Projeto Do Trabalho - Camarotto PDF
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PROJETO DO TRABALHO:
Métodos, tempos, modelos, posto de trabalho.
(notas de aula)
2007
Departamento de Engenharia de Produção 2
Projeto do trabalho
Prof. Dr. João Alberto Camarotto
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO 03
1.1. Capacidade 04
1.2. Produtividade 06
1.2.1.- A Produtividade dos operadores e de máquinas 06
1.2.2 - Fatores que Reduzem a Produtividade 08
1.2.3 - Procedimento Básico para o Estudo do Trabalho 10
2 - ENGENHARIA DE MÉTODOS 11
2.1 – Conceituação 11
2.2 - Modelos da Engenharia de Métodos 12
2.2.1 - Tabela de Interrelacionamento 13
2.2.2 - Fluxograma de Processo 16
2.2.3 - Diagramas de Atividades Simultâneas 23
2.2.4 – Ficha de caracterização da tarefa 25
4 – TEMPO-PADRÃO 38
4.1 - Determinação do Tempo-Padrão 38
4.2- Técnicas para a Obtenção do Tempo-Padrão 39
4.2.1 – Método de observação direta por cronometragem 40
43 – Estabelecimento do desempenho normal 43
4.3.1 – Sistemas de avaliação de ritmo 44
4.4 – Tolerâncias 46
4.5 - Processamento de dados e fórmula matemática do Tempo-Padrão 48
4.6 - Amostragem do Trabalho 49
4.6.1 - Principais Modelos de Distribuição 49
4.6.2 - Procedimentos para Observação por Amostragem 49
4.6.3 - Vantagens da Amostragem versus Cronometragem 51
6 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 68
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1 – INTRODUÇÃO
Este texto tem por finalidade organizar um conjunto de informações para o estudo e projeto
das tarefas das pessoas dentro de organizações produtivas. Trata da prescrição da parcela de
trabalho atribuída a cada pessoa, ou conjunto de pessoas, para a realização das operações de
produção.
Entende-se por estudo do trabalho o uso de técnicas, métodos e medição do trabalho, para
examinar o trabalho humano em todos seus aspectos, investigando os fatores que influem na
eficiência e desempenho da situação estudada, com a finalidade de melhorar o conforto e
segurança na execução do trabalho e aumentar a produtividade do sistema de produção.
O estudo do trabalho foi conhecido durante muitos anos com o nome de "estudo de tempos
e movimentos" (time and motion study), mas atualmente, em função de novas técnicas
integradoras de gestão da produção e do abandono de modelos rígidos de processos de
trabalho, o nome mais adequado passou a ser "estudo do trabalho” (work study) que
incorpora conceitos de: ergonomia, segurança do trabalho, qualidade e organização do
trabalho.
O conteúdo do estudo do trabalho tratado nesta apostila se refere aos procedimentos usados
para a implantação das técnicas de melhoria das situações, concentrando-se nos aspectos da
produção que dependem e influenciam diretamente o rendimento do trabalho humano. O
projeto completo de unidades produtivas (fábrica, loja, escritório, etc.) compreende o estudo
das atividades reais do operadores (objeto específico da ergonomia), do arranjo físico das
instalações, do meio ambiente de trabalho (segurança e higiene do trabalho), do rendimento
do sistema de produção e dos processos de transformação.
funcionando como instrumento de registro da situação, podendo ser utilizado para projeto
de novas instalações de trabalho semelhantes.
Todo sistema de produção, além de seus recursos materiais de produção como instalações e
equipamentos, necessita de recursos humanos cujas competências, habilidades e satisfação
são essenciais para o funcionamento das organizações produtivas. O projeto do trabalho é
parte integrante do processo de projeto da unidade produtiva (figura 1).
Arranjo físico
e fluxo
Tecnologia de Projeto do
Processos Trabalho
1.1. Capacidade
Capacidade = a quantidade de saída que um sistema pode realizar por unidade de tempo.
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Capacidade Nominal (ou de projeto) = capacidade para a qual o sistema foi projetado,
supondo o funcionamento normal dos sub-sistemas e pleno usos dos fatores de produção.
Capacidade máxima = saída máxima que pode ser obtida num sistema quando os recursos
são utilizados no máximo, o que pode não representar o mais eficiente em termos de custos.
