Rudolf Steiner - As Manifestações Do Carma
Rudolf Steiner - As Manifestações Do Carma
Rudolf Steiner - As Manifestações Do Carma
As manifestaes do carma
Os aspectos decisivos do destino humano
16 de maio de 1910
espirituais: dar uma definio, uma explicao vocabular. No costumo fazer isto, pois, via de regra, explicaes vocabulares no resolvem muito. Em nossas consideraes, geralmente iniciamos descrevendo fatos; e, estando estes corretamente agrupados e ordenados, surgem espontaneamente os conceitos e representaes mentais. Se, para as questes mais abrangentes que teremos de discutir nos prximos dias, quisssemos seguir um caminho semelhante, deveramos dispor de muito mais tempo do que nos oferecido. Da ser necessrio darmos, para melhor compreenso, se no uma definio, ao menos uma espcie de descrio do conceito que nos ocupar por mais tempo. Definies s tm por objetivo a compreenso do sentido inerente a este ou aquele termo que se emite ou exprime. Nesta linha, darei uma caracterizao do conceito carma para sabermos do que estaremos falando quando, nestas conferncias, a expresso carma for utilizada. A partir de todo tipo de consideraes, certamente cada um de ns j formou um conceito de carma. Uma noo bastante abstrata de carma consiste em consider-lo como lei espiritual de causalidade, lei segundo a qual certas causas situadas na vida espiritual seriam seguidas de certos efeitos. Contudo, este um conceito por demais abstrato de carma, por ser em parte muito estreito e, em parte, demasiadamente amplo. Se quisermos considerar o carma uma lei de causalidade, equiparemo-lo ao que, no mundo, chamamos normalmente de lei da causalidade ou lei de causa e efeito. Entendamo-nos um pouco acerca do que normalmente compreendemos por lei causal no mbito genrico, quando ainda no falamos em fatos e acontecimentos espirituais. Atualmente se insiste em afirmar, com bastante freqncia, que o verdadeiro significado da cincia exterior reside no fato de esta se basear na ampla lei da causalidade, reconduzindo, em qualquer rea, efeitos a causas correspondentes. A respeito de como ocorre essa reconduo de efeitos a causas , os homens tm idias bem menos claras pois ainda hoje certamente possvel encontrar, em livros que se crem eruditos e pensam estar expondo conceitos de forma claramente filosfica, afirmaes como esta: Um efeito aquilo que decorre de uma causa. Contudo, ao se afirmar que um efeito decorre de uma causa, fala-se com desconhecimento total dos fatos. Se, por exemplo, considerarmos o raio solar que incide sobre uma chapa de metal e a faz esquentar, falaremos ento de causa e efeito no mundo exterior; mas acaso poderemos dizer alguma vez que o efeito o aquecimento da chapa metlica tem como causa o quente raio solar? Se o raio solar j tivesse em si tal efeito, no existiria o fato, j que o raio no aquece uma chapa de metal sem encontr-la em seu caminho. No mundo dos fenmenos inorgnicos ao nosso redor, para um efeito se seguir a uma causa sempre necessrio que algo venha ao encontro desta; se isso no ocorrer, nunca se poder dizer que um efeito se segue a uma causa. No suprfluo partirmos de tal observao, aparentemente bastante filosfica e abstrata; pois se quisermos progredir frutiferamente no campo da Antroposofia, teremos de acostumar-nos a conceber conceitos bem definidos, e no da maneira negligente como, s vezes, eles so concebidos nas outras cincias. Entretanto, ningum poderia falar em carma no caso de um efeito simples como o aquecimento de uma chapa de metal por um raio de sol. A existe realmente a causalidade, a relao entre causa e efeito, mas nunca chegaramos a um conceito conveniente de carma falando de carma somente nessa rea. No podemos, pois, falar de carma quando existe uma mera relao de causa e efeito. Agora podemos prosseguir e formar um conceito mais elevado da relao entre causa e efeito. Se, por exemplo, tivermos um arco, esticarmos este arco e, com ele, arremetermos uma flecha, a ao de estic-lo produzir um efeito. Esse efeito da flecha arremetida, em relao sua causa, tampouco poder ser denominada com a expresso carma, como no caso anterior. Entretanto, se considerarmos outro aspecto desse
processo j estaremos, de certa forma, aproximando-nos do carma, embora ainda no com um entendimento de seu conceito: basta imaginarmos que o arco, tendo sido esticado muitas vezes, torna-se frouxo; ento ao que o arco faz, ao que acontece com ele, seguese no-apenas um efeito dirigido para fora, mas um efeito que retroage sobre o prprio arco. Pelo tensionamento contnuo do arco, algo acontece ao prprio arco algo resultante do tensionamento recai, por assim dizer, sobre o prprio arco; portanto, alcanado um efeito que recai sobre o objeto causador desse efeito. Bem, isto j faz parte do conceito de carma. Sem ser produzido um efeito que recaia sobre o objeto ou ente causador desse efeito, sem essa propriedade da retroao do efeito sobre o ente causador, no se pode conceber o conceito de carma. Portanto, j nos acercamos mais do conceito de carma medida que compreendemos o fato de o efeito causado por um objeto ou ente retroagir sobre o prprio objeto ou ente. Mas mesmo assim o afrouxamento do arco, decorrente de seu contnuo tensionamento, no pode ser chamado de carma do arco, e pelo seguinte motivo: se esticarmos com bastante freqncia o arco durante trs ou quatro semanas e ele se tornar frouxo, teremos nele algo totalmente diferente do arco bem tenso de quatro semanas atrs; o arco veio a ser outro, deixou de ser o mesmo. Portanto, se o efeito retroativo altera to talmente o objeto ou ente, fazendo do objeto ou ente algo completamente diverso, no podemos ainda falar em carma. S podemos falar em carma quando a retroao atingiu o mesmo ser e quando ele, ao menos em certo sentido, permaneceu o mesmo. Com isto nos acercamos um pouco mais do conceito de carma; mas, no fundo, teremos uma idia bem abstrata de carma se quisermos descrever seu conceito deste modo. Ainda assim, se quisermos conceb-lo abstratamente nos ser difcil conceb-lo de maneira mais precisa do que a recm-empregada; s que ao conceito de carma teremos de acrescentar ainda um aspecto: quando o efeito retroativo sobre o ente ocorre de maneira simultnea, ou seja, quando a causa e o efeito retroativo ocorrem ao mesmo tempo, dificilmente podemos falar em carma. que neste caso o ente emissor do efeito teria desejado, no fundo, produzi-lo de forma imediata, prevendo o efeito e conhecendo todos os elementos que conduzem a ele. Sendo este o caso, no falemos em carma. Assim, por exemplo, no falaremos em carma se diante de ns um indivduo cometer determinado ato tencionando um resultado previsto, e se este ou aquele efeito segundo sua inteno ocorrer como ele desejou. Isto significa que entre a causa e o efeito deve existir algo que se subtraia imediatamente ao ente quando da produo da causa: a relao entre causa e efeito existe de fato, mas sem ser propriamente tencionada pelo prprio ente. No havendo, de parte deste, a inteno dessa relao, a razo de existir uma ligao entre causa e efeito reside em outro lugar, e no nos propsitos do ser em questo. Isto significa que essa razo reside num conjunto de leis. Portanto, tambm faz parte do carma o fato de a relao entre causa e efeito estar sujeita a um conjunto de leis que ultrapassa as intenes imediatas do ser. Reunimos, assim, alguns elementos capazes de esclarecer-nos o conceito de carma. Temos, porm, de integrar todos esses elementos ao conceito de carma, e no permanecer numa definio abstrata caso contrrio no poderemos compreender as manifestaes do carma nos diversos mbitos do mundo. Cabe-nos, inicialmente, procurar essas manifestaes onde pela primeira vez nos defrontamos com o carma: na vida humana individual. Ser que podemos, e quando, encontrar na vida individual do homem o que acabamos de expor com nossa elucidao do conceito de carma? Encontraramos tal aspecto se, por exemplo, ocorresse em uma experincia da qual pudssemos dizer: esta experincia que nos surge agora tem uma certa relao com outra
experincia anterior, da qual participamos e qual ns mesmos demos ensejo. Tentemos inicialmente pela pura observao da vida constatar se tais situaes existem. Coloquemo-nos agora no ponto de vista da pura observao exterior. Quem no se dispe a realizar tais observaes nunca chegar a conhecer uma relao regida por leis na vida; ele o conseguir to pouco quanto um indivduo que, no observando o choque de duas bolas de bilhar, pode conhecer as leis que regem o choque elstico. A observao da vida pode, de fato, conduzir-nos observao de uma relao regida por leis. Escolhamos logo uma relao especfica. Digamos que um jovem de dezoito anos haja sido excludo, por um acontecimento qualquer, da carreira profissional que at ento parecia traada. Imaginemos que at tal ponto esse jovem houvesse seguido seus estudos, preparando-se para uma conseqente profisso; e que agora, talvez devido a um acidente sofrido por seus pais, ele tenha sido excludo desses estudos e, aos dezoito anos, haja ingressado na profisso de comerciante. Quem, na vida, observar tais casos com um olhar imparcial com o mesmo olhar com o qual se considera, na fsica, o fenmeno do bolas elsticas constatar, por exemplo, que as experincias da atividade comercial imposta quele jovem podem ter, de incio, um efeito estimulante: ele cumpre com seus deveres, aprende algo e talvez at se torne bastante eficiente. Mas tambm ser possvel observar que, aps algum tempo, ter ocorrido um fato bem diverso: uma certa relutncia, uma certa insatisfao. Esse descontentamento no aparecer logo. Se a mudana de profisso ocorreu aos dezoito anos de idade, os anos seguintes talvez transcorram calmamente. Contudo, talvez ao redor dos 23 anos fique ntido que algo se estabeleceu na alma, algo que se manifesta de modo inexplicvel. Continuando a pesquisa, pode-se frequentemente observar desde que se trate de um caso inequvoco que a insatisfao verificada cinco anos aps a mudana de profisso encontra sua explicao por volta da idade de treze ou catorze anos; pois muito freqentemente teremos de procurar as causas de tal sintoma num lapso de tempo, antes da mudana de profisso, igual ao tempo decorrido da mudana at a manifestao da ocorrncia descrita. Pode ser que o indivduo em questo tenha tido aos treze anos, durante sua poca de estudante portanto, cinco anos antes da mudana de profisso , uma vivncia, no mbito de seus sentimentos, que lhe haja causado certa felicidade interior. Suponhamos que a mudana de profisso no tivesse ocorrido; a o impulso assimilado aos treze anos teria encontrado sua plena realizao na vida posterior, produzindo os mais diversos frutos. Todavia ocorreu a mudana de profisso, que inicialmente interessou ao jovem e lhe cativou a alma. O que penetrou dessa forma em sua vida anmica reprimiu o que j se encontrava nela. Tal represso pode ser suportada durante algum tempo; mas medida que ocorre, o elemento reprimido adquire no ntimo um vigor especial, acumulando, por assim dizer, energia. como se comprimssemos uma bola elstica: podemos comprimi-la at certo limite, quando ento ela oferece resistncia; e se lhe for permitido restabelecer a forma original, ela o far com energia tanto maior quanto maior tenha sido a fora com que a tivermos comprimido. Vivncias do tipo que acabamos de mencionar, assimiladas por um jovem em seu ano de vida e consolidadas at mudana de profisso, tambm podem, de certa maneira, ser reprimidas mas aps algum tempo surge na alma uma resistncia. Pode-se ento constatar como essa resistncia se fortalece o suficiente para mostrar seu efeito. Como falta alma o que ela teria caso no houvesse surgido a mudana de profisso, o que ficou reprimido se faz valer, vindo tona a insatisfao e o fastio em relao ao que o mundo ambiente oferece. Temos aqui, portanto, o caso de um indivduo que teve uma vivncia, fez algo na idade dos treze aos catorze anos e fez mais tarde algo diferente, mudando de profisso. Vemos como essas causas atuam de modo que seus efeitos recaiam, retroajam sobre o
mesmo ser. Em tal caso, deveramos aplicar o conceito de carma primeiramente vida individual do homem. No cabe aqui a objeo alegando o conhecimento de casos em que tais conseqncias no apareceram! Isso pode acontecer; mas tampouco um fsico, empenhado em investigar as leis que regem a queda de uma pedra caindo nesta ou naquela velocidade, dir que tais leis no seriam corretas caso a pedra fosse desviada de sua direo por meio de um choque. Precisamos aprender a observar corretamente e excluir os fenmenos que no concorrem para a formao da lei. Decerto o indivduo que aos 33 anos sentisse, na ausncia de os fatos, os efeitos das impresses de seu 13 ano de vida como tediosos, no chegaria a esse tdio se, por exemplo, tivesse se casado nesse nterim. Mas a estaramos lidando com um fato sem influncia no estabelecimento da lei bsica. O importante encotrarmos os fatores que nos possam conduzir a uma lei. A observao, por si, ainda nada significa. S a observao sistemtica nos leva ao reconhecimento da lei. Trata-se, portanto, de tambm estabelecer de maneira correta tais observaes sistemticas. Suponhamos, a fim de vir a conhecer o carma individual de homem, que um duro golpe do destino atinja algum em seu 25 ano de vida, causandolhe dor e sofrimento. Nunca chegaremos ao conhecimento da relao crmica se permanecermos na mera observao, empenhando-a simplesmente no duro golpe fatal que irrompeu na vida de tal pessoa e a preencheu de dor e sofrimento; mas se prosseguirmos com a observao, consderando o que aos cinqenta anos acontece pessoa que aos 25 sofreu o referido golpe do destino, talvez se nos oferea um quadro possvel de ser descrito da seguinte forma: O indivduo em questo tornou-se uma pessoa ativa e aplicada, que enfrenta a vida com habilidade. Examinando agora sua vida passada, descobriremos que aos vinte anos de idade ele ainda era um indolente, nada querendo fazer, e que aos 25 foi atingido pelo duro golpe do destino. Podemos agora dizer que ele teria continuado a ser um indolente no fora o golpe do destino que, desse modo, constituiu a causa do dinamismo e da habilidade que encontramos em tal indivduo na idade de cinqenta anos. Um fato como esse nos ensina que incorreramos em erro considerando o golpe do destino aos 25 anos como mero efeito; perguntando-nos a ns mesmos o que ele causou, no podemos permanecer na mera observao. Porm, caso no consideremos tal golpe como efeito colocando-o no fim de uma seqncia de fenmenos precedentes , mas o situemos no comeo dos acontecimentos subseqentes considerando-o como causa, aprenderemos reconhecer a possibilidade de at mudarmos substancialmente nosso julgamento emocional e sentimental a respeito desse golpe do destino. Talvez fiquemos tristes ao encar-lo apenas o efeito; mas, ao contrrio, considerando-o como causa do que veio depois, talvez fiquemos alegres e contentes com ele pois poderemos dizer que o fato de o indivduo se haver tornado uma pessoa decente deve-se quele golpe do destino. Vemos, pois, que algo de nossos sentimentos pode mudar substancialmente conforme consideremos um fato da vida como efeito ou como causa. Portanto, no indiferente considerarmos algo que atinge algum na vida como mero efeito ou como causa. E lgico que, se fizermos nossa observao no momento de o fato doloroso ocorrer, ainda no poderemos constatar o efeito direto; mas se houvermos configurado a lei do carma a partir de observaes semelhantes, essa prpria lei do carma nos far sentir que um acontecimento talvez nos seja doloroso, no momento, por manifestar-se como mera conseqncia de algo precedente, mas que tambm poder ser encarado como ponto de partida para algo posterior. A poderemos pressentir o seguinte: o ponto inicial a causa de efeitos que colocam o assunto sob uma luz bem diferente! Assim, a prpria lei do carma pode tornar-se a fonte de um consolo. No haveria consolo se tivssemos o hbito de colocar um evento somente no fim, e no no incio de uma seqncia de fenmenos.
