PEA2420 Energia Eolica Apostila

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ENERGIA ELICA

Profa Eliane Aparecida Faria Amaral Fadigas



Escola Politcnica Universidade de So Paulo






































Escola Politcnica
Universidade de So Paulo

PEA 2420 PRODUO DE ENERGIA

Profa Eliane Aparecida Faria Amaral Fadigas




2007
ENERGIA ELICA
Fundamentos, Converso,
aplicaes e viabilidade
tcnico-econmica
2
ENERGIA ELICA


1- INTRODUO


A energia elica vista hoje, como uma fonte de gerao de eletricidade com perspectivas de
gerar quantidades substanciais de energia sem os impactos ambientais provocados por grande
parte das fontes convencionais. Sua escala de desenvolvimento depender mais dos cuidados que
se deve tomar ao escolher a turbina ideal e o local mais apropriado para implantao da mesma.

A energia elica j vem sendo utilizada h milhares de anos para moagem de gros,
bombeamento dgua e outras aplicaes mecnicas. Atualmente, existem milhares de turbinas
elicas em operao ao redor do mundo, no apenas para gerar energia mecnica com tambm
eletricidade. Para esta ltima aplicao, as turbinas so descritas normalmente como sistemas de
converso de energia elica ou aerogeradores.

Pesquisas voltadas gerao de eletricidade atravs do aproveitamento dos ventos vm sendo
realizadas desde o sculo XIX (com vrios graus de sucesso). Existe hoje, uma extensa gama de
turbinas comerciais, disponveis, fabricadas por aproximadamente 30 empresas instaladas ao redor
do mundo.

O custo de uma turbina elica vem decrescendo desde 1980. A tecnologia continua sendo
aperfeioada com o objetivo de baratear os custos e tornar-se mais segura. Assim sendo, espera-
se que em poucos anos, este tipo de gerao se torne competitiva com as tecnologias
convencionais.

O funcionamento de uma turbina elica envolve vrios campos do conhecimento, incluindo
meteorologia, aerodinmica, eletricidade, controle, bem como a engenharia civil, mecnica e
estrutural.


2- HISTRICO DA UTILIZAO DA ENERGIA OS VENTOS

A energia dos ventos foi uma das primeiras fontes de energia mecnica de origem no animal a
ser explorada pelas primeiras civilizaes. Consiste na energia cintica contida nos movimentos
das massas de ar na atmosfera (ventos), produzidos essencialmente atravs do aquecimento
diferenciado das camadas de ar pelo Sol (gerao de diferentes densidades e gradientes de
presso), e atravs do movimento de rotao da Terra sobre o seu prprio eixo.

A primeira utilizao da energia dos ventos foi para impulsionar barcos vela, porm sua
explorao de forma esttica por meio de moinhos de vento acredita-se que se deu h
aproximadamente 3000 anos. A partir de ento, estes equipamentos se difundiram rapidamente
nos pases da Europa e sia em diversas aplicaes tais como moagem de gros, bombeamento
dgua, entre outros. O pas dos moinhos de vento sempre foi a Holanda. Cerca de 20 000
moinhos de vento, estavam em funcionamento neste pas ao final do sculo XVIII. Ao final do
sculo XIX, pases como a Alemanha, Inglaterra e Dinamarca possuam cada um mais de 10 000
moinhos instalados. Entretanto, neste sculo, a introduo das mquinas a vapor durante a
Revoluo Industrial, conduziu a um declnio gradual no uso destes equipamentos na Europa.

Por outro lado, medida que o Oeste Americano foi se desenvolvendo no sculo XIX, milhares de
moinhos de vento foram surgindo, a maioria utilizada no bombeamento de gua nas fazendas e
ranchos. Por volta de 1900, pequenos sistemas elicos foram desenvolvidos para gerar energia
eltrica em corrente contnua para carregar baterias. A maioria destes sistemas, por volta de 1930,
caiu em desuso quando a rede eltrica que proporcionava uma energia eltrica mais barata
comeou a alcanar as reas rurais.
3

O desenvolvimento de sistemas elicos de grande porte comeou na Dinamarca por volta de 1890.
No comeo da dcada de 40, um sistema elico de 1,25 MW foi colocado em operao em
Vermont; o gerador elico Grandpas Knob, interligado a rede eltrica local durante a II Guerra
Mundial. No entanto, aps a guerra, o declnio nos preos do petrleo fez com que este sistema
fosse desativado.

Aps o choque do petrleo em 1973, a pesquisa, desenvolvimento e utilizao dos sistemas
elicos voltam a ter um grande impulso mantido at os dias de hoje. Inmeras pesquisas foram
conduzidas nos EUA, Alemanha, Dinamarca e outros pases resultando em aperfeioamentos nas
tecnologias existentes como tambm em inovaes. Turbinas de maior porte foram instaladas nos
EUA, Frana, Dinamarca, Alemanha, entre outros pases.


3- FUNDAMENTOS DA ENERGIA ELICA

3.1 O vento e suas caractersticas

Os ventos que sopram na terra so massas de ar que se movem resultante das variaes de
presso do ar. As variaes na presso do ar so causadas devido s diferenas no grau de
aquecimento das diversas regies da Terra.

O vento principalmente gerado pelo maior aquecimento da superfcie da Terra perto do equador
do que perto dos plos. Isto faz com que ventos das superfcies frias circulem dos plos para o
equador para substituir o ar quente que sobe nos trpicos e move-se pela atmosfera superior at
os plos, fechando o ciclo.

A rotao da Terra tambm afeta esses ventos planetrios. A inrcia do ar frio, que se move perto
da superfcie em direo ao equador, tende a gir-lo para o oeste, enquanto o ar quente, movendo-
se na atmosfera superior em direo aos plos, tende a ser desviado para o leste. Isso causa uma
grande circulao anti-horria em torno de reas de baixa presso no hemisfrio norte e circulao
horria no hemisfrio sul. Uma vez que o eixo de rotao da Terra inclinado em relao ao plano
no qual ela se move em torno do Sol, ocorrem variaes sazonais na intensidade e direo do
vento em qualquer lugar na superfcie da Terra.

Enorme quantidade de energia constantemente transferida do Sol aos ventos da Terra,
correspondendo a uma capacidade de potncia total estimada em 10
11
GW. Entretanto, apenas
ventos das camadas atmosfricas mais baixas (at 150 m de altitude), apresentam interesse
prtico para converso de sua energia. O vento tambm fortemente influenciado pela topografia
local. Onde h ausncias de massas de terra, como no Mar Antrtico, a circulao de ar forte e
razoavelmente uniforme. Mas onde h predominncia de terra, a atmosfera envolvente chamada
a atuar como um trocador de calor entre o oceano prximo, esttico termicamente, e as reas de
terras aquecidas no vero e resfriadas no inverno, produzindo circulao geral menos uniforme,
que muito influenciada pela topografia local.

Adicionalmente ao sistema de vento global (equador plos) h tambm os modelos de vento
locais, como os do mar para o continente e vice-versa e o dos vales para as montanhas e vice-
versa.

As brisas marinhas e terrestres so geradas nas reas costeiras como resultado da diferena nas
capacidades de absoro de calor da terra e do mar. Durante o dia, devido maior capacidade da
terra de refletir os raios solares, a temperatura do ar aumenta e, como conseqncia, forma-se
uma corrente de ar que sopra do mar para a terra (brisa marinha). noite, a temperatura da terra
cai mais rapidamente do que a temperatura da gua e, assim, ocorre a brisa terrestre que sopra da
terra para o mar.

4
Os ventos das montanhas e vales so criados quando durante o dia, o ar frio da montanha se
aquece e, quando este ar quente se eleva, d lugar ao ar frio que flui dos vales. No perodo
noturno, o fluxo se inverte, com o ar frio da montanha penetrando nos vales e o ar quente dos
vales subindo em direo montanha. A figura 1 ilustra o movimento dirio do vento formado pela
diferena de temperatura entre o mar e o continente e entre as montanhas e os vales.

















Figura 1 Circulao local dos ventos


Parmetros que influenciam no perfil do vento

Os ventos locais sofrem a influncia de diversos parmetros do local, e estes devem ser
conhecidos quando se deseja estimar o regime de vento em um determinado local atravs do
conhecimento dos dados de vento de outros locais. Os fatores que influenciam na velocidade dos
ventos em um determinado local so:

Obstculos prximos ao local de medio
Rugosidade do terreno. Tipo de vegetao, tipo de utilizao da terra e construes.
Orografia. Existncia de colinas e depresses

Informaes sobre as condies de contorno do local podem ser obtidas atravs de mapas
topogrficos, dados de satlites ou visitas ao local de instalao.

A velocidade do vento varia tambm com a altura. Normalmente os anemmetros das estaes de
medio so instalados a uma altura de 10 metros do solo. Em funo da altura de instalao do
cubo do aerogerador, a velocidade do vento tem que ser corrigida. Existem leis que regem a
influncia da altura na velocidade do vento e que sero detalhadas a seguir nesta seo.

Variao da velocidade com a altura

Da mecnica dos fludos, experimentos mostram que a velocidade de um fludo que escoa prximo
a uma superfcie, se anula, funo da viscosidade desse fludo. Levantando-se o perfil de
velocidade do fludo com a altura, verifica-se que, no sentido perpendicular altura, a velocidade
passa de um valor nulo e atinge uma velocidade de escoamento V. A regio junto superfcie em
que ocorre esta rpida mudana no valor de velocidade conhecida como camada limite.

No interior da camada limite, normalmente o ar escoa com uma certa turbulncia, tendo em vista a
influncia dos parmetros tais como: massa especfica e viscosidade do fluido, o acabamento da
superfcie (rugosidade), a forma da superfcie (presena de obstculos).

5
Como as turbinas elicas so instaladas no interior da camada limite (at 150 metros), torna-se
importante conhecer a distribuio da velocidade do vento com a altura.

Da Mecnica dos Fludos, dois modelos so utilizados no desenvolvimento da camada limite em
aplicaes para aproveitamento da energia elica: modelos conhecidos como Lei da potncia e
Lei logartmica

A lei de potncia resultou de estudos da camada limite sobre uma placa plana. a mais simples
de ser aplicada, porm sem uma preciso muita apurada. A lei de potncia expressa por:

V= V
o
(H/H
o
)
n

Onde:
V velocidade do vento na altura desejada (altura da turbina)
V
o
velocidade do vento disponvel na altura conhecida
H altura desejada (altura da turbina)
H
o
altura conhecida (altura de medio)
n fator de rugosidade do terreno

A topografia do terreno e obstculos, tais como rvores e construes influenciam no perfil vertical
do vento, como demonstrado na equao atravs do fator n. A tabela 1 apresenta alguns valores
do fator n para diferentes tipos de superfcie.

Tabela 1 Fator de rugosidade para terrenos planos

Descrio do terreno n
Terreno sem vegetao 0,10
Terreno gramado 0,12
Terreno cultivado 0,19
Terreno com poucas rvores 0,23
Terreno com : muitas rvores, cerca viva ou poucas
edificaes
0,26
Florestas 0,28
Zonas urbanas sem edificaes altas 0,32

O modelo baseado na Lei Logartmica mais complexo, pois leva em conta que o escoamento na
atmosfera altamente turbulento. A lei logaritima expressa por:



onde

Z
o
comprimento de rugosidade
V(Z) velocidade do vento na altura Z (altura da turbina elica)
Zr altura de referncia (altura e medio)
V(zr) velocidade do vento na altura de referncia

A tabela 2 mostra valores de comprimento de rugosidade (Zo) para vrios tipos de terrenos.



|
|

\
|
|
|

\
|
=
o
r
o
r
z
z
z
z
z V z V
ln
ln
) ( ) (
6
Tabela 2 Valores de comprimento de rugosidade (Zo)

Descrio do terreno Zo (mm)
Liso, gelo, lama 0.01
Mar calmo 0.20
Mar agitado 0.50
Neve 3.00
Gramado 8.00
Pasto acidentado 10.0
Campo em declive 30.0
Cultivado 50.0
Poucas rvores 100.0
Muitas rvores 250.0
Poucos edifcios, florestas 500.0
Subrbios 1.500.0
Zonas urbanas com edifcios altos 3.000.0


Rugosidade do terreno

Na expresso da lei de potncia, o parmetro n, bem como o valor Z
o
na lei logartmica, esto
associados rugosidade do terreno.

Na figura 2, observa-se a influncia da mudana da rugosidade de um valor z
o1
para z
o2
no perfil
vertical do vento, depois da distncia x. O parmetro z
o
uma escala de comprimento e est
associado altura onde a velocidade mdia se anula, se o perfil de velocidade varia
logaritmicamente com a altura. A altura h da nova camada limite uma funo de x. O valor de z
o

considerado uma grandeza que muda com as mudanas naturais da paisagem.














Figura 2 Influncia da mudana da rugosidade no perfil vertical do vento

Obstculos

Os obstculos tambm influenciam no nvel e distribuio da velocidade dos ventos provocando o
efeito de sombreamento. Vrios fatores influenciam no escoamento, tais como: as formas das
rvores, as distncias entre elas, sua porosidade, etc. Em geral, nas anlises, os obstculos so
considerados como caixas com seo transversal retangular. Deve-se analisar a posio do
obstculo relativa ao ponto de interesse, suas dimenses (altura, largura e comprimento) e sua
porosidade, esta ltima definida como a relao entre a rea livre e a rea total de um obstculo. A
porosidade de rvores, por exemplo, varia com a queda das folhas, isto , com a poca do ano.


