Termorregulação

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Termorregulação

(Newton da Cruz Rocha)

Todos os processos que ocorrem em um organismo para manter seu funcionamento


necessitam de uma temperatura adequada. Isso se deve ao fato de tais processos
envolverem proteínas, enzimas, reações químicas e físicas que ocorrem mais
rapidamente ou de forma muito lenta de acordo com a temperatura do meio em que se
encontram. Por exemplo, se a temperatura baixar muito as reações ficam lentas e podem
ate cessar parando a função corporal. Por outro lado, temperaturas elevadas podem
desnaturar proteínas comprometendo a integridade do organismo.

Assim, é fundamental que os seres vivos disponham de estratégias para regular a


temperatura do corpo e de acordo com elas os animais são classificados como
homeotérmicos ou pecilotérmicos.

Os pecilotérmicos variam sua temperatura corporal de acordo com a temperatura do


ambiente, mas controlam essa variação por métodos comportamentais. Por exemplo, o
lagarto fica exposto ao sol pela manha e se esconde do sol durante o resto do dia para
evitar o hiperaquecimento. Às vezes veterinários são solicitados a opinar sobre o
manejo de pecilotérmicos de cativeiro, é importante aconselhar os proprietários a
providenciar fonte de aquecimento para que os animais fiquem ativos nas épocas frias
do ano.

Os homeotérmicos conseguem manter sua temperatura corporal constante na presença


de variações significativas de temperatura ambiente Essa característica traz vantagens e
desvantagens. Os homeotérmicos podem sobreviver em uma ampla variedade de
ambientes e podem ficar ativos no inverno. Porém, eles precisam ingerir mais alimento
que outros animais, pois para manter sua temperatura necessitam de processos
metabólicos que demandam grande quantidade de energia. Já os pecilotérmicos são
capazes de sobreviver a longos períodos sem alimento porque precisam de muito menos
energia.

Mas, de onde vem o calor do corpo, o calor que os homeotérmicos mantém dentro de
uma faixa estreita, graças a estratégias típicas desses animais, e que os pecilotérmicos
controlam por comportamento?

O calor é um subproduto de todos os processos metabólicos, do metabolismo de


carboidratos, gorduras e proteínas. Pode entrar também a partir do exterior através de
radiação, condução e convecção.

Um organismo esta sempre “queimando”as substâncias citadas, mesmo em jejum e em


repouso. Esse metabolismo mínimo que mantém o organismo vivo pode ser medido
pela taxa metabólica basal. O metabolismo basal é maior nos homeotérmicos devido ao
custo energético extra que estes animais tem para gerar calor e manter a temperatura.
Também é maior nos pequenos mamíferos que nos grandes porque a superfície de perda
de calor dos pequenos animais é relativamente maior que nos grandes animais. Assim
precisam gerar mais calor, pois trocam mais facilmente com o meio.
Durante um exercício, a taxa metabólica se eleva, pois a necessidade energética para
atender o corpo é maior. Então, parte das transformações bioquímicas dos nutrientes
geram o trabalho da musculatura e parte gera calor, elevando a temperatura corporal
final. A partir desse principio o organismo pode aumentar a produção de calor quando a
temperatura ambiente estiver baixa. São os tremores! Músculos antagônicos se
contraindo sem produzir trabalho útil, elevando a temperatura do corpo pela
transformação de energia química de carboidratos, gorduras e proteínas em calor. Para
reagir a situações de frio o organismo também eleva sua produção metabólica de calor,
sendo uma forma de elevar a temperatura sem ocorrer tremores. É um método mais
eficiente uma vez que a energia metabolizada é mais concentrada para produção de
energia térmica e não para trabalho (contrações da musculatura).

O aumento do metabolismo é medido pela secreção de tiroxina e pelos efeitos


calorigênicos das catecolaminas sobre os lipídeos.

Os lipídeos são extremamente calóricos. A metabolização de gorduras produz mais


calorias do que carboidratos e proteínas.

Em geral em alguns órgãos como o fígado e o coração, a produção de calor é


relativamente constante. O músculo esquelético dá uma contribuição variável para a
produção de calor: durante o trabalho muscular, mais de 80% do calor do corpo são
produzidos no músculo esquelético; durante o repouso o percentual é muito menor. A
temperatura do fígado pode estar 1 a 2 graus acima da retal e a do cérebro em geral é
um pouco mais alta que a do sangue carotídeo. Essas regiões são, portanto, mais
resfriadas que aquecidas pelo sangue arterial. Em ruminantes a temperatura intra
ruminal é mais alta do que a retal devido ao calor extra produzido pelos
microorganismos ruminais. A temperatura das partes mais periféricas do corpo, assim
como os membros, pode ser, em um ambiente frio, 10 graus ou mais baixa que a
temperatura profunda(é mais fácil obter um índice da temperatura pelo reto. Embora ela
não represente sempre uma média da temperatura corporal profunda o equilíbrio ocorre
mais lentamente do que em outras partes profundas do corpo. Assim torna-se um bom
índice de equilíbrio dinâmico verdadeiro).