Trata-se, portanto, de aprendermos a observar a vida de modo sistemtico e a relacionar adequadamente os fatos como efeito e causa. Se ordenarmos tais observaes de maneira realmente eficiente, resultados que ocorrem com uma certa regularidade na vida de um indivduo nos ficaro bvios, vindo a surgir outros que nos parecero irregulares nessa mesma vida. Assim, quem observar a vida humana um pouco alm de seu nariz haver de encontrar nela notrias inter-relaes. Infelizmente, hoje em dia os aspectos da vida humana so observados apenas quanto a curtos lapsos de tempo, e dificilmente quanto a um perodo de alguns anos. E no existe o hbito de estabelecer a relao entre algo surgido aps um maior nmero de anos e algo que pudesse ter existido, no passado, como causa. Por isso, hoje em dia s poucas pessoas estabelecem uma certa ligao entre o comeo e o fim da vida humana. No obstante, tal ligao extremamente reveladora. Suponhamos termos educado uma criana durante os primeiros sete anos de sua vida sem fazer o que de hbito, ou seja, partir do dogma segundo o qual, para ser um indivduo decente, ela deveria possuir tais e tais qualidades e corresponder incon dicionalmente imagem que fazemos de um indivduo decente. Caso contrrio, incutiramos minuciosamente na criana tudo o que, a nosso ver, faria dela uma pessoa decente. Porm, se partirmos do reconhecimento de que existem muitas maneiras de algum ser uma pessoa decente, no sendo ainda absolutamente necessrio fazer qualquer idia de como um ser que ainda desabrocha como criana deve tornar-se uma pessoa decente segundo sua predisposio pessoal, diremos o seguinte: seja qual for meu conceito de uma pessoa decente, o ser humano que vier a surgir dessa criana dever formar-se pelo desabrochar de suas melhores aptides e isso constitui um enigma cuja soluo talvez caiba a mim descobrir! Cumpre reconhecer, ento, que carece de importncia o fato de estarmos comprometidos com este ou aquele preceito e coisas do gnero. A prpria criana deve sentir a necessidade de fazer isso ou aquilo! Se eu quiser desenvolv-la conforme suas disposies individuais, procurarei estimular e desenvolver os anseios predispostos nela, de modo que antes de mais nada lhe surja a necessidade de realizar seus atos de acordo com seus impulsos prprios. Como se v, existem dois mtodos totalmente diferentes para se atuar sobre uma criana nos primeiros sete anos de sua vida. Ao observarmos a vida posterior da criana, durante muito tempo no nos ser dado ver qual o efeito mais notvel do que incutimos nela, desse modo, durante os primeiros anos. A observao da vida demonstra, na verdade, que os verdadeiros efeitos do que foi incutido como causa na alma infantil s se manifesta em ltimo lugar, ou seja, no fim da vida, O ser humano poder manter uma mente gil at o fim de sua vida se o educarmos, como criana, da forma recm-descrita: levando em conta sua vida anmica, ou seja, tudo o que reside vivamente em seu interior. Se houvermos trazido luz e desenvolvido tudo o que est disponvel nela em matria de foras interiores, veremos os frutos aparecer na velhice sob forma de uma rica vida anmica. Em compensao, o que fizermos de incorreto ao ser humano em sua primeira infncia se manifestar numa alma pobre e estril e, na mesma medida, tambm em enfermidades corpreas j que, conforme veremos mais tarde, uma alma estril atua tambm sobre o corpo. Vemos a uma relao entre causa e efeito que, de certa forma, se manifesta na vida humana regularmente, sendo vlida para qualquer pessoa. Assim, poderamos descobrir tais relaes tambm quanto aos perodos medianos da vida, aos quais ainda dedicaremos nossa ateno. Nossa maneira de tratar um jovem entre os sete e os catorze anos mostrar seus efeitos no penltimo perodo de sua vida. Vemos, pois, causa e efeito transcorrer ciclicamente, como num circuito. As causas que existiram
mais cedo surgem como os mais tardios efeitos. Mas no so apenas tais causas e efeitos que existem na vida humana individual; h tambm um processo linear, paralelo ao cclico. Em nosso exemplo, em que o 13 ano pode interferir no 23, vimos como causa e efeito se relacionam na vida humana de modo tal que o contedo vivenciado pelo homem dentro de si produz efeitos que retroagem sobre o mesmo ser humano. dessa forma que o carma se realiza numa vida humana individual. Todavia, no chegaremos a explicar a vida humana procurando relaes entre causa e efeito apenas dentro dessa vida individual. Nas prximas palestras veremos como essa idia pode ser fundamentada e desenvolvida. Nesta altura, quero apenas apontar algo j conhecido: o fato de a Cincia Espiritual mostrar como a vida humana entre o nascimento e a morte a repetio de vidas humanas anteriores. Ora, se procurarmos o aspecto caracterstico da vida entre o nascimento e a morte, poderemos consider-lo o fato de uma mesma conscincia ao menos em tese se estender por todo esse perodo. Relembrando as primeiras fases de nossa vida, constataremos que existe um momento inicial para nossas reminiscncias, o qual no coincide com o nascimento, sendo um pouco posterior a ele. Toda pessoa no-iniciada relatar isso, acrescentando que sua conscincia s remonta at esse momento. No fundo, algo muito particular o perodo entre o nascimento e a morte em relao ao incio das reminiscncias de vida; ainda voltaremos a esse aspecto, que nos haver de esclarecer coisas significativas. No levando, porm, isso em considerao, diremos que o aspecto caracterstico da vida entre o nascimento e a morte o fato de uma conscincia se estender por todo esse perodo. Embora na vida normal o homem no procure em perodos anteriores da vida as causas de um acontecimento que o atinge em idade mais avanada, ele poderia faz-lo se prestasse a necessria ateno e investigasse tudo. Ele seria capaz de faz-lo com a conscincia que tem sua disposio sob forma de conscincia recordativa; e caso procurasse, pela recordao, a relao entre o anterior e o posterior no sentido do carma, chegaria ao seguinte resultado, dizendo, por exemplo: Vejo que certos acontecimentos ocorridos comigo no teriam sobrevindo sem este ou aquele evento num momento anterior da vida. Talvez ele dissesse: Agora tenho de expiar o que minha educao provocou em mim. Mesmo que reconhea apenas a relao entre o pecado cometido no por ele, mas contra ele e acontecimentos posteriores, isso j poder servir-lhe de ajuda. Ele encontrar mais facilmente meios e caminhos para compensar prejuzos que lhe tenham sido causados. O reconhecimento de tal relao entre causa e efeito, em cada um dos perodos de nossa vida possveis de abrangermos com nossa conscincia comum, pode ser extremamente proveitoso para ns. Adquirindo esse conhecimento, talvez possamos fazer ainda outra coisa. Se um indivduo, tendo chegado aos oitenta anos, olhar retrospectivamente para o que deve ser procurado na primeira infncia como causas para acontecimentos no octogsimo ano de idade, talvez lhe seja bem difcil encontrar antdotos para compensar o que lhe haja sido feito; e mesmo que ele aprenda alguma coisa com isso, tal fato no lhe ser de muita ajuda. Todavia, se buscar tal informao mais cedo e detectar o que tiver sido feito de errado com ele e, digamos, j aos quarenta anos tomar providncias, talvez ainda tenha tempo para adotar certas contramedidas. Vemos, portanto, que cabe instruirmo-nos no apenas sobre os aspectos imediatos do carma, mas acima de tudo sobre o que este e significa como conjunto de leis interrelacionadas. Isso poder ser proveitoso para nossa vida. Porm, o que faz um homem que, aos quarenta anos, empreende algo para evitar prejuzos resultantes de certos erros que, por exemplo, hajam cometido contra ele ou ele prprio haja cometido aos doze anos?
Procurar compensar o que cometeu ou sofreu de errado, esforando-se em prevenir o efeito provvel. Procurar at substituir por outro, de certa forma, o efeito que necessariamente ocorreria sem sua interveno. O conhecimento do que se passou aos doze anos o conduzir, na idade de quarenta, a uma determinada atitude que no teria tomado caso desconhecesse este ou aquele fato ocorrido aos doze anos. O que, ento, o indivduo realizou mediante a retrospectiva de perodos passados de sua vida? Usando sua conscincia, ele prprio fez com que uma causa fosse seguida por determinado efeito. Desejou o efeito agora produzido por ele. Isso nos mostra como nossa vontade pode intervir na seqncia dos efeitos crmicos, criando algo em lugar dos que, de outra forma, teriam ocorrido. Suponhamos uma relao do tipo em que nossa conscincia estabelea, com segurana, uma ligao entre causa e efeito no decurso de uma vida, de modo a dizermos a ns mesmos: nessa pessoa o carma ou a lei da regularidade crmica entrou na conscincia, e ela prpria, de certo modo, induziu o efeito crmico. Suponhamos, agora, fundamentarmos semelhante considerao no que sabemos a respeito dos repetidos ciclos terrestres de uma pessoa. A conscincia recm-mencionada, que com a indicada exceo se estende por toda a nossa vida entre o nascimento e a morte, resulta do fato de o homem poder servir-se do instrumento de seu crebro. Quando o homem transpe o portal da morte, surge um outro tipo de conscincia independente do crebro e ligada a condies essencialmente diferentes. Como sabemos, nessa conscincia estendida at o novo nascimento surge uma espcie de viso retrospectiva de tudo o que o indivduo realizou entre o nascimento e a morte. Na vida entre o nascimento e a morte, o homem precisa configurar a inteno de olhar retrospectivamente para os erros que hajam sido cometidos contra ele, caso queira, de fato, conduzir carmicamente em sua vida o efeito desses erros. Depois da morte o homem olha retrospectivamente para sua vida, para o que cometeu como pecados ou outras aes, vendo, ao mesmo tempo, o que essas aes produziram em sua alma ou dela fizeram. V ento que, por ter realizado determinada ao, aumentou ou diminuiu seu prprio valor. Quando, por exemplo, causamos um mal qualquer a certa pessoa, nosso valor diminui; temos, por assim dizer, menos valor, tornamo-nos mais imperfeitos por havermos causado um mal a outrem. Em nossa retrospectiva aps a morte ns revemos numerosos casos desse tipo, motivo pelo qual temos de admitir que nos tornamos mais imperfeitos. Disso decorre o surgimento, em nossa conscincia post-mortem, da fora e da vontade de fazer todo o possvel para reconquistar aquele valor perdido, desde que a conscincia volte a ter oportunidade para tal ou seja, a vontade de compensar todo o mal causado. Portanto, entre a morte e o novo nascimento o homem assume a tendncia, a inteno de compensar todo o mal que cometeu, a fim de poder voltar a alcanar o nvel de perfeio que deve ter como homem e que ficou prejudicado pelo ato em questo. Quando o homem volta a entrar na existncia, sua conscincia torna-se outra; ele no relembra o perodo passado entre a morte e o novo nascimento nem tampouco como assumiu a inteno de compensar algo. Porm essa inteno se encontra estabelecida nele. Embora ele no saiba que deve agir deste ou daquele modo para compensar este ou aquele fato, a fora residente nele o impele a uma ao qualquer que constitui uma compensao. Nesta altura podemos fazer uma idia do que ocorre quando algo muito doloroso acontece, por exemplo, a um indivduo em seu vigsimo ano de idade. Com a conscincia que possui entre o nascimento e a morte, ele ficar arrasado pela dor; porm se recordasse as intenes assumidas na vida entre a morte e o novo nascimento, sentiria tambm a fora que o impeliu ao lugar onde teve a oportunidade de sofrer essa dor, pois teria sentido que s passando por ela poderia tornar a alcanar o grau de perfeio que negligenciara e precisava reconquistar. Portanto, mesmo que a conscincia comum nos
diga A dor existe e tu sofres por causa dela, s considerando a dor pelo efeito, para a conscincia que abrange o perodo entre a morte e o novo nascimento a procura da dor ou de uma infelicidade qualquer poderia residir precisamente na inteno. Isso nos fica efetivamente bvio ao considerarmos a vida humana de um ponto de vista mais elevado. Ento podemos ver que na vida humana surgem acontecimentos do destino apresentando-se no como efeitos de causas situadas no decorrer de uma s vida, e sim como sendo causados por uma outra conscincia: aquela situada do outro lado nascimento e que deu continuidade nossa vida em tempos anteriores nossa vinda ao mundo. Compreendendo corretamente tais pensamentos, diremos que a princpio possumos uma conscincia extensvel a todo o perodo entre o nascimento e a morte a qual chamaremos de conscincia da personalidade individual, sendo que designamos por personalidade individual o processo decorrente entre o nascimento e a morte. Veremos, em seguida, como pode atuar alm do nascimento e da morte uma conscincia que o homem desconhece em seu estado de conscincia comum, mas que pode ser to atuante como esta. Foi por isso que em primeiro lugar descrevemos como a prpria pessoa assume seu carma e aos quarenta anos, por exemplo, compensa algo para no ser atingida pelas conseqncias de seu 12 ano de idade. A ela assimila carma em sua conscincia de personalidade individual. Ao contrrio, quando uma pessoa impelida a ir a um lugar qualquer onde poder sofrer uma dor, a fim de compensar algo e tornar-se um indivduo melhor, isso tambm se origina nela s que no provm de sua conscincia de personalidade individual, mas de uma conscincia mais ampla, que abrange tambm o perodo entre a morte e o novo nascimento. Ao ser que, no homem, abrangido por esta conscincia mais ampla, chamaremos sua individualidade; e a essa conscincia constantemente interrompida pela conscincia da personalidade chamaremos conscincia individual, em oposio conscincia da personalidade individual. Vemos, pois, o carma ativo em relao individualidade do homem. Contudo, mesmo assim no compreenderamos a vida humana se focalizssemos apenas a seqncia dos fatos, tal como fizemos at aqui, considerando somente o que, em termos de causas, est contido no homem por fora dele prprio e procurado em efeitos. Basta considerarmos um caso simples, que ser apresentado de maneira a ficar mais eloqente, e logo veremos no ser possvel compreendermos a vida humana levando em conta apenas o que acaba de ser dito. Tomemos um inventor ou descobridor por exemplo, Cristvo Colombo ou o inventor da mquina a vapor, ou qualquer outro. A descoberta implica num determinado feito ou ato. Se encararmos esse ato tal como o homem o realizou, procurando a causa para ele o ter praticado, sempre haveremos de encontrar causas situadas dentro do critrio invocado at agora. O motivo pelo qual Colombo, por exemplo, foi Amrica, tendo em dado momento tomado tal deciso, reside em seu carma individual e pessoal. No entanto, podemos perguntar: ser que a causa dever ser procurada apenas no carma pessoal e individual? E acaso devemos considerar a ao como efeito vlido apenas para a individualidade que atuava em Colombo? O fato de ter descoberto a Amrica produziu certo efeito para ele. Por esse meio ele se elevou, tornou-se mais perfeito. Isso se manifestar no desenvolvimento de sua individualidade na vida seguinte. Contudo, que efeitos esse ato teve ainda para outras pessoas? No deveramos tambm consider-lo como causa, que interveio em inmeras existncias humanas? Porm essa ainda uma considerao bastante abstrata, em se tratando de um assunto que poderemos apreender muito mais profundamente se considerarmos a vida humana por grandes perodos de tempo. Suponha-se que observemos a vida humana tal como se desenrolou na poca egipto-caldaica, que precedeu a greco-latina. Se examinarmos esse perodo quanto ao que proporcionou aos homens e ao que estes ento
