dilogo entre falantes nativos e novos falantes (aprendentes). Este curto trabalho est dividido oito partes, conforme a seguir: Cultura e intercultura, Da intercultura ao ensino de lnguas em uma perspectiva intercultural a sensibilizao

diante do outro, Competncia comunicativa intercultural, Desenho de atividades interculturais, Sugestes de atividades, concluso, Referncias e Anexos. Inclumos em nosso trabalho os itens Da intercultura ao ensino de lnguas em uma perspectiva intercultural a sensibilizao diante do outro e Competncia comunicativa intercultural buscando orientar o leitor a outros limites dos estudos da interculturalidade e ensino-aprendizagem de lnguas. Mas, nosso intuito de apresentar um pouco da nossa curta experincia no ensinoaprendizagem de portugus do Brasil para estrangeiros.

2. CULTURA E INTERCULTURA O termo cultura faz parte dos estudos de diversos campos e objeto de investigao de longa data. T-lo como objeto de estudo incomensurvel e desperta calorosas discusses. De uma perspectiva racista a uma perspectiva intercultural, muitas so as argumentaes, as contra-argumentaes e as pesquisas que colaboram com o entendimento diante da problemtica da cultura em nosso mundo. As palavras possuem uma histria e de alguma maneira constroem a historia. O termo cultura tem origem no latim, significa o cuidado dispensado ao campo e ao gado e aparece nos fins do sculo XII para designar um trecho cultivvel de terra (CUCHE, 2002, p. 19). Ao decorrer dos diversos momentos que a humanidade passou, a cultura passou e, acreditamos que ainda passa por considerveis conceitualizaes. Para os pensadores do Iluminismo a cultura o acumulo e transmisso dos saberes pela humanidade ao longo da histria (CUCHE, 2002, p. 21). No vocabulrio Frances do sculo XVII cultura est muito prxima do termo civilizao, que naquela poca tem grande prestgio. Nesse mbito, o primeiro termo evoca os progressos individuais e o segundo os processos coletivos. Porm, em nosso trabalho no nos ocuparemos na palavra civilizao. No sculo XVII kultur aparece no alemo como uma transposio exata do vocbulo francs. Entretanto, trata-se de dois sentidos diferentes. A idia germnica de cultura muda pouco no sculo XIX e tem forte influncia do nacionalismo da nao alem (CUCHE, 2002, p. 28). A idia germnica considera a cultura como um conjunto de conquistas artsticas, intelectuais e morais que constituem o patrimnio de um povo, de uma nao. Na Frana, o termo se enriqueceu com uma dimenso coletiva e passou a ser considerada como um conjunto de caracteres de uma determinada comunidade, porm, em um sentido geral e impreciso (CUCHE, 2002, p. 29). Santos (2008) ajudam-nos a esclarecer a concepo de cultura na modernidade. Ele destaca duas concepes bsicas, a primeira concepo remete aos caracteres de uma realidade social e, a segunda, refere-se mais especificamente ao saber, s idias e s crenas de um povo (SANTOS, 2008, p. 23). O cultural indissocivel da lngua, tanto no processo de aprendizagem, quanto na convivncia do estrangeiro com a nova lngua, ou seja, Sempre que voc ensina uma lngua, voc tambm ensina um sistema cultural complexo de costumes, valores, e maneiras de pensar, sentir e agir. (BROWN 2001, p. 64). Com isso, parte-se da hiptese que o manual de lnguas possui potencial1 para a difuso do idioma de modo a conscientizar os aprendentes culturalmente e interculturalmente. Tal potncia ajuda a construo de conexes educativas e

1 Entende-se aqui Potencial como motivao para a aprendizagem de um novo idioma. Neste mbito a motivao deve ser levada em conta na aprendizagem de uma lngua com vista aproximao do aluno com uma nova cultura. Por meio de uma reflexo diante dessas atividades pode-se comear a pensar acerca de como desenvolver a conscincia cultura e intercultural do aprendente e, tambm, do docente utilizando os materiais didticos de PBLE .

