Como Resumir

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ES Jos Belchior Viegas

TCNICAS DE TRABALHO Resumir


Resumir um escrito significa criar um novo escrito mais sucinto, que do primeiro s utiliza as informaes mais importantes. Maria Teresa Serafini O resumo no uma anlise crtica nem um comentrio do texto, mas tambm no uma reduo mecnica proporcional. Nele o estudante tenta estabelecer o difcil equilbrio entre a fidelidade absoluta sua fonte e determinada autonomia pessoal que escolhe e distingue entre o que importante e o que secundrio. Adelino Torres Como os esquemas so muito sintticos, h quem defenda que o resumo mais aconselhvel. Deves notar que so ligeiramente diferentes e que nem sempre cumprem funes idnticas. H uma diferena essencial que salta vista: o esquema muito mais visual e o resumo sempre discursivo. Numa linguagem diferente: o esquema um esqueleto do texto; o resumo uma contraco ou condensao de um texto. Professores e professoras pedem muitas vezes esta tarefa aos alunos e s alunas porque conhecem por experincia prpria as vantagens que ela representa. Mas resumir um texto nem sempre uma tarefa fcil. Quando resumimos um texto, temos de partir do princpio que encontramos sentido nesse texto. Caso contrrio, nunca faremos um resumo de qualidade. Mas isto no fcil como defende o texto seguinte: Que um texto tenha um sentido (em geral, ponhamos de parte os textos vazios de sentido fora da chateza, como as mensagens publicitrias ou aqueles que foram assim voluntariamente escritos) uma evidncia experimental. Onde est esse sentido? No texto? Como possvel ento que leitores diferentes encontrem sentidos diferentes? Se ele no est no texto, ento sou eu que a o ponho ao ler. Como possvel que leitores diferentes possam encontrar o mesmo sentido? Mas esta questo menos difcil: ns aprendemos a ler ao p dos mais velhos J disse que se podia explicar a multiplicidade de leituras do mesmo texto considerando que o sentido resulta do texto e do contexto cultural daquele que l. Conhecimentos gerais diferentes, opes filosficas ou religiosas diferentes provocaro leituras diferentes. Mas ainda mais verdadeiro quando sou eu a pr o sentido: a quem no aconteceu ainda encontrar num texto o sentido que ele tinha desejo de a ver? Sou eu que ponho o sentido no texto que leio. Mas no posso pr nele o que quer que seja, o texto existe. O autor escolheu as palavras, e se ele ps aquela, que outra no teria convindo. (...)

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Acontece-me ler e no compreender. Acontece-me no achar as palavras. O liame entre a forma e o sentido no de uma rigidez absoluta. Quando eu falo, o sentido est primeiro e eu busco as palavras para o exprimir. Quando eu leio, as palavras esto primeiro e eu busco o sentido delas. Eu creio que preciso manter as duas realidades ao mesmo tempo, lig-las intimamente, mas no confundi-las e no reduzir uma outra. Jacques Arsac, A Cincia e o Sentido da Vida. Lisboa: Instituto Piaget, 1995, pp. 252-253 De uma forma muito sinttica, podemos dizer que h dois tempos importantes na elaborao do resumo: compreender o texto e reelaborar o texto construindo o resumo. Na elaborao de um resumo, h coisas que parecem elementares mas que te podem ajudar imenso. Assim, deves considerar como passos mais importantes os seguintes: 1. Em primeiro lugar, preciso ler, com muita calma, todo o texto, procurando compreend-lo na sua globalidade. Aps esta primeira leitura, ests em condies de formular perguntas deste gnero: Quem diz? O que diz, ou o que defende? Quantas partes tem o texto? Do que trata cada parte do texto? Qual a opinio do autor do texto? 2. Podes fazer, em seguida, sublinhando / destacando: os dados tcnicos; os pormenores que paream importantes; as palavras que fazem a ligao por exemplo: por causa de; alm sendo; por um lado; por outro conclui-se que; no entanto; por mas; mas tambm; etc. entre as diversas partes do texto, como disso; alm do mais; sendo assim, assim lado; da mesma forma; seque-se que; conseguinte; portanto; apesar de tudo; uma leitura mais aprofundada do texto,

a resposta s perguntas; as ideias principais;

3. Procura seguidamente fazer o resumo de cada pargrafo. (Normal mente, num texto bem elaborado, cada pargrafo apresenta uma ideia.)

