Martinism-Louis-Claude de Saint-Martin - Quadro Natural Das Relações Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
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Observemos, contudo, para confortar a inteligncia do Leitor, a quem essas verdades podem
parecer muito estranhas, que no necessrio aplicar esse nmero de 40 dias ao crime do
homem, pois o vemos reinar hoje em sua reproduo corporal. O nmero atual dessa Lei no
passa de uma conseqncia e uma expiao do nmero falso que agiu interiormente.
Por fim, encontramos ainda nessa figura simples
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A gestao humana contada em 40 semanas. (N.T.)
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I . . . . .
uma prova evidente de todos os princpios precedentemente expostos sobre a necessidade de
haver a comunicao das virtudes superiores at na infeliz morada do homem.
De um a dez h vrios nmeros diferentes, todos ligados por um lao particular ao primeiro
elo da corrente, embora tenhamos o direito de separ-los para examin-los sob um aspecto
particular. Se o quaternrio, ou o homem, tinha descido at a extremidade inferior dessa
corrente, ou at o zero, e se, no entanto, o Princpio supremo o escolheu para seu regime
representativo, no seria necessrio que os nmeros, ou as virtudes superiores e intermedirias
entre um e dez, descessem at ele que no tem o poder de transpor o limite que lhe est
prescrito para remontar at elas que descessem at sua circunferncia para que ele pudesse
recuperar o conhecimento do que perdeu? Eis a todas as potncias de subdiviso cuja
correspondncia com o homem, apoiada nas tradies e alegorias dos Povos, j expus.
Mas isso no basta ainda para a inteira regenerao do homem: se a Unidade no houvesse
penetrado na circunferncia por ele habitada, ele no teria recuperado sua idia completa e
teria permanecido abaixo de sua lei. Foi preciso tambm que essa Unidade fosse precedida
por todos os nmeros intermedirios porque, como a ordem foi invertida pelo homem, ele s
pode conhecer a primeira Unidade que abandonou depois de haver conhecido todas as
virtudes que dela o separam.
Isso lana uma grande luz sobre a natureza da manifestao universal, cuja necessidade
reconhecemos para o cumprimento dos decretos supremos.
Qualquer que seja o Agente encarregado de realiz-la, certo que ele no pde ser inferior
aos Agentes particulares que manifestaram as faculdades superiores apenas em suas
subdivises e, se os Agentes particulares, embora reduzidos a virtudes parciais,
representaram, no entanto, as potncias da Sabedoria sem o qu eles teriam sido inteis
para os seus desgnios com muito mais razo o Agente universal devia ser depositrio dos
mesmos direitos e poderes.
Assim, a manifestao universal das potncias divinas, sucedendo-se s leis rigorosas da
justia que resultariam da subdiviso delas, teve de coroar todos os bens que o homem podia
esperar, fornecendo-lhe a viso das verdades positivas entre as quais ele teve origem.
Ao mesmo tempo, admitamos que bastava um Agente revestido de tal poder para reerguer o
homem da queda e ajud-lo a restabelecer a semelhana e as relaes com a Unidade
primeira.
Se pelo mais elevado dos homens foram gerados todos os males de sua infeliz posteridade, era
impossvel que eles fossem reparados por algum homem dessa posteridade: seria preciso
supor que seres degradados, despojados de todos os direitos e virtudes, fossem maiores do que
aquele que era iluminado pela prpria luz; seria preciso que a fragilidade estivesse acima da
fora. Ora, se os homens se encontram em estado de fragilidade, se esto todos ligados pelas
mesmas amarras, onde encontrar entre eles um Ser em condies de romper-lhes e
desprender-lhes as correntes? E, em qualquer lugar que esse homem fosse escolhido, acaso
no ficaria forado a esperar que lhe viessem partir as suas?
Verdade que, como os homens se encontram respectivamente na mesma impotncia e que,
mesmo assim, so todos chamados por sua natureza a um estado de grandeza e liberdade, s
poderiam ser restabelecidos nesse estado por um Ser igual a eles: o que prova que o Agente
encarregado de lhes apresentar novamente a unidade divina deve ser, por si mesmo, mais do
que o homem.
Mas se dirigirmos a vista para acima das virtudes do homem, encontraremos as virtudes da
Divindade da qual o homem foi emanado diretamente e sem o concurso de qualquer Potncia
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intermediria. Possuindo mais do que as virtudes do homem, o Agente do qual falamos no
pode ter menos do que as virtudes de Deus, visto que nada existe entre Deus e o homem.
preciso admitir ento que, se a Virtude divina no houvesse doado a si mesma, jamais o
homem teria recuperado o conhecimento dela. Assim, jamais lhe teria sido possvel remontar
ao ponto de luz e de grandeza para onde os direitos de sua natureza o haviam chamado.
Assim, o selo do grande Princpio teria sido impresso em vo em sua alma. Assim, esse
grande Princpio teria falhado no mais belo de seus poderes, o amor e a bondade, pelos quais
no deixa de conseguir para o homem os meios de ser feliz. Esse grande Princpio teria sido
frustrado em seu decretos e na conveno indelvel que liga todos os Seres a ele.
Quando declaro que nada h entre o homem e Deus, digo-o na ordem de nossa verdadeira
natureza, na qual veramente nenhum outro poder, alm do poder do grande Princpio, devia
dominar-nos. No estado atual, h realmente alguma coisa entre Deus e ns: e a falsa maneira
de ser, a transposio de poderes que, imprimindo em ns a desordem universal, causa o
nosso suplcio e o horror da nossa situao passageira no tempo.
Nova razo para a Virtude divina ter-se aproximado de ns a fim de restabelecer a ordem
geral, reconduzindo todos os poderes s suas posies naturais, restabelecendo a Unidade
primitiva; dividindo a corrupo que se reunira no centro, distribuindo as virtudes do centro
para todos os pontos da circunferncia, ou seja, destruindo as diferenas.
uma verdade, ao mesmo tempo profunda e humilhante para ns, que aqui no mundo as
diferenas sejam as nicas fontes dos nossos conhecimentos, uma vez que, se delas que
derivam as relaes e as distines entre os Seres, so essas mesas diferenas que nos privam
do conhecimento da Unidade, impedindo que dela nos aproximemos.
Ora, sentimos que se a Virtude divina no houvesse dado os primeiros passos, o homem
jamais teria esperado retornar a essa Unidade. De duas Virtudes separadas, como iria a mais
fraca, a totalmente impotente, remontar sozinha e por sua conta ao seu termo de reunio?
E sem o Agente universal, o homem bem teria sabido, atravs das as manifestaes anteriores,
que havia potncias e virtudes espirituais, porm jamais teria sabido, por experincia, que
havia um Deus, j que somente a Unidade de todas as suas virtudes que poderia fazer com
ele o conhecesse.
Assim, reconheamos com confiana que o Agente depositrio de todos os poderes, seja qual
for o nome que lhe dermos, deve ter possudo o conjunto de todas as virtudes supremas, que
antes dele jamais se haviam manifestado, a no ser em sua prpria diviso; que esse Agente
teve de levar consigo o carter e a essncia divina e que, penetrando na alma dos homens,
pde faz-los sentir o que o Deus deles.
E aqui eu lembraria a figura precedente,
I . . . . .
que representa o estado de privao em que todos ns padecemos por estarmos separados do
nosso Princpio. Veremos que, aproximando-se os caracteres e fazendo a unidade penetrar no
quaternrio do homem, desse modo,
[figura: crculo, dentro dele o 4 com a unidade]
fica restabelecida a ordem universal, uma vez que os trs caracteres
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se acham em sua progresso e harmonia naturais. Essa ordem certamente existia quando
mesmo da subdiviso desses tipos, pois indestrutvel, mas a s existia horizontalmente, ou
em latitude, enquanto que na figura que os rene aqui no mesmo ponto e no mesmo centro,
ela existe segundo o seu verdadeiro nmero e sua verdadeira lei, que a perpendicular.
Por fim, para falar sem mistrios, foi nessa poca que o Grande NOME dado aos hebreus teve
toda ao. Sob a lei da justia ele agira exteriormente: era preciso penetrar no centro para
operar no homem a exploso geral da qual seu ser intelectual suscetvel e libert-lo do
estado de concentrao ao qual fora reduzido pela queda.
De acordo com as idias profundas apresentadas por essas demonstraes, no nos admiremos
das diferentes opinies nas quais os homens se detiveram a respeito do Agente universal. Seja
qual for a idia que deles hajam formado, nada h relativamente a virtudes, dons e poder que
no tenham encontrado nele. Uns dizem que era um Profeta; outros, um homem profundo no
conhecimento da Natureza e dos Agentes espirituais; outros, um Ser superior; outros, por fim,
uma Divindade. Todos tiveram razo, todos falaram de conformidade com a verdade e todas
essas variedades provem apenas das diferentes maneiras como os homens se colocam para
contemplar o mesmo objeto. O erro cometido pelos primeiros foi o de querer tornar exclusivo
e geral o ponto de vista particular que a eles se apresentava; o dos segundos, o de no se
proporcionarem fragilidade de seus Discpulos e de quererem faz-los admitir, sem o
concurso da inteligncia, as verdades mais fecundas que o esprito do homem possa abranger.
Os diferentes graus de Cincia e de vontade so ento as nicas causas da diversidade das
opinies que reinam entre os homens a respeito desse grande objeto. Existem aqueles para
quem o Agente veio, outros para quem ele vem e outros para quem ele no somente no veio,
mas tambm para quem no vem ainda.
Os mesmos princpios expostos nos ajudaram a descobrir qual deve ter sido a poca
conveniente manifestao desse Agente. Pois se ele foi colocado pela Sabedoria suprema
para a cura dos males ligados esfera estranha e cheia de trevas que habitamos, deve ter
seguido todas as suas leis.
Segundo a ordem fsica, uma doena s se cura depois que o remdio penetrou na prpria
sede da vida, no centro do Ser. o que se v com evidncia na maior parte das desordens
corporais, que s so perfeitamente remediadas pela purificao do sangue.
Mas o sangue o centro dos corpos animais, o seu princpio corporal mais interior, pois,
cercado dos outros princpios, pode ser considerado como no centro da circunferncia animal,
de onde envia as emanaes de sua prpria vida s subdivises corporais mais extremas.
Foi ento preciso que o Agente universal, encarregado da grande obra da regenerao das
Potncias, penetrasse as substncias mais ntimas de todo ser impuro, que comunicasse seus
poderes ao prprio centro das coisas temporais, que por esse efeito surgisse no meio do tempo
como no meio das aes dos seres emanados a fim de agir com mais eficcia e ao
mesmo tempo sobre o centro e sobre a vida de todas as circunferncias.
Se desejssemos conhecer uma poca positiva e determinada sobre essa manifestao, seria
bem possvel descobri-la ajuntando-se vrias noes esparsas nas Tradies do hebreus. Seria
necessrio nos lembrarmos de que as suas Escrituras nos ensinam sobre a lei temporal senria
que dirigiu a criao das coisas e sobre a Lei santa e setenria que lhe fez o complemento.
Seria preciso compreender o sentido da passagem que declara que mil anos so para Deus
como um dia, pois no parece que os que a empregaram em seus discursos e os que a
combateram a tenham compreendido, uns melhor do que os outros. Seria necessrio conhecer
a relao de todas essas expresses, seja com o nmero ternrio e aparente dos elementos
corporais, seja com o nmero real da unidade do Princpio. Veramos que as leis e as aes
superiores esto designadas nos nmeros ou envoltrios intelectuais dos Seres, com tanta
clareza quanto as leis materiais nos corpo.
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Mas como seria preciso que o Leitor tivesse noes muito detalhadas sobre tais assuntos, seria
intil oferecer-lhe, sobre eles, resultados que permaneceriam nulos para a sua instruo, at
que ele mesmo tivesse certeza. Eu me contentaria de lev-lo no caminho, falando-lhe ainda do
nmero quaternrio, cujas propriedades mostramos acima.
O homem, a quem convm de maneira especial o nmero quaternrio, foi emanado para
ocupar o centro intermedirio entre a Divindade e o Universo. Pela queda, foi precipitado
numa circunferncia muito inferior que ocupava antes. Porm, como sua natureza no
mudou apesar da degradao, ele teve de ocupar o centra da nova regio, como havia ocupado
o da antiga, e isso porque, a qualquer grau que os Seres desam, seu carter se conserva e se
manifesta.
Se na queda o homem ainda ocupou um centro, sempre trouxe em si o seu nmero primitivo e
quaternrio, alguma alterao que esse nmero deve ter sofrido pela oposio de uma regio
que lhe to contrria.
Se o homem, conservando seu nmero quaternrio, ocupe ainda um centro na prpria morada
da confuso que habita, o Agente universal, encarregado de apresentar-lhe seu modelo, teve
de fazer isso de conformidade com todas as leis. Ou seja: que, surgindo no centro do tempo,
ele teve de imprimir o nmero quaternrio at sobre a poca de sua manifestao temporal,
sendo o quaternrio dos tempos e o centro dos tempos uma nica coisa.
Realmente, o quaternrio, que dirige necessariamente a grande obra, deve dirigir-lhe as
conseqncias, assim como lhe dirigiu as diferentes preparaes. Pois esse nmero, que se
liga ao mesmo tempo expiao e a regenerao, estende-se ou se restringe, em razo do
objeto que os seres tm a cumprir. O primeiro homem caminhou por quarenta para conseguir
a remisso de sua falta e a reconciliao da posteridade temporal. Jac caminhou por quarenta
para conseguir a reconciliao de sua posteridade espiritual. O Libertador dos hebreus
caminhou por quarenta para conseguir a libertao de seu Povo. O grande Regenerador
preparou a reconciliao universal por um qudruplo cubo decenrio, porque, sendo o eixo, o
centro e o primeiro de todos os tipos, somente a ele convinha a obra do meio dos tempos, pela
qual ele abrangia os dois extremos como depositrio do complemento de todos os nmeros.
Desde sua chegada, esse nmero de ao quaternria se simplifica e se simplificar cada vez
mais em razo das futuras oposies extremas pelas quais ser necessrio que o homem possa
regenerar-se em menos tempo do que pelo passado. Essa progresso ir diminuindo at que o
quaternrio aja de maneira to rpida e instantnea que acabe confundindo-se na unidade da
qual saiu. ento que as coisas temporais acabaro e que o amor e a paz reinaro no corao
dos homens de desejo.
Se refletirmos sobre o nmero Sabtico, ou Setenrio, que completou a origem das coisas,
ficaremos sabendo que esse mesmo nmero deve completar-lhe a durao e que, sendo quatro
o centro dos tempos, tambm o centro de sete. Mas evitemos numerar o curso temporal da
stima ao, como o das seis outras aes que a antecedem. Por no cair exclusivamente nos
corpos, ela se furta aos nossos clculos, e seria impossvel ao homem marcar-lhe o termo,
porque ela governada por nmeros superiores dos quais ele no saberia dispor.
Temos aqui algo em que exercer a inteligncia, mas temos tambm algo com que compens-la
pelos esforos que lhe restam fazer para ter certeza da idade e da antigidade do mundo. Tudo
o que posso dizer que, para calcular esse ponto com exatido, preciso tomar como escala o
ano terrestre.
Por que, iro perguntar-me, tomar como escala o ano terrestre, em vez dos dias, semanas,
meses, e at mesmo as revolues de um outro planeta alm do nosso?
que, como o tempo a expresso de seis e uma aes primeiras e constitutivas da Natureza,
seria preciso que nesses perodos e pocas especiais ele tivesse uma relao direta com ela;
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seria preciso que nos apresentasse quadros reduzidos, porm completos e proporcionais ao
grande quadro da origem do Universo, de sua durao total e destruio.
Ora, sabemos que o ano terrestre o perodo que representa com mais exatido os grandes
traos do Princpio das coisas, pois nesse curto espao ele nos mostra a imagem de tudo o que
foi, de tudo o que e de tudo o que ser; o nico perodo cujo curso encerra para ns a
vegetao, a criao e a destruio universais, a verdadeira repetio de todas as coisas
passadas, presentes e futuras, reunindo todos os tipos e pocas, materiais ou imateriais,
concedidas inteligncia do homem para faz-lo renascer e ajud-lo a sair de seus abismos.
Diz-se que esse perodo o mesmo de todas as revolues terrestres, que o verdadeiro
clculo da terra e que no seu perodo particular a terra pinta em ao viva todos os traos do
perodo geral. No preciso mais do que isso para demonstrar que o ano terrestre o nmero
simblico do perodo universal e que, como tal, torna-se a base de nossos clculos.
E isso mesmo o que poderia vingar a terra pelo desprezo que lhe votaram os homens
ignorantes, que na sua pouca extenso quiseram ver motivos para desdenh-la com relao ao
Universo. Se a terra no estivesse mais ligada do que qualquer outro Ser corporal s leis e
Princpios primeiros que dirigiram e criaram todas as coisas, no traria, de modo to claro
como o faz, o seu nmero e todos os seus caracteres.
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Quanto revivificao ligada ao ato universal, central e quaternrio, temos dela sinais
indicativos nas Tradies dos hebreus sobre a origem do Universo. Ensinam-nos que o Sol foi
formado no quarto dia e que antes disso nenhum ser animalmente animado tinha vida. Foi o
seu fogo de reao que concorreu para fazer sair do seio da terra e das guas todos os Seres
corpreos que habitam o Universo material. Por esse quadro, isso no nos declara que,
tornando-se o homem pecador e sujeito ao tempo, s recobraria sua verdadeira luz na poca
quaternria da durao das coisas temporais? No fixa o nmero dessa luz e traa a lei pela
qual ela se dirigiu e se dirigir eternamente?
por isso que a Lei dada ao Povo hebreu s estendia a punio dos pecados at a quarta
gerao. Ora, o Reparador universal, surgindo na quarta idade do Universo, satisfazia
plenamente Lei, podia nessa poca consumar a expiao universal das prevaricaes de toda
a posteridade dos homens. Por conseqncia, podia realizar a expiao das mculas e da
ilegitimidade de seus prprios antepassados e a de todas as maldies a que seu ministrio
podia exp-la por parte dos homens.
Entretanto, desejo apresentar a formao do Sol no quarto dia como o sinal proftico de um
acontecimento previsto ento, visto que, de acordo com muitos, o pecado que a ocasionou no
podia ser previsto sem que o Autor das coisas fizesse dele o pr e o contra e participasse no
erro de sua criatura? No devo, de preferncia, apresentar essa formao do Sol no quarto dia
como uma simples confirmao da ao do nmero quaternrio que devia ser completa
antes que o homem culpado e cheio de trevas pudesse recuperar a vida de seu Ser intelectual
assim como os animais permaneceram na inrcia e, por assim dizer, no nada at o
momento em que o Sol elementar veio dar impulso ao que lhes era prpria?
fora de dvida que, se j foram cometidos tantos erros sobre a prescincia divina, que
aqueles que disputam sobre esses objetos confundem duas ordens de coisas muito diferentes:
a ordem visvel das coisas corruptveis em que vivemos e a ordem das coisas incorruptveis,
que era a da nossa verdadeira natureza.
Em lugar de fazerem essa importante distino, imputam Sabedoria suprema um concurso
universal com nossas obras, que ela tem, talvez, por alguns de ns em nosso estado atual, no
qual estamos ligados s aes variadas dos Seres no livres, mas que no saberamos imputar-
lhe no nosso estado primitivo sem injuri-la nem desnaturar-lhe todas as Leis.
No nos detenhamos por mais tempo nessa questo. Ela est entre aquelas que so inteis e
perigosas de tratar pelo raciocnio separado da ao. Devemos agir para conseguir bases de
meditao e no meditar antes de termos conseguido essas bases. Sem isso, cada um erra no
vazio e no espao cheio de trevas. Cada um apreende um sentido particular que, por
ignorncia e leviandade, quer generalizar. Tudo se obscurece porque tudo se divide. Tudo se
aniquila porque o homem reduzido a si mesmo esgota suas foras e nada recebe para renov-
las. Eis de onde provem os Cismas, as Seitas, ou seja: o nada. Uma das grandes cincias
saber deter-se oportunamente.