processos de aprendizagem mtua entre os grupos culturalmente diferentes (FLEURI, 2003, p.10). Furtado (2005, p. 53) apresenta um dos papis do componente cultural diante do EAL em que o componente cultural media as interaes, lanando a idia de que os conhecimentos culturais partilhados pelos interlocutores so indispensveis para o desenvolvimento do processo interacional, por meio da intercompreenso. Laraia (2005) apresenta em seu livro Cultura: um conceito antropolgico o desenvolvimento do conceito de cultura durante vrios sculos. Entender cultura como fenmeno com muitas facetas e caractersticas nos ajudar a apresentar um quadro da atual situao de como os elaboradores de manuais tratam em seus trabalhos a cultura, ou melhor, as culturas. partindo dessa situao a cultura em um sentido plural que o presente estudo se mostra como um espao para reflexes diante do nosso objeto de estudo e trabalho. Ao tratar da intercultura, Desmeserets (apud FURTADO, 2001, p. 34) diz que intercultura a presena e a inter-relao em um mesmo tempo e em um mesmo espao, de pessoas de diversas culturas que coexistem. Para Alsina (1999, p. 74) a interculturalidade como as relaes que se do entre as diversas culturas em um mesmo espao real, miditico ou virtual, que tambm teriam referencia a dinmica que se d entre (...) as comunidades culturais. O intercultural vem a somar com a interao quando se trata da aprendizagem de uma nova lngua. Com isso, podem-se ampliar horizontes pessoais e profissionais. Com isso, investigar os aspectos culturais como a cultura ou as culturas brasileiras so tratadas em um manual para o ensino de PBLE e os interculturais a relao das atividades com a cultura dos alunos estrangeiros se coloca como o caminho a ser traado para o desenvolvimento deste trabalho. Podemos, grosso modo, considerar as regras sociais - como sentar-se a mesa, apresentar-se a algum ou como se d o casamento em uma determinada sociedade fazendo parte da primeira concepo. E, o folclore. As expresses artsticas fazendo parte da segunda. No ensino-aprendizagem de lnguas, a sala de aula PE o laboratrio para o professorpesquisador. nesse ambiente que podemos verificar diversos mitos que ouvimos ainda na formao, nos cursos de licenciatura se tornarem realidade e, ainda mais, problemas que nos incentivam a produzir textos, nos fazem refletir sobre o qu ensinar, o porqu ensinar, o para qu ensinar. Em uma sala de aula de lngua estrangeira, o encontro entre culturas certo. Nesse ambiente, temos o professor de lngua com sua cultura pessoal/coletiva e com seu modo de ensinar, os alunos com suas culturas pessoais/coletivas e seus modos de estudar/aprender e, os materiais didticos, geralmente os manuais de lngua, com seus contedos culturais. Ao pensar em um ensino de uma lngua-cultura, importante reconhecer que a sala de aula um ambiente em que deve-se pensar sobre o que tratar como cultural. Para Carvalho (2009) ensinar uma lngua ensinar cultura, no como uma quinta habilidade, que requer uma didtica especial, mas como um elemento inerente lngua, que deve fazer parte da sala de aula desde o incio do processo de aprendizagem. Algumas questes nos so necessrias, como: O que ensinar quando o assunto tratar de elementos culturais? E ainda, como partir de um ensino cultural para atividades que tem como finalidade o dilogo intercultural? Mais a frente trataremos da problemtica do intercultural no ensino de lnguas. Para pensar na lngua-cultura-alvo requer uma reflexo diante dos esteretipos. Segundo Balboni (1999) esse so modelos culturais empiricamente verificveis que so generalizados como representantes fieis de um determinado povo ou nao. Em nosso caso, o ensino do portugus brasileiro para estrangeiros, como tratar da cultura brasileira sem cairmos em esteretipos? Essa questo nos daria, quem sabe, uma ampla produo de textos e pesquisas.

