CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (Autores Diversos)

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NDICE

O MTODO DE ESTUDO DE CASO E SUA APLICAO EM PESQUISA SOBRE O ANIMISMO4 A GLNDULA PINEAL30 ESTRUTURA E METODOLOGIA PARA GRUPOS DE PESQUISA MEDINICA49 O PERISPRITO SEGUNDO ALLAN KARDEC70 Obsesso: proposta de um projeto de pesquisa integrado94 OBSESSO: MTODO PARA UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRFICO----------106 OBSESSO: ROTEIRO PARA ESTUDO DE CASO120 OBSESSO: ATENDIMENTO INICIAL--128 PASSES: DISCUSSO E PROPOSTAS---146 Perisprito - Uma viso do sculo XX160 AGENDA ESPRITA: Identificando antigas e novas demandas para atualizar o Espiritismo--------173CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural---205 EPISTEMOLOGIA E CINCIA ESPRITA Contribuio para Debate---305 O PROCESSO DE MUDANAS DO ESPIRITISMO323 O QUE DISSE KARDEC? o espiritismo uma religio?----338 A FSICA NO ESPIRITISMO---344 COSMOLOGIA, EXOBIOLOGIA E ESPIRITISMO UM ESTUDO SOBRE A VIDA E O UNIVERSO----363 OS PRODUTOS DAS MANIFESTAES MEDINICAS COMO INSTRUMENTO DE PROVA EM PROCESSOS JUDICIAIS---379 Reinaldo Lucia-(pesquisa esprita)--395

O MTODO DE ESTUDO DE CASO E SUA APLICAO


EM PESQUISA SOBRE O ANIMISMO
Jacira Jacinto da Silva e Mauro de Mesquita Spnola

1 INTRODUO ................................................................................ 2 2 AS ABORDAGENS DE PESQUISA CIENTFICA .................................................... 2


2.1 2.2 2.3 Mtodos quantitativos ....................................................................... 4 Mtodos qualitativos......................................................................... 4 Quando cada estratgia usada ........................................................... 5

3 O MTODO DE ESTUDO DE CASO .............................................................. 6


3.1 3.2 3.3 "Como" e "por que"............................................................................ 7 Etapas do mtodo de estudo de caso...................................................... 7 Limitaes do mtodo........................................................................ 8

4 ANIMISMO: UMA REVISO BIBLIOGRFICA .................................................... 8


4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 Kardec e o animismo ......................................................................... 9 O que animismo ............................................................................ 11 Espcies de fenmenos anmicos ......................................................... 15 Exemplos ...................................................................................... 16 O animismo no centro esprita ............................................................. 18
Como identificar o fenmeno anmico nas comunicaes Com que incidncia ocorre O que tem sido feito 18 19 20

4.5.1 4.5.2 4.5.3

4.6

Um questionamento ......................................................................... 20

5 UM EXEMPLO DE PROJETO DE PESQUISA: ANIMISMO ........................................ 23


5.1 Viso geral .................................................................................... 24
Questes 24 Proposies 24 5.1.1 5.1.2

5.2

Procedimentos de campo................................................................... 24

6 CONCLUSES .............................................................................. 25 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................... 25

Introduo
Este trabalho realiza uma pesquisa bibliogrfica sobre os principais mtodos de

pesquisa e discute sua aplicao na pesquisa esprita, com nfase no mtodo de estudo de caso. Os mtodos de pesquisa podem ser classificados em quantitativos (tambm chamados tradicionais) e qualitativos. Entre os mtodos qualitativos podemos citar a pesquisaao (realizada juntamente com uma ao ou resoluo de um problema, e onde os pesquisadores desempenham um papel ativo nessa resoluo), e o estudo de caso. O estudo de caso documenta e analisa a atividade de uma organizao ou de um pequeno grupo dentro dela. Estuda situaes onde as fronteiras entre o fenmeno e seu contexto no so claras. utilizado como estratgia quando questes do tipo "como" e "porque" so colocadas, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco sobre um fenmeno contemporneo dentro de um contexto real. O mtodo de estudo de caso recebe ateno especial, sendo apresentado e analisado com maior detalhe. So vistas as suas etapas fundamentais, alm de alguns exemplos de aplicao em algumas reas de pesquisa. A aplicabilidade deste mtodo em pesquisa esprita discutida, com nfase nas vantagens, dificuldades e riscos de sua utilizao na rea. O trabalho se encerra com um exemplo de projeto de pesquisa de estudo de caso, cujo foco o estudo do animismo. Visando a preparao deste protocolo apresentada uma reviso bibliogrfica sobre esse tema ainda pouco explorado.

As abordagens de pesquisa cientfica


Ao propor uma discusso sobre o problema do mtodo na pesquisa esprita, h a

necessidade de levantar uma questo prvia: qual a diferena entre pesquisa cientfica e senso comum? Pervez Ghaury e outros, ao destacar essa questo em seu estudo sobre a pesquisa na rea de administrao concluiu que1: a pesquisa no muito diferente da soluo de problemas prticos, pesquisa diferente de senso comum porque feita sistematicamente, visa alcanar objetivos especficos e baseia-se em mtodos especficos, o processo de pesquisa (que envolve decidir o que fazer, coletar informaes, descartar informaes irrelevantes, analisar as informaes relevantes e buscar uma concluso de forma sistemtica) pode ser aplicado para qualquer processo de acumulao de conhecimento, a diferena entre uma observao cientfica e uma observao baseada em posio pessoal que a pesquisa cientfica feita sistematicamente e baseada na lgica, no em crenas. As concluses de Ghaury, anlogas s expostas por estudiosos de outras reas, podem ser aplicadas tambm para o contexto da pesquisa esprita. O pesquisador de qualquer rea possui crenas, experincia, e precisa, apesar disso, estabelecer um processo de pesquisa

Pervez Ghaury. Research methods in business studies: a practical guide. p. 5-6

baseado na lgica e instrumentos objetivos (no subjetivos) de anlise. A pesquisa deve ser, portanto, impessoal. A segunda concluso, em particular, muito relevante para a pesquisa esprita, j que seu objeto de estudo a alma dos vivos e o esprito dos mortos tem natureza peculiar e seu estudo necessita de mtodo adequado, observao j feita por Kardec:
As cincias ordinrias assentam nas propriedades da matria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenmenos espritas repousam na ao de inteligncias dotadas de vontade prpria e que nos provam a cada instante no se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observaes no podem, portanto, ser feitas da mesma forma; requerem condies especiais e outro ponto de partida. Querer submet-las aos processos comuns de investigao estabelecer analogias que no existem. 2

Herculano Pires complementa o alerta kardequiano mostrando que essa questo est tambm presente em outras reas:
Encarando a obra de Kardec pelo seu aspecto cientfico, sem os preconceitos que tm impedido a sua justa avaliao, ela nos parece inatacvel. Alega-se que o seu mtodo de pesquisa no era cientfico, mas foi ele o primeiro a explicar que no se podiam usar na pesquisa psquica os mtodos das cincias fsicas. O desenvolvimento da Psicologia provaria mais tarde que Kardec estava com a Razo.3

Alm da Psicologia, tambm as cincias sociais, a economia, a medicina, a antropologia e outras disciplinas cientficas necessitam, pela particularidade de seu objeto de estudo, de mtodos especficos. Ghaury mostra tambm que h dois caminhos para estabelecer o que verdadeiro ou falso e desenhar concluses4,5: pela induo, tiramos concluses gerais a partir de observaes empricas (quando usamos fatos para gerar uma teoria a ele consistente, estamos usando um pensamento indutivo, muitas vezes o primeiro passo numa pesquisa cientfica), pela deduo, tiramos concluses baseados em princpios e leis, a partir de raciocnio lgico, procurando observar as conseqncias especficas de uma teoria formulada.
"A diferena [entre deduo e induo] que fatos adquiridos atravs de observaes levamnos a teorias e hipteses, enquanto com a deduo (anlise lgica) ns aceitamos ou rejeitamos as hipteses".6

Ghaury estuda ainda como abordar um problema de pesquisa, concluindo que duas questes devem ser respondidas pelo pesquisador: qual o problema e como deve proceder para resolver o problema7.
2 3 4 5

Allan Kardec. O livro dos espritos. p. 28-29. Jos Herculano Pires. Introduo filosofia esprita. p. 25

Pervez Ghaury e outros. Research methods in business studies: a practical guide. p. 5. David Nakano e outros. Mtodos de pesquisa na Engenharia de Produo. p. 2. 6 Pervez Ghaury e outros. Research methods in business studies: a practical guide. p. 6.

Uma das maiores dificuldades da pesquisa est na clara caracterizao de seu objetivo (relacionado primeira questo). O foco especfico deste trabalho o de contribuir com a soluo da segunda questo, apresentando um dos mtodos aplicveis pesquisa esprita: o de estudo de caso. Antes de apresentar o mtodo de estudo de caso, os prximos itens apresentam, de forma sucinta, os mtodos de pesquisa, que podem ser classificados em quantitativos (tambm chamados tradicionais) e qualitativos.

2.1 Mtodos quantitativos


Os mtodos quantitativos utilizam-se de um processo cclico bem estruturado, cujas fases principais so8: teoria (formulao de explicaes acerca de algum aspecto da realidade), hiptese (formulada pelo uso da deduo, que apresenta uma relao causaefeito e possui conceitos que possam ser medidos), observaes e coleta de dados, anlise dos dados, concluses, nova teoria e assim por diante. Os mtodos mais ligados a esse tipo de pesquisa so: a pesquisa experimental (que faz o teste de hipteses atravs de um experimento controlado no laboratrio ou no campo, realizado de forma a produzir os dados necessrios), e o survey (que objetiva tambm a coleta de dados, mas sem a interveno do pesquisador; a anlise de dados exige tratamento estatstico).

2.2 Mtodos qualitativos


Os mtodos qualitativos, que tm sido fortemente utilizados nas cincias sociais e, mais recentemente, em outras reas como a economia, possuem caractersticas que as diferenciam dos tradicionais, entre as quais destacam-se9: a nfase na pessoa que est sendo pesquisada (sobretudo sua interpretao), a importncia do contexto do grupo ou organizao pesquisados, a proximidade do pesquisador em relao aos fenmenos estudados e um quadro terico menos estruturado. Entre os mtodos qualitativos podemos citar a pesquisa-ao e o estudo de caso. Este est discutido com mais detalhes no prximo captulo. A pesquisa-ao realizada juntamente com uma ao ou resoluo de um problema. Os pesquisadores desempenham um papel ativo nessa resoluo. Thiollent descreve o mtodo de pesquisa-ao da seguinte maneira:

7 8

Idem. ibidem. p. 11. Alan Bryman. Research methods and organizations studies. 9 Idem. ibidem.

"A pesquisa-ao um tipo de pesquisa social com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (...) Na pesquisa-ao os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e na avaliao das aes desencadeadas em funo dos problemas. Sem dvida, a pesquisa-ao exige uma estrutura de relao entre pesquisadores e pessoas da situao investigada que seja de tipo participativo.10

A pesquisa-ao pode tambm ser aplicada em pesquisas espritas. Os prprios dirigentes de um grupo medinico, por exemplo, podem conduzir uma pesquisa sobre determinado fenmeno com uso desse mtodo. Em trabalho futuro esse mtodo deve ser mais detalhadamente abordado.

2.3 Quando cada estratgia usada


O mtodo de pesquisa deve ser adequado aos objetivos da pesquisa e ao objeto de estudo. Segundo Robert Yin11, h trs condies a satisfazer: a) o tipo de questo de pesquisa proposto, que pode ser representado pela conhecida srie quem, o que, onde, como e por que (v. exemplos no Quadro 1) b) a extenso de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais efetivos e c) o grau de enfoque em acontecimentos histricos em oposio a acontecimentos contemporneos.

Quadro 1 Tipos de questes de pesquisa e exemplos


Tipo de questo de pesquisa Quem
o que

Exemplos
Quem so os espritos que participam das reunies de determinado grupo medinico? O que pode ser feito para tornar os centros espritas mais eficazes? Quais foram os resultados da reorganizao administrativa dos cursos de espiritismo?

Onde Como

Onde se fazem reunies medinicas com mtodos consistentes com o mtodo kardequiano? Como se realiza a influncia do esprito obsessor sobre uma pessoa? Como determinado grupo de cura conseguiu alcanar certos resultados?

por que

Por que os mdiuns chamados de inconscientes no se lembram do teor das comunicaes?

10 11

Michel Thiollent. Metodologia da pesquisa-ao. p. 14-15. Robert K. Yin. Estudo de caso: planejamento e mtodos. p. 24 e sgs.

So apresentadas no Quadro 2 as trs condies, relacionando-as a cinco estratgias de pesquisa.

Quadro 2 Situaes relevantes para diferentes estratgias de pesquisa12


Estratgia de pesquisa Experimento Levantamento Anlise de arquivos Pesquisa histrica Estudo de caso Forma de questo de pesquisa como, por que quem, o que, onde, quantos, quanto que, o que, onde, quantos, quanto como, por que como, por que Exige controle sobre eventos comportamentais? sim no no no no Focaliza acontecimentos contemporneos? sim sim sim/no no sim

O mtodo de estudo de caso


O mtodo de estudo de caso tem sido usado, de forma mais ou menos sistemtica e

meticulosa em vrias reas de pesquisa, tais como cincia poltica, sociologia, psicologia, administrao, antropologia, histria, economia etc. No entanto, h ainda um esteretipo em relao a ele, como ressalta Yin:
"O estudo de caso h muito foi estereotipado como o 'parente pobre' entre os mtodos de cincia social. Os pesquisadores que realizam estudos de caso so vistos como se tivessem sido desviados de suas disciplinas acadmicas, e suas investigaes como se tivessem preciso (ou seja, quantificao), objetividade e rigor insuficientes."13

Yin aponta o paradoxo entre esse esteretipo e o uso to freqente: "se o mtodo de estudos de caso apresenta srias fragilidades, por que os pesquisadores continuam a utilizlo?"14 Ele considera que esse esteretipo est equivocado, carecendo apenas que o mtodo seja melhor compreendido, e aplicado de forma adequada. O estudo de caso documenta e analisa a atividade de uma organizao ou de um pequeno grupo dentro dela. Estuda situaes onde as fronteiras entre o fenmeno e seu contexto no so claras. Yin assim define estudo de caso:
"Um estudo de caso uma investigao emprica que o o investiga um fenmeno contemporneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos.".15

12 13 14

Idem. ibidem. p. 24

Idem. ibidem. p. xi. Idem. ibidem. p. xi. 15 Idem. ibidem. p. 32.

O contexto, como fica claro, tambm objeto de investigao, tanto quanto o fenmeno estudado. As interrelaes entre o fenmeno e o contexto so observadas e analisadas. Em contraste, o mtodo tradicional da experimentao, por exemplo, deliberadamente separa um fenmeno de seu contexto este "controlado em laboratrio" dedicando ateno a algumas variveis. Yin observa que comumente h na investigao de estudo de caso uma situao tecnicamente nica: muito mais variveis de interesse do que pontos de dados. Necessita assim se basear em vrias fontes de evidncias, com os dados precisando convergir na investigao. O estudo de caso beneficia-se do desenvolvimento prvio de proposies tericas para dar direo coleta e anlise de dados.

3.1 "Como" e "por que"


Muitas pesquisas tradicionais utilizam questes exploratrias (ex. "o que pode ser feito para melhorar os servios pblicos") e/ou quantificadoras (ex. "quais foram as reaes das pessoas depois das mudanas"). So questes do tipo "o que". Os estudos de casos (tanto quanto alguns outros mtodos no expostos aqui) aplicam-se com propriedade em situaes em que questes explanatrias (do tipo "como" e "por que") so formuladas. "Isso se deve ao fato de que tais questes lidam com ligaes operacionais que necessitam ser traadas ao longo do tempo, em vez de serem encaradas como meras repeties e incidncias."16 Nos estudos de casos o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e o foco sobre um fenmeno contemporneo dentro de um contexto real. Este mtodo visa pesquisar eventos da vida real que no possam ser desvinculados de seu contexto mais amplo. H estudos de caso nico e de casos mltiplos.17 O estudo de caso nico que apresenta um nico caso para um dado problema e referencial terico normalmente utilizado quando se analisam fenmenos de ocorrncia rara ou de difcil observao. J o estudo de casos mltiplos se baseia em replicaes de um dado fenmeno.
A vantagem do uso de casos mltiplos reside no fato de que estes proporcionam evidncias inseridas em diferentes contextos, o que acaba tornando a pesquisa como um todo mais robusta.18

3.2 Componentes do mtodo de estudo de caso


O desenvolvimento de um projeto de pesquisa uma etapa difcil no desenvolvimento de estudos de casos, pois o mtodo ainda no foi sistematizado.19 O projeto de pesquisa pode ser visto como um plano de ao para se sair de um conjunto inicial de questes a serem respondidas e chegar s concluses (respostas) sobre essas questes. Segundo Nachmias, um projeto de pesquisa um plano que conduz o pesquisador atravs do processo de coletar, analisar e interpretar observaes. um modelo lgico de provas que lhe permite fazer inferncias relativas s relaes causais entre as variveis sob investigao. O projeto de
16 17 18

Idem. ibidem. p. 25.

Srgio G. Lazzarini. Estudos de caso: aplicabilidade e limitaes do mtodo para fins de pesquisa. p. 21. Idem. ibidem. p. 21 19 Robert K. Yin. Estudo de caso: planejamento e mtodos. p. 40.

pesquisa tambm define o domnio da generalizao, isto , se as interpretaes obtidas podem ser generalizadas a uma populao maior ou a situaes diferentes.20 Yin destaca cinco componentes importantes para um projeto de pesquisa de estudo de caso, a saber21: as questes de um estudo (na forma quem, o que, onde, como ou por que, veja Quadro 1), suas proposies, se houver (as questes, embora possuam a essncia do que se deseja responder, no apontam para aquilo que se deve estudar: as proposies auxiliam a seguir na direo certa, levantando hipteses a serem trabalhadas) sua(s) unidade(s) de anlise (exs. um certo mdium, um determinado grupo medinico, um certo tipo de pessoas etc.) a lgica que une os dados s proposies, ou seja, como os dados devem ser analisados, os critrios para se interpretar as descobertas, que subsidiam as decises necessrias para comparar duas proposies concorrentes.

3.3 Limitaes do mtodo


Alguns estudiosos do mtodo de estudo de caso apontam suas principais limitaes : altamente sujeito s anlises intuitivas e incontrolveis, relativamente fcil de ser executado sem maiores preocupaes metodolgicas, exige maior habilitao do pesquisador, a amostra em geral pequena, dificultando tratamento estatstico. Apesar dessas dificuldades, o mtodo de estudo de caso, sistematicamente aplicado, permite uma compreenso profunda das interrelaes de um problema, tornando-se muito til sobretudo quando o objetivo auxiliar na elaborao ou no aprimoramento de teorias.23
22

Animismo: uma reviso bibliogrfica


Quanto mais se aprofunda no estudo do espiritismo, mais se identifica a importncia

do seu contedo filosfico, mais se descobre a utilidade dos seus conceitos e se constata como as conseqncias morais extradas do objeto de observao desta cincia podem provocar efetivas mudanas no pensamento humano. O que surgiu de novo com a descoberta do espiritismo no foi o fenmeno medinico, como por demais sabido, pois o mesmo tem sido referido em toda a histria da humanidade, bastando ver a meno feita no velho testamento proibio de Moiss

20 21 22

Nachmias & Nachmias, 1992, p. 77-78. Apud Robert K. Yin. Estudo de caso: planejamento e mtodos. p. 41.

Robert K. Yin. Estudo de caso: planejamento e mtodos. p. 42. Srgio G. Lazzarini. Estudos de caso: aplicabilidade e limitaes do mtodo para fins de pesquisa. p. 24. 23 Idem. ibidem. p. 24.

comunicao com os mortos. No obstante, no se pode olvidar que o espiritismo nasceu a partir dos fenmenos medinicos, representando eles a porta de entrada do homem de cincia ao mundo do invisvel. A mediunidade , portanto, por excelncia, o objeto de pesquisa da cincia esprita, de modo que todas as possveis questes a ela inerentes devem merecer a ateno do pesquisador esprita. Vale anotar que pessoas msticas interessam-se pela mediunidade, porm o fazem em razo do gosto pelo sobrenatural, como se o fenmeno representasse uma possibilidade de derrogao da lei natural. Em decorrncia do apego mediunidade como prtica religiosa, elemento integrante de uma seita diferente, capaz de lidar com entes no acessveis aos religiosos comuns, a crena ganhou muitos adeptos, em sua maioria despreparados para experimentar, estudar e desenvolver a pesquisa necessria do fenmeno. Conseqncia lgica foi o aparecimento de mistificaes, engodo por parte dos prprios espritos e a incapacidade de discernir o autntico PCM - Processo de Comunicao Medinica. O animismo surgiu como alternativa para explicar mistificaes, sugerindo alguns que o prprio mdium apresentasse uma mensagem sua, forjando tratar-se de comunicao medinica. Isso, absolutamente, no seria animismo. Tratar-se-ia de mistificao mesmo, eis que o fenmeno anmico confirma o fenmeno medinico e lhe d ainda mais autenticidade. Necessrio distinguir, portanto, o animismo do PCM. Para tanto, apresenta-se a proposta de rever a bibliografia tradicional, no apenas para buscar informaes eventualmente no percebidas, mas, tambm, com o fim de revisitar os conceitos, examinar os exemplos, buscar produes literrias mais atuais, tentar identificar casos atuais e, quem sabe, oferecer alguma contribuio ao estudo do tema.

4.1 Kardec e o animismo


Embora Allan Kardec no tenha utilizado a expresso animismo, tratou do tema em O Livro dos Mdiuns, Cap. XIX - Do papel do mdium nas comunicaes espritas. Neste ponto da obra, Kardec discorre sobre a influncia do esprito pessoal do mdium, apresentando indagao: As comunicaes escritas ou verbais tambm podem emanar do prprio Esprito encarnado no mdium?, a seguinte resposta:
A alma do mdium pode comunicar-se, como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Esprito. Tendes a prova disso nas visitas que vos fazem as almas de pessoas vivas, as quais muitas vezes se comunicam convosco pela escrita, sem que as chameis. Porque, ficai sabendo, entre os Espritos que evocais, alguns h que esto encarnados na Terra. Eles, ento, vos falam como Espritos e no como homens. Por que no se havia de dar o mesmo com o mdium?. 24

Ernesto Bozzano, em sua clssica obra Animismo ou Espiritismo? procurou demonstrar que as comunicaes medinicas entre vivos provam a realidade das comunicaes medinicas com os defuntos, o que confirma a resposta encontrada em O Livro dos Mdiuns questo: No parece que esta explicao confirma a opinio dos que entendem que todas as comunicaes provm do Esprito do mdium e no do Esprito estranho? indagao, Allan
24

Allan Kardec. O livro dos mdiuns. 55 ed. Trad. Guillon Ribeiro 49 ed. Francesa. Rio de Janeiro: FEB, 1987, p. 260.

10

Kardec apresenta a seguinte resposta: Os que assim pensam s erram em darem carter absoluto opinio que sustentam, porquanto fora de dvida que o Esprito do mdium pode agir por si mesmo. Isso, porm, no razo para que outros no atuem igualmente, por seu intermdio.25 Antecipando o estudo que seria feito depois por Bozzano, Kardec adiantou algumas consideraes sobre fatos da vida cotidiana que mereceriam explicao racional mais tarde, no aprofundamento do tema, especialmente, quando se referiu s crises sonamblicas e extticas. Kardec referiu-se a esses fenmenos, para explicar que o esprito do mdium pode haurir nas profundezas do seu prprio eu as idias que parecem fora do alcance da sua instruo, relativas a conhecimentos adquiridos em existncias anteriores, esquecidos debaixo do envoltrio corporal, mas dos quais pode se lembrar como esprito. Em O Livro dos mdiuns Kardec26 explica que as comunicaes anmicas podem ser mais elevadas do que as provenientes de outros espritos, lembrando que so ditas coisas muito boas na experincia sonamblica. Ensinou, com isso, que o mdium pode servir comunicao de esprito menos evoludo, o que se v amide. Kardec tambm fez uma sntese do assunto no volume denominado Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas, publicado em 1858, um ano depois da primeira edio de O Livro dos Espritos. Em seu captulo VI, titulado Papel e Influncia do Mdium nas Manifestaes, traz a seguinte orientao:
Ns diremos, pois, que pode acontecer que a alma do mdium se comunique como o faria um Esprito estranho. E isso se concebe facilmente. Visto que podemos evocar o Esprito de pessoas vivas, ausentes e presente, e como esse Esprito se comunica pela escrita ou pela palavra do mdium, por que o Esprito encarnado no mdium no se comunicaria igualmente? Os fatos provam que, em certas circunstncias, isso se d, como no sonambulismo, por exemplo. Segue-se da que a comunicao feita pela alma do mdium tenha menos valor? De modo algum. O Esprito encarnado no mdium pode ser mais elevado do que certos Espritos estranhos e, assim, dar comunicaes. Compete-nos julgar. Neste caso ele fala como Esprito desligado da matria, e no como homem.27

Referida publicao, destinada iniciao prtica, foi substituda em 1861 por O Livro dos Mdiuns. Em O livro dos Espritos Kardec dedica um captulo inteiro ao assunto Emancipao da Alma, tratando dos temas: O sono e os sonhos; Visitas espritas entre vivos; Transmisso oculta do pensamento; Letargia, catalepsia, morte aparente; O sonambulismo; xtase e Dupla Vista. Uma das situaes de emancipao da alma, que deve ser entendida como uma espcie de libertao dos freios impostos pelo corpo fsico, acontece durante o sono, pois, segundo o Livro dos Espritos, pergunta 401, o Esprito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo no necessita do Esprito. Ento ele percorre o espao e entra em relao mais direta com os outros Espritos. 28

25 26 27

Ibidem, mesma pgina.

Ibidem, p. 261. Allan Kardec. Iniciao Esprita. 7 ed. Trad. Joaquim da Silva S.Lobo. Edicel: So Paulo, 1982, p. 327. 28 Allan Kardec. O livro dos espritos. 3 ed. Trad. J. Herculano Pires. Edicel: So Paulo, 1982, p. 187.

11

Trata-se, a emancipao da alma, de fenmeno anmico, ou seja, de manifestao do prprio esprito encarnado, porm de forma extra-corprea, ou fora da dimenso fsica, independentemente dos limites dos cinco sentidos inerentes vida orgnica. O livro dos espritos ensina que duas pessoas encarnadas, ou mais, podem visitar-se durante o sono, da mesma forma que um esprito, mesmo estando seu corpo em estado de viglia, pode comunicarse com outros Espritos. A lio permite compreender que no estado de catalepsia ou de letargia, mesmo revelando morte aparente, o esprito est consciente, embora no possa se comunicar pela inaptido dos rgos. O exemplo mais acessvel de animismo o fenmeno sonamblico, pelo qual o esprito encarnado se manifesta durante o sono do corpo fsico, revelando, muitas vezes, conhecimentos incorporados ao patrimnio cultural oculto do indivduo, ou porque o adquiriu em vidas passadas, ou porque os abstraiu da memria ou, ainda, por estar recebendo no exato momento da comunicao sonamblica. De igual forma, processa-se a emancipao da alma no xtase e no que Kardec denominou de dupla vista. Esta faculdade diferencia do sonambulismo e do sono, pois cuida da manifestao do esprito em maior liberdade, embora o corpo no esteja adormecido.

4.2 O que animismo


Aksakof designou pela palavra animismo todos os fenmenos intelectuais e fsicos que deixam supor uma atividade extra-corprea ou distncia do organismo humano, e mais especialmente todos os fenmenos medinicos que podem ser explicados por uma ao que o homem vivo exerce alm dos limites do corpo29. A definio afasta o mau vezo de se servir do fenmeno anmico unicamente para explicar possveis comunicaes no autnticas ou no espritas. O mesmo autor diz que, admitidas justificativas para a hiptese de uma comunicao com os mortos, o termo animismo ser aplicado a uma categoria especial de fenmenos, produzidos pelo princpio anmico (considerado como ser independente, razovel e organizador) enquanto est ligado ao corpo. Tentando oferecer subsdios para melhor compreenso do tema, Aksakof afirma que nesse caso a palavra Espiritismo compreender todos os fenmenos que podem ser considerados como manifestao desse mesmo princpio, porm desprendido do corpo. Por mediunismo entenderemos todos os fenmenos compreendidos no animismo e no Espiritismo, independentemente de uma ou de outra dessas hipteses.30 Jon Aizprua alerta para os vrios significados do termo animismo, de acordo com a disciplina que o esteja empregando. Ensina que em algumas escolas filosficas, o termo animismo usado para designar toda doutrina de natureza espiritualista. Na parapsicologia, adota-se o animismo como a hiptese fundamental que explica os fenmenos paranormais, de tal maneira que so produzidos por foras psquicas conscientes ou inconscientes dos seres vivos.31 Tambm na esteira dos clssicos, apontando Alexander Aksakof como introdutor da palavra, Aizprua afirma que no Espiritismo, o animismo designa certo estado de transe no qual quem est provocando e produzindo o fenmeno de efeitos psquicos ou fsicos o esprito do

29 30

Alexandre Aksakof. Animismo e espiritismo. 1990, p. 229. Ibidem, p. 230. 31 Jon Aizprua. Os fundamentos do espiritismo. 2000, p. 150.

12

prprio ser encarnado e no o esprito do desencarnado, pois neste caso seria um fato medinico32. Gustavo Geley oferece importante contribuio, em seu Del inconsciente al consciente quando disserta sobre a criptomnsia. A palavra traduzida por memria subconsciente e reflete a exteriorizao de conhecimentos alheios capacidade intelectual consciente do indivduo. Corresponderia percepo extra-sensorial. Fala de exemplos em que determinada pessoa levada a retroagir no tempo at pocas das quais nada mais retm em seu psiquismo; no entanto, espontaneamente, ou por sugesto, recorda-se de tudo exatamente como viveu naquela poca. Diz Geley ser no mediunismo que a criptomnsia se manifesta em todo seu esplendor, podendo-se imagin-la como fonte insuspeita de muitas mensagens extraordinrias. Escreveu a respeito:
M. Flournoy cita una multitud de hechos que atribuye a la criptomnsia: mdiums describiendo la biografia de personajes desconocidos para ellos, que han podido conocer, no obstante, por una ojeada olvidada sobre el peridico que public tal biografia; mdiums hablando a trechos una lengua que les es ignorada, simplemente porque esos trechos o frases los leyeron u oyeron un dia cualquiera, que han olvidado, etc.33

Na seqncia da anlise que faz, Geley diz que fisiologicamente impossvel compreender como a memria consciente, submetida vontade e ao direcionamento do ser , eminentemente caduca, dbil, infiel, enquanto a memria subconsciente; que no acessvel seno por acidentes ou em estados anormais ou supranormais, parece to extensa e to infalvel. E conclui:
Sem embargo, assim . Mais ainda. A debilidade e a impotncia da memria normal so tais, que muitas vezes os conhecimentos ou capacidades subconscientes que escapam ao direcionamento do eu, parecem ser-lhe totalmente estranhos, e constituem no indivduo como verdadeiras segundas conscincias. Assim como surgem, da complexidade inquietante do subconsciente, no apenas o desdobramento, seno a multiplicao da personalidade.34

Ernesto Bozzano, o maior estudioso do tema, refutou todas as teorias levantadas ao seu tempo contra o espiritismo e se dedicou intensamente pesquisa dos fenmenos metapsquicos com o fim maior de demonstrar que o animismo prova o espiritismo. Afirmou ter procedido a incontveis experincias para fazer emergir, baseado em fatos, uma verdade metapsquica que, conquanto extremamente evidente, era esquecida pelos propugnadores da objeo ao espiritismo. Aludia ao fato de que:
(...) as provas de identificao espirtica, fundadas nas informaes pessoais fornecidas pelos defuntos que se comunicam, longe de serem as nicas que se podem conseguir para a demonstrao experimental da sobrevivncia, mais no so do que simples unidade de prova, entre as mltiplas provas que se podem extrair do conjunto dos fenmenos metapsquicos, mas, sobretudo, das manifestaes supranormais de ordem extrnseca as quais, de ningum dependendo, resultam independentes dos poderes da subconscincia. Tais por exemplo, os casos das aparies dos defuntos quando ainda no leito de morte e os
32 33

Ibidem, p. 151. Gustavo Geley. Del inconsciente al consciente. p. 105. 34 Idem. ibidem. p. 107.

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das aparies dos defuntos pouco depois da morte, assim como outras importantes categorias de fenmenos metapsquicos, que reuni e comentei no extensssimo e resolutivo Captulo V do presente trabalho.35

Andr Luiz reporta-se ao animismo como conjunto dos fenmenos psquicos produzidos com a cooperao consciente ou inconsciente dos mdiuns em ao. Fala de ocorrncias que podem repontar nos fenmenos medinicos de efeitos fsicos ou de efeitos intelectuais, com a prpria inteligncia encarnada comandando manifestaes ou delas participando com diligncia.36 Na seqncia do mesmo texto, Andr Luiz fornece um esclarecimento que parece pouco sustentvel hodiernamente. Afirma que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com os seus recursos e implementos caractersticos, como conscincia pensante e organizadora, fora do carro fsico. Sem qualquer pretenso de esclarecer o assunto, cabe aqui uma sucinta anlise. Os estudos mais abalizados sobre o perisprito informam que a conscincia pensante tem sede no esprito e no no perisprito como sugere o texto. Ademais, embora seja verdade que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se, a compreenso aparentemente mais sensata a de que o esprito se manifesta em um nico lugar ao mesmo tempo, por ser indivisvel. Quando acontece algum tipo de desdobramento, apenas o perisprito, pelas caractersticas materiais que possui, ora se tornando mais denso pela combinao de elementos ainda por ns desconhecidos, ora tornando-se mais rarefeito, desdobra-se; ou seja, o esprito uno e se manifestar apenas em um lugar, no se admitindo que se subdivida ou se manifeste em dois lugares ao mesmo tempo. Andr Luiz fornece uma explicao do processo de manifestao anmica, a partir das semelhanas existentes entre os vivos da terra e os vivos do alm. Afirma que:
(...) fcil anotar que a criatura na Terra partilha, assim, at certo ponto, dos sentidos que caracterizam a criatura desencarnada, nas esferas imediatas experincia humana, conseguindo, s vezes, desenfaixar-se do corpo denso e proceder como a Inteligncia desenleada do indumento carnal ou, ainda, obedecer aos ditames dos Espritos desencarnados como agente mais ou menos fiel de seus desejos37.

Neste contexto, mister citar o entendimento de Reinaldo Di Luccia na concluso do seu trabalho O perisprito, uma abordagem do sculo XX:
(O perisprito) No possui a funo de transmissor de sensaes do corpo para o Esprito ou de ordens no sentido inverso. Da mesma forma, no tem nenhuma atuao sobre a memria ou a inteligncia. No possui rgos nem nenhuma constituio semelhante, que so exclusivas do corpo fsico.38

Discorrendo sobre a alma e os diferentes estados do sono, Leon Denis analisa cuidadosamente vrios casos de animismo, colhidos em diversos laboratrios de pesquisas. Avalia que:

35 36 37

Ernesto BOZZANO. Animismo ou espiritismo: qual dos dois explica o conjunto dos fatos?

Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira, pelo Esprito de Andr Luiz. Mecanismos da mediunidade. 14 ed. p.163. Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira, pelo Esprito de Andr Luiz. Mecanismos da mediunidade. 14 ed. p.165. 38 Reinaldo Di Luccia. Perisprito, nova abordagem. p.28.

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As percepes da alma no sono so de duas espcies. Verificamos primeiramente a viso distncia, a clarividncia, a lucidez; vem depois um conjunto de fenmenos designados pelos nomes de telepatia e telestesia (sensaes e simpatias distncia). Compreende a recepo e transmisso dos pensamentos, das sensaes, dos impulsos motrizes. Com esses fatos relacionam-se os casos de desdobramentos e aparies designados pelos nomes de fantasmas dos vivos. Esses casos, teve a psicologia oficial de verific-los em grande nmero, sem os explicar(64). Todos esses fatos ligam-se entre si e formam uma cadeia contnua. Em princpio, constituem, no fundo, um s e mesmo fenmeno, varivel na forma e intensidade, isto , o desprendimento gradual da alma39.

Manuel Porteiro tambm aludiu aos fenmenos anmicos, alegando tratarem-se de fenmenos psicolgicos como tantos outros, mas que no entram no estreito limite da psicologia positiva e que no podem ser explicados pelos procedimentos empricos a ela inerentes. Escreveu sobre a percepo extra-sensorial nos seguintes termos:
Como um sujeito exterioriza sua fora motriz e pe em movimento, sem contato, objetos pesados? Como um sensitivo ou hipnotizado sente distncia a picada aplicada no ar ou na gua em que deixou impregnada sua sensibilidade? Como ouve o clariaudiente a voz psquica que impressiona sua alma sem ferir o rgo auditivo? Como, nos casos de autoscopia, o sujeito percebe o interior de seu prprio organismo e descreve minuciosamente a parte afetada de determinado rgo?Como uma pessoa, ainda em estado normal, pode transmitir mentalmente a outra uma ordem e esta ser cumprida exatamente? Como, nos fenmenos telepticos, em sonho ou estado de viglia, se transmitem e se recebem mensagens, avisos de doentes, vises simblicas, ou representativas de lugares, cenas, coisas ocultas, acidentes etc? Como, enfim, nos casos de previso e de sonhos premonitrios, chega-se a conhecer acontecimentos que, estando no futuro, no podem impressionar o crebro?40

Encontram-se orientaes importantes tambm na obra de Jaci Regis , que escreveu a respeito:
Os fenmenos anmicos e os fenmenos medinicos caminham paralelamente. Os fenmenos anmicos compreendem uma variedade de atuaes como, por exemplo, as comunicaes entre vivos, amplamente comprovadas e que incluem a telepatia e outros mecanismos de intercmbio mental. So tambm comuns as auto-comunicaes, discursos falados ou escritos do prprio mdium, em fenmeno de exteriorizao ou exaltao mental41.

Como estudou profundamente toda a filosofia esprita, Herculano Pires tambm escreveu sobre o animismo em diversas ocasies. Em seu O Homem Novo, ofereceu a seguinte contribuio:
O espiritismo explica a hipnose como o processo do desprendimento parcial do esprito, em sua ligao vital com o corpo. O esprito parcialmente liberto deixa o corpo em estado de sono, mas est mais acordado do que nunca. O sonmbulo, realmente, est super-acordado, como percebeu o psiquiatra Raikov. Mas no do ponto de vista materialista.

39 40

Leon Denis. O problema do ser, do destino e da dor. 1.989, p. 86. Manuel S. Porteiro. Espiritismo Dialtico. 2002. pp. 51-2. 41 Jaci Regis. Introduo doutrina kardecista. 1 ed. Santos: LICESP, 1997, p. 93.

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No se trata apenas do Hipnotismo. A explicao esprita, confirmada por numerosas experincias cientficas, rejeitadas pelos materialistas (mas que at hoje no sofreram contraprovas cientficas, sendo refutadas somente no campo terico) abrange muitos outros fenmenos ainda inexplicados, como todos os investigados pela Metapsquica e pela atual Parapsicologia. As reencarnaes de Raikov incidem no campo da regresso da memria, que precisamente uma das provas cientficas da reencarnao42.

4.3 Espcies de fenmenos anmicos


Importa ressaltar, de incio, que o fenmeno anmico encontra-se dentre aqueles denominados de metapsquicos ou paranormais. A metapsquica foi definida como a cincia que tem por objeto os fenmenos mecnicos ou psicolgicos, devidos a foras que parecem inteligentes ou a potncias desconhecidas latentes na inteligncia humana.43 Aisprua44 informa que Richet classificou o estudo da metapsquica em dois grupos: subjetiva e objetiva. No primeiro grupo colocou a criptestesia (faculdade de conhecimento diferente das formas sensoriais normais); a premonio (conhecimento de acontecimentos futuros); o desdobramento (separao temporal do organismo corporal de um duplo etreo ou corpo astral); a xenoglossia (faculdade que algumas pessoas possuem de expressar-se em idiomas que conscientemente desconhecem); a dupla personalidade (o sujeito adota a identidade de outra pessoa, comportando-se de maneira totalmente diferente da habitual) e mediunismo (faculdade de servir como intermedirio para que se manifeste um agente externo, comumente um esprito). Adotadas as consideraes j mencionadas, pode-se concluir que todos os fatos classificados por Richet como pertencentes metapsquica subjetiva, so obtidos atravs do animismo, ou, melhor, consistem-se em fenmenos anmicos. Quanto aos includos na classe da metapsquica objetiva, os de telecinesia (ao fsica sobre objetos ou pessoas que se produz distncia e sem contato, diferente das foras mecnicas conhecidas) e os de ectoplasmia (formao de objetos ou seres viventes a partir de uma substncia que sai do corpo do sujeito ectoplasma), no h elementos que autorizem afirmar a possibilidade de serem produzidos pelo esprito encarnado em estado de emancipao. Aizprua diz claramente: Atravs dessas idias, conveniente precisar que os fenmenos paranormais so de carter anmico e no medinico. Portanto so produzidos por foras inconscientes do ser humano encarnado.45. A prpria reminiscncia do passado pode ser considerada, de certa forma, fenmeno anmico, pois h hipteses em que o esprito encarnado revela um patrimnio intelecto-moral que absolutamente no reuniu na vida presente. Veja-se, a propsito, a meno feita por Nbor O. Facure: A memria extra-cerebral, acumulada no crebro espiritual, pode em condies especiais ser revelada, confirmando a multiplicidade das nossas personalidades, esclarecendo o privilgio das aptides inatas, principalmente da genialidade precoce de um Mozart, justificando a reencarnao at como uma questo de justia.46

42 43

J. Herculano Pires. O homem novo. 3 ed. So Bernardo do Campo-SP: Correio Fraterno do ABC, 1989, p. 102. Jon Aizprua. Histria da parapsicologia. Trad. Rubens Medran Moreira. So Paulo: CEJB, 2002, p. 137, apud Charles Richet. Trait de Mtapsychique. Livraria Flix Alcan. Paris, Frana, 1923, p. 2. 44 Ibidem, p.138. 45 Jon Aizprua. Os fundamentos do espiritismo. 2000, p. 153. 46 Nbor O. Facure. Muito Alm dos Neurnios. 2 ed. So Paulo: Associao Mdico Esprita de So Paulo, 1.999, p. 80.

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4.4 Exemplos
Os autores que se dedicaram ao estudo do tema tomaram por ponto de partida casos concretos e, por isso mesmo, a literatura especfica est bastante ilustrada com diversos exemplos. Alguns deles sero recordados neste espao. De incio, foram selecionadas algumas situaes interessantes que se passaram com William Stead, narradas por Ernesto Bozzano:
No ms de fevereiro transato (1893), encontrei-me no trem de ferro com um senhor a quem conhecera casualmente havia pouco. Sabia eu de modo geral que ele desde algum tempo se mostrava presa de graves preocupaes, de sorte que a nossa palestra tomou um aspecto confidencial, por onde vim a saber que as suas preocupaes eram de ordem financeira. Disse-lhe que ignorava se poderia ou no ser-lhe til, mas que, fosse como fosse, lhe pedia me confiasse francamente as condies em que se encontrava, quais os seus dbitos e os crditos ou a soma de que podia dispor. Respondeu que no se sentia com nimo de entrar nessas particularidades. Abstive-me de insistir. Na primeira estao, separamo-nos. (...) por volta das duas da manh, antes de meter-me na cama, sentei-me mesa e, dirigindo o pensamento pessoa em questo, ponderei-lhe: No tivestes a fora moral de declarar-me face a face quais eram as vossas condies financeiras; mas, agora, podeis confiar-me tudo, escrevendo com a minha mo. Dizei-me, pois, como vos encontrais. Quanto deveis? - Veio a resposta: Os meus dbitos montam a 90 libras esterlinas.- Havendo perguntado se era exata a soma escrita, repetiu com todas as letras: Noventa libras esterlinas.Perguntei: tudo? Sim e, em verdade, no sei o que poderei fazer para pag-las. Quanto pensais que podeis obter pela pequena propriedade de que me falastes? Conto obter 100 libras esterlinas; mas, talvez, seja muito. Em todo caso, preciso vendla por qualqur preo. Oh! Se pudesse achar com que ganhar a vida! Estou disposto a empregar-me seja no que for. De quanto necessita para viver? No creio que possa viver com menos de 200 libras esterlinas por ano, pois no sou s, poderia viver com 50 esterlinos; mas, h o aluguel da casa e o vesturio. Nunca chegarei a ganhar tal soma. No sei o que pensar. No dia imediato, fui procura do meu amigo. (...) expliquei-lhe sumariamente os mtodos de comunicao teleptico-medinica e acrescentei: No sei se alguma palavra de verdade h em tudo o que a minha mo escreveu e hesito em vo-lo comunicar, sobretudo porque penso que a cifra por mim grafada como montante das vossas dvidas extremamente exgua para ser verdadeira, tanto mais considerando a depresso moral em que estais. Assi, antes de tudo, vou ler-vos a cifra em questo. Se for exata, dar-vos-ei a conhecer o resto; se estiver errada, considerarei tudo como fruto de uma mistificao subconsciente, em que a vossa personalidade no entrou por coisa alguma. (...) antes que eu leia a mensagem, preciso que faais mentalmente o clculo do montante total das vossas dvidas, bem como da soma que esperais obter da venda da vossa propriedade, depois, o da soma que vos necessria anualmente para vos manterdes com a vossa famlia e, por fim, o da soma com que podereis viver se fosseis s ele se concentrou um momento e disse: J pensei em tudo isso. Saquei ento da mensagem e li: O montante das vossas dvidas de 90 libras esterlinas. Ele deu um salto e exclamou: Exato! Entretanto, 100 esterlinos foi a quantia em que pensei, porque inclu o dinheiro necessrio s despesas correntes. Em tudo o mais conferia. Segue-se, portanto, que a minha mo transcreveu com exatido o pensamento de uma pessoa do meu conhecimento distante de mim muitas milhas, poucas horas depois de me haver essa mesma pessoa escrito, desculpando-se de no ter tido a coragem de me confiar as informaes que lhe eu solicitara.

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Em vinte de setembro de 1893, William Stead, como de costume, encaminhou seu pensamento para Miss Summers, pedindo-lhe notcias. Imediatamente sua mo escreveu:
Hoje, para mim, um dia de tristes desiluses. Em pagamento de um trabalho que fiz, recebi soma muito inferior que eu esperava e com que contava, de modo que me encontro em aperturas econmicas assaz penosas. No quis plo ao corrente de tudo isto, porque bem sabia que me proveria do dinheiro necessrio, o que no quero. Tenho, entre outros, um dbito de trs libras esterlinas com o proprietrio da casa. No importa: hei-de consegui-las. Disse eu: Mandar-lhe-ei a soma de que necessita. Resposta imediata; No, no aceitarei e h devolverei. Tenho a minha altivez e no quero parecer uma colaboradora mercenria. No dia seguinte mandei a Miss Summers uma pessoa que gozava de toda a sua confiana e vim a saber que ela, efetivamente, se achava nas dificuldades econmicas de que me informara mediunicamente. Quando, porm, soube por que meio eu fora informado de seus embaraos econmicos, ficou extremamente desgostosa (Proceedings, vol. IX, pg. 54).

Aksakof cita vrios casos de comunicaes feitas por pessoas vivas durante o sono, dos quais alguns merecem transcrio para nossas reflexes. So eles:
1 - Conta que recebeu de Wsevolod Solovioff a seguinte estria escrita: Certa noite em que eu me tinha demorado em uma conversao com amigos, senti de novo, s 2 horas da manh, esse desejo irresistvel de escrever. Tomei o lpis e pedi a uma pessoa de minha amizade, a Ser. P., que o segurasse ao mesmo tempo. Pusemonos assim a escrever simultaneamente. A primeira palavra foi: Vera. nossa pergunta: Que Vera? Obtivemos por escrito o nome de famlia de uma jovem minha parenta, com cuja famlia eu tinha reatado relaes recentemente, depois de uma interrupo muito prolongada. Surpreendemo-nos, e, para ficarmos bem certos de que no nos enganamos, perguntamos: realmente Vera M.? Recebemos esta resposta: Sim. Durmo, mas estou aqui, e vim para dizer-vos que nos veremos amanh no Passeio de Vero. Ento deixei o lpis e em seguida nos separamos. No dia seguinte, (...). Nunca, durante o inverno, tinha passeado nesse parque.Convm dizer, tambm, que eu no pensava mais no que se tinha passado na vspera, em nossa sesso esprita. Julgai de minha surpresa, quando, apenas transposto em alguns passos a grade do Passeio de Vero, eu me achei face a face com a jovem Vera M., que passeava com a sua dama de companhia. Ao ver-me, a jovem Vera M. perturbou-se visivelmente, tanto quanto eu mesmo, alis, pois que a nossa sesso da vspera me voltou subitamente ao esprito. Trocamos um aperto de mo e nos deixamos sem dizer palavra. 2 Alguns dias depois, deu-se um fato semelhante e nas mesmas condies: na sesso, minha mo escreveu o nome de Vera, e em seguida nos foi anunciado que ela passaria por nossa casa no dia seguinte s 2 horas. Efetivamente, hora indicada, ela se apresentava em nossa casa, com a sua me, para fazer-nos uma visita. Esses fatos no se renovaram mais. 3 A 20 de julho de 1858, uma moa, Sofia Swoboda, achava-se com a sua famlia mesa, (...). Bruscamente se lembrou de no ter desempenhado a sua tarefa, a traduo de um texto francs para o alemo, e que deveria estar pronto para o dia seguinte pela manh. Que fazer? Era muito tarde para entregar-se ao trabalho: cerca de 11 horas; ela

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estava, alm disso, muito fatigada. Nessa preocupao, a jovem Soboda deixou os companheiros e isolou-se no quarto vizinho, pensando em sua incmoda distrao, que ela lamentava tanto mais quanto era certo que votava estima particular sua mestra. Mas eis que, sem aperceber-se, e at sem experimentar surpresa alguma, Sofia persuade-se achar-se em presena da Sra. W., a mestra em questo; dirige-lhe a palavra, d-lhe parte, em tom jovial, da causa de seu pensar. Subitamente a viso desaparece e Sofia, de nimo calmo, volta reunio e conta aos convivas o que lhe sucedeu. No dia seguinte, a Ser. W. chega hora precisa e previne Sofia, imediatamente, que est ciente de que o seu tema no est pronto, e faz a narrao seguinte em presena da me de Sofia: na vspera, s 10 horas da noite, ela tinha lanado mo do lpis, para comunicar-se com o finado seu marido, por meio da escrita automtica, como tinha por hbito fazer; mas dessa vez, em lugar de traar o nome desejado e esperado, o lpis tinha comeado a formular palavras em alemo, em uma escrita que reconhecera ser a de Sofia; eram termos graciosos, exprimindo descontentamento a respeito do tema que no tinha sido feito, por esquecimento. A Sra. W. mostrou o papel, e Sofia pde convencer-se de que no somente a escrita era a sua, mas ainda que as expresses eram as que ela tinha empregado em sua fictcia conversao com a mestra. A jovem Sofia Swodoba, atesta que a Ser. W. pessoa de grande sinceridade incapaz de proferir a menor mentira (Psychische Studien, 1879).

4.5 O animismo no centro esprita


4.5.1 Como identificar o fenmeno anmico nas comunicaes
Pelo que se depreende da lio de Manoel Philomeno de Miranda, em maior ou menor grau, sempre existir o componente anmico no processo medinico, pois afirma que em si mesmo, o animismo ponte para o mediunismo que a prtica do intercmbio termina por superar. Todavia, vale a pena ressaltar que no fenmeno anmico ocorrem os de natureza medinica, assim como nos medinicos sucedem aqueles de carter anmico. Esclarece que qualquer artista, ao expressar-se, na msica, sempre depender do instrumento de que se utilize. O som provir do mecanismo utilizado, embora o virtuosismo proceda de quem o acione. Nessa linha de raciocnio, fecha seu posicionamento de que a interferncia anmica inafastvel no transe medinico, ao menos no estgio de experincia em que nos encontramos, afirmando que os valores intelectuais e morais do mdium tm preponderncia na ocorrncia fenomnica, porquanto sero os seus conhecimentos, atuais ou passados, que vestiro as idias transmitidas pelos desencarnados47. Na mesma esteira, ensinou Herculano Pires: os instrumentos da pesquisa esprita, como dizia Kardec, so os mdiuns, instrumentos de extrema sensibilidade e complexidade. Todos os mdiuns esto sujeitos a interferncias anmicas nas comunicaes que transmitem48. Em pesquisa anterior sobre o Centro Esprita, Mauro de Mesquita Spinola observou a importncia do estudo aprofundado do animismo no processo de desenvolvimento da mediunidade. Asseverou, apoiado nos autores clssicos que prosseguiram estudando o tema, e no prprio Kardec: o mdium que transmite mensagem de seu prprio esprito, quando em

47 48

Manoel Philomeno de Miranda. Qualidade na prtica mediniuca. 2000, p. 28. J. Herculano Pires. Curso dinmico de espiritismo o grande desconhecido. 2.000, p. 67.

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estado de emancipao, realiza um fenmeno anmico medinico. Neste trabalho, no item 1.6, levanta-se um questionamento sobre essa questo, por parecer mais coerente a concluso de que uma alma emancipada do corpo pode comunicar-se, mas o fenmeno seria de animismo puro ou no medinico. Os autores evidenciaram bem a questo relacionada com a interferncia do mdium na comunicao medinica, levando a crer que o compromisso srio com a mediunidade, o seu exerccio responsvel, o estudo e a observao constantes podero melhorar a qualidade das comunicaes, minimizando a influncia do intermedirio. Com efeito, j se pode dispor na literatura esprita, com uma boa orientao terica a respeito. O mesmo no ocorre, entretanto, com a questo das comunicaes anmicas puras ou no medinicas, pois os recursos para identific-las, diferenciando-as de outras comunicaes, so praticamente inexistentes.

4.5.2 Com que incidncia ocorre


Corroborando o pensamento predominante de que a compreenso do animismo indispensvel para um proveitoso estudo e desenvolvimento da mediunidade, Mauro Spinola afirmou:
Kardec estudou esse caso e concluiu que esse assunto sutil e delicado, necessitando muitas observaes e meditaes antes de se concluir qualquer coisa sobre a natureza de determinado fenmeno. Concluiu tambm que generalizada e natural a influncia do mdium nas comunicaes. Isso nos leva necessidade de rever duas posies: por um lado, o descuido na identificao dos fenmenos medinicos de natureza anmica e, por outro, o preconceito em relao a mdiuns que apresentam caractersticas anmicas, confundindo-os com charlates49.

Importante lio do psiclogo esprita Jaci Regis alerta sobre a interao espritomdium durante o transe medinico. Escreveu que a caracterstica dos mecanismos medinicos no admite a passividade total do mdium. Nem podem ser esquecidos fatores psicolgicos da personalidade do mdium. Logo, preciso, de qualquer forma, analisar, investigar, submeter qualquer produo medinica, de quem quer que seja, aos critrios estabelecidos pelo prprio Kardec para a avaliao da mediunidade.50 Como se v, indispensvel saber a qualidade do trabalho medinico desenvolvido no centro esprita, no s para se poder utilizar este meio de estudo, pesquisa e desenvolvimento do conhecimento, mas, tambm, pela responsabilidade que todo centro esprita tem de dignificar a doutrina esprita, no permitindo que prticas aleatrias, msticas, contrrias proposta de Kardec, denigram o espiritismo. Mais que isso, a mediunidade no pode servir dentro de um centro esprita, em nenhuma hiptese, a qualquer interesse particular e desvinculado do compromisso de contribuir para o crescimento e a melhora da humanidade. Sem uma anlise criteriosa das manifestaes medinicas, esses objetivos no podem ser alcanados, a comear pela ausncia de conhecimento sobre os tipos de fenmenos que se produzem nos trabalhos medinicos. importante ter informao segura sobre eventuais mensagens anmicas, sua qualidade, sua periodicidade, as causas que as determinam etc.

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Mauro de M. Spinola. Centro esprita: uma reviso estrutural. 1997, p. 46. Jaci Regis. Introduo doutrina kardecista. 1 ed. Santos: LICESP, 1997, p. 90.

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4.5.3 O que tem sido feito


Quantos centros espritas esto catalogando, nos trabalhos de mediunidade, as comunicaes anmicas? Mesmo sem nenhuma informao concreta a respeito, s pela inexistncia de literatura, artigos, palestras ou qualquer tipo de evidncia do tema, pode-se supor que essa preocupao rara. O presente trabalho tem o objetivo de propor uma pesquisa que venha fornecer maior clareza nesta questo e, quem sabe, oferecer orientao mais objetiva para o enfrentamento de um trabalho que precisa ser praticado nos centros espritas, porm, por falta de recursos, permanece margem das atividades dirias nos grupos medinicos. No existem elementos que autorizem afirmar a inexistncia de trabalhos neste campo, mas, da mesma forma, a concluso contrria tambm seria temerria por falta de informao. O que se v comumente o total desprezo e a completa falta de compromisso com o estudo e a pesquisa em torno dos trabalhos medinicos. Pior, sempre que um integrante do centro esprita critica as mensagens ou a postura dos mdiuns cria-se um melindre que acaba sempre com o rompimento dos laos afetivos e o afastamento do mdium.

4.6 Um questionamento
Sem embargo do reconhecimento obtido pelos clssicos estudiosos do tema, bem assim da autoridade que lhes conferem as intensas pesquisas realizadas com seriedade e persistncia, parece no estar claro o entendimento de alguns autores contemporneos, a exemplo tambm do que defenderam os clssicos, de que h sempre mediunismo no animismo, ainda que a mensagem provenha do prprio esprito encarnado responsvel pela sua transmisso. A dvida levantada neste trabalho nasce do pensamento discordante neste ponto, por entender que possvel ocorrer uma manifestao anmica sem o concurso de mdium ou intermedirio. O prprio Aksakof escreveu: Para mim a luz s comeou a despontar no dia em que meu ndice me forou a introduzir a rubrica de Animismo, isto , quando o estudo atento dos fatos me obrigou a admitir que todos os fenmenos medinicos, quanto ao seu tipo, podem ser produzidos por uma ao inconsciente do homem vivo.51 A anlise dessa explicao e de outras tantas parece sugerir que os mesmos fenmenos medinicos at ento conhecidos poderiam igualmente se produzir pelo prprio esprito encarnado, situao diferente do fenmeno esprita. Recorde-se o seguinte trecho de Aizprua, transcrito no item 1.2 supra: no espiritismo, o animismo designa certo estado de transe no qual quem est provocando e produzindo o fenmeno de efeitos psquicos ou fsicos o esprito do prprio ser encarnado e no o esprito desencarnado, pois neste caso seria um fato medinico. Noutro momento, escreve: um mesmo tipo de fenmeno, seja fsico ou intelectual, pode ser anmico ou medinico (...).52 Embora Aizprua esteja contrapondo o animismo ao mediunismo, na verdade os clssicos apontaram uma dicotomia entre animismo e fenmenos espritas, entendendo-se por

51 52

Alexander Aksakof. Animismo e Espiritismo. Vol. I. pp. 22-3. Jon Aizprua. Os fundamentos do espiritismo. 2000, p. 153.

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fenmenos espritas aqueles produzidos por Espritos desencarnados e por animismo, os produzidos pela alma ou esprito encarnado. Tome-se para reflexo o seguinte ensinamento de Ernesto Bozzano:
Nem um, nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fenmenos supranormais. Ambos so indispensveis para tal fim e no podem separar-se, pois que so efeitos de uma causa nica e esta causa o esprito humano que, quando se manifesta em momentos fugazes durante a encarnao, determina os fenmenos anmicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existncia desencarnada, determina os fenmenos espirticos.53

Em outro momento, na mesma obra, Bozzano diz que a denominao de fenmenos medinicos propriamente ditos designa um conjunto de manifestaes supranormais, de ordem fsica e psquica, que se produzem por meio de um sensitivo quem dado o nome de mdium, por se revelar qual instrumento a servio de uma vontade que no a sua.54 Afirma ainda:
Segue-se que as duas classes de manifestaes resultam de naturezas idnticas, com a diferena, puramente formal, de que, quando elas se do por obra de um vivo, entram na rbita dos fenmenos anmicos propriamente ditos, e de que, quando se verificam por obra de um defunto, entram na categoria, verdadeira e prpria, dos fenmenos espritas. Evidencia-se, portanto, que as duas classes de manifestaes so complementares uma da outra, a tal ponto que o Espiritismo careceria de base, dado no existisse o Animismo.55

Parece evidente a dicotomia entre os fenmenos anmico e esprita. Bozzano se encarregou de demonstrar que um no infirmava o outro e que ambos confirmavam o espiritismo. Aksakof apresentou uma classificao trinaria, referindo-se aos fenmenos: anmico no medinico, esprita e anmico-medinico. que a sua preocupao, como tambm a de Bozzano, era demonstrar que embora na causa desses fenmenos estivesse sempre o esprito humano, nem sempre ocorria um fenmeno esprita (comunicao do esprito desencarnado). As experincias, especialmente as de Bozzano, mostraram que poderiam provir tambm das almas (espritos encarnados), tendo-se constatado, ainda, fenmenos anmicos atravs da mediunidade. Por anmicos medinicos, Aksakof define aqueles que envolvem participao de pessoas vivas em fenmenos medinicos tais como psicografia, psicofonia, aparies, etc. Feita essa anlise, no parece razovel a interpretao feita por Aizprua quando escreveu o seguinte: O animismo no invalida a mediunidade, porque, em ltima instncia, ao produzir-se um transe de carter anmico, o sujeito est atuando como intermedirio de seu prprio esprito, como mdium de si mesmo.56 certo que o animismo no invalida o mediunismo, mas muito estranha a fundamentao por ele utilizada. Seria mesmo razovel admitir que um esprito encarnado, emancipado do corpo fsico, precisaria de um intermedirio para manifestar-se? Toda a compreenso do fenmeno medinico alcanada at os dias atuais define o mdium como intrprete. Pois bem, sendo lgica a proposta de Aizprua, o esprito encarnado serviria de intrprete para ele mesmo, emancipado

53 54

Ernesto BOZZANO. Animismo ou espiritismo: qual dos dois explica o conjunto dos fatos? p. 9

Ibidem. p. 51. 55 Ibidem, mesma pgina. 56 Jon Aizprua. Os fundamentos do espiritismo. 2000, p. 153

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do corpo fsico? Como poderia ser o emitente da mensagem e o intrprete ao mesmo tempo? Essa concluso poderia levar afirmao de que o mdium ou o intrprete no fenmeno esprita s o corpo fsico, mas no isso que se dessume do estudo Esprita. Contrariando essa possibilidade, destaca-se, a seguir, um texto de Andr Luiz, referindo-se ao mdium desligado do corpo fsico: O mdium, assim desligado do veculo carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordo vaporoso que o prendia ao campo somtico (...) no obstante liberto do vaso somtico, prossegue em comunho com ele, por intermdio do lao fludico de ligao.57 O mdium, de acordo com o conhecimento que nossa limitada percepo alcanou, a pessoa humana; portanto, o esprito encarando. No seria unicamente o esprito, pois depende de uma pr-disposio orgnica, mas, tambm, no seria apenas a matria, pois concorre na elaborao da mensagem que interpreta, a ponto de alguns autores escreverem que no existe comunicao medinica desprovida de certo componente anmico. Mais uma vez vale a pena citar Andr Luiz:
Ainda mesmo no campo de impresses comuns, embora a criatura empregue os ouvidos e os olhos, ela v e ouve com o crebro, e, apesar de o crebro usar as clulas do crtex para selecionar os sons e imprimir as imagens, quem v e ouve, na realidade, a mente. Todos os sentidos na esfera fisiolgica pertencem alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princpios estabelecidos para a evoluo dos Espritos reencarnados na terra58.

Por essa razo, no parece existir mediunismo quando o fenmeno se traduz na manifestao de uma alma emancipada do corpo, como ocorre no sonambulismo, por exemplo; no haveria razoabilidade neste raciocnio. Leon Denis assevera que o eu exteriorizado durante a vida e o eu que sobrevive aps a morte so idnticos e representam dois aspectos sucessivos da existncia de um nico e mesmo ser. 59 Tendo-se em conta que o fenmeno medinico traduz-se pela interpretao de uma mensagem proveniente de outra inteligncia diferente da do mdium, poder-se-ia afirmar que ocorrendo essa hiptese o caso seria de comunicao medinica ainda que o emissor da mensagem fosse encarnado; mas, como o termo animismo foi criado para referir-se s manifestaes das almas ou espritos encarnados, surgiu esta terceira categoria de fenmeno na classificao de Aksakof, denominada de anmico-medinica, no compreendida no animismo puro ou no medinico e tampouco no fenmeno esprita por no derivar de espritos desencarnados. Manuel S. Porteiro esclarece bem a desvinculao dos fenmenos anmicos dos rgos sensoriais, fato que coloca ainda mais dvidas sobre a necessidade de um intermedirio para que os fenmenos anmicos aconteam. Afirma claramente: sem dvida que os rgos sensoriais no fazem aqui nenhum papel e que os centros sensitivos e motores pouco ou nada tm que fazer. E se, como dizem os psiclogos empricos, toda funo psquica se realiza mediante um rgo e um centro cerebral, quais so os rgos e os centros cerebrais da telepatia, da clarividncia, da premonio, etc.?60
57 58

Francisco Candido Xavier, pelo esprito de Andr Luiz. Nos domnios da mediunidade. pp. 98-9. Idem. ibidem. p. 110. 59 Leon Denis. O problema do ser, do destino e da dor. 1.989, p. 91. 60 Manuel S. Porteiro. Espiritismo Dialtico. 2002. p. 51.

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Na mesma esteira a lio de Bozzano, ensinando que essas faculdades pertencem a um plano qualitativamente diverso e absolutamente independente daquele em que agem os fatores da evoluo biolgica. Escreveu, a propsito:
As faculdades supranormais subconscientes, em vez de se exercitarem no plano da conscincia normal, somente surgem sob a condio de que as funes da vida de relao se achem temporariamente abolidas ou apagadas, dependendo do grau, mais ou menos profundo, de inconscincia em que jaza o sensitivo, o grau de maior ou menor perfeio com que elas se exteriorizam. Ora, no se podendo negar que, imerso no estado de inconscincia, um organismo sensiente um organismo temporariamente privado de qualquer relao com o mundo exterior portanto, impotente para a luta pela vida logicamente se segue que os fatores biolgicos no podem, no puderam e no podero nunca nenhuma influncia exercer, por mnima que seja, sobre a gnese e a evoluo das faculdades psicosensorias subconscientes.61

A propsito do questionamento levantado neste item, vale anotar a afirmao de Jaci Regis: A melhor definio do papel do mdium que ele o intrprete do Esprito comunicante. Isso afasta a pretenso de infalibilidade de alguns mdiuns e a tolice sustentada por quem desconhece o mecanismo de que existam comunicaes sem a interferncia do intermedirio.62 Pois bem, partindo-se da afirmao de Jon Aizprua de que no transe de carter anmico, o sujeito est atuando como intermedirio de seu prprio esprito, como mdium de si mesmo restaria indagar quem assume o papel de comunicante e quem seria o intermedirio. Finalizando, transcreve-se, por oportuno, mais uma lio de Jaci Regis: Os fenmenos medinicos se caracterizam invariavelmente pela atuao de uma inteligncia diferente e independente do mdium.63

Um exemplo de projeto de pesquisa: Animismo


Segue uma proposta de projeto de pesquisa de estudo de caso sobre animismo.

Segundo Yin, um protocolo para estudo de caso deve apresentar as seguintes sees: Uma viso geral do projeto de estudo de caso (objetivos e patrocnios do projeto, questes de estudo de caso e leituras importantes sobre o tpico que est sendo investigado). Procedimentos de campo (credenciais e acesso aos locais de estudo de caso, fontes gerais de informaes e advertncias de procedimentos) Questes do estudo de caso (as questes especficas que o pesquisador do estudo de caso deve manter em mente ao coletar os dados, uma planilha para disposio especfica de dados e as fontes em potencial de informaes ao se responder cada questo). Guia para o relatrio do estudo de caso (resumo, formato de narrativa e especificao de quaisquer informaes bibliogrficas e outras documentaes).

61 62

Ernesto BOZZANO. Animismo ou espiritismo: qual dos dois explica o conjunto dos fatos? p. 23. Jaci Regis. Introduo doutrina kardecista. 1 ed. Santos: LICESP, 1997, p. 91. 63 idem. ibidem. p. 93

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Neste trabalho, esto sendo desenvolvidos os dois primeiros itens (e mesmo nestes so desenvolvidos apenas os aspectos essenciais). Os demais sero objeto de trabalho posterior, e so necessariamente mais vinculados ao contexto e local da pesquisa a ser efetivamente realizada.

5.1 Viso geral


5.1.1 Questes
Questo fundamental: Como distinguir se a manifestao em foco ou um conjunto delas provm da prpria pessoa, de uma comunicao esprita ou de uma manifestao anmica? Subquestes: Haveria algum elemento ou indcio que autorizaria encaminhar o estudo para uma das opes? Quais so as caractersticas identificadoras da pessoa? Quais so as caractersticas identificadoras da manifestao anmica? o Em que circunstncias ou situaes h maior chance de ocorrer o fenmeno anmico? Quais so as caractersticas identificadoras da comunicao esprita? o Sempre que o contedo revelar um conhecimento diferente/acima do nvel do mdium, possvel afirmar que se trata de comunicao esprita? o possvel concluir, com certeza, que se trata de comunicao esprita, apesar de no existirem elementos para identificar o esprito comunicante? comunicao da prpria

5.1.2 Proposies
Proposies (hipteses): H condies objetivas para diferenciar as trs alternativas. Um estudo srio da mensagem pode descartar definitivamente as hipteses de animismo e comunicao esprita. S quando for possvel reconhecer a identidade do esprito manifestante podem ficar descartadas as outras hipteses (animismo e da prpria pessoa). As manifestaes reveladoras de contedos desconhecidos do mdium podem ser anmicas ou espritas.

5.2 Procedimentos de campo


Proposta: analisar a manifestao em foco isolada e conjuntamente. Considerar o contexto. Aspectos a considerar:

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aspectos relacionados com a mensagem: linguagem, contedo, assinatura, smbolos explcitos e implcitos (semitica) aspectos relacionados com a autoria: sempre o mesmo esprito? h coerncia entre assinatura e mensagem? o esprito sempre se comunica atravs do mesmo mdium? h dados ou informaes que permitam confirmar a identidade? aspectos pessoais da vida do mdium: tempo de conhecimento esprita, cultura (esprita e geral), sade, famlia, profisso aspectos relacionados com o grupo medinico: h correlao entre as manifestaes em foco e a presena ou ausncia de um ou mais integrantes? nmero de integrantes, assiduidade, homogeneidade, tempo de formao instituio: prioridades, atividades principais, tempo de fundao, formao dos integrantes direo da reunio medinica: conhecimento e atitudes do dirigente, relacionamento do dirigente com a pessoa responsvel pela manifestao investigada, experincia no trato com os espritos

Concluses
A preparao de um projeto de pesquisa requer, sempre, um estudo aprofundado do

assunto, para permitir maior domnio das variveis envolvidas na pesquisa. Para um estudo de caso, que em geral parte de um modelo terico mais aberto e menos formalizado, essa preparao fundamental. Para o projeto esboado para pesquisa do animismo, confrontando-o com as demais alternativas de manifestaes, foi necessrio, para identificao das questes e proposies, bom conhecimento prvio dos trabalhos de pesquisa realizados anteriormente na rea. O protocolo esboado mostra que o mtodo de estudo de caso pode ser aplicado na pesquisa esprita, sobretudo em situaes em que as questes-chave de pesquisa so "como" e "por que". necessrio, como prximos passos: desenvolver os detalhes do projeto, adequando-o s caractersticas de cada contexto de estudo, e facilitando assim sua aplicao, aplic-lo em contextos e grupos diversos, estabelecer intercmbio entre os grupos, aperfeioar a teoria e propor novos estudos de casos. Os grupos interessados neste trabalho esto convidados a integrarem-se a ele, entrando em contato com os autores ou com o CPDoc.

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AKSAKOF, Alexander. Animismo e espiritismo. Vol. I. prefcio da Edio Alem. Rio de Janeiro: FEB, 1983. BOZZANO, Ernesto. Animismo ou espiritismo: qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Trad. Guillon Ribeiro. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. BRYMAN, Alan. Research methods and organization studies. London: Unwin Hyman, 1995. DENIS, Leon. O problema do ser, do destino e da dor. 15 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1.989. FACURE, Nbor O.. Muito Alm dos Neurnios. 2 ed. So Paulo: Associao Mdico Esprita de So Paulo, 1.999. GELEY, Gustavo. Del inconsciente al consciente. Editora Cultural Esprita Len Dens C.A: CaracasVenezuela, 1995. GHAURY, Pervez; GRONHAUG, Kjell; KRISTIANSLUND, Ivar. Research methods in business studies: a practical guide. Prentice-Hall, 1995. KARDEC, Allan. Iniciao Esprita. 7 ed. Trad. Joaquim da Silva S.Lobo. Edicel: So Paulo, 1982. KARDEC, Allan. Iniciao Esprita. 7 ed. Trad. Joaquim da Silva S.Lobo. Edicel: So Paulo, 1982. KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 3 ed. Trad. J. Herculano Pires. Edicel: So Paulo, 1982. KARDEC, Allan. O Livro dos mdiuns. 55 ed. Trad. Guillon Ribeiro 49 ed. Francesa. Rio de Janeiro: FEB, 1987. LAZZARINI, Srgio Giovanetti. Estudos de caso: aplicabilidade e limitaes do mtodo para fins de pesquisa. Economia & empresa, v. 2, n. 4, p. 17-26, out/dez 1995. LUCCIA, Reinaldo Di. Perisprito, nova abordagem. Caderno Cultural Esprita. Ano 1, edio 1, 2002. MIRANDA, Manoel Philomeno. Qualidade na prtica medinica. Salvador: LEAL, 2000. NAKANO, Davi Noboru; FLEURY, Afonso Carlos Corra. Mtodos de pesquisa na Engenharia de Produo. In: ENEGEP ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUO, XVI, Piracicaba, 1998. Anais. Pricacicaba: UNIMEP/ABEPRO, 1996 (CD-ROM) PIRES, J. Herculano Pires. O homem novo. 3 ed. So Bernardo do Campo-SP: Correio Fraterno do ABC, 1989. PIRES, J. Herculano. Curso dinmico de espiritismo o grande desconhecido. 4 ed. So Paulo: Paidia, 2.000. PIRES, J. Herculano. Introduo filosofia esprita. So Paulo: Paidia, 1983. PORTEIRO, Manuel S. Espiritismo Dialtico. 1 ed. So Paulo: CEJB, 2002. REGIS, Jaci. Introduo doutrina kardecista. 1 ed. Santos: LICESP, 1997. SPINOLA, Mauro de M. Centro esprita: uma reviso estrutural. Santos: CPDoc, 1997. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ao. 9. ed. Cortez Editora, 2000. XAVIER, Francisco Cndido e VIEIRA, Waldo, pelo Esprito de Andr Luiz.. Mecanismos da mediunidade. 14 ed. Rio de Janeiro: FEB. XAVIER, Francisco Cndido, pelo Esprito de Andr Luiz. Nos domnios da mediunidade. 29 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e mtodos. Trad. Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

A GLNDULA PINEAL

Alcione Moreno

V - Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita

NDICE

A Glndula Pineal
Introduo Anatomia Histologia e Ultra-estrutura Bioqumica, Secreo e Biossintese Efeitos Fisiolgicos
Sono Doenas Neurolgicas Sistema Imunolgico Cncer Distrbios Psiquitricos Analgesia e Stress Metabolismo Intermedirio Outras Manifestaes Clnicas Sistema Reprodutor Sexualidade 03 04 05 06 07 07 07 07 07 07 07 07 07 08 08

A Glndula Pineal e Outras Doutrinas


Doutrinas Orientais Numerologia O Paradigma da Yoga Cromologia
09 10 11 12

A Glndula Pineal e Espiritismo Concluso Referncias Bibliogrficas

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A GLNDULA PINEAL
Introduo
A glndula pineal tem a forma de um cone de pinha (pinea) e no adulto mede 8 mm de comprimento por 4 mm de largura e pesa 0,1 a 0,2 gramas(11). Apesar de sua anatomia to discreta est sempre envolta por um misticismo. Citada em vrias doutrinas, desde 3.000 anos a. C. na Yoga, no esoterismo, na numerologia ela aparece com alguns pontos em comum do conhecimento humano. No ocidente foi descrita pela primeira vez por Herophilus de Alexandria, por volta do ano 330 a. C., e foi reconhecida como uma glndula por Galeno, em Roma(30), que introduziu o termo "Konareon" para a pineal, pela estrutura em forma de um cone de rvore de pinha, "Pineal" derivado do latim pinealis, que significa cone de pinha. A glndula Pineal tambm conhecida como epfise, mas este termo muito parecido com Hipfise, que outra glndula do sistema endcrino, podendo dar margem a confuses, prefiro cham-la de pineal, por ser mais aceito no campo cientfico, e tambm evitando equvocos. Versalius, no sculo XVI, descreveu elaboradamente a topografia e a consistncia da glndula.(30) Descartes, no sculo XVII, atribuiu a pineal como sendo o ponto de unio da alma ou esprito ao corpo biolgico.(10)(Figura 1)

Figura 1 - Pineal de Descartes (28)

O Espiritismo no sculo XIX a coloca como importante regio na mediunidade e na deflagrao da puberdade. Contemporaneamente, a pineal ressurge como objeto de estudo da Medicina e da Biologia, atravs de uma reviso da literatura mundial feita por Kitay e Altschule em 1954(17), Outro marco nos estudos da pineal ocorreu em 1959, quando Lerner(21) et al. isolou o hormnio da glndula pineal, a que chamou de melatonina. A partir disso, em vrios trabalhos, congressos e simpsios procurou-se esclarecer o papel funcional da pineal. A glndula pineal vem sendo estudada detalhadamente em vrios animais e muitos achados demonstram a importncia da pineal em vertebrados, mamferos e humanos. Comum a todos os vertebrados o carter endcrino da pineal, cuja secreo controlada pelo ciclo claro-escuro ambiental(41). Sendo a produo de melatonina exclusivamente noturna, a durao de sua concentrao no extracelular depende da durao do perodo de escuro do ciclo dia-noite. A
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concentrao plasmtica de melatonina tambm varia de acordo com as diversas estaes do ano, que determinam noites com diferentes duraes conforme a estao vigente.(30) A pineal um temporizador do meio interno, estando envolvida na regulao de diversas funes fundamentais para a sobrevivncia do indivduo; regulao endcrina da reproduo, modulador do comportamento sexual, ciclo sono-viglia, regulao do sistema imunolgico, regulao do metabolismo intermedirio. Relatos ligam a pineal a distrbios psiquitricos como SAD (Seasonal Affective Disorder), analgesia e stress, distrbios dos sono, epilepsia e outras manifestaes clnicas, caracterizando a importncia do estudo da glndula pineal e do seu principal hormnio, a melatonina.(31)

Anatomia
A glndula pineal tem a forma de um cone de pinha (pinea) e no adulto, mede 8 mm de comprimento por 4 mm de largura e pesa 0,1 a 0,2 gramas(30). um rgo parenquimatoso, derivado do teto dienceflico caudal que se projeta posteriormente no tronco cerebral(43). Est unida ao diencfalo por um pedculo que no homem curto e fino, situando-se entre os colculos superiores. O terceiro ventrculo est imediatamente anterior pineal que est em contato com os recessos pineal e suprapineal do mesmo. Encontra-se tambm logo abaixo do esplnio do corpo caloso. (Figura 2)(9)

Frnix (tronco Corpo caloso Plexo coride do terceiro ventrculo Massa intermediria do tlamo Sulco hipotalmico Comissura anterior Recesso pr-ptico Quiasma ptico Infundbulo Neuripfise Tuber cinereum Corpo mamilar Ncleo interpenducular Ncleos habendulares Corpo Pineal Comissura Posterior

Figura 2 - Corte sagital do crebro mostrando o diencfalo (9)

O suprimento arterial dado pelas artrias coroidais posteriores e a drenagem venosa, pelas veias cerebrais internas que cursam dorsalmente a pineal.(30) A glndula pineal em mamferos tem 3 componentes celulares principais: a clula pineal ou pinealcito, clulas gliais e terminaes nervosas.(14) Os estmulos bsicos para a regulao da funo pineal so luz ambiental e mecanismos endgenos geradores de ritmo.(43) A informao fotossensria chega at o final atravs de uma complexa via polineural que comea nas clulas ganglionais da retina(13, 25), passando pelo quiasma ptico, compondo o trato retino-hipotalmico, chegando at o ncleo supraquiasmtico, onde ocorrem sinapses. Dentro do tronco cerebral, o caminho do hipotlamo lateral at a medula espinhal no muito bem determinado, mais provavelmente envolve o fascculo prosenceflico medial. Projees descendentes fazem sinapses na coluna intermediolateral e ganham o gnglio cervical superior por fibras pr ganglionais. Finalmente fibras simpticas adrenrgicas chegam a pineal pelo
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nervo coronrio, que entra na glndula pelo seu pice no tentrio do cerebelo(11, 13, 14, 24, 37). (Figura 3) Uma vez dentro da glndula, os nervos simpticos terminam principalmente nos espaos intersticiais e s algumas terminaes nervosas o fazem encostadas ao prprio pinealcitos. Tal disposio permite que as substncia neurohumorais liberadas por essas terminaes nervosas simpticas se difundam aos pinealcitos, atravs do espao intersticial.(18)

Retina

rea tuberal ventral hipotalmica rea hipotalmica lateral

Glndula Pineal

Ganglio simptico cervical superior

Coluna intermdio lateral

Figura 3 - Anatomia da via polineural da informao fotossensria (28)

Histologia e Ultra-estrutura
Os tipos celulares encontrados na glndula pineal de um mamfero adulto so geralmente divididos em clulas parenquimais (pinealcitos) e intersticiais (tambm ditas clulas de sustentao), das quais muitas podem ter origem glial.(Figura 4) (Figura 5) A morfologia da glndula pineal humana similar quelas descritas em outros mamferos (Figura 6). envolvida por uma cpsula e dividida em lbulos separados por tecido conectivo trabecular.(12)

Figura 4 - Pinealcitos e prolongamentos das clulas gliais (28)

Figura 5 - Tipos celulares da (28) glndula 5 pineal

Glndula Pineal Clulas intersticiais neuroglial Capilar

Pinealcitos (x 400) (x 624)

Clula intersticial Pinealcitos

Pi

Processo longo

CH CP Processo club-like RPi

Transporte e melatonina

Processo do capilar

Capilar

Processo longo

Figura 6 - Glndula pineal fetal Desenho de uma seco mdiosagital - Pi: glndula pineal; CH: comissura habenular - CP: comissura posterior - Rpi: recesso pineal(12)

Bioqumica, Secreo e Biossintese


Em alguns animais, a melatonina produzida na retina e na pineal, mas, no ser humano, a produo fisiologicamente importante de origem pineal, j que humanos pinealectomizados no apresentam nveis detectveis de melatonina circulante(26, 33). A melatonina foi isolada em 1959 por Lerner(90). Este hormnio recebeu o nome grego melas (escuro) e tonos (trabalho). A melatonina, ou N-acetil-5metoxitriptamina, o maior produto metablico da pineal. uma indoleamina com um peso molecular de 232.3(20). A sua sntese depende das condies ambientais de luz(23, 34) e estimulada por fibras simpticas ps-ganglionares provenientes do gnglio cervical superior, cuja atividade est sincronizada com a fase escura do ciclo dia-noite. A luz tem ao inibitria.(30) O Triptofano NAT (enzima responsvel pela transformao) Serotonina ( luz) (euforia) HIOMT (enzima responsvel) N-Acetilserotonina Melatonina ( escuro) (depresso)

O estudo da pineal, atualmente, vem tomando grande vulto na prtica clnica corrente e isso se deve s descobertas concernentes aos vrios aspectos de sua funo.

Efeitos Fisiolgicos e Patolgicos


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A pineal a estrutura responsvel pela transmisso de informao fotoperidica ao organismo, e exerce papel regulatrio sobre os mais diversos eventos fisiolgicos, metablicos e comportamentais.(30) Sono: A melatonina secretada maximamente durante o sono, que acontece normalmente nas horas de escurido (noite) um hormnio produtor de sono. Ela inibe os neurnios serotonigrgicos da formao reticular, que envolvido no despertar. Os nveis de melatonina declinam com a idade e pessoas mais velhas dormem menos que as jovens. Doenas Neurolgicas: A glndula pineal e a melatonina tem um papel importante na regulao e modulao da atividade eltrica cerebral e vem sendo demonstrado que esto envolvidas nos mecanismos de convulso. H tambm influncia no movimento podendo estar envolvida na doena do neurnio motor, esclerose lateral amiotrfica (ELA), na doena de Parkinson. Sistema Imunolgico: O sistema imunolgico apresenta ritmicidade circadiana e sazonal na maioria das funes, sugerindo que ele possa ser regulado pela pineal. A melatonina age preferencialmente na resposta humoral, estimulando-a. Cncer: Existe um papel inibitrio da pineal no crescimento tumoral. A melatonina vem sendo administrada em humanos e o seu efeito antihumoral depende do fotoperodo e da hora do dia em que foi administrada, de manh - inibitria, a noite estimulatria. Distrbios Psiquitricos: So importantes em certas doenas psiquitricas como a depresso e a esquisofrenia. Os transtornos sazonais de humor no so incomuns; um distrbio psiquitrico com forte componente anual, conhecido como SAD (Seasonal Affective Disorder), ou o transtorno afetivo sazonal, que se caracteriza por perodos recorrentes de depresso, tipicamente nos meses de inverno, ou seja nos dias mais curtos do ano. evidente a influncia da luz e da melatonina na depresso. A luz melhora e a melatonina piora. Analgesia e Stress: H um papel regulador de opiides endgenos na regulao da funo pineal. A noite, a melatonina est em alta e as beta-endorfinas esto em baixas. A glndula pineal exerce um papel no stress, provavelmente quando a melatonina secretada episdicamente durante os perodos de despertar diurnos. Metabolismo Intermedirio: Exerce um papel modulador nos processos metablicos, em geral e enzimticos celulares em particular. Em indivduos normais, a curva glicmica que segue a uma carga oral de glicose varia de acordo com a hora do dia, atingindo nveis mais altos e persistentes por mais tempo tarde e a noite. Outras Manifestaes Clnicas: H vrios relatos do papel da glndula pineal em doenas humanas como hipertenso, desordens de mielina, doenas oculares como glaucoma, porfiria, hemocromatose e distrbios endcrinos. Sistema Reprodutor: Sendo a pineal o rgo da interface entre o organismo e os eventos cclicos ambientais, a responsvel pela regulao de todos os eventos fisiolgicos necessrios
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adaptao dos indivduos s flutuaes sazonais. Dentre os eventos sazonais, a reproduo o evento mais bem estudado(36). Vrios estudos epidemiolgicos(34) demonstram que os seres humanos apresentam num perodo do ano, no equincio da primavera, o aumento na taxa de concepo. Essa incidncia anual est estritamente vinculada latitude e, portanto, ao fotoperodo da regio geogrfica considerada. Pode-se considerar ento a espcie humana como de reproduo em dias longos e a melatonina, como hormnio de ao antigonadotrfica.(27) A pineal vem sendo correlacionada com a deflagrao da puberdade(4). At 1993 se sabia que a produo de melatonina durante a puberdade apresentava-se diminuda(7). Com as recentes pesquisas est bem estabelecido a importncia da pineal no controle do sistema reprodutor. (27) H evidncias de que a diminuio de melatonina seja indutora da puberdade. H um aumento significante dos nveis de melatonina na telarca(5). Est envolvida na regulao do ciclo menstrual da mulher, j que se observam nveis sricos diminudos no momento da ovulao e nveis elevados nos dias subsequentes. Uma outra possvel influncia da glndula pineal pode ser a sincronizao dos ciclos menstruais que se nota em mulheres que passam algum tempo juntas. Num aumento significativo da sincronizao dos ciclos entre mulheres que repartem um quarto entre amigas ntimas, ocorreu nos primeiros 4 meses de residncia em um dormitrio de uma escola feminina.(39) Sexualidade: No existem trabalhos quanto ao papel da glndula pineal e a sexualidade humana. Porm em animais, a melatonina inibe o comportamento sexual, e em dias longos h um aumento copulatrio. produzida exclusivamente noite e a durao de sua concentrao no extracelular depende da durao do perodo de escuro do ciclo dia-noite, variando com as diversas estaes do ano. A influncia da pineal em algumas patologias abre um grande campo de pesquisa ainda no totalmente explorado. As indicaes relatadas, em trabalhos atuais, da sua participao em grande nmero de eventos biolgicos, no s no homem como em outras espcies, demonstram a importncia desse campo de pesquisa ser efetivamente explorado. interessante notar como doutrinas milenares j indicaram sua importncia, que hoje a cincia consegue provar. A importncia do estudo da glndula pineal e da melatonina emerge com mais rigor a partir da hiptese de ela poder servir como instrumento teraputico. Esta reviso tem como objetivo, tambm, encorajar o estudo nesse vasto e promissor campo de pesquisa, de onde podem advir grandes descobertas.

A GLNDULA PINEAL E OUTRAS DOUTRINAS


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Doutrinas Orientais
Nas doutrinas orientais a glndula pineal corresponde ao centro coronrio tambm chamado chakra coronrio. A palavra chakra snscrita, e significa roda, ou disco giratrio. usada por classificar o que amide se chama de Centros de Fora do Homem. (Figura 7)(31) A energia no interior do chakra deve sair ou entrar de acordo com a direo em que est girando. A direo de seu giro determinada pela influncia das correntes positivas e negativas que so alternadas e que dependem da energia do planeta e do cosmo.(38) O Centro coronrio o stimo situado no alto da cabea. Os livros hindus chamam-no ltus de mil ptalas, embora o nmero exato de fora primria seja 960.(32) Estas "ptalas" so uma maneira de descrever a frequncia da energia em cada chakra. O nmero de ptalas em cada ltus o mesmo que o nmero de raios que cada roda de fora tem (Figura 8)(143). No centro coronrio que est na posio da glndula pineal h o desenvolvimento das experincias subjetivas do "Eu Sou". Precisamos sentir, sempre, o ritmo de dormir e acordar, de inspirar e expirar, e todos os pares de oposies que vem com o mundo objetivo e da forma. So esses ritmos que nos do a lei cclica ou peridica em toda manifestao.(38)
Fora Primria (Vinda do Astral)

Violeta Do Centro Larngeo

Amarelo Do Centro Cardaco dando fora a elevados pensamentos filosficos e metafsicos

Figura 7 - Chakra coronrio - Glndula (31) Pineal.

Figura 8 - Funo do centro astral: Completa e aperfeioa as faculdades. Funo do centro etreo: Da continuidade conscincia. (32)

Para os hinduistas o despertar do centro coronrio corresponde ao coroamento da vida, pois confere ao homem a plenitude de suas faculdades.(19) Os esotricos referem uma particularidade no desenvolvimento deste chakra. No princpio , como todos os demais uma depresso do duplo etrico (que a parte invisvel do corpo fsico pelo qual fluem as correntes vitais que mantm vivo o corpo, e serve de intermedirio entre o pensamento e o corpo fsico) pela qual penetra a divina energia procedente do exterior.(32)

Mas quando o homem se reconhece como a luz divina e se mostra magnnimo com tudo que o rodeia, o chakra coronrio reverte, por assim dizer, de dentro para fora, e j no um canal receptor, mas um radiante foco de energia, no uma depresso, mas uma proeminncia ereta sobre a cabea como uma cpula, como uma coroa.
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As imagens pictricas e esculturais das divindades e excelsas personagens do Oriente, costumam mostrar esta proeminncia como se v na esttua do Senhor Buda em Borobudur (ilha de Java) reproduzida na figura 9 esquerda e aparece sobre a cabea de milhares de imagens do Senhor Buda no mundo oriental (Figura 9 direita).(38) Tambm se nota essa proeminncia na simbologia crist, como, por exemplo nas coroas dos vinte e quatro ancies, que a retiravam diante do trono do senhor. Essa vibrao freqentemente representada pelos artistas como uma aurola circundando a cabea de pessoas altamente desenvolvidas ou santas.(38)

Figura 9 -Representaes do chackra coronrio. (38)

Numerologia
Em termos de numerologia a glndula pineal colocada como o stimo chakra (Tabela 1) que corresponde a somatria dos 3 princpios ligados a vibraes na poro superior da cabea mais ligada ao desenvolvimento do esprito com os quatro pontos manifesta-se ao nvel da espinha mais ligado a matria. A alta triplicidade(3) ligado ao esprito e o baixo quaternrio(4) ligado a matria perfazem um total de sete (7). Num estado de adensamento o esprito desce forma e o nmero sete manifestado promovendo as importantes divises setenrias da cor e do som e dando os sete nveis da conscincia do homem. (figura 10) Tabela 1 - Os sete principais chakras.(40) 7 6 5 4 3 2 1 Chakra Cabea Testa Garganta Corao Plexo Solar Sacro Base Glndula Pineal Pituitria Tiride "Glndula Vascular" Pncreas Gnadas Glndula supra-renal

Cada nvel de conscincia uma vibrao bsica ligada a um elemento. Pela mudana de vibrao pode haver a transformao de um elemento em outro. Este processo tem relao com a energia da Terra devido a rotao diurna em torno do seu eixo(38).

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CORONRIO Esprito FRONTAL Pensamento

Trindade GARGANTA ter

CARDACO Ar

SOLAR Fogo

Quaternrio

SACRO gua BASAL Terra

Figura 10 - Os sete pontos vibratrios e os sete elementos. (38)

O Paradigma da Yoga
Yoga a 3.000 anos um paradigma vitalista que originou-se na tradio espiritual Hindu. Uma fora distinta, ou energia de vida (chamada prana) anima o organismo humano interpenetrando o corpo em sete grandes localizaes(35). Estes centros energticos, chamados chakras, correspondem em localizao anatmica com as glndulas endcrinas. Como um eixo vertical descendente do corpo os respectivos chakras intermediam progressivamente a diminuio das funes psicolgicas refinadas tocando a energia transcendente espiritual para a sobrevivncia fsica.(22) (Vide Tabela 2). A palavra yoga significa unio. A unio do princpio divino com o nosso eu real(143). Para os yogues, a pineal o ponto de ligao entre o individual e o cosmo, catalisando conscincia transcendental para a luz.(22) Tabela 2 - Centro de energia endcrina correspondente(22). Glndula Endcrina Pineal Hipfise Tiride Timo Pncreas Gonadas Adrenais Centro Energtico Cabea Testa Garganta Corao Plexo Solar Sacral Base Emoo Felicidade Intuio Criatividade Amor Poder Sexualidade Medo

7 6 5 4 3 2 1

Num paralelo clnico entre a antiga e a moderna viso da funo pineal relata o papel da glndula na regulao da sexualidade. Na yoga clssica, o desenvolvimento espiritual (isto , ativao do chakra da pineal) era mais efetivamente aumentado retirando ou sublimando os desejos sexuais atravs de um estilo de vida celibatrio. Em outras palavras, a prtica da yoga ativava a pineal em oposio as gnadas(22). Correspondentemente a Melatonina tem um efeito
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antigonadotrpico.(8) Similarmente a atividade sexual humana declina durante os meses de inverno quando a secreo pineal aumentada.(22) No modelo da yoga, a no energia um efeito que pode ser profetizado de pouca exposio luz solar, porque a luz solar considerada ser a energia direta da origem. Prana, o primordial da energia de vida, assim como reminiscncia da libido de Freud ou orgone de Reich, tem 4 princpios de origem: comida, respirao, luz solar e sono. Dieta apropriada, respirao ativa de ar puro, sono saudvel e adequada exposio a luz solar natural so a pedra angular da vitalidade e sade fsica(22). No paradigma da yoga deveria ser prescrito nos pacientes, principalmente com SAD (Doena Afetiva Sazonal, dor miofacial, efeitos anti gonadotrpicos inadequado da melatomina, quatro itens: 1. Luz solar adequada (mais ou menos 120 minutos com 3.000 lux) (levar em considerao pacientes com limiar diferentes para a sensibilidade pineal. Alguns pacientes se mostram supersensveis e outros subsensveis devendo adequar a frequncia do espectro de luz. 2. Alimentao - Reconhecer como origem energtica os alimentos alternando glicose/ATP ou prana respectivamente, para adequar a atividade pineal. 3. Sono - Preocupa-se com a quantidade de ondas delta do sono. (este pode ser melhorado com um programa regular de exerccios fsicos, meditao e se necessrio frmacos). 4. Respirao - O fluxo e o ritmo da respirao uma elevao e rebaixamento de energia(22). Atravs da yoga pode-se remover bloqueios e identificar nossas energias humanas com as energias universais. Como a vida em si infinita e eterna, tambm nossa conscincia pode tornar-se ilimitada em todas as suas possibilidades.(38)

Cromologia
Cromologia o estudo das cores e Cromoterapia a terapia atravs das cores.(1) Manuscritos dos tempos primitivos mostram que, na ndia, China e Egito, os taumaturgos (aqueles que realizam milagres) possuam um sistema completo de cronologia baseado na lei de correspondncia entre a natureza setenria do homem e a diviso setenria do espectro solar.(1) Sabendo-se que a molstia uma busca de harmonia no sistema, a idia subjacente nas tcnicas cromoterpicas a busca de um rebalanceamento corporal atravs da aplicao de feixes de luz colorida sobre o corpo. Os centros que atraem raios de luz so: Vermelho - O centro mais baixo na base da coluna Laranja - Na cintura, parte posterior, lado esquerdo (centro esplnico) Amarelo - Centros do plexo solar Verde - Em linha com o corao Azul - Centro da garganta ndigo - Glndula pineal Violeta - Centro da pituitria A glndula pineal um maravilhoso purificador da corrente sangnea(1). A pineal se relaciona com o potencial nervoso, mental e psquico do homem de modo que os rgos da viso e audio esto sob a influncia do raio ndigo. Talvez seja por esta razo que o raio ndigo seja um poderoso anestsico - seu emprego um modo de obter anestesia sem perda da conscincia.(1)

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Sob o ponto de vista psicolgico, clareia e limpa as correntes psquicas do corpo.

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A GLNDULA PINEAL E ESPIRITISMO


A glndula pineal descrita apenas em obras correlatas do Espiritismo. Em minha pesquisa encontrei 3 autores que descrevem hipteses quanto sua funo; so eles C. Torres Pastorino, Jorge Andra e Andr Luiz. Em trabalhos mais recentes h publicaes do Dr. Srgio Felipe Oliveira e Dra. Marlene Nobre pesquisando sobre o assunto Existe uma reviso dos avanos nos estudos da glndula pineal pelo Dr. Mario Fernando Prieto Peres excelente, porm sem os aspectos do Espiritismo. Em Tcnica da Mediunidade 1969 de C. Torres Pastorino(6), na parte de Biologia - Sistema Glandular o autor descreve o corpo pineal anatomicamente e faz alguns comentrios histolgicos, e afirma: "Na realidade o corpo pineal no a glndula produtora de hormnios, mas uma Chave de ligao eltrica ou, talvez melhor dito, uma Vlvula. Os impulsos eletromagnticos e eletroqumicos so registrados no corpo pineal e transmitido para o esprito. Temos, pois, no corpo pineal a vlvula transmissora receptora de vibraes do corpo astral, regulando todo o fluxo de emisses do esprito para o corpo fsico e vice -versa. Os impulsos provenientes do esprito so transferidos do corpo astral ao corpo pineal, irradiando-se da a substncia branca, ao crtex, ao tlamo, at penetrar normalmente no sistema nervoso, comandando o veculo somtico. Essa a ligao direta do prprio esprito (personalidade) com seus veculos fsicos. Discordaremos do autor pois desde 1959 Lerner sintetizou a melatonina que um hormnio produzido pelo corpo pineal como chama o autor, provando ser uma glndula. E atravs deste hormnio a glndula pineal interage com os demais rgos. Pastorino coloca tambm que o corpo pineal (ou epfise) a responsvel pela vidncia do mundo astral e pela clarividncia. O autor usa o ttulo do livro "Tcnicas da Mediunidade" e usarei a definio de Mediunidade do Livro dos Mdiuns - como a faculdade dos mdiuns, e Mdiuns como pessoa que pode servir de medianeira entre os espritos e os homens. (16) Kardec refere como mdiuns videntes as pessoas dotadas da faculdade de ver os Espritos. "O mdium vidente acredita ver pelos olhos, mas na realidade a alma que v, e por essa razo eles tanto vem com os olhos abertos ou fechados".(16) Para podermos afirmar que a pineal responsvel pela vidncia necessitaramos um embasamento cientfico, para podermos comprovar sua importncia. Pastorinho utiliza da designao "corpo astral" que utilizado no esoterismo, Kardec utiliza o termo perisprito. (15) O autor se refere posteriormente sobre a "interao na irradiao que provm da "mente" cuja emisso feita atravs de onda que emitida pelo "tomo mondico" localizado no corao. Esta teoria lembra a de Descartes no sculo XVII em "As Paixes da Alma" art. 36 (10)Descartes coloca "Os espritos refletidos pela imagem assim formada sobre a glndula pineal, quer por ao direta sobre o corao, quer por uma variao no regime do sangue, modificam o regime dos espritos que seguem do corao para o crebro, de modo que a alma, sentindo a paixo torna a lanar os espritos no mesmo circuito". O que corresponde ao esquema a seguir.

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Figura 11 - Esquema Descartes sec XVII (10)

Jorge Andrea tambm faz referncias sobre a glndula pineal.(2, 3) "O estudioso Leyding admitia ser a glndula pineal o rgo responsvel pelo "sexto sentido". Na espcie humana, a glndula pineal responderia pelos mecanismos da meditao e do discernimento, da reflexo e do pensamento e pela direo e orientao dos fenmenos psquicos mais variados. Os seres vivos; quer vegetais ou animais at determinados anfbios, as suas respectivas essncias psquicas ou energias espirituais pertenceriam ao grupo (alma grupo), a espcie de que fazem parte. A partir dos lacertdeos, entretanto, haveria como que um desligamento no "sinccio energtico". de uma srie de nrteis, pontos centrais e vitais das respectivas individualidades que emanciparam energticamente de suas prprias fronteiras. Andra denomina: Campo-Energtico-Especializado de zona espiritual, zona inconsciente ou subconsciente representando o Campo-Orientador das clulas e tecidos da organizao fsica; seria a "energia-responsvel" pela onda morfogentica da espcie, em virtude de seu potencial estar carregado pelas experincias incontveis de vidas pretritas. (2) O autor descreve a influncia da glndula pineal na esfera genital e sua intercomunicaes neuroendcrinas, e descreve o que ele chama de "Ncleos em Potenciao"(2, 3). Estes ncleos so apresentados de intenso poder vibratrio, consequentemente de forte emisso energtica. Os ncleos atuariam em dimenso mais evoluda, no seu conjunto representariam quase a totalidade da energtica espiritual, onde no existem limites no espao. Estes pontos energticos seriam o centro, a fonte de toda energia psquica, em volta dos quais as experincias iriam fixando ampliando seus potenciais, para que a evoluo se observe nos diversos setores de vida". A glndula pineal segrega hormnios psquicos ou unidades de fora que vo atuar, de maneira positiva nas energias geradoras(3). Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posio na experincia sexual bsica(2). A pineal a tela medianeira onde o Esprito encontra os meios de aquisio dos seus ntimos valores, por um lado e, pelo outro, fornece as condies para o crescimento mental do homem, num verdadeiro ciclo aberto, inesgotvel de possibilidades e potencialidades. As aquisies para o Esprito so cada vez maiores e as influncias do Esprito so cada vez mais potentes, H
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ampliao e recompletamento nas ajustadas etapas palingenticas, como possibilidades mais lgicas da evoluo no esquema csmico(3). A pineal comanda as foras subconscientes sob a determinao direta da vontade, graas sua ligao com a mente, atravs de princpios eletro magnticos do campo vital. Durante a tarefa medunica, (intercmbio entre espritos desencarnado com encarnado) a pineal torna-se extremamente luminosa(3).
Ligao entre o esprito do mdium e do esprito comunicante Esprito comunicante

Mdium

Ligao entre o esprito do mdium e o seu prprio corpo

Esprito do mdium

Figura 12- Envolvimento Espiritual (29)

A pineal tem a potencialidade de traduzir estmulos psquicos em reaes de ordem somtica e vice-versa, colocando o ser encarnado em permanente contato com o mundo espiritual que eterno(3). Fica difcil entender a proposta dos Ncleos de Potenciao proposto por Andreas, devido a dificuldade da teoria e muito das palavras usadas serem inexistentes no dicionrio. Jorge Andra coloca descrio da glndula pineal e pergunta "Porque no admitir a pineal devido sua situao absolutamente central em relao aos rgos nervosos, das unidades glandulares que dirige, dos elementos somticos que influenciam, do sistema neurovegetativo que atua e controla como sendo o Centro Psquico, o Centro Energtico, o Centro Vital, que se responsabilizava pela ativao e controle de todos os atos orgnicos, desde os mais simples at os fenmenos mais altos da vida?" Uma outra hiptese referida "possvel que os hormnios, pela sua estrutura bionergtica, tenham aes especficas nos genes dos cromossomos". "Todas as substncias estruturadas por molculas complexas teriam a possibilidade de irradiar elementos apropriados das rbitas de seus tomos. Muitas substncias ativas de molculas especficas, pelas suas condies bioenergticas, e facilmente influenciam a organizao perispiritual ou do psicossoma. Esta teoria necessitaria um respaldo cientfico para poder ser discutida. Em Andr Luiz(42) a glndula pineal colocada como a glndula de vida mental. Ela acorda no organismo do homem na puberdade, as foras criadoras e, em seguida continua a funcionar, como o mais avanado laboratrio de elementos psquicos da criatura terrestre. A pineal preside aos fenmenos nervosos da emotividade, como rgo de elevada expresso no perisprito(42). Perisprito (do grego, pri, ao redor) o envoltrio semimaterial do Esprito. Sendo o perisprito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante em todos os fenmenos psicolgicos e patolgicos(15).

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Nas obras bsicas no h nenhuma citao especificamente quanto a glndula pineal, nem ligada mediunidade nem a sexualidade. Haveria necessidade de junto com a informao cientfica, pesquisarmos se antes e aps as atividades medunicas h ou no aumento ou diminuio da produo de melatonina para que cientificamente pudssemos opinar da importncia da glndula pineal no Espiritismo.

CONCLUSO
A influncia da pineal em algumas patologias abre um grande campo de pesquisa ainda no totalmente explorado. As indicaes relatadas, em trabalhos atuais, da sua participao em grande nmero de eventos biolgicos demonstram a importncia desse campo de pesquisa ser efetivamente explorado. O estudo da melatonina emerge com mais rigor a partir da hiptese de poder servir como instrumento teraputico. interessante notar como doutrinas milenares j indicavam a importncia da glndula pineal e que nos dias de hoje a cincia consegue provar. No espiritismo no h nenhuma citao especfica sobre a glndula pineal nas Obras Bsicas. A pineal descrita apenas em obras correlatas, por trs autores; C. Torres Pastorino faz citaes sobre anatomia da glndula, de uma forma coerente, porm sobre histologia ele nega que a pineal seja uma glndula e na fisiologia o autor utiliza a proposta de Descartes. Jorge Andrea refere-se a glndula pineal como tela medianeira onde o esprito encontra meios de aquisio de seus valores para o seu crescimento; infelizmente no fica muito clara a sua hiptese sobre os ncleos de potenciao, pois ele escreve utilizando palavras que no encontramos os seus significados em dicionrios. Andra lana a teoria dos ncleos que necessitariam de um suporte cientfico para sua aprovao. Andr Luiz coloca a glndula pineal como a glndula de vida mental. Ele se refere a glndula como responsvel pela deflagrao da puberdade o que correto cientificamente, coloca-a como responsvel pelas sensaes e impresses na esfera emocional, comentando as emoes de "baixa classe", e sua importncia durante os atos medunicos. Haveria necessidade de junto com a informao cientfica, pesquisarmos se antes e aps as atividades medunicas h ou no aumento ou diminuio de melatonina para que cientificamente pudssemos opinar da importncia da glndula pineal no Espiritismo. Lano aqui sugesto de um trabalho cientfico de dosagem de melatonina antes e depois dos trabalhos medunico para constatao cientfica da importncia da pineal no espiritismo.

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ESTRUTURA E METODOLOGIA PARA GRUPOS DE PESQUISA MEDINICA


Sandra Rgis e Egydio Rgis

INTRODUO
Quem estuda o Espiritismo, principalmente quando iniciante, tem um verdadeiro fascnio pelo misterioso mundo dos Espritos. O outro lado como costumamos dizer, ou, mais modernamente, a outra dimenso. As reunies medinicas dos Centros Espritas, so geralmente envolvidas em um clima de cerimnia esotrica, reservada a algumas pessoas especiais. Fora delas, as pessoas ficam imaginando a sensao excitante que deve ser a de trazer de volta os mortos e penetrar no seu mundo desconhecido. Quem est dentro, isto , os mdiuns e os dirigentes, portamse como se estivessem diante de um orculo, com respeitosa cerimnia, voz silenciosa e um absoluto desconhecimento do que se est passando do outro lado. Os Espritos, habitualmente designados como guias, que comandam as reunies medinicas, no costumam dar aos dirigentes, j que estes no enxergam o lado deles, uma viso do ambiente e nem uma prvia do que est programado para aquela reunio. Os encarnados so meros instrumentos passivos do que desejam os Espritos e esta a cultura generalizada nos Centros. Na verdade, no existe uma co-participao em termos de programao e os encarnados no tm a menor interferncia na conduo dos trabalhos, sendo seu papel unicamente estar disposio dos Espritos. Isso bom ou mau? No nos ocuparemos desse julgamento, porque o escopo do presente trabalho o de construir uma nova concepo de reunio medinica, um novo estilo de relacionamento entre os dois lados, de modo a estabelecer uma paridade de aes e de responsabilidades. No propugnamos a substituio dos atuais mtodos de trabalho. Apenas apresentamos um modelo que venha contribuir na organizao e nos objetivos de reunies medinicas que se dedicam a PESQUISAS DOUTRINRIAS.

Captulo Primeiro
I) O que se entende por Pesquisa Medinica?
Pesquisa Medinica, a busca de conhecimentos atravs da participao efetiva dos Espritos, por intermdio da mediunidade, nico caminho que temos disponvel para esse contato. Por que procurar os Espritos, se temos vasta literatura produzida por espritos encarnados? Porque, primeiramente, inesgotvel a fonte de conhecimentos que podem nos proporcionar o esprito humano, tanto daqui, como de l. Dos Espritos, desejamos cada vez mais entender o seu mundo, e, especialmente queremos explorar a experincia daqueles que foram nossos contemporneos e que continuam estudando e pesquisando, agora com outros recursos e sem os entraves naturais do corpo fsico. Pode-se, ento, desde j entender, que avanamos por um caminho diferente do que estvamos habituados em nossos trabalhos medinicos. Mesmo em se tratando das chamadas reunies de caridade, de auxlio aos obsediados ou obsessores, podemos radicalmente mudar o estilo de relacionamento com os Espritos e, obviamente, da reunio. Isto porque, tanto como ns os encarnados, os Espritos podem tambm mudar o tradicional modelo de comunicao, tornando-o menos formal, menos carregado de emoes tristes, fnebres e de lamentaes. A pesquisa medinica pode tomar vrios caminhos, dependendo dos objetivos que o grupo eleger. Ela pode, por exemplo, dedicar-se ao estudo dos fenmenos de efeitos fsicos, utilizando mtodos cientficos; ou pode restringir-se ao estudo terico de temas doutrinrios, com o objetivo

de aprofund-los com a contribuio dos Espritos. Pode ainda buscar mais informaes sobre o chamado mundo dos Espritos, continuando o trabalho de Andr Luiz e outros do gnero. Parecenos, entretanto, importante no misturar as coisas, isto , querer fazer de tudo um pouco e acabar chegando a lugar nenhum. Ao optar por um trabalho de pesquisa, importante conscientizar-se de que alguns aspectos devem ser considerados: pacincia, persistncia, tempo disponvel, discrio, esprito de equipe, disciplina quanto organizao estabelecida pelo grupo. Se o perfil da pessoa inicialmente interessada no se enquadrar nesses critrios, melhor no participar. A esse respeito, no somos daqueles que, em nome da fraternidade, tudo permitem. Somos favorveis a uma seleo mais rigorosa possvel, apesar de estarmos cientes de que no encontraremos a perfeio. O trabalho de pesquisa pressupe que os pesquisadores tenham base suficiente para aprofundar os assuntos que sero pautados. Pois, no se trata de um curso de espiritismo para iniciantes. Da mesma forma, os Espritos convidados a participarem da pesquisa, sero selecionados para estarem em nvel igual ou superior aos dos encarnados. Reconhecemos que a realizao e trabalhos de pesquisa medinica dependem de alguns fatores que a tornam muito difcil. A primeira dificuldade est na disposio do grupo de encarnados, quanto ao interesse, convergncia de idias, constncia, freqncia e pontualidade s reunies. Um trabalho dessa natureza requer uma rigorosa observncia de total dedicao, com muita perseverana. II)

Os participantes do grupo de pesquisa

A idia de se constituir um grupo de pesquisa medinica, obviamente deve partir de uma ou mais pessoas interessadas nesse tipo de intercmbio. Pode at ser uma iniciativa dos dirigentes de um Centro, ou particularmente de participantes do mesmo. Evidentemente, ser necessria a concordncia dos dirigentes para que esse tipo de trabalho, nada usual nos meios espritas, possa ser realizado nas dependncias e com os recursos do Centro. Especialmente para contar com a participao efetiva dos mdiuns da casa. claro que os interessados podero partir para a constituio de um grupo independente, sem ligao com qualquer Centro. Entretanto, a experincia tem nos mostrado, que deciso muito complicada, especialmente porque no fcil encontrar-se mdiuns dispostos e bem formados doutrinariamente, fora dos Centros, alm de no contar com a estrutura espiritual a existente. Entretanto, apesar de difcil, no impossvel e pode at produzir resultados satisfatrios, se o grupo for realmente srio e competente. Aos participantes, especialmente os que chamamos aqui de pesquisadores, antes de se atirarem ao trabalho de aprofundamento doutrinrio atravs da mediunidade, alm da base terica conseguida pelo estudo das obras de Kardec e das que lhe so complementares, convm um estgio demorado em alguns tipos de reunies medinicas muito comuns nos Centros, a fim de familiarizarem-se com as tcnicas prticas de intercmbio com os Espritos.O importante que, ao iniciarmos o trato com os Espritos desencarnados, voluntria ou involuntariamente, estejamos com um mnimo de preparao, apoiada num mnimo de informao. (Hermnio C. Miranda- Dilogo com as Sombras- Introduo). A prtica medinica no deve ser improvisada, pois no perdoa despreparo e ignorncia (idem). Por outro lado, a extenso da pesquisa, do ponto de vista do conhecimento, depender do grau de escolaridade, e/ou, da cultura dos participantes pesquisadores. A resposta o corolrio da pergunta.Allan Kardec o ,maior exemplo disso.Entendemos que para atingirmos um plano ideal nesse trabalho , o grupo deve ser multidisciplinar, isto , contar com participantes pesquisadores formados em reas diversificadas, tais como: engenharia, medicina, psicologia, fsica e de outras especialidades, sem que com isso se deseje elitizar a pesquisa, porque pessoas sem graduao acadmica, mas com um nvel de cultura adquirido pela vivncia e esforo pessoal, sero bem vindos ao grupo. Leon Denis, cuja obra literria considerada como uma das consolidadoras do Espiritismo, o nosso maior exemplo de auto-didatismo. Idem Manoel Porteiro.

Em relao aos mdiuns, a dificuldade bem maior. A cultura medinica dos Centros Espritas, um verdadeiro obstculo para se conseguir mdiuns afinados com o trabalho de pesquisa e de debates com os Espritos. Em geral, os mdiuns so educados de forma a no desagradar os Espritos comunicantes. Consideram que qualquer questionamento uma ofensa ao Esprito. Ou, ento, sentem-se melindrados porque lhes parece que esto duvidando de sua faculdade medinica ou mesmo de sua honestidade. H, ainda, o medo da fraude, etc. Isto significa dizer que os mdiuns que habitualmente atuam nas reunies chamadas de desobsesso e desenvolvimento medinico, no esto preparados para um trabalho de pesquisa. preciso ter-se em mente, que as reunies de pesquisa, so absolutamente diferentes das reunies acima referidas. E isso serve para os encarnados como para os desencarnados. Por outro lado, as reunies de pesquisas requerem mdiuns tarimbados, com muita experincia na relao medinica, cientes e conscientes do trabalho que iro realizar. Mdiuns que j aprenderam a distinguir suas idias da dos Espritos comunicantes. Que entendem sua funo de instrumento passivo da comunicao, Que no se sintam responsveis por aquilo que esto lhe transmitindo. Que conseguem aceitar crticas e observaes, tanto aos Espritos, quanto sua prpria posio como mdium. Enfim, que estejam suficientemente integrados ao estilo de trabalho e por ele tenham entusiasmo e prazer. Os mdiuns devem ser espritas atuantes nas casas espritas ou isso condio que se possa dispensar? H mdiuns dentro e fora dos Centros. Existem mdiuns excelentes, estudiosos, srios e que acabam amortecendo sua faculdade ou realizando seus prprios trabalhos, porque no encontram campo ideal para suas aspiraes dentro dos Centros Espritas. A falha deles ou dos Centros? Comumente conclumos que o mdium no se adaptou porque no quis. Mas nem sempre essa a realidade. claro, que a preferncia tende para os mdiuns que j esto integrados na casa, principalmente porque so instados ao estudo da D.E. e encontram-se familiarizados com o meio, sendo isso um ponto positivo.Entretanto, as resistncias naturais dentro dos Centros quanto aos trabalhos de pesquisa, muitas vezes impedem que os mdiuns possam servir a esse mister. Busquese ento, esses mdiuns e proponha-se-lhes um treinamento adequado para participarem do grupo. importante, tanto para mdiuns espritas atuantes ou no, fazer um exame prvio de cada um, atravs de entrevistas informais para analisar a estrutura de pensamento, a filosofia de vida, as idias fixas ou preconcebidas, o equilbrio emocional, a cultura geral, o conhecimento da D.E., se como mdium aceita crticas e orientaes e se no est muito ligado a um determinado Esprito (que pode significar fascnio).Apesar de nos servimos de mdiuns j formados e com longa experincia, o novo tipo de trabalho a que estaro ligados requer, como dissemos, uma adaptao para que se produzam os resultados esperados. Assim, nesse treinamento bom sempre lembrar algumas recomendaes, como as que se seguem: O que se passa atravs do mdium deve, em verdade, estar sujeito influncia do esprito dos vivos. As idias preconcebidas, a vontade, a imaginao, os sentimentos, os pontos de vista particulares no podem deixar de exercer uma influncia, mais ou menos acentuada, sobre as comunicaes que os Espritos de mortos procuram transmitir, por intermdio de um crebro alheio. Alm disto, as influncias mesmricas e psicolgicas da parte da mentalidade dos experimentadores, que podem dominar a do mdium, devem igualmente produzir um efeito perturbador anlogo. Segue-se que certas comunicaes provenientes de Espritos elevados so transmitidas ou, mais acertadamente, so traduzidas de um modo vulgar, no raro completamente diferente daquilo que foi ouvido pelo Esprito comunicante. como se um francs se comunicasse com um ingls por intermdio de um dinamarqus, pouco familiarizado com aqueles dois idiomas. O interlocutor ingls teria no pequena dificuldade de apreender o sentido do recado transmitido.Em casos desta natureza nunca podemos estar certos de ser a comunicao recebida traduo perfeita do que tinha o Esprito comunicante intuito de transmitir. (Adin Ballou, do livro Spirit Manifestation18952, citado por E.Bozzano em Metapsiquca Humana). E ainda, alguns conselhos de A. Luiz, do livro Desobsesso: * Desenvolvimento da autocrtica; * Aceitao dos prprios erros, em trabalho medinico, para que se lhes apure a capacidade de transmisso; * Reconhecimento de que o mdium responsvel pela comunicao que transmite;* Absteno de melindres ante apontamentos dos esclarecedores ou dos companheiros, aproveitando observaes e avisos para melhorar-se em servio;

* interesse real na melhoria das prprias condies de sentimento e cultura; * Defesa permanente contra bajulaes e elogios, conquanto saiba agradecer o estmulo e a amizade de quantos lhe incentivem o corao ao cumprimento do dever.; * Discernimento natural da qualidade dos Espritos que lhes procurem as faculdades, seja pelas impresses de sua presena, linguagem, eflvios magnticos, seja pela sua conduta geral.. Interessante tambm citar do excelente trabalho de Ademar Chioro dos Reis- MECANISMOS DA MEDIUNIDADE / PROCESSO DE COMUNICAO MEDINICA - edio CPDOC, pg22: Por outro lado, quando o mdium no vibra, no participa no seu ntimo do trabalho, no coopera, a produo do fenmeno muito difcil para o Esprito comunicante. Desta forma, o Processo de Comunicao Medinica depende em muito da postura do mdium. O ser do mdium produto de sua maneira de viver, de ver e sentir a vida, desse contnuo de vivncia. Se mal humorado, reclamante, descrente, negativo, ainda que na hora da reunio faa as mais sentidas preces, dificilmente vai se tornar um plo atrativo.

III)

Nmero de Participantes

Quanto ao nmero ideal de participantes, entre mdiuns e pesquisadores, no h nenhuma regra pr-estabelecida. A prtica nos tem ensinado que um a quantidade muita grande de pessoas, contraproducente, porque se torna difcil o controle da reunio e a indispensvel ligao mais homognea possvel de idias e objetivos. Leon Denis, em seu livro No Invisvel, sugere de quatro a oito pessoas. Hermnio C. Miranda acrescenta: claro, porm, que um grupo muito pequeno tem suas possibilidades tambm limitadas. ...Acima dos oito componentes sugeridos por Denis, vai-se tornando mais difcil a tarefa, no apenas do dirigente encarnado do grupo, como de seus orientadores invisveis, porque a equipe se torna mais heterognea, o pensamento divaga, quebra-se com freqncia o esforo de concentrao e o prejuzo certo para a tarefa. possvel, no entanto, se alcanada impecvel homogeneizao, fazer funcionar razoavelmente bem um grupo com mais de oito pessoas, mas acima de doze vai-se tornando bastante problemtica a sua eficcia. (Dilogo com as Sombras- Hermnio C. Miranda). Allan Kardec, em Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas, pg. 148, assevera: A influncia do meio faz compreender que quanto menos numerosos somos nas reunies tanto melhor esta decorre, pois que, assim, mais fcil obter homogeneidade. Entretanto, concebe-se que, se cem pessoas reunidas esto suficientemente recolhidas e atentas, obtero mais do que dez que fossem distradas e ruidosas.. Portanto, o nmero de pessoas depender sobretudo dessa homogeneizao , sendo a quantidade de mdiuns suficiente para se garantir comunicaes e/ou experincias em todas as reunies.

IV)

A equipe de Espritos

Obviamente, para que haja possibilidade de realizao da pesquisa medinica, imprescindvel a colaborao e a integrao de um grupo de Espritos. Se o trabalho for realizado no Centro, isso dever ser feito atravs dos Espritos que dirigem as reunies medinicas habituais. Sempre h um a quem denominamos mentor, guia ou orientador. interessante, conversar com ele sobre os nossos desejos de fazer o, trabalho, pedir sua opinio a respeito, sua colaborao e apoio logstico. Apoio logstico, o conjunto de providncias que ele dever tomar para a efetivao do trabalho do lado l, como: organizar uma equipe de Espritos interessados, afinados e competentes para esse tipo de objetivo; estrutura de ambientao e proteo das reunies; nomeao de um ou mais coordenadores para , em funo dos assuntos que sero colocados, trazer convidados ou preparar material para atender as indagaes. Evidentemente, essa organizao no se estabelece de pronto. Levar algum tempo porque inicialmente os Espritos precisam ter certeza de que o grupo de encarnados est realmente interessado, demonstra vontade, seriedade, constncia, etc. Aos poucos os grupos de c e de l vo se integrando e o trabalho vai evoluindo com segurana. Necessrio dizer que o comando dos trabalhos dos encarnados. Ns que devemos conduzir os temas e a forma como devem ser desenvolvidos. A equipe de Espritos, que tambm no so meros instrumentos passivos dos nossos desejos, deve ser ouvida sempre que qualquer alterao importante for decidida, assim como dar instrues sobre questes medinicas, informaes sobre

determinados Espritos e suas comunicaes. Na verdade, deve-se estabelecer uma parceria com eles, sem qualquer inteno de imposies de ambos os lados. O trabalho de pesquisa deve ser profissional tanto quanto possvel, pois amadorismo para principiantes. Uma questo pode ser levantada: e se o Esprito guia ou mentor, no concordar com a reunio de pesquisa? E, se os dirigentes forem do tipo que no discutem a opinio do Esprito guia? Ento, no haver condies de se realizar o trabalho nesse Centro, porque, se a palavra final for do Esprito guia, a cultura da casa jamais permitir qualquer ato de rebeldia a essa ordem. Que fazer? A opo do grupo interessado partir para uma de duas decises: fundar um grupo independente, confiando que alguns Espritos (talvez at familiares) interessados se engajem idia e possam consumar o objetivo desejado; ou bater porta de outro Centro que no tenha objees a esse tipo de reunio. O grupo de pesquisa precisar estabelecer com os Espritos, uma posio muita clara com relao qualidade dos Espritos que sero convidados a participarem das indagaes: somente quem for especialista nos assuntos pautados. Tambm Espritos evocados nominalmente. Neste tipo de reunio no haver lugar para doutrinaes, desobsesso e Espritos sofredores, a menos que sejam parte de estudo de casos propostos pelos Espritos. O coordenador encarnado estar sempre atento para que a reunio no seja invadida por Espritos perturbadores cujo objetivo impedir a sua continuao. Para isso os Espritos coordenadores, devem estar preparados, como comum nas reunies medinicas. Citamos como exemplo de organizao dos Espritos, o que ocorreu em 1989, no Centro Esprita Allan Kardec, quando se iniciou uma reunio de pesquisa medinica. O Esprito orientador, Rafael, atendendo nossos desejos, incorporou plenamente e tratou de formar uma equipe dentre os Espritos que j atuavam na casa, nomeando um coordenador para se dedicar inteiramente a esse trabalho. Os frutos foram excelentes como mostraremos adiante.

V)

Variedade de mdiuns

Para um trabalho de pesquisa, quanto mais tipos de mdiuns aparecerem, mais interessante e rico ser o resultado. Em nossos meios, entretanto, est cada vez mais raro encontrar mdiuns como por exemplo, de efeitos fsicos, materializaes, pneumatofonia, etc. Os mais comuns so os de psicofonia e psicografia. Nesse caso, a pesquisa deve ser desenvolvida em funo dos tipos de mdiuns que temos disponveis. Para a indagao direta aos Espritos, a psicofonia a mais indicada, por sua natureza, que se presta a uma conversa dinmica, tornando o trabalho mais eficiente, rpido. A psicografia tambm muito usada, e pode se dar concomitantemente a uma comunicao psicofnica. Nossa experincia pessoal restringe-se pesquisa atravs desses dois tipos de mediunidade. Alm dessas duas modalidades, algumas tentativas com mdiuns videntes no foram muito produtivas. H quem defenda a prtica de ter um mdium vidente sempre presente s reunies medinicas, ou de preferncia que o coordenador seja vidente. Entretanto, em se tratando de modalidade to problemtica, prudente no confiar sem exame apurado as informaes advindas desses mdiuns. Allan Kardec, em o Livro dos Mdiuns cap. XIV, n171, afirma: Quanto aos mdiuns videntes, propriamente ditos, so ainda mais raros e temos muitas razes para desconfiar dos que pretendem ter essa faculdade. prudente no lhes dar f seno mediante provas positivas. Algumas pessoas podem sem dvida enganar-se de boa f, mas outras podem simular essa faculdade por amor-prprio ou por interesse. Nesse caso, deve-se particularmente levar em conta o carter, a moralidade e a sinceridade habituais da pessoa. Dentro das modalidades de psicofonia e psicografia, quais os melhores mdiuns para o trabalho de pesquisa medinica? O mdium chamado de inconsciente na psicofonia o que melhor se presta para esse tipo de trabalho, porque a sua influncia sobre a comunicao praticamente nula. Enquanto que o mdium consciente tem maior dificuldade em isentar-se das idias do Esprito comunicante. O mesmo se d em relao ao mdium psicgrafo, reputando-se maior segurana quanto fidelidade da comunicao psicografia mecnica. Como se distinguir essas faculdades? O prprio mdium poder informar em funo daquilo que sente durante a comunicao. Desse modo, poderemos classificar cada mdium e tratar cada comunicao de

acordo com essas caractersticas. Como diz Kardec: O papel do mdium mecnico o de uma mquina; o mdium intuitivo (consciente) age como um intrprete. (O Livro dos Mdiuns). Quanto aos mdiuns audientes, tambm encontramos srias restries porque, como no caso dos videntes, no o Esprito comunicante que se expressa diretamente utilizando-se dos rgos especficos do mdium. Ele, o mdium, ouve uma suposta voz de um suposto Esprito e repete o que este diz. fcil concluir que essa comunicao pode ser bastante modificada pelo intrprete, perdendo assim a confiabilidade quanto ao original. Obviamente, no h necessidade de se recusar esses mdiuns para o trabalho. Mas, suas comunicaes devero ser cuidadosamente analisadas e se for percebida qualquer tentativa de fraude por parte do mdium, o afastamento inevitvel.

CAPTULO SEGUNDO
I) AS REUNIES

1) Reunies medinicas
Uma das primeiras condies, quando se pretende evocar os mortos, a concentrao. necessrio, tanto quanto possvel, que os assistentes evitem as discusses calorosas ou fteis que perturbam os mdiuns e alteram a harmonia do grupo. Sem dvida, no h necessidade de preces, porque evocamos seres como ns, que s por sua invisibilidade diferem dos humanos; mas, a comunho dos pensamentos, o desejo sincero de se instrurem devem guiar os experimentadores. (Gabriel Delanne, O Fenmeno Esprita). O estilo de reunio de pesquisa, apesar de se enquadrar nas recomendaes acima e de outras que em geral faz Kardec para s reunies medinicas, difere bastante das sesses habituais efetuadas nos Centros Espritas. Nossa experincia em Santos, levou-nos a considerar, por exemplo, que a iluminao artificial, a luz eltrica comum, em nada influi na realizao do fenmeno medinico do tipo psicofnico ou psicogrfico, nem na concentrao dos mdiuns e dos pesquisadores. Ao contrrio, a claridade total torna a reunio menos formal, fazendo-a parecer-se a uma pequena assemblia onde todos tm vez de participar, ouvindo, perguntando e at trocando idias entre si. Entretanto, a observao de Kardec sempre vlida em qualquer circunstncia: Uma reunio um ser coletivo cujas qualidades e propriedades so a soma de todas as dos seus membros, formando uma espcie de feixe.Ora, esse feixe ser tanto mais forte quanto mais homogneo. (O Livro dos Mdiuns- n331) Quando da elaborao do primeiro captulo, no nos referimos propositalmente funo de liderana, ou coordenao. Isto porque, o grupo no necessita de um condutor moda tradicional. A liderana de algum surgir espontaneamente pelas qualidades naturais e o prprio grupo o reconhecer e aceitar sem problemas. Pode-se tambm estabelecer coordenao rotativa por perodos, o que seria a melhor forma a ser adotada. Esse coordenador teria a responsabilidade de marcar reunies, providenciar as atas das reunies, manter a harmonia do grupo e abrir e fechar as reunies. A prtica fez notar tambm que a regularidade nas sesses uma das causas de xito. Tanto quanto possvel, necessrio que a reunio se d no mesmo local, nos mesmos dias da semana, e s mesmas horas. (Gabriel Delanne- O Fenmeno Esprita). Nada mais destrutivo para um trabalho do que a constante mudana de local, hora, dia. A reunio no pode ficar merc das dificuldades de alguns de seus participantes em comparecer. Quem no pode enquadrar-se s regras bsicas para o desenvolvimento srio do trabalho, no deve se comprometer a participar. A ordem dos assuntos e a indagao aos Espritos obedecero a um plano pr-estabelecido pelo grupo, em outro tipo de reunio, de que trataremos abaixo. O coordenador da reunio, inicialmente convidar a todos os presentes a ordenarem seus pensamentos para o momento procurando com algumas palavras,harmonizar o ambiente, utilizando inclusive de alguns recursos de concentrao que poder ser uma prece simples ou mesmo a leitura de algum trecho de livro ou artigo

cujo tema contribua para elevar o tnus vibratrio dos que se encontram na sala, inclusive os Espritos.no h frmulas especiais, no se cria hbitos msticos, nem atitudes religiosas. Da mesma forma que se estabelece uma hora para comear a reunio, o trmino da mesma tambm ser previsto. O excesso de tempo contribui para o cansao dos mdiuns e dos demais participantes, alm do que os Espritos tambm tm seu tempo definido de participao. Mesmo porque, os assuntos naturalmente sero seriados, devendo estender-se por vrias reunies. No deve haver pressa no trabalho de pesquisa. Terminada a reunio, o mnimo de comentrios sobre as comunicaes se impe, principalmente se podero atingir a pessoa do mdium. Comentrios, dvidas, crticas sero objeto de reunio especfica de que trataremos mais abaixo. A primeira evocao dever ser feita ao Esprito coordenador da equipe espiritual, para que ele apresente suas opinies a respeito do trabalho, faa tambm suas crticas, e uma prvia do que est previsto para a reunio presente. Em seguida os mdiuns sero instados a se colocarem em posio de receptores e o coordenador, se estiver previsto, evocar nominalmente o Esprito cuja presena foi selecionada pelo grupo no planejamento. A partir da a reunio seguir seu rumo previsto, cabendo ao coordenador a primeira indagao e as demais seguiro conforme a ordem prestabelecida , havendo,entretanto, liberdade de perguntas por parte dos pesquisadores, desde que dentro do tema que est sendo abordado. As reunies sero gravadas em fitas de udio e vdeo (opcional). Posteriormente, as fitas de udio sero ser transcritas e anexadas aos relatrios (Ata) e as de vdeo, reproduzidas para uma avaliao mais profunda, bem como registro de manifestaes fsicas que possam vir a ocorrer durante o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Sempre que necessrio, aparelhos podero ser usados, como por exemplo: eletrocardigrafos, medidores de presso, mquina kirlian, eletroencefalgrafos, etc. Cada reunio ter uma Ata ou Instrumento de Registro (modelo/exemplo Anexo I), onde constem dados como: lista de presena, data, hora, nmero de comunicaes, assuntos tratados, mdiuns que produziram, nome dos Espritos comunicantes. O translado das fitas sero anexados s respectivas atas.

2) Reunies de estudo e debates


O trabalho de pesquisa, por sua importncia e complexidade, no pode restringir-se a uma nica reunio medinica, semanal. Temas devem ser pr-debatidos, estudados, assim como posteriormente, isto , depois de receberem novas contribuies dos Espritos, sero novamente debatidos em grupo para aferir os bons resultados. Nessas reunies, presentes os pesquisadores, sero elaboradas as questes bsicas e roteiros para as reunies de contato com os Espritos. Somos de opinio, muito embora verifiquemos que a maioria dos confrades com que j debatemos o presente trabalho, no concorde, que os mdiuns devam participar das reunies de preparao. Defendemos essa posio por entender que os mdiuns precisam amadurecer em termos medinicos, desenvolvendo a capacidade de separar as suas idias da dos Espritos comunicantes. Os mdiuns so habitualmente tratados como instrumentos no muito confiveis na comunicao, e at entendemos que isso inevitvel em funo da formao doutrinria, psquica e comportamental que comum nessa rea. Como dissemos em algum lugar, isso, para a rea de pesquisa precisa ser mudado. Porm, como se trata de assunto polmico, no tomaremos posio definitiva sobre a questo, deixando a cada grupo fazer a experincia e tirar suas prprias concluses. Uma outra finalidade para as reunies de debates ou estudo, evitar uma segunda reunio logo aps a medinica. Alm de ser improdutiva, por causa do cansao de todos, alguns comentrios no sero nada interessantes para os mdiuns presentes, porque fatalmente sero envolvidos nas crticas aos Espritos, qualidade da comunicao, o que em condio posterior de estudo programado, poder ser evitado. Por outro lado, no devemos esquecer que os Espritos comunicantes geralmente permanecem no local da reunio por algum tempo, sendo desagradvel citaes a seu respeito, sem que possam usar da palavra para se explicarem. Discutidas tais questes

em reunies extras, podero novamente ser reformuladas, dando, ento, chance ao Esprito de tecer novos esclarecimentos. Tambm podero ser realizadas outras reunies, sem a necessidade de periodicidade rigorosa, para debates mais amplos dos assuntos em estudo. Essas reunies podero contar com a presena de convidados, sem nmero pr-definido e nelas os assuntos pesquisados sero expostos para fins de estudo e debates, sem a pretenso de proclamar como verdades definitivas ou informaes insuspeitas, as comunicaes. Nunca esquecer que a pesquisa inesgotvel e cada dia mais se aprende. Cada assunto estudado e debatido fornecer mais e mais material para perquirio.