Limitemo-nos ento a reconhecer que o Agente universal, surgindo no meio dos tempos,
numa poca quaternria, e dando ao homem a verdadeira reao de que precisava, colocou-o
em condies de entrar em seu antigo domnio e de percorrer-lhe todas as partes. Se o corpo
do homem lhe apresenta dois dimetros, se com isso esse corpo um smbolo perecvel da
medida universal, seu Ser intelectual, que depende do princpio infinito, est, com muito mais
razo, revestido do sinal quaternrio que participa do infinito e com o qual pode medir
eternamente todos os Seres.
Mas os dois dimetros corporais do homem esto, por assim dizer, confundidos, insensveis,
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desfigurados e sem ao no seio da mulher at o momento em que, alcanando a luz
elementar, lhe permitido desenvolv-los. Isso nos indica ento que a medida quaternria do
homem intelectual estava restringida e como que nula desde que ele cometera a desordem; e
que ela s poderia estender-se e desenvolver-se na poca da grande luz, poca em que as
virtudes da Unidade sensibilizaram a si mesmas, a fim de fluir nos quatro canais que formam
o carter hieroglfico do homem.
Essa poca fornece, pois, ao homem os meios positivos de exercer por sua vez a mesma
reao sobre tudo o que ainda lhe obscuro e oculto. E nada mais h nas leis e na natureza do
Seres que possa recusar-se ao seu imprio, uma vez que os Seres so subdivises da medida
universal e dependem todos parcialmente do grande quaternrio.
Mas para que o desenvolvimento universal produzisse semelhantes efeitos, teve de operar-se
no meio do tempo universal e no meio do tempo particular, a sua representao abreviada e
que divide em quatro o curso da Lua. O Agente encarregado dessa obra teve de complet-la
no somente entre a Lua nova e a Lua cheia, mas ainda no meio de um perodo setenrio de
dias, submltiplo do perodo lunar. Foi, ao mesmo tempo, no centro de uma semana, no
centro do ms peridico da Lua e no centro do curso universal da Natureza que esse Agente
divulgou aos homem a Lei secreta a eles velada desde o exlio nessa morada de expiao a
fim de que, agindo virtualmente nesses trs centros, abrisse a passagem s virtudes das trs
faculdades supremas, as nicas que podem revivificar os trs rgos intelectuais do homem e
conceder a audio, a vista e a palavra sua inteira posteridade.
nessa poca trplice que ele teve de entrar no Santo dos Santos, vestir-se com o fode, a
Tnica de linho, o peitoral, a Tiara usada pelo Sumos Sacerdotes em suas funes, e que
eram para eles o smbolo das verdadeiras vestes com as quais um dia o Regenerador deveria
cobrir a nudez da posteridade humana.
Nesse ponto, ele teve de desenvolver a Cincia aos olhos daqueles que havia escolhido. Teve
de restabelecer diante deles as palavras apagadas no velho Livro confiado outrora ao homem e
pelo homem desfigurado. Teve at de dar-lhes um novo Livro mais extenso que o primeiro
para que com isso aqueles que a quem ele fosse transmitido pudessem reconhecer e dissipar
os males e as trevas com que a posteridade do homem estava envolvida e ainda aprendessem a
evit-las e a se tornarem invulnerveis.
Nesse ponto, ele teve de preparar o perfume antigo do qual se fala no livro do xodo,
composto de quatro aromas de peso igual, e que os Sacerdotes s podiam usar no Templo,
sob as mais rigorosas proibies. Teve de encher o incensrio sagrado e, depois de haver
perfumado todas as regies do Templo, teve de convencer os Eleitos de que eles nada podiam
fazer sem esse perfume.
Por fim, sua obra teria sido intil para eles se ele no os houvesse iniciado em seus
conhecimentos, ensinando-lhes a colher eles mesmos esses quatro preciosos aromas, a com
eles comporem por sua vez esse mesmo perfume incorruptvel e a extrarem dele as exalaes
puras que, por causa de sua viva salubridade so destinadas, desde a origem da desordem, a
impedir a corrupo e a sanear todo o Universo.
Pois o Universo como um grande fogo aceso desde o incio das coisas para a purificao dos
Seres corrompidos. Seguindo a lei dos fogos terrestres, ele comeou cobrindo-se de fumaa.
Em seguida a chama desenvolveu-se e deve continuar, de maneira imperceptvel, a consumir
todas as substncias materiais e impuras a fim de retomar sua primeira brancura e devolver
aos Seres as suas cores primitivas.
por isso que na ordem elementar, depois a chama de ter irrompido, depois de ter-se elevado
acima das matrias combustveis, continua a dissolv-las delas at a destruio total. por
isso que, medida que foi atraindo a si todos os Princpios de vida das matrias, que as
libertou, unindo-as sua prpria essncia, eleva-se com eles nos ares concedendo-lhes a
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existncia livre e ativa da qual no desfrutavam no corpo.
Como eles, o Chefe Universal de todos os Instituidores espirituais do culto puro e sagrado
teve de reapresentar na terra o que acontece na classe superior. E isso de conformidade com a
grande verdade de que tudo o que sensvel apenas a representao daquilo que no o , e
que toda ao que se manifesta a expresso das propriedades do Princpio oculto ao qual
pertence. O Eleito universal deve at ter cumprido essa Lei de maneira mais eminente do que
todos os Agentes cuja obra acabava de completar, uma vez que estes somente haviam
mostrado na terra o culto de justia e de rigor, e que ele prprio vinha trazer-lhe o culto de
glria, de luz e de misericrdia.
Assim, em todos os atos e no culto que exerceu, ele teve de demonstrar tudo o que se realiza
na ordem invisvel. Do alto de seu trono, a Sabedoria divina no deixa de criar os meios para
a nossa reabilitao. No mundo, o regenerador universal no deve ter deixado de cooperar no
consolo corporal e espiritual dos homens transmitindo-lhes diversos dons, relativos prpria
preservao e de seus semelhantes, ensinando-lhes a afastarem de si as armadilhas que o
cercam e a se preencherem com a verdade.
Do alto de seu trono, a Sabedoria divina no deixa de atenuar o mal que cometemos e de
absorver nossas inquietaes na imensido de seu amor: no mundo o Regenerador universal
perdoou os culpados e, quando os acusaram diante dele, mostrou que absolv-los seria uma
obra muito maior do que conden-los.
Por fim, do alto de seu trono, a Sabedoria divina concede suas prprias potncias e virtudes
para anular o tratado pecaminoso que submeteu toda a posteridade do homem escravido:
no mundo, o Regenerador universal teve de dar seu suor e sua prpria vida para que
pudssemos conhecer de maneira sensvel as verdades sublimes e para nos arrebatar morte.
assim que a ordem visvel e a ordem invisvel, movidas por uma correspondncia ntima,
apresentam aos homens a unidade indivisvel do mvel sagrado que tudo faz agir. Para a
Inteligncia nada mais h, inferior ou superior, entre os poderes supremos. Em todas as partes
da grande obra ela no v mais do que um nico fato, um nico conjunto e, por conseguinte,
uma nica mo.
uma verdade indubitvel que tais fatos jamais teriam acontecido ao homem se aquele que
vinha realiz-los no houvesse permanecido em juno, em todos os atos de seu ministrio,
com a Unidade, com est eternamente ligado por sua essncia. Do mesmo modo, as
manifestaes possveis das potncias divinas que a Sabedoria envia para o socorro do
homem seriam nulas para ele se houvesse a menor separao, a menor diviso entre essas
potncias: estando o homem no ltimo elo da corrente, jamais veria chegarem at ele as
virtudes da extremidade superior se alguns dos elos intermedirios fossem rompidos.
E para afirmar nossa confiana, seja sobre a unio necessria das virtudes com o Princpio,
seja sobre a possibilidade em geral de todas as manifestaes de que falei, lembrarei aqui que
a matria, embora verdadeira com relao aos corpos e aos objetos materiais, aparente para
o intelectual; que em razo dessa aparncia as aes superiores podem alcanar-nos e que
podemos elevar-nos at elas. Isso seria impossvel se o espao que nos separa fosse fixo, real
e impermevel. Assim tambm no haveria intercmbio algum de influncias entre a terra e os
astros se o ar entre eles no fosse fluido, elstico e compressvel.
Toda recompensa que desejo daquele a quem revelo essas verdades que ele medite sobre as
leis da refrao, que observe que ela maior em razo da densidade dos meios e que assim
reconhea que o objeto do homem na terra dever ser o de empregar todos os direitos e toda a
ao de seu Ser para rarefazer, o quanto puder, os meios que se situam entre ele e o
verdadeiro Sol, a fim de que, estando como que nula a oposio, a passagem seja livre e que
os raios da luz cheguem at ele sem refrao.
Devemos ver que o prprio homem, embora separado da Sabedoria da qual hauriu a vida, s o
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est relativamente a si mesmo, e de modo algum aos olhos da suprema Inteligncia que,
abrangendo a universalidade dos Seres e sendo a nica a lhes dar a existncia, demonstra a
impossibilidade existir um ser que lhe seja desconhecido.
Mas desde que, apesar de nossas mculas e nossa degradao, no podemos jamais subtrair-
nos viso ntima, inteira e absoluta do grande Princpio, talvez ele estivesse menos
distanciado da nossa viso do que julgamos se, para percebermos a sua presena, segussemos
caminhos mais verdadeiros e menos obscuros. Talvez todos os obstculos fossem nulos e
insensveis se, para restabelecer nossas relaes com ele, empregssemos todos os esforos
que empregamos para destrui-las.
Se tais relaes so o privilgio das Potncias puras que a Sabedoria queira comunicar-nos,
que essas Potncias, no as alterando como ns por uma marcha desregrada, permanecem
unidas Sabedoria por sua prpria vontade, como o so por sua essncia, e conservam assim
a unidade de suas faculdades e correspondncias com ela.
Devemos ento concordar em que as manifestaes superiores, cuja necessidade sentimos
para nos apresentarem novamente os direitos de nossa primeira Natureza, s apresentam
separao relativamente a ns que estamos cerceados em limites estreitos e que, pela
fragilidade de nossos olhos, s vemos uma parte do quadro, ao passo que aquele que o
mantm na mo vivifica-o, contempla-o e o v sempre por inteiro.
Assim, tudo est ligado por Deus, tudo se relaciona, tudo existe em conjunto. Todas as
virtudes, inerentes a ele ou dele emanadas, todos os seres por ele escolhidos, todos os homens
que ele fez nascer e todos os recursos que empregou desde a origem das coisas e que
empregar at o seu fim e na eternidade de si mesmo, esto sempre presentes diante dele. De
outro modo, sua obra seria perecvel; ele s produziria seres mortais e qualquer coisa poderia
ser subtrada sua universalidade.
Devemos repetir tambm que a vontade falsa do Ser livre a nica causa que pode exclu-lo
da harmonia universal da Unidade, pois ele depende sempre dessa Unidade por sua natureza.
Da resulta que, ao se esforar para imitar as potncias puras que manifestam diante dele as
virtudes divinas, unindo-se a sua vontade vontade do grande Princpio, ele desfrutaria como
elas de todas as suas relaes com esse Princpio. Seria semelhante a ele pela
indestrutibilidade de seu Ser, fundada sobre a lei de sua emanao; estaria englobado na
harmonia de todas as faculdades divinas. E entre todas as virtudes que a Sabedoria lhe faz
manifestar, no nenhuma haveria que no lhe fosse conhecida e da qual no pudesse desfrutar:
de outro modo ele no conheceria a sua unidade.
Como o amor pela felicidade dos Seres especialmente a essncia da Sabedoria, quando ela
faz as potncias divinas subdivididas e a sua prpria potncia chegarem at ns, tem como
objeto conduzir-nos unidade harmnica, na qual todos os Seres podem desfrutar da
plenitude da prpria ao.
Ela semeou essas virtudes ao nosso redor a fim de nos levar a recolh-las, a ajunt-las e fazer
delas o nosso alimento dirio. Em suma: a compor com elas uma unidade, aproximando os
tempos e as distncias que a mantm afastadas e desviando delas todos os obstculos e vus
que a ocultam aos nossos olhos, impedindo-nos de perceb-las.
Assim todas as virtudes divinas, ordenadas pelo grande Princpio para cooperarem na
reabilitao dos homens, existem sempre ao nosso redor e junto de ns, no deixando jamais
o recinto em que estamos encerrados assim como as criaes da Natureza elementar
cercam continuamente nossos corpos, sempre prontas a nos transmitirem suas propriedades
salutares, a nos curar e at mesmo a nos preservar de nossas enfermidades se nossas vises
falsas e contrrias a essa Natureza no nos afastassem com tanta freqncia do conhecimento
de seus tesouros e dos frutos que poderia obter.
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 143
Assim, sem os obstculos que ns mesmos contrapomos s aes benficas do grande
Princpio, no haveria nenhuma dessas virtudes que pudssemos colher e da qual pudssemos
apropriar-nos, se assim podemos dizer, como poderamos apropriar-nos de todas as virtudes
das substncias salubres da Natureza elementar.
Assim, sem a depravao ou a fragilidade de nossa vontade, no estaramos separados de
todos os Seres e Agentes salutares cujos benefcios esto consagrados nas diferentes
Tradies apenas na aparncia, ficando mais perto deles na realidade.
Todas as obras do grande Princpio nos estariam presentes, e desde o princpio dos tempos at
agora, nenhum Ser, nome, potncia, feito ou Agente permaneceria desconhecido de ns, de
modo que os Eleitos que operaram na terra a seqncia de fatos a ns transmitidos pelas
Tradies dos Povos. Todas as suas luzes, conhecimentos, nomes, sua inteligncia e suas
aes compor-nos-iam um nico quadro, um nico ponto de vista, um nico conjunto, com
detalhes destinados nossa instruo e submetidos ao nosso uso. Isso demonstra quo inteis
os Livros seriam se fssemos sbios, pois os Livros so coletneas de pensamentos e vivemos
em meio a pensamentos.
Realmente, se tudo necessariamente ligado, inseparvel, indivisvel, como que provindo da
essncia divina; se as virtudes que emanam do grande Princpio esto sempre unidas e numa
correspondncia perfeita e ntima, evidente que o homem, no podendo aniquilar nem
mudar a prpria natureza que o liga necessariamente unidade universal nunca deixa de
estar em meio a todas as virtudes divinas enviadas no tempo. evidente que est cercado por
elas, que no pode dar um passo nem fazer um movimento sem se comunicar com elas, que
no pode agir, pensar e falar na solido mais profunda sem t-las por testemunha, sem ser por
elas visto, ouvido e tocado. E, se entre ele e elas no houvesse o fruto de sua vontade covarde
e corrompida, ele as conheceria to intimamente como elas o conhecem, teria sobre elas os
mesmos direitos que elas tm sobre ele. E no iremos longe demais ao afirmar que ele poderia
estender seus privilgios at conhecer, de maneira visvel, Fohi, Moiss, o prprio
Regenerador universal, uma vez que esse privilgio abrange de maneira geral todos os seres
que desde o princpio dos tempos foram convocados terra.
Que razo nos impediria at mesmo de crer que, sem estar corrompida a nossa vontade,
teramos direitos semelhantes sobre os grandes fatos e as grandes aes vindouras? Se nossa
natureza nos chama para participar nas propriedades da unidade, no devemos, como ela,
abranger todos os espaos e tempos, por estarmos, como ela, acima de tudo o que passageiro
e temporal?
Sim, se verdade que na nossa essncia estamos inseparavelmente ligados unidade,
devemos estar ligados em todos os fatos que lhe so prprios, nos que existiram antes dos
tempos, nos que existiro at o fim do tempos, nos mesmos que acontecero depois da
dissoluo e do desaparecimento das coisas aparentes e compostas. Pois no dependeramos
mais da Unidade se nossos direitos fossem apenas parciais e no pudssemos contemplar-lhes
o conjunto em todos os detalhes do espetculo da imensidade.
Vemos, com isso, como se simplifica a idia que temos dos Profetas. Sua glria e suas luzes
deveriam ser a de todos os homens. Todos os homens so profetas por natureza. a sua
fragilidade e a sua depravao que os impede de manifestarem esses privilgios.
A etimologia desse nome prova-o. Os hebreus exprimiam-no por Roh, particpio do verbo
Raah, ele viu. Assim chamavam os profetas de Videntes. Assim podemos derivar da os
direitos e as virtudes dos Reis, a quem, segundo o verdadeiro significado, deveria pertencer
principalmente a qualidade de Vidente. Assim o primeiro Rei de Israel recebeu seus ttulos e
sua autoridade do Vidente Samuel, porque ento os Chefes temporais dos hebreus eram
Videntes, como o homem o era em seu primeiro estado e como sua posteridade deveria ter
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sido.
Por fim, os dois mundos esto cheios de tesouros, nascidos ou por nascer, que se manifestam
de acordo com a vontade do homem quando ele sbio. Se existe um Seminal universal em
ambos, esse Seminal sem limites, sem nmero e sem fim. Para produzir e se mostrar s
espera um choque ou uma razo conveniente, e essa razo a pureza dos desejos do homem.
Pode ele, pois, queixar-se de sua ignorncia, pode ter males e penas uma vez que a todo
instante tem o poder de instruir-se ou de rogar com eficcia ao seu Deus?
Quanto ao mais, os que no quiseram crer nas prprias almas, porque nelas no lhes seria
mostrado tudo o que lhes dizem que deve estar, demonstrariam com isso bem pouca
inteligncia. Realmente, mostr-la no estado de trevas em que se afundam no seria mostr-la.
Mas, antes de garantir que as maravilhas que lhes atribumos no so encontradas nessa alma,
seria preciso que eles houvessem feito alguns esforos para procur-las, e talvez esses
esforos as teriam feito nascer. Talvez reconhecessem que no lhes seria to difcil, como
pensam, tornarem-se felizes e que, se quisessem s-lo, bastaria que falassem.
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
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Aqui apresenta-se uma questo importante: saber quais so os meios sensveis empregados
pelo Agente universal para apresentar de maneira visvel a unidade de suas virtudes ao
Universo no meio dos tempos e no centro de todas as imensidades temporais, universais e
particulares.
Mas sobre esse assunto eu pouco diria. No ficou esquecido que virtude superior alguma ou
pensamento algum chega junto ao homem sem condensar-se, por assim dizer, e unir-se s
cores sensveis da regio que habitamos, observando-se, todavia, que seguem as Leis
terrestres sem serem por elas comandados, e que as dirigem e aperfeioam, em vez de
permanecerem ligados e encerradas por suas aes passivas.
Nem ficou esquecida a dignidade da forma do homem. Assim, basta saber que o Agente
universal teve de seguir a lei comum a todos os Agentes que se haviam manifestado. No
entanto, acrescentemos que, assim como por sua Natureza divina ele congregou em si as
virtudes intelectuais dos Agentes que o tinham precedido, tambm a sua forma corporal teve
de encerrar as virtudes subdivididas e contidas em todos os corpos do Universo.
Acrescentemos ainda que, segundo a obra j citada, se verdade, que o primeiro homem
terrestre no teve me pois que antes dele nenhum corpo material havia existido era
necessrio que o nico que podia transmitir a luz sua posteridade no tivesse pai. E isso no
nos surpreender se penetrarmos no conhecimento do Princpio que primitivamente formou
esses corpos.
Por fim, como o primeiro homem colocou o mal ao lado do bem, era necessrio que o Ser
regenerador colocasse o bem ao lado do mal a fim de equilibrar o peso e ao do pecado e
completar os temos da proporo.
Ora, a matria qual o homem se uniu de maneira criminosa no ser a fonte do erro e dos
padecimentos por ele experimentados? No o mantm ela como que acorrentado entre as
substncias que na ordem sensvel lhe apresentam todos os signos da realidade, mesmo no
tendo smbolo para seu Ser pensante? Ao se unir voluntariamente e de maneira pura a uma
forma sensvel, o Regenerador universal agiu de maneira oposta, ou seja: apresentou aos olhos
da matria todos os indcios da imperfeio e da fragilidade da qual ela susceptvel, sem que
quaisquer dessas fontes de corrupo chegassem at ele. Em suma: se a matria havia
encantado o homem e subjugado os olhos de seu esprito, era preciso que o regenerador
universal encantasse a matria e demonstrasse o seu nada, fazendo reinar diante dela o
verdadeiro, o puro e o imutvel.
