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I P R I

VATTEL

DIREITO DAS GENTES

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I P R I

A reflexo sobre a temtica das relaes internacionais est presente desde os pensadores da Antigidade grega, como o caso de Tucdides. Igualmente, obras como a Utopia, de Thomas More, e os escritos de Maquiavel, Hobbes e Montesquieu requerem, para sua melhor compreenso, uma leitura sob a tica mais ampla das relaes entre Estados e povos. No mundo moderno, como sabido, a disciplina Relaes Internacionais surgiu aps a Primeira Guerra Mundial e, desde ento, experimentou notvel desenvolvimento, transformando-se em matria indispensvel para o entendimento do cenrio atual. Assim sendo, as relaes internacionais constituem rea essencial do conhecimento que , ao mesmo tempo, antiga, moderna e contempornea. No Brasil, apesar do crescente interesse nos meios acadmico, poltico, empresarial, sindical e jornalstico pelos assuntos de relaes exteriores e poltica internacional, constata-se enorme carncia bibliogrfica nessa matria. Nesse sentido, o Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais IPRI e a Editora Universidade de Braslia estabeleceram parceria para viabilizar a edio sistemtica, sob a forma de coleo, de obras bsicas para o estudo das relaes internacionais. Algumas das obras includas na coleo nunca foram traduzidas para o portugus, como O Direito das Gentes de Emer de Vattel, enquanto outros ttulos, apesar de no serem inditos na lngua portuguesa, encontram-se esgotados, sendo de difcil acesso. Desse modo, a coleo Clssicos IPRI tem por objetivo facilitar ao pblico interessado o acesso a obras consideradas fundamentais para o estudo das relaes internacionais. Cada um dos livros da coleo conta com apresentao feita por um especialista, que situa a obra em seu tempo, discutindo tambm sua importncia dentro do panorama geral da reflexo sobre as relaes entre Estados e naes. Os Clssicos IPRI destinam-se especialmente ao meio universitrio brasileiro que tem registrado, nos ltimos anos, um expressivo aumento no nmero de cursos de graduao e ps-graduao na rea de relaes internacionais.

Coleo Clssicos IPRI

TuciDIDI;,S

"Histria da Guerra do Peloponeso"

Prefcio: Hlio Jaguaribe

E,H. CARR

G. W, H E<; 1;,1. 'Textos Selecionados" Organizao e prefcio: Franklin Trein

J ROllSSI':AU

"Vinte Anos de Crise 1919-1939. Uma Introduo ao Estudo das Relaes Internaaonais"

Intemaaonais " Organizao e Prefcio: Gelson Fonseca J r.

"Rousseau e as

Prefcio: Eiiti Sato

J. M.

':4 Grande Iluso" Prefcio: Jos Paradiso

Conseqncias Econdmicas Paz" Prefcio: Marcelo de Paiva Abreu

ON D A RON

"Utopia" Prefcio: Joo Almino "Conselhos Diplomticos"

''Paz e Guerra entre as Naes"

Prefcio: Antonio Paim

"l.iscritos Selecionados" Organizao e prefcio: J. A. Guilhon Albuquerque

Hu(;o GROTllIS

Vrios autores Organizao e prefcio: Luiz Felipe de Seixas Corra

DI;,

"O Direito das Gentes" "O Direito da Guerra e da Paz"

Traduo e prefcio: Vicente Marotta Rangel

Prefcio: Celso Lafer

ALFXIS

"Escritos Selecionados"

Org. e prefcio: Ricardo Vlez Rodrigues

MOR<;ENTHAU

'Textos Selecionados" Organizao e prefcio: Renato Janine Ribeiro

Poltica entre as Naes"

A H H I', D E S A I N T P I E R R E "Projeto para tornar Perptua

a Paz na Europa" Organizao e prefcio: Ricardo Seitenfus
BULI.

Prefcio: Ronaldo M. Sardenberg

AN UFL

KANT
Sociedade Anrquica"

"Escritos Polticos"

Prefcio: Carlos Herinque Cardim

Prefcio: Williams Gonalves

S A M LI I,: L P Li I; E N D o

RF

"Do Direito Natural e das Gentes" Prefcio: Trcio Sampaio Ferraz Jr.
VON

VITORIA

"De Indis et De Jure ReI/i"

Guerra"

Prefcio: Domcio Proena

Apresentao: Fernando Augusto Albuquerque Mouro Prefcio: Antnio Augusto Canado Trindade

FUNDAO ALEXANDRE DE GUSMO - FUNAG

Presidenta: EMBAIXADORA
INSTITUTO DE PESQUISA DE

MARIA MACHADO QUINTELLA

AES INTERNACIONAIS -

IPRI

Diretora: EMBAIXADORA

HELOSA VILHENA

EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASUA - UNB

Presidente: HENRYK SIEWIERSKJ Diretor:ALEXANDRE LIMA Conselho Editorial: CLARIMAR ALMEIDA

MARINHO FILHO,

VALLE, DIONE OLIVEIRA MOURA, ADER SOARES

BFRNARDES

o
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I P R I
VI

EMER

DE

VATTEL

DIREITO DAS GENTES

Prefcio e Traduo:

Vicente Marotta Rangel

Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais Editora Universidade de

Braslla. 2004

Direitos desta edio: Editora Universidade de Braslia SCS Q. 2 - Bloco C - n? 78 - 2 CEP.: 70300-500 - Braslia - DF A presente edio foi feita em forma cooperativa entre o Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais (IPRI/FUNAG) e a Editora Universidade de Braslia. Todos os direitos reservados conforme a lei. Nenhuma parte desta publicao poder ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem autorizao por escrito da Editora Universidade de Braslia.

Planejamento Fiditorial: Eiiti Sato Traduo: Vicente Marorta Rangel

Visual: Paulo Pedersolli

Assistentes: Ana Cludia Bezerra de Melo Filter Clara do Carmo Rios dos Santos

Vattel, Emer de. O direito das gentes I Vattel; prefcio e traduo: Vicente Marotta Rangel . - Braslia: Editora Universidade de Braslia: Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais, 2004. p. - (Clssicos IPRI) I. Direito internacional. 2. Relaes internacionais. 3. Guerra (Direito internacional) I. Rangel, Vicente Marotta. ISBN: 85-230-0782-2 (Editora UnB) ISBN: 85-7631-015-5 (FUNAGIIPRI) CDU: 341
Efetuado o Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conforme Decreto nO 1.825, de 20.12.1907

INDICE

Prefcio Edio Brasileira Prefcio do autor

XLVII LXXI

Preliminares 1 1: O que uma Nao ou um Estado 1 2: A Nao uma pessoa jurdica 1 3: Definio do direito das gentes 1 2 4: Como se consideram as Naes ou Estados 5: A que leis as Naes esto submetidas 2 6: A origem do direito das gentes 2 7: Definio do direito das gentes necessrio 3 8: Ele imutvel 3 9; As Naes no podem mudar o direito das gentes necessrio nem se eximir da obrigao que ele lhes impe 3 10: Da sociedade estabelecida pela natureza entre todo os homens .. 4 11: E entre as Naes 5 12: O fim da sociedade de Naes 6 13: A obrigao geral que essa sociedade impe 6 14: Explicao desta obrigao 7 15: Liberdade e independncia das Naes 7 16: Efeito dessa liberdade 7 17: Distines da obrigao e do direito interno e externo, perfeito e imperfeito 8 18: Igualdade das Naes 8 19: Conseqncia dessa igualdade 9 9 20: Cada Nao dona de suas aes, com reservas 21; Fundamento do direito das gentes voluntrio 9 22: Direito das Naes contra os infratores do direito das gentes 10 23: Regra desse direito 10 24: Direito das gentes convencional ou direito dos tratados 10 11 25: Direito das gentes costumeiro 26: Regra geral sobre esse direito 11

VIII

VArrEL

27: Direito das gentes positivo 12 28: Princpio geral sobre o uso do direito necessrio e do direito voluntrio 12

LIVRO I

DA NAO
CAPTULO

CONSIDERADA EM SI MESMA

I: Das Naes

Estados soberanos
15 15 15 16 16 16 17 17 17 18 18 18

10: Do Estado e da soberania 2: Direito do organismo sobre os membros 3: Diversas espcies de governos 4: Quais so os Estados soberanos 5: Estados vinculados por alianas desiguais 6: Ou por tratados de proteo 7:Estados tributrios 8:Estados feudatrios: 9: Dois Estados submetidos ao mesmo prncipe 10: Estados integrantes de uma Repblica Federativa 11: Sobre um Estado que se submeteu ao domnio de outro 12: Objeto deste Tratado
CAPTULO

II: Princpios gerais dos

de uma Nao para consigo mesma

19 19 20 21 22 22 22 22 23 23 24 25

13: Uma Nao deve agir em conformdade com a sua natureza 14: Da conservao e da perfeio de uma Nao 15: Qual o objetivo da sociedade civil 16: Uma Nao tem a obrigao de conservar-se 17: E de conservar os seus membros 18: Uma Nao tem direito a tudo que for necessrio para a sua conservao 19: Ela deve evitar tudo o que poderia causar a sua destruio 20: Do direito da Nao a tudo que possa servir a esse fim 21: Uma Nao deve aperfeioar-se e a seu Estado 22: Evitar tudo o que for contrrio a sua perfeio 23: Dos direitos que essas obrigaes lhe conferem 24: Exemplos 25: Uma Nao deve conhecer-se a si prpria

IX
CAPTULO

111: Da constituio do Estado e dos e direitos da Nao a esse respeito:

25 26 26 26 27 28 28 29 29 30 31 31

26: Da autoridade pblica 27:0 que a constituio do Estado 28: A Nao deve escolher a melhor constituio 29: Leis polticas, fundamentais e civis 30: Da manuteno da constituio e da obedincia s leis 31: Direitos da Nao quanto a sua constituio e seu governo 32: Ela pode reformar o governo 33: E mudar a constituio 34: Do poder legislativo e se este pode mudar a constituio 35: A Nao deve conduzir-se sempre com reserva 36: A Nao juiz de todas as contestaes sobre o governo 37: Nenhuma potncia estrangeira tem o direito de ingerncia
CAPTULO

IV: Do soberano, de suas obrigaes e de seus direitos

38: Do soberano 31 39: O soberano no estabelecido a no ser para o bem-estar e vantagem da sociedade 32 40: De seu carter representativo 34 41: Ele encarregado das obrigaes da Nao de cujos direitos ele est investido 34 42: Dever do soberano em relao conservao e aperfeioamento da Nao 34 43: Seus direitos a esse respeito 35 44: Ele deve conhecer a sua Nao 35 45: Amplitude de seu poder; direitos de majestade 35 46: O prncipe deve respeitar e manter as leis fundamentais 35 36 47: Se ele pode mudar as leis no fundamentais 48: Ele deve manter e observar as leis que subsistem 36 36 49: Em que sentido ele est submetido s leis 50: A sua pessoa sagrada e inviolvel 37 51: Contudo, a Nao pode reprimir um soberano e eximir-se de obedec-lo 38 41 52: Compromisso entre o prncipe e os sditos 53: Obedincia devida pelos sditos aos soberanos 42 42 54: Em que casos se pode resistir ao prncipe 55: Dos 44

x
CAPTULO

VATIEL

V: Estados por sucesso ou hereditrios e os chamados patrimoniais

56: Dos Estados eletivos 45 57: Se os reis eletivos so verdadeiros soberanos 45 58: Estados por sucesso e hereditrios; origem do direito da sucesso 46 46 59: Outra origem 60: Demais fontes 46 47 61: A Nao pode mudar a ordem de sucesso 62: Renncias 47 63: Em condies ordinrias a ordem de sucesso deve ser mantida 48 49 64: Dos regentes 65: Indivisibilidade da soberania 49 66: A quem cabe o julgamento das contestaes sobre a sucesso a uma soberania 50 67: Que o direito sucesso no deve depender do julgamento de uma potncia estrangeira 52 68: Estados chamados patrimoniais 54 69: Toda soberania verdadeira inalienvel 54 56 70: Direito do prncipe em nomear o sucessor 71: A ratificao ao menos tcita 57
CAPTULO

VI: Pnnapais objetiios de um bom governo. Primeiro: prover as necessidades da Nao

57 58 58 59 59

72: O fim da sociedade assinala ao soberano os seus deveres. 10: Ele deve procurar a abundncia 73: 2. Zelar para que haja nmero suficiente de operrios 74: 30.Impedir a sada dos que so teis 75: Dos emissrios que os contratam 76: 4.Deve-se estimular o trabalho e a indstria
CAPTULO

VII: Da cultura das terras

59 60 60 60

77: Utilidade do cultivo 78: Poltica necessria a esse respeito, com vistas distribuio de terras 79: Para a proteo dos lavradores 80: Deve-se prestigiar a lavoura

XI
81: Obrigao natural de cultivar a terra 82: Celeiros pblicos
CAPTULO

61 62

VIII: Do comrcio
62 63 63 63 64 64 65 65 65 66 67 67 68 69 70 71 71

83: Do comrcio interno e exterior 84: Utilidade do comrcio interno 85: Utilidade do comrcio exterior 86: Obrigao de cultivar o comrcio interno 87: Obrigao de cultivar o comrcio exterior 88: Fundamento do direito de comrcio 89: Do direito de vender 90: Proibio de mercadorias estrangeiras 91: Natureza do direito de comprar 92: Compete a cada Nao ver como ela quer exercer o comrcio 93: Como se adquire um direito perfeito em comrcio exterior 94: Da simples permisso do comrcio 95: Se os direitos referentes ao comrcio esto sujeitos prescrio 96: Imprescritibilidade de direitos baseados em tratados 97: Do monoplio e das companhias de comrcio exclusivo 98: Balana de comrcio. Ateno do governo a esse respeito 99:Direitos de ingresso
CAPTULO

IX: Do cuidado das vias pblicas e dos direitos de pedgio 100: Utilidade das vias principais, dos canais, etc

101: Dever do governo a esse propsito 102: Dos direitos do governo a esse mesmo respeito 103: Fundamento do direito de pedgio 104: Abuso desse direito
CAPTULO

72 72 72 73 73

X: Da moeda e do cmbio
74 74 75 76 76

105: Estabelecimento da Moeda 106: Deveres da Nao ou do prncipe em relao moeda 107: Dos direitos da autoridade pblica a esse respeito 108: Injria que uma Nao pode fazer a outra a respeito de moeda 109: Do cmbio e das leis do comrcio

XII
CAPTULO

VATIEL

XI: Segundo de um bom governo: procurar a verdadeira felicidade da Nao

76 77 77 78 79 81 81 82 83 83 84 84 85 85 86

110: Uma Nao deve trabalhar para a sua prpria felicidade 111:Instruo: 112: Educao da juventude 113: Das cincias e das artes 114: Da liberdade de filosofar 115: Deve-se inspirar o amor virtude e o horror ao vcio 116: A Nao conhecer a inteno daqueles que a governam 117: O Estado ou a pessoa pblica devem em particular aperfeioar o seu entendimento e a sua vontade 118: E direcionar para o bem da sociedade os conhecimentos e as virtudes dos cidados 119: Amor ptria 120: Nos indivduos 121: Na Nao, no prprio Estado e no soberano 122: Definio da 123: Quanto humilhante e criminoso envergonhar sua ptria 124: Glria dos bons cidados
CAPTULO

XII: Da piedade e da

125: Da piedade 87 126: A piedade deve ser esclarecida 87 127: Da religio: interior e exterior 88 128: Direito dos particulares. Liberdade das conscincias 88 129: Estabelecimento pblico da religio. Deveres e direitos daNao 89 130: Quando ainda no houver religio autorizada 89 131: Quando houver religio estabelecida por leis 90 132: Direitos e deveres do soberano no tocante religio 91 133: Hiptese em que haja religio estabelecida por lei 92 134: Objeto dos cuidados do soberano e meios que ele deve empregar 93 135: Da tolerncia 94 136: O que deve fazer o prncipe quando a Nao deseja mudar de religio 94 137: A diferena de religio no despoja o prncipe de sua coroa 95 138: Conciliaodos direitos e deveres do soberano com os sditos 95

XIII
139: O soberano deve ter competncia sobre os assuntos da religio e autoridade sobre os que a ensinam 140: Ele deve impedir que se abuse da religio recebida 141: Autoridade do soberano sobre os ministros da religio 142: Natureza dessa autoridade 143: Regra a observar em relao a eclesisticos 144: Recapitulao das razes que estabelecem o direito do soberano em matria de religio 145: Conseqncias perniciosas do sentimentos contrrio 146: Pormenores sobre abusos. I: O poder dos papas 147: lI: Empregos importantes outorgados por potncia estrangeira 148: III: Sditos poderosos dependentes de corte estrangeira 149: IV: Celibato dos padres; conventos 150: V: As grandes pretenses do clero: preeminncia 151:VI:Independncia; imunidades 152: VII: Imunidades dos bens da Igreja 153: VIII: Excomunho das pessoas em funo 154: IX: Excomunho dos prprios soberanos 155: X: Perturbao da ordem da justia pelo clero 156: XI: Dinheiro enviado para Roma 157: XII: Leis e prticas contrrias ao bem do Estado
CAPTULO

96 97 98 98 99 100 101 102 104 104 105 107 107 109 110 110 112 113 113

XIII: Dajustia e da polcia

158: Uma Nao deve fazer reinar a justia 114 159:Estabelecer boas leis 114 160:Faz-las cumprir 115 161: Funes e deveres do prncipe nessa matria 115 162: Como ele deve fazer justia 116 163: Ele deve constituir juzes ntegros e esclarecidos 116 164: Os tribunais comuns devem julgar causas fiscais 117 165: Deve-se estabelecer cortes soberanas que julguem de forma definitiva a justia 117 166: O prncipe deve preservar a justia em sua forma 118 167: O prncipe deve preservar a autoridade dos juzes e fazer executar as suas sentenas 118 168: Da justia distributiva. Distribuio de empregos e recompensas 119

XIV
169: Punio dos culpados. Fundamento do direito de punir 170: Das leis penais 171: Da medida das penas 172: Da execuo das leis 173: Do direito de conceder a graa 174: Da polcia 175: Do duelo ou dos combates singulares 176: Meios de acabar com essa desordem
CAPTULO

VATIEL

120 120 121 122 123 123 123 124

XIV: Terceiro de um bom governo: fortalecer-se contra ataques externos

177: Uma Nao deve fortificar-se contra ataques externos 127 127 178: Do poder de uma Nao 179: Multiplicao dos cidados 128 180: De coragem 129 181: Outras virtudes militares 130 182: Das riquezas 131 131 183: Renda do Estado e impostos 184: A Nao no deve aumentar o seu poder por meios ilcitos .. 131 132 185: O poder relativo quele de outrem
CAPTULO

XV: Da

de uma Nao
132 133 133 134 134 135

186: Quanto a glria vantajosa 187: Dever da Nao: como se adquire a verdadeira glria 188: Deveres do prncipe 189: Deveres dos cidados 190: Exemplo dos suos 191: Atacar a glria de uma Nao significa injuri-la
CAPTULO

XVI: Submisso voluntria de um Estado a poder estrangeiro com intuito de obter proteo
136 136 136 137 137 138

192: Da proteo 193: Submisso voluntria de uma Nao a outra 194: Diversas espcies de submisso 195: Direitos dos cidados quando a Nao se submete a uma potncia estrangeira 196: Pactos anulados por incapacidade de proteo 197: Ou por infidelidade do protegido

xv
198: E pelos empreendimentos do protetor 199: Como o direito da Nao protegida se perde com o silncio
CAPTULO

138 139

XVII: Como um povopode separar-se do Estado de que membro ou renunciar obedincia de seu soberano} quando no por protegido

200: Diferena entre o presente caso e os do captulo precedente .. 139 201: Dever dos membros de um Estado, ou dos sditos de um prncipe, que estejam em perigo 140 202: O direito daqueles que so abandonados 141
CAPTULO

XVIII: O estabelecimento da Nao num Pas

142 142 142 143 143 143 144 145

203: Ocupao de um pas pela Nao 204: Direitos da Nao sobre o pas que ela ocupa 205: Ocupao do imprio em pas vacante 206: Outra maneira de ocupar o imprio em pas livre 207: Como uma Nao se apropria de um pas desabitado 208:Questo a esse respeito 209: Se permitido ocupar parte de um pas no qual no se encontram seno povos nmades e em pegue no nmero 210:Das colnias
CAPTULO

XIX: Da ptria e das

matrias a

concernentes
145 145 146 146 147 147 147 148 148 148 150 150 151

211: O que a ptria 212: Dos cidados e naturais 213:Dos habitantes 214:Naturalizao 215: Dos filhos de cidados, nascidos em pas estrangeiro 216: Dos filhos nascidos no mar 217: Das crianas nascidas nas foras armadas do Estado ou na casa de ministro credenciado em corte estrangeira 218:Do domiclio 219:Dos nmades 220: Se permitido deixar a sua ptria 221: Como se pode ausentar por algum tempo 222: Diferenas das leis polticas a esse respeito. preciso obedec-las 223: Casos em que o cidado tem direito de deixar a ptria

XVI

VATIEL

224: Dos emigrantes 152 225: Fontes de direito dos emigrantes 152 226: Se o soberano violar o direito dos imigrantes, ele lhes comete injria 153 227: Dos suplicantes 153 228: Do exlio e do banimento 153 229: Os exilados e os banidos tm direito de habitar algum lugar .. 154 230: Natureza desse direito 154 231: Dever das Naes em relao a estrangeiros 155 232: Uma Nao no pode puni-los em razo de transgresses cometidas fora de seu territrio 155 233: A no ser por faltas que interessam segurana do gnero humano 156
CAPTULO

XX: Bens pblicos, comuns eprivados

234: Do que os romanos chamavam res comunes 156 235: Totalidade dos bens da Nao e diviso deles 157 157 236: Duas maneiras de adquirir bens pblicos 237: Os rendimentos dos bens pblicos esto naturalmente ao dispor do soberano 157 238: A Nao pode ceder o uso e a propriedade dos bens comuns 158 239: A Nao pode atribuir ao soberano o domnio dos bens 158 comuns e reservar o uso dos mesmos para si 240: Dos impostos 159 241: A Nao pode reservar-se o direito de estabelecer impostos 159 159 242: Do soberano que tem esse poder 160 243: Dever do prncipe em relao aos impostos 244: Do domnio eminente, vinculado soberania 160 161 245: Do imprio sobre as coisas pblicas 246: O soberano pode fazer leis sobre o uso dos bens comuns .. 161 162 247: Da alienao dos bens da comunidade 248: Do uso dos bens comuns 163 249: Maneira pela qual cada um deve usufruir desses bens 163 163 2500: Do direito de preveno no uso desses bens 251: Do mesmo direito, em outro uso 164 252: Da conservao e da reparao dos bens comuns 164 253: Direito e dever do soberano a esse respeito 164 165 254: Dos bens particulares

NDICE

XVII
255: O soberano pode submeter particulares a uma poltica 256: Das heranas 165 165

CAPTULO

XXI: Da alienao dos bens pblicos) ou do domnio e da alienao de umaparte do Estado

166 166 167 167 167 168 169 169 170

257: A Nao pode alienar os seus bens pblicos 258: Deveres de uma Nao a esse respeito 259: Deveres do prncipe 260: O prncipe no pode alienar os bens pblicos 261: A Nao pode dar-lhe o direito 262: Regras a esse respeito, para os tratados entre as Naes 263: Da alienao de uma parte do Estado 264: Direitos daqueles que desejam desmembrar-se 265: Se o prncipe tem o direito de desmembrar o Estado
CAPTULO

XXII: Dos rios) riachos e lagos

171 172 173 173 174 174 175 175 176 176 178 178 178

266: Do rio que separa dois territrios 267: Do leito de um riacho que estanca, ou que retoma o curso alhures 268: Do direito de aluvio 269: Se o aluvio acarreta modificaes nos direitos sobre o rio 270: O que ocorre quando o rio muda de curso 271: Das obras tendentes a desviar a corrente 272: Obras prejudiciais ao direito de outrem 273: Normas referentes a direitos contraditrios 274:Dos lagos 275: Dos acrscimos de um lago 276: Dos aterros formados nas margens de um lago 277: Do leito de um lago ressecado 278: Da jurisdio sobre os lagos e os rios
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XXIII: Do mar
179 179 179 180 180

279: Do mar e de seu uso 280: Se o mar pode ser ocupado e submetido ao domnio 281: Ningum tem o direito de se apropriar do uso do alto mar 282: A Nao que deseja excluir outra do uso do mar est a fazer-lhe injria 283: Ela comete injria a todas as Naes

XVIII

VATIEL

284: Ela pode adquirir um direito exclusivo por tratados 181 285: Mas no por prescrio e uso prolongado 181 286: A no ser que haja um pacto tcito 181 287: O mar prximo do litoral pode ser submetido propriedade 182 288: Outro motivo de apropriao do mar prximo do litoral 182 289: At onde a posse de guas prximas ao litoralpode estender-se .. 183 290: Do litoral e dos portos 185 291: Das baas e dos estreitos 185 292:Dos estreitos em particular 186 293: Do direito de naufrgio 186 294: Do mar encravado nas terras de uma Nao 186 295: As partes do mar ocupadas por uma potncia esto sob a sua jurisdio 187

LIVRO II

DA NAO
CAPTULO

CONSIDERADA EM SUAS RELAES COM OUTRAS NAES

I: Deveres comuns de uma Nao para com as demais dos ofcios de humanidade as Naes
191 193 193 194 195 196 196 197 198 198 198 199 199 199

1: Fundamento dos direitos comuns e recprocos das Naes 2: Ofcios de humanidade e seu fundamento 3: Princpio geral de todos os deveres recprocos das Naes 4: Deveres de uma Nao para a conservao das demais 5: A Nao deve assistir um povo desolado pela fome e por outras calamidades 6: A Nao deve contribuir para a perfeio das demais 7: Mas no pela fora 8: Do direito de pedir os ofcios de humanidade 9: Do direito de julgar se possvel conced-los lOo : Uma Nao no pode constranger outra a prestar-lhe esses ofcios; eventual recusa no constitui injria 11: Do amor recproco das Naes 12: Cada Nao deve cultivar a amizade das demais 13: Aperfeioar-se em vista da utilidade dos demais e dar-lhes bons exemplos 14: Cuidar de sua glria

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15: A diferena de religio no deve impedir a prestao
dos ofcios de humanidade 16: Regra e medida dos ofcios de humanidade 17: Limitao particular em relao ao prncipe 1S: Nenhuma Nao deve lesar as demais 19: Das ofensas 20:Mau costume dos antigos
CAPTULO

200 200 202 203 204 205

H: Do comrcio as Naes 21: Obrigao geral das Naes de comerciar 22: As Naes devem favorecer o comrcio 23: Da liberdade do comrcio 24: Do direito de comerciar pertencente s Naes 25: Compete a cada Nao julgar se est em condies de exercer o comrcio 26: Necessidade dos tratados de comrcio 27: Regra geral sobre esses tratados 2S: Dever das Naes gue celebram esses tratados 29: Tratados perptuos e temporrios ou revogveis 30: No se pode conceder a terceiros direito contrrio s normas de um tratado 31: Como permitido subtrair por um tratado a liberdade de comerciar com outros povos 32: Uma Nao pode restringir o seu comrcio em favor de outra 33: A Nao pode apropriar-se de um ramo de comrcio 34:Dos cnsules

205 206 206 206 207 207 20S 20S 20S 209 209 210 210 211

CAPTULO

IH: Da dignidade e igualdade das Naes. Ttulos e outros sinais de honra

213 214 214 215 215 215 216

35: Da dignidade das Naes ou Estados soberanos 36: Da igualdade entre as Naes 37:Da precedncia 3S: A forma de governo no tem influncia a respeito 39: Um Estado deve manter a sua categoria apesar de haver mudana na sua forma de governo 40: preciso observar a esse respeito os tratados e usos vigentes 41: Do nome e das honras atribudos pela Nao ao seu dirigente

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VATIEL

42: Se o soberano pode atribuir-se as honras que quiser 43: Do direito das demais Naes a esse respeito 44: Do dever das Naes 45: Como assegurar-se de ttulos e honrarias 46: Deve haver conformidade com o uso geral 47: Consideraes recprocas a que os soberanos se obrigam 48: Como um soberano deve manter a sua dignidade
CAPruLO

217 218 218 218 219 219 220

IV: Do direito segurana e dos da e da independncia das Naes 49:Do direito segurana 220 50: Desse direito resulta o direito de resistir 221 51: E o direito de perseguir a reparao 221 52: E o direito de punir 221 53: Direito de todos os povos contra uma Nao malfica 222 54: Nenhuma Nao tem o direito de imiscuir-se no governo de uma outra 222 55: Um soberano no pode erigir-se em juiz da conduta de outro soberano 222 56: Como permitido ingerir-se em querela de soberano com seu povo 223 57: Direito de no permitir que Naes estrangeiras se imiscuam em assuntos de governo 224 58: Sobre esses mesmos direitos com respeito religio 225 59: Nenhuma Nao pode ser constrangida a respeito da religio .. 226 226 60: Dos ofcios de humanidade nessa matria 61: Circunspeco a ser usada 227 62: O que pode fazer um soberano em favor daqueles que professam a sua religio em outro Estado 228 V: Do

CAPruLO

dajustia

as Naes
228 229 229 229 229 230 230

63:Necessidade do cumprimento da justiana sociedade humana 64: Obrigao de todas as Naes: a de cultivare respeitar a justia 65: Direito de no sofrer injustia 66: Esse direito perfeito 67: Esse direito produz: 1: o direito de defesa 68: 2: direito de obter justia 69: Direito de punir uma injustia

XXI
70: Direito de todas as Naes contra aquela que menospreza abertamente a justia 230
CAPTULO

VI: Da parte que uma

nos atos de seus

230 231 232 232 232 232 233 234

71: O soberano deve vingar as injrias do Estado e conhecer o cidado 72: O soberano no deve admitir que seus sditos ofendam cidados de outras Naes 73: No se pode imputar Nao os atos de particulares 74: A menos que a Nao os aprove ou ratifique 75: Conduta que deve ter o ofendido 76: Dever do soberano do agressor 77: Se o soberano recusar justia, ele participa da culpa e da injria 78: Outro caso em que a Nao responsvel por atos de cidados
CAPTULO

VII: Dos efeitos do domnio

as Naes

79: Efeito geral do dominio 234 235 80: Do que compreendido no domnio de uma Nao 81: Os bens dos cidados pertencem Nao 235 82: Conseqncia desse princpio 236 83: Conexo do domnio da Nao com o imprio 236 84:Jurisdio 237 85: Efeitos da jurisdio para os estrangeiros 237 86: Dos lugares desertos e sem cultivo 238 87: Dever da Nao a esse respeito 239 88: Do direito de ocupar cousas que no pertencem a ningum 240 89: Direitos concedidos a outra Nao 240 90: No possvel expulsar uma Nao do pas que ela habita .. 240 91: No permitido estender pela violncia os limites do imprio 241 92: preciso delimitar cuidadosamente os territrios 241 93: Da violao do territrio 242 94: Da proibio de entrar no territrio 242 95: De terra ocupada simultaneamente por diversas Naes 243 96: De terra ocupada por particular 243 97: Famlias independentes em um pas 243

XXII

VAITEL

98: Ocupao apenas de certos lugares ou de certos direitos em pas vacante

CAPTULO

244

VIII:

em

a estrangeiros

99: Idia geral da conduta que o Estado deve ter em relao a estrangeiros 245 100: Do ingresso no territrio 245 101: Os estrangeiros esto submetidos s leis 246 102: Os estrangeirosesto sujeitos punio de acordo com as leis .. 246 103: Quem o juiz da controvrsia entre estrangeiros 246 104: Proteo devida aos estrangeiros 247 105: Deveres dos estrangeiros 248 106: A que encargos os estrangeiros esto sujeitos 248 107: Os estrangeiros permanecem membros de sua Nao de origem 248 108: O Estado no tem nenhum direito sobre a pessoa do estrangeiro 248 109: Nem sobre os bens dos estrangeiros 249 11O: Quem so os herdeiros de um estrangeiro 249 111: Do testamento de um estrangeiro 250 112:Do direito do forasteiro 251 113: Do direito de trait-foraine 252 114: Dos imveis possudos por estrangeiro 253 115: Casamento de estrangeiros 253
CAPTULO

IX: Dos direitos que subsistem para todas Naes aps a introduo do domnio e da propriedade

116:Quais so os direitos de que os homens no podem ser privados 254 117: Do direito que subsiste da comunidade primitiva 254 118: Do direito que resta para cada Nao sobre o que pertence s demais Naes 254 119: Do direito de necessidade 255 120: Do direito de obter vveres pela fora 255 121: Do direito de se servir de coisas pertencentes a outrem 255 122:Do direito de subtrair mulheres 256 123: Do direito de passagem 257

XXIII
124: Do direito de obter as cousas de que se necessita 125: Do direito de habitar pas estrangeiro 126: Das causas de uso inesgotvel 127: Do direito de uso inocente 128: Da natureza do direito inocente em geral 129: Nos casos no duvidosos 130o: Do exerccio deste direito entre as Naes
CAPTULO

257 258 258 259 259 260 260

X: Como uma Nao deve usar o seu direito de domnio} para desobrigar-se de seus deveres para com outras sobre a utilidade inocente 131: Dever geral do proprietrio 261 132: Da passagem inocente 262 262 133: Das garantias a exigir 263 134: Do trnsito de mercadorias 135: Da estada no pas 263 136: Como se deve agir para com os estrangeiros que requerem residncia permanente 264 264 137: Do direito proveniente de uma permisso geral 265 138: Do direito concedido como benefcio 139: A N ao deve ser oficiosa 265
XI: Do usucapio e da as Naes 140: Definio de usucapio e de prescrio 141: O usucapio e a prescrio so de direito natural 142: Do que requerido para fundamentar a prescrio
ordinria

CAPTULO

266 267 269 269 270 270 271 271 271 272 273 273

143: Da prescrio imemorial 144: Daquele que alega as razes do seu silncio 145: Daquele que testemunha suficientemente no querer
abandonar seu direito

146: Prescrio fundamentada nas aes do proprietrio 147: Usucapio e prescrio tm lugar entre Naes 148: mais difcil fundamentar o usucapio e a prescrio
entre as Naes num abandono presumido

149: Outros princpios que fortalecem a prescrio 150: Efeito do direito das gentes voluntrio nessa matria 151: Do direito dos tratados ou do costume nessa matria

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CAPTULO

VATIEL

XII: Dos tratados de aliana e outros tratados pblicos

152: O que um tratado 274 153: Dos pactos, acordos ou convenes 274 154: Os que fazem os tratados 274 155: Se um Estado protegido pode fazer tratados 275 156: Tratados concludos pelos mandatrios ou plenipotencirios do soberano 275 157: Da validade dos tratados 276 158: A leso no anula os tratados 276 159: Dever das Naes nesta matria 277 160: Nulidade dos tratados perniciosos ao Estado 277 161: Nulidade dos tratados feitos por motivo injusto ou desonesto 278 162: permitido fazer aliana com aqueles que no professam a mesma religio 278 163: Obrigao de cumprir os tratados 278 164: A violao de tratado uma injria 279 165: No se pode fazer tratados contrrios queles subsistentes 280 166: Como poder contratar com muitas partes em relao ao mesmo objeto 280 167: O mais antigo aliado deve ser preferido 280 168: Nenhuma assistncia devida para uma guerra injusta 281 169: Diviso geral dos tratados. Daqueles concernentes a causas j devidas pelo direito natural 281 170: Da coliso de seus tratados com deveres para consigo mesmo .. 282 171: Dos tratados que apenas prometem no lesar 282 172: Tratados sobre causas no devidas naturalmente. Dos tratados iguais 283 173: Obrigao de preservar a igualdade nos tratados ;.. 284 174: Diferena entre tratados iguais e alianas iguais 285 175: Dos tratados desiguais e das alianas desiguais 285 176: Como uma aliana com diminuio de soberania pode anular tratados anteriores 288 177: Deve-se evitar,tanto quanto possvel,fazer semelhantes alianas ..289 178: Deveres mtuos da Nao a respeito de alianas desiguais .. 289 179: Das alianas que so desiguais do lado mais forte 290 180: Como a desigualdade dos tratados e das alianas pode estar em conformidade com a lei natural 291 181: Da desigualdade imposta sob forma de penalidade 291

xxv
182: Outras espcies de tratados s quais j se fez meno 183: Dos tratados pessoais e dos tratados reais 184: O nome dos contratantes inserido no tratado no o toma pessoal 185: Uma aliana feita por uma repblica real 186: Dos tratados concludos por reis e outros monarcas 187: Tratados perptuos ou por tempo determinado 188: Tratados feitos para um rei e seus sucessores 189: Tratado feito para o bem do reino 190: Como se forma a presuno em casos duvidosos 191: A obrigao e o direito resultantes de um tratado passam aos sucessores 192: Dos tratados concludos uma vez por todas 193: Dos tratados parcialmente cumpridos 194: A aliana pessoal expira se um dos dos contratantes cessa de reinar 195: Tratados pessoais por natureza 196: De uma aliana feita para a defesa do rei e da famlia real 197: Obrigaes decorrentes de uma aliana real, quando o rei aliado foi destronado
CAPTULO

292 292 292 293 293 294 294 294 295 296 297 298 299 299 300 301

XIII: Da dissoluo e

de tratados
302 303 304 304 305 306 307 308

198: Extino das alianas a prazo 199: Da renovao dos tratados 200: Como um tratado termina quando violado por um dos contratantes 201: A violao de um tratado no acarreta a ruptura de outro 202: A violao de um artigo do tratado pode ocasionar a ruptura dos demais 203: O tratado perece com um dos contratantes 204: Das alianas de um Estado que se submeteu em seguida proteo de outro Estado 205: Tratados findos de acordo
CAPTULO

XIV: Das convenes pblicas, concludas por potncias em particular do acordo chamado em convenes entre soberanos e latim "sponsio", e
309

206: Das convenes feitas por soberanos

XXVI

VATfEL

207: Das convenes feitas por potncias subalternas 309 208: Dos tratados feitos por uma pessoa pblica, sem ordem do soberano ou sem poder suficiente 310 209: Do acordo chamado sponsio 311 312 210: O Estado no est vinculado por semelhante acordo 211: A que obrigado aqueleque promete, quando for desautorizado .. 312 212: A que o soberano est obrigado 316 319 213: Dos contratos privados do soberano 214: Dos contratos feitos com particulares em nome do Estado 319 215: Esses contratos obrigam a Nao e seus sucessores 320 320 216: Das dvidas do soberano e do Estado 217: Das doaes do soberano 321
CAPTULO

XV: Da f dos tratados

218: Do que sagrado entre as Naes 322 219: Os tratados so sagrados entre as Naes 323 220: A f nos tratados sagrada 323 323 221: Quem viola os seus tratados viola o direito das gentes 222: Direito das Naes contra aquele que despreza a f dos tratados 324 223: Atentados cometidos pelos papas ao direito das gentes 324 224: Abuso autorizado pelos prncipes 326 225: Uso de juramento nos tratados. Ele no constitui obrigao .. 326 226: O juramento no muda a natureza do tratado 327 227: O juramento no confere prerrogativa a um tratado sobre os demais 327 328 228: O juramento no pode dar fora a um tratado nulo 229: Das confirmaes 328 230: A f dos tratados no depende da diferena de religio 328 329 231: Precaues a tomar na redao dos tratados 232: Dos subterfgios nos tratados 329 233: Quanto contrria f dos tratados uma interpretao manifestamente falsa 329 330 234: Da f tcita
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XVI: Das seguranas dadas para o

dos tratados
331

235: Da garantia

XXVII
236: A garantia no d direito ao garante de intervir na execuo do tratado sem ser solicitado 332 237: Natureza da obrigao que a garantia impe 332 238: A garantia no pode prejudicar o direito de terceiros 333 239: Durao da garantia 333 240: Dos tratados de cauo 334 241: Dos penhores, dos compromissos, das hipotecas 334 242:Dos direitos de uma Nao sobre o que ela detm em compromisso 334 243: Sobre a obrigao de restituir 335 244: Como uma Nao pode apropriar-se 335 245: Dos refns 336 246: Direitos sobre os refns 336 247: Apenas a liberdade dos refns est comprometida 336 248: Quando se deve devolv-los 337 249: Se os refns podem ser retidos por outro motivo 337 250: Reteno de refns por fatos prprios 338 251: Da manuteno dos refns 338 252: Um sdito no pode recusar-se a ser refm 339 253: Da qualidade dos refns 339 254: Os refns no devem fugir 339 255: Se o refm que morre deve ser substitudo 340 256: Daquele que toma o lugar de um refm : 340 257: Do refm que ascende ao trono 340 258: O compromisso do refm termina com o tratado 341 259: A violao do tratado constitui injria aos refns 341 260: Destino do refm, quando aquele que o entregou descumpre os seus compromissos 342 261: Do direito baseado no costume 342
CAPTULO

XVII: Da interpretao de tratados

262: necessrio estabelecer regras de interpretao 343 263: Primeiro princpio geral: no permitido interpretar o que no tem necessidade de interpretao 344 264: Segundo princpio geral: o prejuzo incide sobre aquele que podia e devia explicar-se e no o fez 344 265: Terceiro princpio geral: nenhum dos contratantes tem o direito de interpretar o ato a seu gosto 345

XXVIII

VATTEL

266: Quarto princpio geral: toma-se por verdadeiro o que suficientemente declarado 345 267: As palavras daquele que promete prevalecem sobre as daquele que estipula 345 268: Quinto princpio geral: a interpretao deve ser feita segundo regras determinadas 346 269: A f nos tratados obriga ao cumprimento de suas disposies 347 270: Regra geral de interpretao 347 271: Deve-se explicar os termos de acordo com o uso comum .. 348 349 272: Da interpretao dos tratados antigos 349 273: Da m f sobre as palavras 274: Regra a esse respeito 350 275: Das reservas mentais 350 276: Da interpretao dos termos tcnicos 351 351 277: Dos termos cujo significado admite gradaes 278: Sobre algumas expresses figuradas 352 279: Das expresses ambguas 352 280: Regra para esses dois casos 352 281: No necessrio dar, no mesmo ato, o mesmo sentido a determinado termo 353 282: Deve-se rejeitar toda a interpretao que conduza ao absurdo 354 283: Deve-se evitar roda interpretao que tornaria o ato nulo e sem efeito 355 284: Expresses obscuras, interpretadas por outras mais claras do mesmo autor 356 285: Interpretao baseada nas relaes internas do discurso 357 286: Interpretao inferida da conexo e das relaes entre as prprias cousas 357 287: Interpretao baseada no motivo do ato 359 288: Caso em que muitos motivos concorreram para determinar a vontade 360 289: Do que constitui a razo suficiente de um ato da vontade 361 290: Interpretao extensiva 361 362 291: Das fraudes tendentes a eludir as leis ou promessas 292: Da interpretao restritiva 363 293: Uso da interpretao restritiva para evitar o absurdo ou o ilcito 364

XXIX
294: Ou para evitar o que demasiado severo e oneroso 295: Como a interpretao deve unir convenientemente o significado ao assunto 296: Como a mudana sobrevinda no estado das cousas pode constituir uma exceo 297: Interpretao de atos em casos imprevistos 298: Do motivo resultante da possibilidade e no da existncia de uma causa 299: Das expresses suscetveis de sentido extenso e de sentido mais restrito 300: Das cousas desejveis e das causas indesejveis 301: O que tende utilidade comum e igualdade desejvel; o contrrio indesejvel 302: O que til sociedade humana desejvel; o contrrio indesejvel 303: O que contm penalidade indesejvel 304: O que torna um ato nulo indesejvel 305: O que contribui para mudar o estado atual das causas indesejvel: o contrrio desejvel 306: Das causas mistas 307: Interpretao das cousas desejveis 308: Interpretao das causas indesejveis 309: Exemplos 310: Como interpretar os atos de pura liberalidade 311: Do conflito das leis ou tratados 312: Primeira regra para os casos de conflito 313: Segunda regra 314: Terceira regra 315: Quarta regra 316: Quinta regra 317: Sexta regra 318: Stima regra 319: Oitava regra 320: Nona regra 321: Dcima regra 322: Observao geral sobre a maneira de cumprir todas as regras precedentes 364 365 365 367 367 368 369 370 371 371 371 372 372 373 375 376 378 379 379 379 379 381 381 381 382 383 383 383 383

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CAPTULO

VATIEL

XVIII: Da maneira de terminar as controvrsias

as Naes

323: Diretriz geral sobre essa matria 384 324: Toda Nao obrigada a dar satisfao s pretenses justas de uma outra 384 325: Como as Naes podem abandonar os seus direitos e suas justas queixas 384 326: Dos meios que a lei natural recomenda s Naes para 385 terminar controvrsias. Da composio amigvel 327: Da transao 386 386 328: Da mediao 329: Da arbitragem 387 330: Das conferncias e congressos 388 331: Distino entre casos evidentes e casos duvidosos 389 389 332: Dos direitos essenciais e dos direitos menos importantes 391 333: Como ter o direito de recorrer fora em caso duvidoso 334: E mesmo sem tentar outras vias 391 392 335: Do direito das gentes voluntrio nessa matria 336: Deve-se sempre oferecer condies eqitativas 393 337: Direito do possuidor em matria duvidosa 393 338: Como se deve procurar a reparao de uma injria 394 394 339: Do talio 340: Diversas maneiras de punir, sem recorrer s armas 395 395 341: Da reciprocidade no direito 342: Das represlias 396 343: Do que requerido para que as represlias sejam legtimas .. 396 344: Sobre quais bens as represlias recaem 397 345: O Estado deve indenizar os sditos que sofrem represlias 398 398 346: Somente o soberano pode ordenar as represlias 347: Como as represlias podem ocorrer contra uma Nao, por obra de seus sditos e em favor de sditos lesados 398 348: Mas no em favor dos estrangeiros 399 349: Os que do lugar s represlias devem indenizar os que as sofrem 400 350: Caso de recusa em fazer justia 400 401 351: Sditos detidos por represlias 352: Direito contra aqueles que se opem s represlias 401 353: Represlias justas no constituem justo motivo de guerra 402 402 354: Como limitar-se a represlias ou chegar enfim guerra

XXXI

LIVRIII DA GUERRA
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1: Da guerra, de suas diferentes espcies e do direito defazer a guerra 10: Definio de guerra 2:Da guerra pblica 3: Do direito de fazer a guerra 4: Esse direito compete apenas ao poder soberano 5: Da guerra defensiva e da guerra ofensiva

407 407 407 408 409

CAPTULO

11: Para quefazer a guerra. Do recrutamento das tropas, de seus comandantes e dasfunes subalternas na guerra 6: Dos instrumentos da guerra 7: Do direito de recrutar tropas 8: Obrigao dos cidados ou sditos 9: Alistamentos, recrutamentos de tropas 10: Se h dispensa de particular da guerra 11: Soldo e alojamento do pessoal de guerra 12: Dos hospitais e asilos de invlidos 13: Dos soldados mercenrios 14: O que se deve observar no compromisso dos mercenrios 15: Dos alistamentos em pases estrangeiros 16: Obrigao dos soldados 17: Das leis militares 18: Da disciplina militar 19: Das potncias subalternas na guerra 20: Como as promessas dos oficiais subalternos obrigam o soberano 21: Em que casos as suas promessas apenas a ele obrigam 22: Do oficial subalterno que se atribui um poder que no possui 23: Como os oficiais subalternos obrigam os seus inferiores

409 410 411 411 411 413 413 414 416 416 417 417 417 418 418 419 419 419

CAPTULO

IH: Causas justas daguerra

420 421 421 422

24: A guerra no deve ser feita sem motivos muito relevantes 25: Das razes justificadas e dos motivos para fazer a guerra 26: Qual em geral a causa justa da guerra 27: Qual guerra injusta?

XXXII
28: Da finalidade da guerra 29: Razes justificadas e motivos honestos devem concorrer para fazer a guerra 30: Dos motivos honestos e dos motivos viciosos 31: Guerra cujo objeto legtimo e os motivos viciosos 32: Dos pretextos 33: Guerra desencadeada apenas por motivo utilitrio 34: Dos povos que fazem a guerra sem razes e sem motivos aparentes 35: Como a guerra defensiva justa ou injusta 36: Como a guerra pode tornar-se justa contra uma guerra ofensiva que era inicialmente justa 37: Como a guerra ofensiva justa numa causa evidente 38: E numa causa duvidosa 39: A guerra no pode ser justa de ambos os lados 40: Quando a guerra reputada como legtima 41: Guerra promovida para punir uma Nao 42: Se o crescimento de um potncia vizinha pode autorizar a lhe fazer a guerra 43: No se pode atribuir-se um direito por si mesmo 44: Como as aparncias do perigo conferem esse direito 45: Outro caso mais evidente 46: Outros meios sempre permitidos para se prevenir contra uma grande potncia 47: Do equilibrio poltico 48: Meios de manter o equilbrio 49: Como se pode conter ou mesmo enfraquecer aquele que rompe o equilibrio 50: Conduta que se pode ter em relao a um vizinho que faz preparativos de guerra
CAPTULO

422 422 423 423 424 425 425 426 426 427 427 428 428 428 429 430 431 433 434 435 435 436 437

IV: Da declarao de gue"a, e da gue"a

439 440 440 440 441

51: Declarao de guerra e sua necessidade 52: O que a declarao deve conter 53: A declarao simples ou condicional 54: O direito de fazer a guerra cessa perante oferta de condies eqitativas 55: Formalidades da declarao de guerra

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56: Demais razes que tornam a publicao necessria 441 57: A guerra defensiva no requer declarao 441 58: Em que caso pode omitir-se a declarao numa guerra ofensiva 442 59: No se pode omitir a declarao por motivo de represlias .. 442 60: Do tempo da declarao 442 61: Dever dos habitantes no caso de ingresso de exrcito estrangeiro antes de declarao de guerra 443 62: Incio das hostilidades 443 63: Conduta que se deve ter em relao aos sditos do inimigo que se encontram no pais poca da declarao de guerra 443 64: Publicidade da guerra. Manifestos 444 65: Decncia e moderao a serem preservados nos manifestos 445 66: O que a guerra legtima e quais as suas formas 445 67: preciso distingui-la da guerra informal e ilegtima 446 68: Fundamento dessa distino 447
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V: Do inimigo e dapropriedade inimiga

69: O que o inimigo 447 70: Todos os sditos dos dois Estados beligerantes so inimigos .. 448 71: Esses sditos permanecem como inimigos em todos os lugares 448 72: Se as mulheres e as crianas se incluem entre os inimigos 448 73: Das causas pertencentes ao inimigo 449 74: Elas permanecem como tais em toda parte 449 75: Das causas neutras que se encontram no territrio inimigo 449 76: Dos fundos possudos por estrangeiros em pas inimigo 449 77: Das causas devidas por terceiros ao inimigo 450
CAPTULO

VI: Dos aliados do inimigo} das ligas de guerra}

dos auxiliares e dos subsdios

78: Dos tratados relativos guerra 79: Das alianas ofensivas e defensivas 80: Diferenas entre ligas de guerra e tratados de socorro 81: Das tropas auxiliares 82: Dos subsdios 83: Como se permite a uma Nao prestar socorro a uma outra 84: E fazer alianas para a guerra 451 451 451 452 452 452 453

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85: Das alianas feitas com uma Nao atualmente em guerra 453 86: Clusula tcita em toda aliana de guerra 454 87: Recusar apoio a uma guerra injusta no significa romper uma aliana 454 88: Em que consiste o casasfoederis 455 89: Ele nunca existe no caso de uma guerra injusta 455 90: Quando esse caso existe numa guerra defensiva 455 91: E num tratado de garantia 455 92: No se deve socorro quando no se tem condies de fornec-lo ou quando a segurana pblica correr risco 456 93: Sobre outros casos e sobre aquele em que a guerra feita entre dois confederados da mesma aliana 456 94: Daquele que recusa apoios devidos em virtude de uma aliana 457 95: Aliados do inimigo 457 96: Aqueles que fazem causa comum so associados do inimigo 458 97: Aqueles que o assistem sem para tanto serem obrigados por tratados 458 98: Os que tm com o inimigo uma aliana ofensiva 459 99: Como a aliana defensiva se relaciona com o inimigo 460 100: Outro caso 460 101: Em que caso ela no produz o mesmo efeito 460 102: Se h necessidade de declarar guerra aos aliados do inimigo 462
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VII: Da neutralidade das tropas em pas neutro

463 463 464 465 465 466 466 .. 467 468 470 471 472 473

103: Dos povos neutros 104: Conduta que um povo neutro deve manter 105: Um aliado pode fornecer o auxilio devido e manter-se neutro 106: Do direito de permanecer neutro 107: Dos tratados de neutralidade 108: Razo adicional para fazer esses tratados 109: Fundamento das regras sobre a neutralidade 11O: Como se pode permitir, sem transgredir a neutralidade, recrutar, emprestar dinheiro ou vender todas as espcies de causas 111: Do comrcio das Naes neutras com as Naes beligerantes 112: Das mercadorias de contrabando 113: Se permitido confiscar essas mercadorias 114: Da vistoria de navios neutros 115: Bens do inimigo em navio neutro

xxxv
116: Bens neutros em navio inimigo 473 473 117: Comrcio com uma praa sitiada 118: Ofcios imparciais dos povos neutros 474 474 119: Da passagem de tropas por um pas neutro 120: Deve-se solicitar a passagem 475 475 121: A passagem pode ser recusada por bons motivos 475 122: Em que caso pode-se forar a passagem 123: O temor do perigo pode autorizar a recusa passagem 476 477 124: Ou a exigir toda a segurana razovel 125: Se existe sempre a obrigao de oferecer todas as espcies de garantias 477 126: Da igualdade a preservar-se em relao passagem entre os beligerantes 478 127: No se pode te queixa do Estado neutro que concede a passagem 478 128: Esse Estado pode recusar a passagem por temor dos males a que lhe seriam infligidos pela potncia contrria 479 129: E para evitar tornar o seu pas palco de uma guerra 479 130: O que est compreendido na concesso da passagem 480 131: Garantia da passagem 480 132: No se pode exercer nenhuma hostilidade em pas neutro 480 133: O pas neutro no deve permitir a retirada de tropas para atacarem novamente seus inimigos 481 134: Conduta que devem ter os que transitam por pas neutro 481 135: Pode-se recusar a passagem para uma guerra manifestamente injusta 482
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VIII: Do

Naes em tempo de guerra: o que de e do que permitido fazer contra a pessoa do inimigo numa guerra justa
483 483 484 485

136: Princpio geral dos direitos contra o inimigo numa guerra justa 137: Diferena entre o que se tem o direito de fazer e o que apenas permitido ou que no se pune entre inimigos 138: Do direito de enfraquecer o inimigo por todos os meios lcitos em si mesmos 139: Do direito sobre a pessoa do inimigo

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140: Limites desse direito. No se pode matar um inimigo que cessa de resistir 141: De caso particular em que a vida pode ser recusada 142: Das represlias 143: Se o inimigo pode punir com a morte um comandante de praa por causa de sua defesa obstinada 144: Dos trnsfugas e desertores 145: Das mulheres, crianas e ancios enfermos 146: Dos ministros da religio, dos homens letrados, etc 147: Dos trabalhadores e em geral de todo o povo desarmado 148: Do direito de fazer prisioneiros de guerra 149: No se pode deixar morrer um prisioneiro de guerra 150:Como se deve tratar os prisioneiros de guerra 151: Se permitido matar prisioneiros que no se pode aprisionar ou nutrir 152: Se permitido escravizar os prisioneiros de guerra 153: Da permuta e do resgate dos prisioneiros 154: O Estado est obrigado a libert-los 155: Se permitido mandar assassinar ou envenenar um inimigo 156: Se permitido utilizar armas envenenadas 157: E envenenar as fontes 158: Disposies que preciso manter contra o inimigo 159: Dos procedimentos em relao pessoa de um rei inimigo
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485 485 486 487 489 489 490 491 491 492 493 493 496 496 497 498 502 502 503 504

IX: Do direito da

com respeito aos bens do inimigo

160: Princpios do direito sobre os bens pertencentes ao inimigo .. 505 161: Do direito de apossar-se dos bens do inimigo 505 162: Do que se subtrai ao inimigo como forma de punio 506 163: Do que se retm do inimigo para obrig-lo a dar uma justa satisfao 506 506 164: Do butirn 165: Das contribuies 507 166: Do desgaste 508 167: Das destruies e dos incndios 508 168: Que causas devem ser poupadas 510 169: Do bombardeio das cidades 510 170: Demolio das fortalezas 511

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171:Das salvaguardas 172: Regra geral de moderao com referncia ao dano que se pode causar ao inimigo 173: Regra do direito das gentes voluntrio sobre o mesmo assunto
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511 512 512

X: Da f entre inimigos, dos estratagemas, dos ardis de guerra, dos espies, e de algumas outras prticas
513 515 515 516 517 519 520 521 522

174: A fidelidade deve ser sagrada entre inimigos 175: Quais so os tratados que devem ser respeitados entre os inimigos 176: Em que ocasies pode-se romper os tratados 177:Da mentira 178: Dos estratagemas e ardis de guerra 179: Dos espies 180: Das prticas para seduzir sditos do inimigo 181: Se se pode aceitar as ofertas de um traidor 182: Da inteligncia dupla
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XI: Do soberano que faz umaguerra injusta

523 523 524 524 525

183: Uma guerra injusta no confere direitos 184: O quanto um soberano que promove a guerra injusta culpado 185: A que o soberano est obrigado 186: Dificuldades de reparar os males causados 187: Se a Nao e os homens da guerra tm obrigaes a cumprir
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XII: Do direito das gentes voluntrio com respeito aos efeitos da guerra formal, independentemente dajustia da causa
526 527 528 529 529

188: As Naes no podem aplicar entre elas, de maneira forada, o rigor do direito natural 189: Por que as Naes devem admitir as regras do direito das gentes voluntrio 190: Formalmente, a guerra deve, quanto aos efeitos, ser considerada como justa de um lado e de outro 191: Tudo que permitido a um, tambm permitido ao outro 192: O direitos das gentes voluntrio no d seno impunidade quele cujas armas so injustas

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XIII: Da aquisio pelaguerra e, principalmente,

conquista

193: Como a guerra um meio de aquisio 531 194: Medida do direito que a guerra confere 531 195: Disposies do direito das gentes voluntrio 532 196: Aquisio das causas mveis 532 534 197: Da aquisio dos imveis ou da conquista 534 198: Como se pode dispor validamente de imveis 199: Das condies pelas quais se adquire uma cidade conquistada 535 200: Das terras dos particulares 536 536 201: Da conquista de todo o Estado 540 202: A quem pertence a conquista 203: Se se deve devolver a liberdade a um povo que o inimigo havia conquistado injustamente 541
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XIV: Do direito de postlimnio

204: Definio do depost/imnio 541 542 205: Fundamento desse direito 542 206: Como esse direito ocorre 543 207: Se esse direito ocorre entre aliados Esse direito no ocorre entre povos neutros 543 208: 543 209: Quais bens so recuperados por esse direito 210: Daqueles que no podem retornar pelo direito de post/imnio 544 544 211: Eles gozam desse direito quando forem recapturados 212: Se esse direito se estende aos bens alienados pelo inimigo .. 545 213: Se uma Nao que foi completamente conquistada pode gozar do depost/imnio 546 de post/imnio para aqueles que se renderam paz .. 548 214: Do 215: E em relao ao que foi cedido ao inimigo 548 548 216: O direito de posti/imnio no subsiste mais depois da paz 217: Por que o direito de post/imnio sempre se entende aos prisioneiros 548 549 218: Eles esto livres mesmo se fogem para um pas neutro 549 219: Como os direitos e as obrigaes dos prisioneiros subsistem 549 220: Do testamento de um prisioneiro de guerra 550 221: Do casamento 222: Acerca do que o tratado ou costume estabelecem com relao ao deposti/imnio 550

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XV: Do direito dos particulares na 223: Os sditos no podem participar das hostilidades sem ordem do soberano 551 224: A ordem pode ser geral ou particular 551 225: Fonte da necessidade de semelhante ordem 551 226: Por que o direito das gentes deve adotar essa regra 552 227: A que se reduz a ordem geral de dar caa ao inimigo 552 228: O que os particulares podem fazer na presuno da vontade do soberano 553 229: Dos armadores 553 230: Dos voluntrios 554 231: Do que podem fazer os soldados e os subalternos 554 232: Se o Estado deve indenizar os sditos pelas perdas sofridas pela guerra 556

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XVI: Das diversas convenes feitas no curso da gue"a

233: Da trgua e do cessar fogo 557 234: A trgua no termina a guerra 558 235: A trgua pode ser particular ou geral 558 236: Trgua geral e para longo perodo 558 237: Por quem esses acordos podem ser concludos 558 238: Esses acordos comprometem a f do soberano 560 239: Quando a trgua comea a ter vigncia 560 240: Publicao da trgua 561 241: Das aes dos sditos contra a trgua 561 242: Violao da trgua 561 243: Dos casos em que se convenciona penalidade ao infrator .. 562 244: Do perodo da trgua 562 245: Dos efeitos da trgua. Do que permitido ou no durante a sua durao. Primeira regra: cada qual pode fazer em seu territrio o que tiver direito de fazer em tempos de paz 564 246: Segunda regra: no permitido valer-se da trgua para fazer o que as hostilidades no permitiam executar 564 247: Por exemplo: continuar os trabalhos de um assdio ou reparar as brechas 564 248: Ou concorrer para a entrada de socorro 565 249: Distino em um caso particular 565 250: De um exrcito que se retira durante o cessar fogo 566

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251: Terceira regra: nada empreender nos lugares disputados 567 252: Dos lugares abandonados pelo inimigo e daqueles que ele negligencia salvaguardar 567 253: No se pode receber durante a trgua sditos que pretendem revoltar-se contra o seu prncipe 567 254: Muito menos induzir esses sditos traio 567 255: No se pode deter durante a trgua as pessoas ou os bens do inimigo 568 256: Do direito de postlimnio durante a trgua 568 257: Pode-se ir e vir durante a trgua 568 258: Daqueles que so detidos por obstculo incontornvel aps o trmino da trgua 568 259: Condies particulares ajustadas s trguas 569 260: Ao expirar a trgua, a guerra recomea sem nova declarao .. 569 261: Das capitulaes e por quem elas podem ser concludas 570 262: Das clusulas que as capitulaes podem conter 570 263: Respeito s capitulaes e sua utilidade 571 264: Das promessas feitas ao inimigo por particulares 572
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XVII: Dos salvo-condutos e dos passaportes: questes

sobre resgate dos prisioneiros de
573 574 574 574 575 575 575 576 576 576 577

265: O que salvo-conduto e passaporte 266: De qual autoridade emana o salvo-conduto 267: O salvo-conduto no pode ser transferido de uma pessoa para outra 268: Extenso da segurana prometida 269: Como preciso julgar o direito que o salvo-conduto concede 270: Se o salvo-conduto compreende a bagagem e os empregados domsticos 271: O salvo-conduto concedido ao pai no abrange a sua famlia 272: Do salvo-conduto concedido para algum e sua comitiva emgeral 273: Do prazo de validade do salvo-conduto 274: Quando o portador retido alm de certo prazo, em virtude de fora maior 275: O salvo-conduto no expira com a morte daquele que o concedeu

XLI
276: Como revogar o salvo-conduto 577 277: Do salvo-conduto com a clusula "enquanto for nosso desejo" 577 278: Das convenes concernentes ao resgate de prisioneiros 578 279: Pode ser transferido o direito de exigir resgate 578 280: Do que pode anular o acordo feito para o preo do resgate 578 281: De prisioneiro morto antes de seu resgate ser pago 579 282: Do prisioneiro solto com a condio de ser substitudo 580 283: Daquele que capturado uma segunda vez antes de ter pago o primeiro resgate 580 284: Daquele que libertado antes de receber a liberdade 580 285: Se as causas que o prisioneiro pde conservar lhe pertencem .. 581 286: Daquele que dado como refm para a libertao de prisioneiros 581
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XVIII: Da
581 582 582 583 584 585 586 586 588 589

287: Fundamento dos direitos do soberano contra os rebeldes 288: Quem so os rebeldes 289: Emoo popular, sublevao, sedio 290: Como o soberano deve reprimi-los 291: Ele deve respeitar a promessa feita aos rebeldes 292: Da guerra civil 293: A guerra civil gera dois partidos independentes 294: Eles devem observar as leis comuns da guerra 295: Os efeitos da guerra civil, segundo os casos 296: Conduta que devem ter as Naes estrangeiras

LIVRO IV

Do
CAPTULO

RESTABELECIMENTO DA PAZ E DAS EMBAIXADAS

I: Dapaz eda de cultiv-la 10: O que a paz? 2:Obrigao de cultivar a paz 3: Obrigao do soberano a esse mesmo respeito 4: Extenso desse dever 5:Daqueles que perturbam a paz 6:At onde se pode continuar a guerra

593 593 593 594 594 595 596

XLII
7 Paz e fim da guerra 8:Efeitos gerais da paz
U :

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596 596

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11: Dos tratados de paz

597 9: O que o tratado de paz? 10: Por quem pode ser concludo? 597 11: Das alienaes feitas por um tratado de paz 598 12: Como o soberano pode dispor no tratado do que interessa aos particulares ., 600 13: Se um rei prisioneiro de guerra pode fazer a paz 600 14: Pode-se fazer a paz com usurpadores? 602 15: Aliados compreendidos no tratado de paz 602 16: Os aliados devem tratar cada qual individualmente 603 17: Da mediao 603 18: Em que base a paz pode ser concluda 604 19: Efeito geral do tratado de paz 605 20:Da anistia 605 21: Das causas de que o tratado nada diz 606 22: Das causas no includas na transao ou na anistia 606 23: Tratados antigos, lembrados e confirmados no novo tratado, deste fazem parte 607
CAPTULO

111: Da execuo do tratado de paz

607 608 608 608 609 609 610 610 611 611 612

24: Quando o tratado comea a ter vigncia 25: Publicao da paz 26: Do tempo da execuo 27: Uma excusa legtima deve ser admitida 28: A promessa termina quando o prprio beneficirio lhe impede a execuo 29: Cessao das contribuies 30: Do produto da causa restituda ou cedida 31: Em que estado as causas devem ser devolvidas 32: Da interpretao de tratado de paz; ela se faz contra aquele que estabelece a lei 33: Do nome dos pases cedidos 34: A restituio no alcana aqueles que se entregam voluntariamente

XLIII
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IV: Da

e da

do tratado

paz
612 613 613 615 615 615 616 617 618 618 619 619 620 620 621 621 621 622 622 623

35: O tratado de paz obriga a Nao e os sucessores 36: Ele deve ser fielmente observado 37: A exceo resultante do temor ou da fora no pode acarretar o descumprimento do tratado 38:E de quantas maneiras um tratado de paz pode ser violado 39: Por uma conduta contrria natureza de todo tratado de paz 40: Recorrer s armas por novo motivo no importa em romper o tratado de paz 41: Aliar-se na seqncia com um iningo no significa romper o tratado 42: Porque preciso distinguir entre uma guerra nova e a ruptura do tratado 43: A defesa justa de si mesmo no rompe o tratado de paz 44: Motivos de ruptura que tm aliados por objeto 45: O tratado rompido pelo que se ope sua natureza particular 46: Pela violao de algum artigo 47: Transgresso de um nico artigo rompe todo o tratado 48: Pode-se distinguir, a esse respeito, entre os artigos mais ou menos importantes 49: Da penalidade vinculada violao de um artigo 50:Adiamentos deliberados 51:Dos impedimentos intransponveis 52: Dos ataques ao tratado de paz pelos sditos 53: Ou por aliados 54: Direitos da parte lesada contra aquele que violou o tratado
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V: Do direito de

do direito pblicos

55: necessrio que as Naes possam tratar-se e comunicar-se entre si 623 56: As Naes o fazem por meio de ministros pblicos 624 57: Todo Estado soberano tem o direito de enviar e receber nnistros pblicos 625 58: Nem a aliana desigual, nem o tratado de proteo, anulam esse direito 625

XLIV
59: Do direito dos prncipes e Estados do imprio a esse respeito 60: Das cidades que tm o direito de bandeira 61: Ministros dos vice-reis : 62: Ministros da Nao, ou dos regentes, no interregno 63: Daquele que perturba outrem no exerccio do direito de embaixada 64: Do que permitido a esse respeito em tempo de guerra 65: Deve-se receber o ministro de potncia amiga 66: Dos ministros residentes 67: Como admitir-se o ministro de um inimigo 68: Se se pode receber os ministros de um usurpador e a ele enviar ministros
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625 626 627 627 627 628 628 629 630 630

VI: Das diversas ordens de ministros pblicos, do carter e das honras devidas
632 632 633 633 634 634 635 636 636 636 637

69: Origem das diversas ordens de ministros pblicos 70: Do carter representativo 71: Do embaixador 72: Dos encarregados de negcios 73:Dos residentes 74:Dos ministros 75: Dos cnsules, agentes, deputados, comissrios, etc 76:Das cartas credenciais 77: Das instrues 78: Do direito de enviar embaixadores 79: Das honrarias devidas aos embaixadores
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VII: Os direitos, privilgios e imunidades dos embaixadores e demais ministros pblicos

639 640 640 641 642 643 644

80: Respeito devido aos ministros pblicos 81: A pessoa do ministro pblico sagrada e inviolvel 82: Proteo particular a eles devida 83: Do tempo em que a proteo comea 84: Do que devido aos ministros nos pases por onde transitam 85: Embaixadores em trnsito por pas inimigo 86: Embaixadas entre inimigos

XLV
87: Dos arautos, tocadores de trombetas e de tambores 88: Os representantes devem ser respeitados mesmo em guerra civil 89: Pode-se algumas vezes recusar a admisso de representantes 90: preciso evitar a esse respeito tudo o que parea insulto 91: Por quem e a quem os emissrios podem ser enviados 92: Independncia dos ministros estrangeiros 93: Conduta que deve ter o ministro estrangeiro 94: Como reprimir os ministros estrangeiros. 1: Em relao a delitos comuns 95: 2: Por faltas cometidas contra o prncipe 96: Direito de expulsar um embaixador culpado e justificadamente suspeito 97: Direito de reprimir o embaixador pela fora, se ele agir como inimigo 98: Do embaixador que urde conspiraes e tramas perigosas 99: Do que permitido contra o embaixador segundo as exigncias do caso 100: Do embaixador que atenta contra a vida do prncipe 101: Dois exemplos notveis sobre a questo das imunidades dos ministros pblicos 102: Se se pode usar de represlias contra um embaixador 103: Consentimento das Naes sobre os privilgios dos embaixadores 104: Do livre exerccio da religio 105: Se o embaixador isento de todos os impostos 106: Da obrigao fundamentada no uso e no costume 107:Do ministro cujo carter no pblico : 108: Do soberano que se encontra em pas estrangeiro 109: Dos deputados dos Estados
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645 645 646 646 647 648 650 653 653 653 654 655 657 658 660 661 662 663 664 665 666 666 668

VIII:

sobre embaixadores em matria civil

669 671 671 673

110:0 embaixador isento da jurisdio civil do pas em que reside 111: Como submeter-se voluntariamente jurisdio 112: De um ministro sdito do Estado junto ao qual exerce funo 113: Como a iseno do ministro extensiva a seus bens

XLVI
114: A iseno no pode estender-se aos bens pertencentes a algum negcio que o ministro faa 115: Nem estender-se aos imveis que ele possui no pas 116: Como se pode obter justia contra um embaixador
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VATrEL

674 675 676

IX: Da casa do embaixador, de sua residncia, e do pessoal misso

677 678 680 681 681 682 682 683 684 685 685

117: Da resistncia do embaixador 118: Do direito de asilo 119: Franquia das carruagens do embaixador 120: Da comitiva do embaixador 121: Da esposa e da famlia do embaixador 122: Do secretrio de embaixada 123: Dos correios e dos despachos do embaixador 124: Autoridade do embaixador sobre as pessoas da sua comitiva 125: Quando terminam os direitos do embaixador 126: Casos em que so necessrias novas credenciais 127: Concluso

PREFCIO EDIO BRASILEIRA

Vicente Marotta Rangel *

1. Preliminares
1. A publicao em nosso pas da traduo do renomado tratado de Emer de Vattel - Le Droit des Gens, ou Prncipes de Loi Naturelie, app/iqus Conduite et aux Aifaires des Nations et des Souverains - cerca de dois sculos e meio aps ter sido editado pela primeira vez, no pode ser entrevista como ato de simples rotina editorial. Ela tem inspirao e seqncia no segmento da cultura e, longe de estar adstrita s vertentes jurdicas, se projeta igualmente nos quadrantes da cincia poltica, no da teoria geral do Estado, no da filosofia e no das relaes internacionais. O tratado de Vattel , sem dvida, uma das principais obras escritas no sculo XVIII. Para situar-nos apenas no mbito do direito internacional, cabe lembrar que assim como o De Jure Be/Ii ac Pacs, de Hugo Grcio, exerceu no sculo XVII maior influncia que os ensinamentos de Francisco de Vitria, o tratado de Vattel eclipsou, como assinalaPaul Reuter'", to logo publicado, o livro do jurisconsulto holands. 2. Antes de reportar-nos influncia alcanada pelo tratado que ora nos cabe prefaciar, convm mencionar o contexto histrico em que ele se situa, o de um perodo de transio que teve como pano de fundo a formao e a consolidao de Estados nacionais, o cisma da Reforma, a guerra dos trinta anos, o tratado de Westphalia, o confronto de hegemonias polticas tanto no mbito interno quanto no internacional,
Professor titular de Direito Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo. (I) lntemationales, Paris, PUF, 1955, p.47.

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o cotejo de teses conservadoras e tradicionais com as iluministas e liberais, estas ltimas tendo concorido para a ecloso, cerca de duas dcadas aps a morte de Vattel, da Revoluo Francesa. Encontraram estas teses apoio, ao menos terico, em Frederico 11, rei da Prssia, que governou enquanto Vattel viveu e cuja tendncia liberal o levou a ser correspondente de Voltaire. Citado na presente obra, a seguir, o Esprit des Lois, de Montesquieu, a antecede de apenas um decnio. ''Ao absolutismo, de que a obra de Grcio estava ainda impregnada"- observa La Pradelle - Vattel "substituiu um liberalismo de boa qualidade't.f

lI. Ttulo da obra e suas implicaes

3. O ttulo da obra requer alguma preciso. Inusitadamente longo, no se refere especificamente ao direito internacional no mbito do qual ele com freqncia inserido na atualidade. Ele colima adscrever-se ao "direito das gentes", ou seja, cincia do direito "que tem lugar entre as Naes ou Estados, e das obrigaes correspondentes a esse direito" (preliminares, 3). Como o escopo do direito das gentes, assim delimitado, no havia sido at ento suficientemente analisado, estava o Autor consciente da relevncia da "cincia do direito", a cujo estudo se consagrava. Explicao sobre esse ttulo e seu contedo foi dada pelo prprio Autor no prefcio da obra, tendo como premissas as definies consignadas por Justiniano sobre direito natural,direito civil e direito das gentes. Efetivamente, o direito das gentes, a que o ttulo se reporta, traduo do jus gentium dos romanos, foi durante muitos sculos, inclusive no perodo em que Vattel viveu, e como o prprio ttulo est a demonstrar, empregado constantemente ao lado do direito natural natura/e), para designar um direito comum a todos os homens, "quod naturalis ratio interomnes bomines constitui/'. Contraposio se fazia
et Doarines du Droit des Gens, 2' ed., Paris, "Les Editions Internationales", 1950, p. 149.

(2)

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entre o direito das gentes e o direito civil porquanto este ltimo se referiaao direito prprio de cada cidade, de cada povo. medida, porm, que o direito das gentes passava, no decurso do tempo, a ser entendido como atinente s relaes entre homens agrupados em sociedades polticas distintas, e em que essas mesmas sociedades passavam a demandar um direito prprio que as regesse, cuidou-se de encontrar designao especfica a respeito. Foi assim que Francisco de Vitria se referia no final do inter gentes, designao que no prosperou. Foi sculo XVII, a um somente depois de Vattel que o termo direito das gentes foi adequadamente substitudo por direito internacional, denominao essa atribuda, como se sabe, iniciativa de Jeremy Bentham, que a empregou em 1789, na sua Introductio to the PrincipIes Morais and Legislation. 4. poca da publicao da presente obra, o direito internacional ainda no se nutria, com a freqncia e amplitude atuais, de fontes do direito positivo, como tratados internacionais, que se multiplicam constantemente, costumes internacionais e mesmo resolues de rgos internacionais, que tambm hoje tanto prosperam. Era necessrio remontar a princpios inseridos no direito natural e aplic-los conseqentemente, como o ttulo da obra de Vattel est a consignar, conduta e atividade das "naes" e dos "soberanos". 5. A respeito destes dois ltimos termos, cabe tambm lembrar que, ainda nos meados do sculo XVIII, estavam em processo de definio as unidades polticas que se formavam e se consolidavam na Europa. Algumas tinham, de certo modo, concludo esse processo, como a Frana, a Inglaterra, a Espanha e Portugal. Outras no, como a Itlia e a Alemanha. Da uma certa dubiedade nos termos utilizados por Vattel, inclusive na referncia do ttulo a "Naes e Soberanos", assim como a outros termos empregados indistintamente no decorrer da obra e que nela no encontram a preciso tcnica necessria como "prncipe", "rei", "imperador", "governo", deficincia essa que no resulta seno da prpria instabilidade poltica

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decorrente da transitoriedade do processo por que passava a sociedade poltica naqueles tempos. 6. Cabe notar que, segundo Vattel, o direito das gentes "interessa verdadeiramente a todos os homens", sendo necessrio "o estudo de seus princpios". Todavia, o destinatrio desse direito, entende o autor, so os soberanos e, por isso,pouco importaria estender-lhe o conhecimento aos "particulares, que no so chamados aos conselhos das Naes e que no lhes determinam os procedimentos." Donde explicar-se o ttulo do tratado, com meno a direitos e princpios aplicados conduta e negcio das Naes e dos soberanos. A partir desse ltimo termo, cujo conceito foi objeto da perquirio de Jean Bodin, configura-se uns dos pontos bsicos da doutrina de Vattel, que passa a ver na soberania do Estado, um dos elementos fundamentais na conceituao do direito internacional. Passa este a ser entrevisto como sendo o direito a reger as relaes entre unidades polticas soberanas, conceituao essa que constitui marca fundamental do chamado direito internacional clssico, que vigorou solidamente at meados do sculo passado e em cujas origens Vattel teve, no h dvida, inquestionvel pioneirismo.

III Notcia Biogrfica

7. Nasceu Emer (tambm conhecido por Emmerich) de Vattel em Couvet, canto (antigo principado) de Neuchatel, em 25 de abril de 1714, filho de David de Vattel, ministro da Igreja Protestante, e de Marie de Montmoulin. A sua famlia (3) pertencia burguesia do principado, verso local dos ''patriciates'' que predominavam nas atividades da maioria dos cantes nesse mesmo sculo'v.O principado
(3) Sobre a influncia familiar, vide Pierre Renouvin, l'Histoire des lntemationales, Paris, A. Colin, 1964, pp. 367-38. Embora o autor circunscreva essainfluncia ao "homem de Estado", as suas ponderaes so extensivas a juristas do porte de Vatte!.
(4) Samuel S. B. Taylor, Tbe Enlightment in National Context, Roy Porter e Mikulas Teich (eds.), Cambridge, 1981, p. 78.

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havia sido submetido ao rei da Prssia em 1707, o que explica ter o av materno de Vattel sido conselheiro e tesoureiro geral desse mesmo rei em Neuchatel e ter o nosso biografado se deslocado a Berlim em. 1742 (aos 28 anos), embora sem lograr xito, para oferecer prstimos a Frederico 11, de quem era sdito e a quem dedicara o livro, adiante mencionado, em defesa de Leibniz. Emer de Monttnoulin, seu tio, havia tambm defendido os direitos do rei da Prssia sucesso de Neuchatel e participado igualmente de importantes negociaes diplomticas. No obstante a submisso de Neuchatel ao mesmo rei, submisso essa que Vattel entendia no ser absoluta (infra, Livro I, 9"), vangloriava-se por ter nascido - como diz nas ltimas linhas do prefcio - "em pas onde a liberdade a alma, o tesouro e a lei fundamental." Em razo do nascimento, considerava-se igualmente "o amigo de todas as naes". A influncia do ambiente familiar e social se revela nas diversas etapas do itinerrio biogrfico de Vattel, Dedicou-se ele desde cedo aos estudos de teologia, tendo seguido cursos de humanidade e de filosofia nas Universidades de Basilia e de Genebra. Concentrou-se mais no mbito de ftlosofia moral, tendo se especializado nas obras de Wolff e de Leibniz. Em favor deste ltimo, publicou em Leide, em 1741, "Dtfense du contre les objections et les Mer Crousaz contenues dans l'examen L 'Essai sur Mr. Poppe". Escreveu a seguir "Le loisir philosophique diterses pbilosopbie, de morale et d'amusemenf', editado em Genebra, seis anos depois do livro em prol do filsofo do otimismo e da monadologia. No ano seguinte ao da viagem a Berlim, esteve em Dresde, para onde retornou trs anos depois, tendo ento logrado ser nomeado conselheiro de Augusto 111, rei da Saxnia, e, subseqentemente, representante diplomtico do mesmo rei em Berna. No exerccio desta funo permaneceu durante nove anos. A vivncia de atividades diplomticas foi-lhe de valia para a redao da obra principal que pretendia publicar. Sem a obrigao de permanecer continuamente em Berna, passava parte do ano com a familia na cidade natal, onde,

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alm de captulos dessa obra, escreveu sobre literatura em geral. Donde ter publicado em Amsterd, em 1757, Poliergie ou Mlange de et de Posies. Veio a lume no ano seguinte a sua obra principal, o tratado que ora nos cabe prefaciar e cuja repercusso ocorreu sem tardana, razo pela qual Vattel recebeu convite subseqente para ir Polnia, onde o eleitor da Saxnia, Augusto IH, passou a nome-lo "conselheiro particular" de seu gabinete. A essa funo Vattel se dedicou plenamente, sem deixar, porm, de manter interesse pela filosofia, como atesta o ltimo trabalho que escreveu, o opsculo publicado em 1762, sobre ''Questions de droit nature! et Observations sur le Trait droit de la nature, par le baron de Wo!f!'. Quatro anos depois, sentindo-se adoentado, retomou cidade natal, onde faleceu a 28 de dezembro de 1767.

Perspectiva Histrica
8. Ao conceituar o direito das gentes, Vattel estabelece, desde as primeiras linhas do prefcio, recuo histrico em cujo mbito faz meno especial aos romanos. Reporta-se a seguir a juristas que o haviam ento precedido como Grcio, Hobbes, Barbeyrac, Pufendorf e Wolff. Entre estes e os romanos a lacuna de alguns sculos no ocupada pela meno da contribuio especfica de humanistas cujo aparecimento -lembra Paul Guggenheim - se dera ao longo do sculo XVI, como Alciati e Cujcio. Mas h sobretudo omisso de fundadores do direito internacional do porte de Francisco de Vitria, de Francisco Suarez e de Alberico Gentili. Segundo Vattel, Thomas Hobbes (1588 - 1679) se lhe afigura como o primeiro a ter cronologicamente "uma idia distinta, mas ainda imperfeita, do direito das gentes",(S) entendimento esse hoje no mais perfilhado, sem embargo do reconhecimento da contribuio meritria do autor do Leviat (publicado em 1651) a
(5) souoerainet dans l'bistoire du droitdes genJ, de Vitoria Vattef, "Mlanges offerts Juraj Andrassy", La Haye, Martinus Nijhoff, 1968, p. 111.

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segmentos diversos das cincias sociais e da filosofia. Quanto a Barbeyrac, mais conhecido como tradutor e comentador de Grcio e de Pufendorf. 9. Estudos sobre relaes entre Estados e, especificamente, sobre o direito aplicvel a essas relaes, inexistiram, a rigor, antes dos meados do sculo XVI. Certamente, persistiram vnculos entre unidades polticas nos tempos antigos, refletidos em prticas e acordos recprocos, mas no surgira ento a cincia do direito aplicvel a essas relaes. Ela inexiste mesmo entre os romanos, sem embargo de terem eles elaborado o Jeciale, mas cujo embasamento religioso, aplicvel a eventos blicos, e pressuposio hegemnica de uma das partes importavam em sua descaracterizao como direito das gentes. Por outro lado, a cincia do direito - tal como conceituada por Vattel - no poderia encontrar seno atmosfera adversa na estrutura hierrquica, social e poltica da poca medieval. Aps a queda de Bizncio, ocorreram as grandes descobertas martimas, a consolidao dos Estados modernos assim como o florescimento de idias que convergiram para a sistematizao doutrinria do direito das gentes. 10. Contribuintes dessa sistematizao foram, sem dvida, Francisco de Vitria (1486 -1546) nas Theologicae (1557) e Francisco Suarez (1548 - 1617) no De Legibus (1585), os quais, tendo em conta o esfacelamento da estrutura medieval e a necessidade de solucionar problemas advindos das relaes entre a Espanha e habitantes de terras ento descobertas, deduziam, com base na teologia e na ftlosofia moral, princpios basilares dessas relaes. Sobre normas disciplinadoras dos vnculos entre Estados em perspectiva estritamente jurdica, escrevera Alberico Gentili (1551 - 1608), a respeito de temas especficos, o De Legationibus (1585) e o De Jure Betli (1598). Coube a Hugo Grcio (1583 - 1645) sistematizar, com base nessa mesma perspectiva, mas de alcance mais abrangente, princpios, tratados e polticas atinentes a relaes inter-estatais. O DeJure Belli acPacis (1625) reputado como o primeiro livro especfico e sistemtico do direito

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das gentes. Publicado cerca de um sculo e trs dcadas antes do tratado de Vattel, tem esse livro conferido a Grcio tradicionalmente o posto de "fundador" do direito internacional, embora tenha surgido a respeito desse posto uma verdadeira "batalha", alguns a entender no haver um s fundador, outros a sustentar caber a honraria a predecessores do jurista holands, como Vitria, Suarez ou Gentili. De qualquer modo, no se tem cogitado que dessa honraria participasse Vattel. Certo que, com o surgimento da obra de Grcio, poder-se-ia identific-la como sendo oficialmente o marco inicial de nova disciplina jurdica. Institui-se na Universidade de Heidelberg, a cadeira de "Direito da Natureza e das Gentes", confiada ento, em 1660, ao magistrio de Samuel Pufendorf (1632 - 1694), a quem tambm se destinou alguns anos mais tarde, em 1670, a titularidade da mesma cadeira na Universidade de Lund. J ento o tratado de paz de Mnster e o de Onasbrch, celebrados no mbito do Congresso de Westphalia (1648), ofereciam base concreta para o desenvolvimento dos estudos do direito internacional, o qual, porm, segundo o magistrio de Pufendorf, era em grande parte redutvel ao direito natural, entendimento esse que incidia "en las mayores exageraciones racionalistas de la Escuela Natural de Derecho de Gentes"(6) Antes do final do sculo XVII publicou-se o Codex Gentium Diplomaticus (1693), de Gotfried Wilheim Leibniz, obra menor no conjunto de sua bibliografia de cunho predominantemente filosfico e matemtico. Foi, porm, o Codex a primeira tentativa de edio de obra coletiva de tratados internacionais, alm de abranger, na introduo, um estudo aprofundado sobre as relaes entre direito natural e direito voluntrio, aquele de carter absoluto, e este de cunho relativo. Mas de todos os internacionalistas que precederam Vattel, foi certamente Christian Frdric Wolff quem mais o influenciou.

(6) Luis Garcia Arias, concepaones iusnaturalistas la dei intemational, Estudios de Historia y Doctrina de Derecho Internacional, Madrid, Instituto de Estudios Polticos, 1964, p. 45.

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11. Nascido em Breslau, seguidor prximo de Leibniz, foi Wolff (1676 -1756) professor na Universidade de Halle, na qual sofreu srias vicissitudes polticas. A sua obra relevante o Jus Naturae Methodo Pertraaum, publicada em oito volumes, durante o perodo de 1740 a 1748, e na qual apresenta uma ampla teoria geral do direito das gentes. A esses volumes acrescentou suplemento em 1749 sob o Gentium Methodo Perlractum. Enfim, publicou, no ttulo de ano seguinte (1750), um resumo dos nove volumes, a saber, Institutiones

Juris et Gentium.
Tendo Hobbes a inspir-lo, Wolff, como a seguir Vattel, se reporta a Estados situados em estado de natureza e que, depois, se renem gradualmente por meio de contrato social, de que progressivamente resulta uma Civitas Maxima. Wolff porm, no incide no pessimismo e no absolutismo do filsofo ingls. Tm os Estados direitos e obrigaes, das quais a primeira consiste em obrigaes para consigo mesmos.O Sobre a valiosa contribuio de Wolff, nada mais recomendvel, alis, seno recorrer ao prprio Vattel, discpulo fiel e leal de seu mestre cujos ensinamentos, redigidos em latim escolstico e por vezes obscuro, entendera de incio traduzir. Preferiu depois, todavia, incorpor-los ao tratado que estamos a apresentar, sem deixar de reconhecer explicitamente - como se ler no prefcio a seguir por ele redigido - o seu dbito para com Wolff. 12. At que ponto a contribuio de Vattel transcende a do professor de Halle e tem carter prprio e relevante? Divergncias subsistem a respeito. H os que entendem ser ela muito reduzida, quase nula, qual seja a de exprimir, com certa clareza, as idias abstratas e complexas do mestre. Assim o entende La Pradelle (op. cit., p.149), des na esteira do pensamento de C. von Kaltenborn,

(7)

Sobre Wolff, vide artigo Christian Wolff, in Allgemeine deetscbe Biographie e Arthur Nussbaum, A Conase History of tbe Las. of Nations (revised edition), New York, 1954,pp. 150-156.

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nach dem jetzigen stanpunkt der Wissenschaft (Leipzig, G. Mayer, 1847, p. 78). tambm o pensamento de Paul Guggenheim, Emer de Vattel et des relations intemationales en se, Genve, Librairie de l'Universit, 1956, pp. 7 a 17. Parece-nos, todavia, que, apesar de ter Vattel contribudo significativamente em aclarar e difundir as principais teses de seu mestre, no deixou de nelas introduzir a sua prpria contribuio. Em matria de mrito, de fato, so diversas as discrepncias de Vattel em relao a Wolff, algumas das quais por aquele mencionadas no Prefcio que redigiu a esta obra: verbi gratia, sobre os reinos patrimoniais, sobre o uso das armas envenenadas, sobre a tese da civitas maxima, no se lhe podendo negar, pois, contribuio individual e relevante. Temas adicionais foram tambm por ele versados assim como outros de cunho tradicional, mas considerados em perspectiva histrica e doutrinria diferente. Cabe meno, a esse respeito, a tpicos sobre interpretao dos tratados, direito de neutralidade, bens culturais, humanizao do in bello, responsabilidade estatal, conceito de soberania e imunidades diplomticas. No certo, pois, como pretende Georg Stadtmller, limitar-se o tratado de Vattel a "uma hbil recompilao do exposto por todos os seus predecessores", embora se possa admitir que nele "a concepo jurdica da Ilustrao" se manifesta na forma "de uma sntese fluida, acessvel a todas as inteligncias", em oposio "poltica do Estado patrimonial absoluto'l'", Mais que isso, ainda sob o prisma doutrinrio, Vattel difere dos antecessores medida que introduz uma separao mais ntida entre direito natural e direito positivo, entre moral e direito, contribuindo de certo modo para o fortalecimento do voluntarismo jurdico que at hoje tem infelizmente persistido.

Repercusso
13. Segundo Vattel, o Droit des Gens deveria limitar-se a duzentos exemplares. Alcanou o livro, porm, contrariamente a essa expectativa,
(B)

Historia deiDerecbo Internacional Pblico, Madrid, Aguilar, 1961, p. 196.

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repercusso no apenas imediata seno tambm profunda e prolongada. Contrafao da edio, denunciada por Vattel, teria sido publicada na Holanda por Th. Haack. Aps a primeira tiragem, feita em Neuchatel, mas datada de Londres, uma segunda saiu das impressoras de Leide. A meno capital inglesa no era apenas artifcio editorial, pois traduzia, comenta La Pradelle, (op. cit., p.150), o propsito de homenagear a Inglaterra, "l'illustre nation". O acesso primeira edio, logo exaurida, tornar-se-ia hoje difcil, no cuidasse a Carnegie Institution de reproduzi-la em publicao de Washington, datada de 1916, precedida de introduo, redigida pelo mesmo jurista francs, edio essa que abrange trs volumes, dos quais o primeiro e o segundo contm a reproduo fotogrfica dos Livros I e H assim como dos Livros IH e IV, respectivamente. O terceiro volume inclui a verso completa para o ingls tanto da introduo como dos quatro livros do tratado. A verso daquela edio coube a George D. Gregory enquanto a mais relevante foi cometida a Charles G. Fenwick. Este ltimo, por sinal, em artigos publicados no The American Political Science Review, sob o titulo "The Authority of Vattel", havia, em anos anteriores, detidamente comentado captulos desses livros (1913, vol. 7, pp. 395 - 410 e 1.914, vol. 8, pp. 375 - 392). 14. Com anotaes do Autor e defeitos de impresso, surge em Neuchatel edio pstuma (datada de 1793) qual outras se sucedem: uma impressa em Amsterd, "par les soins d'un Monsieur D", identificado por la Pradelle (op. cit., pp. 148 - 149) como C. W Dumas, "publicista suo, ardente republicano"; e duas outras, publicadas no mesmo ano (1797), em Basilia e em Neuchatel (vide edio da Carnegie, acima citada, vol, IH, pp. LVI e LVII). 15. Edies se renovaram no correr do sculo XIX, entre as quais se incluem as da "Libraire Diplomatique, Franaise et Etrangre", de J. P. Aillaud, de Paris, datadas de 1830, de 1835 e de 1863. A presente

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traduo feita, alis, com base tanto na primeira edio como na edio de 1835. Esta ltima composta de trs volumes, integrada pelo "discurso sobre o estado do direito da natureza e das gentes", escrito por James Mackintosh, antigo membro do parlamento britnico, e por notas redigidas por Silvestre Pinheiro Ferreira (constitutivas, por sinal, do terceiro volume). Publicao relativamente recente se deu tambm em Paris (1978), de responsabilidade da editora Hachette. Poucos anos aps a primeira edio do tratado, a poltica exterior da Frana, observa Jean Graven/", acusava a influncia do jurista suo, O projeto de Declarao do Direito das Gentes, apresentado tanto em 1793 como em 1795 pelo padre Grgoire Conveno, indicava, como fonte, algumas teses de Vattel. No tardou o tratado a ser divulgado em idiomas diferentes daquele em que foi redigido. Citam-se hoje mais de cinqenta edies publicadas em pelo menos cinco distintos idiomas, como indicaremos a seguir, tendo por fonte principal de referncia o livro de Emmanuelle Jouannet, Emer de Vattel et /'mergence Doctrinale du Droit International Classique (paris, Pedone, 1998). 16. Quanto traduo para o ingls - e somente para situar-nos em Londres - publicou-se logo no ano subseqente edio original, a que outras no tardaram a suceder (em 1760 e 1793). Edies revistas surgem a seguir, uma em 1797, possivelmente com o patrocnio de William Corbbett, e outra, em 1833, certamente com o patrocnio de Joseph Chitty. O tratado repercutiu ampla e favoravelmente nos Estados Unidos, onde a primeira cadeira de direito fora criada em 1779 em Williamsburg, na Califrnia, e onde o livro de Vattel serviu de manual para o ensino do direito das gentes e, assim como em Williamsburg, ele tambm foi utilizado no King's College (hoje Columbia University). conhecida
Le DiJficile Progres du p.190.

dela Paix lnternationale par le Droit, Paris, Pedone, 1970,

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a influncia por ele exercida em estadistas do porte de Alexander Hamilton, Thomas Jefferson e James Madison.v" 17. Vertido para o alemo por J. P. Schulin, trs anos aps a publicao inicial, foi o tratado de Vattel publicado simultaneamente em Frankfurt e Leipzig. Nova traduo para o alemo, feita em 1959 por Wilhelm Eulep, veio a enriquecer a coleo Die Classiker des Vlkerrechts, dirigida pelo professor Walter Schtzel, (11) A verso italiana data de 1805, enquanto a espanhola, de autoria de Lucas Miguel Otarena, com base na edio francesa de 1820, ocorreu em Madrid em 1822, a que outras igualmente se seguem. A traduo para o polons, em 1958, teve a autoria de Bobdan Winiarski, ento juiz de Corte Internacional de Justia.(12) Ela ocorreu tambm para o japons, em 1967-68, graas a Hsiatsu Fujita, assistido por trs colegas da Universidade de Ritsuneiken.

18. Na Amrica Latina, a presena de Vattel perceptvel a comear pelo livro pioneiro de Andrs Bello, Princpios de Derecho de Gentes, publicado em 1832, em Santiago do Chile. Neste livro, o jurista suo freqentemente citado, a comear pelo Prlogo (p. IH) e Preliminares (p. 9). Ele suscitou ateno especial de Carlos Calvo, em seu Derecbo lnternational Terico y Practico de Europa y Amrica, Paris, Durand-Pedone, I, 1868, pp. 66 -67. Vattel est igualmente presente em nosso pas, desde os primeiros tempos de sua histria. De acordo com a lei de 11 de agosto

(10) Vide J. E. G. de Montmorency, Tbe grealjurisls of lhe uorid, Emericb de Vattel, "[ournal of the Society of Corporative Legislation", vol. X, 1.909, p. 17. James S. Reeves, Tbe injluence of lhe law of natare upon international lau/ in United States, AJIL, 1.909, vol. 3, pp. 554 e ss.
(11)

Henri Thevenaz, Notes bibliograplques (1958 - 1959), "Annuaire Suisse de Droit International", vol. XV, p. 283. Ibidem.

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de 1827, que estabeleceu os cursos jurdicos em SoPaulo e em Olinda, os lentes fariam "a escolha dos compndios de sua profisso". No primeiro ano havia uma cadeira nica, intitulada natural, pblico} anlise da Constituio do Impn"o} direito das gentes e diplomacia, cadeira essa ministrada tambm no segundo ano do curso no qual ateno especial era dedicada s disciplinas de direito das gentes e diplomacia. Para essa disciplina, a Faculdade de Direito de Olinda comeou por aconselhar a consulta de trs autores: Rayneval, Heincio e Vattel. O tratado de Vattel adotado em Olinda foi o mesmo adotado na Faculdade de Direito de So Paulo. Tanto nesta Academia como naquela de Recife, para onde no tardara a transferir-se a de Olinda, a influncia de Vattel se tornou, desse modo, ntida e envolvente, sobretudo ao considerar-se que, para o ingresso nessas Escolas, se exigia o conhecimento e "a aprovao da lngua francesa". Testemunho dessa influncia o opsculo publicado em So Paulo, em 1842, intitulado A Philosophia do Direito Constitucional por um ex-magistrado, composto por vinte lies (ao todo 80 pginas), que se anunciam como comentrios em torno dos trs primeiros pargrafos, do Livro I, captulo I, da obra de Vattel. Supe-se que esse opsculo sejam aulas ministradas pelo autor, esse ex-magistrado, que tem sido identificado como sendo Jos Maria de Avelar Brotero, o primeiro lente nomeado para reger em So Paulo a mencionada primeira cadeira dos cursos jurdicos. Em 1851, em Pernambuco, foi publicado o livro Elementos do Direito das Gentes, de autoria do titular dessa cadeira no Recife, Pedro Autran da Matta Albuquerque, que, embora no cite nenhum autor, denota a influncia de Vattel. Alguns anos mais tarde, em 1867, o professor Pedro Autran da Matta Albuquerque, ao rever o livro de seu antecessor, publicou as Prelees de Direito Internacional, onde juristas passam a ser citados, entre os quais Vattel no deixar de constar. O mesmo ocorre com as Lies Elementares do Direito das Gentes, obra editada em 1889 pela Tipografia Econmica, Pernambuco, de autoria do professor Joo Silveira de Souza, lente da mesma cadeira.

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19. O livro de Vattel veio a ser obra de referncia de autores brasileiros. Ruy Barbosa o cita com freqncia no seu autorizado O Direito do Amazonas ao Setentrional.' Obras Completas, Ministrio da Educao e Cultura, Rio de Janeiro, vol, XXVII, 1.910, tomo V (pp. 227, 232, 256), tomo VI (pp. 117, 382 a 386, 399, 401, 409 a 412), tomo VII (pp. 29, 86 a 89). Na Mmoire sur Question des entre les tats-Unis du et Bntanmque, o Baro do Rio Branco, tendo por base a situao do Brasil como possuidor de boa f, invoca o 337, captulo XVIII, do Livro I, de VatteI. (Obras do Baro do Rio Branco, Questes de Limites, Guiana Britnica, vol, lI, Ministrio das Relaes Exteriores, pp. 42 e 57-59). Ele tambm se fundamenta no 270, captulo XXII, do mesmo Livro I, ao sustentar a defesa de nosso pas na Questo de limites da Guiana Francesa, Obras Completas, op. cit., tomo IV, pp.). Com alguma freqncia, Nabuco de Arajo, enquanto conselheiro de Estado (perodo de 1866 a 1878), recorre tambm ao jurista suo em questes sobre adequao do processo de arbitramento, obrigaes do Estado garante e extenso dos princpios da guerra externa guerra civil. (13) 20. Perante rgos arbitrais, a autoridade de Vattel permaneceu inegvel at as primeiras dcadas do sculo XIX. A sua opinio em matria de soberania territorial foi levada em conta, por exemplo, na clebre sentena de Max Huber, de 4 de abril de 1928, sobre a questo da ilha de Palmas. Instituda a Corte Permanente de Justia Internacional, Vattel nela no permanece ignorado. Como indica Emmanuelle Jouannet (op. cit., p. 15), o seu pensamento mencionado pelos juzes Mauro Quintana e Read, respectivamente, nas controvrsias sobre o direito de passagem em territrio hindu e sobre a interpretao dos tratados de paz concludos com a Bulgria, Hungria e Romnia.
Joaquim Nabuco, Um Estadista do Imprio, Nabuco deArajo, Nova Edio, 1936, So Paulo, Cia. Editora Nacional, tomo 2, pp. 228, 230 - 231, 330.

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VI - Motivos da
21. Alguns desses motivos se relacionam com o mrito intrnseco do tratado de Vattel, mrito esse tambm devido ao nvel cultural e intelectual do Autor, sua experincia de diplomata e de agente governamental. O tratado reflete a realidade das relaes polticas internas e internacionais da poca em que foi escrito, sem ignorar as contribuies do pretrito em relao aos diversos tpicos nele examinados. Essa realidade induziu Vattel a tentar aclarar a tormentosa dialtica entre soberania e direito internacional. Mrito intrnseco reside na sistematizao do tratado. Inicia-se ele com o Prefcio em que se sublinha a relevncia do direito das gentes e a contribuio de juristas antecessores, sobretudo de Wolff, cujas "idias luminosas" o autor se props a divulgar. Seguem-se as Preliminares, em que o autor estabelece conceitos fundamentais, premissas adequadas aos quatro livros em que o tratado se desdobra. O primeiro desses livros no se ocupa necessariamente de matria especfica do direito das gentes seno de tpicos propeduticos a esse direito, integrantes majoritariamente de disciplinas que hoje consideraramos no mbito da cincia poltica, da teoria geral do Estado, da administrao, do direito pblico e, mais especificamente, do direito constitucional. Ao versar a temtica das relaes entre as naes, o segundo livro passa a penetrar o mago do direito internacional da paz, tal como atualmente considerado. Nele se cuida dos direitos e deveres mtuos dos Estados, da dignidade e da igualdade das naes, do comrcio recproco, dos efeitos da soberania, dos estrangeiros, do territrio, da problemtica das fontes do direito, em particular dos tratados internacionais e, enfim, da soluo de controvrsias entre naes. Refere-se o terceiro livro a questes integrantes do jus bell que at Vattel, e mesmo depois dele, ocupavam a maior parte da temtica do direito das gentes. Tais questes acabaram sofrendo as vicissitudes de mutaes polticas e sociais e do extraordinrio progresso tecnolgico incidente

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na construo e uso dos armamentos. Dizem respeito s diferentes espcies de guerra e ao direito de faz-la, s causas justas para deflagr-la, aquisio pela conquista, ao direito de postlimnio, a salvo-condutos e passaportes, guerra civil. Enfim, o quarto e ltimo livro abarca duas temticas distintas, conquanto entre si coordenadas. A primeira diz respeito temtica da paz e, como se diz no captulo inicial, obrigao de cultiv-la, bem como s vicissitudes dos tratados que lhe dizem respeito. A segunda temtica se refere a relaes diplomticas, ao direito de embaixada, s imunidades e privilgios, jurisdio acerca dos agentes diplomticos. 22. Fator extrnseco da repercusso do tratado foi o idioma utilizado. At ento, os livros sobre direito das gentes eram publicados em latim. Vattel passou a valer-se do idioma francs, que ento alcanava crescente prestgio. Fora este idioma, por sinal, adotado pela primeira vez em acordo internacional, menos de meio sculo antes de vir a lume o Droitdes Gens, no tratado de Rastadt (de 1714), um dos atos que puseram fim guerra da sucesso espanhola. Foi tambm em francs que se redigiu e se aprovou o acordo a que chegaram turcos e russos, cerca de trs lustros aps o lanamento do mesmo livro. Recorde-se, a propsito, que um dos contemporneos de Vattel, Edward Gibbon, ainda estudante em Lausanne, comeara a redigir nesse idioma o clssico Histria daQueda do Imprio Romano e explicava que o fazia "porque pensava em francs", razo semelhante invocada por Pushkin, ao redigir os seus primeiros poemas. Cabe lembrar que, fora da Frana, eram editados peridicos tais como "La Gazette d'Amsterdam", "La Gazette de Leyde" e "Le Courrier de l'Europe" e que, mesmo antes do aparecimento do tratado de Vattel, Frederico lI, rei da Prssia, publicara o .Anti-Machiate! e a Histoire de Mon Temps.(14)
(14) Robert Darnton, Fronteiras Imaginrias, in "Mais", suplemento cultural de "A Folha da Manh", de 21 de julho de 2002, pp. 8-9.

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VICENTE

VII - Apreciao Critica

23. Surpreende agradavelmente verificar no tratado preceitos que hoje seriam oportunos e recomendveis. Ele acolhe os ensinamentos ento recentes de Montesquieu e a atmosfera do liberalismo emergente, mas acusa igualmente a dificuldade de adequ-los estrutura poltica e ao contexto prevalecentes na poca. Tpicos nele versados, como os dos princpios objetivos de um bom governo, cultivo das terras, comrcio, cuidado das vias pblicas, poderiam constar de plataforma de partidos polticos at mesmo de nossos dias. Refere-se Vattel ao sistema de "equilbrio de poder", que ele espera ser propcio a evitar conflitos. Apraz ao leitor conhecer no Livro II temas como os deveres comuns de uma Nao para com as demais, onde h meno a ofcios de humanidade, atividades consulares, respeito justia entre as naes, condies de estrangeiros, normas sobre acordos internacionais e, em particular, sobre a interpretao dos mesmos. Estes ltimos tpicos foram, por sinal, evocados com vistas Conferncia de Viena sobre o direito dos tratados em 1969, e tambm Conferncia sobre relaes diplomticas, celebrada na mesma cidade em 1961. Nos dois ltimos livros, so versados temas que guardam ainda muita atualidade, como os relativos a tratados de paz e a jus belli, respeitadas, obviamente, as circunstncias da poca em que a obra foi redigida. 24. Em contraposio a mritos do tratado, alguns dos quais referidos acima, reparos lhe tm sido assinalados, como os inscritos na anlise minuciosa, pargrafo por pargrafo, subscritos por Silvestre Pinheiro Ferreira, no terceiro volume da edio francesa de 1835. Em perspectiva mais sistemtica, esses reparos tm sido endereados igualmente metodologia adotada por Vattel, os quais procedem medida que ela adquire carter apriorstico (15) e se diluem proporo que essa metodologia se inspira em perspectivas mais empricas. De
Charles G. Fenwick, op. cit., 1914, vol. VII, p. 404.

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fato, exemplo do apriorismo dessa metodologia est no acolhimento da premissa do contrato social entre Estados, que teriam advindo do estado da natureza ad instar anterior ao que teria ocorrido entre os homens (premissa tambm esposada por Hobbes e Wollf e difundida na atmosfera cultural do "aufklrung") rejeitando, pois, a tese da sociabilidade natural dos homens e Estados, enunciada outrora por Aristteles e, na Idade Moderna, por Vitria e Suarez entre outros. Ponto crtico a aditar est na parcialidade do autor em juzos referentes a setores em que tenha tido motivaes familiares, ideolgicas, nacionais ou religiosas. Exemplos a respeito so assertivas do autor no tocante Igreja Catlica, compreensveis em parte, quem sabe, por serem emitidas num perodo em que ainda eram recentes o movimento da Reforma e os eventos da guerra dos Trinta Anos. o caso tambm de apreciaes sumrias, favorveis ou depreciativas, a este ou aquele Estado. 25. Crticas em maior nmero surgem tambm quanto estrita fidelidade do autor na defesa dos postulados do jusnaturalismo. Como poca em que ele viveu e a fortion nos perodos que a precederam, eram rarefeitos os acordos e at mesmo a prtica das relaes sistemticas entre Estados, a admissibilidade do direito das gentes necessitava de apoiar-se em princpios gerais transcendentes vontade dos Estados e mesmo independentes dessa vontade. A existncia de um direito natural ao lado do direito positivo explicitado por Vattel no apenas no texto seno tambm no ttulo do presente tratado. Ops-se ele, desse modo, tendncia de Pufendorf de reduzir o direito positivo ao direito natural. Nesse particular, louvvel a contribuio de Vattel. Por outro lado, manifesta-se ele contrrio reduo do direito das gentes ao direito positivo, queles que o restringem - como diz no prefcio - "a certos princpios, certas obras realizadas entre as naes, e que para elas se tornam obrigatrias em razo do consentimento que elas lhes deram". Ora, sublinha o autor, esse entendimento importaria em "restringir a limites muito estreitos" o direito das gentes e consistiria

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ao mesmo tempo em "degrad-lo, ao desconhecer a sua verdadeira origem". De fato, como aduz no segundo perodo do prefcio, "existe certamente um direito das gentes natural, porque a lei da natureza no obriga menos os Estados, os homens unidos em sociedade, que os particulares", e so insuficientes todos os tratados "para dar uma idia distinta, um slido conhecimento da lei sagrada das Naes". Nenhuma dvida, pois, quanto essa aceitao e defesa do direito natural, a ponto de Carlos Calvo ter assinalado "que el gran resultado de los trabajos de Vattel h sido probar que la base y fundamento del derecho das gentes era el natural, por ms que este tuviera que modificarse en su aplicacin a las relaciones internacionales" (op., cit., tomo I, p. 67). 26. A defesa dessa dualidade de direitos, positivo e natural, bastante meritria, acaba, todavia, por desfazer-se, no curso das lies do tratado, ao se levar em conta uma certa depreciao que Vattel formula sobre a essncia do direito natural. Para ele, esse direito vincula os homens antes que ingressem na sociedade civil, a qual, uma vez constituda, passa a adquirir personalidade jurdica prpria e a condicionar e a limitar os direitos possudos pelos homens na natureza. Essa personalidade marcada pela soberania, sendo que o direito das gentes aquele que deve reinar entre Estados soberanos. Recorda Vattel a esse respeito, no Prefcio, o ensinamento de Wolff, para quem o "direito das gentes no permanece em todas as causas idntico ao direito natural, medida que este rege as aes dos particulares". Donde ter Vattel explicitado ser o direito das gentes o direito prprio s Naes, ou seja, aos Estados soberanos. " principalmente para eles e para os seus ministros, que se deve escrev-lo'U!" Foroso reconhecer que essa crucial dialtica entre soberania estatal, de um lado, e primado do direito das gentes, de outro lado,

(1('1

Vide, a propsito desse tpico, Hebert Arbuet-Vignali, La idea desoberania en I 'attel, "Revista de la Faculdad de Derecho" de la Universidade de Repblica Oriental dei Uruguay, julho-dezembro de 2000, pp. 165-197.

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no ficou bem equacionada e dirimida no tratado, razo pela qual a Vattel se tem atribudo uma certa responsabilidade por uma posio fluida e indefinida, ou ainda deliberadamente preliminar, a partir da qual teria emergido a corrente positivista dominante at meados do sculo passado.v" No contexto dessa corrente, como se sabe, apenas os Estados so reconhecidos como sujeitos de direito internacional e como detentores do monoplio da soberania. (18) Nesse sentido, como assinala Andrew Hurrell, a posio doutrinria de Vattel o colocou, diferentemente da assumida por seus antecessores, em certa harmonia com a prtica ento recente dos Estados, com o reconhecimento mtuo de soberanias, com a distino ntida entre o direito interno e o direito internacional e "an increasingly clear distinction between the law on one hand and politics and morality on the other".(19)

VIII Consideraes Finais

27. A prtica das relaes inter-estatais subsistente na sociedade tida por civilizada, durante o perodo da existncia de Vattel, prolongouse, com algumas vicissitudes, at o advento da Primeira Guerra Mundial. Essa prtica permaneceu de certo modo estvel mesmo com o transcurso das Conferncias da Paz (1899 e 1907), cujos objetivos - os de desarmamento e de soluo pacfica de controvrsias - se harmonizam com os propsitos inscritos no Direito das Gentes. Tambm com esses propsitos coadunou-se a instaurao, no perodo
Vide Louis Le Fur, tbone du droitnaturaldepuis le XVII' side et la doctrine modeme, RCADI, 1927 - III, pp. 330-331, Charles Rousseau, Principes Gnraux du Droit lnternational Public, Paris, Pedone, 1994-1, pp. 22-23, N. Kleffens, Sovereignty in internationallaw, RCADI, 1953 - I, p. 68.
(17)

Cabe lembrar, a esse propsito, que, em confronto com as teses de Grcio, as de Vatte! so menos favorveis proteo dos direitos humanos. Vide Peter Pavel REMEC, Position of the Individual in lnternational Lau. according to Grotius and Valtel, The Hague, Martinus Nijhoff, 1960, em particular pp. 243-245. Vattel: pluralism and its limits, in Classical Tbeories of International Relations (eds. Ian Clark e Iver Neuman), Macrnillan Press, 1996, p. 234.

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VICENTE MARTIA

de intervalo entre as duas guerras mundiais, de organizaes de competncia prpria, conquanto rarefeita, quer de vocao universal como a Sociedade das Naes, quer de vocao regional como a Unio Panamericana. a progresso tecnolgico e as mudanas profundas requeridas pela deflagrao da Segunda Guerra Mundial acabaram, todavia, por exigir reformulao das normas do direito das gentes. a tratado de Vattel tornou-se cada vez mais inadequado para responder a essas transformaes. Estava longe de dar soluo adequada. Estava ele, porm, em condies de propiciar - como ainda est - instrumentos de entendimento de um perodo histrico passado, sem os quais alis difcil, e mesmo impossvel, compreender os problemas defrontados pelo direito internacional contemporneo. 28. Ao comear a redigir este tratado, de largas propores, como se verifica (embora no to amplas quanto as de Wolff, seu mestre imediato), Vattel se deu conta dos encargos que assumia. As palavras nessa poca em que os livros eram poucos, em que as teorias eram ainda rarefeitas e temiam discrepar das doutrinas tradicionalmente consagradas, sobretudo quando destinadas a repercutirem no fundamento das relaes entre povos, pareciam carregar consigo o peso de uma responsabilidade particularmente grave. Disso o autor se deu conta, ao dizer no Prefcio sentir a fraqueza de suas luzes e de seus talentos e que iria dar incio a "uma tarefa penosa". Essa tarefa, Vattel a executou com proficincia, com repercusses ntidas por mais de um sculo e seqncias ulteriores que ainda hoje perduram. Est ainda na ordem do dia debater os aspectos positivos e os negativos do Droit des Gens que, como assinalou J. E. G. de Montmorency (op. cit., p.39), ao surgir, "modernized the whole theory and business of intenationallaw, brought it out of the study into the field, the mart, the council chamber, and the palace" a direito das gentes deixou de ser envolto em crculos misteriosos. "One of its most brilliant practical exponents became its popularizer. He did, indeed, much for nations, for he imposed upon them theories

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of moral rational developments up to which it became, in a sense, necessary to live". Ao trmino da tarefa que Vattel se props realizar, admitiu ele no "ter feito um trabalho completo e pormenorizado do direito das gentes", mesmo porque este no teria sido o seu propsito e "teria sido presumir demasiado" de suas foras "em matria to vasta e to rica". Embora sem corresponder a propsito ambicioso, o objetivo de Vattel parece ter sido alcanado. No h quem no possa reconhecer em seu trabalho - embora sujeito a crticas por vezes procedentes "o homem honesto e o cidado" e nele no depare, como o autor desejava, "armas para defender o bom direito e para compelir ao menos os injustos a respeitarem alguma medida e a manterem-se nos limites da decncia". No se pretende, claro, concluir seja o Droit des Cens obra completa e perfeita, mesmo quando circunscrito ao perodo histrico em que foi escrito e para o qual se destinou. Mas, sem embargo de defeitos e lacunas que em toda construo humana impossvel afastar, o tratado de Vattel honra o seu autor e se insere com nitidez na galeria das obras clssicas do direito e das relaes internacionais.

DO AUTOR

esta matria to nobre e to importante, no foi versado at aqui com todo o cuidado que merece. Tambm a maioria dos homens dele no tem seno uma noo vaga, muito incompleta, mesmo falsa com freqncia. Grande parte dos escritores e autores, embora clebres, no compreende, sob o nome de direito das gentes, seno determinados princpios, determinados atos recebidos entre as naes e para elas tomados obrigatrios pelo fato de neles consentirem. Isto importa em delimitar em margens mui estreitas uma lei to ampla, to interessante para o gnero humano, e significa ao mesmo tempo degrad-la e desconhecer-lhe a verdadeira origem. Existe certamente um direito das gentes natural, porquanto a lei da natureza no obriga menos os Estados, os homens unidos em sociedade poltica, quanto obriga os particulares. Mas para conhecer exatamente esse direito, no basta saber o que a lei da natureza prescreve aos indivduos humanos. A aplicao de uma regra a sujeitos diversos no pode fazer-se seno de maneira conveniente natureza de cada sujeito. Da resulta que o direito das gentes natural uma cincia particular, a qual consiste numa aplicao justa e meditada da lei natural aos negcios e conduta das naes ou dos soberanos. Todos esses tratados, nos quais o direito das gentes est envolvido e confundido com o direito natural ordinrio, so pois insuficientes para dar uma idia distinta, um slido conhecimento da lei sagrada das Naes. Os romanos confundiram freqentemente o direito das gentes com o direito da natureza, chamando direito das gentes (jus gentium) o direito natural, enquanto reconhecido e adotado geralmente por todos as naes civilizadas. (1). Conhecem-se as definies que d o imperador
,I)

Neque uero boc

id eJ/,jure

etc. Cicer., de O/lic., Lib. III, c.5.

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VArrEL

Justiniano do direito natural, do direito das gentes e do direito civil. O natural, diz ele, que a natureza ensina a todos os animais (2); definindo assim o direito da natureza no sentido mais extenso, e no o direito natural particular ao homem, e que decorre de sua natureza racional assim como de sua natureza animal. O direito civil, diz em seguida o imperador, aquele que cada povo estabelece para si mesmo e prprio a cada Estado ou sociedade civil. E esse direito, que a razo natural estabeleceu entre todos os homens, igualmente observado em todos os povos, se denomina direito das gentes, como sendo um direito que todas as Naes seguem (3). No pargrafo seguinte, o imperador parece aproximarse bastante do sentido que hoje damos a esse termo. O direito dasgentes, diz ele, comum a todo o gnero humano. As atividades dos homens e suas necessidades conduziram todas as Naes a determinarem certas regras de direito. Pois as guerras surgiram e produziram cativeiros e servides, os quais so contrrios ao direito natural,'porque, originariamente, e por direito natural, todos os homens nascem livres (4). Mas ele acrescenta que quase todos os contratos, os de venda e compra, de locao, de sociedade, de depsito, e uma infinidade de outros, devem a sua origem a esse direito das gentes; esse acrscimo, digo, indica que o pensamento de Justiniano apenas que, segundo o estado e as conjunturas em que os homens se tm encontrado, a reta razo lhes ditou certos princpios de direito, to fundados na natureza das cousas que so reconhecidos e admitidos em toda a parte. No apenas nisso que o direito natural convm a todos os homens.

(2)

fus naturale est quod natura omnia animalia docuit. Instirur., Lib. I, tit. 11.

Quod quisquepopulus ipse sihi f us constituit, id Ipsius propriton auitatis est, Ilocaturque f us civi/e, quasijus pmprium ipsius civitatis: quod vem naturalisratio inter omnes homines constituit, id apud omnes peraeque custoditur, vocaturque Jus gentium, quasi quojure omnes gentes utantto: Ibid, 1.
O)

(4)Jus autemgentiumomni humanogenen' commune est;nam us exigente et humanisnecessitatibus, gentes humanaejura quaedamsibi constituerunt. Relia et enim orla sunt et captivitates sequutae, et senntutes, quae sunt natural:jun' contranae. fure enim naturali omnes bominer ab initio liberi nascebantur. Ibid, 1
0.

o DIREITO DAS GENTES

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Entretanto esses mesmos romanos reconheciam uma lei que obriga as Naes mutuamente e relacionavam com essa lei o direito das embaixadas. Eles tambm tinham o seu direito fedal, o qual no era outra cousa seno o direito das gentes referente aos tratados pblicos, e em particular Os feciais eram os intrpretes, os guardies, e de algum modo os sacerdotes da f pblica. (5) Os modernos concordam geralmente em reservar o nome de direito das gentes ao direito que deve reinar entre as Naes ou Estados soberanos. Eles no diferem seno na idia que tm sobre a origem desse direito e de seus fundamentos. O clebre Grcio entende por direito das gentes um direito estabelecido pelo consentimento comum dos homens e ele assim o distingue do direito natural: "Quando muitas pessoas, em diversos tempos e em diversos lugares, sustentam uma mesma cousa como certa, isso deve relacionar-se a uma causa geral. Ora, nas questes em tela, essa causa no pode ser seno uma ou outra dessas duas, ou uma justa conseqncia inferida dos princpios da natureza, ou um consentimento universal. A primeira nos revela o direito natural, e a outra, o direito dasgentei"(6). Parece, por diferentes passagens de sua excelente obra, que esse grande homem entreviu a verdade. Mas como ele decifrava, por assim dizer, uma importante matria, muito negligenciada antes dele, no surpreendente que, tendo o esprito sobrecarregado por quantidade imensa de objetos e de citaes que entravam em seu plano, nem sempre tinha ele chegado a idias distintas, to necessrias contudo nas cincias. Persuadido de que as Naes ou as potncias soberanas esto submetidas autoridade da lei natural, cujo respeito ele to freqentemente recomenda, esse sbio reconhecia, no fundo, um direito das gentes natural (o qual denomina por vezes direito das gentes interno); e talvez ele no parecer diferir de ns seno nos termos. Mas j obser-vamos que,
(5)

Feciales, quodfidei publicae interpopulos praerant; namper hosfiebat, uijuslum conaperetur bel/um (et inde desitum) et ui foedere fides pacis constitueretur. Ex his mittebant, anlequam conciperetur; qui res repeterem; etper hosetiam nuncfil jedus.Varro, de Ling. lat., Lib. IV Droit delaguem etdelapaix, traduzido por Barbeyrac; Discours prelim, XLI.

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para formar esse direito natural, no basta apenas aplicar s Naes o que a lei natural decide em relao aos particulares. E alis Grcio, por sua mesma distino, e ao destinar o nome de direito das gentes apenas aos princpios estabelecidos pelo consentimento dos povos, parece dar a entender que os soberanos no podem pleitear mutuamente seno a observao desses ltimos princpios e reservar o direito interno para a direo de suas conscincias. Se, partindo dessa idia, a de que as sociedades politicas ou as Naes vivem entre si numa independncia recproca, no estado de natureza, e que elas esto submetidas, na qualidade de corpo poltico, lei natural, e ainda tivesse Grcio considerado que se deve aplicar a lei a esses novos sujeitos de maneira conveniente natureza deles, esse judicioso autor teria sem dificuldade reconhecido que o direito das gentes natural uma cincia particular; que esse direito produz entre as Naes uma obrigao mesmo externa, independentemente da vontade delas, e que o consentimento dos povos somente o fundamento e a fonte de uma espcie particular de direito das gentes, que se denomina direito dasgentes arbitrrio. Hobbes, na obra em que se reconhece habilidade, malgrado os seus paradoxos e princpios detestveis; Hobbes, digo, , segundo creio, o primeiro a ter uma idia distinta mas ainda imperfeita do direito das gentes. Ele divide a lei natural em lei natural do homem e lei natural dos Estados. Esta ltima, segundo ele, o que se denomina de ordinrio direito dasgentes. Acrescenta ele, Os pn'ncpios de uma e de outra dessas leis so precisamente os mesmos; mas como os Estados adquirem de algum modo propriedades pessoais, a mesma lei que se denomina natural quando se nfere a deveres dos particulares, chama-se direito dasgentes quando se aplica ao corpo inteiro de um Estado ou de uma Nao.(/) Este autor bem observou que o
Rursus lex naturaiis potestin natura/em hominum, quaesola obtinuitdia /ex naturae, et natura/em civi/atum, quae dia potest lex gentium, vulgo autemJus gentium appe/fatur. Praecepta utriusque eadem sunt:sedquia seme/institutae induuntproprietates hominumpersonales, /ex officio natura/em dicimus, applicata atntatibus, nationibus, quam/oquentes dehominum sitegenn'bus, uocaturJusgentium. De Cite, capo XIV, 4. Sirvo-me da traduo de Barbeyrac, Pufendorf, Droi/ de la natureet des gens, Liv. 11,capo 111, XXIII.

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direito das gentes o direito natural aplicado aos Estados ou s Naes. Mas veremos no curso desta obra que ele se enganou quando acreditou que o direito natural no sofria nenhuma modificao necessria nessa aplicao; donde ter ele concludo que os princpios do direito natural e os do direito das gentes so precisamente os mesmos. Pufendorf declara subscrever completamente essa opinio de Hobbes. Tambm ele no tratou separadamente do direito das gentes, confundindo-o em toda parte com o direito natural propriamente dito. Barbeyrac, tradutor e comentarista de Grcio e de Pufendorf, muito se aproximou da idia justa do direito das gentes. Embora o livro esteja nas mos de todo o mundo, transcreverei aqui, para comodidade do leitor, a nota desse sbio tradutor sobre Grcio, Droitde la Guerre et de la liv I, capo I, XIV, nota 3: "Confesso, diz ele, que h leis comuns a todos os povos, ou cousas que todos os povos devem observar gentes, pode-se reciprocamente: e, se se deseja denominar isso muito bem faz-lo, Mas alm do fato de que o consentimento dos povos no o fundamento da obrigao para observar essas leis, e no poderia mesmo aqui ter lugar de nenhum modo, os princpios e as leis de tal natural propriamente direito so no fundo os mesmos que os do dito: toda a diferena existente consiste na aplicao, que pode ser feita um pouco de outro modo, em virtude da diferena algumas vezes existente na maneira pela qual as sociedades cuidam dos negcios que elas tm entre si",(S) O autor que acabamos de ouvir compreendeu bem que as regras e as decises do direito natural no podem aplicar-se pura e simplesmente aos Estados soberanos, e que devem necessariamente sofrer algumas modificaes, segundo a natureza dos novos sujeitos aos quais elas se aplicam. Mas no parece que ele tenha visto toda a extenso dessa idia, porquanto afigura-se no aprovar que se trate o direito das gentes separadamente do direito natural dos particulares. Ele apenas louva o mtodo de Buddeus, ao dizer "que este autor tem razo de assinalar
(8)

Ibid.

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(nos seus Elementa pbilos. pract.) aps cada matria do direito natural, a aplicao que dele se possa fazer aos povos, uns em relao aos outros; tanto pelo menos quanto a causa o permitia ou o exigia".(9) Era seguir o bom caminho. Mas seriam necessrias mais profundas meditaes e vistas mais extensas para conceber a idia de um sistema de direito das gentes natural que fosse assim como a f dos soberanos e das Naes, para sentir a utilidade de semelhante obra e sobretudo para iniciar-lhe a execuo. A glria disso foi reservada ao baro de Wolff. Este grande filsofo viu que a aplicao do direito natural s Naes enquanto corpo, ou aos Estados, modificada pela natureza dos sujeitos, no pode fazer-se com preciso, com nitidez, e com solidez, seno com a ajuda dos princpios gerais que devem regulament-la; que apenas por meio desses princpios que se pode mostrar evidentemente como, em virtude do prprio direito natural, as decises desse direito em relao aos particulares devem ser transformadas e modificadas quando aplicadas aos Estados ou sociedades polticas, e formarem assim um direito das gentes natural e necessrio: donde ter ele concludo ser conveniente constituir um sistema particular desse direito das gentes; e ele o executou com felicidade. Mas justo ouvir o prprio Wolff em seu prefcio. "Como as Naes, diz ele, no reconhecem entre si outro direito seno o que foi estabelecido pela natureza, parecer talvez suprfluo estabelecer um tratado do direito das gentes, distinto do direito natural; mas aqueles que assim pensam no aprofundaram suficientemente a matria. As Naes, verdade, no podem ser consideradas seno como pessoas particulares, que vivem em conjunto no estado de natureza; e, por essa razo, deve-se-lhes aplicar todos os deveres e todos os direitos que a natureza prescreve e atribui a todos os homens, enquanto eles nascem naturalmente livres e apenas se vinculam mutuamente pelos

(9) Nota 2, sobre Puffendorff, Droit dela natureet desgens, Liv. II, capo III, XXIIL No pude obter a obra de Buddeus, na qual suspeito tenha Barbeyrac haurido essa idia do direito das gentes.

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laos dessa mesma natureza. O direito que nasce dessa aplicao e as obrigaes que da resultam, provm dessa lei imutvel baseada na natureza do homem; e, dessa maneira, o direito das gentes pertence certamente ao direito da natureza. Eis porque ele chamado direito das gentes natural, tendo em vista a sua origem, e necessrio, com relao sua fora obrigatria. Esse direito comum a todas as Naes e aquela que no o respeita por seus atos, transgride o direito comum de todos os povos". "Mas desde que as Naes ou os Estados soberanos so pessoas jurdicas, e os sujeitos das obrigaes e dos direitos resultam, em virtude do direito natural, do ato de associao que constituiu o corpo poltico, conclui-se que a natureza e a essncia dessas pessoas jurdicas diferem necessariamente e, em muitos aspectos, da natureza e da essncia dos indivduos fisicos, ou seja, dos homens que as compem. Quando pois deseja-se aplicar s Naes os deveres que a lei natural prescreve a cada homem em particular e os direitos que essa lei lhe atribui para que possa cumprir os seus deveres, esses direitos e esses deveres, no podendo ser outros seno os que a natureza permita, devem necessariamente sofrer na aplicao mudana conveniente natureza dos novos sujeitos aos quais se referem. V-se assim que o direito das gentes no permanece em todas as causas idntico ao direito natural, medida que este rege as aes dos particulares. Por que pois no trat-lo separadamente, como um direito prprio s Naes?" Convencido eu prprio da utilidade de semelhante obra, esperava com impacincia a de Wolff e, desde que ela surgiu, propus-me propiciar ao maior nmero de eleitores o conhecimento das idias luminosas que ela apresenta. O tratado do filsofo de Halle sobre o direito das gentes dependente de todos os do mesmo autor sobre a filosofia e o direito natural. Para l-lo e entend-lo, necessrio ter estudado os dezesseis ou dezessete volumes que o precedem. Alis, ele est escrito no mtodo e mesmo na forma das obras de geometria: tantos obstculos que o tomam quase intil s pessoas nas quais o conhecimento e o gosto dos verdadeiros princpios do direito das gentes so mais importantes e

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mais desejveis. Pensei, de incio, que me bastaria separar por assim dizer esse tratado do sistema integral, tornando-o independente de tudo o que precede a Wolff, e revesti-lo de forma mais agradvel, mais adequada a permitir-lhe acesso ao mundo civilizado. Fiz algumas tentativas a respeito; mas logo reconheci que se desejasse obter leitores aos quais tivesse o propsito de escrever, e produzir algum fruto, devia fazer obra muito diferente daquela que tinha sob os olhos, e trabalhar de novo. O mtodo que Wolff seguiu expandiu a sequido em seu livro e o tornou incompleto sob muitos aspectos. As matrias nele esto dispersas de maneira cansativa para a ateno e, como o autor tinha tratado do direito pblico universal em seu direito da natureza, ele se contenta freqentemente em a ele referir-se, quando, no direito das gentes, cuida dos deveres de uma Nao para consigo mesma. Limitei-me, pois, a tomar da obra de Wolff o que nela encontrei de melhor, sobretudo as definies e os princpios gerais; mas recorri, com escolha, a essa fonte, e ajustei ao meu plano os materiais ali encontrados. Os que tiverem os tratados do direito natural e do direito das gentes de Wolff, vero quanto deles me aproveitei. Se tivesse assinalado em toda parte o que deles tomei emprestado, minhas pginas estariam cobertas de citaes igualmente inteis e desagradveis ao leitor. prefervel aqui reconhecer, de uma vez por todas, o dbito que tenho para esse grande mestre. Embora a minha obra seja muito diferente da dele, como vero os que se incumbirem dessa comparao, confesso que no teria jamais tido a segurana de entrar em to vasto empreendimento, se o clebre filsofo de Halle no me tivesse precedido e me esclarecido. Ousei porm afastar-me algumas vezes de meu guia e opor-me a seus entendimentos: disso darei aqui alguns exemplos. Conduzido talvez por grande nmero de escritores, Wolff consagra diversas proposiesv'? a tratar da natureza dos reinos patrimoniais, sem rejeitar ou corrigir essa idia injuriosa humanidade. No admito nem mesmo
(10)

Na VIII" parte do direito naturale do direito dasgentes.

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a denominao, que julgo igualmente chocante, imprpria, e perigosa nos seus efeitos, nas impresses que ela pode dar aos soberanos; e me vanglorio de que nisso obterei o sufrgio de todo mundo que ter sentimento e razo, de todo verdadeiro cidado. Wolff decide (jusGentium, 878) ser naturalmente permitido usar na guerra armas envenenadas. Esse entendimento me revoltou e mortifica-me encontr-lo na obra de to grande homem. Felizmente para a humanidade, no difcil demonstrar o contrrio por meio dos mesmos princpios de Wolff. Ver-se- o que digo sobre essa questo (livro 111, 156). Desde o comeo do meu livro, ver-se- que divirjo completamente de Wolff na maneira de estabelecer os fundamentos dessa espcie de direito das gentes, que denominamos Wolff o deduz da idia de uma espcie de grande repblica (civitatis maximae), instituda pela prpria natureza, e da qual so membros todas as Naes do mundo. Segundo ele, o direito das gentes voluntrio ser como o direito civil dessa grande repblica. Esta idia no me satisfaz, e no creio ser a fico de semelhante repblica nem muito justa, nem bastante slida, para dela deduzir as regras de um direito das gentes universal e necessariamente admitido entre os Estados soberanos. No reconheo outra sociedade natural entre as Naes seno aquela mesma que a natureza estabeleceu entre todos os homens. da essncia de toda sociedade civil (civitatis) que cada membro tenha cedido uma parte de seus direitos ao corpo da sociedade, e que haja uma autoridade capaz de comandar todos os membros, de dar-lhes leis, de coagir os que se recusarem a obedecer. No se pode nada conceber nem nada supor de semelhante entre as Naes. Cada Estado soberano pretende ser, e o efetivamente, independente dos demais. Todos eles, segundo o prprio Wolff, devem ser considerados como indivduos livres, que vivem juntos no estado de natureza e no reconhecem outras leis seno as da prpria natureza, ou de seu autor. Ora, a natureza bem estabeleceu uma sociedade geral entre todos os homens, quando ela os fez tais que tm necessidade, de forma absoluta, do socorro de seus semelhantes, para viverem como

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convm aos homens; mas ela no lhes imps precisamente a obrigao de se unirem em sociedade civil propriamente dita. E se todos seguissem as leis dessa boa me, a subordinao a uma sociedade civil lhes seria intil. verdade que os homens, estando muito longe de observarem voluntariamente entre si as regras da lei natural, tm recorrido a uma associao poltica como o nico remdio conveniente contra a depravao de grande nmero, como o nico meio de assegurar o bem-estar dos bons e conter os maldosos; e a prpria lei natural aprova essa providncia. Mas fcil compreender o fato de que uma sociedade civil entre as Naes no to necessria como tem sido entre os particulares. No se pode dizer, pois, que a natureza tambm a recomenda, muito menos que a prescreva. Os particulares so tais, e eles podem to pouca cousa por si mesmos, que no poderiam dispensar-se do socorro e das leis da sociedade civil. Mas desde que um nmero considervel se uniu sob um mesmo governo, eles se encontram em estado de satisfazer a maior parte de suas necessidades e o socorro das demais sociedades polticas no lhes to necessrio como o dos particulares o para um particular. Essas sociedades tm ainda, verdade, motivos relevantes para comunicar-se e comerciar entre si, elas esto mesmo obrigadas a isso; nenhum homem pode, sem boas razes, recusar socorro a outro homem. Mas a lei natural pode bastar para regulamentar esse comrcio, essa correspondncia. Os Estados se conduzem diferentemente dos particulares. No de ordinrio o capricho ou a impetuosidade cega de um s, que lhes forma as resolues, que determina os procedimentos pblicos: a eles se fornecem mais conselho, mais lentido e circunspeco e, nas ocasies espinhosas ou importantes, acomodam-se, ajustam-se em regra por meio dos tratados. Deve-se aduzir que a independncia mesmo necessria a cada Estado, para desobrigar-se exatamente do que ele deve a si prprio e do que ele deve aos cidados, e para governar-se da maneira que lhe for mais conveniente. Basta pois, ainda um pouco, para que as naes se conformem ao que delas exige a sociedade natural e geral, estabelecida entre todos os homens.

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"Mas", diz Wolff, "o rigor do direito natural no pode ser sempre seguido nesse comrcio e nessa sociedade dos povos; preciso nele introduzir mudanas, as quais no poderiam ser deduzidas seno dessa idia de uma espcie de grande repblica das Naes cujas leis, ditadas pela razo s e fundadas na necessidade, regulamentam essas mudanas necessrias a serem feitas no direito natural e das gentes, como as leis civis determinam aquelas que preciso fazer num Estado, no direito natural dos particulares". No sinto a necessidade dessa conseqncia e ouso prometer-me demonstrar neste livro que todas as modificaes, todas as restries, em uma palavra, todas as mudanas que so necessrias introduzir nos negcios das naes, ao rigor do direito natural, e de que se forma o direito das gentes voluntrio; que todas essas mudanas, digo, se deduzem da liberdade natural das Naes, dos interesses de sua salvao comum, da natureza de sua correspondncia mtua, de seus deveres recprocos e das distines de direito interno e externo, e impeifeito, raciocinando mais ou menos como Wolff raciocinou em relao a particulares, no seu Tratado do direito da natureza. V-se, nesse Tratado, como as regras que, em virtude da liberdade natural, devem ser admitidas no direito externo, no eliminam a obrigao imposta a cada qual, pelo direito interno, em sua conscincia. fcil fazer as aplicaes dessa doutrina s Naes, e ensin-las, ao distinguir cuidadosamente o direito interno do direito externo, ou seja, o direito das gentes necessrio do direito das gentes voluntrio, a no permitir tudo o que elas possam fazer impunemente, se as leis imutveis do justo e a voz da conscincia no o aprovarem. Desde que as Naes esto igualmente obrigadas a admitir entre si essas excees e essas modificaes feitas ao rigor do direito necessrio, seja que se deduzam da idia de uma grande repblica, na qual se concebe serem membros todos os povos, seja que se infiram das fontes onde me proponho procur-las, nada impede que se denomine o direito da resultante de direito das gentes voluntrio, para distingui-lo do direito das gentes necessrio, interno e de conscincia. Os nomes so bastante indiferentes: o que verdadeiramente importa distinguir cuidadosamente

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essas duas espcies de direito, a fim de nunca confundir o que justo e bom em si mesmo com o que apenas tolerado por necessidade. O direito das gentes necessrio e o direito das gentes voluntn'o so pois estabelecidos, um e outro, pela natureza, mas cada qual a seu modo: o primeiro, como uma lei sagrada, que as Naes e os soberanos devem respeitar e seguir em todas as suas aes; o segundo, como uma regra, que o bem e segurana comum as obrigam a admitir nos assuntos que possuem em conjunto. O direito necessrio procede imediatamente da natureza; esta me comum dos homens recomenda a observao do direito das gentes voluntn'o, em considerao ao estado em que as Naes se encontram reciprocamente, e para o bem de seus negcios. Esse duplo direito, baseado em princpios certos e constantes, susceptvel de demonstrao. Ele constituir o principal assunto de meu livro. Existe outra espcie do direito das gentes, que os autores denominam arbitrrio, porque ele deriva da vontade ou do consentimento das Naes. Os Estados, assim como os particulares, podem adquirir direitos e contratar obrigaes por compromissos expressos, por pactos e tratados; disso resulta um direito das gentes convencional, particular aos contratantes. As Naes podem ainda vincular-se por um consentimento tcito; nele que se baseia tudo o que os costumes introduziram entre os povos, e que forma o costume das Naes, ou o direito das gentes baseado no costume. evidente que esse direito somente pode impor algumas obrigaes s Naes que lhe adotaram os princpios por longo uso. um direito particular, assim como o direito convencional. Um e outro recebem toda a sua fora do direito natural, o qual prescreve s Naes o cumprimento dos compromissos expressos ou tcitos. Esse mesmo direito natural deve reger a conduta dos Estados em relao aos tratados que concluem, aos costumes que adotam. Devo limitar-me a dar os princpios gerais e as regras que a lei natural fornece para a direo dos soberanos a esse respeito: o pormenor dos diferentes tratados e dos diversos costumes dos povos pertence histria e no a um tratado sistemtico do direito das gentes.

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Semelhante tratado deve consistir principalmente, como j observamos, numa aplicao judiciosa e racional dos princpios da lei natural aos negcios e conduta das Naes e dos soberanos. O estudo do direito das gentes pressupe, assim, conhecimento prvio do direito das gentes ordinrio. Presumo, com efeito, ao menos at certo ponto, esse conhecimento nos meus leitores. Entretanto, como ningum aprecia buscar alhures provas do que um autor afirma, tomei o cuidado de estabelecer em poucas palavras os mais importantes desses princpios do direito natural, cuja aplicao devia ser feita s Naes. Mas no pensei que para demonstr-los teria sido sempre necessrio remont-los aos primeiros fundamentos e limitei-me algumas vezes a apoi-los sobre verdades comuns, reconhecidas por todo leitor de boa f, sem conduzir a anlise mais longe. Basta persuadir-me, para esse efeito, de nada adiantar como princpio o que no seja facilmente admitido por toda pessoa razovel. O direito das gentes a lei dos soberanos. principalmente para eles e para os seus ministros que se deve escrev-lo. Ele interessa verdadeiramente a todos os homens e o estudo de seus princpios convm, em pas livre, a todos os cidados; mas importaria pouco ensin-lo apenas aos particulares, que no so chamados aos conselhos das Naes e que no lhes determinam os procedimentos. Se os dirigentes dos povos, se todos aqueles empregados nos negcios pblicos, se dignarem a fazer estudo srio de uma cincia que deveria ser a sua lei e a sua bssola, quantos frutos no se poderia esperar de um bom tratado do direito das gentes! Verificam-se todos os dias aqueles oriundos de um bom corpo de leis, na sociedade civil: o direito das gentes est tanto acima do direito civilem sua importncia, quanto os procedimentos das Naes e dos soberanos ultrapassam, em suas conseqncias, os dos particulares. Entretanto uma funesta experincia no prova seno quando em demasia quo poucos so aqueles que, testa dos negcios, se preocupam com o direito de que esperam receber alguma vantagem. Contente em aplicar uma poltica freqentemente falsa, porque freqentemente injusta,

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a maioria acredita ter feito o suficiente quando bem o estudou. Entretanto, muito em relao aos pode-se dizer dos Estados o que se reconheceu particulares: no h poltica melhor e mais segura seno a que for baseada na virtude. Ccero, to grande mestre na conduta do Estado como na eloqncia e na filosofia, no se limitou a rejeitar o princpio vulgar segundo o qual "no se pode governar de forma feliz a repblica sem cometer injustias"; ele vai sustentar o contrrio, como uma verdade constante, e sustenta que "no se pode administrar salutarmente os negcios pblicos a no ser que se pratique a mais exata justiat'", A Providncia d ao mundo, de tempos em tempos, reis e ministros imbudos dessa grande verdade. No percamos a esperana de que o nmero desses sbios dirigentes das Naes se multiplicar algum dia e que cada qual de ns trabalhe, em sua esfera, nessa expectativa, para avanar na direo desses tempos to felizes. principalmente com o propsito de permitir que este livro seja usufrudo por aqueles aos quais importa seja lido e considerado, que algumas vezes acrescentei exemplos aos princpios; e fui confirmado em meu propsito pela aprovao de um desses ministros, amigos esclarecidos do gnero humano, que deveriam ser os nicos a entrar no conselho dos reis. Sem jamais procurar fazer alarde de erudio, quis apenas entreter de quando em vez o meu leitor, ou tomar a doutrina mais sensvel com exemplos; fazer ver algumas vezes que a prtica das Naes est de acordo com os princpios e, nas ocasies oportunas, propus-me sobretudo inspirar o amor virtude, mostrando-a to bela, to digna de nossas homenagens em alguns homens verdadeiramente grandes, e mesmo to solidamente til em algum trao marcante da histria. Tomei a maior parte dos meus exemplos na histria moderna, como mais interessantes, e para no repetir os referidos por Grcio, Pufendorf, e seus comentadores.

Nihi/ est quod adbuc de republica putem dictum, et quo possim longius progredi, nisi sit confirmatum, nom modo jalsum esse istud sine nonposse, sedhoc verissimum, sinesumma justitia remplublicam regi nonposse. Cicer., Fragment. Ex lib. de Republica.
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De resto, nesses exemplos, e nas minhas consideraes, cuidei de no ofender ningum, propus-me manter religiosamente o respeito devido s Naes e s potncias soberanas. Mas impus-me uma lei ainda mais inviolvel: a de respeitar a verdade e o interesse do gnero humano. Se vergonhosos louvadores do despotismo se insurgem contra os meus princpios, terei a meu lado os homens virtuosos, as pessoas generosas, os amigos das leis, os verdadeiros cidados. Tomaria o partido do silncio se no pudesse seguir, em meus escritos, as luzes de minha conscincia. Mas nada segura a minha pena e no sou capaz de prostitu-la com a lisonja. Nasci num pas cuja liberdade a alma, o tesouro, e a lei fundamental; posso ser ainda, por meu nascimento, o amigo de todas as Naes. Essas circunstncias felizes encorajaram-me a tentar ser til aos homens com este livro. Sentia a fraqueza de minhas luzes e de meus talentos; vi que iria iniciar uma tarefa penosa; mas ficarei satisfeito se leitores respeitveis reconhecerem em meu trabalho o homem honesto e o cidado.

Idia eprincpios gerais do direito das gentes

1: o NAO OU UM ESTADO: As Naes ou Estados so corpos polticos, sociedades de homens unidos em conjunto e de foras solidrias, com o objetivo de alcanar segurana e vantagem comuns. 2: A PESSOA JURDICA: Semelhante sociedade tem suas prprias atividades e interesses; ela delibera e toma decises em comum e com isso se torna uma pessoa jurdica que tem entendimento e vontade prprios, e que capaz de obrigaes e de direitos. 3: DEFINIO DO DIREITO DAS GENTES: O objetivo desta obra estabelecer solidamente as obrigaes e os direitos das Naes. O direito gentes a cincia do que tem Naes Estados, assim como das obrigaes correspondentes a esse direito. Ser visto neste tratado de que maneira os Estados, como tais, devem regular as suas atividades. Avaliaremos as obrigaes de um povo para consigo mesmo e para com os demais, e, desse modo, consideraremos os direitos resultantes dessas obrigaes. Pois no sendo o direito seno a faculdade de fazer o que moralmente possvel, ou seja, o que bom em si, o que conforme ao dever, evidente que o direito nasce do dever, ou da obrigao passiva, da obrigao de agir desta ou daquela maneira. pois necessrio que uma Nao conhea as suas obrigaes, no somente para evitar transgredir os seus deveres, mas tambm para conhecer com preciso os seus direitos, ou aquilo que possa legitimamente dos outros exigir.

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4: COMO SE CONSIDERAM AS OU ESTADOS: Desde que as Naes so compostas de homens, que por natureza so livres e independentes, e que antes do estabelecimento das sociedades civis viviam juntos no estado de natureza, as Naes ou Estados soberanos devem ser considerados tambm como pessoas livres que vivem juntas em estado de natureza. Prova-se em direito natural que todos os homens recebem da natureza uma liberdade e uma independncia que no podem perder seno por consentimento deles prprios. Desse direito os cidados no usufruem plena e absolutamente no Estado porque eles o submeteram em parte ao soberano; mas o corpo da Nao, o Estado, desde que no esteja voluntariamente submetido a outras Naes, permanece absolutamente livre e independente em relao a todos os demais homens e Naes estrangeiras. SUBMETIDAS: Como os homens esto submetidos s leis da natureza, e a unio deles em sociedade civil no pode eximi-los da obrigao de observar essas leis, porquanto nesta unio eles permanecem homens, a Nao inteira, cuja vontade comum no seno o resultado das vontades reunidas dos cidados, permanece submetida s leis da natureza, obrigada a respeit-las em todos os seus atos. E desde que o direito nasce da obrigao, como havamos visto (3), a Nao tem tambm os mesmos direitos que a natureza d aos homens para desobrigarem-se de seus deveres. 6: A ORIGEM DO DIREITO DAS GENTES: , preciso, pois, aplicar s Naes as regras do direito natural, para descobrir quais so os direitos e obrigaes que lhes dizem respeito. Portanto, o direito das gentes no originariamente seno o direito da natureza aplicado s Naes. Mas como a aplicao de uma regra no pode ser justa e razovel se no se fizer de maneira adequada, no se deve acreditar que o direito das gentes seja precisamente em todos os lugares o mesmo que o direito natural, de modo que bastaria substituir Naes aos particulares.
SO: A QUE LEIS AS

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Uma sociedade civil, um Estado, difere bastante do ser humano: donde resulta, em virtude das prprias leis naturais serem direitos e obrigaes muito diferentes em diversos casos; a mesma regra geral, quando aplicada em dois casos diferentes, pode no resultar em decises similares; nem uma regra particular muito justa para um caso aplicvel a outro caso de natureza diferente. H, pois, casos em que a lei natural no regula as relaes entre os Estados, como ela o faria em casos individuais. preciso saber como aplic-la, com uma adequao ajustada aos sujeitos; e a arte de aplic-la assim, com uma preciso baseada na reta razo, que faz do direito das gentes uma cincia particular. Usamos o termo 7:Dm'lN](;O DO DIREITO DAS GENTES direito dasgentes necessrio para aquele direito das gentes que consiste na aplicao do direito natural s Naes. Ele necessrio porque as Naes so absolutamente obrigadas a respeit-lo. Esse direito contm os preceitos que a lei natural confere aos Estados, os quais no esto menos obrigados a ela que os particulares, porque os Estados so compostos de homens e as deliberaes so tomadas por homens e porque a lei da natureza obriga todos os homens a terem capacidade para agir. esse mesmo direito que Grcio e seus seguidores chamam de direito das gentes interno, medida que obriga as Naes em conscincia. Muitos escritores o designam tambm de direito das gentes natural. Sendo assim, o direito das gentes necessrio consiste em aplicar o direito natural aos Estados, e desde que o direito natural imutvel por estar baseado na natureza das causas e particularmente na natureza do homem, conclui-se que o direito das gentes necessrio imutvel. NO PODEM ODIREITO 9: N NEM EXJMIR DA LI IES Desde que esse direito imutvel e as obrigaes que ele impe so necessrias e indispensveis,
SO:

as Naes no podem alter-lo por acordo, nem dele se eximir por elas prprias ou por via de reciprocidade. Eis aqui o princpio pelo qual pode-se distinguir os tratados ou convenes legtimos daqueles que o no so, e os costumes inocentes e razoveis daqueles que so injustos ou passveis de condenao. Existem cousas justas e permitidas pelo direito das gentes necessrio, que as Naes podem convencionar mutuamente ou que podem consagrar e fortificar pelos usos e costumes. Existem cousas indiferentes sobre as quais os povos podem entender-se como quiserem, por meio de tratados ou pela introduo de costumes ou usos que considerem adequados. Mas todos os tratados e costumes contrrios aos prescritos pelo direito das gentes necessrio so ilegtimos. Veremos, no entanto, que eles nem sempre esto de acordo com o direito interno, ou de conscincia, e mesmo assim, por razes dadas em seu prprio lugar, tais convenes e tratados no deixam de ser freqentemente vlidos de acordo com o direito externo. Sendo as Naes livres e independentes, so elas obrigadas a se conformar com as aes de uma delas, embora ilegtimas e condenveis segundo as leis da conscincia, desde que estas aes no infrinjam direitos perfeitos das mesmas. A liberdade dessa Nao no permaneceria completa se as demais Naes se arrogassem o direito de inspecionar-lhe a conduta: o que seria contrrio lei natural, que declara toda Nao livre e independente das demais.
100: HOMENS: ESTABELECIDA PELA NATUREZA ENTRI: TODOS OS

O homem de tal natureza que no pode bastar-se a si prprio e tem necessidade do socorro e do convvio de seus semelhantes, seja para preservar-se, seja para aperfeioar-se e viver como convm a um animal racional. A experincia mostra isto suficientemente. H exemplos de homens nutridos entre ursos, os quais no tinham nem a linguagem nem o uso da razo, e limitados como bestas ao uso de faculdades sensitivas. Observamos tambm que a natureza recusou aos homens a fora e as

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armas naturais com as quais ela beneficiou outros animais, mas os deu as vantagens da palavra e da razo, ou pelo menos, a faculdade de adquiri-las ao interagir com outros homens. A linguagem lhes permite comunicarem-se entre si, ajudarem-se mutuamente, aperfeioarem a razo e os conhecimentos; e tornados assim inteligentes, os homens encontram mil maneiras de se conservar e de dar provimento s suas necessidades. Cada homem conclui que no poderia viver feliz ou melhorar a sua condio sem a ajuda e o convvio dos demais. E desde que a natureza assim os fez, indcio manifesto que ela os destina a conviverem juntos, a se auxiliarem e se socorrerem mutuamente. Eis de onde se deduz a sociedade natural estabelecida entre todos os homens. A lei geral dessa sociedade que cada qual faa para os outros tudo o de que necessitem, e que possa faz-lo sem negligenciar o que deve a si mesmo: lei que todos os homens devem observar, para viverem convenientemente com a sua natureza e para se conformarem com os desgnios de seu creador comum; lei que nossa prpria salvao, nossa felicidade, nossas vantagens mais preciosas devem tornar sagrada para cada um de ns. Tal a obrigao geralque nos prende ao cumprimento de nossos deveres;tratemos de cumpri-los com zelo, se quisermos trabalhar para o nosso bem maior. fcil sentir quanto o mundo seria feliz se todos os homens quisessem observar a regra que acabamos de estabelecer. Ao contrrio, se cada homem no quiser pensar seno nica e imediatamente em si prprio, se nada fizer para os demais, todos em conjunto seriam muito infelizes. Trabalhemos, pois, para a felicidade de todos; todos trabalharo para a nossa, e estabeleceremos nossa felicidade sobre os mais slidos fundamentos. 11: E AS Desde que a sociedade universal do gnero humano uma instituio da prpria natureza, isto , uma conseqncia necessria da natureza do homem, todos os homens em qualquer condio so obrigados a dedicar-se a essa sociedade e a cumprir-lhe os deveres. Nenhuma conveno ou acordo particular

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podem dispens-los desses deveres. Quando, pois, os homens se unem em sociedade civil para formar determinado Estado ou Nao, eles podem assumir compromissos particulares com aqueles a que se associem; mas suas obrigaes para com o resto do gnero humano permanecem imutveis. Toda a diferena consiste em que tendo acordado agirem em comum, e tendo transferido seus direitos e submetido a sua vontade ao corpo da sociedade em tudo o que interesse ao bem comum, compete doravante a esse corpo, ao Estado e a seus dirigentes cumprirem os deveres de humanidade para com os estrangeiros, em tudo quanto no mais dependa da liberdade dos particulares, e cabe ao Estado em especial cumprir esses deveres para com outros Estados. Vimos (SO) que os homens, quando unidos em sociedade, permanecem submetidos s obrigaes que a natureza humana lhes impe. Esta sociedade pode ser vista como uma pessoa jurdica, porque ela tem um entendimento, uma vontade e um poder que lhe so prprios. Ela pois obrigada a viver com outras sociedades ou Estados, como um homem era obrigado, antes do estabelecimento do Estado, a viver com os demais homens, isto , em conformidade com as leis da sociedade natural estabelecida para o gnero humano, observadas as excees que possam nascer da diferena de matrias. 12: O l'IM DA SOCIEDADE O fim da sociedade natural estabelecida entre todos os homens o de que se prestem assistncia mtua para alcanar a prpria perfeio e a do seu estado; e as Naes, tanto quanto pessoas livres vivendo juntas em um estado natural, so obrigadas a cultivar entre si essa sociedade humana. O fim da grande sociedade estabelecida pela natureza entre todas as Naes tambm o de uma assistncia mtua para que elas prprias se aperfeioem.

13: A GERAL QUE ESSA SOCIEDADE I MP()l ,: A primeira lei geral, que o fim mesmo da sociedade das Naes nos revela que cada Nao dever contribuir, tanto quanto puder, para a felicidade e o aperfeioamento de outras Naes.

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14: EXPLICAAo DESTA OBRIGAAo: Desde que os deveres de uma Nao para consigo mesma incontestavelmente prevalecem sobre os deveres para com terceiros, uma Nao deve a si mesma, em primeiro lugar e preferencialmente, fazer tudo o que puder para sua prpria felicidade e perfeio. (Digo o que ela pode, no apenas fisicamente, mas tambm moralmente, ou seja, o que ela pode fazer legitimamente, com justia e honestidade). Quando, pois, ela no pode contribuir para o bem de outra sem prejudicar essencialmente a si prpria, a sua obrigao cessa neste caso particular, e a Nao considerada na impossibilidade de cumprir essa obrigao. 15: LIBERDADE INDEPENDNCIA DAS NAES: SEGUNDA LEI GERAL: Desde que as Naes so livres e independentes umas das outras, como os homens o so por natureza, a segunda lei geral das sociedades das Naes que cada Nao deve serdeixada nogozo pacfico da liberdade que ela da A sociedade natural das Naes no pode subsistir sem que os direitos que pertencem a cada qual sejam respeitados. Nenhuma Nao quer renunciar sua liberdade; ela ir mesmo romper toda relao com aquela que tentar cerce-la nesse direito. 16: DESSA LIBERDADE: Em conseqncia dessa liberdade e independncia, conclui-se que cabe a cada Nao decidir o que a conscincia dela exige, o que ela pode ou no, o que ela acha melhor fazer ou no fazer; e por conseguinte examinar e decidir que obrigaes ela pode cumprir para com outras sem faltarao dever para consigo mesma. Em todos os casos, cabe a uma Nao julgara extenso de suas obrigaes, nenhuma outra Nao pode for-la a agir de um jeito ou de outro. Pois se ela o fizesse, atentaria contra a liberdade das Naes. No devemos usar da fora contra uma pessoa livre, exceto em casos em que esta pessoa esteja obrigada para conosco num caso particular, por uma razo particular, que no depende de seu julgamento; a no ser em uma palavra, nos casos em que tivermos um direito perfeito contra ela.

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17: DISTINES DA OBRIGAAO E DO DIREITO INTERNO E EXTERNO, PERFEITO E IMPERFEITO: Para bem entender isso necessrio notar que a obrigao corresponde a determinado direito. A obrigao e o direito distinguem-se em interno e externo. A obrigao interna enquanto vincula a conscincia, deduzida de regras de nosso dever; ela externa quando considerada em relao a outros homens e produza certos direitos entre eles. A obrigao interna sempre da mesma natureza, apesar de variar em graus; a obrigao externa, no entanto, dividida entre perfeita e imperfeita e o direito que ela produz igualmente e O direito aquele que carrega consigo o direito de compelir os que no queiram cumprir as obrigaes que lhes correspondem; e o direito aquele que no acompanhado desse direito de coero. A obrigao a que produz o direito de coero; a confere a outrem apenas o direito de petio. Agora ficar finalmente compreensvel por que o direito sempre imperfeito quando a obrigao correspondente depende do julgamento daquele que detm essa obrigao. Porque se, neste caso, tivssemos o direito de constrang-lo, no mais dependeria dele decidir o que lhe incumbiria fazer para obedecer s leis de sua conscincia. Nossa obrigao para com os outros sempre imperfeita quando nos cabe o julgamento sobre o que devemos fazer; e esse julgamento nos compete em todas as ocasies em que devemos ser livres. 18: IGUAlDADE DAS Desde que os homens so iguais por natureza, e suas obrigaes e direitos so os mesmos, como provenientes igualmente da natureza, as Naes compostas de homens, consideradas como pessoas livres que vivem juntas num estado natural, so por natureza iguais e recebem da natureza as mesmas obrigaes e os mesmos direitos. O poder ou a fraqueza no acarretam a esse respeito nenhuma diferena. Um ano to homem quanto um gigante: uma repblica pequena no menos um Estado soberano do que o mais poderoso dos reinos.

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19: CONSEQNCIA DESSA IGUALDADE: Como decorrncia dessa igualdade, o que se permite a uma Nao se permite tambm s demais e o que no se permite a uma tambm no se permite s demais. 20: CADA DONA SUAS COM RESERVAS: Uma Nao , no entanto, livre para agir como lhe convenha, desde que seus atos no atinjam os direitos perfeitos de outra Nao e desde que ela se vincula somente a uma obrigao interna, sem nenhuma obrigao_externa perfeita. Se a Nao abusar de sua liberdade, ela age erradamente; mas as demais Naes devem disso ressentir-se, sem terem direito de exercer comando sobre ela. 21: FUNDAMENTO DO DIREITO DAS GENTES VOLUNTRIO: Desde que as Naes so livres, independentes e iguais, e desde que cada qual tem o direito de decidir em sua prpria conscincia o que deve fazer para cumprir as suas obrigaes, o efeito disto produzir, pelo menos exteriormente e entre os homens, uma igualdade perfeita de direitos entre as Naes na administrao de seus negcios e na busca de suas pretenses. A justia intrnseca da conduta delas, no compete s demais julgar definitivamente; destarte, o que se permite a uma, a outra tambm permitido, e elas devem ser consideradas na sociedade humana como tendo direitos iguais. Cada Nao pretende ter a justia de seu lado nas controvrsias que possam surgir; e no compete a nenhuma das partes interessadas, nem s demais Naes, julgar a questo. Aquela que estiver errada peca contra a sua conscincia; mas como pode ocorrer que ela tenha direito no se pode acus-la de violar as leis da sociedade. pois necessrio, em muitas ocasies, que as Naes padeam de certos fatos, conquanto injustos e condenveis em si prprios, porque elas no poderiam a eles opor-se pela fora sem transgredir a liberdade de cada uma delas e sem destruir os fundamentos da sociedade natural de todas. E desde que elas sejam obrigadas a cultivar esta sociedade, presume-se de direito que todas as Naes concordaram

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com o princpio que acabamos de estabelecer. As regras que da decorrem formam o que Wolff denomina de direito dasgentes voluntrio; e nada impede que usemos do mesmo termo, ainda que nos afastemos desse homem qualificado, na maneira de estabelecer o fundamento desse direito. 22: DIREITO DAS NAES CONTRA OS INFRATORES DO DIREITO DAS GENTES: As leis da sociedade natural so de tal importncia para a salvao de todos os Estados que se fossem aniquiladas, nenhum povo poderia vangloriar-se de permanecer tranqilo, mesmo que medidas de sabedoria, de justia e de moderao pudessem ser tomadas. Ora, todos os homens e todos os Estados tm um direito perfeito s cousas sem as quais no poderiam sobreviver porque esse direito corresponde a uma obrigao indeclinvel. Logo, todas as Naes esto no direito de reprimir pela fora aquela que viole abertamente as leis da sociedade que a natureza entre elas estabeleceu, ou que ataque diretamente o bem e a sobrevivncia dessa sociedade. 23: DESSE DIREITO: Porm, preciso tomar o cuidado de no estender esse direito em prejuzo da liberdade das Naes. Todas so livres e independentes, mas obrigadas a observar as leis da sociedade que a natureza estabeleceu entre elas, e so de tal modo obrigadas que se uma Nao viola essas leis as demais tm o direito de reprimir a Nao transgressora: todas em conjunto no tm" pois, nenhum direito sobre a conduta de cada qual a no ser que haja interesse da sociedade natural. O direito geral e comum das Naes sobre o comportamento de cada Estado soberano deve ser mensurado segundo a finalidade da sociedade que entre elas exista. 24: DIREITO DAS GENTES CONVENCIONAL OU DIREITO DOS TRATADOS: OS diversos compromissos que as Naes podem assumir produzem uma nova espcie de direito das gentes que se chama comenaonal, ou dos tratados. Pelo fato de ser evidente que um tratado no obriga seno as partes

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contratantes, o gentes no um direito universal, mas um direito particular. O que se pode fazer sobre essa matria num tratado do direito das gentes dar as regras gerais que as Naes devem observar com relao aos seus tratados. Pormenor sobre os diferentes acordos celebrados por determinadas Naes assim como direitos e obrigaes que deles resultem so matria de fato e pertencentes histria. 25: DIREITO DAS GENTES COSTUMEIRO: Certos princpios, certas prticas, consagrados por uso prolongado e que as Naes observam entre si como uma espcie de direito constituem o direito das gentes costumeiro ou o costume das Naes. Esse direito se fundamenta no consentimento tcito ou, se se preferir, numa conveno tcita das Naes que o observam entre si. Portanto, parece que esse direito obriga apenas as Naes que o adotaram e que no universal, no mais que o convencional. Desse direito costumeiro preciso ainda dizer que o pormenor no pertence a um tratado sistemtico do direito das gentes, mas que devemos nos limitar a dar-lhe uma teoria geral, isto , as regras a serem observadas tanto em relao aos efeitos quanto em relao matria mesma; e sob esse aspecto, essas regras serviro a distinguir os costumes legtimos e incuos dos costumes injustos e ilicitos. 26: GERAL SOBRE ESSE DIREITO: Quando um costume, um uso, geralmente estabelecido, seja entre todas as Naes civilizadas do mundo, seja apenas entre as de determinado continente, da Europa por exemplo, ou aquelas que tm em conjunto um comrcio mais freqente; se esse costume indiferente em si mesmo e com mais razo, se for til e razovel, ele se torna obrigatrio para todas essas Naes, que so consideradas ter-lhe dado consentimento; e elas so obrigadas a respeit-lo nas relaes recprocas, pelo menos enquanto no tiverem declarado expressamente desejar no cumpri-lo. Mas se esse costume encerra algo de injusto ou ilicito, ele desprovido de fora; nesse caso, toda Nao obrigada a abandon-lo, nada podendo obrig-la a violar a lei natural ou permitir-lhe que a viole.

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27: DIREITO DAS GENTES POSITIVO: Essas trs espcies de direito das gentes, uoluntrio, convencional e costumeiro, compem em conjunto o direito das gentes positivo pois todas essas modalidades procedem da vontade das Naes; o direito voluntrio, de consentimento presumido; o direito convencional, de consentimento expresso; e o direito costumeiro, de consentimento tcito. Como no pode haver outra maneira de deduzir algum direito da vontade das Naes, no h seno trs espcies de direito das gentes positivo. Teremos cuidado de distingui-los cuidadosamente do direito das gentes naturalou necessrio, sem no entanto trat-los isoladamente. Mas aps ter estabelecido em cada matria o que o direito necessrio prescreve, acrescentaremos imediatamente como e porque preciso modificar-lhe as decises pelo direito uoluntriox: em outros termos, explicaremos como, em virtude da liberdade das Naes e das regras da sociedade natural delas, o direito externo, que deve ser observado entre elas, difere em parte dos princpios do direito interno, sempre obrigatrios porm na conscincia. Quanto aos direitos introduzidos por tratados ou costume, no se deve temer sejam eles confundidos com o direito das gentes natural. Eles formam essa espcie de direito das gentes que os autores chamam arbitrrio. 28: PRINCPIO GERAL SOBRE O USO DO DIREITO NECESSRIO E DO DIREITO VOLUNTRIO: Para dar, desde agora, esclarecimento geral sobre a distino entre direito necessrio e direito voluntrio, observemos que o direito necessrio, sendo sempre obrigatrio na conscincia, uma Nao no deve jamais perd-lo de vista, quando deliberar sobre deciso a tomar em consonncia com seu dever; mas quando examinar o que voluntn"o ela pode exigir dos demais Estados, ela deve consultar o cujos princpios so consagrados preservao e convenincia da sociedade universal.

emsimesma

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Das naes ou Estados soberanos

1: Do ESTADO E DA SOBERANIA: A Nao ou o Estado, como j dissemos na introduo, um organismo poltico, ou uma sociedade de homens unidos em conjunto, com foras solidrias, para o fim de buscar vantagem e segurana prprias. Pelo fato de que esses homens formam uma sociedade que tem interesses comuns e deve agir em harmonia, necessrio que ela constitua uma autoridade pblica que determine e oriente o que cada qual deve fazer em relao ao fim dessa associao. Essa autoridade pblica a soberania, e aquele ou aqueles que a possuem so o soberano. 2: DIREITO DO ORGANISMO SOBRE OS MEMBROS: Concebe-se que, por ato de associao civil ou poltica, cada cidado se submete autoridade de todo o organismo, em tudo o que possa interessar ao bem comum. O direito de todos sobre cada membro pertence, desse modo, essencialmente ao organismo poltico ou Estado; mas o exerccio desse direito pode ser confiado a diferentes mos, de acordo com o que a sociedade prescrever. 3: DIVERSAS ESPCIES DE GOVERNOS: Se o organismo da Nao retiver em si mesmo o imprio, ou o direito de comandar, trata-se de um governo popular, uma democracia; se ele o entregar a um certo nmero de cidados, a um Senado, ele estabelece uma repblica aristocrtica; enfim; se ele confia o imprio a uma s pessoa, o Estado se torna uma monarquia.

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Esses trs tipos de governo podem ser diversamente combinados e modificados. No entramos aqui em pormenores, pois este o objeto do direito pblico universal. Basta para o fim deste trabalho, estabelecer os princpios gerais, necessrios para a deciso das questes que possam surgir entre as Naes. 4: QUAIS SO OS ESTADOS SOBERANOS: Toda Nao que se governa por si mesma, sob qualquer forma que seja, sem dependncia de nenhum estrangeiro, um Estado soberano. Os seus direitos so naturalmente os mesmos dos demais Estados. Tais so as pessoas jurdicas que vivem em conjunto em uma sociedade natural submetida s normas do direito das gentes. Para que uma Nao tenha o direito de participar imediatamente nessa grande sociedade, suficiente que ela seja verdadeiramente soberana e independente, ou seja, que se governe por si mesma, pela sua prpria autoridade e por suas leis.
SO: ESTADOS VINCULADOS POR ALIANAS DESIGUAIS: Deve-se pois

contar no nmero dos soberanos esses Estados que so vinculados a outro mais poderoso por uma aliana desigual, na qual, como disse Aristteles, ao Estado poderoso dada mais honra e ao Estado mais fraco mais ajuda. As condies dessas alianas desiguais podem variar ao infinito. Mas quaisquer que sejam essas condies, desde que o aliado inferior preserve a sua soberania, ou o direito de se governar por si mesmo, ele deve ser tido como um Estado independente, que comercia com os demais sob a autoridade do direito das gentes. 6: Ou POR TRATADOS DE PROTEAo: Por conseguinte, um Estado fraco que, para a sua segurana, pe-se a si prprio sob a proteo de um mais poderoso, e se compromete, em reconhecimento, a muitos deveres correspondentes a essa proteo, sem contudo despojar-se de

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seu prprio governo e de sua soberania, esse Estado, digo, no cessa por isso de fazer parte dos Estados soberanos, que no reconhecem outra lei seno o direito das gentes. no 7: ESTADOS TRIBUTRIOS: A posio de Estados apresenta maior dificuldade. Com efeito, se bem que o pagamento de tributo para um poder estrangeiro subtraia algo da dignidade de um Estado e constitua uma confisso de fraqueza, esse pagamento deixa a soberania do Estado completamente intacta. O pagamento de tributo era outrora prtica muito freqente; com isso os Estados mais fracos resgatavam os vexames do mais forte ou pagavam com esse preo a sua proteo, sem deixarem de permanecer soberanos. 8: ESTADOS FEUDATRIOS: As naes germnicas introduziram outro uso, o de exigir homenagem de um Estado vencido, ou demasiado fraco para resistir. Algumas vezes mesmo, uma potncia deu soberanias como garantia, e soberanos tomaram-se voluntariamente feudatrios de outro. Quando a homenagem, deixando subsistir a independncia e a autoridade soberana na administrao do Estado, importa somente em certos deveres para com o senhor do feudo, ou mesmo um simples reconhecimento honorfico, essa homenagem no impede que o Estado ou o prncipe feudatrio seja verdadeiramente soberano. O rei de Npoles presta homenagem de seu reino ao Papa; ele no nem por isso excludo entre os principados soberanos da Europa. 9: DOIS ESTAnos SUBMETIDOS AO MESMO PRNCIPE: Dois Estados soberanos podem tambm estar submetidos ao mesmo prncipe, sem um ser dependente do outro; e cada qual retm todos os direitos de uma Nao livre e soberana. O rei da Prssia o prncipe soberano de Neucbate] na Sua, sem nenhuma reunio desse principado com outros de seus Estados; mesmo assim os cidados de Neuchatel, em virtude

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de suas franquias, poderiam servir a uma potncia estrangeira em guerra com o rei da Prssia, contanto que a guerra no fosse feita para a causa do principado deles. 100: ESTADOS INTEGRANTES DE UMA REP(:BLICA FEDERATIVA: Enfim, muitos Estados soberanos e independentes podem unir-se numa confederao perptua. Nesse caso cada um desses Estados no deixar de ser um Estado perfeito. Eles formaro em conjunto uma repblica federativa: as deliberaes comuns no atentaro contra a soberania de cada membro, ainda que essas deliberaes possam limitar sob determinados aspectos o exerccio dessa soberania em virtude de compromissos voluntrios. Uma pessoa no deixa de ser livre e independente quando for obrigada a obedecer os compromissos que ela decidiu assumir. Com esse carter, foram formadas as cidades da Grcia e tais so hoje tanto as Provncias Unidas dos Pases Baixos como os membros da Confederao Helvtica. 11: SOBRE UM ESTADO QUE SE SUBMETEU AO DOMNIO DE OUTRO: Mas um povo que se submeteu ao domnio de um outro no mais um Estado, e no pode mais submeter-se diretamente ao direito das gentes. Tais foram os povos e reinos que os romanos submeteram a seu imprio. Muitos daqueles que eles honraram com nome de amigos e aliados no mais constituam verdadeiros Estados. Eles se governavam, no mbito interno, por suas prprias leis e por seus magistrados; mas no mbito externo eles estavam obrigados a seguir inteiramente as ordens de Roma e eles prprios no ousavam fazer nem guerra nem aliana. Eles no podiam fazer acordos com outras Naes. 12: OBJETO DESTE TRATADO: O direito das gentes a lei dos soberanos: Estados livres e independentes so pessoas jurdicas cujos direitos e obrigaes devemos estabelecer neste Tratado.

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II

Princpios gerais dos deveres de uma Nao para consigo mesma

DEVE AGIR EM COM ASUA NATUREZA: OS direitos de uma Nao nascem de suas obrigaes (3), principalmente daquelas de que ela mesma constitui o objeto. Veremos, assim, que os deveres de uma Nao para com as demais dependem muito de seus deveres para consigo mesma. Tendo pois de tratar das obrigaes e dos direitos da Nao, devemos comear por estabelecer o que cada Nao deve a si prpria. A regra geral e fundamental dos deveres acerca de si mesma a de que cada ser moral deve agir de acordo com sua natureza, naturae convenienter vivere. Uma Nao um ser determinado por seus atributos essenciais, com uma natureza prpria e que pode agir convenientemente com essa natureza. Existem pois certos atos de uma Nao que lhe dizem respeito em sua qualidade de Nao e que so convenientes ou conflitantes, de modo que no indiferente que esta Nao realize algumas dessas aes e que omita outras. A lei natural lhe prescreve certas obrigaes a esse respeito. Neste primeiro livro, veremos como uma Nao deve agir para no se faltar a si prpria. preciso primeiramente esboar uma idia geral dessa conduta. UMA No existem 14: DA CONSERVAO DA deveres para quem no mais existe e um ser moral no investido de obrigaes para consigo mesmo, a no ser com vistas sua perfeio e sua felicidade. Conservar-se e apefeioar-se, eis a soma de todos os deveres para consIgo mesmo. A conservao de uma Nao consiste na durao da associao poltica que a forma. Se esta associao chegar ao fim, a Nao ou o Estado no existem mais, mesmo que os indivduos que compem essa Nao ou esse Estado ainda existam.

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A de uma N ao reside naquilo que a torna capaz de obter o fim da sociedade civil; e o Estado de uma Nao quando no lhe faltar nada de tudo que lhe necessrio para chegar a esse fim. Sabemos que a perfeio de uma cousa consiste em geral no perfeito acordo de tudo o que constitui esta mesma cousa para tender ao mesmo fim. Desde que uma Nao uma multido de homens unidos conjuntamente em sociedade civil, e se nessa multido tudo concorre para obter o fim a que se propuseram para formar uma sociedade civil, a Nao perfeita, e ela o ser mais ou menos, segundo ela se aproximar mais ou menos desse perfeito acordo. Assim, o seu estado externo ser tambm mais ou menos perfeito na medida em que esse acordo concorra para a perfeio intrnseca da Nao. 15: QUAL o OBJETIVO DA CIVIL: O ou fim da sociedade civil o de propiciar aos cidados todas as cousas adequadas para as necessidades, a comodidade e os prazeres da vida e, em geral, para a felicidade deles; de permitir que cada qual usufrua tranqilamente do que lhe pertena e obtenha justia com segurana; e finalmente, de se defender em conjunto contra toda a violncia externa. Desse modo, fcil formar-se uma idia justa da perfeio de um Estado ou de uma Nao. necessrio que tudo concorra para a obteno do objetivo que acabamos de indicar. 16: UMA NAAo TEM A OBRIGAO CONSERVAR-SE: No ato de associao, em virtude do qual muitos homens formam juntos um Estado ou uma Nao, cada individuo se compromete para com todos a buscar o bem comum, e todos juntos se comprometem para com cada qual a facilitar-lhe os meios de prover as suas necessidades, a proteg-lo e a defend-lo. Est claro que esses acordos recprocos podem somente ser cumpridos por meio da manuteno da associao poltica. Toda Nao est, pois, obrigada a manter essa associao e, desde que em sua permanncia que reside a conservao da Nao, conclui-se que toda Nao tem a obrigao de conservar-se.

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Esta obrigao, natural nos indivduos criados por Deus, no imposta s Naes diretamente pela natureza, mas pelo pacto que forma a sociedade civil. Tambm esta obrigao no absoluta, mas hipottica, ou seja, ela pressupe um pacto humano, a saber, o pacto social. E desde que os pactos podem ser rompidos pelo consentimento comum das partes, se os indivduos que compem uma Nao concordam unanimemente em romper os laos que os unem, ser-lhes-ia permitido faz-lo e destruir assim o Estado ou a Nao. Entretanto eles agiriam erroneamente, sem dvida, se para tanto no tivessem razes srias e justas; pois as sociedades civis so aprovadas pela lei natural, que as recomenda aos homens como o verdadeiro meio de prover as suas necessidades e trabalhar efetivamente para sua prpria perfeio. Mais ainda, a sociedade civil to til, ou mesmo to necessria para todos os cidados, que ns devemos bem considerar moralmente impossvel haver consentimento unnime em romp-la sem necessidade. O que os cidados podem ou devem fazer, o que a maioria deles pode determinar acerca de certos casos de necessidade premente ou urgente, so questes para serem tratadas alhures: no se pode resolv-las solidamente sem termos alguns princpios, at agora no estabelecidos. suficiente no momento ter provado que, em geral, enquanto a sociedade poltica subsistir, toda a Nao est obrigada a trabalhar para mant-la. 17: E DE CONSERVAR OS SEUS MEMBROS: Se uma Nao obrigada a conservar-se a si mesma, ela no est menos obrigada a preservar cuidadosamente a vida de seus membros. Ela se obriga para consigo mesma, porque perder algum de seus membros significa enfraquecer e prejudicar sua prpria conservao. Ela deve tambm a mesma obrigao para com seus membros em particular em conseqncia do prprio ato de associao, pois os que compem uma Nao, o fizeram para a sua defesa mtua e prprio bem-estar, e desde que uma pessoa respeite as condies da associao, ela no pode ser privada dessa unio e dos benefcios que dela decorrem.

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o organismo da Nao no pode, pois, abandonar uma provncia,

uma cidade, nem mesmo um indivduo que dele faa parte, a no ser que a necessidade o obrigue, ou que, por razes ainda mais fortes, decorrentes da salvao pblica, seja ele compelido a tanto por fora legal.

18: UMA NAAO TEM DIREITO AlUDOQUE FOR NECESSRIO PARA ASUA
CONSERvAAO: Desde que uma Nao obrigada a se conservar, ela tem direito a tudo o que for necessrio para esse propsito. Pois a lei natural nos d direito a todas aquelas coisas sem as quais ns no poderamos satisfazer nossa obrigao. Se assim no fosse, essa lei nos obrigaria ao impossvel, ou ento ela seria contraditria consigo mesma, ao nos prescrever uma obrigao e nos proibir ao mesmo tempo os nicos meios de cumpri-la. De resto, compreende-se bem, sem dvida, que esses meios no devem ser injustos por si mesmos, os quais so proscritos absolutamente pela lei natural. Como impossvel que essa lei consinta nesses meios, se porventura em alguma ocasio particular outras leis no surjam para satisfazer uma obrigao geral, a obrigao deve ser tida, nesse caso particular, por impossvel e conseqentemente nula.

19: ELA DEVE EVITAR lUDO O QUE PODERIA CAUSAR ASUA DESTRUIAO:
Em conseqncia bem evidente do que acaba de ser dito, uma Nao deve evitar, com cuidado e tanto que lhe for possvel, tudo o que poderia causar a sua destruio, ou a do Estado, o que vem a ser a mesma cousa.

20: Do DIREITO DA NAAo AlUDO QUE POSSA SERVIR A ESSE FIM: A

Nao ou o Estado tm direito a tudo o que lhes possa servir para evitar perigo iminente e para manter afastadas cousas capazes de causar-lhes a runa, e isso pelas mesmas razes que estabelecem o direito deles s cousas necessrias conservao dos mesmos.

21: UMA NAAo DEVE APERFEIOAR-SE E ASEU ESTADO: O segundo

dever geral de uma Nao para consigo mesma trabalhar para a sua perfeio e a do seu Estado. essa dupla perfeio que torna uma

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Nao capaz de atingir o fim da sociedade civil:constituiria um absurdo unir-se em sociedade e no trabalhar para o fim em relao ao qual a unio foi feita. Nesse caso, todo o organismo da Nao e cada cidado em particular esto vinculados a uma dupla obrigao: uma, procedente imediatamente da natureza e outra resultante de acordos recprocos j estabelecidos. A natureza obriga cada homem a trabalhar em busca de sua prpria perfeio e, fazendo assim, ele j trabalha para o bemestar da sociedade civil, que no poderia prosperar se no fosse composta de bons cidados. Mas este homem, que encontra numa sociedade bem ordenada os mais poderosos apoios para cumprir a tarefa que a natureza lhe impe para consigo mesmo de tornar-se melhor e por conseguinte mais feliz, sem dvida obrigado a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para tornar esta sociedade perfeita. Os cidados que formam uma sociedade poltica se comprometem, reciprocamente, a procurar o bem comum e obter, tanto quanto for possvel, vantagem para cada membro. Uma vez que a perfeio da sociedade consiste em assegurar igualmente a felicidade de todos e de cada um de seus membros, trabalhar para essa perfeio o grande propsito dos compromissos e dos deveres de um cidado. sobretudo a tarefa de todo o organismo, em todas as deliberaes comuns, em tudo o que esse organismo faz enquanto tal. 22: EVITAR TUDO O QUE FOR CONTRRIO SUA PERFEIAo: Uma Nao deve, pois, tambm prevenir e evitar cuidadosamente tudo o que possa prejudicar a sua perfeio e a do seu Estado, ou retardar o progresso de uma e de outro. 23: Dos DIREITOS QUE ESSAS OBRIGAES LHE CONFEREM: Concluamos ainda, como fizemos acima no tocante conservao do Estado (18), que uma Nao tem direito a todas as cousas sem as quais ela no pode aperfeioar a si prpria e ao seu Estado, nem prevenir e afastar tudo o que for contrrio a essa dupla perfeio.