3) O que perguntar aos Espritos?- Metodologia


Allan Kardec, em Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas , trata do dilogo que se pode estabelecer com os Espritos: convm dirigir perguntas aos Espritos? Algumas pessoas pensam que devemos nos abster e que preciso deixar-lhes a iniciativa do querem dizer. Baseiam-se em que o Esprito, falando espontaneamente, expressa-se mais livremente, no diz seno o que quer, e assim ficamos mais certos de ter a expresso de seu prprio pensamento. Supem que at mesmo mais respeitoso deixar-lhe livre escolha a lio que julgar conveniente ministrar. A experincia, contnua, contradiz essa teoria, como tantas outras nascidas quando do incio das manifestaes. O conhecimento das diferentes categorias de Espritos estabelece o limite do respeito que lhes devido e prova que, a no ser que estejamos certos de no tratar seno com seres superiores, seu ensino espontneo no seria sempre edificante. Ainda mais: Reduzirmo-nos, em sua presena, a um papel puramente passivo seria um excesso de submisso que eles no exigem. O que desejam ateno e recolhimento. E adverte: Os Espritos podem abster-se de responder por vrios motivos: 1) a pergunta pode desagradar-lhes ; 2) eles nem sempre tm os conhecimentos necessrios; 3) h coisas que lhes proibido revelar. Se, pois, no satisfazem a uma pergunta porque no querem, no podem ou devem. Seja qual for o motivo, regra invarivel que todas as vezes que um Esprito se recusa categoricamente a responder nunca se deve insistir. Quanto metodologia, no poderamos utilizar outra que no a kardequiana. Isto porque, o estilo de pesquisa que propugnamos neste trabalho, volta s origens do incio da D.E.. Como deixamos claro na Introduo, o objetivo dos grupos de pesquisa medinica, no provar a existncia do Esprito, a reencarnao, a evoluo, etc. etc. A pesquisa no se destina ao pblico no esprita. Poder ter um carter rigorosamente cientfico, se assim o grupo decidir e tiver condies tcnicas para isso. Poder restringir-se simples perquirio com algumas experincias quando surgir oportunidade e meios medinicos adequados. Ela pretende ser um campo de extenso para o conhecimento esprita. Assim, nada mais do que correto utilizarmos as tcnicas semelhantes s do Mestre. Evidentemente, adaptaes, inovaes e at uma maior ousadia so introduzidas no plano atual. De qualquer modo, Kardec traa algumas regras que no devemos nuca nos esquecer no trato com os Espritos: Dois pontos essenciais devem ser considerados na formulao das perguntas: o fundo e a forma. Quanto forma elas devem, embora sem fraseologia ridcula, demonstrar as atenes e a condescendncia que se devem ao Esprito que se comunica, se ele superior, e nossa benevolncia, se ele nosso igual ou inferior ns. De outro ponto de vista elas devem ser claras, precisas, sem ambigidade. preciso evitar aquelas que comportam um sentido complexo. De preferncia melhor formular duas, se necessrio. Quando o assunto requer uma srie de perguntas, importa que elas sejam classificadas com ordem, se encadeiem e se sucedam metodicamente. Eis porque sempre til prepar-las de antemo, o que, de resto, como dissemos, uma espcie de invocao antecipada, que prepara caminhos. Meditando-as com vagar ns as formulamos e as classificamos melhor, e obtemos respostas mais satisfatrias. Isto no impede acrescentar, no curso da conversao, perguntas complementares, nas quais no se tivesse, ou que podem ser sugeridas pelas respostas; mas o quadro est sempre traado, e isto o essencial. (o grifo nosso). (Idem, Allan Kardec- Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas-) Dentro desse critrio metodolgico, que so indispensveis as reunies de preparao e estudo conforme expusemos acima. intil querer desenvolver trabalhos srios em aprofundamento

doutrinrio, sem determinao e esforo pessoal. Se no for possvel cumprir as etapas metdicas como prope Kardec, bom nem pensar em comear. As decepes sero muitas e os Espritos srios se afastaro com certeza. Para exemplificarmos no plano prtico, apresentamos um modelo desenvolvido pelo GPCEB Grupo de Pesquisas Cientficas Ernesto Bozzano, de Santos, incluso nos trabalhos j citado de Ademar Arthur Chioro dos Reis: Mecanismos da Mediunidade- Processo de Comunicao Medinica, para o grupo de pesquisa do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos, do qual participamos e do qual faremos algumas incluses a ttulo de exemplo de experincia, mais frente. A metodologia de trabalho utilizada foi a anlise crtica dos dilogos efetuados pelo grupo com os Espritos comunicantes e estabeleceu-se , para tanto, alguns objetos de investigao, quais sejam: a) Estrutura do CEAK no plano espiritual b) Estrutura do Movimento Esprita no Plano Espiritual c) Mecanismos da Mediunidade, o processo de comunicao medinica; d) A vida no Plano Espiritual; e) Perisprito f) Emisses Energticas distncia. Para cada um dos objetos designou-se um responsvel, com tarefa inicial de realizar pesquisa bibliogrfica em relao ao tema, com a conseqente elaborao de um roteiro de questes a serem respondidas pelos Espritos, como o exemplo abaixo:

I PERISPRITO
1- o esprito um princpio totalmente distinto dos conceitos hoje conhecidos de matria/energia, ou uma simples diferenciao destes princpios? E o perisprito? 2- Pode-se conceber a existncia do esprito sem perisprito e vice-versa? 3- A analogia que se faz muito comumente entre esprito/perisprito e corpo/roupa vlida? 4- A forma do perisprito sempre a humana ou pode tomar formas diversas como a de animais, fachos de luz, etc?

II MEDIUNIDADE
1- Kardec coloca que s a experincia pode revelar a mediunidade. Haveria alguma caracterstica que possibilitasse a identificao do mdium? Existe alguma transformao visvel no perisprito? Podem ser feitas medidas fsicas (biomtricas) com o mdium que caracterizem a mediunidade? 2- A vontade do mdium fator limitante para os fenmenos de ordem fsica, ou mesmos podem ocorrer revelia deste? 3- Nos fenmenos fsicos onde h deslocamento material, Kardec cita que os espritos do vida factcia aos objetos. Como se d isso? A teoria das alavancas psquicas no uma explicao vlida? 4- A interveno dos espritos pode ser violenta a ponto de ferir pessoas? 5- Em alguns casos de manifestao obsessiva a prece no se mostra eficaz. Por que? 6- Nos fenmenos de transporte de objetos (aports) o que ocorre uma iluso dos sentidos, ou seja, os objetos so escondidos primeiramente para serem depois revelados, ou h alguma forma de desmaterializao?

III- VIDA ESPRITA


1- Podem os espritos criar objetos permanentes? Uma ma criada, por exemplo, teria gosto, cheiro, seria uma ma real?

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2- Pode um esprito vir a habitar um corpo que outrora pertenceu a outro esprito, ou seja, um corpo que o esprito original abandonou? (Vide relato sobre DAVID PALADIN e WASSILY KANDISNKI) 3- Como contado o tempo? 4- O sol exerce alguma influncia (atravs do calor, contagem do tempo,etc.) ? 5- Como so os sistemas de comunicao? Existem rdios, televiso, etc.? 6- possvel a gravao direta em fita magntica das comunicaes ? 7- Como so mantidas as formas materiais no plano espiritual? 8- As relaes afetivas como casamentos, relaes sexuais, so mantidas apenas pelos espritos inferiores? 9- Existem instalaes de pesquisa cientfica como laboratrios por exemplo? No grupo a que pertencem existem interessados neste tipo de atividade?

CAPTULO TERCEIRO
1) Divulgao dos trabalhos
muito comum entre os estudiosos de qualquer assunto, o desejo de levar ao conhecimento de outros aquilo que descobrimos, inventamos ou ficamos simplesmente sabendo. Essa impacincia leva ao abortamento de muitos trabalhos arduamente construdos. A precipitao no , nem de longe, amiga da pesquisa. Na verdade, nossas incurses via medinica no nos vo apresentar, inicialmente, novidades surpreendentes. O resultado mais iminente, ser o corolrio daquilo que aprendemos na base kardequiana, em A. Luiz e outros. A partir da, com pacincia, inteligncia, persistncia e, mais do que nunca, seriedade, poderemos sim conseguir avanar bastante. Convidados, considerados por ns ilustres, comearo a aparecer e isso nos far muito felizes, mas aumentar nossa ansiedade para revelar aos outros, de fora, essa presena querida e sua contribuio. O comunicante ilustre, no estar interessado, assim entendemos, na explorao, ainda que carinhosa, da sua pessoa, mesmo porque, nem todos aceitariam com facilidade o fato, uma vez que h um envolvimento de grupos, amigos e parentes quando encarnado, que no aceitaro com facilidade a comunicao, podendo at considerar fraude. Em geral, pedem at que nada seja divulgado, at uma segunda ordem, principalmente quando sua opinio agora, oposta quela que sempre manifestou quando encarnado Por isso necessrio ter muito cuidado com comentrios sobre os Espritos comunicantes. O grupo de pesquisa pode inclusive decidir que o seu trabalho servir apenas e to somente, para a sua prpria ilustrao e dos que pertencem ao seu crculo, o que no os impedir de participar de um trabalho mais amplo de troca de experincia com outros grupos previamente combinados. Em se tratando de um trabalho de equipe, os membros dos grupos, em matria de divulgao, devem decidir quem e o que dever ser levado ao conhecimento pblico, abstendo-se cada membro de falar por si, sem a concordncia dos demais. Evidentemente, isso no significa que cada um individualmente no possa reforar seus temas de palestras e exposies com o material que est sendo pesquisado, tendo o cuidado, porm, de no comprometer com exacerbaes o trabalho do grupo.

2) Publicao de material
No momento em que o grupo verificar que j possui um considervel material que represente algo de peso em matria de aprofundamento doutrinrio, cientfico ou filosfico, ser interessante procurar uma forma de publicao. Isto ser de muita utilidade para outros grupos e para os estudiosos em geral. Alis, o objetivo de todo o trabalho de pesquisa, servir de apoio ao desenvolvimento intelectual. Especialmente se o trabalho do grupo avanou a tal ponto, que seria incompreensvel manter todo o material fechado ao conhecimento dos outros.

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A preparao da matria para publicao observar alguns critrios que sero decididos em conjunto com os Espritos, porque eles so os responsveis pelas informaes e idias, que podem ter um peso muito significativo, alm do envolvimento pessoal de que j tratamos alhures. A publicao pode ser feita em forma de Atas, ou matria corrente redigida por algum do grupo, ou por um subgrupo, sem citao de nomes de Espritos comunicantes, importando nesse caso, no o peso do nome, mas a profundidade do material. Excelente trabalho nesse sentido e j citado acima, foi produzido para o CPDOC por Ademar Arthur C. dos Reis MECANISMOS DA MEDIUNIDADE- PROCESSO DE COMUNICAO MEDINICA- baseado nas respostas dos Espritos, no perodo de quase dois anos, do grupo de pesquisa Ernesto Bozzano, em Santos. Em qualquer caso, as publicaes devem sempre manter o carter de material de pesquisa de grupo, no sendo propriedade de ningum em particular, e muito menos sentido de revelao superior e inquestionvel. O que seria um contra -senso.

CAPTULO QUARTO
1 Uma experincia
Toda a exposio precedente baseia-se no somente na teoria doutrinaria absorvida das obras bsicas e na literatura abundante que aborda os temas relativos as comunicaes medinicas. Ela fruto tambm da prtica de vrios anos, tanto do autor, quanto de companheiros com maior ou menor experincia na rea. No ano de1989, o Centro Esprita Allan Kardec, de Santos, que se caracteriza pelas suas arrojadas empreitadas e realizaes inovadoras, visando dinamizar o desenvolvimento das idias espritas, decidiu criar uma reunio de pesquisa doutrinria, por via medinica., Assim, aproveitando at certo ponto, a inrcia de um trabalho antigo de desobsesso, j pouco produtivo, onde mdiuns experientes, doutrinariamente bem formados e habituados ao clima democrtico de debates que flua normalmente no Centro, comeavam a se entediar, transformouo em um grupo de pesquisa. Para tanto, convocou a equipe de Espritos que trabalham na Casa, nos vrios departamentos, tanto medinicos, quanto de vibraes, passes, mocidade, etc. Conversas foram entabuladas para se definir o novo trabalho e para conseguir o apoio e a participao efetiva dessa equipe juntamente com os encarnados, o que foi aceito sem problema porque a comunho de idias entre os dois lados sempre foi satisfatria. evidente que em se tratando de um estilo de trabalho, no comum nos meios espritas organizados tiveram todos que se adaptar. Principalmente porque teriam que ser quebradas certas barreiras no tratamento com os Espritos, j que estes, habituados a serem preservados de certas impertinncias dos encarnados, uma cultura que os guias e dirigentes passivos de reunies medinicas desenvolveram nas reunies tradicionais de desobsesso, desenvolvimento, etc. Mas, a equipe j afinada com a turma rebelde do CEAK, topou participar da pesquisa, ser sabatinado com liberdade, sem mesuras, nem posies de supremacia e distanciamento entre um e outro mundo. Sem respeito, dentro do respeito que se devem as pessoas civilizadas, srias e com objetivos superiores. A equipe de Espritos que atua nos trabalhos do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos, liderada por um Esprito de nome Rafael. Conforme ele nos informou, seu retorno ao mundo espiritual, l pelos anos quarenta, deu-se quando ainda era um jovem e no tinha nenhum conhecimento da Doutrina Esprita. Portanto, seu aprendizado foi inteiramente construdo nos cursos, palestras e leituras como Esprito errante e sua experincia medinica junto aos Centros Espritas. A verdade que esses Espritos nunca revelam totalmente sua condio, especialmente a intelectual, deixando que ns, atravs das suas manifestaes ou intervenes, faamos o nosso conceito a respeito deles. E, atravs do longo convvio aprendemos a respeit-lo pela sua personalidade, bondade, abnegao e esprito de liderana sem afetao e sem intromisso descabida em qualquer assunto pertinente a ns encarnados. Algumas vezes, mesmo instado por alguns companheiros a avanar os limites de sua competncia, recusou-se a atender, demonstrando com isso a ausncia de

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qualquer veleidade em relao ao poder. Assim, quando consultado sobre a possibilidade de desenvolvermos as reunies de pesquisa com a sua colaborao e dos demais Espritos por ele liderados (ou coordenados, como prefere dizer), no hesitou e comeou imediatamente a organizar o servio do seu lado. Foi em busca de outros elementos, distribuiu tarefas e promoveu reunies para estudar junto com o grupo encarnado. A um dos convidados de nome Pedro, entregou o trabalho de orientao doutrinria, tendo este inclusive a responsabilidade (no sabemos se somente ele) de trazer Espritos para atender a temas especficos. O departamento de mocidade do Centro havia fundado em 1986, o GPCEB- Grupo de Pesquisas Cientficas Ernesto Bozzano, reunindo jovens em sua maioria engenheiros e que desenvolviam um trabalho de pesquisa literria. Com a criao do grupo de pesquisa, o GPCEB foi convidado a participar das reunies, as quais dentro em pouco tempo passou a coordenar. Assim, o grupo de pesquisa passou a contar com seis mdiuns, entre psicgrafos, psicofnicos e vidente (ocasional) e seis pesquisadores, a maioria com formao universitria nas reas de medicina, odontologia, engenharia, psicologia e direito. Observe-se que a graduao acadmica no foi procurada, nem selecionada, simplesmente coincidiu. Como toda nova experincia e, especialmente uma prtica medinica diferente da habitual, o comeo foi um tanto inseguro. Nem sempre se conseguia comunicaes interessantes. A equipe espiritual tambm teve dificuldade de engrenar o novo trabalho. Como se sabe, no se faz pesquisa no estilo em que era proposto pelo grupo, praticamente em lugar nenhum do movimento esprita brasileiro.Os Espritos no estavam habituados com esse modelo. Por isso a dificuldade. Os mdiuns, naturalmente, foram os que mais sentiram a mudana. Apesar da boa vontade e do interesse em participar, da sua experincia, as limitaes naturais se fizeram presentes. Medo, inibio, complexos culturais e outros sentimentos de difcil identificao, tornaram bem difcil o andamento normal dos trabalhos. Dar passagem a Espritos sofredores, obsessores, familiares, uma coisa: o comprometimento do mdium mnimo. Quando se trata, porm, de Espritos com nvel intelectual considervel, submetidos a inquiries, contestaes e, alm disso por vezes personagens que foram importantes, espritas ou no, o mdium tem reaes que muitas vezes travam a comunicao ou desfiguram-na. Por isso no se pode desejar os melhores resultados logo de incio. Podem demorar, at que se consiga a conscientizao do mdium, o entrosamento das equipes.Como temos apregoado em toda a exposio, esse um trabalho de muita pacincia, constncia e persistncia. Se no houver esse esprito, melhor nem comear. Os Espritos no compactuam, com modismos, eles no tm tempo a perder com diletantismos, nem impulsos passageiros. As reunies tinham durao mxima de duas horas, das 20:00 s 22:00 h.Dados estatsticos foram levantados por Ademar Arthur C. dos Reis, no trabalho j mencionado: No perodo correspondente pesquisa houve 101 comunicaes, com a participao de 63 Espritos comunicantes. Deste total, 41 reunies relacionaram-se direta ou indiretamente ao tema em estudo, com opinies obtidas a partir das intervenes de 23 Espritos comunicantes diferentes, alguns entrevistados repetidamente. As informaes foram obtidas em 75% das reunies atravs de comunicaes psicofnicas. Em 18% das reunies realizadas no houve comunicaes. Surpreendente foi a adeso quase imediata dos nossos companheiros desencarnados, especialmente figuras do maior destaque do movimento quando encarnados. Entusiasmo e expectativa por parte deles, que sentem a falta desse trabalho, praticamente inexistente nos Centros Espritas. Um punhado deles, cujos nomes no fomos autorizados a revelar, por motivos bvios que no cabe aqui expor, mas que o leitor facilmente identifica. Observe-se que no se trata de privilgios, nem preferncias em relao ao grupo de Santos. Simplesmente, por ausncia de outros grupos com os mesmos objetivos. Imagine-se, Esprito como Herculano Pires, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy, por exemplo, o que fariam em reunies do tipo desenvolvimento, desobsesso e similares? Claro que nada impede que eles at participem de trabalhos dessa natureza. Mas, no temos dvida de que estariam mais vontade em reunies onde pudessem continuar o trabalho intelectual de que foram expoentes na Terra. Essa oportunidade apareceu, pena que os decepcionamos com a nossa falta de persistncia.

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2) Interrupo da experincia
No prximo captulo registraremos algumas comunicaes obtidas ao longo dos dois anos de trabalho do grupo de pesquisa que estamos focando. Um considervel material sobre o qual poderemos nos debruar e realizar demorados estudos e debates. Acredito que nem mesmo os participantes do grupo detiveram-se o tempo suficiente na anlise desse material, que, como se poder verificar mais adiante, apresenta alguma originalidade no trato de algumas questes doutrinrias, alm de informaes mais detalhadas sobre outras. Os problemas do dia a dia, por vezes o excesso de atividades de cada um, a realizao profissional dos mais jovens, a impacincia de alguns, os problemas existenciais, etc. so freqentemente, os nossos obstculos na realizao das tarefas a que nos propomos. A experincia nos tem ensinado, que, no meio esprita, somente pessoas abnegadas, geralmente desprovidas de ambies intelectivas, tocadas por um sentimento de caridade crist, so capazes de manter-se por anos a fio, fiis a compromissos, religiosamente assumidos. comum nos Centros Espritas, a existncia de dirigentes e mdiuns que participam da mesma reunio por vinte, trinta ou mais anos. Entretanto, quando se pretende algo mais avanado, no campo do conhecimento, com pessoas de nvel acadmico ou com alto grau de cultura, a tendncia durar pouco, muito pouco. Conhecemos vrios grupos de estudos, em todo o Brasil, que no tiveram flego e morreram, como se diz, na praia. Algum poderia dizer que porque a mstica da mediunidade consegue manter as pessoas interessadas. E o que dizer da pesquisa medinica, que tambm utiliza o mesmo canal? O problema est no interesse e amor ao trabalho, salvo melhor juzo. Infelizmente, pelos vrios motivos acima expostos, o trabalho do grupo de pesquisa do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos, deu uma pausa. Alis uma pausa longa demais mas que, felizmente, j terminou. O GPCEB reiniciou suas atividades em 2002, especialmente em funo do momento que vive o movimento esprita, com a abertura dos seminrios e congressos dentro do esprito de atualizao que marcha celeremente no Brasil e no resto do Continente.

CAPTULO QUINTO
1 Relato e Anlise de Algumas Experincias
As pginas seguintes sero dedicadas transcrio, com alguns comentrios, de vrias entrevistas com Espritos, durante as reunies do grupo de pesquisa. As opinies emitidas pelos Espritos a respeito de temas propostos, no sero objeto de crtica neste trabalho, mesmo que haja discordncia doutrinria, porque este no o escopo do mesmo e, alm disso, demandaria um espao muito maior. Limitar-nos-emos transcrio para dar conhecimento do produto da pesquisa. As concluses de todo o acervo conseguido ainda est para ser estudado pelo grupo para, quem sabe, a continuao do trabalho. Parcialmente e individualmente, alguns componentes do GEPCEB, utilizaram o material da pesquisa e desenvolveram excelentes trabalhos literrios, tais como os de Ademar A. C dos Reis, j citado, e Reinaldo Di Lucia Emisses Energticas Distncia. Os Espritos que participaram do grupo de pesquisa, alguns eram conhecidos porque pertenciam, quando encarnados, aos quadros de trabalhadores do Centro. Outros tambm conhecidos, mas vindos de outras localidades, e, entre eles, nomes de expresso nacional. Outros ainda, desconhecidos ou preferindo no ser identificados, usando assim pseudnimos. Nos textos que transcreveremos a seguir, omitiremos nomes do grupo, usando a letra P para pergunta e a letra R para resposta. Entretanto, manteremos os nomes dos Espritos conforme nos passaram, inclusive de personagens conhecidas do meio esprita, mesmo correndo o risco de serem rejeitados por aqueles que no aceitam as idias da turma de Santos. Apenas retiramos os trechos em que so feitas crticas ao movimento esprita, a pedido dos prprios comunicantes.

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1. Reunio do dia 5/12/89. Assunto: Mediunidade Esprito: Pedro de Oliveira


Obs.: O Esprito que se identificou como Pedro de Oliveira, diz ter residido em So Paulo quando encarnado. No foi atuante no movimento esprita. Desencarnado h cerca de vinte anos (isso em 89), estudioso da obra de Kardec e participante de grupo de estudo e pesquisa. A comunicao que transcrevemos no a primeira, sendo que este Esprito foi convidado pelo coordenador espiritual para trabalhar junto ao grupo. Kardec coloca que s a experincia pode revelar a mediunidade. Haveria alguma caracterstica que possibilitasse a identificao do mdium? Existe alguma transformao visvel no perisprito? Podem ser feitas medidas fsicas, biomtricas que caracterizem a mediunidade de alguma forma, ou aparelho? possvel verificar se a pessoa mdium? R - Creio que Allan Kardec acrescentou que a mediunidade tinha uma repercusso biolgica, fsica que provoca alteraes perceptveis nos circuitos das circunvolues, no circuito eltrico do crebro e, em certas circunstncias provoca tambm alteraes, ainda que temporrias, em todo o corpo do mdium, uma vez que h uma ligao energtica da mente com o corpo. Uma vez que essa ligao, em determinadas circunstncias, poder se obter modificaes perceptveis no ritmo cerebral do mdium. Esta possibilidade de haver uma acelerao desse ritmo que fundamentalmente permite que uma pessoa seja mdium, em termos fsicos. Em termos perispirituais as modificaes, se existem, so pouco perceptveis, diria que no so necessrias, uma vez que a mente perispiritual est naturalmente apta a receber as correntes mentais dos desencarnados. P - Andr Luiz, principalmente, descreve como ele pode ver as alteraes s nas circunvolues cerebrais, mas tambm no papel da epfise, glndula pineal. Gostaria que irmo pudesse falar algo sobre essa possibilidade e tambm sobre a questo da epfise, do aparelho fsico propriamente na questo da mediunidade. R Esta questo da epfise est subordinada a uma melhor questo que o, ponto de ligao da mente e o crebro que alguns atribuem a esta glndula. A sua funo primordial a de antena de elevado potencial capaz de converter as ondas mentais em impulsos que se espraiam sobre o cosmo cerebral. Trata-se de uma questo para ns ainda controversa, porque no fcil identificar exatamente todos os pontos, todas as formas sem que a energia mental se liga aos impulsos cerebrais e vice-versa. Supor que esta energia se concentra nesta glndula ainda bastante discutvel, representa a antiga afirmao mstica do 3 olho. O olho mstico na verdade, o 3, o esprito quando se projeta para alm dos limites do corpo. Na verdade, para ns e para o nosso campo de estudo, a glndula pineal (no)* tenha importncia atualmente, uma vez que no conseguimos identificar nela todo este potencial interpretativo, de um lado redutor das correntes mentais de um Esprito desencarnado para um nvel de impulsos cerebrais e de outro, de amplificador destes impulsos cerebrais para as correntes mentais do Esprito. As ligaes mente a mente, so as que fundamentalmente importam na execuo do processo medinico. O assunto, portanto, merece outras consideraes, no apenas esta centralizao na epfise segundo os nossos apontamentos. P - As alteraes cerebrais a que voc se referiu ocorrem apenas quando em transe medinico ou podem ser perceptveis mesmo em situaes de viglia normal? RIsto vai depender da personalidade do mdium que poder, sendo mais sensvel, determinar j um tipo especfico vibracional que caracteriza de maneira evidente um certo desarranjo desses circuitos mentais. Mas tanto para este como para outro menos P

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PR-

dotado ser no momento do transe que esta variao ser mais acentuada e em alguns ser neste momento em que ela acontecer. Acreditamos que no seja aleatrio o fato de se ter mediunidade ostensiva. Qual a razo de o indivduo apresentar esta mediunidade ostensiva, seria merecimento do mdium? uma pergunta muito geral. O que me ocorre pensar que afora algumas pessoas marcantemente destinadas pelo seu prprio processo de vida, seu prprio projeto de existncia, teriam uma certa misso medinica, a maioria possui esta mediunidade ostensiva como uma forma possvel de ser alcanada por qualquer pessoa, mas que neste caso um fruto de uma conquista, de um processo de busca ou desejo acentuado que marcam determinadas pessoas e que lhes do esta caracterstica. Assim como outras demonstram sensibilidade ou no para as artes, como a msica. a resposta, mas certamente opinio pessoal. Insistindo sobre a questo das ondas cerebrais. Alm da alterao que se poderia pegar no Eletroencefalograma, existem algumas outras alteraes hormonais, bioqumicas ou mesmo fsicas, que se poderia observar, mesmo durante o transe? As alteraes nestes casos so eventuais e momentneas, pois caso contrrio haveria um dano no organismo. So alteraes decorrentes da dramaticidade do processo que, como uma pulsao do ritmo cardaco, pode aumentar o esforo fsico e cessando esse esforo votar ao seu normal em poucos minutos. Assim tambm qualquer alterao nestes campos hormonais recuperada imediatamente aps cessar o processo. Da, fica difcil testar estas alteraes, a menos que houvesse instrumentos que captassem, analisassem em fraes de minutos toda uma alterao. Essa alterao poderia ser o cansao, o desgaste de que se fala normalmente? s vezes o Esprito prefere se retirar porque j h um desgaste muito grande do mdium. Poderia ser, mas s vezes o mdium pode, por exemplo, receber o mesmo Esprito e isto lhe provocar temporariamente um estado de alerta corporal como qualquer medo provoca.
* Deve ter havido alguma falha na transcrio da fita cassete, ao nosso ver. Pelo que o Esprito comunicante dizia, faltou a partcula negativa no, para dar sentido sua idia. Por isso inclumos entre parntesis por no existir no texto original gravado na reunio

P-

R-

PR-

PRPR-

Uma descarga de adrenalina, todas estas alteraes? Sim, ele teria este processo na medida que ele perceber o medo do Esprito ou ficar com medo do Esprito, ento o organismo se colocaria em posio de alerta. Mas, independentemente disto, estritamente do ponto de vista da comunicao, ela poderia estender-se por tempo indefinido? Indefinido? Isto seria desgastante para qualquer pessoa, ficar em estado de tenso. O estado medinico um estado de tenso, durante tantas horas seria desgastante e no recomendvel. Esse estado poderamos denominar de excitabilidade mental e mesmo fsica? Excitabilidade mental e corporal em todos os sentidos. Como disse, um fenmeno que no momento em que ocorre h uma tenso fsica. Ele acelera todo o sistema nervoso do mdium que est em alerta, porque neste momento cede parte da sua sensibilidade, de si mesmo, para este processo. como se recebesse ainda que temporariamente um hospedeiro que dependendo do grau de afinidade desenvolve um processo simbitico no campo mental e isto sempre causa tenso e alerta porque desencadeia no mdium uma necessidade de defender sua prpria identidade, o seu prprio eu, e neste momento ainda que simbolicamente est sendo dividido, uma hora, um momento em que fala pensando com outra mente.

PR-

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PR-

A vontade do mdium fator limitante para os fenmenos fsicos, ou estes podem ocorrer revelia do mdium? Alguns fenmenos fsicos mais simples podem ocorrer revelia do mdium, mas os fenmenos que possam ter uma caracterstica mais abrangente, dependem de um desejo, pelo menos aceitao da passividade de um mdium neste objetivo. H fenmenos caracterizados como Poltergeist em que h nitidamente a presena de um Esprito, de uma inteligncia desencarnada. Tambm nestes casos podemos considerar que h presente a vontade do mdium, j que tais fenmenos so extremamente desagradveis? Bom, no sei avaliar a extenso deste fenmeno que voc menciona. Refiro-me a ferimentos, cortes, agresses at o nvel fsico, destruio de objetos, combusto espontnea, etc. Eu preciso estudar esses acontecimentos com mais aprofundamento porque existem foras do organismo que so liberadas pelo processo, digamos, natural. Seria interessante analisar as pessoas envolvidas, a sua instabilidade emocional, os seus medos, as suas ligaes mentais, para podermos estabelecer um estudo criterioso. Me ocorre pensar que certamente, tais fenmenos sero precedidos possivelmente de uma abordagem puramente mental dos Espritos que produzem tais fenmenos com aqueles que possam liberar energias para a sua produo. Estabelecido esse contato mental, certamente por questo de medo, de angstia, a liberao desses materiais aproveitveis para a produo do fenmeno, seriam obtidos pela simples reao emotiva captada pela presena destes Espritos. uma hiptese, porque tambm no comum para ns participarmos ou estudarmos este tipo de fenmeno. Apenas estou tentando refletir sobre as condies que voc estabeleceu na produo desses fenmenos. Seria um fenmeno semelhante ao de obsesso? Sim, seria um fenmeno de obsesso. Talvez de possesso estilizada com a exteriorizao de material ectoplsmico, em virtude do conluio psquico estabelecido, uma vez que tais fenmenos desencadeados geralmente so repetitivos at certo ponto, que devem terminar quando as pessoas envolvidas. (forem esclarecidas ?) *
* Houve falha na transcrio da fita e a frase no foi concluda. colocamos entre parntesis o que entendemos dar sentido ao final da frase.

P-

RPR-

PR-

P-

R-

Sabemos que existem Espritos que conhecem a tcnica de produo destes fenmenos. Pode ocorrer que uma vontade grande do Esprito faa ocorrer o fenmeno sem que ele conhea o mecanismo de produo? Sim, se o Esprito tem muita raiva, dio e tendo a disposio este material, ele simplesmente arremessar o objeto, provocar uma queda e at um ferimento no atropelo do seu desejo, sem que ele fique elaborando exatamente detalhe por detalhe todo o mecanismo que tornaria possvel a produo do fenmeno.

Obs.: Neste ponto, o tema em questo foi suspenso e antes de encerrar a reunio, foram formulados duas questes sobre as construes materiais do chamado plano espiritual: PA respeito de um assunto que foi tratado com outro Esprito, gostaramos que o irmo opinasse sobre as construes a do chamado plano espiritual. Essas construes, ,por exemplo um hospital, real? Existe apenas na mente do Esprito que necessitem do hospital? Outros Espritos poderiam no ver estas construes? R Creio que o primeiro embarao desta questo a conceituao do que real, o real no uma coisa absoluta. Real um processo, muitas vezes metafrico. E outras vezes relativo na mente de uma pessoa enlouquecida. As fantasias e as imagens so metaforicamente reais, mas que evidentemente permanecem como realidade para aquela mente enfermia. No mesmo plano as coisas so sempre reais e so sempre de acordo com o nvel vibracional em que esta realidade construda, mantida e vivida. Por isso o

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hospital ser uma construo real, concreta, auto-existente ao nvel daquela vibrao ou daquela matria, naquele nvel vibracional pode ocorrer que um Esprito em nvel inferior a este real vibracional, possa no perceber a existncia daquele hospital. Ento, na sua vertente da realidade ele no ele no existiria, mas ele continua existindo na vertente da realidade que est construdo. PParece-me, que s so utilizadas aquelas coisas que so necessrias e o real construdo em cima do necessrio. O Esprito em outras dimenses, sejam inferiores ou superiores, e no havendo necessidade no seu plano de existncia de passarem por aquela vila , por aquele plano, por aquele hospital, passariam mas no notariam a existncia. Nesse sentido que se tornaria irreal. S existir, s estar colocado no plano da existncia, do necessrio daqueles Espritos que sentem necessidade daquela determinada construo. Mais ou menos esta a minha interpretao. isso? R No creio, o que coloquei foi que as construes no seu nvel so reais. Realidade que existe, sobrevivem e antecedem aos habitantes desse hospital, por exemplo. Ele existe antes que algum penetre nele e sobrevive aps essa pessoa sair. Esta construo no depende da mente desta pessoa que necessita do hospital. A manuteno desta construo e todo o aparato que est envolvido, depende de outras condies mentais que no esto dependentes da flutuao da eventualidade da necessidade de uma e de outras pessoas. (Reunio encerrada)

2. Reunio do dia 01/05/90 Tema: Emisses energticas distncia. Esprito: Pedro de Oliveira
PAntes de comear o roteiro, eu queria procurar definir o seguinte: nas perguntas que fizemos, substitumos algumas palavras que usamos comumente, como vibraes e fluidos, por energia. Esta definio nossa est certa? Seria possvel fazer esta transposio? uma designao atualizada que reconhece que o Universo vibra energeticamente em todos os campos. Em todos os campos existe energia mental, fludica, energia do corao, enfim, energia da vibrao das molculas, da vibrao da matria, das vibraes estelares.

R-

P Numa das comunicaes anteriores, do Jos *, ele nos falou que feita uma qualificao dessas energias, tanto nesta reunio como na de vibrao. Essas energias so retiradas dos presentes e qualificadas de modo a poderem ser utilizadas na (mesma) reunio? como mecanicamente falando, fisicamente falando, feita essa qualificao? Tal qualificao tem algo em comum com a freqncia de vibrao dessas energias? RCada pessoa se tipifica por uma forma de exprimir o contedo de seu esprito em manifestaes vibratrias em que, mentalmente, corporalmente, perispiritualmente, enfim, todo o ser expele como que uma energia e que se chama o seu corpo mental, o seu halo mental. Enfim, aquilo que o qualifica de um modo geral permanentemente e modos especficos. Em determinados momentos temos picos vibracionais em que h uma ascendncia na carga energtica e h momentos de picos depressivos em que h uma momentnea deflao desse ponto mdio em que cada um se especifica. Dessa maneira, uma reunio de vibrao, em que o elemento mental e fsico corporal se juntam pelas vrias pessoas que compem essa reunio , tambm se tipifica pelo contedo mdio das

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vibraes de seus componentes. Isso j qualifica, digamos, de uma maneira constante, o teor de qualidade de tipo de reunio. Isto alterado pela indisposio momentnea de um elemento ou pela exaltao vibracional de outro, pela entrada de novos elementos, at que se ajustem ao padro especfico. Assim como pela sada de certos elementos que cortam o conjunto, enfim, tudo isso so fatores que determinam em cada reunio a qualidade maior ou menor. Em determinadas circunstncias, se o elemento est no pico ascendente das suas vibraes, ele evidentemente eleva o nvel mdio das vibraes e isso aproveitado qualitativamente. Se um dos elementos est numa situao muito depressiva, ento ele ser isolado porque seno o tnus vibratrio mdio ficar muito prejudicado. Isso se qualifica.
* Jos um dos Espritos que participava do grupo de pesquisa. Perguntado sobre como se operava a chamada vibrao distncia, deu uma resposta, no mnimo estranha: "A vibrao tem uma consistncia fsica". "Ela colocada dentro de um outro material para que possa ser transportada". "Espcie de bales de gs, mas esta capa externa teria uma consistncia um pouquinho maior, uma vibrao mais sutil, exatamente para segurar, para que no haja disperso dessa vibrao.". Evidentemente essa explicao equivocada, seno ridcula, e Pedro de Oliveira a desconsiderou, como pode ser entendido no texto acima.

P Como que se identifica a qualidade das vibraes? RBem, eu diria pelo sentimento, pelo sentir, pela experincia. Mas tambm h tcnicas de visualizao da qualidade da energia exalada por cada um e at em algumas circunstncias, algum tipo de aparelhagem que daria esse tnus mdio, assim como o osciloscpio. , poderia-se dar esse nome, uma vez que ele mede a oscilao vibratria do grupo e de cada pessoa. Mas h tambm a possibilidade de visualizar um certo colorido, uma certa intensidade, porque cada um exala esse tipo de vibrao. A pessoa que est deprimida ter bastante dificuldade de sair de um nvel muito baixo de vibrao.

P Seria o psicoscpio como nos diz Andr Luiz? R-

P A respeito dessa vibrao, muito difcil dizer a algum como vibrar, qual o procedimento mental, qual a atitude mental.Ento eu perguntaria o seguinte: alguns aqui esto como que fazendo preces mentais, dirigindo-se a Jesus, que mais ou menos o que a maioria faz. Outros esto de olhos abertos, mas cada um com uma posio mental, quase neutra, no articulando quase nenhum pensamento. Como se d a vibrao nesse caso, a prece consegue quantidade de energia maior ou mais qualificada? R De modo geral cada um tem a sua qualificao. Ele precisa concentrar-se no objetivo a que est aderido. Estar na reunio com todo o seu esprito, com todo o seu corao, j uma coisa, uma forma de concentrao. A orao, claro quando no seja uma mera e cansativa repetio, ajuda sempre peneirar os sentimentos, o pensamento, mant-lo mais equilibrado, a mente centrada no que est fazendo. Mas, o verdadeiro sentido da concentrao o sentimento e a capacidade de no se distrair, de estar presente. Isso de estar-se de olhos de olhos fechados ou abertos, no muito importante. O que importa, no sei se me explico bem, o conjunto de sentimentos, o conjunto de percepo, enfim, aquilo que direciona todo o conjunto vibracional do ser espiritual. Est aqui por que quer, porque gosta, porque percebe que bom, que um lugar, uma atividade, um determinado momento que lhe agrada e til. Acho que a palavra agrada seria bem aplicada. Se no agrada, no vibra. Quem nem se agrada com o que est fazendo realmente um ponto morto, no? PCada uma das suas frases daria desdobramentos em vrias questes. Apesar do roteiro preparado, gostaria de pegar duas questes. Uma delas, no que diz respeito composio do grupo, da importncia dessa composio e sua variao. No nosso grupo, como exemplo, a entrada do M..., uma pessoa que pouco participa, em que varia essa energia,

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essa preparao do ambiente. Em outro exemplo, o R... que um dos mdiuns que trabalha com a gente e que tem vindo poucas vezes. Qual a conseqncia disso? R- Todo grupo medinico tem que ser relativamente fechado. Sempre com as mesmas pessoas e que sejam bastante assduas, apesar de que s isto no garante o sucesso, mas um ponto principal para haja um grupo. Depois o mais importante o desejo de cada um estar presente, de cada um que se compromete a vir. Se esta pessoa se compromete e faz parte do grupo permanente e pouco assduo, isso realmente desestabiliza o que desejamos. O grupo sendo relativamente harmnico pode receber visitas sem que se altere muito e, s vezes, nada. No caso citado, a presena do nosso irmo contribui na medida em que est interessado nos resultados do trabalho. No estou falando de nada esotrico, estou falando de uma manipulao de energias. Na verdade, o grupo permanente tem que ser assduo, se no for alguma coisa est errada. As pessoas tm que estar muito cientes da manipulao desses elementos mentais. Creio mesmo que de tempos em tempos deva ser expurgado todo aquele que no tenha a assiduidade desejvel. Para ns aquele que vem esporadicamente, como o mdium, por exemplo, pouca serventia tem, no ? PEm relao possibilidade revelada por voc de mensurar o campo mental, o halo mental, citando mtodos de visualizao, e at mesmo a existncia de equipamentos. Na nossa reunio, que tipos de mecanismos vocs se utilizam no preparo do ambiente, vibraes e energias?

R- Ns aqui estamos mais baseados nas pessoas que compem o grupo e nos conhecimentos que temos dos seus desejos. Esse o bsico. E, conhecendo e sabendo cada um o seu quilate, a sua capacidade mdia de participao, da sobre esses fatos que analisamos e programamos o nosso trabalho. No usamos necessariamente uma aparelhagem, mas poderamos faz-lo se fosse necessrio. PGostaria de voltar a um detalhe, quando pensamos em energia, obrigatoriamente falamos de onda e da freqncia da onda. A qualificao tem algo com a modificao de freqncia dessa onda energtica? Certamente. Por isso que eu falei desses picos para cima e para baixo. Se ns encontramos um grupo onde a freqncia muito alta, em que o comprimento de onda cada vez menor, ento podemos realizar muitas coisas. Mas se h lassido, se h disperso, esse comprimento de onda muito devagar, ento se pode juntar muito pouco. Dessa forma, o mecanismo que tnhamos imaginado era que haveria uma seqncia, uma certa continuidade nessa freqncia de onda, de forma que a freqncia de onda caracterstica dos encarnados , seria bastante menor, o comprimento de onda seria bem maior do que a freqncia dos desencarnados. E que para haver a transmisso de vibrao a distncia, essa qualificao e essa transmisso seria feita numa faixa intermediria entre os dois. Esse mecanismo est mais ou menos correto? Depende muito das pessoas. Evidentemente que o encarnado est numa posio algo desvantajosa, porque est comprometido com uma mistura fsico-mental. O desencarnado, isso digamos em regra geral, tem mais possibilidade de expanso em virtude de no ter esse condicionamento do fsico. No mais, no suponha que existam muitos mistrios entre esse distanciamento entre encarnados e desencarnados porque as correntes mentais, evidentemente, so de freqncias diferentes, mas o encarnado est no estado natural, freqentemente capacitado a perceber.

R-

P-

R-

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Captulo Sexto
1- Uma Proposta
Propomos a montagem de uma estrutura na qual haja um cadastramento de grupos formados ou recm-formados, que estejam interessados em participar da pesquisa de variados temas, a exemplo da OBSESSO, aqui citado. Para tanto, instituir-se-ia um Grupo Administrador que se responsabilizaria por cadastrar os grupos, elaborar e distribuir os roteiros, receber as pesquisas, computar os resultados, comparar, catalogar, etc. Um Banco de Dados experimental em ACCESS est sendo utilizado pelo GPCEB atual do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos, no qual todos os dados extrados dos Instrumentos de Registro (Anexo I) so digitados, bem como as transcries das comunicaes psicofnicas e as psicografias obtidas, para facilitar o controle, as pesquisas, o confronto de idias e repostas dadas pelos espritos sobre determinado tema, o acompanhamento dos mdiuns, etc. Os grupos interessados em participar de uma pesquisa sobre determinado tema, teriam uma cpia desse programa e enviariam os resultados por meio eletrnico, para que o Grupo Administrador faa as devidas anlises e comparaes. Alm disso, o Grupo Administrador organizaria Fruns entre os Coordenadores de cada grupo, para uma anlise mais profunda, debates e, por fim, decidir o que fazer com os resultados, ou seja, delinear sobre o que pode virar um texto, trabalho, tese, curso, etc., ou at, se for caso, voltar o tema para os grupos para novas consultas. Para o desenvolvimento da pesquisa, existem duas propostas: 1) Todos os grupos iniciariam pesquisando o mesmo tema, seguindo o mesmo roteiro de perguntas e em seguida, enviando para o Grupo Administrador. 2) Definiramos mais de um tema e faramos um rodzio entre os grupos.

CONCLUSO
Conforme se pode verificar, o que apresentamos o resultado de uma experincia. Certamente outros companheiros tero outras e talvez mais ricas e melhor estruturadas. Mas, o que destacamos, a forma proposta de intercmbio, com liberdade, sem receios, sem mistrios, sem complexos de submisso e inferioridade aos amigos do outro lado. preciso tambm entender que as pesquisas no devem restringir-se a questes cientficas ou filosficas. Perguntas sobre a vida cotidiana dos Espritos, seus costumes, seus problemas, etc., vo nos surpreender quanto, principalmente, ignorncia de boa parte deles em relao ao meio em que vivem. Certa feita, perguntamos a um Esprito se ele toma banho, defeca, urina e ele disse que sim, embora os companheiros que moravam com ele no tinham essa necessidade. Perguntei ainda se ele alguma vez olhou para dentro do vaso sanitrio e viu as fezes. Ele ficou surpreso com a nossa indagao e respondeu que nunca teve essa curiosidade. Portanto, extremamente rica a pesquisa via medinica e os Espritos, ao contrrio do que se possa acreditar, gostam de trabalhar com seriedade. Por outro lado, necessrio estar preparado para realizar um bom trabalho, com profundidade, porque os Espritos srios no esto disponveis para brincadeiras ou deslumbramentos intelectides.

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ANEXO I
CARACTERIZAO DA REUNIO
- Tipo: ( ) Ordinria

( )

Experimentao Hora Final:

- Hora Incio: - Presentes:

- Equipamentos utilizados:

CARACTERIZAO DAS COMUNICAES


Comunicao n ____/____ Mdium: Tipo de Mediunidade: Comentrios / Observaes: _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ Coment _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ Comunicao n ____/____ Mdium: Tipo de Mediunidade: Coment Comentrios / Observaes: ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ Incio: Fim: Esprito: Durao: Incio: Fim: Esprito: Durao:

O PERISPRITO
SEGUNDO

ALLAN KARDEC
Antologia segundo as obras bsicas da Codificao Esprita.
O presente trabalho foi realizado a partir dos textos contidos na Homepage do IDE-Instituto de Difuso Esprita http://www.ide.org.br/cde-port/

O LIVRO DOS ESPRITOS


Perisprito.
93 - O Esprito propriamente dito tem alguma cobertura ou est, como pretendem alguns, envolvido numa substncia qualquer? - O Esprito est revestido de uma substncia vaporosa para os teus olhos, mas ainda bem grosseira para ns; muito vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e se transportar para onde queira.
Assim como o germe de um fruto envolvido pelo perisperma, da mesma forma o Esprito propriamente dito est revestido de um envoltrio que, por comparao, pode-se chamar de perisprito.

94 - De onde o Esprito toma o seu invlucro semi-material ? - Do fluido universal de cada globo. Por isso, ele no o mesmo em todos os mundos. Passando de um mundo para outro, o Esprito troca seu envoltrio, como mudais de roupa. - Assim, quando os Espritos que habitam mundos superiores vm entre ns, tomam um perisprito mais grosseiro? - J o dissemos: preciso que eles se revistam da vossa matria. 95 - O envoltrio semi-material do Esprito tem formas determinadas e pode ser perceptvel? - Sim; tem uma forma que o Esprito deseja, e assim que ele se vos apresenta algumas vezes, seja em sonho, seja em estado de viglia, podendo tomar forma visvel e mesmo palpvel.

Perisprito nos espritos puros


186 - H mundos onde o Esprito, cessando de habitar corpos materiais, s tenha por envoltrio o perisprito? - Sim, e esse prprio envoltrio torna-se to etreo que, para vs, como se no existisse; o estado dos Espritos puros. - Resulta da, ao que parece, que no h uma demarcao definida entre o estado das ltimas encarnaes e aquele dos Espritos puros? - Essa demarcao no existe; a diferena, que se desfaz pouco a pouco, torna-se imperceptvel, como a noite que se desfaz aos primeiros clares do dia. 187 - A substncia do perisprito a mesma em todos os mundos? - No; ela mais ou menos etrea. Passando de um mundo para outro o Esprito se reveste da matria prpria de cada um, com mais rapidez que um relmpago. 188 - Os Espritos puros habitam mundos especiais ou esto no espao universal sem estarem mais ligados a um mundo que a outro? - Os Espritos puros habitam certos mundos, mas no esto confinados neles como os homens sobre a Terra; eles podem, melhor que os outros, estar por toda a parte. [1]

Ensaio terico sobre a sensao nos espritos.


257 O corpo o instrumento da dor e, se no a sua causa primeira, pelo menos a causa imediata. A alma tem a percepo da dor mas essa percepo um efeito. A lembrana que dela conserva pode ser muito penosa, contudo, no pode ter ao fsica. Com efeito, nem o frio, nem o calor podem desorganizar os tecidos da alma e esta no pode gelar-se nem queimar-se. No vemos, todos os dias, a lembrana ou a apreenso de um mal fsico, produzir efeitos to reais e ocasionar mesmo a morte? Todo o mundo sabe que as pessoas amputadas sentem dor no membro que no existe mais. Seguramente, no nesse membro que est a sede ou o ponto de partida da dor; apenas o crebro conservou a impresso da dor. Pode-se, pois, crer que h alguma coisa de analogia com os sofrimentos do Esprito depois da morte. Um estudo mais aprofundado do perisprito, que desempenha um papel muito importante em todos os fenmenos espritas, como as aparies vaporosas ou tangveis, o estado do Esprito no momento da morte, a idia to freqente de que ainda est vivo, o quadro to comovente dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram absorver nos prazeres materiais, e tantos outros fatos, vieram fazer luz sobre essa questo e dar lugar s explicaes que damos, aqui, resumidas. O perisprito o lao que une o Esprito matria do corpo, sendo tirado do meio ambiente, do fluido universal; contm ao mesmo tempo, eletricidade, fluido magntico e, at certo ponto, a matria inerte. Poder-se-ia dizer que a quintessncia da matria, o princpio da vida orgnica, mas no da vida intelectual, porque esta est no Esprito. , alm disso, o agente das sensaes externas. No corpo, essas sensaes esto localizadas pelos rgos que lhes servem de canais. Destrudo o corpo, as sensaes ficam generalizadas. Eis porque o Esprito no diz que sofre mais da cabea do que dos ps. preciso, de resto, no confundir as sensaes do perisprito, que se tornou independente, com as do corpo; no podemos tomar estas ltimas como anlogas, mas apenas como termo de comparao. Liberto do corpo, o Esprito pode sofrer, mas esse sofrimento no corporal, embora no seja exclusivamente moral como o remorso, uma vez que ele se queixa de frio e de calor. Ele no sofre mais no inverno que no vero e o temos visto passar atravs das chamas sem nada experimentar de penoso; a temperatura no lhes causa, pois, nenhuma impresso. A dor que ele sente no propriamente uma dor fsica, mas um vago sentimento ntimo que o prprio Esprito nem sempre entende, precisamente porque a dor no est localizada e no produzida por agentes externos: mais uma lembrana que uma realidade, porm, uma recordao tambm penosa. H, algumas vezes, entretanto, mais que uma lembrana, como iremos ver. A experincia nos ensina que no momento da morte o perisprito se liberta mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes, o Esprito no entende sua situao: no se cr morto porque se sente vivo; v seu corpo de um lado, sabe que seu, mas no entende porque est separado dele. Este estado perdura enquanto existe alguma ligao entre o corpo e o perisprito. Um suicida nos disse: No, no estou morto e ajuntou entretanto, sinto os vermes que me roem. Ora, seguramente, os vermes no roam o perisprito, e muito menos o Esprito; roam apenas o corpo. Entretanto, como a separao do corpo e do perisprito no tinha se completado, resultava uma espcie de repercusso moral que lhe transmitia a sensao do que se passava no corpo. Repercusso pode no ser talvez a palavra certa, pois, faria supor um efeito muito material; era antes a viso do que se passava no corpo, ligado ainda ao seu perisprito, que produzia nele uma iluso, a qual tomava por uma realidade. Assim, no era uma lembrana, pois que, durante sua vida no havia sido rodo pelos vermes; era o sentimento de um fato atual. V-se, por a, as dedues que se podem tirar dos fatos, quando so observados atentamente. Durante a vida, o corpo recebe as impresses exteriores e as transmite ao Esprito
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por intermdio do perisprito que constitui, provavelmente, o que se chama de fluido nervoso. Morto o corpo, ele no sente mais nada, visto que no h mais nele Esprito, nem perisprito. O perisprito, desprendido do corpo, experimenta sensao, mas como esta no lhe chega mais por um canal limitado, generalizada. Ora, como na realidade ele no mais que um agente de transmisso, pois no Esprito que est a conscincia, resulta disso que se pudesse existir um perisprito sem Esprito, ele no sentiria mais do que um corpo morto. Da mesma forma, se o Esprito no tivesse o perisprito, seria inacessvel a toda a sensao penosa, como ocorre com os Espritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, mais a essncia do perisprito se torna etrea, do que se segue que a influncia material diminui medida que o Esprito progride, quer dizer, medida que o prprio perisprito se torna menos grosseiro. Mas, dir-se-, as sensaes agradveis so transmitidas ao Esprito pelo perisprito, da mesma forma que as sensaes desagradveis; ora, se o Esprito puro inacessvel a umas, deve ser igualmente a outras. Sim, sem dvida, para aquelas que provm unicamente da influncia da matria que conhecemos: o som dos nossos instrumentos, o perfume de nossas flores, nenhuma impresso lhe causam. Entretanto, ele experimenta sensaes ntimas, de um encanto indefinvel que nem podemos imaginar, pois a esse respeito somos como cegos de nascena em relao luz: sabemos que ela existe, mas por que meio? A se detm a nossa cincia. Sabemos que existe percepo, sensao, audio, viso; que essas faculdades so atributos de todo o ser, e no, como no homem, de uma parte do ser; mas, ainda uma vez, por que intermedirio? o que no sabemos. Os prprios Espritos no pode nos dar conta, visto que nossa linguagem no est em condies de exprimir as idias que no temos, da mesma forma que a lngua dos selvagens no tem termos para exprimir nossas artes, nossas cincias e nossas doutrinas filosficas. Dizendo que os Espritos so inacessveis s impresses da nossa matria, queremos falar dos Espritos muito elevados, cujo envoltrio etreo no encontra analogia em nosso mundo. O mesmo no ocorre com os de perisprito mais denso, que percebem os nossos sons e os nossos odores, embora no o faam por uma parte da sua individualidade, como quando em vida. Poder-se-ia dizer que as vibraes moleculares se fazem sentir em todo o ser e chegam, assim, ao seu sensorium commune, que o prprio Esprito, embora de um modo diferente, e pode ser tambm com uma impresso diferente, o que produz uma modificao na percepo. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto, nos compreendem sem o auxlio da palavra, apenas pela transmisso do pensamento. Isso vem em apoio ao que dissemos: essa penetrao tanto mais fcil quanto mais o Esprito est desmaterializado. Quanto viso, ela independe da nossa luz. A faculdade de ver um atributo essencial da nossa alma; para ela no h obscuridade, e apresenta-se mais extensa, mais penetrante para os que esto mais purificados. A alma, ou o Esprito, tem pois, em si mesmo, a faculdade de todas as percepes; na vida corprea elas so limitadas pela grosseria de seus rgos, contudo, na vida extra-corprea o so cada vez menos medida que se torna menos compacto o envoltrio semi-material. Esse envoltrio, tirado do meio ambiente, varia de acordo com a natureza dos mundos. Passando de um mundo a outro, os Espritos trocam de envoltrio como trocamos de roupa ao passarmos do inverno para o vero, ou do plo para o equador. Os Espritos mais elevados, quando nos vm visitar, revestem-se do perisprito terrestre e, ento, suas percepes operam como nos Espritos vulgares; mas todos, inferiores como superiores, no ouvem e no sentem mais do que aquilo que querem ouvir ou sentir. Sem possurem rgos sensitivos, podem tornar, vontade, ativas ou nulas suas percepes; s uma coisa so forados a ouvir: os conselhos
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dos bons Espritos. A viso sempre ativa, mas eles podem, reciprocamente, tornarem-se invisveis uns aos outros. Segundo a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes so inferiores, mas no o podem dos que lhes so superiores. Nos primeiros momentos que se seguem morte, a viso do Esprito sempre perturbada e confusa e se aclara medida que se desprende e pode adquirir a mesma clareza que durante a vida, independentemente da sua penetrao atravs dos corpos que nos so opacos. Quanto sua extenso pelo espao infinito, no futuro e no passado, depende do grau de pureza e elevao do Esprito. Toda esta teoria, dir-se-, no nada tranqilizadora. Pensvamos que, uma vez desembaraados do nosso envoltrio grosseiro, instrumento das nossas dores, no sofreramos mais e nos informais que ainda sofreremos e, seja de uma maneira ou de outra, sempre sofrer. Ah! sim, podemos ainda sofrer muito e por muito tempo, mas, podemos tambm no mais sofrer, mesmo desde o instante em que deixamos a vida corprea. Os sofrimentos deste mundo, algumas vezes, independem de ns, mas muitos so conseqncias da nossa vontade. Remontando origem, ver-se- que, em sua maior parte, resultam de causas que poderamos evitar. Quantos males e enfermidades deve o homem aos seus excessos, sua ambio, s suas paixes? O homem que tivesse vivido sempre sobriamente, sem abusar de nada, com simplicidade de gostos, modesto em seus desejos, se pouparia de muitas tribulaes. Ocorre o mesmo com o Esprito; os sofrimentos que enfrenta so conseqncia da maneira que viveu sobre a Terra. Sem dvida, no ter mais a gota e o reumatismo, mas ter outros sofrimentos que no so menores. Vimos que esses sofrimentos resultam dos laos que ainda existem entre o Esprito e a matria e que quanto mais se liberta da influncia da matria, quanto mais se desmaterializa, sofre menos as sensaes penosas. Ora, depende dele libertar-se dessa influncia desde a vida atual; tem o seu livre arbtrio e, por conseguinte, a faculdade de escolher entre fazer e no fazer. Dome ele as suas paixes animais, no sinta dio, nem inveja, nem cime, nem orgulho; no se deixe dominar pelo orgulho e purifique a sua alma pelos bons sentimentos, que faa o bem e d s coisas deste mundo a importncia que elas merecem, ento, mesmo estando encarnado, j estar depurado, liberto da matria, e quando deixar seu corpo no mais lhe suportar a influncia. Nenhuma recordao dolorosa, nenhuma impresso desagradvel lhe restar dos sofrimentos fsicos que experimentou, porque elas afetaram o corpo e no o Esprito. Sentir-se- feliz de ter se libertado delas e a calma de sua conscincia o isentar de todo o sofrimento moral. Interrogamos milhares de Espritos, que pertenceram a todas as categorias da sociedade terrena, a todas as posies sociais; estudamo-los em todos os perodos da sua vida esprita, a partir do momento em que deixaram o corpo; seguimo-los, passo a passo, nessa vida de alm-tmulo, para observar as mudanas que neles se operavam, em idias, em suas sensaes e, sob esse aspecto, os homens mais vulgares no foram os que nos forneceram materiais de estudo menos preciosos. Ora, constatamos sempre que os sofrimentos tinham relao com a conduta, da qual suportavam as conseqncias, e que essa nova existncia era a fonte de uma felicidade inefvel para os que seguiram o bom caminho. Segue-se da que os que sofrem, sofrem porque quiseram e s de si mesmos podem queixar-se, tanto neste como no outro mundo.

LIVRO DOS MDIUNS


Conceito de perisprito
Imaginemos primeiro o Esprito em sua unio com o corpo; o Esprito o ser principal, j que o ser pensante e sobrevivente; o corpo, pois, no seno um acessrio do Esprito, um envoltrio, uma veste que ele deixa quando est estragada. Alm desse envoltrio material, o Esprito tem um segundo, semi-material, que o une ao primeiro; na morte, o Esprito se despoja deste, mas no do segundo ao qual damos o nome de perisprito. Esse envoltrio semi-material, que afeta a forma humana, constitui para ele um corpo fludico, vaporoso, mas que, por nos ser invisvel em seu estado normal, no deixa de possuir algumas das propriedades da matria. O Esprito no , pois, um ponto, uma abstrao, mas um ser limitado e circunscrito, ao qual no falta seno ser visvel e palpvel para se assemelhar aos seres humanos. Por que, pois, no agiria sobre a matria? Por que seu corpo fludico? Mas no entre os fluidos, os mais rarefeitos, aqueles que se consideram como imponderveis, a eletricidade por exemplo, que o homem acha seus mais poderosos motores? que a luz impondervel no exerce uma ao qumica sobre a matria pondervel? Ns no conhecemos a natureza ntima do perisprito; mas supondo-o formado de matria eltrica, ou outra to sutil, por que no teria a mesma propriedade estando dirigido por uma vontade? 50. Sistema da alma material; consiste, unicamente, numa opinio particular sobre a natureza ntima da alma. Segundo esta opinio, a alma e o perisprito no seriam duas coisas distintas, ou, melhor dizendo, o perisprito no seria outro seno a prpria alma, se depurando gradualmente pelas diversas transmigraes, como o lcool se depura pelas diversas destilaes, enquanto a Doutrina Esprita no considera o perisprito seno como o envoltrio fludico da alma ou do Esprito. O perisprito sendo matria, embora muito etrea, a alma seria assim de uma natureza material mais ou menos essencial segundo o grau da sua depurao. Este sistema no infirma nenhum dos princpios fundamentais da Doutrina Esprita, porque nada muda na destinao da alma; as condies de sua felicidade futura so sempre as mesmas; a alma e o perisprito formam um todo, sob o nome de Esprito, como o germe e o perisperma o formam sob o nome de fruto; toda a questo se reduz em considerar o todo como homogneo, em lugar de estar formado por duas partes distintas. Como se v, isso no leva a nenhuma conseqncia, e disso no teramos falado se no tivssemos encontrado pessoas inclinadas a ver uma nova escola no que no , definitivamente, seno uma simples interpretao de palavras. Esta opinio, de resto muito restrita, fosse mesmo mais geral, no constituiria uma ciso entre os espritas, mais do que as duas teorias da emisso ou das ondulaes da luz no foi uma entre os fsicos. Os que quisessem formar partido por uma questo to pueril, provariam, s por isso, que do mais importncia ao acessrio do que coisa principal, e que so levados desunio por Espritos que no podem ser bons, porque os bons Espritos no insuflam jamais a acrimnia e a ciznia; por isso exortamos todos os verdadeiros espritas a se porem em guarda contra semelhantes sugestes, e no ligar a certos detalhes mais importncia do que merecem; o essencial o fundo. Cremos necessrio dever dizer, em poucas palavras, sobre o que se apoia a opinio daqueles que consideram a alma e o perisprito como duas coisas distintas. Est fundada nos ensinamentos dos Espritos que jamais variaram a esse respeito; falamos dos Espritos esclarecidos, porque entre eles os h os que no sabem mais, e mesmo menos do que os
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homens, ao passo que a teoria contrria uma concepo humana. No inventamos, nem supusemos o perisprito para explicar os fenmenos; sua existncia nos foi revelada pelos Espritos, e a observao no-la confirmou (O Livro dos Espritos, no 93). Ela se apoia, ainda, sobre o estudo das sensaes dos Espritos (O Livro dos Espritos, no 257) e, sobretudo, sobre os fenmenos das aparies tangveis que implicariam, segundo a outra opinio, a solidificao e a desagregao das partes constituintes da alma e, por conseqncia, sua desorganizao. Seria necessrio, por outro lado, que esta matria, que pode impressionar os sentidos, fosse, ela mesma, o princpio inteligente, o que no mais racional que confundir o corpo com a alma, ou a veste com o corpo. Quanto natureza ntima das almas, nos desconhecida. Quando se diz que imaterial, preciso entender no sentido relativo, e no absoluto, porque a imaterialidade absoluta seria o nada; ora, a alma ou Esprito alguma coisa; quer-se dizer que sua essncia de tal modo superior que no tem nenhuma analogia com aquilo que ns chamamos matria e, assim, para ns, imaterial (O Livro dos Espritos, no 23 e 82). 51. Eis aqui a resposta dada, a esse respeito, por um Esprito: "O que uns chamam perisprito no outra coisa seno o que os outros chamam envoltrio material fludico. Direi, para me fazer compreender de maneira mais lgica, que esse fluido a perfectibilidade dos sentidos, a extenso da vista e das idias: falo dos Espritos elevados. Quanto aos Espritos inferiores, os fluidos terrestres so ainda completamente inerentes a eles; pois so matria como vedes; da os sofrimentos da fome, do frio, etc., sofrimentos que no podem experimentar os Espritos superiores, uma vez que os fluidos terrestres so depurados ao redor do pensamento, quer dizer, da alma. A alma, para seu progresso, tem sempre, necessidade de um agente; a alma, sem agente, no nada para vs ou, melhor dizendo, no pode ser concebida por vs. O perisprito para ns, Espritos errantes, o agente pelo qual nos comunicamos convosco, seja indiretamente pelo vosso corpo ou vosso perisprito, seja diretamente vossa alma; da os infinitos matizes de mdiuns e de comunicaes. Agora, resta o ponto de vista cientfico, quer dizer, a prpria essncia do perisprito; este um outro assunto. Compreendei primeiro moralmente; no resta mais do que uma discusso sobre a natureza dos fluidos, o que inexplicvel no momento; a cincia no conhece bastante, mas l chegar se quiser caminhar com o Espiritismo. O perisprito pode variar e mudar ao infinito; a alma o pensamento: no muda de natureza; a esse respeito no vades mais longe, um ponto que no pode ser explicado. Credes que no procuro como vs? Vs, buscais o perisprito; ns buscamos a alma. Esperai, pois. Lamennais". 54. Numerosas observaes de fatos irrecusveis, dos quais falaremos mais tarde, conduziram a esta conseqncia de que h no homem trs coisas: 1.) alma ou Esprito, princpio inteligente em que reside o senso moral; 2.) o corpo, envoltrio grosseiro, material, do qual est temporariamente revestido para o cumprimento de certos objetivos providenciais; 3.) o perisprito, envoltrio fludico, semi-material, servindo de lao entre a alma e o corpo. A morte a destruio, ou melhor, a desagregao do envoltrio grosseiro, daquele que a alma abandona; o outro se separa e segue a alma que se encontra, dessa maneira, sempre como um envoltrio; este ltimo, se bem que fludico, etreo, vaporoso, invisvel para ns em seu estado
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normal, no deixa de ser matria, embora, at o presente, no pudssemos apanh-la e submet-la anlise. Este segundo envoltrio da alma ou perisprito existe, pois, durante a vida corporal; o intermedirio de todas as sensaes que o Esprito percebe, aquele pelo qual o Esprito transmite sua vontade ao exterior e age sobre os rgos. Para nos servir de uma comparao material, o fio eltrico condutor que serve para a recepo e a transmisso do pensamento; , enfim, esse agente misterioso, inacessvel, designado sob o nome de fluido nervoso, que desempenha um grande papel na economia e do qual no de d bastante conta nos fenmenos fisiolgicos e patolgicos. A Medicina, no considerando seno o elemento material pondervel, se priva, na apreciao dos fatos, de uma causa incessante, de ao. Mas no aqui o lugar de examinar essa questo; faremos somente notar que o conhecimento do perisprito a chave de uma multido de problemas at agora inexplicados. O perisprito no uma dessas hipteses s quais se recorrem na cincia, algumas vezes, para a explicao de um fato; sua existncia no revelada somente pelos Espritos, mas um resultado da observao, como teremos ocasio de demonstr-lo. Para o momento, e para no antecipar sobre os fatos que iremos relatar, nos limitaremos a dizer que, seja durante sua unio com o corpo, seja depois de sua separao, a alma jamais est separada de seu perisprito. 55. Disse-se que o Esprito uma chama, uma chispa; isto se deve entender do Esprito propriamente dito, como princpio intelectual e moral, e ao qual no se poderia atribuir uma forma determinada; mas, em qualquer grau que se encontre, est sempre revestido de um envoltrio ou perisprito, cuja matria se eteriza medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia; de tal sorte que, para ns, a idia de forma inseparvel da do Esprito, e que no concebemos um sem o outro. O perisprito faz, pois, parte integrante do Esprito, como o corpo faz parte integrante do homem; mas o perisprito sozinho no o Esprito como apenas o corpo no o homem, porque o perisprito no pensa; para o Esprito o que o corpo para o homem; o agente ou o instrumento de sua ao. 56. A forma do perisprito a forma humana, e quando nos aparece , geralmente, aquela sob a qual conhecemos o Esprito em sua vida. Poder-se-ia crer, em razo disso, que o perisprito, separado de todas as partes do corpo, se amolda de alguma sorte sobre ele e lhe conserva o tipo, mas no parece que seja assim. A forma humana, com algumas diferenas aproximadas de detalhes, e salvo as modificaes necessitadas para o meio no qual o ser foi chamado a viver, se encontra nos habitantes de todos os globos, , ao menos, o que dizem os Espritos; , igualmente, a forma de todos os Espritos no encarnados e que no tm seno o perisprito; aquela sob a qual, em todos os tempos, se representaram os anjos ou Espritos puros; de onde devemos concluir que a forma humana a forma tipo de todos os seres humanos, qualquer que seja o grau ao qual pertencem. Mas a matria sutil do perisprito no tema tenacidade nem a rigidez da matria compacta do corpo; se podemos nos exprimir assim, ela flexvel e expansvel; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, no absoluta; amolda-se vontade do Esprito, que pode lhe dar tal ou tal aparncia a seu gosto, enquanto o envoltrio slido lhe oferece uma resistncia insupervel. Desembaraado desse entrave que o comprimia, o perisprito se expande ou se contrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele. por conseqncia dessa propriedade de seu envoltrio fludico que o Esprito, que quer se fazer reconhecer, pode, quando necessrio, tomar a exata aparncia que tinha em sua vida, mesmo a de acidentes corporais que podem ser sinais de reconhecimento.
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Os Espritos, como se v, so pois, seres semelhantes a ns, formando, ao nosso redor, toda uma populao invisvel em seu estado normal; dizemos em seu estado normal, porque, como veremos, essa invisibilidade no absoluta. 57. Voltemos natureza do perisprito, porque ela essencial para a explicao que vamos dar. Ns dissemos que, embora fludica, no deixa de ser uma espcie de matria, e isso resulta do fato das aparies tangveis, sobre as quais voltaremos. Viu-se, sob a influncia de certos mdiuns, aparecerem mos com todas as propriedades de mos vivas, que tm calor, que se podem apalpar, que oferecem a resistncia de um corpo slido, que vos agarram e, de repente, se esvanecem como uma sombra. A ao inteligente dessas mos que, evidentemente, obedecem a uma vontade em executando certos movimentos, tocando mesmo melodias em um instrumento, provam que elas so a parte visvel de um ser inteligente invisvel. Sua tangibilidade, sua temperatura, em uma palavra, a impresso que fazem sobre os sentidos, se a viu deixar marcas sobre a pele, dar golpes dolorosos, ou acariciar delicadamente, provam que so de matria qualquer. Sua desapario instantnea prova, por outro lado, que essa matria eminentemente sutil e se comporta como certas substncias que podem passar, alternativamente, do estado slido para o estado fludico, e reciprocamente.

Forma do Perisprito,
O perisprito no uma dessas hipteses s quais se recorrem na cincia, algumas vezes, para a explicao de um fato; sua existncia no revelada somente pelos Espritos, mas um resultado da observao, como teremos ocasio de demonstr-lo. Para o momento, e para no antecipar sobre os fatos que iremos relatar, nos limitaremos a dizer que, seja durante sua unio com o corpo, seja depois de sua separao, a alma jamais est separada de seu perisprito. 55. Disse-se que o Esprito uma chama, uma chispa; isto se deve entender do Esprito propriamente dito, como princpio intelectual e moral, e ao qual no se poderia atribuir uma forma determinada; mas, em qualquer grau que se encontre, est sempre revestido de um envoltrio ou perisprito, cuja matria se eteriza medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia; de tal sorte que, para ns, a idia de forma inseparvel da do Esprito, e que no concebemos um sem o outro. O perisprito faz, pois, parte integrante do Esprito, como o corpo faz parte integrante do homem; mas o perisprito sozinho no o Esprito como apenas o corpo no o homem, porque o perisprito no pensa; para o Esprito o que o corpo para o homem; o agente ou o instrumento de sua ao. 56. A forma do perisprito a forma humana, e quando nos aparece , geralmente, aquela sob a qual conhecemos o Esprito em sua vida. Poder-se-ia crer, em razo disso, que o perisprito, separado de todas as partes do corpo, se amolda de alguma sorte sobre ele e lhe conserva o tipo, mas no parece que seja assim. A forma humana, com algumas diferenas aproximadas de detalhes, e salvo as modificaes necessitadas para o meio no qual o ser foi chamado a viver, se encontra nos habitantes de todos os globos, , ao menos, o que dizem os Espritos; , igualmente, a forma de todos os Espritos no encarnados e que no tm seno o perisprito; aquela sob a qual, em todos os tempos, se representaram os anjos ou Espritos puros; de onde devemos concluir que a forma humana a forma tipo de todos os seres humanos, qualquer que seja o grau ao qual pertencem. Mas a matria sutil do perisprito no tema tenacidade nem a rigidez da matria compacta do corpo; se podemos nos exprimir assim, ela flexvel e expansvel; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, no absoluta; amolda-se vontade do Esprito, que pode lhe dar tal ou tal aparncia a seu gosto, enquanto o envoltrio slido lhe oferece uma resistncia insupervel. Desembaraado desse entrave que o
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comprimia, o perisprito se expande ou se contrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele. por conseqncia dessa propriedade de seu envoltrio fludico que o Esprito, que quer se fazer reconhecer, pode, quando necessrio, tomar a exata aparncia que tinha em sua vida, mesmo a de acidentes corporais que podem ser sinais de reconhecimento. Os Espritos, como se v, so pois, seres semelhantes a ns, formando, ao nosso redor, toda uma populao invisvel em seu estado normal; dizemos em seu estado normal, porque, como veremos, essa invisibilidade no absoluta. 57. Voltemos natureza do perisprito, porque ela essencial para a explicao que vamos dar. Ns dissemos que, embora fludica, no deixa de ser uma espcie de matria, e isso resulta do fato das aparies tangveis, sobre as quais voltaremos. Viu-se, sob a influncia de certos mdiuns, aparecerem mos com todas as propriedades de mos vivas, que tm calor, que se podem apalpar, que oferecem a resistncia de um corpo slido, que vos agarram e, de repente, se esvanecem como uma sombra. A ao inteligente dessas mos que, evidentemente, obedecem a uma vontade em executando certos movimentos, tocando mesmo melodias em um instrumento, provam que elas so a parte visvel de um ser inteligente invisvel. Sua tangibilidade, sua temperatura, em uma palavra, a impresso que fazem sobre os sentidos, se a viu deixar marcas sobre a pele, dar golpes dolorosos, ou acariciar delicadamente, provam que so de matria qualquer. Sua desapario instantnea prova, por outro lado, que essa matria eminentemente sutil e se comporta como certas substncias que podem passar, alternativamente, do estado slido para o estado fludico, e reciprocamente.

O perisprito e as aparies
105. Pela sua natureza e em seu estado normal, o perisprito invisvel, e tem isso de comum com uma poro de fluidos que sabemos existir, mas que jamais vimos; mas pode tambm, como certos fluidos, sofrer modificaes que o tornam perceptvel viso, seja por uma espcie de condensao, seja por uma alterao, seja por uma alterao em sua disposio molecular; quando nos aparece sob uma forma vaporosa. A condensao (e no preciso tomar esta palavra ao p da letra, de vez que a empregamos na falta de outra e a ttulo de comparao), a condensao, dizamos, pode ser tal que o perisprito adquire as propriedades de um corpo slido e tangvel; mas pode, instantaneamente, retomar seu estado etreo e invisvel. Podemos nos inteirar desse efeito pelo do vapor, que pode passar da invisibilidade ao estado brumoso, depois lquido, depois slido e vice-versa. Estes diferentes estados do perisprito resultam da vontade do Esprito, e no de uma causa fsica exterior como em nosso gs. Quando nos aparece porque colocou seu perisprito no estado necessrio para torn-lo visvel; mas para isso sua vontade no basta, porque a modificao do perisprito se opera pela sua combinao com o fluido prprio do mdium; ora, esta combinao no sempre possvel, o que explica porque a visibilidade dos Espritos no geral. Assim, no basta que o Esprito queira se mostrar; no basta, tambm que uma pessoa queira v-lo: necessrio que os dois fluidos possam se combinar, que haja entre eles uma espcie de afinidade; pode ser tambm que a emisso de fluido da pessoa seja bastante abundante para operar a transformao do perisprito, e provavelmente existam ainda outras condies que nos so desconhecidas; preciso, enfim, que o Esprito tenha a permisso de se fazer ver a tal pessoa, o que no lhe sempre concedido ou no o seno em certas circunstncias, por motivos que no podemos apreciar.

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106. Uma outra propriedade do perisprito, e que diz respeito sua natureza etrea, a penetrabilidade. Matria nenhuma lhe obstculo: ele as atravessa todas como a luz atravessa os corpos transparentes. por isso que no h recinto fechado que se possa opor entrada dos Espritos; vo visitar o prisioneiro em seu crcere to facilmente como ao homem que est no meio dos campos.

O perisprito e as manifestaes
109. O perisprito, como se v, o princpio de todas as manifestaes; seu conhecimento deu a chave de uma multido de fenmenos e um passo imenso cincia esprita, abrindo-lhe um caminho novo, tirando-lhe todo o carter maravilhoso. Encontramos, pelos prprios Espritos, porque, notai bem, foram eles que nos colocaram no caminho, a explicao da ao dos Espritos sobre a matria, do movimento dos corpos inertes, dos rudos e das aparies. A encontraremos, ainda, a de vrios outros fenmenos que nos restam a examinar, antes de passarmos ao estudo das comunicaes propriamente ditas. Tanto melhor se as compreender quando melhor nos dermos conta das causas primeiras. Se se compreendeu bem esse princpio, far-se- por si mesmo sua aplicao aos diversos fatos que podero se apresentar ao observador.

O perisprito e as vises
19. A viso dos Espritos se produz no estado normal ou somente em um estado de xtase? Pode ocorrer em condies perfeitamente normais; entretanto, as pessoas que os vem, bastante freqentemente, esto num estado particular, vizinho do xtase, que lhes d uma espcie de dupla vista (O Livro dos Espritos, no 447.) 20. Aqueles que vem os Espritos, os vem pelos olhos? Eles o crem, mas, na realidade, a alma quem v, e, o que o prova, que se pode ver com os olhos fechados. 21. Como o Esprito pode se tornar visvel? O princpio o mesmo de todas as manifestaes, e prende-se s propriedades do perisprito, que pode sofrer diversas modificaes vontade do Esprito. 22. O Esprito, propriamente dito, pode se tornar visvel ou no o pode seno com a ajuda do perisprito? No vosso estado material, os Espritos no podem se manifestar seno com a ajuda do seu envoltrio semi-material; o intermedirio atravs do qual age sobre os vossos sentidos. sob este envoltrio que eles aparecem, s vezes, com uma forma humana, ou outra diversa, seja nos sonhos, seja mesmo no estado de viglia, tanto na luz como na obscuridade. 23. Poder-se-ia dizer que pela condensao do perisprito que o Esprito se torna visvel? Condensao no a palavra; antes uma comparao que pode ajudar-vos a fazer compreender o fenmeno, porque no h realmente condensao. Pela combinao dos fluidos, se produz no perisprito uma disposio particular, que no tem analogia para vs, e que o torna perceptvel. 24. Os Espritos que aparecem so sempre inapreensveis e inacessveis ao tato?

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Inapreensveis como num sonho, em seu estado normal; entretanto, podem fazer impresses sobre o tato, e deixar traos de sua presena, e mesmo, em certos casos, tornarem-se momentaneamente tangveis, o que prova que entre eles e vs h uma matria. 113. a) As vises so sempre reais ou, algumas vezes so o efeito da alucinao? Quando se v, em sonho ou de outro modo, o diabo, por exemplo, ou outras coisas fantsticas que no existem, isso no um produto da imaginao? Sim, algumas vezes, quando se est impressionado por certas leituras ou por histrias de feitiaria que impressionam, se as recorda pode-se crer ver o que no existe. Mas dissemos tambm que o Esprito, sob seu envoltrio semi-material, pode tomar todas as espcies de formas para se manifestar. Um Esprito zombeteiro pode, pois, aparecer com chifres e garras se isso lhe apraz, para se divertir com a credulidade, como um bom Esprito pode se mostrar com asas e uma figura radiosa.

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O CU E O INFERNO
O perisprito o envoltrio fludico da alma, da qual no est separado nem antes, nem depois da morte, e com a qual no faz, por assim dizer, seno um, porque um no se pode conceber sem o outro. Durante a vida, o fluido perispiritual penetra o corpo, em todas as suas partes, e serve de veculo s sensaes fsicas da alma; tambm por esse intermdio que a alma atua sobre o corpo e dirige-lhe os movimentos. 4. A extino da vida orgnica provoca a separao da alma e do corpo, pela ruptura do lao fludico que os une; mas essa separao jamais brusca; o fluido perispiritual se separa pouco a pouco de todos os rgos, de sorte que a separao no completa e absoluta seno quando no reste mais um nico tomo do perisprito unido a uma molcula do corpo. A sensao dolorosa, que a alma sente nesse momento, est em razo da soma dos pontos de contato que existem entre o corpo e o perisprito, e da maior ou menor dificuldade e lentido que apresente a separao. No preciso, pois, dissimular-se que, segundo as circunstncias, a morte pode ser mais ou menos penosa. So estas diferentes circunstncias que iremos examinar. 5. Coloquemos primeiro, como princpio, os quatro casos seguintes, que podem ser consideradas as situaes extremas, entre as quais h uma multido de nuanas: 1.) Se no momento da extino da vida orgnica o desligamento do perisprito estivesse completamente operado, a alma no sentiria absolutamente nada; 2.) se, nesse momento, a coeso dos dois elementos est com toda sua fora, produzse uma espcie de dilaceramento que reage dolorosamente sobre a alma; 3.) se a coeso fraca, a separao fcil e se opera sem abalo; 4.) se, depois da cessao completa da vida orgnica, existem ainda numerosos pontos de contato entre o corpo e o perisprito, a alma poder sentir os efeitos da decomposio do corpo, at que o lao esteja inteiramente rompido. Disso resulta que o sofrimento, que acompanha a morte, est subordinado fora de aderncia que une o corpo e o perisprito; que tudo o que pode ajudar na diminuio dessa fora e na rapidez do desligamento torna a passagem menos penosa; enfim, que se o desligamento se opera sem nenhuma dificuldade, a alma no sente nenhuma sensao desagradvel. 6. Na passagem da vida corprea para a vida espiritual, produz-se, ainda, um outro fenmeno de importncia capital: o da perturbao. Nesse momento, a alma sente um entorpecimento que paralisa, momentaneamente, as suas faculdades e neutraliza, pelo menos em parte, as sensaes; est, por assim dizer, cataleptizada, de sorte que quase nunca testemunha consciente o ltimo suspiro. Dizemos quase nunca porque h um caso em que pode dele ter conscincia, assim como o veremos daqui a pouco. A perturbao pode, pois, ser considerada como estado normal no instante da morte; a sua durao indeterminada; varia de algumas horas a alguns anos. medida que ela se dissipa, a alma est na situao do homem que sai de um sono profundo; as idias esto confusas, vagas e incertas; v-se como atravs de um nevoeiro; pouco a pouco a viso se ilumina, a memria retorna e ela se reconhece. Mas esse despertar bem diferente, segundo os indivduos; nuns calmo e proporciona uma sensao deliciosa; noutros, cheio de terror e ansiedade, e produz o efeito de um horrvel pesadelo.
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Propriedade luminosa do Perisprito


"O perisprito possui, por sua natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o imprio da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades so para o fluido perispiritual o que a frico para o fsforo. O brilho da luz est em razo da pureza do Esprito; as menores imperfeies morais a obscurecem e a enfraquecem. A luz que irradia de um Esprito , assim, tanto mais viva quanto este seja avanado. O Esprito sendo, de alguma sorte, o seu farol, v mais ou menos segundo a intensidade da luz que produz; de onde resulta que aqueles que nada produzem esto na obscuridade."

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GNESE
O Perisprito e encarnao dos Espritos
O fluido perispiritual , pois, o trao de unio entre o Esprito e a matria. Durante a sua unio com o corpo, o veculo de seu pensamento, para transmitir o movimento s diferentes partes do organismo que agem sob o impulso de sua vontade, e para repercutir no Esprito as sensaes produzidas pelos agentes exteriores. Ele tem por fio condutor os nervos, como no telgrafo o fluido eltrico tem por condutor o fio metlico. 18. Quando o Esprito deve se encarnar num corpo humano em vias de formao, um lao fludico, que no outra coisa seno uma expanso do seu perisprito, liga-o ao germe para o qual se acha atrado, por uma fora irresistvel, desde o momento da concepo. medida que o germe se desenvolve, o lao se aperta; sob a influncia do princpio vital material do germe, o perisprito, que possui certas propriedades da matria, se une, molcula a molcula, com o corpo que se forma: de onde se pode dizer que o Esprito, por intermdio de seu perisprito, toma, de alguma sorte, raiz nesse germe, como uma planta na terra. Quando o germe est inteiramente desenvolvido, a unio completa, e, ento, ele nasce para a vida exterior. Por um efeito contrrio, essa unio do perisprito e da matria carnal, que se cumprira sob a influncia do princpio vital do germe, quando esse princpio deixa de agir, em conseqncia da desorganizao do corpo, a unio, que era mantida por uma fora atuante, cessa quando essa fora deixa de agir; ento o perisprito se desliga, molcula a molcula, como estava unido, e o Esprito se entrega sua liberdade. Assim, no a partida do Esprito que causa a morte do corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do Esprito. Desde o instante que se segue morte, a integridade do Esprito est inteira; que as suas faculdades adquirem mesmo uma penetrao maior, ao passo que o princpio de vida est extinto no corpo, a prova evidente de que o princpio vital e o princpio espiritual so duas coisas distintas.

Fluidos do perisprito
22. Na impossibilidade que est o homem de compreender a prpria essncia da Divindade, no pode dela fazer seno uma idia aproximada, com a ajuda de comparaes, necessariamente, muito imperfeitas, mas, que podem, pelo menos, mostrar-lhe a possibilidade daquilo que, primeira vista, parece-lhe impossvel. Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos; esse fluido, sendo ininteligente, age mecanicamente, to-s pelas foras materiais; mas, se supusermos esse fluido dotado de inteligncia, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele agir, no mais cegamente, mas, com discernimento, com vontade e liberdade; ver, entender e sentir. 23. As propriedades do fluido perispiritual podem nos dar uma idia disso. Ele no inteligente, por si mesmo, uma vez que matria, mas o veculo do pensamento, das sensaes e das percepes do Esprito. O fluido perispiritual, no o pensamento do Esprito, mas o agente e intermedirio desse pensamento; como ele que o transmite, dele est, de certa forma, impregnado, e, na
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impossibilidade, que estamos, de isol-lo, parece no formar seno um com o fluido, do mesmo modo que o som parece no formar seno um com o ar, de sorte que podemos, por assim dizer, materializ-lo. Do mesmo modo que dizemos que o ar se torna sonoro, poderamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente. 24. Que ocorra assim, ou no, com o pensamento de Deus, quer dizer, que ele atue diretamente ou por intermdio de um fluido, para facilidade de nossa inteligncia, representemo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente, preenchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criao: a Natureza inteira est mergulhada no fluido divino; ora, em virtude do princpio de que as partes de um todo so da mesma natureza, e tm as mesmas propriedades do todo, cada tomo desse fluido, se pode exprimir-se assim, possuindo o pensamento, quer dizer, os atributos essenciais da Divindade, e esse fluido estando por toda a parte, tudo est submetido sua ao inteligente, sua previdncia, sua solicitude; no h um ser, por nfimo que se o suponha, que, dele no esteja de algum modo saturado. Estamos, assim, constantemente em presena da Divindade; no h uma nica das nossas aes, que possamos subtrair ao seu olhar; o nosso pensamento est em contato com o seu pensamento, e com razo que se diz que Deus l nas mais profundas dobras do nosso corao. Estamos nele, como ele est em ns, segundo a palavra do Cristo. Para estender sua solicitude sobre todas as criaturas, Deus no tem, pois, necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade; as nossas preces, para serem ouvidas por ele, no tm necessidade de cortarem o espao, nem de serem ditas com voz retumbante, porque, incessantemente ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos so iguais aos sons de um sino, que fazem vibrar todas as molculas do ar ambiente. 25. Longe de ns o pensamento de materializar a Divindade; a imagem de um fluido inteligente universal no , evidentemente, seno uma comparao, mais prpria para dar uma idia a mais justa de Deus, do que os quadros que o representam sob uma figura humana; ela tem por objeto fazer compreender a possibilidade, para Deus, de estar por toda parte e de se ocupar de tudo. 26. Temos, incessantemente, sob os olhos, um exemplo que pode nos dar uma idia do modo pelo qual a ao de Deus pode se exercer sobre as partes mais ntimas de todos os seres, e, por conseguinte, como as impresses, as mais sutis, da nossa alma, chegam a ele. Foi tirada de uma instruo dada por um Esprito a esse respeito. 27. "O homem um pequeno mundo cujo diretor o Esprito, e no qual o princpio dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representar uma criao da qual o Esprito seria Deus. (Compreendeis que no se pode ver aqui seno uma questo de analogia, e no de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes rgos que o compem, seus msculos, seus nervos, suas articulaes, so igualmente individualidades materiais, se se pode dizer assim, localizadas em um lugar especial do corpo; se bem que o nmero dessas partes constitutivas, de natureza to variadas e to diferentes, seja considervel, entretanto, ningum duvida que no possa se produzir um movimento, que uma impresso qualquer possa ocorrer em um lugar particular, sem que o Esprito disso tenha conscincia. H sensaes diversas em vrios lugares simultneos? O Esprito as sente todas, discerne-as, analisa-as, assinala, para cada uma, a sua causa e o seu lugar de ao, por intermdio do fluido perispiritual. "Um fenmeno anlogo ocorre entre a criao e Deus. Deus est por toda a parte na Natureza, do mesmo modo que o Esprito est por toda a parte no corpo; todos os elementos da criao
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esto em relao constante com ele, do mesmo modo que todas as clulas do corpo humano esto em contato imediato com o ser espiritual; no h, pois, nenhuma razo para que fenmenos da mesma ordem no se produzam da mesma forma, num e noutro caso. "Um membro se agita: o Esprito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros esto em movimento, os diferentes rgos esto postos em vibrao: o Esprito sente cada manifestao, distingue-as e as localiza. As diferentes criaes, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente, e Deus sabe tudo o que se passa, assinala a cada um o que lhe particular. "Pode-se disso deduzir, igualmente, a solidariedade da matria e da inteligncia, a solidariedade de todos os seres, de um mundo, entre si, a de todos os mundos, enfim, a das criaes e do Criador."
(Quinemant, Sociedade de Paris, 1867).

28. Compreendemos o efeito, j muito; do efeito remontamos causa, e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito; mas a sua essncia ntima nos escapa, igual a da causa de uma multido de fenmenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravidade; calculamo-los e, no entanto, ignoramos a natureza ntima do princpio que os produziu. , pois, mais racional, negar o princpio divino, porque no o compreendemos? 29. Nada impede admitir, para o princpio de soberana inteligncia, um centro de ao, um foco principal irradiando, sem cessar, inundando o Universo com seus fluidos, do mesmo modo que o Sol com a sua luz. Mas onde est esse foco? o que ningum pode dizer. provvel que esteja mais fixado em um ponto determinado do que no esteja a sua ao, e que percorra, incessantemente, as regies do espao sem limites. Se simples Espritos tm o dom de ubiqidade, essa faculdade, em Deus, deve ser sem limites. Deus, preenchendo o Universo, poder-se-ia, ainda, admitir, a ttulo de hiptese, que esse foco no tem necessidade de se transportar, e que se forma sobre todos os pontos, onde a soberana vontade julgue a propsito produzir-se, de onde se poderia dizer que ele est por toda a parte e em parte alguma. 30. Diante desses problemas insondveis, a nossa razo deve se humilhar. Deus existe; disso no poderemos duvidar; infinitamente justo e bom; a sua essncia; a sua solicitude se estende a todos: compreende-mo-lo; no pode, pois, querer seno o nosso bem, e por isso que devemos ter confiana nele: eis o essencial; quanto ao mais, esperemos que sejamos dignos de compreend-lo.

Formao e propriedades do perisprito.


7. O perisprito, ou corpo fludico dos Espritos, um dos produtos mais importantes do fluido csmico; uma condensao desse fluido ao redor de um foco de inteligncia ou alma. Viu-se que o corpo carnal tem igualmente seu princpio neste mesmo fluido transformado e condensado em matria tangvel; no perisprito, a transformao molecular se opera diferentemente, porque o fluido conserva a sua imponderabilidade e as suas qualidades etreas. O corpo perispiritual e o corpo carnal tm, pois, a sua fonte no mesmo elemento primitivo; um e o outro, so da matria, embora sob dois estados diferentes. 8. Os Espritos haurem o seu perisprito no meio onde se encontrem, quer dizer que este envoltrio formado de fluidos ambientes; disso resulta que os elementos constitutivos do
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perisprito devem variar segundo os mundos. Sendo dado como um mundo muito avanado, comparativamente Terra, Jpiter, onde a vida corprea no tem a materialidade da nossa, os envoltrios perispirituais devem ser ali de uma natureza infinitamente mais quintessenciada do que sobre a Terra. Ora, do mesmo modo que ns no poderamos existir nesse mundo com o nosso corpo carnal, nossos Espritos no poderiam ali penetrar com o seu perisprito terrestre. Deixando a Terra, o Esprito nela deixa o seu envoltrio fludico, e se reveste de um outro apropriado ao mundo onde deve ir. 9. A natureza do envoltrio fludico est sempre em relao com o grau de adiantamento moral do Esprito. Os Espritos inferiores no podem mud-lo sua vontade e, por conseqncia, no podem, vontade, se transportar de um mundo para outro. Alguns h cujo envoltrio fludico, se bem que etreo e impondervel, com relao matria tangvel, ainda muito pesado, se assim se pode exprimir, com relao ao mundo espiritual, para permitir-lhe sair de seu meio. necessrio classificar, nesta categoria, aqueles cujo perisprito bastante grosseiro para que o confundam com o seu corpo carnal, e que, por esta razo, se crem sempre vivos. Estes Espritos, e o nmero deles grande, permanecem na superfcie da Terra, como os encarnados, crendo sempre vagar em suas ocupaes; outros, um pouco mais desmaterializados, no so, entretanto, o bastante para se elevarem acima das regies terrestres (1). Os Espritos superiores, ao contrrio, podem vir para os mundos inferiores e mesmo neles se encarnarem. Eles retiram, nos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais do envoltrio fludico, ou carnal, apropriado ao meio onde se encontrem. Fazem como o grande senhor que deixa as suas belas vestes para se revestir momentaneamente do burel, sem deixar, por isso, de ser grande senhor. Assim que, Espritos de ordem mais elevada, podem se manifestar aos habitantes da Terra, ou se encarnar em misso entre eles. Estes Espritos carregam consigo, no o seu envoltrio, mas a lembrana, por intuio, das regies de onde vm, e que vem pelo pensamento. So videntes entre cegos. 10. A camada dos fluidos espirituais que envolvem a Terra pode ser comparada com as camadas inferiores da atmosfera, mais pesadas, mais compactas, menos puras do que as camadas superiores. Estes fluidos no so homogneos, so uma mistura de molculas de diversas qualidades, entre as quais se encontram, necessariamente, as molculas elementares que lhes formam a base, mas, mais ou menos alteradas. Os efeitos produzidos por estes fluidos estaro em razo da soma das partes puras que encerram. Tal , por comparao, o lcool retificado ou misturado, em diferentes propores, com gua ou outras substncias: seu peso especfico aumenta com esta mistura, ao mesmo tempo que a sua fora e sua inflamabilidade diminuem, se bem que no todo haja o lcool puro. Os Espritos so chamados a viver nesse meio e a haurem o seu perisprito; mas, segundo o Esprito seja mais ou menos depurado, ele mesmo, seu perisprito se forma das partes mais puras, ou as mais grosseiras, do fluido prprio do mundo onde se encarna. O Esprito a produz, sempre por comparao e no por assimilao, o efeito de um reativo qumico que atrai para si as molculas que se assemelham sua natureza. Disto resulta este fato capital, que a constituio ntima do perisprito no idntica entre todos os Espritos, encarnados ou desencarnados, que povoam a Terra ou o espao circundante. No ocorre o mesmo com o corpo carnal, que, como isso foi demonstrado, est formado dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade ou a inferioridade do Esprito. Tambm, entre
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todos, os efeitos produzidos pelo corpo so os mesmos, as necessidades semelhantes, ao passo que diferem por tudo o que inerente ao perisprito. Disso resulta ainda que: o envoltrio perispiritual do mesmo Esprito se modifica com o progresso deste, a cada encarnao, se bem que encarnando num mesmo meio; que os Espritos superiores se encarnando, excepcionalmente, em misso num mundo inferior, tm um perisprito menos grosseiro do que o dos indgenas desse mundo. 11. O meio est sempre em relao com a natureza dos seres que devem nele viver; os peixes esto na gua; os seres terrestres esto no ar; os seres espirituais esto no fluido espiritual ou etreo, mesmo sobre a Terra. O fluido etreo para as necessidades do Esprito o que a atmosfera para as necessidades dos encarnados. Ora, do mesmo modo que os peixes no podem viver no ar; que os animais terrestres no podem viver numa atmosfera muito rarefeita para os seus pulmes, os Espritos inferiores no podem suportar o brilho e a impresso dos fluidos mais etreos. No morrem com isso, porque o Esprito no morre, mas uma fora instintiva os mantm deles distantes, como se distancia de um fogo muito ardente ou de uma luz muito ofuscante. Eis porque eles no podem sair do meio apropriado sua natureza; para isto mudar, preciso que mudem primeiro a sua natureza; que se despojem dos instintos materiais que os retm nos meios materiais; em uma palavra, que se depurem e se transformem moralmente; ento, gradualmente, eles se identificam com um meio mais depurado, que se torna para eles uma falta, uma necessidade, como os olhos daquele que, por muito tempo, viveu nas trevas se habituam insensivelmente luz do dia e ao brilho do Sol. 12. Assim, tudo se liga, tudo se encadeia no Universo; tudo est submetido grande e harmoniosa lei da unidade, desde a materialidade mais compacta at a espiritualidade mais pura. A Terra como um vaso de onde escapa uma fumaa espessa, que se clareia medida que se eleva, e cujas partes rarefeitas se perdem no espao infinito. A fora divina brilha em todas as partes deste conjunto grandioso, e se quereria que, para melhor atestar o seu poder, Deus, no contente com aquilo que fez, viesse perturbar essa harmonia! Que se abaixe ao papel de mgico, por pueris efeitos dignos de um prestigitador! E se ousa, para crescer, dar-lhe por rival, em habilidade, o prprio Satans! Nunca, em verdade, se rebaixou mais a majestade divina, e se espanta com o progresso da incredulidade! Tendes razo em dizer: A f se vai", mas a f em tudo o que choca o bom senso e a razo que se vai; a f semelhante quela que fez dizer outrora:" Os deuses se vo!" Mas a f nas coisas srias, a f em Deus e na imortalidade est sempre viva no corao do homem, e se ela foi abafada sob as pueris histrias com as quais a sobrecarregaram, ela se revela mais forte desde que esteja liberta, como a planta comprimida se eleva desde que receba o Sol! Sim, tudo milagre na Natureza, por que tudo admirvel e testemunha da sabedoria divina. Estes milagres so para todo o mundo, para todos aqueles que tm olhos para ver e ouvidos para ouvir, e no em proveito de alguns. No! No h milagres no sentido que se liga a este nome, porque tudo ressalta das leis eternas da criao e essas leis so perfeitas.

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OBRAS PSTUMAS
O perisprito e as enfermidades
10. Na encarnao, o Esprito conserva o seu perisprito: o corpo no para ele seno um segundo envoltrio mais grosseiro, mais resistente, apropriado s funes que deve cumprir, e do qual ele se despoja na morte. O perisprito o intermedirio entre o Esprito e o corpo; o rgo de transmisso de todas as sensaes. Para aquelas que vm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impresso; o perisprito a transmite, e o Esprito, o ser sensvel e inteligente, a recebe; quando o ato parte da iniciativa do Esprito, pode-se dizer que o Esprito quer, que o perisprito transmite, e o corpo executa. 11. O perisprito, de nenhum modo, est encerrado nos limites do corpo, como numa caixa; pela sua natureza fludica, ele expansvel; irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma atmosfera que o pensamento e a fora de vontade podem estender mais ou menos; de onde se segue que as pessoas que, de nenhum modo, no esto em contato corporal, podem estar pelo seu perisprito e se transmitir impresses, com o seu desconhecimento, alguma vezes mesmo a intuio de seus pensamentos. 12. Sendo o perisprito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante em todos os fenmenos psicolgicos e, at um certo ponto, nos fenmenos fisiolgicos e patolgicos. Quando as cincias mdicas tiverem em conta a influncia do elemento espiritual na economia, tero dado um grande passo, e horizontes inteiramente novos se abriro diante delas; muitas causas de enfermidades sero ento explicadas e poderosos meios de combat-las sero encontrados. 13. por meio do perisprito que os Espritos agem sobre a matria inerte e produzem os diferentes fenmenos das manifestaes. A sua natureza etrea no poderia ser um obstculo, uma vez que se sabe que os mais poderosos motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e fluidos imponderveis. No h, pois, de nenhum modo, lugar para se espantar de ver, com a ajuda dessa alavanca, os Espritos produzirem certos efeitos fsicos, tais como pancadas e rudos de todas as espcies, levantamento de objetos, transportados ou projetados no espao. No h nenhuma necessidade, para disso se dar conta, de recorrer ao maravilhoso ou aos efeitos sobrenaturais. 14. Os Espritos, agindo sobre a matria, podem se manifestar de vrias maneiras diferentes: por efeitos fsicos, tais como os rudos e o movimento de objetos; pela transmisso do pensamento, pela viso, o ouvido, a palavra, o toque, a escrita, o desenho, a msica, etc., em uma palavra, por todos os meios que podem servir para coloc-los em relao com os homens.

Expanso dos fluidos do perisprito


Estaramos agradecidos queles dos nossos correspondentes que quisessem fazer disso um objeto de estudo especial, seja pessoalmente, seja por intermdio dos Espritos, de nos comunicar o resultado de suas pesquisas, bem entendido, no interesse da difuso da verdade.

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Percorrendo rapidamente os anais anteriores da Revista, e aproximando os fatos assinalados e as teorias emitidas para explic-los, deles chegamos a concluir que conviria talvez dividir os fenmenos em duas categorias bem distintas, o que permitiria aplicar-lhes explicaes diferentes e demonstrar que as impossibilidades que se opem sua aceitao pura e simples, so antes aparentes do que reais. (Ver, para esse efeito, os artigos da Revista Esprita de janeiro de 1859, O duende de Bayonne; fevereiro de 1859, os Agneres, Meu amigo Hermann; maio de 1859, o Lao entre o Esprito e o corpo; novembro de 1859, a alma errante; janeiro de 1860, o Esprito de um lado e o corpo do outro; maro de 1860, Estudo sobre o Esprito das pessoas vivas; O Doutor V... e a Srta. S...; abril de 1860, o Fabricante de So-Petersburgo; Aparies tangveis; novembro de 1860, Histria de Marie dAgrda; julho de 1864, Uma apario providencial, etc., etc.) A faculdade de expanso dos fluidos perispirituais est hoje superabundantemente demonstrada pelas operaes cirrgicas, as mais dolorosas, realizadas sobre enfermos adormecidos, seja pelo clorofrmio e o ter, seja pelo magnetismo animal. No raro, com efeito, ver estes ltimos conversando com os assistentes sobre coisas agradveis ou alegres, ou se transportando ao longe em Esprito, enquanto que o corpo se retorce com todas as aparncias de horrveis torturas; a mquina humana, imobilizada no todo ou em parte, se dilacera sob o escalpelo brutal do cirurgio, os msculos se agitam, os nervos se crispam e transmitem a sensao ao aparelho crebro-espinhal; mas a alma, que no estado normal percebe s a dor e a manifesta exteriormente, momentaneamente afastada do corpo submetido impresso, dominada por outros pensamentos, por outras aes, no seno surdamente advertida do que se passa no seu envoltrio mortal e nele permanece perfeitamente insensvel. Quantas vezes no se viram soldados feridos gravemente, todo ao ardor do combate, perdendo seu sangue e sua fora, lutar por muito tempo ainda, no se apercebendo de suas feridas? Um homem, fortemente preocupado, recebe um choque violento sem nada sentir-lhe, e no seno quando cessa a abstrao de sua inteligncia que ele reconhece haver estado chocado sensao dolorosa que prova. A quem no ocorreu, numa poderosa conteno do Esprito, de atravessar uma multido tumultuosa e barulhenta, sem nada ver e sem nada ouvir, se bem que, entretanto, o nervo ptico e o aparelho auditivo tivessem percebido as sensaes e as tivesse transmitido fielmente alma? Disso no se pode duvidar, pelos exemplos que precedem e por uma multido de fatos que seria muito longo relacionar aqui, mas que cada um est no caso de apreciar, o corpo pode, de uma parte, cumprir as suas funes orgnicas, ao passo que o Esprito levado ao longe pelas preocupaes de uma outra ordem. O perisprito, indefinidamente expansvel, conservando ao corpo a elasticidade e a atividade necessrias sua existncia, acompanha constantemente o Esprito durante a sua viagem distante no mundo ideal.

Perisprito, princpio das manifestaes.


9. Os Espritos, como foi dito, tm um corpo fludico ao qual se d o nome de perisprito. A sua substncia haurida no fluido universal, ou csmico, que o forma e o alimenta, como o ar forma e alimenta o corpo material do homem. O perisprito mais ou menos etreo segundo os mundos e segundo o grau de depurao do Esprito. Nos mundos dos Espritos inferiores, a sua natureza mais grosseira e mais se aproxima da matria bruta. 10. Na encarnao, o Esprito conserva o seu perisprito: o corpo no para ele seno um segundo envoltrio mais grosseiro, mais resistente, apropriado s funes que deve cumprir, e do qual ele se despoja na morte.
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O perisprito o intermedirio entre o Esprito e o corpo; o rgo de transmisso de todas as sensaes. Para aquelas que vm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impresso; o perisprito a transmite, e o Esprito, o ser sensvel e inteligente, a recebe; quando o ato parte da iniciativa do Esprito, pode-se dizer que o Esprito quer, que o perisprito transmite, e o corpo executa. 11. O perisprito, de nenhum modo, est encerrado nos limites do corpo, como numa caixa; pela sua natureza fludica, ele expansvel; irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma atmosfera que o pensamento e a fora de vontade podem estender mais ou menos; de onde se segue que as pessoas que, de nenhum modo, no esto em contato corporal, podem estar pelo seu perisprito e se transmitir impresses, com o seu desconhecimento, alguma vezes mesmo a intuio de seus pensamentos. 12. Sendo o perisprito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante em todos os fenmenos psicolgicos e, at um certo ponto, nos fenmenos fisiolgicos e patolgicos. Quando as cincias mdicas tiverem em conta a influncia do elemento espiritual na economia, tero dado um grande passo, e horizontes inteiramente novos se abriro diante delas; muitas causas de enfermidades sero ento explicadas e poderosos meios de combat-las sero encontrados. 13. por meio do perisprito que os Espritos agem sobre a matria inerte e produzem os diferentes fenmenos das manifestaes. A sua natureza etrea no poderia ser um obstculo, uma vez que se sabe que os mais poderosos motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e fluidos imponderveis. No h, pois, de nenhum modo, lugar para se espantar de ver, com a ajuda dessa alavanca, os Espritos produzirem certos efeitos fsicos, tais como pancadas e rudos de todas as espcies, levantamento de objetos, transportados ou projetados no espao. No h nenhuma necessidade, para disso se dar conta, de recorrer ao maravilhoso ou aos efeitos sobrenaturais. 14. Os Espritos, agindo sobre a matria, podem se manifestar de vrias maneiras diferentes: por efeitos fsicos, tais como os rudos e o movimento de objetos; pela transmisso do pensamento, pela viso, o ouvido, a palavra, o toque, a escrita, o desenho, a msica, etc., em uma palavra, por todos os meios que podem servir para coloc-los em relao com os homens. 15. As manifestaes dos Espritos podem ser espontneas ou provocadas. As primeiras ocorrem inopinadamente e de improviso; elas se produzem, freqentemente, nas pessoas mais estranhas s idias espritas. Em certos casos, e sob o imprio de certas circunstncias, as manifestaes podem ser provocadas pela vontade, sob a influncia de pessoas dotadas, para esse efeito, de faculdades especiais. As manifestaes espontneas ocorreram em todas as pocas e em todos os pases; o meio de provoc-las, certamente, era tambm conhecido na antigidade, mas era o privilgio de certas castas que no o revelavam seno a raros iniciados, sob condies rigorosas, e escondendo-o ao vulgo, a fim de domin-lo pelo prestgio de uma fora oculta. No obstante, perpetuou-se atravs das idades at os nossos dias, em alguns indivduos, mas quase sempre desfiguradas pela superstio ou misturada s prticas ridculas da magia, o que havia contribudo para desacredit-la. Isso no fora, at ento, seno germes lanados aqui e ali; a Providncia reservara nossa poca o conhecimento completo e a vulgarizao desses fenmenos, para livr-los de suas ms ligas e faz-los servirem para a melhoria da Humanidade, hoje madura para compreend-los e deles tirar as conseqncias.
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Penetrabilidade do perisprito
Uma outra propriedade do perisprito e que se prende sua natureza etrea, a penetrabilidade. Nenhuma matria lhe obstculo; ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. por isso que no h clausura que possa se opor entrada dos Espritos; eles vo visitar o prisioneiro em seu crcere to facilmente quanto o homem que est no meio dos campos.

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NOTAS:
[1] - Segundo os Espritos, de todos os globos que compem o nosso sistema planetrio, a Terra um daqueles onde os Espritos so os menos avanados, fsica e moralmente. Marte seria ainda inferior e Jpiter, o mais superior em relao a todos. O Sol no seria um mundo habitado por seres corporais, mas um local de reunio dos Espritos superiores que, de l, irradiam seus pensamentos para outros mundos, que dirigem por intermdio dos Espritos menos elevados, transmitindo-os a estes, por intermdio do fluido universal. Como constituio fsica, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os sis parecem estar numa posio idntica. O volume e a distncia que esto do Sol no tm nenhuma relao necessria com o grau de adiantamento dos mundos, pois parece que Vnus mais adiantado que a Terra, e Saturno menos adiantado que Jpiter. Vrios Espritos que animaram pessoas conhecidas sobre a Terra, disseram estar encarnados em Jpiter, um dos mundos mais prximos da perfeio, e ficaram admirados de ver, nesse globo to adiantado, homens que, na opinio do nosso mundo, no eram to elevados. Isso no deve causar admirao, se considerarmos quer certos Espritos que habitam aquele planeta podiam ter sido enviados Terra para cumprir uma misso, que, aos nossos olhos, no os colocava em primeiro plano; em segundo lugar que, entre a existncia que viveram na Terra e a que vivem em Jpiter, devem ter tido outras intermedirias, nas quais se melhoraram; em terceiro lugar, que nesse mundo, como no nosso, existem diferentes graus de adiantamento e que, entre esses graus, pode haver a mesma distncia que separa, entre ns, o selvagem do homem civilizado. Assim, do fato de habitarem Jpiter no se segue que esto ao nvel dos seres mais avanados, da mesma forma que no se est ao mesmo nvel de um sbio do Instituto, s porque se habita em Paris. As condies de longevidade no so, tambm, em toda a parte as mesmas de sobre a Terra e a idade no se pode comparar. Uma pessoa desencarnada havia alguns anos, sendo evocada, disse estar encarnada h seis meses num mundo cujo nome nos desconhecido. Interrogada sobre a idade que tinha esse mundo, respondeu: "No posso avali-la porque no contamos o tempo como vs; depois o nosso modo de vida no o mesmo, desenvolvemo-nos com muito maior rapidez; embora no faa mais que seis dos vossos meses que l estou, quanto inteligncia, posso dizer que tenho trinta anos de idade que tive sobre a Terra." Muitas respostas anlogas nos foram dadas por outros Espritos e isso nada tem de inacreditvel. No vemos sobre a Terra um grande nmero de animais adquirir, em poucos meses, o seu desenvolvimento normal? Por que no poderia ocorrer a mesma coisa com o homem de outras esferas? Notemos, por outro lado, que o desenvolvimento alcanado pelo homem na Terra, na idade de trinta anos, pode ser uma espcie de infncia comparado quele que deve alcanar. Bem curto de vista se revela quem nos toma em tudo por prottipos da Criao, e rebaixar a Divindade acreditar-se que, fora o homem, nada mais seja possvel a Deus.

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XVIII CONGRESSO ESPRITA PAN-AMERICANO 11 a 15 de outubro de 2000 Porto Alegre RS

Obsesso: proposta de um projeto de pesquisa integrado

MAURO DE MESQUITA SPINOLA ALVARO DE MESQUITA SPINOLA Centro de Estudos Espritas Jos Herculano Pires (So Paulo-SP, Brasil) Centro de Pesquisa e Documentao Esprita (Santos-SP, Brazil) [email protected], [email protected]

Resumo
Atividades diversas voltadas para o tratamento da obsesso so realizadas em boa parte dos grupos espritas brasileiros. Baseiam-se, em boa medida, em prticas desenvolvidas a partir da experincia dos dirigentes e mdiuns dedicados a essa tarefa. Este artigo apresenta as bases e diretrizes de uma linha de trabalho e pesquisa com o objetivo de conceituar a obsesso e desenvolver uma metodologia para seu diagnstico e tratamento. Apresenta as etapas a serem realizadas para estabelecer um projeto de pesquisa com esses objetivos. As atividades principais do projeto so: (1) levantamento do estado da arte (conceitos e prticas j desenvolvidos), (2) conceituao de obsesso (considerando o estado da arte e em contribuies recentes de disciplinas cientficas correlatas, (3) desenvolvimento de uma metodologia para diagnstico e tratamento da obsesso, (4) definio dos requisitos (necessidades) mnimos para um trabalho voltado para o diagnstico e o tratamento da obsesso, (5) publicao e divulgao dos resultados e (6) criao de mecanismos de intercmbio entre diversas pessoas e grupos estudiosos do assunto. O artigo apresenta o detalhamento desta proposta de trabalho, visando servir como base para amplo levantamento e conseqente discusso do tema entre os vrios grupos e pesquisadores interessados. Palavras-chave: obsesso esprita, centro esprita

1 Introduo
Kardec definiu a obsesso como sendo a influncia malfica de um esprito sobre uma pessoa, podendo acarretar como conseqncia diversos males emocionais, fsicos e comportamentais. [3] Ele realizou um trabalho profundo para compreenso e tratamento da obsesso. Seus estudos e concluses esto apresentados sobretudo em O livro dos espritos [2], O livro dos mdiuns [3], A gnese [1] e na Revista esprita [4]. Sua principal contribuio est em identificar as caractersticas da obsesso, suas diversas formas de manifestao e os princpios bsicos de seu tratamento. A base estabelecida por seus estudos permanece como a mais slida contribuio sobre o tema. Outros autores, alguns deles espritos desencarnados, deram tambm contribuies importantes e algumas delas tm exercido grande influncia na conduo dos trabalhos dos grupos que se dedicam ao tratamento da obsesso. No entanto, a maioria dessas contribuies no respeita critrios metodolgicos que permitam sua mais segura aplicao. Ao lado da clara carncia de produo ps-Kardec, observa-se, neste mesmo perodo, um vigoroso desenvolvimento de diversas disciplinas cientficas em especial nas reas da Psicologia e da Medicina que buscam, por caminhos diferentes, contribuir para o entendimento do homem, sua natureza e seus problemas. absolutamente necessrio identificar, com maior clareza, a contribuio do espiritismo e de cada uma dessas reas no entendimento, diferenciao e tratamento da obsesso. E buscar solues com base em uma abordagem multidisciplinar. Durante o XVII Congresso da CEPA realizado em Buenos Aires, em 1996, o Comit Cientfico da CEPA discutiu entre outros temas a necessidade de se realizar um projeto de pesquisa integrado sobre obsesso. Esta proposta do CPDoc vem de encontro a esta preocupao do Comit Cientfico e o frum de temas deste Congresso abriu espao para se iniciar este trabalho em conjunto com todas pessoas e grupos interessados. Este artigo apresenta as bases e diretrizes de uma linha de trabalho e pesquisa com o objetivo de conceituar a obsesso e desenvolver uma metodologia para seu diagnstico e tratamento. Alm deste trabalho, que apresenta os objetivos, o mtodo de trabalho e as principais aes propostas, trs outros correlatos e complementares, integrantes da mesma linha de pesquisa da CPDoc, esto sendo desenvolvidos. So eles:

Obsesso: mtodo para um levantamento bibliogrfico, por Marissol Castello Branco e Mauro de Mesquita Spnola, que visa resgatar do ponto de vista da literatura a contribuio de Kardec e a de outros autores, entre eles espritos desencarnados, Obsesso: roteiro para estudo de caso, por Rosngela Gomes de Souza e Marina Frana, que prope um mtodo e um questionrio bsico para apoio ao levantamento de estudos de casos, uma atividade chave nesta pesquisa, e Grupos espritas de pesquisa medinica, por Egydio Rgis e Sandra Rgis, apresentar uma estrutura e uma metodologia para grupos de pesquisa medinica atravs de entrevistas e debates com Espritos.

2 Objetivo (O que?)
Vrios estudos e aes isolados tm sido realizados com o objetivo de compreender e tratar a obsesso. Este projeto visa integrar esforos nesta direo, e permitir a obteno de resultados slidos e confiveis, que possam ser publicados e utilizados pelos interessados. Uma pesquisa sobre o conceito, o diagnstico e o tratamento da obsesso constitui-se, por um lado, num esforo para realizar uma parte do compromisso histrico de atualizao da contribuio do espiritismo para a compreenso e a soluo de diversas dores, angstias e incertezas que afetam o homem moderno. Por outro lado, tambm um grande desafio a sua realizao, que envolve levantamento de informaes, fomento do debate, crtica e sntese de resultados obtidos junto aos diversos grupos e estudiosos que decidirem dela participar. 2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do projeto conceituar obsesso e desenvolver uma metodologia para seu diagnstico e tratamento. 2.2 Objetivos especficos

Os objetivos especficos so os seguintes: levantamento do estado da arte, conceituao de obsesso, desenvolvimento de uma metodologia para diagnstico e tratamento da obsesso, definio dos requisitos (necessidades) mnimos para um trabalho de diagnstico e tratamento, publicao e divulgao dos resultados e criao de mecanismos de intercmbio entre diversas pessoas e grupos estudiosos do assunto. 2.2.1 Estado da arte A base e o ponto de partida da pesquisa o levantamento crtico do "estado da arte" sobre obsesso, ou seja, dos conceitos e prticas j desenvolvidos, nos seguintes aspectos: conceituao (o que obsesso, quais so as suas caractersticas objetivas e subjetivas , as suas causas e os seus tipos?), diagnstico (quais so os mtodos, tcnicas e atividades desenvolvidos e utilizados para diagnosticar a obsesso? quais so os resultados de sua aplicao?), tratamento (quais so os mtodos, tcnicas e atividades desenvolvidos e utilizados para tratar a obsesso? quais so os resultados de sua aplicao?). Esse levantamento envolve as seguintes atividades integradas:
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pesquisa bibliogrfica sobre o tema, envolvendo levantamento e anlise das pesquisas de Allan Kardec, outros autores espritas estudiosos do assunto e autores no espritas cujos trabalhos possam contribuir para a melhor compreenso do fenmeno obsesso, levantamento de estudos de casos controlados e registrados e catalogao, classificao, anlise crtica, comparao e sntese dessas contribuies.

2.2.2 Conceito de obsesso O que a obsesso? Quais so as suas caractersticas gerais? Uma etapa da pesquisa envolve conceituar e caracterizar a obsesso, com base na anlise do levantamento do estado da arte, tanto quanto, na medida do possvel, nas contribuies recentes de disciplinas correlatas tais como a Psiquiatria, a Neurologia e a Psicologia. 2.2.3 Metodologia O tratamento esprita da obsesso requer uma metodologia. Uma etapa importante do projeto o desenvolvimento de uma metodologia para diagnstico e tratamento da obsesso. Esta metodologia ser proposta com base nos estudos de casos e no estado da arte levantados, e ser avaliada/aperfeioada pelos grupos e pessoas participantes do projeto. Em relao a diagnstico, a metodologia envolve: mtodos, tcnicas e atividades para identificao e classificao da obsesso, identificao dos fatores que diferenciam a obsesso de outros fenmenos humanos, fsicos e/ou psquicos, identificao dos fatores que diferenciam os diversos tipos de obsesso entre si. documentao e registros necessrios. Em relao a tratamento a metodologia envolve:\ recursos e infra-estrutura necessrios, perfil e preparao dos recursos humanos envolvidos, mtodos, tcnicas e atividades relacionados ao atendimento e acompanhamento das pessoas em tratamento, mtodos, tcnicas e atividades relacionados utilizao da mediunidade no processo de tratamento. documentao e registros necessrios. 2.2.4 Requisitos A metodologia a ser desenvolvida, citada no item anterior, no poder ser aplicada a todos os casos. A obsesso abrange uma gama variada de fenmenos, exigindo cada caso um trabalho adequado e contextualizado. H diferenas tambm entre os perfis dos pacientes, tanto quanto h entre as caractersticas dos grupos. O tratamento da obsesso, necessita, conseqentemente, respeitar e adequar-se a essas diferenas. Uma etapa de maior amadurecimento do trabalho de pesquisa permitir identificar um processo mais geral para diagnstico e tratamento da obsesso, envolvendo: Requisitos (necessidades) mnimos e gerais para um trabalho voltado para o diagnstico e o tratamento da obsesso. Esses requisitos devem ser aplicveis a contextos, necessidades e objetivos diferenciados. Regras e diretrizes para adaptao desses requisitos aos diferentes contextos, que serviro de base para elaborao e aplicao de diferenciadas metodologias de trabalho.

2.2.5 Divulgao Os resultados de cada etapa da pesquisa sero divulgados e publicados, de acordo com planejamento proposto pelo CPDoc e discutido com os grupos e pessoas envolvidos. 2.2.6 Intercmbio Um dos objetivos da pesquisa o de criar mecanismos de intercmbio entre diversas pessoas e grupos estudiosos do assunto, que permitam: levantar informaes e casos de estudos, buscar consenso sobre os conceitos e mtodos propostos, aplicar a metodologia e os requisitos propostos, adaptando-os a diferentes contextos, analisar e avaliar os trabalhos e resultados obtidos, discutir o encaminhamento da prpria pesquisa. O intercmbio ser realizado por meio de troca de correspondncia e atravs de eventos especialmente programados. Esses eventos reuniro periodicamente pessoas e representantes dos grupos participantes para consolidao de informaes e encaminhamento das novas etapas do trabalho. O uso extensivo da internet deve se constituir em uma chave para obter maior agilidade na troca de informaes.

3 Participantes e colaboradores (Quem e onde?)


Esto convidados a participar todos os interessados. Os seguintes grupos e pessoas assumem, desde o incio do trabalho, algumas responsabilidades: CPDoc (no Brasil), em colaborao com o Comit Cientfico da CEPA e outros grupos coordenadores nacionais: (1) coordenao das atividades e da elaborao do trabalho, (2) integrao com outros ncleos coordenadores que estejam desenvolvendo pesquisas correlatas, no Brasil e no exterior, (3) cadastramento de grupos e pessoas participantes, (4) manuteno de um banco de dados com informaes, propostas e estudos de casos, (5) intercmbio entre os grupos e pessoas participantes. Grupo participante (qualquer grupo esprita que deseje participar e contribuir com a pesquisa): (1) apresentao de dados e/ou propostas, (2) anlise de dados e avaliao de propostas apresentadas, (3) aplicao e avaliao crtica de mtodos, tcnicas e atividades propostas. Pesquisador participante (qualquer pessoa, esprita ou no, que deseje participar e contribuir com a pesquisa): (1) apresentao de dados e/ou propostas, (2) anlise de dados e avaliao de propostas apresentadas.

4 Mtodo de trabalho (Como? - 1)


O mtodo consiste em anlise de dados coletados de forma ampla a partir de diversas fontes. A pesquisa envolve 5 etapas, apresentadas na Figura. Em cada uma das 5 etapas o processo se repete: Estabelece-se um objetivo especfico e claro. So distribudas e realizadas tarefas dentro de padres pr-determinados.

Os dados so coletados e feita anlise e fechamento das informaes num texto com proposta de trabalho. As concluses analisadas pelos grupos so levadas e debatidas em um evento final. Da terceira etapa em diante so feitas publicaes seqenciais e complementares. Em cada etapa os papis so bem definidos, porm os grupos participantes podem contribuir com as vrias atividades envolvidas: estudar, pesquisar, testar e analisar as propostas. Eles podem tambm participar da elaborao junto com a coordenao.

5 Publicaes e divulgao (Como? - 2)


A pesquisa proposta deve gerar as seguintes publicaes principais. 5.1 Livros ou apostilas

Ao final de cada etapa ser gerada uma publicao na forma de livro ou apostila, com conceitos e prticas consolidados na pesquisa. O que a obsesso? Como tratar a obsesso? Uma mtodo esprita para diagnstico e tratamento. Obsesso: um modelo para estruturao das atividades de diagnstico e tratamento 5.2 Pgina na internet

Durante todo o desenvolvimento da pesquisa, um site na internet, controlado pelo CPDoc e acessvel aos membros do CPDoc e aos participantes, reunir todo o material que j tenha sido desenvolvido, incluindo: (1) material para a anlise crtica dos participantes (textos analticos, entrevistas com estudiosos encarnados e desencarnados, formulrios e questes propostas, respostas a questes e informaes fornecidas pelos grupos), (2) resultados consolidados, grficos, quadros sinticos e estatsticas, (3) material de orientao (procedimentos de trabalho) para a aplicao da metodologia proposta, (4) material preparatrio e relatrios dos seminrios de consolidao. As trocas de informaes sero feitas, de preferncia, por e-mail. Fax e correio podem ser usados em casos em que o uso de e-mail no for possvel ou adequado.

6 Cronograma (Quando?)
A Tabela Cronograma detalha as etapas, as atividades que compem cada uma delas, os eventos que envolvem, e os produtos que devem gerar.

7 Concluso
Esta proposta apenas o incio da estruturao de um ambicioso trabalho de pesquisa. Realiz-lo significa envolver indivduos e grupos comprometidos com ela, motivados pela importncia cada vez maior que a obsesso possui para a humanidade e pelo potencial do espiritismo para contribuir com seu entendimento e tratamento. Este texto deve ser entendido como uma proposta passvel de reviso e aperfeioamento, e um convite participao.

Referncias bibliogrficas
1. 2. 3. 4. KARDEC, Allan. A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. Trad. Vtor Tollendal Pacheco. 13a ed. So Paulo, LAKE, 1981. . O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 62a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1985. . O livro dos mdiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 48a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1983. . Revista esprita. Trad. Jlio de Abreu Filho. So Paulo, EDICEL, 12 v. (Sem ano de publicao).

Bibliografia complementar recomendada


AKSAKOF, Alexandre. Animismo e Espiritismo. Trad. C. S. 3a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1978. 2 v. ANDRADE, Hernani Guimares. Morte, renascimento, evoluo: uma biologia transcendental. 3a ed. So Paulo, Pensamento, 1985. BOZZANO, Ernesto. Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Trad. Guillon Ribeiro. 3a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1982. CASTRO, Maria Laura Viveiros de. O que Espiritismo: 2a viso. So Paulo, Brasiliense, 1985. (Coleo Primeiros Passos, v. 146). FVARO, der; DEL CHIARO Filho, Amilcar; PALAZZI, Roberto. A estrutura dos centros espritas de KARDEC aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. guas de So Pedro, SP, 22-24 ago 1986. Anais. s.n.t. FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA. Orientao ao centro esprita. 2a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980. GALGANO, Alberto. Calidad total. Diaz de Santos. GARCIA, Wilson. O centro esprita. 2a ed. So Paulo, USE Editora, set 1990. KARDEC, Allan. Iniciao esprita. Trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo, rev. anot. J. Herculano Pires. 10a ed. So Paulo, EDICEL, 1986. . Obras pstumas. Trad. Sylvia Mele Pereira da Silva, intr. e anot. J. Herculano Pires. 2a ed. So Paulo, LAKE, 1979. . O evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 12a ed. Araras-SP, Instituto de Difuso Esprita, nov 1980. . Viagem esprita em 1862. Trad. e pref. Wallace Leal V. Rodrigues. Mato, SP, O Clarim, 1968. LUCIA, Reinaldo di. Passes: discusso e propostas. Em: SBPE - SIMPSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPRITA, 3. Santos, SP, 3-6 set 1993. Anais. Santos, Licespe, 1993. MAIN, Jeremy. Guerras pela qualidade: os sucessos e fracassos da revoluo da qualidade. Trad. Outras Palavras Consultoria Lingustica. Rio de Janeiro, Campus, 1994. MARTINS, Celso. A obsesso e seu tratamento esprita. 2a ed. So Paulo, EDICEL, 1983. MESSIAS, Carlos Roberto de. Contribuies sobre o movimento esprita brasileiro. Apresentado no CPDoc, Santos, SP, 26 fev 1989. O PODER e o movimento esprita. 2a ed. Santos, DICESP, fev 1982. PAIVA, Aylton Guido Coimbra. Espiritismo e poltica. Santos, DICESP, set 1982. PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 5a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1971. PIRES, J. Herculano. Mediunidade: vida e comunicao: conceituao de mediunidade e anlise geral dos seus problemas atuais. 7a ed. So Paulo, EDICEL, 1987. . Obsesso. O passe. A doutrinao. 3a ed. So Paulo, SP, Paidia, 1985. . O centro esprita. So Paulo, Paidia, jan 1980. . Parapsicologia hoje e amanh. 5a ed. So Paulo, EDICEL, 1977.
7

PIRONDI, Ciro. Influncia do Espiritismo na evoluo do homem contemporneo. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. guas de So Pedro, SP, 22-24 ago 1986. Anais. s.n.t. PORTEIRO, Manuel S. Espiritismo dialctico. Buenos Aires, Editorial Vitor Hugo, 1960. p. 57. RGIS, Jaci. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. guas de So Pedro, SP, 22-24 ago 1986. Anais. s.n.t. SHIBA, Shoji; GRAHAM, Alan; WALDEN, David. A new american TQM: four practical revolutions in management. Prod, 1993. SPINOLA, Mauro de Mesquita. Leitura contextualizada do conhecimento esprita. Em: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ASPECTO SOCIAL DA DOUTRINA ESPRITA, 3. Salvador, BA, mar 1989. Anais. s.n.t. . Centro esprita: uma reviso estrutural. Em: SBPE - SIMPSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPRITA, 3. Santos, SP, 3-6 set 1993. Anais. Santos, SP, Licespe, 1993. VIEIRA, Waldo. Conduta esprita. Ditado pelo esprito Andr Luiz. 4a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1971. XAVIER, Francisco Cndido. Coragem. 2a ed. Uberaba, CEC, 1973. p. 17-18. ; VIEIRA, Waldo. Desobsesso. Ditado pelo esprito Andr Luiz. 4a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1979. . Nos domnios da mediunidade. Ditado pelo esprito Andr Luiz. 12a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1983. . O consolador. Ditado pelo esprito Emmanuel. 7a ed. Rio de Janeiro, FEB.

CRONOGRAMA ETAPA SEMESTRE 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Etapa 1: Proposta de trabalho (1) estabelecimento de infra-estrutura no CPDoc (responsabilidades, site na internet) (2) elaborao de uma proposta geral de trabalho a ser apresentada aos participantes da pesquisa X X (3) formao de grupos de pesquisa* (4) preparao dos centros para participar da pesquisa* Evento 1: Encontro inicial dos participantes: discusso e consolidao da proposta de trabalho. Etapa 2: Estado da arte (1) pesquisa bibliogrfica sobre obsesso* (2) elaborao da metodologia para levantamento de estudos de casos (3) levantamento de estudos de casos* e divulgao entre os participantes da pesquisa (internet, correio etc.) X X (4) entrevistas com estudiosos de obsesso (5) elaborao do texto Estado da arte (preliminar) e divulgao entre os participantes da pesquisa (6) anlise crtica do texto Estado da arte (preliminar) pelos participantes da pesquisa* Evento 2: Encontro dos participantes: discusso e consolidao das concluses sobre o estado da arte. Etapa 3: Conceituao (o que obsesso) (1) pesquisa bibliogrfica sobre obsesso e disciplinas correlatas (Psiquiatria, Neurologia, Psicologia ...)* (2) entrevistas com estudiosos de obsesso e de disciplinas correlatas X X (3) elaborao do texto O que obsesso (preliminar) e divulgao entre os participantes da pesquisa (4) anlise crtica do texto O que obsesso (preliminar) pelos participantes da pesquisa* Evento 3: Encontro dos participantes: discusso e consolidao da conceituao. Publicao 1: O que obsesso? 9 X

CRONOGRAMA (cont.) Etapa 4: Mtodo para diagnstico e tratamento da obsesso (1) pesquisa bibliogrfica sobre obsesso e disciplinas correlatas (Psiquiatria, Neurologia e Psicologia) (2) entrevistas com estudiosos de obsesso e de disciplinas correlatas (3) elaborao do texto Mtodo ... (fase terica) e divulgao entre os participantes da pesquisa (4) anlise crtica do texto Mtodo (fase terica) pelos participantes da pesquisa* Evento 4: Encontro dos participantes: discusso e anlise de viabilidade da proposta de mtodo para diagnstico e tratamento da obsesso (fase terica). (5) aplicao do mtodo pelos participantes e registro dos casos*; divulgao dos casos (5) elaborao do texto Mtodo ... (fase experimental) e divulgao entre os participantes da pesquisa (6) anlise crtica do texto Mtodo ... (fase experimental) pelos participantes da pesquisa* Evento 5: Encontro dos participantes: discusso e consolidao do mtodo para diagnstico e tratamento da obsesso (fase experimental). Publicao 2: Como tratar a obsesso? Um mtodo esprita para diagnstico e tratamento.

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CRONOGRAMA (cont.) Etapa 5: Metodologia para diagnstico e tratamento da obsesso (requisitos para a estruturao de trabalhos dos grupos) (1) levantamento doas aspectos considerados essenciais para qualquer metodologia de diagnstico e tratamento da obsesso* (2) elaborao do texto Metodologia... (fase terica) e divulgao entre os participantes da pesquisa (3) anlise crtica do texto Metodologia ... (fase terica) pelos participantes da pesquisa* Evento 6: Encontro dos participantes: discusso e anlise de viabilidade da proposta de Metodologia (fase terica). (4) desenvolvimento de mtodos especficos baseados na Metodologia*; divulgao (5) aplicao das metodologias pelos participantes e registro dos casos*; divulgao dos casos (6) anlise crtica dos Metodologia ... baseada em sua aplicao*; divulgao das anlises crticas (7) elaborao do texto Metodologia ... (fase experimental) e divulgao entre os participantes da pesquisa (8) anlise crtica do texto Metodologia ... (fase experimental) pelos participantes da pesquisa* Evento 7: Encontro dos participantes: discusso e consolidao da Metodologia (fase experimental). Publicao 3: Obsesso: um modelo para estruturao das atividades de diagnstico e tratamento.

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Papel do Centro Preparar-se para participar Estruturao dos Grupos

Etapa 1 Proposta de Trabalho Evento 1

Papel do Centro Pesquisa bibliogrfica Estudos de casos A nlise dos textos prvios

Etapa 2 Estado da arte Evento 2

Papel do Centro Pesquisa bibliogrfica A nlise dos textos prvios

Etapa 3 Conceituao Evento 3 Publicao 1

Papel do Centro A plicao e anlise crtica do mtodo A nlise crtica dos textos prvios

Etapa 4 Mtodo para diagnstico e tratamento Eventos 4e5 Publicao 2

Papel do Centro Levantamento dos aspectos essenciais A daptao, aplicao e anlise crtica da metodologia proposta

Etapa 5 Metodologia para diagnstico e tratamento Eventos 6e7 Publicao 3

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OBSESSO: MTODO PARA UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRFICO


Marissol Castello Branco (apresentadora) (*) e Mauro de Mesquita Spnola So Paulo-SP, Brasil

RESUMO
Muito j foi publicado e refletido a respeito da obsesso tanto no meio esprita como na rea da psiquiatria. Este artigo apresenta um mtodo para se iniciar o levantamento bibliogrfico dessas obras, sendo esta uma parte do levantamento do estado da arte que tambm comporta o levantamento de casos de obsesso e entrevista com estudiosos no assunto, encarnados e desencarnados. Apresenta uma anlise preliminar da obra kardequiana com outros estudos elaborados atualmente dentro do espiritismo a respeito do conceito, causas, diagnstico e tratamento da obsesso. Palavras-chave: obsesso, bibliografia

1. INTRODUO
O processo da atualizao do espiritismo iniciou h algum tempo quando se discutia a contextualizao do espiritismo que compreender a doutrina esprita na poca em que foi elaborada. Essa fase do resgate histrico e filosfico da obra kardequiana chegou a um ponto onde se percebeu a necessidade de desenvolver algumas reas no abordadas por Kardec ou tratadas superficialmente em toda sua obra. A obsesso uma rea que poder ser enriquecida com os inmeros estudos desenvolvidos sobre a mente neste sculo que se encerra. Os mtodos de tratamento utilizados na casa esprita so os mais variados e seria impossvel inferir precisamente pois, no houve um levantamento criterioso a esse respeito, mas, podemos afirmar que se baseiam em prticas desenvolvidas a partir da experincia dos dirigentes e mdiuns dedicados a essa tarefa, sendo perpetuado por vrios anos como uma tradio. No existe um treinamento para se executar a tarefa de uma maneira sistemtica. Normalmente, aprendem vem dos outros que vieram antes deles trabalhar, assim como o arteso ensina o seu trabalho ao aprendiz. Do sculo XIX at nossos dias, muitas pesquisas foram realizadas pela cincia no campo psquico. A tarefa reunir as contribuies que podero ser aproveitadas na pesquisa a que nos propomos. Este trabalho uma pequena parcela de um estudo maior que se iniciou com um projeto apresentado por Mauro Spnola (co-autor) em 2 reunies do CPDoc e que vrios membros motivados pelo tema abraaram uma parte dele e que apresentam neste congresso.