Assim, de conformidade com as leis, ele s se mostrou na terra para retratar ao homem a
prpria situao e traar-lhe a histria inteira de seu Ser. Ou seja: se o Regenerador
apresentou ao homem o quadro de seu estado misto e degradado, manifestou-lhe tambm o de
seu estado simples e glorioso. E para esse fim, preciso que sua morte haja operado nele,
diante dos homens, uma separao visvel das substncias que nos compem a fim de que, por
essa visvel anlise no tenhamos dvida de esse amlgama impuro formado hoje pela unio
de um princpio superior e sublime com um princpio terrestre e corruptvel.
Em suma: era preciso que o hierglifo fosse apagado para que surgisse a lngua. Vimos que
o hierglifo anterior s lnguas, o que autorizaria a afirmar que os Eleitos anteriores no
passavam de hierglifos dos quais o Eleito universal era a lngua. Havia dois alfabetos, visto
que era preciso que ele soubesse duas lnguas: a dos Eleitos anteriores e a sua. Os nmeros
desses dois alfabetos so fceis de conhecer, pois que so o duplo do nmero do homem. E o
nmero do homem existe simultaneamente para sua eleio, seu termo e seu progresso em
cento e quarenta e cinco mil oitocentos e sessenta e sete.
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Era preciso, ao mesmo tempo, que a separao visvel fosse realizada atravs de um meio
violento para lembrar ao homem que foi um meio violento que outrora uniu seu Ser
intelectual ao sangue.
Era preciso ainda que essa separao fosse voluntria, uma vez que a primeira unio o fora.
No era preciso, entretanto, que a Vtima voluntria imolasse a si mesma, pois que ento no
seria mais irrepreensvel e o sacrifcio teria sido sem efeito.
Era preciso tambm que aqueles que imolavam a Vtima no a conhecessem pelo que ela era,
porque ento no a teriam imolado.
Recolhamo-nos aqui e contemplemos a universalidade das virtudes divinas em oposio
universalidade das desordens que haviam maculado todas as classes dos Seres. Consideremos
a unidade dos bens apagando a unidade dos males, suportando e anulando simultaneamente
todos os seus esforos. Mergulhemos nesse abismo de sabedoria e de amor, onde a prpria
Vtima generosa se sacrifica sem pecado e onde os cegos sacrificadores, destruindo-lhe o
envoltrio aparente, deixam a descoberto o nico modelo da ordem e da pureza extraindo,
sem o saber, um eletro universal.
Os benefcios do qual o Agente o rgo e o depositrio no tiveram de limitar-se ao lugares
onde ele surgiu nem aos homens por ele escolhidos, nem mesmo a todos aqueles que existiam
ento na face da terra. Ao comunicar seus dons aos Eleitos, dera-lhe o germe da obra,
devendo em seguida desenvolv-lo e realiz-lo em vastas propores em todas as regies
atingidas pelas conseqncias do crime, ou seja: em todas as classes dos Seres, pois nenhuma
delas deixara de ser abalada.
Assim, os corpos dos elementos, expostos pela fraqueza e o crime do homem contra-ao
que continuamente lhe perturba leis, devem ter recebido, por aquele que tudo vinha regenerar,
preservativos prprios para mant-las na harmonia que as constitui e a afastar as aes
destrutivas. Com isso, devem ter sido preparados, para receberem ainda em si tanto os direitos
mais possantes do homem quanto os mais manifestos. E se o ferro, se mantido na direo
correta em relao ao m, pode adquirir uma parte das qualidades magnticas, seria
surpreendente se os homens que seguiram com constncia a vereda das virtudes do Agente
universal se enchessem dessas mesmas virtudes e, ardendo de zelo e confiana, tenham
acalmado os ventos e as vagas, detido o efeito do veneno das vboras, devolvido o movimento
aos paralticos, curado os enfermos e at mesmo arrebatado vtimas morte?
Essa influncia universal sobre a terra e os elementos foi-nos marcada por alguns sinais
visveis da parte daquele que vinha regener-la do mesmo modo quando da sada do Egito
surgiram, de maneira manifesta, os indcios de um socorro e de um virtude superior, atravs
do sangue aplicado nas trs diferentes partes das portas dos hebreus.
Ora, os sinais da obra que o Regenerador realizava de maneira invisvel no Universo tiveram
de ser encontrados nas leis da decomposio de seu prprio corpo, j que seu corpo encerrava
os princpios mais puros e mais ativos da Natureza.
Ele manifestou trs atos sucessivos de purificao, realizados pelas trs substncias puras de
sua forma material em dissoluo nos trs elementos terrestres que serviram de princpios a
todos os corpos; elementos que o pecado infectara, infectando, atravs deles, toda a Natureza;
elementos novamente maculados pela prevaricaes das primeiras posteridades do homem e
cuja purificao os Eleitos anteriores, por mais virtuosos que fossem, no haviam completado.
Realmente, a unidade ternria que tudo produzira, s podia tudo restabelecer pelo mesmo
nmero. Mas com a diferena de que, agindo ento sobre as coisas compostas, ela procedia
por aes distintas, enquanto que na origem, operando sobre os prprios princpios, tudo
produzira num nico feito.
Depois de haver regenerado as trs bases fundamentais da Natureza, era preciso regenerar as
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 147
virtudes que lhe servem de mveis e reao; devolver a todos os mveis invisveis a atividade
perdida pela criminosa negligncia do homem que, encarregado de presidir sua harmonia,
deixara alterar-se sua pureza e sua justia. Ou, melhor dizendo, era preciso destruir todos os
obstculos que o pecado do homem deixara nascer junto dos mveis e em todas as partes do
Universo. So essas barreiras terrveis que toda a posteridade deve atravessar antes de entrar
novamente na morada da luz. So essas as diversas suspenses que se apresentam ao
pensamento como inevitveis ao homem depois que ele se separar da forma sensvel.
Foi a essas barreiras invisveis que o Reparador estendeu suas virtudes. Pelo direito do qual
era depositrio, pde facilitar-lhes o acesso de tal maneira que todos aqueles nelas detidos
desde a origem da desordem, bem como os que no tinham podido ainda aproximar-se
pudessem hoje, fortificando-se com as mesmas virtudes, superar os obstculos sem perigo,
como que trazendo de novo consigo o mesmo carter e o mesmo nome que lhes abriu outrora
todos os recintos e, no meio dos mais terrveis malfeitores, garantiu-lhes respeito e segurana.
As virtudes dos mveis superiores so reapresentadas e postas em ao de maneira mais
sensvel pelos sete Astros Planetrios. delas que se trata, na obra j citada, pela alegoria das
sete rvores e da escala geogrfica do homem. So elas os rgos do nmero quaternrio, cuja
fora e existncia so demonstradas pelas quatro espcies de astros que compem a regio
celeste, a saber: os Planetas, os Satlites, os Cometas e as estrelas fixas.
Como tais, tm o mais alto valor para o homem. De fato, so elas as colunas poderosas que
devem servir-lhe de defesa e que constituam para ele o obstculo mais temvel at que uma
mo benigna o viesse ajudar a venc-lo. So elas as sete portas da cincia, que s podem ser
abertas por aquele que possui a dupla chave quaternria. So elas os sete dons que, desde o
pecado, foram retirados dos homens mas que, circulando sempre ao nosso redor sem que
deles desfrutemos, permitiram afirmar-se que o prprio Justo pecava sete vezes por dia,
segundo a verdadeira definio da palavra Pecado. Por esse nmero foram derrubadas as
muralhas de Jeric. Por esse nmero foi curada a lepra de Naaman. So os sete tipos das sete
aes que as Tradies hebraicas nos representam como tendo dirigido e completado a origem
das coisas. E como antes, enquanto duraram, serviram de colunas ao Templo que o homem
deveria ter ocupado no universo.
Depois do crime, os sete Tipos permaneciam sem ao, aguardando aquele que devia
reanim-los. Desde que ele surgiu, esses Tipos retomaram vida e, reproduzindo-se em suas
prprias virtudes, como o prprio Deus, desde ento eles tm manifestado seu ato sensvel.
Como a primeira potncia dessa manifestao era designada pelo nmero quarenta e nove,
depois de sete semanas, ou quarenta e nove dias, aps a consumao da obra os dons visveis
deveriam derramar-se. Porque era ento que deveria abrir-se a qinquagsima porta pela qual
os escravos aguardavam a libertao, porta que tornar a abrir-se novamente no fim dos
tempos para aqueles que, segundo Daniel, tero a felicidade de esperar e de atingir a mil e
trezentos e trinta e cinco dias.
No era igualmente necessrio que aquele que devia derramar esses dons na terra percorresse
o espao que a separa do primeiro Autor do Seres? Que depois de haver purificado os sete
canais, pelos quais as virtudes devem fluir no tempo, fosse tomar, no Altar de ouro, o po da
proposio sempre colocado diante do Eterno? E que, transportando-o a todas as regies do
Universo, o distribusse no somente aos homens que desde o incio dos sculos haviam
passado pela habitao terrestre que ocupamos, mas at queles que existiam no corpo nesse
teatro de expiao, visto que viviam todos eles em escassez de seu verdadeiro alimento?
Alm disso, no podemos eximir-nos de admitir que esse grande ato devia ser produzido
atravs de uma palavra
46
. Se no temos outro instrumento para manifestarmos nossas idias,
resulta igualmente que o Ser princpio, de quem somos o smbolo e a representao, somente
pela palavra podia ensinar-nos os desgnios sagrados que tinha para ns desde o incio de
46
No sentido de palavra falada. (N.T.)
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nossa existncia e que o homem havia desprezado. Como conseqncia, no meio dos tempos,
se ele devia manifestar-nos uma unidade de palavra, devia ento manifestar de novo a
profundidade de seus pensamentos, deixando-nos em condies de recuperar o prprio
segredo da sabedoria e de todas as virtudes.
Ora, eis a progresso da manifestao de suas potncias. O Universo material a expresso de
sua palavra fsica, as Leis e os tesouros da primeira Aliana do Ser princpio com a
posteridade do homem so a expresso de sua palavra espiritual: a grande obra realizada pela
segunda Aliana a expresso de sua palavra divina.
Ao mesmo tempo, pareceria necessrio que essa grande obra fosse coroada na terra pela
multiplicao das lnguas.
Por se abandonarem a excessos pecaminosos com relao verdade, as primeiras posteridades
do homem, haviam sofrido como punio a terrvel confuso das lnguas, que tornara todos os
indivduos e Povos estranhos uns aos outros.
Os remdios da Sabedoria suprema, sempre em proporo nossos males, deviam ento tomar
o caminho que nos era o mais favorvel: o de multiplicar os dons das lnguas naqueles a
quem iria encarregar de anunciar essas virtudes e manifest-las na terra.
Em meio multiplicao das lnguas eles deveriam achar-se em condies de fazer com que
os remdios chegassem a todos os lugares atingidos pelo mal e convocar unio,
inteligncia, e vida todos os que estavam entregues pelo pecado disperso, s trevas e
morte. Ou seja: por essa multiplicao das lnguas podiam novamente ajuntar e reunir todos
aqueles que a confuso das lnguas havia separado. Verdade profunda, instrutiva para os que
no so estranhos aos raios da luz e bastante felizes para s vezes contemplar com confiana
os caminhos e os frutos da Sabedoria!
Se no mundo s conhecemos as coisas atravs de seus sinais e no de seus Princpios, se
numa circunstncia to importante os desgnios da Sabedoria em favor do homem deviam ser
exprimidos de uma maneira que estivesse a salvo de qualquer equvoco, seria preciso que ela
tomasse lnguas de fogo como sinais sensveis.
Eis como as virtudes divinas, estando sempre ligadas umas s outras de maneira invisvel,
teriam preparado novamente o Universo para o homem e ao mesmo tempo restabelecer o
homem nos seus direitos sobre o Universo.
ento que se cumpre a obra universal temporal. O Reparador no podia trazer novamente a
calma ao Universo, no podia regenerar a vida na alma do homem sem devolver a paz e a
felicidade ao Seres de uma outra classe, aos Seres superiores ao tempo por suas funes
primitivas e que, por causa do zelo pelo reino da verdade, encontram-se vista da desordem
desde a origem, mas que foram feitos para contemplar para sempre o espetculo vivificante da
perfeio e da ordem.
Se a degradao do homem os fez exercer funes estranhas ao seu verdadeiro emprego, o ato
realizado para sua reabilitao devolve-lhes a esperana dos primeiro deleites, que so os de
ver reinar por toda parte a regularidade, a exatido e a unidade.
tempo de confess-lo: a principal verdade que essa poca universal temporal descobriu para
o homem foi a de ensinar-lhe o verdadeiro uso do benefcio praticado por todos os Povos
desde que saram do estado de natureza bruta, a qual, embora ainda separada do estado da lei
da inteligncia, limitava-se a atos de humanidade, ao alvio das necessidades do corpo e aos
deveres de hospitalidade.
Quando o exerccio dessa virtude comeou a aperfeioar-se, ela continuou ensinando ao
homem os mesmos deveres, mas tambm ensinou-lhe a prestar outros servios aos seus
semelhantes. F-lo compreender que diante desses semelhantes ele responsvel por todas as
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
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virtudes que em si existem, uma vez que essa virtude lhe foi dada pela Sabedoria suprema
como um caminho de reao para, por sua vez, fazer sair as virtudes que neles h. E assim,
por uma obra to sublime, a tarefa do homem apresenta-lhe deveres mui rigorosos, j que ele
no pode permanecer abaixo de si mesmo sem prejudicar seus semelhantes e que uma nica
de suas fraquezas deve custar aos outros uma virtude.
Mas, unindo-se Inteligncia, que deve ter sido descoberta quando da grande poca, esse
benefcio torna-se ainda mais eminente pelo fato de depender da ao imediata do primeiro de
todos os Princpios com a qual nossa natureza nos chama a concorrer.
O ardor de seu amor por ns faz com que ele, digamos, desprenda de si Virtudes sem nmero
e Potncias to puras e to ativas quanto ele mesmo. Desprendendo-as, ele as expe (se que
podemos servir-nos destas expresses) nudez, ao frio, fome e a todos os sofrimentos da
regio temporal. E como ele as desprende apenas para ns, apenas para faz-las chegar at
ns, jamais poderemos honr-lo melhor, jamais poderemos exercer a hospitalidade mais de
acordo com a sua vontade, nem com maior vantagem para ns, do que deixando ao abrigo
aqueles que ele nos envia, mas que esto fora e que s pedem para entrar, vestindo aqueles
que se despem por ns, dando de comer e de beber ao que sofrem fome, sede e a mais
completa pobreza para virem desalterar-se, aquecer-se, revestir-se do homem, se assim
pudermos dizer; ou antes, para revivificar a ele mesmo, transfundindo o prprio sangue nas
suas veias.
Seria abominvel se o Reparador universal houvesse escolhido uma substncia material
universal para tom-la como base de suas virtudes espirituais divinas e se, fazendo-a entrar no
culto por ele estabelecido, ela recebesse dele uma virtualidade que no teria por sua natureza?
Essa idia ainda mais verossmil porque, de acordo com o conhecimento que temos do
homem, ele pode transmitir suas frgeis virtudes a uma substncia determinada que julgar
adequada o que, tanto na fsica como na moral, infelizmente foi fonte de numerosas iluses
na terra.
De todas as substncias da natureza corporal empregadas pelo Reparador no Culto que vinha
estabelecer a mais favorvel o trigo. Alm de suas qualidades particulares que o tornam
apropriado alimentao do homem, ele tem na lngua hebraica o nome de bar, que exprime
tambm a pureza, a purificao, e sua raiz, barar ou barah, significa escolha, eleio, de onde
se derivam berith (aliana) e baruch (bno). Alm disso, no em vo, que, segundo as
Tradies judias, o po, o trigo e a farinha da melhor qualidade aparecem empregadas com
muita freqncia nos sacrifcios, seja nas alianas dos homens com os Seres superiores, seja
na preparao feita pelos hebreus para as suas Festas. E mil provas tiradas da ordem temporal
podem justificar tudo o que acabamos de dizer em favor dessa substncia.
O vinho pertencia tambm ao nmero das substncias prescritas na lei religiosa dos hebreus
para as empregarem nas cerimnias santas. Entretanto, ele no oferece propriedades to
extensas nem to salutares quanto o trigo. E a vinha at demonstra por sinais materiais que
seu nmero se ope ao da pureza. Mas o Regenerador universal teve necessariamente de
empregar o vinho em seu culto, porque ele o tipo de sangue no qual estamos encerrados e
porque, como a iniqidade, deve ser consumido e desaparecer a fim de nos mostrar as
condies exigidas pela justia para que sejam apagados os vestgios de nossa privao.
Se alguns homens, seduzidos pelas luzes falaciosas de seu julgamento, ficassem chocados de
ver que as substncias materiais tm realmente seu lugar no culto estabelecido pelo Reparador
universal; se a partir disso considerassem esse culto e o sacrifcio que nele deve ser realizado
como totalmente figurativos e como uma simples aparncia, cairiam visivelmente em erro
porque, desde ento o sacrifcio seria nulo, e por isso mesmo intil, aos Seres verdadeiros
pelos quais deve ser oferecido.
Por outro lado, se o esprito superior do homem, querendo contemplar os direitos desse ato
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eficaz e real, buscasse-os entre os nmeros passivos, no seria de temer-se que encontrasse
apenas a aparncia da realidade, em vez da prpria realidade? No perderia de vista os frutos
essenciais desse culto que deve restabelecer todos os nmeros em sua ordem natural, a fim de
que vejamos simultaneamente, no mesmo ato, manifestar-se a sublimidade dos nmeros
verdadeiros, desaparecer a nulidade dos nmeros passivos e retificar a irregularidade dos
nmeros falsos ou seja: que nesse ato a plenitude dos nmeros deva exibir-se diante do
homem para apagar a disformidade que resulta da separao entre eles?
Por fim, haveria perigo em se crer que nesse ato, simultaneamente corporal, espiritual e
divino, nesse ato que apenas tende a libertar o homem de tudo o que sangue e matria, tudo
devesse ser ESPRITO E VIDA, como aquele que o instituiu e que o vivifica e como o homem
que deve dele participar? Mas cabe queles que so os seus depositrios decidir se correto
que esse Culto exista na terra.
Limitemo-nos a reconhecer que todas as outras partes de um Culto que ESPRITO E VIDA
devem ser de molde a nos esclarecerem em nossas trevas. preciso que elas sejam como que
uma interpretao sensvel das maiores verdades que o homem possa conhecer e que so
verdadeiramente anlogas a ele. preciso que esse culto, considerado em seus tempos, em seu
nmero e em suas diversas cerimnias, seja um crculo de aes vivas em que o homem
inteligente e no prevenido possa encontrar a representao caracterstica das leis de todos os
Seres, idades e fatos. Ou seja: que o homem deve reconhecer nele no somente a sua prpria
histria desde a origem primitiva at a reunio futura com o seu Princpio; no somente
histria a da natureza inteira e dos Agentes fsicos e intelectuais que a compem e dirigem,
mas ainda a da mo fecunda que est sempre reunindo diante de nossos olhos os vestgios
mais salientes e adequados explicao da verdadeira natureza de nosso Ser.
Eis quais devem ser os sinais sensveis dos dons que o Reparador universal trouxe terra. Eis
o quadro abreviado de tudo o que ele teve de realizar a fim de que os homens fossem ligados a
ele pela unidade de ao, como est ligado pela unidade de essncia com a Divindade.
Isso equivale a detalhar suficientemente os poderes do Agente universal, a mostrar
suficientemente os direitos que ele deve ter confiana do homem. Basta-nos reconhecer,
somente com as luzes naturais, quo necessrio nos foi ter semelhante tipo diante de nossos
olhos. Seria imprudente e uma ofensa ao Agente querer proclamar isso com mais clareza, pois
para faz-lo com verdadeira eficcia, seria preciso que ele prprio surgisse.
