Fonologia Da Lingua Portuguesa Aula 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 19

Fonologia da Lngua Portuguesa

Denise Porto Cardoso

So Cristvo/SE 2009

Fonologia da Lngua Portuguesa


Elaborao de Contedo Denise Porto Cardoso

Projeto Grfico Hermeson Alves de Menezes Leo Antonio Perrucho Mittaraquis Tatiane Heinemann Bmmer Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramao Joo Eduardo Batista de Deus Anselmo Luclio do Nascimento Freitas Nycolas Menezes Melo Ilustrao Arlan Clecio dos Santos Clara Suzana Santana Edgar Pereira Santos Neto Gerri Sherlock Arajo Manuel Messias de Albuquerque Neto

Reviso Lara Anglica Vieira de Aguiar

Reimpresso

Copyright 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao por escrito da UFS.

FICHA CATALOGRFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


Cardoso, Denise Porto. Fonologia da Lngua Portuguesa / Denise Porto Cardoso -- So Cristvo: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009.

G268f

1. Portugus. 2. Lngua Portuguesa. 3. Fonologia. 4. Fonema. 5. Letras. I. Ttulo. CDU 811.134.3:81344.2

Presidente da Repblica Luiz Incio Lula da Silva Ministro da Educao Fernando Haddad Secretrio de Educao a Distncia Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josu Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Diretoria Pedaggica Clotildes Farias (Diretora) Hrica dos Santos Mota Iara Macedo Reis Daniela Souza Santos Janaina de Oliveira Freitas Diretoria Administrativa e Financeira Edlzio Alves Costa Jnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Coordenao de Cursos Djalma Andrade (Coordenadora) Ncleo de Formao Continuada Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Portugus) Eduardo Farias (Administrao) Haroldo Dorea (Qumica) Hassan Sherafat (Matemtica) Hlio Mario Arajo (Geograa) Lourival Santana (Histria) Marcelo Macedo (Fsica) Silmara Pantaleo (Cincias Biolgicas)

Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antnio Ponciano Bezerra Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fbio Alves dos Santos

Ncleo de Avaliao Guilhermina Ramos (Coordenadora) Carlos Alberto Vasconcelos Elizabete Santos Marialves Silva de Souza Ncleo de Servios Grcos e Audiovisuais Giselda Barros Ncleo de Tecnologia da Informao Joo Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceio Souza Assessoria de Comunicao Guilherme Borba Gouy

Coordenadores de Tutoria Edvan dos Santos Sousa (Fsica) Geraldo Ferreira Souza Jnior (Matemtica) Janana Couvo T. M. de Aguiar (Administrao) Priscilla da Silva Ges (Histria) Rafael de Jesus Santana (Qumica) Ronilse Pereira de Aquino Torres (Geograa) Trcia C. P. de Santana (Cincias Biolgicas) Vanessa Santos Ges (Letras Portugus)

NCLEO DE MATERIAL DIDTICO


Hermeson Menezes (Coordenador) Edvar Freire Caetano Isabela Pinheiro Ewerton Lucas Barros Oliveira Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitria Prof. Jos Alosio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - So Cristvo - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474

Sumrio

AULA 1 Fontica e Fonologia ..................................................................................................... 07 AULA 2 O Aparelho Fonador e os tipos de sons ................................................................... 21 AULA 3 Fonemas, alofones e arquiofonemas ......................................................................... 39 AULA 4 Transcrio fontica, fonolgica e processos fonolgicos ....................................... 63 AULA 5 O sistema fonolgico do portugus: consoantes .................................................... 85 AULA 6 O sistema fonolgico do portugus: as vogais.........................................119 AULA 7 Encontros voclicos e vogais nasais........................................................141 AULA 8 A slaba na lngua portuguesa................................................................169 AULA 9 Variao fonolgica do portugus brasileiro................... ........................191

AULA 10 Acentuao e a palavra fonolgica......................................................... 207

FONTICA E FONOLOGIA
MET A META
Apresentar a diferena Fontica e Fonologia. entre

aula
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno dever: diferenciar fontica de fonologia; reconhecer a diferena entre os estudos fonticos dos estudos fonolgicos.