Seu papel dar conta de um mtodo para uma pesquisa bibliogrfica sobre o tema de uma forma tal que aps levantada toda a bibliografia se possa ter acesso aos dados com maior facilidade pois o material bastante extenso. Faz parte deste material o levantamento e anlise dos relatos de Allan Kardec, outros autores espritas estudiosos do assunto e autores no espritas cujos trabalhos possam contribuir para a melhor compreenso do fenmeno obsesso. Com isso, busca-se resgatar do ponto de vista da literatura a contribuio de Kardec e a de outros autores, entre eles espritos desencarnados, sobre o conceito, diagnstico e tratamento da obsesso. Alm deste trabalho, trs outros correlatos e complementares, integrantes da mesma linha de pesquisa da CPDoc, esto sendo desenvolvidos. So eles: Obsesso: proposta de um projeto de pesquisa integrado, por lvaro de Mesquita Spnola e Mauro de Mesquita Spnola, que apresentam os objetivos, o mtodo de trabalho e as principais aes propostas. Obsesso: roteiro para estudo de caso, por Rosngela Gomes de Souza e Marina Frana, que propem um mtodo e um questionrio bsico para apoio ao levantamento de estudos de casos, uma atividade chave nesta pesquisa, e Grupos espritas de pesquisa medinica, por Egydio Rgis e Sandra Rgis, apresentam uma estrutura e uma metodologia para grupos de pesquisa medinica atravs de entrevistas e debates com Espritos. Para o CPDoc e para seus participantes, essa pesquisa constitui-se, por um lado, num esforo para realizar uma parte do compromisso histrico de atualizao da contribuio do espiritismo para a compreenso e a soluo de diversas dores, angstias e incertezas que afetam o homem moderno. Por outro lado, tambm um grande desafio assumir a coordenao tcnica da pesquisa, que envolve levantamento de informaes, fomento do debate, crtica e sntese de resultados obtidos junto aos diversos grupos e estudiosos que decidirem dela participar.

2. MTODO PARA UM LEVANTAMENTO


O levantamento bibliogrfico uma parte do levantamento do estado da arte que tambm engloba o estudo de casos sobre obsesso e entrevista com estudiosos no assunto. A bibliografia referente ao assunto extensa sendo necessrio levantar alguns modelos de catalogao desse material. Para sistematizar o contedo levantado nas obras, criou-se um modelo de fichamento para facilitar uma posterior consulta nos dados anotados e acesso em programas de base de dados. Tanto os fichamentos assim como os outros levantamentos ficaro disposio dos colaboradores em um site da Internet, em fase de elaborao, onde se poder acessar esses arquivos e elaborar os estudos necessrios.

Modelo de fichamento
O primeiro item se refere aos dados de identificao do livro. Nem todos os campos so preenchidos e conforme a situao da obra, outros podero ser abertos. Quando se tratar de um livro psicografado considera-se os autores da obra tanto o esprito comunicante como o mdium. Os itens segundo e terceiro descrevem a obra no geral e por captulos de uma forma resumida. O quarto uma coletnea de citaes onde o
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autor trata temas do interesse deste estudo e outros que o relator considerar importante. No final feita uma avaliao crtica do livro e informa-se os dados do fichamento.

1. Dados da obra Ttulo Subttulo Autor(es) Tradutor(es) (se houver) Revisor(es) (se houver) Organizador(es) (se for obra conjunta) Nmero da edio Cidade Editora Ano da publicao Nmero de pginas Nome da srie a que o livro faz parte (se houver)

2. Resumo Geral Descrever em at 15 linhas sobre o que trata o livro de uma forma geral.

3. Resumo dos captulos Para cada captulo estudado, descrever o assunto tratado, com at 5 linhas (podem ser apenas palavras-chave). Se preferir, poder fazer o resumo por blocos de captulos. O resumo deve transmitir a essncia a idia principal do captulo ou do conjunto de captulos. recomendvel no fazer citaes do autor neste item. Nmero e ttulo do Captulo Resumo do captulo

4. Temas em destaque e citaes Indicar alguns temas especficos tratados no livro, considerados importantes. Para cada um, citar trechos representativos da contribuio do autor. Alguns temas j esto
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sugeridos. Acrescente tantos quanto considerar necessrio. recomendvel transcrever todo o pargrafo ou parte dele referente ao tema e indicar o nmero da pgina em que se encontra. Tema: Conceito de Obsesso Pginas Citaes Tema: Diagnstico da Obsesso Pginas Citaes Tema: Tratamento da Obsesso Pginas Citaes

5. Avaliao crtica (opcional) Apresentar em at 10 linhas sua avaliao crtica sobre a obra.

6. Dados do fichamento Data do fichamento Fichamento feito por Endereo Telefones Fax E-mail

Dentre as obras contempladas com o fichamento temos: Obsesso de Allan Kardec, coletnea de artigos da R Esprita, feito por Marina Frana. Obsesso, o passe, a doutrinao de Jos Herculano Pires feito por Alcione Moreno. Nos Bastidores da Obsesso de Divaldo Pereira Franco (mdium) e Manuel Philomeno de Souza (esprito) feito por Marissol Castello Branco. A Loucura sob novo prisma de Adolfo Bezerra de Menezes feito por Mrio Muniz Jr.
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3. ANLISE PRELIMINAR
Das contribuies sobre o estudo da obsesso encontramos muita variedade com relao ao tratamento e preveno. Em, praticamente, todas as obras de Kardec h textos sobre obsesso ou assuntos relacionados, alguns deles so muito semelhantes e falam do conceito e a indicao do tratamento conforme a fase em que se encontra. Na Revista Esprita existem diversos casos de obsesso desenvolvidos por grupos de espritas de outras localidades. Estes casos se confundiam com ataques de loucura ou de epilepsia mas, com caractersticas que davam pistas a uma possvel obsesso. O diagnstico confirmava-se com a comunicao do esprito obsessor evocado. No tratamento utilizavam uma seqncia de evocaes ao esprito e magnetizao na obsedada. No conceito da obsesso, a maioria dos autores baseia-se na definio apresentada por Kardec. Marlene Nobre, baseando-se nas obras de Andr Luiz e Emmanuel, classifica as obsesses de natureza anmica e espirtica, dividindo-as em efeitos inteligentes e efeitos fsicos. No que diz respeito ao diagnstico da obsesso, Bezerra de Menezes fala sobre o diagnstico diferencial da loucura e da obsesso, acreditando ser um ponto delicado no processo. No tratamento e preveno da obsesso vrios so os que contriburam relatando uma srie de casos: Suely Caldas Schubert, Hermnio Miranda, Wilson Garcia, Richard Simonetti, entre outros. Os espritos Andr Luiz, Manuel Philomeno de Miranda e Bezerra de Menezes entre outros contriburam com o tratamento da obsesso ao descreverem como se processa esse trabalho na erraticidade. Cada um a sua maneira relataram casos obsessivos e como se sucedeu seu tratamento e xito. Jon Aizprua em seu livro "Fundamentos do Espiritismo" reservou um captulo para a obsesso onde traou um panorama geral das doenas mentais e descreveu alguns procedimentos de seu tratamento nos centros espritas. Marina Frana, Ademar Chioro e Reinaldo Di Lucia fizeram parte de um Seminrio sobre Desobsesso realizado em 1999, em Santos onde em suas falas focalizaram o estudo mais propriamente no obsedado. Para Chioro o obsedado deixa-se levar por uma relao simbitica com o obsessor onde ambos saem "lucrando" e Di Lucia entende que o tratamento da obsesso deve se preocupar mais com os estudos da psicologia e psiquiatria sobre a mente humana para tratar melhor o obsedado que procura o centro esprita, muitas vezes, num profundo processo de angstia. Marina Frana em seu trabalho Obsesso: uma reflexo apresentado no V SBPE em 1997, e posteriormente ao CPDoc em 1998, preocupou-se com a entrevista inicial, realizada nas casas espritas, que normalmente indica a primeira suspeita de obsesso. Bernardo Drubich em seu livro "Personalidad y Reencarnacin" dedica dois captulos ao estudo da obsesso, levanta alguns questionamentos e indica procedimentos no diagnstico tanto no diferencial como naquele realizado nas instituies espritas. Ao pesquisar a obra de Kardec, observou-se que sua preocupao maior no momento era a obsesso de origem medinica. Tambm encontrou-se opinies divergentes a respeito do conceito de possesso. Em seus 2 primeiros livros (O livro dos espritos e O livro dos mdiuns), nega a palavra, substituindo-a por subjugao. Em Obras pstumas, h um texto em que classifica como "o mais alto grau da subjugao" e nos demais a trata como algo distinto da obsesso. Na revista esprita de 1863 explica porque mudou seu conceito em relao a possesso: "temos dito que no havia possessos, no sentido vulgar do vocbulo, mas subjugados. Voltamos a essa assero absoluta, porque agora
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nos demonstrado que pode haver verdadeira possesso, isto , substituio, posto que parcial, de um esprito errante a um encarnado." A evocao dos espritos dever ser melhor estudada porque notou-se a importncia dada por Kardec e que, hoje em dia, este procedimento no levado em conta. O levantamento bibliogrfico na rea da psicologia e psiquiatria precisaria ser efetivado numa prxima, e aceitamos colaboradores na indicao de livros desta rea.

4. KARDEC: UMA REFERNCIA


A produo literria esprita aps Kardec principalmente no Brasil a respeito da obsesso muito extensa e consideraremos o estudo realizado por Kardec como uma referncia. Levantamos entre vrios autores consultados diversas opinies a respeito do conceito, causas, diagnstico e tratamento da obsesso estabelecendo uma comparao entre as citaes de alguns autores e as de Kardec:

Conceito da Obsesso:
Kardec trata da obsesso em praticamente em todas as suas obras. Encontramos textos muito semelhantes onde conceitua e traa alguns procedimentos ao tratamento em O evangelho segundo o espiritismo, A gnese e Obras Pstumas. "A obsesso a ao persistente que um mau Esprito exerce sobre um indivduo... Apresenta caracteres muito diferentes, desde uma simples influncia moral, sem sinais exteriores sensveis, at a perturbao completa do organismo e das faculdades mentais" Em O livro dos mdiuns trata de um captulo especfico para descrever e classificar a obsesso entre os mdiuns. O Herculano Pires entende que a obsesso: "se caracteriza pela ao de entidades espirituais inferiores sobre o psiquismo humano." Para Jaci Rgis "...a obsesso uma relao afetiva entre seres reais, submetidos a condies espaciais e corporais de vibrao material diferenciada" e "... possvel devido transcomunicao mentomagntica espontnea entre todos os seres encarnados e desencarnados, a partir de ondas mentais especficas..." Jon Aizprua fala da obsesso tratada na psicopatologia, um termo empregado "para indicar uma alterao mental, caracterizada por pensamentos insistentes que dominam e atormentam a uma pessoa, e que no pode desfazer ou se livrar deles, ainda quando sabe que no tm fundamento" Bezerra de Menezes fala da obsesso em um nvel mais profundo classificado por Kardec como subjugao "(Quando o Esprito obsessor) chegado ao ponto de ter completamente hipnotizado sua presa, f-la passar por qualquer dessas inumerveis variedades de perverso moral, que se do em espetculo entre os alienados" muitas vezes confundida e tratada como ataques de loucura. "(O Esprito f-lo louco) A este estado a Cincia chama loucura, e o , mas a esta loucura o Espiritismo chama de obsesso" Em "Nos bastidores da obsesso" encontramos que "a obsesso sndrome alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicao difcil.. o campo obsessivo se desloca da mente para o departamento somtico onde as imperfeies morais do pretrito deixaram marcas profundas no perisprito" Richard Simonetti, de uma forma bem humorada conceitua a obsesso como um "torcicolo mental": "O indivduo sente-se dominado por determinados pensamentos ou sentimentos, como se sofresse uma paralisia da vontade que lhe impe embaraos apreciao serena e saudvel das conjunturas existenciais"
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Causas da Obsesso: Allan Kardec afirma que "os motivos da obsesso variam segundo o carter do Esprito". Podem ser relacionamentos afetivos no resolvidos de encarnaes anteriores: "s vezes, a prtica de uma vingana contra a pessoa que o magoou na sua vida ou numa existncia anterior" ou atitudes do afetado facilitam a influncia do obsessor: "A impacincia das vtimas tambm influi .... Ao se irritar, mostrando-se zangado, a vtima faz precisamente o que ele quer" Para Herculano Pires as causas "decorrerem de vrios fatores, dos quais os mais freqentes so: problemas reencarnatrios, tendncias viciosas, egosmo excessivo, ambies desmedidas, averso a certas pessoas, dio, sentimentos de vinganas, futilidades, vaidade exagerada, apego ao dinheiro, e assim por diante." Em "Nos bastidores da obsesso" uma das causas da obsesso seria o descuido mental dos que sintonizam mentes atormentadas: "Mentes viciadas e em tormento no poucas vezes escravas da monoidia obsessiva, sincronizam com outras mentes desprevenidas e ociosas" Ademar Chioro descreve a obsesso em seu processo, comparando esta relao energtica com a sintonia de ondas de rdio: "A melhor expresso que existe em figura de linguagem para exemplificar o processo de obsesso aquele da freqncia de rdio. O esprito obsessor est numa determinada freqncia de rdio e ns estamos em outra". Uma descrio que tira o foco da causa no "malvado" ou "inferior" esprito para aquele que se sintoniza, o at ento "vtima" que procura, de uma forma muitas vezes inconsciente, essa relao simbitica. "A obsesso ocorre quando no exerccio de nosso livre-arbtrio pelo conjunto de problemas, dramas e fraquezas determinantes nesse processo, entramos em sintonia com o esprito obsessor." Marina Frana fez um importante estudo sobre a obsesso, baseando-se praticamente na obra kardequiana. A respeito do conceito e causas da Obsesso, Frana, observa: "Analisando as afirmaes sobre a obsesso ... constata-se ser ela uma questo de sintonia, onde se pode concluir tambm que: 1 viver na Terra faz com que todos lhe estejam sujeitos, diferenciando motivos, formas de manifestao e graus de intensidade; 2 o fortalecimento da alma uma prerrogativa para se livrar dela; 3 a melhoria individual prerrogativa para o fortalecimento da alma; 4 a vingana apenas um dos seus motivos, acompanhada da inveja, do prazer que muitos sentem de fazer o mal, da tarefa de reabilitao do obsessor por parte do obsidiado etc. 5 o modo pelo qual o obsidiado lida com as contrariedades da vida fator preponderante na sua persistncia; 6 as imperfeies morais constituem os verdadeiros obstculos liberdade do obsidiado; 7 em seu processo no possvel identificar de imediato quem o culpado e quem a vtima.

Ocorre que, no raro, Espritos so responsabilizados por maldades, doenas e aberraes, cujas causas derivam do prprio indivduo, processo este chamado de AutoObsesso por Allan Kardec."

Diagnstico da Obsesso: O diagnstico uma etapa muito importante, pois a partir disso poder-se- encaminhar um tratamento adequado a cada situao. As novas disciplinas criadas aps o desencarne de Kardec trouxeram muitas contribuies que precisam ser incorporadas. Infelizmente no foi possvel fazer esse levantamento para este trabalho, mas ser anexado numa fase posterior. Em O livro dos mdiuns Kardec levanta 9 itens para diagnosticar a obsesso ocorrida em mdiuns. Na Revista esprita encontrou-se vrios relatos de casos de obsesso. Nestes relatos, conforme os fatos aconteciam suspeitavam ser um caso de obsesso, mas o diagnstico s se completava com a comunicao do prprio esprito obsessor ou dos auxiliadores do tratamento na erraticidade. Os fatos ocorridos que levavam a suspeita de uma obsesso foram crises que ocorriam com hora marcada ou cessavam durante a gravidez. Situaes que numa crise de loucura de origem orgnica dificilmente ocorreria. Para Bernardo Drubich "o diagnstico de obsesso complexo, porque necessita dos mtodos psicolgicos, parapsicolgicos e medinicos mas, sobretudo, necessita de uma grande experincia do dirigente de sesses" pois ser difcil estabelecer um diagnstico que diferencie uma mania de perseguio originada na hipertrofia da pessoa ou originada pelo esprito obsessor, que "no pode ser realizada por nenhum dirigente de instituio ou de sesses de forma eficiente, se este no esteja preparado em psicologia ou psiquiatria, porque corre srios riscos de interpretar mal alguma, catalogando-as como obsesso." Para Bezerra de Menezes o diagnstico diferencial deve ser encarado com cautela pois "quem v um louco, v um obsedado, tanto que at hoje se tem confundido um com o outro. O mesmo olhar desvairado, a mesma aparncia fisionmica, ora a excitao at a fria, ora a prostrao at o indiferentismo, sem a incoerncia das idias."

Tratamento da Obsesso: No tratamento inclui-se um trabalho de preveno e um trabalho conjugado entre os envolvidos, pois ao estudar o mago das relaes obsessivas conclui-se que no h vtimas nem culpados, todos so enfermos que precisam do auxlio de pessoas capacitadas para poderem sair da situao em que se encontram. Encontramos tanto em O evangelho segundo o espiritismo como em A gnese e Obras Pstumas textos muito semelhantes que tratam da obsesso. Como tratamento e preveno indica que "para preservar das doenas, fortifica-se o corpo; para garantir contra a obsesso, necessrio fortificar a alma. Disso resulta que o obsedado precisa trabalhar pela sua prpria melhoria, o que na maioria das vezes suficiente para o livrar do obsessor, sem socorrer-se de outras pessoas." Quando a obsesso atinge um grau mais acentuado, necessitar da ajuda de terceiros e de um tratamento adequado. "Nos casos de obsesso grave, o obsedado est como envolvido e impregnado por um fluido pernicioso, que neutraliza a ao dos fluidos salutares e os repele..." Indica a emisso
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energtica no obsedado para conseguir "expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reagente..." e o tratamento medinico evocando o esprito obsessor: "faz-se tambm necessrio agir sobre o ser inteligente...convencer o Esprito perverso a renunciar aos seus maus intentos; despertarlhe o arrependimento e o desejo do bem, atravs de instrues habilmente dirigidas, com a ajuda de evocaes particulares" Para ser o mais didtico possvel e por falta de vocabulrio que pudesse descrever o quadro para a poca Kardec usou a dualidade do bem e do mal. Hoje em dia, isso deve ser descrito de outra maneira pois j temos um vocabulrio mais rico e ampliado pela novas disciplinas que estudam a mente humana. Kardec percebeu em sua poca a importncia do obsedado no sucesso do tratamento, e recomenda a prece e o mais puro desejo de que essa situao deixe de existir: "A tarefa se torna mais fcil, quando o obsedado, compreendendo a sua situao, oferece o concurso da sua vontade e das suas preces... em todos os casos de obsesso, a prece o mais poderoso auxiliar da ao contra o esprito obsessor". Em nosso sculo temos uma infinidade de tcnicas que poderiam facilitar ao obsessor no entendimento de sua situao atual. Encontrou-se na Revista Esprita depoimento de espritas que obtiveram xito no tratamento da obsesso e ali descrevem o mtodo utilizado. Um deles Kardec intitulou de: Obsedada em Barcelona. Um grupo de espritas espanhis residentes em Barcelona resolveram ajudar uma senhora que sofria de crises nervosas h 15 anos. Os fatos levaram-nos a suspeitar de um caso de obsesso que foi confirmado com a comunicao do obsessor. Quando a conheceram estava sendo tratada por um emissor energtico que embora sendo esprita, no bastou. Foi necessrio procurar um mdium: "A doente estava ento submetida a um tratamento magntico que lhe havia proporcionado um certo alvio, mas o magnetizador, visto que esprita, no tinha meios de evocar o obsessor, por falta de mdiuns..." Ao assumir o tratamento, o grupo iniciou com a evocao do esprito obsessor da senhora: "Tivemos muito trabalho para fazer o obsessor vir ao nosso chamado...Foi muito violento, respondeu algumas palavras descosidas e logo atirou-se com uma fria sobre sua vtima, qual deu uma crise violenta, logo acalmada pelo magnetizador" Depois de vrias evocaes o grupo enfim conseguiu receber a visita do obsessor. Nota-se que a obsedada estava presente reunio sendo vtima de sua fria na presena de todos. As evocaes continuaram e a cada sesso o esprito se tornava mais acessvel: "Na segunda sesso, poucos dias depois, pudemos por mais tempo reter o obsessor...A terceira evocao foi mais feliz: o obsessor conversou familiarmente conosco.. .Na quarta evocao orou conosco...Pouco a pouco, a cada nova evocao, tomvamos maior ascendente sobre ele ...e tivemos a satisfao de ver cessarem as crises na nona" O grupo evocou o esprito obsessor em 9 reunies. Na quarta o esprito apresentava certa maleabilidade ao dilogo, mas as crises da obsedada cessaram bem mais tarde. Alm das evocaes era feita uma emisso energtica na obsedada de 12 a 15 minutos para deix-la tranqila. Depois disso o tratamento prosseguiu, de oito em oito dias se submete a uma emisso energtica e, de tempos em tempos, evoca-se o antigo perseguidor para fortalec-lo nas boas atitudes que chegou a psicografar uma carta demonstrando seu arrependimento na vingana. Os espritos que acompanharam o tratamento na erraticidade recomendaram ao grupo continuar a tarefa pois ambos ainda necessitavam de ajuda "um para o sustentar no bom caminho que tomou, evocando-o algumas vezes, aumentareis a sua coragem; a outra,
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para dissipar totalmente o fluido malso que a envolveu tanto tempo; fazei-lhe, de tempos em tempos, uma abundante magnetizao, sem o que ela ainda se acharia exposta influncia de outros espritos malvolos..." Em "Nos Bastidores da Obsesso" o grupo medinico continuou sua tarefa de tratamento na erraticidade durante o sono, noite, enquanto o corpo descansa e o esprito se liberta: ."Os trabalhos prosseguiram normalmente at a hora do encerramento, quando o instrutor,..., explicou que naquela noite mesma o grupo voltaria a reunir-se, em desdobramento parcial pelo sono, para prosseguimento das tarefas". (grifo nosso) Informam a importncia da comunicao medinica no tratamento da obsesso atravs do dilogo esclarecedor e o envolvimento energtico do obsessor com o do mdium pois "...favorecendo ao desencarnado a oportunidade de adquirir conhecimento atravs da psicofonia atormentada, na qual pode haurir fora e alento novo para aprender, meditar, perdoar, esquecer..." e "...para melhor mergulho nos fluidos do sensitivo de modo a diminuir-lhe a carga psquica e o envolvimento nas faixas do dio de que se via possudo desde h muitos anos." e do tratamento realizado na erraticidade quando um esprito auxiliar emite uma certa quantidade de energia diferenciada no hspede indesejvel provoca seu afastamento momentneo "e facultando, assim, ao hospedeiro a libertao mental necessria para assepsiar-se moralmente, reeducando a vontade, meditando em orao..." A mudana de atitudes do obsedado durante o tratamento fator de grande peso para se obter a cura da obsesso: "... do paciente depende a maioria dos resultados nos tratamentos da obsesso. Iniciado o programa de recuperao, deve este esforar-se de imediato para a modificao radical do comportamento ..." Herculano Pires ratifica a importncia da comunicao medinica, como um agente acelerador do processo no tratamento da obsesso, observado por Gustave Geley: "Nesse ambiente medinico os espritos apegados matria sentem a impresso de maior segurana, como se estivessem novamente encarnados. Muitas vezes, nas sesses espritos orientadores servem-se de um mdium para doutrinar mais facilmente essas entidades confusas." Para Ademar Chioro entre os vrios fatores que favorecem o processo de mudana de um esprito perturbado numa reunio medinica a sua predisposio ao comparecer e o banho de energia diferenciada. Ao se comunicar atravs de um mdium experimenta uma sensao diferente, reconhece que morreu mas, continua "vivo". Isso desperta sensaes, emoes absolutamente distintas do que conseguia sentir naquele crculo vicioso. Quanto ao tratamento da obsesso, imprescindvel que o obsedado mude sua sintonia e deseje realmente mudar essa situao em que se encontra: Esse processo de obsesso pode ser rompido quando mudamos a freqncia de sintonia. Ela pode ser rompida com o auxlio de um tratamento psicolgico, psiquitrico, com o auxlio de um trabalho de desobsesso no centro esprita, mas, nunca prescindida da absoluta posio determinada do indivduo encarnado, obsedado de romper com essas ligaes que foram estabelecidas. No existe cura sem vontade, alis, seja no fenmeno medinico seja no fenmeno obsessivo a vontade determinante. Para Reinaldo Di Lucia, "as grandes disciplinas que vo estudar profundamente a mente dos encarnados e os processos psquicos pelos quais a nossa mente funciona ainda no
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existiam no tempo do Kardec", elas iniciaram logo aps o seu desencarne, cresceram em importncia com Freud e muitas outras corrente da psicologia se formaram e continuam estudando o processo de influenciao recproca. "Esse procedimento todo no pode ser esquecido pelos espritas e, normalmente, isso o que acontece. E o trabalho de desobsesso que deveria ser um trabalho sobre esses relacionamentos interpessoais, sobre as influncias de esprito a esprito e o modo como trabalhamos a nossa prpria sade psquica, mental tem passado ao largo desse tipo de desenvolvimento psicolgico". Ressalta que "continuamos tratando a obsesso como um processo muito parecido com o exorcismo", pois o tratamento d mais importncia ao obsessor e afirma que "o processo de obsesso origina-se no obsedado". Para tratar qualquer problema de obsesso ser necessrio tentar entender como o obsedado posiciona-se "perante a vida, como encara a prpria existncia no mundo e no relacionamento com as outras pessoas"

5. BIBLIOGRAFIA LEVANTADA
Nesta primeira fase fez-se um levantamento de tudo o que foi escrito a respeito da obsesso em textos tericos e romanceados. Ensaios, relato de casos, receitas de preveno, cartilha de comportamentos. Seguem dois tipos listas de obras encontradas at agora sobre o assunto. Obras que tratam especificamente do tema Obsesso:
Autor(es) Allan Kardec Jos Herculano Pires Jos Herculano Pires Marina Frana Jaci Rgis Jaci Rgis Hermnio C. Miranda Hermnio C. Miranda Hermnio C. Miranda Hermnio C. Miranda Adolfo Bezerra de Menezes Incio Ferreira Marlene R. S. Nobre Wilson Garcia Carlos Bernardo Loureiro Suely Caldas Schubert Ttulo A Obsesso Obsesso, o passe, a doutrinao Vampirismo Obsesso: atendimento inicial Perfil psicolgico da Obsesso Muralhas do Passado Dilogo com as sombras A dama da noite O Exilado A Irm do Vizir A loucura sob novo prisma Novos rumos medicina A obsesso e suas mscaras Voc e a obsesso Obsesso e seus misterios Obsesso/Desobsesso C. Fraterno C. Fraterno FEB FEESP FE EME M. Tlio FEB Editora(s) O Clarim Paidia Paidia V SBPE VI SBPE LICESPE FEB

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Bernardo Drubich Csar Bogo Edith Fiore Cinthya Pettiward Karl Wichkland Universidad Esprita Argentina Rubens de Freitas Manoel P. Miranda e Divaldo P. Franco Manoel P. Miranda e Divaldo P. Franco Manoel P. Miranda e Divaldo P. Franco Manoel P. Miranda e D. P. Franco Manoel P. Miranda e Divaldo P. Franco A. Publiese, M. P. Miranda e D. P. Franco Bezerra de Menezes e Ivone A Pereira Bezerra de Menezes e Ivone A. Pereira Andr Luiz, F. C. Xavier e Waldo Vieira A. Luiz e F. C. Xavier A. Luiz e F. C. Xavier A. Luiz e F. C. Xavier Richard Simonetti Celso Martins Luiz Schvartz Vanderley Pereira Helena M.C. Carvalho Luiz Gonzaga Pinheiro Luiz Gonzaga Pinheiro Luis Carlos V. da Silva Roque Jacinto Roque Jacinto Umberto Ferreira Arthur Guirdham

La desobsesin El espiritismo ante la psiquiatra Possesso espiritual Dossier Possesin Treinta aos entre los muertos Autodesobsesin Obsesso e Cura Nos Bastidores da Obsesso Painis da Obsesso Nas fronteiras da loucura Loucura e Obsesso Trilhas da Libertao Obsesso: instalao e cura Dramas da Obsesso Recordaes da Mediunidade Desobsesso Entre a Terra e o Cu Mecanismos da Mediunidade Nos domnios da mediunidade Quem tem medo da obsesso? Obsesso e tratamento espiritual Obsesso: estudo introdutrio Como doutrinar os espritos Portas da Obsesso Terapia das Obsesses Dirio de um doutrinador Como venci a obsesso Tratamento da Obsesso Doutrinao Esclarecendo Desencarnados Obsesso

Argentina Argentina Pensamento

Argentina Panorama FEB LEAL LEAL FEB FEB LEAL FEB FEB FEB FEB FEB FEB So Joo DICEL osso Lar EEC-GEPE Nosso Lar EME EME EME Luz no Lar FEB FEEGO Siciliano

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Obras que tratam da obsesso em alguns captulos e/ou textos:


Autor(es) J. Herculano Pires J. Herculano Pires Ttulo Mediunidade O Esprito e o Tempo Captulo (s) 16-Problemas da desobsesso Pesquisa cientfica da mediunidade, b) Sesses de desobsesso Psiquiatria e Espiritismo 2 - Os servios do centro 3- El Proceso obsesivo y 6Teraputica de la obsesin 7 Obsesso Editora(s) Paidia EDICEL

J. Herculano Pires J. Herculano Pires Bernardo Drubich Jon Aizprua

Curso dinmico de espiritismo O centro esprita Personalidad y Reencarnacin Fundamentos do Espiritismo

Paidia LAKE Argentina Barroso

Marina Frana em seu trabalho Obsesso: uma reflexo, fez um criterioso levantamento em toda a obra de Kardec citando os captulos e respectivos nmeros de pgina onde se trata sobre a obsesso.

6. CONCLUSO
Este trabalho iniciou o processo de catalogao de obras que possam contribuir com o projeto de conceituar, propor mtodos de diagnstico, tratamento e preveno da obsesso. Um modelo de fichamento foi elaborado, podendo ser adaptado para o caso de artigos de jornais e revistas entre outros. Algumas obras j foram fichadas e agradecemos seus colaboradores e outros que quiserem participar desta empreitada pois, desde j, esto convidados. Levantou-se a bibliografia de vrias obras espritas sobre a obsesso ou que abordam o assunto em alguns captulos. Falta ainda o levantamento das obras de estudo da psicologia e psiquiatria que traro grandes contribuies a esse projeto. Nesse item tambm aceitamos sugestes dos leitores, principalmente os de formao nestas reas. Fez-se uma anlise preliminar, de aspecto mais geral, de algumas obras espritas e comparou-se citaes de autores a respeito do conceito, causas, diagnstico e tratamento da obsesso. Ainda h muito por fazer. Conforme as obras so fichadas, estas sero encaminhadas a um banco de dados que poder ser acessado pelos pesquisadores envolvidos neste projeto. E a concluso disso tudo levar algum tempo pois, ser inversamente proporcional com a quantidade de colaboradores empenhados em elaborar o fichamento. Na etapa de levantamento do estado da arte falta desenvolver um mtodo para a entrevista de estudiosos, encarnados e desencarnados, sobre a obsesso que possibilite uma tabulao posterior. Numa prxima etapa da pesquisa da obsesso sero levantados os mtodos de tratamento algumas instituies espritas. Ressaltamos que este estudo uma pequena parte de uma grande pesquisa sobre a obsesso. Tanto a anlise preliminar como as opinies levantadas iniciam um processo de uma anlise mais criteriosa, pois ser necessrio acrescentar as contribuies dos outros estudos tambm apresentados neste congresso.
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7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Kardec, Allan. Preces pelos obsidiados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 361. Nobre, Marlene Rossi Severino. A obsesso e suas mscaras. So Paulo, FE, 1997. Menezes, Adolfo Bezerra. A loucura sob novo prisma. Rio de Janeiro, FEB, 1963. pg. 172 Seminrio sobre Desobsesso realizado em 3 de julho de 1999 em Santos no CEBAP Centro Esprita Beneficente ngelo Prado. Frana, Marina. Obsesso: atendimento inicial. Em: Anais do V SBPE. Santos, Licespe, 1997. pg. 201 Drubich, Bernardo. Terapeutica de la obsessin: bases del tratamiento. Em: Personalidad y Reencarnacin: problemas existenciales de la reencarnacin. Rafaela, 1996. pg. 213 Kardec, Allan. Um caso de possesso. Em: Revista Esprita. Edicel. Ano 1863, pg.373 Kardec, Allan. Preces pelos obsidiados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 361. Kardec, Allan. Da obsesso. Em: O livro dos mdiuns. So Paulo, FEESP, 1989. pg. 276 Pires, Jos Herculano. Obsesso, o passe, a doutrinao. So Paulo, Paidia, 1997. Informaes preliminares Rgis, Jaci. Perfil Psicolgico da Obsesso. Em: VI SBPE-Anais. Santos, Licespe, 1999. pg. 96 e 107. Aizprua, Jon. Fundamentos do Espiritismo. So Paulo, Barroso, 2000. Menezes, Adolfo Bezerra. A loucura sob novo prisma. Rio de Janeiro, FEB, 1963. pg. 162 Franco, Divaldo Pereira e Miranda, Manoel Philomeno de. Nos bastidores da obsesso. Rio de Janeiro, FEB, 1970-1992. pg. 28 Simonetti, Richard. Quem tem medo da obsesso? pg. 21 e 22 Kardec, Allan. Da obsesso. Em: - O Livro dos Mdiuns, p. 280. Pires, Jos Herculano. Obsesso, o passe, a doutrinao. So Paulo, Paidia, 1997. Informaes preliminares Franco, Divaldo Pereira e Miranda, Manoel Philomeno de. Nos bastidores da obsesso. Rio de Janeiro, FEB, 1970-1992. pg. 24 e 34. Reis, Ademar Arthur Chioro dos. Seminrio sobre Desobsesso realizado em 3 de julho de 1999 em Santos no CEBAP Centro Esprita Beneficente ngelo Prado. Frana, Marina. Obsesso: atendimento inicial. Em: Anais do V SBPE. Santos, Licespe, 1997. pg. 201 Kardec, Allan. O livro dos mdiuns. So Paulo, FEESP, 1989. 2a parte, cap. 23, Da Obsesso. Drubich, Bernardo. Terapeutica de la obsessin: bases del tratamiento. Em: Personalidad y Reencarnacin: problemas existenciales de la reencarnacin. Rafaela, 1996. pg. 213 Menezes, Adolfo Bezerra. A loucura sob novo prisma. Rio de Janeiro, FEB, 1963. pg. 171 e 172. Kardec, Allan. Preces pelos obsidiados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 361. Kardec, Allan. Os espritos na Espanha. Em: Revista Esprita - Ano 1865. So Paulo, Edicel. trad. Jlio Abreu Filho. Franco, Divaldo Pereira e Miranda, Manoel Philomeno de. Nos bastidores da obsesso. Rio de Janeiro, FEB, 1970-1992. pg. 110, 32, 106 e 26 Pires, Jos Herculano. O centro esprita. So Paulo, LAKE, 1987. pg. 7 Reis, Ademar Arthur Chioro dos. Seminrio sobre Desobsesso realizado em 3 de julho de 1999 em Santos no CEBAP Centro Esprita Beneficente ngelo Prado. Di Lucia, Reinaldo. Seminrio sobre Desobsesso realizado em 3 de julho de 1999 em Santos no CEBAP Centro Esprita Beneficente ngelo Prado.

(*) Professora de Matemtica, arquiteta, cursando aperfeioamento em Estatstica, membro do Centro de Estudos Espritas Jos Herculano Pires, de S. Paulo, Presidente do CPDocCentro de Pesquisa e Documentao Esprita, delegada da CEPA, em S. Paulo.
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OBSESSO: ROTEIRO PARA ESTUDO DE CASO


Marina Frana (apresentadora) (*) Rosngela Gomes de Souza Diadema- SP, Brasil

RESUMO
Em geral, na literatura esprita, os casos de obsesso so relatados de formas diferentes, sem seguir um roteiro, dificultando, assim, uma anlise comparativa no que diz respeito a itens fundamentais para o estudo da obsesso: conceito, diagnstico, tratamento e desfecho. Visto que no encontramos, ainda, um modelo sistematizado que sirva de orientao para os estudos de caso, neste trabalho pretendemos elaborar um roteiro que nos permita analisar os itens fundamentais sobre o tema obsesso. A partir da reviso especfica da literatura ser composto um questionrio semi-estruturado para: 1. Caracterizao do centro esprita; 2. Caracterizao do grupo de desobesso; 3. Caracterizao dos participantes do grupo; 4. Roteiro do estudo de caso. Os itens 1, 2 e 3 dar-nos-o uma viso geral do grupo que tratou do caso de obsesso que ser estudado. Compem um primeiro questionrio, que ter como principal objetivo suscitar a reflexo dos centros espritas sobre pontos relevantes relacionados ao trabalho voltado para o tratamento da obsesso. No item 4, objeto de um segundo questionrio, sero abordadas as questes relativas ao caso especfico. Este trabalho faz parte de um contexto maior, uma pesquisa em conjunto com membros do CPDoc-Centro de Pesquisa e Documentao Esprita e com a colaborao de alguns centros espritas para conceituar obsesso e desenvolver uma metodologia para seu diagnstico e tratamento. O conjunto de questionrios ser testado durante a execuo do projeto do CPDoc "Obsesso: conceituao, diagnstico e tratamento". Posteriormente sero compostos num roteiro de estudo para casos de obsesso que podero ser aplicados em qualquer centro esprita.

1. INTRODUO
A obsesso colocada por Kardec no "O Livro dos Mdiuns" como sendo o item de primeira linha que coloca obstculos e perigos prtica do Espiritismo (item 237), estando o captulo XXIII voltado mais para a questo da obsesso medinica. Neste captulo, Kardec e os espritos conceituam de forma clara o que obsesso, relatando quais so as suas principais variedades e formas de identific-las. Em geral, na literatura esprita os casos de obsesso so relatados de formas diferentes, sem seguir um roteiro, dificultando, assim, uma anlise comparativa no que diz respeito a
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itens fundamentais para o estudo da obsesso: conceito, diagnstico, tratamento e desfecho. Alm do citado acima h uma prtica incorporada pelos centros espritas que pode se aproximar ou se distanciar, em muito, do que proposto na doutrina esprita. O como as pessoas esto fazendo diagnstico e tratamento da obsesso pode nos revelar, na prtica, qual conceito est internalizado pelas pessoas sobre o que obsesso, de que forma esto diagnosticando-a e como a esto tratando. Na realidade, no sabemos nem mesmo se as pessoas realizam algum diagnstico, mas, de alguma forma, elas detectam e tratam algumas pessoas consideradas obsedadas. Desta forma, como elas realizam tal seleo de pessoas para tratamento? Quais critrios explcitos ou implcitos utilizam para diagnosticar e tratar os casos de obsesso? Ao tentar responder estas questes poderemos chegar a captar com que conceito de obsesso esto lidando. Fazer os estudos de caso de obsesso um caminho no sentido de levantar como est incorporado na prtica o conceito de Obsesso, seu diagnstico e tratamento. Com isto poderemos chegar a propor um modelo de referncia que possibilite a comparao de vrios estudos de casos. Visto que no encontramos ainda um modelo sistematizado que sirva de orientao para os estudos de caso, neste trabalho pretendemos elaborar um roteiro que nos permita analisar os itens fundamentais sobre o tema obsesso. O atendimento inicial que oferecido pessoa que pode estar passando por um processo de obsesso, um item fundamental na proposta de estudo de caso, porque nos leva questo de como as casas espritas acolhem inicialmente aqueles que a procuram em situao de sofrimento. As autoras partem do princpio de que pesquisar, neste contexto, significa voltar os olhos para o que se est fazendo, identificando os resultados prticos de cada uma das atividades do Centro Esprita. Para tanto, preciso coragem para rever os nossos atos. Receber as pessoas que comparecem ao Centro Esprita para minimizar seus sofrimentos precisa de tcnica. No basta boa vontade. preciso encontrar pessoas que conheam a Doutrina Esprita e saibam se comunicar. Analisar como as reunies espritas so organizadas tambm constitui um outro fator importante nesta pesquisa. Kardec dedica o Captulo XXIX de O Livro dos Mdiuns s reunies espritas, oferecendo sugestes de como elas devem ser organizadas, de modo que todos possam se prevenir com relao obsesso que, como foi dito no incio deste trabalho, constitui umas das maiores dificuldades do Espiritismo prtico. A questo que fica a seguinte: as reunies medinicas realizadas pelos Centros Espritas so de estudo? Se a resposta a essa pergunta for positiva, perguntamos ainda: como so feitos os registros destes estudos, para que eles no fiquem restritos ao prprio crculo? Ou ainda: os integrantes do grupo como se apropriam dos resultados destes estudos? (anotaes, avaliaes etc). A inteno das autoras, portanto, colaborar nesta pesquisa, de modo que:
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1 - as prprias pessoas que procuram os Centros Espritas participem do processo de identificao das causas dos seus sofrimentos; 2 - os prprios dirigentes revejam as prticas adotadas, de modo que no venham tambm a ser vtimas de espritos obsessores que, em ltima anlise, prejudicam o desenvolvimento da pesquisa esprita (item 340 de O Livro dos Mdiuns). Ressaltamos que os centros espritas que participarem deste projeto sero convidados a ter um papel ativo, pois haver muita troca de conhecimento. A devolutiva dos dados ser realizada primeiramente para os grupos pesquisados, onde os dados sero discutidos no contexto de determinado centro esprita e sero aceitas sugestes que possam colaborar nos objetivos deste estudo. Os dados sero discutidos com o centro esprita porque entendemos que isto pode ajudar as pessoas a fazer uma avaliao do trabalho de desobsesso, podendo se tornar, inclusive, um dos instrumentos para evitar ou detectar processos obsessivos dos grupos medinicos (item muito ressaltado por Kardec como sendo perigoso prtica da desobsesso). Enfim, participar deste processo de estudo e pesquisa ser um ato de coragem e humildade para ns autores, e para os integrantes dos centros espritas.

A PROPOSTA DESTE TRABALHO


O conjunto de questionrios a seguir dever ser utilizado para montar um perfil dos usurios do atendimento inicial do centro esprita e do grupo que tratou o caso de obsesso. Atendimento Inicial I. IDENTIFICAO DO USURIO Nome: Escolaridade: Endereo: Bairro: Cidade: Estado: Data nasc.: Estado civil: CEP: tel.: Profisso:

II. Motivo da procura (se a pessoa citar que veio ao centro esprita para minorar um sofrimento, seja ele qual for, responder tambm as questes do item IV at item VIII): porque procurou o centro esprita? O que espera do atendimento dado pelo centro esprita?

III. Conhece a doutrina esprita: ( ) sim ( ) no

Se sim, como conheceu: ( ) conheceu sozinho ( ) estudou em grupo Quais grupos espritas j freqentou? De que atividades participou? Que outros grupos religiosos j participou? Quais livros espritas j leu? IV.Quando e como iniciaram os sintomas? V. Como lida com as contrariedades na vida? (frustraes, perdas, etc) VI. Histrico familiar. Existe na famlia registro de: 1. Dependncia qumica? ( ) sim ( ) no Especificar:_______________________ 2. Problemas psiquitricos? ( ) sim ( ) no Especificar:______________________ 3. Algum caso de suicdio? ( ) sim ( ) no Especificar:_______________________ 4. Morte recente de algum membro prximo? ( ) sim ( ) no Especificar:________ 5. Caso de aborto? ( ) sim ( ) no Especificar:______________________________ VII. Relacionamento familiar: Especificar como o relacionamento da pessoa com: Cnjuge Pais Filhos Vizinhos VIII. A famlia tem participao na vida do usurio? Como? IX. Realiza(ou) algum tratamento mdico? ( ) sim ( ) no

Diagnstico e tempo de durao: _____________________________________ 1. Tratamento neurolgico: ( ) sim ( ) no Especificar:_______________________ 2. Tratamento psicolgico: ( ) sim ( ) no Especificar:_______________________ 3. Tratamento psiquitrico: ( ) sim ( ) no Especificar:_______________________ X. Realizou tratamentos alternativos? Especificar: XI. Participa(ou) de algum grupo religioso, comunitrio, etc? XII. Cite o cotidiano, incluindo as atividades de lazer: XIII. PLANO DE INTERVENO DOS DIRIGENTES: Avaliao dos dirigentes: Avaliao da equipe espiritual Perspectiva de trabalho (incluindo a famlia ou no).

1. Caracterizao do centro esprita


Nome do centro esprita: Endereo completo: Ano de fundao: Filiaes: Nmero de scios: Nmero de salas (especificar para o que so utilizadas): Atividades desenvolvidas pelo centro esprita (registrar dias e horrios para cada tipo de atividade): Estudos: Infncia: Juventude: Desobsesso: Assistncia espiritual:

Reunies medinicas: Atividades sociais: Assistncia social: Eventos: Cursos outros que no sejam estudos espritas: Atividades comunitrias: Outras atividades:

2. Caracterizao do grupo de desobsesso


1. Horrio de funcionamento: 2. Freqncia das reunies: 3. Nmero de coordenadores: 4. Nmero de mdiuns participantes: 5. Nmero de espritos assistidos por sesso: 6. Nmero de pessoas assistidas por sesso: 7. Nmero de comunicaes: 8. Nmero de comunicaes: 9. Nmero de comunicaes: 10. Nmero de comunicaes: 11. Quantos mdiuns so envolvidos no tratamento de cada caso? 12. Como os mdiuns so selecionados para participar deste trabalho? 13. Quais as mediunidades possuem? 14. H pessoas que no so mdiuns e participam da reunio? Como? 15. H grupos voltados para o estudo da doena mental?

4. Caracterizao dos participantes do grupo


Dados dos mdiuns (ficha individual) Data de nascimento: Idade: Sexo: H quanto tempo est neste grupo de desobsesso? Atividade que desenvolve no grupo de desobsesso: Outras atividades que desenvolve/participa na casa: Cursos realizados sobre espiritismo (especificar quais e por quanto tempo): Outros grupos de desobsesso que j participou e por quanto tempo: Livros ou autores que voc estuda(ou) para desenvolver o trabalho de desobsesso: Aponte quais dificuldades voc encontra para realizar o trabalho no grupo de desobsesso: H algo de gratificante em realizar este trabalho? O qu?

5.Roteiro do estudo de caso.

Data: ___/____/____

Relato resumido da situao em que chegou a pessoa: Problemtica apresentada pela pessoa ou por algum acompanhante: Sintomas e queixas fsicas relatadas e apresentadas pela pessoa: Sintomas e queixas psicolgicas relatadas e apresentadas pela pessoa: Relato resumido da histria de vida do obsedado: Relato resumido da histria familiar do obsedado: Idade: Profisso: Sexo: Nacionalidade:

Grau de escolaridade: Naturalidade: Como foi realizado o diagnstico de obsesso: Qual foi o tratamento proposto para o caso: Como o obsedado acompanha o tratamento? Comunicaes recebidas (relatar contedo): Doenas fsicas e psicolgicas relatadas: Relatar tratamentos mdicos, psicolgicos, psiquitricos ou outros: Relatar o desfecho do caso (sucesso ou fracasso): Se houve interrupo do tratamento, relatar: 1. Por qu? 2.Qual foi a atitude do centro esprita?

3. BIBLIOGRAFIA KARDEC, Allan O livro dos mdiuns. Araras, Instituto de difuso esprita, 1987. 17a edio. Traduo de Salvador Gentile da 31a edio francesa. FRANA, Marina. Obsesso atendimento inicial. IN: V Simpsio Brasileiro do pensamento esprita. Cajamar, So Paulo, novembro, 1997. (*) Assistente Social, atuando nas reas de sade mental, infncia e juventude, coordenadora de atividades medinicas.

OBSESSO: ATENDIMENTO INICIAL


Marina Frana

INTRODUO
Considerando que o tratamento da obsesso tem se constitudo num dos principais motivos que levam uma pessoa a procurar o Centro Esprita, visa este estudo colaborar com os seus dirigentes no seu atendimento inicial, de modo que ela venha a ter melhoria em sua qualidade de vida. importante frisar que este estudo no tem a pretenso de entrar nos campos difceis do diagnstico da obsesso e dos mtodos para seu tratamento, embora parta do princpio de que o atendimento proposto depender de como os dirigentes tratam estas questes no Centro Esprita. A pesquisa feita girou em tomo das obras de Allan Kardec, por ser ele o fundador do Espiritismo e um dos que possui mais relatos a respeito do assunto, com situaes em que procurava verificar antes do atendimento se o era mesmo obsessional. So vrios os exemplos citados na Codificao a respeito de pessoas que procuravam os tratamentos obsessionais, quando na realidade apresentavam distrbios mentais ocasionados por idias fixas, males imaginrios ou ainda males originrios do modo inadequado de viver, conforme termos da prpria Codificao. Com base nas contribuies kardequianas, este estudo identifica alguns dos cuidados a serem tomados pelo dirigente esprita nesses atendimentos e apresenta vrios questionamentos sobre as prticas adotadas atualmente no movimento esprita, conforme itens abaixo relacionados: Obsesso e centro esprita Obsesso e mediunidade Obsesso e auto-obsesso Obsesso e loucura Obsesso e suicdio Obsesso: conceito Obsesso: entrevista Obsesso: cura

OBSESSO E CENTRO ESPRITA


H muitos trabalhos desobsessivos cujos dirigentes atuam semelhantemente aos de exorcismos, sendo os obsessores tratados como demnios a serem expulsos, atravs de conversaes centralizadas em conselhos repetitivos ou ameaas. importante que o dirigente esprita perceba como tem direcionado os trabalhos desobsessivos, procurando identificar o que move suas aes em cada atividade destes trabalhos Se a reunio de desobsesso for considerada um pronto socorro de espritos sofredores, onde funcionam as equipes de encarnados e a de desencarnados, sendo esta ltima a responsvel pelo desenrolar do trabalho, minimizando a importncia da equipe de encarnados, a participao destes acaba ocorrendo sob a forma de submisso, sendo que o espao utilizado dificilmente oferecer condies para o debate e a investigao. Se a reunio de desobsesso for considerada um campo de estudo com propostas renovadas de atuao consubstanciadas na prtica e na teoria, a a equipe de encarnados passa a preponderar sobre a de desencarnados, cabendo-lhe o direcionamento dos trabalhos

desobsessivos, com uma participao ativa em suas diversas fases, almejando a busca contnua do conhecimento. A atuao acima descrita s ser possvel se quem estiver comprometido com o trabalho desobsessivo, procurar continuamente associar a teoria prtica e vice-versa, no sendo mais possvel aceitar a dicotomia entre as reunies ditas de estudo e as medinicas, diferenciando at os participantes das mesmas, sendo os das reunies de estudo chamados de "elitistas" ou "tericos", e os das medinicas, de "trabalhadores", sem contar a ambivalncia de muitos participantes que, nas reunies de estudo tm participao ativa e quando presentes nas medinicas atuam submissamente. No contexto em cuja atuao a teoria estiver associada prtica e viceversa, no cabe tambm a dicotomia entre as reunies de estudo e as medinicas, por serem estas igualmente de estudo, sendo que a produo de materiais a partir destas reunies podem subsidiar os grupos que atuam nas demais atividades do Centro Esprita, facilitando uma melhoria nos atendimentos s pessoas que vm procur-lo pelos mais diversos motivos, contribuindo tambm com o progresso da pesquisa esprita. Para iniciar uma avaliao acerca do Centro Esprita na atualidade de suma importncia recorrer obra O Livro dos Mdiuns1, consultando os captulos X, XXIII, XXIX e XXX, onde o Codificador apresenta conceitos, reflexes e/ ou propostas acerca: 1) das possveis caractersticas das reunies espritas; 2) das origens das dificuldades que podem surgir no transcorrer das reunies espritas; 3) dos objetivos das sociedades espritas; 4) das formas das sociedades espritas se organizarem; 5) de como as sociedades espritas se relacionam. Da Revista Esprita2, destaco o texto Escassez de Mdiuns, sendo este muito til na organizao dos grupos, iniciantes ou no, que no contam com mdiuns dentre os seus participantes. No 7 Congresso Esprita Estadual promovidos pela Unio das Sociedades Espritas do Estado de So Paulo - USE, em agosto de 1986, foram apresentados trabalhos que contribuem na avaliao proposta neste trabalho acerca das estruturas dos Centros Espritas, como: 1 - "A estrutura dos Centros Espritas de Kardec aos nossos dias"3 ; 2 - "Mudanas Estruturais dos Centros e Grupos Espritas de Kardec aos nossos dias"4; 3 - O Centro Esprita no sculo XX5; J. Herculano Pires6 e Wilson Garcia7 publicaram obras que tratam especificamente sobre o Centro Esprita. H ainda dois estudos realizados recentemente pelo Centro de Pesquisa e Documentao Esprita - CPDoc, com sede em Santos, que tambm muito podem contribuir com os dirigentes espritas que esto se propondo a reavaliar os trabalhos realizados no Centro Esprita: o de Reinaldo Di Lucia8, que apresenta "propostas e meios pelos quais a doutrina esprita pode retomar seu crescimento intelectual, a partir de discusses amplas a serem realizadas nos prprios centros espritas e de uma melhor preparao dos recursos humanos" e o de Mauro Spnola9, onde constam reflexes sobre o papel do Centro Esprita na sociedade, constituindo este trabalho um "livro que se destina aos dirigentes de Centros Espritas e a todos que buscam refletir sobre o papel do Centro Esprita na sociedade". Quanto a obsesso, relaciono no final os textos onde constam conceitos e relatos sobre obsesso e desobsesso publicados na coleo da Revista Esprita e demais obras de Allan Kardec, juntamente com os que tratam da loucura e do suicdio, por estarem estes trs temas intimamente ligados nos textos relacionados, cuja quantidade e importncia, principalmente por muitos ainda no terem sido devidamente explorados, pode constituir material bsico para a elaborao de um Curso Sobre Obsesso no Centro Esprita visando reavaliar as suas prticas. A relao da mediunidade com a obsesso, por exemplo, uma prtica do movimento esprita atual que merece ser confrontada com as propostas Kardequianas.

OBSESSO E MEDIUNIDADE
H dirigentes espritas que orientam pessoas aparentemente obsidiadas a desenvolverem a mediunidade, considerando inclusive este desenvolvimento como teraputica no tratamento obsessional, atemorizando-as de que se no participarem das reunies medinicas sero vtimas permanentes do processo obsessivo. O n inicial que se apresenta em funo da prtica acima o de identificar os critrios adotados para identificar possveis faculdades medinicas, independentemente das pessoas que recebem esta orientao estarem ou no obsidiadas. Vejamos o que diz Kardec a respeito: "At ao presente no se conhece nenhum diagnstico para a medi unidade: todos os que julgamos descobrir so sem valor; experimentar o nico meio de saber se a faculdade existe."10 Alm da forma como realizam muitos dirigentes o diagnstico medinico, o que estou questionando a relao entre obsesso e desenvolvimento da mediunidade, bem como o fato da pessoa proceder esta escolha num perodo de sua vida em que se encontra bastante confusa. Alm dos questionamentos acima, outro que fao o de identificar a lgica de uma pessoa aparentemente obsidiada freqentar uma reunio onde o tempo de permanncia em tomo de duas horas, desconsiderando aspectos como disposio mental para concentrao, prece e/ ou estudo, ingredientes estes que geralmente fazem parte de uma reunio medinica? E considerando at a possibilidade da pessoa atendida optar pelo desenvolvimento da mediunidade, caso apresente uma faculdade medinica bem caracterizada, por lhe ter sido apresentado como nico meio de amenizar o seu sofrimento ou porque ela veio ao Centro Esprita com a idia pr-concebida de que a sua melhora est relacionada com o desenvolvimento da mediunidade, pergunto: O que esperar do uso da mediunidade por algum que faz esta opo num momento de desespero e que apresenta perturbaes mentais, sejam elas de carter obsessivo ou no? possvel que nesta atitude esteja a inteno de se conseguir adeptos e creio que h dirigentes espritas que procedem assim por acreditarem ser o melhor para a pessoa sair do sofrimento, porm esta atitude precisa ser revista, por desconsiderar a liberdade de escolher que cada qual deve desenvolver. No descarto tambm a possibilidade da pessoa obsidiada apresentar futuramente uma faculdade medinica bem caracterizada, nem a de existirem mdiuns com faculdades medinicas plenamente desenvolvidas tornarem-se mdiuns obsidiados, tendo em vista as causas principais abaixo citadas para atrao dos maus espritos nas comunicaes medinicas: "Em primeiro lugar, as imperfeies morais de toda espcie, porque o mal sempre simpatiza com o mal; em segundo lugar, a demasiada confiana com que so acolhidas as suas palavras." 11! Na Revista Esprital2 narrada histria do Sr. F., moo instrudo, de carter suave e benevolente, cuja obsesso decorria do fato de um Esprito faz-lo escrever incessante e aleatoriamente, apresentando teorias absurdas e prescries ridculas com aparncia de lgica. Ao receber o Sr. F., Kardec reconheceu sem dificuldades a influncia perniciosa em que o moo se encontrava tanto nas palavras como em certos sinais que a experincia faz reconhecer, identificando que o esprito obsessor era atrado pela confiana excessiva com que o Sr. F. acolhia as palavras dos Espritos, sendo ele uma pessoa boa e honesta. Para o tratamento, dada a tenacidade do Esprito obsessor, Kardec recorreu a um colega para auxili-lo neste difcil trabalho de persuaso. Quanto ao Sr. F., lhe foram dadas as seguintes recomendaes: 1) entregar-se a um trabalho rduo, com a finalidade de que no

lhe sobrasse tempo para ouvir as ms sugestes do obsessor; 2) aprender a dominar-se, sendo senhor de si mesmo, pois somente assim seria capaz de dominar os maus espritos; 3) trabalhar o seu ponto frgil: confiana excessiva em tudo que ouvia. No final do relato, Kardec salienta no ter sido a mediunidade a causa da obsesso, sendo ela apenas o meio do inimigo oculto ter se revelado, pois caso o Sr. F. no possusse a mediunidade, a obsesso teria se manifestado de outra forma. A faculdade medinica bem conduzida, ao constituir um meio do Esprito obsessor se manifestar, pode colaborar em diversos tratamentos obsessionais, dependendo do estudo prvio da Doutrina Esprita, por indicar ela a rota e as precaues a serem tomadas no trato com os Espritos, tanto pelo candidato a mdium quanto pelos dirigentes espritas. Kardec sempre ressalta que fazer espiritismo experimental sem estudo como fazer manuseio qumico sem saber qumica, sendo que o exerccio da mediunidade nesta situao pode provocar na pessoa uma invaso de maus espritos, alertando-nos ainda que as pessoas obsidiadas no devem desenvolver possveis faculdades medinicas enquanto se apresentar o processo obsessivo, pois este desenvolvimento pode representar uma forma de abrir as portas aos espritos obsessores e forar o desenvolvimento de uma faculdade, por vezes inexistentes, tambm contribui para a piora da situao do obsidiado.13 Em outro texto analisada a seguinte questo: O exerccio da mediunidade pode provocar o desarranjo da sade das faculdades mentais ou o exerccio da medi unidade pode provocar em uma pessoa a invaso de maus espritos e as suas conseqncias?14, ressaltando a importncia de ler O Livro dos Mdiuns como receita de procedimentos e percebendo as questes morais que envolvem as comunicaes medinicas. Com o aprendizado do Espiritismo o mdium e o dirigente esprita eliminaro as dificuldades decorrentes da ignorncia dos princpios doutrinrios e destruiro o domnio dos maus espritos provocado por este desconhecimento, adquirindo ambos os meios de se manterem auto-vigilantes contra as sugestes desses espritos. Porm, na prtica, o conhecimento do Espiritismo nem sempre oferece condies ao dirigente esprita de distinguir se uma pessoa em sofrimento est sendo vtima de obsesso ou se os seus sofrimentos esto ligados a graves patologias clnicas, psicolgicas ou psiquitricas. preciso, portanto, lanar mo dos conhecimentos produzidos pelas diversas reas da Cincia, pois assim como o entendimento do sofrimento humano no pode ser limitado a uma abordagem biolgica ou psicolgica, ele tambm no deve se limitar a uma exclusivamente espiritual. preciso estar atento fragilidade humana que faz com que "...todo homem que se dedica uma especialidade escraviza a ela suas idias... "15 advertncia esta que foi dada por Kardec com relao aos opositores do Espiritismo, valendo, portanto, o raciocnio inverso, isto , para muitos espritas atuais que ao se dedicarem ao estudo do Espiritismo (ou por no o conhecerem!) pretenderem que todas questes humanas sejam de sua alada. Conseqentemente, um erro que pode ocorrer no atendimento s pessoas que procuram ajuda no Centro Esprita a generalizao, atribuindo tudo o que ocorre de ruim pessoa s causas espirituais, desconhecendo quem assim procede os relatos kardequianos, onde havia a preocupao de distinguir os casos de obsesso com os de auto-obsesso ou de loucura, conforme textos citados nos prximos itens.

OBSESSO E AUTO-OBSESSO
Kardec cita que, no raro, Espritos so responsabilizados por maldades de que eles so inocentes, sendo que muitas doenas e certas aberraes que se lanam conta de uma causa oculta, derivam do Esprito do prprio indivduo. "As contrariedades que de cada um concentra em si mesmo, principalmente os desgostos amorosos, do lugar, com freqncia, a

atos excntricos, que fora errneo considerar-se fruto da obsesso. O homem no raramente o obsessor de si mesmo."16 Um dos correspondentes de Kardec, o Sr. Demeure, cita que uma das provas que o Espiritismo deveria passar era o de distinguir as obsesses, classificando como simuladas os casos de pessoas que vo em busca do Centro Esprita para a cura de males imaginrios narrando o caso de uma senhora que recebeu a orientao de "entregar-se aos cuidados da Medicina Oficial e a se afastar de toda idia de corresponder-se com os Espritos."17 bem verdade que, excees feitas s consultas aos guias espirituais ou experincia, como elementos a auxiliar na identificao da obsesso, nem Kardec nem o Sr. Demeure nos fornecem maiores informes de como proceder para a realizao de tal identificao. Portanto, um desafio que se apresenta ao dirigente esprita o de investigar como proceder esta diferenciao, visando melhorar o atendimento nos Centros Espritas, escrevendo e divulgando os resultados desta investigao. Um outro caso narrado na Codificao o de uma moa que fora obrigada a se casar com um homem a quem no amava, causando-lhe uma mgoa muito grande que a levou a um distrbio mental, tendo sido internada em funo do estado deplorvel em que ficou fsica e mentalmente.18 O mal daquela moa, segundo o guia espiritual consultado, provinha de uma causa moral e exclusivamente pessoal. Nem remdios nem obsesso: era a idia fixa da moa que atraia a sua volta espritos inferiores que a envolvia com seus fluidos e alimentava suas idias fixas, criando assim um crculo vicioso, impedindo que os fluidos benficos emitidos atravs da prece coletiva a envolvesse. A recomendao da prece como tratamento foi dada pelo guia espiritual, tendo ela apresentado resultado aps um ms de tratamento. Quanto auto-obsesso, o estudo do conjunto das comunicaes relatadas no livro O Cu e o Inferno19 que envolveu o atendimento ao Esprito Julgando-nos sem dvida com maior poder de conjurar que o padre de sua aldeia, pediu-nos um conselho. Eis a resposta que obtivemos: A mortandade ou as doenas dos animais desse homem provm dos seus currais infectados que ele no manda limpar porque isso custa."20 Enfim, o lavrador sofria as conseqncias de sua avareza e de seu desleixo.

OBSESSO E LOUCURA
Em vrios de seus textos que versam sobre a loucura, Kardec afirma que ela provm de um estado patolgico do crebro, citando como causa uma predisposio orgnica que tomaria o crebro mais ou menos acessvel a certas impresses, situao em que uma pessoa preocupando-se excessivamente com uma coisa, o contedo desta preocupao tomar-se-ia uma idia fixa. Portanto, se a pessoa tiver a predisposio orgnica e o Espiritismo for a sua preocupao dominante, teremos a o louco esprita, alertando-nos que ....deve-se afastar da prtica medinica, por todos os meios possveis, as que apresentam os menores sinais de excentricidade nas idias ou de enfraquecimentos das faculdades mentais, porque so evidentemente predispostas loucura, que qualquer motivo de superexcitao pode desenvolver"21, devendo elas serem orientadas ainda a dirigirem suas preocupaes para outras direes. importante ressaltar, porm, que os conceitos kardequianos sobre a loucura esto limitados aos conhecimentos da Psiquiatria da poca, embora estes j estejam estreitamente ligados aos progressos das cincias sociais e da psicologia. E a surge outra questo de difcil soluo e com pouca investigao no movimento esprita que a de diferenciar a loucura orgnica da obsessional:

"No confundamos a loucura patolgica com a obsesso, esta no provm de leso alguma cerebral, mas da subjugao que Espritos malvolos exercem sobre certos indivduos, tendo, muitas vezes, as aparncias de loucura propriamente dita, sendo ainda que os casos de obsesso, possesso ou de simples perturbaes por Espritos, quando tratados como loucura, geralmente se agravam".22 preciso considerar ainda que muitos adversrios da propagao do Espiritismo, atribuem a este o aumentos dos casos de loucura na populao em geral, e Kardec preocupava-se em responder aos que faziam esta relao como pode ser observado em resposta dada por ele ao Sr. Burlet, de Lyon que, em janeiro de 1863 havia publicado um trabalho sobre o Espiritismo, considerando-o como causa de alienao menta1.23 Analisando a Estatstica da Loucura 24 publicada pelo Departamento de Sade da Frana, ele faz questo de observar que aps o advento do Espiritismo, contrariando os adversrios deste, o nmero de internaes nos asilos psiquitricos havia diminudo consideravelmente. E de suma importncia constatar que Kardec tira do campo da magia e do Claire apresenta vrias reflexes sobre a auto-desobsesso de um esprito desencarnado e o processo de ajuda que lhe foi dado na Sociedade Esprita de Paris, que pode auxiliar nos atendimentos a muitas pessoas que comparecem ao Centro Esprita, guardadas as devidas propores entre a educao moral de um desencarnado com a de um encarnado, por ser a segunda mais difcil , uma vez que o encarnado encontra-se numa luta constante entre os elementos que o compe, esprito e matria, ficando o raciocnio embotado pelas influncias motivadas por interesses materiais e! ou posio social em que se encontra, enquanto que o desencarnado, mesmo recebendo uma certa influncia material, encontra-se mais livre para a converso, conforme alerta o Esprito S. Lus em reflexes intercaladas nos atendimentos feitos Claire. Na primeira comunicao, Claire apresenta-se incrdula, desesperada, sentindo o "peso" do tempo como se estivesse sofrendo as penas eternas e explicando como se aproximou do mdium. Na segunda, ela inicia um processo de reflexo sobre os motivos que a levaram ao sofrimento: egosmo, inrcia e preocupao excessiva com o prprio bem-estar, conseguindo destacar a diferena entre o saber e o sentir. Na terceira, exige sintonia constante do mdium, querendo ateno exclusiva, mostrando-se temerosa com a possibilidade de ser abandonada. Na quarta aprofunda as reflexes sobre o seu modo de viver na ltima encarnao, diferenciando a moral divina e a humana. Na quinta, conclui estar mais calma e resignada expiao das suas faltas, dizendo que o mal no estaria fora de si e que deveria ser ela mesma a se transformar em detrimento s coisas exteriores. Na sexta, finalmente, fala de algum que no si prpria, referindo-se ao sofrimento do marido, demonstrando um incio de preocupao com algum que no fosse ela prpria. O Esprito S. Lus, ao trazer suas reflexes sobre as causas dos sofrimentos, associa a solido de Claire com o fato de no ter ela criado vnculos afetivos, dizendo at que seria um alvio a existncia de um obsessor, pois teria com que se ocupar, tornando-se a menos infeliz. Este exemplo pode ser utilizado como parmetro a muitos atendimentos feitos no Centro Esprita, sendo muito comum pessoas no perodo inicial de atendimento solicitarem ateno exclusiva, sempre tendo algo para conversar com Q dirigente tanto antes como no final da reunio e at durante a mesma, principalmente se a sua organizao (ou desorganizao) der chance a este tipo de interferncia. Outro exemplo que previne quanto tendncia de se atribuir aos Espritos todas as nossas contrariedades consta em O Livro dos Mdiuns, conforme abaixo: " ...Certo dia um lavrador nos escreveu que h doze anos todas as desgraas caiam sobre os seus animais. Ora morriam as vacas ou deixavam de dar leite, ora morriam os cavalos, os carneiros ou os porcos. Fez muitas novenas que no remediaram o mal, o mesmo se dando com as missas que mandou rezar e com os exorcismos que mandou fazer. Acreditou, ento, segundo as supersties do campo, que haviam feito algum mal para os seus animais,

sobrenatural tanto a obsesso como a loucura, sendo que esta ltima pode ser melhor verificada em uma das afirmaes contidas na resposta dada pelos Espritos questo 474 de O Livro dos Espritos, quando cita: "freqentemente se tem tomado por criaturas epilpticas ou loucas, que mais necessitavam de mdico do que de exorcismo." 25 E ao analisar as curas realizadas por Jesus, constatou que tanto naquela poca como na da Codificao, atribua-se influncia dos demnios todas as enfermidades cujas causas no eram conhecidas, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia.26 Em O Cu e o Inferno27, por sua vez, h a transcrio da Instruo de um Esprito sobre os Idiotas e os Cretinos 2X dada na Sociedade de Paris, com anlise sobre o tema que vai de encontro aos progressos feitos na rea da psiquiatria at o sculo XIX: "A loucura no das leis divinas, pois resultando materialmente da ignorncia, da sordidez e da misria, pode o homem debel-ia. Os modernos recursos da higiene, que a Cincia hoje executa e a todos faculta, tende a destru-la. Sendo o progresso a condio expressa da Humanidade, as provaes tendem a modificar-se, acompanhando a evoluo dos sculos. "29 Ele discorre ainda sobre os tratamentos aos doentes mentais, reforando a idia de que o homem responsvel por sua doena e de como a propagao da Doutrina Esprita pode corroborar com a humanizao do tratamento a esses doentes. Os estudos kardequianos mostram o Espiritismo ao lado da Cincia, ao considerar: 1) que a cura da doena mental comeou a sair da prtica mgico religiosa somente a partir do sculo XV; 2) na histria da humanidade sempre houve relatos de doentes mentais e a explicao sobre a existncia deles nunca coube exclusivamente medicina, havendo interferncia no s da magia e da superstio, mas tambm de filsofos, telogos, juristas e principalmente de polticos. At o sculo XV, segundo dados histricos os quadros patolgicos implicavam numa cumplicidade com o Diabo.30 Na Idade Mdia, tudo o que ameaava o poder da Igreja e da Religio tomava-se suspeitos de heresia, sendo que a doena mental representava o mal vindo do diabo. No declnio da Idade Mdia em fogueiras espalhadas pela Europa queimavam-se os feiticeiros, os mendigos e os doentes mentais. Para os gregos a doena seria um mal que representava punio ou vingana dos deuses. Para os hebreus implicava ela igualmente numa punio sendo que a cura caberia a Deus. Para os cristos primitivos, a arte mdica por ser obra pag era de origem suspeita, cabendo ao Cristianismo o poder de se encarregar do homem na sua totalidade: a natureza humana sada do pecado original era a responsvel pelo mal moral e fsico, sendo a doena punio que poderia se transformar num instrumento de salvao ao doente que aceitasse o seu sofrimento e quele que lhe assistisse. E no Renascimento, que comeam os primeiros estudos sobre a doena mental, com destaque para a descrio da melancolia, distinguindo aquela que vem da alma daquela que vem do corpo, sendo que esta seria curada com a medicina, enquanto que a primeira com boas palavras. No sculo XVI, aponta-se pela primeira vez a influncia da hereditariedade na melancolia, aparecendo tambm os primeiros estudos sobre a nostalgia, aneroxia, histeria e perda de memria. No sculo XVII aparecem os primeiros estudos sobre o suicdio, relacionando-o com possveis doenas mentais, no havendo ainda distino entre as doenas do corpo com as do esprito. O sculo XVIII caracterizado por exprimir a sua confiana no homem, engrandecido pelo progresso cientfico e pela razo, reclama uma atitude mais humana para com os doentes

mentais, sendo neste sculo que Filipe Pinel31 ao propor a reforma psiquitrica embasada num tratamento mais humano aos doentes mentais, no nega a influncia das causas morais, mas no desconhece as influncias do meio e as leses orgnicas, como fatores preponderantes no diagnstico e na cura das doenas mentais. A medicina praticamente entra na fase cientfica no sculo XIX, onde se procura a causa da doena e um meio de combat-la, pois at ento, a cura ainda estava muito ligada a uma causa sobrenatural, motivo pelo qual o fato da Doutrina Esprita atribuir aos mdicos a funo de curar os epilpticos e loucos, demonstra estar ela caminhando junto com a Cincia da poca no tocante s questes de sade. At os dias atuais h muitos dirigentes espritas tentando tratar a epilepsia, por exemplo, como uma doena espiritual, doena esta cujo controle teve um avano considervel por parte da Medicina neste sculo. bem verdade que estes tipos de tratamento acabam representando alternativas queles que tm dificuldades de utilizar os deficitrios servios de sade tanto na rea pblica como privativa, favorecendo os dirigentes espritas esta prtica ao atribuir causas espirituais a todo e qualquer mal orgnico. comum observar em entrevistas individuais, muitas pessoas ao serem indagadas se fazem ou fizeram algum tipo de tratamento mdico, responderem que fizeram inmeros, sendo que de nenhum obtiveram resultados satisfatrios. Porm quando indagadas que tipo de tratamento realizaram e quanto tempo durou, percebe-se pelas respostas, ou que no comearam nenhum , ou iniciaram muitos, porm como no obtiveram resultados nos primeiros dias, desistiram do tratamento. Um dos trabalhos do dirigente esprita levar as pessoas a perceberem que todo e qualquer tratamento, seja ele de ordem fsica, psquica ou espiritual, necessrio o empenho individual, principalmente para os dois ltimos, por serem eles de difcil e, muitas vezes, prolongado diagnstico, tendo claro que h muitas doenas, de causas desconhecidas cujos tratamentos esto voltados nica e exclusivamente ao controle dos sintomas, no deixando, por isso, de serem teis na melhoria de qualidade de vida da pessoa. Para tanto importante que o dirigente esprita comece a se familiarizar com o assunto, estando atento s publicaes de pesquisas sobre o mesmo e promovendo palestras e/ ou debates com profissionais diversos da rea de sade mental, bem como participando de eventos abertos populao em geral que visam divulgar os avanos nesta rea. Como o suicdio ocorre em 40 a 70% em pacientes psiquitricos32, a ateno do dirigente deve ser redobrada, dada a possibilidade de parte desta populao procurar o Centro Esprita facilitando ao dirigente desenvolver um importante trabalho na rea de preveno ao suicdio, motivo pelo qual o assunto tratado no prximo item.

OBSESSO E SUICDIO
Assim como os loucos, os suicidas tambm eram considerado hereges pela Inquisio na Idade Mdia, quando os cadveres dos suicidas eram exumados para serem pendurados nas forcas e arrastados sobre as grades com o fim de serem expostos.33 Para entender a loucura, Kardec recorre Cincia, adotando o mesmo procedimento para entender o suicdio. Ao analisar a Estatstica de Suicdios34 ocorridos na Frana no perodo de 1836 a 1852, Allan Kardec considera a ocorrncia como um mal social, definindo-o como uma verdadeira calamidade pblica e diferencia os suicdios ocorridos por causas puramente fisiolgicas como os efetuados em estado de embriaguez ou de loucura com aqueles que seriam originrios da covardia moral, sendo que estes seriam em nmero bem maior, embora

reconhea a inexistncia de estatsticas oficiais sobre os possveis motivos que levariam uma pessoa ao suicdio. A covardia moral seria conseqncia da incredulidade gerada pela simples dvida sobre a vida futura ou da idia falsa que se tem sobre ela. Ele atribui ainda publicidade dada aos suicdios um fator de encorajamento queles que apresentam uma predisposio suicidria, considerando incuas as descries detalhadas sobre as maneiras pelas quais uma pessoa se suicida, podendo estas correrem o risco de constituir incentivos para outros suicdios. Na literatura kardequiana h vrios relatos de suicdios e suas causas, ora relacionando-o com a loucura, ora com a sociedade, ora com a incredulidade sobre a vida futura ou sobre as idias falsas que se tm sobre esta, ora com o desgosto pela vida, ora com a obsesso, podendo nestas trs ltimas o Espiritismo desenvolver uma ao eficaz com relao preveno. Destaco duas comunicaes medinicas que relacionam a obsesso com o suicdio: a de Antoine Be1l35, e a de Jean Baptiste Sadoux36, embora esta relao s tenha sido constatada aps os respectivos desencarnes .. O Sr. Antoine Bell era uma pessoa boa por natureza e trazia consigo uma vaga intuio de sua inata fraqueza e do motivo que levava aquele esprito obsessor a persegui-lo na ltima existncia. Para resistir s sugestes do obsessor que o incitava ao suicdio eram necessrios o arrependimento, a prece e a fora necessria para vencer esta obsesso, segundo anlise transcrita no final do relato. Nas perguntas que fazia aos Espritos suicidas, Kardec preocupava-se em obter esclarecimentos sobre a natureza dos seus sofrimentos e como poderiam serem ajudados, alm investigar os motivos que levaram aqueles espritos a anteciparem as suas existncias terrenas. Eram questes com dupla finalidade: a de levar o suicida a refletir sobre a situao em que se encontrava e a de servir de orientao aos encarnados, sempre evitando detalhes desnecessrios e perguntas feitas por simples curiosidade Atravs das respostas dadas pelos espritos suicidas era possvel perceber: 1) que os sofrimentos estavam longe de serem os mesmos para todos, dependendo eles dos motivos e das circunstncias que os levaram a praticarem tal ato; 2) que os locais onde se encontravam dependiam da evoluo individual; 3) a decepo era o nico sentimento comum a todos os suicidas. Enfim, era mais um assunto que Kardec tirava da magia e da superstio, tratando os suicidas com indulgncia e benevolncia, distanciando-se das Doutrinas das Penas Eternas. O dirigente esprita deve confrontar os tratamentos que tm dados aos espritos suicidas e s pessoas que tentam o suicdio com os realizados por Kardec, procurando entender os motivos pelos quais as pessoas pensam ou tentam tal atitude e identificar como o Centro Esprita pode colaborar no sentido de apoiar estas criaturas, procurando recorrer s pesquisas feitas a partir de outras abordagens sobre o tema e descrevendo os resultados de seus atendimentos. Estudos recentes mostram o suicdio ou a tentativa do mesmo ligado a graves patologias psiquitricas, outros sugerem a importncia de fatores genticos e bioqumicos, havendo ainda outros que incluem como fatores de risco as dificuldades que muitos tm em lidar com situaes conflitantes da vida, como: idade, doenas fsicas, mortes, relacionamentos doentios etc. Na entrevista inicial, portanto, importante constarem perguntas identificando se a pessoa j tentou ou pensou em suicidar, o motivo que a levou a pensar na alternativa do suicdio como soluo aos seus problemas, bem como o que a levou a desistir de tal idia. As respostas s questes acima podero subsidiar as diversas atividades do Centro Esprita, devendo aquelas que tenham como tema central o suicdio tambm contar com profissionais de outras reas do conhecimento, levando em considerao fatores biolgicos,

psicolgicos, scio-ambientais e espirituais. Os apontamentos feitos no item anterior e nos demais levantam algumas questes que envolvem o atendimento obsessional no Centro Esprita, tendo eu a clareza de que elas foram apenas pontuadas e limitadas ao modo de como elas foram tratadas no tempo de Kardec havendo, portanto, necessidade de serem atualizados e aprofundados. Isto posto, visando colaborar na proposta da entrevista; inicial, os passos seguintes deste estudo so: obsesso - conceito; obsesso - entrevista; obsesso - cura.

OBSESSO - CONCEITO
"A obsesso a ao persistente que um mau Esprito exerce sobre um indivduo ...sua ao malfazeja faz parte dos flagelos dos quais a humanidade alvo neste mundo. Apresenta caracteres muito diferentes, desde uma simples influncia moral, sem sinais exteriores sensveis, at a perturbao completa do organismo e das faculdades mentais ... a obsesso sempre resultado de uma imperfeio moral... Para preservar das doenas fortifica-se o corpo; para se garantir da obsesso preciso fortalecer a alma; da, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar pela sua prpria melhoria ..."37 "Os motivos da obsesso variam segundo o carter do Esprito. s vezes a prtica de uma vingana contra a pessoa que o magoou na sua vida ou numa existncia anterior. Freqentemente apenas o desejo de fazer o mal, pois como sofre, deseja fazer os outros sofrerem, sentindo uma espcie de prazer em atormentar e humilhar. A impacincia das vtimas tambm influi, porque ele v atingido o seu objetivo, enquanto que a pacincia acaba por cans-lo. Ao se irritar, mostrando-se zangado, a vtima faz precisamente o que ele quer. Esses espritos agem, s vezes, pelo dio que lhes desperta a inveja do bem, e por isso que lanam sua maldade sobre criaturas honestas."38 "H ainda certas obsesses, sobretudo de pessoas de mrito que fazem parte das provas a que se acham submetidas. "Por vezes, mesmo, acontece que a obsesso, quando simples, seja uma tarefa imposta ao obsedado, que deve trabalhar para melhorar o obsessor, como um pai a um filho vicioso."39 "Existem problemas obsessivos em vrias expresses, como os de um encarnado sobre outro, de um desencarnado sobre outro, de um encarnado sobre um desencarnado, e, genericamente, deste sobre aquele."40 "Relembrando o texto kardequiano que afirma "no raramente o homem obsessor de si mesmo", Suely Caldas Schubert cita ainda a obsesso recproca, definindo-a como segue: "Essa caracterstica de reciprocidade transforma-se em verdadeira simbiose, quando dois serem passam a viver em comunho de pensamentos e vibraes. Isto ocorre at mesmo entre os encarnados que se unem atravs de amor desequilibrado, mantendo um relacionamento enervante "41. Considerando as afirmaes sobre obsesso no texto acima, constata-se: 1 - ela uma questo de sintonia; 2 - viver na Terra faz com que todos lhe estejam sujeitos, diferenciando motivos, formas de manifestao e graus de intensidade; 3 - nem sempre possvel perceb-la; 4 - o fortalecimento da alma uma prerrogativa para se livrar dela; 5 - a melhoria individual prerrogativa para o fortalecimento da alma; 6 - a vingana apenas um dos seus motivos, acompanhada da inveja, do prazer de fazer o mal, da tarefa de reabilitao do obsessor por parte do obsidiado etc. 7 - ela pode ser o resultado de encontros aleatrios entre obsessor e obsidiado, estando os motivos localizados na vida presente;

8 - o modo pelo qual o obsidiado lida com as contrariedades da vida fator preponderante na sua persistncia; 9 - a auto obsesso constitui-lhe, muitas vezes, uma porta aberta; 10 - na auto, na de encarnado para encarnado e na recproca, os motivos geralmente esto localizados na vida presente; 11- relacionamentos mal resolvidos tm grandes probabilidades de constituir futuros processos obsessivos, alm de propiciar a auto-obsesso e a obsesso recproca no tempo presente; 12 - as imperfeies morais constituem os verdadeiros obstculos sua libertao; 13 - em seu processo no possvel identificar de imediato quem o culpado e quem a vtima. Conclui-se: A obsesso , antes de tudo, uma questo de sintonia provocada pelas imperfeies morais de todos os envolvidos, pelos relacionamentos mal resolvidos e pelas dificuldades que o obsidiado apresenta em lidar com as dificuldades da vida. Portanto: O trabalho desobsessivo implicar no combate s imperfeies morais, na melhoria do relacionamento humano e das formas como o obsidiado lida com as contrariedades da vida E ao dirigente esprita, a partir do motivo que levou a pessoa a procurar ajuda no Centro, ter a incumbncia de lev-la a indagar-se: 1- como devo proceder a minha auto cura? 2 - o que h em mim que atrai os maus espritos? 3 - como posso melhorar os meus relacionamentos pessoais? 4 - o que fazer para diminuir a minha irritabilidade? O tema entrevista ser tratado no prximo item, por constituir uma proposta ao dirigente de facilitar-lhe a ao citada no pargrafo acima.

OBSESSO: ENTREVISTA42
A ajuda na entrevista, dar-se- atravs de uma ou mais conversao, onde o entrevistado receber indicaes que venham colaborar na percepo dos motivos que as impedem de serem felizes. Ao ser estabelecida a relao de ajuda importante que a entrevista seja feita em um ambiente adequado para acolhimento da pessoa e seu sofrimento, criando tambm uma atmosfera pautada por confiana e respeito. Para o ambiente adequado deve ser garantido um local onde as condies externas, como barulho excessivo, no interfiram na relao de ajuda, evitando tambm interferncias provocadas, como: batidas porta, pessoas conversando paralelamente etc. Aps localizar o ambiente que oferea condies mnimas para o atendimento, o dirigente focalizar a ateno para o objetivo da entrevista, identificando o motivo da procura, apresentando para si a seguinte questo: "Qual ser o melhor modo de ajudar essa pessoa na situao em que se encontra no Centro Esprita?" A resposta questo acima depender da ateno do dirigente s suas condies internas no transcorrer da entrevista, de modo que elas no venham interferir negativamente nos seus

resultados, bloquear e/ ou afetar a comunicao do entrevistado, tais como: 1 - ele est com problemas pessoais mal-resolvidos, no conseguindo desligar-se da prpria situao, para concentrar-se na entrevista; 2 - as questes abordadas pelo entrevistado incomodam-no profundamente seja porque vo contra os seus princpios morais seja por coincidirem com seus prprios problemas que no consegue solucionar ou conviver; 3 - a situao apresentada to chocante e desesperadora do ponto de vista do entrevistador que aviva sua curiosidade, levando-o a questionar ansiosa e incisivamente, e a fazer perguntas que no tenham por objetivo a ajuda. Portanto, o entrevistador dever estar atento: I - a sua expresso corporal, a fim de que o entrevistado sinta a sua ateno voltada para ele, evitando movimentos e gestos que possam embara-lo durante a entrevista, como folhear livros ou olhar para o relgio enquanto ele fala; 2 - sua disposio mental, afastando pensamentos e problemas diversos, concentrando a ateno na entrevista e na situao apresentada; 3 - s suas emoes, constatando os sentimentos que o entrevistado e/ ou situaes apresentadas possam despertar em si. A entrevista, por sua vez, implicar no desenvolvimento de algumas atitudes e/ ou aes adequadas por parte do entrevistador, como: I - OUVIR: consiste em estar voltado ao entrevistado tanto corporal, mental como emocionalmente, evitando interromper a sua verbalizao indevidamente. comum entrevistadores iniciantes estarem to preocupados com o que iro falar em seguida que no conseguem ouvir e absorver o que est acontecendo. O ouvir adequadamente constitui um agente motivador verbalizao do entrevistado, facilitando a comunicao. II - FALAR: aps ouvir a situao relatada, a interveno do entrevistador dar-se- atravs do entendimento do motivo pelo qual a pessoa est procurando o Centro Esprita, atravs da anlise da respostas seguinte questo: " - O que ela busca e espera do Centro Esprita? Para elaborao das perguntas posteriores, recomendo a leitura do texto Perguntas Que Se Podem Fazer43 que embora tenha como objetivo colaborar com o dirigente na interpelao aos Espritos comunicantes em reunies medinicas, o texto pode subsidi-lo na elaborao das perguntas a serem feitas s pessoas que procuram o Centro Esprita no tocante maneira de perguntar e natureza das perguntas. O entrevistador dever elaborar questes que levem a pessoa a refletir sobre a sua situao evitando aquelas: I - que tenham por objetivo a satisfao de simples curiosidade; 2 - que estimulem detalhamentos desnecessrios; 3 - que possam propiciar respostas duplas; 4 - mal formuladas, apressadas e repetitivas. Ele dever evitar ainda de realizar as perguntas como se estivesse fazendo um bombardeio, isto , lanando-as rpida, incisiva, contundente e incoerentemente, a fim de no bloquear a comunicao do entrevistado, sendo que este bloqueio tambm pode ocorrer quando: 1- h interrupes indevidas no falar do entrevistado, pois estas alm de no demonstrar interesse pelo que ele diz, evidencia a ansiedade do entrevistador ao concluir, por exemplo, a frase do entrevistado em seu lugar; 2 - o entrevistador fala tanto ou mais que o entrevistado, intercalando discursos prontos de aconselhamento, sem antes ouvir ou independentemente do que o entrevistado tem a dizer, demonstrando com isso uma atitude de autoritarismo, ao agir como um ser superior que deve ser respeitosamente ouvido, no respeitando os sentimentos do entrevistado. III - HUMILDADE: esta atitude oferece condies ao entrevistador de perceber que jamais ser capaz de solucionar problema algum de quem quer que seja se a prpria pessoa no o quiser, por deter ela a responsabilidade exclusiva pelas suas escolhas. A humildade caracteriza-

se tambm pela disposio do entrevistador de tomar cada entrevista uma fonte de aprendizado. IV - FLEXIBILIDADE: representa tambm um aprendizado constante ao oferecer ao entrevistado alternativas criativas e liberdade de experimentar certos modos de viver, levandoos a: 1- perceberem-se como agentes da prpria mudana; 2 - a escutarem a si mesmos; 3 encontrarem paulatinamente as maneiras adequadas de expressarem o que sentem. Constitui a flexibilidade um aprender a conviver com as diferenas, levando o entrevistador a evitar ao maniquesmo de dividir as pessoas entre as boas e as ms ou entre vtimas e algozes, por constiturem estas divises formas sutis de preconceitos que impedem a aproximao humana. V - PERSPICCIA E SENSIBILIDADE: necessrias para que o entrevistador, ao contrrio dos espritos obsessores que atuam nas fragilidades humanas, aprenda a identificar e atuar no "ponto forte" de quem est atendendo, a fim de que este eleve a sua auto-estima, adquirindo com isso precondies para o seu fortalecimento interior almejando que no seja ele derrubado pelo sofrimento VI - ACONSELHAMENTO: o entrevistador dever evitar uma atuao atravs de ameaas ou presses, por afastarem estas muitas pessoas da relao de ajuda. No processo de aconselhamento dever tambm estar atento s idias pr-concebidas e/ ou preconceitos que venham a contaminar a relao de ajuda. Por exemplo, o dirigente que acredita que todo alcoolista um sem-vergonha, numa entrevista com este tipo de viciado corre o risco de ser induzido a lev-lo ao descrdito, ridicularizando o seu modo de ser, crendo que assim o entrevistado passar a modificar o seu comportamento. No aconselhamento, o entrevistador ter como meta contribuir para que a pessoa aprenda a viver uma vida saudvel, adquirindo confiana em si mesma e desenvolvendo a crena em seu prprio valor. Neste processo tambm ir adquirindo condies de perceber o que leva o entrevistado a se sintonizar com o obsessor e como agir para a quebra da sintonia, caso esteja sendo vtima real de uma obsesso. como se a pessoa ao procurar o Centro Esprita estivesse com a vista embaraada e o aclaramento de sua viso, pela mudana de direo de seu olhar constitusse a meta do dirigente. Ou ento imaginemos essa pessoa perdida numa floresta, sem uma bssola capaz de lhe indicar o caminho da sada, estando presa em armadilhas, ora armadas por ela mesma ora por companheiros de jornada, tendo a o dirigente a meta de construir com ela um mapa das armadilhas, de modo que a pessoa se comprometa a encontrar o caminho da sada, planejando como e quando pedir socorro e estando atenta quelas armadilhas mais comuns que faz com que fique emperrada, como: 1 - justificativas externas para a situao em que se encontra, no tomando providncia alguma para escapar da armadilha; 2 - tentativas de esconder tanto de si como de outros que est presa em uma armadilha, ficando imobilizada com isso; 3 - viso da situao como sendo de responsabilidade de outras pessoas ou de foras alheias a sua vontade, principalmente as sobrenaturais. 4 - represso do que sente, no tendo com isso condies de encontrar o caminho da sada. No aconselhamento o dirigente dever estar atento s armadilhas que possam surgir para si no processo de ajuda, tendo como parmetros: 1 - o conhecimento da Doutrina Esprita, identificando como o seu entendimento poder colaborar na melhoria de qualidade de vida da pessoa; 2 - o conhecimento das finalidades das atividades do Centro a fim de distinguir a mais indicada quela pessoa na situao em que se encontra;

3 - a reflexo conjunta sobre os motivos que a levou a procurar o Centro, confrontando suas expectativas com o posicionamento esprita a respeito das mesmas. A entrevista poder representar uma ajuda efetiva pessoa que, atravs das informaes recebidas adequadamente, poder identificar o campo de atuao do Espiritismo, libertandose de crenas negativas, expectativas indevidas e idias pr-concebidas a seu respeito, identificando o auto-conhecimento como o meio prtico e eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal, conforme questes 919 de O Livro dos Espritos44, constituindo o estudo destas questes de grande utilidade no processo de alvio do sofrimento humano, seja de carter obsessivo ou no.

OBSESSO: CURA
A principal arma no combate obsesso apresentada pelo Espiritismo o autoconhecimento, tendo claro que tanto conhecimento da Doutrina Esprita como o autoconhecimento, bem como toda e qualquer realizao que o ser humano se prope, exige: seriedade, perseverana, iseno de idias pr-concebidas, enfraquecimento de preconceitos e desejo sincero de chegar a um resultado. O auto-conhecimento torna-se tambm de vital importncia na investigao das causas dos sofrimentos, tornando-se estes transitrios medida que a pessoa for encontrando um sentido e uma razo para viver, podendo ele, porm, representar um processo doloroso, ao fazer com que a pessoa perceba os motivos reais de suas aes. Na questo 9l9-a do Livro dos Espritos, por exemplo, menciona que o avarento jamais se considera como tal, afirmando ele ser econmico. Robin Norwoop em seu livro destinado s mulheres que criam seus prprios sofrimentos afirma que, muitas vezes, esforos para ajudar algum podem ser, na verdade, tentativas de controlar o outro, afirmando que a ajuda, nestas situaes representa o lado ensolarado do controle. Vejamos o que ela diz: "Quando fazemos por outra pessoa o que ela pode fazer por si prpria, quando planejamos o futuro de outras pessoas ou suas atividades dirias, quando instigamos, aconselhamos, lembramos, advertimos ou persuadimos outras pessoas que no sejam lima criana, quando no conseguimos tolerar no lugar dela as conseqncias de seus atos e tentamos mud-los ou impedimos suas conseqncias - isso controlar."45 E a pessoa quando no exerccio do controle deixa de estar em contato com os seus prprios sentimentos, sendo incapaz de tomar decises sbias a respeito da prpria vida. Esta anlise oferece condies tanto ao entrevistador com ao entrevistado de perceber quais so os motivos reais que estimulam suas aes, ao colaborar tanto no auto-conhecimento como na identificao das causas dos sofrimentos, podendo estes serem conseqncias: 1 - da personalidade inflexvel da pessoa, com esquema de vida rgido ou atividades to rotinizadas, extremamente exigente consigo prpria e com os seus companheiros, sem conscincia de que est sendo responsvel e, ao mesmo tempo, vtima de seu prprio modo de ser; 2 - de situaes especficas de crises das quais todos os seres humanos so suscetveis: perda de emprego, vtima de violncia social, separaes conjugais, morte de entes queridos etc., situaes estas que esto mais ligadas s dificuldades que os seres humanos tm em lidar com a perda, devendo esta a questo a ser trabalhada; 3 - fortalecimento dos preconceitos, onde todos so induzidos a viverem da mesma maneira, independentemente de crenas, sonhos e aptides; 4 - de vrias situaes da vida cotidiana que podem levar ao estresse, causando vrios outros sofrimentos e produzindo, principalmente, relacionamentos insatisfatrios e, conseqentemente, infelizes; 5 - da tendncia de encontrar explicaes esdrxulas para as causas dos sofrimentos, negando sua responsabilidade sobre os acontecimentos da vida; 6 - da falta de habilidade de lidar com as mgoas, ingratides e decepes que surgem no transcorrer da vida, transformando-as em prticas obsessivas.

A mudana de estilo de vida que possa ocorrer em funo do auto conhecimento constitui um compromisso com a evoluo, e no com a perfeio, pois o compromisso com esta ltima implicaria em exigir da pessoa o que no seria possvel na situao evolutiva em que se encontra. Concluo este trabalho destacando parte do roteiro para a cura da obsesso proposto por J. Herculano Pires:46 "Reformule o seu conceito do si mesmo. Voc no pobrezinho abandonado no mundo. Os prprios vermes so protegidos pelas leis naturais. Por que s voc no teria proteo? Tire da mente a idia de pecado e castigo. O que chamam de pecado o erro, e o erro pode e deve ser corrigido ... " ...As ms idias e os maus pendores existem para voc venc-los, nunca para se entregar." "Mude a sua maneira de encarar os semelhantes. Na essncia, somos todos iguais. Se ele est irritado no entre na irritao dele ... " "No se considere vtima. Voc pode estar sendo algoz sem perceber. Pense nisso constantemente para melhorar as suas relaes com os outros. Viver permutar. Examine o que voc troca com os outros" "Voc no depende dos outros, depende de sua mente. Mantenha a mente arejada, abra suas janelas ao mundo, respire com segurana e ande com firmeza ... "

RELAO DE TEXTOS SOBRE OBSESSO, LOUCURA E SUICIDIO CONTIDOS NA CODIFICAAO


01 - KARDEC, Allan. A Loucura e suas causas. Em: -. O Livro dos Espritos. So Paulo: FEESP, 1989, 4, p.42 a 44; 02 - Idem. Influncia do Organismo. Em: - O Livro dos Espritos. So Paulo: FEESP, 1989, 4, p. 367 a 375; 03 - Idem. Idiotismo e Loucura. Em: - O Livro dos Espritos. So Paulo: FEESP, 1989, 4, p. 371 a 378; 04 - Idem. Interveno dos espritos no mundo corporal. Em: - O Livro dos Espritos. So Paulo, 1989, 4, p. 200 a 227; 05 - Idem. Loucura, Suicdio e obsesso. Em: - O que o Espiritismo. Segundo dilogo. Rio de Janeiro: FEB, 1983, 27, p. 111 a 114; 06 - Idem. Sistema de loucura. Em: - O Livro dos Mdiuns. Primeira Parte. So Paulo: LAKE, 1988, 44, p. 51; 07 - Idem. Sistema de alucinao. Em: - O Livro dos Mdiuns. Primeira Parte. So Paulo: LAKE, 1988, 4 , p.51 e 52; 08 - Idem. Inconvenientes e perigos da mediunidade. Em: - O Livro dos Mdiuns. Segunda Parte. So Paulo: LAKE, 1988, 4, item 221 (q.l a 5) e item 222, p. 234 a 237; 09 - Idem. Da obsesso. Em: - O Livro dos Mdiuns. Segunda Parte. So Paulo: LAKE, 1988, 4, p. 274 a 290; 10 - Idem. O suicdio e a loucura. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, itens 14 a 17. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p.112 a 114; 11- Idem. A melancolia. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, item 25. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70 , p.125; 12 - Idem. Reconciliar-se com os adversrios. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X, itens 5 e 6. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70 p.l77 a 178; 13 - Idem. Os inimigos desencarnados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capo XII, itens 5 e 6. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p. 206 a 208; 14 - Idem. Prece para afastar os maus espritos. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capo XXVIII, item 16. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p. 418; 15 - Idem. Prece para pedir a fora de resistir a uma tentao. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo,

Cap. XXVIII, item 20. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p. 420; 16 - Idem. Prece por um suicida. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capo XXVIII, item 71. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p.445; 17 - Idem. Prece pelos espritos endurecidos. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capo XXVIII, item 75. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70 , p.447; 18 - Idem. Preces pelos doentes e pelos obsidiados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII, itens 77 e 81. Rio de Janeiro: FEB, 1977, 70, p. 450 e 451; 19 - Idem. A carne fraca. Em: O Cu e o Inferno, Primeira Parte, Capo VII. Rio de Janeiro: FEB, 1984, 32, p.86 a 89; 20 - Idem. Espritos suicidas. Em: O Cu e o Inferno, Segunda Parte, Capo Rio de Janeiro: FEB, 1984, 32, p. 295 a 327; 21 - Idem. Instruo de um esprito sobre os idiotas e os cretinos dada na Sociedade de Paris. Em - O Cu e o Inferno, Segunda Parte, Capo VIII. Rio de Janeiro: FEB, 1984, 32", p. 408 a 410; 22 - Idem. Obsesses e possesses. Em: - A Gnese, Capo Xv. Rio de Janeiro: FEB, 1992, 35, p. 304 a 308; 23 - Idem. Possessos. Em: A Gnese, Capo Xv. Rio de Janeiro: FEB, 1992, 35", p. 327 a 331; 24 - Idem. Da obsesso e da possesso. Em: - Obras Pstumas, Primeira Parte Manifestao dos espritos, par. 7. Rio de Janeiro: FEB, 1969, 24, p. 67 a 74; 25 - Idem. Obsedados e subjugados. Em: - Revista Esprita, out 1858, p.275 a287; 26 - Idem. Teoria mvel de nossas aes. Em: - Revista Esprita, out 1858, 292 a 294; 27 - Idem. Problemas morais: sobre o suicdio. Em: - Revista Esprita, nov 1858, p. 314 a 315; 28 - Idem. Processos para afastar os maus espritos. Em: - Revista Esprita, set 1859, p. 251 a 260; 29 - Idem. Uma semente de loucura. Em:- Revista Esprita, jun 1860, p.191 a193; 30 - Idem. Histria de um danado. Em: - Revista Esprita, fev 1860, p. 52 a 53 (transcrio de um processo desobsessivo); 31- Idem. O esprito batedor de Aube. Em: - Revista Esprita, jan 1861, p. 24 a 30 (processo desobsessivo distncia e interveno familiar); 32-Idem. O esprito de um idiota. Em: - Revista Esprita,jun 1860, p.181 a183; 33 - Idem. Epidemia demonaca na Sabia. Em: - Revista Esprita, abr 1862, p.107 a III (distino da loucura patolgica da obsessiona1); 34 - Idem. A noiva trada. Em: - Revista Esprita, ma 1860, p. 160.e 161; 35 - Idem. Educao de um esprito. Em: - Revista Esprita, dez 1860, p. 396 a 400; 36 - Idem. Estatstica de suicdios. Em- Revista Esprita, jul1862, p.196 a 202; 37 - Idem. Estudos sobre os possessos de Morzine - causas da obsesso e meios de combate - art. I. Em: - Revista Esprita, dez 1862, p. 355 a 365; 38 - Idem. Idem - art. 11. Em: - Revista Esprita, jan 1863, p. 1 a 8; 39 - Idem. Idem - art. m. Em: - Revista Esprita, fev 1863, p. 33 a 40; 40 - Idem. Idem. - art. IV Em: - Revista Esprita, ab 1863, p. 99 a 110; 41- Idem. Idem - art. V Em: - Revista Esprita, maio 1863, p. 131 a 140; 42 - Idem. A loucura esprita. Em: - Revista Esprita, fev 1863, p. 50 a 57; 43 - Idem. Ao material dos espritos sobre o organismo. Em: - Revista Esprita, ag 1863, p. 242 a 244; 44 - Idem. Um caso de possesso - Senhora Julia. Em: Revista Esprita, dez 1863, p. 373 a 377; 45 - Idem. A loucura esprita. Em: - Revista Esprita, fev 1863, p. 50 a 57; 46 - Idem. Um caso de possesso - Senhora Jlia - 2 art. - p. 11 a 17; 47 - Idem. Palestras de alm tmu10: Fredegunda. Em: - Revista Esprita, jan 1864, p.17 a 20; 48 - Idem. Variedades: curas de uma obsesso. Em: - Revista Esprita, fev 1864, p. 45 a 46; 49 - Idem. Variedades: a jovem obsedada de Marmande (cont.). Em: Revista Esprita, jun 1864, p. 168 a 172; 50 - Idem. Novos detalhes sobre os possessos de Morzine. Em: - Revista Esprita, ag 1864, p. 225 a 231; 51 - Idem. Nova cura de uma jovem obsedada de Marmande. Em: - Revista Esprita, jan 1865, p. 4 a 19; 52 - Idem. Manifestaes diversas - curas: carta do Sr. Delanne. Em: Revista Esprita, ma 1865, p. 138 a 142;

53 - Idem. Variedades: o fumo e a loucura. Em: - Revista Esprita, ma 1865, p.142 a 144; 54 - Idem. Os espritos na Espanha: cura de uma obsedada em Barcelona. Em: -Revista Esprita,jun 1865, p.167 a174; 55 - Idem. Curas de obsesses. Em: - Revista Esprita, fev 1866, p. 38 a 42; 56 - Idem. Estatstica da loucura. Em: - Revista Esprita. jul1866, p. 204 a 211: 57 - Idem. Grupo curador de Marmande: interveno dos parentes nas curas. Em: - Revista Esprita, jun 1867, p.l78 a 181; 58 - Idem. Extrado dos manuscritos de um jovem mdium breto - alucinados. Em: - Revista Esprita, fev 1868, p. 33 a 36: 59 - Idem. Suicdio por obsesso. Em: - Revista Esprita. jan 1869, p. 27 a 28; 60 - Idem. Obsesses simuladas. Em: - Revista Esprita.. jan 1869, p. 31 a 32; 61 - Idem. Um caso de loucura causado pelo medo do diabo. Em: - Revista Esprita, fev 1869, p. 43 a 45.

BIBLIOGRAFIA
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NOTAS
1 Allan KARDEC. O Livro dos Mdiuns 2 Idem. Revista Esprita, v. 4, ano 1861, p. 47 a 51 3 Eder F V ARO e outros. Em: Congresso Esprita Estadual, 7 4 Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Em: Congresso Esprita Estadual, 7 5 Jaci REGIS. Em: Congresso Esprita Estadual, 7 6 J. Herculano PIRES. O Centro Esprita 7 Wilson GARCIA. O Centro Esprita 8 Reinaldo di LUCIA. O processo de mudanas do Espiritismo. Texto apostilado 9 Mauro de Mesquita SPNOLA. Centro esprita: uma reviso estrutural.

10 Allan KARDEC. Meios de comunicao. Em: O que o espiritismo. Segundo dilogo p.96 11 Allan KARDEC. Processos para afastar maus espritos. Em: Revista Esprita,v. 2, ano1859, p. 253; 12 Idem. Obsedados e subjugados. Em: Revista Esprita, v.l, ano 1858, p. 275 a 287 13 Idem .. Estudos sobre os possessos de Morzine - Causas da obsesso e meios de combat-la - art. II. Em: Revista Esprita, v. 6, ano 1863, p. 6 14 Idem. Estudos sobre os possessos de Morzine - causas da obsesso e meios de combat-Ia - art. lI. Em: Revista Esprita, v. 6. ano 1863, p. 8 15 Allan KARDEC. A cincia e o espiritismo. Em: O Livro dos Espritos, Introduo ao Estudo da Doutrina Esprita, p. 30 a 32 16 Idem. Da obsesso e da possesso. Em: Obras Pstumas, p.72 17 Idem. Obsesses simuladas. Em: - Revista Esprita, v. 12, ano 1869, p. 31. 1S Idem. Estudos sobre os possessos de Morzine - Causas da obsesso e meios de combate - II artigo. Em: Revista Esprita, v. 6, ano 1863, p. 5 e 6 19 Allan KARDEC. Espritos sofredores - Claire. Em: O Cu e o Inferno, p. 285 a327 20 Idem. Da obsesso. Em: - O Livro dos Mdiuns, p. 287 21 Allan KARDEC. Inconvenientes e perigos da mediunidade. Em: O Livro dos Mdiuns, p. 237 22 Idem. Loucura, suicdio e obsesso. Em: - O que espiritismo, p. 111 23 Idem. A loucura esprita. Em: Revista Esprita, v. 6, ano 1863, p.50 24 Idem. Estatstica da loucura. Em: Revista Esprita, v. 9, ano 1866, p:204 25 Idem. Possessos. Em: O Livro dos Espritos, p.204 26 Idem. Possessos. Em: A Gnese, capo XIV, p.327 a 331 27 A11an KARDEC. Instruo de um Esprito sobre os idiotas e os cretinos. Em: - O Cu e o Inferno, p. 408 a 410 28 nomenclatura da poca pela psiquiatria aos portadores de doenas e de deficincias mentais 29 Allan KARDEC Expiaes terrestres. Em: - O Cu e o Inferno, p. 408 a 411 30 Os dados histricos contidos neste texto foram extrados do livro Histria da Psiquiatria, de Ives Pelicier, traduo de Ramiro da Fonseca 31 Filipe Pinel (1745 -1826) em 1793 recebe os servios de alienados de Bictre, sendo este um depsito de doentes mentais amontoados em condies miserveis, com os doentes mais agitados em corrente. Inicia o seu trabalho retirando as cadeias da maior parte dos doentes e esforando-se por suprimir o regime de crcere. Procura classificar os doentes mentais com a maior preciso possvel, considerando que a doena pode se alterar no decurso da vida. 32 Sandra Ins RUSHEL e outros. Marcadores Biolgicos do Suicdio. Em: - Informaes Psiquitricas, v. 15, n 2, p. 62. 33 Ives PELICIER. A mar alta das heresias. Em: - Histria da Psiquiatria, p. 37 34 AIlan KARDEC. Estatstica de suicdios. Em: - Revista Esprita, v. 5, ano 1862, p. 197 35 Idem. Espritos suicidas - Antoine Bell. Em: - O Cu e o Inferno, p. 323 a 327 36 Idem. Suicdio por obsesso. Em: -RevistaEsprita, v. 12, ano 1869, p. 37 a38 37 Allan KARDEC. Preces pelos obsidiados. Em: - O Evangelho Segundo o Espiritismo, p.361 38 Idem. Da obsesso. Em: - O Livro dos Mdiuns, p. 280 39 Idem. Estudos sobre os possessos de Morzine. Em: - Revista Esprita, v. 5.ano 1862, p.365 40 Manoel Philomeno MIRANDA. Sementes da Vida Eterna, psicografia de Divaldo Pereira Franco, cap.30 41 Suely Caldas SCHUBERT. Obsesso recproca. Em: - Obsesso e desobsesso, p.38 42 a elaborao deste texto foi feita a partir de consulta ao Livro Entrevista * Ajuda, de Benjamin Alfred. 43 Allan KARDEC. Perguntas que se podem fazer. Em: - O Livro dos mdiuns, p. 338 a 341 44 Allan KARDEC. Conhecimento de si mesmo. Em: - O Livro dos Espritos p.339 45 Robin NORWOOP. Em: - Mulheres que amam demais. 46 as citaes deste final de texto foram extradas do livro Obsesso o passe a doutrinao

PASSES: DISCUSSO E PROPOSTAS

1- INTRODUO:
possvel afirmar, sem medo de erros, que o passe , juntamente com as reunies de desobsesso, a prtica efetuada mais freqentemente nos centros espritas. Com efeito, muito comum ouvir dizer a qualquer pessoa nervosa ou com os mais variados problemas que ela precisa " tomar um passe " . Esta prtica, apesar de no ser tipicamente esprita, foi introduzida na doutrina atravs do prprio Kardec, que, admirador e estudioso do magnetismo, conhecia-a de longa data. Entretanto, em tese, ela adapta-se plenamente aos princpios bsicos do espiritismo, j que se trata de uma transmisso de energias. Dentro do movimento esprita atual, os passes so utilizados com os mais diferentes objetivos: acalmar pessoas irritadias, principalmente crianas, auxiliar em processos de desobsesso, e principalmente como prtica teraputica, visando a cura dos mais variados tipos de doenas fsicas ou psicolgicas. O que se observa, no entanto, no movimento esprita brasileiro, que a prtica do passe foi transformada num ritual religioso, onde a coreografia e a crendice so mais importantes que a tcnica. Alm disso, incorporou-se ao movimento, e notadamente ao passe, termos e conceitos oriundos de filosofias estranhas a ele, principalmente de origem oriental, como o caso de CHACRAS e KARMA. Paralelamente a isto, deve-se anotar que a cincia teve uma evoluo muito rpida nos ltimos dois sculos, tendo atualizado sua terminologia e aprofundado seus conceitos, tanto na rea da biologia (entendida aqui como o estudo da vida) quanto na da fsica (em seu aspecto energtico). Infelizmente, o movimento esprita, na condio de sucessor das teses do magnetismo, no foi capaz de absorver e desenvolver estas novas idias, permanecendo parado na histria e margem do conhecimento cientfico atual. Isto posto, consideramos como objetivo deste trabalho aprofundar a discusso a respeito do passe, analisando no s as prticas observadas em nossos centros espritas como tambm aquilo que tem sido publicado a respeito, seja atravs de autores encarnados ou desencarnados, e, em concluso, propor um mecanismo para sua emisso e absoro, baseado no avano do conhecimento cientfico atual. Por outro lado, no devemos nos esquecer da metodologia proposta por Kardec para a codificao do espiritismo, qual seja, o questionamento dos espritos atravs de mdiuns, com a comparao das respostas obtidas de diferentes espritos por diferentes mdiuns. O Grupo de Pesquisas Cientficas Ernesto Bozzano, de Santos, So Paulo, iniciou um projeto de pesquisa usando uma adaptao desta metodologia para o tema em epgrafe, cujo piloto apresentado no decorrer da presente monografia.

2- GOLPE DE VISTA HISTRICO:


Os passes so derivaes diretas das prticas teraputicas oriundas de diversas formas do magnetismo, sendo ento impossvel estudar sua histria desvinculando-a da prpria histria do magnetismo. Historicamente, observamos j no Egito a existncia dos " Templos do Sono ", cujo objetivo era obter a cura de diversas doenas atravs dos sonhos. Em praticamente todas as civilizaes orientais j foi relatado algum tipo de teraputica baseada em toques, imposio das mos e ms, notadamente na ndia, Prsia, Assria, China e Judia. Na Grcia, tem-se relatos de curas obtidas nos " Templos de Esculpio ", as quais baseavam-se em sugesto atravs de rituais extremamente complicados, aliados prtica de higiene e a rigorosas dietas. Nem preciso dizer dos fenmenos magntico-curadores realizados por Jesus, atravs da imposio de mos, com nfase na vontade e no merecimento do paciente. , entretanto, no sculo XV que se encontram as primeiras referncias a uma transmisso de energias. Nesse sculo, um professor de Florena, Ficini, postulava que "os indivduos exercem aes uns sobre os outros atravs de fluidos que passam pelos olhos, sob o domnio da vontade."1 . No mesmo sculo, outro italiano, Pomponage, imaginou que "espritos animais" podiam escapar dos olhos e de outras partes do corpo para exercerem distncia uma "ao da alma". No sculo seguinte, o suo Philipus Theofrastus Bombastus von Hohenheim, clebre alquimista conhecido com o nome de Paracelso, chamou de magnetismo comunicao, de um indivduo a outro, de um fluido que faz parte do fluido universal. Mais tarde, um mdico escocs, W. Maxwell, definiria o agente magntico como " o misterioso princpio de vida que unifica o corpo e a alma e que se pode comunicar de um indivduo a outro. " 2. Em seu Trait de Medecine magntique, recomendava o mximo cuidado com estas prticas, a seu ver perigosas, devido "s facilidades em satisfazer a luxria". Entretanto, o mais afamado magnetista, e tambm seu principal divulgador, foi o austraco Franz-Anton Mesmer. J em sua tese de doutorado, exps as influncias dos astros sobre os indivduos, exercidas atravs de um fluido sutil. Em 1775, publica em Viena uma Carta Explicativa, na qual aplica o princpio Newtoniano da atrao universal idia do fluido universal, teorizando que este exerce sobre o corpo efeitos anlogos ao do m, devido presena, nos nervos, de um fluido eletromagntico, ao qual ele denominou "magnetismo animal". Ele considerava que era possvel curar as doenas atuando sobre este estranho fluido. Em 1779, aps estudos profundos e variados, Mesmer publica Mmoire sur le magntisme animal, onde postulava a no necessidade do m, mas apenas dos PASSES MAGNTICOS. Em 1780 vai para Paris, onde abre um consultrio, baseado em prticas no destitudas de um certo charlatanismo, porm com uma freqncia altssima: chegava a atender aproximadamente 300 pacientes por dia, em grupos de 30. Tais prticas, completamente noortodoxas, provocaram fortes protestos da Igreja Catlica, o que levou o rei Lus XVI a pedir a Lavoisier que constitusse uma comisso de inqurito, visando estudar o processo. Esta comisso verificou que muitos doentes podiam curar-se aps tocar uma barra de ferro que eles julgavam magnetizada (mas que no estava). Alguns sbios concluram ento pela

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Lantier, Jacques, "O Espiritismo", Coleo Esfinge n 36, Ed. Edies 70, pg. 29. Lantier, Jacques, opus citatus, pg. 29.
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inexistncia do fenmeno, postulando a cura atravs da sugesto: foram chamados de "animistas". Entretanto, um membro da comisso, o botnico Jussieu, demostrou a existncia da cura sem sugesto, concluindo assim pela existncia do fluido; seus partidrios passaram a chamar-se "fluidistas", e esta diviso de idias permanece at os nossos dias. Em 1774, um discpulo de Mesmer, o Marqus de Puysgur, magnetizando um campons por natureza reservado e taciturno, observa-o cair num sono desconhecido, manifestando-se uma segunda personalidade, alegre e inteligente, que dava mostras de possuir uma espcie de vidncia. Estava descoberto o sonambulismo experimental , e uma conexo entre o magnetismo e o que viria a chamar-se hipnotismo e percepo extra-sensorial. Em finais do sculo XVIII, seguidores de Puysgur fundam em Paris os primeiros "Crculos Magnticos", os quais, aps o fenmeno das mesas girantes, transformar-se-iam em crculos espritas. Em 1830, um mdico alemo, o Dr. Justinus Kerner, publicou um livro, " La Voyante de Prevorst ", no qual relatava os estudos que fizera com uma sonmbula, Frdrique Hauffe, a qual, em transe hipntico, possua faculdades extraordinrias, como, por exemplo, percepo extra-sensorial, viso de espritos, predies, etc. Este foi, provavelmente, o primeiro caso de um mdium identificado e estudado com afinco. Contudo, mesmo com todos estes fenmenos, o magnetismo entra em declnio no ltimo quarto do sculo XIX, com o avano das cincias biolgicas (descobertas de Pasteur e Freud) e fsicas (fim do ter e mudana no conceito de fluido). Ainda assim, muitas de suas prticas foram incorporadas aos movimentos que o seguiram, dentre eles o espiritismo: " O passe, a cmara de passe, a msica magnetizante no ambiente, a gua fludica, a diviso da assistncia em lugares distintos por sexo, a incorporao de temas como o sonambulismo, xtase, dupla vista, letargia e catalepsia, etc. e, principalmente, a incorporao da mentalidade assistencialcurativa na prtica esprita (...) corroboram esta afirmao." 3

3- TEORIAS SOBRE O PASSE:


Desde sua incorporao pelo espiritismo, muitos autores espritas, sejam eles encarnados ou desencarnados, tm expressado opinies a respeito do passe e de como o seu mecanismo de atuao. Todavia, este tema tem sido sistematicamente ignorado por quaisquer contraditores, a despeito das pesquisas que j foram realizadas neste campo. Procuraremos analisar neste captulo as principais teorias elaboradas, em confronto com os princpios aceitos por Kardec. 3.1- AUTORES NO ESPRITAS: Poucos so os autores no espritas que se propuseram a falar de passe. Dentre eles, a quase totalidade pertence a alguma escola filosfica ou religiosa mstica ou ocultista, e normalmente utilizam-se de uma mistura de idias, ocidentais e orientais, crists ou no, fazendo uma mescla das mais variadas supersties. Citaremos um exemplo: " Todo passe magntico comporta quatro tempos: 1) Fechar as mos sem crispao. 2) Lev-las ao ponto de partida do trajeto do passe.

Chioro dos Reis, Ademar Arthur, "Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec", monografia, 1992, pg. 26.
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3) Abri-las com um gesto de projeo procedente de um movimento malevel dos polegares. 4) Efetuar o passe propriamente dito, ou seja, descrever, com a ponta dos dedos, a alguns centmetros da pele, uma linha definida. Volta-se depois ao primeiro tempo: fecha-se novamente as mos e recoloca-se no nvel de onde partir o passe seguinte. Estes gestos devem ser executados com agilidade, sem a menor rigidez. Deve-se, por outro lado, dar aos dedos estendidos uma direo mais ou menos perpendicular (e no paralela ou tangencial) superfcie magnetizada. Os passes lentos (trinta segundos, pelo menos, da cabea ao epigstrio) saturam, sobrecarregam, excitam, entorpecem. bom no afastar mais de dois centmetros da superfcie do corpo. Os passes rpidos (5 segundos no mximo para o mesmo percurso) soltam, dispersam, acalmam, e despertam. Executados da cabea aos ps, sem descontinuidade, so chamados "passes de grandes correntes". Sua ao opera uma regularizao do conjunto. Para soltar (para despertar, especialmente) empregam-se os passes transversais, ou seja, executados do meio do corpo para os lados. (...) O toque (ou seja, os passes com contato) um procedimento secundrio. seus efeitos so anlogos aos dos passes sem contato. " 4 Pode-se observar claramente os elementos bsicos acima descritos. proposta uma metodologia de aplicao dos passes claramente mstica, sem qualquer embasamento cientfico que justifique os rituais e formalismos demonstrados. No h dvida que tais ritos apresentam-se ao paciente, principalmente queles que o buscam na condio de ltima esperana, como uma prtica flagrantemente cientfica, o que facilita a cura atravs da sugesto. Entretanto, do ponto de vista dos mecanismos, nada h que os justifique. Outros autores utilizam-se de um ponto de vista aparentemente cientfico para demonstrar estas idias, procurando empregar termos e conceitos da fsica para uma explicao desses mecanismos: "No fenmeno da magnetizao da gua, os nutrons lentos emitidos pelo corpo encontram os prtons do ncleo do hidrognio da gua e lhes comunicam uma parte de sua fora viva. H um choque elstico. As experincias de Muller com aparelhos eltricos muito sensveis permitiram uma verificao experimental desse fato cada vez que foi tentada. (...) No caso do magnetismo animal curativo, trata-se de um fenmeno complexo, no qual intervm uma proporo varivel de vontade. Junte-se isso a um fenmeno natural, ao qual atribumos importncia considervel, mas que, por assim dizer, no sabemos aproveitar: a irradiao csmica." 5

Jagot, Paul-Clment, "Iniciao arte de curar pelo magnetismo humano", Ed. Pensamento, pg. Guret, Andr e Oudinot, Pierre, "O Homem e os Imponderveis", ed. Pensamento, pg. 110
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21,22.
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interessante anotar tambm as definies, mais imparciais, dos dicionrios e enciclopdias: "Passe - Ato de passar as mos repetidamente ante os olhos de uma pessoa para magnetiz-la, ou sobre uma parte doente de uma pessoa para cur-la." 6 "Passe: ato de passar as mos repetidas vezes por diante ou por cima de pessoa que se pretende curar pela fora medinica." 7

3.2- AUTORES ESPRITAS ENCARNADOS: Dentre os autores encarnados, raros so os que procuraram contribuir para o crescimento das teorias a respeito do passe. A maioria deles resume-se em ser um mero repetidor das idias j relacionadas por outros autores, principalmente os desencarnados, no se preocupando sequer em reelabor-las; ou ento, h um forte componente de ritualismo e misticismo. De modo sintomtico, as linhas que se escreveram sobre o tema so originadas de captulos que tratam de mediunidade curadora. Abaixo citamos alguns textos de autores encarnados: " O passe uma transfuso de fluidos do mdium curador ou passista para o doente, ao essa que pode ser exercida tambm com fluidos dos espritos e da prpria natureza ou meio ambiente. O passe classifica-se em: PERPENDICULAR e de SOPRO. LONGITUDINAL, ROTATRIO, TRANSVERSAL,

O sopro curador uma modalidade do passe no muito divulgada entre os espritas. Entretanto, ele muito empregado pelo magnetismo na prtica vulgar, por quase todos os que necessitam socorrer os doentes em angstia. " 8 "Mas, mesmo quando equilibrados, em alguns centros, ainda h certos trabalhos em que o mdium colocado a dar passes por si s, sem a interveno dos espritos, atuando com seu prprio magnetismo. Trata-se dos passes magnticos, uma prtica desaconselhvel (...)" 9 "Quanto origem dos fluidos administrados durante o tratamento espiritual, podemos dividir os passes em dois grupos: 1) Passes materiais (magnticos): So os aplicados pelos operadores encarnados, que a isso se dedicam, mesmo no sendo mdiuns. Consistem na transmisso, pelas mos ou pelo sopro, de fluido animal do corpo fsico do operador para o doente. (...) 2) Passes espirituais: So os realizados pelos espritos desencarnados, atravs dos mdiuns, ou diretamente sobre o perisprito dos enfermos; o que se transfere aos necessitados no so mais fluidos animais de encarnados, mas outros, mais finos e mais puros do prprio esprito operante (...)

Buarque de Holanda Ferreira, Aurlio, " Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa", Ed. Nova Fronteira.
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Enciclopdia Mirador Internacional, vol. II, Dicionrio Brasileiro da Lngua Portuguesa, pg. 1289 Toledo, Wenefledo de, "Passes e curas espirituais", Ed. Pensamento, Lio Dcima. Curti, Rino, "O passe (imposio de mos)", Ed. Lake, 3 edio, pg. 89.
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Para todos os efeitos, fica estabelecido que os passes magnticos se referem s curas materiais e os espirituais s perturbaes de origem ou fundo espiritual. " 10 "O passe uma transfuso de energias psquicas e espirituais; isto , a passagem de um para outro indivduo de uma certa quantidade de energias fludicas vitais (psquicas) ou espirituais propriamente ditas." 11

3.3) AUTORES ESPRITAS DESENCARNADOS: Muitos autores desencarnados, atravs de obras medinicas, j fizeram referncia aplicao de passes, mas poucos procuraram falar algo sobre sua mecnica. Dentre estes ltimos, destacam-se principalmente Andr Luiz e Emmanuel, que, atravs de Chico Xavier, procuraram, em suas obras, escrever sobre este tema do ponto de vista dos desencarnados. Citaremos aqui apenas alguns textos de Andr Luiz, j que, em linhas gerais, no difere muito da opinio de Emmanuel. " Tendo mencionado o fenmeno hipntico em diversas passagens de nossas anotaes, a ele recorreremos, ainda uma vez, para definir o medianeiro do passe magntico por autntico representante do magnetizador espiritual, frente do enfermo. Estabelecendo o clima de confiana, qual acontece entre o doente e o mdico preferido, criase a ligao sutil entre o necessitado e o socorrista, e, por semelhante elo de foras, ainda imponderveis no mundo, verte o auxlio da esfera superior, na medida dos crditos de um e de outro. Ao toque da energia emanante do passe, com a superviso dos benfeitores desencarnados, o prprio enfermo, na pauta da confiana e do merecimento de que d testemunho, emite ondas mentais caractersticas, assimilando os recursos vitais que recebe, retendo-os na prpria constituio fsica (...). " 12 "Na maioria dos casos, no precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo direto. Os recursos magnticos, aplicados a reduzida distncia, penetravam assim mesmo o "halo vital" ou aura dos doentes, provocando modificaes subitneas. Os passistas afiguravam-se-nos como duas pilhas humanas deitando raios de espcie mltipla, a lhes flurem das mos, depois de lhes percorrerem a cabea, ao contato do Irmo Conrado e de seus colaboradores. No terreno das vantagens espirituais, imprescindvel que o candidato apresente uma certa "tenso favorvel". Essa tenso decorre da f. Certo, no nos reportamos ao fanatismo religioso, ou cegueira da ignorncia, mas sim atitude de segurana ntima, com reverncia e submisso, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. O passe uma transfuso de energias, alterando o campo celular. Vocs sabem que na prpria cincia humana de hoje o tomo no mais o tijolo indivisvel da matria... que, antes

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Armond, Edgard, "Passes e Radiaes", Ed. Aliana, 24 edio, cap. 9.

Centro Esprita Luz Eterna, Curitiba, "COEM-Centro de Orientao e Educao Medinica", vol. 4, "Passe-explicao da mecnica". Andr Luiz, " Mecanismos da Mediunidade", ed. FEB, 11 edio, cap. XXII.
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dele, encontram-se as linhas de fora, aglutinando os princpios subatmicos, e que, antes desses princpios, surge a vida mental determinante. (...) " 13 de observar-se que, apesar da linguagem rebuscada e da forte conotao religiosa e evanglica dos textos mencionados, h uma preocupao em definir-se as formas de ao das energias envolvidas no passe, bem como dos fenmenos que ocorrem tanto com o doador quanto com o receptor dessas energias, o que no se observa entre os autores encarnados.

3.4) A POSIO DE KARDEC: Relacionamos abaixo alguns dos textos nos quais Kardec trata do tema em pauta: "A diferena entre o magnetizador, propriamente dito, e o mdium curador, que o primeiro magnetiza com seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos espritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem o magnetismo humano; o que provem do fluido dos espritos o magnetismo espiritual. O fluido magntico tem, pois, duas fontes distintas: Os espritos encarnados e os espritos desencarnados. Essa diferena de origem produz uma grande diferena na qualidade do fluido e nos seus efeitos. O fluido humano est sempre mais ou menos impregnado das impurezas fsicas ou morais do encarnado; o dos bons espritos necessariamente mais puro, e, por isso mesmo, tem propriedades mais ativas, que acarretam uma cura mais pronta. Assim, seria um erro considerar o magnetizador como simples mquina de transmitir fluidos. Por este motivo, seria imprudente submeter-se ao magntica do primeiro desconhecido. Abstrao feita dos conhecimentos prticos indispensveis, o fluido do magnetizador como o leite de uma nutriz: salutar ou insalubre. O esprito pode agir diretamente, sem intermedirio, sobre um indivduo, (...) quer para o aliviar e o curar, se possvel, quer para produzir o sono sonamblico." 14 "Sabe-se que o fluido magntico ordinrio pode dar a certas substncias propriedades particularmente ativas. Neste caso, age de certo modo como agente qumico, modificando o estado molecular dos corpos; no h, pois, nada de admirar que possa modificar o estado de certos rgos (...)" 15 " (...) este gnero de mediunidade (curadora) consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicao. (...) A fora magntica reside, sem dvida, no homem, mas aumentada pela ao dos espritos que ele chama em seu auxlio. Se magnetizas com o propsito de curar, por exemplo, e invocas um bom esprito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua fora e tua vontade, dirige teu fluido e lhe d as qualidades necessrias." 16

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Andr Luiz, "Nos domnios da mediunidade", 18 edio, cap. 17. Kardec, Allan, "Revista Esprita", setembro de 1865, ed. Edicel, "Da mediunidade Curadora". Kardec, Allan, "Revista Esprita", janeiro de 1864, ed. Edicel, "Mdiuns Curadores". Kardec, Allan, "O Livro dos Mdiuns", ed. FEB, 52 edio, cap. XIV, item 7.
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Observa-se facilmente, mesmo nestes textos curtos, as qualidades que fizeram de Kardec o grande cientista que era. De uma maneira ativa, ele absorve os conceitos do magnetismo, do qual era adepto, adaptando-os aos postulados espritas. No se detm, entretanto, somente neste aspecto, mas vai mais alm, questionando os espritos e postulando ento uma nova teoria. Nesta tese, Kardec aventa a possibilidade de os espritos desencarnados exercerem um papel ativo no produo do fenmeno de cura por imposio das mos, misturando suas prprias energias quelas do mdium, de modo a fornecer ao receptor uma qualidade energtica melhor. ainda interessante notar que ele, apesar de frisar constantemente a necessidade de um aprimoramento contnuo do mdium que se prope a realizar curas, e isto tanto no aspecto intelectual, da tcnica, quanto no moral, o da "inteno boa e corao puro", no se deixa arrastar pelo religiosismo exacerbado, mantendo sua postura caracterstica em todo o desenvolvimento da idia. Deve ser observado tambm que Kardec evita o uso do termo passe, substituindo-o, tanto quanto possvel, pelo verbo magnetizar. Esta postura pode indicar que ele, apesar de acatar as teses da escola magntica, j ento considerava esta palavra inadequada, ou ento por demais ligada a outras prticas esprias, para a doutrina em formao.

4- ALGUMAS PESQUISAS CIENTFICAS:


A prtica da cura atravs da imposio de mos no privilgio do movimento esprita. De fato, em muitos pases, mesmo aqueles onde a medicina est consideravelmente avanada e ao alcance de toda a populao, observa-se uma considervel presena de curandeiros e magnetizadores na sociedade, em alguns casos, mesmo em hospitais, e com a conivncia das autoridades mdicas. Este fato levou alguns cientistas, que figuram na ala mais progressista da cincia, a procurar realizar estudos sobre este fenmeno, mesmo encontrando forte oposio acadmica em funo dos preconceitos que ainda vicejam neste meio. A posio destes cientistas, em sua grande maioria no espritas, simplesmente a de tentar demonstrar, de maneira inequvoca e, se possvel, atravs de aparelhagem conveniente, a realidade do fenmeno de cura fora da teraputica ortodoxa. Assim, eles no esto preocupados em admitir ou no a existncia dos desencarnados neste processo. Uma das dificuldades que faz com que os mdicos evitem proceder a estas pesquisas est nos Cdigos de tica Mdica da maioria dos pases do mundo, os quais consideram irregular, e portanto passvel de penas que podem chegar cassao do diploma, o uso de prticas teraputicas no referendadas pelos processos rigorosamente cientficos das academias de medicina (o que equivale a dizer, sujeito aos seus preconceitos). No fosse isto suficiente, h srias dificuldades nesta pesquisa. Como diz Jeanne P. Rindge, "Legitimar as curas como paranormais - isto , aceitas fora dos princpios da cincia - mais difcil do que poderia parecer. Uma pessoa enferma no representa uma experincia de laboratrio com todas as variveis, a no ser a que deseja ver removida, e tampouco a situao

exata pode ser multiplicada pelos nmeros suficientes para obter resultados estatsticos. (...) Enquanto houver outra hiptese pendente, no existe nenhuma outra prova incontestvel." 17 Entretanto, a questo " Pode o mtodo de cura mediante a imposio das mos surtir resultados? " ainda incomoda aqueles cientistas mais ousados. Um deles, o Dr. Bernard Grad, do McGill University's Allen Memorial Institute, idealizou uma pesquisa na qual 48 camundongos fmeas, devidamente amansados, tiveram uma quantidade de pele removida das costas. As feridas sofriam medies e pesagens sistemticas durante toda a experincia, projetada para efetuar o acompanhamento de sua cicatrizao. O sujeito testado foi um coronel do exrcito hngaro aposentado, Oskar Estebany. As cobaias foram divididas em trs grupos: " O primeiro foi testado pelo coronel Estebany numa gaiola sobre a palma esquerda de sua mo, enquanto que a direita segurava a parte superior da grade de arame, sem tocar nos animais. O segundo grupo foi tratado de modo idntico, mas no pelo curandeiro. O terceiro grupo recebeu um procedimento semelhante, sem tratamento, porm foi aquecido no mesmo grau daqueles que tinham sido aquecidos ligeiramente pelas mos do curandeiro. isto foi feito para verificar se s o calor aceleraria a cura da ferida." 18 Os resultados obtidos com esta experincia demonstraram cabalmente que as feridas do grupo tratado pelo curandeiro tiveram um coeficiente de cura muito maior que as dos grupos de controle. Os controles aquecidos no tiveram alterao significativa. A mesma experincia foi repetida pela Universidade de Manitoba, com 300 cobaias, obtendo-se resultados consistentes. Descobriu-se tambm que o cel. Estebany tinha o poder de influir no crescimento das plantas apenas tratando a gua com a qual elas seriam regadas, mesmo em condies do mais absoluto controle. Outras pesquisas interessantes utilizaram como agentes um famoso casal de curandeiros norte americanos, Ambrose e Olga Worrall. Num experimento controlado, solicitou-se a eles que mentalizassem no desenvolvimento da germinao de uma planta de azevm, enviando-lhe energia exatamente s 9 horas da noite, no dia 4 de janeiro. Antes que eles iniciassem a mentalizao, a taxa de crescimento do azevm estacionara em 6,25 milsimos de polegada por hora. Exatamente s 9 horas, o coeficiente comeou a elevar-se, at que pela manh atingiu o incrvel ndice de 52,5 milsimos de polegada por hora. Houve um aumento de 840 %, sendo que os curandeiros encontravam-se a uma distncia de 600 milhas do laboratrio. Foram feitas muitas outras pesquisas com este casal, que apresentaram alguns resultados importantes:
Utilizando-se uma cmara de bolhas (ou cmara de condensao), era possvel detectar

formas de onda paralelamente s mos dos pacientes, as quais moviam-se conforme suas mos eram movimentadas, quando numa mentalizao para dentro da cmara.
Solues cprico-clordricas, tratadas pelos curandeiros, mantinham sua cor original verde, mesmo mantidas num ambiente com umidade relativa de 50%, enquanto que as do grupo de controle transmutavam-se para o azul turquesa caracterstico. Em trabalhos com a magnetizao de uma certa quantidade de gua, podia-se observar

uma sensvel reduo na tenso superficial da mesma, bem como uma reduo do teor de hidrognio composto da ordem de 3 %.

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Meek, George W., "As curas paranormais", Ed. Pensamento, cap. 13.
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Estas pesquisas, realizadas principalmente pelo Dr. Robert N. Miller, de Atlanta, Georgia, levaram os cientistas a quatro importantes concluses: 1) Uma energia associada com a cura existe e pode ser medida com instrumentos adequados. 2) A gua que foi tratada por um curandeiro muda a cor da soluo de cristal, proporcionando assim uma indicao da presena desta energia curativa. 3) A gua tratada por um curandeiro muda a tenso superficial, a liga de hidrognio e as propriedades eltricas da gua. 4) Um curandeiro mais eficiente quando num estado consciente de absoluto relaxamento, ou seja, na onda alfa. Entretanto, tais pesquisas, no demonstram cabalmente a possibilidade de uma transmisso energtica de um indivduo a outro, apesar de a fortalecerem sobremaneira. No se demostra o mecanismo de transmisso, e nem mesmo se essa prtica vlida enquanto prtica teraputica.

5- PESQUISAS DO GPCEB:
Em vista da importncia deste tema para o espiritismo, ou ao menos para os centros espritas, o Grupo de Pesquisas Cientficas Ernesto Bozzano (GPCEB), de Santos, projetou e est realizando uma pesquisa terica, objetivando um maior conhecimento dele. Esta pesquisa baseia-se no "mtodo GPCEB", que , na verdade, uma adaptao do mtodo clssico adotado por Kardec, em suas conversas com os espritos, aos dias de hoje. Pode resumir-se nos pontos abaixo:
Realiza-se durante uma reunio de pesquisa medinica, que tem lugar no Centro Esprita

Allan Kardec, em Santos, So Paulo, no qual o GPCEB responde pela Diretoria de Pesquisas. feita s segundas feiras, das 20 s 22 horas, tendo a presena de 4 mdiuns e trs coordenadores, estes ltimos membros do grupo.
Para cada tema escolhido, designa-se um responsvel, o qual ter, como primeira

incumbncia, a realizao de uma pesquisa na bibliografia disponvel, com a conseqente elaborao de um roteiro de questes a serem respondidas pelos espritos.
Durante a reunio medinica, feita uma evocao pelo tema, solicitando-se a presena de algum esprito que deseje colaborar conosco. Normalmente, na primeira reunio de cada roteiro, apresenta-se um dos coordenadores espirituais do trabalho, mais afeitos ao tema em pauta. Todas as reunies de pesquisa so gravadas em fita cassete e / ou em vdeo, a fim de

possibilitar sua transcrio posterior para anlise e discusso, j que praticamente todas as comunicaes do-se atravs de mediunidade psicofnica.
As mesmas questes so feitas a diferentes espritos, comunicando-se atravs de

diferentes mdiuns, a fim de que seja feita uma comparao entre as respostas, evitando-se os problemas que surgiriam da exclusividade.