Principais
Fatores de
Produção
¾ Mercado Mão-de-obra
X Equipamentos
Materiais
¾ Capital Instalações
Ou seja, ligado à medida da capacidade está a eficiência do trabalho das pessoas nos centros
de produção e da gestão dos processos de trabalho.
1.2. Produtividade
Produção total
Produtividade Global =
Conjunto dos recursos utilizados (fatores)
O tempo gasto por um homem ou por uma máquina para executar uma operação ou produzir
uma quantidade determinada de produtos pode ser decomposto da forma como indicado na
figura 3 abaixo.
CONTEÚDO
BÁSICO
Conteúdo
Total de
DO
Trabalho
do
TRABALHO
Produto
produto mal
desenhado
falta de
conteúdo
normalização
suplementar
de trabalho
Conteúdo normas erradas
devido ao
de qualidade
Total produto e/ou
excesso de especificações
de
material
Trabalho
máquinas
inadequadas
processo mal
conteúdo
executado
suplementar
ferramentas de trabalho
inadequadas devido aos
Métodos
arranjo físico
inadequado
métodos
inadequados
Tempo
Improdutivo
.O produto ou suas partes componentes pode estar desenhado de tal forma que seja
impossível empregar os métodos e procedimentos otimizados de fabricação.
.O excesso de modelos e a falta de normalização dos componentes resultam em
fabricação de pequenos lotes, uso de máquinas não especializadas e de forma
mais lenta que o ritmo proposto por métodos de trabalho e lotes econômicos.
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Assim, a produtividade ótima será conseguida quando o processo se efetuar com o menor
desperdício de movimentos, tempo, esforços e em condições de máxima eficiência,
seguindo um método estabelecido. A tabela 1, abaixo, mostra possibilidades de melhorias
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Para a realização de um estudo do trabalho completo, é preciso percorrer oito etapas básicas:
2 - ENGENHARIA DE MÉTODOS
2.1 – Conceituação
Para atender aos objetivos acima propostos, os modelos são classificados segundo algumas
de suas características funcionais:
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Î Quanto as variáveis
Quantitativas: tempo, distância, dinheiro, freqüência, densidade de fluxo.
Qualitativas: relações de procedência ou interligação, localização.
Î Quanto ao objeto de estudo
Homem, máquina, materiais, informação.
Î Quanto ao tipo de projeto
Ciclo de fabricação, arranjo físico em função da movimentação de materiais,
arranjo físico em função de movimentação de pessoas, transporte de materiais,
arranjo físico da estação de trabalho, trabalho de equipes em máquinas
automatizadas, movimento dos operadores no centro de produção.
Î Quanto ao uso administrativo
Modelo de decisão ou planejamento ou de comportamento ou de controle.
Além destes, são utilizados documentos de produção que auxiliam no entendimento das
diferentes tarefas e operações: guia de fabricação, roteiro de produção, lista de peças e
componentes, etc. No anexo 1 estão apresentados os modelos genéricos destes documentos.
Os fluxos do sistema produtivo são constituídos fisicamente dos itens trocados em um dado
sentido entre os componentes, sendo basicamente: pessoas, materiais ou produtos, papéis e
informações ou contatos.
Matriz de-para
Quando há interesse em explicitar o sentido do fluxo trocado entre os pares, emprega-se
uma matriz de-para, conforme modelo abaixo.
Nesse caso, os itens alocados acima da diagonal principal são relativos ao fluxo de sentido
positivo ou para frente em relação à ordem na qual os componentes foram escritos na tabela
(1 Æ 2 Æ 3 Æ 4) e os itens abaixo da diagonal principal são relativos a fluxos negativos ou
para trás.
A informação visual básica dada pelo diagrama pode ser acrescida de outras informações
que possibilitem o claro entendimento do processo, como local de execução, tempos de
duração das atividades, distâncias movidas, custo da atividade, unidade produtiva. Estas
informações podem ser organizadas segundo algumas diferentes concepções. As concepções
construtivas e simbologias diferentes de fluxograma dependem da especificidade do
processo em estudo, do tipo de objeto de estudo e do conjunto de informações requeridas.