Torre de babel (Fonte: http://5dias.net/wp-content)

Fonologia da Lngua Portuguesa

aro aluno, esse o nosso primeiro contato, ento, seja bem-vindo aos estudos da fontica e fonologia da lngua portuguesa. Nesse semestre, seremos companheiros de trabalho e, agora, vamos comear os estudos da lngua portuguesa. Durante todo o seu curso de graduao, voc estaINTRODUO r estudando a nossa lngua. Quando voc terminar seu sonho de fazer um curso de graduao, a realidade estar sua espera: a vida profissional. Voc poder gostar mais desse assunto ou gostar menos, entretanto, de alguma forma estar lidando com ele. Com certeza quanto mais voc se interessar pelos estudos da nossa lngua tanto maior ser o seu desejo de conhecer mais as teorias que do o suporte para compreender o modo como a lngua constituda. Por isso, espero que voc goste dessa matria.

Fontica e Fonologia

fontica e a fonologia so disciplinas interdependentes. Martinet, ao estudar a lngua, reconheceu que ela era duplamente articulada. Na primeira articulao, colocou os estudos dos elementos que tinham significao e, na segunda, os elementos desprovidos de significao. So as disciplinas que estudam esses elementos da segunda articulao, que FONOLOGIA vamos apresentar a vocs nesta aula. A fontica e a fonologia estudam os sons da linguagem humana, mas cada uma dessas disciplinas faz esse estudo sob uma perspectiva diferente. Elas tm sido entendidas comumente como disciplinas interdependentes porque para se fazer qualquer estudo fonolgico lana-se mo do contedo fontico, articulatrio ou auditivo. A fonologia estuda as diferenas fnicas intencionais e distintivas. Essas diferenas esto ligadas a diferenas de significao. Andr Martinet Nas palavras pato, bato, tato, dato, cato, gato tm-se que /p/ (1908-1999) lingista diferente de /b/, de /t/, de /d/, de /k/ e de /g/ porque, cada vez francs, internacionalmente conhecido. Enque se troca um fonema pelo outro no mesmo contexto (= ato), tre suas atividades no tm-se significados diferentes. Assim pato bato tato dato cato campo da Lingstica citam-se muitas obras gato. Aqui so as relaes paradigmticas de Saussure, aquelas particularmente voltarelaes em ausncia; toda vez que se usa um elemento no se usa das para os estudos fontico-fonolgicos. outro. Esto lembrados? Vocs devem ter visto as dicotomias Ingressou como casaussureanas no semestre passado em Lingstica. Cabe tambm tedrtico de Lingstica Geral na Sorbone em fonologia estabelecer como esses elementos de diferenciao se 1965, ano em que funrelacionam entre si. Isto quer dizer que h significados diferentes dou a revista La Linguistique. Entre apenas pela mudana de posio dos mesmos fonemas como se v ns, uma de suas em pato, topa e tapo, em que se tm os mesmos fonemas /p/, /a/ obras mais conhecidas, traduzida ao por, /t/ e /o/ , mas como muda a relao entre os elementos de difetugus, Elementos renciao mudam tambm os significados. So as combinaes de lingstica geral. sintagmticas, isto , a linearidade do contnuo sonoro. Alm disso, a fonologia tambm estabelece em que condies esses elementos de diferenciao se combinam uns com os outros para formar palaFonema vras. Na lngua portuguesa, por exemplo, tm-se a possibilidade de unidade mnima da combinar qualquer consoante com qualquer vogal como em camifonologia

1 aula

Fonologia da Lngua Portuguesa

Ferdinand de Saussure
Considerado o fundador da linguistica modera. Nasce em Genebra em 26 de novembro de 1857 e morre em 22de fevereiro de 1913, em Vaud. Seus alunos, Charles Bally e Albert Sechehaye, publicaram, em 1916, o livro Curso de linguistica geral, a partir de suas anotaes de aula sobre linguistica geral, 1870 a 1911. Suas dicotomias so um dos pontos altos da teoria saussereana.

