Como Resumir
Como Resumir
Como Resumir
Acontece-me ler e no compreender. Acontece-me no achar as palavras. O liame entre a forma e o sentido no de uma rigidez absoluta. Quando eu falo, o sentido est primeiro e eu busco as palavras para o exprimir. Quando eu leio, as palavras esto primeiro e eu busco o sentido delas. Eu creio que preciso manter as duas realidades ao mesmo tempo, lig-las intimamente, mas no confundi-las e no reduzir uma outra. Jacques Arsac, A Cincia e o Sentido da Vida. Lisboa: Instituto Piaget, 1995, pp. 252-253 De uma forma muito sinttica, podemos dizer que h dois tempos importantes na elaborao do resumo: compreender o texto e reelaborar o texto construindo o resumo. Na elaborao de um resumo, h coisas que parecem elementares mas que te podem ajudar imenso. Assim, deves considerar como passos mais importantes os seguintes: 1. Em primeiro lugar, preciso ler, com muita calma, todo o texto, procurando compreend-lo na sua globalidade. Aps esta primeira leitura, ests em condies de formular perguntas deste gnero: Quem diz? O que diz, ou o que defende? Quantas partes tem o texto? Do que trata cada parte do texto? Qual a opinio do autor do texto? 2. Podes fazer, em seguida, sublinhando / destacando: os dados tcnicos; os pormenores que paream importantes; as palavras que fazem a ligao por exemplo: por causa de; alm sendo; por um lado; por outro conclui-se que; no entanto; por mas; mas tambm; etc. entre as diversas partes do texto, como disso; alm do mais; sendo assim, assim lado; da mesma forma; seque-se que; conseguinte; portanto; apesar de tudo; uma leitura mais aprofundada do texto,
3. Procura seguidamente fazer o resumo de cada pargrafo. (Normal mente, num texto bem elaborado, cada pargrafo apresenta uma ideia.)
4. Procura depois explicar a ti mesmo, em voz alta, o contedo do texto, vendo se h uma estrutura coerente, isto , se o texto forma um todo. 5. Elabora, de seguida, o resumo propriamente dito. Deves ter em conta o seguinte: a) O resumo deve ser breve e deve ser escrito como um texto normal. O bom resumo no ultrapassa normalmente um quarto ou um tero do texto inicial. B) Procura que as ideias fiquem bem interligadas recorrendo aos conectores lgico-sintcticos. c) No deves comentar as ideias do autor. Deves ser rigoroso neste aspecto e podes recorrer a frmulas deste tipo: o autor defende; segundo o autor; o autor afirma que; na opinio do autor... d) No te limites a repetir as frases do autor. Recorre parfrase, isto , repete as suas ideias mas recorrendo a outras palavras. Quando tiveres de usar alguma expresso ou frase do autor (o que no proibido!), deves coloc-la entre aspas. Costumam apontar-se como caractersticas centrais de um resumo as seguintes: Fidelidade e rigor Ser fiel s ideias do texto. Evitar toda e qualquer deformao do pensamento do autor. Selectividade Deve escolher e centrar-se nas ideias principais sem divagar. Clareza das ideias Deve ser inteligvel; no deve ser impreciso. Os factos, os dados, as ideias no podem ser expressos confusamente. Repetio Para um resumo ser coerente, necessrio que apresente (repita) no seu desenvolvimento linear todos os elementos importantes do texto em anlise. No-contradio Para que um texto-resumo seja coerente, necessrio que no seu desenvolvimento no se introduza nenhum elemento semntico que contradiga qualquer contedo ou pressuposto do texto. Originalidade e criatividade Procurar traduzir os contedos numa linguagem original, pessoal, embora sem adulterar os pensamentos em anlise. Ter em conta que resumir no comentar, no avaliar, no emitir opinio. Em concluso: Fazer resumos uma estratgia fundamental, porque: Facilita uma melhor compreenso e assimilao dos textos de qualquer matria; Permite que treines a tua capacidade de sntese; Exercita a tua capacidade de comunicar com mais rigor.