Fluxograma Singular
Caracteriza-se esta concepção de fluxograma de processo, por representar a seqüência de
atividades de processamento de um item singular. Item singular é definido como sendo um
item que, durante o período de observação do processo de produção, não sofre integrações
ou desintegrações de componentes.
confere nº da casa
aperta campainha
entrega telegrama
confere assinatura
guarda comprovante
Fluxograma de Montagem
O fluxograma de montagem representa o processo de agregação (ou de desagregação) de
um item composto, através de indicação esquemática da seqüência na qual seus
componentes e submontagens são integrados ou desintegrados.
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No diagrama estas integrações ou desintegrações das partes se faz sobre (ou a partir de) um
componente denominado corpo principal.
A forma construtiva deste esquema (figura 8) consiste de uma coluna vertical onde é
registrada a montagem do corpo principal, na qual se ligam linhas horizontais que indicam a
entrada de cada componente e sub-montagem no processo de montagem. Para os casos de
desmontagem, usa-se o mesmo esquema com inversão das setas para significar saídas de
componentes do corpo principal.
1.) Materiais ou produtos - que recebem todas as outras peças ou subconjuntos de modo a
constituir o produto final.
2.) Formulários ou informações - via ou cópia mais importante.
3.) Pessoal ou equipamento - só se aplica quando se tem uma equipe trabalhando sobre
um mesmo fluxo de materiais, produtos ou papéis.
Define-se dois tipos de FFM distintos pelo grau de explicitação das atividades:
a) FFM para atividades produtivas - representadas as atividades que alteram o valor dos
materiais ou constitui-se na principal finalidade da organização.
A seqüência das atividades de processamento que ocorre sobre cada parte, subconjunto ou
conjunto principal, é representada pela disposição dos símbolos nas linhas de fluxo
verticais. Ou seja, a ordem de entrada é definida de cima para baixo no fluxograma
1a. entrada
2a. entrada
Exemplos:
a) Subconjunto Rolo de Pressão (produto Moenda de usina de açúcar)
Forno Traçagem
P/ Montagem final
P/ Montagem Final
Montagem Final
Inspeção
Armazenagem
b) fábrica de ração
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Diagrama Homem-Máquina
O Diagrama Homem-Máquina representa o trabalho coordenado de um operador na
operação simultânea com uma ou mais máquinas.
Diagrama de equipe
O Diagrama de Equipe representa o trabalho coordenado de um grupo de operadores e de
máquinas que executam, em conjunto, uma seqüência de operações em centro de produção
e/ou sobre um mesmo produto. É empregado com o objetivo de combinar e integrar as
atividades do grupo e determinar o número mínimo de homens e máquinas empregados.
Atualmente tem sido aplicado como ferramenta para auxiliar a alocação de operadores em
células de manufatura em sistemas produtivos regidos por técnicas de gestão da produção
baseados em modelos japoneses.
1 2 3 4 5 6 7 8
Campos da ficha
© – cabeçalho da ficha: nome da empresa, nome do produto, data do levantamento da ficha,
página, nome da operação ou processo, nome do centro de produção ou do posto de
trabalho, documento formal que define o trabalho no centro/posto, responsável pelo
preenchimento da ficha.
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Construção da ficha
A ficha de caracterização da tarefa deve ser construída por observação direta de cada posto
de trabalho analisado, procurando interagir com os operadores e supervisores para melhor
entendimento das tarefas.
2-A seqüência das tarefas de cada operador, de acordo com o fluxo de trabalho. Caso
existirem várias seqüências e/ou diferentes tarefas, registra-las em oredem de
importância em função da freqüência de ocorrência, da duração da tarefa e/ou da
∗
São documentos formais, ou não, que servem de orientação e parâmetro do trabalho dos operador em relação aos
procedimentos de processo e de qualidade. Os nomes mais utilizados para estes documentos são: Ficha de instrução
técnica, folha de processo, folha de operação, instrução de trabalho.
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tarefa que mais ocupa os operadores. Este é o trabalho prescrito pela empresa,
que é expresso na forma de tarefas a serem cumpridas pelos operadores.
5-Perguntar ao trabalhador o que ele está fazendo e comparar com o trabalho prescrito,
tentando entender o porquê da diferença.
Exemplos:
Descarregamento de correspondências em Centro de distribuição dos Correios.
Nos processos de produção são utilizados diversos conceitos de tempo, relacionados com
variáveis de diferentes naturezas e usados conforme os interesses de medida de desempenho
do sistema. O tempo-padrão é uma das expressões do tempo na produção, no entanto ele
não é suficiente para explicar a complexidade e a quantidade de variáveis que influenciam
no desempenho de um sistema de produção.