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24: EXEMPLOS: Nesse sentido, os ingleses nos fornecem exemplo digno de ateno. Essa ilustre Nao tem se distinguido, brilhan-temente, por sua devoo a tudo o que possa tomar o Estado mais florescente. A sua constituio toma cada cidado habilitado a contribuir para o esse grande fim e difunde em toda parte este esprito de verdadeiro patriotismo, o qual zelosamente mantido para o bem pblico. Simples cidados podem formar empresas considerveis para a glria e bem da Nao. E, enquanto um mau prncipe l teria as mos atadas, um rei sbio e moderado nela encontra os mais poderosos apoios para o xito de seus gloriosos projetos. Os poderosos e os representantes do povo formam um elo de confiana entre o monarca e a Nao e, concorrendo com ele em tudo o que concerne ao bem pblico, aliviam-no em parte do nus do governo, fortalecendo-lhe o poder, ao mesmo tempo que lhe rendem uma obedincia tanto mais perfeita, quanto mais voluntria. Todo bom cidado conclui que o poder do Estado verdadeiramente o bem de todos e no apenas de um s. Constituio feliz! Uma constituio que no foi obtida imediatamente e que custou, verdade, rios de sangue, mas que no foi comprada demasiado cara. Possa o luxo, essa peste fatal s virtudes viris e patriticas, esse medianeiro de corrupo to funesto para a liberdade, nunca destruir um monumento honorvel para a humanidade, monumento capaz de ensinar aos reis quanto glorioso governar um povo livre! H uma outra Nao, ilustre por seu valor e por suas vitrias. Uma nobreza valente e numerosa, vastos e fortes domnios poderiam tom-la respeitvel em toda a Europa, estando em seu poder tomar-se prspera em pouco tempo. Mas a sua constituio a tal se ope; e sua ligao com essa constituio tal que no se ousa esperar venha ela a introduzir-lhe emendas convenientes. Em vo um rei magnnimo, cujas virtudes o pem acima da ambio e da injustia, conceber os mais salutares planos para o bem do povo; em vo ele os far para a maior parte da Nao usufruir uma vida mais sadia; um nico obstinado deputado, ou vendido ao estrangeiro, ser capaz de paralisar tudo e destruir as medidas mais sbias e mais necessrias. Excessivamente ciosa de sua liberdade, essa Nao

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tomou precaues que, sem dvida, pem o rei sem condies de nada promover contra a liberdade pblica. Mas no se percebeu que essas medidas ultrapassam o objetivo, que elas amarram as mos do mais justo e mais sbio dos prncipes e lhe subtraem os meios de assegurar essa mesma liberdade mesmo contra os procedimentos das potncias estrangeiras e de tomar a Nao prspera e feliz? No est claro que a Nao se tomou, ela mesma, incapaz de agir, e que o seu conselho est merc do capricho ou da traio de um nico membro? 25: UMA NAO DEVE CONHECER-SE A SI PRPRIA: Observemos, enfim, para concluir este captulo, que uma Nao deve conhecer-se a si prpria. Sem esse conhecimento, ela no pode trabalhar satisfatoriamente para a sua perfeio. mister que ela tenha uma idia correta de suas condies, para tomar as medidas que lhe sejam convenientes; que conhea os progressos por ela j alcanados e os que lhe restam a fazer, o que ela tem de bom, o que ela possui ainda de defeituoso, para conservar um e corrigir outro. Sem esse conhecimento, uma Nao governada a esmo; ela toma as medidas freqentemente mais errneas; ela acredita agir com muita sabedoria ao imitar a conduta dos povos reputados hbeis, e no percebe que tal regulamento, tal prtica, salutares para uma Nao, so muitas vezes perniciosas para uma outra. Cada cousa deve ser conduzida de acordo com sua natureza; os povos no podem ser bem governados se no forem regidos de acordo com seu carter; e para isso necessrio conhecer esse carter.
C A P i T u L () I I I

Da constituio do Estado e dos deveres e direitos da Nao a esse respeito

26: DA AUTORIDADE PBLICA: No pudemos evitar no primeiro captulo antecipar algo sobre a matria deste. J foi visto que toda sociedade

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poltica deve necessariamente estabelecer uma autoridade pblica que regule negcios comuns, que prescreva para cada qual a conduta a ter com vistas ao bem pblico, e possua os meios de fazer-se obedecer. Esta autoridade pertence essencialmente ao corpo da sociedade, mas ela pode ser exercida de muitas formas: compete a cada sociedade escolher aquela que melhor lhe convier. 27: O QUE A CONSTITUI<;O DO ESTADO: O regulamento fundamental que determina a maneira pela qual a autoridade pblica deve ser exercida o que forma a constituio do Estado. Nela se v a forma sob a qual a Nao age na qualidade de organismo poltico, como e por quem o povo deve ser governado, e quais so os direitos e deveres daqueles que governam. Esta constituio no nada mais que o estabelecimento da ordem em que uma Nao se prope trabalhar em comum para obter as vantagens em razo das quais a sociedade poltica foi estabelecida. 28: A NAO DEVE ESCOLHER A MELHOR CONSTITUIO: pois a constituio do Estado que decide sobre o seu aperfeioamento, sobre a sua aptido para atingir os fins da sociedade. Por conseguinte, o maior interesse de uma Nao que forma uma sociedade poltica, o seu primeiro e mais importante dever para consigo mesma, escolher a melhor constituio possvel e a mais adequada s circunstncias. Ao fazer essa escolha, ela estabelece os fundamentos de sua conservao, de seu bem-estar, de sua perfeio e de sua felicidade. Ela no poderia ter cuidados excessivos para que estes fundamentos se tornem slidos. 29: LEIS POLTICAS, FUNDAMENTAIS E CIVIS: As leis so regras estabelecidas pela autoridade pblica para serem observadas na sociedade. Todas devem ter em vista o bem do Estado e dos cidados. Leis que so feitas diretamente em vista do bem pblico so leispolticas; e nesta classe aquelas que concemem ao organismo prprio e essncia

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da sociedade, forma de governo, maneira pela qual a autoridade pblica deve ser exercida; essas leis, em uma palavra, cujo concurso forma a constituio do Estado, so as leis fundamentais. As civis so aquelas que regulam os direitos e a conduta dos cidados entre si. Toda Nao, que no deseja faltar-se a si prpria, deve tomar todos os cuidados para estabelecer essas leis, e sobretudo as leis fundamentais. Ao estabelec-las, digo, com sabedoria, de maneira conveniente ao natural dos povos e a todas as circunstncias nas quais eles se encontram, a Nao deve determin-las e enunci-las com preciso e clareza, para que elas permaneam estveis, no possam ser eludidas e no engendrem, se possvel, nenhuma dissenso; para que, de um lado, aquele ou aqueles a quem o exerccio do poder soberano seja confiado, e os cidados, de outro, conheam igualmente seus direitos e seus deveres. No cabe aqui considerar de forma pormenorizada quais devam ser esta constituio ou estas leis; essa discusso pertence ao direito pblico e poltica. Ademais, as leis e a constituio de diferentes Estados devem, necessariamente, variar de acordo com as caractersticas dos povos e de acordo com outras circunstncias. preciso manter-se nas generalidades do direito das gentes. Nele consideram-se os deveres de uma Nao para consigo mesma principalmente para determinar a conduta que ela deve ter nessa sociedade ampla que a natureza estabeleceu entre todos os povos. Esses deveres lhe do certos direitos que servem para regulamentar e estabelecer o que ela pode exigir das demais Naes e, reciprocamente, o que as outras podem dela esperar.

30: DA MANUTENO DA CONSTITUIO E DA OBEDINCIA S LEIS: A

constituio do Estado e as suas leis so o fundamento da tranqilidade pblica, o mais firme suporte da autoridade poltica e a garantia da liberdade dos cidados. Essa constituio, no entanto, seria um mero fantasma e as melhores leis seriam leis inteis se no forem religiosamente observadas. A Nao deve, pois, velar sem descanso para que as leis

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sejam igualmente respeitadas, tanto pelos que governam quanto pelos que so governados. Atacar a constituio do Estado, violar as suas leis, eis um crime capital contra a sociedade; e se aqueles que forem disso culpados, forem pessoas revestidas de autoridade, eles acrescentam a este crime um abuso prfido do poder que lhes foi confiado. A Nao deve constantemente reprimi-los com todo o vigor e a vigilncia que a importncia do assunto demanda. raro ver ataque frontal s leis e constituio de um Estado; contra ataques velados e graduais que uma Nao deve ficar particularmente em guarda. As revolues repentinas impressionam a imaginao dos homens: escreve-se a histria, sublinhamse os eventos; negligenciam-se, no entanto, as mudanas que ocorrem imperceptivelmente por uma longa seqncia de aes graduais escassamente notadas. Seria um grande servio prestado s Naes mostrar, pela histria, quantos Estados mudaram completamente de natureza e perderam a sua primeira constituio. Despertar-se-ia a ateno dos povos e estes, conscientes da excelncia do incio, no menos essencial em poltica que em moral, obsta, no fechariam mais os olhos para inovaes, por vezes pouco relevantes em si mesmas, mas que servem de etapas para se chegar a empreendimentos mais substantivos e mais perniciosos.
SUA ESEU GOVERNO: 31:DIREITOS DA N Desde que as seqncias de uma boa ou m constituio so de tal importncia, e desde que a Nao est estritamente obrigada a buscar, tanto quanto for possvel, a melhor e a mais conveniente constituio, essa Nao tem o direito a todos os meios necessrios para cumprir esse dever (18). Assim est claro que a Nao tem pleno direito de definir a sua constituio, de mant-la, de aperfeio-la e de regular como entender tudo o que concerne ao governo, sem que ningum possa, com justia, impedi-la. O governo no estabelecido seno para a Nao, tendo em vista a preservao e a felicidade desta.

32: ELA PODE REFORMAR o GOVERNO: Se ocorrer, pois, que uma Nao fique descontente com a administrao pblica, ela pode corrigi-la

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assim como reformar o governo. Mas observem que eu digo "a Nao", pois estou longe de querer autorizar alguns agitadores ou revolucionrios a perturbarem os que governam, provocando murmrios e sedies. apenas o corpo da Nao que tem o direito de reprimir os que abusam do prprio poder. Quando a Nao silencia e obedece, considera-se ter ela aprovado a conduta dos governantes ou, ao menos, t-la considerado suportvel, e no cabe a um pequeno nmero de cidados pr o Estado em perigo, sob o pretexto de reform-lo. 33:E MUDAR A CONSTITUIAO: Em virtude dos mesmos princpios, inquestionvel que a Nao, em desacordo com a sua prpria constituio, tenha o direito de mud-la. No h dificuldades, quando uma Nao deseja unanimemente mud-la. Pergunta-se, o que se deve observar em caso de dissenso? Na conduo ordinria do Estado, a opinio da maioria deve subsistir inquestionavelmente em toda a Nao; de outra forma, seria impossvel sociedade tomar qualquer resoluo. Parece pois que, pela mesma razo, uma Nao pode mudar a constituio do Estado, por maioria de votos; e todas as vezes que no houver nessa mudana nada que possa ser tido como contrrio ao prprio ato de associao civil, inteno daqueles que se uniram, todos sero obrigados a aceitar a deciso da maioria. Mas outro caso apresentado quando h a questo de deixar uma forma de governo qual parece que os cidados quiseram se submeter ao constiturem a sociedade civil. Se a maioria de um povo livre, a exemplo dos judeus no tempo de Samuel, se aborrecia com a sua liberdade e desejava submeter-se ao imprio de um monarca, os cidados mais ciosos dessa prerrogativa to preciosa para aqueles que a usufruam, obrigados a ceder maioria, no seriam compelidos a se submeter ao novo governo: eles poderiam deixar uma sociedade que parecia dissolver-se e reproduzi-la sob outra forma; e eles teriam o direito de se retirar alhures, de vender as suas terras e levar consigo todos os seus bens. 34:
Do PODER LEGISLATIVO E SE ESTE PODER PODE MUDAR A

CONSTITUIAo:

Outra questo ainda importante est aqui presente.

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Pertence, essencialmente, sociedade a capacidade de fazer leis sobre a maneira com que pretenda ser governada e sobre a conduta dos cidados: O exerccio dessa capacidade pode ser este poder se chama confiado pela Nao ao prncipe, a uma assemblia ou a ambos conjuntamente, os quais estaro desde logo no direito de fazer novas leis e abrogar as antigas. Indaga-se se o poder deles alcana as leis fundamentais, se eles podem mudar a constituio do Estado. Os princpios que indicamos nos conduzem certamente a decidir que a autoridade desses legisladores no e que as leis fundamentais devem ser sagradas para eles, a vai to no ser que eles estejam expressamente autorizados pela Nao para mud-las. A constituio do Estado deve ser estvel, e desde que a Nao a estabeleceu em primeiro lugar e que, em seguida, confiou o a certas pessoas, as leis fundamentais so retiradas da competncia delas. Nota-se que a sociedade apenas desejou prover que o Estado fosse sempre munido de leis convenientes s conjunturas ao dar aos legisladores, para este efeito, o poder de abrogar leis civis antigas e leis polticas no fundamentais, e de fazer novas leis; mas nada nos permite pensar que a sociedade tenha desejado submeter a sua constituio vontade deles. Numa palavra, da constituio que esses legisladores recebem o seu poder; como ento, eles poderiam mud-la sem destruir o fundamento da sua prpria autoridade? Pelas leis fundamentais da Inglaterra, as duas cmaras do parlamento, de acordo com o rei, exercem o poder legislativo. Se essas cmaras decidissem pela sua prpria supresso e investissem o rei de poder pleno e absoluto, certamente a Nao no o E quem ousaria dizer que ela no teriao direito de a isso se opor? Mas se o Parlamento deliberasse fazer mudana to considervel e toda a Nao voluntariamente se mantivesse em silncio, poder-se-ia presumir que a Nao tivesse aprovado o ato de seus representantes. 35: A NAAo DEVE CONDUZIR-SE SEMPRE COM RESERVA: De resto, ao tratar aqui de mudanas na constituio, estamos falando somente do direito; o que circunstancial pertence poltica. Contentemo-nos em observar que em geral, sendo as grandes mudanas no Estado operaes

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delicadas e perigosas, e que a freqncia de mudanas por si mesma danosa, um povo deve ser muito circunspecto nessa matria e no se deixar levar por novidades, exceto por motivo mais urgente ou por necessidade. O esprito instvel dos atenienses operou sempre contra a prosperidade da Repblica e foi, enfim, fatal a uma liberdade de que eram to ciosos sem saber dela usufruir.

36: A NAAo JUIZ DE TODAS AS CONTESTAES SOBRE o GOVERNO: Deduzamos ainda do que acima dissemos (31), que se houver no
Estado contestaes sobre as leis fundamentais, sobre a administrao pblica, sobre os direitos eventuais de diferentes potncias, cabe unicamente Nao decidir a respeito e tomar deciso em conformidade com a sua constituio poltica.

37: NENHUMA POTNCIA ESTRANGEIRA TEM o DIREITO DE INGERNCIA:

Enfim, todas essas cousas no interessam seno Nao. Nenhum poder estrangeiro tem o direito de nelas se envolver, nem deve nelas intervir a no ser por seus bons ofcios, salvo se para tanto for solicitado ou razes especiais o demandem. Se uma Nao interfere nos assuntos domsticos de outra, se pretende constranger-lhe as deliberaes, ela est a cometer-lhe ato sem sustentao jurdica.
CAPTULO

IV

Do soberano, de suas obrigaes e de seus direitos

38: Do SOBERANO: No se pretende apresentar aqui, sem dvida, uma longa deduo dos direitos da soberania e das funes do prncipe. preciso busc-los nos tratados de direito pblico. A nossa inteno
neste captulo apenas mostrar, por uma inferncia dos grandes princpios do direito das gentes, o que o soberano e dar uma idia geral de suas obrigaes e de seus direitos.

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Foi dito que, na sociedade civil, a soberania a autoridade pblica que comanda, que determina e que dirige o que cada membro deve fazer para atingir a finalidade dessa sociedade. Esta autoridade pertence originria e essencialmente ao prprio corpo da sociedade, ao qual cada membro est submetido e pelo qual cedeu os direitos recebidos da natureza, de conduzir-se em todas as cousas segundo seu entendimento e sua prpria vontade e de fazer justia por si mesmo. Mas o corpo da sociedade no retm sempre para si essa autoridade soberana; ele freqentemente toma a deciso de confi-la a um senado ou a uma nica pessoa. Este senado ou esta pessoa ento torna-se o soberano. 39: O
SOBERANO NO ESTABELECIDO A NO SER PARA O BEM-ESTAR

evidente que os homens somente formam uma sociedade poltica e se submetem s suas leis para o seu prprio bem-estar e segurana: a autoridade soberana estabelecida para o bem comum de todos os cidados; e seria absurdo pensar que ela pudesse mudar de natureza ao passar para as mos de um senado ou de um monarca. A lisonja no pode discordar, sem se tornar igualmente ridcula e odiosa, o soberano , portanto, estabelecido unicamente para a segurana e bem-estar da sociedade. Um bom prncipe, um sbio condutor da sociedade, deve ser bem consciente dessa grande verdade: a de que o poder soberano no lhe confiado seno para o bem-estar do Estado e para a felicidade de todo o povo; que no lhe permitido cuidar de si mesmo na administrao dos negcios; que no pode procurar a sua prpria satisfao ou vantagem particular, mas que ele deve dirigir todos os seus propsitos e todos os seus procedimentos para o maior bem do Estado e dos povos que lhe so submetidos. Como agradvel ver um rei da Inglaterra prestar contas a seu Parlamento de seus principais atos, assegurar a esse corpo representativo da Nao que ele no tem outro fim em vista a no ser a honra do Estado e a felicidade de seu povo, e agradecer afetuosamente a todos aqueles que colaboram consigo para esses fins to salutares! Certamente, um monarca que mantm essa linguagem e que prova
E VANTAGEM DA SOCIEDADE:

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sinceridade mediante a sua conduta, o nico grande aos olhos do sbio. Mas a lisonja criminosa fez esquecer esses preceitos desde h muito tempo na maioria dos reinos. Um grupo de cortesos servis pode facilmente persuadir um monarca orgulhoso de que a Nao existe para ele e no ele para a Nao. Ele, em breve, contempla o reino como um patrimnio que lhe pertence, e o povo como um rebanho do qual deve subtrair as riquezas e do qual pode dispor para levar adiante seus desgnios e para satisfazer suas paixes. de onde se originam essas guerras funestas feitas pela ambio, inquietude, dio ou orgulho. de onde se originam esses impostos opressivos, dissipados em luxo destruidor ou entregues a amantes e a favoritos. Enfim, essa a razo porque lugares importantes so dados em troca de favores e o mrito para o Estado descuidado, e tudo o que no interessar diretamente ao prncipe deixado para ministros e seus subalternos. Quem reconheceria neste governo infeliz uma autoridade estabelecida para o bem pblico? Um grande prncipe estar prevenido mesmo contra as suas virtudes. No afirmemos, como alguns escritores, que as virtudes dos indivduos no so as virtudes dos reis: mxima de polticos superficiais ou pouco exatos em suas expresses. A bondade, a amizade e o reconhecimento so ainda virtudes para o trono; e praza aos cus que elas nele sempre estivessem! Mas um rei sbio no se entrega sem discernimento a suas impresses. Ele as acaricia, ele as cultiva em sua vida privada: desde que age em nome do Estado, ele no escuta seno a justia e uma poltica sadia. E por que? Porque ele sabe que o governo no lhe foi confiado seno para o bem da sociedade, e que ele no deve ser auto-suficiente no uso que faa de seu poder. Ele modera a bondade com a sabedoria; ele d amizade os favores domsticos e privados; ele distribui encargos e empregos de acordo com o mrito, as recompensas pblicas aos servios prestados ao Estado; numa palavra, ele usa o poder pblico somente tendo em vista o bem pblico. Est tudo resumido nessa bela frase de Lus XII: "Um rei da Frana nunca se vinga das de um duque de Orlans"

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40: DE SEU CARTER REPRESENTATIVO: A sociedade poltica uma pessoa jurdica (Preliminares, 2) em razo dela ter entendimento e vontade, de que ela faz uso para a conduo de seus negcios, e dela ser capaz de obrigaes e de direitos. Quando, pois, confere soberania a algum, ela investe nele o seu entendimento e a sua vontade; ela lhe transfere as suas obrigaes e os seus direitos, medida que eles se relacionam com a administrao do Estado, o exerccio da autoridade pblica; e o dirigente do Estado, o soberano, se torna assim o sujeito em que residem as obrigaes e os direitos relativos ao governo, nele que se encontra a pessoa jurdica, a qual, sem cessar de existir fundamentalmente na Nao, no age seno nele e por ele. Tal a origem do carter representativo que se atribui ao soberano. Ele representa a Nao em todas as questes que possa ter como soberano. No se trata de depreciar a dignidade do maior monarca ao atribuir-lhe este carter representativo; ao contrrio, nada o reala tanto; para tal o monarca rene em sua pessoa toda a majestade que pertence ao corpo inteiro da Nao. DA N DE CUJOS 41: ELE (, ENCARREGADO DAS OBRI( DIREITOS INVESTIDO: Desde que o soberano est investido da 'autoridade pblica, e de tudo o que constitui a personalidade jurdica da Nao, ele, ento, torna-se incumbido das obrigaes dessa Nao e est investido de seus direitos. DO SOBERANO EM RELAO CONSERVAO DA NAO: Tudo o que dissemos no captulo II sobre as obrigaes gerais da Nao acerca dela mesma diz respeito em particular ao soberano. Depositrio do imprio, do poder de determinar o que convm ao bem pblico, ele deve, como pai terno, sbio, e fidedigno administrador, velar pela Nao, cuidar de preserv-la, de torn-la mais perfeita, de melhorar suas condies, e de garanti-la, tanto quanto puder, acerca de tudo o que ameaar a sua segurana e felicidade.

42:

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43: SEUS DIREITOS AESSE RESPEITO: Assim, todos os direitos que a obrigao de preservar-se e de aperfeioar-se a si mesma confere a uma Nao (ver os s 18, 20 e 23, deste livro); todos esses direitos, digo, residem no soberano, seja ele indiferentemente chamado tambm de condutor da sociedade, prncipe, etc. 44: ELE DEVE CONHECER A SUA NAO: Observamos acima que cada Nao deve conhecer-se a si mesma. Esta obrigao recai sobre o soberano, porque a ele que cabe velar pela conservao e perfeio da Nao. A obrigao que a lei natural impe aos dirigentes das Naes de extrema importncia e de muito ampla extenso. Eles devem conhecer exatamente todo o pas sujeito sua autoridade: as suas caractersticas, os seus defeitos, as suas vantagens, a sua situao em relao aos vizinhos. Eles devem obter um conhecimento perfeito dos costumes e tendncias gerais da sua Nao, de suas virtudes, de seus vcios, de seus talentos, etc .. Todas essas informaes lhe so necessrias para bem governar. 45: AMPLITUDE DE SEU PODER; DIREITOS DE MAJESTADE: O prncipe recebe a sua autoridade da Nao; ele a possui precisamente tanto quanto ela quis lhe conferir. Se a Nao lhe tem conferido pura e simplesmente a soberania, sem limitaes e sem partilha, considera-se ter-lhe conferido todos os direitos sem os quais o poder soberano, ou o imprio, no pode ser exercido da maneira mais conveniente para o bem pblico. Esses direitos so ou os denominados "direitos de majestade" ou "direitos rgios". MANTL':R LEIS I'UNDAMENTAIS: Mas 46: O PRNCIPE quando o poder soberano limitado e regulado por leis fundamentais do Estado, essas leis definem a extenso e os limites do seu poder e a maneira pela qual ele deve exerc-lo. O prncipe est, pois, estritamente obrigado no somente a respeit-las mas tambm a mant-las. A constituio e as leis fundamentais so o programa com base no qual

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a Nao decidiu trabalhar para o seu prprio bem-estar: a execuo cabe ao prncipe. Que ele siga religiosamente esse programa; que ele contemple as leis fundamentais como regras inviolveis e sagradas; e que ele saiba que desde o momento em que delas se afaste, as suas determinaes se tornam injustas e no so seno abuso criminoso do poder a ele confiado. Em virtude desse poder, ele o guardio e o defensor das leis: obrigado a reprimir quem ousar viol-las, como poderia ele mesmo pisote-las ? 47: SE ELE PODE lEIS NO FUNDAMENTAlS: Se o prncipe for investido do poder legislativo, ele pode, segundo a sua vontade, e quando o bem do Estado o requerer, abolir as leis no fundamentais e fazer as novas. (Veja o que dissemos sobre este assunto no captulo precedente, 34).
E OBSERVAR AS QUE SUBSISTEM: Mas desde 48: ELEDEVE que as leis subsistam, o soberano deve mant-las e observ-las religiosamente. Elas so o fundamento da paz pblica e o mais firme suporte da autoridade soberana. Tudo incerto, turbulento, sujeito s revolues, nesses Estados infelizes, onde reina um poder arbitrrio. , pois, do verdadeiro interesse do prncipe, como de seu dever, cumprir as leis e respeit-las: e ele prprio deve a elas submeter-se. Essa verdade ns a encontramos estabelecida em publicao de Lus XIV, um dos monarcas mais absolutos que a Europa viu reinar. "Que no se diga no estar o soberano sujeito s leis do seu Estado, porque.a proposio contrria uma verdade do direito das gentes, que a adulao tem, s vezes, atacado, mas que os bons prncipes tm sempre defendido como uma divindade tutelar de seus EstadosI'',

49: EM SENTIDO ELE EST SUBMETIDO S LEIS: Mas necessrio explicar esta submisso do prncipe s leis. 1) Ele deve, como temos

(1)

Trait des droits de la reine sur dirers 1667,2" parte, p. 191.

ats de la monarchie

(por A. BILAIN),

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visto, seguir-lhes as disposies em todos os atos de sua administrao. 2") Ele prprio est sujeito, em seus negcios privados, a todas as leis que dizem respeito propriedade; digo, em seus negcios privados; pois desde que ele age como prncipe e em nome do Estado, ele est sujeito somente s leis fundamentais e s do direito das gentes. 3") O prncipe est submetido a certos regulamentos de poltica geral, considerados como inviolveis no Estado, a menos que deles seja desobrigado, ou expressamente pela lei, ou tacitamente por decorrncia necessria de sua dignidade. Desejo ater-me aqui s leis que se referem ao estado das pessoas e, sobretudo, quelas que regulam a validade dos casamentos. Estas leis so estabelecidas para assegurar o regime das famlias; ora, a famlia real , entre todas, aquela cujo estado importa seja correta. 4") Mas observemos em geral, sobre essa questo, que se o prncipe estiver investido de soberania absoluta e ilimitada, ele est acima das leis, as quais apenas dele recebem a sua fora, e ele pode dispensar-se delas, todas as vezes que assim o permitam a justia e a eqidade naturais. 5) Quanto s leis concernentes aos costumes e boa ordem, o prncipe deve, sem dvida, respeit-las e apoi-las por seu exemplo. 6") Mas ele est certamente acima de toda lei penal e civil. A majestade do soberano no permite que ele seja punido como um cidado particular; e as suas funes so demasiado sublimes para que ele possa ser perturbado sob pretexto de uma falta que no interessa diretamente ao governo do Estado. 50: A SUA PESSOA SAGRADA E INVIOlVEL: No suficiente que o prncipe esteja acima das leis penais: vamos mais longe no interesse mesmo das Naes. O soberano a alma da sociedade; se ele no for venerado pelos povos e posto em perfeita segurana, a paz pblica, o bem-estar e a segurana do Estado esto em perigo contnuo. A segurana da Nao demanda, pois, necessariamente, que a pessoa do prncipe seja sagrada e inviolvel. O povo romano atribua essa prerrogativa a seus tribunos para que eles pudessem promover-lhe a defesa sem obstculos e para que nenhum temor os perturbasse em suas funes.

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Os desvelos, os atos do soberano, so de maior importncia que aqueles dos tribunos, e no menos revestidos de perigo, a no ser que estejam protegidos por salvaguarda poderosa. impossvel que o monarca, mesmo o mais sbio e mais justo, no suscite descontentamento: estaria o Estado assim exposto a perder esse bom prncipe nas mos de um fantico? A doutrina abjeta e absurda, que permite a um indivduo matar um mau prncipe, privou a Frana, no incio do ltimo sculo, de um heri que era verdadeiramente o pai do seu povo. (2) Qualquer que seja o prncipe, grave atentado contra uma Nao priv-la de um soberano a quem ela est disposta a obedecer. 51: CONTUDO, ANAO PODE REPRIMIR UM SOBERANO E EXIMIR-SE DE OBEDEC-LO: Mas esse alto atributo do soberano no impede que a Nao possa reprimir um tirano insuportvel, julg-lomesmo que respeite em sua pessoa a majestade do seu cargo e recusar-se a obedec-lo. a esse direito incontestvel que uma repblica poderosa deve seu nascimento. A tirania exercida por Filipe II, nos Pases Baixos, fez com que estas provncias se sublevassem: sete delas, estreitamente confederadas, mantiveram corajosamente a sua liberdade, sob o comando dos heris da Casa de Orange; e a Espanha, depois de esforos vos e desastrosos, as reconheceu como Estados soberanos e independentes. Se a autoridade do prncipe limitada e regulada por leis fundamentais, o prncipe, ao exorbitar dos limites que lhe so prescritos, comanda sem nenhum direito e mesmo sem ttulo: a Nao no est obrigada a obedec-lo e pode resistir a seus atos injustos. Desde que ele transgrida a constituio do Estado, o prncipe rompe o contrato que o vinculava ao povo; e o povo se torna livre pelo ato do soberano, e no mais v nele seno um usurpador vido por oprimi-lo. Esta verdade reconhecida por todo escritor sensato cuja pena no esteja sob o jugo do medo ou vendida
Henrique IV. Desde que isso foi escrito, a Frana viu renovarem-se esses horrores. Ela sofreu por ter produzido monstros capazes de violar a majestade real na pessoa de um prncipe que, por suas qualidades de corao, merecia o amor de seus sditos e a venerao dos estrangeiros.
(2)

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a interesses. Mas certos autores renomados sustentam que se o prncipe est investido do poder supremo, pleno e absoluto, ningum tem o direito de resistir a ele, muito menos de reprimi-lo, no restando Nao seno sofrer com pacincia e obedincia. Eles se baseiam em que tal soberano no tem que dar satisfaes a ningum sobre a maneira pela qual governa, e que se a Nao pudesse controlar as suas aes e a ele resistir, quando ela os acha injustos, a autoridade dele no seria mais a do soberano; o que seria contrrio hiptese. Eles dizem que o soberano absoluto possui plenamente toda a autoridade poltica da sociedade, qual ningum pode opor-se; que se ele abusar dela, cometer um erro, na verdade, e ofender a sua conscincia, mas que as suas decises no so menos obrigatrias, porque esto fundadas em um direito legtimo de comandar; que a Nao, ao dar a ele poder absoluto, no reservou nada para si mesma, e est entregue sua discricionalidade, etc. Poderamos nos contentar em responder que, sob esse prisma, no pode existir nenhum soberano plenamente absoluto. Mas com o intuito de dissipar todas estas vs sutilezas, recordemos o fim essencial da sociedade civil. No o de trabalhar em conjunto para o bem comum de todos? No para isso que cada cidado se despiu de seus direitos e entregou a sua liberdade? Poderia a sociedade fazer uso de sua autoridade para se entregar irrevogavelmente, ela prpria e todos os seus membros, discrio de um tirano cruel? Certamente que no; pois ela no teria mais nenhum direito se quisesse oprimir uma parte dos cidados.Quando, pois, ela confere o poder supremo e absoluto e sem reserva expressa, necessariamente com uma reserva implcita, a de que o soberano usar esse poder para o bem-estar do povo e no para a sua runa. Se ele se tomar o flagelo do Estado, ele se degrada a si mesmo; ele no mais que um inimigo pblico contra quem a Nao pode e deve mesmo defender-se; e se ele levar a sua tirania ao extremo, por que a prpria vida de um inimigo to cruel e to prfido seria poupada? Quem ousar censurar o procedimento do senado romano que declarou Nero inimigo da ptria? Mas muito importante notar que esse julgamento no pode ser conduzido seno pela Nao ou por um rgo que a represente, e que

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a prpria Nao no pode atentar contra a pessoa do soberano exceto em casos de necessidade extrema e quando o prncipe, ao violar todas as leis e ao ameaar a segurana de seu povo, pe-se em estado de guerra contra ele. a pessoa do soberano que o interesse mesmo da Nao declara inviolvel e sagrado, e no a pessoa de um tirano desnaturado, de um inimigo pblico. raro verem-se monstros como Nero. Nos casos mais ordinrios, quando um prncipe viola as leis fundamentais, quando ele ataca as liberdades e os direitos dos sditos ou, se no caso de governo absoluto, que no chegue a extremos de violncia, tende claramente para a runa da Nao, ela pode resistir a ele, julg-loe recusar-se a obedec-lo; ela pode dar golpe, poupando-lhe a pessoa, e isso para o bem mesmo do Estado. H mais de um sculo que os ingleses se sublevaram contra o seu rei e o destronaram, e certos homens astuciosos, devorados pela ambio, aproveitaram-se da terrvel agitao causada pelo fanatismo e esprito de partido; e a Gr-Bretanha sofreu por ter seu soberano perecido indignamente no cadafalso. A Nao, entregue a si mesma, reconheceu a sua cegueira. Se a Nao por isso celebra cada ano uma reparao solene, no somente porque ela julga que o infeliz Carlos I no merecia destino to cruel, mas sem dvida tambm porque est convencida de que para o prprio bem do Estado, a pessoa do soberano deve ser sagrada e inviolvel, e que toda a Nao deve ter esse princpio adotado com reverncia,quando o cuidado por sua prpria preservao o permita. Uma palavra adicional sobre a distino que se deseja aqui fazer em favor de um soberano absoluto. Quem tiver bem sopesado toda a fora dos princpios incontestveis por ns estabelecidos, estar convencido de que, quando se trata de resistir a um prncipe que se tornou tirano, o direito do povo sempre o mesmo, quer esse prncipe seja absoluto pelas leis ou no, porque esse direito provm do objetivo de toda sociedade poltica, do bem-estar da Nao, que a lei suprema. Mas se a distino acima for intil em relao ao direito, ela no o , na prtica, em relao convenincia. Como muito difcil opor-se a um prncipe absoluto, e como no se pode faz-lo sem suscitar grandes

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agitaes no Estado assim como perigosos e violentos distrbios, no se deve empreender essa oposio exceto em casos extremos, quando os malefcios chegaram a um ponto tal que se pode dizer com Tcito: "miseram pacem} te! bello bene mutari", sendo prefervel expr-se a uma guerra civil que sofrer esses malefcios. Mas se a autoridade do prncipe for limitada, se ela depender em alguns aspectos do senado, ou de um parlamento representativo da Nao, h meios de a ele resistir e sem expor o Estado a violentas agitaes. No h razo para esperar que os malefcios sejam extremos, quando remdios suaves e inocentes possam ser aplicados. 52: COMPROMISSO ENTRE O PRNCIPE E OS SDITOS: Por mais que a autoridade do prncipe seja limitada, ele normalmente dela cioso; quase nunca ele aceita pacientemente resistncias e se submete docilmente ao julgamento de seu povo; e quele que dispensa favores faltar apoio? Vem-se demasiadas pessoas vilmente ambiciosas, para as quais a condio de escravo rico e ornamentado tem mais encantos que a posio de um cidado modesto e virtuoso. sempre dificil Nao resistir a seu prncipe e pronunciar-se sobre a sua conduta sem expor o Estado a distrbios perigosos e a perturbaes capazes de destrui-lo. Isso tem, algumas vezes, levado a um acordo entre o prncipe e os sditos para submeter as controvrsias entre eles existentes ao juzo de uma potncia amiga. Assim, os reis da Dinamarca constituram, outrora, aos reis da Sucia, por tratados solenes, o conhecimento das controvrsias que poderiam surgir entre eles e o respectivo Senado; e os reis da Sucia fizeram tambm o mesmo em relao aos da Dinamarca. Os prncipes e os Estados d'Oste Frise e os burgueses do Emden constituram tambm a Repblica das Provncias Unidas como juiz de suas controvrsias. Os prncipes e a cidade de Neuchatel instituram o canto de Berna juiz e rbitro perptuo de suas disputas. Assim tambm, de acordo com o esprito da Confederao Helvtica, esta toma conhecimento dos problemas que eventualmente surjam em algum dos Estados confederados, embora cada um deles seja verdadeiramente soberano e independente.

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53: OBEDINCIA DEVIDA PELOS SDITOS AOS SOBERANOS: Desde que a Nao reconhece um prncipe como seu legtimo soberano, todos os cidados lhe devem fiel obedincia. Ele no pode governar o Estado nem alcanar o que a Nao dele espera, a no ser que seja obedecido rigorosamente. Os sditos no tm pois o direito, em casos duvidosos, de julgar a sabedoria ou a justia das determinaes soberanas; esta a funo do prncipe; os sditos devem presumir, tanto quanto possvel, que todos as determinaes do prncipe so justas e benficas: apenas o soberano responsvel pelo mal que possa disso resultar. 54: EM QUE CASOS SE PODE RESISTIR AO PRNCIPE: No entanto esta obedincia no deve ser absolutamente cega. Nenhum compromisso pode obrigar, ou mesmo autorizar um homem a violar a lei natural. Todos os autores que tenham alguma conscincia ou senso de honra concordam em que ningum deve obedecer a determinaes claramente contrrias a essa lei sagrada. Esses governadores de cidades que corajosamente se recusaram a executar as ordens brbaras de Carlos IX, no famoso massacre de So Bartolomeu, tm sido universalmente louvados, e a Corte no ousou puni-los, ao menos abertamente: escreveu o bravo d'Orte, comandante em Bayonne, comuniquei a ordem de Vossa aosfiis habitantes e soldados da guarnio; no encontrei nela seno bons cidados e bravos soldados, mas no um carrasco. Por essa razo tanto eles como eu suplicamos humildemente Vossa Majestade querer empregar nossos braos, nossas vidas em coisas possveis; por mais arriscadas que ns nos dedicaremos a at a derradeira gota de nosso sangue".(3) O Conde de Tende, Charny e outros, responderam queles que lhes trouxeram as ordens da Corte que eles tinham muito respeito ao rei para acreditar que aquelas determinaes to brbaras dele proviessem. mais difcil decidir em que casos um sdito pode, no apenas recusar obedincia, mas at mesmo resistir ao soberano e opor a fora violncia. Se o soberano comete ato injurdico contra algum, ele age sem
(3)

MZERAY, Histoire deTrance, Tomo 11, p. 1.107.

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apoio em nenhum direito; mas da no se deve concluir imediatamente que o sdito possa ao soberano resistir. A natureza da soberania e o bem do Estado no permitem que os cidados se oponham ao superior quando as determinaes dele lhes paream injustas ou danosas. Tal atitude os faria retornar a um estado de natureza e tornaria impossvel governar. Um sdito deve sofrer pacientemente as injustias duvidosas e as injustias suportveis que do prncipe decorram: porquanto quem estiver submetido a um juiz no pode julgar por si mesmo as suas prprias pretenses. As injustias suportveis devem ser sacrificadas pela paz e bem-estar do Estado, em favor das grandes vantagens que so obtidas da sociedade. Presume-se de direito que todo cidado se comprometeu implicitamente com esta moderao porque, sem ela, a sociedade no poderia subsistir.Mas quando o caso de injrias manifestas e atrozes, quando um prncipe, sem razo aparente, atenta contra nossas vidas, ou nos subtrai coisas sem as quais a nossa vida seria miservel, quem questionar o direito de a ele resistir? O zelo em favor de nossa subsistncia no somente de direito natural, uma obrigao imposta pela natureza; nenhum homem a tanto pode renunciar inteira e absolutamente. E quando a isso pudesse renunciar, pode-se presumir t-lo feito em razo de seus compromissos polticos, ele que no entrou na sociedade civil seno com o propsito de obter maior segurana sua pessoa? O prprio bem da sociedade no exige tal sacrifcio; como Barbeyrac disse muito bem em suas notas sobre Grcio: "se for do interesse pblico que aqueles que obedecem sofram algo, no de menos interesse pblico que aqueles que comandam temam testar at o fim a pacincia deles".(4) O prncipe que viola todas as leis, que no respeita medidas e que deseja com violncia tirar a vida de uma pessoa inocente, se despoja de sua autoridade; no mais seno um inimigo injusto e violento, contra quem permitido defender-se. A pessoa do soberano inviolvel e sagrada; mas aquele que, aps ter perdido todos os sentimentos prprios de um soberano, se despoja at mesmo das
(4)

Droit dela Guerre e/ dela Paix, Liv. I, capo IV, II, nota 2.

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aparncias e da conduta exterior, degrada-se a si mesmo: ele se desveste dos atributos de soberano, e no pode mais reter as prerrogativas ligadas a esse carter sublime. Entretanto, se esse prncipe no for um monstro, se ele for violento somente contra ns e por efeito de transferncia de uma paixo violenta, se por outro lado for ele aceitvel para o restante da Nao, a considerao que devemos ter para a paz do Estado to grande e o respeito majestade soberana to intenso, que estamos estritamente obrigados a buscar qualquer outro meio para nos preservar antes de pr em perigo a pessoa do prncipe. Todos conhecem o exemplo de Davi: ele fugiu, permaneceu escondido para escapar fria de Saul e, por mais de uma vez, poupou a vida de seu perseguidor. Quando um funesto acidente perturbou de pronto a mente de Carlos I, rei da Frana, ele matou em sua loucura muitos daqueles que o cercavam: mas nenhum deles pensou em salvar a prpria vida ao custo da vida do prncipe, eles s quiseram desarm-lo e domin-lo; eles cumpriram a sua obrigao como bravos homens, como sditos fiis, ao exporem suas prprias vidas em prol do infeliz monarca: um sacrifcio devido ao Estado e majestade soberana. Desde que a sua violncia resultou de insanidade, Carlos no era culpado; ele podia recuperar a sade e voltar a ser um bom rei. 55: Dos MINISTROS: Eis o suficiente para o propsito deste trabalho; pode-se ver estas questes versadas em vrios livros conhecidos. Terminemos esse tema com uma observao importante. Um soberano pode certamente escolher ministros para assisti-lo em suas funes difceis; mas ele no deve nunca transferir-lhes a sua autoridade. Quando uma Nao escolhe o seu comandante, no para que ele a entregue para outras mos. Ministros devem ser meros instrumentos nas mos do prncipe; ele deve direcion-los continuamente; e observar cuidadosamente se eles de acordo com as suas instrues. Se por motivo de idade ou de alguma doena, o prncipe estiver incapacitado para governar, deve ser nomeado um regente em conformidade com as leis do Estado; mas assim que o soberano possa manter as rdeas,

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que ele se faa servir e jamais se substituir. Os ltimos reis da Frana da primeira linhagem entregaram o governo e a autoridade aos prefeitos do palcio. Tendo se tornado meros fantasmas, eles perderam com justia o ttulo e as honras de uma dignidade cujas funes tinham abandonado. A Nao tudo ganha em coroar um ministro poderoso: ele cultivar, como herana, os recursos que ele pilhava e dos quais havia apenas tido usufruto precrio.
CAPTULO

Estados eletivos, por sucesso, ou hereditrios e os chamados patrimoniais

56: Dos ESTADOS ELETIVOS: Vimos no captulo anterior que compete originariamente Nao outorgar a autoridade suprema, escolher quem deva govern-la. Se ela confere a soberania apenas pessoa dessa autoridade, reservando-se o direito de eleger, aps a morte do soberano, aquele que deva substitu-lo, o Estado eletivo. Assim que o prncipe for eleito de acordo com as leis, ele se investe de todos os direitos que essas mesmas leis atribuem sua dignidade. 57: SE OS REIS ELETIVOS SO VERDADEIROS SOBERANOS: Tem sido posto em questo se reis e prncipes eletivos so verdadeiros soberanos. Prender-se a esta circunstncia ter idia muito confusa da soberania. A maneira pela qual um prncipe alcana a sua dignidade nada tem a ver com a determinao da natureza da mesma. Importa considerar: I - Se a Nao por si prpria forma uma sociedade independente. (Ver o capo 1); II - Qual a extenso do poder que a Nao conferiu a seu prncipe. Todas as vezes que o chefe de um Estado independente representa verdadeiramente a sua Nao, deve-se consider-lo como um verdadeiro soberano (40), mesmo quando a sua autoridade se encontrar limitada em diversos aspectos.

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58: ESTADOS POR SUCESSO E HEREDITRIOS; ORIGEM DO DIREITO DA SUCESSO: Quando a Nao quer evitar os distrbios que no deixam de acompanhar a eleio de um soberano, ela faz essa escolha para uma longa seqncia de anos ao estabelecer o de sucesso ou outorgar a coroa hereditria a uma famlia, de acordo com a ordem e as normas que lhe paream mais convenientes. Denomina-se ou aquele em que o sucessor designado pela mesma leique regula a sucesso de pessoas privadas: o porsucesso aquele em que a sucesso obedece a uma lei especial, fundamental do Estado. Assim a sucesso linear e apenas para os homens foi estabelecida na Frana. 59: OUTRA ORIGEM: O direito de sucesso no sempre originariamente estabelecido pela Nao; ele pode ter sido introduzido por concesso de outro soberano, e at mesmo por usurpao. Mas quando o direito de sucesso se apoia em posse prolongada, considera-se ter-lhe o povo dado o seu consentimento, e esse consentimento tcito o legitima,mesmo que a origem seja viciosa. O direito de sucesso se assenta ento no mesmo e nico fundamento legtimo e seguro, ao qual devemos sempre retornar. 60: DEMAIS FONTES: Este mesmo direito pode, ainda de acordo com Grcio e a maioria dos autores, provir de outras fontes, como a da conquista, ou a do direito de um proprietrio que, sendo dono de um pas, convidaria pessoas a habit-lo e lhes daria terras com a condio de que o reconhecessem, bem como a seus herdeiros, como soberano deles. Mas como absurdo que uma sociedade de homens possa se submeter de maneira diferente daquela que tenha em vista preservar-lhes segurana e bem-estar, e mais absurdo ainda que esta sociedade possa comprometer a sua posteridade em qualquer outra base, tudo retoma enfim para onde estvamos primeiramente, e deve reafirmar-se que a sucesso estabelecida pela vontade expressa ou pelo consentimento tcito da Nao para o bem-estar e segurana do Estado.

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61: A NAO PODE MUDAR A ORDEM DE SUCESSO: Permanece, assim, regra constante que, em todos os casos, a sucesso estabelecida ou aceita tendo somente em vista o bem pblico e a segurana comum. Se ocorrer, pois, que a ordem estabelecida a esse respeito se torna prejudicial ao Estado, a Nao teria certamente o direito de mud-la de acordo com lei nova. Sa/us popu/i lex, o bem-estar do povo a lei suprema; e esta lei de justia estrita, desde que o povo tenha somente em vista alcanar o seu bem-estar e melhor proveito. Este pretenso direito de propriedade atribudo aos prncipes uma quimera gerada por abuso que se desejaria fazer das leis sobre heranas privadas. O Estado no e nem pode ser um patrimnio, porque o patrimnio feito para o bem do proprietrio, ao passo que o prncipe no constitudo seno para o bem do Estado. A conseqncia evidente: se a Nao verificar claramente que o herdeiro do seu prncipe seria para ela um soberano pernicioso, ela pode exclu-lo. Os autores a que ns nos opomos conferem esse direito ao prncipe desptico, ao passo que o recusam para as Naes. Isto porque eles consideram esse prncipe como um verdadeiro proprietrio do imprio, e no querem reconhecer que o zelo pelo prprio bem-estar e o direito de auto-governar pertencem essencialmente sociedade civil em todos os tempos, mesmo que ela tenha confiado esse direito, ainda que sem reserva expressa, a um monarca e aos seus herdeiros. Aos olhos desses autores, o reino herana do prncipe, da mesma maneira que os seus campos e os seus rebanhos. Princpio danoso humanidade, e que no se ousaria conceber num sculo esclarecido, se ele no encontrasse apoios, com freqncia mais fortes que a razo e a justia. 62: RENNCIAS: Pela mesma razo, a Nao pode forar a uma renncia descendente de ramo estabelecido alhures, por exemplo, uma jovem que esposa prncipe estrangeiro.Tais renncias exigidasou aprovadas pelo Estado so perfeitamente vlidas, pois que se equivalem a uma lei que o Estado faria para a excluso dessas pessoas que renunciaram e das que lhes sucedam. Desse modo, a lei da Inglaterra rejeitou para

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sempre todo herdeiro catlico romano. ''Assim, uma lei da Rssia, promulgada no comeo do reinado de Elizabeth, exclua muito prudentemente qualquer herdeiro que possusse outra monarquia; assim lei de Portugal rejeita qualquer estrangeiro que seria chamado ao trono pelo direito de sangue",cs) Autores clebres, alis muito sbios e muito judiciosos,descumpriram princpios verdadeiros ao tratar de renncias. Eles muito falaram dos direitos das crianas nascidas ou a nascer, da transmisso desses direitos, etc. Eles deveriam considerar a sucesso, menos como um direito de propriedade da famlia reinante do que como uma lei do Estado. Desse princpio claro e incontestvel decorre com facilidade toda a doutrina das renncias. Aquelas que o Estado exigiu ou aprovou so vlidas e sagradas; so leis fundamentais: aquelas que no forem autorizadas pelo Estado somente podem ser obrigatrias para o prncipe que as fez; elas no poderiam ser prejudiciais sua posteridade; ele mesmo pode reconsider-las, no caso em que o Estado tenha dele necessidade e a ele faa apelo, pois esse prncipe tem dever para com um povo que lhe tinha confiado o zelo pelo seu bem-estar. Pela mesma razo, o prncipe no pode legitimamente renunciar intempestivamente em detrimento do Estado, nem abandonar ao perigo urna Nao que foi confiada em suas mos. 63: EM ORDINRIAS A ORDEM DE SUCESSO DEVE SER MANTIDA: Em casos ordinrios, quando o Estado pode seguir regra estabelecida, sem se expor a perigo muito grande e manifesto, certo que todo descendente deve suceder, quando chamado na ordem de sucesso, o soberano atingido por alguma incapacidade de reinar por si prprio. uma conseqncia do esprito da lei que estabeleceu a sucesso; pois no se recorre lei seno para prevenir distrbios, os quais, sem ela, seriam quase inevitveis em toda mudana. Ora, no
Espritdes Lois, Liv, XXVI, capo XXIII, onde se encontram razes polticas muito slidas sobre essas disposies.

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se teria avanado muito nessa direo se, por ocasio da morte de um prncipe, fosse permitido examinar a capacidade de seu herdeiro antes de reconhec-lo. "Que porta aberta para usurpadores ou descontentes!... para evitar estas inconvenincias que a ordem de sucesso se estabeleceu e no se podia fazer nada de mais sbio, pois que se trata somente de ser filho do prncipe e estar vivo, o que no objeto de contestao, na ausncia de regra fixa para o julgamento de capacidade ou incapacidade para reinar".(6) Embora a sucesso no seja estabelecida para vantagens particulares do soberano e de sua famlia, mas para vantagem do Estado, o sucessor designado no deixa de ter um direito que deva ser reconhecido pela justia. O seu direito subordinado ao da Nao, ao bem-estar do Estado; mas deve ter o seu efeito quando o bem pblico no se lhe oponha. Essas razes tm tanta fora que a lei, ou o Estado, pode suprir a incapacidade do prncipe nomeando-lhe um regente, como feito no caso de minoridade. Esse regente est investido da autoridade real durante o perodo de sua administrao; mas ele a exerce em nome do rei.
64:
Dos

Os princpios que la estabelecemos concernentes ao direito de sucesso e de hereditariedade deixam claro que um prncipe no tem o direito de partilhar o Estado entre os seus filhos, Toda a soberania propriamente dita , por sua natureza, nica e indivisvel, porquanto no se pode separar, contra a vontade, aqueles que se uniram em sociedade. Essas partilhas, to contrrias natureza da soberania e preservao dos Estados, tm sido freqentemente feitas: elas findaram onde os prprios povos e prncipes abriram os olhos para os seus maiores interesses, para o fundamento de seu bem-estar.
65:
INDIVISIBILIDADE DA

lI,)

Mmoir pot/r

de

touchan:

de

en 1672.

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Mas quando um prncipe tem reunido sob seu comando muitas Naes diferentes, o seu imprio ento realmente um grupo de sociedades diferentes, submetidas ao mesmo comando; nada impede naturalmente que elas possam ser partilhadas entre seus filhos. Ele poder distribui-las entre eles, se no houver leis ou convenes em contrrio e se cada um desses povos consentir em receber o soberano que lhe foi designado. por essa razo que a Frana era divisvel poca das duas primeiras dinastias. (7) Tendo enfim adquirido inteira consistncia poca da terceira dinastia, ela foi considerada como um reino nico; ela se tornou indivisvel; e h uma lei fundamental para esse efeito. Essa lei prov sabiamente a preservao e prosperidade do Reino, e une irrevogavelmente coroa todas as aquisies dos reis.

66: A

QUEM CABE o JULGAMENTO DAS CONTESTAC;()I':S SOBRE A

SUCESSO A UMA SOBERANIA:

OS mesmos princpios tambm nos fornecero a soluo de uma questo clebre. Quando, em Estado por sucesso ou hereditrio, o direito de sucesso incerto e existem dois ou mais aspirantes coroa, pergunta-se quem ser o juiz da pretenso deles? Alguns sbios, na crena de que os soberanos no reconhecem outro juiz seno Deus, e que os sditos no podem de nenhum modo decidir a respeito, afirmavam que os pretendentes coroa, desde que o respectivo direito certo, devem ou se compor amigavelmente, ou transigir reciprocamente, ou escolher rbitros, recorrer mesmo a sorteio, ou finalmente decidir as disputas pelas armas. de admirar que autores clebres tenham ensinado tal doutrina. Mas desde que em matria mesma de filosofia especulativa, no haja nada to absurdo que no tenha sido proposto por filsofos'", o que devemos esperar de mente humana seduzida pelo interesse ou medo? Em questo que conceme nada menos que Nao, que se relaciona com um poder estabelecido unicamente
(7) Cumpre mesmo observar essas partilhas ocorriam com a aprovao consentimento dos Estados respectivos.

Nesao quomodo nihi/ tam

quod non dicatllr

a/iqll(J

CICERO,

i lJivina!., Lib. 11.

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em vista do seu bem-estar, numa disputa que pode talvez decidir para sempre os seus mais caros interesses e mesmo o seu bem-estar, admitir a Nao permanecer uma expectadora tranqila? Admitir ela que estrangeiros ou a sorte cega das armas lhe designem o seu dono, como um rebanho de carneiros a aguardar que se decida se ser entregue ao aougueiro ou se voltar aos cuidados de seu pastor? Mas, afirma-se, a Nao se despoja de toda jurisdio ao entregar-se ao soberano; ela foi submetida famlia reinante, ela entregou queles que dela descendem um direito que ningum poder depois deles retirar; ela os estabeleceu acima dela mesma; ela no pode mais julg-los. Pois bem!, no caber mais a esta mesma Nao reconhecer aquele a quem o seu dever a vincula, de impedir que seja entregue a outrem? E desde que ela estabeleceu a lei de sucesso, quem pode melhor que ela, e com mais direitos, designar aquele contemplado em caso que a lei fundamental previu e determinou? Digamos pois, sem hesitao, que a deciso sobre essa questo importante pertence Nao e a ela somente. Desde que os pretendentes tenham entrado num acordo ou escolhido rbitros, a Nao no est obrigada a submeter-se deciso deles, a no ser que ela tenha consentido com a transao ou o compromisso. Prncipes no reconhecidos e cujo direito incerto, no podem de nenhum modo dispor da obedincia de uma Nao. Em questo referente s suas mais sagradas obrigaes e mais preciosos direitos, a Nao no reconhece nenhum juiz acima dela. Grcio e Pufendorf no diferem muito de nossa opinio em essncia; mas eles no querem que se denomine de sentena jurdica jurisdictionis) , a deciso do povo ou dos Estados. Em boa hora, no questionemos termos. No entanto, h mais nessa questo que um mero exame de direitos, para se submeter ao pretendente que tenha mais direito. Toda disputa que surja na sociedade deve ser julgada pela autoridade pblica. Assim que o direito de sucesso se tornar incerto, a autoridade soberana retoma por um tempo ao corpo do Estado, que deve exerc-lo por si mesmo ou atravs de seus representantes, at que o verdadeiro soberano seja reconhecido. ''A contestao desse direito suspende as

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funes na pessoa do soberano e, nesse caso, a autoridade naturalmente retoma aos seus sditos, no para ser retida por eles, mas para pr em evidncia a qual dos pretendentes ela legitimamente devolvida e a cujas mos ela ser entregue a seguir. No seria dificil apoiar com inmeros exemplos uma verdade to constante pelas luzes da razo; mas bastante lembrar que foi pelos Estados do reino da Frana que terminou, depois da morte de Carlos, o Belo, a famosa disputa entre Felipe de Valois e o Rei da Inglaterra (Eduardo IH), e que esses Estados, que ento eram todos sditos daquele em favor do qual se pronunciaram, no deixaram de ser juzes da controvrsia'V" Guichardin, livro XII, testemunha tambm que foram os Estados de Arago que julgaram a sucesso daquele reino e que preferiram Fernando, antecessor de Fernando, marido de Isabel, rainha de Castela, a outros parentes de Martin, rei de Arago, pretendentes ao mesmo reino'!". Eram tambm Estados, no reino de Jerusalm, que julgavam direitos daqueles que a ele pretendiam, como tambm justificado por diversos exemplos da histria poltica de alm-mar. (lI) Os Estados do principado de Neuchatel se pronunciaram freqentemente, sob forma de sentena jurdica, acerca de sucesso soberania. No ano de 1707, eles julgaram acerca de um grande nmero de pretendentes; e a sentena proferida em favor do rei da Prssia, foi reconhecida por toda a Europa no Tratado de Utrecht. 67: QUE O DIREITO SUCESSO NO DEVE DEPENDER DO JULGAMENTO DE UMA POTNCIA ESTRANGEIRA: Para bem assegurar a sucesso numa ordem certa e invarivel, hoje est bem estabelecido em todos os Estados cristos (exceto Portugal), que nenhum descendente do soberano pode suceder Coroa se no for nascido de casamento obediente s leis do pas. E como a Nao que estabeleceu a sucesso, cabe tambm apenas
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(10)
(11)

Rponse pourMadame deLongeville Ibidem.

mmoirepourmadame deNemours.

Ver a mesma memria, que cita o sumrio real do P. LABBE, p.SOl e ss.

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a ela reconhecer os que tm o direito de suceder e, por conseguinte, apenas de seu julgamento, e de suas leis, que deve depender a validade do casamento de seus soberanos e a legitimidade do nascimento deles. Se a educao no tinha a fora de familiarizar o esprito humano com os maiores absurdos, existe homem sbio que no se admire ao ver tantas Naes sofrerem pelo fato de que a legitimidade e o direito dos respectivos prncipes dependem de potncia estrangeira? A corte de Roma imaginou uma infinidade de impedimentos e nulidades nos casamentos e, ao mesmo tempo, arrogou-se o direito de julgar-lhes a validade e o direito de levantar-lhes os impedimentos; desse modo, um prncipe de sua comunho no ser senhor, em alguns casos, de contratar um casamento necessrio para a salvao de seu Estado. Joana, filha nica de Henrique IV, rei de Castela, teve disso experincia cruel. Oposicionistas divulgaram que ela devia seu nascimento a Bertrand de la Cueva, favorito do rei e, apesar das declaraes e testamento desse prncipe, que reconheceu constantemente Joana como sua filha e a nomeou sua herdeira, eles reivindicaram a coroa para Isabel, irm de Henrique e esposa de Fernando, herdeiro de Arago. Os partidrios de Joana lhe possibilitaram apoio poderoso, ao negociar seu casamento com Afonso, rei de Portugal. Mas como este prncipe era tio de Joana, era necessrio uma dispensa do papa, e Pio II, que se envolvia com interessesde Fernando e Isabel,recusavaconceder esta dispensa, sob pretexto de ser demasiado grande a proximidade em questo, conquanto tais alianas fossem ento muito comuns. Essas dificuldades contrapuseram-se ao monarca portugus e esfriaram o zelo dos castelhanos fiis: tudo isso favoreceu Isabel e a infelizJoana tomou o vu de religiosa para assegurar, graas a esse herico sacrificio, a tranqilidade de Castela.(12) Se o prncipe
Tomo aqui esse trao da histria das Conjurations de Ou Port de Tertre, a quem me reporto, no tendo em mos os originais. De resto, no entro aqui na questo do nascimento de Joana; ela intil ao meu tema. A princesa no tinha sido declarada bastarda segundo as leis, o rei a declarava sua filha; e, alis, legtima ou no fosse ela, os inconvenientes resultantes da recusa papal permanecem sempre os mesmos, para ela e para o rei de Portugal.
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vai alm e se casa, apesar da recusa papal, ele expe o seu Estado aos mais funestos distrbios. O que ocorreria na Inglaterra, se a reforma nessa Nao no tivesse sido felizmente estabelecida, quando o papa ousou declarar a rainha Elizabeth ilegtima e inbil para ostentar a Coroa? Um grande imperador, Lus da Baviera, soube reivindicar bem a esse respeito os direitos de sua coroa. Lem-se no Cdigo diplomtico do direito das gentes de Leibnitz, dois atos em que esse prncipe condena, como atentatria autoridade imperial, a doutrina que atribui a uma potncia estrangeira o direito de conferir dispensa e de julgar a validade dos casamentos. Mas ele no foi bem apoiado em sua poca nem imitado por seus sucessores. 68: ESTADOS CHAMADOS PATRIMONIAIS: Existem, enfim, Estados cujo soberano pode escolher o seu sucessor e mesmo transportar a coroa a outro Estado. Eles so chamados comumente reinos ou Estados patrimoniais. Rejeitemos uma expresso to pouco justa e to imprpria, ela pode suscitar no esprito de alguns soberanos idias muito opostas quelas que devem ter. J mostramos (61) que o Estado no pode ser um patrimnio. Mas pode ocorrer que uma Nao, seja por efeito de confiana integral em seu prncipe, seja por alguma outra razo, lhe tenha conftado o encargo de designar o seu sucessor, e mesmo que ela tenha consentido em receber, se ele concordar, outro soberano de suas mos. Vimos Pedro I, imperador da Rssia, nomear a sua esposa para suced-lo, embora ele tivesse filhos, 69: TODA SOBERANIA VERDADEIRA INALIENVEr.: Mas quando um prncipe escolhe um sucessor ou quando ele cede a coroa a outrem, ele no faz propriamente seno nomear, em virtude do poder que lhe confiado, seja expressamente ou por consentimento tcito, aquele que deve governar o Estado depois dele. Isso no nem pode ser uma alienao propriamente dita. Toda verdadeira soberania inalienvel por sua natureza. Disso nos convenceremos facilmente, ao se ter em conta a origem e o fim da sociedade poltica e da autoridade soberana.

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Uma Nao se forma no corpo da sociedade, para trabalhar para o bem comum, como ela o julgar adequado, para viver segundo as suas prprias leis; ela estabelece para esse firn uma autoridade pblica. Se ela confia essa autoridade a um prncipe, mesmo com o poder de transmiti-la a outras mos, isso no pode jamais ocorrer com o direito de alienar verdadeiramente essa autoridade ou submeter o Estado a outro corpo politico, a no ser mediante consentimento expresso e unnime dos cidados. Pois os indivduos que formaram essa sociedade, nela entraram para viver num Estado independente e jamais para serem submetidos a um jugo estrangeiro. Que no se nos oponha alguma outra fonte desse direito, a conquista, por exemplo. J verificamos (60) que essas diferentes fontes retornam enfim aos verdadeiros princpios de todo governo justo. Enquanto o vencedor no submete a sua conquista a esses princpios, o estado de guerra subsiste de alguma forma; no momento em que ele insere essa conquista no estado civil,os seus direitos se medem em conformidade com os princpios desse estado. Sei que diversos autores, inclusive Grcio'l", nos do longas listas de alienaes de soberanias. Mas os exemplos no provam o direito, seno o abuso do poder. Tambm indica que os povos consentiram na alienao de bom grado ou pela fora. Que teriam feito os habitantes de Prgamo, da Bitnia, da Cirenaica, quando os respectivos reis os deram por testamento ao povo romano? No lhes restava seno se submeterem de bom grado a um legatn'o to poderoso. Para lembrar um exemplo capaz de fazer autoridade, seria necessrio citar o de algum povo resistente disposio semelhante de seu soberano, e condenado geralmente como injusto e rebelde. Se esse mesmo Pedro I que nomeou a esposa para suced-lo, tivesse querido submeter o seu imprio ao Grande-Senhor, ou alguma outra potncia vizinha, admite-se que os russos o tivessem aceito? E a resistncia deles fosse tida como uma revolta? No vemos na Europa nenhum grande Estado que seja reputado alienvel. Se alguns pequenos principados tm sido considerados como tais, porque eles no
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Droit dela Guerre et de la Paix, Liv. I, capo III, XII.

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eram verdadeiras soberanias. Eles dependiam do imprio com maior ou menor liberdade e os seus senhores traficavam direitos que tinham sobre esses territrios, mas no podiam subtra-los dependncia do imprio. Concluamos, pois, que, tendo apenas a Nao o direito de se submeter a uma potncia estrangeira, o direito de alienar verdadeiramente o Estado no pode jamais pertencer ao soberano, a no ser que todo o povo lhe tenha conferido expressamente esse direito. O direito de nomear um sucessor ou de repor a coroa em outras mos no se presume jamais e deve fundamentar-se em consentimento expresso, em lei do Estado ou em uso prolongado, justificado pelo consentimento tcito dos povos. 70: DIREITO DO PRNCIPE EM NOMEAR O SUCESSOR: Se o poder de nomear o sucessor confiado ao soberano, este no deve ter em vista, em sua escolha, seno o proveito e o bem-estar do Estado. Ele prprio no foi constitudo seno para esse fim (39); a liberdade de reenviar o seu poder a outras mos no pode ter lhe sido confiado seno com o mesmo propsito. Seria absurdo considerar essa liberdade como um direito que o prncipe pudesse utilizar para seu proveito particular. Pedro, o Grande, no se props seno o bem do imprio, quando ele deixou a coroa sua esposa. Ele conhecia esta herona como a mais capaz de continuar seus propsitos, de aperfeioar as grandes cousas que havia comeado; ele a preferiu a seu filho ainda demasiado jovem. Se almas to elevadas como a de Pedro fossem vistas com freqncia no trono, uma Nao no poderia tomar mais sbias medidas para se assegurar ser sempre bem governada seno confiar ao prncipe, por uma lei fundamental, o poder de designar o seu sucessor. Este meio seria bem mais seguro que a ordem do nascimento. Os imperadores romanos que no tinham filhos masculinos, admitiam fossem sucedidos pela adoo. Roma foi devedora desse uso, na seqncia de soberanos nicos na histria, Nerva, Trajano, o prprio Adriano, Antonino, Marco Aurlio, que prncipes! Colocar o nascimento semelhantes soberanos no trono?

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71: A RATIFlCAAo, AO MENOS TCITA: Caminhemos alm e digamos ousadamente que, tratando-se, em ato to importante, do bem-estar de toda a Nao, o consentimento, e a ratificao pelo menos tcita, do povo ou do Estado, so necessrios a esse ato para dar-lhe efeito pleno e integral. Se um imperador da Rssia entendesse nomear por sucessor pessoa notoriamente indigna de ostentar a coroa, no plausvel que esse vasto imprio se submetesse cegamente a disposio to perniciosa. E quem ousar censurar uma Nao por no ter desejado concorrer para a sua runa, em deferncia s ltimas determinaes de seu prncipe? Desde que o povo se submete ao soberano que lhe foi designado, ele ratifica tacitamente a escolha feita pelo ltimo prncipe e o novo monarca assume os direitos de seu predecessor.
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VI

Principais objetitos de um bom governo. Primeiro: prover as necessidades da Nao

72: O DA SOCIEDADE ASSINALA AO SOBERANO OS SEUS DEVERES. 1: ELE DEVE PROCURAR AABUNDNCIA: Depois dessas consideraes acerca da constituio do Estado, vejamos agora os principais objetivos de um bom governo. Vimos acima (41 e 42) que o prncipe, uma vez investido da autoridade soberana, est encarregado dos deveres da Nao no tocante ao governo. Tratar dos principais objetivos de uma sbia administrao consiste, pois, em expor simultaneamente os deveres de uma Nao acerca de si mesma e os do soberano acerca de seu povo. Um sbio dirigente do Estado encontrar nos fins da sociedade civil a regra de indicao geral de seus deveres: a sociedade estabelecida com vistas a oferecer aos seus membros o necessrio, o conforto, e mesmo os prazeres da vida e, em geral, tudo o que for preciso para a felicidade dela mesma de modo a assegurar que cada qual possa usufruir tranqilamente de seus bens e obter justia com segurana; enfim, defender-se contra toda a violncia exterior (15). A Nao, ou o seu

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dirigente, diligenciar, pois, em primeiro lugar, para prover as necessidades do povo, fazer reinar no Estado uma abundncia feliz de todas as cousas necessrias vida, inclusive conforto e prazeres inocentes e louvveis. Uma vidaagradvel, sem frouxido, contribui para a felicidade dos homens; ela os pe em condio de trabalhar com mais zelo e xito para a prpria perfeio, o que lhes constitui a maior e principal obrigao e um dos objetivos que eles esto obrigados a ter em vista quando se unem em sociedade. 73: 2. ZELAR PARA QUE HAJA NMERO SUFICIENTE DE OPERRJOS: Com o propsito de procurar essa abundncia de todas as cousas, deve-se diligenciar para que haja um nmero suficientede trabalhadores competentes em cada profisso til e necessria. Esse resultado ser alcanado pela ateno cuidadosa do governo por meio de sbios regulamentos e de apoios adequados, sem recurso coero sempre funesta para a indstria. 74: 3(). IMPEDIR A SADA DOS sAo TEIS: Trabalhadores que so teis ao Estado devem ser neles mantidos e a autoridade pblica, certamente, tem o direito de usar de coero, se for preciso, para esse propsito. Todo cidado devedor de sua ptria; e um arteso em particular, alimentado, educado, instrudo em seu seio, no pode legitimamente deix-la e levar ao estrangeiro uma indstria que recebeu de sua ptria, a menos que esta lhe tenha sido omissa ou no lhe possa retribuir com a justa remunerao de seu trabalho e de seus talentos. preciso, pois, oferecer-lhe emprego e se ele, podendo ter ganho honesto em seu pas, desejar abandon-lo sem razo, a ptria tem o direito de ret-lo. Mas deve-se usar este direito com moderao e somente em casos importantes ou de necessidade. A liberdade a alma dos talentos e da indstria; freqentemente um trabalhador ou um artista, depois de muitas viagens, reconduzido ao seu pas, por uma afeio natural, e retoma mais capaz e melhor habilitado para servi-lo. Com exceo de certos casos especiais, o melhor caminho nesse assunto somente

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usar meios suaves, proteo, encorajamento, etc. e, de resto, confiar nesse amor natural que todo homem tem pelo lugar de nascimento. QUE OS CONTRATAM: Quanto a esses emissrios 75: Dos que vm para um pas com o propsito de contratar sditos teis, o soberano tem o direito de puni-los severamente e tem motivo justo de queixa contra a potncia que os envia. Discutiremos ainda de forma mais detalhada a questo geral, se permitido a um cidado deixar a sociedade de que membro. As razes especiais no caso de trabalhadores teis aqui nos so suficientes. 76: 4". DEVE-SE ESTIMULAR o TRABALHO E AINDSTRlA: O Estado deve encorajar o trabalho, promover a indstria, estimular talentos, propor recompensas, honrarias, privilgios e fazer com que cada qual encontre trabalho para viver. A Inglaterra merece ainda ser aqui indicada como exemplo. O parlamento vela incessantemente por esses propsitos importantes; ele no poupa nem cuidado nem despesas. E no estamos a ver, mesmo numa sociedade de cidados excelentes, formados com esse propsito, nela investirem quantias considerveis? A Inglaterra distribui na Irlanda prmios aos trabalhadores que mais se distinguem nas respectivas profisses; ela d assistncia para imigrantes que no tm meios de nela se estabelecer. Pode tal Estado deixar de ser poderoso e feliz?
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VII

Da cultura das terras

77: UTILIDADE DO CULTIVO: De todas as artes, a lavoura, ou a agricultura, sem dvida a mais til e mais necessria. a arte que nutre o Estado. O cultivo do solo multiplica infinitamente a produo; ele constitui o recurso mais seguro, o fundo de riqueza e de comrcio mais slido para todo o povo que habita em clima favorvel.

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78: POLTICA NECESSRIA AESSE RESPEITO, COM V1STAS TERRAS: Este assunto requer toda a ateno do governo. O soberano no deve ser negligente em alcanar a melhor cultura para suas terras. Ele no deve permitir que comunidades ou particulares adquiram grandes extenses de terra para no serem cultivadas. Esses direitos de comunas que privam o proprietrio da livre disposio de suas terras e no lhe permite cerc-las e dar-lhes a cultura mais vantajosa; esses direitos, repito, so contrrios ao bem do Estado e devem ser suprimidos, ou reduzidos a justos limites. O direito de proprietrios privados no impede que a Nao tenha o direito de tomar medidas efetivas para fazer o pas inteiro produzir a maior e mais vantajosa renda possvel. 79: PARA A PROTEO DOS LAVRADORES: O governo deve, cuidadosamente, evitar tudo aquilo que possa desencorajar o lavrador de seu trabalho. Esses impostos excessivos e desproporcionados que incidem quase por inteiro sobre os agricultores, e os aborrecimentos causados pelos agentes que os coletam, privam esses camponeses infelizes dos meios de cultivar o solo e despovoam os campos. A Espanha o pas mais frtil da Europa e o menos cultivado. A Igreja possui nela muitas terras; e os representantes das casas de comrcio reais, autorizados a negociar por um preo vil todo o trigo do campons, acima do que lhe destinado subsistncia, desencorajam tanto o lavrador que ele somente semeia a quantidade necessria de trigo que produz para si e sua famlia. Donde essa escassez freqente num pas que poderia suprir os seus vizinhos. 80: DEVE-SE PRESTIGIAR A LAVOURA: Outro abuso tambm prejudicial agricultura o desprezo que se tem para com o lavrador. Os burgueses da cidade, os artesos, mesmo os mais servis, os cidados desempregados, todos contemplam o agricultor com um olhar de desdm, humilham-no, desencorajam-no: eles ousam desprezar uma profisso que nutre o gnero humano, a vocao natural do homem. Um pequeno comerciante de mveis, um alfaiate,pe abaixo de si a ocupao prestigiada pelos primeiros cnsules e ditadores de Roma. A China tem sabiamente

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evitado este abuso; o lavrador nela honrado; e para manter essa maneira feliz de pensar, todo ano, em dia solene, o prprio imperador, seguido por sua corte, pe a mo no arado e semeia um pedao de terra. A China o pas melhor cultivado do mundo; ela nutre um nmero considervel de habitantes, que, de incio, parecem ao viajante serem demasiado numerosos para o espao que ocupam. 81: OBRIGAAO NATURAL DE CULTIVAR A TERRA: A cultura do solo no apenas recomendvel ao governo em razo de sua extrema utilidade, mas ela ainda uma obrigao imposta ao homem pela natureza. Toda a terra est destinada a alimentar os seus habitantes; mas ela no pode nutri-los a no ser que eles a cultivem. Toda Nao est, pois, obrigada, por lei natural, a cultivar a terra que est sob seu cuidado e ela no tem o direito de estender seus donnios ou de recorrer assistncia de outros, a no ser que a terra por ela habitada no puder suprir as suas necessidades. Esses povos, tais como os antigos germanos e alguns trtaros modernos que, habitantes de pases frteis, desdenham cultiv-las e preferem viver de rapinas, falham em suas obrigaes, injuriam os seus vizinhos e merecem ser exterminados como animais ferozes e daninhos. H outros que, para furtar-se ao trabalho, buscam viver apenas da caa e de seus rebanhos. Isso poderia ter sido bem feito na primeira idade do mundo, quando a terra produzia mais que o necessrio, sem cultivo, para o pequeno nmero de seus habitantes. Mas agora que o gnero humano muito se multiplicou, ele no poderia subsistir se todos os povos desejassem viver dessa maneira. Aqueles que ainda mantm esse gnero de vida ocioso ocupam mais terra do que teriam necessidade com trabalho honesto e eles no podem queixar-se se outras naes, mais laboriosas e mais dedicadas, venham a ocupar uma parte de suas terras. Assim, enquanto a conquista dos imprios civilizados do Peru e do Mxico foi uma usurpao notria, o estabelecimento de vrias colnias no continente da Amrica do Norte pode, desde que contido em justos limites, ter sido inteiramente legtimo. Os povos dessas vastas regies mais as percorriam que as habitavam.

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82: CELEIROS PBLICOS: O estabelecimento de celeiros pblicos uma excelente medida para a preveno da fome. Mas deve-se evitar administr-los com esprito mercantil e com o objetivo de lucro: incidirse-ia assim em monoplio, o qual, ainda que exercido por oficial do governo, no deixaria de ser ilcito. Esses celeiros so abastecidos em tempos de grande abundncia e liberam o agricultor dos trigos que lhe restarem ou que seriam exportados em demasiada quantidade; os celeiros se abrem quando o trigo valorizado e mantm-no em preo justo. Se, em tempos de abundncia, eles impedem que esse alimento to necessrio facilmente caia a um preo muito baixo, esta inconvenincia mais que compensada pelo alvio que eles trazem em tempos de carestia, ou antes, no h neles inconvenientes a notar. Quando o trigo se destina a comrcio intenso, o trabalhador tentado, para obter preferncia, a vender seus produtos por preo que obrigado a aumentar em seguida, o que desregula o comrcio, ou bem ele se acostuma a uma facilidade que no pode sustentar em tempos mais difceis. Seria vantajoso s fbricas e ao comrcio que a subsistncia dos trabalhadores pudesse ser mantida com preo mdico e mais constante. Enfim, celeiros pblicos mantm no Estado trigos que dele sairiam com preo vil, e que poderiam retornar com grande nus em tempos de ms colheitas, isto , uma perda real para a Nao. Esses estabelecimentos no impedem, contudo, o comrcio do trigo. Se o pas produzir, em sucessivos anos, mais trigo que o necessrio para manter os seus habitantes, o suprfluo no deixar de escoar para fora, mas ele alcanar um preo mais estvel e mais justo.
CAPTULO

VIII

Do comrcio
83: Do COMRCIO E EXTERIOR: por meio do comrcio que os indivduos e as Naes podem obter as coisas de que tm necessidade. H duas divises: comrcio interno e externo. O primeiro se exerce entre os diversos habitantes do Estado e o segundo feito com povos estrangeiros.

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84: UTILIDADE DO INTERNO: O comrcio interno de grande utilidade; ele enseja a todos os cidados obterem as cousas de que necessitam, o til, o agradvel. Ele permite que o dinheiro circule, estimula a indstria, encoraja o trabalho e, dando subsistncia a grande nmero de cidados, contribui para tornar o pas mais populoso e mais nco. 85: UTILIDADE DO EXTERIOR: As mesmas razes demonstram a utilidade do comrcio exterior, s quais se adicionam duas vantagens: 1") por seu comrcio com os estrangeiros que uma Nao obtm as cousas que a natureza ou a arte no produzem em seu prprio pas; 2) Se este comrcio for bem direcionado, ele aumenta as riquezas da Nao, e pode ser para ela fonte de abundncia e de riquezas. O exemplo dos cartagineses em tempos remotos, e dos ingleses e holandeses em tempos modernos fornecem disso prova significativa. Cartago equilibrou suas riquezas, a fortuna, a coragem e a grandeza de Roma. A Holanda teve sucesso imenso em seus empreendimentos: uma companhia de seus mercadores possui reinos no Oriente e o governador da Bavria comanda os reis da ndia. A que degrau de poder e de glria no chegou a Inglaterra? Outrora os seus reis e povos guerreiros fizeram conquistas brilhantes que os revezes to freqentes na guerra a fizeram perder: atualmente sobretudo o comrcio que pe em suas mos o equilbrio da Europa. 86: OBRIGAO DE CULTIVAR o INTERNO: As Naes so obrigadas a cultivar o comrcio interno: 1".porque se demonstra no direito natural que os homens devem assistir-se mutuamente, contribuir tanto quanto for possvel para a perfeio e felicidade dos seus semelhantes, donde resulta aps a introduo da propriedade, a obrigao de ceder para outros, por preo justo, as cousas de que se precisa e que no se destinam ao nosso uso; 2". Desde que a sociedade est estabelecida com o propsito de habilitar cada qual a procurar as cousas necessrias para a sua perfeio e felicidade, e desde que o comrcio interno o meio de

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obter todas essas cousas, a obrigao de cultivar esse comrcio decorre do prprio pacto que formou a sociedade; 3.E, por ltimo, como a Nao ajudada pelo seu prprio comrcio, ela tem o direito de faz-lo florescer. 87: OBRIGAO DE CULTIVAR o COMRCIO EXTERIOR: Pela mesma razo inferida do bem do Estado e tambm com o propsito de obter para os cidados aquilo de que eles necessitam, uma Nao obrigada a exercer e favorecer o comrcio exterior. De todos os Estados modernos, a Inglaterra o que mais se tem distinguido, a esse respeito. O Parlamento, continuamente, observa este aspecto importante; ele efetivamente protege a navegao e seus mercadores, assim como encoraja com gratificaes considerveis a exportao de mercadorias e manufaturas suprfluas. Pode-se ver em livro bastante autorizado as vantagens que esse Reino tem obtido de poltica to sbia. Do DIREITO DE COMPRAR: 88:FUNDAMENfO DO DIREITO DE Vejamos agora quais so as leis da natureza e quais so os direitos das Naes no tocante ao comrcio que elas exercem reciprocamente. Os homens esto obrigados a se assistirem uns aos outros tanto quanto possam, e a contribuir para a perfeio e felicidade de seus semelhantes (Preliminares, 10), donde se segue, como acabamos de dizer (86) que, depois da introduo da propriedade, tm eles a obrigao de vender uns para outros, por preo justo, as cousas de que o possuidor no mais necessite e que sejam necessrias a outrem uma vez que, desde essa introduo da propriedade, nenhum indivduo pode obter de outro modo tudo o que lhe necessrio ou til, tudo o que lhe permita tornar a vida doce e agradvel. Desde que o direito deriva de obrigao 3), a obrigao que acabamos de estabelecer confere a cada homem o direito de obter os bens de que necessita, comprando-os por preo razovel daqueles que deles no tenham necessidade para si mesmos. Tambm vimos (Preliminares, 5) que os homens, unindo-se em sociedade civil, no puderam subtrair-se autoridade das leis naturais,

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e que a Nao toda permanece submetida, como Nao, a essas mesmas leis; de modo que a lei das Naes, ou o direito das gentes natural e necessrio, no seno o direito da natureza devidamente aplicado s Naes ou Estados soberanos 6). De tudo isso resulta que uma Nao tem o direito de obter por preo eqitativo as cousas que lhe faltem, comprando-as dos povos que delas no necessitem para eles prprios. Eis o fundamento do direito do comrcio entre Naes, e especialmente do direito de comprar. 89: Do DIREITO DE VENDER: Pode-se aplicar o mesmo raciocnio ao direito de vender cousas de que desejamos nos desfazer. Homens e Naes so perfeitamente livres para comprar ou no alguma cousa que esteja venda, ou de no compr-la, e de compr-la de uma pessoa ou no de outra; a lei natural no confere, a quem quer que seja, nenhuma espcie de direito de vender o que lhe pertence a quem no deseja compr-lo, nem a nenhuma Nao o direito de vender seus produtos ou mercadorias para um povo que no queira adquiri-los. 90: PROIBIO DE MERCADORIAS ESTRANGEIRAS: Conseqentemente, cada Estado tem o direito de proibir a entrada de mercadorias estrangeiras; e os povos a quem essa proibio interessa no tm o direito de disso queixar-se, como se lhes tivesse sido recusado um servio humanitrio. As queixas seriam ridculas, pois que teriam por objeto um lucro que essa Nao lhes recusa, ao no querer que esse lucro se faa s suas expensas. verdade apenas que, se urna Nao estivesse bem certa que a proibio de suas mercadorias no se baseia em nenhuma razo conectada com o bem deste Estado que as probe, ela teria motivo para considerar esta conduta como sinal de ato inamistoso e apresentar queixa com este fundamento. Mas ser-lhe-ia muito dificil julgar com segurana que esse Estado no teria tido razo slida ou aparente para adotar essa proibio. 91: NATUREZA DO DIREITO DE Pela maneira com que temos demonstrado o direito que uma Nao tem de comprar de outras o

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que lhe falta, fcil ver que esse direito no daqueles que so chamados e que so acompanhados do direito de coero. Desenvolvamos mais claramente a natureza de um direito que pode dar lugar a srias disputas. VS tendes o direito de comprar de terceiros cousas que vos faltem e das quais eles no tm necessidade: vindes a mim mas eu no sou obrigado a vend-las se eu prprio delas precisar. Em virtude da liberdade natural que pertence a todos os homens, cabe a mim julgar se delas tenho necessidade ou se estou numa posio de vend-las; e no cabe a vs decidir se eu julgo bem ou mal, porque no tendes nenhuma autoridade sobre mim. Se, impropriamente ou sem razo, recusar vender-vos aquilo de que tendes necessidade por um preo justo, eu peco contra o meu dever; vs podeis ter queixa a respeito, mas deveis suport-la, e no podeis forar-me a essa venda, sem atacar minha liberdade natural e fazer-me ofensa. O direito de comprar as coisas de que se necessita , pois, um direito imperfeito, como aquele que tem um pobre de receber esmola do rico; se este recusa d-la, o pobre tem razo de queixar-se, mas ele no tem o direito de obt-la pela fora. Se for perguntado o que uma Nao teria direito de fazer em caso de extrema necessidade, eis uma questo a ser tratada no livro seguinte, captulo IX. 92: COMPETE VER COMO ELA QUER EXERCER O COMRCIO: Tendo em vista que uma Nao no pode ter naturalmente o direito de vender suas mercadorias para outra Nao que no deseja compr-las; que ela tem somente o direito imperfeito de comprar de outras o que ela precisar; que compete a estas decidir quando esto em condies de vender ou no; e que, finalmente, o comrcio consiste na venda e compra recproca de toda sorte de mercadorias, est claro que depende de cada Nao exercer ou no comrcio com outra. E se quiser permitir o comrcio com outra, cabe-lhe tambm estabelecer condies para tanto, pois, ao permitir-lhe o comrcio, ela lhe confere um direito; e cada qual livre para vincular determinada condio a um direito que voluntariamente concede.

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93: COMO SE ADQUIRE UM DIREITO EM COMRCIO EXTERIOR: Homens e Estados soberanos podem obrigar-se reciprocamente, por suas promessas, s cousas para as quais a natureza no os obrigava seno imperfeitamente. Como uma Nao no tem normalmente um direito perfeito de exercer o comrcio com outra, ela pode obter esse direito mediante um pacto ou tratado. Sendo esse direito somente adquirido por tratados, ele se relaciona com essa espcie de direito das gentes chamado convencional (Preliminares, 24). O tratado que d um direito de comrcio a medida e a regra desse mesmo direito. 94: DA SlMPLES PERMISSO DO A mera permisso de comerciar no outorga direito perfeito a esse comrcio. Pois, se eu vos permito simples e puramente fazer uma certa coisa, eu no vos dou o direito de faz-lo em seguida contra meus desejos: vs podeis fazer uso de minha condescendncia pelo tempo que ela durar; mas nada me impede de mudar de vontade. Desde, pois, que compete a cada Nao decidir se ela quer ou no exercer o comrcio com outra, e sob que condies ela o deseja fazer (92), se uma Nao tem permitido que outra algumas vezes venha a comerciar no pas, ela ainda permanece livre para proibir tal comrcio quando desejar, ou para restringi-lo, ou para submet-lo a certos regulamentos, e o povo que exercia esse comrcio no pode queixar-se de que se lhe tenha feito uma injustia. Observemos apenas que as Naes, como os indivduos, so obrigadas a comerciar umas com as outras para a vantagem comum do gnero humano, em razo da necessidade que os homens tm uns para com os outros. (Preliminares 10, 11, e Livro I, 88); mas isto no exclui cada qual de ser livre para considerar, em casos particulares, se lhe convm promover ou permitir o comrcio e, como os deveres para consigo mesma so mais importantes que os deveres para com outrem, se uma Nao se encontra em certas circunstncias que ela julga o comrcio exterior perigoso para o Estado ela pode a ele renunciar e proibi-lo. assim que os chineses tm feito por muitos anos. Mas devemos acrescentar que deve haver razes graves e importantes pelas

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quais os deveres de uma Nao para consigo mesma devam demandar tal medida. Em outras palavras, ela no pode recusar-se aos deveres gerais de humanidade.
95:
os AO

>: Temos visto quais so os direitos, em relao ao comrcio,

que as Naes tm da natureza e como elas podem obter outros por meio de tratados. Vejamos se elas podem fundamentar alguns desses direitos em uso prolongado. Para decidir solidamente essa questo, devemos primeiro notar existirem direitos consistentes em simples possibilidade, chamados em latim jura merae facultatis, direitos de simples faculdade. Eles so de tal natureza que o possuidor deles pode us-los ou no como entender, ficando absolutamente livre de coero a esse respeito, de modo que os atos referentes ao exerccio desses direitos so atos de mero querer, que cada um pode ou no fazer uso de acordo com sua vontade. Est claro que direitos dessa espcie no podem prescrever pelo no-uso uma vez que a prescrio somente fundada em consentimento legitimamente presumido e que, se possuo um direito de tal natureza que eu possa usar ou no como achar melhor sem que ningum tenha nada a me determinar a respeito, no se pode presumir do fato de no ter usado desse direito por longo tempo que seja minha inteno abandon-lo. Esse direito no assim sujeito prescrio a menos que eu tenha sido proibido ou impedido de dele fazer uso e a que tenho obedecido com sinais suficientes de consentimento. Suponhamos, por exemplo, que sou livre para escolher determinado moinho e que durante um tempo considervel, um sculo digamos, eu me servi do mesmo moinho; desde que nesse caso, eu o fiz por vontade minha, no se pode presumir desse longo uso do mesmo moinho que eu tenha desejado me privar do direito de utilizar outro moinho qualquer, e por conseguinte o meu direito no pode prescrever-se. Mas suponhamos agora que, desejando servir-me de outro moinho, o dono ope-se mudana e me faz consignar uma proibio; se eu obedecer proibio, sem necessidade e sem qualquer resistncia a ela, ainda que tenha o

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poder de me defender e que conhea o meu direito, esse direito est prescrito porque pela minha conduta dei lugar a presumir-se legitimamente ter desejado abandonar esse direito. Vejamos a aplicao destes princpios. Desde que dependa da vontade de cada Nao comerciar ou no com outra, e regular a maneira pela qual ela deseja comerciar (92), o direito de comrcio , evidentemente, um direito de pura faculdade merae Jacullatis), uma simples possibilidade e, por conseguinte, esse direito imprescritvel. Assim, mesmo que duas Naes tenham comerciado ininterruptamente, durante um sculo, esta longa prtica no confere nenhum direito a nenhuma delas; e nenhuma delas obrigada por essa razo a permitir outra vir a comprar ou vender-lhe suas mercadorias: ambas retm o duplo direito, tanto de proibir a importao de mercadorias estrangeiras como de vender as suas mercadorias para quem quiser receb-las. Que os ingleses tm tido o hbito desde tempos imemoriais de obter vinhos de Portugal, eles no esto por esta razo obrigados a continuar esse comrcio, e no perderam o direito de comprar vinhos alhures. Que eles vendam por um longo tempo tecidos em Portugal, eles nem por isso deixam de ser donos de vend-los em outro lugar; e reciprocamente, os portugueses no so obrigados por causa de um longo uso, nem de vender vinho aos ingleses nem de comprar-lhes os tecidos. Se uma Nao deseja algum direito de comrcio, que no dependa da vontade de outra, ela deve obter esse direito atravs de tratado. 96: IMPRESCRITIBILIDADE DIREITOS BASEADOS TRATADOS: O que j dissemos deve ser aplicado aos direitos do comrcio adquiridos por tratados. Se uma Nao tem obtido desse modo o direito de vender certas mercadorias para outra, ela no perde o seu direito, mesmo que ela deixe escoar grande nmero de anos sem fazer uso desse direito, e tal direito uma simples possibilidade merae Jacultatis), do qual ela pode usar ou no como lhe aprouver. Contudo, certas circunstncias poderiam alterar a concluso j firmada, porque elas mudariam implicitamente a natureza do direito

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em questo. Por exemplo, suponha-se que a Nao que concedeu determinado direito o fez com o propsito de obter determinada espcie de mercadoria de que necessita. Suponha-se que a Nao que obteve o direito de vender negligencie o fornecimento dessas mercadorias e uma outra se oferea para entreg-las regularmente, sob a condio de ter um privilgio exclusivo. Parece certo que este privilgio pode ser concedido. A Nao que tiver o direito de vender ento ir perd-lo, porquanto no deu cumprimento s condies implcitas desse mesmo direito.
E DAS COMPANHIAS DE EXCLUSIVO: O 97: Do comrcio feito para o benefcio comum da Nao; todos os cidados tm o direito igual de tomar parte dele. Assim monoplios so geralmente contrrios aos direitos dos cidados. No entanto, h excees a esta regra baseadas no bem-estar do Estado e um sbio governo pode, em certos casos, estabelecer um monoplio com justia. Existem empresas de comrcio que podem somente ser feitas em grande escala, que demandam capitais considerveis, e que esto alm da capacidade dos particulares. H outras que logo se tornam deficientes quando no so conduzidas com muita prudncia, com uma poltica uniforme, e segundo princpios e regras firmes: este gnero do comrcio no pode ser feito indistintamente pelos particulares; constituem-se ento empresas, sob a autoridade do governo. E como estas sociedades no podem se manter sem privilgio exclusivo, benfico para a Nao conced-lo. Desse modo, surgiram em diferentes pases essas sociedades poderosas que fazem o comrcio do Oriente. Quando os sditos das Provncias Unidas se estabeleceram nas ndias sobre as runas de seus inimigos portugueses, mercadores particulares no teriam ousado pensar em tal empreendimento, e o prprio Estado, ocupado com a defesa de sua liberdade contra os espanhis, no tinha os meios de fazer essa tentativa. tambm certo que quando um ramo de comrcio ou manufatura no est no mbito do poder de uma Nao, se algum se oferecer

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estabelec-los sob condio de privilgio exclusivo, o soberano pode conceder esse privilgio. Mas todas as vezes que um comrcio pode estar livre para toda a Nao, sem inconveniente e sem ser menos vantajoso para o Estado, reserv-lo a cidados privilegiados uma violao do direito de outros. Mesmo quando esse comrcio exige despesas considerveis para manter fortalezas, navios de guerra, etc., como do interesse comum da Nao, o Estado pode encarregar-se dessas despesas e entregar o lucro desse comrcio aos negociantes para o encorajamento da indstria. Isto o que feito, algumas vezes, na Inglaterra. 98: BALANA DE COMRCIO. ATENO DO GOVERNO AESSE RESPEITO: O dirigente da Nao deve velar cuidadosamente para encorajar o comrcio vantajoso para o seu povo e suprimir ou restringir aquele que lhe for prejudicial. Como o ouro e a prata tm se tornado o padro comum de valor de todos os bens comerciais, o comrcio que importa maior quantidade desses metais que aquela que sai do Estado considerado um comrcio benfico; ruinoso, ao contrrio, o que contribui para sair do Estado mais ouro e prata do que aqueles que nela ingressam. o que se chama de balana do comrcio. A habilidade dos dirigentes consiste em fazer essa balana inclinar-se em favor da Nao. 99: DIREITOS DE INGRESSO: De todas as medidas que um governo sbio pode tomar com esse objetivo, ocupar-nos-emos aqui somente dos direitos de ingresso. Quando os dirigentes do Estado, sem constranger absolutamente o comrcio, desejam no entanto desvi-lo para outra direo, impem mercadoria que pretendem desviar tributos capazes de indispor os habitantes em relao a essa mercadoria. Dessa maneira, os vinhos franceses tm que pagar altos impostos na Inglaterra, enquanto os vinhos portugueses pagam tributos mdicos. Isto acontece porque a Inglaterra vende poucos de seus produtos para a Frana, enquanto que ela os direciona em quantidade para Portugal. Tal poltica perfeitamente justa e a Frana no pode disso queixar-se. Cada Nao

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competente para decidir sobre as condies em que ela receber mercadorias estrangeiras, e at mesmo recusar-se a receb-las de todo.
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IX

Do cuidado das vias pblicas e dos direitos de pedgio

lO: UTILIDADE DAS VIAS PRINCIPAIS, DOS CANAIS, ETC.: A utilidade das vias principais, pontes, canais e, em uma palavra, de todas as vias de comunicao seguras e teis, no pode ser questionada. Elas facilitam o comrcio de um lugar para outro, e fazem o transporte de mercadorias menos custoso, mais seguro e mais fcil. Os comerciantes encontram-se em condies de vender por melhores preos e obter preferncia; atraem-se os estrangeiros cujas mercadorias so distribudas pelo pas e produzem dinheiro em todos os lugares por onde passam. A Frana e a Holanda desfrutam de experincia diria e feliz a esse respeito. ll: DEVER DO GOVERNO A ESSE PROPSITO: Assim, um dos principais cuidados do governo, no interesse do bem pblico e do comrcio em particular, ser relao s vias principais, canais, etc. O governo deve diligenciar para torn-los seguros e teis. A Frana tem se distinguido entre vrias naes pelo cuidado magnificncia com que tem cumprido esse dever pblico. Por toda a parte, policiais a cavalo velam pela segurana dos viajantes; vias pavimentadas magnficas, pontes, canais, facilitam a comunicao entre uma provncia e outra: Lus XIV uniu dois mares com obra digna dos romanos. l2: Dos DIREITOS DO GOVERNO A ESSE MESMO RESPEITO: Toda a Nao deve, sem dvida, contribuir para medidas que lhe sejam teis. Quando, pois, a construo e a reparao das principais vias, pontes, canais forem muito onerosas para os cofres do Estado, o governo pode compelir o povo a trabalhar neles ou a contribuir para as despesas. Os

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camponeses em certas provncias da Frana tm sido vistos a criticar trabalhos a eles impostos para a construo de estradas; mas eles no tardam a agradecer os autores desses empreendimentos to logo a experincia lhes abre os olhos para o verdadeiro interesse deles prprios. l3: FUNDAMENTO DO DIREITO DE PEDGIO: A construo e a manuteno de todas essas obras demandam grandes despesas e, para tanto, uma Nao pode, com muita justia, exigir contribuio daqueles que delas fazem uso. Eis a fonte legtima do direito de pedgio. justo que um viajante e especialmente um mercador que use um canal, uma ponte ou uma via pavimentada para si prprio ou para transportar mais facilmente suas mercadorias, contribua para as despesas desses trabalhos teis, com uma quota mdica; e se um Estado achar melhor isentar dessa quota os cidados, nada o obriga a tambm beneficiar os estrangeiros. 104: ABUSO DESSE DIREITO: Mas um direito to legtimo em sua origem degenera freqentemente em grandes abusos. H pases onde nenhum cuidado tomado com as vias de comunicao mas se exigem pedgios considerveis. Um senhor que possua uma faixa de terra na direo de um rio exige um pedgio, embora no dispense um centavo para a manuteno do rio e para a comodidade da navegao, o que caracteriza uma clara extorso e contraria o direito natural das gentes, uma vez que a partilha e a propriedade das terras no subtraem de ningum o direito de passagem quando no se prejudica aquele em cujo territrio se transite. Este um direito que cada homem tem por natureza e que com justia no se pode faz-lo comprar. Mas o direito das gentes arbitrrio ou o costume das Naes toleram hoje este abuso enquanto no acarretam a destruio do comrcio. No entanto, esse direito no aceito com facilidade seno quando fundado em uso antigo. A imposio de novos pedgios freqentemente fonte de disputa. Em outros tempos, os suos foram guerra contra os duques de Milo por causa de constrangimentos dessa natureza. O direito de pedgio ainda sujeito a abuso quando se exige dos transeuntes contribuio

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excessiva, desproporcional despesa de manuteno dos cannhos pblicos. Para evitar qualquer aborrecimento ou dificuldade, as naes se ajustam hoje por meio de tratados.
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Da Moeda e do Cmbio
lS: ESTABELECIMENTO DA MOEDA: Nos tempos antigos, os homens trocavam, desde a introduo da propriedade, os seus alimentos e bens suprfluos por outros de que necessitassem. Depois, o ouro e a prata tomaram-se a medida comum do preo de todas as cousas e, para que o povo no fosse enganado, imaginou-se imprimir em peas de ouro e prata, em nome do Estado, a imagem do prncipe ou outra chancela qualquer, que fosse a marca e a garantia do valor da cousa negociada. Essa instituio est largamente em uso e de inestimvel convenincia. fcil ver quanto ela favorece o comrcio. As Naes ou os seus dirigentes no saberiam dar demasiada ateno a to importante matria. l6: DEVERES DA NAO ou DO PRNCIPE EM RELAO MOEDA: Desde que a chancela existente na moeda a garantia do seu ttulo e do seu peso, est claro que a ningum permitido indiferentemente fabric-la. As fraudes se tomariam demasiado comuns e a moeda perderia logo a confiana pblica. Isto seria destruir uma instituio til. A moeda fabricada pela autoridade e em nome do Estado ou do prncipe que dela so fiadores. O prncipe deve, pois, ser cuidadoso em fabricar uma quantidade suficiente de moeda para as necessidades do pas e dever velar para que ela seja confivel, ou seja, que o seu valor intrnseco seja proporcional ao seu valor extrnseco. verdade que no caso de necessidade premente, o Estado estaria no direito de ordenar aos cidados receber a moeda por um preo mais alto que ela realmente valha mas, como os estrangeiros no a recebero por esse preo, a Nao no ganha nada com o expediente:

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disfarar o ferimento por um momento, mas no cur-lo. Este excesso de valor arbitrariamente acrescido moeda constitui um dbito real contrado pelo soberano para com os particulares e, para observar uma estrita justia, deve-se, passada a crise, resgatar toda essa moeda s custas do Estado que a pagar em outras espcies ao curso natural. Em outros termos, esse tipo de encargo imposto em tempo de necessidade, recai apenas sobre aqueles que receberam pagamento em moeda arbitrria; o que injusto. Alis, a experincia tem mostrado que expediente desse tipo prejudicial ao comrcio uma vez que ele destri a confiana dos estrangeiros e dos cidados, faz aumentar na mesma proporo o preo de todos os bens e, induzindo as pessoas a guardar ou a enviar ao exterior as melhores e mais antigas moedas, suspende a circulao do dinheiro. Assim, obrigao de toda Nao e de todo soberano abster-se, tanto quanto possvel, de to perigoso expediente, e preferir recorrer a impostos e contribuies extraordinrias para atender s necessidades prementes do Estado. 107: Dos DIREITOS DA AUTORIDADE PBLICA AESSE RESPEITO: Desde que o Estado o fiador da validade da moeda e de seu curso, cabe apenas autoridade pblica fabric-la. Aqueles que a contrafizerem violam os direitos do soberano, seja quando o fazem sob a mesma denominao e valor, seja quando a alteram. Eles so chamados moedeiros falsos e o crime que cometem , com razo, considerado um dos mais graves pois, se eles fabricam a moeda de mau quilate, eles furtam a ambos - o pblico e o prncipe - e se a fazem de bom quilate, eles usurpam o direito do soberano. Eles no se prestaro a fazer uma moeda de bom quilate a menos que haja lucro em fabric-la; nesse caso eles subtraem do Estado um ganho que ao Estado pertence. Em todos os casos, eles fazem injria ao soberano; desde que a f pblica garante a moeda, apenas o soberano tem o direito de fabric-la. O direito de imprimir moeda tambm includo entre os direitos de e Bodin''? relata que, quando
(14)

De la

Liv. I, capo X.

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Sigismond Augustus, rei da Polnia, deu esse privilgio ao duque da Prssia em 1543, os Estados do reino fizeram um decreto no qual estava inscrito que o rei no poderia dar esse direito por ser ele inseparvel da coroa. O mesmo autor observa que, conquanto outrora muitos senhores e bispos da Frana tivessem o privilgio de fabricar moeda, presumia-se estarem eles agindo por autoridade do rei, o qual, finalmente, aboliu todos esses privilgios por causa de abusos.

18: INJRIA QUE UMA NAAo PODE FAZER AOUTRA A RESPEITO DE

MOEDA: A partir dos princpios que temos estabelecido fcil concluir que se uma Nao contrafaz a moeda de outra, ou se protege moedeiros falsos que a tanto se arriscam, ela faz uma injria segunda Nao. Mas, de ordinrio, criminosos desta classe no encontram asilo em nenhum lugar, estando todos os principes igualmente interessados em elimin-los.

19: Do CMBIO E DAS LEIS DO COMRCIO: H outro costume mais moderno e no menos til para o comrcio que o estabelecimento da moeda. o cmbio, ou o negcio bancrio por meio do qual um mercador
remete, de um canto do mundo para outro, quantias imensas, quase sem nus e, se ele desejar, sem risco. Pela mesma razo que os soberanos devem proteger o comrcio, eles esto obrigados a manter este costume por boas leis, as quais asseguraro os interesses de todos os comerciantes, nacionais ou estrangeiros. Em geral, igualmente do interesse e dever de toda Nao estabelecer leis comerciais sbias e justas.
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XI

Segundo objetivo de bom procurar a verdadeira felicidade da Nao

11O: UMA NAAo DEVE TRABALHAR PARA ASUA PRPRIA FELICIDADE:
Continuemos a expor os principais objetivos de um bom governo. O que dissemos nos cinco captulos precedentes refere-se aos cuidados

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em prover as necessidades do povo e em buscar a afluncia no Estado. Trata-se de questo de necessidade, o que no bastante para a felicidade de uma Nao. A experincia mostra que um povo pode ser infeliz no meio de todos os bens terrestres e no seio das riquezas. Tudo o que pode habilitar os homens a desfrutarem de verdadeira e slida felicidade constitui um segundo objetivo, que merece a mais sria ateno do governo. A felicidade o centro para o qual so direcionados todos os deveres que indivduos e povos querem para si prprios; o grande fim da lei natural. O desejo de ser feliz o mais poderoso incentivo que move os homens; a felicidade o fim para o qual todos tendem e ela deve ser o grande objetivo da vontade pblica (Preliminares, 5). Compete, pois, aos que formam essa vontade pblica ou queles que a representam - aos dirigentes da Nao - trabalhar para a felicidade desta, velar por ela continuamente e promov-la ao mximo de sua capacidade. 111: INSTRUO: Para ter xito nessa tarefa, necessrio instruir a Nao a buscar a felicidade onde ela se encontra, isto , na perfeio, e ensinar-lhe os meios de alcan-la. O dirigente do Estado no poderia, pois, contribuir com excessivo cuidado para a instruo de seu povo, para esclarec-lo, para form-lo nos bons conhecimentos e nas sbiasdisciplinas. Deixemos aos dspostas do Oriente o seu dio s cincias; eles temem ter os povos instrudos porque eles desejam domin-los como escravos. Mas se eles usufruem dos excessos de submisso, eles freqentemente padecem os da desobedincia e da revolta. Um prncipe sbio e justo no teme a claridade; ele sabe que ela sempre vantajosa para um bom governo. Se pessoas esclarecidas sabem que a liberdade o apangio natural do homem, elas sabem melhor que ningum quanto necessrio, em seu prprio interesse, que esta liberdade esteja submetida a uma autoridade legtima: inadequadas para serem escravas, elas so sditos fiis. 112: EDUCAO DA JUVENTUDE: As primeiras impresses so de conseqncia extrema para toda a vida. Nos anos tenros da infncia e

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da juventude, o esprito e o corao do homem recebem com facilidade a semente do bem ou a do mal. A educao da juventude um dos problemas mais importantes que precisam da ateno governamental. Ela no deve ser deixada exclusivamente aos pais. O caminho seguro para formar bons cidados estabelecer instituies prprias para a educao pblica, prov-las de professores capazes, dirigi-las sabiamente de maneira justa e correta, para que o povo delas se beneficie. e Como era admirvel a educao dos romanos em seus tempos florescentes, e como era natural que ento se formassem grandes homens! Jovens se relacionavam com personalidades ilustres; freqentavam suas casas, acompanhavam-nos aonde fossem e aproveitavam-se igualmente de suas instrues e exemplos: os esportes e as diverses deles eram exerccios prprios formao de soldados. A mesma prtica prevalecia em Esparta, e essa foi uma das mais sbias instituies do incomparvel Licurgo. Este legislador filsofo foi aos mnimos pormenores em relao educao da juventude, com a convico de que disso dependiam a prosperidade e a glria da sua repblica. 113: DAS CINCIAS E DAS ARTES: Quem duvidar que o soberano, que a Nao inteira no deva incentivar as artes e as cincias? Sem falar de tantas invenes teis que impressionam os olhos de toda a gente, as letras e as belas-artes elevam a mente e refinam as maneiras e, se o estudo nem sempre inspira o amor virtude, que infelizmente esse estudo encontra algumas vezes - talvez muito freqentemente - um corao desesperadamente viciado. A Nao e seus dirigentes devem, pois, proteger sbios e grandes artistas, e estimular-lhes os talentos mediante honrarias e recompensas. Deixemos os partidrios da barbrie declamar contra as cincias e as belas-artes; sem desdenhar de responder a seus vos raciocnios, contentemo-nos em apelar para a experincia. Comparemos a Inglaterra, a Frana, a Holanda, diversas cidades da Sua e da Alemanha, com tantos pases mergulhados na ignorncia e vejamos onde se encontram os mais retos homens e os melhores cidados. Seria erro grosseiro citar contra ns exemplo de Esparta e da Roma antiga.

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verdade que nesses exemplos negligenciavam-se especulaes por curiosidade, conhecimentos e artes por pura recreao; mas as cincias slidas e prticas, o estudo da moralidade, da jurisprudncia, da poltica e da guerra, eram ento cultivadas, principalmente em Roma, com mais cuidado do que entre ns. A utilidade das letras e das belas-artes e a necessidade de incentiv-las so hoje muito reconhecidas. Sem elas, o imortal Pedro, o Grande, no acreditava poder civilizar completamente a Rssia e torn-la florescente. Na Inglaterra, a cincia e os talentos conduzem s honras e s riquezas. Newton foi honrado, protegido e recompensado durante a sua vida, e depois de sua morte foi colocado no tmulo de reis. A Frana tambm merece a esse respeito louvores particulares; ela deve magnificncia de seus reis muitos estabelecimentos no menos teis que gloriosos. A Academia Real de Cincias difunde em todo lugar a luz e o desejo de saber. Lus XV forneceu-lhe os meios de buscar, sob o Equador e sob o Crculo Polar, a prova de uma importante verdade: sabemos agora a respeito dos clculos de Newton o que antes apenas se acreditava pela f. Feliz esse reino se a moda muito geral do sculo no o fizer negligenciar conhecimentos slidos para se entregar queles de pura recreao, e se aqueles que temem a luz do conhecimento no sucederem sufocar o germe da cincia! 114: DA LIBERDADE DE FILOSOFAR: Falo da liberdade de filosofar. a alma da repblica das letras. O que pode produzir um gnio encolhido pelo medo? Poderia o melhor homem esclarecer os seus cidados se ele se encontra sempre exposto a viles, ignorantes e hipcritas, e se ele obrigado a pr-se continuamente em guarda para no ser acusado de divergir indiretamente de opinies recebidas? Eu sei que a liberdade tem justos limites; que uma poltica sbia deve velar sobre a imprensa, e no permitir a publicao de trabalhos escandalosos que ataquem os costumes, o governo, ou a religio estabelecida pelas leis. Mas deve-se tambm tomar cuidado para no suprimir conhecimento do qual o Estado possa receber as mais preciosas vantagens. Poucas pessoas sabem

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manter um meio justo, e as funes de censor literrio deveriam ser investidas somente em homens igualmente sbios e esclarecidos. Por que procurar num livro por idias que no paream ser do desejo do autor nele publicar; e quando um escritor estiver ocupado e a falar apenas de ftlosofia, dever-se-iam escutar adversrios maldosos que desejam coloc-lo em conflito com a religio? Longe de inquietar um filsofo acerca de suas opinies, o magistrado deveria punir aqueles que o acusam publicamente de irreverncia, quando o filsofo respeitou em suas publicaes a religio do Estado. Os romanos parecem ter sido criados para dar exemplos ao mundo; este povo sbio mantinha com cuidado o culto e as cerimonias religiosas estabelecidas por lei, e deixava um campo aberto para a especulao dos ftlsofos. Ccero, senador, cnsul, ugure, ridicularizou a superstio; ele a ataca, pulveriza-a em seus escritos ftlosficos; em fazendo tal, ele acredita estar beneficiando a si mesmo e aos concidados, mas observa "que destruir a superstio no significa arruinar a religio; pois, prprio de um sbio respeitar as instituies, as cerimnias religiosas de seus ancestrais; e basta considerar a beleza do mundo e a ordem maravilhosa dos astros, para reconhecer a existncia de um ser eterno e todo perfeito, merecedor da venerao do gnero humano". Em seus dilogos sobre a natureza dos deuses, Ccero introduziu o acadmico Cotta, que era pontfice, o qual, ao atacar livremente as doutrinas dos esticos, declara que ele estaria sempre pronto a defender a religio estabelecida, da qual a repblica tinha recebido grandes vantagens; e que nem o sbio, nem o ignorante, poderia conduzi-lo a abandon-la; a esse propsito, ele diz a seu oponente: "Isto o que eu penso, como pontfice e como Cotta. Mas vs, na qualidade de filsofo, me conduzis a vosso sentimento pela fora de razes, pois um filsofo deve provar-me a religio que ele quer que eu abrace; a no ser que devamos seguir nossos ancestrais, mesmo na falta de provas". Acrescentemos a experincia a esses exemplos e a essas autoridades. Nunca um filsofo perturbou o Estado, ou a religio, com suas opinies. Elas no criariam nenhuma agitao entre o povo e nem escandalizariam os fracos, se a malignidade, ou o zelo imprudente, no se esforassem em

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descobrir-lhes um pretenso veneno. Esse zelo perturba o Estado, pe a religio em perigo e contribui para opor as opinies de um grande homem doutrina e ao culto estabelecidos pelas leis.

o HORROR AO VCIO: No bastante instruir a Nao; para conduzi-la felicidade, ainda mais necessrio inspirar-lhe o amor virtude e o horror ao vcio. Aqueles que tm aprofundado o conhecimento da moral esto convencidos de que a virtude o verdadeiro e nico caminho para se atingir a felicidade. Os seus princpios no so, dessa forma, nada mais que a arte de viver com felicidade. E seria preciso ser muito ignorante na poltica para no perceber quanto uma Nao virtuosa ser mais capaz que outra para formar um Estado feliz, tranqilo, florescente, slido, respeitvel para seus vizinhos e temeroso para seus inimigos. O interesse do prncipe deve, pois, concorrer com seus deveres e os movimentos de sua conscincia para induzi-lo a velar atentamente sobre to importante matria. Que ele empregue toda a sua autoridade para incrementar a virtude e reprimir o vcio; que ele destine para esse fim os estabelecimentos pblicos; e que para tanto ele dirija a sua conduta, o seu exemplo, a distribuio de favores, dos empregos, e das dignidades; que conduza sua ateno at a vida privada dos cidados; e que ele remova do Estado tudo o que conduza corrupo dos costumes. Compete poltica ensinar o prncipe, em pormenores, todos os meios de atingir este fim desejvel e mostrar-lhe aqueles que ele deve preferir e aqueles que ele deve evitar por causa de perigos que os acompanham na execuo, e dos abusos que nesses meios poderiam subsistir. Observemos apenas, em geral, que o vcio pode ser reprimido por punies, mas que os meios suaves so os nicos capazes de levar os homens prtica da virtude; a virtude inspira e no comanda.
DEVE-SE INSPIRAR O AMOR VIRTUDE E

115:

116: A NAO CONHECER A INTENO DAQUELES QUE A GOVERNAM: inquestionvel que as virtudes dos cidados constituem as melhores disposies que um governo sbio e justo possa desejar. Eis, pois, uma indicao certa na qual a Nao reconhecer as intenes daqueles

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que a governam. Se eles trabalham para tornar os nobres e o povo virtuosos, o objetivo deles correto e sincero; tendes vs assegurado que eles visam unicamente ao objetivo principal do governo, a felicidade e glria da Nao. Mas se eles corrompem os costumes, se eles estimulam o desejo pelo luxo, pela frouxido, pelos prazeres desmedidos, se eles induzem a nobreza a um fausto ruinoso, cuidado, oh, povo! Preservai-vos desses corruptores! Eles procuram comprar escravos para domin-los arbitrariamente. Mesmo com algumas moderaes prprias, o prncipe jamais recorrer a tais mtodos vergonhosos. Satisfeito com sua posio suprema e com o poder que as leis lhe conferem, ele se prope reinar com glria e segurana; ele ama seu povo e deseja torn-lo feliz. Mas os seus ministros, de ordinrio, no apreciam sofrer resistncia ou a mnima oposio; se ele lhes d a autoridade, eles se tomam mais orgulhosos e mais intratveis que o seu senhor; eles no tm o mesmo amor ao povo que o prncipe tem: que a Nao seja corrompida, contanto que ela obedea! Eles temem a coragem e a firmeza que so inspiradas na virtude; e sabem que aquele que distribui favores domina a vontade dos homens cujo corao est aberto cobia. Assim, uma alma miservel, que exerce a mais infame de todas as profisses, perverte as inclinaes de uma jovem vtima de seu trfico odioso; ela a incita ao luxo e gulodice; ela a induz frouxido e vaidade para entreg-la mais seguramente a um rico sedutor. Esta indigna criatura , algumas vezes, punida pela polcia enquanto o ministro, infinitamente mais culpvel, continua nadando na opulncia - revestido de honras e autoridade. A posteridade far justia; a posteridade detesta o corruptor de uma Nao respeitvel. 117: O ESTADO OU A PESSOA PBLICA DEVEM, EM PARTICULAR, APERFEIOAR o SEU ENTENDIMENTO E A SUA VONTADE: Se aqueles que governam se limitassem a cumprir a obrigao que a lei natural lhes impe para consigo mesmos e, na qualidade de dirigentes do Estado, eles nunca poderiam cair na prtica detestvel a que ns j nos referimos. At aqui ns temos considerado a obrigao em que se encontra uma

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Nao em adquirir conhecimentos e virtudes ou de aperfeioar o seu entendimento e a sua vontade; mas ns temos considerado essa obrigao relativamente aos indivduos que compem a Nao. A obrigao incide tambm, e de maneira especial e apropriada, sobre os dirigentes do Estado. Uma Nao, ao em comum, ou como um organismo, uma pessoa jurdica 2), que tem entendimento e vontades prprios e que no menos obrigada que cada indivduo a obedecer s leis naturais (Livro I, SO) e a desenvolver suas faculdades (Livro I, 21). Esta pessoa jurdica reside naqueles que so investidos da autoridade pblica e que representam toda a Nao. Seja o conselho comum da Nao ou um corpo aristocrtico, ou um monarca, esse dirigente representante da Nao, este soberano, qualquer que possa ser, est pois indispensavelmente obrigado a obter todos os conheci-mentos e todas as informaes necessrios para bem governar, e a formar-se na prtica de todas as virtudes convenientes a um soberano. E como esta obrigao imposta tendo em vista o bem pblico, ele deve usar seus conhecimentos e suas virtudes para o bem comum do Estado, para o fim da sociedade civil. 118: E
DIRECIONAR PARA O BEM DA SOCIEDADE OS CONHECIMENTOS E

Ele deve tambm direcionar, tanto quanto possvel, a esse fim principal, todas as faculdades, os conhecimentos e as virtudes dos cidados, de modo que eles no sejam teis somente para os indivduos que os possuem, mas tambm para o Estado. Este um dos maiores segredos da arte de reinar. Se as boas qualidades dos sditos passam ao largo da esfera estreita das virtudes dos particulares e se tornam as virtudes dos cidados, o Estado tornar-se- poderoso e prspero. Esta disposio feliz conduziu a repblica romana ao mais alto nvel de poder e de glria.
AS VIRTUDES DOS CIDADOS:

119: AMOR PTRIA: O grande segredo de direcionar as virtudes dos indivduos para o bem-estar do Estado inspirar os cidados de um amor ardente pela ptria. Ocorre ento, naturalmente, que cada

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indivduo se esfora por servir ao Estado e dirigir todas as suas energias e talentos para o bem-estar e glria da Nao. Este amor ptria natural a todos os homens. O bom e sbio autor da natureza tem sido cuidadoso em vincul-los, por uma espcie de instinto, aos lugares de nascimento, e eles amam a sua Nao como algo a que intimamente se conectam. Mas esta impresso natural freqentemente enfraquecida ou destruda por causas infelizes. A injustia, a severidade do governo, muito facilmente apagam-na nos coraes dos sditos. Vincular-se- o amor prprio de um indivduo aos interesses do pas no qual tudo feito em vista de um nico homem? Por outro lado, vemos todas as Naes livres movidas pela glria e felicidade da ptria. Lembremo-nos dos cidados de Roma nos dias prsperos da Repblica; e consideremos hoje os ingleses e os suos.

120: Nos INDIVDUOS: O amor e afeio de um homem ao Estado

do qual membro, uma seqncia necessria do amor esclarecido e razovel que ele se deve a si mesmo, porque a sua prpria felicidade vinculada da sua ptria. Este sentimento deve resultar tambm dos compromissos que ele assumiu para com a sociedade. Ele prometeu buscar-lhe o bem-estar e o progresso at onde seu poder alcanar. Como ento servi-Ia- com zelo, fidelidade e coragem, se ele ento no tem por ela amor verdadeiro? 121: NA NAO, NO PRPRIO ESTADO E NO SOBERANO: A Nao, como organismo, deve amar a si prpria e desejar o seu prprio bem. Esse sentimento to natural que ela no pode falhar nessa obrigao. Mas esse dever se relaciona muito particularmente com o dirigente, ou o soberano, que representa a Nao, que age em seu nome. Ele deve am-la como algo muito querido, preferi-la a tudo; pois a Nao o nico objeto legitimo de seus cidados e de sua aes, em tudo que ela faa em virtude da autoridade pblica. O monstro que no amar o seu povo no seria mais que um usurpador detestvel; e mereceria sem dvida ser retirado do trono. No h reino que no devesse ter diante

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do palcio do soberano a esttua de Codrus. Esse magnnimo rei de Atenas deu a vida por seu povo. Este grande prncipe e Lus XII so modelos ilustres do terno amor que um soberano deve aos seus sditos. 122: DEFINIAo DA PALAVRA pATRlA: O termo pAlRIA , ou parece ser bastante conhecido de todo o mundo. No entanto, como tomado em diferentes sentidos, no ser intil defini-lo aqui com exatido. Ele significa ordinariamente o "Estado do qual somos membros"; e nesse sentido que o empregamos nos pargrafos precedentes e que deve ser tomado no direito das gentes. Em sentido mais restrito e mais dependente da etimologia, esse termo significa o Estado, ou mesmo mais particularmente, a cidade, o lugar, onde nossos pais tinham domiclio na poca de nosso nascimento. Nesse sentido apropriado dizer que a ptria no pode ser mudada, mas permanece sempre a mesma em qualquer lugar para o qual mudemos em seguida. Um homem deve manter gratido e afeio pelo Estado ao qual ele deve sua educao e do qual seus pais eram membros quando ele nasceu. Mas como um homem pode ser forado por vrias razes legtimas a escolher outra ptria, isto , a tomar-se um membro de outra sociedade, quando falamos em geral de deveres para com a ptria, o termo deve ser entendido como sendo o Estado de que um homem membro atual, pois este ao qual ele deve fidelidade integralmente e por preferncia. 123: QUANTO HUMIlHANTE E CRIMINOSOENVERGONHAR A SUAPTRIA: Se todo homem obrigado a amar sinceramente a sua ptria e a buscar-lhe a felicidade tanto quanto dele depender, crime vergonhoso e detestvel prejudicar essa mesma ptria. Aquele que se torna culpado disso, viola seus compromissos mais sagrados e incide numa ingratido covarde; ele se desonra pela mais negra perfidia, porque abusa da confiana de seus concidados e trata como inimigos aqueles que esperavam dele somente ajuda e servios. Encontram-se traidores da ptria somente entre homens sensveis a interesses grosseiros, que no procuram seno o bem

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exclusivamente de si prprios e cujo corao incapaz de qualquer sentimento de afeio por outros. Sendo assim, eles so, com justia, detestados por todos, como os mais infames entre os criminosos. 124: GLRIA DOS BONS CIDADOS: Ao contrrio, cumulam-se de honra e louvores esses cidados generosos que, no contentes em meramente cumprir seu dever para com a ptria, devotam-se a ela com uma energia nobre, e so capazes de fazer por ela os maiores sacrifcios. Os nomes de Brutus, de Curtius e dos dois Dcius vivero tanto quanto o de Roma. Os suos nunca esquecero Arnold de Winkelried, esse heri cuja ao teria merecido ser transmitida posteridade por um Tito Lvio. Ele se devotou verdadeiramente ptria; mas ele se devotou como um capito, como um soldado destemido, e no como um fantico. Quando este nobre homem do canto de Underwalden viu na batalha de Sempach que seus compatriotas no podiam fazer recuar os austracos porque estes, bem armados, constituindo um batalho cerrado, apresentavam uma frente coberta de ferro, de lanas e espadas, ele teve o propsito generoso de sacrificar-se pela ptria. "Meus amigos", ele disse aos suos, que comeavam a desanimar-se, "eu vou dar a minha vida neste dia para vos oferecer a vitria; eu vos recomendo apenas a minha famlia; eu vos peo que me sigam e ajam em conseqncia do que me vereis fazer". Com estas palavras, ele os disps nessa forma que os romanos chamavam cuneus; ele ocupa a ponta do tringulo; ele marcha para o centro dos inimigos, e, abraando o maior nmero de lanas que pode tomar, ele se jogou ao cho, abrindo assim caminho queles que o seguiam para penetrar nesse espesso batalho. Os austracos uma vez envolvidos foram vencidos, o peso das armas se lhes tornou funesto, e os suos tiveram uma vitria completa.v"
(15) Em 1386, o exrcito austraco era de 4.000 homens nele selecionados, entre os quais se encontravam um grande nmero de prncipes, de condes, e uma nobreza insgne, todos armados dos ps cabea. Os confederados no excediam de 1.300, todos mal armados e a p. O duque da ustria pereceu nessa batalha, com 2.000 dos seus, inclusive 676 fidalgos das primeiras estirpes da Alemanha. Histoire de la Confdration Helvtique, por L. de WATEVILLE, tomo I, p. 183 e ss.

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CAPTULO

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XII

Da piedade e da religio
12S: DA PIEDADE: Piedade e religio tm influncia essencial na felicidade da Nao e, por causa de sua importncia, merecem ser tratadas em captulo especial. Nada to prprio que a piedade para fortificar a virtude e dar-lhe toda a extenso que deve ter. Pelo termo entendo uma disposio de alma, em virtude da qual relacionamos a Deus todas as nossas aes e propomo-nos, em tudo o que fazemos, a agradar ao Ser Supremo. Essa virtude uma obrigao indispensvel para todos os homens; a mais pura fonte da felicidade deles e, quando unidos em sociedade civil, os homens esto mais que obrigados a pratic-la. Uma Nao deve, pois, ser piedosa. Que os dirigentes encarregados dos negcios pblicos se proponham constantemente a merecer a aprovao de seu Divino Mestre; tudo o que fazem em nome do Estado deve ser regulado por esse alto propsito. O cuidado de formar todo o povo no sentimento da piedade ser sempre um dos principais objetivos que esse povo deve ter, e o Estado disso receber grandes benefcios. Uma sria ateno a respeito desse sentimento, para merecer em todos os atos a aprovao de um Ser infinitamente sbio, no pode deixar de produzir excelentes cidados. A piedade esclarecida nos povos o mais firme suporte da autoridade legtima: no corao do soberano, ela a garantia da segurana do povo e acarreta a sua confiana. Senhores da terra, vs no reconheceis superior aqui embaixo; que segurana terse- de vossas intenes se no vos vemos imbudos de respeito ao Pai e Senhor comum dos homens, e inspirados pelo desejo de agrad-lo?

126: A PIEDADE DEVE SER ESCLARECIDA: J sugerimos que a piedade deve ser esclarecida. em vo que se prope agradar a Deus se no se conhecem os meios de faz-lo. Mas que dilvio de males, se homens excitados por motivo to poderoso, venham a usar meios igualmente falsos e perniciosos! A piedade cega somente cria supersticiosos,

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fanticos e perseguidores, mil vezes mais perigosos, mais funestos sociedade que os libertinos. Tiranos cruis foram vistos a falar da glria de Deus enquanto oprimiam os povos e espezinhavam as mais sagradas leis da natureza. Era por uma piedade refinada que os anabatistas do sculo XVI recusavam toda obedincia s potncias da terra. Jacques Clment e Ravaillac, execrveis parricidas, acreditam-se animados pela mais sublime devoo.

127: DA RELIGIAo: INTERIOR E EXTERIOR: A religio consiste na doutrina relativa a Deus e s cousas da outra vida e no culto destinado a honrar o Ser Supremo. Desde que ela exista no corao, uma questo de conscincia, em que cada qual deve seguir seus prprios sentimentos, mas desde que se torna exterior e publicamente estabelecida, passa a ser um assunto de Estado. 128: DIREITOS DOS PARTICUlARES. LIBERDADE DAS CONSCINCIAS: Todo
homem obrigado a empenhar-se para obter idias corretas da Divindade, para conhecer suas leis, seu propsito em relao s suas criaturas e a sorte que Ela lhes destina. Ele deve, certamente, o mais puro amor e a mais profunda reverncia ao seu Criador e para manter-se nessa disposio e agir em conseqncia, ele deve honrar a Deus em todas as suas aes e testemunhar, pelos meios mais convenientes, os sentimentos de que investido.Esta curta exposio suficiente para deixar claro que o homem essencial e necessariamente livre na religio que venha a adotar. A crena no se impe e culto no seria aquele a que se forado. O culto consiste em certos atos que so realizados diretamente para honrar a Deus; no pode haver culto para cada homem, seno aquele que se acredita adequado para esse fim, Desde que a obrigao de dedicar-se sinceramente para conhecer Deus, para servi-Lo, e para honr-Lo de corao imposto ao homem pela prpria Natureza, impossvel que por seus compromissos para com a sociedade, seja ele desobrigado desse dever, ou privado da liberdade que lhe absolutamente necessria para cumpri-lo. Concluamos, pois, que a liberdade das conscincias de direito natural

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e inviolvel. vergonhoso para a humanidade que uma verdade dessa natureza necessite de ser provada. 129: ESTABELECIMENTO PBLICO DA RELIGIO. DEVERES E DIREITOS DA NAAo: Deve-se ter muito cuidado, todavia, em no estender essa liberdade alm de seus justos limites. Um cidado tem apenas o direito de no ser jamais a nada constrangido no tocante religio, e no tem o direito de fazer publicamente o que lhe aprouver, quando disso resultem efeitos para a sociedade. O estabelecimento da religio pelas leis e o seu exerccio pblico so matrias de Estado e esto necessariamente submetidos autoridade pblica. Se todos os homens devem servir a Deus, toda a Nao, enquanto Nao, est sem dvida obrigada a servi-Lo e a honr-Lo (Preliminares, E como ela deve cumprir esse dever importante pela maneira que lhe parecer melhor, cabe a ela determinar a religio que deseja seguir e o culto pblico que considera apropriado estabelecer . 130: QUANDO AINDA NAo HOUVER RELIGIO AUTORIZADA: Se no houver ainda religio aceita pela autoridade pblica, a Nao deve dar toda a sua ateno para conhecer e estabelecer a melhor. Aquela que ter a aprovao da maioria para ser aceita e publicamente estabelecida por lei; e ento ela tornar-se- a religio do Estado. Mas se uma parte considervel da Nao persistir em praticar outra, indaga-se o que o direito das gentes prescreve nesse caso. Lembremo-nos primeiro que a liberdade de conscincia de direito natural; no h coero a esse respeito. No restam, pois, seno dois partidos a tomar, ou permitir a essa parte dos cidados o exerccio de religioque eles desejam professar ou separ-los da sociedade, deixando-lhes os bens e a parte deles no territrio comum, e assim formar dois novos Estados em lugar de um. A ltima alternativa parece inteiramente imprpria; ela enfraqueceria a Nao e por isso seria contrria ao cuidado que uma Nao deve ter para com a sua prpria preservao. pois mais vantajoso seguir a primeira alternativa e ento estabelecer duas religies no Estado. Mas

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se estas duas religies so to imcompatveis que de temer que elas criem divises entre os cidados e perturbem o interesse pblico, h uma terceira alternativa, um sbio equilbrio entre as duas primeiras de que a Sua nos fornece exemplos. Os cantes de Glaris e Appenzell dividiram-se ambos em duas partes no sculo XVI; uma permaneceu na igreja romana, a outra abraou a reforma; cada parte tem seu governo prprio para os negcios internos mas elas se renem para os assuntos externos e no formam seno uma mesma repblica, um mesmo canto. Enfim, se o nmero de cidados que deseja professar uma religio diferente daquela estabelecida pela Nao no for considervel, e por boas e justas razes no se entenda conveniente permitir o exerccio de muitas religies no Estado, aqueles cidados tm o direito de vender as suas terras e partir com as suas famlias levando embora todos seus bens. Pois o compromisso desses cidados pouoo numerosos para com a sociedade e para com a autoridade pblica no pode jamais prevalecer ao ponto de prejudicar-lhes a conscincia. Se a sociedade no me permite fazer o que acredito estar obrigado a faz-lo por uma obrigao indeclinvel, ela deve liberar-me. 131: QUANDO HOUVER RELIGIO ESTABELECIDA POR Quando a escolha de uma religio j foi feita anteriormente, e quando ela j foi estabelecida por meio de leis, a Nao deve proteg-la, mant-la e preserv-la como instituio da maior importncia sem, contudo, rejeitar cegamente mudanas que se poderiam propor com o objetivo de mant-la mais pura e mais til: pois em todas as cousas, devemos buscar a perfeio (21). Mas como toda inovao nessa matria plena de perigos e dificilmente se introduz sem distrbios, no deve ser decidida levianamente, sem necessidade, ou por razes circunstanciais. Compete sociedade, ao Estado, a toda a Nao pronunciar-se sobre a necessidade ou a convenincia dessas mudanas, e no cabe a nenhum indivduo retom-las por sua prpria iniciativa nem, conseqentemente, pregar ao povo uma nova doutrina. Que ele proponha suas idias aos dirigentes da Nao e que se submeta s ordens que deles receber.

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Todavia se, como freqentemente acontece, independentemente da autoridade pblica e sem nenhuma deliberao comum, uma nova religiose expande e se estabelece no esprito dos povos, preciso raciocinar ento como o fizemos no pargrafo precedente, para o caso em que se trata de escolher uma religio; deve-se dar ateno ao nmero daqueles que querem seguir as novas doutrinas, lembrando sempre que nenhum poder humano tem controle sobre a conscincia do homem, e aliar os princpios de uma poltica sadia aos da justia e eqidade.

132: DIREITOS E DEVERES DO SOBERANO NO TOCANTE REUGIO: Tais

so, em resumo, os deveres e os direitos de uma Nao no tocante religio. Abordaremos agora os deveres e direitos do soberano a esse respeito. Eles no podem ser, nesse caso, precisamente os mesmos que os da Nao que o soberano representa: a natureza do assunto a tanto se ope, desde que a religio algo sobre o qual ningum pode abrir mo da sua liberdade. Para mostrar claramente estes deveres e direitos do prncipe e para estabelec-los solidamente, devemos lembrar a distino feita nos dois pargrafos precedentes: se h a questo de se adotar uma religio num Estado onde ela ainda no existir, o soberano pode, sem dvida, favorecer aquela que lhe parecer a verdadeira ou a melhor, anunci-la e concorrer para estabelec-la com meios suaves e convenientes; mesmo seu dever faz-lo desde que ele obrigado a velar por tudo que conceme ao bem-estar da Nao. Mas ele no tem o direito de usar nisso autoridade em excesso e coero. Desde que no havia nenhuma religio estabelecida na sociedade quando ele recebeu o imprio, nenhum poder lhe foi dado a esse respeito. A manuteno das leis relativas religio no se inclui entre as funes que lhe foram confiadas. Numa foi o fundador da religio entre os romanos, mas ele persuadiu o povo a aceit-la. Se ele a tivesse imposto fora, ele no teria acesso s revelaes da ninfa Egria. Embora o soberano possa usar de autoridade para estabelecer uma religio, onde ela no existir, ele tem o direito e mesmo a obrigao de usar todo o seu poder para evitar a introduo de uma religio que acredite ser perniciosa aos costumes e perigosa ao Estado, pois ele deve afastar de seu povo

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tudo o que possa prejudic-lo e novas doutrinas, ao invs de serem uma exceo a esta regra, so dela um dos mais importantes objetos. Veremos nos pargrafos seguintes quais so os deveres e direitos do prncipe em relao religio publicamente estabelecida. 133: EM QUE HAJA REllGIo ESTABElECIDA POR O prncipe, o dirigente, a quem a Nao confiou o cuidado do governo e o exerccio do poder soberano, est obrigado a velar pela preservao da religio recebida, a do culto estabelecido por lei, e no direito de reprimir aqueles que tentarem destruir e perturbar essa religio ou culto. Mas para desobrigar-se desse dever de maneira to justa como sbia, ele no deve nunca perder o significado do carter de seus direitos e as razes para seu exerccio, A religio de extrema importncia para o bem e a paz da sociedade, e o prncipe est obrigado a zelar por tudo aquilo que possa interessar ao Estado. Eis toda a sua vocao para envolver-se com a religio, para proteg-la e para defend-la. Ele no pode interferir seno sobre as bases acima referidas e, conseqentemente, ele no deve usar de seu poder seno contra aqueles cuja conduta, em questo de religio, perigosa ou prejudicial ao Estado, e no para punir pretensas ofensas contra Deus e cuja represso a Ele apenas cabe como juiz soberano e perscrutador de coraes. Deixe-nos lembrar que a religio no negcio de Estado seno quando ela for exterior e publicamente estabelecida: desde que exista no corao, ela pode permanecer dependente somente da conscincia. O prncipe tem o direito de punir apenas aquelesque perturbam a sociedade, e seria muito injusto inflingir punies a algum em razo de opinies privadas quando tal pessoa no busca divulg-las e nem obter seguidores. idia de fanticos e fonte de males e de injustias gritantes imaginar que frgeismortais devam encarregar-se da causa de Deus, manter Sua glria pela fora, e ving-Lo de seus inimigos. "Deixe-nos dar somente aos soberanos" - disse um grande estadista e excelente cidado'l" - "para

(16) O duque de SULLY - Vide as suas Mmoires, redigidas pelo Padre de I"Ecluse, Tomo V, p. 135, 136.

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o bem comum, o poder de punir o que fere a caridade na sociedade. No est no mbito da justia humana vingar o que pertence causa de Deus". Ccero, to hbil e grande nos assuntos de Estado quanto na filosofia e na eloqncia, era da mesma opinio que o duque de Sully. Nas leis que ele props sobre a religio,disse em referncia ao sentimento de piedade e religio interior: "Se algum nisso cometer falta, Deus disso ser o vingador": Deorum Diis curae. Tacit., .Annal. 1. I, c. 73. Mas ele declara capital o crime que se poderia cometer contra as cerimnias religiosa estabelecidas para os assuntos pblicos e que interessam a todo o Estado. (17) Os sbios romanos estavam muito distantes de perseguir um homem por sua crena. Eles exigiam meramente que no se perturbasse o que dissesse respeito ordem pblica.

134:
EMPREGAR:

OBJETO DOS CUIDADOS DO SOBERANO E MEIOS QUE ELE DEVE

As crenas ou as opinies dos indivduos, as suas idias sobre Deus, a religio interior, em uma palavra, ser, tanto quanto a piedade, objeto da ateno do prncipe. Ele no deve negligenciar meios para fazer conhecida a verdade para os seus sditos e inspir-los com bons sentimentos, entretanto ele deve usar somente meios suaves e paternais para esse fim. (18) Nesse caso ele no pode comandar (128). em relao religio exterior e publicamente exercida que a sua autoridade poder ser empregada. O seu encargo preserv-la e evitar as desordens e distrbios que ela possa causar. Para preservar a religio ele deve mant-la em sua pureza original e cuidar para que ela seja fielmente observada em todos os atos pblicos e cerimnias, punindo aqueles que ousassem atac-la abertamente. Mas ele somente pode usar fora para exigir silncio, e nunca obrigar ningum a participar de cerimnias pblicas. Ele no produziria, com o uso da fora, seno distrbio e hipocrisia.

(17) (18)

Qui secusJaxit, Deusipse vindexerit . . Qui nonparuerit, capitale esto. De Legib. Lib. 11.

Quas (religiones) nonmetu, sedea conjunctione, quae estbomini cum Deo, conseruandas puto. CCERO, De Legib., Lib.I - Bela lio que um filsofo pago d aos cristos!

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A diversidade nas opinies e no culto tem freqentemente sido a causa de desordens e dissenses funestas no Estado. Por essa razo, muitas pessoas pensam que somente uma nica forma de religio deve ser permitida. Um soberano prudente e responsvel julgar, nas circunstncias, se convm tolerar ou proibir o exerccio de muitos cultos diferentes.

135: DA TOLERNCIA: Em geral, todavia, pode-se afirmar

ousadamente que o meio mais seguro e mais eqitativo de prevenir distrbios resultantes da diversidade de credos uma tolerncia universal sobre todas as religies que no so perigosas nem para os costumes e nem para o Estado. Deixemos os pastores interessados se manifestarem; ele no espezinhariam as leis da humanidade e as do prprio Deus, para fazer triunfar a doutrina que apregoam se esta no constituisse a base da opulncia, do fausto e do poder deles prprios. Deve ser destrudo apenas o esprito perseguidor, punindo severamente aquele que molestar outrem em razo de crenas. Dessa forma vereis todas as seitas viverem em paz, no seio de uma ptria comum, fornecendo bons cidados porfia. A Holanda e os Estados do rei da Prssia do prova disso: protestantes, luteranos, catlicos, pietistas, judeus, todos vivem juntos, em paz, porque eles tm igualproteo do soberano: somente so punidos os perturbadores da tranqilidade alheia. 136: O QUE DEVE FAZER O pRNCIPE QUANDO A NAO DESEJA MUDAR DE REUGIAo: Se, apesar dos cuidados do prncipe em preservar a religio estabelecida, toda a Nao, ou a maior parte dela, est insatisfeita e deseja mud-la, o soberano no pode forar ou usar qualquer constrangimento sobre seu povo em tal caso. A religio pblica estabelecida para o bem-estar e benefcio da Nao. Alm do fato de que a religio ineficaz quando no reina nos coraes, o soberano no tem direitos, no caso, seno aqueles resultantes das atribuies que a Nao lhe confiou e ela no o encarregou seno de proteger a religio que ela entender prefervel professar.

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137: A DE REUGIAO NAo DESPOJA OPRNCIPE DE SUA COROA: Mas tambm inteiramente justo que o prncipe seja livre para continuar em sua religio sem perder a coroa. Tudo que se pode requerer dele que ele proteja a religio do Estado. Em geral, a diferena de crena religiosa no priva um prncipe de seus direitos de soberania, a no ser que uma lei fundamental disponha de outra maneira. Os romanos pagos no cessaram de obedecer a Constantino quando ele abraou o cristianismo, nem os cristos se revoltaram contra Juliano quando ele se afastou deles. 138: CONCILIAAo DOS DIREITOS E DEVERES DO SOBERANO COM OS DOS SDITOS: J estabelecemos o princpio da liberdade de conscincia para os indivduos (128). Entretanto, consignamos que o soberano tem o direito, e mesmo o dever, de proteger e manter a religio do Estado, de no permitir que ningum a mude ou a destrua; que ele pode mesmo no permitir, segundo certas circunstncias, em todo o pas, seno um nico culto pblico. Conciliemos esses deveres e direitos diferentes, que podem talvez ser pensados como contraditrios e, se possvel, no deixemos nenhum esclarecimento a desejar em matria to importante e delicada. Se o soberano no quiser permitir seno o exerccio pblico de uma religio, que ele no obrigue ningum a agir contra sua conscincia, nem force nenhum sdito a tomar parte em culto que ele desaprova ou professe uma religio que ele acredita ser falsa; mas que o particular, de sua parte, se contente em no incidir em vergonhosa hipocrisia, que ele sirva a Deus de acordo com suas convices, em particular e em sua prpria casa, persuadido de que a Providncia no o chama a um culto pblico, pois Ela o colocou em circunstncias em que ele no poderia praticar a sua crena sem perturbar o Estado. Deus deseja que obedeamos a nosso soberano e que evitemos tudo que for prejudicial sociedade; estes so preceitos imutveis da lei natural. Os do culto pblico so condicionais e dependem dos efeitos que esse culto possa produzir. O culto interior necessrio por si mesmo e

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deve limitar-se aos casos em que for mais conveniente. O culto pblico tem por objetivo a edificao dos homens na glorificao de Deus. Ele cessa de cumprir esse objetivo e de ser louvvel em ocasies em que produz somente perturbao e escndalos. Se algum o cr de necessidade absoluta, que deixe o pas onde no se lhe permite seguir os ditames de sua conscincia e que se junte queles que professam a mesma religio alhures.

139: O

SOBERANO DEVE TER COMPETNCIA SOBRE OS ASSUNTOS DA

A extrema influncia da religio sobre o bem e a paz da sociedade prova inquestionavelmente que o dirigente do Estado tem o direito de inspecionar os casos relacionados com a mesma religio, e autoridade sobre os que a ensinam, sobre seus ministros. O fim da sociedade e do governo civildemanda necessariamente que aquele que exerce o imprio seja revestido de todos os direitos sem os quais ele no pode exerc-lo da maneira mais benfica para o Estado: trata-se dos direitos de (55), dos quais nenhum soberano pode desvestir-se sem o consentimento expresso da Nao. A inspeo sobre matria religiosa e a autoridade sobre os seus ministros formam pois um dos mais importantes desses direitos porque, sem esse poder, o soberano nunca estar apto para evitar distrbios que a religio possa ocasionar no Estado, nem fazer uso dessa influncia poderosa para o bem-estar e a segurana da sociedade. Certamente, seria muito estranho que uma Nao, uma multido de homens unidos em sociedade civil para o prprio bem comum, para que cada qual possa tranqilamente atender s suas necessidades, trabalhar para a sua perfeio e felicidade, e viver como convm a um ente racional em sociedade; digo, que em semelhante sociedade no se tenha o direito de seguir suas prprias idias em to importante assunto, de determinar o que ela acha mais conveniente no tocante religio e de velar para que nada de perigoso ou prejudicial seja nisso introduzido. Quem ousar contestar a uma Nao independente o direito de se reger a esse respeito, como em todos os outros, de acordo com sua prpria conscincia? E uma vez
RELIGIAO E AUTORIDADE SOBRE OS QUE A ENSINAM:

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que ela tenha escolldo uma religio e culto, no pode ela delegar ao seu dirigente todo o poder que lhe pertence, para mant-los, dirigi-los, serem observados? No se diga que o cuidado das cousas sagradas no pertence a um profano: tal discurso apenas um clamor vo ao tribunal da razo. No h nada na terra mais augusto e mais sagrado que um soberano. E por que deveria Deus, que pela sua providncia chama o soberano para velar pela segurana e felicidade de todo o povo, tirar-lhe a direo da mais poderosa energia que movimenta os homens? A lei natural lhe garante esse direito com todos os outros essenciais para um bom governo, e no se v nada nas que mude essa regra. Entre os judeus, nem o rei, nem ningum, podia fazer qualquer mudana na lei de Moiss; mas o soberano velava por sua conservao e sabia reprimir aquele que se afastasse de seu dever. Onde se l no Novo Testamento que um prncipe cristo nada tenha a dizer em matria de religio? A submisso e a obedinciaaos poderes superiores l esto, clara e formalmente, prescritas. Em vo se contraporia o exemplo dos apstolos, que anunciaram o Evangelho a despeito dos soberanos. Quem deseja afastar-se das regras ordinrias necessita de uma misso divina e estabelecer os seus poderes com milagres. No se pode negar ao soberano o direito de zelar para que no se misturem na religio coisas prejudiciais ao bem-estar e segurana do Estado; cabe-lhe, pois, examinar doutrinas e decidir o que deve ser ensinado e o que deve ser silenciado.

140: ELE DEVE IMPEDIR QUE SE ABUSE DA RELIGIAo RECEBIDA: O soberano deve tambm zelar cuidadosamente para que nenhum abuso se faa da religio estabelecida, seja para se servir da disciplina religiosa para satisfazer o dio, avareza, ou outras paixes, seja para apresentar a doutrina sob uma luz prejudicial ao Estado. Que resultados podem ser produzidos na sociedade se imaginaes vazias, devoo serfica e especulaes sublimes estiverem exercendo influncia sobre mentes fracas e coraes dceis? Renncia ao mundo, abandono geral dos

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negcios e do prprio trabalho; essa sociedade de pretensos santos se tomaria uma presa fcil e segura do primeira vizinho ambicioso ou, se deixada em paz, ela no sobreviveria primeira gerao. Pela consagrao a Deus, os dois sexos, ento, se recusariam aos desgnios de suas do Criador, natureza e ao Estado. penoso para os missionrios, o que parece claramente pela prpria histria da Nouvelle France do Pe. Charlevoix, que os trabalhos deles foram a causa principal da runa dos huronianos, O autor diz, expressamente, que um grande nmero desses nefitos no pensava seno nas cousas da f e que eles esqueceram as suas atividades e o seu valor; que a diviso se ps entre eles e o resto da Nao, etc. Esse povo foi logo destrudo pelos lroqueses, os quais outrora ele costumava vencer (19). 141: AUTORIDADE DO SOBERANO SOBRE OS MINISTROS DA RELIGIO: Em relao inspeo do prncipe sobre assuntos religiosos,acrescentemos a autoridade sobre os ministros. Sem este ltimo direito, o primeiro vo e bastante intil. Ambos so derivados dos mesmos princpios. absurdo e contrrio aos primeiros fundamentos da sociedade, que cidados se pretendam independentes da autoridade soberana em funes to importantes para o bem-estar, felicidade e segurana do Estado. estabelecer duas potncias independentes numa mesma sociedade; um princpio certo de diviso, de distrbio e de destruio. No h seno um poder supremo no Estado. As funes dos subordinados variam conforme seus oficios:eclesisticos, magistrados, comandantes de tropas, todos so oficiais da repblica, cada qual em seu departamento; todos so igualmente responsveis perante o soberano. 142: NATUREZA DESSA AUTORIDADE: Na verdade, o prncipe no poderia, com justia, forar um eclesistico a pregar uma doutrina ou seguir um culto que este no acreditasse agradvel a Deus. Mas se o ministro da religio no concordar nesse caso com a vontade do soberano,
(19)

Vide Histoire dela Nouveffe - France, Liv. V, VI e VII.

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ele deve deixar seu lugar e se considerar como um homem no chamado para cumprir essa vontade. Assim, duas cousas so necessrias: ensinar e agir com sinceridade como sua conscincia ditar, e aquiescer s intenes do prncipe e s leis do Estado. Quem no ficaria indignado ao ver um bispo resistiraudaciosamente s ordens do soberano, s decisesdos tribunais superiores e declarar solenemente ser responsvel pelo poder que lhe foi confiado apenas perante Deus ? 143: A OBSERVAR EM RELAAo A ECLESISTICOS: De outro lado, se o clero for depreciado, ele no estar em condies de produzir os frutos para os quais o seu ministrio destinado. A regra a seguir a seu respeito pode ser concebida em poucas palavras: muita considerao, nenhum imprio, menos ainda independncia. Que o clero, assim como qualquer outra ordem, seja submetido, em suas funes, como no restante, ao poder pblico e responsvel por sua conduta ao soberano. 2') Que o prncipe tenha o cuidado de fazer com que os ministros da religio sejam respeitados pelo povo; que lhes confie o grau de autoridade necessrio para que cumpram as suas funes com xito, e que ele os mantenha, se necessrio, pelo poder de que dispe. Todo homem com encargos deve ser munido de autoridade correspondente s suas funes; de outro modo, ele no poder exerc-las convenientemente. No vejo nenhuma razo para excluir o clero dessa obra geral: apenas o prncipe deve observar cuidadosamente para que o clero no abuse de sua autoridade. Se o prncipe tornar o carter das pessoas da Igreja respeitvel, ele ter cuidado para que esse respeito no conduza a uma venerao supersticiosa a ponto de pr nas mos de um padre ambicioso um poder que ele possa usar para conduzir mentes fracas como quiser. Desde que o clero forma um corpo separado, ele se torna temvel. Os romanos (ns os citaremos com freqncia), os sbios romanos, escolhiam no Senado o seu mais alto sacerdote e os principais ministros da religio; eles ignoravam a distino entre eclesisticos e leigos; todos os cidados estavam na mesma situao.

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144: RECAPITIJLAAO DAS RAZES QUE ESTABELECEM O DIREITO DO Se for retirado do soberano esse poder em matria de religio e essa autoridade sobre o clero; como poderia ele manter a religio livre de tudo o que for prejudicial ao bem-estar do Estado? Como faria ele de modo que se ensine e se pratique a religio sempre da maneira mais conveniente ao bem pblico? E, sobretudo, como poderia prevenir os distrbios que podem ser ocasionados seja por dogmas, seja pela maneira pela qual a disciplina ser exercida? Eis a tantos cuidados e deveres que pertencem somente ao soberano e dos quais nada poderia dispens-lo. Tambm ainda vemos que os direitos da coroa, em matrias eclesisticas, tm sido fiel e constantemente defendidos pelos parlamentos da Frana. Os sbios e esclarecidos membros destas honorveis assemblias esto imbudos dos princpios que a razo acolhe nessa questo. Eles compreendem a importncia de que no se subtraia autoridade pblica matria de to delicada natureza, to ampla em suas ligaes e influncias e to importante em suas conseqncias. Suponha-se que eclesisticos venham a propor como artigo de f algo obscuro, intil, que no faa parte essencial da religio recebida; que eles dividam a Igreja e dispensem aqueles que no se mostrem estritamente obedientes; que eles lhes recusem os sacramentos e a prpria sepultura e, nesse caso, no poder o prncipe proteger os seus sditos e salvar o reino de um cisma perigoso? Os reis da Inglaterra asseguraram os direitos da coroa. Eles fizeram-se reconhecer como chefes da religio, e esse regulamento no menos aprovado pela razo do que pela poltica sadia e est tambm em conformidade com uso antigo. Os primeiros imperadores cristos exerciam todas as funes de chefe da Igreja: eles faziam leis sobre as matrias que a ela concernem'''; eles convocavam conclios e os presidiam; nomeavam e destituam bispos, etc. Na Sua, h sbias repblicas cujos soberanos, por conhecerem toda a extenso da
SOBERANO EM MATRIA DE RELIGIAo:
(20)

Vide cdigo teodosiano.

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autoridade suprema, tm sabido submeter os ministros da religio, sem constranger-lhes a conscincia. Eles fizeram redigir um brevirio da doutrina que deve ser pregada e publicaram as leis da disciplina eclesistica de acordo com a forma como eles querem v-la exercida no territrio a eles submetido, para que aqueles que no desejarem a elas se submeter se abstenham de se consagrarem ao servio da Igreja. Eles mantm todos os ministros da religio em uma dependncia legtima e a disciplina no se exerce seno sob a autoridade deles. Nessas repblicas nunca se registram distrbios ocasionados pela religio.
145: CONSEqNCIAS PERNICIOSAS DO SENTIMENTO CONTRRIO: Se Constantino e seus sucessores tivessem sido formalmente reconhecidos como chefes da religio e se os reis e prncipes cristos tivessem sabido manter a esse respeito os direitos da soberania, ter-se-iam visto essas horrveis desordens geradas pelo orgulho e ambio de alguns papas e eclesisticos, alentados pela fraqueza dos prncipes e apoiados pela superstio dos povos? Rios de sangue derramados por querelas de monges, por questes especulativas, freqentemente ininteligveis e quase sempre to inteis para a salvao das almas quanto indiferentes em si mesmas para o bem da sociedade. Cidados e irmos, armados uns contra os outros; sditos excitados para a revolta; imperadores e reis destronados. Tantum re/igio potuit suadere (A tantos males a religio pode induzir!) Conhece-se a histria dos imperadores Henrique IV, Frederico I, Frederico 11 e Lus da Baviera. No foi a independncia dos eclesisticos, e esse sistema no qual se submetem os assuntos da religio a uma potncia estrangeira, que mergulhou a Frana nos horrores da Liga e que cogitou de desprov-la do maior e melhor de seus reis? Sem esse estranho e perigoso sistema, ter-se-ia visto um estrangeiro, o Papa Sixtus V, propor-se violar a lei fundamental do reino, declarar o herdeiro legtimo inbil para assumir a cora? Ter-se-ia visto em outros tempos e em outros lugares (21) a sucesso ao trono
Na Inglaterra, sob Henrique VIII.

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tornada incerta por ausncia de uma formalidade, de uma dispensa, cuja validade se questionava e que um prelado estrangeiro se arrogava o nico com o direito de dar? Ter-se-ia visto esse mesmo estrangeiro arrogar-se o poder de pronunciar sobre a legitimidade dos filhos de um rei? Ter-se-iam visto reis assassinados em conseqncia de uma doutrina detestvel, (22) uma parte da Frana no ousar reconhecer o melhor de seus reis(23) antes que Roma o tivesse absolvido e muitos outros prncipes sem condies de assegurar a paz a seus povos porque nada se podia decidir no reino acerca das condies que interessavam religio?(24) 146: PORMENORES SOBRE ABUSOS. I: O PODER DOS PAPAS: Tudo isso que vimos acima derivado to claramente das noes de independncia e soberania que no ser nunca questionado por ningum de boa f ou por quem queira raciocinar logicamente. Se todos os assuntos da religio no podem ser finalmente regulados pelo Estado, a Nao no livre e seu prncipe no soberano seno pela metade. No h meio termo: ou cada Estado deve ser senhor em seu prprio territrio, a esse respeito como em qualquer outro, ou o sistema de Bonifcio VIII deve ser aceito, e toda a cristandade catlica romana ser vista como um nico Estado, cujo Papa ser o chefe supremo, e os reis, administradores subordinados na ordem temporal, cada qual em sua provncia, mais ou menos como foram os sultes sob o imprio dos califas. Sabe-se que esse papa ousou escrever para Felipe,o Belo, Rei da Frana: S'are te quodinspiritualibus et temporabilus nobis subes,(Z5) isto , sabei que estais a ns submetido, tanto cannico (26), pode ser encontrada no temporal como no espiritual. No
(22)

Henrique III e Henrique IV, assassinados por fanticos, que acreditavam servir Deus e a Igreja, ao apunhalarem os seus reis.
(23)

Henrique IV. Embora reingressado na Igreja romana, grande nmero de catlicos no ousava reconhec-lo antes que tivesse recebido a absolvio do papa. Muitos reis da Frana, nas guerras civis da religio.

(24)
(25)

TURRENTIN, Hist. Eccfesiast., compendium, p. 183, onde se poder ver tambm a resposta vigorosa do rei da Frana.

(26)

Extravag. Commun., Lib. I, tit. De majoritate et obedientia.

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a sua famosa bula Unam sanctam, na qual ele atribui Igreja duas espadas, ou um duplo poder, espiritual e temporal, e condena aqueles que pensam de outra maneira, como pessoas que, a exemplo dos maniqueus, estabelecem dois princpios; declarando enfim "ser um artigo de f, necessrio para a salvao, acreditar que toda criatura humana est submetida ao pontfice de Roma". Iremos considerar o enorme poder dos Papas como o primeiro abuso resultante desse sistema que priva os soberanos de sua autoridade em matria de religio. Este poder de uma corte estrangeira absolutamente contrrio independncia das Naes e soberania dos prncipes. Ele capaz de desestabilizar um Estado e onde esse poder for reconhecido impossvel ao soberano exercer o governo da maneira mais salutar para a Nao. J temos dado como prova muitos exemplos (145), e a histria nos fornece numerosos outros. Quando o senado da Sucia condenou Troll, arcebispo de Upsala, por crime de rebelio, a demitir-se e a terminar seus dias num monastrio, o papa Leo X teve a audcia de excomungar o administrador Stenon e todo o senado, e os condenou a reconstrurem s suas expensas uma fortaleza do arcebispado que eles tinham feito demolir, e a pagar uma multa de cem mil ducados ao prelado deposto. O brbaro rei Cristiano II, da Dinamarca, valeu-se desse decreto para atacar a Sucia e derramar o sangue de sua mais ilustre nobreza. Paulo V promoveu a interdio de Veneza, por causa de certas leis muito sbias mas que desagradavam o e mergulhou a repblica em um estado de confuso do qual toda a sabedoria e firmeza do Senado tiveram dificuldade de sair. Pio V, na bula In Coena Domini, do ano de 1567, declarou que todos os prncipes que impusessem, em seus respectivos Estados, novos tributos de qualquer tipo, ou que aumentassem os anteriores, sem terem obtido aprovao da Santa S, seriam excomungados ipsojacto. No significaria isso atacar a independncia das Naes e arruinar a autoridade dos soberanos? Em tempos infelizes, nos sculos de trevas que precederam o renascimento das letras e a reforma, os Papas, sob o pretexto de que esses procedimentos interessavam s conscincias, pretendiam regular

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os procedimentos dos soberanos, julgar a validade dos tratados, romper-lhes as alianas e declar-las nulas. Mas essas tentativas encontraram vigorosa resistncia mesmo em pases comumente lembrados como bem pouco esclarecidos. O nncio papal, com a inteno de separar os suos da Frana, publicou uma monitria contra aqueles cantes que ficaram ao lado de Carlos VIII, declarando-os excomungados se em quinze dias no abandonassem os interesses desse prncipe e no entrassem na confederao formada contra ele; mas os suos opuseram a esse ato um protesto que o declarava abusivo e afixaram, onde possvel, esse ato, zombando assim de um processo igualmente absurdo e contrrio aos direitos dos soberanos. Mencionaremos muitos procedimentos similares quando falarmos da f dos tratados. 147: lI: EMPREGOS IMPORTANTES OUTORGADOS POR POTNCIA ESTRANGEIRA: Esse poder dos papas deu lugar a novo abuso que merece toda a ateno de um governo sbio. Vemos muitos pases, nos quais dignidades eclesisticas e importantes benefcios so distribudos por uma potncia estrangeira, pelo Papa, que com eles gratifica pessoas que so ou no sditos do Estado. Essa prtica igualmente contrria aos direitos da Nao e aos princpios mais gerais da poltica. Nenhum povo deve permitir que estrangeiros ditem as suas leis, interfiram em seus assuntos ou o privem de suas vantagens. Por que, ento, so encontrados Estados, que permitem que um estrangeiro disponha de lugares que so de grande importncia para a felicidade e a paz deles prprios? Os prncipes que sancionaram a introduo de um tal abuso tm faltado igualmente a si prprios e a seu povo. Em nossos tempos, a corte da Espanha se viu obrigada a sacrificar imensas quantias para usufruir pacificamente do exerccio de um direito que pertence essencialmente Nao ou ao seu titular. 148: III: SDITOS PODEROSOS DEPENDENTES DE CORTE ESTRANGEIRA: Mesmo nesses Estados cujos soberanos tm retido um direito da cora to importante, o abuso continua em grande parte. verdade que o

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soberano favorece bispados com importantes beneficios, mas a autoridade outorgada no suficiente ao titular para habilit-lo ao cumprimento de seus ofcios e, para isso, ele necessita ainda de bulas de Roma. Por essa razo e por mil outros vnculos, todo o clero ainda depende da corte romana; de Roma ele espera dignidades, uma prpura que, de acordo com as mais orgulhosas pretenses daqueles que a vestem, os iguala aos soberanos; eles tm tudo, portanto, para temer a sua clera. Tambm v-se o clero quase que invariavelmente disposto a comprazer-se com Roma. De seu lado a corte de Roma mantm o clero com todo o seu poder; ela o ajuda com a sua poltica de crdito; ela o protege contra o inimigo, contra aqueles que desejariam limitar-lhe a autoridade freqentemente mesmo contra a justa indignao do soberano e, desse modo, a corte de Roma o direciona mais e mais para perto de si. No seria ferir os direitos da sociedade, e colidir com os elementos primrios da arte de reinar, admitir que grande nmero de sditos dependa de uma potncia estrangeira e lhe sejam devotados? Acolheria um soberano prudente homens que pregam tais doutrinas? No seria preciso mais que isso para causar a expulso de todos os missionrios da China. 149: IV: CELIBATO DOS PADRES; CONVENTOS: com o propsito de assegurar mais firmemente o devotamento do clero que o celibato dos homens da igreja foi institudo. Um padre, um prelado, j vinculado sede de Roma pelas suas funes e por suas esperanas, encontra-se ainda separado de sua ptria pelo celibato que ele forado a manter. Ele no est unido sociedade civil por laos familiares; seus principais interesses esto na Igreja; contanto que ele tenha o apoio de seu chefe, ele no tem necessidade de nada; qualquer que seja o pas de nascimento, Roma seu refgio, o centro de sua ptria por eleio. Todos sabem que as ordens religiosas so uma sorte de milcia papal difundida na face da terra, com o propsito de apoiar e promover os interesses de seu monarca. Eis certamente um abuso estranho, uma sublevao das primeiras leis da sociedade. Mas no tudo: se os prelados se casassem, eles poderiam enriquecer o Estado com um grande nmero de bons cidados,

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fornecendo-lhes benefcios saudveis e os meros para educar convenientemente os filhos legtimos. Mas que multido de homens nos conventos, consagrados ociosidade, sob o manto da devoo! Igualmente teis para a sociedade na paz ou na guerra, eles no a servem nem pelo seu trabalho nas profisses necessrias, nem por sua coragem nos exrcitos, e no entanto eles usufruem de imensas regalias; preciso que o suor do povo concorra para manter esses enxames de ociosos. Que se diria de um colono que protegesse zanges inteis para faz-los devorarem o mel de suas abelhas?(27) No culpa dos pregadores fanticos de uma santidade sublime se todos os seus devotos imitarem o celibato dos monges? Como puderam os prncipes permitir tal prtica, igualmente contrria natureza e prejudicial sociedade, e ainda ser publicamente exaltada como uma virtude sublime? Entre os romanos, as leis tendiam a diminuir o nmero dos celibatrios e a encorajar o casamento. A superstio no tardou a atacar disposies to justas e to sbias; sob a influncia de eclesisticos, os imperadores cristos acharam seu dever aboli-las. Diversos padres da igreja censuraram essas leis e dizia um grande escritor: "com zelo elogivel para as cousas da outra vida, mas com muito poucos conhecimentos dos assuntos desta". (29) Esse grande homem pertencia Igreja romana; ele no ousou dizer abertamente que o celibato voluntrio condenvel, mesmo com respeito conscincia e aos interesses de outra vida. Conformar-se com a lei da natureza, cumprir os desgnos do Criador, trabalhar para o bem da sociedade, eis certamente uma conduta digna da verdadeira piedade. Se algum capaz de educar uma famlia, que se case, que d ateno e uma boa educao a seus filhos; ele cumprir o seu dever e estar verdadeiramente no caminho da salvao.
reflexo no se aplica s casas religiosas em que se cultivam as letras. Estabelecimentos que ofeream a sbios um abrigo tranqilo, todo o lazer e toda a tranqilidade que o estudo profundo das cincias requer, so sempre louvveis, e podem ser bastante teis ao Estado.
(27)

(28) (29).

No Cdigo de TEODSIo. MONTESQUIEU, no Esprit des Lois.

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150: V: As GRANDES PRETENSES DO CLERO: PREEMINNCIA: As

grandes e perigosas pretenses do clero so ainda uma seqncia desse sistema que subtrai do poder civil tudo o que se relaciona com a religio. Em primeiro lugar, os eclesisticos, sob pretexto da santidade de seu ofcio, quiseram elevar-se acima de todos os demais cidados, mesmo dos principais magistrados. Em oposio proibio expressa por seu prprio Mestre, que dizia aos apstolos: "No busqueis os primeiros lugares nos banquetes", eles tm se arrogado, em quase toda parte, o primeiro posto. O chefe deles na Igreja Romana faz com que os soberanos lhe beijem os ps; imperadores tm mantido a rdea de seu cavalo; e se bispos, ou mesmo simples padres, no ousam hoje elevar-se acima de seus prncipes porque os tempos lhes so demasiado contrrios, eles no tm sido sempre to modestos e um de seus escritores ousou bem dizer, "que um padre est tanto acima de um rei quanto o homem est acima da besta".(30) Quantos escritores, mais conhecidos e mais estimados que esse, tm se mostrado favorveis s tolas palavras atribudas ao Imperador Theodosius I: ''Ambrsio me ensinou a grande distncia existente do imprio ao sacerdcio!". J dissemos que os eclesisticos devem ser venerados, mas a modstia e mesmo a humildade lhes convm; poderiam eles esquecer esse ensinamento para eles prprios enquanto o pregam para os demais? No vou referir-me a nenhum cerimonial vo, se no houver conseqncias demasiado reais pelo orgulho que ele inspira em muitos padres e pela impresso que ele pode criar nas mentes das pessoas. essencial para a boa ordem que no haja na sociedade nenhuma figura mais respeitvel aos olhos dos sditos que a de seu soberano e, depois dele, a daqueles a quem ele confiou parte de sua autoridade.
151: VI: INDEPENDNCIA; IMUNIDADES: OS eclesisticos no tm

estado satisfeitos em seguir essas sbias regras. Serem independentes

Tantum sacerdos praestat re,gi, quantum homo bestiae. STANISLAW ORICHOVIUS. Vide TRIBBECHOV. lixert: I adBaron. Annal. Sect. 2, e THOMAS.. Not. Ad. LANCELL.

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no exerccio de suas funes no tm sido o bastante; eles tm, inclusive com a concordncia da corte de Roma, buscado subtrair-se inteiramente, e sob todos os aspectos, autoridade poltica. Houve poca em que no se podia fazer com que um eclesistico comparecesse perante um tribunal secular, qualquer que fosse a causa. O direito cannico formalmente declara ser "indecoroso que eclesisticos sejam julgados por homens leigos't.v" Os Papas PauloIII, Pio Ve Urbano VIlI,excomungaram juzes leigos que ousaram tentar julgar eclesisticos. Mesmo os bispos franceses no tm receio de afirmar em vrias ocasies: "que eles no dependiam de nenhum prncipe temporal". Eis as palavras que a assemblia geral do clero da Frana ousou formular em 1656: "O decreto do conselho, que foi lido, foi desaprovado pela assemblia, medida que deixava ao rei o direito de julgar bispos e parecia submeter a imunidade deles a juzes do rei". Existem decretos papais que excomungam quem pe um bispo em priso. De acordo com os princpios de Roma, um prncipe no tem o poder de infligir punio capital a um eclesistico rebelde ou malfeitor; ele deve encaminh-lo autoridade eclesistica, e esta o entregar, se assim o entender, aps t-lo degradado, ao brao secular. Numerosos exemplos se encontram, na histria, de bispos que tm permanecido impunes ou que tm sido suavemente castigados por crimes que nobres do mais alto quilate tm pago com a vida. Joo de Bragana, rei de Portugal, aplicou justos suplcios aos nobres que tinham conspirado para destron-lo, mas ele no ousou condenar morte o arcebispo de Braga, autor dessa detestvel conspirao. Que um numeroso e poderoso corpo de homens se subtraia autoridade pblica e se tome dependente de uma corte estrangeira uma subverso da ordem pblica e uma diminuio da soberania. um atentado mortal contra a sociedade cuja essncia que cada cidado seja submetido autoridade pblica. A imunidade que o clero se arroga a esse respeito de tal modo contrria ao direito natural e necessrio
lndecorum est laicos homines vivos eclesiasticosjudicare. Cano In nona actione 22. XVI, q.7 (vivos ecclesiasticos judicare).

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da Nao que o prprio rei no tem o poder de conced-la. Mas os eclesisticos diro que eles recebem essa imunidade do prprio Deus. Enquanto esperamos por provas dessa assertiva, deixe-nos ter como certo esse princpio: que Deus deseja o bem-estar dos Estados e no o que possa resultar em problemas e desastres. 152: VII: IMUNIDADES DOS BENS DA IGREJA: A mesma imunidade pretendida para os bens da Igreja. O Estado tem podido, sem dvida, isentar esses bens de todos os encargos, nas pocas em que eles poderiam ser suficientes para a manuteno do clero. Mas os eclesisticos no devem receber esse favor seno da autoridade pblica, que tem sempre o direito de revog-lo quando o bem-estar do Estado o demanda. Uma das leis fundamentais e essenciais de toda a sociedade que, nos casos de necessidade, os bens de todos os membros devem contribuir proporcionalmente s necessidades comuns. O prprio prncipe no pode, por sua autoridade, conceder iseno completa para um corpo muito numeroso e muito rico sem fazer grandes injustias ao restante dos sditos, sobre os quais, em conseqncia de tal iseno, todo o nus recairia. No se sustenta a iseno para os bens da Igreja pelo fato deles serem consagrados a Deus. Ao contrrio, por essa mesma razo que eles devem ser os primeiros a serem destinados para o bem-estar do Estado, porque nada mais agradvel ao pai comum da humanidade do que preservar uma Nao da runa. Como Deus est acima de todas as necessidades, a consagrao da propriedade a Ele tem o fim de destinar os bens ao uso que O agradem. Outrossim, como os eclesisticos afirmam, os bens da Igreja esto em grande parte destinados para os pobres. Quando o Estado estiver necessitado, ele sem dvida o primeiro pobre e o mais digno de socorro. Podemos mesmo estender esse princpio aos casos mais ordinrios e dizer que tributar a propriedade da Igreja para as despesas correntes do Estado, consiste realmente em dar esses bens aos pobres para os quais eles so destinados. Destinar ao luxo, pompa e aos prazeres da mesa os bens que deveriam ser

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consagrados ao alivio das pessoas pobres certamente contrrio ao esprito religioso e inteno dos fundadores da Igreja. 153: VIII: EXCOMUNHO DAS PESSOAS EM FUNO: No satisfeitos em se tornar independentes, os eclesisticos comeam a submeter todos os homens dominao. Eles podiam muito bem desprezar os estpidos que os deixavam assim fazer. A excomunho era uma arma temvel entre pessoas ignorantes, supersticiosas, que no sabiam como restringi-la a seus limites, nem distinguir uso de abuso. Da nasceu uma desordem, que vimos prevalecermesmo em alguns pases protestantes. Os eclesisticos ousaram, por mero autoritarismo, excomungar pessoas empregadas, magistrados teis sociedade, pretendendo que, fulminados pelos raios da Igreja, tais funcionrios do Estado no poderiam mais exercer os seus cargos. Que inverso da ordem e da razo! No ser uma Nao mais senhora de confiar o cuidado de seus negcios, a sua felicidade, paz e segurana queles que lhe paream mais hbeis e mais dignos? Pode uma potncia eclesistica, quando lhe aprouver, privar o Estado de seus mais sbios dirigentes, de seu mais firme apoio, e privar o prncipe de seus mais fiis servidores! Uma pretenso to absurda foi condenada pelos prncipes e mesmo por judiciosos e respeitveis prelados. L-se na centsima septuagsima primeira carta de Ives de Chartres para o Arcebispo de Sens, que os capitulares reais, consoante o dcimo terceiro cnone do dcimo segundo conclio de Toledo (realizado no ano 681), prescrevem aos prelados receberem aqueles que a majestade real tivesse recebido em sua graa, ou em sua mesa, ainda que tivessem por eles mesmos ou por outrem sido excomungados, para que a Igreja no parecesse rejeitar ou condenar aqueles a quem o Rei se comprazia em servir-se.

154: IX: EXCOMUNHAO DOS PRPRIOS SOBERANOS: As excomunhes destinadas aos prprios soberanos, e acompanhadas da absolvio do juramento que os sditos lhes tivessem prestado, constitui o clmax desse grande abuso e quase inacreditvel que as Naes tenham

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sido vtimas de ataques to odiosos. Referimo-nos a esse assunto nos 145 e 146. a sculo XIH disso presenciou exemplos marcantes. Por ter querido manter os direitos do Imprio sobre vrias provncias da Itlia, ato IV foi excomungado pelo Papa Inocncio IH, despojado de seu imprio, e seus sditos desobrigados do juramento de fidelidade. Abandonado pelos prncipes, esse infeliz imperador foi forado a renunciar coroa em favor de Frederico H. Joo-Sem-Terra, rei da Inglaterra, ao desejar manter os direitos de seu reino na eleio do arcebispo de Canterbury, foi submetido a procedimentos audaciosos do mesmo papa. Inocncio excomunga o rei, lana interdito sobre todo o reino, ousa declarar Joo indigno do trono, e desobriga os sditos do rei da fidelidade que lhe tinham jurado. Subleva o clero contra ele, excita o povo revolta, solicita ao rei da Frana pegar em armas contra Joo e destron-lo, e mesmo proclamou uma cruzada contra ele como faria contra os sarracenos. a rei da Inglaterra parece, de incio, querer sustentar-se com vigor mas logo, perdendo a coragem, permitiu-se ser humilhado, para entregar seus reinos nas mos do papa, para dele retom-los, e t-los como feudo da Igreja, sob a condio de tributo. No foram os papas os nicos culpados desses atentados. Existem conclios que tambm usaram dessa prtica. a de Lyon, convocado por Inocncio IV em 1245, teve a audcia de convocar o imperador Frederico H a comparecer, para purgar-se de acusaes feitas a ele, ameaando-o, se no comparecesse, com as penas da Igreja. Esse grande prncipe no suscitou maiores problemas em face de procedimento to irregular. Ele dizia "que o papa desejava erigir-se em juiz e soberano; ao passo que durante muito tempo, os prprios imperadores tinham convocado os conclios onde os papas e prelados lhes rendiam, como a seus soberanos, o respeito e a obedincia que lhes eram devidosP" No entanto, o imperador, cedendo em parte superstio da poca, dignou-se mandar embaixadores ao conclio para defender-lhe a causa; o que no impediu o papa de excomung-lo e declar-lo destronado
HEISS, Histoire de l'limpire, Liv. lI, capo XVII.

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do imprio. Frederico zombou, como homem superior, dessas vs condenaes; ele soube manter a coroa, a despeito da eleio de Henrique, da Turngia, que os eleitores eclesisticos e vrios bispos ousaram proclamar rei dos romanos, mas para os quais a eleio no valeu outra cousa seno o ttulo ridculo de rei dos padres. No terminaria se desejasse citar todos os exemplos. Os j mencionados so suficientes para a honra da humanidade. humilhante ver a que excesso de tolice a superstio tinha reduzido as Naes da Europa nesses tempos infelizes. 155: X: PERTURBAAo DA ORDEM DA JUSTIA PELO CLERO: Por meio das mesmas armas espirituais, o clero atraa tudo para si, usurpava a autoridade dos tribunais e perturbava a administrao da justia. Ele pretendia ter conhecimento de todos os processos, "em razo do pecado cujo conhecimento", dizia o papa Inocncio IH (in Capo Novit de Judiciis) , "segundo ningum de bom-senso pode ignorar, pertence a nosso ministrio". Em 1329, os prelados franceses ousavam dizer para Felipe de Valois que impedir as pessoas de levar toda a sorte de casos para os tribunais eclesisticos significava retirar todos os direitos das igrejas. "Omnia ecclesiarum jura toilere".(33) Tambm desejavam eles julgar todas as contestaes. Eles colidiam ousadamente com a autoridade civil e impunham temor, procedendo por via de excomunho. Sucedia mesmo que, pelo fato de as dioceses no se encontrarem sempre em territrio poltico, um bispo determinava a citao de estrangeiros para comparecerem diante dele em causas puramente civis e entendia julg-los em violao clara ao direito das naes. O abuso foi levado to longe, trs ou quatro sculos atrs, que nossos sbios antecessores se viram obrigados a tomar srias medidas para nele por um fim. Eles estipularam em seus tratados que nenhum cidado da confederao "deveria comparecer perante cortes espirituais para responder por dbitos de dinheiro, pois que cada cidado deve confinar-se s crtes ordinrias
LEIBNITZ, Codexjuris gent. diplomat., dipl. LXVII, 9.

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locais". V-se na histria que os suios reprimiram, em diversas ocasies, procedimentos dos bispos e seus oficiais. No h assunto, em todas as questes da vida, sobre o qual o clero no estendia a sua autoridade com o pretexto de que questes de conscincia estavam nele envolvidas. O clero vendia aos nubentes a permisso de dormir com suas mulheres nas trs primeiras noites aps o casamento. 156: XI: DINHEIRO ENVIADO PARA ROMA: Esta burlesca inveno nos leva a notar outro abuso, claramente contrrio s regras de poltica sbia e ao que uma Nao deve a si prpria. Refiro-me s quantias imensas que, por meio da expedio de bulas, de dispensas, etc., so anualmente transferidas para Roma de todos os pases de sua comunidade. E o que se dizer do comrcio escandaloso das indulgncias? Mas ele finalmente se tornou ruinoso para a corte de Roma; por desejar demasiado ganhar, ela acabou sofrendo perdas irreparveis. 157: XII: LEIS E PRTICAS CONTRRIAS AO BEM DO ESTADO: Enfim, essa autoridade independente, confiada a eclesisticos, freqentemente pouco capazes de entender os verdadeiros princpios do governo, ou pouco cuidadosos de se instruirem a respeito, e entregues a vises fanticas, a especulaes vazias de uma pureza quimrica e ultrapassada; essa autoridade, digo, gerou, sob pretexto de santidade, leis e prticas prejudiciais ao Estado. J notamos algumas delas e Grcio relata um caso memorvel: ''Na antiga Igreja grega", diz ele, "observou-se durante longo tempo um cnone em virtude do qual aqueles que tinham matado um inimigo em qualquer guerra que fosse, eram excomungados por trs anos"(34). Bela recompensa outorgada a heris defensores da ptria, no lugar dos triunfos com que a Roma pag os honrava! A Roma pag tornou-se a senhora do mundo; ela coroava os seus mais bravos guerreiros. O imprio, tornando-se cristo, rapidamente foi a presa dos
(34)

Droit dela Cuerreet dela Paix, Liv. Il, capo XXIV, infine.

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brbaros. Os seus sditos ganhavam, ao defend-lo, humilhante excomunho enquanto, devotando-se a uma vida ociosa, eles pensavam ter encontrado caminho para o cu e se viram, com efeito, naquele das grandezas e das riquezas.
CAPTULO

XIII

Da justia e da polcia
158: UMA NA() DEVE REINAR AJUSTIA: Depois do cuidado com a religio, a Nao deve ter como um dos principais deveres, aquele concernente justia. Ela deve diligenciar para faz-la reinar no Estado, tomar medidas para que seja distribuda a todos pela maneira mais segura e imediata e menos onerosa. Esta obrigao resulta da finalidade e do prprio pacto da sociedade civil. Vimos ( 15) que os homens no esto obrigados a compromissos da sociedade e no consentiram em dar uma parte de sua liberdade natural a essa sociedade seno com o objetivo de usufruir tranqilamente do que lhes pertence e de obter justia e segurana. A Nao faltariaconsigo prpria e enganaria os indivduos que a compem, se ela no se empenhasse seriamente em fazer uma justia perfeita prevalecer. Ela deve essa ateno para sua prpria paz, prosperidade e felicidade. Quando os cidados no esto seguros de obter pronta e facilmente a justia em todas as disputas, a confuso, a desordem e o desencorajamento nascem logo no Estado. As virtudes cvicas desaparecem e a sociedade se enfraquece. 159: ESTABELECER BOAS LEIS: A justia reina de dois modos: por meio de leis boas e pelo cuidado dos superiores em faz-las serem observadas. Ao tratar da constituio do Estado (Cap. IH), j tnhamos mostrado que uma Nao deve promover leis justas e sbias, e l havamos explicado as razes pelas quais no podemos entrar aqui em pormenores sobre essas leis. Se os homens fossem sempre igualmente justos, eqitativos e esclarecidos, as leis naturais seriam sem dvida

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suficientes para a sociedade. Mas a ignorncia, as decepes do amor prprio e as paixes, muito freqentemente, tomam essas leis sagradas ineficazes. Tambm vimos que todos os povos civilizados tm sentido a necessidade de fazer leis positivas. H a necessidade de regras gerais e formais, para que cada indivduo possa entender claramente e sem se decepcionar, quais so os seus direitos. s vezes, mesmo necessrio afastar-se da eqidade natural com o intuito de prevenir abuso e fraude e para se adaptar s circunstncias; e desde que o sentimento de dever bastante impotente no corao dos homens, h necessidade de uma sano penal para fazer as leis mais eficazes. A lei natural ento convertida em lei civil. Seria perigoso para o interesse dos cidados o julgamento arbitrrio das cortes; o legislador deve concorrer para o entendimento dos juzese controlar os seus preconceitos e suas inclinaes e subordinar as suas decises por meio de regras determinadas, simples e precisas; e aqui novamente temos leis civis. 160: FAZ-LAS CUMPRIR: As melhores leis so inteis se no forem observadas. A Nao deve, ento, obrigar-se a mant-las e faz-las serem respeitadas e fielmente cumpridas e, para esse fim, as medidas mais sbias, mais compreensivas e mais eficazes devem ser tomadas. Disso dependem, em grande parte, sua felicidade, sua glria e sua paz. EDEVERES DO PRNCIPE NESSA MATRIA: J observamos 161: (41) que o soberano, o dirigente que representa a Nao, que revestido de autoridade, est igualmente encarregado de deveres. O cuidado de garantir justia para todos ser, pois, uma das principais funes do prncipe. Nada mais digno da majestade soberana. O imperador Justiniano comea assim o livro das Institutas: "Imperatoriam non solu: armis decoratam, sedetiam /egibus oportet esse armatam; ut utmmque tempus, et bellorutn, et pacis, recte possit gubernari". O grau de poder, confiado pela Nao ao chefe do Estado, ser tambm a medida de seus deveres e de suas funes na administrao da justia. Como a Nao tem o direito de reservar a si prpria o poder legislativo ou de

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confi-lo a um corpo escolhido, ela est tambm no direito, se achar necessrio, de estabelecer um tribunal superior, para julgar todas as causas independentemente do prncipe. Mas o dirigente do Estado deve, naturalmente, ter uma parte considervel na legislao, podendo at mesmo ser dela o nico depositrio. Neste caso, compete-lhe estabelecer as leis ditadas pela sabedoria e eqidade. Em qualquer caso, ele deve proteger as leis, supervisionar aqueles que esto revestidos de autoridade e manter cada qual nos limites de seu dever. 162: COMO ELE DEVE FAZER JUSTIA: O poder executivo pertence naturalmente ao soberano, ao dirigente da sociedade, e presume-se estar ele revestido desse poder em toda a sua amplitude, quando as leis fundamentais no lhe impem limitaes. Quando, pois, as leis esto estabelecidas, compete ao prncipe faz-las executar. Mant-las em vigor e adequ-las com justia a todos os casos constitui o que chamado de administrao da justia. dever natural do soberano ser juiz de seu povo. Em alguns Estados pequenos, os dirigentes desempenham essas funes, mas essa prtica no muito conveniente, talvez mesmo impossvel em reinos grandes. CONSTITUIRJUZES NTEGROS EESCLARECIDOS: O melhor e mais seguro meio de distribuir a justia nomear juzes honestos e esclarecidos para decidir controvrsias que possam haver entre os cidados. impossvel ao prncipe encarregar-se pessoalmente desse trabalho dificil. Ele no teria o tempo necessrio para informar-se em profundidade de todas as causas e nem mesmo reunir os conhecimentos necessrios para julg-las. Como o soberano no pode desempenhar pessoalmente todas as funes do governo, ele deve reservar a si mesmo, com justo discernimento, aquelas que so as mais importantes e possa desempenhar com xito confiando as demais a funcionrios, a magistrados que as exeram sob a sua autoridade. No h inconveniente em confiar o julgamento de um processo a um corpo de homens sbios, honestos e esclarecidos; ao contrrio, a melhor coisa que o prncipe pode fazer. Um prncipe ter

163: Eu:

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cwnprido seus deveres para com o povo quando ele lhe tiver dado juizes que possuam todas as qualidades adequadas para ministrar a justia. No cabe ao prncipe seno supervisionar a conduta desses magistrados a fim de que eles no se tornem ineficazes.