18

Meek, George W., opus citatus.


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Ao fim da pesquisa, o responsvel elabora um relatrio, ou monografia, a qual divulgada,

primeiramente para a comunidade do centro, e em seguida para toda a comunidade esprita. No que diz respeito ao tema que ora abordamos, a pesquisa ainda encontra-se em andamento, razo pela qual consideramos as concluses e teorias que sero apresentadas no mais que um resultado piloto destas pesquisas. Estas teorias so de um nico esprito, amigo da casa de muitos anos e, segundo suas prprias palavras, coordenador da reunio de passes neste centro. As concluses fornecidas por este esprito podem ser resumidas nos seguintes tpicos: 1) A maioria dos passes dada segundo o conceito de passe misto, isto , uma mescla das energias de ambos, encarnado e desencarnado. O encarnado pode fazer isto sem a ajuda dos desencarnados, mas o contrrio muito mais difcil. Normalmente, quando h atuao do desencarnado sem a presena ostensiva de um doador encarnado, obtida energia de outros encarnados que se encontrem pelo local, ou perto dele. 2) A energia transmitida, notadamente a parte que obtida dos encarnados presentes, uma energia vital, no se diferenciando daquela que se transmite distncia. Uma transmisso que ocorresse sem a presena desta energia vital teria apenas o efeito de uma sugesto, que procuraria efetivar uma mudana no padro mental do receptor, para ento provocar uma autocura. 3) Apesar de a transmisso poder ser realizada em direo a algum rgo especfico do receptor, o mecanismo de absoro obrigatoriamente perispiritual. Para os fins que nos propomos, este termo significa um campo energtico, mais ou menos sutil, formado pela ao do esprito sobre o meio que o cerca. Qualquer recepo de energias feito por este campo, o qual, por estar em contato ntimo com as partes componentes do corpo fsico, influencia-o e sofre influncia dele. Um estado saudvel obtido quando h harmonia energtica entre o corpo e este campo perispiritual. 4) O ambiente onde est sendo efetuada esta transmisso de energias uma mistura das energias dos presentes, em vrios graus energticos, sejam eles encarnados ou desencarnados. dele (ambiente) que so retiradas as energias a serem transmitidas neste processo. Em funo disto, a sala s mantm estas energias enquanto permanecerem nela os doadores, ou seja, durante o processo do passe. Acabado este propsito, as energias dispersam-se. Esta sala recebe, normalmente, um tratamento especial no sentido de protege-la de energias esprias. Isto facilita o trabalho. 5) Os encarnados atuam, fundamentalmente, como dnamos que potencializam a energia do ambiente, dirigindo-a para o receptor. Atuam, desta forma, no s como doadores, mas na verdade comandam o processo, direcionados pelos desencarnados. Em razo disto, fundamental que estejam em boas condies fsicas, e que no dispersem sua ateno. Mas, mais importante que tudo, fundamental que tenha um equilbrio psicolgico suficiente, que seu otimismo, seu estar no mundo seja de alto nvel para que ele possa colaborar efetivamente no trabalho a ser realizado. 6) Quando h, no ambiente, a presena de um doador encarnado com problemas, ele na verdade coloca-se mais no papel de receptor, j que tambm est necessitado daquelas energias. Em funo disto, os desencarnados procuram anul-lo, a fim que ele no prejudique o trabalho realizado.

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7) O resultado do passe, do ponto de vista do receptor, um equilbrio temporrio, benfico, naquele momento, de acordo com o que ele estiver disposto a receber. Para manter este estado, tornando-o mais longo, quase permanente, necessrio que o encarnado mude o seu estado mental, isto , eleve o seu padro vibratrio. 8) A principal interferncia significativa no trabalho de passe a postura de cada um e de todos os que estiverem presentes naquele momento. Considerando que o passe tambm uma tarefa semi-medinica, necessrio que os encarnados abram seu campo mental para permitir alguma atuao por parte dos desencarnados. Em paralelo, necessrio que o doador preparese para o trabalho, participando dele com a clara finalidade de auxiliar seu prximo, no deixando que seus problemas particulares interfiram na sua concentrao. J os fatores ambientais (raios, emisses, luz, barulho, cores, prticas ritualsticas) no interferem na emisso, a no ser de maneira psicolgica, em nvel de irritao ou relaxamento, tanto do emissor quanto do receptor. 9) possvel fazer-se a energizao (fluidificao) da gua, na medida em que ela, sendo um solvente universal, pode alterar-se de acordo com as energias recebidas. Contudo, esta no uma prtica usual, e por isso mesmo no so todos os espritos que, mesmo tendo condies de emitir energias atravs de um passe, saberiam faz-lo de maneira til. Ainda assim, tal energizao momentnea, no tendo sentido algum guardar esta gua para ser utilizada durante algum tempo. 10) A qualificao das energias transmitidas durante um trabalho de passe feita pelos encarnados, pela maneira como eles emitem. No se pode esquecer que a energia transmitida a resultante do conjunto que se forma pelas emisses de todos os que esto presentes naquele ambiente. Assim, o mximo que os desencarnados podem fazer limitar as emisses daquele(s) que no estiver(em) bem, mas este processo tambm no perfeito. 11) No que diz respeito quantidade, o que ocorre na realidade a intensificao do campo energtico formado, em razo da prpria vontade da pessoa de doar sua energia. Essa intensificao , de alguma forma, fsica tambm, j que os rgos dos encarnados so considerados como dnamos. Entretanto, se no houver harmonia no grupo, esta intensificao fica prejudicada. 12) Com relao aos passes aplicados sobre animais e plantas, pode-se dizer que apenas a parcela puramente fsica (vital) da emisso pode, de algum modo, ser absorvida. Sendo os vegetais e animais substancialmente diferentes do homem, no possvel aproveitar de modo completo esta emisso.

6- PROPOSTAS:
interessante observar que, infelizmente, os estudos sobre o passe, ou qualquer outra emisso energtica, no sofreram as atualizaes que poderiam, com os avanos da cincia. Isto, alis, muito comum em todo o meio esprita, o que tem contribudo sobremaneira para o isolamento do espiritismo das fontes vivas da cultura. Especificamente no que diz respeito ao tema em estudo, procuraremos fazer algumas consideraes comparando as teses descritas acima com aquilo que a prtica cientfica trouxe de novo ao mundo. Primeiramente, preciso que faamos uma reviso de toda a terminologia utilizada para exprimir este fenmeno. Com efeito, no mais admissvel que usemos os termos fluido,
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passista, chakras, s para citar alguns, sob pena de no conseguirmos exprimir de maneira clara os conceitos envolvidos. Mesmo a palavra passe, usada universal e historicamente, j pode ser considerada ultrapassada, e at Kardec evitou seu uso. Outro perigo, neste aspecto, a mistura de termos, procurando exprimir algo novo com as mesmas palavras anteriormente utilizadas. Assim, por exemplo, o termo fluido espiritual um paradoxo, j que fluido designa exclusivamente as energias intrnsecas do campo material, incompatveis, portanto, com o adjetivo espiritual. Isto posto, fazemos aqui algumas propostas, no tocante terminologia:
preciso, absolutamente necessrio, acabar de vez com o uso do termo fluido,

substituindo-o por energia, conforme j detalhado em outra monografia, " Relaes matriaesprito: Uma discusso terica ".
interessante substituir o termo passe, talvez por emisso energtica prxima - EEP -

(para diferenci-la da emisso energtica distncia - EED, ou irradiao).


Os doadores de energia tanto podem ser encarnados ou desencarnados. Assim,

conveniente substituir o termo passista ou mesmo fluidoteraputa, por emissor encarnado (EE) e emissor desencarnado (ED).
Apesar de que, normalmente, quem procura o passe o faz devido a algum desajuste fsico ou psquico, no consideramos conveniente o uso de paciente. O termo receptor ajusta-se melhor posio da pessoa neste momento.

Feitas estas sugestes, consideramos fundamental que, para que a EEP perca esse carter de misticismo e ritual que hoje o acompanha, ela passe a ser encarada como uma tcnica de auxlio a pessoas portadoras de qualquer desequilbrio energtico, quer provocando alteraes somticas, quer psquicas. Deste ponto de vista, torna-se imprescindvel que os EE sejam convenientemente instrudos, tanto sob o aspecto terico quanto prtico, a fim de poder realizar do melhor modo possvel esta emisso. Esta necessidade, j alertada por Kardec em alguns textos, foi contudo sistematicamente ignorada, at hoje, pela maioria dos espritas. No entanto, imprescindvel que tal treinamento seja feito com base nos conceitos referendados por pesquisas, e no em opinies pessoais deste ou daquele dirigente, e menos ainda com a incorporao de teorias e tcnicas estranhas. No se deve perder de vista que, sendo uma transmisso energtica realizada de campo perispiritual a campo perispiritual, as nicas influncias significativas neste processo so a vontade de ser til e as condies fsicas e mentais, tanto do EE quanto do receptor. Assim sendo, no h a menor necessidade de efetuar-se uma coreografia especial, a fim de mais facilmente localizar estas energias. Menos ainda necessrio "efetuar uma limpeza psquica" antes de efetivar a emisso. Tambm no h importncia em se manter cruzadas qualquer parte do corpo, tais como braos e pernas. O que importa a postura mental com que se participa do processo. Encerrando, fazemos uma sugesto de como se processa a EEP, no que diz respeito ao seu mecanismo de ao: A componente material do homem formada por um continuum energtico, diferenciando-se cada estrutura pelo seu nvel de energia prprio. Assim sendo, existem energias mais ligadas ao corpo fsico, de nvel mais baixo, as quais so possveis de serem emitidas num processo de EEP para um ou mais receptores. Tais energias so exclusivas dos encarnados que participam
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do processo. Da mesma forma, h energias mais ligadas ao corpo perispiritual, as quais, mesmo possuindo um nvel maior que aquele anterior, tm uma gradao quase infinita, dependendo fundamentalmente daquilo que cada esprito envolvido. Essas energias, tambm passveis de emisso, no so privilgio nico dos encarnados. A unio destas formas energticas caractersticas a cada esprito forma aquilo que se pode chamar o seu campo energtico prprio. Numa reunio de EEP, todos estes campos somamse, formando o campo caracterstico daquela reunio, aquilo que se costuma chamar de "atmosfera". Quando um receptor adentra a sala, o seu campo energtico interage com o campo da reunio, e, atravs da vontade dos EE e ED, estabelece-se um fluxo energtico em sua direo. Na medida em que o receptor permanece com uma postura receptiva, ele abre seu campo energtico prprio a essa interao, e ento ocorre um equilbrio entre os campos, benfico ao receptor. A diferena que se observa entre este tipo de emisso e a EED que, nesta ultima, o campo energtico caracterstico dos encarnados forma um canal de transmisso, atravs do qual so projetadas as energias direcionadas aos diversos receptores. Na EEP, os desencarnados participam ativamente do processo, seja preparando o ambiente onde se realizar a emisso, seja colaborando na formao do campo da reunio, seja incentivando emissores e receptores a colocarem-se melhor, a fim de tornar o trabalho mais produtivo, para uns e para outros. Entretanto, eles sozinhos no podem manter uma reunio deste tipo, conforme j havia postulado Andr Luiz.

7- CONCLUSO:
Pudemos observar, no decorrer deste trabalho, que a EEP um fato real, que pode ser de grande valia como auxlio a todos aqueles que se encontram em diversos estados de desequilbrio, brando ou grave. preciso, porm, remover dele a aura de superstio e misticismo que o envolve, e que pode comprometer no somente este trabalho especfico, mas toda a Doutrina Esprita. Entretanto, observa-se tambm que, por mais que os espritas venham praticando a EEP durante aproximadamente um sculo, muito pouco se sabe do mecanismo que a envolve. A principal razo disto a falta de estudos que, infelizmente caracteriza o espiritismo no Brasil. necessrio, pois que sejam efetivados estudos e pesquisas sistemticos para o esclarecimento deste problema. A nosso ver, tais pesquisas podem ser realizadas utilizando-se o cabedal de conhecimentos que a fsica pe diante de ns, j que estas emisses, caractersticamente materiais, podem muito bem ser exploradas desta forma. Para tanto, preciso que tanto os cientistas quanto as instituies espritas convenam-se desta necessidade, providenciando recursos necessrios, tanto materiais quanto humanos.

REINALDO DI LUCIA

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Perisprito - Uma viso do sculo XX


Reinaldo de Lucia

INTRODUO
O conceito de perisprito foi introduzido por Allan Kardec ao formular a filosofia esprita a partir da observao experimental (de fenmenos fsicos tais como a materializao) e da afirmao dos espritos que possuam um corpo, que lhes permitia identificarem-se como seres individuais que sobreviveram morte do corpo fsico. Essa idia foi rapidamente assimilada pelos pensadores da poca, principalmente por aqueles que assumiram a doutrina esprita, uma vez que respondia a inmeras questes que a prpria cincia ainda deixava em aberto. Em funo disto, muitas funes que deveriam ser atribudas ao esprito, por serem referentes inteligncia do ser, o foram ao perisprito. Isto acabou criando no movimento esprita um conjunto de idias a respeito do tema que, com o avano do conhecimento cientfico em campos como os da fsica, da biologia e da gentica, apresentam-se hoje ultrapassados. Ao mesmo tempo, tal conjunto de idias usado como suporte para a manuteno de conceitos errneos sobre as bases filosfica do espiritismo. O propsito deste trabalho a partir de um histrico sobre as idias que levaram ao desenvolvimento do conceito perisprito e da avaliao da evoluo do pensamento cientfico desde o incio deste sculo XX, analisar criticamente os postulados de diversos autores espritas sobre o tema (encarnados e desencarnados) e propor um novo modelo terico, a ttulo de hiptese, para a.natureza; formao, propriedades e funes do perisprito. A inteno mais ampla que uma melhor compreenso sobre este assunto possa clarear alguns outros temas polmicos da doutrina esprita, tais como as emisses, energticas, as curas espirituais e paranormais, as relaes entre espritos encarnados e desencarnados, o problema da obsesso e os diversos gneros de comunicaes medinicas. Prope-se que inicie-se um debate em todos os setores da comunidade esprita sobre o tema,visando o fortalecimento dos novos conceitos.

1- Novos conceitos da fsica


de fundamental importncia que conceitos do campo da fsica, alguns deles trazidos luz pela chamada fsica moderna (desenvolvida aps a morte de Kardec) sejam, ainda que superficialmente, compreendidos. Isto porque, de acordo com a teoria que se pretende apresentar neste trabalho, algumas das idias de Kardec sobre o perisprito podem sofrer sensveis modificaes a partir do desenvolvimento destes conceitos. O primeiro deles o de energia. No sculo XX, tornou-se muito difcil prover uma nica definio de energia, que seja abrangente e independa do campo de estudo. A definio tradicional, de energia como a capacidade de realizar trabalho, restrita parte da fsica conhecida como Mecnica. Como diz o prof. Alberto Ricardo Prss:
Usando apenas a experincia do nosso cotidiano, poderamos conceituar energia como algo que capaz de originar mudanas no mundo. 1
1

Este conceito de importncia capital para este estudo do perisprito. importante frisar que, desde que Einstein popularizou a clebre frmula da interrelao entre matria e energia (E=m.c2),o termo energia tornou-se cada vez mais conhecido e empregado, muitas vezes sema devida ateno idia que (ou deveria ser) expressa por esta palavra. No movimento esprita, o termo energia muitas vezes empregado para designar uma quantidade qualquer de fora que pode; de algum modo, atuar sobre o corpo o perisprito ou o esprito, para a cura de doenas e outros fenmenos semelhantes. bastante comum o uso da expresso energias espirituais, que deve ser acompanhado de um grande cuidado: lembrar-se que energia matria. Se com esta expresso se quiser denominar um grupo de energias distintas daquelas que so caractersticas da matria mais densa (como, por exemplo, o corpo fsico-), seu uso possvel. Mas, apesar de estas energias serem acionadas pela vontade do esprito, que as pode manipular a seu critrio, elas no so parte do esprito, no participam de sua essncia; enfim so partes constituintes do princpio material. Para efeito deste trabalho, adotar-se- a definio descrita acima: energia alguma coisa capaz de provocar transformaes no mundo, seja este o mundo corpreo ou incorpreo. Outro conceito fsico importante o de campo. Campo pode ser definido com e uma rea ao redor de um objeto, na qual uma interao eletro magntica ou gravitacional exercida sobre outros objetos; o que se poderia chamar de um lugar geomtrico. Apesar de o conceito de campo ter sido usado pela primeira vez por Isaac Newton, em sua teoria da Gravitao Universal, e j ser empregado por Faraday em meados do sculo XIX para explicar foras eletromagnticas, foi com Maxwell, um fsico escocs da mesmo sculo, que o conceito de campo tornou-se fundamental na teoria eletromagntica (como lanamento do Tratado sobre a eletricidade e o magnetismo, em 1873), tende sido empregado de modo amplo na fsica moderna do sculo XX. A fora de um campo, ou seja, a quantidade fsica medida no espao ao redor do objeto que lhe d origem depende fundamentalmente de dois parmetros: o valor da quantidade fsica do objeto e a sua distncia do ponto de medio. No caso de um campo eletromagntico, por exemplo, o objeto que origina o campo uma carga eletromagntica pontual, e a fora tanto maior quanto maior for o valor da carga e tanto menor quanto maior fora distncia dela.

objeto

campo

Com a comprovao experimental da teoria dos campos, a fsica percebeu que o termo fora, at ento usado para definir a ao exercida por um corpo sobre outro era inadequada, uma vez que d a idia de um objeto a gente (ou seja, aquele que efetivamente exerce a ao, ativo) e um que, inerte, limitar-se-ia a receber esta influncia. O que ocorre na verdade uma ao recproca de um corpo sobre o outro. O termo mais empregado hodiemamente interao, que exprime melhor o conceito fsico.

Importantes, tambm, so os conceitos ligados mecnica ondulatria. Um dos modos pelos quais a energia e a informao so transmitidas de um dado ponto a outro no Universo so as ondas, as quais podem ser representadas como segue:

O ponto mais alto de uma onda chama-secrista, e o mais baixo, vale. A distncia entre duas cristas consecutivas chamada de comprimento de onda (1), e uma das caractersticas fundamentais da ondulatria. Juntamente coma freqncia, ou seja, o nmero de cristas por unidade de tempo, e a amplitude, a distncia entre uma crista e um vale consecutivos, caracterizam qualquer onda:"

Matematicamente, a relao entre a freqncia e o comprimento de onda inversamente proporcional:

Os conceitos de freqncia, comprimento de onda e amplitude, aliados aos de energia e campo, sero) fundamentais para o entendimento do perisprito em bases cientificas atuais.

2 - Histrico de um envoltrio da alma


A crena em uma alma imortal to antiga quanto as civilizaes humanas. Talvez porque o homem via seus mortos em sonhos, ou porque aparies destes mesmos mortos, mesmo em viglia, acontecessem, o fato que as idias absolutamente materialistas da morte como fim de toda a individualidade so bastante recentes, tendo-se firmado apenas na Idade Contempornea. Este fato corroborado pelas pesquisas arqueolgicas que mostram perodo megaltico (a chamada Idade da Pedra Polida). O homem tinha o costume de sepultar seus mortos com armas e pertences. Posteriormente, as civilizaes que deixaram algo escrito confirmam, todas elas, esta concluso. To antiga quanto a crena na alma imortal a crena de que esta possui um envoltrio, um tipo de "segundo corpo" que, de alguma forma, acompanha-a permanncia no alm. Em

muitas civilizaes antigas esta idia permanece. Entretanto em algumas delas, este conceito difere frontalmente daquilo que entendemos hoje, por um mero envoltrio. Na ndia, por exemplo. O bramanismo fala de um "corpo sutil", chamado suksmasarira. Este corpo, porm, no um mero envoltrio, como se fosse uma roupa que seria usada por uma alma. Nesta filosofia, o verdadeiro Eu, que constitui a individualidade, a essncia de tudo o que somos ou sabemos, chama-se atman, ou brahma. Este Eu fica envolto pelo corpo sutil (suksma-sarira), que e composto pelos elementos pertencentes esfera mutvel da psique, ou seja, os pensamentos, emoes, sentimentos e percepes, Finalmente, h o corpo denso "nervos e rgos tangveis que so os receptculos e veculos do processo vital manifestado.2 Como se pode perceber, o conceito de corpo sutil do bramanismo difere essencialmente daquele de perisprito adotado tradicionalmente pela doutrina esprita. Tais conceitos orientais so, via de regra, de muito difcil compreenso pelas mentes ocidentais, razo pelas quais so, normalmente, bastante deturpados. Tambm no Egito h registros desse envoltrio:
O corpo, dizia o egpcio, era habitado por um duplo de nome Ka, e tambm por uma alma que pousava no corpo como um passarinho na rvore. Todos trs corpo - Ka e alma sobreviviam morte, enquanto o cadver no desaparecesse na dissoluo.3

Segundo Dellane4, tais crenas num envoltrio da alma permeiam todo o mundo antigo. Na China antiga, Confcio dizia que (...) a essncia dos Koci-Chin (espritos diversos) no pode deixar de manifestar-se sob uma forma qualquer. O Zoroastrismo persa fala dos ferers que, sem serem propriamente um envoltrio, posto que possuam uma certa inteligncia independente, estavam, cada um, destinados a um ser humano. A cabala judaica chama de Nephesh o corpo fludico do principio pensante. Na Grcia tambm disseminava-se a idia de um envoltrio da alma:
O claro gnio dos gregos percebeu a necessidade de um intermedirio entre a alma e, o corpo. Para explicar a unio da alma imaterial com do corpo terrestre, os filsofos da Hlade reconheceram a existncia de uma substncia mista, denominada Ochema, que lhe servia de envoltrio e que os orculos denominavam o veculo leve, o corpo luminoso, o carro sutil. Falando daquilo que move a matria, diz Hipcrates que o movimento devido a uma fora imortal, ignis a que d o nome de enormon, ou corpo fludico.5

Na mais conhecida Tradio do misticismo que se disseminou no Ocidente, a Teosofia, o homem possui sete corpos: o fsico, o astral, o mental, o bdico, o nirvnico, o paranirvnico, e o mahaparanirvnico6, cada um com suas atribuies especificas. Alguns ainda descrevem um corpo etrico, que seria o campo vital associado ao corpo fsico, e que poderia ser visto pelos clarividentes como uma espcie de aura7.

3 - A posio do espiritismo
Todas estas crenas de um envoltrio, um corpo para a alma de alguma forma influenciaram Kardec quando da elaborao do espiritismo. Assim, numa das perguntas do Livro dos Espritos, Kardec informado que o esprito
"tem a envolv-lo uma substncia, que vaporosa para ti, mas bastante grosseira para ns8
4

Sendo um homem de esprito cientifico, Kardec foi buscar na cincia o nome para tal envoltrio, chamando-o de perisprito, semelhana do perisperma que envolve as sementes dos frutos. As principais idias desenvolvidas por Kardec sobre o perispirito nada falam sobre a constituio da energia de que composto, mas atenta principalmente para suas funes e propriedades. Resume-se no seguinte: O perispirito o liame que, no homem, liga o Esprito ao corpo fsico. Tem por funo agir como intermedirio entre eles:
"O liame ou perispirito que une corpo e Esprito uma espcie de invlucro semimaterial. A morte a destruio do invlucro mais grosseiro. O Esprito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etreo, invisvel para ns no seu estado normal, mas que ele pode tornar acidentalmente visvel, e mesmo tangvel, como se verifica nos fenmenos de apario.9

Tal envoltrio tomado do fludo universal de cada globo, no sendo assim o mesmo em todos os mundos. Quando os Espritos de mundos superiores vo aos inferiores, revestem-se da matria prpria deste ltimo. Toma qualquer forma, ao arbtrio do Esprito. Vem de Kardec a conceituao do perispirito como um elo intermedirio entre o corpo fsico e o esprito, indispensvel tanto para fazer o esprito agir, sobre quanto para que aquele receba as impresses experimentadas por este. Esta idia tomou tal forma em todo o movimento esprita brasileiro que, pode-se dizer, o nico motivo que os espritas acham para a existncia do perispirito. Mas em nenhum ponto de suas obras Kardec refere-se ao perisprito como algo diferente da matria. Deve-se lembrar que, para a teoria esprita. O Universo compe-se nica e dualmente de dois princpios bsicos: o esprito, inteligente e responsvel por todos os fenmenos intelectivos, e a matria, inerte do ponto de vista da conscincia e sujeita ao do esprito responsvel pelos fatos orgnicos, inclusive a vida: DEUS

Esprito

Matria

Dentro deste esquema, o perisprito aparece diretamente ligado matria. Como um produto da matria bsica, ou, no dizer de Kardec, uma modificao do fludo universal.
"Posto que invisvel para ns em estado normal, o perispirito no deixa de ser matria etrea.10 Jamais o Espiritismo confundiu a alma com o perisprito, que no passa de um invlucro, como o corpo um outro. Tivesse ela dez envoltrios, isto nada tiraria de sua essncia imaterial.11

Ainda que matria, o perisprito, segundo Kardec, absolutamente penetrvel, isto , nenhuma matria lhe oferece obstculo; ele atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.12
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Uma segunda funo primordial do perisprito, segundo Kardec, a de servir como evidncia da manuteno da individualidade para o esprito desencarnado: P Como a alma constata a sua individualidade, se j no tem mais o corpo material? R Tem fluido que lhe prprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparncia de sua ltima encarnao: seu perisprito. 13 Assim que o esprito, mesmo no possuindo mais o corpo fsico, e mesmo estando acostumado a ver-se com uma forma determinada, pode perceber-se existindo, a aprtir da evidncia formal que lhe fornece seu perisprito. Finalmente, uma ltima funo bsica do perisprito, conforme Kardec, a de servir como meio s manifestaes medinicas, notadamente quelas de ordem fsica, como as materializaes, as aparies e os fenmenos de transporte. Isto se deve propriedade que possui o perisprito de tornar-se tangvel, no dizer dos espritos por condensao, e tambm de somar-se aos fludos (energias) caractersticos dos encarnados, possibilitando a movimentao de objetos materiais inertes.14 Depois de Kardec, muitos pensadores espritas, desde seus continuadores mais diretos at alguns escritores do final do sculo XX (encarnados ou desencarnados) acrescentaram mais algumas propriedades ao perisprito. Dentre estes, destacam-se, na-quilo que interessa a este estudo: Gabriel Delanne, Hernani Guimares Andrade e AndrLuiz. Dentre todos os continuadores do pensamento de Allan Kardec, Delanne o que maior importncia atribui ao perisprito. Provavelmente, isto se d na medida em que de grande dificuldade para qualquer pessoa adepta do positivismo aceitar que o Esprito, este ser imaterial e, para muitos, puramente abstrato, possa ser o princpio de todas as manifestaes intelectivas do homem. Assim, ele vai atribuir ao perisprito uma gama significativa de funes relativas organizao ou mesmo s capacidades inteligentes do ser humano. As principais f1mes cujas bases so por ele atribudas ao perisprito so sumariamente descritas abaixo. Primeiramente, temos a formao do corpo fsico. Delanne depara-se com o pro-blema de explicar como o corpo fsico pode ser formado com tantos detalhes e reconstrudo, com a mesma semelhana, sempre que certas partes so destrudas. Lana mo ento da explicao perispiritual:
"A fora vital por si s no bastaria para explicar a forma caracterstica de todos os indivduos, e tampouco justificaria a hierarquia sistematizada de todos os rgos, sua sinergia em funo de um esforo comum, visto serem eles, simultaneamente, autnomos e solidrios. Neste ponto que incide o ascendente da interveno do perisprito, ou seja, de um rgo que possua as leis organogenticas, mantenedoras da fixidez do organismo, atravs de constantes mutaes moleculares 15

O perisprito ento, em sua opinio, o modelo fludico, o molde que servir para construir o corpo fsico. Como veremos, esta tambm a opinio de Hernani Guimares Andrade, atualizando o raciocnio a partir de recentes descobertas cientficas. A grande preocupao deste pensador, para atribuir ao perisprito o papel de molde do corpo est na explicao da forma. Enquanto que ele podia perfeitamente admitir uma fora
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vital primria idntica para todos os seres vivos, desde a planta at o homem, pressupunha que deveria existir uma outra fora que diferenciasse as muitas espcies no que tange sua forma. Essa fora seria o perisprito. Em segundo lugar, Delanne d ao perisprito um papel psicolgico fundamental. Para ele, o perisprito a base da memria do homem, a qual, por sua vez, fundamental para a assegurao contnua de sua identidade. Ele baseia esta opinio sobre a idia que, mais que qualquer outra clula do corpo humano, as do crebro so substitudas rapidamente, o que impossibilitaria a manuteno, neste rgo, da memria:
O crebro, porm, muda perpetuamente, as clulas dos seus tecidos so incessantemente agitadas, modificadas, destrudas por sensaes vindas do interior e do exterior. Ai/ais do que as outras, essas clulas submetem-se a uma desagregao rpida, e, num perodo assaz curto, so integralmente substitudas.16

Partindo do princpio acima descrito; o eminente pensador esprita debita ao perisprito a funo da memria, j que esta no poderia ser unicamente do corpo. Em sua tese, qualquer fato guardado pela memria registrado no perisprito. Quando uma clula cerebral morre, substituda por outra formada pelo mesmo perisprito, que lhe imprimir, qual disco gravado por uma matriz, as mesmas impresses que ele prprio guarda. Fica assim resguardada a memria. Idias semelhantes a essas so igualmente defendidas por Leon Denis e Gustave Geley, em vrios dos seus livros, o que nos d a impresso que eram bastante difundidas no meio esprita poca - apesar de no terem sido defendidas por Allan Kardec em sua obra. A principal tese de Hernani Guimares Andrade sobre o perisprito aproxima-se bastante de algumas daquelas defendida pelos autores anteriormente citados - a de que este uma espcie de molde do corpo fsico. Entretanto, a base de sua teoria repousa (diferentemente de Delanne) no no problema da reconstruo do organismo, mas na aparente violao do Segundo Princpio da Termodinmica pela origem e evoluo da vida. O Segundo Princpio da Termodinmica (ou Lei de Carnot-Clausius) prev que num sistema termodinamicamente isolado, a quantidade de entropia (ou grau de desordem do sistema) aumenta continuamente. Ou seja, nestes sistemas, se no houver nenhum tipo de ao organizadora, haver uma homogeneizao cada vez maior dos seus elementos, misturando-se e aumentando a desordem do sistema. Ora, o processo de evoluo da vida a partir de elementos no vivos, aparentemente, um processo neguentrpico, isto , em que h diminuio da desordem - o sistema vai se organizando cada vez melhor, desde elementos mais simples (por exemplo, seres unicelulares) at organismos altamente complexos, como o homem. A concluso de Hernani Guimares Andrade que, para que a vida pudesse ter acon-tecido e continuasse a manter-se e evoluir, necessria a presena de um elemento organizador. Hernani chama este elemento de MOB (Modelo Organizador Biolgico) e postula que este papel seria do perisprito. Assim, para este autor, o perisprito possui um papel de informador, isto , o elemento
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que prov o corpo da informao necessria para sua constituio e desenvolvimento. Assim que, alm de Modelo Organizador Biolgico, Andrade chama-o tambm de domnio informacional histrico, onde a informao provida acumulada ao longo do tempo entre muitas encarnaes. Pouco acrescentam os espritos desencarnados sobre o tema. Tanto Andr Luiz quanto Emmanuel, os mais lidos dentre eles, admitem para o perisprito as mesmas funes de Kardec e Delanne. Emmanuel chega a afirmar que:
"O corpo espiritual no retm somente prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa fora plstica da vida, a qual opera a oxidao orgnica; tambm ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligncia e, sobretudo, o santurio da memria, em que o ser encontra os elementos comprobatrios de sua identidade, atravs de todas as mutaes e transformaes da matria."17

Andr Luiz foca a importncia do perisprito na origem do corpo fsico, bem como na manuteno de sua sade ou no desenvolvimento de algumas doenas. Para ele, o perisprito, ou corpo espiritual, ou ainda psicossoma, possui clulas e rgos que daro origem ao corpo fsico:
"Todos os rgos do corpo espiritual, e, conseqentemente, do corpo fsico, foram, portanto, construdos com lentido, atendendo-se necessidade do campo mental em seu condicionamento e exteriorizao no meio terrestre "18 "Com o transcurso dos evos, surpreendemos as clulas como princpios inteligentes de feio rudimentar, a servio do princpio inteligente em es-tgio mais nobre nos animais superiores e nas criaturas humanas, renovando-se continuamente no corpo fsico e no corpo espiritual, em modulaes vibratrias diversas, conforme a situao da inteligncia que as senhoreia, depois do bero ou depois do tmulo."19

Em resumo, as principais idias sobre o perisprito expostas por estes eminentes pensadores, e ainda hoje bastante difundidas no movimento esprita so: O perisprito um envoltrio do esprito, que o acompanha desde sua criao, e, portanto, pr-existe ao nascimento e sobrevive morte do corpo fsico. composto de matria, porm em nvel diferente daquela a que os encarnados esto acostumados. Kardec afirma ser uma matria quintessenciada, obtida por modificao direta do fluido csmico (que a matria primordial), contendo ainda elementos do princpio vital e mesmo de componentes fsicos e eletromagnticos. Sua composio energtica tanto mais densa, ou menos sutil, quanto menos evoludo (dos pontos de vista intelectual e moral) for o esprito. Com a evoluo deste, vai-se tornando mais sutil (ainda que no se saiba ao certo o que isto significa fisicamente), mas sempre acompanha o esprito. totalmente sujeito vontade do esprito, que pode plasma-Io a seu gosto e dar-lhe a forma que desejar. Serve como elemento de ligao entre o esprito e o corpo fsico, uma vez que um e outro no podem interagir diretamente devido diferena estrutural entre ambos. o elemento que possibilita a manuteno de uma forma para o esprito desencarnado, e, assim, permite que este possa identificar-se como uma individualidade.
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o princpio fundamental das manifestaes medinicas, em especial daquelas caracterizadas como efeitos fsicos. o molde do corpo fsico, uma forma que conteria os elementos informacionais que permitiriam sua formao e manuteno. Esta funo tambm a nica forma de adequar o surgimento da vida Segunda Lei da Termodinmica. a sede dos sentimentos e das faculdades, notadamente da memria. Por vezes, apontado como sede da inteligncia. Possui rgos e clulas, como o corpo fsico. Este, alis, uma cpia daquele.

4 - Crtica s idias espritas


Muitas das idias anteriormente expostas so passveis de contestao e constituem, minimamente, uma desatualzao em relao aos avanos do conhecimento humano. Faz-se, portanto, necessria uma anlise crtica delas e o desenvolvimento de uma nova hiptese que seja mais adequada aos problemas e observaes atuais. A afirmao que o perisprito um envoltrio para o esprito tirada diretamente da observao que os espritos desencarnados tm de si mesmos. Kardec, ao querer in-formar-se sobre a vida no mundo esprita, pergunta se esses espritos possuem um envoltrio ou se vivem" a descoberto" (O Livro dos Espritos, perg. 93), ao que os espritos respondem ter um envoltrio. A denominao perisprito, como j dissemos anteriormente, fruto de analogias que Kardec (e no os espritos) fazem com elemen-tos da cincia. Tambm no causa dvida a afirmao que o perisprito pertence ao elemento material do Universo. No dizer de Kardec, composto da quintessncia da matria20. Entretanto, o conceito de matria sofreu modificaes profundas desde a poca em que o espiritismo veio ao mundo. assentado nestas modificaes que se prope neste traba-lho um novo modelo (ou, ao menos, um novo entendimento) do perisprito. Tambm da experincia direta obtm-se a informao que o perisprito pode ser modificado em forma de acordo com a vontade do esprito. Muitos mdiuns videntes tm relatado estas modificaes, assim como pesquisadores em experimentos de materializao. Entretanto, esta observao leva a uma concluso interessante: a de que o esprito pode atuar sobre o elemento material diretamente. preciso, ento, rever a idia, fortemente disseminada em todo o movimento esprita, de que esprito e matria no interagem por serem de essncias distintas. Esta ltima idia leva um nmero grande de espritas a interpretar o termo semimaterial, empregado por Kardec para referir-se ao perisprito, como sendo um terceiro elemento universal, que participaria de ambas as naturezas (de esprito e matria) e, assim, permitiria a ligao entre ambas. No h respaldo nenhum para esta interpretao. Kardec foi claro quando postulou um sistema dualista completivo para a filosofia esprita, isto , formado de duas e s duas substncias essenciais em mtua e incessante interao. Nesta mesma linha de raciocnio, parece estranha a afirmao que o perisprito deve servir de elo de ligao, ou lao que prende o esprito matria. Se assim fosse, porque os desencarnados, dotados de perisprito, no conseguem mover objetos sem o concurso de um mdium?
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O problema est no modo de pensar da cincia do sculo XIX. Esta cincia discreta, ou seja, pensa o Universo, macroscopicamente, em elementos distintos e estanques, ligados entre si por algum tipo de meio fsico. Assim, o perisprito seria um ente particular, perfeitamente definido em si mesmo, que serviria de meio entre dois elementos, o esprito inteligente e a matria bruta. A cincia do sculo XX quebrou estes dois conceitos: mostrou que, apesar de no mbito das partculas subatmicas as energias serem trocadas em quantidades determinadas, ou "pacotes" fechados, e existirem "saltos qunticos" que afetam drasticamente as partculas, no mundo macro h um desenvolvimento contnuo da matria no que tange, por exemplo, s freqncias envolvidas, nos nveis em que possvel a deteco pelos equipamentos disponveis. E mostrou tambm que no so necessrios quaisquer meios para transmisso de energia ou informaes distncia no espao-tempo (a luz, por exemplo, transmite-se no vcuo). Parece ento mais lgico postular o perisprito como uma continuao energtica da matria, como ser descrito adiante. No tambm muito claro o papel do perisprito nas comunicaes medinicas. Claro que, estando indissoluvelmente ligado ao esprito e sendo responsvel por dar-lhe uma forma, o perisprito atua nas manifestaes fsicas. Entretanto, se a comunicao medinica classificada como manifestao inteligente (a psicofonia ou a psicografia, por exemplo) uma transmisso mente a mente (equivale a dizer, de esprito a esprito), que, como vimos, no precisa de intermedirios, essa funo de perisprito necessita ser revista. As trs ltimas idias apresentadas pelos pensadores descritos parecem as mais problemticas, ainda que se possa dar uma explicao vivel do porque elas apareceram. A primeira a do perisprito como molde do corpo fsico. As principais tentativas neste sentido foram feitas para resolver um problema srio que a cincia j enfrentava desde a antiguidade, qual seja, o de como possvel; a formao de um ser to complexo a partir, aparentemente, da unio fortuita de elementos materiais, sem que existisse algum organizador para estes elementos. Ocorre que a ltima metade do sculo XX trouxe significativos avanos no entendimento do modo como a matria orgnica estrutura-se e transmite as informaes necessrias para sua manuteno. Os avanos da gentica, iniciados com o descobrimento dos cidos nuclicos e de sua estrutura, e que atingiram o auge com o Projeto Genoma (estudo de mapeamento dos genes humanos) forneceram e continuam fornecendo explicaes cada vez mais precisas sobre o organizao corporal. Criou-se, uma nova disciplina, a Engenharia Gentica, especializada em estudar tcnicas de modificao destas caractersticas, alterando as funes, propriedades e aparncias de rgos, vegetais, etc. Ao mesmo tempo, estudos de biologia celular e aplicaes mdicas destes avanos, como no caso das intervenes diretas sobre rgos doentes, atravs de terapias qumi-cas ou de transplantes, mostraram definitivamente que a prpria matria tem, sim, condies de auto gerenciamento, sem a necessidade de um organizador extrnseco a ela. A questo dos estudos termodinmicos da vida ainda no esta perfeitamente equacionada, mas uma srie de grandes cientistas, e no s da rea biolgica, como o fsico austraco Erwin Schrdinger (Prmio Nobel de Fsica de 1933) tm feito srias restries s dificuldades da
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vida em relao entropia. Este um campo ainda aberto, com muitas possibilidades a serem estudadas. Mais difcil ainda sustentar o perisprito como sede de faculdades racionais ou emocionais, como a memria, as sensaes ou a inteligncia. Tais funes intelectivas so, consoante a filosofia esprita, de competncia exclusiva do esprito, uma vez que s ele possui inteligncia. Sendo o perisprito matria, ele no poderia participar destes processos. A argumentao de Delanne, neste aspecto, perdeu muito da fora quando se demonstrou que as clulas do crebro no se modificam com o passar dos anos, sendo as nicas no organismo incapazes de regenerarem-se - uma vez destru das, perdem-se para sempre. Claro est que os estudos das relaes mnemnicas no crebro e da permanncia das lembranas aps o fim da vida crporal encontram-se longe de estarem completos. As relaes entre o esprito e o crebro um dos temas mais fascinantes da cincia esprita, e um dos menos estudados. Finalmente, a idia da existncia de rgos no perisprito tambm parece estranha, j que eles so estruturas organizadas que servem apenas para a manuteno da vida fsica. Provavelmente, esta idia surgiu como suporte funo do perisprito de organizador biolgico. Em no se admitindo esta, aquela deixa de ter importncia.

5 - Proposta: uma nova viso do perisprito


Mas, se o modelo terico do terico do perisprito tal qual apontado acima j no satisfaz as modernas concepes cientficas, necessria a proposio de um novo modelo, ainda que como uma hiptese, mais coerente. que se procurar fazer. Este novo modelo baseia-se, cientificamente nos conceitos fsicos anteriormente explicados. Filosoficamente, parte do dualismo esprito-matria, e da contnua interrelao existente entre eles. As essncias dos princpios material e espiritual, criados por Deus para formar o Universo, so apenas conceitos fundamentais, sem existncia fsica real. Ocorre que estas essncias individualizam-se, formando os diversos entes que compem o Universo real. Estas individualizaes que forma os espritos imortais a que nos referimos quando tratamos com os desencarnados: DEUS Esprito Matria

Espritos individuais

Espritos individuais

As individualizaes do princpio inteligente (que aqui chamaremos de Espritos, com maiscula, seguindo a nomenclatura de Kardec) esto sempre e incessantemente interagindo com diversas formas de matria. Isto ocorre graa peculiar constituio do Universo
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(segundo os fundamentos da filosofia esprita), em que s pode haver evoluo a partir desta interao. exatamente isto que o espiritismo quer dizer quando afirma que o Esprito tem experincias em todos os reinos da criao. Esta afirmao costuma ser entendida como se o Esprito "encarnasse" numa rocha ou numa montanha, com todas as dificuldades lgicas que da resultam. Na verdade, o que ocorre que o Esprito, em contato ntimo com diversos tipos de matria, aprende com todas estas interaes. Mas, se a matria essencialmente uma s, (aquilo que Kardec chama de fluido csmico ou fluido universal), convenientemente modificada para adquirir as diversas propriedades funcionais nos diversos graus em que ela apresenta-se, ento deve ocorrer um continuum material que vai da matria mais "bruta" quela mais "sutil". Alguma das propriedades da matria (como, somente a ttulo de exemplo, a freqncia) deve apresentar um gradiente que diferencie estes diversos tipos de matria. O perisprito pode ser, ento, formado por esta mesma matria numa dada condio de freqncia, que, atualmente, no conseguimos captar com nossos equipamentos nem nossos sentidos, Quanto mais evoludo o Esprito, tanto mais elevada a freqncia desta matria, e mais depurado o perisprito. Neste modelo, a matria que compe o perisprito (na verdade, um tipo de energia) perfeitamente integrada com a matria "densa", podendo, assim, interagir com partos dela. Da mesma forma, por ser muito mais sutil, perfeitamente suscetvel de ao direta pelo Esprito, que pode mold-la segundo sua vontade. O Esprito age como se fosse (numa analogia grosseira) uma carga. Tal como uma carga eltrica cria em torno de si um campo eletromagntico, o Esprito cria em torno de si um campo, que, falta de nome melhor, poderia ser chamado de campo espiritual:

Esprito

Campo espiritual

Este campo espiritual o lugar geomtrico onde aglutinam-se as energias que constituem o perisprito. Este no seria, ento, um corpo, um organismo propriamente falando, mas um aglomerado energtico-material em constante interao com o esprito. Encarado sob este novo modelo, o perispirito passa a ter propriedades e funes mais adequadas aos conceitos atualmente aceitos pela cincia, sem descaracterizar as funes principais que lhes foram atribudas por Kardec: Permite ao Esprito adquirir experincias que lhe so absolutamente necessrias para seu progresso intelectual. Age como individualizador dos Espritos desencarnados, dando-lhes uma forma que lhes permita, especialmente em estgios menos avanados do processo evolutivo, seguir aprendendo e atuando. Pode ser modificado segundo a vontade do Esprito.
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Age durante a encarnao, permitindo que o esprito consiga uma unio perfeita Com a matria mais densa que compe o corpo fsico. Poder-se-ia dizer que, de certa forma, um intermedirio entre o corpo fsico e o esprito. A diferena ser um intermedirio estruturado como um continuum da prpria matria corporal, sob a forma energtica, e no algo completamente distinto dela. Tem papel importante nas manifestaes medinicas de efeitos fsicos, tais como materializao. Sua atuao nas manifestaes inteligentes ainda precisa ser estudada. Recebe a influncia de energias externas, vindas normalmente de outros Espritos. sejam elas benficas ou no. No possui a funo de transmissor de sensaes do corpo para o Esprito ou de ordens no sentido inverso. Da mesma forma, no tem nenhuma atuao sobre a memria ou a inteligncia. No possui rgos nem nenhuma constituio semelhante, que so exclusivas do corpo fsico. Modifica-se de acordo com as necessidades e capacidades do Esprito, mas no obrigatoriamente em mundos distintos (h de se verificar a questo da isotropia material do Universo).

Referncias:
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PRSS. A. R. Curso de Energia Mecnica. Disponvel no site htp://fisica.net/cursos/emec/emec.html cpia em papel datada de 16/03/99 ZIMMER, H. Filosofias da ndia, p. 63. DURANT, W Histria da Civilizao, tomo 1 p, 212. DELLANE, G. A alma imortal, pp, 18 a 38. Idem, Ibidem, p. 28. LEADBEATER, C. W. O homem visvel e invisvel um estudo das variaes da aura dos diferentes indivduos, p. II. BENDIT L. J. e BENDIT P. D. O corpo etrico do homem a fonte da conscincia, p. 15. KARDEC, A. O livro dos Espritos. pg. 93. Idem, Revista Esprita Jornal de estudos psicolgicos, 1864. pg. 108. Idem, Ibidem, 1863, p. 172. Idem, Ibidem, 1858, p. 336. Idem, O livro dos Espritos. perg. 150-a. Em alguns trechos de sua obra, Kardec refere-se ao perisprito como princpio da vida orgnica, o que leva algumas pessoas a considerar que Kardec atribua a vida presena do perisprito. Na verdade, Kardec, vitalista que era, postulava a existncia de um fluido vital, modificao da matria bsica universal que animaria a matria. Este fluido estaria tambm na composio do perisprito, da a referncia a este como princpio da vida orgnica. Entretanto, um olhar geral sobre a obra mostra que Kardec admitia a vida sem a presena de esprito, e portanto, tambm sem um perisprito. DELANNE, G. A evoluo anmica, p. 38. Idem, ibidem, p. 47. EMMANUEL, Dissertaes medinicas (psicografia de Francisco C. Xavier), apud JORGE, J. Antologia do Perisprito, p.160. LUIZ, A. Evoluo em dois mundos (psicografia de Francisco C. Xavier), p. 40. Idem, ibidem, p. 42. O termo quintessncia, nesta acepo, significa algo que atingiu o mais puro grau. A quintessncia da matria , assim, a pura essncia do elemento material, ou seja, o prprio fluido universal que constitui a matria bsica do Universo.

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XVIII CONGRESSO ESPRITA PAN-AMERICANO

AGENDA ESPRITA:
Identificando antigas e novas demandas para atualizar o Espiritismo

Autor:
Ademar Arthur Chioro dos Reis

OUTUBRO 2000

AGENDA ESPRITA:
Identificando antigas e novas demandas para atualizar o Espiritismo
Autor: 1 Ademar Arthur Chioro dos Reis Colaboradores:
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Sandra Regis Nelson Melchior dos Santos Junior

INTRODUO
Por que os Espritos no ensinaram em todos os tempos o que ensinam hoje? No ensinais s crianas o que ensinais aos adultos, e no dais para um recm-nascido um alimento que ele no possa digerir; cada coisa em seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens no compreenderam ou desnaturaram, mas que podem compreender atualmente. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que vai frutificar hoje. (Livro dos Espritos, Livro III, cap. VIII, questo 801, pg. 312)

O Espiritismo uma doutrina profundamente abrangente, fundada por Allan Kardec dentro de um contexto histrico determinado, mergulhado em seu tempo - o sculo XIX - pautado pelo embate entre diferentes concepes filosficas, cientficas, ideolgicas e religiosas que se degladiavam na compreenso da realidade e na produo de verdades possveis aos limites do conhecimento daquele perodo. Foi construdo por Kardec a partir das perquiries e problemas de uma determinada poca e dos limites impostos pelo mtodo utilizado (a mediunidade), entre os quais destacam-se fatores relacionados aos mdiuns, aos Espritos que com ele colaboraram, linguagem, ao conhecimento cientfico e tecnolgico de ento, etc. Ao mesmo tempo em que estruturava as bases do pensamento esprita e de imediato reconhecia estas limitaes, Kardec propunha que o Espiritismo (enquanto uma doutrina filosfica espiritualista fundamentada no pensamento racional e com base na experimentao cientfica, responsvel por uma abordagem inovadora sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espritos e suas relaes com os homens, as leis morais, a via presente, a vida futura e o futuro da Humanidade,
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Presidente do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos SP, membro fundador do CPDoc e delegado da CEPA em Santos-SP. Membros do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos-SP.

segundo os ensinamentos dado pelos Espritos superiores com a ajuda de diversos mdiuns), no se esgotasse em si mesmo, desatualizando-se com o passar do tempo e o desenvolvimento do conhecimento cientfico. Sua gnese epistemolgica impe, portanto, que o Espiritismo acompanhe cada nova descoberta da cincia, num processo de atualizao permanente e ativo, articulado e em sintonia com as diferentes correntes de construo do conhecimento humano.
"O Espiritismo, avanando com o progresso, jamais ser ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que est em erro acerca de um ponto, ele se modificar nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ela a aceitar." (A Gnese, Cap. I - Caracteres da Revelao Esprita).

Esta era a lgica de Kardec, que rejeitava categoricamente a infalibilidade dos espritos e mdiuns que com ele edificaram o corpo doutrinrio esprita. Submetia todas as opinies, conceitos e idias ao crivo da razo e ao mtodo da concordncia universal dos ensinamentos 3 . Ao mesmo tempo, possvel perceber, ao analisarmos sua produo literria, que Kardec procurou ser extremamente criterioso na incorporao de conceitos, teorias e novos conhecimentos contemporneos ao perodo em que se dedicou a formulao do Espiritismo 4 . possvel identificar trechos de sua produo literria esprita onde procurou destacar a existncia de teses as quais, prudentemente, preferiu aguardar o desenvolvimento de novas pesquisas e ao avano de reas do conhecimento que pudessem consolid-las enquanto verdades cientficas, antes de incorpor-las ao corpo doutrinrio do Espiritismo. De certa forma, utilizou a Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos 5 enquanto um laboratrio experimental para o debate e a maturao destas idias. Infelizmente, a grande maioria destas teses, destacadas por Kardec de forma condicional, foram sendo absorvidas pelos espritas como conceitos incorporados ao corpo doutrinrio e transformadas em verdades inquestionveis. Por outro lado, diversas questes, temas e problemas colocados para anlise da sociedade contempornea no foram abordados por Kardec. Algumas porque se desenvolveram efetivamente atravs de contribuies da cincia e de pensadores posteriores Kardec, como o caso de Freud e a Psicanlise, para citar um exemplo clssico e inquestionvel. Outras, por tratarem de temas extremamente atuais, como a doao de rgos inter vivos, as viagens interplanetrias, a influncia dos meios de comunicao de massa, os problemas relacionados produo, trfico, consumo e dependncia das drogas e a clonagem de seres humanos, por exemplo. Outro grupo de temas, provavelmente em funo das dificuldades e

Ver para tanto Kardec, A. "O Livro dos Mdiuns e "Obras Pstumas". De 1855, quando efetivamente iniciou-se no processo experimental de investigao medinica, at maro de 1869, quando desencarnou. 5 Kardec, Allan. Revista Esprita - Jornal de Estudos Psicolgicos. Publicao mensal sob direo de Kardec de janeiro de 1858 maro de 1869.
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limitaes ticas e morais daquela poca, como por exemplo as questes relacionadas sexualidade, entre outras, no foram abordadas em seu tempo. Mesmo temas eminentemente espritas, tais como a vida no mundo dos espritos, o perisprito, as emisses energticas, entre outros, foram incorporados de forma superficial e/ou precariamente desenvolvidas nas obras espritas consideradas bsicas. O conhecimento disponvel em relao temas desta natureza foram posteriormente desenvolvidos, incorporados e transformados na viso esprita sobre determinado assunto quase que exclusivamente atravs da contribuio medinica de um nico mdium, geralmente idolatrado, o que obviamente resultou num abandono da produo de conhecimentos atravs da mediunidade atravs do mtodo racional proposto, experimentado e utilizado por Allan Kardec. Na verdade, a incorporao destes conhecimentos de origem medinica ps Kardec deveram-se muito mais em funo da sua capacidade de legitimar as proposituras e o domnio poltico e ideolgico de federativas e grupos hegemnicos no movimento esprita, que foram alavancadas e se consolidaram atravs da sua fora editorial. Obras medinicas de autoria de espritos conservadores e religiosos, sem que nenhuma metodologia cientfica fosse utilizada, nem mesmo a da concordncia universal proposta por Kardec, foram (e continuam sendo) transpostas categoria de verdades absolutas: em verdades espritas! (por mais absurdas e inverossmeis que sejam as teses defendidas) Uma doutrina que se quer filosfica e que se dispe e pleiteia o status e a categoria de doutrina atual, progressista, humanista e aberta ao dilogo com as outras formas de construo do conhecimento, deve ter a capacidade de abordar e expor para anlise crtica do conjunto da sociedade, mesmo que de forma no conclusiva, sua viso sobre os problemas e questes colocadas como desafios para o homem e o mundo atual.

METODOLOGIA
Este estudo tem por escopo propor para os pensadores espritas comprometidos com a atualizao do Espiritismo a construo (e pactuao) de uma Agenda Esprita, que permita identificar o qu atualizar. Com esse propsito, desenvolvemos este texto a partir da seguinte metodologia, descrita a seguir. Inicialmente, com o apoio dos colaboradores, foi realizada uma reviso bibliogrfica criteriosa de toda a obra de Allan Kardec 6 , incluindo as seguintes obras: O Livro dos Espritos (1857), Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas (1858) 7 , O que o Espiritismo? (1859), O Livro do Mdiuns (1861), O Espiritismo na sua mais Simples Expresso (1862), O Evangelho Segundo Espiritismo (1864), O Cu e o Inferno (1865), A Gnese (1868), todas de
Por ser considerada pelo autor um laboratrio de idias, utilizado para debater conceitos e refutar crticas, antes da incorporao definitiva obra doutrinria, entendeu-se por bem no incluir os volumes da Revista Esprita, editados por Allan Kardec, na reviso bibliogrfica efetuada. 7 Substituda por Kardec, em 1861, pelo Livro dos Mdiuns e reeditada em 1923 por Jean Meyer.
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autoria de Allan Kardec, alm de bras Pstumas (1890), publicao que reuniu textos inditos do mestre lions. Para tanto, padronizamos a edio em portugus publicada pelo Instituto de Difuso Esprita (exceo feita para os livros Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas e O Espiritismo na sua mais Simples Expresso, para os quais utilizamos a edio da EDICEL), cujas edies respectivas podem ser observadas na referncia bibliogrfica ao final deste texto. Em virtude das limitaes para apresentao oral e do texto escrito impostas pelo Regulamento do Frum de Temas Livres , uma vez que esse trabalho foi originalmente elaborado para apresentao no XVIII Congresso Esprita Pan-americano, optou-se em priorizar e dar nfase ao Livro dos Espritos, por se tratar da base filosfica do pensamento esprita, onde esto contidos os princpios da Doutrina Esprita. Com isso, ser possvel abordar, em outra publicao a ser produzida em breve pelos autores, uma verso mais abrangente da identificao de temas para atualizao na obra de Kardec. Utilizou-se para a realizao deste trabalho, portanto, como referncia fundamental, conforme aqui destacado, o Livro dos Espritos. Com o processo de reviso bibliogrfica efetuado foi possvel identificar seis eixos principais para subsidiar a construo de uma Agenda Esprita, capaz de destacar temas a serem abordados num processo de permanente atualizao do Espiritismo, que sero descritos e desenvolvidos a seguir.

O QU ATUALIZAR?
Este trabalho procura delinear objetivamente um conjunto de questes que podem vir a ser objeto de uma releitura ou atualizao permanente do Espiritismo, compreendidas em seis diferentes grupos ou eixos temticos, atravs da identificao: a) De idias e conceitos para as quais a linguagem utilizada por Kardec e/ou pelos Espritos (e posteriormente incorporadas ao discurso esprita), encontram-se desatualizadas, incongruentes, ou desprovidas de seus significados originais e da intencionalidade a elas atribudas no momento da elaborao da Doutrina Esprita; b) Do conjunto de idias e conceitos espritas (contedos) que com o tempo desatualizaram-se ou encontram-se em desacordo, parcial ou integralmente, em relao ao conhecimento humano e, em especial, ao cientfico; c) De um conjunto de idias e conceitos formulados parcialmente ou em carter condicional por Allan Kardec e pelos espritos que com ele fundaram o Espiritismo, em virtude: - da alegada incapacidade de definir ou descrever determinadas situaes devido inexistncia de meios para tanto, por limitao de nossos conhecimentos ou de nossa linguagem (cremos que j possvel compreender muitas coisas que em meados do sculo XIX seriam impossveis);

da inexistncia de permisso para a anlise e aprofundamento de determinadas questes, ora porque no era chegada a hora, ora por entenderem que seria de competncia dos espritos encarnados a tarefa de produzir o conhecimento em torno de determinado assunto; - a necessidade de acompanhar o desenvolvimento cientfico para que fosse possvel comprovar (ou no) uma determinada hiptese formulada e posteriormente incorpor-la definitivamente ao Espiritismo (expediente utilizado fartamente no ltimo livro publicado por Allan Kardec, em 1868, denominado A Gnese Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo, muito embora at hoje, transcorridos mais de 130 anos, este processo de confirmao crtica das hipteses ainda no tenha sido realizado). d) De temas antigos ou novos problemas ainda no abordados pelo Espiritismo ou conjunto de questes relacionadas ao mundo contemporneo para as quais o Espiritismo no possui posies claramente definidas que possam produzir uma contribuio aos seres humanos e sociedade. Ou cuja verso, difundida publicamente, restringe-se opinies individuais de algumas lideranas ou figuras com alguma projeo pblica. E ainda, o que mais grave, restritas a opinio de um esprito (muitas vezes legitimadas no pelo seu contedo, mas sim pelo reconhecimento moral e projeo do mdium) sem que sejam submetidas anlise crtica, ao mtodo da concordncia universal ou qualquer outro tratamento elementar exigidos ao lidar-se com informaes de origem medinica (aceita-se as informaes, equivocadamente, por sua pretensa origem divina, tal qual uma revelao de origem religiosa); e) De temas que permitam uma releitura e validao ou no de hipteses e teorias estabelecidas atravs de literatura medinica (a excelente produo terica a partir das reportagens do esprito Andr Luiz, por exemplo) ou a contribuio de estudiosos espritas encarnados e que formularam suas contribuies posteriormente Allan Kardec, como Lon Denis, Gabriel Delanne, Manoel Porteiro, Jos Herculano Pires, Hernani Guimares Andrade, entre tanto outros; f) De um conjunto de prticas espritas de origem diversas incorporadas pelo Movimento Esprita e que no foram submetidas a anlise de coerncia, eficcia e validao de seus resultados. Impe-se, portanto, dada inclusive a variedade e quantidade de temas a serem objeto investigao, estudo, formulao, debate e anlise crtica e posterior atualizao, que se defina alguma forma o processo pelo qual ser desenvolvido todo esse rduo mas necessrio trabalho atualizao do Espiritismo, ou seja, a constituio de uma Agenda Esprita (o qu atualizar?) e um Mtodo de Atualizao ( como fazer a atualizao?). de de de de

Entende-se que possvel desenvolver os seis eixos aqui apontados simultaneamente. Entretanto, torna-se fundamental que seja priorizada a abordagem de antigos, porm ainda atuais, e novos problemas e questes relacionadas ao homem e ao mundo atual para os quais no se tem ainda uma proposta esprita firmada. Desta forma, possvel ampliar o grau de interveno e interrelao do conhecimento esprita com o conjunto de outros olhares produzidos pelas diferentes concepes filosficas, religiosas, culturais e cientficas existentes.

Enquanto o cidado esprita, numa perspectiva individual, ou o prprio movimento esprita, como um movimento social, no puderem efetivamente contribuir com sua viso filosfica e profundamente tica e moral junto sociedade, teremos perpetuada uma situao de autoisolamento. Nossa viso de Deus, da evoluo infinita, da imortalidade da alma, da reencarnao, da mediunidade e de tantos outros conceitos produzem um olhar esperanoso e positivo sobre o presente e o futuro da humanidade. No podemos esperar que a totalidade (ou mesmo a maioria) dos habitantes do planeta virem espritas. A vida plural, assim como os mundos, as individualidades, as necessidades humanas e espirituais tambm so plurais. Devemos projetar sim a nossa capacidade de ampliar a influncia esprita, a partir da universalizao das idias e a capilarizao entre os seres humanos e as mais diferentes culturas, dos conceitos filosficos bsicos do Espiritismo e de suas conseqncias ticomorais. No deve haver temas proibidos. Tudo deve e pode ser discutido. Entretanto, para que se obtenha o xito esperado, preciso conduzir com cautela esta agenda para a atualizao. Deve-se experimentar, inicialmente, por cerca de cinco a dez anos, um processo de discusso em que se busque o maior consenso possvel, em temas centrados: - na epistemologia esprita, ou seja, sobre a natureza e o carter do Espiritismo, em particular sobre a forma como se deu (e portanto como se dar) a construo do pensamento esprita; - na reviso, atualizao e modernizao da linguagem e seus significados. - na formulao de conceitos espritas relacionados aos problemas humanos contemporneos e que no tenham sido objeto de anlise no perodo da fundao do Espiritismo ou pelos principais continuadores de Allan Kardec (questes relacionadas biotica e ao desenvolvimento tecnolgico, por exemplo); Desta forma, prope-se que a discusso em torno dos eixos paradigmticos do Espiritismo, independentemente de alguns destes terem sido neste estudo identificados como objetos passveis de atualizao, seja programada para uma segunda etapa, quando alm da anlise crtica e dos acmulos do processo desencadeado, poderemos estabelecer mais claramente o que se pretende e como avanar neste sentido. Este importante assunto, ou seja, o como atualizar, ser discutido de forma mais detalhada em outro trabalho apresentado ao XVIII Congresso Esprita Pan-americano, intitulado: Como? Uma proposta metodolgica para o processo de atualizao permanente do Espiritismo. O estabelecimento de uma Agenda Esprita talvez um dos maiores desafios da Confederao Esprita Pan-americana, a CEPA, a partir do XVIII Congresso Esprita Panamericano. Se isto for empreendido, o xito do Congresso estar garantido e o esforo da CEPA recompensado.

AGENDA ESPRITA

Atualizao da linguagem

As palavras pouco nos importam. Cabe a vs formular linguagem adequada a vos entenderdes. As controvrsias surgem, quase sempre, por no vos entenderdes sobre as palavras, visto que a vossa linguagem incompleta para exprimir as coisas que no ferem os vossos sentidos. (O Livro dos Espritos, Livro I, cap. II, questo 28, pg. 53)

A resposta obtida por Kardec quando o fundador do Espiritismo sugeria denominar os dois elementos gerais do universo, a matria e o esprito, respectivamente por matria inerte e matria inteligente para evitar menos confuso, uma vez que seus interlocutores invisveis afirmavam que o Esprito era, de fato, alguma coisa (muito embora no conseguissem explic-la de forma adequada ao nosso entendimento), reflete de modo inconteste o grau de dificuldade relacionados linguagem e aos conceitos de que trata o Espiritismo. Lidamos, efetivamentente, com um objeto de estudo e anlise para o qual nem sempre os conceitos podem ser descritos pela linguagem usual e cujos significados, muitas vezes definidos por alegorias e comparaes a referenciais usuais, permitem toda uma sorte de confuses e distores conceituais. Kardec teve e talvez esse seja um aconselhvel caminho a continuar a seguir que criar muitos neologismos, tomando um cuidado especial com a clareza e a objetividade da linguagem, de tal monta que abriu a Introduo de seu "O Livro dos Espritos" da seguinte forma:
Para as coisas novas necessitam-se de palavras novas, assim o quer a clareza da linguagem para evitar a confuso inseparvel do sentido mltiplo dos mesmos vocbulos.(...)

Por outro lado, h que se considerar que determinados textos, conceitos, temas e idias foram formulados a partir da viso de mundo prevalecente no sculo XIX. No h porque consider-las com o mesmo sentido a elas atribudas pela linguagem (e o que ela representa) neste final de sculo XX. Podemos encontrar situaes absolutamente simples e facilmente recontextualizveis linguagem atual, como por exemplo:
O que seria suprfluo para um no se torna necessrio para outros, e reciprocamente, segundo a posio? Sim, de acordo com as vossas idias materiais, (...). Sem dvida, aquele que tinha cinquenta mil libras de renda e se encontra reduzido a dez, se cr bem infeliz porque no pode mais fazer uma

figura to grande, ter aquilo que chama sua posio, ter cavalos, lacaios, satisfazer todas as suas paixes, etc. (...) (LE, Livro IV, cap. I, questo 923, pg. 359)

A dolarizao (moeda e linguagem universal nos dias de hoje) dos valores financeiros e a transposio dos sinais de status social para carros, jatos, empregados, mordomos e outras regalias tpicas do consumismo exibicionista dos tempos modernos seria suficiente. Infelizmente, entretanto, nem todos os textos que se apresentam desatualizados so to simples e automaticamente transpostos realidade atual. O conceito de Fluido, por exemplo, fartamente utilizado por Kardec e pelos Espritos e fundamental para a viso esprita proposta, perpassando diversos temas, tais como, os elementos gerais do universo, a criao, o princpio vital, o mundo esprita, o perisprito, a mediunidade, etc., no guarda mais nenhuma relao com o conceito de fluido hoje atribudo pela Fsica e pela cincia, em geral. O que isto significa? Que a hiptese esprita est errada? Que inconsistente? No. Muito pelo contrrio. De certa forma, a hiptese esprita extremamente atual, muito embora ainda necessite de melhor fundamentao, mas no pode ser descartada a priori por ser considerada cientificamente ultrapassada. Neste caso, o problema que Kardec e os Espritos, ao referirem-se a este tema, falam de algo cujo significado no guarda mais absolutamente nenhuma correlao com o seu significado cientfico atual. Ento por que no atualizar a linguagem esprita? Vejamos alguns exemplos:
Esse seria, ento, o fludo vital que segundo certas opinies, no seria outro que o fluido eltrico animalizado, designado tambm sob os nomes de fluido magntico, fluido nervoso, etc. (Livro dos Espritos, Introduo, item II, pg. 11) (...) Portanto, no h nada de espantoso que o fenmeno do movimento dos objetos pelo fluido humano tenha tambm suas condies de ser e cesse de se produzir quando o observador(...)(Livro dos Espritos, Introduo, item III, pg. 14)

Ora, o fluido humano, conforme as cincias biolgicas assim definem, todo o lquido extra-celular. O sentido pretendido por Kardec e pelos Espritos, muito diferente do atual, o que hoje equivale energia. Ento por que no utiliz-lo? Ou ento, por conveno, por que no adotarmos uma nomenclatura especfica (mesmo que seja um neologismo), como fazem todas as doutrinas cientficas, porm de forma padronizada, a ser utilizada pelos espritas, correspondendo a um conceito especfico, claramente entendido por todos que desejarem travar contato com o pensamento esprita? Temos que atribuir o real significado das coisas atravs da utilizao de uma linguagem adequada, sem subterfgios. Assim, qualquer referncia lei de causa e efeito e ao livre arbtrio, no pode e no deve ser efetuada, por exemplo, utilizando-se a expresso "Karma". Palavras de origem oriental, esotrica ou impregnadas de um sentido religioso (pecado, cu e inferno, purificao, etc.), em geral, acabam denotando sentidos conceituais opostos viso

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filosfica do homem e do mundo pela tica esprita. E, portanto, so indesejadas. No significam uma atualizao, mas sim uma deturpao do pensamento esprita kardecista. Vejamos alguns exemplos de:
(...) cada um punido por aquilo que pecou(...). (LE, Livro II, cap.VII, questo 399, pg. 184) (...) As doenas, as enfermidades, a prpria morte, que so as consequncias dos abusos, ao mesmo tempo so punio transgresso da lei de Deus. (LE, Livro III, cap.V, comentrio questo 714, pg. 285) (...) que o homem no aproveita; preciso castig-lo em seu orgulho e faz-lo sentir sua fraqueza.(...). (LE, Livro III, cap.VI , questo 738, pg. 291) (...) Todos vois suportais, a cada instante, essa pena, porque sois punidos pelo que pecastes, nesta vida ou em outra(..). (LE, Livro III, cap.VI, questo 764, pg. 298) (...) Pobres seres que Deus castigar. Eles sero transportados pelas torrentes que querem deter.. (LE, Livro III, cap.VIII , questo 781, pg.304) O homem responsvel pelo seu pensamento? Ele responsvel diante de Deus. S Deus, podendo conhec-lo, o condena ou o absolve segundo a sua justia. (LE, Livro III, cap. X, questo 834, pg.323) (...) Essa deformao, frequentemente, uma punio para o Esprito que, em uma existncia anterior, pode ter sido vo e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. (LE, Livro III, cap.X, questo 326, pg.326) As provas que restam a suportar para rematar sua purificao no so para a alma uma apreenso penosa, que perturba a sua felicidade? (LE, Livro IV, cap. II, questo 979, pg. 381) Qual a consequncia do arrependimento no estado espiritual? O desejo de uma nova encarnao, para se purificar.(...) (LE, Livro IV, cap. II, questo 991, pg. 384).

Afinal, o esprito criado simples e ignorante ou impuro? esta a viso de justia divina que se apreende no primeiro captulo do Livro dos Espritos? H problemas de linguagem, identificveis na obra esprita como um todo, que merecem ser revistos e atualizados. Fundamentalmente porque influenciam no apenas a linguagem mas o pensamento de muitos autores e os espritas, de maneira geral, ainda excessivamente presos aos arqutipos de pecado original, da existncia como um castigo, etc., fruto da tradio religiosa ocidental, mas que tambm impregnam o pensamento das principais correntes religiosas e filosficas orientais, em relao as quais o Espiritismo representa um grande avano. Para o Espiritismo, a Terra um mundo de provas e expiaes e no de penas e castigos. Como se v, a viso evolucionista e da justia de Deus que se apreende destes conceitos so absolutamente distintas. Os exemplos aqui destacados demonstram a necessidade imperiosa de adequar e atualizar a linguagem esprita, tornando-a coerente com a linguagem estabelecida para o conhecimento contemporneo. Redefinir e ressignificar conceitos e idias espritas, mesmo que para tanto precisemos enriquecer o nosso vocabulrio, torna-se um imperativo, no apenas para o processo de atualizao em si, mas para que o Espiritismo possa ser lido, estudado, debatido, pesquisado e tomado como referncia pela sociedade contempornea. No podemos deixar que se transforma numa idia velha, dbia, carcomida pelo tempo.

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Idias e conceitos espritas desatualizadas ou em desacordo com o conhecimento cientfico:


Se entre os adeptos do Espiritismo h os que diferem de opinio sobre quaisquer pontos da teoria, todos concordam sobre os pontos fundamentais.(...). (LE, Concluso, item IX, pg. 413)

A atualidade da Doutrina Esprita incontestvel. Esta magnfica constatao, entretanto, no impede que alguns temas tratados por Allan Kardec e pelos Espritos que com ele edificaram a filosofia esprita, decorridos 143 anos do surgimento do Espiritismo e, em particular, em funo do desenvolvimento cientfico e tecnolgico, da formao e desenvolvimento de vrias disciplinas e novas reas especficas do conhecimento humano, encontram-se desatualizados ou em desacordo com o conhecimento humano, e em especial o saber cientfico. Kardec, em Caracteres da Revelao Esprita, texto que compe a Introduo de seu livro A Gnese Os Milagres e as Predies Segundo O Espiritismo, j percebia a rapidez com que avanava o conhecimento cientfico em meados do sculo XIX, concebendo o Espiritismo como uma doutrina dinmica, progressista, apta a acompanhar, incorporar e modificar-se em funo do desenvolvimento da Cincia. A seguir, procuramos destacar algumas idias e conceitos que se encontram nestas condies aqui referidas, compondo um importante e decisivo captulo no processo de atualizao do Espiritismo: Fluido Vital:
Esse seria, ento, o fludo vital que segundo certas opinies, no seria outro que o fluido eltrico animalizado, designado tambm sob os nomes de fluido magntico, fluido nervoso, etc. (LE, Introduo, item II, pg. 11) (...) Portanto, no h nada de espantoso que o fenmeno do movimento dos objetos pelo fluido humano tenha tambm suas condies de ser e cesse de se produzir quando o observador(...)(LE, Introduo, item III, pg. 14) Haveriam assim, dois elementos gerais do Universo: a matria e o esprito? Sim, e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas; (...) Ma, ao elemento material preciso juntar o fluido universal, que desempenha papel intermedirio entre o esprito e a matria propriamente dita, (...). Ele est colocado entre o esprito e a matria; fluido, como a matria matria(...) (LE, Livro I, cap. II, questo 27, pg. 52) Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo agente que o esprito utiliza, o princpio sem o qual a matria estaria em perptuo estado de diviso e jamais adquiriria as propriedades que a gravidade lhe d. (LE, Livro I, cap. II, questo 27, pg. 52)

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(...) Dissemos que ele suscetvel de inmeras combinaes e o que chamais fluido universal, que no propriamente falando, seno uma matria mais perfeita, mais sutil, e que pode ser considerada como independente. (LE, Livro I , cap. II, questo 27, pg. 53) O Universo compreende a infinidade dos mundos que vemos e aqueles que no vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espao, assim como os fluidos que o enchem. (LE, Livro I , comentrio introdutrio ao cap. III, pg. 56) O princpio vital reside em alguns dos corpos que conhecemos? Ele tem sua fonte no fluido universal; o que chamais de fluido magntico ou eltrico animalizado. o intermedirio, o elo entre o esprito e a matria (LE, Livro I, cap. IV, questo 64, pg. 65)

No se trata apenas, conforme discutido anteriormente, de atualizar a linguagem. preciso reconceitualizar o Vitalismo dinamista que caracteriza a viso esprita. Se o Universo constitudo de dois, e to somente dois elementos, o esprito e a matria, o que denominado fluido, nada mais pode ser do que diferentes estgios de modificao da prpria matria, a energia. Urge aprofundar o conhecimento sobre o tema, levando em considerao todo o acmulo cientfico disponvel, afinal, a Fsica deste final de sculo XX trabalha com referenciais absolutamente distintos dos que eram utilizados no tempo de Kardec. Epistemiologia Esprita:
A Cincia, propriamente dita, como cincia, portanto, incompetente para se pronunciar na questo do Espiritismo: no tem que se ocupar com isso e seu julgamento, qualquer que seja, favorvel ou no, no poderia ter nenhuma importncia. (LE, Introduo, item VII, pg. 22) Vede, pois que o Espiritismo no da alada da Cincia. (LE, Introduo, item III, pg. 23)

Obviamente que estes conceitos relativos ao papel da cincia, e sua relao com o Espiritismo, so incompatveis com o carter dado Doutrina Esprita por Kardec. Tratam-se, pois, de trechos descontextualizados e equivocados. Loucura e sade mental:

Aqui temos um conjunto de temas, conceitos e idias que acabaram consubstanciando uma nova disciplina cientfica, a Psicanlise, formulada posteriormente ao desencarne de Kardec por inmeros pensadores, entre os quais destaca-se Freud, resultando em prticas sociais especficas e cada vez mais sofisticadas, como a Psiquiatria e a Psicologia, por exemplo. O conceito de loucura utilizado por Kardec e pelos Espritos est em profundo desacordo com o conhecimento cientfico. Kardec, restrito aos conceitos vigentes, possui da loucura uma viso organicista, restrita a idia de que os estados patolgicos so todos determinados pela leso dos rgos do sistema nervoso, ou seja, restringindo a abordagem a sua dimenso fsica, orgnica. Desta forma, estados psicticos, por exemplo, so discutidos em situao de (falsa) correlao s deficincias mentais, oligofrenias, etc. Kardec parte do pressuposto, em grande parte corroborado

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pelos Espritos, de que o que adoece o corpo fsico, e no o esprito que animam e d vida aquele corpo (coerente com o pensamento cientfico e com a prtica mdica de ento). Vejamos:
Sabe-se o nmero de loucos e de manacos produzidos pelos estudos matemticos, mdicos, musicais, filosficos e outros? (...) Pelos trabalhos corporais estropiam-se os braos e as pernas, que so os instrumentos da ao material; pelos trabalhos da inteligncia estropiam-se o crebro, que o instrumento do pensamento. Mas se o instrumento est quebrado, o Esprito no o est por isso: ele est intacto e, quando desligado da matria, no goza menos da plenitude de suas faculdades. (LE, Introduo, item XV, pg. 35) A loucura tem por causa primeira uma predisposio orgnica do crebro que o torna mais ou menos acessvel a certa impresses.(...) (L E, Introduo, item XV, pg. 35) Entre as causas mais numerosas de superexcitao cerebral, preciso contar as decepes, os desgostos, as afeies contrariadas, que so, ao mesmo tempo, a causa mais frequente de suicdio. (LE, Introduo, item XV, pg. 35) (...) e por esse belo resultado (o medo como uma das causas da loucura) no se conta o nmero das epilepsias causadas pelo abalo de um crebro delicado." (LE, Introduo, item XV, pg. 36) Tem fundamento a opinio segundo a qual os cretinos e os idiotas tm uma alma de natureza inferior? (LE, Livro II, cap. VII, questo 371, pg. 174)

Alm disso, preciso que se destaque os problemas de linguagem, conforme j discutido no item anterior. No se utiliza mais as expresses cretinos e idiotas para se referir aos portadores de sofrimentos psquicos (h mais de um sculo). Kardec atribui os problemas mentais um defeito fsico. Confunde, por falta de elementos e traduzindo a viso cientfica de seu tempo, a doena neurolgica e a deficincia mental com a loucura e os variados graus de sofrimento psquico. Vejamos:
necessrio distinguir o estado normal do estado patolgico. No estado normal, o moral suplanta o obstculo que lhe ope a matria; mas existem casos em que a matria oferece uma resistncia tal qual as manifestaes so obstadas ou desnaturadas, como na idiotia e na loucura(...)(LE, Livro II, cap. VII, comentrio questo 372, pg. 175) Qual a situao do Esprito na loucura? - (...) Imagina agora que o rgo que preside aos efeitos da inteligncia e da vontade seja parcial ou inteiramente atacado ou modificado, e te ser fcil compreender que o Esprito, no tendo mais a seu servio seno rgos incompletos ou desnaturados, deve lhe resultar uma perturbao, da qual, por si mesmo e no seu foro ntimo, tem perfeita conscincia, mas no senhor para deter o curso ento sempre o corpo e no o Esprito que est desorganizado? - Sim (...) Pode acontecer que, com o tempo, quando a loucura durou bastante, a repetio dos mesmos atos acaba por Ter, sobre o Esprito, uma influncia da qual no se livra seno depois de sua completa separao de todas as impresses materiais. (LE, Livro II, cap. VII, questo 375, pg. 176) O Esprito do alienado se ressente, depois da morte, do desarranjo de suas faculdades? Ele pode sentir algum tempo depois da morte, at que esteja completamente desligado da matria (...) (LE, livro II, cap. VII, questo 377, pg. 177) (...) por isso que, quanto mais durar a loucura durante a vida, muito mais tempo dura a opresso, o constrangimento depois da morte (...) (LE, livro II, cap. VII, questo 378, pg. 177)

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Poucos campos do conhecimento humano possuem uma contribuio to farta e valiosa quanto a que o Espiritismo pode fornecer para ampliar a compreenso dos sofrimentos psquicos, seus determinantes e conseqncias. A dimenso espiritual do homem, a existncia de uma personalidade pr existente e a preservao de sua individualidade aps a morte, permitem uma verdadeira revoluo conceitual e uma nova abordagem prtica sobre o tema. Mas preciso destacar, ainda, que no h correspondncia entre o pensamento cientfico moderno e a viso estabelecida no Livro dos Espritos sobre, entre outros temas, o suicdio e a loucura. Hoje, se tem claro, que ao contrrio, o suicdio uma das manifestaes do sofrimento psquico.
Por que motivo a loucura leva, algumas vezes, ao suicdio? O Esprito sofre com o constrangimento que experimenta e com a impossibilidade, em que se encontra, de se manifestar livremente, por isso busca na morte um meio de romper os seus laos. (LE, Livro II, cap. VII, questo 376, pg. 176) (...) O suicdio no sempre voluntrio? O louco que se mata no sabe o que faz.(...) (LE, Livro IV, cap. I, questo 944, pg. 368)

Sono e os sonhos:

O desenvolvimento cientfico faz com que, novamente, os trechos aqui destacados encontremse desatualizados em relao aos conhecimentos obtidos atravs da neurologia, da hipnologia e da eletroneurofisiologia, que estudam a dinmica e as disfunes relacionadas ao sono e, ainda, de alada da Psicologia e suas diferentes escolas e correntes, contribuies para a compreenso do papel e dos significados dos sonhos para a personalidade (e suas disfunes) humana.
(...)os sonhos em uma criana, no tm o carter dos de um adulto; seu objeto quase sempre pueril, o que indcio da natureza das preocupaes do Esprito. (LE, livro II , cap. VII, comentrio questo 380, pg. 177) Durante o sono, a alma repousa como o corpo? - No, o Esprito jamais est inativo (...) (LE, livro II, cap. VIII, questo 401, pg. 186) Como podemos apreciar a liberdade do Esprito durante o sono? - Pelos sonhos (...) O sonho liberta, em parte a alma do corpo (...) O sonho a lembrana do que vosso Esprito viu durante o sono (...) Os sonhos so o produto da emancipao da alma, (...) (LE, livro II, cap. VIII, questo 402, pg. 186 188) Durante o sono, a alma repousa como o corpo? - No, o Esprito jamais est inativo (...) (LE, livro II, cap. VIII, questo 401, pg. 186)

Astronomia / Formao do planeta:

Aqui temos um dos pontos de maior fragilidade terica entre os contidos nas obras espritas. Todo o captulo intitulado Uranografia Geral, includo em A Gnese, assim como as referncias existentes em O Livro dos Espritos relativas ao tema, requerem um processo de reviso e atualizao, pois a quantidade de conceitos e informaes ultrapassadas ou equivocadas de tal monta que constitui, nos dias de hoje, obviamente, uma agresso inteligncia do leitor e dos

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estudiosos espritas, exigindo que no mais divulguemos idias que no so mais condizentes com a realidade. Em O Livro dos Espritos, ao referir-se uma das hipteses para explicar o fenmeno das mesas gigantes, Kardec afirma equivocadamente:
O movimento circular no tinha nada de extraordinrio. Est na Natureza; todos os astros se movem circularmente. (Livro dos Espritos, Introduo, item III, pg. 13)

Ou ainda, coerente como pensamento cientfico vigente em sua poca, vejamos o conjunto de afirmaes a seguir, desatualizadas em relao ao conhecimento cientfico atual:
Os cometas seriam, como se pensa atualmente, um comeo de condensao da matria e dos mundos em via de formao? Isto exato; mas o que absurdo crer-se em sua influncia (...)todos os corpos celestes tm sua parte de influncia em certos fenmenos fsicos. (LE, Livro I, cap. III, questo 40, pg. 56) Podemos conhecer a durao da formao dos mundos: da Terra; por exemplo? Nada te posso dizer a respeito, porque s o Criador o sabe, e bem louco seria quem pretendesse saber ou conhecer o nmero de sculos dessa formao. (LE, Livro I, cap. III, questo 42, pg. 57) Todos os globos que circulam no espao so habitados? Sim, (...) (LE, Livro I, cap. III, questo 55, pg. 60) Os mundos mais afastados do Sol esto privados de luz e de calor, uma vez que o Sol se mostra a eles apenas com a aparncia de uma estrela? Credes, pois, que no existem outras fontes de luz e de calor alm do Sol, e no considerais em nada a eletricidade, que, em certos mundos, tem um papel que desconheceis (...) (LE, Livro I, cap. III, questo 58, pg. 60) Esses mundos podem, pois, conter em si mesmos as fontes de calor e de luz necessrias aos seus habitantes. (LE, Livro I, cap. III, comentrio de Kardec, pg. 61) Segundo os Espritos (...) a Terra um daqueles globos onde os Espritos so os menos avanados, fsica e moralmente. Marte seria ainda inferior e Jpiter, o mais superior em relao a todos. O Sol no seria um mundo habitado por seres corporais, mas um local de reunio dos Espritos superiores que, de l, irradiam seus pensamentos para outros mundos(...). Como constituio fsica, o Sol seria um foco de eletricidade. (...) parece que Vnus mais adiantado que a Terra, e Saturno menos adiantado que Jpiter. (LE, Livro II , cap. IV, nota de Kardec questo 188, pg. 110)

No exata a definio atribuda aos comentas, assim como nem todos os globos que circulam no espao so habitados. Alis, a existncia de vida em outros planetas, mesmo em nosso Sistema Solar, um dos paradigmas espritas, saliente-se, ainda uma hiptese cientfica, provvel, porm no comprovada. No considera, ainda a existncia de outros sis no universo. Por outro lado, fontes de energia artificial j esto disponveis, em relativa abundncia, em nosso planeta, tais como a nuclear, a hidroeltrica e a termoeltrica, por exemplo. Mas pelas evidncias cientficas, impossvel florescer vida inteligente sem a energia produzida por estrelas semelhantes s denominadas, em nossa sistema solar, como Sol.

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Matria:
Define-se a matria como sendo o que tem extenso, impressiona os nossos sentidos e impenetrvel. So exatas estas definies? Do vosso ponto de vista essas definies so exatas, porque no falais seno do que conheceis. (...) (LE, Livro I, cap. II, questo 22, pg. 51) De onde provm as diferentes propriedades da matria? So modificaes que as molculas elementares sofrem pela sua unio, e em certas circunstncias. (LE, Livro I , cap. II, questo 31, pg. 54)

Questionados se a matria elementar suscetvel de receber todas as modificaes e adquirir todas as propriedades, os espritos afirma que sim. E mais, que a matria possui duas propriedades essenciais: a fora e o movimento. Todas as demais seriam efeitos secundrios da variao dessas duas propriedades. Mais desatualizado, entretanto, o conceito utilizado para molculas, distante da concepo da fsica quntica.
As molculas tm uma forma determinada? Sem dvida, as molculas tm uma forma determinada, mas que no para vs aprecivel. (Livro dos Espritos, Livro I, cap. II, questo 33, pg. 54) Essa forma constante ou varivel? Constante para as molculas primitivas, mas variveis para as molculas secundrias que no so mais que aglomeraes das primeiras; porque o que chamais molcula est ainda distante da molcula elementar . (Livro dos Espritos, Livro I , cap. II, questo 34, pg. 55)

Aptides Fsicas:
O Esprito, se encarnado traz certas predisposies, admitindo-se, para cada uma, um rgo correspondente no crebro, o desenvolvimento desses rgos ser um efeito e no uma causa. (LE, Livro II, cap. VII, comentrio questo 370, pg. 174)

Conceito ultrapassado, distante das idias hoje em voga de rede neural, especificao neuro-motora e mltiplas formas de aptido relacionadas distintos tipos de inteligncia. Criao / Gerao espontnea:
De onde vieram os seres que vivem sobre a Terra? (...) A Terra continha os germes que aguardavam momento favorvel para se desenvolverem. Os princpios orgnicos se congregaram desde que cessou a fora que os mantinha afastados, e eles formaram os germes de todos os seres vivos. Os germes estiveram em estado latente e inerte(...) at o momento propcio para a ecloso de cada espcie; (...)(LE, Livro I , cap. III, questo 44, pg. 57) Existe, ainda, seres que nasam espontaneamente? Sim, mas o germe primitivo existia j em estado latente. (...) Os tecidos dos homens e animais no encerram os germes de uma multido de vermes que aguardam, para eclodir, a fermentao ptrida necessria sua existncia? um pequeno mundo que dormita e que se cria (LE, Livro I, cap. III, questo 46, pg. 58)

H evidentemente uma defesa da tese da gerao espontnea e uma fundamentao com base na Teoria Miasmtica, crena compartilhada por grande parte do saber mdico-cientfico do sculo XIX, para a qual as febres epidmicas tinham origem na matria vegetal e animal em

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putrefao e nas emanaes das guas estagnadas. Parte dos cientistas contemporneos de Kardec, aderiram teoria do contgio, muito embora, importante ressaltar, o significado do mundo dos seres microscpios s tenha sido desvendado a partir das descobertas de Pasteur e Koch, em 1870, at ento prevalecendo a teoria da gerao espontnea. 8
Se o germe da espcime humana se encontrava entre os elementos orgnicos do globo, por que no se formam mais, espontaneamente, os homens como na sua origem? (...) pode-se dizer que os homens uma vez espalhados sobre a Terra, absorveram neles os elementos necessrios sua formao para transmitir segundo as leis de reproduo. O mesmo se deu com as diferentes espcies de seres vivos (LE, Livro I , cap. III, questo 49, pg. 58)

Aqui os espritos retomam, subjetivamente, a questo, recolocando a Teoria da Evoluo da Espcies. (mas ser que referem-se as leis relativas hereditariedade quando mencionam leis de reproduo?). Mas a questo confusa.
Podemos conhecer a poca do aparecimento do homem e dos outros seres vivos sobre a Terra? No; todos os vossos clculos so quimricos. (LE, Livro I, cap. III, questo 48, pg. 56) Podemos saber em que poca viveu Ado? Mais ou menos na que assinalais: aproximadamente 4000 anos antes de Cristo. (LE, Livro I , cap. III, questo 51, pg. 59)

Eram quimricos. Hoje j esto disponveis mtodos cientficos, em processo crescente de aperfeioamento, com diversas tecnologias distintas, cada vez mais precisas, capazes de analisar e registrar com preciso cada etapa e elos de nossa histria. Diversidade das Raas:
De onde vm as diferenas fsicas e morais que distinguem as variedades de raas humanas sobre a Terra? Do clima, da vida e dos costumes. (...) (LE, Livro I, cap. III, questo 52, pg. 59) O progresso reunir um dia todos os povos da terra em uma s nao? No em uma s nao, isso impossvel, porque da diversidade dos climas nascem os costumes e as necessidades diferentes que constituem as nacionalidades. (...) (LE, Livro III , cap. VIII, questo 789, pg. 307) A desigualdade natural das aptides no coloca certas raas humanas sob a dependncia de raas mais inteligentes? Sim, para as erguer e no para as embrutecer ainda mais pela servido. (...) (LE, Livro III, cap. X, questo 831, pg. 322)

Esta viso antropolgica eurocntrica, vigente no sculo XIX, em que as variaes e condies climticas determinavam o atraso verificado em determinadas raas, povos e naes, est hoje absolutamente ultrapassada.

Reis, A.AC, Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec. CPDoc, Santos, 1996, pg. 21.

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Magnetismo, catalepsia, morto aparente, sonambulismo:


O sonambulismo chamado magntico tem relao com o sonambulismo natural? a mesma coisa, exceto que ele provocado. (LE, Livro II , cap. VIII, questo 426, pg.195) Qual a natureza do agente chamado fluido magntico? Fluido vital, eletricidade animal, que so modificaes do fluido universal. (LE, Livro II , cap. VIII, questo 427, pg.195)

Em relao a esse conjunto temtico, necessrio, alm da reviso conceitual, empreender ainda atualizao geral da linguagem. Esse captulo mereceria um novo nome, talvez intitulado fenmenos anmicos. preciso ainda incorporar os conhecimentos advindos dos estudos empreendidos pelos principais seguidores de Kardec, pela Metapsquica e a Parapsicologia. Convulsionrios:

Da mesma forma, este tema, contido entre as sees do Captulo IX, Livro II do L.E., prescinde de reviso conceitual e de atualizao geral da linguagem. A prpria seo mereceria um novo nome. Homens e mulheres:
(...) O homem para os trabalhos rudes, por ser o mais forte; a mulher para os trabalhos suaves, e ambos para se entreajudarem nas provas de uma vida plena de amargura. (LE, livro III, cap. IX, questo 819, pg. 318) (...) preciso que cada um esteja colocado no seu lugar. Que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um segundo sua aptido.(...) (LE, livro III, cap. IX, questo 822, pg. 319)

Motivao das aes do Homem:


(...) Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral, chegar-se- a modific-la, como se modifica a inteligncia pela instruo, e o temperamento pela higiene. (LE, livro III , cap. X, questo 872, pg. 334)

Eutansia:
Quando uma pessoa v diante de si uma morte inevitvel e terrvel, ela culpada por abreviar de alguns instantes seus sofrimentos por uma morte voluntria? Sempre se culpado por no esperar o termo fixado por Deus. Alis, se est bem certo que esse termo chegou, malgrado as aparncias, e que no se pode receber um socorro inesperado no ltimo momento? (...) sempre uma falta de resignao e de submisso vontade do Criador. (...) (LE, Livro IV, cap. I, questo 953, pg. 371)

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Idias e conceitos formulados em carter condicional ou parcialmente


Os Espritos que disseram que o homem um ser parte na ordem da criao, enganaram-se? No, mas a questo no foi desenvolvida e, alis, h coisas que no podem chegar seno em seu tempo. O homem , com efeito, um ser parte, porque ele tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem um outro destino. (...)(LE, Livro II , cap. XI, questo 610, pg. 253)

Deus:
Um dia ser dado ao homem compreender o mistrio da Divindade? Quando seu esprito no estiver mas obscurecido pela matria e, pela sua perfeio, estiver prximo dele, ento, ele o ver e o compreender. (LE, Livro I , cap. I, questo 11, pg. 47) Quando dizemos que Deus eterno, infinito, imutvel, imaterial, nico, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, no temos uma idia completa dos seus atributos? Do vosso ponto de vista, sim, porque credes tudo abraar. Mas sabeis que h coisas acima da inteligncia do homem mais inteligente, e para as quais vossa linguagem limitada s vossas idias e s vossas sensaes, no tem expresso adequada.(...) (LE, Livro I , cap. I, questo 13, pg. 48) Deus existe, no o podeis duvidar, o essencial. Crede-me, no vades alm. (...) (LE, Livro I, cap. I, pg. 48)

Dentre os princpios paradigmticos do Espiritismo, avanar na formulao de uma concepo existencial sobre este tema , sem sombra de dvidas, ainda um enorme desafio a ser empreendido pelos estudiosos do Espiritismo, mesmo reconhecendo a nossa enorme limitao de ordem intelectual e moral. Elementos Gerais do Universo:
dado ao homem conhecer o princpio das coisas? No. Deus no permite que tudo seja revelado ao homem, neste mundo. (LE, Livro I , cap. II, questo 17, pg. 50) O vazio absoluto existe em alguma parte do espao universal? No, nada vazio; o que te parece vazio est ocupado por uma matria que escapa aos teus sentidos e instrumentos. (LE, Livro I, cap. II, questo 36, pg. 55)

Kardec estabelece uma hiptese assimilada pelos espritas como definitiva: a de que existem dois elementos que constituem o Universo, o esprito e a matria. Mas a leitura atenta de sua obra permite vislumbrar que mesmo tal hiptese foi formulada de forma condicional pelo fundador do Espiritismo, seno vejamos:
Um fato patente domina todas as hipteses: vemos matria que no inteligente e vemos um princpio inteligente independente da matria. A origem e a conexo dessas duas coisas nos so desconhecidas. Que elas tenham, ou no, uma fonte comum, com pontos de contato necessrios; que a inteligncia

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tenha sua existncia prpria ou que ela seja uma propriedade, um efeito; que seja mesmo, segundo a opinio de alguns, uma emanao da Divindade, o que ignoramos. Elas nos parecem distintas, e por isso admitimo-las como formando os dois princpios constituintes do Universo. (...) (Livro dos Espritos, Livro I, cap. II, comentrio de Kardec ao item Esprito e Matria, pg. 53)

Matria:
A matria existe desde o princpio, como Deus, ou foi criada por ele em determinado momento? S Deus o sabe. (...) (LE, Livro I , cap. II, questo 21, pg. 51) Define-se a matria como sendo o que tem extenso, impressiona os nossos sentidos e impenetrvel. So exatas estas definies? Do vosso ponto de vista essas definies so exatas, porque no falais seno do que conheceis. Mas a matria existe em estados que vos so desconhecidos. Pode ser, por exemplo, to etrea e sutil que nenhuma impresso vos cause aos sentidos; entretanto, sempre matria, embora para vs no o seja. (Livro dos Espritos, Livro I, cap. II, questo 22, pg. 51) Sobre o fluido universal: (...) Ele est colocado entre o esprito e a matria; fluido, como a matria matria, suscetvel, pelas inumerveis combinaes com esta e sob a ao do esprito, de produzir uma infinita variedade de coisas das quais no conheceis seno uma pequena parte.(...) (LE, Livro I, cap. II, pg. 52)

Esprito:
(...) Qual a natureza ntima do esprito? O esprito, com a linguagem humana, no fcil de ser analisado. Porque o esprito no uma coisa palpvel, para vs ele no nada; mas para ns alguma coisa. (...) (LE, Livro I , cap. II, questo 23, pg. 51) O esprito sinnimo de inteligncia? A inteligncia um atributo essencial do esprito. Todavia, como ambos se confundem num princpio comum, para vs so a mesma coisa. (...) (LE, Livro I , cap. II, questo 24, pg. 51) Os espritos tm uma forma determinada, limitada e constante? Para vs, no; para ns, sim. O Esprito , se quiserdes, uma chama, um claro ou uma centelha etrea. (LE, Livro II, cap. I, questo 88, pg. 73) A alma tem uma sede determinada e circunscrita no corpo? No; mas ela est mais particularmente na cabea dos grandes gnios, em todos aqueles que pensam muito, e no corao, naqueles que sentem muito e dirigem suas aes a toda a Humanidade. (...) pode-se dizer que a sede da alma est mais particularmente nos rgos que servem s manifestaes intelectuais e morais. (LE, Livro II, cap. II, questo 146, pg. 93) (...) Temos uma alma, mas o que a nossa alma? Ela tem uma forma, uma aparncia qualquer? um ser limitado ou indefinido? (...) (LE, Livro II, comentrio de Kardec, cap. II, pg. 95)

O que o esprito, ento? At quando continuaremos no reunindo capacidade para compreend-lo de forma mais concreta? Para ns, o esprito sinnimo de inteligncia. E para os Espritos? No possvel saber? E qual a sua forma?

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Origem e natureza dos espritos:


Deus existe de toda a eternidade e isto incontestvel.; mas saber quando e como nos criou, no o sabemos. (...) mas quando e como ele criou cada um de ns, digo-te, ainda, ningum o sabe; a que est o mistrio. (LE, Livro II, cap. I, questo 78, pg. 71) (...) os Espritos so individualizaes do princpio inteligente como os corpos so individualizaes do princpio material. A poca e o modo dessa formao que so desconhecidos. (LE, Livro II, cap. I, questo 79, pg. 71) Deus os cria (os espritos), como a todas as outras criaturas, pela sua vontade; mas, ainda uma vez, a origem deles um mistrio(LE, Livro II, cap. I, questo 81, pg. 71) exato dizer-se que os espritos so imateriais? Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de comparao e com uma linguagem insuficiente?(...) Imaterial no o termo; incorpreo seria mais exato(...)(LE, Livro II, cap. I, questo 82, pg. 71) (...) Os espritos tm fim? (...) Existem coisas que no compreendeis porque a vossa inteligncia limitada e isso no razo para que as rejeiteis.(...) Dissemos que a existncia do Esprito no tem fim; tudo o que podemos dizer, por enquanto. (LE, Livro II, cap. I, questo 83, pg. 72)

Inteligncia:
Qual a fonte da inteligncia? J o dissemos: a inteligncia universal. (...) a inteligncia uma faculdade prpria de cada ser, e constitui sua individualidade moral. De resto, como sabeis, h coisas que no dado ao homem penetrar e esta desse nmero, no momento (LE, Livro I, cap. IV, questo 72, pg. 69)

Simpatia e afinidade entre os Espritos:


(...) H entre os seres pensantes laos que no conheceis ainda. O magnetismo o guia desta cincia que compreendereis melhor mais tarde. (LE, Livro II , cap. VII, questo 388, pg. 180)

Livre-arbtrio e Determinismo, Influncia dos Espritos sobre os acontecimentos da vida:


Os Espritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas aes? A esse respeito sua influncia maior do que credes porque, freqentemente, so eles que vos dirigem. (LE, Livro II, cap. IX, questo 459, pg. 208) Os Espritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ser contrariados pelos Espritos que queiram o contrrio? O que Deus quer, deve ser; se h atraso ou obstculo, por sua vontade (LE, Livro II, cap. IX, questo 529, pg. 227) (...) poderia ento haver Espritos habitando o interior da Terra e presidindo seus fenmenos geolgicos? Esses Espritos no habitam positivamente a Terra, mas presidem e dirigem segundo suas atribuies. Um dia, tereis a explicao de todos esses fenmenos e os compreendereis melhor. (LE, Livro II, cap. IX, questo 537, pg. 230) Na produo de certos fenmenos, as tempestades por exemplo, um (...) Esprito que age ou se rene em massa? Em massas inumerveis. (LE, Livro II, cap. IX, questo 539, pg. 231)

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Misso dos Espritos:


Em que consistem as misses de que podem estar encarregados os Espritos errantes? Elas so to variadas que seria impossvel descrev-las, alm de que no podeis compreender. Os Espritos executam a vontade de Deus e no podeis penetrar todos os seus desgnios. (LE, Livro II, cap. X, questo 569, pg. 240)

Vitalismo:
Qual a causa da animalizao da matria? Sua unio com o princpio vital. (LE, Livro I , cap. IV, questo 62, pg. 65) O princpio vital reside num agente particular ou no mais que uma propriedade da matria organizada; numa palavra efeito ou causa? uma e outra coisa (...) (LE, Livro I, cap. IV, questo 64, pg. 65)

- Criao:
Podemos conhecer o modo da formao dos mundos? Tudo o que se pode dizer, e podeis compreender, que os mundos se formam pela condensao da matria disseminada no espao. (LE, Livro I , cap. III, questo 39, pg. 56)

Astronomia / Formao do planeta:


Podemos conhecer com exatido o estado fsico e moral dos diferentes mundos? Ns, os Espritos, s podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais; quer dizer que no devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos esto em condies de compreend-las, e isso os perturbaria. (LE, Livro II, cap. IV, questo 182, pg. 108)

Perisprito:
O princpio vital reside em alguns dos corpos que conhecemos? Ele tem sua fonte no fluido universal; o que chamais de fluido magntico ou eltrico animalizado. o intermedirio, o elo entre o esprito e a matria (LE, Livro I , cap. IV, questo 64, pg. 65)

O perisprito tratado, em determinados trechos da obra de Kardec, como sinnimo de princpio vital. Sendo assim, os demais seres orgnicos tambm possuem perisprito?
O Esprito est revestido de uma substncia vaporosa para teus olhos, mais ainda bem grosseira para ns; (...) (LE, Livro II , cap. I, questo 93, pg. 74) (...) por que intermedirio? o que no sabemos. Os prprios Espritos no pode nos dar conta, visto que nossa linguagem no est em condies de exprimir as idias que no temos, (...)(LE, Livro II , cap. VI, questo 257, pg. 142) (...) Passando de um mundo a outro, os Espritos trocam de envoltrio como trocamos de roupa ao passarmos do inverno para o vero, ou do plo para o equador.(...) (LE, Livro II, cap. VI, questo 257, pg. 143)

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Ser que mesma desta forma to trivial que se d esse processo? No h aqui uma alegoria em funo da limitao proporcionada pela linguagem? No possvel explorar de forma mais adequada e aprofundada o perisprito, suas funes, atribuies, fisiologia, caractersticas, gnese, etc., uma vez que esse tema reveste de importncia destacada para o pensamento esprita? Evoluo das Espcies:
(...) assim que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o tomo primitivo at o arcanjo que, ele mesmo, comeou pelo tomo. Admirvel lei da harmonia da qual vosso esprito limitado no pode ainda entender o conjunto. (LE, Livro II , cap. IX, questo 540, pg. 231)

Qual a atualidade da tese defendida no Captulo XI, Livro II do Livro dos Espritos, intitulado: Os trs reinos? Kardec claramente admite distintas concepes respeito desta questo, incorporando-a de forma condicional em O Livro dos Espritos. Seno vejamos:
assim, por exemplo, que todos no pensam a mesma coisa com respeito s relaes que existem entre o homem e os animais. Segundo alguns, o Esprito no alcana o perodo de humanidade seno depois de ser elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores da criao. Segundo outros, o Esprito do homem teria sempre pertencido raa humana, sem passar pela experincia animal.(...) (LE, Livro II , cap. XI, comentrio ao captulo, pg. 254)

A seguir, Kardec afirma que:


o primeiro sistema tem a vantagem de dar um objetivo ao futuro dos animais que formariam, assim, os primeiros elos da cadeia dos seres pensantes. O segundo est mais conforme com a dignidade do homem e pode se resumir como se segue: (...)(LE, Livro II , cap. XI, comentrio ao captulo, pg. 254)

E passa a discorrer sobre este importante tema, afirmando por fim:


Quanto s relaes misteriosas que existem entre o homem e os animais, repetimos, isso est nos segredos de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento atual no importa ao nosso adiantamento e sobre as quais seria intil insistir. (LE, Livro II, cap. XI, comentrio ao captulo, pg. 255)

Importa destacar que no livro A Gnese Os Milagres e as Predies Segundo O Espiritismo, Kardec volta a discorrer sobre esse assunto, inclinando-se claramente pela primeira hiptese. Portanto, preciso retomar com maior clareza (e sob lgica cientfica atual) o tema em questo.
Os Espritos que disseram que o homem um ser parte na ordem da criao, enganaram-se? No, mas a questo no foi desenvolvida e, alis, h coisas que no podem chegar seno em seu tempo. O homem , com efeito, um ser parte, porque ele tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem um outro destino. (...)(LE, Livro II , cap. XI, questo 610, pg. 253)

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H ainda um conjunto de temas sobre os quais Allan Kardec lanou hipteses e formulou teorias espritas mas que devem ser aperfeioados e complementados, exigindo um esforo para que seja desenvolvido um processo de reviso, atualizao e/ou complementao. Entre estes, destacamos a ttulo de sugesto: Epistemologia Esprita Concepo Existencial de Deus Princpio Vital (Vitalismo) Mundo dos Espritos: organizao, natureza, formao, etc. Os animais no mundo dos Espritos Sentidos e sensaes para os espritos A questo do tempo para os Espritos A Memria Espiritual Necessidade de repouso para os espritos A msica no mundo dos espritos Fatalidade e Determinismo A Infncia nos mundos mais adiantados Importncia e papel do corpo fsico Importncia e papel do Mundo Material Perisprito: Pluralidade dos Mundos Habitados Influncia do Espiritismo sobre o Progresso

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Problemas (antigos ou novos) ainda no abordados ou para as quais o Espiritismo no possui posies claramente definidas:
(...) O Egosmo se enfraquecer com a predominncia da vida moral sobre a vida material e, sobretudo, com a inteligncia que o Espiritismo vos d de vosso estado futuro real e no desnaturado pelas fices alegricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenas, transformar os hbitos, os usos e as relaes sociais. (LE, Livro III, cap. XII, questo 917, pg. 352)

possvel apresentar ao debate pblico uma viso esprita sobre a maioria dos temas de interesse para a humanidade, relacionados aos problemas do homem e do mundo atual. Por que no produzir uma abordagem, clara e direta, como as que se pode em diversas oportunidades encontrar ao longo da obra de Kardec? A questo do divrcio, por exemplo, destacada abaixo:
A indissolubilidade absoluta do casamento est na lei natural ou somente na lei humana? uma lei humana muito contrria lei natural, Mas os homens podem mudar suas leis: s as da Natureza so imutveis. (LE, Livro III, cap. IV, questo 697, pg. 281)

De forma similar, pode-se conceber um processo que permita construir, a partir dos referenciais ticos que resultam da filosofia esprita, uma viso objetiva, sem subterfgio ou tergiversao, em relao s questes que consideremos dotadas de pertinncia social e que, portanto, requeiram um posicionamento esprita perante sociedade. Uma doutrina livre-pensadora, progressista, humanista e moderna no pode fugir da responsabilidade de produzir (e difundir) sua viso de mundo, de estruturar conceitos e fornecer, a partir destes, uma orientao moral e propor uma postura tica a ser seguida livremente pelos seus adeptos (note-se, orientao e no imposio, uma vez que se reconhece a preponderncia do livre arbtrio de cada esprito para tomar, responsavelmente, cada uma das decises que a vida lhe impe). Esta a motivao que nos leva a propor um aprofundamento e atualizao do conhecimento esprita. O reconhecimento que a nossa concepo filosfica portadora de uma mensagem excepcionalmente dotada de elementos capazes de contribuir para o progresso da sociedade e das individualidades imortais que a compe. Sendo assim, identificamos e propomos para o debate entre os espritas motivados pelas mesmas preocupaes aqui exaradas, a seguir, entre outros assuntos que possam vir a serem formulados e priorizados ao longo do processo permanente de atualizao do Espiritismo que se inicia, um conjunto temtico de problemas para os quais entendemos que h necessidade de construo (ou complementao por terem sido abordados de forma superficial ou no conclusiva) de uma abordagem esprita:

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Utilizao dos avanos cientficos e tecnolgicos no interesse da paz e em benefcio da humanidade Inteligncia Artificial Pesquisa em Seres Humanos Eutansia e Distansia Coma e os variados graus de inconscincia ( possvel aproveitar para atualizar parte do captulo VIII, Livro II, do Livro dos Espritos, que trata de temas tais como letargia, catalepsia e morte aparente) Hipnose Transplantes Doao de rgos e de clulas (post-morten , inter-vivos, doao presumida) Cremao Manipulao gentica de organismos vivos (transgnicos) Projeto Genoma Humano e a Medicina Preditiva Clonagem de seres vivos e em especial de seres humanos:
O aperfeioamento das raas animais e vegetais, pela cincia, contrrio lei natural? Seria mais conforme essa lei deixar as coisas seguirem seu curso natural? Deve-se fazer tudo para alcanar a perfeio, e o prprio homem um instrumento do qual Deus se serve para alcanar seus fins. A perfeio, sendo o objetivo para o qual tende a Natureza, favorec-la corresponder a essa finalidade. (LE, Livro III, cap. IV, questo 691, pg. 279)

Reproduo Assistida (Inseminao assistida, Fertilizao Artificial, criopreservao e transferncia de embries, doao de gametas, diagnstico gentico etc.) Planejamento Familiar e Controle da Natalidade:
As leis e costumes humanos que tm por objetivo ocasionar obstculos reproduo, so contrrias lei natural? Tudo o que entrava a marcha da Natureza contrrio lei geral. (... segue-se nova pergunta...) (...) Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que deve usar para o bem, mas no abusar. Ele pode regrar a reproduo segundo as necessidades, mas no deve entrav-la sem necessidade. (...). (LE, Livro III, cap. IV, questo 693, pg. 280)

Sade mental e sofrimentos psquicos Doenas crnico-degenerativas Medicina e prticas alternativas em sade (em particular as energticas e holistas) Aborto (quando ocorre violncia sexual ou h inviabilidade fetal total ou parcial) Sexualidade, identidade sexual e energias sexuais Homossexualidade Unio civil e afetiva entre pessoas do mesmo sexo Planejamento Familiar e controle da natalidade Criao de filhos por pais solteiros ou do mesmo sexo Gravidez de substituio (Maternidade de aluguel) Condies espirituais durante a prematuridade

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Teorias econmicas (entre as alternativas para a sociedade: capitalismo/neoliberalismo ou uma terceira via, qual se adequa a viso esprita?): Alcoolismo, Drogas e toxico-dependncias.

socialismo,

A aberrao das faculdades intelectuais por embriaguez escusa os atos repreensveis? No, porque o bbado est involuntariamente privado de sua razo para satisfazer paixes brutais: em lugar de uma falta, ele comete duas. (LE, Livro III, cap. X, questo 848, pg. 326)

Transio demogrfica da populao humana Violncia urbana e social Violao aos direitos humanos
(...) Toda sujeio absoluta de um homem a outro homem contrria Lei de Deus.(...) (LE, Livro III, cap. X, questo 829, pg. 322)

Escravido e explorao do trabalho alheio (prostituio, trabalho infantil, etc.) Democracia Pacifismo Totalitarismo Justia social Aperfeioamento da Legislao humana tica (termo no utilizado por Kardec) x Moral Ecumenismo e a Religio Moderna Pluralidade cultural, tnica e racial (racismo, fundamentalismo religioso e tnico) Lazer e cio Desenvolvimento Sustentvel (Ecologia, Meio Ambiente, Desenvolvimento Econmico e Participao Social)
(...) A ao inteligente do homem um contrapeso estabelecido por Deus para restabelecer o equilbrio entre as foras da Natureza, e isso, ainda, que o distingue dos animais, porque o faz com conhecimento de causa. (...) (LE, Livro III, cap. IV, questo 693, pg. 280)

Terceiro Setor e Participao Social Consumismo e Utilitarismo Propaganda ideolgica e aspectos ticos relativos Publicidade e aos Meios de Comunicao de Massa Vegetarianismo e Alimentao Natural Ufologia e Pluralidade dos Mundos Habitados (extraterrestres) Problemas relativos Adolescncia Responsabilidade civil de crianas e adolescentes

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Hipteses e teorias espritas estabelecidas atravs de literatura medinica ou da contribuio de estudiosos espritas encarnados e que no foram devidamente validadas ou refutadas
O Espiritismo ser no futuro o que dele os espritas fizerem. (Len Denis)

A seguir, so apenas e to somente destacadas, a ttulo de exemplo e sem que se queira esgotar a grande variedade de contribuies tericas formuladas por autores encarnados e desencarnados desde os tempos de Allan Kardec, uma sequncia de temas relacionados hipteses e teorias: a) elaboradas atravs da literatura medinica, por mdiuns cuja produo mais ou menos reconhecida, independentemente da qualidade, coerncia e factibilidade de cada uma destas proposituras, mas que sem exceo, no foram submetidas a nenhum mtodo de validao (ou refutao), nem ao menos ao clssico controle universal das comunicaes proposto e utilizado por Allan Kardec, entre as quais pode-se destacar: A vida no Mundo Espiritual: Andr Luiz, Luiz Srgio, Zbia Gasparetto, etc. Evoluo em Dois Mundos: Andr Luiz Mecanismos da Mediunidade: Andr Luiz O Suicdio e a situao dos Suicidas: Yvonne A Pereira Determinismo Histrico do Brasil (O chamado Corao do Mundo e Ptria do Evangelho): Humberto de Campos Almas Gmeas: Emmanuel Espiritismo como o Cristianismo Redivivo: Emmanuel, Bezzera de Menezes e outros O Trplice Aspecto do Espiritismo (com nfase a um religioso): Emmanuel b) Formuladas por estudiosos espritas que produziram contribuies ao pensamento esprita, incorporadas ou no ao corpo doutrinrio do Espiritismo, mas que tambm no foram devidamente debatidas, analisadas, refutadas ou formalmente consideradas vlidas. Merecem ser destacadas, muito embora seja muito provvel que venhamos a incorrer em imperdovel omisso de outras importantes hipteses e teorias, uma vez que tem sido pouco (ou quase nada) difundidas e valorizadas em nosso meio esprita as contribuies desta natureza. Evoluo anmica: Gabriel Delanne Uranografia e Pluralidade dos Mundos Habitados: Camile Flamarion Os animais no mundo dos espritos: Camile Flamarion Inconsciente e Perisprito: Gabriel Dellane, Gustave Geley, Jorge Andra

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Perisprito como sede da memria espiritual: Gabriel Dellane O Trplice Aspecto do Espiritismo (com nfase a um religioso): Carlos de Brito Imbassahy Filosofia interexistencial: Jos Herculano Pires Educao Esprita (teoria aparencial da criana): Jos Herculano Pires, Humberto Mariotti Antropologia Esprita: Jos Herculano Pires Vampirismo: Jos Herculano Pires Mediunidade Zofila: Jos Herculano Pires, Humberto Mariotti Modelo Organizador Biolgico e Campo Biomagntico: Hernani Guimares de Andrade Teoria Corpuscular do Esprito: Hernani Guimares de Andrade Sociologia Esprita: Manuel S. Porteiro Dialtica Esprita: Manuel S. Porteiro, Jos Herculano Pires, Gustave Geley Doutrina Social Esprita: Len Denis, Deolindo Amorim, Cosme Mario, Santiago Bossero, Paz Basulto, Fernando Ortiz, Rufino Juanco, entre outros. Partido Esprita: Jos Freitas Nobre Espiritossomtica: Jaci Regis Transcomunicao instrumental: Friedrich Jrgenson, Konstantin Raudive, George Meek, Hans Otto Knig, Jules e Maggy Harscg-Fischbach, Hernani Guimares de Andrade Terapia de Vidas Passadas: Helen Wambach, Denis Kelsey, Edith Fiore, Brian L. Weiss, Florence Wagner McClain Mediunidade (aspectos diversos): Gabriel Delanne, Camile Flamarion, Len Denis, Gustave Geley, Alexander Akssakoff, Ernesto Bozzano, Caibar Schutel, Jos Herculano Pires, Rino Curti, Edgard Armond, Hermnio C. Miranda, Alan Gauld, entre outros Reencarnao (aspectos diversos): Gabriel Delanne, Camile Flamarion, Len Denis, Ernesto Bozzano, Gustave Geley, Jos Herculano Pires, Manuel Porteiro, Paul Bodier, Karl Muller, Humberto Mariotti, Ian Steveason, H. Banerjee, entre outros

30

Prticas espritas de origem diversas incorporadas pelo Movimento Esprita que no foram submetidas a anlise de eficcia e validao
Uma srie de prticas vem sendo desenvolvidas em parte considervel de instituies e grupos que fundamentam suas atividades a partir dos princpios doutrinrios espritas. Muitas destas, fruto de uma tradio cultural, carecem de melhor fundamentao terica e de uma avaliao de sua eficcia, bem como a validao dos resultados obtidos. A seguir, destacamos um grupo representativo destas prticas que podem compor um produtivo esforo de atualizao, fundamentao terica, comprovao de seus resultados e validao cientfica: Fluidoterapia ou Emisses energticas prxima (passe) gua fludica Emisses energticas distncia (vibrao ou irradiao) direcionados encarnados Emisses energticas distncia (vibrao ou irradiao) direcionados desencarnados Prticas medinicas diversas Formao e desenvolvimento medinico Desobsesso Doutrinao de espritos desencarnados Curas medinicas Consultas mdicas espirituais (com utilizao de procedimentos teraputicos diversos) Apometria Cromoterapia Filantropia e assistncia social (diversas prticas) Assistncia Espiritual portadores de doenas mentais e sofrimentos psquicos Consultas espirituais (orientao) Catecismo Esprita, Escolas de Evangelizao e outras prticas religiosas Culto do Evangelho no Lar

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CONCLUINDO
Muitas pessoas pensam , por outro lado, que O Livro dos Espritos esgotou a srie de perguntas de moral e de filosofia; um erro; por isso talvez til indicar a fonte de onde se pode tirar assuntos de estudo, por assim dizer, ilimitados. (Livro dos Mdiuns item 343, pg. 402)

A constituio de uma Agenda Esprita um passo essencial e inadivel para que o processo de atualizao do Espiritismo possa ocorrer de forma concreta e no apenas como um desejo de estudiosos espritas, comprometidos com o pensamento kardecista, que identificam essa iniciativa como de fundamental importncia para a sobrevivncia e o fortalecimento do Espiritismo. Procuramos formular e desenvolver, ainda que de forma sumria, uma proposta que parte de seis eixos temticos para a atualizao do Espiritismo, a serem aprofundados, debatidos e progressivamente apropriados pelos espritas como uma tarefa doutrinria permanente da maior seriedade e importncia. P.G.Leymarie, um dos mais importantes vultos do Espiritismo de todos os tempos, ao concluir o livro Obras Pstumas, conta-nos que: No Congresso esprita e espiritualista internacional de 1890, os delegados declararam que, desde 1869, os estudos seguintes tinham revelado coisas novas, e que, segundo o ensinamento preconizado por Allan Kardec, alguns dos princpios do Espiritismo, sobre os quais o mestre baseara seu ensinamento, deveriam ser colocados no ponto e de acordo com os progressos da cincia h 20 anos. (Obras Pstumas, pg. 377). Retomemos, pois, o ideal de Kardec. O Espiritismo uma doutrina dinmica, aberta, livrepensadora, progressista, profundamente humanista. Faamos um Espiritismo para os encarnados, para o mundo de hoje, onde se constri o amanh. Para tanto, utilizemo-nos das bases slidas e insuperveis (porm no intocveis) fornecidas no passado por Allan Kardec e a pliade de Espritos que tanto colaboraram no processo de edificao do Espiritismo. Mais do que nunca atual a palavra de Leymarie. Colocar o Espiritismo no ponto e de acordo com os progressos da cincia nos ltimos 143 anos, eis o desafio para todos aqueles que compreendem a importncia e a magnitude da Filosofia Esprita.

32

BIBLIOGRAFIA

Kardec, Allan. O Livro dos Espritos. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 116 edio, 1998. Kardec, Allan. Instrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas. Traduo de Joaquim da Silva Sampaio Lobo e Caibar Schutel. Sobradinho, DF, EDICEL, 12 edio, 1990. Kardec, Allan. O que o Espiritismo? Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDEInstituto de Difuso Esprita, 22 edio, 1998. Kardec, Allan. O Livro do Mdiuns. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 46 edio, 1997. Kardec, Allan. O Espiritismo na sua mais Simples Expresso. Traduo de Joaquim da Silva Sampaio Lobo e Caibar Schutel. Sobradinho, DF, EDICEL, 12 edio, 1990. Kardec, Allan. O Evangelho Segundo Espiritismo. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 227 edio, 1998. Kardec, Allan. O Cu e o Inferno ou A Justia Divina Segundo o Espiritismo. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 15 edio, 1998. Kardec, Allan. A Gnese Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 16 edio, 1998. Kardec, Allan. bras Pstumas. Traduo de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE- Instituto de Difuso Esprita, 6 edio, 1997. Kardec, Allan. Revista Esprita - Jornal de Estudos Psicolgicos. 12 Volumes (18581869). So Paulo, SP, EDICEL, sem data. Reis, A.A C, Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec. CPDoc, Santos, 1996.

CENTRO ESPRITA:
uma reviso estrutural

MAURO DE MESQUITA SPINOLA

CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural Mauro de Mesquita Spinola


1997 - 1a edio - 500 exemplares

Copyright 1997 by CPDoc Centro de Pesquisa e Documentao Esprita


Rua Saturnino de Brito, 84/55 - 11070-000 - Santos - SP

CENTRO ESPRITA:
uma reviso estrutural

Todos os direitos reservados. proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio.
Capa: lvaro de Mesquita Spinola. Reviso Final: Marissol Castello Branco. Produo : Marissol Castello Branco e Alcione Moreno. Fotolito da capa: Magda Salomo Microart Comunicao. Rua Dr. Nogueira Martins, 442 - 04143-020 - So Paulo - SP. Impresso e acabamento: Grafpel Artes Grficas Ltda. Rua Soldado Joo Espinardi, 63 - 07093-010 - Guarulhos - SP.

Ficha catalogrfica: Spinola, Mauro de Mesquita. 1956Centro esprita: uma reviso estrutural. Santos, CPDoc, 1997. 104p. ISBN: 85-86429-02-3 1. Espiritismo I.t CDU 133.9

Santos 1997

Impresso no Brasil - Printed in Brasil.

Aos meus pais Neyde e Geraldo, que me ensinaram o que o Espiritismo. minha companheira Diva e meus filhos Fernando e Mara, que esto sempre ao meu lado e me provam a cada dia que existe algo mais por trs desta vida.

SOBRE O CPDOC

SUMRIO
INTRODUO............................................................... 17
CAPTULO 1

Centro de Pesquisa e Documentao Esprita CPDoc um grupo formado em 1988, em SantosSP, por jovens espritas que se conheciam dos encontros regionais realizados no Estado de So Paulo. Formado com a finalidade de desenvolver pesquisas sobre o Espiritismo, o CPDoc, desta maneira, criou um espao para a elaborao, discusso e divulgao de estudos e pesquisas nas diversas reas do conhecimento relacionadas com o Espiritismo. Suas reunies so bimestrais, alternando-se entre as cidades de Santos e So Paulo. A atividade principal tem sido a discusso dos trabalhos escritos por integrantes do grupo. Cada membro do grupo desenvolve monografias nos temas de seu interesse. Cada monografia repassada aos demais membros e, numa data previamente marcada, feita sua apresentao e debate. Os membros levam para esta reunio seus comentrios, crticas e sugestes para aperfeioamento do texto proposto. Aps esta reunio o autor revisa o texto original e reapresenta-o aos demais para nova apreciao. O objetivo deste mtodo fazer com que os trabalhos apresentados cheguem ao nvel de serem publicados, como este livro agora apresentado. O CPDoc tambm divulga sua produo em simpsios, centros espritas e atividades culturais.

EM BUSCA DE UMA DEFINIO ........................ 22


1.1. ASPECTOS HISTRICOS........................................... 22 1.2. CENTRO ESPRITA X ESPIRITISMO: alguns confrontos 27 1.3. AS DIVERSAS FEIES DOS CENTROS ESPRITAS ....... 33 1.4. EVENTOS DE RENOVAO ...................................... 34 1.5. POSSVEL DEFINIR UM MODELO ? ......................... 36

CAPTULO 2

A MEDIUNIDADE .................................................. 41
2.1. O PAPEL DA MEDIUNIDADE ..................................... 41 2.2. AS REUNIES MEDINICAS ..................................... 44 2.3. ATIVIDADES MEDINICAS NO CENTRO ESPRITA ...... 49
2.3.1. Estudos de mediunidade ................................... 50 2.3.2. Assistncia a espritos desencarnados ................. 50 2.3.3. Atendimento de pessoas.................................... 52 2.3.4. Terapia de obsesso ........................................ 52 2.3.5. Passes........................................................... 54 2.3.6. Pesquisas de mediunidade ................................ 55

2.4. CONCLUSO: a mediunidade na reviso do centro esprita ...................................................................56

5.2. CRITRIOS PARA ABERTURA .................................... 88 5.3. CONCLUSO: o centro de todos ................................ 89

CAPTULO 3

ESTUDOS E PESQUISAS ........................................58


3.1. A BASE DO CENTRO ................................................58 3.2. CRITRIOS NECESSRIOS PARA UMA ESTRUTURA
BASEADA EM ESTUDOS E PESQUISAS .........................62

CAPTULO 6

INTEGRAO ENTRE CENTROS ESPRITAS .... 91


6.1. INTEGRAO: uma necessidade ............................... 91 6.2. O MOVIMENTO DE UNIFICAO: para a frente e para trs93 6.3. CONCLUSO: caminhos que se abrem para uma integrao real ........................................................ 95

3.3. ATIVIDADES DE ESTUDOS E PESQUISAS NO CENTRO


ESPRITA ................................................................64

3.3.1. Estudos doutrinrios ........................................65 3.3.2. Estudos para a infncia ....................................66 3.3.3. Estudos para a juventude ..................................67 3.3.4. Pesquisas .......................................................67 3.3.5. Divulgao do Espiritismo ................................70

CONCLUSO ................................................................. 98
A BASE CONCEITUAL J EXISTE...................................... 98 O MODELO PROPOSTO SERVE DE BASE PARA A
REESTRUTURAO .................................................. 99

3.4. CONCLUSO: estudos e pesquisas na reviso do centro esprita ...................................................................70

CAPTULO 4

UMA OPO DIFERENTE ............................................ 100 POR ONDE COMEAR? ................................................. 101 AS PESSOAS ................................................................ 105

O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE .............73


4.1. DEFESA DO ESPIRITISMO ........................................74 4.2. O CENTRO ESPRITA PARA O HOMEM ........................76 4.3. A SOCIEDADE COMO TEMA DE ESTUDO ....................78 4.4. ATUAO SOCIAL ..................................................81 4.5. O CENTRO ESPRITA E A COMUNIDADE .....................83 4.6. CONCLUSO: para ser um remo ...............................84

BIBLIOGRAFIA ........................................................... 107 SOBRE O AUTOR ........................................................ 112

CAPTULO 5

O PODER NO CENTRO ESPRITA .......................86


5.1. MANDATOS DIVINOS ...............................................86

APRESENTAO
onheo Mauro de Mesquita Spinola h muitos anos, e entre ns existe uma profunda amizade que, certamente, ultrapassa os estreitos limites de uma existncia. Por ele tenho profundo respeito e admirao. Diria que mais do que isso, tenho-o como um filho do corao. interessante que a nossa amizade solidificou-se com uma pequena divergncia doutrinria. Escrevi uma carta ao programa Momento Esprita, que vai ao ar pela Rdio Boa Nova de Guarulhos, discordando de uma questo doutrinria defendida por ele e pelo Plnio Paulo Leiva de Lucca, depois conversamos longamente sobre o assunto e passamos a respeitar-nos mais ainda. Recentemente viajvamos no mesmo carro para uma tarefa doutrinria em Santos, quando ele surpreendeume, pedindo-me, como se fosse um favor, para escrever a apresentao do seu livro. Ele no percebeu porque estava no banco traseiro e eu no dianteiro, mas os meus olhos ficaram midos por duas lgrimas que no chegaram a cair, mas que perolaram nas janelas de minha alma. Sei que somente o seu corao bondoso poderia fazer esse pedido, pois o professor universitrio desce de sua ctedra para estender a mo a algum que no superou as primeiras sries escolares.

Li os originais da obra com um interesse incomum para quem, depois de mais de 40 anos de movimento esprita j leu muitos livros sobre o tema Centro Esprita. Haveria algo mais a abordar? Haveria alguma faceta inexplorada? Sim! Havia a prpria estrutura do Centro Esprita a ser explorada. O trabalho do Mauro foi escrito, reescrito, criticado em reunies do CPDoc e corrigido mais de uma vez. Seria o autor um contestador? Algum disposto a contrariar o que est sedimentado? Sim, mas com o objetivo de melhorar a atuao do Centro Esprita. O mais importante que o autor no um terico, um esprita de gabinete, mas algum que se formou esprita nas agremiaes juvenis do movimento, participando de debates doutrinrios, liderando Encontros de Mocidades, dinamizando o movimento jovem. Viveu intensamente o perodo de Mocidade Esprita e, mal sado da adolescncia, integrou-se ao Centro Esprita, participando de cargos diretivos, vivendo o dia-a-dia do Centro, esbarrando com personalismos e incompreenses de adultos, mas respeitando-os carinhosamente. Felizmente comeamos a sair do missionarismo, ou seja, pessoas que por causa de fenmenos medinicos se julgam fadados a fundar um centro esprita juntamente com o seu guia ou mentor, ambos ignorantes de Doutrina Esprita, mas com pretenso mandato divino para salvar a humanidade, ou parte dela. Por outro lado, encontramos centros espritas que se ocupam tanto de curas fsicas que mais parecem um Centro de Sade ou Ambulatrio Hospitalar. O que dizer, ento, daqueles que se assemelham a sacristias de igrejas ou que mais parecem plpitos pentecostais?

Isto se d, segundo o autor, e concordamos plenamente com ele, pelo desconhecimento do Espiritismo. Sabemos que podero argumentar que os grandes centros espritas mantm escolas de Espiritismo, mas talvez um grande nmero deles no faa uma leitura correta da obra Kardequiana. O Centro Esprita comprometido com o Espiritismo, afirma Mauro Spinola, isso nos d uma profunda alegria, pois de h muito tempo compreendemos que a prioridade do Centro Esprita ensinar e vivenciar Espiritismo. Alegra-nos, tambm, o fato do autor no se afastar um s momento de Allan Kardec. Mauro de Mesquita Spinola prope um programa prprio para a infncia, que desenvolva uma educao esprita integral, que inclua tambm o Evangelho, mas que seja abrangente. O livro traz sugestes importantes para a reestruturao do Centro Esprita. A nosso ver, essa reestruturao dever passar tambm pela imprensa esprita, com a transformao dos nossos peridicos em veculos informativos e formativos, que propiciem o conhecimento e apiem a cultura esprita. Logicamente, inclumos neste contexto os programas espritas de rdio, e as ainda tmidas incurses na televiso. O autor, no captulo 6o subttulo 6.2. O Movimento de Unificao: para frente e para trs toca numa ferida ainda superficialmente cicatrizada no movimento de Unificao do Estado de So Paulo. Ele foi breve e direto no assunto. Apenas uma estocada, talvez o suficiente para reabrir feridas, mas que exemplifica a nossa imaturidade para discutir pontos divergentes, quer se-

jam doutrinrios, quer sejam de organizao e de poder. Com o texto desta apresentao ainda na tela do computador, lemos com ateno e conclumos que ele seria desnecessrio, pois, o Centro esprita: uma reviso estrutural, suficientemente claro na sua proposta, e o autor escreve de forma gostosa de ser lida, um assunto rido por natureza. Seu estilo claro e elegante, e a sua maturidade doutrinria incontestvel. Entretanto, no podamos deixar de atender o convite do Mauro e aqui est. Tenho a impresso que muitos leitores dispensam a leitura da apresentao, porm, os que o lerem compreendero o nosso carinho para com o autor, e a nossa admirao. A proposta do livro exeqvel? Certamente sim, mas preciso uma conscientizao pessoal de cada dirigente esprita, porque esta, a nosso ver, uma proposta de verticalizao de todos aqueles que militam nas instituies espritas, inclusive os assistidos. Fao votos para que este livro possa despertar nos seus leitores, especialmente nos que forem dirigentes espritas, a reflexo sobre a sua instituio, de corao aberto, para que compreendamos todos o que Herculano Pires escreveu no seu livro, O Centro Esprita, O Centro Esprita no templo nem laboratrio, mas o ponto visual de convergncia do movimento doutrinrio. Amilcar Del Chiaro Filho Guarulhos/SP Maro de 1997

PREFCIO
necessrio e possvel realizar uma reviso estrutural dos centros espritas na atualidade, que permita a eles traar seus caminhos vinculados e comprometidos com o prprio desenvolvimento do Espiritismo, alm de se caracterizarem socialmente de forma clara. Isso hoje no ocorre. Viso com este estudo contribuir para essa reviso. Parto da constatao de que os centros espritas vivem hoje uma dificuldade de identificao, gerada sobretudo pelos confrontos entre sua estrutura, a leitura do Espiritismo e a modernizao cultural e moral da sociedade. Tanto como casa do Espiritismo quanto como clula social o centro ainda busca uma definio mais precisa. O texto que agora apresento comeou a ser desenvolvido em 1987, quando escrevi o artigo O centro esprita e a sociedade1 para o II ENSASDE - Encontro Nacional sobre o Aspecto Social da Doutrina Esprita, realizado naquele ano em So Paulo. Na poca a maior preocupao foi a de propor caminhos para aperfeioar as relaes entre o centro esprita e a sociedade, sobretudo no sentido de reduzir a apatia reinante nos centros em relao s questes sociais. Boa parte daquele texto original foi reapro1

veitado, com pequenas modificaes, para este livro, aparecendo sobretudo no Captulo 4 - O centro esprita e a sociedade. A partir daquele artigo surgiu a idia de ampliar o estudo, fazendo-o abranger os diversos aspectos conceituais que orientam a criao e o desenvolvimento dos centros espritas. Realizei inicialmente uma pesquisa na literatura esprita sobre as principais propostas existentes para os centros espritas. Esta pesquisa determinou os grandes temas de interesse que denominei de elementos da estrutura do centro esprita e com base neles desenvolvi os captulos. Em 1989 apresentei a primeira verso do texto no CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentao Esprita. Com as crticas e sugestes ali recebidas dos companheiros, ele foi ampliado e aperfeioado. Foi reapresentado em 1992 e recebeu novas sugestes. Em 1993 foi apresentado, j na forma final, no III SBPE - Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita,2 realizado em Santos/SP. Pequenas adaptaes foram acrescentadas desde ento, visando esta publicao na forma de livro. Quero fazer um agradecimento especial aos amigos do CPDoc, por me incentivarem, criticarem e aperfeioarem o texto, desde seu primeiro rascunho. Mauro de Mesquita Spinola e-mail: <[email protected]> So Paulo/SP Maro de 1997

Mauro de Mesquita Spinola. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 59-66.

Mauro de Mesquita SPINOLA. Centro esprita: uma reviso estrutural. Em: SBPE SIMPSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPRITA, 3. Anais.