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experimentaram, algo muito peculiar se revelar. Comparando essa poca com a nossa prpria, constataremos que os acontecimentos atuais esto relacionados com o que se passou no perodo cultural egipto-caldaico. O perodo greco-latino situa-se entre ambos. Determinadas coisas no ocorreriam em nossa poca se certas outras no tivessem acontecido na cultura egipto-caldaica. Se a cincia moderna obteve este ou aquele resultado, sem dvida isso tambm decorre de foras desenvolvidas a partir da alma humana; mas as almas humanas que atuam em nossa poca tambm estavam encarnadas no perodo egipto-caldaico, tendo l assimilado certas vivncias sem as quais no poderiam realizar o que hoje realizam. Se os discpulos dos sacerdotes dos templos do antigo Egito no houvessem assimilado a astrologia egpcia, que versava sobre as relaes celestes, no poderiam ter penetrado mais tarde nos segredos do Universo; e certas almas de nossa poca no disporiam das foras que conduziram a humanidade atual aos espaos celestes. Como foi, por exemplo, que Kepler2 chegou s suas descobertas? Ele o conseguiu por ter vivido nele uma alma que, no perodo egipto-caldaico, assimilara as foras para as descobertas que faria no quinto perodo ps-atlntico. Causa-nos satisfao interior ver aflorar, em espritos individuais, uma espcie de reminiscncia do fato de os germes de suas realizaes atuais terem sido plantados no passado. Um desses espritos, Kepler, que deu passos importantes na pesquisa das leis celestes, diz de si prprio:
Sim, fui eu quem roubou os vasos de ouro dos egpcios, para com eles erguer ao meu Deus um santurio longe das fronteiras do Egito. Se me perdoardes, ficarei contente se estiverdes irados contra mim, suport-lo-ei; estou jogando o dado e escrevo este livro tanto para o leitor de hoje como para o do futuro que importa? E se ele tiver de esperar por seu leitor durante cem anos, pois bem: o prprio Deus esperou durante seis mil anos por aquele que contemplasse reconhecidamente sua obra.3
Eis uma recordao que esporadicamente aflorava em Kepler a respeito do que ele assimilara como germe para suas realizaes em sua existncia pessoal como Kepler. Poderamos citar centenas de exemplos semelhantes. Contudo, ainda vemos a algo alm do simples fato de aflorar em Kepler alguma coisa que efeito de vivncias de uma vida terrena anterior. Vemos aflorar algo que se manifesta, para toda a humanidade, como o efeito ordenado de alguma coisa que foi igualmente importante para ela numa poca anterior; vemos como o homem colocado em determinado lugar a fim de realizar algo para a humanidade inteira; vemos existir no s na vida humana individual, mas em toda a humanidade, relaes de causa e efeito que se estendem por longos perodos. Disso podemos inferir que as leis do carma individual se cruzam com as leis que podemos chamar de leis crmcas da humanidade. s vezes esse cruzamento , em verdade, pouco transparente. Imaginem o que teria sido de nossa astronomia se em dado momento no houvesse sido inventado o telescpio. Basta acompanhar a evoluo da astronomia para ver que muitssimo se deve inveno do telescpio. Ora, sabido que o telescpio foi inventado quando algumas crianas, ao brincar numa oficina tica com lentes, juntaram algumas delas por acaso, de tal maneira que algum imaginou poder resultar disso algo como um telescpio. 4 Imaginem em que profundezas se deve procurar para chegar ao carma individual das crianas e ao carma da humanidade, visto que num momento preciso se deu a descoberta
2 Johannes Kepler (15711819), matemtico, fsico e astrnomo. Com base no sistema planetrio copernicano
e observaes de seu professor Tycho de Brahe, estabeleceu as trs leis planetrias com as quais definiu sua teoria heliocntrica. Vide tambm observaes sobre Kepler em R. Steiner, A direo espiritual do homem e da humanidade, trad. Lavnia Viotti (2. ed. So Paulo: Antroposfica, 1991). (N.E.) 3 Johannes Kepler, Harmonices mundi (vol. 5, prefcio). (Cf. N.E. orig.) 4 Fato ocorrido por volta de 1608 na Holanda. (N.E. orig.)
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do telescpio! Procurem combinar essas idias, e vero como notvel a maneira como o carma de individualidades isoladas e o da humanidade inteira se cruzam e se entretecem! Ento os Senhores diro que seria preciso cogitar diferentemente todo o desenvolvimento da humanidade caso este ou aquele fato no houvesse ocorrido em determinado momento. Em geral, totalmente v a seguinte pergunta: o que teria sido do Imprio Romano se, num momento preciso, os gregos no houvessem rechaado o ataque dos persas nas guerras prsicas? No , porm, v a seguinte pergunta: como aconteceu de as guerras prsicas terem seguido o curso que tiveram? Quem perseguir essa pergunta procura de uma resposta verificar que, no Oriente, conquistas bem determinadas s se realizaram graas existncia de senhores despticos unicamente interessados em fazer algo em seu prprio benefcio, tendo, para esse fim, se aliado aos sacerdotes e assim por diante. Todas as instituies estatais daquela poca eram necessrias para que algo pudesse ser realizado no Oriente, mas essas instituies tambm acarretaram o surgimento de todos os males ocorridos a seguir. Relaciona-se com isso o fato de um povo diferente os gregos terem podido rechaar, no momento oportuno, a agresso oriental. Refletindo a respeito, perguntamo-nos: como era o carma das personalidades que atuaram na Grcia para rechaar o ataque persa? A encontraremos algo de pessoal no carma dos indivduos em questo; mas verificaremos tambm que o carma pessoal est ligado ao carma do povo e da humanidade, sendo portanto justificado afirmar que o carma de toda a humanidade colocou essas determinadas personalidades naquele tempo e naquele lugar! Vemos a o carma da humanidade interferir no carma individual. E teremos de perguntar-nos mais: como essas coisas se combinam? Podemos, contudo, prosseguir com nossas investigaes e considerar uma outra relao. Podemos remontar, no sentido da Cincia Espiritual, a uma poca da nossa evoluo terrestre em que ainda no existia, na Terra, o reino mineral. A evoluo da Terra foi precedida pelas evolues de Saturno, do Sol e da Lua, nas quais ainda no havia um reino mineral em nosso sentido. Os minerais existentes sob suas formas atuais s apareceram na Terra. Por ter sido segregado no decorrer da evoluo terrestre, o reino mineral existe como reino peculiar para todo o futuro. Antes disso, os homens, animais e plantas se haviam desenvolvido sem a existncia de um reino mineral subjacente a eles. Para que pudessem alcanar um progresso posterior, os demais reinos tinham de segregar o reino mineral; mas depois de hav-lo segregado, eles s podiam ter um desenvolvimento compatvel com um planeta possuidor de um slido fundamento mineral. E nunca surgir algo diferente do que ocorreu sob a premissa da formao de um reino mineral. O reino mineral existe, e todos os destinos posteriores dos demais remos dependem da formao do reino mineral, que teve lugar em dado momento da existncia terrestre em passado muito remoto. Assim, com a formao do reino mineral ocorreu algo com que toda a evoluo futura da Terra ter de contar. O que decorrer da formao do reino mineral haver de cumprir-se em todos os outros setores. Mais uma vez nos deparamos com o cumprimento crmico, em pocas posteriores, de algo ocorrido no passado. Cumpre-se na Terra o que na Terra se preparou. Existe uma relao entre o que aconteceu anteriormente e o que aconteceu posteriormente, porm uma relao que, pelo efeito, retroage sobre a entidade causadora. Os homens, os animais e as plantas segregaram o reino mineral, e este retroage sobre todos eles. Vemos, pois, que possvel falar de um carma da Terra. E finalmente podemos salientar algo cujos fundamentos so expostos nas consideraes de meu livro A cincia oculta. 5
Ed. brasileira em trad. de Rudolf Lanz e Jacira Cardoso (4. ed. So Paulo: Antroposfica, 1998.), cap. A evoluo do Universo e o homem. (N.E.)
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Sabemos que certos seres remanesceram no nvel da antiga evoluo lunar, tendo assim permanecido a fim de ensinar ao homem da Terra qualidades bem definidas. E no apenas seres remanesceram na antiga poca lunar da Terra, mas tambm substancialidades. No nvel da Lua permaneceram seres que atuam em nossa existncia terrena como seres lucifricos. Por motivo desse atraso e da atuao em nossa existncia terrestre, ocorrem nessa mesma existncia efeitos cujas causas j foram estabelecidas na existncia lunar. Porm algo se consuma tambm substancialmente. Ao considerarmos hoje nosso sistema solar, vemos que ele composto por corpos celestes cujos movimentos demostram certa coerncia interior. No entanto encontramos outros corpos celestes que, por assim dizer, rompem com as leis normais do sistema solar, embora tambm se movimentem com certo ritmo: so os cometas. Ora, a substncia de um cometa no do tipo que segue leis como as existentes em nosso habitual e regular sistema solar, e sim leis como as que existiram no perodo da antiga Lua. De fato, na existncia dos cometas se manteve o conjunto de leis da antiga existncia lunar. J mencionei vrias vezes que esse conjunto de leis foi apontado pela Cincia Espiritual antes que houvesse surgido uma confirmao da Cincia Natural. Em 1906, em Paris, chamei a ateno para o fato de que durante a existncia da antiga Lua certas combinaes de carbono e nitrognio desempenhavam uma funo semelhante das atuais combinaes de oxignio e carbono na Terra cido carbnico, dixido de carbono, etc. Estas ltimas combinaes contm algo de mortfero. Funo semelhante foi desempenhada por combinaes do cido ciandrico, combinaes do tipo cido prssico, durante a antiga existncia lunar. Esse fato foi apontado pela Cincia Espiritual em 1906. Tambm em outras palestras me referi ao fato de a existncia cometria trazer as leis da antiga existncia lunar para o nosso sistema solar; portanto, no s os seres lucifrios ficaram para trs, mas tambm o conjunto de leis que rege a antiga substncia lunar e que atua irregularmente em nosso sistema solar. Alm disso, sempre foi dito que a existncia cometria deve implicar, ainda hoje, em algo como combinaes de cido ciandrco na atmosfera dos cometas. Somente muito depois de essa informao ter sido anunciada pela Cincia Espiritual, somente no presente ano [1910] que foi encontrado o espectro do cido ciandrico na existncia cometria, por meio da anlise espectral. Aqui os Senhores tm uma das provas para o caso de lhes dizerem: Mostre-nos como se pode realmente descobrir algo por meio da Cincia Espiritual! Existem mais coisas como esta; basta observ-las. Vemos, pois, que algo da nossa antiga existncia lunar atua em nossa atual existncia terrestre. A esta altura perguntamo-nos: acaso se pode afirmar que exista algo espiritual subjacente aos fenmenos sensoriais exteriores? Para quem reconhece a Cincia Espiritual, bvio que por detrs de todas as realidades sensoriais existe tambm o espiritual. Quando algo substancial da antiga existncia lunar atua em nossa existncia terrestre, quando o cometa ilumina nossa existncia terrestre, h tambm algo espiritual agindo por detrs. Poderamos at indicar que tipo de espiritualidade se manifesta, por exemplo, atravs do cometa Halley. 6A cada vez que penetra na esfera de nossa existncia terrestre, o cometa Halley a expresso exterior de um novo impulso em direo ao materialismo. Isto poderia parecer supersticioso ao mundo de hoje; mas ento bastaria os homens se conscientizarem de como eles mesmos deduzem efeitos espirituais de constelaes estelares. Ou, ento, quem no concordaria em afirmar que o esquim um homem de tipo diferente do hindu,
Designao em homenagem ao astrnomo ingls Edmund Halley (16561742), que constatou sua periodicidade em 1682 e previu, com acerto, sua reapariao em 1759. (Cf. N.E. orig.)