Mas existe outra diferena importante entre cincia e Filosofia que no se refere aos resultados de ambas mas ao modo de chegar at eles. Um cientista pode utilizar as solues encontradas pelos cientistas anteriores sem precisar de percorrer sozinho todos os raciocnios, clculos e experincias que os levaram a descobrir essas solues. Mas quando algum quer filosofar no se pode contentar em aceitar as respostas de outros filsofos ou citar a sua autoridade como argumento incontroverso: nenhuma resposta filosfica ser vlida para ele se no voltar a percorrer por si prprio o caminho traado pelos seus antecessores, ou tentar outro caminho novo apoiado nas perspectivas alheias que dever considerar pessoalmente. Numa palavra, o itinerrio filosfico deve ser pensado individualmente por cada um, embora partindo de uma tradio intelectual muito rica. Os sucessos da cincia esto disposio de quem quer consult-los, mas os da Filosofia s servem a quem se decida a medit-los por si prprio. (...) Pode-se investigar cientificamente por outra pessoa, mas no se pode pensar filosoficamente por outra pessoa. (...) Talvez pudssemos acrescentar que as descobertas da cincia tornam mais fcil a tarefa dos cientistas posteriores, enquanto os contributos dos filsofos tornam cada vez mais complexo (ainda que tambm mais rico) o empenho de quem se pe a pensar a seguir a eles. Provavelmente foi por isso que Kant afirmou no se poder ensinar Filosofia mas apenas ensinar a filosofar. Porque no se trata de transmitir um saber j concludo por outros que qualquer pessoa pode ficar a saber como quem aprende as capitais europeias, mas de um mtodo, isto , de um caminho para o pensamento, uma forma de olhar e de argumentar.
Fernando Savater, As Perguntas da Vida, Uma Iniciao Reflexo Filosfica. Lisboa: Publ. D. Quixote, 2000, pp. 20-24
Resumo do texto
O objectivo do autor enunciar as diferenas entre a Filosofia e a cincia, hoje separadas mas outrora unidas. Comea por referir o que as aproxima declarando que ambas, desde sempre, quiseram responder s perguntas levantadas pela realidade. Existem, no entanto, diferenas significativas: 1) As cincias querem explicar como que as coisas foram feitas e como funcionam; aspiram a conhecer o que h e o que acontece; a Filosofia preocupa-se mais com o que elas significam para ns e reflecte sobre o que h e sobre o que acontece; 2) Na abordagem de qualquer assunto as cincias adoptam um ponto de vista impessoal; a Filosofia tem sempre presente o protagonista humano; 3) As cincias fragmentam e especificam o saber; a Filosofia tem uma viso unitria do conhecimento humano; 4) Quer a cincia quer a Filosofia visam responder s perguntas levanta das pelo real; mas a cincia procura oferecer solues de modo a desfazer a pergunta; enquanto a Filosofia no oferece solues mas sim respostas que provocam novas perguntas; 5) Enquanto um cientista pode usar sempre com proveito os resultados encontrados pelos seus antecessores, sem necessidade de percorrer todo o caminho, o filsofo s pode aceitar como sua uma resposta anterior desde que percorra o mesmo caminho, uma vez que o itinerrio filosfico tem de ser percorrido individualmente, 6) Os resultados da cincia esto disposio de quem queira consult-los; os da Filosofia s servem a quem os medita; podemos investigar e continuar a investigao de outra pessoa; mas no podemos pensar filosoficamente por outra pessoa. 7) Pela natureza das investigaes, cada sucesso da cincia facilita o caminho posterior; o contributo do pensamento filosfico torna as tarefas mais complexas e por isso, como afirmou Kant, no se ensina a Filosofia mas a filosofar; ento, mais importante do que aprender um saber j feito (como acontece com a cincia) aprender um mtodo, uma forma de olhar e argumentar (como acontece com a Filosofia).
J. Vieira Loureno, Ferramentas do aprendiz de filsofo. Porto: Porto Editora, 2004, pp.47-51 (texto adaptado)