17

18 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural to esprita. No terei condies de apresentar solues finais nem modelos definitivos, mas buscarei formul-los sempre que possvel, visando entrelaar e avaliar melhor as idias discutidas. Uma reflexo sobre a estrutura dos centros espritas exige a identificao dos elementos que compem essa estrutura. Assumo que so os seguintes: a) a mediunidade, b) os estudos e as pesquisas, c) as relaes entre o centro esprita e a sociedade, d) o poder, e e) a integrao entre centros espritas. ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CENTRO ESPRITA Mediunidade Estudos e pesquisas Relaes com a sociedade Poder Integrao com outros centros espritas O captulo 2 trata da mediunidade no centro esprita. A mediunidade o elemento chave da estrutura do centro. A comunicao com os espritos deu origem ao Espiritismo e foi desde o incio o seu maior instrumento de desenvolvimento. Os centros espritas em geral se formam em torno do fenmeno medinico e os mdiuns so sua maior referncia. Os caminhos e descaminhos da utilizao da medi-

INTRODUO

anlise da estrutura do centro esprita e as possveis propostas que dela possam advir esbarram em vrias dificuldades. Eis algumas delas: (1) difcil definir centro esprita. muito grande a heterogeneidade existente entre os grupos e como conseqncia surgem dvidas: o que estaramos analisando? a que e a quem estaramos propondo? (2) Em muitos centros espritas vive-se hoje um perodo de discusso e reviso estrutural. H tambm a criao de novos grupos, com estruturas alternativas e claramente diferentes das existentes. Os resultados so apenas preliminares e no h indcios de tendncias generalizadas. A primeira dessas dificuldades discutida no captulo 1. L escolho alguns critrios para identificar um centro esprita, e os justifico, no sentido de encontrar um caminho para anlise. Em relao segunda, busco no decorrer de todo o texto identificar conceitos, problemas e propostas apresentados por vrios autores que se dedicaram a esse assunto especfico e combino-os com a experincia que tenho adquirido atravs da participao no Centro de Estudos Espritas Jos Herculano Pires3 e no movimenCentro de Estudos Espritas Jos Herculano Pires, Rua Alicante 389, Vila Granada, Penha, So Paulo-SP, CEP 03654-010.

19 unidade tm delineado a prpria histria dos centros espritas. O captulo 3 enfoca os estudos e pesquisas no centro, elementos bsicos e ponto de partida para uma reviso conceitual e estrutural. A insero social do centro esprita estudada no captulo 4: identifico as relaes entre o centro esprita e a sociedade, e proponho caminhos. Uma anlise da estrutura do centro esprita passa necessariamente pelas relaes de poder. H um conjunto de procedimentos que merecem reviso. No captulo 5 trato desse assunto. O ltimo elemento da estrutura do centros espritas que abordo a integrao entre os centros, no captulo 6. Essa integrao necessria, sem dvida, para intercmbio e cooperao entre os grupos e para consolidao de conquistas, mas tem sido muitas vezes instrumento de cristalizao de velhas estruturas e conceitos. Este livro no trata, de forma sistemtica, dos aspectos de organizao e administrao do centro esprita. H alguns livros e apostilas que tratam do assunto. O centro esprita, de Wilson GARCIA, sinttico e objetivo, um livro de valor.4 Entre os autores pesquisados, dediquei especial ateno aos dois que deram contribuies mais significativas para o estudo da estrutura do centro esprita at agora: Allan KARDEC e Jos Herculano PIRES. Em toda a extenso do texto eles so citados, sobretudo em suas respectivas obras O livro dos mdiuns5 e O centro esprita. 6
4 5 6

20 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural O livro dos mdiuns, publicado em 1861, continua sendo referncia obrigatria para formao, avaliao e dinamizao dos grupos. Reputo grande importncia a este livro no contexto da obra de KARDEC. Se em O livro dos espritos encontramos a apresentao da doutrina como um todo, constituindo-se por isso no mais abrangente trabalho seu, no entanto em O livro dos mdiuns que passamos mais claramente a conhecer a sua maneira de trabalhar, o mtodo kardequiano. E esse mtodo que referenda toda a sua obra. Marco maior da lucidez de KARDEC, esse compndio ainda no esgotou seus recursos de aplicao. O livro de Jos Herculano PIRES O centro esprita se prope a apresentar um estudo sobre as origens, o sentido e a significao do centro esprita. um trabalho poderoso, que capta conceitos importantes, identifica distores e prope um modelo, mas no escapa ao envolvimento de algumas idias j cristalizadas. No me proporia a tentar fixar de forma precisa a funo do centro, como faz Herculano, sobretudo porque difcil trabalhar com uma verdade que no praticada. Mas concordo com ele quando constata que a funo e a significao do centro so desconhecidas, s ficando uma dvida: algum conhece completamente? Cabe ainda uma considerao sobre tudo o que se segue: a discusso que este livro traz sobre o centro esprita no est isolada do contexto social e histrico em que esto inseridos os centros espritas brasileiros neste final de sculo. As anlises que fao e as propostas que apresento em cada um dos assuntos esto sempre marcadas por todo um conjunto de fatores reais que envolvem a vida do centro. Os centros espritas tambm so reflexos da nossa sociedade, de seus valores, seus anseios, seus problemas,

Wilson GARCIA. O centro esprita. Allan KARDEC. O livro dos mdiuns. J. Herculano PIRES. O centro esprita.

21 seus vcios. Portanto, a contribuio deste texto est vinculada e limitada a esse contexto.

22 CENTRO ESPRITA: UMA REVISO ESTRUTURAL

Captulo 1

EM BUSCA DE UMA DEFINIO

problema de definio conceitual e estrutural dos centros espritas estudado neste captulo. Se olhamos para o conjunto dos centros, identificaremos grande indefinio e heterogeneidade, dificultando uma definio precisa. Discuto essa heterogeneidade e algumas caractersticas problemticas da estrutura atual dos centros. Proponho depois um modelo conceitual. Para entender o que so os centros hoje fundamental que se reveja a sua histria. Por isso inicio por um levantamento de aspectos histricos relevantes. So dados que esclarecem as origens de diversas caractersticas atuais dos centros espritas. No h aqui espao suficiente para um detalhamento, mas o tema pode ser aprofundado atravs das referncias indicadas.

1.1. ASPECTOS HISTRICOS


Para entendermos a origem dos grupos espritas temos que buscar os grupos que os antecederam, surgidos antes do trabalho de elaborao do Espiritismo, realizado por Allan KARDEC na Frana. Como ignorar os grupos de magnetistas e magnetizadores, com destaque para os seguidores de MESMER, que foram muitos no final do sculo

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 23

24 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural dologia de estudo e pesquisa da mediunidade, documentada sobretudo atravs da Revista esprita.13 FVARO, DEL CHIARO e PALAZZI fazem um estudo do perfil psicossocial do freqentador dos centros espritas do tempo de KARDEC e concluem:
Chegamos concluso de que os fenmenos espritas foram estudados num primeiro momento por homens aristocratas da nobreza europia. No eram "Joo Ningum" e tambm no eram cientistas, pois viam no fenmeno mais um passatempo do que cincia. Isto no invalidou suas pesquisas, pois na verdade elas incomodaram os cientistas, que viam naqueles fenmenos a ignorncia, o misticismo, a superstio do povo ou o cambalacho de alguns espertalhes." 14

XVIII e incio do XIX na Frana?7 Como deixar de considerar os diversos grupos de adeptos do modern spiritualism que surgiram nos Estados Unidos a partir dos fenmenos ocorridos com as irms FOX?8 E os grupos que passaram a realizar reunies de mesas girantes na Europa, em meados do sculo XIX, que na Frana acabaram por chamar a ateno de KARDEC?9 Muitos mdiuns, magnetizadores e mgicos polarizaram a criao de grupos mais ou menos efmeros, mais ou menos srios, em torno de si. Esses agrupamentos so os antecessores dos grupos espritas criados no perodo ps-KARDEC e dos grupos espritas atuais. com KARDEC, no entanto, a partir de 1855, que o Espiritismo ganha feio doutrinria.10 Ele lanou O livro dos espritos em 1857, com as bases da nova doutrina11 e fundou, em 1858, a Sociedade Parisiense de Estudos Espritas (SPEE), cujos estatutos foram publicados posteriormente em O livro dos mdiuns para servir de modelo aos centros espritas que nasciam por toda parte.12 A SPEE, sob a coordenao do prprio KARDEC, firmou uma meto-

Os autores comparam esses dados com a realidade de nossos centros, afirmando que na Frana os freqentadores eram nobres, intelectuais, pesquisadores da alta burguesia e classe mdia procura de comprovaes cientficas da imortalidade da alma.
"No era o sofrimento, a angstia existencial, o medo do futuro, a doena e a pobreza. No era a consolao ou a cura da loucura, da obsesso." 15

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Ubiratan MACHADO. Os intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. cap. II, p. 40-42. Ibid., p. 43-44. Ibid., p. 44. Allan KARDEC. O Espiritismo em sua mais simples expresso. Em: . Iniciao esprita. p. 19. . Extratos "in extenso" do livro das previses concernentes ao Espiritismo: manuscrito feito com especial cuidado por Allan Kardec. Em: . Obras Pstumas. parte 2, p. 217-219. Ibid. p. 218-222. . O livro dos espritos. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 1. Allan KARDEC. Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXX, p. 435-444.

No Brasil esses motivos se tornaram os principais para a criao e manuteno de centros espritas. O trabalho de KARDEC influenciou fortemente a estruturao dos grupos franceses e, por conseqncia, teve grande impacto sobre os primeiros agrupamentos brasilei-

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14

15

. Revista esprita. . Introduo - II - Autoridade da doutrina esprita. Em: . O evangelho segundo o Espiritismo. p. 11-18. . Caracteres da revelao esprita. Em: . A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. I, itens 12-18, p. 15-18. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 4-6. Ibid., p. 9.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 25

26 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural vimento esprita brasileiro. 19 Os grupos espritas brasileiros foram aos poucos adquirindo caractersticas prprias. Surgiu e cresceu o sincretismo afro-esprita-catlico:
"Ao lado do kardecismo, desenvolveu-se um vigoroso Espiritismo popular. Em alguns momentos a vitalidade deste chegou a parecer uma ameaa sobrevivncia da doutrina de KARDEC em sua pureza. A ameaa, porm, era apenas aparente. O caminho dos vrios Espiritismos, apesar dos atalhos de ligao e das influncias recprocas, sempre foram distintos." 20

ros. Ubiratan MACHADO16 relata que na Bahia a represso do clero aguou fortemente o instinto de luta dos pioneiros. Em meados da dcada de 1860, Salvador conheceu uma exploso esprita de que no h paralelo no Brasil. As obras de KARDEC, lidas em francs, eram discutidas apaixonadamente nas classes mais cultas. Segundo Ubiratan MACHADO, o primeiro centro kardecista surgiu na Bahia:
"Oficialmente, a ecloso do Espiritismo brasileiro se daria neste ano (1865) quando, em Salvador, foi fundado o Grupo Familiar de Espiritismo, o primeiro centro Kardecista de conhecimento pblico, do pas. Sob a direo do Dr. Lus Olmpio Teles de Menezes, o maior apstolo do Espiritismo em seus incios no Brasil, realizou-se ali, s 22,30 horas do dia 17 de setembro de 1865, a primeira sesso registrada nos anais da doutrina esprita, no Brasil. Uma hora aps o incio dos trabalhos, os membros recebiam a primeira mensagem psicografada de nossa terra e divulgada de forma oficial. Estava assinada por "Anjo de Deus"17

O caminho dos centros espritas aps os anos 30 foi estudado por Carlos Roberto de MESSIAS:
"Dos crculos experimentais franceses aos grupos quase esotricos do Imprio, os centros espritas ps trinta se transformaram mais nitidamente em templos, prontossocorros e casas de caridade em auxlio de um mundo esquizo que vai deixando de ser rural." 21

Em Salvador e no Rio de Janeiro os grupos foram se multiplicando. Antonio Cesar Perri de CARVALHO cita os seguintes grupos na Capital: Grupo Confucius (criado em 1873), Sociedade Esprita Fraternidade (1880), Sociedade de Estudos Espritas Deus, Cristo e Caridade (1876) e Unio Esprita do Brasil. Em 1884 era fundada a Federao Esprita Brasileira18 (FEB). A FEB esteve, desde a sua fundao, no centro das lutas pela hegemonia do mo-

As caractersticas identificadas historicamente pelos autores citados tornaram-se majoritrias, com o tempo, no crescente nmero de centros espritas brasileiros. Uma anlise dessas caractersticas na atualidade nos leva identificao de confrontos entre muitas delas e o prprio Espiritismo, como desenvolvo a seguir.

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17 18

Ubiratan MACHADO. O grupo baiano. Em: . Os intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. cap. IV, p. 81. . A noite dos precursores. Em: Ibid, cap. III, p. 68. Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanas estruturais dos centros e grupos espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 3.

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21

Carlos Roberto de MESSIAS. O uno e o mltiplo. Em: . Contribuies sobre o movimento esprita brasileiro. cap. III, p. 19-30. Airton LAUFER Jr.; Cosme Valtenis de FRANA. Anlise dos mecanismos estruturais de manipulao e perpetuao de poder. Em: . O poder no movimento esprita do Brasil. Ubiratan MACHADO. Os forados do invisvel. Em: . Os intelectuais e o Espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. cap. X, p. 230. Carlos Roberto de MESSIAS. O Espiritismo e a sociedade urbano-industrial. Em: . Contribuies sobre o movimento esprita brasileiro. p. 11.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 27

28 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural O desconhecimento do Espiritismo por parte de seus adversrios tem sido tambm um problema, desde a poca de KARDEC.23 Na atualidade, muitos opositores sistemticos se utilizam da confuso de idias e da charlatanice para atacar o Espiritismo.24 Como se j no bastasse o desconhecimento reinante, alguns livros lanados exatamente com o intuito de esclarecer acabam por cristalizar preconceitos e distores. comum encontrarmos nos centros espritas um grande sincretismo. As prticas utilizadas possuem origens religiosas, filosficas e culturais diversas, devido falta de compromisso dos grupos com o Espiritismo. Segundo Herculano PIRES uma das causas est na domesticao catlica e protestante, que criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho25 Penso que essa mentalidade propicia a insero das idias assistencialistas (esmolares), salvacionistas e msticas, que se misturam s idias espritas. A discusso do sincretismo tem aberto espao muitas vezes para posicionamentos racistas em relao a negros e pretos velhos. No esse o ponto. H que se analisar as idias e prticas sob o ponto de vista conceitual e metodolgico.26 O assistencialismo certamente uma das caractersticas mais marcantes dos centros espritas. A necessidade de assistncia espiritual e assistncia material condicionam as diversas atividades. As lideranas espritas em geral tiveram sua imagem vinculada assistncia a pesso23 24

1.2. Centro esprita x Espiritismo:


ALGUNS CONFRONTOS

CONFRONTOS ENTRE O CENTRO ESPRITA E O ESPIRITISMO Desconhecimento do Espiritismo Sincretismo Assistencialismo Cultos exteriores e religiosismo Grandeza fsica Clientelismo e proselitismo Isolamento cultural Desconhecimento do Espiritismo nos centros, sincretismo, assistencialismo, cultos exteriores e religiosismo, grandeza fsica, clientelismo, proselitismo e isolamento cultural so alguns dos aspectos contrastantes entre a estrutura de grande parte dos centros e a proposta do Espiritismo. O levantamento desses pontos contribui para uma crtica aos centros espritas modernos. Comeo pelo primeiro e mais importante: o desconhecimento do Espiritismo. O Espiritismo, desde KARDEC, possui um corpo doutrinrio e metodolgico que, embora passvel de reviso, tem se mostrado suficientemente consistente para no se descaracterizar por completo. No entanto, muitos grupos no o conhecem, no o estudam e no o aplicam. Segundo Jos Herculano PIRES isso ocorre em todo o mundo.22
22

25 26

J. Herculano PIRES. Introduo. Em: . O centro esprita. p. XXV.

Allan KARDEC. Introduo. Em:O livro dos espritos,item VII, p.27-30 J. Herculano PIRES. Os padres mgicos. Em: Parapsicologia hoje e amanh. cap. XVI, p. 205-212. . Introduo. Em: . O centro esprita. p. XXI. . Razes africanas. Em: Ibid., cap. IV, p. 27-31. Deolindo AMORIM. O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 29

30 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural Souza RIBEIRO, de Campinas, citado por Herculano PI29 RES. Em viagem de divulgao que realizou em 1862, KARDEC teve a oportunidade de abordar o problema que os cultos exteriores podiam trazer para os centros espritas:
"Tudo nas reunies espritas deve se passar religiosamente, isto , com gravidade, respeito e recolhimento. Mas preciso no esquecer que o Espiritismo se dirige a todos os cultos. Por conseguinte ele no deve adotar as formalidades de nenhum em particular." 30

as necessitadas: Bezerra de MENEZES foi o mdico dos pobres, Caibar SCHUTEL foi o pai da pobreza, e assim por diante. Antonio C. Perri de CARVALHO comenta que essa caracterstica foi detectada inclusive por estrangeiros em visita ao Brasil:
"No ano de 1941, Gabriel Gobron anotou em "Le Fraterniste": "... frente do mundo no tocante organizao esprita de assistncia pblica vem o Brasil. No h centros que no tenham ou no cuidem de ter uma assistncia aos necessitados... O Espiritismo brasileiro a caridade em ao... e o Brasil e seus espritas so pobres!"27

A cura, que se estende desde a aplicao de passes at as cirurgias medinicas, passando por tratamentos de doenas fsicas e espirituais diversas, um dos pontos de sustentao dos grupos. notvel, por exemplo a quantidade de hospitais psiquitricos espritas no Brasil.28 Por mais que se busque vincular o Espiritismo caridade (muitas vezes confundida com esmola), no se pode obter uma relao direta entre Espiritismo e assistencialismo. Parece-me claro que no podemos simplificar a busca das causas do assistencialismo vinculando-as apenas s caractersticas dos lderes. A nossa condio social e nossa formao cultural certamente contribuem para esse carter dos nossos centros. Os cultos exteriores, a idia de salvao pela f, o sectarismo, o fanatismo, os pedidos, as penitncias e, de uma forma geral, a adoo de conceitos e prticas desvinculadas de anlise tm sido ainda caractersticas dos grupos espritas. a face religiosa dos centros espritas. No compareo a reunies de espritas rezadores, dizia o Dr.
27

KARDEC considerava que era misso do Espiritismo abolir o antagonismo religioso, e no perpetu-lo.31 Na viso de Jos Herculano PIRES, a procura do centro esprita como refgio substitui no presente os templos do passado. Ele alerta:
"As almas frgeis precisam ser constantemente vigiadas e orientadas no Centro Esprita, pois se entregam facilmente a um misticismo inferior, tentando alcanar a angelitude atravs da submisso interesseira a espritos mistificadores, dirigentes de vistas curtas e mdiuns pretensiosos. Gostam de Ordens, Fraternidades, Escolas Evanglicas, de sacristia e coisas semelhantes, onde possam usar distintivos, insgnias e serem classificadas em graus de evoluo." 32

Um trabalho importante para o entendimento da face religiosa dos centros espritas foi escrito pela antroploga Maria Laura Viveiros de CASTRO,33 analisando o comportamento dos participantes de um centro esprita e identificando smbolos e prticas que compem o que chama de
29 30

28

Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanas estruturais dos centros e grupos espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 4-5. Ibid., p. 5.

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33

J. Herculano PIRES. Introduo. Em: . O centro esprita. p. XX. Allan KARDEC. Instrues particulares. Em: . Viagem esprita em 1862. item XI, p. 128. Ibid., p. 129. J. Herculano PIRES. As almas frgeis. Em: . O centro esprita. cap. VI, p. 43 e 47. Maria Laura Viveiros de CASTRO. O que Espiritismo: 2a. viso.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 31

32 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural discrdia.37


"A dificuldade, ainda grande, de reunir crescido nmero de elementos homogneos deste ponto de vista, nos leva a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reunies espritas devem tender antes multiplicao de pequenos grupos, do que constituio de grandes aglomeraes." 38

ritual esprita. Sua pesquisa, embora limitada pela considerao de um nico grupo, contribui com a anlise de um centro como agrupamento de pessoas. A leitura do religiosismo nos centros espritas tambm pode ser feita atravs de sua arquitetura.34 O arquiteto Ciro PIRONDI compara as instituies espritas a templos religiosos:
"Se olharmos agora a disposio de uma igreja, bastaria substituir a mesa por um plpito ou altar, as cadeiras por bancos (...), tirar as fotos de Kardec, Bezerra e Chico Xavier das paredes e colocarmos crucifixos ou santos e teramos uma igreja." 35

O debate sobre a natureza religiosa ou laica do Espiritismo, quando realizado filosoficamente, tem contribudo para uma avaliao do religiosismo, do proselitismo e do misticismo em nossos centros.36 Os centros espritas tendem a ser grandes e heterogneos. KARDEC, percebendo a dificuldade de reunir, j no seu tempo, grupos grandes e ao mesmo tempo homogneos, defendeu que fossem pequenos (com quinze a vinte pessoas), para que houvesse uniformidade de sentimentos, maior eficcia dos elementos que para eles entram, menor divergncia dos caracteres, das idias, das opinies e menor facilidade para os espritos perturbadores semearem a

Embora tenhamos hoje fatores complicadores para essa proposta, tais como as dificuldades para se adquirir e manter uma sede e outros recursos materiais com poucos participantes, a preocupao de KARDEC procede. Podemos identificar sobretudo nas grandes instituies os problemas mais graves de nossos centros, entre eles, a luta pelo poder, a heterogeneidade de pensamentos e sentimentos (que acaba por dificultar ou retardar a definio objetiva de caminhos a seguir), a adoo de smbolos e prticas exteriores, etc. O clientelismo e o proselitismo so, certamente, duas entre as causas de engrandecimento excessivo dos grupos. O centro esprita, como casa do Espiritismo, tem se constitudo numa ilha, isolada do desenvolvimento cultural. Esse assunto foi objeto de estudo de Ciro PIRONDI. Para ele, o Espiritismo no influenciou na evoluo do homem contemporneo pelo fato de os espritas se afastarem da cultura temporal e deixarem de lado os estudos e as pesquisas que visavam interrelacionar o Espiritismo com as demais reas do conhecimento.
"(...) O Espiritismo um processo vivo no acabado, que caminha em par com o desenvolvimento tecnolgico e com as descobertas do homem e por trazer ao conhecimento um dos elementos constitutivos do universo o e37

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35

36

Ciro PIRONDI. O desenho arquitetnico e o centro esprita. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 67-70. Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 12. Ciro PIRONDI. O desenho arquitetnico e o centro esprita. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade p. 67-68. J. Herculano PIRES. Problemas religiosos. Em: . O centro esprita. cap. IX, p. 70-81. Krishnamurti de Carvalho DIAS. O lao e o culto: o Espiritismo uma religio?

38

Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 335, p. 422-423. Ibid., item 334, p. 422.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 33

34 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural


no ensinam o Espiritismo para no faltar caridade." 41

lemento espiritual ele deveria contribuir com todos os avanos da cincia e da filosofia. (...) Com uma filosofia aberta e revolucionria montamos um movimento fechado e sectrio." 39

1.4. EVENTOS DE RENOVAO


Temos hoje uma diversidade de tendncias. Alguns grupos firmam-se no religiosismo, no mediunismo, no assistencialismo e na ignorncia. Outros buscam caminhos de renovao. Mas no se pode dizer que esse movimento novo. Em vrios momentos da histria do movimento esprita brasileiro puderam ser identificadas aes renovadoras, voltadas para uma identificao maior dos grupos com o Espiritismo, conceitual e metodologicamente. Isoladas, essas aes no chegaram, na maioria das vezes, a deixar a sua marca, o que no significa que no cumpriram seu papel. Muitas vezes acabam contribuindo para a criao de focos de reconstruo e renovao que nascem margem da inrcia geral. Uma avaliao fria conclui, no entanto, que poucas pessoas foram atingidas. Entre as aes renovadoras cujo efeito atingiu ou tem atingido um nmero significativo de centros est a criao das editoras espritas, como a da FEB, no Rio de JaneiroRJ, e O Clarim, em Mato-SP. Considero que este foi o mais significativo conjunto de eventos para superao de nossas limitaes doutrinrias.42 As editoras espritas se proliferaram e so hoje uma realidade. Servem, em geral, divulgao da ideologia reinante, mas isso apenas uma conseqncia de sua forte ligao com o movimento. Com os livros, revistas e jornais existe um meio de transmisso,
41

1.3. AS DIVERSAS FEIES DOS CENTROS


ESPRITAS

Qual o objetivo dos centros espritas? Impossvel encontrar uma resposta vlida para todos os grupos. Com certeza esse objetivo varia segundo fatores culturais, a ponto de podermos encontrar dois centros espritas com objetivos (e portanto atividades) completamente diferentes. Num centro, maior nfase dada aos conhecimentos do Espiritismo, num outro se d maior valor prtica da mediunidade, num terceiro as pessoas se dedicam prioritariamente ao atendimento de necessitados, num quarto centro a cura o maior objetivo, e assim por diante.40 Seria de se esperar que o uso da palavra esprita ao menos identificasse um compromisso dos grupos com o Espiritismo, mas nem mesmo nesse ponto os centros espritas so unnimes. Jaci RGIS assim se expressa sobre esse problema:
"Os Centros Espritas parecem, em sua maioria, no ter qualquer compromisso com a Doutrina. Desenvolvem atividades baseadas em comunicaes esparsas, fraudam as normas e mtodos indicados para a mediunidade e, muitas vezes, passam a ser subsidirios do desejo de "caridade" que avassala seus dirigentes, sempre s voltas com sopas, roupas usadas e rifas para obter recursos. Atendem a centenas de pessoas, como o fazem o Rotary, o Lions Clube, e entidades filantrpicas religiosas ou leigas. Admitem que
39

40

Ciro PIRONDI. Influncia do Espiritismo na evoluo do homem contemporneo. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 3-5. Mauro de Mesquita SPINOLA. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 60.

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Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 4. Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanas estruturais dos centros e grupos espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 5.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 35

36 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural f) a campanha Comece pelo Comeo, realizada pela USE a partir de 1975, para divulgao das obras de Allan KARDEC, e estendida depois, para todo o pas. A listagem desses eventos pode dar a impresso de que coube em todos esses momentos ao movimento de unificao e sua direo a vanguarda da renovao. A verdade que essas conquistas aparecem muitas vezes como concesses a propostas formuladas e defendidas revelia dos dirigentes. Diversos desses documentos, programas de cursos, cartas e orientaes citados seriam hoje passveis de reviso, mas representaram avanos na reaproximao dos grupos com o Espiritismo, mais marcantes at que alguns excelentes livros, artigos de jornais e revistas publicados que no tiveram espao para divulgao. A criao de grupos de pesquisas, vinculados ou no a centros espritas, mostra que o movimento ainda busca novos caminhos.

discusso e consolidao de idias, certamente um fator de progresso. Houve processos de renovao levados pelo movimento de unificao entre centros,43 entre eles: a) a divulgao das Deliberaes do Simpsio Centro-Sulino, realizado em 1962, com uma abrangente caracterizao funcional dos centros espritas, b) a proliferao do COEM - Centro de Orientao e Educao Medinica, um programa de estudo e sistematizao da prtica medinica elaborado pelo Centro Esprita Luz Eterna, de Curitiba, PR, a partir de 1970, c) a criao do Estudo Sistematizado de Doutrina Esprita pela Federao Esprita do Rio Grande do Sul e sua posterior divulgao nacional pela FEB, d) a divulgao de documentos de orientao aos centros espritas, pela USE - Unio das Sociedades Espritas do Estado de So Paulo, como a Carta aos Centros Espritas, a partir de 1975, e o Esquema de Atividades Doutrinrias de um Centro Esprita, desde 1978, e) a divulgao, pela FEB, dos documentos A adequao do Centro Esprita para o melhor atendimento de suas finalidades, a partir de 1977, e Orientao ao Centro Esprita,44 desde 1980,

1.5. POSSVEL DEFINIR UM MODELO ?


Apesar daqueles esforos, uma anlise do panorama atual nos mostra uma grande miscelnea, o que torna impossvel responder, com base no que se v, a questo o que o centro esprita? Estabelecer um modelo seria muito difcil; analisar e propor, impossvel. Para estabelecer um modelo teramos que optar por uma conceituao mais precisa de centro esprita, assumindo algumas de suas caractersticas. Esse modelo viabilizaria a anlise e a elaborao de propostas.

43

44

Antonio Cesar Perri de CARVALHO. Mudanas estruturais dos centros e grupos espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 6. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 11-14. FEDERAO Esprita Brasileira. Orientao ao centro esprita.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 37

38 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural com a participao ativa dos espritos. Os motivos pelos quais no farei isso so: a.1) Considero que o centro esprita organizado e dirigido por homens, tendo espritos desencarnados como convidados. Desta forma, qualquer estudo relativo estrutura, atividades, mtodos, prioridades e orientao doutrinria em um centro passa necessariamente pelo comportamento dos homens que o compem. a.2) As atividades do centro esprita, incluindo as reunies medinicas, so organizadas e dirigidas por homens. As propostas relativas a essas reunies devem se dirigir, pelo menos num primeiro momento, a eles. a.3) So os homens que participam da vida social, contexto em que est inserido o centro. b) O centro esprita comprometido com o Espiritismo. Esse compromisso se concretiza atravs do estudo de livros espritas, incluindo necessariamente as obras de Allan KARDEC, e adequao das diversas atividades aos conceitos e mtodos prprios da doutrina. c) No existe no centro esprita hierarquia esttica e restritiva. O efeito mais importante dessa estrutura a igualdade para aprender, praticar e influir. Um centro esprita aberto participao integral de pessoas interessadas em aprender e contribuir, e comprometido com o aprendizado e desenvolvimento do Espiritismo ser o modelo, para os centros espritas modernos,

Fao, portanto, com o objetivo de poder continuar esse trabalho, um exerccio de modelamento.45 O seu principal objetivo estabelecer uma referncia conceitual que sirva de base para a estruturao de uma casa esprita ou mesmo para a reestruturao de uma casa j existente. So critrios bsicos a considerar na avaliao e na organizao dessas casas. O modelo no toca no problema de organizao administrativa e financeira do centro, mas estabelece diretrizes para que essa organizao, qualquer que seja, se volte para os objetivos de tornar o centro uma casa do Espiritismo. So trs os seus componentes: as pessoas, o relacionamento do centro com o Espiritismo e a estrutura de poder, como descrevemos a seguir: CENTRO ESPRITA: MODELO CONCEITUAL O centro esprita uma associao de pessoas O centro esprita comprometido com o Espiritismo No existe no centro esprita hierarquia esttica e restritiva a) O centro esprita uma associao de pessoas encarnadas, de homens. Poderia, por opo, abranger tambm os espritos desencarnados nessa associao, j que os centros espritas contam, em geral,
45

Mauro de Mesquita SPINOLA. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 59-61.

Captulo 1- EM BUSCA DE UMA DEFINIO 39

40 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

que adotarei a partir daqui. Mas caberia perguntar: como ser o centro esprita do futuro?46

A dificuldade,
ainda grande, de reunir crescido nmero de elementos homogneos deste ponto de vista, nos leva a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reunies espritas devem tender antes multiplicao de pequenos grupos, do que constituio de grandes 47 aglomeraes.

Allan KARDEC (1804-1869)

47

Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 334, p. 422.

46

der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 14.

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42 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural


"Compreendi, logo primeira vista, a importncia das pesquisas que iria fazer. Vislumbrei naqueles fenmenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, to confuso e to controvertido, a soluo daquilo que eu havia buscado toda a minha vida."49

Captulo 2 A MEDIUNIDADE

Espiritismo est histrica e metodologicamente vinculado mediunidade. Ele nasceu e cresceu a partir do estudo dos fenmenos medinicos. Sem a mediunidade o Espiritismo simplesmente no existiria. A mediunidade o elemento mais importante da estrutura do centro esprita pois concretiza o mundo dos espritos, objeto principal de estudo do Espiritismo.

2.1. O PAPEL DA MEDIUNIDADE


"Mediunidade a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relaes entre homens e espritos." 48

KARDEC dedicou grande importncia mediunidade e comunicao com os espritos. O relato que fez do incio de suas pesquisas mostra isso:

Com o tempo fortaleceu ainda mais a convico que a mediunidade deve ser estudada e praticada com seriedade. O sua principal obra sobre o assunto, O livro dos mdiuns,50 foi lanada em 1861 em substituio a uma outra de mesma natureza, Instrues prticas sobre as manifestaes espritas,51 que havia sido lanada em 1858, pois considerou que esta no era suficientemente completa.52 Nos seus estudos, dedicou especial ateno psicografia, pois percebeu que a escrita tem a vantagem de assinalar, de modo mais material, a interveno de uma fora oculta e de deixar traos que se podem conservar, como fazemos com nossa correspondncia.53 Essa sua preocupao esclarece, em parte, o carter que atribua mediunidade: um forte instrumento de comunicao com o invisvel, tanto quanto de documentao. Para KARDEC era necessria uma conceituao precisa de mediunidade (e mdiuns), alm de uma classificao detalhada dos fenmenos. Foi o que fez.54 Um ponto delicado referia-se questo: quem mdium? Resolveu-a da seguinte forma: todo aquele que sente, num grau qual49

50 51

52 48

J. Herculano PIRES. Mediunidade: vida e comunicao: conceituao de mediunidade e anlise geral dos seus problemas atuais. cap.I, p. 11.

53 54

Allan KARDEC. Extratos in extenso do livro das previses concernentes ao Espiritismo: manuscrito feito com especial cuidado por Allan Kardec. Em: . Obras Pstumas. parte 2, p. 220. . O livro dos mdiuns. . Instrues prticas sobre as manifestaes espritas. Em: . Iniciao esprita. p. 175-299. . Introduo. Em: . O livro dos mdiuns. p. 13. . Da psicografia. Em: Ibid, parte 2, cap. XIII, item 152, p. 190. Allan KARDEC. Instrues prticas sobre as manifestaes espritas - Vocabulrio esprita. Em: . Iniciao esprita. p. 182-216. . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XIV-XVI, p. 195-236 e cap. XXXII, p. 478480.

CAPTULO 2 - A MEDIUNIDADE 43

44 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural


seriamente a Doutrina logo percebem a falsidade desse conceito. A mediunidade uma faculdade natural da espcie humana, como todas as demais faculdades." 57

quer, a influncia dos espritos , por esse fato, mdium, mas, usualmente, assim s se qualificam aqueles em que a faculdade medinica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que ento depende de uma organizao mais ou menos sensitiva.55 Estudando esse problema mais recentemente, CRAWFORD chamou de esttica a mediunidade natural, que todos possuem, e dinmica a mediunidade ativa. Jos Herculano PIRES apresenta tambm as denominaes de mediunidade generalizada e mediunato, respectivamente.56 Esse continua sendo um dos pontos mais delicados no trato da questo medinica, pois toca no problema da necessidade de dedicao do mdium mediunidade. muito comum a frase: voc mdium, por vezes emitida numa primeira entrevista, ser utilizada como instrumento de proselitismo. Penso que essa postura deve ser reavaliada, mesmo que se constate a presena de mediunidade ativa (caracterizada, ostensiva, mediunato). No est demonstrado que os mdiuns necessitam se dedicar ao centro esprita para no sofrer perturbaes. H ainda um outro ponto em que o conceito de mediunidade generalizada toca: o do carter de graa ou provao atribudo mediunidade:
"O conceito de mediunidade que vigora entre ns, na maioria esmagadora dos centros, espantosamente ambivalente e portanto contraditria. Afirma-se ao mesmo tempo que a mediunidade uma graa e uma provao, que os mdiuns so espritos grandemente faltosos, no obstante adorados como enviados de Deus. Os que estudam

A atitude de adorao, adulao ou at louvao de mdiuns tem como causa principal a falta de reflexo sobre o papel da mediunidade.

2.2. AS REUNIES MEDINICAS


Nas reunies medinicas realizam-se os contatos com espritos no centro esprita. Qualquer processo de anlise ou reviso envolve necessariamente essas reunies. De acordo com o modelo proposto no captulo 1, elas devem consagrar conceitos e mtodos prprios do Espiritismo. Quando KARDEC classificou as reunies medinicas como frvolas, experimentais e instrutivas,58 buscou identificar as condies especiais em que as reunies srias devem ser realizadas, destacando a necessidade de participao de pessoas srias e o intuito de se instruir. A uniformidade de objetivos e sentimentos, s possvel com um nmero pequeno de participantes, ganha aqui um significado vital.59 Mesmo os centros espritas que optam por crescer necessitam cuidar para que as reunies medinicas no inchem e portanto no percam esse carter. Seria possvel estabelecer critrios generalizados? Creio que alguns, sim. A comear pela busca de aperfeioamento e instruo. As reunies medinicas que perpetuam os seus objetivos, mtodos, mdiuns e at comunica57 58

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56

Allan KARDEC. Dos mdiuns. Em: O livro dos mdiuns, parte 2, cap. XIV, item 159, p. 195. J.Herculano PIRES. Mediunidade: vida e comunicao: conceituao de mediunidade e anlise geral dos seus problemas atuais. cap.II, p 18.

59

J.Herculano PIRES. O centro e a comunidade. Em: O centro esprita. p.18. Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, itens 324-329, p. 413-418. Ibid., parte 2, cap. XXIX, itens 332, 334 e 335, p. 420-423. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 3.

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46 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural mtodo foi fundamental em suas pesquisas.63 Nos relatos constantes do livro O cu e o inferno, por exemplo, grande o nmero de casos estudados com uso de evocaes. EMMANUEL, atravs da mediunidade de Francisco C. XAVIER, recomenda que as evocaes no sejam utilizadas em caso algum, e justifica a sua posio:
"Se essa evocao passvel de xito, sua exeqibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Da a necessidade de sermos espontneos, porquanto, no complexo dos fenmenos espirticos, a soluo de muitas incgnitas espera o avano moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os mritos e retribuir os seus esforos de acordo com a necessidade de sua posio evolutiva e segundo o merecimento de seu corao. "Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocao direta, procedendo a realizaes dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforo, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e mritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns." 64

es podem estar perdendo a oportunidade de contribuir para o aprimoramento tcnico e moral dos participantes e do prprio Espiritismo. Essa observao vale tambm para chamadas reunies de assistncia, que discutirei adiante, onde estrutura e personagens costumam se cristalizar no centro esprita. Duas das caractersticas de um trabalho srio so a regularidade e a continuidade, pois a experincia mostra que a participao dos espritos tambm regular. No entanto, KARDEC alerta que, se bem os Espritos prefiram a regularidade, os de ordem verdadeiramente superior no se mostram meticulosos a esse extremo. A exigncia de pontualidade rigorosa sinal de inferioridade, como tudo que seja pueril. 60 Quando estudou a influncia do meio, KARDEC colocou que uma reunio um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades so a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Como conseqncia, apresenta as condies mais favorveis para uma Sociedade que aspira granjear a simpatia dos bons Espritos, entre elas: perfeita comunho de vistas e sentimentos, cordialidade recproca, desejo de se instruir e melhorar, recolhimento e silncio respeitosos, e outras.61 No trato com espritos perturbadores, props enrgica resistncia, envolvendo prece, caridade e ateno.62 H um ponto sobre o qual pairam dvidas na organizao de reunies medinicas: a validade de se evocar espritos. Largamente utilizado e defendido por KARDEC, esse
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A idia de EMMANUEL generalizada entre os centros, e no mnimo estranha. A maior dificuldade em potencial a de identificao dos espritos tambm foi sentida e estudada por KARDEC.65 A organizao de reunies medinicas em geral, e os trabalhos de pesquisas, em particular, requerem um novo estudo desses conceitos. Seno estaremos correndo o risco de obedecer a proibies bbli-

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62

Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 333, p. 421. Ibid., itens 331 e 341, p. 419 e 427-428. . Da influncia do meio. Em: . O livro dos mdiuns. p. 285-288. . Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 340, p. 426-427.

63

64 65

Allan KARDEC. Das evocaes. Em: . O livro dos mdiuns, cap. XXV, p. 338368. Francisco Cndido XAVIER. O consolador. parte IV, item 369, p. 207. Allan KARDEC. Da identidade dos espritos. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIV, p. 315-337.

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48 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural a) anmicos no medinicos, que envolvem exteriorizaes do prprio ser atravs dos sonhos, do sonambulismo, da telepatia, da clarividncia no espao e no tempo, da telecinesia, da telemnesia, da psicometria etc. b) anmicos medinicos, que envolvem participao de pessoas vivas em fenmenos medinicos tais como psicografia, psicofonia, aparies etc. c) espritas (necessariamente medinicos), que envolvem participao de pessoas desencarnadas. Essa classificao foi tambm adotada por Ernesto BOZZANO.69 Segundo ela, o mdium que transmite mensagem de seu prprio esprito, quando em estado de emancipao, realiza um fenmeno anmico medinico. KARDEC estudou esse caso e concluiu que esse assunto sutil e delicado, necessitando muitas observaes e meditaes antes de se concluir qualquer coisa sobre a natureza de determinado fenmeno. Concluiu tambm que generalizada e natural a influncia do mdium nas comunicaes.70 Isso nos leva necessidade de rever duas posies: por um lado, o descuido na identificao dos fenmenos medinicos de natureza anmica e, por outro, o preconceito em relao a mdiuns que apresentam caractersticas anmicas, confundindo-os com charlates.71 Todas essas consideraes, se no resolvem, pelo menos levantam aspectos relevantes na estruturao das reu69

cas com a justificativa nica de que no estamos preparados. O preparo contnuo dos mdiuns para a realizao de suas tarefas requer a elaborao de um processo de desenvolvimento da mediunidade, tambm chamado de educao medinica. No mais admissvel deixar que a prtica ou a vida ensinem por si mesmo. KARDEC colocou a necessidade de desenvolvimento, estudando sobretudo a mediunidade psicogrfica.66 H, basicamente, dois aspectos no desenvolvimento do mdium:67 (1) a prtica, que envolve a necessidade de aperfeioamento tcnico, (2) a aplicao, que abrange a compreenso da influncia moral e intelectual que exerce sobre as comunicaes, da melhor maneira de aplicar seu potencial e das dificuldades e cuidados que a atividade medinica envolve. Em termos de aplicao, fundamental que a formao de mdiuns leve em considerao o seu papel nas comunicaes. O animismo, fenmeno observado por KARDEC e outros pesquisadores, requer um estudo aprofundado no processo de desenvolvimento da mediunidade, pois o seu desconhecimento tem levado ora a confuses e enganos em relao a comunicaes, ora a preconceitos descabidos em relao a mdiuns. Adoto a conceituao utilizada por Alexandre AKSAKOF,68 em que animismo e mediunidade no se excluem. Segundo ele podem ser identificados os seguintes tipos de fenmenos:
66

70

67 68

. Da formao dos mdiuns - Desenvolvimento da mediunidade. Em: Ibid., cap. XVII, itens 200-218, p. 237-249. Ibid., itens 200-217, p. 237-249. Alexandre AKSAKOF. A hiptese dos espritos. Em: . Animismo e Espiritismo. v. II, cap. IV, p. 226-404.

71

Ernesto BOZZANO. Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Allan KARDEC. Do papel do mdium nas comunicaes espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XIX, item 223, p. 259-266. Alexandre SECH. Animismo e mediunismo. Em: Autores diversos. Encontro com a cultura esprita. p. 174-176. Francisco Cndido XAVIER. Nos domnios da mediunidade. cap. 22, p. 209-215. Martins PERALVA. Estudando a mediunidade. cap. XXXVI, p.186-190

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50 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural 2.3.1. Estudos de mediunidade Essas reunies esto voltadas para o conhecimento da mediunidade, terico e prtico. Delas participam os elementos ativos das diversas reunies medinicas. A programao deve envolver o desenvolvimento medinico e o aprimoramento contnuo. KARDEC alertou para a importncia desses estudos. Coloca como um dos motivos mais importantes a necessidade de preparo contra a tola presuno de infalibilidade e a fascinao. Para ele, a instruo no abrange apenas o ensinamento moral que os Espritos do, mas tambm o estudo dos fatos. Os estudos das comunicaes produzidas nas prprias reunies de estudos e fora delas (envolvendo contedo, forma, linguagem, participao do mdium etc.), constituem-se em instrumentos simples e relevantes.72 O estudo terico deve envolver textos bsicos consagrados, em especial O livro dos mdiuns73 e a Revista esprita.74 2.3.2. Assistncia a espritos desencarnados Na assistncia a espritos desencarnados estabelecido contato medinico com espritos desencarnados para que: (1) os espritos exponham suas idias e sensaes, (2) quando for o caso, as pessoas do grupo medinico falem aos espritos com base no conhecimento esprita e em experincias anteriores no contato com outros espritos sobre seu estado de desen72

nies medinicas. Passemos agora s reunies propriamente ditas.

2.3. ATIVIDADES MEDINICAS NO CENTRO ESPRITA


Apresento aqui, a ttulo de sugesto, uma estrutura de atividades medinicas do centro esprita, ainda de acordo com o modelo proposto no captulo 1. Essas atividades podem caracterizar reunies especficas ou ser combinadas entre si para formar as reunies: a) estudos de mediunidade b) assistncia a espritos desencarnados c) atendimento de pessoas d) terapia de obsesso e) passes f) pesquisas de mediunidade ATIVIDADES MEDINICAS NO CENTRO ESPRITA Estudos de mediunidade Assistncia a espritos desencarnados Atendimento de pessoas Terapia de obsesso Passes Pesquisas de mediunidade

73 74

Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, itens 328-329 e 343-347, p. 416-418 e 429-432. . O livro dos mdiuns. . Revista esprita. J. Herculano PIRES. O centro e a comunidade. Em: . O centro esprita. cap. III, p. 15.

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52 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural tos sempre corre o risco de se tornar esttica e repetitiva, pouco contribuindo para aquele aperfeioamento real. 2.3.3. Atendimento de pessoas Essas reunies, realizadas em massa nos centros espritas, necessitam obter um carter mais definido e um aprimoramento tcnico. Destinam-se ao atendimento, diagnstico e tratamento de pessoas com possveis problemas de natureza espiritual, possivelmente com encaminhamento posterior para reunies de passes ou terapia de obsesso. Na grande maioria dos centros espritas o processo de diagnstico ainda realizado de forma emprica e intuitiva. Conta-se, em geral, com orientao de espritos desencarnados, desprezando-se a necessidade de desenvolver e aplicar mtodos e tcnicas especficas para esta importante rea de atuao esprita. 2.3.4. Terapia de obsesso KARDEC dedicou boa parte de seu trabalho ao estudo da obsesso e seu tratamento.76 Para Jos Herculano PIRES, a parte mais importante e necessria das atividades medinicas.77 Concordo que uma das reas de maiores possibilidades para o Espiritismo na atualidade, mas o seu desenvolvimento depender de uma mudana de postura em relao terapia, passando a assumir o seu carter
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carnado (muitas vezes no percebido pelos espritos) e sobre as idias que apresentam, (3) quando for o caso e mais uma vez com base no conhecimento esprita, as pessoas reconfortem e orientem os espritos em relao a suas dores e sofrimentos, que so em geral fruto de sua inferioridade e do processo s vezes doloroso de transio entre o mundo material e o espiritual, (4) as pessoas e os prprios espritos conheam mais sobre a vida no mundo espiritual. Questiona-se esse tipo de atividade considerando que seria melhor ou mais lgico que os prprios espritos superiores, tambm desencarnados, orientassem os demais. J ouvi tambm argumentos no sentido de que o nmero de espritos que se pode assistir diminuto, frente ao de necessitados. No entanto, os estudos e observaes demonstram a utilidade desta atividade no centro, pois: (1) os espritos atendidos so, em geral, restritos a um grupo ligado ao prprio centro, (2) muitos espritos inferiores ou sofredores se mostram mais sensveis ao contato com pessoas encarnadas que com os prprios espritos, possivelmente pelo efeito do ambiente e da presena de energia animal, e (3) essas comunicaes constituem-se, como tantas outras, em motivo de aprendizado e experincia.75 Cabe aqui alertar para a necessidade do enquadramento dessa atividade dentro de um processo amplo de aperfeioamento de mdiuns e espritos. A assistncia a espri-

75

Ibid., p. 15.

77

Allan KARDEC. Da obsesso. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIII, p. 297-314. . Os fluidos. Em: A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. XIV, itens 45-49. p. 258-261220-305. . Manifestaes dos espritos - 7 Da obsesso e da possesso. Em: . Obras Pstumas. parte 1, p. 40-46. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 7. J. Herculano PIRES. Os servios do centro. Em: . O centro esprita. cap. II, p. 8.

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54 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural 2.3.5. Passes So tambm chamados de fluidoterapia. 79 Seu objetivo o de combinar potencialidades anmicas (das almas de pessoas vivas) e espirituais para a cura de enfermidades de natureza fsica (psicossomtica), mental ou espiritual. Pode ser realizado atravs da emisso energtica prxima sobre a pessoa enferma ou mesmo distncia.80 As atividades de passes tm sido responsveis, em grande parte, pela descaracterizao dos centros espritas, que passam a privilegiar o atendimento de um nmero cada vez maior de pessoas e se distanciam das atividades vinculadas ao estudo e desenvolvimento do Espiritismo. Penso que o problema est no fato de que muitos grupos desvinculam os passes de um tratamento mais profundo e metodologicamente elaborado. O passe passa a ser distribudo como aspirina, em reunies pblicas. A idia geral a de que no contm contra-indicaes(a comparao que fao com aspirinas uma fora de expresso, devido ao seu uso popular generalizado, mas sabido que as aspirinas possuem contra-indicaes). Essa distribuio granel pe em cheque at mesmo a suposta misso de hospital espiritual que muitos grupos buscam realizar, pois o centro deixa de ser hospital para ser farmcia. Um outro problema est no carter ainda mgico que se atribui ao passe. Pouco conhecem sobre ele os dirigentes, aplicadores e receptores, a despeito dos estudos de
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essencialmente tcnico e interdisciplinar.78 Com todo o desenvolvimento atual da psicologia, da medicina (sobretudo da psiquiatria) e do Espiritismo, no se pode mais realizar um tratamento que desconsidere a necessidade de combinar as contribuies dessas reas da cincia. No suficiente (embora seja necessrio) afixarmos uma placa no salo com os dizeres: Recomendamos a todos os pacientes em tratamento que busquem sempre consultar o mdico de sua confiana. fundamental estabelecer critrios claros para o diagnstico e o tratamento, que estabelea a contribuio efetiva e os limites do tratamento esprita. H uma dificuldade: essa necessidade demanda um trabalho grandioso de pesquisa ainda por ser realizado (tanto sob o ponto de vista tcnico como legal) no sentido de conjugar esforos e dar ao paciente um tratamento integral: fsico, psicolgico, mental, espiritual. A terapia da obsesso no centro esprita visa: (1) atender pessoas envolvidas em processos obsessivos, visando sua cura, (2) avaliar e aperfeioar continuamente o mtodo e as tcnicas da terapia. As reunies de terapia de obsesso devem contar com uma equipe preparada e especializada nesse tipo de atendimento, alm de uma metodologia de atendimento, tratamento, acompanhamento, avaliao e catalogao dos casos.

78

Celso MARTINS. A obsesso e seu tratamento esprita. Francisco Cndido XAVIER; Waldo VIEIRA. Desobsesso.

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Estudos recentes tm demonstrado a necessidade de substituio dos termos passe e fluidoterapia por expresses mais prprias, que denotem o carter de transmisso energtica nesses fenmenos. Uma contribuio importante para esses estudos dada por Reinaldo di Lucia em: Reinaldo di LUCIA. Passes: discusso e propostas. Em: SBPE - SIMPSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPRITA, 3. Anais. J. Herculano PIRES. IV - Passe distncia. Em: . Obsesso. O passe. A doutrinao. p. 45-47.

CAPTULO 2 - A MEDIUNIDADE 55

56 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural externa dos dados de interesse. No entanto, algumas reas novas podem merecer a formao de grupos de pesquisas especiais, visando o seu mais rpido desenvolvimento. As atividades de pesquisa no centro esprita so discutidas no prximo captulo.

KARDEC e outros.81 Jos Herculano PIRES combateu as vises distorcidas em relao ao significado do passe e as prticas que no condizem com a concepo esprita:
O passe esprita simplesmente a imposio das mos, usada e ensinada por Jesus, como se v nos Evangelhos. (...) O passe esprita no comporta as encenaes e gesticulaes em que hoje o envolveram alguns tericos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mgica ou feiticista. (...) Toda a beleza espiritual do passe esprita, que provm da f racional no poder espiritual, desaparece ante as ginsticas pretensiosas e ridculas gesticulaes. As encenaes preparatrias: mo erguidas ao alto e abertas, para suposta captao de fluidos pelo passista, mos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilao fluidica, braos e pernas descruzados para no impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante, s servem para ridicularizar o passe, o passista e o paciente. A formao das chamadas pilhas medinicas, com o ajuntamento de mdiuns em torno do paciente, as correntes de mo dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa condenadas por Kardec nada mais so do que resduos do mesmerismo do sculo passado, inteis, supersticiosos, ridicularizantes. (...) O passe esprita prece, concentrao e doao. 82

2.4. CONCLUSO: A MEDIUNIDADE NA REVISO DO


CENTRO ESPRITA

A reviso estrutural das reunies medinicas tem base terica slida para ser realizada nos centros espritas. Envolve antes de mais nada uma definio mais objetiva do papel da mediunidade e a valorizao das atividades de formao de recursos humanos. O ponto mais importante a mudana de viso dos dirigentes, mdiuns e freqentadores de uma forma geral: a mediunidade deixa de ser um sacerdcio para ser um instrumento de trabalho e pesquisa, deixa de ser uma expiao para ser uma das mais ricas manifestaes da natureza humana. O aprimoramento das reunies medinicas decisivo para o centro. Quanto mais voltadas para o prprio desenvolvimento do Espiritismo, maior impacto traro feio e estrutura da casa esprita.

2.3.6. Pesquisas de mediunidade Todas as reunies medinicas possuem esse carter, no sentido de que a anlise, sistematizao, compilao e codificao das comunicaes devem estar presentes em todas elas, visando o aperfeioamento do pessoal, o desenvolvimento do Espiritismo e a divulgao interna e

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82

Allan KARDEC. A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. XIII-XV, p. 220-305. J. Herculano PIRES. Obsesso. O passe. A doutrinao. p. 35-38.

CAPTULO 2 - A MEDIUNIDADE 57

58 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

O conceito de mediunidade que vigora


entre ns, na maioria esmagadora dos centros, espantosamente ambivalente e, portanto, contraditria. Afirma-se ao mesmo tempo que a mediunidade uma graa e uma provao, que os mdiuns so espritos grandemente faltosos, no obstante adorados como enviados de Deus. Os que estudam seriamente a Doutrina logo percebem a falsidade desse conceito. A mediunidade uma faculdade natural da espcie humana, como todas as demais 83 faculdades J. Herculano PIRES (1914-1979)

Captulo 3

ESTUDOS E PESQUISAS
s espritas em geral consideram que o caminho de continuidade do Espiritismo e dos prprios centros est nas atividades de estudos e pesquisas. Apesar disso elas ainda buscam seu lugar ao sol, pois faltam medidas objetivas. Neste captulo estudo essas atividades e suas perspectivas.

3.1. A BASE DO CENTRO


Os estudos e as pesquisas so o sustentculo do centro cujo modelo propus no captulo 1. As diversas atividades do centro so embasadas e orientadas por eles. As pessoas tomam contato com o Espiritismo, criam, desenvolvem e substituem atividades baseadas neles. No entanto, isso no tem sido verdade na grande maioria dos nossos centros reais, por razes culturais diversas. Embora reconhecida como fundamental por dirigentes e freqentadores de todas as casas, poucas vezes se encontra um centro esprita em que as atividades de estudos e pesquisas sejam colocadas como as mais importantes. Muitas vezes a necessidade salvadora de praticar a caridade (dar roupas e alimentos, dar passes, atender pessoas e espritos) substitui o peso do conhecimento esprita, que

83

J.Herculano PIRES. O centro e a comunidade. Em: O centro esprita. p.18.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 59

60 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural pesquisa a todas as atividades do centro que envolvam um trabalho de elaborao humano.86 Assim sendo, a mais simples reunio medinica pode realizar pesquisa, bastando para isso que adote uma metodologia de trabalho e um conjunto de tcnicas para aplic-la, sempre na busca de conhecer algo mais. O maior exemplo que tivemos neste sentido veio do prprio KARDEC. As diversas obras da codificao apresentam exemplos da postura de KARDEC em relao pesquisa medinica. Para ele era muito clara a diferena entre o seu papel e dos espritos: ele era o pesquisador, enquanto os espritos, mdiuns e fenmenos eram objetos de pesquisa. Cabia a ele planejar, conduzir e avaliar continuamente os resultados da pesquisa (este era o trabalho de elaborao humano, necessrio em qualquer pesquisa). A ttulo de ilustrao, escolho um caso relatado em O livro dos mdiuns, que ilustram com muita clareza a sua forma de trabalhar: numa pesquisa sobre o laboratrio do mundo invisvel, em que entrevista o esprito So Lus, KARDEC conduz passo a passo a discusso e no se submete com facilidade s explicaes dadas pelo esprito para a apario de objetos. KARDEC considerava, antes da argio, que essas aparies se explicavam pela existncia de um duplo etreo no mundo invisvel, da mesma forma que os homens so nele representados pelos espritos. Quando So Lus d uma explicao diferente, dizendo que os prprios espritos podem concentrar elementos da atmosfera e dar-lhes uma aparncia, KARDEC ainda volta questo, para obter uma confirmao de So Lus. Este chega a responder de forma lacnica: Parece-me que a minha resposta precedente resolve a questo, mas no h cons86

daria certamente uma grande contribuio para libertar as pessoas de seus maiores problemas existenciais. Allan KARDEC chegou a propor uma estrutura para as reunies, baseado na experincia da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Nota-se a preocupao bsica com estudos e pesquisas:
"Os trabalhos de cada sesso podem regular-se conforme se segue: 1a Leitura das comunicaes espritas recebidas na sesso anterior, depois de passadas a limpo. 2a Relatrios diversos. - Correspondncia. - Leitura das comunicaes obtidas fora das sesses. - Narrativa de fatos que interessem ao Espiritismo. 3a Matria de estudo. - Ditados espontneos. - Questes diversas e problemas morais propostos aos Espritos. Evocaes. 4a Conferncia.-Exame crtico e analtico das diversas comunicaes. - Discusso sobre diferentes pontos da cincia esprita."84

A proposta de KARDEC sugere que: (1) estudos e pesquisas so as atividades bsicas da sociedade, (2) o nosso principal objeto de estudo a mediunidade, (3) podemos utilizar as prprias comunicaes obtidas na casa como instrumentos de aprendizado e pesquisa. Para os grupos que no possussem mdiuns, KARDEC props tambm que realizassem estudos diversos.85 Em relao pesquisa, em particular, necessrio, antes de tudo uma desmistificao da palavra. Denomino
84

85

. Das reunies e das sociedades espritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 346, p. 430-431. Ibid., item 347, p. 431-432.

Allan KARDEC. Caracteres da revelao esprita. Em: Allan KARDEC. A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo, cap. I, itens 13-15, p. 15-16.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 61

62 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural atividades mais elaboradas, atravs de cursos, palestras e seminrios. S no podemos cair na armadilha do catecismo, que estabelece passos rgidos e predeterminados para se atingir algum estgio. O centro esprita possui uma estrutura aberta ao crescimento e participao. H pessoas que com pouco tempo mostram-se preparadas para novos desafios: j leram vrios livros, compreenderam os pontos fundamentais da doutrina e tm interesse pelo trabalho. Elas no podem ficar enterradas em cursos infindveis antes de comear a contribuir. Outro problema se refere integrao de crianas e jovens nas atividades, que numa estrutura moderna, deve ser a maior possvel. As crianas e, em menor escala, os jovens, compartilham o mundo com uma viso diferenciada. So preocupaes, interesses, formas de abordagem diferentes e que podem receber, por parte do centro esprita, espao prprio para sua expanso. Qualquer que seja o campo de viso a contribuio do Espiritismo muito grande, porque toca no que todos temos de mais profundo: nossa capacidade de ser, existir e crescer. fundamental, no entanto, identificar os pontos comuns e as oportunidades de convivncia para aprendizado conjunto. Atravs de sua participao em atividades integradas os jovens tm contribudo para que os estudos ganhem espao nos centros.89

trangimentos: tanto um quanto outro conhecia o seu prprio papel no jogo da busca de conhecimento.87 Este simples exemplo mostra que pesquisar depende mais de uma postura de observao e crtica do que de ttulos acadmicos: na maioria dos grupos espritas modernos uma manifestao de So Lus (ou de um esprito elevado qualquer) causaria tanta admirao que suas palavras seriam absorvidas sem qualquer anlise ou questionamento. Por causa dessa postura no se evocam os espritos, no se fazem perguntas objetivas sobre assuntos de interesse da cincia, no se registram, avaliam e divulgam os resultados. Uma estrutura baseada em estudos e pesquisas traz problemas a serem enfrentados. O primeiro se refere necessidade de restries freqncia e integrao de novos participantes.88 So atividades que exigem intensa participao das pessoas, assiduidade e amadurecimento dos grupos de trabalho. Se pessoas novas e inexperientes entram e saem de um grupo continuamente, muito difcil faz-lo progredir e dar uma contribuio real. O processo de integrao de novas pessoas necessita de critrios claros que envolvem seu conhecimento prvio de Espiritismo, seus vnculos com o centro e com o grupo de estudo, sua idade, seus interesses etc. O estabelecimento desses critrios s traro realmente algum problema se forem mantidas as velhas idias de grandeza do centro e da necessidade de conquistar freqentadores a qualquer custo. Os novos participantes se integram aos poucos e recebem recursos para se aperfeioarem e se prepararem para
87

3.2. CRITRIOS NECESSRIOS PARA UMA


ESTRUTURA BASEADA EM ESTUDOS E PESQUISAS

88

. Do laboratrio do mundo invisvel. Em: . O livro dos mdiuns. cap. VIII. p. 156-165. Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 10.

89

Ibid., p. 11.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 63

64 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural Os livros e outros materiais utilizados nos estudos e pesquisas devem envolver as obras bsicas do Espiritismo, complementadas por outros relatos de pesquisas antigos e modernos, obras medinicas e demais textos elucidativos, espritas ou no, que tenham relao com os assuntos de estudos. Os materiais produzidos nos prprios grupos podem contribuir com os estudos e pesquisas posteriores. A organizao de uma biblioteca e uma livraria abrangentes indispensvel para aperfeioamento dos estudiosos e a difuso de idias.93 c) As reunies devem possuir uma estruturao didtica. O aperfeioamento dos grupos de estudos tem determinado o aprimoramento da estruturao didtica e a diversificao das tcnicas de estudos. A tendncia deve ser a de permitir cada vez mais o acesso de todos ao conhecimento, de acordo com o interesse. d) Os participantes de cada grupo devem estar integrados em termos de trabalho e relacionamento. Havendo comunicao entre eles, a possibilidade de satisfao e xito nas atividades muito maior.

A criao de uma estrutura baseada no conhecimento envolve alguns critrios necessrios para lhe dar consistncia: a) Os estudos e pesquisas devem levar em considerao os contextos histrico, cultural e social.
"A leitura no pode ser entendida sem a considerao dos contextos culturais e sociais em que se inserem autor e leitor. O primeiro deixa marcados no texto uma poca e um conjunto de ideologias e relaes sociais. Depois sai do processo. O segundo interpreta e vive o texto segundo um grupo anlogo de fatores. Processa-se o dilogo." 90

O estudo do Espiritismo, como de qualquer disciplina, exige a considerao de contextos, para se evitar estudos abstratos que consideram os textos independentemente do tempo e do espao. assim que se deve estudar profundamente, entre outros fatores: o contexto histrico no estudo das obras espritas,91 o contexto social em que o grupo social est inserido,92 as relaes entre aqueles estudos e os conhecimentos das demais reas da cincia e da filosofia, etc. A pesquisa esprita tambm encontrar nas pesquisas e mtodos de outras disciplinas a base que necessita. Uma pesquisa isolada do desenvolvimento cientfico no pode ter valor real. b) O material de estudos deve ser consistente e abrangente.
90

3.3. ATIVIDADES DE ESTUDOS E PESQUISAS NO


CENTRO ESPRITA

91

92

Mauro de Mesquita SPINOLA. Leitura contextualizada do conhecimento esprita. Em: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ASPECTO SOCIAL DA DOUTRINA ESPRITA, 3. Anais. p. 5. Ibid., p. 8-21. Carlos Roberto de MESSIAS. Contribuies sobre o movimento esprita brasileiro. Mauro de Mesquita SPINOLA. Leitura contextualizada do conhecimento esprita. Em: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ASPECTO SOCIAL DA DOUTRINA ESPRITA, 3. Anais p. 22-27.

A ttulo de sugesto, apresento uma estrutura de atividades de estudos e pesquisas no centro esprita: a) estudos doutrinrios b) estudos para a infncia
93

MANUAL do divulgador do livro esprita.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 65

66 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural Por outro lado, a base cientfica da doutrina seu mtodo, suas tcnicas, seus critrios compromete-nos com o trabalho continuo de busca de novas informaes, anlises e elaboraes, visando a construo do conhecimento esprita. Os estudos espritas partem da constatao kardequiana de que o Espiritismo no uma obra acabada e necessita de elaborao e contextualizao contnuas. Uma considerao especial merecem os estudos de moral. Para KARDEC, eles devem se basear na reflexo que os demais conhecimentos espritas trazem, tais como a imortalidade, a reencarnao e a vida futura.94 As doutrinaes que abrangem aspectos puramente comportamentais ferem o mtodo esprita de abordagem do problema. H na literatura esprita muitos exemplos dessa distoro, em que a anlise moral se limita a uma srie de recomendaes sobre a forma de se comportar.95 3.3.2. Estudos para a infncia A infncia dever possuir um programa prprio, baseado nos conceitos bsicos do Espiritismo e na integrao desses conhecimentos com os demais. Mtodos didticos modernos, prprios para cada uma das faixas etrias, necessitam ser aplicados, tanto quanto o so nas escolas. As atividades devem ser diversificadas, contextualizando o conhecimento esprita e permitindo a expresso completa das caractersticas infantis. Desta forma criam-se condies para uma melhor percepo das idias espritas.

c) estudos para a juventude d) pesquisas e) divulgao do Espiritismo. ATIVIDADES DE ESTUDOS E PESQUISAS NO CENTRO ESPRITA Estudos doutrinrios Estudos para a infncia Estudos para a juventude Pesquisas Divulgao do Espiritismo 3.3.1. Estudos doutrinrios Esses so os estudos de Espiritismo, envolvendo seu contedo cientfico, filosfico e moral. Aqui os temas bsicos se entrelaam com os diversos assuntos relacionados, tais como cincia, histria, moral, sociedade, famlia, problemas atuais etc. Os estudos de mediunidade, abordados no captulo 2, esto tambm aqui includos. Os estudos espritas contribuem para uma maior compreenso e para uma continua e sistemtica reflexo sobre nossa vida. O Espiritismo um convite ao pensar, ao criar, ao descobrir. Seu contedo filosfico convida-nos a enfrentar as questes da existncia, o seu significado em relao ao passado e o futuro. Nos estudos espritas as pessoas so convidadas a pensar, a criticar, a discutir, para crescer.

94 95

Allan KARDEC. Concluso. Em: . O livro dos espritos. item VIII, p. 489-491. Ney Prieto PERES. Manual prtico do esprita. Waldo VIEIRA. Conduta esprita. Francisco Cndido XAVIER. Cultivando pacincia. Ditado pelo esprito Albino Teixeira. Em: . Coragem. p. 17-18.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 67

68 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural reas cientficas, que descaracterize as conquistas prprias do Espiritismo.96 Segue-se uma descrio das principais tarefas envolvidas na atividade de pesquisa no centro esprita: a) Anlise, que compreende: a identificao do problema a ser pesquisado, o detalhamento de suas diversas variantes (formas diferentes em que se apresenta) e causas, a definio dos critrios para observao, interpretao e avaliao (no caso de uma pesquisa sobre cura, por exemplo, como sero observados e interpretados os resultados, e como podem ser avaliados e comparados?) b) Pesquisa bibliogrfica, com levantamento das principais contribuies da literatura sobre o tema em estudo incluindo os casos de pesquisas anlogas se existirem relatados c) Sistematizao, cujo papel o de consolidar o mtodo, as tcnicas e os instrumentos necessrios para execuo da pesquisa. O mtodo esprita de pesquisa medinica foi proposto pelo prprio KARDEC,97 mas a diversificao e a especificidade dos campos de atuao leva necessidade de detalhamento do mtodo kardequiano para cada uma das reas pesquisadas, bem como a especificao de procedimentos adequados aos recursos existentes e s caractersticas dos grupos.

Durante muitos anos desenvolveu-se no movimento esprita a idia de evangelizar as crianas. Os educadores passaram a ser chamados de evangelizadores. necessrio que nos libertemos disso e passemos a realizar um trabalho de educao integral esprita, que envolve no s o ensino de lies dos Evangelhos, mas sim de todo o conhecimento esprita, envolvendo cincia, filosofia e moral (veja item anterior). A idia de evangelizar no s restringe como tambm distorce a estratgia esprita de aperfeioamento das pessoas, podendo levar inadequada abordagem comportamental que citei acima. Esta forma de tratar as questes morais pode ser ainda mais fortemente prejudicial no caso do ensino de crianas, que vivero situaes de vida certamente diferentes das imaginadas pelos educadores. Cabe a ele prepar-la, levando-a ao conhecimento e reflexo sobre o Espiritismo. 3.3.3. Estudos para a juventude Os jovens devem participar, tanto quanto possvel das mesmas atividades que os adultos. Por opo, pode-se conceber reunies de estudos para a juventude, visando incentivar sua auto-organizao e permitir que imprimam mtodos prprios s suas atividades. 3.3.4. Pesquisas As atividades de pesquisa esto ligadas a todas as demais atividades do centro. No entanto, num processo inicial de reestruturao, podem ser criadas e utilizadas para dar base a mudanas a serem realizadas. Elas devem criar um vnculo entre o centro esprita e o desenvolvimento cientfico, tanto a nvel conceitual quanto metodolgico, sem subordinao ilgica a mtodos e tcnicas de outras

96 97

J. Herculano PIRES. Parapsicologia hoje e amanh. parte 2, cap. XV, p. 199-204. Allan KARDEC. Introduo - II - Autoridade da doutrina esprita. Em: . O evangelho segundo o Espiritismo. p. 11-18. . Caracteres da revelao esprita. Em: . A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. I, itens 12-18, p. 15-18.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 69

70 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural 3.3.5. Divulgao do Espiritismo Essas reunies podem ser utilizadas para divulgao do Espiritismo e dos trabalhos de pesquisas do centro.99

d) Compilao e codificao, que compreende: o registro das comunicaes (planos executados, aes tomadas, resultados obtidos, recursos utilizados, pessoas e espritos envolvidos, condies ambientais e outros dados considerados relevantes no mtodo utilizado) a classificao dos registros para posterior pesquisa, avaliao e comparao. importante observar que essas tarefas se desenvolvem e se consolidam medida que o trabalho cresce. No necessrio estabelecer uma estrutura complexa como ponto de partida. Pelo contrrio, o ponto de partida a predisposio para olhar os fenmenos do dia-a-dia do centro como objetos de pesquisa e aprendizado: analisar, estudar, observar, interpretar, criticar e registrar. Uma incgnita para o momento o futuro dessa atividade nos centros reais e sua relao com as associaes especializadas em pesquisas espritas que tendem a se formar como uma reao inrcia dos grupos espritas. Algum sabe? Penso que o mais ponderado para o momento imaginar que com o tempo cada um definir o seu papel. Entre as reas de pesquisas que no tm recebido a devida ateno dos centros h algumas que podem ser melhor trabalhadas. Cito os seguintes exemplos prioritrios, todos no campo da mediunidade: animismo, passes, terapia da obsesso, obsesso e loucura, curas, pesquisa bsica (sobrevivncia, Transcomunicao Instrumental) etc.98

3.4. CONCLUSO: estudos e pesquisas na reviso do centro esprita


A mudana de carter dos centros espritas tem nos estudos e pesquisas sua mola mestra. Se por um lado est na mediunidade a pedra de toque podendo-se afirmar que s as alteraes metodolgicas da maneira como esse tema tratado realmente caracterizariam um novo centro cabe por outro lado ao trabalho de estruturao dos estudos e pesquisas espritas no centro o papel de iniciar ou consolidar todo o processo de reviso. Dar importncia ao estudo no se resume a dedicar quinze minutos de cada reunio leitura de um livro, como se fosse apenas uma atividade acessria. Trata-se de coloc-lo no centro do processo de estruturao e crescimento do centro, criando, avaliando e orientando as demais atividades. No que se refere pesquisa, em particular, cabe uma palavra sobre a documentao. O registro de planos, procedimentos e resultados uma caracterstica dos grupos de pesquisa srios, que visam se aperfeioar sempre e ainda deixar sua contribuio. A preparao de recursos humanos e a reunio de materiais adequados constituem-se nos dois melhores instrumentos para a colocao dos estudos e pesquisas como base do centro esprita.
99

98

Hernani Guimares ANDRADE. Morte, renascimento, evoluo: uma biologia transcendental.

Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 11.

Captulo 3 - ESTUDOS E PESQUISAS 71

72 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

Principais tarefas envolvidas na atividade de pesquisa no centro esprita: Anlise; Pesquisa Bibliogrfica; Sistematizao; Compilao e Codificao.

73

74 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural (1) a necessidade de abandonar o proselitismo e o clientelismo, caracterizados sobretudo pela inteno de prender as pessoas ao centro (j abordados no captulo 1), (2) a necessidade de estudar, acompanhar e discutir a evoluo cultural e moral da sociedade, ao invs de simplesmente ignor-la e se afastar dela, (3) a importncia de estudar, formar uma viso crtica, buscar e propor caminhos reais para uma evoluo da sociedade, sobretudo no que se refere a suas injustias e desigualdades. Existe uma falsa idia de que a sociedade tem algo a buscar no centro e este nada tem a receber dela. Esse conceito, que aparece ora implcita, ora explicitamente, distorce e reduz a insero social do centro. Uma coexistncia viva e claramente assumida, uma troca bilateral ativa, uma busca em comum, so caractersticas desejveis para uma reviso dessas relaes.

Captulo 4

O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE


odos os espritas concordam que as relaes entre o centro esprita e a sociedade so necessrias, mas em que forma? Recebendo as pessoas aflitas, aconselhando-as e curando-as? Assistindo a pobres? Salvando as almas? Divulgando o Espiritismo? Ou fazendo, por outro lado, campanhas para polticos espritas? Penso que nenhuma dessas atividades resolve, por si s, a questo. certo que j existem hoje caractersticas marcantes nas relaes sociais do centro esprita, entre elas: (1) a busca dos centros espritas por pessoas de diversos matizes, geralmente procura de um amparo s suas dores, (2) a assistncia social realizada pelos espritas, (3) a ligao dos mdiuns com a comunidade, atravs dos servios que prestam no centro ou nos atendimentos fora dele, e o reconhecimento do seu papel social.100 Uma reviso dessas relaes deve partir de uma reflexo sobre os seguintes pontos:

4.1. DEFESA DO ESPIRITISMO


Defender o Espiritismo ainda uma das tarefas principais do centro esprita. H trs preocupaes nessa rea: os ataques de adversrios, as distores geradas por muitos adeptos e as confuses que se fazem com outras doutrinas espiritualistas. Quanto aos ataques, certo que no vivemos mais o perodo que KARDEC identificou como de luta.101 No Brasil, onde a histria tambm registra momentos difceis para os espritas, o respeito e reconhecimento social pelo Espiritismo so hoje inquestionveis, a menos de setores
101

100

J. Herculano PIRES. O centro esprita e a comunidade. Em: . O centro esprita. cap. III, p. 18.

Allan KARDEC. Perodo de luta. Em: . Revista esprita. v. 6, ano 1863.

Captulo 4 - O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE 75

76 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural KARDEC, mas sobretudo por assumir sua metodologia de abordagem das diversas questes. As distores geradas no mbito do prprio movimento esprita merecem ateno especial. So as que tm causado maiores prejuzos. O centro esprita comprometido metodolgica e conceitualmente com o Espiritismo age em sentido contrrio a essas distores e realiza, desta forma, a maior entre todas as tarefas de defesa social da doutrina.

mais reacionrios ainda existentes em alguns meios religiosos. H tambm uma crescente adeso a conceitos adotados pelo Espiritismo, como a imortalidade, a comunicabilidade dos espritos e a reencarnao. Tudo isso faz com que hoje as relaes com os adversrios sejam outras. No cabem mais os debates emocionais. Mas no procede, por outro lado, o descuido e a omisso. de responsabilidade dos centros espritas esclarecer a comunidade, sempre que possvel, sobre os ataques, principalmente quando se baseiam em casos isolados de charlatanismo. Para Jos Herculano PIRES a defesa do Espiritismo no prescinde da energia e da virilidade:
"Propagou-se no meio esprita, atravs de mensagens medinicas, tendendo a um masoquismo de cilcios e autopunies, a estranha idia de que a virilidade s pertence aos cultores da violncia. Voltamos assim ao sistema igrejeiro dos rebanhos de ovelhinhas inocentes devoradas por lobos famintos sem qualquer possibilidade de defesa. Entregues a essa idia derrotista, o meio esprita abastardouse a ponto de at mesmo recusar-se a defender a Doutrina aviltada pela ignorncia travestida de bondade e doura."
102

4.2. O CENTRO ESPRITA PARA O HOMEM104


O Espiritismo rompe com as doutrinas que vendem a salvao depois da morte. No promete nada, no sugere adeso involuntria, no se mostra como nico caminho. Oferece a sua luz sem pedir subordinao, substitui a obedincia cega pela atuao consciente e entrega a cada um a responsabilidade pela prpria vida. Liberta o homem. A liberdade que o Espiritismo oferece baseada no conhecimento. Compreendendo o significado da vida e a verdadeira natureza de si mesmo, o homem comea a dar passos seguros, deixa de ser joguete das circunstncias e traa o seu prprio caminho. claro que isso no uma receita de liberdade, pois cada um que se encontrar com o Espiritismo reagir a seu modo. Uns daro mais voltas, hesitaro mais, sero mais vagarosos ou passaro por maiores conflitos, enquanto outros encontraro com maior facilidade seus prprios caminhos de libertao. Mas para todos o Espiritismo traz

As confuses que ainda existem entre Espiritismo e outras doutrinas precisam ser desfeitas. Uma contribuio importante elucidao dessa questo foi dada por Delindo Amorim em sua obra O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas,103 onde mostra as diferenas entre o Espiritismo e doutrinas com os quais chega a ser confundido, tais como a umbanda, o candombl e a cabala. Entendo que a principal diferena metodolgica, embora haja tambm diferenas conceituais importantes. O centro se firma como esprita no s por adotar as obras de Allan
102 103

104

J. Herculano PIRES. O centro esprita. p. 21. Deolindo AMORIM. O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas.

Este texto uma adaptao de outro escrito em 1986, que faz parte do artigo: Mauro de Mesquita SPINOLA. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 59-66.

Captulo 4 - O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE 77

78 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural lei de causa e efeito. Entender o carter transitrio da vida atual, que no pode ser analisada fora do contexto da eternidade, mas ao mesmo tempo valorizar esta vida. Afinal, dentro do vai-e-vem da evoluo, que momento no importante? O homem do centro esprita valoriza o momento em que vive porque sabe que a vida no uma farsa. Tudo que est aprendendo e realizando fundamental. Compreende e valoriza a vida aps a morte, mas no vive em funo dela, pois sabe que o entendimento das relaes entre as vidas atual e futura s tem significado se contribuir para entender a realidade de sua existncia atual. O momento que vive , para ele, enquanto vive, o mais importante, pois quando est preparando, ou realizando, a grande arrancada.

a liberdade em potencial. Cada um que o aproveite a seu modo. O centro esprita a casa do Espiritismo e dever canalizar o potencial libertador da doutrina. Para conseguir isso, dever antes de tudo ver as pessoas como indivduos diferentes entre si, com capacidades morais-intelectuais, anseios, preocupaes e problemas diferentes. Ao contrrio do que fazem os templos religiosos, o centro esprita no pode se propor a uma massificao de idias e comportamentos. Cabe a ele manter, bem verdade, um certo zelo com a doutrina, defendendo sua autenticidade, seu carter racional, e evitando desvios, infiltraes ou distores, mas no possvel conceber um centro realmente esprita que distribua a todos uma interpretao particular do Espiritismo. Estaria boicotando a doutrina, desviando os objetivos do grupo e escravizando as pessoas. O Espiritismo visa o homem. O centro esprita um dos meios de atingi-lo. O homem do centro esprita transformar a si mesmo e sociedade se tiver o Espiritismo como instrumento. Se o centro esprita inverte essa relao, isolando-se da vida real e exigindo do homem que abandone seu mundo, est traindo os prprios objetivos do Espiritismo. A paz que oferece, no encontrada l fora, uma verso disfarada da fuga que incentiva. No vai contribuir para construir ou libertar nada. O centro esprita feito para o homem, no o contrrio. O homem do centro esprita vai ver o seu dia-a-dia como a continuidade de um movimentado processo evolutivo. Passar a compreender o significado revolucionrio da imortalidade e o verdadeiro sentido da vida que vive. Compreender as relaes entre os mundos material e espiritual, as mudanas de estado entre encarnao e desencarnao e as influncias mtuas entre o livre arbtrio e a

4.3. A SOCIEDADE COMO TEMA DE ESTUDO


A sociedade um dos mais importantes e interessantes objetos de estudos e pesquisas no centro esprita. Marginalizados na maioria dos grupos, devido tradio politicamente conservadora do movimento, os temas sociais tendem a encontrar seu lugar nos estudos medida que a prpria sociedade se democratiza. Tem sido at agora com certa dificuldade que algumas pessoas ou grupos tm tentado trazer para o movimento esprita um estudo e uma discusso mais aberta da sociedade e seus problemas, luz do Espiritismo. Nos anos 80, por exemplo, alguns encontros de jovens do Estado de So Paulo se propuseram a debater a questo social e foram fortemente criticados por isso. O mesmo aconteceu com o ENSASDE - Encontro Nacional sobre o Aspecto Social da Doutrina Esprita, realizado em 1985 (Santos), 1987

Captulo 4 - O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE 79

80 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural (2) as relaes que estabelece condicionam em grande parte o seu desenvolvimento. Para entender o homem e a sociedade no suficiente enxerg-lo como indivduo em evoluo espiritual, pois o homem no apenas um produto de si mesmo, da mesma forma que a sociedade no apenas uma soma ponderada de homens. Tambm grosseira seria a reduo do homem a um produto do meio. Tratar abertamente da temtica social e poltica nos centros espritas, como proponho, uma atitude que ainda encontra resistncias. Os dirigentes adotam em geral uma interpretao conservadora da doutrina, baseando-se num suposto carter apoltico do Espiritismo e dos centros. Autores conceituados tambm fazem coro. um engano, pelo simples motivo de que no h conceito, atitude, grupo ou pessoa apoltica. No discutir poltica, por exemplo, uma atitude poltica, no sentido de que evita a reflexo sobre todo um conjunto de problemas do homem e da sociedade, como se fossem irrelevantes. O grande pensador esprita argentino Manuel PORTEIRO deixa muito claro que o Espiritismo no pode ser um instrumento de conivncia com a injustia:
"Dedicando o Espiritismo a resolver somente problemas metafsicos, prprios da velha escolstica, somente investigao do alm-tmulo, preso velha moral das religies, que ensina a respeitar falsos direitos e injustos privilgios, como coisas absolutamente necessrias e de acordo com a justia divina e causalidade moral de cada ser, perde seu carter de cincia integral e progressiva e, em vez de ser um ideal humano, propulsor do progresso e das causas nobres, aberto a toda iniciativa de bem-estar social, a toda tendncia renovadora e libertria, torna-se, em mos de espritos limitados, numa doutrina retrgrada e conservadora, numa arma formidvel para abater conscincias e conter todo impulso generoso que tenda a estabelecer um no-

(So Paulo) e 1989 (Salvador). Reunidos nesses encontros exclusivamente para analisar a questo social, diversos espritas produziram extenso material de pesquisa e abriram espao para uma maior abertura a essa temtica nos centros espritas. A posio de KARDEC em relao a isso clarssima. Chega a sugerir que sejam discutidas as matrias dos jornais:
"A par das obras especiais, formigam os jornais repletos de fatos, de narrativas, de acontecimentos, de rasgos de virtudes e de vcios, que levantam graves problemas morais, cuja soluo s o Espiritismo pode apresentar, constituindo isso ainda um meio de se provar que ele se prende a todos os ramos da ordem social." 105

O prprio O livro dos espritos apresenta, na sua terceira parte, um estudo vigoroso das leis morais, que tocam em vrios aspectos da vida social, tais como a distribuio de riquezas, a liberdade, a justia, a famlia, o trabalho e outros.106 Um estudo srio dessa parte do livro bsico do Espiritismo no prescinde da reflexo e do debate social, bem como da busca de caminhos para os homens, para a comunidade em que vivem e para a sociedade como um todo. Nesse sentido uma contribuio importante foi dada por Aylton PAIVA com seu livro Espiritismo e poltica,107 onde encontramos um estudo das leis morais sob o enfoque da anlise social e poltica. O estudo esprita da sociedade se baseia em dois conceitos fundamentais: (1) o homem um esprito encarnado, e vive em cada momento toda a sua histria espiritual,
105

106 107

Allan KARDEC. Assuntos de estudo. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 347, p. 431-432. . As leis morais. Em: . O livro dos espritos. parte III, p. 305-426. Aylton Guido Coimbra PAIVA. Espiritismo e poltica.

Captulo 4 - O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE 81

82 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural na educao pblica, que no uma preocupao s dos espritas, passa a ser tambm um desafio para esses pais, juntamente com muitos outros. No plano individual no cabe colocar limites aos campos de atuao. Deixando a apatia e a passividade de lado, cada um vai buscar seus campos e formas prprias, de acordo com o que sabe e busca. Isso tem relao com uma posio de KARDEC em O livro dos espritos:
"Por que, no mundo, os maus, to freqentemente, sobrepujam os bons em influncia? - Pela fraqueza dos bons; os maus so intrigantes e audaciosos, os bons so tmidos. Quando estes o quiserem dominaro."110

vo regime social, mais justo e conforme as exigncias do progresso." 108

4.4. ATUAO SOCIAL


A conscientizao no tem um fim em si mesma. Visa relacionar a teoria com a prtica, a idia com a realidade. Se o centro esprita der ao homem a chance de conhecer o Espiritismo e se conscientizar de seu papel individual, estar tambm contribuindo para a ao. Para KARDEC a conscientizao decisiva:
"A aspirao por uma ordem superior de coisas indcio da possibilidade de atingi-la. Cabe aos homens progressistas ativar esse movimento pelo estudo e a aplicao dos meios mais eficazes." 109

Realmente, a atuao social consciente e determinada uma conseqncia natural do estudo da sociedade. E tambm uma forma de buscar na realidade social vigente subsdios para esses estudos. Em que termos essa atuao pode ser feita pelos espritas individualmente e pelos centros como grupos? Aqui, mais uma vez, no cabem regras, mas quero discutir essa questo. Cabe aos homens conscientes, cada um a seu modo, contribuir para que a sociedade progrida, no simplesmente fazendo a sua parte, mas buscando influenciar para que novos e cada vez melhores rumos sejam traados. Apenas um exemplo: na tica esprita a educao de boa qualidade uma condio importante para o progresso material e espiritual. Os pais espritas so orientados nos centros a valorizarem a educao. A luta por uma melhoria
108 109

Em relao atuao social do centro esprita, como grupo, necessrio ter alguns cuidados: (1) Lembrar sempre que o compromisso primeiro do centro esprita com o Espiritismo, ou seja, a difuso e o desenvolvimento da doutrina. Engajar diretamente o centro nas lutas sociais s tem sentido se no forem esquecidas as reas prprias da doutrina. (2) As preocupaes com o poder temporal, inevitveis nas lutas sociais, podem ofuscar os objetivos maiores a que o Espiritismo se prope em relao ao homem e prpria sociedade. (3) A poltica partidria, com suas campanhas eleitorais e interesses contrastantes de partidos e pessoas, poder, em momentos de descuido, engajar o centro esprita em interesses outros que nada tm a ver com o Espiritismo.
110

Manuel S. PORTEIRO. Espiritismo dialctico. p. 57. Allan KARDEC. Liberdade, igualdade e fraternidade. Em: . Obras pstumas. parte 1, p. 193.

. Felicidade e infelicidade relativas. Em: . O livro dos espritos. parte IV, cap. I, questo 932, p. 431-432.

Captulo 4 - O CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE 83

84 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural d) a organizao ou a cesso de espao para a realizao de cursos diversos, e) a promoo de eventos e a criao de espao para o desenvolvimento de atividades culturais. Algumas dessas atividades, alm de outras mais, podem contribuir para a prpria manuteno da sede do centro, muitas vezes um pesado nus para seus scios.

Havendo equilbrio e firmeza doutrinria, tenho certeza de que nenhum desses prejuzos ocorrer. Qualquer que seja a forma e o grau de atuao de cada um, espritas e grupos espritas tanto quanto o prprio Espiritismo possuem um compromisso com a vida, a cidadania e a democracia. A luta pela valorizao do homem como ser integral e pela construo de uma sociedade para todos tarefa tambm dos espritas.

4.5. O CENTRO ESPRITA E A COMUNIDADE


sobretudo atravs da assistncia social e espiritual que o centro esprita tem marcado sua presena na comunidade. J expus os motivos pelos quais considero que num processo de reviso a tnica maior das atividades do centro dever ser a difuso e o desenvolvimento do Espiritismo. Em relao comunidade a divulgao do Espiritismo pode ser feita de vrias formas: eventos culturais, feiras de livros, programas de rdio e TV, jornais, revistas, editoras e publicaes diversas. Alm das atividades voltadas para a divulgao do Espiritismo h tambm outras formas possveis de participao e abertura do centro esprita comunidade. Eis algumas delas: a) a prpria assistncia social, que pode contar com a participao conjunta de pessoas no espritas, b) a abertura da biblioteca do centro para a comunidade, tornando-a uma biblioteca pblica, c) a realizao conjunta de atividades de interesse comum com as associaes organizadas da comunidade,

4.6. CONCLUSO: para ser um remo


A tradicional apatia do centro esprita em relao organizao social tende a desaparecer. O homem moderno no se conforma mais com conceitos abstratos de bem, mal, amor e caridade, busca o que realmente significam. Abrindo as suas portas para a sociedade, com seus problemas, angstias e anseios, o centro esprita talvez deixe de ser uma ilha de tranqilidade no mar tempestuoso para ser o remo que faltava ao navegador.

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Dedicando o Espiritismo a resolver somente problemas metafsicos, prprios da velha escolstica, somente investigao do almtmulo, preso velha moral das religies, que ensina a respeitar falsos direitos e injustos privilgios, como coisas absolutamente necessrias e de acordo com a justia divina e causalidade moral de cada ser, perde seu carter de cincia integral e progressiva e, em vez de ser um ideal humano, propulsor do progresso e das causas nobres, aberto a toda iniciativa de bemestar social, a toda tendncia renovadora e libertria, torna-se, em mos de espritos limitados, numa doutrina retrgrada e conservadora, numa arma formidvel para abater conscincias e conter todo impulso generoso que tenda a estabelecer um novo regime social, mais justo e conforme as exigncias do progresso.111

86 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

Captulo 5

O PODER NO CENTRO ESPRITA


o modelo que apresentei no captulo 1, ressaltei a importncia de no existir no centro hierarquia esttica e restritiva. A manuteno de pessoas ou grupos por perodos longos no poder uma causa freqente de cristalizao de idias e criao de mecanismos de defesa do poder j estabelecido. Aquele modelo deixa bastante claro tambm que dos homens a responsabilidade pela definio dos rumos do centro, no dos espritos.

5.1. MANDATOS DIVINOS


A principal causa da centralizao de poder no centro esprita tem sido a alegao de existncia de mandato conferido pela espiritualidade superior. Dirigentes, mdiuns e espritos, em geral visando o melhor para suas casas espritas, acabam por estabelecer critrios e procedimentos de fechamento do poder. O peridico esprita Espiritismo e Unificao realizou um estudo sobre o poder no movimento esprita que identifica esse problema:
"Nos nossos meios, a revelao medinica tem sido usada como instrumento para avalizar ou determinar um tipo de mandato divino, seja ele circunscrito a um centro, a um mdium ou dirigente, seja, em maior amplitude, atravs de determinadas organizaes federativas. Todos alegam

Manuel S. PORTEIRO (1881-1936)

111

Manuel S. PORTEIRO. Espiritismo Dialctico. pg. 57

Captulo 5 - O PODER NO CENTRO ESPRITA 87

88 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural cimento imotivado de suas funes, que prejudicam a eles e ao grupo. indisfarvel a posio desconfortvel dos dirigentes e dos mdiuns-principais que a todos tm que amparar, aconselhar, e em todos os momentos tm que apresentar as solues finais para cada assunto. Uma situao que eles, juntamente com seus seguidores, criaram. No pode ser esquecido tambm que o poder existe, sendo um espao a ser ocupado. sempre possvel identificar, numa estrutura de poder centralizado, aquele ou aqueles que o exercem, por um lado, e aqueles que, apaticamente, se permitem ficar longe dele. Alguns at reclamam, mas no ocupam seu espao. Seria muito difcil nesses casos identificar nos viles autocrticos a causa nica da centralizao. Por trs de um dono de centro existe muitas vezes uma histria de dedicao e luta solitria por uma causa.

possuir um certo poder divino, que lhes teria sido dado pela Espiritualidade Superior. "A ignorncia generalizada do Espiritismo, mesmo nos meios mais dinmicos, voltados, quase sempre, para o fator mstico, se traduz no fascnio que a mediunidade exerce. Sem dvida, esse fascnio uma clara acepo de Poder. O mdium, nos nossos meios, extravasa o sentido de medianeiro, de intercomunicador, para se transformar em autoridade, capaz de dominar no somente um ncleo especfico, mas projetar-se por toda a coletividade. Um exemplo tpico que certos mdiuns se transformam em orculos e muitos nada fazem sem consult-los e suas opinies j no so analisadas, mas ao contrrio so ordenaes infalveis. "Por isso identificamos o Poder clssico fluir, sem esforo, no mdium-principal, que aconselha e dita ordens como verdades irrecorrveis; podemos constat-lo no Guia Espiritual que domina grupos, no permitindo iniciativas dos encarnados; ou verificamos no presidente perptuo, no "dono do centro".112

Mdiuns, dirigentes e espritos assumem muitas vezes papis messinicos e de infundada autoridade nos centros, sem que haja qualquer motivo para se atribuir a eles rtulos diferenciadores. Em momentos de divergncia ou discordncia, invocam sua autoridade divina para impor suas posies. bem verdade que essas so atitudes humanas compreensveis, mas necessrio que a estrutura do centro no as incentive. Mdiuns, dirigentes e espritos possuem papis relevantes no centro, importante frisar. O que deve ser evitado o seu endeusamento, a mistificao e o engrande112

5.2. CRITRIOS PARA ABERTURA


Num processo de abertura participao fundamental que os princpios espritas e os objetivos bsicos do centro sejam respeitados. Aqueles que no o conhecem ou que ainda no mostraram condies para aplic-los no esto preparados para assumir funes relevantes. Um caso que presenciei em So Jos dos Campos ilustra a importncia desse cuidado: um grupo numeroso de freqentadores de um centro de umbanda da cidade comeou a freqentar um centro esprita, por recomendao de seu guia, que disse que deveriam conhecer Allan KARDEC. Logo se tornaram scios e, por discordarem de alguns procedimentos da direo lanaram uma chapa de oposio. Venceram as eleies seguintes.

O PODER e o movimento esprita. p. 5-6. Os termos "mdium principal" e "dono de centro" designam, respectivamente, o mdium supostamente mais importante no centro (incumbido, geralmente, de receber as comunicaes do esprito orientador guia do grupo) e o dirigente que ocupa continuamente as funes de presidente e coordenador das atividades da casa. Essas figuras existem, sob diversas formas, em vrios grupos.

Captulo 5 - O PODER NO CENTRO ESPRITA 89

90 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural As relaes de poder sero tratadas tambm no prximo captulo, que enfoca o movimento esprita.

Existem mecanismos inerciais utilizados por vrios grupos espritas para evitar essas situaes. Um exemplo a criao de um quadro de scios efetivos, no qual s ingressam scios que freqentam a sociedade h um certo tempo e que demonstram seu conhecimento do Espiritismo. Esses scios, e s eles, participam das Assemblias, podendo eleger e ser eleitos a cargos da diretoria. Na Sociedade Parisiense de Estudos Espritas havia restries participao, s sendo aceitos aqueles que demonstravam conhecer os princpios bsicos do Espiritismo ou que desejavam se instruir, entre outras exigncias. Alm disso reservava-se o direito de limitar, se conveniente, o nmero de associados livres e dos scios titulares.113

5.3. CONCLUSO: O CENTRO DE TODOS


Para aperfeioar e democratizar as relaes entre as pessoas no centro esprita deve-se partir da constatao de que o poder um elemento real e necessrio nos diversos grupos e instituies, no podendo ser diferente nos centros. A criao de um centro esprita aberto e dinmico, com ampla liberdade de crescimento, um desafio para todos os seus participantes. sobretudo nessa rea que se torna importante a preparao sistemtica de recursos humanos. Aos poucos os interessados vo se preparando para dar maiores vos, dentro de suas caractersticas.
113

Allan KARDEC. Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXX, artigos 3 e 6, p. 436-437.

91

92 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural (2) Controle do ensino esprita, no qual apresenta a conformidade do ensino dos espritos como o melhor critrio para garantir sua autoridade e informa que a Sociedade de Paris encaminhar a partir daquela data diversas questes doutrinrias para serem estudadas pelos grupos que com ela se correspondem, por correspondncia particular ou por intermdio da Revista, (3) Questes e problemas propostos aos vrios grupos espritas, com seis questes a serem estudadas e discutidas, sempre baseadas em comunicaes de espritos, uma delas com a incrvel afirmao de que nenhum Esprito humano pode manifestar-se ou comunicar-se com os homens. Estava dada ento a tnica da integrao que desejava para os grupos e o tipo de participao que cada um poderia ter: caberia a cada um deles contribuir para que as questes em aberto fossem resolvidas. Posteriormente, em dezembro de 1868, apresentou na prpria Revista a Constituio transitria do Espiritismo, com proposta de continuidade do Espiritismo e criao de um comit central de coordenao.115 Comeo com essas lembranas para ressaltar um ponto que se perdeu no movimento esprita brasileiro. Em geral, quando se fala em movimento esprita, integrao ou unificao, esquece-se o desenvolvimento do Espiritismo, atravs da pesquisa e do intercmbio de informaes, possivelmente a principal contribuio que se poderia tirar

Captulo 6 INTEGRAO ENTRE CENTROS ESPRITAS

ntegrar sem interferir na individualidade de cada grupo. Reunir para intercmbio de idias e informaes. Realizar atividades voltadas para objetivos comuns. Estes so os principais objetivos da integrao entre centros espritas. Apesar de ser indiscutvel sua necessidade, a integrao entre centros ainda busca seu caminho de realizao. que tambm aqui pesam as relaes de poder, e num grau muito maior.

6.1. INTEGRAO: UMA NECESSIDADE


Na Revista esprita de janeiro de 1862, Allan KARDEC convidou os grupos espritas a participarem do desenvolvimento da doutrina, atravs de trs textos:114 (1) Publicidade das comunicaes medinicas, em que discute as alternativas para publicao do nmero cada vez maior de comunicaes e referenda a criao da Biblioteca do mundo invisvel pelos Srs. Didier & Cia., com essa finalidade,
114

115

. Publicidade das comunicaes espritas. Controle do ensino esprita. Questes e problemas propostos aos vrios grupos espritas. Em: . Revista esprita. v. 5, ano 1862, p. 11-20.

. Constituio transitria do Espiritismo. Em: Ibid., v. 11, ano 1868, p. 367-392. O mesmo texto, ampliado, pode ser encontrado em: . Constituio do Espiritismo - exposio de motivos. Em: . Obras Pstumas. parte 2, p. 288-319.

Captulo 6 - INTEGRAO ENTRE CENTROS ESPRITAS 93

94 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural apresentam frontais contradies com conceitos bsicos do Espiritismo, resistem apesar das fortes reaes em contrrio por parte de setores mais conscientes. As outras entidades federativas e de unificao seguem, em geral a mesma linha. Algumas entidades buscaram estabelecer um sistema mais democrtico em seus estatutos, mas no deixaram de viver momentos constrangedores para sua histria. No ano de 1988 uma delas, a Unio das Sociedades Espritas do Estado de So Paulo (USE), em atitude indita na sua histria, convidou, sutilmente, as sociedades espritas que no concordavam com o trplice aspecto do Espiritismo, para se desligarem. Segue-se a citao do trecho capital do documento aprovado pelo Conselho Deliberativo Estadual:
"Finalmente, cumpre esclarecer que, em decorrncia dos fatos relatados e ocorridos, as Sociedades Unidas que estiverem EM DESACORDO com o Estatuto vigente da USE, tm a mais ampla liberdade de optarem, de maneira fraterna, por outros caminhos. "Assim sendo, aquelas Sociedades que desejarem, podero solicitar o seu desligamento por no concordarem com seu Estatuto, bem como, a qualquer instante, podero solicitar o retorno ao quadro de Sociedades Unidas quando os princpios adotados forem os mesmos da USE, os quais s sero alterados quando democraticamente a MAIORIA USEANA assim o desejar." 116

dessa unio. E era exatamente essa a maior preocupao de KARDEC. sobretudo nesse sentido que a integrao se faz necessria. Mas ela pode trazer outras contribuies, como o aperfeioamento dos prprios centros a partir do intercmbio que estabelecem. Um grupo esprita que mantenha contato com outros que tm objetivos anlogos ter sempre material para aperfeioar seu conhecimento, seus mtodos e seus resultados. Esse o pano de fundo. Sem ele o movimento esprita se torna frum para questes menores e palco para disputas de poder.

6.2. O MOVIMENTO DE UNIFICAO: PARA A FRENTE


E PARA TRS

O movimento de unificao entre centros espritas tem realizado progressos em termos de aproximao com os objetivos do Espiritismo, como j citei em Eventos de renovao, no captulo 1. Mas tem, por outro lado, protagonizado grandes desvios e patrocinado longos perodos de estagnao. Por trs da busca de entendimento cria-se uma luta de idias e os grupos hegemnicos criam mecanismos de manuteno de poder. Mais uma vez os mandatos divinos so utilizados como instrumentos de poder. A Federao Esprita Brasileira (FEB) um exemplo de entidade que considera que realiza misso conferida pela espiritualidade superior. Atualmente se autodenomina Casa Mter do Espiritismo (antes se cognominava Casa Mter do Espiritismo no Brasil) e tem como guia o Anjo Ismael, que seria tambm o coordenador espiritual do Brasil. As distores que impe, como a defesa e divulgao das obras de ROUSTAING, que

Esse episdio encerrou um tumultuado processo que teve na discusso da questo religiosa seu tema principal e como pano de fundo a disputa pelo poder na USE. Pelo menos uma lio trouxe para todos: um erro pensar numa unificao geral dos centros espritas. H diferenas
116

UNIO das Sociedades Espritas do Estado de So Paulo. Relatrio da comisso nomeada pelo CDE da USE, em 13 de setembro de 1987, para apurar denncias feitas contra a UME de Santos.

Captulo 6 - INTEGRAO ENTRE CENTROS ESPRITAS 95

96 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

dificilmente superveis a curto prazo. E poucos querem super-las. Pode-se dizer que a convivncia com a divergncia de idias possivelmente a maior dificuldade do movimento de unificao. Busco mais uma vez em KARDEC um critrio para a busca de caminhos em comum:
"A imobilidade, em lugar de ser uma fora, torna-se causa de fraqueza e runa para os que no seguem o movimento geral. Rompe a unidade, porque os que desejam ir para a frente separam-se dos que se obstinam em ficar para trs. Entretanto, embora seguindo o movimento progressista, mister faz-lo com prudncia e evitar entregar-se s cegas aos devaneios, utopias e novos sistemas. Importa faz-lo a tempo, nem muito cedo, nem muito tarde e com conhecimento de causa." 117

6.3. CONCLUSO: CAMINHOS QUE SE ABREM PARA


UMA INTEGRAO REAL

Os grupos espritas tendem a se diversificar cada vez mais. A integrao entre eles no poder ser suportada mais por uma sistemtica massificante e de carter global. Uns buscaro intercmbio para seus estudos e pesquisas, outros organizaro cursos de preparao. Outros ainda, trocaro idias sobre formas de aplicar o passe e de realizar a assistncia social. As grandes instituies unificacionistas podero manter o seu papel se aprenderem a conviver com a divergncia e buscar o que h de comum. Mas independentemente delas, os grupos procuraro cada vez mais seus pares para com eles crescer. Ao contrrio do que muitos pensam, pode estar a o caminho de libertao do Espiritismo, pois ele no pertence a nenhuma dessas instituies.
117

Desenho esquemtico da estrutura de um centro esprita

118

Allan KARDEC. Constituio transitria do Espiritismo: III - Dos cismas. Em: . Revista esprita. v. 11, ano 1868, p. 375-376.

118

Esquema idealizado por Mauro de Mesquita Spinola e confeccionado eletronicamente por Magda Selvero Salomo.

97

98 CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

CONCLUSO
ara que realizar uma reviso estrutural do centro esprita? O primeiro e grande motivo para revisar adequar o centro esprita sua finalidade maior: estudar, pesquisar, desenvolver, consolidar e difundir o Espiritismo, tendo como base a obra de Allan KARDEC. Mais do que um simples pano de fundo, mais do que uma motivao ou orientao, o Espiritismo precisa ser o objetivo primeiro do centro esprita, j que este a casa daquele. O Espiritismo ao mesmo tempo a base e meta do centro esprita. Como base, direciona e d subsdios para a estruturao das diversas atividades. Como meta, estabelece parmetros para definir quais so as atividades que permitem ao centro melhor contribuir com o Espiritismo, sem desviar os seus esforos para outros objetivos. Busquei neste trabalho apresentar a base conceitual e os meios para a realizao desta tarefa. Sintetizo agora, de forma mais sistemtica e objetiva, algumas propostas para implementao das melhorias necessrias.

A BASE CONCEITUAL J EXISTE


A base conceitual do centro esprita o Espiritismo foi desenvolvida inicialmente por Allan KARDEC. Alm de nos apresentar informaes sobre o mundo dos espri-

CONCLUSO 99

100CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

tos e a discusso filosfica das diversas conseqncias da imortalidade e da reencarnao, a sua obra nos forneceu um mtodo de trabalho.119 sobretudo neste mtodo que est baseado o centro esprita. Adotando-o, o centro tornase porta voz, duplicador e continuador do trabalho de KARDEC. No esprita o centro que: no tem por base a obra de Kardec; no utiliza o mtodo de KARDEC no trato da mediunidade; utiliza conceitos e mtodos que confrontam com as propostas de Kardec.

UMA OPO DIFERENTE


Como foi visto no captulo 1, grande a variedade de faces dos grupos que se autodenominam espritas. Assim sendo, a opo estritamente esprita sem desvios doutrinrios e sem outros objetivos que dispersem as aes perdendo o foco principal pode ser vista como uma opo diferente. Sem dvida, poder ser considerado diferente da maioria o centro esprita que: tem no estudo a sua base; (v. captulo 3 deste livro) realiza pesquisa esprita; (cap. 3) aplica o mtodo de KARDEC no trato com a mediunidade; (cap. 2) no distribui passes granel em todas as suas reunies; (cap. 2) no trata qualquer pessoa que procura o centro como doente, e no a encaminha desde o incio para uma entrevista e um tratamento espiritual; (cap. 2) apresenta-se como uma casa de estudos e no como um hospital; evita dizer, logo no primeiro contato com uma pessoa que procura o centro, que ela mdium e precisa desenvolver a mediunidade para se livrar de suas perturbaes; (cap. 2) est voltado para o homem e no obriga o homem a estar voltado para o centro, como se este fosse um fim em si mesmo (cap. 4) discute abertamente a contribuio do Espiritismo nos diversos temas que afetam o homem moderno; contextualiza o estudo esprita; (cap. 4)

O MODELO PROPOSTO SERVE DE BASE PARA A


REESTRUTURAO

O modelo conceitual apresentado no captulo 1 simples o suficiente para se adaptar a diferenas e transformaes culturais, mas oferece restries manuteno de conceitos, estruturas, mtodos e costumes ainda vigentes nos centros espritas. Exige uma reviso estrutural que priorize o compromisso com o Espiritismo e a libertao de estruturas arcaicas de poder. A discusso crtica e contnua da estrutura necessria para implementar e consolidar este modelo num centro esprita pode contribuir para que seja estabelecido um caminho seguro e direcionado para o aprimoramento.

119

. Introduo - II - Autoridade da doutrina esprita. Em: . O evangelho segundo o Espiritismo. p. 11-18. . Caracteres da revelao esprita. Em: . A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. I, itens 12-18, p. 15-18.

CONCLUSO 101

102CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural trumentos poderosos (livros, pessoas, grupos afins para trocarmos idias). Portanto, s temos que comear. Qual o objetivo do centro esprita? Esta a primeira questo a ser respondida por todo grupo esprita que desejar iniciar ou rever suas atividades. A partir dessa reflexo ser possvel criar, desenvolver, excluir, modificar ou aperfeioar as diversas atividades, para que se adeqem aos objetivos estabelecidos. Um critrio bsico para todas: que firmem o compromisso do centro com o desenvolvimento, a aplicao e a divulgao do Espiritismo. claro que no h um nico caminho. Busquei identificar neste livro os principais critrios para realizar este trabalho. Citei tambm as principais referncias encontradas na literatura sobre o assunto. Mas o caminho propriamente dito depende das caractersticas e da estratgia de cada centro. Rediscutidos os objetivos, o processo se desdobra de forma planificada.120 Uma atividade que passa a ser fundamental a gesto do processo de estruturao, que garantir a sua implementao. Para realiz-la, podem ser obtidas algumas lies dos estudos de organizao de empresas, que costumam trabalhar com objetivos, mtodos e resultados precisos. Muitos estudos e experincias sobre a Gesto da Qualidade Total aplicados em diversas organizaes fabris e de servios no mundo todo podem tambm ser aproveita-

dirigido por um grupo representativo de pessoas; no dirigido por espritos ou pelos mdiuns que transmitem suas orientaes; (cap. 5) comunica-se, troca idias e integra-se com outros grupos, mas prope a integrao como instrumento de crescimento do Espiritismo; (cap. 6) na integrao com outros grupos no se subordina a idias e prticas massificantes (no focadas nos objetivos principais do Espiritismo e do centro esprita), luta contra as distores e a inrcia. (cap. 6) O centro que adota esta opo poder ser nico num bairro ou mesmo numa cidade, s vezes isolado, sem ter com quem trocar idias. fundamental evitar este isolamento, aproximando-se e mantendo contato contnuo com grupos afins, mesmo que geograficamente distantes. Poder ter menos freqentadores que os demais da regio e alguns de seus freqentadores, que prefeririam v-lo recebendo muitas pessoas, talvez questionem. Poder ser acusado de no praticar a caridade e tudo o mais, mas estar oferecendo um produto diferenciado: o Espiritismo. E esta certeza basta.

POR ONDE COMEAR?


Esta dvida pode aparecer. Tanto h para fazer que no se sabe como planejar, iniciar e conduzir um processo de reviso estrutural. Para responder a esta questo podemos fazer analogia tarefa de subir uma grande escada: o que temos a fazer comear, dar o primeiro passo. Temos a direo a seguir (os conceitos espritas) e possumos ins-

120

Os textos de KARDEC que apresentam de maneira mais objetiva as diretrizes para a estruturao do centro esprita so Das reunies e das sociedades e Regulamento da sociedade parisiense de estudos espritas, ambos de O livro dos mdiuns: Allan KARDEC. O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX e XXX, p. 413-444.

CONCLUSO103

104CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural

dos na gesto do centro esprita, aplicando-se de acordo com os objetivos especficos a que se prope o centro.121 Os elementos bsicos a serem considerados para a implantao so apresentados a seguir:

ELEMENTOS BSICOS DO PROCESSO DE ESTRUTURAO DO CENTRO ESPRITA 1 2 Definio de objetivos claros para a (re)estruturao Estabelecimento de uma estrutura organizacional e de atividades que envolva as diversas pessoas Treinamento e educao Atividades de promoo do processo de (re)estruturao Acompanhamento e avaliao

3 4 5

121

Jeremy MAIN. Guerras pela qualidade: os sucessos e fracassos da revoluo da qualidade. Trad. Outras Palavras Consultoria Lingustica. Rio de Janeiro, Campus, 1994. Alberto GALGANO. Calidad total. p. 373-388. Shoji SHIBA e outros. A new american TQM. p. 461-501.

1. Definio de objetivos claros para a (re)estruturao. Todos os participantes ativos participam de sua definio e todas as pessoas que freqentam ou tm contato com o centro conhecem os objetivos. A partir dos objetivos gerais (longo prazo) derivam-se as metas de mdio e curto prazo a serem atingidas. Estabelecem-se tambm os meios e critrios para realizar avaliaes peridicas dos resultados. 2. Estabelecimento de uma estrutura organizacional e de atividades que envolva as diversas pessoas. As pessoas ajudam a planejar e mobilizar a implementao da (re)estruturao. necessrio romper com estruturas estticas, baseadas exclusivamente em funes fixas (presidente, secretrio, diretor de doutrina etc.) para permitir um envolvimento das pessoas de acordo com as atividades a serem realizadas. As atividades so definidas, por sua vez, de a-

CONCLUSO 105

106CENTRO ESPRITA: uma reviso estrutural No centro esprita as pessoas passam a compreender cada vez mais o significado da sua existncia. L se encontram como protagonistas de uma grande jornada, trocam informaes, idias, olhares, abraos, ateno, amor. Conversam, aprendem, discutem, criam, crescem. Sabem que seu caminho no o mesmo, mas h ali um comprometimento mtuo. A evoluo uma tarefa individual e coletiva. Essas pessoas esto comprometidas com ela. O Espiritismo e o centro esprita tambm.

cordo com as metas a serem alcanadas. fundamental que as atividades no dependam de pessoas especficas para serem realizadas ou continuadas. Por isso os objetivos delas, bem como os mtodos adotados para execut-las (os procedimentos) devem ser definidos e, se possvel, escritos. 3. Treinamento e educao. A formao das pessoas que participam das atividades, com base nas propostas do captulo 4, cria uma estrutura slida para as mudanas necessrias. O treinamento est voltado tanto para o conhecimento esprita quanto para a preparao execuo das diversas atividades. 4. Atividades de promoo do processo de (re)estruturao, atravs da divulgao e discusso dos seus objetivos, palestras, seminrios, comunicaes peridicas, campanhas, vdeos, etc. 5. Acompanhamento e avaliao. Um grupo que rene pessoas envolvidas nas diversas atividades, com a participao da direo (pode ser chamado de grupo de estruturao) avalia e discute continuamente o processo, visando aperfeio-lo.

Esprita o centro que: tem por base a obra de Kardec; utiliza o mtodo de Kardec no trato da mediunidade; no utiliza conceitos e mtodos que confrontam com as propostas de Kardec.

AS PESSOAS
As atividades do centro esprita no necessitam viver amarradas a uma coordenao centralizada e fiscalizadora. O seu desenvolvimento exige um ambiente de liberdade e criao. Por outro lado, h de se criar meios de no se perder a unidade existencial. Evitar o engrandecimento excessivo um pressuposto bsico. A preparao de recursos humanos e materiais para o aprimoramento das atividades constitui-se no elemento chave do processo de reviso estrutural.

107

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SOBRE O AUTOR
Mauro de Mesquita Spinola engenheiro eletrnico. Trabalha como professor universitrio Escola Politcnica da USP, Universidade So Judas Tadeu e Universidade Paulista e consultor tcnico nas reas de Sistemas de Informao e Qualidade de Software. Nascido em So Paulo em 1956, participa de centro esprita e do movimento esprita desde muito jovem. Atua no Centro de Estudos Espritas Jos Herculano Pires, de So Paulo e no Centro de Pesquisa e Documentao Esprita (CPDoc), de Santos. Integra tambm a equipe do programa radiofnico Momento Esprita, da Rdio Boa Nova de Guarulhos. Suas principais reas de estudo e interesse so o centro esprita, a mediunidade, o animismo e as contribuies do Espiritismo organizao social.

CENTRO ESPRITA: OS CINCO FATORES CRTICOS PARA UMA REFORMA ESTRUTURAL


Mauro de Mesquita Spnola (*) So Paulo-SP, Brasil RESUMO Este trabalho apresenta as bases para uma reviso estrutural dos centros espritas na atualidade, que permita a eles traar seus caminhos vinculados e comprometidos com o prprio desenvolvimento do Espiritismo, alm de se caracterizarem socialmente de forma clara. So apresentados os cinco fatores crticos para esta reviso: a mediunidade, os estudos e pesquisas, a relao com a sociedade, o poder e a integrao com outros centros espritas. Palavras-chave: centro esprita, mediunidade, pesquisa esprita, espiritismo e sociedade, poder

1.

INTRODUO

necessrio e possvel realizar uma reviso estrutural dos centros espritas na atualidade, que permita a eles traar seus caminhos vinculados e comprometidos com o prprio desenvolvimento do Espiritismo, alm de se caracterizarem socialmente de forma clara. Isso hoje no ocorre. Viso com este estudo contribuir para essa reviso. Parto da constatao de que os centros espritas vivem hoje uma dificuldade de identificao, gerada sobretudo pelos confrontos entre sua estrutura, a leitura do Espiritismo e a modernizao cultural e moral da sociedade. Tanto como casa do Espiritismo quanto como clula social o centro ainda busca uma definio mais precisa. Este texto apresenta de forma sucinta os principais conceitos e propostas apresentados no livro Centro esprita: uma reviso estrutural27, lanado em 1997 pelo CPDoc Centro de Pesquisa e Documentao Esprita. Desconhecimento do Espiritismo nos centros, sincretismo, assistencialismo, cultos exteriores e religiosismo, grandeza fsica, clientelismo, proselitismo e isolamento cultural so alguns dos aspectos contrastantes entre a estrutura de grande parte dos centros e a proposta do Espiritismo. A identificao desses pontos contribui para uma crtica aos centros espritas modernos. Entre todos, o mais importante o desconhecimento do Espiritismo.

27

Mauro de Mesquita SPINOLA. Centro esprita: uma reviso estrutural.

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Dificuldades A anlise da estrutura do centro esprita e as possveis propostas que dela possam advir esbarram em vrias dificuldades. Eis algumas delas: a) difcil definir centro esprita. muito grande a heterogeneidade existente entre os grupos e como conseqncia surgem dvidas: o que estaramos analisando? a que e a quem estaramos propondo? b) Em muitos centros espritas vive-se hoje um perodo de discusso e reviso estrutural. H tambm a criao de novos grupos, com estruturas alternativas e claramente diferentes das existentes. Os resultados so apenas preliminares e no h indcios de tendncias generalizadas. Qual o objetivo dos centros espritas? Impossvel encontrar uma resposta vlida para todos os grupos. Com certeza esse objetivo varia segundo fatores culturais, a ponto de podermos encontrar dois centros espritas com objetivos (e portanto atividades) completamente diferentes. Num centro, maior nfase dada aos conhecimentos do Espiritismo, num outro se d maior valor prtica da mediunidade, num terceiro as pessoas se dedicam prioritariamente ao atendimento de necessitados, num quarto centro a cura o maior objetivo, e assim por diante.28 Apesar daqueles esforos, uma anlise do panorama atual nos mostra uma grande miscelnea, o que torna impossvel responder, com base no que se v, a questo o que o centro esprita? Estabelecer um modelo seria muito difcil; analisar e propor, impossvel. Para estabelecer um modelo teramos que optar por uma conceituao mais precisa de centro esprita, assumindo algumas de suas caractersticas. Esse modelo viabilizaria a anlise e a elaborao de propostas. Fao, portanto, com o objetivo de poder continuar esse trabalho, um exerccio de modelamento.29 O seu principal objetivo estabelecer uma referncia conceitual que sirva de base para a estruturao de uma casa esprita ou mesmo para a reestruturao de uma casa j existente. So critrios bsicos a considerar na avaliao e na organizao dessas casas. Um modelo O modelo no toca no problema de organizao administrativa e financeira do centro, mas estabelece diretrizes para que essa organizao, qualquer que seja, se volte para os objetivos de tornar o centro uma casa do Espiritismo. So trs os seus componentes: as pessoas, o relacionamento do centro com o Espiritismo e a estrutura de poder, como descrevemos a seguir:

28

Mauro de Mesquita SPINOLA. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 60. 29 Ibid., p. 59-61.

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CENTRO ESPRITA: MODELO CONCEITUAL O centro esprita uma associao de pessoas O centro esprita comprometido com o Espiritismo No existe no centro esprita hierarquia esttica e restritiva a) O centro esprita uma associao de pessoas encarnadas, de homens. Poderia, por opo, abranger tambm os espritos desencarnados nessa associao, j que os centros espritas contam, em geral, com a participao ativa dos espritos. Os motivos pelos quais no farei isso so: a.1) Considero que o centro esprita organizado e dirigido por homens, tendo espritos desencarnados como convidados. Desta forma, qualquer estudo relativo estrutura, atividades, mtodos, prioridades e orientao doutrinria em um centro passa necessariamente pelo comportamento dos homens que o compem. a.2) As atividades do centro esprita, incluindo as reunies medinicas, so organizadas e dirigidas por homens. As propostas relativas a essas reunies devem se dirigir, pelo menos num primeiro momento, a eles. a.3) So os homens que participam da vida social, contexto em que est inserido o centro. b) O centro esprita comprometido com o Espiritismo. Esse compromisso se concretiza atravs do estudo de livros espritas, incluindo necessariamente as obras de Allan KARDEC, e adequao das diversas atividades aos conceitos e mtodos prprios da doutrina. c) No existe no centro esprita hierarquia esttica e restritiva. O efeito mais importante dessa estrutura a igualdade para aprender, praticar e influir. Um centro esprita aberto participao integral de pessoas interessadas em aprender e contribuir, e comprometido com o aprendizado e desenvolvimento do Espiritismo ser o modelo, para os centros espritas modernos, que adotarei a partir daqui. Mas caberia perguntar: como ser o centro esprita do futuro?30

30

der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 14.

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A estrutura proposta Uma reflexo sobre a estrutura dos centros espritas exige a identificao dos elementos que compem essa estrutura. Assumo que so os seguintes:

ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CENTRO ESPRITA Mediunidade Estudos e pesquisas Relaes com a sociedade Poder Integrao com outros centros espritas Neste trabalho no so tratados, de forma sistemtica, os aspectos de organizao e administrao do centro esprita. H alguns livros e apostilas que tratam do assunto. O centro esprita, de Wilson GARCIA, sinttico e objetivo, um livro de valor.31 Entre os autores pesquisados, dediquei especial ateno aos dois que deram contribuies mais significativas para o estudo da estrutura do centro esprita at agora: Allan KARDEC e Jos Herculano PIRES. Em toda a extenso do texto eles so citados, sobretudo em suas respectivas obras O livro dos mdiuns32 e O centro esprita. 33 O livro dos mdiuns, publicado em 1861, continua sendo referncia obrigatria para formao, avaliao e dinamizao dos grupos. Reputo grande importncia a este livro no contexto da obra de KARDEC. Se em O livro dos espritos encontramos a apresentao da doutrina como um todo, constituindo-se por isso no mais abrangente trabalho seu, no entanto em O livro dos mdiuns que passamos mais claramente a conhecer a sua maneira de trabalhar, o mtodo kardequiano. E esse mtodo que referenda toda a sua obra. Marco maior da lucidez de KARDEC, esse compndio ainda no esgotou seus recursos de aplicao. O livro de Jos Herculano PIRES O centro esprita se prope a apresentar um estudo sobre as origens, o sentido e a significao do centro esprita. um trabalho poderoso, que capta conceitos importantes, identifica distores e prope um modelo, mas no escapa ao envolvimento de algumas idias j cristalizadas. No me proporia a tentar fixar de forma precisa a funo do centro, como faz Herculano, sobretudo porque difcil trabalhar com uma verdade
31 32 33

Wilson GARCIA. O centro esprita. Allan KARDEC. O livro dos mdiuns. J. Herculano PIRES. O centro esprita.

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que no praticada. Mas concordo com ele quando constata que a funo e a significao do centro so desconhecidas, s ficando uma dvida: algum conhece completamente? 2. A MEDIUNIDADE

O Espiritismo est histrica e metodologicamente vinculado mediunidade. Ele nasceu e cresceu a partir do estudo dos fenmenos medinicos. Sem a mediunidade o Espiritismo simplesmente no existiria. A mediunidade o elemento mais importante da estrutura do centro esprita pois concretiza o mundo dos espritos, objeto principal de estudo do Espiritismo. 2.1 - O que mediunidade? "Mediunidade a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relaes entre homens e espritos." 34 KARDEC dedicou grande importncia mediunidade e comunicao com os espritos. O relato que fez do incio de suas pesquisas mostra isso: "Compreendi, logo primeira vista, a importncia das pesquisas que iria fazer. Vislumbrei naqueles fenmenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, to confuso e to controvertido, a soluo daquilo que eu havia buscado toda a minha vida."35 Com o tempo fortaleceu ainda mais a convico que a mediunidade deve ser estudada e praticada com seriedade. O sua principal obra sobre o assunto, O livro dos mdiuns,36 foi lanada em 1861 em substituio a uma outra de mesma natureza, Instrues prticas sobre as manifestaes espritas,37 que havia sido lanada em 1858, pois considerou que esta no era suficientemente completa.38 Nos seus estudos, dedicou especial ateno psicografia, pois percebeu que a escrita tem a vantagem de assinalar, de modo mais material, a interveno de uma fora oculta e de deixar traos que se podem conservar, como fazemos com nossa correspondncia.39 Essa sua preocupao esclarece, em parte, o carter que atribua mediunidade: um forte instrumento de comunicao com o invisvel, tanto quanto de documentao. Para KARDEC era necessria uma conceituao precisa de mediunidade (e mdiuns), alm de uma classificao detalhada dos fenmenos. Foi o que

34

J. Herculano PIRES. Mediunidade: vida e comunicao: conceituao de mediunidade e anlise geral dos seus problemas atuais. cap.I, p. 11. 35 Allan KARDEC. Extratos in extenso do livro das previses concernentes ao Espiritismo: manuscrito feito com especial cuidado por Allan Kardec. Em: . Obras Pstumas. parte 2, p. 220. 36 . O livro dos mdiuns. 37 . Instrues prticas sobre as manifestaes espritas. Em: . Iniciao esprita. p. 175-299. 38 . Introduo. Em: . O livro dos mdiuns. p. 13. 39 . Da psicografia. Em: Ibid, parte 2, cap. XIII, item 152, p. 190.

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fez.40 Um ponto delicado referia-se questo: quem mdium? Resolveu-a da seguinte forma: todo aquele que sente, num grau qualquer, a influncia dos espritos , por esse fato, mdium, mas, usualmente, assim s se qualificam aqueles em que a faculdade medinica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que ento depende de uma organizao mais ou menos sensitiva.41 Estudando esse problema mais recentemente, CRAWFORD chamou de esttica a mediunidade natural, que todos possuem, e dinmica a mediunidade ativa. Jos Herculano PIRES apresenta tambm as denominaes de mediunidade generalizada e mediunato, respectivamente.42 Esse continua sendo um dos pontos mais delicados no trato da questo medinica, pois toca no problema da necessidade de dedicao do mdium mediunidade. muito comum a frase: voc mdium, por vezes emitida numa primeira entrevista, ser utilizada como instrumento de proselitismo. Penso que essa postura deve ser reavaliada, mesmo que se constate a presena de mediunidade ativa (caracterizada, ostensiva, mediunato). No est demonstrado que os mdiuns necessitam se dedicar ao centro esprita para no sofrer perturbaes. H ainda um outro ponto em que o conceito de mediunidade generalizada toca: o do carter de graa ou provao atribudo mediunidade: "O conceito de mediunidade que vigora entre ns, na maioria esmagadora dos centros, espantosamente ambivalente e portanto contraditria. Afirma-se ao mesmo tempo que a mediunidade uma graa e uma provao, que os mdiuns so espritos grandemente faltosos, no obstante adorados como enviados de Deus. Os que estudam seriamente a Doutrina logo percebem a falsidade desse conceito. A mediunidade uma faculdade natural da espcie humana, como todas as demais faculdades." 43 A atitude de adorao, adulao ou at louvao de mdiuns tem como causa principal a falta de reflexo sobre o papel da mediunidade. 2.2 - As reunies medinicas Nas reunies medinicas realizam-se os contatos com espritos no centro esprita. Qualquer processo de anlise ou reviso envolve necessariamente essas reunies. De acordo com o modelo proposto elas devem consagrar conceitos e mtodos prprios do Espiritismo.

Allan KARDEC. Instrues prticas sobre as manifestaes espritas Vocabulrio esprita. Em: . Iniciao esprita. p. 182-216. . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XIV-XVI, p. 195-236 e cap. XXXII, p. 478480. 41 . Dos mdiuns. Em: O livro dos mdiuns, parte 2, cap. XIV, item 159, p. 195. 42 J.Herculano PIRES. Mediunidade: vida e comunicao: conceituao de mediunidade e anlise geral dos seus problemas atuais. cap.II, p 18. 43 . O centro e a comunidade. Em: O centro esprita. p.18.

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Quando KARDEC classificou as reunies medinicas como frvolas, experimentais e instrutivas,44 buscou identificar as condies especiais em que as reunies srias devem ser realizadas, destacando a necessidade de participao de pessoas srias e o intuito de se instruir. A uniformidade de objetivos e sentimentos, s possvel com um nmero pequeno de participantes, ganha aqui um significado vital.45 Mesmo os centros espritas que optam por crescer necessitam cuidar para que as reunies medinicas no inchem e portanto no percam esse carter. Seria possvel estabelecer critrios generalizados? Creio que alguns, sim. A comear pela busca de aperfeioamento e instruo. As reunies medinicas que perpetuam os seus objetivos, mtodos, mdiuns e at comunicaes podem estar perdendo a oportunidade de contribuir para o aprimoramento tcnico e moral dos participantes e do prprio Espiritismo. Essa observao vale tambm para chamadas reunies de assistncia, que discutirei adiante, onde estrutura e personagens costumam se cristalizar no centro esprita. Duas das caractersticas de um trabalho srio so a regularidade e a continuidade, pois a experincia mostra que a participao dos espritos tambm regular. No entanto, KARDEC alerta que, se bem os Espritos prefiram a regularidade, os de ordem verdadeiramente superior no se mostram meticulosos a esse extremo. A exigncia de pontualidade rigorosa sinal de inferioridade, como tudo que seja pueril. 46 Quando estudou a influncia do meio, KARDEC colocou que uma reunio um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades so a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Como conseqncia, apresenta as condies mais favorveis para uma Sociedade que aspira granjear a simpatia dos bons Espritos, entre elas: perfeita comunho de vistas e sentimentos, cordialidade recproca, desejo de se instruir e melhorar, recolhimento e silncio respeitosos, e outras.47 No trato com espritos perturbadores, props enrgica resistncia, envolvendo prece, caridade e ateno.48 H um ponto sobre o qual pairam dvidas na organizao de reunies medinicas: a validade de se evocar espritos. Largamente utilizado e defendido por KARDEC, esse mtodo foi fundamental em suas pesquisas.49 Nos relatos constantes do livro O cu e o inferno, por exemplo, grande o nmero de casos
. Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, itens 324-329, p. 413-418. 45 Ibid., parte 2, cap. XXIX, itens 332, 334 e 335, p. 420-423. der FVARO e outros. A estrutura dos centros espritas de Kardec aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 3. 46 Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 333, p. 421. 47 Ibid., itens 331 e 341, p. 419 e 427-428. . Da influncia do meio. Em: . O livro dos mdiuns. p. 285-288. 48 . Das reunies e das sociedades espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 340, p. 426-427. 49 . Das evocaes. Em: . O livro dos mdiuns, cap. XXV, p. 338-368.
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estudados com uso de evocaes. EMMANUEL, atravs da mediunidade de Francisco C. XAVIER, recomenda que as evocaes no sejam utilizadas em caso algum. A idia de EMMANUEL generalizada entre os centros, e no mnimo estranha. A maior dificuldade em potencial a de identificao dos espritos tambm foi sentida e estudada por KARDEC.50 A organizao de reunies medinicas em geral, e os trabalhos de pesquisas, em particular, requerem um novo estudo desses conceitos. Seno estaremos correndo o risco de obedecer a proibies bblicas com a justificativa nica de que no estamos preparados. O preparo contnuo dos mdiuns para a realizao de suas tarefas requer a elaborao de um processo de desenvolvimento da mediunidade, tambm chamado de educao medinica. No mais admissvel deixar que a prtica ou a vida ensinem por si mesmo. KARDEC colocou a necessidade de desenvolvimento, estudando sobretudo a mediunidade psicogrfica.51 H, basicamente, dois aspectos no desenvolvimento do mdium:52 (1) a prtica, que envolve a necessidade de aperfeioamento tcnico, (2) a aplicao, que abrange a compreenso da influncia moral e intelectual que exerce sobre as comunicaes, da melhor maneira de aplicar seu potencial e das dificuldades e cuidados que a atividade medinica envolve. Em termos de aplicao, fundamental que a formao de mdiuns leve em considerao o seu papel nas comunicaes. O animismo, fenmeno observado por KARDEC e outros pesquisadores, requer um estudo aprofundado no processo de desenvolvimento da mediunidade, pois o seu desconhecimento tem levado ora a confuses e enganos em relao a comunicaes, ora a preconceitos descabidos em relao a mdiuns. Adoto a conceituao utilizada por Alexandre AKSAKOF,53 em que animismo e mediunidade no se excluem. Segundo ele podem ser identificados os seguintes tipos de fenmenos: a) anmicos no medinicos, que envolvem exteriorizaes do prprio ser atravs dos sonhos, do sonambulismo, da telepatia, da clarividncia no espao e no tempo, da telecinesia, da telemnesia, da psicometria etc. b) anmicos medinicos, que envolvem participao de pessoas vivas em fenmenos medinicos tais como psicografia, psicofonia, aparies etc. c) espritas (necessariamente medinicos), que envolvem participao de pessoas desencarnadas.

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Allan KARDEC. Da identidade dos espritos. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIV, p. 315-337. 51 . Da formao dos mdiuns - Desenvolvimento da mediunidade. Em: Ibid., cap. XVII, itens 200-218, p. 237-249. 52 Ibid., itens 200-217, p. 237-249. 53 Alexandre AKSAKOF. A hiptese dos espritos. Em: . Animismo e Espiritismo. v. II, cap. IV, p. 226-404.

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Essa classificao foi tambm adotada por Ernesto BOZZANO.54 Segundo ela, o mdium que transmite mensagem de seu prprio esprito, quando em estado de emancipao, realiza um fenmeno anmico medinico. KARDEC estudou esse caso e concluiu que esse assunto sutil e delicado, necessitando muitas observaes e meditaes antes de se concluir qualquer coisa sobre a natureza de determinado fenmeno. Concluiu tambm que generalizada e natural a influncia do mdium nas comunicaes.55 Isso nos leva necessidade de rever duas posies: por um lado, o descuido na identificao dos fenmenos medinicos de natureza anmica e, por outro, o preconceito em relao a mdiuns que apresentam caractersticas anmicas, confundindo-os com charlates.56 Todas essas consideraes, se no resolvem, pelo menos levantam aspectos relevantes na estruturao das reunies medinicas. A reviso estrutural das reunies medinicas tem base terica slida para ser realizada nos centros espritas. Envolve antes de mais nada uma definio mais objetiva do papel da mediunidade e a valorizao das atividades de formao de recursos humanos. O ponto mais importante a mudana de viso dos dirigentes, mdiuns e freqentadores de uma forma geral: a mediunidade deixa de ser um sacerdcio para ser um instrumento de trabalho e pesquisa, deixa de ser uma expiao para ser uma das mais ricas manifestaes da natureza humana. O aprimoramento das reunies medinicas decisivo para o centro. Quanto mais voltadas para o prprio desenvolvimento do Espiritismo, maior impacto traro feio e estrutura da casa esprita. 3. ESTUDOS E PESQUISAS

Os espritas em geral consideram que o caminho de continuidade do Espiritismo e dos prprios centros est nas atividades de estudos e pesquisas. Apesar disso elas ainda buscam seu lugar ao sol, pois faltam medidas objetivas. Neste item estudo essas atividades e suas perspectivas. 3.1 - A base do centro Os estudos e as pesquisas so o sustentculo do centro. As diversas atividades do centro so embasadas e orientadas por eles. As pessoas tomam contato com o Espiritismo, criam, desenvolvem e substituem atividades baseadas neles. No entanto, isso no tem sido verdade na grande maioria dos nossos centros reais, por razes culturais diversas.
Ernesto BOZZANO. Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos? 55 Allan KARDEC. Do papel do mdium nas comunicaes espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XIX, item 223, p. 259-266. 56 Alexandre SECH. Animismo e mediunismo. Em: Autores diversos. Encontro com a cultura esprita. p. 174-176. Francisco Cndido XAVIER. Nos domnios da mediunidade. cap. 22, p. 209-215. Martins PERALVA. Estudando a mediunidade. cap. XXXVI, p.186-190
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Embora reconhecida como fundamental por dirigentes e freqentadores de todas as casas, poucas vezes se encontra um centro esprita em que as atividades de estudos e pesquisas sejam colocadas como as mais importantes. Muitas vezes a necessidade salvadora de praticar a caridade (dar roupas e alimentos, dar passes, atender pessoas e espritos) substitui o peso do conhecimento esprita, que daria certamente uma grande contribuio para libertar as pessoas de seus maiores problemas existenciais. Allan KARDEC chegou a propor uma estrutura para as reunies, baseado na experincia da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Nota-se a preocupao bsica com estudos e pesquisas: "Os trabalhos de cada sesso podem regular-se conforme se segue: 1a Leitura das comunicaes espritas recebidas na sesso anterior, depois de passadas a limpo. 2a Relatrios diversos. - Correspondncia. - Leitura das comunicaes obtidas fora das sesses. - Narrativa de fatos que interessem ao Espiritismo. 3a Matria de estudo. - Ditados espontneos. - Questes diversas e problemas morais propostos aos Espritos. - Evocaes. 4a Conferncia.-Exame crtico e analtico das diversas comunicaes. Discusso sobre diferentes pontos da cincia esprita."57 A proposta de KARDEC sugere que: (1) estudos e pesquisas so as atividades bsicas da sociedade, (2) o nosso principal objeto de estudo a mediunidade, (3) podemos utilizar as prprias comunicaes obtidas na casa como instrumentos de aprendizado e pesquisa. Para os grupos que no possussem mdiuns, KARDEC props tambm que realizassem estudos diversos.58 Em relao pesquisa, em particular, necessrio, antes de tudo uma desmistificao da palavra. Denomino pesquisa a todas as atividades do centro que envolvam um trabalho de elaborao humano.59 Assim sendo, a mais simples reunio medinica pode realizar pesquisa, bastando para isso que adote uma metodologia de trabalho e um conjunto de tcnicas para aplic-la, sempre na busca de conhecer algo mais. O maior exemplo que tivemos neste sentido veio do prprio KARDEC. As diversas obras da codificao apresentam exemplos da postura de KARDEC em relao pesquisa medinica. Para ele era muito clara a diferena entre o seu papel e dos espritos: ele era o pesquisador, enquanto os espritos, mdiuns e
Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 346, p. 430431. 58 Allan KARDEC. Das reunies e das sociedades espritas - Das sociedades propriamente ditas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 347, p. 431432. 59 . Caracteres da revelao esprita. Em: Allan KARDEC. A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo, cap. I, itens 13-15, p. 15-16.
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fenmenos eram objetos de pesquisa. Cabia a ele planejar, conduzir e avaliar continuamente os resultados da pesquisa (este era o trabalho de elaborao humano, necessrio em qualquer pesquisa). Uma estrutura baseada em estudos e pesquisas traz problemas a serem enfrentados. O primeiro se refere necessidade de restries freqncia e integrao de novos participantes.60 So atividades que exigem intensa participao das pessoas, assiduidade e amadurecimento dos grupos de trabalho. Se pessoas novas e inexperientes entram e saem de um grupo continuamente, muito difcil faz-lo progredir e dar uma contribuio real. O processo de integrao de novas pessoas necessita de critrios claros que envolvem seu conhecimento prvio de Espiritismo, seus vnculos com o centro e com o grupo de estudo, sua idade, seus interesses etc. O estabelecimento desses critrios s traro realmente algum problema se forem mantidas as velhas idias de grandeza do centro e da necessidade de conquistar freqentadores a qualquer custo. Os novos participantes se integram aos poucos e recebem recursos para se aperfeioarem e se prepararem para atividades mais elaboradas, atravs de cursos, palestras e seminrios. S no podemos cair na armadilha do catecismo, que estabelece passos rgidos e predeterminados para se atingir algum estgio. O centro esprita possui uma estrutura aberta ao crescimento e participao. H pessoas que com pouco tempo mostram-se preparadas para novos desafios: j leram vrios livros, compreenderam os pontos fundamentais da doutrina e tm interesse pelo trabalho. Elas no podem ficar enterradas em cursos infindveis antes de comear a contribuir. Outro problema se refere integrao de crianas e jovens nas atividades, que numa estrutura moderna, deve ser a maior possvel. As crianas e, em menor escala, os jovens, compartilham o mundo com uma viso diferenciada. So preocupaes, interesses, formas de abordagem diferentes e que podem receber, por parte do centro esprita, espao prprio para sua expanso. Qualquer que seja o campo de viso a contribuio do Espiritismo muito grande, porque toca no que todos temos de mais profundo: nossa capacidade de ser, existir e crescer. fundamental, no entanto, identificar os pontos comuns e as oportunidades de convivncia para aprendizado conjunto. Atravs de sua participao em atividades integradas os jovens tm contribudo para que os estudos ganhem espao nos centros.61 3.2 - Critrios necessrios para uma estrutura baseada em estudos e pesquisas A criao de uma estrutura baseada no conhecimento envolve alguns critrios necessrios para lhe dar consistncia: a) Os estudos e pesquisas devem levar em considerao os contextos histrico, cultural e social.
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Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 10. 61 Jaci RGIS. O centro esprita no sculo XX. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. Anais. p. 11.