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por exemplo, porque os raios solares incidem de ngulos diferentes nas regies da Terra? Em todo lugar, tambm os cientistas atribuem a constelaes estelares efeitos espirituais na humanidade. Um impulso espiritual em direo ao materialismo acompanha, pois, o cometa Halley. Esse impulso pode ser demonstrado: a apario do cometa Halley em 1835 foi seguida daquela corrente materialista que se pode qualificar como o materialismo da segunda metade do sculo XIX; a apario anterior fora seguida do luminismo materialista dos enciclopedistas franceses. Eis a relao. Para que determinadas coisas surgissem na existncia terrestre, as causas tiveram de ser estabelecidas antes, fora da existncia da Terra. E aqui se trata at mesmo de um carma universal. Ora, por que na antiga Lua houve uma segregao de elementos espirituais e substncias? Para que determinados efeitos pudessem refletir-se nos seres que produziram essa segregao. Os seres lucifricos foram excludos e tiveram de passar por uma evoluo diferente, a fim de poder surgir, para os entes situados na Terra, o livrearbtrio e a possibilidade de optar pelo mal. Temos a algo que, em efeitos crmicos, ultrapassa nossa existncia terrestre: um panorama do carma universal. Hoje tivemos oportunidade de falar sobre o conceito de carma, sobre seu significado para a personalidade individual, para o indivduo e para a humanidade inteira, no mbito dos efeitos para a Terra e para alm dela, e ainda encontramos algo que podemos denominar carma universal. Descobrimos a lei do carma, qual nos podemos referir como uma lei da relao entre causa e efeito, mas de maneira tal que o efeito retroage sobre a causa e, ao retroagir, ainda mantm a essncia, permanecendo o mesmo. Encontramos esse conjunto de leis crmicas por toda parte no mundo, na medida em que consideremos o mundo como algo espiritual. Pressentimos que o carma se manifestar das mais diversas maneiras nas mais diferentes reas. E pressentimos como as diferentes correntes crmicas carma pessoal, carma da humanidade, carma da Terra, carma do Universo e assim por diante se cruzaro e, precisamente por isso, nos proporcionaro as concluses de que necessitamos para compreender a vida; e a vida s poder ser entendida em seus pontos isolados se soubermos encontrar a atuao conjunta das mais diferentes correntes crmicas.
17 de maio de 1910
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A relao, na Terra, dos homens com o mundo animal diferente conforme a poca e tambm conforme os diferentes povos. E certamente no deixa de ser interessante ver como, nos povos que conservaram o que havia de melhor na remota sabedoria sagrada da humanidade, tomou lugar uma maneira de tratar os animais plena de compaixo e de carinho. No mbito do mundo budista, por exemplo, que conservou partes relevantes de antigas cosmovises tais quais os homens as possuam em pocas vetustas, encontramos uma atitude profunda e plena de compaixo para com os animais um modo de trat-los, bem como sentimentos perante o mundo animal, que muita gente na Europa ainda incapaz de entender. Mas tambm em outros povos basta lembrarmos o rabe, na maneira como trata seu cavalo , mormente quando conservam algo das antigas concepes, surgidas aqui e acol como antigas heranas, encontramos uma espcie de amizade pelos animais, algo como um tratamento humano deles. Em compensao, pode-se certamente dizer que naquelas regies onde se prepara uma espcie de cosmovso do futuro, nas regies ocidentais, instalou-se pouca compreenso relativa a essa compaixo pelo mundo animal. E caracterstico o fato de, no decorrer da Idade Mdia e tambm em nosso tempo, justamente em pases onde a cosmoviso crist se expandiu, poder ter surgido a concepo de que os animais no devem, de modo algum, ser considerados seres com uma vida anmica prpria, e sim uma espcie de autmatos. E talvez no seja injustificado termos chamado a ateno embora nem sempre contando com grande compreenso para o fato de tais concepes, freqentemente representadas pela filosofia ocidental em que os animais seriam autmatos desprovidos de vida anmica prpria, terem-se infiltrado nas camadas populares isentas de qualquer compaixo e freqentemente desconhecedoras dos limites ao tratamento cruel dispensado aos animais. A coisa chegou a ponto de Descartes, um grande filsofo moderno, ter sido totalmente mal-interpretado em seus pensamentos sobre o reino animal. 7 Devemos, naturalmente, estar cnscios de que os espritos realmente significativos do desenvolvimento cultural do Ocidente nunca representaram a opinio segundo a qual os animais so apenas autmatos. Descartes tampouco a representou, embora se possa ler em muitos livros de filosofia que ele teria opinado desse modo. No verdade; quem conhece Descartes sabe que ele, com efeito, no atribui aos animais uma alma capaz de desenvolver-se para, a partir da conscincia prpria do eu, chegar a uma prova da existncia de Deus; no obstante, ele afirma que o animal permeado, animado pelos assim chamados espritos vitais, que entretanto no constituem uma individualidade to unitria como o eu do homem, mas mesmos assim atuam na natureza animal como alma. E o aspecto caracterstico justamente ter-se podido interpretar erroneamente Descartes a esse respeito, pois isso nos mostra que nos sculos passados do nosso desenvolvimento ocidental existia a tendncia a atribuir aos animais algo meramente automtico; e essa tendncia foi identificada at mesmo onde no poderia t-lo sido caso se houvesse estudado a obra conscienciosa-mente, ou seja, em Descartes. O desenvolvimento da cultura ocidental tem como particularidade o fato de ter precisado realizar-se a partir de elementos do materialismo. Pode-se at mesmo dizer que a ascenso do cristianismo se consumou tendo esse significativo impulso da evoluo da humanidade sido primeiramente transplantado para uma mentalidade materialista ocidental. O materialismo dos tempos modernos apenas uma conseqncia do fato de tambm o credo religioso mais espiritualizado, o cristianismo, ter podido encontrar primeiro no Ocidente uma concepo materialista. Talvez se pudesse dizer que destino humano dos povos ocidentais o fato de eles terem de superar-se pelo trabalho a partir de bases materialistas e, precisamente
Rene Descartes, Discours de la mthode (5 parte), Trait de lhomme e Primae cogitationes circa generationen animalium. (Cf. N.E. orig.)
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pela superao das idias e tendncias materialistas, terem de desenvolver vigorosas foras para atingir um espiritualismo mais elevado. Uma vez que esse veio a ser o destino, o carma dos povos ocidentais, nasceu neles tambm essa tendncia a considerar os animais como meros autmatos. Quem no conseguir discernir bem a atuao da vida espiritual, atendo-se apenas ao mundo sensorial circundante, poder facilmente chegar, pelas impresses desse mundo sensorial, a uma concepo do mundo animal que coloca o animal num nvel o mais baixo possvel. Ao contrrio, as cosmovises que ainda conservaram elementos das antigas cosmovises espirituais da remota sabedoria da humanidade preservaram uma espcie de conhecimento do que tambm espiritual no mundo dos animais. E, apesar de todos os mal-entendidos, apesar de tudo o que se infiltrou nessas cosmovises maculando sua pureza, elas no esqueceram que atividades espirituais, leis espirituais esto em vigor na vida e nas configuraes dos animais. Se, de um lado, justamente na falta de cosmovises espritualistas temos de defrontar-nos com uma incompreenso para com o elemento anmico nos animais, de outro no devemos enganar-nos: seria igualmente produto de uma cosmoviso puramente materialista querer aplicar ao mundo animal, sem mais nem menos, a idia de carma tal como esta nos serve para compreender o destino e o carma humanos. Isso ns no podemos fazer. J foi dito ontem que o conceito de carma precisa ser captado bem nitidamente. E incorreramos em erro se procurssemos tambm no mundo animal a idia, j formulada por ns, de que o efeito retroage sobre o ser do qual partiu a causa. Ora, s poderemos compreender as leis do carma em sentido mais amplo se transcendermos a vida humana individual entre o nascimento e a morte, seguindo o homem atravs da seqncia de suas reencarnaes e descobrindo que aquela retroao de uma causa introduzida numa vida s pode ocorrer numa vida subseqente; de modo que as leis do carma passam de uma vida a outra, e os efeitos de causas no precisam ocorrer como de fato no ocorrem na mesma vida compreendida entre o nascimento e a morte, desde que consideremos o carma em sentido mais amplo. Ora, pelas consideraes exteriores da Cincia Espiritual j sabemos que, em relao aos animais, no se pode falar de uma reencarnao igual do homem. De modo algum encontramos no mundo animal algo igual ou mesmo semelhante quela individualidade humana que se conserva quando o homem atravessa o portal da morte e passa, no mundo espiritual, por uma existncia peculiar durante o perodo entre a morte e o novo nascimento, voltando existncia por meio deste. No podemos falar na morte do animal da mesma maneira como concebemos a morte do homem pois tudo o que descrevemos como sendo os destinos da individualidade humana aps a passagem do homem pelo portal da morte no se comporta da mesma maneira no mundo animal. Estaramos redondamente enganados se acreditssemos poder procurar num indivduo animal a essncia reencarnada de um animal que j houvesse existido anteriormente na Terra, tal como devemos fazer no caso do homem. Hoje em dia, quando tudo o que o mundo apresenta considerado apenas pelo lado exterior, sem que se penetre o interior, os grande contrastes, as diferenas mais importantes entre homem e animal no podem saltar aos olhos. Exteriormente considerado do ponto de vista puramente materialista , o fenmeno da morte apresentase de maneira idntica no homem e no animal. Observando-se a vida de um animal, podemos facilmente acreditar ser possvel equiparar certos fenmenos dessa sua vida individual a determinados fenmenos da vida pessoal do homem entre o nascimento e a morte mas esse seria um engano crasso. Por isso convm primeiro ilustrar, com alguns exemplos, as diferenas decisivas entre o animal e o homem. Essa diferena entre o animal e o homem, s pode discerni-la completa e claramente quem observa de modo isento no apenas os fatos visveis sua viso sensorial exterior,
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mas tambm os que se revelam ao seu pensamento combinatrio. A ele se depara com um fenmeno que tambm os cientistas salientam sem, todavia, saber explic-lo corretamente: o fenmeno de o homem ter de aprender as atividades mais elementares. No decorrer de sua histria ele teve de aprender o uso dos instrumentos mais primitivos, e ainda hoje nossas crianas precisam aprender as coisas mais simples, para o qu precisam empregar um certo tempo. necessrio esforo para ensinar algo ao ser humano, como simples habilidades, fabricao de ferramentas e instrumentos, etc. Contrariamente, olhando para os animais, temos de concordar que eles esto muito melhor nesse sentido. Imaginemos como o castor executa sua construo complicada e engenhosa: ele no precisa aprend-lo ele o sabe, na medida em que traz essa capacidade como lei intrnseca, tal como ns, homens, trazemos conosco a possibilidade, a habilidade de trocar os dentes por volta dos sete anos de idade. Ningum de ns precisa aprend-la. E assim que os animais trazem consigo uma aptido como a do castor para construir sua casa. E se passarmos em revista o reino animal, veremos que os animais trazem consigo habilidades bem determinadas, por cujo intermdio podem realizar algo que supera, eemm uito, a habilidade que o homem, no obstante seu orgulho, alcanou. Ora, pode surgir a seguinte pergunta: por que o homem, ao nascer, menos apto do que, por exemplo, uma galinha ou um castor? Por que deve aprender penosamente o que esses seres j trazem em si? Eis aqui uma grande pergunta. E o fato de essa ser uma grande pergunta deve ser aprendido antes de mais nada; pois, naquilo que o indivduo deve ganhar para sua cosmoviso, importa muito menos apontarmos fatos significativos do que sabermos formular perguntas importantes. Fatos podem ser corretos, mas nem sempre precisam ser valiosos para nossa cosmoviso. Embora desejemos abordar ainda hoje as causas desses fenmenos sob o enfoque da Cincia Espiritual, iramos muito longe se quisssemos expor suas razes em todos os detalhes; no entanto, podemos indic-las inicialmente em poucas palavras. Retrocedendo, do ponto de vista da Cincia Espiritual, evoluo humana at um passado bem remoto, descobriremos que os elementos e foras disponveis para o castor ou outros animais, a fim de eles trazerem em si tais aptides ao mundo, tambm estavam disponveis para o homem. No que num passado remoto o homem tivesse simplesmente assimilado em sua constituio a inabilidade, deixando ao animal a aptido primitiva. Ele assimilou tambm essa aptido e, no fundo, em escala bem maior do que os animais pois embora os animais tragam em si determinadas e grandes habilidades ao mundo, estas so, de fato, unilaterais na vida. No fundo o homem no sabe absolutamente coisa alguma ao iniciar a vida, tendo primeiramente de aprender tudo o que diz respeito ao mundo exterior. (Exprimo isso em termos um tanto radicais, mas viremos a entender-nos.) Quando, porm, o homem aprende, logo se evidencia que seu desenvolvimento poder ser mais rico e variado, quanto a certas habilidades, etc., do que o caso do animal. Portanto, originalmente o homem trazia em si uma riqueza de disposies que, no entanto, no possui mais hoje em dia. Evidencia-se ento a particularidade de originalmente o homem e o animal terem sido dotados das mesmas disposies. E se remontssemos ao Antigo Saturno, descobriramos que ainda no havia ocorrido uma diferenciao entre o desenvolvimento do homem e o do animal. Ambos tinham aptides totalmente iguais. O que ocorreu ento, nesse nterim, para que o animal trouxesse sua existncia todas as habilidades possveis, enquanto o homem se tornou um companheiro de existncia terrena to incapaz? Como se comportou verdadeiramente o homem, nesse meio tempo, para repentinamente no mais possuir tudo de que era dotado? Ser que insensatamente dissipou, no decorrer da evoluo, o que os animais, como usurios mais parcimonosos, preservaram? Tal pergunta pode ser lanada a partir da constatao dos
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fatos reais. No, o homem no esbanjou as disposies de que o animal desfruta hoje como habilidade exterior; ele tambm as utilizou, mas para algo diferente do que fizeram os animais. Os animais exprimem-nas em habilidades exteriores: o castor e a vespa constroem suas moradas. As mesmas foras que os animais assim exteriorizam, o homem as interiorizou e usou em si mesmo. Com elas ele realizou o que chamamos de sua natureza humana supenor. Para que o homem viesse a ter hoje seu andar ereto, um crebro mais perfeito e sobretudo um mais perfeito substrato interior, havia necessidade de certas foras e trata-se das mesmas que o castor usa para erguer sua construo. Se o castor constri sua casa, o homem empregou as foras em si prprio, em seu crebro, em seu sistema nervoso, etc. Por isso ele nada guardou para, da mesma forma, atuar exteriormente. Portanto, o fato de hoje andarmos com uma natureza mais perfeita em meio aos animais decorre de havermos empregado em nossa estrutura interior, no decurso da evoluo, o que o castor emprega exteriormente. Temos interiormente nossa casa de castor, no mais podendo, por isso, dirigir essas foras igualmente para fora. Atendo-nos, pois, a uma cosmoviso homognea, veremos de onde provm as diversas disposies existentes nos seres e como elas se nos apresentam hoje. Tendo o homem utilizado essas foras sua maneira,em sua evoluo terrestre se lhe tornou necessria uma natureza muito especial, que j conhecemos em parte. Por que motivo foi preciso empregar, no interior da natureza humana, as foras de que acabamos de falar e que se manifestam, nas diferentes espcies e ordens do reino animal, em atividades exteriores? Porque somente tendo conseguido estruturar sua natureza interior que o homem pde tornar-se o portador do que hoje constitui o eu e caminha de encarnao em encarnao. Uma outra natureza no poderia tornar-se tal suporte do eu; pois o fato de uma individualidade dotada de um eu poder ou no atuar na existncia terrestre depende inteiramente do envoltrio exterior. Ela no poderia faz-lo caso a estrutura exterior no fosse adequada individualidade do eu. Portanto, tudo convergiu para adequar a estrutura exterior a essa individualidade do eu. Para tal, uma natureza especial tinha de ser criada; j a conhecemos em seu aspecto essencial. Sabemos que nossa evoluo terrestre foi precedida pela evoluo lunar, esta pela evoluo solar e esta ltima por uma evoluo saturnina. Quando a evoluo da Antiga Lua chegou ao seu fim, o homem se encontrava, em sua existncia exterior, num nvel que poderamos chamar de humanidade animal. Mas quela altura tal natureza humana exterior ainda no se achava suficientemente desenvolvida para tornar-se portadora de uma individualidade caracterizada por um eu. Somente o desenvolvimento terrestre do homem teve a tarefa de incorporar o eu a essa natureza. Entretanto, tal s podia acontecer mediante uma configurao muito particular dos acontecimentos de nossa evoluo terrestre. Terminada a evoluo da Antiga Lua, tudo se dissolveu, por assim dizer, num caos. Deste voltou a surgir, aps um correspondente perodo de crepsculo csmico, o novo cosmo de nossa evoluo terrestre. Nesse cosmo da evoluo terrestre achava-se ento contido tudo o que hoje est ligado a ns e Terra como nosso sistema solar. A partir desse contexto, dessa unidade csmica, que ento se desprenderam todos os outros corpos celestes de nossa Terra propriamente dita. No precisamos detalhar aqui a maneira como os outros planetas Jpiter, Marte, etc. se separaram. Cumpre apenas realar que nossa Terra e nosso Sol se separaram em determinado momento do ciclo terrestre. J tendo o Sol se separado, atuando de fora sobre a Terra, esta ainda se encontrava unida atual Lua, de modo que as substncias e foras espirituais atualmente inerentes Lua ainda permaneciam ligadas nossa Terra naquela poca.