164: Os TRIBUNAIS COMUNS DEVEM JULGAR CAUSAS FISCAIS: O estabelecimento de cortes de justia particularmente necessrio para a deciso de causas fiscais, ou seja, todas as questes que possam surgir entre os sditos e aqueles que recolhem tributos teis do prncipe. Seria errneo e no muito conveniente a um prncipe ser juiz em prpria causa. Ele no poderia preservar-se suficientemente contra as iluses do interesse e do amor-prprio e, mesmo se pudesse faz-lo, no deveria expor a sua glria aos julgamentos incertos da multido. Essas razes importantes devem mesmo preveni-lo de confiar a deciso de causas que o interessem, a ministros e conselheiros que estejam estreitamente ligados sua pessoa. Em todos os Estados bem governados, nos pases que constituem um verdadeiro Estado e no estejam sob o domnio de um dspota, os tribunais ordinrios julgam com a mesma liberdade tanto os processos do prncipe como os dos particulares. 165: DEVE-SE ESTABELECER CORTES SOBERANAS QUE JULGUEM DE FORMA DEFINITIVA: A finalidade dos julgamentos a de por termo de forma justa s controvrsias entre os cidados. Se uma demanda for introduzida perante um juiz de primeira instncia, este investiga todos os pormenores e verifica as provas dessa demanda, mesmo assim muito conveniente, para maior segurana, que a parte condenada pelo primeiro juizpossa recorrer a um tribunal superior, que examine a sentena, e que a reforme se entend-la mal fundamentada. Mas necessrio que este segundo tribunal tenha autoridade de decidir de maneira deftnitiva porque, se assim no for, o processo ser vo e a controvrsia no se findar. A prtica de recorrer ao prprio prncipe, elevando assim a queixa ao nvel do trono, aps ter sido a causa julgada em ltima instncia,

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parece sujeita a grandes inconvenientes. mais fcil, pelo uso de argumentos ardilosos, induzir o prncipe a erros do que uma corte de magistrados versados no conhecimento do direito e a experincia mostra muito bem quais so, num tribunal, os recursos do favor e da intriga. Se tal prtica permitida pelas leis do Estado, o prncipe deve sempre temer que as queixas surjam com o propsito de prolongar um processo e de mudar uma sentena justa. Um soberano eqitativo e sbio no as admitir seno com grandes precaues e se, eventualmente, vier a cassar a sentena, ele prprio no deve julgar o mrito da causa mas, como feito na Frana, deve remet-la ao conhecimento de outro tribunal. As delongas ruinosas desse procedimento nos autorizam a dizer ser mais conveniente e mais vantajoso ao Estado estabelecer um tribunal soberano cujas decises definitivas no possam ser modificadas nem pelo prprio prncipe. bastante, para a segurana da justia, que o soberano supervisione a conduta dos juzes e magistrados, como tambm a de todos os funcionrios pblicos, e que ele tenha o poder de identificar e de punir os prevaricadores. 166: O PRNCIPE DEVE PRESERVAR A JUS11A EM SUA FORMA: Uma vez que esse tribunal soberano foi estabelecido, o prncipe no pode modificar-lhe as decises e, em geral, ele est obrigado a proteger a forma da justia de modo absoluto. Qualquer tentativa de violar essa forma importa em dominao arbitrria, qual no se pode presumir jamais tenha uma Nao desejado submeter-se. Quando as formas so viciosas, dever do legislativo reform-las. Esta operao, quando feita de acordo com as leis fundamentais, ser um dos maiores benefcios que um soberano pode conferir a seu povo. Proteger os cidados do perigo de arruinar-se na defesa de seus direitos, reprimir e sufocar o monstro do engodo, eis uma ao mais gloriosa aos olhos do sbio que todos os feitos de um conquistador. 167: O
PRNCIPE DEVE PRESERVAR A AUTORIDADE DOS JUZES E FAZER

EXECUTAR AS SUAS SENTENAS:

A justia administrada em nome do

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soberano. O prncipe confia no julgamento dos tribunais e ele presume estar com razo o que foi decidido como o direito e a justia. A sua funo , assim, manter a autoridade dos juzes e fazer executar as sentenas. Sem essa execuo, as sentenas seriam vs e ilusrias e a justia no seria distribuda aos cidados. 168:
DA JUSTIA DISTRIBUTIVA. DISTRIBUIO DE EMPREGOS E

RECOMPENSAS: H outra espcie de justia, chamada atnbutiua ou distributiva. Ela consiste, em geral, em tratar cada qual de acordo com os seus mritos. Essa virtude deve, num Estado, regular a distribuio das funes pblicas, das honras e das recompensas. dever de uma Nao para consigo mesma encorajar os bons cidados e estimular todos para a virtude, mediante honrarias e recompensas, e confiar funes somente a sditos capazes de cumpri-las com eficincia. Ela deve tambm dar justa ateno aos indivduos para recompensar e honrar-lhes o mrito. Conquanto seja de competncia do soberano distribuir favores e empregos a quem lhe convier, e ningum tenha direito perfeito a nenhum cargo ou dignidade, no entanto, um cidado que, por grande aplicao, se colocou ao servio til da ptria e aquele que tem prestado algum servio significativo para o Estado, tais cidados, digo, podem com justia queixar-se se o prncipe os deixa no esquecimento para promover pessoas inteis e sem mrito. Seria ter para com aqueles atitude de ingratido condenvel, capaz de extinguir a emulao. No existe falha to perniciosa em um Estado; essa falha introduz no Estado um desestmulo geral e os negcios pblicos, conduzidos por mos pouco hbeis, no podem deixar de ter mau xito. Um Estado poderoso pode manter-se por algum tempo com o seu prprio peso, mas finalmente deriva para a decadncia, Essa , talvez, uma das principais causas dessas revolues que ocorrem em grandes imprios. O soberano cuidadoso na escolha daqueles que emprega enquanto se sente obrigado a zelar pela sua prpria preservao; mas assim que se cr elevado a uma posio de grandeza e de poder que o faa supor no ter mais nada a temer, ele se entrega a caprichos e distribui todos os lugares por meio de favores.

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169: PUNIAo DOS CULPADOS. FUNDAMENTO DO DIREITO DE PUNIR:

A punio dos culpados se relaciona ordinariamente com a justia atributiva, da qual, de fato, ela um ramo medida que a boa ordem demanda que criminosos recebam a punio merecida. Mas se for desejado estabelecer a punio sobre suas prprias bases, devemos remontar aos primeiros princpios. O direito de punir que, no estado de natureza, pertence a cada indivduo, est fundamentado no direito de segurana. Todo homem tem o direito de proteger-se das ofensas e ao fazer isto, usa de fora contra um agressor injusto. Todo homem tem o direito de se garantir contra a agresso e de prover a sua segurana pela fora, contra aqueles que o atacam injustamente. Para esse efeito, ele pode infligir uma pena quele que o agride, tanto para impedi-lo de prejudicar outrem como para corrigi-lo e para impedir que outros sejam tentados a imit-lo. Ora, quando os homens se unem em sociedade, como a sociedade est, desde ento, encarregada de zelar pela segurana de seus membros, todos renunciam em favor dela ao seu direito de punir. Compete a ela, pois, vingar as ofensas individuais, protegendo os cidados. Mais ainda, desde que a sociedade uma pessoa jurdica, contra a qual ofensas podem ser cometidas, ela tem o direito de manter a sua prpria segurana, mediante a punio daqueles que a ofendam, ou seja, ela tem o direito de punir os delitos pblicos. Decorre da o direito de espada que pertence a uma Nao ou a seu governante. Ao usar esse direito contra outra Nao, ela empreende a guerra; quando usa contra um indivduo, ela exerce a justia vindicativa. Duas cousas devem ser consideradas nessa parte do governo: as leis e a sua execuo. 170: DAS LEIS PENAIS: Seria perigoso deixar a punio de criminosos inteiramente discreo daqueles que tm o poder nas mos. As paixes poderiam misturar-se em matrias que apenas justia e sabedoria cabe reger. A punio consignada previamente a uma ao m tem mais eficcia para deter os malfeitores que um vago medo sobre o qual podem iludir-se. Enfim, desde que o sofrimento de um criminoso ordinariamente inspira piedade, os povos ficam mais convencidos da

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justia da punio que aplicam, quando a prpria lei que o determina. Todo Estado civilizado deve assim ter leis criminais. Compete ao legislador, qualquer que seja, estabelec-las com justia e sabedoria. Mas no apropriado descrever aqui a teoria geral dessas leis: limitemo-nos a dizer que cada Nao deve escolher, nessa matria como em qualquer outra, as leis que mais bem convm s circunstncias. 171: DA MEDIDA DAS PENAS: Faremos nesse assunto mais uma observao que se relaciona com a graduao das punies. pelo prprio fundamento do direito de punir, para o fim legtimo das penalidades, que necessrio mant-las dentro de limites justos. Desde que as punies tm como objetivo melhorar a segurana do Estado e de seus cidados, elas no devem nunca ser estendidas alm do que necessrio para esse efeito. Dizer que toda pena justa quando o criminoso conheceu previamente a punio qual se expunha, adotar uma linguagem contrria humanidade e lei natural, a qual nos probe fazer mal aos outros a no ser que eles nos obriguem a faz-lo para a nossa defesa e nossa segurana. Todas as vezes, pois, que uma espcie de delito no suscita demasiado temor na sociedade, quando as ocasies de comet-la so raras, no convm reprimi-la com penalidades demasiado severas. Deve-se ainda ter em considerao a natureza do delito e puni-lo medida do interesse da ordem pblica, da segurana da sociedade e do que ele indique sobre a maldade do culpado. Ditam essas regras no apenas a justia e a eqidade, mas tambm a prudncia e a arte de governar. A experincia nos ensina que a imaginao se familiariza com os objetos que a ela so apresentados com freqncia. Se multiplicais os suplcios terrveis, os povos ficaro, com o decurso do tempo, menos impressionados; esses espetculos sangrentos no produziro mais efeito, no assustaro mais os maldosos. O mesmo ocorre com as honrarias; um prncipe que multiplica excessivamente os ttulos e distines, logo os deprecia; ele utiliza com inabilidade um dos mais poderosos e cmodos recursos de governo. Quando refletimos sobre a prtica dos antigos romanos e o seu cuidado escrupuloso em

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poupar o sangue dos cidados, ficamos impressionados com a facilidade com que esse sangue derramado na maioria dos Estados. Estaria a Repblica Romana mal orientada? Vemos entre ns mais ordem, mais segurana? menos a atrocidade das penas que o rigor em exigi-las que induz todos ao dever. E se se pune com a morte o simples furto, que punio se est a prever para preservar a vida dos cidados? 172: DA DAS LEIS: A execuo das leis compete ao dirigente da sociedade, o qual est incumbido dessa tarefa e obrigado a cumpri-la com sabedoria. O prncipe velar para que as leis penais sejam cumpridas; mas no lhe caber julgar os culpados. Alm das razes acima alegadas com referncia aos julgamentos civis, as quais mais ainda procedem no tocante s causas penais, a funo de julgar contra um acusado miservel no adequada majestade do soberano que, em tudo, deve parecer como o pai do seu povo. regra muito sbia, praticada na Frana, a de que o prncipe deve reservar para si matrias referentes concesso da graa e deixar aos magistrados os rigores da justia; essa justia, porm, dever ser exercida em seu nome e sob a sua autoridade. Um bom prncipe inspecionar atentamente a conduta dos magistrados; ele os obrigar a observarem escrupulosamente as formas estabelecidas. Ele empenhar-se- em sempre respeit-las. Todo soberano que viola ou negligencia as formas da justia, em busca de culpados, caminha rapidamente para a tirania; no h mais liberdade para os cidados se eles no tiverem a garantia de no serem condenados a no ser de acordo com as leis, nas formas estabelecidas por juizes comuns. A prtica de dar a um acusado defensores escolhidos ao arbtrio do tribunal, constitui uma inveno tirnica de alguns ministros que abusavam do poder de seu superior. Foi por esse meio irregular e odioso que um famoso ministro conseguia sempre fazer perecer os seus inimigos. Se for suficientemente esclarecido para prever o abuso horrvel que seus ministros poderiam assim praticar, um bom prncipe nisso jamais poderia concordar. Se o prncipe no deve ser ele prprio juiz, pela mesma razo ele no deve agravar a sentena proferida pelos juizes.

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173: Do DIREITO DE CONCEDER A GRA<;A: A prpria natureza do governo exige que o executor das leis tenha o poder de dispensar o seu cumprimento quando o possa fazer sem prejudicar ningum, em certos casos especficos em que o bem do Estado demanda uma exceo. Da resulta que o direito de conceder graa um atributo da soberania. Mas o soberano, em toda a sua conduta, tanto no rigor como na misericrdia, no deve ter em vista seno o maior proveito da sociedade. Um prncipe sbio poder conciliar a justia e a clemncia, o cuidado com a segurana pblica, e a caridade devida aos infelizes. 174: DA POLCIA: A policia representa a ateno do prncipe e dos magistrados em manter tudo em ordem. Regulamentos sbios devem prescrever tudo o que mais bem convier segurana, utilidade e comodidade pblicas e aqueles que tm o exerccio da autoridade no poderiam ser excessivamente atentos em fazer cumprir esses regulamentos. O soberano, mediante politica sbia, compele os povos ordem e obedincia; ele preserva a tranqilidade, a paz e a concrdia entre os cidados. Atribuem-se a magistrados holandeses talentos singulares para a policia: as suas cidades, e mesmo os seus estabelecimentos nas ndias, so em geral, entre todos os pases do mundo, aqueles em que o poder de policia se encontra mais bem exercido. 175: Do DUELO OU DOS COMBATES SINGULARES: Tendo as leis e as autoridades dos magistrados substitudo a guerra privada, o dirigente da Nao no deve permitir que os particulares faam justia por eles prprios, quando podem recorrer aos magistrados. O duelo, este combate no qual nos empenhamos em razo de querela particular, uma subverso manifestamente contrria ao fim da sociedade. Esta subverso era desconhecida dos antigos gregos e romanos, os quais levaram bem longe a glria das armas; ns devemos essa prtica a povos brbaros que no conheciam outro direito seno a espada. Luis XIV merece os maiores elogios pelos esforos feitos para abolir esse costume to cruel.

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176: DE ACABAR COM ESSA DESORDEM: Mas como no se ponderou a esse prncipe que as mais severas penas eram insuficientes para acabar com a prtica do duelo? Essas penas no iam fonte do mal e desde que um preconceito ridculo havia persuadido a nobreza e os militares de que a honra obriga um nobre a vingar por suas mos a menor ofensa recebida, eis o principio sobre o qual se deveria trabalhar. Que se destrua esse preconceito ou que o neutralize com um motivo da mesma natureza. Enquanto um fidalgo, em sua obedincia lei, for considerado por seus iguais como um covarde, como um homem desonrado e um oficial, no mesmo caso, for forado a abandonar o servio, como os impedireis de lutar ainda que ameaados pela morte? Ao contrrio, ele dar testemunho de sua bravura ao expor duas vezes a sua vida para se lavar de uma afronta. E, certamente, enquanto o preconceito subsiste, enquanto um fidalgo ou um oficial no pode atentar contra esse preconceito sem sofrer a condenao moral no restante de seus dias, eu no sei se se pode com justia punir aquele que forado a se submeter tirania do preconceito, nem se ele culpado de acordo com a boa moral. Essa honra mundana, falsa e quimrica, conquanto aceita, para o fidalgo um bem muito real e muito necessrio, porque sem essa honra ele no pode viver com seus semelhantes nem exercer uma profisso que muitas vezes consiste em seu nico recurso. Quando pois, um bruto lhe queira arrebatar injustamente essa quimera acreditada e to necessria, por que no poderia ele defend-la tanto quanto ele defenderia contra um ladro seus bens e sua vida? Assim como o Estado no permite ao indivduo caar utilizando-se de armas, tambm deve necessariamente, se no desejar que o particular use da espada contra aquele que o insulta, fazer com que a pacincia e a obedincia do cidado insultado no resultem em prejuzo para esse mesmo cidado, porque o magistrado - ou o soberano - pode lhe fazer justia contra o usurpador de seu bem. A sociedade no pode retirar de um homem o seu direito natural de guerra contra um agressor a no ser fornecendo-lhe outro meio de se garantir contra o mal que se lhe quer fazer. Em todas as ocasies em que a autoridade pblica no pode nos socorrer, ns nos

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reinvestirnos em nossos direitos primitivos de defesa natural. Assim, um viajante pode matar, sem nenhum impedimento, o ladro que o ataca na estrada, uma vez que, nessas circunstncias, invocaria em vo a proteo das leis e do magistrado. Tambm uma jovem casta ser louvada, se ela tirar a vida de um bruto que quisesse violent-la. Enquanto se espera que os homens se desfaam dessa idia gtica, a de que a honra os obriga a vingar pelas prprias mos as ofensas pessoais sofridas, em desobedincia prpria lei, o meio mais seguro de anular os efeitos de semelhante preconceito seria talvez estabelecer uma distino completa entre o agredido e o ofensor; conceder sem problemas a graa ao primeiro, quando parecer ter sido ele verdadeiramente atacado em sua honra; e punir sem misericrdia aquele que o ultrajou. E aqueles que tiram a espada por bagatelas, banalidades, arrufos, ou gracejos que no dizem respeito honra, eu desejaria que fossem severamente punidos. Dessa maneira, deter-se-iam essas pessoas inquietas e brutais, que obrigam freqentemente os mais sbios necessidade de reprimi-los Cada qual tomaria cuidado para evitar ser considerado agressor e, desejando examinar com cuidado a vantagem de lutar, se necessrio, sem incorrer nas penas legais, haveria moderao de uma parte e de outra; a querela terminaria por si mesma e no teria conseqncias. Freqentemente, no fundo do corao, o bruto um covarde; arrogante e insulta na esperana de que o rigor das leis dar seqncia sua insolncia; que acontecer ento? Um homem sensvel prefere expor-se a tudo a admitir insulto; o agressor no ousa recuar; e eis formado um combate que no teria jamais tido lugar se o agressor tivesse podido pensar que a prpria lei que o condena e absolve o ofendido poderia tambm punir-lhe a audcia. A essa primeira lei cuja eficcia, no duvido, seria pela experincia Uma vez que logo reconhecida, conviria aditar as seguintes regras: o costume deseja que a nobreza e os militares usem armas em plena paz, dever-se-ia atentar para o que as leis determinam a respeito, as quais circunscrevem esse uso apenas quelas duas ordens; 11.') Seria conveniente estabelecer um tribunal particular para julgar sumariamente

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todas as questes de honra entre pessoas dessas duas ordens. O tribunal dos marechais da Frana est j no exerccio dessas funes s quais lhe poderiam ser concedidas prerrogativas mais formalmente e com mais amplitude. Os governadores de provncias e de praas, com os respectivos Estados-maiores, os coronis e capites de cada regimento seriam para esse fim subdelegados dos senhores marechais. Esses tribunais seriam os nicos, cada qual em seu departamento, a outorgar o direito de ter espada: todo fidalgo, com a idade de dezesseis ou dezoito anos, todo homem ao entrar no regimento, seria obrigado a comparecer perante o tribunal para receber a espada. 111") Ao lhe entregar a espada, dar-se-lhe-ia cincia de que ela lhe confiada apenas para a defesa da ptria e se poderia ento ministrar-lhe noes sadias sobre a honra. IVO) Parece-me muito importante infligir penas de natureza diferente para casos diferentes. Poder-se-ia degradar da nobreza e das armas e aplicar penas corporais a quem ofendesse por fatos ou palavras um homem de espada; e aplicar-se-lhe penas corporais, inclusive a de morte, segundo a gravidade da ofensa e, consoante minha primeira observao, nenhuma graa seria concedida, se o duelo seguir-se ofensa, ao passo que o adversrio mereceria absolvio. Os que se batem por motivos levianos no creio que devessem ser condenados morte a no ser no nico caso em que o autor da querela, ou seja, aquele que a levou adiante at o duelo, tivesse matado o seu adversrio. Busca-se escapar da pena quando ela demasiado severa e, alis, neste caso, a pena de morte no deve ser considerada uma desonra. Que eles sejam degradados vergonhosamente da nobreza e das armas, privados para sempre, e sem esperana de perdo, do direito de ter espada: a pena mais adequada para conter pessoas impulsivas. Poder-se-ia cuidar, bem entendido, de distinguir entre os culpados de acordo com o grau da culpa. Quanto aos plebeus que no sejam militares, querelas entre eles devem ser encaminhadas reprovao dos tribunais ordinrios, e que o sangue que derramarem seja vingado segundo as leis comuns contra a violncia e o homicdio. O mesmo se daria em relao s querelas que poderiam ocorrer entre um plebeu e um homem de espada: compete ao magistrado

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ordinrio manter a paz e a ordem entre pessoas que no poderiam ter questes de honra. Proteger o povo contra a violncia das pessoas de espada e puni-lo severamente se ousasse insult-los, estaria ainda, como atualmente, ao encargo do magistrado. Ouso acreditar que esses regulamentos, bem observados, sufocariam um monstro que as mais severas leis no puderam conter. Eles vo raiz do mal, ao prevenir as querelas; e eles opem o sentimento vivo de honra verdadeira e real honra falsa e susceptvel que tem feito derramar tanto sangue. Buscar essa via seria digno de um grande monarca; o xito imortalizaria o seu nome e a mera tentativa creditar-lhe-ia o amor e o reconhecimento de seu povo.
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XIV

Terceiro de um bom governo: fortalecer-se contra ataques externos

177: UMA NAO DEVE FORTALECER-SE CONTRA ATAQUES EXTERNOS: Temos abordado problemas que concernem verdadeira felicidade de uma Nao; a matria rica e, igualmente, variada. Vejamos agora uma terceira classe de deveres que uma Nao tem para consigo mesma, o terceiro objetivo de um bom governo. Um dos fins da sociedade poltica defender-se a si prpria, com foras unidas, de insultos e ataques do exterior (15). Se a sociedade no estiver em condio de repelir um agressor, ela muito imperfeita; ela descumpre a sua finalidade primordial e no pode subsistir por muito tempo. A Nao deve estar em condies de repelir e dominar um inimigo injusto; esse um importante dever que o cuidado por sua proteo, e mesmo por sua preservao, impe a seu dirigente. 178: Do PODER DE UMA NAO: por seu poder que uma Nao capaz de repelir agressores, assegurar seus direitos e fazer-se a si prpria respeitada em toda parte. Tudo a impele a nada negligenciar

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para capacit-la a alcanar esses objetivos. O poder de um Estado consiste de trs elementos: o nmero dos cidados, as virtudes militares desses cidados e as riquezas. No mbito destas, incluem-se fortalezas, artilharia, armas, cavalos, munies e, em geral, o extenso aparato hoje necessrio para a guerra, uma vez que todos eles podem ser obtidos com dinheiro. 179: MULTIPLICAO DOS CIDADOS: O Estado, ou seu dirigente, deve, pois, primeiramente dedicar-se a aumentar o nmero dos cidados, tanto quanto for possvel e conveniente. Ele consegui-lo- ao criar, como seu dever, um estado de plena riqueza no pas; ao habilitar o povo a manter uma famlia com seu trabalho; ao formular regulamentaes adequadas para que os sditos mais fracos e acima de tudo os trabalhadores no sejam prejudicados e oprimidos pelo estabelecimento de impostos; ao governar com pacincia, e de tal maneira que, em vez de incomodar e afastar sditos, consiga atrair novos; e finalmente ao encorajar o casamento, a exemplo dos romanos. J observamos ( 149) que aquele povo, to atento a tudo o que possa manter e aumentar o seu poder, fez leis sbias contra o celibato e concedeu privilgios e isenes aos casais, especialmente queles que tm grandes famlias. Tais leis so tanto justas quanto sbias, porquanto um cidado que educa sditos para o Estado tem o direito de dele esperar mais favores que aqueles que vivem de maneira egosta. Num Estado que no transborda de habitantes, tudo o que for contrrio populao danoso. J falamos de monastrios e do celibato de padres. estranho que instituies diretamente contrrias aos deveres do homem e do cidado, ao bem-estar e segurana da sociedade, tenham encontrado tanto favor, e que os prncipes, longe de a isso se opor como deveriam, as tenham protegido e as enriquecido. Uma poltica hbil para aproveitar-se da superstio, com o fim de estender o seu poder, compeliu potncias e sditos a mudar os seus deveres verdadeiros; ela soube cegar prncipes, mesmo em relao a seus prprios interesses. A experincia parece finalmente abrir os olhos das Naes

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e seus dirigentes: o prprio papa, deixe-nos diz-lo para honra de est buscando reduzir gradualmente to evidente abuso; Benedito ele tem decretado que ningum em seus Estados deve ter permisso para fazer votos antes da idade de vinte e cinco anos. Esse sbio pontfice d exemplo salutar aos soberanos de sua comunidade; ele os convida para dar uma ateno maior ao bem-estar de seus Estados e para fechar pelo menos alguns canais do abismo que os exaure, se eles no puderem fech-los completamente. Percorrei a Alemanha, e observai pases alis perfeitamente semelhantes; vereis que Estados protestantes so duas vezes mais povoados que os catlicos; comparai a Espanha deserta com a Inglaterra lotada de habitantes; vede belas provncias, mesmo na Frana, a que faltam agricultores; e dizei se milhares de reclusos e reclusas no serviriammelhor a Deus e a ptria em fornecendo trabalhadores a esses ricos campos? verdade que a Sua catlica no deixa de ser muito povoada; mas isto porque a existncia de paz prolongada e a natureza do governo compensam abundantemente as perdas causadas pelos conventos. A liberdade capaz de remediar os maiores danos; ela a alma do Estado, e com boas razes que os romanos a chamavam alma libertas. 18: DA CORAGEM: Uma covarde e indisciplinada multido incapaz de repelir um inimigo aguerrido. A fora do Estado consiste menos no nmero do que nas virtudes militares dos cidados. A coragem, essa herica virtude que enfrenta o perigo para a defesa da ptria, o mais firme suporte do Estado: ele torna o Estado temvel aos seus inimigos e o poupa at mesmo da necessidade de defender-se. Um povo cuja reputao a esse respeito se encontra bem estabelecida ser raramente atacado se no provocar ningum com suas prticas. Por mais de dois sculos, os suos tm desfrutado de uma paz profunda, enquanto o rudo das armas ressoa em torno deles e a guerra causa desolao no resto da Europa. A coragem um presente da natureza, mas vrias causas podem increment-lo ou enfraquec-lo e mesmo destrui-lo. Uma Nao deve pois procurar e cultivar uma virtude to

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til; e um soberano prudente diligenciar para que os seus sditos nela se inspirem. A sabedoria lhe indicar os meios de faz-lo. esse belo fogo que anima a nobreza francesa; inspirado pela glria e pela ptria, a coragem sobrevoa os combates e inspira o derramamento de sangue no campo da honra. A que ponto no iriam as conquistas francesas, se esse reino estivesse cercado por povos menos belicosos? O ingls, generoso e destemido, um leo nos combates e, em geral, as Naes da Europa suplantam em bravura todos os povos do mundo.

181: OUTRAS VIRTUDES MILITARES: Mas apenas a coragem nem

sempre prevalece na guerra; a reunio de todas as virtudes militares so, freqentemente, necessrias para a obteno de xitos. A histria nos mostra como so importantes generais competentes, a disciplina militar, a frugalidade, a fora corporal, a destreza, a resistncia s fadigas e ao trabalho. Eis a diferentes virtudes que uma ptria deve cultivar com zelo. Essas virtudes deram o melhor renome aos romanos e fizeram com que eles se tornassem senhores do mundo. Seria um erro pensar que apenas o valor foi a causa dessas aes brilhantes dos antigos suos: as vitrias de Morgarten, de Sempach, de Laupen, de Morat, e outras numerosas. Os suos no somente combatiam bravamente; eles estudavam a guerra; eles se dirigiam duramente ao trabalho; eles treinavam para executar todas as manobras; e o prprio amor liberdade os submetia disciplina que, por si s, lhes podia assegurar esse tesouro e salvar a ptria. As suas tropas no eram menos clebres pela disciplina que pela bravura. Mzeray, depois de relatar o que os suos fizeram na batalha de Dreux acrescenta essas palavras notveis: "Na opinio de todos os capites de ambos os lados que l estavam, os suos naquele dia, ganharam nessa jornada, e deram provas sob todas as formas, contra a infantaria e a cavalaria, contra os franceses e os alemes, o prmio da disciplina militar e a reputao de serem os melhores infantes do mundo. (35)
(35)

Histoire de France, Tomo 11, p. 888.

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182: DAS RIQUEZAS: Enfim, as riquezas de uma Nao constituem uma parte considervel de seu poder, principalmente hoje quando a guerra exge enormes despesas. No so apenas os rendmentos do soberano ou do tesouro pblico que fazem a riqueza de uma Nao; a sua opulncia tambm estimada pela riqueza dos cidados. Uma Nao comumente chamada rica, quando nela se encontra um grande nmero de cidados abastados e poderosos. Os bens dos particulares realmente incrementam a fora do Estado, porque so eles capazes de contribur largamente para as necessidades pblicas, e, em caso extremo, o soberano pode empregar todos os bens dos sditos para a defesa e salvao do Estado, em virtude do domnio eminente que lhe pertence, como explicaremos a segur. A Nao deve, pois, dedicar-se a adqurir os bens pblicos e privados to teis para ela; e temos aqui uma nova razo para desenvolver o comrcio exterior, fonte desses bens; uma nova razo para que o soberano deva observar cudadosamente todo o comrcio exterior que seu povo possa exercer, tanto para manter e proteger as ativdades lucrativas como para cortar aquelas que levam embora o ouro e a prata. 183: DO ESTADO E IMPOSTOS: O Estado deve ter rendas proporcionais s despesas que obrigado a fazer. Essas rendas podem ser obtidas de vrias maneras em razo dos bens prprios da Nao, das contribues, de tributos de vrios tipos, etc. Trataremos adante desse assunto. 184: A NAAo NAo DEVE AUMENTAR o SEU PODER POR MEIOS ILCITOS: Eis em que consiste esse poder que a Nao deve aumentar e desenvolver. necessrio observar que, para esse fim, ela s pode usar de meios justos e nocentes. Um fim louvvel no basta para legitimar os meos: eles devem ser legtimos em si mesmos. A lei natural no pode ser contradtria; se ela probe uma certa ao como sendo intrinsecarnente injusta ou desonesta, ela no pode nunca permiti-la, qualquer que sejao fim em vista, Mesmo no caso em que um bom e plausvel fim no possa ser atingido seno por meos ilegtimos, esse fim deve

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ser considerado como impossvel e deve ser abandonado. Assim veremos, ao tratar das causas justas da guerra, no ser permitido a uma Nao agredir outra com o propsito de submet-la s suas leise de se engrandecer a si mesma. como se um indivduo quisesse enriquecer-se, arrebatando os bens de outrem. 185: O PODER RELATIVO QUELE DE OUTREM: O poder de uma Nao uma questo relativa; deve ser medido em funo do poder dos vzinhos, ou dos povos dos quais se tem algo a temer. O Estado suficientemente poderoso, quando for capaz de se fazer respeitar e de repelir quem quer que desejasse atac-lo. Ele pode alcanar essa situao feliz, seja pelas prprias foras, mantendo-as ao nvel ou mesmo acima das foras de seus vzinhos, seja evitando que estes se convertam em potncia predominante e temvel. Mas no podemos assinalar aqui em que casos e por quais meios um Estado pode, por justia, limitar o poder de outro Estado; preciso antes explicar os deveres de uma Nao para com as outras, a fim de combin-los em seguida com os deveres para consigo mesma. Digamos apenas, no momento, que, ao seguir esse respeito s regras da prudncia e de uma sbia poltica, essa Nao no deve nunca perder de vista as regras da justia.
CAPTULO

XV

Da

de uma Nao

186: QUANTO A GLRIA VANTAJOSA: A glria de uma Nao est intimamente relacionada com o seu poder, do qual ela constitui parte importante. Essa nobre vantagem lhe confere a estima de outros povos e faz com que ela seja respeitada pelos vizinhos. Uma Nao cuja reputao bem estabelecida, e especialmente aquela cuja glria manifesta, v-se cortejada por todos os soberanos; eles desejam a sua amizade e temem ofend-la; os seus amigos e aqueles que esperam s-lo favorecem as suas iniciativas e os invejosos no ousam manifestar a sua m vontade.

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187: DEVER DA NAAO: COMO SE ADQUIRE AVERDADEIRA GLRIA: , pois, de grande vantagem para uma Nao, e um de seus principais deveres para consigo mesma, estabelecer a sua reputao e a sua glria. A verdadeira glria consiste no julgamento favorvel das pessoas sbias e esclarecidas. Ela adquirida pelas virtudes, pelas qualidades da mente e do corao e pelas belas aes que so fruto dessas virtudes. Uma Nao deve merec-la por duas razes: 1") Pelo comportamento ou conduta daqueles que esto no governo, que administram os seus negcios. 2") Pelo mrito dos indivduos que compem a Nao. 188: DEVERES DO PRNCIPE: Um soberano, quem quer que seja ele, que se dedica inteiramente sua Nao est, evidentemente, obrigado a incrementar-lhe a glria tanto quanto puder. Vimos que seu dever trabalhar para a perfeio do Estado e do povo que lhe submetido; ele merecer assim alcanar a boa reputao e a glria. Ele deve ter esse objetivo continuamente na frente de seus olhos em tudo aquilo que empreender e em qualquer uso que faa de seu poder. Ao fazer brilhar a justia, a moderao e a grandeza de alma em todas as suas aes, ele ganhar para si e para seu povo um nome honrado perante o mundo, e no menos til que glorioso. A glria de Henrique IV salvou a Frana: no estado deplorvel em que ele encontrou os seus negcios, as suas virtudes pessoais encorajaram os sditos fiis e propiciaram aos estrangeiros a disposio de socorr-lo, de aliar-se com ele contra o ambicioso espanhol. Um prncipe fraco e pouco estimado teria sido abandonado; qualquer um teria temor de se envolver com a sua runa. Em adio s virtudes que so a glria dos prncipes como a das pessoas privadas, h a dignidade e o decoro que pertencem exclusivamente ao trono, e que o soberano deve ter em conta com o maior zelo. Ele no pode negligenciar essas virtudes sem se rebaixar a si prprio e trazer descrdito ao Estado. Tudo o que emana do trono deve trazer um carter de pureza, nobreza e grandeza. Que idias ter-se-ia de um povo que viu o soberano exibir em seus atos pblicos uma baixeza de sentimentos pela qual um cidado se julgaria desonrado? Toda a

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majestade da Nao reside na pessoa do prncipe. Em que se tornaria ela se ele a prostitui, ou se ele permite que ela seja prostituda por aqueles que falam e agem em seu nome? O ministro que fala pelo seu mestre de maneira indigna merece ser vergonhosamente demitido. 189: DEVERES DOS CIDADOS: A reputao dos indivduos, pela maneira de falar e pensar, igualmente comum e natural, se reflete sobre a Nao. Em geral, vcios ou virtudes so atribuidos a um povo quando eles so freqentemente nele notados. Uma Nao dita belicosa quando ela produz um grande nmero de bravos guerreiros; ou sbia quando h muitos sbios entre seus cidados; ou artstica quando ela possui muitos artistas talentosos. Ao contrrio, dizemos ser ela covarde, preguiosa ou estpida, quando pessoas com esses caracteres l se encontram em maior nmero que alhures. Os cidados obrigados a trabalhar, tanto quanto possam, para promover o bem e o avano da ptria, no tm somente deveres para consigo prprios no sentido de merecer uma boa reputao, mas tm tambm deveres para com a Nao cuja glria susceptvel de ser influenciada pela glria deles prprios. Bacon, Newton, Descartes, Leibnitz e Bernoulli, trouxeram honra para seus pases e os serviram utilmente em virtude da glria que eles prprios adquiriram. Os grandes ministros e generais, um Oxenstiern, um Turenne, um Marlborough ou um Ruyter servem duplamente ptria tanto pelas aes como pela glria de cada qual. Por outro lado, um bom cidado encontrar novo motivo para abster-se de todos os atos desonrosos, pelo temor da desonra que poderia projetar-se sobre a sua ptria. O prncipe, por sua vez, no deve permitir que seus sditos se entreguem a vcios capazes de difamar a Nao, ou mesmo de apenas ofuscar o brilho de sua glria. Ele tem o direito de reprimir e punir as manifestaes escandalosas, que constituem uma real ofensa para o Estado. 190: EXEMPLO DOS suos: O exemplo dos suios bem adequado para mostrar quo til pode ser a glria para uma Nao. A alta reputao da coragem que eles adquiriram e gloriosamente mantm, os tm habilitado

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a usufruir a paz por mais de dois sculos, e os tornam alvo do interesse de todas as potncias da Europa. Lus XI, enquanto delfim, testemunhou os prodgios de valor por eles alcanados na batalha de Saint Jacques, perto de Basilia e, desde ento, alimentou o propsito de vincular-se estreitamente a uma N ao to intrpida. Os duzentos heris, que nessa ocasio atacaram um exrcito de cinqenta a sessenta mil homens aguerridos, combateram de incio a vanguarda dos Armagnacs, fortalecida por dezoito mil homens e, em seguida, afrontaram com destacada audcia, o grosso do exrcito; quase todos morreram sem poder completar a vitria. Mas alm de terrificar o inimigo e salvar a Sua de uma invaso desastrosa, eles a serviram utilmente pela glria brilhante que ganharam para seus exrcitos. A reputao de uma fidelidade inviolvel no tem sido menos vantajosa para essa Nao e, conseqentemente, esta tem sido sempre zelosa em mant-la. O canto de Zug condenou morte esse indigno soldado que violou a confiana do duque de Milo e denunciou esse prncipe aos franceses quando, para deles fugir, ele se colocou nas fileiras dos suos que saam de Novara, trajado com o uniforme deles. 191: ATACAR A DE UMA SIGNIFICA INJURI-LA: Desde

que a glria de uma Nao um bem muito real, ela tem o direito de defend-la como faria com outros bens. Quem ataca a sua glria comete injria contra a Nao e esta tem o direito de exigir do agressor, pela fora das armas, uma justa reparao. No se pode, pois, condenar as medidas tomadas algumas vezes pelos soberanos com o fim de manter ou vingar a dignidade de suas prprias coroas. Tais medidas so igualmente justas e necessrias. Entender que elas no procedem de pretenses demasiado altas, atribu-las a um vo orgulho significaignorar grosseiramente a arte de reinar e desprezar um dos mais slidos suportes da grandeza e da segurana do Estado.

Histoire de la Conjdration Helvtique, por A-L. de WATIEVILLE, t. I, p. 254.

VOGEL, Trait bistorique etpolitique des alliances entre la France et les treize Cantons, p.75,76,
(J7)

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CAPTULO

XVI

Submisso voluntria de um Estado a poder estrangeiro com o intuito de obter proteo

192: DA PROTEO: Quando uma Nao incapaz de defender-se de insulto e opresso, ela pode obter para si a proteo de um Estado mais poderoso. Se essa proteo alcanada pela promessa de fazer em troca certas cousas, inclusive pagar tributo em reconhecimento da proteo que lhe oferecida, fornecer tropas a seu protetor e mesmo fazer causa comum com ele em todas as suas guerras, preservado o direito de se auto-governar, esse um simples tratado de proteo, que no derroga a soberania, e que no se distingue de tratados ordinrios de aliana seno pela diferena que ele influi na dignidade das partes contratantes. 193: SUBMISSO VOLUNTRIA DE UMA NAO A OUTRA: Todavia, algumas vezes um passo maior dado, apesar de que uma Nao deve lhe pertencem lutar tenazmente pela liberdade e independncia por natureza. Quando a sua prpria fora no for suficiente e quando ela entende ser incapaz de resistir a seus inimigos, nesse caso, ela pode legitimamente submeter-se a uma Nao mais poderosa, em condies convenientes para ambas, e o pacto ou tratado de submisso ser, em conseqncia, a medida e a regra dos direitos de uma e de outra. Aquela que se submete, ao ceder e ao transferir a outrem um direito que lhe pertence, permanece senhora de transferir as condies que lhe aprouver e a outra, ao aceitar a submisso sobre essa base, se compromete a observar fielmente todas as clusulas do pacto.

194: DIVERSAS ESPCIES DE SUBMISSO: Essa submisso pode variar ao infinito, segundo a vontade dos contratantes: ela poder deixar subsistir em parte a soberania da Nao inferior, restringindo-a somente em certos aspectos; poder anul-la completamente, de modo que a Nao superior toma-se soberana da outra; ou enfim, a Nao inferior

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poder incorporar-se nao maior de modo a constiturem ambas um s Estado e, nesse caso, os cidados de ambas tero os mesmos direitos. A histria romana nos oferece exemplos dessas trs espcies de submisso: 1") os aliados do povo romano, como foram por muito tempo os latinos, dependiam de Roma sob diversos prismas, embora se governassem por suas leis e por seus prprios magistrados; 2") os pases reduzidos a provncias romanas, como Cpua, tiveram seus habitantes submetidos completamente aos romanos'P'; 3") enfim, os povos a quem Roma concedia o direito de burguesia. Ao final, os imperadores outorgaram esse direito a todos os povos submetidos ao imprio, e transformaram assim todos os sditos em cidados. 195: DIREITOS DOS CIDADAos QUANDO ANAAo SE SUBMETE AUMA POTNCIA ESTRANGEIRA: Nos casos de completa subordinao a um estrangeiro, os cidados descontentes no esto obrigados a submeter-se; deve ser-lhes permitido vender os prprios bens e emigrar. Porque, para entrar numa sociedade, no se obrigado a seguir-lhe o destino quando ela se dissolve para submeter-se a uma dominao estrangeira. Eu me submeti sociedade tal como ela era, para viver nessa sociedade e no numa outra, para ser membro enfim de um outro soberano. Devo obedec-la enquanto ela permanece sociedade poltica; quando ela se despoja dessa qualidade para receber a lei de outro Estado, ela rompe os vnculos que uniam os seus membros e os desvincula de todos os comprorrussos. 196: PACTOS ANULADOS POR INCAPACIDADE DE PROTEAo: Quando uma Nao foi colocada sob a proteo de outra mais poderosa ou mesmo de ser protegida, se esta no a protege mais a ela se subordina com o efetivamente, manifesto que por faltar a seus compromissos, ela perde todos os direitos que a conveno lhe tenha outorgado. Nesse caso, a
Itaquepopu/um Campanum, urbemque Capuam, agros, delubra Deum, divina, humanaque omnia, in uestram, Palres Consaipti, Popu/ique Romani ditionem dedimus. TIT.-LIV, L. VII, capo 31.

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Nao protegida liberada da obrigao que havia contrado e retoma todos os seus direitos, recuperando sua independncia e sua liberdade. Cabe observar que tal ocorre mesmo nos casos em que o protetor no descumpre os compromissos por m f, mas por pura impotncia, uma vez que a Nao mais fraca no se tinha submetido seno com o fim de ser protegida e, se a outra no se encontra em condies de preencher essa condio essencial,o pacto est anulado. A Nao mais fraca recupera os seus direitos e pode, se julgar conveniente, recorrer a uma proteo mais eficaz, Foi assim que os duques da ustria, que haviam adquirido um direito de proteo e, sob certos aspectos, de soberania sobre a cidade de Lucerna, no desejando ou no podendo proteg-la eficazmente, deu ensejo a que essa cidade fizesse aliana com os trs primeiros cantes e como os duques apresentassem queixa ao imperador, os cidados de Lucerna responderam "que eles tinham usado do direito natural e comum a todos os homens, que permite a cada qual procurar a prpria segurana, quando for abandonado por aqueles que esto obrigados a socorr-lo". 197: Ou POR INFIDEUDADE DO PROTEGIDO: A lei igual para os dois contratantes: se o protegido no cumpre todos os seus compromissos com fidelidade, o protetor fica desobrigado dos seus. Ele pode, a seguir, recusar exercer proteo e declarar o tratado rompido se julgar conveniente para si. 198: E PELOS DO PROTETOR: Em virtude do mesmo princpio, segundo o qual um contratante fica desobrigado se o outro faltar a seus compromissos, se a potncia superior deseja arrogar-se mais direitos que o tratado lhe d sobre a parte mais fraca, esta pode considerar o tratado rompido, e prover a sua segurana como entender prudente. Se fosse de outro modo, esta ltima Nao teria a perder em uma conveno a que se vinculou com o propsito de alcanar bem-estar e, se ela permanecesse vinculada por compromissos que no so respeitados pelo Estado protetor, o tratado se converteria em

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armadilha para ela. No entanto, como alguns pretendem, nesse caso a Nao inferior tem apenas o direito de resistir e implorar assistncia estrangeira,uma vez que os fracos no podem tomar precaues suficientes contra os poderosos, hbeis em dissimular os seus intuitos; o mais seguro consiste em inserir, nessa espcie de tratado, uma clusula em que ele declarado nulo desde que a potncia superior pretenda arrogar-se mais direitos do que aqueles que o tratado lhe confere expressamente. SE PERDE COM OSILNCIO: Mas se a Nao protegida ou submetida a certas condies no resiste s iniciativas daquela cujo apoio procurou, se no lhe faz oposio, se permanece em profundo silncio quando deveria e poderia falar, a sua quietude, aps prolongado tempo, forma um consentimento tcito, apto a legitimar o direito do usurpador. No haveria nada de estvel entre os homens, e sobretudo entre as N aes, se uma posse prolongada, acompanhada do silncio dos interessados, no produzisse um certo direito. Mas preciso observar que o silncio, para significar consentimento tcito, deve ser voluntrio. Se a Nao inferior provar que a violncia e o temor abafaram as manifestaes de sua oposio, nada se pode concluir de seu silncio, o qual no confere nenhum direito ao usurpador.
CAPTULO

199: COMO ODIREITO DA NAO

XVII

Como umpovo pode separar-se do de que membro ou renunciar de seu soberano, quando no por protegido
200: DIFERENA ENTRE o PRESENTE CASO E OS DO CAPTULO PRECEDENTE: Dissemos que um povo independente que, sem tornar-se parte de outro Estado, tornou-se deste voluntariamente dependente ou sdito para ser protegido, permanece desobrigado dos compromissos, to logo essa proteo lhe falte, mesmo que seja por impotncia do protetor. No se deve, no entanto, inferir que o princpio acima se

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aplique a todo povo cujo soberano natural ou o Estado de que membro no possa proteg-lo pronta e eficazmente. Os dois casos so bem diferentes. No primeiro, uma Nao livre no se torna submissa a outro Estado para participar de todas as suas vantagens e fazer causa comum com ele: se este quisesse favorecer-lhe em demasia, ela seria incorporada e no submetida. A Nao que se submete sacrifica a sua liberdade com o nico objetivo de ser protegida, sem esperar nenhum outro retorno. Quando, pois, a nica e necessria condio de sua submisso no cumprida, qualquer que seja a causa, ela fica livre de seus compromissos, e seus deveres para consigo a obrigam a prover por novos meios a sua segurana. Mas quando os diversos membros de um Estado desfrutam igualmente das vantagens que esse Estado oferece, devem constantemente mant-lo; eles concordaram em permanecer unidos e fazer causa comum em todas as ocasies. Se aqueles que so ameaados ou atacados pudessem desvincular-se dos outros para evitar um perigo presente, todo Estado se tornaria logo desmembrado e destrudo. , pois, essencial para a segurana do Estado, e mesmo para o bem-estar de seus membros, que cada parte resista ao inimigo comum com todas as suas foras, antes de desligar-se das demais; eis a uma das condies necessrias da associao poltica. Os sditos naturais de um prncipe esto a ele vinculados sem outras condies que a observncia das leis fundamentais; eles devem permanecer-lhe fiis assim como o prncipe deve cuidar de bem govern-los; todos os interesses deles so comuns; e juntos eles formam uma unidade assim como uma nica sociedade. ainda, pois, condio essencial e necessria da sociedade poltica que os sditos permaneam unidos a seu prncipe enquanto este permanecer no poder. 201: DEVER DOS
MEMBROS DE UM ESTADO, OU DOS SDITOS DE UM

uma provncia no pode, com o intuito de subtrair-se ameaada ou de fato atacada, ao perigo, separar-se do Estado de que membro ou abandonar o seu prncipe natural, mesmo quando ele incapaz de dar-lhe ajuda efetiva e atual. Seus deveres e compromissos polticos obrigam essa cidade ou

PRNCIPE, QUE ESTEJAM EM PERIGO: Quando, pois, uma cidadeou

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essa provncia a fazer os maiores esforos para manter-se no seu estado atual. Se ela sucumbir fora, a necessidade, esta lei irresistvel, a desobriga dos compromissos anteriores e lhe d o direito de tratar com o vencedor com o intuito de obter as melhores condies possveis. Se for necessrio submeter-se ao vencedor ou perecer, quem duvidar que ela no possa, ou mesmo no deva escolher a primeira alternativa? A prtica moderna est de acordo com esta deciso. Uma cidade submete-se ao inimigo quando no puder esperar vitria mediante resistncia vigorosa; ela lhe presta juramento de fidelidade e o seu soberano no tem nada a acusar seno a fortuna. 22: O DIREITO DAQUELES QUE SO ABANDONADOS: O Estado est obrigado a proteger e defender todos os seus membros (17) e o prncipe deve prestar a mesma assistncia a seus sditos. Se eles recusarem ou negligenciarem socorrer um povo que est exposto a um perigo eminente, esse povo abandonado tem amplo direito de prover a sua segurana e bem-estar como melhor lhe convier, sem nenhuma considerao para com aqueles que foram os primeiros a descumprir os seus deveres. Quando o pas de Zug foi atacado pelos suos em 1352, ele recorreu ao duque da ustria, seu soberano, para obter ajuda. Mas este prncipe, ocupado em falar de seus pssaros quando os deputados a eles se apresentaram, dignou-se apenas a escut-los; o povo sendo ento abandonado, ingressou na Confederao Helvtica. A cidade de Zurique havia se achado na mesma situao um ano antes. Sendo atacada por cidados rebeldes, que estavam apoiados pela nobreza de sua vizinhana e pela Casa da ustria, ela apelou ao chefe do imprio, que era ento imperador, declarou aos deputados que mas Carlos no poderia defend-la; Zurique obteve segurana na aliana com os suos. Foi por uma mesma razo que os suos em geral se separaram completamente do imprio, que no os tinha protegido em nenhuma emergncia. Eles no lhe reconheciam de h muito a autoridade, quando a sua independncia foi reconhecida pelo imperador e por todos os Estados germnicos no tratado de Westphalia.

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XVIII

o estabelecimento da Nao

num Pas

203: OCUPAAO DE UM PAs PELA NAAo: At aqui temos considerado

a Nao isoladamente sem considerar o pas que ela ocupa. Examinemo-la agora estabelecida num pas que se toma o seu prprio bem e a sua morada. A terra pertence aos homens em geral; destinada pelo Criador a ser deles habitao comum e me nutridora, todos tm o direito natural de habit-la e dela extrair o que for necessrio para a sua subsistncia e necessidade. Mas tendo o gnero humano se multiplicado bastante, a terra deixou de ser capaz de fornecer-lhe, por si prpria e sem cultivo, a manuteno de seus habitantes por muito tempo; e ela no poderia receber cultivo conveniente de povos errantes aos quais ela tambm pertence. Tomou-se, pois, necessrio que esses povos se assentassem em algum lugar e que se apropriassem de pores de terra, a fim de que, no sendo perturbados em seu trabalho, nem frustrados dos frutos de seu trabalho, se dedicassem a torn-las frteis e produtivas. Eis o que deve ter dado origem aos direitos de propriedade e de domnio. Desde a introduo desses direitos, o direito comum a todos os homens est restrito em particular ao que cada qual possui legitimamente. O territrio que uma Nao habita, seja aquele em que ela para l se transportou, seja aquele no qual as famlias que a integram se converteram em sociedade poltica, esse pas, digo, o estabelecimento da Nao, ela tem nele direito prprio e exclusivo.

24: DIREITOS DA NAAo SOBRE O PAS QUE ELA OCUPA: Esse direito contm dois elementos: 1") O domnio em virtude do qual a Nao pode usar o pas para as suas necessidades, dele dispor e dele extrair os benefcios respectivos; 2") O imprio ou o direito de governo soberano, pelo qual a Nao determina e dispe como quiser aquilo que ocorre no pas. 2S: OCUPAAo DO IMPRIO EM PAS VACANTE: Quando uma Nao
toma posse de um pas que no pertena a ningum, ela considerada

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como tendo nele adquirido a soberania ou o imprio, ao mesmo tempo que o domnio. Desde que ela livre e independente, ela no pode pretender, ao estabelecer-se na regio, deixar para outros o direito de comandar, nem demais direitos que constituam a soberania. Todo o espao ao qual uma Nao estenda o seu imprio forma a esfera de sua jurisdio e se denomina seu territrio.

26: OUTRA MANEIRA DE OCUPAR O

EM PAs IlVRE:

Se numerosas

famlias livres, distribudas em pas independente, vierem a se unir para formar um Estado ou uma Nao, elas adquirem conjuntamente o imprio sobre todo o pas que elas habitam. Pois elas nele j possuam, cada qual desse pas e, desde que elas desejam em sua parte respectiva, o formar em conjunto uma sociedade poltica e estabelecer uma autoridade pblica a que cada qual deve obedecer, est claro que elas desejam conferir a essa autoridade pblica o direito de governar todo o pas.

27: COMO UMA NAAo SE APROPRIA DE UM PAS DESABITADO: Todos

os homens tm direito igual s cousas que no tm ainda proprietrio e essas cousas pertencem ao primeiro ocupante. Quando, pois, uma Nao encontra um pas desabitado e sem dono, ela pode, legitimamente, dele tomar posse e, desde que tenha dado sinais suficientes de sua inteno a esse respeito, ela no pode ser despojada desse pas por outra Nao. Foi assim que os navegadores empreenderam viagens de descobrimento e munidos para tanto de comisso subscrita pelos respectivos soberanos, encontraram ilhas ou terras desabitadas e delas tomaram posse em nome de suas Naes. Essa titularidade tem sido tradicionalmente respeitada, a partir do momento que essa posse logo se tomou efetiva.

2S: QUESTAo A ESSE RESPEITO: Todavia questionvel se uma

Nao pode apropriar-se, pelo mero ato de posse, de terras que ela realmente no ocupe e de reservar dessa maneira para si muito mais do que seja capaz de povoar e cultivar. No difcil compreender que tal pretenso seria absolutamente contrria ao direito natural e oposta

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aos desgnios da natureza, a qual destina a terra para as necessidades dos homens em geral e no confere a cada povo o direito de apropriar-se de um territrio a no ser que esse povo possa fazer uso prprio dele, e no para impedir que outros povos possam dele tirar proveito. O direito das gentes no reconhecer, pois, a e a soberania de uma Nao sobre terras desabitadas seno quando ela as tenha ocupado realmente e, de fato, nelas tenha se estabelecido ou delas tenha feito algum uso real. Efetivamente, quando navegadores se depararam com terras desocupadas nas quais os navegadores de outras N aes tinham passado e nelas tinham deixado apenas sinalde posse, elesno se importaram com esse cerimonial intil mais do que com as disposies dos papas, que dividiram uma grande parte do mundo entre as coroas de Castela e de Portugal. 29: SE PERMITIDO OCUPAR PARTE DE UM PAS NO QUAL NO SE ENCONTRAM SENO POVOS E EM PEQUENO NMERO: H outra questo clebre, suscitada principalmente pela descoberta do Novo Mundo. Pergunta-se se uma Nao pode, legitimamente, ocupar alguma parte de uma vasto territrio no qual se encontram somente povos nmades cujo pequeno nmero os impede de habit-lo completamente. J assinalamos (81), ao falar da obrigao de cultivar a terra, que esses povos no podem atribuir-se exclusivamente mais terras do que necessitam e que no esto em condies de habitar e cultivar. O fato de habitarem de modo nmade essas vastas regies no pode ser entendido como uma verdadeira e legtima tomada de posse e quando os povos da Europa, amplamente limitados entre eles mesmos, encontram um territrio de que os selvagens no tm necessidade especial e dele no tm feito uso contnuo e efetivo, eles podem legitimamente tomar posse dele e nele estabelecer colnias. J dissemos que a terra pertence ao gnero humano para fins de sua subsistncia. Se cada Nao tivesse desejado, desde o incio,apropriar-se de uma grande extenso de territrio para nele viver meramente de caa, pesca e frutas selvagens, nosso globo no seria suficiente para a dcima parte dos homens que hoje o habitam.

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No nos afastamos, pois, das intenes da natureza, ao circunscrever os selvagens a limites mais estreitos. Entretanto, no se pode seno louvar a moderao dos puritanos ingleses,os primeiros a se estabelecerem na Nova Inglaterra. Embora munidos de carta de seu soberano, eles compraram dos selvagens as terras que desejavam ocupar. Esse louvvel exemplo foi seguido por William Penn e a colnia de Quackers que ele dirigiu na Pensilvnia. 210: DAS COLNIAS: Quando uma Nao se apodera de um pas distante e nele estabelece uma colnia, esse pas, embora separado do estabelecimento principal, faz parte naturalmente do Estado assim como as antigas possesses. Todas as vezes, pois, que a distino no feita entre leis polticas e tratados, tudo o que dito sobre o territrio da Nao deve ser interpretado como tambm extensivo s colnias.
CAPTULO

XIX

Da Ptria e das diversas

a ela concernentes

211: O QUE A PTRIA: Todas as regies habitadas por uma Nao e submetidas s sua leis, formam, como temos dito, o seu territrio e tambm a ptria comum de todos os indivduosdaNao.Fomos obrigados (122), porque tnhamos de tratar a antecipar a definio do termo do amor ptria, virtude to necessria e excelente em um Estado. Presumindo, pois, ser esta definio conhecida, cabe-nos explicar certas cousas relativas a essa matria e desenvolver as questes que ela apresenta. 212: Dos CIDADAos E NATURAIS: OS cidados so os membros da sociedade civil: vinculados a esta sociedade por certos deveres, e sujeitos sua autoridade, eles participam com igualdade das vantagens que ela oferece. Os naturais, ou indgenas, so aqueles que nasceram no pas em que seus pais so cidados. Como a sociedade no pode

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manter-se e perpetuar-se seno pelos filhos de seus cidados, esses filhos naturalmente seguem a condio de seus pais, dos quais incorporam todos os direitos. Presume-se ter a sociedade desejado assim, em razo do que ela deve para a sua prpria conservao, e presume-se que cada cidado, ao entrar na sociedade, reserva para seus filhos o direito de dela ser membro. A ptria dos pais , pois, a dos filhos, e estes se tornam verdadeiros cidados em virtude do mero consentimento tcito. Veremos logo se, ao atingirem a idade da razo, eles podem renunciar a seus direitos e o que devem sociedade em que nasceram. Digo que para pertencer a um pas necessrio ter nascido de um pai cidado, pois, se nascestes de pai estrangeiro, esse pas ser apenas o lugar de vosso nascimento, no ser a vossa ptria. 213: Dos HABITANTES: Diferentemente dos cidados, os habitantes so estrangeiros aos quais permitido estabelecer-se no pas de modo estvel. Eles esto submetidos s leis do Estado enquanto nele permanecerem e devem defend-lo porque so por ele protegidos, conquanto no participem de todos os direitos dos cidados. Eles gozam apenas das vantagens que a lei ou o costume lhes confere. Os habitantesperptuos so os que receberam o direito de habitao permanente. Constituem uma espcie de cidados de categoria inferior: eles esto vinculados sociedade, sem participar de todas as vantagens que ela oferece. Os seus filhos seguem a condio dos pais; o direito de habitao perptua a estes concedido passa para a posteridade. 214:NATIJRAIJZAo: Uma Nao, ou o soberano que a representa, pode conceder a um estrangeiro a qualidade de cidado, incorporando-o ao corpo da sociedade poltica. Esse ato chama-se naturalizao. H Estados em que o soberano no pode conceder a um estrangeiro todos os direitos de cidado, por exemplo, o de ser nomeado para cargos, e onde, portanto, no tem o poder de dar seno uma naturalizao imperfeita. Trata-se de disposio da lei fundamental que limita o poder do prncipe. Em determinados Estados, como na Inglaterra e na Polnia,

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o prncipe no pode naturalizar ningum sem a concordncia da Nao representada por seus deputados. Alis, na Inglaterra, o simples nascimento no pas naturaliza os filhos de um estrangeiro.

215: Dos FILHOS DE CIDADAos, NASCIDOS EM PAS ESTRANGEIRO: Pergunta-se: so cidados os filhos de cidados nascidos em pas estrangeiro? As leis decidem a respeito nos diferentes pases; necessrio seguir-lhes as disposies. Segundo apenas a lei natural, os filhos seguem a condio dos pais e gozam de todos os direitos que estes possuem (212); o lugar de nascimento no tem nenhuma influncia a respeito e no pode, por si mesmo, subtrair de uma criana o que a natureza lhe confere; eu digo, por si mesmo, pois a lei civil, ou poltica, pode dispor diversamente, por motivos particulares, mas estou pressupondo que um pai no deixa inteiramente a sua ptria para estabelecer-se alhures. Se ele fixou domiclio em pas estrangeiro, ele tornou-se membro de outra sociedade ao menos como habitante permanente, e seus filhos tambm o sero. 216: Dos FILHOS NASCIDOS NO MAR: Quanto aos filhos nascidos no mar, se nasceram em partes do mar ocupadas pela Nao a que pertencem, eles nasceram nessa mesma Nao. Se nascidos em alto mar, no h razo para distingui-los dos que nascem no prprio pas. Pelo fato de que o navio reputado ser poro do territrio de determinada Nao, a criana nascida nesse navio considerada como tendo nascido nessa mesma Nao. O mesmo ocorre se o navio estiver em partes do mar submetidas a domnio estrangeiro. Pelo fato tambm de que o porto martimo considerado parte do Estado respectivo, os que nascem em navio sediado em porto estrangeiro so considerados nascidos nesse mesmo Estado. 217: DAS NASCIDAS NAS FORAS ARMADAS DO ESTADO OU NA CASA DE MINISTRO CREDENCIADO EM CORTE ESTRANGEIRA: tambm pelas mesmas razes que os filhos de cidados nascidos no exterior,

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nos exrcitos do Estado ou na residncia de ministro credenciado em pas estrangeiro, so reputados nascidos no prprio pas uma vez que um cidado ausente com a sua famlia para o servio do Estado, e que permanece em sua dependncia e submetido a sua jurisdio, no pode ser considerado como estando no exterior. 218: Do DOMICLIO: O domiclio a habitao fixada em algum lugar com a inteno de nele permanecer. Um homem no estabelece, pois, domiclio a no ser que manifeste suficientemente, tcita ou expressamente, a inteno de nele ftxar-se. De resto, essa declarao no impede que, mudando de inteno, algum possa ulteriormente transferir-se de domiclio. Quem permanecer, mesmo por longo perodo, em determinado lugar, para os seus negcios, nele tem simples habitao, sem domiclio. por essa razo que o representante de um prncipe no exterior no tem domiclio na corte em que reside. O domiclio natural, ou originrio, aquele que o nascimento nos confere, aquele em que nosso pai tem o seu e, presume-se, continuamos a possuir enquanto no o abandonamos ao escolher outro. Domiclio adquirido (adscititium) aquele que constitumos por nossa prpria vontade. 219: Dos NMADES: Nmades so pessoas sem domiclio e, por conseguinte, os que nascem de pais nmades no tm ptria porquanto a ptria de um homem o lugar onde, ao tempo de seu nascimento, os seus pais tinham domiclio (122), ou o Estado ao qual o seu pai pertencia, o que vem a ser a mesma cousa pois, estabelecer-se para sempre em uma Nao significa dela tornar-se membro, pelo menos como habitante permanente, se no for com todos os direitos do cidado. Porm, no se pode considerar a ptria de um nmade ou a de seu filho, enquanto presumir-se que esse nmade no tenha renunciado completamente a seu domiclio natural ou de origem. 220: SE PERMITIDO DEIXAR A SUA PTRIA: necessrio usar diversas distines para bem resolver essa clebre questo, a de

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poder um homem deixar a sua ptria ou a sociedade de que membro. As crianas tm vnculo natural com a sociedade em que nasceram: obrigadas a reconhecer a proteo que a sociedade deu a seus pais, elas lhe so devedoras, em grande parte, pelo nascimento e pela educao. Elas devem pois am-la como j se disse (122), consignar-lhe justo reconhecimento, render-lhe, tanto quanto puderem, o bem pelo bem recebido. J observamos (212) que elas tm o direito de ingressar na sociedade de que os pais eram membros. Mas todo homem nasce livre. Ao chegar idade da razo, pode o filho de um cidado examinar se lhe convm unir-se sociedade que o nascimento lhe destinou. Se julgar no lhe ser vantajoso de nela permanecer, ele senhor de deix-la, indenizando-a do que ela poderia ter feito em seu favor e conservando para ela, tanto quanto os seus novos compromissos lhe permitirem, os sentimentos de amor e de reconhecimento que lhe so devidos. De resto, as obrigaes do homem para com a sua ptria natural podem mudar, alterar-se ou desaparecer, segundo ele a tenha deixado legitimamente e com razo para escolher uma outra, ou dela tenha sido expulso, merecidamente ou no - respeitadas as formas ou por violncia. Desde que o fllho de um cidado, ao tornar-se homem, age como cidado, ele adquire tacitamente tal qualidade. As suas obrigaes, como as de qualquer outro que se comprometa expressa e formalmente para com a sociedade, tornam-se mais fortes e extensas. O caso bem diferente daquele que h pouco mencionamos. Quando uma sociedade no tiver sido assumida para um prazo determinado, permitido deix-la quando essa separao puder ocorrer sem causar dano sociedade. Um cidado pode, assim, deixar o Estado de que membro, contanto que da no decorra prejuzo sensvel sociedade. Mas preciso distinguir o que se pode fazer naturalmente de direito, daquilo que honesto e observado todos os deveres; em uma palavra, a obrigao interna da obrigao externa. Mas um bom cidado no decidir para tanto sem necessidade, ou sem razes imperiosas. pouco honesto abusar de sua

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liberdade para deixar levianamente a sociedade, aps extrair dela vantagens considerveis; o caso de todo cidado em relao sua ptria. Quanto queles que a abandonam covardemente diante do perigo, procurando colocar-se em segurana em vez de defend-la; eles transgridem manifestamepte o pacto social, pelo qual todos se comprometeram de comum acordo em defend-la; trata-se de desertores infames que o Estado tem o direito de punir severamente.

221: COMO SE PODE AUSENTAR POR ALGUM TEMPO: Em tempos de paz e de tranqilidade, quando a ptria no tem necessidade efetiva de todos os seus filhos, o prprio bem do Estado e o dos cidados exige que seja permitido a cada qual viajar para seus negcios contanto que ele esteja sempre pronto a regressar, desde que o interesse pblico o chame. No se presume que qualquer homem se tenha comprometido para com a sociedade de que membro a no sair do pas quando o bem de seus negcios o exija e quando possa se ausentar sem prejudicar a ptria. 222: DIFERENAS DAS LEIS POLTICAS A ESSE RESPEITO. PRECISO OBEDEC-LAS: As leis polticas das Naes mudam bastante a esse respeito. Em algumas sempre permitido a todo cidado ausentar-se, salvo em caso de guerra efetiva, e mesmo de deixar completamente o pas quando o quiser e sem explicitar nenhuma razo. Essa permisso, contrria por si mesma ao bem e progresso da sociedade, no pode ser tolerada seno em pas sem recursos, incapaz de satisfazer s necessidades dos habitantes. Trata-se, nesse caso, de uma sociedade imperfeita, pois necessrio que a sociedade civil tenha condies de oferecer-lhes trabalho sempre que for necessrio: sem isso, ela no tem o direito de deles exigir completo devotamento. Em outros Estados, todos podem viajar livremente para atender aos seus interesses, mas no podem deixar inteiramente a ptria sem permisso expressa do soberano. Finalmente, h pases em que o rigor do governo no permite a ningum deles sair, sem passaportes de acordo com as normas, os quais no so concedidos seno muito dificilmente. Em todos esses casos preciso subordinar-se s leis, quando

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so feitas por uma autoridade legtima. Mas nesse ltimo caso, o soberano abusa de seu poder e reduz os sditos a uma escravido insuportvel, se lhes recusa a permisso de viajar quando a poderia conceder-lhes sem inconveniente e sem perigo para o Estado. Iremos mesmo ver que, em certas ocasies, ele no pode impedir, sob nenhum pretexto, os que desejam partir para sempre.

223: CASOS EM QUE O CIDADOTE.M DIREITO DE DFlXAR A PTRIA:Existem casos em que o cidado tem o direito, por motivos decorrentes do prprio pacto da sociedade poltica, de renunciar ptria e de abandon-la. 1) Se o cidado no encontrar subsistncia em sua ptria, lhe permitido, sem dvida, procur-la alhures, pois a sociedade poltica, ou civil, no tendo sido contratada seno para o fim de propiciar a cada qual os meios de viver e ter destino feliz e seguro, seria absurdo pretender que um membro, a quem oferea as cousas mais necessria, no teria o direito de deix-la. 2") Se o corpo da sociedade, ou aquele que o representa, faltar completamente s sua obrigaes para com um cidado, este pode retirar-se, pois, se um dos contratantes no respeitar seus compromissos, o outro no est mais obrigado a manter os seus. O contrato recproco entre a sociedade e os seus membros. sobre esse mesmo fundamento que tambm se pode expulsar da sociedade um membro que lhe transgrida as leis. 3") Se a maioria da sociedade, ou o soberano que a representa, quer estabelecer normas adicionais ao pacto social, no se pode obrigar todo cidado a obedec-las. Os descontentes esto no direito de se estabelecerem alhures. Por exemplo, se o soberano desejar estabelecer uma nica religio no Estado, os que professam outra religio tm o direito de retirar-secom os seus bens e suas famlias. Ningum est obrigado a subordinar-se a outrem em questo de conscincia. Se a sociedade sofre e se enfraquece com a partida de membros por culpa dos intolerantes: so estes que transgridem o pacto social e foram outros a se afastarem. Ns mencionamos alis exemplos desse terceiro caso,

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o de um Estado populoso, que quer ter um soberano (33) e o de uma Nao independente, que decide submeter-se a uma potncia estrangeira (195). 224: Dos EMIGRANTES: Aqueles que deixam a ptria por motivo legtimo, no propsito de se estabelecerem alhures, chamam-se emigrantes. Eles conduzem consigo todos os seus bens e so acompanhados por suas famlias. 225: FONTES DE DIREITO DOS EMIGRANTES: O direito emigrao provm de vrias fontes: 1") No caso acima referido (223), trata-se de um direito natural, que lhes certamente reservado no prprio pacto de associao civil. 2) A emigrao pode ser assegurada aos cidados, em certos casos, por uma lei fundamental do Estado. Os burgueses de Neuchtel e de Valangin na Sua podem deixar o pas e transportar os seus bens como lhes aprouver, mesmo sem pagar nenhum tributo. 3") A emigrao pode ser concedida voluntariamente pelo soberano. 4") Finalmente, esse direito pode nascer de tratado bilateral pelo qual um soberano promete deixar toda a liberdade a seus cidados que, por determinada razo, por motivo de religio, por exemplo, queiram transplantar-se para terras da outra potncia contratante. H semelhantes acordos entre prncipes da Alemanha para o caso particular da religio. Tambm na Sua, em razo desse caso, um burgus de Berna que queira mudar-se para Friburgo e, reciprocamente, um de Friburgo que queira mudar-se para Berna, por motivo de religio, tem o direito de deixar a ptria e levar consigo tudo o que lhe pertence. Parece que, por razes histricas,em particular no caso da Sua e de pasesvizinhos, o direito das gentes no permitia, por costume desses pases, h sculos,a um Estado receber como cidados os sditos de outro Estado. O fundamento desse costume criticvel relacionava-se com a escravido qual alguns povos estavam ento reduzidos. Um principe, um senhor, inclua os seus sditos no rol de seus bens ele calculava-lhes o nmero,

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como fazia com seus rebanhos e, para a vergonha da humanidade, esse abuso estranho no foi ainda aniquilado em todos os lugares. 226: SE O SOBERANO VIOLAR o DIREITO DOS EMIGRANTES, ELE LHES COMETE INJRIA: Se o soberano entender perturbar os que tm direito de emigrar, ele lhes comete injria e lhes possibilita pedirem legitimamente a proteo da potncia que desejar receb-los. Foi assim que o rei da Prssia, Frederico-Guilherme, concedeu proteo aos emigrantes de Salzburgo. 227: Dos SUPLICANTES: Chamam-se suplicantes todos os fugitivos que imploram a proteo de um soberano contra a Nao, ou o prncipe, que deixaram. No podemos estabelecer solidamente o que o direito das gentes decide a respeito deles antes de tratar dos deveres de uma Nao para com as demais. 228: Do EXLIO E [X) BANIMENTO: Finalmente, o exlio outra maneira um homem expulso do lugar de domiclio, de deixar a ptria. O compelido a dele sair, mas sem nota de infmia. O banimento uma expulso semelhante, com nota de infmia. Um e outro podem ser por tempo limitado, ou para sempre. Se um exilado ou banido tinha domiclio em sua ptria, ele exilado ou banido de sua ptria. De resto, cabe observar que ordinariamente se aplicam tambm os termos exlio e banimento expulso de estrangeiro para fora de pas onde no tinha domicilio, com proibio de nele ingressar, por determinado tempo, ou para sempre. Qualquer direito que seja, subtrado a algum, pode ser uma penalidade. Assim, o exlio tira do homem o direito de habitar determinado lugar e o mesmo ocorre com o banimento. Pois no se pode atribuir a algum uma infmia seno com o intuito de puni-lo de culpa real ou presumida. Quando a sociedade cerceia um de seus membros com banimento perptuo, ela est apenas banindo-o de seu territrio, sem poder impedi-lo de permanecer alhures, onde lhe aprouver pois, aps t-lo posto para

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fora, ela no mais tem direitos sobre ele. Porm, o contrrio pode ocorrer mediante acordos particulares entre dois ou mais Estados. dessa forma que cada membro da confederao helvtica pode banir os seus prprios sditos de todo o territrio da Sua. O exlio se divide em ordinrio e voluntrio. Ele voluntrio quando um homem deixa o seu domiclio para subtrair-se a uma penalidade, ou para evitar alguma calamidade;e involuntrio, quando ele for conseqncia de uma ordem superior. Algumas vezes prescreve-se a um exilado o lugar onde deve permanecer durante o tempo de seu exlio, ou se lhe designa determinado espao, no qual lhe proibido ingressar. Essas diversas circunstncias e modificaes dependem daquele que tenha o poder de exilar. 229: Os EXILADOS E OS BANIDOS TM DIREITO DE HABITAR AL(;UM Pelo fato de ser exilado ou banido, um homem no perde a sua qualidade de homem nem, por conseguinte, o direito de habitar alguma parte da terra. Ele recebe esse direito da natureza ou, antes, de quem a destinou aos homens para que a habitassem; e a propriedade no foi introduzida em prejuzo do direito que todo homem recebe ao nascer - o direito ao uso das cousas absolutamente necessrias. 230: NATUREZA DESSE DIREITO: Mas se esse direito necessrio e perfeito em sua generalidade, cabe observar ser ele imperfeito em relao a cada pas. Pois, de outro lado, cada Nao tem o direito de recusar a um estrangeiro o ingresso nela, quando poderia p-la em perigo manifesto ou causar-lhe sensvel prejuzo. O que essa Nao deve a si prpria, o cuidado por sua prpria segurana, lhe confere esse direito. E, em virtude de sua liberdade natural, compete Nao julgar se ela est ou no em condies de receber esse estrangeiro (Preliminares, 16). No se pode, portanto, reconhecer esse direito ao estrangeiro - o de se estabelecer como entender e no lugar que escolher - ele tem apenas o direito de pedir permisso para tanto ao superior do lugar e se este recus-la, cabe ao estrangeiro submeter-se a essa deciso.

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231: DEVER DAS

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EM RELAO ESTRANGEIROS: Entretanto, como a propriedade no foi introduzida seno com a condio de respeitar o direito adquirido por toda a criatura humana de no ser privada das cousas necessrias, nenhuma Nao pode recusar, sem bons fundamentos, a habitao, mesmo perptua, a um homem expulso de sua morada. Mas se razes particulares e slidas a impedem dar-lhe asilo, esse homem no mais tem o direito de exigi-lo, pois, nesse caso, o pas que a Nao habita no pode servir concomitantemente ao uso da N ao e ao do estrangeiro. Ora, mesmo que se supusesse serem ainda comuns todas as cousas, ningum pode arrogar-se o direito de uso de uma cousa que serve atualmente s necessidades de outrem. por essa razo que uma Nao, cujas terras satisfazem com dificuldade s necessidades dos seus cidados, no est obrigada a receber um grupo de fugitivos ou exilados. Da mesma forma, deve ela rejeit-los mesmo categoricamente se eles esto infectados de molstia contagiosa. Tambm estar ela fundamentada a reenvi-los alhures, se tiver motivo justo de temer que eles corrompam os costumes dos cidados, perturbem a religio ou causem algum outro distrbio contrrio segurana pblica. Em uma palavra, ela tem o direito, e mesmo a obrigao, de seguir, a esse respeito, as normas da prudncia. Mas essa prudncia no deve ser duvidosa, nem levada ao ponto de repelir, por motivos levianos, esses infelizes, em razo de temores frvolos ou pouco fundamentados. No se deve perder nunca de vista a caridade e a comiserao. No se pode recusar esses sentimentos mesmo queles que, por prpria culpa, caram no infortnio. Pois deve-se odiar o crime e amar a pessoa, porquanto todos os homens devem amar-se reciprocamente. NO PODE PUNI-LOS EM DE COMETIDAS FORA DE SEU TERRITRIO: Se um exilado ou banido foi expulso de sua ptria por algum delito, no compete Nao onde ele se refugiou puni-lo novamente, pois a natureza no deu aos homens e s Naes o direito de punir seno para a defesa e segurana deles mesmos

232: UMA

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(169), isto , no se pode punir seno aqueles que lesaram a prpria Nao que os pune. 233: A
NO SER POR FALTAS QUE INTERESSEM SEGURANA DO

Em princpio, a justia de cada Estado deve limitar-se a punir os crimes cometidos no respectivo territrio. Mas devem excetuar-se dessa regra os celerados que, pela natureza e freqncia habitual dos crimes que praticam, violam toda a segurana pblica e se declaram inimigos do gnero humano. Os envenenadores, os assassinos, os incendirios profissionais, podem ser exterminados onde quer que sejam detidos, pois eles atacam e ultrajam as Naes, ao derrubar os fundamentos da segurana comum das mesmas. Assim ocorre tambm com os piratas. Se o soberano de um pas onde os crimes dessa natureza foram cometidos requer o direito de punir os autores dos mesmos, esse soberano deve ser atendido por ser ele o principal interessado em puni-los exemplarmente e, como conveniente, que os culpados sejam condenados aps julgamento com todas as formalidades devidas. Eis a uma segunda razo pela qual criminosos dessa classe sejam entregues aos Estados que foram o teatro dos delitos que cometeram.
GNERO HUMANO:
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Bens pblicos, comuns e privados

234:Do QUE OS ROMANOS CHAMAVAM Consideremos agora a natureza de vrias causas envolvidas no territrio ocupado pela Nao e busquemos estabelecer os princpios gerais de direito que as governam. O assunto tratado pelos jurisconsultos sob o ttulo de dioisione. Existem causas que, pela sua prpria natureza, no podem ser ocupadas; existem outras cuja propriedade no se atribui a ningum e que permanecem na comunho primitiva quando uma Nao se apodera de um pas. Os jurisconsultos romanos denominavam essas

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cousas res comunes - cousas comuns; tais eram, entre elas, o ar, a gua corrente, o mar, os peixes e os animais selvagens. 235: TOTALIDADE DOS BENS DA NAAo E DIVIsA0 DELES: Tudo o que for susceptvel de propriedade presume-se pertencer N ao que ocupa o territrio e forma o conjunto total dos bens da mesma. Mas a Nao no possui esses bens da mesma maneira. Os que no so distribudos entre as comunidades particulares ou os indivduos da Nao denominam-se bens pblicos. Alguns destes so reservados para a necessidade do Estado e constituem domnio da Coroa ou domnio da Repblica; outros permanecem comuns a todos os cidados que deles se aproveitam, cada qual segundo as suas necessidades, ou segundo as leis que lhes regulamentam o uso. Esses ltimos so chamados bens comuns. Existem outros bens que pertencem a algum organismo ou comunidade; denominam-se bens da comunidade (res universitatis) e eles esto para esse organismo em particular como os bens pblicos esto para toda a Nao. A Nao pode ser considerada como uma grande comunidade e os bens que lhe pertencem podem ser denominados indiferentemente bens comuns, de modo que podem ser objeto de uso por todos os cidados assim como podem ser possudos por um organismo ou pela comunidade; as mesmas regras se aplicam a outros bens. Enfim, existem os bens possudos por particulares, os quais se denominam bens particulares (res singulorum.). 236:DUAS DE ADQUIRIR BENS rusucos: Quando uma Nao se apodera de um pas, tudo o que no se partilha entre os seus membros permanece comum a toda a Nao e torna-se bem pblico. Existe uma segunda maneira, pela qual a Nao e, em geral toda a comunidade, pode adquirir bens, que por meio da vontade de quem os transfere, por qualquer ttulo que seja, o domnio ou a propriedade do que possui. 237: Os RENDIMENTOS DOS BENS PBLICOS ESTAo NATURALMENTE AO DISPOR DO SOBERANO: Desde que a Nao deixe as rdeas do Estado

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nas mos de um prncipe, presume-se ter ela lhe dado, ao mesmo tempo, os meios de governar. Uma vez que os rendimentos dos bens pblicos, de donnio do Estado, destinam-se s despesas do governo, eles esto naturalmente disposio do prncipe e, assim, deve-se sempre destinar s despesas necessrias do Estado e manuteno da prpria pessoa do prncipe e de sua residncia, a menos que a Nao os tenha formalmente tratado de forma excepcional e tenha provido de outra maneira no tocante administrao dos mesmos. Todas as vezes, pois, que a autoridade soberana confiada pura e simplesmente ao prncipe, ela carrega consigo o poder de dispor livremente dos rendimentos pblicos. O dever do soberano o obriga verdadeiramente a empregar esses rendimentos apenas s necessidades do Estado; mas compete somente ao prncipe determinar a aplicao conveniente dos rendimentos e, dessa aplicao, no tem contas a prestar a ningum.
238: A NA(O PODE CEDER o USO E A PROPRIEDADE DOS BENS COMUNS: A Nao pode atribuir ao soberano apenas o uso de seus bens comuns e acrescent-los assim ao donnio do Estado. Ela pode at mesmo ceder-lhe a propriedade. Mas essa transferncia de uso ou de propriedade exige um ato expresso do proprietrio, que a Nao. No basta haver um consentimento tcito, porque o temor impede freqentemente os sditos de reclamarem contra atos injustos do soberano. 239: A NA(O PODE ATRIBUIR AO SOBERANO o DOMNIO DOS COMUNS E RESERVAR O USO DOS MESMOS PARA SI: O povo pode tambm atribuir ao soberano o domnio das cousas que possui em comum e reservar para si, inteira ou parcialmente, o uso das mesmas cousas. Assim, o domnio de um rio, por exemplo, pode ser cedido ao prncipe, ao passo que o povo reserva para si o uso do mesmo para a navegao, para a pesca, para saciar a sede dos animais, etc. Pode-se ainda atribuir ao prncipe apenas o direito de pescar nesse rio ou outro direito qualquer. Em uma palavra, o povo pode ceder ao governante o direito que desejar

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sobre os bens comuns da Nao; mas todos esses direitos particulares no decorrem naturalmente, e por si mesmos, da soberania. 240: Dos IMPOSTOS: Se o rendimento dos bens pblicos, ou do domnio, no for suficiente para atender s necessidades pblicas, o Estado o suplementar por meio de impostos. Estes devem ser regulamentados de maneira que todos os cidados contribuam com a sua cota parte, em proporo s faculdades e vantagens que a sociedade lhes proporciona. Desde que todos os membros da sociedade civil esto igualmente obrigados a contribuir em conformidade com o poder, vantagem e bem-estar de cada qual, eles no podem recusar oferecer os subsdios necessrios conservao dessa sociedade, segundo o que lhes for exigido por um poder legtimo. 241: A NAO PODE RESERVAR-SE O DIREITO DE ESTABELECER IMPOSTOS: Diversas Naes no quiseram atribuir a seus prncipes encargo to delicado, nem tranferir-lhes poder de que poderiam abusar facilmente. Ao estabelecer um domnio para fins de manuteno do soberano e das despesas ordinrias do Estado, essas Naes reservaram-se o direito de dar atendimento, por si prprias ou por seus representantes, s necessidades extraordinrias, impondo a todos os habitantes pagamento de tributos. Na Inglaterra, o rei expe as necessidades do Estado ao parlamento, o qual delibera com o concurso do rei sobre o montante do subsdio e a maneira de cobr-lo. O parlamento supervisiona o destino que o prncipe faz desse subsdio. 242: Do SOBERANO QUE ESSE PODER: Em outros Estados, em que o soberano possui o imprio pleno e absoluto, compete apenas a ele estabelecer os impostos, regulamentar a maneira de cobr-los e fazer uso deles como bem entender, sem disso prestar contas a ningum. O rei usufrui dessa autoridade na Frana, mas com a simples formalidade de comunicar os seus ditos ao Parlamento; este tem o direito de fazer-lhe humildes advertncias, se encontrar inconvenientes nas providncias

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estipuladas pelo prncipe. Sbia providncia para ensejar que a verdade e o clamor do povo cheguem aos ouvidos do soberano e tambm para impor limites aos gastos do mesmo ou avidez dos ministros e dos homens das finanas! 243: DEVER DO PRNCIPE EM RELAO AOS IMPOSTOS: O prncipe, que estiver investido do poder de impor tributos ao povo, deve precaver-se em consider-los como destinados ao seu prprio bem. No deve nunca perder de vista a finalidade para a qual o poder lhe foi confiado. A Nao desejou confiar a ele para que pudesse, com sabedoria, prover as necessidades do Estado. Se ele desviar o dinheiro recebido para outros fins, se ele os consumir em luxo frvolo para seus prazeres, para satisfazer a cupidez de amantes e favoritos, ousemos diz-lo aos soberanos que ainda so capazes de entender a verdade, ele no menos culpado, na verdade ele o mil vezes mais que um particular que se serve do bem alheio para satisfazer as suas paixes descontroladas. Pelo fato de permanecer impune, a injustia no menos vergonhosa. 244: Do DOMNIO EMINENTE, VINCULADO SOBERANIA: Tudo deve tender para o bem comum na sociedade poltica, e se a prpria pessoa dos cidados est submetida a essa regra, os bens dos mesmos no podem ser tratados como exceo. O Estado no poderia subsistir, ou administrar sempre os negcios pblicas da maneira mais vantajosa, se ele no tivesse o poder de dispor na ocasio de todas as espcies de bens submetidos ao seu imprio. Deve-se mesmo presumir que, quando a Nao se apodera de um pas, a propriedade de determinadas causas no entregue para os particulares seno com essa reserva. O direito que pertence sociedade, ou ao soberano, de dispor em caso de necessidade e para o interesse pblico, de todo bem inserido no Estado, denomina-se domnio eminente. evidente que esse direito necessrio em certos casos quele que governa e, por conseguinte, faz parte do imprio ou do poder soberano e deve estar includo entre os direitos de majestade (45). Quando, pois, o povo entrega o imprio a algum, ele lhe atribui, ao

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mesmo tempo, salvo reserva expressa, o domnio eminente. Todo prncipe verdadeiramente soberano investido desse direito, a no ser quando a Nao lhe abriu exceo e restringiu de algum modo a autoridade desse prncipe. Se o soberano dispe dos bens pblicos, em virtude de seu domnio eminente, a alienao vlida como tendo sido feito com poder suficiente. Quando o soberano dispe igualmente, em caso de necessidade, dos bens de uma comunidade ou de um particular, a alienao ser vlida pela mesma razo. Mas a justia exige que essa comunidade ou esse particular sejam indenizados com dinheiro pblico; e se o tesouro no estiverem condies de faz-lo, todos os cidados so obrigados a contribuir para tanto, pois os encargos do Estado devem ser sustentados numa base de igualdade ou de justa proporo. Ocorre o mesmo com o lanamento de mercadorias feito para a salvao de navio. 245: Do IMPRIO SOBRE AS CaUSAS PBLICAS: Alm do domnio eminente, o soberano dispe de direito de outra natureza sobre todos os bens pblicos, comuns e particulares. Trata-se do imprio ou o direito de comandar em todos os lugares do territrio pertencente Nao. O poder supremo se estende a tudo o que ocorre no Estado, em qualquer lugar que seja, e o soberano comanda, pois, em todos os lugares pblicos, os rios, as estradas, os desertos, etc; tudo o que a ocorre sujeito sua autoridade.
LEIS SOBRE O USO DOS BENS COMUNS: 246: O SOBERANO PODE Em virtude da mesma autoridade, o soberano pode fazer leis que regem a maneira pela qual se deve usar os bens comuns, tanto os pertencentes a toda a Nao como os bens pertencentes aos organismos ou comunidades. Ele no pode, em verdade, privar de direitos aqueles que participam desses bens, mas o cuidado que ele deve tomar em relao ordem pblica e vantagem comum dos cidados d-lhe o direito de estabelecer as leis concernentes a essa finalidade, assim como o de regulamentar a maneira pela qual os bens comuns devem ser usufrudos. Esta matria poderia

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ocasionar abusos e estimular distrbios que importam ao Estado prevenir e contra os quais o prncipe est obrigado a tomar medidas adequadas. assim que o prncipe pode estabelecer uma sbia poltica com relao caa e pesca, impedi-las em perodos de reproduo, proibir o uso de certas redes e de todo mtodo de destruio, etc.. Mas na qualidade de pai comum, de governador e de tutor de seu povo, que o soberano tem o direito de fazer leis. Ele no deve nunca esquecer os fins a que elas se destinam e se acaso ele estabeleceu a respeito normas com finalidade diferente do bem comum, ele estar abusando de seu poder. 247: DA ALIENAO DOS BENS DA COMUNIDADE: Uma comunidade, assim como qualquer proprietrio, tem o direito de alienar e comprometer os seus bens. Mas aqueles que a integram no devem perder de vista a finalidade desses bens comuns nem deles dispor seno para proveito dela mesma, ou em casos de iminente necessidade. Se os destinarem para outras finalidades, eles abusam de poder, pecam contra o que devem prpria comunidade e prpria posteridade e o prncipe, na qualidade de pai comum, tem o direito de manifestar oposio. Alis, o interesse do Estado demanda que os bens da comunidade no se dissipem; o que confere ao prncipe, incumbido de velar pelo bem pblico, direito adicional para impedir a alienao desses bens. , pois, muito conveniente determinar num Estado que a alienao dos bens da comunidade seja nula, se no ocorrer o consentimento do soberano. Tambm as leis civis conferem, a esse respeito, s comunidades os direitos dos que no atingiram a maioridade. Mas trata-se de uma lei puramente civil e o argumento daqueles que, invocando o direito natural, subtraem a uma comunidade o direito de alienar os seus bens sem o consentimento do soberano, me parece destitudo de fundamento e contrrio noo de propriedade. verdade que uma comunidade pode ter recebido bens, seja ou no de seus antecessores, com a reserva de no 'poder alien-los. Mas, nesse caso, a comunidade tem apenas o usufruto perptuo desses bens e no a propriedade deles. Se alguns desses bens foram destinados conservao da comunidade, esta no tem

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manifestamente o poder de alien-los, a no ser em caso de extrema necessidade. Presume-se terem a mesma natureza todos os bens que ela possa ter recebido do soberano. 248: Do uso DOS BENS COMUNS: Todos os membros de uma comunidade tm direito igual ao uso dos bens comuns. Mas a prpria comunidade pode elaborar normas sobre a maneira de usufruir esses bens, desde que elas no atentem contra a igualdade que deve reinar numa comunho de bens. assim que a comunidade pode determinar o uso de uma floresta comum ou de uma pastagem comum, seja permitindo esse uso a todos os membros em funo da necessidade deles, seja determinando uma poro igual para cada qual. Mas ela no tem o direito de excluir ningum desse uso e nem de estabelecer distino entre os membros, no caso de destinar partes desiguais para eles. PELA QUAL CADA UM DEVE USUFRUIR DESSES BENS: Todos 249: os membros de um organismo tm direito igual aos bens comuns e, pois, cada qual deve aproveit-los de maneira a no prejudicar o uso comum desses bens. Em conformidade com essa regra, no permitido a nenhum particular fazer num riacho, que bem pblico, obra capaz de torn-lo menos adequado ao uso geral, como nele construir moinhos ou um canal desviar gua, etc. Se o fizer, estariaarrogando-se um direito particular, contrrio ao direito comum de todos. 250: Do DIREITO DE PREVENO NO USO DESSES BENS: O direito de praeventionis) deve ser fielmente observado no uso de causas comuns que no podem servir ao mesmo tempo a diversos usurios. O direito de preveno designa o direito de quem for primeiro no uso dessa espcie de causas. Por exemplo, se uso a gua de um poo comum, ou pblico, outro usurio desse poo que chega posteriormente no pode me expulsar para ele prprio fazer o mesmo. Deve esperar que eu termine. Pois estou usando de meu direito ao usar dessa gua e ningum pode me perturbar; um outro indivduo que tenha direito igual no pode fazer o

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seu direito em prejuzo do meu; obrigar-me a cessar o que estava fazendo seria atribuir-lhe mais direito do que a mim e ferir a lei da igualdade. 251: Do MESMO DIREITO, EM OUTRO USO: A mesma regra deve ser observada em relao a cousas comuns, que se consomem com o uso. Elas pertencem ao primeiro que delas queira servir-se e quem vier depois no tem o direito de subtrair o direito do primeiro a usar o bem comum. Por exemplo, comecei a derrubar uma rvore na floresta e vs desejais fazer o mesmo; no podereis impedir-me dessa derrubada, portanto arrogando-vos direito superior ao meu. Ora, nossos direitos so iguais. Essa regra a mesma que o direito da natureza prescreveu no uso dos bens da terra, antes da introduo da propriedade. 252: DA CONSERVAAo E DA REPARAAo DOS BENS COMUNS: As despesas, que a conservao ou a reparao das cousas pertencentes ao pblico ou a uma comunidade pode exigir, devem ser custeadas igualmente por todos os que participam desses bens. A maneira de faz-lo pode consistir na retirada das quantias necessrias existentes em cofres comuns ou na contribuio de cota-parte de todos os particulares.A Nao, a comunidade, e todo organismo em geral, podem tambm impor tributos extraordinrios, contribuies anuais, para satisfazer a essas despesas, contanto que no haja excessos e que a importncia monetria exigida seja fielmente aplicada para essa finalidade. ainda para esse fim, como acima observamos (103), que os direitos de pedgio sejam legitimamente estabelecidos, os caminhos, as pontes, as vias pblicas, so cousas de que todos se aproveitam, sendo pois justo que todos os transeuntes contribuam para que tais bens sejam mantidos. 253: DIREITO E DEVER DO SOBERANO A ESSE RESPEITO: Veremos que o soberano deve prover conservao dos bens pblicos. Como dirigente de toda a Nao, ele deve tambm velar pelos bens de uma comunidade. Todo o Estado est interessado em que uma comunidade no caia na indigncia pela m conduta dos que a compem. E como a obrigao

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produz o direito sem o qual no se pode cumpri-la, o soberano tem o direito de fazer com que a comunidade cumpra o seu dever. Se notar, por exemplo, que ela deixa perecer edificios ou degrada as florestas, ele tem o direito de prescrever-lhe o que deve fazer e coloc-la no caminho de suas obrigaes. 254: Dos BENS PARTICULARES: Temos uma palavra a dizer sobre bens particulares. Todo proprietrio tem o direito de dispor como entender dos prprios bens, desde que esse direito no perturbe direitos de terceiros. Entretanto o soberano, como parte de seu povo, pode e deve impedir um prdigo de arruinar-se, sobretudo ao se tratar de um chefe de famlia, mas preciso cuidar para que esse direito de fiscalizao no v ao ponto de perturbar os sditos na administrao de seus prprios negcios, o que acabaria por ferir menos os bens do Estado do que a justa liberdade dos cidados. Pormenores dessa matria pertencem ao direito pblico e poltica. 255: O SOBERANO PODE SUBMETER PARTICULARES A UMA POLTICA: Cabe ainda observar que os particulares no esto de tal modo livres na economia ou no governo a ponto de que seus bens no possam permanecer sujeitos s leis e ao poder de polcia feitos pelo soberano. Por exemplo, se os vinhedos se multiplicam demasiado no pas, onde o trigo est a faltar, o soberano pode proibir plant-los em campos prprios lavoura; pois o bem pblico e o bem-estar do Estado tm interesses a preservar. Quando o motivo dessaimportncia o demandar, o soberano ou o magistrado pode compelir um particular a vender alimentos desnecessrios sua subsistncia e fixar-lhes o preo. A autoridade pblica pode e deve impedir monoplios, reprimir todas as manobras tendentes ao encarecimento dos alimentos. o que os romanos chamavam annonam incendere,

comprimere, vexare.
256: DAS HERANAS: Todo homem pode naturalmente escolher aquele a quem deseja deixar bens aps a sua morte, desde que o seu

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direito no seja limitado por alguma obrigao indispensvel como, por exemplo, a de prover a subsistncia de seus filhos, Os ftlhos tm naturalmente o direito de herdar com igualdade os bens do genitor. Mas tudo isso no impede que se possa estabelecer em um Estado leis referentes a testamentos e heranas, desde que se respeitem direitos essenciais da natureza. assim que para manter as famlias nobres, se tem prescrito em diversos lugares ser o mais idoso filho o principal herdeiro do pai. Terras substitudas com perpetuidade para o primognito lhe so destinadas em virtude de outro direito,o qual tem origem na vontade daquele que, sendo dono dessas terras, lhes deu essa destinao.
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Da alienao dos bens pblicos, do domnio e da alienao de parte do Estado

257: A PODE AUENAR OS SEUS BENS PBUCOS: Desde que uma N ao a nica proprietria dos bens que possui, ela pode deles dispor como achar melhor, alien-los, ou compromet-los. Esse direito uma conseqncia necessria do domnio pleno e absoluto, e o exerccio desse direito restringido, em virtude do direito natural, somente em relao aos proprietrios que no tm o uso da razo necessria para a conduo de seus negcios, o que no o caso de uma Nao. Aqueles que tm opinio diferente no tm argumentos slidos para tal; de seus princpios se inferiria no se poder nunca contratar seguramente com uma Nao, o que se chocaria, pelos fundamentos, com todos os contratos pblicos. 258:DEVERES DE UMA NAAo A ESSE RESPEITO: Todavia certo dizer que a Nao deve preservar cuidadosamente os seus bens pblicos, deles fazer uso conveniente, deles no dispor sem boas razes, no alien-los ou compromet-los a no ser por manifesta vantagem ou no caso de necessidade premente. Tudo isso conseqncia evidente dos deveres de uma Nao para consigo mesma. Os bens pblicos lhe

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so muito teis e necessrios; ela no pode dissip-los sem causar prejuzo a si mesma e negligenciar vergonhosamente o seu prprio bem-estar. Falo dos bens pblicos propriamente ditos, ou do domnio do Estado. Seria cortar os nervos do governo priv-lo de seus rendimentos. Quanto aos bens comuns de todos os cidados, a Nao causaria prejuzo queles que deles fazem uso, se ela os alienasse sem necessidade ou boas razes. Na condio de proprietria desses bens, ela tem o direito de faz-lo, mas ela no deve deles dispor seno de maneira compatvel com os deveres que um corpo tem em relao a seus membros. 259: DEVERES [X) PRNOPE: Esses mesmos deveres cabem ao prncipe, ao dirigente da Nao. Ele deve cuidar da preservao e da administrao sbia dos bens pblicos, impedir e prevenir-lhes a dissipao, e no permitir que eles sejam desviados para usos estranhos. 260: O PRNCIPE NAo PODE OS BENS PBLICOS: O prncipe ou qualquer regente da sociedade naturalmente o administrador e no o proprietrio do Estado; a sua qualidade de chefe da Nao, de soberano, no lhe d por si s o direito de alienar ou comprometer os bens pblicos. A regra geral, pois, que o regente no possa dispor dos bens pblicos quanto substncia dos mesmos; esse direito reservado somente ao proprietrio, desde que a propriedade definida como o direito de dispor, quanto substncia, de uma causa. Se o soberano agir com excesso de poderes em relao a esses bens, qualquer alienao que possa fazer torna-se invlida, e pode ser sempre revogada pelo seu sucessor, ou pela Nao. Esta a lei comumente vigente no reino da Frana e foi sobre este princpio que o duque de Sully aconselhou Henrique IV para recuperar todas as partes do domnio da Coroa que tinham sido alienadas pelos seus predecessores. 261 : A NA<;Ao PODE DAR-LHE O DIREITO: Como a Nao pode dispor livremente de todos os bens que lhe pertencem ( 57), ela pode transferir o seu direito para o soberano e conferir-lhe, por conseguinte,

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o dreito de alienar e comprometer os bens pblicos. Mas como este dreito no necessrio ao dirigente do Estado para governar com xito, no se presume que a Nao tenha, com efeito, lhe conferido; e se ela no o fez por lei expressa deve-se presumir que o prncipe no est investido desse dreito, a no ser que tenha recebido o imprio completamente ilimitado, pleno e absoluto.

262: A ESSE RESPEITO PARA OS TRATADOS ENTRE AS As regras que acabamos de mencionar referem-se alienao dos bens pblicos feita em favor de particulares. A questo muda quando se trata Outros princpios so necessrios de alienao feitade Nao para para decidrem casosdiferentes que possam aparecer. Tentaremos apresentar uma teoria geral a respeito. 1") necessrio que as Naes possam tratar e transigir de forma vlida e eficaz entre si, pois de outra forma no teriam meios de terminar os seus negcios, de alcanar um estado de paz e segurana. Como conseqncia, quando uma Nao cede alguma parte de seus bens a uma outra, a cesso deve ser considerada como vlida e irrevogvel, como ela o de fato, em virtude da noo de propriedade. Este princpio no pode ser abalado por nenhuma lei fundamental pela qual uma Nao pretenderia subtrair de si mesma o poder de alienao que lhe pertence, pois isto manifestaria a inteno de privar-se do poder de contratar com outras Naes, ou pretender engan-las. Com semelhante lei, uma Nao nunca deveria negociar os seus bens. Se a necessidade a isso vier a obrig-la, ou se suas prprias vantagens assim a recomendarem, desde que ela participe de um tratado, ela renuncia sua lei fundamental. No se contesta Nao o poder de alienar o que lhe pertence; mas pergunta-se ao seu dirigente se o soberano tem este poder. A questo pode ser decidida pelas leis fundamentais. Mas suponha que as leis nada digam a respeito? Eis ento o nosso segundo princpio.
(39)

Quod domania inalienabilia et semper retocabilia dicuntur, id respectu priuatorum intelligitur; nam contra aliasgentes divino privilegio opus foret. LEIBNITZ, Praefat. Ad. Codic. [ur. Cento Diplomat.

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Se a N ao conferiu plena soberania a seu dirigente, ela lhe confiou o cuidado e lhe deu, sem reservas, o direito de tratar e contratar com outros Estados. Presume-se estar ela investida de todos os poderes necessrios para fazer um contrato vlido. O soberano , nesse caso, o rgo da N ao; o que ele faz reputado como tendo sido feito pela prpria Nao; e conquanto ele no seja o proprietrio dos bens pblicos, ele os aliena validamente como estando devidamente autorizado. 263: DA AUENAAo DE UMA PARTE DO ESTADO: A questo torna-se mais difcil quando se trata no de alienao de algum bem pblico, mas do desmembramento da prpria Nao, ou do Estado, da cesso de uma cidade ou de uma provncia, que fazem parte da Nao. No entanto, essa questo se resolve seguramente pelos mesmos princpios. Uma Nao tem o dever da auto-preservao (16); ela deve conservar todos os seus membros; ela no pode abandon-los, e est obrigada a mantlos na condio de membros da Nao (17). Ela no tem, pois, o direito de negociar-lhes o estatuto e a liberdade para obter vantagens que espera alcanar em semelhante negociao. Eles se uniram sociedade para delas serem membros, eles reconhecem a autoridade do Estado na perspectiva de trabalharem em conjunto para o bem e a segurana comuns e no para ficarem ao dispor da Nao, como uma granja ou rebanho de animais. Mas a Nao pode legitimamente abandon-los em caso de extrema necessidade, e ela tem o direito de separar-se do corpo, se a segurana do povo assim o requerer. Quando, pois, em caso semelhante, o Estado abandona uma cidade ou provncia para um vizinho ou para um inimigo poderoso, a cesso validamente feita, porquanto o Estado tem o direito de faz-lo e, a partir de ento, esse Estado no pode delas nada mais pretender; ele cedeu todos os direitos que podia ter em relao a essa cidade ou provncia. 264: DIREITOS DAQUELES QUE DESEJAM DESMEMBRAR-SE: Todavia, a provncia ou cidade, assim abandonada e desmembrada do Estado, no est obrigada a aceitar o novo senhor que se lhe quer dar. Uma vez

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separada da sociedade da qual era membro, ela recupera todos os seus direitos e se lhe for possvel defender a sua liberdade contra aquele que desejaria submet-la, ela oferece resistncia legtima. Quando Francisco I concordou, pelo tratado de Madrid, em ceder o ducado da Borgonha para o imperador Carlos V, os Estados dessa provncia declararam "que tendo sempre sido sditos somente da coroa da Frana, eles morreriam nessa obedincia, e se o rei os abandonasse eles pegariam em armas e se esforariam em pr-se em liberdade, em vez de se submeterem a outrem".(40) verdade que raramente os sditos esto em condies de resistir nessas ocasies e ordinariamente o melhor partido que teriam a tomar o de se submeter a um novo soberano mediante as melhores condies que puderem obter. 265: SE o PRNCIPE TEM o DIREITO DE DESMEMBRAR O ESTADO: O prncipe ou o regente, quem quer que seja, tem o poder de desmembrar o Estado? Respondemos como fizemos acima a respeito do domnio. Se a lei fundamental probe qualquer desmembramento ao soberano, este no pode faz-lo sem a concordncia da Nao ou de seus representantes. Mas se a lei se cala e se o prncipe recebeu o imprio pleno e absoluto, ele , ento, o depositrio dos direitos da Nao e o rgo de sua vontade. A Nao no deve abandonar seus membros exceto em caso de necessidade, ou em vista do bem-estar pblico e para se auto-preservar da runa total. O prncipe no deve ced-los seno pelas mesma razes. Mas tendo ele recebido o imprio absoluto, cabe-lhe decidir sobre o caso de necessidade e sobre o que o bem-estar do Estado requer. Por ocasio do tratado de Madrid, do qual acabamos de falar, os notveis do reino da Frana, reunidos em Cognac, depois do retorno do rei decidiram unanimemente "que a autoridade dele no o autorizava a desmembrar a coroa"(41) O tratado foi declarado nulo, como sendo contrrio lei fundamental do reino. Na verdade, ele fora
(40)
(41)

MZERAY, Histoire de France, t. II, p. 458. Ibidem.

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concludo sem poderes suficientes; a lei recusava formalmente ao rei o poder de desmembrar o reino. A concordncia da Nao lhe era necessria e ela poderia dar o seu consentimento pelo rgo dos Estados-Gerais. Carlos V no devia ter solto o seu prisioneiro antes que estes mesmos Estados-Gerais tivessem aprovado o tratado; ou mesmo, usando de sua vitria com mais generosidade, ele devia impor condies menos severas, que teriam estado no poder de Francisco I, e das quais este prncipe no poderia desfazer-se sem descrdito. Mas agora que os Estados-Gerais no se renem mais na Frana, o rei permanece o nico rgo do Estado em suas relaes com poderes estrangeiros. Estes tm o direito de tomar a vontade do rei como sendo a de toda Frana; assim qualquer cesso que o rei lhes faa seria vlida em virtude do consentimento tcito pelo qual a Nao entregou todo o poder ao rei para que este pudesse tratar com as demais Naes. Se assim no fosse nenhum contrato poderia ser feito com segurana com a coroa da Frana. Para maior segurana, as potncia estrangeiras tm freqentemente requerido que os tratados sejam registrados no parlamento de Paris; mas hoje em dia mesmo esta formalidade parece no mais estar em uso.
CAPTULO

XXII

Dos rios, riachos e lagos

266: Do RIO QUE SEPARA DOIS TERRITRIOS: Quando uma Nao se apossa de um pas com a inteno de nele permanecer, ela ocupa tudo o que o pas abrange - terras, lagos, riachos, etc. Mas pode ocorrer que o pas termine e se separe de outro por um rio. Surge a questo, a quem o rio pertence? manifesto, segundo os princpios estabelecidos no Captulo XVIII, que ele deve pertencer Nao que dele primeiro tomou posse. Esse princpio indiscutvel, mas a dificuldade est em aplic-lo. No fcil decidir qual das duas Naes adjacentes foi a primeira a tomar posse de um rio que as separa. Eis as regras fornecidas pelo direito das gentes para essas questes:

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Quando uma Nao se apossa de um pas que termina em rio, presume-se ter ela se apropriado do rio tambm uma vez que um rio presta demasiado servio para que se possa presumir que a N ao no tenha tido a inteno de reserv-lo para si. Conseqentemente o povo que primeiro estabeleceu o seu domnio sobre uma das margens do rio considerado como primeiro ocupante de toda a parte desse rio que circunda o seu territrio. Quando h em questo um rio muito largo, essa presuno contestvel, pelo menos com respeito parte da largura desse rio e a fora da presuno aumenta ou diminui, em relao ao todo, na razo inversa da largura do rio; pois quanto mais o rio for estreito, mais a segurana e a convenincia do prprio uso requerem que ele seja submetido por inteiro ao imprio e propriedade. 2') Se esse povo tem feito algum uso do rio, tanto para a navegao como para a pesca, a presuno de que ele tinha desejado desse rio se apropnar. 30) Se nenhum dos dois ribeirinhos pode provar ter sido o primeiro a estabelecer-se na regio, presume-se que ambos nela chegaram simultaneamente, nenhum tem razes de preferncia e, nesse caso, o domnio de cada qual se estende at o meio do rio. Posse longa e pacfica gera o direito das Naes; de outra forma no poderia haver paz ou estabilidade entre elas e os fatos notrios devem provar a posse. Assim, quando 'desde tempos imemoriais uma Nao tem exercido sem oposio direitos de soberania sobre um rio que lhe serve de limites, ningum pode contestar-lhe o imprio. S') Enfim, se os tratados definem algo sobre a questo, mister cumpri-los. O modo mais seguro para decidir a questo por meio de estipulaes bem formuladas e esse , de fato, o mtodo adotado hoje pela maioria das potncias.

o CURSO ALHURES: Se um riacho abandona o seu leito, seja porque se estancou, seja porque retoma o seu curso alhures, o leito pertence ao
LEITO DE UM RlACHO QUE ESTANA, OU QUE RETOMA

267: Do

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dono do rio pois o leito faz parte do rio e quem se apropria do todo se apropria necessariamente de suas partes. 268: Do DIREITO ALUVIO: Se o territrio que termina num rio no tem outros limites a no ser o prprio rio, ele um desses territrios que tm limites naturais ou indeterminados (territoria , e goza do direito de aluvio; ou seja, os acrscimos imperceptveis que, pouco a pouco, se formam no curso do rio, pertencem ao titular dos direitos sobre o rio. Pois se eu me aposso de um terreno e declaro ter ele por limites o rio que o circunda, eu adquiro antecipadamente o direito de aluvio, ou seja, posso apropriar-me do acrscimo que o rio trouxer insensivelmente ao meu terreno. Eu digo insensivelmente; porque no caso mui to raro que se denomina avulso, quando a violncia da corrente de gua destaca uma parte considervel de um terreno e a adiciona a outro de tal modo que ela ainda permanea identificvel, esse pedao de terra naturalmente pertence ao seu primeiro dono. Nas relaes entre particulares, as leis civis tm previsto e decidido o caso. Eles devem combinar a eqidade com o bem do Estado e com o cuidado de prevenir litgios. Em caso de dvida, todo o territrio terminado em rio presume-se ter como limites o prprio rio. Nada mais natural que tomar o rio como limite de um territrio, quando neles nos estabelecemos em suas margens e quando existir dvida, a presuno sempre a favor do que for mais natural e mais profcuo. 269: SE o ALUVIAo ACARRETA NOS DIREITOS SOBRE O RIO: Desde que se estabeleceu que um rio separa dois territrios, tanto nos casos em que ele permanea comum aos co-ribeirinhos ou naqueles em que ambos o partilham pela metade, ou mesmo naqueles em que um dos ribeirinhos tenha direito integral sobre ele, os diversos direitos sobre o rio no sofrem modificaes em decorrncia do aluvio. Se ocorre, pois, que pela ao natural da corrente um dos territrios recebe acrscimo, enquanto o rio avana gradualmente sobre a margem oposta,

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o rio permanece a margem natural dos dois territrios, e cada ribeirinho retm os mesmos direitos sobre o rio, a despeito da mudana gradual de seu curso. Assim, por exemplo, se uma linha divisria marca a fronteira original, ela continuar a ser linha de fronteira, mesmo que sua posio tenha, na verdade, mudado. verdade que um est a perder, enquanto o outro a ganhar, mas apenas a natureza faz essa mudana: ela destri o terreno de um e aumenta o de outro. O caso no pode ser decidido de maneira diferente, desde que se tomou apenas o rio como fronteira. 270: O QUE OCORRE QUANDO O RIO MUDA DE CURSO: Mas se em lugar de um deslocamento progressivo, o rio, por um mero acidente natural, muda completamente de curso e avana sobre um dos dois Estados vizinhos, o leito que o rio abandona permanece ento como limite; o leito remanesce para o dono do rio (267). O rio perece em um lado, enquanto nasce em seu novo leito, e nasce unicamente para o Estado n qual ele flui. Este caso bastante diferente daquele do riacho que muda seu curso sem deixar o mesmo Estado. Tal riacho continua a pertencer, em seu novo curso, ao mesmo dono, seja ao Estado, seja quele para quem o Estado o tenha transferido, porque os rios so propriedade pblica em qualquer parte do pas que se encontrem. O leito abandonado acresce pela metade as terras adjacentes de um e outro lado, se elas forem isto , com limites naturais e com direito de aluvio. Esse leito no mais pblico, apesar do que dissemos no 267, em razo do direito de aluvio dos vizinhos e porque aqui possua esse espao apenas pela razo de tratar-se de um riacho; mas o leito permanece pblico, se as terras adjacentes no so O novo terreno, sobre o qual o riacho segue o seu curso, perece para o proprietrio, porque todos os riachos do pas so reservados ao pblico. 271: DAS OBRAS TENDENTES A DESVIAR A CORRENTE: No permitido construir sobre a margem de um rio obras tendentes a desviar seu curso e rejeit-lo sobre a margem oposta. Isto seria uma tentativa de ganhar

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algo em detrimento de outrem. Cada qual pode apenas assegurar-se que a corrente d'gua no mine e carregue o seu terreno. 272: OBRAS PREJUDICIAIS AOS DIREITOS DE OUTREM: Em geral, nenhum trabalho prejudicial aos direitos alheios pode ser construido sobre um rio assim como tambm alhures. Se uma Nao possui um rio e outra tem o direito incontestvel de naveg-lo, aquela no pode construir nele um dique ou moinhos que o tornam inavegvel; o direito daquela Nao nesse caso, no seno limitado e no pode ser exercido sem respeito aos direitos de outrem. 273: NORMAS REFERENTES A DIREITOS CONTRADITRIOS: Quando dois direitos referentes mesma cousa se contradizem, nem sempre fcil decidir qual deles deve prevalecer. Uma deciso s pode ser dada aps considerar-se cuidadosamente a natureza dos direitos e a origem deles. Por exemplo, vs tendes o direito de pescar num riacho que pertence a mim. Posso nele construir moinhos que tornem a pesca mais difcil e menos proveitosa? A afirmativa parece seguir a natureza de nossos direitos. Eu, como proprietrio, tenho um direito essencial sobre a prpria cousa; vs tendes somente o direito de uso, acessrio e dependente do meu. Tendes somente o direito geral de pescar em meu riacho, da forma como for possvel e no estado que me convir possui-lo. Eu no vos privo de vosso direito ao construir meus moinhos; esse direito ainda continua em sua forma original e se acaso tornou-se menos til, foi acidentalmente, em decorrncia do fato de que vosso direito dependente do exerccio do meu prprio direito. No ocorre o mesmo em relao ao direito de navegao, do qual ns j temos falado. Este direito necessariamente supe que o riacho permanecer livre e navegvel e exclui toda obra que interrompa completamente a navegao. A antigidade e a origem dos direitos no contribuem menos que a natureza deles para decidir a questo. O direito mais antigo, se for absoluto, exerce-se em toda a sua extenso, e o outro somente se puder

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ser exercido sem prejuzo do primeiro; pois foi estabelecido nesta base, a menos que o possuidor do direitoprimordialtenha consentido expressamente em Igualmente, os direitos cedidos pelo proprietrio de uma cousa presume-se terem sido cedidos sem prejuzo de outros direitos que lhe pertencem, e somente o so enquanto puderem ser consistentes com estes direitos, a menos que uma declarao expressa ou a prpria natureza dos direitos decidam diferentemente. Se cedi a outrem o direito de pescar em meu riacho claro que o cedi sem prejuzo de meus demais direitos e que permaneo livre para construir nesse rio tais obras como entender apropriado, mesmo que elas perturbem a pesca, contanto que no a destruam completamente. Uma obra dessa ltima espcie, tal com.o um dique que impedisse o peixe de seguir o seu curso, poderia somente ser construda em caso de necessidade e, de acordo com as circunstncias, indenizando-se aquele que tem o direito de pescar. O que dissemos sobre os rios e riachos pode 274: Dos facilmente ser aplicado aos lagos. Todo lago quando includo inteiramente no territrio da Nao a esta pertence, e essa Nao presume-se ter-se apropriado de tudo o que nele estiver e, como raramente acontece que a propriedade de um lago caia na mo de particulares, ele permanece comum a toda a Nao. Se o lago fica entre dois Estados presume-se estar eledividido entre ambos por uma linha mediana, enquanto no houver ttulo ou uso manifesto e constante para se decidir de outro modo. 275: Dos ACRSCIMOS DE UM LAGO: O que foi dito do direito de aluvio em relao aos rios deve estender-se aos lagos tambm. Quando um lago forma a fronteira de um Estado e lhe pertence inteiramente, qualquer acrscimo desse lago segue o destino do conjunto. Mas tais acrscimos devem ser insensveis, como no caso de aluvio e, ademais, devem ser reais, constantes e completos. Explico-me: 1") Falo de acrscimos insensveis. Aqui o caso o reverso do aluvio; trata-se dos acrscimos a um lago, como l se tratava dos

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acrscimos de um terreno. Se esses acrscimos no forem insensveis, se o lago, transbordando em suas margens, inundasse imediatamente uma extensa rea, essa nova poro do lago, este pedao de terra coberto com gua continua a pertencer a seu antigo proprietrio. Qual seria o fundamento dessa aquisio pelo dono do lago? O espao facilmente reconhecvel, mesmo que a sua natureza tenha mudado, e demasiado extenso para presumir que o dono no tenha querido ret-lo, a despeito das mudanas que a poderiam sobrevir. 2")Mas se o lago mina imperceptivelmente uma poro do territrio oposto, se ele a destri e a torna irreconhecvel, nela se estabelece e a acrescenta a seu leito, esta poro do leito perece para o seu dono; ela no mais existe,e o lago,assim acrescido, continua em seu todo pertencente ao mesmo Estado. 3) Se algumas terras marginais do lago so apenas inundadas pelas grandes guas, esta circunstncia temporria no pode produzir nenhuma mudana na propriedade. A razo pela qual o solo que o lago invadiu pouco a pouco pertence ao dono do lago e perece para o antigo proprietrio , de Estado a Estado, que este ltimo no tem outra linha fronteiria a no ser o lago nem outras marcas seno as suas marge9-s para reconhecer at onde se estende a sua posse. Se a gua avana, imperceptivelmente, o Estado perde; se ela retrocede, o Estado ganha. Tal deve ter sido a inteno dos povos que se apropriaram, respectivamente, do lago e das terras vizinhas; dificilmente se pode supor outra inteno. Mas terras inundadas por um tempo no devem ser confundidas com o resto do lago; elas so ainda reconhecveis e o dono pode reter direito de propriedade sobre elas. Se fosse de outra maneira, uma cidade inundada por um lago mudaria de dono durante o tempo das enchentes e retomaria ao seu antigo dono to logo a inundao cessasse. 4") Pelas mesmas razes, se as guas de um lago penetrarem por uma abertura no pas vizinho e nele formarem uma baa, ou uma espcie de lago novo, unido ao primeiro por um canal, esse novo conjunto de gua e o canal pertencem ao dono do territrio no qual se formaram. Pois os limites so facilmente reconhecveis, e no se presume que

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haja a inteno de abandonar to larga rea se acontecer de ser invadida pelas guas de um lago vizinho. Observemos ainda que estamos aqui tratando de questes entre Estados; outros princpios so necessrios para decidir casos que aconteam entre proprietrios que so cidados do mesmo Estado. Aqui no so os nicos limites do solo que lhes determinam a posse, mas tambm a sua natureza e o seu uso. O particular que possui um campo na margem de um lago no pode mais usufrui-lo como um campo quando estiver inundado; aquele que, por exemplo, tem o direito de pescar num lago pode exerc-lo nessa nova extenso; se as guas se retraem, o campo restitudo para o uso de seu proprietrio. Se o lago penetra por uma abertura as terras baixas da vizinhana, e permanentemente as submerge, o novo lago pertence ao pblico, porque todos os lagos so a ele destinados. 276: Dos ATERROS FORMADOS NAS MARGENS DE UM LAGO: OS mesmos princpios deixam claro que se o lago forma insensivelmente aterros em suas margens, ou por se retrair ou de outra maneira qualquer, tais acrscimos pertencem ao pas ao qual eles se juntam, quando esse pas no tem outros limites alm do lago. o mesmo caso do aluvio nas margens de um rio. 277: Do LEITO DE UM LAGO RESSECADO: Mas se o lago viesse repentinamente a secar, na totalidade ou em grande parte, o leito permaneceria para o soberano do lago, cujos limites seriam dependentes da natureza reconhecvel desse mesmo leito. 278: DA JURlSmAo SOBRE OS LAGOS E OS RlOS: O imprio ou a jurisdio sobre lagos e rios, segue as mesmas regras que a propriedade em todos os casos por ns jexaminados. Cada Estado possui naturalmente jurisdio sobre todo o rio ou lago, ou sobre aquela poro da qual ele tem o domnio. Temos visto (24S) que a Nao ou seu soberano, governa todo o territrio que possui.

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XXIII

Do mar
DE SEU USO: Com o propsito de completar nossa exposio sobre os princpios do direito das gentes com relao propriedade de uma Nao, resta-nos tratar do alto mar. O uso do alto mar consiste na navegao e na pesca; ao longo das costas, o mar serve cada vez mais para a procura de cousas que so encontradas perto das costas, ou no litoral, tais como conchas, prolas, mbar, etc., na feitura do sal,e enfim para estabelecer refgio e lugares de segurana para os navios.
MAR E

279: Do

280: SE O MAR PODE SER OCUPADO ESUBMETIDO AO DOl\fNIO: O alto

mar no de natureza a ser ocupado, e ningum pode nele se estabelecer de maneira a impedir outros de transitar por ele. Mas uma Nao poderosa no mar poderia proibir outras de nele pescar e de nele navegar, declarando que se apropria do domnio do mar e que destruir os navios que ousarem nele aparecer sem a sua permisso. Vejamos se ela teria o direito de faz-lo.
281: NINGUM TEM O DIREITO DE APROPRIAR-SE DO USO DO ALTO

MAR: manifesto que o uso do alto mar, o qual consiste na navegao e na pesca, inocente e inesgotvel, ou seja, que aquele que navega ou pesca em alto mar, no prejudica ningum; e que o mar, em ambos os casos, pode satisfazer as necessidades de todos os homens. Ora, a natureza no d aos homens o direito de apropriar-se de cousas cujo uso inocente, inesgotvel e suficiente para todos, porque cada qual, podendo nele encontrar em seu estado natural com o que satisfazer as sua necessidades, ao buscar tomar-se o nico senhor dele e excluir outros, significaria querer priv-los sem razo dos benefcios da natureza. Como a terra no fornece mais sem cultivo todas as cousas teis e necessrias ao gnero humano, que se multiplicou ao extremo, achou-se conveniente introduzir o direito de propriedade, a fim de que cada qual pudesse

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aplicar-se com mais xito a cultivar o que lhe coube em partilha e a multiplicar por seu trabalho as diversas coisas teis para a vida. Eis porque a lei natural aprova os direitos de domnio e de propriedade, que puseram fim comunho primitiva. Mas esta razo no pode subsistir em relao a cousas cujo uso inesgotvel e, por conseguinte, tornar-se justo motivo para que sejam apropriadas. Se o uso livre e comum de uma cousa dessa natureza fosse prejudicial ou perigoso para uma Nao, o cuidado com a sua prpria segurana a autorizaria a submeter, se pudesse, essa cousa ao seu domnio, a fim de s permitir-lhe o uso com precaues ditadas pela prudncia. Mas este no o caso do mar, no qual pode-se navegar e pescar, sem causar dano a quem quer que seja e sem pr ningum em perigo. Nenhuma Nao tem, pois, o direito de tomar posse do alto mar, ou de atribuir-se o direito de us-lo, com a excluso de outros. Os reis de Portugal quiseram outrora arrogar-se o imprio dos mares da Guin e das ndias Orientais, (42) mas as demais potncias martimas no concordaram com semelhante pretenso. QUE DESEJA EXCLUIR OUTRA DO USO DO EST 282: A INJRIA: Sendo o direito de navegao e pesca de alto mar um direito comum a todos os homens, a Nao que tenta excluir outra de tal vantagem lhe faz injria e lhe d justa causa de guerra; a natureza autoriza uma Nao a repelir a ofensa, ou seja, a opor-se pela fora a quem queira priv-la de seu direito. 283: ELA COMETE INJRIA TODAS N Digamos mais, uma Nao que busca arrogar-se sem ttulo um direito exclusivo sobre o mar, e mant-lo pela fora, faz injria a todas as Naes cujo direito comum ela viola; e elas todas esto legitimadas a se unirem contra aquela Nao para reprimi-la. da maior importncia para as Naes que o direito das gentes, base de sua prpria tranqilidade, seja respeitado
Vide GRCIO, Mare l iberum; e SELDEN, Mare C1ausum, liv. capo XVII, que escreveram, respectivamente, favoravelmente e contrariamente s pretenses da Inglaterra ao imprio dos mares.

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universalmente. Se alguma Nao espezinhar abertamente esse direito, todas podem e devem insurgir-se contra ela e, ao reunirem suas foras para punir esse inimigo comum, elas esto cumprindo seus deveres para consigo mesmas e para com a sociedade humana, da qual so membros (Preliminares, 22). 284: ELA PODE ADQUIRIR UM DIREITO EXCLUSIVO POR TRATADOS: No entanto, como cada qual livre para renunciar de seus direitos, uma Nao pode adquirir direitos exclusivos de navegao e pesca por tratados nos quais outras Naes renunciem em seu favor os direitos que receberam da natureza. Essas Naes so obrigadas a observar tais tratados e a Nao que elas favorecem tem o direito de manter pela fora a posse de suas vantagens. Foi desse modo que a Casa da ustria renunciou, em favor dos ingleses e dos holandeses, ao direito de enviar navios para as ndias Orientais. Muitos exemplos de tais tratados podem ser encontrados em Grcio, De Belli ac Paas, Livro 11, Capo 111, 15. 285: MAS NO POR PRESCRIO E POR USO PROLONGADO: Desde que os direitos de navegao, de pesca e outros direitos que so exercidos no mar, so direitos de mera faculdade meraefacultatis) e no esto sujeitos prescrio (95), eles no podem ser perdidos pelo no-uso. Assim, mesmo que uma Nao tenha sido, desde tempos imemoriais, a nica na posse da navegao ou da pesca em certos mares, ela no poderia, com esse fundamento, atribuir-se direito exclusivo a respeito. Pelo fato de que outras Naes no fizeram uso do direito comum que elas tinham de navegao e de pesca, no se conclui que elas tenham desejado renunciar a esse direito e elas ainda podem usufru-lo, quando o desejarem. 286: A NO SER QUE HAJA UM PACTO TCITO: Mas pode acontecer que o desuso recubra a natureza de um consentimento, ou de um pacto tcito, e assim se torne um titulo de posse em favor de uma Nao contra outra. Quando uma N ao estiver na posse da navegao e da pesca

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em certas paragens, nela pretender direito exclusivo e proibir outras de delas participar e se estas acatarem essa proibio com sinais suficientes de aquiescncia esto, implicitamente, renunciando de seu direito em favor daquela Nao e conferindo-lhe um direito que ela pode legitimamente manter contra essas Naes no futuro, sobretudo quando esse direito confirmado por uso prolongado.
287: O MARPRXIMO IX) lITORAL PODE SER SUBMETIDO PROPRIEDADE: OS diversos usos do mar, perto do litoral, o tornam susceptvel de propriedade. Ali se pesca, se retiram conchas, prolas, mbar, etc. Ora, em relao a todos esses usos, o mar no inesgotvel de modo que a Nao ao qual esses litorais pertencem podem apropriar-se de um bem que ela est em condies de possuir e extrair proveito, da mesma forma pela qual ocupou as terras que o seu povo habita. Quem pode duvidar que a pescaria de prolas de Bahrein e Ceilo no possa ser legitimamente objeto de propriedade? E, conquanto a pesca de peixe parea de uso mais inesgotvel, se um povo tem pescaria especialmente intensiva ao longo de suas costas martimas, da qual ele pode tomar posse, no lhe seria permitido apropriar-se dessa ddiva da natureza como uma dependncia do territrio que ele ocupa, e se houver peixe suficiente para abastecer Naes vizinhas, no lhe seria tambm permitido reservar para si as grandes vantagens que esse povo poderia ter nesse comrcio? Mas se,ao invs de apossar-se de suas costeiras,essepovo reconhecesse o direito comum de outros povos de ali pescar, ele no pode mais exclui-los; ele deixou essa pesca em estado de comunho primitiva, pelo menos em relao queles que esto em condies de aproveitar-se dessas guas. Como os ingleses no se apossaram desde o incio da pesca do arenque em suas costas, essa pesca tornou-se comum a outras Naes. 288: OUTRO MOTIVO
DE APROPRJAAo DO MAR PRXIMO AO UTORAL:

Uma Nao pode apropriar-se das cousas cujo uso livre e comum lhe seria prejudicial ou perigoso. Esta a segunda razo pela qual as potncias estendem sua soberania no mar ao longo das costas, to longe quanto

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elas podem proteger o seu direito. Importa segurana e ao bem-estar desses Estados que no sejapermitido a terceiros aproximarem-se demasiado do litoral, e perturbarem nessas guas a navegao, especialmente com navios de guerra e comerciais. Durante as guerras entre a Espanha e as Provncias Unidas, James I, rei da Inglaterra, estabeleceu delimitao ao longo de seu litoral, no mbito da qual declarou no permitir a nenhuma das potncias beligerantes perseguir seus inimigos, e nem mesmo a navios armados permanecer para ficar espreita de navios que quisessem ingressar nos portos ou deles sair. Estas partes do mar, assim submetidas a uma Nao, so parte de seu territrio; e nelas no se pode navegar sem consentimento dessa Nao. Mas o acesso no pode ser recusado a navios quando os propsitos deles so inocentes e eles no esto sob suspeita; todo proprietrio est obrigado a garantir passagem livre para estrangeiros, mesmo por terra, quando nenhum dano ou perigo existir. verdade que compete Nao julgar o que cabe fazer nos casos particulares e decidir se seu julgamento inadequado e ela est violando suas obrigaes ao estabelecer que outras Naes devem submeter-se a essa deciso. Uma regra diferente se aplica em casos de necessidade quando, por exemplo, um navio forado a entrar em ancoradouro de outra Nao para abrigar-se da tempestade. Neste caso, o direito de entrar num porto, no lhe causando nenhum dano, para fins de reparao, persiste, segundo veremos adiante, como uma reminiscncia de direitos primitivos comuns a que nenhum homem pode renunciar. O navio legitimamente ingressarno litoralmesmo sem permisso, se a autorizao para tanto for injustamente recusada. 289: AT ONDE A POSSE DE GUAS PRXIMAS LITORAL PODE ESTENDER-SE: No fcil determinar at que distncia uma Nao pode estender seus direitos sobre os mares que a cercam. Bodin'P' pretende que, segundo o direito comum de todos os povos martimos, a soberania do prncipe estende-se at trinta lguas da costa. Mas esta determinao
(41)

De la

Liv. I, capo X.

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precisa s poderia basear-se sobre um consentimento geral das Naes, o qual ser difcil provar. A esse respeito, cada Estado pode determinar como achar melhor as normas relativas s relaes entre os cidados, ou entre esses e o soberano. Mas entre Nao e Nao a mais razovel regra que pode permanecer aquela que em geral o donnio de um Estado sobre o seu mar vizinho se estende to longe quanto necessrio para sua segurana e que possa fazer respeitar porque a Nao, por um lado, no pode apropriar-se de uma coisa comum, como o mar, a no ser que tenha necessidade dele para atingir um fim legtimo (281) e, por outro lado, seria urna pretenso v se atribuir um direito que a Nao no tem condies de fazer cumprir, O poder naval da Inglaterra propiciou a seus reis a oportunidade para atribuir-se soberania sobre os mares prximos at as costas opostas.r'? Selden cita um ato solene'v' pelo qual parece que esta soberania, no tempo de Eduardo I, tinha sido reconhecida pela maioria dos povos martimos da Europa; e a repblica das Provncias Unidas o reconheceu de certa forma, pelo tratado de Breda em 1667, pelo menos quanto s honras do pavilho. Mas para estabelecer solidamente direito to amplo, seria necessrio estabelecer claramente que todas as potncias interessadas tm dado a esse direito expresso ou tcito consentimento. Os franceses nunca concordaram com essa pretenso da Inglaterra e no tratado de Breda, acima mencionado, Lus XIV nem mesmo permitiu que o canal da Mancha pudesse ser chamado de Canal da Inglaterra ou de Mar Britnico. A Repblica de Veneza atribuiu-se a soberania do mar Adritico, e todos conhecem a cerimnia que se pratica todos os anos a esse respeito. Para confirmar esse direito, so citados os exemplos de Ladislau,reide Npoles, do imperador Frederico IH, e de alguns reis da Hungria, que pediram aos venezianos permisso para a navegao de seus navios naquele mar. (46) Parece inquestionvel que a Repblica possusse direito de imprio at certa distncia de suas
Vide o tratado de SELDEN, MareC/ausum.
(45)

Ibid., Liv. I, Capo XVI. Ibid., Liv. I, Capo XVI.

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costas, em reas de que pudesse tomar posse e que fosse importante ocupar e preservar para sua segurana; mas duvido muito que hoje alguma potncia estivesse disposta a reconhecer a soberania de Veneza sobre todo o Adritico. Tais clamores de soberania so respeitados enquanto a Nao que os faz capaz de mant-los pela fora; eles cessam quando cessao poder da Nao. Hoje a rea do mar prximo, ao longo do litoral, considerada como parte do territrio nacional, se estiver ao alcance do canho; por essa razo um navio capturado, ao alcance de uma fortaleza neutra, no considerado boa presa. 290: Do DOS PORTOS: O litoral martimo pertence inquestionavelrnente Nao que possui soberania sobre o territrio do qual ele faz parte e ele se encontra entre as cousas pblicas. Os jurisconsultos romanos o incluam entre as cousas comuns a todos mas era somente com relao ao uso dele e no se deve inferir que eles o considerassem como independente do imprio; na verdade, o contrrio aparece em grande nmero de leis. Portos e ancoradouros so manifestamente uma dependncia e mesmo uma parte do territrio nacional e, conseqentemente, so propriedades de uma Nao. Aplica-se a eles, quanto aos efeitos de propriedade e soberania, tudo o que se diz do prprio territrio. 291: BAAS E DOS ESTREITOS: Tudo o que tem sido dito das partes dos mares prximos do litoral aplica-se particularmente, e com mais razo, a enseadas, baas e estreitos, como sendo ainda mais capazes de serem ocupados e mais importantes para a segurana do Estado. Mas estou falando de baas e estreitos de pequena rea e no de grandes espaos de mar, algumas vezes chamados por esses nomes, tais com a baa de Hudson e o estreito de Magalhes, sobre os quais a soberania e mais ainda a propriedade no poderiam estender-se. Uma baa, cuja entrada proibida, pode ser ocupada e submetida s leis do soberano e importante que ela o seja, quando a Nao pode vir a ser mais facilmente atacada nesse lugar do que ao longo da costa aberta aos ventos e impetuosidade das ondas.

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VArrEL

292: Dos ESTREITOS EM PARTICULAR: Cabe observar em ralao aos estreitos que quando servem para a comunicao de dois mares cuja navegao comum a vrias ou a todas as Naes, o Estado soberano do estreito no pode recusar passagem s demais Naes, desde que tal passagem seja inocente e sem perigo para ele. Recusar essa passagem sem justa razo seria privar as demais Naes de uma vantagem que lhes concedida pela natureza; outrossim, o direito de tal passagem uma reminiscncia da comunidade primitiva. Mas o cuidado com sua prpria segurana, autoriza a Nao soberana do estreito a usar de certas precaues e exigir formalidades, comumente estabelecidas pelo costume das Naes. Aquela Nao tem tambm o direito de impor um tributo moderado aos navios que transitem pelo estreito, seja por causa da inconvenincia que eles lhe causam, seja por causa da sua segurana ao proteger-se de inimigos e afastar piratas, seja pelo cuidado de manter faris, balizas e outras causas necessrias segurana dos navegadores. Foi assim que o rei da Dinamarca estabeleceu pedgio no estreito de Sund. Tais tributos devem ser baseados nas mesmas razes e submetidos s mesmas regras que os pedgios estabelecidos em terra ou em rios (ver 103 e 104). 293:Do DE NAUFRGIO: Seria necessrio falar do de fruto infeliz da barbrie e que com ela felizmente desapareceu quase em toda parte? O nico caso em que ele poderia existir com justia e humanidade quando os proprietrios dos bens remanescentes de naufrgio no poderiam de modo algum serem conhecidos. Esses bens ento pertenceriam ao primeiro que os achar, ou ao soberano, se a lei para ele os reservar. 294: Do ENCRAVADO NAS DE NAO: Se o mar se encontra inteiramente encravado no territrio de uma Nao e se liga com o oceano somente por um canal de que a Nao pode tomar posse, parece que tal mar no menos suscetvel de ocupao e propriedade que a terra; e ele deve estar sob a mesma jurisdio das terras que o

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cercam. O mar Mediterrneo era outrora completamente circundado pelo territrio do povo romano. Esse povo, ao se tornar soberano do estreito que unia o Mediterrneo ao oceano, poderia submeter esse mar sua soberania e domnio. Ele no violava, em fazendo tal, os direitos de outras Naes uma vez que um mar particular est claramente destinado pela natureza, ao uso de pases e povos que o cercam. Alis, ao proibir a entrada no Mediterrneo de todo navio suspeito, os romanos punham em segurana imediatamente toda a imensa extenso da costa desse mar. Foi essa a razo suficiente para autoriz-los a tomar posse daquele estreito. E como o Mediterrneo no era um meio de comunicao seno com seus Estados, eles tinham o direito de permitir ou proibir a entrada no estreito, assim como a entrada em suas cidades e provncias.

29S: As
SUA JURISD!<;O:

PARTES DO MAR OCUPADAS POR UMA

I,STO SOB A

Quando uma Nao se apodera de certas partes do mar, ela obtm soberania e domnio sobre elas, pelas mesmas razes por ns alegadas ao falar das terras (20S). Essas partes do mar esto sob a jurisdio do territrio da Nao. O soberano tem autoridade sobre elas para dar-lhes leis e para punir aqueles que as transgredirem. Numa palavra, ele tem os mesmos direitos que lhe cabem sobre a terra e, em geral, todos aqueles que a lei do Estado lhe confere. verdade, no entanto, que o o domnio ou a propriedade no so inseparveis, mesmo no caso de um Estado soberano.v?' Assim como uma Nao poderia ter a propriedade de uma rea de terra ou mar, sem ter soberania sobre ela, poderia ocorrer que a Nao tivesse o imprio de um lugar cuja propriedade ou domnio til pertencessem a outro povo. No entanto presume-se sempre que, quando a Nao possui o domnio til de um lugar qualquer, ela possui tambm nele o domnio e o imprio, ou a soberania (20S). No to conclusiva a relao entre imprio e domnio til, pois uma Nao pode ter boas
Vide infra, Liv, II, 83.

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razes para atribuir-se o imprio sobre uma regio e especialmente sobre uma rea do mar, sem pleitear nenhuma sorte de propriedade e domnio til sobre essa rea. Os ingleses nunca pretenderam ser proprietrios de todos os mares sobre os quais se atribuem o imprio. Eis o que desejvamos abordar nesse primeiro livro. Para ir a maiores e melhores pormenores sobre os deveres e direitos de uma Nao considerada nela mesma, seramos levados a muito longe. Tais pormenores devem ser procurados em tratados especiais de direito pblico e de poltica, Estamos muito longe de nos elogiar por no ter omitido nenhum ponto importante. O que temos aqui um esboo ligeiro de um quadro imenso. Mas um leitor inteligente suprir sem dificuldade todas as nossas omisses, ao fazer uso dos princpios gerais. Tivemos todo o cuidado em estabelecer solidamente esses princpios e em desenvolv-los com preciso e nitidez.

em suas

com outras

CAPTULO

Deveres comuns de uma Nao para com as demais ou dos ofcios de humanidade entre as Naes

1: FUNDAMENTO DOS DIREITOS COMUNS E RECPROCOS DAS Os princpios que vamos focalizar parecero muito inconsistentes com a polticados gabinetes dos ministros e, para a infelicidade do gnero humano, muitos dessesdirigentesrefinadosdos povos consideraro ridcula a doutrina deste captulo. No importa, proponhamos ousadamente o que a lei natural prescreve s Naes. Deveramos temer o ridculo, quando Ccero falou antes de ns? Este grande homem teve o comando do mais poderoso imprio que existiu e ele no parece menor do que quando estava na tribuna. Ele considerava que a poltica mais segura para um Estado reside na exata observncia da lei natural.J mencionei no prefcio esta nobre passagem: "(...) nihilesse, quod adbuc dictum aut quo possimus Iongius nisi erit non modo falsum illud esse, sine non posse; sed hoc oerissimso esse, sine summajustitia nullo modo posse. Poderia dizer com boa razo que, por essas palavras, summajustitia, Ccero deseja ressaltar que essa justia universal consiste no cumprimento integral da lei natural. Mas ele explica alhures mais formalmente a esse respeito e sublinha que no restringe os deveres mtuos dos homens observncia da justia propriamente dita. "Nada", dizia ele "est to de acordo com a natureza, to capaz de assegurar verdadeira satisfao do que realizar, a exemplo de Hrcules, mesmo os mais penosos trabalhos para a preservao e bem-estar de todas as
No h nada do que foi dito at aqui que permanea vlido, e ser impossvel dizer mais alguma coisa, se no se deixar perfeitamente esclarecido o seguinte: no apenas falso acreditar que no se pode governar sem cometer injustias, como a mais absoluta verdade que, sem se aplicar a mais exata justia, no h governo possvel". De Republica, Lib. lI, XLII.
(I) "

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Naes": "(...) magis est secundam pro omnibus gentibus, sifieripossit, conseruandis aut juvandis maximos labores molestias que suscipere, imitantem Hercules: quem hominum fama memor, in concilio coe/estium collocatst, quam in solitudine non modo sine mo/estiis, sed etiam in maximis voluptatibus, abundantem omnibus copiis, excellas etiam pukhn'tudine et vinbus. Quocirca optimo quisque et splendidissimo ingenio longe illam vitam \ baic anteponit. No mesmo captulo, Ccero expressamente refuta aqueles que queriam excetuar os estrangeiros dos deveres aos quais eles reconhecem autem civium rationem ser obrigados para com os seus concidados: dicunt babendam, externorum negant, dirimunt communem bumani generis societaiem: qua sublaza, beneficentia, liberalitas, bonitas, justitiafunditus Quae qui tollunt, etiam aduersus deos immortales impiijudicandi sunt. Ab iis enim constitutam inter bomines societatem euertunt (...) E por que no esperaramos ainda encontrar, entre aqueles que governam, alguns sbios convencidos dessa grande verdade: a de que a virtude para o corpo poltico, mesmo para os soberanos, o mais seguro caminho para a propriedade e a felicidade? H, pelo menos, um resultado que pode ser esperado dos princpios sadios acima mencionados, o de que eles constrangem, mesmo aqueles que menos os apreciam, a adotarem alguma medida, para no perderem inteiramente a reputao. Apregoar-se que homens, e sobretudo homens poderosos, desejaro seguir o rigor das leis naturais, seria equvoco grosseiro; perder toda a

"Empreemder grandes trabalhos, passar pelas mais duras provas, para servir e proteger, se possvel, todas as naes, a exemplo de Hrcules, o qual o reconhecimento dos povos colocou na assemblia dos imortais; a est uma uma vida bem mais conforme natureza que aquela passada na solido, no apenas distante de toda pena, mas entre as maiores prazeres, na abudncia de todos os bens, e no meio de vigor e beleza, No possui uma grande alma nem um nobre esprito aquele que prefere o segundo destino ao primeiro". De OJftis, Lib. IH, capo V.
(3) "Aqueles que dizem que se deve respeitar os cidados, mas de maneira alguma os estrangeiros, destroem a sociedade geral do gnero humano, e medida que esta no mais existe, a caridade, a liberdade, a bondade e a justia so aniquiladas tambm. Os que atacam essas virtudes direcionam sua ofensa aos deuses imortais, pois foram eles que estabeleceram, entre todos os homens, aquela sociedade". De Offis, Lib. IH, capo VI,

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esperana de que influenciem alguns dentre eles perder a esperana no gnero humano. Pelo fato de que as Naes esto compelidas pela natureza a cultivarem entre si a sociedade humana (Preliminares, 11), elas esto obrigadas mutuamente a todos os deveres que a segurana e o bemestar desta sociedade requerem.

de so esses socorros, esses deveres, a que os homens esto obrigados reciprocamente, na qualidade de homens, ou seja, na qualidade de serem feitos para viver em sociedade, os quais tm necessidade de ajuda mtua, para a prpria preservao e felicidade e para viverem de maneira adequada sua natureza. Ora, desde que as Naes no esto menos submetidas que os particulares s leis naturais 5), os deveres que um homem tem para com outros homens, uma Nao os tem de maneira prpria para com outras Naes (Preliminares, 1 e segs.). Tal o fundamento desses deveres comuns, desses ofcios de humanidade, aos quais as Naes esto mutuamente obrigadas umas para com outras. Em geral, eles consistem em fazer tudo o que est em nosso poder para o bem-estar e felicidade alheio, medida que esse dever possa conciliar-se com os deveres acerca de ns mesmos.
E SEU Os

2:

3: PRINCP10

DE TODOS OS DEVERES

DAS

A natureza e a essncia do homem, incapaz de ser suficiente para si mesmo, de se aperfeioar e de viver feliz sem a assistncia de seus semelhantes, deixam claro que o seu destino viver em uma sociedade de ajuda mtua e, por conseguinte, que todos os homens so obrigados, pela sua prpria natureza e essncia, a trabalharem conjuntamente e em comum para o aperfeioamento do prprio ser e do Estado a que pertencem. O mais seguro meio de conseguir este propsito que cada qual trabalhe primeiramente para si prprio e em seguida para os outros, levando-nos a concluir que tudo o que devemos a ns mesmos, o devemos tambm para os outros, medida que tenham realmente necessidade de ajuda

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e que possamos d-la sem negligenciar a ns mesmos. Desde que, pois, uma Nao deve, sua maneira, para outra Nao, o que um homem deve para outro, podemos formular ousadamente o seguinte princpio geral: cada Estado deve a outro Estado o que ele deve a si mesmo medida que este outro tenha necessidade real de ajuda, e que ele possa conceder essa ajuda sem negligenciar os deveres para consigo mesmo. Tal a eterna e imutvel lei da natureza. Aqueles que poderiam encontrar aqui uma subverso completa de uma poltica sadia sero tranqilizados das duas consideraes seguintes: 1) Os rgos da sociedade, ou os Estados soberanos, so muito mais capazes que os indivduos de serem auto-suficientes e, conseqentemente, a assistncia mtua entre Estados no to necessria e nem a prtica to freqente. Com efeito, em todas as cousas que uma Nao pode fazer por si prpria, nenhuma ajuda lhe devida pelas demais. Os deveres de uma Nao para consigo mesma e, principalmente, o cuidado com a sua prpria segurana, exigem muito mais circunspeco e reserva que aqueles necessrios a um indivduo em relao assistncia devida aos outros. Desenvolveremos estas consideraes em breve. 4: DEVERES DE UMA NAO PARA ACONSERVAO DAS DEMAIS: Todos os deveres de uma Nao consigo mesma tm por objeto a preservao e perfeio de si prpria e a de seu Estado. Os pormenores consignados no primeiro Livro desta obra servem para indicar os vrios objetos em relao aos quais um Estado pode e deve assistir outro Estado. Toda Nao deve, havendo necessidade, trabalhar para a conservao das demais e para preserv-las de uma runa funesta medida que ela possa faz-lo sem correr grande risco. Assim, quando um Estado vizinho for atacado injustamente por um inimigo poderoso, que ameaa oprimi-lo, se for possvel defend-lo sem se expor a grave perigo, no h dvida que deve ser feito. No se deve objetar que no permitido a um soberano expor a vida de seus soldados para a salvao de uma Nao estrangeira com a qual ele no tenha contratado nenhuma aliana defensiva. Pode ele prprio vir a encontrar-se na necessidade de ajuda e, portanto, pr

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em vigor esse esprito de assistncia mtua significa trabalhar para a segurana de sua prpria Nao. Tambm a poltica vem aqui em apoio obrigao e ao dever. Os prncipes so interessados em sustar o progresso de um reino ambicioso que deseja expandir-se mediante a subjugao de seus vizinhos: uma liga poderosa formou-se em favor das Provncias ameaadas de sofrer o jugo de Lus XIV (4); quando os turcos sitiaram Viena, o bravo Sobieski,rei daPolnia, foi o libertador da Casa da ustria(5), talvez de toda a Alemanha, alm de seu prprio reino. 5: A NAO DEVE ASSISTIR UM POVO DESOLADO PELA FOME E POR OUTRAS CALAMIDADES: Pela mesma razo, se um povo for atingido pela fome, todos aqueles que tiverem provises devem assisti-lo em sua necessidade, sem todavia se exporem penria. Mas se esse povo puder pagar pelas provises que lhe so fornecidas, permitido vender as provises por justo preo pois no se lhe deve doar o que ele pode obter por si mesmo e, conseqentemente, ningum est obrigado a doar cousas que ele prprio tenha condies de comprar. A assistncia nessa penosa circunstncia to essencial humanidade que no se conhece Nao, mesmo pouco civilizada, que a ela tenha faltado. O grande Henrique IV no pde negar essa assistncia aos rebeldes obstinados que desejavam a sua destruio. (6) Qualquer que seja a calamidade que aflige um povo, a mesma assistncia lhe devida. Coletas pblicas tm sido em pequenos Estados da Sua em favor de algumas cidades ou aldeias de pases vizinhos arruinadas por incndio, e ajuda abundante tem sido dada sem que essa boa obra tenha sido prejudicada por diferenas de religio. Os infortnios de Portugal deram Inglaterra a oportunidade de cumprir os deveres de humanidade com a nobre generosidade caracterstica de uma grande Nao. primeira notcia do desastre de
(4)
(5)

Em 1672. Ele venceu os turcos e fez levantar o stio de Viena, em 1683. Nos tempos do famoso assdio de Paris.

(6)

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Lisboa, o Parlamento consignou um fundo de libras esterlinas para o alvio do povo desditoso; o rei acrescentou a esse fundo quantias considerveis; navios foram incumbidos de obter provises e auxlios de toda espcie, e a chegada deles convenceu os portugueses de que diferenas de crenas e cultos no detm aqueles que tm cincia do dever para com a humanidade. Na mesma ocasio, o rei da Espanha manifestou a sua ternura, humanidade e generosidade para com um aliado prximo. 6: A CONTRIBUIR PARA A PERFE](;O DAS DEMAIS: A Nao no deve limitar-se preservao de outros Estados, mas deve tambm contribuir para a perfeio deles, de acordo com o seu poder e com a necessidade da ajuda. J mostramos 13) que esta obrigao geral lhe imposta pela sociedade natural. apropriado desenvolver aqui esta obrigao com pormenores. Um Estado mais ou menos perfeito conforme ele possa mais ou menos alcanar o fim da sociedade civil, o qual consiste em obter para os cidados os bens de que eles necessitem para o conforto e os prazeres da vida; e assegurar a cada qual o gozo pacfico do que lhes pertence, os meios certos de obter justia e, enfim, defender-se contra toda violncia estrangeira (Livro I, 15). Toda Nao deve, pois, contribuir, quando chegar a ocasio e de acordo com seu poder, no somente para permitir a outra Nao usufruir dessas vantagens, mas tambm para torn-la capaz de buscar essas vantagens por si mesma. assim que uma Nao sbia no deve rejeitar iniciativa de uma outra que, desejando sair da barbrie, lhe venha pedir professores para instrui-la. Aquela que tem a felicidade de ser governada por leis sbias deve considerar seu dever comunic-las na ocasio oportuna. Assim, quando a sbia e virtuosa Roma enviou embaixadores para a Grcia na busca de boas leis, os gregos no se recusaram a atender solicitao to razovel e louvvel. 7: NO PEI A Mas se verdade que uma Nao obrigada a contribuir da melhor maneira ao aperfeioamento das demais, ela

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no tem o direito de for-las a aceitar seus oferecimentos de ajuda. A tentativa de fazer tal seria uma violao da liberdade natural. Para compelir algum a receber um benefcio, preciso ter autoridade sobre ele, e as Naes so absolutamente livres e independentes 4). Estes ambiciosos europeus que atacaram as Naes americanas e as submetiam sua vida dominao, para civiliz-las, diziam eles, e para instrui-las na verdadeira religio; estes usurpadores, digo, justificavam-se mediante pretexto igualmente injusto e pouco consistente. Surpreendemonos ao ouvir o sbio e judicioso Grcio nos dizer que um soberano pode com justia pegar em armas para punir Naes que so culpadas de crimes graves contra a lei natural, tratam desumanamente ospais e as mes, como faziam os sogdianos, comiam humana, como faziam etc.(/) Ele incidiu nesse erro porque atribuiu a todo os antigos homem independente, e por isso mesmo a todo soberano o direito, no sei de que origem, de punir transgresses referentes a grave violao do direito da natureza, mesmo aquelas que no afetam os seus direitos, nem a sua segurana. Mas temos mostrado (Livro I, 169) que o direito de punir decorre unicamente do direito de segurana, por conseguinte esse direito no compete aos homens seno contra aqueles que os tenham ofendido. No percebeu Grcio que, apesar de todas as precaues acrescidas nos pargrafos seguintes, a sua viso abre as portas a todos os furores do entusiasmo e do fanatismo e d aos ambiciosos inmeros pretextos? Maom e seus sucessores devastaram e subjugaram a sia para a unidade de Deus ofendido; todos aqueles que eles considerava como aliciadores ou idlatras eram vtimas de seu santo furor. 8: Do DIREITO DE PEDIR OS OFCIOS DE HUMANIDADE: Desde que essas obrigaes ou esses ofcios de humanidade devam ser prestados de Nao a Nao, quando uma delas necessite e outra possa conced-los razoavelmente,e uma vez que toda Nao livre,independente e moderadora em suas aes, compete a cada uma decidir se est na posio de pedir
(7)

Droit de la

et de la paix, Liv. II; capo XX, XI.

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ou de conceder alguma cousa a esse respeito. Assim, toda N ao tem um direito perfeito de pedir a uma outra a assistncia e os ofcios de que acredita ter necessidade: impedi-la seria cometer-lhe injria. Se ela os demandar sem necessidade, ela peca contra o seu dever; mas ela no depende, a esse respeito, do julgamento de ningum. Ela tem o direito de pedi-los, mas no o de exigi-los.

9": Do DIREITO DE JULGAR SE POSSVEL CONCED-LOS: Desde que

esses ofcios so somente devidos em caso de necessidade, e por aquele que pode conced-los sem prejudicar a si prprio, compete, por outro lado, Nao demandada decidir se o caso realmente o exige, e se as circunstncias lhe permitem conced-los razoavelmente em conformidade com o que essa Nao deve sua prpria segurana e a seus interesses. Por exemplo, se uma Nao necessita de trigo e busca compr-lo de outra, cabe a esta julgar se, para atender o pedido, no correr o risco de cair em total escassez. Se houver recusa, esta deve ser aceita pacientemente. Vimos ter a Rssia dado exemplo de sbio cumprimento desses deveres. Ela assistiu generosamente a Sucia, ameaada de fome; mas ela recusou a outras potncias a possibilidade de comprar trigo na Livnia porque ela tinha necessidade desse trigo para si prpria e, sem dvida, tambm por razes superiores de poltica. 100: UMA NO PODE CONSTRANGER OUTRA A PRESTAR-LHE ESSES EVENTUAL RECUSA CONSTITUI INJRIA: A Nao tem, pois, somente um direito imperfeito aos ofcios de humanidade; ela no pode forar outra Nao a conceder esses oficios. Aquela que os recusar, sem boa razo, comete ofensa contra a eqidade, que consiste em agir de conformidade com o direito imperfeito de outrem; mas essa Nao no comete uma injria, uma vez que a injustia ou a injria consiste em ferir o direito perfeito de outrem. 11: Do AMOR RECPROCO DAS Nxcous: impossvel que as Naes cumpram todos esses deveres mtuos, se elas no se amarem. Os oficios

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de humanidade devem proceder dessa fonte pura; eles lhe guardaro o carter e a perfeio. Ver-se-, assim, as Naes ajudarem-se com sinceridade e generosidade, trabalharem diligentemente para a felicidade comum e promoverem a paz sem cime e sem desconfiana. Ver-se- uma amizade efetiva reinar entre elas. Este feliz estado consiste em afeio recproca. 12: CADA NAAo DEVE CULTIVAR AAMIZADE DAS DEMAlS: Toda Nao deve cultivar a amizade das demais e evitar cuidadosamente o que possa torn-las inimigas. Naes sbias e prudentes freqentemente o fazem por motivos de interesse presente e direto; um interesse mais alto, mais geral e menos direto, muito raramente motivo de polticas. Se inegvel que os homens devem amar-se uns aos outros, para atender aos desgnios da natureza, e em cumprimento dos deveres que ela lhes impe, assim como para atender s prprias vantagens, pode-se duvidar que as Naes no tenham tambm a mesma obrigao? Est no poder dos homens, distribudos em diferentes grupos polticos, a capacidade de romper os ns da sociedade universal que a natureza estabeleceu entre eles? EM VISTA DA UTILIDADE DOS DEMAIS EDAR-LHES 13: BONS EXEMPLOS: Se um homem deve pr-se a servio de outros homens e um cidado a servio de seus concidados e de sua ptria, uma Nao, ao aperfeioar-se a si prpria, deve tambm propor-se a se tornar mais capaz de concorrer para a felicidade dos demais povos. Ela deve buscar dar-lhes bons exemplos e evitar apresentar-lhes maus exemplos. A imitao familiar ao gnero humano; imitam-se algumas vezes as virtudes de uma Nao clebre e, mais freqentemente, os seus vcios e caprichos. Desde que a glria um bem precioso para uma Nao, como temos mostrado em captulo especial (Livro I, capo XV), entre as obrigaes de um povo est a de cuidar da glria dos demais povos. Em primeiro lugar, ele deve contribuir oportunamente

14: CUIDAR DE SUA

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para capacit-los para merecerem uma verdadeira glria; em segundo lugar, ele deve render-lhes a esse respeito toda a justia que lhes devida e contribuir, na medida do possvel, para que a justia lhes seja rendida por todo o mundo; enfim, ele deve suavizar caridosamente, ao invs de envenenar, o efeito mau que algumas faltas leves possam produzir. 15: A
OFCIOS DIFERENA RELIGIO NO DEVE rMPEDIR A PRESTAO DOS

Pela maneira com que acima estabelecemos a obrigao de prestar os ofcios de humanidade, constata-se que essa obrigao est baseada unicamente na natureza do homem. Assim, nenhuma Nao pode recusar tais ofcios em favor de outra Nao sob pretexto de que professam religio diferente. Basta ser homem para merec-los. A conformidade de crena e de culto pode bem tornar-se um novo elo de amizade entre os povos; mas a diferena entre eles no deve despojar a qualidade de homem, nem os sentimentos que lhe dizem respeito. J relatamos (5) alguns exemplos dignos de imitao: faamos aqui justia ao pontfice que hoje ocupa a sede de Roma; ele acaba de dar um notvel exemplo e bem digno de louvor. Este prncipe, ao saber que havia diversos navios holandeses, em Cit-Vcchia, temerosos ento dos corsrios argelinos, que os impediam de seguir viagem no mar, ordenou s fragatas da Igreja escolt-los e o nncio papal em Bruxelas recebeu instrues para declarar aos ministros dos Estados Gerais que Sua Santidade entendeu-se no dever de proteger o comrcio e de cumprir os deveres de humanidade, sem se deter em diferena de religio. Tais belos sentimentos somente contribuem para tornar Benedito XIV venervel aos prprios protestantes.
HUMANIDADE:

16: E MEDIDA DOS OFCIOS DE HUMANIDADE: Qual seria a felicidade do gnero humano se estes amveis preceitos da natureza fossem observados em todo lugar! As Naes comunicariam entre si os seus bens e conhecimentos; uma paz profunda reinaria sobre a terra e a enriqueceria com seus frutos preciosos; a indstria, as cincias e as artes seriam devotadas nossa felicidade tanto quanto s nossas

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necessidades. Meios violentos no mais seriam usados para decidir controvrsias que poderiam surgir. Eles seriam extintos pela moderao, justia e eqidade. O mundo pareceria uma grande repblica; os homens viveriam em toda a parte como irmos e cada um deles seria cidado do universo. Por que esta idia no seno um belo sonho? Ela decorre, apesar de tudo, da natureza e da essncia do homem. Mas as paixes desenfreadas e o interesse individual e mal compreendido nunca permitiro que ela se corporifique na realidade. Vejamos, pois, quais limitaes o estado atual dos homens e os princpios e a conduta ordinria das Naes podem influir na prtica desses preceitos da natureza, to belos em si mesmos. A lei natural no pode condenar os bons a se tornarem alvo de maldosos e vtimas da injustia e da ingratido dos mesmos. Uma experincia funesta nos faz ver que a maioria das Naes somente busca fortalecer-se e enriquecer-se s custas de outras, para domin-las e mesmo oprimi-las e submet-las a seu jugo, se a oportunidade se apresentar. A prudncia no nos permite fortalecer um inimigo, ou um homem em quem descobrimos o desejo de despojar-nos e oprimir-nos, e o cuidado com a nossa prpria segurana tambm nos probe de faz-lo. Vimos (3 e segs.) que uma Nao deve s demais a assistncia e os ofcios de humanidade apenas enquanto possa conced-los sem faltar a seus deveres para consigo mesma levando a concluir que, evidentemente, se o amor universal ao gnero humano a obriga a conceder sempre e para todos, inclusive aos inimigos, a assistncia que possa tender a torn-los mais moderados e mais virtuosos, essa mesma Nao no est obrigada a prestar-lhes socorros que, provavelmente, se tornariam funestos para si mesma. assim:
Apoiemo-nos ainda aqui na autoridade de Ccero: "Todos os homens", diz esse excelente filsofo, "devem propor-se constantemente a conciliar a utilidade individual com a utilidade comum. E se a natureza nos prescreve guerer o bem de todo homem, qualquer que seja, pela nica razo de que homem, preciso necessariamente, segundo essa mesma natureza, que a utilidade de todos os homens seja comum" (De Officiis., IlI, capo V).

202 Que a extrema importncia do comrcio, no somente para suprir as necessidades e as comodidades da vida, mas tambm para fortalecer o Estado e fornecer-lhe os meios de defesa contra seus inimigos e contra a insacivel avidez das Naes que buscam atrair tudo para si mesmas e se apoderar de tudo com exclusividade; assim, digo, que essas circunstncias autorizam uma Nao, sendo dona de um ramo de comrcio ou do segredo de fabricao de uma importante manufatura, a reservar para si prpria fontes de riqueza e a tomar medidas para impedir que elas sejam transferidas a estrangeiros. Mas em se tratando de cousas necessrias vida, ou fundamentais para o seu bem-estar, a Nao deve vend-las para outros por um preo justo e no fazer uso de seu monoplio como um meio de odiosa afronta. O comrcio a fonte principal da grandeza, do poder e da segurana da Inglaterra; e quem ousar censur-la se ela trabalha para conservar os diversos ramos do comrcio em suas mos, por todos os meios justos e honestos? Com respeito a cousas que so direta e mais particularmente teis para a guerra, nada obriga uma Nao a transferi-las para outras Naes por menos que estas paream suspeitas; e a prpria prudncia lhe probe de faz-lo. Assim, as leis romanas proibiam, com justia, transferir s Naes brbaras a arte de construir galeras. Tambm as leis da Inglaterra tm determinado que o melhor mtodo de construir navios no seja conhecido de estrangeiros. Essa precauo deve ser levada adiante em relao s Naes mais justamente suspeitas. Assim, quando o poder dos turcos estava, por assim dizer, em ascenso, no fogo de suas conquistas, todas as Naes crists, independentemente de qualquer hipocrisia, deviam considerlos como inimigos. As mais longnquas dessas Naes, que no estavam em conflito real com eles, podiam muito bem romper todo o comrcio com uma potncia que prometia submeter pela fora das armas todos aqueles que no reconhecessem a autoridade do seu profeta. Observemos ainda, com especial referncia ao prncipe, que ele no pode guiar-se,
17:LIMITAO PARTICULAR EM RELAO AO PRNCIPE:

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sem reserva, por sentimentos magnnimos e desinteressados, e pela prpria generosidade, porque nem sempre se trata de agir por interesse prprio mas porque pode estar em jogo aqui o interesse da Nao que foi confiada aos seus cuidados. Ccero diz que uma nobre alma despreza os prazeres, as riquezas, a prpria vida e os conta como nada, quando se trata do bem comum. (9) Ele est certo, e tais sentimentos so dignos de admirao em determinada pessoa. Mas no podemos ser generosos com o bem de outrem. O dirigente da Nao, quando lida com negcios pblicos, no deve fazer uso desses sentimentos seno com moderao e na medida em que eles concorrem para a glria e o progresso do Estado. Quanto ao bem comum da sociedade humana, ele deve ter o mesmo cuidado que a Nao que ele representa estaria obrigada a ter, caso ela mesma governasse os seus negcios. 18: NENHUMA NAO DEVE LESAR AS DEMAIS: Mas se os deveres de uma Nao acerca de si prpria limitam a obrigao de prestar os ofcios de humanidade, eles no podem induzir nenhuma Nao a cometer danos s demais, a causar-lhes prejuzos, a les-las, se me permitido usar a palavra latina laedere. Se todo homem obrigado pela sua natureza a trabalhar para a perfeio dos demais, ele, com mais razo, est proibido de contribuir para a imperfeio alheia. Os mesmos deveres so impostos s Naes (Preliminares, 5 e 6). Nenhuma delas pode praticar qualquer ato tendente a prejudicar a perfeio das demais ou a retardar-lhes o progresso, isto , a les-las. E desde que a perfeio de uma Nao consiste em estar apta a obter o fim da sociedade civil e a no faltar s cousas necessrias para esse mesmo fim (Livro I, 14), nenhuma Nao tem o direito de impedir outra de alcanar o fim da sociedade civil, ou de torn-lo impossvel de ser alcanado. Este princpio geral probe as Naes de qualquer prtica tendente a criar problemas em outro Estado, a nele implantar a discrdia, a corromper-lhe os cidados, a afastar-lhe
(9)

De OJliciis, Lib. III, capo V.

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os aliados, a suscitar-lhe inimigos, a empanar-lhe a glria e a priv-lo de suas vantagens naturais. De resto, ser facilmente compreendido que a negligncia ou mesmo a recusa em cumprir deveres comuns de humanidade no constitui uma forma de lesar alguma outra Nao. Negligenciar ou recusar contribuir para a perfeio no constitui atentado contra essa perfeio. Cabe ainda observar que, ao fazer uso de nosso direito, quando fazemos o que devemos a ns mesmos ou aos outros e se os nossos atos resultarem em algum dano perfeio de outrem, algum dano sua situao externa, ns no somos culpados de ter lesionado algum. Fazendo o que nos permitido fazer, ou mesmo o que devemos fazer, o dano que disso resulta para outrem no est em nossa inteno; um mero acidente, cujas circunstncias particulares devem determinar a imputabilidade. Por exemplo, em caso de legtima defesa o mal que infligimos ao agressor no o que tnhamos em mente; agimos tendo em vista a nossa segurana e estamos a usar de nosso direito; assim o agressor o nico responsvel pelo dano que ele atrai. 19: DAS OFENSAS: Nada mais oposto aos deveres da humanidade, nem mais contrrio sociedade entre as Naes, que as ofensas, ou as aes que uma outra recebe com justo desprazer. Toda Nao deve, pois, abster-se com cuidado de no ofender verdadeiramente nenhuma outra. Digo verdadeiramente pois ocorre que quando algum se sente ofendido por nossa conduta, quando nada estamos fazendo seno simplesmente o uso de nossos direitos, ou cumprindo nossos deveres, a culpa alheia e no nossa. As ofensas colocam tanto azedume entre as Naes que se deve evitar que elas ocorram, quando possvel faz-lo sem inconveniente e sem descumprimento de deveres. Algumas medalhas e pilhrias de mau gosto, afirma-se, irritaram a tal ponto Lus XIV contra as ProvnciasUnidas que o teria levado a promover, em 1672, a runa dessa repblica.

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20: MAu COSTUME DOS ANTIGOS: OS princpios estabelecidos neste captulo, esses preceitos sagrados da natureza, foram por muito tempo desconsiderados nas relaes entre as Naes. Os antigos no acreditavam estar obrigados a nada em relao a povos aos quais no estavam ligados por tratados de amizade. Os judeus, sobretudo, colocavam uma parte de seu fervor a odiar todas as Naes; tambm eram, em reciprocidade, detestados e desprezados. Enfim, a voz da natureza foi ouvida pelos povos civilizados, os quais reconheceram que todos os homens so irmos. Quando vir o tempo feliz em que eles agiro como tais?
CAPTULO

II

Do comrcio entre as Naes

21: OBRIGAAo GERAL DAS NAES DE COMERCIAR: Todos os homens devem encontrar na terra as cousas de que necessitem. Enquanto durou a comunidade primitiva, eles as coletavam onde quer que fossem achadas, enquanto outrem delas j no houvesse se apossado para o prprio uso. A introduo do domnio e da propriedade no pode privar os homens de um direito essencial e, conseqentemente, no poderia ter ocorrido a no ser que se lhes deixasse algum meio de obter o que lhes fosse til ou necessrio. Esse meio o comrcio: por meio dele, todo homem pode ainda prover s suas necessidades. Desde que as cousas ficaram sujeitas ao regime da propriedade, no se pode apropriar-se das cousas de que necessite sem consentimento do proprietrio nem, em princpio, obt-las por qualquer meio; mas pode-se compr-las ou troc-las por cousas equivalentes. Os homens esto, pois, obrigados a exercer o comrcio para no se afastar dos desgnios da natureza, e essa 5). A natureza obrigao estende-se a Naes ou Estados raramente produz em um mesmo lugar tudo o que os homens necessitam. Um pas abundante em trigo, outro, em pastos e animais; um terceiro em madeiras e metais, etc. Se todos esses pases comerciarem uns com

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os outros como convm humanidade, nenhum se privar das cousas teis e necessrias e os desgnios da natureza, me dos homens, sero cumpridos. Acrescentemos que um pas est mais apto a produzir um bem que outro, por exemplo, uvas mais que gros. Se o comrcio e a permuta tiverem lugar, cada povo, certo de obter o que lhes falta, usar suas terras e suas indstrias da maneira mais vantajosa e, com isso, o gnero humano ganhar. Tais so os fundamentos da obrigao geral pela qual as Naes promovero o comrcio recproco. DEVEM FAVORECER o COMRCIO: Cada Nao deve, 22: As N assim, no somente engajar-se em tal comrcio, tanto quanto possa faz-lo razoavelmente, mas mesmo proteg-lo e favorec-lo. O cuidado com as vias pblicas, a segurana dos viajantes, o estabelecimento de portos, mercados e feiras bem regulamentadas e bem policiadas, tudo isso concorre para esse fim e se, eventualmente, despesas precisarem I, 103), pode ser ser feitas, cada Nao, como j foi lembrado indenizada por meio de pedgios e tributos eqitativamente proporcionais. 23: DA LIBERDADE DO COMRCIO: Desde que a liberdade muito favorvel ao comrcio, as Naes tm tambm o dever de mant-la tanto quanto possvel e no importun-la ou restringi-la sem necessidade. Assim, esses privilgios e direitos especiais existentes em muitos lugares, to onerosos ao comrcio, so condenveis, a menos que sejam fundamentados em razes muito importantes, baseadas no bem pblico. Toda 24: Do DIREITO DE COMERCIAR PERTENCENTE S Nao, em virtude de sua liberdade natural, tem o direito de comerciar com outras que tambm desejam faz-lo e quem prejudic-la no exerccio desse direito comete injria contra ela. Os portugueses, no tempo em que dominavam no Oriente, quiseram excluir as outras Naes da Europa de todo comrcio com os povos indgenas. Mas desprezou-se essa pretenso to injusta quanto quimrica e outras Naes concordaram em considerar os atos de violncia destinados a sustent-la como justos

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motivos de guerra. Esse direito comum das Naes de comerciar agora geralmente reconhecido com o nome de liberdade de comrcio.
25: COMPETE A CADA NAAo JULGAR SE EST EM CONDIES DE EXERCER O COMRCIO: Embora uma Nao tenha, em geral, o dever de promover o comrcio com outras, e enquanto cada Nao tem o direito de comerciar com aquelas Naes que esto abertas para o comrcio, ela deve evitar, por outro lado, todo comrcio que lhe seja desvantajoso ou perigoso sob qualquer aspecto I; 98); e desde que os deveres para consigo prpria prevalecem, em caso de conflito, sobre os deveres para com outrem, ela tem o pleno direito de decidir a respeito do que I, 92) que compete a cada Nao lhe til ou salutar. J vimos decidir se lhe conveniente ou no realizar tal ou qual comrcio. Ela pode, ainda, aceitar ou recusar oferecimento de comrcio proposto por estrangeiros sem que se lhe possa acusar de injustia ou pedir motivo dessa deciso, ou ainda causar-lhe constrangimento. Ela livre na administrao de seus negcios e disso no deve satisfaes a ningum. A obrigao de comerciar com outros , em si mesma, imperfeita (Preliminares, 17), e no lhe confere seno um direito imperfeito. Essa obrigao cessa inteiramente nos casos em que o comrcio lhe seja danoso. Quando os espanhis atacavam os americanos com o pretexto de que estes povos se recusavam a comerciar, estavam, na verdade disfarando com vo colorido a sua insacivel cupidez. 26: NECESSIDADE DOS TRATADOS DE COMRCIO: Estas poucas palavras, acrescidas ao que j dissemos I, Capo VIII), podem ser suficientes para estabelecer os princpios do direito natural das gentes sobre o comrcio entre Naes. No difcil estabelecer as linhas gerais do dever dos povos a esse respeito e o que a lei natural lhes prescreve para o bem da grande sociedade do gnero humano. Mas como cada Nao somente obrigada a comerciar com as outras tanto quanto possa faz-lo sem faltar em seu dever para consigo mesma, e como tudo depende, enfim, do julgamento que cada Estado far do

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que pode e deve fazer em casos particulares, as Naes no podem contar seno com razes gerais, como a liberdade que pertence a cada qual de exercer o comrcio e, de resto, com certos direitos imperfeitos, dependentes do julgamento de outrem e conseqentemente sempre incertos. Se elas desejam, pois, assegurar-se de alguma cousa constante e determinada, preciso que elas o alcancem por meio de tratados. 27: GERAL SOBRE ESSES TRATADOS: Visto que uma Nao tem pleno direito de ser guiada em suas relaes comerciais por consideraes de utilidade ou bem-estar, ela pode estabelecer sobre essa matria os tratados que julgar adequados, sem que nenhuma outra Nao tenha o direito de sentir-se ofendida por isso, contanto que tais tratados no firam direitos perfeitos de outrem. Se uma Nao, ao fazer certos acordos, excluir a si prpria sem necessidade, ou sem motivos relevantes do comrcio geral que a natureza recomenda aos povos, essa Nao peca contra o seu dever. Mas como compete apenas a ela decidir a respeito (Preliminares, 16), as demais devem admiti-lo, respeitando-lhe a liberdade natural e mesmo pressupondo que ela age por boas razes. Todo tratado de comrcio que no transgride direito alheio perfeito , pois, permitido entre as Naes, e nenhuma delas pode opor-se sua execuo; mas o tratado somente legtimo e louvvel em si mesmo se respeitar o interesse geral tanto quanto for possvel e razovel, nas circunstncias prprias de cada caso. 28: DEVER DAS NAES QUE CELEBRAM ESSES TRATADOS: Como as promessas e compromissos devem ser inviolveis, uma Nao sbia e prudente ir examin-los cuidadosamente e considerar de forma madura um tratado de comrcio antes de conclu-lo, tomando cuidado para que esse tratado no fira seus deveres para consigo prpria e os deveres para com as demais Naes. 29: TRATADOS PERPTUOS E TEMPORRIOS OU REVOGVEIS: As Naes podem embutir em seus tratados clusulas e condies que

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julgarem convenientes. Elas podem estipular que o tratado para ser perptuo, temporrio ou sujeito a certas contingncias. O mais prudente , ordinariamente, no se comprometer de forma permanente uma vez que, no curso do tempo, podem surgir circunstncias que possam tornar o tratado demasiado oneroso para uma das partes contratantes. Pode-se tambm fazer tratado sobre um direito precrio, revogvel pela vontade dos contratantes. J observamos (Livro I, 94) que a mera permisso, tanto quanto o uso por longo tempo, no d nenhum direito perfeito ao comrcio (Ibid., 95). Tal hiptese no deve ser confundida com o direito dos tratados, nem mesmo daqueles tratados que somente conferem direito precrio.

30: NAo SE PODE CONCEDER A TERCEIROS QUALQUER DIREITO

CONTRRIO S NORMAS DE UM TRATADO: Desde que uma Nao assumiu compromissos por um tratado, ela no pode mais exercer a liberdade contra o teor desse tratado, que ela tinha anteriormente, de garantir direitos para outros em conformidade com os deveres de humanidade ou com a obrigao geral do comrcio recproco: porque ela somente pode fazer a outrem o que estiver em seu poder; e quando ela se privou da liberdade de dispor de uma cousa, essa cousa no mais se situa no mbito de seu poder. Assim, se uma Nao comprometeu-se com outra a vender-lhe, com exclusividade, certas mercadorias, ou gneros alimentcios, trigo por exemplo, ela no pode mais vend-los alhures. O mesmo ocorre se ela estiver comprometida a comprar certas cousas apenas de determinada Nao.

31: COMO PERMITIDO SUBTRAIR POR UM TRATADO ALIBERDADE DE

COMERCIAR COM OUTROS POVOS: Mas pode-se perguntar como, e em que grau, e em quais ocasies, permitido a uma Nao assumir compromissos que lhe subtraiam a liberdade de cumprir os seus deveres para com as demais Naes. Visto que os deveres que possumos para conosco mesmos prevalecem sobre os deveres para com outrem, se uma Nao achar que um tratado deste carter ser para o seu bem-estar e progresso,

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inquestionavelmente, lhe permitido celebr-lo; ainda mais porque com esse tratado ela no rompe com o comrcio geral das Naes; ela apenas transfere algo que lhe pertence para outras mos ou est assegurando para um povo em particular certas cousas de que ele necessita. Se um Estado que necessita de sal, pode dele assegurar-se junto a outro Estado, comprometendo-se a vender-lhe exclusivamente seu trigo ou seus animais, pode-se questionar se no se pode concluir tratado to salutar? Trigo ou animais esto entre os bens de que o Estado dispe para satisfazer as suas prprias necessidades. Mas, de acordo com os princpios focalizados no 28, compromissos dessa natureza no devem ser assumidos sem razes muito boas. De resto, sejam essas razes boas ou ms, o tratado vlido e as demais Naes no tm o direito de contest-lo (27). 32: UMA NAO PODE RESTRINGIR O SEU COMRCIO EM FAVOR DE OUTRA: Toda Nao livre para renunciar ao prprio direito. Assim, ela pode restringir o seu comrcio em favor de outra Nao, comprometer-se a no negociar determinada espcie de mercadoria, a abster-se de comerciar com este ou aquele pas, etc. Se ela violar os seus compromissos, ela transgride o direito perfeito da Nao com a qual ela convencionou e, neste caso, esta tem o direito de reprimi-la. Nenhum dano feito para a liberdade natural de comrcio por tratados dessa natureza, pois esta liberdade consiste meramente no fato de que nenhuma Nao pode ser perturbada em seu direito de comerciar com aquelas Naes que concordam em negociar com ela e cada qual permanece livre para levar adiante ou desistir de um comrcio particular, de acordo com o que ela julgar ser mais conveniente para o Estado. 33: A NAO PODE APROPRIAR-SE DE UM RAMO DE COMRCIO: As Naes no se dedicam ao comrcio apenas para obter o que lhes for necessrio ou til; mas elas fazem disso tambm uma fonte de riqueza. Ora, onde h um ganho a alcanar, todos tm igual direito a alcan-lo, mas o mais diligente precede legitimamente os demais, ao apossar-se

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do bem destinado a um agente que o precedia. Nada impede que o mais diligente se assegure desse bem completamente se tiver meios legtimos de dele se apropriar. Quando, pois, certas cousas so possuidas somente por uma Nao, outra pode legitimamente obter por um tratado o privilgio exclusivo de compr-las para revend-las a terceiros. E, desde que indiferente para as Naes saber de quem elas obtm as cousas de que necessitam e desde que adquiridas por um preo justo, um monoplio que uma Nao possui no contrrio aos deveres gerais da humanidade, se ela disso no se prevalece com o propsito de vender as suas mercadorias por um preo injusto e infundado. Se a Nao abusa de seu direito para alcanar lucro exorbitante, ela transgride a lei natural pelo fato de privar as demais Naes da convenincia ou conforto que a natureza destina a todos os homens. A mesma transgresso ocorre se a Nao forar as demais a comprar o seu produto por um preo muito alto. Apesar de tudo nenhuma injria produzida por essa forma, porque, a rigor, e de acordo com o direito externo, o proprietrio de uma cousa quem tem o direito de guard-la ou de vend-la pelo preo que quiser. Assim, os holandeses, por um tratado com o rei de Ceilo, tornaram-se senhores do comrcio de canela e as demais Naes no podem queixar-se disso, enquanto eles mantiverem os seus lucros dentro dos justos limites. Mas em se tratando de bens necessrios vida, e o dono do monoplio desejasse mant-los a um preo excessivo, as demais Naes teriam o direito de, considerando o seu prprio bem-estar e o bem da sociedade humana, reunir-se para chamar razo o vido opressor. O direito s cousas necessrias bem distinto do direito s convenincias e confortos, sendo estes dispensveis se alcanarem preo demasiado alto. Seria absurdo se a subsistncia e bem-estar dos povos dependessem da avidez ou do capricho de um s. 34: Dos CNSULES: Uma das instituies modernas mais teis ao comrcio a dos cnsules. Trata-se de pessoas que, nas maiores praas de comrcio, e sobretudo nos portos de mar em pas estrangeiro, tm a

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misso de zelar pelo respeito aos direitos e privilgios da Nao a que pertencem e resolver as dificuldadesque possam surgir entre os mercadores junto quela Nao. Quando uma Nao tem relaes comerciais intensas com outro Estado, conveniente manter um cnsul nesse Estado e este deve admiti-lo. Todavia, como as Naes no esto absolutamente obrigadas a enviar e a receber cnsules, devem elas providenciar tal direito por via de tratado de comrcio. O cnsul, estando incumbido dos negcios de seu soberano e dele recebendo ordens, permanece obrigado a prestar contas dos seus atos. O cnsul no ministro pblico, como se ver da descrio que dele ser feita no quarto Livro desta obra, e no pode pleitear os privilgios desses ministros. Entretanto, como est encarregado de uma comisso por seu soberano e recebido nesta qualidade pelo Estado em que reside, ele deve usufruir, at certo ponto, da proteo do direito das gentes. O soberano que o recebe se compromete tacitamente, por isso mesmo, a dar-lhe toda a liberdade e toda a proteo necessria para que o cnsul exera convenientemente as suas funes. So condies necessrias, sem as quais a existncia de um cnsul seria intil e ilusria. As funes de um cnsul requerem, preliminarmente, que ele no seja sdito do Estado em que reside, pois ele seria obrigado a seguir-lhe as ordens em todas as causas e no estaria livre para realizar as funes de seu cargo. Essas funes parecem mesmo requerer que o cnsul seja independente da jurisdio criminal ordinria do lugar de residncia, de modo que no seja molestado ou aprisionado, a menos que cometa grave ofensa contra o direito das gentes. E, ainda que a importncia das funes consulares no seja suficientemente elevada para obter para a pessoa dele a inviolabilidade e absoluta independncia de que usufruem os ministros pblicos, ocorre que, como ele est sob a proteo especial do soberano que o emprega e incumbido de zelar pelos interesses do mesmo, se ele cometer qualquer transgresso, o respeito devido a seu superior requer seja ele reenviado

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a seu pas para nele ser punido. Esta a prtica de Estados que desejam preservar amigavelmente relaes recprocas, Mas o mais seguro caminho consiste em regulamentar essas questes, por meio de tratado de comrcio, na medida do possvel. de l'Ambassadeur. Livro I, seco 5, diz Wicquefort, no seu que os cnsules "no usufruem da proteo do direito das gentes, e eles esto submetidos, tanto em questes civis como criminais, jurisdio do lugar em que residem". Mas os exemplos que ele relata contradizem o seu entendimento. Os Estados-Gerais das Provncias Unidas, cujo cnsul a tinha sido afrontado e detido pelo governo de Cadiz,

ante de com a de gentes. E no ano de 1634, a VIII por da

tinha sido feita ao das de Veneza cogitou com o cometida pelo de .Ancona ao

O governador, aps suspeitar que o cnsul veneziano tinha dado informaes prejudiciais ao comrcio de Ancona, passou a persegui-lo, confiscou-lhe a mobilia e os papis, fazendo com que fosse citado, condenado revelia e banido com o pretexto de que ele tinha, tempo de epidemia, desembarcado mercadorias contrariamente a proibies. Em acrscimo, o governador mandou aprisionar o sucessor do cnsul. O Senado de Veneza, veementemente, insistiu para que uma reparao fosse feita e, por intermdio dos ministros da Frana, que temia uma ruptura aberta, o Papa obrigou o governador de Ancona a dar satisfao Repblica. Na falta de tratados, o costume deve servir de fonte jurdica em tais ocasies; pois presume-se que o Estado que recebe um cnsul sem condies expressas, o tenha feito em base consuetudinria.
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Da dignidade e igualdade das Naes. Ttulos e sinais de honra

35:DA DIGNIDADE DAS NAES OU ESTADOS SOBERANOS: Toda Nao, todo Estado soberano e independente, merecedor de considerao e

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respeito porque ocupa uma posio reconhecida na grande sociedade do gnero humano, porque independente de qualquer poder sobre a terra e porque uma reunio de um grande nmero de homens. O soberano representa toda a Nao cuja majestade ele rene na sua pessoa. Nenhum indivduo, mesmo que seja livre e independente, pode ser comparado a um soberano; seria igualar um nico homem a uma multido de seus semelhantes. As Naes e soberanos esto, pois, ao mesmo tempo, tanto na obrigao como no direito de manter as respectivas dignidades e exigir-lhes respeito, algo de importncia para a paz e a segurana deles prprios. 36: DA IGUALDADE ENTRE AS NAES: Tivemos ocasio de observar (Preliminares, 18) que a Natureza tem estabelecido uma igualdade perfeita de direitos entre Naes independentes. Em conseqncia, nenhuma delas pode, naturalmente, pretender ter prerrogativas superiores s demais. Tudo o que a qualidade de Nao livre e soberana confere a uma delas igualmente conferido s demais. 37: DA Assim, desde que a precedncia ou a primazia de categoria uma prerrogativa, nenhum soberano pode atribuir-se, por natureza ou por direito, essa prerrogativa. Por que Naes que dele no dependem ceder-lhe-iam alguma cousa contra a prpria vontade? No como um grande e poderoso Estado tem mais importante posio na sociedade universal que um Estado pequeno, razovel que o ltimo lhe ceda um primeiro lugar entre iguais, como ocorre em uma assemblia, e lhe testemunhe deferncias de mero cerimonial que, no fundo, no atentam contra o princpio de igualdade e no constituem seno uma prioridade formal. Outros iro naturalmente atribuir esse primeiro lugar para o mais poderoso e seria to intil como insensato o mais fraco querer contest-lo. A antigidade do Estado levada tambm em considerao nessas ocasies; um novo membro no pode privar outro das honras que j desfrute; e razes muito fortes seriam necessrias para que se lhe d preferncia em tal caso.