Cada cultura o resultado de uma histria particular (SANTOS, 2008, p. 12), ou seja, a construo de um longo caminho. Ao tratarmos de cultura, estamos tratando de idias, de cidados que constroem suas vidas em um ambiente e as transformam conforme essas idias e discusses diante do que se construiu at determinado perodo na sociedade onde essas pessoas vivem. Ento, cultura brasileira o resultado de diversas histrias. Mas, para Santos essa histria particular tambm incluiu relaes com outras culturas aqui entendemos tambm como povos com os quais podem ter caractersticas bem diferentes (SANTOS, 2008, p. 12). A relao com outras culturas evidente no Brasil quando nos atentamos diante de nossa histria. Principalmente com relao aos povos africanos que aqui chegaram. A presena negra muito forte, temos como exemplo o samba, que uma das mais destacadas expresses culturais do pas que atribuda estereotipada vivacidade do escravo negro. Conforme citado acima, quando tratamos de cultura, tratamos de sujeitos que possuem inmeras caractersticas, essas pessoais e outras coletivas. Esses sujeitos possuem hbitos s vezes prximos e, muitas vezes, distantes. Nesse distanciamento temos o estranhamento, esse pode ser chamado de choque cultural ou de choque entre-culturas. Choque cultural entendido como o conjunto de reaes que um indivduo pode experimentar ao entrar em contato pela primeira vez com uma cultura diferente da sua, cujo o grau de conhecimento pode ser quase nulo (OLIVERAS, 2000; ALSINA, 1999). Segundo alguns trabalhos recentes, sustenta-se que quanto maior for a distncia entre a cultura do sujeito/aprendente daquela estrangeira mais evidente ser o choque cultural. Em muitos pases europeus, os estudos diante da cultura e ensino-aprendizagem de lnguas tiveram forte impulso em virtude do fenmeno imigratrio naquele continente. Em outras naes, como o Brasil, o tratamento ao ensino de lnguas em uma perspectiva cultural e, tambm, intercultural, se d pelo grande fluxo de pessoas que desejam pelos mais diversos motivos se integrar com a lngua-cultura brasileira. Trataremos ento do que vem a ser o intercultural em nosso trabalho. Para o incio da aprendizagem de uma lngua nova, obter informaes sobre o modo de vida dos falantes dessa colabora consideravelmente com o trabalho do aprendente. Conhecer as diversas caractersticas da comunidade onde se fala o idioma que est sendo aprendido diminui as chances de ocorrer conflitos entre o aprendente e os falantes nativos. Tambm valido destacar que nem o manual de lngua, nem toda a gama de informaes levados pelo professor para a sala de aula ser suficiente para esgotar as inmeras situaes de contato com a nova lngua-cultura-alvo. Nesse ambiente de aprendizagem, de contato com pessoas de outras culturas, temos diferentes processos: a multiculturalidade e a interculturalidade. O multicultural o processo pelo qual duas ou mais culturas convivem em um mesmo ambiente como o caso de muitas comunidades turcas na Alemanha -, mas, no h interao, ou essa extremamente restritiva entre ambas (BALBONI, 1999; FLEURI, 2003). A interculturalidade um processo pelo qual duas ou mais culturas conseguem interagir, mesmo com a presena de conflitos (BALBONI, 1999; CUCHE, 2002; ALMARZA e CALVO, 2002). A cultura como interculturalidade pode compreender uma lngua, uma cultura nova desde este enfoque requer colocar nesta cultura em relao com a prpria. No uma transmisso de informao. Leva consigo uma reflexo sobre as duas culturas (ZARATE, 1982; PORCHER, 1986; KRAMSCH, 1993). Para Balboni (1999, p. 17) para cada diferena cultural, funde-se uma nova realidade, ele considera o multicultural uma fase transitria, a espera de uma pseudo homogeneizao. Porm, a interculturalidade uma atitude constante, que considera a riqueza na variedade, que no se prope homogeneizao e objetiva permitir a interao mais plena e fluda possvel entre as diferentes culturas, ou seja, entre os diferentes sujeitos.