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b) O material de estudos deve ser consistente e abrangente. c) As reunies devem possuir uma estruturao didtica. d) Os participantes de cada grupo devem estar integrados em termos de trabalho e relacionamento. A mudana de carter dos centros espritas tem nos estudos e pesquisas sua mola mestra. Se por um lado est na mediunidade a pedra de toque podendo-se afirmar que s as alteraes metodolgicas da maneira como esse tema tratado realmente caracterizariam um novo centro cabe por outro lado ao trabalho de estruturao dos estudos e pesquisas espritas no centro o papel de iniciar ou consolidar todo o processo de reviso. Dar importncia ao estudo no se resume a dedicar quinze minutos de cada reunio leitura de um livro, como se fosse apenas uma atividade acessria. Trata-se de coloc-lo no centro do processo de estruturao e crescimento do centro, criando, avaliando e orientando as demais atividades. No que se refere pesquisa, em particular, cabe uma palavra sobre a documentao. O registro de planos, procedimentos e resultados uma caracterstica dos grupos de pesquisa srios, que visam se aperfeioar sempre e ainda deixar sua contribuio. A preparao de recursos humanos e a reunio de materiais adequados constituem-se nos dois melhores instrumentos para a colocao dos estudos e pesquisas como base do centro esprita. 4. CENTRO ESPRITA E A SOCIEDADE

Todos os espritas concordam que as relaes entre o centro esprita e a sociedade so necessrias, mas em que forma? Recebendo as pessoas aflitas, aconselhando-as e curando-as? Assistindo a pobres? Salvando as almas? Divulgando o Espiritismo? Ou fazendo, por outro lado, campanhas para polticos espritas? Penso que nenhuma dessas atividades resolve, por si s, a questo. certo que j existem hoje caractersticas marcantes nas relaes sociais do centro esprita, entre elas: (1) a busca dos centros espritas por pessoas de diversos matizes, geralmente procura de um amparo s suas dores, (2) a assistncia social realizada pelos espritas, (3) a ligao dos mdiuns com a comunidade, atravs dos servios que prestam no centro ou nos atendimentos fora dele, e o reconhecimento do seu papel social.62 Uma reviso dessas relaes deve partir de uma reflexo sobre os seguintes pontos:

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J. Herculano PIRES. O centro esprita e a comunidade. Em: . O centro esprita. cap. III, p. 18.

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(1) a necessidade de abandonar o proselitismo e o clientelismo, caracterizados sobretudo pela inteno de prender as pessoas ao centro, (2) a necessidade de estudar, acompanhar e discutir a evoluo cultural e moral da sociedade, ao invs de simplesmente ignor-la e se afastar dela, (3) a importncia de estudar, formar uma viso crtica, buscar e propor caminhos reais para uma evoluo da sociedade, sobretudo no que se refere a suas injustias e desigualdades.
Existe uma falsa idia de que a sociedade tem algo a buscar no centro e este nada tem a receber dela. Esse conceito, que aparece ora implcita, ora explicitamente, distorce e reduz a insero social do centro. Uma coexistncia viva e claramente assumida, uma troca bilateral ativa, uma busca em comum, so caractersticas desejveis para uma reviso dessas relaes.

4.1 - Defesa do Espiritismo Defender o Espiritismo ainda uma das tarefas principais do centro esprita. H trs preocupaes nessa rea: os ataques de adversrios, as distores geradas por muitos adeptos e as confuses que se fazem com outras doutrinas espiritualistas. Quanto aos ataques, certo que no vivemos mais o perodo que KARDEC identificou como de luta.63 No Brasil, onde a histria tambm registra momentos difceis para os espritas, o respeito e reconhecimento social pelo Espiritismo so hoje inquestionveis, a menos de setores mais reacionrios ainda existentes em alguns meios religiosos. H tambm uma crescente adeso a conceitos adotados pelo Espiritismo, como a imortalidade, a comunicabilidade dos espritos e a reencarnao. Tudo isso faz com que hoje as relaes com os adversrios sejam outras. No cabem mais os debates emocionais. Mas no procede, por outro lado, o descuido e a omisso. de responsabilidade dos centros espritas esclarecer a comunidade, sempre que possvel, sobre os ataques, principalmente quando se baseiam em casos isolados de charlatanismo. Para Jos Herculano PIRES a defesa do Espiritismo no prescinde da energia e da virilidade: "Propagou-se no meio esprita, atravs de mensagens medinicas, tendendo a um masoquismo de cilcios e autopunies, a estranha idia de que a virilidade s pertence aos cultores da violncia. Voltamos assim ao sistema igrejeiro dos rebanhos de ovelhinhas inocentes devoradas por lobos famintos sem qualquer possibilidade de defesa. Entregues a essa idia derrotista, o meio esprita abastardou-se a ponto de at mesmo recusar-se a defender a Doutrina aviltada pela ignorncia travestida de bondade e doura." 64 As confuses que ainda existem entre Espiritismo e outras doutrinas precisam ser desfeitas. Uma contribuio importante elucidao dessa questo foi dada por Delindo Amorim em sua obra O Espiritismo e as doutrinas

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Allan KARDEC. Perodo de luta. Em: . Revista esprita. v. 6, ano 1863. J. Herculano PIRES. O centro esprita. p. 21.

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espiritualistas,65 onde mostra as diferenas entre o Espiritismo e doutrinas com os quais chega a ser confundido, tais como a umbanda, o candombl e a cabala. Entendo que a principal diferena metodolgica, embora haja tambm diferenas conceituais importantes. O centro se firma como esprita no s por adotar as obras de Allan KARDEC, mas sobretudo por assumir sua metodologia de abordagem das diversas questes. As distores geradas no mbito do prprio movimento esprita merecem ateno especial. So as que tm causado maiores prejuzos. O centro esprita comprometido metodolgica e conceitualmente com o Espiritismo age em sentido contrrio a essas distores e realiza, desta forma, a maior entre todas as tarefas de defesa social da doutrina. 4.2 - O centro esprita para o homem66 O Espiritismo rompe com as doutrinas que vendem a salvao depois da morte. No promete nada, no sugere adeso involuntria, no se mostra como nico caminho. Oferece a sua luz sem pedir subordinao, substitui a obedincia cega pela atuao consciente e entrega a cada um a responsabilidade pela prpria vida. Liberta o homem. A liberdade que o Espiritismo oferece baseada no conhecimento. Compreendendo o significado da vida e a verdadeira natureza de si mesmo, o homem comea a dar passos seguros, deixa de ser joguete das circunstncias e traa o seu prprio caminho. claro que isso no uma receita de liberdade, pois cada um que se encontrar com o Espiritismo reagir a seu modo. Uns daro mais voltas, hesitaro mais, sero mais vagarosos ou passaro por maiores conflitos, enquanto outros encontraro com maior facilidade seus prprios caminhos de libertao. Mas para todos o Espiritismo traz a liberdade em potencial. Cada um que o aproveite a seu modo. O centro esprita a casa do Espiritismo e dever canalizar o potencial libertador da doutrina. Para conseguir isso, dever antes de tudo ver as pessoas como indivduos diferentes entre si, com capacidades morais-intelectuais, anseios, preocupaes e problemas diferentes. Ao contrrio do que fazem os templos religiosos, o centro esprita no pode se propor a uma massificao de idias e comportamentos. Cabe a ele manter, bem verdade, um certo zelo com a doutrina, defendendo sua autenticidade, seu carter racional, e evitando desvios, infiltraes ou distores, mas no possvel conceber um centro realmente esprita que distribua a todos uma interpretao particular do Espiritismo. Estaria boicotando a doutrina, desviando os objetivos do grupo e escravizando as pessoas. O Espiritismo visa o homem. O centro esprita um dos meios de atingilo. O homem do centro esprita transformar a si mesmo e sociedade se tiver o
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Deolindo AMORIM. O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas. Este texto uma adaptao de outro escrito em 1986, que faz parte do artigo: Mauro de Mesquita SPINOLA. O centro esprita e a sociedade. Em: Autores diversos. Espiritismo e sociedade. p. 59-66.

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Espiritismo como instrumento. Se o centro esprita inverte essa relao, isolando-se da vida real e exigindo do homem que abandone seu mundo, est traindo os prprios objetivos do Espiritismo. A paz que oferece, no encontrada l fora, uma verso disfarada da fuga que incentiva. No vai contribuir para construir ou libertar nada. O centro esprita feito para o homem, no o contrrio. O homem do centro esprita vai ver o seu dia-a-dia como a continuidade de um movimentado processo evolutivo. Passar a compreender o significado revolucionrio da imortalidade e o verdadeiro sentido da vida que vive. Compreender as relaes entre os mundos material e espiritual, as mudanas de estado entre encarnao e desencarnao e as influncias mtuas entre o livre arbtrio e a lei de causa e efeito. Entender o carter transitrio da vida atual, que no pode ser analisada fora do contexto da eternidade, mas ao mesmo tempo valorizar esta vida. Afinal, dentro do vai-e-vem da evoluo, que momento no importante? O homem do centro esprita valoriza o momento em que vive porque sabe que a vida no uma farsa. Tudo que est aprendendo e realizando fundamental. Compreende e valoriza a vida aps a morte, mas no vive em funo dela, pois sabe que o entendimento das relaes entre as vidas atual e futura s tem significado se contribuir para entender a realidade de sua existncia atual. O momento que vive , para ele, enquanto vive, o mais importante, pois quando est preparando, ou realizando, a grande arrancada. 4.3 - A sociedade como tema de estudo A sociedade um dos mais importantes e interessantes objetos de estudos e pesquisas no centro esprita. Marginalizados na maioria dos grupos, devido tradio politicamente conservadora do movimento, os temas sociais tendem a encontrar seu lugar nos estudos medida que a prpria sociedade se democratiza. Tem sido at agora com certa dificuldade que algumas pessoas ou grupos tm tentado trazer para o movimento esprita um estudo e uma discusso mais aberta da sociedade e seus problemas, luz do Espiritismo. Nos anos 80, por exemplo, alguns encontros de jovens do Estado de So Paulo se propuseram a debater a questo social e foram fortemente criticados por isso. O mesmo aconteceu com o ENSASDE - Encontro Nacional sobre o Aspecto Social da Doutrina Esprita, realizado em 1985 (Santos), 1987 (So Paulo) e 1989 (Salvador). Reunidos nesses encontros exclusivamente para analisar a questo social, diversos espritas produziram extenso material de pesquisa e abriram espao para uma maior abertura a essa temtica nos centros espritas. A posio de KARDEC em relao a isso clarssima. Chega a sugerir que sejam discutidas as matrias dos jornais: "A par das obras especiais, formigam os jornais repletos de fatos, de narrativas, de acontecimentos, de rasgos de virtudes e de vcios, que levantam graves problemas morais, cuja soluo s o Espiritismo pode apresentar, constituindo isso ainda um meio de se provar que ele se prende

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a todos os ramos da ordem social." 67 O prprio O livro dos espritos apresenta, na sua terceira parte, um estudo vigoroso das leis morais, que tocam em vrios aspectos da vida social, tais como a distribuio de riquezas, a liberdade, a justia, a famlia, o trabalho e outros.68 Um estudo srio dessa parte do livro bsico do Espiritismo no prescinde da reflexo e do debate social, bem como da busca de caminhos para os homens, para a comunidade em que vivem e para a sociedade como um todo. Nesse sentido uma contribuio importante foi dada por Aylton PAIVA com seu livro Espiritismo e poltica,69 onde encontramos um estudo das leis morais sob o enfoque da anlise social e poltica. O estudo esprita da sociedade se baseia em dois conceitos fundamentais: (1) o homem um esprito encarnado, e vive em cada momento toda a sua histria espiritual, (2) as relaes que estabelece condicionam em grande parte o seu desenvolvimento. Para entender o homem e a sociedade no suficiente enxerg-lo como indivduo em evoluo espiritual, pois o homem no apenas um produto de si mesmo, da mesma forma que a sociedade no apenas uma soma ponderada de homens. Tambm grosseira seria a reduo do homem a um produto do meio. Tratar abertamente da temtica social e poltica nos centros espritas, como proponho, uma atitude que ainda encontra resistncias. Os dirigentes adotam em geral uma interpretao conservadora da doutrina, baseando-se num suposto carter apoltico do Espiritismo e dos centros. Autores conceituados tambm fazem coro. um engano, pelo simples motivo de que no h conceito, atitude, grupo ou pessoa apoltica. No discutir poltica, por exemplo, uma atitude poltica, no sentido de que evita a reflexo sobre todo um conjunto de problemas do homem e da sociedade, como se fossem irrelevantes. O grande pensador esprita argentino Manuel PORTEIRO deixa muito claro que o Espiritismo no pode ser um instrumento de conivncia com a injustia: "Dedicando o Espiritismo a resolver somente problemas metafsicos, prprios da velha escolstica, somente investigao do alm-tmulo, preso velha moral das religies, que ensina a respeitar falsos direitos e injustos privilgios, como coisas absolutamente necessrias e de acordo com a justia divina e causalidade moral de cada ser, perde seu carter de cincia integral e progressiva e, em vez de ser um ideal humano, propulsor do progresso e das causas nobres, aberto a toda iniciativa de bem-estar social, a toda tendncia renovadora e libertria, torna-se, em mos de
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Allan KARDEC. Assuntos de estudo. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX, item 347, p. 431-432. 68 . As leis morais. Em: . O livro dos espritos. parte III, p. 305-426. 69 Aylton Guido Coimbra PAIVA. Espiritismo e poltica.

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espritos limitados, numa doutrina retrgrada e conservadora, numa arma formidvel para abater conscincias e conter todo impulso generoso que tenda a estabelecer um novo regime social, mais justo e conforme as exigncias do progresso." 70 4.4 - Atuao social A conscientizao no tem um fim em si mesma. Visa relacionar a teoria com a prtica, a idia com a realidade. Se o centro esprita der ao homem a chance de conhecer o Espiritismo e se conscientizar de seu papel individual, estar tambm contribuindo para a ao. Para KARDEC a conscientizao decisiva: "A aspirao por uma ordem superior de coisas indcio da possibilidade de atingi-la. Cabe aos homens progressistas ativar esse movimento pelo estudo e a aplicao dos meios mais eficazes." 71 Realmente, a atuao social consciente e determinada uma conseqncia natural do estudo da sociedade. E tambm uma forma de buscar na realidade social vigente subsdios para esses estudos. Em que termos essa atuao pode ser feita pelos espritas individualmente e pelos centros como grupos? Aqui, mais uma vez, no cabem regras, mas quero discutir essa questo. Cabe aos homens conscientes, cada um a seu modo, contribuir para que a sociedade progrida, no simplesmente fazendo a sua parte, mas buscando influenciar para que novos e cada vez melhores rumos sejam traados. Apenas um exemplo: na tica esprita a educao de boa qualidade uma condio importante para o progresso material e espiritual. Os pais espritas so orientados nos centros a valorizarem a educao. A luta por uma melhoria na educao pblica, que no uma preocupao s dos espritas, passa a ser tambm um desafio para esses pais, juntamente com muitos outros. No plano individual no cabe colocar limites aos campos de atuao. Deixando a apatia e a passividade de lado, cada um vai buscar seus campos e formas prprias, de acordo com o que sabe e busca. Isso tem relao com uma posio de KARDEC em O livro dos espritos: "Por que, no mundo, os maus, to freqentemente, sobrepujam os bons em influncia? - Pela fraqueza dos bons; os maus so intrigantes e audaciosos, os bons so tmidos. Quando estes o quiserem dominaro."72 Em relao atuao social do centro esprita, como grupo, necessrio ter alguns cuidados:
Manuel S. PORTEIRO. Espiritismo dialctico. p. 57. Allan KARDEC. Liberdade, igualdade e fraternidade. Em: . Obras pstumas. parte 1, p. 193. 72 Allan KARDEC. Felicidade e infelicidade relativas. Em: . O livro dos espritos. parte IV, cap. I, questo 932, p. 431-432.
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(1) Lembrar sempre que o compromisso primeiro do centro esprita com o Espiritismo, ou seja, a difuso e o desenvolvimento da doutrina. Engajar diretamente o centro nas lutas sociais s tem sentido se no forem esquecidas as reas prprias da doutrina. (2) As preocupaes com o poder temporal, inevitveis nas lutas sociais, podem ofuscar os objetivos maiores a que o Espiritismo se prope em relao ao homem e prpria sociedade. (3) A poltica partidria, com suas campanhas eleitorais e interesses contrastantes de partidos e pessoas, poder, em momentos de descuido, engajar o centro esprita em interesses outros que nada tm a ver com o Espiritismo.
Havendo equilbrio e firmeza doutrinria, tenho certeza de que nenhum desses prejuzos ocorrer.

Qualquer que seja a forma e o grau de atuao de cada um, espritas e grupos espritas tanto quanto o prprio Espiritismo possuem um compromisso com a vida, a cidadania e a democracia. A luta pela valorizao do homem como ser integral e pela construo de uma sociedade para todos tarefa tambm dos espritas. Algumas dessas atividades, alm de outras mais, podem contribuir para a prpria manuteno da sede do centro, muitas vezes um pesado nus para seus scios. A tradicional apatia do centro esprita em relao organizao social tende a desaparecer. O homem moderno no se conforma mais com conceitos abstratos de bem, mal, amor e caridade, busca o que realmente significam. Abrindo as suas portas para a sociedade, com seus problemas, angstias e anseios, o centro esprita talvez deixe de ser uma ilha de tranqilidade no mar tempestuoso para ser o remo que faltava ao navegador. 5. PODER NO CENTRO ESPRITA

No modelo apresentado, ressaltei a importncia de no existir no centro hierarquia esttica e restritiva. A manuteno de pessoas ou grupos por perodos longos no poder uma causa freqente de cristalizao de idias e criao de mecanismos de defesa do poder j estabelecido. Aquele modelo deixa bastante claro tambm que dos homens a responsabilidade pela definio dos rumos do centro, no dos espritos. 5.1 - Mandatos divinos A principal causa da centralizao de poder no centro esprita tem sido a alegao de existncia de mandato conferido pela espiritualidade superior. Dirigentes, mdiuns e espritos, em geral visando o melhor para suas casas espritas, acabam por estabelecer critrios e procedimentos de fechamento do poder. O peridico esprita Espiritismo e Unificao realizou um estudo sobre o poder no movimento esprita que identifica esse problema: "Nos nossos meios, a revelao medinica tem sido usada como instrumento para avalizar ou determinar um tipo de mandato divino, seja ele

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circunscrito a um centro, a um mdium ou dirigente, seja, em maior amplitude, atravs de determinadas organizaes federativas. Todos alegam possuir um certo poder divino, que lhes teria sido dado pela Espiritualidade Superior. "A ignorncia generalizada do Espiritismo, mesmo nos meios mais dinmicos, voltados, quase sempre, para o fator mstico, se traduz no fascnio que a mediunidade exerce. Sem dvida, esse fascnio uma clara acepo de Poder. O mdium, nos nossos meios, extravasa o sentido de medianeiro, de intercomunicador, para se transformar em autoridade, capaz de dominar no somente um ncleo especfico, mas projetar-se por toda a coletividade. Um exemplo tpico que certos mdiuns se transformam em orculos e muitos nada fazem sem consult-los e suas opinies j no so analisadas, mas ao contrrio so ordenaes infalveis. "Por isso identificamos o Poder clssico fluir, sem esforo, no mdium-principal, que aconselha e dita ordens como verdades irrecorrveis; podemos constat-lo no Guia Espiritual que domina grupos, no permitindo iniciativas dos encarnados; ou verificamos no presidente perptuo, no "dono do centro".73 Mdiuns, dirigentes e espritos assumem muitas vezes papis messinicos e de infundada autoridade nos centros, sem que haja qualquer motivo para se atribuir a eles rtulos diferenciadores. Em momentos de divergncia ou discordncia, invocam sua autoridade divina para impor suas posies. bem verdade que essas so atitudes humanas compreensveis, mas necessrio que a estrutura do centro no as incentive. Mdiuns, dirigentes e espritos possuem papis relevantes no centro, importante frisar. O que deve ser evitado o seu endeusamento, a mistificao e o engrandecimento imotivado de suas funes, que prejudicam a eles e ao grupo. indisfarvel a posio desconfortvel dos dirigentes e dos mdiuns-principais que a todos tm que amparar, aconselhar, e em todos os momentos tm que apresentar as solues finais para cada assunto. Uma situao que eles, juntamente com seus seguidores, criaram. No pode ser esquecido tambm que o poder existe, sendo um espao a ser ocupado. sempre possvel identificar, numa estrutura de poder centralizado, aquele ou aqueles que o exercem, por um lado, e aqueles que, apaticamente, se permitem ficar longe dele. Alguns at reclamam, mas no ocupam seu espao. Seria muito difcil nesses casos identificar nos viles autocrticos a causa

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O PODER e o movimento esprita. p. 5-6. Os termos "mdium principal" e "dono de centro" designam, respectivamente, o mdium supostamente mais importante no centro (incumbido, geralmente, de receber as comunicaes do esprito orientador guia do grupo) e o dirigente que ocupa continuamente as funes de presidente e coordenador das atividades da casa. Essas figuras existem, sob diversas formas, em vrios grupos.

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nica da centralizao. Por trs de um dono de centro existe muitas vezes uma histria de dedicao e luta solitria por uma causa. 5.2 - Critrios para abertura Num processo de abertura participao fundamental que os princpios espritas e os objetivos bsicos do centro sejam respeitados. Aqueles que no o conhecem ou que ainda no mostraram condies para aplic-los no esto preparados para assumir funes relevantes. Um caso que presenciei em So Jos dos Campos ilustra a importncia desse cuidado: um grupo numeroso de freqentadores de um centro de umbanda da cidade comeou a freqentar um centro esprita, por recomendao de seu guia, que disse que deveriam conhecer Allan KARDEC. Logo se tornaram scios e, por discordarem de alguns procedimentos da direo lanaram uma chapa de oposio. Venceram as eleies seguintes. Existem mecanismos inerciais utilizados por vrios grupos espritas para evitar essas situaes. Um exemplo a criao de um quadro de scios efetivos, no qual s ingressam scios que freqentam a sociedade h um certo tempo e que demonstram seu conhecimento do Espiritismo. Esses scios, e s eles, participam das Assemblias, podendo eleger e ser eleitos a cargos da diretoria. Na Sociedade Parisiense de Estudos Espritas havia restries participao, s sendo aceitos aqueles que demonstravam conhecer os princpios bsicos do Espiritismo ou que desejavam se instruir, entre outras exigncias. Alm disso reservava-se o direito de limitar, se conveniente, o nmero de associados livres e dos scios titulares.74 Para aperfeioar e democratizar as relaes entre as pessoas no centro esprita deve-se partir da constatao de que o poder um elemento real e necessrio nos diversos grupos e instituies, no podendo ser diferente nos centros. A criao de um centro esprita aberto e dinmico, com ampla liberdade de crescimento, um desafio para todos os seus participantes. sobretudo nessa rea que se torna importante a preparao sistemtica de recursos humanos. Aos poucos os interessados vo se preparando para dar maiores vos, dentro de suas caractersticas. As relaes de poder sero tratadas tambm no prximo item, que enfoca o movimento esprita. 6. INTEGRAO ENTRE CENTROS ESPRITAS

Integrar sem interferir na individualidade de cada grupo. Reunir para intercmbio de idias e informaes. Realizar atividades voltadas para objetivos comuns. Estes so os principais objetivos da integrao entre centros espritas. Apesar de ser indiscutvel sua necessidade, a integrao entre centros ainda

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Allan KARDEC. Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas. Em: . O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXX, artigos 3 e 6, p. 436-437.

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busca seu caminho de realizao. que tambm aqui pesam as relaes de poder, e num grau muito maior. Na Revista esprita de janeiro de 1862, Allan KARDEC convidou os grupos espritas a participarem do desenvolvimento da doutrina, atravs de trs textos:75 (1) Publicidade das comunicaes medinicas, em que discute as alternativas para publicao do nmero cada vez maior de comunicaes e referenda a criao da Biblioteca do mundo invisvel pelos Srs. Didier & Cia., com essa finalidade, (2) Controle do ensino esprita, no qual apresenta a conformidade do ensino dos espritos como o melhor critrio para garantir sua autoridade e informa que a Sociedade de Paris encaminhar a partir daquela data diversas questes doutrinrias para serem estudadas pelos grupos que com ela se correspondem, por correspondncia particular ou por intermdio da Revista, (3) Questes e problemas propostos aos vrios grupos espritas, com seis questes a serem estudadas e discutidas, sempre baseadas em comunicaes de espritos, uma delas com a incrvel afirmao de que nenhum Esprito humano pode manifestar-se ou comunicar-se com os homens. Estava dada ento a tnica da integrao que desejava para os grupos e o tipo de participao que cada um poderia ter: caberia a cada um deles contribuir para que as questes em aberto fossem resolvidas. Posteriormente, em dezembro de 1868, apresentou na prpria Revista a Constituio transitria do Espiritismo, com proposta de continuidade do Espiritismo e criao de um comit central de coordenao.76 Comeo com essas lembranas para ressaltar um ponto que se perdeu no movimento esprita brasileiro. Em geral, quando se fala em movimento esprita, integrao ou unificao, esquece-se o desenvolvimento do Espiritismo, atravs da pesquisa e do intercmbio de informaes, possivelmente a principal contribuio que se poderia tirar dessa unio. E era exatamente essa a maior preocupao de KARDEC. sobretudo nesse sentido que a integrao se faz necessria. Mas ela pode trazer outras contribuies, como o aperfeioamento dos prprios centros a partir do intercmbio que estabelecem. Um grupo esprita que mantenha contato com outros que tm objetivos anlogos ter sempre material para aperfeioar seu conhecimento, seus mtodos e seus resultados.
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Allan KARDEC. Publicidade das comunicaes espritas. Controle do ensino esprita. Questes e problemas propostos aos vrios grupos espritas. Em: . Revista esprita. v. 5, ano 1862, p. 11-20. 76 . Constituio transitria do Espiritismo. Em: Ibid., v. 11, ano 1868, p. 367392. O mesmo texto, ampliado, pode ser encontrado em: . Constituio do Espiritismo - exposio de motivos. Em: . Obras Pstumas. parte 2, p. 288-319.

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Esse o pano de fundo. Sem ele o movimento esprita se torna frum para questes menores e palco para disputas de poder. Os grupos espritas tendem a se diversificar cada vez mais. A integrao entre eles no poder ser suportada mais por uma sistemtica massificante e de carter global. Uns buscaro intercmbio para seus estudos e pesquisas, outros organizaro cursos de preparao. Outros ainda, trocaro idias sobre formas de aplicar o passe e de realizar a assistncia social. As grandes instituies unificacionistas podero manter o seu papel se aprenderem a conviver com a divergncia e buscar o que h de comum. Mas independentemente delas, os grupos procuraro cada vez mais seus pares para com eles crescer. Ao contrrio do que muitos pensam, pode estar a o caminho de libertao do Espiritismo, pois ele no pertence a nenhuma dessas instituies. 7. CONCLUSO

Para que realizar uma reviso estrutural do centro esprita? O primeiro e grande motivo para revisar adequar o centro esprita sua finalidade maior: estudar, pesquisar, desenvolver, consolidar e difundir o Espiritismo, tendo como base a obra de Allan KARDEC. Mais do que um simples pano de fundo, mais do que uma motivao ou orientao, o Espiritismo precisa ser o objetivo primeiro do centro esprita, j que este a casa daquele. O Espiritismo ao mesmo tempo a base e meta do centro esprita. Como base, direciona e d subsdios para a estruturao das diversas atividades. Como meta, estabele-ce parmetros para definir quais so as atividades que permitem ao centro melhor contribuir com o Espiritismo, sem desviar os seus esforos para outros objetivos. Busquei neste trabalho apresentar a base conceitual e os meios para a realizao desta tarefa. Sintetizo agora, de forma mais sistemtica e objetiva, algumas propostas para implementao das melhorias necessrias. 7.1 - A base conceitual j existe A base conceitual do centro esprita o Espiritismo foi desenvolvida inicialmente por Allan KARDEC. Alm de nos apresentar informaes sobre o mundo dos espritos e a discusso filosfica das diversas conseqncias da imortalidade e da reencarnao, a sua obra nos forneceu um mtodo de trabalho.77 sobretudo neste mtodo que est baseado o centro esprita. Adotando-o, o centro torna-se porta voz, duplicador e continuador do trabalho de KARDEC. No esprita o centro que: no tem por base a obra de Kardec; no utiliza o mtodo de KARDEC no trato da mediunidade; utiliza conceitos e mtodos que confrontam com as propostas
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Allan KARDEC. Introduo - II - Autoridade da doutrina esprita. Em: . O evangelho segundo o Espiritismo. p. 11-18. . Caracteres da revelao esprita. Em: . A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. cap. I, itens 12-18, p. 15-18.

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de Kardec. 7.2 - O modelo proposto serve de base para a reestruturao O modelo conceitual apresentado simples o suficiente para se adaptar a diferenas e transformaes culturais, mas oferece restries manuteno de conceitos, estruturas, mtodos e costumes ainda vigentes nos centros espritas. Exige uma reviso estrutural que priorize o compromisso com o Espiritismo e a libertao de estruturas arcaicas de poder. A discusso crtica e contnua da estrutura necessria para implementar e consolidar este modelo num centro esprita pode contribuir para que seja estabelecido um caminho seguro e direcionado para o aprimoramento. 7.3 - Uma opo diferente Como foi visto no incio, grande a variedade de faces dos grupos que se autodenominam espritas. Assim sendo, a opo estritamente esprita sem desvios doutrinrios e sem outros objetivos que dispersem as aes perdendo o foco principal pode ser vista como uma opo diferente. Sem dvida, poder ser considerado diferente da maioria o centro esprita que: tem no estudo a sua base; realiza pesquisa esprita; aplica o mtodo de KARDEC no trato com a mediunidade; no distribui passes granel em todas as suas reunies; no trata qualquer pessoa que procura o centro como doente, e no a encaminha desde o incio para uma entrevista e um tratamento espiritual; apresenta-se como uma casa de estudos e no como um hospital; evita dizer, logo no primeiro contato com uma pessoa que procura o centro, que ela mdium e precisa desenvolver a mediunidade para se livrar de suas perturbaes; est voltado para o homem e no obriga o homem a estar voltado para o centro, como se este fosse um fim em si mesmo; discute abertamente a contribuio do Espiritismo nos diversos temas que afetam o homem moderno; contextualiza o estudo esprita; dirigido por um grupo representativo de pessoas; no dirigido por espritos ou pelos mdiuns que transmitem suas orientaes; comunica-se, troca idias e integra-se com outros grupos, mas prope a integrao como instrumento de crescimento do Espiritismo; na integrao com outros grupos no se subordina a idias e prticas massificantes (no focadas nos objetivos principais do Espiritismo e do centro esprita), luta contra as distores e a inrcia. O centro que adota esta opo poder ser nico num bairro ou mesmo numa cidade, s vezes isolado, sem ter com quem trocar idias. fundamental evitar este isolamento, aproximando-se e mantendo contato contnuo com grupos afins, mesmo que geograficamente distantes. Poder ter menos

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freqentadores que os demais da regio e alguns de seus freqentadores, que prefeririam v-lo recebendo muitas pessoas, talvez questionem. Poder ser acusado de no praticar a caridade e tudo o mais, mas estar oferecendo um produto diferenciado: o Espiritismo. E esta certeza basta. 7.4 - Por onde comear? Esta dvida pode aparecer. Tanto h para fazer que no se sabe como planejar, iniciar e conduzir um processo de reviso estrutural. Para responder a esta questo podemos fazer analogia tarefa de subir uma grande escada: o que temos a fazer comear, dar o primeiro passo. Temos a direo a seguir (os conceitos espritas) e possumos instrumentos poderosos (livros, pessoas, grupos afins para trocarmos idias). Portanto, s temos que comear. Qual o objetivo do centro esprita? Esta a primeira questo a ser respondida por todo grupo esprita que desejar iniciar ou rever suas atividades. A partir dessa reflexo ser possvel criar, desenvolver, excluir, modificar ou aperfeioar as diversas atividades, para que se adeqem aos objetivos estabelecidos. Um critrio bsico para todas: que firmem o compromisso do centro com o desenvolvimento, a aplicao e a divulgao do Espiritismo. claro que no h um nico caminho. Busquei identificar neste livro os principais critrios para realizar este trabalho. Citei tambm as principais referncias encontradas na literatura sobre o assunto. Mas o caminho propriamente dito depende das caractersticas e da estratgia de cada centro. Rediscutidos os objetivos, o processo se desdobra de forma planificada.78 Uma atividade que passa a ser fundamental a gesto do processo de estruturao, que garantir a sua implementao. Para realiz-la, podem ser obtidas algumas lies dos estudos de organizao de empresas, que costumam trabalhar com objetivos, mtodos e resultados precisos. Muitos estudos e experincias sobre a Gesto da Qualidade Total aplicados em diversas organizaes fabris e de servios no mundo todo podem tambm ser aproveitados na gesto do centro esprita, aplicando-se de acordo com os objetivos especficos a que se prope o centro. Referncias bibliogrficas AKSAKOF, Alexandre. Animismo e Espiritismo. Trad. C. S. 3a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1978. 2 v. Autores diversos. Encontro com a cultura esprita. Mato, SP, O Clarim, set 1981. v. 1. Autores diversos. Espiritismo e sociedade. So Paulo, ENSASDE, 1986.
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Os textos de KARDEC que apresentam de maneira mais objetiva as diretrizes para a estruturao do centro esprita so Das reunies e das sociedades e Regulamento da sociedade parisiense de estudos espritas, ambos de O livro dos mdiuns: Allan KARDEC. O livro dos mdiuns. parte 2, cap. XXIX e XXX, p. 413-444.

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AMORIM, Deolindo. O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas. 4a ed. Curitiba, Livraria Ghignone Editora, 1984. ANDRADE, Hernani Guimares. Morte, renascimento, evoluo: uma biologia transcendental. 3a ed. So Paulo, Pensamento, 1985. BOZZANO, Ernesto. Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Trad. Guillon Ribeiro. 3a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1982. CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. Mudanas estruturais dos centros e grupos espritas de KARDEC aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. guas de So Pedro, SP, 22-24 ago 1986. Anais. s.n.t. CASTRO, Maria Laura Viveiros de. O que Espiritismo: 2a viso. So Paulo, Brasiliense, 1985. (Coleo Primeiros Passos, v. 146). DIAS, Krishnamurti de Carvalho. O lao e o culto: o Espiritismo uma religio? Santos, SP, DICESP, jun 1985. FVARO, der; DEL CHIARO Filho, Amilcar; PALAZZI, Roberto. A estrutura dos centros espritas de KARDEC aos nossos dias. Em: CONGRESSO ESPRITA ESTADUAL DA USE, 7. guas de So Pedro, SP, 22-24 ago 1986. Anais. s.n.t. FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA. Orientao ao centro esprita. 2a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980. GALGANO, Alberto. Calidad total. Diaz de Santos. GARCIA, Wilson. O centro esprita. 2a ed. So Paulo, USE Editora, set 1990. KARDEC, Allan. A gnese, os milagres e as predies segundo o Espiritismo. Trad. Vtor Tollendal Pacheco. 13a ed. So Paulo, LAKE, 1981. . Iniciao esprita. Trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo, rev. anot. J. Herculano Pires. 10a ed. So Paulo, EDICEL, 1986. . Obras Pstumas. Trad. Sylvia Mele Pereira da Silva, intr. e anot. J. Herculano Pires. 2a ed. So Paulo, LAKE, 1979. . O evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 12a ed. ArarasSP, Instituto de Difuso Esprita, nov 1980. . O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 62a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1985. . O livro dos mdiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 48a ed. Rio de Janeiro, FEB, 1983.

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COMO? UMA PROPOSTA METODOLGICA PARA O PROCESSO PERMANENTE DE ATUALIZAO DO ESPIRITISMO

I. INTRODUO
Entre os estudiosos espritas identificados com uma concepo laica, no dogmtica e no religiosa do Espiritismo, foram sendo construdos, progressivamente, neste final de sculo, alguns consensos. Vem ganhando fora, dentre estes, a necessidade de desencadear um processo de discusso sobre a atualizao do Espiritismo, mesmo sob forte reao por parte daqueles que dominam o movimento esprita de matiz religioso. Neste contexto est inserido o XVIII Congresso Esprita Pan-Americano, promovido pela Confederao Esprita Pan-Americana, CEPA e realizado pelo Centro Cultural Esprita de Porto Alegre no perodo de 11 a 15 de outubro de 2.000, com o Tema Central: "Deve o Espiritismo Atualizar-se?", importante marco histrico e referencial para o processo de atualizao do Espiritismo. Pressupomos que tal propositura, fundamentada na obra e no pensamento de Kardec em relao natureza e necessidade de progresso do Espiritismo, pertinente e vital para a prpria sobrevivncia da doutrina esprita, condenada ao mesmo destino das religies tradicionais se mantida a postura reinante, assumida pelos espritas evanglicos. A nica possibilidade que se coloca para que o Espiritismo prossiga contribuindo com o desenvolvimento evolutivo da humanidade atualizar-se continuamente, num processo permanente, respondendo s velhas (para as quais possui farta contribuio) e novas (as quais nem sempre identifica) demandas do homem e do mundo contemporneo, em permanente mutao. Qualquer atualizao que se queira empreender, entretanto, no poder dispensar uma anlise de contedo, a constituio de uma Agenda Esprita que identifique conceitos, temas, afirmativas e informaes defasadas em face de novos conhecimentos no abordados nas obras bsicas ou que foram tratados de forma condicional por Kardec e pelos espritos que com ele construram o corpo doutrinrio. No poder prescindir de uma adequao semitica e da redefinio e atualizao da linguagem, que sabidamente utiliza-se de terminologias e expresses ultrapassadas ou inadequadas. Tampouco de uma redefinio epistemolgica, afinal persistem para a grande maioria dos espritas enormes dvidas e confuses sobre a natureza e o carter do Espiritismo, em particular sobre a forma como se deu (e portanto como se dar) a construo do pensamento esprita. Passa ainda pelo reconhecimento de que o Espiritismo, enquanto conjunto de idias identificadas com sujeitos sociais concretos (embora reconheamos a existncia e a importncia de sujeitos incorpreos, os espritos desencarnados), na medida em que se institucionalizou foi se constituindo como um movimento social, portador de diferentes e, sob vrios aspectos, conflitantes leituras, relaes de poder e disputas ideolgicas que devem ser consideradas em qualquer proposta de atualizao.

Este trabalho procura desenvolver uma proposta metodolgica para o processo de permanente atualizao do Espiritismo, estruturada a partir do conjunto de preocupaes acima esboadas. Acreditamos que a discusso do mtodo de atualizao vital para que seja atingido e viabilizado tal objetivo. Se, a priori, for simplesmente desconsiderada ou considerada secundria a formulao de uma metodologia a ser utilizada neste processo, a atualizao do Espiritismo ser sumariamente abortada, restringindo-se, desta forma, a um momento histrico de reflexo crtica empreendida por setores contra-hegemnicos do movimento esprita, um "insignificante" movimento nascido na ltima dcada e que morreu de inanio no ltimo ano do sculo XX. E essa exatamente a histria que no desejamos escrever e transportar para o prximo milnio. Antes de abordarmos de forma objetiva uma proposta metodolgica de atualizao do Espiritismo, salientamos que algumas reflexes sobre o carter, a natureza e o futuro do mesmo, intimamente relacionadas ao assunto tratado neste texto devem ser aprofundadas, as quais por limite de espao no sero aqui efetuadas, apenas discriminadas: Qual o verdadeiro carter e natureza do Espiritismo? Qual a herana do Espiritismo para o conhecimento humano de 1857 at o presente? Qual efetivamente a sua influncia do ponto de vista da evoluo do conhecimento e do comportamento humano? O que representa para a sociedade humana contempornea? Qual a atualidade da concepo filosfica esprita e qual sua capacidade em produzir respostas aos problemas do homem e do mundo atual, vislumbrando-se a sociedade do sculo XXI? Existe viabilidade para que seja empreendida uma atualizao do Espiritismo? Tero os espritas capacidade de reverter a postura atual (absolutamente contemplativa e submissa a uma postura religiosa, estagnante, cristlatra e "absolutizadora" do carter divino atribudo s manifestaes medinicas de origem religiosa) e as enormes contradies que da resultam no seio deste movimento? Talvez fosse possvel imaginar um cenrio diferente da evoluo real na qual se construiu a histria do Espiritismo aps o desencarne de Allan Kardec. Tenho presenciado alguns exerccios especulativos muito interessantes neste sentido. O que teria ocorrido com o Espiritismo, por exemplo, se no tivessem ocorrido as duas grandes guerras mundiais? Ou se no houvesse a Revoluo Russa de 1917? A polarizao do mundo em capitalismo e comunismo durante tanto tempo? Teria sido diferente sua evoluo na Europa e em todo o mundo? preciso reconhecer, antes de mais nada, nossa incapacidade de definir o futuro das coisas. O futuro se constri no presente. O resto fico. fundamental planejar estrategicamente o futuro, construir "imagens-objetivos", nossas utopias referenciais. Mas no podemos, por respeito inteligncia, admitir cenrios spilbergianos, onde se manipula e altera o futuro a nosso bel-prazer. Nossa capacidade de alterar o destino das coisas diretamente proporcional ao quanto nos esforamos e trabalhamos para que isto de fato ocorra.

Em relao ao futuro do Espiritismo, necessrio reconhecer que do ponto de vista daquilo que imaginava Kardec e os espritos que com ele fundaram a Doutrina Esprita, houve um grande fracasso(1) . No por menos que Lon Denis celebrizou uma expresso, exaustivamente repetida porm pouco ou nada compreendida e observada pelos espritas: "O Espiritismo ser no futuro o que dele os espritas fizerem". Qual o futuro imediato do Espiritismo? Em minha opinio, desenham-se dois cenrios possveis: Num primeiro, o Espiritismo consolida-se no sculo XXI como mais uma seita crist restrita Amrica Latina, fortemente enraizada no Brasil e, sob sua influncia, pequenos grupos em outros pases da Europa e das Amricas. Um pequeno grupo contra-hegemnico, articulado em torno da CEPA, experimenta algum crescimento no final do sculo XX e incio do XXI, procurando estabelecer um processo de redefinio de rumos, mas sucumbe frente ao poder conservador da tendncia hegemnica. Em outro cenrio, o movimento religioso esprita segue seu rumo, firme e forte, consolidandose como mais uma seita evanglica. Ao contrrio do cenrio anterior, entretanto, vislumbro a possibilidade de crescimento vertiginoso do nmero de espritas livre pensadores, humanistas e progressistas, laicos ou no, pois nesta adjetivao est certamente includa parcela significativa de espritas e entidades que se auto designam religiosas mas que no aceitam a dominao conservadora de algumas instituies e lideranas cristlatras e/ou msticas, com todos seus rituais e formalismos religiosos e a conseqente esclerose intelectual. Este crescimento, em minha opinio, tende a se desenvolver sob liderana da CEPA, exatamente porque esta instituio est aberta ao progresso das idias e unificao de propsitos sinceros em prol do desenvolvimento do Espiritismo. Pode, desta forma, induzir um processo de ampliao do nmero e da qualidade dos adeptos da filosofia esprita, angariando maior respeito e considerao da universidade, das disciplinas cientficas e dos meios de comunicao de massa. E o que mais importante, ampliar consideravelmente a capacidade de influenciar objetivamente a sociedade humana atravs dos princpios fundamentais que compem a filosofia esprita, alargando os laos de solidariedade, respeito, justia, amor e fraternidade, contribuindo para a construo de um mundo mais civilizado. Sem a necessidade obsessiva de transformar (com o objetivo de "salvar") os habitantes do planeta em adeptos do Espiritismo. Mas influenciando-os atravs da viso de homem e de mundo e das derivaes ticas e morais decorrentes de nossa filosofia. A seguir, destaco alguns pressupostos que considero de fundamental importncia para a formulao de uma proposta metodolgica de atualizao do Espiritismo, intimamente relacionados s formulaes levantadas anteriormente: o Espiritismo a cincia que trata das relaes do mundo espiritual e material, portadora de uma concepo filosfica humanista, que resulta em conseqncias ticas e morais (comuns s preocupaes religiosas sinceras e desprovidas de ritualismos e sectarismos); a atualizao no pode ser um modismo mas deve constituir-se num processo permanente, incorporado definitivamente Praxis esprita;

deve admitir a heterogeneidade, o direito de ser e pensar diferente, de estabelecer novos referenciais a partir dos fundamentos espritas bsicos; necessrio reconhecer que a Filosofia Esprita, fundamentada na obra de Kardec, permite o desenvolvimento de distintas leituras, a partir do conjunto de interesses e necessidades humanas (e que isso tambm democrtico); no necessrio decidir por maioria quantitativa, mas pela capacidade/qualidade do conjunto de idias impondo-se pela sua prpria fora, clareza e atualidade como novas verdades; fundamental buscar de forma prioritria a atualizao em torno de pontos convergentes. O que consensual em primeiro lugar, o que pode vir a ser consensual (mesmo que parcialmente) em segundo plano e por ltimo, aquilo que de fato estabelece as distintas concepes e nos divide (mesmo que partamos ou no dos mesmos referenciais); s se atualiza o que no se nega, o que ainda tem valor essencial (caso contrrio estaramos substituindo o Espiritismo por algo diferente). Somente se atualiza sobre bases estabelecidas (mesmo que em parte ultrapassadas ou defasadas). Por outro lado h novos conhecimentos a serem formulados; que a busca da atualizao deve ser estabelecida a partir das mesmas bases srias e coerentes que pautaram a obra de Kardec, guiada pela racionalidade e pela cincia, sem afetaes, partidarismo e misticismo;

Allan Kardec identificou desde o primeiro instante a necessidade de atualizar o Espiritismo, o que pode ser claramente percebido em trechos de sua obra, em particular no Captulo Primeiro de "A Gnese - Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo", intitulado Caracteres da Revelao Esprita, publicado em 1868 e que j havia sido veiculado por Kardec, numa primeira verso, na Revista Esprita em 1867;(2) "O Espiritismo, avanando com o progresso, jamais ser ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que est em erro acerca de um ponto, ele se modificar nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ela a aceitar." (A Gnese, Cap. I - Caracteres da Revelao Esprita). "O terceiro ponto, enfim, inerente ao carter essencialmente progressivo da Doutrina. Pelo fato de ela no se embalar com sonhos irrealizveis, no se segue que se imobilize no presente. Apoiada to-s nas leis da Natureza, no pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela que se pr de acordo com essa lei. No lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as idias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, fsicas ou metafsicas, ela jamais ser ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade." (Obras Pstumas Constituio do Espiritismo - Dos Cismas) "No ser, pois, invarivel o programa da Doutrina, seno como referncia aos princpios que hoje tenham passado condio de verdades comprovadas. Com relao aos outros, nos os admitir, como h feito sempre, seno a ttulo de hipteses, at que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que est em erro acerca de um ponto, ela se modificar nesse ponto." (obra citada)

"O princpio progressivo, que ela inscreve no seu cdigo, ser a salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manter, exatamente porque ela no assenta no princpio da imobilidade." (obra citada) "Sero estas as atribuies principais da comisso central: 1...; 2 O estudo dos novos princpios, suscetveis de entrar no corpo da Doutrina; 3 ... 15 A convocao dos congressos e assemblias gerais." (Obras Pstumas - Constituio do Espiritismo - Comisso Central) Que h setores significativos do Movimento Esprita que consideram desnecessrio e lesivo qualquer processo de atualizao do Espiritismo, uma vez que concebem sua origem e natureza como "divina", portanto passvel de modificao apenas por ordem e graa da "espiritualidade"; Que mesmo companheiros espritas que discutem a necessidade de atualizar o Espiritismo, em funo de distores em suas concepes e formao doutrinria, tendem a assumir uma postura arrogante e conservadora do ponto de vista intelectual. Vejamos, por exemplo, um pequeno trecho de um "mail"(3) que identifica claramente esta concepo: "Apesar disso ainda temos uma slida e imbatvel doutrina. plataforma segura para se alcanar novos vos com a cincia responsvel e metodolgica, pois esta a sina do Espiritismo: ir onde a cincia est, j sabendo que a cincia vai onde o Espiritismo j foi..." (o grifo meu); Que indiscutvel a atualidade de partes importantes e fundamentais da obra de Kardec, no superadas pela Cincia, encontrando-se estas, portanto, em plena vigncia; Que atualizar o Espiritismo procurar "torn-lo atual, situ-lo na poca em que vivemos, torn-lo presente e atuante em todos os setores do pensamento humano. Isso implica numa releitura, numa ressignificao, portanto, numa reviso dos contedos, no s da obra de Allan Kardec, como da dos demais autores espritas, encarnados e desencarnados, como tambm da linguagem e do mtodo empregados na sua elaborao. No se pode atualizar sem revisar.";(4) no se deve permitir a alterao ou supresso, parcial ou completa, dos textos e das obras de qualquer autor que seja e em especial a de Allan Kardec. "J as idias, concepes e teorias expostas nas obras da Codificao e nas que lhe so complementares, como o prprio fundador do Espiritismo afirmava, no sendo mais do que a expresso do conhecimento dos seus autores, subordinadas ao contexto de uma poca, so passveis de reviso e de atualizao.";(5)

II. O QU ATUALIZAR?
Em outro trabalho apresentado ao Frum de Temas Livres, no XVIII Congresso Esprita PanAmericano, intitulado "AGENDA ESPRITA: identificando antigas e novas demandas para atualizao do Espiritismo", desenvolvido com a colaborao de Sandra Regis e Nelson Melchior dos Santos Junior(6), procuramos delinear objetivamente um conjunto de questes que podem vir a ser objeto de uma releitura ou atualizao, compreendidas em quatro diferentes grupos: a. Conjunto de idias e conceitos espritas que com o tempo desatualizaram-se ou encontram-se em desacordo em relao ao conhecimento humano e, em especial, ao cientfico; b. Conjunto de idias e conceitos formulados parcialmente ou em carter condicional por Allan Kardec e pelos espritos que com ele fundaram o Espiritismo, em virtude:

da alegada incapacidade de definir ou descrever determinadas situaes devido inexistncia de meios para tanto, por limitao de nossos conhecimentos ou de nossa linguagem (creio que j podemos compreender muitas coisas que em meados do sculo XIX seriam impossveis); da inexistncia de permisso para a anlise e aprofundamento de determinadas questes, ora porque no era chegada a hora, ora por entenderem que seria de competncia dos espritos encarnados a tarefa de produzir o conhecimento em torno de determinado assunto; a necessidade de acompanhar o desenvolvimento cientfico para que fosse possvel comprovar (ou no) uma determinada hiptese formulada e posteriormente incorpor-la definitivamente ao Espiritismo (expediente utilizado fartamente no ltimo livro publicado por Allan Kardec, em 1868, denominado "A Gnese Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo", muito embora at hoje, transcorridos mais de 130 anos, este processo de confirmao crtica das hipteses ainda no tenha sido realizado). c. Antigos ou novos problemas ainda no abordados pelo Espiritismo ou conjunto de questes relacionadas ao mundo contemporneo para as quais o Espiritismo no possui posies claramente definidas que possam produzir uma contribuio aos seres humanos e sociedade, ou cuja verso difundida publicamente restringe-se opinies individuais de algumas lideranas ou figuras com alguma projeo pblica. Ou, o que mais grave ainda, restritas a opinio de um esprito (muitas vezes legitimadas no pelo seu contedo, mas sim pelo reconhecimento moral e projeo do mdium) sem que sejam submetidas anlise crtica, ao mtodo da concordncia universal ou qualquer outro tratamento elementar exigidos ao lidar-se com informaes de origem medinica (aceita-se as informaes, equivocadamente, por sua pretensa origem divina); d. A releitura e validao ou no de hipteses e teorias estabelecidas atravs de literatura medinica (a excelente produo terica a partir das reportagens do esprito Andr Luiz, por exemplo) ou a contribuio de estudiosos espritas encarnados e que formularam suas contribuies posteriormente Allan Kardec, como Lon Denis, Gabriel Delanne, Manoel Porteiro, Jos Herculano Pires, Hernani Guimares Andrade, entre tantos outros. Impe-se, portanto, dada inclusive a variedade e quantidade de temas a serem objeto de investigao, estudo, formulao, debate e anlise crtica e posterior atualizao, que se defina de alguma forma o processo pelo qual ser desenvolvido todo esse rduo mas necessrio trabalho de atualizao do Espiritismo, ou seja, a constituio de uma Agenda Esprita (o qu atualizar?) e de um Mtodo de Atualizao (como fazer a atualizao?). No deve haver temas proibidos. Tudo deve e pode ser discutido. Entretanto, preciso ter claro que os pressupostos aqui alinhavados induzem-nos a estabelecer com certa cautela esta agenda. Creio que devemos experimentar, inicialmente, por cerca de cinco a dez anos, um processo de discusso em que se busque o maior consenso possvel, em temas centrados: na formulao de conceitos espritas relacionados aos problemas humanos contemporneos e que no tenham sido objeto de anlise no perodo da fundao do Espiritismo ou pelos principais continuadores de Allan Kardec (questes relacionadas biotica e ao desenvolvimento tecnolgico, por exemplo);

na epistemologia esprita, ou seja, sobre a natureza e o carter do Espiritismo, em particular sobre a forma como se deu (e portanto como se dar) a construo do pensamento esprita; na reviso, atualizao e modernizao da linguagem e seus significados. Desta forma, proponho que a discusso em torno dos eixos paradigmticos do Espiritismo seja programada para uma segunda etapa, quando alm da anlise crtica e dos acmulos do processo desencadeado, poderemos estabelecer mais claramente o que se pretende e como avanar neste sentido.

Reafirmo, entretanto, a importncia de estabelecer claramente uma Agenda Esprita. Creio firmemente que um dos maiores desafios da CEPA, a partir do XVIII Congresso Esprita PanAmericano, ser o de definir esta agenda para a atualizao. Se isto for empreendido, o xito do Congresso estar garantido e o esforo da CEPA recompensado.

III. COMO ATUALIZAR?


A partir da Agenda Esprita, o problema a ser estudado e para o qual se pretende produzir uma atualizao deve ser claramente definido e abordado. Para tanto, proponho a elaborao de um Protocolo de Estudo ou Carta de Intenes, consensualizado entre todos os participantes, dando conta das seguintes formulaes: a. Que estudo est sendo proposto? (Definio, delimitao e caracterizao do problema a ser abordado) A cincia e o conseqente domnio do homem sobre o meio progridem pela anexao de novos conhecimentos. Estes so gerados pela soluo de problemas, e problemas s os tm aqueles que vivem em relao ntima com os fatos que os suscitam. Presena participante nos fatos, sensibilidade perceptiva e entusiasmo pela resoluo de problemas so, no homem, as qualidades que o fazem produtor de conhecimentos. Detectado um problema, seja ele evidente de tal forma que at leigos o percebam, ou encoberto a ponto de estar obscurecido mesmo para especialistas, a prxima tarefa torn-lo concreto e explcito. Deve ento ser colocado sob a forma de perguntas que possam ser respondidas atravs de hipteses verificveis ao longo de um estudo. A anlise de um problema envolve vrias operaes intelectuais e metodolgicas que se complementam. Se consideramos que o problema seja a necessidade de explicar fatos empricos at o momento no compreendidos, torna-se necessria uma completa elucidao das circunstncias sob as quais os fatos ocorreram e o problema foi gerado. Deve-se buscar repostas atravs de perguntas formuladas que o bom senso e conhecimento relativo julguem significativas. A explicao do problema sob a forma de perguntas s vezes feita pari passu sua anlise. Tratando-se de um problema complexo, pode-se partir de um enunciado bastante geral e, medida que o problema for sendo analisado, o enunciado estar sendo decomposto em problemas mais simples, respondveis atravs de hipteses claras, concisas e refutveis.

necessrio ter sempre presente o fato de que a forma e o contedo das perguntas determinaro o encaminhamento da investigao, sua direo e limites. Uma anlise mal feita ou enunciado mal colocado podero levar a nada, quando no ao erro. Na caracterizao do problema a ser estudado reside um fator de alta complexidade para os propsitos de atualizao do Espiritismo: os problemas que esto na base do Espiritismo podem ser problemas prprios da doutrina (a relao do mundo material e o espiritual, a mediunidade, a relao esprito e matria, o perisprito, por exemplo) ou comuns outros ramos do conhecimento humano (sexualidade, loucura e sofrimento psquico, educao, ecologia, justia, direitos humanos, drogas, amor, liberdade, poltica, etc.). A soluo deste segundo grupo de problemas, portanto, multidisciplinar e mesmo em relao aos problemas formulados pelo prprio Espiritismo, impossvel abord-los de forma isolada de outras disciplinas e saberes. Isto exige, como no poderia deixar de ser, o manuseio do mtodo, da forma prpria de pensar e do corpo de conhecimento esprita. Exige tambm a utilizao de outras cincias, que, consideradas em funo de um objetivo comum, so complementares (porm essenciais) ao Espiritismo. Ao contribuir com o Espiritismo para o esclarecimento dos problemas propriamente espritas e para uma abordagem doutrinria dos problemas no especificamente espritas, as cincias complementares colocam, naturalmente, problemas no-espritas que lhe so respectivos: problemas estatsticos, epistemolgicos, de linguagem, fsicos, antropolgicos, econmicos, sociolgicos, psicolgicos, etc. Deve-se ter uma Justificativa consistente, incluindo-se de maneira clara, por que realizar a atualizao deste tema e quais os benefcios que resultaro para o Espiritismo, os espritas e/ou a sociedade. Da mesma forma, necessrio fornecer uma idia geral do que ser pesquisado, delimitando-se claramente qual ser o Objetivo Geral do trabalho e seus Objetivos Especficos, incluindo-se uma listagem completa de todos os tpicos a serem estudados. Posteriormente, quando forem apresentados os resultados, devero ser apresentadas respostas para cada um dos objetivos especficos elencados. de fundamental importncia, ainda, a realizao de completa Reviso e Anlise Bibliogrfica, compreendendo a reviso da literatura geral e especializada no esprita sobre o tema a ser estudado e os livros e trabalhos espritas e espiritualistas, em especial as obras de Allan Kardec e seus principais continuadores. Entende-se por espritas as que tratam dos assuntos pertinentes Doutrina Esprita, incluindo-se nesta categoria obras de origem medinica ou no. b. Quem vai participar do projeto? Devero ser constitudos grupos de trabalho formados por espritas com experincia e conhecimento da obra de Allan Kardec e seus principais continuadores e que possam, a partir de sua rea de formao profissional ou acadmica, por se constiturem em especialistas em determinadas ramos do conhecimento humano, ou por serem estudiosos e interessados no estudo do Espiritismo e outras disciplinas, mesmo que autodidatas, contribuir com o processo de atualizao do conhecimento esprita.

No necessrio que estejam vinculados uma determinada instituio esprita ou entidade confederativa. Estudiosos espritas, em seus lares e escritrios podero participar e contribuir decisivamente neste processo. No sero estabelecidos filtros ideolgicos, selecionando ou eliminando do estudo participantes por afinidade ou oposio teses previamente definidas. Exige-se, obviamente, que sejam reconhecidamente espritas. Por outro lado, ser estimulada a participao de instituies e agrupamentos espritas que possam progressivamente redefinir parte do tempo de execuo de suas atividades para o estudo e a atualizao do pensamento esprita. fundamental que todos os participantes tenham o esprito e a mente abertos para o progresso das idias, nvel intelectual e uma boa formao cultural, alm de disponibilidade e compromisso para participar em todas as etapas do estudo, a serem definidas no cronograma. Os participantes sero divididos nas seguintes categorias: Participantes individuais Instituies participantes Coordenadores Gerais e adjuntos Relatores Crticos externos Estes ltimos sero convidados para efetuar anlise crtica dos resultados do estudo e no precisam ser adeptos do Espiritismo. Pelo contrrio, seu distanciamento e formao forjados em outras reas de conhecimento ser de fundamental importncia para que possam exercer livremente a anlise crtica externa pretendida. O papel de cada uma das diferentes categorias de participantes propostas ser discutido posteriormente. c. Como o estudo ser conduzido? Sobre o mtodo: O ciclo necessrio para o estabelecimento de um processo de atualizao do Espiritismo deve se constituir numa srie de etapas, que apenas particularizam um roteiro quase que obrigatrio do modelo emprico de produo de conhecimentos em geral: a construo da questo e a formulao de hipteses devero ser feitas preferencialmente de modo a indicar com preciso e objetividade possveis a natureza dos problemas em estudo. Toda hiptese resulta da construo de algum quadro terico, apesar da maioria dos pesquisadores e estudiosos tradicionalmente omitir os modelos conceituais em que baseiam suas hipteses. Para cumprir essa etapa, recomendvel um estudo cuidadoso da literatura cientfica especfica sobre o assunto, a fim de no se repetir os passos (e equvocos) de outros pesquisadores, alm de no se desperdiar tempo e recursos; o planejamento do estudo dever definir com a maior preciso possvel qual a estratgia de investigao mais adequada em relao aos objetivos do estudo. A partir da definio e delimitao da abordagem do problema, possvel delinear o mtodo de investigao mais adequado a cada objeto a ser investigado. No deve haver, a priori, um nico mtodo (ou "o mtodo") aceitvel para que se produza o estudo visando a

Deve-se selecionar as tcnicas de produo de dados mais eficientes para os objetivos da pesquisa e mais adequadas para o estudo. A fonte ("matria-prima") desses dados pode ser registros de comunicaes medinicas, de questionrios ou registros de experimentaes, ou outras formas de registro que constituem os dados secundrios, como textos publicados e produzidos por outros autores; Os instrumentos e procedimentos de produo e anlise de dados devero preencher critrios de operacionalidade e adequao para a aplicao por diferentes participantes e grupos, o que implica na simplificao de tcnicas empregadas em mbitos de pesquisa e estudos com grupos reduzidos. Alm disso, quando se amplia a quantidade de grupos e participantes, necessrio desenvolver uma tcnica de estudo, registro, circulao e sistematizao dos resultados simples e com confiabilidade. Pode ser necessrio, neste sentido, o treinamento dos participantes do estudo na coleta de informaes e uso de tcnicas padronizadas, solues geralmente eficazes para a melhoria da confiabilidade dos dados; A ltima fase consiste no chamado trabalho de campo, que na verdade constitui-se no prprio processo de produo de dados referentes s variveis e temas em estudo, atravs do emprego criterioso das tcnicas de coleta dentro da estratgia de pesquisa selecionada. O processo de investigao dever produzir dados de modo a alimentar a anlise e sistematizao capaz de efetivamente abordar o problema da pesquisa, transformando dados em informao til. Procuro, a partir deste trabalho, traar algumas sugestes que considero factveis e coerentes. Trata-se, apenas, de propostas preliminares, contribuies para o debate e que devero ser amplamente discutidas, reformuladas e modificadas. Assim como a definio da Agenda Esprita, abordada anteriormente, considero a delimitao e definio deste processo, ou seja, o como fazer a atualizao do Espiritismo, outro importante desafio para o XVIII Congresso Esprita Pan-Americano e para a CEPA. Formao de Grupos de Trabalho: A implementao de grupos de trabalho multicntricos, construdos numa perspectiva ascendente (piramidal ou em mosaicos), pode, potencialmente, implementar uma enorme, envolvente e produtiva rede de estudo que desenvolva com legitimidade o processo de atualizao do Espiritismo. Desta forma, estabelecer-se-ia, inicialmente, um grupo de trabalho em uma determinada instituio esprita, onde parte de seus membros se disponibilizassem a participar do processo de atualizao de uma certa questo em estudo.

Naquela cidade ou regio, dependendo da quantidade de participantes, realizar-se-iam oficinas de trabalho reunindo os participantes individuais e instituies envolvidas no trabalho, com uma periodicidade bimestral ou trimestral, dependendo novamente do objeto em estudo. Semestral ou anualmente seriam realizadas oficinas de carter nacional e se possvel internacional, com um grupo de participantes indicados e que representassem os grupos de trabalho regionais. Para tanto, o Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita(7) e eventos similares realizados em outros pases poderiam ser utilizados como pontos de referncia, a partir de sua prpria estrutura e programao ou atravs de eventos paralelos, facilitando e estimulando a realizao destas oficinas, aproveitando o deslocamento de companheiros espritas de vrias localidades do pas. As Conferncias Regionais Espritas, promovidas periodicamente pela CEPA, poderiam facilitar em muito o processo de aglutinao dos espritas de distintos pases e continentes que se dispusessem a participar deste processo. Para tanto, deveriam assumir, em carter prioritrio, estes contedos temticos, ou ento proporcionar flexvel programao de estudos que possibilitasse a realizao de oficinas paralelas de atualizao doutrinria. Se este processo for construdo de forma ascendente, possibilitar a participao de muitos espritas em todo o planeta. A utilizao de listas de discusso espritas na Internet e em canais de chat, entre cada uma das fases do estudo, permitir ainda a realizao de oficinas virtuais (em tempo real) e disseminao dos dados, anlises e crticas, eliminando os problemas relacionados s enormes distncias e aos custos inerentes ao deslocamento dos participantes. Por mais democrtico que se queira estabelecer este processo, entretanto, em cada oficina (local, regional, nacional ou internacional) devem participar de 10 a 20 membros do grupo de trabalho, no mximo. improvvel que haja um produto efetivo e consubstancial se este processo for caracterizado por um "assemblesmo". Deve-se apenas garantir, democraticamente, o acesso irrestrito a todo os participantes do grupo de trabalho aos bancos de dados e aos papers com as snteses que forem sendo produzidas ao longo do processo. Coordenao e Sistematizao: fundamental que o Grupo de Trabalho, composto por espritas estudiosos, especialistas e interessados, tenha claramente delimitada uma coordenao. No acreditamos em espontanesmo ou na capacidade de auto-coordenao de um grupo multicntrico e to heterogneo. Para tanto, creio que deva ser designado um Coordenador Geral para cada um dos grupos de trabalhos temticos que vierem a ser constitudos, auxiliados por dois coordenadores adjuntos. Estes tero como tarefa a coordenao e o acompanhamento do cumprimento de cada uma das etapas estabelecidas no Protocolo e no Cronograma do Estudo, na organizao das oficinas, nas relaes com as universidades e pesquisadores que faro a crtica externa ao trabalho, servindo ainda como referncia para os membros e instituies participantes. Em cada grupo local ou regional deve-se estabelecer uma referncia para organizar o processo, as oficinas, sistematizar os produtos do trabalho (textos, bancos de dados, etc.) e uma ponte de representao junto coordenao geral, atravs da indicao de um representante regional.

Deve-se ainda estabelecer uma Coordenao de Sistematizao, composta por membros (duas a trs pessoas) dos Grupos de Trabalho com reconhecida capacidade de redigir e sistematizar as concluses parciais e, posteriormente, finais do trabalho de atualizao. Pesquisa Medinica e a Concordncia Universal Sempre que estiver contida entre as estratgias metodolgicas para o trabalho de atualizao de determinado assunto, a mediunidade dever ser utilizada seguindo-se o mtodo estabelecido por Allan Kardec em "O Livro dos Mdiuns", adaptando e introduzindo, para efeitos de comodidade e melhor aproveitamento das informaes obtidas, algumas tecnologias de baixa complexidade e alta resolutividade, tais como gravao das comunicaes em vdeo, K-7 e transcrio e disseminao dos resultados obtidos atravs da Internet. A experincia obtida atravs dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Cientficas Ernesto Bozzano, no C.E. Allan Kardec, de Santos-SP, que relatamos de forma sumria a seguir, poderiam ser utilizadas como referncia inicial, por sua simplicidade, praticidade e fidelidade ao mtodo estabelecido por Allan Kardec. O mtodo de investigao medinica utilizado pelo GPCEB procurou reproduzir e adaptar a metodologia clssica construda e consagrada por Allan Kardec. O GPCEB utilizou, como metodologia de trabalho, a anlise crtica dos dilogos efetuados pelo grupo com os espritos desencarnados. Estabeleceu-se, para tanto, alguns objetos de investigao, quais sejam: Estrutura do Centro Esprita Allan Kardec (de Santos-SP) no Plano Espiritual; Estrutura do Movimento Esprita no Plano Espiritual; Mecanismos da Mediunidade: o Processo de Comunicao Medinica; A Vida no Plano Espiritual; Perisprito e Emisses Energticas Distncia. Paralelamente, a equipe de Espritos que coordena o trabalho no CEAK e que se integrou pesquisa de forma entusiasmada, desenvolveu um objeto alternativo, posteriormente identificado pelos membros do GPCEB, demonstrando as diferentes formas de pensamento dos espritos desencarnados. Para cada um dos objetos designou-se um responsvel, com a tarefa inicial de realizar pesquisa bibliogrfica em relao ao tema, com a conseqente elaborao de um roteiro de questes a serem respondidas pelos espritos. As informaes foram obtidas atravs de dilogos estabelecidos a partir desses roteiros prelaborados pelo GPCEB. Como no mtodo desenvolvido pelo fundador do Espiritismo(8) , "... chegvamos a cada sesso com uma srie de perguntas preparadas, e metodicamente arrumadas". Foi comum a prtica de evocao relacionada aos temas a serem pesquisados, sem que houvesse, entretanto, direcionamento determinada personalidade. Em algumas reunies foram evocados nominalmente entidades para debater questes pontuais e dvidas persistentes. Na ausncia de questionrios previamente elaborados, o que ocorreu de forma espordica, as reunies foram desenvolvidas com temas livres.

O roteiro de perguntas foi repetidamente submetido a vrios espritos, em diferentes reunies, por diferentes mdiuns. O processo de formulao intelectual dos membros encarnados, pertencentes ao GPCEB, foi permanente e intenso.(9) Para a consecuo do trabalho de anlise, foram utilizadas as transcries das gravaes de fitas magnticas referentes as dezenas de reunies de pesquisa medinica realizadas semanalmente, s segundas feiras, com aproximadamente duas horas de durao, por mais de trs anos, no Centro Esprita Allan Kardec, de Santos-SP. Estas reunies contaram com a presena de dois coordenadores que alternavam a cada semana a direo dos trabalhos, trs pesquisadores membros do GPCEB e seis mdiuns. Destes, dois proporcionaram comunicaes psicogrficas e psicofnicas e os demais se restringiram s comunicaes psicofnicas; todos conscientes (intuitivos e semi-mecnicos na classificao proposta por Kardec(10) ) e com mais de 25 anos de exerccio medinico. Aps alguns meses, o GPCEB foi convidado pela direo do CEAK a assumir a direo do Departamento de Pesquisas daquela entidade, passando a se responsabilizar pela direo desta reunio medinica, inteiramente destinada pesquisa cientfica. A qualidade do produto final e a prpria metodologia utilizada pelo GPCEB so ainda hoje consideradas experincias referncias, que podem ser utilizadas no processo de atualizao do Espiritismo, particularmente no que diz respeito a utilizao do mtodo medinico com tal finalidade. O "mtodo" medinico pressupe a utilizao do controle e da concordncia universal dos ensinamentos e opinio dos espritos. Toda nova tese somente ser validada se aps a anlise crtica de seu contedo (e no de forma) apresentar coerncia e consistncia comparativa, adquirindo carter universal e no a viso particular de um esprito ou grupo de espritos. Pressupe-se e estabelece-se como de fundamental importncia que os investigadores tenham pleno conhecimento terico e prtico da mediunidade (cuja referncia fundamental o "Livro dos Mdiuns", de Allan Kardec), sendo capazes de lidar com as diversas situaes que podem induzir a erros em relao a produo e anlise das informaes obtidas atravs da mediunidade. Importa salientar, todavia, que a investigao medinica no deve ser utilizada como a nica via de produo de conhecimento e de atualizao do pensamento esprita. No pode, por outro lado, ser desprezado ou subutilizado esse instrumento de investigao da realidade, particularmente nos assuntos correlacionados vida no mundo esprita, perisprito, entre outros temas, em que a opinio dos espritos (se for estabelecida uma concordncia universal e submetida anlise crtica e racional) pode alargar em muito nossa compreenso em torno do objeto em estudo. Refora-se, desta forma, sobremaneira o papel dos espritas (encarnados) no progresso do Espiritismo. Crtica externa: Todas as concluses resultaro em teses de atualizao em relao a viso esprita sobre algum tema ou conceito. extremamente desejvel, entretanto, que estas contribuies no "nasam velhas", superadas ou em contradio com os conhecimentos e avanos cientficos atuais.

Torna-se de fundamental importncia, portanto, submeter as concluses crtica externa, utilizando-se profissionais reconhecidamente especialistas na rea abordada, preferencialmente ligados universidade, para anlise quanto ao contedo das formulaes, resultados, linguagem e mtodo utilizados. No necessrio que haja concordncia, por exemplo, do parecer exarado em relao ao contedo das concluses do Grupo de Trabalho ao se solicitar uma anlise de um professor de fsica nuclear ou de um especialista da rea de biologia molecular, tradicionalmente vinculados concepo materialista. Mas a crtica pode ser extremamente til na formulao de teses e hipteses mais consistentes e na adequao da linguagem e do mtodo. Busca-se, desta forma, auferir e aumentar a validade, a preciso e a confiabilidade dos resultados obtidos. No tenho dvida, ainda, do papel positivo e estimulador da produo de conhecimentos (quase que provocador) e da divulgao do Espiritismo que esta mudana de postura em relao academia provocaria. Hoje (assim como ontem), os espritas esperam que a universidade e o desenvolvimento cientfico venham ao encontro dos conceitos espritas, como se este fosse um caminho inexorvel para a cincia. No . Os pequenos mas consistentes avanos obtidos pela cincia esprita foram exatamente quando o fenmeno esprita foi analisado pelo mtodo cientfico e por pesquisadores no espritas que se debruaram na investigao uma vez provocados pelos espritas ou pela prpria fenomenologia. Concluso do Estudo: Uma vez estabelecidas as concluses finais do Grupo de Trabalho, far-se-ia a circulao e divulgao das mesmas por um perodo de um a dois anos, sob o ttulo de "Tese para a atualizao do tema:.......". Neste perodo, procurar-se-ia submet-la a um grande processo de crtica interna (junto ao movimento esprita) e externa (conhecimentos cientficos de outras disciplinas e correntes do pensamento humano), avaliando a vulnerabilidade e a consistncia desta nova proposta de formulao conceitual. Ao cabo deste perodo, poder-se-ia incorporar parcialmente algumas destas crticas, refut-las integral ou parcialmente para enfim, em um Frum Esprita Internacional especificamente criado para tal fim, desencadear um processo de deliberao. Creio que o ideal que este Frum Esprita Internacional fosse realizado, a princpio, a cada 5 ou 6 anos e, posteriormente, a cada 10 anos, se possvel com a participao das diversas tendncias existentes no movimento esprita (respeitando-se sua heterogeneidade e reconhecendo a impossibilidade de uniformiz-lo em uma corrente nica), com a responsabilidade de estabelecer o processo de deliberao e incorporao deste tema em estudo, devidamente atualizado, ao contexto e aos conceitos da doutrina esprita. A CEPA, definitivamente extrapolando seu carter interamericano, deve procurar dirigir partilhadamente com outras instituies federativas, grupos e tendncias do movimento esprita, a responsabilidade pela articulao deste Frum Esprita Internacional, dedicando-se ao exaustivo processo de negociao que ir requerer tal empreitada. Deve estar preparada, entretanto, para assumir a direo deste movimento caso no haja correspondncia ao convite pblico que tem emitido outras entidades e lideranas federativas para o desenvolvimento deste processo de atualizao do Espiritismo. Mesmo que para isso

tenha que mudar seus estatutos e finalidades, passando de fato e de direito a liderar os espritas kardecistas laicos, livre pensadores, humanistas e preocupados com o progresso do Espiritismo em todo o mundo. A CEPA deve, assim, independentemente da resposta e da participao do movimento esprita no processo de atualizao do Espiritismo, constituir imediatamente uma Comisso de Relaes Intercontinentais, de carter permanente, com representantes das trs Amricas, da Europa e na medida do crescimento do Espiritismo, dos demais continentes. Tendo em vista o vigor do movimento esprita no Brasil, Argentina e Venezuela, inicialmente esta comisso poderia contar com representao tambm destes trs pases. Caso no haja consenso, ser necessrio estabelecer um pacto tico que permita a cada tendncia do movimento esprita caminhar com suas prprias concluses, tomando cada uma o cuidado de advertir em suas publicaes, congressos, conferncias, etc., de forma honesta e respeitosa, que no se tratam de teses aceitas pela totalidade do movimento esprita. De toda forma, antevejo enormes e aparentemente insuperveis dificuldades para a obteno de unanimidade em torno de questes extremamente polmicas, mesmo que partamos das mesmas referncias conceituais de anlise (as obras de Allan Kardec e os princpios bsicos da filosofia esprita). praticamente impossvel supor que haja unanimidade e consenso em torno da reviso e atualizao do Espiritismo, at mesmo porque parte significativa do movimento no o considera passvel de atualizao em funo de seu entendimento quanto natureza (divina) daquele. Divulgao e Disseminao dos Resultados Deve-se definir prioritariamente como os resultados sero divulgados e disseminados, uma vez aprovados pelo Frum Esprita Internacional, pois o coroamento e xito de todo este processo depende em muito da capacidade de disseminar e capilarizar os resultados obtidos. importante planejar (e a identifico outra importante pauta para a prxima Diretoria Executiva da CEPA, a ser constituda a partir do XVIII Congresso da CEPA) como os resultados sero apresentados e difundidos para a comunidade esprita e para a sociedade em geral. No tenho propostas prontas e acabadas para tanto. Quando muito ouso fazer algumas sugestes, reconhecendo as especificidades e complexidade do campo da Publicidade e da Propaganda, uma das mais novas reas sistematizadas de conhecimento humano e para a qual o movimento esprita ainda no despertou, lidando amadoristicamente com a questo. Temos inmeros companheiros espritas, profissionais e especialistas na rea que devero, em conjunto com aqueles de labutam h muitos anos na rea da divulgao esprita, produzir uma poltica de comunicao e propaganda competente e consistente, moderna e adequada aos novos tempos e aos meios de comunicao de massa e formao de opinio existentes. Algumas idias, entretanto, aqui so apresentadas: utilizao massiva da Internet, atravs de Home-page especfica e das entidades espritas; publicao de livros (em vrios idiomas) com as concluses e deliberaes finais do Frum Internacional (impressos, em CD-ROM e multimdia);

publicao nos peridicos (jornais, boletins e revistas), programas de rdio e TV espritas e espiritualistas; realizao de Seminrios e outros eventos para pblicos espritas e no espritas abordando os assuntos atualizados; eficiente e persistente manifestao da viso esprita em relao aos principais problemas humanos nos debates pblicos promovidos pelos meios de comunicao de massa; utilizao estratgica de manifestaes culturais e artsticas para difuso destes conhecimentos (vdeo, cinema, msica, teatro, fotografia, artes plsticas, etc.) com envolvimento de artistas e produtores simpatizantes e adeptos do Espiritismo; estmulo jovens profissionais e acadmicos espritas para que desenvolvam monografias e teses de ps-graduao correlacionando, na medida do possvel, sua rea de atuao profissional ou acadmica especfica com a investigao e ampliao do conhecimento esprita. Cronograma Torna-se fundamental o desenvolvimento de um Cronograma de Trabalho (anexo) que esteja contido no Protocolo de Estudos, tanto para o acompanhamento e organizao do processo como para que haja um real comprometimento dos envolvidos quanto a apresentao de resultados. Os espritas no devem imaginar que participaro de um processo que se encerra em si mesmo. O produto final esperado da maior relevncia para o destino e progresso do Espiritismo. Desta forma, justifica-se a importncia que destinamos ao conceber este processo de atualizao do Espiritismo e cada uma das etapas que compe o Cronograma de Trabalho.

IV. CONCLUSES
O momento no permite concluses. Este estudo reflete preocupaes cuja anlise e formulao de propostas esto totalmente em aberto, aguardando o processo de debate, crtica, sugestes e novas formulaes. Numa conjuntura em que a expresso "abertura" reveste-se de carter especial. O XVIII Congresso Esprita Pan-Americano representa o marco inicial deste processo de atualizao do Espiritismo. CEPA cabe em grande parte a responsabilidade pela continuidade e seqncia deste processo. O sucesso deste evento e os avanos que podero ser empreendidos dependero nica e exclusivamente de nossa participao efetiva, vibrante, corajosa, despojada de pr-conceitos e do esprito blico que caracteriza as relaes entre os espritas. preciso que no nos esqueamos das sbias e prudentes recomendaes que Allan Kardec inseriu no penltimo pargrafo da Concluso de O Livro dos Espritos, referindo-se s divergncias de opinies sobre pontos da teoria entre os adeptos do Espiritismo: "Pode pois haver escolas que procurem se esclarecer sobre as partes ainda controvertidas da cincia; no deve haver seitas rivais uma das outras. (...) todos tm um lao comum que os deve unir num mesmo pensamento; todos tm um mesmo objetivo. (...) Nenhuma deve se impor pelo constrangimento material ou moral (...) A razo deve ser o supremo argumento e a

moderao assegurar melhor o triunfo da verdade do que a crtica envenenada pela inveja e pelo cime." (grifos deste autor). Este processo no poder dispensar, ainda, um intenso e competente esforo intelectual e muita determinao para levar em frente as oportunidades que se abrem e no desprez-las futilmente. As bases para a releitura e atualizao do Espiritismo esto plantadas. Foram germinadas no sculo XIX por Allan Kardec em sua genial obra de estruturao do pensamento esprita. Deste processo depende o futuro do Espiritismo. Depende a sua capacidade de interlocutar e influir nos destinos da humanidade, de contribuir com o processo de evoluo do planeta e ao mesmo tempo de se revigorar enquanto uma potente doutrina filosfica. Mais do que nunca permanece vivo, atual e instigante o desafio lanado por Len Denis: "O Espiritismo ser no futuro o que dele os espritas fizerem".

REFERNCIAS
Ver para tanto: Kardec, A . Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos. "O Futuro do Espiritismo". So Paulo, Edicel: Ano 1863 (pg. 192) e 1868 (pg. 049). Kardec, A . Obras Pstumas. "O Futuro do Espiritismo". Araras, So Paulo, IDE, 6 edio, 1997, pg.289. Kardec, A. Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos. So Paulo, Edicel Setembro de 1867, pg. 262. Trecho de um e-mail recebido em abril de 1999, oriundo de uma lista de discusso esprita pela Internet. Circular n. 01 da Comisso Organizadora do XVIII Congresso Esprita Pan-Americano, 1999. Ibidem. Membros do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos-SP. O Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita encontra-se atualmente em sua 6 edio, sendo promovido bienalmente pela LICESPE, vinculada ao Lar Veneranda (Santos-SP), com o apoio de diversas instituies espritas. KARDEC, A . Obras Pstumas. 6 ed. IDE. Araras, SP, 1997. p. 260. Mais dados sobre o mtodo de pesquisa podem ser encontrado no trabalho de autoria de Gisela Rgis Henrique, denominado "Histrico e Mtodo de Trabalho sobre a formao de um Grupo de Pesquisa GPCEB", apresentado no II Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita, em Mongagu-SP, 1991. Em O Livro dos Mdiuns (p. 198-199), Kardec define mdium intuitivo como aquele em que a transmisso do pensamento ocorre por intermdio do Esprito do mdium. O Esprito no atua sobre a mo; no a toma, no a guia; ele age sobre a alma, com a qual se identifica. J os mdiuns semi-mecnicos sentem uma impulso externa, malgrado seu, mas, ao mesmo tempo, tem a conscincia do que escrevem ou falam.
(*) Mdico sanitarista e homeopata, consultor e especialista em gesto e planejamento em sade, professor de Sade Pblica da Faculdade de Medicina de Santos-SP, membro fundador do CPDoc, escritor, expositor, 2 vice-presidente da CEPA (2000/04), Presidente do Centro Esprita Allan Kardec, de Santos-SP, autor do livro "Espiritismo e Vitalismo".

EPISTEMOLOGIA E CINCIA ESPRITA


Contribuio para Debate Reinaldo Di Lucia
Trabalho apresentado no IV SBFE - 1995

1- INTRODUO:
Indubitavelmente, existe, no Brasil, um movimento esprita, se entendermos por movimento um conjunto organizado de pessoas que se dizem espritas, ou que, de alguma forma, procuram" seguir" os ensinamentos que nos foram proporcionados por Allan Kardec. Prova disto so os inmeros centros, casas, ncleos, etc., espritas, com os quais nos deparamos diariamente, mesmo que alguns deles com nomes que indicam mais um sincretismo religioso - seja de origem afro ou crist - que propriamente esprita. Entretanto, o que se observa que tal movimento esprita , por assim dizer, amorfo. Seno vejamos, em que se baseia sua existncia? Apesar das reiteradas afirmaes de Kardec sobre a funo dos grupos de espritas, focando-a principalmente no estudo e desenvolvimento do espiritismo (e, conseqentemente, com o dever de dar sria importncia divulgao dos conceitos espritas, da maneira mais atualizada possvel, o que se observa o foco no assistencialismo imediatista. Este, mesmo sendo necessrio num dado momento, visando atacar problemas agudos que proliferam na sociedade brasileira (tais como a fome, o desabrigo, o desemprego, entre outros); no passa de uma" ao de bombeiro", que apaga o fogo mas no constri o futuro. E exatamente neste sentido, o de construo do futuro, que foi dito que o movimento esprita amorfo. Existem grandes e srias perguntas que se fazem e que, a contragosto, acabam ficando sem resposta: que contribuio efetiva trouxe a doutrina esprita para a humanidade, considerada em seu todo? Qual a influncia do espiritismo sobre a cultura, seja nos meios acadmicos formais, ou informais? Que papel vem cumprindo o espiritismo na elaborao de um mundo mais evoludo, onde o homem possa ser mais feliz? Nada, infelizmente, ou ao menos muito pouco. Depois de um incio fulgurante, onde o espiritismo andava paripasso com a cincia oficial, onde os maiores expoentes espritas ocupavam postos proeminentes nas academias, onde a principal preocupao dos grupos espritas era a confirmao formal das teorias - e idias apresentadas pelos espritos desencarnados (normalmente atravs de mdiuns com pouco ou nenhum conhecimento), ocorreu uma transformao radical no seio da doutrina esprita. Esta transformao incluiu: O quase desaparecimento do espiritismo na Europa; A vinda para o Brasil, onde encontrou campo frtil ao seu florescimento; O sincretismo, no Brasil, com as vrias escolas religiosas aqui existentes; A superestimao da caridade, em detrimento do conhecimento;

As conseqncias desta transformao acabaram sendo altamente funestas para o espiritismo, do ponto de vista que estamos abordando. De fato, hoje, o espiritismo um ilustre desconhecido nos meios culturais. Quando muito, e isto no Brasil, refere-se doutrina esprita como uma religio, ou talvez uma seita, que, portanto, pertence ao campo da mstica, ao lado da cromoterapia, cristais, anjos, etc. Dentro do meio esprita, a idia vigente que tudo corre da melhor maneira possvel. O movimento esprita, como conseqncia direta das transformaes j citadas, encara o espiritismo como um trip, constitudo de cincia, filosofia e religio. importante frisar que este um trip desigual, onde o aspecto religio" suplanta com larga margem os demais. Em meados da dcada de 80, observou-se uma reao a este ponto de vista, reao esta que, tendo por base o prprio Kardec, contestava o carter de religiosidade da doutrina esprita. Desde esta poca, a grande questo em pauta saber se o espiritismo deve ou no ser considerado uma religio. No entanto, muito pouco se discute sobre os demais aspectos expostos. Na verdade, muito difcil contestar o carter filosfico do espiritismo, uma vez que sua principal contribuio uma cosmo viso inteiramente nova, antecipando, ao menos na forma como so estruturados os seus princpios bsicos, em mais de 100 anos a proposta de uma viso holstica, preconizada pela psicloga francesa Monique-Thoening, em 1980. Assim, at mesmo devido a esta facilidade, o desenvolvimento da filosofia esprita uma realidade, apesar dos problemas que sero discutidos mais adiante. J no que diz respeito cincia esprita, a situao muito mais nebulosa. A despeito de Kardec encarar a doutrina esprita como uma cincia, e sujeita aos mesmos critrios de validao ento vigentes, a noo de cincia esprita tem sido usada, com grande freqncia, de duas maneiras distintas: Pelo movimento esprita oficial, como sendo uma antecipao de todas as grandes descobertas que sero, um dia, realizadas. De fato, muito comum ouvirse frases como: Mais cedo ou mais tarde, a cincia demonstrar que o espiritismo estava certo. Por aqueles que questionam o carter religioso, como sendo uma contra posio postura mstica que se observa em grande parte das organizaes que formam o movimento esprita oficial". Como se observa, o aspecto cientfico da doutrina esprita no questionado pelos espritas, apesar das razes diversas apresentadas pelos msticos e pelos no msticos. Apesar disto, o meio cientfico tem solenemente ignorado o espiritismo, remetendo-o, na melhor das hipteses, ao campo da metafsica. As teses espritas, mesmo sendo racionais e baseadas em pesquisas realizadas por luminares da histria das cincias, no encontram campo para desenvolverem-se nas academias. Em vista disto, ser que ainda podemos afirmar que o espiritismo uma cincia (mesmo se o encararmos como a cincia do futuro)? Quais so os pr-requisitos indispensveis

para que uma disciplina possa adquirir o estatuto de cincia? Quais os elementos comprobatrios da cientificidade do espiritismo? O que seria necessrio para que a doutrina esprita passasse a ocupar um lugar nas academias de cincias? Como seria a epistemologia do espiritismo? Tais so as questes que o presente trabalho se prope a discutir. Deve-se, no entanto, levar em considerao que tal discusso passa, necessariamente, por: Uma avaliao daquilo que hoje considerado como sendo cincia, e que, portanto, pode receber a chancela oficial das academias. Este um campo de debate que vem sendo muito abordado pela filosofia da cincia, cujas discusses, de cunho basicamente epistemolgico, so deveras complexas. O confronto dos postulados da cincia esprita com os paradigmas vigentes, os quais podem no ser adequados ao seu objeto de estudo. Talvez seja necessrio questionar estes paradigmas, e propor a criao de novos, o que tambm traz uma considervel carga de complexidade. A falta de uma discusso, no meio esprita, da questo metodolgica, sem a qual impossvel fazer cincia. A cincia esprita ressente-se muito da ausncia desta discusso, que deveria, dada a abrangncia do objeto de estudo, envolver vrios segmentos do meio esprita. Isto posto, considerando as dificuldades inerentes ao tema, prope-se que esta primeira apresentao tenha o carter no de uma tese ou mesmo uma monografia, mas de uma contribuio para debate, que dever ser posteriormente enriquecida.

2- O ESTATUTO DE ClENTIFlCIDADE:
Este , provavelmente, o grande x da questo, e tambm a tema mais complexo a ser desenvolvido: quando algo pode ser considerado cientfico, porqu o pode e como? Para possibilitar esta discusso, vamos partir de algumas concepes que temos a respeito da cincia - ou seja, vamos delimitar os termos a serem empregados. Podem-se encontrar as seguintes concepes de cincia: 1. Conhecimento. 2. Saber que se adquire pela leitura e meditao; instruo, erudio, sabedoria. 3. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observao, a experincia dos fatos e um mtodo prprio: cincias histricas; cincias fsicas. 4. Soma de conhecimentos prticos que servem a um determinado fim: cincia da vida. 5. A soma dos conhecimentos humanos considerados em conjunto: os progressos da cincia em nossos dias. 6. Filosofia. Processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza, visando a dominao dela em seu prprio benefcio. [Atualmente este processo se configura na determinao segundo um mtodo e na expresso em linguagem matemtica de leis em que se podem ordenar os

fenmenos naturais, do que resulta a possibilidade de, com rigor, classific-Ios e control-los.] {Seguem-se as seguintes definies: cincia crist, cincia econmica, cincia infusa, cincias aplicadas, cincias econmicas, cincias exatas, cincias experimentais, cincias fsicas, cincias humanas, cincias morais, cincias naturais, cincias normativas, cincias ocultas, cincias sociais}1 Para Ernest Nagel, a cincia tem trs aspectos obrigatrios: Permitir um controle prtico da natureza, que desemboca na tecnologia e nos problemas ticos que dela advem. "(...) algo que se prope atingir conhecimento sistemtico e seguro, de sorte que seus resultados possam ser tomados como concluses certas a propsito de condies mais ou menos amplas e uniformes sob as quais ocorrem os vrios tipos de acontecimentos." Uma forma de conhecimento que parte de um mtodo de investigao " Aspecto .muitas vezes mal interpretado e sempre difcil de descrever com brevidade, mas que , talvez, seu trao mais permanente e garantia ltima do crdito que merecem as concluses da investigao cientfica." Para Nagel este mtodo" a lgica geral, tcita ou explicitamente empregada para apreciar os mritos de uma pesquisa. "2

Diviso particular do conhecimento, especialmente uma que trabalha com um conjunto de fatos ou verdades sistematicamente arranjadas, e mostrando a operacionalizao de leis gerais.3 Resumindo, tais definies enfatizam os seguintes pontos, no que tange ao conceito de cincia: Conjunto organizado de conhecimentos, isto , o saber estruturado de forma a pertencer a uma comunidade. Conhecimentos obtidos atravs da observao, da experincia dos fatos e de um mtodo prprio, o que descredencia o saber obtido fora destes critrios do estatuto de "cientfico". Cincia como meio de dominao da natureza, isto , a possibilidade da predio: "cincia, logo previso, logo ao", como dizia Comte. A obteno da verdade, a partir da descoberta de leis, equivalendo a reputar como verdadeiro somente o saber adquirido desta forma. H uma explicao histrica para que a cincia seja, at hoje, vista desta maneira. De fato, apesar de o problema do conhecimento existir no homem desde os primrdios da civilizao, as motivaes e os mtodos que levam ao conhecimento so inerentes poca em que se deram.

O incio da jornada do conhecer humano marcado por uma forma mtica de pensar. O mito a primeira forma de descrio do universo, cujos principais expoentes foram Hesodo e Homero. Na descrio mtica (canto), os fenmenos naturais so frutos das aes dos deuses, num momento de paixo (pathos). O objetivo do canto (evocao) realizar este pathos, atravs das caractersticas prprias de cada deus. A este dizer mtico contrape-se o estudo racional (logos) do universo, que teve incio no sculo VI a.C. com Thales de Mileto. Entretanto, esta contraposio se faz no tanto no sentido da essncia dos pensamentos, mas principalmente, no mtodo4 de estudo empregado. Ainda assim, a. grande novidade desta forma de descrever o universo (que, de resto, era o objetivo ltimo de toda a filosofia pr-socrtica), o desejo de encontrar a arch, ou seja, a substncia primordial e fundamental que constituiria o universo, da qual todas as demais seriam derivadas. , porm, com Scrates (Sc. V a. C.) e com seu discpulo Plato que o homem volta-se para dentro de si. A mudana de foco que se faz ento, deixando de priorizar o objeto cognoscvel para focar o sujeito cognoscente (e , ento, que se delineia o humanismo socrtico), uma verdadeira revoluo epistemolgica, a ponto de s ser inteiramente compreendida sculos mais tarde. A partir da filosofia de Scrates, e sua busca incansvel pela definio precisa dos termos (conceito), Plato cria o idealismo. A proposta que o homem traz consigo, de forma inata, uma representao do mundo verdadeiro, o Mundo das Idias, da qual nosso mundo sensrio no mais que simples corruptela (este Mundo a fonte das idias inatas que os homens apresentam sem que nada Ihes tivesse sido ensinado). Outra revoluo feita com um discpulo de Plato, Aristteles. Diferentemente do mestre, Aristteles no aceitava a tese das idias inatas, considerando que o homem nascia absolutamente ignorante (o homem uma tabula rasa), vindo a aprender e aprender o mundo atravs dos sentidos: "Nada existe no intelecto que no tenha passado" antes pelos sentidos". Pode-se dizer que Aristteles o primeiro cientista, no sentido moderno do termo: com sua lgica (a qual estuda no o processo - o como - a inteligncia chega aos conseqentes, mas, sim, a correo - a validade - do processo uma vez terminado) ele delimita o conhecimento e suas possibilidades metdicas. Estes dois pontos de vista dissonantes, tanto do ponto de vista do mtodo como do principio do conhecimento (o idealismo I racionalismo de um lado e o empirismo I realismo de outro), tiveram (e a rigor ainda tm) profunda influncia em toda a histria da filosofia. Na verdade, o primeiro pensador a ocupar-se destas questes sob um prisma diverso Descartes (1596 - 1650), no sculo XVII. claro que estas questes esto mais afeitas filosofia, tendo ficado por longo tempo afastada das academias de cincia. Os cientistas somente agora, ao final do sculo XX, que esto se dando conta da importncia capital desta discusso.5

Mesmo assim, estas questes eram parte integrante (talvez mesmo o principal fundamento) das teorias dos precursores do mtodo cientfico at hoje vigente. Vemos que foi a partir deste debate que Bacon6, logo complementado por locke7, define o mtodo emprico como base fundamental da investigao cientfica, e formula o raciocnio indutivo, cujo mtodo parte de um ou mais dados conhecidos para se chegar a uma concluso cientfica (neste conceito, j se percebe um caminho que levar fatalmente experimentao). Mas no se pode esquecer que a principal fonte motivadora desta postura a oposio s teses de Aristteles que, atravs da filosofia tomista (numa tentativa de conciliar a f e a razo), dominou o cenrio intelectual durante toda a idade mdia. Descartes ocupou-se com outra questo, Preocupado em analisar nem tanto a verdade a ser obtida, mas o modo como se conhece, ele antepe a epistemologia ontologia, postura decididamente indita em toda a histria da filosofia, e estabelece como nico mtodo possvel a dvida (princpio da dvida metdica). A partir dai. postula a existncia de uma coisa pensante, que seria o prprio eu,Penso, logo existo", Eis definido o racionalismo, poderosa arma a contestar o dogmatismo ainda vigente na poca. A seguir, Descartes define seu mtodo, que parte da intuio, utiliza a clareza e a distino como regras do conhecimento e emprega a decomposio analtica do objeto em seus componentes bsicos. Apesar de toda esta carga racionalista, que fundamental para a construo do modelo mecanicista do mundo, Descartes usa um conceito metafsico (Deus) para validar o seu mtodo. A introduo deste elemento metafsico faz com que ele postule tambm o dualismo, separando o corpo (res extensa) da alma (res cogitans). A formulao filosfica do moderno mtodo cientfico estava completa. O arremate viria com as descobertas das leis do mundo fsico, realizadas e consolidadas, principalmente, por Galileu e Newton. Galileu Galilei (1564 - 1642), fsico, astrnomo e matemtico italiano, "foi quem primeiro utilizou a combinao de raciocnio terico, observao experimental e rigorosa linguagem matemtica, que at hoje caracteriza essa cincia bsica.8 Estabelece as principais leis do movimento, criando o ramo da cinemtica (e a conseqente relatividade galileana), as leis da queda e, atravs da observao astronmica, validou a teoria heliocntrica. Teve muita Influncia sobre as idias de Descartes. Isaac Newton (1642 - 1727) matemtico, fsico, astrnomo e telogo ingls, no dizer de Isaac Asimov, o maior cientista que j viveu. Criador da mecnica clssica, da fsica dos fenmenos celestes, das leis da dinmica (as famosas leis de Newton), de parte da hidrodinmica, da tica (principalmente a reflexo e refrao da luz), do clculo infinitesimal, das leis da gravitao universal, e da teoria sobre a natureza corpuscular da luz. Em sua maior obra, Princpios matemticos da filosofia natural, Newton define o seu mtodo de investigao, inteiramente experimental, baseado na descrio matemtica para se chegar avaliao crtica dos fenmenos. "Graas a Newton, estabeleceu-se de

forma refinada e precisa a viso do mundo como tKi1I espetacular e perfeita mquina, movida por leis determinadas, em ltima instncia, por seu Divino Criador.9 O modelo mecanicista do universo, base do mtodo cientfico ainda hoje vigente, completa-se no sculo XIX, com Auguste Comte (1798 - 1857), filsofo francs. Comte delineia os princpios bsicos da cincia, atravs de uma hierarquizao das disciplinas conhecidas e da formulao de um sistema que , ao mesmo mecanicista (encara o universo como uma mquina), reducionista (o objetivo da cincia reduz-se ao fato positivo, observvel) e determinista (busca estabelecer relaes causais constantes e necessrias entre os fenmenos). o positivismo, cujas bases ainda hoje so vlidas nos meios acadmico e cientfico. Assim, podemos definir os princpios do moderno mtodo cientfico: A experimentao, atravs da qual se pode comprovar ou no a teoria, e que permite a repetio por qualquer cientista convenientemente aparelhado. A universalidade, isto , a confirmao dos experimentos em diversos locais por diversos cientistas. O critrio de falseabilidade, que permite que uma teoria possa ser falsevel, para que possa, tambm, ser convenientemente demonstrada. A quantificao, que permite uma delimitao precisa do "at onde." podemos considerar vlida a teoria. A partir da definio do princpio da incerteza, esta quantificao passou a incluir, necessariamente, critrios estatsticos.

A evoluo do conhecimento, a qual se realizou com uma diretriz cientfica em direo ao modelo mecanicista, foi despojando o homem de sua condio central no universo, e relegando-o a nada mais que uma mquina. Segundo Kart Jaspers, houve, no decorrer desta evoluo, trs verdadeiras revolues cientficas que levaram a isto: A primeira, de cunho cosmolgico, foi a aceitao do heliocentrismo em detrimento do geocentrismo. (Sc. XVII). A segunda, de cunho biolgico, foi a descoberta da evoluo darwiniana. A terceira, de cunho psicolgico, deu-se com as pesquisas de Wundt, que culminaram com a teoria behaviorista.

No entanto, eis que o final do sculo XIX e incio do XX trouxeram uma total inverso dos valores positivistas, notadamente na fsica. "Duas descobertas no campo da fsica, culminando na teoria da relatividade e na teoria quntica, pulverizaram todos os principais conceitos da viso de mundo cartesiana e da mecnica newtoniana. A noo de espao e tempo absolutos, as partculas slidas elementares, a substncia material fundamental, a natureza estritamente causal dos fenmenos fsicos e a descrio objetiva da natureza -

nenhum destes conceitos pde ser estendido aos novos domnios que a fsica agora penetrava."10 Alm das novidades no campo puramente fsico, duas das descobertas causaram (ou ao menos seriam capazes de causar) uma revoluo das mais srias no seio da Teoria do Conhecimento e no mtodo cientfico: A primeira delas o Princpio da Incerteza de Heisenberg. Descrito fisicamente como a impossibilidade de podermos determinar ao mesmo tempo a posio e a velocidade de uma partcula subatmica, sua influncia na base filosfica da cincia derrubar a raiz determinista do positivismo. A partir desta descoberta, foi necessrio reavaliar toda a relao de causalidade, bem como admitir que uma mesma causa pode redundar em diferentes efeitos. Foi tambm necessrio passar a avaliar a interferncia do acaso, (a-caso, sem causa determinada ou conhecida) nos fenmenos naturais. A outra descoberta, realizada por Luis DeBroglie, a dualidade Partcula: Onda, isto , a capacidade que determinadas unidades subatmicas tm de se apresentarem ora como partcula, ora como onda, dependendo, a rigor, do tipo de experimento (ou, em linguagem mais potica, do modo como o cientista realiza a pergunta). "A dualidade partcula - onda, que as unidades subatmicas exibem, faz desabar solenemente o princpio da no contradio da lgica formal, que se encontra na base do raciocnio clssico. A A, e tambm A no-A!".11 Apesar disso, incrivelmente, tais descobertas no foram bastante fortes para causarem uma ruptura do paradigma ento (e ainda) vigente. Entretanto, as prprias cincias da natureza, hoje, pouco se apiam neste paradigma e, mais que isto, apelam para o conhecimento intuitivo do homem para compreend-Ia: "A resoluo, do paradoxo partcula I onda forou os fsicos a aceitarem um aspecto da realidade que contestava o prprio fundamento da viso mecanicista de mundo - o conceito de realidade da matria. Em nvel subatmico, a matria no existe com certeza em lugares definidos; em vez disso, mostra" tendncias para existir", e os eventos atmico no ocorrem com certeza em tempos definidos e de maneiras definidas, mas antes mostram" tendncias para ocorrer". No formalismo da mecnica quntica, essas tendncias so expressas como probabilidades e esto associadas a quantidades que assumem a forma de ondas; so semelhantes s formas matemticas usadas para descrever, digamos, uma corda de violo em vibrao, ou uma onda sonora. assim que as partculas podem ser, ao mesmo tempo, ondas. No so ondas tridimensionais reais, como as ondas da gua ou as ondas sonoras. So" onda.s de probabilidade" quantidades matemticas abstratas com todas as propriedades caractersticas de ondas que esto relacionadas com as probabilidades de se encontrarem as partculas em determinados pontos do espao e em momentos determinados. Todas as leis da fsica

atmica se expressam em termos destas probabilidades. Nunca podemos predizer com certeza um evento atmico: apenas podemos prever a possibilidade de sua ocorrncia".12 O efeito que estas descobertas teve pode ser comparado ao de uma bomba na mente dos cientistas. Mais de um deles (mesmo nomes imortais, como Einstein, Heisenberg, Bohr) afirmaram em diversas ocasies que no estavam preparados para absorver todo o impacto destas novas concepes (apesar de eles mesmos serem seus criadores). E isto levou diretamente s profundas discusses epistemolgicas do fim do sculo (Popper, Khn, Schlick, Camap) e formao de um paradigma que pudesse dar conta destas novas questes: um Paradigma holstico.13 Se, por um lado, dentro das prprias cincias de investigao da natureza j se levantam dvidas sobre a validade do modelo cientfico vigente, a coisa se toma muito mais grave nas cincias ditas humanas.14 Michel Foucault15, por exemplo, acha inteiramente desnecessrio considerar as cincias humanas como falsas cincias, uma vez que elas no so, em absoluto, cincias. Nada tm a ver com aquilo que pode ser denominado cincia. A configurao daquilo que define a positividade daquilo que hoje chamamos de "cincias humanas", e que as enraza na episteme moderna coloca-as fora do estatuto de cientificidade. Os motivos que levam Foulcault a dizer isto baseiam-se, principalmente, na teoria que sua "arqueologia do saber" o conduziu a formular sobre as cincias humanas e no prprio conceito de homem. Para Foucault, "O homem uma inveno cuja data recente a arqueologia de nosso pensamento mostra facilmente. E talvez o fim prximo.16 A crtica pode parecer muito dura, mas, no deixa de ter uma razo muito profunda. As cincias humanas, visando talvez garantir, a qualquer preo, o direito de ocupar uma cadeira nas academias, fundamentaram-se no positivismo tanto ou mais que as cincias exatas. Falando dos temas gerais da cientificidade das cincias humanas, Japiassu define: "O primeiro tema consiste na preocupao sempre constante de uma referncia emprica na base de toda a elaborao do conhecimento; o segundo diz respeito ao esforo intelectual para extrair formas ordenadoras do conhecimento e de constituio dos objetos de pensamento: esquematismo, formalismo, etc.; o terceiro concerne busca de modelos explicativos, operatrios e preditivos permitindo ao pensamento no somente a leitura inteligente dos dados, mas tambm uma manipulao da realidade que ela aborda; o quarto, enfim, refere-se ao uso do clculo e da quantificao.17 Em base ao quanto foi exposto, acreditamos que o nico caminho vivel para que as cincias humanas possam continuar a pretender manterem-se cincias uma mudana de vrtice, com a assuno de um novo paradigma. E considerando que a cincia esprita pode perfeitamente encaixar-se no mbito das cincias humanas que postulamos a necessidade de um novo paradigma para ela. Na realidade, sob um certo ponto de vista, o prprio desenvolvimento do espiritismo justifica esta mudana.

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3- O ESPIRITISMO:
Historicamente, o espiritismo j surge aspirando o estatuto de cientfico. Seu codificador, Allan Kardec,o define como: O Espiritismo uma cincia que trata da natureza, da origem e da destinao dos Espritos, e das suas relaes com o mundo corporal.18 Kardec, um cientista imerso no meio cultural de sua poca, considerava que o espiritismo deveria seguir uma linha cientfica positivista. Mais de uma vez ele afirmou que o espiritismo no se baseia seno nos fatos observveis, que so a base do mtodo cientfico ento (e ainda hoje) vigente. Entretanto, o prprio Kardec cai na tentao de considerar a doutrina esprita como uma cincia para o futuro (apesar de no ter permanecido sentado, esperando-o). Talvez tenha sido esta postura do codificador que gerou a inrcia em que vive hoje o movimento esprita: "As corporaes cientficas no tm, e no tero jamais, que se pronunciar sobre a questo (da doutrina esprita - N. do A.); ela no mais da sua alada que a de decretar se Deus existe, ou no. Portanto, um erro fazer delas juzes. O espiritismo uma questo de crena pessoal que no pode depender do voto de uma assemblia, porque esse voto, mesmo favorvel, no pode forar as convices. Quando a opinio pblica estiver formada a este respeito, os sbios como indivduos, a aceitaro, e suportaro a fora das coisas. Deixai passar uma gerao e, com ela, os preconceitos do amor prprio em que se obstina, e vereis que ocorrer com o espiritismo como ocorreu com tantas outras verdades que se combateu, e que agora seria ridculo po-Ias em dvida. Hoje so os crentes que se chama de loucos; amanh sero todos os que no creiam; da mesma forma como se chamou de loucos outrora, aqueles que criam que a Terra girava.19 Entretanto, esta postura de Kardec revela mais uma vez que ele adiantava-se ao seu tempo. De fato, a colocao acima, principalmente no que tange ao dogmatismo que se exprime na posio da maioria dos cientistas - sejam do sculo XIX ou do XX - e que Tho918S Khn chama de paradogmas (em contraposio aos paradigmas), vem sendo muito discutida pela filosofia da cincia. O espiritismo surge, em meados do sculo XIX, baseado em dois alicerces: A extensa fenomenologia medinica que se dissemina em diversos pases da Europa e tambm nos Estados Unidos da Amrica a partir do incio do mesmo sculo: Edward Irving, pastor protestante de uma igreja escocesa em Londres (1830); Andrew Jackson Davis, trabalhador braal nos distritos rurais de New York, (1844); a famlia Fox, em Hydesville, New York (1848); Mrs. Hayden, esposa de um jomalista da Nova Inglaterra (1852); Daniel Dunglas Home, em Currie, Edimburgo (1855); o fenmeno das mesas girantes, na Frana (a partir da dcada de 1840). Estes fenmenos, impressionantes no s pela sua abundncia, mas principalmente pela sua qualidade intrnseca (no do teor das comunicaes, mas em relao produo do fenmeno propriamente dito), formaram uma base na

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qual foi possvel o desenvolvimento do espiritismo sem as caractersticas de magia ou bruxaria que poderiam obstaculizar esse desenvolvimento. O desenvolvimento do magnetismo, cuja fenomenologia vinha sendo observada desde o sculo XV, mas que firmou-se definitivamente como campo de pesquisas entre o final do sculo XVIII e o incio do XIX, com Franz Anton Mesmer, o criador da teoria do magnetismo animal. Nesta teoria, Mesmer "(...) aplica o princpio Newtoniano da atrao universal idia do fluido universal, teorizando que este exerce sobre o corpo efeitos anlogos ao do m, devido presena, nos nervos, de um fluido eletromagntico (...)20. Kardec era um adepto das teses do magnetismo, a ponto de ter aceito, inicialmente, o fenmeno das mesas girantes como sendo promovido por ao magntica. A partir destas bases, e da grande elaborao terica formulada por Allan Kardec sobre as respostas dos espritos a questes que ele mesmo preparara, surge o espiritismo sob a forma de um corpo de doutrina, ou antes, de uma filosofia espiritualista, que como o espiritismo apresentado no Livro dos Espritos, porm como j dissemos, com pretenses de cientificidade. Esta postura, cabal em Kardec, que a explicita em mais de um texto em toda a sua obra, foi fortemente deturpada pelos que vieram aps, notadamente no Brasil, onde adquiriu uma conotao religiosa, concorrendo com religies tradicionais, como as diversas denominaes evanglicas (e mesmo setores da igreja catlica), e com os sincretismos religiosos afro-brasileiros pela aquisio de adeptos, quase prometendo a salvao. interessante notar que os princpios bsicos que aliceram a doutrina esprita (existncia de Deus, existncia e imortalidade do esprito, evoluo infinita, reencarnao, pluralidade de mundos habitados e comunicabilidade com os desencarnados) no foram trazidas a lume pelo espiritismo. Todos estes princpios j haviam sido expressos por doutrinas, religies e/ou filosofias anteriores a ele, tanto do oriente quanto do ocidente. O grande mrito da doutrina esprita foi unir todas estas idias num todo indivisvel, integrando-as entre si de modo a formarem uma viso de mundo nica, na qual alguns pontos de vista muito particulares acabam destacando-se: A possibilidade de admitir a existncia do esprito como princpio inteligente do universo, dissociado, em essncia, forma e manifestao, da matria, sem que esta existncia necessite ser admitida unicamente pela f. A realidade dos espritos , se no um fato cientificamente comprovado pela cincia "oficial", ao menos uma tese suficientemente aceitvel, uma vez que" (...) nem a razo nem a conscincia a repelem.21 A individualizao definitiva deste princpio em seres incorpreos, os quais so responsveis pelas atividades intelectuais dos homens, sendo imortais e permanecendo eternamente individualizados.

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O progresso inexorvel como lei da natureza, qual esto submetidos todos os seres, mas que no concedido sob a forma de graa, devendo ser conquistado com o esforo do prprio ser. A idia de reencarnao no como punio ou expiao dos erros cometidos, mas como possibilidade de aprendizado do esprito num contato ntimo com a matria, e, portanto, como necessidade absoluta para sua prpria evoluo e para a concretizao da lei de progresso. O livre-arbtrio como patrimnio inalienvel do homem, o qual pode decidir livremente aquilo que deseja para sua vida e seu futuro. porm sabendo que cada deciso provoca efeitos diretos, com base no princpio de ao e reao, e que, portanto, o homem o nico responsvel pelos resultados de suas aes. A partir destes pontos, os quais so, esses sim, absolutamente novos na histria da humanidade, a doutrina esprita pode desenvolver-se de modo amplo. Se tivssemos que localiz-Ia entre as diversas filosofias, poderamos faz-Io colocando-a entre as idias radicais de. crena absoluta (misticismo) e no-crena absoluta (materialismo) e tambm como precursora das tentativas modernas no sentido de uma teoria holstica sobre o universo: O espiritismo uma proposta equilibrada entre os extremismos msticos e materialistas. Ele os supera dialeticamente, transcendendo-os, buscando a sntese. Como tal, prope uma viso dinmica do processo da vida, sem, contudo, apresentar um quadro acabado, final. Ao contrrio. Coloca como definitivo apenas princpios bsicos, permitindo que o pensamento e a pesquisa se ampliem, atravs do tempo, conforme a cincia e o conhecimento cresam. Isto , o espiritismo no se aventura a formular hipteses desvinculadas das possibilidades do entendimento humano porque isso s serve para manter o homem ignorante, confuso, exigindo dele uma crena irracional.22 Tudo isto faz com que possamos, sem cair no risco de uma segmentao exagerada do espiritismo, identificar dois aspectos pelos quais ele se apresenta: O Espiritismo enquanto doutrina moral: do ponto de vista esprita, do mesmo modo que h um dualismo no universo, representado pelos princpios material e espiritual, h um conjunto de leis especficas para cada um deles. A matria governada pelas leis fsicas, as quais esto sendo continuamente descobertas pelas cincias de investiga o da natureza (as quais no so da competncia especfica do espiritismo),23 enquanto que o esprito deve ser governado por leis morais. Rara o espiritismo, moral a capacidade de distinguir o bem do mal, e, portanto a adequao s leis divinas, ou naturais, as quais Kardec exps, didaticamente, no livro III de O Livro dos Espritos. Uma diferena entre o conceito de moral conforme entendido pela sociologia e aquele defendido pelo espiritismo que, uma vez que o espiritismo concebe as leis divinas como eternas, a moral, para ele, absoluta, assim como os conceitos de bem e mal. A relativizao da moral pelo homem, para ser utilizada como base aos sistemas legais

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que regem as sociedades que provocam as distores, as quais vo sendo corrigidas com a evoluo. Isto posto, vemos que o espiritismo pode ser considerado como uma doutrina moral, na medida em que fornece ao homem noes sobre as leis que o regem, enquanto esprito imortal. Ao mesmo tempo, uma doutrina fortemente consoladora, uma vez que coloca nas mos do ser humano os instrumentos (mas tambm a responsabilidade) para sua prpria evoluo, postulando que o futuro ser aquilo que dele fizermos. Talvez por isto que o prprio Kardec assumiu, para o espiritismo, o papel do Consolado r citado por Jesus na bblia24 (ainda que sem o contedo de fatalismo presente na maioria das religies): " Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo com que o homem saiba donde vem, para onde vai, e por que est na Terra; atrai para os verdadeiros princpios da lei de Deus e consola pela f e pela esperana."25 O espiritismo enquanto filosofia: o surgimento da filosofia no mundo d-se a partir do desejo do ser humano em explicar o universo que o cerca, e as relaes entre ele, ser humano, e este universo. Apesar de surgir como contraposio metdica ao dizer mtico (ver p. 4), a filosofia no exclusivamente racional: "Quando se d a passagem da conscincia mtica para a racional, aparecem os primeiros sbios, sophos (...). Um deles, Pitgoras (sc VI a.C.) que tambm era matemtico, usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos + sophia), que significa 'amor sabedoria'. bom observar que a prpria etimologia mostra que a filosofia no puro Iogos, pura razo: ela a procura amorosa da verdade.26. nesta nsia de saber, muitas vezes intuitivo, que o homem cria os sistemas. e escolas filosficas. Na medida em que o espiritismo procura tambm explicar o universo e mostrar as relaes entre o esprito e a matria, ele uma filosofia. No dizer de Herculano Pires, um dos maiores filsofos espritas, "A Filosofia Esprita sintetiza em sua ampla e dinmica conceituao todas as conquistas reais da tradio filosfica, ao mesmo tempo que inicia o novo ciclo dialtico da nova civilizao em perspectiva. 27 E como filosofia que o espiritismo se destaca, uma vez que traz, atravs de uma cosmoviso diferenciada - porque livre dos preconceitos que embotam a viso do homem - respostas lgicas a questes at ento insolveis ou relegadas ao campo da f. Herculano Pires postula a existncia de uma ontologia, um existencialismo e uma sociologia espritas, formando um corpo filosfico nico e complexo. Desta forma, no h como negar a existncia, muito bem definida e delimitada, da filosofia esprita. Ela se faz a despeito dos prprios espritas. os quais preferem encarar a doutrina esprita apenas como doutrina moral (e muitas vezes religiosa ou dogmtica) a ter de exercitar seu pensamento na filosofia. J vimos que o espiritismo uma doutrina moral e uma filosofia. Mas. poder ele ser considerado uma cincia? E, se puder, quais as suas bases necessrias?

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4- UMA DISCUSSO SOBRE A CINCIA ESPRITA:


Allan Kardec considerava o espiritismo como uma cincia, e mais, como uma cincia positiva: , pois, resultado da observao, numa palavra. uma cincia; a cincia das relaes entre os mundos visvel e invisvel; cincia ainda imperfeita. mas que diariamente se completa por novos estudos e que. tende certeza. tomar posio ao lado das cincias positivas. Digo Positivas, porque toda cincia que repousa sobre fatos uma cincia positiva, e no puramente especulativa.28 No podemos esquecer-nos que tais consideraes so perfeitamente concordantes com os princpios e a formao de Kardec. Sendo ele um homem de cultura, criado no meio positivista do sculo passado, no admitia como vlido seno aquele conhecimento que proviesse de uma fonte de fatos confiveis, e que pudessem ser corroborados racionalmente. Assim que somente interessa-se pelos fatos espritas quando, presente a uma reunio de mesas girantes, sua inteligncia posta a prova para explicar, a si mesmo, o fenmeno observado; e a partir de ento comea a pesquisar. acabando por formular o espiritismo. Outra considerao que se faz necessria que a poca em que o espiritismo surgiu foi marcada pela desmistificao de alguns conceitos, principalmente na biologia, que levaram o homem a relegar toda a metafsica ao campo da religio e, portanto, indigna de ser objeto por parte das cincias. A sntese da uria em laboratrio, em 1831, um golpe mortal na teoria do vitalismo, reforando a concepo mecanicista da vida. Estavam em curso as experincias que levariam destruio do conceito de gerao espontnea. O esprito da poca era o da necessidade da experimentao como base fundamental do processo cientfico. O pensar da cincia esprita como uma cincia positiva levava necessidade do estabelecimento de dois aspectos fundamentais que pudessem alicerar o seu florescimento: o objeto de pesquisa e seu mtodo. Kardec no se furtou a estabelece-los. e o fez segundo critrios bem definidos: O objeto de estudo - Quanto a isto, parece-nos no haver o menor problema. O prprio Kardec, ao definir os limites da cincia esprita, delimita o objeto: o esprito, no que diz respeito sua natureza, origem e destinao, e as relaes este esprito (aqui compreendido como princpio inteligente, e, portanto, distinto da matria, que no-inteligente) com o mundo corporal. Note-se que esta delimitao coloca como objeto da cincia esprita uma gama muito larga de teorias, fenmenos e entes, tais como: o ser inteligente e tudo aquilo que lhe diz respeito (e, portanto, englobando aqui todas as assim chamadas cincias humanas), os modos de relao entre este ser inteligente com o mundo que o cerca (abarcando, ento. os fenmenos produzidos devido a esta interao. a saber, no somente os fenmenos medinicos e anmicos, mas tambm as partes das cincias fsicas nas quais o observador participante essencial do processo) e os fenmenos do mundo corporal que tm interferncia direta no ser inteligente (o que abrange tambm as chamadas cincias biolgicas). Bem entendido, no estamos defendendo a criao de uma fsica esprita. de uma

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biologia ou medicina esprita, de uma psicologia esprita; afirmamos apenas que o espiritismo tem algo a dizer em conjunto com todas estas disciplinas. O mtodo da pesquisa - Para que uma cincia possa aspirar este ttulo. absolutamente necessria a definio do mtodo, isto , o modo pelo qual se espera atingir os resultados da pesquisa. Ao mesmo tempo, tambm imprescindvel que se delimite os critrios de validao, em base as quais sero verificados os mesmos resultados, visando comprov-Ios ou neg-Ios. Tanto os mtodos quanto os critrios de validao da cincia "oficial" j foram expostos no item 2. O que pretendemos discutir aqui exatamente este tema no que tange cincia esprita. Kardec tambm no se negou a efetivar esta definio. Uma vez que os critrios tradicionais de validao no eram aplicveis nova doutrina que se criava, ele estabeleceu seus prprios critrios, sem, contudo deixar de empregar a idia bsica vigente, a de experimentao contnua e diversificada de todas as possibilidades. No dizer de Herculano, Kardec no se perdeu, como Wundt29, Weber30 e Fechner31, no sensvel das pesquisas epidrmicas do limiar das sensaes. Percebeu logo que os mtodos no podiam ser aplicados a fenmenos extrafsicos e estabeleceu o princpio da adequao do mtodo ao objeto.32 Para tanto, Kardec estabelece que as pesquisas espritas s teriam validade se fossem baseadas na experimentao medinica (isto , os dados da pesquisa deveriam ser obtidos por meio de discusso direta dos temas com os desencarnados, atravs de mdiuns), ou seja, ele define a mediunidade como mtodo da pesquisa esprita. Para validar este mtodo, postula que os resultados assim obtidos s seriam considerados verdadeiros se fossem igualmente recebidos por vrios experimentadores, atravs de diferentes mdiuns em diferentes partes do mundo (critrio de universalidade do ensino dos espritos). Paralelamente, o codificador emprega o crivo da razo (critrio da racionalidade das comunicaes espritas) como validador complementar: Os Espritos so o que so e ns no podemos alterar a ordem das coisas. Como nem todos so perfeitos, no aceitamos suas palavras seno com reservas e jamais com a credulidade das crianas. Julgamos, comparamos, tiramos concluses do que observamos e os seus prprios erros constituem ensinamentos para ns, uma vez que no renunciamos ao nosso discernimento.33 No h dvida que, ao tentar resolver este problema, Kardec realizava um pensar metodol6gico sobre a doutrina que estava criando. Ainda assim, parece-nos que ele prprio percebeu a dificuldade que enfrentava, de fazer a cincia esprita aceita universalmente, como demonstra no seguinte texto: Talvez nos contestem a denominao de cincia, que damos ao espiritismo. Ele no teria, sem dvida e em nenhum caso, as caractersticas de uma cincia exata, e precisamente nisso est o erro dos que pretendem julgar e experimentar como uma anlise qumica ou um problema de matemtica; j bastante que seja uma cincia filosfica. Toda cincia deve basear-se em fatos; mas estes, por si ss, no constituem a cincia; ela nasce da coordenao e da deduo lgica dos fatos: o conjunto das leis que os regem. Chegou o espiritismo ao estado de cincia? Se se trata de uma cincia acabada, sem dvida ser prematuro

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responder afirmativamente; mas as observaes j so hoje bastante numerosas para permitir pelo menos deduzir os princpios gerais, onde comea a cincia.34 A nosso ver, o grande problema da cincia esprita reside no fato de ela no ter sabido transformar a novssima cosmoviso trazida pela filosofia esprita, a qual se fundamenta nos pontos bsicos que nos referimos acima (p. 10) num paradigma verdadeiramente cientfico que pudesse embas-Ia e s suas descobertas. No possuindo este paradigma, ou ao menos a sua proposta, a cincia esprita, por tratar de temas que so verdadeiros traumas para os cientistas, que os encaram como mera superstio, no consegue penetrao suficiente na cultura para que possa vir a ter influncia nas academias. Ao mesmo tempo, outro problema se apresenta. Para que a medi unidade possa ser empregada convenientemente como mtodo de pesquisa, necessrio que saiba enfrentar as teorias alternativas, hoje existentes, que se propem a explicar o fenmeno medinico sem a participao dos espritos desencarnados. Os critrios de universalidade e racionalidade postulados por Kardec, se apresentam vlidos para uma crtica do contedo das comunicaes, e conseqentemente da identidade do esprito comunicante, partem do princpio da veracidade do fato medinico e da possibilidade da imortalidade da alma, elementos ainda no demonstrados de maneira cabal. Assim sendo, guisa de concluso, podemos afirmar que absolutamente necessrio que a cincia esprita no s defina um novo paradigma, que poder sem problemas ser chamado de um paradigma esprita, mas que faa-o aceito nas academias de cincias. Para a definio deste paradigma, ser necessria uma ampla discusso entre os setores culturalmente mais avanados dos diversos movimentos espritas existentes, uma vez que muito improvvel que ele possa surgir de um insight pessoal. No podemos esquecer, contudo, que j temos, na filosofia esprita, a base necessria para a criao deste novo paradigma, uma base to distinta de tudo o que ainda hoje existe que sua aceitao seria, para usar a terminologia de Khn, uma ruptura revolucionria no-cumulativa, ou seja, uma verdadeira revoluo cientfica. Ao mesmo tempo, necessrio que a cincia esprita crie, a partir deste paradigma, novos mtodos de pesquisa e critrios de validao que possam ser facilmente e convenientemente empregados por todos os cientistas espritas. Isto serviria para que a cincia esprita pudesse consolidar-se, e assim demonstrar cabalmente seus princpios bsicos. claro que se pode argumentar que a prpria cincia "oficial" tem, tambm, seus problemas metodolgicos, e que o paradigma sobre a qual ela se baseia repousa em princpios bastante frgeis. Tal argumentao correta. Entretanto, s conseguiremos mudar um ponto de vista falho se tivermos outro para substitu-Io, alm de fora de vontade e conhecimentos suficientes para impo-Io. Se ns, cientistas espritas ficarmos parado aguardando que o desenvolvimento cientfico eIou cultural comprove nossas prprias teses, perderemos o trem da histria e correremos o risco de sermos engolidos pela prpria evoluo intelectual que tanto desejamos.

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REFERNCIAS
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Aurlio BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Novo dicionrio da lngua portuguesa. Ernest NAGEL, Filosofia da Cincia. New Webster's Dictionary of lhe English Language (traduo livre) Etimologicamente, a palavra mtodo (do grego meta + hods) significa percorrer um caminho" ou seja, como chegar ao fim desejado a partir do estado atual. J metodologia (meta + hods + logos) a problematizao do mtodo, perguntar-se se h um caminho a ser percorrido, e como ele pode s-Io. Esta diferena etimolgica leva-nos a concluir que, apesar de haver problemas de mtodo na cincia esprita, h, principalmente, uma quase que total ausncia de metodologia. Trataremos mais profundamente desta questo futuramente, durante a reviso deste texto. Uma outra discusso, a qual no cabe neste trabalho, mas que tambm fundamental num questionamento sobre o conhecimento, refere-se existncia de uma Verdade absoluta, independente do ser humano, pr existente e eterna, e da possibilidade de o homem atingir esta Verdade. A alternativa a impossibilidade do conhecimento desta Verdade, mas somente de uma verdade relativa. Esta discusso sintetizada por Kant, com seus postulados de coisa-em-si (nmeno), inefvel, e coisa-em-ns (fenmeno), cognoscvel. Sir Francis Bacon (1561 - 1626), pensador ingls, baro de Verulan, escreveu o Novum Organon Scientiarum, bvia oposio ao Organon de Aristteles. John Locke (1632 - 1704), filsofo ingls, criador do empirismo cientfico, escreveu Ensaio sobre o entendimento humano, no qual procurava descrever uma teoria completa do conhecimento Roberto CREMA, Introduo viso holstica, p. 30. Ibidem, p.34 Fritjof CAPRA, O ponto de mutao, p. 69. Roberto CREMA, opus citatus, p. 41. Fritjof CAPRA, opus citatus, p. 75. A questo do paradigma holstico sobremaneira importante para a cincia esprita, uma vez que indica um caminho que ela mesma (cincia esprita) pode seguir em direo definio de seu prprio paradigma. Entretanto, devido profundidade exigida por esta questo, sua discusso ser deixada para a continuao deste trabalho. A denominao cincias humanas nos parece inadequada, e talvez seja inadequada mesmo a denominao anteriormente usada, cincias da natureza. Afinal, se uma cincia deve possuir mtodo e objeto, ambos incluem o homem (compreendido como "ser pensante") em seu trabalho. Uma possibilidade (mas talvez esta seja uma sugesto um tanto ousada!), seria o emprego, respectivamente, dos termos cincias do esprito e cincias da matria, coerentemente com a postura de Kardec. Michel FOUCAUL T, Les mots et les choses, cap. X (citado por Hilton JAPIASSU, Introduo epistemologia da psicologia, p.15). Ibidem, p. 16. Hilton JAPIASSU, opus citatus, p.19. Allan KARDEC, O que o espiritismo, p.10. Ibidem, p. 34. Reinaldo DI LUCIA, Passes: discusso e propostas, monografia apresentada no III Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita, 1993, p.2 Allan KARDEC, O livro dos mdiuns, p. 19. Jaci RGIS, Uma nova viso do homem e do mundo, p.2 Deve-se entender por "leis sendo descobertas continuamente" como pesquisas incessantes sobre os mecanismos que regem o universo fsico. Porm no se pode esquecer que, ultimamente, estas pesquisas tm levado a conceitos de organicidade (em oposio ao mecanicismo) e probabilidade (aceitao do acaso), os quais contrariam a viso positivista do universo, como j foi aqui relatado. Evangelho de Joo, cap. XIV, w. 15 a 17 e 26. Allan KARDEC, O evangelho segundo o espiritismo. p. 135. Maria L. de A. ARANHA e Maria H .P. MARTINS, Filosofando: Introduo filosofia. p. 72.

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J. Herculano PIRES. Introduo filosofia esprita, p.28. Allan KARDEC, Revista esprita. novembro 1964, p. 323. Wilhelm Wundt (1832 - 1920) considerado o criador e sistematizador da psicologia como cincia experimental, atravs de seu livro Manual de psicologia fisiolgica. Weber, fisilogo ingls, foi o realizador dos primeiros estudos sobre o tempo de reao psicomotora, uma das bases para o estabelecimento da psicologia experimental. Fechner, a partir das pesquisas de Weber, elabora uma srie de mtodos para a obteno de medidas quantitativas das sensaes, formulando a lei de Weber - Fechner: A intensidade da sensao aumenta por igual, quando a razo dos estmulos continua a ser igual, em todos os sentidos. J. Herculano PIRES, Cincia esprita, p. XV. Allan KARDEC, Revista esprita, julho de 1859, p. 195. Allan KARDEC, opus citatus, janeiro de 1858, p. 2.

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BIBLIOGRAFIA
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O PROCESSO DE MUDANAS DO ESPIRITISMO


Reinaldo Di Lucia

INTRODUO
Um dos principais problemas, seno o maior, com que o espiritismo defronta-se hoje a recusa por parte dos componentes do movimento esprita, seja no mbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessrias atualizaes na estrutura doutrinria, em seus aspectos cientfico e filosfico. Essa busca necessria na medida em que o espiritismo , como definiu o prprio Kardec, uma" cincia filosfica"1. Isso significa que a doutrina esprita baseia-se no somente em fatos experimentalmente verificveis, mas em conjunto de idias que apresentam estes fatos, coordenando-os em uma tese lgica que engloba todo o Universo. Em suma, o objetivo da doutrina esprita mostrar como o Universo constitudo, e, a partir da, propor uma modificao pessoal de cada esprito, para que estes passem a agir de acordo com a lei natural. Assim sendo, e considerando que os conhecimentos do homem sobre o universo vo crescendo de maneira paulatina, necessrio que o espiritismo esteja constantemente atualizando-se, o que significa dizer, repensando-se a cada novidade que a cincia ou o pensar humano descobrir. Esse repensar levar, fatal mente, a mudanas na estrutura ideolgica e organizacional do espiritismo. Tais mudanas foram previstas para a doutrina esprita pelo prprio Kardec, Ao discutir sobre o modo pelo qual o espiritismo vem a ser conhecido, e o que acontecer com ele no futuro, Kardec deixa claro que modificaes sero realizadas na medida que a verdade venha a ser conhecida com mais plenitude: O espiritismo, marchando com o progresso, jamais ser ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitar 2. Essa recusa em aceitar um processo de mudanas para a doutrina esprita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo prprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o espiritismo esteja afastando-se da posio de cincia ou de filosofia moral, com a qual ele prprio se define. Em fazendo isso, o movimento esprita acaba dando razo queles que vem no espiritismo no mais que uma seita mstica, desvinculada de qualquer processo racional, guiando-se apenas pela f cega. compreensvel que o processo de mudanas, sendo, sempre, traumtico, provoque certo receio, notadamente naquelas pessoas que ocupam posies de poder. Entretanto, o que est em jogo nada menos que a prpria sobrevivncia da doutrina esprita, que, incapaz de atuar como uma religio formal (o que, alis, no seu escopo), tambm no tem sido capaz de fazer-se ver pelo movimento de cultura como uma filosofia capaz de contribuir, com uma viso racional e otimista, para a felicidade do homem. Atualmente, em contraposio ao que acontecia poca em que o espiritismo foi criado, a elite cultural da humanidade no se preocupa com ele, aplicando aos fenmenos que lhe deram origem explicaes que desconsideram a possibilidade de sobrevivncia do esprito. E o meio esprita no tem sido capaz de impor suas idias, nem ao menos como hipteses de trabalho vlidas. O presente texto objetiva discutir os motivos que levam o espiritismo a esta posio de estagnao no aspecto cultural, que o tem feito sustentar posies em desacordo com o atual estgio do conhecimento humano. Salienta meios pelos quais a doutrina esprita pode retomar seu crescimento intelectual, a partir de discusses amplas a serem realizadas nos prprios centros espritas e de uma melhor preparao dos recursos humanos. Enfatiza tambm a necessidade de estimular a produo intelectual sobre espiritismo, e de participao do esprita nos meios acadmicos, de modo a tom-lo conhecido e respeitado.