7

Orografia

Variaes na altura do terreno, por exemplo, a presena de colinas, vales, depresses, provocam
um aumento na velocidade e considervel mudana de direo. Para descrever o relevo de uma
superfcie normalmente so utilizadas curvas de nvel. A figura 3 ilustra o escoamento de uma
colina ideal, mostrando o desenvolvimento do perfil de velocidades a montante e no topo da
colina.













Figura 3 Escoamento em torno de uma colina ideal


3.2 Medies de vento

Considerando que o vento, um recurso aleatrio, ou seja, impossvel de se prever com exatido
devido ao seu processo de formao, e pelo fato da energia gerada ser proporcional ao cubo da
velocidade do vento, torna-se extremamente importante que a determinao do regime dos ventos
seja feita com a maior exatido possvel, pois erros de medio conduzem ao inadequado
dimensionamento do sistema elico, desempenho e predio da energia anual gerada e
consequentemente riscos financeiros ao empreendedor.

Existe atualmente no mercado uma variedade de instrumentos para medio de velocidade e
direo do vento que vo desde anemmetros manuais at equipamentos automatizados. Na
realizao de medies para levantamento do potencial elico para fins de gerao de energia
eltrica normalmente so utilizados os anemmetros com sistema informatizado de aquisio e
transmisso de dados.

O ideal seria tambm realizar a coleta de dados referentes temperatura, umidade e presso, pois
todos esses parmetros afetam a potncia disponvel. Consideraes prticas justificam omisses
de fatores cujos efeitos so menores que o percentual de erro esperado.

A presso atmosfrica no causa mudanas na densidade do ar em mais de 5% anualmente. A
umidade afeta os valores de potncia em cerca de 2% e em menos de 1% nas regies semi-
ridas. A temperatura dever ser coletada sempre que cause mudanas na densidade maior que
5%. A densidade do ar d em kg/m
3
pode ser calculada pela seguinte expresso:

d=0,456 p / (273+T)

onde p a presso atmosfrica, em milmetros de mercrio, e T a temperatura do ar, em graus
centgrados.

A direo do vento um importante parmetro a ser analisado, pois mudanas de direo
freqentes indicam situaes de rajadas de vento. A medida de direo do vento auxilia na
determinao do local ideal para instalao das turbinas em um parque elico. Os dados relativos
8
direo do vento no entram nos clculos da estimativa do potencial elico, todavia, para maior
preciso, estes so necessrios no projeto dos sistemas de controle de guinada do sistema
conversor. Se um aerogerador tem problemas de controle no sistema de guinada, a energia por ele
gerada poder ser substancialmente reduzida se a direo do vento mudar com freqncia.

No aproveitamento da energia elica para fins de gerao de eletricidade, torna-se importante
distinguir os vrios tipos de variaes temporais da velocidade dos ventos, a saber: variaes
anuais, sazonais, dirias e de curta durao.

Variaes anuais Para se ter um bom conhecimento do regime dos ventos recomendvel que
se realize medies por vrios anos. Com uma maior quantidade de dados, a determinao do
regime dos ventos torna-se mais confivel.

Variaes sazonais - O aquecimento desigual da terra durante as estaes do ano resultam em
regimes diferenciados de vento. Como a energia contida no vento proporcional ao cubo da
velocidade do vento, a utilizao de mdias anuais ao invs de mdias sazonais pode levar a
resultados menos realistas.

Variaes dirias Num projeto de um sistema elico em que se deseja um dimensionamento
timo (baixo custo e mxima confiabilidade), torna-se necessrio utilizar dados em bases dirias e
at mesmo horrias. Percebe-se que durante o ano h uma significativa variao do perfil dirio do
vento de um ms para outro. Tambm dentro de um determinado ms, ao longo de um dia tambm
h significativas alteraes no perfil de vento. Esta informao deve ser devidamente analisada
nos estudos de compatibilizao entre perfil de carga e gerao.

Variaes de curta durao Esto associadas a pequenas flutuaes como tambm s rajadas
de vento. importante o conhecimento destas variaes, pois as mesmas podem afetar a
integridade estrutural do sistema elico.

A figura 4 mostra uma curva com dados de vrios anos e a figura 5 mostra as variaes tpicas de
curta durao para um dia.
















Figura 4 Velocidades mdias para perodos de longa durao (anos)








9











Figura 5 Variaes de curta durao

3.3 Estimativa do potencial elico de um determinado local

A medio detalhada de um determinado local, ou seja, cobrindo uma rea extensa, com vrios
instrumentos instalados distncias relativamente prximas, custosa, e para baratear os custos
existem algumas tcnicas que no fornecem informaes to precisas, mas podem dar uma
indicao do potencial elico do local e indicar se vale a pena realizar medies mais precisas.

a) Utilizao de dados de medies realizadas em locais prximos

Esta tcnica envolve a utilizao dos dados de estaes de medio existentes, de um ou mais
locais, normalmente estaes meteorolgicas e estaes situadas nos aeroportos que estejam
prximos dos locais que sero avaliados, derivando os dados para o local de interesse atravs de
interpolaes e extrapolaes, levando em conta as diferenas entre o local que est sendo
avaliado e os locais cujos dados so disponveis.

b) Utilizao de mapas ou Atlas elicos

Os mapas so construdos a partir de medies realizadas ou contratadas por organismos oficiais
ou institutos especializados e fornecem uma estimativa da velocidade mdia anual dos ventos. No
entanto, a maioria dos mapas ou Atlas so construdos usando dados de estaes meteorolgicas
que esto normalmente localizadas em locais no apropriados para gerao de energia.

No Brasil, quase no existem dados de vento com qualidade para uma avaliao do potencial
elico. Os primeiros anemgrafos computadorizados e sensores especiais para energia elica
foram instalados no Cear e em Fernando de Noronha na dcada de 90. O que existia antes eram
dados coletados para outros usos (aeroportos, estaes meteorolgicas, agricultura) que so
pouco representativos da energia contida nos ventos.

J a nvel regional, a Distribuio Estatstica da Energia Elica do Nordeste, editado pela CHESF
em 1989, apresenta uma boa consistncia e utiliza dados mais confiveis que foram tratados com
rigor compatvel.

Diversos trabalhos isolados do levantamento do potencial elico vm sendo conduzidos nestes
ltimos anos podendo-se destacar o Centro de Pesquisas em Energia Eltrica (CEPEL),
EMBRAPA, ANEEL, Secretarias Estaduais de Agricultura, Concessionrias de Energia Eltrica,
entre outros.

Em 1998 o Centro Brasileiro de Energia Elica (CBEE) lanou a primeira verso do Atlas Elico do
Nordeste.

O Atlas Elico Nacional, elaborado pelo CBEE e o CEPEL, foi finalizado em 2002 e pode ser usado
para se ter uma estimativa preliminar do potencial elico das diversas regies.

10
A figura 6 mostra o Atlas do potencial elico nacional.

















Figura 6 - Atlas elico do Brasil


c) Modelos Computacionais de simulao do comportamento do vento

Existem uma variedade de programas computacionais desenvolvidos com o objetivo de tentar
estimar os efeitos da topografia na velocidade do vento. Os dados da estao de medio mais
prxima, junto com a descrio dos locais, so utilizados e os efeitos locais so levados em conta
para se chegar aos dados de vento para o local desejado. Usados com cuidado, estes modelos
podem ser teis para se ter uma avaliao inicial para identificar locais com potencial para
instalao de turbinas elicas. Um dos programas computacionais mais populares no mundo o
programa denominado WASP (Wind Atlas Analysis and Application Program) desenvolvido pelo
laboratrio dinamarqus RISO. O programa permite definir o comportamento da velocidade e
direo dos ventos corrigidos dos efeitos locais: variao da altura, rugosidade, obstculos e
relevo. Alm disso, o programa, possui condies de estimar a produo de energia da turbina,
auxiliar na localizao de sistemas elicos e nas anlises de fazendas elicas. Sua principal
desvantagem sua limitao quando usado em terrenos complexos e estratificao no ajustada a
situaes climticas fora da Europa.

Alm do modelo computacional Wasp, existem outros procedimentos, tais como o modelo
mesoescala que utiliza dados de satlites. De uma forma geral, estes procedimentos requerem
muito esforo computacional, mas possibilitam descries extensivas do movimento do fludo em
trs dimenses, especialmente para terrenos montanhosos mais complexos e possuem boa
aplicao em diferentes condies climticas.

d) Medio do vento no local de interesse.

Para um dimensionamento mais confivel, interessante aps um estudo preliminar de
identificao dos stios mais promissores, instalar equipamentos de medio e efetuar a coleta de
dados por um perodo de pelo menos um ano.

Existem normas internacionais aplicadas a instalao dos equipamentos de medio e coleta de
dados. Para se obter dados confiveis, necessrio que sejam aplicadas boas prticas na
seleo, calibrao e instalao dos anemmetros e na escolha do local de medio.

A calibrao dos anemmetros deve ser feita periodicamente. Em algumas faixas de potncia, um
erro de 1% na medio acarreta em uma incerteza de 3% na produo de energia, visto que a
potncia elica proporcional ao cubo da velocidade do vento. De acordo com o Instituto Alemo
11
de Energia Elica (DEWI), absolutamente necessria a calibrao de um anemmetro
individualmente, em um tnel de vento, antes e aps uma campanha de medio.

A seleo adequada do anemmetro tambm importante. Anemmetros de m qualidade
causam incertezas na medio dos ventos. Sob regime de turbulncia, os anemmetros podem se
comportar diferentemente em relao ao tnel de vento.

Outra fonte de erro nas medies est relacionada com a instalao inadequada dos
anemmetros. As extenses dos mastros devem ser montadas de tal modo que a perturbao do
campo de escoamento devido ao mastro seja minimizada. Caso seja necessria a proteo contra
raios, a mesma regra deve ser seguida. A exatido da montagem horizontal dos anemmetros
tambm importante para evitar os efeitos da inclinao.

Como j mencionado, devido s variaes sazonais do vento, recomendvel que as medies
sejam executadas por um perodo de pelo menos um ano.

Para grandes parques elicos em terrenos acidentados, devem ser escolhidas duas ou trs
posies para colocao de mastros meteorolgicos. Pelo menos uma medio deve ser feita na
altura do eixo das turbinas, pois a extrapolao, a partir de uma altura inferior para a altura do eixo,
traz incertezas adicionais. Se um dos mastros meteorolgicos for posicionado prximo rea do
parque elico, este poder ser utilizado como um mastro de referncia da velocidade do vento
durante a operao do sistema, para permitir a determinao do seu desempenho.

Recomenda-se com os dados, fazer uma correlao com dados de longo prazo coletados por
estaes previamente existentes. Aps esta correlao possvel fazer uma previso da
distribuio da velocidade em longo prazo no stio escolhido. A este procedimento d-se o nome
de MCP Medir, correlacionar e prever. A figura 7 ilustra atravs de diagrama de blocos este
mtodo.










MEDIR CORRELACIONAR















Figura 7- Mtodo MCP

MEDIR
Sitio de Referncia:
Disponibilidade de
dados a longo e curto
prazo
Stio previsto:
Perodo de medio idntico
ao perodo do stio de
referncia
Correlao
(regresso) para doze
setores de direo de 30
graus
Previso da distribuio da
velocidade ao longo prazo
no stio previsto
CORRELACIONAR
PREVER
12
3.4 Determinao do regime dos ventos


O ponto de partida para se dimensionar um sistema para aproveitamento da energia elica ter
um bom conhecimento do regime de vento.

Como descrito, os dados de vento podem ser obtidos na forma de srie temporais. Os sistemas de
aquisio de dados medem continuamente as velocidades, porm, como procedimento usual,
fornecem a cada intervalo de tempo ou perodo de amostragem (ex: 10 min, 1 hora) um valor
mdio. Dessa forma, pode-se verificar a variabilidade da velocidade do vento em diferentes
perodos. O regime de vento pode ser caracterizado por fatores geogrficos, indicaes de direo
em que sopram, altura de medio, caractersticas do terreno, parmetros atmosfricos
(temperatura, presso), dados estes utilizados no apenas para estimar a produtividade energtica
de uma determinada turbina, como tambm escolher o melhor local para sua instalao
considerando aspectos de produo (fator de capacidade), custos, impactos ambientais, entre
outros.

Em suma, o conhecimento detalhado do regime de vento de crucial importncia tendo em vista
que erros na predio dos ventos conduzem a um mau dimensionamento do sistema e erros na
estimativa de produo de energia com conseqentes riscos financeiros. Lembrar que pequenas
variaes na velocidade do vento causam grandes variaes na sua potncia devido a relao
cbica entre ambas.

Vamos supor que se obteve uma srie de dados coletados de uma estao anemomtrica por um
determinado perodo de medio. Ou seja, dados de velocidade e direo dos ventos, valores
mdios, fornecidos a cada intervalo de tempo (Ex: a cada 10 minutos) por um determinado perodo
(Ex: um ano). Existem vrias formas de se compactar este enorme volume de dados de tal forma
que se possa representar e avaliar o potencial elico de um determinado local. Isto pode ser feito
utilizando-se de duas tcnicas: 1) Mtodo direto de anlise dos dados e 2) Anlise estatstica dos
dados. Algumas dessas tcnicas podem ser usadas tambm quando no se tem uma srie de
dados e sim pouca informao (Ex: velocidade mdia anual dos ventos apenas) de um
determinado local.