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4. Procura depois explicar a ti mesmo, em voz alta, o contedo do texto, vendo se h uma estrutura coerente, isto , se o texto forma um todo. 5. Elabora, de seguida, o resumo propriamente dito. Deves ter em conta o seguinte: a) O resumo deve ser breve e deve ser escrito como um texto normal. O bom resumo no ultrapassa normalmente um quarto ou um tero do texto inicial. B) Procura que as ideias fiquem bem interligadas recorrendo aos conectores lgico-sintcticos. c) No deves comentar as ideias do autor. Deves ser rigoroso neste aspecto e podes recorrer a frmulas deste tipo: o autor defende; segundo o autor; o autor afirma que; na opinio do autor... d) No te limites a repetir as frases do autor. Recorre parfrase, isto , repete as suas ideias mas recorrendo a outras palavras. Quando tiveres de usar alguma expresso ou frase do autor (o que no proibido!), deves coloc-la entre aspas. Costumam apontar-se como caractersticas centrais de um resumo as seguintes: Fidelidade e rigor Ser fiel s ideias do texto. Evitar toda e qualquer deformao do pensamento do autor. Selectividade Deve escolher e centrar-se nas ideias principais sem divagar. Clareza das ideias Deve ser inteligvel; no deve ser impreciso. Os factos, os dados, as ideias no podem ser expressos confusamente. Repetio Para um resumo ser coerente, necessrio que apresente (repita) no seu desenvolvimento linear todos os elementos importantes do texto em anlise. No-contradio Para que um texto-resumo seja coerente, necessrio que no seu desenvolvimento no se introduza nenhum elemento semntico que contradiga qualquer contedo ou pressuposto do texto. Originalidade e criatividade Procurar traduzir os contedos numa linguagem original, pessoal, embora sem adulterar os pensamentos em anlise. Ter em conta que resumir no comentar, no avaliar, no emitir opinio. Em concluso: Fazer resumos uma estratgia fundamental, porque: Facilita uma melhor compreenso e assimilao dos textos de qualquer matria; Permite que treines a tua capacidade de sntese; Exercita a tua capacidade de comunicar com mais rigor.

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Exemplo de texto para resumir:


Ttulo: Diferena essencial entre cincia e Filosofia Voltemos da novo a tentar especificar a diferena essencial entre cincia e Filosofia. A primeira coisa que salta vista no o que as distingue mas o que as assemelha: quer a cincia quer a Filosofia procuram responder a perguntas levantadas pela realidade. De facto, nas suas origens, cincia e Filosofia estiveram unidas e ao longo dos sculos a fsica, a qumica, a astronomia ou a psicologia se foram tornando independentes da sua matriz filosfica comum. Hoje em dia, as cincias pretendem explicar como que as coisas foram feitas e como funcionam, enquanto a Filosofia se preocupa mais com o que elas significam para ns. Quando a cincia fala de qualquer assunto (mesmo quando estuda as prprias pessoas) deve adoptar o ponto de vista impessoal, enquanto a Filosofia permanece sempre consciente de que o conhecimento tem necessariamente um sujeito, um protagonista humano. A cincia aspira a conhecer o que h e o que acontece. A Filosofia reflecte acerca do que representa para ns o que sabemos que acontece e o que existe. A cincia multiplica as perspectivas e as reas de conhecimento, isto , fragmenta e especifica o saber A Filosofia preocupa-se em relacionar esse saber com tudo o resto, tentando encaixar os saberes num panorama terico que abranja a diversidade dessa aventura unitria que pensar, isto , ser humano. (...) Em qualquer dos casos, quer as cincias quer as filosofias respondem a perguntas levantadas pelo real. Para essas perguntas as cincias oferecem solues, isto , respostas que satisfazem de tal modo a questo levantada, que a anulam e desfazem. Quando uma resposta cientifica funciona como tal, j no faz sentido insistir na pergunta, que deixa de ser interessante (...) Em contrapartida, a Filosofia no oferece solues mas respostas, as quais no anulam as perguntas mas permitem-nos conviver racionalmente com elas embora continuemos a levant-las vrias vezes: por muitas respostas filosficas que conheamos, para a pergunta que se faz sobre o que a justia ou o tempo, nunca deixaremos de nos perguntar pelo tempo ou pela justia nem rejeitaremos como ociosas ou resolvidas as respostas dadas a essas questes por filsofos anteriores. As respostas filosficas no solucionam as perguntas do real (embora s vezes alguns filsofos assim pensem...) mas, pelo contrrio, cultivam a pergunta, fazem sobressair o essencial dessa pergunta, e ajudam-nos a continuar perguntando, a perguntar cada vez melhor, a humanizarnos na perptua convivncia com a interrogao. Porque, o que o homem seno o animal que pergunta e continuar a perguntar para l de qualquer resposta imaginvel? (...)