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Vrias vezes se questionou o que teria acontecido caso o Sol no se tivesse separado da Terra e passado atual situao de atuar de fora sobre ela. Uma vez que nicialmente a Terra e o Sol ainda se achavam ligados, todo o sistema csmico e tambm os precursores da natureza humana estavam unificados sob condies totalmente diferentes. Seria absurdo argumentar, com base nas condies atuais: Que tolice dos antropsofos; todos os seres constitudos se teriam incendiado! Ora, esses seres eram de tal natureza que podiam subsistir nas condies de ento, naquela unidade csmica to diferente. Caso o Sol tivesse permanecido em ligao com a Terra, energias diferentes, muito mais violentas, teriam permanecido ligadas a ela, e em conseqncia todo o desenvolvimento da Terra teria progredido rpida e impetuosamente, a ponto de no ser possvel natureza humana evoluir como deveria. Da a necessidade de a Terra dispor de um ritmo mais lento e de foras mais densas. Isso s se viabilizou pelo fato de as foras tempestuosas e veementes terem-se retirado dela. Assim, as foras do Sol passaram a exercer uma influncia atenuada, principalmente por atuarem agora do exterior e distncia. Isso, porm, trouxe outra conseqncia. A Terra se encontrava num estado em que os homens tampouco podiam evoluir corretamente. As condies passaram a ser muito densas, endurecedoras, ressecadoras para toda e qualquer vida; o homem teria sido, mais uma vez, impossibilitado de chegar ao seu desenvolvimento caso essa situao houvesse permanecido. O alvio se deu por meio de um arranjo especial: algum tempo aps a sada do Sol, a Lua atual tambm abandonou a Terra, levando consigo as foras retardantes que aos poucos teriam conduzido a vida morte. Desse modo a Terra ficou entre o Sol e a Lua, escolhendo a velocidade apropriada para que a natureza humana realmente pudesse acolher um eu como portador da individualidade que passa de encarnao em encarnao. Tal como hoje, a natureza humana no poderia ter sido plasmada, a partir do Cosmo, por qualquer outra circunstncia a no ser pela ocorrncia das separaes, primeiro do Sol e a seguir da Lua. Algum poderia alegar: Fosse eu o Criador, teria procedido de maneira diferente; teria logo produzido uma mescla tal que a natureza humana pudesse progredir da maneira apropriada. Por que a necessidade, primeiro, da separao do Sol e, depois, de uma nova sada da Lua? Quem pensa assim raciocina de maneira excessivamente abstrata. No lhe vem mente que para se produzir, na ordem do Universo, uma diversidade interior como a natureza humana, necessria uma disposio especial para cada parte isolada, no se podendo transformar em realidade o que a mente humana excogita em suas divagaes. Tudo pode ser pensado abstratamente; mas na autntica Cincia Espiritual preciso aprender a pensar concretamente, reconhecendo que a natureza humana no algo to simples. Ela consiste num corpo fsico, num corpo etrico e num corpo astral. Esses trs membros precisavam primeiramente ser levados a um determinado equilbrio, em que cada uma das partes estivesse em correta inter-relao com as demais. Tal s podia ocorrer por meio do seguinte processo trplice: primeiramente, a formao do Cosmo unificado, de toda a unidade csmica compreendendo juntamente a Terra, o Sol e a Lua. Em seguida, devia-se consumar algo capaz de exercer um efeito retardante sobre o corpo etrico humano, que do contrrio teria consumido toda a evoluo de maneira tempestuosa e isso se realizou com a separao do Sol. E finalmente a Lua precisava ser afastada, pois do contrrio o corpo astral teria levado a natureza humana a um perecimento. Esses trs acontecimentos precisaram advir pelo fato de o homem possuir, em sua natureza, trs componentes. Vemos, pois, que o homem deve sua existncia e suas qualidades atuais a uma complexa disposio do Cosmo. Mas sabemos tambm que o desenvolvimento de todos os
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remos da natureza no podem, de modo algum, acompanhar o desenvolvimento geral a passo idntico. Sabemos, pelas consideraes gerais dos ltimos anos, que em cada uma das encarnaes planetrias da Terra sempre houve determinados entes atrasados em relao evoluo geral; quando a evoluo avanava, eles viviam em estados que no correspondiam plenamente evoluo. Mas sabemos tambm que, no fundo, todo desenvolvimento s pde ser desencadeado, de fato, por meio de tais atrasos. Sabemos que certos seres ficaram para trs durante o desenvolvimento da antiga Lua; eram os seres lucifricos, culpados de muitos males, porm aos quais tambm devemos o que preliminarmente nos possibilita ser homens, ou se o ensejo da liberdade, do livre desabrochar de nossa entidade interior. Podemos dizer que, sob certo aspecto, o atraso dos seres lucifricos foi um sacrifcio. Eles se atrasaram a fim de poder exercer, durante a existncia terrestre, atividades muito peculiares, conferindo ao homem os atributos condizentes com a dignidade humana e com a autodeterminao. Devemos acostumar-nos a usar conceitos bem diferentes dos usuais; pois os conceitos comuns possivelmente nos levariam a estatuir que os espritos lucifricos teriam convenientemente ficado retidos, e no lhes perdoaramos sua negligncia. Porm no se tratou de uma negligncia dos seres lucifricos. Em certo sentido seu retardamento foi um sacrifcio, a fim de que, por meio da experincia assim adquirida, eles pudessem atuar sobre nossa humanidade terrestre. A partir da abordagem de ontem, j sabemos que no apenas seres, mas tambm substncias ficaram para trs e conservaram leis que haviam sido corretas em condies planetrias anteriores, levando-as para o contexto do desenvolvimento posterior. Assim, fases evolutivas antigas cruzam-se com fases evolutivas recentes, misturando-se. Em verdade, isso o que torna possvel a diversificao da vida. Assim se nos apresentam os graus mais diversos na evoluo dos seres. No teria sido possvel a formao de um reino animal ao lado do reino humano se, aps o perodo de Saturno, certos seres no se houvessem atrasado, a fim de formar um segundo reino e constituir-se nos primeiros precursores do nosso reino animal atual enquanto os homens j se haviam desenvolvido, no Sol, para um nvel superior. Esse atraso absolutamente necessrio como base para formaes posteriores. Ora, no caso de se questionar por que entidades e substncias tm de atrasar-se, eu gostaria de responder por meio de uma analogia. A evoluo do homem devia prosseguir de um grau a outro, o que s seria possvel vindo o homem a aperfeioar-se cada vez mais. Ele no teria progredido caso continuasse atuando com as mesmas foras com que atuava na fase de Saturno teria ficado estagnado. Ele tinha, portanto, de aperfeioar suas foras. Suponhamos agora, a ttulo de analogia, um copo cheio dgua em que uma substncia qualquer seja dissolvida. De cima abaixo, o contedo do copo homogneo quanto colorao, densidade, etc. Suponhamos agora que as partculas mais grossas se sedimentem; nesse caso, a gua mais lmpida e as partculas mais finas ficam em cima. Portanto, a gua s pde ficar mais refinada segregando as substncias mais grossas. Algo assim era tambm necessrio suceder aps transcorrida a evoluo de Saturno; era preciso formar-se uma tal sedimentao toda a humanidade tinha de segregar algo, conservando apenas as partes mais finas. O que foi segregado veio a constituir os animais; por meio da segregao, os outros seres puderam aperfeioar-se a fim de alcanar um nvel acima. E em cada um desses nveis era mister segregar entidades, para que o homem pudesse elevar-se sempre mais. Temos, portanto, uma humanidade que s se tornou possivel pelo fato de o homem se haver livrado daquelas entidades que nos rodeiam e vivem nos reinos inferiores. Tivemos essas entidades com todas as suas foras dentro da corrente evolutiva, estando integradas
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nela tal qual as partculas mais densas na gua. Deixamo-las submergir ao fundo e, assim, elevamo-nos acima delas. Isso facultou nosso desenvolvimento. Baixando, portanto, nosso olhar aos trs remos da natureza em redor, constatamos em tudo algo que teve de constituir-se em nossa base para possibilitar nosso desenvolvimento. Essas entidades desceram ao fundo para que pudssemos subir. essa a maneira correta de olharmos para os reinos inferiores da natureza. Ao observarmos agora a evoluo terrestre, esse processo se nos poder apresentar ainda mais claramente em seus detalhes. Devemos ter em mente que todos os fatos contidos em nossa evoluo terrestre possuem determinadas condies e relaes. Como vimos, o fato de o Sol e a Lua se separarem da Terra ocorreu, em verdade, a fim de permitir organizao humana atingir, durante a evoluo da Terra, o nvel em que pudesse tornar-se uma individualidade; tal era necessrio para submeter a organizao humana como que a um processo de catarse. Mas, uma vez que tais separaes no Universo ocorreram por causa do homem, essa profunda alterao em todo o nosso sistema solar exerceu tambm uma influncia sobre os trs outros reinos da natureza mormente sobre o reino animal, que nos est mais prximo. E se quisermos entender essa influncia exercida sobre o reino animal, decorrente dos processos de separao do Sol e da Lua, obteremos a seguinte explicao a partir da pesquisa espiritual: O homem se encontrava em determinado grau de seu desenvolvimento quando o Sol se separou. Se tivesse de conservar-se no nvel que possura durante a ligao da Lua com a Terra, no teria atingido sua natureza atual; teria como que murchado e ressecado. Era primeiramente necessrio que as foras lunares se retirassem. A natureza humana s se tornou possvel graas circunstncia de o homem ter conservado, durante a ligao da Lua com a Terra, uma estrutura que ainda podia ser emolda pois poderia ter acontecido de seu organismo j se ter tornado to rgido que a sada da Lua teria sido intil. Nesse nvel, em que a estrutura ainda podia ser emolida, encontravam-se efetivamente s os precursores do homem. A Lua teria, pois, de retirar-se em determinado momento. O que ocorreu, ento, at que isso acontecesse? A estrutura humana tornava-se cada vez mais rstica. O homem no chegou a ter o aspecto da madeira essa seria uma imagem grosseira demais. A estrutura daquele tempo, apesar de sua rusticidade, era ainda mais refinada do que a atual; mas para aquela poca era to rstica que a parte mais espiritual do homem vivendo tambm a, de certo modo, ora com, ora sem o corpo fsico , na poca situada entre a sada do Sol e a da Lua, havia finalmente chegado ao ponto de, ao procurar novamente seu corpo fsico, encontr-lo to denso em virtude dos acontecimentos da Terra que no tivera mais qualquer possibilidade de adentr-lo e utiliz-lo como habitculo. Foi tambm por essa razo que a parte psico-anmica de muitos precursores do homem abandonou a Terra e, durante um certo tempo, procurou evoluir em outros planetas do nosso sistema solar. S um nmero muito diminuto de corpos fsicos continuou sendo aproveitvel e atravessou esse perodo a salvo. J expus repetidas vezes que a grande maioria das almas humanas saram para o espao celeste, e que a corrente ininterrupta da evoluo foi mantida por pequeno nmero, ou seja, pelas almas humanas mais robustas, capazes de suportar e superar essa situao. Tais almas mais robustas salvaram a evoluo, atravessando o perodo crtico. Durante todo esse processo, ainda se tratava propriamente do que chamamos de eu humano, de individualidade humana. Predominava ainda o carter de alma da espcie. Ao retornar, as almas dirigiam-se alma da espcie. Ento sobreveio a retirada da Lua e, com isso, novamente a possibilidade de o organismo humano se aperfeioar, podendo voltar a acolher as almas anteriormente