A estimativa do potencial elico consiste na determinao da produtividade de uma turbina elica
instalada em um determinado local a partir do uso da srie de dados medidos ou do uso dos dados
representados em uma forma compacta (Ex: velocidade mdia e desvio padro). A figura 8 mostra
um modelo de curva de potncia de uma turbina elica.

















Figura 8 Curva de potncia de uma turbina elica

13
A curva de potncia ilustra trs importantes velocidades de vento:

- V
e
(Velocidade de entrada). Velocidade do vento a partir da qual a turbina comea a
produzir energia
- V
n
(Velocidade nominal). Velocidade do vento em que a turbina atinge sua potncia
nominal
- V
c
(velocidade de corte). Velocidade do vento a partir da qual a turbina desligada para
evitar problemas estruturais

A caracterizao dos dados de vento bem como a determinao da produtividade energtica de
uma turbina elica pode ser feita usando os mtodos descritos a seguir:

3.4.1 Mtodo direto de anlise dos dados


A srie de dados obtida de uma determinada estao anemomtrica pode ser usada para calcular
os seguintes parmetros:
1) A velocidade mdia V

de um determinado perodo ( Ex: um ano, ou do perodo total de


medio). A velocidade mdia pode ser calculada pela seguinte equao:

=
N
i
i
V
N
V
1
1
(3.4.1)
onde:

N Nmero de observaes

2) O desvio padro
V
de uma velocidade mdia individual . Pode ser calculada pela
seguinte equao:

=
|

\
|

2
1
2
2
1
1
1
1
1
N
i
i
N
i
i V
V N V
N
V V
N
(3.4.2)

O desvio padro representa a variabilidade de um determinado conjunto de valores da velocidade
do vento. A varincia definida como a mdia dos quadrados dos desvios ( )
2
V
. Caracteriza a
disperso do valores da varivel V
i
. Assim, um pequeno valor de
2
V
indica que os valores da
varivel concentram-se prximo de uma valor mdio.
3) A densidade mdia de potncia,
A
P

representa a potncia mdia disponvel por unidade de


rea. calculada pela seguinte expresso:

\
|
=
N
i
i
V
N A
P
1
3
1
2
1
(3.4.3)

onde:
- densidade do ar (kg/m
3
)

14
Da mesma forma, a densidade de energia por unidade de rea para uma determinado perodo
t N dado por:

( ) ( ) t N
A
P
t N V
A
E
N
i
i

|
|
|

\
|
=
|

\
|
=

=

1
3
2
1
(3.4.4)
Ex: Se a cada 10 minutos, o sistema de aquisio de dados envia um valor mdio de velocidade de
vento (mdia dos dados instantneos de velocidade do vento medidos neste intervalo de tempo),
no perodo de 1 dia por exemplo (24 horas 60 minutos = 1440min), N ser igual a 144 (
1440min/ 10 minutos), portanto, min 10 144 = t N .
4) A potncia mdia da turbina ,

e
P , calculada por:

( )

=
N
i
i e e
V P
N
P
1
1
(3.4.5)
onde:

P
e
(V
i
) a potncia disponibilizada pela turbina definida pela curva de potncia dada pelo
fabricante.

5) A energia produzida pela turbina, E
e
, dada por:

E
e
= ( )( )

N
i
i e
t V P
1
(3.4.6)
3.4.2 Classes de velocidades

Uma outra forma de compactar os dados e com estes determinar a produtividade energtica de
uma turbina dividir os dados em classes de velocidades as quais se associa um intervalo de
tempo ou freqncia de ocorrncia a qual chamamos de freqncia absoluta. Observe o grfico
mostrado na figura 9. Neste grfico, so representadas no eixo horizontal, classes de velocidades
ou intervalos de velocidades. conveniente que estas classes ou intervalos de dados tenham a
mesma largura ( ) V . No caso do grfico os intervalos so de 1m/s. Registrou-se ventos variando
de 0 a 20m/s e assim sendo dividiu se os dados em 20 intervalos iguais de 1m/s (I = 20). A cada
intervalo existe um nmero de ocorrncias ou freqncia de ocorrncia (freqncia absoluta) f
j
. A
freqncia relativa f
r
associada a cada intervalo j,

obtida dividindo-se a freqncia de ocorrncia
absoluta f
j
pelo nmero total de observaes N.













Figura 9 Histograma de velocidades do vento

15
O nmero de ocorrncias ou nmero total de observaes dado por:

=
=
I
i
j
f N
1
(3.4.7)

Os valores obtidos pelo mtodo direto apontado no item 3.4.1, equao 3.4.1, 3.4.2, 3.4.3, 3.4.4 ,
3.4.5 , 3.4.6 , podem ser determinados pelas seguintes equaes:

=
I
j
j j
f m
N
V
1
1
(3.4.8)
onde:
m
j
= valor mdio de cada intervalo = ( ) [ ] V V j V + +
2
1
1
min

|
|

\
|

\
|

=

= =

I
j
I
j
j j j j
I
j
j j V
f m
N
N f m
N
V N f m
N
1
2
1
2
1
2
2
1
1
1
1
1
(3.4.9)
( )

=

=
I
j
j j
f m
N A
P
1
3
1
2 / 1 (3.4.10)

=
I
j
j j e
e f m P
N
P
1
) (
1
(3.4.11)

=
=
I
j
j j e e
t f m P E
1
) ( (3.4.12)

Caso no exista disponibilidade de uma curva de freqncia (disponibilidade de dados de pelo
menos 1 ano) as velocidades podem ser projetadas, partindo-se da velocidade mdia, usandose
a distribuio de Rayleigh ou Weibull que so modelos probabilsticos utilizados para modelar,
aproximadamente, as curvas de freqncia de velocidade.

A funo densidade de probabilidade de Rayleigh a mais simplificada e fica definida apenas com
o conhecimento da velocidade mdia. definida pela seguinte expresso.

( ) g V
V
V
V
V
=
|
\

|
|

(
(


2 4
2
2
exp (3.4.13)

A limitao imposta pelo uso da distribuio de Rayleigh que esta no permite representar muitas
situaes prticas de interesse, especialmente quando as velocidades so muito altas.

A equao que melhor se ajusta ao histograma de velocidades a funo densidade de
probabilidade de Weibull, definida por:

p(v) =
(
(

\
|
|

\
|

k k
c
v
c
v
c
k
exp
1
(3.4.14) onde:
16
p(v) probabilidade de ocorrncia de velocidade de vento
v velocidade do vento
c fator de escala
k fator de forma

Conhecendo os valores de c e de k, possvel determinar a distribuio das freqncias de
velocidades de vento para um local especfico.

A figura 10 mostra as curvas representando dados medidos e estimados usando as funes de
Weibull e Rayleigh.


















Figura 10 Distribuio de Freqncias da velocidade do vento


3.5 Potncia contida no vento

A potncia definida como a razo pela qual a energia usada ou convertida por unidade de
tempo, por exemplo, joules/seg. A unidade da potncia o watt (W) e um watt igual a 1 joule/seg
de acordo com a unidade do Sistema Internacional (SI).

A energia contida no vento a energia cintica, ocasionada pela movimentao de massas de ar.
A energia cintica do vento (E) dada pela frmula:

E = mv
2
joules (3.4.15)

Onde m = massa de uma partcula de ar em kilogramas e v = a sua velocidade em m/seg.

Podemos calcular a energia cintica do vento se, primeiro, imaginarmos o ar passando atravs de
um anel circular (circundando uma rea A, digamos de 100m
2
) a uma velocidade v (digamos
10m/s) (figura 11). medida que o ar vai se movendo a uma velocidade de 10m/s, um cilindro de
ar com um comprimento de 10 metros vai se formando a cada segundos. Portanto, um volume de
ar de 100 10 = 1000 metros cbicos passar pelo anel a cada segundo. Multiplicando este
volume pela densidade do ar (1.2256 kg/m
3
ao nvel do mar), obtemos a massa de ar movendo
atravs do anel a cada segundo. Em outras palavras:

A massa de ar que se move atravs de uma determinada rea na unidade de tempo (seg) dada
por: densidade do ar volume de ar passando a cada segundo, que igual a: densidade do
ar reacomprimento do ar passando a cada segundo, ou seja:

17

Av m = (3.4.16)

onde densidade do ar; v a sua velocidade em m/s e A a rea (em m
2
). O produto Av,
representa a taxa de fluxo volumtrico de ar passando pelas ps.















Figura 11 Volume de ar passando atravs de um anel circular , a um velocidade de
10m/s


Substituindo a equao da massa m na frmula da energia cintica, a energia cintica por segundo
ou em outras palavras potncia do vento ser igual :


P = . . A . v
3
( joules por segundo = watts) (3.4.17)

Para turbinas de eixo horizontal como a indicada na figura 12, a rea varrida pelas ps do rotor
dada pela seguinte expresso:


2
4
D A

= onde, D o dimetro do rotor (3.4.18)
















Figura 12 rea varrida pelas ps de uma turbina de eixo horizontal

Para fins de comparao da potncia elica a diferentes velocidades e em diversos locais mais
prtico considerar a potncia por unidade de rea (P/A).

18

P/A = . . v
3
( Watts/ m
2
) (3.4.19)

P/A a potncia contida no vento que atinge a parte frontal da turbina. Esta varia linearmente com
a densidade do ar e com o cubo da velocidade do vento. Como veremos mais adiante, apenas
uma parte desta potncia aproveitada nas ps do rotor. A parte no aproveitada levada pelo ar
que deixa as ps movendo-se com velocidade reduzida.

Como j apresentado na seo 3.1 a densidade do ar varia com a presso e temperatura
conforme a seguinte expresso:


T R
p
.
= (3.4.20)
onde

p = presso do ar
T= temperatura em escala absoluta
R= constante do gs

A densidade do ar ao nvel do mar, temperatura de 15
o
C e 1 atm de 1.2256 kg/m
3
. Usando este
valor como referncia, a densidade corrigida para as condies de temperatura e presso de um
determinado local. A temperatura e presso variam com a altitude do local. O efeito combinado na
densidade do ar dado pela seguinte expresso, vlido para altitudes at 6000 metros.


)
`

=
3048
297 , 0
.
m
H
o
e (3.4.21)

onde:

H
m
altitude do local

Recordemos que para um mesmo local, a velocidade do vento varia com a altura acima do nvel do
terreno pelo menos at os nveis de interesse prtico (cerca de 150 m). A mudana na velocidade
do vento com a altura pode ser estimada atravs da frmula:

V= V
o
(H/H
o
)
n
(3.4.22)
Onde:
V velocidade do vento na altura desejada (altura da turbina)
V
o
velocidade do vento disponvel na altura conhecida (altura de medio)
H altura desejada
H
o
altura conhecida
n fator de rugosidade do terreno

A topografia do terreno e obstculos, tais como rvores e construes afetam a velocidade do
vento, como demonstrado na equao atravs do fator n (tabela 1).

Os aspectos mais relevantes so que a potncia do vento depende da rea de captao e
proporcional ao cubo de sua velocidade. Pequenas variaes da velocidade do vento podem
ocasionar grandes alteraes na potncia.

A figura 13 mostra a curva da potncia do vento em funo da velocidade do vento. Para uma
velocidade do vento de 8m/s, por exemplo, a potncia por m
2
contida no vento de 314W/m
2
. Com
o dobro da velocidade (16m/s), a potncia cresce para 2509W/m
2
, ou seja, oito vezes maior. Assim
19
verificamos a sensibilidade da produo de energia em funo da variabilidade da velocidade do
vento.














Figura 13 Curva de potncia do vento em funo de sua velocidade


4- Processo de converso da energia elica em energia eltrica

4.1 Potncia extrada do vento

Apenas uma parte da potncia contida no vento possvel de ser extrada por uma turbina elica e
essa parte quantificada pelo coeficiente de potncia Cp, isto , a relao entre a potncia
possvel de se extrair do vento e a quantidade total de potncia nele contida. Esta perda de
potncia (mostrada por Albert Betz em 1928) devido as caractersticas aerodinmicas da turbina.
Segundo Betz, a mxima frao de potncia que pode teoricamente ser extrada da potncia do
vento de 16/27 ou 59,3%. A figura 14 mostra o perfil do vento aproximando e atravessando as
ps de uma turbina de eixo horizontal.















Figura 14 Perfil do vento ao longo de sua trajetria pelas ps de uma turbina

V1 = velocidade do vento no perturbado
V0= velocidade do vento ao se chocar com as ps
V2 = velocidade do vento aps passar pelas ps

V1>V0>V2

Pela lei da continuidade de fluxo: ,
20

ou seja, o fluxo de massa que chega at as ps, delas tm que sair. Se a velocidade do ar menor
na sada, este ar ocupar uma rea maior.