ES Jos Belchior Viegas

Mas existe outra diferena importante entre cincia e Filosofia que no se refere aos resultados de ambas mas ao modo de chegar at eles. Um cientista pode utilizar as solues encontradas pelos cientistas anteriores sem precisar de percorrer sozinho todos os raciocnios, clculos e experincias que os levaram a descobrir essas solues. Mas quando algum quer filosofar no se pode contentar em aceitar as respostas de outros filsofos ou citar a sua autoridade como argumento incontroverso: nenhuma resposta filosfica ser vlida para ele se no voltar a percorrer por si prprio o caminho traado pelos seus antecessores, ou tentar outro caminho novo apoiado nas perspectivas alheias que dever considerar pessoalmente. Numa palavra, o itinerrio filosfico deve ser pensado individualmente por cada um, embora partindo de uma tradio intelectual muito rica. Os sucessos da cincia esto disposio de quem quer consult-los, mas os da Filosofia s servem a quem se decida a medit-los por si prprio. (...) Pode-se investigar cientificamente por outra pessoa, mas no se pode pensar filosoficamente por outra pessoa. (...) Talvez pudssemos acrescentar que as descobertas da cincia tornam mais fcil a tarefa dos cientistas posteriores, enquanto os contributos dos filsofos tornam cada vez mais complexo (ainda que tambm mais rico) o empenho de quem se pe a pensar a seguir a eles. Provavelmente foi por isso que Kant afirmou no se poder ensinar Filosofia mas apenas ensinar a filosofar. Porque no se trata de transmitir um saber j concludo por outros que qualquer pessoa pode ficar a saber como quem aprende as capitais europeias, mas de um mtodo, isto , de um caminho para o pensamento, uma forma de olhar e de argumentar.

Fernando Savater, As Perguntas da Vida, Uma Iniciao Reflexo Filosfica. Lisboa: Publ. D. Quixote, 2000, pp. 20-24

Resumo do texto

ES Jos Belchior Viegas

O objectivo do autor enunciar as diferenas entre a Filosofia e a cincia, hoje separadas mas outrora unidas. Comea por referir o que as aproxima declarando que ambas, desde sempre, quiseram responder s perguntas levantadas pela realidade. Existem, no entanto, diferenas significativas: 1) As cincias querem explicar como que as coisas foram feitas e como funcionam; aspiram a conhecer o que h e o que acontece; a Filosofia preocupa-se mais com o que elas significam para ns e reflecte sobre o que h e sobre o que acontece; 2) Na abordagem de qualquer assunto as cincias adoptam um ponto de vista impessoal; a Filosofia tem sempre presente o protagonista humano; 3) As cincias fragmentam e especificam o saber; a Filosofia tem uma viso unitria do conhecimento humano; 4) Quer a cincia quer a Filosofia visam responder s perguntas levanta das pelo real; mas a cincia procura oferecer solues de modo a desfazer a pergunta; enquanto a Filosofia no oferece solues mas sim respostas que provocam novas perguntas; 5) Enquanto um cientista pode usar sempre com proveito os resultados encontrados pelos seus antecessores, sem necessidade de percorrer todo o caminho, o filsofo s pode aceitar como sua uma resposta anterior desde que percorra o mesmo caminho, uma vez que o itinerrio filosfico tem de ser percorrido individualmente, 6) Os resultados da cincia esto disposio de quem queira consult-los; os da Filosofia s servem a quem os medita; podemos investigar e continuar a investigao de outra pessoa; mas no podemos pensar filosoficamente por outra pessoa. 7) Pela natureza das investigaes, cada sucesso da cincia facilita o caminho posterior; o contributo do pensamento filosfico torna as tarefas mais complexas e por isso, como afirmou Kant, no se ensina a Filosofia mas a filosofar; ento, mais importante do que aprender um saber j feito (como acontece com a cincia) aprender um mtodo, uma forma de olhar e argumentar (como acontece com a Filosofia).

J. Vieira Loureno, Ferramentas do aprendiz de filsofo. Porto: Porto Editora, 2004, pp.47-51 (texto adaptado)

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