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38: A FORMA DE

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NO TEM INFLUNCIA ARESPEITO: A forma

de governo naturalmente estranha a essa questo. A dignidade, a majestade, reside originariamente no corpo do Estado; a do soberano provm do fato dele ser representante da Nao. Teria o Estado maior ou menor dignidade caso fosse governado por um ou por vrios? Hoje os reis atribuem-se superioridade de categoria sobre as repblicas; mas essa pretenso no tem nenhuma outra fundamentao seno a da superioridade de foras. Outrora, a repblica romana considerava todos os reis como bem abaixo de si mesma. Os monarcas da Europa no encontraram em seu caminho seno repblicas fracas e recusaram-se a admiti-las no nvel de igualdade. A repblica de Veneza e a das Provncias Unidas tm obtido as mesmas honras de cabeas coroadas; mas os seus embaixadores so precedidos pelos reis.

39: UM ESTADO DEVE MANTER ASUA CATEGORIA APESAR DE MUDANA

NA SUA FORMA DE GOVERNO: Seguindo os princpios acima estabelecidos, se uma Nao mudar sua forma de governo, ela manter o nvel de sua categoria e de suas honrarias. Quando a Inglaterra deps seus reis, Cromwell no sofreu nenhuma diminuio das honras que eram devidas Coroa ou Nao e soube manter em toda a parte o nvel que os embaixadores ingleses sempre possuram.

40: PRECISO OBSERVAR AESSE RESPEITO OS TRATADOS USOS VIGENTES:

Se os tratados ou o uso prolongado, baseado em consentimento tcito,

definiram a ordem de precedncia, devemos respeit-la. Questionar a hierarquia que, dessa maneira, foi atribuda a um prncipe apenas significa fazer-lhe ofensa, porque significaria marc-lo com desprezo ou violao de compromissos que lhe asseguraram um direito. Assim, a partilha feita a esse respeito na famlia de Carlos Magno, atribuiu o imprio ao filho mais velho e o filho mais novo, que recebeu o reino da Frana, lhe cedeu a precedncia, tanto mais facilmente quanto ainda persistia nesse tempo a idia da majestade do verdadeiro imprio romano. Os sucessores seguiram a regra ento estabelecida e os outros reis europeus os imitaram, e foi assim

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que a coroa imperial passou a ser reconhecida como pertencente ao primeiro nvel da cristandade. A maioria das demais coroas no est de acordo na questo do nvel hierrquico entre elas subsistente. Alguns quiseram considerar a precedncia do imperador como algo a mais que o primeiro lugar entre iguais e atribuir-lhe uma superioridade sobre todos os reis, numa s palavra, faz-lo chefe temporal da Cristandade.v" E parece, de fato, que vrios imperadores tiveram em mente pretenses semelhantes, como se, ao ressuscitar o ttulo do imperador romano, eles pudessem tambm reviver-lhe os direitos. Outros Estados puseram-se em guarda contra essas pretenses. Mzray'!" mostrou-nos as precaues tomadas pelo rei Carlos V quando o imperador Carlos IV veio para a Frana, "temeroso", disse o historiador, "que esse prncipe e seu filho, rei dos romanos, quisessem fundamentar algum direito de superioridade, sobre a sua cortesia". Bodin'l" relata que os franceses se sentiram ofendidos pelo fato de que o imperador Sigismundo "tomou assento na cadeira real, em pleno parlamento para armar cavaleiro o senescal de Beaucaire", acrescentando que "para reparar o grave erro" que se lhes tinha cometido, eles no permitiram que o mesmo imperador, quando em Lyon, l fizesse duque o conde de Savia. Hoje, um rei da Frana acreditaria sem dvida comprometer-se se tivesse o mais leve pensamento de que outrem pudesse atribuir-se alguma autoridade sobre o seu reino. 41: Do NOME E DAS HONRAS ATRIBUDOS PELA NAAo AO SEU DIRIGENTE: A Nao, tendo o direito de conferir a seu dirigente o grau de autoridade e os direitos que julga adequados, no menos livre com respeito ao nome, ttulos, e honras com que queira agraci-lo. Mas convm sua sabedoria, aos interesses de sua reputao, no
(10) Brtolo chegou a dizer que "so herticos todos aqueles que no crem que o Liv. I, capo imperador seja senhor de todo o mundo". Vide BODIN, De IX, p. m. 139.

(11) (12)

Histoire deFrance, explication des mdailles de De

V.

p. 138.

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afastar-se demasiado nesse particular da prtica geral dos povos civilizados. Observemos ainda que a prudncia deve aqui orientar a Nao e induzi-la a adequar os ttulos e as honras ao poder de seu dirigente e autoridade que ela quer seja deles revestido. verdade que ttulos e honras no decidem nada; eles so apenas denominaes e cerimnias vazias quando no so apropriados; mas quem pode negar a influncia deles sobre a mente dos homens? Eis aqui uma questo mais sria do que poderia parecer num primeiro momento. A Nao deve ter cuidado para no se diminuir perante outros povos e de no degradar seu dirigente por um ttulo demasiado inferior; ela deve acautelar-se mais ainda em no lhe inflar o corao com um nome vazio, por honras desmedidas, de induzi-lo a arrogar-se um poder superior, ou a adquirir por meio de conquistas injustas maior poder. Por outro lado, um ttulo ilustre pode induzir o dirigente a manter com mais firmeza a dignidade da Nao. As circunstncias determinam a prudncia, a qual confere a todas as cousas uma justa medida. ''A realeza", dizia um autor reputado e que tem autoridade nessa matria, "a realeza subtraiu a Casa de Brandenburg desse jugo de servido no qual a casa da ustria mantinha ento todos os prncipes da Alemanha. Era um incentivo que Frederico I lanava para toda a posteridade e pelo qual ele parecia dizer-lhe: Eu vos adquiri um ttulo, tornai-vos digno dele; eu lancei os fundamentos da vossa grandeza; cabe a vs complet-la't.v"
42: SE O SOBERANO PODE ATRIBUIR-SE AS HONRAS QUE QUISER: Se o dirigente do Estado soberano, ele tem em suas mos os direitos e a autoridade da sociedade politica, e pode, em conseqncia, dispor a respeito de ttulos e honras que lhe devem ser rendidos, a no ser que a lei fundamental os tenha prescrito ou que as limitaes feitas ao seu poder se oponham manifestamente queles que desejaria atribuir-se. Os seus sditos so obrigados a obedecer-lhe nisso, como todos os outros em que ele age em virtude de uma autoridade legtima. Foi assim que
(13)

Mmoires pour

l'Histoire de Brandenbourg.

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o czar Pedro, assentado na vasta extenso de seus Estados, concedeu a si mesmo o ttulo de imperador. 43: Do DIREITO DAS DEMAIS A ESSE RESPEITO: Todavia as

Naes estrangeiras no esto obrigadas a atender aos desejos do soberano que assume um novo ttulo, ou do povo que designa o seu dirigente com o nome que lhe apetece. 44: Do DEVER DAS NAC)ES: Entretanto, se o ttulo for razovel, de acordo com os usos recebidos, conveniente aos deveres naturais existentes entre as Naes dar a um soberano ou a qualquer dirigente do Estado o mesmo ttulo que o povo lhe concede. Se esse ttulo for contrrio ao costume, se ele indicar cousas que esse dirigente no possui, os estrangeiros podem recusar concordar com esse ttulo sem que esse dirigente tenha reservado pelo costume motivos para queixar-se. O ttulo de aos monarcas das grandes Naes. Os imperadores da Alemanha, por um longo tempo, pretenderam atribuir-se esse ttulo, como pertencente somente sua coroa imperial; mas os reis entenderam, com razo, no haver posio na terra mais eminente ou mais venervel que a dignidade deles mesmos; e recusaram a majestade a quem lhes tinha tambm recusado e, hoje, com apenas umas poucas excees fundamentadas em atributo prprio qualidade de rei. razes especiais, o ttulo de Como seria ridculo a um pequeno prncipe assumir o ttulo de rei e pretender ser designado por majestade, as Naes estrangeiras, ao recusar reconhec-lo como tal, estaro agindo de acordo com a razo e os prprios deveres. Entretanto, se em algum lugar, um soberano que, malgrado a pouca extenso de seu poder, costuma receber de seus vizinhos o ttulo de rei, as Naes distantes que desejam comunicar-se com ele no podem recusar-lhe esse ttulo. No compete a elas reformular os costumes a partir dessas regies longnquas. 45: COMO ASSEGURAR-SE DE TTULOS E HONRARlAS: O soberano que deseja receber constantemente certos ttulos e honrarias por parte de

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outros poderes, deve assegur-los por meio de tratados. Aqueles que fazem acordos por essa via ficam, pois, comprometidos com o soberano, e no poderiam agir contrariamente ao tratado sem cometer-lhe injria. Assim, nos casos que h pouco relatamos, o czar e o rei da Prssia tiveram o cuidado de negociar previamente com as cortes amigas para assegurar que seriam reconhecidos na qualidade que desejavam assumir. Outrora os papas pretenderam ser apenas de competncia da tiara criar novas coroas; eles ousaram receber prerrogativa to sublime da superstio do prncipe e dos povos. A superstio eclipsou-se com o renascimento das letras. Os imperadores da Alemanha, que tiveram a mesma pretenso, estavam pelo menos inspirados no exemplo dos antigos imperadores romanos. Falta-lhes poder equivalente, para que tenham esse direito. 46: DEVE HAVER CONFORMIDADE COM O USO (;ERAL: Na ausncia de tratados, deve prevalecer o uso em relao a ttulos e em geral a todos os sinais de honraria. Querer desse uso afastar-se, sem razo particular, no tocante a uma Nao ou soberano, testemunhar-lhes menosprezo ou m vontade; conduta igualmente contrria poltica s e ao que as Naes se devem mutuamente. 47: RECPROCAS AQUE OS SOBERANOS OBRIGAM: O maior monarca deve respeitar em todo soberano o carter eminente de que investido. A independncia, a igualdade das Naes e os outros deveres mtuos da humanidade, tudo isso induz o monarca a mostrar, mesmo para o dirigente de pequeno povo, o respeito devido ao ofcio que ele desempenha. O Estado mais fraco, no menos que os mais poderosos, feito por homens, e os nossos deveres so os mesmos em relao a todos que de ns no dependam. Mas este preceito da lei natural no se estende alm do que essencial nas relaes de uma Nao independente com as demais; numa s palavra, do que define um Estado ou seu soberano para ser verdadeiramente soberano e independente, e a merecer assim tudo o que devido a essa qualidade. De resto,

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sendo um grande monarca, como j lembramos, um personagem muito importante na sociedade humana, natural que se lhe rendam, em tudo que no seja apenas cerimonial, sem ferir de nenhum modo a igualdade essencial das Naes, que se lhe rendam, repito, honras s quais um prncipe de uma Nao pequena no poderia pretender, e este no pode recusar ao monarca todas as deferncias que no sejam comprometedoras da sua independncia e soberania. 48: COMO UM SOBERANO DEVE MANTER A SUA DIGNIDADE: Toda Nao, todo soberano, deve manter a sua dignidade (35) ao determinar quais honras lhe devam ser tributadas e, acima de tudo, ao no permitir nenhuma ofensa. Assim, se certos ttulos e sinaisde respeito lhe pertencem de acordo com uso constante, ele pode exigi-los, e deve faz-lo, nas ocasies em que a sua prpria glria se encontra envolvida. Todavia uma distino cuidadosa deve ser delineada entre, de um lado, a negligncia ou a omisso do que deveria ser feito e, de outro lado, os atos positivos de desrespeito ou desconsiderao, ou seja os insultos. Mera negligncia pode ser causa de queixa e, se no for reparada, pode-se consider-la como sinal de m disposio; tem-se o direito de perseguir mesmo pela fora das armas, a reparao de um insulto. O czar Pedro I, em seu manifesto contra a Sucia, queixou-se de que no houve tiros de canho, quando passou por Riga. Ele estranhou que este sinal de respeito no lhe tivesse sido tributada; e ele podia queixar-se da omisso; mas disso fazer motivo de guerra seria estranho pretexto para dissipar sangue humano.
CAPTULO

IV

Do direito segurana e dos efeitos da soberania e da independncia das Naes

49: Do DIREITO SEGURANA: O dever que a natureza prescreve s Naes, assim como aos indivduos, de salvaguardar-se e de progredir

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para a prpria perfeio e a de seu Estado, seria vo se essa natureza no lhes tivesse dado, ao mesmo tempo, o direito de preservar-se de no nada tudo o que pudesse tornar intil esse mesmo dever. O mais que uma moral isto , de fazer o que moralmente possvel, o que bom em si mesmo e de acordo com nossos deveres. Temos, pois, em geral o direito de fazer o que for necessrio para o cumprimento de nossos deveres. Assim toda Nao, como todo homem, tem o direito de resistir a qualquer ataque contra a prpria conservao e perfeio, bem como a do respectivo Estado, ou seja, o direito de preservar-se contra toda agresso (18); e esse direito perfeito, porque tem por objetivo o cumprimento de uma obrigao natural e indispensvel. Quando no se pode usar de coero para o fim de respeitar o prprio direito, a possibilidade de exerc-lo efetivamente muito incerta. Este direito de garantir-se contra toda agresso chamado direito de segurana.

SO: DESSE DIREITO RESULTA O DIREITO DE RESISTIR: O mais seguro evitar o mal tanto quando for possvel. Uma Nao tem o direito de resistir ao mal que se lhe quer fazer, de usar a fora e todo meio honesto de resistncia contra o agressor, e at mesmo de antecipar manobras de outros, sendo cuidadosa,porm, em no agir sob vagase duvidosas suspeitas, para no correr o risco de se tomar, ela prpria, um agressora injusta. Sl: E o DIREITO DE PERSEGUIR A REPARAAo: Quando um mal est feito, o mesmo direito de segurana autoriza o ofendido a perseguir uma reparao completa e, para tanto, empregar a fora, se necessrio. S2: E o DIREITO DE PUNIR: Enfim, o ofendido tem o direito de prover a sua segurana para o futuro, de punir o autor da ofensa, infligindo-lhe uma penalidade capaz de evitar semelhantes agresses no futuro e de intimidar aqueles que possam ser tentados a realizar ataques similares. O ofendido pode at mesmo, se as circunstncias o exigirem, deixar o agressor incapaz de cometer danos. Ele usa de seu

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direito, ao tomar essas medidas racionalmente; e se disso resultar dano para aquele que o agrediu, este no pode acusar seno a sua prpria ao injusta.

53: DIREITO DE TODOS OS POVOS CONTRA UMA N

MALFICA: Se

existir, pois, em algum lugar, uma Nao inquieta e malfica, sempre pronta a causar danos s outras, a estorv-las, a suscitar-lhes perturbaes domsticas, no h dvida de que todas as demais tm o direito de unir-se para reprimi-la, para puni-la, e mesmo para incapacit-la de causar mais danos. Tais seriam os justos frutos da poltica que Maquiavel louvava em Csar Brgia. A poltica de Felipe lI, rei da Espanha, foi apropriada para estimular a unio da Europa contra ele, e Henrique, o Grande, com boa razo, teve o propsito de conter uma potncia temvel por sua fora e perniciosa por seus princpios. As trs proposies precedentes constituem princpios que fornecem os diversos fundamentos de uma guerra justa, como veremos a seguir.

54: NENHUMA NAO TEM () DIREITO DE IMISCUIR-SE NO GOVERNO DE UMA OUTRA: uma conseqncia manifesta da liberdade e independncia
das Naes que todas tm o direito de se auto-governarem e que nenhuma tem o menor direito de interferir no governo de outra. De todos os direitos que pode uma Nao possuir, aquele que, sem dvida, o mais precioso a soberania, aquele que as outras devem mais escrupulosamente respeitar se no quiserem causar-lhe injria.

55: UM SOBERANO NO PODE ERIGIR-SE EMJUIZ DA CONDUTA DE OUTRO

SOBERANO: O soberano aquele a quem a Nao confiou o poder superior e o dever de governar. Ela o investiu de direitos e somente ela est diretamente interessada na maneira pela qual o dirigente faz uso do poder que ela lhe confiou. No compete, pois, a nenhuma potncia estrangeira tomar conhecimento da administrao desse soberano, erigir-se em juiz de sua conduta e for-lo a fazer qualquer mudana na sua administrao. Se ele sobrecarrega os sditos com impostos, se os trata com severidade,

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assunto da Nao; nenhuma outra chamada a corrigir a conduta do soberano, a for-lo a seguir princpios mais eqitativos e mais sbios. Cabe prudncia identificar as ocasies em que se lhe possa fazer representaes oficiosas e amigveis. Os espanhis agiram contrariamente a todas as regras quando eles se erigiram juzes do inca Athaualpa. Se esse prncipe tivesse violado o direito das gentes em relao aos espanhis, estes teriam o direito de puni-lo. Mas eles o acusaram de ter levado morte alguns de seus prprios sditos, de ter tido vrias mulheres,etc., cousas de que ele no tinha de prestar contas ao espanhis; e eles, o que constitui o cmulo de sua extravagante injustia, o condenaram pelas leis da Espanha. 56: COMO PERMITIDO INGERIR-SE EM QUERELA DE SOBERANO COM SEU POVO: Mas se o prncipe, pela violao das leis fundamentais, d a seu povo causa legtima para a ele resistir e se a tirania insuportvel subleva a Nao, toda potncia estrangeira tem o direito de socorrer o povo oprimido que clama por ajuda. Os ingleses se queixaram com justia de James 11. Os nobres, os lderes patriotas, resolvidos a pr um fim s medidas que claramente tendiam a ferir a Constituio, a oprimir a liberdade pblica e a religio, trataram de obter a ajuda das Provncias Unidas. A autoridade do prncipe de Orange influiu, sem dvida, nas deliberaes dos Estados-Gerais; mas ela no os levou a cometerem uma injustia. Quando um povo toma com razo armas contra um agressor, no h seno justia e generosidade em socorrer pessoas corajosas que defendem a prpria liberdade. Todas as vezes, pois, que as cousas caminham para uma guerra civil, as potncias estrangeiras podem assistir quela parte que lhes parece ter a justia ao seu lado. Assistir a um tirano detestvel, ou estar a favor de um povo injusto e rebelde, seria certamente uma violao de dever. Quando ento os elos polticos entre um soberano e seu povo esto rompidos, ou no mnimo suspensos, essas partes podem ser consideradas como duas potncias distintas e, desde que ambas sejam independentes de toda autoridade estrangeira, ningum tem o direito de julg-las. Cada uma dessas partes pode ter

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razo, cada um daqueles que as assistem pode pensar que apia a boa causa. Assim, em virtude do direito das gentes voluntrio 21), s duas partes deve ser permitido agir com se possussem igual direito, e serem tratadas como tal at a deciso final. Mas no se deve abusar desse princpio para autorizar desgnios criminosos contra a paz das Naes. uma violao ao direito das gentes incitar revolta sditos que obedecem de fato a seu soberano, embora se queixem do respectivo governo. A prtica das Naes est em conformidade com os nossos princpios. Quando os protestantes alemes vieram para ajudar a reforma na Frana, a corte no cuidou de trat-los seno como inimigos e em conformidade com as leis da guerra. A Frana estava, ao mesmo tempo, dando ajuda aos Pases Baixos sublevados contra a Espanha, na presuno de que suas tropas seriam consideradas como auxiliares, numa guerra formal. Mas nenhuma potncia deixa de queixar-se, como se fosse injria atroz, de qualquer tentativa, por meio de emissrios, de incitar os seus sditos revolta. No concernente a esses monstros que, sob o ttulo de soberanos, tomam-se os flagelos e a praga da humanidade, eles no so nada mais que animais ferozes, que todo homem corajoso pode com justia excluir da terra. Hrcules foi louvado em toda a Antigidade porque libertou o mundo de tais monstros como Anteu, Busiris e Diomede. ESTRANGEIRAS SE IMISCUAM 57:DIREITO DE NO PERMITIR QUE EM ASSUNTOS DE GOVERNO: Tendo mostrado que Naes estrangeiras no tm o direito de interferir no governo de um Estado independente, no difcil provar que esse governo tem o direito de no permitir essa ingerncia. Governar-se a si mesmo, como entender adequado, eis o apangio da independncia. Um Estado soberano no pode ser constrangido nesse particular, exceto com referncia a certos direitos especficos que ele prprio tenha cedido a terceiros por tratados, direitos esses que, pela natureza mesma de matria to restritiva quanto a governamental, no podem ser interpretados alm dos termos claros

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e formais dos tratados. Exceto esse caso, um soberano tem o direito de tratar como inimigos aqueles que tentam interferir, a menos que o faam por meio de bons ofcios, em seus negcios domsticos.

58:

SOBRE ESSES MESMOS DIREITOS COM RESPEITO REUGIO:

religio , em todos os sentidos, objeto muito relevante para a Nao e um dos mais importantes assuntos que podem interessar ao governo. Um povo independente no tem contas a prestar de seu credo religioso, a este respeito, como em todos a no ser a Deus; ele tem o direito de os demais, de acordo com sua prpria conscincia e impedir a ingerncia estrangeira em assunto to delicado. O costume longamente mantido na cristandade de decidir e regular todos os casos ligados religio num conclio geral poderia somente provir da peculiar circunstncia dasubmisso de toda a Igreja ao mesmo governo civil- o Imprio Romano. Quando o Imprio caiu e cedeu lugar a muitos reinos independentes, esse mesmo costume se mostrou contrrio aos primeiros princpios de governo e prpria idia de Estado e de sociedade poltica. No entanto, mantido por longo tempo por preconceito e pela ignorncia do clero, esse costume era ainda respeitado no tempo da reforma. Os Estados que a tinham abraado ofereceram-se para se submeter s decises de um conclio imparcial e legitimamente reunido. Nestes dias, eles ousariam declarar claramente que no dependem de nenhum poder sobre a terra, tanto em matria de religio, como em matria de governo civil. A autoridade geral e absoluta dos papas e do conclio absurda em todo sistema que no aquele dos papas, os quais queriam unir todos os cristos num nico corpo, do qual se diziam os monarcas supremos.v? Mesmo os soberanos catlicos tm tentado restringir aquela autoridade dentro dos limites consistentes com o poder supremo deles; eles no aceitam os decretos dos concliose as bulas papais seno depois de t-los examinado, e essas leis eclesisticas no tm fora em seus Estados seno com o consentimento do prncipe. J estabelecemos suficientemente no Livro
(14)

Vide

146; e BODIN, de la

Liv. I, capo IX, com citaes, p.m. 139.

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VATTEL

I, capo XII, os direitos do Estado no que concerne religio e apenas os lembramos aqui com o intuito de inferir concluses justas sobre a conduta

que as Naes devem ter entre si. 59: NENHUMA NAO PODE SER CONSTRANGIDA A RESPEITO DA REUGIO: , pois, certo que no se pode mais interferir nos assuntos de religio de uma Nao, sem ferir-lhe os direitos e causar-lhe injria. Muito menos permitido recorrer fora das armas para compeli-la a receber uma doutrina e um culto creditados como divinos. A partir de qual direito os homens se arvoram defensores ou protetores da causa de Deus? Ele saber sempre, quando lhe aprouver, conduzir os povos de acordo com seu prprio entendimento por meios mais seguros que a violncia. A perseguio nunca resulta em converses verdadeiras. O monstruoso propsito de ampliar a religio por meio da espada uma reverso do direito das gentes e o flagelo mais terrvel das Naes. Todo fantico acreditar combater pela causa de Deus, e todo ambicioso invocar esse pretexto. Enquanto Carlos Magno subjugava a Saxnia com fogo e sangue, com o intuito de nela estabelecer o cristianismo, os sucessores de Maom devastavam a sia e a frica para nelas estabelecer o Coro. 60: Dos OFCIOS DE HUMANIDADE NESSA MATRIA: Todavia constitui oficio de humanidade trabalhar por meios suaves e legtimos para persuadir a Nao a receber a religio que se acredita ser a nica verdadeira e salutar. Os missionrios podem ser enviados a instruir uma Nao e esse cuidado est em conformidade com a ateno que todo povo deve perfeio e felicidade de outros povos. Mas, para no atentar contra os direitos do soberano, os missionrios devem abster-se de pregar clandestinamente e sem permisso uma nova doutrina para seus sditos. O soberano pode recusar-lhes os ofcios, e se ele lhes ordenar que deixem o lugar, eles devem obedecer. Uma ordem bem expressa do Rei dos reis necessria para justificar a desobedincia a um soberano que est agindo no mbito de sua autoridade e o soberano que no estiver convencido dessa ordem extraordinria da Divindade est autorizado a punir o missionrio

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desobediente. Mas o se Nao ou uma parte considervel do povo, deseja reter o missionrio e seguir-lhe a doutrina? Consignamos em outra parte desta obra os direitos da Nao e aqueles dos cidados (Livro I, 128 - 136), e a reposta a esta questo l pode ser encontrada. 61: CIRCUNSPECO A SER USADA: A matria muito delicada e no se pode admitir o zelo imprudente de fazer proselitismo que pe em perigo a paz de todas as Naes, sem expor at mesmo os missionrios a pecarem contra o prprio dever ao mesmo tempo em que eles acreditam fazer obra muito meritria. Enfim, constitui seguramente mau servio para uma Nao expandir uma falsa e perigosa doutrina entre seus cidados. Ora, no h ningum que no pense ser a sua religio, a nica, a verdadeira e a salutar. Iluminai em todos os coraes o zelo ardente dos missionrios e vs vereis a Europa inundada de de banzas, e denssbes, enquanto monges de todo tipo iro percorrer a sia e a frica. Ministros protestantes iro verberar a inquisio na Espanha e na Itlia, enquanto os jesutas se disseminaro entre os protestantes com o intuito de traz-los de volta ao regao da Igreja. Embora os catlicos censurem os protestantes por sua tibieza, a conduta destes est mais certamente de acordo com o direito das gentes e com a razo. O verdadeiro zelo se dedica ao florescimento de uma religio santa, nos pases onde ela recebida, e a tom-la til aos costumes e ao Estado e, enquanto se espera as disposies da Providncia, um convite de povos estrangeiros, ou uma misso claramente divina para preg-la no exterior, esse zelo encontra bastante ocupao na ptria. Acrescentemos que para, legitimamente, anunciar uma religio ao diversos povos do mundo, deve-se primeiramente assegurar-se de sua verdade aps detido exame. Mas duvidaro os cristos de sua religio? Deve-se Muito bem, um maometano tambm no duvida da sua estar sempre pronto para dividir os seus conhecimentos, a explicar simples e sinceramente os princpios da sua crena queles que desejam ouvir, a instruir ou a persuadir, mas no procurar conduzir-se pelo ardor do entusiasmo. suficiente para cada um de ns ter que responder

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sua prpria conscincia. A ningum se recusar a luz e a paz das Naes no ser perturbada por um zelo turbulento.

62: O PODE FAZER UM SOBERANO EM FAVOR DAQUELES PROFESSAM ASUA RELIGIO EM OUTRO ESTADO: Quando uma religio est sendo perseguida em um pas, as Naes estrangeiras que a professam podem interceder por seus irmos; mas eis tudo o que elas podem legitimamente fazer, a no ser que a perseguio seja levada a excessos intolerveis. Ento ela se torna um caso evidente de tirania, contra a qual todas as Naes devem dar ajuda a um povo infeliz (56). O interesse por sua prpria segurana pode ainda autoriz-las a assumirem a defesa dos perseguidos. Um rei da Frana respondeu aos embaixadores que lhe solicitavam deixar em paz os sditos protestantes que ele era o senhor em seu reino. Mas os soberanos protestantes, que viam uma conspirao de catlicos empenhados em arruin-los, eram tambm os senhores para dar assistncia a pessoas que pudessem fortalec-los e ajud-los a se preservarem da runa pela qual estavam ameaados. No mais questo de distinguir entre Estado e Nao, quando necessrio unilos contra fanticos que querem exterminar tudo o que a sua doutrina no aceite cegamente.
CAPTULO

Do cumprimento dajustia entre as Naes

63: NECESSIDADE DO CUMPRIMENTO DA JUSTIA NA SOCIEDADE HUMANA: A justia o fundamento de toda sociedade, o bem seguro de todo comrcio. A sociedade humana, bem longe de ser uma troca de apoios e bons oficios, no mais seria que um vasto sistema de pilhagem se nela no se respeitasse essa virtude que d a cada qual o que lhe pertence. Essa virtude ainda mais necessria entre Naes que entre indivduos porque entre elas mais dificil ver quem tem razo e porque a injustia entre as Naes produz seqelas mais terrveis nas lutas entre esses

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poderosos organismos polticos. fcil provar no direito natural que todos os homens tm a obrigao de serem justos. Presumimos aqui ser essa obrigao suficientemente conhecida e nos limitamos a observar que no somente as Naes no podem dela ser dispensadas 5), mas que ela mais sagrada ainda para essas Naes por causa da importncia de suas conseqncias.

64: OBRIGAAo DE TODAS AS NAES: ADE CULTIVAR E RESPEITAR A JUSTIA: Todas as Naes esto pois estritamente obrigadas a promover a justia entre elas, a observ-la escrupulosamente, e a abster-se cuidadosamente de qualquer ato que possa transgredi-la. Cada uma deve dar para as outras o que lhes pertence, respeitar-lhes os direitos, e deix-las no gozo pacfico desses bens. 65: DIREITO DE NAo SOFRER INJUSTIA: Desta obrigao indispensvel,
que a natureza impe s Naes, assim como das obrigaes que cada qual tem para consigo mesmo, decorre para todo Estado o direito de resistir a qualquer tentativa de priv-lo de seus direitos ou de qualquer cousa que legitimamente lhe pertence pois, ao manifestar essa resistncia, ele age em conformidade com todos os seus deveres e est exprimindo o seu prprio direito (49). PERFEITO: Este direito perfeito, isto , acompanhado do direito de usar a fora para faz-lo efetivo. Em vo, a natureza nos daria o direito de no sofrer injustia e obrigaria outros a serem justos para conosco se no pudssemos legitimamente usar de coero quando eles se recusarem a cumprir esse dever. O justo se veria merc da cupidez e da injustia e todos os direitos logo se lhe tornariam inteis.

66: ESSE DIREITO

67: ESSE DIREITO PRODUZ: 1: o DIREITO DE DEFESA: Da resulta

em primeiro lugar o direito de legtima defesa, que pertence a toda Nao, ou o direito de resistir pela fora a qualquer ataque contra ela e seus direitos. Este o fundamento da guerra defensiva.

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68: 2: o DIREITO DE OBTER JUSTIA: O direito de usar da fora para obter justia, se de outra forma no se pode obt-la, ou de perseguir o seu direito com o uso de armas; eis o fundamento da guerra ofensiva. 69: DIREITO DE PUNIR UMA INJUSTIA: Um ato intencional injusto certamente uma Uma Nao tem, pois, o direito de puni-lo,
como j esclarecemos acima, ao falar da injria em geral (52). O direito de resistir injustia um ramo do direito segurana.

70: DIREITO DE TODAS AS

CONTRA AQUELA QUE MENOSPREZA

ABERTAMENTE A JUSTIA: Apliquemos ainda s injustias o que dissemos acima (53) com respeito a uma Nao que as pratica. Se houvesse uma Nao que se propusesse abertamente a espezinhar a justia, desprezando e violando os direitos de outrem todas as vezes que tivesse ocasio de faz-lo, o interesse da sociedade humana autorizaria todas as demais a se unirem para reprimi-la e castig-la. No se deve esquecer aqui o princpio estabelecido nas o de que no compete s Naes se erigirem em juzes umas das outras. Em casos particulares, e susceptveis de dvida menor, deve-se supor que cada uma das partes pode ter algum direito e a injustia praticada por aquela que est errada pode advir de algum equvoco e no de um desprezo geral pela justia. Entretanto, se por iniciativas constantes e por conduta contnua, uma Nao se mostra evidentemente nessa disposio perniciosa, se nenhum direito para ela sagrado, a preservao do gnero humano exige seja ela reprimida. Formar e sustentar uma pretenso injusta significa prejudicar apenas aquele a quem essa pretenso atinge; zombar em geral da justia significa ferir todas as Naes.
CAPTULO

VI

Da

que uma Nao deve ter nos atos de seus cidados

71: O SOBERANO DEVE VINGAR AS INJRIAS AO ESTAOO ECONHECER

OCIDADO: Nos captulos precedentes, vimos quais so os deveres mtuos

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das Naes; como elas devem respeitar-se mutuamente e abster-se de toda injria, de toda ofensa; como a justia e a eqidade devem reinar entre elas e reger-lhes a conduta. Mas consideramos at aqui apenas as aes da Nao, do Estado, do soberano. Os indivduos, membros de uma Nao, podem ofender e maltratar os cidados de outra, ou injuriar um soberano estrangeiro. Cabe-nos ainda examinar qual a parte que o Estado pode ter nos atos dos cidados, quais so os direitos e obrigaes dos soberanos a esse respeito. Quem quer que ofenda o Estado, viola os seus direitos, perturba a sua tranqilidade e lhe comete injria de algum modo, declara-se seu inimigo e, por isso, corre o risco de ser por isso punido. Quem maltrata um cidado indiretamente injuria o Estado, que deve proteger esse cidado. O soberano deste cidado deve vingar-lhe a injria recebida e, se possvel, obrigar o agressor a uma reparao integral, ou puni-lo, uma vez que, de outra maneira, o cidado no obteria a finalidade bsica da sociedade civil, que a segurana. 72: O SOBERANO NO DEVE ADMlTIR QUE SEUS SDITOS OFENDAM CIDADOS DE OUTRAS NAES: Por outro lado, a Nao, ou o soberano, no deve permitir que seus cidados injuriem os sditos de outro Estado, muito menos que ofendam esse Estado; e isto no somente porque nenhum soberano deve permitir que os que estejam sob suas ordens violem os preceitos da lei natural, a qual probe toda injria, mas tambm porque as Naes devem respeitar-se mutuamente e abster-se de qualquer ofensa, leso e injria, numa s palavra, de tudo que possa causar dano a outrem. Se um soberano, que poderia reter seus sditos no mbito das regras da justia e da paz, permite que eles injuriem uma Nao estrangeira, tanto em si mesma como na pessoa de seus membros, ele faz injria a toda a Nao como se de fato o prprio soberano a maltratasse. Enfim, o bem-estar do Estado e o da sociedade humana demandam este cuidado da parte de todo soberano. Se relaxardes o controle sobre os vossos sditos, nas relaes destes com as Naes estrangeiras, estas faro o mesmo contra vs e, em lugar dessa sociedade

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VAITEL

fraterna que a natureza estabeleceu entre os homens, no mais se ver seno um estado terrvel de pilhagem entre Naes. 73: No SE PODE IMPUTAR NAO os ATOS DE PARTICULARES: Entretanto, como impossvel ao Estado mais bem governado, ou ao mais vigilante e poderoso soberano, regular por sua vontade todos os atos de seus sditos e de cont-los em toda ocasio na mais estrita obedincia, seria injusto imputar Nao, ou ao soberano, todas as faltas de seus cidados. Assim, no se pode dizer em geral, que se receberam injrias de uma Nao, se elas partiram de algum de seus membros. 74: A MENOS QUE ANAO os APROVE OU RATIFIQUE: Mas se a Nao ou seu dirigente aprovar e ratificar o ato do cidado, a Nao assume este mesmo ato; o ofendido deve ento considerar a Nao como a autora real dessa injria da qual o cidado foi somente o instrumento. 75: CONDUTA QUE DEVE TER o OFENDIDO: Se o Estado injuriado tiver em suas mos o autor da ofensa, ele pode sem hesitao fazer justia e puni-lo. Se o agressor escapou e retornou ao seu pas, deve-se pedir justia ao soberano dele. 76: DEVER DO SOBERANO DO AGRESSOR: E desde que o soberano no deve permitir que seus sditos molestem ou injuriem os sditos ,de outros Estados, muito menos que eles ofendam audaciosamente as . potncias estrangeiras, ele deve obrigar o culpado, se possvel, a reparar o dano, ou a injria, ou puni-lo exemplarmente ou, enfim, de acordo com a natureza e das circunstncias, entreg-lo ao Estado injuriado, para que se faa justia. Esta a prtica geralmente observada em relao a graves crimes que violam as leis e a segurana de todas as Naes. Assassinos,incendirios e ladres so detidos onde quer que so encontrados e entregues para o soberano em cujo territrio o crime foi cometido. Nos Estados que mantm relaes mais estreitas de amizade e de boa vizinhana vai-se mais longe. Mesmo nos casos de delitos comuns que

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so processados civilmente, seja para a reparao de dano ou para uma penalidade leve e civil,os sditos de dois Estados vizinhos so mutuamente obrigados a comparecer perante o magistrado do lugar em que so acusados de terem transgredido a lei. Mediante requisio desse magistrado, denominada carta rogatria, eles so citados judicialmente e compelidos a comparecer em juzo pelo prprio magistrado deles. urna prtica excelente para capacitar Estados vizinhos a viverem juntos em paz, os quais parecem mesmo formar uma mesma repblica! Esta prtica est em vigor em toda a Sua. Desde que as cartas rogatrias estejam formalmente endereadas, o superior do acusado deve dar-lhes efeito. No cabe a ele conhecer se a acusao verdadeira ou falsa; ele deve bem presumir a justia de seu vizinho e no destruir pela desconfiana uma instituio to bem adequada preservar a boa harmonia. No entanto, se uma constante experincia mostrasse ao soberano que seus sditos esto sendo constrangidos pelos magistrados vizinhos, ser-lhe-ia permitido, sem dvida, pensar na proteo devida a seu povo e recusar as rogatrias at que se lhe tivessem sido eliminados eventuais abusos e se pusesse ordem nessa matria. Mas caberia a ele alegar as suas razes e divulg-las. JUSTIA, PARTICIPA DA CULPA E DA 77: SE O SOBERANO INJRIA: O soberano que se recusa a reparar dano feito por um de seus sditos, ou se recusa a punir o culpado ou, enfim, a entreg-lo, torna-se de algum modo cmplice da injria e por ela se toma responsvel. Mas se ele entrega ou os bens do culpado para fins de indenizao, quando o caso o admite, ou a prpria pessoa para que seja submetida penalidade prevista para o seu crime, a parte injuriada no tem mais nada a exigir. Tendo o rei Demtrius entregue aos romanos os que tinham matado o embaixador dos mesmos, o Senado os mandou de volta, porque desejava reservar-se a liberdade de punir oportunamente esse atentado, vingando-se sobre o prprio rei, ou sobre o territrio dele (15). Se o fato se passou desse

(15)

Vide POLBIO, citado por BARBEYRAC, em suas notas sobre GRCIO, Liv. III, capo XXIV, VII.

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VArrEL

modo, se o rei no tinha participao no assassinato do embaixador romano, a conduta do Senado foi inteiramente injusta e digna de pessoas que no buscam seno algum pretexto para os seus desgnios ambiciosos. 78: OUTRO CASO EM QUE A NAO RESPONSVEL POR ATO DE CIDADOS: Enfim, h outro caso em que a Nao responsvel, em geral, por atentados de seus membros. quando pelas prticas, pelas iniciativas de seus governos, a Nao habitua e autoriza os cidados a roubarem e maltratarem indiferentemente os estrangeiros, a realizarem pilhagem nos territrios vizinhos, etc. Assim, a Nao dos usbecks culpada por todas as pilhagens perpetradas pelos indivduos que a compem. Os prncipes cujos sditos so furtados e massacrados e cujas terras so infestadas por esses malfeitores podem, com justia, tomar para si a causa de toda a Nao. Que digo? Todas as Naes devem se unir para reprimir tal Nao e trat-la como o inimigo comum do gnero humano. As Naes crists no estariam menos justificadas a se reunirem contra as repblicas brbaras para destrurem os esconderijos dos corsrios, para quem o amor pilhagem ou o temor justa punio so as nicas regras da paz ou da guerra. Mas os corsrios tm a prudncia de respeitar aqueles que estariam em posio de puni-los, e as Naes que esto aptas a manter livres as rotas de um comrcio rico no se oporiam a que essas rotas se mantivessem fechadas para as demais.
CAPTULO

VII

Dos efeitos do domnio entre as Naes

79: EFEITO GERAL DO DOMNIO: Explicamos no captulo XVIII, I, a maneira pela qual a Nao toma posse de um pas e nele instala o domnio e o imprio. Este pas, com tudo o que nele se inclui, torna-se em geral o bem prprio da Nao. Vejamos quais so os efeitos dessa propriedade em relao s demais Naes. O domnio pleno , necessariamente, um direito prprio e exclusivo. Se tenho direito amplo

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e geral sobre uma causa, segue-se que os outros no tm nenhum direito sobre ela; se eles o tivessem, eu no poderia mais dispor livremente da causa em questo. O domnio particular de cidados pode ser limitado e restringido em vrios aspectos pelas leis do Estado e ele est sempre condicionado ao domnio do soberano; no entanto, o domnio da Nao , em geral, amplo e absoluto, pois que no existe nenhuma autoridade sobre a terra que lhe possa impor limitaes; ele exclui, pois, qualquer direito de estrangeiros. E como os direitos de uma Nao devem ser respeitados pelas demais (64), nenhuma outra Nao pode pretender qualquer direito sobre o territrio que pertena a essa Nao, nem sobre o que nela estiver includo. 80: Do QUE COMPREENDIDO NO DOMNIO DE UMA NAO: O domnio da Nao se estende a tudo que ela possui com ttulo justo. Ele engloba possesses antigas e originrias bem como todas as suas aquisies, feitas por meios justos por si mesmos ou aceitos como tal entre as Naes: concesses, aquisies, conquistas feitas em guerra regular, etc. E entre suas possesses devem ser contabilizadas no somente suas terras, mas todos os direitos que ela usufrui. 81: Os BENS DOS CIDADOS PERTENCEM NAO: Os prprios bens dos particulares, tomados como um todo, devem ser considerados como bens da Nao, em relao a outros Estados. Eles realmente lhe pertencem de algum modo, por causa dos direitos que a Nao tem sobre os bens de seus cidados, porque eles constituem parte de todas as riquezas nacionais e porque lhe aumentam o poder. A obrigao de uma Nao proteger seus membros assim como os bens que eles tal ocorre porque as Naes agem como um todo, possuem. na qualidade de sociedades polticas e consideradas para tanto como pessoas jurdicas. Todos os membros de uma sociedade ou Nao so considerados pelas Naes estrangeiras como constituindo uma unidade e todos os bens dela so considerados como pertencentes a essa mesma unidade. Isto to verdadeiro que depende de cada sociedade poltica,

236 se tal lhe favorecer, nela estabelecer a comunidade de bens, como o fez Campanella na repblica do Sol Outras Naes no podem inquietar-se com o que uma Nao faz a esse respeito; seus ajustes domsticos no afetam em nada o direito acerca dos estrangeiros, nem a maneira pela qual estes devem considerar a totalidade de seus bens, qualquer que seja o modo pelo qual so possudos. 82:CONSEqNCIA DESTE PRlNCPIO: Por uma conseqncia imediata deste princpio, se uma Nao tem direito a alguma parte dos bens de uma outra, ela tem direito indiferentemente aos bens dos cidados desta Nao, inclusive a concorrncia da dvida. Esta regra de ampla aplicao, como veremos a seguir, 83: CONExAo DO DOMNIO DA NAAo COM o IMPRIO: O domnio geral da Nao sobre as terras que ela ocupa est naturalmente vinculado ao imprio pois, ao se estabelecer em territrio vacante, ela no tem certamente nenhuma inteno de nele depender de nenhuma outra potncia; ademais, como uma Nao independente no teria o comando de sua casa? Tambm j observamos (Livro I, 2S) que, ao tomar posse de um pas, presume-se que a Nao tenha de ocup-lo e nele, ao mesmo tempo, exercer o seu imprio. Iremos adiante aqui, mostrando a conexo natural desses dois direitos no caso de uma Nao independente. Como ela poderia governar livremente o pas que ela habita se ela no pudesse dele dispor plena e absolutamente? E como poderia ter domnio pleno e absoluto de um lugar se ela no for ao mesmo tempo soberana? O imprio de outrem, e os direitos nele compreendidos, subtrair-lhe-iam a disposio livre do territrio. Junte-se a isso o donnio eminente que faz parte da soberania (Livro I, 244) e compreendereis melhor a ntima conexo do domnio da Nao com o imprio. Tambm o que chamado donnio eminente, que no nada mais seno o donnio do corpo da Nao ou do soberano que a representa, tambm considerado ou o em toda parte como inseparvel da soberania. O domnio podem pertencer a um particular no donnio reduzido aos direitos

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Estado, pode ser separado do imprio; e no h nada que impea que pertena a uma Nao nos lugares no sujeitos ao seu comando. Assim, muitos soberanos tm feudos e outros bens em terras de outro prncipe: em tais casos eles os possuem como se fossem particulares. 84:JURISDIAO: O imprio unido ao domnio d Nao jurisdio sobre o territrio que lhe pertence. Nao, ou a seu soberano, que compete tomar conhecimento dos crimes neles cometidos assim como das controvrsias surgidas no pas e fazer justia nos territrios sujeitos ao seu comando. As demais Naes devem respeitar esse direito. E como a administrao da justia necessariamente requer que toda sentena definitiva, pronunciada regularmente, seja considerada como justa e executada como tal, desde que uma causa na qual estrangeiros esto envolvidos foi julgada formalmente, o soberano desses litigantes no mais pode ouvir-lhes as pretenses. Questionar a justia de uma sentena definitiva, significa atacar a jurisdio daquele que a proferiu. O prncipe no deve, pois, interferir em causas de seus sditos em pas estrangeiro nem, pois, conceder-lhes a sua proteo, exceto em casos de denegao de justia, ou de injustia evidente e palpvel, ou de manifesta violao das regras ou da forma ou, enfim, em caso de distino odiosa, feita em prejuzo de seus sditos ou de estrangeiros em geral. A corte da Inglaterra aplicou este princpio muito claramente, por ocasio dos navios prussianos detidos e declarados de boa presa durante a ltima guerra. O princpio deve ser afirmado sem entrar no mrito da causa particular e no exame dos fatos. 85: EFEITOS DAJURISDIAo PARA os ESTRANGEIROS: Em conseqncia desses direitos de jurisdio, as decises tomadas pelo juiz do domiclio, no mbito de sua autoridade, devem ser respeitadas e alcanar efeito at mesmo em pases estrangeiros. Por exemplo, cabe ao juiz do domiclio nomear tutores e curadores para menores e incapazes de toda sorte. O direito das gentes, que tem em vista o bem-estar comum e a boa harmonia

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entre as Naes, demanda, pois, que esta nomeao de tutor ou de curador seja reconhecida como efetiva em todos os pases em que o incapaz possa ter interesses. Esta regra foi aplicada no ano de 1672, mesmo com respeito a um soberano. Quando o abade de Orleans, prncipe soberano de Neuchatel, na Sua, tornou-se incapaz de gerir seus prprios negcios, o rei da Frana lhe deu por curador a duquesa de Longueville, sua me. A duquesa de Nernours, irm desse prncipe, pleiteou a curatela do principado de Neuchatel mas a duquesa de Longueville foi reconhecida pelos trs Estados do pas. O seu advogado argumentou que a princesa tinha sido nomeada curadora pelo juiz do domiclio. Tratavase de aplicar indevidamente um princpio perfeitamente slido, o de que o domiclio do prncipe somente podia ser o de seu Estado. A autoridade da duquesa de Longueville no se tornou legtima e firme em Neuchatel seno por deciso dos trs Estados, aos quais competia efetivamente nomear curador para o soberano deles. Assim tambm a validade de um testamento, quanto sua forma, somente pode ser julgada pelo juiz do domiclio cuja sentena, devidamente formalizada, deve ser em todo lugar reconhecida. Entretanto, sem questionar a validade intrnseca do testamento, as disposies nele contidas podem ser contestadas perante o juiz do lugar onde os bens esto situados, porque no se pode dispor desses bens seno de acordo com as leis desse pas. Assim, quando o abade de Orleans, a quem nos referimos acima, instituiu o prncipe de Conti como seu legatrio universal, os trs Estados de Neuchatel deram a investidura do principado duquesa de Nemours, sem esperar que o parlamento de Paris se pronunciasse a respeito dos dois testamentos conflitantes do abade de Orleans, ao declarar que a soberania era inalienvel. Alis, podia ser dito nessa ocasio que o domiclio do prncipe no podia estar seno no Estado. 86: Dos LUGARES DESERTOS E SEM CULTIVO: Todos os bens includos no territrio pertencem Nao e ningum a no ser ela mesma, ou aquele a quem ela transferiu o seu direito, pode deles dispor (79). Se ela deixou

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no pas certos lugares desertos e no cultivados, ningum pode deles tomar posse sem a sua permisso. Embora ela no faa efetivamente uso desses lugares, eles lhe pertencem; ela tem interesse em mant-los para uso futuro e no deve prestar contas a ningum sobre a maneira pela qual faz uso de seu bem. Todavia, devemos lembrar aqui o que dissemos acima I, 81): nenhuma Nao pode, legitimamente, apropriar-se de uma extenso do territrio inteiramente desproporcional a suas necessidades e, assim, restringir a oportunidade de assentamento e manuteno para outros povos. Um chefe germnico, ao tempo de Nero dizia aos romanos: "Como os cus pertencem aos deuses, assim a terra dada para o gnero humano; os pases desertos so comuns a todos" (16). Ele queria dar a entender aos orgulhosos conquistadores que eles no tinham o direito de reter e apropriar-se de um territrio que deixavam deserto. Os romanos tinham devastado orlas ao longo do Reno para proteger as suas provncias contra as investidas dos brbaros. A admoestao do chefe germnico teria sido bem fundamentada se os romanos houvessem pretendido reter sem razo uma vasta rea, intil para eles, mas essas terras que eles desejaram manter inabitadas, servindo de fortaleza contra tribos ferozes, eram muito teis ao imprio. 87: DEVER DA NAAo AESSE RESPEITO: Fora essa peculiar condio, convm igualmente aos deveres da humanidade e ao interesse particular do Estado abrir essas terras desocupadas para imigrantes que desejam ocup-las e torn-las produtivas. A generosidade do Estado redunda assim em seu proveito. Ele adquire novos sditos e aumenta as suas riquezas e poder. Isto o que feito na Amrica. Por este sbio mtodo, os ingleses conduziram os seus estabelecimentos no Novo Mundo a um grau de potncia que aumentou consideravelmente a da Nao. Assim tambm o rei da Prssia trabalhou para repovoar os seus Estados, devastados pelas calamidades das antigas guerras.
(16)

5icutcoe/um diis, ita terrasgenen' morta/ium datas; quaeque uacilae, easpublicas esse. TCITO.

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88: Do DIREITO DE OCUPAR COUSAS QUE NAo PERTENCEM ANINGUM: livre Nao que possui um territrio de nele deixar em comunho primitiva certas causas sem dono, ou de delas se apropriar. Ela pode dar a esse pas e a essas causas o uso que julgar adequado. Este direito, sendo til , em caso de dvida, presumido ter sido reservado para a prpria Nao. Ele, pois, lhe pertence com excluso de estrangeiros, a menos que as suas leis no derroguem esse direito expressamente, como fizeram as leis dos romanos, que deixaram bestas selvagens, peixes, etc., na condio de comunho primitiva. Conseqentemente, nenhum estrangeiro tem o direito natural de caar ou pescar no territrio de um Estado, de apropriar-se de tesouros l encontrados, etc. 89: DIREITOS CONCEDIDOS A OUTRA NAAo: Nada impede que a Nao ou o soberano, se autorizados pelas leis, concedam vrios direitos em seu territrio para outra Nao, ou para estrangeiros em geral, de modo que cada qual possa dispor de seu bem como achar melhor. Assim, certos soberanos das ndias tm concedido a certas Naes comerciantes da Europa o direito de ter estabelecimentos, portos e mesmo fortalezas e guarnies, em certos locais de seus Estados. Pode-se conceder direito de pesca num rio ou ao longo da costa, ou o direito de caa nas florestas, etc. E, desde que esses direitos foram concedidos de forma vlida, eles passaram a fazer parte dos bens do adquirente e devem ser respeitados tanto quanto os bens anteriormente possudos. 90: NAo

POSSVEL EXPULSAR UMA NAAo DO PAS QUE ELA HABITA:

A todos quantos concordem que furtar um crime e que no legtimo subtrair a propriedade de outrem, diremos que nenhuma Nao tem o direito de expulsar uma outra do pas, por ela habitado, para nele ela mesma estabelecer-se. A despeito das grandes desigualdades do clima e do solo, cada Nao deve contentar-se com o que lhe coube. Desprezariam os dirigentes das Naes uma regra que bsica para a segurana deles na sociedade civil? Deixai cair no esquecimento essa regra sagrada e o campons deixar a sua cabana para invadir o

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palcio ou as luxuosas posses de um rico. Os antigos helvticos, insatisfeitos com o solo natal, incendiaram as suas habitaes e, com a espada na mo, puseram-se em marcha para se estabelecerem nas terras frteis da Glia meridional. Receberam, no entanto, uma lio terrvel de um conquistador mais hbil e mesmo menos justo que eles. Csar derrotou-os e mandou-os de volta ao pas de origem. Os seus descendentes, mais sbios, contentaram-se em manter a independncia e o territrio que a natureza lhes deu e passaram a viver contentes. O trabalho de mos livres supre a ingratido do solo. 91: NAo PERMITIDO ESTENDER PELA VIOLNCIA OS LIMITES DO IMPRIO: Existem conquistadores que, no pretendendo seno alargar as fronteiras de seu imprio, sem expulsar os habitantes do territrio, contentam-se em subjug-los. Violncia menos cruel, mas no mais justa: ao poupar os bens dos particulares, essa violncia atinge todos os direitos da Nao e do soberano. 92: PRECISO DELIMITAR CUIDADOSAMENTE OS TERRITRIOS: Desde que a menor usurpao do territrio alheio uma injustia, com o intuito de evit-la assim como de remover todo motivo de discrdia e toda ocasio de querela, as linhas fronteirias dos territrios devem estar clara e precisamente determinadas. Se aqueles que redigiram o tratado de Utrecht tivessem dado ateno merecida a matria to importante, no teramos visto a Frana e a Inglaterra em armas para decidir, por uma guerra sangrenta, quais seriam os limites de suas terras na Amrica. Freqentemente deixa-se de propsito alguma indefinio nas convenes para evitar o rompimento de tratados: indigno artitIcio em uma operao onde a boa f deve reinar! Viram-se comissrios trabalhar para surpreender ou corromper os de um Estado vizinho, com o intuito de favorecer injustamente, com umas lguas de terreno, os seus superiores. Como prncipes ou seus ministros permitem manobras que desonrariam um particular?

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93: DA VIOLAAO DO TERRITRIO: No somente no se deve usurpar o territrio alheio, mas se deve tambm respeit-lo e abster-se de todo ato contrrio aos direitos do soberano, pois urna Nao estrangeira no pode atribuir-se direito neste territrio (79). No se pode pois, sem causar injria ao Estado, entrar com fora armada em seu territrio com o intuito de nele perseguir um culpado e captur-lo. O ato seria considerado, simultaneamente, um atentado segurana do Estado e uma ofensa ao direito de imprio ou de comando superior, que pertence ao soberano. o que se chama de violao do territrio; e geralmente nenhum ato mais reconhecido entre as Naes como injria, o qual deve ser combatido vigorosamente por todo Estado que no queira ser oprimido. Faremos uso desse princpio ao tratar da guerra, o qual d margem a muitas questes concernentes aos direitos do territrio. 94: DA PROIBIAo DE ENTRAR NO TERRITRIO: O soberano pode proibir a entrada em seu territrio, seja em geral a todo estrangeiro, seja em certos casos, ou para determinadas pessoas ou ainda para alguns assuntos em particular, de acordo com o que for conveniente ao bem do Estado. Tais regras decorrem dos direitos de donnio e de imprio; todos esto obrigados a acatar a proibio e aquele que ousar viol-la incorre em penalidades fixadas para torn-la eficaz. As proibies, todavia, devem ser conhecidas, da mesma forma que as penalidades vinculadas transgresso. Aqueles que ignoram a proibio devem ser advertidos quando esto para entrar no territrio. Outrora, os chineses temiam que o comrcio com os estrangeiros corrompesse os costumes da Nao e modificasse os princpios de um governo sbio e peculiar; por isso proibiam a todos os estrangeiros ingressarem no imprio. No havia nada de injusto nesta proibio, contanto que os socorros humanitrios no fossem recusados queles compelidos por tempestade ou outra fora maior a se apresentarem na fronteira. A proibio era salutar Nao desde que no violasse direitos e deveres de humanidade, os quais tm precedncia sobre demais direitos.

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95: DE TERRA OCUPADA SIMULTANEAMENTE POR DIVERSAS NAES: Se duas ou mais Naes descobrem e ocupam, ao mesmo tempo, uma ilha ou outra terra deserta e sem dono, elas devem fazer acordo para o fim de uma justa partilha. Mas se elas no podem ajustar-se mutuamente, cada qual ter o direito de imprio e de domnio sobre as partes do territrio, em que primeiramente se estabeleceram. 96: DE TERRA OCUPADA POR PARTICULAR: Um particular independente, seja porque tenha sido expulso de sua ptria ou porque a tenha deixado legitimamente por si mesmo, pode fixar-se em um pas que encontre sem dono e nele exercer domnio independente. Quem mais tarde desejar tomar posse de todo o pas, no poder faz-lo com justia sem respeitar os direitos e a independncia deste particular. Mas se ele mesmo encontrasse um nmero suficiente de homens que desejam viver sob as suas leis, ele poder fundar um novo Estado no territrio que ele descobriu e, assim, nele estabelecer imprio e domnio. Mas se este indivduo pretendesse, por si prprio, arrogar-se um direito exclusivo sobre um pas e nele ser monarca sem sditos, as suas pretenses infundadas seriam, com justia, desconsideradas: uma ocupao temerria e sem fundamento no produz nenhum direito jurdico. H ainda outros modos pelos quais um indivduo pode fundar um novo Estado. Assim, no sculo XI, certos cavaleiros normandos fundaram um novo imprio na Siclia, depois de ter conquistado esse pas dos inimigos comuns dos cristos. O costume da Nao permitia aos cidados deixarem a ptria para buscar fortuna alhures. 97: FAMLIAS INDEPENDENTES EM UM PAS: Quando diversas famlias independentes se estabelecem em uma regio, elas passam a gozar, nessa regio, de domnio mas no de imprio, porque elas no constituem uma sociedade poltica. Ningum pode nesse pas apossar-se do imprio, pois tal seria submeter essas famlias contra a vontade delas e nenhum homem tem o direito de governar pessoas nascidas livres, a menos que elas, voluntariamente, a ele se submetam.

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Se essas famlias tm fixado assentamentos, a rea que cada uma ocupa lhe pertence. O resto do pas, de que essas famlias no fazem uso, permanece em estgio prirrtivo, disponvel ao primeiro ocupante. Quem desejar assentar-se nesta rea desocupada pode dela tomar posse legitimamente. Quando um pas ocupado por famlias nmades, como aquelas de povos pastores, que o percorrem de acordo com as suas necessidades, elas o possuem em comum. Se este pas pertence com exclusividade a outros povos, no se pode priv-los, sem cometer injustia, das regies que so para o seu uso. Mas lembremos aqui o que dissemos acima mais de uma vez (Livro I, 81, 209; II, 86): os selvagens da Amrica setentrional no tinham o direito de apropriar-se de todo esse vasto continente e, contanto que terras suficientes lhes fossem destinadas, podiam estabelecer-se sem injustia em certas partes de uma regio, que no podiam habitar por inteiro. Se os pastores rabes desejavam cultivar o solo cuidadosamente, uma rea menor poderia lhes ser suficiente. Entretanto, nenhuma outra Nao tem o direito de circunscrev-los, a menos que tenha necessidade absoluta de terras. Enfim esses rabes ocupam o seu pas, dele obtm o que lhes necessrio para a vida, e nele no recebem ordens de ningum. Em caso de necessidade premente, penso que poderiam ser assentados sem injustia numa parte desse pas para ensinar aos rabes os meios de torn-lo, pelo cultivo das terras, suficiente para as necessidades dos antigos e novos ocupantes. 98: OCUPAAO APENAS DE CERTOS LUGARES OU DE CERTOS DIREITOS EM PAS VACANTE: Pode ocorrer que uma Nao se contente em ocupar apenas certos lugares, ou em apropriar-se de certos direitos em pas que no tenha dono e que no se disponha a possu-lo por inteiro. Uma segunda Nao poder ento apropriar-se do que aquela negligenciou, embora no possa faz-lo sem respeitar por inteiro todos os direitos adquiridos pela primeira. Nesse caso, convm que ambas estabeleam a respeito numa conveno, o que ocorre entre Naes civilizadas.

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VIII

em

a estrangeiros

99: IDIA GERAL DA CONDUTA QUE O ESTADO DEVE TER EM RELAAO A ESTRANGEIROS: J falamos alhures (Livro I, 213) dos habitantes, ou
das pessoas que esto domiciliadas num pas do qual no so cidados. No se trata aqui seno de estrangeiros que transitam pelo pas ou nele permanecem, seja como meros viajantes ou a negcios. As relaes que eles mantm com a sociedade em que se encontram, a finalidade da viagem e da permanncia, os deveres de humanidade, os direitos,o interesse e a segurana do Estado que os recebe, os direitos do Estado a que pertencem; todos esses princpios, tomados em conjunto e aplicados s circunstncias de cada caso, servem para determinar a conduta que se deve ter para com eles, o que de direito e de dever para com os mesmos. Mas o propsito deste captulo no tanto o de mostrar o que a humanidade e a justia prescrevem em relao aos estrangeiros, quanto o de estabelecer as regras do direito das gentes nessa matria; regras tendentes a assegurar os direitos de cada qual e a impedir que a paz das Naes seja perturbada por disputas entre particulares.

100: Do INGRESSO NO TERRITRIO: Desde que o senhor do territrio pode proibir a entrada nele quando achar adequado (94), ele pode indubitavelmente fixar as condies necessrias para permiti-la. Eis, como j dissemos, uma conseqncia do direito de domnio. Seria necessrio advertir que o senhor do territrio deve respeitar, a esse propsito, os deveres de humanidade? O mesmo ocorre em relao a todos os direitos. O proprietrio pode deles usar livremente e no injuria ningum ao usar de seu direito; e se ele desejar ficar isento de culpa e preservar a sua conscincia, ele nunca dever usar do direito seno em conformidade com os seus deveres. Falamos aqui em geral do direito que pertence ao senhor do pas, reservando ao captulo seguinte a considerao dos casos nos quais ele no pode recusar

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admisso em seu territrio e veremos, no captulo X, como seus deveres acerca de todos os homens o obrigam, em outras ocasies, a permitir o direito de passagem e de residncia em seu territrio. Se um soberano estabelece alguma condio especial para a permisso de entrada em seu territrio, ele deve providenciar para que os estrangeiros sejam advertidos a respeito quando se apresentarem na fronteira. Existem Estados, como o Japo e a China, nos quais proibido a todo estrangeiro entrar sem expressa permisso. Na Europa, o livre acesso garantido a todos que no sejam inimigos do Estado e, em alguns pases, aos que no sejam vagabundos ou pessoas sem identificao. ll: Os ESTRANGEIROS ESTO SUBMETIDOS S LEIS: Mas mesmo em pases que livremente admitem estrangeiros, presume-se que o soberano lhes concede acesso mediante condio tcita,isto , que eles se submetero s leis, quero dizer, s leis gerais, estabelecidas para a manuteno da boa ordem, e no aquelas referentes qualidade de cidado ou de sdito do Estado. A segurana pblica e os direitos da Nao e do soberano exigem necessariamente esta condio e o estrangeiro a ela implicitamente se submete, to logo entre no pas, no se presumindo que tenha ele sido admitido em outras condies. O imprio o direito de governar todo o pas e as leis no se limitam a regular a conduta recproca dos cidados, mas elas determinam o que deve ser observado em todo o territrio e por todas as espcies de pessoas. l2: Os ESTRANGEIROS ESTO SUJEITOS A PUNIO DE ACORDO COM AS LEIS: Sendo assim, estrangeiros que violem as leis do pas devem ser punidos de acordo com as mesmas. A finalidade das penalidades fazer com que as leis sejam respeitadas e a ordem e a segurana sejam mantidas. 103: QUEM JUIZ DA CONTROVRSIA ENTRE ESTRANGEIROS: Pelo mesmo motivo, as controvrsias que possam surgir entre estrangeiros, ou entre estrangeiro e cidado, devem ser julgadas pelo juiz local e de acordo com as leis locais. E como a controvrsia normalmente surge

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da recusa do indiciado, que pretende nada dever ao demandante, segue-se

do mesmo princpio que todo indiciado deve ser processado perante um juiz, o nico a ter direito a conden-lo e a constrang-lo. Os suios tm sabiamente incorporado esta regra em seus artigos de aliana, com o intuito de evitar controvrsias que possam nascer de abusos outrora muito freqentes nessa matria. O juiz do ru o juiz do lugar onde ele tem seu domicilio ou o juiz do lugar onde o ru se encontra no incio de uma querela sbita, contanto que no se trate de imvel ou de direito a ele relacionado. Neste ltimo caso, como essa espcie de bem deve ser possuida de acordo com as leis do pas onde o bem est situado e como cabe ao dirigente do pas conceder a posse desse bem, as disputas a ele concernente podem somente ser julgados no Estado que tem o controle sobre esse bem. J mostramos (84) como a jurisdio de uma Nao deve ser respeitada por outros soberanos e em que casos somente eles podem intervir nas controvrsias de seus sditos em pases estrangeiros.

104: PROTEAo DEVIDA AOS ESTRANGEIROS: O soberano no pode conceder a estrangeiros o ingresso em seu territrio para faz-los carem em armadilha. Ao receb-los, compromete-se a proteg-los como se fossem seus prprios sditos, a faz-los usufruir, na medida do possvel, de perfeita segurana. Tambm vemos que todo soberano que concedeu asilo a um estrangeiro no se sente menos ofendido com o mal que venha a ser feito a esse estrangeiro do que aquele que seja feito a seus prprios sditos. A hospitalidade era considerada uma grande virtude entre os antigos e at mesmo entre povos brbaros como os germnicos. Os povos ferozes que maltratavam os estrangeiros, como so citados, que os imolava Diana, foram o horror de todas as Naes, e Grcio'!" diz, com razo, que a extrema crueldade deles os apartou da sociedade humana. Todos os demais povos tinham o direito de unir-se para castig-los.
(17)

Vide nota 7 no XL, capo XX, Liv. II, Draitdelaguerre et de lapaix.

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105: DEVERES DOS ESTRANGEIROS: Em reconhecimento pela proteo que lhe concedida, e demais vantagens que usufrui, o estrangeiro no deve contentar-se em obedecer as leis do pas, mas deve assisti-lo quando for a ocasio e contribuir para a defesa do mesmo, tanto quanto a sua qualidade de cidado de outro Estado o permita. Veremos alhures o que ele pode e deve fazer, quando o pas no qual ele reside est engajado numa guerra. Mas nada o impede de defender esse pas contra piratas ou bandoleiros, contra flagelos de inundao ou de incndio. E pretenderia ele viver sob a proteo de um Estado e dele usufruir muitas vantagens, sem nada fazer para defend-lo, permanecendo um espectador tranqilo dos perigos dos cidados?
106: A QUE ENCARGOS OS ESTRANGEIROS ESTAo SUJEITOS: Um estrangeiro no pode, na verdade, estar submetido aos encargos que so diretamente vinculados cidadania; mas ele deve subordinar-se aos demais encargos. Isento de servio militar e dos tributos destinados manuteno da Nao, ele pagar os tributos sobre as provises, sobre as mercadorias, etc., numa palavra, sobre tudo que tenha relao apenas com a residncia no pas ou com os negcios que o trouxeram at ele. 107: Os ESTRANGEIROS PERMANECEM MEMBROS DE SUA NAAo DE ORIGEM: O cidado ou sdito de um Estado, que se ausenta por um tempo, sem a inteno de abandonar a sociedade de que membro, no perde a cidadania em sua ausncia. Mantm seus direitos e permanece vinculado s obrigaes anteriores. Recebido no pas estrangeiro, em virtude da sociedade natural, da comunicao e do comrcio que as Naes so obrigadas a manter reciprocamente 11, 12; Livro 11, 21), ele deve ser considerado como um cidado de seu Estado de origem e tratado como tal. 108: O ESTADO NAo TEM NENHUM DIREITO SOBRE A PESSOA DO ESTRANGEIRO: O Estado, sendo obrigado a respeitar os direitos de outras Naes e dos homens em geral, no pode arrogar-se nenhum direito

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sobre a pessoa de um estrangeiro que, pela mera entrada no seu territrio, no se tornou seu sdito. O estrangeiro no pode pretender a liberdade de viver no pas, sem respeitar-lhes as leis; se ele as viola est sujeito punio, como perturbador da paz pblica e culpado para com a sociedade; mas ele no est submetido como os cidados a todas as determinaes do soberano, e se lhe forem exigidas causas que no queira fazer, ele pode deixar o pas. Livre em todo o tempo para partir, o Estado no tem o direito de ret-lo, a no ser que seja temporariamente e por motivos muito particulares, como por exemplo, em poca de guerra, o temor de que, conhecedor da situao do pas e de suas fortalezas, transmita informaes a respeito ao inimigo. As viagens dos holandeses para as ndias Orientais nos ensinam que os reis da Coria detm pela fora os estrangeiros que naufragam em suas costas. Bodinv" assegura que um uso to contrrio ao direito das gentes se praticava em sua poca na Etipia e mesmo em Moscou, o que significa ferir em conjunto os direitos tanto do indivduo quanto do Estado a que pertence. As causas tm mudado bastante na Rssia; um nico reinado, o de Pedro, o Grande, trouxe este vasto imprio para o nvel dos Estados civilizados. 109: NEM SOBRE OS BENS DOS ESTRANGEIROS: OS bens de um particular no deixam de pertencer-lhe pelo fato de estar em pas estrangeiro. Eles ainda fazem parte da totalidade dos bens de sua Nao (81). As pretenses que o senhor do territrio queira ter sobre os bens de um estrangeiro so igualmente contrrias aos direitos do proprietrio e aos da Nao de que ele membro. 11O: QUEM sAo OS HERDEIROS DE UM ESTRANGEIRO: Desde que o estrangeiro permanece cidado de seu prprio pas e membro da prpria Nao (107), os bens que ele deixar ao falecer num pas estrangeiro devem naturalmente passar queles que so seus herdeiros, de acordo
(18)

De la

Lv. I, capo VI.

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com as leis do Estado do qual ele membro. Mas esta regra geral no impede que os bens imveis sejam regulados pelas leis do pas onde esto situados (Vide 103).

111: Do TESTAMENTO DE UM ESTRANGEIRO: Como o direito de legar por meio de testamento ou de dispor de seus bens na eventualidade de morte um direito resultante de propriedade, no pode esse direito sem cometer injustia ser subtrado de um estrangeiro. Tem este, pois, o direito natural de fazer um testamento. Mas pergunta-se a qual lei ele obrigado a respeitar, seja quanto forma do testamento, seja quanto s disposies do mesmo: 1) Quanto forma ou aos procedimentos destinadas a atestar a veracidade do testamento, parece que o outorgante deve observar aqueles que so prescritos no pas onde o testamento redigido, a menos que a lei do Estado de que o outorgante membro disponha de maneira diferente, caso em que ele obrigado a seguir as formalidades prescrita por esta lei, se ele quiser dispor de forma vlida dos bens que possui em sua ptria. Estou falando de um testamento que para ser aberto no lugar do falecimento, pois, se um viajante fizer seu testamento e mand-lo lacrado para o seu pas, como se o testamento nele tivesse sido escrito e as leis desse pas devem prevalecer. 2) No concernente s disposies, j observamos que aquelas relativas a imveis, devem conformar-se com as leis do pas em que eles se situam. O outorgante estrangeiro no pode tambm dispor dos bens imveis que possui em sua ptria, a no ser que seja de conformidade com as leis vigentes em sua ptria. Mas quanto aos bens mveis, dinheiro e outros bens, os quais ele possui alhures ou que os tenha consigo, uma distino deve ser feita entre as leis que afetam propriamente a qualidade de cidado. Desde que o estrangeiro permanece cidado de sua ptria, ele continua vinculado s leis de sua ptria onde quer que se encontre, e deve conformar-se com essas mesmas leis ao dispor de quaisquer de seus bens mveis. A esse respeito, as leis do pas em que ele se encontra e do qual ele no cidado, no o obrigam. Assim, um

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homem que faz um testamento e morre num pas estrangeiro no pode privar sua viva da parte de seus bens mveis a ela destinados pelas leis de sua ptria. Dessa forma, um genebrino, obrigado pelas leis de Genebra, a deixar uma herana legtima a irmos ou a primos, se eles forem os seus mais prximos herdeiros, no pode priv-los da mesma pelo fato de ter feito seu testamento em pas estrangeiro, enquanto permanecer cidado de Genebra; e um estrangeiro, ao morrer em Genebra, no est obrigado a obedecer neste caso s leis desta repblica. O contrrio sucede com as leis locais;elas regulam o que pode ser feito no territrio, e no tm vigncia fora dele. O autor de um testamento no est mais submetido a elas, desde que esteja fora territrio, e alcanam os bens situados no exterior. O estrangeiro se encontra obrigado a observar as leis locais do pas onde faz o testamento em relao aos bens que possuir nesse pas. Assim, um cidado de Neuchatel, para quem as trocas so proibidas em sua ptria, para os bens que nela possui, pode trocar livremente os bens que estiverem consigo e que no estiverem sob a jurisdio de seu prprio pas, se ele falecer em pas onde as trocas so permitidas; e um estrangeiro, que faz um testamento em Neuchatel, no poder trocar os bens, mesmo mveis, que a possui, a menos que, na verdade, possa ser estabelecido que os seus bens mveis esto excetuados pelo esprito da lei. 112: Do DIREITO DO FORASTEIRO: OS princpios estabelecidos nos trs pargrafos precedentes so suficientes para mostrar como limitada a justia com que o fisco se atribui, em alguns Estados, os bens que um estrangeiro neles deixa ao morrer. Esta prtica baseada no que chamado droit d'aubaine, pelo qual os estrangeiros so excludos de toda sucesso no Estado, seja em relao aos bens de um cidado, seja em relao aos bens de um estrangeiro. No podem eles por conseguinte ser institudos herdeiros por testamento, nem receber legados: Grcio diz com razo "que esta lei provm dos sculos em que os estrangeiros estavam quase sendo considerados como inimigos'I"? Mesmo quando
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Droit de laguerre et delapaix, Liv, Il, capo VI, 14.

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os romanos se tornaram um povo muito polido e muito esclarecido, eles no podiam acostumar-se a considerar os estrangeiros como homens que tm direitos em comum com eles. "Os POVOS", diz o jurista Pomponius, "com os quais no temos nem amizade, nem hospitalidade, nem aliana, no so nossos inimigos; entretanto, se uma coisa que nos pertence cai em suas mos, eles tomam-se proprietrios dela; os homens livres tornam-se deles escravos; e eles esto nos mesmos termos em relao a ns"(20). Deve-se acreditar que um povo to sbio no manteria leis to desumanas seno por necessidade. Outra razo no podia existir para que no tivessem nenhuma relao, inclusive tratado, com as Naes brbaras. Bodin (21) mostra que o droit d'aubaine derivado dessas dignas fontes. Ele foi sucessivamente mitigado, ou mesmo abolido, na maioria dos Estados civilizados. O imperador Frederico 11 foi o primeiro a derrog-lo por um edito que permite "a todos os estrangeiros agonizantes dentro dos limites do Imprio a disporem de seus bens por testamento, ou se morrerem sem deixar testamento, a deixar seus parentes mais prximos como herdeiros"(22). Mas Bodin queixa-se de que esse edito bem mal executado. Como pode subsistir qualquer vestgio de to brbaro direito na Europa de nossos dias to esclarecida, to imbuda de princpios humanos? A lei natural no pode permitir o exerccio desse direito seno por via de retorso. assim que dele usa o rei da Polnia em seus Estados hereditrios. O droit d'aubaine existe na Saxnia; mas o soberano justo e eqitativo o pe em prtica somente contra aquelas Naes que subjuguem os saxes.

113: Do DIREITO DE FORAINE: O direito de traite-foraine, que se chama em latim detractus, est mais de acordo com a justia e com os mtuos deveres das Naes. Este o direito em virtude da qual o soberano retm uma parte mdica dos bens, seja
(20)

Lib. XLIX, tit, Xv.

captivis etposflimin.

(21)

De la

Liv. I, capo VI.

(22)-Ibidem.

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dos cidados, seja dos estrangeiros, que saem de territrio para irem a mos estrangeiras. Como a sada desses bens uma perda para o Estado, razovel que o Estado possa da receber uma indenizao eqitativa. 114: Dos IMVEIS POSSUDOS POR ESTRANGEIRO: Todo Estado livre para conceder ou recusar aos estrangeiros a faculdade de ter terra ou outros bens imveis no seu territrio. Se ele conceder esse direito, esses bens estrangeiros permanecem sujeitos jurisdio e s leis do Estado e passveis de tributao como os demais bens. O imprio do soberano estende-se por todo o territrio e seria absurdo excetuar certas pores dele,pelo fato de serem possudos por estrangeiros.Se o soberano no permite a estrangeiros possuir imveis, ningum tem o direito de queixar-se pois o soberano pode ter boas razes para assim decidir e os estrangeiros no podem atribuir-se nenhum direito nesse assunto (79); eles no devem mesmo discordar que o soberano use de seu poder e de seus direitos pela maneira que achar mais salutar para o Estado. E desde que o soberano pode recusar aos estrangeiros o direito de possuir bens imveis, ele pode naturalmente conceder-lhes esse direito sob certas condies. 115: CASAMENTO DE ESTRANGEIROS: Nada impede naturalmente que estrangeiros possam contrair matrimnio no Estado em que se encontram. Mas se a Nao achar que tais casamentos lhe so prejudiciais ou perigosos, ela tem o direito e mesmo o dever de proibi-los ou de conceder-lhes a permisso sob certas condies. E como compete a ela, ou a seu soberano, buscar o melhor para o Estado, as demais Naes devem aquiescer ao que for estipulado a respeito por um Estado proibido em quase todos os Estados aos cidados casarem-se com estrangeira de diferente credo religioso. Em muitas partes da Sua, um cidado no pode se casar com estrangeira a menos que ele fornea provas de que ela lhe transfere pelo casamento determinada soma fixada por lei.

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CAPTULO

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IX

Dos direitos que subsistem para todas as Naes a introduo do domnio e da propriedade
116: QUAIS sAo OS DIREITOS DE QUE OS HOMENS NAo PODEM SER PRIVADOS: Como j observamos, se a obrigao confere direito s causas sem as quais ela no pode ser satisfeita, toda obrigao absoluta, necessria e irtdispensvel produz dessa maneira direitos que so igualmente absolutos, necessrios e que ningum pode subtrair. A natureza no impe obrigaes aos homens sem lhes dar os meios para satisfaz-las. Eles tm direito absoluto ao uso necessrio de tais meios e nada pode priv-los desse direito, como nada pode dispens-los de suas obrigaes naturais. 117: Do DIREITO QUE SUBSISTE DA COMUNIDADE PRIMITIVA: Na comunidade primitiva os homens tinham, sem distino, o direito de usar todas as causas, tanto quanto fosse necessrio, para satisfazer-lhes as obrigaes naturais e, desde que nada pode priv-los desse direito, a no pde ser feita, a no ser deixando introduo do domnio e da a todo homem o direito de uso necessrio das causas necessrias, isto , o uso absolutamente necessrio para a realizao de suas obrigaes naturais. No se pode, pois, sup-los introduzidos seno com essa implcita restrio, que todo homem retm algum direito sobre as causas submetidas propriedade, naqueles casos em que, sem esse direito, ele estaria absolutamente privado do uso necessrio das causas dessa natureza. Esse direito uma sobrevivncia necessria da comunidade primitiva. 118: Do DIREITO QUE RESTA PARA CADA NAAo SOBRE O QUE PERTENCE S DEMAIS O domnio das Naes no impede, pois, que cada uma ainda tenha algum direito sobre o que pertence s demais, nos casos em que ela se encontrar privada do uso de certas causas necessrias e se a propriedade de outrem no a excluir absolutamente desse uso.

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Para fazer uma justa aplicao desse princpio, preciso pesar cuidadosamente todas as circunstncias.

119: Do DIREITO DE NECESSIDADE: O mesmo deve ser dito do de necessidade. Chama-se assim o direito que a mera necessidade d para certos atos, alis ilcitos, quando sem esses atos o cumprimento de uma obrigao indispensvel fica impossibilitado. Devemos estar certos de que a obrigao realmente indispensvel no caso e que o ato em questo o nico meio de satisfazer essa obrigao. Se uma ou outra dessas duas condies faltar, o direito de necessidade no existe. Pormenores deste assunto podem ser encontrados em tratados sobre direito natural e essencialmente naquele de Wolff. Limito-me a relembrar aqui brevemente os princpios que so necessrios para explicar o direito das Naes. 120: Do DIREITO DE OBTER VVERES PELA FORA: A terra deve nutrir seus habitantes; a propriedade de uns no pode induzir aquele que nada tem a morrer de fome. Quando, pois, uma Nao estiver em necessidade absoluta de vveres, ela pode forar seus vizinhos, que os tm em abundncia, a ced-los por um preo justo, ou mesmo constrang-los pela fora, se no quiserem vend-los. A necessidade premente restaura o estado original de comunidade primitiva, cuja abolio no deve privar ningum do necessrio (117). O mesmo direito pertence a indivduos, quando uma Nao estrangeira lhes recusa assistncia. O capito holands Bontekoe, tendo perdido seu navio em pleno mar, salvou-se com parte de sua equipagem numa chalupa e chegou a uma costa indiana, cujos habitantes selvagens lhes recusaram comida. Os holandeses a obtiveram pela fora.
121: Do DIREITO DE SE SERVIR DE COUSAS PERTENCENTES AOUTREM: Assim, se uma Nao tem necessidade premente de navios, carretas, cavalos ou mesmo do trabalho de estrangeiros, ela pode deles fazer uso, de bom grado ou pela fora, contanto que os proprietrios no estejam

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na mesma necessidade que ela. Mas como ela no tem mais direito a essas cousas seno em razo da necessidade, ela deve pagar pelo uso que delas fizer se tiver com o que pagar. A prtica europia est de acordo com este princpio. Navios estrangeiros que estejam em portos so retidos em caso de necessidade, mas paga-se o servio que deles resultar. 122: Do DIREITO DE SUBTRAIR MULHERES: Deixe-nos dizer uma palavra sobre um caso mais singular, a que autores tm feito meno, mas que raramente suscita ensejo para o uso de fora nos dias de hoje. Uma Nao no pode manter sua existncia contnua exceto pela procriao. Um povo de homens tem pois o direito de obter mulheres, absolutamente necessrias a sua preservao; e se seus vizinhos as tm mais do que for necessrio e oferecem recusa a esse povo, este pode ter o direito de recorrer fora. Exemplo famoso o do rapto das Mas, se permitido a uma Nao obter, mesmo pela fora de armas, a liberdade de procurar mulheres para casamento, nenhuma delas em particular pode ser constrangida na sua escolha, nem tornar-se de direito a esposa de um raptor. Este um ponto que no tem sido suficientemente notado por aqueles que tm decidido sem restrio que os romanos no cometeram nada de injusto nessa ocasiov", verdade que as sabinas se submeteram de bom grado prpria sorte; e quando a Nao delas pegou em armas para ving-las, pareceu bastante, no zelo com o qual lutaram entre os combatentes, que elas de bom grado reconheciam os romanos como esposos legtimos. Digamos ainda que se os romanos no comeo, como muitos pretendem, no eram mais que um bando de malfeitores sob a liderana de Rmulo, eles no formavam uma Nao real, um verdadeiro Estado. Povos vizinhos estavam perfeitamente justificados ao recusar dar-lhes mulheres e a lei natural, que no aprova seno sociedades civis justas, no exigia que se fornecesse a essa sociedade de vagabundos e ladres
(23)
(24)

IIT. UVIUS, tu. 1.

Vide WOLFF,Jus Cent., 34.

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os meios de perpetuar-se e muito menos ela os autorizava a obterem esses meios pela fora. Igualmente, nenhuma Nao era obrigada a fornecer homens s amazonas. Este povo de mulheres, se ele realmente existiu, punha-se a si mesmo, por sua culpa, sem condies de sobreviver sem apoios estrangeiros. 123:Do DIREITO DE PASSAGEM: O direito de passagem tem tambm sobrevivido comunho primitiva, na qual toda a terra era comum aos homens e cada qual tinha acesso livre em toda a parte, de acordo com suas necessidades. Ningum pode ser inteiramente privado de tal direito (117), mas o exerccio dele tem sido restringido pela introduo do domnio e da Desde essa introduo, no se pode usar desse direito seno mediante considerao aos direitos alheios. O efeito da propriedade o de fazer prevalecer os direitos do proprietrio sobre os dos demais. Se, ento, o dono de um territrio vos proibisse de nele entrar, deveis ter alguma razo, mais forte que todas as do proprietrio, de para entrar em seu domnio a despeito dele. Tal ocorre com o ele vos permite uma ao, ilcita em outras circunstncias, a de no respeitar o direito de domnio. Quando vs estais compelidos por uma verdadeira necessidade a entrar em terra alheia, por exemplo, se no podeis de outro modo escapar de perigo iminente, se no podeis obter os meios de vida, ou aqueles aptos a satisfazer alguma outra obrigao indispensvel, exceto passando sobre aquelas terras, vs podeis forar a passagem que vos injustamente recusada. Mas se o dono compelido por uma igual necessidade a vos recusar acesso e o faz com justia, o direito dele prevalece sobre o vosso. Assim um navio, batido pela tempestade tem o direito de entrar num porto estrangeiro, mesmo pela fora. Mas se esse navio infectado pela peste, a autoridade do porto o afastar a tiros de canho e, ao faz-lo, no pecar nem contra a justia, nem contra a caridade. 124: Do DIREITO DE OBTER AS COUSAS DE QUE SE NECESSITA: O direito de passagem por um pas seria em muitos casos intil se no se

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tivesse tambm o direito de obter por preo justo as cousas de que se necessita; e j mostramos (120) que, em tempo de necessidade, os suprimentos de comida podem ser obtidos mesmo por fora. 125:Do DIREITO DE HABITAR PAs ESTRANGEIRO: Ao falar de exilados e de banidos, observamos (Livro I, 229, 231) que todo homem tem o direito de habitar qualquer parte da terra. Os princpios que estabelecemos para os indivduos podem ser aplicados a todas as Naes. Se um povo for expulso de sua morada, ele tem o direito de buscar um refgio. A Nao para a qual ele se enderea deve, pois, conceder-lhe abrigo, ao menos por um tempo, se ela no tiver srias razes para a recusa. Mas se as suas prprias terras no so suficientes para ela mesma, cessa a obrigao de admitir estrangeiros dentro dela permanentemente. E mesmo quando no lhe convier conceder-lhes habitao perptua, ela poderia mand-los embora. Como tm condies de buscar refgio alhures, eles no podem beneficiar-se do direito de necessidade para permanecer l a despeito do soberano do pas. Mas depois de tudo, esses fugitivos devem achar um asilo em algum lugar, e se todas as Naes lhe recusam conced-lo, eles podero com justia assentar-se no primeiro pas onde acharem terra suficiente sem delas privar os habitantes. No entanto, mesmo neste caso, a necessidade somente lhes d o direito de habitao e devero submeter-se a todas as condies tolerveis que lhes sejam impostas pelo soberano do pas: como o de pagar-lhe um tributo, tornarem-se sditos ou, ao menos, viver sob a sua proteo e de depender dele em certos aspectos. Este direito, assim como os dois precedentes, um resqucio da comunho primitiva.

126: DAS cousxs DE USO INESGOTAVEL: Ficamos, s vezes, obrigados a antecipar o presente captulo para seguir a ordem das matrias. Assim, ao falar do alto mar, observamos (Livro I, 281) que cousas de uso inesgotvel no podem cair no domnio ou na propriedade de ningum porque, no estado livre e independente, no qual a natureza as produziu, elas podem ser igualmente teis a todos os homens. Mesmo as cousas

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que, em outros aspectos, esto submetidas propriedade privada, se elas tm uso inesgotvel, permanecem comuns quanto a esse uso. Assim, um rio pode ser objeto de propriedade e soberania, mas em sua qualidade de gua corrente ele permanece comum, isto , o dono do rio no pode impedir ningum de beber-lhe a gua. Tambm o mar, mesmo em suas partes ocupadas, se destina navegao de todos e quem tem o domnio dessas partes no pode impedir a passagem de navio do qual nada tenha a temer. Mas pode acontecer por acaso que este uso inesgotvel possa ser recusado com justia pelo dono da cousa. Por exemplo, se no podeis chegar ao meu rio para nele se abastecer de gua, sem passar pelas minhas terras e destruir os frutos nelas existentes, eu posso, por essa razo, excluir-vos do uso inesgotvel da gua. Isto nos leva a falar de outro direito, estritamente conectado com o presente direito, e que dele decorre: o chamado direito de uso inocente. 127: Do DIREITO DE uso INOCENTE: USO inocente ou inocente aquele uso que pode ser feito de uma cousa, sem causar nem perda ou inconvenincia ao proprietrio, e o direito de uso inocente o direito que se tem a essa utilidade ou a esse uso, que se pode ter das cousas pertencentes a outrem sem causar-lhe nem perda nem inconvenincia. O direito de uso inocente decorre do direito s cousas de uso inesgotveL Com efeito, uma cousa que pode ser til a algum, sem perda nem inconvenincia para o proprietrio, a esse respeito de uso inesgotvel, e por essa razo que a lei natural admite um direito comum a todos os homens apesar da introduo do domnio e da propriedade. A natureza, que destina as suas ddivas para o proveito comum dos homens, no admite que elas sejam subtradas ao uso de todos, desde que esse uso no redunde em prejuzo ao proprietrio e lhe permita usufruir da utilidade e vantagens resultantes do exerccio de seus direitos. 128: DA NATUREZA DO DIREITO INOCENTE EM GERAL: O direito de de necessidade, uso inocente no um direito perfeito como o o

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pois compete ao proprietrio da cousa julgar se o seu uso no lhe causa dano, nem inconvenincia. Se outros pretendem assim julgar e constranger o proprietrio em caso de recusa, ele no mais seria o senhor de seu bem. Com freqncia, o uso de uma cousa parecer inocente quele que dela quer aproveitar, embora no o seja de fato: tentar forar o proprietrio expor-se a cometer uma injustia, ou antes, comet-la efetivamente. Em todos os casos susceptveis de dvida, no h pois seno um direito imperfeito ao uso inocente das cousas pertencentes a outrem. 129: Nos CASOS NO DUVIDOSOS: Mas quando a inocncia do uso for evidente, absolutamente indubitvel, a recusa uma injria. Essa recusa no apenas priva manifestamente do direito de uso inocente aquele que o pleiteia, mas testemunha tambm intenes de dio ou de desprezo. Recusar a um navio mercante a passagem num estreito, a pescadores a liberdade de secar redes na margem do mar, ou a de retirar gua do rio, tudo isso importa em ferir o direito ao uso inocente. Mas em todos os casos, em que no haja necessidade urgente, pode-se pedir ao proprietrio para indicar os motivos de sua recusa e se nenhum motivo for apresentado, dever ser considerado como injusto ou como inimigo. Em geral, nossos sentimentos e conduta acerca dele sero ditados pela maior ou mesmo total improcedncia das razes apresentadas. 130: Do EXERCCIO DESTE DIREITO ENTRE AS NAES: Subsiste, pois, para todas as Naes, um direito geral ao uso inocente das co usas que so do domnio de alguma delas. Mas compete Nao proprietria verificar se o uso da cousa que lhe pertence verdadeiramente inocente e se ela se recusa a faz-lo deve alegar motivos para tanto, no podendo privar,por mero capricho, as demais Naes do uso do direito que possuem: tudo o que estamos a dizer est na esfera jurdica, pois preciso lembrar que a utilidade inocente das cousas no est compreendida no domnio ou na propriedade exclusiva. O domnio confere apenas o direito de

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julgar, em determinado caso, se a utilidade verdadeiramente inocente. Ora, aquele que julgadeve ter motivos e deve indic-los, se quiser parecer julgar e no agir por capricho ou por m vontade: tudo isso, digo, de direito. Iremos ver no captulo seguinte os deveres de uma Nao para com outras, no uso que ela faz de seus direitos.
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Como

Nao deve o de domnio para desobrigar-se de seus para com outras a utilidade inocente

131: DEVER GERAL DO PROPRIETARIo: Uma vez que o direito das gentes trata tanto dos deveres da Nao como de seus direitos, no bastante a exposio acima feita acerca do inocente e do que as N aes podem legitimamente exigir do proprietrio. Devemos agora considerar como a conduta do proprietrio dever ser influenciada pelos deveres dele acerca de outras Naes. Como cabe ao proprietrio julgar se o uso realmente inocente, se no lhe causa nem dano nem inconvenincia, cumpre-lhe tambm basear a sua recusa em razes reais e substanciais; o que consiste num princpio de eqidade. Ele no deveria mesmo deter-se em mincias, em perda ligeira, ou em algumas pequenas inconvenincias: a humanidade o probe e o amor mtuo entre os homens exige sacrifcios maiores. Seria certamente demasiado afastar-se dessa benevolncia universal que deve unir o gnero humano, recusar a um indivduo ou a toda uma Nao um benefcio considervel s porque do uso do direito poderia resultar uma perda ligeira ou uma pequena inconvenincia para ns. A esse respeito uma N ao deve, pois, regulamentar a sua conduta em toda ocasio com real considerao s vantagens e necessidades de outrem e deve pr de lado qualquer pequena despesa, ou uma inconvenincia suportvel, em face do grande bem que possa sobrevir para terceiros. Mas nada a obriga a ter despesas ou inconvenincias pelo fato de

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conceder a outras Naes o uso de uma certa cousa, quando tal uso no lhes nem necessrio nem muito til. O sacrifcio, que estamos aqui a pedir, no completamente contrrio aos interesses da Nao. razovel pensar que as outras Naes usaro de reciprocidade e, no todo, quais vantagens disso no adviro para todos os Estados? 132: DA PASSAGEM INOCENTE: A propriedade no pode privar as Naes do direito geral de transitar pela terra para comunicar-se mutuamente, e por outros motivos justos, como o do comrcio recproco. O governante de um pas pode somente recusar passagem em ocasies especiais quando entend-la prejudicial ou perigosa. Ele deve pois conced-la por motivos legtimos, todas as vezes que ela no lhe for inconveniente. No pode recus-la se ele deseja cumprir seus deveres e no abusar de seus direitos de propriedade. No pode, pois, legitimamente vincular condies onerosas a uma concesso que lhe obrigatria. Quando o conde de Lupfen tomou impropriamente certos bens comerciais na Alscia, a queixa foi levada ao imperador Sigismundo, que estava ento no conclio de Constncia. O imperador reuniu os eleitores, os prncipes e os deputados das cidades para examinar o caso. O parecer do burgrave de N uremberg merece ser recordado: "Deus", disse ele, "criou o cu para si mesmo e seus santos, e deu a terra aos homens para ser usada tanto pelos pobres como pelos ricos. Os caminhos so para o uso dos homens, e Deus no os submeteu a nenhum tributo." Ele condenou o conde de Lupfen a restituir as mercadorias e pagar danos e despesas porque no podia justificar a sua atitude com base em nenhum direito particular. O imperador aprovou esse parecer e dessa forma decidiuv", 133: DAS GARANTIAS A EXIGIR: Mas se a passagem suscita algum perigo, o Estado tem o direito de exigir garantias e aquele que deseja
(25)

STETTLER, Tomo I, p. 114. TSCHUDI, Tomo II, p. 27, p. 28..

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passar no pode recus-las. O direito de passagem somente existe na condio de no ser prejudicial ao Estado. 134: Do TRNSITO DE MERCADORIAS: O trnsito deve ser tambm concedido para as mercadorias e como ele no ordinariamente danoso, recus-lo, sem justas razes, constituiria injria para uma Nao e tentativa de priv-la dos meios de comerciar com outras Naes. Se tal passagem causar qualquer inconvenincia, ou quaisquer despesas para a manuteno de caminhos e canais, a compensao deve ser obtida pela imposio de pedgio (Livro I, 103). 135: DA ESTADA NO PAs: Ao explicar os efeitos do domnio, dissemos anteriormente (. 94 e 100) que o proprietrio de um territrio pode proibir a entrada nele, ou permiti-la mediante condies que julgar adequadas. Estvamos falando ento de seu direito externo - aquele direito que estrangeiros so obrigados a respeitar. Agora, ao considerar o tema sob outra face, relativamente aos deveres do proprietrio em relao ao seu direito interno, dizemos que ele no pode, sem razes especficas e importantes, recusar trnsito ou estadia no territrio aos estrangeiros que os requeiram por causas justas. Desde que nesses casos, ambos, passagem e residncia, so de utilidade inocente, a lei natural no lhe d o direito de recusar o pedido e, embora as demais Naes e os outros homens em geral, sejam obrigados a concordar com o seu julgamento (. 128, 130), o proprietrio no deixa de pecar contra o seu dever, se a sua recusa for infundada: ele estar agindo sem nenhum direito verdadeiro e abusa apenas de seu direito externo. No se pode, pois, sem razo especial e urgente, recusar o direito de residncia a um estrangeiro que vem ao pas na esperana de recuperar a sade ou com o propsito de estudar nas suas escolas e academias. A diferena de religio no motivo para excluir o estrangeiro, contanto que ele se abstenha de dogmatizar. Essa diferena no o priva dos direitos de humanidade.

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VATIEL

136: COMO SE DEVE AGIR PARA COM OS ESTRANGEIROS QUE REQUEREM

RESIDNCIA PERMANENTE: Temos visto (125) que o direito de necessidade pode, em certos casos, autorizar um povo expulso de seu territrio a estabelecer-se no territrio de outra Nao. Todo Estado deve, sem dvida, dar a um povo to infeliz assistncia e apoio sem negligenciar-se a si prprio. Mas um assentamento dentro de seu domnio territorial um passo muito srio, cujas conseqncias o dirigente do Estado deve avaliar cuidadosamente. Os imperadores Probus e Valens erraram ao admitir dentro do imprio numerosos gepidas, vndalos, godos e outros brbaros. Se o soberano antev perigo ou srias inconvenincias, ao admitir esses povos fugitivos, justificvel que se recuse receb-los ou, se j os tenha recebido, que tome as precaues que a prudncia lhe ditar. Medida segura ser no permitir que esses estrangeiros habitem juntos uma mesma regio e nela preservem a sua identidade natural. Os homens que no souberam proteger os seus lares, no podem clamar por nenhum direito de ficar em territrio alheio e l permanecer como um corpo poltico distintd26). O soberano que os recebe pode distribu-los ao longo das cidades e provncias necessitadas de habitantes. Deste modo, a caridade redundar em seu favor, ao crescimento de seu poder, e ao maior bem do Estado. Quo diferente Brandenburg tem sido, desde que refugiados franceses foram para l! O grande eleitor, Frederico . Guilherme, ofereceu asilo quelas pessoas infelizes e lhes pagou a viagem; ele os assentou em seus Estados com despesa real e este prncipe benfazejo e generoso mereceu o nome de poltico hbil e sbio. 137: Do DIREITO PROVENIENTE DE UMA PERMISsAo GERAL: Quando, pelas leis ou pelo costume de um Estado, certos atos so concedidos a estrangeiros em geral, como, por exemplo, o de viajar livremente pelo pas sem permisso expressa, de nele casar-se, de nele comprar ou
(26)

CESAR respondeu aos teutos e aos IISipetOS, que queriam reter as terras de que se tinham apossado, no ser justo que eles invadissem o bem alheio, depois que no esse, qlli SilOS finas 111m' non potuerint, alienas tinham podido defender o seu: Neque occspare. De Bel/o Calfico, Lib. IV, capo VIII.

o DIREITO DAS

265

vender certos bens, de nele caar, de nele pescar, etc., no se pode excluir uma determinada Nao da permisso geral sem fazer-lhe injria, a menos que haja alguma razo especial e legtima para recusar-lhe o que a outras se concede indferentemente. Trata-se aqui, como se nota, de atos que podem ser de utilidade inocente. E pelo fato de que a Nao concede tais privilgios indstintamente a estrangeiros prova suficiente que ela considera os atos em questo inocentes at onde seja concebvel, e tambm uma declarao de que estrangeiros tm direito a elas (127): a inocncia manifesta por confisso do Estado e a recusa de uma utilidade manifestamente inocente constitui injria (129). Alis, proibir sem motivo a um povo o que se permite indferentemente a todos importa em dscriminao injuriosa, pois nesse caso ela no pode proceder seno do dio ou do desprezo. Se h uma razo especial e bem fundamentada para abrir exceo, no cabe mais alegar-se utilidade inocente em relao a esse povo e a ele no se faz nenhuma injria. O Estado pode ainda, sob forma de punio, excetuar da permisso geral um povo que lhe d justas causas de queixa. 138: Do DIREITO CONCEDIDO COMO BENEFCIO: Quando direitos deste carter so conceddos a uma ou mais Naes por razes particulares, eles lhes so dados em forma de benefcios, ou por conveno, ou em reconhecimento de algum servio; aqueles a quem se recusam os mesmos direitos no podem considerar-se ofenddos. A Nao no julga que os atos de que se cogita sejam de utilidadeinocente, pois ela no os permite a todos indferentemente, e ela pode dscricionariamente ceder direitos sobre o que lhe pertence, sem dar a ningum motivo de queixa ou pretenso ao mesmo favor. 139: A NAAo DEVE SER OFICIOSA: A humanidade no se limita a permitir s Naes estrangeiras o uso inocente que elas podem usufruir do que nos pertence; ela exige que lhe facilitemos os meios de aproveitar esse uso tanto quanto possamos faz-lo, sem prejudcar a ns tpesmos. Assim, adequado a um Estado bem policiado providenciar um nmero

266 suficiente de hospedarias onde viajantes possam obter comida e alojamento por um preo justo, velar pelo bem-estar deles e prover para que sejam tratados com eqidade e humanidade. Uma Nao civilizada deve receber estrangeiros com gentileza e cortesia, e manifestar-lhes, em todas as cousas, uma atitude oficiosa. Fazendo tal, cada cidado, ao cumprir os seus deveres para com todos os homens, estar, ao mesmo tempo, servindo utilmente o seu pas. A glria a recompensa certa da virtude, e a benevolncia que atrai amabilidade, freqentemente, produz resultados que so de grande importncia para o Estado. Nenhum povo merece tanto louvor a este respeito quanto a Frana; os estrangeiros no recebem alhures acolhimento mais gentil, mais prprio a impedi-los de lamentar as quantias imensas que gastam anualmente em Paris.
CAPTULO

XI

Do usucapio e da prescrio entre as Naes

140: DEFINIAo DE USUCAPIO E DE PRESCRIO: Vamos concluir nossa discusso sobre domnio e propriedade com um exame sobre questo clebre, acerca da qual as opinies dos sbios so muito divididas. Indagase se o usucapio e a prescrio podem ter lugar entre povos ou Estados independentes. Usucapio a aquisio do domnio fundamentada em longa posse, ininterrupta e incontestada; isto , uma aquisio que provada pelo mero fato da posse. Wolff define-a como uma aquisio de domnio fundamentada em abandono presumido. Essa definio explica a maneira pela qual uma longa e tranqila posse pode servir para estabelecer aquisio do domnio. Modestinus, Digesf., 1,3 de Usurpo et Usucap.; diz em conformidade com os princpios do direito romano, que o usucapio a aquisio do domnio resultante de uma posse contnua durante um perodo definido por lei. Estas trs definies nada tm de incompatveis entre si e podem ser facilmente conciliadas, fazendo-se abstrao do

o DIRI':ITO

G"NTI'S

267

que se relaciona com o direito civil na ltima definio, e procuramos expressar claramente, na primeira definio, a idia comumente associada com o termo usucapio. Prescrio a excluso de toda pretenso a algum direito, fundada na extenso do tempo durante o qual ele foi negligenciado ou, como Wolff a definiu, a perda de um direito prprio, em virtude de um consentimento presumido. Esta definio ainda real, ou seja, ela explica como a longa negligncia acarreta a perda desse direito, e se harmoniza com a definio nominal que demos sobre a prescrio e na qual nos limitamos a expor o que se entende comumente por esse termo. De resto, o termo usucapio pouco usado em francs, e nesse idioma, o termo prescnption inclui tudo que expresso nas palavras latinas usucapio e praescriptio. Empregaremos, pois, o termo prescrio quando no houver nenhuma razo especial para usar outro termo. 141: O EA DIRI:ITO NATURAL: Com o fim de decidir agora a questo que ns nos propusemos, devemos primeiro ver se o usucapio e a prescrio so de direito natural. Muitos ilustres autores o disseram e provaram. Embora neste tratado ns tenhamos presumido freqentemente um conhecimento pelo leitor do direito natural, convm estabelecer aqui o entendimento adotado sobre essa questo, porque a matria controvertida. A propriedade dos bens, e em particular a da terra, no foi estabelecida pela natureza; esta aprova apenas a introduo da propriedade para o benefcio do gnero humano. A partir da, seria absurdo dizer que, uma vez introduzidos o domnio e a propriedade, a lei natural possa assegurar ao proprietrio um direito capaz de criar distrbios na sociedade humana. Tal seria o direito de negligenciar inteiramente uma cousa que lhe pertence, de deix-la por um longo tempo com toda a aparncia de bem abandonado ou sem dono e, ento, de vir a subtra-la de um possuidor de boa f, que a teria talvez adquirido a ttulo oneroso ou que a teria recebido como herana de seus pais ou como dote de sua esposa, e que teria feito outras aquisies se tivesse

268
podido saber que isso no era nem legtimo, nem slido. Longe de conferir tal direito, a lei natural prescreve ao proprietrio o cuidado com aquilo que lhe pertence e o obriga a fazer conhecidos os seus direitos, para no induzir outros em erro: a mesma lei natural no aprova a sua propriedade, ela no lhe assegura a propriedade seno mediante essas condies. Se ele a negligencia durante um perodo to longo de tempo que no possa ser reclamada sem prejudicar direitos de terceiros, a lei natural no admite que ele venha a reivindic-la. No se deve, pois, conceber a propriedade como um direito to extenso e to inaltervel, que se possa negligenciar esse direito durante longo perodo, para depois faz-lo valer,em razo de capricho, com o risco de todas as inconvenincias que da possam resultar sociedade humana. Por que a lei natural exige que esse direito de propriedade seja respeitado por todos, se no o for para a paz, segurana e bem-estar da sociedade humana? Ela quer, pois, pela mesma razo, que todo proprietrio que negligencia o seu direito durante longo perodo, e sem nenhuma razo justa, seja presumido como tendo abandonado inteiramente esse direito e a ele renunciado. Eis o que constitui a presuno absoluta, ou juns et de jure, de abandono, e sobre a qual outra pessoa pode fundamentar um domnio legtimo propriedade abandonada. A presuno absoluta no significa aqui mera conjectura da vontade secreta do proprietrio, mas uma posio que a lei natural ordena tomar-se por verdadeira e estvel, com o objetivo de manter a ordem e a paz entre os homens. Essa mesma presuno gera uma titularidade to segura e justa quanto aquela da propriedade original, estabelecida e mantida pelas mesmas razes. a possuidor de boa f, baseado numa presuno dessa natureza, tem assim um direito aprovado pela lei natural; e essa mesma lei, ao decretar que os direitos de cada indivduo sejam seguros e certos, no permite que se perturbe o possuidor. a direito de usucapio significa propriamente que o possuidor de boa f, depois de uma posse longa e pacfica, no est obrigado a ter a sua propriedade questionada; ele prova a sua propriedade pelo mero fato da posse e repele o pedido do pretenso proprietrio com base na

l Di\S

269

prescrio. Nada mais eqitativo do que esta regra. Se fosse admitido ao demandante provar a sua propriedade, poderia ocorrer que fornecesse provas muito evidentes apenas na aparncia. Seria razovel deix-lo questionar os direitos do possuidor quando, por sua prpria culpa, deixou as causas chegarem a tal estado que a verdade corre o risco de ser desconhecida? Se um deles deve ser exposto perda do que seu, seria ento justo que fosse aquele que est em falta. verdade que se o possuidor de boa f vier a certificar-se, com inteira certeza, que o demandante o proprietrio verdadeiro e que nunca abandonou o seu direito,eledeve ento em conscincia,e pelo direito interno, restituir tudo aquilo que foi acrescido ao bem do demandante. Mas esta estimativa no fcil de fazer e depende das circunstncias do caso. i\ IlRDINAR1/\: Desde que a prescrio no pode ser fundamentada seno em presuno absoluta, ou legtima, ela no tem lugar se o proprietrio no tiver realmente negligenciado o seu direito. Esta condio implica trs causas: (I) Que o proprietrio no possa alegar uma ignorncia completa, nem de sua prpria parte, nem da parte dos seus autores; (11) Que ele no possa justificar o seu prprio silncio por razes legtimas e slidas; (111) Que ele tenha negligenciado o seu direito, ou guardado silncio, durante um nmero considervel de anos pois, uma negligncia de poucos anos, incapaz de produzir a confuso e de pr na incerteza os direitos respectivos das partes, no suficiente para autorizar ou fundamentar uma presuno de abandono. impossvel determinar em direito natural o nmero preciso de anos requerido para fundamentar a prescrio. Isso depende da natureza das circunstncias da cousa cuja propriedade disputada. PRESCRI(;Ao O que acabamos de observar no pargrafo precedente refere-se prescrio ordinria. H outra
143: 142: Do

270

forma de prescrio chamada imemorial, por ser fundamentada em posse imemorial; isto , em posse cuja origem desconhecida ou to obscura que no se poderia provar se o possuidor recebeu o seu direito do proprietrio ou se o recebeu de outrem. Esta prescrio imemorial assegura o direito do possuidor contra qualquer evico pois presume-se que ele proprietrio enquanto nenhuma razo vlida possa se lhe opor; e em que poderiam estas razes serem baseadas quando a origem da sua posse se perde na obscuridade do tempo? Essa origem coloca o possuidor protegido de toda pretenso contrria a seu direito. Onde deveramos parar se fosse permitido questionar um direito reconhecido durante um tempo imemorial e quando os meios de prov-lo foram destrudos pelo tempo? A posse imemorial , assim, um ttulo inexpugnvel e a prescrio imemorial um meio que no comporta nenhuma exceo. Ambas so fundamentadas na presuno de que a lei natural nos prescreve tom-las por uma verdade incontestvel.
AI.I,:(;A AS RAZ()ES SEU SIJi':NCIO: Nos casos 144: de prescrio ordinria, no se pode opor essa clusula quele que alega razes vlidas para o seu silncio, tal como a impossibilidade de falar, um temor bem fundamentado, etc., porque no h ento razo para se presumir ter ele abandonado o seu direito. No sua culpa acreditar poder presumi-lo, e ele no deve sofrer conseqncias decorrentes desse fato. No se lhe pode recusar a oportunidade de provar claramente sua propriedade. Este meio de defesa contra a prescrio tem freqentemente sido empregado contra prncipes cujas foras temveis tinham, por longo perodo, reduzido ao silncio as fracas vtimas de suas usurpaes.

145:
ABANDONAR SEU DIREITO:

TESTEMUNHA SUFICIENTEMENTE NO

bem evidente tambm que no se pode opor

a prescrio ao proprietrio que, no podendo reivindicar de fato o seu direito, limita-se a indicar suficientemente, de algum modo, que no pretende abandon-lo. para isso que servem os protestos. Entre

DAS

271

soberanos, o titulo e as armas de uma soberania de uma provncia so mantidos como prova que os direitos a elas concernentes no foram abandonados.

146:

NAS

DO PROPRII'TRIO: Todo

proprietrio que faz ou que expressamente omite causas que ele no pode fazer ou omitir, se ele no renuncia ao seu direito, indica suficientemente com isso que ele no pretende mant-lo, a no ser que ele faa reserva expressa para tal efeito. Tem-se por certo o direito de presumir como verdadeiro o que o proprietrio indica suficientemente nas ocasies em que deve falar a verdade; conseqentemente legtimo presumir que ele abandona o seu direito, e se ele tentar mais tarde reav-lo, h fundamento para se lhe opor a prescrio.

147: USUCAPIO I:

Tendo

mostrado que o usucapio e a prescrio so de direito natural, fcil provar que eles igualmente so integrantes do direito das gentes e devem ter lugar entre as Naes, pois o direito das gentes no nada mais que a aplicao da lei natural s Naes, feita de maneira adequada aos sujeitos (Preliminares 6). A natureza dos sujeitos no introduz aqui nenhuma exceo. O usucapio e a prescrio so de uso muito mais necessrio entre os Estados soberanos do que entre particulares. As controvrsias entre Estados so de outra natureza; via de regra terminam somente por guerras sangrentas e, conseqentemente, para a segurana da paz e bem-estar do gnero humano, muito importante que a posse dos soberanos no seja facilmente perturbada e que, aps um grande nmero de anos, se a posse no tiver sido contestada, ela seja tida como justa e slida. Se fosse permitido remontar sempre a tempos remotos, haveria poucos soberanos que estariam seguros de seus direitos; e haveria pouca esperana de paz no mundo.

148:
NUM ABANDONO

O USUCAPIAo E Deve-se admitir, no entanto, que

272

o usucapio e a prescrio, enquanto se fundamentam em longo silncio, so freqentemente de difcil aplicao entre as Naes. bem sabido quanto perigoso, em geral, para o Estado fraco, sugerir alguma pretenso em relao s posses de um monarca poderoso. Assim, um longo silncio dificilmente pode fundamentar uma presuno legtima de abandono. Considere-se em acrscimo que, como o dirigente da sociedade no tem ordinariamente o poder de alienar o que pertence ao Estado, o seu silncio no pode resultar em prejuzo Nao ou a seus sucessores, ainda que dele se pudesse presumir alguma renncia de sua parte. A questo ser, ento, de ver se a Nao negligenciou em suprir o silncio dos dirigentes, se ela desse silncio participou por uma aprovao tcita.

149:

Ol'TROS

1\

Mas h

outros princpios estabelecem' o uso e a fora da prescrio entre Naes. Em vista da tranqilidade dos povos e do bem-estar dos Estados, e da felicidade do gnero humano, no se deve que as posses, o imprio, e outros direitos das Naes permaneam incertos, sujeitos a contestao, e sempre em condies de provocar guerras sangrentas. preciso, pois, admitir entre os povos, a prescrio fundamentada em longo espao de tempo como um meio slido e incontestvel. Se uma Nao mantm silncio por medo, por uma espcie de necessidade, a perda de seus direitos um infortnio, deve sofrer pacientemente, pois que no pde evit-la. E por no suportaria tambm esta perda aquele que visse cidades e provncias tomadas por um conquistador injusto a quem fosse obrigado a cedlas por um tratado? Essas razes de resto no colidem com o uso da prescrio, a qual tem lugar no caso de posse longamente continuada, no contestada e no interrompida porque necessrio que os problemas sejam finalmente decididos e postos numa base firme e estvel. Tudo isso no tem lugar quando se trata de posse de poucos anos de durao, durante os quais a prudncia pode conduzir ao silncio, mesmo que no haja acusao de deixar as cousas carem na incerteza e de renovar querelas interminveis.

273

Quanto prescrio imemorial, o que acima dissemos (143) suficiente para que todos se convenam de que ela deve necessariamente ter lugar entre as Naes. 150: DO VOLUNTARIO NESSA MAT(.:RIl\: Uma vez que o usucapio e a prescrio so to necessrios paz e ao bem-estar da sociedade humana, presume-se que, de direito, todas as Naes consentiram em admitir-lhes o uso legtimo e razovel, em vista do bem comum, e mesmo do benefcio particular de cada Nao. A prescrio baseada em longa durao, assim como o usucapio, so, pois, tambm estabelecidos pelo direito das gentes voluntrio (Preliminares, 21). Mais ainda, como em virtude desse mesmo direito, as Naes, em todos os casos de dvidas, so consideradas entre elas possuidoras de direitos iguais (ibid.), a prescrio deve ter efeito entre as Naes, desde que se fundamente em posse longa no contestada, no sendo permitido alegar ser a posse de m f, salvo prova concreta em contrrio. Na falta dessa prova, toda Nao deve ser considerada de boa f. Tal o direito que um Estado soberano deve conceder aos demais; mas ele no pode permitir a si mesmo seno o uso do direito intemo necessrio (Preliminares, 28).A prescrio no legtimaao tribunal da conscincia seno para o possuidor de boa f. 151: Do DOS TRATADOS OU DO COSTUME NESSA Desde que a prescrio est sujeita a tantas dificuldades, seria de grande convenincia se as Naes vizinhas se ajustassem mutuamente por meio de tratados, especialmente em relao ao nmero de anos requerido para fundamentar uma prescrio legtima, pois este ltimo ponto no pode ser determinado em geral apenas pelo direito natural. Se, na falta de tratados, o costume tem determinado algo a esse respeito, as Naes entre as quais esse costume est em vigor a ele devem submeter-se (Preliminares, 26).

274
C .\ I' i T
li ()

XII

Dos tratados de aliana e outros tratados pblicos

A matria dos tratados sem dvida uma das mais importantes as relaes mtuas e os negcios das Naes possam nos apresentar. Convencidas do pouco contedo subsistente nas obrigaes naturais dos corpos polticos e sobre os deveres mtuos que a humanidade lhes impe, as Naes mais prudentes buscam obter, mecliante tratados, os apoios e as vantagens que a lei natural lhes asseguraria se os desgnios perniciosos de uma poltica de falsidades no a tornassem ineficaz. Um tratado, em latim Joedus, um pacto feito entre soberanos em vista do bem pblico, seja para a perpetuidade, seja para um perodo considervel de tempo.
{JLII' I, LIM

152: O

Pactos que tenham por objetivo problemas de interesse temporrio so chamados acordos, convenes, arranjos. Eles se completam por um nico ato e no por atos prestados reiteradamente. Esses pactos, uma vez cumpridos, se extinguem definitivamente. Os tratados recebem uma execuo sucessiva de atos e cuja durao aquela estabelecida nos termos do tratado.
Oll CONV)':N(,:(l! ':S:

153: Dos

154: Os <JUI': [i\I,j:M os OS tratados pblicos s podem ser celebrados pelas mais altas autoridades, pelos soberanos, que contratam em nome do Estado. Assim, as convenes que os soberanos fazem entre si com respeito aos seus problemas privados, ou entre um soberano e um particular, no so tratados pblicos. O soberano que possui imprio pleno e absoluto tem, sem dvida, o direito de tratar em nome do Estado gue ele representa e seus compromissos vinculam toda a Nao. Mas nem todos os dirigentes dos povos tm o poder de fazer tratados pblicos por sua prpria autoridade; alguns so obrigados a seguir o parecer do Senado ou dos

o DI Ri':IT( 1 DAS

275

representantes da Nao. nas leis fundamentais de cada Estado que se deve verificar qual o poder capaz de contratar validamente em nome do Estado. O que dissemos aqui, ou seja, que os tratados pblicos somente podem ser feitos pelas potncias superiores, no impede que tratados dessa natureza possam ser feitos por prncipes, ou comunidades, que tenham esse direito, seja por concesso do soberano, seja pela pela lei fundamental do Estado, por meio de reservas, ou pelo costume. dessa forma que os prncipes e as cidades livres da Alemanha tm o direito de fazer alianas com potncias estrangeiras, ainda que dependam do imperador e do imprio. As constituies do imprio lhes do, a este respeito como em muitos outros, os direitos de soberania. Certas cidades suias, mesmo sujeitas a um prncipe, tm feito alianas com os cantes. A permisso, ou a tolerncia do soberano, gerou esses tratados e o uso por tempo prolongado estabeleceu o direito dos mesmos. 155: SI': 111\1 PR( PODI': Um Estado que se colocou sob a proteo de outro, sem perder por isso a sua qualidade de Estado soberano (Livro I, 192), pode fazer tratados e contrair alianas, a menos que tenha expressamente renunciado a esse direito no tratado de proteo. Mas este mesmo tratado de proteo o vincula por todo o tempo futuro, de modo que ele no pode participar de nenhum compromisso que lhe seja contrrio, isto , que viole as condies expressas no tratado de proteo, ou que seja contrrio a qualquer tratado de proteo. Assim, o protegido no pode prometer ajuda aos inimigos de seu protetor e nem lhes dar direito de passagem. ou RI< lS DO S( lHl:RAN( 1: Os soberanos tratam-se uns aos outros ou por meio de procuradores ou mandatrios, revestidos de poderes suficientes, os quais so chamados ordinariamente de plenipotencirios. Pode-se aplicar aqui todas as regras do direito natural que se fazem por comisso. Os direitos do mandatrio so definidos pela procurao que lhes dada.
lS PI:LOS I\!,\ND/\TARIOS

156:

276

Ele no deve dela se afastar, mas tudo o que ele prometer no mbito dessa procurao e nos limites dos poderes recebidos vincula o mandante. Hoje, com o intuito de evitar todos os riscos e dificuldades, os prncipes reservam o direito de ratificar acordos concludos em seu nome. O pleno poder no nada mais que uma procurao cum libera. Se essa procurao deve ter pleno efeito, deve-se ter muito cuidado em outorg-la. Mas como os soberanos no podem ser constrangidos para cumprir seus compromissos, a no ser pela fora das armas, usual no considerar seus tratados como finais a no ser que os tenham aprovado e ratificado. Desde que tudo o que o plenipotencirio conclui permanece sem fora at a ratificao do prncipe, subsiste menos perigo na concesso de pleno poder. Mas razes fortes e substanciais so necessrias para que um soberano se recuse a ratificar o ato de seu plenipotencirio e, em particular, ele deve mostrar que o seu ministro se afastou das instrues dadas. 157: DA DOS TRATADOS: Um tratado vlido se no houver vcio na maneira com que foi concludo e, para isso, no se pode exigir nada mais seno que as partes contratantes tenham poder suficiente e que o consentimento delas seja mtuo e suficientemente declarado. os A leso no pode, pois, 158: A torn-lo invlido. Compete quele que assume compromissos avaliar todas as co usas antes de conclu-lo; ele pode fazer de seu bem o que lhe aprouver, ele pode restringir seus direitos, renunciar s suas vantagens, como achar conveniente; ao aceitar um bem, no obrigado a informar dos motivos e estimar-lhe o justo valor. Se se pudesse reconsiderar um tratado porque se sentiria por ele lesado no haveria estabilidade nos contratos das Naes. As leis civis podem pr limites leso e determinar aquelas que seriam capazes de causar a nulidade do contrato. Mas os soberanos no reconhecem juiz a respeito de seus atos. Como

o Dnu.rro

GI'NTI':S

277

caracterizar entre eles a leso? Quem determinar o grau de leso suficiente para invalidar o tratado? A paz e o bem-estar das Naes requerem, portanto, que a validade dos tratados no dependa de um meio de nulidade vago e perigoso.
159: DAS Mas um soberano no menos obrigado em conscincia a respeitar a eqidade e observla tanto quanto possvel em todos os tratados. E se acontecer de um tratado concludo de boa f e sem ser inquo, tornar-se em seguida injurioso a um aliado, nada mais honorvel, mais louvvel e mais de acordo com os deveres mtuos das Naes do que liberar os termos do tratado, tanto quanto se possa faz-lo sem faltar para consigo mesmo, sem pr-se em perigo ou sem sofrer uma perda considervel. 160: DOS 1'1':RNIUOSOS r\O >: Se a simples leso ou a desvantagem no tratado no for suficiente para torn-lo invlido, o mesmo no ocorre com inconvenientes que poderiam conduzir runa da Nao. Desde que todo tratado deva ser feito com poder suficiente, um tratado pernicioso ao Estado nulo e de nenhum modo obrigatrio; nenhum dirigente de Nao tem o poder de comprometer-se com causas capazes de destruir o Estado para a salvao do qual o imprio lhe foi confiado. A prpria Nao, obrigada necessariamente a tudo o que a sua preservao e proteo exigem (Livro 1, 16 e segs.), no pode assumir compromissos contrrios a essas obrigaes indispensveis. No ano de 1506 os Estados-Gerais do reino da Frana, reunidos em Tours, persuadiram Lus XlI a romper o tratado que ele tinha feito com o imperador Maximiliano e seu filho, o arquiduque Felipe, porque o tratado era pernicioso para o reino. Considerou-se tambm que nem o tratado e nem o juramento que o acompanhara, podiam obrigar o rei, que no tinha o direito de alienar o bem da coroa. Mencionamos est ltima causa de invalidade no Livro I, capo XXI.

278
161:

V
DOS POR lTI\'O INJUSTO OlJ

Pela mesma razo, por defeito de poder, um tratado feito para uma causa injusta ou desonesta absolutamente nulo, pois ningum pode comprometer-se a fazer certas cousas contrrios lei natural. Assim, uma aliana ofensiva com o intuito de despojar uma Nao de quem no recebeu nenhuma injria pode, ou mais que isso, deve ser rompida.
162:

l oiu: Pergunta-se se permitido fazer uma aliana com

urna Nao que no professa a mesma religio, se os tratados concludos 27 ) tratou a questo suficientemente. com os iningos da f so vlidos. Essa discusso podia ser necessria numa poca que o furor dos partidos obscurecia ainda os princpios que foram esquecidos por um longo tempo. Ousemos crer que essa discusso seria desnecessria em nosso sculo. Apenas a lei natural rege os tratados das Naes e diferenas religiosas so hoje inteiramente estranhas a ela. Os povos tratam-se uns aos outros como sociedades de homens e no na qualidade de cristos ou de muulmanos. O bem-estar comum desses povos requer que eles se relacionem mutuamente com segurana. Toda religio que colidisse nesse ponto com a lei natural mereceria ser rejeitada; ela no poderia provir do Autor da natureza, sempre constante, sempre fiel a si mesmo. Mas se os princpios de uma religio vo ser estabelecidos pela violncia, a oprimir todos aqueles que no a aceitem, a lei natural probe favorecer essa religio e unir-se, sem necessidade, a seus seguidores desumanos. O bem-estar comum dos povos os convida, antes, a se unirem contra fanticos, que perturbam a paz pblica e ameaam todas as Naes.
163:
DI':

CUMPRIR OS TRATl\DOS: um princpio de

direito natural que aquele que faz promessa a outrem lhe confere um verdadeiro direito, o de exigir a cousa prometida e que, por conseguinte, o descumprimento de uma promessa uma violao do direito alheio,
7 )

1)roi! dela

et dela pai , J .iv. II, capo XV, VIII c ss.

\);\S GI':NTI':S

279

consistindo num ato de injustia to manifesto como despojar algum de seu bem. Toda a paz, felicidade, e segurana do gnero humano repousam na justia, na obrigao de respeitar os direitos de outrem. O respeito que outros tm por nossos direitos de domnio e de propriedade constitui a segurana de nossas posses atuais; a confiana nas promessas nossa garantia para as cousas que no podem ser entregues ou executadas imediatamente. Mas nenhuma segurana ou comrcio entre os homens existir, se eles no se considerarem obrigados a manter a f e a respeitar a palavra dada. Assim, para manter a ordem e a paz entre Naes, que vivem juntas num estado de natureza e sem reconhecer nenhum poder superior na terra, a obrigao de respeitar os compromissos to necessria quanto natural inquestionvel. As Naes e seus dirigentes devem, pois, observar as suas promessas e os seus tratados integralmente. Esta grande verdade, embora to freqentemente negligenciada na prtica, universalmente reconhecida por todas as Naes.P" A acusao de perfdia tida pelos soberanos como uma afronta; ora, aquele que no observa um tratado seguramente prfido, porquanto viola a lei. Ao contrrio, nada mais honorvc1 a um prncipe e sua Nao que a reputao de fidelidade inviolvel sua palavra. Por isso, talvez mais do que por sua bravura, a Nao sua tornou-se respeitada na Europa e tem merecido a amizade dos mais importantes monarcas que lhe tm confiado at mesmo a guarda de suas prprias pessoas. O parlamento da Inglaterra tem, mais que uma vez, agradecido ao rei por sua fidelidade e por seu zelo em apoiar os aliados da coroa. Esta grandeza de alma nacional a fonte de uma glria imortal; ela a base da confiana das Naes e assim se torna um instrumento seguro de poder e de esplendor. Se os compromissos de um tratado impern, de um lado, uma obrigao perfeita, de outro, eles produzem um direito perfeito. Violar um tratado , pois, violar o direito perfeito da outra parte contratante e significa fazer-lhe injria.
TR/\T/\I)() I": LIRIr\:

164: A

a seus discpulos a

dos

f Iistoir des

t.

280
165:N

V
)S A<lUl':U SUBSIST[

Um soberano, j vinculado a um tratado, no pode fazer outros que estejam em conflito com o primeiro. As cousas, sobre as quais assumiu compromissos, no mais esto sua disposio. Se ocorre que um tratado posterior esteja em conflito em algum ponto com um tratado mais antigo, aquele nulo em relao a este ponto, por ter disposto de uma cousa sobre a qual uma das partes contratantes no tinha poder de dispor (Trata-se aqui de tratados feitos com potncias diferentes). Se o tratado antigo secreto, haveria manifesta m f em concluir um tratado contrrio e que se tornaria nulo, se necessrio. No tambm permitido assumir compromissos que, em certas contingncias, poderiam estar em conflito com o tratado secreto, e nulos por isso mesmo, a menos que no se esteja em condio de indenizar plenamente o novo aliado. De outro modo, seria ofend-lo por prometer algo, sem adverti-lo de que se poderia apresentar situaes nas quais no haveria condio de cumprir a promessa. O aliado, vtima dessa situao, tem sem dvida o direito de renunciar ao tratado mas, se preferir mant-lo, o tratado subsiste em todos no estejam em conflito com o tratado mais antigo. os pontos 166: COMO CONTRATAR COM MUlTAS PARTES I':M ,\0 Nada impede que um soberano assuma compromissos da mesma natureza com duas ou mais Naes se ele estiver em condies de cumpri-los simultaneamente com relao a todos os contratantes. Por exemplo, um tratado de comrcio com uma Nao no impede que, em seguida, se possa firmar tratados similares com outras Naes a menos que no se tenha prometido no primeiro tratado que as mesmas vantagens no seriam concedidas a terceiros. Uma Nao pode at mesmo prometer fornecer tropas para dois aliados diferentes, se estiver em condies de fornec-las, ou no houver motivo para pensar que elas poderiam ter necessidade dessas tropas ao mesmo tempo. 167: O AIJADO DIVE SI'.RPREH:RIJ)O: Se, porm, o contrrio ocorrer, o mais antigo aliado deve ter preferncia uma vez que com este o

GI':NTI':S

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compromisso era puro e absoluto, ao passo que no se podia contratar com o segundo aliado, a no ser com a preservao dos direitos do primeiro. Se essa reserva no fosse explcita, ela seria juridicamente tcita. 168: A justia

da causa outra razo para preferir-se um aliado a outro. Na verdade, nenhuma assistncia pode ser dada a uma Nao cuja causa injusta; seja porque ela esteja em guerra contra um de nossos aliados, seja porque ela o faa contra outro Estado. Pois seria a mesma coisa que se contratasse uma aliana para uma causa injusta, o que no permitido (161). Ningum pode comprometer-se validamente em apoiar a injustia. 169: DIVISA0 COUSi\S D/:VIDAS DOS Grcio divide inicialmente os

tratados em duas categorias gerais: a primeira a dos tratados "que versam apenas causas s quais o direito natural j obrigava"; e a segunda, "daqueles nos quais existem obrigaes adicionais". Os tratados da primeira categoria servem para obter-se para a Nao um direito perfeito s causas para as quais se tinha somente um direito imperfeito, de modo que se possa exigir depois o que anteriormente no se podia pedir seno como um ofcio de humanidade. Tais tratados eram muito necessrios entre os antigos povos, que, como temos mostrado, no se consideravam comprometidos com N aes que no fossem aliadas. Eles so teis mesmo entre as Naes mais civilizadas para assegurar maior ajuda, para determinar a extenso dessa ajuda, para regulamentar, em suma, o que no pode geralmente determinado pelo direito natural e, assim, antecipar dificuldades que possam surgir das vrias interpretaes da lei natural. Enfim, como nenhuma Nao tem condies ilimitadas de dar ajuda a outras, prudente produzir um direito prprio a essa assistncia, que no poderia ser suficiente para assistir igualmente a todos.
Droi:de /tll!,uerre et de pai: Liv. 11, capo XV, V.

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A esta primeira categoria pertencem todos os tratados simples de paz e amizade, nos quais os compromissos das partes contratantes no acrescentam nada aos deveres que os homens possuem uns para com os outros como irmos e como membros da sociedade humana; como exemplo, os tratados que permitem o comrcio, concedem direitos de passagem. 170:
cousxo IS TRATADOS DI:VI':RES PI\RA

Se a assistncia e os ofcios, que so devidos em virtude de semelhante tratado, fossem, de certo modo, incompatveis com os deveres de uma Nao para consigo mesma, ou com aqueles de um soberano para com a prpria Nao, essa hiptese est necessria e tacitamente excluda do tratado uma vez que, nem a Nao, nem seu soberano, podem comprometer-se a abandonar os deveres para com a prpria segurana e a segurana de aliados. Se o soberano tem necessidade, para manter a Nao, de causas que ele prometeu por tratado; se, por exemplo, ele se comprometeu a fornecer trigo e se, em tempo de escassez, ele o tiver apenas para a alimentao do prprio povo, ele deve sem hesitao dar preferncia sua Nao. Pois ele no deve naturalmente assistncia a povo estrangeiro seno enquanto essa assistncia estiver dentro de suas possibilidades e ele s participa de um tratado com esse entendimento. Ora, no est no poder dele privar sua prpria Nao de subsistncia com o intuito de assistir outra. Neste caso, a necessidade constitui aqui uma exceo e o soberano no viola o tratado, porque ele no pode satisfazer esta necessidade. 171:
Dos TRATADOS PROMITI':M

Tratados

nos quais a Nao se compromete apenas em no causar dano outra parte contratante, a abster-se de toda leso, injria ou ofensa, no so necessrios e no geram nenhum novo direito; cada qual tem j naturalmente o direito perfeito de no sofrer leso, injria ou ofensa. Entretanto, esses tratados so de grande utilidade, e acidentalmente necessrios, entre essas Naes brbaras que pensam ter o direito de

283 tudo ousar contra estrangeiros. Esses tratados no so inteis com povos menos ferozes, os quais, embora no to despojados de sentimentos humanitrios, so menos influenciados pelas obrigaes da lei natural explicitadas por aquelas em compromissos solenes por eles contrados. Oxal fosse essa maneira de pensar relegada aos brbaros! Ela por vezes freqente entre os que se vangloriam de uma perfeio bem superior lei natural. Mas a acusao de perfdia prejudicial aos dirigentes dos povos e, por isso, temvel mesmo queles que so pouco desejosos de merecer a reputao de homens virtuosos, e que sabem se desembaraar de censuras da conscincia. DI':\'IDAS Dos 172: TR,\Tl\])OS SOBRI': ](;lIAIS: Os tratados em que subsistem compromissos em relao a cousas no obtidas pela lei natural, so ou iguais ou desiguais. Tratados iguais so aqueles nos quais as partes contratantes se comprometem com as mesmas cousas, ou cousas equivalentes, ou, enfim cousas eqitativamente proporcionais de modo que as partes fiquem em p de igualdade. De tal carter, por exemplo, uma aliana defensiva, na qual as partes estipulam a mesma ajuda recproca. Tal uma aliana ofensiva, na qual se convenciona que cada um dos aliados fornecer o mesmo nmero de navios, de tropas de cavalaria e de infantaria, ou o equivalente em navios, tropas, artilharia ou dinheiro. Tal tambm uma liga, na qual a quota de cada um dos aliados regulada em proporo ao interesse que cada aliado tem, ou possa ter, no objetivo da liga. Foi assim que o imperador e o rei da Inglaterra, com o intuito de induzir os estados-gerais das Provncias Unidas a aceder ao tratado de Viena de 16 de maro de 1731, concordaram em que a repblica prometesse a seus aliados somente quatro mil infantes e mil cavalos, embora concordassem em lhe fornecer, no caso em que ela fosse atacada, cada qual por seu turno, oito mil homens a p e quatro mil cavalos. Enfim, deve ser includo entre os tratados iguais os que estipulam que os aliados faro causa comum e agiro com todas as foras. Embora com efeito essas foras no sejam iguais, eles desejam consider-las como tais.

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Os tratados iguais podem ser subdivididos em tantas espcies quantas forem as categorias dos negcios existentes entre os soberanos. Assim, existem tratados sobre condies de comrcio, sobre defesa mtua, sobre relaes beligerantes ou sobre direitos de passagem, que as Naes mutuamente se concedem e que recusam aos inimigos dos aliados. Esses tratados podem conter estipulaes como a disposio para no construir fortaleza em certos lugares, por exemplo. Pormenores no sero considerados aqui, por desnecessrios no momento. Os princpios gerais de tais tratados so suficientes e se aplicam facilmente s. variadas categorias. !(;llAI.DADI: NOS TRATADOS: Visto 173: OBR!(;i\(;AO que as Naes no so menos obrigadas que os particulares a respeitarem a eqidade, elas devem preservar a igualdade em seus tratados, tanto quanto possvel. Quando pois, as partes esto em em condies de conceder as mesmas vantagens recprocas, a lei natural requer que o tratado entre elas seja igual, a menos que haja alguma razo especial para afastar-se do princpio de igualdade; tal seria por exemplo, o reconhecimento de benefcio anterior, a esperana de vincular-se permanentemente a uma N ao, algum motivo particular que levasse um dos contratantes a desejar suspender o tratado, etc. E mesmo neste caso, a razo especial envolvida, quando propriamente considerada, repe uma igualdade no tratado, a qual parece ser dele subtrada pela diferena das cousas prometidas. Vejo ironia de pretensos grandes polticos, que empregam toda a sua sutileza a ludibriar aqueles com os quais negociam, a arruinar as condies do tratado de tal modo que o beneficio do mesmo se encaminhe to somente ao senhor deles. Longe de enrubescer com uma conduta to contrria eqidade, retido, honestidade natural, eles disso se vangloriam e pretendem merecer o nome de hbeis negociadores. At quando os homens pblicos se vangloriaro daquilo que desonraria um particular? Na vida privada, um homem que no possui conscincia desdenhar igualmente das regras da moral e do direito, mas ele ri de

o DIRE1T()

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maneira contida pois ser-lhe-ia perigoso e prejudicial deixar transparecer zombar disso. O poderosos deixam abertamente de lado o que honesto pelo til. Mas, freqentemente acontece, para a felicidade do gnero humano, que essa pretensa utilidade se lhes torna funesta; e mesmo entre soberanos, a conduta e a retido provam ser a poltica mais segura. Todas as sutilezas e tergiversaes de um famoso ministro, por ocasio de um tratado no qual a Espanha tinha grandes interesses em jogo, converteram-se enfim em confuso para ele prprio e em dano para o seu soberano enquanto a boa f e a generosidade da Inglaterra para com seus aliados, lhe garantiram uma reputao excelente e a elevaram ao mais alto nvel de influncia e considerao. 174: DJl't':REN<;A j':NTRE TRATAD()S [(;UAIS E ALIANAS IGUAIS: Quando se fala de tratados iguais, tem-se ordinariamente em mente uma dupla idia de igualdade nos compromissos e de igualdade na dignidade dos contratantes. necessrio evitar todo equvoco e, para esse efeito, pode-se distinguir tratados iguais de alianas iguais. Tratados iguais so aqueles em que a igualdade preservada nas promessas como ns explicamos (172) enquanto alianas iguais so aquelas que dizem respeito s partes contratantes que ficam em p de igualdade, sem distines na dignidade dos contratantes, ou pelo menos, no admitindo nenhuma superioridade marcante de um sobre o outro, mas meramente alguma preeminncia de honraria e de categoria. Assim, governantes tratam com os reis de igual para igual malgrado a preeminncia que hoje lhes cedem de honras e de nvel e todo verdadeiro soberano deveria, desse modo, tratar com o mais poderoso monarca, pois que ele to soberano e independente quanto este (veja acima, 37 deste livro). 175: Dos TRATADOS DESIGUAIS E DAS r\LIAN(:AS DESIGUAIS: Tratados desiguais so aqueles nos quais as partes contratantes no prometem as mesmas causas ou causas equivalentes; e as alianas so desiguais quando elas pem diferenas na dignidade das partes contratantes. verdade que um tratado desigual geralmente, ao mesmo tempo, uma aliana

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desigual uma vez que grandes potentados no tm o hbito de dar mais do que lhes dado, ou de prometer mais do que lhes prometido, se no forem recompensados por glria e honrarias; ou, ao contrrio, um Estado mais fraco no se submete a condies onerosas sem ser obrigado ao mesmo tempo a reconhecer a superioridade de seu aliado. Estes tratados desiguais, que so ao mesmo tempo alianas desiguais, so divididos em duas categorias: a primeira a daqueles tratados nos quais a desigualdade est do lado da potncia superior, e a segunda espcie abrange os tratados nos quais a est do lado da

potncia inferior. Na primeira categoria, apenas se lhe confere superioridades de honrarias e considerao sem se atribuir ao mais poderoso nenhum direito sobre o mais fraco. Temos falado de tais tratados no Livro I, 5. Freqentemente acontece que um grande monarca deseja ter um Estado mais fraco a seu lado e lhe oferece condies vantajosas, promete assistncia gratuita, ou maiores que aquelas estipuladas para si prprio, mas ao mesmo tempo ele se atribui uma superioridade de dignidade e exige deferncia por parte do seu aliado. este ltimo ponto que caracteriza E para isso que se deve tomar cuidado; pois no se a aliana deve confundir com essas alianas aquelas em que as partes se tratam como iguais, embora o mais poderoso dos aliados, por algumas razes especiais, d mais do que recebe, promete assistncia gratuita sem exigir o mesmo em retorno, ou promete maior ajuda ou mesmo apoio mas o tratado Todavia, integral. Neste caso, a aliana no cabe aqui dizer que o maior interesse do mais poderoso em concluir o tratado restabelece a igualdade entre as partes. Assim, quando a Frana se encontrou em dificuldades na guerra contra a casa da ustria, o cardeal Richelieu, como hbil ministro, celebrou com Gustavo Adolfo um tratado no qual todas as vantagens pareciam ficar ao lado da Sucia. Observando somente as estipulaes do tratado, diz-ser-ia ser ele um tratado desigual, mas os benefcios que a Frana dele tirou compensaram amplamente essa desigualdade. A aliana entre a Frana e os suos tambm um tratado desigual, se considerarmos apenas as suas estipulaes.

GENTI':S

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Mas o valor das tropas suas h muito restabeleceu a igualdade.A diferena de interesses e de necessidades tem tambm concorrido para isso. A Frana, freqentemente envolvida em guerras sangrentas, recebeu dos suos servios essencias: a Nao helvtica, sem ambio, sem desejo de conquistas, pode viver em paz com todo o mundo; no h nada a temer, desde que ela demonstrou aos soberanos ambiciosos que o seu amor pela liberdade lhe confere fora suficiente para a defesa de seus territrios. Esta aliana pode, s vezes, parecer desigual. Nossos antepassados pouco estudaram o cerimonial mas, de fato, e especialmente desde que a absoluta independncia dos suos tem sido reconhecida mesmo pelo imprio, a aliana certamente igual; embora o governo helvtico d sem dificuldade ao rei da Frana toda essa preeminncia que o uso moderno na Europa atribui s cabeas coroadas e sobretudo aos grandes monarcas. Os tratados onde a desigualdade encontra do lado dapotncia inferior, isto , aqueles em que o mais forte impem ao mais fraco obrigaes mais pesadas, maiores encargos e condies vexatrias so tratados e so sempre, ao mesmo tempo, alianas desiguais. Nesses casos nunca acontece que o mais fraco se submeta s condies onerosas sem que ao mesmo tempo seja tambm obrigado a reconhecer a superioridade de seu aliado. Estas condies so ordinariamente impostas pelo vencedor ao vencido ou ditadas pela necessidade, o que obriga o Estado fraco a buscar proteo ou assistncia de outro mais poderoso, e o fato de aceit-las um reconhecimento de sua inferioridade. Alis, essa desigualdade forada, num tratado de aliana, humilha e deprime o Estado mais fraco, enquanto exalta o Estado mais poderoso. Tambm acontece que o Estado mais fraco no pode prometer a mesma assistncia que o mais poderoso e deve, assim, compens-lo com compromissos que o rebaixam e mesmo o submetem em vrios aspectos vontade do outro contratante. Desta espcie so todos os tratados nos quais o mais fraco se compromete a no ir guerra sem o consentimento do mais forte, a ter os mesmos amigos e os mesmos inimigos que ele, a no ter fortificaes em certos lugares, a no comerciar ou recrutar

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soldados em certos pases livres, a entregar seus navios de guerra e a no construir outros - como os cartagineses fizeram em relao aos romanos - a manter somente um certo nmero de tropas, etc. so subdivididas ainda em duas espcies: Estas alianas aquelas que importam em restrio soberania e aqueles que no importam nessa restrio. Focalizamos esse assunto no Livro I, captulos I e XVI. A soberania subsiste integralmente, quando nenhum dos direitos que a constituem foi transferida ao aliado superior ou se tomou dependente da vontade deste. Mas a soberania sofre limitaes quando algum de seus direitos foi transferido a um aliado, ou mesmo se o exerccio dela se tornou dependente da vontade deste. Por exemplo, o tratado no atenta soberania se o Estado mais fraco promete apenas no atacar uma certa Nao sem o consentimento de seu aliado. Em tal fazendo ele no renuncia a seus direitos, no submete o exerccio desse direito a outro Estado. Ele meramente concorda com uma restrio em favor de seu aliado e, em tal fazendo, ele no diminui a sua liberdade mais do que a diminui necessariamente em promessas de qualquer tipo. Restries dessa modalidade so constantemente inseridas em tratados onde a aliana est formulada em base de perfeita igualdade. Mas comprometer-se a no fazer a guerra a quem quer que seja, sem o consentimento ou a permisso do aliado, o qual de seu lado no faz promessa similar, importa em aliana desigual com diminuio de soberania. privar-se de uma das mais importantes funes do poder soberano, ou submeter o exerccio desse poder vontade de outrem. Quando os cartagineses, no tratado que ps fim segunda guerra pnica, prometeram no fazer guerra sem o consentimento de Roma, eles foram, por esta razo, cosiderados como dependentes dos romanos.

176: COMO UMA AJ1AN(;A

TRATADOS

DE SOBERANIA

ANUI.AR

Quando um povo obrigado a receber uma lei, ele pode legitimamente renunciar a seus tratados precedentes, se assim o exige aquele a quem compelido a aliar-se. Como esse povo perde

o DIREITO

GI':NTES

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ento uma parte de sua soberania, os seus tratados anteriores cessam perante as potncias com as quais os tenha concludo. uma necessidade que no pode ser imputada a esse povo, pois ele teria o direito de submeter-se absolutamente e de renunciar prpria soberania, se tal fosse necessrio para salvar-se e com muito mais razo teria ele, em face dessa necessidade, o direito de abandonar seus aliados. Mas um povo generoso exaurir todos os recursos antes de submeter-se a uma lei to severa e to humilhante.
177: Dr':VF-Sl': 1':VrrAR, TANTO QUANTO POSSVEL, 1'I\I:ER

Em geral, desde que toda Nao deve ser ciosa da sua glria e vigilante em manter a sua dignidade e em preservar a sua independncia, ela somente contrair uma aliana desigual quando estiver em condies extremas ou por motivos os mais prementes. Tais consideraes se referem a tratados nos quais as maiores obrigaes incidem sobre o Estado mais fraco, assim como quelas alianas desiguais que atentam contra a soberania. Um povo corajoso somente os aceita por necessidade.
t\l.lAN(;AS:

178:

I\llJTUOS DAS N

1\

RE.'iPEITO DI: AIlANC;ASDESI( ;UAIS:

Qualquer que seja o interesse alegado por uma poltica, deve-se considerar esta alternativa: ou subtrair completamente dos soberanos a autoridade da lei natural ou convir no lhes ser permitido obrigar, sem justas razes, os Estados mais fracos a comprometer a sua dignidade, menos ainda a sua liberdade, em uma aliana desigual. A mesma assistncia, a mesma considerao, a mesma amizade so verdadeiras de N ao para Nao como de indivduo para indivduo quando deixados no estado de natureza. Longe de procurar aviltar os fracos, despoj-los das mais valiosas vantagens, as Naes iriam respeit-los e manter-lhes a dignidade e a liberdade, se a virtude as inspira mais que o orgulho, se elas so inspiradas pela honestidade mais que por interesse grosseiro; em outras palavras, se elas forem suficientemente esclarecidas para conhecer os seus verdadeiros interesses. Nada certamente fortalecer mais o poder de um grande monarca do que a considerao que ele demonstrar para

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com os demais soberanos. Quanto mais respeito ele manifestar aos soberanos mais fracos, quanto mais honr-los, mais ser reverenciado; os mais fracos amam uma potncia que manifesta sua superioridade apenas em razo dos benefcios produzidos; eles a respeitam com o seu prprio apoio e assim o monarca se torna o rbitro das Naes. Ele teria sido objeto de cimes e temores se se comportasse orgulhosamente e poderia, at mesmo, um dia vir a sucumbir aos esforos reunidos das N aes mais fracas.
[)O MAIS I'ORTE: Mas 179: DAS ALlANC;AS QUI': como um Estado fraco deve, em tempo de necessidade, aceitar com reconhecimento a assistncia de um Estado mais poderoso, e no deve recusar-lhe as honrarias e as deferncias que lisonjeiam aqueles que as recebem sem aviltar aquele que as presta, no h nada mais de acordo com a lei natural do que uma assistncia dada generosamente pelo Estado mais poderoso sem exigir retorno equivalente. Neste caso, acontece tambm que a utilidade se encontra na prpria prtica do dever. Uma boa poltica de uma grande potncia no pode permitir que pequenos Estados vizinhos sofram opresso. Se ela os abandona ambio de um conquistador, este ir rapidamente tornar-se temvel para ela mesma. Os soberanos, tendo ordinariamente cuidado com o seu prprio interesse, no esto desatentos a este princpio. Donde surgem essas ligas, ora contra a casa da ustria, ora contra a sua rival, segundo o poder de uma ou de outra se torna predominante, resultando da esse equilibrio, constante objeto de negociaes e de guerras. Quando uma Nao pobre e fraca necessita de outra sorte de ajuda, quando ela est na penria, j vimos (5) que aquelas Naes que tm vveres devem fornecer-lhes por um preo justo. Seria generoso cobrar por um preo baixo, ou do-los, se aquela Nao no pudesse pag-los. Obrigar uma Nao a comprar esses vveres mediante uma aliana desigual, e acima de tudo ao preo de sua liberdade, trat-la como Jos outrora tratou os egpcios, seria uma crueldade quase to revoltante como deix-la morrer de fome.

DAS GI':NTI':S

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I': DAS I\IJAN<;AS

180:

1\ l)I':SI(;lIALDADI,: DOS

1\ NI\TlIRAL: Mas h casos em que a desigualdade de tratados e alianas, ditada por alguma razo particular, no contrria eqidade e nem, conseqentemente, lei natural. Estes casos so, em geral, aqueles nos quais os deveres de uma Nao para consigo mesma, ou seus deveres para com outros, a induzem a afastar-se da igualdade. Por exemplo, um Estado fraco deseja, sem necessidade, construir uma fortaleza que no ser capaz de defender, em lugar onde ela se tornaria muito perigosa a seu vizinho se ela casse nas mos de um poderoso inimigo. O Estado vizinho pode opor-se construo da fortaleza e se considerar no lhe ser conveniente pagar pelo favor solicitado, pode obter o que pretende, ameaando romper, por seu lado, os caminhos de comunicao, proibir o comrcio, construir fortalezas, ou manter um exrcito na fronteira, e a considerar esse pequeno Estado como suspeito, etc. Ele impe tambm condio desigual, mas o cuidado com sua prpria segurana o autoriza. Igualmente, pode opor-se construo de uma via principal que abriria seu territrio ao inimigo. A guerra poderia nos fornecer numerosos outros exemplos. Mas freqentemente abusa-se de um direito desse carter e necessrio tanto moderao quanto prudncia, para evitar que o uso desse direito se converta em opresso. s vezes, os deveres de uma Nao para com outra Nao sugerem tambm, e mesmo autorizam, a desigualdade num sentido contrrio, sem que por isso o soberano possa ser acusado de estar em falta para consigo mesmo e para com seu povo. Assim, o reconhecimento, o desejo de mostrar apreo por um favor, conduzir um soberano generoso a aliar-se a determinada Nao e a dar-lhe por tratado mais do que aquilo

que recebe. 181: O

DI IMPOSTA SOB PENALIDADE:

Pode-se

ainda, com justia, impor as condies de um tratado desigual ou mesmo de uma aliana desigual, sob forma de penalidade para punir um agressor injusto e para torn-lo incapacitado de causar novos danos facilmente.

292

Vvrn.

Tal foi o tratado ao qual Scipio, o Africano, obrigou os cartagineses depois de ter vencido Arubal. O vencedor freqentemente impe tais termos, e se triunfou numa guerra justa e necessria, e procura limitar-se aos termos da moderao, ele no ofende nem a justia, nem a eqidade.

182: OUTRAS TRATADOS Os diferentes tratados de proteo, aqueles pelos quais um Estado se torna tributrio ou feudatrio de outro, formam outras espcies de alianas desiguais. Mas no precisamos repetir aqui o que j dissemos nos captulos I e XVI do L
DOS TRATADOS RI:AIS: Outra 183: Dos TRATADOS classificao geral dos tratados ou alianas distingue alianas pessoais e alianas reais. Alianas pessoais so aquelas que se relacionam com a pessoa dos contratantes, que lhe so restritas e por essa forma vinculadas. Alianas reais se relacionam unicamente com as cousas que elas versam, e so independentes da pessoa dos contratantes. A aliana pessoal expira com a morte daquele que a contratou. A aliana real se relaciona com o prprio Estado e com ele subsiste, a no ser que a aliana tenha fixado o perodo de sua vigncia. Deve-se tomar cuidado em no confundir esses dois tipos de aliana. Tambm os soberanos tm o costume, nos dias de hoje, de dar preciso a esse respeito e esta , sem dvida, a melhor e mais segura diretriz. Na falta dessa precauo, a prpria matria do tratado, ou as expresses com que ele foi concebido, podem fornecer meios de determinar se o tratado real ou pessoal. Demos acima algumas regras gerais a esse respeito.

184: O DOS CONTRATANTES INSERIDO NO TRATADO NO O TORNA PESSOAL: Preliminarmente, o fato de que os contratantes so mencionados pelo nome no induz a concluir ser o tratado pessoal. O nome do soberano reinante freqentemente inserido no tratado com o fim de mostrar qual a parte contratante que o monarca representa.

o
Esta observao foi feita pelos jurisconsultos Pedius e Ulpiano repetida por todos os autores.

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'\11)

185: U

\N(.:\ 1'1'.1'1'/\ 1'( lR

RIPl11l1.IL\ ,.: RI':/\I.:

Toda a aliana

feita por uma repblica real por sua prpria natureza, pois ela se relaciona unicamente com o organismo do Estado. Quando um povo livre, um Estado popular, ou uma repblica aristocrtica conclui um que contrata e os seus compromissos no tratado, o prprio 1 terminam com a vida daqueles o celebraram. Os membros do povo ou da repblica morrem e so sucedidos por outros mas o Estado permanece o mesmo. Assim, um tratado desse tipo se relaciona diretamente com o organismo do Estado. I continua em vigor mesmo quando o Estado muda a sua forma republicana de governo ou mesmo quando adota a forma monrquica pois o Estado e a Nao so sempre os mesmos, embora mude a forma de seu governo, e o tratado feito com a Nao continua em vigor enquanto a Nao existe. Mas est claro todos os tratados de um 1 se relacionam com a forma de governo so excetuados desta regra. Assim, dois Estados populares convencionaram entre si com o propsito de manter-se em estado de liberdade e com governo popular, cessam de ser aliados no momento em que um deles se submete ao imprio de um nico indivduo. Dos
TR/\T/\I)()S POR RI:IS I; OIITROS

Todo tratado pblico concludo por um rei, ou por qualquer outro monarca, um tratado de Estado e compromete todo o Estado, a Nao que o rei representa e cujos poderes e direitos ele exerce. Pareceria, assim, num primeiro momento, que todo tratado pblico devesse ser presumido como real, concernente ao prprio Estado. No h dvida sobre a obrigao de observar o tratado, mas a questo surge quanto sua durao. Ora, h sempre espao para dvidas quando os contratantes
(11)1

Lib. 11, tit. XIV, t Pactis,

VIl, 8.

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pretendem estender os compromissos recprocos alm de suas vidas, de modo a vincular os seus sucessores. As circunstncias mudam. Um encargo, hoje leve, pode tornar-se insuportvel, ou demasiado oneroso em outras condies. A maneira de pensar dos soberanos no muda menos e h cousas que convm possa cada prncipe dispor livremente segundo o seu sistema. H outras que se concedero graciosamente a um rei, mas no ao seu sucessor. Assim, a inteno das partes contratantes deve ser perquirida nos termos ou na matria do tratado.
OU POR TEMPO DETERMINADO: Ambos, 187: TRATADOS tanto tratados permanentes como transitrios, so tratados reais, porque a durao deles no depende da vida dos contratantes.

188:TRATADOS FEITOS PARAUM REI E SEUS SUCESSORES: Assim tambm, quando o rei declara no tratado que ele o faz para si mesmo eseus sucessores, evidente ser o tratado real. Esse tratado vinculado ao Estado e feito para durar tanto quanto o prprio reino. 189: TRATADO F!:ITO PARA O BEM DO REINO: Quando um tratado contm uma declarao expressa, a de que feito para o bem do reino, h uma clara indicao de que os contratantes no tinham a inteno de que o tratado permanecesse em vigor somente durante a vida deles, mas que ele dever durar tanto quanto o reino; o tratado pois real. Independente mesmo dessa declarao, quando um tratado feito para obter vantagem para o Estado, no h razo para acreditar que o prncipe que o concluiu tenha desejado limitar a durao do tratado sua prpria vida. Um tratado deste tipo deve, assim, ser considerado como real, a menos que haja razes muito fortes para mostrar que aquele com quem o prncipe concluiu esse tratado entendeu ter ele em vista a pessoa do prncipe ento reinante e objetivava conceder beneficio de carter pessoal e, nesse caso, o tratado terminaria com a vida do prncipe. Mas uma reserva desse tipo no para ser facilmente presumida; deveria ter sido expressa no tratado.

GI':NTI':S

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190: COMO SI': DUVIDOSOS: Em casos de dvida, quando nada se estabelece claramente sobre a personalidade ou a realidade de um tratado, deve-se presumi-lo real se ele dispe sobre certas cousas favorveis, e pessoal se dispe sobre matrias odiosas. Disposies favorveis so, neste caso, aquelas que concorrem para o benefcio comum das partes contratantes e so igualmente favorveis a ambas; disposies odiosas so aquelas que sobrecarregam uma parte somente ou uma parte mais que a outra. Falaremos sobre este ponto mais longamente no captulo sobre interpretao de tratados. Nenhuma regra est mais de acordo com a razo e a eqidade que esta. Quando os homens no imprimem certeza em seus negcios, deve-se recorrer a presunes. Ora, se as partes contratantes no so suficientemente explcitas, natural, quando as disposies so favorveis e igualmente vantajosas a ambas as partes, considerar que a inteno delas era fazer um tratado real, como sendo mais til para ambos os reinos; e se esta presuno , na verdade, equivocada, nenhum dano ser feito a nenhuma das partes. Mas se as disposies tm alguma cousa de odiosa, se um dos Estados contratantes estiver sobrecarregado de nus, como se poderia presumir que o prncipe, contratante de tais compromissos, tenha desejado impor esse nus perpetuamente a seu prprio reino? Presume-se que todo soberano tenha colimado o bem-estar e vantagem do Estado que lhe foi confiado. No se pode supor, assim, que ele tenha consentido em sobrecarregar permanentemente esse Estado com obrigao onerosa. Para que essa presuno no prevalea, cabe outra parte contratante explic-lo claramente. Admite-se que ela o faa, pois que os homens e particularmente os soberanos no se submetem a encargos pessoais e desvantajosos, se para tanto no forem formalmente obrigados. No pode haver a presuno, a perda de direito conseqncia da negligncia. Acrescentemos que a eqidade ser menos ferida pela perda que se faa de um ganho do que pelo dano a ser causado: a famosa distino de lucro captando, e de damno vitando. No h dificuldade em incluir tratados iguais de comrcio na classe daqueles cujas disposies so favorveis, porquanto estes tratados so, em

296 geral, benficos e inteiramente de acordo com a lei natural. No concernente a alianas feitas para a guerra, Grcio diz com razo que "alianas defensivas participam mais do que favorvel; e que as alianas ofensivas tm alguma causa que as aproxima do que oneroso ou odioso" No podemos dispensar-nos de versar em poucas palavras essas questes, para no deixar aqui um vazio. De resto, elas tm escassa aplicao na prtica, pois nestes dias os soberanos em geral tomam a precauo sbia de determinar claramente a durao dos seus tratados. Eles contratam para eles e os seus sucessores, para eles e os seus reinos, perpetuamente, para um certo nmero de anos, etc. Ou contratam para o perodo somente do reinado, para um negcio que lhes prprio, para sua famlia, etc. 191: A
AOS SUCESSORES: I': o DIRIoJTO RFSULTANTES UM TRATADO P,\SSAM

Desde que tratados pblicos, mesmo aqueles de carter pessoal, concludos por um rei ou qualquer outro soberano autorizado, so tratados de Estado e obrigam toda a Nao (186), os tratados reais, feitos para subsistir independentemente da pessoa que os conclui, obrigam indubitavelmente os sucessores. As obrigaes que tais tratados impem ao Estado passam sucessivamente a todos os seus dirigentes, medida que eles assumem a autoridade pblica. O mesmo ocorre com direitos adquiridos por esses tratados; eles so adquiridos para o Estado e passam a seus dirigentes sucessivos. costume bem geral nestes dias que um sucessor confirme ou renove as alianas concludas pelos predecessores, mesmo as reais. prudente tomar esta precauo uma vez que os homens consideram mais seriamente a obrigao que eles mesmos contraram expressamente do que aquela obrigao que lhes foi transferida por terceiros e da qual no esto incumbidos seno tacitamente. que eles acreditam que a sua palavra est comprometida na primeira obrigao e apenas a sua conscincia nas demais obrigaes.
(31)

Droit dela

et delapaix, Liv. lI, capo XVI, XVI..

o DIREIT()

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CONCLUDOS rOR TODAS: Tratados 192: Dos que no se referem a prestaes reiteradas, mas a atos transitrios, nicos e que se exaurem imediatamente; esses tratados, a menos que, na verdade, preferimos lhes dar outro nome (Ver 153), essas convenes, esses pactos, os quais so cumpridos uma vez por todas e no por atos sucessivos, so, desde que executados, cousas consumadas e terminadas. Se so vlidos, eles tm por natureza um efeito permanente e irrevogvel; no so considerados pessoais ou reais. Pufendorf nos fornece as seguintes regras a respeito: 1) Que os sucessores devem observar os tratados de paz feitos pelos seus predecessores; 2) Que um sucessor deve observar todas as convenes legtimas pelas quais o seu predecessor transferiu algum direito a terceiro. Com isso no se enfrenta a questo; nada mais dito seno que um tratado validamente concludo por um prncipe no pode ser anulado por seu sucessor. Quem duvida disso? O tratado de paz por sua natureza feito para durar perpetuamente: uma vez que ele tenha sido devidamente concludo e ratificado, um ato perfeito, preciso cumpri-lo por uma parte e por outra e ser observado de acordo com seus termos. Se ele for executado imediatamente, tudo terminou. Mas se o tratado contm compromissos referentes a uma srie de atos sucessivos e reiterados, haver sempre ocasies de examinar, de acordo com as regras acima estabelecidas, se ele real ou pessoal, se os contratantes obrigaram os seus sucessores a essas prestaes ou se no as prometeram seno para somente o perodo do reinado deles. Assim tambm, quando um direito for transferido por um acordo legtimo, ele no mais pertence ao Estado que o cedeu; a transao completa e tem um fim. Mas se o sucessor descobre algum vcio no ato e o comprova, ele no est somente a pretender que a conveno no o obriga e que se recusa a cumpri-la; ele deseja demonstrar que a conveno no existe, pois um ato com vcio invlido e nulo, e mesmo inexistente.

Droit de la nature et des

Liv. VIII, capo IX, VIII.

298 193: Dos CllI\II'RI\)OS: A terceira regra de Pufendorf no menos intil a essa questo. Ela afirma: "que, se o outro contratante j cumpriu o que devia nos termos do tratado, e se o rei vier a morrer antes de dar cumprimento ao que se tinha comprometido, o seu sucessor indispensavelmente obrigado a no se omitir. Pois o que o outro aliado executou sob condio de receber o equivalente reverteu em vantagem do Estado, ou pelo menos assim se convencionou com esse propsito, claro que se no se cumpre o que tinha sido estipulado, a outra parte adquire o mesmo direito daquele homem que pagou o que no devia e, assim, o sucessor do soberano que morreu obrigado, ou a indenizar inteiramente o outro pelo que fez, ou a cumprir a obrigao a que o predecessor se tinha comprometido". Tudo isso, a meu ver, estranho nossa questo. Se a aliana real, ela continua em vigor malgrado a morte de uma das partes contratantes; se pessoal, ela expira com a morte de um dos dois (183). Mas quando uma aliana pessoal chega ao fim desta maneira, saber ao que um dos Estados obrigado no caso em que a outra parte j cumpriu o que lhe cabia, uma outra questo que se decide por outros princpios. Devemos distinguir a natureza dos atos feitos em cumprimento do tratado. Se so prestaes determinadas e certas, as quais so reciprocamente prometidas por meio de permuta mtua, no h dvida de que aquele que se tem beneficiado pelos atos de outro, deve fazer o que tem prometido em retorno, se deseja manter o acordo ou obrigado a mant-lo; mas se ele no obrigado pelo acordo, e se no deseja mant-lo, ele deve restituir o que recebeu, restabelecer as cousas na sua condio inicial, ou indenizar o outro Estado pelo que ele cumpriu. No fazer isso seria reter o bem de outrem. Este caso no aquele do homem que pagou o que no devia mas aquele que pagou adiantado por uma cousa que no lhe foi entregue. Mas na hiptese de tratado pessoal, de prestaes incertas e contingentes, que se cumprem ocasionalmente, dessas promessas que so sem efeito se a oportunidade de cumpri-las no se apresenta, a obrigao para o retomo de atos similares, num sentido de reciprocidade, no devida seno paralela e ocasionalmente; e o trmino

DAS

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da aliana ocorre e ningum obrigado a nada. Numa aliana defensiva, por exemplo, dois reis se comprometem reciprocamente a uma assistncia gratuita durante o perodo das suas vidas. Um deles atacado e recebe a assistncia prometida, mas morre antes que haja a oportunidade de retribuir o apoio recebido; a aliana terminou; e o sucessor do rei que morreu no est obrigado para com o outro Estado, a no ser que, na verdade, fosse pelo reconhecimento assistnciasalutar dada a seu Estado. E no preciso acreditar que, dessa maneira, o aliado que deu ajuda sem receber ajuda semelhante em retorno pode, assim, considerar-se lesado. O tratado era desses contratos de risco cujas vantagens ou desvantagens dependem da sorte; cada parte podia tanto ganhar como perder. Outra questo deve ser abordada aqui. Uma aliana pessoal expira com a morte de um dos aliados. Se o sobrevivente, na idia de que o tratado deve subsistir com o sucessor do falecido, cumpre o tratado por sua parte, defende o pas do falecido, protege-lhe fortificaes, fornece-lhe provises; o que deve o soberano, assim assistido, fazer por seu turno? Sem dvida, ele deve, ou deixar a aliana continuar em vigor, como o aliado de seu predecessor pensou que devesse subsistir, e isto constituiria uma renovao implcita ou extenso do tratado; ou ele deve pagar pelo servio efetivo recebido, de acordo com uma estimativa justa de seu valor, se ele no deseja que a aliana continue. Nessas circunstncias, poderamos dizer com Pufendorf, que quem tem prestado um servio desse tipo adquire o direito de um homem que pagou o que no devia. 194: A ALIANA PESSOAL EXPIRA SE UM DOS CONTRATANTES CESSA DE REINAR: A durao de uma aliana pessoal, sendo restrita pessoa dos soberanos contratantes, se um deles cessa de reinar, por qualquer causa, a aliana termina, pois o contrato era entre eles como soberanos, e aquele que cessou de reinar no mais existe como soberano, mesmo que ainda viva na qualidade de homem. 195: TRATADOS PESSOAIS POR NATUREZA: OS reis no estabelecem tratados sempre s e diretamente para o seu reino. s vezes, em virtude

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VArrEL

do poder que tm em mos, coneluem tratados relativos a elespessoalmente, ou para a famlia deles, e eles podem faz-lo legitimamente, no entendimento de que a segurana e a vantagem do soberano constituem bem do Estado. Estes tratados so pessoais pela prpria natureza e se extinguem com o rei ou com a sua famlia. De tal natureza uma aliana feita para a defesa de um rei e da sua famlia.
UMA ALIANA FEITA PARA A DEFESA DO REI E DA 196: Pergunta-se se essa aliana continua em vigor, quando o rei e a famlia real so privados da coroa por uma revoluo. Observmos h pouco (194) que uma aliana pessoal termina com o reino daquele que a contratou. Mas isso ocorre em relao a uma aliana com o Estado, limitada, quanto durao, ao reino do soberano contratante. Aquela de que ora se cogita de outra natureza. Embora vincule o Estado, pois que todos os atos pblicos do soberano o vinculam, ela feita diretamente em favor do rei e da sua famlia; assim, seria absurdo admitir que a aliana termina no momento que eles ainda tenham necessidade dela, e por acontecimento contra o qual ela foi feita. Assim, um rei no perde a sua qualidade pelo nico fato de ter perdido a posse de seu reino. Se ele injustamente privado dela por um usurpador, ou por atos de rebeldes, ele retm os seus direitos, entre os quais se encontram as suas alianas. Mas quem julgar se um rei destronado legitimamente ou pela violncia? Uma Nao independente no reconhece juiz. Se o corpo da Nao declara que o rei perdeu seu direito por dele abusar e o depe, ele pode faz-lo com justia, quando as acusaes so fundamentadas, no competindo a nenhum outro poder julgar a respeito. O aliado pessoal do rei deposto no deve poder ajud-lo contra a Nao que usou de seu prprio direito ao dep-lo; se o fizer, ele cometer injria contra essa Nao. A Inglaterra declarou guerra a Lus XIV em 1688 porque ele sustentava a causa de James lI, que foi deposto formalmente pela Nao. Ela lhe declarou guerra uma segunda vez, no comeo deste sculo, porque esse prncipe reconheceu, sob o nome de James III, o filho do rei deposto. Em casos duvidosos, quando o corpo da Nao

o DIREITO DAS GENTIOS

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no se pronunciou ou no pde pronunciar-se livremente, um aliado deve ser naturalmente apoiado e defendido e ento que o direito das gentes voluntrio reina entre as Naes. O partido que deps o rei pretende ter o direito a seu lado enquanto o infeliz rei e seus aliados sustentam ter a mesma vantagem e no havendo juiz comum na terra para decidir a disputa, no lhes resta seno o recurso s armas para decidir a respeito. Enfim, quando a potncia estrangeira cumpriu de boa f os seus compromissos para com um monarca infeliz, quando ela, para defesa dele e de seus interesses, fez tudo a que devia fazer nos termos da aliana, se seus esforos foram infrutferos, nesse caso, o prncipe deposto no pode exigir que aquela potncia mantenha em seu favor uma guerra sem fim e que permanea eternamente inimiga da Nao ou do soberano que o privou do trono. preciso um dia pensar na paz, pr de lado um aliado e considerar ter elemesmo abandonado o seu direito por necessidade. Assim, Lus XIV foi forado a abandonar James 11 e reconhecer o rei Guilherme, aquele que ele tinha, de incio, tratado como usurpador. 197: UMA O ALIADO 1:01 [)I:STRONA[)O: A mesma questo se apresenta nas alianas reais e, em geral, em toda aliana feita com um Estado e no com o rei em particular, para a defesa da sua pessoa. Sem dvida um Estado aliado deve ser defendido contra qualquer invaso, contra toda a violncia estrangeira e mesmo contra sditos rebeldes. Deve-se tambm defender uma repblica contra os desgnios de um opressor da liberdade pblica. Mas o soberano que vem em sua assistncia, deve lembrar que ele o aliado do Estado, ou da Nao, e no seu juiz. Se a Nao deps formalmente o seu rei, se o povo de uma repblica expulsou magistrados e preservou a sua liberdade, ou se o povo reconheceu expressa ou implicitamente a autoridade de um usurpador, contestar a justia ou a validade desses atos ou propsitos importaria em interferir no governo da Nao e fazer-lhe injria (Vide 54 e segs. deste Livro). O aliado permanece aliado do Estado, a despeito das mudanas que ocorrerem. Todavia, se essas mudanas lhe tornam a aliana intil, perigosa ou

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VAlTEL

constrangedora, ele tem o direito de a ela renunciar pois ele pode dizer com fundamento que no teria entrado numa aliana com essa Nao se ela tivesse tido a forma presente de governo. Digamos ainda aqui o que acabamos de dizer de uma alianapessoal. Por mais justa que fosse a causa de um rei destronado por sdito ou por usurpador estrangeiro, os aliados deste rei no esto obrigados a manter uma guerra eterna em seu favor. Depois de esforos infrutferos para restabelec-lo no trono, preciso enfim que eles dem a paz ao seus povos, que eles se acomodem com o usurpador e, para esse fim, com ele tratar como se fosse um soberano legtimo. Lus XIV, exaurido por uma guerra sangrenta e infeliz, prometeu em Gertruidenberg, abandonar o seu neto, que ele tinha posto no trono da Espanha, e quando os negcios tomaram outro rumo, Carlos da ustria, rival de Felipe, viu-se por sua vez abandonado pelos aliados. Eles cansaram-se de exaurir os recursos dos Estados com o intuito de apossar-se de uma coroa que acreditavam lhes ser devida, mas que no mais parecia poder ser-lhes entregue.
CAPiTULO

XIII

Da dissoluo e da renovao de tratados

198: EXTINO DAS ALIANAS APRAZO: A aliana termina quando acaba o perodo para o qual ela foi feita. Este perodo , s vezes, fixo, como quando a aliana concluda para um certo nmero de anos; s vezes indefinido como no caso de alianas pessoais, cuja durao depende da vida dos contratantes. O perodo assim indefinido quando dois ou mais soberanos formam uma alianacom algum objetivo particular em vista como, por exemplo, expulsar uma Nao brbara de pas vizinho, restabelecer um soberano em seu trono, etc. O prazo dessa aliana depende do cumprimento do objetivo para o qual ela foi formada. Assim, no ltimo exemplo, quando o soberano foi reestabelecido no trono, e de maneira to segura que nele possa permanecer tranqilo, a

o DIREITO DAS GENTES

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aliana formada com esse nico objetivo termina. Mas, se no se puder alcanar o objetivo para o qual se constituiu a aliana, esta igualmente finda; pois preciso renunciar a um objetivo, quando se reconhece ser ele impossvel. 199: DA RENOVAO DOS TRATADOS: Um tratado feito para um perodo limitado de tempo pode ser renovado pelo consentimento comum das partes contratantes e este consentimento pode se manifestar expressa ou tacitamente. Quando se renova expressamente o tratado, como se houvesse feito um novo tratado, semelhante ao anterior. A renovao tcita no se presume facilmente pois acordos de alguma importncia bem merecem receber consentimento expresso. A presuno de renovao tcita no pode ocorrer seno em virtude. dos termos do tratado em causa. Mas, mesmo neste caso, a questo apresenta dificuldades pois, segundo as circunstncias e a natureza dos atos de que se cogita, pode ter ocorrido mera continuao ou extenso do tratado, o que bem diferente da renovao do mesmo, especialmente no que diz respeito ao perodo de durao desse tratado. Por exemplo, a Inglaterra tem um tratado de subsdios com um prncipe da Alemanha, o qual deve manter durante dez anos um certo nmero de tropas disposio da coroa, com a condio de receber cada ano uma importncia convencionada. Dez anos terminados, o rei da Inglaterra calcula a importncia estipulada para o ano seguinte e o seu aliado a recebe. O tratado assim tacitamente prolongado por um ano; mas no se pode dizer que ele tenha sido renovado. Pelo fato de que houve cumprimento dos termos do tratado no perodo inicial, no se segue que as obrigaes devam continuar por dez anos consecutivos. Mas, suponhamos que um soberano tenha acordado com um Estado vizinho dar-lhe um milho, para ter o direito de manter nesse Estado uma guarnio durante um perodo de dez anos. Terminado esse prazo, em vez de retirar a sua guarnio, ele entrega novo milho, e seu aliado o aceita: o tratado, neste caso renovado tacitamente.

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VATIEL

Quando o perodo do tratado termina, cada contratante livre de quaisquer obrigaes e pode aceitar ou recusar a renovao do mesmo, como achar conveniente. No entanto, preciso reconhecer que se um contratante se beneficiou das vantagens do tratado, recusar-se, sem importantes e justas razes, a renov-lo, quando acredita no dele mais beneficiar-se, e quando se prev ter chegado o tempo para que o seu aliado se beneficie, por seu turno, do mesmo tratado, essa recusa seria pouco honesta e indigna da generosidade conveniente aos soberanos, e demasiado distante dos sentimentos de reconhecimento e amizade que so devidos a um aliado antigo e fiel. Acontece muito freqentemente que grandes potncias, quando no pice de seu poder, negligenciam aqueles que as ajudaram a ascender. 200:
COMO TRATADO TERMINA QUANDO VIOLADO rOR UM DOS

CONTRATANTES:

OS tratados contm promessas perfeitas e recprocas. Se

uma das partes descumpre os seus compromissos, a outra pode compeli-la a cumpri-los; o direito que concorre para uma promessa perfeita. Mas se no houver outro meio de forar um Estado aliado a manter a sua palavra a no ser o recurso s armas, algumas vezes mais conveniente ao contratante desobrigar-se tambm de suas promessas e descumprir o tratado; e est inquestionavelmente justificado a faz-lo, desde que nada prometeu seno com a condio de que a outra parte cumpra o que se estipulou no tratado. A parte ofendida ou lesada pode escolher, ou compelir a parte transgressora a cumprir os seus compromissos, ou declarar dissolvido o tratado. Prudncia e poltica sbia sugeriro o que melhor a fazer nessas circunstncias. 201: A VIOLA<;O DE UM TRATADO NO ACARRETA A RUPTURA OUTRO: Mas quando os contratantes tm dois ou mais tratados diferentes e independentes um do outro, a violao de um dos tratados no desobriga a parte injuriada das obrigaes que ela contraiu nos outros tratados. Pois as promessas nestes contidas no dependem daquelas incorporadas no tratado violado. Mas o contratante ofendido

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pode ameaar o transgressor a renunciar a todos os demais tratados de que ambos so partes, e efetivar essa ameaa se a outra parte persistir em sua conduta. Pois se algum me prejudica ou refuta o meu direito, eu posso, no estado da natureza, com o intuito de for-lo a me fazer justia, para puni-lo, ou para obter indenizao, priv-lo tambm de alguns de seus direitos, ou tom-los para mim, at alcanar ampla satisfao. E se for necessrio ir s armas para obter satisfao pela violao do tratado, a parte injuriada comea por retirar do seu inimigo todos os direitos que lhe pertenciam em razo dos tratados comuns, e ns veremos, no que diz respeito guerra, que ele pode faz-la com justia. 202: A
VIOLA<;Ao DE UM ARTIC;O DO TRATADO PODE OCASIONAR A

Certos autotes'P' desejam estender o que acabamos de dizer aos diversos artigos de um tratado que no tm conexo com o artigo que foi violado. Eles dizem que esses diferentes artigos devem ser considerados como sendo tratados distintos concludos ao mesmo tempo. Assim, eles pretendem que se um dos contratantes descumpre um artigo do tratado, o outro contratante no est de imediato no direito de violar o tratado inteiro; mas ele pode, ou recusar por sua vez o que prometido em razo do artigo violado, ou forar o seu contratante a cumprir as suas promessas, se isso ainda puder ser feito, ou ento, a obter reparao do dano e que, para esse fim, ao Estado ofendido permitido ameaar renunciar a todo tratado. Uma ameaa que pode ser legitimamente efetivada, se no for levada em conta. Tal inquestionavelmente o que a conduta, a prudncia, a moderao, o amor paz, e a caridade prescrevero ordinariamente s Naes. Quem desejaria neg-lo, e pretender iradamente ser permitido aos soberanos recorrer imediatamente s armas ou apenas violar todo o tratado de aliana e amizade ao menor motivo de queixa? Mas a questo aqui de direito e no de ao prpria a ser tomada para se obter justia,
RUPTURA DC)S DEMAIS:

Vide

Gent., 432.

306 e considero o princpio sobre o qual esse procedimento se fundamenta absolutamente insustentvel. No se pode considerar os diversos artigos do mesmo tratado como sendo tratados particulares e independentes. Embora no se veja nenhuma conexo direta entre alguns desses artigos, eles esto todos relacionados por vnculo comum, de modo que os contratantes os aceitaram uns em relao a outros maneira de compensao. Eu talvez nunca tivesse concordado com este artigo se a outra parte no tivesse concordado com outro que, por sua matria, no teria nenhuma relao com o primeiro. Tudo o que compreendido num mesmo tratado tem pois, a fora e a natureza das promessas recprocas, salvo excees constantes do tratado. Grcio bem observou que "todos os artigos do tratado tm a fora de condio, cuja ausncia o torna nulo". (34) Ele acrescenta que se inclui "algumas vezes esta clusula, a de que a violao de quaisquer dos artigos do tratado no o anula, para que uma das partes contratantes no possa desfazer-se dos compromissos menor ofensa". A precauo muito sbia e muito adequada ao cuidado que devem ter as Naes em manter a paz e tornar as suas alianas estveis. 203: O
TRATADO PERECE COM UM DOS CONTRATANTES:

Como um

tratado pessoal expira com a morte do rei, o tratado real termina se uma das Naes aliadas destruda, isto , no somente se os homens que a compem peream, mais ainda se por qualquer causa ela perde a sua qualidade de Nao ou de sociedade poltica independente. Assim, quando um Estado destrudo e o povo dispersado, ou quando subjugado por um conquistador, todas as suas alianas, todos os seus tratados, findam com a queda da autoridade pblica que os contratou. Mas no devemos confundir aqui aqueles tratados ou alianas que, referentes obrigao de prestaes recprocas, no podem subsistir seno com a manuteno das potncias contratantes,
(14)

Droil de la guerre et de la paix, Liv. II, capo XV,

xv

o DIREITO DAS GENTES

307

com aqueles contratos que geram um direito adquirido e consumado independentemente de toda prestao mtua. Se, por exemplo, uma Nao cedeu, em carter perptuo, a um prncipe vizinho o direito de pescar em riacho, ou o direito de manter guarnio em uma fortaleza, esse prncipe no perderia seus direitos mesmo quando a Nao de quem recebeu direitos, viesse a ser conquistada, ou submetida de alguma outra maneira a domnio estrangeiro. Os direitos do prncipe no dependem da existncia continuada dessa Nao; ela os tinha alienado e aquele que a conquistou no pode apossar-se seno daquilo que a ela pertencia. Desse modo, dbitos da Nao ou dbitos que um soberano contraiu ao hipotecar algumas de suas cidades ou provncias, no so cancelados pela conquista. O rei da Prssia, ao adquirir a Silsia por conquista e pelo tratado de Breslau, incumbiu-se dos dbitos que essa provncia contrara com certos mercadores ingleses. De fato, ele no podia l conquistar seno os direitos da Casa da ustria e ele no podia tomar a Silsia seno como ela se encontrava no momento da conquista, com seus direitos e obrigaes. Recusar-se a pagar os dbitos de um pas que se subjuga seria despojar os credores com os quais no se est em guerra. 204: DAS ALIANAS DE UM ESTADO SE SUBMETEU EM SEGUIDA PROTEO DE OUTRO ESTADO: Desde que um Estado ou uma Nao no pode fazer nenhum tratado contrrio queles que o vinculam efetivamente (165), ele no pode colocar-se sob a proteo de outro Estado, sem reservar todos os seus tratados e alianas subsistentes. A conveno pela qual um Estado se coloca sob a proteo de outro, um tratado (175). Se ele o faz livremente, deve faz-lo de maneira que o novo tratado no conflite com os anteriores. Vimos (176) qual direito o cuidado por sua proteo lhe confere em caso de necessidade. As alianas de uma Nao no so, pois, destrudas, quando ela se pe sob a proteo de outra Nao a menos que elas sejam incompatveis com as condies dessa proteo As suas obrigaes subsistem para com os antigos aliados e estes a ela permanecem

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vinculados enquanto ela possa cumprir seus compromissos para com os mesmos. Quando um povo forado, por necessidade, a colocar-se sob a proteo de uma potncia estrangeira e a prometer-lhe a assistncia de todos os seus recursos em relao a todos e contra todos, sem excepcionar os aliados, as suas antigas alianas subsistem medida que no sejam incompatveis com o novo tratado de proteo. Mas se acontecer de um aliado antigo entrar em guerra com o protetor, o Estado protegido ser obrigado a declarar-se em favor deste ltimo, ao qual ligado por laos mais estreitos e por um tratado que derroga os demais em caso de conflito. Foi assim que os nepesinianos, compelidos a render-se aos etruscos, consideraram-se obrigados a dar preferncia ao tratado de submisso e no aliana que eles tinham com os romanos: postquam deditionis, quam soaetatis, fides sanctior erat, disse Tito-Lvio. (35)
20S: TRATADOS FINDOS DE COMUM ACORDO: Enfim, como os tratados so feitos pelo consentimento comum das partes, eles podem tambm terminar por acordo mtuo e pelo livre consentimento dos contratantes. E mesmo que um terceiro estivesse interessado na manuteno do tratado e sofresse com a sua dissoluo, se esse Estado no teve parte nele e se no lhe foi prometido nada diretamente, aqueles que fizeram reciprocamente promessas, em favor desse terceiro, podem mutuamente delas se desobrigar sem consultar esse terceiro, e sem que este tenha o direito de opor-se. Dois monarcas podem se comprometer, reciprocamente, a juntar suas foras para a defesa de uma cidade vizinha; esta cidade se beneficia pela assistncia deles, mas no adquire direito a esta assistncia e to logo os dois monarcas desejarem desobrigar-se mutuamente dessa assistncia, a cidade ser privada dessa assistncia, sem ter qualquer motivo de queixa porque nada se lhe tinha sido prometido.
Lib. VI, capo X.