A potncia extrada dos ventos nas ps do rotor a diferena entre a potncia do vento que chega
pela parte frontal da turbina e a potncia contida no vento que deixa a turbina, vento este que sai
com velocidade reduzida. A potncia extrada do vento pode ser calculada pela seguinte
expresso:

{ }
2
2
2
1
.
2
1
V V m P
m
=
onde:

Pm = potncia mecnica extrada pelo rotor
V
1
= velocidade do vento na entrada da turbina
V
2
= velocidade do vento na sada da turbina
m = massa de ar por seg

A massa de ar que passa atravs da turbina por segundo obtida multiplicando a densidade do ar
pela volume de ar a cada segundo. Ou seja:

Massa de ar / seg = . Volume de ar / seg

Como Volume/ seg = rea . Distncia (L) / seg, e

Sendo L/seg = velocidade

Massa de ar / seg = . A . L/seg = . A .
2
2 1
V V +


Substituindo na equao acima, a potncia extrada do vento nas ps do rotor expressa por:


( )
( )
2
2
2
1
2 1
.
2
.
2
1
V V
V V
A P
m

)
`

+
=

Rearranjando algebricamente a equao acima:


2
1 1
. .
2
1
2
1
2
1
2
3
1
(
(

|
|

\
|

|
|

\
|
+
=
V
V
V
V
V A P
m


A potncia extrada da turbina comumente expressa pela seguinte expresso:


p m
C V A P . . . .
2
1
3
1
= sendo
2
1 1
2
1
2
1
2
(
(

|
|

\
|

|
|

\
|
+
=
V
V
V
V
C
p

.
2 2 2 1 1 1
m V A V A = =
21

C
p
com mencionado acima denominado como coeficiente de potncia ou eficincia do rotor ou
seja, traduz a quantidade de potncia aproveitada no eixo do rotor. O restante desperdiado no
vento que deixa as ps do rotor.

O mximo valor terico de Cp, denominado eficincia de Betz, de 59,3%.

A figura 15 mostra uma curva do coeficiente de potncia (eficincia mxima terica) em funo da
velocidade do vento.




















Figura 15 Curva de Cp (mximo eficincia terica) em funo da velocidade do vento

Onde :
P = Pm = potncia extrada do vento e, A V
3
1
2

, potncia contida no vento


Verifica-se que se V1=V0=V2, significa dizer que nenhuma parcela de vento interceptada pela
turbina e, portanto no haver converso de energia cintica em potncia no eixo (P=0, Cp=0).

Se V0=0, significaria dizer que todo o vento foi interceptado pelas ps, o que tambm redundaria
em nenhuma transformao de potncia.

A eficincia terica mxima (59,3%) obtida quando V0 = 2/3 V1

Na prtica, so conseguidas eficincias inferiores que dependem do perfil aerodinmico das ps,
nmero de ps, entre outros parmetros de projeto do rotor. A eficincia do rotor no constante e
funo da velocidade especfica RV (razo entre a velocidade tangencial, na ponta da p, e a
velocidade do vento incidente). A razo da velocidade ( velocidade especfica) de ponta de p ou
velocidade especfica calculada pela seguinte expresso:

RV= =
1 V
R


Onde: a velocidade angular do rotor em rad/seg, R o raio mximo da p, a velocidade do
vento no perturbado (v1), R a velocidade tangencial na ponta da p (metros/seg)
22
A configurao geral do sistema elico determinado conforme o tipo de aplicao e potncia que
vai nos indicar o tipo de rotor e gerador ideal para ser utilizado. O rendimento dos mesmos
fornecido pelo fabricante.

O grfico mostrado a seguir (figura 16), relaciona o coeficiente de potncia com a razo de
velocidade de ponta para diferentes tipos de turbinas.


















Figura 16 Eficincias aerodinmicas dos diversos tipos de rotores

Pegando como exemplo a curva de eficincia da turbina tipo hlice na figura 16, observa-se que,
para uma determinada velocidade de vento, existe um nico valor de RV, ou velocidade angular,
que fornece uma eficincia mxima. A partir deste valor, a eficincia inicia sua queda, tendo em
vista que a turbina no consegue extrair mais potncia do vento (funo do projeto aerodinmico).

Como a velocidade do vento varia instantaneamente, para manter a turbina trabalhando na sua
eficincia mxima que resulta na potncia mxima, necessria uma atuao do sistema de
controle, variando a velocidade angular de tal modo que o valor de RV seja continuamente igual ao
valor que fornece a mxima potncia. O RV para extrao da mxima potncia de
aproximadamente 1 (um) para turbinas multi-ps e de baixa rotao at valores prximo a 6 (seis)
para as modernas turbinas, de trs e duas ps

Podemos tambm definir a potncia mecnica no eixo da turbina como potncia rotacional.

Potncia (P) = Torque (T) (Newton-metro). Velocidade angular (w)

A mesma potncia pode ser transferida com grande torque e pequena velocidade ou pequeno
torque e grande velocidade. As caractersticas torque-rpm do rotor devem combinar-se com as
caractersticas de torque-rpm da carga.

A figura 17 mostra uma curva tpica de torque versus velocidade angular do rotor para duas
velocidades de vento V1 e V2, com V2 maior que V1. Verifica-se que o torque baixo para
velocidade angular igual a zero, aumentando at um valor mximo caindo novamente quando o
rotor apenas flutua com o vento.

A figura 18 mostra a curva de potncia correspondente. Como a potncia mecnica o produto do
torque pela velocidade angular, a potncia nula quando a velocidade do rotor igual a zero e
quando a velocidade angular elevada e o torque nulo. A potncia mxima obtida a uma
velocidade do rotor situada entre os pontos P1max e P2max para as velocidades V1 e V2
23
respectivamente. Observa-se que a velocidade na qual ocorre a potncia mxima no a mesma
velocidade na qual ocorre o torque mximo.





















Figura 17 Torque de uma turbina elica versus velocidade do rotor para velocidades de
vento V1 e V2.






















Figura 18 Potncia de uma turbina elica versus velocidade do rotor para velocidades de
vento V1 e V2

A estratgia tima de operao controlar a carga no gerador eltrico, ajustando a velocidade do
rotor, de tal forma que o sistema opere, para cada velocidade de vento, no seu ponto de mxima
potncia. A teoria e experincia com turbinas indicam que a operao com velocidade varivel
permite a obteno de 20 a 30% mais de energia com relao operao com velocidade fixa.


V1
V2>V1
T1 max
T2max
Torque Nm
Rad/seg
P2 max
P1max
Potncia (Watts)
Rad/seg
24


4.2 Determinao da capacidade nominal da turbina

A figura 19 d uma idia do tamanho dos rotores utilizados nas turbinas elicas. Uma turbina tpica
usando um gerador de 600kW ir tipicamente possuir um rotor de 44 metros. Se dobrarmos o
dimetro do rotor, teremos uma rea quatro vezes maior, significando que obteremos quatro vezes
mais energia.
















Figura 19 Tamanhos do dimetros de turbinas

No entanto, dimetros de rotores podem apresentar valores diferentes dos apresentados na figura
acima, tendo em vista que os fabricantes otimizam suas mquinas em funo das condies locais
de vento. Um gerador de grande capacidade, naturalmente requer mais potncia (ventos fortes)
para funcionar. Se instalarmos uma turbina numa rea de ventos fracos, maximizaremos a
produo de energia usando um gerador pequeno para um dado tamanho de rotor (ou um rotor
de grande porte para um dado gerador). Para uma mquina de 600 kW o dimetro do rotor pode
variar entre 39 a 48 metros. A razo de obtermos mais potncia de um gerador relativamente
menor em reas de menores velocidades de vento a de que a turbina ir funcionar mais horas
por ano.

1- O custo da utilizao de grandes guindastes e construo de estradas reforadas para
carregar os componentes das turbinas faz com que pequenas turbinas sejam mais
econmicas em certas reas.
2- Diversas mquinas de pequeno porte diluem o risco em caso de uma falha temporria
3- Consideraes estticas podem algumas vezes ditar o uso de mquinas pequenas. No
entanto, turbinas de grande porte possuem velocidade rotacional mais baixa, significando
que uma grande mquina no atrai tanta ateno quanto vrias mquinas pequenas que
giram mais rpido.

Numa fazenda elica composta por uma srie de turbinas, recomenda-se que as turbinas
posicionadas na direo do vento prevalecente sejam espaadas em uma distncia de 8 a 10
vezes o dimetro, e entre 1,5 a 3 vezes o dimetro para turbinas na direo perpendicular
direo prevalecente do vento. A figura 20 mostra o modo ideal de instalao. Este espaamento
necessrio tendo em vista a alterao da velocidade e perfil do vento quando o mesmo deixa a
turbina. Se o espaamento for muito reduzido, a turbina a montante funciona como um obstculo
prejudicando o funcionamento da turbina situada imediatamente atrs.




25













Figura 20- Espaamento timo das turbinas em um terreno plano

Os aerogeradores so classificados por tamanho (altura e dimetro das ps) e por potncia
instalada (potncia nominal); de um modo geral so divididos em pequenos, mdios e grandes. As
tabelas 3 e 4 apresentam respectivamente, a classificao quanto a potncia e tamanho.

Tabela 3 - Relao de tamanho e potncia instalada

Tamanho Potncia Instalada
Pequeno At 80 kW
Mdio De 81 a 500 kW
Grande > 500 kW

Tabela 4 - Relao tamanho e rea do rotor

Tamanho Dimetro (m) rea do Rotor ( m
2
)
Pequeno At 16 metros At 200
Mdio 16m 45m 200 1600
Grande > 45 m > 1600


4.3 SISTEMA ELICO PARA GERAO DE ELETRICIDADE

H uma variedade de mquinas que foram projetadas ao longo dos anos no intuito de aproveitar
ao mximo a energia contida nos ventos. As mquinas modernas so referidas como turbinas
elicas ou sistemas de converso de energia elica para distinguir das mquinas tradicionais.

As modernas turbinas elicas, em grande parte so equipamentos utilizados para gerar
eletricidade. Variam desde pequenas turbinas para produzir potncias na ordem de dezenas ou
centenas de kW, utilizadas principalmente em reas rurais, at turbinas consideradas de grande
porte que produzem potncias na ordem de alguns MW e que normalmente esto interconectadas
rede eltrica.

Basicamente um sistema elico composto pelos seguintes componentes:

Torre
Ps e rotor
Caixa de engrenagens
Gerador eltrico
Sistema de controle
Sistemas de freios
Vento
prevalecente
26
Sensores
Sistema eletrnico de potncia para conexo rede
nacele

A figura 21 apresenta os detalhes de um aerogerador de eixo horizontal.






























Figura 21- Detalhes de um aerogerador de eixo horizontal

A seguir apresenta-se um detalhamento da funo de cada componente.

Suporte estrutural Torre

A torre o componente projetado para suportar a turbina e a nacele que contm no seu interior a
caixa de engrenagens, gerador eltrico e demais componentes responsveis pelo funcionamento
do sistema gerador.

As torres podem ser de trs tipos: treliadas, tubulares estaiadas e tubulares livres. Os materiais
empregados so o concreto e o ao. Para turbinas elicas pequenas e mdias, as torres so na
sua grande maioria de ao, as grandes turbinas j utilizam normalmente estrutura de concreto. A
figura 22 apresenta um modelo de torre treliada e outro de torre de concreto.

Deve-se ter um cuidado especial no projeto da torre para evitar que flutuaes no vento
provoquem vibrao da mesma.




27















Figura 22 - Tipos de torres

Turbinas

As turbinas elicas modernas podem ser classificadas de acordo com a orientao do eixo do rotor
em relao ao solo em: verticais e horizontais.

Os rotores de eixo horizontal so os mais comuns e grande parte da experincia internacional est
voltada para a sua utilizao. So predominantemente movidos por foras de sustentao (atuam
perpendicularmente ao escoamento) e devem possuir mecanismos capazes de permitir que o disco
varrido pelas ps esteja sempre em posio perpendicular ao vento. Possuem duas ou mais ps
dependendo de sua aplicao. Turbinas de mltiplas ps so normalmente utilizadas em fazendas
para bombeamento de gua. Para gerao de eletricidade os rotores tipo hlice so os mais
utilizados. Normalmente compostos de trs ps ou em alguns casos 1 ou 2 ps. Largamente
empregados na produo de eletricidade por possurem eficincias superiores s dos demais
modelos. Por possurem baixos torques de partida, s operam com velocidades de ventos
elevadas. A figura 23 apresenta alguns modelos de turbinas tipo hlice de eixo horizontal.





















Figura 23 Modelos de turbinas de eixo horizontal

28
As turbinas de eixo vertical captam a energia dos ventos sem precisar alterar a posio do rotor
com a mudana na direo dos ventos. Podem ser movidos por foras de sustentao e por foras
de arrasto. Os principais tipos de rotores de eixo vertical so o Darrieus, Savonius e turbinas com
torres de vrtices.

Podemos destacar o rotor Darrieus (figura 24). Movido por fora de sustentao, constitudo de
duas ou trs ps (lminas curvas) construdas em um perfil aerodinmico de aeroflio simtrico.
Possui eficincia um pouco menor do que a do rotor tipo hlice e sua principal desvantagem est
na necessidade de j estar em movimento para produzir potncia. empregado em aplicaes
que requerem baixas potncias (at 50 kW). Como vantagem, no requer mecanismos para
controle de guinada, pois se auto-direciona na direo dos ventos; a estrutura de suporte dos
equipamentos mais simples, permitindo a instalao dos mesmos prximo ao solo o que facilita a
manuteno. Como desvantagem, requer normalmente uma ancoragem da torre no solo, o que
limita sua aplicao principalmente em projetos off-shore; para altas velocidades de vento, o
controle da potncia no pode ser feito facilmente apenas mudando o ngulo de passo das ps.
















Figura 24 Rotor tipo Darrieus


Vrios outros tipos de rotores foram desenvolvidos e so empregados em menor escala e com
outras finalidades como para o bombeamento de gua. Podemos destacar o rotor Savonius,
Moinhos de Vento, entre outros. A figura 16 mostra a eficincia arodinmica destes tipos de
turbinas.