Tratar o ensino de uma lngua-cultura em um processo ou em um a perspectiva intercultural no significa abandonar os prprios valores e se tornar um membro de uma determinada cultura e, segundo Balboni (1999, p. 17) entrar em uma perspectiva intercultural significa: a) conhecer os outros; b) tolerar as diferenas, menos em uma esfera de imoralidade que em nosso padro no tendemos a aceitar; c) respeitar as diferenas que nos colocam como problemas morais, mas que reenviam somente s diferentes histrias das vrias culturas, e d) colocar em discusso os modelos culturais onde crescemos. Para Geertz (2003, p. 89) define cultura como um entrelaado semitico transmitido historicamente de forma que nos permite comunicarmos e perpetuar o conhecimento, as crenas e as atitudes sobre o mundo.

3. DA INTERCULTURA AO ENSINO DE LNGUAS EM UMA PERSPECTIVA INTERCULTURAL a sensibilizao diante do outro A mentalidade diante da interculturalidade age com o desejo de integrar as pessoas com a diversidade que distingue os aprendentes de uma nova-lngua que vem de outras culturas. Assim, se configura um processo de positiva hibridao por meio do qual cada pessoas supera o prprio centralismo cultural e adere a uma nova forma de agir diante do outro (MENEGALDO, 2007, p. 06). Menegaldo (2007) apresenta algumas coordenadas quando tratamos da didtica intercultural, so esses: a) O senso das convenes: duas ou mais pessoas conseguem conviver de maneira pacifica porque aceitam em dividir normas e regras em comum; b) O senso de partilha: nasce do EU pelo desenvolvimento da autonomia, da auto-estima, da independncia de pensamento e de escolha; c) Da tenso para a unidade: fruto da conscientizao de colaborar com outro ser humano e de repartir em comum direitos humanos. Ter ateno e estar aberta ao mundo e d) Capacidade de descentralizao: quando uma pessoa supera o prprio ponto de vista como nico possvel e comea a entender que o relativismo cultural no a ajuda a interagir com o mundo. Antes de darmos continuidade, interessante esclarecer o que vem a ser Relativismo cultural. Esse, segundo o Diccionario de trminos clave de ELE (2009) a atitude estudada por uma corrente de pensamento que postula a idia de que cada cultura deve se entender dentro de seus prprios termos e destaca a impossibilidade de estabelecer um ponto de vista nico e universal na interpretao das culturas. Na posio contrria, se situa o universalismo cultural que afirma a existncia de valores, juzos morais e comportamentos com valor absoluto e, com isso, aplicveis a toda a humanidade. A sensibilizao quanto interculturalidade no inata, mas o resultado de um processo formativo que o ensino de uma nova lngua pode e at certo ponto, deve colaborar consideravelmente. Principalmente quando tratamos da troca em pessoas de diferentes mundos. Por isso, consideramos importante transcrever as consideraes de Menegaldo (2007) acerca da sensibilizao do intercultural.

4. COMPETNCIA COMUNICATIVA INTERCULTURAL Para colaborar com a nossa reflexo, tratamos para efeito de informao acerca da competncia comunicativa intercultural.