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CAPiTULO

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XIV

Das demais convenes pblicas, daquelas concludas por poderes inferiores; em do acordo chamado em latim "sponsio", e das convenes entre soberanos e
206: DAS CONVENES POR SOBERANOS: OS pactos pblicos, que so chamados convenes, acordos, etc., quando so feitos entre soberanos, no diferem dos tratados seno quanto ao objeto (153). Tudo o que temos dito sobre a validade dos tratados, a sua execuo, a sua ruptura, as obrigaes e os direitos que eles produzem, etc., aplicvel s vrias convenes que os soberanos podem concluir entre si. Tratados, convenes, acordos, so todos compromissos pblicos, em relao aos quais no h seno os mesmos direitos e as mesmas regras. No incidiremos aqui em fastidiosas repeties. Seria igualmente intil entrar nos pormenores dos vrios tipos de convenes, cuja natureza sempre a mesma, e que somente diferem umas das outras em relao matria por elas versada. 207: DAS CONVEN()ES POR POTNCIAS SUBALTERNAS: Mas h convenes pblicas que so feitas por poderes subalternos, seja em virtude de mandamento expresso do soberano, seja pelo poder a eles conferido nos termos de sua comisso e de acordo com o que comporta ou exige a natureza das questes que lhes so confiadas. Denominam-se poderes inferiores subalternos pessoas pblicas que exercem alguma parte do imprio, em nome e sob a autoridade do soberano. Tais so os magistrados encarregados da administrao da justia, generais do exrcito e ministros. Quando essas pessoas celebram uma conveno, por ordem expressa do soberano em casos especficos e munidas de seus poderes, a conveno concluda em nome do prprio soberano, que contrata por intermdio de ministrio do mandatrio ou procurador. o caso de que falamos acima (156).

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Mas as pessoas pblicas, em virtude de seu cargo ou da comisso que lhes foi dada, tm tambm o poder de fazer diretamente convenes sobre negcios pblicos, exercendo em tais ocasies o direito e a autoridade do poder superior que as constituiu. Esse poder lhes advm de dois modos: ou ele lhes conferido em termos expressos pelo soberano, ou ele decorre naturalmente da prpria comisso. A natureza das questes de que estas pessoas esto encarregadas requer que elas tenham o poder de concluir tais convenes, sobretudo nos casos em que elas no poderiam esperar as ordens do soberano. Assim, o governador de uma praa e o general que a assedia tm o poder de estabelecer os termos da capitulao. Tudo o que eles assim conclurem nos termos da respectiva comisso obriga o Estado ou o soberano que lhes deu o poder para tanto. Como convenes desse tipo tm lugar principalmente em tempos de guerra, trataremos delas mais detidamente no Livro IH.

28: Dos
DO SOBERANO OU

TRATADOS FEITOS POR UMA PESSOA PBLICA, SEM ORDEM PODER

Se uma pessoa pblica, um

embaixador, ou um general do exrcito, conclui um tratado ou uma conveno sem ordens do soberano ou sem ser autorizada a isso pelos poderes de seu cargo, e alm do mbito de sua comisso, o tratado nulo, como tendo sido feito sem poder suficiente (15T). O tratado somente pode tornar-se vlido pela ratificao do soberano, expressa ou tcita. A ratificao expressa um ato pelo qual o soberano aprova o tratado e se compromete a observ-lo. A ratificao tcita resulta de certos procedimentos que se presumem feitos pelo soberano em virtude do tratado e que ele no poderia fazer se no o tivesse considerado como definitivamente concludo. Assim, depois que um tratado de paz foi assinado pelos ministros, que podem mesmo ter excedido as ordens do seus soberanos, se um dos soberanos transporta as suas tropas em uma caminhada amistosa pelo territrio do inimigo reconciliado, ele implicitamente ratifica o tratado de paz. Mas se a ratificao do soberano foi condicional, quando se exige uma ratificao expressa, necessrio que ela ocorra para dar ao tratado toda a sua fora.

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29: Do ACORDO CHAMADO O termo latino sponsio aplicado a um acordo concernente a negcios de Estado, concludo por uma pessoa pblica, alm dos termos de sua comisso e sem ordem ou instruo do soberano. Aquele que negocia assim, em nome do Estado, sem dele ter a comisso, promete fazer com que o Estado ou o soberano ratifique o acordo e o tenha por bem feito; de outro modo, o seu compromisso seria vo e ilusrio. O fundamento desse acordo no pode estar, de uma e outra parte, seno na esperana da ratificao. Exemplos de tais acordos podem ser encontrados na histria romana. Detenhamo-nos no mais conhecido deles, o qual foi discutido pelos mais celebrados autores, o da batalha de Forcas Caudinas. Os cnsules T. Veturius Calvinus e Sp. Postumius, vendo-se cercados com seu exrcito no desfiladeiro de Forcas Caudinas, sem esperana de escapar, fizeram acordo vergonhoso com os samnitas, advertindo-os todavia de que eles no poderiam fazer um verdadeiro tratado pblico sem ordens do povo romano, sem os feciais e sem as cerimnias de consagrao. O general samnita contentou-se em exigir a palavra dos cnsules e dos principais oficiais do exrcito e em receber seiscentos refns. Ele obrigou o exrcito romano a depor as armas e o liberou aps pass-lo sob [ugo, O senado no quis aceitar o tratado e entregou os que o tinham concludo aos samnitas, que se recusaram a receblos, e Roma considerou-se livre de todo compromisso e resguardada de toda censura. Os autores pensam diferentemente sobre essa conduta. Alguns sustentam que se Roma no desejasse ratificar o tratado, ela deveria ter reposto as cousas no estado em que estavam antes do acordo, ter reenviado todo o exrcito ao seu acampamento no desftladeiro de Forcas Caudinas; e esta era tambm a pretenso dos samnitas. Confesso no estar inteiramente satisfeito com os entendimentos existentes sobre essa questo, mesmo em relao queles autores cuja notoriedade alis eu reconheo. Tentemos, aproveitando-lhes as contribuies, buscar nova luz sobre o assunto.
TIT. LIVIUS, Lib. IX, no comeo.

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210: O ESTADO NO EST VINCULADO POR SEMELHANTE ACORDO: Duas questes esto presentes: 1") A que est obrigado aquele que faz o acordo (sponsor), se o Estado o desaprova? 2") A que o prprio Estado est obrigado? Mas primeiramente devemos notar com Grciov" que o Estado no est vinculado por um acordo desta natureza. Isto claro pela prpria definio do acordo chamado sponsio. O Estado no o autorizou a ser feito e no conferiu, de modo algum, poder quele que o fez nem expressamente, por um mandato ou plenos poderes, nem implicitamente por uma seqncia natural ou necessria de autoridade confiada quele que faz o acordo (sponson). Um general de exrcito tem, em virtude do seu cargo, o poder de concluir convenes particulares, pactos relativos a ele mesmo e a suas tropas, conforme a ocasio se apresente e conforme as ocorrncias da guerra, mas no tem o poder de concluir um tratado de paz. Ele pode vincular-se a si prprio e as tropas sob o seu comando em todas as ocasies em que as suas funes requerem que ele tenha o poder de negociar; mas ele no pode vincular o Estado alm dos termos da sua comisso. 211: A QUE EST OBRIGADO AQUELE QUE PROMETE, QUANDO DESAUTORIZADO: Vejamos agora quais so as obrigaes da pessoa (sponsor) que faz o acordo quando o Estado o desautoriza. No possvel raciocinar aqui sobre os princpios do direito natural entre particulares. A natureza dos interesses envolvidos e a posio das partes contratantes introduzem aqui necessariamente uma diferena. certo que, entre particulares, aquele que, sem autorizao, promete pura e simplesmente fazer algo em nome de outrem, obrigado, se desautorizado, a cumprir o que prometeu pessoalmente, ou fazer o equivalente, ou restaurar as cousas no estado anterior ou, finalmente, compensar plenamente aquele com quem fez o acordo, segundo as diversas circunstncias: a sua promessa (sponsio) no pode ser entendida de outro modo. Mas tal no ocorre no caso de homem pblico, que, sem ordem e sem poder,
Droit de laguerre et delapaix, Liv. II, capo XV, XVI.

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promete em nome de seu soberano. Trata-se de causas que ultrapassam infinitamente o seu poder e todas as suas faculdades, de causas que ele no pode executar pessoalmente, nem fazer executar e para as quais no poderia oferecer nem o equivalente, nem indenizao proporcional. Ele no tem nem mesmo a liberdade de dar ao inimigo o que ele teria prometido sem autorizao; enfim, no est mais em seu poder restituir integralmente as causas sua condio anterior. Aquele que trata com ele no pode esperar nada de semelhante. Se aquele que prometeu o enganou, ao dizer estar suficientemente autorizado, ele tem o direito de puni-lo. Mas se, como os cnsules romanos no caso de Forcas Caudinas, aquele que prometeu agiu de boa f, por ter advertido no ter o poder de vincular o Estado por um tratado, no se pode presumir seno que a outra parte quis bem correr o risco de concluir um tratado que se tomaria nulo se no fosse ratificado; esperando que a considerao em relao quele que promete, assim como a dos refns, seria suficiente para conduzir o soberano, se necessrio, a ratificar o acordo que fora assim concludo. Se os eventos contrariaram as suas esperanas, no se pode ter em conta seno a prpria imprudncia. Um desejo precipitado de obter a paz em condies vantajosas e a tentao por algumas vantagens efetivas podem ter levado concluso de um acordo to arriscado. o que observou judiciosamente o prprio cnsul Postumius aps seu retomo Roma. Pode-se ver o discurso que Tito Lvio fez dizer no Senado: ''Vossos generais, ele disse, e aqueles dos inimigos, perderam igualmente a cabea: ns, ao nos comprometermos imprudentemente num mau passo; eles, ao permitirem escapar uma vitria que a natureza do lugar lhes assegurava, ao desconfiarem das suas vantagens e ao apressarem-se a qualquer custo em desarmar pessoas sempre temveis com armas na mo. Por que no nos mantiveram fechados no acampamento? Por que no se encaminharam a Roma, para tratar com segurana da paz com o senado e o povo?" manifesto que os samnitas se contentaram com a esperana de que o compromisso dos cnsules e dos principais oficiais e o desejo de salvar seiscentos cavaleiros deixados como refns induziriam os romanos

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a ratificar o acordo; considerando que, em quaisquer circunstncias, eles teriam sempre seiscentos refns com as armas e as bagagens do exrcito; e tambm a glria v, ou antes funesta em seu desdobramento, de ter feito esse exrcito passar sob o jugo. A que pois estavam obrigados os cnsules e todos os que prometeram (sponsores)? Eles prprios julgaram que deviam ser entregues aos samnitas, No se trata de uma conseqncia natural do acordo (sponsionis) e, segundo as observaes que acabamos de fazer, no parece que o que prometeu, tendo prometido causas que o aceitante sabia bem no estar em seu poder, seria obrigado, quando desautorizado, a entregar-se como forma de indenizao. Mas como ele pode a tanto comprometer-se expressamente, em conformidade com os termos de seus poderes ou de sua comisso, o costume daqueles tempos, indubitavelmente, havia feito desse compromisso uma clusula implcita do acordo chamado sponsio, porquanto os romanos entregaram todos os sponsores, todos aqueles que tinham prometido: era um princpio de seu direito fecial. (3H) Se o sponsor no se comprometeu expressamente a se entregar e se o costume vigente no lhe impe essa obrigao, tudo o que a sua palavra obriga , segundo parece, fazer de boa f tudo o que pode ser feito legitimamente para induzir o soberano a ratificar o que tinha prometido e, no h dvida, por menos que o tratado seja eqitativo, vantajoso para o Estado ou suportvel em considerao aos males que ele preservou. Propor-se poupar ao Estado uma perda considervel por meio de tratado, que se aconselhar logo ao soberano deixar de ratificar, no porque seja insustentvel, mas prevalecendo-se do fato de que o tratado foi concludo sem autorizao, isto seria inquestionavelmente um procedimento fraudulento e um abuso vergonhoso da f dos tratados. Mas o que far o general que, com o intuito de salvar o seu
j disse no meu prefcio, que o direitofecia/dos romanos era o seu direito de guerra, sendo o colgio dos feaales consultado sobre os motivos que poderiam autorizar a promover a guerra e sobre as questes que dela surgissem; era tambm encarregado das cerimnias da declarao de guerra e do tratado de paz. Eles eram tambm consultados sobre todos os tratados pblicos.

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exrcito, foi forado a concluir um tratado prejudicial ou )nhoso ao Estado? Aconselhar o soberano a ratific-lo? Ele se conte r em expor as razes de sua conduta e a necessidade que o con liu a negociar o tratado; ele relembrar, como fez Postumius, que nas ele est vinculado, e que ele quer bem ser desautorizado e ser entie para o bem pblico. Se o inimigo se enganou, por sua prpria to'. Deveria o general adverti-lo, de que segundo toda a aparncia, as si promessas no seriam ratificadas? Isto seria exigir demasiado. Bas. que no lhe faa imposies, vangloriando-se de poderes mais extensos do que aqueles que na verdade possui, e que se limite a sustentar suas propostas, sem induzi-lo a negociar com esperanas enganosas. Cabe ao inimigo tomar todas as precaues e se ele as negligencia, por que no aproveitar-se dessa imprudncia como um benefcio da fortuna? "Foi a fortuna", dizia Postumius, "que salvou nosso exrcito depois de t-lo posto em perigo. O sucesso virou a cabea do inimigo, e as suas vantagens no foram para ele seno um belo sonho". Se os samnitas no tivessem exigido dos generais e do exrcito romano seno compromissos que tivessem podido assumir pela prpria natureza de seu estado e de sua comisso, se eles os tivessem obrigado a se entregar como prisioneiros de guerra, ou se, no podendo todos aprisionar, os tivessem liberado, sob palavra, a no guerrear contra eles durante alguns anos, no caso em que Roma se recusasse a ratificar a paz, o acordo teria sido vlido como tendo sido feito com poderes suficientes. Todo o exrcito estaria comprometido em observ-lo pois bem necessrio que as tropas ou seus oficiais possam comprometer-se com contratos nessas ocasies e nessas circunstncias. o caso das capitulaes, de que falaremos ao tratar da guerra. Se aquele que promete faz uma conveno eqitativa e honorvel sobre matria de tal natureza, em condies de reparar a outra parte no caso em que a conveno for desautorizada, presume-se ter ele se comprometido a essa reparao, a qual ele deve efetivar em cumprimento de sua palavra, como o fez Fabius Maximus no exemplo mencionado

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por Gr: Mas em certas circunstncias o soberano poderia proibi-lo de ass proceder, nada dando aos inimigos do Estado. A QUE O SOBERANO EST OBRIGADO: Mostramos que um Estado .ode estar vinculado a um acordo concludo sem a ordem e sem o r er do soberano. Mas no est ele absolutamente obrigado a nada? ) que nos cabe examinar. Se as cousas permanecem normais, o Estado, o soberano, pode simplesmente desautorizar o tratado, que assim se coma inoperante e mesmo inexistente. Mas o soberano deve manifestar a sua vontade to logo o tratado seja levado ao seu conhemento. Isto no . quer dizer que seu silncio possa, na verdade, dar vigncia a um tratado, que inexiste sem a sua aprovao; mas seria um ato de m f deixar outro Estado executar sua parte no acordo, que esse soberano, por sua vez, no pretende ratificar. Se algo foi feito em virtude do acordo, se a parte que tratou com o sponsor cumpriu de seu lado compromissos integral ou parcialmente, deve ser ela indenizada, ou devem as cousas serem repostas por inteiro, com a rejeio do tratado? Ou seria permitido recolher as vantagens do tratado ao mesmo tempo que se recusa a ratific-lo? Devemos distinguir aqui a natureza das cousas que tm sido concludas e a das vantagens revertidas para o Estado. Aquele que, tendo negociado com uma pessoa pblica no munida de poderes suficientes, executa o acordo de sua parte sem esperar-lhe a ratificao, comete uma imprudncia e uma falta relevante, qual no foi induzido pelo Estado com o qual acredita ter contratado. Se ele deu alguma cousa do que tem, a outra parte no pode ret-la,aproveitando-se dessa falta. Assim, quando um Estado, acreditando ter concludo a paz com o general inimigo, entregou-lhe em conseqncia uma de suas fortalezas ou uma soma de dinheiro, o soberano deste general deve indubitavelmente restituir o que foi recebido, se no desejar ratificar o acordo. Agir de outra maneira seria desejar enriquecer-se com bem alheio e ret-lo sem direito.
(39)

Liv. 11, capo XV, XVI, infine.

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Mas se o acordo nada deu ao Estado que no tivesse tido anteriormente e se, como no caso de Forcas Caudinas, toda a vantagem consiste em t-lo tirado de um perigo, preservando de uma perda, um presente da fortuna do qual se aproveita sem escrpulo. Quem recusar ser salvo pela tolice de seu inimigo? E quem se acreditar obrigado a indenizar esse inimigo pela vantagem que ele deixou escapar, quando no foi induzido fraudulentamente a perd-la? Os samnitas pretendiam que, se os romanos no desejavam manter o tratado feito pelos seus cnsules, eles deveriam ter mandado de volta o exrcito para o desfiladeiro de Caudinas, e restaurado a situao anterior. Dois tribunos do povo, que estiveram como sponsores, com o intuito de evitar serem entregues, ousaram sustentar a mesma causa e certos autores concordaram com eles. O que! Os samnitas buscaram tirar vantagem das circunstncias com o intuito de ditar lei aos Romanos, para arrancar-lhes um tratado vergonhoso; eles tiveram a imprudncia de tratar com cnsules, que tinham declarado no ter o poder de contratar em nome de seu Estado. Eles permitiram ao exrcito romano escapar, depois de t-lo coberto de ignomnia, e os romanos no devero se aproveitar do desatino de um inimigo to pouco generoso? Ser necessrio ou que eles ratifiquem um tratado desonroso, ou que devolvam ao inimigo as vantagens que a situao local lhe dava e que perdeu devido a sua prpria culpa? Sobre qual princpio essa deciso pode ser fundamentada? Tinha Roma prometido alguma causa para os samnitas? Tinha ela se comprometido a deixar partiro seu exrcito,enquanto esperava a ratificao do acordo feito pelos cnsules? Se ela tivesse recebido algo em virtude do acordo, ela teriasido obrigada a restitui-lo, como dissemos, porque ela o teria possudo sem direito em declarando o tratado nulo. Mas ela no tinha parte na deciso de seus inimigos,na falta grosseira deles, e ela se aproveitou disso tambm como na guerra se aproveita de todos os erros de um general inbil. Suponhamos que um conquistador, depois de celebrar um tratado com ministros que teriam reservado expressamente a ratificao do seu soberano, tenha a imprudncia de abandonar todas as suas conquistas sem esperar essa ratificao, dever-se-ia de boa f cham-lo e devolver-lhe esses bens no caso de o tratado no ser ratificado?

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Confesso, no entanto, e livremente admito, que se o inimigo permite a um exrcito inteiro escapar, confiante em acordo concludo com um general destitudo de poderes necessrios, um simples sponsor; que se esse inimigo agiu generosamente e no se prevaleceu de vantagens para ditar condies vergonhosas ou demasiado severas, a eqidade requer ou que o Estado ratifique o acordo ou que ele faa um novo tratado em condies justas e razoveis, suavizando mesmo as suas pretenses, tanto quanto o bem pblico o permita, pois no se deve abusar jamais da generosidade e da nobre confiana de um inimigo. Pufendorf (40) entende que o tratado de Forcas Caudinas no continha nada de demasiado rgido ou insuportvel. Este autor no parece fazer muito caso da vergonha e ignomnia que teria cado sobre toda a repblica. Ele no viu toda a extenso da poltica dos romanos, que jamais quiseram, mesmo nas maiores aflies, aceitar um tratado desonroso, nem mesmo fazer a paz como vencidos, uma poltica sublime qual Roma deve toda a sua grandeza. Observemos enfim que, tendo um rgo inferior feito, sem autorizao e sem poder, um tratado eqitativo e honroso com o intuito de tirar o Estado de perigo eminente, o soberano que, vendo-se liberado do perigo, se recusasse a ratificaro tratado, no por consider-lo desvantajoso, mas apenas com o intuito de economizar no que devia ser o preo da liberao do perigo, agiria certamente contra todas as regras da honra e da eqidade. Seria o caso de aplicar o princpio "summum jus, summa Ao exemplo do que colhemos da histria romana, acrescentemos um caso famoso da histria moderna. Os suos, descontentes com a Frana, aliaram-se ao imperador contra Lus XII e promoveram uma insurreio na Borgonha, no ano de 1513. Eles assediaram a cidade de Dijon e La Trimouille, que comandava a cidade, temendo no poder salv-la, negociou com os suos e, sem esperar por uma comisso do rei, fez um acordo em virtude do qual o rei da Frana deveria renunciar s suas pretenses ao ducado de Milo e pagar aos suos, em certas condies, a quantia de seiscentos mil escudos. Os suos, por seu lado,
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Droit de la nature et desgens, Liv. VIII, capo IX, XII.

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no prometeram nada a no ser regressar ao seu pas de modo que eles estavam livres para atacar a Frana novamente se achassem melhor assim faz-lo. Eles receberam refns e partiram. O rei ficou muito insatisfeito com o tratado, ainda que ele tivesse salvo Dijon e preservado o reino de um grande perigo, e recusou-se a ratific-lo. (41) certo que La Trimouille excedera os poderes de seu cargo, especialmente ao prometer que o rei renunciaria ao ducado de Milo.Tambm ele no se propunha provavelmente seno afastar um inimigo, mais fcil de surpreender numa negociao que vencer pelas armas. Lus XlI no estava obrigado a ratificar e a executar tratado concludo sem ordem e sem poderes; e se os suos foram enganados, eles deviam culpar a sua prpria imprudncia. Mas como parecia claramente que La Trimouille no tinha agido de boa f para com eles, pois que usou de embuste a respeito dos refns, atribuindo esta qualidade a pessoas de condio inferior, no lugar de quatro cidados de alto nvel, como havia prometido't", os suos teriam justo motivo de no fazer a paz, a menos que alguma satisfao lhes fosse dada dessa perfidia, seja entregando-lhes o autor da mesma, seja de alguma outra maneira. 213: Dos CONTRATOS PRIVADOS DO SOBERANO: As promessas, os acordos, todos os contratos privados do soberano so naturalmente submetidos s mesmas regras que as dos particulares. Se surgem dificuldades a esse respeito, igualmente conforme decncia, delicadeza dos sentimentos (que deve brilhar particularmente num soberano) e ao amor justia, que elas devem ser decididas pelos tribunais judiciais do Estado. Esta tambm a prtica de todas as Naes civilizadas que so governadas por leis. 214: Dos CONTRATOS COM PARTICUlARES DO ESTADO: As convenes, os contratos, que o soberano, nessa qualidade e em nome

(41) GUICHARDIN, Liv. XII, capo 11. Histoire dela Confdration Hlitique, por A-L. de WATTEVILLE, parto 11, p. 185 e 55.

A L. de WATTEVILLE, ibidem, p. 190.

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do Estado, faz com particulares estrangeiros, seguem as regras acima enunciadas para os tratados pblicos. De fato, quando um soberano contrata com pessoas que no dependem dele, nem do Estado, seja com um particular, seja com uma Nao, ou com um soberano, isso no acarreta diferenas jurdicas. Se o particular que tratou com o soberano for sdito deste,o direito das partes ainda o mesmo, mas h uma diferena na maneira de decidir as controvrsias s quais o contrato pode dar margem. Este particular,sendo um sdito do Estado, obrigado a submeter suas pretenses aos tribunais constitudos para distribuir justia; por outro lado, alguns autores acrescentam que o soberano pode rescindir tais contratos se ele consider-los contrrios ao bem pblico. Ele inquestionavelmente pode faz-lo, mas no por motivo decorrente da natureza particular desses contratos; a resciso deve ser baseada pela mesma razo com que se invalida um tratado pblico, quando ele funesto ao Estado e contrrio ao bem-estar pblico, ou em virtude de domnio eminente, o qual permite ao soberano dispor dos bens dos cidados em vista do bem comum. De resto, estamos falando aqui de um soberano absoluto. Deve-se ter em vista na constituio de cada Estado quais so as pessoas autorizadas a contratar no nome do Estado, a exercer o imprio supremo, e a decidir o que o bem-estar pblico requer. 215: ESSES CONTRATOS OBRIGAM ANAO ESEUS SUCESSORES: Desde que um poder legtimo contrata em nome do Estado, ele obriga a prpria Nao e, conseqentemente, todos os dirigentes futuros da sociedade. Assim, quando um prncipe tem o poder de contratar em nome do Estado, ele obriga todos os seus sucessores e estes, por sua vez, no so menos obrigados que ele prprio a cumprir esses comproinissos. 216: DAS DVIDAS IX) SOBERANO E IX) EsrAIX): O dirigente da Nao pode ter seus negcios particulares,suas dvidas privadas. A sua propriedade privada est comprometida por esta espcie de dvida. Mas os emprstimos feitos para as necessidades do Estado, as dvidas criadas na administrao de negcios pblicos, esto relacionadas com contratos de direito estrito,

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obrigatrios para o Estado e toda a Nao. Nada pode desobrigar a Nao de saldar tais dvidas. Desde que contratadas pela autoridade legtima,o direito do credor inquestionvel. Tenha o dinheiro emprestado se voltado em proveito do Estado, ou tenha sido ele dissipado em despesas infundadas, essa uma questo estranha quele que o emprestou. Ele confiou seus bens Nao, ela deve devolv-los. Tanto pior para a Nao se esta deixou o cuidado de seus negcios em mos imprprias. No entanto, este princpio tem os seus limites circunscritos pela prpria natureza da cousa. O soberano tem, em geral, o poder de comprometer o Estado com as dvidas por ele contradas para o bemestar da Nao, para permitir prover as necessidades e se a sua prpria autoridade absoluta, ele deve decidir, em todos os casos susceptveis de dvida, o que o bem-estar e segurana do Estado requerem. Mas se ele estava, sem necessidade, a contrair dvidas enormes capazes de arruinar a Nao para sempre, no haveria nenhuma dvida: o soberano agiria manifestamente sem direito e aqueles que lhe teriam emprestasdo dinheiro teriam feito mal ao confiar nele. Ningum pode presumir que uma Nao tenha desejado ser absolutamente conduzida runa pelos caprichos e pelas dissipaes descabidas de seu dirigente. Como as dvidas de uma Nao somente podem ser pagas por contribuies, por impostos, o dirigente a quem a Nao no confiou o direito de impor-lhe taxas, contribuies, de fazer, em uma palavra, levantamento de dinheiro, no tem tambm o direito de obrig-la por emprstimos e criar dvidas para o Estado. Assim, o rei da Inglaterra, que tem o poder de declarar guerra e fazer a paz, no pode contrair dvidas nacionais, sem o consentimento do parlamento; pois, sem esse consentimento, ele no pode impor tributo sobre seu povo. 217: DAS s DO SOBERANO: A questo das dvidas difere da concernente s doaes: quando um soberano toma emprestado dinheiro sem necessidade, ou por um objetivo no razovel, o credor confia o seu bem ao Estado e justo que o Estado salde o dbito se o credor tinha tido razo para pensar que a dvida dele foi feita para o Estado.

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Mas, quando o soberano doa um bem do Estado, alguma poro de suas terras, ou um feudo considervel, ele no tem o direito de faz-lo a no ser em vista do bem pblico, por servios prestados ao Estado, ou por algum objetivo razovel no qual a Nao tem interesse. Se ele doou sem razo, sem causa legtima, ele o fez sem poder. O sucessor dele, ou o Estado, pode, a todo momento, revogar semelhante doao, e com isso nenhum dano se faz ao donatrio, desde que este em nada contribuiu para este bem. O que aqui dissemos cabe a todo soberano a quem a lei no outorga expressamente a livre e absoluta disposio dos bens do Estado: um poder to perigoso no se presume jamais. As imunidades e privilgios concedidos por pura liberalidade do soberano so formas de doao e podem tambm serem revogados, especialmente se causarem prejuizo ao Estado. Mas um soberano no pode revog-las por sua prpria autoridade se o poder dele no absoluto e, mesmo nesse caso, ele no deve usar de seu poder seno com moderao e com igual senso de prudncia e eqidade. As imunidades concedidas para determinadas causas, ou em vista de algum retorno, constituem contrato oneroso e podem somente ser revogadas em caso de abuso ou quando se tornam contrrias ao bem-estar do Estado. E se por essa ltima razo forem suprimidas, deve-se indenizar aqueles que delas usufruiam.
CAPTULO

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Da f dos tratados
218: Do QUE SAGRADO ENTRE AS Ainda que tenhamos suficientemente estabelecido (163 e 164) a necessidade e a obrigao indispensveis de respeitar a palavra e cumprir os tratados, a matria to importante que no podemos dispensar-nos de consider-la aqui numa perspectiva mais geral que interessa no apenas as partes contratantes mas todas as Naes e a prpria sociedade universal do gnero humano. Tudo o que a segurana pblica demanda que seja inviolvel sagrado. Assim a pessoa do soberano sagrada porque a

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preservao do Estado requer que a pessoa dele esteja em perfeita segurana, inacessvel violncia. Assim os romanos declararam sagrada a pessoa de seus tribunos e, nesse sentido, os puseram protegidos de toda violncia e lhes pouparam o sentimento de medo. Toda causa, pois, necessria preservao comum dos povos, tranqilidade e segurana do gnero humano, deve ser inviolvel e tida como sagrada entre as Naes.

219: Os TRATADOS SO SAGRADOS ENTRE Quem duvidar que os tratados no estejam no nmero dessas causas sagradas entre as Naes? Eles decidem as questes mais importantes, ajustam as pretenses dos soberanos, devem reconhecer os direitos das Naes e lhes asseguram os interesses mais preciosos. Entre corpos polticos, entre soberanos, que no reconhecem autoridade superior na terra, os tratados so o nico meio de ajustar interesses diversos, de regular-lhes a conduta mtua, de fazer definitivo o que eles podem esperar um do outro e resolver os problemas que surgem entre eles. Mas os tratados no sero mais do que palavras vs se as Naes no os reconhecerem como compromissos solenes,como regras a serem incontornave1menteobservadas pelos soberanos, e como obrigaes sagradas em todo o mundo. 220: A NOS SAGRADA: A nos tratados, essa vontade firme e sincera, essa constncia invarivel em cumprir os com-promissos, para ser tida como "santa e sagrada" entre as Naes, cuja segurana e paz ela assegura, e se os povos no quiserem faltar consigo prprios, a infmia deve acompanhar aquele que viola a f dos tratados. 221: QUEM VIOLA OS SEUS TRATADOS VIOLA O DIREITO DAS GENTES: Aquele que viola os seus tratados, viola, ao mesmo tempo, o direito das gentes, pois ele despreza a f dos tratados, a mesma f que o direito das gentes declara como sendo sagrada. Ele duplamente culpado, ele faz injria a seu aliado e a todas as Naes e fere o gnero humano. "Da observncia e execuo dos tratados", dizia um soberano cuja opinio

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digna de respeito, "depende toda a segurana mtua, de prncipes e Estados; e no se poder mais contar com acordos futuros, se os atuais no forem mantidos't.r'" DOS 222: DIREITO DAS NA(lES CONTRA AQUELE QUE DESPREZA TRATADOS: Assim como todas as Naes esto interessadas em manter a f nos tratados, a consider-la em qualquer lugar como inviolvel e sagrada, elas assim tambm tm o direito de se reunirem para reprimir aquele que pretenda desprezar essa f, que dela zomba abertamente, que a viola e a transgride. Aquele que ataca os fundamentos da paz comum e a segurana dos povos um inimigo pblico. Mas deve-se tomar cuidado em no estender esse princpio em prejuzo da liberdade e independncia que pertencem a todas as Naes. Quando um soberano rompe os seus tratados e recusa-se a cumpri-los, isso no quer dizer imediatamente que os considera como documentos vos, que despreza a f nos mesmos. Ele pode ter boas razes para acreditar-se desobrigado de suas promessas e os demais soberanos no esto autorizados a julg-lo. o soberano que descumpre os seus compromissos com pretextos manifestamente frvolos, ou que alega pretextos para esconder a sua m f, que merece ser tratado como inimigo do gnero humano. 223: ATENTADOS COMETIDOS PELOS PAPAS AO DIREITO DAS GENTES: Ao tratar da religiono I deste trabalho, no deixamos de mencionar muitos casos de abusos marcantes que outrora os papas cometeram por autoridade prpria. Havia abusos que eram igualmente injuriosos a todos os Estados e eram subversivos do direito das gentes. Muitos papas romperam tratados de soberanos; ousaram relevar compromissos de um contratante e absolveram-no do juramento pelo qual ele os tinha confirmado, Cesarini, legado do papa Eugnio desejando que fosse rompido o tratado que Uladislas, rei da Polnia e da Hungria, tinha
Resoluo dos Estados-Gerais, de 16 de maro de 1726, em resposta Memria do marqus de Saint-Philippe, embaixador da Espanha.

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feito com o sulto Amurath, declarou o rei liberado de seus juramentos, em nome do papa.v'? Nesses tempos de ignorncia, acreditava-se verdadeiramente vinculado apenas por juramento e atribuiu-se ao papa o poder de desobrigar particulares e governantes de toda espcie de juramento. Uladislas retomou a guerra contra os turcos, mas esse prncipe, digno alis de melhor sorte, pagou caro a sua perfdia, ou melhor, a sua supersticiosa conduta. Ele pereceu com o seu exrcito perto de Varna. Foi uma perda funesta para a cristandade, e para a qual foi conduzida por seu chefe espiritual. Atribui-se a Uladislas esse epitfio:

Romulidae Cansas, ego Varnam clade nota vi. Diseite, mortales, non temerare fidem. Me nisi pontifices jussissent rumpere foedus, . Non ferrei Pannonis ora jugum.

o papa Joo XXII declarou nulo o juramento que o imperador

Lus da Baviera e o seu rival Frederico da ustria prestaram mutuamente, quando aquele ps este em liberdade. Quando Felipe,duque da Borgonha, rompeu a aliana com os ingleses, ele foi liberado do compromisso pelo papa e pelo conclio de Basilia. E num tempo em que o estabelecimento da reforma deveria tornar os papas mais circunspectos, o legado papal Caraffe, com o intuito de obrigar Henrique II, rei da Frana, a recomear a guerra, ousou bem desobrig-lo, em 1556, do juramento que ele tinha feito de observar a trgua de Vaucelles. A famosa paz de Westphalia desagradava ao papa por muitas razes e ele no se contentou em protestar contra as disposies de um tratado que interessava a toda Europa; ele publicou uma bula em que "por certo conhecimento seu e pleno poder eclesistico", declarava certos artigos do tratado "nulos, vos, invlidos, inquos, injustos, condenados, reprovados, frvolos, sem nenhuma fora ou efeito; e que ningum obrigado a observ-los ainda que tenham sido garantidos por um juramento...". Isto no
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E-Jistoire de P%gne, pelo cavaleiro de SOLIGNAC, tomo IV, p. 112.

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tudo; o papa assumiu o tom de senhor absoluto e assim prosseguiu: ''E contudo, para maior precauo, e tanto quanto necessrio, pelos mesmos motivos, conhecimento, deliberao, e plenitude de poder, condenamos, reprovamos, cassamos, anulamos, e privamos de toda a fora e efeito esses artigos, e todas as outras cousas prejudiciais quilo que acima, etc (45)". Quem no v que esses procedimentos dos papas, mui freqentes outrora, eram violaes do direito das gentes, e diretamente contribuiam para destruir todos os laos que poderiam unir os povos, para sabotar os fundamentos da paz, ou para constituir o papa o nico rbitro dos seus negcios? PELOS PRNCIPES: Mas quem no ficaria 224: ABUSO indignado ao ver esse estranho abuso autorizado pelos prprios prncipes? Em 1371, no tratado concluido em Vincennes, entre Carlos rei da Frana, e Robert Stuart, rei da Esccia, convencionou-se "que o papa desobrigava os escoceses de todos os compromissos que eles poderiam ter feito ao jurara trgua com os ingleses,e que ele prometia nunca desobrigar os franceses e os escoceses dos compromissos que eles faziam ao jurar o novo tratado" (46). 225: Uso DE JURAMENTO NOS TRATADOS. ELE NO CONSTITUI OBR1C;AO: O uso, outrora geralmente aceito, de jurar a observncia dos tratados, havia fornecido aos papas o pretexto de atribuir-se o poder de romp-los, em desobrigando os contratantes de seus juramentos. Atualmente uma simples criana sabe que o juramento que acompanha uma promessa ou um tratado no constitui a certeza de mant-los; o juramento apenas confere uma nova fora a essa obrigao, ao fazer meno ao nome de Deus. Um homem sensato e honesto julga-se no menos obrigado ao dar sua palavra, ao invocar a sua f, do que se tivesse tambm se comprometido com um juramento religioso. Ccero
(45)

Histoire du Traitde Westphalie, pelo P. BOUGEANT. T. VI, p. 413, 414.

CHOISY, Histoire deCharles V, p. 282,283.

(46)

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se recusava a admitir qualquer diferena maior entre um perjuro e um mentiroso. "O hbito de mentir acompanhado da facilidade em perjurar. Se um homem pode ser persuadido a mentir, seria muito dificil induzi-lo a cometer perjrio? Desde que nos afastemos uma vez da verdade, a religio do juramento no mais freio suficiente. Qual o homem que ser retido pela invocao dos deuses se ele no respeita a sua f e a sua conscincia? Eis porque os deuses reservam a mesma punio tanto para o mentiroso como para o perjuro; pois no se deve crer que seja em virtude da frmula do juramento que os deuses imortais se irritam contra o perjuro, mas sim por causa da perfdia e malcia daquele que lana uma armadilha boa f de outrern'v'", O juramento no produz, pois, nova obrigao; ele apenas confirma a obrigao imposta pelo tratado e segue completamente o destino dessa obrigao. Mais do que suficientemente real e obrigatrio quando o tratado j era vlido, esse juramento se torna nulo, quando nulo for o tratado. ANATUREZA DO TRATADO: O juramento um ato pessoal; ele concerne apenas pessoa que jura por si mesma, ou por terceiro. Entretanto, como o juramento no d margem nova obrigao, ele de nenhum modo muda a natureza do tratado. Assim, uma aliana confirmada por juramento no justa seno para aquele que a ela subsiste aps a morte de quem jurou e fez; mas se a aliana passa aos sucessores como aliana no juramentada.
227: O JURAMENTO NO CONFERE PRERROGATIVA AUM TRATADO SOBRE 226: O JURAMENTO NO

OS DEMAIS: Pela mesma razo, desde que o juramento no pode impor outra obrigao a no ser aquela resultante do prprio tratado, ele no d preferncia para um tratado em prejuzo de outros no confirmados por juramento. E como, no caso de conflito entre dois tratados, o mais antigo deve ser preferido (167), a regra acima deve ser observada mesmo quando o ltimo tratado tenha sido confirmado por juramento. Assim,
(47)

CCERO, Oral. ProQ. Roscio Comoedo.

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desde que no permitido concluir tratados contrrios queles j existentes (163), o juramento no justificar tais tratados e no os far prevalecer sobre aqueles que lhes sejam contrrios: isto seria um meio fcil de eximir-se da obrigao de compromissos assumidos. 228: O JURAMENTO NO PODE DAR FORA A UM TRATADO NULO: Dessa maneira, o juramento no pode tornar vlido um tratado que no o , nem justificarum tratado que injusto em si mesmo, nem obrigar ao cumprimento de tratado legitimamente concludo, quando se apresenta um caso que no possa ser legitimamente cumprido, como, por exemplo, o aliado para quem o Estado tem prometido ajuda promove uma guerra manifestamente injusta. Enfim, desde que todo tratado concludo por motivo desonesto (161), todo tratado pernicioso ao Estado (160) ou I, 265) so nulos em si mesmo, contrrio s suas leis fundamentais o juramento que poderia ter acompanhado um tratado dessa natureza igualmente nulo e cai com o ato que ele devia confirmar. As confirmaes utilizadas em acordos 229: DAS so certas formas de expresses destinadas a dar maior fora s promessas. Assim, reis prometem sagradamente} de boa solenemente} irrevogavelmente, empenhar a sua palavra real, etc. Um homem honesto considera-se suficientemente obrigado por sua prpria palavra. Entretanto, essas confirmaes no so inteis; elas servem para mostrar que o acordo foi feito deliberadamente e com conhecimento de causa fazendo com que essas confirmaes tornem a infidelidade mais vergonhosa. Quando os homens mostram to pouca fidelidade s suas promessas, preciso tirar partido de todas as oportunidades e, desde que a vergonha mais efetiva naqueles que tm o sentimento de dever, seria imprudente negligenciar esse meio. 230: A F DOS TRATADOS NO DEPENDE DA DIFERENA DE RELIGIO: Depois do que dissemos acima (162), no preciso provar que a observncia fiel dos tratados no tem nenhuma relao com a diferena

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de religio e no pode, de modo algum, dela depender. O princpio monstruoso segundo o qual "nenhuma para ser mantida com pode ter tido alguma aceitao com base no rancor partidrio e na superstio, mas hoje no mais prevalece.

231:

TOMAR

DOS TRATADOS: Se a

segurana daquele que estipula algo em seu favor o convida a exigir preciso, nitidez, maior clareza nos termos, a boa f demanda, por outro lado, que cada qual enuncie as suas promessas claramente e sem ambigidade. Seria valer-se indignamente da f dos tratados buscar redigi-los em termos vagos ou equivocados, nele inserir expresses dbias, introduzir motivos de chicana, enganar o contratante e usar de m f. Deixemos um habilidoso dessa espcie vangloriar-se de seus talentos felizes e achar-se um requintado negociador; a razo e a sagrada lei da natureza o colocaro tanto abaixo de um trapaceador vulgar quanto a dignidade dos reis exaltada acima dos particulares. A verdadeira habilidade consiste em preservar-se de engodos, jamais em pratic-los.

232: Dos NOS TRATADOS: O uso de subterfgios num tratado no menos contrrio boa f. Fernando, rei catlico, tendo feito um tratado com o arquiduque seu genro, acreditou livrar-se do mesmo por meio de clusulas secretas contra esse mesmo tratado; artificio infantil, que, sem dar nenhum direito a esse prncipe, testemunhava somente sua fraqueza e m f. 233: QUANTO CONTRRIA F DOS UMA As regras para uma legtima interpretao de tratados so de importncia suficiente para constituir um captulo especfico. Observemos aqui apenas que uma interpretao manifestamente falsa tudo que se possa imaginar de mais contrrio f dos tratados. Aquele que usa dessa interpretao ou se utiliza impudentemente dessa f sagrada, ou alega ignorar suficientemente quanto vergonhoso atentar contra essa f, buscaria agir como um homem desonesto e ainda preservar a reputao

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de um homem honrado. um tartufo que acrescenta a seu crime uma odiosa hipocrisia. Grcio relata muitos casos de interpretaes manifesos plateanos, tendo prometido aos tebanos devolver tamente os prisioneiros, os entregaram depois de t-los matado. Pricles tinha prometido poupar a vida aos inimigos que possussem oferro; ele mandou matar todos aqueles que o tinham em seus casacos. Um general romano, tendo concordado com Antoco em devolver-lhe a metade de seus navios, os fez cortar pela metade. Todas essas interpretaes so to fraudulentas quanto aquela de Radamiste que, de acordo com o narrado por Tcito'", aps ter jurado para Mitrades que no usaria contra ele nem do ferro, nem do veneno, o asfixiou sob uma montanha de vestimentas.
234: DA F TCITA: Podemos comprometer nossa f tacitamente, tanto quanto expressamente: basta que ela seja manifestada, para tomar-se obrigatria; e a maneira pela qual tornada manifesta no afeta a obrigao. A f tata baseia-se no consentimento implcito e o consentimento tcito aquele que se deduz por justa conseqncia dos procedimentos de algum. Assim, como Grcio observouv", tudo que includo na natureza includo na prpria de certos atos que se convencionaram est conveno ou, em outras palavras, o que essencial para o cumprimento do acordo est tacitamente convencionado. Se, por exemplo, uma promessa de retorno seguro feito a exrcito inimigo, h muito engajado no pas, no se lhe pode recusar vveres pois sem eles o retomo no poderia ser efetivado. Assim tambm, ao solicitar ou aceitar uma entrevista, ampla segurana tacitamente prometida. Tito Lvio diz com razo que os galogregos violaram o direito das gentes, ao atacarem o cnsul Manlius quando ele estava a caminho do lugar da entrevista para a qual o tinham convidado.P" O imperador Valeriano, tendo perdido a batalha contra
Droit delaguerre et dela paix, Liv. lI, capo XVI, V.
.Annal., Lib. XII.
(50)
(51)

Liv. III, capo XXIV, L Lib. XXXVIII, capo 25.

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Sapo r, rei dos persas, pediu os termos da paz. Sapor declarou que desejava tratar disso pessoalmente com o imperador; e Valeriano, ao encaminhar-se para a entrevista sem desconfiana, foi aprisionado pelo inimigo prfido, que o reteve at a morte com a mais brutal crueldade. Grcio, ao tratar de acordos tcitos, fala daqueles em que o preciso no confundir compromisso se faz por meio de sinais essas duas espcies. O consentimento suficientemente declarado por um sinal um consentimento expresso como se ele tivesse se manifestado de viva voz. As prprias palavras no so seno sinais. H sinais mudos que o uso torna to claros e expressos como as palavras. Assim, hoje, ao desfraldaruma bandeira branca, pede-se para parlamentar,to expressamente como se se tivesse solicitado de viva voz. A segurana do inimigo, que aceita este convite, est prometida tacitamente.
CAPTULO

XVI

Das seguranas dadas para o cumprimento dos tratados

235: DA GARANTIA: Desde que uma infeliz experincia ensinou amplamente aos homens no ser a f nos tratados to santa e to sagrada, e nem sempre uma garantia firme de que sero cumpridos, procurou-se dispositivos de segurana contra a perfdia, meios cuja eficcia no dependesse da boa f das partes contratantes. A garantia um desses meios. Quando aquelesque concluem um tratado de paz, ou qualquer outro tratado, no esto absolutamente confiantes em sua observncia, eles procuram a garantia de um poder soberano. O garante promete manter os termos do tratado e obter-lhe o cumprimento. Como ele pode ser obrigado a usar de fora contra o contratante que faltar ao cumprimento das suas promessas, a posio de garante no deve ser assumida levianamente sem boas razes. Os prncipes no se predispem a assumi-la a no ser que tenham interesse indireto na observncia do tratado, ou relaes
(52)

Ubi supra, 5.

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particulares de amizade. A garantia pode ser dada para todas as partes contratantes, para algumas ou mesmo para uma s; ordinariamente ela dada a todos. Pode ocorrer tambm que muitos soberanos, ao formar uma aliana comum, se tornem reciprocamente garantes da observncia desse tratado. A garantia uma espcie de tratado pelo qual o garante promete assistncia e socorro a um Estado no caso em que este necessite compelir um contratante infiel a cumprir os seus compromissos.

236: A GARANTIA AO INTERVIR NA EXECU(;AO DO TRATADO, SER SOLICITADO: Sendo a garantia dada em favor dos contratantes, ou de um deles, ela no autoriza o garante a interferir na execuo do tratado para forar-lhe o cumprimento a menos que para isso seja solicitado pelas partes. Se as partes, de comum acordo, julgam adequado afastar-se dos termos do tratado, mudar-lhe algumas disposies, e mesmo anul-lo completamente; se uma deseja desobrigar-se de algo em favor de outra, elas tm o direito de faz-lo, e o garante no pode se lhes opor. Obrigado por sua promessa de apoiar a parte que se queixa de alguma infrao, o garante no adquire direito para si mesmo. O tratado no foi feito para ele; de outro modo, ele no seria mero garante, mas uma das partes principais do contrato original. Esta observao importante. Deve-se tomar cuidado para que, sob pretexto de garantia, um soberano poderoso no se constitua em rbitro de negcios de seus vizinhos e pretenda impor-lhes leis. Mas verdade que se as partes fazem mudanas nas disposies do tratado, sem o consentimento e concorrncia do garante, este no est mais obrigado garantia pois o tratado, uma vez modificado, no mais aquele que ele garantiu. 237: NATUREZA DA OBRIGAO QUE AGARANTIA IMPE: Desde que uma Nao no est obrigada a fazer para uma outra o que esta pode fazer por si mesma, segue-se naturalmente que o garante no obrigado a dar assistncia, exceto no caso em que o Estado em cujo favor a garantia foi feita for incapaz de obter justia por si prprio.

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Se houver disputa entre as partes contratantes quanto interpretao de algum artigo do tratado, o garante no est obrigado a dar imediatamente assistncia para o Estado em favor do qual a garantia foi feita. Como o garante no pode obrigar-se a apoiar a injustia, obrigao dele observar o tratado para buscar-lhe a verdadeira interpretao e para examinar as pretenses do Estado que pede por assistncia, e se ele achar as pretenses deste infundadas, ele pode recusar a apoi-las sem descumprir os seus prprios compromissos. 238: A
GARANTIA NAo PODE PREJUDICAR O DIREITO DE TERCEIROS:

No menos evidente que a garantia no pode prejudicar direitos de terceiras partes. Se acontecer, pois, que o Estado garantido contraria direitos de terceiros, o tratado seria injusto nesse ponto e, por conseguinte, o garante no est obrigado a buscar-lhe o cumprimento pois, como o dissemos, ele no pode nunca obrigar-se a apoiar a injustia. Tal foi alegado pela Frana quando ela se declarou em favor da casa da Baviera contra a herdeira de Carlos VI, embora ela tivesse garantido a famosa sano pragmtica deste imperador. A razo era inquestionvel em sua generalidade e, conseqentemente, o nico ponto era verificar se a corte francesa fazia aplicao justa deste princpio. N on enter vos tantas componere lites. Farei observar nesta oportunidade que, no uso ordinrio, o termo garantia freqentemente tomado em sentido pouco diferente do sentido preciso que temos dado a esta palavra. A maioria das potncias da Europagarantiu o ato pelo qual Carlos VI tinha regulamentado a sucesso dos Estados de sua casa; algumas vezes, os soberanos mutuamente garantem os seus respectivos Estados. Chamaramos esses acordos preferivelmente de tratados de aliana para manter essa lei de sucesso, para apoiar a posse dos Estados em questo. 239: DURAAo DA GARANTIA: A garantia subsiste naturalmente tanto quanto o tratado que lhe constitui o objeto e, em casos de dvida, deve-se sempre presumi-lo assim, porquanto a garantia exigida e dada

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para a segurana do tratado. Mas nada impede que a garantia possa ser limitada para um certo tempo, para a vida dos contratantes, para aquela do garante, etc. Em uma palavra, tudo aquilo que tenha sido dito dos tratados em geral pode ser aplicado aos tratados de garantia. 240: Dos TRATADOS DE CAUO: Quando se trata de cousas que outrem possa fazer, dar ou prometer, como por exemplo, o pagamento de uma soma de dinheiro, mais seguro requerer uma cauo do que uma garantia. Pois a cauo deve dar cumprimento promessa, na falta do principal; enquanto que o garante apenas obrigado a cumprir o que dele depende para que a promessa seja cumprida por aquele que a fez. 241: Dos PENHORES, DOS COMPROMISSOS E DAS HIPOTECAS: Uma Nao pode entregar alguns de seus bens nas mos de outra, como segurana de sua palavra, de dbitos ou de outros compromissos. Se ela entrega tambm cousas mveis, ela as d em penhor. A Polnia ps outrora em penhor uma coroa e outras jias nas mos do soberano da Prssia. Mas cidades e provncias so, algumas vezes, dadas como segurana. Se so apenas comprometidas como segurana de um dbito, elas servem propriamente de hipoteca. Se elas so entregues ao credor, ou quele com o qual se negociou, este as conservam a ttulo de compromisso; e se lhes so cedidos rendimentos, equivalentes aos juros do dbito, eis o pacto chamado anticrese. 242: Dos DIREITOS DE UMA SOBRE () EM COMPROMISSO: Todo direito daquele que detm cidade ou provncia em razo de compromisso se relaciona com a segurana do que devido ao detentor, ou da promessa que lhe foi feita. Ele pode, pois, reter a posse da cidade ou provncia at o acordo ser cumprido; mas ele no pode introduzir-lhes mudanas, pois essa cidade ou esse pas no lhe pertencem. Ele no pode mesmo interferir no governo deles alm do que exigea sua segurana,a menos que o imprio ou o exerccioda soberania lhe tenham sido expressamente conferidos. No h presuno em favor

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deste ltimo ponto, pois basta para a segurana do credor que o pas esteja colocado em suas mos e submetido ao seu poder. Ele tambm obrigado, como todo credor em geral, a preservar o territrio que ele tomou como garantia e a prevenir-lhe,tanto quanto possvel,a deteriorao. Disso ele responsvel e se o territrio vier a ser perdido por sua falta, ele deve indenizar o Estado que nele confiou. Se o imprio tambm llie foi confiado como o prprio territrio, ele deve govern-lo de acordo com as suas constituies e precisamente da mesma maneira como o soberano desse pas seria obrigado a govern-lo; pois este ltimo no poderia tranferir-lhe seno o seu direito legitimo. 243: SOBRE AOBRIGAO DE RESTITUIR: To logo o dbito pago ou o tratado cumprido, o compromisso termina e aquele que mantm uma cidade ou provncia por esse ttulo deve fielmente restitu-lano mesmo estado em que a recebeu, to logo lhe seja possvel. Mas entre aqueles que no tm, em regra, seno avareza e ambio, quem, como Aquiles, pe todo o direito na ponta de sua espadav'', a tentao delicada: eles recorrem a mil chicanas, a mil pretextos, para reter um lugar importante, um pas para ser usufrudo. A matria demasiado inqua para comportar exemplos; eles so muito comuns e numerosos para convencer toda Nao sensata que muito imprudente assumir tais compromissos. 244: COMO UMA NAO PODE APROPRIAR-SE: Mas se o dbito no pago no tempo convencionado, se o tratado no foi cumprido, pode-se reter e apropriar-se do que foi dado em compromisso, em hipoteca, pelo menos at a quitao da dvida ou justa indenizao. A casa de Savia hipotecou o territrio de Vaud aos cantes de Berna e Friburgo. Como ela no pagou a dvida, os dois cantes recorreram s armas e tomaram posse do pas. O duque de Savia, em lugar de satisfaz-losimediatamente, recorreu s armas. Ele lhes deu outros motivos ainda de queixa. Os cantes
Jura negaI sibi nata, nihil non arrogaI armis. HORAT.

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vitoriosos retiveram esse belo pas tanto como pagamento da dvida como compensao pelas despesas de guerra e para uma justa indenizao. 245: Dos REFNS: Enftm, outra forma de segurana, de antigo e freqente uso entre Naes, aquela de exigir refns. Refns so pessoas de distino que o devedor entrega ao credor para que os retenha at a promessa ser cumprida. Eis a um contrato de compromisso pelo qual pessoas livres so entregues no lugar de cidades, provncias ou jias preciosas. Assim podemos, pois, limitar-nos a fazer sobre esse contrato as observaes especiais que a diferena de cousas comprometidas torna necessrias. 246: DIREITOS SOBRE OS REFNS: O soberano que recebe refns no tem direito sobre eles a no ser o de ret-los at o cumprimento integral das promessas de que eles so a garantia. Assim, pode tomar precaues para evitar que eles fujam; mas preciso que essas precaues sejam temperadas por sentimento de humanidade acerca das pessoas s quais ele no tem direito de infligir maus tratos, e esses precaues no devem ser estendidas alm do que a prudncia requer. Compraz-nos ver que, hoje, as Naes europias contentam-se mutuamente com a palavra dos refns. Os senhores ingleses, entregues Frana nessa qualidade, de acordo com o tratado de Aix-la-Chapelle de 1748, viviam na corte em Paris at a restituio do Cabo Breton, graas palavra empenhada, mais como ministros de seu pas do que como refns. 247:APENAS ALIBERDADE DOS REFNS ESTA COMPROMETIDA: Somente a liberdade dos refns est comprometida, e se aquele que os entregou descumprir a sua palavra, eles podem ser retidos em cativeiro. Outrora, eles eram levados morte em tais casos: um ato de crueldade desumana, fundamentado em erro. Acreditava-se que o soberano pudesse arbitrariamente dispor da vida de seus sditos, ou que cada homem era senhor de sua prpria vida e tinha o direito de compromet-la, ao se entregar como refm.

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248: QUANDO SE DEVE DEVOLV-LOS: To logo os acordos sejam cumpridos, a razo pela qual os refns foram entregues no mais subsiste; os refns esto, assim, livres e devem ser devolvidos sem demora. Eles devem tambm ser devolvidos se a razo pela qual foram entregues no subsiste. Ret-los ento seria abusar da f sagrada pela qual foram entregues. O prfido Cristiano II, rei da Dinamarca, pelo fato de ter ficado retido por ventos contrrios diante de Estocolmo, e ameaado de perecer de fome com toda a sua frota naval, fez propostas de paz. O administrador Stenon imprudentemente confiou nele, forneceu provises aos dinamarqueses, e mesmo deu Gustavo e seis outros nobres como refns para a segurana do rei, que fingia querer descer em terra. Ao primeiro vento favorvel, Cristiano levantou ncora e conduziu os refns, respondendo desse modo com traio infame generosidade de seu inimigo. 249: SE OS PODEM SER RETIDOS POR OUTRO MOTIVO: Desde que refns so entregues em confiana sobre a f dos tratados, e desde que aquele que os recebe concorda em restitu-los to logo a promessa, de que eles so a segurana, tenha sido cumprida, tais compromissos devem ser respeitados literalmente. preciso que os refns sejam real e fielmente restitudos condio anterior, to logo eles devam ser liberados pelo cumprimento da promessa. Eles no devem, assim, ser retidos por outro motivo. Surpreende-me verificar que pessoas comperenresv" ensinem o contrrio. Eles se fundamentam no princpio de que um soberano pode tomar sditos de outro soberano com o intuito de for-lo a fazer-lhe justia. O princpio verdadeiro, mas erroneamente aplicado. Esses autores no atentam para o fato de que um refm no estaria no poder desse soberano, sem a f do tratado em virtude do qual ele foi entregue, nem exposto a ser detido to facilmente. Eles tambm no levam em conta que a f de semelhante tratado no permite que dele se faa uso diferente daquele a que se destina, nem que se prevalea desse tratado alm do que foi precisamente convencionado.
(54)GRCIO, Liv. III, capo XX, LV;

OLPP,Jus Cent., S3.

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refm entregue para a segurana de uma promessa, e somente para isso; to logo a promessa seja cumprida, o refm deve ser restitudo. Dizer-lhe que liberado como refm, mas retido como segurana de alguma outra pretenso, isto seria aproveitar de seu estado de refm contra o esprito manifesto e mesmo contra a letra da conveno, segundo a qual, desde que a promessa for cumprida, o refm deve ser restitudo a si mesmo e sua ptria e reposto no estado anterior como se nunca tivesse sido um refm. Se este princpio no for rigorosamente respeitado, os refns no teriam mais segurana; seria sempre fcil aos prncipes achar algum pretexto para ret-los. Quando Alberto, o sbio, duque da ustria, estava em guerra contra a cidade de Zurique no ano de 1351, as duas partes recorreram a rbitros para a deciso de suas disputas e Zurique entregou refns. Os rbitros proferiram uma sentena injusta, ditada por parcialidade. Entretanto, Zurique, depois de fazer justas queixas, decidiu submeter-se deciso. Mas o duque formulou novas pretenses e reteve os refns(55), certamente contra a f dos compromissos e em desprezo ao direito das gentes.
250: RETENO DE REFNS POR FATOS PRPRIOS: Mas um refm

pode ser retido por causa das suas prprias aes e por atentados cometidos ou dvidas contradas no pas estrangeiro durante o tempo em que era refm. Tal afirmao no violao da f do tratado. O refm no deve ter o direito de cometer impunemente atentados contra a Nao que o guarda. tambm justo que, ao partir, tenha saldado as suas prprias dvidas.
251: DA MANUTENO DOS REFNS: Compete quele que entrega os refns prover-lhes a subsistncia; pois eles o so por sua ordem e a seu servio. O soberano que os recebe como garantia no responsvel pelas despesas em mant-los, mas apenas pelas referentes custdia deles, se achar conveniente manter-lhes guarda.
(55)

TSCHUDI, tomo I, p. 421.

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252: UM SDITO NO PODE RECUSAR-SE A SER REFM: O soberano pode dispor de seus sditos para o servio do Estado. Ele pode, assim, entreg-los como refns e aquele que designado como tal deve obedecer, como deve faz-lo em todas as demais ocasies em que o Estado requer os seus servios. Mas como os encargos devem ser repartidos igualmente por todos os cidados, o refm deve ser custeado e indenizado pelo tesouro pblico. Somente o sdito, como se v, pode ser entregue como refm, ainda que contra o seu desejo. O vassalo no est neste caso. Os seus deveres para com o soberano so determinados pelas condies do feudo; e ele nada deve alm disso. Tambm est decidido que o vassalo no pode ir como refm, se no for ao mesmo tempo sdito. Quem pode participar de um tratado ou de uma conveno pode entregar e receber refns. Assim, no somente o soberano tem o direito de entreg-los, mas tambm os poderes subalternos, nos acordos que fizerem, de acordo com a competncia de seu cargo e o escopo da sua comisso. O comandante de uma praa e o general que a assedia entregam e recebem refns como segurana de uma capitulao e todas as pessoas que esto sob o comando deles devem obedecer se forem designados para tal. 253: DA QUAllDADE D<>S Os refns devem ser naturalmente pessoas de relevncia, desde que so exigidos como garantia. Pessoas de nvel inferior constituiriam segurana frgil, a menos que elas fossem em grande nmero. Nenhuma omisso a respeito da qualidade dos refns a serem entregues deve ser omitida nas convenes. Foi vergonhosa perfdia de La Trimouille entregar aos suos quatro refns da ral do povo em lugar de quatro dos principais cidados de Dijon, como fora estipulado no famoso tratado de que falamos acima (212). s vezes homens de Estado e mesmo prncipes so entregues como refns. Francisco I entregou seus prprios filhos como garantia do tratado de Madrid.
NO DEVEM O soberano que entrega refns 254: Os deve d-los de boa f, como penhor de sua palavra e, por conseguinte,

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com a inteno de que sejam mantidos at o cumprimento completo de sua promessa. Assim, ele no pode aprovar que eles fujam e se o fizerem, no lugar de receb-los, ele os entregar de novo. O refm por seu lado, correspondendo inteno presumvel do seu soberano, deve permanecer fielmente no pas ao qual foi entregue sem tentar evadir-se. Cllia escapou das mos de Porsenna a quem ela tinha sido entregue como refm: os romanos devolveram-na para no violar o tratadov'". 255: SE o REFM QUE MORRE DEVE SER SUBSTITUDO: Se o refm falecer, o soberano que o entregou no obrigado a substitu-lo, a menos que tenha sido convencionado. Trata-se de uma garantia que se perdeu sem culpa do devedor; nenhuma razo o obriga a dar uma outra. 256: DAQUELE QUE TOMA o LUGAR DE UM REFM: Se algum tomar, por determinado perodo, o lugar de um refm e este venha a falecer de morte natural, o substituto livre, pois as cousas devem ser repostas no mesmo estado em que estariam se no se tivesse permitido ao refm ausentar-se mediante substituio. Dessa maneira o refm no liberado com a morte do substituto temporrio. Aconteceria o contrrio se o refm tivesse sido trocado por outro: nesse caso o primeiro estaria absolutamente livre de todo compromisso e seu substituto seria o nico a permanecer obrigado. 257: Do REFM QUE ASCENDE AO TRONO: Se um prncipe que foi dado como refm ascender coroa, ele deve ser liberado, mediante um ou vrios refns responsveis, que possam, no conjunto, formar uma segurana equivalente situao anterior. Isto evidente pelo prprio tratado, o qual no estipula que o rei seria refm. Que a pessoa do soberano esteja nas mos de uma potncia estrangeira hiptese de to ampla conseqncia que no se pode presumir que o Estado tenha desejado expor-se a esse risco. A boa f deve prevalecer em
Et Romani pacisexfoedere restituerunt. TIT.-UV., Lib. 11, capo XIII

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todo acordo e deve-se seguir a inteno manifesta ou presumida de forma justa dos contratantes. Se Francisco I tivesse morrido depois de ter entregue os seus filhos como refns, o delfim teria certamente sido solto. Pois ele teria sido liberado somente para o fim de devolver o rei a seu reino, e se o imperador o tivesse mantido, esse propsito se encontraria frustrado, o rei da Frana ainda permaneceria cativo. Suponho, como fcil de ver, que o tratado no seja violado pelo Estado que deu o prncipe como refm. No caso em que este Estado tenha descumprido a sua palavra, aproveitar-se-ia com razo de um evento que lhe tomaria o refm muito mais valioso e a sua devoluo mais necessria. 258: O COMPROMISSO DO REFM TERMINA COM O TRATADO: O compromisso de um refm, assim como o de uma cidade ou de uma provncia, termina com o tratado do qual a garantia (245). Conseqentemente, se o tratado pessoal, o refm livre no momento em que um dos contratantes venha a falecer. 259: A VlOLAO DO TRATADO CONSTITUI INJRIA AOS REFNS: O soberano que, depois de ter entregue refns, falta sua palavra, comete injria no somente outra parte contratante, mas tambm aos prprios refns, uma vez que os sditos so obrigados a obedecer ao soberano que os entrega como refns, mas esse soberano no tem o direito de sacrificar-lhes a liberdade e pr-lhes as vidas em perigo sem justo motivo. Como foram entregues para servir de garantia palavra do soberano e no para sofrer nenhum mal, se ele os precipita no infortnio ao violar a palavra dada, ele se cobre de dupla infmia. Os penhores e compromissos servem como garantia para o que devido; destinam-se a reparar o descumprimento de palavra empenhada. Os refns so antes penhor da palavra daquele que os entrega e presume-se que se teria horror de sacrificar pessoas inocentes. Mas se circunstncias especiais foram o soberano a abandonar os refns; se por exemplo, aquele que os recebeu foi o primeiro a violar seus compromissos, se

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no se pode cumprir mais o tratado sem pr o Estado em perigo, esforo deve ser feito para devolver esses refns infelizes e o Estado no pode recusar-se a indeniz-los por seus sofrimentos e a recompens-los, seja pessoalmente, seja na pessoa dos que lhes so prximos. 260: DESTINO DO QUANDO AQUELE QUE O ENTREGOU DESCUMPRE OS SEUS COMPROMISSOS: Desde que o soberano que entregou o refm viola o tratado, o refm perde essa qualidade e se torna prisioneiro daquele que o recebeu. Este tem o direito de mant-lo em cativeiro perptuo. Mas prprio de um prncipe generoso no tirar vantagem dos seus direitos custa de uma pessoa inocente. E, como o refm no est mais comprometido com o soberano que por sua perfdia o abandonou, se ele deseja transferir-se quele que se tornou o senhor de seu destino, este poder adquirir um sdito til no lugar de um prisioneiro miservel, objeto inoportuno de comise-rao. Ou bem ele pode liberar o refm, aps estabelecer com ele certas condies. 261: Do BASEADO NO J temos observado que no legtimo tirar a vida de um refm por causa da perfdia daquele que o entregou. O costume das Naes, o uso mais constante, no poderia justificar um ato de crueldade brbara, em violao da lei natural. Mesmo na poca que este horrvel costume era de certo modo autorizado, o ilustre Scipio solenemente declarou que no lanaria a sua vingana sobre refns inocentes, mas sobre as prprias pessoas prfidas e que ele no sabia punir seno os inimigos armados. (57) O imperador Juliano fez a mesma declarao.P" Tudo o que semelhante costume pode ocasionar a impunidade das Naes que o praticam. Quem segue essa prtica odiosa no pode queixar-se de que uma outra faa o mesmo. Mas toda N ao pode e deve declarar que considera a prtica um ato desumano de barbarismo.
(57)

TIT.-UV., Lib. XXVIII, capo XXVIII, capo XXXIV.

Vide GRCIO, Liv. III, capo XI, XVIII, not, 2.

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CAPTULO

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XVII

Da interpretao dos tratados

262: NECESSRIO ESTABELECER DE INTERPRETAAo: Se as idias dos homens fossem sempre distintas e perfeitamente determinadas, e se eles pudessem somente enunci-las com termos prprios, com expresses igualmente claras, precisas e susceptveis de sentido nico, no haveria nunca dificuldade em descobrir-lhes a inteno desejada e adequada nas palavras usadas; bastaria somente entender-lhes a linguagem. Mas mesmo assim, a arte de interpretao no seria ainda intil. Em concesses, acordos, tratados, em todos os contratos, no mais do que nas leis, impossvel prever e assinalar todos os casos particulares: estatui-se, ordena-se, convenciona-se sobre certas cousas, enunciandoas em sua generalidade; e quando todas as expresses de um ato fossem perfeitamente claras, ntidas e precisas, a correta interpretao ainda consistiria em fazer uma aplicao correta do que foi enunciado de maneira geral a todos os casos particulares que se apresentem. Isto no tudo: circunstncias variam e produzem novas espcies de casos que no podem ser reconduzidos aos termos do tratado ou da lei seno por dedues colhidas das intenes gerais das partes contratantes ou do legislador. Surgem contradies e inconsistncias reais ou aparentes entre as diversas disposies; torna-se necessrio concili-las para determinar qual a opo a ser tomada. Mas a dificuldade ainda maior, ao se considerar que a fraude busca tirar vantagem da imperfeio da linguagem e que os homens, deliberadamente, usam de obscuridade e ambigidade nos seus tratados com o intuito de providenciar um pretexto para, eventualmente, eludi-los, , pois, necessrio estabelecer regras fundamentadas na razo e autorizadas pela lei natural, iluminar o que for obscuro, determinar o que incerto e frustrar os desgnios de um contratante de m f. Comecemos com aquelas regras que tm em vista esta ltima finalidade em particular, por esses princpios de justia e eqidade, destinados a reprimir fraudes e evitar-lhes o efeito.

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263: PRIMEIRO PRINCPIO GERAL: NAo

VATTEL

PERMITIDO INTERPRETAR O QUE NAo TEM NECESSIDADE DE INTERPRETAAo: O primeiro princpio geral de interpretao que no permitido interpretar o que no tem necessidade de interpretao. Quando um ato concebido em termos claros e precisos, quando o seu significado manifesto e no leva a nada de absurdo, no h motivo para se recusar aceitar o sentido que esse ato naturalmente significa. Ir buscar alhures conjecturas com o intuito de restringir ou estender-lhe o significado importa em eludi-lo. Uma vez admitido esse mtodo to perigoso, no h ato que ele no torne intil. Mesmo que haja luz sobre todas as disposies de vosso ato e que seja concebido nos termos mais precisos e claros, tudo no ser vivel se for permitido buscar razes estranhas para sustentar que esse ato no para ser tomado no sentido que ele naturalmente apresenta.

264: SEGUNDO PRINCPIO GERAL: o PREJUZO INCIDE SOBRE AQUELE

QUE PODIA E DEVIA EXPLICAR-SE E NAo O FEZ: OS que contestam, de m f, o significado de uma disposio clara e precisa, costumam buscar os seus pretextos vazios na inteno e propsito que atribuem ao autor dessa disposio. Seria perigoso entrar em discusso freqente com eles sobre esses supostos propsitos, que o prprio ato no indica. Eis uma regra mais adequada para compelir as pessoas a rejeitarem toda argumentao de m f. Se aquele quepodia e devia explicar-se clara e amplamente, no o tanto pior para ele no pode ser chamado para provar subseqentemente restries que ele no exprimiu. o princpio da lei fuit potestate legem apertis romana: Pactionem obscuram iis nocere, in consaibere" A eqidade dessa regra salta aos olhos e a sua necessidade no menos evidente. Nenhum acordo assegurado, nenhuma concesso firme e slida, certa e permanente, se puderem ser tornadas vs por limitaes subseqentes, que deveriam ter sido aclaradas no ato, se estivesse na vontade dos contratantes.
(59)

Digesto., Lib. Il, tit. XIV, de Pactis, lego 39.

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265: TERCEIRO PRINCPIO GERAL: NENHUM DOS CONTRATANTES TEM O DIREITO DE INTERPRETAR O ATO A SEU GOSTO: Eis O terceiro princpio dos geral a respeito da interpretao: Nem um nem outro dos contratantes tm o direito de interpretar a seu gosto o ato ou o tratado. Pois se podeis dar minha promessa o sentido que vos agradar, estareis em condies de me obrigar ao que desejais contra a minha inteno e alm de meus verdadeiros compromissos. Reciprocamente, se me for permitido explicar a meu gosto as minhas promessas, eu poderei torn-las vs e ilusrias e dar-lhes um sentido completamente diferente daquele que vos foi apresentado no momento de aceit-las. 266: QUARTO PRINCPIO GERAL: TOMA-SE POR VERDADEIRO O QUE SUFICIENTEMENTE DECLARADO: Em toda ocasio em que possa e deva manifestar a sua inteno, deve-se tomar por contra o declarante, o que ele suficientemente Eis um princpio incontestvel aplicado aos tratados pois, se estes no so inteis, os contratantes devem neles exprimir a verdade e de acordo com suas intenes. Se a inteno suficientemente declarada no for tomada de direito como a verdadeira inteno daquele que fala e se compromete, seria intil fazer tratados. 267:As PALAVRAS DAQUELE QUE PROMETE PREVALECEM SOBRE AS DAQUELE QUE ESTIPULA: Mas pergunta-se aqui qual o contratante cujas expresses so mais decisivas para o sentido verdadeiro do contrato: prevalecem as daquele que promete ou as daquele que estipula? Desde que a fora e a obrigao de todo contrato vm da promessa perfeita e desde que aquele que promete no pode ficar comprometido alm de sua vontade suficientemente expressa, certo que para conhecer o verdadeiro sentido de um contrato, deve ser dada ateno principalmente s palavras daquele que promete; uma vez que ele se compromete volunta-riamente pelas palavras que usa, e, assim, toma-se por verdadeiro contra ele o que suficientemente declarou. O que parece ter dado margem questo acima a maneira pela qual os acordos so s vezes feitos: uma das partes oferece as condies e a outra as

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aceita, isto , o primeiro prope o que pretende que o outro se comprometa para consigo e o segundo declara aquilo a que verdadeiramente se obriga. Se as palavras daquele que aceita a condio se referem s palavras da parte que a oferece, a verdade que devemos nos orientar pelas expresses do ltimo porque aquele que promete considerado mero repetidor daquelas expresses com o objetivo de armar a sua promessa. As capitulaes de lugares sitiados podem servir aqui como exemplo. O sitiado prope as condies pelas quais ele quer entregar o lugar; o sitiante as aceita; as expresses do primeiro de modo algum obrigam o segundo, seno enquanto ele as adota. Aquele que aceita as condies oferecidas , na verdade, aquele que promete e ser nas suas palavras que o verdadeiro significado do ato deve ser procurado, seja na forma que ele mesmo as tenha escolhido e formulado, seja nas expresses que adotou da outra parte ao referir-se a elas em sua promessa. Mas deve-se ter sempre em mente, como foi dito acima, que se toma por verdadeiro o que foi expresso em termos suficientemente claros contra aquele que os declarou. Far-me-ei ainda mais claramente compreensvel.
268:
QUINTO PRINCPIO (;ERAL: A INTERPRETA<,:O SER FEITA

Na interpretao do tratado ou de um ato qualquer, a questo saber em que as partes contratantes concordam; determinar precisamente o que na ocasio foi prometido e aceito, isto , no somente o que uma das partes teve a inteno de prometer, mas tambm o que a outra parte razoavelmente e em boa f acreditou ter-lhe sido prometido, o que lhe foi suficientemente declarado e sobre o que ela deve regular a sua aceitao. A interpretao de todo ato e de todo tratado deve, assim, ser condUZIda de acordo com regras precisas, para determinar-lhes o sentido, tal como deve naturalmente ser entendido pelos interessados quando o atofoi redigido e aceito. Eis um quinto princpio. Como estas regras so fundamentadas na reta razo e so, conseqentemente, aprovadas e prescritas pela lei natural, todo homem, todo soberano obrigado a aceit-las e segui-las. Se no se reconhecem
SEGUNDO REGRAS DETERMINADAS:

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regras que determinam o sentido no qual as expresses devem ser tomadas, os tratados no sero mais que um jogo, nenhum acordo ser seguramente feito e ser quase ridculo confiar no efeito das convenes. NOS TRATADOS OBRIGA CUMPRIMENTO DE SUAS Mas como soberanos no reconhecem juiz comum, nenhum superior que possa for-los a aceitar uma interpretao fundamentada em regras justas, a f nos tratados constitui aqui a nica garantia das partes contratantes. Esta f no menos ferida pela recusa de admitir uma interpretao evidentemente correta do que por uma infrao aberta. a mesma injustia, a mesma infidelidade e, por revestir-se das sutilezas da fraude, ela no deixa por isso de ser menos odiosa. Passemos agora a considerar com pormenores as regras a serem seguidas para obter-se uma interpretao justa e correta: Desde que a interpretao legtima de um ato deve tender a descobrir o pensamento do autor ou autores desse ato, desde que se encontra nele algum aspecto obscuro, preciso buscar qual foi verdadeiramente o pensamento daqueles que o redigiram e, conseqentemente, interpret-lo. Esta a regra geral de toda interpretao. Ela serve particularmente para fixar o significado de certas expresses que no esto suficientemente claras. Em virtude desta regra, preciso tomar essas expresses no sentido mais amplo, quando provvel que aquele que fala teve em vista tudo o que elas significam nesse sentido amplo e, ao contrrio, deve-se restringir-lhes o significado se parecer que o autor limitou o seu pensamento ao que est compreendido no sentido mais restrito. Suponha-se que um marido tenha confiado sua mulher todo o seu dinheiro. Trata-se saber se essa expresso significa somente o dinheiro em espcie, ou se ela se estende ao dinheiro que investido, o que real em letras e outros ttulos. Se a mulher pobre, e se ela era querida para seu marido, se o dinheiro em espcie pouco e o preo dos demais bens ultrapassa muito o do dinheiro tanto em espcie como em ttulos, h toda razo para pensar que o marido

269: A

270: REGRA GERAL

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desejou legar tanto o dinheiro que lhe devido como aquele existente no seus cofres. Ao contrrio, se a mulher rica, se o dinheiro em espcie muito, se o valor do que devido excede muito o de outros bens, parece que o marido no desejou deixar a sua mulher seno o seu dinheiro em espcie. Em conseqncia da mesma regra, deve-se dar ainda a uma disposio toda a extenso que a propriedade dos termos comporta, se parecer que o autor do ato teve em vista tudo que est compreendido nesse significado; mas esse significado deve ser restringido quando provvel que o autor do ato no entendeu alcanar tudo o que a propriedade dos termos poderia abranger. O exemplo seguinte expressivo: suas um pai, que tem um nico filho, lega filha de um amigo pedras preciosas. Ele possui uma espada ornamentada com diamantes, que lhe foi dada pelo rei. Certamente no h razo para pensar que o autor do testamento tenha pensado em transmitir a uma famlia estrangeira este objeto de honra. Assim a espada, junto com as jias com as quais ornamentada, deve ser excluda do legado e o significado dos termos deve ser circunscrito s pedras ordinrias. Mas se o autor do testamento no tem nem filho nem herdeiro com o seu nome; se ele institui como herdeiro um estrangeiro, no h razo para restringir o significado dos termos e eles devem ser tomados em seu sentido mais amplo, uma vez que muito provvel que o autor do testamento os tenha usado desta forma.
271: DEVE-SE EXPLICAR OS TERMOS DE ACORDO COM O USO COMUM: OS contratantes so obrigados a se exprimirem de maneira que possam entender-se mutuamente e isto manifesto na prpria natureza do ato. Aqueles que contratam concordam em querer a mesma causa; como eles poderiam concordar se no se entendem perfeitamente? O contrato deles no ser mais que um jogo ou uma armadilha. Portanto, se eles devem falar de maneira a serem compreendidos, preciso que empreguem as palavras no sentido que o uso lhes atribui, em sentido prprio; que eles vinculem aos termos de que se servem um significado

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corrente. No lhes permitido afastar-se de propsito, sem aviso, do uso e da propriedade dos termos. Presume-se que as partes aceitaram esse uso desde que no existem razes para presumir-se o contrrio, pois em geral presume-se que as causas foram feitas como deviam s-lo. De todas essas verdades incontestveis resulta a regra seguinte: Na interpretao dos tratados, dos pactos e das promessas, no se deve apartar do significado comum exceto por motivos muito relevantes. Na falta de certeza, devemos seguir a probabilidade nas questes humanas. Ordinariamente, muito provvel que as palavras tenham sido usadas no sentido costumeiro; esta constitui sempre uma presuno muito forte, a qual no pode ser suplantada seno por uma presuno mais forte ainda. Camden fala de um tratado no qual era expressamente estabelecido que ele devia ser entendido precisamente em conformidade com a fora e a propriedade de seus termos. Aps semelhante clusula, no se pode, sob nenhum pretexto, afastar-se do sentido prprio que o uso atribui aos termos, sendo neles expressa formalmente a vontade dos contratantes, declarada da maneira mais precisa. 272: DA INTERPRETAAo DOS TRATADOS ANTIGOS: O uso por ns referido aquele do perodo no qual o tratado, ou outro ato, foi concludo e redigido. Os idiomas mudam constantemente; a fora e o significado de termos mudam no curso do tempo. Quando temos que interpretar um ato antigo, devemos conhecer o uso comum dos termos no tempo em que o ato foi escrito e podemos descobrir este uso em atos do mesmo perodo, nos escritores da poca, por um processo cuidadoso de comparao. a nica fonte a recorrer com segurana. Sendo o uso de lnguas vulgares, como todos sabem, muito arbitrrio, investigaes gramaticais e etimolgicas para descobrir o verdadeiro sentido de uma palavra em uso ordinrio no formariam seno uma teoria v, to intil quanto destituda de meios de comprovao. 273: DA M F SOBRE AS PALAVRAS: O nico propsito das palavras expressar pensamentos; assim o verdadeiro significadode uma expresso,

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em seu uso ordinrio, a idia que se costuma vincular a essa expresso. Conseqentemente uma forma grosseira de falsidade usar palavras num sentido especial com o intuito de eludir o sentido verdadeiro de toda a expresso. Mahomet, imperador dos turcos, prometeu a um homem na tomada de Negropont poupar-lhe a cabea, mas o cortou em dois pelo meio do corpo. Tamerlo, depois de ter prometido, na capitulao da cidade de Sebastian, no derramar sangue, acabou por enterrar vivos os soldados daquela guarnio.(60) Tais subterfgios grosseiros somente agravam, como Ccero definiu, o carter da perfdia(61). Poupar a cabea de algum, no derramar sangue, so expresses que, no uso ordinrio, e especialmente em semelhante ocasio, significam exatamente a mesma cousa que poupar a vida.
A ESSE RESPEITO: Todas essas miserveis sutilezas 274: so modificadas por esta regra incontestvel: Quando se vmanifestamente qual o sentido que inteno dos contratantes, as palavras num sentido contrrio. A inteno suficientemente conhecida fornece a verdadeira matria da conveno, o que feito e aceito, solicitado e acordado. Violar o tratado ir contra a inteno que ele manifesta suficientemente e no tanto contra os termos nos quais foi concebido, uma vez que os termos nada so sem a inteno que deve dit-los.

275: DAS RESERVAS MENTAIS: Seria necessrio num sculo esclarecido, dizer que reservas mentais no podem ser permitidas em tratados? O ponto claro o bastante, porquanto, pela prpria natureza do tratado, as partes devem expressar-se de maneira a serem mutuamente compreendidas (271). No h ningum hoje que no tenha vergonha de basear-se numa reserva mental. A que tende semelhante sutileza exceto

((,O)

Vide PUrrENDORFF, Droit dela nato et des gens, Liv. V, capo XII, III. LA CROIX, Histoire de Timur-Bec, Liv.V, capoXV, se refere a essa crueldade de Timur-Bec, ou Tamerlo, Fraus enim adstringit, nondissohn: perjurium, De Olfic., Lib. III, c. 32.

em relao a 4.000 cavaleiros armnios, mas nada diz da perfdia que outros lhe atribuem.
(61)

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iludir algum sob a aparncia de um compromisso? pois uma verdadeira forma de m f. 276: DA INTERPRETAO DOS TERMOS TCNICOS: tcnicos, ou termos peculiares s artes e s cincias, devem ordinariamente serinterpretados de acordo com a lhes do pessoas versadas no conhecimento da arte cincia s quais o pertence. Eu digo ordinariamente, pois essa regra no to absoluta que no se possa ou no se deva mesmo dela afastar-se quando existem boas razes para faz-lo como, por exemplo, se ficar provado que o contratante num tratado, ou em outro ato, no entendia a arte ou cincia da qual o termo foi emprestado, que ele no conhecia a fora do termo tomado no sentido tcnico, que ele o empregou em sentido vulgar, etc. 277: Dos TERMOS CUJO SIGNIFICADO ADMITE Se, no entanto, os termos de uma arte ou outros termos tcnicos remetem a cousas que admitem graus diferentes, no precisamos aderir escrupulosamente s definies mas, antes, devemos tomar os termos num sentido adequado ao contexto de que eles fazem parte. Pois define-se regularmente. uma cousa em sua condio mais perfeita e, no entanto, certo que ela nem sempre considerada nesse estado mais perfeito todas as vezes que dela se fala. Ora, a interpretao tem o objetivo de descobrir a inteno dos contratantes (268) e ela deve, pois, atribuir a cada termo o sentido que o interlocutor provavelmente tinha em mente. Assim, quando se concorda num tratado submeter-se deciso de dois ou trs jurisconsultos capazes, seria m f procurar eludir o compromisso, sob o pretexto de que no se encontrar nenhum jurisconsulto de alto nvel, ou de nvel compatvel com o de Cujcio ou Grcio, Se algum tivesse estipulado um apoio de dez mil homens de boas tropas seria justificvel esperar soldados cujos inferiores fossem comparados aos veteranos de Jlio Csar? E se um prncipe tivesse prometido ao seu aliado um bom general, no poderia enviar-lhe outro seno um Marlborough ou um Turenne?

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278: SOBRE ALGUMAS EXPRESSES FIGURADAS: Existem expresses figuradas, que se tornaram to familiares no uso comum da linguagem que tomam o lugar de expresses prprias, de modo que se deve tom-las em seu sentido figurado, sem levar em considerao o significado original, literal e direto. O assunto em questo indica suficientemente o sentido a lhes ser dado. Urdir uma trama, levar a efogo, so expresses dessa espcie. Seria absurdo tom-las em seu sentido literal e direto. 279: DAS AMBGUAS: Talvez no haja nenhum idioma que no contenha palavras que signifiquem duas ou mais cousas diferentes e frases suscetveis de mais de um sentido. Desse fato nasce a ambigidade no discurso. Os contratantes devem evit-la cuidadosamente. Usar tais termos deliberadamente, para eludir em seguida os seus compromissos seria uma verdadeira perfdia, porque a f nos tratados obriga os contratantes a exprimir nitidamente a sua inteno (271). Pois se a ambigidade se introduziu num ato, compete interpretao fazer desaparecer a incerteza que ela produz. PARA ESSES DOIS CASOS: Eis a regra que deve dirigir a 280: interpretao neste caso assim como no precedente: Deve-se dar sempre s expresses o sentido mais conveniente ao assunto ou matria de que se trata, uma vez que se procura uma justa interpretao para descobrir o que estava na mente dos contratantes num tratado. Ora, presume-se que aquele que usa uma palavra suscetvel de vrios significados a tomou no sentido conveniente para o assunto. medida que ele se ocupa da matria de que se est tratando, os termos convenientes para expressar seus pensamentos se lhe apresentam e esta palavra ambgua no pode, pois, apresentar-se seno no sentido conveniente para expressar o pensamento de quem dela faz uso, isto , no sentido conveniente ao assunto. Seria intil opor-se a que se recorra algumas vezes a expresses ambguas com o propsito de dar a entender causa diferente do que se tem verdadeiramente em mente, e que ento o sentido que convm ao tema no aquele que corresponde inteno do interlocutor. J

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observamos que todas as vezes que um homem pode e deve fazer conhecida a sua inteno, toma-se por verdade contra ele o que foi suficientemente declarado (266). E como a boa f deve prevalecer nos acordos, eles so sempre interpretados no pressuposto de que ela prevalece. Esclareamos a regra com exemplos. A palavra dia pode significar o dia natural, ou o perodo de tempo em que o sol nos ilumina com a sua luz, e o dia civil, que um espao de tempo de vinte e quatro horas. Quando essa palavra usada numa conveno para designar um espao de tempo, o prprio assunto manifestamente mostra um perodo de vinte ou quatro que o termo quer referir-se ao dia horas. Era, pois, msera m f, ou mesmo uma perfdia insigne de Clemenes, quando tendo feito uma trgua de alguns dias com os cidados de Argos, e os tendo encontrado adormecidos na terceira noite aps a trgua, ele matou alguns deles e aprisionou os demais, alegando que as noites no estavam compreendidas na trgua. (62) A palavra ferro pode significar o prprio metal ou certos instrumentos feitos dele. Em um acordo que prev que os inimigos deporo ferro, essa ltima palavra evidentemente significa Assim Pricles, no exemplo relatado acima (233), deu uma interpretao fraudulenta a essas palavras, porquanto era contrria ao que a natureza do assunto claramente indicava. Fabio Labeo, mencionado no mesmo pargrafo, foi desonesto na interpretao do seu tratado com Antoco pois, um soberano ao estipular que a metade de sua frota ou de seus navios lhe fosse devolvida, certamente havia entendido que lhe seriam devolvidos os navios de que pudesse fazer uso e no metade de cada navio dividido em dois. Pricles e Fabio so tambm condenados pela regra estabelecida acima (274), que probe modificar o sentido das palavras contrrias inteno manifesta dos contratantes. 281: NO
NECESSRIO DAR, NO MESMO ATO, O MESMO SENTIDO A

DETERMINADO TERMO:

Se algumas dessas expresses que tm muitos

Vide PUFENDORF, Liv.V, capo XII, VII.

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significados diferentes, ocorrem mais de uma vez no mesmo ato, no se pode fazer uma lei pela qual o mesmo termo deve ser tomado em todo lugar no mesmo significado. De acordo com a regra precedente, preciso tomar essa expresso, em cada artigo, conforme a matria o demanda, pro substrata materia, como dizem os mestres da arte. A palavra dia, por exemplo, tm dois significados, como dissemos (280). Se for dito em um acordo que haver uma trgua de cinqenta dias, com a condio de que comissrios de ambas as partes trabalharo em conjunto durante oito dias consecutivos, para ajustar controvrsias, os cinqenta dias da trgua devem ser entendidos como dias civis de vinte e quatro horas; mas seria absurdo dar o mesmo sentido para o termo no segundo artigo e pretender que os comissrios devessem trabalhar oito dias e oito noites sem descanso. CONDUZA AO 282: DEVE-SE REJEITAR TODA A ABSURDO: Toda interpretao que leve ao absurdo deve ser rejeitada ou, em outras palavras, no se pode dar a um ato um sentido que conduza ao absurdo, mas devemos interpret-lo de maneira a evit-lo. Como no se presume que uma pessoa queira o absurdo, no se pode supor que o locutor tenha pretendido que suas palavras fossem entendidas de maneira que conduzissem a uma situao absurda. No tambm permitido presumir que ele tenha querido brincar com um ato srio; pois no se presume o que vergonhoso e ilcito. Chama-se absurdo no somente o que fisicamente impossvel mas tambm o que o moralmente, isto , o que to contrrio razo que no se pode atribuir a um homem de bom senso. Esses judeus fanticos, que no ousavam defender-se quando os inimigo os atacavam no dia de Sabbat, davam uma interpretao absurda ao quarto mandamento da lei. Por que eles tambm no se abstinham de andar, vestir-se e comer? Trata-se a tambm de obrar se se quer usar os termos com rigor: Diz-se que um certo homem ingls casou-se com trs mulheres para no se submeter lei que probe casar com duas. sem dvida um conto popular, feito com o propsito de ridicularizar a extrema circunspeco dos ingleses, que no desejam apartar-se da aplicao da letra da lei. Este povo sbio e livre sabe muito

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bem, pela experincia de outras Naes, que a lei cessa de ser uma forte barreira, uma proteo segura, desde que permitido ao poder executivo interpret-la como lhe aprouver. Mas ele no pretende sem dvida que se pressione a letra da lei num sentido manifestamente absurdo. A regra que acabamos de mencionar de necessidade absoluta e deve ser seguida mesmo quando o texto da lei ou tratado, considerado em si mesmo, no contm nada que seja obscuro ou equvoco; pois deve observar-se que a incerteza do significado a ser dado lei ou tratado no se deve somente obscuridade ou outro defeito de expresso, mas tambm s limitaes da mente humana, que no poderia prever todos os casos e todas as circunstncias, nem abarcar todas as conseqncias de que foi estatudo ou prometido, nem enfim penetrar em numerosos pormenores. Leis e tratados podem somente ser estabelecidos em termos gerais; e a interpretao deve aplic-los aos casos particulares de acordo com a inteno do legislador ou dos contratantes. Em nenhum caso pode-se presumir que eles tenham tido em mente ir ao absurdo. Conseqentemente, quando as suas promessas tomadas num sentido prprio e ordinrio, conduzem ao absurdo, devemos nos desviar desse sentido tanto quanto necessrio para evitar que isso ocorra. Imaginemos um capito que, tendo recebido ordens para avanar com as suas tropas diretamente para um certo ponto, encontra um precipcio em seu caminho. Certamente ele no recebeu ordem para lanar-se no precipcio. Para evit-lo ele deve pois desviar-se, tanto quanto possvel, da linha reta. A aplicao da regra mais fcil quando a expresso da lei ou a do tratado so suscetveis de dois significados diferentes. Neste caso, adota-se sem hesitao o significado que no leva a nada absurdo. Igualmente, se a expresso tal que se lhe possa dar um sentido figurado, sem dvida, necessrio faz-lo quando necessrio evitar-se um absurdo.

283: DEVE-SE EVITARTODA INIERPRETAAO QUE TORNARIA o ATO NULO E SEM EFEITO: No se presume que pessoas sensatas nada tenham pretendido fazer ao negociarem em conjunto, ou a fazer qualquer outro ato srio. A interpretao que tornaria o documento e sem no pode

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pois seradmitida. Essa regra pode ser considerada como uma subdiviso da precedente; pois uma espcie de absurdo que os prprios termos de um ato o levam a nada dizer. preciso interpret-lo de modo que ele possa produzir o seu efeito, que no seja ilusrio e vo. Fazendo assim o mesmo procedimento para ser seguido como foi dito no pargrafo precedente. Em ambos os casos, como em toda interpretao, trata-se de dar s palavras o sentido que se deve presumir como o mais adequado inteno das partes. Quando se apresentam muitas interpretaes diferentes prprias para evitar a nulidade ou a natureza absurda do ato, deve-se escolher aquela que parea mais de acordo com a inteno que ditou o ato: as circunstncias particulares, acompanhadas de outras regras de interpretao, contribuiro para conhec-la. Tucdides relata que os atenienses, depois de terem prometido sair das terras dos becios, pretenderam permanecer no pas, sob o pretexto de que as terras ocupadas efetivamente pelo seu exrcito no pertenciam aos becios: chicana ridcula, pois ao dar esse sentido ao tratado, este se reduziria a nada ou mesmo a um jogo pueril de palavras. Por terras dos bocios, devia-se, obviamente, entender tudo o que estava compreendido em suas fronteiras antigas sem excetuar aquelas de que o inimigo se apossara durante a guerra. 284: EXPRESS()ES OBSCURAS, INTERPRETADAS POR OUTRAS CLARAS DO MESMO AUTOR: Se aquele que se expressou de maneira obscura ou equvoca falou alhures mais claramente sobre o mesmo assunto, ele o melhor intrprete de si prprio. As suas expresses obscuras ou equvocas devem ser interpretadas de maneira que elas concordem com os termos claros e sem ambigidade que ele empregou alhures, sda no mesmo ato, sda em outra ocasio similar. De fato, enquanto no haja provas de que um homem tenha mudado de vontade ou do modo de pensar presume-se que ele continuou a pensar do mesmo modo em ocasies similares. Assim, se ele tem em algum lugar claramente manifestado a sua inteno sobre determinado assunto, o mesmo sentido deve ser dado ao que ter dito obscuramente alhures com referncia ao mesmo assunto. Suponhamos, por exemplo, que dois aliados prometeram mutuamente, em caso de

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necessidade, a assistncia de dez mil homens da infantaria, mantidos s expensas de quem os fornece, e que por tratado posterior convencionem que a assistncia ser de quinze mil homens, mas sem fazer meno manuteno deles. A obscuridade ou incerteza que subsiste nesse artigo do novo tratado dissipada pela estipulao clara e formal do tratado anterior. No h indicao de que as partes tenham mudado de vontade quanto manuteno das tropas a serem fornecidas e, assim, no se presume nenhuma mudana de pensamento e esses quinze mil homens devero ser mantidos como os dez mil do tratado anterior. A mesma cousa quando se trata de dois artigos de um mesmo ocorre, e com mais tratado quando, por exemplo,um prncipepromete dez mil homens mantidos e pagos para a defesa dos Estados de seu aliado,e em outro artigo, somente quatro mil homens, no caso de o aliado fazer uma guerra ofensiva.

285: INTERPRETAO BASEADA NAS INTERNAS DO DISCURSO: Freqentemente, para abreviar, exprime-se imperfeitamente e com alguma obscuridade o que se supe suficientemente claro pelas cousas que antecederam, ou mesmo por aquelas que se prope explicar a seguir. Alis, as expresses tm fora e mesmo significado bastante diferente, de acordo com a relao e vinculao com outras palavras. A coerncia e a continuidade do discurso constituem ainda uma fonte de interpretao. preciso considerar o discurso como um todo para bem compreender-lhe o sentido e dar a cada expresso, no tanto a significao que poderia receber por si mesma, mas aquela a ter de acordo com o conjunto, a coerncia e o esprito do discurso. a mxima do direito romano: incivile est, nisi tota lege perspeaa, una aliqua proposita, judicare, vel respondere. 286: INTERPRETAO IN FERIDA DA CONEXO E DAS RELAES ENTRE AS PRPRIAS COUSAS: A conexo e as relaes entre as prprias cousas servem, mais ainda, para descobrir e determinar o sentido verdadeiro
Digesto., Lib. I, tit. IlI, deLegibus, lego 24.

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de um tratado ou de qualquer outro ato. A interpretao deve serfeita de modo aspartes consistentes o que segue deve concordar com o que precede, a menos que no parea manifestamente que pelas ltimas sepntendeu modificar algo nasprecedentes. Presume-se que os autores de um ato pensaram lgica e consistentemente e no desejaram causas que fossem incoerentes e contraditrias entre si mas, antes, que eles pretenderam explicar umas causas pelas outras; numa palavra, que o mesmo esprito prevalece na mesma obra, no mesmo tratado. Tornemos isso mais claro com um exemplo. Um tratado de aliana estipula que, se um dos aliados for atacado, cada um dos demais deve fornecer-lhe um apoio dez mil infantes, pagos e mantidos; em outro artigo, dito que o contratante que atacado pode exigir a cavalaria no lugar da infantaria. Observa-se, pois, que no primeiro artigo os contratantes determinaram a quantidade de socorro a ser dada, ou seja, a dez mil infantes e no ltimo artigo eles deixam a natureza da ajuda escolha daquele que tem necessidade dela, sem parecer querer nada mudar quanto ao valor ou a quantidade da mesma. Se assim o contratante atacado solicita a cavalaria, ela lhe ser dada, de acordo com a quantidade fixada, o equivalente a dez mil infantes. Mas se parecesse que o objetivo do ltimo artigo era ampliar, em certos casos, o apoio prometido, se, por exemplo, era dito que se um dos contratantes fosse atacado por um inimigo muito mais poderoso e guarnecido por cavalaria, a ajuda fornecida devia ser pela cavalaria e no pela infantaria, afigura-se ento que neste caso o socorro devia ser de dez mil cavaleiros. Como dois artigos do mesmo tratado podem ser relacionados mutuamente, dois tratados diferentes tambm podem s-lo da mesma forma e, neste caso, um explicado pelo outro. Ter-se- prometido a algum, em vista de determinada causa, entregar-lhe dez mil sacos de trigo. A seguir, acorda-se que no lugar de trigo ser entregue aveia. A quantidade de aveia no expressa mas determinada ao comparar o segundo acordo com o primeiro. Se no h nada que indique que as partes pretenderam, pelo segundo acordo, que o valor da entrega fosse reduzido, o acordo para ser entendido como relativo a uma quantidade de aveia

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correspondente ao preo de dez mil sacos de trigo; se parecer claramente pelas circunstncias e motivos do segundo acordo que a inteno das partes foi reduzir o valor do que era devido em virtude de acordo, os dez mil sacos de trigo sero convertidos em dez mil sacos de aveia. 287: INTERPRETAAo BASEADA NO MOTIVO DO ATO: A razo da lei ou do tratado, isto , o motivo que as partes tm em mente, um dos meios mais seguros de ftxar-lhes o verdadeiro sentido; deve-se dar a esse motivo ateno cuidadosa todas as vezes em que se trata de explicar um ponto obscuro, equvoco, indeterminado, seja de uma lei ou de um tratado, e tambm quando se trata de aplicar esses atos a um caso particular. Desde que se conhece com certeza o motivo particular que determinou a vontade de quem se exprime, preciso interpretar-lhe as palavras e aplic-las de maneira adequada a esse motivo, de outro modo, ele estaria a falar e agir contra a sua prpria inteno e de maneira oposta a seus propsitos. Em virtude dessa regra, um prncipe que, ao conceder a sua filha em casamento, tenha prometido socorrer o seu futuro genro em todas as sua guerras, nada lhe deve se o casamento no ocorrer. Mas devemos estar bem certos de que conhecemos a verdadeira e nica razo da lei, da promessa ou do tratado. No se pode entregar-se aqui a conjeturas vagas e incertas, a supor motivos e objetivos onde eles no so claramente conhecidos. Se o ato em questo intrinsecamente obscuro, se para conhecer-lhe o sentido no resta outro meio seno buscar as intenes do autor ou o motivo do ato, pode-se ento recorrer s conjeturas e, na falta de certeza, aceitar como verdadeiro o que mais provvel. Mas perigoso buscar sem necessidade motivos e propsitos incertos, com o intuito de mudar, restringir, ou estender o significado de um ato claro em si mesmo e livre de absurdos; seria violar uma regra incontestvel, a de que no seria permitido interpretar o que no tem necessidade de interpretao (263). Muito menos permitido, quando o prprio autor de um ato enunciou razes e motivos, atribuir-lhe alguma razo secreta, para fundamentar uma interpretao

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contrria ao sentido natural dos termos. Quando, de fato, ele tem em mente o propsito que se lhe atribudo, se ele o escondeu, se ele enunciou outros, a interpretao pode somente ser baseada nos motivos enunciados, e no naqueles que o autor no expressou; toma-se por verdadeiro contra ele o que suficientemente declarou (266). 288: CASO EM QUE MUITOS MOTIVOS CONCORRERAM PARA DETERMINAR A VONTADE: Deve-se ser tanto mais cuidadoso nessa espcie de interpretao quanto maior for o nmero de motivos que concorrem para determinar a vontade de quem se manifesta numa lei ou numa promessa. Pode acontecer que essa vontade foi determinada pela reunio de todos esses motivos, ou que cada um deles, isoladamente considerado, tenha sido suficiente para determin-la. No primeiro caso, se bem certo que o legislador ou os contratantes quiseram a lei ou o contrato em considerao a muitos motivos e razes tomadas em conjunto, a interpretao e aplicao devem ser feitas de maneira conveniente a todas essas razes reunidas, e nenhuma delas deve ser negligenciada. Mas no segundo caso, quando que cada um dos motivos que concorrem para a vontade para esse o autor do ato em separadamente, a questo desejou com cada uma mesma cousa que ele objetivou com todas as razes reunidas, e as suas palavras devem ser interpretadas e aplicadas de maneira que elas possam convir a cada uma dessas razes, considerada individualmente. Suponhamos que um prncipe tenha prometido certos favores a todos osprotestantes e artesos estrangeiros que viriam a estabelecer-se nos seus Estados. Se este prncipe no carece de sditos, mas somente de artesos e se, por outro lado, parece que ele quer somente sditos protestantes, deve-se interpretar a sua promessa de modo que ela contemple somente estrangeiros que uniro as duas qualidades: a de protestante e de arteso. Mas se evidente que esse prncipe deseja povoar o seu pas e que, embora prefira sditos protestantes a outros, ele tem em particular to grande necessidade de artesos que de boa vontade os receber, qualquer que seja a religio que professem; preciso, portanto, tomar

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as suas palavras num sentido disjuntivo, de modo que bastaria ser ou protestante ou arteso para usufruir das vantagens prometidas.

289: Do QUE CONSTITUI ARAZO SUHCEENTE DE UM ATO DA VONTADE:

Com o intuito de evitar delongas e embaraos de expresso, chamaremos razes suficientes de um ato da vontade, o que produziu esse ato, o que determinou a vontade na ocasio em questo, seja que a vontade tenha sido determinada por uma nica razo, seja que ela o tenha sido por muitos motivos considerados em conjunto. Assim ocorrer algumas vezes consiste na reunio de muitas razes diferentes, que esta de modo que se uma dessas razes faltar, a razo no mais existe e, no caso em que dizemos que vrios motivos tm concorrido para determinar a vontade, de tal modo, no entanto, que cada motivo individual ter sido capaz por si mesmo de produzir o mesmo efeito, haver ento vrios motivos ssfiaentes para aquele nico ato de vontade. Casos assim podem ser vistos diariamente. Um prncipe, por exemplo, pode declarar a guerra por causa de trs ou quatro injrias recebidas, embora uma s teria sido suficiente para determinar a declarao de guerra.

290: INTERPRETAO EXTENSIVA: A considerao do motivo de uma

lei ou de uma promessa no serve somente para explicar os termos obscuros ou equvocos do ato, mas tambm para estender-lhe ou restringir-lhe as disposies, independentemente dos termos e em conformidade no tanto com as palavras do ato, mas sobretudo com os propsitos do legislador ou dos contratantes; pois, segundo a observao de Ccerov", a linguagem, formulada para manifestar a vontade, no deve impedir-lhe o efeito. Quando a razo suficiente e nica de uma disposio, de uma lei, seja de uma promessa, bem certa e bem conhecida, estende-se essa disposio aos casos em que a mesma no estejam compreendidos na dos Isto o que se chama interpretao
(64)

Quid? Verbis satis hoc cautum erat? Minime. Quae resigitur valuit? Voluntas: quaesi, taatis nobis, intelligi posset, verbis omnino non uteremur. Quia nonpotest, verba reperta sunt, non quaeimpedirent, sedquaeindicarent ualuntatem. C/CERa. Orat. pro Caeana.

362 extensiva. Diz-se corretamente ser necessrio prender-se mais ao esprito que letra. assim que os maometanos estendem com razo a proibio do vinho, feita no Alcoro, a todos os licores embriagantes, pois essa qualidade perigosa foi a nica razo que poderia ter levado o legislador a proibir o uso de vinho. ainda assim que, numa poca em que no havia outras fortificaes seno muralhas, convencionou-se no cercar de muralhas determinado local, e no ser permitido fortific-las com fossas e rampas, pois o nico objetivo do tratado era evidentemente impedir que esse lugar fosse convertido numa praa forte. Mas as mesmas precaues devem ser observadas aqui como foi referido acima (287), e mesmo com mais razo, uma vez que se trata da aplicao de um ato de modo no autorizado pelos seus termos. Devemos estar bastante certos de que conhecemos a verdadeira e nica razo da lei ou da promessa, e que o autor a tomou na mesma extenso que ela deve ter para compreender o caso ao qual se deseja estender essa lei ou essa promessa. De resto, no se deve esquecer aqui o que foi dito acima (268), que o sentido verdadeiro de uma promessa no somente aquele que tinha em mente a parte que prometeu, mas aquele que suficientemente declarou, aquele sentido que os dois contratantes quiseram razoavelmente entender. O verdadeiro motivo de uma promessa tambm aquele que o contrato, a natureza das cousas e outras circunstncias deixam a entender suficientemente; seria intil e sem sentido alegar algum propsito indireto que se teria tido, de modo secreto, em mente. 291: DAS FRAUDES TENDENTES A ELUDIR AS LEIS OU PROMESSAS: A regra que acabamos de estabelecer serve ainda para destruir os pretextos e os subterfgios daqueles que buscam eludir leis ou tratados. A boa f se vincula inteno, a fraude insiste nos termos com os quais ela pretende acobertar-se. A ilha do Farol de Alexandria era, entre outras ilhas, tributria dos cidados de Rodes. Quando eles enviaram certas pessoas para coletarem tributo, a rainha do Egito os divertiu por algum tempo em sua corte e se apressou em unir o farol ao continente por meio de uma ponte de pedra; depois ela zombou desses cidados e lhes

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disse que estavam sem razo ao cobrar em terra firme um tributo a ser cobrado somente de ilhas.(65) Uma lei proibia os corntios de dar navios para os atenienses; eles os venderam a cinco dracmas por navio.(66) Era um expediente digno de Tibrio: como o uso no lhe permitia mandar estrangular uma virgem, determinou ao carrasco primeiro seduzir a jovem filha de Sejanus, e estrangul-la em seguida.(67) Violar o esprito da lei

fingindo respeitar-lhe a letra, uma fraude no menos criminosa que uma violao aberta; no menos contrria inteno do legislador e indica somente malcia mais artificiosa e mais elaborada.
292: DA INTERPRETAO RESTRITIVA: A interpretao restritiva, oposta interpretao extensiva, baseada no mesmo princpio. Assim como uma disposio se estende a casos que, mesmo no includos no significado de termos, se inserem na inteno dessa disposio, assim tambm uma lei ou uma promessa podem ser restringidas com base no motivo dessa lei ou dessa promessa e, contrariamente, ao significado literal dos termos; um caso ao qual no sepode de nenhum modo aplicar o isto , se se motivo bem conhecido de uma leiou de umapromessa, esse caso deve serexcetuado, embora a considerar apenas o significado dos termos que estar includo na disposio da lei ou da promessa. impossvel pensar em todos os casos, tudo prever e tudo exprimir; suficiente enunciar certas cousas de modo a estender o pensamento mesmo sobre cousas de que no se fala. Como diz Sneca, existem excees to claras que no necessrio exprimi-las. A lei condena morte aquele que agride o pai; dever ser punido aquele que tiver sacudido e agredido o pai para tir-lo de um estupor letrgico? Deve-se condenar morte uma criana ou um homem em delrio que teria levantado a mo ao autor de seus dias? No primeiro caso, o motivo da lei inexiste completamente; e aos dois outros ela no aplicvel. Deve-se devolver o depsito. Devo devolv-lo ao ladro que o confiou a mim se o
PUFENDORF, Liv.V,capo XII, 18.

(65)

(66)

Ibidem, Herdoto. Era/o.

TACIT., Annal., Lib. V, 9.

,7)

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verdadeiro dono aparece a tempo e me pede o seu bem de volta? Um homem fez-me depositrio de sua espada; devo devolv-la quando, num acesso de fria, ele m'a pede para matar um inocente? 293: Uso DA INTERPRETAAo RESTRITIVA PARA EVITAR o ABSURDO OU o ILCITO: Usa-se da interpretao restritiva com o intuito de evitar cair em absurdo (vide 282). Um homem lega sua casa a uma pessoa e a outro o seu jardim, no qual no se pode entrar seno passando pela casa. Seria absurdo que se tivesse legado um jardim a algum que nele no pudesse entrar. preciso, pois, restringir a doao pura e simples da casa e entender que ela no foi dada seno com a condio de permitir uma passagem para o jardim. Esta mesma interpretao ocorre quando se apresenta um caso no qual a lei ou o tratado, tomados no rigor dos seus termos, levaria a algo ilcito. Tais casos devem ser excetuados, pois ningum pode ordenar ou prometer o que ilcito. Por essa razo, mesmo que se tenha prometido assistncia a um aliado em todas as suas guerras, no lhe deve dar ajuda quando ele empreende uma guerra manifestamente injusta. 294: Ou PARA EVITAR O QUE DEMASIADO SEVERO E ONEROSO: Quando ocorre um caso em que seria demasiado severo e demasiado prejudicial a algum tomar uma lei ou promessa estritamente de acordo com seus termos, utiliza-se da interpretao restritiva, e uma exceo feita nesse caso inteno do legislador ou da parte que assume promessa num tratado. O legislador somente deseja o que justo e eqitativo; e nos contratos ningum pode comprometer-se em favor de outro de modo a negligenciar essencialmente os deveres para consigo mesmo. Presume-se pois, com razo, que nem o legislador, nem os contratantes, querem estender as suas disposies para casos dessa natureza e que eles prprios os excepcionariam se estivessem presentes. Um prncipe no est mais obrigado a mandar ajuda a seus aliados quando ele mesmo atacado e tem necessidade de todas as suas foras para a prpria defesa. Ele pode ainda, sem nenhuma perfdia, abandonar uma

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aliana, quando a m sorte da guerra lhe mostra que o seu Estado caminha para a runa se ele no negociar incessantemente com o inimigo. Foi assim que quase no final do ltimo sculo, Victor Amadeo, duque de Savia, se viu forado a afastar-se de seus aliados e a receber a lei da Frana, com o intuito de salvar os seus Estados. O rei, seu filho, teria tido boas razes no ano de 1745 para justificar a concluso de uma paz separada; mas a sua coragem o estimulou, e uma viso correta dos seus verdadeiros interesses o levaram a tomar a resoluo generosa de lutar contra uma situao extrema, que o dispensava de resto de persistir nos seus compromissos.

295: COMO A INTERPRETAO DEVE UNIR CONVENIENTEMENTE O AO ASSUNTO: Dissemos acima (280) que expresses devem
ser tomadas no sentido que convm ao assunto ou matria. A interpretao restritiva se encaminha tambm para essa regra. Se o assunto

ou a matria de que se trata, no comporta que os termos de uma disposio tomados no seu sentido mais amplo, preciso restringir-lhe o sentido de acordo com o que a matria o demanda. Suponhamos que o costume de um pas limita os feudos hereditrios linha agnatcia propriamente dita, linha masculina. Se o ato de enfeudamento naquele pas estabelece que o feudo dado para uma pessoa e seus descendentes masculinos, o significado dessas ltimas palavras deve ser restrito aos homens descendentes de homens; pois as disposies do ato no permitem seja ele extensivo a homens descendentes de mulheres, embora eles estejam includos entre os descendentes masculinos do primeiro adqirente.

296: COMO A MUDANA SOBREVINDA NO ESTADO DAS COUSAS PODE

CONSTITUIR UMA EXCEO: A questo seguinte tem sido proposta e debatida: se as promessas necessariamente incluem uma condio tcita, a de que as cousas permanecem como so, ou, se a mudana superveniente pode criar uma exceo promessa, e mesmo torn-la nula? A questo deve ser resolvida pela aplicao do principal motivo envolvido na promessa. Se certo e manifesto que a considerao do estado presente das causas

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influiu no motivo a promessa, que a promessa foi feita em considerao e conseqncia desse estado de cassas, a promessa e conseqncia dependem da conservao das cousas no mesmo estado. Isto evidente, porque a promessa foi somente feita nesta suposio. Quando assim, as circunstncias essenciais para a promessa, e sem as quais certamente ela no teria sido feita, vm a mudar, a promessa deixa de existir e, em casos particulares, em que as circunstncias cessam por um tempo de serem as mesmas que determinaram a promessa, ou concorreram para determin-la, uma exceo deve ser aberta. Um prncipe eletivo, no tendo filhos, promete a um aliado design-lo como sucessor. Nasce-lhe um filho; quem duvidar que a promessa se tomou invlida com este acontecimento? Aquele que, estando em paz, prometeu ajuda a um aliado, no precisa d-la quando ele tem necessidade de todas as suas foras para a defesa de seu prprio Estado. Os aliados de um prncipe pouco temvel, que lhe teriam prometido ajuda constante e fiel para capacit-lo a incrementar seu poder, ou para obter-lhe, por eleio ou por casamento, um Estado vizinho, teriam bons motivos para recusar-lhe qualquer ajuda ou assistncia, e mesmo para unir-se contra ele, no momento em que eles o veriam em condies de ameaar a liberdade de toda a Europa. Se o grande Gustavo no tivesse sido morto em Lutzen, o Cardeal Richelieu, que tinha feito aliana de seu superior com esse prncipe, que o havia atrado para a Alemanha e ajudado financeiramente, poderia, talvez, ser obrigado a enfrentar o conquistador que ento se tomou temvel, a pr limites a seus avanos surpreendentes e mesmo a apoiar os seus inimigos vencidos. Os estadosgerais das Provncias Unidas comportaram-se de acordo com esses princpios em 1668; em favor da Espanha, que tinha sido antes sua inimiga mortal, eles formaram a TrpliceAliana contra Lus XIV, seu antigo aliado. Era preciso opor obstculos a uma potncia que ameaava tudo invadir. Mas deve-se ser muito reservado na aplicao da presente regra. Seria abusar dela vergonhosamente prevalecer-se de qualquer mudana superveniente s circunstncias com o intuito de desobrigar-se de uma promessa; no haveria mais promessa que pudesse subsistir. As circunstncias em razo das quais a promessa foi feita, lhe so essenciais; e somente

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uma mudana dessas circunstncias pode, legitimamente, impedir ou suspender o efeito dessa promessa. Este o sentido a ser dado para esse princpio dos jurisconsultos: conventio omnis intelligitur rebus sic stantibus. O que dissemos das promessas deve estender-se tambm s leis. A lei que se relaciona com determinada circunstncia no pode ter lugar seno com referncia mesma circunstncia. A mesma regra se aplica no concernente a uma comisso. Foi assim que Tito, enviado por seu pai para prestar servios ao imperador, acabou retornando ao saber da morte de Galba.

Em casos isto , quando as circunstncias so tais que o autor de uma disposio no as previra e nem seria possvel pensar nelas em antecipao, devemos serguiados antes pela inteno desse autor quepor palavras, e interpretar o ato como ele mesmo o se estivesse presente, de acordo com o ele feito se tivesse as cassas se conhecem presentemente. Esta regra de grande utilidade aos juizes e a todos aqueles cujo encargo na sociedade o de dar efeito s disposies dos cidados. Um pai indica por testamento tutor para os seus filhos de pouca idade. Depois da morte dele, o juiz entende que o tutor nomeado um prdigo e no possui nem propriedade, nem boa conduta; ele o remove e nomeia outro, de acordo com as leis romanas (68), seguindo no as palavras mas a inteno daquele que fez o testamento; pois bastante razovel pensar, e assim se deve presumir, que o pai certamente no quis dar s suas crianas um tutor que as arruinasse; ele teria nomeado outro, se tivesse conhecimento dos vcios daquele que nomeara.
297:INTERPRETAAo DE ATOS EM CASOS IMPREVISTOS: 298: Do MOTIVO RESULTANTEDA POSSIBILIDADE E NAo DA EXlSTNCIA DE UMA caUSA: Quando

conveno so como possveis

em

cousas constituem o motivo de lei de no como atualmente existentes, quando o temor de acontecimento o

DIGESTO, Lib. XXVI, cit. I1I, de Confirmo tutor, lego 10.

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motivo de uma ou de umapromessa) no sepode delas excetuar seno apenas os casos em que se demonstrar que o acontecimento verdadeiramente impossvel. A mera possibilidade do acontecimento suficiente para impedir qualquer exceo. Se, por exemplo, um tratado estipula que no se manda exrcito ou frota para um certo lugar, no ser permitido enviar l exrcito ou frota sob pretexto de que eles no tm o propsito de produzir danos, pois o objetivo de uma clusula dessa natureza no somente prevenir o dano efetivo, mas tambm remover todo perigo e mesmo evitar o menor motivo de inquietao. Esse mesmo princpio est envolvido na lei que probe pessoas de caminhar nas ruas noite com uma tocha ou vela acesa. Seria intil quele que transgride a lei dizer que nada de mal aconteceu e que ele conduziu a tocha to cuidadosamente que nenhum dano se poderia temer; a menor possibilidade de causar incndio suficiente para que a lei devesse ser obedecida; e a lei foi de fato violada porque a ao provocou temores que o legislador queria evitar.

299: DAS EXPRESSC)ES SUSCETVEIS DE SENTIDO EXTENSO E DE SENTIDO

No comeo deste captulo, observamos que as idias dos homens no so sempre claramente definidas, nem sempre precisa a linguagem usada para express-las. Sem dvida, no h linguagem que no contenha expresses, palavras, ou frases inteiras suscetveis de sentido mais ou menos amplo. Algumas palavras aplicam-se igualmente ao gnero e espcie; a palavra falta inclui ambos - tanto dolo como culpa propriamente dita - e muitos animais tm somente um nome para os cotovia) pardal, etc. Quando se fala de cavalos meradois gneros: mente com referncia aos servios prestados aos homens, inclumos tambm as guas nesse nome. Palavras usadas no seu sentido tcnico tm s vezes amplitude menor e s vezes maior que as de uso vulgar: a palavra morte em termos jurdicos, no significa somente morte natural, mas tambm morte civil; a palavra verbum, numa gramtica latina, no enquanto, em uso ordinrio, significa tambm a significa seno o palavra. Tambm a mesma frase freqentemente tem um significado mais extenso numa ocasio, e menos em outra, de acordo com a natureza
MAIS RESTRITO:

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do tema a que se refere. Enviarsocorro , s vezes, entendido por socorro de tropas cujas despesas so pagas por aquele que as solicita. Conseqentemente, regras devem ser estabelecidas para a interpretao dessas expresses indeterminadas, com o intuito de indicar quando elas seriam tomadas em sentido mais amplo ou em sentido mais restrito. Muitas regras que j temos estabelecido podem adequar-se a esse propsito. 300: DAS COUSAS DESEJVEIS E DAS COUSAS VEIS: Mas o ponto especial para ser considerado aqui a famosa distino entre cousas e cousas indesejteis. Certos autores tm rejeitado a distino, mas isto ocorre sem dvida por no ter sido ela bem compreendida. De fato, as definies que tm sido dadas sobre o que favorvel e o que odioso no so amplamente satisfatrias, e no so de fcil aplicao. Depois de ter cuidadosamente considerado o que os autores mais capazes tm escrito sobre esse assunto, eis, segundo me parece, a que se reduz toda a questo e a razo justa dessa notvel distino. Quando as disposies de uma lei ou de um acordo so claras, definidas, precisas e de certa e fcil aplicao, no h espao para qualquer interpretao ou comentrio sobre elas (263). O ponto preciso da vontade do legislador ou dos contratantes o que deve ser levado em conta. Mas se as expresses deles so indeterminadas, vagas, e suscetveis de sentido mais ou menos amplo, se este ponto preciso da inteno deles, no caso particular em questo, no pode ser encontrado por outras regras de interpretao, deve-se presumi-lo de acordo com as leis da razo e da eqidade e, para isso, necessrio prestar ateno natureza das cousas de que se trata. H certas cousas em que a eqidade melhor atingida com o sentido amplo do que com o sentido restrito, isto , em que o ponto preciso da vontade no indicado nas expresses da lei ou do contrato. Nesse caso mais seguro, para preservar a eqidade, supor esse ponto preciso em sentido mais amplo do que restrito. Tais cousas so chamadas desqoeis. Por outro lado, cousas so aquelas em que a eqidade tende mais ao sentido restrito do que ao sentido mais amplo. Deixe-nos imaginar o desejo, a inteno do legislador ou dos contratantes, como sendo um

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ponto Se este ponto claramente conhecido, devemos nos deter precisamente nele; se for incerto devemos ao menos procurar dele nos aproximar. Em cousas prefervel ultrapassar esse ponto do que no alcan-lo; nas cousas indesejteis prefervel no alcan-lo que ultrapass-lo.
301: O
QUE TENDE UTIUDADE COMUM E IGUALDADE VEL;

No ser difcil agora indicar em geral quais e quais so indesejieis. Em princpio, tudo o quefor cousas so para o comum nas convenes, tudo o que a igualdade os contratantes A eqidade e a regra geral dos contratos exigem que as condies entre as partes sejam iguais. No se presume, sem fortes razes, que um dos contratantes tenha pretendido favorecer o outro em seu prprio dano e no h dano em estender o que lhes for de benefcio comum. Dessa forma, se os contratantes no enunciaram as suas intenes de forma clara, com a preciso necessria, certamente mais de acordo com a eqidade procurar essa vontade no sentido que favorea ao mximo a utilidade comum e a igualdade, do que supor essa vontade no sentido contrrio. Pelas mesmas razes, tudo o que no ftito para o comum, tudo o que tende a destruir a igualdade do contrato, tudo o que onera somente uma daspartes, ou que onera uma mais que a Em tratado de amizade, de unio e de aliana estreita, tudo o que, sem ser oneroso a nenhuma das partes, tende ao bem comum da confederao, a unir os elos, desejvel. Em tratados desiguais e, especialmente, em alianas desiguais, todas as clusulas de desigualdade e principalmente aquelas que oneram o aliado mais fraco, so indesejveis. Com base nesse princpio que, em casos de dvida, deve ser ampliado, favorecer a igualdade e restringir o que a destri, se assenta nesta regra bem conhecida: a causa daquele que procura evitar uma perda mais desejvel que a daquele que busca obter uma vantagem. Incommoda vitantis melior, quam commoda potentis est causa (69).
O CONTRARIO INDESEJVEL:

QUINT. Instit. Orat., Lih. VII, capo IV.

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32: O QUE TIL SOCIEDADE HUMANA DESEJVEL; O CONTRRIO INDESEJVEL: Todas aquelas cousas que, sem demasiado onerar ningum em particular, so teis e benficas para a sociedade humana, Pois, de forma natural, uma devem ser includas entre as causas Nao j se encontra obrigada s cousas dessa natureza, de modo que se ela assumiu a esse respeito alguns compromissos particulares, no h nenhum risco em dar a esses compromissos a mais liberal interpretao que eles possam receber. Ficaremos temerosos em ferir a eqidade, ao seguir a lei natural, ao tomar o sentido pela sua maior amplitude aquelas obrigaes que convergem para o bem da humanidade? Alis, cousas benficas sociedade humana concorrem, por isso mesmo, para o beneficio (31). Ao contrrio, comum dos contratantes e so assim por indesejue! o por sua mais do que til ao gnero humano. Cousas que tendem a promover a paz so desejveis; aquelas que levam guerra so odiosas. 33: O QUE PENALIDADE INDESEJVEL: Tudo o contm uma penalidade Com respeito s leis, concorda-se que, em caso de dvida, o juiz deve decidir-se em favor da parte mais leniente, e que inquestionavelmente melhor deixar um homem culpado escapar do que punir um inocente. Nos tratados, as clusulas penais oneram uma (31). das partes; elas so pois 304: O QUE TORNA UM ATO NULO INDESf':lVEL: O que para que um ato nulo e sem no todo ou emparte e} conseqentemente} o que trouxer mudana em causasj odioso. Os homens fazem acordos mutuamente, visando benefcio comum e se algum tiver ganho alguma vantagem por um contrato legtimo, somente poder perd-la se a ela renunciar. Quando, pois, consinto em novas clusulas que parecem derrogar essa vantagem, eu s poderei perd-la se me manifestar claramente nesse sentido e, por conseguinte, essas novas clusulas devem ser tomadas no sentido to restrito quanto seja possvel, (3). Se o que pode tomar um ato que o caso das cousas

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nulo e sem efeito est contido no prprio ato, evidente que se deve tom-lo no sentido mais restrito e mais adequado para deixar o ato subsistir. J vimos que toda interpretao que tende a tornar o ato nulo e sem efeito deve ser rejeitada (283).
3S: O QUE CONTRIBUI PARA MUDAR o ESTADO ATUAL DAS CaUSAS INDESEJVEL; O CONTRRIO DESEJVEL: Deve-se ainda incluir as causas tudo tende a mudaropresente estado de cousas. O proprietrio somente perde seu direito precisamente medida que ele o cede e, em casos de dvida, a presuno a favor do possuidor. menos contrrio eqidade no restituir ao proprietrio aquilo cuja posse perdeu por negligncia do que privar o justo possuidor do que legitimamente lhe pertence. A interpretao deve, pois, preferir expor-se ao primeiro inconveniente do que ao ltimo. Aqui tambm, em muitos casos, pode ser aplicada a regra referida no 3l, que a causa daquele que procura evitar uma perda mais desejvel que a daquele que busca obter uma vantagem. 36: DAS COUSAS MISTAS: Enfim, existem cousas que possuem dependendo do lado em conjunto o que desejaoe! e o que em que so consideradas. O que derroga os tratados, ou muda o estado mas, se a mudana feita para o bem da paz, das cousas, por este ngulo. As penalidades so sempre de carter ela indesejvel; entretanto, elas podem ser classificadas como desejoeis

naquelas ocasies em que so particularmente necessrias para a segurana da sociedade. Quando cousas desta natureza tm que ser interpretadas, devemos considerar se aquelas que so desejveis excedem de muito aquelas que so indesejveis; se o bem que essas cousas objetivam, segundo a maior amplitude dos termos, est muito acima do que indesejvel e duro, neste caso, elas so includas entre cousas desejveis. assim que uma pequena alterao no estado de cousas ou nas convenes no levada em conta, quando ela colima o bem precioso da paz. Dessa maneira, s leis penais pode ser dado o

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mais amplo significado nas ocasies crticas em que esse rigor necessrio segurana do Estado. Ccero determinou fossem executados, com base em deciso do Senado, os cmplices de Catilina, pois a segurana da repblica no lhe permitia esperar que eles fossem condenados pelo povo. Mas, ressalvada essa desproporo e, sendo todas as cousas iguais, devemos nos inclinar para o lado que no apresenta nada de indesejvel, isto , devemos nos abster de cousas indesejveis, a menos que o benefcio derivado delas ultrapasse to amplamente o que indesejvel que as prprias cousas indesejveis desapaream. Por pouco que o que desejvele o indesejvel se equilibrem em uma dessas co usas mistas, a cousa deve ser classificada entre as indesejveis e isto segue o princpio no qual nos baseamos sobre a distino entre o que desejvel e o que indesejvel (300) porque, em casos de dvida, devemos escolher o lado onde h menos risco de ferir a eqidade. Recusar-se- com razo, num caso duvidoso, dar ajuda, embora seja um ato desejvel, quando se trata de d-la contra um aliado; o que seria indesejvel. 307: INTERPRETAO DAS COUSAS DESEJVEIS: Eis agora as regras de interpretao que decorrem dos princpios acima estabelecidos: o mais (1). Quando se trata de causas desejveis, deve dar-se aos amplo sentido de so suscetveis de acordo com o comum, e se tiver muitos significados, o mais amplo deles deve serpreferido. A eqidade deve ser a regra de conduta para todos os homens onde no houver um direito perfeito precisamente determinado e conhecido. Quando o legislador ou os contratantes no indicaram a sua vontade em termos precisos e perfeitamente definidos, presume-se que eles tenham desejado o que mais eqitativo. Ora, no caso de cousas desejveis, o significado mais amplo dos termos est mais de acordo com a eqidade que o seu significado mais restrito. assim que Ccero, ao postular por Cecina, sustenta com razo que a deciso interlocutria, foi deserdado, deve ser entendida ao determinar devolver a posse tambm em favor daquele que foi impedido pela fora de penetrar

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nessa possef" e o Digesto assim o decide. (71) verdade que esta deciso baseada tambm na regra colhida da paridade de razo (290); pois a mesma causa, quanto ao efeito, de excluir algum de sua herana ou de impedi-lo pela fora de nela penetrar e, em ambos os casos, h a mesma razo para restabelec-la. (2). Em de cousas desejueis, termos das artes devem sertomados no seu mais amplo sentido) somente segundo o uso mas tambm como termos tcnicos) se aquele quefala entende da arte a que esses pertencem) ou se se orienta pelos conselhos daqueles que entendem essa arte. (3). Mas no se deve) apenas porque uma causa desejuel; tomar os termos num sentido e no permitido faz-lo seno para evitar o absurdo, a injustia, ou a nulidade do ato, como feito em todos os casos (282 e 283) uma vez que os termos de um ato devem ser tomados no seu sentido prprio, como determinado pelo uso, a menos que existam razes muito fortes para discordar desse sentido. (271). (4). Embora uma causa quando vista por um lado) se o dos em seu sentido a algum absurdo ou a uma restringir-lhe o significado) de acordo com as regras dadas acima (293 e 294). Neste caso particular, a causa se toma mista, como aquelas causas que devem ser postas na categoria das causas indesejveis. (5). Pela mesma razo, se em nem o nem a da dos masocorrendo que umaeqidade manifesta ou uma vantagem comum a desses ao que os possam admitir mesmo em que em si mesma. que aqui, novamente, a matria mista e deve ser considerada indesejvelno caso particular.De resto, deve-se sempre lembrar que no se trata, em todas estas regras, seno de casos duvidosos, pois no se deve buscar interpretar o que claro e preciso (263). Se algum se comprometeu clara e formalmente a uma causa que lhe onerosa, ele bem a quis e no pode depois ser admitido a pleitear a eqidade.
(70) (71)

Orat. Pro Caecina, capo XXIII.

DIGESTO, Lib. XLIII, tit. XVI, de Vi, et Vi armata, lego I e III.

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38: INTERPRETAO DAS eOUSAS INDESEJVEIS: Desde que cousas indesejveis so aquelas cuja restrio, mais que a ampliao do significado, tende a promover a eqidade mais seguramente e desde que em casos onde a inteno do legislador ou dos contratantes no determinada exatamente e no conhecida de forma precisa, devemos seguir o curso que mais conveniente eqidade; no caso de cousas indesejveis} os termos devem ser tomados no seu mais restrito, e mesmo o sentido figurado pode at certo ponto} admitido com o intuito de evitar seqncias onerosas do sentido e ou daquilo que abrange o que for indesejvel Pois favorece-se a eqidade e rejeita-se o que indesejvel tanto quanto possvel, sem causar violnciacontra o teor do ato e os seus termos. Ora, nem o sentido restrito, nem mesmo o figurado, causam violncia aos termos. Se for dito num tratado que um dos aliados fornecer o socorro de um certo nmero de tropas s suas expensas e que o outro fornecer o mesmo nmero de tropas auxiliares, mas s expensas daquele a quem as enviar, h algo de indesejvel no compromisso do primeiro, uma vez que esse aliado est mais onerado que o outro. Mas como os termos so claros e precisos, no h espao para nenhuma interpretao restritiva. Mas se se tivesse sido estipulado no tratado que um dos aliados fornecer o socorro de dez mil homens e o outro somente o de cinco mil, sem mencionar custos, deve-se entender que o socorro para ser mantido s expensas daquele que o receber, desde que a interpretao necessria com o intuito de no estender muito longe a desigualdade entre os contratantes. Assim tambm a cesso de um direito, ou de uma provncia, feita ao vencedor com o intuito de obter a paz para ser interpretada no sentido mais restritivo. Se for verdade que as fronteiras de Acadia foram sempre incertas e que os franceses eram os donos legtimos dela, essa Nao ser justificada ao pretender que a cesso da Acadia para os ingleses pelo tratado de Utrecht somente foi feita em seus limites mais estreitos. Em particular no caso de penalidades, quando elas so realmente indesejveis, no somente se deve circunscrever os termos da lei ou contrato em seu significado mais estrito mas tambm deve-se adotar o sentido figurado, de acordo com o que o caso exija ou permita; deve-se,

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em acrscimo, admitir desculpas razoveis, o que constitui uma espcie de interpretao restritiva, tendente a liberar penalidades. A mesma causa deve ser observada em relao ao que pode redundar em ato nulo e sem efeito. Assim, quando se concorda que um tratado ser rompido, se um dos contratantes falhar de algum modo em cumpri-lo, seria tambm pouco razovel, e contrrio ao propsito do tratado, estender o efeito dessa clusula s faltas mais ligeiras e aos casos em que a parte culpada pode dar desculpas bem fundamen tadas. 39: EXEMPLOS: Grcio prope esta questo: se num tratado no cogita-se somente daqueles que o eram ao tempo qual h meno a do tratado, ou bem de todos os aliados presentes e futurOS?(72). Ele d como exemplo o artigo do tratado concludo entre os romanos e os cartagineses depois da guerra da Siclia: que nenhum dos dois povos aos aliados do outro. Para entendimento prprio desta clusula do tratado, devemos recordar o brbaro direito das gentes desses povos antigos. Eles se acreditavam autorizados a atacar e a tratar como inimigos todos aqueles que com eles quais estivessem vinculados por nenhuma aliana. O artigo significa, pois, que de uma e outra parte, tratar-se-o como amigos os aliados de seu aliado, que se abstero de molest-los e de invadi-los e, sobre essa base, o artigo to desejvel em todos os aspectos, to em conformidade com a humanidade e os sentimentos que devem unir dois aliados, que se deve estend-lo, sem dificuldade, a todos os aliados, presentes e futuros. No se pode dizer que esta clusula tenha algo de indesejvel, porque ela restringe a liberdade de um soberano ou porque ela poderia causar a ruptura de uma aliana pois, ao comprometer-se em no injuriar os aliados de outra potncia, um Estado no se priva a si mesmo do direito de fazer-lhes a guerra se eles derem justa causa para tanto, e quando uma clusula justa e razovel, ela no se torna indesejvel apenas porque ela possa vir a
Liv. Il, capo XVI, XIlI.

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causar a ruptura de uma aliana. Nessa base no haveria tratado que no fosse classificado como indesejvel. Essa razo, que mencionamos nos pargrafos 304 e 308, tem lugar somente em casos duvidosos; por exemplo, aqui ela devia impedir que os cartagineses decidissem muito facilmente atacar sem motivo um aliado dos romanos. Os cartagineses poderiam assim, sem prejuzo do tratado, atacar Sagunto, se eles tivessem uma razo legtima para fazer tal, ou, em virtude do direito das gentes voluntrio, se eles tivessem 21). Mas eles apenas uma razo aparente ou especiosa teriam podido atacar tambm o mais antigo aliado dos romanos, e estes podiam tambm, sem ruptura da paz, limitar-se a socorrer Sagunto. Atualmente, os aliados de ambos os lados so includos no tratado. Isto no significa que um dos contratantes no possa fazer a guerra aos aliados do outro se eles derem motivo para tanto, mas somente que, se houver alguma querela entre eles, reserva-se o direito de poder assistir o mais antigo aliado e, nesse sentido, os aliados futuros no esto compreendidos no tratado. Outro exemplo, relatado por Grcio, tambm tomado de um tratado concludo entre Roma e Cartago. Quando esta cidade, reduzida a escombros por Scipio Emiliano, foi forada a capitular, os romanos prometeram que Cartago permaneceria livre, ou na posse de governar-se por suas prprias leis. Esses vencedores impiedosos pretenderam em seguida que a liberdade prometida dizia respeito aos habitantes e no cidade; eles exigiram que Cartago fosse arrasada e que seus infelizes habitantes mudassem para um lugar mais afastado do mar. No se l o relato desse tratamento prfido e cruel, sem lamentar que o grande e amvel Scipio se tenha visto obrigado a ser dele o instrumento. Sem nos deter na perfdia dos romanos sobre o prprio significado da palavra Cartago, certamente a liberdade prometida aos cartagineses, embora bastante restrita pelas circunstncias, devia ter compreendido ao menos o direito de permanncia na sua cidade. Verem-se obrigados a abandon-la para se assentarem alhures, perder as suas casas, o seu porto, as vantagens da situao, tudo isso era uma subordinao incompatvel

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com o menor grau de liberdade e as perdas de tal conseqncia que os cartagineses no podiam ter concordado em sofrer exceto mediante palavras bem positivas e bem formais. 310: COMO INTERPRETAR OS ATOS DE PURA UBERAUDADE: Promessas liberais, benefcios e recompensas esto includos na categoria de cousas desejveis e recebem uma interpretao ampla, a menos que no sejam onerosos ao benfeitor, no o sobrecarreguem em demasia, ou ainda que outras circunstncias mostrem que eles devem ser tomados em sentido restrito. Pois a gentileza, a benevolncia, a caridade e a generosidade so virtudes liberais; elas no agem de maneira mesquinha e no conhecem outros limites que aqueles determinados pela razo. Mas se o benefcio onera demasiado quem as concede, possuem algo de indesejvel; na dvida, a eqidade no permite ento de presumir que ele tenha sido garantido ou prometido de acordo com toda a amplitude dos termos; portanto devemos nos limitar ao significado mais restrito que as palavras possam receber e assim reduzir o benefcio s fronteiras da razo. O mesmo ocorre quando outras circunstncias claramente indiquem o significado mais restrito como sendo o mais eqitativo. Na base desses princpios, os benefcios do soberano so ordinariamente tomados em toda a extenso dos terrnos.v" No se presume que ele se encontre sobrecarregado desses benefcios; sinal de respeito devido sua majestade acreditar que ele tenha sido conduzido por bons motivos. Tais benefcios so assim inteiramente desejveis por si prprios e, para limit-los, deve-se provar que eles so onerosos ao prncipe ou prejudiciais ao Estado. De resto, deve-se aplicar aos atos de pura liberalidade a regra geral indicada acima (270); se esses atos no so precisos e definidos, eles devem ser compreendidos de acordo com a inteno provvel do autor.
r3) a deciso do direito romano: Javolenus diz: "Benefecium imperatoris quamplenissime interpretati debemus": e ele disso d essa razo, "quod a divina indulgentia proficiscatur". Lib. I, tit. IV, de Constit, prine., lego 3.

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311: Do CONFLITO DAS LEIS OU TRATADOS: Terminemos a matria da interpretao referindo-nos ao conflito entre as leis e os tratados. No estamos a nos referir aqui ao conflito de um tratado com a lei natural; esta prevalece sem dvida como j demonstramos (. 160, 161, 170 e 293). Um conflito ocorre entre duas leis, duas promessas ou dois tratados quando um caso apresentado em que se torna impossvel cumprir ambos ao mesmo tempo, mesmo que, em outros aspectos, as duas leis ou tratados no sejam contraditrios e possam ambos ser cumpridos embora em pocas diferentes. Eles so considerados como conflitantes no caso particular, e a questo identificar qual deles deve ter a preferncia, ou qual deve constituir uma exceo nesse caso. Com o intuito de no cometer enganos e abrir exceo de conformidade com a razo e a justia, as regras a seguir devem ser observadas. 312: PRIMEIRA REGRA PARA ()S CASOS DE CONFLITO: Em todos oscasos onde o que meramente permitido incompativel com o que prescrito, o ltimo prevalece. A simples permisso no impe obrigao de fazer ou no fazer; o que permitido deixado a nossa vontade; podemos faz-lo ou no faz-lo. Mas no temos a mesma liberdade com respeito ao que nos prescrito; somos obrigados a faz-lo. A permisso no pode constituir obstculo. Ao contrrio, o que era permitido em geral no o mais em caso particular; no se poderia tirar vantagem de uma permisso pelo descumprimento de um dever. 313: SEGUNDA REGRA: Assim tambm, a lei ou o tratado que permite deve ceder lei ou ao tratado queprobe. Pois preciso obedecer proibio e o que era permitido em si mesmo, ou em geral, torna-se impraticvel quando no puder ser feito sem a violao de uma proibio. Logo, a permisso no existe neste caso. 314: TERCEIRA REGRA: Todas as circunstncias sendo iguais, a lei ou o tratado queprescreve cede lei ou ao tratado queprobe. Eu digo todas as cousas sendo iguais porque podem ocorrer outras razes, que sero

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exceo lei proibitiva ou ao tratado proibitivo. As regras so gerais, cada uma se refere a uma idia, tomada abstratamente, e indica o que se segue daquela idia, sem prejuzo de outras regras. Sendo assim, fcil ver que, em geral, se no podemos obedecer a uma lei afirmativa, sem violar uma lei negativa, devemos abster-nos de obedecer primeira, pois a proibio absoluta em si mesma, enquanto toda prescrio, todo comando, de natureza condicional e supe o poder, ou uma oportunidade favorvel de fazer o que prescrito. Ora, quando no podemos fazer o que prescrito sem violar uma proibio por falta de oportunidade; e esse conflito de leis produz uma impossibilidade moral de agir; o que prescrito em geral no o mais nos casos em que no se pode fazer sem cometer um ato proibitivo. (74) com base nesse fundamento que geralmente se afirma que no podemos empregar meios ilcitos para um fim louvvel; no podemos furtar, por exemplo, com o intuito de dar esmolas. Mas v-se que a questo aqui de proibio absoluta, ou so casos em que uma proibio geral verdadeiramente aplicvel e, portanto, equivalente a uma proibio absoluta. H muitas proibies onde as circunstncias constituem exceo. Um exemplo servir para explic-lo. expressamente proibido, por motivos que desconheo, passar por determinado lugar, qualquer que seja o pretexto. Estou incumbido de uma misso; encontro todas as passagens fechadas; eu retorno sobre os meus passos sem valer-me da passagem que me proibida. Mas se essa passagem proibida em geral, meramente com o propsito de evitar danos aos frutos da terra, me fcil julgar que as ordens de que sou portador devem constituir uma exceo. No concernente aos tratados, no existe obrigao de cumprir o que o tratado prescreve, a no ser que se tenha o poder para tanto. Ora, no se tem o poder de fazer o que outro tratado probe. Portanto, onde os dois tratados esto em conflito, uma exceo feita ao tratado

(74) A lei que probe introduz, no caso, uma exceo lei que prescreve: deinde utra lex jubeat utra uetet. Nam saepe ea quae uetat, quasi exceptione quadam corrigire zideturi/lam quae jubet. CrCERO de Inientione, Lib.II, n.145.

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que prescreve e o tratado que probe prevalece; veremos, por exemplo, que um tratado no pode derrogar outro mais antigo, feito com outro Estado, nem impedir-lhe o efeito direta ou indiretamente. 315: QUARTA REGRA: A data das leis ou dos tratados fornece razes para estabelecer excees em casos de conflito. Se o conflito entre duas ou tratados tambm concludos entre as mesmas pessoas ou os mesmos Estados} o ltimo em dataprevalece sobre o mais antigo. Pois manifesto que as duas leisou os dois tratados, pelo fato de emanarem do mesmo poder, o ltimo derroga o mais antigo. Mas a suposio deve ser sempre que as circunstncias so iguais. Se houver um tratados feitos com dois Estados diferentes} o tratado antigo prevalece. Pois um Estado no pode comprometer-se por um tratado subseqente a fazer algo contrrio a um anterior e se o ltimo tratado se encontra, num dado caso, incompatvel com o mais antigo, a sua execuo considerada impossvel porque aquele que compromete no tem o poder de agir contrariamente aos compromissos prvios. 316: QUINTA REGRA: Entre duas leis ou duas convenes} todas as cousas sendo alis iguais} quela que menos geral e que se aproxima maisdo caso quese trata. Isto porque o que especfico admite menos excees do que o que geral; imposto com maior preciso e parece ser mais fortemente desejado. Deixe-nos mencionar este exemplo de Pufendorf'P': uma lei probe usar armas em pblico, durante os dias de festas; outra lei ordena sair com armas na direo de um posto, to logo se oua o som de um sino de alarme. Toca-se esse sino em dia de festa. Deve-se obedecer segunda lei, que constitui exceo pnmelra. 317: REGRA: O que no ao que feito emoutra poca. Este o meio de tudo conciliar e de satisfazer

possa

Droit de la nature et desgens, Liv. IV, capo XII, XXIII.

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uma e outra obrigao. Se dermos preferncia ao dever que possa ser cumprido em outra poca, colocamo-nos, desnecessariamente, na posio de ter negligenciado o outro dever.

318: STIMA REGRA: Quando dois deveres so concorrentes, o mais considervel, o que envolve umgrau alto de e deve ser Esta regra no precisa de prova. Mas ela diz respeito a deveres que esto igualmente em nosso poder e, por assim dizer, nossa escolha. Devemos ser cuidadosos em no aplic-la erradamente a dois deveres que no so verdadeiramente conflitantes, mas na qual um no deixa lugar ao outro; a obrigao de cumprir o primeiro subtrai a liberdade de cumprir o segundo. Por exemplo, mais louvvel defender uma Nao contra um agressor injusto que ajudar outra numa guerra ofensiva. Mas se a ltima Nao o aliado mais antigo, no se livre de recusar-lhe ajuda com o intuito de d-la a outro; estritamente falando, no h concorrncia entre os dois deveres; eles no se oferecem nossa opo; o mais antigo compromisso torna o segundo dever impraticvel no momento. No entanto, se se tratar de preservar um novo aliado de uma runa certa, e o aliado mais antigo no est compelido ao mesmo extremo, seria o caso de aplicar a regra precedente. Com respeito a leis em particular, a preferncia deve inquestionavelmente ser dada s mais importantes e s mais necessrias. Esta a melhor regra, e aquela merecedora de mais ateno nos casos onde as leis se chocam, e tambm a regra que Ccero pe acima de todas as regras que ele estabelece nessa matria. (76) Seria contrrio proposta geral do legislador e ao melhor objetivo das leisnegligenciar uma de maior importncia sob pretexto de observar outra menos necessria e de menor importncia; de fato, fazer tal seria moralmente errado, pois se um bem menor exclui o maior, assume a natureza do mal.
(7) Primio igitur Jeges oportet contendere, considerando utra lex ad m%res, hocest, ad utiliores, ad honestiores, ac magisnecessrias respertineat. Ex quo conjicitur, ut si Jeges duae, aut si pJures, aut quotquot erunt, conseruari nonpossint, quia discrepent inter se, ea maxime consemda putetur, quaead maximas respertinere videatur. CI CERO, ubi supra.

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319: OITAVA REGRA: Seno

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cumpn'r, ao mesmo tempo) promessas feitas mesma pessoa) cabe a esta escolher que devemos pois ela pode dispensar-nos da outra neste caso, e ento haver mais
qualquer conflito entre as duas. Mas se no pudermos nos informar

da sua vontade, presumiremos que ela deseja a mais importante e daremos

a ela a preferncia e, em caso de dvida, ns devemos cumprir aquela a que somos mais obrigados; presume-se que o contratante tenha querido nos vincular mais profundamente promessa que mais o interessa.

320: NONA REGRA: Desde que a mais forte obrigao prevalece

porjuramento em conflito com tratado no juramentado) circunstncias estando nosdemais aspectos iguais) o primeiro prevalece porque o juramento acrescenta uma nova Jora obngao. Mas como ele no muda a natureza dos tratados (225
e segs.), ele no pode, por exemplo, preferir um novo aliado ao mais antigo, cujo tratado no foi confirmado por juramento. sobre a mais fraca, se acontecer que um tratado

321: DCIMA REGRA: Pela mesma razo) e sendo todas as demais

circunstncias iguais) o que imposto com penalidade prevalece o que no o e o que de outro de penalidade menor. Pois a sano e a conveno penais do fora adicional
obrigao; elas provam que o objeto do tratado foi mais fortemente desejado
(17),

e isso proporo que a penalidade mais ou menos severa.

322: OBSERVAO GERAL SOBRE AMANEIRA DE CUMPRIR TODAS AS REGRAS

PRECEDENTES: Todas as regras contidas neste captulo devem ser harmonizadas conjuntamente e a interpretao deve ser feita de maneira que se ajuste a todas elas, conforme sejam aplicveis ao caso. Quando essas regras parecem cruzar-se, elas se equilibram e se limitam reciprocamente, segundo a respectiva fora e importncia, e de conformidade com o maior ou menor relacionamento delas com o caso que se questiona.
(77) tambm a razo que CCERO d: nam maxime conseruanda est ea (Iex), quae diligenlissima, et sancta est (oe!potius], quae diligenlissima et sancta est. CICER. ubi

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CAPTULO

VATTEL
XVIII

Da maneira de terminar as controvrsias entre as Naes

323: DIRETRIZ GERAL SOBRE ESSA MATRIA: As controvrsias que surgem entre as Naes ou seus dirigentes tm por objeto direitos em litgio ou injrias cometidas. Uma Nao deve manter os direitos que lhe pertencem e o cuidado com sua segurana e sua glria no lhe permite sofrer injrias. Entretanto, enquanto estiver cumprindo seus deveres acerca de si prpria, uma Nao no deve esquecer seus deveres em relao .s outras. Estas duas perspectivas, consideradas em conjunto, fornecero os princpios do direito das gentes sobre a maneira de terminar as controvrsias entre as Naes. 324: TODA NAO OBRIGADA A DAR SATISFAO S PRETENSES JUSTAS DE UMA OUTRA: O que dissemos nos captulos I, IV e V deste livro faz desnecessrio provar aqui que uma Nao deve ser justa em relao a qualquer outra com respeito s suas pretenses e dar-lhe satisfao a justos motivos de queixa. Ela deve assim dar a outra o que lhe devido, deix-la usufruir pacificamente os seus direitos, indenizar o dano causado ou injria que tiver feito; dar justa satisfao para uma injria que no pode ser reparada; e oferecer garantias razoveis para aquela que tem justo motivo de tem-la. Todos esses princpios so evidentemente prescritos por esta justia, cuja lei natural deve ser respeitada tanto pelas Naes como pelos indivduos. 325: COMO AS NAES PODEM ABANDONAR SEUS DIREITOS E SUAS JUSTAS QUEIXAS: Cada qual livre para renunciar ao seu direito, para abandonar justo motivo de queixa ou para esquecer uma injria. Mas o dirigente de uma Nao no , a esse respeito, to livre quanto um particular. Este pode ouvir somente o apelo da generosidade e, em casos que diga respeito apenas a ele, entregar-se ao prazer que ele tem de fazer o bem e ao seu desejo de paz e concrdia. O representante da

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Nao, o soberano, no pode buscar seus prprios interesses nem entregar-se s suas prprias inclinaes. Ele regular toda a sua a conduta de acordo com o que mais conveniente para o bem-estar do Estado e para o bem da humanidade, de que inseparvel. dever do prncipe, em todas as ocasies, considerar com sabedoria e executar com firmeza o que mais salutar ao Estado e mais de acordo com os deveres da Nao acerca das demais; seu dever consultar ao mesmo tempo a justia, a eqilidade, a humanidade, a poltica sadia e a prudncia. Os direitos da Nao so bens de que o soberano somente o administrador; ele no deve dispor deles seno como se supe a Nao deles tambm disporia. No tocante s injrias, com freqncia, louvvel poder um cidado perdo-las generosamente. Ele vive sob a proteo das leis; o magistrado saber defend-lo ou ving-lo dos ingratos ou miserveis, pois a doura do cidado os estimularia a ofend-lo de novo. Uma Nao no tem a mesma salvaguarda. Raramente lhe salutar desprezar ou perdoar uma injria, a menos que esteja manifestamente em condies de aniquilar o temerrio que usou ofend-la. Em tal caso, subjeetis et um ato glorioso perdoar aquele que admite a culpa: debellare superbos. E a Nao pode faz-lo com segurana. Mas entre potncias mais ou menos iguais, sofrer injria sem delas demandar satisfao completa quase sempre imputado fraqueza ou covardia, e o meio de receber logo outras mais sangrentas. Por que, com freqncia, aqueles cuja alma se cr bem acima dos outros homens so vistos a praticar o contrrio? Apenas os fracos que tm a infelicidade de ofend-los podem oferecer-lhes as homenagens mais humildes; esses pretensos superiores so mais moderados com aqueles que no poderiam punir sem nsco. 326: Dos MEIOS QUE A NATURAL RECOMENDA S PARA TERMINAREM AS CONTROVF.RSIAS. DA COMPOSIO AMIGVEL: Se nenhuma das Naes numa controvrsia acha conveniente abandonar os seus direitos ou pretenses, a lei natural, que lhes recomenda a paz, a concrdia, a caridade, as obriga a tentar os processos mais pacficos de terminar as

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suas controvrsias. Estes processos so: I" uma composio amigvel. Que cada Nao examine calmamente e em boa f o motivo da controvrsia e faa justia; ou que aquele cujo direito muito duvidoso a ele voluntariamente renuncie. Existem mesmo ocasies, em que aquele, cujo direito o mais claro, admite abandon-lo com o intuito de preservar a paz. A prudncia nortear tais ocasies. Renunciar a um direito desse modo no o mesmo que abandon-lo ou negligenci-lo. No tendes a obrigao de abandonar o que vos pertence; mas ganhastes um amigo ao lhe ceder amavelmente o que constitua motivo de contestao. 327: DA TRANSAAo: A transao um segundo meio de solucionar pacificamente uma controvrsia. um acordo no qual os litigantes, sem decidir defmitivamente a justia das pretenses opostas, fazem concesses mtuas em relao parte que cada qual entende possuir na cousa contestada, ou concordam em que a cousa questionada seja entregue a um dos litigantes mediante pagamento de indenizao ao outro litigante. 328: DA MEDIAAo: A mediao, na qual um amigo comum interpe os seus bons oficios, freqentemente eficaz para levar as partes a entendimento ou a transigncia de direitos e, no caso de injrias, a oferecer e a aceitar satisfao razovel. Essa funo exige tanto retido quanto prudncia e destreza. O mediador deve guardar uma estrita imparcialidade; ele deve suavizar censuras, acalmar ressentimentos, aproximar os espritos. O seu dever favorecer pretenses justas,contribuir para dar a cada qual o que lhe pertence. Mas ele no deve insistir, ainda que escrupulosamente, numa justia rigorosa. Ele conciliador e no juiz; a sua vocao procurar a paz e ele deve persuadir a parte que tem o direito a moder-lo, se necessrio, com vistas a maior bem. O mediador no garante do tratado de que cuidou, salvo disposio em contrrio. Trata-se de compromisso de conseqncias demasiado srias para que algum o assuma sem consentimento expresso. Nestes dias, quando os negcios dos soberanos da Europa esto to entrelaados

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que cada soberano acompanha o que se passa entre os mais distantes soberanos, a mediao uma forma de conciliao muito usada. Se houver uma disputa, as potncias amigas, aquelas que temem ver o fogo da guerra crescer, oferecem-se como mediadores e fazem propostas de paz e de acomodao. 329: DA ARBITRAGEM: Quando os soberanos no podem ajustar as suas pretenses e desejam, no entanto, manter ou restaurar a paz, eles algumas vezes confiam a deciso de suas controvrsias a rbitros escolhidos por consenso mtuo. Desde que o compromisso vincula as partes, elas devem se submeter sentena dos rbitros. Elas para tanto se comprometem e a f dos tratados deve ser preservada. No entanto, se os rbitros tomassem uma deciso evidentemente injusta, contrria razo, eles iriam despojar-se de seu carter de rbitros e essa sentena no mereceria nenhuma ateno, porquanto eles foram escolhidos para decidir somente sobre questes duvidosas. Suponha-se que rbitros condenassem um Estado soberano, para reparao a uma ofensa, a tomar-se sdito do Estado ofendido; seria possvel que algum homem sensato dissesse que esse Estado deveria se submeter a essa deciso? Se a injustia for de pequena conseqncia, deve-se sofr-la para o bem da paz, e se ela no for absolutamente evidente, deve-se suport-la como um mal ao qual voluntariamente se exps uma vez que se fosse necessrio ser plenamente convencido da justia de uma sentena antes de a ela se submeter, seria intil indicar rbitros. No se deve temer que, ao reconhecer s partes o direito de no se submeter a uma sentena manifestamente injusta e irrazovel, tomaramos a arbitragem intil e esse reconhecimento no contrrio natureza da submisso ou do compromisso. No pode haver dificuldade seno no caso de uma submisso vaga e sem limites definidos, na qual no se teria determinado precisamente o que constitui o ncleo da controvrsia, nem marcado os limites das pretenses conflitantes. Pode ento acontecer, como no exemplo citado, que os rbitros excedam os seus poderes e decidam sobre o que no lhes foi submetido. Tendo sido indicados para

388 decidir que satisfao um Estado deve por motivo de uma ofensa, eles o condenaram a tornar-se sdito do Estado ofendido. Claramente, esse Estado ofendido nunca lhes deu poder to amplo, e essa sentena absurda no o vincula. Com o intuito de evitar todas as dificuldades e no deixarnenhum espao para a m f, necessriodeterminar no compromisso precisamente o objeto em disputa, as pretenses respectivas e opostas, assim como as demandas de um e as contestaes de outro. Eis o que submetido aos rbitros, os pontos que as partes concordam em se submeter deciso deles. Ento, se a sentena permanece nesses limites prescritos, as partes devem submeter-se a ela. No se pode dizer que a deciso manifestamente injusta, desde que dada sobre uma questo tida como duvidosa e que como tal foi submetida aos rbitros. Para se subtrair a uma sentena deste tipo, seria necessrio provar por fatos indubitveis que ela resultado de corrupo ou de parcialidade evidente. A arbitragem um meio muito razovel, inteiramente conforme lei natural, para terminar toda a controvrsia que no afete diretamente a segurana da Nao. Se as pretenses de justia podem ser pouco compreendidas por rbitros, ainda mais de se temer que elas venham a sucumbir pela sorte das armas. Os cantes suos tm tomado a precauo, em todas as alianas entre si, e mesmo naquelas contratadas com as potncias vizinhas, de convencionar antecipadamente, a maneira pela qual as controvrsias devero ser submetidas aos rbitros, no caso em que no possam ajustar-se amigavelmente. Esta precauo sbia tem importado em significativa contribuio para manter a repblica helvtica nessa prspera condio que lhe assegura a liberdade e que a torna respeitada na Europa. 330: DAS CONFERNCIAS E CONGRESSOS: Com o intuito de pr em prtica alguns desses meios de terminar controvrsias, necessrio que as partes se reunamo Conferncias e congressos so assim uma via a mais de conciliao que a lei natural recomenda s N aes como apropriada para a soluo pacfica das suas controvrsias. Congressos so assemblias de plenipotencirios com o propsito de encontrar

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meios de conciliao e de discutir e ajustar pretenses recprocas. Para serem bem sucedidos eles devem ser formados e dirigidos por um desejo sincero de paz e concrdia. A Europa viu durante este sculo dois congressos gerais, o de Cambrai e de Soissons: comdias tediosas representadas no teatro da poltica e nas quais os principais atores se propunham a fazer menos uma acomodao do que parecer desej-la. 331: ENTRE CASOS EVlDENTES E CASOS DUVIDOSOS: Com o intuito de determinar como e at que ponto uma Nao obrigada a recorrer a esses diversos meios e qual deles ela deveria preferir, necessrio, antes de tudo, distinguir entre casos evidentes e casos duvidosos. O direito em questo claro, certo, e indisputvel? Um soberano pode, se ele tiver as foras necessrias, busc-lo e defend-lo, sem submet-lo a compromisso. Iria ele negociar, transigir, sobre uma cousa que manifestamente lhe pertence e que lhe disputada sem uma sombra de direito? Muito menos ir submet-la a rbitros. Mas ele no deve negligenciar os meios de conciliao que, sem comprometer o seu direito, podem levar seu oponente a compreender as suas razes; tais so a mediao e as conferncias. A natureza no nos d o direito de recorrer fora a menos que mtodos suaves e pacficos sejam ineficazes. No nos permitido ser inflexveis em questes incertas e duvidosas. Quem ousar pretender que se abandone um direito litigioso rapidamente e sem exame? Tal atitude provocaria guerras perptuas e inevitveis. As duas partes podem estar igualmente demandando em boa f: por que, ento, uma deve ceder outra? Em tal caso, no se pode pedir seno o exame da questo, propor conferncias, arbitragem ou oferecer uma transao. 332: Dos DIREITOS ESSENCIAIS E DOS DIREITOS MENOS Il\fPORTANTES: Nas controvrsias que existem entre soberanos, uma distino cuidadosa deve ser feita entre direitos essenciais e direitos menos importantes. Uma linha diferente de conduta deve ser adotada no tocante a essa distino. Uma Nao tem muitas categorias de deveres que lhe so

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impostas: para consigo mesma, para com outras Naes, e para com a sociedade humana. Sabe-se que, em geral, deveres para consigo prprio prevalecem sobre deveres para com outrem, mas tal ocorre apenas quando entre os deveres existe alguma proporo. No se pode recusar a, por vezes, esquecer-se de si mesmo com respeito a interesses no essenciais e fazer algum sacrificio com o intuito de assistir outrem, acima de tudo, com o intuito de promover o bem-estar da sociedade humana. Observemos mesmo que para a prpria vantagem da Nao e para o seu bem-estar fazer este sacrificio generoso, pois o bem privado de cada Nao intimamente relacionado com a felicidade geral. Que idia ter-se-ia de um prncipe, ou de uma Nao, que recusasse abandonar a menor vantagem em troca do bem inestimvel da paz para o mundo? Cada potncia deve, para o bem-estar da sociedade humana, mostrar-se aberta a todos os meios de conciliao, quando se trata de interesses no essenciais, ou de pequena conseqncia. Se por um ajuste, um compromisso ou uma deciso arbitral, uma Nao corre o risco de perder algo, ela deve saber quais so os perigos, os danos, as calamidades da guerra e considerar que a paz vale bem um leve sacrificio. Mas se se deseja subtrair a uma Nao um direito essencial, ou um direito sem o qual ela no pode manter a sua existncia; se um vizinho ambicioso ameaa a liberdade de uma repblica e pretende submet-la e escraviz-la, essa Nao guiar-se- somente pela sua coragem. No se tentaria nem mesmo a via das conferncias em face de pretenso to odiosa. Uma Nao ir por fora de tal contexto empenhar-se inteira, exaurir seus recursos e nobremente derramar sua ltima gota de sangue. Ouvir ento a mais leve proposta importaria em correr grave risco: Una salus.: nu/Iam sperare sa/utem. E se a fortuna for adversa, um povo livre preferir a morte servido. O que teria sido feito de Roma se ela tivesse ouvido conselhos tmidos quando Anbal estava acampado diante de suas muralhas? Os suos, sempre prontos a abraar as vias pacficas e a se submeterem a processos jurdicos em casos menos essenciais, rejeitaram toda a idia de compromisso com aqueles que desejavam

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tirar-lhes a liberdade e eles se recusaram at mesmo a se submeter a arbitragem ou ao julgamento de imperadores. (78) 333: COMO TER O DIREITO DE RECORRER FORA EM CASO DUV1DOSO: Em causas duvidosas e no essenciais, se uma das partes no quer ouvir propostas nem de conferncias, nem de acomodao, nem de transao e nem de compromisso, resta outra parte o derradeiro recurso para a defesa de si mesma e de seus direitos: a via da fora. As suas armas so justas contra um adversrio to intratvel pois, numa causa duvidosa, no se pode fazer mais do pedir que todos os meios razoveis sejam usados para esclarecer a questo, decidir a controvrsia ou ajustar pretenses conflitantes (331). 334: E MESMO SEM TENTAR OUTRAS VIAS: Mas no se pode jamais perder de vista o que uma Nao deve sua prpria segurana e a prudncia que deve continuamente gui-la. Nem sempre necessrio, para autorizar o recurso s armas, que todos os meios de conciliao tenham sido expressamente rejeitados; suficiente que a Nao tenha toda a razo para pensar que o seu inimigo no os adotaria de boa f, que a soluo no poderia ser bem sucedida e que o atraso somente resultaria em pr essa Nao em grande perigo. Este princpio indisputvel, mas a aplicao dele bastante delicada na prtica. Um soberano que no deseja ser considerado como perturbador da paz pblica no atacar bruscamente um Estado que no tem se recusado a adotar mtodos pacficos, se no estiver em condies de justificar, aos olhos de todo o mundo, que ele tinha razo em considerar essas aparncias de paz como um estratagema tendente a distra-lo e
Quando, no ano de 1355, os suos submeteram arbitragem de Carlos IV as suas controvrsias com os duques da ustria, a respeito dos pases de Zug e de Glaris, no foi seno esta condio preliminar, e de que o imperador no poderia tocar na liberdade desses pases, nem na aliana deles com os outros cantes. TSCHUDI, p.429 e ss. STETTLER, p. 77: Histoire dela Confdration Helvtique, por p.- L. de WATTEVILLE, Liv. IV, no comeo.
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surpreend-lo. Pretender autorizar a guerra com base em meras suspeitas significa abalar todos os fundamentos da segurana das Naes.
VOLUNTRIO NESSA MATRIA: Em todos 335: Do DIREITO DAS os tempos, a f de uma Nao tem sempre sido objeto de suspeita por outra Nao, e uma triste experincia sempre suficiente para mostrar que essa desconfiana no infundada. A independncia e a impunidade so uma pedra de toque que descobre o ouro falso no corao humano. O particular se ornamenta com candura e probidade; e na falta de uma existncia real, o seu estado de dependncia o obriga a exibir em sua conduta pelo menos as sombras dessas virtudes. O soberano independente disso se vangloria em seus discursos ainda mais; mas assim que ele se considere o mais forte, se ele no tem no corao a boa tmpera, infelizmente muito rara, ele procurar somente salvar as aparncias; e se interesses poderosos estiverem envolvidos, ele se permitir procedimentos que cobririam um particular de vergonha e de infmia. Quando pois uma Nao alega que lhe seria perigoso tentar meios pacficos, ela no est seno disfarando a sua precipitao em recorrer s armas. E como, em virtude da liberdade natural das Naes, cada uma tem o direito de decidir em sua prpria conscincia o que deve fazer - e tem esse direito de decidir como bem entender - a sua conduta com respeito aos seus deveres em tudo o que no determinado pelos direitos perfeitos de outra Nao (Preliminares, 20), cabe a cada qual julgar se est em posio de tentar os meios pacficos antes de recorrer s armas. Ora, o direito das gentes voluntrio ordena que se tenha por legtimo o que uma Nao julgar adequado fazer em virtude de sua liberdade natural (Preliminares, 21) e, em virtude deste mesmo direito voluntrio, devemos considerar como legtimas entre as Naes, as armas daquela que, em uma causa duvidosa, decide abruptamente forar o seu inimigo a uma transao sem ter previamente tentado meios pacficos. Lus XIV j estava no meio dos Pases Baixos antes que a Espanha soubesse que ele pretendia a soberania de uma parte dessas ricas provncias por direito da rainha, sua esposa. Em 1741, o

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rei da Prssia publicou seu manifesto na Silsia, testa de sessenta mil homens. Esses prncipes podiam ter tido razes sbias e justas para agir assim, o que suficiente no tribunal do direito das gentes voluntrio. Mas uma cousa tolerada por necessidade nesse direito pode ser muito injusta em si mesma. Um prncipe que a ponha em prtica pode tornar-se muito culpado em sua conscincia e muito injusto com o Estado que ele ataca, embora no tenha contas a prestar s Naes e no possa ser acusado de violar as regras gerais que elas so obrigadas a observar nas suas relaes mtuas. No entanto, se ele abusar dessa liberdade, torna-se objeto de dio e suspeita das Naes, como j observamos, e estas ficam autorizadas a aliarem-se contra ele e, assim, enquanto ele pensa ter nesse tempo realizado avanos em seus negcios, ele os perde algumas vezes sem recurso. 336: DEVE-SE SEMPRE (WERECER CONDIOES EQITATIVAS: Um soberano deve inserir em todas as suas controvrsias, um desejo sincero de fazer justia e de preservar a paz. Ele obrigado, antes de recorrer s armas, e mesmo depois de t-lo feito, a oferecer condies eqitativas e s assim as suas armas se tornam justas contra um inimigo obstinado, que se recusa justia ou eqidade. 337: DIREITO DO POSSUIDOR EM MATRIA DUVIDOSA: Cabe ao demandante provar o seu direito, pois ele deve mostrar a justia de sua pretenso a uma cousa que no possui. Ele deve ter um ttulo, ao qual compete referir-se somente para mostrar-lhe a validade. O possuidor pode, pois, permanecer na posse at que se lhe seja mostrado que a posse injusta. Enquanto isso no ocorre, ele tem o direito de nela manter-se e mesmo recuper-la pela fora se dela for privado. Por conseguinte, no lhe permitido recorrer s armas para obter posse de uma cousa qual ele tem somente direito incerto ou duvidoso. Pode-se somente obrigar o possuidor, mesmo pela fora de armas, se necessrio, a discutir a questo, a aceitar algum meio razovel de deciso ou de acomodao ou, enfim, a transigir em base eqitativa (333).

394 338: COMO SE DEVE PROCURAR A REPARAO DE UMA INJRIA: Se o motivo da controvrsia uma injria recebida, o ofendido deve seguir as mesmas regras estabelecidas. O seu prprio interesse e o da sociedade humana o obrigam a tentar, antes de recorrer s armas, todos os meios pacficos de obter a reparao da injria ou uma justa satisfao, a menos que existam boas razes para dispens-lo disso (334). Tal moderao e prudncia so tanto mais convenientes, e mesmo em geral indispensveis, quanto mais se considera o fato de que uma ao que consideramos uma injria nem sempre procede da inteno de nos ofender e que algumas vezes consiste mais em culpa do que em malcia. Freqentemente acontece que a injria feita por subalternos sem que o soberano dela participe e, nessas ocasies, natural presumir que uma justa satisfao no nos seja recusada. Quando subalternos, no faz muito tempo, violaram o territrio da Savia com o intuito de nele capturar um famoso chefe de contrabandistas, o rei da Sardenha apresentou queixas corte da Frana e Lus XV no considerou ser indigno de sua grandeza enviar um embaixador extraordinrio para Turim, com o fim de dar satisfao por essa violncia. Uma questo to delicada acabou por terminar de maneira igualmente honrosa para os dois reis. 339: Do TALIO: Quando uma Nao no pode obter justia, por motivo de uma falta ou de uma injria, ela tem o direito de obter justia por si mesma. Mas antes de recorrer s armas, do que trataremos no livro seguinte, h vrias medidas em uso entre as Naes, e delas cabe-nos falar aqui. Um desses meios chama-se a lei de talio, segundo a qual inflige-se quele que ofende precisamente o mal que ele causou. Muitos tm louvado esta lei como sendo baseada na mais estrita justia; e seria de se admirar se eles a propusessem aos prncipes, uma vez que ousaram prop-la, como regra, prpria divindade? Os antigos chamavam-na o direito de Radamante. Essa idia derivada da noo vaga e falsapela qual o mal representado como uma cousa essencialmente digna, em si mesma, de punio. Mostramos acima (Livro I, 169)

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qual a verdadeira fonte do direito de punir, (79) da qual deduzimos a verdadeira e justa medida das penalidades (Livro I, 171). Digamos, pois, que uma Nao pode punir aquela que lhe faz injria, como mostramos acima (Vide captulos IV e VI deste se esta Nao se recusar a dar-lhe justa satisfao, mas aquela Nao no tem o direito de estender a penalidade alm do que sua prpria segurana requer. O talio, injusto entre os particulares, seria uma prtica muito mais injusta se praticada entre as Naes porque, neste caso, a penalidade dificilmente incidiria sobre aqueles que teriam feito o mal. Que direito tendes de cortar o nariz e orelhas do embaixador de um rei brbaro que tivesse tratado o vosso embaixador dessa maneira? No tocante a represlias em tempos de guerra, que so da natureza do talio, elas so justificadas por outros princpios e disso falaremos no lugar devido. Tudo que h de verdadeiro nessa idia de talio que, todas as circunstncias sendo alis iguais, a penalidade deve ter alguma proporo com o mal que se procura punir, e assim o exige a prpria finalidade e fundamento das penalidades. 340: DIVERSAS MANEIRAS DE PUNIR, SEM RECORRER S ARMAS: Nem sempre necessrio recorrer s armas com o intuito de punir uma Nao. O ofendido pode, por meio de punio, retirar alguns direitos que ela usufrua no seu territrio ou, se ele tiver os meios de faz-lo, apossar-se de algumas cousas que a ela pertencem e ret-las at que se lhe d justa satisfao. 341: DA RECIPROCIDADE NO DIREITO: Quando um soberano no est satisfeito com o modo pelo qual os seus sditos so tratados pelas leis e costumes de outra Nao, ele tem a autoridade para declarar que usar para com os sditos daquela Nao do mesmo procedimento. Isto o que se chama reciprocidade. Nada mais justo e de acordo com uma poltica jurdica sadia. Ningum pode queixar-se quando tratado
(79)

Nam, ut Pia/o ait, nemo prudens punit quia perra/um est, sednepeccetur: SNECA, deIra.

396 do mesmo modo que ele trata os outros. Assim, o rei da Polnia, eleitor da Saxnia, fez valer o direito d'aubaine somente contra os sditos daqueles prncipes que submeteram os saxes a esse direito. Essa reciprocidade de direito pode ainda ter lugar com relao a certos regulamentos que no podem com justia serem motivo de queixa, que devemos mesmo aprovar, mas cujos efeitos convm prevenir, ao imit-los. Tais so os regulamentos com respeito importao ou exportao de certos alimentos ou mercadorias. Por outro lado, freqentemente no boa poltica usar de reciprocidade. Cada Nao deve ser guiada a esse respeito pela sua prpria prudncia. 342: DAS As represlias so utilizadas pelas Naes com o intuito de obter justia, quando ela no pode ser obtida de outra forma. Se uma Nao se apossou do que pertence outra, se ela recusa pagar um dbito, reparar uma injria, ou dar justa satisfao Nao, vtima de injustia, esta pode apossar-se de alguma cousa pertencente quela e aplicar para seu proveito, junto com danos e lucros at a restituio do que lhe devido, ou ainda t-la como garantia, at que possa ser devidamente ressarcida. Nesse ltimo caso, trata-se mais de arresto ou seqestro do que de represlias; eles se confundem freqentemente em linguagem ordinria. As cousas apreendidas so mantidas com a esperana de obter satisfao ou justia. Quando essa esperana no mais existe, os bens so confiscados e, ento, as represlias so tomadas. Se as duas Naes, em razo dessa disputa, chegam a uma ruptura aberta, presume-se que a satisfao devida pela Nao que comete injria foi recusada a partir da declarao de guerra ou das primeiras hostilidades e, desde ento, os bens retidos podem ser confiscados.
AS RI,PRESLIAS SEJAM 343:Do QUE REQUERIDO PI\RA O direito das gentes permite represlias somente quando a causa manifestamente justa, para uma dvida definida e lquida. Onde a pretenso duvidosa, no se pode pedir primeiramente seno a

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investigao eqitativa do seu direito. Alm disso, antes de chegarmos a esse ponto, a justia deve ter sido requerida em vo, ou ao menos que haja razo para acreditar que ela seria requerida inutilmente. Somente ento pode-se fazer justia por si mesmo. Seria bastante incompatvel com a paz, a tranqilidade e a segurana das Naes, a seu comrcio mtuo, a todos os deveres que as vinculam entre si, se cada Nao pudesse, imediatamente, chegar s vias de fato, sem saber se existe disposio para fazer-lhe justia ou recus-la. Mas para bem compreender essa matria, deve-se observar que se nosso adversrio numa disputa se recusa a dar os passos necessrios para mostrar a justeza de sua pretenso, ou os elude artificialmente, se no se dispe de boa f a submeter-se a mtodos pacficos de soluo de controvrsia e, acima de tudo, se for o primeiro a ter recorrido s vias de fato, ele assim converte a nossa pretenso de problemtica em pretenso justa ao ponto de podermos, agora, pr em andamento as represlias, ou a tomada de seus bens, com o intuito de for-lo a adotar os mtodos de conciliao que a lei natural prescreve. uma ltima tentativa antes de recorrer a uma guerra aberta. 344: SOBRE AS REPRESLlAS Observamos acima (81) que os bens dos cidados constituem parte do patrimnio total da Nao; que, nas relaes entre Estados, o que pertence aos membros individualmente considerado como pertencente ao organismo e afetado pelas dvidas desse organismo (82). Desses fatos, segue-se que, nas represlias, pode-se apoderar dos bens dos sditos como se fossem bens do Estado ou do soberano. Tudo o que pertence Nao est sujeito a represlias desde que seja susceptvel de ser apossado, contanto que no se trate de depsito confiado f pblica. Como este depsito encontra-se em nossas mos, em razo da confiana que o proprietrio teve em nossa boa f, ele deve ser respeitado mesmo em caso de guerra aberta. Esta a regra observada na Frana, Inglaterra, e demais pases, em relao ao dinheiro investido pelos estrangeiros em fundos pblicos.

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345: O DEVE INDENIZAR OS SDITOS QUE SOFREM REPRESUAS: Aquele que usa de represlias contra uma Nao ao apropriar-se dos bens de seus cidados indiscriminadamente, inclusive o bem de pessoa inocente para pagar dvida de outrem, no pode ser censurado. Cabe ao soberano indenizar os sditos cujos bens sofreram as represlias. Pois numa dvida do Estado ou da Nao cada cidado deve contribuir com a sua quota-parte. 346: SOMENTE O SOBERANO PODE ORDENAR AS REPRESLIAS: somente nas relaes entre Estados que todos os bens dos particulares so considerados como pertencentes Nao. Soberanos se relacionam mutuamente; eles negociam uns com os outros diretamente e no podem considerar uma Nao estrangeira seno como uma sociedade de homens cujos interesses so comuns. Compete pois aos soberanos exercer e autorizar represlias, na base do que acabamos de explicar. Alis, estas vias de fato se assemelham muito a um rompimento aberto e com freqncia ocorrem de forma subseqente. A represlia tem, portanto, grandes conseqncias e no pode ser entregue a particulares. Tambm verificamos que, em todo Estado civilizado, um sdito que se julga injuriado por Nao estrangeira recorre ao seu soberano para obter permisso de fazer uso de represlias. Isto o que se chama na Frana pedir "lettres de marque". 347: COMO AS REPRESLIAS PODEM OCORRER CONTRA UMA NAO, POR OBRA DE SEUS SDITOS E EM FAVOR DE SDITOS LESADOS: Pode-se usar de represlias contra uma Nao no somente por atos do soberano, mas tambm por obras dos seus sditos; isto ocorre quando o Estado ou o soberano participa da ao de seu sdito e dela se incumbe, e pode ser feito de muitos modos, como mostramos no captulo VI deste livro. Assim tambm o soberano pede justia, ou usa de represlias, no somente em seu prprio interesse mas tambm no de seus sditos, que ele deve proteger e cuja causa a causa da Nao.

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348: NO EM FAVORDOS ESTRANGEIROS: Mas conceder represlias contra uma Nao em favor de estrangeiros importa em constituir-se juiz entre essa Nao e esses estrangeiros - o que nenhum soberano tem o direito de fazer. A causa das represlias deve ser justa. Elas devem, de fato, basear-se em denegao de justia j ocorrida ou no temor de que venha a ocorrer (343). Ora, que direitos temos de julgar se a queixa de uni estrangeiro contra um Estado independente justa, ou se a justia lhe foi efetivamente negada? Se me for objetado que podemos efetivamente defender a pretenso de outro Estado numa guerra que nos parea justa, dar-lhe ajuda, e mesmo associarmo-nos a ele, o caso diferente. Ao dar ajuda contra uma Nao no estamos retendo os seus bens, nem os seus sditos, que estejam dentro dos nossos territrios sob f pblica; e ao declarar-lhe guerra, ns lhe permitimos retirar os seus sditos e os seus bens, como se ver a seguir. No caso de represlias feitas aos nossos sditos, uma Nao no pode queixar-se de que estamos violando a f pblica, ao deter seus sditos ou seus bens, porque no devemos segurana a esses bens ou a esses homens seno na justa suposio de que essa Nao no ser a primeira a violar em relao a ns ou a nossos sditos, as regras de justia que as Naes devem observar entre si. Se ela as violar, temos o direito de exigir satisfao; e a via das represlias mais fcil, segura e mais moderada que a da guerra. Mas no se poderia justificar pelas mesmas razes represlias feitas em favor de estrangeiros. Pois a segurana que devemos aos sditos de uma potncia no est condicionada segurana que essa potncia dar a todos os outros povos, a pessoas que no nos pertencem, e que no esto sob nossa proteo. Quando a Inglaterra, em 1662, aplicou represlias contra as Provncias Unidas em favor dos cavaleiros de Malta, os Estados da Holanda disseram com razo que, de acordo com o direito das gentes, as represlias podiam ser concedidas somente com o intuito de manter os direitos do Estado e no para uma controvrsia, em relao qual a Nao no tinha nenhum interesse.v"
(80)

Vide BYNKERSHOEK,

Comptent des Ambassadeurs, capo XXII, V.