Na fabricao das ps pode ser utilizado madeira ou composto de fibra de vidro e epxi ambos
materiais de alta densidade. Grande parte das ps dos rotores das modernas turbinas de grande
porte feita de fibra de vidro reforada com epxi ou polister. Tambm o ao e alumnio podem
ser utilizados. Porm, apresentam problemas de peso e fadiga respectivamente. Ps de madeira,
alumnio e ao so normalmente usadas em turbinas de pequeno porte.

As modernas turbinas possuem duas ou trs ps. O stress mecnico devido as foras centrfugas e
fadiga sofrida pelo material sob condies de vibrao contnua, faz com que o projeto das ps
seja o elo mecnico mais fraco do sistema. Esforos extensivos tm sido feitos no intuito de evitar
as falhas por fadiga prematura nas ps.

Os sistemas de pequeno e mdio/grande porte tm filosofias de projeto diferentes. As pequenas
turbinas so normalmente instaladas em torres com alturas bem superiores aos seus dimetros e
que so normalmente estaiadas, enquanto as grandes/mdias turbinas tendem a otimizar a
eficincia termodinmica para capturar a mxima quantidade de energia.


29
Efeito do nmero de ps

Os principais fatores que permeiam a escolha do nmero de ps de uma turbina so:

O efeito no coeficiente de potncia (Cp)
A especificao da razo de velocidade
custo
O peso da nacele
A estrutura dinmica
Os meios de limitar a taxa de guinada (Yaw) para reduzir a fadiga giroscpica

O nmero de ps visto em funo da solidez das mesmas. A solidez definida como a frao
slida da rea varrida pelas ps do rotor.

Com o intuito de extrair energia de forma eficiente, a interao das ps como o vento deve ser a
mxima possvel. Turbinas de mltiplas ps, ou seja, elevada solidez, interagem com o vento a
uma baixa razo de velocidade (RV), enquanto as turbinas de poucas ps, ou seja baixa solidez,
giram mais rapidamente para virtualmente preencher a rea varrida pelas ps, para interagir com a
maior parte possvel do vento incidente. Se a razo de velocidade muita baixa (RV= Razo entre
a velocidade na ponta da p e velocidade do vento no perturbado), uma parcela do vento
incidente passa atravs das ps sem interagir com as mesmas; por outro lado, se a razo de
velocidade alta, a turbina oferece muito mais resistncia ao vento, de tal forma que uma parcela
do vento desvia para o entorno .

Turbinas de duas ps com a mesma solidez das turbinas de trs ps ter uma razo de velocidade
tima 1/3 maior. Turbinas com apenas uma p com a mesma solidez de turbinas de duas ps
possuem uma razo de velocidade tima duas vezes maior. Razes de velocidade timas das
turbinas modernas variam entre 6 a 20.

Na teoria, quanto maior o nmero de ps, mais eficiente o rotor. Todavia, grande nmero de ps
pode interferir umas com as outras, assim sendo, turbinas de elevada solidez tende a ser menos
eficientes dos que as de baixa solidez.

Comparando a eficincia das turbinas de uma, duas e trs ps, esta ltima possui a maior
eficincia. Razes tais com maior estabilidade, menor velocidade rotacional para uma mesma
produo de energia, menor rudo, sistema menos complexo para absorver shocks do rotor com a
turbina, fazem com que turbinas de trs ps sejam as mais usadas na atualidade.

Turbinas com alta taxa de solidez, elevado nmero de ps, fornecem maior torque na partida e
opera a baixa velocidade, como o caso das turbinas multipas utilizadas no bombeamento de
gua. Para gerao de eletricidade, as turbinas de duas ou trs ps so as mais utilizadas, pois
possuem baixa solidez, ou seja, trabalham com velocidades elevadas, mais prximas da
velocidade de rotao do gerador eltrico.

O modelo de uma turbina no ditado apenas pela tecnologia, mas por uma combinao de
tecnologia e custo. Fabricantes de turbinas elicas desejam otimizar suas mquinas, de tal modo
que o custo da eletricidade gerada seja a menor possvel.

Muitas vezes, no h necessidade de maximizar a produo anual de energia, se isto significar
usar turbinas de elevado custo. Um gerador pequeno (poucos kWs) necessita menos fora para
girar do que um gerador de maior porte. Se instalarmos uma turbina de elevada potncia com um
gerador de pequena potncia, ser produzida eletricidade durante muitas horas no ano, no
entanto, ser capturada um pequena parte da energia do vento quando este soprar em altas
velocidades.

30
Um gerador de maior potncia, por outro lado, ser muito eficiente na incidncia de ventos fortes,
mas incapaz de funcionar com ventos de baixa velocidade.

Logicamente, os fabricantes, iro observar a distribuio de vento e seu contedo energtico nas
diferentes velocidades para determinar a combinao ideal entre tamanho de rotor e potncia do
gerador em diferentes plantas. A instalao de turbinas com dois ou mais geradores pode em
alguns casos ser uma vantagem dependendo do preo da eletricidade.

O preo de uma torre normalmente corresponde a 20% do preo total de uma turbina. Portanto
importante construir torre numa altura a mais ideal (otimizada) possvel. Obviamente, se obtm
mais energia de uma turbina maior do que uma menor. Naturalmente, no se pode instalar um
rotor de 60 metros numa torre de menos de 30 metros. Porm, se consideramos o custo de um
rotor de grandes dimenses, um gerador de alta potncia e caixa de engrenagem, ser um
desperdcio coloc-los numa torre baixa, tendo em vista que se obtm mais energia usando uma
torre mais alta. Cada metro de torre obviamente custa dinheiro, assim sendo a otimizao da altura
da torre funo:

1- custo por metro de torre
2- perfil da variao da velocidade do vento com a altura (rugosidade do terreno)
3- preo da energia gerada funo dos kwh adicionais gerados

Caixa de multiplicao (Transmisso)

o mecanismo que transmite a energia mecnica do eixo do rotor ao eixo do gerador. Os rotores
modernos operam a velocidades de ponta (tangenciais) da ordem de 60 a 100 m/s, quase
independente do tamanho do dimetro. Assim, as velocidades de rotao so relativamente
baixas, variando desde 200 rpm at cerca de 15 rpm. Para gerao, alguma forma de multiplicao
de velocidade necessria, pois os geradores no atual estado da arte, conectados rede de
distribuio eltrica, possuem uma rotao, tipicamente de 1800 rpm (4 plos) ou 3600 rpm (2
plos) para freqncia de 60Hz. A transmisso mais amplamente utilizada a por engrenagens,
que tem como finalidade multiplicar a velocidade angular com o intuito de melhor aproveitar as
caractersticas do gerador. As configuraes mais modernas tendem a eliminar as caixas de
engrenagens e utilizar geradores multi-plos de baixa velocidade e grandes dimenses.

A relao entre a velocidade do eixo de alta (acoplado ao gerador) e eixo de baixa velocidade
(acoplado ao rotor) pode ser definida por:

FM = fator de multiplicao = Wr / W

Onde

Wr velocidade do gerador eltrico
W velocidade de rotao do eixo mecnico do rotor (do lado das ps)

Gerador eltrico

o componente que tem a funo de converter a energia mecnica do eixo em energia eltrica.
Essa converso pode ser feita utilizando os seguintes tipos de geradores eltricos:

gerador de corrente contnua (CC),
gerador sncrono,
gerador de induo


31


Gerador CC

O gerador CC at a dcada de 80 foi extensivamente utilizado, devido extrema facilidade de
controlar a sua velocidade. Atualmente continua a ser utilizado, porm, limitado a turbinas de baixa
capacidade, particularmente onde a energia eltrica pode ser localmente utilizada na forma CC.

O gerador CC convencional, auto-excitado atravs do uso de enrolamentos shunt ou srie que
fornecem tenso CC para produzir o campo magntico. Atualmente, tem se projetado gerador CC
utilizando mas permanentes para eliminar a dependncia no fornecimento de corrente ao
enrolamento de campo e desta forma o uso de comutador. Porm, o seu uso limitado a mquinas
de pequeno porte, abaixo de 100 kW.

Gerador sncrono

O gerador sncrono o mais utilizado na gerao de energia eltrica. Funciona com velocidade
constante associada freqncia constante. Assim sendo, no o mais adequado para trabalhar
com operao em velocidade varivel, tpica de plantas elicas, em funo do comportamento dos
ventos. Requer corrente CC para excitao de campo e conseqentemente escovas de carbono e
anis deslizantes no rotor. Porm, esta exigncia pode ser eliminada usando rotor de relutncia,
porm limitado a aplicaes de baixa potncia. Quando conectado rede de energia da
concessionria, apresenta a vantagem de no requerer suprimento de potncia reativa da mesma.

Na Califrnia, por exemplo, existem geradores elicos sncronos conectados a redes de baixa
tenso. Nos ltimos anos, com o aumento da potncia das mquinas e conexo a redes de alta
tenso, tem se dado preferncia ao uso de geradores assncronos ou de induo como so
conhecidos.

Gerador de induo (assncrono)

A mquina de induo, particularmente o motor de induo, o mais utilizado mundialmente
devido a sua construo robusta, facilidade de manuteno e baixo custo. Tem a vantagem com
relao aos demais tipos de geradores de no necessitar de excitao CC de campo, pois o seu
funcionamento baseado em induo eletromagntica. Necessita ser excitado com corrente AC. O
gerador pode ser auto-excitado ou receber excitao externa. Pelas suas inmeras vantagens, o
gerador de induo encontra hoje aplicaes tanto em turbinas elicas de grande como pequeno
porte. Tendo em vista que o gerador de induo o mais utilizado ultimamente, dedica-se uma
ateno maior a esta tecnologia nesta seo.

A estrutura eletromagntica de em gerador de induo formada por duas partes: o estator, parte
fixa, onde espacialmente so alojadas as bobinas em grupos de trs alimentadas com correntes
trifsicas senoidais e, a parte mvel, denominada rotor, que se move no interior do estator, e que
pode tambm possuir bobinas alojadas ao longo de sua estrutura, ou pode ser constitudo por
barras de cobre ou alumnio curto-circuitadas em suas extremidades. Esta combinao produz um
campo magntico girante no interior do estator, cujo vetor induo magntica tem mdulo
constante e se desloca com velocidade angular determinada pela maneira como esto distribudas
e ligadas as bobinas no estator bem como pela freqncia da corrente que circula nos
enrolamentos do mesmo.

A figura 25 apresenta um desenho de um motor de induo tipo gaiola de esquilo (rotor feito de
barras de cobre ou alumnio curto-circuitadas nas extremidades). O espaamento entre o estator e
rotor denominado entreferro, pequeno o suficiente para que o rotor possa girar livremente. A
necessidade de ambos, estator e rotor, serem constitudos de ncleos ferromagnticos se prende
ao fato de assim, ser possvel obter fluxo de induo a partir de correntes relativamente pequenas.

32

















Figura 25 Mquina de induo com rotor tipo gaiola de esquilo

A velocidade do campo girante denominada velocidade sncrona e expressa pela seguinte
equao:

P
f
N
s
60
= , onde
f = freqncia da corrente de excitao dos enrolamentos do estator
P= nmero de pares de plo
N
s
= velocidade do campo girante em RPM

Quando mquina de induo acoplada a uma turbina elica, e o seu rotor acionado a uma
velocidade maior que a velocidade sncrona, tem-se uma reverso na corrente induzida e no
torque. A mquina de induo nestas condies trabalha como gerador, convertendo a potncia
mecnica do eixo da turbina em energia eltrica, que entregue carga ou rede eltrica pelos
terminais do estator do gerador. Nestas condies diz-se que a mquina est trabalhando na
velocidade de operao super-sncrona.

Ao variarmos o escorregamento sob uma ampla faixa, obtermos a curva caracterstica torque
conjugado mostrado na figura 26. Na regio do escorregamento negativo, a mquina trabalha
como gerador fornecendo energia carga conectada aos seus terminais. Na regio do
escorregamento positivo, trabalha como motor fornecendo energia mecnica carga acoplada ao
seu eixo. Adicionalmente regio de trabalho como motor e gerador, a mquina de induo tem
ainda um terceiro modo de operao denominado modo de frenagem. Se a mquina operada
com S > 1, girando-a no sentido contrrio, ela absorve potncia mecnica sem disponibilizar
potncia eltrica. Isto e, a mquina trabalha como um freio. A potncia neste caso convertida em
perdas I
2
R nos enrolamento do rotor, que deve ser dissipado como calor, As correntes de
reverso de Eddy trabalham neste princpio. Assim sendo, no caso de emergncias, o gerador
conectado rede pode ser usado como freio revertendo a seqncia trifsica da voltagem nos
terminais do estator. Isto inverte a direo de rotao do campo magntico com relao ao estator.
O stress de toro nas ps e no cubo da turbina, pode todavia limitar o torque de frenagem








33


























Figura 26 Caracterstica de operao da mquina de induo nos trs modos de operao

Mecanismos de Controle


As turbinas elicas so projetadas para fornecerem potncia nominal de acordo com a velocidade
do vento prevalecente, ou seja, a velocidade mdia nominal que ocorre com mais freqncia
durante um determinado perodo. Como esto previstas variaes na velocidade nominal do vento,
a turbina deve ser equipada com dispositivos que permitam limitar a potncia e rotao para evitar
esforos excessivos aos componentes mecnicos e/ou eltricos quando da ocorrncia de ventos
de elevadas intensidades e melhorar o rendimento em outras velocidades, aumentando o intervalo
de funcionamento do sistema elico.