Alm do mais, se detivssemos mais longamente os olhos dos homens nessas pesquisas
profundas, pareceria estarmos excluindo as pessoas simples e sem estudos dos privilgios
concedidos a toda a posteridade humana.
O homem, cujo corao ardente consome sem cessar as plantas selvagens que o rodeiam; o
homem que considera o Agente do qual recebeu o pensamento como o Ser de cime que se
aflige quando amamos qualquer coisa alm ele; o homem que, imolando perpetuamente a si
prprio, est sempre humilde e trmulo diante de Deus, porque o segredo de Deus revelado
somente queles que o temem; o homem simples que segue com fidelidade e confiana os
Preceitos que o Agente universal deve ter ensinado e que provm de uma fonte por demais
benigna para conduzir iluso e ao nada esse o que pode pretender entrar no conselho da
paz, enquanto a cincia mais elevada que se possa adquirir um edifcio frgil e vacilante,
pois no se firma em todas as bases que sero sempre o seu mais firme apoio.
Se o homem dirigisse a viso ao Eletro universal reanimando-se ao calor de um nico de seus
raios, seria bem mais puro, mais luminoso e maior do que poderia tornar-se com os discursos
e raciocnios de todos os Sbios da terra.
Alm disso, se h verdades que devem ser divulgadas, h muitas que devem ser caladas, e a
experincia se une razo para convidar reserva mostrando os males inevitveis provindos,
em todos os tempos, do fato de serem dados publicidade.
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 151
Dentre as Instituies sbias e religiosas mais clebres que j existiram, nenhuma existe que
no haja coberto a Cincia com o vu dos mistrios. Tomemos como exemplo o Judasmo e o
Cristianismo. As Tradies judaicas nos ensinam como o Rei Ezequias foi punido por haver
mostrado seus tesouros aos Embaixadores da Babilnia. E vemos atravs dos antigos Ritos
cristos, pela Carta de Inocncio I ao Bispo Decncio e pelos escritos de Baslio de Cesaria
que o Cristianismo possui coisas de grande fora e de grande peso que no so e jamais
podero ser escritas.
Enquanto as coisas que jamais podero ser escritas s foram conhecidas por aqueles que
devem ser seus depositrios, o Cristianismo gozou de paz. Mas quando os Imperadores
romanos, cansados de perseguir os Cristos, desejaram ser iniciados em seus mistrios;
quando os Mestres dos Povos puseram os ps no Santurio, querendo dirigir aos objetos mais
sagrados do culto olhos que para isso no estavam preparados; quando fizeram do
Cristianismo uma Religio de Estado considerando-a somente um instrumento poltico,
quando seus Sditos foram forados a se tornarem Cristos, surgindo assim a obrigao de se
admitir sem exame todos aqueles que se apresentavam ento nasceram as incertezas, as
doutrinas contrrias e as heresias. O obscurecimento sobre os objetos da Doutrina e do Culto
tornou-se quase universal porque as mais sublimes verdades do Cristianismo s podiam ser
bem conhecidas por um pequeno nmero de Fiis. Aqueles que apenas as entreviam ficavam
expostos a interpretaes falsas e contraditrias.
Foi o que aconteceu no tempo de Constantino, chamado o Grande. Assim, mal adotara ele o
Cristianismo, comearam os Conclios gerais, e esse tempo pode ser considerado como a
primeira poca de decadncia das virtudes e das luzes entre os Cristos.
A exemplo de Constantino, seus Sucessores, desejando difundir o Cristianismo, empregaram
os privilgios e as graas a fim de lhe conseguirem Proslitos. Mas os que eram conseguidos
por tais meios viam menos a Religio para a qual eram chamados do que os favores do
Prncipe e as atraes da ambio.
Por seu lado, os prprios Chefes espirituais, para atrarem novos apoios, favoreceram os
desejos e as paixes dos Prncipes. E aliando-se a cada dia ao temporal, foram afastando-se
cada vez mais de sua pureza primitiva, de modo que cristianizando uns o que era civil e o
poltico e civilizando outros o Cristianismo, formou-se dessa mistura um monstro com seus
membros qualquer relao entre si, do que s puderam resultar efeitos discordantes.
Os sofistas das diversas Escolas admitidas ao Cristianismo aumentaram ainda mais a
desordem ao misturarem a essa religio simples e sublime uma multido de questes vs e
abstratas que, em vez da unio e das luzes, produziram a diviso e as trevas. Os Templos do
Deus de paz foram convertidos em Escolas cientficas onde os diversos Partidos discutiam
com mais violncia do que os antigos filsofos nos prticos de Atenas e Roma. Suas disputas
eram tanto mais perigosas quanto mais prejudicavam as coisas por causa das palavras. A
maioria no sabia que a verdadeira cincia tem uma lngua particular, somente podendo
exprimir-se com evidncia atravs de seus prprios caracteres e smbolos inefveis.
Nessa confuso, a chave da cincia no deixou de estar ao alcance do Ministro dos Altares,
como num centro de unidade que ela jamais devia abandonar. Mas a maior parte deles no se
servia dela para penetrar no santurio, chegando a impedir que o homem de desejo dele se
aproximasse, de medo que lhes percebesse a ignorncia. E proibiam que se buscasse conhecer
os mistrios do reino de Deus embora, segundo as prprias Tradies dos Cristos, o Reino de
Deus esteja no corao do homem e em todos os tempos a Sabedoria o haja instado a estudar
seu corao.
Os Chefes espirituais que se preservaram da corrupo, lamentando-se dos extravios da
multido, esforavam-se, atravs do ensino e do exemplo, por conservar no homens o zelo, as
virtudes e o amor da verdade. Mas foi em vo que se ergueram contra os abusos: o monstro
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que j havia nascido era por demais favorvel aos desejos ambiciosos de seus Partidrios para
que eles no tomassem o cuidado de fortalec-lo. Jovem ainda ao tempo dos primeiros
Imperadores gregos, embora j demostrasse orgulho, durante alguns sculos ele apenas
aplicou alguns golpes fracos de pouca repercusso. Tais foram os frgeis empreendimentos de
Smaco contra o Imperador Anastcio. Mas, ao alcanar a idade em que podia exibir sua
ferocidade, os primeiros Imperadores franceses facilitaram-lhe os meios. O pai de Carlos
Magno viu o papa a seus ps suplicando-lhe que o defendesse contra os lombardos e
antecipadamente, o Prncipe recebera a Sagrao de sua mo como recompensa pelos servios
que iria prestar. Essa unio bizarra no demorou a ter as mais estranhas seqncias. Os que a
princpio apenas haviam unido uma cerimnia piedosa aos direitos polticos de um Soberano
afirmaram logo que lhe haviam dado os mesmo direitos; pouco depois, que eram deles os
depositrios; e por fim, acabaram por declarar que, quando lhes aprouvesse, poderiam retir-
los daqueles a quem se haviam persuadido de os haver concedido.
Tambm o filho de Carlos Magno, cujo Pai vira o Papa a seus ps, foi, no somente aos ps
do Papa, mas at mesmo no meio de uma assemblia dos seus prprios Sditos, destitudo
pelo Bispo Ebbon. Segunda poca, em que os extravios vieram da parte dos chefes espirituais.
Depois que essa torrente rompeu os diques, no houve desordem que no se visse nascer. A
ambio e o despotismo, cobrindo-se ento com o vu da Religio, fizeram correr mais
sangue em dez sculos do que o derramado pelas hordas de Brbaros desde o nascimento do
Cristianismo, e para fremir de horror, basta abrir a histria de Comneno em Constantinopla,
dos Filipes na Frana, dos Fredericos na Alemanha, dos Suinthilas na Espanha, dos Henriques
e dos Eduardos na Inglaterra. Entretanto, chegou o momento em que os olhos deveriam
comear a se abrir.
Quando os Chefes do Cristianismo se confundiram com o Templo e o Tabernculo, dos quais
deveriam ser apenas as colunas; quando quiseram sacrificar sua ignorncia; quando tinham j
levado a extravagncia ao ponto de lanar decretos que proibiam aos Soberanos
excomungados obter vitrias e at a interditar aos Anjos, pelos mesmos decretos, que
recebessem as almas daqueles que haviam proscrito; e quando, ao se erguerem vrios
pretendentes Tiara, eles foram vistos a se excomungarem reciprocamente, entregando-se a
batalhas sanguinolentas at nos Templos dos Cristos, os Povos estarrecidos perguntaram-se
se essas cabeas, cobertas de antemas, ainda poderiam ser sagradas, permitindo-se arrefecer
seu entusiasmo para substitu-lo pela reflexo.
Mas nesses tempos infelizes em que o sagrado e o profano eram confundidos, em que a
disputa era a nica cincia do Cristianismo pblico, em que os Clrigos no eram julgados
dignos das funes do Altar seno depois de haverem passado pelas frvolas provas de uma
escolstica brbara, podiam as reflexes dos Povos ser susceptveis de exatido e de
maturidade?
Vendo as desordens daqueles que professavam os dogmas sagrados esses homens grosseiros
no se contentaram com duvidar dos Mestres, levando a imprudncia at ao ponto de suspeitar
dos prprios dogmas e, fora de consider-los com esse esprito de desconfiana,
acreditaram ver neles dificuldades insolveis. Terceira poca, na qual os desvios vieram da
parte dos membros.
Da as diversas Seitas que vimos nascer no seio do Cristianismo a partir dos sculos terceiro e
quarto e que, servindo de pretexto ambio, foram dele mutuamente os instrumentos e as
vtimas.
Porm, a esses erros misturaram-se infelicidades de um ou de outro tipo, e mais ainda que se
viram, ao mesmo tempo, a crena das coisas verdadeiras e a credulidade pecaminosa
confundidas e proscritas por sentenas brbaras, o que estimulou os maus Obreiros e fez calar
cada vez mais os Obreiros legtimos.
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
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Ento, dentre os Chefes espirituais, os que haviam conservado o depsito em sua pureza no
teriam sido mais ouvidos se tivessem querido dirigir o pensamento do homem ao nvel
elevado do Sacerdcio inefvel que o aproxima da Divindade, e se tivessem querido
empenh-lo na busca das Cincias divinas, fazendo com que sua ao se voltasse sobre si
mesmo, e despojando ele de tudo o que estranho ao seu Ser, para se apresentar todo inteiro
com um desejo puro aos raios da inteligncia.
Tambm as controvrsias apaixonadas e sanguinolentas dos ltimos sculos no produziram
sistemas absurdos e opinies mais atrevidas ainda do que as que j havia desorientado os
homens desde o nascimento do Cristianismo? Os Observadores, revoltados com a diversidade
e a oposio das idia sobre os Dogmas mais essenciais, atacaram a prpria base da
Instituio crist, no tardando a rejeit-la, depois de t-la confundido com o edifcio
monstruoso haviam erguido em seu seio pelo orgulho e pela ignorncia.
Que se deveria esperar deles, depois de terem aplicado esse golpe nica Religio que
apresentara aos homens o carter admirvel de se expandir sem jamais dobrar-se diante dos
Povos conquistadores? De haver conquistado, no Naes grosseiras e brbaras, como se viu
acontecer com a religio de Maom, mas Naes sbias e civilizadas? De as haver vencido
no pelas armas, mas pelos nicos encantos de sua doce Filosofia?
Os Observadores que assim haviam ignorado a base do Cristianismo no podiam emitir um
julgamento mais favorvel sobre as outras Religies. De modo que, no percebendo mais lao
algum entre o homem e o Princpio invisvel, acreditaram que os homens estavam de tal
maneira separados desse Princpio que nenhuma Instituio religiosa poderia reaproxim-lo
dele. Quarta poca de degradao, em que o homem, tornando-se Desta, viu-se apenas a um
passo da runa.
Os progressos do erro no pararam a. Apresentaram-se novos Observadores que, para se
livrarem da confuso espalhada pelo Desmo sobre as cincias religiosas, ensinaram opinies
ainda mais destrutivas.
No somente disseram que os Instituidores do Cristianismo e de todas as Religies eram
ignorantes, enganadores, e at mesmo inimigos da moral que professavam; que seus Dogmas
eram nulos e contraditrios, j que eram contraditos; que a base sobre a qual tais Dogmas se
apoiavam era imaginria e que, conseqentemente, o homem no tinha relao alguma com as
virtudes superiores, mas chegaram at a duvidar de sua natureza imaterial. Com isso,
cumpriram a ameaa feita aos hebreus de que, caso negligenciassem a lei, acabariam bem
depressa por cair num em grau de misria e abandono que no creriam mais na prpria vida.
Finalmente, com isso foram levados a negar a prpria existncia do Princpio de todas as
existncias, j que negar a natureza imaterial de uma criao tal como o homem o mesmo
negar a natureza imaterial de seu Princpio regenerador. Quinta e ltima poca de degradao
em que o homem, no sendo mais do que trevas, est abaixo at mesmo do inseto.
Desse sistema funesto provieram todos os desatinos filosficos que reinaram nesses ltimos
tempos. As primeiras posteridades haviam pecado pela ao, querendo igualar-se a Deus
atravs de suas prprias virtudes; as ltimas pecam por nulidade, crendo que no homem no
h nem ao nem virtudes.
Da veio o delrio de um Ateu moderno
47
que, escrevendo contra a Divindade, acreditou ter
demonstrado o seu nada pelo fato de que, segundo ele, se ela existisse, ter-lhe-ia punido a
audcia.
No podemos responder-lhe que a Divindade pode existir sem punir ataques impotentes? Que
se deve, de preferncia, crer que verdadeiramente ele no a atacou? Que os escritos vos no
podem incendiar os raios de sua clera? E que ele no era bastante avanado para elevar a
voz at ela, nem bastante instrudo para proferir contra ela verdadeiras blasfmias?
47
Talvez o autor se refira a Voltaire. (N.T.)
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Vimos qual foi, desde o incio do Cristianismo, a progresso da desordem qual as disputas
cientficas arrastaram os homens e a desordem que produziu a publicidade fcil demais das
coisas que no podem ser bem concebidas pela multido, nem deixar de ser secretas, sem que
se exponham a serem mal compreendidas ou mal interpretadas. Qual , pois, a via que o
esprito do homem deve tomar para sair desse estado desordenado e devotado incerteza?
aquela que ele ir descobrir quase sem esforos se olhar para si mesmo.
Uma considerao atenta do nosso Ser nos instruiria sobre a sublimidade de nossa origem e
nossa degradao. Far-nos-ia reconhecer em torno de ns e em ns mesmos a existncia de
virtudes supremas de nosso Princpio. Convencer-nos-ia de que foi necessrio que as virtudes
superiores se apresentassem ao homem de modo visvel na terra para cham-lo s sublimes
funes que tinha a cumprir em sua origem. Demonstrar-nos-ia a necessidade de um culto a
fim de que a presena dessas virtudes no deixassem de ter eficcia em ns.
Distinguiramos os vestgios dessas verdades em todas as Instituies religiosas. E em vez de
a variedade dessas Instituies nos fazer duvidar da base em se apiam, ns retificaramos,
pelo conhecimento dessa base, tudo o que elas podem ter de defeituoso. Ou seja: que
ordenaramos em nosso pensamento as verdades esparsas, mas imperecveis, que atravessam
todas as Doutrinas e Seitas do Universo.
Ao nos elevarmos assim de verdades em verdades, com o auxlio de uma reflexo simples,
justa e natural, remontaramos at o plano de um tipo nico e universal, de onde teramos
domnio com ele sobre os Agentes particulares intelectuais e fsicos que lhe foram
subordinados. Sendo ele a chama viva de todos os pensamentos e aes dos Seres regulares,
pode expandir ao mesmo tempo a mesma luz em todas as faculdades dos os homens.
E essa luz brilhante que o homem pode fazer brilhar em si mesmo, porque ele a soluo de
todos os enigmas, a chave de todas as Religies e a explicao de todos os mistrios. Mas
homem! quando houveres chegado a esse termo feliz, se fores sbio, guardars tua
cincia em teu corao.
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A Lei sensvel e a subdiviso universal, s quais os homens esto sujeitos, submeteu-os a uma
forma de matria, mas a Terra mostra-se por demais pequena para que todos possam habitar
juntos. Foi preciso que eles viessem, progressivamente, haurir nela as foras e os socorros
necessrios para atravessarem o espao que os separa da fonte de toda luz.
Se o homem duvidava ainda de sua degradao, bastava essa prova para convencer-se dela, j
que impossvel conceber alguma coisa mais vergonhosa e triste para os seres pensantes do
que estarem eles num lugar em que s podem existir com um pequeno nmero de seus
Concidados pois por sua natureza, por mais numerosos que sejam, foram feitos para
habitar e agir todos juntos.
Eis por que os homens que ainda no haviam nascido quando da manifestao geral no meio
dos tempos no puderam receber-lhe as vantagens efetivas e diretas, como aqueles que j
haviam percorrido a superfcie da terra ou que a habitavam desde aquela poca. Podemos at
dizer que o Agente universal, submetido lei temporal e trazendo a inteligncia terra de
maneira visvel, no a manifestou simultaneamente por seus atos em todos os lugares de nossa
habitao terrestre e que, se ele a manifestou em potncia em todas as partes da terra, s o fez
em ato nos lugares por ele habitados, ou talvez em algumas outras regies, mas de maneira
estranha matria e em favor de alguns Eleitos destinados a concorrer em sua obra. A virtude
e os poderes dos sinais visveis que em todos os lugares do mundo acompanham os
pensamentos deviam residir com inteira superioridade naquele que os produz.
Mesmo hoje, no havendo ainda nascido todos os homens, a posteridade humana no v o
conjunto dos fatos da unidade. No v em ato sobre toda a sua espcie a obra universal da
Sabedoria, essa grande obra, cujo objeto : que os Seres tenham ao mesmo tempo diante dos
olhos os smbolos reais do infinito e que, desaparecendo os limites do tempo, tenham todos,
como antes do pecado, a prova intuitiva de que o prprio Deus que tudo conduz.
Acrescentemos: como o Universo inteiro a priso do homem, jamais a espcie humana
poder ao mesmo tempo, sem que o Universo material seja destrudo, ser testemunha do
grande espetculo da imensidade da qual saiu.
O curso da vida do homem em particular vem em apoio dessa verdade. medida que seu Ser
intelectual se eleva para a luz, seu corpo se curva dobrando sobre si mesmo. Devemos
convencer-nos de que, quando houver reunido em si todas as virtudes comportadas por sua
regio terrestre, sua forma corruptvel no poder mais existir com ele, como certos frutos que
se separam naturalmente de seu invlucro aps conquistarem a maturidade de modo que a
vida de um a morte do outro.
Pela mesma Lei, quando estiver completo o nmero dos homens que devem existir
materialmente na terra, a forma universal, recuando sua ao, deixar de existir para eles e a
plenitude desse nmero temporal tornar a existncia do Universo intil para o homem.
Por fim, se as faculdades do homem particular no podem gozar da universalidade de sua
prpria ao enquanto ele estiver ligado aos menores vestgios de sua matria; se ele no pode
ser verdadeiramente livre enquanto estiver submetido s influncias dos seres contrrios sua
natureza; se no pode contemplar o conjunto da Regio sublime onde nasceu enquanto a
menor parcela corruptvel existir nele e nesses quadros sublimes, o mesmo acontece com a
espcie universal do homem.
Ora, a terra e todas as grandes colunas do Universo ainda escondem em si os raios das
substncias puras arrastadas com ele na queda. Se o homem est destinado a reaproximar-se
delas, preciso ento que desapaream todos os escombros para que, de um lado, as
substncias superiores e, do outro, as virtudes de todos os homens, formando como que dois
feixes de luz, possam animar-se reciprocamente e manifestar todo o seu brilho.