Cada lngua nasce de uma cultura e a expresso da sociedade que a produz. Por isso, essa expressa concepes de mundo, valores, modalidades de interao peculiares e, uma entidade em contnua modificao (Menegaldo, 2007, P. 09). A diversidade lingstica constitui de um lado uma riqueza considervel e do outro, se coloca como um problema no momento em que a comunicao deve ser instaurada entre falantes de diferentes lnguas (BALBONI, 1999; SERRAGIOTTO, 2006, MENEGELDO, 2007). Nessa situao, necessrio uma preparao quanto ao encontro entre diferentes culturas, uma preparao intercultural e, assim, desenvolver a competncia comunicativa intercultural (OLIVEIRA SANTOS, 2004). Essa tem como fundamento a reciprocidade dos sujeitos envolvidos e sua adequao bilateral (EU e TU ou NS e VOCS) da comunicao. Conforme Oliveira Santos a abordagem comunicativa intercultural Pode ser resumida como a fora que pretende orientar as aes dos professores, alunos e de outros envolvidos no processo de ensino-aprendizagem de uma nova lngua-cultura, o planejamento de curso, a produo de materiais e a avaliao da aprendizagem com o objetivo de promover a construo conjunto de significados para um dilogo entre culturas (2004, p. 154) E pode ser desenvolvida por meio de atividades em sala de aula, materiais didaticos que tratem da relao entre a lngua-cultura-alvo e o aprendente. Por isso, nos prximos tpicos deste trabalho, apresentaremos outras consideraes acerca do cultural e do intercultural no ensino-aprendizagem de portugus brasileiro como lngua estrangeira e reflexes quanto ao planejamento de atividades interculturais. Passaremos no prximo item a tratar do desenho de uma atividade intercultural. Com isso, pretendemos dar inicio as nossas projees diante de um ensino intercultural.

5. DESENHO DE ATIVIDADES INTERCULTURAIS Apresentamos nesta parte do trabalho o planejamento de uma atividade intercultural com alunos de portugus lngua estrangeira no mbito da Universidade Federal do Par. Para a construo de atitudes interculturais, necessitamos a partir da sala de aula, desenvolver atividades que ajudem os alunos a conhecer de modo satisfatrio a nova lngua. para isso, faremos uso do modelo de interculturalidade de Byram (apud CALVO; ALMARZA, 2005) como base para a composio de planificao, ensino e posterior avaliao. Apresentamos o esquema desenvolvido por Calvo e Almarza ( 2005, p. 926-927): Conhecimento (que?): o que os membros de outra cultura ou grupo cultural ou social consideram ou percebem como significativo (identidade nacional e manuteno da comunidade nacional). Conhecimento de grupos sociais, seus produtos e praticas culturais no pas nativo e no estrangeiro. Exemplos: conhecer as percepes sobre as regies e as identidades regionais, as distintas lnguas, etc. Dois nveis de conhecimento: Conhecimentos de fatos/dados e Apreciao de significado que so levados em considerao Atitudes: representam os aspectos afetivos e cognitivos da empatia: curiosidade e abertura, disposio para se deixar convencer por outra cultura. Exemplo: disposio para questionar os valores e as pressuposies das praticas e dos produtos culturais no prprio contexto.

Comportamento: a cultura definida como comportamento compartilhado de um determinado grupo social se apresenta em parte por meio de normas e de convenes de comportamento. Essa classificao de Calvo e Almarza (2005, p. 926-927) e, nos ajudam a entender alguns aspectos de uma anlise e projeo de atividades com base no cultural e no intercultural.

6. SUGESTES DE ATIVIDADES Com base em Calvo e Almarza (2005), apresentamos uma lista de temas que podem ser tratados em atividades interculturais: Tema 1: primeiras impresses: Conhecer os aspectos geogrficos e histricos do pas e da lngua que est se aprendendo; Familiarizar os alunos com os nomes dos estados e cidades. Tema 2: espaos pblicos: Ajudar os alunos a sintonizar com o novo contexto cultural; Desenvolver um interesse para descobrir outras perspectivas e interpretaes de fatos familiares. Tema 3: o mundo do trabalho: Conhecer e reconhecer aspectos da economia do pas onde a lngua que est sendo estudada falada. Tema 4: os tabus da sociedade: Apresentar os temas polmicos da sociedade.