Mas e quanto a perda de calor para manter o equilíbrio? Como ocorre?

O corpo perde calor por meio de radiação, condução, evaporação da água das vias
aéreas e pele, excreção de fezes e urina. Respostas fisiológicas do organismo que
ocorrem sempre procurando manter a temperatura dentro de uma faixa desejada. Ajustes
circulatórios promovem a vasodilatação cutânea elevando a temperatura da pele e assim
favorecendo a troca de calor com o meio ambiente. Essa resposta é mediada
principalmente por nervos vasoconstritores simpáticos. A vasodilatação periférica é,
portanto resultado da inibição do tônus simpático. O calor pode diminuir esse tônus por
meio de um aumento da temperatura do SNC ou de forma reflexa, pela mediação de
termorreceptores na pele

A evaporação de água é outro meio eficiente de perder calor . Enquanto apenas um


caloria é necessária para elevar a temperatura de 1 grama de água em 1 grau ceulsius ,
quase 600 calorias são necessárias para a evaporação de água no corpo. A água
evaporada a partir da vias aéreas e pele contribui com cerca de 25% da perda do calor
produzido em mamíferos. No cão a piloteia trata-se da forma mais importante de regular
o calor, já em humanos a sudorese tem esse papel principal.

Avaliando todas as vias de produção de calor podemos imaginar que a concentração dos
processos está na musculatura e no fígado. Então, como toda essa energia térmica é
distribuída para as outras partes do organismo? Afinal, todo o corpo precisa do calor
produzido e precisa também perder esse calor para manter a temperatura em estreitas
variações. Os tecidos tem uma condutividade semelhante a da cortiça, portanto, a
condução não e um meio eficiente de redistribuir o calor. É o sangue que perfunde um
órgão que então capta o calor e redistribui para as partes mais frias do corpo.

Febre

Febre é uma elevação da temperatura corpórea, resultante de modificações provocadas


por pirogenicos que são substancias extremamente potentes que atuam sobre o
hipotalamo, aumentando o ponto fixo para a temperatura corpórea. Incluem produtos
bacterianos como endotoxinas de bactérias Gram negativas e proteínas produzidas pelos
próprios tecidos do corpo, em particular por leucócitos. Os pirogenicos exógenos, como
a endotoxina, podem estimular os leucócitos a produzirem pirogenio endógeno.

Quando o hipotalamo é exposto ao pirogenio, o ponto fixo se eleva e o animal inicia


respostas para conservar e produzir o calor ate que a temperatura corpórea alcance o
novo ponto fixo, o animal mantém seu corpo à nova temperatura ate que o pirogenio
seja metabolizado e sua produção cesse. Quando isso ocorre, o ponto fixo abaixa
novamente para o normal, e o animal inicia mecanismos de perda de calor para
diminuir a temperatura corpórea.

Acredita-se que a produção de prostaglandina E1 no hipotalmo esteja envolvida na


elevação de ponto fixo. Por essa razão os bloqueadores da ciclooxigenase como aspirina
e fenilbutazona são usados para tratar a febre.

Ocorre choque pelo calor quando a produção do mesmo ou seu ganho excede o debito,
resultando em aumento da temperatura corpórea para níveis perigosos

Em climas quentes e úmidos, é difícil os animais conseguirem trocar calor , porque não
pode ocorrer resfriamento eficaz por evaporação. Cães que ficam fechados dentro de
carros ao sol, seu ofego satura o ar com vapor de água, impossibilitando qualquer perda
adicional de calor. À medida que a temperatura corporal aumenta, a taxa metabólica
também aumenta, produzindo mais calor . Ale disso, o ofego ou a sudorese, ou ambos,
acarretam desidratação e colapso circulatório, dificultando ainda mais a transferencia de
calor para a pele. Quando a temperatura corpórea ultrapassa 41,5 a 42,5 a função celular
fica seriamente prejudicada e o animal perde a consciência.

Ocorre hipotermia quando o debito de calor ultrapassa sua produção, de forma que a
temperatura corpórea cai a níveis perigosos. Na natureza , a hipotermia em geral ocorre
devido a exaustão dos mecanismos metabólicos de defesa contra o frio. O tremor pode
persistir por longos períodos , causando depleçao de reservas de glicogenio do músculo
esquelético e do figado, bem como queda do glicogenio do músculo cardíaco.