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Sabemos que os testemunhos universais dos Povos concordam nesse ponto. Todos
consideram o estado violento da Natureza e do homem como conseqncia da desordem e
uma preparao para um estado mais calmo e mais feliz. Todos aguardam um termo para os
sofrimentos gerais da espcie, assim como a cada dia a morte pe um termo aos sofrimentos
corporais dos indivduos que souberam defender seu Ser de qualquer amlgama estranho. Por
fim, no existe um Povo e, podemos dizer, um homem entregue a si mesmo para quem
o Universo temporal no passe de uma grande alegoria ou de uma grande fbula que deve
ceder lugar a uma grande moralidade
A dissoluo geral seguir as mesmas leis da dissoluo dos corpos particulares. Quando o
Universo estiver na stima Potncia de sua raiz setenria, todos os princpios de vida
difundidos na criao se reuniro no centro, assim como o calor dos animais agonizantes
abandona insensivelmente toda a forma para se concentrar no corao. No podemos deixar
de admitir na Natureza um centro gneo, ativo e vivo, j que cada um dos menores corpos
particulares tm um princpio ou um centro qualquer de vida que os faz existir.
Como esse centro ativo e universal est aderido terra, natural pensarmos que a ela que os
outros seres iro reunir-se. E quando as Tradies dos Cristos nos fazem a estranha predio
de que, no fim dos tempos, as estrelas cairo sobre a terra, falam apenas da reunio dos
diversos centros com o centro universal o que no deve ser difcil de compreender, uma
vez que as estrelas no podero cair na terra sem deixar que sua forma se dissipe assim
como as diversas partes de nossos corpos se dissolvem e desaparecem medida que seus
princpios secundrios se renem ao Princpio regenerador.
Uma nica diferena se faz notar entre a morte dos corpos particulares e a morte do Universo:
que, como so fatos segundos, aps a morte os indivduos corporais sofrem as leis segundas:
a putrefao, a dissoluo e a reintegrao. Enquanto que o Universo, sendo um fato primeiro
na ordem corporal, precisa apenas de uma lei para completar o curso de sua existncia. Seu
nascimento e sua formao foram o efeito da mesma operao, e assim ser na sua morte e
desaparecimento total. Por fim, para que o Universo existisse, bastou que o Eterno falasse.
Bastar que o Eterno fale para que o Universo no exista mais.
Lembremos aqui que, imagem do grande Ser, o homem emprega os mesmos meios e
faculdades tanto para dar existncia s suas obras materiais quanto para destru-las.
Antes do desaparecimento final, haver enfermidades na Natureza universal, assim como as
que so provocadas pela diminuio do calor nos corpos particulares antes que sua ao cesse
totalmente. Sero suspensas as virtudes ternrias do homem que servem de colunas ao
Universo, assim como a fora e a atividade nos abandonam quando nos aproximamos
naturalmente do nosso fim. Tal o sentido das Tradies dos Cristos quando nos apresentam
todos os flagelos ternrios manifestando-se voz dos sete Agentes superiores, ou seja: quando
os sete Agentes devolverem ao grande Ser os direitos e as virtudes com que ele os havia
dotado para o cumprimento de seus desgnios no Universo.
Tal , repito, o sentido das Tradies quando nos oferecem, com relao aos diversos termos
da poca setenria, a alterao, o incndio, a destruio da terceira parte da terra, das rvores
e da erva verde; da terceira parte do mar, dos peixes, dos navios, dos rios e das fontes; da
terceira parte do Sol, da Lua e da Estrelas; da terceira parte dos homens quando nos falam
do nascimento de novos animais, surgindo do seio da terra sobre sua superfcie para
atormentar seus Habitantes, assim como s vezes saem, da carne do homem, vermes e insetos
repugnantes que o devoram antes de seu termo; quando nos falam da mudana de cor nos
astros, do transporte de ilhas e montanhas; e quando nos retratam a combusto de todos os
elementos para no fim dos tempos nos descreverem as desordens que os fizeram comear.
Mas no apenas no corpo que o homem avanado em idade experimenta o enfraquecimento:
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experimenta-o tambm na inteligncia se no teve o cuidado de tirar proveito dos socorros
oferecidos em pocas diversas de sua vida e de cooperar no desenvolvimento das faculdades
destinadas a um crescimento contnuo. Seu esprito v-se ento numa dupla privao, no
desfrutando dos tesouros da Sabedoria, que no soube adquirir, nem da atividade da
juventude, cuja poca para ele j passou.
Tal tambm a sorte de homem em geral: os socorros enviados aos homens foram
aumentando desde a origem das coisas at o meio dos tempos, embora o uso feito deles no
tenha estado na mesma proporo.
Esses socorros crescem igualmente desde o meio dos tempos porque ento abriram o caminho
do infinito. Mas como se simplificam cada vez mais, tornando-se mais intelectuais, seriam
imperceptveis e inteis para a posteridade humana se ela no seguisse a mesma progresso,
de modo que chegaria a perder de vista at mesmo os frutos inferiores que os socorros haviam
comeado a fornecer-lhe.
Imaginemos, pois, as posteridades futuras oprimidas pelas desordens das causas fsicas e por
aquelas que tero deixado dominar no seu Ser intelectual. Imaginemos os homens dos tempos
vindouros perdendo a esperana de se verem renascer e condenados esterilidade desde que
tocaram no complemento do nmero temporal dos homens. Imaginemo-los ainda mais
apavorados com essa esterilidade porquanto ele lhes apresentar a imagem importuna do
nada, porquanto ficaro mais atormentados pelas aes corrosivas que sobre eles se
acumularo por haver menos indivduos entre os quais elas se dividam.
Imaginemos esses homens expostos s medonhas convulses da Natureza, sem nada haverem
adquirido em sua inteligncia, nem as luzes, nem as foras suficientes para se defenderem
delas, nem a resignao para se submeterem s que forem inevitveis.
Vejamo-los de tal modo desligados de seus apoios que no possam mais ouvir-lhes a voz ,
porm buscando-os ainda pela necessidade irresistvel de sua natureza. Esta ser a fome e a
sede que, segundo os Profetas, devem ser enviadas terra: no a fome do po, nem a sede da
gua, mas a fome e a sede da palavra; desejo tanto mais doloroso que, segundo os prprios
Profetas, os homens circularo por toda parte para buscar essa palavra e no a encontraro.
Representemo-nos, por fim, os homens maldizendo, talvez, o Deus supremo, que, no entanto,
no deixar de estender-lhes a mo para ajud-los a transpor o poo do abismo. Pois essa mo
benigna, que jamais reteve seus dons dos filhos do homem, ret-los- bem menos ainda num
tempo em que forem extremas as suas necessidades.
Para cmulo das aflies, os homens dos tempos futuros percebero sem disfarce o quadro
dos sculos, assim como o homem particular, ao aproximar-se do fim, v de ordinrio
desenhar-se diante de si, com traos rpidos e vivos, todo o crculo de sua vida passada. Esse
homens infelizes sero dilacerados pela dor ao compararem no quadro dos sculos a imensa e
inesgotvel abundncia de bens, dos quais a terra nunca deixou de ser cumulada, com a
horrvel prostituio que a posteridade do homem com eles fez em todos os tempos: de um
lado, vero reunidos os numerosos tesouros de virtudes que desde a origem das coisas tm
sido enviados em socorro do homem e que esto sempre ao seu alcance; do outro, o homem
ter diante dos olhos os frutos impuros da iniqidade, igualmente acumulados no crisol do
mundo, cuja depurao retardaram para um nmero to grande dos que o habitaram.
No meio dessas desordens, formemos a imagem de homens ignorantes, impuros, impostores,
buscando apagar nos semelhantes os raios da luz natural que nos ilumina a todos e
esforando-se por ocupar em seus espritos o verdadeiro e nico apoio cujo socorro os
homens podem esperar. Formemos por fim a imagem dos tempos futuros infectados dos
venenos de uma doutrina de morte que ir afastar os homens de seu alvo em vez de
reaproxim-los dele. O que vai tornar esses Mestres cegos to perigosos que o homem
pecador, estando ento mais desenvolvido do que ainda , atacar os homem com fatos,
enquanto que at agora os atacou quase somente com discursos.
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Se a posteridade humana aproveitou to pouco dos socorros que a cercaram, se no fez mais
do que deixar as trevas em lugar da luz, como resistir a tais Adversrios? No vemos a mais
do que um medonho abismo cuja obscuridade e horror s podem ir aumentando at que, no
havendo mais lugar algum visvel nem invisvel entre o Universo corrompido e o Criador, a
dissoluo geral do Mundo venha ao mesmo tempo acabar com os erros e as iniqidades dos
homens.
A prpria Lei dada no meio dos tempos no aniquilou o germe das desordens que os homens
so sempre Mestres em produzir e multiplicar. Durante sua manifestao temporal o Eleito
universal foi encarregado de apresentar e explicar a Lei aos homens, mas no de execut-la
sem o concurso de sua vontade.
Bastava, pois, dar-lhes uma idia justa da Cincia divina e ensinar-lhes que essa cincia a
das leis empregadas pela Sabedoria suprema para fornecer ao Seres livres os meios de entrar
novamente na sua luz e na sua unidade. Uma vez dado esse conhecimento ao homens, foram-
lhes concedidos os tempos, no para esquecer e profanar o conhecimento mas para meditar
sobre ele e dele tirar proveito.
Quando os tempos se houverem escoado; quando, segundo a expresso dos Profetas, os
sculos houverem entrado novamente em seu antigo silncio e os Astros reunido em uma
nica as suas sete aes, sua luz ter-se- tornado sete vezes mais brilhante. Ento, graas sua
claridade, a inteligncia do homem descobrir as criaes que houver deixado germinar em si
mesmo e se nutrir dos prprios frutos que houver semeado.
Ai dela, se seus frutos forem selvagens, corrompidos ou malficos! No tendo ento outro
alimento, ser forada a alimentar-se ainda deles e de provar-lhe o contnuo amargor. Como
as substncias falsas e impuras nela gerados por suas desordens no podem entrar na
reintegrao, somente a violenta ao de um fogo ativo ter fora suficiente para dissolv-los.
Ai da inteligncia, se derramou o sangue dos Profetas! No somente se houver contribudo na
destruio corporal daqueles que trouxeram esse nome terra, mas muito mais ainda se
repeliu as noes ntimas, as Aes vivas que a Sabedoria lhe transmitia a cada instante. Essas
Aes, tendo como alvo apresentar a verdade ao homem para que ele pudesse v-la como elas
prprias a vm, tornam-se para ele verdadeiros Profetas, cujo sangue ser exigido novamente
com rigor inflexvel se ele tiver sido bastante negligente para deix-lo fluir sem proveito,
bastante depravado para deter-lhe a influncia sobre seus semelhantes!
Ai da inteligncia se, devendo agir somente em concerto com seu Princpio, quis, no entanto,
agir sem ele porque, aps a dissoluo de seus laos corporais, ficar reduzida mais uma vez a
agir sem esse Princpio, como ter feito no curso de sua vida terrestre!
Tal ser a diferena extrema entre o nosso estado atual da vida corporal e o que deve seguir-se
a ele e que ainda s sensvel ao nosso pensamento. No mundo s conhecemos, digamos,
atravs de nossos desejos a ao viva e intelectual que nos prpria porque, durante nossa
permanncia na matria, os meios mais eficazes dessa ao nos so recusados. Mas, ao
sairmos dela, se durante nossa vida corporal conservamos a pureza de nossas afeies, esses
meios eficazes nos cercam, sendo-nos prodigalizados sem medida; e deleites desconhecidos
do homem terrestre o compensam amplamente das privaes suportadas.
Ora, na morte o homem perde todos os objetos, meios e rgos que serviam de alimento e
canal ao crime. E se durante a vida corporal ele nutriu em si inclinaes falsas e hbitos de
erro, ao ficar separado do corpo, nada mais lhe resta do que a desordem de seus gostos e
desejos corrompidos, como o horror de no mais os poder cumprir.
Assim, pois, a situao futura do mpio ser tanto mais terrvel quanto, estando dissolvido o
invlucro material que hoje nos oculta a luz, ele vir a chama viva da verdade sem dela poder
aproximar-se, o que foi previsto com antecedncia no Universo temporal pelos satlites de
Saturno, os quais, circulando ao redor do anel cujo centro ocupado por esse astro, no
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 159
podem penetrar em sua rea.
A respeito disso, temos ainda um quadro sensvel em vrias substncias elementares. Depois e
haverem sofrido as diversas operaes do fogo, vitrificaram-se e adquiriram uma
transparncia que nos deixa perceber a luz da qual anteriormente nos mantinham separados.
Do mesmo modo, depois das diversas aes dos Seres destinados a cumprir os desgnios do
Criador no Universo, eles se libertaro, pelas virtudes de um fogo superior, de todas as
substncias de sua Lei temporal, as quais no passam de impureza com relao ao primeiro
estado no qual jamais deviam deixar de estar. Tomaro ento uma claridade viva e formaro
ao redor do mpio uma barreira luminosa, atravs da qual sua vista intelectual poder
penetrar, mas que ele mesmo no poder atravessar enquanto sua vontade permanecer impura
e ele no houver vomitado at ltima gota a bebida de iniqidade cujo amargor e horror
totais ter sido forado a provar durante os sculos.
a que se encontrar o complemento de um tempo, dos tempos e da metade de um tempo.
Depois do parto universal, haver um produto como nos partos particulares e isso o metade
de um tempo de Daniel.
Ora, de acordo com a idia que demos da vontade, impossvel marcar outro termo a essa
privao ou a esse metade de um tempo, a no ser aquele que o mpio marcar para si mesmo.
Pois, como medir ento a durao de seus atos? Bastaria que eles pudessem ser comparados
ao tempo, e a medida do tempo ser quebrada.
Mas como o mpio estar junto luz sem poder usufru-la, seus sofrimentos sero
inconcebveis. No conhecer o choro e o ranger de dentes, aos quais j se fez aluso na obra
j citada pelo nmero cinqenta e seis, visto que essa expresso representa simultaneamente o
Princpio da idolatria e o limite o separar da morada da perfeio.
Estando, pois, excludo da ordem e da pureza, o horror e o desespero sero o seu caminho, o
furor e a raiva as suas nicas afeies, at que, reduzido a dilacerar seus flancos para nutrir-se
e estancar a sede com o prprio sangue, ele prprio devore a corrupo da qual se infectou e
faa passar sua fonte inteira pelos ardores de seu prprio fogo.
Se, ao contrrio, o homem apenas recebeu e cultivou em si germes salutares e anlogos sua
verdadeira natureza; se foi bastante feliz para regar com suas lgrimas essa planta frtil que
todos encerramos em ns mesmos; se compreendeu que devia trazer, como todos os Seres, os
signos caractersticos de seu Princpio e que ser algum, exceto o primeiro de todos os
Princpios, podia haver-lhe dado existncia; se desejou assemelhar-se a esse Princpio
conformando-se s suas imagens enviadas no tempo; se tentou torn-lo conhecido por seus
semelhantes, amando-os como ele os ama, tolerando seus desvios como ele os tolera,
transportando-se pelo pensamento aos tempos de calma e de unidade em que as desordens no
mais o afetaro; e se ele se esforou para atravessar esta morada de trevas sem fazer aliana
com as iluses que a compem, havendo tomado nessa passagem laboriosa somente aquilo
que pudesse ampliar sua prpria natureza sem desfigur-la ento ele colher frutos cujo
gosto, cor e perfume deleitaro os sentidos intelectuais de seu Ser, ao mesmo tempo que estes
lhe estimularo continuamente todas as faculdades. Nada os separar das esferas superiores,
das quais as esferas visveis no passam de imagens imperfeitas, e cujo movimento, dirigido
segundo relaes inalterveis, gera a mais sublime harmonia, transmitindo os acordes Divinos
universalidade dos Seres.
A, como os Anjos no Cu, ele no ser mais marcado pelo nmero da reprovao expressa
hoje pela diferena de sexos, porque o Princpio animal, aquele cuja ao geradora e
constitutiva refere-se especialmente produo dos sexos, ser enviado de volta fonte e no
mais agir materialmente. Haver corpos, no entanto, mas animados por uma ao mais viva
do que a da matria, e neles sero caracterizadas somente as partes da nossa forma que servem
de sede ao esprito e que o manifestam, ou as que podem ser empregadas no exerccio puro de
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suas funes.
Todas as cincias e virtudes dos Agentes que a Sabedoria divina apresentou para sustentculo
e instruo do homem desde a origem da desordem tornar-se-o seu quinho: ele ter a sua
fora, seu zelo pelo reino da verdade, sua inteligncia para compreend-la e sua pureza para
dela usufruir.
Havendo deixado longe de si as alegorias e os smbolos, reconhecer intuitivamente essas
mesmas virtudes que a caridade apartou do Princpio para virem guiar e sustentar o homem
at mesmo no lugar de sua laboriosa expiao. Nele elas gozaro do fruto de seus trabalhos:
nelas ele gozar do prazer inexprimvel de poder tocar e abenoar com mos benignas. Como
todos estaro libertados das solicitudes e dos atos dolorosos aos quais a Lei do tempo os
sujeita ainda, erguero com segurana os olhos cheios de alegria e comoo em direo
fonte da qual recebero todos os deleites. Revestindo-se da simplicidade de seu primeiro
carter, tero o direito de levar a mo ao incensrio e oferecer, cada um segundo sua medida
e seu nmero, perfumes puros e voluntrios quele que lhes ter feito experimentar a paz
sagrada e as virtuais delcias da verdade.
Sabemos que os testemunhos universais dos Povos esto de acordo sobre essa Doutrina
consoladora. Se todos os Povos tm o seu Minos, se todos tm a idia de seu formidvel
Tribunal e a do Trtaro, onde os homens culpados passaro dias de horror e de trevas, tambm
tm a idia dos campos afortunados onde os Seres virtuosos e pacficos gozaro sem
perturbao nem inquietaes do fruto dos dons felizes que tiverem espalhado na terra.
O homem puro poder ento recuperar o acesso a esse Templo imperecvel cujas maravilhas
devia divulgar e da qual o crime o baniu. Ele se aproximar da Arca sagrada sem temor de ser
derrubado porque, mais poderosa do que aquela de que nos falaram as Tradies dos hebreus,
ela s deixar entrar em seu recinto aqueles que houver purificado.
A, Ser algum ficar exposto punio de Oza, porque a Arca sagrada o depsito da
clemncia e da vida e, assim como , ao mesmo tempo, o centro, o germe e a fonte de todas as
Potncias, para sempre ser totalmente impossvel que o homem seja admitido ao seu culto
sem que ela prpria lhe abra seu Santurio.
O Sumo Sacerdote da lei anterior ao tempo, o mesmo que presidiu de maneira invisvel aos
cultos de todos os Povos da terra, uma vez que no h nenhum dentre eles que anuncie os
vestgios da verdade o mesmo que teve de apresentar ao homem, no meio dos tempos, o
quadro de seu Ser e a reunio de todas as virtudes divinas subdivididas para ns por causa do
pecado, ser tambm aquele que ir presidir a esse culto futuro e posterior ao tempo, pois
sendo o nico Agente universal da Sabedoria suprema, o nico que pode distribuir a
universalidade das graas que destina a todos os seus filhos.
Ele habitar, no meio dos Levitas escolhidos que, havendo vencido a corrupo tal como ele,
sero julgados dignos de cumprir as funes santas nos Templo. L, ele os ver trazer sem
descanso ao seu redor as oferendas de seus louvores e de seu amor e, derramando ele mesmo
sobre elas a sua uno vivificante, far com que dela se exalem perfumes odorferos e
numerosos, que esparziro a santidade por toda a extenso de augusto recinto.
Tais perfumes, sucedendo-se com abundncia inexaurvel, elevar-se-o at a fonte primeira de
toda vida e de toda inteligncia, e essa fonte inesgotvel, sempre penetrada pela atividade dos
perfumes, entreabrir-se- sempre para deixar, com a mesma abundncia e continuidade,
dimanar at a alma dos homens as douras de sua prpria existncia. Assim, o homem poder
nutrir-se para sempre da vida de seu modelo. Assim o grande Ser poder contemplar-se
eternamente em sua imagem, porque, ele prprio regenerando-a incessantemente, dar-lhe-
com isso o direito sublime de ser o signo indelvel de seu Princpio.