7. CONCLUSO Consideramos que a sala de aula um espao de encontro, de pensar o mundo, de problematiz-lo, dentre muitas outras coisas. Quando o assunto o ensino de lngua estrangeira, o espao fsico um detalhe se comparado viagem que se podem fazer quando se comea a conhecer e a aprender uma nova lngua. Nesse ambiente no se ensina somente o lingstico. Percebemos no texto acima que os termos cultura e intercultura fazem parte de um complexo campo de estudos que temos para explorar e refletir diante da problemtica do ensino do portugus brasileiro para estrangeiros. Consideramos que preciso uma reflexo maior e o planejamento de atividades que possam desenvolver a conscientizao diante de diferentes culturas, tanto a do aluno estrangeiro, quanto a cultura que ele est aprendendo. Com isso, facilitaremos a insero do aprendente na nova lngua e colaboraremos em diminuir conflitos entre as culturas presentes e que por meio de atividades interculturalmente planejadas, pode-se chegar ao dilogo, sem abandonar convices e hbitos.

8. REFERNCIAS

ABELLA, Rosa Maria Rodrguez. El componente cultural en la enseanza/aprendizaje de lenguas extranjeras. Disponvel em http://cvc.cervantes.es/literatura/aispi/pdf/18/18_239.pdf. Acesso em dez. 2008. ALSINA, Miquel Rodrigo. Comunicacin intercultural. Barcelona: Anthropos, 1999. BALBONI, Paolo Emilio. La competencia comunicativa intercultural: um model. Perugia (Itlia): Guerra Edizioni, 2006. BALBONI, Paolo Emilio. Parole comuni, culture diverse. Guida alla comunicazione interculturale. Veneza (Itlia), Marsilio Editore, 1999. BERWIG, Carla Anete. Esteretipos culturais no ensino/aprendizagem de portugus para estrangeiros. Dissertao de Mestrado em Letras Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2004. BROWN, H. Douglas. Teaching by principles: an interactive approach to language pedagogy. Englewood Cliffs. New Jersey: Prentice Hall, 2001. BYRAM, Michael & FLEMING, Michael. Traduo de Jos Ramn Parrando y Maureen Dolan. Perspectivas Interculturales en el Aprendizaje de Idiomas. Madrid (Espanha): Editora Edinumen, 2001. CARVALHO, Orlene Lcia de Sabia. Aspectos da identidade brasileira em livros didticos de portugus para estrangeiros: um estudo lexical. Disponvel em http://www.onda.eti.br/revistaintercambio/conteudo/arquivos/1771.pdf. Acesso em jan. 2009. CUCHE, Denys. Traduo de Viviane Ribeiro. A noo de cultura nas cincias sociais. Bauru (So Paulo): EDUSC, 2002. FLEURI, Reinaldo Matias. Multiculturalismo e interculturalismo nos processos educativos. In: ensinar e aprender: sujeitos, saberes e pesquisa / Encontro Nacional de Didtica e Pratica de Ensino (ENDIPE). Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2000, p. 67-81. GEERTZ, Clifford. Traduo de Alberto L. Bixio. La interpretacin de las culturas. Barcelona (Espanha): Editorial Gedisa, 2003. HALL, Stuart. Identidade cultural na ps-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2006. HALL, Stuart; DU GAY, Paul. Traduo de Horacio Pons. Cuestiones de identidad cultural. Buenos Aires / Madrid: Amorrortu editores, 2003. INSTITUTO CERVANTES. Diccionario de trminos clave de ELE. Disponvel em http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em 19 jun. 2008. KRAMSH, Claire. Context and culture in language teaching. Oxford: Oxford University Press, 1993.