1. A "QUESTO RELIGIOSA", AINDA UMA VEZ


Aquilo que estou chamando de "questo religiosa" refere-se, obviamente, discusso que j tem se tomado clssica: saber se o espiritismo ou no religio. A freqncia com que tal discusso tem acontecido no mbito do espiritismo to grande que j se tomou, h muito, cansativa e estril. Ento, por qu reativ-la? Fundamentalmente porque a maioria (seno a totalidade) das discusses que se efetuam sobre este tema raramente saem do campo pessoal, indo, quando muito, ao significado da palavra" religio" (e normalmente sem grandes pesquisas). No se atinge o domnio das idias, no se discute o que se quer dizer com " religio" ou "no religio", no se debate a verdadeira essncia do espiritismo. A discusso no prtica, e nem mesmo acadmica: somente facciosa. claro que existem bons textos sobre o assunto, mas, infelizmente, eles acabam passando despercebidos no mar das publicaes tendenciosas. E, mais prejudicial ainda, o descaso com a informao da comunidade esprita, que, sob o falso pretexto de "no polemizar inutilmente", cala sobre o assunto, esperando que ele morra por inanio. Mais do que uma simples discusso da existncia de um sentimento de religiosidade dentro da doutrina esprita, o fundo desta questo a postura do espiritismo perante o mundo cultural. E o grande motivo pelo qual a maioria das lideranas espritas no quer discuti-la de ordem poltica, e no conceitual. Tal como em qualquer grupo organizado, a luta pelo poder bastante significativa dentro do movimento esprita, apesar de, hipocritamente, se querer convencer as pessoas do contrrio. Mas, porqu importante discutir se o espiritismo ou no uma religio? Primeiramente porque h, claramente, uma distino entre o contedo etimolgico (sentido denotativo) e a conotao da palavra religio assumida pela maioria da populao brasileira. Em segundo lugar, porque a postura religiosa, tal como tem sido proposta, tem um carter cerceador sobre o crescimento do espiritismo enquanto filosofia. Finalmente, porque, sem resolvermos claramente esta questo, a meu ver relativamente simples, impossvel partirmos para uma discusso mais profunda da doutrina esprita. A definio etimolgica do termo, que normalmente o ponto mais importante a ser considerado numa discusso deste tipo, destitui-se de maior importncia no caso de religio. Seno, vejamos: no se pode definir com clareza a etimologia da palavra; d-se como mais provvel a referncia ao verbo legere, no caso, re-legere (trazer de novo mente, refletir)3. Entretanto, o timo mais comum, desde Lactncio, remete a ligare, re-ligare (religar, tomar a unir). Uma alternativa dada por Krishnamurti C. Dias, que liga religio a religionis (lao que une os membros de uma mesma crena).4 O problema com todas estas definies etimolgicas que elas indicam conceitos distintos. A primeira refere-se a um refletir sobre a natureza, e eventualmente possui conotao metafsica ou mesmo teolgica. A segunda liga-se claramente a uma posio poltica, impondo um liame para a unio do homem com a divindade (representado pelas estruturas igrejeiras hierarquizadas que estamos acostumados a ver). Na terceira, temos uma representao prtica, simblica, da comunho de idias que formam as diversas escolas de pensamento humano. Como no se pode dar absoluta preferncia a qualquer uma delas, que tenha um mnimo de comprovao histrica, assentar a discusso sobre este tema em bases puramente etimolgicas conduz quase que necessariamente ao campo minado das opinies, alm de no levar em considerao o que se entende atualmente pela palavra religio. Este, na verdade, o grande x da questo. Segundo o dicionrio, religio : 1. Crena numa fora ou foras sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do Universo, e que como tal devem ser adorada(s) e obedecida(s). 2. A manifestao de tal crena por meio de doutrina e ritual prprios, que envolvem, em geral, preceitos ticos. (...)"5. Ora, esta definio representa muito bem o sentido conotativo que tem a palavra religio, ao menos no Brasil: o de uma doutrina indissoluvelmente ligada a cultos, rituais, dogmas, etc. para defender uma postura de dona de verdades incontestveis. Independe

de qual Deus est em jogo, ou dos meios que sero usados para reverenci-la: as formas de adorao exteriores so as marcas mais fortes da idia comum de religio. Este no o caso da doutrina esprita. Ela, que nasceu em meio a um florescimento cultural, que lutou bravamente contra radicalismos materialistas espiritualistas, no possui nem pretende possuir verdades incontestveis. Sua grande busca a de uma idia que fornea uma explicao do Universo que inclua o homem, em seus mltiplos aspectos e que leve em considerao os fenmenos aparentemente inexplicveis da mediunidade. No tem e nunca ter rituais ou cultos exteriores, os quais no se coadunam com sua proposta de existncia. Este o motivo pelo qual Kardec manifestou-se contrrio a chamar o espiritismo de religio: "No tendo o espiritismo nenhum dos caracteres de religio, na acepo usual do vocbulo, no podia nem devia enfeitar-se com um ttulo sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosfica e moral".6 Entretanto, se o problema fosse simplesmente esta dificuldade de entendimento semntico, ele seria de menor importncia. O grande mal em ser considerada uma religio que, devido a isto, a doutrina esprita tem sido constantemente paralisada naquilo que a principal caracterstica de uma cincia, e mesmo de uma filosofia: a capacidade de buscar o novo, encarando o Universo como se houvesse (e com certeza h) muito de uma verdade essencial escondida, velada, que precisa ser trazida a lume. Tais descobertas no se do apenas como complemento dos conceitos espritas j publicados, mas tambm pela reviso desses conceitos em face s novas descobertas do conhecimento humano em todos os seus diversos aspectos. nisto que a assuno de uma postura religiosa (vale dizer, dogmtica) tem sido altamente prejudicial. Fazendo com que o meio esprita acredite que as verdades essenciais j foram postuladas pela nossa doutrina, os artfices desse comportamento desestimulam o livre pensar nos meios espritas. O resultado disto que o espiritismo vem sistematicamente repetindo as mesmas coisas nos ltimos cem anos, e, assim, tornando-se uma doutrina anacrnica, chegando mesmo, em certos casos, a defender posicionamentos ridculos7. Mais se ns, espritas, no conseguimos discutir em alto nvel uma questo relativamente simples, e encontrar uma soluo que permita a conceituao precisa da real idia do espiritismo sobre ele mesmo e sobre o mundo que o cerca, no conseguiremos discutir questes mais profundas, que envolvam os conceitos mais fortemente definidos por Kardec. E, ainda, no poderemos analisar as novas teorias que constantemente so apresentadas aos olhos do pblico cientfico, filosfico ou mesmo leigo, e que vo na direo contrria explicao esprita. E continuaremos com o que vemos por a, com os espritas sendo ridicularizados por uns como msticos retrgrados, e por outros como adoradores do demnio, sem competncia para rebater as crticas e firmarmo-nos, ao menos, com a mesma coerncia com que Kardec posicionou o espiritismo em sua poca.

2. QUESTIONAMENTO E ATUALIZAO
J vimos que a posio religiosa assumida pelo movimento esprita tem como conseqncia cercear o desenvolvimento do espiritismo enquanto filosofia e, alm disso, dificultar a discusso mais profunda de alguns temas relevantes. Por que isto ocorre?8 Toda filosofia necessita, para seu crescimento, de apenas uma coisa: que seus adeptos exeram, de maneira plena, a capacidade de pensar (que nos diferencia dos demais entes da criao), de discutir (para proporcionar o crescimento das idias) e de produzir (para que mais pessoas tenham acesso s novas idias). Ora, isto impossvel se considerarmos que uma postura religiosa s se mantm base de dogmas (verdades indiscutveis), que, conforme sua prpria definio, no permitem a discusso e as novas produes.9 Esta postura religiosa do movimento esprita uma conseqncia histria de seu desenvolvimento

no Brasil. De fato, apesar de o espiritismo ter sido introduzido no pas por membros da aristocracia dominante no sculo XIX (normalmente, filhos de grandes senhores rurais que iam estudar na Frana, plo cultural da poca), houve, desde o incio, forte juno dele com as religies, principalmente a umbanda e o catolicismo. Grande parte dos primeiros espritas do Brasil, ou, ao menos, dos primeiros grupos a basear-se em Kardec, eram fortemente religiosos, influenciados desde cedo no s por encarnados com este cunho (como Bezerra de Menezes) mas tambm, principalmente, por comunicaes de desencarnados, alguns, supostamente, de grandes nomes, como, por exemplo, do prprio Kardec. Mas o principal idealizador do espiritismo religioso foi um esprito de nome Ismael. cujas mensagens levaram grande parte dos espritas a defender, at hoje, a prevalncia do espiritismo religioso"10. J desde o sculo passado, o espiritismo brasileiro dividia-se em "msticos" e "cientficos", liderados, aqueles, por Bezerra de Menezes e os ltimos pelo professor ngelo Torterolli. Esta oposio de idias levou a uma luta encarniada, na qual as idias dos msticos predominaram, tendo estes usado (...) para isso duma violncia inusitada nos arraiais espritas"11. desta forma que surge a Federao Esprita Brasileira, "Para travar com maior probabilidade de vitria a luta contra 'os quatro inimigos do espiritismo: o materialismo, o positivismo, o racionalismo e o catolicismo' "12. O desenvolvimento do espiritismo no Brasil no pode ser entendido sem uma anlise profunda da situao da poca e das peas que o fizeram. A anlise histrico-sociolgica fundamental para que se compreenda porque a doutrina esprita tem, hoje, o desenho que tem, e porque foi transformada numa religio13. preciso tambm bastante cuidado ao se definir o modelo epistemolgico esprita, isto , o modo pelo qual o conhecimento esprita vem a lume. Se considerarmos o espiritismo como uma doutrina revelada, corremos o risco de mistificar aquelas idias que nos foram trazidas pelos reveladores (em nosso caso, os espritos desencarnados que se manifestaram mediunicamente a Kardec). O raciocnio simples: se, como se costuma dizer e repetir no movimento esprita, os espritos que responderam s perguntas de Kardec eram efetivamente de uma classe intelecto-moral muito elevada, ento como discutir e questionar suas idias e seus ensinamentos? verdade que h uma outra forma de se encarar o conceito de revelao, que remonta etimologia deste termo. Revelao vem de re-velare, no mesmo sentido de desvelar, descobrir algo que estava velado, mostrar um fato desconhecido. Se considerado neste sentido, qualquer demonstrao de um fato at ento desconhecido, que possua a propriedade de mostrar-se verdadeiro, uma revelao. Assim, o trabalho do professor, do cientista, do descobridor, um trabalho essencialmente de revelao. Somente desta forma se pode admitir a idia de revelao esprita. Mas, normalmente, as filosofias no vem ao mundo por revelao. Filosofias so idias, teses ou teorias que surgem do pensar do homem ao tentar explicar determinados fenmenos. Como normalmente estes fenmenos referem-se ao Universo e aos entes que nele habitam, eis que as filosofias normalmente possuem parcelas de cosmologia, metafsica, tica e poltica. a busca da ampliao incessante da compreenso da realidade, atravs do saber. Ora, sendo o espiritismo uma filosofia, mais fcil para ns imaginar que seu surgimento d-se do mesmo modo que surgem as demais filosofias, isto , pela capacidade de organizao de um pensador, que sistematiza uma teoria a partir de determinadas observaes. No caso especfico da filosofia esprita, o pensador era Kardec, e as observaes, suas conversas com os espritos desencarnados. Isto corroborado pela importncia que o prprio Kardec dava razo como instrumento validador de suas observaes e teses. Entretanto, uma filosofia no cresce se ficar restrita apenas a seu criador. A diversidade de pensares, mesmo que concordando nos pontos essenciais, oriunda do trabalho de diversos homens que faz com que uma filosofia firme-se no tempo e no contexto de sua prpria poca, imortalizando-se. No existe

filosofia sem seguidores e opositores, sem contestao e aprimoramento dos argumentos, sem a rplica e a trplica. O caso esprita ainda mais especial. Normalmente, as filosofias restringem-se a tratar de elementos da verdade quase que inacessveis investigao cientfica, e, por isso, permanecem estruturadas em suas caractersticas principais, no decorrer do tempo. Ao contrrio, Kardec formulou a filosofia esprita como indelevelmente associada investigao cientfica, de modo que suas verdades pudessem ir-se atualizando com o desenvolvimento do conhecimento cientfico. Infelizmente, o desenvolvimento filosfico do espiritismo est ainda estagnado exatamente pela falta de uma conexo permanente entre ele e o desenvolvimento cientfico. Apesar da afirmao kardequiana de modificao das teses espritas a partir das descobertas cientficas, o que se v que estas descobertas no penetram o meio esprita, nem mesmo para um estudo mais aprofundado. Isto conseqncia direta da postura imobilista que o movimento esprita assumiu, no que tange aquisio de novos conhecimentos. Uma segunda (e mais grave) conseqncia deste imobilismo que os espritas acabaram perdendo a capacidade de discutir racionalmente. Com isto, tomou-se impossvel aprofundar qualquer questo que toque, ainda que se deve, os "dogmas" que se formaram na doutrina esprita. Tais discusses, quando provocadas, so tomadas em carter pessoal, com acusaes ridculas de desfiguramento da doutrina ou ainda (absurdo!!) de "influncias de espritos das trevas". Todavia, quando se pensa numa discusso mais profunda de alguns temas relevantes para a doutrina esprita, no se pode esquecer que a atualizao de conhecimentos do espiritismo no se refere somente quelas idias que Kardec deixou em suspenso, aguardando comprovaes cientficas ou experimentais. No pode existir, no espiritismo, nenhuma idia ou tese que esteja isenta da possibilidade de reviso. As atualizaes das idias espritas devem abranger tambm aquelas que Kardec postulou como verdades, ou, ao menos, como conceitos definidos. Afina. a evoluo do conhecimento humano no se submete a limites de ordem pessoal; isto , por mais autorizado que seja um pensador, suas idias podem e sero questionadas sempre que novos fatos contrapuserem-se a elas. Deu-se isto em toda a histria da humanidade, e loucos aqueles que pretenderam deter o conhecimento baseados apenas no argumento de autoridade. Kardec, ao adentrar em campo cientfico, ao falar livremente da matria como do esprito e das relaes entre ambos, exps-se a este questionamento. E, com sua caracterstica perspiccia e bom senso, nunca se furtou a responder ao questionamento, rebatendo aos questionadores com absoluto conhecimento de causa. Mas, certamente, rendendo-se quando lhe era demonstrado encontrar-se em erro. Estes campos especficos onde o questionamento possvel permeiam toda a obra kardequiana. Conceitos como perisprito, fluido vital, espao universal, criao, evoluo, pluralidade dos mundos habitados, reencarnao, influncia dos desencarnados sobre os encarnados, os trs reinos, so todos fortemente influenciados pelas novas descobertas das diversas cincias. E, portanto, passveis de discusso e eventual reviso, mesmo quando Kardec afirmativo. Para tanto, necessrio que se estruture, dentro dos centros espritas, grupos de estudo que tenham por finalidade trazer estes temas baila, entendendo quais sejam estas novas descobertas cientficas e comparando-as teses de Kardec. Esta fundamentao absolutamente necessria, para que no sejam agregados doutrina esprita conceitos que ainda no foram digeridos pela cincia, ou que sejam claramente produto de arroubos msticos. Certamente, alguns diro que o questionamento do mestre uma heresia, e que, com certeza, a verdade est no espiritismo, devendo ns aguardar que a cincia chegue a esta concluso. Entretanto, devemos lembrar-nos que ns, espritas, no detemos o monoplio do conhecimento propugnado por Kardec, de modo que, se ns no nos propusermos a este questionamento, outros, no espritas, o faro.

Negando-se discusso e eventual atualizao dos conceitos, mesmo com a demonstrao de uma nova verdade descoberta, os espritas fecham-se num mundo particular, assemelhando-se cada vez mais s religies dogmticas que diz combater. E a doutrina esprita aparece, para a opinio pblica, como mais uma seita minoritria, sem fora e antiga, sobrevivendo da f cega. Exatamente o contrrio do que propunha Kardec.14

3. A VERDADE ESPRITA
J dissemos que o espiritismo uma filosofia que busca fornecer uma viso global do funcionamento do Universo, em todos os seus nveis. Isto significa que a filosofia esprita no se desvincula do universo prtico, mas procura explicit-lo num contexto mais abrangente. Assim, ela s poder continuar existindo se suas teses representarem efetivamente a realidade. conformidade com o real, a realidade, segundo o dicionrio, d-se o nome de verdade. natural, portanto, que os espritas, ao considerarem que a teoria esprita sobre o Universo representa a realidade, julguem estar de posse da verdade. Entretanto, j temos tido provas suficientes do mal que esta crena pode trazer ao mundo, quando tomada em seu sentido absoluto. Portanto, um estudo sobre a verdade, e sobre o modo como ela se apresenta, parece ser no somente salutar, mas imprescindvel para a manuteno de um espiritismo aberto possibilidade de evoluo. Mas, se verdade a conformidade com o real, parece importante que se defina o modo pelo qual este real vem a ser conhecido. J analisamos o conceito de revelao na doutrina esprita, concluindo que, em benefcio de uma maior clareza, melhor no admitir que o espiritismo veio ao mundo por revelao. Vamos procurar discutir as outras formas de obteno do conhecimento. Numa classificao possvel, so elas: o empirismo, o racionalismo, o intelectualismo, o apriorismo e o intuicionismo. O empirismo afirma que o conhecimento s possvel quando derivado diretamente da observao sensvel dos fenmenos ou dos fatos. Primeiro, o sujeito tem a sensao de algo; em seguida, percebeo; finalmente, forma uma idia dele. O ciclo sensao - percepo - idia caracteriza o empirismo. No racionalismo, ao contrrio, a razo humana, a atividade do intelecto puro ou o conhecimento abstrato so as nicas formas para se atingir o conhecimento. A nica coisa que importa a razo. A maioria dos pensadores exclusivamente racionalistas admitem a existncia de um conhecimento inato, chamado de conhecimento a priori. Numa tentativa de conciliar o empirismo e o racionalismo, alguns pensadores afirmam que o conhecimento obtido por uma combinao de ambos. Assim, primeiramente se adquire a experincia das coisas, que, depois, sero elaboradas pela razo, a qual pode, desta forma, conhecer coisas inacessveis pela experincia. Este o intelectualismo, e foi em seu seio que se desenvolveram os conceitos de deduo (conhecimento iniciando-se no geral e chegando ao particular) e induo (conhecimento iniciando-se no particular e chegando ao geral). Uma outra forma de sintetizar o empirismo e o racionalismo foi proposta por Kant. Considerou ele que o homem possui alguns conhecimentos a priori, cujo contedo, porm ser desenvolvido com a experincia. Mais ainda, pro ps que a realidade s poderia ser parcialmente conhecida. Este o apriorismo. Finalmente, o intuicionismo considera a possibilidade de se obter o conhecimento sem a experincia nem a razo. A intuio a apreenso pura do conhecimento diretamente de uma fonte, no necessariamente conhecida. O espiritismo, filosoficamente, faz uma nova sntese, ao mesmo tempo que amplia o campo de obteno do conhecimento. Nesta sntese, entram o empirismo (notadamente naqueles campos em que a matria, em suas vrias formas, elemento importante), o intelectualismo (no qual a razo entra s como complemento da experincia e sua continuadora, mas tambm como elemento de validao) e o intuicionismo (que seria representado pela apreenso direta da realidade pelo esprito, sem a matria

intermediria). A ampliao fica por conta da reencarnao e da imortalidade do esprito, que no limita a possibilidade de obteno do conhecimento no tempo. Mas todo conhecimento, para ser vlido, deve ser verdadeiro, e com isto retomamos nossa questo inicial. Em linhas gerais, existem trs concepes de verdade que so consideradas na filosofia: A primeira delas, oriunda da Grcia, diz que a verdade o ds-velamento de algo que se encontrava oculto. a manifestao daquilo que existe ou tal como , o evidente, o que se apresenta a razo. Presume uma realidade que, mesmo desconhecida, preexistente ao conhecimento. Chama-se aletheia (no esquecido, ou no escondido), e se refere s coisas que so. a verdade do presente. O mesmo conceito existe na ndia, onde a verdade recebe o nome de satyia. Outra, remanescente principalmente da poca do Imprio Romano, diz que a verdade a preciso de relato de algo que aconteceu. Diz respeito a enunciados que dizem as coisas exatamente como aconteceram. Presume apenas o desconhecimento de algo que j ocorreu. Chama-se veritas, e se refere s coisas que foram. a verdade do passado e da linguagem. Finalmente, a terceira concepo vem do povo hebreu, e diz que a verdade o cumprimento de algo que se prometeu. Funda-se na esperana de um futuro que ser ou vir. Exemplifica-se pela revelao divina, e presume que o conhecimento ocorre antes da realidade. Chama-se emunah (confiana, em hebraico), e se refere s coisas que sero. a verdade do futuro e da profecia. Em qual destes tipos de verdade localiza-se a verdade esprita? Temos de considerar que o espiritismo encara o Universo como sendo uma obra da divindade, que, apesar de altamente dinmica, contm, no geral, as caractersticas de perfeio desta divindade. Portanto, o conhecimento, para a doutrina esprita uma busca, a busca de algo existente, mas oculto. Entretanto, no se pode esquecer que o espiritismo surge a partir de um dilogo entre os encarnados e os desencarnados. Neste dilogo, h, como j dissemos, uma espcie de revelao, a mesma revelao de um professor em uma sala de aula. Mas, em nenhum momento a doutrina esprita coloca-se em posio de aguardar uma verdade qualquer, prometida e ainda no realizada. O espiritismo no espera um messias, nem um salvador. Simplesmente mostra um caminho, uma direo a ser seguida para que o prprio homem construa seu destino. Portanto, a verdade esprita tem um forte componente de aletheia e algum de veritas, mas no de emunah. E isto apesar do movimento esprita formal, que continua esperando que se cumpra a transformao do Brasil em "corao do mundo e ptria do evangelho", e que o espiritismo venha a ser a mais importante, seno a nica, doutrina vigente. Espera intil.

4. O "CONTROLE UNIVERSAL DOS ESPRITOS"


Apesar dos vrios argumentos que foram descritos a favor de uma postura de busca constante de novos conhecimentos e contra o imobilismo, h ponderaes que so sistematicamente repetidas pela absoluta maioria dos espritas, a maior parte das vezes sem um pensar mais profundo sobre elas. Uma das mais expostas, e que pode causar (e, efetivamente, causa) grande prejuzo a esta busca, se for mal interpretada, a que limita os novos conhecimentos aprovao do controle universal dos espritos. Normalmente, esta expresso empregada para evitar quaisquer alteraes na teoria esprita. Isto estaria timo se as restries fossem limitadas a conceitos esprios15, e se as idias de Kardec sobre a validao dos conceitos espritas e as mudanas a que eles esto sujeitos fossem perfeitamente entendidas. Entretanto, o que se observa que a referida expresso s empregada para obstar ainda mais os progressos necessrios para que o espiritismo no permanea estagnado no tempo, anacrnico, e acabe morrendo por inanio. Antes de mais nada, reafirmamos o bvio: claro que no propomos que o espiritismo incorpore toda e qualquer" nova idia" ou as pseudo descobertas cientficas que diariamente so veiculadas na mdia. Adivinhaes, poder dos cristais, runas, etc., so coisas que necessitam de um maior

embasamento, tanto conceitual quanto experimental, para que possam ser seriamente consideradas, se que podero. As mudanas a que nos referimos dizem respeito s novas descobertas da cincia e ao avano do conhecimento humano, como j dissemos anteriormente. Estas sim, precisam ser rapidamente estudadas pelos espritas, para que a atualizao da doutrina seja feita de forma a acompanh-las. a isso que Kardec referia-se, quando disse que o espiritismo modificar-se- de acordo com as novas verdades cientficas. A discusso sobre as modificaes a serem feitas no espiritismo passam pelo modo como Kardec validava os novos conhecimento" que iam sendo expostos, e que acabaram originando a doutrina esprita. O problema que se apresentava a Kardec era claro: esses conhecimentos, alm de indicarem um caminho que mudaria radicalmente a viso que o homem tinha de seu Universo, estavam sendo obtidos por um meio que, apesar de muito antigo, nunca esteve ligado cincia, mas religio - a mediunidade. Ora, como poderia Kardec, um homem acostumado ao rigor cientfico, apresentar de maneira inequvoca esses conhecimentos para uma sociedade cientificamente positivista? Era necessrio que ele possusse algum meio de valid-los, primeiramente a si mesmo, e depois para as academias e para o povo. O critrio bsico que ele utilizou foi a razo. "O primeiro controle , sem sombra de dvida, o da razo, qual preciso submeter, sem exceo, tudo o que vem dos espritos".16 Kardec era da opinio que o espiritismo uma cincia positiva, isto , parte da experimentao de fatos concretos para chegar a uma generalizao, s leis que regem o fenmeno e o prprio Universo. Por isso, recusava-se terminantemente a aceitar qualquer idia baseado somente no argumento de autoridade, isto , num nome. Kardec, em consonncia com sua viso positivista de cincia, propugnava que qualquer teoria deveria, antes de mais nada, ser lgica: "Toda teoria em manifesta contradio com o bom senso, com uma lgica rigorosa e com os dados positivos que se possuem, por mais respeitvel que seja sua assinatura, deve ser rejeitada ".17 Mas, como ele mesmo observou, este controle era insuficiente. De fato, a aprovao racional de uma teoria simplesmente significa que ela no fere o bom senso, e que, portanto, h uma caracterstica de verossimilhana nela. No entanto, somente esta aprovao no garante que ela seja verdadeira, podendo ser apenas o produto de uma mente coerente, porm desconhecedora da realidade universal. Assim, Kardec estabeleceu um segundo mtodo de validao: a confirmao da teoria por uma quantidade de comunicaes obtidas em diferentes pontos do globo, atravs de diferentes pesquisadores consultando diferentes mdiuns. "A concordncia no ensino dos espritos , pois, o melhor controle; (...)". a essa concordncia que Kardec d o nome de controle universal do ensino dos espritos. Na realidade, isto uma adaptao do critrio de validao mais usual que existe nas cincias da matria: o da repetitividade. Qualquer descoberta cientfica s validada quando, tendo os experimentos sido realizados por diferentes pesquisadores em diferentes laboratrios, os resultados apresentam-se compatveis entre si. Como, no caso de pesquisas que envolvam o esprito, a repetio duvidosa e difcil, devido interferncia do livre-arbtrio, uma boa aproximao deste critrio a concordncia entre diversos espritos. Fica, pois, clara a motivao de Kardec: a de prover a incipiente cincia esprita de mtodos de validao que pudessem sustentar os novos conceitos que ela trazia, e mesmo sua concatenao numa teoria mais abrangente, a filosofia esprita. Foram consideraes de carter puramente metodolgico e, at esse ponto, perfeitamente vlidas. No foi inteno de Kardec, como fica patente, submeter s descobertas das cincias formais ao controle dos espritos. Como encontra-se muito bem explicitado no Livro dos Espritos, a cincia foi dada por Deus ao homem para que este aprendesse a conhecer a natureza e apreender o Universo por seus prprios meios, sem esperar ser para sempre tutelado por revelaes vindas do mundo esprita, do prprio Deus ou de qualquer outro lugar.

O que no podemos esquecer que esses anos decorridos desde a publicao do Livro dos Espritos trouxeram modificaes no somente no conhecimento cientfico, mas no prprio modo pelo qual o homem encara o conceito de cincia. A cincia positivista, mecanicista e reducionista do sculo XIX est dando lugar a uma cincia orgnica19, probabilstica e colaborativa, na qual o homem no domina a natureza, mas integra-se a ela, conhecendo seus princpios e a maneira pela qual ele prprio participa deles. Sendo a verdade esprita fundamentalmente calcada na idia de que h um Universo previamente existente; sendo a funo bsica do sbio a de descortinar este Universo a todos os seres humanos, a cincia esprita no pode permanecer parada, esperando que novas revelaes promovam este descobrimento. absolutamente necessrio que o cientista esprita integre-se nesta busca do conhecimento, produzindo um pensar que coloque o espiritismo numa postura pr-ativa, indo ao conhecimento, e no esperando que o conhecimento venha a ele. Esta postura pr-ativa comea pela percepo de que ainda h um longo caminho a percorrer se desejamos conhecer a verdade. Depois, passa pela discusso dos modos pelos quais essa verdade pode ser atingida, e qual ou quais desses caminhos so os mais adequados pesquisa esprita. Estabelecemse planos de trabalho e ento, finalmente, enceta-se a busca pelos caminhos escolhidos. Os resultados so publicados e discutidos. S assim pode-se evolver na escalada do conhecimento. Se o movimento esprita continuar a fiar-se somente no que os espritos desencarnados tm a nos dizer, descobrir, pela pior via possvel, que eles no sabem mais que ns, na mdia, e que, enquanto espervamos a revelao da verdade, ela j se tomou de domnio pblico. E o destino do espiritismo, neste caso, ser aquele de todas as doutrinas que j no tm mais nada a dizer: um verbete em livros de histria.

5. AS MUDANAS
Comentamos sobre a necessidade de mudanas na doutrina esprita. Entretanto, mudanas so, sempre, fenmenos traumticos, e por isso necessitam ser feitas com determinados cuidados. Ao falarmos em mudanas, quatro questes precisam ser respondidas antes que qualquer movimento em sua direo possa ser sequer iniciado. So elas: Por qu mudar? Para que mudar? Para o qu mudar? Como mudar? Estas questes so o objeto deste item. Por qu mudar refere-se causa da mudana. O que, na situao atual, est insatisfatrio a ponto de exigir mudanas? Em nosso caso, a causa cristalina, ao menos para aqueles que se preocupam com o futuro do espiritismo. Em primeiro lugar, h alguns conceitos da doutrina esprita que no mais se enquadram no estgio atual do conhecimento humano. Em segundo, h, como o prprio Kardec j havia previsto, novas verdades a serem descobertas, e o espiritismo precisa preparar-se, principalmente em termos metdicos, para essa busca. Para que mudar refere-se ao objetivo da mudana. Qual o fundamento terico que justifica uma mudana no espiritismo? A resposta que o espiritismo deve mudar para no estagnar-se. Como disse Kardec, "O princpio progressivo que [a doutrina esprita] inscreveu em seu cdigo ser a salva-guarda de sua perpetuidade. E sua unidade ser mantida principalmente por que ela no repousa sobre o princpio da imobilidade".20 Reafirmando, no podemos nunca esquecer que, se o espiritismo parar no tempo, ele se distanciar tanto da realidade que ser lembrado apenas como uma seita anacrnica e minoritria, sem nenhum significado maior para o homem. Para o que mudar refere-se quilo que se deseja. Qual a situao final que o espiritismo espera alcanar? O que a doutrina esprita necessita retomar o status que possua no tempo em que Kardec o trouxe ao mundo, ou seja, o de uma filosofia universal, possuidora de conceitos adequados aos fatos cientficos demonstrados e que encara o Universo como um todo orgnico e consistente. O espiritismo surgiu como uma doutrina que, por tratar de maneira racional temas de elevada complexidade, sempre foi discutida nos meios intelectuais. O que hoje, infelizmente, no ocorre.

Como mudar, finalmente, refere-se ao mtodo, ao caminho a ser empregado pelos espritas para concretizar as mudanas necessrias sem descaracterizar a doutrina esprita, ou seja, mantendo seus pontos fundamentais enquanto forem cientifica e filosoficamente vlidos. Por qu? Nem todos concordaro comigo que a situao atual do espiritismo insatisfatria. Essa diferena de opinio resultado de duas vises distintas e, pode-se dizer, inconciliveis no que diz respeito aos objetivos e aos mtodos do espiritismo. Aqueles que acham que a principal razo de ser doutrina esprita a salvao do homem, claro que no compreendem a necessidade de atualizao. O conceito de salvao absoluto e esttico: o homem acha-se em erro e h um caminho previamente definido pela divindade ou por espritos superiores que levam-no perfeio; portanto, o que precisa ser modificado? O principal objetivo do espiritismo explicar o "modo de funcionamento" do Universo, a verdade universal ainda oculta. Claro que isto envolve o ser humano, e, portanto, envolve consideraes ticas e morais. Mas, alm de no se restringir apenas a isto, fica a questo: possvel a existncia de uma tica independente do conhecimento da verdade? A resposta no. No podemos esquecer tambm que, a favor do imobilismo (da postura que diz que "como est, est bem") existem consideraes de ordem poltica. Basta ver a estrutura de poder de nossos centros e federaes espritas para constatar que a principal forma de comando uma ditadura disfarada (e, s vezes, nem tanto): presidentes perptuos e que mais. Para que? Uma coisa precisa ser sempre lembrada, independente da necessidade de mudanas: a posio em que Kardec colocou o espiritismo em relao cultura. Kardec foi, sempre, claro ao posicionar a doutrina esprita como uma cincia que possua conseqncias ticas e morais. E foi, tambm, claro ao dizer que o espiritismo acompanhar o desenvolvimento das cincias. Se uma autoridade fosse necessria, ningum melhor que o criador da cincia esprita para autorizar a sua atualizao. Para o qu? Algumas pessoas discordam da necessidade de o espiritismo colocar-se entre as doutrinas influentes do mundo, do ponto de vista intelectual. Isto importante porque nenhuma cincia ou filosofia pode sobreviver sem que haja um fervilhar intelectual sobre seus conceitos. E esse fervilhar, como j foi dito, no deve ser somente favorvel, mas tambm contrrio a esses conceitos. Ora, isto s acontece quando uma doutrina importante o suficiente para que elementos de destaque nos meios acadmicos tratem dela, a favor ou contra. Numa anlise histrica, observa-se que isto o que acontecia poca de Kardec. O espiritismo sofreu ataques no somente do clero (que, num dado momento, sentiu sua posio de supremacia nos temas do esprito ameaada), mas tambm de elementos to importantes para a cincia quanto Faraday, por exemplo. Ora, atualmente, os intelectuais que se dispem a falar da doutrina esprita o fazem, sempre, de um ponto de vista teolgico, mstico ou religioso, no se preocupando com as consideraes filosficas e/ou cientficas. Este um passo claro para a estagnao. Se no houver uma discusso muito bem fundamentada, fora do meio esprita, o que acontecer que, mesmo que haja espritas de boa vontade em promover discusses internas, a doutrina esprita permanecer fechada em si mesma, pouco evoluindo em relao ao conhecimento humano. Estagnada, portanto. Como? Talvez o grande problema a ser resolvido seja o modo pelo qual espiritismo deva conduzir suas mudanas prprias. Jaci Rgis fez uma proposta21 composta de seis passos: no fechar as portas a nenhum progresso, no sair do crculo das idias prticas, apoiar a descoberta de novas leis, assimilar todas as idias reconhecidamente justas, seguir o movimento progressista com prudncia e no imobilizar-se. Esses seis passos so importantes, mas referem-se postura que o esprita deve ter para permitir a existncia das mudanas. O maior problema so as aes que devem ser materializadas para que as mudanas ocorram, no espiritismo, de acordo com os critrios do mtodo e prudncia estabelecidos por Kardec.

Precisamos, antes de mais nada, da disposio para a mudana. Em seguida, necessitamos definir os fundamentos estruturais da doutrina esprita, isto , a base que deve ser mantida. Depois, so necessrios recursos humanos adequados, previamente preparados, que permitam que as discusses sejam produtivas. Uma vez realizadas estas discusses, nos prprios centros espritas, o prximo passo deve ser a produo de trabalhos, sob a forma de textos, monografias, livros, fitas, ou qualquer outro meio que permita uma divulgao destas idias a todos os interessados, dentro e fora do meio esprita. Seguinte, a reunio destes pensadores em encontros que fomentem ainda mais a discusso. Finalmente, um esforo de divulgao que permita que esta novas idias sejam levadas a todos os lugares e a todos os nveis. Estes passos so melhor explicados no item 7. O resultado disto ser que as idias espritas, convenientemente discutidas, sero inscritas nos meios culturais de modo permanente, livrando o espiritismo da pecha de seita religiosa inerte. Com isto, estaremos seguindo o caminho que Kardec traou para o futuro do espiritismo.

6. FUNDAMENTOS ESTRUTURAIS DO ESPIRITISMO


As respostas s questes por qu, para que, para o que e como mudar faz supor que o caminho est aplainado para que se inicie o processo de mudanas. Entretanto, mais uma questo se faz necessria: o que a mudana? Mudana pode ser definida como um processo de passagem de um estado a outro estado (ou de uma situao a outra), realizado por um ente ou por uma idia. O que se deve atentar que toda mudana necessita de um plo mvel, sem o que no h como falar em mudana, e um plo fixo, ao qual o primeiro deve ser referido. Isto ocorre porque, quando falamos em mudana, no podemos descaracterizar o ente ou idia que muda, sob pena de no mais o reconhecermos, e, assim, no aceitar o prprio processo de mudana. Um grande problema definir exatamente quais so estes plos, ou seja, traar a linha divisria entre o processo de mudana e a perda de identidade. No dizer de Karl Popper: "Como pode uma coisa mudar sem perder sua identidade? Se permanece a mesma, no muda; todavia, se perde sua identidade, ento no mais aquela coisa que mudou".22 Com muito mais razo este problema coloca-se no espiritismo, sendo o movimento esprita to avesso a qualquer modificao. preciso definir claramente quais os fundamentos estruturais da doutrina esprita, que representam seu plo fixo, aquele em referncia a que sero feitas as mudanas. Alteraes significativas neste plo descaracterizariam a doutrina, e no poderamos mais falar em processo de mudana. Deve-se notar que, do modo como o espiritismo foi constitudo, mesmo este ncleo que chamamos de plo fixo pode ser discutido e, eventualmente, rechaado, desde que a evoluo cientfica demonstre a falsidade de qualquer proposio dele. Porm, neste caso, no se pode mais falar em processo de mudana, porque, a rigor, no se poder mais falar sequer de espiritismo. O problema que se apresenta, portanto, definir a fundamentao estrutural do espiritismo, de modo que possamos aclarar o caminho para as mudanas necessrias. Esta definio s pode ser feita sobre o conjunto de idias que, juntas, constituem nossa doutrina. Se fixarmo-nos apenas nos seus princpios ticos, ficaremos com uma doutrina piegas que prope modelos arbitrrios de conduta, sem uma justificativa filosfica, racional, para eles. Uma anlise dos seis princpios bsicos que, tradicionalmente, diz-se que formam o alicerce sobre o qual o espiritismo se desenvolve (existncia de Deus, existncia e imortalidade do esprito, evoluo infinita, pluralidade das existncias, pluralidade dos mundos habitados e comunicabilidade entre encarnados e desencarnados) nos revela no serem eles originais. Isto , o espiritismo no foi o primeiro sistema a falar sobre ou mesmo a praticar os fenmenos derivados destas idias. A grande contribuio da doutrina esprita foi (como j foi dito) ter formado, com estes conceitos, um

todo coeso que nos mostrasse um modelo para a constituio e funcionamento do Universo. Este todo , sim, novo, e forma a filosofia esprita, no que h de mais grandioso. Tentemos resumir esta filosofia. O Universo um conjunto orgnico e dinmico, formado fundamentalmente por dois elementos principais: o esprito, definido como o princpio inteligente, e a matria, elemento inerte (do ponto de vista inteligente), com o qual o esprito interage num processo de evoluo contnua. Esta evoluo se faz a partir de um estado de total ausncia de complexidade e conhecimentos (da dizer-se que o esprito criado simples e ignorante) e estende-se infinitamente. Este conjunto foi criado pelo Ser por excelncia, que denominamos Deus, que , assim, a causa primria (eficiente) deste todo universal. infinito em todas as dimenses, sejam espaciais ou temporais, razo pela qual falamos que a evoluo do esprito infinita. Deus, contudo, no est sujeito a esta evoluo, uma vez que deve ser perfeito. No participa, pois, do Universo, tal qual este constitudo. Este Universo sustenta-se, dinamicamente, atravs de leis que o dirigem. As leis especficas do elemento material so chamadas de leis fsicas, e sua competncia de estudo pertence s cincias de investigao da natureza. As do esprito denominam-se leis morais23, e so tratadas pela filosofia, no ramo da tica. A investigao do esprito feita pelas cincias humanas, cada uma com seu mtodo prprio, e pela cincia esprita, atravs, principalmente, da mediunidade. As relaes entre os espritos, encarnados ou desencarnados, so baseadas em critrios de afinidade, de ordem afetiva, intelectual ou de qualquer outra ordem. A sua evoluo se d em dois eixos: um referente ao conhecimento da verdade universal; outro, postura perante aos demais espritos e lei natural. Por isso, dizemos que esta evoluo intelecto-moral. Eis, portanto, as estruturas fundamentais do espiritismo, que formam seu plo fixo, em referncia ao qual se podero fazer as mudanas: Deus como causa eficiente do Universo, no sujeito s suas leis; O Universo como um conjunto dinmico, composto dualmente de matria e esprito; Matria e esprito como elementos distintos e em constante interao; A existncia de leis especficas para a matria e esprito, respectivamente, leis fsicas e morais; A evoluo infinita, intelecto-moral, do esprito;

- Conseqncias ticas e morais estabelecidas em funo da filosofia esprita, e no de modo arbitrrio. - A possibilidade de comunicao medinica entre espritos encarnados e desencarnados, ou seja, a comunicao medinica. Em se mantendo esta base, descrita de maneira mais extensa na introduo do Livro dos Espritos, estaremos sempre falando de doutrina esprita. interessante notar que temas como perisprito, fluido vital, etc. so simples acessrios, importantes, sem dvida, mas no afetando a estrutura fundamental. E mesmo assuntos que fazem parte dos seis princpios bsicos, como reencarnao e pluralidade dos mundos habitados, poderiam vir a ser remodelados e at eliminados sem que isto descaracterizasse o espiritismo como uma filosofia particularizada e prpria.24

7. O COMPROMETIMENTO DO ESPRITA COM AS MUDANAS


Uma vez que fique claro para ns que deva haver mudanas na doutrina esprita, para evitar que ela torne-se completamente ultrapassada, uma ltima questo que se coloca : quem deve efetivar tais mudanas? O grande problema que o movimento esprita enfrenta hoje, nesta rea, que os rgos de unificao, que, hierarquicamente, deveriam zelar pelo futuro do espiritismo, no esto preparados para assumir a necessidade ou mesmo a possibilidade de se atualizar a doutrina. Rigidamente estruturados, com o poder de deciso concentrado na mo de poucos, esses rgos no conseguem (e na verdade nem querem)

formar centros espritas capazes de propor tal atualizao. Por outro lado, os centros espritas reproduzem, em menor escala, a mesma estrutura. Amedrontados com o novo mundo de conhecimentos que seria descortinado com estas mudanas, seus dirigentes inibem o estudo mais profundo, cobem a livre manifestao das mocidades espritas e, com isso, conseguem manter o status quo, seja no campo poltico, seja no das idias. Ainda, outro problema que se apresenta o comodismo dos participantes. Realmente, a maioria deles prefere manter-se apenas freqentando palestras de cunho evanglico, que no comprometem sua estrutura mental ao exigir um pensar mais profundo e um posicionamento crtico sobre as coisas que se acredita e se pratica. Ao mesmo tempo, observa-se em alguns freqentadores, que tm uma atividade intelectual intensa em sua profisso, uma tendncia a separar, de modo incoerente, esta atividade daquela que exerce no centro esprita: encaram o centro como um lugar onde vo satisfazer uma necessidade mstica. Separam, assim, em si mesmos, o "mstico" do "cientista", no percebendo que o espiritismo no prope esta dualidade em sua viso de mundo. Ora, se o debate no partir dos prprios centros, os quais precisam passar por lima reformulao no que diz respeito aos seus mtodos de trabalho e objetivos, nunca se formar uma massa crtica de pensadores espritas capazes de no s realizar a atualizao da doutrina esprita, mas tambm de coloc-la seriamente no rol das filosofias a serem estudadas. O primeiro passo que os centros espritas precisam dar realizar uma ampla discusso interna sobre quais so os objetivos da doutrina e do prprio Centro esprita. Se esta discusso for realmente imparcial, os centros descobriro (alguns com muita surpresa) que Kardec reservava a eles a funo de ncleos geradores do pensamento esprita. Nada contra uma possvel atuao na rea da promoo social, mas deve-se ter muito claro que o principal objetivo o estudo e divulgao da doutrina esprita. imprescindvel a criao de cursos bsicos de doutrina esprita, que proporcionem aos no espritas um entendimento correto dela, ainda que superficial. A definio de espaos onde os freqentadores da casa possam aprofundar suas discusses e adquirir novos conhecimentos , tambm, de fundamental importncia. No campo da divulgao, as palestras pblicas devem ser voltadas para temas doutrinrios, de modo que incentive nos assistentes a vontade de participar dos cursos e dos grupos de estudos. Mas, para tanto, preciso que os dirigentes e coordenadores de cursos sejam pessoas muito bem preparadas. Na verdade, o aprimoramento dos recursos humanos uma das principais falhas que existem dentro dos centros espritas. Observa-se, com muita freqncia, oradores, coordenadores e dirigentes completamente despreparados para transmitir ao pblico os fundamentos da doutrina esprita, que dir de aprofund-los. Quando tais idias so expostas, muitos acusam-nas de elitistas, afirmando que o que se pretende restringir o acesso do pblico ao espiritismo. Entretanto, normalmente, este argumento usado para esconder o despreparo daqueles que, por sua funo de dirigentes e monitores de cursos de espiritismo, representam o primeiro contato que o no esprita tem com a doutrina. No se pode esquecer que estas pessoas esto colocadas na funo de verdadeiros professores de cultura esprita e que, para transmitila, precisam primeiro possu-la. E no se pode pretender possuir esta cultura esprita sem estar em constante processo de busca da verdade, um questionamento sem fim. O que se v no meio esprita so pessoas que, unicamente por serem mdiuns ou por freqentarem h muito tempo a casa esprita, so colocadas na funo de palestrantes ou coordenadores de cursos. Ora, a mediunidade uma potencialidade que deve ser bem aproveitada no centro, mas nada tem a ver com a transmisso de conhecimentos espritas. Para ser um palestrante, necessrio possuir a capacidade de, de modo claro e adequado ao pblico alvo, explanar bem as idias doutrinrias. De nada adianta escalar um palestrante que, por incapacidade para falar em pblico, no consiga manter sua ateno. O principal objetivo da palestra, que divulgar

o espiritismo, no ter sido atingido. Da mesma forma, para ser um coordenador de cursos, necessrio conseguir transmitir os conhecimentos do programa, o que s se faz quando se tem uma boa didtica. Do contrrio, os participantes sairo com menos conhecimento que quando entraram. Ou, pior, sairo achando que entenderam a mensagem e que compreendem o espiritismo. O que, normalmente, no verdade. Uma vez criados os espaos necessrios para os estudos, funo dos dirigentes incentivar a participao dos membros da casa neles. preciso que se entenda que no pode haver um trabalho produtivo no centro esprita, seja como mdiuns, seja no atendimento s pessoas, nas transmisses energticas, ou em qualquer outra rea, sem que haja um constante aperfeioamento, tanto em termos tericos como prticos. A exemplo do que acontece em qualquer profisso, um profissional que no se recicla conduzido rapidamente obsolescncia, porque o conhecimento da rea est em contnua evoluo. Agora, para que os centros colaborem como se deve para a evoluo da cincia esprita, necessrio que sejam criados grupos de pesquisa sobre temas especficos. Estes grupos devem ser multidisciplinares, compostos de pessoas de certo nvel cultural e que estejam bem informadas sobre as reas especficas de seu interesse. Nestes grupos, a pesquisa deve ser muito profunda, comparando-se os avanos das demais reas do conhecimento com os postulados espritas. Todavia, os resultados destas pesquisas no devem ficar restritos aos grupos de estudos. fundamental que estes resultados sejam publicados, para que outros grupos tenham acesso a eles e possam contribuir com suas prprias idias e pesquisas. Na verdade, o centro deveria prever uma verba anual para a publicao desses trabalhos, e sua divulgao deve ser a mais ampla possvel. Finalmente, quando da ocorrncia de simpsios ou congressos, os membros do centro devem ser fortemente incentivados a participar, de modo que possam absorver as pesquisas realizadas por outros grupos, e, posteriormente, discutir essas pesquisas no prprio centro, refazendo-as, se necessrio, para validar de modo pleno seus resultados. Isto, alm de divulgar, nestes espaos, suas prprias pesquisas. Tudo isto resultado do comprometimento que os espritas devem ter com sua prpria doutrina. No somente os dirigentes, no somente aqueles que gostam do estudo, mas todos aqueles que querem se dizer espritas. Espiritismo cincia e filosofia. No se faz nem uma coisa nem outra sem esforo e comprometimento, em todos os nveis. isso. Ou o fim do espiritismo.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
ABREU, Canuto, Bezerra de Menezes; subsdios para a histria do espiritismo no Brasil at o ano de 1895, 5. Ed. So Paulo: FEESP. 1996. 117 p. DIAS, Krishnamurti C. O lao e o culto; o espiritismo uma religio? 1 ed. Santos: Dicesp, 1985. 160 p. HUBY, Jos. Christus; histria das religies. Vol. 1. So Paulo: Saraiva, 1956. 337 p. KARDEC, Allan. Revista esprita. Vol. 2, ano 1859. Edicel, 414 p. KARDEC, Allan. Revista esprita. Vol. 7, ano 1864. Edicel, 402 p. KARDEC, Allan. Revista esprita. Vol. 11, ano 1868. Edicel, 398 p. KARDEC, Allan. A Gnese; os milagres e as predies segundo o espiritismo. 17. ed. So Paulo: LAKE, 1994. 400 p. KARDEC, Allan. Obras pstumas. 1. ed. So Paulo: LAKE, 1975.326 p. POPPER, Karl. Conjectures and refutations. Apud EPSTEIN, Isaac. Revolues cientficas. So Paulo: tica, 1988. Ensaios 126. 144 p. REGIS, Jaci. Mtodo para a atualizao do espiritismo. In Anais do III Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita. Santos, 1993.

NOTAS
1 2

Allan KARDEC. Revista esprita, julho de 1859, p.195. Idem, A Gnese, p. 37. 3 Jos HUBY. Christus - Histria das religies. S. Paulo: Saraiva, 1956, p.21. 4 Krishnamurti C. DIAS. O lao e o culto - o espiritismo uma religio?. Santos: DICESP, 1985, p.55. 5 Aurlio B. de Holanda FERREIRA, Novo dicionrio de lngua portuguesa. 6 Allan KARDEC. O espiritismo uma religio? Revista esprita, v. 11, dezembro 1868, p. 357. 7 Chamo de ridculas certas idias que ainda se prendem a antigas concepes de punio (como o caso da lei de ao e reao sendo encarada como pena de Talio) ou tentativas de ritualizar prticas nos centros espritas (por exemplo, impedir que o passe seja aplicado quando braos ou pernas esto cruzados, alegando que isso" dispersa a energia"). Tais idias e posicionamentos merecem um estudo mais aprofundado e detalhado, no que tange s suas origens, apresentao e refutao, o que no o escopo deste trabalho. 8 A ligao entre a postura religiosa e o imobilismo de idias , certamente, uma generalizao. Entretanto, infelizmente, pode ser observada na quase totalidade dos espritas msticos. As raras excees de espritas que, apesar de defenderem uma posio religiosa para o espiritismo no permaneceram imveis no campo das idias (a exemplo de Herculano Pires e Carlos Imbassahy, s para citar os mais conhecidos) s confirmam a regra. 9 Alguns pensadores espritas entendem que o dogma na religio uma criao eclesistica, e que nada impede a existncia de uma religio sem dogmas. Entretanto, como praticamente todas as religies formais existentes no mundo possuem esta postura, a argumentao do texto permanece vlida. 10 Canuto ABREU, Bezerra de Menezes, p. 38 (nota da editora). 11 Idem, ibidem, p. 39. 12 Idem, ibidem, p. 42. 13 Como este no o objetivo do presente texto, deixarei este estudo para um trabalho futuro. 14 Ainda aqui, falo de maneira geral. Existem algumas pessoas, infelizmente excees, que nunca se negaram a discutir e, quando necessrio, atualizar os conceitos. Entretanto, estes so uma minoria muito pequena, e, portanto, a anlise continua, a contragosto, vlida. 15 Entendo por conceitos esprios aqueles que, claramente, no pertencem ao corpo doutrinrio do espiritismo e, alm disso, quando for o caso, ainda no foram validados por qualquer outra forma de conhecimento cientfico. Exemplos ficam por conta dos misticismos esotricos, dos chacras, da astrologia, etc. E mais, podem ser tambm consideradas esprias prticas que, sem um fundamento terico srio, vo frontalmente contra as recomendaes de Kardec, como, por exemplo, sesses pblicas de desobsesso. 16 Allan KARDEC. Autoridade da doutrina esprita - Controle universal do ensino dos espritos. Revista esprita, v. 7, p. 10 1, abril 1864. 17 Idem, ibidem, p. 10l. 18 Idem, lbidem, p. 102. 19 Entende-se por cincia orgnica aquela que, opondo-se concepo mecanicista, encara o Universo como um todo indivisvel, em que h uma sinergia entre suas partes constituintes. Deste modo, o modelo para esta concepo no o de uma mquina, mas o de um organismo, onde problemas em um setor significam problemas para o organismo como um todo. a cincia da era quntica. 20 Allan KARDEC. Obras Pstumas. 1. Ed. S. Paulo: LAKE, 1975. Constituio do espiritismo. Dos cismas, p. 292. 21 Jaci Rgis. Mtodo para a atualizao do espiritismo. Anais do III Simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita. Santos, 1993. 22 Karl POPPER. Conjectures and refutations. Apud Isaac EPSTEIN. Revolues cientficas. S. Paulo: tica, 1988. Ensaios 126, p.9. 23 Possivelmente, o termo "moral" no o melhor para definir a idia que permeia este aspecto da doutrina, tanto em funo da etimologia da palavra (ligada ao latim moris, que significa os costumes de cada povo), quanto pelo sentido que lhe dado pela sociologia. Entretanto, esta discusso ser tratada em outro trabalho, e, para manter a tradio do uso que lhe deu Kardec, optei por mant-la neste texto. 24 Isto porque estes princpios so conseqncias lgicas do modelo de Universo do espiritismo: se consideramos um Universo criado por Deus da maneira mais simples possvel, composto por dois princpios - o esprito e a matria - e sujeito a uma evoluo infinita, como possvel realizar esta evoluo em uma nica encarnao e em um nico planeta?

O QUE DISSE KARDEC? o espiritismo uma religio?


Geraldo Pires de Oliveira

INTRODUO:
Uma conversa informal suscitou a reflexo que inspirou este trabalho. O norte do nosso estudo sem dvida a questo religio ou no? - o que parece mais apropriado Doutrina Esprita, cento e quarenta anos depois, final do sculo vinte. Quer parecer que retomar a Kardec, analisar a histria, voltar ao presente. Insistir nesse ir e vir retomando os detalhes, avaliando outros pensamentos podem amadurecer idias, delinear com firmeza um projeto mais apropriado para o espiritismo. Tudo aqui posto como um burilar do pensamento. Esse que se supe livre. Que se dispe a questo almejando o pncaro das possibilidades sem as peias do preconceito. Nem de longe imaginamos que os pontos consultados no fossem de conhecimento dos companheiros estudiosos do espiritismo. Esse enfoque, no pretende ser mais que uma plida contribuio a se somar com outras to mais ricas, melhor elaboradas que j se dispem ao estudo dos que refletem sobre o assunto. O que disse Kardec?", pretende definir e ratificar a posi1io que adotamos desde o incio por afinidade. Sem o af da polmica infrtil, passional e partidria; longe da idia de segregao ou de preconceito, com o firme propsito de contextualizar: "'O que disse Kardec ?" ... Atravs de conversas com di versos companheiros que partilham esse ideal de estudos, tivemos a informao que nos diversos centros de estudo, centros espritas, por maior que sejam as afinidades no existem dois iguais. So particularidades, tendncias que tomam as instituies distintas a despeito da base ser a mesma: Kardec. Quando analisamos uma doutrina religiosa, crist, por exemplo, podemos entender que suas vrias tendncias se devem a interpretao divergente de textos de palavras dentro do compndio bblico. Podemos avaliar que so anlises de textos muito antigos, e no raro atendem a interesses particulares, para assegurar o poder de alguns, ou no. Mas no caso da obra kardeciana, cuja elaborao no dista tanto do nosso tempo, difcil justificar as interpretaes divergentes, a no ser, tambm pela vaidade, pela manuteno do poder ou mesmo a conquista desse. possvel equacionar as diferenas no propriamente com o objetivo de unificar antes de possibilitar o debate, o estudo, a pesquisa no intento ele Avanar efetivamente. __ O ideal esprita, o sonhado por Kardec, e adotado por tantos quantos vieram depois sem dvida o de contribuir para uma vida melhor a partir do entendimento melhor da prpria vida. Por conta disso muitos resolveram alocar o espiritismo dentre as chamadas cincias humanas, ou sociais. Muitos s caminharam pelo caminho filosfico, como se fora a Doutrina esprita unicamente filosofia. Outros, talvez a grande maioria despertaram s e exclusivamente para o lado moral que tem contato com a religio, posto que Kardec referiu-se a moral crist, como sendo a sua adoo para nortear o pensamento esprita. A preocupao que essa escolha da maioria no deu desenvolvimento aos dois aspectos principais, que teria a moral por conseqncia. E mesmo do aspecto moral s se ateve a prtica da caridade beneficente embevecidos que estavam os espritas por tomadas evanglicas, chaves como: "Fora da Caridade no h salvao", "S o amor constri", dando que se recebe"; e no houve um avano alm das ladainhas das mximas evanglicas. Por conta disso quase temos mais uma seita, mais uma igreja, com os mesmos postulados de igrejas evanglicas, ou com costumes catlicos, umbandistas, e o que valha nas orientaes de suas prticas. Adotamos uma vez, o smbolo do tringulo para explicar o carter do espiritismo. E veja se bem: sem nenhuma aluso cabalstica a figura triangular. Num ponto a cincia, n'outro a filosofia, e o espiritismo como resultante num outro vrtice. Depois, considerando que a religio tambm tem importante papel no desenvolvimento da humanidade tivemos: num

vrtice a cincia e a filosofia no outro a religio e como vrtice de unio o espiritismo. O espiritismo como ponto de contato de harmonizao das duas partes sempre antagnicas. Mas o espiritismo sempre estaria distinto. Teria sempre seu aspecto e postura eminentemente filosfica e cientifica, mas nunca seria uma religio. Ento: "O que disse Kardec ?" ... Desde os primrdios da histria do espiritismo h um embate entre os chamados laicos e os chamados religiosos. Pessoas de boa ndole e de moral adotaram uma bandeira por afinidade, entraram num time. Muitas das vezes apaixonadamente. Todos efetivamente a Kardequiana, lutavam pelo mesmo objetivo mas por caminhos divergentes. Na Amrica do Sul tivemos personalidades como: Torterolli, Porteiro, Marioti e outros que defenderam o espiritismo filosfico e cientfico. Do lado religioso foram muitos e destacamos o Dr. Bezerra de Menezes, hoje quase canonizado nos meios espritas religiosos. E nos parece que muitos labutam na chamada seara esprita sem se dar conta destas diferenas, e se o sabem nem se preocupam pois o importante efetivamente a caridade. Sabemos que quando Kardec, no livro: "O Evangelho Segundo o Espiritismo" escreveu sobre a caridade e disse: "Fora da Caridade no h Salvao" estava fazendo aluso mxima incorporada ao evangelho de Jesus: "Fora da igreja no h salvao". E tratou Kardec de explicar ou diferenciar a caridade como beneficente e benevolente. A beneficente como largamente difundida no Brasil, trata exclusivamente de atender as necessidades bsicas dos carentes nas diversas reas. J a caridade benevolente da conta efetivamente da inter relao pessoal. No posso deixar de dizer que a prtica da caridade pelos espritas sempre muito elogiada por pessoas gabaritadas em vrias reas. Os espritas so especialistas em caridade! bom que se diga que os chamados laicos, ou os que de fendem o espiritismo como cincia, filosofia e moral nunca deixaram de ser caridosos. Sempre atuaram em prol de uma causa social, poltica, sempre estiveram engajados na luta do seu tempo, atuantes. E sempre o fizeram de maneira pessoal, por ndole no em nome, ou por causa do espiritismo. Isso posto podemos ver que essas duas pores que dividimos os espritas daro condies de entender as bandeiras os partidos adotados ao longo da histria.

A FORMAO DE KARDEC:
Os ascendentes de Hyppolyte Lon Denizart Rivail, foram magistrados, dedicados a cincia do direito. No seguiu essa tradio, j que desde cedo interessava-se pela cincia e pela filosofia. Estudou na escola de Pestalozzi em Yverdun - Suia. Ora Pestalozzi considerado o pai da pedagogia, j ouvimos isso. A famlia de Kardec era de tradies catlicas, seu principal mestre era protestante. Interessante observar que Pestalozzi sonhava com a unificao das crenas, que o progresso traria por assim dizer uma nica religio, dissipando as divergncias e debates o que promoveria a paz entre os povos. Alguns atribuem a isso a idia de ecumenismo. Para os intolerantes sectrios isso era obra do demnio. Intolerncia religiosa de um lado e de outro tambm despertaram em Rivail o ideal de apaziguar as tendncias e unificar os diversos credos. A nosso ver uma utopia que no momento da elaborao da Doutrina esprita parecia ter encontrado sua realizao. Podemos at entender com Kardec, que as religies poderiam encontrar confirmao de seus pontos de f no espiritismo, pois que alguns elementos que era objeto de estudo do espiritismo faziam parte da conformao doutrinria dos diversos grupos e instituies religiosas. E at se abriu, por assim dizer, a possibilidade dos diversos religiosos estudarem espiritismo continuar nas suas igrejas e assemblias. Mas entendemos que isso contribuiria com a confuso mais tarde.

EMBATES E ALGUMAS INTRIGAS DE KARDEC:


Na resposta ao abade Franois Chesnel temos Kardec afirmando que o espiritismo no seria mais uma seita, no seria religio. Kardec pergunta e responde: " ele (o espiritismo

uma religio? Fcil demonstrar que no". E mais a frente: "o seu carter pois o de uma cincia e no de uma religio". Mas no mesmo texto mais adiante o fundador do espiritismo, por causa das conseqncias morais comuns em toda doutrina filosficas, vai dizer: "Suas conseqncias so no sentido do cristianismo, porque este, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura, razo porque, de todas as seitas religiosas do mundo, so as crists as mais aptas a compreende-la em verdadeira essncia. O espiritismo no pois uma religio" ... Cabe analisar! A maioria dos cristos daquela poca eram catlicos e depois protestantes ou evanglicos. A umbanda era sincretizada ao catolicismo s no Brasil, um nmero relativamente pequeno e sem grande influncia no panorama global. Os cristos acima no acreditavam, no aceitavam um dos postulados bsicos da Doutrina Esprita que era a reencarnao. Destacamos esse mas se procurarmos, veremos divergncias fundamentais. O nico ponto de contato era a origem das doutrinas crists: Jesus de Nazar. Demasiado tendencioso Kardec nessa afirmao. Em que pese n'outro momento ele diga que, islmicos, budistas, muulmanos, estavam estudando o espiritismo. Acreditamos tambm num fato: Existiam doutrinas religiosas, embasadas em filosofias orientalistas com um cdigo de moral bastante elevado e sbio e que eram reencarnacionistas, que se poderia dizer com muitos pontos de contato com o espiritismo. Quis Kardec, no entanto, denotar sua preferncia. Justificaramos considerando a cultura geral do mundo ocidental que era eminentemente crist, com pouca ou quase nenhuma informao sobre outras doutrinas. Mas lamentamos o limite que isso de certa maneira nos imporia, a considerar que se levantam hoje bandeiras de um espiritismo cristo, contra a qual nos insurgimos, por conta desse atrelamento autorizado por Kardec. Na revista de outubro de 1860, Allan Kardec, com certa indignao responde a um articulista, redator da gazette de Lyon, por conta de um artigo em: '2 de agosto de 1860: "Se jamais Deus vos reservou dias nefastos, orai-he para que os ofendidos no se lembrem disto. Os que so espritas esquecero, porque a caridade ordena. assim fazei votos para que todos o sejam, desde que bebem no espiritismo os princpios de ordem social, de respeito propriedade e de sentimentos religiosos". Mais adiante, no mesmo texto: "Mas a propsito de uma crena de que me orgulho de professar porque uma crena eminentemente crist, vs procurais ridicularizar criaturas honestas e laboriosas, porque so iletradas, esquecendo que Jesus era operrio". O que temos abre a possibilidade de interpretao para uma crena para no mnimo um partido religioso.

AS OBRAS BSICAS:
Como a Doutrina esprita tem como objeto de estudo a alma, e como trata desse assunto, ainda que a ttulo de investigao; estuda com espritos desencarnados e no caso especfico da codificao os principais espritos eram ligados a igreja catlica temos um certo rano, um certo ar religioso ou aparentemente um ponto de f em algumas colocaes. Talvez no concordem alguns companheiros navegantes, porm ... Em o Livro dos Espritos, temos lima introduo, que compe um captulo a parte, de suma importncia, onde a morte quer nos parecer seja de uma doutrina exclusivamente filosfica. Cuida da clareza de linguagem, define o encaminhamento das questes. A ordenao dos captulos, os assuntos dispem-se com uma didtica incrvel, a ponto de impressionar o mais exigente pedagogo, ou o que valha. A primeira questo nos deixa tranqilo: O que Deus? e toda a primeira parte desenrola-se de maneira que nada da indcios de uma religio. O questionamento realmente filosfico! Mas no decorrer do seu desenvolvimento, at porque as personalidades desencarnadas que ali respondem falam diferentemente; j percebemos que em alguns pontos no to cristalino assim a iseno, no aspecto religioso. Seno vejamos: Aleatoriamente abrimos a questo 198 da parte V - "....E Deus no afasta da prova quem deve sofrer" ... , outra - 334 - ... "Deus que

tudo sabe e que tudo ve" ..., na 336 - "Deus proveria isso" ... na 337 a questo j era dirigida: "A unio do esprito com determinado corpo pode ser imposta por Deus? - e a resposta afirmativa ainda termina dizendo que: ... "poder tomar-se para ele um castigo". Podero no concordar os meus muitos amigos aqui presentes, mas o meu questionamento aqui considera a possibilidade de Deus ter ganhado uma personalidade, que vai dirigindo e determinando. Punindo, castigando. Na parte VI no tpico sobre os anjos da guarda temos um linguajar bastante prprio da religio: Anjo da guarda, esprito protetor, e na mensagem de So Lus e Santo Agostinho uma apologia a f. T bem, sabemos que pode ser uma f raciocinada!, mas difcil entender f raciocinada. Quer nos parecer que quando raciocinamos a f cede naturalmente a razo. E passamos a acreditar por que sabemos, no seria assim?!?! Alis, por muito tempo utilizamos o pensamento da primeira pgina do livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo: "F inabalvel smente aquela que pode encarar a razo face a face em todas as pocas da humanidade" - Bonito, n ? - Hoje ainda aparece em alguns momentos, como um alento, como uma resposta apropriada, mas entendemos que preciso refletir mais sobre o assunto. E selecionando, poderamos citar aqui muitas colocaes j no Livro dos Espritos que nos daria, no s um ar de religiosidade, mas uma conotao religiosa; vede mais a questo 627, a resposta toda uma apologia ao cristianismo, como entendemos. Embora na anterior 626, sentimos uma abertura, quando na resposta os espritos deixam claro que as verdades esto escritas por toda parte. Em o Livro dos Mdiuns, acima j citamos o captulo III - Mtodo, onde Kardec fala dos Espritas cristos. Alm disso, mesmo sendo este livro designado como o da cincia esprita, e sem dvida ser um manual ainda insubstituvel para o exerccio da mediunidade tal como concebe o espiritismo. No se aboliu a prece das reunies. Com o propsito de se conseguir uma unidade energtica, uma comunho de pensamentos, uma harmonizao do ambiente. A prece se mantm. Nem ps Kardec, sabemos de um mtodo efetivo que tenha sido desenvolvido para a consecuo da harmonia do ambiente. Talvez por sermos ocidentais, sabese l, pouco sabemos de "concentrao", "concentrao mental" nem "meditao". Outras doutrinas esotricas o conseguem. Jesus de Nazar ao que tem de informao o fazia. Os praticantes da Ioga, de maneira diversa, mas os praticantes do Tai Chi Shuan, desenvolvem essa prtica, e no so religies. No espiritismo simplesmente se ora, faz-se a prece de abertura dos trabalhos e de encerramento. Mas temos de convir que o linguajar ganha alguma autoridade a mais. Maior independncia, e iseno e que contribui conosco no pensamento no religioso, ou que nos permita considerar o espiritismo como sendo uma doutrina filosfica, cientfica e que pretende uma conseqncia moral. E o que nos interessa efetivamente. Mas sigamos com nossa anlise. J fizemos uma breve referncia ao livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo, acima. Mas esse que seria por definio o elaborador da concepo moral do espiritismo, quer nos parecer em algum momento uma pedra no sapato. Um linguajar que parece querer agradar mesmo as concepes mais religiosas, mais ardorosas, de pura adorao. Ser que estamos sendo rigorosos, pode ser. Mas a nossa apreciao vai ao ponto de considerar que os comentrios de Kardec, sejam mais interessantes que a maioria dos ditados por espritos. A ltima parte ento, a das preces espritas, difcil no questionar a validade. J ouvimos que alguns mais afoitos, chegam a achar a obra anmala, sem nenhuma funo plausvel dentro do compndio da codificao. No chegamos a tanto. Consideramos que se Kardec escreveu o fez com algum objetivo. O que queremos simplesmente questionar. O que Kardec fez, da maneira como fez assim que deve ficar? E vejam queridos companheiros, claro que percebemos todo o aspecto consolador, e muita beleza em muitos pontos do livro. Mas alguns pensamentos ali contidos contriburam para as interpretaes dos que fizeram uma "religio esprita". Kardec muitas vezes nas suas oscilaes no mximo aceitou uma religio filosfica. Em a Gnese, temos o I captulo, cerca de 40 pginas. Apesar de termos ali consubstanciado a idia de que o espiritismo a terceira revelao, conseguinte das de Moiss

e Jesus respectivamente; Vimos ali, paradoxalmente, toda a elaborao por Kardec do pensamento cientfico e filosfico da Doutrina esprita. O texto primoroso! - Podemos at questionar se terceira revelao ou no, mas o texto na ntegra no supe um comportamento, uma elaborao religiosa para o espiritismo. No decorrer do livro at poderamos encontrar aqui ou acol alguns pontos que tendessem a dbia interpretao, e temos uma grande demanda de assuntos concernentes a Jesus, o Cristo, ainda assim temos nesse livro todo o encaminhamento de uma viso efetivamente mais racional. Considero que de certa maneira, era difcil no tocar no assunto cristianismo, pelo liame tnue das duas doutrinas. fatal a fraternidade das duas concepes. E como alguns pensadores j entreviram uma raiz do cristianismo, e do monotesmo nos pensamentos de Scrates e Plato; podemos at ver com certa naturalidade e tranqilidade a construo do edifcio Kardeciano por esse viez. Longe de entender nisso uma religio. No falamos ainda do livro: O Cu e o Inferno. Sabemos ter sido este o quarto livro das obras bsicas. Temos nesse livro, por assim considerar o coroamento ou o revestimento do aspecto moral pela filosofia. Em alguns momentos sentimos como que assistindo alguma manifestao de algum dos espritos e imaginamos um ar grave na dissertao, um peso tumular e fantstico, coisas da f possivelmente, ou do tema tratado nesse livro, ou pura tendncia nossa. Mas tanto o Cu e o Inferno, como a Gnese; como que melhorasse muito o direcionamento, norteasse o destino de uma doutrina racional sem peias religiosas: Cincia e Filosofia mesmo! - O que tambm temos grandemente na Revista Esprita. Ainda podemos contar em nossas anlises, com mais uma obra de peso: Obras Pstumas. Muito do pensamento de Kardec se perderia se no tivessem a brilhante idia de compilar os seus escritos, artigos e realizassem essa edio. Porm, temos uma comunicao sob o ttulo de: Futuro do Espiritismo assinado por: UM ESPRITO, que nos diz que a funo do espiritismo : "apurar a religio do Cristo" ...depois: "lnstiuir a verdadeira religio, a religio natural, a que parte do corao e vai, diretamente, a Deus" ... E muitas lembranas esparsas ocorre-nos lembrando artigos e pensamentos da Revista Esprita, e de outras obras, que bem serviriam ao propsito de balizar, tal como pretendamos essa reflexo. Poderamos nos ater simplesmente ao artigo do companheiro Reinaldo de Luccia, publicado a pouco tempo no Jornal Abertura. Tambm lembramo-nos do trabalho apresentado por Milton Rubens Medran, levantando os pontos incompatveis entre o cristianismo e o espiritismo. Do pensamento do companheiro Reinaldo importante frizar, e o nosso intento, a necessidade de promover novo debate. Exaurir a polmica, sem incorrer na infertilidade dos embates pessoais, alheios a civilidade, ao bom senso, que se supe devam interessar aos que tm sede de poder. Cumpre-nos nesse momento pactuar com os que acham interessante avanar a partir dessa reflexo. H um pensamento vigente: "O espiritismo ser o que deles fizerem os homens" - Isso disse tambm Kardec. Urge a necessidade de melhorar o seu encaminhamento, e torn-lo o mais til possvel.

OUTRAS FONTES DE REFLEXO:


Ouvimos dizer, amide que, Jos Herculano Pires foi o filsofo brasileiro que mais entendeu Kardec. Concordamos. Sabemos que Herculano referia-se a doutrina esprita como sendo no simplesmente religio, mas a religio. Uma vez que o nosso filsofo combateu o sectarismo dentro da doutrina, lutou contra a igrejificao, o misticismo, consideramos em concordncia com outros companheiros que nesse caso uma questo puramente semntica. Herculano tinha o mesmo ideal dos que seguram esse estandarte (da no religio), analise-se o livro Agonia das Religies e pode-se compreender isso. Nesse livro temos uma anlise no XIII captulo, em que Herculano diz: "Kardec sabia o que fazia, quando evitava a confuso do Espiritismo com as religies dogmticas, sem, entretanto negar o seu aspecto religioso. Teve mesmo o

cuidado de no cortar em excesso as ligaes da doutrina com a tradio religiosa, pois sabia que a evoluo no pode sofrer, sem perigos de soluo de continuidade." O que disse Herculano, de certa forma, embasa o que tentamos refletir. No tendo tomado uma posio definitiva, Kardec abriu a possibilidades de alguns "aventureiros" o fazerem. Inspirados e motivados por devaneios Roustanguistas, Pietro Ubaldistas, Polidoristas, Zarurzistas, LBV's, Racionalismo's Cristo, tanto curandeirismo artesanal e romanesco, muito em nome da vaidade, pouco quase nada em nome da verdade. Dizemos quase porque vemos pessoas de boa f envolvidas e convencidas das prticas esdrxulas eivadas de ignorncia em nome do espiritismo kardecista. De boa f mas sem muita boa vontade de aprender e de revolucionar. Um outro livro que nos serve de esteio e o livro de Ubiratam Machado: Os Intelectuais e o Espiritismo, De Castro Alves a Machado de Assis. Esse livro vale se lido integralmente de grande interesse para todos. Por isso no pretendemos fazer citaes. Vale dizer, que o jornalista/autor: Ubiratam Machado nos remete historicamente aos primrdios do espiritismo no Brasil. e que podemos depreender que o embate antigo. Sempre houveram os laicos ou cientficos do espiritismo c os religiosos. Numa briga puramente partidria, pelo poder, ou o que valha. No Brasil a chamada Seara era grande e precisava de trabalhadores. Pas pobre com muitos problemas sociais estimularam um time de espritas de primeira hora ao trabalho assistencial, a caridade beneficente. E os espritas at hoje so destaques no Know-how da caridade. Carente de tudo, principalmente de cultura geral, de educao at elementar, o brasileiro foi muito assistido pelo espiritismo, mas pouco desenvolveu pesquisas e seu lado cientfico e filosfico. As academias pouco ou nada sabem dele. Ignoram e at fazem pilhrias sem pesquis-lo. Sabemos que existem uns poucos grupos, mas ainda insatisfatrios. E so muitos os acadmicos adeptos da filosofia esprita. Toda a nossa reflexo, pretende estimular a polmica, mas necessria e urgente discusso. O que vantagem para a doutrina? - Consideramos e reconsideremos o que disse Kardec. Ele nos deu a chave, e a porta se nos apresenta. Quantos j o disseram, mas sem a preocupao de sermos redundantes queremos frizar: Kardec a base, a fundao do edifcio, mas no a sua cobertura o seu fechamento. Abriu-nos a possibilidade da pesquisa e do desenvolvimento desse. Foi a palavra inicial, e quo longe estamos da palavra final, se que v existir ?!? - "O espiritismo ser o que dele, fizerem os homens". No podemos abrir mo cio questionamento. E possvel ver que Kardec n'alguma questes talvez no tivesse definies apropriadas, satisfatrias e 1talvez esteja nisso a causa do desencontro. Importa sempre ver o que disse Kardec, mas o avano essencial. O bom senso nos impele questo. Devolvemos a palavra a Jos Herculano Pires, na finalizao do seu captulo iniciado acima: ... "Poucas obras revelam uma compreenso to clara e profunda da natureza orgnica do Universo, como a Codificao. por isso, e no por sectarismo ou fanatismo, que no podemos fazer concesses ao passado no campo das atividades doutrinrias. Avanamos para um novo mundo que s o Espiritismo pode modelar, pois s ele revela condies para isso em sua estrutura doutrinria. Mas se no procurarmos compreend-lo em toda sua grandeza, certo que o reduziremos a uma seita fantica de crentes obscurantistas. Evitemos essa queda ao passado, para ns mesmos e para o mundo. Tenhamos a coragem de avanar sem muletas e sem temor para a Civilizao do Esprito." Bibliografia: Obras Bsicas - Allan Kardec Obras Pstumas - Allan Kardec Revista Esprita - Allan Kardec Agonia das Religies - J. Herculano Pires

A F SICA NO E SPIRITISMO
rika de Carvalho Bastone

INTRODUO
Todos aqueles que passaram por uma casa esprita j ouviram falar dos trs aspectos do espiritismo: cientfico, filosfico e moral. Neste trabalho vamos falar um pouco do espiritismo como cincia, em particular, na Fsica, uma cincia exata. Para comear, vamos rever dois trechos do primeiro artigo da Revista Esprita, de janeiro de 1858, nos quais Kardec explicita o papel da cincia no espiritismo. ... a fora que se revela no fenmeno das manifestaes, qualquer que seja a sua causa, est na natureza... . O que preciso fazer observ-la, estudar-lhe todas as fases para, delas, deduzir as leis que a regem. Se for um erro, uma iluso, o tempo lhe far justia; se for a verdade, a verdade como o vapor: quanto mais se comprime, maior a sua fora de expanso.
...talvez nos contestem a qualificao de cincia que damos ao espiritismo. Ele no poderia, sem dvida, em alguns casos, ter os caracteres de uma cincia exata, e est precisamente a o erro daqueles que pretendem julg-lo como uma anlise qumica, como um problema matemtico: j muito que tenha o de uma cincia filosfica. Toda cincia deve estar baseada sobre fatos, mas s fatos no constituem a cincia; a cincia nasce da coordenao e da deduo lgica dos fatos; o conjunto de leis que os regem. O espiritismo chegou ao estado de cincia? .... mas as observaes so bastante numerosas para se poder, pelo menos, deduzir os princpios gerais, e a que comea a cincia.

Desde o advento do espiritismo a fsica tem sido empregada na explicao de fenmenos, sendo comum o uso de termos prprios desta cincia na literatura esprita. Mesmo no Livro dos Espritos, de Allan Kardec, termos como fluido eltrico ou fluido magntico, atuais para a poca, aparecem nas respostas dadas pelos espritos a Kardec. Muitos cientistas, espritas ou no, nos primeiros anos da histria do espiritismo, dedicaram parte de seu tempo estudando os ditos fenmenos espritas. Podemos citar, como exemplo, William Crookes, Alexandre Aksakof, Friedrich Zllner, Camille Flammarion e Ernesto Bozzano, entre outros. O que chega at ns de seus trabalhos apenas uma exposio, uma coletnea de observaes, bem preparadas, de apresentaes medinicas. Eles observavam, anotavam, comparavam e analisavam, sempre aplicando o mtodo cientfico, mas pouco mais podiam fazer. Nesta poca o tomo ainda era uma partcula fundamental (indivisvel), Maxwell estava formulando suas equaes que dariam origem teoria eletromagntica e a mecnica newtoniana ainda reinava absoluta. A fsica evoluiu. Vieram novas teorias, uma nova maneira de ver o mundo. Suas descobertas influenciaram todas as reas do conhecimento humano. O espiritismo, com um corpo doutrinrio amplo, abrangendo todas as reas do conhecimento, ficou, a meu ver, por fora desta evoluo. Mesmo fundamentado como cincia, no conseguiu, ao longo dos anos, apesar dos esforos de alguns poucos cientistas, ser considerado, no meio acadmico, como uma cincia. No conseguiu nem mesmo despertar a curiosidade cientfica sobre alguns fenmenos

fsicos. Podemos culpar a comunidade acadmica por tal desinteresse, mas a comunidade esprita tambm tem a sua parcela de culpa. Estamos sempre esperando que a cincia descubra indcios da vida espiritual, que um dia a cincia confirme o que ns, espritas, j sabemos. Na dcada de 50, Andr Luiz, sob o intermdio dos mdiuns Francisco Cndido Xavier e Valdo Vieira, nos trouxe duas obras, Evoluo em Dois Mundos, de 1958, e Mecanismos da Mediunidade, de 1959, em que conceitos de fsica so altamente explorados. No presente trabalho fao uma anlise destes dois volumes no que se refere fsica. Comparo os conceitos e definies utilizadas pelo autor com a fsica vigente na poca em que foram escritos. Para isto, apresento antes um breve resumo de como andava a fsica nestes tempos. Por ltimo, levanto a discusso a respeito da formao de uma comunidade cientfica esprita, interessada na elaborao de procedimentos factveis, amparada no mtodo cientfico, para o estudo da fsica sob a tica esprita.

A FSICA NOS SCULOS XIX E XX


A partir do sculo XVII, com o sucesso da mecnica, surgiu uma tendncia para uma mecanizao geral da fsica. Assim, o calor foi associado ao movimento de um fluido calrico, a eletricidade existncia de um ou dois fluidos eltricos, a luz seria associada teoria corpuscular de Newton e, na qumica, surgiu uma espcie de fluido, o flogstico. A idia do flogstico comeou a entrar em declnio j no sculo XVIII, quando Priestley, em 1774, mostrou a existncia do oxignio, e com Lavoisier, em 1777, quando decomps a gua em oxignio e hidrognio, embora no incio do sculo XIX ainda restassem alguns poucos adeptos. Durante o sculo XIX, a fsica avanou a uma velocidade cada vez mais acelerada, embora a necessidade de um meio mecnico, o ter, com propriedades essencialmente diferentes das dos meios elsticos comuns, como repositrio de energia no espao, s tenha sido definitivamente abandonada na passagem do sculo XIX para o sculo XX. Assuntos que eram antes matrias distintas comearam a convergir. Vamos analisar separadamente as sees calor, eletricidade e luz e vejamos como suas relaes evoluram no sculo XIX, dando origem fsica atmica. Veremos tambm como se deu a passagem da fsica clssica para a fsica quntica 1 . Como em nenhum momento Andr Luiz se refere conceitos de fsica estatstica e de relatividade, no achei necessrio inclu-los neste resumo.

CALOR
No fim do sculo XVIII, quando defendia uma teoria vibratria para explicar o calor gerado quando se perfurava um canho, o conde Rumford observou que o suprimento de calor parecia inexaurvel, e se tornou claro que o calor no poderia, simplesmente, ser um fluido impondervel. Depois da pesquisa de Rumford, Carnot fez uma anlise permanente e penetrante de mquinas que produziam fora mecnica com o calor. Declarou que o motor realiza trabalho mecnico devido mudana de temperatura e no perda de
1

A fsica clssica baseada em processos contnuos, como, por exemplo, planetas girando em torno do sol ou ondas propagando-se na gua. A nossa percepo do mundo baseada em fenmenos que evoluem continuamente no espao e no tempo. O mundo sub-microscpico, no entanto, muito diferente: um mundo de processos descontnuos, um mundo que exibe comportamentos que contrariam frontalmente nosso amado bom senso. Somos protegidos dessa realidade pela nossa prpria cegueira sensorial.

calor. Morreu em 1832, aos 36 anos, sendo que seus textos pstumos permaneceram dispersos por cerca de meio sculo. Neles Carnot chegava a concluso de que o calor nada mais do que uma fora eletromotriz, ou uma fora que mudou de forma, comeando a trabalhar nos fundamentos de uma teoria cintica do calor. Suas notas guardavam a maior parte do trabalho fundamental que viria a ser chamada a primeira lei da termodinmica. Coube a Joule, Kelvin e Clausius, nas dcadas de 40 e 50 (sculo XIX), desenvolver a moderna teoria do calor, a termodinmica, tornando claro que o calor no era nenhum misterioso fluido sem peso, mas sim uma forma de energia, tal como acontecia com o trabalho mecnico. Tambm se tornou evidente que nenhuma forma de energia podia ser destruda, embora uma pudesse ser convertida em outra. Dessa constatao, chegou-se ao princpio da conservao de energia.

ELETRICIDADE
A eletricidade, tal como o calor, tambm era concebida como um fluido impondervel. A questo principal, em 1800, era saber se seria um fluido ou se seriam dois. No entanto, nesse ponto, o quadro deveria mudar devido a pesquisas mais extensas e profundas, sendo que evidncias posteriores foram obtidas graas a estudos sobre a passagem da eletricidade ao longo dos fios. Ohm, entre 1821 e 1827, fez vrios experimentos, e concluiu que a eletricidade se movia em um fio passando de partcula em partcula. Ao mesmo tempo Oersted e Ampre conseguiram provar experimentalmente, em 1829, que, quando uma corrente eltrica passava ao longo de um fio, havia um campo magntico associado a ela. De 1821 a 1825 Ampre esclareceu os efeitos de correntes sobre ims, assim como o efeito oposto, a ao de um im sobre correntes eltricas. A eletrodinmica de Ampre, posteriormente mais desenvolvida por Weber, era uma teoria que imitava o modelo newtoniano, isto , tudo deveria seguir um modelo desenvolvido por Newton (1687) na sua mecnica, baseando-se nas interaes entre pontos materiais. Assim, sua teoria se revelou inadequada para explicar os fenmenos eletromagnticos, sendo logo substituda pelo novo conceito de campo. A partir de 1833, Faraday argumentou, e conseguiu provar experimentalmente que, se a eletricidade que corria por um fio produzia efeitos magnticos, como Ampre havia mostrado, o inverso deveria ser verdadeiro um efeito magntico deveria produzir uma corrente eltrica. Seguiram-se outras experincias, verificando que uma espiral de fio induziria uma corrente eltrica em si mesma nos momentos em que uma corrente fosse ligada ou desligada, fenmeno da auto-induo. Essas experincias conduziram a toda espcie de resultados prticos, do desenvolvimento dos motores e geradores eltricos ao telgrafo eltrico e eletricidade pblica. Principalmente, levantaram um problema terico, que no era novo, embora, sua luz, tenha se tornado um srio desafio. Era a questo relativa ao modo como a eletricidade e o magnetismo podiam afetar um ao outro no espao vazio, o problema da ao distncia. Faraday props a til e produtiva idia de um campo. Imaginou que existiam linhas de fora magntica e que estas ficavam tanto prximas quanto mais forte fosse o campo magntico. Em 1837 introduziu o conceito paralelo de linhas de fora eltrica e, no ano seguinte, estava em condies de elaborar uma teoria da eletricidade. Afirmou, ao discutir a eletricidade e as linhas de fora, que o espao devia estar cheio de tais linhas e que, talvez, a luz e o calor radiante fossem vibraes que viajavam ao longo delas. Mas essa idia necessitava de uma anlise matemtica

completa que lhe desse preciso, se pretendesse que ela se tornasse algo mais que uma afirmao interessante. O homem que aceitou esse desafio foi o escocs Maxwell. Comeou sua anlise em 1855, tentando encontrar uma explicao matematicamente correta das linhas de fora que circundavam um im, isto , o campo magntico de Faraday. Em 1861 estava em condies de colocar correntes eltricas, cargas eltricas e magnetismo em um esquema abrangente, pressupondo um ter para explicar como as correntes eltricas e seus variados campos magnticos estavam sempre interagindo. Maxwell fez o relacionamento do campo com o ter, de forma natural, pois mostrou que as ondas eletromagnticas 2 se propagam com a velocidade da luz, e o ter era tido como o suporte das vibraes luminosas. Em 1864 publicou seu trabalho, com todos os detalhes matemticos. As implicaes de seus resultados matemticos eram impressionantes. As equaes a que Maxwell tinha chegado para expressar o comportamento de uma corrente eltrica e de seu campo eltrico associado eram semelhantes, em todos os aspectos, s j determinadas para expressar o comportamento das ondas de luz (uma teoria ondulatria da luz j fora aceita por essa poca). Assim, o que Maxwell mostrou foi que a luz devia ser uma onda eletromagntica de alguma espcie e, inversamente, que as ondas eletromagnticas deviam ser passveis de reflexo, refrao e todos os efeitos que as ondas de luz sofrem. Seus resultados mostravam que deviam existir radiaes de menores e maiores comprimentos de onda do que a luz. Em 1888, Hertz descobriu as ondas de rdio, que so ondas eletromagnticas com comprimento de onda maiores que as da luz. Mas na realidade o ter estava atrapalhando o desenvolvimento da teoria do campo. Pensava-se que o ter era necessrio porque se achava que a energia s podia ser contida na matria. Se havia uma energia no campo eletromagntico, ento deveria haver uma certa matria que contivesse essa energia. Em 1887, Michelson e Morley inventaram um aparelho, o interfermetro, com o objetivo de se confirmar a existncia do ter. Mas o resultado do experimento foi justamente o contrrio, a no existncia do mesmo. Maxwell teve dificuldades em se desembaraar totalmente dos modelos mecnicos, e uma concepo mais moderna do campo s foi atingida por Lorentz em 1892, depois da teoria dos eltrons, que admitia uma localizao direta da energia eletromagntica no espao, sem qualquer meio mecnico de suporte. Depois da teoria da relatividade restrita de Eisntein, em 1905, foi ento definitivamente abandonada a idia de um ter.

LUZ
A teoria de Newton sobre a luz, que a considerava como um fluxo de corpsculos, manteve-se inalterada at o princpio do sculo XIX, quando uma nova concepo foi adotada por Thomas Young. Young questionava, por exemplo, se a luz se devia a corpsculos lanados de um corpo, porque eles viajavam sempre a mesma velocidade, quer viessem de uma centelha produzida em uma lareira, quer dos raios do sol? Ou, ainda, se a luz era uma fileira de corpsculos, porque apenas alguns seriam refratados atravs de uma lente e outros refletidos? Para resolver estes problemas resultantes da teoria corpuscular, sups que o espao estava cheio de um ter luminoso e que a luz era um distrbio de onda em tal ter, conseguindo explicar todos os efeitos usuais de reflexo e refrao. Foi dele tambm o princpio da interferncia da luz.
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As equaes de Maxwell para o eletromagnetismo podem ser combinadas para dar uma equao de onda para os vetores do campo eltrico e do campo magntico. Essas ondas eletromagnticas so provocadas por cargas eltricas aceleradas. Foram produzidas pela primeira vez em laboratrio por Hertz.

O problema da difrao, em que a luz se espalha aps passar por uma minscula abertura, era mais difcil de resolver. A teoria corpuscular considerava que o efeito da difrao era causado pela atrao gravitacional dos corpsculos quando eles passavam muito perto de um corpo, mas no era uma explicao satisfatria. Em 1793 Young declarou que a difrao era causada pela interferncia das bordas de um corpo, com que ainda se concorda, mas sua explicao de como isso acontecia no foi convincente. E tinha mais um obstculo para sua teoria, a dupla refrao da luz que ocorria em certos cristais. Em 1808 Laplace declarou que essa diviso da luz em dois raios podia ser explicada pela teoria corpuscular, supondo-se que os corpsculos eram divididos em dois raios, cada qual com uma velocidade diferente. A Acadmie des Sciences ofereceu um prmio, em 1810, a quem explicasse o fenmeno da dupla refrao, que foi ganho por Malus. No inicio de sua pesquisa surgiu um novo efeito, que ele chamou de polarizao. Malus se julgou capaz de explic-lo com a teoria corpuscular. Os partidrios da teoria corpuscular se sentiram triunfantes. A Academie ofereceu outro prmio, essa vez para uma explicao da difrao, que foi ganho por Fresnel em 1815, que apresentou resultados que conduziram derrubada da teoria corpuscular. Nos anos que se seguiram, novos experimentos foram realizados, agora com Young e Fresnel trabalhando juntos. A teoria corpuscular foi se tornando insustentvel, embora a polarizao continuasse a ser um problema. Em 1817 Young resolveu a questo, imaginando que as ondas de luz no ter eram realmente transversas, como as ondas do mar, e no longitudinais. A partir da qualquer resultado experimental podia ser explicado. Outra questo da luz que surgiu no sculo XIX foi a verdadeira natureza do seu espectro. Newton provara que a luz solar era composta de todas as cores. Em 1802, Wollaston, na esperana de separar as cores umas das outras, construiu um aparelho, o espectroscpio, mas ao contrrio de suas expectativas nenhuma separao das cores foi conseguida. O que ele viu foi que o espectro era cortado por uma srie de linhas pretas. Doze anos depois Fraunhofer, estudando o espectro solar, mapeou 576 linhas pretas e finas que conseguiu ver. Paralelamente, as observaes dos astrnomos Herschel e Talbot mostravam que, quando certas substancias qumicas eram aquecidas e suas chamas examinadas em um espectroscpio, cada elemento apresentava suas prprias linhas caractersticas. Em 1833 as experincias de Miller comprovaram que, se a luz solar fosse passada atravs de vrios gases no laboratrio, apareceriam linhas escuras adicionais, e a partir disso tornou-se geral a convico de que as linhas de Fraunhofer podiam ser devidas a gases existentes no sol. Finalmente, em 1858, Stewart demonstrou que, se um corpo emitia radiao em comprimentos de onda especficos, ento tambm absorvia melhor a radiao nesse comprimento de onda. Esta descoberta foi feita simultaneamente por Kirchhoff. Estes dois cientistas conseguiram traar um conjunto de trs leis que regiam os vrios tipos e espectros observados em laboratrio. Em 1860 a questo estava clara, e a tcnica de espectroscopia possibilitou detectar a presena at mesmo dos menores traos de uma substncia. Finalmente, em 1864, Maxwell mostrou que a luz devia ser uma onda eletromagntica. Observao: O breve resumo apresentado acima, a respeito da fsica no sculo XIX, nos permite visualizar como estava a fsica na poca em que Kardec fazia seus estudos sobre o espiritismo.

FSICA ATMICA E A TEORIA QUNTICA


O prximo passo para um entendimento mais profundo da natureza dos prprios tomos resultou na prtica de se fazer passar eletricidade atravs de gases rarefeitos, pois assim os gases brilhavam e podiam ser examinados pela espectroscopia. Observou-se que a espcie de descarga que ocorria dependia da qualidade do vcuo obtido no tubo. Em particular, estavam interessados em um brilho nas paredes de vidro do tubo, que parecia ser causado por alguma coisa procedente de um dos pinos de metal, ou eletrodos, da extremidade do tubo. William Crookes, de 1879 a 1880, tentou explicar esses raios catdicos afirmando que se deviam s poucas molculas de gs ainda remanescentes no tubo, as quais se eletrizavam, sendo ento repelidas pelo catodo (eltrodo negativo). Em 1895, contudo, uma descoberta acidental levou no s a rejeio da explicao de Crookes, como tambm ao incio de uma completa revoluo nas idias sobre o tomo. Rntgen estava usando um tubo ligado a uma bomba de vcuo quando notou que uma folha de papel coberta com uma fina camada de platinocianido, que estava sobre um banco, comeou a brilhar; o brilho cessou to logo o tubo foi desligado. Evidentemente, alguns raios vindos do tubo atingiam a folha. No podiam ser partculas, pois os raios no eram defletidos por um campo magntico ou eltrico. Se fossem raios, devia haver algo curioso com eles, pois no eram refratados por uma lente. Rntgen chamou-os de raios X. Thomson e seu aluno de doutorado, Rutherford, comearam a estudar os novos raios. Enquanto Rutherford investigava os raios X, Thomson voltou sua ateno para os prprios raios catdicos. Thomson mediu sua velocidade e declarou que eram 1600 vezes mais lentos que a luz, adotando assim o ponto de vista de que eram partculas e no radiao eletromagntica. Seria necessrio conhecer a carga eltrica das partculas e sua massa, mas Thomson s realizou experimentos para definir a proporo entre estas duas quantidades, e no seus valores isolados. Seus resultados eram idnticos em todos os gases, levando-o a concluir que estava lidando com alguma coisa menor do que um tomo. Assim, ao findar o sculo (1897), a existncia do eltron, como ficou conhecida esta partcula, estava estabelecida3. Em 1896 Becquerel, trabalhando com os raios catdicos, descobriu que o urnio emitia raios que, como os raios X, faziam com que um gs conduzisse eletricidade. Marie e Pierre Curie decidiram descobrir se este era o nico elemento com o mesmo comportamento. Em 1898 descobriram novos elementos que se comportavam assim, o polnio e o rdio, e observaram que esta radiao devia ser causada por alguma propriedade dos prprios tomos. Rutherford, estudando a radioatividade, descobriu, em 1898, que eram emitidos dois tipos de raios, que ele chamou de alfa e beta. Em 1907 viu-se que os raios alfa eram, na verdade, ncleos do tomo de hlio e que os raios beta eram eltrons com alta velocidade. Alm destas partculas emitidas, Villard descobriu que tambm era emitida radiao, cujos raios foram denominados raios gama. Em 1910, Bragg confirmou a existncia dos raios gama e observou que os raios X ora se comportavam como ondas eletromagnticas, ora como partculas, e foi obrigado a concluir que pareciam ambas as coisas.
Em 1919 o ncleo do nitrognio foi desintegrado, e os produtos dessa desintegrao eram partculas carregadas positivamente, chamadas prtons. Em 1932 descobriu-se o nutron, com carga eltrica nula, e o psitron, partcula de massa igual a do eltron mas com carga positiva. Muitas outras partculas foram surgindo. Hoje, as partculas consideradas fundamentais so os lptons (eltron, muon, taon e neutrinos), os quarks (so os constituintes de outras partculas como o prtron e o nutron, sendo que seus nomes so extremamente criativos estranho, charmoso, up, down, top e bottom) e as partculas responsveis pelas interaes: eletromagntica (fton), forte (glon), fraca (W e Z) e gravitacional (supe-se a existncia do grviton).
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Rutherford, em 1911, props um modelo atmico em que cada tomo teria um ncleo central, com carga positiva e a maior parte de massa do tomo. Os eltrons, com carga negativa, estavam ao redor do ncleo. Um novo modelo atmico foi proposto por Bohr, em 1913, em substituio ao modelo de Rutherford, combinando elementos de fsica clssica com a natureza intrinsecamente descontnua do mundo quntico. Consistia em um ncleo com carga positiva, em torno do qual orbitavam eltrons, mas apenas em rbitas especficas, tal como os planetas ao redor do sol. Quando um eltron recebe energia, ele salta para uma rbita de maior raio. Ao voltar para sua rbita de origem, o eltron emite radiao eletromagntica. O comprimento de onda da radiao emitida depende do nmero de rbitas saltadas e da proximidade das rbitas em relao ao ncleo. Assim, o comprimento de onda pode abranger todo o espectro da radiao eletromagntica, desde os raios gama e X, na extremidade dos raios de comprimento de onda muito pequenos, passando pelo espectro visvel, at os raios infravermelhos e as ondas de rdio, na extremidade dos comprimentos de onda muito longos. O modelo atmico de Bohr baseou-se nos trabalhos de Planck (1900) e Einstein (1905). Planck, estudando a radiao do corpo negro (radiao emitida por um pequeno orifcio em uma caixa fechada), chegou concluso de que a radiao no se dava de uma forma contnua, mas em pacotes de energia (quanta de energia). Sua teoria foi confirmada por Einstein, ao analisar o efeito fotoeltrico (emisso de eltrons quando um feixe de luz atinge uma placa de metal). Einstein sugeriu que a luz de uma determinada freqncia ocorria em mltiplo de pequenos pacotes, cada um com energia proporcional freqncia, estendendo o tratamento atomstico da matria prpria luz. Esses tomos de luz foram chamados de ftons. Estava evidente que a luz, e toda radiao eletromagntica deviam ser consideradas ao mesmo tempo como ondas e partculas. As previses de Bohr eram extremamente eficientes quando comparadas com experimentos, principalmente com o hidrognio, primeiro elemento da tabela peridica. Mas tinha suas limitaes. No conseguia explicar o comportamento do prximo tomo na tabela, o hlio. O que sobreviveu da idia original de Bohr foi seu componente mais revolucionrio, a quantizao das rbitas eletrnicas. Todo o resto, os componentes clssicos de seu modelo, como a idealizao do eltron e do ncleo como pequenas bolas de bilhar em um sistema solar em miniatura, teve de ser abandonado. Uma partcula um objeto pequeno, bem localizado no espao, enquanto uma onda algo que se dispersa pelo espao. Essa a dualidade onda-partcula da luz; a luz pode se comportar como onda ou como partcula, dependendo da natureza do experimento. Se o experimento testar suas propriedades ondulatrias, a luz se manifestar como onda; e se o experimento testar suas propriedades de partcula, a luz se comportara como partcula. A luz no onda ou partcula, mas, de certa forma, ambas. Tudo depende de como ns resolvemos investigar suas propriedades. O observador no tem um papel passivo na descrio dos fenmenos naturais, e no podemos mais separar o observador do observado. Em 1924, Louis de Broglie sugeriu que a dualidade onda-partcula no era uma peculiaridade da luz, mas sim de toda a matria. Eltrons e prtons tambm eram tanto onda quanto matria, dependendo de como decidimos testar suas propriedades. No intervalo de dois anos, uma teoria quntica completamente nova foi proposta, a chamada mecnica quntica. Em 1925, Heisenberg apresentou sua mecnica matricial, que no inclua partculas ou rbitas, apenas nmeros descrevendo transies de eltrons em tomos. Representava um modo

completamente novo de descrever fenmenos fsicos, uma liberao das limitaes impostas por imagens inspiradas pelo mundo clssico. Em 1926, um mtodo aparentemente diferente de se estudar o comportamento dos tomos apareceu, a chamada mecnica ondulatria, proposta por Schrdinger, que provou ser compatvel com a mecnica de Heisenberg. A soluo da equao proposta por Schrdinger em sua mecnica ondulatria conhecida como funo de onda. Inicialmente, ele pensou que ela era uma expresso matemtica que descrevia a onda associada ao prprio eltron. Isso estava de acordo com as noes clssicas de como as ondas evoluem no tempo; se conhecermos sua posio e velocidade iniciais, podemos usar suas equaes de movimento para prever seu comportamento futuro. No entanto, rapidamente ficou claro que essa interpretao da funo de onda no podia estar correta. Em 1927 Heisenberg havia mostrado que a fsica quntica obedece a um principio fundamental que expe claramente as diferenas entre o mundo clssico e o mundo quntico. O princpio da incerteza diz que alguns pares de variveis que constantemente afetam uma outra, tais como tempo e energia ou posio e velocidade, no podem ser determinadas com preciso absoluta. Quanto maior a preciso em uma, menor a preciso na outra. Trata-se de um princpio com as mais profundas implicaes filosficas. No mundo do muito pequeno, at o conceito de trajetria se torna vago. Se a funo de onda no descrevia o movimento do eltron, o que estava descrevendo? Max Born deu a resposta. A mecnica ondulatria de Schrdinger no descreve a evoluo do eltron, mas a probabilidade de o eltron ser encontrado numa certa posio. O mesmo experimento, repetido vrias vezes sob as mesmas condies, dar resultados diferentes. O que podemos prever com a mecnica quntica a probabilidade de obter um determinado resultado. A interpretao de Born demoliu por completo a noo clssica de uma descrio da natureza. A certeza substituda pela incerteza, o determinismo, pela probabilidade, os processos contnuos, pelo salto quntico.

ANLISE DOS LIVROS


Em ambos os livros podemos encontrar afirmaes que no esto de acordo com os conceitos fsicos vigentes. Temos tambm uma srie de novos conceitos e definies, apresentados por Andr Luiz, que no so sustentados pela cincia atual. A apresentao destas afirmaes est organizada da seguinte maneira: para cada livro, encontram-se listados, em separado, indicados pelo nmero da pgina em que foram encontrados na edio indicada, os trechos que no esto de acordo com a fsica e os trechos em que aparecem novas definies e conceitos. Nos primeiros, em cada item relacionado apresento a justificativa de porque no esto de acordo com a fsica. Nos segundos, ao invs de analis-los item a item, fao uma sntese e, no final, apresento meus comentrios de forma geral.

EVOLUO EM DOIS MUNDOS (1958)


Trechos retirados do livro que no esto de acordo com a fsica: Pgina 22: Cada galxia quanto cada constelao guardam no cerne a fora centrfuga prpria, controlando a fora gravtica, com determinado teor energtico, apropriado a certos fins.

Fora centrfuga: uma das chamadas foras fictcias, sendo apenas uma tcnica que nos permite aplicar a mecnica clssica da maneira habitual, se quisermos descrever os eventos de um referencial no-inercial. Se escolhermos um referencial inercial 4 , consideramos apenas as foras reais, isto , foras que podemos associar com corpos determinados da vizinhana, que no o caso da fora centrfuga. Fora gravitacional: por si s mantm os corpos celestes em equilbrio.

Pgina 22: A engenharia celeste equilibra rotao e massa, harmonizando energia e movimento, e mantm-se, desse modo, na vastido sideral, magnificentes florestas de estrelas, cada qual transportando consigo os planetas constitudos e em formao, que se lhes vinculam magneticamente ao fulcro central, como os eletres (eltrons) se conjugam ao ncleo atmico, em trajetos perfeitamente ordenados na rbita que se lhes assinala de incio. - O modelo atmico acima descrito remonta ao modelo proposto por Rutherford (1911) ou ao modelo de Bohr (1913), em que os eltrons tm trajetrias definidas em torno do ncleo, assemelhando-se ao movimento planetrio. Desde 1927, atravs da mecnica quntica, no se fala em trajetrias para os eltrons nos tomos, mas sim que esto distribudos em nuvens de probabilidades. Pgina 24: ... confessamos que no sabemos ainda, principalmente no que se refere elaborao da luz, qual seja a fora que provoca a agitao inteligente dos tomos, compelindo-os a produzir irradiaes capazes de lanar ondas no Universo com velocidade de 3.0 10 8 m / s . - Na primeira metade do sculo XX tanto a fsica quntica quanto o eletromagnetismo (eletrodinmica) j estavam formulados. A emisso de luz , atualmente, um fenmeno explicado e controlado (aplicaes tecnolgicas). Pgina 95: ... temos, assim, os fluidos lquidos, elsticos, ou aeriformes e os outrora chamados imponderveis, tidos como agentes dos fenmenos luminosos, calorficos e outros mais. - Durante o sculo XIX se acreditava que a transferncia de calor e de carga eltrica se dava por meio de fluidos. No final deste mesmo sculo mostrou-se que estas teorias estavam erradas. Trechos em que surgem novas definies e conceitos: Pgina 27/28: ... o corpo espiritual o veculo fsico por excelncia, com sua estrutura eletromagntica, .... com a respectiva carga eltrica... Pgina 33: A matria elementar, de que o eltron um dos corpsculos-base (na esfera espiritual em que estagiamos, o eltron tambm partcula atmica dissocivel) ... Pgina 95: ... o homem desencarnado vai lidar com um fluido vivo e multiforme, estuante e inestancvel, a nascer-lhe da prpria alma,... esse fluido o seu prprio pensamento contnuo, gerando potenciais energticos com que no havia sonhado.

Referencial inercial aquele para o qual se aplica a primeira lei de Newton (qualquer corpo permanece em seu estado de repouso ou em movimento retilneo uniforme, a menos que seja obrigado a modificar tal estado por foras aplicadas a ele).

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Pgina 96: ...encontra a matria conhecida no mundo, em nova escala vibratria. Elementos atmicos mais complicados e sutis, aqum do hidrognio e alm do urnio, em forma diversa daquela em que se caracterizam na gleba planetria, engrandecem-lhe a srie estequiogentica. Pgina 99: ...esse fluido ou matria mental tem a sua ponderabilidade e suas propriedades quimioeletromagnticas especficas, definindo-se em unidades perfeitamente mensurveis. Pgina 100: ... pelo fluido mental com qualidades magnticas de induo que o progresso se faz acelerado. Pgina 199: Qual a velocidade da emisso fludica? A questo envolve, na base, o estudo da partcula do pensamento, em sua composio de estrutura e potencial, para o que ainda no possumos qualquer recurso nas definies humanas. Sintetizando os trechos acima, vemos que Andr Luiz prediz a existncia de novos elementos qumicos, aqum do hidrognio e alm do urnio. O urnio o elemento de nmero 92 na tabela peridica. Acima dele temos 11 elementos da srie dos transurnios, que so elementos instveis, com meias vidas curtas, descobertos entre 1940 e 1966. Acima destes ainda temos os elementos da srie dos transactindeos, com meias vidas bastante curtas. O hidrognio o tomo mais simples, contendo um eltron e um prton. A existncia de elementos aqum do hidrognio, segundo o modelo atmico atual, impossvel. Temos tambm a predio de que o eltron no seja uma partcula fundamental, isto , que seja dissocivel em outras. Por ltimo, a existncia de uma matria mental, com uma estrutura eletromagntica, com carga eltrica, apontada.

MECANISMOS DA MEDIUNIDADE (1959)


Trechos retirados do livro que no esto de acordo com a fsica: Pgina 22: Faamos funcionar o receptor radiofnico e encontraremos ondas eltricas. - Em todo o livro vemos uma confuso entre os conceitos de corrente eltrica (cargas eltricas em movimento) e onda eletromagntica. O correto, acima, seria onda eletromagntica.

As ondas ou oscilaes eletromagnticas so sempre da mesma substncia, ... A onda eletromagntica se propaga no vcuo. No necessrio um meio material para a sua propagao.

falta de terminologia mais clara, diremos que uma onda determinada forma de ressurreio da energia, por intermdio do elemento particular que a veicula ou estabelece. - Uma onda apenas transporta energia de um ponto a outro. No caso da onda eletromagntica, no temos um veculo de transmisso para a onda. Pgina 23: Assim que as ondas da corrente alternada, as ondas de rdio, as da luz e dos raios X, ..., no existe qualquer diferena de natureza, mas sim de freqncia, considerado o modo em que se exprimem.

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Pgina 28/29: ... at que Hertz consegue positivar a existncia das ondas eltricas, descobrindo-as e colocando-as a servio da humanidade. - Novamente, a confuso entre corrente eltrica e onda eletromagntica. Pgina 29: ... pelo fato de gravitarem os eltrons, ao redor do ncleo, no sistema atmico, em rbitas seguramente definidas... ... mentalizou o tomo como sendo um ncleo cercado, no mximo, de sete camadas concntricas, plenamente isoladas entre si, no seio das quais os eltrons circulam livremente, em todos os sentidos. - O modelo sugerido se afasta completamente do modelo atmico aceito aps o advento da mecnica quntica. Ele traduz a idia de eltrons como partculas, com trajetrias definidas, enquanto que no modelo quntico os eltrons apresentam a dualidade partcula-onda como j discutido, sendo as rbitas descritas por funes de probabilidade, que no esto espacialmente isoladas, mas se sobrepem no espao. Pgina 32: A cincia percebeu, afinal, que a radioatividade era como que a fala dos tomos, asseverando que eles nasciam e morriam ou apareciam e desapareciam no reservatrio da natureza. Apreendendo-se que a radioatividade exprimia a morte dos sistemas atmicos... - Alguns tomos instveis (cujos ncleos no esto no estado de menor energia) decaem para um tomo estvel, que pode ser o mesmo elemento, ou um elemento com um nmero atmico diferente (maior ou menor). Isto no o mesmo que dizer que o sistema atmico morreu! Pgina 40: Entretanto, o meio sutil em que sistemas atmicos oscilam no pode ser equacionado com os nossos conhecimentos. At agora, temos nomeado esse terreno indefinvel como sendo o ter; contudo, quando Einstein buscou imaginarlhe as propriedades indispensveis,... , no conseguiu acomodar as necessrias grandezas matemticas numa frmula, ..., e concluiu que ela no existe, propondo abolir-se o conceito de ter, substituindo-o pelo conceito de campo. Campo, desse modo, passou a designar o espao dominado pela influncia de uma partcula de massa. ... a indagao quanto matria de base para o campo continua desafiando o raciocnio, ... - O trabalho de Einstein, que aboliu definitivamente o ter, foi publicado em 1905, resultado que tambm pode ser deduzido do experimento de Michelson-Morley em 1887. Andr Luiz diz que, at agora, (em 1959) existe um meio sutil denominado ter. - O conceito de campo no foi um substituto para o ter. Alis, durante cerca de cinqenta anos conviveram em certa harmonia. - A definio dada para campo no corresponde definio aceita. Campo pode ser definido como qualquer quantidade fsica que dependa do tempo e do espao. Como j discutido anteriormente, no necessria uma matria base para o campo. Pgina 46/47: Recorrendo ao campo de Einstein, ...,assim como a intensidade de influncia da chama diminui com a distncia do ncleo de energias em combusto, demonstrando frao cada vez menor, sem nunca atingir a zero, a corrente mental se espraia, segundo o mesmo princpio, no obstante a diferena de condies. - Est comparando campo com corrente. No deveria ser campo mental?

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Pgina 51: ... lembremo-nos de que, conforme a Lei de Coulomb, as cargas de sinal contrrio ou de fora centrpeta atraem-se, contrabalanando-se essa atrao com a repulso por elas experimentada, ante as cargas de sinal igual ou de fora centrfuga. - No existe qualquer relao entre atrao de cargas e fora centrpeta ou repulso de cargas e fora centrfuga. Pgina 55: Circuito eltrico: a extenso do condutor em que se movimenta uma corrente eltrica. Circuito medinico: a extenso do campo de interao magntica em que circula uma corrente mental. - Esta definio de circuito medinico confusa e imprecisa: no podemos falar em extenso de um campo, e muito menos em uma corrente circulando em um campo. Pginas 68/69: Alm do movimento de translao ou de saltos, em derredor do ncleo, os eltrons caracterizam-se igualmente por determinado movimento de rotao sobre o seu eixo, se podemos referir-nos desse modo s particularidades que os exprimem, produzindo os efeitos conhecidos por spins. - O spin no um efeito. Tal como a carga ou a massa, uma propriedade intrnseca do eltron. Por definio, o spin momento angular intrnseco do eltron. Pginas 79/80: Por anotaes ligeiras, em torno da microfsica, sabemos que toda partcula se desloca, gerando onda caracterstica naturalmente formada pelas vibraes do campo eltrico, relacionadas com o nmero atmico dos elementos. - Acredito que queira dizer que partcula carregada, em movimento acelerado, gera onda eletromagntica, embora no est claro no texto. Esta relao com o nmero atmico est muito menos clara, pois, se ele queria se referir a tomos, estes possuem carga total nula e no irradiam. Em conjugando os processos termoeltricos e o campo magntico, a Cincia pode medir com exatido a carga e a massa dos eltrons, demonstrando que a energia se difunde, atravs de movimento simultneo, em partculas infra-atmicas e pulsaes eletromagnticas correspondentes. - No encontrei nenhum sentido lgico nesse pargrafo. Informamo-nos, ainda, de que a circulao da corrente eltrica num condutor invariavelmente seguida do nascimento de calor, formao de um campo magntico ao redor do condutor, produo de luz e ao qumica. - Devemos ter cuidado com a linguagem. Calor uma forma de energia. Energia no nasce ou morre. O que ocorre uma transformao de uma forma de energia em outra. Deve-se o aparecimento do calor s constantes colises dos eltrons livres, espontaneamente impelidos a se moverem ao longo do condutor, associando a velocidade de transferncia ou deslocamento velocidade prpria, no que tange translao sobre si mesmos, o que determina a agitao dos tomos e das molculas, provocando aquecimento. - O trecho sublinhado ininteligvel. A constituio de um campo magntico, ao redor do condutor, induzida pelo movimento das correntes corpusculares a criarem foras ondulatrias de

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imanao. A produo de luz decorre da corrente eltrica do condutor. E a ao qumica resulta de circulao da corrente eltrica, atravs de determinadas solues. - O que so foras ondulatrias? Pgina 86: ... o pensamento age de crebro a crebro, quanto a corrente de eltrons de transmissor a receptor (tv)... - Novamente, a confuso entre corrente eltrica e onda eletromagntica. Em um processo de transmisso de informaes como o que ocorre para o funcionamento do televisor, temos emisso e recepo de ondas eletromagnticas, e no de partculas, tais como os eltrons. Pgina 87: ...o crebro possui nas clulas e implementos que o servem aparelhagens correspondentes s peas empregadas em televiso para a emisso e recepo das correntes eletrnicas... - Novamente, a confuso entre corrente eltrica e onda eletromagntica. Pgina 110: Os discos de ebonite em atividade rotatria como que esfarelam as bolhas de ar, guardadas entre eles, comprimindo os eltrons que a elas se encontram frouxamente aderidos. - Estas bolhas de ar so desnecessrias para se explicar o funcionamento de uma mquina eletrosttica. Numa mquina eletrosttica os eltrons so arrancados devido frico entre as correias e os discos. Trechos em que surgem novas definies e conceitos: Pgina 26: ... as imagens das sete cores fundamentais, ..., criando igualmente efeitos psquicos, em cada criatura, ... Pgina 43: Identificando o Fluido Elementar ou Hlito Divino ... do qual conhecemos o eltron como sendo um dos corpsculos-base, ... Encontraremos a matria mental que nos prpria, em agitao constante, ... Pgina 44: Desde os raio ultra-super-curtos em que se exprimem as legies anglicas... Pgina 45: ... o pensamento ainda matria a matria mental, em que as leis de formao das cargas magnticas ou dos sistemas atmicos prevalecem sob novo sentido, ..., e no qual surpreendemos elementos que transcendem o sistema peridico. Pgina 46: A matria mental obedece a princpios idnticos queles que regem as associaes atmicas na esfera fsica. Pgina 50: E para simples efeito de estudo da transmisso de fora medinica, em que a matria mental substncia bsica... Pgina 51: ... a corrente de foras mentais, destinada produo desse ou daquele fenmeno ou servio, circular no condutor medinico em razo do campo de energias mento-eletromagnticas existente entre a entidade comunicante e a individualidade do mdium.

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Pgina 68: Consignaremos que a corrente eltrica a fonte de magnetismo at agora para ns conhecida na Terra e no Plano Espiritual. Nessa mesma condio, entendemos a corrente mental, tambm corrente de natureza eltrica, embora menos pondervel na esfera fsica. Pgina 71: Surpreendemos no ferromagnetismo 5 um ponto expressivo para o estudo da mediunidade... Pgina 72: Mediunidade: campo magntico particular descompensado. Pgina 76: ...circulam (no crebro) as correntes mentais constitudas base dos tomos de matria da mesma grandeza, qual ocorre na matria fsica, ..., pelo que depreendemos, sem dificuldade, a existncia do eletromagnetismo tanto nos sistemas interatmicos da matria fsica, como naqueles em que se evidncia a matria mental. Pgina 111: Dentro de certa analogia, temos tambm as correntes de eltrons mentais, por toda parte, formando cargas que aderem ao campo magntico dos indivduos, ou que vagueiam, entre eles, maneira de campos eltricos que acabam atrados por aqueles que, excessivamente carregados, se lhes afeioem natureza. (no d para entender nada) Pgina 125: ... se desconhece ainda, no mundo, a Lei do Campo Mental... Pginas 126/127: E aos encarnados interessa a existncia em plano moral mais alto para que definam, com exatido e propriedade, a substncia ectoplasmtica, analisando-lhe os componentes e protegendo-lhe as manifestaes ... Sintetizando os trechos acima, vemos que, neste livro, Andr Luiz explorou idias apresentadas no livro Evoluo em Dois Mundos, principalmente a existncia de uma matria mental para explicar o pensamento, obedecendo a princpios idnticos estabelecidos para a matria na esfera fsica: cargas eltricas, correntes de partculas mentais, vigncia do eletromagnetismo, a existncia de um campo mental, sendo que a mediunidade estaria relacionada ao comportamento ferromagntico. Concluindo, vemos que em todos os dois livros h uma discordncia clara entre os conceitos fsicos, vigentes na poca em que foram escritos, com o contedo apresentado, sendo que a utilizao de conceitos e termos desatualizados uma constante. At mesmo conceitos de mecnica clssica no so corretamente empregados, como, por exemplo, na afirmativa da necessidade de uma fora centrfuga para equilibrar a fora gravitacional. A noo de campo, principalmente, no foi assimilada corretamente pelo autor que, inmeras vezes, confunde corrente eltrica e campo eletromagntico. A existncia de um meio material para o campo, idia abandonada desde a primeira dcada do sculo XX, enfatizada diversas vezes no texto.
Para a maioria dos tomos e ons, os efeitos magnticos dos eltrons cancelam-se de modo que cada tomo ou on no magntico. Em alguns tomos ou ons os efeitos magnticos dos eltrons no se cancelam completamente, de modo que o tomo como um todo possui um momento de dipolo magntico. Na presena de um campo externo, numa amostra contendo N tomos, os dipolos atmicos elementares tendero a se alinhar com o campo externo este efeito denominado paramagnetismo. Porm a agitao trmica perturba este alinhamento. Os materiais ferromagnticos so aqueles em que o alinhamento dos dipolos atmicos permanece em rigoroso paralelismo, apesar do movimento trmico dos tomos. O ferro, cobalto, e nquel, entre outros, so ferromagnticos. O ferromagnetismo uma propriedade no apenas de um tomo ou on individual, mas, tambm, uma conseqncia da interao de cada tomo ou on com seus vizinhos na rede cristalina do slido.
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Alm disso, a linguagem utilizada no clara, talvez pela pretenso de se explicar conceitos tcnicos a leigos fazendo-se uso de analogias pouco apropriadas. Em vrios pargrafos, s com muita boa vontade se consegue supor o que o autor queira dizer.

CINCIA ESPRITA
Os assuntos espritas comearam a ser tratados cientificamente no sculo XIX. Cientistas, espritas e no espritas lhe dedicaram um pouco de ateno e tempo. Mas, no correr dos tempos, este interesse foi interrompido, e nada mais se fez nesta direo. Hoje, os fenmenos medinicos so considerados, por muitos, como sendo o tal do aspecto cientfico do espiritismo. Chegam a dizer que o livro dos mdiuns representa a parte cientfica do espiritismo. Trata-se evidentemente, de opinies de pessoas alheias ao domnio cientfico, sem a mnima noo do que seja o trabalho cientfico legtimo. Os novos conceitos e definies introduzidos no espiritismo, principalmente por Andr Luiz, uma vez que seus livros so considerados clssicos dentro da literatura esprita, tm sido aceitos e amplamente divulgados sem uma anlise mais rigorosa. No prefcio do livro Mecanismos da Mediunidade, Andr Luiz diz ter recorrido a diversos trabalhos de divulgao cientfica do mundo contemporneo, para tornar a substncia esprita do livro mais seguramente compreendida pela generalidade dos leitores. Temos ento um mdico, baseando-se em textos de divulgao cientfica, que muita das vezes no so escritas por profissionais da rea, nos trazendo informaes que so absorvidas por pessoas leigas, sem o mnimo conhecimento do assunto especfico. Estas mesmas pessoas divulgam, conforme o seu entendimento, as informaes assimiladas. Certamente esta no uma maneira rigorosa de se fazer cincia. Podemos questionar tambm o objetivo de ter Andr Luiz nos dado estas informaes. Pois no certo de que devemos, ns encarnados, caminhar com nossos prprios ps? Qual a serventia de sabermos, por exemplo, da existncia de uma partcula mental, ou de que o eltron, na esfera em que se situa o autor, seja dissocivel? Alm disso, vimos que Andr Luiz se confundiu diversas vezes, principalmente no que se refere aos conceitos de campo e corrente. O que nos garante que, ao trazer estas novas informaes, ele tambm no tenha se confundido? No d para fazer cincia em cima de especulaes, sem evidncias de natureza slida, sejam elas vindas de encarnados ou desencarnados. De outro lado, h, no movimento esprita, devido, acredito eu, ao processo vigente de transformao do espiritismo em religio, uma ojeriza por intelectuais 6 , o que incongruente com toda a fundamentao da doutrina esprita. Allan Kardec no conseguiu realizar seu trabalho justamente porque tinha um alto grau de instruo e, principalmente, esprito cientfico? Se o espiritismo realmente possui os trs aspectos, filosofia, moral e cincia, este ltimo no deveria ser explorado por pessoas capacitadas, devidamente preparadas para isso? Para o comum das pessoas, os cientistas no passam de uns cticos. Na verdade no assim. A cautela uma das caractersticas da mentalidade cientfica. O que se procura a perfeio metdica na busca da verdade que, afinal, se revela na conformao do pensamento cientfico com o seu objetivo de pesquisa imediata. Kardec no foi considerado o bom senso encarnado?

Em particular, no gosto do emprego desta designao. Entretanto, no consegui encontrar termo que exprimisse melhor a minha idia. Poderia talvez substituir por pessoas com esprito cientfico, com grande senso crtico.

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Cientificamente falando, no basta, por exemplo, a afirmao de que no corpo do homem habita um esprito, cujo perisprito executa a funo de ligao do ser pensante ao corpo de carne. Cincia no afirmao e autoridade, no se firma to somente na palavra de pessoas idneas. pesquisa comprobatria e impessoal imposta pela sua prpria objetividade. Os resultados, e somente os resultados destas pesquisas podero impor-se. Teorias soltas, especulaes eruditas e projetos literrios apenas afastam o espiritismo da comunidade cientfica. Nas palavras de Kardec: Se verdade que a utopia da vspera, freqentemente, seja a verdade do dia seguinte, deixemos ao dia seguinte o cuidado de realizar a utopia da vspera, mas no embarquemos a Doutrina de princpios que seriam considerados como quimeras e a fariam ser rejeitadas pelos homens positivos (Rev. Esprita, 1868 - Dos Cismas). O espiritismo no pode alienar-se da comunidade cientfica. A prpria histria nos mostra o papel da cincia na libertao do homem da religio institucionalizada, das supersties, da magia, dos rituais grotescos e primitivos, propiciando-lhe os meios para o progresso intelectual e moral. Thomas Kuhn conjeturou que a pesquisa cientfica pode ser dividida entre perodos de desenvolvimento relativamente tranqilo, que denominou de cincia normal, intercalados com perodos de alterao importante, denominados revolues. Esta uma estrutura til para se analisar a pesquisa cientfica, embora no seja absoluta. Durante um perodo de cincia normal, o campo concernente governado por um paradigma geralmente aceito. O paradigma, essencialmente um marco conceitual que envolve tanto a teoria quanto a prtica, proporciona aos pesquisadores orientao sobre quais os problemas que merecem ser investigados e como devem ser atacados. medida que as pesquisas avanam, comeam a se acumular anomalias, que o paradigma acha cada vez mais difcil de acomodar de modo convincente. Finalmente toda a estrutura posta abaixo por uma revoluo conceitual. Quando, na fsica do inicio do sculo XX, o modelo clssico foi substitudo pelo modelo quntico, j tnhamos meio sculo de espiritismo. Mas a participao dos espritas nesta revoluo foi nula. Se no criarmos uma comunidade cientfica esprita capacitada, eficiente, continuaremos a no ter nenhuma participao no desenvolvimento cientfico. Se existe uma realidade da qual ns espritas compartilhamos, mas que no percebida pela cincia oficial, e se acreditamos que esta realidade, quando compartilhada por todos, ser de grande avano para a humanidade, devemos nos esforar para torn-la visvel a todos. Mas no nos iludamos pensando que isso j est pronto e ao alcance dos entusiasmos ingnuos ou do amadorismo. Essa sntese de conhecimentos est espera da organizao dos grupos de pesquisa, no nos moldes da superficialidade ou das brincadeiras, mas na profundeza, no estudo e no esforo total de espritos preparados para o desempenho desse empreendimento. O desenvolvimento de um trabalho cientfico complicado e obedece a regras e postulados estabelecidos internacionalmente pela comunidade cientfica. Tudo o que se afastar dessas prescries ser rejeitado. Assim, os espritas cientistas se acomodam na filosofia e na religio. Os cientistas no espritas costumam no levar em conta as afirmaes simplrias dos homens do povo sobre esprito e suas manifestaes entre ns, o que no significa deixarem eles de anotar os fatos inusitados ocorrentes no mundo do mediunismo. Os temas cientficos so contados aos milhes, pedindo dedicao e pesquisas corretas, oferecendo ao espiritismo os suportes adequados para assentar seus postulados doutrinrios de acordo com a realidade.

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No esperamos respostas imediatas porque sabemos no existir por agora uma comunidade cientfica esprita constituda e pronta para isso. E se no comearmos a nos mobilizar, nunca teremos. necessrio dar espao para que se comece a pensar na formao de uma comunidade cientfica esprita. necessrio que grupos de reas afins se renam com o objetivo de realizarem pesquisa cientfica, sempre amparados pelo mtodo cientfico, mas com um olhar esprita. Todas as cincias caracterizam-se pela utilizao de mtodos cientficos, mas nem todos os ramos de estudo que empregam estes mtodos so cincias. A utilizao de mtodos cientficos no da alada exclusiva da cincia, mas no h cincia sem o emprego de mtodos cientficos. Assim, o mtodo o conjunto das atividades sistemticas e racionais que, com maior segurana e economia, permite alcanar o objetivo conhecimentos vlidos e verdadeiros -, traando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decises do cientista. O senso comum, aliado explicao religiosa e ao conhecimento filosfico, orientou as preocupaes do homem com o universo at o sculo XVI, quando se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado com maiores garantias, na procura do real. No se buscam mais as causas absolutas ou a natureza ntima das coisas; ao contrrio, procura-se compreender as relaes entre elas, assim como a explicao dos acontecimentos, atravs da observao cientfica aliada ao raciocnio. Com o passar do tempo, muitas modificaes foram feitas nos mtodos existentes, inclusive surgiram outros novos. O mtodo cientfico a teoria da investigao, e alcana seus objetivos, de forma cientfica, quando cumpre ou se prope a cumprir as seguintes etapas (de uma maneia bem genrica): - Descoberta do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se o problema no estiver enunciado com clareza, passa-se a etapa seguinte; se o estiver, passa-se subseqente; - Colocao precisa do problema, ou ainda a recolocao de um velho problema, luz de novos conhecimentos; - Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema, isto , exame do conhecido para tentar resolver o problema; - Tentativa de soluo do problema com auxilio dos meios identificados. Se a tentativa resultar intil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrrio, subseqente; - Inveno de novas idias (hipteses, teorias ou tcnicas) ou produo de novos dados empricos que prometam resolver o problema; - Obteno de uma soluo (exata ou aproximada) do problema com auxlio do instrumental conceitual ou emprico disponvel; - Investigao das conseqncias da soluo obtida. Em se tratando de uma teoria, a busca de prognsticos que possam ser feitos com seu auxlio. Em se tratando de novos dados, o exame das conseqncias que possam ter para as teorias relevantes; - Prova (comprovao) da soluo: confronto da soluo com a totalidade das teorias e da informao emprica pertinente. Se o resultado satisfatrio, a pesquisa dada como concluda, at novo aviso. Do contrrio, passa-se para a etapa seguinte; - Correo das hipteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obteno da soluo incorreta. Esse , naturalmente, o comeo de um novo ciclo de investigao. Com a experincia, a marcha de uma pesquisa torna-se uma segunda natureza do cientista, a ponto dele seguir espontaneamente, pelos caminhos apontados, sem se preocupar com esquemas.

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A meu ver, uma das primeiras dificuldades de uma cincia esprita ser a definio do problema a ser estudado. Informaes de todos os tipos esto todo o tempo se chocando com o cientista. Em sua maior parte elas passam sem ser absorvidas e o que precisamos de informao pertinente. Um dos problemas fundamentais decidir sobre o que pertinente significa em um contexto esprita. Quando diferentes cientistas consultam a mesma informao, provvel que vejam nelas coisas bem diferentes. Com efeito, informao pertinente passa a ser tudo aquilo que os cientistas estejam dispostos a pegar na suposio de que possa ser til em seu trabalho. Pesquisas de natureza interdisciplinar, como acredito que sero as pesquisas espritas, normalmente levam a uma disperso mais ampla de materiais pertinentes. Mesmo numa rea temtica especfica, diferentes especialidades podem apresentar diferentes graus de disperso. Sem contar que, quando os pesquisadores esto decidindo sobre quais documentos procurar, seus antecedentes e sua experincia pessoal so postos em ao de uma maneira muito confusa e individualista. Na fsica, em particular, o processo de pesquisa ocorre da seguinte maneira: uma vez que o objetivo da fsica fornecer uma descrio da natureza, o estudo de um determinado fenmeno vai partir da quantificao 7 do fenmeno. Definir o que medir, como medir, qual a preciso desejada ou possvel e realizar a medio. um processo longo e geralmente dispendioso, pois a montagem de um laboratrio razovel demanda algumas centenas de milhares de dlares. Tendo os dados em mos, a prxima etapa a da modelagem do fenmeno. O objetivo do modelo descrever, atravs de equaes matemticas que relacionam as variveis envolvidas, o comportamento obtido em laboratrio. Tanto a relao entre as variveis do problema quanto concordncia entre os resultados previstos pelo modelo e os resultados medidos em laboratrio devem, obrigatoriamente, ser quantitativos. Alm disso, o modelo proposto quase sempre est embasado quantitativamente em outros modelos j testados e aceitos pela comunidade cientfica. Uma vez que o modelo se mostre adequado para explicar o fenmeno proposto como objeto de estudo, deve-se verificar se o mesmo faz previses sobre outros fenmenos conhecidos e se estas previses concordam quantitativamente com esses fenmenos. Caso o modelo preveja novos fenmenos, os mesmos devem ser verificados e avaliados. Todo esse processo pode ser desenvolvido em vrias etapas e por pesquisadores (ou equipes) diferentes, trabalhando em conjunto ou no. Hoje impossvel uma nica pessoa deter conhecimentos necessrios para levar adiante uma pesquisa cientfica. O conhecimento se ampliou de tal forma que praticamente obrigatrio se trabalhar em equipes. Mesmo os grandes cientistas da atualidade dependem de seus assistentes, muitas vezes alunos de doutorado ou ps-doutorandos. Terminado todo o trabalho de pesquisa, necessrio que se pense na divulgao de seus resultados. A divulgao to vital quanto a prpria pesquisa, pois a esta no cabe reivindicar com legitimidade este nome enquanto no houver sido analisada e aceita. Entre as revistas de pesquisadores profissionais existe a prtica de avaliao por pares, sendo que os critrios bvios so que os avaliadores sejam pesquisadores competentes, atualizados no assunto a que corresponde o artigo encaminhado para apreciao. preciso um avaliador seguro, que seja imparcial na emisso de comentrios tanto positivos quanto negativos. A avaliao dos artigos cientficos pelos pares , igualmente, um excelente exemplo de como funciona o ceticismo organizado. A mesma funo crtica pode

No sentido de: determinar o valor de.

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ser encontrada na comunicao informal, quando os apresentadores de trabalhos em seminrios ou conferncias so interrogados pela platia. Uma ruptura importante em qualquer rea diverge potencialmente das convices e prticas aceitas. Inovaes importantes podem, portanto, encontrar dificuldades para passar pelo sistema de avaliao pelos pares. Suposies no comprovadas a respeito disso so muito mais comuns do que dados colhidos em estudos, sobretudo porque mudanas importantes so necessariamente um tanto limitadas em nmero. A cincia esprita s ser aceita pela comunidade cientfica oficial no dia em que um trabalho originado por cientistas espritas for aceito por avaliadores no espritas. At que isto ocorra, e eu acredito que seja possvel, teremos de enfrentar e encontrar solues para uma srie de questes. Uma das principais questes ser o financiamento dessas pesquisas. Qual ser a fonte de recursos? Seremos pesquisadores espritas s nos fins de semana? Nos ateremos apenas a trabalhos tericos? Se no, a qual laboratrio teremos acesso? De incio, qual ser o critrio de avaliao? So perguntas que s teremos respostas se comearmos a nos movimentar. A minha proposta, ao apresentar este trabalho foi a de dar a minha viso, com base na minha formao acadmica, de como anda o aspecto cientfico no movimento esprita atual, propondo que se comece a pensar em uma cincia esprita tal como formulada por Kardec, com os critrios e rigores de qualquer cincia, que foram to bem utilizados por ele na elaborao da Doutrina Esprita.

BIBLIOGRAFIA
- Revista Esprita, Allan Kardec, Volumes I (1858) e XI (1868). Livros analisados: - Evoluo em Dois Mundos, Andr Luiz, psicografado por Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira. FEB, 1958; 20a edio (2000). - Mecanismos da Mediunidade, Andr Luiz, psicografado por Francisco Cndido Xavier e Waldo Vieira. FEB, 1959; 21a edio (2002). Resumo histrico: O texto apresentado foi baseado nas publicaes a seguir. Alguns trechos foram reproduzidos tal como apresentados na obra original. - Pensando a Fsica, Mrio Schenberg, So Paulo, ed. Landy, 2001. - A Dana do Universo, Marcelo Gleiser, So Paulo, Companhia das Letras, 1997. - Histria Ilustrada da Cincia IV, Colin A. Ronan, Universidade de Cambridge, Jorge Zahar ed., 1983. - Origens Histricas da Fsica Moderna, Armando Gibert, Lisboa, Fundao Galouste Gulbenkian, 1982. Cincia esprita: - Espiritismo: 2o Sculo (O Sentido Evolutivo da Doutrina esprita: Uma Opinio), Carlos Peppe. - Fundamentos de Metodologia Cientfica, Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, So Paulo, ed. Atlas, 1991. - A Comunicao Cientfica, A.J. Meadows, Braslia, ed. Briquet de Lemos, 1999.