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349: Os DO LUGAR S REPRESLIAS DEVEM INDENIZAR OS QUE AS SOFREM: OS particulares que, por seus atos, do lugar a justas represlias, so obrigados a indenizar aqueles que as sofrem e o soberano deve compeli-los para tanto uma vez que somos obrigados a reparar o dano que causarmos por culpa nossa. Muito embora o soberano, ao recusar justia ao ofendido, tenha atrado represlias aos seus sditos, aqueles que delas so a causa original no se tornam assim menos culpados; a culpa do soberano no os isenta da necessidade de reparar as conseqncias das suas prprias culpas. N o entanto, se eles estiverem prontos a dar satisfao parte ofendida ou injuriada, e tenham sido impedidos de faz-lo por seu soberano, eles no esto obrigados seno ao que teriam sido obrigados a fazer para evitar as represlias; e dever do soberano reparar o dano adicional, que o resultado de sua prpria culpa (345). 350: CASO EM I'AZERJUSTl(;A: Dissemos que (343) no cabe represlias seno quando no se pode obter justia. Ora, a justia pode ser recusada de muitos modos: (1) Por uma denegao de justia propriamente dita, ou por uma recusa em ouvir as queixas do soberano ou as de seus sditos, de admiti-los a pleitear os seus direitos perante os tribunais ordinrios. (2) Por adiamentos concedidos, para os quais nenhuma boa razo possa ser dada; adiamentos podem ser equivalentes a uma recusa com conseqncias ainda mais ruinosas. Por uma deciso manifestamente injusta e parcial. Mas a injustia deve ser bem evidente e palpvel. Em todos os casos susceptveis de dvida, um soberano no deve ouvir as queixas de seus sditos contra um tribunal estrangeiro nem procurar isent-los do efeito de uma sentena devidamente proferida. Isto seria um meio de estimular contnuos distrbios. O direito das gentes prescreve s Naes, consideraes mtuas no tocante jurisdio de cada qual, pela mesma razo com que a lei civil de cada Estado determina que seja considerada como justa toda sentena definitiva formalmente proferida. A obrigao no nem to expressa, nem to

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ampla de Nao para Nao, mas no se pode negar ser muito conveniente paz entre elas e muito de acordo com os deveres delas para com a sociedade humana, que essas Naes obriguem seus sditos, em todos os casos duvidosos, excetuando-se os casos de leso manifesta, a se submeterem s sentenas de tribunais estrangeiros perante os quais comparecerem. (Vide acima, 84). 351: SDITOS DETIDOS POR Assim como possvel apossar-se de cousas pertencentes a uma Nao com o intuito de for-la a fazer justia, assim tambm pode-se, pelas mesmas razes, deter alguns de seus cidados e mant-los como tal at que se tenha recebido completa satisfao. o que os gregos chamavam androlepsia, isto , deteno de homens. Em Atenas, a lei permitia aos parentes daquele que tivesse sido assassinado em pas estrangeiro deter at trs cidados desse pas e mant-los assim at que o assassino tivesse sido punido ou entregue. Mas na prtica europia moderna esse processo no est mais em uso seno para obter-se satisfao de uma injria de mesma natureza, isto , com o intuito de compelir um soberano a soltar algum que ele injustamente mantm detido. De resto, uma vez que os sditos assim detidos so mantidos somente como uma segurana, uma garantia, para forar uma Nao a fazer justia, se o soberano deles persiste em recus-la no se pode tirar-lhes a vida nem infligir-lhes qualquer punio corporal por uma recusa de que no so culpados. Os seus bens e mesmo a sua a liberdade podem ser comprometidos para as dvidas do Estado, mas no a vida deles, da qual o homem no tem o direito de dispor. Um soberano no tem o direito de tirar a vida dos sditos daquele que lhe fez injria a no ser quando estiverem em guerra, e veremos alhures o que cabe dizer a este respeito. 352: DIREITO CONTRA SE S REPRESLIAS: Mas um soberano tem o direito de usar da fora contra aqueles que resistem observncia de seu direito, e pode usar da fora tanto quanto for

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necessrio para reverter-lhes a resistncia injusta. , pois, permitido ao soberano repelir aqueles que resistem a justas represlias e, se para tal for necessrio tirar-lhes a vida, no se pode acus-lo dessa resistncia injusta e irrazove1. Grcio quer que nos abstenhamos de represlias em tal caso. (HI) Entre particulares, e para casos que no so de extrema importncia, certamente digno, no somente de um cristo, mas em geral de todo homem honesto, preferir desistir de seu direito do que matar quem se lhe oferea injusta resistncia. Mas o mesmo no ocorre entre soberanos; as conseqncias seriam srias se eles permitissem que fossem desafiados. O verdadeiro e justo bem-estar do Estado a regra principal; a moderao sempre louvvel em si mesma mas os dirigentes das Naes podem us-la somente enquanto ela for conveniente para a felicidade e segurana de seus povos.

353: REPRESLIAS JUSTAS NO CONSTITUEM MOTIVO JUSTO DE GUERRA:

Tendo demonstrado serem permitidas represlias quando a justia no pode ser obtida de outro modo, deduz-se que um soberano no tem o direito de resistir pela fora ou fazer guerra quele que, ao autorizar e executar represlias em tais circunstncias, est somente fazendo uso de seu prprio direito.

354:

COMO LIMITAR-SE A REPRESLIAS OU CHEGAR ENFIM GUERRA:

E como a lei da humanidade prescreve - menos s Naes do que aos particulares - dar preferncia aos mtodos mais suaves quando forem suficientes para obter justia, todas as vezes que um soberano possa, por meio de represlias, obter compensao justa ou satisfao conveniente, ele deve restringir-se a esse mtodo menos violento e menos funesto do que a guerra. A esse propsito, no posso dispensar-me de sublinhar um equvoco, demasiado freqente para ser inteiramente desprezado. Se acontece que um prncipe, tendo a queixar-se de alguma injustia ou de alguns atos iniciais de hostilidade, e no achando o seu
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Droit dela Guerre et dela Paix, Liv. IlI, capo lI, VI.

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adversrio disposto a dar-lhe satisfao, antes de promover um rompimento aberto, decide usar de represlias na tentativa de for-lo a ouvir a voz da justia e se, sem uma declarao de guerra, ele retm bens, navios, de seu adversrio e os mantm como garantia, algumas vozes podero levantar-se argumentando tratar-se de banditismo. Se esse prncipe tivesse imediatamente declarado guerra, essas vozes no teriam nada a dizer, teriam talvez at louvado a conduta. Estranho esquecimento da razo e dos princpios verdadeiros! No se dizia que as Naes devem seguir as leis da cavalaria, desafiar-se em campo fechado e resolver sua disputa como dois bravos em um duelo? Os soberanos devem pensar em manter os direitos de seu Estado, fazer com que se lhes renda justia, usando de meios legtimos e preferindo sempre aqueles mais suaves. E deixe-nos repetir isto: bastante evidente que as represlias so infinitamente mais suaves e menos funestas que a guerra. Mas como elas freqen-temente levam guerra entre potncias cujas foras so aproximadamente iguais, no se deve a elas recorrer seno como uma ltima tentativa. Em tais circunstncias, o prncipe que tenta ainda essa via, ao invs de romper abertamente, por certo merecedor de elogio por sua moderao e sua prudncia. Aqueles que recorrem s armas sem necessidade so flagelos do gnero humano, brbaros, inimigos da sociedade e rebeldes s leis da natureza, ou at mesmo ao Pai comum dos homens. H casos, no entanto, em que as represlias seriam condenveis, mesmo quando uma declarao de guerra no o seria; e so precisamente aqueles nos quais as Naes podem com justia recorrer s armas. Quando se trata de uma controvrsia, no de vias de fato, de uma injria recebida, mas de um direito contestado; depois de mtodos conciliatrios e pacficos de obter justia terem sido tentados em vo, a declarao de guerra que deve ser feita a seguir e no eventuais represlias que, em tal caso, seriam somente atos reais de hostilidade sem uma declarao de guerra, e seriam contrrios f pblica, assim como aos deveres mtuos das Naes. o que aparecer mais claramente quando expusermos as razes que do margem obrigao de declarar

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guerra antes que comecem as hostilidades. Mas se, por circunstncias particulares e em razo da obstinao de um adversrio injusto, nenhum dos meios que acabamos de examinar for suficiente para a proteo de nossos diretos e para a nossa defesa, subsiste o triste e infeliz recurso guerra, de que falaremos no Livro seguinte.

~IVROI~

CAPTULO

Da

de suas diferentes espcies e do direito de fazer a

A guerra esse estado em que se persegue o seu direito pela fora. A palavra tambm usada para significar o prprio ato ou a maneira de perseguir o seu direito pela fora; mas est mais de acordo com o uso, e mais conveniente num tratado de direito da guerra, tomar esse termo no sentido que lhe damos.
DEFINIAo DE GUERRA:

1:

A guerra pblica aquela que tem lugar entre Naes ou os soberanos, que se faz em nome da autoridade pblica que e por suas ordens. aquela de que trataremos aqui. A guerra tem lugar entre particulares, pertence ao direito natural propriamente dito.
DA GUERRA PBLICA:

2;

Em se tratando do direito da segurana, mostramos que a natureza d aos homens o direito de usar a fora, quando necessrio para a defesa e preservao dos seus direitos. Esse princpio geralmente reconhecido, a razo o demonstra e a prpria natureza o gravou no corao do homem. Apenas certos fanticos, tomando literalmente a moderao recomendada no Evangelho, tm acolhido a fantasia de deixar-se degolar ou despojar antes de opor a fora violncia. Mas no devemos temer que este equvoco faa grandes progressos. A maioria dos homens se preservar desse equvoco por si mesma e sero felizes, se souberem tambm manter-se nos justos limitesque a natureza ps a um direito concedido somente por necessidade. para definir precisamente estes justos limites, para moderar, pelas regras da justia, da eqidade, da humanidade, um direito triste em si mesmo e com muita freqncia necessrio, que este terceiro livro destinado.
FAZER A GUERRA:

3: Do DIREITO DE

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4: DIREITO APENAS AO PODER SOBERANO: Visto que a natureza deu ao homem o direito de usar da fora somente quando lhe necessrio para a defesa e a preservao do seus direitos (Livro II, 49 e segs.), fcil concluir que, desde o estabelecimento das sociedades polticas, um direito to perigoso no seu exerccio, no mais pertence aos particulares, exceto naquelas ocasies em que a sociedade no pode proteg-los e socorr-los. No seio da sociedade, a autoridade pblica resolve todas as controvrsias dos cidados, reprime a violncia e as vias de fato. Se um particular deseja manter seus direitos contra o sdito de um poder estrangeiro, ele pode enderear-se ao soberano do seu adversrio, aos magistrados que exercem a autoridade pblica e, se no obtiver justia, ele deve recorrer a seu prprio soberano, obrigado a proteg-lo. Seria muito perigoso deixar para cada cidado a liberdade de fazer por si mesmo justia contra os estrangeiros; nas Naes no haveria um s cidado que no pudesse impelir a sua Nao guerra. E como poderiam os povos preservar a paz, se cada particular tivesse o poder de perturb-la? Um direito de to grande importncia, o direito de julgar se a Nao tem motivo verdadeiro para queixar-se, se ela est em condies de usar da fora e usar das armas com justia, se a prudncia o permite, se o bem do Estado o requer; este direito, digo, no pode pertencer seno ao corpo da Nao ou ao soberano que a representa. Ele se inclui, sem dvida, entre os chamados direitos de majestade (Livro I, 45), sem os quais no se pode governar de maneira salutar. Somente o poder soberano, pois, tem o poder de fazer a guerra. Mas como os diversos direitos que constituem esse poder, inscrito originariamente no corpo da Nao, podem ser separados ou limitados de acordo com o desejo da Nao (Livro I, s. 35 e 45), consta da prpria Constituio de cada Estado qual o poder autorizado a fazer a guerra em nome da sociedade. Os reis da Inglaterra, cujo poder alis bastante limitado, tm o direito de declarar a guerra(1) e a paz. Os
(I) Pala do prprio direito. Visto, porm, que um rei da Inglaterra no pode nem levantar dinheiro, nem compelir os sditos a tomar das armas sem a anuncia do parlamento, o seu direito de fazer a guerra se reduz, com efeito, a quase nada, se o parlamento no lhe fornecer os meios.

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da Sucia perderam esse direito. As brilhantes e ruinosas tentativas de Carlos XII acabaram por autorizar os estados do reino a se reservarem um direito to significativo para a sua segurana. SO: DA C;UERRA DEFENSIVA DA GUERRA OFENSIVA: A guerra pode ser defensiva ou ofensiva. Aquele que recorre s armas para repelir um ataque inimigo faz uma guerra defensiva. Aquele que primeiro a recorreu s armas para atacar uma Nao que com ele vivia em paz, faz uma guerra ofensiva. O propsito da guerra defensiva simples, a defesa de si mesmo; o da guerra ofensiva varia de acordo com os diferentes interesses das Naes. Mas, em geral, refere-se ou consecuo de certos direitos ou sua prpria proteo. Ataca-se uma Nao para obter algo que se pretende, para puni-la de uma injria recebida ou para impedi-la de pratic-la, assim como para evitar um perigo de que se supe por ela ameaado. No estou falando agora da justia da guerra, o que constituir o tema de captulo separado. Meu objetivo aqui apenas o de indicar, de forma geral, os vrios propsitos para os quais a guerra feita; propsitos esses que podem fornecer razes legtimas ou pretextos injustos, mas que so, pelo menos, suscetveis de um colorido jurdico. Eis porque no incluo na categoria dos objetivos da guerra ofensiva a conquista ou o desejo de invadir bens alheios. Tal propsito, mesmo destitudo de pretexto, no constitui objeto de guerra formal, mas de banditismo, do qual falaremos oportunamente.
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Para que fazer a guerra. Do recrutamento das tropas, de seus comandantes e das funes subalternas na guerra
6: Dos INSTRUMI:NTOS DA GUERRA: O soberano o verdadeiro agente da guerra, que feita em seu nome e sob o seu comando. As tropas, soldados, oficiais e, em geral, todas aquelas pessoas por meio das quais o soberano faz a guerra, so somente instrumentos em suas

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mos. Eles executam a vontade dele e no as suas prprias. As armas e todos os aparatos usados na guerra, so instrumentos de uma categoria inferior. importante, em vista de questes que viro tona a seguir, determinar precisamente quais so as cousas que pertencem guerra. Sem entrar em pormenores aqui, diremos que tudo o que usado especificamente para fazer a guerra deve ser classificadocomo instrumento de guerra e as cousas que, como os vveres, so igualmente de uso em todos os tempos, pertencem paz, exceto naquelas ocasies especiais quando visto aqui que elas so diretamente destinadas para fazer a guerra. Armas de todos os tipos - artilharia, plvora para canho, o salitre e o enxofre que servem para fabric-la, escadas, gabies, ferramentas e todos os aparatos destinados a bloqueio, materiais de construo de navios de guerra, tendas, uniformes, etc. - tudo isso pertence constantemente guerra. 7: Do DIREITO DE RECRUTAR TROPAS: Como a guerra no pode ser feita sem soldados, uma decorrncia caber a quem tenha o direito de fazer a guerra tambm o direito de recrutar tropas. Esse direito, pois, igualmente pertence ao soberano (4), e se inclui entre os direitos de majestade (Livro I, 45). O poder de recrutar tropas, de colocar o exrcito em ordem, de to grande conseqncia ao Estado que no pode ser confiado seno ao soberano. rgos subalternos no esto investidos desse poder; eles o exercem somente por ordem ou comisso do soberano. Mas nem sempre necessrio que tenham uma ordem expressa. Em ocasies urgentes, quando impossvel aguardar ordens superiores, um governador de provncia ou um comandante de cidade fortificada podem recrutar tropas para a defesa da cidade ou da provncia a seu cuidado e eles o fazem em virtude do poder que a sua comisso tacitamente lhes confere para casos dessa natureza. Digo que este poder eminente o apangio do soberano; ele faz parte do imprio supremo. Entretanto viu-se acima que os direitos cuja reunio constitui a soberania, podem ser divididos (Livro I, . 31 e 45) se a Nao assim desejar. Pode acontecer, pois, que a Nao no

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confie a seu dirigente um direito to perigoso para a sua liberdade - o de recrutar tropas e mant-las armadas, ou que ela limite ao mnimo o exerccio desse direito - fazendo-o dependente do consentimento da sua assemblia representativa. O rei da Inglaterra, que tem o direito de fazer a guerra, tem tambm o de conceder autorizaes para o recrutamento de tropas; mas ele no pode forar ningum a se alistar, nem manter um exrcito em p de guerra sem o consentimento do parlamento.

8: OBRIGA()ES DOS CIDADOS OU SDITOS: Todo cidado est

obrigado a servir e defender o Estado, enquanto para isso for capaz. A sociedade no pode ser mantida de outra forma e esse concurso para a defesa comum um dos primeiros objetivos de toda a associao poltica. Quem for capaz de pegar em armas deve tom-las to logo receba ordens daquele que tem o poder de fazer guerra.

9: ALISTAMENTOS, RECRUTMfENTOS DE TROPAS: Outrora, e sobretudo em Estados pequenos, desde que a guerra era declarada, todos se tornavam soldados, todo o povo pegava em armas e fazia a guerra. Logo uma escolha foi feita e os exrcitos foram formados por homens de elite enquanto o resto do povo mantinha-se em suas ocupaes ordinrias. Hoje, o uso de tropas regulares prevalece quase em todo lugar, principalmente nos grandes Estados. A autoridade pblica recruta soldados, os distribui em diferentes corpos sob a autoridade dos generais e demais oficiais e os mantm enquanto for necessrio. Desde que todo cidado ou sdito obrigado a servir o Estado, o soberano tem o direito, quando houver necessidade, de convocar quem desejar. Mas ele deve somente escolher pessoas adequadas ao ofcio da guerra e sempre conveniente que ele escolha, tanto quanto possvel, somente homens de boa vontade que se alistem sem constrangimento.
100: SE H DISPENSA DE PARTICULAR DA GUERRA: Ningum naturalmente dispensado de tomar armas a servio do Estado, pois a obrigao de todo cidado a mesma. Dispensados so apenas os que

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forem incapazes de manejar armas ou de suportar as fadigas da guerra. o caso dos ancios, crianas e mulheres. Embora se encontrem mulheres to corajosas e fortes como os homens, isto no usual e as regras so necessariamente formuladas de acordo com o que ordinariamente ocorre. Alis, as mulheres so necessrias a outros deveres da sociedade; enfim, a reunio dos dois sexos nos exrcitos resultaria em muitas inconvenincias. Tanto quanto possvel, um bom governo empregar todos os cidados e lhes distribuir deveres e funes de modo que o Estado, em todos os seus negcios, possa ser bem servido. Assim, quando a necessidade no urge, deve-se dispensar do exrcito todos aqueles que esto engajados em funes teis ou necessrias sociedade. Por esta razo, os magistrados so ordinariamente dispensados; eles no dispem de tempo disponvel para a distribuio da justia e a manuteno da ordem. O clero no pode, naturalmente e de direito, pretender uma exceo especial. Defender a ptria no funo indigna das mos mais sagradas. A lei da Igreja, que probe eclesisticos de derramar sangue, uma inveno conveniente para dispensar do dever de lutar pessoas freqentemente prontas a implantar a discrdia e estimular guerras sangrentas. Em verdade, as mesmas razes, que j deduzimos em favor dos magistrados, devem dispensar das armas o clero realmente til, aquele que ensina a religio,governa a igreja e celebra o culto pblico. Mas essa imensa multido de religiosos inteis, esses indivduos que, sob o pretexto de se consagrarem a Deus, se dedicam com efeito a uma ociosidade indolente, com que direito pretenderiam uma prerrogativa prejudicial ao Estado? E se o prncipe os dispensa de tomar armas, no ocasionaria ele prejuzo aos demais cidados a quem o nus incidir? No pretendo aqui aconselhar um soberano a preencher os exrcitos com monges, mas a diminuir sensivelmente uma espcie intil, subtraindo-lhes privilgios abusivos e mal fudamentados. A histria fala de um bispo guerreirot" que combatia com uma clava, com o propsito de no
(2)

Um bispo de Beauvais, sob Felipe-Augusto. Ele combateu na batalha de Bovines.

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incorrer irregularmente em derramamento de sangue, embora ferisse de morte os inimigos. Seria mais razovel dispensar os religiosos de manusear armas e empreg-los em trabalho e no tratamento dos soldados. Muitos deles tm assim prestado servios zelosamente em caso de necessidade. Poderia citar mais de um caso de cidades sitiadas famosas em que religiosos tm prestado servios teis na defesa da ptria. Quando os turcos sitiaram Malta, eclesisticos, mulheres e mesmo crianas, todos contribuiram, de acordo com a respectiva fora e capacidade, a essa defesa gloriosa, que tornou inteis todos os esforos do imprio otomano. H uma outra classe de ociosos, cuja dispensa mais gritante ainda, quero referir-me aos que ocupam inutilmente as casas dos ricos e dos grandes, pessoas cuja vocao de corromper-se a si mesmos, ostentando o luxo de seus superiores. DO PESSOAL DE Entre os romanos, a milcia foi gratuita, enquanto todo o povo nela servia periodicamente. Mas desde que se faa uma opo, desde que as tropas se tornem permanentes, o Estado deve custe-las; pois cada pessoa deve contribuir com a sua quota-parte de servio pblico. E se o oramento ordinrio no bastar, preciso complet-lo com impostos. justo que aqueles que no sirvam o exrcito contribuam para pag-lo. Quando o soldado no est acampado, necessrio aloj-lo. Este nus incide naturalmente sobre aqueles que possuem casas. Mas como ele est sujeito a inconvenientes, e a muito incmodo para os cidados, cabe ao bom prncipe, a um governo justo e sbio, alivi-los tanto quanto for possvel. Com este objetivo, o rei da Frana tem providenciado magnificamente em muitos lugares casernas para o alojamento da guarnio. 12: Dos HOSPITAIS E ASILOS DE INVLIDOS: Os asilos preparados para os soldados e oficiais pobres, que envelheceram no servio, cujo cansao ou ferimentos no mais lhes permitem prover as prprias necessidades,

11: SOlDO E

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podem ser considerados como credores do soldo militar. Magnficas instituies na Frana e na Inglaterra em favor dos invlidos, honram o soberano e a Nao, ao resgatarem uma dvida sagrada. O cuidado com essas infelizes vtimas da guerra , na proporo do poder do Estado, um dever indispensvel. contrrio humanidade e tambm mais estrita justia deixar cidados generosos, heris, que derramaram o sangue para a segurana da ptria, perecerem na misria ou serem obrigados a mendigar o seu po. O dever honroso de mant-los constituiria um encargo a ser devidamente distribudo a conventos ricos e a grandes benefcios de eclesisticos. muito justo que cidados que fogem a todos os perigos da guerra empreguem uma parte de suas riquezas para aliviar o sofrimento dos valentes defensores do pas. 13: Dos SOLDADOS MERCENRIOS: Os soldados mercenrios so estrangeiros que voluntariamente se comprometem a servir o Estado por dinheiro, por um soldo convencionado. Como eles no devem nenhum servio ao soberano de que no so sditos, eles so motivados pelas vantagens que ele lhes oferece. Pelo seu contrato, eles se obrigam a servi-lo e este, por seu lado, lhes promete determinadas condies. Este contrato, que regulamenta as obrigaes e os direitos respectivos dos contratantes, deve ser escrupulosamente observado. As queixas de certos historiadores franceses contra tropas suas que, em vrias ocasies, se recusaram outrora a marchar contra o inimigo, e at se retiraram, porque no eram pagas, essas queixas, digo, no so menos sem sentido quanto injustas. Por que razo um contrato oneraria uma parte mais que a outra? Desde que o prncipe descumpre o que tinha prometido, os soldados estrangeiros no lhe devem mais nada. Reconheo que haveria pouca generosidade em abandonar um prncipe quando um acidente o impedisse temporariamente, sem culpa, de pagar o ajustado; poderiam mesmo ocorrer circunstncias nas quais esta inflexibilidade seria, se no estritamente injusta, pelo menos contrria eqidade; mas este no seria jamaiso caso dos suos, Eles no abandonaram o servio no primeiro pagamento no efetuado e quando eles encontraram um soberano de

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muito boa vontade, mas sem capacidade de satisfaz-los, eles mantiveram constantemente zelo e pacincia. Henrique IV lhes devia somas considerveis; no o abandonaram nas suas maiores necessidades, e esse heri encontrou na Nao tanto generosidade quanto coragem. Menciono aqui suos, porque de fato aqueles de que aqui se questiona eram freqentemente simples mercenrios. Mas tropas desta sorte no so confundidas com os suos que atualmente servem a vrias potncias com a permisso do respectivo soberano e em virtude de alianas existentes entre aqueles poderes e um corpo helvtico ou algum canto em particular. Estas ltimas tropas so auxiliares verdadeiras, embora pagas pelos soberanos a quem servem. Questo muito discutida tem sido a de saber se a profisso de soldado mercenrio legtima ou no; se permitido a particulares por dinheiro ou outros benefcios, comprometerem-se a servir nas guerras a um prncipe estrangeiro. A questo no me parece de difcil soluo. Aqueles que assim se comprometem sem o consentimento expresso ou tcito do respectivo soberano pecam contra o seu dever de cidados. Mas desde que o soberano lhes deixa a liberdade de seguirem a sua inclinao para as armas, eles se tornam livres a esse respeito. Ora, permitido a todo homem livre juntar-se sociedade que lhe apraz e onde encontra vantagens, fazer causa comum com ela e esposar-lhe as querelas. Ele se torna de algum modo, ao menos por um tempo, cidado do Estado em que presta servio e, ordinariamente, como oficial livre para deixar o servio quando julgar oportuno e o simples soldado pode faz-lo ao trmino de seu compromisso; se esse Estado participa de uma guerra manifestamente injusta, o estrangeiro pode afastar-se. Este soldado mercenrio, ao aprender o ofcio da guerra, torna-se mais capaz de servir a sua ptria, se ela dele necessita. Esta ltima considerao fomecer-nos- a resposta seguinte indagao: Pergunta-se se o soberano pode, honestamente, permitir a seus sditos servirem indistintamente potncias estrangeiras, por dinheiro? Ele pode permiti-lo pela simples razo de que, desse modo, os seus sditos vo escola aprender ofcio que lhes til e necessrio bem conhecer. A

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tranqilidade, a paz profunda, de que usufrui a Sua no meio das guerras que agitam a Europa, este longo repouso se lhe tornaria logo funesto, se os seus cidados no fossem, nos servios estrangeiros, formar-se em operaes de guerra e desenvolver o seu ardor marcial. 14: O QUE SE DEVE OBSERVAR NO COMPROMISSO DOS MERCENRIOS: Soldados mercenrios se comprometem voluntariamente. O soberano no tem o direito de constranger estrangeiros e ele tambm no deve usar de subterfgios ou artifcios para compromet-los em contrato, o qual, como qualquer contrato, deve ser baseado na boa f. 15: Dos AIJSTAMENTOS EM PASES ESTRANGEIROS: Como o direito de ter soldados pertence unicamente Nao ou ao soberano (7), ningum pode recrut-los em pas estrangeiro, sem a permisso do soberano e, mesmo com essa permisso, no se pode recrutar seno os voluntrios. Pois no se trata aqui do servio da ptria e nenhum soberano tem o direito de dar ou de vender seus sditos a um outro. Aqueles que procuram contratar soldado em pas estrangeiro sem a permisso do soberano, e em geral quem quer que contrate sditos de outrem, viola um dos direitos mais sagrados do prncipe e da Nao. o crime que se denomina p/agiato, ou furto de homem. No h Estado civilizado que no o puna severamente. Os alistadores estrangeiros so enforcados sem remisso e com justia. No se presume que o soberano desses alistadores tenha determinado que se cometa um crime, e quando eles tiverem recebido essa ordem, no deviam t-la obedecido, pois o soberano no tem o direito de determinar cousas contrrias lei natural. No se presume, digo, que esses recrutadores estejam agindo por ordem do seu soberano e, ordinariamente, deve-se limitar a punir, quando se pode alcan-los, aqueles que se deixaram levar pela seduo. Se eles usaram de violncia e fugiram, demanda-se que retornem juntamente com os homens que levaram embora. Mas se h certeza de que eles agiram em obedincia a ordens, tem-se o direito de considerar como uma injria esse atentado do soberano

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estrangeiro, e como motivo muito legtimo de declarar-lhe guerra, a menos que ele oferea uma reparao adequada 16: OBRIGAO DOS SOLDADOS: Todos os soldados, tanto sditos ou estrangeiros, devem prestar juramento de servir com fidelidade e de no desertar do servio. Independentemente de qualquer juramento, eles a tanto j so obrigados, uns por causa da qualidade de sditos, outros por causa de seus contratos. Mas a fidelidade deles to importante para o Estado que no haveria excessos de precauo em assegur-la. Os desertores merecem a mais severa punio e o soberano pode inclusive aplicar-lhes a pena capital, se julgar necessrio. Agentes que persuadem soldados a desertar so muito mais culpados que os recrutadores de quem falamos. 17: DAS LEIS MILITARES: A boa ordem e a subordinao, em todos os lugares so teis, mas no so to necessrias quanto nas tropas. O soberano deve determinar exatamente as funes, deveres e direitos dos militares, soldados, oficiais, comandantes e generais. Ele deve regular e definir a autoridade dos comandantes em todos os nveis, as penalidades relacionadas com os delitos, a forma de julgamentos, etc. As leis e decretos referentes a estes diferentes pontos formam o cdigo militar. Os regulamentos cujo objeto especial 18: DA DlSClPIJNA manter a ordem nas tropas e p-las em condio de servirem utilmente, constituem o que se chama de disciplina militar. Ela de extrema importncia. Os suos so a primeira Nao moderna, a revigor-la. Uma boa disciplina, em aditamento ao valor de um povo livre, produziu, desde o comeo da repblica, esses fatos brilhantes que causaram admirao que "os suos so os mestres da Europa em toda a Europa. Maquiavel na arte da guerra". Em nossos tempos, os prussianos tm mostrado o que pode ser esperado da boa disciplina e do treinamento cuidadoso: soldados reunidos de todos os lados tm executado, por fora de prtica regular e orientao de comando, o que se poderia esperar dos sditos mais devotados.

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19: DAS POTNCIAS SUBALTERNAS NA GUERRA: Todo oficial militar, desde o porta-bandeira ao general, goza dos direitos e da autoridade que lhe confere o soberano; e a vontade do soberano a este respeito manifestada por suas declaraes expressas, seja nas autorizaes que ele concede, seja nas leis militares, onde ela deduzida, por conseqncia legtima da natureza das funes atribudas a cada qual. Presume-se que todo homem em funo se reveste de todos os poderes necessrios para o cumprimento do seu oficio e para o feliz desempenho de suas funes. Assim a comisso do general comandante, quando ela simples e no limitada, lhe confere poder absoluto sobre o exrcito, o direito de faz-lo marchar para onde achar apropriado, providenciar operaes que julgar conveniente ao bem-estar do Estado, etc. verdade que o seu poder freqentemente limitado, mas o exemplo do marechal Turenne mostra claramente que, quando o soberano est certo de ter feito uma boa escolha, -lhe vantajoso e salutar dar carta branca ao general. Se o duque de Marlborough estivesse dependendo das instrues do gabinete em suas operaes, duvidoso que todas as suas campanhas tivessem sido coroadas de xitos to brilhantes. Quando um governador est sitiado em sua praa e toda comunicao com seu soberano lhe subtrada, ele se encontra por isso mesmo investido de toda a autoridade do Estado, no concernente defesa da praa e segurana da guarnio. necessrio bem considerar o que aqui dizemos para estabelecer um princpio destinado a julgar o que os vrios comandantes, que so os oficiais subordinados ou inferiores na guerra, tm autoridade para fazer. Em adio s concluses que podem ser colldas da prpria natureza das funes, necessrio neste caso consultar costumes e usos recebidos. Se se sabe que em determinada Nao os oficiais de um certo nvel so regularmente investidos com tais e tais poderes, presume-se legitimamente que o oficial com quem tratamos est investido dos mesmos poderes.
20:
SOBERANO: COMO AS PROMESSAS DOS OFICIAIS SUBALTERNOS OBRIGAM O

Toda promessa feita por um oficial subalterno testa de

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seu departamento, no mbito da competncia da sua comisso e em conformidade com o poder naturalmente conferido a ele por oficio e funes que lhe so confiadas, tudo isso, digo, pelas razes j expostas, prometido em nome e sob autoridade do soberano e o obriga, de imediato, como se ele tivesse feito as promessas pessoalmente. Assim, um comandante capitula por sua sede e por sua guarnio, e o soberano no pode o que ele prometeu Na ltimaguerra, o general que comandava os franceses em Lintz, comprometeu-se a reconduzir as suas tropas para aqum do Reno. Governadores de praas tm com freqncia prometido que, durante um certo perodo, a sua guarnio no tomar armas contra os inimigos que capitularam; e estas capitulaes tm sido fielmente observadas.

21: EM QUE CASOS AS SUAS PROMESSAS APENAS A ELE OBRIGAM: Mas

se o oficial subordinado vai alm e excede a competncia do seu ofcio, a sua promessa no mais seno um compromisso particular, o que se denomina sponsio, do qual ns tratamos acima (Livro lI, Capo XIV). Foi o caso dos cnsules romanos em Forcas Caudinas. Eles podiam bem concordar em entregar os refns, em fazer o exrcito passar sob o jugo, etc., mas eles no tinham o poder de concluir a paz, como eles tiveram o cuidado de advertir os samnitas a respeito.

22: Do OFICIAL SUBALTERNO QUE SE ATRIBUI UM PODER QUE NO

POSSUI: Se um oficial subalterno assume um poder de que no dispe e assim engana aquele que com ele trata, mesmo como inimigo, naturalmente responsabilizado pelo dano causado por sua fraude, sendo obrigado a indeniz-lo. Eu digo mesmo um inimigo, pois a f nos tratados deve ser preservada entre inimigos, como nisso concordam todos os homens de princpio e como provaremos a seguir. O soberano deste oficial de m f deve puni-lo e obrig-lo a reparar a sua falta. Ele o deve justia e sua prpria glria.

23: COMO OS OFICIAIS SUBALTERNOS OBRIGAM OS SEUS INFERIORES:

OS oficiais subalternos, em fazendo promessas, obrigam aqueles que

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esto sob suas ordens, com respeito a todas as cousas que esto em seu poder e lhes compete comandar. Pois, com respeito a essas cousas, eles so investidos da autoridade do soberano, que seus subordinados so obrigados a respeitar na sua pessoa. assim que numa capitulao, o governador da praa estipula e promete por sua guarnio e mesmo em nome de seus magistrados e cidados.
CAPTULO

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Causas justas da guerra

24: A
DEVE MOTIVOS MUITO RELEVANTI ':S:

Quem quer que tenha uma idia da guerra, quem quer que reflita sobre suas conseqncias terrveis e desastrosas, concordar prontamente que ela no deva ser empreendida sem as mais relevantes razes. A humanidade se revolta contra um soberano que, sem necessidade ou sem razes urgentes, derrama o sangue de seus sditos mais fiis, que expe o seu povo s calamidades da guerra quando ele poderia faz-lo usufruir de uma paz salutar e gloriosa. Pois se imprudncia, falta de amor por seu povo, ele acrescenta a injustia acerca daqueles que ele ataca, de que crime, ou antes de qual assustadora seqncia de crimes, no se torna ele culpado? Acusado de todos os danos que ele causa aos seus sditos, ele ainda culpado de todos os danos que ele inflige a um 'povo inocente. O derramamento de sangue, a pilhagem de cidades, a runa de provncias, tais so os seus crimes. No se mata um homem, nem se queima uma choupana, sem que ele seja e a humanidade. As violncias, os crimes e responsvel perante as desordens de toda espcie que o tumulto e o recurso das armas acarretam, enlameiam a sua conscincia e so inscritos em sua conta, por ser ele o primeiro agente desses delitos. Verdades certas, imagens terrveis, que deveriam inspirar nos dirigentes das Naes e em seus empreendimentos belicosos uma cautela proporcional importncia do tema!

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25: DAS JUSTIFICADAS EDOS MOTIVOS DE FAZER AGUERRA: Se os homens fossem sempre razoveis, eles no combateriam seno pelas armas da razo. A justia e a eqidade natural lhes seriam a regra ou o juiz. Os caminhos da fora so um expediente triste e infeliz contra aqueles que desprezam a justia e se recusam a ouvir a razo. Mas enfun, um mtodo que deve ser adotado quando todos os demais falharem. Uma Nao sbia e justa, um bom prncipe, somente usar da guerra como um ltimo recurso, como mostramos no ltimo captulo do Livro lI. As razes que podem determin-la so de dois tipos: umas mostram que h o direito de fazer a guerra, que h um legtimo motivo para tanto, e so chamadas razes justificadas; outras so baseadas no critrio da utilidade e da convenincia; por essas razes procura-se ver se conveniente para o soberano fazer a guerra; so os chamados motivos. 26: QUAL EM GERAL ACAUSA JUSTA DA GUERRA: O direito de usar a fora, ou de fazer a guerra, no compete s Naes seno para a sua defesa e para a manuteno dos seus diretos (3). Ora, se algum ataca a Nao ou viola seus direitos perfeitos, ele lhe causa Desde ento, e somente desde ento, tem esta Nao o direito de reprimi-lo e traz-lo razo; ela tem tambm o direito de evitar uma injria quando por ela se encontrar ameaada (Livro 11, 50). Digamos, pois, em geral, que o fundamento ou a causa de toda a guerra justa a j recebida ou em vias de ser consumada. As razes justificadas da guerra mostram que um Estado recebeu a injria, ou que se v seriamente ameaado para ser autorizado a preveni-la, pelas armas. De resto, est claro que estamos falando aqui da parte principal que faz a guerra, e no daqueles que tomam parte nela como auxiliares. Quando, pois, se trata de julgar se uma guerra justa, ns devemos ver se a Nao que a faz recebeu verdadeiramente uma injria ou se por ela est realmente ameaada. E para saber o que possa ser considerado como uma injria, devemos conhecer os direitos propriamente ditos, os direitosperfeitos de uma Nao. Existem diferentes espcies de direitos e so muito numerosas, mas todas se referem a categorias gerais, de

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que temos j tratado e de que anda trataremos neste livro. Tudo que e uma causa justa de guerra. constitui infrao a esses direitos uma 27: QUAL GUERRA INJUSTA?: Por uma conseqncia imediata dos princpios acima estabelecidos segue-se que se uma Nao pega em armas quando ela no recebeu nenhuma injria, e quando por injria no est ameaada, ela faz uma guerra injusta. Tem-se o direito de fazer guerra apenas Nao que comete injria ou se prepara para comet-la. 28: DA DA GUERRA: Dos mesmos princpios, igualmente deduzimos que o fim legtimo de toda guerra o de vingar ou evitar uma injria. Vingar significa aqui buscar a reparao da injria se ela for de natureza a ser repatada, ou justa satisfao se o dano for irreparvel; ela inclui tambm, se o caso exigir, a punio do autor da ofensa com o objetivo de prover a nossa segurana futura. O direito segurana nos autoriza tudo isso (Livro 11, s. 49 e 52). Assim, podemos estabelecer claramente esse trplice objetivo da guerra legtima: 1") Obter o que nos pertence ou o que nos devido; Prover a nossa futura segurana pela punio do agressor ou ofensor; 3') Defender-nos, ou proteger-nos dainjria, repelindoviolnciainjusta. Os dois primeiros pontos so o objeto da guerra ofensiva, o terceiro o da guerra defensiva. Camilo, pouco antes de atacar os gauleses, exps, em poucas palavras, a seus soldados todos os motivos que podem justificar cf ias si! (3). a guerra. Omnia quae 29: JUSTIFICADAS E MOTIVOS HONESTOS DEVEM CONCORRER PARA FAZER AGUERRA: Como a Nao, ou seu dirigente, no deve apenas preservar a justia em todos os seus empreendimentos, mas deve tambm constantemente regulament-los para o bem do Estado, preciso que motivos honestos e louvveis concorram para faz-lo deflagar a guerra.
(3)

TIT.-LIV, Lib. V, capo XLIX.

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Essas razes mostram que o soberano tem o direito de pegar em armas, que ele tem justa causa para a guerra; os motivos honestos mostram que ele est em condies, no caso de que se trata, de usar de seu direito; eles se relacionam com a prudncia, como as razes justificadas competem justia. 30: Dos MOTIVOS HONESTOS E DOS MOTIVOS VICIOSOS: Denomino motivos honestos e louvveis aqueles que so relacionados com o bem do Estado, com a segurana e beneficio comum dos cidados. Eles no se separam das razes justificadas, pois um ato em violao da justia nunca pode ser verdadeiramente benfico. Se uma guerra injusta enriquece um Estado por algum tempo, se ela lhe recua as fronteiras, ela o torna objeto de rancor das outras Naes e o expe ao perigo de ser por elas derrotado. E de resto, essas riquezas e a ampliao dos territrios seriam sempre a felicidade dos Estados? Muitos exemplos poderiam ser citados; mas nos deteremos no dos romanos. A repblica romana perdeu-se por seus triunfos, pelo excesso de suas conquistas e do seu poder. Roma, senhora do mundo, sujeita a tiranos, oprimida sob governo militar, tinha razo para deplorar o xito das suas armas e para lamentar os tempos felizes em que o seu poder no se estendia fora da Itlia, tempos esses em que o seu domnio estava quase confinado ao recinto de suas muralhas. Os motivos viciosos so todos aqueles que no se referem ao bem-estar do Estado, que no esto fundados nesta fonte pura, mas so impelidos pela violncia das paixes. Tais so o desejo orgulhoso de comandar, a ostentao de suas foras, a sede de riquezas, a avidez de conquistas, o dio, a vingana. 31: GUERRA CUJO OBJETO LEGTIMO E OS MOTIVOS VICIOSOS: Todo o direito da Nao, e conseqentemente do soberano, derivado do bem do Estado, e deve ser medido de acordo com esse princpio. A obrigao de progredir e manter o verdadeiro bem da sociedade, do Estado, d Nao o direito s armas contra aquele que ameaa ou

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ataca esse bem precioso. Mas se, quando sofre injria, a Nao levada a recorrer s armas, no pela necessidade de obter reparao justa, mas por algum motivo vicioso, ela abusa de seu direito: o vcio do motivo mancha as armas que poderiam ser justas; a guerra no feita por uma causa legtima que se teria para promov-la, e esse motivo no passa de pretexto. Quanto ao soberano em particular, ao dirigente da Nao, que direito tem ele de expor a segurana do Estado, a vida e o bem do cidado, para satisfazer as suas paixes? O poder supremo no lhe foi confiado seno para o bem da Nao; ele deve fazer uso dele com esse objetivo em vista; este o fim prescrito para os seus menores procedimentos, e ele se deixa levar a tomar a mais importante e a mais perigosa medida por motivos inconsistentes ou contrrios a um fim melhor! Nada mais comum, no entanto, que uma infeliz reverso desta atitude e notvel que, por esta razo, o judicioso Polbio chama causas de guerra os motivos que levaram a desencade-la, e pretextos, as razes justificadas que se invocam. Foi assim que a causa da guerra dos gregos contra os persas foi o conhecimento que eles tinham da fraqueza destes; e que Felipe, ou Alexandre depois dele, tomou como pretexto o desejo de vingar as injustias que a Grcia tinha to freqentemente recebido, e de prover a sua segurana para o futuro. Todavia, esperamos mais das Naes e 32: Dos de seus dirigentes. Existem causas justas de guerra, razes que realmente a justificam, e por que no se encontrariam soberanos que sinceramente delas se valeram quando eles tiveram motivos razoveis para pegar em armas? Assim ns chamamos pretextos as razes que so dadas como justificativas, e das quais no tm seno a aparncia, ou que so mesmo destitudas de fundamento. Mas pode-se tambm chamar pretextos, razes realmente verdadeiras em si mesmas e fundamentadas, mas que, no sendo de importncia suficiente para justificar a guerra, so apontadas somente para acobertar propsitos ambiciosos ou algum outro motivo vicioso. Tal foi a queixa do Czar Pedro I, a de que honras suficientes no lhe foram prestadas em sua

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passagem por Riga. No menciono aqui os seus outros motivos para declarar guerra Sucia. Pretextos so, no um dano que os injustos rendem justia. Aquele que os invoca testemunha pelo menos algum pudor. Ele no declara guerra aberta a tudo que sagrado na sociedade humana. Ele tacitamente confessa que a injustia voluntria merece a indignao de todos os homens.

33: GUERRA DESENCADEADA APENAS POR MOTIVO UTILITRIO: Aquele

que desencadeia uma guerra por motivos apenas utilitrios, sem razes justificadas, age sem nenhum direito e sua guerra injusta. E aquele que, tendo de fato causa justa para pegar em armas, levado a ela, contudo, por motivos de interesse, no pode, na verdade, ser acusado de injusto, mas ele manifesta disposies viciosas: a sua conduta repreensvel e manchada pelo vcio dos motivos. A guerra um flagelo to terrvel que somente a justia, unida a uma espcie de necessidade, pode autoriz-la e torn-la louvvel, ou pelo menos, p-la a coberto de toda censura.

34: Dos povos SEM MOTIVOS OS povos que esto sempre prontos a pegar em armas, desde
que esperam delas ganhar alguma vantagem, so injustos e destruidores; mas aqueles que parecem nutrir-se dos horrores da guerra, que a fazem em todas as circunstncias sem razes ou pretextos, e mesmo sem outro motivo que a prpria ferocidade, so monstros indignos do nome de homem. Devem ser considerados como inimigos do gnero humano, assim como, na sociedade civil, os assassinos e os incendirios profissionais no so apenas culpados em relao s vtimas particulares do seu banditismo mas tambm em relao ao Estado do qual so inimigos declarados. Todas as Naes tm o direito de se unirem com o objetivo de punir e mesmo de exterminar esses povos ferozes. Deste carter eram vrios povos germnicos de que Tcito fala e aqueles brbaros que destruram o imprio romano. Eles retiveram essa ferocidade muito depois da sua converso ao cristianismo. Tais foram os turcos e outros trtaros:

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Gengis Khan, Timur-bec ou Tamerlo; flagelos de Deus como tila o foi, e que faziam a guerra pelo prazer de faz-la. Tais foram em sculos refinados, e entre as mais civilizadas Naes, os pretensos heris para os quais os combates no foram nada seno prazer, e que fizeram a guerra por gosto e no por amor ptria. JUSTA OU INJUSTA: A guerra defensiva justa quando feita contra um agressor injusto. Isto no precisa de provas. A defesa de si mesmo contra um ataque injusto no somente um direito que toda Nao tem, mas um dever, e um de seus mais sagrados deveres. Mas se o inimigo, ao fazer uma guerra ofensiva, tem a justia ao seu lado, no se tem o direito de se lhe opor a fora, e a guerra defensiva ento injusta. Pois esse inimigo no faz seno o uso de seu direito; ele tomou das armas para obter a justia que lhe tem sido recusada e um ato de injustia resistir quele que exerce o seu direito. PODE TORNAR-SE JUSTA CONTRA UMA GUERRA OFENSIVA ERA INICIALMENTE JUSTA: A nica cousa que pode ser feita em tal caso oferecer justa satisfao quele que ataca. Se ele no quiser aceit-la, tem-se a vantagem de pr o bom direito ao seu lado e pode-se, a seguir, opor armas justas s hostilidades, que se tornam injustas, porque deixam de ter fundamento. Os samnitas, guiados pela ambio de seus dirigentes, tinham devastado as terras dos aliados de Roma. Aps reconsiderarem os seus excessos, eles ofereceram reparao ao dano causado e todo o tipo de satisfao razovel mas as suas ofertas no puderam apaziguar os romanos. Em face disso, Caius Pontius, general dos samnitas, disse ao seu povo: "Desde que os romanos querem absolutamente a guerra, ela se nos toma justa por necessidade; as armas so justas e santas queles que no tm outra sada seno as armas". Justum et quibus necessarium; et pia quibus nu/Ia nisi in armis re/inquitur spes (4).
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35: COMO A

36: COMO A

TIT.-UY., Lib. IX, irrito

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37: COMO AGUERRA OFENSIVA JUSTA NUMA CAUSA EVIDENTE: Com o intuito de julgar a justia de uma guerra ofensiva, devemos primeiro considerar a natureza do motivo do recurso s armas. Deve-se ter certeza de seu direito para faz-lo valer de maneira to terrvel. Se se trata, pois, de alguma coisa evidentemente justa, como recuperar o prprio bem, fazer valer um direito certo e incontestvel, obter justa satisfao para uma injria evidente, e se a justia no pode ser obtida a no ser pela fora de armas, a guerra ofensiva permitida. Duas coisas so assim requeridas para torn-la justa: 1) Fazer valer algum direito, isto , uma razo para demandar algo de outra Nao; 2) Que no se possa obt-lo a no ser pelas armas. Apenas a necessidade autoriza o uso da fora: um expediente perigoso e funesto. A natureza, me comum dos homens, no o permite seno como ltimo recurso, e na ausncia de qualquer outro. Constitui injria a uma Nao empregar contra ela a violncia antes de saber se ela est disposta a fazer justia ou a recus-la. Aqueles que, sem tentar vias pacficas, recorrem imediatamente s armas ao menor motivo, mostram bastante que as razes justificadas no so, em sua boca, seno pretextos; eles se apropriam avidamente da ocasio para se entregarem s suas paixes e para gratificarem a sua ambio, com algum colorido jurdico. 38: E NUMA CAUSA DUVIDOSA: Numa causa duvidosa, onde direitos incertos, obscuros, litigiosos, esto em jogo, tudo o que pode razoavelmente 11, 331); e se for ser exigido que a questo seja discutida impossvel esclarec-la, que a disputa seja resolvida por uma transao eqitativa. Se, ainda assim, uma das partes se recusa a adotar esses meios de acomodao, a outra ter o direito de recorrer s armas para for-la a um compromisso, e cumpre bem notar que a guerra no decide a questo, a vitria apenas constrange o vencido a submeter-se ao tratado que pe fim disputa. um erro no menos absurdo que funesto dizer que a guerra deve decidir controvrsias entre aqueles que, como as Naes, no reconhecem juiz. Ordinariamente, a vitria acompanha a fora no mais que a prudncia acompanha o bom direito. Isto seria m regra de

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deciso, mas um meio eficaz para constranger aquele que recusa as vias da justia; e se toma justo nas mos do prncipe que o emprega adequadamente e para uma causa legtima.

39: A GUERRA NO PODE SER JUSTA DE AMBOS OS LADOS: A guerra

no pode ser justa de ambos os lados. Uma parte atribui-se um direito, a outra contesta esse direito; uma queixa-se de uma injria, a outra nega t-la feito. Quando duas pessoas disputam a verdade de uma proposio, impossvel que as opinies contrrias sejam ao mesmo tempo verdadeiras. REPUTADA COMO LEGTIMA: Entretanto, pode acontecer que os contendores estejam de boa f e, num caso duvidoso, ainda incerto de qual lado est o direito. Desde que, pois, as Naes so iguais e independentes (Livro lI, 36, e Preliminares; 18, 19) e no podem erigir-se juzes umas das outras, segue-se que em todos os casos susceptveis de dvida, as armas das duas partes beligerantes devem ser consideradas como igualmente legtimas, pelo menos quanto aos efeitos exteriores, e at que a causa seja decidida. Isto no impede que outras Naes julguem a questo por si mesmas com o intuito de decidir qual atitude a tomar e de assistir aquela que lhes parece estar com a razo. Esta conseqncia da independncia das Naes no impede que o autor de uma guerra injusta seja efetivamente culpado. Mas se ele agiu em conseqncia de ignorncia ou de equvoco incontornvel, a injustia de suas armas no pode ser-lhe imputada.

40: QUANDO AGUERRA

41: GUERRA PROMOVIDA PARA PUNIR UMA NAO: Quando a guerra

de uma Nao, ela deve ser ofensiva tem por objetivo a necessidade. 1) fundamentada, como toda guerra, no direito e Quanto ao direito: uma injria real deve ter sido efetivamente recebida. Visto que a injria causa justa de guerra (26), tem-se o direito de exigir-lhe reparao. Se ela for de natureza irreparvel, uma causa de

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punio est presente, e o Estado est autorizado a prover a sua prpria segurana, e a das demais Naes, ao infligir ao autor de ofensa uma punio capaz de corrigi-lo e servir de exemplo. 2') Uma guerra deste tipo deve ser justificada pela necessidade, isto , para ser legtima, ela deve ser o nico meio de obter justa satisfao, o que implica numa segurana razovel para o futuro. Se esta satisfao completa oferecida, ou se pode ser obtida sem guerra, a injria desaparece, e o direito segurana no autoriza o Estado a buscar vingana (Livro lI, 49-52). A Nao culpada deve submeter-se punio que merece, e sofr-la como forma de satisfao. Mas no obrigada a entregar-se sanha de um inimigo irritado. Quando, pois, ela se v atacada, deve oferecer satisfao, inquirir o que exigido dela como forma de punio e se o Estado hostil no explicita as suas queixas, ou se ele quer impor-lhe uma penalidade muito severa, a Nao tem o direito de resistir e a sua defesa torna-se legtima. De resto, est claro que somente a parte injuriada tem o direito de punir pessoas independentes. No repetiremos aqui o que dissemos anteriormente (Livro lI, 7) sobre o erro perigoso ou o pretexto extravagante daqueles que assumem o direito de punir uma Nao independente por transgresses que no lhes dizem respeito; aqueles que, erigindo-seloucamente em defensores dacausa de Deus, se encarregam de punir a depravao dos costumes ou a falta de religio de um povo que no est submetido aos seus cuidados. 42: SEOCRESCIMENTO VIZINHA PODE AUTORIZAR A Apresenta-se aqui uma questo clebre da maior importncia. Pergunta-se se o crescimento de um Estado vizinho, pelo qual se teme ser um dia oprimido, razo suficiente para se lhe fazer guerra; se se pode com justia pegar em armas para se opor ao seu crescimento, ou para enfraquec-lo, com o nico objetivo de se proteger dos perigos com os quais uma potncia desmesurada ameaa quase sempre os mais fracos. A questo no apresenta dificuldades para a maioria dos polticos; ela mais embaraosa para aqueles que buscam constantemente unir justia prudncia.

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Por um lado, o Estado que incrementa seu poder por todos os esforos de um bom governo no faz nada alm do que louvvel; ele cumpre seus deveres para consigo prprio, e no fere aqueles concernentes a terceiros. O soberano que por herana, por livre eleio, ou por quaisquer outros meios justos e prprios, une novas provncias, reinos inteiros ao seu Estado, usa de seus direitos e no faz dano a ningum. Como seria permitido atacar uma potncia que se engrandece por meios legtimos?Uma Nao deve ter recebido injria, ser visivelmente ameaada, para ser autorizada a recorrer s armas, para ter um motivo justo de guerra (. 26, 27). Por outro lado, uma funesta e constante experincia nos mostra que potncias predominantes no deixam de molestar os seus vizinhos, de oprimi-los, de subjug-los mesmo completamente, quando eles encontram a oportunidade e passam a faz-lo com impunidade. A Europa estava ao ponto de ser escravizada por no ter se oposto em boa hora ao crescente poder de Carlos V. Deveria ela esperar o perigo, deixar crescer a tempestade que se poderia evitar nos seus primrdios, admitir o crescimento de um vizinho e esperar pacificamente que ele se disponha a submeter-nos? Seria hora de defender-nos quando no mais estamos capacitados? A prudncia um dever de todos os homens, e particularmente para os dirigentes das Naes, encarregados de zelar pelo bem-estar de todo um povo. Tentemos resolver esta importante questo, segundo os princpios sagrados do direito da natureza e das gentes. Ver-se- que eles no nos conduzem a escrpulos ingnuos, e que sempre verdadeiro dizer que a justia inseparvel da politica sadia. 43:No SE PODE ATRIBUIR-SE UM DIREITO POR SI Observemos, preliminarmente, que a prudncia, certamente uma virtude muito necessria aos soberanos, no pode nunca aconselhar o uso de meios ilegtimos para um fim justo e louvvel. No se pode opor, aqui, o bem-estar do povo, a lei suprema do Estado, pois o bem-estar do povo, o bem-estar comum das Naes, probe o uso de meios contrrios justia e honestidade. Por que certos meios so ilegtimos? Se olharmos para

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a questo de perto, se remontarmos aos primeiros princpios, veremos que precisamente porque a introduo de tais meios seria danosa sociedade humana, funesta a toda a Nao. Note-se em particular o que dissemos ao tratar do respeito justia (Livro II, Capo 5). , pois, para o interesse e mesmo para o bem-estar das Naes que devemos ter como princpio sagrado que o fim no justifica os meios. E desde que a guerra somente permitida para vingar uma injria recebida, ou para nos proteger de uma injria com que somos ameaados (26), trata-se de uma lei sagrada do direito das gentes que apenas o crescimento de poder no pode, por si s, dar a quem quer que seja o direito de recorrer s armas para se opor a esse crescimento.
44: COMO AS APARNCIAS DO PERIGO CONFEREM ESSE DIREITO: Suponha-se, ento, que nenhuma injria tenha sido recebida desse poder. Seria necessrio haver fundamento em acreditar-se ameaado para recorrer legitimamente s armas. Ora, somente o poder no significa injria; a vontade de injuriar deve acompanh-lo. uma infelicidade para o gnero humano que se possa quase sempre supor a vontade de oprimir onde haja poder de oprimir impunemente. Mas essas duas coisas no so necessariamente inseparveis e todo o direito que essa unio ordinria ou freqente proporciona o de tomar as primeiras aparncias como um indcio suficiente. Logo que um Estado tenha dado indcios de injustia, avidez, orgulho, ambio, de um desejo imperioso de fazer a lei, ele se torna um vizinho suspeito contra o qual se deve precaver. Pode-se abord-lo no momento em que estiver para receber uma adio formidvel de poder, para pedir-lhe segurana, e se ele hesitar em d-la, deve-se prevenir os seus desgnios pela fora das armas. Os interesses das Naes tm uma importncia bastante diferente dos particulares; o soberano no pode ser negligente em velar por eles, ou sacrificar as suas desconfianas por aspiraes de grandeza e generosidade pessoal. Tudo est em jogo para uma Nao que tem um vizinho igualmente poderoso e ambicioso. Desde que os homens so guiados em muitos casos pelas probabilidades, estas merecem a ateno na mesma proporo

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da importncia do assunto e, para me servir de uma expresso da geometria, estamos autorizados a adiantar-mo-nos ao perigo em razo composta do grau de aparncia da grandeza do mal que nos ameaa. Se o dano em questo for suportvel, se a perda for ligeira, nada deve ser feito com precipitao. No h expectativa de grande perigo para dele se prevenir, no h certeza de que estamos por ele ameaados. Mas se se trata da segurana do Estado, a expectativa no pode estender-se por muito tempo. Esperar-se- por quanto tempo, para evitar a runa, at que esta se torne inevitvel? Se confiarmos muito prontamente nas aparncias, a culpa ser desse vizinho que deu indcios de ambio. Aceitar que Carlos lI, rei da Espanha, ao invs de chamar sucesso o Duque d'Anjou, indique o prprio Lus XIV como herdeiro e aceitar tranqilamente a unio da Casa da Espanha com a da Frana, de acordo com todas as regras da previso humana, tudo seria nada menos que entregar toda a Europa servido ou, no mnimo, deix-la numa condio mais precria. Mas se duas Naes independentes acham motivos para unir-se para formar um mesmo imprio, no tero elas o direito de faz-lo? Quem teria motivos para se opor a isso? Eu respondo que elas tm o direito de se unir, contanto que no haja desgnios prejudiciais s demais Naes. Ora, se cada uma daquelas duas Naes estava apta para governar-se e se manter por si mesma, e para proteger-se de insultos e opresses, razovel presumir que o nico objetivo delas em se unirem para formar um Estado era o de dominar os seus vizinhos. E em ocasies onde seja impossvel ou muito perigoso esperar uma certeza completa, podemos, com justia, agir com base em presuno razovel. Se um desconhecido me derruba no meio de uma floresta, eu no estou ainda certo que ele deseja me matar; deixar-lhe-ia o tempo suficiente para atirar em mim a fim de me assegurar de seu propsito? Existe algum jurista razovel que me negaria o direito de evit-lo? Mas a presuno torna-se quase equivalente a uma certeza, se o prncipe que vai ascender a uma enorme potncia tem j dado provas de orgulho e ambio insuperveis. Na suposio mencionada acima, quem teria ousado aconselhar as potncias da Europa a permitirem a Lus XIV um

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acrscimo de foras to temvel? Bastante convencidas do uso que ele faria desse acrscimo de poder, elas teriam se unido em oposio a ele, e a segurana delas o teria autorizado. Dizer que essas Naes deviam deixar-lhe tempo para fortalecer seu domnio na Espanha, consolidar a unio das duas monarquias e, no temor de lhes fazer injria, aguardar tranqilamente que ele as abatesse, no seria proibir aos homens o direito de serem conduzidos de acordo com as regras da prudncia e seguir as da probabilidade, e de priv-los da liberdade de prover a prpria segurana at que tivessem demonstrao matemtica de que estavam em perigo? Seria intil pregar tal doutrina. Os principais soberanos da Europa, habituados pelo ministrio de Louvois a temer as foras e os desgnios de Lus XIV, conduziram a sua desconfiana ao ponto de no desejar permitir que um prncipe da Casa da Frana assumisse o trono da Espanha, embora ele a isso fosse chamado pela Nao, que aprovava o testamento de seu ltimo rei.Ele ascendeu ao trono a despeito dos esforos daqueles que muito temiam a sua ascenso, e eventos subseqentes mostraram que a poltica deles era demasiado sombria. 45: OUTRO CASO MAIS EVIDENTE: ainda mais fcil provar que: se essa potncia temvel deixa transparecer disposies injustas e ambiciosas pela menor injustia feita a uma outra, todas as Naes podem aproveitar-se da ocasio e, unindo-se ao ofendido, reunir as suas foras para restringiro ambicioso e coloc-lo sem condies de oprimir to facilmente os seus vizinhos ou de atemoriz-los continuamente. A injria outorga vtima o direito de prover a segurana futura, subtraindo ao injusto os meios de prejudic-la e permitido, e mesmo louvvel, assistir aqueles que so oprimidos ou injustamente atacados. Eis como colocar os polticos vontade e lhes subtrair todo motivo de temer que pleitear estrita justia no concorre para a escravido. No h talvez exemplo de um Estado que receba um notvel acrscimo de poder sem dar a outros motivos justos de queixa. Que todas as Naes fiquem atentas em reprimir esse acrscimo e elas nada tero a temer desse Estado. O imperador Carlos V tomou o pretexto da religio para oprimir

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os prncipes do imprio e submet-los sua autoridade absoluta. Se, aproveitando-se da vitria sobre o eleitor de Saxe, ele chegasse ao final perto desse grande propsito, a liberdade da Europa estaria em perigo. Foi pois com razo que a Frana apoiava os protestantes da Alemanha e ela a isso foi conduzida com vistas ao seu prprio bem-estar. Quando o mesmo prncipe se apoderou do ducado de Milo, os soberanos da Europa deviam ajudar a Frana a entrar na disputa e valer-se da ocasio para reduzir-lhe o poder a justos limites. Se eles tivessem se valido habilmente dos motivos justos que ele lhes propiciou para que se unissem contra ele, eles no teriam temido em seguida por sua liberdade. 46: OUTROS MEIOS SEMPRE PERMITIDOS PARA SE PREVENIR CONTRA UMA GRANDE pOTf:NCIA: Mas suponhamos que esse Estado poderoso, por uma conduta igualmente justa e cautelosa, no suscite suspeita e o seu progresso visto com olhar indiferente; como tranqilos espectadores do rpido crescimento de suas foras, deveramos nos entregar imprudentemente aos propsitos que essas foras podero inspirar-lhe? No, sem dvida, a incria imprudente seria imperdovel em matria de to grande importncia. O exemplo dos romanos boa lio para todos os soberanos. Se os poderosos daquele tempo tivessem se juntado para supervisionar os empreendimentos de Roma, para limitar-lhe o progresso, eles no teriam cado sucessivamente na servido. Mas a fora das armas no o nico meio de pr-se em guarda contra uma potncia temvel. Outros existem mais suaves e que so sempre legtimos. O mais eficaz a confederao dos soberanos menos poderosos, os quais pela reunio de suas foras esto em condies de equilibrar o poder que lhes faz sombra. Que eles sejam fiis e firmes nessa aliana: a sua unio consistir na segurana de cada qual. ainda permitido a esses soberanos menos poderosos favorecerem-se mutuamente com a excluso daquele que eles temem e, pelas vantagens de diferentes modalidades, mas sobretudo a do comrcio a ser feito reciprocamente entre os aliados, com excluso da potncia perigosa, eles aumentaro as suas prprias foras e diminuiro

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a dessa potncia, sem que esta tenha motivo para queixar-se, pois cada qual dispe livremente de seus prprios favores. 47: Do EQUILBRIO pOLTICO; A Europa constitui um sistema poltico, um organismo em que tudo est conectado pelas relaes e pelos diversos interesses das Naes que habitam esta parte do mundo. Ela no mais, como outrora, um conjunto aleatrio de peas isoladas, em que cada uma acreditava ter pouco interesse no destino das demais, e raramente se preocupava com o que no lhe interessasse imediatamente. A ateno contnua dos soberanos em relao a tudo que ocorre, os ministros residentes, as negociaes perptuas, fazem da Europa, em conseqncia, uma espcie de repblica cujos membros so independentes mas ligados entre si por interesse comum e renem-se para manter-lhe a ordem e a liberdade. o que deu nascimento a essa famosa idia da balana poltica, ou do equilbrio de poder. Entende-se com isso uma disposio das cousas, por meio da qual nenhuma potncia se encontra em condies de predominar absolutamente e de impor a lei s demais. 48: MEIOS DE MANTERo EQUIUBRlO: O meio mais seguro de preservar esse equilbrio de poder seria fazer com que nenhum Estado ultrapassasse de muito os demais; que todos, ou pelo menos, a maior parte tivesse mais ou menos foras iguais. Essa idia tem sido atribuida a Henrique mas ela no pde ser realizada sem injustia e sem violncia. E uma vez estabelecida essa igualdade, como seria possvel mant-la sempre por meios legtimos? O comrcio, a indstria, as virtudes militares, a faro logo desaparecer. O direito de herana, mesmo em favor das mulheres e de seus descendentes, estabelecido de modo absurdo para as soberanias, mas enfim estabelecido, modificar vosso sistema. mais simples, mais fcil e mais justo, recorrer aos meios de que falamos, formar confederaes para enfrentar o mais poderoso e impedi-lo de impor a lei. o que atualmente fazem os soberanos da Europa. Eles consideram as duas principais potncias que, por isso

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mesmo so naturalmente rivais, como destinadas a se conterem mutuamente, e eles se juntam mais fraca dessas potncias como se lanassem pesos no prato da balana menos sobrecarregado para manter o equilbrio com o outro. A Casa da ustria foi durante muito tempo a potncia prevalecente, hoje a Frana. A Inglaterra, cujas riquezas e frotas respeitveis possuem grande influncia sem alarmar a liberdade de nenhum Estado, porque essa potncia parece curada do esprito de conquista; a Inglaterra, digo eu, tem a glria de manter em suas mos a balana poltica. Ela ciosa de mant-la em equilbrio. Poltica em si mesma muito sbia e muito justa, e que ser sempre louvvel medida que ela dever impulsionar alianas, confederaes ou outros meios igualmente legtimos.
49: COMO SE PODE OU MESMO ENFRAQUECER R()MPE () EQunlBRJ(): As confederaes seriam um meio seguro de conservar

o equilbrio e de manter assim a liberdade das Naes, se todos os soberanos estivessem constantemente esclarecidos sobre os seus verdadeiros interesses e se se conduzissem, em todos os procedimentos, guiados pelo bem do Estado. Mas as grandes potncias se esmeram em reunir partidrios e aliados vinculados cegamente a seus propsitos. Iludidos pelo brilho de uma vantagem imediata, seduzidos pela avareza, enganados por ministros e infiis, quantos prncipes no se tornam instrumentos de uma potncia que os engolir algum dia, a eles ou a seus sucessores? O mais seguro consiste pois em enfraquecer o que rompe o equilbrio, to logo haja condio favorvel e se possa faz-lo com justia (45); ou que se possa impedir por meios honestos que ele ascenda a um grau de potncia demasiado temvel. Para esse fim, todas as Naes devem ficar sobremodo atentas para no permitirem que ele cresa por via das armas, e elas podem sempre faz-lo com justia. Pois se o prncipe faz uma guerra injusta, cada Nao tem o direito de socorrer o oprimido. Se ele fizer uma guerra justa, as Naes neutras podem concorrer para uma certa acomodao, induzir o fraco a oferecer justa satisfao, condies razoveis, e no permitir que seja subjugado.

o DIREITO DAS GENTES

437

Desde que se ofeream condies eqitativas quele que inicia a guerra mais justa, tem ele tudo o que pode pretender. A justia de sua causa, como veremos adiante, no lhe d nunca o direito de subjugar o seu inimigo, a no ser quando esta etapa extrema seja necessria para a sua prpria segurana ou quando ele no tiver nenhum outro meio de ser indenizado pelo dano sofrido. Ora, no este o caso aqui, as Naes intervenientes podem proporcionar-lhe outra maneira de satisfazer a sua segurana e uma justa reparao. Enfim, no se pe em dvida que se essa potncia temvel engendra projetos de opresso e de conquista, se ela trai os seus desgnios por preparativos e demais procedmentos, as demais potncias tm o direito de se precaverem contra ela e, se a sorte das armas lhes for favorvel, cabe-lhes aproveitarem a feliz ocasio para enfraquecer e conter uma potncia demasiado contrria ao equilibrio e temvel liberdade comum. Esse direito das Naes ainda mais evidente contra um soberano que, sempre prestes a recorrer s armas sem razes e sem pretextos plausveis, perturba continuamente a tranqilidade pblica. AUM VIZINHO QUE FAZ PREPARATIVOS DE GUERRA: Isto nos conduz a uma questo particular que tem muita relao com a precedente: quando um vizinho, no meio de uma paz profunda, constri fortalezas em nossa fronteira, guarnece uma frota, aumenta as suas tropas, rene exrcito poderoso, abastece as suas lojas, em uma palavra, quando ele faz preparativos de guerra, seria permitido atac-lo para prevenir o perigo de que nos sentimos ameaados? A resposta depende muito dos costumes, do carter desse vizinho. preciso faz-lo explicar, perguntar-lhe o motivo desses preparativos. Esta a prtica na Europa, e se a suspeio permanece, pode-se pedir-lhe garantias. A recusa seria indcio suficiente de maus propsitos e justa razo de preveni-los. Mas se esse soberano nunca deu indcios de uma perfdia covarde e se, principalmente, no houver no momento nenhuma altercao com ele, por que no deveramos permanecer confiantes em sua palavra e tomar apenas as precaues

so: CONDUTA QUE SE PODE TER EM

438

VAlTEL

que a prudncia torna indispensveis? No devemos, sem motivo, presumi-lo capaz de incorrer em infmia e de acrescer perfidia a violncia. Enquanto a f que nele temos no se tomou suspeita, no temos o direito de dele exigir segurana adicional. Entretanto, se verdade que se um soberano permanece poderosamente armado em plena paz, os seus vizinhos no podem fiar-se inteiramente em sua palavra; a prudncia os obriga a manterem-no sob vigilncia. E mesmo quando estiverem absolutamente certos da boa f desse prncipe, podem ocorrer controvrsias imprevistas;deixar-lhe-emos a vantagem de ter ento tropas numerosas e bem disciplinadas, s quais podero opor-se apenas novas levas de soldados? No, sem dvida seria quase entregar-se sua discrio. Ei-los pois compelidos a imit-lo, manter como ele um grande exrcito. E que nus para o Estado! Outrora, e sem recuar alm do sculo passado, no se deixaria de estipular nos tratados de paz que uma e outra parte se desarmariam e licenciariam as suas tropas. Se em plena paz um prncipe pretendesse manter um grande nmero de soldados, os seus vizinhos tomariam as devidas medidas, formariam ligas contra ele e o obrigariam a desarmar-se. Por que esse costume salutar no foi preservado? Esses exrcitos numerosos, mantidos continuamente, privam a terra de seus trabalhadores,paralisam a populao, e no podem servir seno para oprimir a liberdade do povo que os alimenta. FelizInglaterra!A sua situao a dispensa de manter, com grandes despesas, os instrumentos do despotismo. Felizes os suios! Se, ao continuar a exercitar cuidadosamente as suas milcias, eles continuam a ter condies de repelir os inimigos externos, sem alimentar na ociosidade soldados que poderiam um dia oprimir a liberdade do povo e ameaar mesmo a autoridade legtima do soberano. As legies romanas disso fornecem grande exemplo. Este feliz mtodo de uma repblica livre, o costume de formar todos os cidados no ofcio da guerra, torna o Estado respeitvel no exterior, sem oner-lo de um vcio interno. Esse mtodo teria sido em toda a parte imitado, se em toda a parte houvesse como nico objetivo o bem pblico. Eis o suficiente sobre princpios gerais, pelos quais pode-se julgar da justia de uma guerra. Aqueles que adotarem

o DlRE1TO DAS GENTES

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esses princpios, e que tiverem idias justas sobre os diversos direitos das Naes, aplicaro facilmente essas regras aos casos particulares.
CAPTUl.O

IV

Da declarao de guerra, e da guerra formal

51: DECLARAO DE GUERRA E SUA NECESSIDADE: somente como um remdio contra a injustia que as Naes tm o direito de fazer guerra, que assim o resultado de uma infeliz necessidade. Este remdio to terrvel em seus efeitos, to desastroso humanidade, to prejudicial mesmo para aquele que o utiliza, que a lei natural somente o permite como ltimo recurso, isto , quando a justia no pode ser obtida de nenhum outro modo. Foi demonstrado, no captulo precedente, que para serem autorizados a recorrer s armas, necessrio: 1) Que tenhamos justo motivo de queixa; 2) Que nos tenha sido recusado satisfao razovel; 3) Enfim, que o dirigente de uma Nao, como temos observado, deve cuidadosamente considerar se convm ao bem do Estado buscar o seu direito pela fora das armas. Mas isto no o bastante. Como possvel que o temor presente de nossas armas cause impresso na mente de nosso adversrio e o obrigue a nos fazer justia, devemos ainda em respeito humanidade, e acima de tudo ao sangue e tranqilidade dos cidados, declarar a essa Nao injusta, ou ao seu dirigente, que iremos enfim recorrer ao remdio final e fazer uso de fora aberta para conduzi-lo razo. Isto o que se chama declarar guerra. Tudo isso est compreendido na maneira de proceder dos romanos, regulamentada em seu direito.fecia!. Eles enviavam primeiramente o chefe dos jeciais ou arauto de armas, chamado pater palratus, pedir satisfao ao povo que os tinha ofendido e se depois do intervalo de trinta e trs dias, esse povo no desse resposta adequada, o arauto tomaria os deuses como testemunhas da injustia e retornaria para dizer aos romanos cuidarem do que teriam a fazer. O rei, e depois o cnsul, pedia parecer do senado e, decidida a guerra, o arauto era

440

VA1TEL

mandado de volta fronteira para declar-lav'. surpreendente encontrar entre os romanos conduta to justa, to equilibrada e to sbia, numa poca em que parece que no deveramos deles esperar seno coragem e ferocidade. Um povo que tratava a guerra to religiosamente lanava fundamentos bem slidos de sua grandeza futura.
A DECLARAAo DEVE CONTER: Visto que a declarao 52: O de guerra necessria como um ltimo esforo para finalizara controvrsia sem derramamento de sangue, e desde que se usa o medo para trazer o inimigo a sentimentos mais justos, a declarao, ao mesmo tempo em que proclama a resoluo de ir guerra, deve estabelecer o motivo pelo qual se recorre s armas. Esta a prtica constante das potncias europias atualmente.

53: A DECLARAO SIMPLES OU CONDICIONAL: Quando a justia tem sido demandada em vo, pode-se chegar declarao de guerra, que nesse caso pura e simples. Mas se for julgado adequado, para evitar a repetio, pode-se juntar demanda do direito, do que os romanos chamavam rerum repetitio, uma declarao de guerra "condicional" pela qual se anunciava que se iria guerra se no se obtivesse pronta satisfao da controvrsia em questo. E ento no seria ainda necessrio declarar a guerra pura e simplesmente; a declarao condicional seria suficiente, se o inimigo no desse satisfao imediata. 54: O
DIREITO DE FAZER A GUERRA CESSA PERANTE DE

Se, aps uma ou outra declarao de guerra, o inimigo oferece condies eqitativas de paz, deve-se abster da guerra pois, to logo nos feita justia, perdemos o direito de usar a fora, a qual somente permitida quando necessria para manter os nossos direitos. Bem entendido, as ofertas devem ser acompanhadas de garantia pois ningum obrigado a deixar-se iludir por propostas vazias.
EqITATIVAS:
(5)

TIT. UY., Lib. I, capo XXXII.

o DIREITO

441

A f de um soberano garantia suficiente e com ela deve-se satisfazer, enquanto ele no for conhecido como prfido. Quanto s condies propriamente ditas, pode-se, alm do principal, pedir o reembolso das despesas feitas com a preparao para a guerra. DE GUERRA: A declarao de guerra deve ser conhecida daquele a quem ela se enderea. Isto tudo que o direito natural requer. No entanto, se o costume nela introduziu certas formalidades, as Naes que, pela adoo desse costume tm dado consentimento tcito a essas formalidades, so obrigadas a observ-las, enquanto no tenham renunciado a elas publicamente (Preliminares, 26). Outrora, as potncias europias enviavam arautos ou embaixadores, para a declarao da guerra; atualmente, elas se contentam em anunci-la na capital, nas principais cidades, ou nas fronteiras. Manifestos so divulgados e a comunicao, ora to rpida e fcil desde o estabelecimento do servio postal, transmite logo a notcia da declarao por toda a parte.

55: FORMALIDADES DA

56:

QUE TORNAM A

NECESSRIA: Em

acrscimo s razes acima deduzidas, a publicao da declarao de guerra necessria para a instruo e guia dos prprios sditos, com o intuito de fixar a data dos direitos que lhes pertencem em virtude da declarao e relativamente a certos efeitos que o direito das gentes voluntrio atribui guerra formal. Sem esta declarao pblica de guerra, seria muito difcil determinar no tratado de paz, atos que devem ser considerados como conseqncias da guerra e aqueles que cada Nao pode entender como danos, para exigir-lhes a reparao. No recente tratado de Aix-la-Chapelle, entre Frana e Espanha de um lado, e a Inglaterra de outro, convencionou-se que todas as presas feitas por uma e outra parte, antes da declarao de guerra, seriam restitudas.

57: A GUERRi\

Aquele que

atacado e somente faz uma guerra defensiva no precisa declar-la, pois a declarao do inimigo ou suas hostilidades abertas so suficientes

442 para estabelecer um estado de guerra. No entanto, o soberano agredido no deixa hoje tambm de declarar guerra, seja por dignidade, seja para orientao de seus sditos. CASO OMITIR NUMA Se a Nao contra a qual se decidiu fazer a guerra no quer admitir nem embaixador, nem arauto para declar-la, pode-se, qualquer que seja alis o costume, contentar-se em public-la, em seus prprios Estados ou na fronteira e se a declarao no chegar ao conhecimento daquela Nao antes do incio das hostilidades, essa Nao no pode acusar seno a si mesma. Os turcos aprisionavam e mesmo maltratavam os prprios embaixadores daquelas potncias contra as quais eles decidiam romper relaes; seria correr um grande risco para um arauto ir a eles para declara-lhes a guerra. A crueldade deles dispensava o Estado da necessidade de envi-los.

58: EM

59: PODE OMITIR POR MOTIVO Mas visto que ningum dispensado do seu dever pelo mero fato de que outrem no tenha cumprido o dele, no podemos nos dispensar de declarar guerra a uma Nao antes de dar incio s hostilidades pela razo de que, em outra ocasio, ela tenha nos atacado sem declarao de guerra. Esta Nao violou ento a lei natural (51), e a sua transgresso no nos autoriza a cometer transgresso semelhante.
60: Do O direito das gentes no impe a o tempo para preparar-se obrigao de declararguerra para deixar ao para uma defesa injusta. Assim, permitido fazer a declarao somente quando se chega fronteira com o exrcito, e mesmo depois que se tenha entrado no territrio do inimigo e que nele tenha ocupado uma posio vantajosa, todavia antes de se cometer qualquer ato de hostilidade. Pois dessa maneira preserva-se a prpria segurana e ao mesmo tempo atinge-se o objetivo da declarao de guerra, que o de dar a um adversrio injusto a oportunidade de considerar seriamente a

o DIREITO

GENTES

443

sua conduta e de evitar os horrores da guerra e de fazer justia. O generoso Henrique IV agiu assim em relao a Carlos Emanuel, duque de Savia, que lhe tinha esgotado a pacincia com negociaes vs e fraudulentas.

61: DEVER DOS HABITANTES NO INGRESSO DE EXRCITO ESTRANGEIRO DE DECLARAO DE Se aquele que entra em territrio estrangeiro com um exrcito mantido sob disciplina estrita, declara aos habitantes que no os considera inimigos, que no cometer atos de violncia e que far conhecer ao soberano a causa de sua vinda, os habitantes no devem atac-lo, e se ousarem faz-lo, ele tem o direito de puni-los. Bem entendido que no se lhe permitir entrar em fortificaes e que ele no pode requisit-las. Os sditos no devem iniciar as hostilidades sem ordens do soberano. Mas se forem corajosos e fiis, eles ocuparo, na expectativa, as posies vantajosas e se defendero em caso de uma tentativa de expuls-los. 62: INCIO HOSTILIDADES: Depois que esse soberano, recentemente ingressado no pas, declarou a guerra e se condies eqitativas no lhe forem prontamente oferecidas, ele pode comear as suas operaes. Pois ele no est l para divertir-se. Mas na aplicao dessas regras, no devemos nunca perder de vista os princpios estabelecidos acima (. 26 e 51) concernentes s nicas causas legtimas da guerra. Conduzir-se com um exrcito dentro de um pas vizinho, do qual no se est ameaado e sem haver tentado obter pela razo e justia, uma indenizao eqitativa dos danos que se pretende alcanar, seria introduzir um mtodo funesto humanidade e subverter os fundamentos da segurana e da tranqilidade das Naes. Se essa maneira de proceder no for proscrita pela indignao pblica e o concerto dos povos civilizados, ser necessrio permane-cer armado e manter-se prevenido tanto em plena paz como numa guerra declarada. 63:
NO EM SDITOS DO INIMIGO (;UERRA: O soberano

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VArrEL

que declara guerra no pode reter os sditos do inimigo que estejam em seus Estados no momento da declarao, nem tambm os seus bens. Eles foram l em razo de f pblica; ao permitir-lhes entrar no seu territrio e nele permanecer, ele tacitamente lhes prometeu total liberdade e segurana para o retorno. Ele deve, pois, consignar-lhes um tempo conveniente para que se retirem com seus bens e se eles l permanecerem alm do tempo prescrito, ele tem o direito de trat-los como inimigos, porm como inimigos desarmados. Mas se eles so retidos por um impedimento intransponvel, por uma doena, ele deve necessariamente, e pelas mesma razes, conceder-lhes um justo adiamento. Atualmente, longe de faltar a esse dever, e por motivos de humanidade, concede-se freqentemente aos estrangeiros, sditos do Estado ao qual se declarou guerra, tempo necessrio para resolverem os seus negcios. Esta prtica observada especialmente com respeito aos comerciantes e tambm cuidadosamente prevista nos tratados de comrcio. O rei da Inglaterra fez mais do que isso: em sua ltima declarao de guerra contra a Frana, ele determinou a todos os franceses que se encontravam ainda em seu territrio que poderiam nele permanecer com inteira segurana a suas se comportassem como se deve. pessoas e a seus bens, contanto que 64: PUBLICIDADE DA GUERRA. MANII:ESTOS: J dissemos (56) que o soberano deve publicar a declarao de guerra em seu territrio para a instruo e orientao de seus sditos. Ele deve tambm notificar s potncias neutras a sua declarao de guerra, com o intuito de inform-las sobre os motivos de sua ao, as causas que o obrigam a pegar em armas, que esse ou aquele povo seu inimigo, a fim de que elas possam se orientar em conseqncia. Veremos mesmo que isso necessrio para evitar toda dificuldade, quando trataremos do direito de arrestar certos bens que pessoas neutras conduzem ao inimigo, em tempo de guerra, o que chamamos de contrabando. Esta publicidade da guerra poderia ser chamada de declarao; e de denncia aquela notificada diretamente ao inimigo como, com efeito, ela se denomina em latim: denunciatio bel/i.

o DIREITO DAS GENTES

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Atualmente a guerra declarada e notificada por meios de manifestos. Estes no deixam de conter as razes que a justificam, boas ou ms, nas quais se indicam os fundamentos do recurso s armas. O menos escrupuloso sempre deseja ser considerado justo, correto e amante da paz; ele entende que uma reputao contrria poder-lhe-ia ser danosa. O manifesto que incorpora a declarao de guerra, ou, se se quiser, a prpria declarao, publicada, impressa, e difundida em todo o Estado, contm igualmente ordens gerais que o soberano d aos seus sditos com respeito guerra. 65: DECNCIA E MODERAC;O A SEREM PRESERVADAS NOS MANIFESTOS: necessrio, num sculo civilizado, observar que em documentos que se publicam relativos guerra, deve-se abster de toda expresso injuriosa que indique sentimentos de dio, animosidade e fria que so adequados somente para exercitar sentimentos semelhantes no corao do inimigo. Um prncipe deve preservar a mais nobre decncia em suas palavras orais e escritas; ele deve respeitar-se na pessoa de seus semelhantes. Se ele tiver o infortnio de ter controvrsia com uma Nao, deveria ele envenen-la com expresses ofensivas e subtrair toda esperana de reconciliao sincera? Heris de Homero tratavam-se uns aos outros de "bbado" e de "co", tambm faziam a guerra ao extremo. Frederico Barbaroxa, outros imperadores e os papas seus inimigos, no se comportaram melhor. Felicitemo-nos por nossos costumes mais gentis e humanos, e no consideremos como polidez vazia procedimentos de conseqncias bastante reais. 66: O A GUERRA LEGTIMA E QUAIS AS SUAS FORMAS: Essas formalidades, cuja necessidade deduzida dos princpios e da prpria natureza da guerra, caracterizam a guerra legtima e formal bel/um). Grcio'" diz que duas cousas so necessrias para que uma guerra
Vide GRCIO, Droit dela Guerre et dela Paix, Liv, III, capo VIII, IV.

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seja solene, ou formal, de acordo com o direito das gentes: Primeiro, que seja feita, de ambos os lados, pela autoridade do soberano; segundo, que seja acompanhada por certas formalidades. Estas formalidades consistem na demanda de uma justa satisfao (rerum repetitio) e na declarao de guerra, pelo menos por parte daquele que ataca, pois a guerra defensiva no tem necessidade de uma declarao (57), nem mesmo em ocasies urgentes, de uma ordem expressa do soberano. De fato, essas duas condies so necessrias para uma guerra legtima de acordo com o direito das gentes, isto , a que as Naes tm o direito de fazer. O direito de fazer a guerra cabe somente ao soberano (4). somente quando se lhe recusa satisfao (37), e mesmo depois de ter declarado guerra (51), que ele tem o direito de recorrer s armas. Chama-se tambm a guerra formal uma guerra regulamentada, porque nela se observam certas regras, ou prescritas pela lei natural, ou sancionadas pelo costume. 67: DISTINGUI-LA DA GUERRA INFORMAL E ILEGTIMA: A guerra legtima e formal deve ser cuidadosamente distinguida das guerras informais e ilegtimas, ou melhor, dessas pilhagens que so feitas sem autoridade legtima ou sem causa aparente, igualmente sem formalidades, e somente com o objetivo de saquear. Grcio IH, Capo IH) relata muitos exemplos desses casos. Deste carter foram as expedies das grandes companhias que se formaram na Frana durante as guerras contra os ingleses: exrcitos de bandoleiros, que varriam a Europa para saque-la. Tais foram as excurses dos jlibusteiros, sem comisso e em tempo de paz e tais em geral so os ataques dos piratas. Nesta classe devem ser includas quase todas as expedies dos corsrios de Barhria; embora autorizadas por um soberano, elas so feitas sem nenhum objetivo aparente a no ser apenas com a finalidade de conseguir butim. preciso distinguir, digo, estas duas espcies de guerra, legtimas e ilegtimas, porque elas produzem efeitos e do margem a direitos muito diferentes.

o DIREITO DAS GENTES

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68: FUNDAMENTO DESSA DISTINO: Para bem entender o fundamento dessa distino, necessrio recordar a natureza e o objetivo da guerra legtima. A lei natural somente a permite como um remdio contra a injustia contumaz. Da os direitos que ela confere, como explicaremos mais tarde; da tambm as regras que se deve observar. E como igualmente possvel que uma ou outra parte tenha razo, e como conse-qncia da independncia das Naes (40), ningum pode decidir a respeito, a condio dos dois inimigos a mesma, enquanto a guerra perdurar. Assim, quando uma Nao ou um soberano declarou a guerra a outro soberano por causa de uma controvrsia existente entre eles, essa guerra o que se chama entre as Naes uma guerra legtima e formal e, como iremos mostrar detalhadamente, os efeitos dela so os mesmos para ambas as partes em virtude do direito das gentes voluntrio, independentemente da justia da causa. Nada disso ocorre na guerra informal e ilegtima, que mais propriamente chamada de banditismo. Empreendida sem direito nenhum, e mesmo sem motivos aparentes, ela no pode produzir efeito legtimo, nem conferir quaisquer direitos ao seu autor. A Nao, atacada por desta espcie, no est obrigada a observar em relao a eles as regras prescritas para uma guerra formal; ela pode trat-los como bandidos. A enforcou como ladres os cidade de Genebra escapou da famosa prisioneiros saboianos, que vindo atac-la sem causa e sem declarao de guerra. Ela no foi censurada por uma ao que teria sido condenada no caso de uma guerra formal.
CAPTULO

Do inimigo e da propriedade inimiga

69: O QUE (, O INIMIGO: Um inimigo aquele com o qual estamos em guerra aberta. Os latinos tinham um termo especial (hostis) para designar um inimigo pblico, e eles o distinguiam de um inimigo privado (inimicus). Nosso idioma tem somente um termo para essas categorias de pessoa, as quais entretanto devem ser cuidadosamente distinguidas.

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VATIEL

o inimigo privado aquele que busca o nosso mal e nisso tem prazer.
O inimigo pblico alegapretenses contra ns, ou recusa as nossas prprias pretenses, e respalda os seus direitos, reais ou pretendidos, pela fora das armas. O primeiro nunca inocente; ele alimenta no seu corao a animosidade e o dio. possvel que o inimigo pblico possa ser livre ,de tais sentimentos de dio, que ele no nos deseje mal, que procure apenas sustentar os seus direitos. Esta observao necessria com o intuito de regrar as disposies de nossos coraes acerca de um inimigo pblico.

70:

>s ()S SLIDITOS DOS DOIS ESTAD( >S BEIJGERANTES SO INIl\1lGOS:

Quando o dirigente do Estado, o soberano, declara guerra a outro soberano, compreensvel que toda a Nao declare guerra a outra Nao uma vez que o soberano representa a Nao e age em nome de toda a sociedade I, s. 40 e 41), e somente como um corpo, como uma unidade, que as Naes tm relaes mtuas. Estas duas Naes so assim inimigas e todos os sditos de uma Nao so inimigos de todos os sditos da outra. A este respeito, o costume est de acordo com os princpios.

71: ESSES SDITOS PERMANECEM COMO INIl\1lGOS

EM TODOS OS LU(jARES:

Os inimigos permanecem como tais, onde quer que se encontrem. O lugar de residncia em que se encontrem neste caso no importa; os elos polticos que lhes determinam a qualidade. Enquanto um homem permanece cidado do seu pas, ele um inimigo daqueles com quem a sua Nao est em guerra. Mas no devemos da inferir que esses inimigos possam ser tratados como tais onde quer que se encontrem. Visto que cada qual dono em sua casa, um prncipe neutro, sendo senhor de seu prprio territrio, no lhes permitir usar de violncia em suas terras.

72: SE AS MULHERES

E AS CRlAN(;AS SE INCLUEM ENTRE OS INIMIGOS:

Desde que as mulheres e as crianas so sditos do Estado e membros

o DIREIT<) DAS

449

da Nao, elas devem ser contadas entre os inimigos. Mas isto no significa que elas devam ser tratadas como os homens que manejam armas ou que so capazes de faz-lo. Veremos que no existem os mesmos direitos contra todas as espcies de inimigos.

73: DAS COUSAS

A()

Desde que se determinou

precisamente quem so os inimigos, fcil conhecer quais as cousas que lhes pertencem (res hostiles). Temos mostrado que no somente o soberano com quem estamos em guerra o inimigo, mas tambm toda a sua Nao, incluindo as mulheres e as crianas; tudo o que pertence a essa Nao, ao Estado, ao soberano, aos sditos de toda idade e sexo, tudo isso, digo, est includo, pois, entre as cousas pertencentes ao inimigo.

74: ELAS

COMO TAIS EM TODA PARTE: O mesmo ocorre

aqui com as pessoas. Os bens pertencentes ao inimigo permanecem como tais, onde quer que se encontrem. Donde no devemos concluir, no mais que em relao s pessoas (71), que temos o direito de trat-los em toda a parte como cousas pertencentes ao inimigo.

75: DAS COUSAS NEUTRAS

SE ENCONTRAM NO TERRlTR]O

Visto que a natureza de uma cousa no determinada pelo lugar onde se encontre, mas pela qualidade da pessoa a quem ela pertence, os bens situados em territrio inimigo ou em navios inimigos, mas pertencentes a pessoas neutras, devem ser diferenciados daqueles que pertencem ao inimigo. Mas compete ao proprietrio provar claramente que esses bens lhe pertencem pois, na falta dessa prova, presume-se naturalmente que uma cousa pertence Nao onde ela se encontra.

76: Dos l'UNDOS POSSUDOS POR

EM PAS

pargrafo precedente refere-se a bens mveis. A regra diferente em relao a imveis. Como todos eles pertencem de algum modo Nao, sendo parte de seus domnios, de seu territrio, e sob o seu imprio (Livro

r, . 204, 235; Livro lI, 114), e

como o possuidor sempre

450

VATrEL

sdito do pas, em sua qualidade de possuidor do imvel, os bens dessa natureza no cessam de ser bens inimigos (res hostiles), embora sejam possudos por um estrangeiro neutro. Hoje, entretanto, quando a guerra feita com moderao e considerao, salvaguardas so dadas s terras e casas que estrangeiros possuem em pases inimigos. Pela mesma razo, um soberano que declara guerra no confisca os bens imveis possudos em seu territrio por sditos de seu inimigo. Em lhes permitindo adquirir e possuir esses bens, ele os incluiu, a esse respeito, no nmero de seus sditos. Mas ele pode seqestrar os rendimentos desses bens e impedir que sejam transferidos ao inimigo. 77: DAS COUSAS DEVlDAS POR TERCEIROS AO INIMIGO: Entre as causas pertencentes ao inimigo, incluem-se bens incorpreos, direitos, ttulos e dbitos, com a exceo, entretanto, daqueles direitos concedidos por terceiros, e que ao inimigo interessam, de modo que no lhe indiferente saber por quem eles so possudos, como, por exemplo, os direitos de comrcio. Mas como os nomes e aes, ou as dvidas ativas, no esto nessa categoria, a guerra nos d sobre quantias em dinheiro, que os pases neutros possam dever ao nosso inimigo, os mesmo direitos que a guerra nos concede aos demais bens. Alexandre, vencedor e senhor absoluto de Tebas, presenteou os tessalnicos com cem talentos que esses deviam aos tebanos. O soberano tem naturalmente o mesmo direito sobre o que os seus sditos possam dever ao inimigo. Ele pode assim confiscar os dbitos dessa natureza, se o vencimento do pagamento vier a ocorrer no perodo da guerra; ou pelo menos, pode proibir os seus sditos de pagar tais dbitos enquanto a guerra durar. Mas hoje, o interesse e a segurana do comrcio tm induzido todos os soberanos da Europa a afrouxarem esse rigor. Uma vez que este uso tem sido geralmente acolhido, aquele que o transgride fere a f pblica; pois os estrangeiros no tm confiado em seus sditos seno na firme convico de que o uso geral seria observado. O Estado nem se envolve com as somas devidas ao inimigo; em toda a parte, em caso de guerra, os fundos confiados ao pblico so isentos de confisco e de arresto.

o DIREITO DAS GENTES

CAPTULO

451
VI

Dos aliados do inimigo, das ligas de guerra, dos auxiliares e dos subsdios
78: Dos TRATADOS RELATIVOS GUERRA: Temos discutido suficientemente tratados em geral, e no tocaremos aqui nesse assunto exceto no concernente guerra. Tratados referentes guerra so de vrias espcies, e mudam em seus objetivos e em suas clusulas, de acordo com a vontade daqueles que os fazem. Tudo o que dissemos sobre tratados em geral deve ser aqui considerado liminarmente (Livro II, Capo XII e segs.) e eles podem, igualmente, ser divididos em reais e pessoais, iguais e desiguais, etc. Mas eles so tambm especificamente diferentes, ao se relacionarem com o seu objeto particular: a guerra. 79: DAS ALIANAS OFENSIVAS E DEFENSIVAS: Em relao guerra, alianas so classificadas geralmente em defensivas e ofensivas. Nas primeiras, compromete-se meramente em defender o aliado, no caso deste ser atacado; nas segundas, une-se ao aliado com o intuito de atacar outra Nao. Algumas alianas so tanto ofensivas como defensivas e raramente ocorre que uma aliana ofensiva deixe de ser defensiva tambm. Mas alianas puramente defensivas so bastante comuns, e elas so em geral as mais naturais e mais legtimas. Seria demasiado longo e mesmo intil rever em pormenor todas as variedades dessas alianas. Algumas so feitas contra todos os inimigos sem restrio; outras excetuam determinados Estados; outras so feitas nomeadamente contra esta ou aquela Nao. 80: DIFERENAS ENTRE LIGAS DE GUERRA E TRATADOS DE SOCORRO: Mas importante notar cuidadosamente a diferena, especialmente no caso de alianas defensivas, entre uma aliana ltima e completa, na qual as partes concordam em fazer causa comum, e uma aliana na qual os aliados meramente prometem um ao outro determinado apoio. A

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VArrEL

aliana na qual os aliados fazem causa comum uma de guerra; cada qual coopera com todas as suas foras; todos os aliados tomam-se partes principais na guerra e todos tm os mesmos amigos e os mesmos inimigos. Mas quando uma aliana deste tipo ofensiva, ela mais particularmente chamada liga de guerra. 81: DAS TROPAS Quando um soberano, sem tomar parte direta numa guerra empreendida por outro soberano, envia apenas ajuda na forma de tropas ou navios de guerra, essas tropas ou navios so chamados auxiliares. Tropas auxiliares servem, de acordo com as ordens do seu soberano, ao prncipe para quem so enviadas. Se elas lhe forem enviadas pura e simplesmente sem restries, serviro igualmente para a guerra defensiva e ofensiva, e devem obedecer, quanto direo e aos pormenores das operaes, ao prncipe que vieram socorrer. No entanto, elas no esto disposio livre e completa do prncipe, como se fossem seus sditos. Elas lhes so enviadas somente para as guerras do prprio prncipe, e este no tem o direito de envi-las como auxiliares a uma terceira potncia. 82: Dos SUBSDIOS: Algumas vezes esse apoio de uma potncia que no toma parte direta na guerra consiste em dinheiro, o qual ento chamado subsdio. Atualmente o termo , com freqncia, tomado num outro sentido e significa uma soma em dinheiro que um soberano anualmente paga a outro em recompensa por um corpo de tropas que este lhe fornece em suas guerra, ou que mantm disposio para o seu servio. Os tratados pelos quais se estipula semelhante recurso so chamados tratados de subsdio. A Frana e a Inglaterra tm tido freqentes tratados desse tipo com vrios prncipes do Norte e da Alemanha e os mantm mesmo em tempos de paz. 83: COMO SE PERMITE AUMA NAAo PRESTAR SOCORRO AUMA OUTRA: Com o intuito de apreciar agora a moralidade desses diversos tratados

DAS

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ou alianas, a sua legitimidade de acordo com direito das gentes e a maneira pela qual devem ser executados, preciso preliminarmente e louvvel socorrer e assistir formular este princpio incontestvel: de todos osmodos uma Nao quefaz uma justa; e mesmo essa assistncia um dever para toda a Nao quepossa d-Ia sem se a si mesma. Mas nenhuma assistncia pode ser dada quela que faz uma guerra injusta. No h nada aqui que no seja demonstrado por tudo o que temos 11, Capo dito acerca dos deveres comuns e recprocos das Naes 1). sempre recomendvel sustentar o bom direito quando se pode; mas ajudar o injusto participar de seu crime, ser injusto como ele. PARA A (;UERRA: Se, ao princpio que 84: E acabamos de estabelecer, for adicionada a considerao do que uma Nao deve sua prpria segurana, os cuidados que lhe so to natural e conveniente tomar para pr-se em condio de resistir aos seus inimigos, ser mais facilmente percebido o quanto ela tem o direito de fazer alianas em vista da guerra, e sobretudo alianas defensivas cujo objetivo o de manter cada Nao na posse do que lhe pertence. Mas uma Nao deve usar de grande cautela ao fazer tais alianas. Compromissos que podem conduzi-la guerra num momento em que ela pouco cogitasse dessa guerra, somente devem ser assumidos por motivos muito importantes e em vista do bem do Estado. Referirnos-emos aqui a alianas que so feitas em tempos de paz e por precauo para o futuro. COM UMA NAAo ATUALMENTE EM 85: DAS ALIANAS Se for questo de contrair aliana com uma Nao j engajada na guerra, ou prestes a nela se engajar, duas cousas devem ser consideradas: 1 As razes justas da guerra desta Nao; O bem do Estado. Se a guerra que um prncipe est fazendo, ou que pretende fazer, injusta, no permitido entrar em aliana com ele, porque no se pode apoiar a injustia. Mas suponha-se que esse prncipe tenha bons motivos para ir guerra; cabe ainda considerar se o bem do Estado permite ou aconselha

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a participar da disputa desse prncipe. Pois o soberano no deve fazer uso da sua autoridade seno para o bem do Estado. para este firn que todos os seus procedimentos, especialmente os mais importantes, devem conduzir. Que outra considerao poderia autoriz-lo a expor a sua Nao s calamidades da guerra? 86: CLUSUlA TCTIAEM TODA AIlANA DE GUERRA: VISto que uma Nao pode apenas dar apoio ou aliar-se para uma guerra justa, toda aliana, toda liga de guerra, todo tratado de assistncia, feito antecipada-mente em tempo de paz, e que no tem em vista nenhuma guerra em particular, contm necessariamente e por si mesmo esta clusula tcita: a de que o tratado no ter lugar seno para uma guerra justa. A aliana no poderia ser contratada de forma vlida em outra base (Livro 11, 161 e 168). Mas preciso ter cuidado para no reduzir tratados de aliana a formalidades vazias e ilusrias. A restrio tcita somente diz respeito a uma guerra evidentemente injusta, de outro modo no faltariam pretextos para eludir o tratado. Tratando-se de vos aliar a uma potncia que est hoje em guerra, deveis conscientemente pesar a justia de sua causa; a deciso depende unicamente de vs, porque vs no lhe deveis nada, depende apenas de serem justas as suas armas e de vos ser conveniente unir-se a essa potncia. Mas quando j estais a ela associado, podeis somente ser excusado de ajud-la quando a causa dela claramente injusta. Em caso duvidoso, deveis presumir que o vosso aliado tem direitos, desde que a guerra de sua competncia. Mas se tendes dvidas srias, vos permitido - o que ser louvvelintermediar negociaes. Podereis assim descobrir de que lado o direito est, ao identificar qual dos adversrios se recusa a aceitar condies eqitativas. 87
UMA ALIANA: APOIO A UMA GUERRA INJUSTA NO SIGNIFICA ROMPER

Visto que todo tratado de aliana contm a clusula tcita acima mencionada, aquele que recusa assistir o seu aliado numa guerra claramente injusta no rompe essa aliana.

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88: EM QUE CONSISTE O

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Quando alianas tm sido assim contratadas antecipadamente, trata-se, na ocasio, de determinar em conseqncia da aliana, casos em que os casos em que se deve a fora dos compromissos se aplica: o caso de aliana chamada de casas foedens. Ele se encontra no concurso das circuns-tncias pelas quais o tratado foi feito, sejam estas circunstncias nele expressamente assinaladas, sejam nele tacitamente implcitas. Somente quando ocorrer o casasfoederis que as promessas feitas no tratado de aliana so devidas.

89: ELE NUNCA EXISTE NO CASO DE UMA GUERRA INJUSTA: Desde

que os mais solenes tratados no podem nos obrigar a favorecer armas injustas (86), o casus foederis nunca existe onde a injustia da guerra evidente. Numa aliana defensiva, o casusfoederis no ocorre no momento em que nosso aliado atacado. Deve-se considerar ainda se ele deu motivos justos ao inimigo para fazer-lhe a guerra. Pois ao concordar em defend-lo, no se pretende p-lo em condies de ofender outros ou de recusar-lhes justia. Se ele estiver numa posio injusta, preciso induzi-lo a oferecer satisfao razovel e se seu inimigo no quiser aceit-la, surge ento a obrigao de defend-lo. DE GARANTIA: Mas se a aliana defensiva contm uma garantia acerca de todas as terras que o aliado atualmente possui, o casus foederis se configura desde que essas terras sejam invadidas ou ameaadas de invaso. Se algum as ataca por uma causa justa, devese obrigar o aliado a dar a devida satisfao, mas estamos justificados em no permitir que as suas terras lhe sejam tomadas; pois ocorre com mais freqncia que elas so dadas em garantia para a prpria segurana do nosso aliado. De resto, as regras de interpretao que temos dado em captulo separado (Livro II, capo XVII) devem ser consultadas para determinar, em dada ocasio, a existncia do casus foederis.

90: QUANDO ESSE CASO EXISTE NUMA GUERRA

91: E NUM

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VATIE\.

92: No SE DEVE SOCORRO QUANDO NO SE TEM DE FORNEC-LO OU QUANDO ASEGURANA PBLICA CORRER RISCO: Se o Estado que prometeu socorro encontra-se incapaz de d-lo, ele dispensado dessa obrigao em razo de sua prpria impossibilidade. Essa dispensa tambm ocorre se a prestao desse socorro lhe acarreta perigo evidente. Tal ocorreria no caso de tratado pernicioso ao Estado, o qual no obrigatrio (Livro II, 160). Mas estamos falando aqui de um perigo eminente e que ameaa a prpria segurana do Estado. O caso de semelhante perigo est necessria e tacitamente reservado em todo o tratado. Quanto a perigos distantes ou de menor monta, como eles so inseparveis de toda aliana feita em vista da guerra, seria absurdo pretender que eles devessem constituir exceo, e o soberano pode expor a sua Nao em troca de vantagens oferecidas pela aliana. Em virtude desses princpios, aquele Estado est dispensado de enviar ajuda ao seu aliado, que se encontra numa guerra que lhe demanda todo o seu empenho. Se ele for capaz de fazer face a seus inimigos e, ao mesmo tempo, socorrer o seu aliado, ele no tem razo para excusar-se dessa ajuda. Mas em tais casos, compete a cada qual julgar o que a sua situao e as suas foras lhe permitem fazer. O mesmo ocorre com outras cousas que se pode ter prometido, como vveres, por exemplo; no se obrigado a fornec-los para um aliado quando delas se necessita para SI mesmo. 93: SOBRE OUTROS CASOS E SOBRE AQUELE EM QUE AGUERRA FEITA ENTRE DOIS CONFEDERADOS DA MESMA ALIANA: No repitamos aqui o que dissemos de outros casos, ao falar de tratados em geral, do significado a ser dado ao termo "aliados" num tratado onde eles so considerados 309) como, por exemplo, o da preferncia devida ao mais antigo aliado (Livro II, 369) e a um protetor (ibid., 204). Acrescentemos apenas, sobre esta questo, que em uma aliana para a guerra, que se faz em contra todos, resertados osaliados, a exceo para ser compreendida somente em relao aos aliados presentes. De outro modo, seria fcil,

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seguidamente eludir o antigo tratado por novas alianas. No se saberia nem o que se faz e nem o que se ganha ao concluir semelhante tratado. O seguinte caso no foi ainda mencionado: um tratado de aliana defensiva existe entre trs potncias; duas delas se desentendem e se guerreiam; o que deve fazer a terceira? Ela no deve apoio nem a uma, nem a outra, em virtude do tratado. Seria absurdo dizer que ela prometeu ajuda a cada uma contra a outra, ou uma das duas em detrimento da outra. A aliana assim no lhe impe outra obrigao seno a de interpor bons ofcios para reconciliar os seus aliados e se ela no tiver xito nesse esforo, ela tem a liberdade de ajudar o aliado que lhe parea ter a justia a seu lado. 94: DAQUElE QUE RECUSAAP()j()S DEVID<)S EM VIRTUDE DE UMA AUAN(;A: Recusar a um aliado a ajuda que lhe devida, quando no h boa razo para dela se dispensar, significa fazer-lhe uma injria, porque uma violncia ao direito perfeito que lhe foi dado em compromisso formal. Eu falo dos casos evidentes. E apenas nesses casos em que o direito perfeito; pois nos casos duvidosos cada um juiz do que lhe cabe fazer (92). Mas ele deve julgar com bom fundamento e agir de boa f. Como estamos naturalmente obrigados a reparar o dano causado por nossa falta, especialmente por ato injusto, somos obrigados a indenizar um aliado por todas as perdas que uma recusa injusta pode lhe ter causado. Quanto cautela, necessrio assumir compromissos aos quais no podemos faltar mas sem abrir uma lacuna significativa em nossos negcios ou em nossa honra e cujo cumprimento no traga conseqncias mais srias. 95: Auxoos DC) INIt>1JG():Trata-se de compromisso muito importante aquele que pode conduzir a uma guerra: nele compromete-se nada menos que a preservao do Estado. Aquele que promete numa aliana, subsdio, ou um corpo de auxiliares, s vezes pensa no arriscar seno uma soma de dinheiro ou um certo nmero de soldados; ele se expe com freqncia guerra e a todas as suas calamidades. A Nao contra a qual ele d ajuda o olhar como seu inimigo, e se a sorte das armas

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favorece essa Nao, ela levar a guerra contra ele. Mas cabe considerar se ela pode faz-lo com justia e em que ocasies. Alguns autores'?' estabelecem como regra geral que quem quer que se junta a nosso inimigo, ou o ajuda contra ns com dinheiro, tropas, ou de qualquer outra maneira que seja, torna-se assim nosso inimigo e ns d o direito de fazer-lhe a guerra. Deciso cruel e muito prejudicial tranqilidade das Naes. Ela no pode apoiar-se nos princpios e os costumes da Europa a esse respeito, felizmente, mostram-se contrrios. verdade que todo aliado do meu inimigo meu prprio inimigo. Pouco importa que algum me faa a guerra diretamente e em seu prprio nome, ou que a faa sob os auspcios de outrem. Todos os direitos que a guerra me d contra meu inimigo principal ela d tambm contra todos os seus aliados. Esses direitos me so conferidos pelo direito segurana, pelo cuidado com a minha prpria defesa e eu sou igualmente atacado por uns e outros. Mas a questo saber quem so aqueles que eu posso legitimamente contar como associados de meu inimigo, unidos para me fazerem a guerra.

96:

QUE FAZEM CAUSA COrvfUM

ASSOCIADOS DO INIMIGO:

Primeiramente, eu devo contar como aliados de meu inimigo todos aqueles que tm com ele verdadeira liga de guerra, que fazem causa comum com ele, embora a guerra somente seja feita em nome desse inimigo principal. Isto no precisa de provas. Nas ligas de guerra ordinrias e abertas, a guerra feita em nome de todos os aliados, os quais so igualmente inimigos (80).

97:
POR TRATADOS:

o ASSISTEM SEM PARA TANTO SEREM OBRIGADOS

Em segundo lugar, eu conto como aliados de meu inimigo todos aqueles que o ajudam na sua guerra, sem que para isso sejam obrigados por tratado. Desde que eles se declaram contra mim, livre e voluntariamente, eles querem bem ser meus inimigos. Se eles se limitam
(7)

Vide WOLFF,JlIs Gentiio, 73 e 736.

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a dar um apoio determinado, a autorizar a entrega de algumas tropas, a adiantar dinheiro enquanto alis mantm comigo todas as relaes de Naes amigas ou neutras, eu posso dissimular motivos de queixa, mas tenho o direito de pedir-lhes justificativas. Esta precauo, a de no romper sempre abertamente com aqueles que do ajuda a um inimigo, com o intuito de no obrig-los a apoi-lo completamente, este procedimento digo, tem gradualmente dado margem ao costume de no considerar tal assistncia, especialmente quando ela consiste na mera permisso de enviar tropas voluntrias, como um ato de hostilidade. Quo freqentemente tm os suos concedido tropas Frana, ao mesmo tempo que as recusam casa da ustria, embora ambas as potncias lhes sejam aliadas? Quo freqentemente eles as concederam a um prncipe e as recusaram a seu inimigo, sem ter nenhuma aliana nem com um nem com outro? Eles as concediam ou recusavam de acordo com o que achavam conveniente para si prprios. Nunca ningum ousou atac-los por esse motivo. Mas a prudncia, que impede usar todo o seu direito, no subtrai o direito para isso. Prefere-se dissimular em vez de aumentar sem necessidade o nmero de inimigos. 98:0s QUE COM OINIMIGO ALIANA OFENSIVA: Em terceiro lugar, aqueles que, vinculados a meu inimigo por uma aliana ofensiva, o assistem atualmente na guerra que ele me declara, aqueles, digo, concorrem para o mal que se pretende me infligir; eles se mostram meus inimigos e eu tenho o direito de trat-los como tal. Tambm os suos, de quem falamos h pouco, concedem ordinariamente tropas somente para a guerra defensiva. Os que servem na Frana tm sempre sido proibidos por seus soberanos de guerrear contra o imprio ou contra os Estados da casa da ustria, na Alemanha. Em 1644, os capites do regimento de Guy, cidados de Neuchatel, ao saber que tinham sido destinados para servir o marechal Turenne na Alemanha, declararam que preferiam morrer a desobedecer o seu soberano e a violar as alianas da corpo helvtico. Desde que a Frana senhora da Alscia, os suos que lutam em seus exrcitos no cruzam o Reno para

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atacar o imprio. O bravo Daxelhoffer, capito de Berna, que comandava na Frana duzentos homens, cujos quatro filhos constituam a primeira fileira, ao ver que o general desejava for-lo a cruzar o Reno, quebrou a sua espada e reconduziu a sua companhia para Berna. DEFENSIVA SE RELACIONA COM o INIMIGO: Mesmo uma aliana defensiva, concluda especificamente contra mim, ou concluda com o meu inimigo durante a guerra - o que significa a mesma coisa - ou quando ela est em vias de ser declarada, constitui um ato de associao contra mim e se ela produz efeitos, eu tenho o o direito de considerar aquele que a contratou como meu caso daquele que assiste meu inimigo sem estar a isso obrigado, e que quer voluntariamente ser meu inimigo (Ver 97).

99: COMO A

100: OUTRO CASO: A aliana defensiva, embora geral e feita antes

que se cogitasse da guerra presente, produz ainda o mesmo efeito, se ela contempla uma assistncia de todas as foras dos aliados. Trata-se ento de uma verdadeira liga ou liga de guerra. E, paralelamente, seria absurdo que eu no pudesse levar a guerra a uma Nao que se ope a mim com todas as suas foras, e secar a fonte dos socorros que ela d a meu inimigo. O que um auxiliar que me vem fazer a guerra testa de suas foras? Ele est dissimulando ao afirmar no ser meu inimigo. O que mais ele poderia fazer, se declarasse francamente essa qualidade? Ele no cuida de mim, mas ele gostaria de cuidar de si prprio. Posso eu admitir que ele usufrua a paz no seu territrio, protegido de todo o perigo enquanto ele me faz todo o mal que capaz de fazer-me? No, a lei da natureza, o direito das gentes, nos obriga justia, mas no nos condena a ser enganados. 101: EM QUE CASO ELA NAo PRODUZ o MESMO EFEITO: Mas se uma aliana defensiva no foi feita particularmente contra mim, nem concluda no tempo em que eu me preparava abertamente para a guerra, ou que eu j a tinha comeado, e se os aliados tm meramente estipulado que

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cada um deles fornecer apoio determinado quele que ser atacado, eu no posso exigir que eles transgridam um tratado solene, que eles podem certamente concluir sem me fazer injria. A assistncia que eles do ao meu inimigo um dbito que eles pagam; e ao resgat-la eles no me fazem injria e conseqentemente no me do nenhum motivo justo para lhes fazer a guerra (26). Nem eu posso dizer que a minha segurana me obriga a atac-los pois, com isso, eu somente aumentaria o nmero de meus inimigos e atrairia todas as foras dessas Naes em lugar de uma pequena ajuda que elas do contra mim. Somente as tropas auxiliares que eles enviam so meus inimigos. Elas so verdadeiramente associadas a meus inimigos e combatem contra mim. Os princpios contrrios iriam multiplicar guerras e ampli-las irrestritamente para a destruio comum de todas as Naes envolvidas. Contribui para a felicidade da Europa que neste particular a prtica est em conformidade com os verdadeiros princpios. raro que um prncipe ouse queixar-se de assistncia fornecida para a defesa de um aliado quando estipulada por tratados antigos, por tratados que no eram dirigidos contra ele. Na ltima guerra, as Provncias Unidas por longo tempo forneceram subsdios, e mesmo tropas para a rainha da Hungria: a Frana no se queixou disso seno quando essas tropas marcharam na Alscia para atacar a sua fronteira. Os suos, em virtude da sua aliana com a Frana, lhe fornecem numerosos corpos de tropa, e eles,no entanto, vivem em paz com toda a Europa. Um nico caso poderia consistir aqui uma exceo; o de uma aliana defensiva manifestamente injusta. Pois em tal caso, a obrigao de assistir um aliado cessa ( 86, 87, 89). Se um soberano ajuda esse aliado sem necessidade e em violao do seu dever, faz-seinjria ao inimigo e se declara sem necessidade contra ele. Mas esse caso raramente acontece entre as Naes. Existem poucas guerras defensivas cuja justia ou necessidade no possam basear-se pelo menos em alguma razo aparente. Com efeito, em toda ocasio duvidosa compete a cada Estado julgar da justia de suas armas e a presuno em favor do aliado (86). Acrescentai caber-vos determinar o que tendes a fazer

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em conformidade com os vossos deveres e vossos compromissos e que, em conseqncia, somente a evidncia mais clara pode autorizar o inimigo de vosso aliado a vos acusar de manter uma causa injusta, contra as luzes de vossa conscincia. Enfim, o direito das gentes voluntrio prescreve que, em toda causa susceptvel de dvida, as armas das duas partes sejam consideradas, para efeitos externos, como igualmente legtimas (40). 102: SE H NECESSIDADE DE DECLARAR GUERRA AOS ALIADOS DO INIMIGO: Visto que os verdadeiros aliados de meu inimigo so meus inimigos, eu tenho os mesmos direitos contra eles que tenho contra o inimigo principal (95). E desde que eles prprios assim se declaram e so os primeiros a recorrer s armas contra mim, posso fazer-lhes a guerra sem declar-la: ela est suficientemente declarada por si mesma. principalmente o caso daqueles que de algum modo se unem para fazer guerra ofensiva contra mim e tambm o caso de todos aqueles de quem j falamos nos pargrafos 96, 97, 98, 99 e 100. Mas o mesmo no ocorre com as Naes que assistem meu inimigo em sua guerra defensiva, sem que eu possa consider-los como seus aliados (101). Se eu tenho qualquer motivo de queixa por causa da assistncia que elas lhe do, trata-se de uma nova controvrsia entre eu e eles. Posso pedir-lhes o motivo dessa ajuda e se eles no me derem satisfao, eu posso perseguir o meu direito e fazer guerra contra eles. Mas neste caso, devo fazer uma declarao de guerra (51). O exemplo de Mnlio, que fez a guerra contra os glatas porque eles tinham fornecido tropas a Antoco, no se aplica ao caso. Grcio'" censura o general romano por ter comeado a guerra sem declarao. Os glatas, ao fornecerem tropas para uma guerra ofensiva contra os romanos, tinham se declarado inimigos de Roma. verdade que, tendo a paz sido feita com Antoco, parece que Mnlio devia ter esperado ordens de Roma para atacar os glatas e, ento, se se tivesse considerado essa
(8)

Droitdela Caerre et dela Paix, Liv. III, capo III, X.

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expedio como uma guerra nova, era preciso no somente declar-la mas tambm pedir satisfao antes de recorrer s armas. Mas o tratado com o rei da Sria no tinha ainda sido consumado e referia-se somente a ele e no fazia meno a seus aderentes. Mnlio, assim comandou, pois, a expedio contra os glatas como uma continuao da guerra de Antoco. o que ele explica pessoalmente muito bem em seu discurso ao Senado'", E ele mesmo acrescenta ter comeado por tentar persuadir os glatas razo. Grcio alega mais, a propsito do exemplo de Ulisses e seus companheiros, censurando-os por terem atacado sem declarao de guerra os ciconianos que, durante o stio a Tria, tinham enviado ajuda a Pramo.v?'
CAPTULO

VII

Da neutralidade e das tropas em pas neutro

103: Dos povos NEUTROS: Povos neutros so aqueles que no tomam parte numa guerra e permanecem amigos de ambas as partes, sem favorecer com armas uma em prejuzo de outra. Temos agora que considerar as obrigaes e os direitos que decorrem da neutralidade. 104: CONDUTA QUE UM POVO NEUTRO DEVE MANTER: Com o intuito de entendimento claro desta questo, deve-se evitar confundir o que permitido Nao livre de todo compromisso, com o que ela pode fazer, se ela pretende ser tratada como perfeitamente neutra durante uma guerra. Enquanto um povo neutro deseja usufruir com segurana essa condio, ele deve mostrar em todas as cousas estrita imparcialidade entre os beligerantes uma vez que se ele favorece a um em prejuzo do outro, ele no poder queixar-se quando este o tratar como aliado do seu inimigo. A sua neutralidade seria falsa, da qual
TIT.-UY., Lib. XXXVIII. Ubi supra, noto 3.

(9)

(10)

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ningum quer ser vtima. Admite-se algumas vezes essa conduta porque nem sempre se est em condies de evit-la; dissimula-se essa conduta com o intuito de no levantar foras contrrias. Mas procuramos aqui determinar em que consiste o direito, e no o que a prudncia pode determinar segundo as circunstncias. Consideremos, ento, em que consiste esta imparcialidade que um povo neutro deve observar. Essa imparcialidade se refere unicamente guerra e inclui duas cousas: 1) No dar ajuda quando a isso no somos obrigados; no fornecer livremente nem tropas, nem armas, nem munies, nem nada do que serve diretamente guerra. Eu digo "no dar ajuda", e no dla igualmente; pois seria absurdo para um Estado assistir ao mesmo tempo dois inimigos. E, por outro lado, seria impossvel faz-lo com igualdade: as mesmas cousas, o mesmo nmero de tropas, a mesma quantidade de armas, de munies, etc., fornecidas em circunstncias diferentes, no mais constituem ajudas equivalentes. 2) Em tudo que no diz respeito guerra, uma Nao neutra e imparcial no deve recusar a uma das partes, em razo dessa pendncia, aquilo que ela concede outra. Isto no a priva da liberdade nas negociaes, das relaes de amizade e de comrcio, com o fim de atingir o maior bem do Estado. Quando esse motivo a induz a preferncias, em cousas de que toda Nao possa dispor livremente, ela no est fazendo seno o uso de seu direito. No h a parcialidade. Mas recusar qualquer dessas cousas a uma das partes, unicamente porque esta se encontra em guerra contra a outra, e para favorecer esta ltima, seria afastar-se de uma estrita neutralidade.

o AUXLIO DEVIDO E MANTER-SE NEUTRO: Eu disse que um Estado neutro no deve dar ajuda para qualquer uma das partes, quando a isto no est obrigado. Esta qualificao necessria. J vimos que, quando um soberano fornece ajuda moderada que deve em virtude de uma antiga aliana defensiva, ele no se torna desse modo vinculado guerra (101). Assim ele pode cumprir a sua obrigao e,
lS: UM ALIADO
PODE FORNECER

o DIREITO DAS

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ao mesmo tempo, manter neutralidade estrita. Exemplos disto so freqentes na Europa. 106: Do DIREITO DE PERMANECER NEUTRO: Quando surge uma guerra entre duas Naes, todas as demais, que no esto vinculadas por tratados, so livres de permanecer neutras e se alguma desejar for-las a vincular-se a ela, esta Nao lhes causaria injria porque estaria cerceando sua independncia num ponto muito essencial. Cabe somente s Naes verificarem se existe alguma razo para tomarem partido e h duas cousas para elas considerarem: A justia da causa. Se ela for evidente, no se pode favorecer a injustia mas, ao contrrio, louvvel socorrer a inocncia oprimida, quando se tem poder para tanto. Se a causa for duvidosa, as Naes podem manter em suspenso o seu julgamento, e no entrar numa pendncia estrangeira. Quando elas se convencerem de que lado est a justia, cabe-lhes ainda determinar se conveniente ao bem do Estado intervir nessa disputa e participar da guerra. 107: Dos TRATADOS DE NEUTRAUDADE: Uma Nao que faz guerra, ou est para faz-la, tende freqentemente a propor tratado de neutralidade quela que lhe suspeita; prudente conhecer bem cedo a conjuntura existente e no se expor ao risco de ver de repente um vizinho juntar-se ao inimigo, no curso de uma guerra. Em toda ocasio que lhe for permitido permanecer neutra, lhe tambm permitido comprometer-se a manter essa posio por via de tratado. Tais tratados so algumas vezes justificados pela necessidade. Assim, embora seja do dever de todas as Naes assistir a inocncia oprimida (Livro lI, 4), se um conquistador injusto, prestes a invadir territrio alheio, me faz oferecimento de neutralidade, quando ele est em condies de me derrotar, o que posso fazer de melhor seno aceit-lo? Obedeo necessidade e a minha impotncia me desonera de uma obrigao natural. Esta mesma impotncia desobrigar-me-ia at mesmo de uma obrigao perfeita, contratada por uma aliana. O inimigo do

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VArrEL

meu aliado me ameaa com foras muito superiores e meu destino est em suas mos. Ele exige que eu renuncie liberdade de fornecer ajuda contra ele. A necessidade, o cuidado com a segurana de minha Nao, dispensam-me de meus compromissos. Foi assim que Lus XIV forou Vitor Amadeo, duque de Sabia, a romper com os aliados. Mas a necessidade deve ser imperiosa. Somente os covardes, ou os prfidos, se permitem, ao menor temor, descumprir ou trair suas obrigaes. Na guerra que se seguiu morte do imperador Carlos VI, o rei da Polnia, eleitor da Saxnia, e o rei da Sardenha tomaram resolutamente uma deciso contra o infortnio dos acontecimentos e tiveram a glria de no negociar sem os seus aliados. l8: ADICIONAL PARA ESSES TRATADOS: Outro motivo contribui para que os tratados de neutralidade sejam teis ou necessrios. A Nao que deseja assegurar a sua prpria tranqilidade, quando as chamas da guerra esto queimando nos territrios vizinhos, no pode fazer nada melhor do que concluir com os dois beligerantes, tratados nos quais se convenciona expressamente o que cada parte pode fazer ou exigir, em virtude da neutralidade. Deste modo, a paz mantida, e toda dificuldade e maus entendidos so evitados. l9: FUNDAMENTO DAS REGRAS SOBRE A NEUTRALIDADE: Sem tais tratados, teme-se que controvrsias surjam freqentemente sobre o que a neutralidade permite ou no permite fazer. Esse assunto oferece muitas questes que os escritores tm discutido calorosamente e que tm dado margem a srias pendncias entre as Naes. Entretanto, o direito da natureza e das gentes tem princpios invariveis e pode nos oferecer regras nesta matria, como em outras. H, ainda, certas prticas que tm se tornado costumeiras entre Naes civilizadas e com as quais devemos nos conformar para que no sejamos acusados injustamente de romper a paz. Quanto a regras do direito natural das gentes, elas resultam de uma combinao eqitativa dos direitos da guerra com a liberdade, a segurana, o bem-estar, o comrcio e os

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demais direitos das Naes neutras. com base nesse princpio que formularemos as regras seguintes.

11O:

COMO SE PODE PERMITIR, SEM TRANSGREDIR A NEUTRALIDADE,

RECRUTAR, EMPRESTAR DINHEIRO OU VENDER TODAS AS ESPCIES DE COUSAS:

Em primeiro lugar, tudo o que uma Nao faz ao usar de seu direitos, e unicamente com vistas ao seu prprio bem-estar, sem parcialidade, sem inteno de favorecer uma potncia em prejuzo de outra, tudo isso, digo, no pode em geral ser considerado contrrio neutralidade, e no se torna tal seno em ocasies especiais, quando pode ocorrer dano a um dos beligerantes, o qual tem ento um direito particular para opor-se. Assim, quem assedia uma praa tem o direito de proibir a entrada nela (Veja acima, 177). Alm de casos dessa natureza, podero as controvrsias alheias privar-me do exerccio livre de meus direitos e da busca das medidas que entender salutares minha Nao? Quando, pois, costume de um povo, com o intuito de empregar e treinar os seus sditos, permitir o recrutamento de tropas em favor da potncia a quem deseja confi-las, o inimigo dessa potncia no pode considerar essas permisses como ato de hostilidade, a menos que elas sejam dadas para invadir-lhe territrios, ou para a defesa de uma causa odiosa e manifestamente injusta. Ele no pode mesmo clamar como um direito que a mesma permisso lhe seja concedida, porque esse povo pode ter razes para recus-la, embora no veja razes para tanto em relao parte contrria, e compete a ele ver o que lhe convm. Os suos, como j dissemos, permitem recrutamento de tropas a quem lhes apraz, e ningum at agora pensou em lhes fazer a guerra por esse motivo. preciso reconhecer, porm, que se esses recrutamentos forem consi-derveis, se eles passam a constituir a principal fora de meu inimigo, enquanto que, sem alegar slidas razes, esse recrutamento me absolutamente recusado, eu teria justos motivos para considerar que esse povo est associado a esse inimigo, e, nesse caso, o cuidado com a minha prpria segurana me autorizaria a trat-lo como inimigo.

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o mesmo ocorre com respeito ao dinheiro que uma Nao tem o

costume de emprestar com usura. Que o soberano ou os seus sditos emprestem assim o seu dinheiro ao meu inimigo, e que eles recusem a mim porque no tm a mesma confiana, isto no constitui uma violao de neutralidade. Eles colocam as suas reservas onde acharem seguro. Se a preferncia deles no for baseada em bons motivos, eu posso, com muita propriedade, entender como m vontade para comigo ou predileo para meu inimigo. No entanto, se por esse motivo eu declarasse guerra, eu no seria menos condenvel pelos princpios verdadeiros do direito das gentes do que pelo costume, felizmente estabelecido na Europa. Enquanto parecer que esta Nao empresta o seu dinheiro unicamente com o intuito de obter lucro, ela pode livremente dispor dele como achar melhor, sem que eu tenha qualquer direito de queixa. Mas se o emprstimo feito manifestamente com o intuito de permitir ao inimigo atacar-me, isso significaria contribuir para fazer-me a guerra. Assim, se essas tropas fossem fornecidas para o meu inimigo pelo prprio Estado, e s suas expensas, ou se o dinheiro fosse emprestado por esse Estado sem juros, deixa de existir a questo de saber se tal ajuda seria ou no incompatvel com a neutralidade. Deixe-nos acrescentar, com base nos mesmos princpios, que se uma Nao negocia com armas, madeiras e construo, navios e munies de guerra, eu no posso queixar-me que ela venda tudo isso ao meu inimigo, contanto que ela no recuse vend-los para mim tambm por um preo razovel: ela exerce o seu negcio, sem inteno de prejudicar-me; e em continuando a fazer tal como se eu no estivesse em guerra, ela no me d justo motivo para queixas.

111: D<) COMRCIO DAS

COM AS

Em razo do que foi dito, supe-se que meu inimigo v fazer compras em pas neutro. Falemos agora de outro caso, do comrcio que as Naes neutras vo fazer com o meu inimigo. certo que, ao no tomar parte em minha disputa, elas no so obrigadas a desistir do seu comrcio e de fornecer ao meu inimigo os meios de fazer-me a guerra.

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Se elas assumissem a posio de nada me vender enquanto tratam de fornecer produtos com abundncia ao meu inimigo, com o propsito evidente de favorec-lo, tal parcialidade as subtrairia da condio de neutralidade. Mas se elas no fazem mais que atender ao seu comrcio, elas assim no se declaram contra meus interesses: elas apenas exercem um direito ao qual no esto obrigadas a renunciar. Por outro lado, desde que estou em guerra com uma Nao, minha segurana e meu bem-estar requerem que eu a prive, tanto quanto estiver em meu poder, de tudo que possa coloc-la em condies de resistir-me e de prejudicar-me. Aqui o direito de necessidade se exerce plenamente. Se esse direito me autoriza, na oportunidade devida, a reter o que pertence a outrem, no poderia autorizar-me tambm a me apossar de todas as cousas concernentes guerra que povos neutros esto enviando ao meu inimigo? Ainda que com isso pudesse fazer com que povos neutros se tornassem meus inimigos, seria conveniente correr o risco para no permitir quele que faz a guerra contra mim que se fortificasse livremente. muito adequado e conveniente ao direito das gentes, que probe multiplicar as causas da guerra, no permitir incluir na categoria das hostilidades essas apreenses sobre Naes neutras. Quando eu as tenha notificado da minha declarao de guerra contra tal ou qual povo, se elas desejam expor-se ao risco de transportar-lhe cousas destinadas guerra, elas no tm motivo de queixa se as suas mercadorias carem em minhas mos. Da mesma maneira, eu no lhes declaro guerra pelo fato delas terem tentado transport-las. Elas sofrem, verdade, por causa de uma guerra na qual elas no tomam parte, a no ser por acidente. Eu no estou me opondo ao direito delas; estou meramente exercendo o meu direito e se nossos direitos se cruzam e mutuamente se prejudicam, por conseqncia de uma necessidade inevitvel. Esse conflito ocorre com freqncia na guerra. Quando, ao usar de meus direitos, estou exaurindo um pas de onde tirais a vossa subsistncia, quando sitio uma cidade com a qual fazeis um comrcio prspero, eu indubitavelmente estou vos prejudicando, vos causo perdas e inconvenincias, mas isto feito sem qualquer inteno de

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VArrEL

vos prejudicar; e como eu estou somente usando de meus direitos, eu no estou vos fazendo uma injustia. Mas com o intuito de pr limites a esses inconvenientes, de deixar subsistir a liberdade do comrcio para as Naes neutras tanto quanto os direitos da guerra possam permiti-la, h certas regras a serem observadas sobre as quais parece haver bastante consenso na Europa. 112: DAS MERCADORIAS DE CONTRABANDO: A primeira regra consiste em distinguir cuidadosamente as mercadorias comuns, sem nenhuma relao com a guerra, daquelas que se relacionam diretamente com a guerra. O comrcio das primeiras deve ser inteiramente livre para Naes neutras; os beligerantes no tm nenhuma razo para proibir-lhes o transporte ao inimigo; o cuidado com a prpria segurana, a necessidade de defender-se, no autoriza os beligerantes a opor-se ao comrcio de tais mercadorias, pois que elas no tomariam o inimigo mais temvel. Tentar interromper e proibir tal comrcio seria violar os direitos das Naes neutras e causar-lhes injria. A necessidade, como j temos dito, a nica razo que autoriza a restrio no comrcio dessas mercadorias e na navegao em portos do inimigo. Quando a Inglaterra e as Provncias Unidas concordaram, pelo tratado de Whitehall, assinado em 22 de agosto de 1689, em notificar todos os Estados, que no estavam em guerra com a Frana, que elas atacariam, e declaravam antecipadamente como sendo de boa presa todo navio destinado a um dos portos desse reino, ou que deles sassem, a Sucia e a Dinamarca, de quem algumas presas tinham sido apreendidas, uniram-se numa aliana em 17 de maro de 1693, com o propsito de manter os seus direitos e procurar justa satisfao. Aquelas duas potncias martimas, ao reconhecerem que as queixas das duas coroas eram bem fundamentadas, fizeram-lhes justia'!", As cousas que so de uso restrito para a guerra e cujo transporte ao inimigo proibido, so chamadas de mercadorias de contrabando. Nessa categoria esto as armas, as munies de guerra, as madeiras e demais
(11)

Outros exemplos se encontram em GRCIO, Liv. IH, capo I, V, noto 6.

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materiais usados na construo e armamento dos navios de guerra, os cavalos, e mesmo os vveres, em certas ocasies em que se espera reduzir o inimigo fome. 113: SE PERMITIDO CONFISCAR ESSAS MERCADORIAS: Mas com o intuito de impedir transporte de mercadorias contrabandeadas ao inimigo, devemos limitar-nos a det-las, a delas nos apropriar, pagando-lhes o preo ao proprietrio? Ou estamos ns justificados em confisc-las? Limitarmo-nos a interceptar bens contrabandeados seria freqentemente um meio ineficaz, especialmente no mar, onde no possvel cortar todo o acesso aos portos do inimigo. Pode-se, pois, preferir confiscar todos os bens contrabandeados que podem ser apreendidos, com o intuito de que os comerciantes de pases neutros se abstenham de transport-los ao inimigo, cientes de que o temor de perd-los freio suficiente avidez do lucro. , certamente, to importante para uma Nao beligerante impedir, tanto quanto possa, o transporte para o inimigo de cousas que iro fortalec-lo e torn-lo mais perigoso, quanto a necessidade, o cuidado por sua prpria segurana e bem-estar a autorizam a tomar medidas efetivas, e a declarar que ela considerar como de boa presa todas as cousas dessa natureza que se transportaro ao inimigo. por esta razo que ela notifica os Estados neutros de sua declarao de guerra (63) e com base nessa declarao esses Estados advertem ordinariamente os seus sditos para absterem-se de todo o comrcio de contrabando com os povos beligerantes, declarando-lhes que se os bens forem apreendidos, o soberano no vai proteg-los. Os costumes da Europa parecem hoje convergir para essa regra, aps muitas variaes, como pode ser visto na nota acima citada de Grcio, e especialmente nas ordenaes dos reis da Frana dos anos 1543 e 1584, as quais permitem aos franceses reterem bens contrabandeados apenas mediante pagamento do valor correspondente. A prtica moderna certamente o que h de mais conveniente aos deveres mtuos das Naes e mais prpria para conciliar seus direitos respectivos. A Nao beligerante tem o maior interesse em privar o seu inimigo de toda ajuda exterior, e em conseqncia

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ela tem o direito de considerar aqueles que levam ao inimigo as cousas de que necessita para a guerra se no como inimigos, pelo menos como pessoas que se preocupam muito pouco em prejudic-la; essa Nao os pune com o confisco de suas mercadorias. Se o soberano destes pretendesse proteg-los, agiria como se ele prprio quisesse fornecer tal ajuda ao inimigo; atitude certamente inconsistente com a neutralidade. Uma Nao que, sem outro motivo a no ser o desejo de lucro, trabalha para fortalecer meu inimigo e no teme causar-me dano irreparvel no , certamente, minha amiga,(12) e ela me autoriza a consider-la e trat-la como aliada de meu inimigo. Assim, com o intuito de evitar motivos constantes de queixa e de ruptura, convencionou-se, em completa conformidade com os verdadeiros princpios, que os beligerantes podero apreender e confiscar todos os bens contrabandeados que as pessoas neutras transportam ao inimigo, sem que os soberanos dessas pessoas possam queixar-se disso; e que, por outro lado, no se imputem aos soberanos neutros esses atos de seus sditos. Toma-se mesmo o cuidado em regular com pormenores todas essas questes em tratados de comrcio e navegao. 114:DA VISTORIA DE NAVIOS NEUTROS: O transporte de bens contrabandeados no pode ser impedido, a no ser que se vistoriem os navios neutros encontrados no mar. Tem-se pois o direito de vistori-los. Certas Naes poderosas tm, muitas vezes, se recusado a submeter-se a essa vistoria. "Depois da paz de Vervins, a Rainha Elizabeth, continuando a guerra com a Espanha, pediu ao rei da Frana que lhe permitisse vistoriar os navios franceses que iam para a Espanha, com o intuito de verificar se eles no transportavam munies de guerra escondidas, mas a permisso foi recusada, pela razo alegada de que a vistoria seria uma oportunidade favorvel para a pilhagem e uma

Em nossos dias, o rei da Espanha proibiu o ingresso em seus portos de navios de Hamburgo, porque esta cidade se comprometeu a fornecer munies de guerra aos argelinos. Obrigou-a, desse modo, a romper o tratado que mantinha com os povos barbarescos.
(12)

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interferncia no comrcio'P', "Hoje, um navio neutro, que se recusasse a ser vistoriado, seria apenas por este fato considerado como sendo de boa presa. Mas com o intuito de evitar inconvenincias, constrangimentos e abusos de todo tipo, regulamenta-se, em tratados de comrcio e navegao, a maneira pela qual a vistoria deve ser feita. Admite-se hoje ter-se f nos certificados, cartas martimas, etc. apresentados pelo capito do navio, a menos que haja suspeita de fraude neles ou que haja boas razes para deles suspeitar. 115: BENS DO INIMIGO EM NAVIO NEUTRO: Se bens pertencentes aos inimigos se encontrarem em navio neutro, o direito de guerra lhes permite a apreenso mas, naturalmente, o frete respectivo deve ser pago ao capito do navio, que no deve sofrer conseqncias por essa apreenso. 116: BENS NEUTROS NAVIO INIMIGO: OS bens de povos neutros, encontrados em navio inimigo, devem ser restitudos ao proprietrio, sobre os quais nenhum direito existe de confisco, mas sem indenizao por atraso, perecimento, etc. A perda que proprietrios neutros sofrem em tais ocasies um acidente ao qual eles se expem pelo fato de se utilizarem de navio inimigo e aquele que, ao exercer os direitos da guerra, captura esse navio, no responsvel pelos acidentes que da possam resultar, como no o se seu canho mata, a bordo do navio inimigo, passageiro neutro que infelizmente nele se encontrava. 117: COMRCIO COM UMA PRAA SITIADA: At aqui falamos do comrcio dos povos neutros com os Estados inimigos em geral. H um caso especial, em que os direitos de guerra vo mais alm. Todo o comrcio com uma cidade sitiada absolutamente proibido. Quando tenho uma praa sitiada, ou meramente bloqueada, tenho o direito de impedir a entrada nela e de considerar como inimigo quem tentar nela entrar ou transportar algo para ela sem a minha permisso, pois essa pessoa opor-se-ia
GRCIO, ubi supra.

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a meu propsito, poderia contribuir para malogr-lo e assim fazer incidir sobre mim todos os males de uma guerra mal sucedida. O rei Demtrio mandou enforcar o capito e o piloto de um navio que levava provises para Atenas quando ele estava a ponto de apossar-se desta cidade pela fome. Na longa e sangrenta guerra que as Provncias Unidas mantiveram contra a Espanha para retomar a sua liberdade, elas no quiseram permitir que ingleses levassem bens para Dunquerque, em cuja frente elas tinham uma frota. 118: OFCIOS IMPARCIAIS DOS POVOS NEUTROS: Um povo neutro mantm com as partes beligerantes relaes naturais comuns entre Naes. Ele deve estar pronto para prestar-lhes todos os ofcios de humanidade que as Naes se devem mutuamente; ele deve dar-lhes, em tudo aquilo que concerne guerra, toda a assistncia que lhe for possvel e de que elas necessitem. Mas ele deve d-la imparcialmente, isto , no deve recusar nada a nenhum dos Estados beligerantes porque est em guerra com o outro (104). Mas isto no impede que se esse Estado neutro tiver laos especiais de amizade e de boa vizinhana com um dos beligerantes, ele no possa conceder-lhe, em tudo aquilo que no diga respeito guerra, essas preferncias que so devidas aos amigos. Com mais forte razo, ele poder, sem conseqncia com respeito ao comrcio, por exemplo, manter-lhe favores estipulados em tratados que ambos celebraram. Ser permitido, pois, aos sditos de ambas as partes, tanto quanto o bem pblico permitir, manter negcios e comprar vveres, cavalos e, em geral, todas as causas das quais eles tenham necessidade a menos que, por um tratado de neutralidade, se haja prometido recusar a ambas as partes causas teis guerra. Em todas as guerras que agitam a Europa, os suos mantm o seu territrio na neutralidade e permitem aos sditos de todas as Naes, sem distino, ali comprar vveres, se a Sua tiver reserva suficiente de cavalos, munies e armas. TROPAS POR UM PAS NEUTRO: Deve-se garantir passagem inocente a todas as Naes com as quais se viva em paz

119: DA PASSAGEM

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Il, 123) e esse dever se estende tanto s tropas como aos indivduos. Todavia compete ao senhor do territrio determinar se a passagem inocente (ibid., 128), e muito dificil que a passagem de um exrcito seja inteiramente inocente. Durante as ltimas guerras da Itlia, os territrios da Repblica de Veneza e do Papa sofreram muitos danos com a passagem dos exrcitos, e esses territrios freqentemente se tornaram palco de guerra 120: SOIJCITAR APASSAGEM: Visto que a passagem de tropas, especialmente de um exrcito inteiro, no algo indiferente, aquele que quer passar com tropas em um pas neutro deve pedir permisso ao soberano. Entrar em seu territrio sem o seu consentimento uma violao dos direitos de soberania e de domnio eminente, em virtude dos quais ningum pode dispor desse territrio para qualquer uso que seja, sem a permisso expressa ou tcita desse mesmo soberano. Ora, desde que esse ingresso pode ter srias conseqncias, a permisso para o ingresso de tropas nunca pode ser tcita. 121: A PASSAGEM PODE SER RECUSADA POR BONS MOTIVOS: Se o

soberano neutro tem boas razes para recusar a passagem, ele no obrigado a permiti-la, uma vez que, neste caso, a passagem no mais inocente (Livro ir, 127). CASO PODE-SE FOR(;AR APASSAGEM: Em todos os casos duvidosos, deve-se confiar no julgamento do dirigente sobre a inocncia do uso que se deseja fazer das cousas de sua propriedade (Livro Il, . 128 e 130) e aceitar a sua recusa mesmo que se acredite ser ela injusta. Se a injustia da recusa for manifesta e, no caso de que cogitamos, a passagem era inquestionavelmente inocente, uma Nao poderia fazer-se justia por si prpria e tomar pela fora o que lhe era injustamente recusado. Mas, j dissemos, muito difcil que a passagem de um exrcito seja inteira e evidentemente inocente. Os danos que ela pode causar, os perigos que podem surgir so to variados, relacionam-se com muitas cousas, so to complicados, que quase sempre impossvel
122: EM

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tudo prever e a tudo prover. Alis, o interesse prprio influi to vivamente no julgamento dos homens! Se aquele que pede a passagem pode julgar da inocncia dela, ele no admitir nenhuma das razes alegadas contra ele e a porta estaria aberta a contnuas pendncias e conflitos. A paz e a segurana comuns das Naes requerem, pois, que cada soberano seja senhor de seu prprio territrio e livre para recusar admisso de qualquer exrcito estrangeiro, a no ser que a liberdade natural desse soberano tenha sido derrogada por tratados. A nica exceo a ser aberta a daqueles casos muito raros em que se pode ver, pela maneira mais evidente, que a passagem requerida sem perigo e de nenhum modo inconveniente. Se a passagem for forada em semelhante ocasio, queixar-se- menos daquele que a forou do que daquele que mal administrou essa violncia. Outro caso dessa natureza constitui exceo admitida por si mesma e sem dificuldade, o da necessidade extrema. A necessidade urgente e absoluta suspende todos os direitos de propriedade (Livro 11, . 119 e 123) e se o proprietrio no est submetido mesma presso de necessidade em que estamos, a ns permitido fazer uso, contra a vontade dele, do que lhe pertence. Quando, assim, um exrcito se v exposto destruio, ou quando ele no pode retornar ao seu prprio pas sem passar por territrios neutros, ele tem o direito de passar, a despeito do soberano dessas terras, abrindo caminho com a espada. Mas ele deve primeiro solicitar a passagem, oferecer garantias, e pagar os danos que tiver causado. Assim fizeram os gregos ao retomarem da sia sob o comando de Agesilau. A necessidade extrema pode tambm autorizar a apropriao por algum tempo de uma praa neutra, a guarnec-la contra o inimigo ou a salvaguard-la dos propsitos que esse inimigo tem sobre essa mesma praa, quando o soberano dela no tiver condies de proteg-la. Mas, assim que o perigo passar, preciso devolv-la e pagar todas as despesas, prejuzos e danos causados. 123: O TEMOR DO PERIGO PODE AUTORIZAR A RECUSA PASSAGEM: Quando a passagem no de necessidade absoluta, o simples perigo

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de receber dentro do seu territrio um exrcito poderoso pode autorizar um soberano a recusar-lhe admisso. Pode-se temer que esse exrcito seja tentado a apossar-se do pas ou pelo menos agir como senhor e nele viver discricionariamente. E que no se diga com Grcio.v? que vosso temor injusto no priva de seu direito aquele que pede passagem. O temor provvel, baseado em bons motivos, d-nos o direito de evitar o que pode provoc-lo e a conduta das Naes nos d suficiente fundamento ao temor a que nos referimos. Alis, o direito de passagem no um direito perfeito, exceto no caso de necessidade urgente ou quando a inocncia da passagem da mais perfeita evidncia. 124: Ou A EXIGIR TODA A SEGURANA RAZOVEL: No pargrafo precedente, suponho impraticvel obter garantias capazes de evitar todos os motivos para se temer os procedimentos e as violncias daquele que requer a passagem. Se se pode tomar determinadas garantias, das quais a melhor no permitir passar seno pequenos grupos, e mediante depsito das armas, como tem sido feito,(15) a recusa baseada em temor no mais justificada. Mas aquele que deseja passar deve dar todas as garantias razoveis que se lhe pedirem e, conseqentemente, dividir seu exrcito e depositar as armas se no estiver disposto a faz-lo passar de outra maneira. No lhe cabe escolher as garantias que deve dar. Refns, cauo, seriam freqentemente garantias pouco capazes de tranqilizar. Que vantagem resultaria para mim tomar refns daquele que se tornar meu superior? E a cauo muito pouco segura contra um prncipe demasiado poderoso. 125: SE EXISTE SEMPRE AOBRIGAO DE OFERECER TODAS AS ESPCIES DE GARANTIAS: Mas o beligerante est sempre obrigado a dar qualquer garantia que uma Nao exige, quando ele quer passar pelo seu territrio? Em primeiro lugar, cabe distinguir entre os motivos da passagem, e a
(14)

Liv. n, capo n, XIII, n.5.

Entre os helenos e os habitantes de Colnia. Vide GRClO, ibidem.

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seguir os costumes da Nao a quem se fez o pedido. Se no houver necessidade essencial da passagem e quando no se pode obt-la seno em condies suspeitas ou constrangedoras, preciso dela abster-se, como se tivesse havido uma recusa (122). Mas se a necessidade me autoriza a passar, as condies s quais querem me subordinar podem ser aceitveis ou suspeitas e dignas de serem rejeitadas, segundo os costumes do povo com a qual estou a lidar. Suponha-se que eu tenha de atravessar as terras de uma Nao brbara, feroz e prfida, confiar-me-ia sua discrio, entregando as minhas armas, fazendo passar as minhas tropas por grupos? Penso que ningum me condenaria a um procedimento to perigoso. Como a necessidade me autoriza a passar, ainda uma espcie de necessidade para mim de passar apenas numa postura que me preserve de toda emboscada, de toda violncia. Oferecerei todas as garantias que possa dar sem expor a mim mesmo temerariamente. Se no se deseja aceitar as minhas condies, no tenho de me orientar seno pela necessidade e pela prudncia e, adicionalmente, tambm pela mais escrupulosa moderao a fim de no ir alm do direito que a necessidade me concede. 126: DA IGUALDADE A PRESERVAR-SE EM RELAO PASSAGEM ENTRE OS Se o Estado neutro garante ou recusa passagem para um dos beligerantes, ele deve garantir ou recusar o mesmo ao outro beligerante, a menos que a mudana das circunstncias lhe d slidos motivos de agir de outra maneira. Sem os motivos dessa natureza, conceder a um beligerante o que se recusa a outro seria mostrar parcialidade e violar a estrita neutralidade. 127: NO SE PODE TER QUEIXA DO ESTADO NEUTRO QUE CONCEDE A PASSAGEM: Quando eu no tenho razo para recusar a passagem, o beligerante contra o qual ela concedida no pode queixar-se disso e muito menos de tomar esse fato como motivo para declarar guerra a mim, uma vez que nada fiz seno conformar-se com o que o direito das gentes determina (119). Ele no tem tambm o direito de exigir

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que eu recuse a passagem, uma vez que ele no pode me impedir de fazer o que acredito ser meu dever. E mesmo nas ocasies em que eu pudesse, com justia, recusar a passagem, eu ainda teria a liberdade de no exercer esse direito. Sobretudo, quando eu seria obrigado a manter minha recusa pela fora das armas, quem ousar queixar-se de que eu tenha preferido deix-lo fazer a sua guerra e no desvi-lo contra mim? Ningum pode exigir que eu pegue em armas em seu favor quando no estiver a isso obrigado por tratado. As Naes, porm, mais atentas a seus interesses do que ao respeito da justia estrita, no deixam de ressaltar freqentemente este pretenso motivo de queixa. Elas se ajudam mutuamente por todos os meios, principalmente na guerra e se, mediante ameaas, elas podem induzir um vizinho a recusar passagem aos inimigos delas, a maioria dos seus dirigentes no v nesta conduta seno uma sbia poltica.

128: ESSE ESTADO PODE RECUSAR APASSAGEM POR TEMOR DOS MALES
QUE LHE SERIAM INFllGIDOS PELA POTNCIA CONTRRIA: Um Estado poderoso enfrentar essas ameaas injustas e, firme naquilo que acreditar ser justo e glorioso, no se deixar desviar pelo medo de um ressentimento mal fundamentado; ele no admitir nem mesmo a ameaa. Mas uma Nao fraca, sem condies de manter seus direitos com vantagem, ser forada a pensar em sua prpria segurana, e esse cuidado importante a autorizar a recusar uma passagem que a exporia a perigos extremos.

129: E PARA EVITAR TORNAR OSEU PAS PALCO DE UMA GUERRA: Outro temor pode tambm influir nessa deciso; o de atrair para seu pas os males e os transtornos da guerra. Pois se mesmo aquele beligerante contra o qual a passagem foi requerida guardar bastante moderao para no empregar ameaas em favor da recusa, ele poder pedir, por sua vez, a passagem para si prprio para ir de encontro com o inimigo e, desse modo, o pas neutro correr assim o risco de ser o palco da guerra. Os males incontveis que disso resultariam constituem boa razo para recusar a passagem. Em todos esses casos, aquele beligerante

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que pretende constranger pela fora, injuria o Estado neutro e lhe d justo motivo para que se una parte contrria. Os suos, nas sua alianas com a Frana, prometeram no conceder passagem aos inimigos de sua aliada. Eles a recusam constantemente a todos os soberanos beligerantes para afastar o flagelo da guerra de suas fronteiras e para impor respeito em seu prprio territrio. Mas eles concedem passagem para os recrutas, quando passam em pequenos grupos e desarmados.
130: O QUE ESTA COMPREENDIDO NA CONCESSO DA PASSAGEM: A concesso da passagem inclui tudo o que naturalmente relacionado com o trnsito das tropas e das cousas sem as quais a passagem no poderia ocorrer. Tais so a liberdade de conduzir tudo que necessrio a um exrcito, o direito de exercer a disciplina militar sobre soldados e oficiais e a permisso de comprar por preo justo as cousas de que o exrcito necessita, a no ser nos casos em que, diante do risco de escassez, alguns vveres sejam excludos.

131: GARANTIA DA PASSAGEM: Aquele que concede passagem deve, na medida do possvel, tom-la segura. A boa f assim o exige e proceder de outra maneira seria lanar quem transita numa armadilha.
132: NAo SE PODE EXERCER NENHUMA HOSTILIDADE EM PAS NEUTRO: Por esta razo, e porque estrangeiros no podem fazer nada em territrio contra a vontade do soberano, ao beligerante no permitido atacar o seu inimigo num pas neutro, nem nele exercer qualquer outro ato de hostilidade. Quando, no ano de 1666, a frota holandesa das ndias Orientais se refugiou no porto de Bergen, na Noruega, com o intuito de escapar dos ingleses, o almirante inimigo ousou atac-la. Mas o governador de Bergen mandou que o canho atirasse contra os atacantes e a corte dinamarquesa queixou-se, ainda que muito timidamente, de um procedimento to injurioso sua dignidade e aos seus direitos. Conduzir prisioneiros, transportar o butim a um lugar seguro so atos de guerra e no se pode, pois, praticar tais atos em pas neutro e aquele que o

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permitisse violaria a neutralidade ao favorecer uma das partes. Estou falando aqui de prisioneiros e de butins que no esto ainda completamente em poder do inimigo e cuja captura no est ainda, por assim dizer, plenamente consumada. Por exemplo, um beligerante no pode servir-se de um pas neutro e vizinho como um depsito onde prisioneiros e butins possam ser deixados em segurana. Admiti-lo seria favorecer e estimular as hostilidades. Quando a presa est consumada, o butim permanece completamente em poder do inimigo; no se lhe indaga de onde provm esses bens; eles lhe pertencem e deles dispe quando em pas neutro. Um armador conduz a sua presa ao primeiro porto neutro e nele a vende livremente, mas ele no poderia levar os prisioneiros terra para mant-los cativos porque o ato de guard-los e det-los uma continuao de hostilidades.
133: O
PAS NEUTRO DEVE PERMITIR A RETIRADA DE TROPAS PARA

Por outro lado, certo que se o meu vizinho permitiu a retirada a meus inimigos, quando estes estavam em m situao e muito fracos para me escaparem, concedendo-lhes, desse modo, tempo para se refazerem e aguardarem a oportunidade de tentar novo ataque ao meu territrio, essa conduta, to injuriosa minha segurana e ao meu bem-estar, seria incompatvel com a neutralidade. Quando, pois, os meus inimigos vencidos se retiram para o territrio de meu vizinho e a caridade no lhe permite recusar-lhes passagem e segurana, esse vizinho deve permitir-lhes transitarem o mais rpido possvel e no admitir que meus inimigos fiquem espreita para me atacarem novamente; de outro modo, esse vizinho me d o direito de buscar meus inimigos dentro de seu territrio. Isto o que acontece quando as Naes no esto em condies de fazer seu territrio respeitado; logo o teatro da guerra nele se estabelece, se marcha, se acampa e nele se luta como num pas franqueado a todos os que chegam.
ATACAR NOVAMENTE SEUS INIMIGOS:

134: CONDUTA QUE DEVE1\! TER OS QUE TRANSITAM

POR PAS NEUTRO:

As tropas para as quais a passagem concedida devem evitar causar o

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menor dano para o pas, seguir os caminhos pblicos, no entrar nas propriedades de particulares, observar a mais estrita disciplina e pagar fielmente o que lhes for fornecido. E se a licena dos soldados ou a necessidade de certas operaes, tais como acampar, entrincheirar-se, causarem danos, aquele que os comanda, ou o soberano deles, deve repar-los. Tudo isso no necessita de provas. Com que direito causarse-iam perdas a um pas ao qual no se pode pedir seno uma passagem inocente? Nada impede que se possa convencionar uma quantia em dinheiro, cuja avaliao difcil, como indenizao para certos danos e para as inconvenincias causadas pela passagem de um exrcito. Mas seria vergonhoso vender a permisso mesmo de passar e mais ainda, injusto, quando a passagem ocorre sem nenhum dano e for de direito. De resto, o soberano do pas deve velar para que o dano seja pago aos sditos que o sofrerem e ele no est de modo algum autorizado a apropriar-se do que lhes for dado como indenizao. Ocorre porm, com muita freqncia, que os fracos sofrem a perda e que os poderosos por ela recebem a indenizao.

135:

PODE-SE RECUSAR A PASSAGEM PARA INJUSTA:

UMA GUERRA

Enfim, visto que mesmo uma passagem inocente somente devida para causas justas, pode-se recus-la quele que a requer para uma guerra manifestamente injusta, como por exemplo, invadir um pas sem motivo nem pretexto. Assim, Jlio Csar recusou passagem aos helvticos, que deixaram o seu pas com o intuito de conquistar outro melhor. Considero que esta recusa foi mais devida poltica do que ao amor justia mas, enfim, ele pde nessa ocasio seguir com justia os princpios de sua prudncia. Um soberano que se v em estado de recusar sem medo certamente deve faz-lo no caso de que falamos. Mas se h perigo em recusar, ele no est obrigado a atrair um perigo para si a fim de preservar-se de um outro, e ele no deve mesmo expor temerariamente o seu povo.

o DIREITO DAS GENTES

CAPTULO

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VIII

Do direito das Naes em tempo de guerra: o que de direito e do que permitido fazer contra a pessoa do inimigo numa guerra justa
136: PRINCPIO GERAL DOS DIREITOS CONTRA OINIMIGO NUMA GUERRA
JUSTA: Tudo o que dissemos acima refere-se ao direito de fazer a guerra; cuidemos agora do direito que deve reinar na prpria guerra, das regras que as Naes devem mutuamente observar, mesmo quando elas tomaram das armas para resolver as suas controvrsias. Comecemos por expor os direitos da Nao que faz uma guerra justa. Vejamos o que lhe permitido contra o seu inimigo. Tudo deve deduzir-se de um nico princpio, do objetivo da guerra justa; pois desde que um fim legtimo, aquele que tem o direito de caminhar para esse fim tem, por isso mesmo, o direito de fazer uso de todos os meios necessrios para atingi-lo. a (28), isto , A finalidade de uma guerra justa vingar ou alcanar a justia pela fora quando no se pode de outro modo obt-la; compelir o agressor a reparar a injria j feita, ou dar garantias Nao por ele ameaada. Assim, desde que a guerra declarada, tem-se o direito de fazer contra o inimigo tudo o que for necessrio para atingir esse fim, para conduzir o agressor razo, para dele obter justia e segurana.

137:

ENTRE O QUE SE TEM o DIREITO DE FAZER

o QUE

APENAS PERMITIDO OU QUE NO SE PUNE ENTRE INIMIGOS: O fim legtimo

confere um direito verdadeiro aos nicos meios necessrios para obter esse fim, O que for feito alm desses meios contrrio lei natural, vicioso, e condenvel pelo tribunal da conscincia. Donde se segue que o direito a certos atos de hostilidade podem ser justificados ou no, de acordo com as circunstncias. O que justo e perfeitamente inocente em uma guerra, em uma situao particular, no o sempre em todas as ocasies; o direito acompanha passo a passo a necessidade, a exigncia do caso; ele no lhe ultrapassa os limites.

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Mas como sempre muito difcil julgar com preciso o que se exige num caso presente, e como alis compete a cada Nao julgar o que suas circunstncias particulares permitem (Preliminares, 6), absolutamente necessrio que as Naes se atenham mutuamente, nessa matria, a certas regras gerais. Assim, desde que claro e bem reconhecido que tal meio, tal ato de hostilidade , em geral, necessrio para superar a resistncia do inimigo e atingir o objetivo de uma guerra legtima, esse meio visto assim em sua generalidade, reconhecido pelo direito das gentes como legtimo e honesto na guerra, embora o beligerante que faa uso dele sem necessidade, quando outros meios mais suaves poderiam satisfaz-lo, no seja inocente perante Deus e sua prpria conscincia. Eis o que constitui a diferena entre o que justo, eqitativo, irrepreensvel na guerra e o que apenas permitido e permanece impune entre as Naes. O soberano que quiser manter a sua conscincia pura, cumprir seus deveres de humanidade, nunca deve perder de vista o que j dissemos mais de uma vez: que a natureza somente lhe concede o direito de fazer a guerra a seus semelhantes por necessidade e, como um remdio sempre penoso, mas freqentemente necessrio contra a violncia ou contra a injustia obstinada. Se ele est imbudo dessa grande verdade, no usar do remdio alm dos limites justos, e se preservar bem de no torn-lo mais severo e mais funesto humanidade que o cuidado com a sua prpria segurana e a defesa de seus direitos o exigem.
138: Do DIREITO DE ENFRAQUECER o INIMIGO POR TODOS OS MEIOS LCITOS EM SI MESMOS: Desde que o objetivo de uma guerra justa o de dominar a injustia e a violncia, de constranger pela fora aquele que surdo voz da justia, tem-se o direito de fazer contra o inimigo o que for necessrio para enfraquec-lo e para incapacit-lo de resistir e manter a sua injustia. Pode-se escolher os meios mais eficazes e apropriados para esse fim, contanto que eles nada tenham de odioso, que no sejam ilcitos por si mesmos e proscritos pela lei da natureza.

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139: Do DIREITO SOBRE A PESSOA DO INIMIGO: O inimigo que injustamente me ataca d a mim um direito inquestionvel de repelir a sua violncia; e aquele que me ope as suas armas, quando estou a demandar somente o que me devido, torna-se o verdadeiro agressor por sua resistncia injusta; ele o agente primrio da violncia e me obriga a usar a fora para proteger-me do agravo que ele deseja perpetrar sobre a minha pessoa ou meus bens. Se os efeitos do uso dessa fora forem ao ponto de tirar-lhe a vida, apenas ele culpado desse resultado infeliz pois, se para poup-lo, fosse obrigado a submeter-me a injrias, em breve os bons seriam a presa dos maldosos. Essa a fonte do direito de matar os inimigos numa guerra. Quando no se pode vencer-lhes a resistncia e reconduzi-los a procedimentos mais suaves, tem-se o direito de tirar-lhes a vida. Sob o nome de inimigos deve-se incluir, como temos explicado, no somente o agente primrio da guerra, mas todos aqueles que a ele se unem e combatem por sua causa. 140: LIMITES DESSE DIREITO. NAo SE PODE MATAR UM INIMIGO

DE RESISTIR: Mas o direito indicado para justificar a morte dos inimigos aponta os limites deste mesmo direito. Desde que um inimigo se submeta e entregue as armas no se pode tirar-lhe a vida. Assim, devemos dar quartel queles que depem as armas num combate e quando se sitia uma praa, no se deve nunca recusar a vida de uma guarnio que deseja render-se. No se pode louvar em demasia a humanidade com a qual a maioria das Naes europias faz hoje a guerra. Se algumas vezes, no calor da batalha, um soldado recusa trgua, sempre contra a vontade dos oficiais, que se apressam em salvar a vida dos inimigos desarmados.
141: Do CASO PARTICULAR EM AVIDA PODE SER RECUSADA: H um caso, no entanto, em que se pode recusar a vida a um inimigo que se rende, e qualquer capitulao a uma praa reduzida a escombros. Isso ocorre quando o inimigo se torna culpado de violao muito grave do direito das gentes, especialmente quando ele transgrediu as leis da

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guerra. A recusa em poupar sua vida no conseqncia natural da guerra, mas uma punio do seu crime; uma punio que o ofendido tem o direito de infligir. Mas para que a penalidade seja justa, preciso que ela incida sobre o culpado. Quando existe guerra contra uma Nao feroz, que no observa regras e nunca pensa em dar trgua, pode-se puni-la na pessoa daqueles que so capturados (aqueles que esto entre os culpados) e tentar por esse rigor reconduzi-la s leis da humanidade. Mas em todos os casos onde a severidade no for absolutamente necessria, deve-se usar de demncia. Corinto foi destruda por ter violado o direito das gentes na pessoa dos embaixadores romanos. Ccero e outros grandes homens no deixaram de repreender esse rigor. Aquele mesmo que tem o mais justo motivo para punir um soberano, contra o qual est em guerra, ser sempre acusado de crueldade se ele infligir punio a povo inocente. Existem outros meios de punir o soberano; pode-se priv-lo de alguns direitos, subtrair-lhe cidades e provncias. O dano que disso toda Nao sofre decorre de uma participao inevitvel daqueles que se unem em sociedade poltica. 142: DAS REPRESLIAS: Isto nos leva a falar de uma espcie de reciprocidade algumas vezes praticada na guerra, e que se denomina represlia. Quando o general inimigo enforca, sem justa causa, alguns prisioneiros, far-se- tambm enforcar um nmero igual de seus homens, e da mesma qualidade, notificando-o de que continuar-se- a usar do mesmo procedimento, para compeli-lo a observar as leis da guerra. uma medida extrema e terrvel condenar morte de modo to miservel um prisioneiro em razo da culpa de seu general; e se j se tinha prometido poupar a vida desse prisioneiro, no se pode sem injustia exercer represlia contra ele. Entretanto, como um prncipe, ou o seu general, tem o direito de sacrificar a vida dos inimigos para a sua prpria segurana e a do seu povo, parece que, se ele est lidando com um inimigo desumano que freqentemente comete atrocidades, ele pode tomar a vida de certos prisioneiros, e poder trat-los como os seus prprios soldados tm sido tratados pelo inimigo. Mas a

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generosidade de Scipio deve ser imitada. Este grande homem, tendo reduzido submisso prncipes espanhis que tinham se revoltado contra os romanos, declarou-lhes que no levaria em conta refns inocentes, mas sim eles mesmos, se procedessem ilicitamente; e que no se vingaria de inimigo desarmado, mas apenas daqueles com armas na mO.(16) Alexandre, o Grande, tendo motivo para queixar-se de Dario por certas prticas maldosas, disse-lhe que, se ele fizesse a guerra dessa maneira, ele o perseguiria sem cessar e no lhe daria quartel. (I 7) Eis como se deve proceder com um inimigo que viola as leis da guerra, sem permitir que a punio de seu crime incida sobre vtimas inocentes. 143: SE O INIMIGO PODE PUNIR COM AMORTE UM COMANDANTE DE PRAA POR CAUSA DE SUA DEFESA OBSTINADA: Como se pode imaginar, num sculo esclarecido, ser permitido condenar morte um comandante que defendeu sua posio com medidas extremas; ou aquele que, em m posio, ousou sustent-la contra o exrcito real? Esta idia prevalecia ainda no ltimo sculo; pretendia-se dela fazer uma lei da guerra; e dela no se fez ainda completa reviso. Punir um homem valoroso por ter cumprido seu dever, que idia! Alexandre, o Grande pensava muito diferente quando determinou poupar alguns milsios por causa de sua bravura efidelidade. "Quando Phiton estava sendo levado execuo por ordem de Denis, o Tirano, porque tinha obstinadamente defendido a cidade de Regium, da qual era governador, ele gritou que era injusto p-lo morte por ter-se recusado a trair a cidade, e que o cu logo vingaria a sua morte". Deodoro de Siclia considerou a sua punio injusta.(lR) Em vo objetar-se-ia que uma defesa obstinada contra um exrcito real, especialmente quando a posio defendida fraca, somente resulta em derramamento de sangue. Tal defesa, ao deter o inimigo por alguns

Neque sein obsides innoxios, sedin ipsos, si defecerint, saeuuunon: nec ab inermi, sedab arma/o baste, poenas expetiturum. TIT.-UV, Lib. XXVIII.
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QUINT. CURT., Lib. IV, capo I e capo XI. Lib. XIV, capo 113, citado por GRCIO, lib. III, capo XI, XVI, n 5.

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dias mais, pode vir a salvar o Estado; e ainda mais, a coragem supre o defeito das fortificaes. O cavaleiro Bayard, tendo forado a sua passagem na cidade de Mzires, defendeu-a com sua intrepidez usual e mostrou claramente que um homem valente algumas vezes capaz de salvar uma praa que outro no consideraria defensvel. A histria do famoso stio de Malta tambm nos ensina at que ponto homens corajosos podem sustentar uma defesa quando a sua determinao forte. Quantas praas se renderam embora pudessem ter detido o inimigo por mais tempo, for-lo a esgotar seus recursos e abandonar o restante da campanha, e mesmo escapar por uma defesa mais bem mantida e mais vigorosa? Na ltima guerra, enquanto as praas mais fortes dos Pases Baixos renderam-se em poucos dias, o bravo general de Leutrum foi visto defendendo Coni contra os esforos de dois exrcitos poderosos, e mantendo em uma posio pobremente fortificada, quarenta dias de trincheira aberta, salvando, assim, a sua praa e com ela todo o Piemonte. Se insistis em dizer que, ao ameaar de morte um comandante, podeis abreviar um assdio sangrento, poupar as vossas tropas e ganhar um tempo precioso, eu respondo que um homem corajoso zombar de vossa ameaa; ou que, estimulado por um tratamento to vergonhoso ele, ocultando-se sob as runas de sua praa, vender-vos- caro a sua vida e cobrar-vos- por vossa injustia. Mas quando puderdes obter vantagem de uma conduta ilegtima, essa conduta no permitida. A ameaa de uma punio injusta , injusta em si mesma; constitui uma injria e um insulto. Mas sobretudo seria barbaramente cruel executar essa punio e se entendermos que ela no pode ter conseqncias, a punio permanece v e sem sentido. Meios justos e honrosos podem ser empregados para persuadir um governador a no esperar inutilmente por medidas extremas; e eles so hoje utilizados por generais sbios e humanos. Intima-se um governador a render-se quando tempo de faz-lo; oferece-se a ele uma capitulao honrosa e vantajosa, ameaando-o de que, se ele responder demasiado tarde, no mais ser recebido seno como prisioneiro de guerra ou como estando merc do vencedor. Se ele for obstinado mas seja, enfim, forado a render-se incondicionalmente, pode ser tratado juntamente com seus soldados com

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todo rigor do direito de guerra. Mas esse direito nunca se estende a ponto de tirar a vida do inimigo que depe as armas ( 140), a menos que se tenha tomado culpado de algum crime contra o vencedor (141). A resistncia levada ao extremo no torna um vencido passvel de puno exceto naquelas ocasies em que essa resistncia for manifestamente intil tratando-se, neste caso, de obstinao, e no de firmeza ou coragem. O verdadeiro valor tem sempre um objetivo razovel em vista. Suponhamos, por exemplo, que um Estado tenha se submetido inteiramente ao conquistador, com exceo de uma nica fortaleza, que no aguarda nenhum socorro externo, nenhum aliado ou vizinho capaz de salvar o resto do Estado conquistado. Numa situao como essa, o governador deve ser notificado do estado das cousas e ser intimado a entregar sua praa, e pode-se amea-lo de morte se ele persistir numa defesa absolutamente invivel, a qual pode somente resultar em derramamento de sangue. Se ele permanecer obstinado, ele merece sofrer a punio com a qual foi ameaado. Estou supondo que a justia da guerra seja problemtica e que no se trata de repelir uma opresso insuportvel. Pois se este governador defende de forma evidente a boa causa, se ele combate para salvar a sua ptria da escravido, lamentar-se- a sua infelicidade e as pessoas de corao o louvaro por ter se mantido firme at o fim e ter preferido morrer livre. 144: Dos TRNSFUGAS E DESERTORES: OS trnsfugas e desertores que o vencedor encontra entre os seus inimigos, so considerados culpados em relao a ele e, por isso, tem indubitavelmente o direito de puni-los. Mas eles no devem ser considerados propriamente como inimigos; eles so antes cidados prfidos, traidores de seu pas e o seu compromisso com o inimigo no pode faz-los perder esse carter, nem isent-los da punio merecida. No entanto, atualmente, quando deseres infelizmente so muito comuns, o nmero de faltosos obriga de algum modo a recorrer clemncia, sendo bastante comum, em capitulaes,permitir guarnio que se retira de uma praa um certo nmero de carretas cobertas nas quais ela salva os desertores.

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ANO<)S ENI )s: Mulheres,crianas, ancios enfermos e doentes esto includos entre os inimigos (. 70 e 72) e um beligerante possui direitos sobre eles, pois que pertencem Nao com a qual se est em guerra e porque, de Nao a Nao, os direitos e pretenses afetam o corpo da sociedade com todos os seus membros (Livro lI, . 81, 82 e 344). Todavia trata-se de inimigos que no oferecem resistncia e, conseqentemente, o beligerante no tem o direito de maltrat-los ou mesmo de usar de violncia contra eles, muito menos de conden-los morte (140). No h hoje Nao minimamente civilizada que no reconhea esse princpio de justia e humanidade. Se, ocasionalmente, um soldado enfurecido e dissoluto for ao ponto de violar as jovens e as mulheres ou de mat-las, de massacrar crianas e ancios, os oficiais deploram esses excessos; eles buscam reprimi-los e um general sbio e humano at mesmo os pune quando pode. Mas se as mulheres quiserem ser poupadas, elas devem manter-se absolutamente nas funes de seu sexo sem se envolverem em ofcio de homens, usando das armas. Tambm a leimilitardos suos,que probe maltratar as mulheres, faz exceo expressa quelas que cometerem atos de hostilidade.

145: DAS MUI l-IERF.5,

146: Dos M1NISTROS DA RELIGIO, DOS HOMENS LETRADOS, ETC.: Digo o mesmo dos ministros da religio pblica, dos homens letrados e de outras pessoas cujo gnero de vida est muito afastado do ofcio das armas. No que essas pessoas, nem mesmo os ministros religiosos, tenham necessariamente e como resultado de suas atividades qualquer carter de inviolabilidade, ou que a lei civil possa ter conferido essa condio de inviolabilidade em relao ao inimigo. Mas como no resistem ao inimigo pela fora ou violncia, este no tem o direito de usar desse fato contra eles. Entre os antigos romanos, os sacerdotes conduziam armas; o prprio Jlio Csar era sumo pontfice; e entre os cristos, prelados, bispos e cardeais eram vistos vestindo armaduras e comandando exrcitos. Portanto, eles se submetiam ao destino comum dos militares. Quando eles combatiam, certamente no pretendiam ser intocveis.

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147: Dos TRABALHADORES E EM GERAL DE TODO OPOVO Outrora, quando uma Nao fazia a guerra, especialmente quando ela era atacada, todo homem capaz de pegar em armas tornava-se soldado. Entretanto, Grcio alega'"? o exemplo de diversos povos e de muitos homens de guerra importantes, que pouparam os trabalhadores em considerao utilidade do labor deles para o gnero humano. Atualmente, a guerra feita por exrcitos regulares; o povo, os camponeses, os burgueses com ela no se envolvem e, como regra, no tm nada a temer da espada inimiga. Contanto que os habitantes se submetam ao senhor do pas, paguem as contribuies demandadas e se abstenham dos atos de hosti-lidade, eles vivem em segurana como se fossem amigos; eles conservam mesmo o que lhes pertence; os camponeses vm livremente vender os seus produtos do campo e so protegidos tanto quanto possvel das calamidades da guerra. Costume louvvel, bem digno das Naes que se orgulham de sua humanidade, e vantajoso at mesmo ao inimigo que se beneficia dessa moderao. Aquele que protege habitantes desarmados, que mantm os seus soldados sob estrita disciplina e que protege o pas, nele encontra uma subsistncia disponvel e se preserva de danos e perigos. Se ele tem alguma razo para desconfiar dos camponeses e dos burgue-ses, tem o direito de desarm-los e deles exigir refns e aqueles que desejam ser poupados das calamidades da guerra, devem submeter-se s leis que o inimigo lhes impe.
148: Do DIREITO DE FAZER PRISIONEIROS DE GUERRA: Mas todos esses inimigos vencidos ou desarmados, que a humanidade obriga a poupar, e todas essas pessoas que pertencem Nao inimiga, inclusive as mulheres e as crianas, podem, de direito, ser detidos e feitos prisioneiros, seja para impedi-los de retomar armas, seja com o objetivo de enfraquecer o inimigo (138) ou ainda com o intuito de, ao deter alguma mulher ou criana cara ao soberano, propor-se a alcanar
Liv. III, capo XI, XI.

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condies de paz eqitativas mediante a entrega desses refns preciosos. verdade que hoje esta ltima medida raramente posta em prtica pelas Naes civilizadas da Europa. Ampla proteo concedida s crianas e s mulheres assim como toda a liberdade para se retirarem para onde quiserem. Mas essa moderao, essa polidez, louvvel sem dvida, no de absoluta obrigatoriedade e se um general decide dispens-las, ele no deve ser acusado de descumprir as leis da guerra; ele pode ser guiado, neste caso, de acordo com o que seus interesses requererem. Se, sem razo e por capricho, ele nega s mulheres essa liberdade, ele ser considerado corno brutal e grosseiro e ser censurado por no se conformar com um costume baseado em motivos humanitrios. Mas possvel que ele possa ter boas razes para recusar atender s consideraes da cortesia, ou mesmo da piedade. No caso de se buscar submeter pela fome uma praa forte cuja posse muito importante, cabe recusar deixar sair dela bocas inteis. Nada existe a esse respeito que no seja permitido pelo direito de guerra. No entanto, grandes homens, quando movidos pela compaixo em ocasies dessa natureza, tm sido vistos ceder aos movimentos de humanidade contra seus prprios interesses. J falamos da conduta de Henrique, o Grande, durante o stio de Paris. Deixe-nos acrescentar a esse nobre exemplo a conduta de Tito no stio de Jerusalm. Ele queria, de incio, reenviar cidade os famintos que saam dela, mas ele no pde dominar a piedade que esses miserveis lhe inspiravam; os sentimentos de um corao sensvel e generoso prevaleceram sobre os princpios do general. 149:NO SE PODE DEIXAR MORRER UM PRISIONEIRO DE GUERRA: Desde que o vosso inimigo est desarmado e rendido, no tendes mais qualquer direito sobre a sua vida (140), a no ser que esse direito vos seja dado por motivo de algum novo ato, ou que esse inimigo tenha, anteriormente, se tornado culpado em relao a vs de um crime passvel de pena capital (141). Outrora era uma falta grave, uma pretenso injusta e selvagem atribuir-se o direito de levar morte os prisioneiros de guerra mesmo por intermdio de um carrasco. H muito que princpios mais justos e

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humanos tm prevalecido. Carlos I, rei de Npoles, tendo vencido e feito prisioneiro seu rival Conradino, mandou decapit-lo publicamente em Npoles juntamente com Frederico da ustria, ambos prisioneiros. Este ato brbaro deu margem indignao universal e Pedro IH, rei de Arago, o qualificou como o cruel Carlos por ter cometido crime detestvel e at ento inaudito entre os prncipes cristos. Tratava-se, entretanto, de um perigoso rival, que lhe disputava a coroa. Mas mesmo supondo que as pretenses de seu rival fossem injustas, Carlos poderia t-lo mantido na priso at que ele tivesse renunciado, ou lhe dado garantias para o futuro.
150: COMO SE DEVE TRATAR OS PRISIONEIROS DE GUERRA: Tem-se o direito de deter os prisioneiros e com este objetivo encarcer-los e maniet-los, se houver motivo para temer que se revoltem ou que fujam; mas nada autoriza a trat-los duramente a no ser que se tenham tomado pessoalmente culpados de algo para com aquele que os detm. Nesse caso, tem este o direito de puni-los. Alm disso, os vencedores devem lembrar-se que eles so homens e infelizes. Um corao generoso sente compaixo acerca do inimigo abatido e conquistado. Deve-se dar aos povos da Europa o louvor que eles merecem: raro que prisioneiros de guerra sejam maltratados por eles. Quando ouvimos o relato do tratamento que os prisioneiros de guerra tm tido por parte dos ingleses e franceses, admiramos e reverenciamos esses povos generosos. Mais do que isso, por uma prtica que revela igualmente o esprito honroso e humano dos europeus, um oficial prisioneiro de guerra liberado sob palavra; ele tem o consolo de passar o tempo do cativeiro em seu pas, no seio de sua famlia; e aquele que o liberou est seguro de que esse oficial se sente preso como se ainda se mantivesse no crcere. 151: SE PERMITIDO MATAR PRISIONEIROS QUE NO SE PODE APRISIONAR OU NUTRIR: Outrora, formulava-se uma questo embaraosa. Quando se tem um grande nmero de prisioneiros e se toma impossvel aliment-los ou mant-los encarcerados com segurana, ter-se- o direito

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de fazer com que peream, ou devem eles ser reenviados ao inimigo com o risco de fortific-lo e ser por ele vencido posteriormente? Atualmente, a questo no apresenta dificuldade; tais prisioneiros so reenviados sob palavra e a conduta imposta de que eles no retomem armas por um perodo determinado, ou at o fim da guerra. E como absolutamente necessrio que todo comandante tenha o poder de concordar com as condies com as quais o inimigo aceitar a sua rendio, os termos que ele aceita com o intuito de salvar a sua vida ou a sua liberdade e as de seus soldados so vlidos, como sendo feitos no mbito de seus poderes (. 19 e segs.) e o seu soberano no pode anul-los. Muitos desses casos ocorreram durante a ltima guerra. Diversas guarnies holandesas comprometeram-se a no servir contra a Frana e seus aliados durante um ou dois anos; um corpo de tropas francesas, cercado em Lintz, foi reenviado aqum do Reno, na condio de no usar armas contra a rainha da Hungria at determinado tempo. Os soberanos dessas tropas respeitaram os compromissos assumidos. Mas convenes deste tipo tm os seus limites, os quais consistem em no atentar contra os direitos do soberano sobre os seus sditos. Assim, o inimigo pode impor aos prisioneiros que libera a condio de no usar armas contra ele at o fim da guerra, uma vez que ele teria o direito de mant-los prisioneiros at ento; mas ele no tem o direito de exigir que eles renunciem para sempre liberdade de lutar pelo seu pas, porque, uma vez terminada a guerra, ele no tem mais razo de exercer controle sobre aqueles que foram seus prisioneiros, e estes por seu lado no podem assumir um compromisso absolutamente contrrio sua qualidade de cidados ou de sditos. Se a ptria os abandona, eles se tornam livres e tm o direito tambm de a ela renunciar. Mas se estamos lidando com uma Nao igualmente feroz, prfida e temvel, devemos reenviar-lhes os soldados que talvez a deixe em condies de destruir-nos? Quando a nossa segurana se mostra incompatvel com a de um inimigo, mesmo submetido, no h equilbrio. Mas para fazer perecer um grande nmero de prisioneiros a

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sangue frio, mister considerar: primeiramente, que nenhuma promessa tenha sido feita para poupar-lhes a vida e, segundo, que devemos nos assegurar de que nossa preservao exige semelhante sacrifcio. Por menos que a prudncia permita confiar na palavra dos prisioneiros ou desprezar-lhes a m f, um inimigo generoso ouvir mais a voz da humanidade que a da duvidosa cautela. Carlos XII, incomodado por seus prisioneiros depois da batalha de Narva, contentou-se em desarm-los e liber-los. O seu inimigo, ainda tomado do medo suscitado por guerreiros temveis, mandou para a Sibria os prisioneiros de Pultawa. O heri sueco confiou demasiado em sua generosidade enquanto o hbil monarca da Rssia foi talvez um pouco severo em sua prudncia; mas a necessidade permite a severidade, ou mesmo a faz desaparecer. Quando o almirante Anson capturou, perto de Manila, o rico galeo de Acapulco, ele viu que seus prisioneiros eram mais numerosos que toda a sua equipagem, e foi ento forado a confin-los ao fundo do poro onde eles sofreram crueldades atrozes. Mas se ele tivesse exposto ao risco de ser ele prprio aprisionado e o seu navio dominado, a sua conduta humanitria iria justificar-lhe a imprudncia? Depois da sua vitria na batalha de Azincourt, Henrique V, rei da Inglaterra, sentiu-se na cruel necessidade de sacrificar os prisioneiros para a sua prpria segurana. "Nesta derrota universal, disse o padre Daniel, ocorreu nova infelicidade, que custou a vida de um grande nmero de franceses. Uma parte da vanguarda francesa se retirava com alguma ordem, e muitos a ela se juntaram. O rei ingls, ao v-los do alto de uma elevao, pensou que eles quisessem voltar a atacar. Foi-lhe dito ao mesmo tempo que o acampamento onde ele tinha deixado as suas bagagens estava sendo atacado. De fato, certos homens nobres da Picardia, tendo armado cerca de sessenta camponeses, atacaram de improviso o acampamento ingls. Esse prncipe, temendo algum reverso desastroso, mandou seus ajudantes-de-campo a todos os quadrantes do exrcito com ordens de usar a fora contra todos os prisioneiros com o receio de que, se o combate recomeasse, o cuidado em supervision-los atrapalharia seus soldados e esses prisioneiros

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acabassem por retornar a seus companheiros. A ordem foi executada imediatamente e os prisioneiros foram passados espada'". Somente uma necessidade maior pode justificar uma execuo to terrvel, e deve-se lamentar o comandante que se encontrou na contingncia de determin-la. 152:SE PERMITIDO ESCRAVIZAR OS PRlSIONEIROS DE GUERRA: Podem os prisioneiros de guerra serem reduzidos escravido? Sim, nos casos em que for justificado mat-los porque eles se tornaram pessoalmente culpados de algum crime merecedor de pena capital. Os antigos, acreditando ter o direito de punir os prisioneiros de guerra com a morte, os vendiam como escravos. Em toda ocasio, em que no posso sem culpa levar meu prisioneiro morte, no posso fazer dele um escravo. Pois se lhe poupo a vida para conden-lo a um destino to contrrio natureza humana, no fao seno manter com ele o estado de guerra: ele no me deve nada. O que a vida sem liberdade? Se algum considera a vida como um favor, quando ela poupada com correntes, desde cedo, que assim seja; que ele aceite o presente e que se submeta sua condio e que cumpra os deveres da decorrentes. Mas que v estudar isso em outro lugar: h muitos autores que tm tratado bastante dessa questo. De minha parte, no acrescentarei nada alm: porque este oprbrio da humanidade tem sido felizmente banido da Europa. 153: DA PERMUTA E DO RESGATE DE PRlSIONEIROS: Prisioneiros de guerra so, pois, detidos para impedi-los de juntaram-se aos inimigos ou para obter do soberano deles uma satisfao justa como o preo da liberdade dos mesmos. Aqueles que os retm com este ltimo objetivo em vista, no so obrigados a liber-los seno depois de terem obtido satisfao. Quando os prisioneiros so mantidos para evitar que se unam ao inimigo, aquele que faz uma guerra justa tem o direito de det-los, se entender conveniente, at o final da guerra e quando ele os libera pode, com justia, exigir um resgate, seja a ttulo de indenizao
(20)

Histoire de France,

de Cbaries VI.