MENDES, Edleise. A perspectiva intercultural no ensino de lnguas: uma relao entreculturas. In: ALVAREZ ORTIZ, Maria Luiza; SILVA, Kleber Aparecido da (Orgs.). Lingstica Aplicada: mltiplos olhares. Braslia: Editora da Universidade de Braslia; Campinas (SP): Pontes Editores, 2007, p. 119-139. MENEGALDO, Maria Grazia. Teoria e pratica nella didattica intercultural. In: ILSA italiano a stranieri, Roam/Atenas, nmero 07, 2007, p. 06-13. MIQUEL, Lourdes. Lengua y cultura desde una perspectiva pragmtica: algunos ejemplos aplicados al espaol. In: Frecuencia L, vol. 5, Madrid: Editora Edinumen, 1997. OLIVEIRA SANTOS, Edleise Mendes. Abordagem comunicativa intercultural (ACIN): uma proposta para ensinar e aprender lngua no dilogo de culturas. Tese (Doutorado em Lingstica Aplicada) Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, 2004. SANTOS, Jos Lus dos. O que cultura? So Paulo: Editora Brasiliense, 1994. SERRAGIOTTO, Graziano. Il binmio lngua-cultura. Disponvel em http://win.liceoamaldi.it/formazione/AT4%20Europa%20e%20intercultura/Il%20binomio%2 0lingua%20cultura.pdf. Acesso em nov. 2008.

ANEXO I Questionrio (adaptado de ALMARZA & CALVO, 2002) Interculturalidade e ensino de lnguas Nome: Experincia profissional: Centro de ensino: Materiais utilizados / manual de lnguas 1. O que significa aprendizagem intercultural? 2. Quando nos encontramos entre duas culturas, tendemos a compar-la. Com isso, se produz uma aprendizagem desse modo? Que tipo de concluso podemos ter quando fazemos comparaes? E por que? 3. O que significa dizer ensinar lngua ensinar cultura? 4. Como podem os estudantes em um meio superficial, a sala de aula, ter acesso a cdigos culturais de outra realidade? 5. Se quisermos ensinar a lngua de forma que os estudantes apreciem seus significados sociais e culturais. Que significados podem ser explcitos? Que significados podem ser entendidos de forma explicita? 6. Como se pode ensinar uma perspectiva do outro (cultura estrangeira) em um contexto educativo que por sua vez produto de suas prprias concepes e valores (cultura nativa)? 7. O que quer dizer ser culturalmente competente? Adquirir a cultura de forma que nos permita comportamentos que seguem a convenes sociais de uma determinada comunidade lingstica? Temos como objetivo final que nossos alunos desenvolvam outra personalidade? 8. A competncia intercultural se definiu como a habilidade de nos comportarmos de forma adequada e flexvel de enfrentar com aes, atitudes e expectativas no encontro com representantes de uma cultura estrangeira. Como se pode conseguir isso? 9. Ate que ponto possvel chegar a ser cognitivamente membros de outra cultura? Podem os adultos aprender a construir e ver o mundo por meio de olhos culturalmente diferentes?

ANEXO II Dilogo para uma reflexo em sala de aula: Johannes belga, Steve africano. Encontram-se em uma tarde de inverno: Johannes: Voc quer um caf? Steve: No, obrigado, estou sem fome. Johannes: quer um CAF? Steve: No, obrigado. (breve intervalo) estou sem fome. (longo intervalo) Johannes: voc quer beber alguma coisa? Steve: ah! Com certeza, faz frio.

Johannes: que tal um caf? Steve: tudo bem! Este exemplo extrado do trabalho de Serragiotto (2008). Steve reage a pergunta inicial como se fosse oferecido a ele uma comida, quanto que na sua cultura (Haya, norte da Tanznia) para as visitas so oferecidas folhas de caf para mastigar, como smbolo de amizade, hospitalidade e riqueza. Conseqentemente natural que seja coerente que o caf seja uma comida, e no uma bebida. a categorizao de Johannes diferente, caf uma bebida quente. Ou seja, claro nesse exemplo a falta de conhecimento de ambas as culturas dos interlocutores.

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