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evadidas. Essas almas desceram de volta pouco a pouco at durante a poca atlntica ocupando os corpos humanos. Mas ainda assim ficaram para trs determinados organismos desenvolvidos durante o perodo crtico. Eles se haviam reproduzido ao longo desse perodo, s no podendo ser portadores de almas humanas. Eram organismos rsticos, remanescentes do perodo crtico da Terra aps haverem coexistido com aqueles que mais tarde puderam aperfeioarse. Tornaram-se, ento, os precursoras de uma estrutura mais rstica, decorrendo da que, ao lado dos organismos aptos a tornar-se portadores de individualidades humanas, tambm se reproduziam esses organismos incapazes disso, descendentes daqueles abandonados por almas humanas na poca em que o Sol j se havia afastado e a Lua ainda estava unida Terra. Vemos, portanto, constituir-se ao lado do homem um reino de organismos que, por guardarem o carter lunar, tornaram-se incapacitados para portar individualidades humanas. Esses organismos so, em essncia, os organismos de nossos animais atuais. Poderia parecer surpreendente que esses organismos mais rsticos dos animais atuais possam, por seu lado, ter determinadas aptides capazes de atuar no mundo at mesmo com sabedoria, como no exemplo da casa do castor. Isto, porm, pode ser explicado caso no tenhamos idias por demais simplistas, e sim estejamos cnscios de que precisamente os organismos dessas entidades no ocupadas por almas humanas formaram as estruturas exteriores da constituio animal, como as de um certo sistema nervoso e similares, as quais lhes possibilitavam colocar-se em perfeita sintonia com as leis da existncia terrestre. Ora, as entidades que ficaram incapacitadas para receber almas humanas haviam permanecido, durante todo o perodo, ligadas Terra. Os demais organismos, que mais tarde se aperfeioaram ao ponto de poder acolher individualidades humanas, em verdade tambm se encontravam na Terra; mas, como tinham de passar por futuras transformaes depois da retirada da Lua, perderam precisamente o que haviam adquirido at ento, pelo efeito de se haverem aperfeioado, de terem precisado passar por essas transformaes. Tenhamos, pois, em mente: quando a Lua se separou da Terra, nesta havia certos organsmos que simplesmente se reproduziram na mesma linha anteriormente seguida em seu nascimento, ocorrido enquanto Terra e Lua ainda se encontravam unidas. Esses organismos permaneceram rsticos, conservaram as leis que possuam e tornaram-se to rgidos que, com a sada da Lua, no lhes era possvel sofrer qualquer transformao. Simplesmente continuaram a reproduzir-se de maneira rgida. Os outros organismos, destinados a tornar-se portadores de individualidades humanas, tinham de transformar-se, no podendo reproduzir-se rigidamente. Sua transformao se deu a ponto de possibilitar a influncia de entidades que, nesse entretempo, sequer estavam ligadas Terra, tendo estado em lugar bem diverso e s ento precisando unir-se novamente a ela. Eis a a diferena entre as entidades que continuaram mantendo o rgido carter da Antiga Lua e as que se transformaram. Em que consistiu essa transformao? Quando as almas afastadas da Terra retornaram, principiaram por reestruturar o sistema nervoso, o crebro e assim por diante. As foras de que dispunham eram usadas, por assim dizer, para a reorganizao interior. Nenhuma mudana podia ainda ser efetuada nas outras entidades, que se haviam enrijecido. Destes ltimos organismos se apoderaram outras entidades que ainda no intervinham neles haviam estacionado em etapas evolutivas anteriores, no sendo capazes de intervir no organismo mas atuando de fora, como as almas de espcies animais. Assim, aqueles organismos aptos para tal receberem a alma humana aps a sada da Lua; ento essas entidades plasmaram o organismo a ponto de lev-lo perfeita estrutura humana. Os organismos que permaneceram rijos durante o perodo lunar no podiam mais ser modificados. Deles se apoderaram as almas insuficientemente evoludas para penetrar numa individualidade, tendo permanecido paradas
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no nvel da Lua e desenvolvido tudo o que era alcanvel nesse estgio apossando-se agora, por isso, desses organismos na condio de almas grupais. Assim se explica a diferena entre homem e animal a partir dos processo csmicos. E precisamente por meio dos acontecimentos csmicos durante a evoluo da Terra que se nos evidenciam dois tipos de organismos. Se tivssemos sido forados a permanecer no nvel estrutural das entidades imediatamente inferiores ao homem, teramos agora de pairar com nosso eu em redor da Terra, pois os organismos se teriam tornado excessivamente rgidos. No poderamos descer e, embora nos houvssemos tornado seres mais perfeitos, deveramos permanecer onde se encontram as almas das espcies animais. Mas como nossos organismos puderam aperfeioar-se, pudemos penetr-los usando-os como moradas, ou seja, pudemos descer Terra em incorporaes carnais. As almas das espcies no sentiram tal necessidade; elas atuam nos seres a partir do mundo espiritual. Vemos, portanto, no reino animal em redor de ns algo que hoje tambm seramos caso no devssemos nosso organismo ao processo descrito. Perguntemo-nos agora: como foi que os animais, inferiores a ns, chegaram Terra com seus organismos enrijecidos? Eles desceram por nosso prprio intermdio! Eles so os descendentes daqueles corpos que no mais queramos habitar aps a retirada da Lua por se haverem tornado demasiadamente rsticos. Ns abandonamos esses corpos para mais tarde encontrar outros. No teramos podido encontrar outros corpos depois caso ho houvssemos, naquela poca, abandonado os primeiros, pois tnhamos de buscar nosso progresso na Terra aps a sada do Sol. A temos exatamente o processo em que, por assim dizer, abandonamos abaixo de ns certas entidades para podermos encontrar a possibilidade de ns mesmos subirmos a um nvel superior. Para elevar-nos, tivemos de emigrar para outros planetas e deixar nossos corpos deteriorar-se l embaixo. Ao que l ficou devemos, de certo modo, o que somos. Essa situao de devedores pode ser descrita com mais pormenores. Podemos perguntar-nos: como tivemos a possibilidade de abandonar a Terra durante o perodo crtico? No possvel que, sem mais nem menos, um ser possa ir para onde quiser. Ora, durante a evoluo da Terra surgiu pela primeira vez algo que novamente devemos aos espritos lucifricos. As entidades lucifricas eram nossos guias, que no perodo crtico nos afastaram do desenvolvimento terrestre. como se nos houvessem dito: A embaixo est-se aproximando agora uma poca crtica; deveis abandonar a Terra! E foi sob a direo dos espritos lucifricos que deixamos a Terra os mesmos espritos que introduziram em nosso corpo astral de ento o princpio lucifrico, o pendor para tudo o que chamamos de possibilidade do mal em ns, mas simultaneamente tambm a possibilidade da liberdade. Se eles, naquela poca, no nos houvessem retirado da Terra, teramos permanecido sempre presos ao organismo ento criado por ns, podendo hoje, no mximo, pairar sobre nossa forma fsica sem nunca poder habit-la. Assim, os seres lucifricos levaram-nos para longe e ligaram seu prprio ser ao nosso. Tendo isso em vista, fica-nos agora compreensvel que, indo embora, assimilamos as influncias lucifricas. As entidades que na poca no compartilharam desse destino o de serem conduzidas a regies muito especiais do Universo , tendo permanecido ligadas Terra, ficaram embaixo sem a influncia lucifrica. Elas tinham de partilhar conosco os destinos da Terra, mas no puderam partilhar conosco nosso destino celeste. Quando retornamos Terra, tnhamos em ns a inciso lucifrica, mas aqueles outros seres no; com isso se nos tornara possvel conduzir a vida dentro de um corpo fsico e tambm uma vida independente dele, e assim tambm pudemos transformar-nos cada vez mais em autmatos com relao a esse corpo. Porm os outros seres, que no continham a influncia lucifrica, representavam o que havamos feito deles; representavam o que
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nossos corpos eram no perodo intermedirio entre as retiradas do Sol e da Lua portanto, aquilo de que nos havamos livrado. Observando os animais, podemos dizer o seguinte: tudo o que os animais apresentam de crueldade, de voracidade, de outras desvirtudes animalescas ao lado da habilidade que possuem, tudo isso teramos em ns caso no houvssemos conseguido expeli-lo! Devemos a libertao do nosso corpo astral circunstncia de todas as qualidades astrais mais rsticas terem ficado no reino animal da Terra. Podemos, pois, afirmar: para o nosso bem que no as possumos mais dentro de ns a crueldade do leo, a astcia da raposa , que tudo isso se tenha desprendido de ns e, fora de ns, possua agora uma existncia autnoma. Assim, os animais possuem em comum conosco aquilo que o nosso corpo astral, tendo, por isso, a possibilidade de sentir dores; mas, precisamente pelo motivo recmmencionado, no alcanaram, por meio da dor e da superao da dor, a possibilidade de elevar-se cada vez mais. que eles no possuem individualidade alguma e, por isso, esto em situao muito pior do que a nossa, nesse aspecto. Ns temos de suportar as dores, mas para ns cada dor um meio para nos aperfeioarmos; superando-a, elevamo-nos graas a ela. Deixamos para trs os animais como algo que, embora possuindo a faculdade de sentir dor, no possui o que poderia elev-lo acima dela e por cujo intermdio ele superasse a dor. esse o destino dos animais. Eles nos evidenciam nossa propria estrutura na fase em que ramos capazes de sentir dor mas ainda no podamos, por sua superao, transform-la em algo sanador para a humanidade. Assim devemos aos animais, no decurso da evoluo terrestre, nossa pior parte, sendo que eles nos circundam como sinalizao do fato de havermos atingido uma perfeio maior. Ns no nos teramos livrado do resduo sem deixar para trs os animais. No devemos aprender a encarar tais fatos como teorias, e sim com um sentimento universal csmico. Devemos dirigir o olhar aos animais com a seguinte sensao: A fora esto vocs, animais. Quando vocs sofrem, sofre algo que beneficia a ns, homens. Ns, homens, temos a possibilidade de superar o sofrimento; vocs tm de padec-lo. Ns deixamos para vocs o sofrimento e ficamos com a capacidade de super-lo! Quando desenvolvemos esse sentimento csmico para alm da teoria, ele se transforma na abrangente compaixo pelo mundo animal. Onde, portanto, o sentimento csmico nasceu da sabedoria primitiva da humanidade, onde os homens ainda conservaram uma reminiscncia do conhecimento primitivo, que revelava a cada um a essncia das coisas por meio de uma clarividncia brumosa, conservou-se tambm a compaixo para com o mundo animal, a qual se manifesta intensamente. Essa compaixo voltar quando os homens se acostumarem a assimilar a sabedoria espiritual, quando compreenderem como o carma da humanidade est ligado ao carma do Universo. Nos tempos que, por assim dizer, constituam os tempos das trevas, em que o pensamento materialista se instalou, no se poderia ter a noo exata dessas relaes. A s se olhava para o que est situado lado a lado no espao, sem levar em conta que essa diversidade tem uma origem unificada e s se separou durante a evoluo. Naturalmente, tampouco se sentia o que une o homem aos animais. E em todas as regies da Terra onde se teve a misso de acobertar a conscincia da relao do homem com o mundo animal, onde em lugar dessa conscincia s entrou a que se limita ao espao fsico exterior, o homem retribuiu de maneira singular, aos animais, o que lhes deve: comendo-os. Essas coisas nos mostram, ao mesmo tempo, como as cosmovises se relacionam com o mundo das sensaes e sentimentos humanos. Sensaes e sentimentos, em ltima anlise, so resultados das cosmovises e, na medida em que as cosmovises e conhecimentos se transformarem, as sensaes e sentimentos tambm se transformaro, no contexto da humanidade. O homem no podia seno ter uma evoluo ascendente;
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tinha de precipitar outros seres no abismo, a fim de elevar-se ele prprio. No podia conceder aos animais uma individualidade que lhes compensasse, no carma, os sofrimentos que eles tm de padecer; s lhes podia entregar a dor, sem poder dar-lhes o conjunto de leis crmicas da compensao. Contudo, o que no pde dar-lhes no passado ele lhes dar quando houver chegado liberdade e abnegao em sua individualidade. Ento captar tambm nesta rea, conscientemente, a lei do carma, dizendo: Devo aos animais o que sou. O que no posso mais dar a cada um dos entes animais, que desceram de uma existncia individual para uma existncia sombria aquilo de que, por assim dizer, sou culpado frente aos animais , preciso agora retribuir pelo tratamento que posso dispensar a eles! Por esse motivo, com o progresso do desenvolvimento por meio da conscincia das relaes crmicas surgir tambm uma melhor relao do homem com o reino animal do que a existente agora, sobretudo no Ocidente. Sobrevir um tratamento dos animais pelo qual o homem, que precipitou os animais nas profundezas, ir al-los novamente s alturas. Assim vemos, pois, o carma e o reino animal numa certa inter-relao. No podemos comparar ao carma humano o que o animal vive como destino, sob pena de criarmos uma grande confuso. Mas considerando toda a evoluo da Terra e o que teve de acontecer pelo bem da humanidade e de seu desenvolvimento, veremos que se pode falar de uma relao entre o carma da humanidade e o mundo animal.