Período de Observação
Período disponível
Período de operação
Período de operação
Livre de interrupções
O Tempo de Manufatura (TM) é medido a partir da chegada dos materiais nos estoques
da instalação ou quando estes materiais estiverem disponíveis para a produção (preparação,
disparo de kanban, liberação de produção, etc.). O final do período de tempo da manufatura
pode se dar ao final da última operação (ou posto de trabalho) de fabricação; pode incluir as
operações de acabamento (inspeções, montagens, embalamento); ou pode também
considerar como final de período a expedição do produto ou componente para o cliente.
PEÇAS, QUANTIDADES
ESTAÇÃO
DE
QUALIDADE
TRABALHO TRANSFORMAÇÃO
CARGA ESTOCAGEM
DESCARGA
TRANSPORTE
TM = Tpr + Tc + Ts + Tt + Te.
p p
TM = ∑ ( Tpri + Tci ) + ∑ ( Tsi + Tti + Tei )
i =1 i =1
Para uma situação de fabricação um componente que passa por p postos e com m
quantidade de componentes por lote (tamanho único de lote), temos a expressão:
p p
TM = ∑ m( Tpri + Tci ) + ∑ ( Tsi + Tti + Tei )
i =1 i =1
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n p n p
TM = ∑ ∑ mi ( Tpri + Tci ) + ∑ ∑ ( Tsi + Tti + Tei )
i =1 i =1 i =1 i =1
TMproduto = ∑ TM
i =1
i , onde q representa a quantidade de componentes do produto.
O takt-time é definido como tempo de produção disponível dividido pelo índice da demanda
do cliente. Ele determina o ritmo da produção de acordo com a demanda do cliente.
(WOMACK, 1998). De forma simplificada: takt-time é o ritmo de produção necessário para
atender a demanda e resulta da razão entre o tempo disponível para a produção e o numero
de unidades a serem produzidas.
Uma definição mais adequada pode ser a seguinte: takt-time é o ritmo de produção
necessário para atender a um determinado nível considerado de demanda, dada as restrições
de capacidade da linha ou célula.
Através da base teórica quanto à definição exata do que seria o takt time, surgem outras
questões conceituais, precisamente no que tange a compatibilização da demanda com a
capacidade. A vinculação dessa questão com o Planejamento e Controle da Produção é
importante de ser explorada, de forma a evitar que o sistema, mesmo tendo condições
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globais de atender à demanda, não seja sobrecarregado em momentos de pico e tenha seu
funcionamento abalado.
O takt-time pode ser entendido como o tempo que rege o fluxo dos materiais em uma linha
ou célula. Logo, é fundamental salientar que o conceito de takt-time está diretamente
relacionado com a Função Processo, na medida em que trata do fluxo dos materiais ao longo
do tempo e espaço, enquanto que e a Função Operação se refere aos elementos de
transformação (homens e máquinas) ao longo do tempo e do espaço. A função processo
estabelece o ritmo de trabalho a partir da demanda (JIT/Kanban, make to order), enquanto
que a função operação estabelece a capacidade da produção a partir das restrições do
sistema de produção (lotes, set-ups, manutenção, etc.). Lembrar que, sob uma perspectiva
operacional, o tempo disponível para produção não é necessariamente igual à duração do
expediente. Em situações reais, deve-se descontar os tempos de paradas técnicas e
organizacionais.
Em uma linha de produção, a cada intervalo definido pelo takt-time, uma unidade deve ser
terminada. Por exemplo, para uma linha de montagem de automóveis com demanda diária
de 300 unidades e tempo disponível para produção de 10 horas (600 minutos), o takt-time
será de 2 minutos. Ou seja, a cada 2 minutos deve sair um carro pronto no final da linha.
O Tempo de Ciclo, para WOMACK (1998) é aquele necessário para se completar o ciclo de
uma operação. A duração deste ciclo é dada pelo período transcorrido entre a repetição de
um mesmo evento que caracteriza o início ou fim desse ciclo, desprezando-se paradas entre
ciclos provocadas por interrupções organizacionais. Em um sistema de produção, o tempo
de ciclo é determinado pelas condições operativas da célula ou linha e definido em função
de dois elementos:
• Tempos unitários de processamento em cada posto ou centro de produção
• Número de trabalhadores na célula ou linha
Cada máquina ou equipamento tem um tempo de ciclo característico para cada operação
(processamento) executada. Em equipamentos totalmente automáticos o tempo de ciclo
pode ser fisicamente identificado com relativa facilidade. Em operações manuais este tempo
é mais impreciso, pois o ritmo é variável em função do operador.