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para a paz, seja,se a guerra estiver continuando, como meio de enfraquecer pelo menos as finanas do inimigo, ao mesmo tempo em que os soldados lhe so restitudos. As Naes da Europa, sempre louvveis no cuidado que tomam em suavizar os males da guerra, introduziram costumes humanos e salutares em relao aos prisioneiros. Mesmo durante a guerra, eles so permutados ou resgatados e tem havido em geral o cuidado de regulamentar antecipadamente essas questes, mediante acordo. Entretanto, se uma Nao considera mais vantajoso deixar seus soldados prisioneiros nas mos do inimigo durante a guerra, mais do que permut-los com os seus prisioneiros, nada impede que ela siga a poltica que esteja mais de acordo com seus interesses, se ela no estiver eventualmente vinculada a um acordo. Esse seria o caso de um Estado abundante em soldados e que estivesse em guerra com uma Nao cuja fora consiste mais no valor que no nmero de seus soldados. Teria sido pouco vantajoso ao imperador Pedro, o Grande, devolver aos suecos os seus prisioneiros por um nmero igual de russos. 154: O ESTADO EST OBRlGADO A UBERT-LOS: Mas o Estado obrigado a libertar, s suas expensas, os seus cidados e soldados prisioneiros de guerra, desde que possa faz-lo sem perigo, e tenha os meios para tanto. Era a servio e para a causa do seu Estado que eles caram no infortnio e, por esta razo, o Estado deve fornecer as despesas para manuteno deles, durante o tempo da priso. Outrora, os prisioneiros de guerra eram obrigados a libertar-se por si prprios, mas nessa poca cobrava-se pelo resgate daqueles que os soldados ou os oficiais podiam capturar. A prtica moderna est mais de acordo com a razo e a justia. Se no se pode manter a liberdade dos prisioneiros durante a guerra, pelo menos necessrio, se possvel, condicionar-lhes a liberdade no tratado de paz. um cuidado que o Estado deve queles que por ele se expuseram. Entretanto, deve-se admitir que toda Nao pode, a exemplo dos romanos para compelir os seus soldados mais vigorosa resistncia, fazer uma lei que probe o resgate dos prisioneiros de guerra. Desde que toda a sociedade assim convencionou, ningum pode queixar-se. Mas a lei muito severa

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e elano poderia convir seno a essesheris ambiciosos,que esto resolvidos a sacrificar tudo com o intuito de se tomarem senhores do mundo.

155:

PERMITIDO MANDAR ASSASSINAR OU ENVENENAR UM INIMIGO:

Visto que neste captulo estamos tratando dos direitos que a guerra confere contra a pessoa do inimigo, cabe aqui considerar uma famosa questo sobre a qual os autores esto divididos. Trata-se de saber se permitido, legitimamente, empregar meios de toda sorte com o intuito de tirar a vida de um inimigo; seria permitido mandar assassin-lo, ou envenen-lo? Certos autores tm dito que se ns temos o direito de tirar a vida de uma pessoa, a maneira de faz-lo indiferente. Princpio estranho, felizmente reprovado pela simples idia difusa de honra! Tenho o direito na sociedade civil de reprimir um caluniador, de reaver o meu bem daquele que injustamente dele se apossou; ser indiferente a maneira de faz-lo? As Naes podem, de armas na mo, obter justia quando esta lhes recusada; seria indiferente sociedade humana que essas Naes empregassem meios odiosos, capazes de espalhar a desolao por todo o mundo, e dos quais o mais justo e eqitativo dos soberanos, apoiado mesmo pela maioria dos soberanos, no poderia ser preservado? Mas com o intuito de tratar solidamente desta questo, deve-se primeiro no confundir assassnios com aes de surpresa, perfeitamente admitidas na guerra. Quando um soldado resoluto entra no acampamento do inimigo noite e penetra a tenda do general e o apunhala, nada existe a de contrrio s leis naturais da guerra, nada mesmo, talvez seja at mesmo louvvel numa guerra justa e necessria. Mutius Scvola foi louvado por todos os grandes homens da antigidade, e o prprio Porsena, que ele tinha querido matar, rendeu justia sua coragem. (21) Pepino, pai de Carlos Magno, tendo cruzado o Reno com um nico soldado, foi matar o seu inimigo no quarto. (22) Se algum tem condenado
VideTIT.-LIV.II, Lib. 11, capo XII, CCERO, pro P. Sextio, VALER. MAXIM., Lib. I1I, cap.I1I, PLUTARCO, me de Publicola. Vide GRCIO, Liv. I1I, capo IV, XVIII, nOl.

(21)

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tais aes ousadas no seno para lisonjear aqueles situados nas posies mais elevadas, que desejariam deixar aos soldados e subordinados todo o perigo da guerra. verdade que se punem ordinariamente os autores dessas aes com suplcios rigorosos; a razo que o prncipe (ou o general), atacado desse modo, usa por sua vez, de seus direitos; ele procura a sua segurana e tenta, pelo terror dos suplcios, retirar de seus inimigos o propsito de atac-lo com recurso diferente do uso da fora aberta: ele pode adequar a sua severidade a um inimigo, de acordo com as necessidades de sua prpria segurana. verdade tambm que ser muito mais louvvel que ambas as partes renunciem a toda espcie de hostilidade que pe um inimigo na necessidade de empregar suplcios para defender-se do outro. Pode-se fazer disso um costume, uma lei convencional da guerra. Os generosos guerreiros dos dias atuais no apreciam os procedimentos dessa natureza e eles somente tentariam us-los naquelas raras ocasies em que a segurana da ptria os demandasse. Essa era a razo porque aqueles seiscentoslacedemonianos, sob a liderana de Lenidas, penetraram no campo inimigo e foram diretamente tenda do rei da Prsia.F" e essa expedio estava contemplada pelas leis ordinrias da guerra e no autorizava o rei a trat-los mais severamente do que outros inimigos. Com o intuito de proteger-se de ataques repentinos e ousados suficiente manter guarda cuidadosa e seria injusto empregar para isso o terror dos suplcios, o qual ser reservado queles que se introduzem sorrateiramente isolados, ou em muito pequeno nmero, favorecidos sobretudo por disfarces. Denomino, pois, assassnio um homicdio cometido mediante traio, seja quando se empregam traidores, sditos do morto ou de seu soberano, seja quando executado pela mo de qualquer outro emissrio, introduzido como suplicante ou refugiado, ou como trnsfuga, ou enfim como estrangeiro; digo que tal atentado uma ao infame e execrvel tanto para aquele que a executa como para aquele que a manda executar. Por que julgamos que um ato criminoso, contrrio lei da natureza,
JUSTINIANO, Lib. n, capo XI, 15.

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se no porque esse ato pernicioso sociedade humana, e a prtica dele funesta aos homens? E qual flagelo seria mais terrvel humanidade do que o costume de mandar assassinar o inimigo por um traidor? Apenas um golpe, mas ao introduzir essa licena, segue-se que a mais pura virtude, a amizade da grande maioria de soberanos, no sero mais suficientes para pr um prncipe em segurana. Houvesse Tito reinado nos tempos do Velho Montanha, tivesse ele feito a felicidade dos homens, como fiel observador dos princpios da paz e eqidade, tivesse ele sido respeitado e adorado por todos os potentados; na primeira dos assassinos tivesse querido suscitar-lhe, controvrsia que o essa benevolncia universal no poderia salv-lo e o gnero humano estaria privado de suas delcias. Que no se afirme que esses golpes no usuais so permitidos somente em favor do bom direito. Em todas as guerras ambas as partes clamam por justia. Quem, por seu exemplo, contribui para a introduo de prtica to funesta declara-se pois inimigo do gnero humano e merece a execrao de todos os sculos. O assassnio de Guilherme, prncipe de Orange, foi detestado por todos, embora os espanhis tratassem esse prncipe de rebelde. E esses mesmos espanhis defenderam-se, como de uma calnia atroz, de terem tido a menor participao no assassinato de Henrique, o Grande, que se preparava para fazer uma guerra contra eles capaz de abalar-lhes a monarquIa. O veneno dado por traio tem algo de mais odioso ainda que o assassinato; o efeito dele mais inevitvel e o uso mais terrvel e tambm tem sido ele ainda mais detestvel. Grcio tem recolhido testemunhos a respeito (24). Os cnsules C. Fabricius e Q. Emilius rejeitaram com horror a proposta do mdico de Pirro que se ofereceu para envenenar o seu superior e eles mesmos advertiram esse prncipe para permanecer em guarda contra o traidor, acrescentando altivamente: para vos a corte que vos damos este aviso mas para no nos ns mesmos, de E eles muito apropriadamente observam na mesma carta
(24)

Liv.. IJI, capo IV, xv

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que para o interesse comum de todas as Naes que no se dem tais exemplos. (25) O senado romano tinha por princpio que a guerra devia ser feita com as armas e no com o veneno. (26) Sob o prprio Tibrio, rejeitou-se o oferecimento do prncipe dos Cattes de envenenar Arrnnio, e foi-lhe respondido o seguinte: "que opovo romano se de seus inimigos abertamente pelafora, e no por msprticas e maquinaes (27). Tibrio glorificava-se ao imitar assim a virtude dos antigos capites romanos. Este exemplo tanto mais notvel quando se considera feito perecer por traio Varo com trs legies romanas. que Arrnnio O senado, e o prprio Tibrio, entenderam no ser permitido fazer uso de veneno, mesmo contra um prfido, por uma espcie de reciprocidade ou de represlia. O assassinato e o envenenamento so, pois, contrrios s leis da guerra e so igualmente proibidos pela lei natural e pelo consenso dos povos civilizados. O soberano que fizer uso desses meios execrveis deve ser considerado como inimigo do gnero humano e todas as Naes so chamadas, para o bem comum dos homens, a se unirem contra ele, a reunir suas foras para puni-lo. Em particular, um inimigo que tenha sido objeto dessas prticas detestveis tem o direito de no lhe dar nenhuma oportunidade. Alexandre, o Grande, declarava "que estava determinado a tomar as mais extremas medidas contra Dario, no mais como um inimigo em guerra legtima, mas como um envenenador e assassino'Y?. O interesse e a segurana daqueles que comandam exigem que eles empreguem todos os seus esforos para impedir a introduo de tais prticas. Eumenes sabiamente dizia "no acreditar que um general

(25)Sed communis exemplietfidei ergo visum est, uti te salvum velimus; ut esset, quem armis vincere possemus. Apud AUL. Gell., Noct, Attic., !ib.III, capo VIII.
(2(,)

Armis bell, non tenenis, geri debere. VALER. MAX., i. VI, num. 1.

Non fraude, neque occultis, sed palm et armatum populum Romanum hostes suas ulcisi. TACIT., Anna!., 1. II, c. 88.

Quint.-Curt., Lib. IV, capo XI, num. 18.

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do exrcito fosse querer obter a vitria pelo uso de meio pernicioso, que poderia recair sobre ele prprio."(29) E foi com base no mesmo princpio que Alexandre julgou o ato de Besso, que tinha assassinado Dariov'".

156: SE PERMITIDO UTILIZAR ARMAS ENVENENADAS: H mais nuances a excusar ou a defender no uso de armas envenenadas. Pelo menos, no existe nesse uso traio, ou via secreta. Mas esse uso no menos proibido pela lei natural, a qual probe multiplicar os males da guerra indefinidamente. na verdade, necessrio abater o vosso inimigo e sobrepujar-lhes os esforos mas, uma vez posto fora de combate, ser necessrio que ele morra inevitavelmente com ferimentos? Ainda mais, se envenenais as vossas armas, o vosso inimigo far o mesmo e, assim, sem ganhar nenhuma vantagem para a deciso da controvrsia vs tereis apenas contribudo para a guerra ser mais cruel e mais terrvel. Somente a necessidade autoriza as Naes a fazerem a guerra; todas as Naes devem abster-se de tudo que possa tom-la mais funesta; e elas esto, na verdade, obrigadas a opor-se guerra. Assim com razo, e de acordo com o seu dever, que os povos civilizados tm posto entre as leis de guerra, o princpio que probe envenenar as armas/H) e no interesse da segurana comum de todos os povos, admite-se punir aqueles que primeiro que venham a infringir essa lei.
157: E AS Concorda-se geralmente ainda em condenar o envenenamento das guas, das fontes e dos poos, porque, dizem alguns autores, com isso pode-se levar morre pessoas inocentes, alm dos inimigos. uma razo adicional, mas no a nica, nem mesmo a verdadeira: pois no se deixa de atirar em navio inimigo embora o

(29) Nee Antigonum, nec quemquam ducum, sicvelle tnncere, ut ipsese exemplu: pessimum statuat. jUSTIN., Lib. XIV, c. I, num. 12.

Quem quidem (Bessum) ema adftxum oidere festino omnibus regibus genfibusque fidei, quam vio/avit, mentaspoenas soluentem. QUINT. CURT., Lib. VI, c. IH, num 14.

Vide GRCIO, Liv. III, capo IV, XVI.

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navio tenha a bordo passageiros neutros. Mas enquanto o uso de veneno proibido, perfeitamente legtimo desviar o curso d'gua, cortar-lhe as fontes ou tom-las de algum modo inteis, com o intuito de forar o inimigo a render-se. (32) uma medida mais suave do que a das armas. 158: DISPOSIES QUE PRECISO MANTER CONTRA O INIMIGO: No deixemos essa matria, concernente ao direito que se tem contra a pessoa do inimigo, sem dizer uma palavra sobre as disposies que devem ser mantidas acerca dele. Pode-se j deduzi-las do que dissemos antes, especialmente no primeiro captulo do segundo livro. Nunca esqueamos que nossos inimigos so homens. Reduzidos necessidade incmoda de alcanar nosso direito pela fora das armas, no deixemos de lado a caridade que nos une a todo gnero humano. Dessa maneira, defenderemos corajosamente os direitos da ptria, sem violar os da humanidade. Que nosso valor se preserve de toda ndoa de crueldade, e que nossa vitria no seja diminuda por atos desumanos e brutais. Mario e tila so agora detestados; no se pode impedir de admirar e amar Csar: sua generosidade e clemncia quase foram suficientes para resgatar a injustia de seus procedimentos. A moderao, a generosidade do vencedor, lhe so mais honrosas que a sua coragem; elas indicam mais seguramente uma grande alma. Em acrscimo glria que segue infalivelmente essa virtude, tm-se visto com freqncia frutos presentes e reais de humanidade para com o inimigo. Leopoldo, duque da ustria, ao sitiar Soleure em 1318, construiu uma ponte sobre o Aar e nela colocou um numeroso corpo de tropas; o rio aumentou de modo no usual e levou embora a ponte e aqueles que estavam sobre ela. Os sitiados correram para ajudar as vtimas e salvaram um grande nmero delas. Leopoldo, vencido por essa marca de generosidade, levantou o cerco e fez a paz com a cidade. O duque de Cumberland parecia-me ter mostrado mais ainda a sua superioridade depois da sua vitria em Dettingen. Quando estava se tratando de uma ferida, trouxeram um oficial francs, ferido mais
Ibidem, XVII.

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gravemente que ele. O principe determinou imediatamente a seu cirurgio deix-lo, para socorrer esse oficial inimigo. Se os homens de alta patente soubessem como semelhantes aes os tomam respeitados e estimados, eles procurariam realiz-las, mesmo quando a elevao de seus sentimentos no os conduzisse a tanto. Atualmente as Naes da Europa quase sempre fazem guerra com muita moderao e generosidade. Dessas disposies nascem diversas prticas recomendveis, que atestam com freqncia o alto grau de cortesia. Provises so, s vezes, enviadas a um governador sitiado. Abstem-se ordinariamente de atirar nos quartis do rei ou do general. No h seno a ganhar com essa moderao, quando se est a lidar com um inimigo generoso. Mas ela no obrigatria quando pode prejudicar a causa que se defende e v-se, com freqncia, que um general sbio ser guiado a esse respeito pelas circunstncias, pelo que exige a segurana do exrcito e do Estado, pela grandeza do perigo, e pelo carter e conduta do inimigo. Se uma Nao fraca, uma cidade, atacada por um conquistador cruel, que ameaa destru-la, abster-se- ela de atirar sobre o quartel inimigo? Ao contrrio, a ele, se possvel, que todos os tiros devem ser endereados. 159: Dos PROCEDIMENTOS EM RELAO PESSOA DE UM REI INIMIGO: Outrora, aquele que conseguisse matar um rei ou general inimigo era louvado e recompensado. Conhecem-se as honras relacionadas com os despqos opimos. Nada poderia ser mais natural: os antigos quase sempre combatiam para a prpria segurana e, freqentemente, a morte do dirigente punha fim guerra. Atualmente, um soldado no ousaria, ordinariamente, vangloriar-se de ter tirado a vida do rei inimigo. Os soberanos concordam assim tacitamente em pr-se em segurana. Deve admitir-se que onde a guerra no for violenta e onde a segurana do Estado no est em jogo, nada h mais louvvel que esse respeito pessoa do soberano e essa conformidade com os deveres mtuos das Naes. Em semelhante guerra, tirar a vida do soberano da Nao hostil, quando ela poderia ser poupada, seria talvez fazer a essa Nao maior dano do que necessrio para terminar de forma satisfatria a

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disputa. Mas a lei da guerra no determina que se poupe a pessoa do rei em todas ocasies; e a ela no se est obrigado quando se tem a oportunidade de faz-lo prisioneiro.
CAPTULO

IX

Do direito da guerra com respeito aos bens do inimigo

160:
DO DIREITO SOBRE OS BENS PERTENCENTF.5 AO INIMTC"O:

O Estado que recorre s armas para uma causa justa tem duplo direito

contra o seu inimigo: 1 O direito de ter a posse do que lhe pertence e que o inimigo lhe recusa; a esses bens devem ser acrescentados as despesas feitas para esse fim, os custos da guerra e a indenizao de danos uma vez que, se o Estado for obrigado a arcar com tais despesas e perdas, no obteria por inteiro o que lhe pertence ou o que lhe Ele tem o direito de enfraquecer o inimigo para coloc-lo devido. sem condies de cometer violncia injusta (138), ou seja, o direito de subtrair-lhe os meios de resistncia. Donde so derivados todos os direitos da guerra sobre os bens do inimigo. Refiro-me aos casos ordinrios e ao que se relaciona particularmente com os bens do inimigo. Em certas ocasies, o direito de puni-lo d margem tanto a novos direitos sobre os bens que lhe pertencem, como sobre a sua pessoa. Disso falaremos oportunamente. 161: Do DIREITO DE APOSSAR-SE DOS BENS DO INIMIGO: O inimigo deve ser privado de seus bens, do que possa aumentar as suas foras e p-lo em condies de fazer a guerra. Todo beligerante busca este objetivo da maneira mais conveniente para ele. Quando pode, apodera-se dos bens do inimigo, deles se apropria, e com isso no somente se reduzem as foras oponentes, ou se incrementam as suas prprias, mas tambm se procura obter, pelo menos em parte, uma indenizao, um equivalente, seja em razo da prpria guerra, seja para atender a despesas e perdas que ela causa e, dessa forma, faz-se justia a si mesmo.

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162: Do SE SUBTRAI AO INIMIGO COMO FORMA DE PUNIO: O direito segurana freqentemente autoriza um Estado a punir a injustia ou a violncia. uma nova condio para privar um inimigo de alguma parte de seus bens. mais humano punir uma Nao deste modo do que fazer a penalidade incidir sobre a pessoa dos cidados. Para este fim, a Nao pode ser privada de cousas valiosas tais como direitos, cidades ou provncias. Mas todas as guerras no do motivos justos de punir. A Nao que tem suportado uma causa m em boa f e com moderao mais merecedora da compaixo do que da clera de um conquistador generoso. E em caso de dvida deve-se presumir que o inimigo esteja agindo de boa f (Preliminares 21; Livro IH, 40). somente a injustia manifesta, destituda mesmo de pretextos plausveis, ou o excesso odioso nos procedimentos, que do ao inimigo o direito de punir. E em toda ocasio, ele deve limitar a punio ao que exigem a sua segurana e a das Naes. louvvel ouvir a voz da clemncia tanto quanto a prudncia o permite. Essa virtude suave quase sempre mais til quele que a exerce do que o rigor inflexvel. A clemncia do grande Henrique secundou maravilhosamente o seu valor, quando esse bom prncipe se viu forado a conquistar o seu reino. Ele no submeteu seno os inimigos pelas armas e a sua bondade lhe proporcionou sditos devotos. 163: Do SE DO INIMlGO PARA OBRIGA-LO A DAR UMAJUSTA SATISIW;O: Enfim, um beligerante toma posse do que pertence ao inimigo, das suas cidades, das suas provncias, com o intuito de induzi-lo a condies razoveis e de compeli-lo a aceitar uma paz numa base eqitativa e slida. Toma-se dele, assim, muito mais do que ele deve, mais do que dele se pretende, mas isto feito com a inteno de restituir o excesso pelo tratado de paz. Na ltima guerra, por exemplo, o rei da Frana declarou que no pretendia nada para si mesmo e, de fato, ele devolveu todas as suas conquistas pelo tratado d'Aix-Ia-Chapelle. 164: Do BUTIM: Enquanto cidades e terras tomadas do inimigo so chamadas de conquistas, todos os bens mveis que dele so subtrados

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constituem o bulim. Esse butim, no menos que as conquistas, naturalmente pertence ao soberano que faz a guerra pois somente ele tem demandas acerca da culpa do inimigo, as quais o autorizam a apoderar-se e a apropriar-se dos bens desse inimigo. Os seus soldados, e mesmo os auxiliares, so somente instrumentos em sua mo para que ele possa fazer valer o seu direito. Ele os mantm e os paga e o que eles fazem, portanto, feito em seu nome e para ele. Se eles no forem associados na guerra, esta no feita para eles, os quais no tm direito ao butim ou s conquistas. Mas o soberano pode admitir, quando quiser, que as tropas participem do butim. Atualmente lhes permitido na maior parte das Naes, desde que o general concorde, participarem da pilhagem, dos despojos dos inimigos subsistentes no campo de batalha, da pilhagem da parte derrotada ou de uma cidade tomada por assalto. Em muitas campanhas, o soldado adquire tudo o que pode tirar das tropas inimigas, com exceo da artilharia, das munies de guerra, dos armazns e comboios de provises e de forragem, destinados necessidade e uso do exrcito. Desde que o costume a respeito subsiste num exrcito, seria injurioso excluir os auxiliares do direito outorgado s tropas. Entre os romanos, o soldado era obrigado a pr todo o butim que tomava em estoque pblico. O general determinava ento a venda desse butim e distribua alguma parte dele aos soldados de acordo com o nvel de cada qual, e encaminhava o restante ao tesouro pblico. 165: DAS CONTRIBUIES: A pilhagem do campo e dos lugares indefesos foi substituda por um costume ao mesmo tempo mais humano e mais benfico ao soberano beligerante: o costume das contribuies. Quem faz uma guerra justa tem o direito de fazer o pas inimigo contribuir para a manuteno de seu exrcito e para todas as despesas da guerra. Ele assim obtm uma parte do que lhe devido e os sditos do inimigo, ao submeterem-se s imposies, tm os seus bens protegidos de pilhagem e o seu pas resguardado de danos. Mas se um general deseja manter uma reputao limpa, ele deve ser moderado na demanda de contribuies e adequ-las s possibilidades de quem deve pag-las. O excesso nesta matria lev-la-ia a ser censurado por excesso de severidade e desumanidade. Se

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ele mostra menos ferocidade do que estrago e destruio, ele manifesta, no entanto, mais avareza e cupidez. Os exemplos de humanidade e sabedoria no podem ser freqentemente citados. Exemplo muito recomendvel teve lugar durante as longas guerras que a Frana manteve no reinado de Luis Os soberanos, obrigados e respectivamente interessados em preservar o pas, celebravam, ao ingressarem na guerra, tratados destinados a regulamentar as contribuies em base suportvel. Convencionava-se tanto a extenso do pas inimigo do qual essa contribuio podia ser exigida quanto a fora dessas imposies e a maneira pela qual ela seria cobrada. Estipulava-se nesses tratados que nenhuma tropa, acima de um certo nmero, poderia penetrar no pas inimigo alm dos limites convencionados, sob pena de ser tratada como bando merc de sua prpria sorte. Prevenia-se assim um grande nmero de desordens e de excessos que afligem os povos e quase sempre resultam em mera perda para os soberanos beligerantes. Por que to belo exemplo no tem sido geralmente seguido? 166: Do DESGASTE: Se permitido tirar os bens de um inimigo injusto, para enfraquec-lo (161) ou puni-lo (162), as mesmas razes autorizam um beligerante a destruir o que no se pode convenientemente levar. assim que se desgasta um pas, que nele se destroem os vveres e as forragens para que o inimigo no possa com eles subsistir; afundam-se os navios quando no se pode captur-los ou conduzi-los. Tais medidas so tomadas de acordo com os objetivos da guerra, mas devem ser usadas com moderao e somente quando necessrio. Aqueles que arrancam as videiras e cortam as rvores frutferas, a menos que seja com o objetivo de punir o inimigo de alguma ofensa contra o direito das gentes, so considerados como brbaros; eles destroem um pas, trazendo a desolao por muitos anos, e vo alm das necessidades de sua prpria segurana. Tal conduta ditada menos pela prudncia do que pelo dio e paixo. 167: DAS DESTRUIES E DOS INCNDIOS: Entretanto, vai-se mais longe ainda em certas ocasies. Assola-se completamente um pas,

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saqueiam-se as cidades e vilas e entrega-se tudo ao fogo e espada. Terrveis extremos, quando se obrigado a tanto! Excessos brbaros e monstruosos a que nos entregamos sem necessidade! Eles podem, no entanto, ser autorizados por dois motivos: A necessidade de punir uma Nao brbara e injusta, de pr um fim sua crueldade e prevenir atos de depredao. Quem duvidar que o rei da Espanha e os Estados italianos no estivessem autorizados a destruir essas cidades martimas da frica at os alicerces, esses covis de piratas, que esto constantemente a molestar-lhes o comrcio e a afligir-lhes os sditos? Mas quem ir a tal extremo com o nico propsito de punir o soberano hostil? Este no sofrer penalidade seno indiretamente. cruel fazer a punio chegar at ele mediante a desolao de um povo inocente! O mesmo prncipe, cuja firmeza e justo ressentimento foram louvados no bombardeio de Argel, foi acusado de orgulho e desumanidade aps o ataque de Gnova. Destri-se um pas ou torna-o desabitado, para que se constitua em fronteira contra um inimigo que no se sente capaz de neutralizar por outro meio. A medida dura, verdade, mas por que ela no deveria ser tomada s custas do inimigo quando com o mesmo objetivo em vista um soberano ir arruinar as suas prprias provncias? Quando o czar Pedro, o Grande, se retirou ante o terrvel Carlos XII, destruiu mais de oitenta lguas do territrio de seu prprio imprio com o intuito de paralisar a impetuosidade de uma torrente que no podia enfrentar. Enfim, a fome e o cansao enfraqueceram os suecos e o monarca russo recolheu em Pultawa os frutos de seu sacrificio e de sua cautela. Mas os remdios violentos no devem ser exaltados e o uso deles somente justificado por razes de importncia proporcional. Um prncipe, que imitasse a conduta do czar sem necessidade, seria culpado para com o seu povo e aquele que fizesse o mesmo em pas inimigo, no tendo sido impelido pela necessidade ou por fortes razes, tornar-se-ia um flagelo da humanidade. No sculo passado, franceses assolaram e queimaram o Palatinado. Um clamor universal elevou-se contra essa maneira de fazer a Em vo, a corte francesa arrogou-se o propsito de proteger as suas fronteiras. A devastao do Palatinado

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pouco contribuiu para esse fim; no se viu ento seno a crueldade de um ministro obstinado e desdenhoso. 168: QUE COUSAS DEVEM SER POUPADAS: Qualquer que seja o motivo invocado para destruir um pas, deve-se poupar os edifcios que honram a humanidade e que no contribuem para tomar o inimigo mais poderoso: templos, tmulos, edificios pblicos, todas as obras respeitveis por sua beleza. O que se ganha em destru-los? declarar-se inimigo do gnero humano; priv-lo, com propsito deliberado, desses monumentos de arte, desses modelos de requinte, como Belisrio mostrava a Ttila, rei dos godos. Ainda hoje abominamos esses brbaros que destruram tantas maravilhas quando invadiram o imprio romano. Embora o grande Gustavo estivesse, com razo, ressentido contra Maximiliano, duque da Baviera, ele rejeitou com indignao o conselho daqueles que desejavam destruir o magnfico palcio de Munique, e tomou o cuidado de preservar esse edifcio. No entanto, se for necessrio, para realizar operaes de guerra ou sustentar os trabalhos de assdio a uma praa, tem-se o direito sem dvida de destruir edifcios dessa natureza. O soberano do pas, ou o seu general, os destri quando as necessidades ou os princpios da guerra a isso os induzem. O governador de uma cidade sitiadaqueima os subrbios para evitar que os sitiantes neles acampem. Ningum entende que se deve censurar aquele que devasta jardins, videiras e pomares com o intuito de neles assentar o seu acampamento e de nele entrincheirar-se. Se ele, dessa forma, destri algum trabalho de arte um acidente, uma conseqncia infeliz da guerra; ele no ser condenado exceto naquelas ocasies em que teriapodido acampar em outros lugaressem a menor inconvenincia. 169: Do BOMBARDEIO DAS CIDADES: difcil poupar os edifcios mais belos quando uma cidade bombardeada. Hoje, em geral limita-se a atacar com artilharia as muralhas e tudo o que participa da defesa da cidade: destruir uma cidade com bombas e balas incendirias constitui ato extremo utilizado apenas por motivos relevantes. Mas essa destruio

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contudo autorizada pelas leis da guerra quando no possvel vencer importante praa da qual pode depender o xito da guerra, ou da qual podem resultar poderosos ataques ao adversrio. Enfim, tais medidas extremas so tomadas quando no existe outro meio para forar um inimigo a fazer a guerra com humanidade, ou para puni-lo de alguns outros excessos. Mas s com repugnncia e como ltimo recurso que os bons prncipes fazem uso de um direito natural to duro. No ano de 1694, os ingleses bombardearam muitas praas martimas da Frana, cujos armadores estavam a prejudicar o comrcio da Gr-Bretanha. A virtuosa e digna esposa de Guilherme III tomou conhecimento desses sucessos sem nenhuma satisfao: ela testemunhou o sofrimento que, na guerra, surgia dessas hostilidades necessrias, acrescentando que esperava tomarem-se essas espcies de operaes to odiosas que, no futuro, ambas as partes a elas renunciassem. 170: DEMOLIO DAS FORTALEZAS: Fortalezas, muralhas e toda espcie de fortificaes pertencem unicamente guerra. Conseqentemente, nada poderia ser mais natural ou mais legtimo numa guerra justa do que destruir aquelas que no se prope preservar. Com isso enfraquece-se o inimigo e no se envolvem pessoas inocentes nas perdas que lhes possam ser causadas. Essa era a grande vantagem que a Frana tirava das suas vitrias numa guerra em que ela no pretendia fazer conquistas. 171: DAS SALVAGUARDAS: Salvaguardas so dadas s terras e s edificaes que se deseja poupar, seja por um favor, seja como resultado de uma contribuio. So soldados que as protegem dos beligerantes, notificando-lhes as determinaes do general. Esses soldados so sagrados para o inimigo; ele no pode trat-los de forma hostil uma vez que eles atuam como benfeitores e para a preservao de seus sditos. Deve-se respeit-los como se respeita a escolta dada a uma guarnio, ou a prisioneiros de guerra, que so reconduzidos ao prprio pas.

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172:

GERAL DE MODERAO COM REFERNCIA AO DANO QUE

SE PODE CAUSAR AO INIMIGO:

O que temos dito suficiente para dar uma idia da moderao que, numa guerra mais justa, um beligerante deve usar com relao ao direito de pilhagem e de devastao do pas inimigo. Excetuando o caso em que se trata de punir um inimigo, tudo se reduz a esta regra geral: todo o mal que se faz ao inimigo sem necessidade, toda a hostilidade que no tende a buscar a vitria e o fim da guerra, so aes que a lei natural condena.
173: DO DIREITO DAS GENTES VOLUNTRIO SOBRE O MESMO ASSUNTO: Mas essa licena entre as Naes permanece necessariamente tolerada e sem punio at um certo ponto. Como determinar com preciso, numa dada ocasio, at onde era necessrio conduzir as hostilidades para terminar a guerra com xito? Quando se deveria determin-lo com preciso, as Naes no reconheciam juiz comum e cada qual decidia o que lhe cabia fazer para cumprir os seus deveres. Se forem permitidas acusaes contnuas de excesso nas hostilidades, no se far mais do que multiplicar as queixas e azedar mais e mais os espritos; novas injrias renascero continuamente e a guerra no cessar at que uma das partes seja destruda. preciso, pois, respeitar de Nao para Nao, independentemente das circunstncias, regras gerais de aplicao segura e fcil. Ora, pode-se somente chegar a tais regras se elas no forem consideradas pelas cousas em sentido absoluto, em si prprias e em sua natureza. Assim, pois, com relao s hostilidades contra a pessoa do inimigo, o direito das gentes voluntrio limita-se a proibir meios ilcitose odiosos em si mesmos, tais como o envenenamento, o assassinato, a traio, o massacre de um inimigo que se rendeu e de quem no h nada a temer; esse mesmo direito, com respeito presente questo, condena todo ato de hostilidade que, por sua natureza e independentemente das circunstncias, no contribui em nada ao xito de nossas armas, no incrementa as nossas foras, nem enfraquece o inimigo. Ao contrrio, esse direito permite ou tolera todo ato que, em si mesmo e por sua natureza, adequado ao fim da guerra, sem deter-se

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em considerar se tal hostilidade era pouco necessria, intil ou suprflua num dado caso, a menos que haja a mais clara evidncia de que uma exceo deve ter sido admitida nesse caso pois, onde essa evidncia reina, a liberdade dos julgamentos no mais subsiste. Assim, no , geralmente, contrrio s leis da guerra queimar e saquear um pas. Mas se um de foras muito superiores trata dessa maneira uma cidade ou provncia que ele pode facilmente preservar para alcanar uma paz eqitativa e vantajosa, ele geralmente acusado de fazer a guerra de maneira brbara e descontrolada. A destruio deliberada de monumentos pblicos, templos, tmulos, esttuas, pinturas, etc, , pois, absolutamente condenada, mesmo pelo direito das gentes voluntrio, como sendo sempre intil ao fim legtimo das guerra. O saque e a destruio de cidades, a desolao dos campos, as devastaes, os incndios, so atos no menos odiosos e detestados em todas as ocasies em que so produzidos sem necessidade evidente ou sem razes imperiosas. Mas como no se poderia escusar todos esses excessos, com o pretexto de que o inimigo merece a punio, acrescentemos que pelo direito natural e voluntrio das gentes no se pode punir dessa maneira seno gravssimos atentados contra o direito das gentes. E, mesmo nesses casos, sempre nobre ouvir a voz da humanidade e da clemncia, quando o rigor no for absolutamente necessrio. Ccero verbera a destruio de Corinto por tratamento imprprio aos embaixadores romanos. que Roma era capaz de impor respeito aos seus ministros sem recorrer a essas medidas de extremo rigor.
CAPTULO

Da f entre inimigos, dos estratagemas, dos ardis de guerra, dos espies, e de algumas outras prticas
174: A FIDELIDADE DEVE SER SAGRADA ENTRE INIMIGOS: A fidelidade das promessas e dos tratados a base da paz das Naes, como se mostrou em captulo separado (Livro II, capo XV). Ela sagrada entre os homens,

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e absolutamente essencial ao bem-estar comum. Poder-se- dispensla nas relaes com um inimigo? Seria erro igualmente funesto e grosseiro imaginar que todos os deveres cessam e todos os laos de humanidade so rompidos quando duas Naes esto em guerra. Reduzidos necessidade de pegar em armas para a defesa e manuteno dos seus direitos, os homens no cessam por isso de serem homens. Ainda so regidos pelas mesmas leis da natureza. Se tal no ocorresse no haveria leis da guerra. Mesmo aquele que se empenha contra ns numa guerra injusta ainda homem e deve ser tratado como tal. Mas se surgir um conflito entre nossos deveres para conosco mesmos e aqueles que nos relacionam com outros homens, o direito segurana nos autoriza a fazer contra este inimigo injusto tudo que for necessrio para reprimi-lo ou traz-lo razo. Mas todos os deveres, cujo conflito no lhe suspende necessariamente o exerccio, subsistem integralmente; eles nos obrigam tanto em relao ao inimigo como a todos os outros homens. Ora, mesmo que a obrigao de manter a fidelidade possa cessar em tempo de guerra, em virtude da precedncia dada aos deveres acerca de si mesmo, ela torna-se mais necessria que nunca. Existem mil ocasies, durante o prprio curso da guerra, em que para estabelecer limites a seus desmandos e s calamidades que ela acarreta, o interesse comum e o bem-estar de ambos os beligerantes exigem que eles sejam capazes de concordar em certas cousas. Em que se tornariam os prisioneiros de guerra, as guarnies que capitulam, as cidades que se rendem, se a palavra de um inimigo no puder ser levada em conta? A guerra degeneraria em licenciosidade desenfreada e cruel e seus males no teriam mais limites. E como, enfim, poder-se-ia dar fim guerra e reestabelecer a paz? Se no houver mais f entre os inimigos, o nico fim certo para uma guerra seria a completa destruio de uma das partes. A menor disputa, a mais insignificante querela produzir uma guerra como aquela que Arubal fez contra os romanos, na qual se combatia no por alguma provncia, no para o imprio ou para a glria, mas para a prpria preservao da Nao. (33)
(33)

De salute certatum est.

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, pois, inquestionvel que a fidelidade s promessas e aos tratados

deve ser sagrada, tanto na guerra como na paz, entre inimigos assim como entre Naes amigas. 175: QUAIS sAo os TRATADOS QUE DEVEM SER RESPEITADOS ENTRE OS INIMIGOS: Convenes e tratados feitos com uma Nao so rompidos ou anulados pela guerra que surge entre os contratantes, seja porque tais acordos pressupem tacitamente o estado de paz, seja porque cada parte poderia despojar o inimigo do que lhe pertence e subtrair-lhe os direitos conferidos pelos tratados. No entanto, exceo deve ser feita aos tratados em que se estipulam determinadas cousas no caso de rompimento, como por exemplo, o tempo a ser dado aos sditos de cada parte para se retirarem, a neutralidade assegurada de comum acordo a uma cidade ou a uma provncia, etc. Desde que as partes convencionam, em tratados dessa natureza, regular as respectivas condutas em caso de rompimento de relaes, elas renunciam ao direito de anul-los pela declarao de guerra. Pela mesma razo, os beligerantes so obrigados a observarem as promessas feitas entre si durante o curso da guerra; pois desde que entre si negociam durante o perodo em que recorrem s armas, esto eles renunciando tcita, mas necessariamente, ao poder de romper a conveno, como meio de indenizao e em razo da guerra, como se rompem tratados precedentes. Proceder de outro modo tornaria absurda a negociao entre inimigos. 176: EM QUE OCASIES PODE-SE ROMPER OS TRATADOS: Mas como todos os demais pactos e tratados, as convenes feitas durante a guerra contm as condies tcitas de observncia mtua (Livro II, 202). Um beligerante no mais obrigado a cumpri-las em relao ao inimigo se este foi o primeiro a viol-las. E mesmo quando se tratar de duas convenes separadas, distintas entre si, conquanto no seja nunca permitido agir perfidamente em relao com um inimigo que em outra ocasio descumpriu a sua palavra, pode-se contudo suspender o efeito de uma promessa para obrig-lo a reparar o descumprimento de sua

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palavra, assim como reter o que lhe foi prometido, sob forma de penhor, at quando o infrator tenha reparado a sua perfdia. Foi assim que, ao tomar Namur em 1695, o rei da Inglaterra ordenou a deteno do marechal de Boufflers e, malgrado a capitulao, o manteve prisioneiro, com o intuito de forar a Frana a reparar as infraes feitas s capitulaes de Dixmude e de Deinze. 177: DA MENTIRA: A f no consiste unicamente em manter as nossas promessas, mas tambm em no enganar nas ocasies em que, por uma razo ou outra, somos obrigados a falar a verdade. Isto traz uma questo que outrora era ardorosamente debatida, e que parecia embaraosa, enquanto subsistiam noes pouco justas ou pouco distintas da mentira. Muitas pessoas, especialmente telogos, consideravam a verdade como uma espcie de divindade, para a qual se deve um tipo de respeito, fechada em si mesma e independentemente de seus efeitos; condenavam de forma absoluta todo discurso contrrio ao pensamento do interlocutor e diziam que, em toda a ocasio, preciso falar apenas a verdade conhecida que no se pode calar e, ao invs de faltar com o respeito a essa deusa, oferecer os interesses mais preciosos como um sacrifcio sua divindade. Mas filsofos, de maneira mais precisa e profunda, desenredaram esta idia to confusa e to falsa nas suas conseqncias. Reconheceu-se que a verdade deve, em geral, ser respeitada, como sendo a alma da sociedade humana, o fundamento da confiana entre os homens em suas relaes mtuas e que, em conseqncia, um homem no deve mentir mesmo em casos indiferentes, temeroso de perder o respeito devido verdade em geral, e de prejudicar-se a si mesmo, fazendo com que a sua palavra seja considerada duvidosa mesmo quando ele fala com seriedade. Dessa maneira, baseando o respeito devido verdade sobre os seus efeitos, acabou-se por orientar o entendimento na direo certa, e desde ento tornou-se mais fcil distinguir entre aquelas ocasies em que um homem est obrigado a dizer a verdade ou manifestar claramente seu pensamento, e aquelas em que ele no obrigado a isso. O termo mentira limitado s palavras que o homem tem contrrias ao seu pensamento,

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nas ocasies em que ele obrigado a dizer a verdade, enquanto outra expresso, em latim jalsiloquium, reservado aos discursos falsos, feitos para pessoas que, num caso particular, no tm o direito de exigir que a verdade lhes seja dita. Formulados esses princpios, no difcil assinalar qual deve ser, em certas ocasies, o uso legtimo da verdade ou do falso discurso em relao a um inimigo. Quando temos expressa ou tacitamente nos comprometido a falar-lhe a verdade, somos indispensavelmente obrigados a isso por sua f cuja inviolabilidade temos estabelecido. Este o caso das convenes ou tratados, onde o acordo tcito para neles falar a verdade de todo necessrio pois seria absurdo dizer que, sob o pretexto de tratar com o inimigo, ns no nos comprometemos a no engan-lo: isto seria uma farsa e no acrescentaria nada. Deve-se ainda dizer a verdade ao inimigo em todas as ocasies em que estamos naturalmente obrigados a diz-la pelas leis da humanidade, isto , quando os xitos de nossas armas e nossos deveres acerca de ns mesmos no esto em conflito com os deveres comuns de humanidade e no lhes suspendem a fora e o exerccio no caso presente. Assim, quando se reenviam prisioneiros resgatados ou objeto de permuta, seria uma infmia indicar-lhes o pior caminho ou uma estrada perigosa; igualmente, quando um prncipe ou general inimigo pergunta por notcias de esposa ou de filho que lhe querido, seria vergonhoso engan-lo. 178: Dos ESTRATAGEMAS E ARDIS DE GUERRA: Mesmo quando ao fazer com que o inimigo incida em erro, seja por um discurso em que nos comprometemos a falar a verdade, seja por um procedimento simulado, pode-se obter vantagem na guerra, a qual seria possvel obter por meios abertos, no h dvida de que essa via no nos permitida. Digamos mais; como a humanidade nos obriga a preferir os mtodos mais suaves na busca de nossos direitos, se por algum ardil de guerra ou artifcio isento de perfdia, pode-se apoderar de uma fortaleza, surpreender e forar o inimigo, realmente mais recomendvel ter xito dessa maneira do que mediante um assdio mortfero ou uma batalha sangrenta.

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Mas poupar o sangue humano jamais ir autorizar a perfdia, cuja prtica teria seqncias demasiado funestas e privaria os soberanos, uma vez em guerra, de negociarem uns com os outros e de restabelecerem a paz (174). Enganar o inimigo sem perfdia, seja por palavras ou por aes, preparar armadilhas no exerccio dos direitos de guerra, so estratagemas, cujo uso tem sido sempre reconhecido como legtimo e tem sempre constitudo motivo de glria dos maiores capites. Quando Guilherme IH, rei da Inglaterra, descobriu que um de seus secretrios estava dando informaes ao general inimigo, determinou secretamente que o traidor fosse detido e o forou a comunicar ao duque de Luxemburgo que, no dia seguinte, os aliados fariam um avano geral, sustentado por um grande corpo de infantaria com artilharia, e desse ardil se valeu para surpreender o exrcito francs em Steinkerque. Mas em virtude da ao do general francs e do valor das suas tropas, o xito no correspondeu s expectativas das medidas to habilmente planejadas. No uso de estratagemas, devemos respeitar no somente a f devida a um inimigo, mas tambm os direitos de humanidade e devemos ter cuidado em no fazer causas cuja introduo seja prejudicial ao gnero humano. Desde o comeo das hostilidades entre a Frana e a Inglaterra, conta-se que uma fragata inglesa, ao aproximar-se de Calais, fez sinais de que estava em perigo para atrair auxlio de navio e, assim, apreender uma chalupa e os marinheiros que generosamente vinham em sua ajuda. Se o fato for verdadeiro, esse estratagema merece punio severa. Ele tende a impedir o efeito de uma assistncia humanitria, to sagrada ao gnero humano e to recomendvel mesmo entre inimigos. Alis, fazer sinais indicando desgraa significa pedir ajuda, e assim, implicitamente significa prometer perfeita segurana queles que venham a prestar socorro. Assim, o ato atribudo a essa fragata foi uma quebra detestvel da boa f. Viram-se povos, inclusive os prprios romanos que, por um longo perodo, adotaram, por profisso de f, o desprezo na guerra de toda espcie de surpresa, de ardil, de estratagema; e ainda outros que foram

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to longe a ponto de indicar o tempo e o lugar onde eles propunham travar a batalha. Tal conduta mostrava mais generosidade que sabedoria. Ela seria muito louvvel sem dvida se, como ocorre com esse costume dos duelos, se tratasse apenas de dar prova de coragem. Mas na guerra, trata-se de defender a ptria, de alcanar pela fora direitos que nos so injustamente recusados; e os meios mais seguros de atingir esses objetivos so tambm os mais louvveis, desde que no tenham nada de ilcitos ou odiosos em si mesmos. Do/us anvims, in baste requirat. (34) O desprezo aos ardis de guerra, aos estratagemas, s surpresas, com freqncia procede, como no caso de Aquiles, de uma nobre confiana em seu prprio valor e nas suas prprias foras, e preciso confessar que, quando podemos vencer um inimigo pela fora aberta, numa batalha face-a-face, podemos nos vangloriar muito mais seguramente por t-lo dominado e compelido a pedir a paz do que se a tivssemos ganho por surpresa. Esta era a viso daqueles senadores generosos a quem Tito Lvio se reporta, os quais no aprovaram a conduta pouco sincera que se tinha tido com Perseu. (35) Quando, pois, o valor simples e aberto pode obter a vitria, h vezes em que ele prefervel ao ardil, porque os benefcios que ele propicia ao Estado so maiores e mais durveis. 179: Dos ESPI(}ES: O uso de espies uma espcie de embuste na guerra ou de prtica secreta. Espies so pessoas que se introduzem no lado inimigo para descobrir o estado de suas foras, perscrutar os seus desgnios e ento reportar essa informao aos seus superiores. Eles, quando apanhados, so comumente punidos com a morte, e com justia, pois no h quaisquer outros meios de garantir-se do dano que eles podem causar (155). Por esta razo, um homem de honra, que no queira correr o risco de perecer nas mos de um carrasco, recusa-se a agir como espio e, alis, ele julga esse ofcio indigno dele, porque geralmente envolve algum tipo de traio. Isto posto, o soberano no
(34)

VIRGLIO, Eneida, Lib. n, v.390. TIT.

uv., Lib. XLII, capo 47.

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tem o direito de exigir tal servio dos seus sditos, exceto talvez em algum caso singular e da maior importncia. Ele convida para esse ofcio pessoas de esprito mercenrio, atradas pelo lucro. Se ele emprega voluntrios ou se contrata somente pessoas que no so sditos do inimigo, e a este no esto ligados por nenhum lao, no h dvida que ele possa legtima e honrosamente usar de seus servios. Mas seria permitido, seria honesto solicitar aos sditos do inimigo tra-lo para nos servir de espies? Responderemos a esta questo no pargrafo seguinte. 180: DAS PRTICAS PARA SEDUZIR SDITOS DO INIMIGO: Indaga-se em geral se permitido seduzir pessoas do inimigo, com o intuito de induzi-las a violar o dever delas, mediante traio vergonhosa? Devemos aqui distinguir entre o que devido ao inimigo malgrado o estado de guerra, e o que exigido pelas leis interiores da conscincia e pelas regras de honestidade. Podemos concorrer para enfraquecer o inimigo por todos os meios possveis (138), contanto que no firam o bem comum da sociedade humana, como fazem o veneno e o assassinato (155). Ora, a seduo de um sdito para agir como espio e a de um comandante para entregar a sua praa, no atacam os fundamentos do bem comum e da segurana dos homens. O dano causado por espies do inimigo no mortal e inevitvel, e dele pode-se preservar at um certo ponto; e quanto segurana das fortalezas, cabe ao soberano selecionar aqueles a quem as confia, Assim, tais prticas no so contrrias ao direito das gentes externo com respeito guerra e o inimigo no tem base para queixar-se deles como no caso de um atentado odioso. Tambm, eles so usados em todas as guerras. Mas so eles honestos e consistentes com as leis de uma conscincia pura? Certamente no, e este o sentimento dos prprios generais, pois que eles nunca se vangloriam de terem feito uso deles. Comprometer um sdito a trair a sua ptria, subornar um traidor para incendiar um armazm, tentar corromper a fidelidade de um comandante, seduzi-lo, lev-lo a entregar a cidade que lhe foi confiada, seria induzir essas pessoas a cometer crimes abominveis. honesto corromper o seu pior inimigo e induzi-

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lo ao crime? Quando muito, tais prticas poderiam ser desculpadas numa guerra muito justa, quando se tratasse de salvara ptria da destruio, de que ela estaria ameaada por um conquistador injusto. Em tais circunstncias parece que o sdito ou o general que trasse seu prncipe numa causa manifestamente injusta no cometeria uma falta to odiosa. Aquele que no respeita nem a si mesmo, nem a justia, nem a honestidade, merece provar por sua vez os efeitos da perfdia e da maldade. E se nunca perdovel sair das regras estritas de honestidade, contra um inimigo deste carter e em caso de necessidade extrema. Os romanos, cujas idias eram comumente to puras e nobres acerca dos direitos da guerra, no aprovavam estas prticas enganosas. Eles no estimaram a vitria do cnsul Servlio Cpion sobre Viriato, porque ela tinha sido comprada. Valerio Maximo disse que ela foi manchada por dupla perfdiat'", e outro historiador escreveu que o senado no a aprovarav", 181: SESE PODE ACEITAR AS OFERTAS DE UM TRAIDOR: Outra cousa aceitar somente os oferecimentos de um traidor. Ns no o seduzimos e pode-se aproveitar de seu crime ao mesmo tempo em que o detestamos. Os trnsfugas e os desertores cometem crime contra o seu soberano; entretanto ns os recebemos segundo o direito da guerra, como dizem os jurisconsultos romanos. (38) Se um governador se vende a si mesmo, e se oferece a sua cidade por dinheiro, teremos escrpulo em aproveitar-nos de seu crime, com o intuito de obter sem perigo o que temos o direito de tomar pela fora? Mas quando nos sentimos em condies de ter xito sem o auxlio dos traidores, magnfico testemunhar, ao rejeitar os seus oferecimentos, todo o horror que eles inspiram. Os romanos, em suas pocas hericas, nos tempos em que eles deram to nobres

Viriati etiam caedes duplice accusationem recepit: in amicis, quodeorum inanibus interemptsa est: inQ. Caepione consule, quia is sceleris auctor, impunitate premissa, [uit; uictoriamque nonmeruit, sedemito Lib. IX" capo VI, num. 4.
(17)

Quae tnctoria, quia empta erat, senatu non probata. Auct. de Viris illust., capo LXXI. belli
DIGESTO, Lib, XLI, tit L DeAdquir: Remmdomin., leg.U.

522 exemplos de magnitude e valor, sempre rejeitaram com indignao as vantagens da traio que lhes era oferecida por sdito inimigo. No somente advertiram Pirro do plano vergonhoso proposto por seu mdico, mas tambm recusaram-se a tirar vantagem de um crime menos atroz, e o reenviaram aos faliscos, garroteado e amarrado a um traidor que se tinha oferecido para entregar os filhos do rei Mas quando h diviso no inimigo, pode-se, sem escrpulos, manter relaes com um dos partidos e tirar vantagem do direito que ele acredita ter de prejudicar a parte oposta. Avana-se assim em sua prpria causa, sem seduzir ningum, sem participar de qualquer modo em crime alheio. Contra o inimigo, aproveitar-se de seu erro sem dvida permitido. 182: DA INTELIGNCIA DUPLA: Chama-se de inteligncia dupla a de um homem que finge trair seu prprio partido, com o intuito de lanar o inimigo em armadilha. traio e ofcio infame quando feito com propsito deliberado e oferecido ao primeiro que se interessar. Mas um oficial, ou o governador de cidade, se solicitado pelo inimigo, pode, em certas ocasies, legitimamente fingir dar ouvidos seduo para envolver o subornador. Este lhe causa injria por ter testado a sua fidelidade, e dele se vinga com justia fazendo-o cair em armadilha. Ao fazer isso, ele no viola a f das promessas, para a felicidade do gnero humano, uma vez que os compromissos criminosos so absolutamente nulos e nunca devem se cumpridos; e seria vantajoso que ningum pudesse contar com as promessas de traidores e que elas sejam cercadas por todos os lados com perigos e incertezas. Por esta razo, se um superior sabe que o inimigo est tentando corromper a fidelidade um de seus oficiais ou soldados, ele no deve ter escrpulos em determinar a esse subordinado fingir que est sendo envolvido e combinar a sua pretensa traio de maneira a atrair o inimigo a uma armadilha. O subordinado obrigado a obedecer. Mas quando o prprio comandante superior
Eademfide indicatum Pyrrho regi iitae insidiantem: eadem Falias vinctum traditum proditorem liberorum regi!. TIT. LI\'., XLII, capo 47.

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o destinatrio direto da seduo, um homem de honra geralmente prefere, ou deveria preferir, rejeitar altivamente, e com indignao, toda proposta injuriosa.
CAPTULO

XI

Do soberano que faz uma guerra injusta

183: UMA GUERRA INJUSTA NAo CONFERE DIREITOS: Todos os direitos de um beligerante so derivados da justia da sua causa. A Nao injusta que agride, ou ameaa agredir, que recusa o que pertence a outrem, numa palavra, que comete injria, pe a outra Nao na necessidade de defender-se ou de fazer justia pela fora e os direitos derivados dessa injria a autorizam a todos os atos de hostilidade necessrios para alcanar uma satisfao completa. 184: O QUANTO UM SOBERANO QUE PROMOVE A GUERRA INJUSTA CULPADO: Quem toma das armas sem causa legtima no tem, assim, nenhum direito; todas as hostilidades que ele comete so injustas. Ele responde por todos os danos, por todos os horrores da guerra: o sangue derramado, a desolao das famlias, a pilhagem, os atos de violncia, a devastao, os incndios, tudo so obras suas e seus crimes. Ele culpado em relao ao inimigo que ataca, oprime e massacra sem motivo; ele culpado em relao ao seu povo, que domina com injustia, que expe ao perigo sem necessidade, sem razo; culpado em relao queles sditos que so arruinados ou levados ao sofrimento pela guerra, que nela perdem a vida, os bens ou a sade; culpado, enfim, em relao a todo o gnero humano, cuja tranqilidade ele perturba e para o qual d exemplo to pernicioso. Que quadro assustador de misrias e de crimes! Que contas a prestar ao Rei dos reis, ao Pai comum dos homens! Possa esse ligeiro esboo impressionar os olhos dos dirigentes das Naes, dos prncipes e de seus ministros! Por que no esperaramos algum fruto disso? Teriam os poderosos perdido todo o sentimento de

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honra, de humanidade, de dever e de religio? E se a nossa voz fraca pudesse, ao longo dos sculos, prevenir uma nica guerra, haveria recompensa mais gloriosa para a nossa viglia e para o nosso trabalho? o SOBERANO EST OBR1GADO: Aquele que comete 185: A injria estar obrigado efetuar a reparao do dano, ou a dar satisfao justa, se o dano for irreparvel; e estar, inclusive, sujeito punio, se for entendida como necessria para exemplo e para a segurana do ofendido e da sociedade humana. Tal o caso do prncipe que faz uma guerra injusta. Ele deve restituir tudo o que tomou, devolver os prisioneiros s suas prprias custas; ele deve indenizar o inimigo dos danos e das perdas que lhe causou, reerguer as famlias desoladas e reparar, se possvel, a perda de um pai, de um filho ou de um esposo. DE REPARAR OS MALES CAUSADOS: Mas como 186: reparar tantos males? Muitos so de natureza irreparvel. E quanto queles que poderiam ser recompensados com algo equivalente, onde se basear o beligerante injusto para compensar a sua violncia? Os bens particulares do prncipe no poderiam ser suficientes para tanto. Doaria ele os bens de seus sditos? Esses bens no lhe pertencem. Sacrificaria ele as terras da Nao; uma parte do Estado? Mas o Estado no seu patrimnio (Livro I, 61) e ele no pode dele dispor vontade. E, muito embora a Nao seja responsvel, at certo ponto, pelos atos de seu dirigente, alm de ser injusto puni-la pelas ofensas das quais ela no diretamente culpada, se ela est obrigada a responder por atos do soberano, apenas em relao s demais Naes que tm recursos contra ela (Livro I, 40; Livro lI, . 81 e 82). Conseqentemente, o soberano no pode transferir Nao a punio por seus atos injustos, nem despoj-la para repar-los. E mesmo se pudesse, estaria ele escusado e purificado de tudo em sua conscincia? Embora quites com o inimigo, tambm o estaria com seu prprio povo? uma estranha justia, a de um homem que repara os seus deslizes s expensas de terceiros: ele no faz seno mudar o objeto de sua injustia. Considerai

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todas essas coisas, dirigentes das Naes! E quando tiverdes visto claramente que uma guerra injusta vos acarreta uma multido de iniqidades cuja reparao est acima de todo o vosso poder, talvez visseis a estar menos prontos a promov-la. 187: SE 1\ E OS HOMENS DA GUERRA A CUMPRIR: A restituio das conquistas, dos prisioneiros e dos bens que podem ser encontrados na natureza, no apresenta dificuldades quando a injustia da guerra reconhecida. A Nao, como um corpo, e tambm os particulares, ao reconhecerem a injustia de suas posses, devem delas se despojar e restituir o que adquiriram indevidamente. Mas quanto reparao do dano, os soldados, os oficiais e os generais, seriam eles obrigados, em conscincia, a reparar os males que causaram, no por vontade prpria, mas como instrumentos nas mos do soberano? Surpreende-me que um pensador to judicioso como Grcio responda sem distino pela afirmativa. (40) Esta deciso somente pode ser admitida no caso de uma guerra to clara e inquestionavelmente injusta que nela no se possa supor nenhuma razo secreta de Estado capaz de justific-la; um caso quase impossvel em poltica. Em todas as ocasies abertas dvida, toda a Nao, os particulares e singularmente os militares, devem obedincia aos que governam, ao soberano. Eles a tanto esto obrigados pelos princpios essenciais da sociedade poltica, do governo. Onde se estaria se, em todo passo dado pelo soberano, os sditos pudessem pesar a justia dos seus motivos? Se eles pudessem recusar-se a marchar para uma guerra que no lhes parecesse justa? Com freqncia, acontece que a prudncia no permite ao soberano divulgar as suas razes. dever dos sditos presumi-las justas e sbias, at prova em contrrio. Quando, assim, neste esprito de submisso, eles tenham dado assistncia para uma guerra que, depois, venha a provar ter sido injusta, apenas o soberano culpado, e somente ele estar obrigado a reparar os danos feitos. Os sditos, especialmente
(411)

Droit de la guerre et de la paix, Liv. III, capo X.

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os militares, so inocentes; eles no agiram seno por uma obedincia necessria. Eles devem apenas abrir mo do que foi conquistado nessa guerra, uma vez que eles se apropriaram sem ttulo legtimo. Eis a, eu acredito, a opinio quase unnime dos homens de bem, a maneira de pensar dos guerreiros mais imbudos de integridade e honra. O caso deles aqui o de todos aqueles que so ministros das ordens soberanas. O governo tornar-se-ia impossvel, se cada qual de seus ministros insistisse em avaliar e conhecer a fundo a justia das ordens antes de execut-las. Mas se, para o bem do Estado, eles devem presumir que as ordens do soberano so justas, eles no so responsveis por elas.
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XII

Do direito das gentes voluntrio com respeito aos da guerra formal, independentemente da justia da causa
188: As NO PODEM APLICAR ENTRE ELAS, DE MANEIRA FORADA, O RIGOR DO DIREITO NATURAL: Tudo o que acabamos de dizer no captulo precedente uma conseqncia evidente de princpios verdadeiros, das regras eternas de justia; so disposies dessa lei sagrada que a natureza, ou o seu divino Autor, impe s Naes. Somente Ele tem o direito de fazer a guerra, de atacar o seu tirar-lhe a vida e priv-lo de seus bens, pois a justia e a necessidade puseram as armas em suas mos. Tal a disposio do direito necessrio das gentes ou da lei natural, para cuja observao as Naes esto estritamente obrigadas (Preliminares, 7). a regra inviolvel que cada uma deve seguir em conscincia. Mas como fazer prevalecer essa regra no emaranhado de povos e soberanos que vivem juntos no estado da natureza? Eles no reconhecem nenhum poder superior. Quem julgar entre eles para estabelecer os direitos e obrigaes de cada qual? Quem dir para este: vs tendes o direito de pegar em armas, de atacar o vosso e de obrig-lo fora, enquanto diz para aquele outro: vs nada fazeis seno cometer injustas hostilidades, as vossas vitrias so morticnios,

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as vossas conquistas so nada alm de rapina e pilhagem? Compete a todo Estado livre e soberano decidir em sua prpria conscincia o que seus deveres dele exigem, do que ele pode ou no fazer com justia (Preliminares, 16). Se outros quiserem julg-lo, atentam contra a sua liberdade ferindo-o em seus direitos mais preciosos (Preliminares, 15). Alm disso, desde que cada Nao alega estar com a justia a seu lado, ela se atribui todos os direitos da guerra e pretende que o seu inimigo no tem nenhum direito, que as hostilidades dele so atos de banditismo, atos de violao do direito das gentes e merecedores de punio por todas as Naes. A deciso do direito, da controvrsia em questo no avanar e a discrdia tornar-se- mais cruel, mais desastrosa em seus efeitos, mais difcil de dar um fim. Isto ainda no tudo: as prprias Naes neutras acabaro envolvidas na dificuldade e implicadas na controvrsia. Se uma guerra injusta no pode dar margem a nenhuma conseqncia jurdica entre os homens enquanto um juiz reconhecido (e ainda no existente entre as Naes) no tenha se pronunciado de forma definitiva sobre a justia das armas, no se poder adquirir com segurana nenhuma das cousas tomadas na guerra; elas permanecero sempre sujeitas reivindicao, como bens subtrados por bandidos. 189: POR AS DEVEM ADMITIR AS REGRAS DO DIREITO DAS GENTES VOLUNTRIO: Deixemos, pois, conscincia dos soberanos o rigor do direito natural e necessrio; sem dvida, jamais lhes permitido dele se separar. Mas em relao aos efeitos exteriores do direito entre os homens, devemos necessariamente ter recurso a certas regras de aplicao mais fcil e mais segura; e isto no interesse da segurana e da vantagem da grande sociedade do gnero humano. Essas (Preliminares, 21). A lei regras so as do direito das gentes natural, que vela pelo maior bem da sociedade humana, que protege a liberdade de cada Nao e que deseja que os negcios dos soberanos sejam solucionados e as suas controvrsias terminem rapidamente; essa lei, digo, recomenda, para a vantagem comum das Naes, o

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respeito ao direito das gentes voluntrio; tudo da mesma forma que esse direito incorpora as mudanas que o direito civil introduz nas regras do direito natural, com o propsito de adaptar essas regras s condies da sociedade poltica para uma aplicao mais fcil e mais segura. Apliquemos, pois, ao particular assunto da guerra, a observao geral que fizemos nas Preliminares (28). Quando um soberano, ou uma Nao, delibera sobre o partido que deve tomar para cumprir seus deveres, no deve nunca perder de vista o direito necessrio, obrigatrio sempre na conscincia; mas quando se trata de examinar o que pode exigir dos demais Estados, ele deve respeitar o direito das gentes uoluntrio e mesmo restringir as suas pretenses com base nas justas regras de um direito cujos princpios so consagrados segurana e bem-estar da sociedade universal das Naes. Que o direito necessrio seja a regra constante da sua prpria conduta e que ele admita que outros se valham do direito das gentes voluntrio.
190:
A GUERRA COMO .JUSTA DE UM LADO E DE OUTRO: I\OS SER

A primeira regra desse direito, com relao ao assunto em considerao, que formalmente a quanto aos seus deve ser considerada como justa de ambos os lados. Este princpio, como j temos mostrado, absolutamente necessrio para se introduzir alguma ordem, alguma regra, num meio to violento como o das armas; para estabelecer limites s calamidades que esse meio produz; e para deixar uma porta sempre aberta para o retorno da paz. Agir de outra maneira mesmo impraticvel de Nao a Nao, porquanto elas no reconhecem juiz comum. Assim, os direitos fundamentados no estado de guerra, a natureza legtima de seus efeitos e a validade das aquisies feitas pelas armas no dependem, externamente e entre os homens, da justia da causa, mas da legitimidade dos meios como tal, isto , de tudo o que requerido para constituir uma guerra formal. Se o inimigo observa todas as regras da guerra formal (Vide capo IV deste livro), no nos permitido consider-lo como infrator do direito das gentes; ele tem as

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mesmas pretenses que ns ao bom direito, e todo nosso recurso reside na vitria, ou numa acomodao. 191: TUDO o PERMITIDO UM, PERMITIDO ()UTRO: Segunda regra: Pelo fato de que o direito considerado igual entre dois inimigos, tudo o que permitido a um em virtude do estado de guerra tambm permitido ao De fato, nenhuma Nao, sob a alegao de que a justia est do seu lado, pode queixar-se das hostilidades de seus inimigos, enquanto elas permanecerem dentro das fronteiras prescritas pelas leis comuns da guerra. Nos captulos precedentes tratamos do que pode ser permitido numa guerra justa. isto precisamente, e no mais, o que o direito voluntrio autoriza igualmente a ambas as partes. Esse direito torna as cousas iguais para ambos os lados; mas no permite a ningum o que seja ilcito em si mesmo e no pode aprovar uma licena sem limites. Conseqentemente, se as Naes ultrapassarem esses limites, se elas conduzirem as hostilidades alm do que em geral permitido pelo direito interno e necessrio para o suporte de uma causa justa, guardemo-nos de relacionar esses excessos com o direito das gentes voluntrio; preciso atribu-los unicamente aos usos corrompidos, que produzem costumes brbaros e injustos. Tais so esses horrores aos quais o soldado s vezes se entrega numa cidade tomada de assalto. VOLUNTRIO NO D SENO INJUSTAS: Em terceiro lugar, nunca deve ser esquecido que o direito dasgentes voluntrio, admitido por necessidade e para evitar maiores males (. 188 e 189), no confere quele cujas armas so um direito verdadeiro, capaz de justificar-lhe a conduta e apaziguar-lhe a conscincia, mas meramente o efeito exterior do direito e a impunidade entre os homens. Isto parece suficiente pela maneira com que estabelecemos o direito das gentes voluntrio. Conseqentemente, o soberano cujas armas no esto justificadas pela justia, no menos injusto e menos culpado contra a lei sagrada da natureza, embora, para no agravar os males causados sociedade humana enquanto busca evit-los, a prpria 192: O DIREITO

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VATIEL

lei natural exige que a ele se entreguem os mesmos direitos externos, que pertencem de forma justa ao seu inimigo. assim que, pelas leis civis, um devedor pode recusar-se a pagar a sua dvida no seu vencimento, mas ele peca ento contra o seu dever: ele tira vantagem de uma lei estabelecida para proteger em muitos casos, mas ele age sem nenhum direito verdadeiro. De fato, as Naes concordam em observar as regras que ns assinalamos no direito das gentes voluntrio. Grcio as fundamenta num consentimento de fato, manifestado pelos povos, e as vincula ao direito das gentes arbitrrio. Mas semelhante compromisso no seria fcilde provar e, por outro lado, somente teria fora contra aqueles que, formalmente, tinham se comprometido com ele. Se esse compromisso existisse, ele se reportaria ao direito das gentes convencional, o qual estabelecido pela histria, e no pelo raciocnio; ele se baseia, no em princpios, mas em fatos. Nesta obra, estamos estabelecendo os princpios naturais do direito das gentes; ns os deduzimos da prpria natureza e o que chamamos de direito das gentes voluntrio consiste nas regras de conduta, de direito externo, s quais a lei natural obriga as Naes a obedecer de modo que se presume como de direito o consentimento delas, sem procur-lo nos anais do mundo porque, embora elas no tivessem dado esse consentimento, a lei da natureza o suplementaria e o daria para elas. Os povos no so livres neste caso em seu consentimento e aquele que o recusasse violaria os direitos comuns de todas as Naes (Vide Preliminares, 21). Esse direito das gentes voluntrio, assim estabelecido, de ampla aplicao e no absolutamente uma quimera, uma inveno arbitrria, destituda de fundamento. Ele decorre da mesma fonte; ele baseado nos mesmos princpios do direito naturalou necessrio. Por que a natureza impe aos homens, tais e tais regras de conduta, a no ser porque essas regras so necessrias ao bem-estar e felicidade do gnero humano? Mas os princpios do direito das gentes necessrio so fundamentados diretamente na natureza das cousas, particularmente na natureza do homem e da sociedade poltica; o direito das gentes voluntrio supe um

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princpio a mais, a natureza da grande sociedade das Naes e do comrcio que elas tm em conjunto. O direito das gentes necessrio prescreve s Naes o que de necessidade absoluta e o que tende naturalmente perfeio e felicidade comum delas; o direito das gentes voluntrio tolera o que impossvel evitar sem causar maiores males.
CAPTULO

XIII

Da aquisio pela gue"a e, principalmente, da conquista

193: COMO A UM MEIO DE AQUlSIAo: Se permitido tirar as cousas que pertencem ao inimigo com o intuito de enfraquec-lo (160), e algumas vezes com o intuito de puni-lo (162), no menos permitido, numa guerra justa, apropriar-se daquelas cousas que os jurisconsultos denominam expletio juris (161) por uma espcie de compensao. Os bens retidos so equivalentes ao que devido pelo inimigo, por despesas e danos que ele ocasionou, ou mesmo como forma de punio merecida, quando h motivo para puni-lo. Pois, quando no posso obter a prpria cousa que me pertence, ou que me devida, tenho o direito a uma outra cousa equivalente, a qual, pelos princpios da justia explcita e segundo estimativa moral, considerada como a prpria cousa. A guerra fundamentada na justia , assim, de acordo com a lei natural, a qual constitui o direito das gentes necessrio, um meio legtimo de aquisio. 194: MEDIDA DO DIREITO QUE AGUERRA CONFERE: Mas esta lei sagrada no autoriza a aquisio feita por armas justas seno em conformidade com os termos da justia, isto , at obter-se plena satisfao, na medida necessria para cumprir os fins legtimos acima mencionados. Um vencedor equnime, ao rejeitar sugestes de ambio e avareza, far uma estimativa justa do que lhe devido, a saber: do prprio objeto em disputa, se ele no puder recuper-lo ao natural, e das perdas e despesas da guerra e reter somente os bens do inimigo suficientes para formar

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VATII'.!.

o equivalente aos seus danos e perdas. Mas no caso de estar lidando com um inimigo prfido, ambicioso e perigoso, ele lhe subtrair, como modo de punio, certas cidades e provncias e tom-Ias- como uma barreira para proteger o seu prprio territrio. Nada seria mais justo para enfraquecer um inimigo que se tornou suspeito e tenvel. O fim legtimo da punio obter segurana para o futuro. Essas so as condies que tornam a aquisio feita pelas armas justa e irrepreensvel perante Deus e perante nossa prpria conscincia; que a causa seja justa e que a satisfao seja medida eqitativamente. DO DI\5 Mas as Naes no podem insistir entre si sobre este rigor da justia. Pelas disposies do direito das gentes voluntrio, toda a guerra formal considerada quanto aos seus efeitos, como justa de ambos os lados (190), e ningum tem o direito de julgar uma Nao acerca do excesso de suas pretenses, ou sobre o que ela acredita ser necessrio para a sua segurana (Preliminares, 21). Toda aquisio feita numa guerra formal , pois, vlida, segundo o direito das gentes voluntrio, independentemente da justia da causa e dos motivos sobre os quais o vitorioso pde basear-se para atribuir a si prprio a propriedade que tomou. Tambm a conquista tem sido ordinariamente considerada pelas Naes como ttulo legtimo; e no se tem visto contestar esse ttulo, exceto quando tenha sido originado de uma guerra, no somente injusta, mas destituda mesmo de pretextos.
195:

DAS )lISAS A propriedade dos bens mveis adquirida do inimigo no momento em que esses bens esto em seu poder; e se ele vier a vend-los a Naes neutras, o proprietrio anterior no tem o direito de reivindic-los. Mas preciso que esses bens estejam realmente no poder do inimigo e tenham sido conduzidos para algum lugar seguro. Suponha-se que um estrangeiro, ao passar por nosso pas, compre alguma poro do butim que o inimigo acabar de fazer; aqueles entre os nossos que estiverem no encalo desse inimigo, podero recapturar com justia o butim que esse estrangeiro se apressou

196:

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em comprar. Sobre essa matria, neste ponto, Grcio relata, de acordo com Thou, o caso da cidade de Lierre, no Brabante, a qual fora tomada e recapturada no mesmo dia e, em conseqncia, o butim tomado dos habitantes lhes foi restitudo porque no tinha estado vinte e quatro horas na posse do inimigo. (41) Este perodo de vinte e quatro horas, como tambm se observa no mar, uma instituio do direito das gentes convencional ou costumeiro, ou enfim uma lei civil de alguns Estados. A razo natural do que se observou em favor dos habitantes de Lierre que o inimigo ainda no tinha transportado consigo o butim, o qual, conseqentemente, foi considerado como ainda pertencente aos habitantes da cidade. Igualmente no mar, um navio capturado pelo inimigo, enquanto no tiver sido conduzido a um porto ou ao meio de uma frota, pode ser recapturado ou liberado por outros navios do mesmo Estado. O seu destino no est decidido, nem os direitos da propriedade dele irrevogavelmente perdidos para o dono, at que o navio seja posto em segurana e completamente submetido ao poder do inimigo que o capturou. Mas as normas de cada Estado podem dispor diferentemente, sejapara prevenir contestaes, seja para encorajar os navios armados a recapturarem navios mercantes tomados pelo inimigo. A justia ou injustia da causa no vem ao caso neste ponto. No haveria estabilidade entre os homens e no haveria nenhuma segurana para comerciar com os beligerantes, se fosse permitido distinguir entre uma guerra justa ou injusta para se atribuir a uma efeitos jurdicos que fossem recusados a outra. Essa atitude corresponderia a abrir a porta para disputas e discusses infindveis, Esta razo de tal fora que ela tem atribudo os efeitos de guerra pblica, pelo menos com respeito aos bens mveis, a expedies que mereceriam apenas o nome de banditismo, mas que eram feitas por exrcitos formais. Quando, aps as guerras dos ingleses na Frana, as grandes companhias percorriam e pilhavam a Europa, ningum pensou em reivindicar o butim que elas tinham carregado e vendido. Hoje, no seria admitido reclamar um
(41)

Ibidem, Liv, 111, capo IV, III, noto 7.

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navio capturado pelos corsrios barbarescos e vendido para terceiros ou recapturado deles, embora as aes de pirataria desses povos no pudessem em nenhum sentido prprio serem consideradas como atos de uma guerra formal. Estamos falando aqui do direito externo; o direito interno e a conscincia, sem dvida, nos obrigariam a restituir os bens que foram tomados de um inimigo que os havia capturado numa guerra injusta, se esse terceiro puder reconhecer esses bens, e pagar as despesas feitas para recuper-los. Grcio'F' relata um grande nmero de exemplos, de soberanos e de comandantes que devolveram generosamente um butim, mesmo sem nada exigir quanto a despesas e penalidades. Mas isto somente ocorre quando o butim recente. Seria impraticvel procurar escrupulo-samente os proprietrios do que foi h muito tempo capturado, os quais alis j teriam abandonado, sem dvida, o direito s causas que no esperavam mais reaver. Esta a atitude ordinria acerca dos bens perdidos na guerra; so abandonados logo, sem esperana de recuperao. 197: DA AQUISIO DOS IMOVIS OU DA CONQUISTA: OS imveis, as terras, as cidades, as provncias, passam ao poder do inimigo que deles se apossar, mas somente pelo tratado de paz, ou pela total submisso e extino do Estado ao qual essas cidades e provncias pertenciam que a aquisio se consuma e a propriedade se torna estvel e perfeita. Terceiros 198: COMO SE PODE DISPOR VALIDAMENTE DE no podem, pois, adquirir com segurana uma praa ou provncia conquistada, at que o soberano, que as perdeu, a elas renuncie pelo tratado de paz ou que, submetido irremediavelmente, tenha perdido a prpria soberania. Enquanto a guerra continua e o soberano conserva a esperana de recuperar as suas posses pela fora das armas, poder um prncipe neutro vir a subtrair a liberdade do conquistado, comprando esta praa ou essa provncia? O primeiro proprietrio no pode perder os seus
(42)

Liv. lII, capo XVI.

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direitos em razo de terceiros; e se o adquirente deseja manter a sua aquisio, ele encontrar-se- envolvido na guerra. Foi assim que o rei da Prssia se colocou entre os inimigos da Sucia, ao receber Sttettin do rei da Polnia e do czar, a ttulo de seqestro.t'" Mas logo que um soberano, pelo tratado definitivo de paz, cedeu o territrio para o conquistador, ele abandonou todo o direito que tinha sobre ele, e seria absurdo se pudesse reclamar de novo esse pas de um novo conquistador, que o tomara do primeiro, ou de qualquer outro prncipe que o tivesse adquirido por compra, por permuta, e por outro ttulo qualquer.

199:

DAS CONDIES PELAS QUAIS SE ADQUIRE UMA CiDADE

O conquistador que subtrai do seu inimigo uma cidade ou uma provncia no pode nelas adquirir seno os mesmos direitos que nelas possua o soberano contra o qual esteve lutando. A guerra o autoriza a tomar posse do que pertence ao seu inimigo; se ele o priva da soberania dessa cidade ou provncia, ele adquire essa soberania tal como , com todas as suas limitaes e modificaes de qualquer carter. Tambm costuma-se ter o cuidado, seja nas capitulaes em particular, seja nos tratados de paz, de estipular que as cidades e territrios cedidos mantero todos os seus privilgios, liberdades e imunidades. Na verdade, por que o conquistador priv-los-ia desses direitos em razo das querelas mantidas com o soberano deles? No entanto, se os habitantes forem culpados de atentado contra ele, ele pode, por meio de punio, priv-los desses direitos e franquias. Ele pode, igualmente, assim proceder se eles pegarem em armas contra ele e, desse modo, virem a se tornar seus inimigos diretos. Neste caso, ele no lhes deve seno o que um conquistador justo e humano deve a inimigos submetidos. Se ele os anexar e os incorporar pura e simplesmente a seus antigos Estados, eles no tero motivos de queixa. At aqui estou a referir-me, como se v, a uma cidade ou a uma provncia que no est verdadeiramente incorporada a uma Nao, ou
CONQUISTADA:
(43)

Pelo tratado de Schwedt, de 6 de outubro de 1713.

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que no pertence plenamente ao soberano, mas sobre a qual esse prncipe ou essa Nao possui apenas alguns direitos. Se a cidade ou provncia conquistada estava plena e perfeitamente no domnio de uma Nao, ou de um soberano, ela passa, na mesma base, ao poder do vencedor. Unida desde ento ao novo Estado ao qual ela pertence, se ela perde com essa mudana trata-se de um infortnio pelo qual ela no pode acusar seno a sorte das armas. Assim, se uma cidade que fazia parte de uma repblica ou de uma monarquia com poderes limitados, na qual tinha o direito de enviar deputado ao conselho soberano ou assemblia dos Estados, for obrigada a abandonar direitos dessa natureza se ela foi conquistada de forma justa por um monarca absoluto, esses direitos poderiam ser contrrios constituio do novo Estado, do qual ela passa a depender. 2: DAS TERRAS DOS PARTICULARES: Outrora, mesmo os particulares perdiam as suas terras pela conquista e no surpresa que esse tenha sido o costume nos primeiros tempos de Roma. A guerra era feita pelas comunidades, pelas repblicas populares. O Estado possua pouca cousa e a disputa era na realidade uma causa comum de todos os cidados. Mas hoje, a guerra envolve conseqncias menos terrveis para as particulares; feita de uma maneira mais humana; um soberano faz a guerra contra outro soberano e no contra o povo desarmado. O vencedor toma posse dos bens do Estado e os particulares mantm os seus. Eles sofrem somente indiretamente pela guerra; e a conquista faz apenas mudar de soberanos. 2l: DA CONQUISTA DE TODO O ESTADO: Mas se todo o Estado conquistado, se a Nao subjugada, que tratamento o vencedor poder dar-lhe sem ultrapassar as fronteiras da justia? Quais sero os seus direitos sobre a sua conquista? Alguns ousaram afirmar esse princpio monstruoso, o de que o conquistador senhor absoluto da sua conquista, que ele pode dispor dela como de sua prpria propriedade, trat-la como quiser, de acordo com a frase comum, tratar um Estado como territno

o DIREITO DAS

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conquistado; desse entendimento infere-se uma das fontes do governo desptico. Deixe-nos desconsiderar tais pessoas que tratam os homens como se fossem bens comerciveis ou como bestas de carga, que eles entregam propriedade ou ao domnio de outro homem; raciocinemos com base nos princpios que esto de acordo com a razo e convenientes humanidade. Todo o direito do conquistador derivado da justa defesa de si mesmo (.3, 26 e 29), a qual compreende a manuteno e a busca dos seus direitos. Quando, pois, ele venceu completamente uma Nao hostil, ele pode, sem dvida, primeiramente, fazer justia por si mesmo ao que deu origem guerra e reembolsar-se das despesas e das perdas que a guerra lhe causou; em seguida, ele pode, de acordo com a exigncia do caso, impor penalidades ao inimigo para que sirvam de exemplo; ele pode at mesmo, se for forado por motivos de prudncia, incapacitar a Nao inimiga de agredir novamente. Todavia, no cumprimento de todos esses objetivos, ele deve preferir as medidas menos severas e lembrar-se de que a lei natural s lhe permite causar injria ao inimigo precisamente na medida necessria a uma justa defesa e uma segurana razovel para o futuro. Alguns prncipes contentaram-se em impor tributos Nao vencida, em priv-la de certos direitos, subtrair-lhe uma provncia, ou cont-la por meio de fortalezas; outros, dirigindo suas aes apenas ao soberano, deixaram a Nao na integridade de seus direitos, limitandose a subordin-la a algum de sua indicao. Mas se o vencedor julga adequado reter a soberania do Estado conquistado, e se encontra no direito de faz-lo, a maneira pela qual ele deve tratar esse Estado decorre ainda dos mesmos princpios. Se ele no tem nada para queixar-se seno do soberano, a razo nos demonstra que ele adquire por sua conquista apenas os direitos que, na verdade, pertenciam ao soberano deposto, e to logo o povo se submeta, ele deve govern-lo de acordo com as leis do Estado. Se o povo no se submete voluntariamente, o estado de guerra continua. Um conquistador que pegou em armas no somente contra o soberano, mas contra a prpria Nao, que quis dominar um povo feroz

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e reduzir de uma vez por todas um inimigo obstinado, esse conquistador pode, com justia, impor encargos aos vencidos com o intuito de indenizar-se das despesas de guerra e com o objetivo de puni-los. Ele pode, de acordo com a extenso da indocilidade dos vencidos, reg-los e capaz de humilh-los, de mant-los por algum com um cetro mais tempo, se necessrio, numa espcie de servido. Mas esse estado forado deve cessar, to logo o perigo cesse e os vencidos se tomem cidados; nessas circunstncias o direito do vencedor expira quanto a essas medidas rigorosas, uma vez que a sua proteo e segurana no mais exigem precaues extraordinrias. Tudo deve, finalmente, ser reconduzido s regras de um governo sbio, aos deveres de um bom prncipe. Quando um soberano, pretendendo ser o senhor absoluto do destino de um povo vencido, quer reduzi-lo escravido, ele faz subsistir o estado prprio. Os citas diziam a Alexandre, o de guerra entre esse povo e Grande: "No h nunca amizade entre senhor e escravo; no meio da paz o direito da guerra subsiste sempre". (44) Se algum diz que a paz pode existir em tal caso, e numa espcie de contrato pelo qual o vencedor concede a vida com a condio de que ele seja reconhecido pelos seus escravos, ele ignora que a guerra no d o direito de tirar a vida de um inimigo desarmado e submetido (140). Mas no contestemos esse ponto: que ele tome para si essa jurisprudncia, ele digno de a ela submeter-se. As pessoas de valor, para quem a vida nada conta a menos que seja acompanhada pela liberdade, sentir-se-o sempre em guerra contra o opressor, ainda que seus atos sejam impotentes. preciso dizer ainda que, se o conquistado deve ser verdadeiramente submetido ao conquistador, como seu soberano legtimo, preciso que ele governe segundo os objetivos para o qual o governo civil estabelecido. Em geral, somente o prncipe que d motivos guerra, e, conseqentemente, conquista. Seria justo que um povo inocente sofra as calamidades da guerra e que a prpria paz lhe seja funesta? Um vencedor generoso
Inter CURT., etsenno VII, capo 8.
amiatia est;etiamin pace

(44)

tamenjura seruantur. QUINT.

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buscar confortar seus novos sditos e suavizar-lhes o destino; ele se considerar no dever de agir assim. Nas palavras de um grande escritor, ''A conquista deixa sempre uma dvida imensa a ser quitada em relao natureza humana'Y". Felizmente, neste caso, como alis em toda a parte, a boa poltica est perfeitamente de acordo com a humanidade. Que tipo de fidelidade, qual a segurana que se pode esperar de um povo oprimido? Se desejais que vossa conquista aumente verdadeiramente as vossas foras e que ela vos siga, tratai-a como pai, como verdadeiro soberano. Admiro a resposta generosa desse embaixador de Privernas. Levado perante o senado romano, o cnsul lhe disse: "Se usarmos de clemncia, que base poderemos ter sobre a paz que vindes pedir-nos?" O embaixador respondeu: "Se nos concedeis a paz em termos razoveis, ela ser segura e perptua; se no ela no durar muito:' Alguns se ofenderam com discurso to ousado; mas a parte mais racional do senado entendeu que o "embaixador" tinha falado como homem e como homem livre. "Pode-se esperar", disseram 'esses sbios senadores, "que algum povo, ou algum homem, permanea numa condio de que no est contente, desde que a necessidade que havia levado a essa situao tenha cessado? Contai com a paz quando aqueles a quem a dais a recebem de bom grado. Que fidelidade podeis esperar daqueles a quem quereis reduzir escravido? A mais segura dominao, dizia Camilo, aquela que agradvel mesmo queles sobre os quais ela exercida". Tais so os direitos que a lei natural confere ao conquistador e os deveres que ela lhe impe. A maneira de fazer valer os seus direitos e cumprir os seus deveres varia de acordo com as circunstncias. Em geral, o conquistador deve consultar os verdadeiros interesses de seu Estado e, por uma sbia poltica, concili-los tanto quanto possvel com os interesses de sua conquista. Ele pode, como os reis da Frana tm feito, incorpor-la a seu Estado. Tal era a prtica dos romanos; mas o
(45)

O presidente MONTESQUIEU, no Esprit de Lois. Cert id est, obedientesgaudent. TIT.-UV, Lib, VIII, cap. 13.

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procedimento deles variava com as circunstncias do caso. No tempo em que Roma tinha necessidade de crescimento, ela destruiu a cidade de Alba, que temia ter como rival; mas ela recebeu em seu seio os habitantes dessa cidade e fez deles seus cidados. Mais tarde, ao deixar subsistir as cidades conquistadas, ela concedeu o direito de cidadania romana aos vencidos. A vitria no teria beneficiado esses povos tanto quanto a derrota. O vencedor pode ainda simplesmente colocar-se no lugar do soberano deposto. Foi assim que procederam os trtaros na China: o imprio subsistiu tal como era, passando apenas a ser governado por nova categoria de soberanos. . Enfim, o conquistador pode governar a sua conquista como um Estado distinto sem mudana na forma de governo. Mas este mtodo perigoso; ele no produz uma real unio de foras; ele enfraquece a conquista sem fortalecer muito o Estado conquistador. 202: A QUEM PERTENCE A CONQUISTA: Pergunta-se a quem pertence a conquista, ao prncipe que a obteve ou ao seu Estado? uma questo que nunca deveria surgir. Pode o soberano agir, nessa qualidade, para qualquer outro fim que no o bem-estar do Estado? Para quem so as foras que ele emprega em suas guerras? Quando ele teria feito a conquista por sua prpria conta, com dinheiro de sua poupana, de seus bens particulares e patrimoniais, no emprega ele o brao de seus sditos? No derrama o sangue deles? Mas supondo ainda que ele foi servido por tropas mercenrias estrangeiras, no est ele expondo a sua Nao ao ressentimento inimigo? No a envolve na guerra? E o fruto disso ser apenas para ele? No por causa do Estado, da Nao, que ele vai guerra? Todos os direitos que nascem da guerra so, pois, para a Nao. A questo muda se o soberano participa da guerra por uma causa pessoal, para fazer valer por exemplo, direito de sucesso a uma soberania estrangeira. Esta questo no mais do Estado. Mas ento a Nao deve ter a liberdade de no se envolver nela se quiser, ou ento de socorrer o seu prncipe. Se ele tem o poder de empregar as

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foras da Nao para apoiar os seus direitos pessoais, ele no deve mais distinguir os seus prprios direitos daqueles do Estado. A lei da Frana, que rene coroa todas as aquisies dos reis, deveria ser a lei de todos os reinos.

23: SE SE DEVE DEVOLVER ALIBERDADE AUM POVO QUE O INIMIGO HAVIA CONQUISTADO INJUSTAMENTE: Vimos (196) em que circunstncias
podemos ser obrigados, no exteriormente, mas pela conscincia e pelas leis da eqidade, a devolver a um terceiro o butim tomado do inimigo, que lhe havia sido subtrado numa guerra injusta. A obrigao mais certa e mais ampla em relao a um povo que tinha sido injustamente oprimido pelo nosso inimigo pois um povo, assim privado de sua liberdade, nunca renuncia esperana de recuper-la. Se ele no se incorporou voluntariamente ao Estado que o conquistou, se ele no o ajudou livremente na guerra contra ns, devemos certamente fazer uso de nossa vitria, no para faz-lo mudar de soberano, mas para quebrar os seus grilhes. Esse pode ser um nobre fruto da vitria: o de liberar um povo oprimido; e uma grande conquista adquirir assim um amigo fiel. O canto de Schweitz, tendo subtrado o pas de Glarys casa da ustria, devolveu aos habitantes a sua liberdade inicial. "Glarys foi recebido na Confederao Sua e nela formou o sexto canto"(47).
CAPTULO

XIV

Do direito de post/imnio
24: DEFINIAo DO
t:
PO.nUAfNIO:

O direito de post/imnio

aquele em virtude do qual as pessoas e as cousas, capturadas pelo inimigo, so restitudas ao estado anterior quando elas retornam ao poder da Nao qual pertenciam.
Histoire dela Confdralion Helvtique, por A - L. de WATTEWILLE, Liv. IH, p. 145, ano de 1.351.

(47)

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25: FUNDAMENTO DESSE DIREITO: O soberano est obrigado a proteger a pessoa e os bens de seus sditos e a defend-los contra o inimigo, Quando, pois, um sdito, ou alguma parte de seus bens, caem em mos do inimigo, se algum evento feliz os devolve ao poder do soberano, no h dvida que ele deve restitu-los a seu estado anterior, restabelecer as pessoas em todos os seus direitos e obrigaes, devolver os bens aos proprietrios, em uma palavra, repor todas as causas como eram antes do inimigo ter delas se tornado senhor. A justia ou a injustia da guerra no vem ao caso; no somente porque, de acordo com o direito das gentes voluntrio, a guerra, quanto aos seus efeitos, considerada justa de ambos os lados, mas tambm porque a guerra, sendo justa ou no, a causa da Nao; conseqentemente, se os sditos que lutam ou que sofrem pela Nao, depois de terem cado, eles prprios ou os seus bens, nas mos do inimigo, se encontram por um acidente feliz novamente sob o poder de sua Nao, no h nenhuma razo de no restitu-los ao estado anterior; como se eles nunca tivessem sido capturados. Se a guerra justa, eles tinham sido injustamente capturados e nada mais natural do que restabelec-los to logo seja possvel; se a guerra injusta, eles, como de resto toda a Nao, no esto mais obrigados a sofrer a punio. A captura foi uma infelicidade e desta se livraram quando foram libertados; agora como se eles nunca tivessem sido capturados. Nem o seu soberano, nem o inimigo deles, tm qualquer direito especial sobre eles; o inimigo perdeu por um acidente o que por um outro havia ganho. 26: COMO ESSE DIREITO OCORRE: Pelo direito de postlimnio, as pessoas retornam, os bens se recuperam quando, aps terem capturados pelo inimigo, so restitudos ao poder da prpria Nao (24). Esse direito tem lugar, pois, assim que essas pessoas ou bens, capturados pelo inimigo, recaem nas mos dos soldados da mesma Nao, ou se encontram novamente no exrcito, no acampamento, nas terras de seu soberano, nos lugares onde ele exerce o poder.

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27: SEESSE DIREITO OCORRE ENTRE ALIADOS: Aqueles que se unem

a ns para fazer a guerra constituem conosco um mesmo partido: a causa comum, o direito um s; e eles so considerados como fazendo conosco um corpo nico. Quando, pois, as pessoas ou os bens, capturados pelo inimigo so retomados pelos nossos auxiliares, ou recaem de alguma outra maneira em suas mos, o resultado precisamente o mesmo, quanto ao efeito jurdico, como se tivessem vindo diretamente ao nosso poder; o poder de nossos aliados e o nosso poder participam igualmente da mesma causa. O direito de postlimnio, pois, tem lugar entre aqueles que fazem a guerra conosco; as pessoas ou os bens que eles liberam das mos do inimigo devem ser restitudos condio anterior. Mas ocorre esse direito em terras de nossos aliados? Uma distino deve ser feita. Se esses aliados fazem causa comum conosco, se eles so aliados na guerra, o direito de postlimnio opera em nosso favor no territrio deles da mesma forma que em nosso prprio. Pois o Estado deles est unido ao nosso e constitui um s partido nessa guerra. Mas se, como prtica freqente atualmente, um aliado limita-se a fornecernos ajuda estipulada em tratados, sem romper com nosso inimigo, e ambos continuam em paz nas suas relaes imediatas, neste caso apenas as tropas auxiliares que ele nos manda so participantes e associadas na guerra; o respectivo Estado permanece neutro.

2S: ESSE DIREITC) NC) POVC)S NEUTRC )S: Ora, o direito de postlimnio no ocorre entre povos neutros. Pois quem quer que seja
que deseja permanecer neutro numa guerra obrigado a consider-la, quanto aos seus efeitos, como igualmente justa em ambos os lados e, conseqentemente, deve considerar como bem adquirido tudo o que for capturado por um ou outro lado. Conceder a um beligerante o direito de reclamar as causas capturados pelo outro, ou o direito de postlimnio em suas terras, seria declarar-se em seu favor e cessar de ser neutro. sxo POR DIREITO: Bens de toda espcie podem naturalmente ser recuperados pelo direito de postlimnio

29: QUAIS

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e, contanto que fossem como tal admitidos, no h nenhuma razo intrnseca para deles excetuar os bens mveis. Tambm vemos que os antigos freqentemente restituam aos primeiros donos essa espcie de bens, quando recapturados do inimigo.(48) Mas a dificuldade de reconhecer os bens dessa natureza e as numerosas disputas que surgiriam da sua reivindicao, acabaram por estabelecer em geral um costume contrrio. Acrescente-se a isso a pequena esperana de recuperar os bens capturados pelo inimigo e, uma vez conduzidos a lugar seguro, presume-se razoavelmente terem sido abandonados pelos antigos proprietrios. Assim, com razo que os bens mveis, ou o butim, so excetuados do direito de posti/imnio a menos que sejam recapturados imediatamente do inimigo que deles acabara de apropriar-se pois, nesse caso, no identific-los e nem presumirem-se abandonados pelo proprietrio. Ora, uma vez acolhido e bem estabelecido esse costume, seria injusto desrespeit-lo (Preliminares, 26). verdade que os escravos no eram tratados entre os romanos como os demais bens mveis; eles eram reconduzidos a seus proprietrios pelo direito de postilimnio mesmo quando o restante do butim no o fosse. A razo disso clara; como sempre fcil identificar um escravo e conhecer a quem ele pertence, o proprietrio tinha sempre a esperana de recuper-lo; no se presumia ter ele abandonado o seu direito.
in. Prisioneiros de guerra que tm dado a sua palavra, os povos e as cidades submetidos ao inimigo, que lhe prometeram ou juraram fidelidade, no podem por si prprios retomar sua condio inicial pelo direito de posti/imnio, pois a f deve ser preservada, mesmo em relao aos inimigos (174).

210:

DAQUELES QUE NAo PODEM RETORNAR PELO

211: ELES GOZAM DESSE DIREITO QUANDO FOREM RECAPTURADOS: Mas se o soberano retoma essas cidades, essas provncias, ou esses prisioneiros, que se tinham rendido ao inimigo, ele recupera todos os direitos que tinha
Exemplos se encontram em GRCIO, Liv. IH, capo XVI, 2.

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sobre eles e deve restabelec-los em seu estado anterior (25). Eles, ento, beneficiam-se do direito de postlimnio sem faltar sua palavra, sem violar a f empenhada. O inimigo perde pelas armas o direito que ele havia adquirido pelas armas. Mas com relao aos prisioneiros de guerra, uma distino deve ser feita. Se, sob palavra, eles estavam inteiramente livres, eles no so liberados pelo mero fato de terem cado sob o poder da sua Nao, pois eles poderiam mesmo ter retornado ao seu pas sem cessar de serem prisioneiros: conseqentemente, apenas a vontade daquele que os capturou ou a sua completa submisso pode desobrig-los. Mas se eles tivessem somente prometido no fugir, promessa com freqncia feita com o intuito de evitar as inconvenincias da priso, eles no esto obrigados seno a deixar por si prprios o territrio do inimigo, ou o lugar que lhes foi consignado como residncia; e se as tropas de seu pas venham a tomar posse do lugar onde eles residem, eles so repostos em liberdade, restitudos sua Nao e sua condio anterior, pelo direito das armas. 212: ESSE DIREITO SI: AOS BENS ALIENADOS INIMICO: Quando uma cidade submetida pelas armas ao inimigo retomada pelo seu prprio soberano, ela restituda, como j temos visto, sua condio anterior e, conseqentemente, reassume todos os seus direitos. Pergunta-se se ela recupera desse modo o direito aos bens que tinham sido alienados pelo inimigo. preciso de incio distinguir entre bens mveis, que no so recuperados pelo direito de postlimnio (29), e os imveis. Os primeiros pertencem ao inimigo que deles se apossa e pode alien-los sem retorno. Quanto aos bens imveis, deve-se lembrar que a aquisio de uma cidade, conquistada na guerra, somente plenamente consumada pelo tratado de paz, ou pela inteira submisso, pela destruio do Estado ao qual ela pertencia (197). At esse ponto resta ao soberano da cidade a esperana de retom-la ou recuper-la pelos termos da paz; e a partir do momento em que a cidade retornar ao seu poder, restabelecer todos os seus direitos (25); em conseqncia, ela recupera todos os seus bens, tanto quanto eles

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podem, por sua natureza, serem recuperados. Ela assim retomar os seus imveis daqueles que foram demasiadamente apressados em adquiri-los. Eles assumiram um risco ao comprar bens daqueles que no tinham sobre eles um direito absoluto; e se assim eles tiverem prejuzo, foi porque bem quiseram correr esse risco. Mas se essa cidade havia sido cedida para o inimigo por um tratado de paz, ou se ela tinha cado plenamente em seu poder em virtude da submisso de todo o Estado, ento o direito de postlimnio no mais opera para ela e a alienao de seus bens pelo conquistador vlida e irrevogvel. A cidade no pode reivindic-los se for depois subtrada ao jugo do vencedor, por uma revoluo bem sucedida. Quando Alexandre presenteou os tessalnicos com a quantia que eles deviam aos tebanos (Vide acima, 77) ele era senhor absoluto da repblica de Tebas, cuja cidade destruiu e cujos habitantes vendeu. As mesmas decises se aplicam aos imveis dos particulares, prisioneiros ou no, alienados pelo inimigo enquanto ele era senhor do pas. Grcio prope a questo'i?' com respeito a bens imveis, possudos em pas neutro por um prisioneiro de guerra. Mas, de acordo com os nossos princpios, essa questo nula pois o soberano que faz um prisioneiro na guerra no tem outro direito seno o de ret-lo at o fim da guerra, ou at que ele seja resgatado (148 e segs.), e ele no adquire nenhum direito sobre os bens do mesmo, a no ser enquanto deles possa apossar-se. impossvel encontrar alguma justificativa natural, porque aquele que detm um prisioneiro teria o direito de dispor de seus bens, quando esse prisioneiro no os tem consigo. 213: SE UMA NA<;O QUE COMPLETAMENTE CONQUISTADA PODE GOZAR DO Quando um povo, uma Nao, um Estado, foi completamente subjugado, pergunta-se se uma revoluo pode permitir-lhe gozar do direito de postlimnio? Aqui, de novo, uma distino deve ser feita para bem responder a essa questo. Se o Estado
(49)

Liv. IH, capo IX, 6.

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subjugado ainda no aceitou suas novas condies de submisso, se ele no se rendeu voluntariamente e apenas cessou, por impotncia, de resistir; se seu vencedor no deixou a espada de conquistador para tomar o cetro de um soberano pacfico e justo, esse povo no est realmente submetido; ele est apenas vencido e oprimido; e quando as armas de um aliado o libertam, ele inquestionavelmente retorna a sua condio anterior (207). O seu aliado no pode tornar-se conquistador; ele um libertador ao qual est apenas obrigado a recompensar. Mas se o ltimo vencedor no aliado do Estado de que falamos e procura mant-lo sob as suas leis como um preo da sua vitria, ele se coloca no lugar de conquistador e se torna inimigo do Estado por ele oprimido; este Estado pode legiti-mamente resistir a ele e tirar vantagem de uma oportunidade favorvel para recuperar a sua liberdade. Se ele tinha sido injustamente oprimido, aquele que o subtrai do jugo do opressor deve generosamente restitu-lo a todos os seus direitos (203). Caso diferente ocorre, quando um Estado voluntariamente se submeteu ao vencedor. Se os povos, tratados no mais como inimigos mas como verdadeiros sditos, se submeteram a um governo legtimo, eles passam a depender de um novo soberano, ou so incorporados ao Estados conquistador. Eles so parte dele e lhe seguem o destino, o antigo Estado deles ficou inteiramente destrudo e todas as suas relaes e alianas expiram (Livro II; 203). Qualquer que seja o novo conquistador que subjugue a seguir o Estado ao qual esses povos esto unidos, eles seguem o destino desse Estado, como a parte segue o destino do todo. Esta tem sido a prtica das Naes em todas as pocas; mesmo as Naes consideradas justas e eqitativas, sobretudo em relao a uma conquista antiga. Os mais moderados limitam-se a devolver liberdade um povo recentemente submetido, que no consideram estar ainda perfeitamente incorporado e nem bem sintonizado com o Estado que eles venceram. Se esse povo sacode o jugo por si mesmo e recupera a liberdade, ele readquire todos os seus direitos e retoma sua condio anterior e

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as Naes estrangeiras no tm o direito de julgar se ele se foi subtrado a uma autoridade legtima ou se ele prprio rompeu os seus grilhes. Assim, o reino de Portugal, que fora invadido por Felipe II da Espanha, sob a alegao de um direito hereditrio, mas na realidade pela fora ou terror das armas, restabeleceu a sua coroa independente e reinvestiuse de seus antigos direitos, quando expulsou os espanhis e ps o duque de Bragana no trono.

214: Do

J)JRhITO J)h POITJJMNIO

As provncias, cidades e terras que o inimigo restitui pelo tratado de paz usufruem sem dvida do direito de postlimnio, pois o soberano deve restabelec-las em sua condio anterior, to logo elas retornem a seu poder (25), qualquer que seja a maneira pela qual ele as retoma. Quando o inimigo devolve uma cidade paz, ele renuncia ao direito que adquirira pelas armas; como se ele nunca a tivesse conquistado. No h razo que possa dispensar o soberano de rep-la em seus direitos, em seu estado anterior.

215: E CEDIDO INIJ\IIC;O: Mas tudo o que foi cedido ao inimigo pelo tratado de paz est verdadeira e plenamente alienado. Ele no tem mais nada em comum com o direito de postlimnio a menos que o tratado de paz seja rompido e anulado. 216: O
NO SUBSISTE DEPOIS DA E

como as cousas no mencionadas no tratado de paz permanecem na condio em que se encontravam no momento em que a paz foi concluda, so tacitamente cedidas a uma ou outra parte quele que as possua nesse momento; digamos que, em geral, o direito de-postlimnio no mais tem lugar depois de concluda a paz. Este direito est integralmente adstrito ao estado de guerra.

217: POR O SE PRISIONEIROS: Por esta mesma razo, no entanto, uma exceo deve

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ser feita aqui em favor dos prisioneiros de guerra. O soberano deles deve libert-los na paz (154). Se ele no pode faz-lo, se as sorte das armas for-lo a receber condies duras e inquas, o inimigo, que deveria libertar os prisioneiros quando a guerra terminasse, quando no teria mais nada a temer deles (. 151 e 153), continua com eles o estado de guerra se os mantiver cativos e, sobretudo, se os reduzir escravido (152). Esses prisioneiros tm, pois, o direito de se libertarem se puderem e de retornarem ao seu pas, como ocorria em tempo de guerra, pois a guerra ainda continua para eles e, assim, o soberano que deve proteg-los est obrigado a restabelecer-lhes seu estado anterior (205). LIVRES PARA UM PAS NEUTRO: Digamos mais: esses prisioneiros, detidos sem razo legtima depois do tratado de paz, esto livres desde que, fugidos da priso, ingressem em pas neutro. Pois inimigos no podem ser perseguidos e detidos em pas neutro (132) e aquele que detm um prisioneiro inocente depois da paz persiste em ser seu inimigo. Esta regra deve ser, e na verdade o , vigente entre Naes que no praticam, nem autorizam a escravido de prisioneiros de guerra.

218: ELES

219: COMO OS DIREITOS AS DOS PRISIONEIROS Est suficientemente claro, por tudo o que temos dito, que os prisioneiros de guerra devem ser considerados como cidados que podem um dia retornar ptria e que, quando retornam, o soberano est obrigado a restituir-lhes o seu estado anterior. Desse fato, resulta claramente que os direitos desses prisioneiros, bem como as obrigaes a que esto submetidos, ou os direitos de outrem sobre eles, subsistem na sua integridade, e apenas permanecem suspensos, para a maior parte, quanto ao exerccio deles, durante o tempo de cativeiro. 220: Do TESTAMENTO UM PRlS10NE1RO Conseqentemente, um prisioneiro de guerra retm o direito de dispor de seus

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bens e, particularmente, do direito de deles dispor em razo de falecimento, e como no h nada na sua condio de prisioneiro que possa subtrair-lhe o exerccio de seu direito a esse respeito, o testamento de um prisioneiro de guerra deve ser vlido em seu prprio pas, se nenhum vcio inerente no o tornar caduco. 221: Do CASAMENTO: Nas Naes que consideram o casamento indissolvel, ou permanente durante a vida, a menos que dissolvido por juiz, o vnculo ainda subsiste malgrado um dos cnjuges ser prisioneiro. Este, de retorno ao lar, retoma todos os seus direitos matrimoniais, pelo direito de postlimnio. 222:
RELAO AO ACERCA DO
in:

O TRATADO OU COSTUME ESTABELECEM COM

No entraremos em pormenores aqui a respeito do de postlimnio em face das leis civis de alguns povos. Observemos apenas que essas disposies particulares so somente aplicveis aos sditos desses Estados e no tm fora em relao a estrangeiros. No nos referiremos tambm s estipulaes dos tratados, os quais estabelecem uma regra convencional que concerne apenas s partes contratantes. Os costumes introduzidos por uso longo e constante vinculam os povos que lhes deram o tcito consentimento, e devem ser respeitados quando no contm nada contrrio lei natural. Mas os costumes que violarem essa lei sagrada so viciados e sem fora. Longe de conformar-se com esses costumes, toda a Nao obrigada a trabalhar para aboli-los. Entre os romanos, o direito de postlimnio tinha lugar mesmo em plena paz, com respeito a povos com os quais Roma no tinha nem laos de amizade, nem hospitalidade, nem aliand;O). que aqueles povos, como ns j temos visto, eram de algum modo considerados como inimigos. Costumes mais suaves aboliram quase em toda parte essa reminiscncia de barbrie.
(50). DIGESTo., Lib. XLIX, de capto et poxtlim., Leg. V, 2.

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CAPTULO

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XV

Do direito dos particulares na

223: Os SDITOS NO PODEM PARTICIPAR DAS HOSTIUDADES SEM ORDEM
O direito de fazer a guerra, como indicamos no primeiro captulo deste livro, compete unicamente ao poder soberano. Compete-lhe no apenas decidir se convm fazer e declarar a guerra mas tambm dirigir todas as operaes beligerantes como um assunto de extrema importncia para o bem-estar do Estado. Os sditos no podem, pois, agir neste caso por conta prpria, e no lhes permitido realizar qualquer ato de hostilidade sem a ordem do soberano. Deve-se entender que a auto-defesa no est includa aqui no termo hostilidades. Se um sdito pode, ele prprio, repelir o ataque de outro cidado, quando a proteo da fora policial falha, com muito mais razo ele pode defender-se contra o ataque inesperado de estrangeiros.
DO SOBERANO:

224: A ORDEM PODE SER GERAL OU PARTICULAR: A ordem do soberano, que comanda atos de hostilidades, e que confere o direito de comet-los, pode ser geral ou particular. A declarao de guerra, que ordena a todos os sditos atacarem os sditos do inimigo, importa uma ordem geral. Os generais, os oficiais, os soldados, os marinheiros e os comandos, que tm comisses do soberano, fazem a guerra em virtude de uma ordem particular. 225: FONTE DA NECESSIDADI': DE SEl\.f!'LHANTE ORDEM: Mas se os sditos tm necessidade de uma ordem do soberano para autoriz-los a fazer a guerra, esta necessidade unicamente devida s leis essenciais de toda sociedade poltica, e no resulta de qualquer obrigao acerca do inimigo. Pois desde o momento em que uma Nao recorre s armas contra outra, ela se declara inimiga de todos os indivduos que compem esta ltima e os autoriza a tratarem-na como tal. Que direito teria ela de queixar-se de hostilidades que particulares cometessem contra ela

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sem ordens do superior deles? A regra de que estamos falando refere-se, pois, ao direito pblico geral mais do que ao direito das gentes propriamente dito ou ao princpio das obrigaes mtuas das Naes.
226: POR QUE () DIREITO Dt\S GENTES DEVE ADOTAR ESSA REGRA: De acordo com o direito das gentes, desde que duas Naes estejam em

guerra, todos os sditos de uma podem cometer atos de hostilidade contra a outra e causar-lhe todos os males autorizados pelo estado de guerra. Mas se duas Naes colidissem mutuamente, com o impacto de todas as suas foras, a guerra se tornaria muito mais cruel e mais destrutiva e seria difcil que ela terminasse a no ser pela completa destruio de uma das partes, como as guerras antigas alis o provam. Recorde-se o exemplo das primeiras guerras de Roma contra as repblicas populares que a cercavam. assim, com boa razo, que a prtica contrria se tornou costume entre as Naes europias, pelo menos naquelas que mantm tropas regulares ou milcias disponveis. Apenas as tropas fazem a guerra, e o resto do povo permanece inativo. A necessidade de uma ordem particular to consolidada que, mesmo depois de uma declarao de guerra entre duas Naes, se camponeses cometerem por si mesmos algum ato de hostilidade, o inimigo os trata sem formalidade e os enforca como faria com ladres ou bandoleiros. O mesmo ocorre em relao aos corsrios: uma comisso do prncipe ou do almirante deles, a nica maneira de assegurar-lhes, se capturados, que sejam tratados como prisioneiros feitos em guerra formal.
227: A QUE SE REDUZ A ORDEM GERAL DE DAR CAA AO INIMIGO: Entretanto, as declaraes de guerra ainda contm a antiga frmula que ordena a todos os sditos no somente romperem todo o comrcio com os inimigos mas tambm a dar-lhes caa permanente. Essa ordem geral interpretada pelo costume. Ele autoriza, na verdade, e mesmo obriga todos os sditos, de qualquer nvel, a deterem as pessoas e os bens pertencentes ao inimigo, quando eles carem em suas mos, mas

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ele no os induz a promover qualquer expedio ofensiva, sem autorizao ou ordem expressa. PRESUNO 228: O QUE OS PARTICULARES PODEM VONTADE DO SOBERANO: Entretanto, existem ocasies em que os sditos podem, razoavelmente, presumir a vontade do seu soberano e agir em conseqncia de seu comando tcito. assim que, apesar do costume que geralmente limita as operaes de guerra s tropas, se os cidados de uma cidade fortificada, tomada pelo inimigo, no lhe prometeram ou juraram submisso, e encontraram uma oportunidade favorvel para surpreender a guarnio e retomar a cidade para o seu soberano, eles podem ousadamente presumir que o prncipe aprovar esse empreendimento generoso. E quem ousar conden-los? verdade que se os cidados malograrem nesse intento, o inimigo trat-los- com grande severidade; mas isto no prova que a tentativa seja ilegtima ou contrria ao direito da guerra. O inimigo usa de seu direito, o direito das armas, que admite empregar, at uma certa extenso, o terror como meio de impedir que os sditos do soberano com quem ele est em guerra se arrisquem facilmente a tentar esses golpes ousados cujo xito poderia tornar-se-lhe funesto. Temos visto como, na ltima guerra, os habitantes de Gnova rapidamente pegaram em armas por si mesmos e expulsaram os austracos da cidade. A repblica celebra anualmente a memria de um evento que lhe devolveu a liberdade. OS armadores, que equipam s sua 229: Dos expensas navios para fazer o corso, adquirem a propriedade do butim como recompensa de seus preparativos e dos riscos que correm. Eles o adquirem por concesso do soberano, que lhes entrega comisses. O soberano lhes cede o butim, parcial ou totalmente, em razo do contrato com eles celebrado. No estando os sditos obrigados a avaliar escrupulosamente a justia da guerra, que nem sempre esto altura de bem conhecer, e sobre a qual, em caso de dvida, devem reportar-se ao julgamento do

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soberano (187), no h dvida que podem servir em boa conscincia a sua ptria, ao armarem navios para o corso martimo, a menos que a guerra se revele manifestamente injusta. Mas, contrariamente, ofcio vergonhoso para estrangeiros o de receber comisses de um prncipe para agirem como piratas contra uma Nao inocente em relao a eles. A sede de ouro o nico motivo que os incita e a comisso que eles recebem pode ser assegurada impunemente mas no pode removerlhes a infmia. Apenas so desculpveis aqueles que assistem por esse meio uma Nao cuja causa inquestionavelmente justa e que pegaram em armas somente para proteger-se da opresso. O ato deles seria mesmo louvvel, se o dio opresso, se o amor justia em vez do desejo de lucro, os impelisse a empreendimentos generosos nas quais , expem a vida ou a fortuna aos azares da guerra. 230: Dos VOLUNTRIOS: O objetivo nobre de instruir-se no ofcio da guerra e de assim tornar-se mais capaz de servir ptria, determinou a prtica de servir como voluntrio mesmo em exrcitos estrangeiros e essa prtica , sem dvida, justificada por uma finalidade to recomendvel. Atualmente os voluntrios so, quando capturados, tratados pelo inimigo como se eles fossem parte do exrcito no qual estejam lutando. Nada mais justo. Eles de fato participam desse exrcito e sustentam a mesma causa;pouco importa se isso ocorre em virtude de alguma obrigao ou por vontade prpria.
PODEM FAZER OS SOLDADOS E OS SUBALTERNOS: 231: Do Soldados no podem fazer nada sem o comando expresso ou tcito dos seus oficiais. O dever deles obedecer e executar ordens e no agir por sua prpria conta; eles no so seno instrumentos nas mos dos seus comandantes. Lembremo-nos aqui o que entendemos por ordem tcita: aquela que est necessariamente includa numa ordem expressa, ou nas funes confiadas por um superior. O que dito dos soldados deve ser entendido proporcionalmente dos oficiais e de todos aqueles que tm algum comando subalterno. Pode-se, pois, em relao

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s cousas cujo cuidado no lhes foi confiado, comparar uns e outros aos simples particulares que, sem ordem, nada devem fazer. A obrigao mesmo mais estrita no caso dos homens de guerra, pois as leis militares os probem expressamente de agir sem ordens, e essa disciplina to necessria que dificilmente pode ser presumida. Na guerra, uma iniciativa que possa parecer muito vantajosa e quase certa de xito, pode ter conseqncias desastrosas. Seria perigoso confiar no julgamento de oficiais subalternos, que no conhecem todos os planos do general e que no tm o mesmo nvel de conhecimento. Assim, no se pode presumir que ele queira deix-los agir por si prprios. Lutar sem ordem quase sempre, no caso de um soldado, lutar contra a ordem expressa ou contra a defesa. No resta, pois, seno o caso da auto-defesa em que os soldados e subalternos podem agir sem ordem. Neste caso, a ordem pode ser seguramente presumida. O direito de defender a sua pessoa contra toda a violncia pertence naturalmente a todo homem, e nenhuma permisso necessria. Durante o assdio de Praga, na ltima guerra, os granadeiros franceses, sem ordem e sem oficiais, realizaram um ataque, tomaram posse de uma bateria, encra-varam uma parte do canho, e conduziram a outra parte praa. A severidade romana os teria punido com a morte. H um caso bem conhecido, o do cnsul Mnliov", que condenou morte seu prprio filho vitorioso, porque ele tinha lutado sem ordens. Mas a diferena de pocas e costumes obriga os generais a moderarem essa severidade. O marechal de BelleIsle reprimiu publicamente seus bravos granadeiros, mas ele mandou, secretamente, distribuir-lhes dinheiro como recompensa coragem e devoo. Em outra famosa praa sitiada da mesma guerra, a de Coni, os soldados de alguns batalhes entrincheirados fizeram por eles prprios, na falta de oficiais, uma expedio vigorosa, bem sucedida. O baro de Leutrum foi forado a perdoar essa transgresso com o intuito de no extinguir um entusiasmo no qual a segurana da cidade se baseava. No entanto, essa impetuosidade desordenada deve, tanto
TIT.-LIV, Lib. VIII, cap.7.

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quanto possvel, ser reprimida, pois ela pode tornar-se funesta. Avidius Cassius puniu com a morte alguns oficiais de seu exrcito, mandando cort-los em pedaos, pelo fato de que, sem ordem, surpreenderam um exrcito de trs mil homens. Ele justificou essa severidade ao dizer - que esses oficiais podiam ter cado numa emboscada: dicens, euenire potuisse ut essent insidiae(52).

232: SE o ESTADO DEVE INDENIZAR OS SDITOS PELAS PERDAS SOFRIDAS NA GUERRA: Deve o Estado indenizar os particulares pelas perdas ocasionadas pela guerra? Pode-se ver em Grciov" que os autores esto divididos nessa questo. Duas espcies de danos devem ser aqui distinguidas - a dos danos causados pelo Estado ou pelo prprio soberano e a dos causados pelo inimigo. Da primeira espcie alguns so causados livremente e por precauo, como quando se toma o campo, o jardim, ou a casa de um particular, para neles construir a muralha de uma cidade, ou alguma outra pea de fortificao; ou quando as suas colheitas ou suas lojas, so destrudas no temor de que o inimigo delas se aproveite. O Estado deve pagar essas espcies de dano ao particular que no deve ser onerado, seno pela sua cota-parte. Mas outros danos so causados por uma necessidade inevitvel, como, por exemplo, a destruio causada pela artilharia numa cidade que retomada do inimigo. Tais danos so acidentais. So males da fortuna para os proprietrios sobre os quais eles incidem. O soberano deve indenizlos eqitativamente, to logo o estado das suas finanas o permita mas no se tem ao contra o Estado por infelicidades dessa natureza, para perdas que o Estado no causou deliberadamente, mas por necessidade e por acidente no exerccio dos seus direitos. O mesmo deve ser dito dos danos causados pelo inimigo. Todos os cidados esto expostos a tais danos; infeliz daquele que os sofre! Numa sociedade pode-se correr esse risco tanto para os bens quanto o risco para a vida.
(52)

VULCATIUS GALLICAN, citado por GRCIO, Liv III, capo XVIII; I, noto 6 Liv. nr, capo XX, 8.

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Se o Estado fosse obrigado a indenizar todos aqueles que perdem dessa maneira, o tesouro pblico seria rapidamente exaurido. Cada indivduo seria obrigado a contribuir com a sua parte numa justa proporo; o que seria impraticvel. Alis, essas indenizaes estariam sujeitas a mil abusos e a pormenores assustadores. pois de presumir-se que isto nunca foi cogitado por aqueles que se uniram em sociedade. Mas est inteiramente de acordo com os deveres do Estado e do soberano, e conseqentemente muito eqitativo, muito justo mesmo, aliviar tanto quanto for possvel aquelas pessoas infelizes que a guerra arruinou, assim como cuidar de uma famlia cujo responsvel perdeu a vida a servio do Estado. Existem muitas dvidas sagradas para aqueles que cumprem os seus deveres embora elas no os autorizem a agir contra o Estado.
CAPiTULO

XVI

Das diversas convenes feitas no curso da gue"a

233: DA TRGUA E DO CESSAR FOGO: A guerra tornar-se-ia muito cruel e muito funesta se todo comrcio entre inimigos fosse absolutamente rompido. Segundo Grcio Iernbrav", subsistem ainda comrcios de guerra, como Virglio (55) e Tcitov" os chamam. As ocorrncias, os eventos de guerra, obrigam os inimigos a participarem de vrias convenes entre si. Como j tratamos em geral da boa f que deve ser observada entre inimigos, no precisamos provar aqui a obrigao de fielmente cumprirem as convenes feitas durante a guerra; resta-nos explicar a natureza desses acordos. Convenciona-se, algumas vezes, suspender as hostilidades por um certo tempo. Se o acordo feito somente para um curto perodo de tempo, e para algum
(54)

Liv. III, capo XXI, 1.

Bel/i commercia Turnus. Suslunlistaprior.
Anna/., Lib. XIV, capo 33.
Aeneid., X, v. 532.

(55)

558 lugar em particular, ele chamado suspenso de hostilidades ou cessar fogo. Tais so aqueles feitos para enterrar os mortos depois de um assalto ou uma batalha, e para uma conferncia entre os chefes inimigos. Se o acordo feito para um longo perodo, e sobretudo se geral, chamado mais especificamente de trgua ou armistcio. Para muitos, os dois termos so usados indiferentemente. 234: A TRGUA NO TERMINA A GUERRA: A trgua ou cessar fogo no termina a guerra; ela apenas suspende as operaes de hostilidade. 235: A TRGUA PODE SER PARTICULAR OU GERAL: A trgua pode ser particular ou geral. Na primeira, as hostilidades cessam apenas em certos lugares, como entre uma cidade e o exrcito que a sitia; a segunda as faz cessar de forma geral e em todos os lugares, entre as potncias beligerantes. Poder-se-ia ainda distinguir as trguas particulares em relao aos atos de hostilidade ou s pessoas, ou seja,pode-se convencionar abster-se por algum tempo de determinada espcie de hostilidade ou que dois corpos de exrcito podem concluir entre si um cessar fogo, sem relao com nenhum lugar determinado. 236: PARA LONGO PERODO: Quando uma trgua geral feita para estender-se por muitos anos, pouco difere de um tratado de paz, exceto quando deixa sem deciso a questo que deu margem guerra. Quando duas Naes esto cansadas da guerra, e j no podem chegar a um acordo sobre a questo em jogo, elas recorrem a um acordo desse carter. assim que entre os cristos e os turcos, ao invs de tratados de paz, trguas por um longo perodo tm sido geralmente feitas. Isto devido, ora a um falso esprito de religio, ora porque nenhuma das partes foi capaz de reconhecer a outra como senhora legtima de suas posses respectivas. 237: POR QUEM ESSES ACORDOS PODEM SER CONCLUDOS: Para que um acordo seja vlido, preciso que seja feito por poder com suficiente

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autoridade. Quaisquer atos que sejam feitos em tempo de guerra o so pela autoridade do poder soberano, o nico a ter o direito de promover a guerra e dirigir-lhe as operaes ( 4 e 223). Mas impossvel para ele executar tudo por si prprio; necessrio que ele transmita uma parte do seu poder a ministros e oficiais. A questo surge ento de saber quais as matrias que o soberano reserva para si prprio e quais as que, na guerra, se presumem confiadas aos ministros, aos generais e a outros oficiais. Estabelecemos e explicamos acima (Livro II, 207) o princpio que deve servir aqui de regra geral. Se no houver mandato especial, quem comanda em nome do soberano considerado investido de todos os poderes necessrios ao exerccio salutar e razovel das suas funes em relao a tudo o que constitui uma seqncia natural de sua comisso; todos os demais poderes so reservados ao soberano, que se presume no ter delegado poderes alm do necessrio para o bem dos negcios. Segundo esta regra, a trgua geral pode ser concluda somente pelo prprio soberano, ou por algum a quem ele tenha expressamente delegado esse poder, uma vez que, para o xito das operaes, no necessrio que um general esteja investido de autoridade to extensa; seria exceder os limites das suas funes, que consistem em dirigir as operaes de guerra no lugar onde ele comanda, e no em cuidar dos interesses gerais do Estado. A concluso de uma trgua geral um caso de tal importncia que se presume tenha o soberano reservado essa prerrogativa para si prprio. Um poder to extenso convm somente ao governador ou vice-rei de um pas distante, para os Estados que ele governa; mais ainda, se a trgua para muitos anos, natural presumir que ela deve ser ratificada pelo soberano. Os cnsules e outros generais romanos podiam convencionar trguas gerais cobrindo o perodo do seu comando; mas se o perodo fosse consideravelmente longo, ou se eles estendessem a trgua por mais tempo, a ratificao do Senado e do povo era necessria. Mesmo uma trgua particular, se feita por um longo perodo, parecia ainda exceder o poder ordinrio de um general e ela podia somente ser concluda sob reserva de ratificao.

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Mas no tocante a trguas particulares para um curto perodo, com freqncia necessrio e quase sempre conveniente que o general tenha o poder de conclu-las; esse poder necessrio quando ele no pode esperar pelo consentimento do soberano; conveniente quando a trgua tende a poupar derramamento de sangue e redundar em vantagem comum dos contratantes. Presume-se, pois, naturalmente, que o general ou comandante chefe esteja investido desse poder. Assim, o governador de uma praa e o general que a assedia podem concordar em suspender hostilidades com o propsito de enterrar os mortos ou para iniciar conversaes; eles podem mesmo concluir uma trgua por alguns meses na condio, por exemplo, de que a cidade se renda se no for socorrida em determinado prazo, etc. Tais convenes tendem somente a aliviar os males da guerra e provavelmente no podem ser prejudiciais a ningum. 238: ESSES ACORDOS COMPROMETEM AF DO SOBERANO: Todas essas trguas e suspenses de hostilidades so concludas pela autoridade do soberano, que d o seu consentimento para algumas delas de forma imediata e, para outras, pelo ministrio de seus generais e oficiais. Elas comprometem a sua f e ele deve velar para que sejam observadas. 239: QUANDO TRGUA COMEA ATER VIGNCIA: A trgua obriga as partes contratantes, to logo seja concluda. Mas ela no pode ter fora de lei em relao aos sditos de uma e de outra parte a no ser quando solenemente proclamada. E como uma lei desconhecida no pode impor obrigao, a trgua obriga os sditos somente quando lhes for devidamente notificada. Conseqentemente, se os sditos, antes de terem conhecimento certo da trgua, cometeram ato de hostilidade contrrio a ela, eles no podem ser punidos. Mas como o soberano deve cumprir as suas promessas, ele obrigado a restituir as presas feitas desde o momento em que a trgua tenha comeado. Os sditos que no a cumpriram por ignor-la no esto obrigados a nenhuma reparao, assim como tambm o soberano que no pde notific-los

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mais cedo a esse respeito no est obrigado. um acidente que ocorre sem culpa deste e daqueles. Se acontecer de um navio estar em pleno mar, quando a trgua publicada e afundar um navio inimigo, ele no est obrigado a indenizar. Se ele capturou esse navio, ele est apenas obrigado a restitu-lo, no podendo ret-lo contra a trgua. Mas aqueles que, por sua prpria culpa, ignorarem a publicao da trgua, seriam obrigados a indenizar qualquer dano que pudessem ter causado em desrespeito mesma. Uma simples culpa, e sobretudo a culpa leve, pode isentar-se at certo ponto de punio; e certamente ela no merece a mesma penalidade que o dolo, mas ela no dispensa a reparao do dano. Com o intuito de evitar tanto quanto possvel toda dificuldade, os soberanos tm o costume, nas trguas, como nos tratados de paz, de fixar termos diferentes, segundo a situao e a distncia dos lugares, para a cessao das hostilidades. 240: PUBLICAO DA TRc;UA: Visto que a trgua no pode obrigar os sditos se no a conhecerem, ela deve ser formalmente publicada em todos os lugares onde se quer que essa trgua seja observada. DOS SDITOS CONTRA A TRGUA: Se sditos, 241: DAS militares, ou simples particulares violarem a trgua, a f pblica no est violada, nem a trgua rompida por isso. Mas os culpados devem ser forados reparao completa do dano e punidos severamente. O soberano, ao recusar fazer justia s queixas do ofendido, estaria participando pessoalmente da ofensa e violaria a trgua. 242: VIOLAO DA TRGUA: Ora, se um desses contratantes, ou algum por sua ordem, ou simplesmente com o seu consentimento, vier a cometer ato contrrio trgua, estar cometendo injria outra parte contratante: a trgua assim rompida e a parte lesada pode imediatamente recorrer s armas, no somente com o propsito de retomar as operaes da guerra, mas tambm com o intuito de vingar a nova injria recebida.

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243: Dos CASOS EM QUE SE CONVENCIONA PENALIDADE AO INFRATOR: No entanto, s vezes convenciona-se que uma certa penalidade deve ser imposta quele que viola a trgua e, neste caso, a trgua no imediatamente rompida na primeira violao. Se a parte culpada submete-se penalidade e repara o dano, a trgua subsiste e a parte injuriada no tem nada mais a pretender. Mas se se concordar com uma alternativa, a saber, que em caso de violao, o culpado sofrer uma certa penalidade ou que a trgua ser rompida, cabe parte injuriada escolher se ela quer exigir a penalidade ou valer-se do direito de retomar as armas. Se o infrator tiver a escolha, a estipulao de uma alternativa seria intil, desde que, ao recusar-se a sofrer a penalidade, ele romperia o acordo e daria parte injuriada o direito de recomear as hostilidades. Alis, em clusulas de segurana como esta, nunca se presume que a alternativa seja posta em favor daquele que descumpre os seus compromissos e seria absurdo supor que ele teria reservado para si prprio a vantagem de romper a trgua por sua infrao e no sofrer penalidade; bastaria apenas que ele rompesse a trgua. A clusula de penalidade destinada a evitar a violao da trgua e ela somente pode ser estipulada com a alternativa de dar parte injuriada o direito de ruptura, se ela achar conveniente, de um acordo em que o comportamento do seu inimigo lhe revela pouca segurana. 244: Do PERODO DA TRGUA: necessrio determinar cuidadosamente o perodo da trgua, com o intuito de que no haja nenhuma dvida ou contestao sobre o momento em que ela comea e quando ela termina. A francesa que, para aqueles que a conhecem, muito clara e precisa, oferece expresses prova dos sofismas mais ardilosos. Com o uso das palavras "inclusive" e "exclusive" evita-se toda ambigidade possvel em relao ao comeo e fim da trgua. Por exemplo, se se diz que a trgua "deve durar de 1o de maro inclusive at 15 de abril tambm inclusive", no subsiste nenhuma dvida; enquanto se se dissesse simplesmente "de 1o de maro at 15 de abril", seria uma questo saber se os dois dias que marcam o comeo e o fim

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da trgua, estariam includos ou no. De fato, autores esto divididos neste ponto. Com respeito ao primeiro desses dois dias, parece inquestionvel que ele est includo na trgua; pois se se convenciona que haver trgua desde o primeiro de maro, isto claramente significa que as hostilidades cessaro em 10 de maro. H um pouco mais de dvida em relao ao ltimo dia. No entanto, como freqentemente usamos a expresso, at e compreendido tal dia, a palavra "at" no , de acordo com o gnio da lngua, necessariamente exclusiva; e como a trgua, ao prevenir derramamento de sangue , sem dvida, uma matria desejvel, a interpretao mais segura talvez a de nela incluir o prprio dia final. As circunstncias podem tambm ajudar a determinar o sentido dos termos. Mas um grande erro no remover toda a ambigidade quando para isso somente custa o emprego de uma palavra a mais. Em convenes entre Nao e Nao, a palavra dia deve ser entendida como um dia natural, pois nesse sentido que a palavra dia serve de medida comum de tempo: o mtodo de computar tempo pelos dias civis determinado pelo direito civil de cada Nao e varia segundo o pas. O dia natural comea no nascer do sol e a sua durao de vinte e quatro horas, ou uma revoluo diurna do sol. Conseqentemente, se uma trgua de cem dias convencionada, para comear em 10 de maro, a trgua comea no nascer do sol de 10 de maro e deve continuar por 100 dias de 24 horas cada dia. Mas como o sol no nasce na mesma hora durante todo o ano, com o intuito de evitar minudncias e sofismas indignas da boa f, deve certamente ser entendido que a trgua termina no nascer do dia como ela de fato comeou. O perodo de um dia se entende de um nascer do sol ao outro, e no cabe sofismar sobre alguns momentos de diferena quanto ao avano ou ao retardo do nascer do sol. Aquele que tendo feito uma trgua de 100 dias a comear de 21 de junho, onde o sol nasce por volta das quatro horas, e pegasse em armas nessa mesma hora do dia em que a trgua deve terminar, para assim surpreender o seu inimigo antes do nascer do sol, seria certamente considerado como um malicioso sem f.

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Se nenhum termo for estabelecido para o comeo da trgua, como ela obriga os contratantes to logo seja concluda (239), eles devem public-la prontamente, para que seja cumprida. Pois ela traz obrigaes aos sditos a partir do momento em que for devidamente publicada e somente comea a vigorar com a primeira publicao, salvo acordo em contrrio.

245: Dos EFEITOS DA TRGUA. Do QUE PERMITIDO OU NAo DURANTE

ASUA DURAAO. PRIMEIRA REGRA: CADA QUAL PODE FAZER EM SEU TERRITRIO o QUE TIVER DIREITO DE FAZER EM TEMPOS DE PAZ: O efeito geral da trgua provocar o trmino absoluto de todas as hostilidades e, para evitar toda a disputa sobre os atos que merecem esse nome, a regra geral que, durante a trgua, cada qual pode fazer em seus prprios domnios, tudo o que ele teria o direito de fazer em tempos de paz. Assim, a trgua no impede um prncipe de convocar soldados, reunir um exrcito em seus estados, fazer marchar tropas, convocar tropas auxiliares, ou reparar as fortificaes de uma cidade que no estiver verdadeiramente sitiada. Desde que ele pode fazer todas essas cousas dentro de seus prprios domnios em tempos de paz, a trgua no pode subtrair-lhe tal liberdade. Teria ele pretendido, por este acordo, ser impedido de fazer cousas que a continuao das hostilidades no poderia impedi-lo de fazer?

246: SEGUNDA REGRA: NAo PERMITIDO VALER-SE DA TRGUA PARA

FAZER O QUE AS HOSTIUDADES NAoPERMITIAM EXECUTAR: Mas tirar vantagem da cessao de hostilidades para executar sem perigo certas operaes, que so prejudiciais ao inimigo e que no poderiam ser executadas com segurana durante as hostilidades, seria querer surpreender e enganar o inimigo com quem a trgua foi concluda. Esta segunda regra geral nos ajudar a decidir muitos casos especiais.

247: POR EXEMPLO: CONTINUAR OS TRABALHOS DE UM ASSDIO OU

REPARAR AS BRECHAS: A trgua entre o governador de uma praa e o general sitiante priva ambos do direito de continuar os trabalhos do assdio.

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No caso do ltimo, a concluso evidente, pois seus trabalhos so atos de hostilidade. Mas o governador, por seu lado, no pode tirar vantagem da trgua para reparar brechas ou para erguer novas fortificaes. A artilharia dos sitiantes no lhe permitiriam trabalhar impunemente em semelhantes obras durante a continuao das hostilidades. Mas a suspenso de hostilidades no impede o governador de continuar, no interior da praa, trabalhos nos quais os ataques e o fogo do inimigo no constituiriam um obstculo. No ltimo assdio de Tournay, depois da rendio da cidade, convencionou-se um armistcio durante o qual o governador permitia que os franceses fizessem preparativos contra a cidadela, avanassem os seus trabalhos e erguessem as suas baterias, porque de seu lado, ele desembaraaria o interior de escombros resultantes da exploso de uma loja e estabeleceria baterias sobre as muralhas. Mas ele podia trabalhar quase sem perigo em tudo isso mesmo quando operaes do assdio tivessem comeado; entrementes os franceses no teriam podido avanar os seus trabalhos com tanta diligncia, nem fazer aproximao e estabelecer baterias sem perder muitos homens. No havia, pois, nenhuma igualdade na trgua e, dessa forma, ela redundava em vantagem para os sitiantes. A tomada da cidadela foi adiantada talvez de quinze dias. 248: Ou CONCORRER PARA A ENTRADA DE SOCORRO: Se a trgua concluda ou para estabelecer os termos de capitulao ou para esperar ordens dos soberanos de ambas as partes, o governador sitiado no pode tirar vantagem dela com o fim de trazer para dentro da cidade tropas ou munio; pois isto seria abusar da trgua para surpreender o inimigo, o que contrrio boa f. O esprito de semelhante acordo manifestamente o de que as causas devam permanecer no estado em que estavam no momento em que ele foi concludo. 249: DISTINAo EM UM CASO PARTICULAR: Mas as consideraes acima no se estendem a um cessar fogo ajustado para algum assunto especial; como por exemplo, para enterrar os mortos. Tal suspenso

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interpretada com respeito a seu objetivo. Assim, de acordo com os termos do ajustado, a cada parte permitido retirar livremente os seus mortos; enquanto os tiros so interrompidos e, enquanto o fogo cessa, no permitido avanar os trabalhos em desrespeito ao convencionado. Mas nada impede que, durante uma trgua desse tipo, o governador faa entrar secretamente reforos para dentro da cidade num lugar remoto ao do combate. Tanto pior para o sitiante se, adormecendo numa trgua deste tipo, relaxou a sua vigilncia. O armistcio, por si mesmo, no facilita a entrada desses reforos.
250: DE UM EXRCITO QUE SE RETIRA DURANTE O CESSAR FOGO: Assim tambm, se um exrcito que se encontra em m posio, prope e conclui um armistcio para enterrar os mortos depois de um combate, ele no poder, durante o cessar fogo, sair das dificuldades vista do inimigo e retirar-se impunemente. Fazer tal seria colher vantagem do acordo para executar o que no teria podido fazer sem ele: o exrcito teria feito uma armadilha e as convenes no podem consistir em ardis. Conseqentemente, o inimigo repelir com justia as propostas de acordo desde que se perceba que o exrcito deseja sair de sua situao. Mas se este exrcito recua silenciosamente e coloca-se assim em lugar seguro, ele no teria feito nada contrrio palavra empenhada. Um cessar fogo para enterrar os mortos, no implica seno que uma parte no atacar a outra, enquanto aquele dever de humanidade est sendo cumprido. O inimigo no poder ater-se seno sua prpria negligncia; ele deveria estipular que, durante a suspenso das hostilidades, cada parte no deveria mover-se de sua posio, ou tambm ele deveria ter mantido observao cuidadosa, e ao perceber o propsito do adversrio, devia ter-se oposto. um estratagema demasiado ingnuo propor uma cessao de fogo para um objetivo particular, com o desgnio de distrair o inimigo e de acobertar um propsito de retirada. Mas se a trgua no feita apenas para um objetivo especial, seria m f fazer uso desse recurso com o intuito de ganhar alguma vantagem; por exemplo, o de ocupar um posto importante, para avanar no territrio

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inimigo; na verdade, este ltimo procedimento seria uma violao da trgua, pois avanar no territrio do inimigo constitui ato de hostilidade.

251: TERCEIRA REGRA: NADA EMPREENDER NOS LUGARES DISPUTADOS:

Ora, visto que a trgua suspende as hostilidades sem pr fim ao conflito armado, as cousas devem ser deixadas, enquanto ela perdura, precisamente como se encontram, nos lugares cuja posse disputada. Nenhum movimento permitido em qualquer sentido, para prejudicar o inimigo. Eis a terceira regra geral.

252: Dos LUGARES ABANDONADOS PELO INIMIGO E DAQUELES QUE ELE NEGLIGENCIA SALVAGUARDAR: Quando o inimigo retira as suas tropas de um lugar e o abandona inteiramente, sinal de que ele no deseja mais possu-lo e, nesse caso, nada impede que se possa ocup-lo durante a trgua. Mas se h algum indicio de que um posto, uma cidade aberta, ou uma aldeia, no foram abandonados pelo inimigo, e que ele ainda mantm os seus direitos ou as suas pretenses em relao a esses lugares, embora os deixe desguarnecidos, a trgua no permite que outro beligerante deles tome posse. um ato de hostilidade tirar do inimigo o que ele pretender reter. 253: NO SE PODE RECEBER DURANTE A
SDITOS QUE

PRETENDEM REVOLTAR-SE CONTRA O SEU PRNCIPE: igualmente um ato inquestionvel de hostilidade receber cidades e provncias que desejam subtrair-se ao imprio do inimigo e render-se a ns. Como a trgua suspende todos os atos de hostilidade, no podemos receb-las enquanto ela perdura.

254: MUITO MENOS INDUZIR ESSES SDITOS TRAIO: Muito menos permitido durante uma trgua induzir os sditos do inimigo revolta, ou tentar a fidelidade de seus governadores e de suas guarnies. Tais atos no so somente de hostilidade, mas atos de hostilidade odiosa (180). Quanto a desertores e trnsfugas, eles podem ser recebidos

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durante a trgua, pois podem ser recebidos em tempo de paz, quando no h tratado em contrrio. E se houver tal tratado, o efeito do mesmo est anulado ou, no mnimo, suspenso pela guerra superveniente.
255: NAo SE PODE DETER DURANTE ATRGUA AS PESSOAS OU OS BENS DO INIMIGO: Aprisionar pessoas ou arrestar as causas que pertencem ao inimigo sem fundamento em infrao legal um ato de hostilidade e, conseqentemente, no permitido durante a trgua. 256: Do tnvnrto t; DURANTE ATRGUA: Desde que o direito de postlimnio decorre somente do estado de guerra (Vide capo XIV deste Livro), ele no pode ser exercido durante a trgua, a qual suspende todos os atos da guerra e deixa todas as causas como esto (251). Mesmo os prisioneiros no podem ento subtrair-se ao poder do inimigo para serem restabelecidos sua condio anterior. Pois o inimigo tem o direito de ret-los durante a guerra e esse direito persiste enquanto ela perdurar (148). 257: PODE-SE IR E VIR DURANTE A TRGUA: Naturalmente, permitido aos adversrios reciprocamente, entrarem em territrio inimigo e dele sarem durante a trgua, especialmente se feita por um longo perodo, como ocorria em tempo de paz, pois as hostilidades esto suspensas. Mas cada soberano tem o direito, como teria em tempo de paz, de tomar precaues para impedir que essa trnsito de pessoas lhe seja prejudicial. razovel suspeitar de pessoas relacionadas com uma guerra cujo reincio se aproxima. Pode-se at mesmo estipular que, durante a trgua, essas idas e vindas no sejam admitidas. 258: DAQUELES QUE sAo DETIDOS POR OBSTCULO INCONTORNVEL APS OTRMINO DA TRGUA: Aqueles que entram em territrio do inimigo durante a trgua e nele so retidos por doena ou algum obstculo intransponvel, e nele ainda permanecem quando a trgua expira, podem, a rigor, serem feitos prisioneiros. uma possibilidade que

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poderiam ter previsto e para a qual eles deliberadamente se expuseram. Mas a humanidade e a generosidade pedem, como regra, que se lhes d prazo adicional para se retirarem. 259: CONDIOES PARTICULARES AJUSTADAS S TREGUAS: Disposies que, em tratado referente trgua, acrescentam ou diminuem o que acima foi dito, constituem acordo particular a que se obrigam os contratantes. Eles devem observar o que prometerem de forma vlida e as obrigaes resultantes do acordo formam um direito convencional cujos pormenores transcendem o plano desta obra. 260: Ao EXPIRAR A AGUERRA RECOMEASEM NOVA DECLARAO: Como a trgua no faz mais que suspender os efeitos da guerra (233), as hostilidades recomeam no momento em que ela expira, sem necessidade de nova declarao. Pois cada beligerante conhece antecipadamente o momento do trmino da trgua e do reincio da guerra e as razes que motivam a declarao de guerra (51) no se aplicam neste caso. No entanto, a trgua por um longo perodo de anos muito similar paz e difere desta somente pelo fato de deixar subsistir o motivo da guerra. Ora, como pode acontecer que durante o longo intervalo de trgua, as circunstncias e as disposies de uma e de outra parte tenham mudado muito, inteiramente conveniente ao amor paz, que to prprio aos soberanos, e com o cuidado que eles devem ter em poupar o sangue de seus sditos e mesmo dos seus inimigos , repito, inteiramente de acordo com essas disposies, no recomear as hostilidades ao final da trgua, sem fazerem alguma declarao que possa convidar o inimigo a evitar novo derramamento de sangue. Os romanos deixaram-nos exemplo de moderao muito louvvel. Tinham somente uma trgua com a cidade de Veies e os seus inimigos no tinham nem mesmo esperado o trmino dela para recomearem as hostilidades; no entanto, terminada a trgua, o colgio dos feciais decidiu pedir satisfao antes de retomar o conflito (57).
(\7)

TIT.-UY., Lib. IV, capo 30.

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261: DAS CAPITULA(mS E POR QUEM ELAS PODEM SER CONCLUDAS:

As capitulaes das praas que se rendem esto entre as mais importantes convenes feitas por beligerantes no curso de umaa guerra. Elas so geralmente concludas entre o general sitiante e o governador da praa, cada qual atuando em nome da autoridade que lhe confiou o cargo ou comisso. Expusemos acima (Livro II, capo XIV) o princpio do poder confiado s autoridades subalternas e as regras gerais pertinentes e tudo isso foi lembrado em poucas palavras, e aplicado em particular aos generais e a outros oficiais comandantes na guerra (237). Visto que um general e um comandante de praa devem ser naturalmente investidos dos poderes necessrios para o exerccio de suas funes, temos o direito de presumir que eles detm esses poderes entre os quais o de concluir uma capitulao, sobretudo quando no podem aguardar ordens do soberano. O tratado que conclurem a respeito ser vlido inclusive aos soberanos em cujo nome e autoridade eles agirem. Mas deve-se bem observar que, se esses oficiais no desejarem exceder os seus poderes, eles devem manter-se estritamente nos termos de suas funes e no versar temas que no lhes competem. No ataque e na defesa, na captura ou na rendio de uma praa, a questo em jogo unicamente a de posse, no a de propriedade ou a de direito; trata-se tambm do destino da guarnio. Assim, os comandantes podem estipular a maneira pela qual a cidade que capitula ser possuda; o general sitiante pode prometer proteger os habitantes, a manuteno da religio, das franquias, dos privilgios e, quanto guarnio, ele pode permitir que ela saia com armas e bagagens, com todas as honras de guerra, ser escoltada e conduzida a lugar de segurana, etc. O comandante da praa pode entreg-la discrio do general sitiante se as circunstncias a tanto o forarem; ele pode render-se e a sua guarnio como prisioneiros de guerra, ou comprometer-se a no usar das armas contra o mesmo inimigo e seus aliados por um perodo determinado ou mesmo at o fim da guerra, e promete de forma legtimaem nome daqueles que esto sob o seu comando
262:DAS CLUSULAS QUE AS PODEM

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e obrigados a obedec-lo enquanto permanecer nos limites de suas funes (23). Mas se o general sitiante entendesse prometer que o seu superior no poder nunca apropriar-se da praa conquistada, ou que ser obrigado a restitu-la depois de um certo tempo, ele excederia os limites da sua autoridade ao comprometer-se em assuntos que no lhe foram confiados. Diga-se o mesmo do governador que, pelos termos da capitulao, se compromete a alienar a sua praa para sempre, ou a subtrair de seu soberano o direito de retom-la, ou prometer que a sua guarnio nunca mais usar de armas, mesmo numa guerra futura. A autoridade dele no se estende a tanto. Se ocorre, pois, que nas conferncias para capitulao, um dos comandante inimigos insiste em condies que o outro no cr ter o poder de aceitar, o passo a tomar concordar com um cessar fogo, durante o qual todas as questes permanecem pendentes at que ordens superiores sejam recebidas. SUA UllL1DI\DE: No comeo deste captulo, nos dispensamos da necessidade de provar que todas essas convenes, feitas durante o curso da guerra, devem ser fielmente cumpridas. Contentemo-nos pois em observar, a respeito das capitulaes em particular, que, se injusto e vergonhoso transgredi-las, esta perfdia torna-se freqentemente prejudicial quele que dela culpado. Que confiana pode nele ser mantida? As cidades que ele atacar, suportaro as maiores crueldades antes de confiarem em sua palavra. Ele fortalece seus inimigos ao for-los a se defenderem de forma desesperada e todos os assdios que faro sero terrveis. Ao contrrio, a fidelidade conquista a confiana e os coraes, facilita os empreendimentos, remove os obstculos, e prepara gloriosos xitos. Disso temos exemplo na nobre conduta de George Baste, general dos imperiais, contra Battory e os turcos, em 1602. Quando os rebeldes do partido de Battory capturaram Bistrith, em outros termos Nissa, Baste retomou esta cidade nos termos de uma capitulao que foi violada em sua ausncia por alguns soldados alemes; mas assim que soube, ao retornar, desse fato, ele mandou enforcar
263: RESPEITO s

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esses soldados e indenizou pessoalmente os habitantes em razo dos danos que sofreram. Esta conduta causou impresso to forte nos rebeldes que todos se submeteram ao imperador sem pedir nenhuma garantia alm da palavra do general Baste (58). 264: DAS PROMESSAS FEITAS AO INIMIGO POR PARTICULARES: Particulares, militares ou no, que se encontram sozinhos em face do inimigo, so, por necessidade, reduzidos sua prpria conduta. Eles podem fazer quanto s suas pessoas, o que faria um comandante em relao a si prprio e a sua tropa, de modo que se eles fizerem alguma promessa, em razo das circunstncias em que se encontram, desde que ela no se refira a cousas que nunca possam estar na competncia de um particular, essa promessa vlida como tendo sido feita com autoridade suficiente. Pois quando um sdito no pode nem receber ordens do soberano, nem gozar de sua proteo, ele se reinveste em seus direitos naturais, e deve prover a sua segurana por todos os meios justos e honestos. Assim, quando esse particular prometeu uma certa importncia para o seu resgate, cabe ao soberano no desobrig-lo da promessa, mas for-lo a cumpri-la. O bem-estar do Estado exige que a f seja mantida e que os sditos tenham esse meio de salvar a sua vida ou recuperar a sua liberdade. assim que um prisioneiro, libertado sob palavra, deve observ-la religiosamente e o seu soberano no tem o direito de opor-se a isso uma vez que sem essa palavra dada, o prisioneiro no teria sido libertado. Assim tambm os habitantes do campo, das aldeias ou das cidades no fortificadas, devem pagar as contribuies que prometeram com o intuito de salvar-se da pilhagem. Ainda assim, seria mesmo permitido a um sdito renunciar sua ptria, se o inimigo, que o mantinha em cativeiro, no quis poupar a sua vida a no ser nessa condio: pois desde o momento em que a sociedade no pode proteg-lo e defend-lo, ele se reinveste de seus
Mmoiresde SULLY, redigidas pelo abade de cluse, Tomo IV, p. 179 e 180.

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direitos naturais e, alis, se ele se obstinasse em recusar aqueles termos, o que iria o Estado ganhar com sua morte? Certamente, enquanto restarem alguma esperana ou quaisquer meios de servir ptria, deve-se arriscar por ela e enfrentar qualquer perigo: suponho que ele necessite renunciar sua ptria ou perecer sem nenhuma utilidade para ela. Se pela morte, for possvel servi-la,valeriaa pena imitar a generosidade herica de Dcio. No se poderia comprometer, mesmo para salvar a prpria vida, servir contra a sua ptria; um homem generoso morreria mil vezes antes de consumar essa promessa vergonhosa. Se um soldado, encontrando um inimigo isolado, faz dele prisioneiro, e promete poupar-lhe a vida ou garantir-lhe a liberdade, mediante um certo resgate, esse acordo deve ser respeitado por seus superiores; pois parece que o soldado, entregue ento a si mesmo, nada fez que ultrapassasse o seu poder. Ele poderia ter julgado no lhe ser conveniente atacar aquele inimigo, e deix-lo ir. Quando est sujeito a seus superiores, ele deve obedec-los; mas quando s, ele est reduzido sua prpria prudncia. Procpio relata a aventura de dois soldados, um godo e outro romano que, tendo cado numa fossa, prometeram poupar a vida um do outro; o acordo foi aprovado pelos godosv".
CAPTULO

XVII

Dos salvo-condutos dos passaportes: sobre resgate dos

265: O QUE SALVO-CONDUTO E PASSAPORTE: Salvo-conduto e passaporte so uma espcie de privilgio que d s pessoas o direito de ir e vir em segurana, ou de transportar determinados bens tambm em segurana. Ao que parece, segundo o uso e o gnio da lngua, o termo "passaporte" usado em ocasies ordinrias para as pessoas que no encontram nenhum impedimento particular para ir e vir com segurana
PROCOP., Golh, Lib. 11,c. 1, apudPUFENDORF, Lib. VIII, capo 7, 15.

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e s quais so destinados para dar-lhes maior garantia e para evitar toda discusso, ou para dispens-las de alguma proibio geral. O salvoconduto dado a pessoas que, sem isso, no poderiam ir com segurana aos lugares onde aquele que o concede o soberano como, por exemplo, um acusado ou um inimigo. deste ltimo que iremos tratar aqui. 266: DE AUTORIDADE o SALVO-CONDUTO: Todo salvoconduto, como qualquer outro ato de comando superior, procede da autoridade soberana. Mas o prncipe pode delegar aos seus oficiais o poder de emitir salvo-condutos e este poder lhes conferido por uma atribuio expressa ou por uma conseqncia da natureza de suas funes. Um general de exrcito, pela prpria natureza de seu cargo, pode dar salvo-condutos. E desde que procedem, mesmo que indiretamente, da autoridade soberana, eles devem ser respeitados pelos outros generais e oficiais do mesmo prncipe. 267: O SALVO-CONDUTO NO PODE SER TRANSFERIDO DE PESSOA PARA OUTRA: A pessoa, em cujo nome o salvo-conduto expedido, no pode transferir o seu privilgio para outrem, pois ela no sabe at que ponto indiferente ao emitente do passaporte que um terceiro possa us-lo em seu lugar. Essa pessoa no pode presumi-lo; ela deve mesmo presumir o contrrio em razo dos abusos que podem resultar de tal transferncia; ela no pode atribuir-se mais direitos do que aqueles que lhe foram dados. Se o salvo-conduto no concedido a pessoas, mas para certos bens, estes no podem ser conduzidos seno pelo respectivo proprietrio; a escolha daqueles que o transportam indiferente apenas quando nada exista na pessoa deles que possa torn-los suspeitos a quem concede o salvo-conduto ou em cujas terras a entrada proibida. 268: DA PROMETIDA: A promessa de segurana contida num salvo-conduto vlida onde o emitente possui comando; no somente nos seus domnios, mas tambm em todos os lugares onde as sua tropas estejam. E no somente deve ele abster-se de violar o

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salvo-conduto pessoalmente ou por seus subordinados, mas deve tambm proteger e defender aquele a quem prometeu essa segurana e punir os sditos que a tenham transgredido obrigando-os a reparar o dano. 269: COMO PRECISO JULGAR O DIREITO QUE O SALVO-CONDUTO CONCEDE: Desde que o direito conferido por salvo-conduto procede inteiramente da vontade daquele que o concede, essa vontade a regra e a medida do direito conferido e identificada pela finalidade a que se destina o salvo-conduto. Conseqentemente, uma pessoa que tenha permisso de ir no tem o direito de retornar, e o salvo-conduto que permite uma simples passagem atravs do pas no pode ser usado para retornar. Aquele que dado para determinados negcios permanece em vigor at que eles sejam concludos. Se o salvo-conduto declara que emitido "para uma viagem", ele pode ser usado tambm para o retorno, pois a viagem compreende a ida e a volta. Desde que este privilgio consiste no direito de ir e vir em segurana, ele difere da permisso de habitar em algum lugar e, conseqentemente, no confere o direito de nele ficar e residir a no ser para atividades em razo das quais o salvo-conduto foi pedido e autorizado. 270: SEOSALVO-CONDUTO COMPREENDE ABAGAGEM E OS EMPREGADOS DOMSTICOS: Um salvo-conduto concedido a um viajante naturalmente inclui a sua bagagem, roupas e outras causas exigidas para a jornada; e at mesmo um ou dois empregados domsticos ou mais de acordo com a condio do viajante. Mas, em todos esses casos, como em outros a que j temos nos referido, o mais seguro, sobretudo entre inimigos e demais pessoas suspeitas, consiste em especificar todas as causas, articul-las com preciso, para evitar dificuldades. Esta a prtica observada atualmente, e a bagagem e os empregados domsticos so mencionados no salvo-conduto. 271: O SALVO-CONDUTO CONCEDIDO AO PAI NO ABRANGE A SUA Embora a permisso de estabelecer-se em um determinado lugar

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concedida a um pai de famlia compreende naturalmente a sua mulher e os seus filhos, o mesmo no ocorre com o salvo-conduto, porque uma pessoa no se estabelece num lugar sem a sua famlia, mas viajageralmente desacompanhado. 272:Do SALVO-CONDUTO CONCEDIDO PARA ALGUM E SUA COMITIVA EM GERAL: O salvo-conduto concedido a algum "para ele e as pessoas de sua comitiva" no lhe d o direito de conduzir consigo pessoas justificadamente suspeitas ao Estado, ou que dele estariam banidas ou fugitivas por algum crime, nem o de pr essas pessoas em segurana. Pois no supe que o soberano que concede o salvo-conduto nesses termos gerais o faa a algum para que ouse empreg-lo para introduzir em seu Estado criminosos ou pessoas que o tm ofendido. 273:Do PRAZO DE VAUDADE DO SALVO-CONDUTO: O salvo-conduto dado para um perodo especfico expira no fim desse perodo e se o seu titular no o utilizou para se retirar antes do fim desse perodo, pode ser detido e mesmo punido, de acordo com as circunstncias. Sobretudo se ele parecer suspeito em razo de atraso deliberado. 274:
QUANDO O PORTADOR RETIDO ALM DE CERTO PRAZO, EM

Mas se, retido por fora maior, por doena, em particular, ele no pde partir em tempo, deve-se dar-lhe um prazo razovel. Pois foi-lhe prometido segurana e conquanto somente para um certo perodo de tempo, no falta do portador se ele no pde partir dentro do tempo prescrito. O caso diferente daquele de um inimigo que entra no pas durante uma trgua uma vez que a este nenhuma promessa especial fora feita e ele se aproveita, por seu prprio risco, de uma liberdade geral dada pela suspenso das hostilidades. Nada mais prometido ao inimigo a no ser de que nos absteremos de hostilidades durante determinado perodo e, vencido esse perodo, as hostilidades retomam livremente o seu curso, no importando que se nos oponha uma multido de desculpas e pretextos.
VIRTUDE DE FORA MAIOR:

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275: O SALVO-CONDUTO NAo EXPIRA COM A MORTE DAQUELE QUE O CONCEDEU: O salvo-conduto no expira com a morte daquele que o concedeu, ou no momento da sua deposio, pois ele dado em virtude daautoridade do soberano, a qual no morre, e cuja eficcia independente da pessoa que a exerce. O mesmo ocorre com outros atos do poder pblico; a validade e durao deles no dependem da vida daquele que os fez a menos que, pela natureza deles, ou por uma declarao expressa, tenham tido um carter pessoal. 276: COMO REVOGAR O SALVO-CONDUTO: Isto no impede a revogao do salvo-conduto, se houver boas razes para faz-lo. Em tal circunstncia, aquele mesmo que o concedeu, pode bem revog-lo, sem que precise dar seus motivos. Todo privilgio pode ser revogado quando se torna prejudicial ao Estado; se gratuito, de modo puro e simples; se adquirido a ttulo oneroso, mediante indenizao ao interessado. Suponha-se que um prncipe ou o seu general se prepare para uma expedio secreta; dever ele permitir que, por meio de salvoconduto obtido anteriormente, algumvenha espionar os seus preparativos com o fim de inform-los ao inimigo? Mas o salvo-conduto no pode tornar-se uma armadilha; ao revog-lo, deve ser dado ao portador o tempo e a liberdade necessrios para retirar-se com segurana. Se ele for detido por algum tempo, como qualquer outro viajante pode ser, para evitar que transmita informao para o inimigo, isso deve ocorrer sem maus tratos a essa pessoa e at que a razo dessa deteno cesse de existir. 277: Do SALVO-CONDUTO COM A cLUSULA "ENQUANTO FOR NOSSO DESEJO": Se o salvo-conduto contm a clusula"enquanto for nosso desejo", ele no confere seno um direito precrio e pode ser revogado a qualquer momento, mas enquanto ele no o for expressamente, permanece vlido. Ele expira com a morte daquele que o concede. Mas deve sempre ser entendido que, quando o salvo-conduto expira deste modo, deve-se dar ao portador o tempo necessrio para retirar-se com segurana.

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278:DAS CONCERNENTES AO RESGATE DE PRISIONEIROS: Tendo cuidado do direito de fazer prisioneiros de guerra, da obrigao de libert-los em paz por permuta ou por resgate e da obrigao do soberano de libert-los, resta-nos considerar a natureza das convenes que tm por objeto a soltura desses infortunados. Se os soberanos beligerantes concluem um acordo para a troca ou resgate de prisioneiros, eles devem observ-lo com a mesma fidelidade devida a qualquer outra conveno. Mas se, como era freqentemente feito outrora, o Estado deixa a cada prisioneiro, pelo menos durante o curso da guerra, o cuidado de resgatar-se por si mesmo, surgem, com referncia a essas convenes mais particulares, muitas questes das quais somente as mais importantes sero abordadas a seguir. 279: PODE SER TRANSFERIDO O DIREITO DE EXIGIR RESGATE: Quem quer que tenha um direito legitimo para exigir resgate de seu prisioneiro pode transferir esse direito para terceiro. Essa tem sido a prtica nos ltimos sculos. Guerreiros tm freqentemente cedido seus prisioneiros para outros; so transferidos todos os direitos que possuiam sobre os mesmos. Mas como aquele que faz um prisioneiro obrigado a trat-lo justa e humanamente (150), se ele deseja pr-se a coberto de censura, no deve transferir o seu direito incondicionalmente para quem dele possa abusar. Quando ele convencionou com o seu prisioneiro o preo do resgate, ele pode transferir para quem lhe aprouver o direito de exigir esse preo. 280:Do QUE PODE ANULAR OACORDO FEITO PARA OPREO DO Desde que o acordo feito com um prisioneiro para o preo do seu resgate foi concluido, trata-se de um contrato perfeito e no pode ser rescindido sob o pretexto de que o prisioneiro mais rico do que se pensava. Pois no necessrio que o preo do resgate seja proporcional aos bens do prisioneiro; no nessa base que se mede o direito de reter um prisioneiro de guerra (Ver 148 e 153). Mas natural adequar o preo do resgate ao patamar que o prisioneiro tem no exrcito do

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inimigo, porque a liberdade de um oficial de distino de maior conseqncia que aquela de um simples soldado ou de um oficial subalterno. Se o prisioneiro no somente omitiu mas dissimulou o seu nvel, trata-se de fraude que d direito anulao do acordo. 281: DE PRISIONEIRO MORTO ANTES DE SEU RESGATE SER PAGO: Se um prisioneiro, que ajustou o seu resgate, morre antes de t-lo pago, pergunta-se se esse preo devido e se os herdeiros esto obrigados a pag-lo. Eles esto a isso obrigados sem dvida, se o prisioneiro morreu livre. Pois desde o momento em que recebeu a sua liberdade, para a qual ele tinha prometido uma certa quantia, essa quantia devida e no pertence aos seus herdeiros. Mas se ele ainda no tinha recebido a liberdade, nem ele, nem os seus herdeiros, devem a importncia estipulada, salvo acordo em contrrio. No se presume tenha ele recebido a liberdade a no ser a partir do momento em que lhe foi permitido seguir livre de forma inequvoca, quando nem a pessoa que o detinha prisioneiro, nem o soberano desse detentor, se opuseram sua liberdade e sua partida. Se ao prisioneiro foi apenas permitido fazer viagem com o intuito de induzir os seus amigos ou o seu soberano a lhe fornecerem os meios do resgate, e se ele morre antes de ter a liberdade, antes de ter sido desobrigado de sua palavra, o dinheiro do resgate no devido. Se depois de ajustado o preo do resgate, o prisioneiro mantido cativo at o momento do pagamento, e se ele morre antes, os seus herdeiros no devem o resgate, visto que um acordo desse tipo no mais que uma promessa do detentor do prisioneiro de dar-lhe a liberdade mediante pagamento de quantia determinada. Uma promessa de compra e venda no obriga o prometente comprador a pagar o preo da cousa se ela vier a perecer antes que a venda seja consumada. Mas se o contrato de venda for perfeito, o comprador pagar o preo da cousa vendida, mesmo que ela venha a perecer antes de ser entregue, contanto que no haja nem falta, nem culpa, nem atraso, por parte do vendedor. Por esta razo, se o prisioneiro concluiu perfeitamente o acordo sobre o seu resgate, ele reconheceu desde esse momento ser devedor do preo

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estipulado e permaneceu cativo, porm no mais como prisioneiro, mas como garantia de pagamento; isto posto, a sua morte neste meio tempo no cancela a obrigao de pagar o resgate. pago num certo dia, Se o acordo estipula que o resgate deve e o prisioneiro vem a morrer antes desse dia, os herdeiros so obrigados a pag-lo. Pois o resgate era devido, e a data especfica no era seno a do prazo final do pagamento.
282: Do PRISIONEIRO SOLTO COM A CONDIO DE SER SUBSTITUDO: Segue-se a rigor, dos mesmos princpios, que um prisioneiro libertado com a condio de ser substitudo por outro, deve retornar priso, no caso em que o substituto morra antes dele ter alcanado a liberdade. Mas seguramente esse infeliz merece considerao, e a eqidade parece demandar que se deixe o prisioneiro na liberdade que se lhe quisera conceder, mediante pagamento de preo razovel, ainda que esse preo no seja rigorosamente o mesmo que fora acordado. 283: DAQUELE QUE CAPTURADO UMA SEGUNDA VEZ, ANTES DE TER PAGO PRIMEIRO RESGATE: Se um prisioneiro, que prometeu mas no pagou o seu resgate, continuou plenamente em liberdade e foi capturado pela segunda vez, fcil concluir que sem ser dispensado do pagamento do primeiro resgate, ele ter que pagar um segundo, se desejar ser libertado. 284: DAQUELE QUE ANTES DE RECEBER A UBERDADE: Ao contrrio, embora o prisioneiro tenha concordado com o preo de seu resgate, se antes de o acordo ter sido cumprido, antes que o prisioneiro tenha sido posto efetivamente em liberdade, ele libertado pelos seus, ele no est obrigado a pagar o ajustado. Estou supondo, como se nota, que o contrato do resgate no estava consumado, que o prisioneiro no tinha reconhecido dever a importncia do resgate. Aquele que o detinha tinha apenas feito, por assim dizer, uma promessa de venda e o prisioneiro tinha prometido comprar; mas a venda no ocorrera verdadeiramente e nem a propriedade fora transferida.

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285: SEAS CaUSAS QUE OPRISIONEIRO PDE CONSERVAR LHE PERTENCEM:

A propriedade dos bens do prisioneiro no transferida quele que o
detm, exceto a daqueles bens detidos conjuntamente com o prisioneiro. No h dvida hoje quanto a isso, quando prisioneiros de guerra no so mais reduzidos escravido. E mesmo pelo direito da natureza, a propriedade dos bens de um escravo no passa, sem outras razes, ao dono do escravo; no h nada na escravido que possa por si mesmo produzir esse efeito. Do fato de que um homem tenha direitos sobre a liberdade de outro, seguir-se- tambm que ele ter direito sobre os bens do prisioneiro? Quando pois, o inimigo no despojou o seu prisioneiro, ou este encontrou meios de subtrair algo quele, tudo que o prisioneiro conservou lhe pertence e ele pode fazer uso disso para o pagamento do seu resgate. Atualmente, prisioneiros nem sempre so despojados; o soldado vido pode permitir-se faz-lo; mas um oficial considerar-se-ia desonrado se lhe subtrasse a menor cousa. Na batalha de Rocoux, simples cavaleiros franceses, que tinham capturado um general ingls,atriburam-se o direito de tomarem para si apenas as armas de seu prisioneiro.

286: DAQUELE QUE DADO COMO REFM PARA A LIBERTAAo DE PRISIONEIROS: A morte do prisioneiro pe fim aos direitos de seu capturador. Conseqentemente, uma pessoa que tenha sido dada como refm para a libertao de prisioneiro, deve ser solta a partir do momento em que o prisioneiro venha a falecer; por essa mesma razo, no entanto, a morte do refm no determina a libertao do prisioneiro. Dever-se-ia dizer o contrrio, se o prisioneiro tivesse sido substitudo por outro prisioneiro.
CAPTULO

XVIII

Da guerra civil
287: FUNDAMENTO DOS DIREITOS DO SOBERANO CONTRA OS REBELDES:
uma questo muito discutida, a de saber se o soberano deve observar

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as leis ordinrias da guerra em relao a sditos rebelados, em luta aberta contra ele. Um lisonjeador ou um dominador cruel diria h pouco que as leis da guerra no so feitas para rebeldes, dignos do pior suplcio. Caminhemos mais suavemente e raciocinemos segundo os princpios incontestveis estabelecidos acima. Com o intuito de entender claramente qual a conduta que o soberano deve ter em relao aos rebelados, preciso primeiramente lembrar que todos os direitos do soberano derivam dos prprios direitos do Estado, ou da sociedade civil, dos cuidados que lhe so confiados, da obrigao que ele deve observar para o bem-estar da Nao, para procurar a sua maior felicidade, e para nela manter a ordem, a paz e a justia (Livro I, capo IV). necessrio, aps isso, distinguir a natureza e o nvel das vrias desordens que podem perturbar o Estado e forar o soberano a recorrer s armas, ou substituir os meios da fora pelos da autoridade. 288: QUEM SO OS REBELDES: O nome rebelde dado a todos os sditos que injustificadamente usam de armas contra o dirigente da sociedade, seja para despoj-lo da autoridade suprema, seja para resistir s suas ordens em algum caso particular e impor-lhe condies. 289: COMOO POPULAR, SUBLEVAO, SEDIO: A comoo popular uma reunio desordenada de pessoas que no mais escutam a voz dos superiores, seja em oposio aos mesmos, seja apenas em relao a determinados indivduos. V-se que esses movimentos violentos ocorrem quando o povo se sente vexado e eles so mais freqentemente causados por coletores de impostos. Se os descontentes se opem particular-mente aos magistrados ou a outros oficiais investidos da autoridade pblica, e se se encaminham para uma desobedincia formal ou atos de violncia, essa oposio se chama sedio. E quando o mal se estende, alcana grande nmero de indivduos na cidades ou no campo, e se mantm de modo que o prprio soberano no mais obedecido, usual dar a essa forma particular de desordem o nome de sublevao.

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290: COMO OSOBERANO DEVE REPRlMI-LOS: Todas essas violncias perturbam a ordem pblica e so crimes de Estado, mesmo quando elas so causadas por justos motivos de queixa, pois as vias de fato so proibidas na sociedade civil. Pessoas que so injuriadas devem enderear-se aos magistrados e se deles no obtiverem justia, elas podem recorrer ao trono. Todo cidado deve mesmo sofrer pacientemente males suportveis, antes de perturbar a paz pblica. Somente quando ocorre denegao de justia por parte do soberano, ou prazos desrespeitados, que se pode excusar a oposio do povo levada ao extremo, e mesmo justific-la,se os males forem intolerveis e a opresso grande e manifesta. Mas como o soberano deve tratar os insurgentes? Eu respondo, em geral, pela maneira que esteja mais de acordo com a justia e mais salutar para o Estado. Se deve reprimir aqueles que desnecessariamente perturbam a paz pblica, ele deve mostrar clemncia para com os infelizes aos quais se deram motivos justos de queixa e que no so culpados seno por terem buscado obter justia por si mesmos; faltou-lhes mais pacincia do que fidelidade. Sditos que se rebelam contra o seu prncipe sem motivo merecem penas severas. Mas ainda aqui, o nmero dos culpados pode compelir o soberano clemncia. Despovoar-se-ia uma cidade ou uma provncia, com o intuito de punir-lhes a rebelio? A punio mais justa em si mesma converte-se em crueldade se extensiva a nmero excessivo de pessoas. Quando os povos dos Pases Baixos teriam sem motivo se rebelado contra a Espanha, detestar-se-ia ainda a memria do duque de Alba, que se vangloriava de ter feito cair vinte mil cabeas pela mo dos carrascos. Que seus imitadores sanguinrios no esperem justificar os seus excessos pela necessidade. Quem foi mais indignamente ultrajado por seus sditos a no ser o grande Henrique? Ele venceu e perdoou sempre, e esse excelente prncipe obteve enfim xito digno de si prprio, ele ganhou sditos fiis; o duque de Alba perdeu para o seu superior as Provncias Unidas. Transgresses comuns devem ser punidas por penalidades aos culpados comuns; o soberano pode privar uma cidade de seus privilgios, a menos que ela tenha amplamente

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reconhe-cido a sua culpa; e ele reservar os suplcios para os autores dos distrbios, para esses incendirios que incitam o povo revolta. Mas somente os tiranos trataro como sediciosos esses bravos e resolutos cidados que exortam o povo a proteger-se da opresso e a manter os seus direitos e privilgios. Um bom prncipe louvar esses virtuosos patriotas contanto que o zelo deles seja temperado pela moderao e pela prudncia. Se ele ama a justia e seu dever, se ele aspira honra imortal de ser o pai de seu povo, que ele desconfie das sugestes interesseiras de um ministro que lhe mostra como rebeldes todos os cidados que no estendem as mos escravido e que se recusam dobrar-se sem murmrio aos golpes de um poder arbitrrio. 291: ELE DEVE RESPEITAR A PROMESSA FEITA AOS REBELDES: O meio mais certo de apaziguar sedies, e ao mesmo tempo o mais justo, dar satisfao aos povos. E se eles se sublevam sem motivo, o que talvez nunca ocorra, o soberano deve ento, como acabamos de observar, conceder anistia maioria. Desde que a anistia publicada e aceita, todo o passado deve ser posto no esquecimento; ningum pode ser procurado pelo que aconteceu no tempo dos distrbios e, em geral, o soberano, escrupuloso na observncia da sua palavra, deve ser fiel ao que prometeu mesmo aos rebeldes, inclusive queles entre seus sditos que se revoltaram sem razo ou sem necessidade. Se as suas promessas no forem inviolveis, no haver segurana para os rebeldes ao tratar com ele e desde que eles tenham tirado a espada, ser necessrio que deles retirem a capa e como um ancio se expressou: e o prncipe ser privado do mais suave e mais salutar meio de apaziguar a revolta, no lhe restando para abaf-la, seno o extermnio dos rebeldes. O desespero os tornar temveis; a compaixo lhes trar ajuda, aumentar o nmero deles e o Estado se achar em perigo. Em que teria se tomado a Frana se os Ligueurs no tivessem podido confiar nas promessas de Henrique, o Grande? As mesmas razes que determinam fidelidade sagrada e inviolvel s promessas entre indivduo e indivduo, soberano e soberano, inimigo e inimigo (Livro 11, . 163,

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218 e segs.; Livro IH, 174), subsistem, pois, em toda a sua fora entre o soberano e seus sditos sublevados ou rebeldes. Entretanto, se eles lhe extorquirem condies odiosas, contrrias felicidade da Nao, ou ao bem-estar do Estado, como ele no tem o direito de nada fazer, de fazer qualquer acordo contra essa grande regra de sua conduta e de seu poder, ele revogar justificadamente permissividades perniciosas, com anuncia da Nao, de cujo parecer se valer, pela maneira e formas que lhe sero determinadas pela constituio do Estado. Mas preciso usar com sobriedade desse remdio, e apenas para questes de grande importncia, para no atentar contra a fidelidade s promessas. 292: DA GUERRA CIVIL: Quando num Estado formado um partido que cessa de obedecer ao soberano e suficientemente forte para enfrent-lo; ou quando, numa repblica, a Nao se divide em duas faces opostas, e ambos os lados recorrem s armas, surge ento civiL Alguns autores reservam esse termo para um recurso uma justo s armas, por parte dos sditos contra o soberano, com o intuito de distinguir essa resistncia legtima da rebelio, que consiste numa oposio aberta e injusta ao soberano. Mas que nome eles daro uma guerra que surge numa repblica dilacerada por duas faces, ou em uma monarquia entre dois pretendentes ao trono? O costume reserva o termo guerra civil a toda guerra feita entre os membros da mesma sociedade poltica;se a guerra entre uma parte dos cidados de um lado e o soberano com os que lhe so leais de outro lado, basta que os descontentes tenham algum motivo para recorrer s armas, para que essa insurreio seja civil e no rebelio. O termo rebelio somente aplicado chamada a uma sublevao destituda de toda a aparncia de justia contra a autoridade legtima. O soberano no deixa de qualificar como rebeldes todos os sditos que abertamente lhe resistem; mas quando esses ltimos tornam-se suficientemente fortes para enfrent-lo, e para for-lo a lhes fazer guerra de modo regular, ele deve admitir que o termo guerra civil seja empregado.

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293: A CIVIL DOIS PARTIDOS INDEPENDENTES: No lugar aqui para considerar as razes que podem autorizar e justificar a guerra civil; temos em outras vezes tratado de casos nos quais os sditos podem resistir ao soberano (Livro I, capo IV). Pondo de lado, pois, a justia da causa, cabe-nos considerar os princpios que devem regular a guerra civile verificar se o soberano obrigado a observar, numa guerra civil em particular, as leis de guerra ordinrias. A guerra civil rompe os elos da sociedade e do governo, ou pelo menos lhes suspende a fora e o efeito. Ela d origem, dentro da Nao, a dois partidos independentes, que se consideram reciprocamente inimigos e no reconhecem nenhum juiz comum. Por necessidade, esses dois partidos devem ser considerados como formando assim, ao menos por algum tempo, dois corpos polticos separados, dois povos distintos. Ainda que um dos dois tenha errado em romper a unidade do Estado e em resistir autoridade legtima, eles no esto menos divididos de fato. Alis, quem os julgar, quem decidir qual lado est errado e qual est certo? Eles no tm nenhuma autoridade superior na terra. Eles esto, assim, na situao de duas Naes que entram numa disputa e, sendo incapazes de se ajustarem, recorrem s armas. 294: DEVEM OBSERVAR AS LEIS COMUNS DA Isto posto, perfeitamente claro que as leis comuns da guerra, esses princpios de humanidade, de moderao, de retido e de honestidade, acima expostos, devem ser observados por ambos os lados na guerra civil. As mesmas razes que fundamentam a obrigao de um Estado para com outro Estado tornam-se ainda mais necessrias no caso infeliz em que duas partes obstinadas dilaceram a ptria comum. Se o soberano se acredita autorizado a enforcar os prisioneiros como rebeldes, a parte oponente usar de represlias; se ele no observar estritamente as capitulaes e todas as convenes feitas com os seus inimigos, eles cessaro de confiar em sua palavra; se ele incendia e devasta, eles faro o mesmo; a guerra se tornar cruel, terrvel e sempre mais funesta para a Nao. Os excessos vergonhosos e brbaros do duque de

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Montpensier contra os adeptos da reforma na Frana so bem conhecidos. Ele entregava os homens ao carrasco e as mulheres brutalidade de um dos seus oficias. Qual foi o resultado? Os adeptos da reforma se amarguraram, vingaram-se desses tratamentos brbaros, e a guerra, j cruel como guerra civil e como guerra de religio, tornou-se ainda mais funesta. Quem olharia sem horror as crueldades selvagens do baro des Adrets? Tanto contra catlicos como contra protestantes, ele cometeu os seus desmandos. Enfim, ele precisou perder as suas pretenses de juiz em relao a pessoas que ele tratava, no como criminosos, mas como inimigos e que sabiam defender-se com armas. Os prprios soldados freqentemente se recusaram a servir numa guerra em que o prncipe os expunha a cruis represlias. Prestes a derramarem o sangue a seu servio no campo de batalha, oficiais do mais alto senso de honra no se consideraram obrigados a expor-se a uma morte ignominiosa. Todas as vezes, pois, que um partido numeroso se acredita autorizado a resistir ao soberano, e suficientemente forte para recorrer s armas, a guerra deve ser feita entre eles e o soberano da mesma maneira que entre duas diferentes Naes; e os beligerantes devem recorrer aos mesmos meios para prevenir os excessos de guerra e para restabelecer a paz. Quando o soberano vencer o partido oposto, quando ele o obriga a submeter-se, a pedir a paz, ele pode excetuar da anistia os autores dos distrbios, os dirigentes do partido, julg-los de acordo com as leis e puni-los se forem considerados culpados. Ele pode seguir este procedimento especialmente em relao a esses distrbios que so ocasionados menos pelo interesse dos povos que pelo desgnio de certos nobres e que merecem de preferncia o nome de revolta mais do que de guerra civil. Tal foi o caso do infeliz duque de Montmorency. Ele recorreu s armas contra o rei por ocasio da querela do duque de Orlans. Vencido e feito prisioneiro na batalha de Castelnaudary, ele morreu no cadafalso por decreto do parlamento de Toulose. Se ele foi lamentado em geral por pessoas de bem, porque ele foi considerado menos como rebelde contra o rei que como oponente do poder

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exorbitante de um ministro desptico e porque as suas virtudes hericas pareciam corresponder pureza dos seus propsitos. 295: Os EFEITOS DA GUERRA CIVIL, SEGUNDO OS CASOS: Quando, sem cessar de acatar a autoridade do soberano, os sditos recorrem s armas apenas para obter satisfao para as suas queixas, existem duas razes para observarem, no que lhes concerne, as leis comuns da guerra: I) O temor de tornar a guerra civil mais cruel e mais funesta, pelas represlias, como j observamos, a que o partido oposto recorrer contra os rigores do prncipe: lI) O perigo de cometerem-se grandes injustias, ao apressar-se em punir aqueles que so considerados como rebeldes. O calor da discrdia e da guerra civil no favorvel aos atos de uma justia pura e sagrada; um tempo de maior tranqilidade deve ser esperado. O prncipe agir sabiamente ao manter os rebeldes prisioneiros at que, tendo restaurado a tranqilidade no pas, esteja em condies de faz-los julgar de acordo com as leis. Quanto aos outros efeitos que o direito das gentes atribui s guerras pblicas (Vide capo XII deste Livro) e particularmente em relao aquisio dos bens capturados na guerra, deve-se observar que sditos que recorrem s armas contra o seu soberano sem cessar de reconhec-lo, no podem ter pretenses a esses bens. Somente o butim, os bens mveis levados pelo inimigo, so considerados perdidos para os proprietrios, pela dificuldade de identific-los e por causa das muitas inconvenincias que surgiriam do propsito de reinvindic-los, Tudo isso ordinariamente regulado no dito de pacificao ou de anistia. Mas quando a Nao dividida em duas partes absolutamente independentes, que no mais reconhecem superior comum, o Estado est dissolvido e a guerra entre as duas partes coincide em todos os aspectos com o de uma guerra pblica entre duas Naes diferentes. Seja uma repblica dividida em duas faces, cada qual tendendo a formar o corpo do Estado, seja um reino dividido entre dois pretendentes ao trono, a Nao se encontra dividida em duas partes que se trataro mutuamente como rebeldes. Eis dois corpos que se

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pretendem absolutamente independentes e que no esto submetidos a juiz (293). Eles decidem a controvrsia pelas armas, como fariam duas Naes distintas. A obrigao de observar mutuamente as leis comuns da guerra pois absoluta, indispensvel para as duas partes. a mesma obrigao que a lei natural impe a todas as Naes nas relaes de Estado a Estado. As 296: CONDUTA Naes estrangeiras no devem interferir nos negcios domsticos de um Estado independente (Livro II, . 54 e segs.). No lhes compete julgar entre cidados que a discrdia compeliu a recorrer s armas, nem entre os soberanos e seus sditos. As duas partes so igualmente estran-geiras para elas, e igualmente independentes da autoridade delas. Cabe-lhes interpor os seus bons ofcios para o restabelecimento da paz e a lei natural a isso as induz (Livro II, capo 1). Mas se os esforos dessas Naes so infrutferos, aquelas que no esto vinculadas por nenhum tratado podem, sem dvida, com o intuito de determinar a prpria conduta, assim como o mrito da causa, dar apoio ao partido que lhes parea ter direito, no caso em que esse partido lhes pea ajuda ou a aceite. Elas podem faz-lo, digo, assim como so livres para esposar a querela de uma Nao que entra em guerra contra outra, se eles a consideram justa. Quanto aos aliados do Estado dilacerado pela guerra civil, eles identificaro a regra da conduta a seguir na natureza de seus compromissos, combinados com as circunstncias existentes. Tratamos deste assunto anteriormente (Livro II, capo XII, e particularmente 196 e 197).

restabelecimento da paz e embaixadas

CAPiTULO

Da

e da obngao de cultiv-Ia

1: O QUE A PAZ?: A paz o reverso da guerra; aquele estado desejvel no qual todo homem usufrui tranqilamente dos seus direitos ou, se so controvertidos, os discute amigavelmente pela razo. Hobbes ousou dizer que a guerra o estado natural do homem. Mas se, como a razo o quer, entende-se por estado natural do homem aquele para o qual ele destinado e chamado por sua natureza, prefervel dizer que a paz o seu estado natural. Pois ser racional resolver as suas controvrsias pela via da razo; prprio dos animais resolv-las pela fora.(1) O homem, como j observamos (Preliminares, 1O), quando sozinho e destitudo de ajuda, no poderia ser seno muito miservel; ele precisa das relaes e da assistncia dos seus semelhantes, para gozar de uma vida tranqila, para desenvolver as suas faculdades e viver de maneira conveniente sua natureza; e tudo isso no se encontra seno na paz. na paz que os homens se respeitam, que eles mutuamente se assistem, que eles se amam. Eles no sairiam desse estado feliz se no fossem levados pelas paixes e cegados pelas iluses grosseiras do amor prprio. O pouco que dissemos dos efeitos da guerra suficiente para deixar claro quanto ela funesta. um infortnio para a humanidade que a injustia dos maldosos a torne to freqentemente inevitvel. 2: CULTIVAR A PAI:: As Naes imbudas dos sentimentos de humanidade, seriamente ocupadas com seus deveres, esclarecidas sobre os seus verdadeiros e slidos interesses, nunca
(I) Nam rum sint duo decertandi, numper disceptationem, alterum per vim, illud sit bominis, hoc est ad postenus, si uti non licet superiore. CICERO, de OlJic., capo n.