Somente a partir de uma certa velocidade, chamada velocidade de partida ou entrada (cut-in),
necessrias para vencer algumas perdas, o sistema comea a funcionar. medida que a
velocidade do vento aumenta, aumenta a produo de eletricidade atingindo a potncia nominal
quando o vento alcana a velocidade especificado nominal de projeto. Acima da velocidade
nominal a potncia mantida constante. Para ventos de velocidade excessiva chamada velocidade
de corte (cut-out) o mecanismo de proteo acionado com a finalidade de desligar a turbina para
que no haja riscos ao rotor e estrutura do sistema. Um sistema elico tem o seu rendimento
mximo a uma dada velocidade do vento (chamada de velocidade de projeto ou velocidade
nominal) e diminui para velocidades diferentes desta.

Projetar um sistema elico, para um determinado tamanho de rotor e para uma determinada carga
supe trabalhar num intervalo timo de rendimento do sistema com relao curva de potncia
disponvel do vento local.

A curva que descreve a quantidade de energia gerada em funo da velocidade do vento
denominada Curva de potncia da turbina mostrada na figura 27. Cada tipo de turbina tem
sua curva de potncia especfica.
Operao como freio
Operao como
motor
Operao como
gerador
Torque
0 0.5 1 1.5 -0,5
34


Figura 27 - Curva de potncia de um aerogerador de eixo horizontal

Atualmente, as turbinas de grande porte so projetadas para trabalharem com velocidade varivel,
aproveitando as caractersticas de variabilidade dos ventos, incorporando no controle a eletrnica
de potncia para controle de passo das turbinas e demais parmetros. Projetos de pequeno porte
devem ser simples e de baixo custo e, portanto normalmente no empregam sistemas sofisticados
de controle.

So vrios os mecanismos de controle utilizados em sistemas elicos, podendo-se destacar:

Yaw control (guinada)

O controle de guinada orienta o rotor na direo do vento. Diz-se que a turbina elica tem um
mecanismo de guinada se o rotor no est perpendicular ao vento. Constitui-se num excelente
meio de controlar a sada de potncia da turbina. Turbinas que trabalham sem este mecanismo
esto sujeitas maiores cargas de fadiga. Grande parte das turbinas utiliza mecanismos de
controle de guinada forados, que so constitudos de motores eltricos e caixas de engrenagens
controlados por um sistema eletrnico de controle que vrias vezes por segundo checa a posio
da turbina contra o vento para manter a turbina perpendicular ao vento.

Controle de velocidade:

Exemplos de mecanismos de controle:

- Rotores com ngulo de passo varivel: O controle de passo um sistema de controle ativo,
que normalmente necessita de um sinal do gerador de potncia. Permite variar o rendimento
do rotor medida que a velocidade do vento varia, atravs da mudana de posio das ps,
girando as mesmas em torno do seu eixo longitudinal, ou seja, mudam o seu ngulo de passo
para reduzir o ngulo de ataque do fluxo de ar. Com isso, pode-se aumentar o intervalo de
funcionamento do sistema elico e ainda manter uma determinada velocidade de rotao, que
corresponde eficincia mxima do gerador. Para velocidades de vento superiores nominal,
que a mnima que se necessita para gerar a potncia nominal, o ngulo escolhido de tal
forma que a turbina produza apenas a potncia nominal.
- Rotores de passo fixo: um sistema passivo que reage velocidade do vento. As ps do
rotor so fixas em seu ngulo de passo e no podem ser giradas em torno do seu eixo
longitudinal. Seu ngulo de passo escolhido de tal forma que para velocidades de vento
maiores que a nominal, o fluxo de ar em torno do perfil da p do rotor descola da superfcie das
ps (estol). Isto reduz as foras atuantes de sustentao e aumenta a de arrasto, diminuindo,
portanto a potncia do rotor. Turbinas com controle estol so mais simples do que as de
controle de passo porque elas no necessitam de um sistema de mudana de passo. Em
termos mundiais, o conceito de controle atravs de estol domina. A figura 28 mostra o perfil do
vento nas ps, quando ele escoa de forma adjacente e quando entra em estol.
35















Figura 28 Perfil do vento escoando sobre s ps.

Para entendermos melhor estes dois mecanismos, vamos discorrer um pouco sobre a
aerodinmica das turbinas elicas.

Um objeto inserido numa corrente de ar est sujeito a uma fora devido ao impacto do vento.
Podemos considerar que esta fora possui duas componentes agindo numa direo uma
perpendicular outra, conhecidas como fora de arrasto e fora de sustentao. A magnitude das
foras de arrasto e sustentao depende da forma do objeto, sua orientao com relao direo
da corrente de ar, e da velocidade da corrente de ar.

Foras de arrasto so aquelas foras experimentadas por um objeto num fluxo de ar que esto
em alinhamento com a direo do fluxo de ar.

Foras de sustentao so foras experimentadas por um objeto num fluxo de ar que so
perpendiculares direo do fluxo de ar.

A figura 29 mostra a representao das foras de arrasto e sustentao em um perfil de p.


Figura 29 Foras de sustentao e arrasto em um perfil de p.

O ngulo em que um objeto faz com a direo de um fluxo de ar, medido com relao a uma linha
de referncia no objeto, denominado ngulo de ataque. A linha de referncia em uma seo do
aeroflio usualmente referida como linha de corda que tambm o comprimento da seo
transversal da p de uma borda a outra numa determinada posio da p (figura 31).
36
H dois tipos principais de seo de aeroflio: assimtrico e simtrico como mostrado na figura 30.













Figura 30 Tipos de seo aeroflio (a) , b) e c) forma de seo assimtrica de aeroflio e
d) seo simtrica de aeroflio

Ambos possuem superfcie superior convexa, borda arredonda chamada borda dianteira (fica de
frente direo de onde os ventos vm) e, uma borda pontiaguda conhecida como borda
traseira.

As caractersticas das foras de arrasto e sustentao de vrias formas de aeroflios, para uma
ampla faixa de ngulos de ataque, tm sido determinada em medies realizadas em tnel de
vento. As caractersticas de arrasto e sustentao medidas para cada ngulo de ataque, podem
ser descritas usando os coeficientes adimensionais de arrasto e sustentao (C
a
e C
s
). O
conhecimento destes coeficientes essencial na seleo apropriada da seo do aeroflio para
projetos de ps de turbinas. Foras de arrasto e sustentao so ambas proporcionais a energia
do vento.






















Figura 31 - Zona de baixa e alta presso ao redor de um aeroflio num fluxo de ar


O coeficiente de arrasto de um aeroflio dado pela seguinte expresso:
corda
Linha de corda
Zona de presso negativa - Suco
Zona de presso positiva
Borda
dianteira
Borda traseira
37

b
a
A V
FA
C

=
2
5 , 0


onde;

FA = fora de arrasto em newtons
= densidade do ar em kg/m
3

V = velocidade do ar prximo ao aeroflio em metros por seg.
A
b
= a rea da ps ( linha de corda comprimento da ps) em m
2


O coeficiente de sustentao do aeroflio dado pela seguinte expresso:

b
s
A V
FS
C

=
2
5 , 0

onde;

FS = fora de arrasto em newtons

Cada aeroflio tem um ngulo de ataque no qual a razo entre os coeficientes de sustentao e
ataque (C
s
/ C
a
) mxima e este ngulo de ataque resulta na mxima eficincia das turbinas de
eixo horizontal.

O ngulo de ataque para o qual ocorre o efeito de estol, ou seja, o fluxo repentinamente deixa o
lado de suco (ngulo de ataque elevado) resulta numa alta perda de fora de sustentao e
ganho de fora de arrasto.

Todos esses mtodos (estol e passo varivel) podem ser utilizados individualmente ou combinados
em casos de velocidade excessiva, ou perda brusca de carga e para controlar o funcionamento do
rotor numa faixa limitada de velocidade.

A figura 32 mostra num mesmo grfico a curva da potncia elica contida no vento, curva da
mxima potncia teoricamente utilizvel, funo do coeficiente de potncia caracterstica do vento
(fator de betz), curva de potncia da turbina utilizando controle estol e curva de potncia da turbina
utilizando controle por passo varivel.


















Figura 32 Curva de potncia da turbina

38
A velocidade da turbina geralmente muito menor que a velocidade desejvel para o gerador. Por
esta razo, a velocidade das turbinas em grande parte dos sistemas elicos aumentada
utilizando os sistemas de acionamento.

A equao da potncia elica do vento aproveitada nas ps do rotor como j descrito
anteriormente :

Cp AV P .
2
1
3
=


onde Cp = coeficiente de potncia da turbina

Reforando o que j foi descrito, o valor de Cp varia com a razo entre a velocidade de ponta de
p e velocidade do vento, denominado razo de velocidade de ponta de p. A figura 16 mostra
uma curva de Cp versus RV (razo de velocidade de ponta de P). medida que a velocidade do
vento muda, RV e Cp variam. Cp apresenta um valor mximo para um nico valor de RV. Portanto,
quando operando um rotor com uma velocidade constante, o coeficiente de potncia ser mximo
em apenas um valor de velocidade de vento.

Para alcanar a mxima energia anual, o valor do Cp, deve ser mantido no mximo nvel todo o
tempo, independente da velocidade do vento. Portanto, a velocidade do rotor deve ser mudada em
resposta a mudana da velocidade do vento. Assim sendo, o sistema de controle deve atuar para
manter a velocidade do rotor alta quando a velocidade do vento alta e vice-versa. Isto ilustrado
na figura 35. Para uma dada velocidade do vento, V1, V2, e V3, as curvas de potncia do rotor
versus a velocidade da turbina so plotadas em linhas slidas. Com o intuito de extrair a mxima
energia possvel durante o ano, a turbina deve ser operada no ponto de mxima potncia para
todos os valores de vento. Na figura, isto acontece nos pontos P1, P2 e P3 para as velocidades
V1, V2 e V3 respectivamente. O fator comum entre os picos de produo de potncia P1, P2, e P3
o valor constante e elevado de RV.

























Figura 35- Potncia da turbina versus caracterstica da velocidade do rotor para diferentes
velocidades de vento. O pico de potncia move-se para a direita nas altas velocidades.
Velocidade da turbina
P3
P
P V1
V2
V3

V1<V2<V3
Ponto de mxima
potncia
Potncia
39
O controle de velocidade e da potncia de um sistema elico possui trs regies distintas:

- regio de Cp tima constante
- regio de velocidade limitada
- regio de potncia limitada

Estas regies so mostradas na figura 36. A turbina tipicamente comea a operar na velocidade de
partida (cut-in), quando a velocidade excede 4-5 m/s, e desligada na velocidade de corte (25-
30m/s). Entre estas velocidades, a turbina opera em uma das regies citadas acima. Em uma
planta especfica, a turbina pode operar 70 a 80% do tempo.

A regio de Cp mxima a regio de operao normal, onde o controle de velocidade atua
operando o sistema num valor constante timo de Cp armazenado na memria do computador.

Na regio de Cp constante, o sistema de controle aumenta a velocidade do rotor em resposta ao
aumento da velocidade do vento at um certo limite. Quando este limite alcanado, o controle
muda para a regio de limite de velocidade. O coeficiente de potncia no permanece mais no seu
valor timo, e a eficincia do rotor cai.

Se a velocidade do vento continua a aumentar, o sistema aproxima da limitao de potncia do
gerador eltrico. Quando isto ocorre, a velocidade da turbina reduzida, e o coeficiente de
potncia Cp distancia-se do valor timo. A sada de potncia da turbina permanece constante no
limite de projeto. Quando o limite de velocidade e potncia no pode ser mantido sob ventos fortes
(rajadas), a mquina desligada. Esta a funo, portanto dos dois mtodos tradicionais de
controle de velocidade da turbina e potncia do gerador: O controle de passo varivel e o controle
de passo fixo (estol).



















Figura 36 Regies de funcionamento da turbina

O rendimento global do sistema elico relaciona a potncia disponvel do vento com a potncia
final entregue pelo sistema. Resulta em valores menores, uma vez que os demais componentes
mecnicos e eltricos da turbina elica apresentam perdas de potncia.

A potncia eltrica pode ser expressa por:

Peltrica = Protor

Cp constante
Limite de potncia do gerador
25 5 15
Velocidade do vento m/s
Cp (%)
100
40
40
Onde o produto do rendimento do multiplicador de velocidade, gerador eltrico e demais
acessrios. O fato do rotor funcionar em uma faixa de limitada de velocidade tambm contribui
para reduzir a energia por ele captada. Assim sendo,o rendimento global de um sistema elico
simples pode ser estimado em 20%.

Sistema de segurana

As turbinas elicas tambm esto sujeitas falhas, tais como perda brusca de carga, vibrao,
perdas de fase, anomalias na tenso e na corrente, etc. Desse modo, as turbinas devem ser
equipadas com dispositivos de segurana que desligue as mesmas automaticamente na
ocorrncia dessas falhas. Os sistemas de segurana mais utilizados so os sensores de vibrao,
sensores indicadores de direo e intensidade do vento, medidor de rotao (tacmetro),
disjuntores de sobrecarga, sistema de embandeiramento de ps, freios mecnicos (freios e discos)
e freios aerodinmicos (pontas de p).