sa, sapato, mas no se combina s com ch como em ingls que existem palavras como school (= escola). Para Saussure, o signo lingstico definido como a relao entre uma imagem acstica que ele chamou de significante, e um conceito que denominou de significado (SAUSSURE, 1969, p. 81). Tanto a fontica quanto a fonologia estudam o significante do signo lingstico, mas a fonologia estuda-o em relao ao significado. O fonema, ele mesmo no tem significado, mas tem o poder de mudar o significado de uma palavra. Assim que se tem vala, fala, sala, mala, rala, tala, cala, pala, bala com a simples troca de um elemento de diferenciao. A fontica estuda a substncia, a materialidade dos sons vocais. J a fonologia estuda a estruturao dos sons em um sistema de relaes opositivos e combinatrios para a constituio dos signos de uma lngua. Tomemos as palavras pranto e prato. Verificamos que entre elas a nica diferena fontica est no som nasal que ocorre no contexto pr...to. Como se trata de dois signos, podemos dizer que a diferena entre [a] e [] uma diferena significativa. Estamos, portanto, diante de uma diferena ao mesmo tempo de sons vocais (fontica) e de fonemas (fonolgica). Os termos fontica e fonologia possuem em sua formao a raiz grega phon que significa som, voz. O termo fonologia aparece por volta do sculo XVIII com a significao de cincia dos sons da fala e s a partir de 1928, com o Primeiro Congresso Internacional de Lingustica em Haia, passa a ter o sentido que tem hoje. No Curso de Lingustica Geral, Saussure distingue fontica de fonologia. Segundo ele, a fontica uma cincia histrica, analisa acontecimentos, transformaes e se move no tempo. A fonologia se coloca fora do tempo, j que o mecanismo da articulao permanece sempre igual a si mesmo.(SAUSSURE, 1975, p. 43) Essas definies no tm o sentido das acepes atuais, mas, sabe-se que foram as dicotomias saussureanas que permitiram a distino atual entre fontica e fonologia. Martinet em A Lingustica Sincrnica diz que

10

Fontica e Fonologia

poder-se-ia apresentar a fonologia como um modo de se considerar a fontica: seria a fontica tratada dos pontos de vista funcional e estrutural, e os que esto convencidos da necessidade de estudar os fatos desses dois pontos de vista pensam que toda fontica deve ser fonolgica no seu princpio. Se uma distino deve ser mantida entre as duas disciplinas, dir-se- que a fontica estuda os sons da linguagem sem preocupar-se com a lngua qual pertencem, enquanto que a fonologia os considera em funo dessa lngua. (MARTINET, 1974, p.36)

1 aula
Idiossincrasias
Maneira de ser, sentir, agir prpria de cada pessoa.

Em 1928, no Congresso de Haia, o Crculo Lingustico de Praga, chefiado por Nicolai Serge Trubetzkoy, diferencia, no plano lingstico, as duas cincias que tratam do significante do signo, utilizando a dicotomia saussureana langue e parole. A fontica estuda os significantes do signo da parole (uso individual). A fonologia se preocupa com os fonemas, os significantes da langue (sistema social, convencional de signos). Trubetzkoy diferencia fontica de fonologia em planos distintos, pela seguinte proporo: langue : : fonema : : fonologia parole som fontica A fontica definida como a cincia da face material dos sons da linguagem humana, enquanto a fonologia uma cincia lingustica porque estuda as unidades distintivas da langue. A realizao fnica em si interessa fontica enquanto fonologia interessa a oposio dos sons dentro do contexto de uma lngua determinada. A fonologia s se interessa pelos traos distintivos, enquanto a fontica se interessa por todos os traos fnicos. Relembremos aqui a dicotomia lngua/fala proposta por Saussure. A lngua constitui um sistema lingustico compartilhado por todos os falantes de determinada lngua. A fala expressa as idiossincrasias particulares de cada falante. Em termos fontico/

11

Fonologia da Lngua Portuguesa

Nikolay Trubetzkoy
Lingista russo cujos preceitos formaram o ncleo do Crculo Lingstico de Praga

fonolgico podemos dizer que fonologia e lngua, e fontica e fala so termos relacionados. A fonologia se relaciona com a lngua (em termos de sistema lingustico) por definir um sistema sonoro compartilhado em princpio por todos os falantes de uma determinada lngua. A fontica se relaciona com a fala e expressa as particularidades da fala de cada indivduo.