Por fim, cada homem gozar no apenas do dom que lhe ser prprio, mas poder ainda
participar nos dons de todos os Eleitos que compuserem a assemblia dos Sbios. Como no
mundo os diversos homens, ao se reaproximarem, poderiam multiplicar reciprocamente suas
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virtudes, nutrir-se cada um com as que brilham em seus semelhantes, derramar sobre todos o
talento de um, fazer germinar em um os talentos de todos: tal ser o esplendor futuro dessa
comunicao mtua pela qual todos os homens, unindo seus deleites aos do grande Ser e de
todas as suas criaes, faro com que todos os indivduos vivam no mesmo ser e o mesmo Ser
em todos os indivduos.
Esse culto futuro em nada se assemelhar aos sacrifcios severos e sanguinrios relatados nos
Livros dos hebreus para fazer com que o homem conhea de maneira sensvel a severidade da
justia e para lembrar-lhe a separao penosa que neste mundo ele tem a obrigao contnua
de fazer de todas as substncias estranhas sua verdadeira Natureza se no quiser
permanecer na iluso e na morte.
Esse culto ser at superior ao culto temporal, Lei da graa estabelecida pelo regenerador
universal, onde deve ainda haver tempos, intervalos, objetos mistos e passageiros. Ento no
mais haver diferentes estaes, nem mais nascente, nem mais poente para os Astros que nos
iro iluminar. No mais passagem da luz s trevas, no mais momentos estabelecidos para a
prece do homem, no mais momentos em que suas necessidades ou mculas o obriguem a
suspend-la.
Aqueles que forem admitidos aos sacrifcios nem mesmo sero perturbados pela diversidade
de lnguas, pois a ordem universal est ligada uniformidade das lnguas e o Princpio
supremo to majestoso que basta a reunio das vozes de todos os Seres para o celebrar.
Assim, pois, todos os sbios reunidos, no mesmo instante, junto ao mesmo Altar e sem jamais
cessar, podero ler, sem perturbao nem desconfiana, no Livro eterno, sempre aberto diante
de seus olhos, OS NOMES SAGRADOS QUE FAZEM FLUIR A VIDA EM TODOS OS SERES.....!
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Homens de paz, homens de desejo, tal o esplendor do Templo no qual um dia tereis o direito
de tomar lugar. Um privilgio como esse no deve surpreender-vos, j que neste mundo
podeis lanar os fundamentos desse Templo, comear a erigi-lo, e at mesmo orn-lo em
todos os instantes de vossa existncia.
A natureza inteira vos oferece o exemplo: quando os vegetais so semeados na terra, quando
os animais esto no ventre da me, todos trabalham, empregando continuamente suas aes
para transformar seu estado grosseiro e informe numa maneira de ser ativa, livre e aproximada
da perfeio que lhe prpria.
Mas, para terdes direito a essa sublime expectativa, sondai com freqncia o vosso Ser a fim
de terdes a certeza de que ele s anseie pelo reino da verdade, e no pelo vosso. essa a
bssola do Sbio, o pacto que ele deve fazer sempre consigo prprio. Conservai sempre uma
idia bem nobre do Princpio que vos anima para crerdes que, depois daquele que vos deu a
existncia, nada h para vs to respeitvel quanto vs mesmos. Ser isso uma muralha que
vos defender no somente das aproximaes de tudo o que for contrrio vossa natureza,
mas tambm de tudo o que no for digno dela e que no tenha relaes verdadeiras convosco.
Como os homens so a expresso das faculdades do grande Princpio, cada um deles
assinalado de maneira mais especial por uma dessas faculdades. Mas, embora ele deva
manifestar mais naturalmente as propriedades anlogas ao Princpio; embora no mundo
estejam todos sujeitos a experimentar perodos de lentido, a percorrer progresses diversas e
graus diversos na aquisio e no desenvolvimento do dom que lhes prprio; no obstante,
ligados por sua essncia ao Princpio universal dos Seres, todos eles tm relaes com a
universalidade de suas virtudes e de sua luz, mas de maneira proporcionada esfera que
habitam e inferioridade da criao com relao ao seu Princpio regenerador.
A partir de ento, se o homem que atingiu a idade madura ainda for estranho a qualquer
cincia e qualquer luz e se ainda for inacessvel a qualquer deleite puro, honesto, natural e
verdadeiro, no ser um homem completo, pois o conhecimento e a felicidade nada mais so
que a aplicao do emprego ativo e vivo das virtudes supremas aos diversos objetos, classes e
situaes onde ele possa encontrar-se. Assim, o homem infeliz est como que morto, j que
no conhece a vida; o homem ignorante um doente e um enfermo que assim se tornou
apenas por no haver exercido sua foras; e o homem misantropo e sem caridade um
covarde e um mpio, j que no faz uso do que nele existe para vivificar o que lhe causa
averso e que no tem confiana suficiente em seu Princpio para crer que esse Princpio
tenha fora quando ele apelar ao seu socorro.
homens! tentarei apresentar-vos aqui alguns meios de preservao para vos garantir dos
desvios e desventuras que vm como conseqncia.
Lembrai-vos de que, segundo o ensinamento dos Sbios, assim como em cima em baixo, e
imaginai que vs mesmos podeis concorrer nessa semelhana agindo de modo que em baixo
seja como em cima. L se simples e puro como o Princpio que tudo tem em si, l reinam o
ardor e o zelo para que as Leis do Templo permaneam intatas e para sempre honradas pela
venerao dos Seres. E l os anseios e desejos ardentes no cessam de exalar-se diante de
Trono do ETERNO, seja para implorar-lhe a clemncia para com os infelizes prevaricadores,
seja para celebrar suas virtudes e benefcios. Aprendei, pois, nesses atos sublimes, o
ministrio que vos confiado: os Agentes que os exercem nada mais fazem do vos indicar as
vossas obrigaes e no tereis a faculdades de ler neles se no tivsseis a de imit-los.
No negligencieis os socorros da terra sobre a qual caminhais. Ela a verdadeira cornucpia
para o vosso estado atual e, no sem razo, considerada por alguns observadores como
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contendo um m enorme no seu interior. Pois realmente ela o ponto de reunio de todas as
virtudes criadas. At mesmo , de algum modo, o reservatrio da verdadeira Fonte da
Juventude, da qual a fbula nos transmitiu tantas maravilhas, pois nessa fonte preparada a
substncia que serve de base e de primeiro grau para a regenerao ou o renascimento de
todos os Seres. E o crisol das almas tanto quanto dos corpos feliz daquele que souber
descobrir-lhe as propriedades! Pois no conhecer as coisas por elas mesmas no saber nada
e no basta crer que tudo esteja ligado, que tudo est ativo; preciso que busquemos estar
certos disso e senti-lo.
Aprendereis ento o que significa ajudar a terra a Sabatizar e por que razo os hebreus
mereceram tantas reprovaes por se haverem descuidado desse dever enquanto habitavam a
terra prometida. Pois no fsico ativo acontece o mesmo que no fsico passivo, onde vemos
que, se o homem no prestar seus cuidados terra atravs da cultura, ela apresentar uma
vegetao grosseira e selvagem.
As propriedades da gua no vos sero menos teis de conhecer porque, como mina de todos
os sais e contendo em si todos os germes de corporificao, ela , em princpio e potncia, o
que a terra somente em ato, na qualidade de uma matria j determinada. Vereis que a cor
verde particularmente destinada ao reino vegetal, expresso dos princpios da gua e que
possui nos trs reinos a mesma posio intermediria da gua nos trs elementos e do verde
entre as sete cores do arco-ris.
No desdenheis de observar que em toda a superfcie do globo terrestre a gua permanece
sempre em nvel mais baixo do que as terras que a circundam embora, por sua natureza fluida,
esteja destinada a ser mais elevada: vereis nessa imagem fsica uma representao natural e
sensvel da posio inferior que todas as virtudes ocupam hoje para virem em vosso socorro,
embora tenham sido feitas para dominar em todas as regies.
Podereis tambm considerar a gua sob um outro ponto de vista, a saber: com relao s
desordens por ela causadas na superfcie terrestre, porque no sensvel todos os tipos so
duplos e porque o da gua traz especialmente esse nmero. Comparando-se, pois, as diversas
regies por ela submergidas com as que ela deixa a descoberto; considerando-se a figura
exterior de nosso globo, na qual a gua e a terra esto associadas de maneira to diversa,
podereis estender vossas luzes sobre os efeitos progressivos, gerais e particulares do crime e
sobre o verdadeiro estado da Geografia intelectual, antiga, presente e futura. Mas sobre esse
artigo, bem como sobre todos os desse gnero, no vos detenhais primeira impresso.
Quanto mais as descobertas so susceptveis de serem ampliadas, tanto mais importante no
adot-las, a no ser com bastante precauo e prudncia.
Se tiverdes a felicidade de adquirir conhecimento das propriedades do fogo, elas vos
parecero preferveis a todas as outras foras elementares, porque a tocareis a prpria raiz da
grande rvore temporal, qual esto ligados todos os fenmenos fsicos e por onde flui a
seiva que anima e nutre os Agentes sensveis. E para mostrar-vos com segurana a verdadeira
posio desse elemento acima dos dois outros, observai que o Sol sempre luminoso por si
mesmo e em todos os sentidos, enquanto que a Lua e a Terra tm apenas uma luz emprestada,
ficando metade delas sempre nas trevas.
Se em seguida quiserdes avaliar o estado penoso e degradado do homem no mundo, tanto com
relao aos conhecimentos elementares quanto aos conhecimentos superiores por eles
representados, notareis que, dos trs Agentes destinados particularmente nossa instruo, o
Sol est sempre na plenitude quando se apresenta aos nossos olhos; a Lua, somente uma vez
por ms e a Terra, jamais, j que nela s podemos descortinar um horizonte muito limitado.
Mas, para reanimar nossa esperana no meio das privaes que sofreis, prestai ateno ao fato
de que, a exemplo da ao universal da vida, qualquer fluido, aqutico, gneo, magntico ou
eltrico, tende sempre a recuperar o equilbrio e a se dirigirem aos lugares em que fazem falta.
Prestai ateno ao fato de que o ar mais grosseiro, o mais concentrado nos corpos materiais,
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est sempre em correspondncia com o ar da atmosfera, passando continuamente pelos corpos
e penetrando at nos menores vasos, mas, quando se sensibiliza, por assim dizer, e se
modifica de acordo com as nossas situaes e os estados de nossa forma, no deixa por isso
de manter a comunicao com o ar mais puro, mais livre e mais destacado do etreo.
Se todos esses conhecimentos elementares vos parecessem indiferentes, porque talvez ainda
no apreendestes o conjunto e a universalidade do imprio do homem. Mas os Sbios de todos
os tempos os pesquisaram cuidadosamente, considerando-os um bem que faz parte de seu
domnio e uma via favorvel para escalar graus mais elevados. Esses mesmos Sbios foram
por demais prudentes para quererem caminhar numa carreira semelhante sem leis nem regras
constantes porque sentiram que nada devia haver de arbitrrio no culto que o homem est
encarregado de exercer na terra.
aqui que os nmeros sensveis exercem maravilhosamente os seus direitos, classificando
numa ordem exata as propriedades de todas as regies, reinos, espcies e indivduos do
Universo elementar. aqui que se pode comear a adquirir um conhecimento certo das Leis
iniciais, mdias e terminativas de todas as coisas corporais porque, como essas coisas so
mistas, so suscetveis de decomposio e anlise e porque o nmero de seus princpios
anlogo ao nmero de as suas aes, sejam primitivas e de origem, de existncia e de durao,
de enfraquecimento e de destruio.
Por fim, aqui que so feitas as primeiras aplicaes do verdadeiro sentido do termo iniciar
que, na etimologia latina, quer dizer reaproximar, unir ao princpio, significando o termo
initium tanto princpio quanto comeo. E, conseqentemente, nada mais de acordo com as
verdades expostas anteriormente do que o emprego das iniciaes em todos em povos, nada
de mais anlogo situao e esperana do homem do que a fonte da qual derivam as
iniciaes e o objeto que elas tiveram de propor-se por toda parte: anular a distncia que
existe entre a luz e o homem, ou de reaproxim-lo de seu Princpio restabelecendo-lhe o
mesmo brilho em que se achava no princpio.
Quando os Agentes sensveis de que acabo de falar houverem consumido com sua atividade
as substncias impuras que maculam vossos rgos materiais; quando eles vos houverem
regenerado corporalmente com sua prpria vida, contribuindo assim para que vossas
faculdades intelectuais retomem o equilbrio e a agilidade proporcionados vossa situao
enferma e dolorosa, erguei os olhos para as virtudes esparsas e subdivididas de todos os Seres
de uma outra ordem, antecessores da poca da inteligncia como seus Agentes e Ministros.
Buscai, tirando proveito constante dos pensamentos que eles vos enviam, tornar-vos
suficientemente anlogos a eles para facilitar a reaproximao de sua essncia e da vossa.
Com essa unio, eles vos convencero, de novo e fisicamente, que estais destinados a
contempl-los na totalidade e na unidade, e vos confirmaro a certeza de todos os
conhecimentos elementares cuja descoberta e aquisio j tereis feito, porque o mesmo
princpio que produziu os Seres e os Agentes de todas as classes dirige e governa a todos por
uma nica e mesma Lei.
Tambm na mesma regio, no mesmo fato e no mesmo fenmeno em que perceberdes uma
verdade naturalmente elementar, estai certos, se fizerdes emprego oportuno de vossas
faculdades, de que encontrareis uma verdade natural intelectual; estai certos de que
percebereis na nova classe o mesmo plano da classe precedente, de que at mesmo nele
reconhecereis propriedades anlogas e inclinadas para o mesmo fim, porque tudo se liga, tudo
se toca, tudo um nos meios, assim como no objeto que o Autor das coisas se props. assim
que no homem os rgos corporais que manifestam as mais perfeitas funes animais, tais
como as que se realizam na cabea e no corao, so igualmente a sede dos mais belos traos
de seu Ser imaterial, a saber: o amor e a inteligncia.
Por fim, no somente no h fato fsico algum que no seja vizinho de uma verdade
intelectual, mas no existe nenhum nos grandes fenmenos e no jogo das grandes molas do
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 165
Universo que no seja o prognstico de uma dessas verdades e que no a proclame tal como
ela deve chegar em seu tempo de modo que o Universo material, considerado nesse
aspecto, para o homem intelectual uma verdadeira profecia.
Por servirem de intermedirios entre os objetos fsicos e os divinos, os Agentes superiores vos
indicaro, por sua ao, o verdadeiro destino do homem e o verdadeiro lugar que ele deveria
ocupar, ou seja; que vos exporo por si mesmos as verdadeiras relaes existentes entre Deus,
o homem e o Universo. Por um lado, eles vos mostraro novamente a quantidade e a
subdiviso de todas as coisas elementares e inferiores que, em virtude de seu nmero e
multiplicidade, no oferecem em si mais do que confuso e runa. Por outro, atravs de sua
unio mtua e geral e de sua perfeita correspondncia, vos convencero da unidade do
Princpio supremo. Mostrar-vos-o, atravs de sua harmonia universal, que a unidade o
nico nmero sobre o qual repousam todos os dons que nossas necessidades no deixam de
atrair sobre ns, dons que todos os homens da terra, sem exceo, perseguem por movimentos
secretos dos quais no so donos.
Far-nos-o conhecer que se, a exemplo deles, nos mantivssemos constantemente diante dessa
unidade, isto , sob nossa linha superior e divina, desceria sobre ns uma substncia fixa e
pura de fora e de ao que, acumulando-se ao nosso redor, formaria uma base maior ou
menor, mais vasta ou menos vasta, conforme lhe abrssemos, para mais ou para menos, os
nossos canais imateriais prprios para se alimentarem dela.
Como no mundo o homem mais freqentemente o tipo do mal do que do bem, ele justifica
essa verdade com exemplos funestos, em vez de justific-la com exemplos consoladores.
Assim, o que experimentamos com mais freqncia que a base da qual acabo de falar
diminui para ns medida que estreitamos os canais intelectuais que so como que os
sentidos de nosso esprito e quando interceptamos inteiramente a comunicao, nosso
centro intelectual, no recebendo mais a substncia que deveria formar-lhe a base, vacila
sobre si mesmo e tomba, ficando exposto revoluo das circunferncias inferiores e
horizontais que o arrastam, deixando-o errar segundo suas leis desordenadas: o que as
justias humanas tm representado pelo costume de lanar aos ventos as cinzas dos
criminosos.
Ao contrrio, os Agentes puros e intermedirios, oferecendo seno os tipos do bem, devem
dar-nos a conhecer que, se no fechssemos nenhum de nossos canais imateriais, veramos
nossa base estender-se a uma distncia imensa e conseguir, talvez, extenso suficiente para
cobrir o Universo inteiro.
Nem mesmo podemos duvidar disso se refletirmos sobre nosso destino primitivo e nos
lembraremos de que era esse o estado da majestade do homem, que as virtudes do Universo
eram necessrias para cont-lo e servir-lhe de sede da mesma forma que, em seu estado
atual, a forma corporal em que est aprisionado s lhe abrangeria e sustentaria o Ser
intelectual na extenso de todas as suas faculdades por ser a mais regular das formas e o
resumo mais semelhante do grande Universo.
Isso uma base bem extensa e de apoio slido, uma unio geral e do vasto conjunto dos
Agentes puros e intermedirios que, planando acima do mundo sensvel, tendem a vos
secundar, defender e cercar-vos, para que possais elevar-vos como eles com segurana e uma
verdadeira luz at Unidade universal que os domine e a todos vivifica.
Por conseguinte, esses mesmos Seres, puros e intermedirios, vos ensinaro que o Agente
depositrio dessa unidade, trazendo em si a vida e a claridade, pode produzir em vs, como
neles produz, a fora e a paz que lhe so prprias, pois a mais bela de suas virtudes o desejo
de partilh-las todas convosco.
Assim esse Agente, mvel de todos os dons e socorros que alcanam vossa regio, tornar-se-
o agente de todos os movimentos de vosso Ser quando todas as vossas faculdades dispostas
por vossos desejos, pela terra, pelo leo, pelo sal e pelo fogo, houverem recuperado o grau
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de pureza necessrio para que se vos abram as primeiras portas do Templo e nele sejais
adotados pelos Guias fiis que no mundo devem transmitir-vos as virtudes do Santurio, at
haverdes adquirido o direito e o poder de irdes vs mesmos hauri-las na mesma fonte que
eles.
Reconhecei, pois, que, desde o grau mais inferior at o mais superior podeis esperar socorros
em todos os passos que tendes a dar para percorrer a carreira e reabilitar-vos nos direitos de
vossa origem.
Reconhecei tambm que nenhum desses socorros pode ser estranho ao Agente universal que
determinou a poca da inteligncia e trouxe aos homens o complemento de todas as virtudes e
luzes. Como sua essncia inerente ao prprio centro de onde provm todas as essncias,
todos os fatos puros e todos os apoios, nada do que realizado no bem pode ser realizado sem
seu consentimento e sem ser dele o princpio mediato ou imediato.
Assim, quando vos ocupardes em atrair para vs as virtudes diversas dos Seres imateriais
encarregados de pr novamente em ao o vosso pensamento, sero os socorros do Agente
supremo que recebereis, pois os Seres so seus rgos e administradores. Mesmo quando vos
aplicardes apenas a objetos elementares, se sentirdes que vossos conhecimentos e vossas
foras se ampliam, tende a certeza de que ainda Ele que realiza atravs dos Seres os
sucessos que obtendes, assim como Ele que a todo instante opera a sua existncia e todos os
seus atos regulares.
Portanto, no existe obra pura, de qualquer gnero que seja, em que no possais reconhecer-
lhe a potncia e, por assim dizer, comunicar-vos com Ele. A nica diferena que distingue as
diversas operaes que, em umas, Ele age atravs de simples emanaes ativas e que, nas
outras, por emanaes inteligentes; que, para umas, Ele preserva, anima e instrui e que, para
outras, renova, eleva e santifica. Mas nessa diversidade de aes, e sob os nomes de
Preservador, Instrutor, Renovador e Santificador, no podeis eximir-vos de ver o prprio Ser,
o prprio Agente supremo e universal, pelo qual tudo medido, tudo existe, e que apenas se
reveste desses diferentes caracteres para melhor prestar socorro s nossas necessidades e
preencher em toda a extenso os vastos desgnios que tem para ns.
preciso no esquecer que, se os homens fossem atentos e procurassem dobrar-se aos
ditames da sabedoria, veriam, cada um em particular, realizar-se neles, e com relao a eles, a
mesma ordem de fatos, a mesma seqncia de manifestaes que reconhecemos
anteriormente ter-se operado em geral em toda a nossa espcie para o cumprimento da grande
obra.