COSMOLOGIA, EXOBIOLOGIA E ESPIRITISMO UM ESTUDO SOBRE A VIDA E O UNIVERSO


Reinado Di Lucia

INTRODUO
A questo "Estamos ou no sozinhos no Universo?" no recente. Entretanto, ela de fundamental importncia, no s como mera especulao intelectual, mas tambm, e principalmente, na criao de um modelo coerente que sirva para explicar este Universo. A cincia inicia-se com problemas. Enquanto nenhum problema, nenhuma inquirio afeta o ser humano, ele se v desobrigado de pensar, observar, buscar. Assim, conhecer , simplesmente, reduzir o desconhecido ao conhecido. A verdade cientfica des-velamento (aletheia, para os gregos). Para tanto, os cientistas criam modelos, que, posteriormente testados, do origem s teorias e s leis. Atualmente, neste mundo de incertezas em que a prpria cincia nos colocou, grande presuno falar-se em comprovao cientfica. A "prova" em cincia uma quimera a ser usada, no mximo, com a finalidade de engrandecimento pessoal de um cientista ou de um grupo, com vistas, normalmente, a um aumento na verba de pesquisa. Os bons resultados obtidos com os testes de uma teoria servem to somente para que esta continue presente no rol de teorias possveis. As teorias s permanecem vlidas enquanto explicam e prevem todo o universo de fatos de que se propem a tratar. Assim, toda descoberta de fatos novos, de novos elementos que devam ser agregados quele universo leva necessidade de novos exames na teoria, para que se verifique sua validade. por isso que no se pode dizer que as afirmaes cientficas so verdades absolutas. No dizer de Karl Popper1 "A cincia no um sistema de declaraes certas e bem estabelecidas; nem ela um sistema que avana para um estado final. Nossa cincia no conhecimento; ela no pode nunca pretender haver atingido a verdade, nem mesmo um substituto para ela, a probabilidade" . Isto ocorre porque no se pode, em nosso estgio atual de evoluo intelectual, ter certeza que so conhecidas todas as variveis que afetam o universo de fatos considerados na determinao de uma teoria. Quando se analisam as idias sob este prisma, o espiritismo cresce de modo brutal como possibilidade de alternativa cientfica. Em verdade, sua grande contribuio foi ter imaginado um modelo lgico, coerente e baseado, tanto quanto possvel, em fatos palpveis para explicar e prever o Universo. Este modelo (que podemos chamar, sem medo de erros, de teoria esprita) diferencia-se dos demais modelos cientficos vigentes por considerar uma nova dimenso para o Universo, a dimenso no-fsica do esprito. Ao fazer isto sem as consideraes puramente msticas da grande maioria das filosofias que trataram do esprito, a doutrina esprita colocou-se em lugar de destaque entre as teorias cientficas de sua poca. O modelo esprita de Universo fundamenta-se em seis princpios bsicos que encontram-se de tal forma interligados logicamente na teoria que a demonstrao da inexatido de um deles faria desabar todo este modelo, obrigando a uma reviso estrutural da teoria. So eles: 1 Existncia de Deus. 2 Existncia e imortalidade do esprito. 3 Evoluo infinita. 4 Pluralidade das existncias (reencarnao) 5 Pluralidade dos mundos habitados. 6 Comunicabilidade entre encarnados e desencarnados (mediunidade). Apenas dois destes princpios so considerados, de algum modo, pelos representantes das cincias em nosso mundo: a evoluo e a pluralidade de mundos habitados. No que diz respeito evoluo, o princpio geral bem aceito, embora as nuanas e a extenso desta evoluo sejam fortemente questionadas. A mais conhecida proposta, formulada por Darwin em meados do sculo XIX, bastante contraditada por diversos outros cientistas que acham-na mais abrangente do que deveria ser (e isto para no falar nas religies, em sua grande maioria criacionistas, e que, portanto, negam a possibilidade de evoluo das espcies). Entretanto, no que tange viso cientfica da evoluo, esta restrita matria, jamais sendo o esprito considerado, ao menos na acepo de esprito defendida pela doutrina esprita.

J a possibilidade de vida em outros planetas, apesar de no ter a chancela das academias de cincia, tem sido teoria validada por muitos eminentes cientistas, entre eles fsicos, astrnomos, bilogos, etc. Esta teoria (em seu aspecto no-esprita) baseia-se menos em fatos evidentes que no clculo de probabilidades; mas este clculo leva, quase que de modo inevitvel, aceitao desta possibilidade. Para o modelo esprita, ambas as teses andam juntas, no sendo possvel uma sem a outra. Entretanto, esta teoria esprita data tambm da metade do sculo XIX, tendo sido muito pouco (ou talvez nada) complementada desde ento. Ela se refere vida, e ao modo como esta desenvolve-se no Universo. A proposta deste trabalho confrontar esta teoria esprita sobre a origem da vida com as descobertas que foram feitas pela cincia nestes ltimos cento trinta anos: o novo modelo de matria proposto pela fsica, as descobertas da gentica, as consideraes da filosofia da cincia (que mudaram o posicionamento dos cientistas em relao s suas prprias teorias), os avanos na descrio matemtica do universo, todos estes novos elementos devem MT comparados idia esprita. E, como disse Kardec, se uma verdade nova se revelar, o espiritismo a aceitar.2 O estudo sobre a vida em outros planetas no pode prescindir de duas questes cruciais, e ambas de difcil anlise: Como surgiu o Universo? E, uma vez tendo ele surgido, como surgiu e desenvolveu-se a vida? Tais questes so muito difceis porque encontram o incio de suas respostas no limiar daquilo que possvel pesquisar, em termos cientficos, no estgio atual da cincia. Em sendo real a teoria do surgimento universal a partir de uma grande exploso (o Big Bang), o elemento inicial que originou esta exploso classificado, pelos astrofsicos, como uma singularidade, fenmeno no qual as leis fsicas conhecidas deixam de ter validade. Pode-se, ento, apenas propor modelos sobre modelos, todos absolutamente possveis, para este incio. A segunda questo, sobre a vida, esbarra num problema ainda mais bsico: o que , afinal, vida? Como podemos conceitu-la e, mais, como distingui-la da, digamos assim, "no vida"? O que se pretende, com este trabalho, no , obviamente, a resposta a estas questes singularmente complexas do conhecimento humano. A inteno to somente examinar o que se apresentou de novo neste sculo, verificar se a teoria esprita permanece vlida e propor eventuais modificaes a serem consideradas para esta teoria. Para tanto, partir-se- de um pequeno histrico da idia de vida em outros planetas. Sero demonstradas as principais teorias que hoje tratam da origem do Universo, e tambm das teorias sobre a origem e o desenvolvimento da vida. Uma outra questo que deve ser estuda a existncia de evidncias sobre a possvel vida em outros planetas. Neste aspecto, os fenmenos hoje estudados pela ufologia podem trazer alguma luz. Tal como o espiritismo, a ufologia padece da existncia de muitos charlates que distorcem tanto suas idias centrais quanto sua base terica. O que se procurar mostrar que, quando eliminadas estas interferncias, resta uma protocincia interessante, que pode colaborar com algumas das teses espritas.

CAPTULO 1 - O UNIVERSO
Origens: O conceito de Universo variou em extenso, forma e propriedade ao longo da histria da humanidade, mas nem por isso deixou de significar sempre, no fundo, a mesma coisa: o conjunto de matria (e, a partir da relatividade, de energia) existente no espao. Essas variaes deram-se em funo da diferena de conhecimentos cientficos e tecnolgicos em cada poca da humanidade. Assim, quando ainda no havia instrumentos para observao, o Universo observvel a olho nu media no mais de 2 x 10 anos-luz (o que j uma distncia bastante considervel). Atualmente, os modernos telescpios, como o Hipparcos3, j conseguiram elevar este nmero para 2 x 10 anos-luz (ou 20 bilhes de anos luz). Segundo Ronaldo R. de Freitas Mouro, os fsicos conceituam hoje Universo observvel como sendo todos os corpos celestes que podem ser detectados diretamente, atravs dos diversos tipos de radiaes por eles emitidas; Universo fsico como a extenso do observvel, isto , todos aqueles objetos que podem ser detectados pelos efeitos fsicos por eles provocados; e Universo total como o tratamento matemtico, metafsico ou filosfico resultante da extrapolao de nossos conhecimentos sobre o Universo4.

Entretanto, uma pergunta fundamental no foi, at hoje, respondida de maneira inequvoca: qual a origem deste nosso Universo? As primeiras fontes conhecidas no ocidente sobre a origem do Universo so gregas. J antes do sculo VIII a.C. as questes sobre qual o princpio daquelas coisas conhecidas, que os cercavam, eram preocupaes comuns entre os gregos. E, como no podia deixar de ser, os primeiros relatos escritos sobre a origem do Universo (cosmogonia) so descritos em linguagem mtica, atravs, principalmente, dos poemas de Homero e Hesodo. O que se observa nesses textos, que h uma mescla entre a cosmogonia (o nascimento do Universo) e a teogonia (o nascimento dos deuses). O pensamento grego desta poca no dissocia a divindade do Universo em que vive, unindo-os todos num mesmo princpio - e da vo surgir escolas de conhecimento esotricos, como, por exemplo, o orfismo. No se deve entender com isto que a formulao cosmognica grega seja totalmente voltada para o misticismo. H, nesta forma de descrever a origem do Universo, mais um problema de linguagem. O grego antigo no formula explicaes racionais dos fenmenos, talvez por incapacidade de faz-lo. "(...) o grego espanta-se e admira-se. Descreve isso perante o que se espanta e se admira. Omite o discurso lgico explcito mas, na prpria forma como descreve o que v insere, ou implcita, uma lgica explicitao das causas e dos processos."5. a partir da que surge o pensar filosfico. Para Hesodo, no incio tudo era o Caos. O conceito de Caos em Hesodo o de desordem, no no sentido de "baguna", mas como um campo inicial, onde ainda no h o ser, mas existem as condies para sua existncia. E esta existncia d-se pela interveno de Eros, que, com sua dialtica dynamis energeia (potncia e ato), constitui o espao e tudo o que nele h. Este conceito no irracional. , ao contrrio, bastante profundo, e merece um melhor estudo, que no cabe neste trabalho. Quando, a partir do sculo VI a.C., os pensadores passaram a descrever o mundo de uma forma lgica, abandonando, por assim dizer, a expresso mtica, as idias sobre a formao do Universo seguiram duas linhas distintas. A primeira, apresentada por nomes como Aristteles, Plato e Ptolomeu, postulava a Terra como sendo um ponto fixo e central do Universo (concepo geocntrica). A idia bsica a tendncia a acatar a observao visual de que h um movimento aparentemente circular dos demais astros em torno da Terra. Esta, portanto, devia estar fixa, e todos os corpos celestes a recobririam. interessante notar que, apesar disto, j por esta poca no se acreditava mais numa Terra chata, mas sim que ela deveria ser esfrica.6 A outra, defendida por pensadores como Pitgoras, Aristarco e, mais tarde, Coprnico, afirmava que a Terra no era o centro do Universo, mas um corpo celeste que girava ao redor de algum outro astro. Entretanto, enquanto que Pitgoras dizia que este centro era um "fogo central" (e no o Sol), Aristarco de Samos, no sculo II a.C., j defendia a posio que a Terra, como os demais corpos celestes, orbitavam circularmente em volta do Sol. Estavam, j nesta poca, lanadas as bases da concepo heliocntrica. O grande problema com a primeira hiptese (geocntrica) que ela no consegue explicar todos os movimentos dos astros observveis. De fato, os planetas mais distantes do Sol que a Terra movem-se, de maneira geral, de leste para o oeste, mas, em determinados perodos, parecem retroceder. Estes movimentos retrgrados, explicados facilmente num Universo heliocntrico, constituram-se em grandes obstculos teoria de uma Terra central, a ponto de ter sido necessria a criao de um sistema de epiciclos, "rodas" mantidas juntas por eixos, movendo-se livremente umas em volta das outras, e todas elas movendo-se em volta da Terra. Estes movimentos deveriam ser muito complexos, e Aristteles previa cinqenta e cinco dessas esferas. Entretanto, por imposio da Igreja Catlica, o sistema geocntrico prevaleceu por toda a Idade Mdia, e, no sculo XVI, astrnomos como Coprnico, Tycho, Kepler e Galileu enterraram-no definitivamente. Nasce, ento, o que poderamos chamar de cosmologia moderna, com toda a complexidade matemtica que a caracteriza. Cosmologia Moderna: A partir das observaes astronmicas de Tycho e Galileu, e das contribuies de Newton (notadamente a teoria da gravitao universal), ainda no sculo XVI, foi-se formando uma determinada concepo de Universo que, ao mesmo tempo que diferia das demais, era singularmente complexa. Esta concepo foi alavancada por William Herschel, no final do sculo XVIII, com a

descoberta do planeta Urano e com a constatao que as nebulosas observadas nos telescpios eram sistemas galcticos de estrelas e planetas, to grandes ou maiores que a nossa galxia (a Via-Lctea). Tais pesquisas levaram idia fundamental do Universo, vigente a partir de meados do sculo XIX: a de que o Universo aproximadamente igual em todas as direes, e que nossa galxia destituda de qualquer localizao preferencial no espao. Essa idia, chamada de princpio cosmo lgico de Coprnico, leva facilmente constatao que o Universo localmente isotrpico7 no espao, e, portanto, que espacialmente homogneo. Desta constatao surgem duas linhas de pensamento distintas: a primeira, defendida por Newton e, mais tarde, tambm por Einstein (ao menos preliminarmente) diz que o Universo isotrpico no s no espao, mas tambm no tempo (princpio cosmolgico perfeito), o que levou s diversas teorias do Estado Estacionrio, isto , idia de um Universo infinito, esttico no tempo e no espao. H um problema com esta teoria, facilmente verificvel: se o Universo infinito e homogneo, para qualquer ponto do cu que olharmos, nossa linha de viso cruzar necessariamente com um nmero infinito de estrelas. Portanto, o cu deveria ser, sempre, fortemente iluminado, o que no ocorre. Este paradoxo, descrito pela primeira vez em 1826, pelo astrnomo alemo Heinrich Olbers, fundamental para a cosmologia moderna: qualquer cosmologia bem-sucedida deve resolv-lo satisfatoriamente. A segunda linha de pensamento, em oposio anterior, afirma que visualizamos o Universo de um ponto de vista privilegiado, seja no tempo, seja no espao (ou mesmo em ambos). Conhecido como princpio cosmolgico antrpico, vai de encontro teoria anterior principalmente num item: admite que o Universo no estacionrio, isto , est em constante mutao (e ns sabemos hoje que teoricamente impossvel a existncia de um modelo esttico infinito de Universo no qual a gravidade seja sempre atrativa). Mas, mais do que isso, coerente tambm com as observaes realizadas neste sculo, e que levaram teoria do Big Bang. Em 1916, Albert Einstein revoluciona a cosmologia com o lanamento da teoria da relatividade geral, em que dava um passo alm da gravitao newtoniana. Entretanto, do modo como foi formulada, esta teoria preconizava um Universo no esttico, o que o prprio Einstein no conseguia aceitar. Ele introduziu ento um elemento desnecessrio em suas equaes, que visava manter este Universo esttico: a constante cosmolgica. Ele mesmo admitiu, posteriormente, que este foi um dos maiores erros cientficos que j cometeu. A constante cosmolgica foi definitivamente eliminada como possibilidade para o Universo a partir dos trabalhos tericos de Friedmann e Lematre e das observaes de Hubble. Alexander Friedmann (matemtico e meteorologista russo), em 1922, e Georges Lema'tre (clrigo belga), em 1927, trabalhando independentemente descobriram um conjunto de solues para as equaes da relatividade que admitiam universos abertos e fechados, mas no estticos. Em 1929, Edwin Hubble, astrnomo norte-americano, anunciou uma lei simples, baseada em suas observaes no observatrio de Mount Wilson, na qual descrevia a recesso das nebulosas. Era a primeira indicao que o Universo poderia estar expandindo-se. A proposta de um Universo em expanso foi-se fortificando no decorrer dos anos, de acordo com previses tericas dos mesmos estudiosos j citados. E o modelo que foi mais aceito foi o de um Universo que tivesse comeado num estado de densidade infinita (uma singularidade), e evoludo a partir de uma grande exploso: a chamada teoria do Big Bang. O Big Bang foi praticamente confirmado (e a teoria do estado estacionrio definitivamente afastada) em 1964, quando dois fsicos dos laboratrios Bell descobriram uma radiao de fundo, de aproximadamente 2,5 a 4,5 K8, isotrpica e homognea. Esta radiao, chamada de radiao de fundo das microondas csmicas, praticamente comprova a primitiva fase quente do Universo.

Estado atual da Cosmologia: 1 No atual estgio da cosmologia, podemos dizer que so melhor aceitas as seguintes teorias sobre a origem e a formao do Universo: 2 O Universo constitudo por um continuum quadridimensional de espao-tempo, regido, em escala macro, pelas equaes da relatividade de Einstein. Isto significa, entre outras coisas, que o tempo uma funo varivel do Universo, dependente fundamentalmente da velocidade.9 3 Tal espao-tempo quadridimensional curvo, e sua curvatura depende da quantidade de massa (matria) ao seu redor. Graas a isso, a geometria que o descreve no a euclidiana, mas uma das muitas geometrias alternativas desenvolvidas a partir do sculo xx.

O Universo foi criado a partir de uma singularidade, num instante qualquer h aproximadamente 20 bilhes de anos atrs. Neste momento, no se sabe por que motivo, houve uma grande exploso (Big Bang), que criou o espao tempo e o ps em movimento de expanso contnua, a qual dura at hoje.l0 Esta expanso uma expanso do prprio espao-tempo, o que equivale dizer, do prprio Universo, podendo, portanto, estar-se expandindo a velocidades superiores da luz no vcuo. O modelo geomtrico mais aceito o de um Universo finito e ilimitado (como uma bola de gs). A singularidade que originou o Universo, como qualquer outra singularidade (um buraco negro, por exemplo), no explicada pela fsica quntica. Assim, qualquer explicao que tentemos dar para este nosso cosmo est limitada idade de 10 segundo e a um comprimento de 10 centmetros. Toda a matria existente no Universo deve-se a uma ligeira dissimetria entre os pares de matria / antimatria formados durante o perodo de transio de fase (tambm chamado de perodo catastrfico ou perodo inflacionrio da expanso). Tal dissimetria prevista, estatisticamente, pelas teorias unificacionistas mais modernas. O Universo primitivo demorou ainda 700 000 anos para que esfriasse o bastante para que os ncleos atmicos assim formados pudessem dar incio formao de galxias, estrelas e planetas base para a vida como ns a conhecemos.

A formao dos planetas: Planetas, na definio de Ronaldo Rogrio de Freitas Mouro, so "corpos celestes de massa muito reduzida, incapazes de gerar energia equivalente das estrelas, e que se movem em rbita elptica em torno delas".11 Para considerarmos a formao dos planetas, em particular da Terra, que o nosso objetivo, no podemos prescindir do estudo da formao do sistema solar, uma vez que ambos formaram-se contemporaneamente. O Sol das estrelas mais comuns que poderia existir. uma estrela de meia idade, em relao s demais da galxia (deve ter, aproximadamente, 5 bilhes de anos), situado a dois teros do seu ncleo central (isto , nem muito prximo, nem muito distante dele). A galxia (a Via Lctea) uma galxia espiral que tem em seu ncleo um grande aglomerado de massa (um buraco negro, provavelmente) e, aproximadamente, 100 bilhes de estrelas das mais diversas ordens. Ns realmente no temos nada de muito especial. Um estudo sobre a origem do sistema solar, levado a efeito principalmente atravs de estudos espectrais e anlises fsico-qumicas de meteoritos, indica que nosso Sol e todo o sistema originaramse pela contrao gravitacional de matria dispersa na galxia a partir de ondas de choque geradas pela exploso de uma ou duas supernovas. Esta concluso origina-se da grande quantidade de istopos exticos de muitos elementos qumicos presentes nestes meteoritos (por exemplo, magnsio-26 e oxignio-l7, entre outros). O modo pelo qual os planetas vieram a existir ainda controvertido. Qual m teorias despontam, apesar de apenas uma ainda possuir credibilidade. So elas: a da turbulncia, a das mars, a das nebulosas e a da acumulao. A teoria da turbulncia baseada na teoria dos vrtices, de Descartes. Afirma que, no incio do sistema solar, havia uma turbulenta atmosfera de gases girando em torno do Sol, que, com sua dissipao, levaria formao de regies mais densas, as quais condensar-se-iam em ncleos dos planetas. Como no h evidncias que esta turbulncia tenha existido, nem uma idia do porque elas existiriam, esta teoria foi deixada de lado. A teoria das mars uma seqncia daquela exposta por Georges Louis de Buffon em 1785, que afirmava que a coliso de um cometa com o Sol teria expelido destes pedaos de matria que teriam transformado-se nos planetas. A moderna teoria, sabendo que os cometas no tm massa suficiente para arrancar nada do Sol, parte do princpio que a passagem de uma outra estrela suficientemente perto do Sol que teria arrancado destes filamentos de matria que se condensariam nos planetas. Esta teoria, exposta no incio do sculo XX por James Jeans e Harold Jeffreys, possui uma dificuldade terica: os gases assim produzidos teriam uma temperatura muito alta, o que provocaria sua dissipao antes da condensao. Outras dificuldades de cunho matemtico, se no inviabilizaram a teoria, ao menos tornaram-na mais improvvel que a das nebulosas. A teoria das nebulosas no nova: vem das idias de Kant (1755) e Laplace (1796). Prope que as

foras centrfugas da nebulosa protossolar (que, segundo ela, girava lentamente) provocaram ejeo de material, que teria formado os planetas. Apesar de explicar o motivo pelo qual os planetas movem-se num mesmo plano e numa mesma direo, sabe-se hoje que o momento angular do sistema solar provavelmente insuficiente para ter causado ejeo de material. A teoria atualmente mais aceita chamada teoria da acumulao, e prev que a nebulosa protossolar, afetada pela exploso das supernovas, teria colapsado. A regio central, onde se acumulava grande parte da matria da nuvem, geraria o Sol. As demais regies densas teriam gerado os outros corpos do sistema solar, como os planetas, asterides, satlites. Ainda no se conhece bem o processo de construo, mas a teoria chamada de acumulao porque prega que os corpos maiores (planetas) tenham-se formado pela fuso (coliso a altas velocidades e presses) de vrios corpos menores (asterides e planetides). A posio esprita: Em vrios textos, Kardec discute a questo da formao do Universo. Os principais deles so aqueles descritos na Revista Esprita, alm dos j consagrados captulos de A Gnese, que discutiremos mais adiante. Os principais textos da Revista Esprita so: A pluralidade dos mundos habitados - janeiro de 1863, trata da obra homnima de Camille Flammarion. Estudos uranogrficos - setembro de 1862 o texto base do captulo sobre Uranografia Geral da Gnese. O planeta Vnus - agosto de 1862 trata sobre a constituio eos habitantes deste planeta. Descrio de Jpiter - abril e agosto de 1862 uma comunicao sobre a constituio e os habitantes deste planeta. Podemos resumir no quadro seguinte as principais idias dos referidos textos: 1- A pluralidade de mundos habitados uma realidade inconteste. Dois argumentos existem a seu favor: a insensatez da crena que todo o Universo foi criado s para agradar aos olhos dos terrqueos, e os testemunhos dos espritos que neles vivem, via medinica. Afirma taxativamente que todos os planetas do nosso sistema solar, e mesmo a Lua, devem ser habitados. 12 2- H uma escala de superioridade dos mundos do sistema solar. Assim, do mais inferior para o mais superior, temos: Marte, Terra, Mercrio, Satumo, Lua, Vnus, Urano, Netuno e Jpiter.13 3- Em Jpiter, a organizao dos corpos totalmente diferente daquela da Terra. Seus habitantes deslizam pelo solo, alimentam-se de frutas e plantas, a durao da vida maior que a da Terra e praticamente no existe infncia. Com a morte do corpo, este dissipa-se, no apodrece, e no se conhecem molstias.14 4- Os animais em Jpiter so tambm bastante evoludos, sendo encarregados de todas as tarefas manuais, como servos e capatazes. As ocupaes dos homens so puramente intelectuais.15 5- O planeta Vnus um intermedirio entre Mercrio e Jpiter. L, os mares so cal mos, os ventos no sopram com violncia, o ar mais rarefeito, os costumes so mais puros; em suma, um mundo de bem-aventuranas.16 6- Os planetas tm o mesmo estilo evolutivo dos espritos, isto , so criados na escala mais inferior e evoluem at o mais alto deles.17 Como se pode observar h uma srie de conceitos que a cincia atual demonstrou serem equivocados. O livro de Kardec que mais trata deste assunto A Gnese. Nele, os captulos de VI a XII so dedicados ao estudo do Universo, da formao da Terra, dos seres vivos e dos espritos. Ou seja, tratase da Gnese material, orgnica e espiritual. As principais idias novas, desenvolvidas neste livro so: 1- Existe um paralelo entre as descobertas cientficas da poca e a Gnese de Moiss (descrita na Bblia), que, na opinio de Kardec, era a mais prxima da verdade entre as teorias da formao do mundo dos povos antigos. 2- O Universo infinito, assim como o espao, e o tempo caracterstico deste nosso universo material, tendo sido criado juntamente com a matria. 3- As foras que percebemos no Universo so, na verdade, diversificaes de uma fora nica,

assim como os diversos tipos de matria so diversificaes da matria primitiva. 4- H um fluido, etreo, que permeia todo o Universo e que serve de veculo para o pensamento. Este fluido chamado, por vezes, de hausto divino. 5- Os planetas e os satlites, a includos a Terra e a Lua, so formados pelo destacamento de matria da nebulosa que origina o centro do sistema (em nosso caso, o Sol). Fala-se tambm de muitos outros temas, como precesso dos equincios, revolues dos planetas e seus movimentos, etc. Sobre as questes da Gnese orgnica, falaremos mais no prximo captulo. Algumas das idias adotadas por Kardec j foram ultrapassadas, como se pode ver ao se comparar as novas descobertas cientficas (previamente expostas) com tais idias. Entretanto, isto no invalida a obra, j que o prprio Kardec, com a precauo que lhe peculiar, adverte que s est colocando estes temas como propostas, mas que sua aceitao definitiva depender de comprovao cientfica.18 Entretanto, j h, nas idias de Kardec sobre o Universo, uma indicao de algumas das mais recentes descobertas, como a unificao das interaes, o espao-tempo como um continuum tetradimensional e a prpria pluralidade de mundos habitados. As idias de Kardec, no fundo, concordam com as teorias que resistiram aos testes das novas descobertas, e que apontam para um Universo dinmico, em constante mutao, e, portanto, mais apto ao desenvolvimento da vida.

CAPTULO 2 - A VIDA
Definies Qualquer considerao sobre a origem da vida, ou sobre como ela pode ter vindo a existir, deve passar por uma questo bsica: o que vida? Apesar de esta questo parecer absolutamente irrelevante, j que, em nvel macro, fcil distinguir que um cachorro tem vida, enquanto que uma pedra no tem, ela se enche de sentido quando pensamos no nvel molecular da existncia. Consideremos os vrus. Estes consistem em partculas de diferentes tamanhos, que variam da menor das bactrias at o de algumas complexas molculas de protenas. So basicamente formados de cidos nuclicos (DNA ou RNA) e seu formato , via de regra, icosadrico ou helicoidal. Considerados do ponto de vista cristalogrfico, eles seriam inanimados, j que possuem todas as caractersticas dos cristais, principalmente no tocante sua forma. Porm os vrus tm a interessante potencial idade de reproduzir-se, e de manter suas capacidades, digamos, vitais, inalteradas, mesmo quando separado em suas partes constituintes, recuperando estas capacidades assim que estas partes so postas juntas novamente. Talvez a melhor definio de vida seja: "Vida uma propriedade da matria que confere a seus possuidores a capacidade de metabolismo e replicao". Metabolismo a "capacidade de manter a integridade da clula atravs de um contnuo reembaralhamento de componentes qumicos, convertendo material bruto de fora da em substncias necessrias sua existncia"19 J replicao a possibilidade de um organismo qualquer de fazer cpias de si mesmo. A replicao permite a cpia de informao hereditria, garantindo que as caractersticas de uma clula possam ser herdadas com preciso por sua descendncia. possvel usar um computador como metfora deste processo: o metabolismo seria como um hardware, requerendo atividade constante - assunto das protenas. J a replicao, devido s suas necessidades de estabilidade e legibilidade, como um software - e assunto dos cidos nuclicos. "cidos nuclicos, como disquetes, so facilmente lidos e copiados. Protenas, como computadores, so feitas seguindo as instrues, e no por cpias."20 Existe uma qumica da vida - que essencialmente, a qumica de um elemento chamado carbono, e, em particular, das cadeias de carbono muito longas. exatamente por isso que a qumica do carbono chamada de qumica orgnica. Pode-se dividir os compostos orgnicos encontrados em organismos vivos em, principalmente, quatro grandes classes: carboidratos, gorduras, protenas e cidos nuclicos. As gorduras so as mais simples, consistindo cada uma de trs cidos graxos unidos a um glicerol. Os amidos e os glicognios so constitudos cidos graxos unidos a um glicerol. Os amidos e os glicognios so constitudos de unidades de acar (carboidratos) pareados. A funo dos carboidratos e gorduras no organismo servir como combustvel- fonte de energia. Os cidos nuclicos so estruturas muito grandes, complexas, compostas d\' agregados de pelo menos quatro tipos de unidades: os nucleotdeos. So os principais componentes dos genes, os

portadores da constituio hereditria. Variedade e especificidade so as principais caractersticas das protenas, que incluem as maiores em mais complexas molculas conhecidas. Cerca de vinte e cinco tipos distintos de aminocidos constituem sua estrutura, sendo, assim, possvel a existncia de um nmero virtualmente infinito de protenas. Existe uma propriedade importante da vida tal como a entendemos hoje - e que base para um srio paradoxo na questo da origem da vida: os cidos nuclicos so sintetizados nas clulas somente com a ajuda de replicadores (protenas); ao mesmo tempo, as protenas so sintetizadas somente se sua seqncia correta de nucleotdeos estiver presente. Num estgio da Terra antes do aparecimento da vida (chamado de estado pr-bitico), no qual no havia nem cidos nuclicos nem protenas, como pode a vida surgir? Pequeno histrico sobre o aparecimento da vida: Uma das primeira teorias sobre este tema foi atribuda a Arrhenius21, que, (domando uma idia j exposta pelo filsofo grego Anaxgoras (sec. V a.C.) sugeriu que esporos poderiam ter sido trazidos do espao para fertilizar a jovem Terra, atravs de poeira estelar, meteoritos ou vento (radiao) solar. Esta teoria, qual deu-se o nome de panspermia, tem um inconveniente: a improbabilidade de quaisquer microorganismos terem sobrevivido a uma viagem a tais distncias, principalmente graas radiao. Mas, ainda que isto tivesse ocorrido, restaria uma questo: como se originaram os esporos? Muito tempo passou-se antes que surgisse a teoria clssica sobre a origem da vida: em 1924, o bioqumico russo Alexander Ivanovich Oprin afirmava que no h nenhuma diferena fundamental entre um organismo vivo e matria sem vida, e que a complexa combinao de manifestaes e propriedades to caractersticas da vida devem ter surgido no processo de evoluo da matria, Esta idia aceita ainda hoje, como se pode ver nas palavras de Steven Weinberg, prmio Nobel de fsica: "A experincia dos ltimos 150 anos mostrou que a vida est sujeita s mesmas leis da natureza que a matria inanimada".22 Em 1928, independente de Oprin, o bilogo britnico J.B.S. Ha1dane publicou um artigo no "Rationalist Animal", no qual especulava sobre as condies que devem ter existido para emergir a vida terrestre. Ele considerou que a luz ultravioleta proveniente do Sol, aliada s descargas eltricas da jovem Terra, agiu sobre a primitiva atmosfera existente no planeta, composta principalmente por amnia (NH3), metano (CH4) e vapor d'gua (H2O), formando compostos de carbono, entre os quais, possivelmente, acares e alguns aminocidos necessrios para as protenas. Haldane postulou que estes compostos acumularam-se nos oceanos primitivos, at que eles atingiram a consistncia de um "tpido caldo primordial". E foi a que a vida provavelmente comeou. Origem e desenvolvimento da vida: O problema que aqui se coloca, em relao origem da vida, , na verdade, posterior grande questo bsica, de carter quase que inteiramente filosfico: ou a vida foi criada por um ente superior (Deus), tese aceita por todas (ou quase todas) as religies, e conhecida como criacionismo, ou evoluiu a partir de compostos no vivos, ocasionando a tese da gerao espontnea. No h outra alternativa. Discorrer sobre a hiptese criacionista da vida , de certa forma, redundante, j que nosso conhecido Gnese bblico um exemplo clssico dela: no primeiro dia, Deus criou o cu e a terra; no segundo, separou o firmamento e as guas; no terceiro, Ele fez a terra firme e as plantas; no quarto dia, Deus fez o Sol, a lua e as estrelas; no quinto, fez os pssaros e os peixes, e, no sexto dia, os animais terrestres e o homem. interessante notar que como Deus ordenou terra e s guas que produzissem os seres vivos, em vez de os criar diretamente, no h conflito teolgico entre o Gnese e a criao espontnea. Entretanto, permanece o fato de o homem ter sido criado diretamente por Deus, e no evoludo de formas inferiores de vida. Entretanto, assumindo somente a hiptese no criacionista, o problema que se apresenta saber se possvel que a vida surja a partir de compostos mais simples no vivos. Admitindo tal possibilidade, resta um mundo de idias que podem ser desenvolvidas, principalmente a que, admitindo a isotropia universal, prope a presena de vida em outros planetas. A resposta parece estar, apesar de tudo, na teoria da seleo natural. Com a repetio, gerao aps gerao, esta teoria parece apontar para a evoluo de organismos complexos a partir de outros mais simples, e implica que todas as formas de vida atuais evoluram de um nico e simples progenitor - um organismo a que se refere como o ltimo ancestral comum da vida.

Na verdade, existem, atualmente, trs grandes teorias que buscam explicar o problema da origem da vida: A primeira, defendida j antes de 1930 por Oprin, baseia-se na existncia dos coacervatos - uma mistura estvel de um lquido oleoso em gua, na qual aquele fica disperso dentro de gotculas que se mantm suspensas na gua. Para ele, a moldura fsica (as clulas) apareceram em primeiro lugar, a exemplo dos coacervatos. A seguir, pela organizao das molculas dispersas no interior das clulas em ciclos metablicos auto-sustentados, criaram-se as protenas. Finalmente, em ltimo lugar, apareceram os genes. Deve-se notar que Oprin tinha um limitado conhecimento sobre a estrutura destes ltimos; apesar disto, sua teoria permanece com alguma validade. A segunda teoria, proposta pelo fsico-qumico alemo Manfred Eigen, prmio Nobel de qumica, inverte a ordem dos acontecimentos. Prope que, em primeiro lugar, apareceram os genes, a partir da auto-replicao do RNA. Em seguida, as protenas, que plasmaram junto com o RNA as bases do moderno sistema gentico. Finalmente, a clula apareceu para dar coeso a este sistema previamente formado. Esta a teoria mais em voga ultimamente, principalmente depois das experincias com replicao do RNA sem a presena de protenas, feitas por Eigen e Leslie Orgel (Ph.D. em qumica e pesquisador da NASA para assuntos sobre a vida). Finalmente, a ltima teoria, proposta por Cairns-Smith, baseia-se na idia de que, antes de os cidos nuclicos serem criados, o material gentico original consistia de cristais microscpicos de minerais, com uma distribuio irregular de metais (encontrados, naturalmente, no barro comum). Os tomos de metal eram os mensageiros, transportando as informaes do mesmo modo que, posteriormente, o RNA. Esta teoria apresenta o barro em primeiro, as protenas em segundo, as clulas em terceiro e os genes em quarto lugar. Todas estas teorias baseiam-se nos experimentos que foram levados a cabo por alguns cientistas experimentais, a partir de meados do sculo XX, tentando comprovar a possibilidade de a vida ter surgido de elementos no vivos. O primeiro destes experimentos, a talvez o mais significativo, foi o de Harold Urey e seu aluno Stanley Miller, em 1953. Nesta experincia, Miller props um ambiente supostamente similar ao da Terra no seu incio, isto , um "oceano" de gua tpida produzindo vapor, e uma atmosfera redutora, composta de compostos como amnia e metano, submetida a intensas descargas energticas, sob a forma de raios e radiao ultravioleta. A experincia foi realizada num aparelho onde tais condies eram reproduzidas. Como resultados, em uma semana foram produzidos 3% de aminocidos, componentes bsicos das protenas. Um interessante adendo experincia foi um meteorito encontrado, anos depois, em Murchinson, Austrlia, e que demonstrou conter os mesmos aminocidos produzidos por MilIer, nas mesmas quantidades, aproximadamente. Isto pode indicar que condies pr-biticas, isto , antes da existncia de vida, podem estar sendo produzidas em outros lugares do espao. Outras experincias semelhantes produziram resultados muito compatveis: assim, Manfred Eigen conseguiu produzir RNA usando apenas protenas, sem nenhuma molcula de RNA para servir como modelo aos replicadores. Da mesma forma, Leslie Orgel produziu o mesmo RNA usando apenas um modelo de RNA, na ausncia das protenas replicadoras. Todas estas experincias apontam para o fato de que possvel que condies iniciais pr-biticas tenham levado produo dos elementos necessrios vida, desde que em presena de uma quantidade suficiente de energia, o que resulta, simplificadamente, na seguinte equao: Composto simples + Energia > Precursores da Vida Entretanto, as teorias no param por a: a partir da dcada de 1960, um importante geneticista japons, o Dr. Motu Kimura, conferiu uma base matemtica para o tratamento estatstico da evoluo molecular, que derivou na chamada teoria neutra da evoluo. A proposta desta teoria, bastante coerente com os postulados da fsica moderna, que, durante o desenvolvimento da vida, a deriva gentica, isto , flutuaes estatsticas aleatrias tm sido mais importante que a seleo natural como causa da evoluo das espcies. O que se pode concluir que a busca da cincia por uma teoria da vida que prescindisse de interveno sobrenatural, se no um sucesso absoluto, tem, ao menos, grande probabilidade de estar no caminho da verdade. Apesar disto, pouco se sabe sobre a origem e o desenvolvimento da vida.

A posio esprita: Kardec era defensor da teoria da gerao espontnea. Tanto na Gnese (cap. X - Gnese orgnica) quanto na Revista Esprita (A gerao espontnea e a gnese - junho de 1868) ele reafirma essa posio, fazendo a ressalva que ele a admite pessoalmente, mas no a coloca como princpio da doutrina esprita devido a ela no estar ainda plenamente desenvolvida e aceita pela cincia em geral. Efetivamente, Kardec aceita a idia da gerao espontnea em sua forma comum no sculo XIX, a de que seres vivos complexos poderiam surgir da matria inanimada, notadamente aquela em decomposio, como mostra o seguinte texto: " hoje reconhecido que os pelos do mofo constituem uma vegetao que nasce sobre a matria orgnica chegada a um certo estado de fermentao. O mofo nos parece ser o primeiro, ou um dos primeiros tipos de vegetao espontnea."23 E ainda: "A matria orgnica animalizada, isto , contendo uma certa poro de azoto, d origem a vermes que tm todos os caracteres de uma gerao espontnea."24 As idias de Kardec estavam em consonncia com o esprito de sua poca, pois, apesar de os experimentos de Pasteur que demonstraram o erro destas idias terem sido publicados j em 1861 (com o ttulo de Memria sobre corpsculos organizados que existem na atmosfera), ainda haviam srias oposies s suas concluses, por parte de cientistas de renome, como o caso de Henry Bastian, professor de anatomia patolgica no University CoIlege, de Londres. A gerao espontnea s iria cair definitivamente a partir das experincias de John Tyndall, em 1880. Para a explicao da existncia de vida em alguns corpos, enquanto que outros apresentam-se inanimados, Kardec lana mo do conceito de princpio vital. Para ele, tal princpio, ativo nos seres vivos e extinto nos mortos, confere substncia orgnica as propriedades caractersticas que a distinguem das substncias inorgnicas. uma modificao da matria bsica que forma o Universo, e modifica a constituio molecular dos corpos, dando-lhes as propriedades especiais orgnicas. Um ponto importante desta teoria de Kardec sobre a vida que esta estritamente material, no interferindo o esprito, entendido como o princpio inteligente do Universo, em nada para sua manuteno. Esta idia, que vem de encontro s recentes descobertas da biologia, bastante deturpada no meio esprita brasileiro, que ensina que o esprito que vivifica a matria. A idia de um fluido vital no original de Kardec. O vitalismo uma doutrina que pode ser encontrada em muitos povos antigos, da China aos europeus, passando pela Grcia e por Roma. Definido como "a doutrina segundo a qual os seres vivos so dotados de uma fora particular em si mesmos, a fora vital, irredutvel fsico-qumica, e que d origem aos fenmenos vitais", o vitalismo era uma idia corrente na Europa do sculo XIX, uma escola que buscava contrapor-se ao mecanicismo e ao reducionismo que, j ento, eram dominantes nas academias de cincia. O vitalismo, enquanto escola filosfica com a pretenso de explicar os fenmenos da vida, foi seriamente abalado pela sintetizao da uria em laboratrio, por Friedrich W6hler, em Leipzig, 1828. Atualmente, apesar de ainda existir uma corrente neovitalista que mantm essa idia acesa, abafada pelas teorias e experimentaes que discutimos acima. A questo, para o espiritismo, resume-se em discutir a necessidade de lanar mo da tese do princpio vital, tal como definido por Kardec, para explicar a origem da vida. Em funo de todas as descobertas feitas pelos bilogos, pode-se sugerir que, no estgio atual do conhecimento, tal tese no absolutamente necessria, e que a prpria idia de Kardec que a vida pertence ao mbito da matria, e no do esprito, perfeitamente avalizada por estas descobertas.

CAPTULO 3 - PLURALIDADE DE MUNDOS HABITADOS: AS EVIDNCIAS


A vida no espao: Considerando que a vida, muito provavelmente, uma conseqncia de um arranjo peculiar de tomos de carbono, hidrognio e nitrognio, e que estes elementos encontram-se distribudos no espao exterior, pode-se questionar sobre a existncia de vida, ou ao menos de predecessores de vida, no espao. Na realidade, desde a metade deste sculo era sabido, atravs de anlise espectral, que nas nuvens interestelares existiam alguns compostos simples, como CN e OH. Entretanto, foi somente em 1968 que uma equipe da Universidade de Berkeley, rastreando molculas poliatmicas no espao interestelar, concluiu pela existncia de uma grande variedade delas26, em particular, o cido frmico (HCOOH) e a metanimina (H2CHN), cuja reao produz o mais simples dos aminocidos, a glicina

(NH2CH2COOH). H, ento, excelentes razes para crer que a complexidade molecular baseada em carbono uma caracterstica presente em todo o Universo, e no s na Terra. At a dcada de 1960, a principal teoria acerca da natureza dos gros interestelares considerava-os como sendo gelo de gua, amnia e metano. Mas, em meados desta dcada, observaes espectroscpicas mostraram uma forte absoro na faixa dos 2 200 A, que no coadunava com nenhum daqueles elementos. Em paralelo, estudos sobre as radiaes infravermelhas destas nuvens indicam temperaturas acima do ponto de ebulio da gua. Necessitava-se de uma nova teoria, e ela foi estabelecida pelos astrnomos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe. Segundo eles, o elemento que melhor absorve naquela faixa de comprimentos de onda o carbono. Esta idia foi consideravelmente confirmada pela anlise do espectro de uma substncia que coincide significativamente com as observaes experimentais: a celulose, por coincidncia (ou no) um constituinte bsico das estruturas vegetais. A construo de grandes molculas de polissacardeos, como a celulose, no espao no to absurda. Quimicamente, carbono e oxignio podem, a temperaturas compatveis com aquelas do espao exterior, unir-se formando anis pirnicos, compostos que crescem como cristais, "simulando", por assim dizer, o comportamento das clulas vivas. Outra descoberta interessante neste campo situa-se na faixa dos 4 430 A, e poderia dar uma idia de como o nitrognio estaria presente. A absoro nesta faixa combina com a de uma grande molcula (MgC46H30N6), da famlia das profirinas, componentes bsicos da clorofila, substncia necessria fotossntese, e, portanto, existncia de vida na Terra. Todas estas observaes, aliadas descoberta, a partir da dcada de 1950, de aminocidos em amostras de meteoritos, sugerem que o "caldo primordial" poderia estar no interior de um cometa, onde polissacardeos, porfirinas e outros componentes orgnicos poderiam ter-se composto em formas vivas autocopiadoras. Estas consideraes so usadas pelos astrnomos e alguns bilogos para suportar a tese que a vida na Terra foi semeada por molculas vindas do espao - o que seria uma adaptao e uma evoluo da teoria da Panspermia. Entretanto, podem tambm apontar para a hiptese de a vida ter-se desenvolvido em outros locais do espao, alm da Terra. Evidncias de vida fora da Terra: A idia da existncia de vida em outros planetas possivelmente j existia nos antigos gregos, aparecendo em algumas das odes de Pndaro. Apesar disso, a idia s pode desenvolver-se quando o homem passou a encarar tais planetas como sendo mundos semelhantes ao nosso. Foi assim que essa idia, proposta inicialmente por Nicolau de Cusa, foi aceita por Kepler e outros cientistas de renome, desde essa poca at nossos dias, crescendo continuamente em fora e argumentao. Entretanto, muitos contestaram esses argumentos. Em 1851, William Whewell, em seu livro Pluralidade dos Mundos, considerava a necessidade de um conjunto de condies bsicas para o desenvolvimento da vida: luz, temperatura, presso, umidade, etc. Tais condies formavam a chamada zona de habitabilidade, da qual planetas muito prximos do Sol (como Mercrio e Vnus), ou muito distantes (Saturno, Urano, Netuno e Pluto) estariam fora. Apesar da fora desses argumentos contrrios, a partir da metade do sculo XX a comunidade cientfica tem cada vez mais aceito a tese da vida em outros planetas. Uma srie de razes contriburam para que isso acontecesse: Em 1958, Harlow Shapley e Stanley Miller, atravs de clculos estatsticos, l'sl imaram uma provvel populao para o Universo. Mesmo utilizando-se de clculos conservadores, eles concluram pela possibilidade de 100 milhes de planetas capazes de abrigar vida, dos quais 100 000 teriam civilizaes tecnologicamente mais desenvolvidas que a nossa, considerando como Universo apenas o nmero de estrelas visveis pelo telesc{wio. Atualmente, cosmlogos menos cautelosos admitem aproximadamente 10 possibilidades de vida no Universo. Em 1961, Frank Drake props uma frmula que forneceria o nmero de possveis civilizaes em nossa galxia; esta frmula foi posteriormente reformulada, e sua forma atual :
Nv=Mn.Pp.Pi.Pa.Pz.Pe.Pb.Pr.Pd.Pt.

Onde: Nm = N de estrelas de massa compreendida entre 0.72 e 1.43 vezes a massa do Sol.

Pp = Probabilidade que a estrela possua um planeta orbitando em sua proximidade. Pi = Probabilidade que a inclinao da rbita do planeta em relao a seu equador seja correta para a distncia orbital. Pa = Probabilidade que o planeta possua uma massa tal que lhe seja possvel possuir uma atmosfera - 0.4 a 2.35 vezes a massa da Terra. pz = Probabilidade que ao menos um dos planetas do sistema esteja dentro da zona de habitabilidade. Pe = Probabilidade que a excentricidade da rbita do planeta seja suficientemente baixa, isto , inferior a 0.2. Pb = Probabilidade que a presena de uma segunda estrela companheira no torne o planeta inabitvel. Pr = Probabilidade que a rotao do planeta no seja muito rpida nem muito lenta - dia de 3 a 96 horas. Pd = Probabilidade que o planeta esteja numa idade que tenha permitido o desenvolvimento de vida. Pt = Probabilidade que a vida tenha desenvolvido-se. A concluso estatstica que, apenas em nossa galxia, haja 600 milhes de planetas habitveis. - O lanamento do satlite sovitico Sputnik, em 04 / 10/ 1957, que inaugurou oficialmente a era espacial, e a descida do homem na Lua, em 1969, convenceram os homens da possibilidade das viagens interplanetrias. - O desenvolvimento das teorias sobre a origem da vida, e a descoberta dos precursores de vida nos meteoritos e nas nuvens interestelares. - O satlite IRAS ("Satlite Astronmico Infravermelho"), colocado em rbita a 900 km de altura em 1983, descobriu um sistema planetrio em formao em tomo da estrela Vega, distante 26 anos-luz da Terra, alm da descoberta de outros sistemas planetrios, como o da estrela de Barnard, descoberto em 1967. - A experimentao sobre existncia de vida em Marte, realizada pela sonda Vicking, que demonstrou, seno a existncia de vida propriamente dita, ao menos forte possibilidade de ela ter existido num passado no to remoto. Suposio esta que foi aumentada pela descoberta de um microorganismo em um meteorito proveniente de Marte, em 1996. A descoberta, em 1986, realizada pela sonda Giotto, que o ncleo do cometa de Halley deve ser formado por, pelo menos, 25 % de matria orgnica. Evidncias como estas fazem com que, atualmente, quase no existam astrnomos imparciais que no acreditem em vida em outros planetas. Evidncias na Terra: Um quase corolrio da idia da existncia de vida em outros planetas a possibilidade de outras civilizaes, tecnologicamente mais avanadas, terem visitado a Terra. Se assim foi, devem existir ainda hoje fatos que sugiram estas visitas. Este tema abordado por Erich von Daniken, em seu livro Eram os deuses astronautas? A tese principal da obra de von Daniken, que os deuses dos povos antigos foram, na verdade, astronautas de civilizaes mais avanadas, baseia-se em dois pontos principais: a vida fora da Terra e a crena em deuses com caractersticas muito semelhantes. Para apoiar sua tese, o autor lana mo de algumas evidncias arqueolgicas, mais ou menos recentes, porm encaradas sob uma tica sensivelmente diferente. Dentre estas evidncias, pode-se citar: - Textos da ndia de mais de 3 000 anos de idade, que falam numa espantosa arma, cuja descrio evoca, para ns, a bomba atmica. - Cientistas russos descobriram, tambm na ndia, um esqueleto com 4 000 anos de idade que portava radioatividade superior em 50 vezes a do ambiente, com forte indicao que o indivduo havia consumido alimentos contaminados com radioatividade. - No incio do sculo XVIII, foram encontrados alguns mapas muito antigos, pertencentes ao almirante Piri Reis, da marinha turca. Tais mapas eram bastante precisos, mas no estavam desenhados de modo correto. Um estudo mais profundo demonstrou que esto registrados nos mapas cadeias de montanhas da Antrtida, descobertas somente em 1952. Alm disso, as distores nos desenhos dos

mapas so perfeitamente explicveis se eles tivessem sido feitos a partir de fotos tiradas por uma espaonave sobre a cidade do Cairo. - No Iraque e no Egito foram encontradas lentes de cristal, lapidadas, que hoje s podem ser manufaturadas mediante a aplicao de xido de csio, produto s obtido por processos eletroqumicos. Esses argumentos so realmente muito fortes. Ainda assim, algumas das evidncias de Daniken j foram contestadas, como o caso das pirmides do Egito, que um grupo de cientistas japoneses demonstrou ser possvel de construir usando apenas a tecnologia da poca, em no mais de 20 anos. Apesar disto, o raciocnio de von Daniken muito lgico, e, se no quisermos ser preconceituosos, devemos aceit-lo, ao menos, como uma teoria plausvel. Evidncias da ufologia: A protocincia que se costuma chamar de ufologia tem se destacado para o pblico leigo da mesma forma que o espiritismo, isto , em seu aspecto mais sensacionalista. Como o espiritismo, a ufologia tem estado sujeita a aes de uma infinidade de charlates de todos os tipos, que, a pretexto de apresentar novidades, denigrem sua imagem como uma possvel cincia, ainda que alternativa. Finalmente, da mesma forma que o espiritismo, a ufologia tem sido severamente rechaada pela cincia formal, ainda que com ridculas alegaes. Entretanto, a ufologia tem sofrido tambm srio ataque dos governos, o que tem dado origem a uma enorme gama de especulaes, algumas completamente absurdas, outras com fundamento. O nome ufologia deriva da sigla inglesa UFa (Unindentified Flying Objects), que significa Objetos Voadores No Identificados - OVNI em portugus. A sigla no capaz de transcrever toda a profundidade do tema tratado, uma vez que, ao p da letra, qualquer objeto que voe e que seja, de alguma sorte, desconhecido, um OVNI. A grande discusso que, normalmente, estes OVNI esto associados a visitantes de outros planetas. A apario de estranhos objetos voadores no recente. Vrios relatos da antigidade apontam para a possibilidade de antigas lendas serem, de fato, visitas de seres de outros planetas. Por exemplo, uma histria chinesa refere-se a um povo que habitava um distante "terra de carretas voadoras", e que conduzia carros alados com rodas douradas. O Drona Parva, um texto snscrito, descreve combates areos entre deuses, a bordo de mquinas voadoras chamadas vimanas. O profeta Elias, no Velho Testamento, subiu aos cus numa carruagem de fogo. O caso antigo mais interessante talvez seja o do profeta Ezequiel, narrado tambm no Velho Testamento. Ele descreve uma viso de um globo de fogo, que tinha ao seu redor uma espcie de metal brilhante. No meio do fogo, apareciam o que ele julgou ter "a semelhana de quatro animais", parecidos com homens, e cada um deles possua quatro faces e quatro asas. Em 1968, o engenheiro da NASA Josef Blurnrich, procurando contestar a idia que a roda de Ezequiel era uma nave espacial, acabou desenhando uma nave vivel a partir desta descrio. To convencido ficou que disse, posteriormente: "Raras vezes uma derrota absoluta foi to compensadora, to fascinante e to prazerosa!". A moderna ufologia comeou em 14 de junho de 1947, nos EUA. Kenneth Arnold, presidente de uma firma de extintores de incndio, pilotava seu prprio monomotor quando avistou uma srie de estranhos objetos voadores que se dirigiam ao sul. Os objetos, de formato discide, voavam numa formao que cobria 8 quilometros, a uma velocidade de aproximadamente 2 600 km/h. Chamou aqueles objetos deflying soucers (pires, ou discos, voadores), inaugurando a era ufolgica. O acontecimento mais marcante dessa poca, e tambm o primeiro em que houve desmentidos oficiais hiptese UFO, foi o ocorrido com o capito-aviador Thomas Mantell, em 7 de janeiro de 1948. Mantell era um piloto altamente qualificado, veterano da Segunda Guerra Mundial, condecorado por bravura. Devido ao aparecimento um objeto prateado, em forma de disco, sobre a base area de Fort Knox, no Kentucky, Mantell decolou num caa F-5l, em misso de reconhecimento, disposto a interceptar o disco. Depois de vrias comunicaes pelo rdio, descrevendo-o (um objeto de aproximadamente 80 metros de dimetro, girando em tomo de um eixo central com incrvel velocidade e deslocando-se mais rpido que o caa), a base perdeu contato com o piloto. Seu avio foi encontrado algumas horas depois, completamente destrudo. A verso oficial para o acidente foi estarrecedora: "Mantell teria perseguido o planeta Vnus e pereceu quando dele se aproximou em demasia". Esta teoria foi desqualificada pelos astrnomos,

dizendo que, luz do dia, naquele dia em especial (o cu esta encoberto, com muitas nuvens), o planeta Vnus era invisvel. A seguir, disseram que Mantell havia perseguido um balo meteoro lgico, tese que foi desmentida pela Central de Inteligncia Tcnica Area. Desde ento, os governos de maneira geral, principalmente os dos EUA, tem sistematicamente desmentido qualquer interpretao que leve idia de OVNI, algumas vezes com alternativas completamente ridculas, como no caso Mantell. Talvez seja esta insistncia em negar o fenmeno, to grosseiramente, que tenha feito que a ufologia tenha-se difundido a tal ponto. Muito do que aparece em ufologia tem a marca da fraude, causada por pessoas que mais querem aparecer. Algumas fraudes fotogrficas foram descobertas em anlises por computadores, o que, se por um lado contribuiu para livrar a ufologia destes charlates, por outro leva algumas pessoas mais preconceituosas a julgar que qualquer relato, foto ou avistamento deva ser, necessariamente, fraude. Tal como acontece com o espiritismo. Entretanto, numa amostragem feita por pesquisadores srios, no ligados rea ufolgica, concluiu-se que, no mnimo, 23 % dos casos no poderiam ser explicados por teorias convencionais (fraude, alucinao, confuso com bales meteorolgicos ou aeronaves, iluso de tica causada por fenmenos naturais, como a aurora boreal, etc.). O que se conclui que, quando se destitui a ufologia de toda a pasmaceira infundada, restam alguns fatos que, apesar de severamente pesquisados por meios qumicos, eletrnicos, informatizados, hipnticos, etc., resistem bem a todos eles. Tais fatos apontam inegavelmente para uma possibilidade de que existam realmente civilizaes mais avanadas em outras partes do Universo que, tendo dominado tecnologias para ns ainda inimaginveis, conseguem transpor distncias galcticas e visitar-nos. Se este for o caso, a evidncia ufolgica pode vir ao encontro da tese esprita. A posio esprita: Kardec deixa bastante claro, em vrios dos textos que escreveu, sua posio cm prol de um Universo infinitamente povoado por espritos, das mais diversas ordens, nos mais diversos globos. J no primeiro Livro dos Espritos, editado em 1857, se dizia dos mundos habitados, e de que o homem erra ao julgar-se o primeiro em inteligncia, bondade e perfeio. Kardec faz da pluralidade de mundos habitados um dos princpios bsicos da doutrina esprita, conforme nos mostra n' O Livro dos Espritos: "Os espritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo."27 Entretanto, deixa claro que todos os globos, sem exceo (a includos os satlites, como a Lua), abrigam seres corpreos, ainda que de constituio adequada ao estado de cada um deles. E refuta as objees que a cincia j fazia em sua poca (por exemplo, no que tange ausncia de ar ou gua na Lua) com a argumentao: no porque no percebemos gua ou atmosfera que elas no existem.28 Ora, certo que a cincia atual j demonstrou que nem todos os corpos celestes so habitados; nem mesmo todos os planetas o so, e, no caso especfico do nosso sistema solar, parece que a Terra o nico a ter este privilgio. Entretanto, a idia esprita da plural idade de mundos habitados vem de encontro quilo que a astronomia e a fsica afirmam atualmente, de modo que as eventuais discrepncias que a teoria esprita, tal como proposta por Kardec, e a cincia atual tenham no invalida a obra do fundador do espiritismo.

CONCLUSO
A idia esprita sobre o surgimento, desenvolvimento e existncia da vida no Universo no foram calcadas em observaes experimentais. A tecnologia disponvel poca do surgimento da doutrina esprita no permitia tais observaes. Esta idia um desenvolvimento lgico da filosofia esprita, isto , do modo como o espiritismo v o Universo, aliado a comunicaes de origem medinica. Entretanto, sua posio a respeito no o coloca na contramo do pensamento cientfico atual, principalmente no tpico referente pluralidade de mundos habitados. Ao contrrio, as posies dos cientistas hoje concordam admiravelmente, ao menos nas linhas gerais, mais amplas, com as posies lJuc o espiritismo vem defendendo h 140 anos. Uma concordncia importante entre a doutrina esprita e as modernas teorias cientficas, concernente ao tema em pauta, que a vida uma conseqncia direta da matria, e que o elemento espiritual s participa deste processo para efetivar a intelectualizao desta ltima. Assim, ao contrrio do que dizem alguns sistemas filosficos do passado, e muitas das religies do presente, a alma no tem relao com a animalizao da matria. Desta forma, o espiritismo permanece vontade para manter sua concepo dualista do Universo:

de um lado, o esprito, princpio inteligente e responsvel por todas as manifestaes desta ordem; de outro, a matria, elemento intelectualmente inerte, mas possuidor de todas as condies para sua manuteno independente, condies estas que lhe dada pelas leis fsicas, parte integrante da lei divina ou natural. Todavia, no custa relembrar que este dualismo no opositivo. Ao contrrio das religies, o espiritismo no prega a inferioridade da matria em relao ao esprito, nem faz juzo de valor, dizendo que a matria um peso morto, um sofrimento de que o esprito deve lutar para se livrar. Matria e esprito complementam-se, e, se aquela no seria mais que uma massa inerte sem este, o esprito no prescinde do contato material para seu crescimento e evoluo. Ainda assim, no se pode afirmar que o espiritismo tenha antecipado as concluses que a cincia hoje admite sobre a vida e a pluralidade de mundos habitados. As diversas diferenas entre a teoria esprita e as observaes experimentais fazem com que possamos dizer, sem medo de errar, que, se a idia filosfica estava correta, as consideraes cientficas afastavam-se da realidade. Porm, como o prprio Kardec afirmou, estes temas devem ser estudados pelas cincias materiais. A cincia esprita deve, apenas, servir de baliza, fornecendo bases tericas. Em particular, uma destas teorias espritas merece uma maior ateno: o caso do princpio vital. Empregado por Kardec como artifcio para explicar por qu alguns seres so vivos, enquanto outros no so, suas bases no encontram, na cincia atual, nenhum indcio. Na verdade, as observaes experimentais apontam para a noo que a vida um desenvolvimento natural da evoluo da matria. Parece uma tese mais apropriada, posto que mais fcil de entender, com a vantagem de no estar em desacordo com os princpios da doutrina esprita. Este um campo onde os bilogos e astrnomos de formao esprita tm bastante a contribuir.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
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. MOURO, Ronaldo R. de Freitas. Em busca de vida inteligente. Folha de S.Paulo, So Paulo, 25 fev. 1996. Caderno Cincia, p. 5.14. NASH, J.Madeleine. How did life begin. Time, New York, p. 38-44, Oct. 1993. .OPRIN, A. A origem da vida, 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. Vitria, 1956. 104 p. Quando o Universo comeou. Folha de S.Paulo, So Paulo, 24 novo 1996. Caderno Mais!, p. 5.14. RONAN, Colin A. Histria ilustrada da cincia. 1. ed. So Paulo: Jorge Zahar, 1987.4vol.138 p. SAGAN, Carl. Plido ponto azul: uma viso do futuro da humanidade no espao. 1. ed. So Paulo: Cia. das Letras, 1996.491 p . . SILK, Joseph. O Big Bang; a origem do universo. 2 ed. Braslia: Universidade de Braslia, 1988.379 p. TRENCH, B. Le Poer. A histria dos discos voadores. So Paulo: Global, 1974. 200 p. Vida fora da Terra tem respaldo na Bblia. O Estado de So Paulo, So Paulo, 18 ago. 1996. Especial domingo, p.D 18. W ATCHTOWER BIBLE. Veio o homem a existir por evoluo ou por New York. 1968. 191

NOTAS
The logic of scientific discovery, New York: Harper & Row, 1985, p. 278, citado por ALVES, Rubem, Filosofia da Cincia. 2 A Gnese, 28 ed. Braslia: FEB, 1985, p. 45. 3 Hipparcos (sigla de High Precision Parallax Collecting Satellite - Satlite de Coleta de Paralaxe de Alta Preciso) um telescpio orbital astromtrico (isto , que serve para determinar a posio e o movimento de astros) em rbita geoestacionria a 36 000 km acima do equador terrestre. 4 Ronaldo R. F. MOURO, Da Terra s galxias, p. 293. 5 Pinharanda GOMES, Filosofia grega pr-socrtica, p. 30. 6 O postular a Terra como uma esfera "lisa e igual, e eqidistante do centro em todos os lugares, um corpo completo e perfeito" tinha por detrs a idia de que o crculo e a esfera seriam as formas mais perfeitas do Universo. um sinal da influncia do pensamento pitagrico sobre os filsofos clssicos. 7 Um Universo isotrpico aquele que parece o mesmo em diferentes direes, quando visto a partir da Terra. 8 Graus Kelvin (smbolo K) uma unidade de medida de temperatura. Zero K equivale a - 2730 C e chamada de zero absoluto. a temperatura em que todo o movimento cessa, mesmo no nvel subatmico. 9 Como, em escala micro, o Universo regido pelas equaes da mecnica quntica, segue-se que uma teoria que buscasse explic-lo precisaria promover a unio dessas duas, resultando naquilo que se convencionou chamar de Teoria gr-unificada, ou Teoria do campo unificado. Este um grande sonho, que os fsicos tericos vm perseguindo h dcadas. 10 Existem outros modelos de cosmogonias que prevem no s Universos eternos, mas tambm Universos em que a matria est sendo continuamente criada. Neste ltimo caso, a geometria poderia at mesmo ser euclidiana (e o tempo ser infinito), e ainda assim estaria explicada a expanso do Universo. O maior problema desta teoria que, se no for admitido um criador (por exemplo, Deus) para esta matria, deve-se admitir que ela veio do nada. 11 Da Terra s galxias; uma introduo astrofsica, p. 33. 12 Revista Esprita, fevereiro de 1858. 13 Idem, ibidem. 14 Idem, ibidem. 15 Idem, Ibidem. 16 Revista Esprita, agosto de 1862. 17 Idem, ibidem. 18 Na edio da Gnese da LAKE (com notas de Herculano Pires), este j faz esta advertncia, especificamente na questo sobre a Teoria da Lua (por qu a Lua apresenta sempre a mesma face voltada para a Terra? ) - p. 117. 19 Freeman DYSON, Infinito em todas as direes, p. 70. 20 Idem, ibidem, p. 71. 21 Svante Arrhenius (1859 -1927), fsico qumico sueco, prmio Nobel de qumica de 1903, criador da teoria da dissociao eletroltica. Trabalhou tambm nas reas de fisiologia (imunoqumica), e fsica csmica. 22 Scientific American, outubro de 1994, p. 47. 23 Opus citatus, ano 1868, p. 205. 24 Idem, ibidem, p. 205. 25 Ademar A. CHIORO DOS REIS, Magnetismo, Vitalismo e o pensamento de Kardec, p. 63. 26 Um artigo da revista Nature de 1980 relacionou 90 molculas interestelares at ento identificadas. 27 Opus citatus, p.25. 28 Revista Esprita, maro de 1858, p. 65.
1

OS PRODUTOS DAS MANIFESTAES MEDINICAS COMO INSTRUMENTO DE PROVA EM PROCESSOS JUDICIAIS


Jailson Lima de Mendona e Denis Domingues Hermida

A - NDICE
1. 2. 3. 4. Introduo O que justia? Definies de justia terrena e de justia divina Forma e alcance da Justia no mundo terreno Breve relato a respeito da tutela jurisdicional 2 2 5 6 7 8 9 9 10 10 11 11 12 12 12 13 13 14 14 15 15 16 16

4.1. Fases do processo 4.2. A fase probatria. A definio de prova. Elementos de prova 4.2.1. 4.2.2. 4.2.3. 4.2.4. 4.2.5. Depoimentos pessoais das partes Depoimentos das testemunhas Documentos As percias judiciais Inspees judiciais

4.3. A idoneidade como requisito de validade da prova 5. O papel da comunicao dos Espritos e os princpios da doutrina esprita

5.1. A justia e o princpio da evoluo 5.2. Manifestaes espirituais e a produo de provas em processos judiciais 5.2.1. 5.2.2. 5.2.3. 5.2.4. A pneumatografia e a psicografia como provas documentais A pneumatofonia e a psicofonia como provas documentais O controle da idoneidade Da valorao da prova

6. papel da mediunidade produzir provas para o alcance da justia? 7. A influncia espiritual na atuao do Advogado, do Promotor e do Juiz 8. Concluso 9. Bibliografia

1)

Introduo

Cabe ao Poder Judicirio, em ltima palavra, compor os litgios existentes entre os indivduos componentes da sociedade, analisando os fatos e aplicando a melhor forma de direito ao caso apresentado, com o objetivo de se alcanar justia. A tutela jurisdicional cabe aos Juizes (individual ou coletivamente) que tomando conhecimento do fato nos autos do processo, procedem a denominada subsuno legal aplicando a norma jurdica ao caso concreto. Certo tambm que o conhecimento dos fatos pelo Juzo se faz atravs das provas produzidas durante o processo, sejam elas provas pr-constitudas (documentos), como constitudas no prprio processo (depoimento das partes, oitiva de testemunhas, percias, inspees judiciais, etc). Na literatura esprita encontramos exemplos da participao do mundo esprita na produo de provas que foram relevantes no resultado do julgamento, contribuindo, de forma decisiva, para que no se cometesse injustia. No temos duvidas quanto relevncia do tema, principalmente nesse momento em que se discute a atualizao do Espiritismo, sendo que as reflexes e concluses oriundas do presente trabalho podero gerar novos estudos envolvendo justia e espiritismo.

2)

O que justia? Justia terrena e de justia divina

Muito se fala a respeito de justia, de justo e de injusto, mas pouco se procura conhecer a respeito do significado da palavra justia. E, nesse ponto, pretendemos apontar a definio de justia no s para a filosofia do direito, mas tambm para o espiritismo. Aurlio Buarque de Holanda Ferreira1 aponta o significado genrico de justia:
justia. [Do lat. justitia, por via semi-erudita.] S. f. 1. Conformidade com o direito; a virtude de dar a cada um aquilo que seu. 2. A faculdade de julgar segundo o direito e melhor conscincia.

Nicola Abbagnano2, a seu turno, aponta a sua definio de justia:


Em geral, a ordem das relaes humanas ou a conduta de quem se ajusta a essa ordem. Podem-se distinguir dois significados principais: 1 Justia como conformidade da conduta a uma norma; 2 Justia como eficincia de uma norma (ou de um sistema de normas), entendendo-se por eficincia de uma norma certa capacidade de possibilitar as relaes entre os homens. No primeiro significado, esse conceito empregado para julgar o comportamento humano ou a pessoa humana (esta ltima, com base em seu comportamento). No segundo significado, empregado para julgar as normas que regulam o prprio comportamento.

Interessante , ainda, transcrever as palavras de Nicola Abbignano a respeito da segunda definio de justia por ele apontada, em que cita Scrates e Plato:
Plato foi o primeiro a insistir na Justia como instrumento. Scrates pergunta a Trasmaco: Acreditar por acaso que uma cidade, um exrcito, um grupo de bandidos ou de ladres, ou qualquer outro amontoado de pessoas que se ponha de acordo para fazer algo de injusto, poderia chegar a fazer alguma coisa se os seus integrantes cometessem injustia uns para com os outros? No, de certo, respondeu Trasmaco. E se no cometessem injustia, no seria melhor? Seguramente A razo disto, Trasmaco, que a injustia d origem a dios e
1 2

AURLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa. Edio eletrnica ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de Filosofia. Editora Martins Fontes. So Paulo : 2000, pp. 593/594

lutas entre os homens, enquanto a Justia produz acordo e amizade. (Rep., 351 cd). Neste trecho a Justia desvinculada de qualquer objetivo que tenha valor privilegiado: ela no passa de condio para possibilitar a convivncia e a ao conjunta dos homens: condio que vale para qualquer comunidade humana, mesmo para um grupo de bandidos.

E, tratando da forma como filsofos e juristas tratam a palavra justia, afirma o mesmo Autor:
Com mais freqncia, porm, filsofos e juristas no mediram a Justia das leis tomando como referncia a sua eficincia geral no que diz respeito s possibilidades de relaes humanas, mas a sua eficincia em garantir este ou aquele objetivo considerado fundamental, ou seja, como valor absoluto. No faltou, portanto, quem julgasse impossvel definir a Justia nesse sentido, limitando-se a propor a exigncia genrica de que, para ser justa, uma norma deve adequar-se a um sistema de valores qualquer (Ch. Perelman, De la justice, 1945, trad. It., 1959). Todavia, os fins aos quais se recorreu com mais freqncia so: a) felicidade; b) utilidade; c) liberdade; d) paz.

Assim, para a filosofia do direito, a palavra justia utilizada para designar uma das seguintes modalidades: a) Comportamento humano em conformidade com as normas jurdicas, isto , com as regras de conduta humana intersubjetivas necessrias para a manuteno da vida em sociedade; ou b) Atributo de uma norma jurdica que cumpre o seu papel de possibilitar as relaes entre os homens, isto , de possibilitar a vida em sociedade; ou c) Exigncia de adequao da norma jurdica a um sistema de valores, como a paz, a felicidade, a utilidade e a liberdade. Alis, em relao a esta ltima modalidade, interessantes so as palavras de Aristteles3:
As leis promulgadas sobre qualquer coisa visam utilidade comum a todos ou utilidade de quem se destaca pela virtude ou por outra forma; desse modo, com uma s expresso definimos como justas as coisas que propiciam ou mantm a felicidade ou parte dela na comunidade poltica.

Direito e justia tem sido confundidos por filsofos, polticos, literatos e at mesmo por juristas. Segundo Paulo Dourado de Gusmo4:
A diferena que existe entre direito e justia a mesma que ocorre entre ideal e realidade. A justia no coercvel, enquanto o direito ; a justia autnoma, pois no imposta nossa conscincia; brota nela como os demais ideais, sendo, assim, ideal moral, enquanto o direito heternomo, por termos a conscincia de nos ser ele imposto pela sociedade ou pelo poder publico. A justia a meta a ser atingida pelo direito e, desta forma, distingue-se deste como o meio da finalidade. critrio julgador dos direitos e das aes sociais, diferenciando-se destes e destas como o julgado do julgador.

Feita a anlise da justia terrena, ou melhor, da justia segundo a concepo da filosofia do direito, necessria , agora, a anlise da justia segundo o espiritismo.
3 4

ARISTTELES. tica a Nicmano, v.1, 1.129 b 4 Gusmo, Paulo Dourado de. Introduo ao Estudo do Direito, 10 . ed., Cia. Edit. Forense, pg.93
a

Na pergunta 171 de O Livro dos Espritos, o comentrio de Allan Kardec fortalece a idia da justia de Deus e a finalidade da reencarnao, quando diz que:
Todos os Espritos tendem perfeio e Deus lhes fornece os meios pelas provas da vida corprea; mas, em sua justia, lhes faculta realizar, em novas existncias, o que no puderam fazer ou concluir numa primeira prova. No estaria de acordo com a equidade, nem com a bondade de Deus, castigar para sempre aqueles que encontraram obstculos ao seu progresso, independentemente da sua vontade, no prprio meio onde foram colocados. Se o destino do homem est irrevogavelmente fixado aps a sua morte, Deus no teria pesado as aes de todos na mesma balana, e no os teria tratado com imparcialidade. A doutrina da reencarnao, isto , aquela que admite para o homem vrias existncias sucessivas, a nica que responde idia que fazemos da justia de Deus em relao aos homens colocados em uma condio moral inferior, a nica que nos explica o futuro e fundamenta nossas esperanas, pois que nos oferece o meio de resgatar nossos erros atravs de novas provas. A razo indica essa doutrina e os Espritos no-la ensinam. O homem, consciente da sua inferioridade, tem, na doutrina da reencarnao, uma esperana consoladora. Se acredita na justia de Deus, no pode esperar, por toda a eternidade, estar em p de igualdade com aqueles que agiram melhor do que ele. O pensamento de que essa inferioridade no o deserdar para sempre do bem supremo, e que ele poder super-la por meio de novos esforos, o sustenta e lhe reanima a coragem. Qual aquele que, no fim do seu caminho, no lamenta ter adquirido muito tarde uma experincia que no pode mais aproveitar. Essa experincia tardia no ficar perdida; ele a aproveitar numa nova existncia.

Em suma, a justia para a doutrina esprita, no coincide com a definio de justia terrena, vez que aquela tem relao direta com a teoria da evoluo e leva em considerao no somente a encarnao presente, mas as experincias colhidas ao longo de todas as encarnaes anteriores. Se a justia terrena pode ser apontada por critrios objetivos, por anlise da conduta humana prxima, a anlise da justia para o espiritismo, da justia divina, carece de conhecimentos ainda no disponibilizados, tornando-nos ainda passveis aos seus efeitos, que desguam em provaes de carter construtivo dirigido evoluo espiritual (princpio da evoluo). Mas, se de um lado a anlise da justia divina, para cada caso, ou melhor, para cada encarnado, no para ns acessvel, de outro lado, necessrio que estejamos preparados para instrumentalizarmos os comportamentos necessrios feitura de tal justia, necessrio que coloquemos a nossa materialidade disposio do mundo espiritual.

3)
sejam:

Forma e alcance da Justia no mundo terreno


Vale reprisar as concepes de justia terrena apresentadas no item anterior, quais a) comportamento humano em conformidade com as normas jurdicas, isto , com as regras de conduta humana intersubjetivas necessrias para a manuteno da vida em sociedade; ou b) atributo de uma norma jurdica que cumpre o seu papel de possibilitar as relaes entre os homens, isto , de possibilitar a vida em sociedade; ou c) exigncia de adequao da norma jurdica a um sistema de valores, como a paz, a felicidade, a utilidade e a liberdade E nesse ponto vale ateno para as formas de alcance da justia terrena, que pode ser

voluntria ou forada. Entendemos por forma voluntria de alcance da justia aquela em que o Homem comporta-se voluntariamente conforme as normas jurdicas, no as afrontando, realizando as suas condutas com base em valores do mais alto grau, como a paz, a felicidade, a utilidade e a liberdade. claro, entretanto, que por estarmos tratando de encarnados em um mundo de provas e expiaes, como o caso do planeta Terra, fcil perceber que nem sempre o alcance da justia ocorre de uma forma voluntria, havendo a necessidade de uma fora que compila o Homem (este visto como esprito encarnado) a agir conforme as regras de convivncia, conforme valores do mais alto grau, inerentes ao conceito de justia. Cabe-nos analisar as formas de alcance forado da justia, e para tal anlise, interessante navegarmos um pouco pela histria da civilizao, citando Ada Pellegrini Grinover et alli5:
Nas fases primitivas da civilizao dos povos, inexistia um Estado suficientemente forte para superar os mpetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares: por isso, no s inexistia um rgo estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda no havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Assim, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua prpria fora e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfao de sua pretenso. A prpria represso aos atos criminosos se fazia em regime de vingana privada e, quando o Estado chamou a si o jus punitionis 6, ele o exerceu inicialmente mediante seus prprios critrios e decises, sem a interposio de rgos ou pessoas imparciais, independentes e desinteressadas. A esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa) e hoje, encarando-a do pontode-vista da cultura do sculo XX, fcil ver como era precria e aleatria, pois no garantia a justia, mas a vitria do mais forte, mais astuto ou mais ousado sobre o mais fraco ou mais tmido. So fundamentalmente dois os traos caractersticos da autotutela: a) ausncia de juiz distinto das partes; b) imposio da deciso por uma das partes outra.

Apresentado est, pois, o conceito de autotutela. Mas, em razo da prpria evoluo do nosso mundo de provas e expiaes, a forma de alcance forado da justia tambm evoluiu para o que chamamos de controle jurisdicional. E nesse momento devemos introduzir nos nossos estudos a figura do Estado, que tem o objetivo de organizar a sociedade, limitando a liberdade de seus membros, com o fito de alcanar o bem comum, sendo que o instrumento utilizado pelo Estado para organizar a sociedade o direito, mais especificamente as normas jurdicas, que so comandos, produzidos pelo Estado, que tem em seu cerne a concesso de direitos e a determina de obrigaes, comando esse de carter obrigatrio, ante o elemento coercitivo nele existente. O Estado Moderno divide-se em 3 (trs) poderes: o Poder Legislativo (que elabora as leis), o Poder Executivo (que executa as leis em prol da organizao da sociedade) e o Poder Judicirio (que tem como objetivo compor os conflitos de interesses), sendo que esses trs poderes agem conjuntamente na sociedade, cada um em seu campo de atuao e num sistema de intercontrole, atravs do sistema de freios e contrapesos onde cada poder controla as atividades dos outros poderes.
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. 9 . edio revista e atualizada, 2 . tiragem, Malheiros Editores, So Paulo: 1993, pp.21/25
6 5 a a

Direito de punir aqueles que no agem conforme as normas jurdicas (observao nossa)

E o Poder Judicirio que ter, quanto sua forma de atuao, uma anlise mais detida no presente trabalho.

4)

Breve relato a respeito da tutela jurisdicional

Tratando de Poder Judicirio e, mais especificamente, de sua forma de atuao, i.e, a tutela jurisdicional, importante pontuar o que vem a ser jurisdio, a fim de que os leitores do presente estudo tenham uma viso global do assunto que ora se expe. Como afirma a Professora Ada Pellegrini Grinover7, a jurisdio uma das funes do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificao do conflito que os envolve, com justia. Essa pacificao feita mediante a atuao da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa funo sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (atravs de uma sentena de mrito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (atravs da execuo forada). Em suma, a jurisdio o poder (e dever) do Estado dizer o direito, isto , de resolver os conflitos de interesses atravs da anlise do fato e da aplicao das normas jurdicas pertinentes, pacificando as partes. O Estado realiza tal funo atravs do Poder Judicirio, que, em concreto, representado por juzes individuais e Tribunais. Agora, de que forma desenvolvida essa jurisdio. Sem qualquer embargo, necessrio uma apreciao, ainda que superficial, a respeito do que venha a ser direito de ao e do que venha a ser processo. Dissemos, linhas atrs, que a funo jurisdicional tem uma dupla face em relao ao Estado, vez que no somente um poder, mas um dever do Estado, no podendo esse deixar de atuar quando invocado a compor um conflito, existindo, pois, o Direito de Ao que o direito ... de requerer a tutela jurisdicional do Estado, sempre que dela se precisar para a soluo (til) de determinada lide8.... O direito de ao pertence a todos os cidados, o direito de bater s portas do Poder Judicirio para ver resolvido um conflito de interesses. E pelo prprio conceito de direito de ao podemos deduzir, por bvio, o que vem a ser ao. A ao o direito ao exerccio da atividade jurisdicional (ou o poder de exigir esse exerccio. Mediante o exerccio da ao provoca-se a jurisdio, que por sua vez se exerce atravs daquele complexo de atos que o processo9. Preciso , nesse momento, analisar o que vem a ser o processo. Se cabe ao Estado a funo da tutela jurisdicional, de dizer o direito, de compor os conflitos de interesses com a aplicao das normas jurdicas, de que forma essa funo realizada ? Atravs do processo, que o instrumento por meio do qual os rgos jurisdicionais10 atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurdico11 pertinente a cada caso que lhes apresentado em busca de soluo12
7 8 9

Op. Cit. p. 114 Leia-se conflito de interesse


a a

GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. 9 . edio revista e atualizada, 2 . tiragem, Malheiros Editores, So Paulo: 1993, p. 209
10 11 12

Juzes e Tribunais (observao nossa) A norma jurdica, a regra jurdica (observao nossa) GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. 9 . edio revista e atualizada, 2 . tiragem, Malheiros Editores, So
a a

Expliquemos de forma mais fcil13. A tutela jurisdicional (l-se : poder/dever do Estado de resolver os conflitos de interesse existentes entre os seus cidados) envolve, basicamente, as seguintes atividades: conhecimento das alegaes das partes envolvidas no conflito (atravs da acusao e da defesa); anlise dos fatos relacionados ao conflito, atravs da observao das provas produzidas, formando a convico pela veracidade de uma das verses; aplicao ao fato dado como verdico da norma jurdica cabvel.

Portanto, temos que a tutela jurisdicional envolve uma srie de atividades, que so desenvolvidas na forma prevista em lei, atravs de atos como, por exemplo, oitiva de testemunhas, determinao de juntada de documentos, citao para responder aos termos da acusao, a determinao de juntada de documentos, as intimaes, as sentenas, os recursos, os Acrdos14, etc. O conjunto de todos esses atos praticados chama-se processo. O clmax do processo, o seu ponto culminante, exatamente a deciso final do Juiz ou do Tribunal (sentena ou acrdo), em que o Magistrado, analisando todos os atos praticados e, principalmente, as provas produzidas no processo, fixa um convencimento a respeito dos fatos alegados pelas partes (aponta qual a verso que o convenceu atravs das provas produzidas) e aplica a norma jurdica cabvel, solucionando o caso.

4.1) Fases do processo


O processo, como j apresentado, um conjunto de atos que reflete as atividades necessrias para o exerccio da funo jurisdicional. E, para fins de melhor compreenso, podemos dividir o processo em fases, que so a fase postulatria, a fase instrutria, a fase decisria e a fase recursal. Analisemos cada uma dessas fases: - fase postulatria: envolve a acusao e a defesa15. Atravs da anlise dos atos referentes fase postulatria o Julgador tem conhecimento das verses das partes litigantes em relao aos fatos. - fase probatria: a fase em que ocorre a produo de provas, ou seja, juntada de documentos, oitiva das partes e de testemunhas, realizao de percias judiciais, realizao de inspees judiciais, entre outras modalidades de provas. - fase decisria: a fase em que prolatada a deciso judicial exatamente a deciso final do Juiz ou do Tribunal (sentena ou acrdo), em que o Magistrado, analisando todos os atos praticados e, principalmente, as provas produzidas no processo, fixa um convencimento a respeito dos fatos alegados pelas partes (aponta qual a verso que o convenceu atravs das provas produzidas) e aplica a norma jurdica cabvel, solucionando o caso. - fase recursal: fase que se so interpostos os recursos cabveis contra uma deciso
Paulo: 1993, p.27 A explicao mais detalhada, com linguagem menos tcnica se faz necessria em razo de muitos leitores do presente estudo no terem o domnio de termos jurdicos.
14 15 13

Que so decises proferidas pelos Tribunais, enquanto que sentenas so proferidas por juzes individuais.

Utilizamos o vocbulo acusao para uma melhor compreenso daqueles leitores que no possuem conhecimento da tcnica jurdica. Sendo que, tecnicamente, a acusao poderia ser a petio inicial do processo civil lato sensu ou a denncia ou queixacrime do processo penal. O mesmo ocorrendo em relao ao vocbulo defesa, que pode ser entendida, tecnicamente, como contestao do processo civil ou a defesa prvia do processo penal.

que no contentou uma ou ambas as partes. Atravs do recurso o caso analisado por uma instncia judicial superior, por um Tribunal hierarquicamente superior quele Juiz ou Tribunal que proferiu a sentena que est sendo recorrida.

4.2) A fase probatria. A definio de prova. Elementos de prova


Por ser a fase probatria tida por ns como a mais importante para a anlise da influncia do mundo espiritual nas decises judiciais, vamos nos deter com maior detalhe mesma. Como j foi dito, a funo jurisdicional exercida pelo Juiz ou Tribunal envolve vrias atividades que abarcam desde o conhecimento das verses das partes sobre um determinado fato, como a anlise das provas produzidas para que, formando convico sobre uma determinada verso dos fatos, profira o Magistrado ou o Tribunal a sua deciso. Mas preciso atentar-se para o fenmeno de que um fato ocorre somente uma vez e nesse ponto vale lembrar Herclito que comparava as coisas com a corrente de um rio, vez que no se pode entrar duas vezes numa mesma corrente pelo motivo de que o rio corre e se toca outra gua. Assim como no se pode entrar duas vezes numa mesma corrente, tambm no h como se cogitar da ocorrncia de um mesmo fato mais de uma vez. Um fato x nico, outros fatos y ou k, por mais parecidos que sejam com o fato x e por mais que o tentem representar jamais sero o fato x. Portanto, determinado fato uma vez ocorrido somente poder ser lembrado por vestgios que tenha deixado ou na mente das pessoas (testemunhas dos fatos) que o presenciaram ou atravs de marcas deixadas em objetos (como os documentos, marcas deixadas em um carro batido, ferimentos deixados no corpo de uma pessoa agredida, etc). E exatamente atravs desses vestgios que lembram o fato que tomamos partido a respeito da veracidade ou no da verso de um fato dado por determinada pessoa. Por exemplo, se o meu vizinho me conta que apanhou de sua esposa e me mostra os seus ferimentos e me apresenta pessoas que viram a agresso que a confirmam na minha frente, muito provvel que acredite na sua verso sobre o fato, dando-a como verdadeira para todos os efeitos. O mesmo ocorre nos processos judiciais, sendo que esses vestgios que lembram o fato so chamados de provas. Prova todo elemento que pode levar o conhecimento de um fato a algum16, a convico formada no esprito do julgador em torno do fato demonstrado17 e provar pode ser definido como demonstrar de algum modo a certeza de um fato ou a veracidade da alegao18. atravs das provas, ou melhor dizendo, da impresso que a prova der ao consciente do Juiz que ocorrer a convico ou no do mesmo em relao veracidade de um fato ou de uma afirmao. A prova ir fazer como que o juiz reviva a histria contada, reproduzindo na mente do magistrado o prprio fato ocorrido. As provas, vistas como convico formada no esprito do julgador em relao a
16 17

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo: 1999, p. 179
a

THEDORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume I. Editora Forense. 24 .edio revista e atualizada. Rio de Janeiro: 1998. p. 4 COUTURE. Fundamentos Del Derecho Procesal Civil, ed. 1874, no. 135, p. 215. Probar es establecer la existencia de la verdade; y las pruebas son los diversos mdios por los cuales la inteligencia llega al descubrimiento de la verdad (Martinez Silva, Tratado de Pruebas Judiciales, Buenos Aires, 1947, p. 21, apud Revista de Direito Administrativo, 111/38)

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determinado fato, so feitas atravs de instrumentos reconhecidos pelo direito como idneos, que so denominados de meios de prova. Como ensina o Mestre Vicente Greco Filho, meios de prova so os instrumentos pessoais ou materiais trazidos ao processo para revelar ao juiz a verdade de um fato, sendo pessoais aqueles oriundos do depoimento de uma pessoa, como o depoimento de uma testemunha, e material aquele originado a partir de um objeto qualquer, como, por exemplo, de um papel escrito. So considerados como os principais meios de prova os depoimentos pessoais das partes, os depoimentos testemunhais, os documentos, as percias judiciais e as inspees judiciais. Apreciemos, ainda que de forma panormica, cada um dos citados meios de prova:

4.2.1) Depoimentos pessoais das partes


Atravs desse meio de prova, as partes, tanto o Autor quanto o Ru, so questionados pelo Juiz a respeito dos fatos que envolvem a discusso judicial. Tal modalidade consiste na manifestao oral da prpria parte em audincia.19

4.2.2) Depoimentos das testemunhas


Primeiramente, apresentemos a definio de testemunha como sendo uma pessoa distinta dos sujeitos processuais20 que, convidada na forma da lei, por ter conhecimento do fato ou ato controvertido entre as partes, depe sobre este em juzo, para atestar sua existncia.21 As testemunhas so pessoas estranhas ao processo, mas que tem conhecimento a respeito dos fatos, isto , contm em suas mentes vestgios do fato ocorrido, e que discutido no processo, e que vm, frente ao Juiz, narrar o que de seu conhecimento. E, assim, a prova testemunhal a que se obtm atravs do relato prestado, em juzo, por pessoas que conhecem o fato litigioso.22

4.2.3) Documentos
Documento todo objeto do qual se extraem fatos em virtude da existncia de smbolos, ou sinais grficos, mecnicos, eletromagnticos etc. documento, portanto, uma pedra sobre a qual estejam impressos caracteres, smbolos ou letras; documento a fita magntica de reproduo por meio do aparelho prprio, o filme fotogrfico etc. 23 Chivenda, importante processualista italiano, j definia documento como toda representao material destinada e idnea a reproduzir uma dada manifestao do pensamento.24 E Carnelutti afirmava que documento uma coisa capaz de representar um fato. Portanto, a definio de documento bastante ampla, e ser de essencial valia para a iminente anlise da psicografia como meio de prova em processos judiciais.

4.2.4) As percias judiciais


19 20 21

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo : 1999, p. 200

Isto , a testemunha no o Autor, nem o Ru, nem o Juiz, nem o Advogado ou o Promotor AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas de direito processual civil. V.3. So Paulo: 1977, p. 395 22 a THEDORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume I. Editora Forense. 24 .edio revista e atualizada. Rio de Janeiro : 1998. p. 465 23 o a GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo: 1999, p. 208 24 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de direito processual civil. V. 2, p. 456. Trad. J. Guimares Menegale, anot. por Enrico Tullio Liebman. So Paulo, Saraiva, 1965, p. 456

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O Juiz conhecedor do direito, no sendo, por bvio, conhecedor de todas as cincias, motivo pelo qual muitas vezes necessita, num processo judicial, de parecer de Expert, de pessoa entendida sobre determinado ramo do conhecimento. Essa pessoa denominada de Perito.

Vejamos a explicao de Vicente Greco Filho a respeito de prova pericial25:


A prova pericial pode consistir em exame, vistoria e avaliao. Moacyr Amaral Santos26, o mestre que mais profunda e vastamente analisou o tema provas no Brasil, define exame como a inspeo, por meio de perito, sobre pessoas, coisas, mveis e semoventes, para a verificao de fatos ou circunstncias que interessam causa. Vistoria a inspeo sobre imveis. Avaliao, a estimao do valor em moeda, de coisas, direitos ou obrigaes, quando feita em inventrio, partilhas ou processos administrativos e nas execues para a estimao da coisa a partilhar ou penhorada. Chama-se arbitramento a apurao do valor em dinheiro do objeto do litgio, de direitos ou da obrigao demandada.

E destacamos 2 (duas) espcies de percias, que se enquadram na espcie de exame, que so: a percia grafotcnica e a percia de fontica forense. - percia grafotcnica: mtodo de percia criminalstica que tem por fim verificar a falsidade de documentos manuscritos, pelo exame comparativo de letras, bem como impresses digitais. - percia de fontica jurdica: espcie de percia tendente determinao da semelhana fontica e acstica entre enunciados produzidos por um mesmo falante em situaes diferente, bem como a determinao da similitude fontica e acstica entre enunciados produzidos por um falante conhecido e enunciados produzidos por falantes diferentes entre os quais se pode encontrar o conhecido27 Essas duas espcies de percias so destacadas, pois tm potencial de utilizao na anlise da idoneidade de provas produzidas por manifestaes espirituais.

4.2.5) Inspees Judiciais


A inspeo judicial trata-se de meio de prova produzida pelo prprio Juiz que, de ofcio ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato de interesse deciso da causa28, o meio de prova que consiste na percepo sensorial direta do juiz sobre qualidades ou circunstncias corpreas de pessoas ou coisas relacionadas com o litgio.29 Em suma, atravs da inspeo judicial o Juiz tem condies de entrar em contato direto com pessoas ou coisas relacionadas com o litgio, deslocando-se at o respectivo local onde se encontram tais pessoas ou coisas, podendo, desse contato, tirar as suas concluses.

4.3) A idoneidade como requisito de validade da prova


A Constituio Federal de 1988, no inciso LV de seu artigo 7o. garante aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (sublinhado nosso). E essa amplitude de defesa com os meios a ela inerentes faz, salvo melhor juzo, com
25 26 27 28 29

Op. Cit. P. 223 Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. V.4. Editora Forense, 1977, p. 336-7 Extrado do site http://liceu.uab.es/~joaquim/teaching/phonetics/fon_anal_acus/aplic_anal_acus... Com traduo pelos Autores deste estudo GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo: 1999, p. 227
a o a

THEDORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Volume I. Editora Forense. 24 .edio revista e atualizada. Rio de Janeiro: 1998. p. 465

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que sejam aceitos todos os meios de defesa, desde que no colidam com valores constitucionais tambm elevados, como a intimidade, o direito de imagem, a liberdade etc, bem como princpios processuais como o da lealdade processual. Mas, como j vimos, o objetivo da prova exatamente criar no Julgador a convico a respeito da veracidade de determinada verso de fato e, para que seja criado tal sentimento no Magistrado necessrio que o meio de prova seja idneo. O vocbulo idoneidade significa aptido, capacidade, competncia 30 e, transferido para o campo probatrio faz com que reflitamos: que aptido, que capacidade deve possuir o meio de prova para que possa ser aceito no sistema jurdico-processual? A aptido que a prova deve ter exatamente a de convencer o Magistrado a respeito do fato que representa e tal aptido demonstrada atravs de critrios objetivos e subjetivos. Quanto ao critrio objetivo destacamos a demonstrao de veracidade de seu contedo, afastando o meio de prova de qualquer possibilidade de falsificao. Quanto ao critrio subjetivo entendemos relevante a demonstrao da honestidade e da sinceridade de sua constituio formal.

5)

O papel da comunicao dos Espritos e os princpios da doutrina esprita

As comunicaes dos Espritos com os homens so ocultas ou ostensivas. As ocultas ocorrem pela influncia, boa ou m, que eles exercem sobre ns com o nosso desconhecimento; cabe ao nosso julgamento discernir as boas e ms inspiraes. As comunicaes ostensivas ocorrem por meio da escrita, da palavra, ou outras manifestaes materiais, e mais freqentemente por intermdio dos mdiuns que lhes servem de instrumento31. Os Espritos se manifestam espontaneamente ou por evocao. Podem-se evocar todos os Espritos: aqueles que animaram homens obscuros, como aqueles de personagens mais ilustres, qualquer que seja a poca na qual tenham vivido; os de nossos parentes, de nossos amigos ou de nossos inimigos, e com isso obter, por comunicaes escritas ou verbais, conselhos, informaes sobre a sua situao no alm-tmulo, sobre seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelaes que lhes so permitidas nos fazer32. (grifo nosso).

5.1.

A justia e o princpio da evoluo

Quando Allan Kardec pergunta, na questo 167, qual o objetivo da reencarnao, a resposta do Esprito : Expiao, aprimoramento progressivo da Humanidade, sem o que, onde estaria a justia?. (grifo nosso). A lei humana alcana certas faltas e as pune. O condenado pode ento dizer que sofreu a conseqncia do que praticou. Mas a lei no alcana nem pode alcanar a todas as faltas. Ela castiga especialmente as que causam prejuzos sociedade, e no as que prejudicam apenas os que as cometem. Mas Deus v o progresso de todas as criaturas. Eis por que no deixa impune nenhum desvio do caminho reto. No h uma s falta, por mais leve que seja, uma nica infrao sua lei, que no tenha conseqncias forosas e inevitveis, mais ou
30 31 32

Significados extrados do Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa, de Aurlio Buarque de Holanda Ferreira, verso digitalizada. a Kardec, Allan. O Livro dos Espritos. Ed. IDE, 93 . edio, Introduo, pg. 21. Idem.

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menos desagradveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos conseqentes so ento uma advertncia de que ele andou mal. Do-lhe a experincia e o fazem sentir, a diferena entre o bem e o mal, bem como a necessidade de se melhorar, para evitar no futuro o que j foi para ele uma causa de mgoas. Sem isso, ele no teria nenhum motivo para se emendar, e confiante na impunidade, retardaria o seu adiantamento, e portanto a sua felicidade futura.33

5.2. Manifestaes espirituais e a produo de provas em processos judiciais


Tendo em vista que as manifestaes espirituais, destacando-se a psicografia e a psicofonia, tm a capacidade de produzir instrumentos que possam representar um fato, instrumentos que, como j dissemos em tpicos anteriores, revelam vestgios da ocorrncia de fatos, inclusive de fatos relevantes para a soluo de pendncias judiciais, entendemos que vivel o aproveitamento do produto de manifestaes espirituais como meio de prova judicial. Esse nosso entendimento tem o respaldo, inclusive da prpria Constituio processual, que, repetimos, no inciso LV de seu artigo 5o. garante aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (grifo nosso), sendo que essa amplitude de defesa com os meios a ela inerentes faz, salvo melhor juzo, com que sejam aceitos todos os meios de defesa, desde que no colidam com valores constitucionais tambm elevados, como a intimidade, o direito de imagem, a liberdade, etc, bem como princpios processuais como o da lealdade processual. certo, entretanto, que tal capacidade de produo probatria do produto das manifestaes espirituais medinicas deve estar acompanhada da demonstrao de idoneidade. A seguir estaremos nos preocupando no s com a demonstrao de que o produto das manifestaes medinicas tem o potencial de servir como instrumento probatrio, com o tambm existe a possibilidade de demonstrao da sua idoneidade.

5.2.1) A pneumatografia e a psicografia como provas documentais


Como consta do Livro dos Mdiuns, a pneumatografia a escrita produzida diretamente pelo esprito, sem intermedirio algum; difere da psicografia, por ser esta a transmisso do pensamento do esprito, mediante a escrita feita com a mo do mdium.34 Sendo que a psicografia se classifica em indireta e direta e pode ser produzida por mdiuns mecnicos (ou passivos), intuitivos, semimecnicos, inspirados, involuntrios ou de pressentimento. Em relao ao produto do ato de psicografar, temos a existncia de sinais inteligveis grafados (normalmente sob a forma de letras, construindo palavras) em um papel qualquer. Ora, o produto da psicografia enquadra-se perfeitamente no conceito de documento, qual seja ...objeto do qual se extraem fatos em virtude da existncia de smbolos, ou sinais grficos ....35 Podemos afirmar, pois, que o produto da pneumatografia e da psicografia um documento, um meio de prova judicial.
33 34 35

Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nova Sampa Diretriz Edit., cap. V, pg. 77 Kardec, Allan. O Livro dos Mdiuns, captulo XII, item 146. o a GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo: 1999, p. 208

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5.2.2) A pneumatofonia e a psicofonia como provas documentais


Como consta do livro dos mdiuns, a pneumatofonia a manifestao em que dado que podem produzir rudos e pancadas, os espritos podem igualmente fazer se ouam gritos de toda espcie e sons que imitam a voz humana, sem intermediao direta do mdium. J a psicofonia a transmisso de mensagens atravs de sons por intermdio de um mdium. Tal transmisso pode ser feita por um mdium audiente, que somente reproduz aquilo que capta atravs da pneumatofonia ou por um mdium falante, que, inconscientemente, fornece o seu corpo como instrumento para uma manifestao sonora do esprito. Tanto a pneumatofonia (mais especificamente a externa) quanto a psicofonia podem ser gravadas atravs de aparelhos sonoros e reproduzidas a qualquer tempo. Em relao ao produto tanto da pneumatofonia, quanto da psicofonia, temos a emisso de sons, que podem ser gravados, armazenados em fitas cassete ou udio-visual. Ora, o produto da pneumatofonia e da psicofonia, isto , as fitas cassete ou udio-visual capazes de reproduzirem os sons oriundos da manifestao, enquadra-se perfeitamente no conceito de documento, qual seja ... objeto do qual se extraem fatos em virtude da existncia de smbolos, ou sinais grficos, mecnicos, eletromagnticos, etc....36 Podemos afirmar, pois, que o produto da pneumatofonia e da psicofonia capaz de produzir um documento, um meio de prova judicial.

5.2.3) O controle da idoneidade


O controle da idoneidade do produto da manifestao medinica, tanto no que se refere psicografia, quanto no que se refere a psicofonia, no nosso ponto de vista deve estar centrado no carter cientfico, atravs de experincias que se utilizem das tcnicas modernas colocadas disposio pela cincia, afastando-se qualquer carter dogmtico e religioso. E, para tal controle de idoneidade, propomos: a) A utilizao de duas espcies de percias criminalsticas, que so: a percia grafotcnica e a percia de fontica forense, a primeira ligada psicografia e pneumatografia e a segunda ligada pneumatofonia e psicofonia (anlise do requisito objetivo da idoneidade). Atravs da percia grafotcnica possvel a demonstrao da veracidade do documento manuscrito oriundo da psicografia ou da pneumatografia, pelo exame comparativo de letras, i.e., um perito especializado e imparcial iria proceder comparao tcnica da letra constante do documento psicografado com a letra do desencarnado enquanto encarnado (quando possvel), demonstrando a compatibilidade entre as mesmas. importante destacarmos que, na psicografia, a possibilidade de compatibilidade entre as letras est centrada na psicografia por mdium mecnico (ou passiva), sendo que dificilmente ocorrer tal compatibilidade na modalidade de mdium semi-mecnico. Atravs da percia de fontica forense possivel a demonstrao da compatibilidade fontica e acstica entre enunciados produzidos em manifestao psicofnica ou pneumatofnicas e os produzidos pelo esprito manifestante enquanto encarnado. Relevante destacar que a compatibilidade fontica poder ocorrer nas psicofonias atravs de mdiuns falantes.
36

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2 . Volume. Editora Saraiva. 13 . edio revista. So Paulo: 1999, p. 208.

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b) A anlise do contedo da manifestao em comparao com a experincia de vida Entendemos imprescindvel, tambm a comparao do contedo do documento psicografado ou gravao de psicofonia com a experincia de vida do desencarnado enquanto encarnado, mesmo porque comum a existncia de tais traos nas produes psicogrficas ou psicofnicas. c) A anlise comparativa do estilo de manifestao Deve-se, tambm, comparar-se o estilo de manifestao (a forma de utilizao de palavras, a formao sinttica utilizada, a fluncia da escrita) entre o documento psicografado ou gravao de psicofonia e escritos do esprito manifestante enquanto em vida. d) Apresentao de testemunhas que tenham acompanhado a manifestao e a conseqente produo do material (escrito ou falado) Atravs de testemunhas da existncia da manifestao medinica, demonstraramos a boa-f, a honestidade e a sinceridade do produto apresentado em juzo.

5.2.4) Da valorao da prova


Tendo-se por ultrapassada com prosperidade a fase da anlise da idoneidade, dar-se-ia por aceito o meio de prova, que seria valorado pelo Juiz juntamente com as demais provas produzidas no processo, como acontece com qualquer outro meio de prova.

6) papel da mediunidade produzir provas para o alcance da justia?


A finalidade providencial das manifestaes espritas convencer os incrdulos de que nem tudo termina para o homem com a vida terrestre, e dar aos crentes idias mais exatas sobre o futuro. Os bons Espritos vem nos instruir visando ao nosso aperfeioamento e nosso progresso, e no para nos revelar o que no devemos ainda saber, ou que s deveremos aprender com nosso trabalho. Se bastasse interrogar os Espritos para obter a soluo de todas as dificuldades cientificas, ou para fazer descobertas e invenes lucrativas, qualquer ignorante poderia fazer-se de sbio a custa deles e qualquer preguioso poderia enriquecer-se sem esforo. o que Deus no deseja. Os Espritos ajudam o homem de gnio pela inspirao oculta, mas no o isentam nem do trabalho, nem das pesquisas, a fim de lhe deixar o mrito.37 Conseqentemente, cabe ao homem trabalhar, estudar, pesquisar para encontrar os meios que lhe possibilitaro produzir provas que substanciaro os processos judiciais, de forma a se alcanar a justia.

7) A influncia espiritual na atuao do Advogado, do Promotor e do Juiz


No captulo IX, do Livro II de O Livro dos Espritos que trata da Interveno dos Espritos no Mundo Corporal, quando Kardec questiona se os Espritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas aes38, estes respondem que A esse respeito sua influncia maior do que credes porque, freqentemente, so eles que vos dirigem. Em seguida Kardec interroga se temos pensamentos prprios e outros que nos so sugeridos, respondem que Vossa alma um Esprito que pensa; no ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um s tempo, sobre o mesmo assunto e frequentemente
37

Kardec, Allan. O Que o Espiritismo? (Iniciao Esprita) EDICEL, 1984, pg. 132

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bastante contraditrios. Pois bem: nesse conjunto h sempre os vossos e nossos, e isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vos duas idias que se combatem. Desta forma como qualquer Esprito encarnado os operadores do direito, seja advogado, promotor ou juiz, esto suscetveis a influncia dos Espritos bons ou maus, e cedero a uma ou outra conforme sua prpria conscincia.

8)

Concluso

De todo o exposto, conclumos que ainda no temos os meios prprios para dizer quando deve ou no ocorrer uma manifestao que propicie as provas necessrias para a elucidao de um caso, mas certo que devemos manter abertos todas as possibilidades, para que ocorrendo a oportunidade, possamos identific-la e dispor dos instrumentos necessrios para a produo de provas, como meio de se fazer Justia.

9)

Bibliografia
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38

Kardec, Allan. O Livro dos Espritos, 93 . ed., Inst. Difuso Esprita, perg. 459.

Chance is nothing real in itself: As bases cientficas da tese humeana de que no h acaso no mundo Silvio Seno Chibeni Departamento de Filosofia, Unicamp, Brasil www.unicamp.br/~chibeni - [email protected]

Resumo:

Tanto no Tratado da Natureza Humana como na Investigao sobre o Entendimento Humano, Hume mostra-se convencido de que no h acaso no mundo, e que aquilo que o vulgo chama de acaso no passa de uma causa secreta e escondida. Essa tese desempenha papel crucial em sua anlise do livre-arbtrio e, conseguintemente, da responsabilidade moral; tambm um elemento importante em sua discusso sobre os milagres. No entanto, o prprio Hume ofereceu, no Tratado, um argumento convincente para mostrar que o princpio de causalidade, segundo o qual tudo o que comea a existir tem uma causa, no pode ser conhecido a priori, por intuio ou demonstrao. Logo, essa opinio tem necessariamente de provir da observao e experincia. O presente trabalho examina essa tese, mostrando, inicialmente, qual era a proposta de Hume para fundar na experincia o princpio de causalidade, e depois qual, de fato, teria sido o mais robusto fundamento para esse princpio: a mecnica newtoniana. Explica-se, por fim, como esse fundamento emprico indireto e o prprio argumento de Hume foram solapados pela fsica quntica, no sculo XX.

REINALDO DI LUCIA

Assinado, Eu.

Trabalho apresentado no IX simpsio Brasileiro do Pensamento Esprita

Santos 2005

SUMRIO

NDICE 1. 2. Introduo: o processo de comunicao ................................................. 3 O mensageiro: o argumento de autoridade e a identificao dos espritos 4

3. A mensagem: a questo da contextualizao hermenutica e anlise do discurso ..................................................................................................... 8 4. A mensagem medinica: a influncia do mdium e a possibilidade de mensagens de grupo .................................................................................... 11 5. Concluso: e a atualizao do Espiritismo? .......................................... 13

Assinado, Eu.
Reinaldo Di Lucia

1. Introduo: o processo de comunicao


Uma dada mensagem vale por si s ou sua relevncia esta atrelada sua assinatura? Aceitar uma comunicao pelo fato de que uma personalidade a disse no nenhuma novidade. Durante todo o perodo da filosofia crist, em particular na Escolstica, esta prtica, chamada "argumento de autoridade", era mais do que comum: era a norma. A frase "Aristteles disse" encerrava qualquer discusso. No movimento esprita, em especial o brasileiro, este costume bastante empregado. Basta uma comunicao ser medinica, de preferncia com uma assinatura famosa, para que seu contedo seja considerado uma verdade quase que absoluta isto , se estiver de acordo com os princpios do pensamento dominante. Em contraposio, Kardec d pouca importncia questo da identidade dos espritos que com ele se manifestam. Como ele afirma, fundamental o contedo daquilo que dito (O Livro dos Mdiuns, cap. XXIV):
Em muitos casos, a identidade absoluta no passa de questo secundria e sem importncia real.1

A discusso no pode, entretanto, ser assim reduzida. H casos em que a mensagem s dada em funo de seu portador bastante comuns na imprensa, na qual a veracidade da fonte condio imprescindvel. H outros em que, somente pelo contedo, impossvel determinar-se o autor fato muito utilizado pelos defensores de um modo mais mstico de se ver a cincia. E h, ainda, uma questo primordial, principalmente para as comunicaes medinicas: que mtodos podem ser utilizados para analisar o contedo de uma mensagem, de modo a superar as dificuldades que o problema da identificao, ou sua falta, traz? O processo de comunicao envolve vrios elementos. Primeiramente, h o emissor, aquele que elabora a mensagem. Depois, h o receptor, para o qual a mensagem dirigida. H tambm o contedo da mensagem em si, e o meio pelo qual ela transmitida. Todos esses elementos devem ser levados em considerao ao se analisar uma mensagem. No caso da comunicao esprita, h, ainda, consideraes extras: a influncia do mdium, em se tratando de mensagens medinicas. A possibilidade de uma comunicao ser assinada por um dado esprito, mas na realidade ser de autoria coletiva, de um grupo de espritos que se serve de um nome para divulg-la. Tais exemplos so comuns, e merecem um estudo mais detalhado.
1

KARDEC, A. O Livro dos Mdiuns, cap. XXIV.

De qualquer forma, no h como fugirmos de alguns mtodos de anlise e interpretao de texto pouco conhecidos nos meios espritas: a hermenutica e a anlise de discurso. Este trabalho mostra, sucintamente, um pouco destes mtodos, e a validade de sua aplicao no meio esprita. O objetivo deste trabalho no , de forma alguma, esgotar a questo. Ao contrrio, ele busca levantar o problema, passando por pontos importantes para a anlise de textos espritas. Conclui mostrando que o processo de atualizao do Espiritismo no pode prescindir destes mtodos, e que o Espiritismo teria muito a ganhar na discusso destes problemas.

2. O mensageiro: o argumento identificao dos espritos

de

autoridade

O que pode garantir a veracidade de algo expresso? Esta questo afeta o homem desde que os argumentos racionais passaram a ter supremacia sobre as revelaes religiosas ou sobre as asseres mticas. Ao expressar uma idia, o homem, mais do que simplesmente comunica esta idia. Ele passa todo um conjunto de intenes. Por exemplo, algum pode quere dar uma ordem a um empregado seu, sem entretanto desejar explicar o porqu; ou ento, algum pode tentar convencer seu interlocutor de algo, tendo como objetivo atingir um determinado fim, no explcito e, neste caso, a veracidade no o mais importante ( o que podem fazer, por exemplo, advogados de defesa de criminosos em um tribunal). No primeiro caso, a validade da ordem est fora do contedo do que se diz. Ela est apenas na hierarquia dos interlocutores. No segundo, importa muito menos a veracidade do discurso do que o poder de convencer o interlocutor da correo da idia. J se o que se busca uma verdade, ou seja, a declarao mais prxima possvel de uma realidade dada, ento se faz necessria a definio de um critrio de validao desse enunciado. Desde que se estabeleceu a forma racional de estudar o mundo, com o advento da filosofia, na Grcia do sculo VI a.e.C., uma das formas mais comuns de validao tem sido o argumento de autoridade. Este conceito pode ser definido como a assuno de que, se uma dada pessoa reconhecida como especialista ou autoridade est fazendo uma afirmativa, ela deve ser verdadeira, e passa pelo reconhecimento da sua competncia no campo da afirmao.
Argumento de autoridade aquele em que se utiliza da lio de pessoa conhecida e reconhecida em determinada rea do saber para corroborar a tese do argumentante. O argumento de autoridade tambm chamado de argumentum magister dixit ou ad verecundiam.2

Tal argumento de autoridade teve seu incio na Antigidade clssica, mas seu auge foi na poca de domnio da filosofia crist, notadamente a o perodo conhecido como Escolstica (sc. XII d.e.C.). Por esta poca,
2 RODRGUEZ, V.G. O argumento de autoridade e o valor do pronunciamento do experto. Publicado na Internet, 22/03/2002.

qualquer debate terminava com o uso da frmula Aristteles disse. No se permitia qualquer discusso, muito menos qualquer tipo de contestao s afirmativas do grande filosfo grego. O uso do argumento de autoridade sempre foi, e continua sendo, bastante disseminado no mundo todo. De certa forma, era de se esperar que assim fosse no mbito das religies, que partem do princpio da verdade revelada. Mas seu uso se estende ao campo filosfico e at mesmo por mais estranho e incoerente que isso possa ser ao cientfico. Uma razo para isso a tendncia natural do homem em abdicar da sua prpria capacidade de pensar para aceitar como verdadeiros os pensamentos de outros, investidos de alguma autoridade. Esta pode ser dada pelo nascimento (nobreza, realeza), por destinao divina (sacerdotes) e pela aquisio cultural, entre muitas outras. Sem entrar no mrito da questo da verdade (j discutido em trabalho anterior 3), o uso do argumento de autoridade falha por problemas de ordem metodolgica. Admitir que o discurso de algum fosse verdadeiro somente porque esse algum o disse convencer-se que h pessoas que no podem errar, somente porque so especialistas num determinado assunto. Ainda que tais homens nunca tenham errado antes (o que muito difcil de ter ocorrido) nada pode garantir que no incorrero em erro em algum instante da vida. exatamente a crtica que se faz ao processo indutivo do conhecimento. Este se baseia na obteno de uma lei vlida a partir da observao de um nmero significativamente grande de eventos. Ora, mas, por mais eventos que se observem, todos com o mesmo resultado, nada pode garantir com cem por cento de certeza que o prximo evento apresente-se totalmente diferente. A induo no um mtodo lgico de se obter conhecimento, da mesma forma que o argumento de autoridade no um mtodo lgico de garantir a veracidade. 4 O uso do argumento de autoridade no movimento esprita to disseminado quanto em qualquer outro movimento filosfico ou religioso. Basta uma determinada assertiva ter sido feita por algum esprito desencarnado, especialmente se o mdium utilizado for famoso, para ser considerado uma verdade indiscutvel. Se a mensagem for assinada por algum nome conhecido (tais como Bezerra de Menezes, Andr Luiz ou Emmanuel) a possibilidade de questionamento quase nula. E as idias a contidas podem ser tomadas como princpios da doutrina esprita. Curiosamente, no Espiritismo, da mesma forma que ocorre em qualquer religio dogmtica e rigidamente estruturada, o uso abusivo e indiscriminado do argumento de autoridade leva radicalizao do veto a qualquer tipo de mudana dos conceitos. por isso que normalmente se afirma que no se pode alterar uma nica idia que tenha sido expressa
DI LUCIA, R. O Espiritismo e a questo da verdade. CEPA, XIV Conferncia Regional Esprita Pan-Americana. So Paulo, 2002.
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Para um detalhamento da crtica ao indutivismo, ver DI LUCIA, R. Espiritismo: revelao ou descoberta?, CEPA, XVIII Congresso Esprita Pan-Americano, Porto Alegre, 2000.

pelos Espritos, seja nos textos do Kardec ou atravs de mdiuns mais ou menos famosos. Claro que, quando falo em alterar idias, admito simplesmente a possibilidade de modificar conceitos tidos como verdadeiros no edifcio conceitual do Espiritismo. Em nenhum momento proponho modificao dos textos j escritos, o que seria uma deformao inaceitvel do pensamento de determinado autor, na poca em que ele foi expresso. Penso simplesmente na mudana dos conceitos a partir da evoluo do conhecimento humano. Entretanto, o que se prega no movimento esprita um engessamento absoluto do que foi dito pelos espritos:
Todavia, o Conselho Federativo Nacional no reconhece em nenhuma pessoa ou instituio, como tambm em nenhuma assemblia ou congresso, qualquer autoridade ou direito para alterar ou modificar, a qualquer ttulo, os princpios fundamentais e ensinos do Espiritismo, contido nas obras bsicas de Allan Kardec, e desaprova toda e qualquer iniciativa no sentido dessa alterao ou modificao, uma vez que a Doutrina Esprita de autoria dos Espritos Superiores e no de homens, como bem testemunhou o prprio Codificador. 5

Entretanto, no quero com isso dizer que se deva ignorar absolutamente toda e qualquer referncia dos grandes pensadores espritas. A importncia deles no pequena; afinal, em sua grande maioria, eram homens preparados, profundos conhecedores de vastas reas do conhecimento humano. Kardec, Denis, Dellane, Flammarion e outros foram fundamentais na continuao da estruturao da doutrina esprita. No possuam, porm, a verdade total e absoluta. Muito do que escreveram demonstraram-se incorrees ao longo dos anos por exemplo, as incurses de Kardec pela astronomia, em A Gnese, e as opinies de Dellane sobre a substituio das clulas do crebro, em A Evoluo Anmica. Alm disso, no se pode esquecer que o conhecimento humano evolui com o passar do tempo. Conhecer um processo cumulativo, no qual cada descoberta base para outras mais. Isto nos leva concluso de que muitas idias, apesar de estarem de acordo com o pensamento cientfico da poca, no suportam um exame luz do que se sabe hoje. Pode-se, ento, admitir o uso do argumento de autoridade? Certamente, desde que se tomem os mesmos cuidados que devem ser tomados na anlise de qualquer outro argumento, acrescidos ainda de verificaes sobre a consistncia da fonte. Victor Gabriel Rodrguez, professor de Direito, mostra as questes que devem ser analisadas, e que passam pelo crdito da suposta autoridade como fonte, pela validade de sua opinio, pela consistncia de sua argumentao em relao ao que dizem outras autoridades, e at mesmo pelas eventuais provas (ou ausncia delas) apresentadas:

Mensagem do Conselho Federativo Nacional ao Movimento Esprita Brasileiro, 15/11/1999.

A resposta a essas questes garante a validade do argumento ad verecundiam, afastando-o da falcia, do engodo do pronunciamento sem validade cientfica. 6

O argumento de autoridade deve, assim, ser empregado com cuidado. Se for usado para determinao do caminho que os pensadores espritas trilham, tem muito valor, na medida em que nos permite uma base slida para o crescimento do conhecer esprita. Utilizado exageradamente, engessa esse conhecimento, impedindo sua evoluo. Outra discusso esprita importante a ser realizada no mbito do estudo da importncia do mensageiro a questo da identificao dos espritos. Kardec tratou disso extensamente em sua obra. De modo geral, a posio de Kardec sobre a questo da identificao dos espritos est diretamente ligada anlise da comunicao em si, j que a pesquisa direta sobre suas identidades tem sensveis dificuldades (tempo, influncia do mdium etc.). J na Introduo do Livro dos Espritos, ao tratar dos princpios da doutrina, ele explana:
Distinguir os bons dos maus Espritos extremamente fcil. Os Espritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixo inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espritos inferiores, ao contrrio, inconseqente, amide trivial e at grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malcia ou ignorncia. Zombam da credulidade dos homens e se divertem custa dos que os interrogam, lisonjeandolhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanas. Em resumo, as comunicaes srias, na mais ampla acepo do termo, s so dadas nos centros srios, cujos membros esto unidos por uma intima comunho de pensamentos, tendo em vista o bem. 7

Portanto, a base fundamental da anlise de Kardec a respeito da identidade dos Espritos que se comunicam est na prpria mensagem, seja no contedo (principalmente quando se trata de uma comunicao de forte carter moral), seja na forma. Assim sendo, pode-se concluir que, se a importncia da comunicao encontra-se na mensagem, a questo da identificao secundria. Kardec mesmo corrobora esta deduo:
Nada, pois, impede que um Esprito da categoria de Fnelon venha em seu lugar, muitas vezes at como seu mandatrio. Apresenta-se ento com o seu nome, porque lhe idntico e pode substitu-lo e ainda porque precisamos de um nome para fixar as nossas idias. Mas, que importa, afinal, seja um Esprito, realmente ou no, o de Fnelon? Desde que tudo o que ele diz bom e que fala como o teria feito o prprio Fnelon, um bom Esprito. Indiferente o nome pelo qual se d a conhecer, no passando muitas vezes de um meio de que lana mo para nos fixar as idias. 8
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RODRGUEZ, V.G., opus citatus. KARDEC, A. O Livro dos Espritos, pg. 26. Idem, ibidem, pg. 37.

Para Kardec, o que devemos procurar, ao tratar da anlise de uma dada comunicao medinica, so elementos da superioridade intelecto-moral de seu autor. E isto pode ser feito pela anlise da mensagem em si. Entretanto, no se pode esquecer que as mensagens no so coisas em si mesmas, isoladas do mundo. So parte do universo cultural. Portanto, analisa-las requer uma ampla compreenso do contexto em que foram produzidas. o que veremos no prximo captulo.

3. A mensagem: a questo da hermenutica e anlise do discurso

contextualizao

Todo e qualquer texto produto de sua poca. A produo do conhecimento depende do caldo cultural que o produziu. Detalhes como os paradigmas cientficos, os dogmas, regime econmico, importncia das religies, crenas mais ou menos particulares, tolerncia poltica e religiosa, entre muitos outros, afetam diretamente qualquer produo cultural. Esse o motivo pelo qual, para uma compreenso precisa de uma mensagem, fundamental, imprescindvel mesmo saber por quem, em qual poca e onde ela foi produzida e assim podemos inseri-la nesse contexto. A esse processo se d o nome de contextualizar. A falta dessa contextualizao pode levar a graves erros interpretativos, na medida em que se pode considerar uma mensagem com os preconceitos da poca em que ela estudada, no daqueles na qual ela foi produzida. Vejamos um exemplo:
O negro pode ser belo para o negro, como um gato para outro gato. Mas no belo no sentido absoluto, porque seus traos grosseiros, os lbios grossos (...) podem perfeitamente exprimir as paixes violentas, mas no se prestariam s nuanas delicadas do sentimento e suavidade.

Se, ao nos deparamos com este texto, perguntarmos aos leitores a qual ideologia pertence, poderamos, com toda a lgica, atribu-lo a alguma escola de pensamento racista, extremista e fantica. No seria absurdo imagin-lo na boca de um nazista ou de um membro da Ku Klux Klan. Como ele no se coaduna, de nenhum modo, com os tempos mais tolerantes e politicamente corretos em que vivemos, seria atacado violentamente por qualquer homem de bom senso, seu autor anatematizado e, se houvesse uma organizao formal a qual pertencesse, seria processada por racismo. Tal texto de autoria de Allan Kardec. Pode ser encontrado em Obras Pstumas, no captulo A Teoria da Beleza. Algum que conhece o Espiritismo, mas nunca o tivesse lido, certamente haveria de ficar chocado talvez suas convices espritas balanassem. O preconceito racial que se vislumbra neste pargrafo pode facilmente levar a doutrinas perigosas, que pensam a raa negra como inferior e, portanto, justifica atos como a escravido. Entretanto, se entendermos que este texto foi escrito em uma poca extremamente eurocntrica, compreenderemos que dificilmente o texto 8

poderia ser diferente. O europeu do sculo XIX somente poderia considerar belo seu igual, uma vez que o conceito antropolgico da igualdade das diferentes cultural s surgiria no sculo seguinte. Portanto, uma leitura interpretativa de uma produo intelectual qualquer, para ser bem fundamentada, exige que se conheam detalhes sobre o modo pela qual foi construda. , de certa forma, subordinada histria, na medida em que depende do conhecimento do contexto em que foi produzida isto conhecido como Hermenutica. Entretanto, no pode deixar de considerar a mensagem como mais do que simplesmente uma produo lingstica. Ela possui elementos sociais que vo alm do que est explcito. Estudar uma mensagem levando esses elementos sociais em considerao a proposta da anlise do discurso. Hermenutica do grego hermneuein, que significa declarar, esclarecer, interpretar significa que alguma coisa tornada compreensvel, levada compreenso. Em Filosofia, segundo Scheleiermacher, a parte que visa no o saber terico, mas sim o uso prtico, isto , a praxis ou a tcnica da boa interpretao de um texto falado ou escrito. Isto significa que a hermenutica como mtodo busca no uma anlise crtica da mensagem, de um ponto de vista racional. No quer avaliar comparativamente a mensagem com crenas ou ideologias. Procura unicamente interpretar essa mensagem em bases histricas, levando em considerao apenas sua poca e autor. Mestres no uso da Hermenutica, Nietzsche e principalmente Heidegger empregaram com sucesso este mtodo para um estudo profundo dos textos gregos, clssicos e pr-socrticos. S assim foi possvel uma compreenso clara e correta de sua filosofia, embasada nos preceitos histricos da Grcia Antiga. Entretanto, um dizer no fica somente restrito quilo que foi dito. Nem mesmo fica limitado s consideraes histricas sobre o que foi dito. Na verdade, um dizer implica em todo um conjunto de consideraes sociais, verbais e no verbais, e que envolve mais que a significao percorre todo o processo pelo qual aquela significao veio a existir. a isso que se chama discurso:
A linguagem enquanto discurso no constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicao ou suporte de pensamento; a linguagem enquanto discurso interao, e um modo de produo social; ela no neutra, inocente nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestao da ideologia. 9

Assim, o estudo da linguagem e, em ltima instncia, da produo intelectual, no pode estar desvinculado dos processos histrico-sociais que a embasam. Isto levou, na dcada de 1960, criao de uma nova disciplina a anlise do discurso.

NAGAMINE BRANDO, H.H. Introduo anlise do discurso, pg. 11.

A anlise do discurso visa estudar e compreender a linguagem utilizada por membros de uma comunidade. Ao examinarmos a forma e as funes dessa linguagem podemos compreender fatores sociais e culturais que caracterizam as relaes entre pessoas, significados e o lugar social. Assim sendo, ela vai alm do nvel da frase ou superfcie do enunciado e analisa unidades do discurso que esto diretamente ligadas ao contexto onde so produzidas, o que nos permite compreender melhor o significado mais profundo de uma ou mais oraes. Por vezes, a mesma frase, enunciada em diferentes contextos, apresenta significados diferentes. Vejamos:
1) Este ano entrar para a Histria. Pela primeira vez uma nao civilizada possui controle total de suas armas. Nossas ruas estaro mais seguras e nossa polcia mais eficiente.

Outra:
2) Se algum vem a mim e no odeia seu pai, sua me, sua mulher, seus filhos, seus irmos, suas irms e at a sua prpria vida, no pode ser meu discpulo.

Ainda mais uma:


3) Educando o indivduo, o Estado deve ensinar que no uma vergonha, mas uma lamentvel infelicidade, ser fraco ou doente, mas um crime e tambm uma vergonha que se arrastem, nessa infelicidade, por mero egosmo, inocentes criaturas. Ao contrrio uma prova de grande nobreza de sentimentos, do mais admirvel esprito de humanidade, que o doente renuncie a ter filhos seus e consagre seu amor e sua ternura a alguma criana pobre, cuja sade d esperana de vir a ser ela um membro de valor de uma comunidade forte.

Finalmente:
4) A religio e a cincia natural esto numa batalha conjunta, numa segunda cruzada infindvel contra o ceticismo e o dogmatismo, e contra a superstio. A palavra de chamada para esta cruzada sempre foi e sempre ser: Caminhar para Deus.

Facilmente se poderia dizer que as frases pertenceriam, na ordem: 1) campanha do referendo do desarmamento no Brasil. 2) A uma organizao terrorista, como a Al Qaeda. 3) A uma campanha pela adoo de rfos; e 4) a um defensor das escolas holsticas de pensamento, muito comuns na atualidade, que defendem a unicidade do conhecimento. Os crditos reais dessas citaes: 1) Adolf Hitler, discurso. 2) Jesus de Nazar (Lucas, XIV, 26). 3) Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta). 4) Max Plank (Scientific Autobiography). 10

10 Max Plank (1858-1947), cientista alemo, um dos principais idealizadores da Fsica Quntica, prmio Nobel de Fsica de 1918.

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E no Espiritismo? Se o mtodo fosse corretamente usado, poderamos entender o porqu de alguns textos aparentemente contrrios aos princpios doutrinrios. Um exemplo:
A mesma coisa se d, qual o vimos, com os fenmenos fisiolgicos, que denominamos memria orgnica, de sorte que o inconsciente um territrio comum da alma e do corpo, confirmando-se, assim, que o perisprito a sua sede. 11

E outro:
O corpo espiritual no retm somente prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa fora plstica da vida, a qual opera a oxidao orgnica; tambm ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligncia e, sobretudo, o santurio da memria, em que o ser encontra os elementos comprobatrios de sua identidade, atravs de todas as mutaes e transformaes da matria. 12

No primeiro caso, Dellane atribui a memria ao perisprito, lanando mo do conceito de inconsciente. Idias semelhantes a essas so igualmente defendidas por Leon Denis e Gustave Geley, em vrios dos seus livros, o que nos d a impresso de que eram bastante difundidas no meio esprita poca apesar de no terem sido defendidas por Allan Kardec em sua obra. Levando em conta os conceitos da anlise de discurso, pode-se afirmar que isto se d na medida em que era de grande dificuldade para qualquer pessoa adepta do positivismo aceitar que o Esprito, este ser imaterial e, para muitos, puramente abstrato, pudesse ser o princpio de todas as manifestaes intelectivas do homem. J o trecho de Emmanuel vai de encontro s idias de Kardec. Para este, a distino entre perisprito (matria) e Esprito (no material) explcita. E, sendo a inteligncia a principal caracterstica do Esprito, inadmissvel que o perisprito seja a sede dos sentimentos e da inteligncia. Para analisar corretamente esta mensagem, necessitaramos conhecer detalhes da vida, da personalidade e da poca do autor o que extrapola os limites deste trabalho. Em suma, ao analisarmos um texto, no podemos esquecer de levar em considerao todas as influncias sociais e ideolgicas envolvidas. Isto tambm vlido para os textos espritas. A ausncia destas consideraes leva a pressuposies falsas ou, no mnimo, incompletas. E que podem distorcer completamente os conceitos.

4. A mensagem medinica: a influncia do mdium e a possibilidade de mensagens de grupo


Podemos dizer que as mensagens espritas dividem-se em duas classes principais: aquelas produzidas por pensadores encarnados e aquelas que,
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DELLANE, G. A Evoluo Anmica pg. 141.

EMMANUEL, Dissertaes medinicas (psicografia de Francisco C. Xavier), apud JORGE, J. Antologia do Perisprito, p.160.

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idealizadas por mediunidade.

espritos

desencarnados,

so

obtidas

atravs

da

Para as mensagens do primeiro grupo aplicam-se todas as ponderaes que foram feitas no captulo anterior. Podem-se utilizar todas as tcnicas de anlise que se desejar, bem como os mtodos hermenuticos e os princpios da anlise do discurso. Para as mensagens medinicas, alm destas ponderaes, necessrio ainda levar em considerao a interferncia do mdium. Este parte integrante de um dos elementos fundamentais da comunicao, o meio. Mas, enquanto que nas comunicaes no medinicas o meio inerte, desprovido de vontade prpria, no se pode ignorar que o mdium , antes de tudo, um Esprito, que tem sua individualidade, e, com ela, seus desejos, crenas e pensamentos. Antes de mais nada, um erro crer que o Esprito desencarnado pode, de alguma forma, tomar conta do corpo do mdium para fazer que a comunicao se d sem passar pelo crivo do Esprito deste:
O Esprito, que se comunica por um mdium, transmite diretamente seu pensamento, ou este tem por intermedirio o Esprito encamado no mdium? "O Esprito do mdium o intrprete, porque est ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessria uma cadeia entre vs e os Espritos que se comunicam, como preciso um fio eltrico para comunicar grande distncia uma notcia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e transmita." 13

Isto posto, fundamental que se entenda que o mdium interfere, em maior ou menor grau, nas comunicaes medinicas. Quanto mais inconsciente for o processo de comunicao medinica em questo, tanto menor a interferncia do mdium. Mas nem mesmo nos mdiuns muito inconscientes, aqueles que Kardec chamou de mecnicos, h total iseno. importante lembrar que no nos referimos aqui a intervenes propositais, que constituiriam verdadeira fraude. As interferncias de que tratamos so causadas por dificuldades inerentes ao processo medinico, seja na ligao entre o Esprito comunicante e o mdium, seja na transmisso do pensamento. Para que possa ser feita uma correta avaliao da mensagem medinica, tal interferncia deve sempre ser levada em considerao ainda que no tenhamos determinado um mtodo para mensur-la. Contudo, tambm no se podem debitar conta dessa interferncia todas as discordncias que tenhamos com a mensagem isto tornaria a anlise da mesma forma falha. So dois extremos de um mesmo problema. Existe ainda uma particularidade da mensagem medinica. aquilo que chamamos de possibilidade de mensagens de grupo. Este conceito remete possibilidade de um grupo de Espritos, de pensamentos e idias semelhantes, utilizar-se de um nome (que pode ser o de um deles, ou ento
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KARDEC, A. O Livro dos Mdiuns, pg. 268.

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at mesmo algum outro qualquer) para passarem sua mensagem. Kardec considerou esta possibilidade no Livro dos Mdiuns, e at mesmo utilizou-a como mais um motivo para no se importar muito com a identidade:
A questo da identidade , pois, como dissemos, quase indiferente, quando se trata de instrues gerais, uma vez que os melhores Espritos podem substituir-se mutuamente, sem maiores conseqncias. Os Espritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, cujas individualidades nos so, com excees raras, desconhecidas. No a pessoa deles o que nos interessa, mas o ensino que nos proporcionam. Ora, desde que esse ensino bom, pouco importa que aquele que o deu se chame Pedro, ou Paulo. Deve ele ser julgado pela sua qualidade e no pelas suas insgnias. Se um vinho mau, no ser a etiqueta que o tornar melhor. Outro tanto j no sucede com as comunicaes ntimas, porque a o indivduo, a sua pessoa mesma que nos interessa; muito razovel, portanto, que, nessas circunstncias, procuremos certificar-nos de que o Esprito que atende ao nosso chamado realmente aquele que desejamos. 14

Conclui-se que as comunicaes medinicas podem ser analisadas da mesma forma que as demais. Entretanto, tm particularidades que precisam ser levadas em considerao para qualquer anlise que se queira fazer.

5. Concluso: e a atualizao do Espiritismo?


Para que possamos realizar o processo de atualizao do Espiritismo, conforme proposto pela CEPA, h uma necessidade fundamental de adquirirmos metodologias apropriadas para tanto. Dois trabalhos, ambos de autoria de Ademar Arthur Chioro dos Reis, so fundamentais para isso: Agenda Esprita e Como: uma proposta metodolgica para atualizar o Espiritismo. Dentro do esprito destes trabalhos, que o de concretamente avaliar o que pode e deve ser atualizado e como isso pode ser feito, as consideraes que foram levantadas neste texto vo ao encontro de contribuir para uma rea especfica a da anlise textual. Insere-se no s no problema da atualizao da linguagem, mas tambm como mtodo de base, se assim podemos chamar, para todas as propostas de atualizao que necessitem partir dos escritos fundamentais do Espiritismo. O emprego de mtodos como a hermenutica e a anlise de discurso so fundamentais. Uma dificuldade que se apresenta, contudo, a dificuldade em conseguir pesquisadores que os dominem. So mtodos novos, de significativa dificuldade, e que muito pouco j foram empregados no movimento esprita. Torna-se assim urgente que os espritas adquiram este conhecimento. Outra dificuldade patente a adequao destes mtodos proposta esprita. O Espiritismo possui detalhes prprios que o tornam, de certa forma, nico entre as escolas de pensamento. Portanto, torna-se necessrio que, aps a aquisio do conhecimento sobre o mtodo, seja efetuada uma
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KARDEC, A. opus citatus, pg. 327.

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ampla discusso sobre como ele poderia ser adequado para as necessidades desta atualizao. Muito trabalho ser necessrio. O processo de atualizao urgente, e tanto mais complexo na medida em que muito falta para fazer. Mas, se no for dado o primeiro passo, ele nunca se realizar.

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