O takt-time efetivo, tal como definido anteriormente, será igual ao takt-time calculado caso a
capacidade for maior ou igual à demanda e será igual ao tempo de ciclo quando a
capacidade for inferior à demanda WOMACK (1998). Se o tempo de ciclo de uma operação
em um processo completo puder ser reduzido a um tempo takt igual, os produtos podem,
então, ser produzidos em fluxo contínuo. Este é o conceito chave da produção nivelada que
é a base da produção enxuta (lean production).
Em qualquer análise de operações de set-up, é importante distinguir o trabalho que pode ser
feito enquanto a máquina está funcionando e aquele que deve ser feito com a máquina
parada. O princípio fundamental da melhoria deste tempo é transformar uma operação de
set-up interno em uma de set-up externo.
Os tempos de preparação representam, cada vez mais, uma parcela significativa do tempo
total de produção de uma empresa, principalmente pela tendência das empresas possuírem
uma linha diversificada de produtos, com pequenos e médios lotes de produção. Os tempos
de preparação de máquinas têm forte influência na eficiência de uma empresa e na formação
dos custos das peças produzidas pela mesma. A redução e otimização dos tempos de
preparação de máquinas tornam-se também importante devido aos custos envolvidos na
aquisição e operação máquinas.
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4 – TEMPO-PADRÃO
"... o tempo gasto por uma pessoa qualificada e devidamente treinada, trabalhando
em ritmo normal, para executar uma tarefa ou operação específica..." RALPH BARNES.
"... o tempo necessário para completar um ciclo de uma operação quando realizada
com um dado método, em uma certa velocidade arbitrária de trabalho, com previsão de
demoras e atrasos independentes do operador ..." EDWARD KRICK.
" ... um tempo padrão é uma função da quantidade de tempo necessário para
desenvolver uma unidade de trabalho: a) usando um método e equipamentos dados; b) sob
certas condições de trabalho; c) por um trabalhador que possua uma quantidade específica
de habilidade no trabalho e uma aptidão específica para o trabalho; e d) trabalhando em uma
etapa na qual utilizará, dentro de um período dado de tempo, seu esforço físico máximo e
desenvolvendo tal trabalho sem efeitos prejudiciais ... " MARVIN E. MUNDEL.
O tempo-padrão pode ser obtido pelo uso de registros anteriores ou por observação direta.
Atualmente descarta-se a obtenção do tempo padrão com uso de sistemas sintéticos ou pré-
determinados. Estes sistemas já caíram em desuso em função da adoção de novos modelos
de gestão do trabalho baseado em enriquecimento de tarefas, trabalho em grupo, gestão de
competências, entre outros; a partir da segunda metade do século XX.
A estimativa direta é feita com base na experiência do analista considerando o tempo obtido
como tempo normal e acrescentando as tolerâncias. Esta técnica pode considerar os tempos
através de uma estimativa global (pelo tempo normal da operação) ou por uma estimativa
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analítica, feita com base nas estimativas dos tempos normais dos elementos que compõem a
operação. O erro desta segunda maneira é menor do que na estimativa global, e a estimativa
global é mais rápida de ser montada.
A obtenção do tempo-padrão através de observação direta pode ser feita por estudo
detalhado de cada operação, chamado de cronometragem, ou por amostragem do trabalho.
Para a execução deste sistema de observação direta, são utilizadas as seguintes fases:
a)procedimentos preliminares - determinação do objeto de estudo e da sistemática a ser
adotada.
a.1) registro das informações com caracterização do local e das condições de
trabalho.
a.2) determinação do número de ciclos a serem observados, métodos de leitura,
estabelecimento do desempenho, sistema de avaliação utilizado e o sistema de
tolerâncias.
b)coleta de dados - registro das leituras dos dados de tempos e as formas de avaliações.
c)processamento dos dados - seleção dos tempos representativos para o cálculo do tempo
normal, tolerâncias e tempo-padrão.
Cronometragem
Equipamentos
EQUIPAMENTO VANTAGENS
Cronômetro - oferece menor custo para a realização do estudo.