5- Aplicaes da energia elica

Quanto s aplicaes para produo de eletricidade, um sistema elico pode ser classificado em:

Sistemas independentes ou isolados So sistemas que normalmente utilizam alguma forma de
armazenamento podendo ser baterias para utilizao de aparelhos eltricos ou armazenamento de
gua para posterior utilizao. So de pequeno porte (at 80 kW) e possuem custos mais elevados
devido ao sistema de armazenamento. A figura 37 apresenta um esquema de regularizao da
energia utilizando armazenamento hidrulico.

















Figura 37 - Sistema elico com armazenamento hidrulico.

Sistemas de apoio (hbridos) So aqueles em que uma turbina elica opera em paralelo com
uma fonte de energia firme (na maioria grupo-geradores diesel) com o objetivo principal de
economizar combustvel. Tambm so utilizados em conjunto com mdulos fotovoltaicos. Os
sistemas hbridos normalmente so empregados em sistemas de pequeno e mdio porte destinado
a atender um maior nmero de usurios.

Sistemas interligados a rede eltrica Sistemas de grande porte interligados rede de
distribuio de duas formas: diretamente, atravs de geradores de induo ou sncrono, ou
indiretamente, atravs de inversores acoplados a geradores de corrente contnua.




41
















Figura 38 Esquema de um sistema elico ligado rede eltrica

No caso brasileiro pode ser uma tima opo para integrao ao sistema energtico. Observa-se
para as regies sudeste e nordeste que o recurso elico e o regime de chuvas so
complementares (figura 39). Assim sendo, o sistema elico pode contribuir para firmar energia dos
sistemas hidrulicos.
















Figura 39 - Comparao entre o fluxo da gua do So Francisco e o regime de vento no
nordeste do Brasil

O sistema elico interligado rede alm de complemento estacional pode se configurar num apoio
para redes fracas e reduo de perdas nas mesmas.

6. VIABILIDADE TCNICA ECONMICA DA GERAO ELICA


6.1 - Produo de energia eltrica

Existem alguns mtodos que so utilizados para se determinar a quantidade de energia que pode
ser produzida por um determinado sistema elico. Estes mtodos vo desde os que do uma
estimativa superficial (inicial) at mtodos para um clculo com maior preciso. O rigor do clculo
vai depender da qualidade e periodicidade dos dados obtidos com as medies de vento. Quanto
maior o perodo de medio, mais precisa ser a estimativa da distribuio das velocidades dos
ventos. Em geral, os fatores que afetam a produo de energia so: estimativa dos ventos (curva
de freqncia de velocidade), caracterstica da turbina em questo (curva de potncia da turbina) e
42
fator de disponibilidade (% do tempo que a turbina estar disponvel, normalmente varia entre 95 a
98%) e fator de perdas. Destacam-se aqui os seguintes mtodos:

a) Potncia nominal do gerador O uso deste parmetro fornece uma estimativa superficial,
pois o rotor de determinado tamanho pode ser acoplado a geradores de diversas potncias.

8760 =
n
P Eg
onde:
Pn potencial nominal do gerador (kW)
- rendimento total do sistema (contempla: regime de ventos, eficincia eltrica e mecnica e o
fator de disponibilidade)
8760 Nmero de horas no ano

b) rea do rotor e mapa elico Este processo apresenta uma estimativa de produo que
depende fundamentalmente da qualidade do mapa elico utilizado.

8760 / = A P A Eg
onde:
A rea do rotor (m
2
)
P/A potncia mdia anual por unidade de rea do local, obtido atravs do mapa elico (kW/m
2
)

c) Curva do fabricante Baseia-se na curva determinada pelos fabricantes de aerogeradores,
na qual se entra com a velocidade mdia anual do local e obtida a produo anual de
eletricidade para um aerogerador especfico. A eficincia global do aerogerador e o seu ndice
de disponibilidade so variveis consideradas de forma implcita na produo de eletricidade.
importante ressaltar que a velocidade mdia anual a ser fornecida corresponde a altura do eixo
do rotor em relao ao terreno.

d) Curva de potncia e freqncia das velocidades A energia que um sistema elico ir
produzir depende da curva de potncia da turbina e da curva de distribuio de freqncia de
velocidade do vento para um determinado local. Esta ltima, como j mencionado no incio
deste texto, mostra o nmero de horas em que o vento sopra para diferentes valores de
velocidade durante um dado perodo de tempo. Para cada velocidade do vento, dentro da faixa
de operao da turbina (isto , entre a velocidade de entrada e a de corte), a energia produzida
a cada valor de velocidade pode ser obtida multiplicando o nmero de horas de sua durao,
pela correspondente potncia da turbina nesta velocidade (dada pela curva de potncia da
turbina). A energia total produzida ento calculada pela soma da energia produzida em todas
as velocidades dentro da faixa de operao da turbina

A produo anual de energia fator tcnico e econmico mais importante na avaliao dos
projetos de sistemas elicos. Incertezas na determinao da mdia anual da distribuio da
velocidade do vento ao longo do tempo e na curva de potncia da turbina elica contribuem para
uma avaliao imprecisa da energia gerada anualmente, acarretando, dessa forma, a um maior
risco para o investimento e a conseqente elevao dos custos financeiros.

Recordando os conceitos, apresentados, para o clculo da energia gerada, necessrio calcular a
potncia disponvel P e a potncia efetivamente gerada Pg. A potncia disponvel, ou seja, energia
cintica por unidade de tempo transportada pelo vento dada como:

P= A V
3
2
1

Onde:

= massa especfica do ar
43
V = velocidade do vento
A = rea formada ps do rotor

A potncia Pg gerada pelo sistema elico dada por:

Pg= P

Onde = rendimento (neste est embutido e eficincia do equipamento e eficincia aerodinmica
determinada pelo tipo de rotor e sistema de controle)

oportuno recordar tambm que a converso da energia elica no feita uniformemente ao
longo de todas as faixas de velocidade do vento. Ventos de baixa velocidade no tm energia
suficiente par acionar as turbinas. A velocidade a partir do qual o sistema inicia a sua operao
denominada velocidade de entrada (cut-in). medida que a velocidade do vento aumenta, a
potncia (energia gerada) aumenta gradativamente podendo atingir a potncia nominal do sistema,
o que ocorre na velocidade nominal. A partir da velocidade nominal, a potncia das turbinas com
controle de potncia por passo varivel (pitch), permanece constante para evitar danos estruturais.

A figura 40, mostra a curva de potncia da turbina E-40 (600kW) da Enercon bem como a
distribuio de velocidade de uma estao anemomtrica instalada a 30 metros de altura na
cidade de Guimares MA, representada pelo histograma e a curva de distribuio de freqncia
(

V = 5,1 m/s: c= 5.55 m/s; k=3.64- parmetros da distribuio de Weibull). Com os dados de
ambos pode-se calcular a energia gerada por uma turbina elica nesta localidade.















Figura 40 Curva de potncia e velocidade mdia do ano tpico

. O clculo de Ed e Eg pode ser efetuado usando as seguintes expresses:

Ed = H A V |

\
|
3
2
1
e Eg = PgH, onde H = n
o
de horas
Ou

Eg(ano) = ano horas Pi fri / 8760 ) (



Onde:

Fri freqncia relativa = n
o
de vezes no ano em que a velocidade Vi foi observada. Tambm
definida como: razo entre o nmero de observaes da velocidade Vi e o nmero total de
44
observaes. Em se conhecendo a funo densidade de distribuio do vento, fri passa a ser p(vi)
. di que pode ser a funo de Weibull por exemplo.

O estudo de viabilidade tcnica pode ser efetuado utilizando o Atlas Elico do Brasil. Porm, como
j abordado, este estudo ser de carter indicativo, tendo em vista que o Atlas foi construdo
utilizando dados medidos de estaes pertencentes a diferentes instituies, com diferentes
objetivos (agrcolas, aeronuticos, meteorolgicos, entre outros) mostrando dessa forma uma
grande diversificao na finalidade a que os dados so aplicados.

O uso de dados indicativos possibilita apenas uma anlise abrangente do potencial elico
disponvel e, conseqentemente, da gerao eltrica disponvel. A viabilidade de projetos voltados
para implementao efetiva de parques elicos para gerao de energia eltrica depende de
dados mais apurados, quanto ao comportamento do vento, as caractersticas do solo, a orografia e
os obstculos do local onde se deseja implementar o projeto.

Em suma, com j exposto, a metodologia para o clculo da energia gerada por uma turbina a
representada na figura 41. Os dados de velocidade do vento, se retirados do Atlas Elico, por
exemplo, que so dados medidos a uma altura de 10 metros, ou dados de estaes do local que
normalmente esto instaladas em alturas inferiores a altura do cubo do aerogerador, devem ser
extrapolados para a altura desejada, de preferncia utilizando a lei logartmica, que necessita do
valor da rugosidade do terreno do local.

















Figura 41 Diagrama da metodologia para clculo da energia produzida [7]

O fator de capacidade (FC) de uma turbina em uma determinada estao (ou local) dado pela
razo entre a energia produzida durante um perodo e a energia nominal produzida integralmente
no mesmo perodo (dada pelo produto da potncia nominal e o total de horas em um ano, 8760
horas). Dessa maneira, o FC pode ser expresso por:

FC=
8760 Pnom
Egano


Onde:

Egano = Energia produzida durante um ano
Pnom = Potncia nominal da turbina

O FC, representa um importante critrio de deciso de escolha da viabilidade tcnica e econmica
da usina. um indicador da produo energtica e conseqentemente do potencial de instalao
45
de turbinas elicas em um local. Diferentes locais (estaes) usando o mesmo modelo de turbina
apresentam diferentes fatores de capacidade, funo da velocidade mdia dos ventos.

Numa central elica formada por uma certa quantidade de turbinas, a produo total de energia
no igual a soma da energia gerada por cada turbina. Isto porque existem perdas, onde podemos
relacionar: a) perdas devido a influncia de uma turbina no vento captado pela turbina adjacente;
perdas nos diversos componentes necessrios para acoplar as turbinas na rede eltrica, perdas na
rede de interligao das turbinas bem como interligao da Central subestao da
Concessionria. As perdas em mdia ficam entre 2% 3%. Alm disso, h uma diminuio da
produo anual da central atrelado ao seu Fator de disponibilidade (FD). Fatores de
disponibilidades para turbinas elicas esto em torno de 98%. Isto decorre das horas em que
turbinas ficam indisponveis no ano devido ocorrncia de falhas.

Assim sendo, a energia anual gerada por uma central igual:

FD Fp NT FC P anual Eg
n
= ) 1 ( 8760 ) (

onde:

NT = nmero de turbinas
Fp = fator de perdas da central
FD = fator de disponibilidade da central
Pn = potncia nominal da turbina


6.2 Anlise da viabilidade econmica

Os principais fatores a considerar na determinao do custo da energia gerada por uma turbina
elica so o custo inicial de implantao, a produo de energia e o custo anual de operao e
manuteno. Porm, ao se determinar a viabilidade econmica de um projeto, deve-se, ainda
considerar como fatores fundamentais o custo por unidade padro da energia produzida por
tecnologias concorrentes e o preo pela qual a energia produzida ser vendida. A relao a
seguir, indica os fatores mais importantes a serem considerados na instalao de uma turbina
elica.

6.2.1 Custo total de instalao

Fazem parte do custo de instalao os seguintes custos:

- Preo de compra dos equipamentos (turbina, torre, transformadores, cabos etc).
- Taxa de importao e outros impostos
- Seguros e fretes
- Custo do terreno
- Instalao (fundao, benfeitorias, estradas de acesso, conexo a rede eltrica, transporte,
mo de obra)
- Custos dos estudos de viabilidade tcnica
- Custos de projeto de engenharia
- Custo de negociaes e desenvolvimento
- Pagamento de taxas fiscais, relatrios de impacto ambientais
- Custos diversos

O custo de instalao apresenta uma certa faixa de variao em funo de alguns aspectos como:
O custo das fundaes e estradas de acesso obviamente depende das condies do solo
(topografia, vegetao etc). Outro variante a distncia entre a estrada pavimentada (rodovia) e o
local de instalao da turbina bem como a distncia da rede de transmisso onde ser conectada a
46
turbina (no caso de sistema conectado rede). O custo do transporte tambm varivel em funo
da distncia. Estes custos podem ser caracterizados como custos adicionais ao custo do
equipamento (turbina, torre, taxas, seguros, fretes e impostos)

Outro aspecto a ser considerado refere-se a economia de escala. A instalao de vrias turbinas
num mesmo local mais barata do que apenas uma turbina. Obviamente neste caso h que se
considerar as limitaes da rede eltrica. A eventual necessidade de se fazer um reforo na rede
para conectar um nmero maior de turbinas, pode encarecer o projeto.

O custo da turbina elica representa o custo mais importante e significativo de um projeto elico.
Para projetos de grande porte, a participao da turbina nos custos totais do investimento muito
alta, diluindo, assim, os demais custos em relao ao total do investimento. Neste custo so
acrescidos muitas vezes os custos do transporte at o local de instalao, fretes, seguros e taxas
de importao (caso o equipamento seja importado) e demais impostos (IPI, II, ICMS). Os custos
variam muito de acordo com a potncia de cada modelo alm da altura das torres utilizadas.
Detalhes como manuteno, garantias, curva de potncia, sistema de controle, assistncia tcnica,
entre outros, so fatores que devem ser analisados cuidadosamente, ponderando os custos de
cada modelo e os benefcios apresentados pelo fabricante.