Se, por esses caminhos mediatos e secundrios podeis, de algum modo, receber sempre os
socorros do supremo agente que em todas as pocas tem sido o arteso e o sustentculo dessa
grande obra, e experimentar continuamente consolaes particulares, fcil para vs julgar o
que seriam os vossos deleites e os vossos sucessos se, pela vossa confiana nos socorros e
consolaes vos elevsseis para serdes amparados imediatamente por sua prpria potncia.
Quando, pois, vossos males se tornarem por demais prementes, quando as guas de vossa
obscura morada estiverem prestes a inundar-vos, e mesmo quando as trevas da ignorncia vos
parecerem penosas e insuportveis, pedi SABEDORIA, por intermdio do Agente, alguns raios
de seu fogo para os dissipar. Poderia ela, sem se esquecer de si mesma, no se render aos
anseios de sua prpria substncia e s virtudes dAquele sobre quem repousam, ao mesmo
tempo, seu NMERO e seu NOME? Pedi Sabedoria, repito, por intermdio dEle, que ela
prpria supra vossa impotncia, que ponha o seu pensamento no lugar do vosso pensamento,
Sua vontade no lugar da vossa vontade, Suas palavras no lugar das vossas palavras e, depois
de haver assim renovado todo o vosso Ser, e vos houver tornado invencveis e incorruptveis
como Ela, no poder recusar vossas ofertas, j que sero os Seus prprios dons que lhe
apresentareis. Com isso, ela no estabelece um termo s vossa esperanas. Com isso, ela
assegura fora ao vosso ser se ele estiver padecendo, abundncia se ele estiver em carncia,
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 167
cincia se for ignorante. Mais ainda: garante-lhe a vida e a luz mesmo quando ele estiver
morto e sepultado no mais profundo abismo. Pois, se por suas faculdades ativas o Princpio
supremo concebeu a harmonia dos Seres sensveis e por suas faculdades pensantes produziu
vosso Ser inteligente, como poderia ser-lhe mais difcil regenerar vossas virtudes do que ter-
lhes dado existncia?
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Glossrio
baris Mago cita ao qual Apolo deu uma flecha voadora, sobre a qual ele
podia atravessar os ares.
Acazias Ou Ocozias, filho de Acab e Jezabel, (princesa fencia) e rei de
Israel, c. 850-849 a.C. Doente, solicita a ajuda ao deus Baal
Zabub (Belzebu), em vez de solicit-la a Jav. Elias, que o
ameaara de morte, invoca o fogo dos cus para consumir os dois
grupos de cinqenta homens que o rei enviara para prend-lo. O
fogo do cu tambm enviado na disputa contra os sacerdotes de
Baal, consumindo o sacrifcio apresentado por Elias, e no o
daqueles (I Reis 18: 18-46).
Acasias (capites de) II Reis, todo o cap. 1, principalmente os versculos 9-16. No original
francs, a forma Ochosias.
Anastcio Imperador romano do Oriente (491-518), defensor do monofismo. V.
este verbete.
Argos Gigante de cem olhos, posto por Hera para vigiar Io (transformada
em bezerra), por quem Zeus se apaixonara. Hermes adormeceu
Argos, decapitou-o e libertou Io. Os olhos de Argos foram
colocados na cauda do pavo, ave companheira de Juno.
Ariadne Princesa de Creta, filha de Minos, que presenteou Teseu com um fio
para orientar-se no labirinto.
Asa Terceiro rei de Jud. Procurou extirpar o culto pago.
tamas Ou Atamante. Rei da Becia e filho de olo, rei dos Ventos. Pai de
Frixos e Hele. Estes foram raptados pela prpria me que, para
livr-los da madrasta, montou-os no lombo de um carneiro alado,
cujo plo era de ouro. A pele desse animal tornou-se depois o
Toso de Ouro, ou Velo (Velocino) de Ouro.
Bastardos de Ismael Os rabes, ou ismaelitas. Ismael era filho de Abrao com Hagar, sua
escrava egpcia. V. cap. 14.
Baruque Amigo do profeta Jeremias, d nome a um dos livros
deuterocannicos.
Baslio So Baslio (329-379), um dos Pais da Igreja grega. Adversrio do
arianismo, contribui no restabelecimento da doutrina ortodoxa no
Oriente. Teve tambm grande influncia no desenvolvimento da
vida monacal.
Caduceu O emblema do deus Hermes (Mercrio, para os romanos).
Campos Elsios Lugar no mundo alm destinado aos bons. Os maus eram lanados
no Trtaro. interessante notas que, na mitologia grega, tanto os
bons como os maus ia para as regies inferiores, que constituam
o Hades, as regies superiores (o Olimpo) era reservada somente
a aos deuses.
Cariat-arb Hebron.
Crbero Co de guarda do Hades (o Inferno na mitologia grega,) tinha trs
cabeas.
Circe Maga que vivia na ilha de Ea e que manteve Ulisses prisioneiro por
vrios anos, depois de transformar seus companheiros em porcos.
Corporizao No original, corporization, temo, ao que parece, criado pelo autor.
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 169
Crnicas, Livro das Livros do Velho Testamento, (tambm conhecidos pelo nome grego
de Paralipmenos): abrangem toda a histria sagrada (desde
Ado) at o exlio babilnico.
Danaides As cinqenta filhas do rei Dnaos, de Argos, que na noite de npcias
assassinaram os primos com quem tinham sido obrigadas a se
casarem. Punidas por Zeus (Jpiter, para os romanos), foram
condenadas a despejar gua num tonel sem fundo, que por isso
jamais se enchia.
Daniel Profeta, viveu na corte de Nabucodonozor. V. metade de um tempo.
Deucalio Filho de Prometeu e esposo de Pirra. Numa canoa feita pelo pai,
navegaram aps o dilvio at chegarem ao monte Parnaso. A
conselho da deusa Tmis, repovoaram a terra depois de destruda
esta pelos deuses por causa da maldade humana. ntido o
paralelo com a histria de No. V. Tmis.
Dominante: Quinto grau de uma escala musical. Ex.: na escala de d, a
dominante sol; na escala de f, a dominante d; na de sol, a
dominante r.
Dutoit Jean-Philippe Dutoit (1721-1793). Pastor protestante suo, manteve
contato com os quietistas alemes, de cujo chefe, Fleischbein, foi
discpulo e sucessor. Combateu Voltaire. Grande admirador de
Mme. de Guyon, publicou uma edio completa de sues escritos.
Ebbon Ebbon (775-851): arcebispo de Reims, contemporneo dos reis
carolngios Lus, o Pio, e Lotrio.
fode Pea da veste sacerdotal entre os hebreus. Geralmente de linho.
Antigamente, talvez uma simples tanga. Depois do exlio, aparece
ornado de uma faixa e suspensrios de tecido rico, aos quais
estavam fixadas duas pedras de cornalina com os nomes das doze
tribos de Israel.
gide Escudo de Palas (Minerva, para os romanos).
Eletro mbar amarelo
Epimeteu Irmo de Prometeu, a quem Pandora levara a caixa contendo os
dons dos deuses.
Esa Filho de Isaac, neto de Abrao e irmo de Jac, a quem vendeu seus
direitos de primogenitura em troca de um prato de lentilhas.
(Gnesis, 25: 27-34).
Esdras Sacerdote e doutro da lei no tempo do exlio. Coma permisso de
Artaxerxes, conduziu um grande grupo de judeus exilados de
Babilnia para Jerusalm. sua chegada, encontrou o templo
reconstrudo mas o povo ainda desobedecia s leis. Esdras fez
com que os que se haviam casado com mulheres estrangeiras as
deixassem e ensinou novamente ao povo a Lei de Deus. Leia-se
Esdras, Caps. 7-1- e Neemias 8-9.
Estige Um dos rios do Hades.
utico Monge bizantino (c. 378-c. 454). Foi adversrio dos nestorianos
(ramo cristo). Acusado de aderir ao monofisismo, foi condenado
pelo conclio de Calcednia e morreu no exlio. Os imperadores
de Constantinopla eram monofisistas.
Ezequias Rei de Jud (716-687). Reabriu e restaurou o templo e combateu o
culto aos dolos. No seu reinado, Jud foi invadido pelo rei assrio
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Senaqueribe. Doente, orou a Deus, que lhe concedeu mais quinze
anos de vida. (II Reis 18-20; II Crnicas, 29-32)
Garat Poltico e escritor francs (1749-1833).
Gentus Povo do Indosto.
Guyon (Mme. de) V. Quietismo.
Hebe Copeira dos deuses, servia-lhes o nctar da juventude.
Hrcules Filho de Zeus e Alcmena (rainha tebana), o maior dos heris gregos.
Seus feitos mais conhecidos so os Doze Trabalhos (matar o leo
de Nemia e a hidra de Lerna, capturar a cora de Cerinia, caar
o javali de Erimanto, limpar os estbulos do rei Augias, afastar as
aves o lago Estnfale, capturar o touro de Creta, subjugar as guas
(antropfagas) de Diomedes, tirar o cinto de Hiplita (rainha da
amazonas), reunir o gado de Gerion, buscar o pomo das
Hesprides e, por ltimo, descer ao Hades e trazer o co Crbero
a Tirinto. Esse ltimo feito lhe conferiu a imortalidade.
Hipermnestra Danaide que se recusou a compactuar com as irms.
xion Rei de Larissa, que assassinou o prprio sogro. Por isso, e por haver
tentado violar Hera (Juno, para os romanos), esposa de Zeus, foi
acorrentado roda de um poo no Hades.
Jeft (filha de) Leia-se no livro dos Juzes, o cap. 10: 29-40.
Jetro Sacerdote de Madian, sogro de Moiss.
Josaf Filho do rei Asa e Rei de Jud (870-848 a.C.). foi bom rei, destrui os
dolos e empenou-se para que os sditos aprendessem as leis d
Deus, Seu erro foi aliar-se a Acab (I Reis, 22; II Reis 3; II
Crnicas 17.
Josias Rei de Jud aos oito anos (640 a.C.), mandou restaurar o templo,
onde foi encontrado yn rolo com a lei dada a Moiss. Estudou-a e
mandou que fosse lida ao povo.
Letes Rio do mundo alm, cujas guas, bebidas pelas almas, provocavam o
esquecimento dos pecados. Na Divina Comdia, Dante o situa no
cume do Purgatrio. nele mergulhado a fim de beber de suas
guas antes de subir ao Paraso.
Lira Constelao, e no estrela. Sua alfa (estrela principal) ou Vega.
Metade de um tempo Daniel, 12:7.
Minos Juiz dos mundos inferiores. Campos afortunados: v. Campos
Elsios.
Monofisismo Doutrina declarada hertica pelo conclio de Calcednia (451).
Reconhecia em Jesus Cristo uma nica natureza: a divina. utico
(v. o verbete) foi o seu principal representante. Sobrevive de
forma atenuada em algumas igrejas orientais.
Naaman Rei de Damasco, curado da lepra pelo profeta Eliseu, que lhe
ordenou banhar-se sete vezes no rio Jordo. V. Segundo Livro dos
Reis, cap. 5.
Niades Divindade mitolgica que presidia aos rios e s fontes.
Neomnio Novilnio (forma latina). Neomnio forma grega que tambm
significa simplesmente lua nova.
Nesso Centauro morto por Hrcules, cuja esposa, Djanira, tentara violentar.
Ao morrer ofereceu a ela sua tnica, dizendo-lhe que o sangue de
sua ferida seria um eficaz filtro de amor para manter a fidelidade
do marido. Quando Hrcules a vestiu, o sangue da Hidra de Lerna
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 171
(monstro morto pelo heri), que estava no sangue de Nesso,
envenenou-o.
Nisan A Pscoa judaica ocorre a 15 desse ms (lua cheia).
Orfeu Cantor e msico que desceu ao Hades para recuperar a esposa, a
ninfa Eurdice.
Osa Ajudava a transportar a arca para Jerusalm. Quando esta ameaou
tombar por causa de um solavanco do caro de bois que a
transportava, ele estendeu a mo para segur-la e morreu. II
Samuel, 6:3-7.
Paldio Esttua de Palas Atena, deusa das artes e da sabedoria, que protegia
Tria.
Pandora Significa ddiva de todos os deuses. Primeira mulher surgida na
terra, levou para os homens um vaso selado que continha todos os
males da existncia, e junto com eles a esperana. Abrindo-o por
curiosidade, deixou que os males escapassem.
Parcas Trs entidades (Cloto, a fiandeira; Lquesis, a que concede; e
tropos, a inevitvel) que controlavam a durao da vida
humana: uma fiava o fio da vida, outra o enrolava e a terceira o
cortava.
Pigmalio Escultor que se apaixonou pela esttua perfeita que criara, qual
chamou Galatia. Os deuses lhe deram vida. (A pea teatral
Pygmalion, de Bernard Shaw, pela qual foi feito o filme My fair
Lady, baseia-se nesse mito.)
Poo do abismo Apocalipse, 9:1-2. (A quinta trombeta.)
Quietismo: Doutrina mstica de Miguel de Molinos, sacerdote catlico espanhol
(1638-1687) e autor de O Guia Espiritual (La Guida Spirituale,
original em italiano) onde expe suas idias. Foi difundido na
Frana por M
me
Guyon, autora de Moyen trs court et tr facile
pour loraison [Meio muito rpido e fcil para a orao] apoiada
por Fnelon.. Segundo o quietismo, a perfeio consistia no amor
de Deus e na completa quietude, na atitude passiva e confiante da
alma. Por isso, Molinos foi perseguido pela Inquisio e terminou
os dias encarcerado.
Quinta Intervalo (distncia entre dois sons) musical entre cinco notas,
contando-se da mais grave mais aguda, ou vice-versa. Ex.: em
d maior, d-sol (ascendente); sol-d (descendente).
Reprovao Estado de impenitncia.
Sabesmo De sabetas, seita joanita que sobreviveu at recentemente no Oriente
Mdio. Depois da Guerra do Golfo, no h quem d notcias dela.
Sanchoniathon Escritor fencio bastante misterioso. Em Eusbio encontram-se
passagens de uma livro de Hernio Philon, de Biblos
(contemporneo de Adriano) que teriam sido traduzidas de
Sanchoniathon. Autor apontado como anterior guerra de Tria.
Eusbio faz essas citaes para refutar Porfrio que pretendia
haver Moiss, no Gnese, utilizado crnicas fencias. O livro
devia realmente comear com uma narrativa da criao. Mas hoje
parece provvel que Sanchoniathon tenha sido de data mais
antiga, do tempo dos Aquemnidas, dinastia persa fundada por
Ciro, ou mesmo da poca helenstica e Philon pde traduzi-lo
com bastante liberdade.
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Sanso Sua histria contada no livro dos Juzes, caps. 13-16. A histria das
raposas (300) vem no cap. 13.
Sarepta (viva de ) Mulher cujo filho foi ressuscitado pelo profeta Elias (I Reis 17: 8-
24. Sarepta era um antiga cidade da Fencia.
Smele Me de Dionisos (Baco, para os romanos). Querendo ver Zeus como
ele realmente era, no conseguiu suportar a viso de sua glria, e
morreu enquanto dava o filho luz.
Smaco Quintus Aurelius Symmachus, orador e poltico romano, nascido em
Roma (c. 340-c. 410), um dos ltimos defensores do paganismo
contra o Cristianismo triunfante. Foi prefeito em 348 e cnsul em
391.
Ssifo Condenado a empurrar eternamente um bloco de pedra montanha
acima. Quando j no topo, a rocha rolava par o vale e o trabalho
recomeava.
Suinthila Rei visigodo.
Tntalo Soberano de um reino da sia Menor (Frgia ou Ldia). Por haver
ofendido aos deuses, foi precipitado Hades e condenado a sofrer
fome e sede eternas. Colocado dentro de um lago, com gua at o
queixo, todas as vezes que baixava a cabea beber, as guas
fugiam para dentro da terra. Bem ao alcance de sua mo havia
uma tamareira; ao tentar toc-la, o vento a erguia. Vem da a
expresso suplcio de Tntalo: lutar por uma coisa que vive
fugindo quando se pensa que ser alcanada.
Tmis Deusa da Justia, cujos atributos so o gldio e a balana. Foi quem
aconselhou a Deucalio e Pirra: Velai vossas cabeas e atirai
para trs a ossada de vossa me. Compreenderam eles que a
deusa se referia s pedras, ossos da terra. As pedras
transformaram-se em seres humanos.
Tendncia Tendence. AZEVEDO, Domingos: Fs. Tendncia, fora em virtude
da qual um corpo tende a mover-se em uma direco
determinada.
Tera Intervalo musical entre trs notas, contando-se da mais grave mais
aguda, ou vice-versa. Ex.: d-mi (ascendente); mi-d
(descendente). No exemplo do texto, o autor dividiu o intervalo
de quinta em dois, do que resultaram duas teras. Ex.: d-sol se
transformaria em d-mi e mi-sol. Contando-se o mi duas vezes,
temos um senrio.
Teseu Rei do Epiro, matou o Minotauro.
Tirsias Adivinho cego. Avisou que dipo iria matar o prprio pai e desposar
a me.
Tnica Primeiro grau de uma escala musical. Na escala de d, a tnica o
prpria d.
Traidores Traditeurs: Nome dos cristos que entregaram os livros sagrados aos
gentios, nos tempos das perseguies de Diocleciano.
Verus homo Homem verdadeiro
Vnus Perigia O planeta Vnus, quando se encontra no ponto mais prximo da
Terra. Seu brilho apresenta-se, por isso, maior.
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ANEXO
Na compilao do Ms 5471, em seguida coleo das cartas que
reproduzimos, encontra-se um texto intitulado Invocao de reconciliao,
escrito pela mo de L.-C. de Saint-Martin. Com outra caligrafia, que supomos
ser a de Madame Provensal, irm pela personalidade to simptica e
atraente de Willermoz, foram feitos acrscimos ao texto primitivo e, no fim,
foi inscrito um memorando mstico muito curioso e enigmtico.
Reproduzimos aqui esse documento, que do maior interesse, por ser um
testemunho direto dos sentimentos e do estado de alma desses personagens.
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INVOCAO DE RECONCILIAO
Eterno, 0 +10 , Todo-Poderoso, tu de quem recebi o Ser, tu, que pelo carter sagrado
que em mim puseste, de todas as criaturas me distinguiste, por haveres em mim acendido um
fogo que no pode ser extinto e que me distingue tanto de todas as outras criaturas cuja
existncia aparente s pode subsistir por um tempo para um tempo e no tempo dos eleitos da
criao material, sendo apenas o efeitos de teus poderes secundrios, no podem ter a durao
nem a inteligncia do Seres primeiros,
Digna-te lanar um olhar de misericrdia sobre tua frgil Serva, jamais deixes de
aquecer-me com o mesmo raio do qual me emanaste para servir e contribuir na manifestao
de tua glria e de teu Poder. Sustenta tu mesmo a tua obra, pois, sem teu socorro poderoso, s
podemos esperar que ela fique sepultada nas trevas, e numa privao espiritual to
amedrontadora porque me pareceria cem vezes pior que a morte. Sim, Eterno id., estou
sob o chicote de tua justia para cumprir a expiao do crime do primeiro dos homens e da
justia de meus prprios desvarios. Se tu mesmo no abrandas os males que me oprimem, ou
no te unes a mim para aumentar-me as foras, fico a todo momento ameaada de sucumbir e
de perder de vista o nico facho que pode iluminar-me e guiar-me durante a minha passagem
nesta regio inferior da terra. Prosterno-me coberta de vergonha e confuso diante tua
majestade
.48
suprema estremeo por causa do nada e da privao horrvel qual est reduzido
teu frgil servidor Ser um exemplo imemorial a meus semelhantes da grandeza de teu poder
49
e de tua justia que uso fiz eu dos v spi.