- facilidade de operação.
Máquina de filmar - facilidade de reexame da situação estudada.
- fornece dados brutos(sem interpretação).
Procedimentos Preliminares
a)registro das informações:
.método padrão em estudo
.equipamento utilizado
.condições do local
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No registro das informações deve-se dar atenção especial para as situações onde possa haver
mudanças nos métodos de trabalho com interferências nos procedimentos de medida dos
tempos. As mudanças mais comuns encontradas nas operações são:
.variações casuais de um ciclo para outro, com modificações de trajetória.
.variações de velocidades das operações, causadas pelo operador.
.complexidade dos movimentos gerando variações de tempo e trajetórias.
.variações no método pela habilidade do operador.
b) caracterização dos elementos
.dividir as operações em elementos de ciclos mais curtos
.determinar os pontos iniciais e finais do elemento, de forma precisa.
.elementos com duração de tempo compatível com o instrumento utilizado.
.uniformidade nos tipos de elementos para facilitar a comparação de dados
.separar o tempo da máquina do tempo do operador.
.separação entre elementos constantes e variáveis.
.separação entre elementos regulares e irregulares.
c) elaboração do roteiro para os registros
.departamento
.produto
.croquis da estação de trabalho
.equipamento(s)
.ferramentas e gabaritos
.condições ambientais
⎛ 40 N X 2 − ( X )2
2
⎞
⎜
N'= ⎜
∑ ∑ ⎟
⎟
⎜
⎝
∑X ⎟
⎠
Pode-se usar dados tabelados a partir da aplicação da fórmula acima, com simplificação da
amostra e do tratamento estatístico, conforme descrição de BARNES, pags. 287 e 288,
explicado a seguir (Tabela 15):
2- Determine a amplitude R. Esta é obtida pela diferença entre o maior valor H e o menor
valor L.
R = H - L.
3- Determine a média X. Esta é a soma das leituras dividida pelo número total de
observações (que será 5 ou 10). Esta média pode ser aproximada pelo valor maior mais o
valor menor dividido por 2, ou seja:
(H + L)/2.
Tabela 15 – Método simplificado para cálculo do número de observações (Barnes, 1982, p.288)
Sistema Westinghouse
Avaliação é feita a partir de 4 fatores:
.Habilidade > competência para seguir um método
.Esforço > associado à um ritmo constante durante uma operação
.Condições > do ambiente, das máquinas, ferramentas, etc.
.Consistência > nos movimentos
O sistema fornece uma tabela para auxiliar a graduação dos valores relativos de cada fator,
em relação ao padrão normal( tabela 16). Esta avaliação pode ser feita por elemento ou por
ciclo.
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Exemplo:
tempo selecionado = 0,08 min.
avaliações: habilidade = B1 ---> + 0,11
esforço = C1 ---> + 0,05
condições = E ----> - 0,03
consistência = D ----> 0,00
______
+ 0,13
O fator de avaliação será 1 + 0,13 = 1,13 e o tempo normal será
TN = TS x FA = 0,08 x 1,13 = 0,0904 min.
Avaliação por Padrões Sintéticos - a avaliação é feita através da comparação dos valores
obtidos por observação direta com os valores sintéticos para os elementos correspondentes,
considerando os valores sintéticos como normais.
O método consiste em fazer uma pessoa executar sua tarefa por um período especificado,
medindo-se a pulsação ao final desse período e também após 1, 2 e 3 minutos de descanso,
durante os quais a pessoa permanece sentada e descansando.
4.4 - Tolerâncias
Pode ser estimado por amostragem do trabalho ou por estudo da produção e aplicada para
toda a empresa ou por seções.
Algumas estimativas:
a.1) Proposta de MUNDEL
b) Tolerância de Esperas - são condições não controladas pelo operador que resultam em
paradas, geralmente por: manutenção de máquinas, ajustes ligeiros no processo/máquinas,
substituição de ferramentas, variações de materiais, interrupções de supervisão, etc.. Podem
ser estabelecidas por amostragem, planos de produção ou estudos de produção, ou ainda
projetadas no planejamento de produção(geralmente por acordos coletivos de trabalho ou
políticas da empresa).
c) Tolerância para Fadiga - tempo dispendido pelo operador com recuperação do desgaste
físico e mental resultante do nível de atividade exercida. A composição do tempo de fadiga
é bastante complexa, envolvendo conhecimentos de várias áreas(fisiologia, psicologia,
sociologia, biomecânica, etc.) e é variável em função da pessoa, relações sociais no trabalho
e com as condições físicas do operador. A estimativa é feita pelo estabelecimento de uma
escala de valores representativos de tolerâncias, sendo que o mais comum, atualmente por
parte das empresas, é programar períodos de descanso(de manhã e de tarde) independente
de escalas.