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procuraro alcanar vantagens s custas de outrem. Cuidadosas de sua prpria felicidade, elas sabero associ-la com a de outros assim como com a justia e a eqidade. Com essas disposies, elas no deixaro de cultivar a paz. Como cumprir esses deveres sagrados e mtuos que a natureza lhes impe, se elas no vivem juntas em paz? E esse estado de paz no menos necessrio felicidade delas que o cumprimento dos seus deveres. Assim, a lei natural as obriga a buscar e a promover a paz de todos os modos. Essa leidivina no tem outro fim seno a felicidade do gnero humano, e para esse objetivo so direcionados todos seus preceitos e todas as suas regras. Todos esses preceitos e todas essas regras podem ser deduzidos do princpio segundo o qual os homens devem buscar a sua prpria felicidade, e a moral nada mais que a arte de se tornarem felizes. Isto verdadeiro acerca dos particulares e no o menos em relao s Naes, como disso nos convenceremos sem dificuldade, se quisermos refletir apenas sobre os deveres mtuos e comuns das Naes, como dissemos no captulo I do Livro lI. Esta obrigao de 3: OBRlGAO DO SOBERANO cultivar a paz vincula o soberano por meio de um duplo elo. Ele possui este dever para com o seu povo, sobre quem a guerra traz numerosos danos, e a obrigao neste caso de carter mais estrito e indispensvel, porque o imprio no lhe confiado seno para a segurana e progresso da Nao (Livro I, 39). Ele possui o mesmo dever para com as Naes estrangeiras cuja felicidade perturbada pela guerra. Expusemos j o dever da Nao a esse respeito; e o soberano, revestido da autoridade pblica, est ao mesmo tempo encarregado de todos os deveres da sociedade do corpo da Nao (livro I, 41). 4: EXTENSO DESSE DEVER: Desde que a paz to salutar ao gnero humano, o soberano no somente deve deixar de perturb-la mas ele tambm obrigado a diligenciar por alcan-la e evitar que os demais a rompam sem necessidade; a inspirar-lhes o amor justia, eqidade, tranqilidade pblica, o amor paz. Este um dos mais

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benficos ofcios que ele pode prestar s Naes e a todo o universo. Como gloriosa e amvel a personalidade do pacificador! Se um grande prncipe conhecesse bem as vantagens disso; se ele tivesse a idia da grande e brilhante glria que esse precioso carter poderia faz-lo usufruir, junto com a gratido, o amor, a venerao e a confiana dos povos; se ele soubesse o que reinar nos coraes, ele desejaria assim ser o benfeitor, o amigo e pai do gnero humano e nisso encontraria mil vezes mais encantos que nas mais brilhantes conquistas. Augusto, ao fechar o templo de Janus, ao dar a paz ao universo, ao ajustar as controvrsias dos reis e dos povos, parece, nesse momento, ser o maior dos mortais; quase um deus sobre a terra. 5: DAQUELES QUE PERTURBAM DA PAZ: Mas esses perturbadores da paz pblica, esses flagelos da terra que, consumidos por uma ambio desenfreada, ou dirigidos por uma natureza orgulhosa e selvagem, recorrem s armas sem justia e sem razo, jogam com a tranqilidade dos homens e com o sangue de seus sditos, esses heris monstruosos, quase endeusados pela admirao tola do homem vulgar, so os cruis inimigos do gnero humano e deveriam ser tratados como tais. A experincia nos mostra quantos males a guerra causa, mesmo aos povos que nela no esto envolvidos: ela interfere no comrcio, ela destri a subsistncia dos homens, ela faz aumentar o preo das cousas mais necessrias, ela difunde justas inquietudes e obriga todas as Naes a colocarem-se em guarda e a manter exrcitos. Quem viola a paz sem motivo, prejudica necessariamente mesmo aquelas Naes com as quais no est em guerra e, pelo exemplo pernicioso que d, realiza um ataque direto felicidade e segurana de todos os povos da terra. Ele os autoriza a reunirem-se para reprimi-lo, para puni-lo e para subtrair-lhe um poder de que abusa. Que danos ele no impe sua prpria Nao, cujo sangue derrama vergonhosamente para saciar as suas paixes desenfreadas; Nao essa que ele expe sem necessidade ao ressentimento de uma multido de inimigos! Um famoso ministro do ltimo sculo mereceu somente a indignao de sua Nao, que ele arrastou a contnuas guerras,

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sem justia e sem necessidade. Se pelos seus talentos, por seu trabalho infatigvel, ele lhe propiciou vitrias brilhantes no campo de Marte, ele lhe atraiu, ao menos por um perodo, o dio de toda a Europa. 6: AT ONDE SE PODE CONTINUAR A GUERRA: O amor paz deve impedir, igualmente, tanto comear a guerra sem necessidade quanto continu-la quando essa necessidade vier a cessar. Quando um soberano foi forado a ir guerra por motivo justo e importante, ele pode continuar as operaes de guerra at ter-lhe alcanado o objetivo legtimo, que de obter justia e segurana (Livro III, 28). Se a causa duvidosa, o justo objetivo da guerra no pode ser seno o de conduzir o inimigo a um compromisso justo (Livro III, 38) e, conseqentemente, ela no pode prosseguir alm dessa transao. Logo que o inimigo a oferea ou a aceite, a guerra deve terminar. Mas se se est a lidar com um inimigo prfido, seria imprudente confiar em sua palavra ou em seus juramentos. Pode-se com muita justia, e a prudncia o requer, aproveitar-se de uma guerra bem sucedida e fortalecer as suas vantagens at que se tenha rompido um poder excessivo e perigoso, ou tenha forado esse inimigo a dar garantias suficientes para o futuro. Enfim, se o inimigo persiste em rejeitar condies eqitativas, ele mesmo nos fora a levar nossos xitos at uma vitria completa e definitiva que o reduza e o submeta. O uso prprio a ser feito da vitria foi acima explicitado (Livro III, caps. VIII, IX e XIII). 7: PAZ FIM DA GUERRA: Quando um dos beligerantes forado a pedir a paz, ou quando ambos esto cansados da guerra, cogita-se finalmente de concili-los e estabelecem-se condies. A paz ocorre e pe fim guerra. GERAIS DA PAZ: OS efeitos gerais e necessrios da paz 8: so os de reconciliar os inimigos e de fazer cessar entre eles todas as hostilidades. A paz devolve as duas Naes ao seu estado natural.

DAS
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Dos tratados de paz

9: O QUE O TRATADO DE PAZ?: Quando as potncias que estavam em guerra concordam em depor as armas, o acordo ou contrato no qual elas estipulam os termos da paz e regulam a maneira pela qual ela restaurada e mantida, chamado tratado de paz. O mesmo poder que tem o direito de fazer a guerra, de termin-la, de declar-la e de dirigir as operaes militares, tem naturalmente o poder de fazer a paz e de concluir o tratado para esse fim. Esses dois poderes esto estreitamente ligados e o segundo decorre naturalmente do primeiro. Se o dirigente do Estado autorizado a julgar as causas e razes pelas quais a guerra deve ser feita, o tempo e as circunstncias convenientes para come-la, a maneira pela qual ela deve ser mantida e conduzida, compete-lhe tambm delimitar-lhe o curso, determinar quando ela deve acabar e fazer a paz. Mas este poder no inclui necessariamente o de conceder ou aceitar, com vistas paz, todas as espcies de condies. Embora o Estado tenha confiado em geral prudncia de seu dirigente o cuidado de decidir a guerra e a paz, ele pode ter limitado os seus poderes em muitas matrias, por leis fundamentais. Foi assim que Francisco I, rei da Frana, tinha o poder absoluto da guerra e da paz e, no entanto, a assemblia de Cognac declarou que ele no poderia, pelo tratado de paz, alienar qualquer parte do reino (Livro I, 265). A Nao que dispe livremente de seus negcios domsticos, da forma de seu governo, pode confiar a uma pessoa ou a uma assemblia o poder de fazer a paz, embora ela no lhe tenha entregue o poder de declarar a guerra. Temos, a esse respeito, o exemplo da Sucia aps a morte de Carlos XII. O rei no podia declarar guerra sem o consentimento dos Estados reunidos na dieta e ele s poderia fazer a paz de acordo com o senado. menos perigoso para um povo deixar aos seus dirigentes
100: POR QUEM PODE SER CONCLUDO?:

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esse ltimo poder que o anterior. Ele pode razoavelmente esperar que um dirigente no far a paz seno quando ela for conveniente aos interesses do Estado. Mas quando se trata de fazer a guerra, as paixes dos dirigentes, seus prprios interesses, seus desgnios particulares, influem muito freqentemente em suas resolues. Alis seria necessrio que uma paz fosse bem miservel para que ela valesse menos que a guerra; mas ao contrrio, corre-se sempre muito risco quando se abandona a paz para recorrer s armas. Desde que um dirigente tem o poder limitado de fazer a paz e no pode por si mesmo conceder todas as espcies de condies, aqueles que desejam tratar com ele mediante certas garantias, devem exigir que o tratado de paz sejaaprovado pela Nao ou pelo poder que possa cumprir essas condies. Se, por exemplo, algum negocia a paz com a Sucia, e requer como condio ou garantia uma aliana defensiva, esse arranjo no ser slido a menos que seja aprovado e aceito pela dieta, a nica a ter poder para dar-lhe a eficcia devida. Os reis da Inglaterra tm o direito de concluir tratados de paz e de aliana, mas eles no podem, por meio desses tratados, alienar nenhuma das possesses da Coroa sem o consentimento do Parlamento. Nem podem eles, sem o consentimento desse rgo, coletar dinheiro no reino. Por esta razo, quando concluem qualquer tratado que inclua o pagamento de subsdio, os monarcas ingleses tm o cuidado de apresent-lo ao parlamento, com o intuito de estarem certos de que tero condies de cumprir esse tratado. Quando o imperador Carlos V quis exigir de Francisco I, seu prisioneiro, condies que este no podia conceder sem o consentimento da Nao, teve de mant-lo prisioneiro at que os estados-gerais da Frana tivessem aprovado o tratado de Madrid e at que a Borgonha lhe fosse submetida. Ele no teria perdido o fruto da sua vitria por uma neglignciaque seria demasiado surpreendente em um prncipe to hbil. 11:DAS AUENAES FEITAS POR UM TRATADO DE PAZ: No repetiremos aqui o que dissemos acima sobre a alienao de uma parte do Estado (Livro I, 263 e segs.), ou de todo o Estado (ibid., 68 e segs.).

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Observemos apenas que em caso de necessidade urgente, como aquela imposta por acontecimentos de uma guerra infeliz, as alienaes feitas pelo prncipe com o intuito de salvar o restante do Estado so consideradas aprovadas e ratificadas pelo simples silncio da Nao, quando esta no preservou, na forma do governo, algum meio fcil e regular de dar seu consentimento expresso, ou quando ela entregou para o prncipe um poder absoluto. Os estados-gerais foram abolidos na Frana pelo desuso e pelo consentimento tcito da Nao. Quando, pois, esse reino estiver em dificuldades, compete apenas ao rei julgar os sacrificios a serem feitos para obter a paz e seus inimigos podem, com segurana, negociar tratados com ele. Ao povo seria vo dizer que foi somente por medo que admitiram a abolio dos estados-gerais. O fato que eles o permitiram e, dessa forma, entregaram s mos do rei todos os poderes necessrios para estabelecer tratados, em nome da Nao, com as Naes estrangeiras. Em todo Estado deve existir um poder com o qual as Naes possam tratar de modo seguro. Um historiadorf dizia que "as leis fundamentais impedem os reis da Frana de renunciarem, em prejuizo de seus sucessores, a qualquer dos seus direitos por qualquer tratado, seja livre ou compulsrio". As leis fundamentais podem muito bem recusar ao rei o poder de alienar o que pertence ao Estado sem o consentimento da Nao, mas elas no podem tornar nula uma alienao ou uma renncia, feita com esse consentimento. Se a Nao deixou que as cousas chegassem a esse estado no qual ela no tem mais quaisquer meios de manifestar seu consentimento expresso, o seu simples silncio em tais ocasies , na realidade, um consentimento tcito. Se fosse de outro modo, ningum poderia tratar com esse Estado em base segura e, assim, invalidar antecipadamente todos os futuros tratados, seria agir contra o direito das gentes, que prescreve s Naes preservarem os meios de estabelecer tratados umas com as outras (Livro I, 262) e de respeitarem os seus tratados (Livro 11, 163,219 e segs.).

(2)

Abade de CHOISY, Histoire de

V, p.492.

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Finalmente, cumpre notar que, ao examinar se o consentimento da Nao necessrio para alienar uma parte do Estado, estamos nos referindo s partes que esto ainda em poder da Nao e no quelas que caram sob o poder do inimigo durante a guerra. E estas ltimas no so mais possudas pela Nao, cabendo somente ao soberano, se ele tiver a autoridade ampla e absoluta do governo, o poder de fazer a guerra e concluir a paz. Cabe apenas a ele julgar se convm abandonar essas partes do Estado ou continuar a guerra na esperana de recuper-las. Mesmo que se quisesse pretender que ele no pode, por si mesmo, validamente alien-las, em nossa suposio ele, de fato, pode. Ou seja, se ele est investido de ampla e absoluta soberania, ele tem o direito de prometer que a Nao no ir nunca retomar a guerra para recuperar essas terras, cidades, ou provncias que ele abandona; e isto o bastante para assegurar ao inimigo a posse pacfica daquilo que foi conquistado. 12: COMO OSOBERANO PODE DISPOR NO TRATADO DO QUE INTERESSA AOS PARTICULARES: A necessidade de fazer a paz autoriza o soberano a dispor no tratado, mesmo das causas pertencentes aos particulares; e o domnio eminente lhe d esse direito (Livro I, 244). Ele pode inclusive, at certo ponto, dispor da pessoa desses particulares, em virtude do poder que ele tem sobre todos os seus sditos. Mas o Estado deve indenizar todos os cidados prejudicados por essas disposies, feitas para o interesse comum (ibid).

13: SE UM REI PRISIONEIRO DE GUERRA PODE FAZER A PAZ: Todo impedimento que coloca o prncipe inabilitado para administrar os negcios de governo, priva-o, sem dvida, do poder de concluir a paz. Assim, um rei, menor ou demente, no pode tratar da paz; isso no necessita de prova. Mas pergunta-se: um rei, enquanto prisioneiro de guerra, pode fazer a paz, e validamente concluir um tratado com esse alcance? Alguns autores clebres'" fazem uma distino aqui entre um rei cujo reino
Vide WOLFF,Jus Gent., 982.

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patrimonial e aquele que dele no tem seno o usufruto. Acreditamos ter eliminado essa falsa e perigosa concepo de reino patrimonial (Livro I, 68 e segs.) e demonstrado claramente que ela deve ser reduzida ao mero poder confiado ao soberano de designar o seu sucessor, de dar outro prncipe ao Estado e de dele desmembrar certas partes, se ele achar conveniente. Tudo deve ser sempre feito para o bem da Nao e em vista de sua maior vantagem. Todo governo legtimo,qualquer que seja ele, estabelecido unicamente para o bem-estar do Estado. Uma vez firmado esse principio incontestvel, a paz no mais negcio peculiar ao rei, mas compete Nao. Ora, certo que um prncipe prisioneiro no pode administrar o imprio nem levar adiante os negcios do governo. Como aquele que no livre governaria uma Nao? Como a governaria para os melhores interesses do povo e para o bem-estar pblico? Ele no perde os seus direitos, verdade; mas como resultado do seu cativeiro, ele privado do poder de exerc-los, porque ele no est mais em condies de orientar a Nao para o seu fim legtimo; o mesmo caso de um rei menor de idade ou insano. Em tal caso, aquele ou aqueles que pelas leis do Estado so designados para agir como regentes tomam as rdeas do governo. Compete-lhes tratar a paz, estabelecer-lhe as condies e conclu-la em conformidade com as leis. O prprio soberano prisioneiro pode negociar o tratado e prometer observ-lo no que dependa dele pessoalmente, mas o tratado no se torna obrigatrio para a Nao at ser ratificado por ela, ou por aqueles que so investidos da autoridade pblica durante o cativeiro do soberano, ou, enfim, pelo prprio soberano, aps ser libertado. De resto, se o Estado deve, tanto quanto pode, libertar o menor dos cidados que perdeu a liberdade no interesse da causa pblica, com muito mais razo ele tem este dever para com seu soberano, para com esse dirigente cuja solicitude, ateno e trabalhos so consagrados felicidade e ao bem pblico. Foi lutando por seu povo que o prncipe foi feito prisioneiro e reduzido a uma condio que o pice da misria para um homem de nvel to elevado. Hesitaria esse mesmo povo em libert-lo custa dos maiores sacrificios? Nada, a no ser a prpria salvao

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do Estado deve ser considerado em ocasio to triste. Mas a segurana do povo , em toda conjuntura, a lei suprema e, nessa situao extrema, um prncipe generoso imitar o exemplo de Rgulo. Esse herico cidado, reenviado a Roma mediante palavra, dissuadiu os romanos de liber-lo por um tratado vergonhoso, embora no ignorasse os suplcios que lhe reservava a crueldade dos cartagineses. (4)

14: PODE-SE FAZER A PAZ COM USURPADORES?: Quando um conquistador injusto, ou qualquer outro usurpador, invadiu o reino e desde que os povos a ele se submeteram, e por homenagem voluntria o reconheceram por seu soberano, ele est na posse do imprio. As demais Naes, que no tm nenhum direito de interferir nos negcios domsticos dessa Nao, de imiscuir-se nos seus assuntos domsticos, de ingerir-se em seu governo, devem respeitar esse juizo e essa posse. Elas podem, pois, negociar com o usurpador e concluir um tratado de paz com ele. Com isso, elas no ferem o direito do soberano legtimo. No lhes compete examinar esse direito e julg-lo; elas deixam-no como est e, nas questes relacionados com esse reino, prendem-se unicamente posse segundo o seu prprio direito e aquele do Estado cujo soberania questionada. Mas esta regra no impede que elas no possam esposar a controvrsia do rei despojado e prestar-lhe socorro, se a considerarem justa. Neste caso elas se declaram inimigas da Nao oponente e tm a liberdade de prestar assistncia quele cujos direitos parecem ser mais bem fundamentados. 15:Auxoos COMPREENDIDOS NO TRATADO DE PAZ: A parte principal, o soberano, em cujo nome a guerra feita, no pode concluir a paz com justia sem nela incluir os seus aliados; refiro-me queles que lhe deram apoio sem tomar parte direta na guerra. uma precauo necessria para preserv-los do ressentimento do inimigo. Pois, conquanto este no deva ofender-se contra os aliados de seu inimigo, os quais, comprometidos
(4)

Vzde TIT.-LIV., Epitom., Liv, XVIII, e demais historiadores.

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apenas com a defesa, limitaram-se a cumprir fielmente os seus tratados (Livro IH, 181), usual que os homens sejam influenciados mais pelas paixes do que pela justia e pela razo. Se forem aliados somente a partir da guerra e por ocasio da mesma, mesmo que dela no participem com todas as suas foras, nem dretamente como partes principais, eles do, contudo, quele contra quem eles formaram a aliana justo motivo trat-los como inimigos. Aquele a quem eles tm assistido no pode negligenciar em inclu-los nas condies da paz. Mas o tratado concludo pela parte principal no obriga os seus aliados seno enquanto eles queiram bem aceit-lo, a menos que eles tenham dado todo o poder a essa parte para negociar em nome deles. Ao inclu-los no tratado, a parte principal adquire apenas o dreito de exigir que o seu inimigo reconciliado no ataque esses aliados em razo dos apoios dados contra ele; que ele no os moleste e que viva em paz com eles como se nada houvesse acontecido. 16: Os ALIADOS DEVEM TRATAR CADA QUAL INDIVIDUALMENTE: OS soberanos que se associaram para a guerra, todos aqueles que dela tomaram parte diretamente, devem fazer tratados de paz separadamente. Tal foi a prtica seguida em Nimegue, em Ryswysck e em Utrecht. Mas a aliana os obriga a tratarem de comum acordo. Determinar em que caso um associado pode desvincular-se da aliana e fazer a paz separadamente uma questo que exannamos ao tratar das sociedades de guerra (Livro IH, capo IV) e das alianas em geral (Livro H, capo XII e XV). 17: DA MEDIAAo: Freqentemente duas Naes, igualmente cansadas da guerra, ainda assim a continuam pela nica razo de que cada qual receia tomar iniciativas acerca da paz, as quais poderiam ser atribudas fraqueza, e elas se obstinam na animosidade, mesmo contra os seus reais interesses. Em tais casos, amigos comuns interpem construtivamente os seus bons ofcios, oferecendo-se como mediadores. um oficio bem salutare bastante digno de um grande prncipe, o de reconciliar duas Naes em guerra e assim estancar o derramamento de sangue humano.

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Constitui um dever sagrado para aqueles que tm os meios de obter xito nesse procedimento. Limitamo-nos a essa nica reflexo em matria que j tratamos (Livro lI, 328). 18: EM QUE BASE A PAZ PODE SER CONCLUDA: O tratado de paz no pode ser seno uma transao. Caso se pretendesse nele observar as regras de uma justia estrita e rigorosa, de modo que cada qual recebesse precisamente o que lhe pertence, a paz tornar-se-ia impossvel. Em primeiro lugar, com respeito prpria causa da guerra, seria necessrio que uma das partes reconhecesse o seu erro e condenasse as suas prprias pretenses injustas, o que dificilmente o far, a menos que esteja reduzida ao seu limite extremo. Mas se ela confessa a injustia da sua causa, ela deve condenar tudo o que fez para mant-la; ela deve restituir o que tomou injustamente, reembolsar as despesas da guerra, reparar os danos. A quem se cobrar o sangue derramado, a perda de um grande nmero de cidados, a desolao das famlias? Isto ainda no tudo. A justia rigorosa exigiria ainda que o autor de uma guerra injusta fosse submetido a uma penalidade proporcional s injrias para as quais ele deve uma satisfao e numa proporo capaz de prover a futura segurana daquele que atacou. Como deve a natureza dessa penalidade ser determinada ou ser-lhe fixada a extenso? Enfim, mesmo o soberano cuja causa era justa pode ter excedido os limites de uma justa defesa e pode ter sido conduzido a excessos em hostilidades, cujo objetivo era legtimo. Seriam tantas transgresses cuja reparao haveria de ser exigida por uma justia rigorosa. O condutor da guerra pode ter feito conquistas e um butim que excedem o valor do que tinha direito a pretender. Quem far o clculo exato disso, a justa estimativa? Desde que seria terrvel continuar a guerra indefinidamente conduzindo-a at a runa completa de uma das partes, e desde que na causa mais justa deve-se pensar enfim em restaurar a paz e dirigir nossos esforos constantemente para esse fim salutar, o nico meio que nos resta o de transigir em todas as pretenses, em todas as acusaes de uma e de outra parte e, enfim, de anular todas as controvrsias por um tratado o mais eqitativo possvel. Nele no

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se decide a prpria causa da guerra, nem quaisquer controvrsias que os vrios atos de hostilidade poderiam suscitar; nenhuma das partes nele condenada como injusta; nenhuma delas o admitiria; mas nele se convenciona o que cada parte deve ter como condio para a extino de todas as suas pretenses. 19: EFEITO GERAL DO TRATADO DE PAZ: O efeito do tratado de paz pr fim guerra e eliminar os seus motivos. Ele no deixa s partes contratantes o direito de cometer atos de hostilidade, seja pelo prprio motivo que deu margem guerra, seja por tudo que se passou durante seu curso. Assim, a guerra no poder ser novamente retomada pela mesma causa. Tambm vemos que nesses tratados, as partes mutuamente se comprometem numa pazperptua. Isto no significa que os contratantes prometam nunca mais fazer a guerra por qualquer motivo que seja. O tratado de paz refere-se guerra que terminou e a paz assim estabelecida realmente perptua se ela no permte s partes pegarem em armas novamente pela mesma causa e assim reviverem a mesma guerra. De resto, a negociao sobre uma causa em particular apenas extingue aquele meio ao qual ela se refere mas no impede que se pudesse, em seguida, sobre outros fundamentos, formar novas pretenses mesma causa. Por esta razo, ordinariamente, toma-se o cuidado de exigir uma transao geral que se relacione com a prpria cousa em disputa, e no apenas com a controvrsia presente; estipula-se uma renncia geral a qualquer pretenso sobre a cousa de que se trata. E, dessa forma, mesmo que por novas razes aquele que renunciou sua demanda venha a estar em condies de demonstrar que aquela cousa lhe pertencia, no mais seria admtido a reclam-la. 20: DA ANISTIA: A anistia um esquecimento completo do passado e como a paz destinada a pr um fim a todos os motivos de discrdia, esse deve constituir o primeiro artigo do tratado. Tal a prtica comum atualmente. Mas quando o tratado no diz uma palavra a respeito, a anistia est nele necessariamente includa pela prpria natureza da paz.

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21: DAS COUSAS DE QUE O TRATADO NADA DIZ: Visto que cada beligerante pretende ter a justia ao seu lado e ningum pode julgar sobre esta pretenso (Livro Ill, 188), o estado em que as causas se encontram no momento do tratado deve ser considerado como legtimo e se houver o desejo de nele introduzir mudana, necessrio que o tratado contenha clusula expressa para este efeito. Conseqentemente, todas as causas no mencionadas no tratado devem permanecer no estado em que se encontravam no momento em que o tratado foi concludo. Essa tambm uma conseqncia da anistia prometida. Todos os danos causados durante a guerra so igualmente postos no esquecimento e nenhuma ao subsiste para aqueles danos cuja reparao no foi estipulada no tratado; eles so considerados como inexistentes. 22: DAS COUSAS NO INCLUDAS NA TRANSAO OU NA ANISTIA: Maso efeito da transao, ou da anistia, no pode ser extensivo s causas que no tm nenhuma relao com a guerra terminada pelo tratado. Assim, devolues baseadas em dvida ou em injria anterior guerra, que no tiveram nenhuma parte nos motivos que deram incio guerra, permanecem como eram e no so abolidas pelo tratado, salvo clusula expressa em contrrio. O mesmo ocorre com dvidas contradas durante a guerra, mas por motivos com ela no relacionados, ou com injrias, feitas inclusive durante a guerra, mas sem relao com o estado de guerra. Dvidas contradas com particulares, ou injrias que eles podem ter recebido alhures, sem relao com a guerra, igualmente no so abolidas pela transao e pela anistia, as quais se relacionam unicamente com a guerra, suas causas e seus efeitos. Assim, se dois sditos de Estados beligerantes participam de contrato em pas neutro, ou se um recebe nesse pas injria de outro, o cumprimento do contrato, ou a reparao da injria e do dano, podero ser demandados mesmo aps a concluso do tratado de paz. Finalmente, se o tratado estipula que todas as causas devem ser restabelecidas no estado em que estavam antes da guerra, esta clusula

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restrita apenas a imveis e no pode ser estendida aos bens mveis, ao butim, cuja propriedade se transfere imediatamente queles que deles se apossam, e que so considerados como abandonados pelo antigo dono, em razo da dificuldade de reconhec-los e da pouca esperana em recuper-los. 23: TRATADOS ANTIGOS, LEMBRADOS E CONFIRMADOS NO NOVO TRATADO, DESTE FAZEM PARTE: Tratados antigos, lembrados e confirmados no tratado mais recente fazem parte como se nele estivessem includos e transcritos, palavra palavra, e a interpretao dos novos artigos que se reportam s convenes antigas deve ser feita de acordo com as regras estabelecidas acima (Livro Il, capo XVII, e, em particular, 286).
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Da execuo do tratado de paz

24: QUANDO O TRATADO COMEA A TER VIGNCIA: O tratado de paz cria obrigaes s partes contratantes a partir do momento em que ele concludo e, to logo as suas formalidades tenham sido atendidas, as partes devem procurar execut-lo sem cessar. Desde ento, todas as hostilidades devem cessar, a menos que uma data determinada tenha sido estabelecida a partir da qual a paz deve comear. Mas esse tratado no cria obrigaes aos sditos seno a partir do momento em que lhes seja notificado. O mesmo ocorre no tocante trgua (Livro IlI, 239). Se ocorrer que militares cometam, no mbito de suas funes e segundo as regras de seus deveres, alguns atos de hostilidade antes de terem tomado o devido conhecimento do tratado de paz, o fato um infortnio pelo qual no devem ser punidos; mas o soberano, obrigado desde ento paz, deve restituir os bens que porventura tenham sido capturados desde que ela foi concluda; ele no tem nenhum direito de ret-los.

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25: Com o intuito de evitar esses acidentes funestos, que podem custar a vida de muitos inocentes, deve-se dar publicidade paz sem demora, ao menos para os militares. Mas hoje, quando povos no podem cometer por si prprios quaisquer atos de hostilidade e nem tomar parte na guerra, a solene publicao da paz pode ser atrasada, desde que se emita uma ordem de cessao das hostilidades; medida que facilmente tomada por meio dos generais que dirigem todas as operaes, ou mediante armistcio comunicado direo dos exrcitos. A paz de 1735, entre o imperador e a Frana, foi publicada muito tempo depois. Esperou-se que o tratado fosse assimilado tranqilamente, tendo os pontos mais importantes sido regulamentados nos acordos preliminares. A publicao da paz reps as duas Naes no estado em que estavam antes da guerra; ela reabriu o livre comrcio entre as duas Naes e permitiu novamente aos sditos de ambos os Estados o que lhes era negado pelo estado de guerra. Pela publicao, o tratado torna-se uma lei para os sditos e eles so obrigados, desde ento, a se conformar com as disposies nele contidas. Se, por exemplo, o tratado estipula que uma das duas Naes deve abster-se de determinado comrcio, todos os membros dela so obrigados a renunciar a esse comrcio a partir da publicao do tratado. 26: Do TEMPO DA EXECU(;O: Quando um perodo no foi fixado para o cumprimento do tratado e para a execuo de cada artigo, o bom senso requer que cada ponto deve ser executado to logo seja possvel. , sem dvida, assim que se tem entendido. A f dos tratados exclui igualmente, na sua execuo, toda negligncia, toda lentido e todos os adiamentos possveis. EXCLJSA LEGTIMA DEVE SER ADMITIDA: Mas nessa matria, 27: como em qualquer outra, a excusa legtima fundamentada em impedimento real e insupervel deve ser admitida, pois ningum est obrigado ao impossvel. O impedimento, quando no h culpa daquele que promete, anula uma promessa que no pode ser substituda por algo eqivalente

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e cuja execuo no pode ser adiada. Se a promessa pode ser cumprida em outra ocasio, preciso conceder um prazo conveniente. Suponhamos que, pelo tratado de paz, uma das partes tenha prometido fornecer a outra um corpo de tropas auxiliares; ela no ser obrigada a fornec-lo, se acontecer que ela venha a ter necessidade urgente dessas tropas para a sua prpria defesa. Supondo-se que ela tenha prometido entregar anualmente uma certa quantidade de gros, no se pode exigir dela o cumprimento dessa obrigao, quando ela est sofrendo de escassez; com o retorno da abundncia, no entanto, ela dever entregar, se exigido,aquilo a que se obrigou. () Tem-se ainda por princpio que a Nao est desobrigada de sua promessa quando, ao assumir o dever de atend-la, nos termos de seu compromisso, aquele a quem a promessa foi feita a impede de cumprir. Presume-se ter sido diferida uma promessa cuja execuo foi impedida. Digamos ainda que, se aquele que prometeu algo por um tratado de paz, estava prestes a cumpri-lo no tempo ajustado, o que a outra parte no quis receber nesse momento, deixa de fazer parte de sua promessa. Visto que o beneficirio no se reservou, por sua vontade, o direito de fixar-lhe a execuo presume-se que ele renunciou a essa execuo no momento em que no a aceita no tempo conveniente e para o qual a promessa foi feita. Se ele pede que a prestao seja adiada para outra ocasio, a boa f exige que aquele que se comprometeu consinta no adiamento, a menos que faa ver, com bons motivos, que o cumprimento da promessa se lhe tornaria ento demasiadamente onerosa. DAS CONTRIBUIC/1ES: Levantar contribuies um 29: ato de hostilidade que deve cessar desde que a paz esteja concluda (24). As que foram j prometidas e ainda no pagas, so devidas, e a esse ttulo podem ser exigidas. Mas para evitar toda dificuldade, preciso haver explicaes ntidas e pormenorizadas sobre essas questes e, em geral, tem-se o cuidado de produzir essas explicaes. 28: A

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30: Do PRODUTO DA COUSA RESTITUDA OU CEDIDA: O produto das causas restituidas paz so devidos desde o momento fixado para a execuo; se no h termo fixado, os produtos so devidos a partir do momento em que a restituio das causas foi ajustada; mas no se entregam aqueles que estavam vencidos, ou recolhidos, antes da concluso da paz: pois o produto pertence ao dono do principal, e aqui a posse tida como ttulo legtimo. Pela mesma razo, ao ceder um fundo, no se cedem ao mesmo tempo os resultados que j so devidos. o que Augusto sustenta com razo contra Sextus Pompeu, que pretendia, quando se lhe foi dado o Peloponeso, que os impostos dos anos precedentes lhe fossem pagos. 31: EM ESTADO AS COUSAS DEVEM SER DEVOLVIDAS: As causas cuja restituio est simplesmente estipulada no tratado de paz, sem outra explicao, devem ser devolvidas no estado em que elas foram retidas pois o termo de restituio significanaturalmente o restabelecimento de todas as causas em seu estado anterior. Assim, ao restituir uma causa, deve-se devolver ao mesmo tempo todos os direitos que com ela se relacionavam quando ela foi apreendida. Mas no se deve incluir nessa podem ter sido uma seqncia natural, um regra as mudanas efeito da prpria guerra e de suas operaes. Uma praa ser entregue dentro do estado em que se encontrava no momento em que foi capturada, da mesma forma, dentro do estado em que se encontrar no momento da concluso da paz. Mas se o lugar for destrudo ou desmantelado durante a guerra, isso ocorreu em virtude do direito das armas e, pela anistia, esse dano deixa de ser considerado. No existe nenhuma obrigao de restabelecer um pas arrasado pela guerra, que se entrega por ocasio da paz: ele devolvido tal qual se encontra. Mas, uma vez concluda a paz, seria uma imensa perfdia devastar esse pas antes de devolvlo e o mesmo ocorre com uma praa cujas fortificaes foram poupadas pela guerra: desmantel-la, para devolv-la, seria atestar a m f. Se o vencedor reparou as brechas, se restabeleceu o estado em que estava antes de ter sido sitiada, ele deve restitui-la nesse mesmo estado. Mas se lhe acrescentou algumas obras, ele pode demoli-las. Se ele destruiu

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as antigas fortificaes para construir novas, ser necessrio chegar a um acordo quanto a essa melhoria, ou determinar precisamente em que estado a praa deve ser devolvida. Convm mesmo, para evitar qualquer ardil e dificuldade, nunca negligenciar essa ltima precauo. Em instrumento destinado a restabelecer a paz, no se deve, se possvel, deixar nenhuma ambigidade, nada que seja capaz de reacender a guerra. No esse o mtodo, pelo que sei, daqueles que se consideram hoje hbeis negociadores. Eles almejam, ao contrrio, inserir num tratado de paz clusulas obscuras, ou ambguas, para ensejar a seus superiores pretexto para confundir tudo novamente e de retomar as armas na primeira ocasio favorvel. J sublinhamos acima (Liv. II, 231) o quanto essa fineza miservel contrria f dos tratados. Ela indigna da sinceridade e da nobreza que devem brilhar em todas as aes de um grande prncipe. 32:
DA INTERPRETAO DO TRATADO DE PAZ; ELA SE FAZ CONTRA ESTABELECE A LEI:

Mas como muito difcil que no se encontre nenhuma ambigidade num tratado, mesmo redigido com todo o cuidado e toda a boa f possvel, ser freqentemente necessrio recorrer s regras de interpretao. Consagramos um captulo inteiro exposio dessas regras importantes (Liv. II, capo XVII) e no traremos aqui repeties enfadonhas. Limitemo-nos a algumas regras que convm mais particu-larmente a este caso, aos tratados de paz. Em caso de dvida, a interpretao se faz contra o autor da norma do tratado. Pois foi ele que, de algum modo, ditou essa norma e sua culpa no enunci-la mais claramente e, ao alargar ou estreitar o significado dos termos no sentido que lhe menos favorvel, no se lhe faz nenhum dano, ou no se lhe faz seno aquele ao qual bem desejou expor-se enquanto, por uma interpretao contrria, correr-se-ia o risco de converter termos vagos ou ambguos em armadilhas para o mais fraco dos contratantes, que obrigado a aceitar o que foi ditado pelo mais forte. 33: Do NOME DOS P/\SES CEDIDOS: O nome dos pases cedidos pelo tratado deve ser entendido segundo o uso ento empregado por pessoas

612 hbeis e inteligentes: pois no se presume que ignorantes ou tolos sejam encarregados de uma cousa to importante como um tratado de paz e as disposies de um contrato devem ser entendidas em funo do que os contratantes tinham provavelmente no esprito, pois sobre o que tm no esprito que eles contratam. 34: A RESTITUIO NO ALCANA AQUELES QUE SE ENTREGARAM O tratado de paz se relaciona naturalmente e por si mesmo com a guerra, qual ps fim. As suas clusulas vagas no devem pois ser entendidas seno nessa relao. Assim, a simples estipulao do restabelecimento das cousas no estado anterior no se relaciona com mudanas que no foram ocasionadas pela prpria guerra. E como um povo abandonado por seu soberano se toma livre e capaz de prover a sua salvao como melhor entender (Liv I, 202), se esse povo, no curso da guerra, se rendeu e se submeteu voluntariamente ao inimigo de seu antigo soberano, sem ter sido para tanto compelido pela fora das armas, a promessa geral de devoluo das conquistas a ele no se estender. Dirse- em vo que aquele que pede o restabelecimento de todas as cousas na situao anterior pode ter interesse na liberdade do primeiro dos povos de que falamos e na restituio do segundo. Se desejava cousas que a clusula geral no abrangia por si mesma, ele deveria ter-se explicado de forma clara e especfica. Pode-se inserir todas as espcies de clusulas num tratado de paz, mas se elas no tiverem nenhuma relao com a guerra que se procura terminar, preciso enunci-las expressamente, pois um tratado no naturalmente interpretado seno por seu objeto.
CAPTULO

IV

Da observncia e da ruptura do tratado de paz

35: O TRATADO PAZ OBRlGA A E OS SUCESSORES: O tratado de paz, concludo por poder legtimo, indubitavelmente um tratado pblico, que impe obrigaes a toda a Nao (Livro II, 154). Ele

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ainda, por sua natureza, um tratado real; pois se ele tivesse sido feito para a vida do prncipe, seria uma trgua e no um tratado de paz. Alis, todo tratado que feito, como neste caso, com vistas ao bem pblico, um tratado real (Livro 11, 189). Ele obriga, pois, os sucessores to nitidamente quanto o prprio prncipe que o assinou, uma vez que ele obriga o prprio Estado e os sucessores nunca podem ter, a este respeito, outros direitos seno os direitos do Estado. Aps tudo o que foi dito da fiel observncia dos tratados e da obrigao indispensvel que eles impem, seria suprfluo estender-se para mostrar o quanto os soberanos e os povos devem observar religiosamente os tratados de paz em particular. Esses tratados afetam e obrigam as Naes contratantes como um todo; eles so da mais alta importncia e a sua ruptura infalivelmente traz de volta a guerra. So essas razes que do fora adicional obrigao de manter a f no tratado e de, conscientemente, cumprir as promessas nele feitas. OU NO O DO No se pode descumprir um tratado de paz sob a alegao que ele foi extorquido pelo medo ou pela coero. Em primeiro lugar, se esta exceo fosse admitida, ela solaparia os prprios fundamentos da segurana dos tratados de paz uma vez que haveria poucos deles contra os quais essa alegao no seria invocada para acobertar a m f. Autorizar semelhante alegao significaria atacar a segurana comum e o bem-estar das Naes; o princpio seria execrvel pelas mesmas razes que fazem a fiel observncia dos tratados um dever universalmente sagrado (Livro 11, 220). Alis, alegar semelhante exceo seria quase sempre vergonhoso e sem sentido. Dificilmente ocorre hoje esperar os derradeiros momentos para se fazer a paz. Uma Nao, conquanto vencida em muitas batalhas, pode ainda defender-se; ela no est sem recursos enquanto lhe restarem homens e armas. Se, por um tratado desvantajoso, ela entende adequado alcanar uma paz

36:

37: A

DO

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necessria, se ela se salvade perigo iminente, ou de urna completa destruio, de fazer grandes sacrificios, o que lhe resta ainda um bem que ela deve paz. Ela se determina livremente preferir uma perda presente e certa, mas limitada, do que esperar um mal ainda futuro, mas demasiado provvel e terrvel. Sempre que a exceo da coero puder ser alegada, ser feita contra um acordo que no merece o nome de tratado de paz, contra uma submisso forada a condies que so igualmente contrrias justia e a todos os deveres de humanidade. Se um conquistador ambicioso e injusto subjuga uma Nao forando-a a aceitar condies duras, vergonhosas e insuportveis, a necessidade pode t-la constrangido a submeter-se. Mas esta quietude aparente no uma paz real; uma opresso, que se suporta enquanto no existam os meios para dela libertarse, mas contra a qual homens de coragem se revoltam na primeira oportunidade favorvel. Quando Hernan Cortez atacou o imprio do Mxico sem a menor sombra de razo, sem o menor pretexto aparente, o infeliz Montezuma teria podido recuperar a sua liberdade ao submeter-se a condies to duras quanto injustas, ao receber guarnio em suas praas ou em sua capital, ao pagar tributo imenso, ao obedecer s ordens do rei de Espanha. De boa f no se diria que ele poderia, com justia, aproveitar uma ocasio favorvel para retomar os seus direitos e liberar o seu povo, para caar, para exterminar usurpadores vidos, insolentes e cruis? No, no, a idia muita absurda para se dar seguimento! Se a lei natural vela pela segurana e tranqilidade das Naes, recomendando fidelidade s promessas, ela no favorece os opressores. Todos os seus princpios so dirigidos para o maior bem da humanidade; a grande finalidade das leis e do direito. Poderia invocar esses princpios aquele que rompe todos os elos da sociedade humana? Se acontece que um povo abusa desse princpio para sublevar-se injustamente e recomear a guerra, melhor expor-se a esse inconveniente que dar aos usurpadores meios fceis de perpetuar a sua injustia e estabelecer a sua usurpao sobre um fundamento slido. Mas, se desejssemos pregar uma doutrina contrria a todos os movimentos da natureza, a quem iramos persuadir?

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38: E DE QUANTAS MANEIRAS UM TRATADO DE PAZ PODE SER VIOLADO:

OS acordos eqitativos, ou aqueles que so, pelo menos, suportveis,

merecem, pois, o nome de tratados de paz. So aqueles tratados em que a f pblica est comprometida e devem ser observados de maneira conscienciosa, ainda que sejam considerados rgidos e onerosos sob certos aspectos. Desde que a Nao neles consentiu, preciso que ela os considere ainda como um bem, considerando as circunstncias em que estavam, e ela deve respeitar a sua palavra. Se se pudesse desfazer facilmente o que foi conveniente fazer em outros tempos no haveria nenhuma estabilidade entre os homens. Violar o tratado de paz romper-lhe os compromissos, seja ao fazer o que ele probe, seja ao no fazer o que ele prescreve. Ora, pode-se descumprir os compromissos do tratado por trs modos diferentes: por uma conduta contrria natureza e essncia dos tratados de paz em geral; por processos inconsistentes com a natureza particular do tratado; e finalmente pela violao de alguns de seus artigos explicitos.

39: POR UMA CONDUTA CONTRRIA NATUREZA DE TODO TRATADO

DE PAZ: Age-se contra a natureza e a essncia de todos os tratados de paz, contra a prpria paz, ao perturb-la sem motivo, seja ao pegar em armas e recomear a guerra, ainda que no se possa alegar nem mesmo um pretexto pouco plausvel; seja ao ofender levianamente aquele com quem se fez a paz e ao trat-lo, a ele ou a seus sditos, de maneira incompatvel com o estado de paz, maneira essa que ele no pode admitir sem desrespeitar-se a si prprio. tambm contrrio natureza dos tratados de paz, retomar as armas pelo mesmo motivo que deu margem guerra, ou por ressentimento derivado de algo que se passou no curso das hostilidades. Se no se pode invocar ao menos um pretexto particular, baseado em algum novo motivo, manifestamente, est se ressuscitando a guerra que tinha terminado e viola-se o tratado de paz.

40: RECORRER S ARMAS POR NOVO MOTIVO NO IMPORTA EM ROMPER O

TRATADO DE PAZ: Mas recorrer s armas por um novo motivo no violar

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o tratado de paz. Pois, embora se tenha prometido viver em paz, no se prometeu com isso submeter-se a injrias e a toda sorte de injustias como condio para evitar o recurso s armas. A ruptura da paz resulta daquele que, por sua injustia obstinada, torna essa via necessria. Mas necessrio lembrar aqui o que temos observado mais de uma vez, a saber, que as Naes no reconhecem juiz comum sobre a terra, que elas no podem mutuamente condenar-se sem recurso, e que elas em suas controvrsias como se ambas as partes so enfim obrigadas a estivessem igualmente agindo em defesa dos respectivos direitos. Sobre essa base verifica-se que a questo permanece litigiosa, seja justo ou no o motivo novo que d lugar guerra, seja porque no reconhecem ter rompido o tratado de paz, nem da parte daquele que toma da ocasio para recorrer s armas, nem da parte daquele que recusa satisfao. Basta que o motivo de queixa e a recusa de satisfao tenham, de uma parte ou de outra, pelo menos alguma diferena de colorido. Quando elas no podem chegar a nenhum acordo sobre uma questo dessa natureza, no resta, pois, s Naes outra via seno a das armas. Trata-se ento de uma nova guerra, sem relao com o tratado.
41: ALIAR-SE
O TRATADO: NA SEQNCIA COM UM INIMIC;O NAo SIC;N1FICA ROMPER

Como ao fazer a paz no se renuncia por isso ao direito de fazer alianas e assistir os seus amigos, no constitui um rompimento do tratado de paz aliar-se subseqentemente com inimigos daquele com quem o tratado foi concludo, nem esposar-lhes a controvrsia e unir as suas armas com as deles, a menos que o tratado de paz o proba. Uma nova aliana desse tipo pode significar, no mximo, comear uma nova guerra por uma outra causa. Mas estou supondo que esses novos aliados tm alguns motivos plausveis para ir guerra assim como boas e justas razes para dar-lhes apoio pois, de outro modo, aliar-se com eles justamente quando vo entrar em guerra ou quando a comearam, seria manifestamente um pretexto para eludir o tratado de paz, e seria romp-lo mediante ardilosa perfdia.

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42: PORQUE PRECISO DISTINGUIR ENTRE UMA GUERRA NOVA E A RUPTURA DO TRATADO: muito importante bem distinguir entre uma nova guerra e a ruptura do tratado de paz, porque os direitos adquiridos pelo tratado subsistem malgrado a nova guerra; eles somente so extintos pela ruptura do tratado no qual esto baseados. verdade que, sem dvida, aquele que tinha acordado esses direitos suspende seu exerccio durante a guerra desde que esteja no mbito do seu poder, e pode at mesmo privar inteiramente o inimigo desses direitos em razo do direito de guerra, podendo tambm subtrair-lhe outros bens. Mas neste caso, ele toma esses direitos como cousas capturadas ao inimigo, e este pode exigir a restituio deles no novo tratado de paz. Existe clara diferena, em negociaes desse carter, entre exigir a restituio do que se possua antes da guerra e demandar novas concesses. Um pouco de igualdade nos xitos basta para insistir no primeiro; uma superioridade marcante requerida para obter-se o segundo. Freqentemente acontece, quando as foras so mais ou menos iguais, que se convencione devolver as conquistas e restabelecer todas as cousas ao seu estado anterior e, neste caso, se a guerra for nova, os tratados antigos subsistem; mas se os tratados so rompidos pela retomada da guerra, e a primeira guerra ressuscitada, esses tratados permanecem anulados; e se as partes desejarem que eles subsistam, preciso que um novo tratado os mencione e os restabelea expressamente. Outro aspecto importante da presente questo se relaciona com outras Naes que, por motivos prprios, podem estar interessadas em manter esse tratado em observao. Essa questo da maior importncia para os garantes do tratado, se houver algum, e tambm para os aliados, que tm que determinar os casos em que devem fornecer ajuda. Enfim, aquele que viola um tratado solene muito mais odioso que aquele que forma e mantm pelas armas uma pretenso mal fundamentada. O primeiro adiciona injustia a perfdia; ele ataca o fundamento da tranqilidade pblica e, ao injuriar assim todas as Naes, ele as autoriza a se unirem para reprimi-lo. Eis porque deve haver uma certa reserva para imputar o que mais odioso, Grcio observou com razo que, em caso

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de dvida, e quando algum pretexto plausvel, baseado em nova causa, pode ser invocado para sustentar o recurso s armas, melhor presumir no fato que retoma a gue"a, uma sem do que consider-lo como culpado ao mesmo tempo de m f e de (5) 43: A DEFESA JUSTA DE SI MESMO NAo ROMPE o TRATADO DE PAZ: A defesa justa de si mesmo no rompe o tratado de paz. um direito natural ao qual no se pode renunciar e, em prometendo viver em paz, promete-se apenas no atacar sem motivo e abster-se de injria e de violncia. Mas h duas maneiras de defender-se a si mesmo ou seus bens. Algumas vezes a violncia no permite outro remdio seno a fora e ento dela se faz uso muito legitimamente. Em outras ocasies, h meios mais suaves de obter a reparao do dano e da injria; preciso sempre preferir esses ltimos meios. Tal a regra de conduta que duas Naes, desejosas de manter a paz, devem ter quando os sditos de uma ou de outra Nao do caminho violncia. A fora atual se repele e se reprime pela fora; mas se a questo for a de buscar a reparao do dano e uma justa satisfao, preciso enderear-se ao soberano dos culpados; no se pode ir procurlos em suas terras e recorrer s armas seno no caso de denegao de justia. Se h razo para temer que os culpados fujam; se, por exemplo, certas pessoas desconhecidas de um pas vizinho provocam um levante dentro do nosso territrio, temos o direito de persegui-los com uma fora armada dentro do seu pas at que eles sejam capturados e o soberano deles deve considerar a nossa ao como justa e de legtima defesa, contanto que no cometamos atos de hostilidade contra inocentes. 44: MOTIVOS DE RUPTURA QUE ALIADOS POR OBJETO: Quando a principal parte contratante incluiu os seus aliados no tratado, a clusula lhes comum neste aspecto, e esses aliados devem usufruir, como a parte contratante, de todas as condies essenciais a um tratado de paz; de modo que tudo que capaz de romper o tratado como se fosse
(5)

Liv. III, capo 20, 28.

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cometido contra essa principal parte contratante e com os aliados que essa parte incluiu no tratado. Se a injria feita a um novo aliado, ou a um aliado no includo no tratado, essa injria pode muito bem fornecer novo motivo de guerra, mas ela no importa em rompimento do tratado de paz.
SUA 45: O TRATADO ROMPIDO POR ATITUDES QUE SE NATUREZA PARTICULAR: A segunda maneira de romper um tratado de paz fazer algo contrrio ao que a natureza particular do tratado demanda: assim, todo procedimento contrrio amizade rompe um tratado de paz feito sob a condio expressa de que as partes passem a viver como bons amigos. Favorecer os inimigos de uma Nao, tratar-lhe os sditos duramente, perturbar-lhe sem razo o comrcio, dar preferncia tambm sem razo a outra Nao, recusar-lhe provises que ela quer pagar e das quais se tem o suficiente; proteger-lhe sditos facciosos ou rebeldes, eis a muitos procedimentos evidentemente contrrios amizade. Podese, segundo as circunstncias, adicionar a essa relao o seguinte: construir fortalezas nas fronteiras de um Estado, testemunhar-lhe desconfiana, recrutar tropas sem querer declarar-lhe o motivo, etc. Todavia, oferecer refgio aos exilados, receber sditos que desejam deixar seu pas sem a inteno de molest-lo, mas apenas por interesses particulares; oferecer refgio caridoso a emigrantes que deixam o seu pas por motivo de liberdade de conscincia, em tudo isto nada existe de incompatvel com a qualidade de amigo. As regras particulares de amizade no nos dispensam, de acordo com os caprichos de nossos amigos, dos deveres comuns de humanidade que temos para com o restante dos homens.

46: PELA VIOLAAo DE ALGUM ARTIGO: Enfim, a paz se rompe pela violao de uma das disposies expressas do tratado. Este terceiro modo de romper a paz o mais definido, o menos susceptvel de evases e duplicidade. Quem desrespeita os seus compromissos anula o contrato da forma mais manifesta, disto no h dvida.

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47: TRANSGRESSO DE UM NICO ARTIGO ROMPE TODO O TRATADO:

Mas uma questo suscitada: a violao de um simples artigo pode significar a dissoluo do tratado inteiro? Alguns escritores'" fazem uma distino aqui entre artigos que so conectados entre si (connexi) e aqueles que esto separados e entendem que se um destes artigos for violado, o tratado continua em vigor em relao aos demais artigos. Mas a opinio contrria, de Grcio, me parece claramente baseada na natureza e no esprito dos tratados de paz. Esse grande jurista diz que "todos os artigos de um nico e mesmo tratado so abrangidos um no outro, maneira de condio, como se as partes formalmente dissessem: "Eu farei tal e tal cousa contanto que de vosso lado vs faais isto ou aquilo".(7) E acrescenta com razo que "quando se desejar impedir que o compromisso permanea sem efeito, acrescenta-se essa clusula expressa: que embora se venha a infringir algum dos artigos do tratado, os demais no deixaro de subsistir com toda a sua fora". Pode-se indubitavelmente convir dessa maneira; pode-se tambm convir que a violao de um artigo signficar a nulidade daqueles que lhe correspondem, e que dele so o equivalente. Mas se o tratado de paz no contm essa clusula expressa, a violao de um nico artigo anula todo o tratado, como provamos acima, quando falamos de tratados em geral (Livro lI, 20).

48: PODE-SE DISTINGUIR, AESSE RESPEITO, ENTRE OS ARTIGOS MAIS OU

MENOS IMPORTANTES: No menos intil, neste caso, fazer uma distino entre artigos de grande importncia e artigos de pouca importncia. Em estrita justia, a violao do menor artigo dispensa a parte lesada de observar os outros artigos, pois que todos, como acabamos de ver, esto relacionados mutuamente na forma de condies. Alis, que fonte de disputas no iria emergir de uma tal distino! Quem decidir sobre a importncia do artigo violado? Mas verdade certamente que no convm de nenhum modo aos deveres mtuos das Naes, caridade, ao amor
Vide WOLFF,]lIs Gent., 1022, 1023.

(6) (7)

Liv. III, capo 19, 14.

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paz que deve anim-las, romper um tratado sempre que haja o menor motivo de queixa.
49: DA PENALIDADE VINCULADA VIOLAAO DE UM ARTIGO: Com o intuito de evitar inconveniente to constrangedor, as partes agem sabiamente ao concordar com uma penalidade que dever sofrer o infrator de algum desses artigos de menor importncia e, neste caso, se o autor da ofensa submete-se penalidade, o tratado continua em pleno vigor. Pode-se tambm vincular violao de cada artigo, uma penalidade proporcional a sua importncia. Tratamos deste ponto ao falar da trgua (Livro IIl, 243); pode-se recorrer a este pargrafo. SO:ADlAMENTOS DELIBERADOS: Adiamentos deliberados so equivalentes a uma recusa expressa, da qual no diferem seno pelo artifcio com o qual quem deles usa pretende cobrir a sua m f. Ele adiciona a fraude perfdia e viola realmente o artigo que deve cumprir. Sl: Dos IMPEDIMENTOS INTRANSPONVEIS: Mas se o impedimento for real, um tempo adicional deve ser dado, visto que ningum obrigado ao impossvel. Pela mesma razo, se um obstculo intransponvel torna o cumprimento de um artigo no somente impraticvel no presente, mas tambm impossvel em qualquer tempo futuro, aquele que a esse artigo se comprometeu no culpado e a outra parte no pode valerse dessa impossibilidade para romper o tratado; mas deve aceitar uma indenizao, se esta tiver lugar e se for praticvel. No entanto, se a cousa que devia ser feita em virtude do artigo em questo de tal natureza que est claro que o tratado parece ter sido concludo em vista dessa cousa, e no de outra equivalente, o tratado , sem dvida, anulado pela impossibilidade superveniente. assim que um tratado de proteo se toma nulo quando o protetor se acha incapacitado de efetivar a proteo prometida, embora essa impossibilidade no decorra de sua culpa. Tambm alguma cousa que o soberano tenha prometido na condio de que se lhe restituir cidade importante, se no se lhe puder entregar

622 essa praa, ele est quite de tudo que tenha prometido com o objetivo de reav-la. Tal a regra invarivel de justia. Mas o direito rigoroso no deve ser pressionado; a paz to vantajosa s Naes, e elas esto to estritamente na obrigao de cultiv-la, de obt-la, de restabelec-la, quando ela perturbada, que se obstculos semelhantes so encontrados na execuo de um tratado de paz, as partes devem munir-se de boa f em todos os expedientes razoveis, e devem aceitar bens equivalentes e indenizaes, antes de romper uma paz j estabelecida e retomar as armas. 52: Dos ATAQUES AO TRATADO DE PAZ PELOS SDITOS: Consideramos acima, em captulo especfico (Livro 11, capo VI), como e em que ocasies os atos dos sditos podem ser imputados ao soberano e Nao. Os princpios l estabelecidos esclarecem como fatos dos sditos podem romper um tratado de paz. Eles poderiam produzir esse efeito medida que possam ser imputados ao soberano. Aquele que lesado por sditos de terceiros pode tomar as propriedades cabveis quando captura os culpados em seu prprio territrio, ou em espao livre, em alto mar por exemplo; ou, se preferir, ele pede justia ao soberano desses culpados. Se os culpados so sditos desobedientes, nenhum apoio pode ser obtido do soberano deles; mas quem vier a captur-los, mesmo em espao livre, estar fazendo justia por si mesmo. Tal o mtodo de lidar com piratas. E com o intuito de evitar toda dificuldade, convencionou-se tratar da mesma maneira todos os particulares que cometem ato de hostilidade sem comprovar autorizao do respectivo soberano. 53: Ou POR ALIADOS: OS atos de autoria de aliados podem menos ainda ser imputados Nao que aqueles de seus sditos. A violao de um tratado de paz por aliados, mesmo por aqueles que foram includos nesse tratado, ou que nele ingressaram como partes contratantes principais, no podem provocar a ruptura da paz, exceto com relao a eles mesmos, e no em relao ao aliado, se este, por seu turno, cumpre religiosamente seus compromissos. O tratado subsiste para este com toda a sua fora, contanto que no venha a sustentar a causa de seus prfidos aliados.

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Se lhes der apoio que no lhes cabe dar nessas circunstncias, ele se junta causa e participa da mesma quebra de fidedignidade. Entretanto se ele estiver interessado em prevenir-lhes a runa, pode intervir, obrig-los a todas as reparaes convenientes e garanti-los de uma opresso que poderia surgir como decorrncia. A defesa dos aliados toma-se justa contra um inimigo implacvel que no quer contentar-se com uma justa satisfao. 54: DIREITOS DA PARTE LESADA CONTRA AQUELE QUE VIOLOU O TRATADO: Quando o tratado de paz violado por um dos contratantes, a outra parte tem o direito de declar-lo rompido, ou de deix-lo subsistir. Pois ele pode no estar vinculado por um contrato que contm compromissos recprocos em relao quele que no respeita esse mesmo contrato. Se ele preferir no romp-lo, o tratado permanece vlido e obrigatrio. Seria absurdo que o transgressor pudesse anular o tratado em razo de sua prpria infidelidade, seria um meio fcil de desembaraar-se de compromissos, o que reduziria todos os tratados a vs formalidades. Se a parte lesada quer deixar subsistir o tratado, ela pode perdoar a violao ocorrida, exigir indenizao, demandar uma justa satisfao ou ainda liberar-se ela prpria dos compromissos que correspondem ao artigo violado, liberando-se do que ela tinha prometido em considerao a algo que no foi cumprido. Mas se ela decide exigir justa indenizao e a parte culpada a recusa, ento o tratado est dissolvido e o contratante lesado tem justo motivo para retomar a guerra. tambm o que freqentemente acontece pois, raramente, ocorre que o culpado queira reconhecer a sua falta e conceda reparao.
CAPiTULO

Do direito de embaixada, ou do direito de enviar e receber ministros pblicos

55: NECESSRIo QUE AS POSSAM TRATAR-SE ECOMUNICAR-SE ENTRE SI: As Naes devem necessariamente tratar e comunicar-se umas

624 com as outras, para o bem de seus negcios, para evitar que se prejudiquem reciprocamente e para ajustar e terminar as suas controvrsias. E desde que todas esto na obrigao indispensvel de unir os seus esforos para promover o bem-estar e segurana comum 13) e de obter os meios de acomodar e terminar as suas controvrsias (Livro lI, . 323 e segs.); e desde que cada qual tem direito a tudo o que a sua auto-preservao exige (Livro I, 18), a tudo o que possa contribuir sua perfeio sem causar dano s demais (ibid, 23), assim como aos meios necessrios para cumprir os seus deveres, segue-se das razes acima que cada Nao rene em si prpria o direito de negociar e de desenvolver relaes com as outras, e a obrigao recproca de se prestar a essa comunicao tanto quanto o estado de seus negcios possa permiti-lo. 56: As o POR MEIO DE MINISTROS PBLICOS: Mas as Naes ou Estados soberanos no tratam uns com os outros imediatamente e os seus dirigentes, ou os seus soberanos, no podem negociar diretamente para tratar de seus assuntos em conjunto. Tais reunies seriam freqentemente impraticveis e, sem contar as distncias, os embaraos, as despesas, e outras inconvenincias, elas raramente, segundo a observao de Philippe de Commines, poderiam conduzir a um bom resultado. Conseqentemente, Naes e soberanos no tm outros meios de comunicar e tratar uns com os outros seno por intermdio de procuradores ou mandatrios, de delegados investidos de ordens e poderes, ou seja, de ministrospblicos. Esta expresso, em seu mais amplo sentido, designa toda a pessoa encarregada de negcios pblicos, mas particularmente aplicada quela pessoa incumbida desses negcios perante uma potncia estrangeira. Diversas categorias de ministros pblicos so hoje conhecidas e nos referiremos a elas mais tarde. Embora a prtica tenha introduzido distino entre elas, o carter essencial lhes comum, o de ministro e, de algum modo, o de representante de potncia estrangeira, de pessoa encarregada dos seus negcios e determinaes; e aqui esta qualidade nos suficiente.

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57: TODO ESTADO SOBERANO TEM O DIREITO DE ENVIAR E RECEBER

MINISTROS PBLICOS: Todo Estado soberano tem, pois, o direito de enviar e receber ministros pblicos. Pois eles so os instrumentos necessrios dos negcios que os soberanos tm uns com os outros, e da correspondncia que eles tm o direito de manter. No primeiro captulo desta obra, viu-se quais so os soberanos e os Estados independentes que so membros da grande sociedade das Naes. So essas as potncias que tm o direito de embaixada.

58:

DESIC;UAL, NEM OTRATADO DE

ANULAM

DIREITO: Visto que uma aliana desigual e mesmo um tratado de proteo no so incompatveis com a soberania (Livro I, 5 e 6), tratados dessa espcie no privam por si mesmo um Estado do direito de enviar e receber ministros pblicos. Se o aliado desigual, ou o Estado protegido, no renunciou expressamente ao direito de manter relaes e tratar com outras potncias, ele necessariamente conserva o direito de enviar ministros e de receb-los de outras potncias. O mesmo deve ser dito dos Estados vassalos e dos tributrios que ainda no se converteram em sditos (Livro I, 7 e 8).

59: Do DIREITO DOS PRNCIPES EESTADOS DO IMPRIO AESSE RESPEITO:

Mais ainda: esse direito tambm pode encontrar-se nos prncipes ou nas comunidades que no so soberanas uma vez que os direitos, cujo conjunto constitui a plena soberania, no so indivisveis e se, pela constituio do Estado, pela concesso do soberano, ou pelas reservas que os sditos com ele fizeram, um prncipe ou uma comunidade se encontra na posse de algum desses direitos que ordinariamente pertencem somente ao soberano, esse prncipe ou essa comunidade pode exerc-lo e faz-lo prevalecer em todos os seus efeitos e em todas as conseqncias naturais ou necessrias, a menos que tais efeitos e conseqncias tenham sido formalmente excetuados. Embora os prncipes e Estados do imprio dependam do imperador e do imprio, eles so soberanos em muitos aspectos; e desde que as constituies do imprio lhes asseguram o direito de negociar e

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de contratar alianas com poderes estrangeiros, eles tm inquestionavelmente o direito de enviar e receber ministros pblicos. Quando esses prncipes tentam elevar demasiadamente alto as suas pretenses, o Imperador tm algumas vezes lhes contestado esse direito, ou ao menos tm procurado submeter-lhe o exerccio desse direito sua suprema autoridade, pretendendo ser necessria a sua autorizao. Mas desde a paz de Westphalia, e por meio das capitulaes imperiais, os prncipes e Estados da Alemanha tm sabido se manter na posse desse direito, e eles se tm assegurado tantos outros que o imprio hoje considerado como uma repblica de soberanos. 60: DAS CIDADES QUE TM o DIREITO DE BANDEIRA: Existem at mesmo cidades subordinadas, e que como tais se reconhecem, que tm o direito de receber os ministros de potncias estrangeiras e de enviar-lhes representantes, porquanto tm o direito de negociar com elas. Toda a questo depende desse fato: aquele que tem direito ao fim, tem o direito aos meios. Seria absurdo reconhecer o direito de negociar e de tratar, e de contestar-lhe os meios necessrios. As cidades da Sua, tais como Neuchatel e Bienne, que possuem o direito de estandarte, tm em conseqncia o direito de tratar com poderes estrangeiros, embora essas cidades estejam sob o domnio de um prncipe, pois o direito de bandeira, ou das armas, inclui o direito de fornecer tropas, contanto que no sejam contra o servio do prncipe. Se essas cidades podem fornecer tropas, elas podem receber pedido que lhes faa uma potncia estrangeira e com ela tratar das condies respectivas. Podem, assim, ainda enviar-lhe representante ou receber ministro com esse propsito, e como elas tm, ao mesmo tempo, o exerccio de policia, elas esto em condies de fazer com que sejam respeitados os ministros estrangeiros visitantes. O que temos dito aqui sobre os direitos dessas cidades confirmado por uma prtica antiga e constante. Por mais eminentes e extraordinrios que sejam tais direitos, no sero considerados estranhos se se considerar que estas mesmas cidades j possuam grandes privilgios no tempo em que os seus prprios prncipes dependiam

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dos imperadores, ou de outros senhores que eram diretamente vassalos do imprio. Quando esses prncipes sacudiram o jugo de vassalagem e se tornaram completamente independentes, as cidades maiores do seu territrio apresentaram as suas condies e longe de piorar a prpria situao, as cidades muito naturalmente aproveitaram-se das circunstncias para assegurar maior liberdade e prosperidade. Os soberanos no poderiam agora reclamar contra os termos em que essas cidades quiseram seguir os seus destinos e a reconhec-los como seus nicos superiores.

61: MINISTROS DOS VICE-REIS: OSvice-reis e os governadores chefes

de uma soberania ou de uma provncia distante tm freqentemente o direito de enviar e receber ministros pblicos, nisso agindo em nome e pela autoridade do soberano que eles representam e cujos direitos esto a exercer. O poder deles, neste aspecto, depende inteiramente da vontade do soberano que os constitui. Os vice-reis de Npoles, os governadores de Milo, os governadores-gerais dos Pases-Baixos para a Espanha, estavam investidos desse poder.

62: MINISTROS DA NAO, OU DOS REGENTES, NO INTERREGNO: O

direito de embaixada, como todos os outros direitos de soberania, reside originariamente na Nao como sendo o seu sujeito principal e primitivo. No interregno, o exerccio desse direito recai na Nao ou devolvido queles aos quais as leis confiaram a regncia do Estado. Eles podem enviar ministros, tudo conforme os soberanos costumam fazer, e esses ministros tm os mesmo direitos que teriam os nomeados pelo soberano. Quando o trono est vacante, a repblica da Polnia envia embaixadores e no admitiria que eles fossem menos considerados que aqueles enviados quando ela tinha um rei. Cromwell soube manter os embaixadores da Inglaterra na mesma considerao em que eles estavam sob a autoridade dos reis.

63: DAQUELE QUE PERTURBA OUTREM NO EXERCCIO DO DIREITO

EMBAIXADA: Sendo esses os direitos das Naes, o soberano que tenta

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impedir outro soberano de enviar e receber ministros pblicos faz a ele uma injria e viola o direito das gentes pois, ao fazer isso, ele ataca a Nao em um dos seus mais preciosos direitos, e lhe contesta o que a prpria natureza confere a toda sociedade independente. Ele rompe os elos que unem os povos, e assim ofende a todos. 64: Do QUE PERMITIDO A ESSE RESPEITO EM TEMPO DE GUERRA: Mas isto para ser entendido somente em tempo de paz. A guerra d margem a outros direitos. Ela permite privar o inimigo de todos os seus recursos, de impedir que ele possa enviar os seus ministros para solicitar ajuda. Existem mesmo ocasies em que se pode recusar trnsito aos ministros de Naes neutras que desejam ir ao inimigo. No somos obrigados a admitir que eles possam levar-lhe talvez informaes valiosas, ou de planejar com o inimigo algum jeito de lhe dar ajuda, etc. No h dvida neste ponto, no caso de uma cidade sitiada, por exemplo. Nenhum direito pode autorizar o ministro de uma potncia neutra, nem qualquer outra pessoa que seja, a entrar na cidade sem o consentimento do sitiante. Mas com o intuito de no ofender os soberanos, boas razes devem ser apresentadas para a recusa em deixar passar os seus ministros, e esses soberanos, se quiserem permanecer neutros, devem contentar-se com as razes dadas.Recusa-semesmo algumasvezes passagem a ministros que esto sob suspeita, em tempos duvidosos e crticos, embora no haja ainda guerra aberta. Mas o procedimento delicado, e se no for justificado por razes perfeitamente satisfatrias, ele produz um incidente que facilmente pode degenerar em ruptura aberta. 6S: DEVE-SE RECEBER () MINISTRO DE POTNCIA Al\flGA: Uma vez que as Naes so obrigadas a ter relaes mtuas, ouvir propostas e pedidos que lhes so feitos e manter meio livre e seguro de entender-se e de conciliar as suas controvrsias, um soberano no pode, sem razes muito particulares, recusar-se a admitir e a ouvir o ministro de uma potncia amiga, ou com a qual esteja em paz. Mas se ele tem razes de no receb-lo no interior do pas, ele pode indicar-lhe um lugar na

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fronteira, onde o ministro ser encontrado e as suas propostas ouvidas; e o ministro estrangeiro deve ali deter-se; suficiente que ele seja ouvido; eis tudo o que pode pretender. 66: Dos MINISTROS RESIDENTES: A obrigao de manter relaes mtuas no vai to longe a ponto de admitir sempre ministros permanentes, que queiram residir junto ao soberano, ainda que no tenham nada para negociar. natural, na verdade, e de inteiro acordo com os sentimentos recprocos das Naes, receber amigavelmente esses ministros residentes quando nada se tem a temer da sua estadia. Mas se h alguma razo slida em contrrio, o bem do Estado prevalece inquestionavelmente e o sobe-rano estrangeiro no pode ofender-se se o seu ministro solicitado a retirar-se quando terminou os negcios para os quais ele veio ou quando no tem nada para negociar. O costume de ter ministros permanentemente residentes numa corte hoje to bem estabelecido que razes muito boas devem ser alegadas para recusar seguir esse costume sem ofender ningum. Estas razes podem ser baseadas em circunstncias especiais, mas existem tambm razes comuns e constantes e que esto relacionadas com a constituio do governo e o estado de uma Nao. Repblicas com freqncia teriam muito boas razes deste ltimo tipo para se dispensar de admitir ministros estrangeiros que corrompem os cidados, que os vinculam a seus soberanos em grande detrimento da repblica, e que nela formam e fomentam partidos, etc. E quando eles no fariam seno expandir numa Nao antigamente simples, frugal e virtuosa, o gosto do luxo, a sede do ouro, os costumes das cortes, eis o que seria bastante para autorizar um magistrado sbio e previdente a despedi-los. A Nao polonesa no admite de bom grado ministros residentes e as intrigas destes com os membros da dieta tm fornecido boas razes para mant-los distncia. Em 1666, um nncio queixou-se em plena dieta que o embaixador da Frana prolongava sua estada na Polnia sem necessidade e disse que ele devia ser considerado como um espio. Em 1668, outros instaram

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que uma lei determinasse o tempo durante o qual os embaixadores poderiam permanecer no reino (8). 67: COMO ADr-HTIR-SE O MINISTRO DE UM INIMIGO: Quanto mais a guerra for um flagelo terrvel, tanto mais as Naes devem reservarse os meios de pr-lhe fim. Portanto, mesmo no meio das hostilidades, necessrio que elas possam enviar ministros para fazer algumas propostas de paz ou de medidas tendentes a suavizar os horrores da guerra. verdade que o ministro "de inimigo no pode vir sem permisso; tambm cabe providenciar para ele um passaporte ou um salvoconduto, seja por um amigo comum, seja por um desses mensageiros privilegiados pelas leis da guerra e de quem falaremos adiante, ou seja, por meio de um intermedirio. tambm verdade que o salvoconduto pode ser recusado e o ministro no ser admitido. Mas essa liberdade, baseada no cuidado que cada Nao deve sua prpria segurana, no impede que se possa admitir e dar ouvidos ao ministro de um inimigo. Ou seja, que apenas a guerra, por si mesma, no uma razo suficiente para recusar ouvir-se qualquer proposta vinda do inimigo; deve haver alguma razo especial e bem fundamentada para admitir-se a recusa. Tal razo seria, por exemplo, um temor razovel e bem justificado pela prpria conduta de um inimigo ardiloso, que no pensa enviar seus ministros para fazer propostas, seno com o intuito de desunir os membros de uma aliana, de desguarnec-los com aparncias de paz e de surpreend-los. 68: SE
SE PODE RECEBER OS MINISTROS DE UM USURPADOR E A ELE

Antes de concluir este captulo, devemos considerar uma questo clebre e muito debatida. Pergunta-se se as Naes estrangeiras podem receber embaixadores e outros ministros de um usurpador e a eles enviar os seus. Neste caso, as potncias estrangeiras seguem o que ao interesse de seus negcios convm. No h regra mais
ENVIAR MINISTROS:

WICQUEFORT, L'Ambassadeur, Liv. I, seco I, infine.

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segura, mais de acordo com o direito das gentes e com a independncia das Naes. Visto que os estrangeiros no tm o direito de interferir nos negcios domsticos de um povo, eles no esto obrigados a examinar e aprofundar-lhe a conduta nesses mesmos negcios para avaliar-lhe a justia ou a injustia; eles podem, se acharem correto, presumir que o direito e a posse esto unidos. Quando uma Nao expulsou o seu soberano, as potncias que no desejarem declarar-se contra ela e atrair-lhe a hostilidade ou inimizade passam a consider-la como um Estado livre e soberano, sem pretender julgar se foi com justia que essa Nao se subtraiu ao domnio do prncipe que a governava. O cardeal Mazarino recebeu Loccara, que Cromwell enviara como embaixador da repblica da Inglaterra, e no quis ver nem o rei Carlos lI, nem os seus ministros. Se a Nao, aps ter expulso o seu prncipe, a outrem se submete, se ela muda a ordem da sucesso e reconhece um soberano em prejuzo do herdeiro natural e designado,as potncias estrangeiras esto ainda justificadas em considerar o que tem sido feito como legtimo; no se trata de sua querela nem de seu negcio. No comeo do ltimo sculo, Carlos, duque de Sudermania, fez-se coroar rei da Sucia, em prejuzo de seu sobrinho, Sigismundo, rei da Polnia; e foi logo reconhecido pela maioria dos soberanos. Villeroy, ministro de Henrique IV, rei da Frana, declarou abertamente ao Presidente Jeannin, em despacho datado de 8 de abril de 1608: "Todas essas razes e consideraes no impediro o rei de tratar com Carlos, se ele considera ser de seu interesse e de seu reino". Esse discurso era presumido. As palavras dele eram bem articuladas. O rei da Frana no era nem juiz, nem tutor da Nao sueca, para recusar-se, contra interesses do seu prprio reino, a reconhecer o rei que essa Nao tinha escolhido, sob pretexto de que um competidor considerava Carlos como usurpador. Mesmo que houvesse razo para pensar dessa maneira, no cabia aos estrangeiros decidir essa questo. Quando, pois, potncias estrangeiras tm admitido os ministros de um usurpador, e lhe tm enviado os seus prprios, o prncipe legtimo que venha a recuperar o trono no pode queixar-se desses procedimentos como sendo injria ou motivo justo de guerra, contanto que essas potncias

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no tenham ido alm e dado ajuda contra esse prncipe. Mas reconhecer o prncipe destronado ou o seu herdeiro aps ter solenemente reconhecido aquele que o substituiu, fazer injria a esse ltimo e declarar-se inimigo da Nao que o escolheu. O rei Guilherme 111 e a Nao inglesa fizeram semelhante diligncia temerria em favor do filho de James 11. Foi esse um dos principais motivos da guerra que a Inglaterra logo declarou Frana. Nem a diplomacia, nem os protestos de Lus XIV, impediram que o reconhecimento do prncipe Stuart como rei da Inglaterra, Esccia e Irlanda, sob o nome de J ames 111, fosse considerado na Inglaterra como uma injria feita ao rei e Nao.
CAPTULO

VI

Das diversas ordens de ministros pblicos, do carter representativo e das honras lhes so devidas
69: ORIGEM DAS DIVERSAS ORDENS DE MINISTROS PBLICOS: Outrora, ministros pblicos eram quase sempre do mesmo nvel, e eram chamados em latim iegati, termo que se traduz em francs por "ambassadeurs", Mas quando as cortes se tornaram mais faustosas e acarretaram maiores dificuldades ao cerimonial, e sobretudo quando se entendeu ampliar a representao do ministro ao nvel dadignidadedo seu soberano, considerouse, com o intuito de evitar dificuldades, problemas e despesas, empregar, em certas ocasies, representantes menos categorizados. Lus XI, rei da Frana, foi talvez o primeiro a dar o exemplo. Assim ao estabelecer vrias categorias de ministros, atribuiu-se mais ou menos dignidade ao carter delas, para as quais honrarias correspondentes foram demandadas. 70: Do CARTER REPRESENTATIVO: Todo ministro representa de modo o seu superior, como todo procurador ou mandatrio representa o seu constituinte. Mas esta representao relativa aos negcio a serem tratados; o ministro representa a pessoa na qual residem os direitos que ele deve orientar, conservar e fazer prevalecer, os direitos

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de que ele deve cuidar, ao assumir o lugar de seu superior. Em geral, e para o essencial dos negcios, ao admitir essa representao, faz-se abstrao da dignidade do constituinte. Mais tarde, soberanos passaram a desejar serem representados no somente nos seus direitos e na conduta dos seus negcios, mas mesmo na sua dignidade, na preeminncia do poder e de sua posio; foram sem dvida esses eventos do Estado, essas cerimnias, para as quais se enviam embaixadores, como as dos casamentos por exemplo, que deram nascimento a esse uso. Mas um to elevado grau de dignidade do ministro tomou-se desconfortvel na conduta dos negcios e, freqentemente d margem no somente a problemas, mas tambm a dificuldades e a disputas. O resultado tem sido a criao de diversos nveis de ministros pblicos, de diferentes graus de representao. O uso tem estabelecido trs nveis principais. O que se chama o carter por excelncia a faculdade que tem o ministro de representar o seu soberano, quanto sua prpria pessoa e quanto sua dignidade. 71: Do EMBAIXADOR: O carter representativo chamado assim, por excelncia, constitui, em oposio s demais categorias de representao, o ministro do primeiro nvel, o Embaixador. Ela fica acima de todos os outros ministros que no so investidos com o mesmo carter e tm precedncia sobre eles. Existem hoje embaixadores ordinrios e embaixadores extraordinrios, mas trata-se de distino acidental, relativa ao objetivo da misso deles. No entanto, alguma diferena de tratamento subsiste em quase todo lugar entre esses diversos embaixadores; mas isto resulta apenas de uso. 72: Dos ENCARREGADOS DE NEGCIOS: Os encarregados de negcios no so investidos do carter representativo propriamente dito, no mais alto nvel. Eles so ministros de segunda categoria, a quem o respectivo soberano desejou conferir um nvel de dignidade e de considerao, o qual, sem se comparar com o de embaixador, o segue imediatamente e no precedido por nenhum outro. Existem tambm

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encarregados ordinrios e extraordinrios, e parece que a inteno dos prncipes considerar esses ltimos como mais relevantes; mas isto tambm uma questo de uso. 73: Dos RESIDENTES: O termo residente se referia outrora continuidade de permanncia do ministro; e a histria apresenta casos em que os embaixadores ordinrios foram designados pelo simples ttulo de residentes. Mas, desde que a prtica de diferentes categorias de ministros ficou geralmente estabelecida, o nome de residente tem sido aplicado a ministros de um terceiro nvel, a cujo carter tem sido geralmente atribudo, por largo uso, um nvel menor de considerao. O residente no representa a pessoa do prncipe em sua dignidade, mas apenas em seus negcios. Em realidade, ele representa o soberano do mesmo modo que o encarregado; eis porque o residente freqentemente chamado ministro de segundo nvel, como tambm o o encarregado, no se distinguindo seno duas categorias de ministros pblicos: embaixadores, que tm o carter representativo por excelncia, e todos os outros ministros que no so investidos desse carter eminente. Esta a mais necessria distino, e a nica essencial. 74: Dos MINISTROS: Enfim, a prtica mais moderna estabeleceu uma nova classe de ministros pblicos, cujo carter representativo no especificamente determinado. Eles so chamados simplesmente de ministros para indicar que esto investidos da qualidade geral de mandatrios de um soberano, sem nenhuma atribuio particular de categoria. Aqui tambm o cerimonial minucioso deu origem a essa novidade. O uso tinha estabelecido tratamentos particulares para o Embaixador, para o Encarregado e para o Residente. Esse uso nascia freqentemente das dificuldades a esse respeito, e sobretudo as concernentes s categorias entre os ministros dos diferentes prncipes. Com o intuito de evitar todos os problemas, em ocasies em que havia motivo para tem-los, preferiu-se enviar ministros, sem design-los

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como pertencentes a qualquer dos trs nveis conheci.Desde ento, no ficaram eles subordinados a nenhum cerimoniahbelecido, e no mais puderam pretender nenhum tratamento especf) ministro representa o seu soberano de maneira vaga e indeternda, sem represent-lo no mais alto nvel e, conseqentemente, ele ate sem dificuldade precedncia ao embaixador. Em geral, ele devear da considerao que merece uma pessoa de confiana a quem o scano confia o cuidado dos seus negcios e ele possui todos os essenciais ao carter de ministro pblico. Esta qualidade indeterrnia tal que o soberano pode conferi-la queles servidores aos quais desejaria investir do carter de embaixador e, por outro lado, ess qualidade pode ser aceita por um homem de condio, que no desejaria contentar-se com a posio de residente e com o tratamento a este destinado. Existem tambm ministros cuja posio muito mais honorfica que aquela de simples ministros. Eles no tm tambm nenhuma atribuio particular de categoria e de representao, mas a prtica parece doravante coloc-los em nvel imediatamente depois do embaixador ou no mesmo nvel do encarregado extraordinrio.

75:

Dos CNSULES, AGENTES, DEPUTADOS, COMISSRIOS,ETC.:

nos referimos a cnsules, ao tratar do comrcio (Livro II, 34). Outrora, esses agentes eram uma espcie de ministros pblicos, mas hoje, quando seus ttulos tm sido multiplicados e prodigalizados, o nome agente dado a simples comissrios dos prncipes para tratar de seus negcios privados. Freqentemente, na verdade, eles so cidados do pas em que residem. Eles no so ministros pblicos, e conse-qentemente no esto sob a proteo do direito das gentes. Mas d-se-lhes uma proteo mais especial que a outros estrangeiros ou cidados e tambm dedica-se-lhes certas deferncias em considerao ao prncipe a que eles servem. Se o prncipe envia um agente com carta credencial e para negcios pblicos, o agente assim constitudo ministro pblico, qualquer que seja o seu ttulo. Diga-se o mesmo quanto a deputados, comissrios e outros incumbidos de negcios pblicos.

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76: CREDENCWS: Entre os vrios nveis de carter representatistabelecidos pelo uso, o soberano pode escolher aquele de que o ministro deve revestir-se. O nvel do ministro declarado nas carne credenciais que lhe so dadas pelo seu soberano, para serem .egues ao soberano a quem ele enviado. As cartas credenciais so otrumento que autoriza e constitui o ministro em seu carter o prncipe a quem elas so endereadas. Se este prncipe recebe o tstro, ele no pode receb-lo seno na qualidadeconferida pelas cartas enciais. Eles so como a procurao geral do soberano representado, o .1 mandato aberto (mandatum manifestum) 77: DAS INSTRUES: As instrues dadas ao ministro contm o mandato secreto do soberano, as ordens s quais o ministro dever ter o cuidado de conformar-se, e que restringem os seus poderes. Poder-se-ia aplicar aqui todas as regras do direito natural em matria de procurao ou de mandato, tanto secreto como aberto. Mas alm do fato de que essas regras se referem mais particularmente matria dos tratados, podemos com mais razo nos dispensar de entrar aqui nestes pormenores, porque, segundo o uso sabiamente estabelecido, os compromissos em que um ministro pode se envolver no tm hoje nenhuma fora entre os soberanos, se no forem por estes ratificados. 78: Do DIREITO DE ENVIAR EMBAIXADORES: Vimos, no captulo precedente, que todo soberano, e mesmo todo rgo, toda pessoa, que tem o direito de tratar de negcios pblicos com poderes estrangeiros, tem igualmente o direito de enviar ministros pblicos. No h dificuldade no concernente a simples ministros, ou mandatrios, considerados em geral como encarregados de negcios e munidos de poderes daqueles que tm o direito de negociar. Admitem-se tambm sem dificuldades aos ministros de todos os soberanos os direitos e as prerrogativas dos ministros de segundo nveL Mas os grandes monarcas recusam a alguns Estados pequenos o direito de enviar embaixadores. Vejamos se o fazem com razo. De acordo com o uso geralmente estabelecido, um embaixador

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um ministro pblico que representa a pessoa e a dignidade do seu soberano e desde que esse carter representativo lhe confere honrarias especiais, grandes prncipes tm dificuldade em admitir embaixador de pequeno Estado, mostrando resistncia em conceder-lhe honrarias to elevadas. Mas est claro que todo soberano tem direito igual de ser representado, tanto em primeiro como em segundo e em terceiro nvel; e na sociedade de Naes, a dignidade soberana merece considerao elevada. Tivemos ocasio de mostrar H, capo IH) que a dignidade de Naes independentes essencialmente a mesma, que um prncipe fraco, mas soberano, to so?erano e independente quanto o maior monarca, como um ano no menos homem que um gigante, embora em verdade o gigante poltico tenha maior presena que o ano na sociedade em geral e atraia com isso mas respeito e as honrarias mais procuradas. pois evidente que todo prncipe, todo Estado verdadeiramente soberano, tem o direito de enviar embaixadores, e que contestar-lhe esse direito significa fazer-lhe uma grande injria, significa contestar-lhe a dignidade soberana. E se o prncipe tem esse direito, no se pode recusar a seus embaixadores as consideraes e honrarias que o uso tem particularmente prescrito quele que representa a pessoa do soberano. O rei da Frana no recebe embaixadores dos prncipes da Alemanha, assim recusando aos ministros deles as honras destinadas a representantes do primeiro nvel e, contudo, recebe os embaixadores dos prncipes da Itlia. Como justificativa a esta diferena de tratamento, ele alega que os ltimos so mais perfeitamente soberanos que os outros e no dependem igualmente da autoridade do imperador e do imprio, ainda que deles sejam feudatrios. Os imperadores, entretanto, aplicam sobre os prncipes da Itliaos mesmos direitos que eles podem ter sobre os prncipes da Alemanha. Mas a Frana, vendo que aquelesno esto integrados com a Alemanha e no comparecem s dietas, os separa tanto quanto pode do imprio, favorecendo-lhes a independncia absoluta. 79: DAS HONRARIAS DEVIDAS AOS No entrarei aqui em pormenores sobre as honrarias que so devidas e que so de fato

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rendidas aos embaixadores, pois trata-se de questes dependentes de costume e de instituio. Somente direi, em geral, que o uso e os costumes destinam esses atos de civilidade e distino para marcarem a considerao adequada ao representante de um soberano. E deve ser observado aqui, com respeito a cousas de instituio e de uso, que quando um costume est de tal modo estabelecido, que d real valor s co usas indiferentes por sua prpria natureza, e um significado constante segundo a prtica e os costumes, o direito das gentes natural e necessrio obriga-nos a levar em conta essa instituio e a agir, em considerao quelas cousas, como se elas tivessem o valor que os homens lhes atribuem. Por exemplo, nos costumes de toda a Europa, prerrogativa prpria de um embaixador permanecer com a cabea coberta na presena do prncipe a quem ele enviado. Esse direito significa ser ele reconhecido como representante de um soberano. Conseqentemente, recusar este direito ao embaixador de um Estado verdadeiramente independente fazer uma injria a esse mesmo Estado e, de algum modo, degrad-lo. Os suos, outrora mais instrudos na guerra que no formalismo das cortes, e pouco ciosos do cerimonial, tm admitido serem tratados em certas ocasies de modo pouco adequado dignidade da Nao. Em 1663, os seus embaixadores permitiram ao rei da Frana e aos nobres da Corte lhes negarem as honrarias que eram propriamente devidas aos embaixadores de soberanos e, mais particularmente, o direito de permanecerem com a cabea coberta durante a audincia com o rei'". Alguns dos embaixadores, mais bem instrudos sobre o que era devido glria de sua Repblica, insistiram fortemente nessa honraria essencial e distintiva; mas a opinio da maioria prevaleceu, e todos finalmente concordaram como sendo mais seguro que os embaixadores da Nao no permanecessem cobertos na presena de Henrique IV. Suposto que tal fato fosse verdadeiro, o argumento
Pode-se ver em WICQUEFORT pormenores do que se passou nessa ocasio. Tem razo este autor em testemunhar uma espcie de indignao contra os embaixadores suos. Mas ele no devia insultar toda a Nao, ao dizer brutalmente que ela prefere o dinheiro honra. De L'Ambassadeur, Liv.I, sc. XIX. Vide tambm sc. XVIII.
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comportava rplica. Os suos podiam ter respondido que, no tempo de Henrique, a Nao deles no tinha sido formalmente reconhecida como livre e independente do imprio, como ela veio a s-lo pelo tratados de Westphalia, em 1648. Eles podiam ter dito que se os seus predecessores tinham falhadoem manter devidamente a dignidadede seus soberanos, esta falta grosseira no poderia impor a sucessores a obrigao de incorrer em falta semelhante. Hoje, a Nao mais esclarecida e mais diligente para essa espcie de problemas, sabe melhor manter a sua dignidade. Todas as honrarias extraordinrias que alis se rendem aos seus embaixadores no podero ceg-la ao ponto de faz-la negligenciar o que o uso tomou essencial. Quando Lus XV veio para a Alscia em 1744, ela no quis enviar-lhe embaixadores para cumpriment-lo de acordo com o costume, sem antes saber se lhes seria permitido manterem-se cobertos. E se aquele justo requisito tivesse sido recusado nenhum embaixador teria sido enviado. Deve-se esperar na Sua que o rei no mais insistir numa pretenso bastante intil ao brilho da sua coroa, e que somente poderia servir para degradar seus antigos e fiis aliados.
CAPTULO

VII

Os direitos, privilgios e imunidades dos embaixadores e demais ministros pblicos

80: RESPEITO DEVIDO AOS MINISTROS PBLICOS: O respeito devido aos soberanos deve refletir-se em seus representantes, principalmente no embaixador, representante da pessoa do seu soberano no mais alto grau. Aquele que ofende e insulta um ministro pblico comete um crime que ser tanto mais merecedor de punio severa, quanto mais esse fato pudesse atrair conseqncias prejudiciais sobre o seu soberano e a sua ptria. justo que ele sofra a penalidade por seu delito, e que o Estado deva, s expensas do culpado, dar ampla satisfao ao soberano ofendido na pessoa do seu ministro. Se o prprio ministro estrangeiro ofender um cidado, este pode repeli-lo sem faltar com o respeito

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devido ao carter do ministro e dar-lhe uma lio igualmente adequada para lavar a ofensa e para que seu autor se envergonhe do que fez. O ofendido pode tambm levar a queixa ao seu soberano, o qual pedir uma justa satisfao ao soberano do ministro. Os grandes interesses do Estado no permitem ao cidado em tais ocasies seguir as idias de vingana que o cdigo de honra lhe poderia indicar alhures. Mesmo de acordo com as mximas do sculo, um cavalheiro no tem sua honra maculada por uma injria da qual no tem poder de obter satisfao pessoalmente. 81: A PESSOA DO MINISTRO PBLICO SAGRADA E INVIOLVEL: Uma vez estabelecidos o direito e a necessidade das embaixadas (Ver capo V deste Livro), segue-se conclusivamente que os embaixadores e outros ministros devem ser postos numa posio de perfeita segurana e inviolabilidade. Pois se a pessoa deles no estiver protegida de toda a violncia, o direito das embaixadas toma-se precrio e o xito delas muito incerto. O direito a um fim leva consigo o direito aos meios necessrios. Conseqentemente, desde que as embaixadas so de tal importncia na sociedade universal das Naes, e so to necessrias ao bem-estar comum, a pessoa dos ministros encarregados dessas e inviolvel (Ver II, 218). Quem comete embaixadas deve ser violncia contra um embaixador ou contra qualquer outro ministro pblico no faz somente injria ao soberano que esse ministro representa, mas ele fere a segurana comum e o bem-estar de todas as Naes; torna-se culpado de um crime atroz contra todos os povos. um dever particular do soberano, para quem o ministro enviado, garantir-lhe esta segurana. 82: PROTEO PARTICULAR DEVIDA A ELES: Admitir um ministro, reconhec-lo nessa qualidade, significa conceder-lhe a mais particular proteo e faz-lo gozar de toda a segurana possvel. verdade que o soberano deve proteger todo homem que esteja em seu Estado, sdito ou estrangeiro, e p-lo ao abrigo de toda violncia; mas este cuidado

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devido em grau mais alto para um ministro estrangeiro. Um ato de violncia contra um indivduo um delito comum que o prncipe pode perdoar de acordo com as circunstncias. Mas se for cometido contra um ministro pblico, torna-se um crime de Estado e um atentado contra o direito das gentes. O perdo no mais depende do prncipe em cujos domnios o crime foi cometido, mas do soberano que foi ofendido na pessoa do seu representante. No entanto, se o ministro foi insultado por pessoas que no conheciam a sua posio oficial, a ofensa no se aplica mais ao direito das gentes, mas recai sobre o domnio dos delitos comuns. Certos jovens desocupados numa cidade sua insultaram durante a noite a residncia do ministro da Inglaterra, sem saber quem morava l. O magistrado perguntou ao ministro que satisfao ele desejava. Este sabiamente replicou que competia ao magistrado providenciar a segurana pblica pelos meios apropriados mas que, quanto a ele, em particular, nada tinha a demandar porque no se considerava ofendido por pessoas que no poderiam t-lo em conta, uma vez que no conheciam a sua residncia. Existe ainda um ponto particular na proteo especial devida ao ministro estrangeiro. Entre os princpios funestos introduzidos por um falso senso de honra, um soberano pode estar na necessidade de usar de indulgncia em relao a um cavalheiro que se vinga prontamente de uma afronta que lhe faz um particular; mas as vias de fato no so permitidas ou excusveis contra um ministro pblico, exceto no caso em que este tenha sido o primeiro a usar de violncia, pondo algum na necessidade de defender-se. 83: Do TEMPO EM QUE A PROTEAo COMEA: Embora o carter de ministro no se desenvolva em toda sua amplitude, e no lhe assegure o gozo de todos os seus direitos seno no momento em que reconhecido e admitido pelo soberano a quem entrega as suas cartas credenciais, ele est sob a proteo do direito das gentes a partir do momento em que ingressou no pas para onde foi enviado e assim se fez conhecer; de outro modo a sua vinda no seria segura. At a sua chegada junto ao soberano, deve-se consider-lo como ministro sob palavra e, alis,

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em acrscimo informao sobre a identidade dele, atestada por cartas, se houver alguma razo para dvida, o passaporte fornecido ao ministro constitui prova suficiente do seu carter. 84:Do QUE DEVIDO AOS MINISTROS NOS PASES POR ONDE TRANSITAM: Esses passaportes tomam-se, s vezes, necessrios em pases estrangeiros por onde o ministro passa a caminho do pas de seu destino. Ele os exibe, quando necessrio, com o intuito de obter os privilgios que lhe so devidos. Em verdade, somente o prncipe a quem o ministro foi enviado est obrigado e particularmente comprometido a faz-lo usufruir de todos os direitos relacionados com a sua misso, mas os demais, em cujo territrio ele transita, no podem recusar-lhe o respeito que devido ao ministro de um soberano e ao qual as Naes reciprocamente se obrigam. Elas devem dar a ele a maior proteo. Insult-lo seria ofender o soberano dele e toda a sua Nao; det-lo e cometer violncia seria violao ao direito de embaixada que pertence a todos os soberanos ( 77 e 63). Francisco I, rei da Frana, tinha, pois, boas razes para queixar-se do assassnio de seus embaixadores, Rinon e Frgose, como sendo grave violao da f pblica e do direito das gentes. Esses dois ministros destinados, um para Constantinopla, o outro para Veneza, tendo embarcado no P, foram detidos e assassinados, de acordo com todas as aparncias, por ordens de Dugast, governador de Milo. O imperador Carlos V, em no tomando providncia para investigar os autores do homicdio, deu margem crena de que o teria comandado, ou pelo menos que o teria secretamente aprovado mais tarde. E como ele no deu satisfao conveniente, Francisco I tinha justo motivo de declarar-lhe guerra, e mesmo de pedir a assistncia de todas as Naes. Pois uma questo desta natureza no uma simples disputa particular, uma questo litigiosa na qual cada parte invoca estar com direito prprio; uma controvrsia em que todas as Naes esto envolvidas, interessadas em manter como sagrados os direitos e os meios que elas tm de se comunicarem entre si e de cuidarem de seus interesses. Se a um mero cidado privado deve ser permitida a passagem inocente pelo pas, e

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deve, inclusive, ser-lhe dada completa proteo, com muito maior razo o mesmo tratamento deve ser dispensado ao ministro que vai executar as ordens do seu soberano e que viaja a servio de uma Nao. Insisto: passagem inocente; pois se a viagem do ministro justificadamente considerada suspeita, se o soberano do pas tem razo para temer que o ministro venha a abusar da permisso de entrar em suas terras, para nelas tramar algo contra o seu interesse, ou que v transmitir informaes a seus inimigos, ou mesmo suscitar-lhe novos inimigos, j dissemos acima (64) que ele pode recusar-lhe o trnsito. Mas ele no deve maltrat-lo, nem permitir qualquer violncia contra a sua pessoa. Se no tem razes suficientemente fortes para recusar-lhe a passagem, ele pode tomar precaues contra qualquer abuso que o ministro possa cometer. Os espanhis encontraram esses princpios estabelecidos no Mxico e nas provncias vizinhas; embaixadores ali eram respeitados em todo o seu trnsito, mas eles no podiam desviar-se dos caminhos principais sem perder os seus direitos. Precauo sabiamente estabelecida, e assim regulamentada para impedir o envio de espies sob a denominao de embaixadores. Foi assim que, enquanto o famoso Congresso de Westphalia cuidava da paz entre os perigos e rudos da guerra, os correios que os plenipotencirios recebiam e despachavam, tinham o seu roteiro demarcado, fora do qual os passaportes respectivos no poderiam lhes dar nenhuma proteo. 85: EMBAIXADORES EM TRNSITO POR PAS INIMIGO: O que acabamos de dizer refere-se s Naes que esto em paz umas com as outras. Quando um soberano est em guerra, ele no est mais obrigado a permitir ao Estado hostil o livre gozo dos seus direitos; ao contrrio, ao privar o Estado inimigo desses direitos com o intuito de enfraquec-lo e for-lo a aceitar condies eqitativas, ele est justificado. Ele pode tambm atacar e prender os cidados desse Estado onde estiverem em liberdade para cometer atos de hostilidade. Em conseqncia, ele no somente pode recusar passagem aos ministros que um Estado inimigo envia a outros soberanos, mas pode tambm det-los se

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tentarem passar secretamente e sem permisso nos territrios de que soberano. Exemplo significativo ocorreu na ltima guerra. Um embaixador francs, indo a Berlim, passou, por imprudncia de seus guias, por uma vila do eleitorado de Hannover, cujo soberano, o rei da Inglaterra, estava em guerra com a Frana. Ele foi nela detido e depois transferido para a Inglaterra. Nem a corte da Frana, nem a da Prssia, queixaram-se contra a Sua Majestade Britnica, a qual no tinha seno feito uso dos direitos da guerra. 86:EMBAIXADAS ENTRE INIMIGOS: As razes que tornam as embaixadas necessrias e as pessoas dos embaixadores sagradas e inviolveis no tm menos fora em tempo de guerra que em tempo de paz; ao contrrio, o dever necessrio e indispensvel que os beligerantes tm de preservar alguns meios pelos quais eles possam vir a um entendimento e reestabelecer relaes pacficas, constitui razo adicional pela qual as pessoas dos ministros, instrumentos de negociao e de reconciliao, se tornam mais esse debet, quod non modo sagradas e inviolveis: Nomen legati sociorum jura, sed etiam inter hostium tela incolume tersetur, disse Ccero. (10) Tambm uma das mais sagradas leis da guerra que a adequada proteo deve ser dada queles que levam mensagens ou propostas do inimigo. verdade que o embaixador de um inirrgo no pode vir sem permisso; e como ele no teria sempre a oportunidade de requisitar tal permisso por meio de pessoas neutras, passou-se a admitir o estabelecimento de certos mensageiros privilegiados que pudessem levar propostas de um beligerante para outro em perfeita segurana. Eu me refiro a arautos, a tocadores de trombetas e de tambores, os quais, pelas leis de guerra e do e inviolveis, desde que se faam conhecer direito das gentes, so e se lirrtem aos termos de suas comisses e s funes de seu encargo. Isto deve, necessariamente, ser observado pois, sem contar o que acabamos de dizer, o de que os beligerantes devem preservar meios pelos quais a paz possa ser restaurada, existem, durante o prprio curso da guerra,
(10)

In Verrem, Lib. I.

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inmeras ocasies em que o bem-estar mtuo e a segurana de ambas as partes requerem que elas possam ser capazes de enviar mutuamente mensagens e propostas.

87:

Dos ARAUTOS, TOCADORES DE TROMBETAS E DE TAMBORES: OS

feaais dos romanos foram sucedidos pelos arautos, os quais hoje no

mais esto em uso; enviam-se tocadores de tambores ou de trombetas e, em seguida, conforme as ocasies, ministros ou oficiais investidos de poderes. As pessoas daqueles tocadores de tambores e trombetas so sagradas e inviolveis, mas elas devem identificar-se por insgnias adequadas. Maurcio, prncipe de Orange, testemunhou vivo ressentimento contra a guarnio de Yssendjck que havia atirado contra o seu tocador de trombeta.I'!' Ele declarou naquela ocasio que nenhuma punio poderia ser demasiado severa para aqueles que violam o direito das gentes. Outros exemplos podem ser encontrados no tratado de Wicquefort, e em particular o caso da reparao que o duque de Sabia, comandante do exrcito de Carlos V, ordenou se fizesse a um tocador de trombeta francs que tinha sofrido violncia de alguns soldados alernes.v"

88: Os REPRESENTANTES
CML: Nas guerras da Holanda,

DEVEM SER RESPEITADOS MESMO EM GUERRA

o duque de Alba determinou o enforcamento de um tocador de trombeta do prncipe de Orange, dizendo que ele no estava obrigado a proteger um representante do chefe dos rebeldes. (13) Esse general sanginrio indubitavelmente violou nesta ocasio, como em muitas outras, as leis da guerra que, como temos mostrado acima (Livro IH, capo XVIII), devem ser observadas mesmo em guerras civis. Na verdade, como se poder negociar a paz nessas ocasies infelizes, por que meios obter-se- um acordo satisfatrio, se os dois beligerantes no podem enviarmensagens e mutuamente despachar agentesconfidenciais
(11)

(12) (13)

WICQUEFORT, Liv. I, sc. Id. Ibid. Id. Ibid.

m.

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em perfeita segurana? O mesmo duque de Alba, na guerra que a Espanha fez a seguir contra os portugueses, por ele tambm tratados de rebeldes, determinou se enforcasse o governador de Cascais, porque este mandou atirar num tocador de trombetas que viera a demandar a rendio da praa. Numa guerra civil, ou quando um prncipe pega em armas para submeter um povo que se julga dispensado de obedec-lo, pretender forar os inimigos a observar as leis da guerra, enquanto se julga liberado de respeitar essas leis, desejar levar essa guerra ao ltimo extremo da crueldade e faz-la degenerar em massacres sem leis e sem medida, por uma srie contnua de mtuas represlias.

89: PODE-SE ALGUMAS RECUSARA ADMISSO DE REPRESENTANTE5: Mas assim como um prncipe pode, se tiver bons motivos, dispensar-se de admitir e de escutar embaixadores, assim o general de um exrcito, ou qualquer outro comandante, nem sempre obrigado a permitir a aproximao de 'qualquer representante. Por exemplo, se o governador de uma praa temer que uma intimao atemorizar a sua guarnio e suscitar idias antecipadas de capitulao, ele pode indubitavelmente enviar algum previamente ao emissrio que se aproxima para ordenar-lhe a retirada e adverti-lo de que, se retomar pelo mesmo motivo e sem permisso, ser alvo de tiros. Tal conduta no uma violao das leis da guerra; mas ela no poderia ocorrer seno por motivos prementes, porque, em irritando o inimigo, corre-se o risco de ser tratado com extremo rigor e sem nenhum favor. Recusar-se a ouvir um emissrio sem dar boa razo para a recusa significadeclarar que se quer fazer a guerra ao extremo. 90: PRECISO EVITAR A ESSE RESPEITO TUDO O QUE PAREA INSULTO: Seja no caso de se admitir um arauto, seja no caso em que se recuse a ouvi-lo, deve-se evitar nesse particular tudo o que parea insulto. No somente esse respeito devido ao direito das gentes mas tambm uma regra de prudncia. Em 1744, o magistrado de Givry enviou um emissrio com um oficial para intimar a rendio da fortaleza de PierreLonge, no Piemonte. O oficial da Sabia que comandava o reduto,

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homem corajoso, mas rude e incontido, indignado por ser intimado para render um posto que ele acreditava defensvel, deu uma resposta injuriosa ao general francs. O oficial,homem de discernimento, entregou a resposta para o magistrado de Givry na presena das tropas francesas; estas, inflamadas de clera e com o ardor de vingar uma afronta que se unia bravura natural dessas tropas, atacaram de forma decidida. As perdas que sofreram no ataque sangrento somente contriburam para incentiv-las. Enfim, dominaram a fortificao e o imprudente comandante contribuiu desse modo para a sua prpria perda assim como para a de seu pessoal e de seu posto. 91: POR QUEM E A QUEM OS EMISSRIOS PODEM SER ENVIADOS: O prncipe, o general do exrcito e cada comandante-chefe em seu departamento, so os nicos a terem o direito de enviar emissrios e no podem envi-los seno ao comandante-chefe. Se o general que assedia uma cidade cuidasse de envi-los para algum subalterno, ao magistrado ou burguesia, o governador da cidade poderia considerar com justia esse representante como espio. Francisco I, rei da Frana, quando em guerra com Carlos V, enviou um emissrio dieta do imprio, reunida em Spire, em 1544. O imperador o deteve e ameaou enforclo, porque ele no tinha sido o destinatrio do mesmo. Mas ele no ousou executar a sua ameaa, sem dvida porque ele sabia bem, malgrado as suas queixas, que a dieta tinha o direito, mesmo sem o consentimento dele, de ouvir o emissrio. Por outro lado, desdenha-se receber emissrio de oficial subalterno, a menos que seja para algum assunto particular e dependente da autoridade prpria desse oficial. No assdio de Rhinberg, em 1598, o ajudante-de-campo de um regimento espanhol foi instado a exigir a rendio da cidade; o governador determinou ao emissrio que se retirasse, e que se outro emissrio, representante de oficial subalterno, fosse to ousado para retornar, ele o mandaria enforcar. (14)
(14)

Id. Ibid.

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92: INDEPENDNCIA DOS MINISTROS ESTRANGEIROS: A inviolabilidade do ministro pblico, ou a segurana que lhe devida, mais rigorosa e particular que a de outro estrangeiro ou cidado, no apenas o seu nico privilgio. Pelo prtica universal das Naes, lhe tambm atribuda independncia integral da jurisdio e da autoridade do Estado em que reside. Alguns autores'P' entendem que essa independncia resulta de instituio desejada pelas Naes e se relaciona com o direito das gentes arbitrrio, o qual provm dos usos, do costume de convenes particulares; eles negam que essa independncia seja de direito das gentes natural. verdade que a lei natural d aos homens o direito de reprimir e punir aqueles que os injuriam e, conseqentemente, autoriza o soberano a punir um estrangeiro que perturba a ordem pblica, que o ofende pessoalmente, ou que maltrata seus sditos. A lei natural autoriza o soberano a compelir esse estrangeiro a se conformar com as leis e cumprir fielmente o que devido aos cidados. Mas no menos verdade que a mesma lei natural impe a todos os soberanos a obrigao de consentir nas cousas sem as quais as Naes no poderiam cultivar a sociedade que a natureza estabeleceu entre elas, no poderiam relacionar-se mutuamente, zelar por seus negcios e ajustar as suas controvrsias. Ora, os embaixadores e outros ministros pblicos so instrumentos necessrios manuteno dessa sociedade geral, dessa correspondncia mtua das Naes. Mas o ministrio deles no pode atingir o objetivo ao qual destinado, se no for munido de todas as prerrogativas capazes de assegurar-lhe o xito legtimo, de permitir-lhe o exercicio com toda a segurana, livre e fielmente. O mesmo direito das gentes que obriga as Naes a admitirem ministros estrangeiros tambm claramente as obriga a receberem esses ministros com todos os direitosque lhes so necessriose todos os privilgios que lhes assegurem o cumprimento das suas funes. fcilcompreender que a independncia deve ser um desses privilgios. Sem ela, a segurana, to necessria a um ministro pblico, seria precria: poder-se- inquiet-lo,
(15)

Vide WOLFF,Jus Gent, 1059.

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persegui-lo, maltrat-lo sob mil pretextos. Freqentemente o ministro encarregado de comisses desagradveis ao soberano para quem foi enviado. Se este prncipe tem algum poder sobre ele, e particularmente uma autoridade soberana, como esperar que o ministro cumpra as ordens do seu soberano com a fidelidade, a firmeza, a liberdade de esprito necessrias? importante que ele no tenha armadilhas a temer, que no seja desviado de suas funes por alguma manobra maliciosa; importante que ele nada tenha a esperar, nem nada a temer do soberano a quem foi enviado. Conseqentemente, com o intuito de obter o xito de seu ministrio, necessrio que ele seja independente da autoridade soberana da jurisdio do pas, tanto civil como criminal. Acrescentemos que os nobres da corte, as pessoas de alta distino, no se incumbiriam seno com repugnncia de uma embaixada, se essa comisso devesse submet-los a uma autoridade estrangeira, freqentemente em Naes pouco amigas da sua, onde tero de manter pretenses desagradveis, entrar em discusses em que o constrangimento emerge facilmente. Enfim, se um embaixador pode ser acusado de delitos comuns, processado criminalmente, detido, punido; se ele pode ser citado na justia, em matria civil, freqentemente ocorrer que no lhe restar nem o poder, nem o desprendimento, nem a liberdade de esprito que os negcios do seu soberano exigem. E como manter-se- a dignidade da representao em face desse constrangimento? Por todas essas razes, impossvel conceber que a inteno do prncipe que envia um embaixador, ou qualquer outro ministro, seja de submet-lo autoridade de um poder estrangeiro. Eis aqui uma razo adicional que justifica a independncia do ministro pblico. Se no se pode presumir razoavelmente que o soberano do ministro queira submet-lo autoridade do soberano a quem ele enviado, este ltimo, ao receber o ministro, consente em admiti-lo na condio de independncia e, dessa forma surge, entre os dois prncipes, urna conveno tcita, que d uma nova fora obrigao natural. A prtica est inteiramente de acordo com os nossos princpios. Todos os soberanos pleiteiam independncia completa para os seus embaixadores e ministros. Se verdade que um certo rei espanhol,

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se serve. Aquele que trai tal segredo, pode, sob certas circunstncias, no ser condenvel: a grande e legtima vantagem decorrente da ao que foi induzido a fazer, a necessidade de a ela recorrer, podem dispensarnos de considerar muito escrupulosamente o que questionvel nesse ato. Alcanar esse objetivo ato de simples e justa defesa. Todos os dias, nos achamos obrigados, com o intuito de abortar os desgnios de malfeitores, a estimular as tendncias viciosas de seus semelhantes. Foi nesse pressuposto que Henrique IV dizia ao embaixador espanhol ser "permitido ao embaixador empregar a corrupo para descobrir as intrigas que se fazem contra o seu soberano"? acrescentando que os incidentes de Marselha, de Metz, e muitos outros, demonstravam a necessidade de penetrar os propsitos que estavam sendo formados em Bruxelas contra a paz de seu reino. Esse grande prncipe, sem dvida, no julgava que a seduo fosse sempre uma prtica excusvel em ministro estrangeiro, pois que ele ordenou a priso de Bruneau, secretrio do embaixador da Espanha, que tinha subornado Mairargues com o propsito de entregar Marselha aos espanhis. Aproveitar-se simplesmente dos oferecimentos de um traidor, que no se seduziu, menos contrrio justia e honestidade. Mas os exemplos dos romanos acima citados (Livro IH, 155 e 181), em que se tratava porm de inimigos declarados, provam que a grandeza de alma rejeita inclusive esse expediente para no encorajar a traio infame. Um prncipe, um ministro, cujos sentimentos no so inferiores aos dos antigos romanos, no se permitir aceitar os oferecimentos de um traidor a no ser quando uma cruel necessidade o exija, e ele lamentar dever a sua segurana a recurso to indigno. Mas no pretendo condenar aqui as atenes, nem mesmo os presentes e as promessas de que um embaixador se utiliza com o intuito de ganhar amigos para o seu soberano. Conciliar a afeio dos homens no o mesmo que seduzi-los e incit-los ao crime; compete aos novos amigos se orientarem para que a afeio deles a
(18)

Vide asMmoiresdeSUILY, e os historiadores da Frana.

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um prncipe estrangeiro nunca os desvie da fidelidade que devem a seu soberano.

94: COMO REPRIrvfiR OS MINISTROS ESTRANGEIROS. 1: EM RELAAO A

Se um embaixador esquece os deveres da sua posio, se ele se torna inconveniente e perigoso, se ele participa de maquinaes ou esquemas danosos paz dos cidados, ou ao Estado ou prncipe para quem enviado, existem diversos meios de reprimi-lo, proporcionais natureza e extenso de sua culpa. Se ele injuria os sditos do Estado, se lhes comete injustias, se ele usa contra eles de violncia, os sditos ofendidos no devem recorrer aos magistrados ordinrios, da jurisdio de que o embaixador independente, e pela mesma razo esses magistrados no podem agir contra ele diretamente. Em tais ocasies, as pessoas injuriadas devem enderear-se ao soberano, o qual ir demandar justia ao superior do embaixador e, em caso de recusa, ordenar ao ministro insolente deixar os seus domnios.
DELITOS COMUNS:

95: 2: POR FALTAS COMETIDAS CONTRA O PRNCIPE: Se o ministro estrangeiro ofende o prprio prncipe, se lhe falta com o respeito, se ele perturba o Estado e a corte com suas intrigas, o prncipe ofendido, se deseja manter em bons termos as relaes com o soberano do ministro, s vezes se limita a pedir o retorno do ministro. Se a ofensa mais sria, ele pode proibir o ministro de aparecer na corte, enquanto espera a reposta do soberano do ministro. Em casos mais graves, ele pode mesmo determinar-lhe a expulso. 96: DIREIT<) DE EXPUlSAR UM EMBAIXADORCULPAIX) E JUSTIHCADAMENrr-: SUSPEITO: Indubitavelmente, todo soberano tem o direito de tomar tais medidas, pois ele senhor de seus prprios domnios; nenhum estrangeiro pode permanecer na sua corte ou nos seus Estados sem o seu consentimento. E se os soberanos so em geral obrigados a ouvir as propostas de poderes estrangeiros e a receber o ministro deles, esta obrigao cessa inteiramente em relao a um ministro que, ao faltar

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aos deveres impostos por sua misso, torna-se perigoso ou justificadamente suspeito quele ao qual foi enviado como um ministro de paz. Seria um prncipe obrigado a admitir, em suas terras ou em sua corte, um inimigo secreto, que perturba a paz do Estado e busca destru-lo? Foi uma extravagante resposta, a de Felipe II rainha Elizabeth, que lhe pedia o retomo de seu embaixador, porque este tramava contra ela maquinaes perigosas. O rei da Espanha recusou-se a cham-lo de volta, dizendo que "a condio dos prncipes seria muito infeliz, se fossem obrigados a chamar de volta o seu ministro quando a conduta deste no estava de acordo com a honra ou o interesse daqueles com quem ele negocia."(19) Essa condio seria muito mais infeliz se os prncipes fossem obrigados a suportar em seus Estados e, na corte, um ministro inconveniente, ou justificadamente suspeito, um ardiloso, um inimigo disfarado sob a mscara de embaixador, que se prevalecia de sua inviolabilidade para tramar com ousadia empreendimentos perniciosos. A rainha, justificadamente ofendida com a recusa de Felipe, destinou guardas ao embaixador.F?'

97: DIREITO DE REPRIMIR o EMBAIXADOR fORA, SE AGIR COMO INIl\llGO: Mas deve o soberano sempre limitar-se a expulsar um embaixador, qualquer que seja o deslizeem que este incorra? Alguns autores respondem afirmativamente, baseados na independncia perfeita do ministro pblico. Concordo em que ele independente da jurisdio do pas e tenho jdito que, por esta razo, o magistrado ordinrio no pode proceder contra ele. Concordo tambm que, para todos os casos de delitos comuns, de escndalos e distrbios que so injuriosos para os cidados e para a sociedade, sem pr em perigo a segurana do Estado ou do soberano, deve-se, em razo de uma correspondncia entre Naes e da dignidade do prncipe representado, apresentar queixa a ele sobre a conduta de seu ministro e pedir-lhe a reparao adequada; e se nada se puder obter,
(19)
(20)

WlCKEFORT, ubi supra, Liv I, sec. XXIX.

Idem, ibid.

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limitar-se a expulsar esse ministro, no caso em que o exija a gravidade dessas faltas. Mas poder um embaixador tramar com impunidade contra o Estado onde reside, maquinar-lhe a perda, incitar sditos revolta, urdir sem medo as conspiraes mais perigosas, quando ele estiver seguro no da concordncia de seu superior? Se ele se comporta como seria permitido trat-lo como tal? A resposta est clara, no caso de um embaixador que chega s vias de fato, que recorre s armas, que comete atos de violncia. Aqueles a quem ele ataca podem reprimi-lo, a legtima defesa justificada pelo direito natural. Aqueles embaixadores romanos, enviados aos gauleses, e que combateram contra eles com os povos de Clusium, haviam se desvestido de seu prprio carter.F" Quem poderia pensar que os gauleses deviam poup-los na batalha? 98: Do EMBAIXADOR QUE URDE CONSPIRAES E TRAMAS PERIGOSAS: Questo mais difcil subsiste em relao a um embaixador que, sem cometer de fato atos de violncia, urde tramas perigosas, incita por intrigas sditos revolta, arma e encoraja conspiraes contra o soberano ou contra o Estado. No se poder punir e reprimir exemplarmente um traidor que abusa de seu carter e que o primeiro a violar o direito das gentes? Essa lei sagrada no tutela menos a segurana do prncipe que recebe um embaixador do que a do prprio embaixador. Mas, por outro lado, se damos ao prncipe ofendido o direito de punir o ministro estrangeiro em tal caso, da resultaro freqentes motivos de disputa e de ruptura entre as potncias e ser motivo de receio que o carter de embaixador seja privado da segurana que lhe necessria. H certas prticas, no entanto, nem sempre estritamente honestas, que so toleradas em ministros estrangeiros; h outras que no se pode reprimir por penalidades mas apenas mediante determinao ao ministro para retirar-se. Como deve ser a linha de distino a ser determinada entre os vrios graus de ofensa? Acusar-se-o com odiosos coloridos as intrigas de um ministro
(21) TIT. LIV, Lib V, capo 26. - O historiador decide, sem hesitar, que esses embaixadores violaram o direito das gentes: legati contrajus gentium arma capiunt.

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a quem se queira perturbar: caluniar-se-o as suas intenes e procedimentos com uma interpretao sinistra e ser-lhe-o mesmo suscitadas falsas imputaes. Enfim, desde que os procedimentos dessa natureza so ordinariamente estabelecidos em segredo e com precaues, a prova completa deles difcil e no se obtm seno com formalidades da justia. Ora, no se pode submeter a essas formalidades um ministro independente da jurisdio do pas. Ao estabelecer os fundamentos do direito das gentes voluntrio 21), vimos que as Naes devem s vezes, no interesse do bem geral, privar-se necessariamente de certos direitos que, tomados em si mesmos e abstrao feita de toda outra considerao, naturalmente lhes pertencem. Assim, o soberano, cuja causa justa, o nico a ter verdadeiramente todos os direitos da guerra (livro IH, 188) e, no entanto, ele obrigado a considerar o seu inimigo como tendo direitos iguais aos seus, e a trat-lo de acordo (Ibid., 190 e 191). Os mesmos princpios nos serviro aqui de guia. Dizemos, pois, que, por causa da grande utilidade, da prpria necessidade das embaixadas, os soberanos so obrigados a respeitar a inviolabilidade do embaixador, enquanto ela no for incompatvel com a prpria segurana deles e o bem-estar do respectivo Estado. Conseqentemente, quando as manobras do embaixador so reveladas, as suas tramas descobertas, quando o perigo passou, de modo que para dele se presumir,no maisnecessriodeter esseembaixador, preciso, em considerao a esse carter, renunciar ao direito geral de punir um traidor, um inimigo secreto, que trama contra a segurana do Estado, e limitar-se a expulsar o ministro culpado, e a pedir a sua punio ao soberano de quem ele depende. Eis com efeito, a prtica aceita pela maioria das Naes, e sobretudo as da Europa. Wicquefort(22) revelou muitos casos em que os principais soberanos da Europa se limitaram a expulsar embaixadores culpados de procedimentos odiosos e, s vezes, mesmo sem pedir a punio deles ao respectivo soberano dos quais no esperavam obt-la. Acrescentemos
(22)

Ambassad., Liv. I, sec. XXVII, XXIX e XXXIII.

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a esses exemplos o do duque de Orlans, regente da Frana: esse prncipe usou de considerao para com o prncipe de Cellamare, embaixador da Espanha, que contra ele tinha tramado uma conspirao perigosa. limitou-se o regente a dar-lhe guardas, apreender seus papis, e a conduzi-lo fora do reino. A histria romana nos fornece um exemplo muito antigo na pessoa dos embaixadores de Tarqnio. Vindos Roma sob o pretexto de reclamar os bens privados pertencentes ao soberano deles, que tinha sido expulso, eles nela subornaram certos jovens corruptos e os induziram a uma horrvel traio contra a ptria. Embora a conduta desses embaixadores parecesse autoriz-los a serem tratados como inimigos, os cnsules e o senado respeitaram na pessoa deles o direito das Os embaixadores foram mandados de volta sem terem sido punidos; mas parece, segundo o relato de Tito Lvio, que lhes foram subtradas as cartas dos conspiradores, de que foram encarregados por Tarqnio.

99:

Do QUE PERMITIDO CONTRA o EMBAIXADOR SEGUNDO AS

EXIGf:NCIAS DO CASO: Este exemplo nos conduz verdadeira regra do direito das gentes no caso em questo. Um embaixador no pode ser punido, porque ele independente e, pelas razes acima apontadas, no convm trat-lo como inimigo, enquanto ele prprio no recorrer violncia e s vias de fato; mas pode-se exigir, em relao a ele, todo o cuidado necessrio para evitar o mal que arquitetou e para fazer abortar-lhe as maquinaes. Se com o intuito de paralisar e evitar uma conspirao fosse necessrio deter e mesmo levar morte um embaixador que a anima e a dirige, no vejo nenhuma razo para que haja hesitao a respeito, no somente porque a segurana do Estado a lei suprema, mas tambm porque, indepen-dentemente desse princpio, a prpria conduta do embaixador nos d um direito perfeito e especfico. O ministro pblico independente, verdade, e a sua pessoa sagrada; mas permitido sem dvida, repelir seus ataques secretos e abertos,

EI quanquam oisi sunt (Iegati) commisisse ut bostiton loco essent, jus tamen TIT. LIY., Lib. II, capo 4.

ualuit.

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defender-nos contra ele quando age como inimigo e traidor. E se no podemos nos salvar sem que lhe ocorra danos, ele quem nos pe na necessidade de no poup-lo. Neste caso, pode ser dito com razo que o ministro privou a si mesmo da proteo do direito das gentes. Suponha-se que o senado de Veneza, ao descobrir a conspirao do marqus de Bedmar e convencido de que o embaixador era a alma e o mentor da conspirao, no tivesse tido informaes suficientes para sufocar essa conspirao infame, que ele tivesse ficado incerto sobre o lugar em que ela devia ocorrer, que ele estivesse em dvida se a inteno era de provocar a revolta na fora naval ou nas tropas de terra, de surpreender uma praa importante, estaria esse senado obrigado a deixar partir o embaixador em liberdade e com isso dar-lhe meios de pr-se testa de seus cmplices e de fazer com que seus planos fossem bem sucedidos? Ningum o afirmar seriamente. O senado teria ento o direito de fazer deter o marqus e toda a sua corte, e mesmo de lhes arrancar o seu propsito funesto. Mas esses republicanos prudentes, vendo que o perigo tinha passado e a conspirao inteiramente sufocada, desejaram conciliar-se com a Espanha; e, evitando acusar os espanhis de terem participado da conspirao, limitaram-se a permitir ao embaixador que se retirasse para proteg-lo da hostilidade do povo.
100: Do QUE ATENTA CONTRA A VIDA DO PRNCIPE: Deve-se seguir aqui a mesma regra estabelecida acima (Livro Ill, 136), ao tratar do que permitido contra um inimigo. Desde que um embaixador age como inimigo, pode-se permitir contra ele tudo o que for necessrio para abortar os seus maus desgnios e para garantir a nossa prpria segurana. ainda com base nesse mesmo princpio, e nessa idia, segundo a qual o embaixador se apresenta como inimigo pblico quando ele assim age, comete aes graves que decidiremos o seu destino, no caso em que ele conduza os seus atentados ao mais alto grau de atrocidade. Se o embaixador comete esses crimes atrozes que so um ataque segurana do gnero humano, se ele pretender assassinar ou envenenar o prncipe

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que o recebeu em sua corte, ele merece sem dificuldade ser punido como inimigo traidor, envenenador, ou assassino (Vide Livro IH, 155). O seu carter representativo, que ele vergonhosamente manchou, no pode subtrai-lo da punio. Protegeria o direito das gentes um criminoso cuja condenao demandada pela segurana de todos os prncipes e pelo bem-estar do gnero humano? Pouco se espera, verdade, que um ministro pblico pratique excessos to terrveis. So geralmente homens honrados que so indicados para essas posies, e quando entre eles houver algum inescrupuloso, as dificuldades e a extenso do perigo seriam suficientes para det-lo. No entanto, tais atentados tm existido na histria. J. de Barbeyrac'" relata, sob a autoridade do historiador Cedrenus, o caso do assassinato do senhor de Sirmium por um embaixador que lhe enviou Constantino Digenes, governador da provncia vizinha, sob o imprio de Baslio H, de Constantinopla. Eis um fato que tambm se relaciona com o assunto. Tendo em 1382, Carlos IH, rei de Npoles, enviado ao seu concorrente Lus, duque de Anjou, um cavalheiro chamado Mathieu Sauvage, na qualidade de arauto para desafi-lo a um combate singular, foi esse arauto suspeito de levar uma meia-lana, cuja ponta de ferro era banhada de veneno to mortal que quem a olhasse fixamente, ou tivesse as suas vestes por ela tocadas, cairia morto instantaneamente. O duque de Anjou, advertido, recusou-se a receber o arauto e mandou det-lo; questionado, e aps confisso, teve ele a cabea decepada. Carlos queixou-se do suplcio do seu arauto como uma violao das leis e dos costumes de guerra. Lus asseverou em resposta no as ter violado em relao ao cavalheiro Sauvage, condenado por sua prpria declarao'", Se o crime imputado ao cavalheiro fosse claramente provado, o arauto seria um assassino que nenhuma lei poderia proteger; mas a prpria natureza da acusao mostra suficientemente ter sido ela falsa.
Em suas notas sobre o tratado do Juge comptent des ambassadeurs, por BYNKERSHOEK, capo 24, V,nota 2.
(25)

Histoire des

des Deux-Sici/es, por d'EGLY.

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101: DOIS EXEMPLOS NOTVEIS SOBRE AQUESTO DAS IMUNIDADES DOS MINISTROS PBLICOS: A questo que acabamos de versar foi debatida na Inglaterra e na Frana em duas ocasies famosas. Ela o foi na ocasio em que Jean Lesley, bispo de Rosse, foi embaixador de Maria, rainha da Esccia. Esse ministro no cessava de tramar contra a rainha Elisabeth e contra a paz do Estado; ele urdia conspiraes e incentivava os sditos revolta. Cinco dos advogados mais capazes, consultados pelo conselho privado, decidiram "que o embaixador que fomenta uma rebelio contra o prncipe em cuja corte ele reside, perde os privilgios de sua posio e se sujeita s penas da lei". Eles deviam ter de preferncia dito que ele pode ser tratado como um inimigo. Mas o conselho limitou-se a ordenar a deteno do bispo e depois de t-lo mantido prisioneiro por dois anos, soltou-o quando no havia mais nada a temer de suas intrigas e o expulsou do reino. Este exemplo pode servir para confirmar os princpios acima estabelecidos. Diga-se o mesmo do seguinte caso: Bruneau, secretrio do embaixador espanhol na Frana, foi surpreendido, ao tratar com Mairargues, em plena paz, da entrega de Marselha aos espanhis. Ele foi preso e o parlamento que processou Mairargues interrogou Bruneau juridicamente. O parlamento, no entanto, no o condenou, mas o remeteu ao rei, o qual, por sua vez, o reenviou ao seu superior com a condio de que fosse mandado imediatamente para fora do pas. O embaixador queixou-se vivamente da deteno do seu secretrio, mas Henrique IV lhe respondeu muito judiciosamente que "o direito das gentes no probe que se possa deter um ministro pblico, se feito com o intuito de priv-lo dos meios de causar males." O rei podia acrescentar que uma Nao tem tambm o direito de tomar medidas contra um ministro, quando necessrio, para proteger-se do mal que ele desejasse fazer-lhe, para destruir os seus propsitos e prevenir-lhes as conseqncias. Foi o que autorizou o parlamento a submeter Bruneau a um interrogatrio com o intuito de descobrir aqueles que estavam implicados em to perigosa conspirao. A questo de saber se os ministros estrangeiros que violam o direito das gentes perdem os seus privilgios foi muito

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debatida em Paris; mas o rei no esperou a deciso a respeito para enviar Bruneau ao seu superior.

102: SESE PODE USAR DE REPRESLIAS CONTRA UM EMBAIXADOR: No permitido maltratar um embaixador por meio de represlias, pois o prncipe que usa de violncia contra um ministro pblico comete um crime, e no se deve reagir mediante imitao dessa violncia. No se pode nunca, sob pretexto de represlias, cometer atos ilcitos em si mesmos, e tal seria indubitavelmente o ato de maltratar um ministro inocente por causa das faltas do seu soberano. Se essa regra deve ser observada em geral em matria de represlias, ela se torna mais imperiosa em particular no tocante ao carter do embaixador. Tendo os cartagneses violado o direito das gentes acerca dos embaixadores de Roma, certos embaixadores daquele povo prfido foram trazidos perante Cipio, e a ele se perguntou o que desejava fosse feito com os mesmos: "Nada", disse ele, "nada de semelhante ao que os cartagineses fizeram com os nossos embaixadores" e determinou fossem eles soltos com seguranav". Mas ao mesmo tempo, ele se preparou para punir, com armas, o Estado que tinha violado o direito das gentes(27). Eis o verdadeiro modelo da conduta de um soberano em tal ocasio. Se a injria para a qual se deseja usar de represlias no diz respeito a ministro pblico, ainda bem mais certo que no se pode exerc-las contra o embaixador da potncia de quem se queixa. A segurana dos ministros pblicos seria muito precria se ela fosse dependente de todas as controvrsias que pudessem surgir. Mas h um caso em que parece ser permitido deter um embaixador, contanto que nenhum mau trato lhe seja infligido. Quando um prncipe viola o direito das gentes ao aprisionar o nosso embaixador, temos justificativa para deter o seu embaixador como segurana da vida e de liberdade do nosso. Se esta medida no for suficiente, seria ento necessrio liberar o embaixador inocente e obter justia por meios
APPIEN, citado por GRCIO, LIV lI, capo 28, 7. TIT.-LIV, Lib. XXX, capo 25.

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mais efetivos. Carlos V ordenou a deteno do embaixador da Frana, que lhe tinha declarado guerra; ao que Francisco I determinou a deteno de Granvelle, embaixador do imperador. Concordou-se a seguir em que os embaixadores fossem conduzidas fronteira e soltos ao mesmo tempo (28). l3: CONSENTIMENTO DAS NAES SOBRE OS PRIVILGIOS DOS EMBAIXADORES: Dos princpios naturais e necessrios do direito das gentes que deduzimos a independncia e a inviolabilidade do embaixador. Essas prerrogativas lhe so confirmadas pela prtica e consentimento geral das Naes. Vimos acima (84) que os espanhis encontraram o direito das embaixadas estabelecido e respeitado no Mxico. O mesmo direito reconhecido entre as tribos selvagens da Amrica setentrional. Olhando para a outra extremidade da terra, vereis os embaixadores muito respeitados na China. Eles so tambm respeitados na ndia, embora menos estritamente, verdade. O rei do Ceilo tem s vezes aprisionado embaixadores da companhia holandesa. Dono dos lugares onde cresce a canela, ele sabe que os holandeses sero beneficiados em favor de um rico comrcio e ele como brbaro tira proveito disso. O Caro prescreve aos muulmanos respeitarem o ministro pblico e se os turcos nem sempre tm obedecido a esse preceito, preciso disso acusar a ferocidade de alguns prncipes, e no tanto os princpios da Nao. Os direitos dos embaixadores eram bem conhecidos dos rabes. Um escritorv?' dessa Nao relata o seguinte incidente: Khaled, general rabe, tendo vindo como embaixador para o exrcito do imperador Heraclius, falava ao general de maneira insolente; ao que este replicou que "a lei aceita por todas as Naes protegia embaixadores de toda violncia, e era provavelmente isso que o tinha levado a falar de maneira to indecente'U'" Seria demasiado intil enumerar aqui todos
MZERAY, Histoire de Trance, tom. lI, p. 470.
(29)

ALVAKDI, Histoire de la conqute de la Syrie.

Histoire des Xarrasins, por OCKLEY, tom. I, p.294, da traduo francesa.

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os exemplos encontrados na histria das Naes europias; elas so inumerveis; e os usos da Europa so suficientemente bem conhecidos neste caso. So Lus, quando no Acre, deu um admirvel exemplo da proteo a ser dada aos ministros pblicos. Quando um embaixador do Velho Montanha, ou o prncipe dos assassinos, lhe falou com insolncia, os grandes mestres do templo e do hospital disseram a esse ministro que se no fosse pelo "respeito devido ao seu oficio, eles o teriam lanado ao mar"(31). O rei o despediu sem permitir que qualquer mal lhe fosse feito. No entanto, desde que o prncipe dos assassinos tinha violado os mais sagrados direitos das Naes, pareceria que nenhuma proteo era devida ao seu embaixador, a no ser que se admitisse que tal proteo se fundamentava na necessidade de manter para os soberanos meios seguros de fazerem propostas recprocas e empreenderem negociaes conjuntas tanto em guerra, como na paz; por isso essa segurana deve ser estendida aos emissrios dos prncipes que, por violarem pessoalmente o direito das gentes, no mereceriam, alis, nenhuma considerao.
l4: Do LIVRE EXERCCIO DA RELIGIO: Existem direitos de outra natureza que no so to necessariamente vinculados natureza de ministro pblico mas que o costume reconhece em quase todos os pases. Um dos mais importantes o livre exerccio da religio. , na verdade, muito conveniente que um ministro, especialmente um ministro residente, possa exercer livremente a sua religio no seu domiclio, para si prprio e os seus. Mas no se pode dizer que este direito seja, como a independncia e a inviolabilidade, absolutamente necessrio para o real xito da sua misso, especialmente no caso de um ministro no residente, o nico que as Naes so obrigadas a admitir (66). O ministro far, neste caso, o que desejar na privacidade da sua casa, dentro da qual ningum tem o direito de entrar. Mas se o soberano do pas no qual ele reside, habilitado por boas razes, no desejasse permitir-lhe praticar a sua religio de modo a exterioriz-la para o
CHOISY, Histoire de S. louis.

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pblico, no se poderia condenar esse soberano, e muito menos acus-lo de volar o direito das gentes. Aos embaxadores no hoje negado esse livre exerccio, em qualquer pas civilizado; um privlgio fundamentado na razo no pode ser recusado quando no acarreta nenhum inconveniente. lS: SE o EMBAIXADOR ISENTO DE TODOS OS IMPOSTOS: Entre os direitos que no so necessrios ao xito das embaixadas, h certos que, mesmo no baseados no consentimento geral das Naes, so admitidos pelo uso em muitos pases.Tal o privilgio, pelo qual o ministro isento do pagamento de impostos de importao e de exportao de bens que lhe dizem respeito. No h necessidade de que ele seja beneficiado por esta iseno porque, mesmo sem ela, o ministro no deixaria de ter condies de cumprir suas tarefas. Se o soberano quer bem isent-lo, uma cortesia qual o ministro no pode pretender como sendo de direito, no mais que pretender subtrair as suas bagagens, vindas do exterior, inspeo dos encarregados da alfndega, pois tal inspeo necessariamente relacionada com o direito de tributar mercadorias que ingressam no pas. Thomas Chaloner, embaixador ingls na Espanha, queixou-se amargamente rainha Elizabeth, sua amante, de que o inspetor da alfndega tinha aberto os seus cofres para inspecion-los. Mas a rainha replicou que "era dever do embaixador dissimular tudo o que no ofendesse diretamente a dignidade do seu soberano'F', A independncia do embaixador o isenta, verdade, de todo tributo pessoal ou dvida dessa natureza e em geral ele est ao abrigo de todo imposto incidente sobre o sdito do Estado. Mas quanto aos tributos impostos sobre bens ou provises de qualquer tipo, a mais absoluta independncia no o isenta de pag-los, e mesmo soberanos estrangeiros so a eles submetidos. A regra seguinte observada na Holanda: os embaixadores so isentos dos tributos cobrados sobre o consumo, sem dvida porque eles tm uma relao mais direta com a pessoa tributada; mas eles pagam os tributos de importao e de exportao.
WICQUEfORT, .Ambassad.; Liv, I, capo XXVIII, infine.

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Quanto amplitude da iseno, perfeitamente certo que esta somente se estende s cousas destinadas ao uso pessoal do embaixador. Se eles abusarem desse privilgio, de maneira a acobertar comerciantes em trfico vergonhoso, o soberano inquestionavelmente tem o direito de corrigir e prevenir a fraude, mesmo pela supresso do privilgio. Isto o que tem acontecido em muitos lugares: a avareza srdida de alguns ministros que traficam com as suas isenes, tem forado o soberano a cancel-las. Atualmente, os ministros estrangeiros em So Petersburgo esto submetidos aos tributos de importao, mas a imperatriz tem a generosidade de indeniz-los pela perda de um privilgio que no lhes devido, e que abusos a foraram a abolir. l6: DA OBRIGAO FUNDAMENTADA NO USO E NO COSTUME: Mas pergunta-se a esse respeito: pode uma Nao abolir o que se encontra estabelecido pelo uso a ministros estrangeiros? Vejamos, pois, que obrigaes o costume e o uso recebido podem impor s Naes, no somente em casos relativos aos ministros, mas tambm em outros casos em geral. Usos ou costumes de outras Naes no podem obrigar um Estado independente, a no ser que ele lhes tenha dado seu consentimento expresso ou implcito. Mas desde que um costume, indiferente em si mesmo, tenha sido bem estabelecido e assimilado, ele obriga as Naes que o tm expressa ou tacitamente adotado. Entretanto, se alguma Nao nele descobre a seguir inconvenientes, livre de declarar no desejar mais a ele submeter-se; e desde que essa declarao seja claramente feita, ningum tem o direito de queixar-se se essa Nao deixou de vincular-se a tal costume. Mas semelhante declarao deve ser feita antecipadamente; e ela no pode ser feita depois, quando j existe um caso ao qual ela se aplique. um princpio universalmente aceito que uma lei no deve ser mudada em relao a um caso previamente existente. Assim, no caso particular de que estamos tratando, um soberano pode dispensar-se de conceder privilgios e honrarias ao embaixador, desde que o informe disso antecipadamente e contanto que esses privilgios e essas honrarias no sejam essenciais a embaixadas e necessrios a seu legtimo xito.

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Recusar privilgios desta ltima espcie seria equivalente a recus-los prpria embaixada, o que um Estado no pode fazer sempre como regra geral (65),mas somente quando existe boa razo para isto. Recusar honras consagradas, tornadas essenciais de algum modo, significa mostrar desprezo e cometer injria. Devemos ainda observar nesta matria que quando um soberano deseja dispensar-se de seguir costume estabelecido, a regra deve ser geral. Recusar certas honras ou privilgios usuais ao embaixador de uma Nao, enquanto so eles concedidos aos embaixadores de outras Naes, constitui afronta quela Nao, testemunhar-lhe desprezo, ou pelo menos, m vontade.
107: Do MINISTRO CUJO CARTER NAo PBLICO: Algumas vezes os prncipes enviam-se reciprocamente ministros secretos cujo carter como tal no conhecido. Se um ministro insultado por pessoas que desconhecem esse seu carter, o direito das gentes no foi violado. Mas o prncipe que recebe o ministro, e que o conhece como pblico, est vinculado a obrigaes para com ele; ele deve proteg-lo e, tanto quanto estiver em seu poder, deve faz-lo usufruir de toda a segurana e independncia que o direito das gentes lhe concede. A conduta de Francisco Sforce, duque de Milo, que deixou morrer Maraviglia, ministro secreto de Francisco I, indesculpvel. Sforce tinha, com freqncia, tratado com esse agente secreto e o tinha como ministro do rei da Frana. ( 3)

108: Do SOBERANO QUE SE ENCONTRA EM PAS ESTRANGEIRO: Podemos neste ponto, introduzir melhor uma interessante questo do direito das gentes, que tem muita relao com o direito das embaixadas. Pergunta-se: quais so os direitos de um soberano que est em pas estrangeiro, e como o soberano deste pas deve trat-lo? Se esse prncipe
Vide Mmoires de MARTIN du BELLAY, Liv, IV, e Histoire deTrance, de P. DANIEL, tom. I, pp. 300 e segs.

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veio para negociar, para tratar de algum negcio pblico, ele deve inquestionavelmente usufruir, e no degrau mais eminente, de todos os direitos dos embaixadores. Se ele veio como viajante, basta somente a sua dignidade e o que devido Nao que ele representa e governa, para proteg-lo de todo insulto, assegurar-lhe o mais amplo respeito e considerao, e isent-lo da jurisdio do pas. Desde que ele se identifique, no pode ser tratado como sujeito s leis ordinrias do pas; pois no se presume que ele consinta em submeter-se a elas, e se o soberano do pas no deseja admiti-lo nessas condies, preciso que disso ele o advirta. Mas se o prncipe estrangeiro age contra a segurana e o bemestar do Estado, numa s palavra, se ele age como inimigo, ele pode muito propriamente ser tratado como tal. Exceto esta hiptese, total proteo deve ser lhe dada porquanto ela devida mesmo a cidado particular estrangeiro. Uma idia sem sentido ganhou o esprito de determinadas pessoas, aquelas mesmas que no acreditam serem povos; elas pensam que um soberano que entra num pas estrangeiro sem permisso, pode nele ser detido. E qual motivo poderia justificar semelhante violncia? Trata-se de idia absurda que se refuta por si mesma. verdade que o soberano estrangeiro deve informar sobre sua chegada, se deseja receber a considerao que lhe devida. tambm verdade que ser prudente pedir-lhe passaporte, para evitar qualquer oportunidade ou qualquer esperana de acobertar atos de injustia e violncia por motivos particulares. Concordo tambm em que a presena de um soberano estrangeiro, em certas ocasies, pode ser considerada suspeita, se a situao estiver em algum nvel crtico e, nesse caso, o prncipe no deve realiz-la sem ter o consentimento do soberano em cujo territrio deseja entrar. Quando Pedro, o Grande, desejou fazer uma visita a pases estrangeiros com o intuito de neles pessoalmente estudar as artes e as cincias que pudessem enriquecer o seu imprio, ele viajou na comitiva de seus prprios embaixadores. O prncipe estrangeiro retm inquestionavelmente todos os direitos sobre seu prprio Estado e seus sditos, e ele pode exerc-los em

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tudo o que no afete a soberania do territrio no qual se encontra. Por esta razo, parece que a corte francesa foi muito zelosa de seus direitos ao no permitir que o imperador Sigismundo, quando em Lyon, nele institusse duque o conde de Sabia, vassalo do imprio (Vide supra, Livro 11, 40). Menos dificuldade teria ocorrido em relao a outro prncipe; mas cuidado escrupuloso foi tomado contra antigas pretenses dos imperadores. Por outro lado, a mesma corte com boa razo protestou contra o ato da rainha Cristina ao executar na sua prpria casa uma das suas domsticas; uma execuo deste tipo um ato de jurisdio territorial. E, alm disso, Cristina tinha abdicado da coroa. Todas essas reservas, o seu nascimento e a sua dignidade podiam bem assegurar-lhe grandes honrarias, ou no mximo uma independncia completa, mas no todos os direitos de um verdadeiro soberano. O famoso caso de Maria Stuart, rainha da Esccia, to freqentemente citado nessa matria, no suficientemente adequado. Essa princesa no mais possua a coroa quando veio Inglaterra, e l foi detida, julgada, e condenada. 109: Dos DEPUTADOS DOS ESTADOS: Os deputados s assemblias dos Estados de um reino ou de uma repblica no so ministros pblicos como aqueles de quem j falamos, visto que eles no so enviados para pases estrangeiros. Mas eles so pessoas pblicas e como tal tm certos privilgios que devemos estabelecer em poucas palavras. Estados que tm o direito de reunir deputados, para deliberar sobre negcios pblicos, so autorizados por isso mesmo a exigir uma ampla proteo para esses representantes e todas as isenes requeridas para o livre exerccio das suas funes. Se a pessoa dos deputados no for inviolvel, os que neles confiam no podero assegurar-se da fidelidade deles em manter os direitos da Nao e em defender corajosamente o bem-estar pblico. E como podero esses representantes cumprir dignamente as suas funes se for permitido submet-los a uma corte de justia seja por motivo de dbitos, seja por delitos comuns? As mesmas razes que justificam, entre Estado e Estado, as imunidades dos embaixadores, subsistem aqui, entre a Nao e o soberano. Digamos, pois, que os

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direitos da Nao e a boa f pblica protegem esses deputados de toda violncia e mesmo de todo procedimento judicial durante o perodo do ministrio deles. Isto, de fato, a regra seguida em todo pas, e particularmente no caso das dietas do imprio, dos parlamentos da Inglaterra, e das cortes da Espanha. Henrique IH,rei da Frana, determinou aos Estados de Blois, a morte do duque e do cardeal de Guise. A segurana dos Estados foi certamente transgredida por esta ao; mas esses prncipes eram rebeldes, que conduziam propsitos audaciosos ao ponto de privar da coroa o seu soberano, e se era igualmente verdade que Henrique no estava mais em condio de det-los e puni-los de acordo com as leis, a necessidade de uma justa defesa consistia no direito do rei e em sua excusa. Constitui o infortnio de prncipes fracos e incompetentes deixarem reduzir-se a extremos dos quais no podem sair sem violar todas as regras. Diz-se que o papa Sixtus V, ao tomar conhecimento da morte do duque de Guise, louvou aquela medida rigorosa como um golpe de Estado necessrio, mas ele tomou-se de furor quando lhe contaram que o cardeal tinha tambm sido morto. Era conduzir demasiado longe pretenses orgulhosas. O pontfice concordava em que a necessidade urgente tinha autorizado Henrique a violar a segurana dos Estados e todas as formas da justia;pretendia ele esperar que esse prncipe arriscasse a sua corte e a sua vida antes de faltar com respeito prpura romana?
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VIII

Jurisdio sobre embaixadores em matria civil

DA JURISDIO CIVIL DO PAS Alguns autores desejam submeter o embaixador, em matria civil, jurisdio do pas onde ele reside, ao menos para os casos que ocorrem durante o tempo do seu exerccio da funo de embaixador. Eles alegam como suporte dessa opinio que este entendimento no acarreta nenhuma transgresso ao ofcio do embaixador; "por sagrada", dizem eles, "que seja uma pessoa, no se infringe a inviolabilidade da

11 O: O EMBAIXADOR

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mesma, submetendo-a justia em matria civil." Mas no porque a pessoa deles sagrada que os embaixadores no podem ser chamados justia; pela razo de que eles no dependem da jurisdio do pas para o qual so enviados; temos mostrado acima (92) as razes vlidas dessa independncia. Acrescentemos aqui ser inteiramente conveniente, e mesmo necessrio, que um embaixador no possa ser chamado em justia mesmo em matria civil, para que no seja perturbado no exerccio das suas funes. Por motivo semelhante, era proibido entre os romanos chamar em justia um pontfice durante o tempo em que ele estivesse dedicado s suas funes sagradas't", mas ele podia ser a ela chamado em outros tempos. A razo sobre a qual nos baseamos foi alegada no direito romano: "Ideo mim non daturactio (aduersus legatum) ne ab suspecto legationis atocetur (35), ne impediatur Mas havia uma exceo a respeito de negcios contratados durante a embaixada. A exceo era razovel com relao queles ou ministros, de que fala o direito romano, desde que, sendo enviados por povos submetidos ao imprio, no poderiam clamar pela independncia usufruda por um ministro. O legislador podia determinar o que lhe parecesse mais conveniente com respeito aos sditos do Estado; mas ele no tinha o poder de um soberano, o de submeter sua jurisdio o ministro de outro soberano. E quando ele poderia faz-lo por conveno, ou de outro modo, isso no seria adequado. O embaixador poderia ser freqentemente perturbado em suas funes sob esse pretexto e o Estado envolvido em querelas constrangedoras para os interesses menores de alguns particulares que poderiam e deveriam ter tomado maior cuidado em proteger-se. assim, de inteiro acordo com os deveres das Naes e com os principais princpios do direito das gentes que, pela prtica e consentimento de todos os povos, o embaixador ou ministro pblico hoje absolutamente independente da jurisdio do Estado em que reside, tanto em matria
Nec (injus uocari oportet) dum sacra facit. DIGEST., Llb, Il, tit, IV, De injus tocando, leg lI. DIGESTO, Lib. V, rir I, DeJudiais, etc. (leg). XXIV, 2. DIGESTO, ubi supra, lego XXVI.

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civil como criminal. Sei de alguns casos em que tem ocorrido o contrrio, mas um pequeno nmero de casos no gera o costume; ao contrrio, pela condenao que tm recebido, eles confirmam a regra por ns enunciada. Em 1668, um ministro de Portugal residente na Haia foi, por ordem da corte de justia, detido e aprisionado por dvidas. Mas um membro ilustre'V' dessa mesma corte julgou com razo que esse procedimento era ilegtimo e contrrio ao direito das gentes. Em 1657, um ministro residente do eleitor de Brandenburgo foi tambm aprisionado por dvidas na Inglaterra. Mas ele foi libertado por no ter sido detido legitimamente e mesmo credores e oficiais de justia que lhe tinham feito essa ofensa foram punidos. 111: COMO SUBMETER-SE VOLUNTARIAMENTE JURISDIC;O: Mas se um embaixador quer renunciar em parte sua independncia, e submeterse jurisdio do pas em casos civis, ele pode sem dvida faz-lo, contanto que seja com o consentimento do seu soberano. Sem esse consentimento, o embaixador no tem o direito de renunciar a privilgios que interessam dignidade e ao servio do seu soberano, que esto fundados nos direitos deste, feitos para a vantagem do soberano e no para a do ministro. verdade que, sem esperar pela permisso do soberano, o embaixador reconhece a jurisdio do pas, quando ele se toma parte em processo judicial. Mas isso inevitvel e alis no h inconveniente em matria privada, porque o embaixador sempre quem decide no se apresentar perante o juiz e quem pode, se necessrio, incumbir um procurador ou advogado de prosseguir na defesa de sua causa. Acrescentemos aqui, de passagem, que um embaixador nunca deve em justia, como parte em matria criminal; se ele foi insultado, ele deve levar sua queixa ao soberano; e o rgo pblico deve processar o culpado. 112: DE UM MINISTRO SDITO DO ESTADO JUNTO AO EXERCE Pode ocorrer que o ministro de uma potncia estrangeira seja
BYNKERSHOEK, em seu Trait du
comptent des ambassadeurs, capo 13, 1.

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ao mesmo tempo sdito do Estado no qual ele est acreditado; e nesse caso, por sua qualidade de sdito, ele inquestionavelmente permanece submetido jurisdio do pas em tudo que no se relacione diretamente com o seu ministrio. Mas uma questo para se determinar em que casos essas duas qualidades, de sdito e de ministro estrangeiro encontram-se reunidas na mesma pessoa. No basta para isso que o ministro tenha nascido sdito do Estado para onde foi enviado; pois a menos que as leis expressamente probam um cidado de deixar a sua ptria, ele pode ter legitimamente renunciado a seu pas com o intuito de submeter-se a um novo soberano; ele pode mesmo, sem renunciar para sempre a sua ptria, tornar-se dela independente pelo tempo durante o qual estar a servio de um prncipe estrangeiro; e a presuno em favor dessa independncia. Pois o Estado e as funes do ministro pblico naturalmente exigem que ele deva ser submetido somente ao soberano de cujos negcios est incumbido (92). Conseqentemente, onde no h prova ou indicao do contrrio, o ministro estrangeiro, embora outrora um sdito do Estado, considerado como absolutamente independente dele durante todo o tempo de sua comisso. Se o seu primeiro soberano no deseja garantir-lhe essa independncia no seu prprio pas, ele pode recusar-se a receb-lo na qualidade de ministro estrangeiro, como feito na Frana, onde, de acordo com M. de Calliresv", o rei "no mais recebe seus prprios sditos como ministros de outros soberanos". Mas um cidado do Estado pode aceitar a comisso de um prncipe estrangeiro e ainda permanecer sdito do mesmo Estado. O status dele como sdito definitivamente fixado quando o soberano, ao reconhec-lo como ministro, o faz com a reserva de que ele permanecer sdito do Estado. Os estados-gerais das Provncias Unidas, por decreto de 19 de junho de 1681, declararam: "que nenhum sdito do Estado recebido como embaixador ou ministro de uma potncia estrangeira, a no ser com a condio que ele no se despojar do seu carter de
(38)

Manire de ngocier auec les Jouverains, capo 6, p. 90.

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sdito mesmo com respeito jurisdio do pas, em matria tanto civil como criminal; e que se qualquer pessoa, ao se fazer reconhecer por embaixador ou ministro, no mencionar a sua qualidade de sdito do Estado, ela no gozar dos direitos ou privilgios que pertencem somente aos ministros de potncias estrangeiras." Esse ministro pode tambm preservar a sua primeira subordinao tacitamente, e nesse caso sabe-se que ele continua a ser sdito, por uma inferncia natural, deduzida de suas aes, de seu estado e de toda a sua conduta. Assim, mesmo independentemente da declarao mencionada, esses comerciantes holandeses, que obtm ttulos de residentes de alguns prncipes estrangeiros e prosseguem contudo em seu comrcio, indicam suficientemente com isso que eles ainda permanecem sditos. Quaisquer que sejam as inconvenincias resultantes da subordinao de um ministro ao soberano junto do qual est a atuar, se o prncipe estrangeiro quer com isso contentar-se, e ter um ministro nessas condies, matria de seu prprio interesse; ele no poder queixar-se se o ministro dele for tratado como sdito. Pode ocorrer ainda que um ministro estrangeiro se torne sdito da potncia qual enviado, e dela receba um emprego; neste caso ele no pode pretender independncia, exceto naqueles casos que se relacionem diretamente com o seu ministrio. O soberano que o envia, permitindo-lhe essa subordinao voluntria, quer bem expor-se a inconvenincias. Assim, no ltimo sculo, viram-se o baro de Charnac e o conde de Estrades, embaixadores da Frana perante os estados-gerais, como sendo ao mesmo tempo oficiais nas tropas desses pases.
113: COMO A ISENO DO MINISTRO EXTENSIVA A SEUS BENS: A independncia do ministro pblico , assim, a verdadeira razo que o torna isento da jurisdio do pas onde ele reside. Nenhum ato judicial pode ser endereado diretamente contra ele porque no est sujeito autoridade do prncipe ou dos magistrados. Mas esta iseno de sua pessoa estende-se indiscriminadamente a todos os seus bens? Com o intuito de responder a esta questo, devemos considerar quem pode

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subordinar os bens jurisdio de um pas e quem pode dela isent-los. Em geral, tudo o que se encontra dentro das fronteiras de um pas est submetido autoridade do soberano desse pas e sua jurisdio (Livro I, 2S, e Livro II, . 83 e 84). Se surge qualquer contestao a respeito das mercadorias que se encontram no pas, ou que por ele transitam, cabe ao juiz do lugar em que elas se situam decidir a respeito. Em conseqncia desta dependncia, estabeleceu-se em muitos pases o procedimento de arresto ou penhora com o intuito de compelir um estrangeiro a vir ao lugar onde esse procedimento ocorre e responder a alguma questo judicial, embora esta no tenha por objeto direto os bens apreendidos. Mas como temos mostrado, o ministro estrangeiro independente da jurisdio do pas e a sua independncia civil lhe seria bastante intil se ela no se estendesse a tudo que lhe for necessrio para viver com dignidade e para cumprir sem interferncia os deveres do seu ofcio. Alis, o que ele tem trazido consigo ou adquirido para o seu uso, como ministro, to estreitamente relacionado com a sua pessoa que deve seguir-lhe o destino. Ao vir como independente, o ministro no entendeu submeter jurisdio do pas a sua equipagem, as suas bagagens, tudo o que serve sua pessoa. Todas as cousas, pois, que pertencem diretamente sua pessoa, na qualidade de ministro pblico, tudo o que ele usa para a sua prpria manuteno e de sua residncia, tudo isso, digo, participa da independncia do ministro e est absolutamente isento da jurisdio do pas. Como seu proprietrio, essas cousas so consideradas como estando fora do Estado.
114: A
ALGUM ISEN<;Ao NO PODE O MINISTRO FAA: AOS BENS PERTENCENTES A

Mas a regra acima no se aplica a bens possudos em capacidade manifestamente diferente da de ministro. Esses bens, que no tm relao com as funes oficiais, no podem gozar dos privilgios decorrentes dessas funes. Assim, se acontecer, como freqente, que um ministro se comprometa em algum tipo de negcio, toda a propriedade pessoal, bens, dinheiro, mercadorias, dvidas ativas e passivas relacionadas com esse negcio, mesmo todas as

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contestaes e processos da resultantes, tudo isso est submetido jurisdio do pas. E conquanto nesses processos no se possa acionar diretamente a pessoa do ministro por motivo de sua independncia, pode-se indiretamente for-lo a responder nesses processos por fora da apreenso dos bens relacionados com o seu comrcio. Os abusos que nasceriam de prtica contrria so manifestos. O que ocorreria se um comerciante privilegiado cometesse impunemente, em pas estrangeiro, todas as espcies de injustia? No h razo para estender a iseno do ministro para cousas deste carter. Se o soberano do ministro teme algum inconveniente da dependncia indireta em que o seu ministro se encontrar dessa maneira, ele no ter seno que proibir o exerccio de um negcio que no convm dignidade de um representante de Estado. Acrescentemos dois esclarecimentos ao que acaba de ser dito: 1") Em casos de dvida, o respeito devido a um embaixador requer que a interpretao seja sempre feita a favor dele. Quero dizer que, quando existe razo para duvidar se uma coisa realmente destinada para o uso do ministro e de sua residncia ou est ligada com o seu comrcio, a deciso deve ser dada em favor do ministro; de outra forma haveria o risco de violar-lhe os privilgios. 2") Quando digo que se pode exercer coero sobre os bens do ministro que no so ligados a esse carter oficial, ou seja, aqueles de seu comrcio em particular, isso deve entender-se na suposio de que a coero no ocorre em relao a negcios que o ministro tenha nessa qualidade oficial como por exemplo, provises para a sua casa e aluguel para a sua residncia, etc. Pois os negcios que se tm com o ministro sob essa relao, no podem ser julgados no pas em que atua como ministro nem, por conseguinte, serem submetidos jurisdio pela via indireta da coero. 115: NEM ESTENDER-SE AOS IMVEIS QUE ELE POSSUI NO Todos os terrenos, todos os bens imveis dependem da jurisdio do pas (Livro I, 25, e Livro II, 83 e 84), quem quer que deles seja o proprietrio. Poder-se-ia subtrair dessa jurisdio o bem imvel de propriedade de embaixador de potncia estrangeira? No h razo para

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isso. O embaixador no possui esses bens, como embaixador; eles no esto vinculados sua pessoa de maneira que possam ser reputados fora do territrio. Se o prncipe estrangeiro teme conseqncias dessa dependncia em que se encontrar seu ministro em relao a alguns desses bens, ele pode escolher outro ministro. Digamos, pois, que os bens imveis, possuidos por um ministro estrangeiro, no mudam de natureza pela qualidade do proprietrio e que eles permanecem sob a jurisdio do Estado no qual se situam. Toda dificuldade, todo processo que lhes diz respeito, deve ser submetido aos tribunais do pas; e esses mesmos tribunais podem decretar uma penhora sobre esses bens com base em ttulo legtimo. De resto, compreender-se- facilmente que se o embaixador reside em casa que lhe pertence, essa casa excetua-se da regra, por servir de fato ao seu uso; excetua-se, digo, em tudo quanto possa interessar o uso que dela faa de fato o embaixador. Pode-se ver no tratado de Bynkershoekv", que o costume est de acordo com os princpios estabelecidos aqui e no pargrafo precedente. Quando se quer intentar ao contra um embaixador nos dois casos acima mencionados, ou seja, a respeito de algum imvel situado no pas, ou de bens mveis que no tenham relao com a embaixada, deve-se mandar citar o embaixador, como se citam os ausentes, porque ele considerado como estando fora do pas e porque a sua posio de independncia no permite que ele seja destinatrio de um procedimento que tenha a marca da autoridade, como o teria o mandado de um oficial de justia.
\

116: COMO SE PODE OBTER JUSTIA CONTRA UM EMBAIXADOR: De que modo se pode obter satisfao de um embaixador que se recusa a comparecer em juizo nos negcios que lhe concernem? Muitos dizem que ele deve ser acionado perante o tribunal do pas a cuja jurisdio estava submetido antes de se tornar embaixador. Isto no me parece exato. Se a necessidade e a importncia das funes de um embaixador
(39)

Op. cit., capo 16, 6.

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o isentam de todo procedimento no pas estrangeiro onde reside, seria permitido perturb-lo, acionando-o perante os tribunais de seu domiclio ordinrio? O interesse do servio pblico a isso se ope. O ministro depende unicamente do soberano, ao qual ele pertence de um modo muito particular. Ele um instrumento nas mos do dirigente da Nao, a cujo servio nada deve desvi-lo ou impedi-lo. Nem seria justo que a ausncia de um homem encarregado dos interesses do soberano e da Nao lhe seja prejudicial nos seus negcios particulares. Em todos os pases, aqueles que se ausentam a servio do Estado tm privilgios que os pem ao abrigo dos inconvenientes da ausncia. Mas preciso evitar, tanto quanto possvel, que esses privilgios dos ministros do Estado no se tomem demasiado onerosos aos particulares que com ele se relacionem. Como, ento, podem esses interesses diversos - o servio do Estado e o cuidado da justia - serem conciliados? Todos os particulares, cidados ou estrangeiros, que tm pretenses contra um ministro, se dele no podem obter satisfao pessoalmente, devem dirigir-se ao soberano dele, o qual obrigado a fazer justia da maneira mais compatvel com o servio pblico. Compete ao prncipe decidir se convm convocar o seu ministro ou designar o tribunal perante o qual ele pode ser acionado, determinar prazos, etc. Numa palavra, o bem-estar do Estado no admite que o ministro seja importunado nas suas funes ou delas desviado, sem a permisso do soberano; e o soberano, cujo dever fazer justia a todos, no deve autorizar o seu ministro a recus-la, ou a cansar seus adversrios mediante adiamentos injustificados.
I

CAPT

II L ()

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Da casa do embaixador, de sua residncia, e do pessoal da misso

117: RESIDNCIA DO A independncia do embaixador seria muito imperfeita e a sua segurana mal estabelecida se a casa em que reside no usufrusse de completa franquia, e se no

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fosse inacessvel aos oficiais de justia ordinrios. O embaixador poderia ser importunado sob mil pretextos, os seus segredos descobertos na busca dos seus papis, e a sua pessoa exposta a insultos. Todas as razes que demandam a independncia e inviolabilidade dele concorrem assim para assegurar a imunidade da sua residncia. Este privilgio geralmente reconhecido nas naes civilizadas. Em todos os casos ordinrios da vida, a residncia do embaixador, assim como a sua pessoa, so consideradas como situadas fora do territrio. Caso memorvel ocorreu h poucos anos atrs em So Petersburgo. Em 3 de abril de 1752, trinta soldados sob comando de um oficial, entraram na residncia do ministro da Sucia, baro Greiffenheim, e levaram priso dois de seus empregados, sob pretexto que eles tinham clandestinamente vendido bebidas, cuja venda constitua privilgio da fazenda imperial. A corte, indignada por tal procedimento, ordenou a priso imediata dos autores dessa violncia;e a imperatriz determinou fosse dada satisfao ao ministro ofendido. Ela lhe enviou, e a outros ministros de potncias estrangeiras, uma declarao em que expressava a indignao e desprazer pelo que tinha ocorrido e os informava das ordens que tinha dado ao senado para processar o chefe do escritrio estabelecido para impedir a venda clandestina de bebidas, que era o principal culpado. A residncia do embaixador deve estar ao abrigo de todo insulto, e deve ser especialmente protegida pelas leis e pelo direito das gentes; insult-lo tornar-se culpado perante o Estado e perante todas as Naes. 118: Do DIREITO ASILO: Mas a imunidade da residncia do embaixador garantida somente em favor dele mesmo e da sua misso, como o evidenciam as prprias razes em que a imunidade se fundamenta. Poderia ele dessa imunidade prevalecer-se, para fazer de sua casa um asilo no qual se abrigariam inimigos do soberano e do Estado, criminosos de toda a sorte, e assim subtra-los punio que merecem? Semelhante conduta seria contrria a todos os deveres de um embaixador, ao esprito que deve anim-lo e aos propsitos legtimos que justificama sua admisso no Estado. Ningum ousar neg-lo. Indo-se mais longe, pode-se estabelecer

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como verdade certa que um soberano no obrigado a permitir abuso to injurioso ao seu Estado, to prejudicial sociedade. verdade que quando se trata de certos delitos comuns, de pessoas freqentemente mais infelizes do que culpadas, ou cuja punio no de grande importncia paz da sociedade, a residncia do embaixador pode bem servir-lhes de asilo; e melhor deixar certos culpados dessa espcie escaparem do que expor o ministro a ser constantemente incomodado sob pretexto de buscas a serem feitas e do que envolver o Estado em dificuldades que da poderiam resultar. E como a residncia do embaixador independente da jurisdio ordinria do pas, no compete em nenhum caso aos magistrados, chefes de polcia ou outros subalternos, ingressarem por autoridade prpria nessa residncia, ou de a ela enviarem subalternos, exceto em condies de necessidade urgente, quando o bem-estar pblico estivesse em perigo e no admitisse adiamento. Tudo o que se refere a matria to delicada e to elevada, tudo o que interessa aos direitos e glria de uma potncia estrangeira, tudo o que poderia comprometer o Estado com essa potncia, deve ser levado imediatamente ao conhecimento do soberano e decidido por ele mesmo, ou sob as suas ordens, por um conselho de Estado. Cabe pois, ao soberano decidir,quando for o momento, at que ponto deve respeitar-se o direito de asilo que um embaixador atribui sua residncia e, em se tratando de um culpado cuja deteno ou punio de grande importncia para o Estado, o soberano no deve ser impedido por considerao a um privilgio que no foi jamais foi concebido para trazer dano e runa aos Estados. Em 1729, quando o famoso duque de Ripperda se refugiou na residnciado embaixador ingls, lorde Harrington, o conselho de Castela decidiu "que ele poderia ser dela retirado pela fora, se necessrio, uma vez que, de outra maneira, o que tinha sido estabelecido para manter a maior correspondncia entre os soberanos, contribuiria ao contrrio runa e destruio da autoridade deles; que estender os privilgios concedidos s residncias dos embaixadores em favor de delitos comuns, inclusive s pessoas depositrias das finanas, das foras e dos segredos de um Estado, quando elas venham a descumprir os deveres de seus' oficios, significaria

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introduzir a cousa mais desastrosa e mais contrria a todas as potncias da terra, que se veriam foradas, se esse princpio tivesse lugar, a no apenas admitir, mas tambm a ver apoiados nas respectivas cortes, todos aqueles que conspirassem contra a perda dessas potncias'U'?' Nada mais verdadeiro e mais judicioso poderia ser dito sobre essa matria. O abuso dessa franquia nunca foi levado mais longe do que em Roma, onde os embaixadores pretendiam que esse asilo se estendesse a toda a vizinhana onde a residncia estivesse situada. Os papas, outrora to temveis aos soberanos, tm sentido, por sua vez, a necessidade de com eles proceder cautelosamente, h mais de dois sculos. Eles tm feito esforos vos para abolir, ou para ao menos restringir dentro de limites justos, um privilgio abusivo, que a mais antiga prtica no deveria manter contra a justia e a razo. 119: FRANQUIA DAS CARRUAGENS DO EMBAIXADOR: As carruagens, as equipagens do embaixador, desfrutam dos mesmos privilgios que a sua residncia, e pelas mesmas razes; viol-las significa atacar o prprio embaixador e o soberano que ele representa. Elas so independentes de toda autoridade subalterna, dos guardas, dos oficiais, dos magistrados e de seus agentes, e no podem ser detidas e inspecionadas sem ordens de autoridade superior. Mas neste caso, como naquele da residncia do embaixador, deve-se evitar confundir o abuso com o direito. Seria absurdo que um ministro estrangeiro pudesse fazer evadir em sua carruagem um criminoso importante, um homem que seria essencial ao Estado capturar; e faz-lo aos olhos de um soberano, que se sentiria assim desafiado em seu prprio reino e em sua corte. Existiria algum que desejasse admiti-lo? O marqus de Fontenay, embaixador da Frana em Roma, protegia a retirada dos exilados e rebeldes napolitanos e quis, enfim, proteger-lhes a sada de Roma em suas carruagens; mas ao sarem da cidade, as carruagens foram detidas pelos corsos da guarda papal, e os napolitanos foram presos. O embaixador queixou-se vivamente.
(40)

de M. I'abb deMontgon, tom. I.

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papa lhe respondeu "que tinha somente mandado capturar pessoas que o embaixador tinha subtrado da priso; que como o embaixador tinha tomado a liberdade de proteger malfeitores e tudo o que tinha de criminoso no Estado da Igreja, devia ser-lhe ao menos permitido, como soberano desse Estado, captur-los onde eles pudessem ser encontrados; e oprivilgio no to O pois o embaixador respondeu "que ele no tinha promovido a retirada dos sditos do papa, mas de alguns napolitanos aos quais podia dar segurana contra as perseguies dos espanhis'U'" Por sua reposta, o embaixador tacitamente concordava em que no teria motivo para queixar-se de que as suas carruagens tivessem sido detidas, se elas tivessem sido utilizadas para a evaso de sditos do papa e a subtrair criminosos da perseguio da justia.

120: DA COMITIVA DO EMBAIXADOR: A inviolabilidade do embaixador transfere-se s pessoas de sua comitiva e a sua independncia se estende a todos os que integram a sua residncia. Todas essas pessoas esto a ele de tal modo vinculadas que elas lhe acompanham o destino. Elas dependem imediatamente apenas dele, e esto isentas da jurisdio do pas onde se encontram somente nessa condio. O embaixador deve proteg-las; e quem as insulta, insulta o prprio embaixador. Se os empregados domsticos e toda a comitiva de um ministro estrangeiro no dependessem dele unicamente, compreende-se com que facilidade ele poderia ser molestado, inquietado e perturbado no exerccio das suas funes. Esses princpios so em todos os lugares reconhecidos e confirmados pelo uso, na atualidade. 121: DA ESPOSA E DA FAMLIA DO EMBAIXADOR: A esposa do embaixador lhe intimamente unida e lhe pertence mais particularmente que qualquer outra pessoa da sua residncia. Ela usufrui tambm da independncia e da inviolabilidade dele. Ela destinatria igualmente de honras elevadas que, at um certo grau, no poderiam ser-lhe recusadas
(41)

WICQUEFORT, op. cit.., Liv. I, sc. XXVIII, quase in fine.

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sem constituir afronta ao embaixador. Na maioria das cortes, h a esse propsito um cerimonial prescrito a ser observado. O respeito devido ao embaixador reflete-se tambm sobre o seus filhos, que de suas imunidades tambm participam.

122: Do SECRETRIO DE EMBAIXADA: O secretrio do embaixador est includo entre os seus empregados domsticos; mas o secretrio da embaixada ostenta uma comisso do prprio soberano, o que o torna uma espcie de ministro pblico, o qual goza por si mesmo da proteo do direito das gentes e das imunidades vinculadas a seu ofcio, independentemente do embaixador a cujas ordens est apenas imperfeitamente submetido, algumas vezes no completamente, e sempre de acordo com o que determinado pelo soberano que lhes comum. 123: Dos CORREIOS E DOS DESPACHOS DO EMBAIXADOR: A correspondncia que um embaixador envia ou recebe, os seus papis, as suas cartas e despachos, so tambm cousas que pertencem essencialmente embaixada e que devem, portanto, serem inviolveis porque, se no o forem, a embaixada no poderia alcanar o seu fim legtimo,nem poderia o embaixador cumprir os deveres do seu ofcio com a segurana conveniente. No tempo em que o presidente Jeannin era embaixador da Frana nas Provncias Unidas, os Estados-Gerais dessas Provncias decidiram que abrir as cartas de um ministro pblico constitua uma violao do direito das gentes.(42) Outros exemplos podem ser encontrados no tratado de Wicquefort. Este privilgio no impede, porm, que em ocasies graves, em que o prprio embaixador violou o direito das gentes, ao formar ou favorecer sublevaes perigosas e conspiraes contra o Estado, no se possa apreender os seus papis, com o intuito de descobrir toda a trama e os cmplices, porquanto, em tal caso, o prprio embaixador pode ser detido e interrogado (99). Assim se fez em relao s cartas entregues por traidores aos embaixadores de Tarqnio (98).
(42)

Ibidem.

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124: AUTORIDADE DO EMBAIXADOR SOBRE AS PESSOAS DA SUA COMI11VA: Visto que os membros da comitiva do ministro estrangeiro so independentes da jurisdio do pas, eles no podem ser detidos ou punidos sem o consentimento desse ministro. Mas seria pouco adequado que eles vivessem em completa independncia e tivessem a liberdade de entregar-se sem temor a toda sorte de desordens. O embaixador est, necessariamente, investido da autoridade necessria para cont-los. Alguns desejariam que essa autoridade inclusse o direito de vida e de morte. Quando o marqus de Rosny,depois duque de Sully, foi embaixador extraordinrio da Frana na Inglaterra, um cavalheiro de seu squito cometeu um assassinato, o que provocou grande excitao em Londres. O embaixador reuniu alguns nobres franceses que o tinham acompanhado, organizou o processo do criminoso e o condenou morte; posteriormente, informou o prefeito de Londres de que tinha sentenciado o criminoso e pediu-lhe arqueiros e carrascos para executar a sentena. Mas em seguida preferiu entregar o criminoso aos ingleses, para que eles prprios fizessem justia como entendessem; e o senhor de Beaumont, embaixador ordinrio da Frana, obteve o perdo do rei da Inglaterra em favor do jovem que era seu parente. (43) Cabe ao soberano decidir at onde o poder de seu embaixador se estende sobre os membros da misso; e o marqus de Rosny estava bem seguro do consentimento do seu soberano que, de fato, lhe aprovou a conduta. Mas, em geral, deve-se presumir que o embaixador est apenas revestido de poder coercitivo, suficiente para reprimir membros de sua misso por meio de penalidades que no sejam capitais e infamantes. Pode puni-los por ofensas cometidas contra ele mesmo e contra o servio do seu superior, ou encaminh-las ao seu soberano, para serem punidas. Se essas pessoas se tomam culpadas para com a sociedade ao cometer crimes dignos de punio severa, o embaixador deve distinguir entre os membros de sua misso e aqueles que so sditos do pas de residncia. O mais expedito e mais natural consiste em expulsar esses ltimos de sua misso e
(41)

MmoiresdeSUIJX, tomo VI, capo 10.

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entreg-los justia.Quanto queles que so de sua prpria nacionalidade, se eles ofendem o soberano do pas, ou cometem crimes atrozes cuja punio interessa a todas as Naes, tanto que por essa razo usual transferi-los de um Estado para outro, por que no os entregar Nao que demanda serem processados? Se a transgresso for de outro gnero, o embaixador os encaminhar a seu soberano. Enfim, em caso duvidoso, o embaixador deve manter o criminoso detido, enquanto espera ordens do seu soberano. Mas se ele condenar o culpado morte, no penso que possa mandar execut-lo em sua residncia. Pois uma execuo dessa natureza um ato de soberania territorial e, como tal, compete apenas ao soberano do pas. E se o embaixador, assim como a sua comitiva e a sua residncia, so considerados como estando fora do territrio, tratase somente de um modo figurado de expressar a sua independncia e todos os direitos necessrios ao xito legtimo da embaixada: essa fico no pode prevalecer sobre os direitos reservados ao soberano; direitos que so de natureza muito delicada e importante para serem transferidos a um estrangeiro,e que no so necessriosao embaixador para, dignamente, cumprir as suas funes. Se o culpado pecou contra o embaixador, ou contra o servio do seu soberano, o embaixador pode remet-lo a esse soberano; se, por outro lado, o crime interessa ao Estado no qual o ministro reside, ele pode julgar o criminoso e, se consider-lo digno de morte, entreg-lo justia do pas, como fez o marqus de Rosny. 125: QUANDO TERMINAM OS DIREITOS DO EMBAIXADOR: Quando a comisso do embaixador se extingue, quando ele concluiu os negcios que o trouxeram ao pas, quando ele foi chamado de volta ou exonerado, em uma palavra, desde que ele obrigado a partir por qualquer motivo que seja, as suas funes cessam mas os seus privilgios e direitos no expiram ainda; ele os conserva at ter retornado para junto de seu soberano, ao qual deve prestar contas de sua embaixada. No menos necessrio para o xito desta que o embaixador usufrua de segurana, independncia e inviolabilidade tanto na partida como na chegada. Tambm, quando um embaixador se retira por causa de guerra que surja entre o seu soberano

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e o soberano do pas para o qual foi enviado, deve dar-se-lhe tempo suficiente para deixar o pas em segurana; e mesmo, se retornar por mar e for capturado no trajeto, deveria ser solto sem dificuldade, por no poder ser considerado de boa presa. Pelas mesmas razes, os privilgios do embaixador subsistem durante perodos em que a sua atividade como ministro est suspensa ou ele tem necessidade de novos poderes. Tal caso ocorre com a morte do soberano que o ministro representa ou com a morte do soberano em cuja corte ele reside. Em cada um desses eventos, necessrio que o ministro seja munido de novas cartas credenciais; isto, no entanto, menos necessrio no ltimo que no primeiro caso; sobretudo se o sucessor do prncipe morto sucessor necessrio e natural, porque como a autoridade da qual emanou o poder do ministro ficou subsistente, presume-se facilmente que o mesmo permanece na mesma qualidade perante o novo soberano. Mas se o soberano do ministro no mais existe, os poderes do ministro expiram e ele deve necessariamente obter cartas credenciais do sucessor, em cujo nome fique autorizado a falar e a Entretanto, ele permanece nesse interregno ministro de sua Nao e, como tal, deve usufruir dos direitos e das honras vinculados a essa misso.
126: CASOS EM QUE SO NECESSRlAS NOVAS CREDENCIAIS: 127:CONCLUSO: Eis-me, enfim, chegado ao trmino da tarefa que me impus. No me vanglorio de ter feito um trabalho completo e pormenorizado do direito das gentes. Esse no foi o meu propsito e teria sido presumir demasiado de minhas foras em matria to vasta e to rica. Ser muito para mim, se meus princpios forem considerados slidos, luminosos e suficientes s pessoas esclarecidas, para encontrarem soluo em questes de pormenor em casos especficos. Estarei feliz se o meu trabalho for de utilidade s pessoas que tm amor ao gnero humano e que respeitam a justia; se o meu trabalho lhes fornecer armas para defender o bom direito e para, ao menos, compelir os injustos a serem respeitosos em alguma medida e a se manterem nos limites da decncia!

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