Animais pequenos o doentes expostos a um ambiente frio podem perder mais calor que
são capazes de gerar e a temperatura corpórea pode cair a um ponto em que o animal
não consiga invocar os mecanismos termorreguladores. A capacidade hipotalâmica de
regular a temperatura do corpo fica bastante prejudicada a um temperatura abaixo de 29
graus . Ocorre parada cardíaca em torno de 20 graus. Os recém nascidos parecem ser
mais capazes de sobreviver a baixas temperaturas corpóreas que animais adultos e,
aparentemente , cordeiros leitões e filhotes de caes em coma podem ser reaquecidos e
reviver.

Hibernação

Alguns mamíferos mantém uma alta temperatura corporal, principalmente sob


condições de temperatura ambiental favorável, mas abandonam a homeotermia no frio.
Entre esses hibernadores estão a marmota européia e americana, o hamster e o ouriço
caixeiro. O urso, por outro lado não e um verdadeiro hibernador, visto que permanece
de sangue quente durante seu sono de invento. A temperatura dos hibernadores
apresenta grandes variações, mesmo no estado de sangue quente e depende muito da
atividade do animal. Durante o sono de inverno, ela cai e permanece em nível apenas
ligeiramente acima da temperatura ambiental. Mas está presente mesmo nos
hibernadores que dormem durante o inverno um mecanismo protetor contra o
resfriamento profundo. Se a temperatura corporal cai a níveis próximos ao
congelamento, o animal acorda e se reaquece rapidamente. A maioria dos hibernadores
acorda periodicamente de modo rítmico e cada breve despertar envolve considerável
dispêndio de energia. A capacidade de acordar usando calor apenas de suas próprias
fontes parece dever-se à preponderância de gordura parda e suas características
metabólicas nesses animais. As células do tecido gordurosos pardo são ricas em
mitocondrias e inervados por fibras do simpático. Quando estimuladas, essas células
consomem oxigênio e produzem calor rapidamente. Durante o despertar da hibernaçao a
temperatura desse tecido, localizado entre os omoplatas, é a mais elevada do corpo.

Nos ruminantes:

A formação de calor nos diversos tecidos corporais é variável. Nos pré-estomagos os


ruminantes a formação de calo aumenta no decorrer dos processos microbianos da
digestão da forragem, de maneira que a temperatura do rumem se situar 1 a 2 graus
acima da temperatura retal.

Com aumento da produção de leite aumenta nos bovinos a formação de calor no fígado
e nas glandulas mamarias de forma acentuada. No fígado aumenta neoglicogenese e
sintese de lipoproteinas. Com aumento de produção de leite, os bovinos ficam mais
sensíveis a um aumento da temperatura ambiente acima da zona térmica neutra,
reduzindo a secreção de tirocina; assim conseguem reduzir formação de calor mas
também ocorre redução na síntese do leite um vez que a tiroxina é via comum para
ambos eventos.

Quando os animais permanecem por períodos prolongados no frio, aumenta a


assimilação de alimentos, a secreção de tiroxina e a extensão dos processos de
combustão tambem aumentam. Os ruminantes possuem uma boa adaptação a baixas
temperaturas caso as necessidades energeticas sejam supridas por meio de uma
administração suficiente de alimentos. Mesmo com queda de temperatura a 0 graus
havendo alimentos, não ocorre redução na capacidade de produção d leite.

Nos ruminantes são formados quantidades convidareis de calor no rumem através de


transformações dos ácidos graxos voláteis. A extensão do calor obtido depende do
volume de alimentos e da digestibilidade da ração.

Com aumento temperatura ambiente acima de 30 graus , diminui a ingestão de


alimentos e a produção de leite cai. Animais mantidos no pasto procuram locais com
sombra, reduzindo o pastejo e aumentando também a necessidade de água.

Ao falarmos sobre tolerância o calor, lembramos das raças dos países tropicais que se
adaptam a determinado aumento de temperatura ambiente sem a perda acentuada de sua
capacidade produtiva. Os fatores que dão tais característica a essas raças são:

-o pequeno grau de transformação energética sob condições de manutenção , causado


por uma redução da secreçao de tiroxina por Kg de massa corporal;

-o elevado numero de glândulas sudoríparas na pele, que promovem maior evaporação


de agua e conseqüente perda de calor;

-uma redução na capacidade aumentar a mas corporal ou leite e com isso reduzir a
formação de calor. Material: portal UFF

www.vetarquivos.blogspot.com

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