Nicolai Serge Trubetzkoy

12

Fontica e Fonologia

ATIVIDADES
I . Use fontica ou fonologia: a) A ___________________ se ocupa da estruturao dos sons vocais em um sistema lingstico. b) A ___________________ a cincia que trata da substncia da expresso. c) A ___________________ estuda os sons como entidades fsico-articulatrias isoladas. d) A ___________________ estuda os sons como elementos que integram um sistema lingstico determinado. e) A ____________________ estabelece como se relacionam entre si os elementos de diferenciao. f) A ____________________ estabelece quais as condies em que os elementos sonoros se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. g) A _____________________ estuda os sons do ponto de vista funcional. h) A _____________________ estuda os sons da fala, da parole saussureana. i) A ____________________ s se interessa pelos traos distintivos. j) A ____________________ considera os sons do ponto de vista de suas oposies sintagmticas. k) A _____________________faz descrio de todos os sons lingsticos, que pertencem a todas as lnguas conhecidas. l) A _______________________ avalia a funo dos fonemas na construo de palavras em determinada lngua. m) A ______________________ descreve os sons lingsticos que detm valor distintivo em determinada lngua. n) A ___________________ faz comparao entre os sons de uma lngua estrangeira com os sons da lngua nativa. o) A ___________________caracteriza as regras de construo da slaba em uma determinada lngua.

1 aula

13

Fonologia da Lngua Portuguesa

p) A __________________ descreve os traos prosdicos de cunho meramente estilstico em determinada lngua. II. No Brasil existem vrios sotaques. Um levantamento desses sotaques de carter fontico ou fonolgico? Explique. III. Um estudante de letras diz no seu TCC que as transcries fonticas no corpus do trabalho s do conta dos fatos pertinentes no sistema do portugus. Que atrapalhao conceitual foi cometida pelo estudante nessa afirmao?

COMENTRIO SOBRE AS ATIVIDADES


I. Eis as respostas das atividades: a) A fonologia se ocupa da estruturao dos sons vocais em um sistema lingstico. Se estrutura os sons num sistema, ou seja, numa lngua, s pode ser a fonologia. b) A fontica a cincia que trata da substncia da expresso. A substncia a materialidade, ento fontica. c) A fontica estuda os sons como entidades fsicoarticulatrias isoladas. Se no faz referncia a uma determinada lngua, a fontica. d) A fonologia estuda os sons como elementos que integram um sistema lingstico determinado. S a fonologia estuda os elementos mnimos de uma lngua. e) A fonologia estabelece como se relacionam entre si os elementos de diferenciao. Os elementos que diferenciam as palavras de uma lngua como pote bote so estudados pela fonologia. f) A fonologia estabelece quais as condies em que os elementos sonoros se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. A estrutura das palavras estabelecida anteriormente, ou seja, eu sei

14

Fontica e Fonologia

que uma palavra como gitvbasfrn no uma palavra do portugus porque no portugus no existe uma seqncia como tvb ou sfrn. Esse estudo , portanto, feito pela fonologia. g) A fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional. Quem estuda a funo do som a fonologia; ela que estabelece quais as seqncias so aceitas ou no numa determinada lngua. h) A fontica estuda os sons da fala, da parole saussureana. A fala a materialidade, o concreto, portanto, trata-se de fontica. i) A fonologia s se interessa pelos traos distintivos. A fonologia se interessa pelos sons que mudam o significado das palavras j) A fonologia considera os sons do ponto de vista de suas oposies sintagmticas. a fonologia que depreende que mala diferente de lama que diferente de alma. Os fonemas so os mesmos (m,a,l,a), mas o significado diferente. Muda a ordem dos fonemas muda o significado. k) A fontica faz descrio de todos os sons lingsticos, que pertencem a todas as lnguas conhecidas. No interessa ao falante do portugus o som,  com que o americano pronuncia o artigo the, porque na nossa lngua esse som no diferencia nenhuma palavra. l) A fonologia avalia a funo dos fonemas na construo de palavras em determinada lngua. Um estudo que trata da estrutura da lngua s pode ser feito pela fonologia, pois ela que estabelece, por exemplo, que na lngua portuguesa as slabas consoante + vogal comum, como na palavra menino, ou camisa, ou sof. m) A fonologia descreve os sons lingusticos que detm valor distintivo em determinada lngua. a fonologia que diz que t diferente de d, porque distingue pote de pode. Mas pronunciar [V5 ia] em vez de [ tia] no muda o