18 de maio de 1910
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E, a respeito do que foi efetivamente realizado nessa rea, pode-se tambm dizer o seguinte: se h algum que possa alegrar-se com o que a medicina realizou nos ltimos anos, esse algum justamente a Cincia Espiritual. De outro lado, necessrio enfatizar algo vlido justamente para as cincias: as conquistas e os efetivos conhecimentos e descobertas encontram, s vezes, interpretaes e explicaes muito pouco corretas e satisfatrias de parte das atuais opinies cientficas. O que mais se salienta em nossa poca, com relao a muitas reas da pesquisa cientfica, que as opinies, as teorias, no esto desenvolvidas altura das descobertas e fatos que, s vezes, so maravilhosos. S a luz que emana da Cincia Espiritual ir esclarecer o que foi conquistado nessa rea durante os ltimos anos. Aps esta prvia observao, ficar patente que no se trata aqui de concordar com argumentos baratos invocados para combater o que hoje possa ser realizado no terreno da medicina cientfica. Mas tambm deve ser dito que os fatos descobertos, admirveis em si, no podem tornar-se, em nossa poca, frutferos para o bem da humanidade porque, de outro lado, justamente opinies e teorias de matizes francamente materialistas inibem essa frutificao. Por isso, para a Antroposofia melhor expressar despretensiosamente o que tem a dizer do que intrometer-se numa luta partidria qualquer. Dessa maneira sero exaltadas muito menos paxes do que j o so hoje. Se quisermos chegar a um ponto de vista acerca das questes que nos devero ocupar, precisaremos ter em mente que as causas mais prximas e mais distantes para um fenmeno qualquer devem ser procuradas das mais diversas maneiras; e que, em se tratando de buscar causas crmicas para questes de sade, a Antroposofia dedicar alguma ateno s causas mais distantes, no situadas na superfcie. Esclareamos isso por meio de uma analogia: ao refletirem sobre ela, os Senhores chegaro ao que de fato se quer dizer. Suponhamos que algum se posicione achando quo magnificamente avanados estamos hoje 8 nesse domnio, desprezando totalmente as opinies que surgiram nos sculos passados acerca de sade e doena. Se os Senhores tentarem obter um panorama acerca de questes de doena e sade, tero a impresso de que os representantes dessa rea normalmente julgam o seguinte: as novidades desse campo nos ltimos vinte a trinta anos constituem uma espcie de verdade absoluta que, embora possa ser completada, nunca pode sofrer um julgamento negativo do tipo que esses mesmos crticos infelizmente emitem acerca da maior parte dos pensamentos humanos antecedentes nesse mesmo campo. Por exemplo, comum se dizer que justamente nesse campo que encontramos, em tempos passados, as supersties mais crassas, sendo citados, a seguir, exemplos bastante repulsivos de como antigamente se procurava curar uma doena ou outra. E as pessoas ficam particularmente chocadas ao esbarrar em expresses cujo significado antigo foi perdido pela conscincia atual mas que, mesmo assim, se insinuaram nela, embora o homem moderno no saiba o que fazer com as mesmas em sua atual maneira de pensar. Alguns exclamam: Houve pocas em que toda doena era atribuda a Deus ou ao Diabo! A coisa no to grave como tais crticos do a entender, pois eles no sabem a que complexo de concepes se aludia por meio de um conceito como Deus ou Diabo. Podemos esclarecer o assunto mediante uma analogia. Imaginemos duas pessoas conversando; uma diz outra: Acabo de ver uma sala cheia de moscas; algum me disse que isso era natural, e a explicao me parecia correta, pois a sala estava muito suja, facilitando a proliferao das moscas. totalmente explicvel que se aceite isso como motivo para a existncia das moscas, e, creio, tambm ter toda a razo quem disser que no haver mais moscas na sala se esta sofrer uma boa
8 Palavras do fmulo Wagner no Fausto, de Gethe (1 parte, Noite). (N.T.)
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limpeza! Nessa altura, porm, um outro teria afirmado conhecer ainda uma outra causa para a presena de tantas moscas na sala; e ele no poderia atribuir a causa a outra razo seno ao fato de que h muito tempo a sala era habitada por uma dona-de-casa terrivelmente preguiosa. Vejam agora que imensa superstio essa: a de que a preguia poderia ser uma espcie de personalidade que, por um mero aceno, fizesse as moscas entrar! Nesse caso, a outra explicao muito mais correta, ao esclarecer a presena das moscas pelo acmulo de sujeira! A situao no muito diferente numa outra rea, quando se diz: Se algum foi acometido de doena, por ter sido vtima de uma infeco provocada por uma espcie qualquer de bacilos; expulsam-se os bacilos e tem lugar a cura. Ora, no entanto h ainda pessoas que falam de uma causa espiritual qualquer, situada mais profundamente! Mas no preciso fazer outra coisa seno expulsar os bacilos! Falar de uma causa espiritual para doenas e reconhecer todo o resto no superstio maior do que no caso em que a origem da presena das moscas vista na preguia de uma dona-de-casa. No h motivo para protestar se algum disser que no haver mais moscas caso se faa uma limpeza. No se trata de combater um ao outro, mas de ambos aprenderem a compreender-se mutuamente e aprofundar-se no que cada qual quer. Deve-se levar isso inteiramente em conta ao querer falar, com razo, das causas imediatas e das causas mais remotas. O antropsofo objetivo no se colocar, de modo algum, em posio de dizer que bastaria a preguia fazer uma espcie de aceno para que as moscas entrassem na sala; ele saber que, no caso, entram em considerao tambm outros fatores materiais, mas saber tambm que todo fato expresso na matria tem seus fundamentos espirituais, e que esses fundamentos espirituais devem ser procurados para o bem da humanidade. Contudo, os que gostam de entrar em contenda precisam tambm ser lembrados de que as causas espirituais nem sempre podem ser entendidas ou mesmo combatidas da mesma forma como o so as causas materiais comuns. Tampouco se pode pensar que o combate s causas espirituais dispense o combate s causas materiais; senao, bastaria deixar a sala suja, investindo apenas contra a preguia da dona-de-casa. Ao considerarmos o carma, torna-se mister falar de relaes entre acontecimentos, tal como estes sobrevieram vida humana numa poca passada e como demonstram seus efeitos sobre o mesmo ser humano numa poca posterior. Ao falarmos de sade e doena do ponto de vista do carma, isso nada mais significa do que abordar as seguintes questes: como podemos imaginar que o estado de sade ou de doena de um indivduo tenha sua causa em atos e vivncias anteriores desse indivduo? E como podemos imaginar que seu presente estado de sade ou de doena se relacione com efeitos futuros que retroagiro sobre o mesmo ser? O homem atual prefere acreditar que uma doena s tenha relao com as causas mais prximas. Ora, em todos os domnios o centro nervoso de nossa cosmoviso atual a busca de como didade, e ficarmos circunscritos s causas mais prximas algo cmodo. Por isso, justamente no caso de enfermidades s se levam em conta as causas mais imediatas e quem mais pensa assim so os prprios doentes. Pois como se poderia negar serem os prprios doentes propensos a praticar esse comodismo? Por tal circunstncia pela crena de que a doena deve ter causas muito prximas, a serem descobertas pelo mdico experiente , d-se origem a muito descontentamento; e se o mdico no consegue ajudar, deve ter realizado algo malfeito. Desse julgamento comodista advm muito do que hoje de diz nesse terreno. Quem souber discernir o carma em seus efeitos extensamente ramificados ampliar cada vez mais sua viso, remontando, a partir do que ocorre hoje, a eventos relativamente longnquos no passado; e, antes de mais nada, ganhar a convico de que o conhecimento profundo de uma situao afetando uma
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pessoa s possvel quando se pode estender o olhar para eventos mais afastados, do passado. Esse particularmente o caso em pessoas doentes. Ao falarmos de pessoas doentes e tambm de sadias, logo se impe a pergunta: como podemos ter um conceito do estado de doena? Com o concurso da viso clarividente, a pesquisa espiritual sempre constatar, no caso de enfermidades do homem, anomalias no s em seu corpo fsico como tambm nos membros superiores da entidade humana no corpo etrico e no corpo astral. E o pesquisador clarividente ter sempre de trazer considerao em cada caso de doena, de um lado, qual parte cabe ao corpo fsico e, de outro, qual cabe ao corpo etrico e ao corpo astral; pois todos os trs membros essenciais do homem podem ter sua parte na enfermidade. Ora, pergunta-se: que conceitos podemos adquirir acerca do como da doena? A maneira mais fcil de acercar-se do assunto considerando quo longe podemos estender o conceito doena. Temos de deixar falar os que se comprazem em usar toda sorte de conceitos alegricos e simblcos mesmo sendo imprprios , ainda que falem de doenas em minerais ou metais, dizendo, por exemplo, que a ferrugem que corri o ferro uma doena do ferro. Apenas temos de ter em mente que tais conceitos abstratos no nos podem levar a uma compreenso realmente til da vida; pode-se chegar apenas a uma espcie de conhecimento tolo dela, mas no a um a conhecimento que realmente penetre nos fatos. Quem quiser chegar a um conceito real de doena, e tambm a um conceito real de sade, dever evitar falar que minerais e metais tambm podem adoecer. A coisa j diferente quando passamos ao reino vegetal. A podemos certamente falar de doenas das plantas. Mas logo as doenas das plantas so de interesse bem especial, e de importncia bem especial para a real compreenso da idia doena. No caso das plantas, caso no se queira proceder de maneira tola no se poder falar facilmente de causas patognicas internas. Enquanto se pode falar de causas internas de doenas no animal e no homem, no se pode dizer o mesmo com respeito a plantas. As doenas no reino vegetal sempre sero explicadas por causas exteriores: uma ou outra influncia nociva do solo, iluminao insuficiente, este ou aquele efeito do vento ou outras influncias dos elementos e da natureza; ou ento essas doenas sero explicadas por influncias de parasitas que se instalam nas plantas e as prejudicam. Diremos, e com razo, que o conceito de causa patognica interna no tem legitimidade alguma no mbito do reino vegetal. Naturalmente, por no me caber falar sobre esse tema durante meio ano, no me ser possvel fornecer inmeras provas para o que acabei de mencionar. Mas quanto mais nos aprofundarmos na patologia vegetal, tanto melhor se nos afigurar que o conceito de causas patognicas internas no pode ser aplicado s plantas, pois a se trata de causas e prejuzos exteriores, de influncias externas. Temos ento na planta, tal como se nos apresenta de imediato no mundo exterior, um ente que nos mostra uma estrutura composta de um corpo fsico e um corpo etrico. E com isso nos defrontamos ao mesmo tempo com um ente que, por assim dizer, chama nossa ateno para o seguinte fato: no fundo, tal ente dotado dos corpos fsico e etrico sadio por princpio, tendo de esperar sofrer um dano exterior para adoecer. A pesquisa espiritual est inteiramente de acordo com isso. Enquanto pelos mtodos da pesquisa clarividente divisamos nos remos animal e humano em casos de doena, modificaes bem decisivas no interior dos seres nas partes supra-sensveis , nunca poderamos dizer que no interior de uma planta doente o prprio corpo etrico original estivesse modificado, mas apenas que exteriormente diferentes perturbaes e influnciasnocivas interferiram no corpo fsico e, sobretudo, no corpo etrico. Os fatos espirituais justificam plenamente a concluso geral a que chegamos: nos elementos a serem considerados nas plantas ou seja, nos corpos fsico e terico apresenta-se algo primordialmente sadio. Porm outra
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coisa a capacidade da planta no sentido de empregar todo o possvel para resistir aos danos sofridos do exterior em seu crescimento e desenvolvimento, a fim de curar-se. Observem, ao cortar uma planta, como e la procura brotar novamente ao redor da parte danificada, contornando o que bloqueia seu caminho e a prejudica. quase palpvel, nela, a existncia de uma defesa interna, de uma fora curativa, quando surge um dano exterior. Vemos, portanto, que nos corpos etrico e fsico da planta nos defrontamos com algo capaz de responder a danos exteriores mediante foras curativas interiores. Este um fato extraordinariamente importante para chegarmos clareza nesse domnio. Assim sendo, um ente como a planta, com corpos fsico e etrico, mostra-nos no somente que esses corpos contm princpios primordiais de sade, na medida necessria ao desenvolvimento e crescimento desse ente, mas ainda nos mostra haver at mesmo um excesso de tais foras que podem expressar-se nas energias curativas quando ocorrem danos exteriores. De onde adviro essas energias curativas? Quando se faz um corte num corpo meramente fsico, a leso permanece. O corpo nada poder fazer por si para, por assim dizer, curar a leso. Por isso no podemos falar de doena num corpo meramente fsico e, menos ainda, que doena e cura se possam inter-relacionar. A melhor ocasio para constat-lo quando surge uma doena numa planta. A temos de buscar, no corpo etrico, o princpio da fora curativa interior. Isso evidenciado mais uma vez, e em elevada medida, pela constatao da Cincia Espiritual. Ora, o corpo etrico da planta inicia, ao redor da leso, uma vida muito mais intensa do que desenvolvia antes. Produz formas bem diferentes, desenvolve correntes bem diversas. extraordinariamente interessante que incitemos justamente o corpo etrico da planta a tornar-se mais ativo quando causamos uma leso em seu corpo fsico. Com isso, em verdade no definimos o conceito de doena, mas fizemos algo para chegar ao modo como ela acontece e atingimos algo que nos proporciona uma noo acerca de como advm a cura. Continuemos nossa caminhada sempre na linha da observao interior, clarvidente , procurando compreender luz da razo os fenmenos exteriores, aos quais a Cincia Espiritual nos conduz. Podemos agora ascender dos danos que causamos a plantas para certos danos que causamos a animais, ou seja, a seres que j possuem um corpo astral. Procedendo de modo rudimentar, podemos ver que existe nos animais superiores relativamente muito pouco do que se manifesta amplamente no reino vegetal e tanto menos quanto mais elevado o animal , ou seja, aquela reao do corpo etrico a danos exteriores. Se causarmos uma leso grosseira ao corpo fsico de um mamfero inferior, ou mesmo de um superior por exemplo, arrancando uma perna a um co, ou algo assim , descobriremos que o corpo etrico do co no pode responder to facilmente, com sua fora curatva, como responde o corpo etrico de uma planta a uma leso que lhe seja infligida de maneira semelhante. Mas mesmo no reino animal, isso ainda ocorre em escala considervel. Suponhamos descermos a seres animais bem inferiores aos trites ou outros semelhantes. Podemos cort-los em pedaos, e, se cortarmos certos rgos deles, isso nem lhes ser muito desagradvel. Os rgos se regeneram rapidamente e o animal readquire sua forma normal. A acontece algo semelhante ao caso da planta: provocamos uma certa fora curativa no corpo etrico. Quem contestaria que demandar o desenvolvimento de foras curativas pelo corpo etrico iria significar, no homem ou num animal superior, uma considervel ameaa sade? O animal inferior, ao contrrio, apenas provocado, em seu corpo etrico, a fazer crescer por meio deste um novo membro a partir de seu interior. Ascendamos agora um pouco mais.