50
com os quais havias revestido teu h
e51
. Apesar dos
poucos frutos que tirei de teus benefcios, 0 10 ainda queres me encher de tua misericrdia ao
me admitires aos crculos poderosos da reconciliao espiritual do homem
52
de desejo que te
entregarei pelos tantos favores que me fazem sentir ainda mais a minha indignidade para
contigo. Recebe, pois, o sacrifcio que te fao de meu corao, de meu corpo e de minha alma.
Recebe o de meu pensamento, de minha vontade e de minha ao. Recebe, sobretudo, o de
meu livre arbtrio, do qual fao uso to com to pouca energia para o bem de meu Ser
espiritual, e para observar o que desejas de mim. Conjuro-te, pelos trs nomes poderosos
destinados a realizar todas as tuas obras spi. e tempo.
53
0 8 0 7 0 4 Conjuro-te por todas as
virtudes que ligastes a elas e por todos os feitos que delas provieram como sendo a imagem
do pensamento, da vontade e da ao inatas em todo Ser espiritual divino. Recebe, pois, a
oferta que de fao dessas faculdades que me constituem, Ser verdadeiramente Espiritual
divino e que como tal devem tornar-me temvel a todos os inimigos de tua lei. Apossa-te to
bem dessas faculdades que elas s possam ter vida somente para em ti, somente por ti e
somente em ti que s a vida e o caminho e a verdade. Faze com que, pelo poder dessa palavra,
que s pronuncio tremendo, v..R 10 todos os Chefes perversos e todos os seus intelectos de
abominao se afastem de mim sem retornar e me deixem gozar das consolaes que
concedes queles que, pelo verdadeiro desejo e pela perseverana no combates, podem vir a
fazer jonc.
54
Com o ser fiel e poderoso que ligaste ao teu menor G. Deus do cu e da terra,
48
Mag
e
= magest) (majestade).
49
puiss. = puissance (poder)
50
Voies spirituelles (caminhos espirituais) ou valeurs spirituels (valores espirituais)?.
51
Homme (homem).
52
de lh
e
= de lhomme. A abreviatura correta seria de lh
e
. Faltou o apstrofo.
53
Spiritulles et temporelles (espirituais e temporais).
54
Jonction (juno)?
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por sua origem spi.. e no material, pelo mesmo nome 0 + 10 eu vos ordeno 0 7 0 + 4 0 + 7.
0 + 3 ficar constantemente ligados minha pessoa, dirigir-me em todas as minhas aes spi..
temporais. Simples, universal, geral e particular, eu vos entrego inteiramente meu livre
arbtrio pelo qual o homem (lh
e
) tornou-se e torna-se culpado todos os dias, fazei com meus
desejos, minha vontade e, em geral, tudo o eu poder fazer seja inteiramente de conformidade
com o que podeis exigir de mim em virtude do cargo que vos foi dado para velar sobre mim.
Preveni-me sobre quaisquer acontecimentos que possam prejudicar-me spi. e corporalmente,
preveni-me contra os artifcios e os ataques do esprito de treva
55
, que s busca arrastar-me
para a mais horrvel confuso. 0 + 7 0 + 4 0 + 7 0 + 3 Preveni-me sobre todos os perigos
aos quais est exposto o homem (lh
e
) spi. e corp.
56
durante sua curta passagem na regio
elementar, a ele concedida a fim de trabalhar sem descanso para reconstruir o templo spi. de
Jerusalm derrubado pelos inimigos da verdade. Fazei-me conhecer vossa assistncia por
alguns caracteres hieroglficos e por outros sinais que empregais de maneira visvel p
r57
vossas
propores fraqueza do homem atual que no poderia sustentar vossa viso sem esse meio.
Disponde a forma de minha matria impura a fim de que ela esteja limpa para receber a
comunicao de vossos intelectos divinos pelos quais fazeis chegar ao homem as vossas
vontades e as ordens que recebeis para o sustentculo e o proveito do menor e para
molestamento de seus inimigos. E tu 3 + 0 vela em particular sobre o esprito de matria que
anima a minha forma, que em qualidade de esprito inferior no pode ter a inteligncia das
obras spi. dos Seres superiores a ele, mas que no estado atual do homem (de lh
e
) o primeiro
sustentculo a ele concedido para caminhar sem perigo nesta regio material temporal, toma-o
cuidado dele 0 + 3 Afasta dele qualquer esprito impuro que queira dele apossar-se para
impedir-lhe a aproximao e a juno que deve ser feito por seu meio de minha alma spi.
divina com o esprito spi. divino encarregado pelo criador eterno para guardar e conduzir todo
homem (h
e
) errante nesta superfcie. Conjuro-vos, todos os Espritos que invoquei e que
invoco ainda 0 + 10 0 + 8 0 + 7 0 + 4 0 + 7 0 + 4 0 + 7 0 + 3 para receberdes e aceitardes a
confiana que vos dou plenamente hoje, propondo-me firmemente a abjurar a frgil que
obscura vontade do homem (d lh
e
) para conduzir-me de agora em diante segundo vossa
vontade de vossos desgnios spi. a respeito de mim. Juro-o solenemente diante de vs e
prometo-o por esse [aqui, uma palavra manchada] terrvel que tudo fez e que tudo constituiu
0 + 10 Amm.
______________________
Toma sob tua santa guarda, + id. todas as faculdades de meu ser corporal e espiritual, afasta
delas qualquer insinuao m, preserva-os de qualquer comunicao do Ser perverso que me
persegue, a fim de que s haja em mim o que viver e agir de conformidade com as tuas leis,
teus preceitos e teus mandamentos. Prometeste conceder a tua criatura tudo o que ela pedisse
em teu nome, mas queres que ela te oferea votos puros e desejos que a aproximem de ti. So
esses os que meu corao te apresenta neste momento. Atende a eles como atendeste aos de
Judite, tua fiel serva, quando ela invocou teu nome, implorando teu socorro contra os
inimigos de teu povo. Derrama sobre mim as mesmas graas que espalhaste sobre Merian,
Esther e Elizabeth, e sobre todos aqueles e aquelas que desde a eleio do teu povo eleito, e
55
Ou: das trevas
56
Espiritual e corporalmente.
57
Par (por) ou pour (para)?
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antes dela, sempre te invocaram em santidade. No tenho outro envie seno o de imitar-lhes o
exemplo, e de mostrar a eus semelhantes, pela fora e pela justeza de meus atos, que escutas
de verdade aqueles que te suplicam na humildade de seu corao, e que tu mesmo cuidas
daqueles que colocam sua confiana somente em ti. + id.
E tu, ag. 6, no deixes de velar pela conservao e pela defesa de meu Ser menor
espiritual que te foi confiado por ordem do A. D. L. Comea dispondo minha alma para reter
a impresso de teus intelectos espirituais, a fim de que todos os socorros que devo receber de
ti, + 6 no fiquem sem efeito e no se transformem antes em minha vergonha e confuso, a
no ser para proveito de seu Ser particular espiritual menor divino. Monta uma guarda fiel em
volta de mim, inspira-me sempre o horror ao vcio, a todas as ndoas materiais e ds
58
tudo o
que meu inimigo no deixa de insinuar a todos os que lhe permitem tomar domnio sobre eles
mesmos, une-te a mim, de modo que minha vontade e a tua sejam a mesma coisa, visto que
no posso estar em correspondncia perfeita contigo sem estar com o Criador divino que te
colocou junto de mim para seres meu guia e meu apoio.. ag. 6. Previne-me sobre os perigos
que possam ameaar-me corporal e espiritualmente, combate comigo nos ataques que eu tiver
de sustentar, s dcil voz daquela que te invoca e te ordena pelo nome sagrado, + 4 id. S
sempre pronto a responder minha inteno e a obedecer fora do meu Verbo, a fim de que,
por tua presena, eu seja superior a todos os acontecimentos desta vida de lgrimas. Faze com
que no haja circunstncia alguma em que eu ano sinta teu socorro e tua proteo poderosa
+ 6. Faze, por fim, que, imagem de meu princpio, jamais tenha o mal qualquer acesso a
mim e que, quando o Criador Eterno se dignar livrar-me desta priso tenebrosa (designando o
corpo com a mo direita na ordem), eu possa voltar para ele to pura como quando sa de seu
seio. pelo mesmo nome sagrado 0 + 4 que te conjuro. Amm.
58
de?
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martines de pasqually
MEMORANDO MSTICO DE MADAME PROVENSAL
A 1
o
. de maro de 1777, perguntas feita, resposta ouvida que espero jamais
esquecer pelo efeito que me causaram.
1
a
. P. Fala, eu te suplico: o que queres de mim?
1
a
. R. Que me ames.
2
a
. P. Continua a me falar: ests presente no corpo?
2
a
. R. Estou sim.
3
a
. P. So duas vezes que me dizes isso, e eu ainda duvido.
3
a
. R. Treme ento pela terceira.
4
a
. P. perdoa-me ainda esta pergunta: qual teu corpo?
4
a
. R. O que terei no julgamento.
Aqui, minhas agitaes e trabalhos de vrios dias, e mesmo de vrios
meses, cessaram. Deus vela para que todos os homens experimentem um
momento to delicioso como esse que experimentei entre meio-dia e uma hora
diante da chamin do salo no retorno de uma comunicao que Deus me havia
permitido fazer, estando mais bem preparada do que desde muito tempo.
Traduo: Stella Machado
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 179
PIECE ANNEXE
Dans le recueil Ms 5471, la suite de la collection des lettres que nous avons reproduites se
trouve plac um texte intitul Invocation de rconciliation, critde la main de L.-C. de
Saint-Martin. Dune outre plume, que nous supposons tre celle de Mme Provensal, sa sur,
la personnalit si sympathique et attachante, de Willermoz, des adjonctions ont t
faites au texte primitif et, a la fin, a t inscrit um memorandum mystique trs curieux et
nigmatique.
Nous reproduisons ci-aprs ce document, que est du plus grand intrt, car il est um
tmoignage direct des sentiments et de ltat dme de ces personnages.
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INVOCATION DE RECONCILIATION
O Eternel, 0 +10 , tout puissant, toi par qui jay reu lEtre, toi qui par le caractre sacr que
tu as mis en moi, mas distingu de toutes tes autres cratures, en ce que tu as allum em moi
um feu qui ne peut pas steindre et qui me distingue si fort de toutes les autres cratures dont
lexistence apparente ne peut subsister que par le tems pour um tems et dan le tems les lus de
la cration matrielle ntant que leffet de tes puissances secondaires ne peuvent avoir ni la
dure ni lintelligence des Etres premiers, Daigne jetter un regard de misericorde sur ta foible
Servante, ne cese jamais de me rchauffer du mme rayon do tu mas emane pour servir et
contribuer la manifestation de ta gloire et de ta Puissance. Soutiens toi mme ton ouvrage,
car sans ton puissant secours, il ne peut aattendre qua tre enfonc dans les tnbres, et dans
une privation spirituelle si effrayante quelle me paroit cent fois pire que la mort. Oui, Eternel
id., je suis le flau de ta justice pour lexpiation du crime du premier des hommes, et pous
celle de mes propres garements; Si tu nadoucis toi mme les maux qui maccablent, ou que
tu ne te joigne moi pour augmenter mes forces, jes suis menace a tout moment de
succomber, et de perdre de vue le seul flambeau qui peut mclairer et me guider pendant mon
passage dans cette rgion infrieure terrestre. Je me prosterne devanta ta supreme mag
e
. je
fremi du meant et de la privation horible ou ton foible serviteur est reduit Etre un exemple
immemorial a mes sembable de la grandeur de ta puiss. et de ta justice quel usage ai-je fais
des v spi. dont tu avois revetu ton h
e
. Malgr le peut des fruits que jai tir de tous ces biefaits
0 10 tu veux encor me comber de ta misricorde en madmettant aux cercles puissants de la
reconciliation spirituelle de lh
e
de desir que te rendrai he pout tant de faveurs qui me font senti
dautant plus mon indignit envers toi; reois donc le sacrifice que je te fais de mon cur, de
mon corps et de mon ame; reois celui de ma pense, de ma volont, et de mon action; reois
surtout celui de mon libre arbitre dont je fais si foiblement usage pour le ben de mon Etre
spirituel, et pour lobservation de ce que tu dsires de moi, je te conjure par les trois noms
puisssants destins a operer toutes tes ouvres spi. et tempo. 0 8 0 7 0 4 je ten conjure par
toutes les vertus que tu y as ataches et par tous les faits qui en sont provenus comme etant
limage de la pense de la vonlont et de laction inne dans tout Etre spi. divin. Reois donc
loffre que je te fais de ces facults qui me constituent Etre vraiment Spi. divin et qui doivent
comme tel me rendre redoutable a tous les ennemis de ta li empare toi si bien de ses facults
Louis-Claude de Saint-Martin
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quelles nai de vie que pour toi seul et en toi seul qui est la vie la voye et la verit, fais que par
le pouvoir de ce mot que je ne prononce quen tremblant o v..R 10 tous les Chefs pervers et
tous leurs intellects dabomination sloignent de de moi sans retour et me laisse jouir des
consolations que tu accorde eux qui par leur vrai desir et leur perseverance dans les combats
peuvent parvenir a faire jonc. avec ltre fidel et puissant que tu as attach ton mineur G.
Dieu des cieux et de la terre par son origine spi.. et non materielle, par le mme nom 0 + 10 je
vou commande 0 7 0 + 4 0 + 7. 0 + 3 de vous attacher constamment a ma personne de me
diriger dans toutes mes action api.. temporelles simple iniverselle generalle et particuliere, je
vous livre entierement mon libre arbitre par lequel lh
e
sest rendu et serend coupable outs le
jours, faites que mes desirs, ma volont et gerallemte tour ce que je peux faire
soitabsolumnet comforme a ce que vous ouvez exiger de moi en vertu de la charge qui vous a
t donn de veiller sur moi. Prevenez moi sur tout les evenements qui pourroient me nuire
spi. et corporellement, prevenes moi cntre les ruses et les ata ques de lesprit de tenebre qui
ne cherche qua mentrainer dans la plus horrible confusion. 0 + 7 0 + 4 0 + 7 0 + 3 prvenes
moi sur tout les dangers auxquels lh
e
est expos spi. et corp. pendant son court passage dans la
region elementaire, qui ne lui est accord que pour trvailler sans relache a rebatir le temple
spi. de Jerusalem renvers par les ennemis de la verit: faites moi connoitre vore assistance
par quelques caracteres hierogliphes et autres signes que mous employes visiblement p
r
vos
proportions a la foiblesse de lh
e
actuel qui ne pourroit soutenir votre vue sans ce moyen
disposes ma forme da me amttiere impure afin quelle soit propre a recevoir communiquation
des vos intellects divins par lesques vous faites parvenir a lh
e
vos volonts et les ordres que
vous receves du createur pour le soutiens et lavantage du mineur et pour la mo lestation de
ses ennemis et toi 0 + 3 veille particulierement sur lesprit de matiere qui anime ma forme,
que em qualit desprit infrieur ne peut avoir lintelligence des ouvres spi. des Etres
superieurs a lui mais qui dans letat atuel de lh
e
est le soutient qui lui soit accord pour
marcher sans danger dans cette region materielle temporelle, prens en soin 0 + 3 Eloigne
delle tout esprit impur qui voudroit sen emparer pour empecher lapproche et la joction qui
doit se faire par son moyen de mon ame spi. divine avec lesprit spi. divin prepos par le
createur eternel a la garde et a la codutite de tout h
e
errant sur cette surface je vous conjure
tous Esprits que jai invoqus et que jinvoque encore 0 + 10 0 + 8 0 + 7 0 + 4 0 + 7 0 + 4 0 +
7 0 + 3 de recevoir et dagrer la confiance que fe nou donne pleinement aujourdui me
proposant fermement dabjurer la foible et obscure volont de lh
e
pour ne me conduire
dsormais que par vore volont de vos desseins spi. sur moi, je le jure solemnellement devant
vous et he le promet par ce [ici um mot tach] terrible qui a tout fait et tout constitu 0 + 10
amen.
Prends sous ta saine garde + id. toutes les facults de mon tre corporel et spirituel, eloignes
delles toute insinuation mauvaise, preserve les de toute communication de lEtre pervers qui
me perscute, afin qu'il ny ait rien en moi qui nagisse et ne vive conformement tes loix, tes
preceptes et tes commandements. Tu as promis caccorder a ta creature tout ce quelle te
demanderoit en ton nom; mais tu veux quelle ne toffre que des vux purs et des dsirs qui
la rapprochent de toi; tels sont ceux que mon cur te prsente en ce moment; exauces les
comme tu as exaucs cus de Judith ta fidelle servante lorsqu'elle invoqua ton nom, et quelle
implora ton secours contre les ennemis de ton peuple, repans sur moi les memes graces que
tus a repandues sur Merian,Esther, Elizabeth, et sur tuot ceux et celles qui depuis et avant
lelection de ton peuple choisi tont toujours invoqu en saintet; je nay dautre envie que
Quadro Natural das Relaes Existentes Entre Deus, o Homem e o Universo
Edies Tiphereth 777 Tradio e Arte 181
dimiter leur exemple, et de montrer mes semblables par la force et la justesse de mes
actions que tu ecoutes vraiment ceux qui te prient dans lhumilit de leur cur, et que tu
prends soin toi mme de ceux qui nemettent leur confiance quen toi, + id.
E toi ag. 6 ne cesse de veiller la conservation, et la deffense de mon Etre mineur spirituel
qui test confipar lordre du grand A. D. L.. Commence par disposer mon ame retenir
limpression de tes intellects spirituels, afin que tous les secours que je dois recevoir de toi +
6 ne soent pas sans effet, et ne tournent pas plustot a ma honte et ma confusion qu
lavantage de mon Etre particulier spirituel mineur divin, Fais ume fidele grade eutoru de moi,
inspire moi toujour. lhorreur du vice, de toutes les souillures matrielles, et ds tout ce que
mon ennemi ne cesse dinsinuer ceux qui lui laise sent prendre empire aur eux mme, unis
toi moi, de faon que ma voont et la tienne ne soient qu'une mme chose, parce-que je ne
puis tre em comrrespondance parfaite avec toi que je ne le sois avec le Createur divin qui ta
plac aupres de moi pour tre mon guide et mon appui; ag. 6. previens sur les danges qui
peuvent me menacer corporellement et spirituellement, combats avec moi dans les attaques
que jaurai soutenir, sois docile la voix de celle qui tinvoque et te commande par le nom
sacre + 4 id. Sois toujours prt repondre a mon intentio, et obir la force de mon
Verbe, afin que par ta presence je sois suprieure tous le venements de cette vie de larmes;
fais qu'il ny ait aucune circonstance o je ne sente ton secours et ta protection puissante +
6. Fais enfin qu limage de mon principe jamais le mal nait aucum accs danr moi, et que
lorsque le Createur leternel daignera me dlivrer de cette prison tenebreuse (en designant le
corps par la main droite lordre) je puisse retourner vers lui aussi pure que je suis sortie de
son sein. C'est par le mme nom sacre 0 + 4 id. que je ten conjure. Amen.
_______________
MEMORANDUM MYSTIQUE DE M
ME
PROVENSAL
Du 1
er
mars 1777 demandes faites reponce sentie que je souhaite ne jamais oublier par leffet
queelles mont faite.
1
re
D. Parle je ten supplie quexige tu de moi
1
re
R. que tu maime
2
me
D. continue a me parler y est tu en corps
2
me
R. oui je suis.
3
me
D. Voila deux fois que tu me las dit et je doute encor
3
me
R. tremble pour la troisieme
4
me
D. Pardonne-moi encor cette question quelle est donc ton corps
4
me
R. celui que jaurai au jujement.
Ici mes agitations et travails de plusiers jours, et mme plusiers mois ont cesss Dieu veuille
que tuos les hommes eprouvent um semblable moment delicieu que celui que jai gout entre
midi et une heure devant la chemine du sallon au retour dune communion que Dieu mavoit
permis de faire mieu prepar que depuis longtemps.
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