1 aula

15

Fonologia da Lngua Portuguesa

significado da palavra tia. n) A fontica faz comparao entre os sons de uma lngua estrangeira com os sons da lngua nativa. A fontica trata do som de qualquer lngua, sem levar em conta a significao das palavras. o) A fonologia caracteriza as regras de construo da slaba em uma determinada lngua. S a fonologia estabelece que no portugus se temos um encontro consonantal pr-voclico essas consoantes so as oclusivas /p,t, k, b, d, g/ e as fricativas /f, v/ + as lquidas /R, l/, como em prato, plano, grave, glote etc. p) A fontica descreve os traos prosdicos de cunho meramente estilstico em determinada lngua. Se o radialista diz goooool ou gol no deixa de ser um gol, mas sabemos se o gol brasileiro ou do time adversrio. II. Claro que de carter fontico porque leva em conta todos os aspectos da fala do brasileiro, no s os de carter distintivo ou pertinente como tambm aqueles no distintivos. III. O estudante se atrapalhou porque colocou transcries fonticas em vez de fonolgicas. As transcries fonticas tratam de todos os aspectos da fala, mas ele s vai trabalhar os fatos pertinentes, ou seja, aqueles que interessam ao funcionamento da lngua por ter carter distintivo. Sendo assim ele deveria ter colocado transcries fonolgicas.

16

Fontica e Fonologia

1 aula

(Fonte: http: www.masca.com.br).

m dos objetivos da fonologia est ligado ao desenvol vimento de ortografias, ou seja, o emprego de um al fabeto para representar a escrita de uma lngua. Muitos lingistas pesquisam lnguas desconheciCONCLUSO das, sem tradio de escrita e usam os princpios da fonologia para propor um sistema ortogrfico dessas lnguas. Alm disso, os estudos fonolgicos ajudam a estabelecer, na lngua materna, a relao existente entre os fonemas e os smbolos grficos que os representam. Por exemplo, em portugus no h correspondncia biunvoca entre o fonema /s/ e sua representao grfica. As letras usadas para represent-lo so s-, como em sala, c-, como em cedo, e x-, como em prximo. O conhecimento da fonologia ajuda tambm na aprendizagem de uma lngua estrangeira e em pessoas com distrbios de linguagem.

17

Fonologia da Lngua Portuguesa

RESUMO
A distino entre fontica e fonologia ocorre na primeira metade do sculo XX, a partir, sobretudo, das idias de Saussure. A fontica estuda os sons da fala, trabalha com mtodos das cincias fsicas e biolgicas, interessa-se pelos efeitos acsticos elementares que a nossa audio apreende como unidades, produzidos pela articulao dos rgos fonadores. A fonologia estuda os sons da lngua, ou seja, aqueles sons da fala que funcionam lingisticamente, ou seja, que provocam mudana de significado em determinada lngua. Para isso a fonologia tem de se apoiar na fontica, pois a partir de elementos da fontica que os fonemas so depreendidos.

NICOLAI SERGE TRUBETZKOY


Trubetzkoy nasceu na Rssia, em 1890. Forado a deixar a Rssia em tempos da revoluo, lecionou, a convite, em diferentes universidades da Europa, incluindo Viena e Praga, quando foi convidado para fundar com Jakobson e Mathesius o Crculo Lingstico de Praga. Sua obra pstuma e inacabada, escrita durante toda a sua vida atravs de anotaes, teve uma edio alem em 1939 e outra francesa em 1949, Principles de Phonologie, com reedies. Insiste na distino entre o som como pronncia e o som como representao, isto , como portador de uma inteno do falante. A idia de fonema como um feixe de traos distintivos e a noo de distribuio complementar e livre esto j presentes em Trubetzkoy.

18

Fontica e Fonologia

REFERNCIAS
MARTINET, Andr. Elementos de lingstica geral. Lisboa: Livraria S da Costa Editora, 1978. MARTINET, Andr. A lingstica sincrnica. Rio de Janeiro: Edies Tempo Brasileiro, 1974. SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingstica geral. So Paulo: Editora Cultrix, 1997. TROUBETKOY, Nicolas. Principes de phonologie. Paris: ditions Klincksiech, 1970

1 aula

19

Você também pode gostar