-controle de eficiência
-estimativas de Tempo-padrão
-controle de qualidade
Px = estimador de P
X
Px =
n
Er = erro relativo que se deseja obter
N.C. = nível de confiança
P(p/Er = 5%) significa que existe 95% de probabilidade de que o P real esteja dentro do
intervalo.
Amostras com mais de 25 observações podem ser interpretadas pelo número de desvios-
padrão(Z), correspondente ao nível da distribuição normal.
Z N.C.(%)
1 68
1,5 87
2 95
2,5 99
Z2 .(1− Px)
N' =
Er2 . Px
Multinomial:
Pi = probabilidade de ocorrência do evento
Pxi = estimador de Pi
Xi = nº de ocorrências do evento i
n = nº de observações
Xi
Pxi =
n
A amostra é calculada utilizando-se o mesmo método adotado na binomial, tomando-se por
base o menor Pxi calculado na amostra piloto.
Z 2 .(1 − Pxi)
N'=
Er2 . Pxi
e) Coleta de dados
-distribuir aleatoriamente as observações pelo tempo total do estudo(utilização da tabela de
números aleatórios), conforme roteiro a seguir:
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Neste capítulo não se pretende esgotar ou mesmo se aprofundar nos conceitos, métodos e
técnicas derivados da ergonomia, antropometria, cinesiologia, biomecânica e cronobiologia
que fundamentam estas recomendações. Na bibliografia colocada no final do texto estão
citadas as obras que contém em profundidade estes conteúdos.
Quanto aos esforços musculares, o trabalho pode ser estático(ou isométrico) - músculos
tensos para suportar pesos - e dinâmico - contrações e distensões. O trabalho estático requer
maior quantidade de sangue para irrigação e torna a pessoa mais propícia a fadiga muscular.
O estado de fadiga é uma diminuição do poder funcional dos órgãos, tanto fisiológica como
psicológica, onde a pessoa perde concentração e controle das ações, podendo até sentir
dores (geralmente musculares).
3) Duração do trabalho - deve ser dosado com a quantidade de esforços realizados e com a
distribuição de pausas programadas. A qualidade e a quantidade de trabalho produzido não
são diretamente proporcionais ao número de horas dimensionadas para uma jornada.
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Movimentos da cabeça
Trabalho na posição
Altura de trabalho em pé
Recomendações de medidas
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D istância visual
A distância visual deve ser proporcional ao tam anho do objeto de trabalho: um
objeto pequeno requer um a distância m enor e um a superfície de trabalho m ais
alta. O s objetos que são com parados continuam ente em um a distância visual
fixa (m enor que um m etro), devem estar situados a um a m esm a distância visual.
grande dem anda visu al algum a dem anda visu al dem anda visual norm al pequena dem anda visual
(m ontagem de pequenas (costura, desenho) (leitura, operação de torno (em balam ento)
peças) m ecânico)
Ângulo de visão
Ângulo de visão
O objeto de maior freqüência de
observação deve ser centralizado em
frente ao trabalhador. O ângulo de
visão recomendado (medido a partir
da linha horizontal da visão) varia
entre 15° e 45°, dependendo da
postura de trabalho.
retículos de 10 x 10 centímetros
carga, Kg carga, Kg
Atenção
Compreende todo o cuidado e observação que um trabalhador deve dar para seu trabalho,
instrumentos, máquinas, visores, processos, etc. A demanda de atenção é avaliada pela
relação entre a duração da observação e o grau de atenção necessário.
de 30 a 60%
de 60 a 80%
Demanda de
Exemplo : Industria Escritório
atenção
Controles
A interface do sistema homem máquina em que o homem comanda e controla o
funcionamento da máquina. As variáveis estudadas são força e precisão de movimentos.
Estereótipos de movimentos
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Projeto do trabalho
Prof. Dr. João Alberto Camarotto
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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS