O Sonho de Um Homem Ridículo
O Sonho de Um Homem Ridículo
O Sonho de Um Homem Ridículo
Professora: Loraine Oliveira Aluno: Pedro Augusto Fernandes Palmeira e Luciana Matrcula 12/0132249
Dostoievski, vida e obra Fidor Dostoivski, nascido em Moscou, Rssia, considerado hoje um dos maiores escritores j concebidos na histria. Eminente autor do clssico Irmos Karamazov, este considerado sua obra prima, por ser uma mistura ou espcie de sntese de suas maiores obras (a saber, as que esto cronologicamente localizadas no perodo ps-exlio), como O idiota, Crime e Castigo, Os Demnios e Memrias do Subsolo. Tambm vale lembrar Recordaes da Casa dos Mortos, livro este que revela sua experincia na Sibria onde, por pouco, escapa da execuo. So inmeros os seus escritos, sempre da mais alta qualidade, mostram-nos desde a face mais ridcula do homem, como o livro que iremos apresentar, ou o homem repleto de medos e dvidas, conflitos e angstias, at os atos mais puramente belos e dignos.
O sonho de um homem ridculo, o conto O conto, escrito em monlogo, trata-se da confisso de um homem ridculo, como esse mesmo diz enfaticamente nas primeiras sentenas de sua confisso:
Eu sou um homem ridculo. Agora eles me chamam de louco. Isso seria uma promoo, se eu no continuasse sendo para eles to ridculo quanto antes. Mas agora j nem me zango, agora todos eles so
queridos para mim, e at quando riem de mim a que so ainda mais queridos. Eu tambm riria junto no de mim mesmo, mas por am-los, se ao olhar para eles no ficasse to triste. (DOSTOIVSKI, 91)
Este estava prestes a suicidar-se depois de contatar, segundo ele, a falta de sentido da vida. Para ele dava no mesmo, ele disse ter constatado que para todos tanto faz, era tudo uma grande indiferena, diziam se importar com algo que na verdade no fazia sentido algum. Porque, para ele, o mundo no era perfeito como deveria, e todos, portanto, eram um verdadeiro bando de hipcritas. S havia um diferencial, ele orgulhosamente lamentava: eles no conhecem a verdade, e eu conheo a verdade! (DOSTOIVSKI, 91) E isso era que importava, era o ponto central, angular, porque decerto era o que havia decidido sua vida. Na noite em que lhe metera a ideia de cumprir com o que de alguma forma j havia arquitetado, ocorreu-lhe um fato que o deixou pensativo. No momento satnico, a ponto de ceifar o prprio principio que o mantm, refletindo sobre o acontecido e pensando no porqu de se preocupar com o que a muito era indiferente, acaba por ceder ao sono, debruado sobre sua arma. Da iniciase um sonho, um tanto incomum, mas bastante real, pelo que diz. Aquele sonho meio confuso a principio, mas que se torna bastante coerente e palpvel na medida em que acontece. No sonho ele estava numa terra perfeita, plena de inocncia, livre de egosmo, da volpia, daquele principio que nos permite trocar o bem pelo mal. Apaixona-se por este lugar, por ser ele (mesmo que noutro mundo) uma terra onde havia a transparncia do amor, do carinho lmpido, livre das ms intenes. Adorava-os. Entretanto, acaba por corromp-los. Diz Sim, sim, o resultado foi que perverti todos eles! (DOSTOIVSKI, 117), mais a frente continua seu lamento, s sei que a causa do pecado original fui eu (DOSTOIVSKI, 117) como que numa pequena e inocente brincadeira tudo desmoronou. A babel foi desfeita. Tudo destrudo. E o resultado foi o abismo em sua imensido que aqueles homenzinhos passaram a assistir rapidamente:
Como uma triquina nojenta, como um tomo de peste infestando o Estado inteiro, assim tambm eu infestei com minha presena essa terra que antes de mim era feliz e no conhecia o pecado. Eles aprenderam a mentir e tomaram amor pela mentira. Ah, isso talvez tenha comeado inocentemente, por brincadeira, por coquetismo, por um jogo de amor, na verdade, talvez, por um tomo, mas este tomo de mentira penetrou no seu corao e lhes agradou.
O processo catico descrito por nosso locutor como que em flashes, revelando-nos a maldade causada por sua triquina nojenta, sua mentirinha inocente que gradualmente tornar-se-ia crueldade insana:
Depois rapidamente nasceu a volpia, a volpia gerou o cime, o cime a crueldade. [] eles se espantaram e se horrorizaram, e comearam a se dispersar, a se dividir. Surgiram alianas, mas dessa vez uma contra as outras. Comearam as acusaes, as censuras. Conheceram a vergonha, e a vergonha erigiram em virtude.
Passo a passo continuou a degradao daquele mundo, o paraso quimrico torna-se vil, um pesadelo horrendo, o que era traquinagem culmina em homicdio. Passando por toda uma deteriorao moral e, por conseqncia, social. No fim acorda nosso sonhador sentindo-se indigno de absolvio por ter causado tamanha desventura para com seus anfitries. Ainda com isso, sente-se livre de um fardo, porque havia encontrado seu sentido na utopia to sonhada. Aquele paraso seria possvel neste mundo infernal apesar do apesares. O mundo agora deveria conhecer a verdade que ele conhecia, a verdade que o mundo havia perdido.
O paraso imanente impossvel No desenlace da histria v-se uma critica ao homem ingnuo, o utopista, esse mesmo homem ridculo que pensa ser possvel viver num paraso terrestre. Segundo Luiz Felipe Pond Dostoivski diz, em O sonho do homem ridculo, que impossvel para o ser humano viver no paraso, por que impossvel para o ser humano sair da dimenso temporal, na condio de individuo da natureza: ele tem de existir na dimenso temporal, atravessando este inferno em que est. Quanto mais se aprofunda nisso, menos distante est da realidade. (POND, 160) O ridculo esquece-se de ver o que h de mais nodoso no ser homem. No v que quanto mais se abstrai dessa realidade, mais longe est de encontrar sentido da mesma, que s pode haver assumindo ela integralmente, o lado aparentemente bom e ruim. A liberdade permite o mal e, portanto, o sofrimento, e atravs da dor que, segundo ele, ns de fato encontramos rumo a nossa travessia. Evdokimov usa o conceito de resumo da condio humano, quando o homem tenta resumir a realidade utpica e projet-la na imanente, tornando esta realidade fictcia mais legtima que a realidade do abismo de que fala Dostoivski, aquele abismo inevitvel, em virtude da liberdade que tanto permeia sua obra. Um ideia do que ele entende como este imenso poo o que encontramos em sua obra, nas palavras de Pond, o sintoma, aquela ideia de sofrimento psicolgico enquanto tal, revestido de
uma certa sacralidade, pois ao atravessar o sintoma, na agonia em que o individuo est, nessa polifonia interna, nessa no-identificao consigo mesmo (em vez de mentir sobre isso), que encontramos o sentido construtivo da travessia. (POND, 160) Podemos deduzir, portanto, que aquele que passa pelo sofrimento, pouco provvel que incorra em ter um corao pfio, superficial. O sofrimento sempre acompanha uma inteligncia elevada e um corao profundo diz Dostoivski.
BIBLIOGRAFIA DOSTOIVSKI, Fidor, in Duas Narrativas Fantsticas: A dcil e O sonho de um homem ridculo, traduo de Vadim Nikitin, So Paulo: Ed. 34, 2003. EVDOKIMOV, Paul, Dostoevski et le problme du mal, Paris: DDB, 1998. POND, Luiz Felipe, Crtica e Profecia: A filosofia da religio em Dostoivski, So Paulo: Ed.34, 2003, pg. 160.