A distribuio dos custos de um projeto em energia elica pode variar largamente segundo as
caractersticas de cada empreendimento, tornando, cada projeto, um estudo de caso em particular.
No Brasil, por ter ainda poucos projetos de gerao elica implementados,, a distribuio de custos
pouco conhecida para que se possa estabelecer valores mdios de cada etapa envolvida. A
tabela 5 apresenta uma distribuio de custos de cada etapa de projetos de mdio/grande e
pequeno porte. So valores de 1998, portanto, podem apresentar algumas variaes em relao
as atuais condies de custos de projeto.

Tabela 5- Custos de instalao de projetos em energia elica

Fonte: [7]

Os estudos de viabilidade, em sua fase inicial, incluem tpicos como a investigao de locais
favorveis, avaliao do recurso elico, avaliao ambiental, projetos preliminares e estimativas de
custos, entre outros. A investigao prvia de locais propcios implantao de projetos elicos
implica custos relativos a viagens e inspeo dessas reas. Normalmente, com dados de medio
e cartas topogrficas dos locais em questo, feita uma anlise prvia das condies gerais do
local. Este estudo por si s no basta. So necessrias tambm, visitas ao local para o
levantamento das caractersticas da rugosidade do solo e tambm da topografia. Algumas vezes,
mesmo que o local apresente bom potencial, as caractersticas do relevo e ocupao da rea,
podem tornar o projeto invivel.

Categoria de custos iniciais
do projeto
Fazenda elica de
mdio/grande porte (%)
Fazenda elica de pequeno
porte (%)
Estudo de viabilidade Menos de 2 1 7
Negociaes de
desenvolvimento
1 8 4 10
Projeto de engenharia 1 8 1- 5
Custos de equipamentos 67 80 47 71
Instalaes de infra-estrutura 17 26 13 22
Diversos 1 - 4 2 - 15

47
Por ser uma alternativa de grandes vantagens ecolgicas, o estudo de impactos ambientais
tambm tem uma importante participao nos estudos prvios de viabilidade. Neste caso, uma
anlise de impacto ambiental est mais relacionada ao levantamento das caractersticas do local
de forma a minimizar os efeitos ao meio ambiente.

Tambm necessrio se fazer um estudo de otimizao da rea, os seja escolha da melhor
distribuio das turbinas no terreno. Este estudo requer anlises da interferncia de cada turbina
na outra. Nesta anlise so utilizadas ferramentas computacionais especficas, pois os clculos
so complexos e so exigidas vrias iteraes para se alcanar o melhor resultado.

Com relao s parcerias e negociaes, existem algumas possibilidades de participao de
empreendedores nos projetos de energia elica. Uma situao comum est na iniciativa privada de
investir nesses projetos e vender a energia eltrica concessionria local de energia. o caso do
Produtor Independente de Energia definido pela Lei n
o
9074 e regulamentado pelo decreto de
n
o
.2003 . A concessionria de energia tambm pode investir na sua prpria fazenda elica. Dentre
as possibilidades de investimentos, existe a formao de consrcios de investidores que, ao
comprarem turbinas (financiando assim todo um projeto) obtm seus dividendos tambm na venda
de energia para as concessionrias.

Os custos em projetos de energia elica incluem custos em negociaes na elaborao de acordos
de compra de energia Power Purchase Agreement PPA entre os empreendedores e a
companhia eltrica local, nos termos de permisso e aprovao de projetos, de acordo, nos
acordos para o direito de uso do terreno, nos projetos de financiamento, entre outros aspectos
legais. Outros custos envolvendo negociaes podem ser agrupados em detalhes legislativos,
contbeis e financeiros que devem ser contabilizados como hora de trabalho de profissionais
especializados em cada segmento.

A criao do PROINFA - Programa de Incentivos as Fontes Alternativas, atravs da Lei 10438
de 2002 e sua regulamentao atravs do decreto 2050 de maro/2004, vem garantir a compra,
pela ELETROBRS, por um perodo de 20 anos, da energia gerada por geradores elicos que
devero ter suas usinas em operao at 2008, a preos variando entre 180,18 R$/MWh e 203,5
R$/MWh. O investidor deve ficar atento a todos os aspectos de custo e produo energtica da
planta com o objetivo de maximizar suas receitas.

Os custos envolvidos na fase de projetos de engenharia englobam despesas com o levantamento
da infra-estrutura necessria instalao e montagem dos aerogeradores e outros equipamentos,
com a implementao do sistema de transmisso de energia eltrica, com o levantamento das
caractersticas do local para o dimensionamento de obra civil, superviso de contratos e propostas,
entre outros.

O planejamento e o levantamento das necessidades de infra-estrutura tornam se mais complexos
uma vez que as condies de acesso ao local no apresentam infra-estrutura bsica como
estradas ou vias que facilitem o acesso. O transporte de turbinas elicas requer veculos especiais
devido ao peso de alguns componentes e tambm de suas dimenses e formas especiais. No
local, necessrio disponibilizar guindastes especiais de grande alcance para instalao de torres
que podem chegar a 90 metros.

A parte eltrica tambm necessita de um planejamento prvio, principalmente na otimizao do
trajeto das linhas de transmisso at a subestao mais prxima. Esta proximidade pode variar de
dezenas at centenas de quilmetros, o que muito vezes pode acarretar num custo elevado.

Os custos envolvidos na fase de instalao e infra-estrutura englobam as despesas previamente
levantadas na fase de projetos de engenharia. O principal esforo est no transporte e na
montagem das turbinas elicas. Antes mesmo do transporte e instalao dos aerogeradores, as
obras de infraestrutura devem estar concludas. Todos os servios envolvidos na parte de
48
transporte, instalao e obra civil, geralmente, so de servios contratados e empresas
especializadas.

As demais despesas envolvidas em um projeto complexo de implementao de fazendas elicas
podem ser computadas como despesas diversas, despesas de treinamentos, viagens e
acomodaes, entre outros.

Os custos de operao e manuteno devero fazer parte do oramento anual das despesas
desembolsadas alm das taxas contbeis e legais envolvidas no comrcio de energia. Os custos
anuais de operao e manuteno devem englobar custos no reparo e na troca de peas, custos
de manuteno preventiva, entre outros, e tambm, devem ser computadas as horas indisponveis
da usina funo de paradas para manobras. A indisponibilidade da usina representa um valor de
receita evitada que deve ser previsto no planejamento contbil do projeto. Os custos de operao e
manuteno tambm envolvem treinamento de pessoal qualificado para operao das mquinas
sob as mais diversas condies. Tambm taxas de seguro de mquinas e tambm de gerao de
energia fazem parte dos custos anuais de projetos de grande porte. No que tange a seguros sobre
gerao de energia torna-se fundamental um bom conhecimento do regime de ventos para que
minimizem os riscos associados h longos perodos de calmarias no previstos.

Um outro custo anual importante est no arrendamento do terreno em que o parque ser instalado.
Os custos previstos com manuteno segundo o catlogo da Windenergie 2000 variam entre 0,8 a
1,3 % sobre o custo da turbina. O desembolso anual para manuteno pode variar
significativamente de acordo com as condies locais de vento e tambm com os nveis de
concentrao de componentes corrosivos na atmosfera local.

Os custos totais de operao e manuteno de fazendas elicas no so uma funo linear do
tamanho do parque. de se esperar que para grandes empreendimentos, os custos anuais de
operao e manuteno tenham uma participao menor em relao ao preo da turbina.

A figura 42 mostra o detalhamento de cada etapa dos custos de um projeto elico.

























Figura 42 Distribuio dos custos de um projeto elico [7]
49
A figura 43 ilustra um grfico que mostra uma relao entre potncia instalada e custo das
modernas turbinas dinamarquesas conectadas rede eltrica. Como se pode observar o custo de
da turbina varia com o tamanho das mesmas. Isto acontece devido as diferentes alturas de torre e
dimetros das ps (tamanho do rotor). Para se ter uma idia dos valores atribudos ao custo de um
metro extra de torre tubular equivale a 1500 US$ aproximadamente. Uma mquina especial para
vento baixo com um dimetro de rotor relativamente grande ser mais cara que uma mquina para
vento alto com um dimetro de rotor pequeno. O preo mdio das modernas instalaes de grande
porte gira em torno de 1000 US$ / kW de potncia instalada.

















Figura 43- Custo de turbinas em funo da potncia instalada (banana price) : Fonte [4]

As turbinas modernas so projetadas para funcionar por 120 000 horas de operao o que resulta
em uma vida til de 20 anos. As experincias internacionais tm mostrado que o custo de
manuteno geralmente muito baixo para turbinas novas e aumenta um pouco com o tempo de
funcionamento das mesmas. Para mquinas novas, estima-se um custo entre 0,8% a 1,3% por ano
do investimento, enquanto as turbinas com mais idade apresentam um custo em torno de 3% ao
ano do investimento.

Existe economia de escala tanto com relao ao tamanho da turbina (Ex 1: nmero de
profissionais envolvidos no aumenta com o tamanho da turbina; Ex: 2, os equipamentos de
segurana e demais equipamentos eletrnicos de controle so os mesmos independentes do
tamanho da turbina ), quanto ao tamanho da planta ( mais barato instalar vrios turbinas em um
local do que apenas uma turbina, a menos que a rede eltrica seja fraca e seja preciso
investimentos elevados na sua expanso) e, esta economia de escala se faz presente tambm na
etapa de operao. Essa economia refere-se as visitas de manuteno, vigilncia, administrao,
etc.

A repotenciao muitas vezes praticada pelos proprietrios da planta quando a mesma est
chegando ao final de sua vida til. Alguns componentes da turbina esto mais sujeitos a ruptura e
desgaste (ps, transmisso, gerador). A vida til de uma turbina depende da qualidade da turbina e
das condies climticas do local, isto do nvel de turbulncia dos ventos locais. Plantas offshore
esto sujeitas menor fadiga de seus componentes devido baixa turbulncia dos ventos no mar.

O grfico abaixo (figura 44) mostra a variao da produo anual de energia de uma turbina de
600 kW em funo da velocidade mdia do vento (k= fator de forma para diferentes curvas de
distribuio de velocidade). Este grfico assume que a turbina opera 100% do tempo. No entanto,
na prtica, as turbinas necessitam de inspeo (a cada seis meses) e seus componentes esto
sujeitos falhas. Assim sendo, a sua disponibilidade menor que 100%. As turbinas modernas
apresentam disponibilidades em torno de 98%, tendo em vista que as mesmas esto sempre
desligadas nos perodos de ventos fortes.
50













Figura 44 - Produo de energia de uma turbina tpica de 600 kW
DEWI [4]

Assim sendo, o custo anual de gerao de energia (US$ / MWh) depende significativamente do
regime de vento do local. Portanto no h um nico preo pela energia gerada por um sistema
elico, mas sim uma faixa de preos, dependendo do regime de ventos do local, e
conseqentemente da produtividade energtica da planta ou seu fator de capacidade. O grfico a
seguir (figura 45) mostra como exemplo, a variao do custo da energia eltrica produzida (US$ /
kWh) por uma turbina de 600 kW em funo da produo anual.















Figura 45 - Custo estimado da eletricidade para uma usina de 600kW

O custo de gerao, alm do regime de vento do local (pode ser expresso pelo Fator de
Capacidade mdio anual) depende do custo de capital, O&M e da taxa de desconto a ser
considerada. Locais que apresentam um regime moderado de vento possuem fatores de
capacidade tpicos em torno de 25%. Em reas mais promissoras, os fatores de capacidade esto
na faixa de 35 a 45% ou mais.

O fator de capacidade, assim como o custo por kWh gerado varia diferentemente para diferentes
modelos de turbinas em um mesmo local, pois funo tambm da sua curva de potncia.

Exemplo de um procedimento simplificado para o clculo do custo da energia gerada por
um sistema elico:

O custo da energia gerada (CG) por uma planta elica pode ser estimado utilizando a seguinte
equao:

51

EG
M CO FRC C
CG
& +
=
Onde:

C custo de capital de uma planta elica
FRC fator de recuperao de capital
EG produo anual de energia
CO&M Custo anual de O&M

O fator de recuperao de capital, FRC, definido como:


( ) [ ]
( ) 1 1 1
1
+
+
=
n
n
i i
FRC
onde :
i taxa anual de retorno
n perodo de recuperao do investimento


O custo anual de O&M, pode ser calculado como uma frao (k) do custo de capital

CO&M = K.C


Bibliografia:

[1] FARRET,F.A Aproveitamento de pequenas fontes de energia eltrica. Editora ufsm. Rio Grande
do Sul, 1999, 245p.

[2] Godfrey B. Renewable Energy . Power for Sustainable Future. Open University. 1996. Pg 267 -
314

[3] COHEN,J.M et all. National Wind Coordinating Committee. Distributed Wind Power
Assessment. Washington, 57p.

[4] Energia elica na Dinamarca. http://www.windpower.dk/tour/

[5] Patel, Mukund R. Wind and Solar Power Systems. CRC Press, New york, 1999, 351p.

[6] Silva, P.C. Sistema para tratamento, armazenamento e disseminao de dados de vento. Tese
de mestrado, Rio de Janeiro, UFRJ, 113p.

[7] DUTRA,M. R. Viabilidade tcnico-econmica da energia elica face ao novo marco regulatrio
do setor eltrico brasileiro. Dissertao de mestrado, UFRJ, Rio de janeiro, 2001.

[8] Fadigas, E.AF.A . Dimensionamento de fontes fotovoltaicas e elicas com base no ndice de
perda de suprimento e sua aplicao em localidades isoladas. Dissertao de mestrado,
Escola Politcnica, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1993.

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