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Se, por exemplo, cortarmos um membro a um caranguejo, este no estar logo em condies de fazer crescer um novo membro mas quando ocorrer a prxima muda de pele, quando ele chegar etapa seguinte de transio em sua vida, nascer ento um coto no lugar do membro cortado; na prxima muda o coto ficar maior e, se houver um nmero suficiente de mudas, o membro ser substitudo por um novo. A temos um fenmeno demonstrando que nesse corpo etrico preciso algo mais para se provocar a fora curativa interior. Nos animais superiores, esse fenmeno absolutamente j no existe na mesma medida. Quando mutilamos um animal superior, ele no pode produzir essa fora curativa a partir de seu corpo etrico. Mas preciso sempre enfatizar o que hoje motivo de significativa disputa cientfica: quando mutilamos um animal e este vem a reproduzir-se, essas mutilaes no se transmitem aos descendentes; a gerao seguinte volta a ter os membros completos. Quando o corpo etrico transmite suas qualidades aos descendentes, ele estimulado a produzir novamente um organismo completo. No trito, o corpo etrico substitui o que foi mutilado na gerao anterior. Portanto, temos de considerar tais fenmenos na natureza de modo gradual; ento se nos tornar claro que ainda cumpre falar de uma fora curativa no corpo etrco mesmo quando se efetuam as transmisses hereditrias dos predecessores aos descendentes, e que o corpo etrico se transmite de maneira a reproduzir o animal por inteiro, indiviso. A temos, por assim dizer, uma pesquisa do modo como agem as foras curatvas no corpo etrico. Nesta altura, podemos levantar a seguinte questo: por qual motivo ocorre que, quanto mais ascendemos na escala animal e isto tambm vale para o caso de considerarmos exteriormente o reino humano , mais esforos o corpo etrico tem de despender para conseguir extrair as foras curativas? Isso advm do fato de o corpo etrico poder estar ligado ao corpo fsico das mais diferentes maneiras. Entre o corpo fsico e o etrico existem, por assim dizer, uma associao mais ntima e outra mais frouxa. Tomemos, por exemplo, um animal inferior como o trito, no qual o membro cortado se regenera logo. A temos de admitir uma ligao frouxa entre os corpos fsico e etrico. E isso ainda mais vlido para o reino vegetal. A ligao tal que o corpo fsico no capaz de retroagir sobre o corpo etrico, e desse modo o corpo etrico no afetado pelos acontecimentos do corpo fsico, do qual, em certo sentido, independente. Ora, a essncia do corpo etrico consiste no fato de ele ser ativo, de produzir, de favorecer o crescimento. Ele favorece o crescimento at certo limite. No instante em que cortamos um membro em plantas ou animais inferiores, o corpo etrco est logo pronto a regener-lo, isto , a desenvolver sua plena atividade. Mas o que suceder se ele no puder desenvolver a plena atividade? Nesse caso, o corpo etrico deveria estar mais ligado atividade do membro em questo. E, de fato, esse o caso dos animais superiores; neles existe uma relao muito mais ntima, coesa, entre os corpos etrico e fsico. Quando o corpo fsico produz sua formas, estas isto , o que est na natureza fsica retroagem sobre o corpo etrico. Falando mais concretamente: nos animais bem inferiores ou nas plantas, o que exterior no retroage sobre o corpo etrco no o afeta, deixando-o levar uma vida autnoma. To logo chegamos aos animais superiores, as formas do corpo fsico se impem sobre o corpo etrico; a o corpo etrico totalmente ajustado ao corpo fsico, e ferindo o corpo fsico ferimos simultaneamente o corpo etrico. Neste caso o corpo etrico deve, naturalmente, recorrer a foras mais profundas, pois precisa primeiro restabelecer a si prprio, e s depois os membros envolvidos. Por isso temos de apelar a foras curativas mais profundas ao acercar-nos do corpo etrico de um animal superior. Qual ser a causa disso? Por que o corpo etrco de um animal superior to dependente das formas do
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corpo fsico? Quanto mais progredimos na hierarquia dos animais, tanto mais temos de levar em conta as atividades no s dos corpos fsico e etrico, mas tambm do corpo astral. O corpo astral, em sua atuao nos animais inferiores, ainda entra extraordinariamente pouo em considerao. Por isso os animais inferiores ainda possuem tanta semelhana com o vegetal. Quanto mais ascendermos, tanto mais ganhar importncia o corpo astral. Este, porm, atua no sentido de tornar dependente de si o corpo etrico. Um ser como a planta, que s possui corpo fsico e etrico, tem pouco a ver com o mundo exterior; estmulos so exercidos, mas no se expressam em processos interiores. Onde, contrariamente, um corpo astral atuante, as impresses exteriores se refletem em processos interiores. Um ser cujo corpo astral no atuante est interiormente mais isolado do mundo exterior. Um ser se abre tanto mais ao mundo exterior quanto mais atuante seja seu corpo astral. Portanto, o corpo astral liga o interior de um ser ao mundo exterior. A atuao mais intensa do corpo astral faz com que o corpo etrico tenha de mobilizar foras muito maiores para compensar eventuais leses. Se agora, no entanto, ascendermos do animal ao homem, teremos de levar em conta algo mais. A o corpo astral no s estampado ou afetado pelos efeitos j descritos, como no caso do animal: o animal vive mais ligado a um roteiro, vive mais ligado a um programa de vida. No fcil poder dizer que um animal se tenha excedido imensamente ou moderado em relao a seus instintos. Ele segue um programa de vida. O que se manifesta no animal est subordinado a uma espcie de programa tpico. O homem, porm, precisamente por ter ascendido mais alto na escala evolutiva, est em posio de viver toda espcie de alternativas entre o correto e o errado, a verdade e a mentira, o bem e o mal. Ele entra em contato com o mundo exterior das mais variadas maneiras e s por circunstncias individuais. Todos esses tipos de contatos recaem sobre seu corpo astral, causando-lhe uma impresso. Como conseqncia, a interao entre os corpos astral e etrico agora marcada por essas vivncias exteriores. Portanto, se em qualquer aspecto um indivduo levar uma vida dissoluta, isso importar numa impresso em seu corpo astral. Mas, como j vimos, por sua vez o corpo astral influencia o etrico, e a ma neira de influenci-lo depender do que foi colocado dentro do corpo astral. A partir disso poderemos agora compreender que o corpo etrico do homem se modifique de acordo com a vida levada por ele dentro dos limites do bem e do mal, do certo e do errado, da verdade e da mentira e assim por diante. Tudo isso exerce uma influncia sobre o corpo etrico do homem. Recordemos agora o que ocorre quando o homem atravessa o portal da morte. Sabemos que o corpo fsico abandonado, permanecendo o corpo etrico unido ao corpo astral e ao eu. Decorrido algum tempo aps a morte, o qual se mede apenas por dias, o principal do corpo etrico rejeitado qual um segundo cadver; fica, porm, retido um extrato seu, que levado e conservado para todo o porvir. Nesse extrato do corpo etrico est contido, como numa essncia, o que, por exemplo, entrou na existncia a partir de uma vida dissoluta, ou o que o indivduo assimilou como resultado de um pensar, atuar ou sentir correto ou incorreto. Tudo isso fica contido no corpo etrico, e o homem o leva at a poca do novo nascimento. No tendo de modo algum tais vivncias, o animal naturalmente nada pode levar de semelhante a isso para alm do portal da morte. Quando, pelo nascimento, o homem retorna existncia fsica, a essncia de seu corpo etrico anterior flui para o novo, permeando sua estrutura. Por isso, em sua nova existncia o indivduo traz, no corpo etrco, os resultados do que viveu em sua vida anterior. E como o corpo etrico o edificador de um novo organismo aps um novo nascimento, tudo isso se gravar tambm em seu corpo fsico. Por que isso pode gravar-se no
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corpo fsico? A pesquisa espiritual nos evidencia a possibilidade de se ver ora mais, ora menos, na forma de um corpo humano que entra na existncia pelo nascimento, quais os atos cometidos pelo indivduo numa vida anterior. Mas acaso encontraremos tambm uma explicao plausvel para o que se nos apresenta como fora curativa decrescente, na medida da gradual elevao na hierarquia dos animais? Como, no caso de um animal, no podemos dizer que ao nascer ele traga consigo, de uma existncia terrena anterior, uma individualidade reencarnada, s encontramos a atuao do corpo astral genrico dessa espcie de animal, o qual limitar, no animal em questo, as foras curativas do corpo etrico. No homem, porm, descobrimos que no s seu corpo astral, mas tambm seu corpo etrico est impregnado pelos resultados das aes da vida anterior. E como o corpo etrico possui por si a fora para produzir o que traz do passado, podemos tambm compreender que, to logo surja nele uma outra fora, ele ser igualmente capaz de colocar na estrutura do organismo o acervo trazido de encarnaes anteriores. Compreendemos agora como nossos atos de uma vida podem influenciar projetivamente nosso estado de sade na vida seguinte, e como devemos de vrias maneiras procurar, em nosso estado de sade, um efeito crmico de nossos atos numa vida anterior. Contudo, podemos ainda abordar o assunto de outro modo. Podemos perguntar-nos: ora, acaso tudo o que realizamos na vida entre o nascimento e a morte retroage de maneira igual sobre nosso corpo etrico? J na vida comum se pode perceber uma enorme diferena, na retroao sobre nossa prpria estrutura interior, entre o que vivencamos como homens conscientes e muitas outras vivncias. Disso resulta um fato altamente interessante, perfeitamente possvel de ser esclarecido pela Cincia Espiritual, mas que tambm pode ser compreendido pela razo. No decurso de sua vida, o homem tem um grande nmero de vivncias que ele assimila conscientemente e relaciona com seu eu. Nele estas se transformam em representaes mentais, que ele ento processa. Imaginem, porm, agora a quantidade inumervel de vivncias, experincias e impresses que nem chegam a transformar-se em representaes, estando, contudo, presentes no homem e atuando sobre ele. Muitas vezes acontece de algum nos dizer Hoje eu o vi na rua, e voc at me olhou, sendo que no temos conhecimento algum do fato. Isto acontece muitas vezes. Naturalmente o evento causou uma impresso nossos olhos viram o outro , mas a impresso no chegou a transformar-se em representao mental. H inmeras impresses desse tipo, de modo que nossa vida, em verdade, decompe-se em duas partes: numa srie de vivncias anmicas, constituda de representaes conscientes, e em outra que nunca levamos totalmente conscincia clara. Porm h ainda mais diferena: podemos facilmente distinguir entre as impresses, obtidas em nossa vida, passveis de serem recordadas ou seja, impresses causadas em ns de modo a sempre poderem incidir na recordao , e as impresses das quais no podemos recordar-nos. Nossa vida anmica se decompe, portanto, em categorias bem diferentes. E a diferena entre as diversas categorias ser, de fato, notvel se considerarmos o efeito sobre a essncia interior do homem. Detenhamo-nos agora, por alguns minutos, na vida do homem entre o nascimentos e a morte. Observando-a rigorosamente, veremos existir uma enorme diferena entre as representaes que sempre podem recair em nossa conscincia e as que foram esquecidas, no tendo propriamente desenvolvido uma capacidade de recordao. Essa diferena pode ser facilmente esclarecida pelo seguinte: Pensem numa impresso que lhes tenha suscitado uma representao clara. Suponhamos ser uma impresso que lhes haja provocado alegria ou dor, isto , uma impresso acompanhada de um sentimento. Tenhamos bem em mente que a maioria das
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impresses na realidade, todas as impresses causadas em ns so acompanhadas de sentimentos. Os sentimentos no se manifestam somente na superfcie consciente da vida, mas atuam profundamente at no corpo fsico. Basta os Senhores lembrarem como uma impresso os faz empalidecer, outra enrubescer. As impresses atuam at no deslocamento do sangue. E passemos agora ao que nem chega conscincia, ou apenas o faz fugidiamente, no levando recordao. A a Cincia Espiritual nos mostra que tais impresses no so, de modo algum, menos acompanhadas de estmulos semelhantes do que as conscientes. Ao recebermos do mundo exterior uma impresso que nos teria assustado se recebida conscientemente, talvez at fazendo palpitar nosso corao, a mesma no permanece sem efeito, embora no se torne consciente: alm de efetivar-se, alcana tambm o corpo fsico. Ento surge at o fato caracterstico de uma impresso que suscita uma representao consciente encontrar uma espcie de resistncia ao penetrar na organizao humana mais profunda; quando, porm, a impresso simplesmente atua em ns sem que a levemos representao consciente, nada a detm, mas nem por isso ela menos atuante. A vida humana muito mais rica do que o que conscientizamos dela. Existe uma poca na vida humana em que tais impresses, atuando de maneira to viva sobre a organizao humana e sem ter qualquer capacidade de recordao, so vivenciadas em medida partcularmente intensa. Em todo o perodo desde o nascimento at o momento inicial da recordao, foram causadas no homem inmeras impresses ricas, que esto assentadas nele e tambm o transformaram nesse perodo. Elas atuam tal qual as impresses conscientes; mas, mormente ao terem sido esquecidas, nada se lhes contrape daquilo que normalmente se forma dentro da vida anmica como representao consciente, formando assim uma espcie de barreira. Mas podemos encontrar, na vida exterior, mltiplas confirmaes de existirem momentos, na vida humana, em que se manifesta o segundo tipo de efeitos interiores. No podemos explicar certos eventos da vida humana mais tardia. No conseguimos explicar por que isto ou aquilo tem de ser vivido de determinada maneira. Pode ocorrer, por exemplo, de algo nos causar uma impresso to estremecedora que no consigamos explicar como uma vivncia relativamente sem importncia possa provocar isso. Investigando o caso, talvez descubramos ter-nos ocorrido uma vivncia semelhante mas que ficou esquecida justamente naquele perodo crtico entre o nascimento e o mais longnquo momento at o qual conseguimos remontar com nossa memria. Nenhuma representao restou a esse respeito; contudo, naquele~tempo tivemos uma impresso que nos abalou ela continuou vivendo em ns e juntou-se impresso recente, reforando-a. Dessa maneira, algo que agora normalmente nos teria abalado muito menos causa uma impresso particular-mente forte. Quem reconhecer isso far uma idia de quo cheia de responsabilidade a educao durante a primeira infncia, e de como algo projeta na vida, posteriormente, luzes ou sombras extremamente significativas. Portanto, algo que ocorreu anteriormente atua mais tarde na vida. Ora, pode ocorrer de tais impresses da infncia mormente tendo-se repetido influenciarem toda a disposio de vida; dessa maneira, a partir de certo momento sobrevm uma dissonncia anmica inexplicvel, s esclarecida ao recordarmos e verificarmos quais acontecimentos de pocas anteriores projetam suas luzes ou sombras mais tarde; pois so elas que agora se manifestam por uma persistente desarmonia anmica. Descobriremos ento que atuam de maneira particularmente intensa os acontecimentos no transcorridos de modo indiferente criana, tendo, isso ssim, causado nela impresso especial. Poderemos, portanto, dizer que quando afeies,
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sensaes e sentimentos atuaram particularmente nas impresses esquecidas mais tarde, essas afeies e efuses sentimentais atuaro muito especialmente no surgimento de vivncias semelhantes. Lembrem-se agora das descries que freqentemente fiz acerca da vida durante o perodo do kamaloka. Depois de abandonar seu corpo etrico qual um segundo cadver, o homem revive toda a sua vida passada, recapitulando todas as vivncias que teve nela; porm no as revive de maneira que elas lhe permaneam indiferentes. justamente durante o perodo do kamaloka, pelo fato de o indivduo ainda possuir seu antigo corpo astral, que as vivncias passadas produzem os mais profundos sentimentos. Imaginemos, por exemplo, uma pessoa que morra aos setenta anos e reviva sua vida at o momento em que, aos quarenta anos, deu uma bofetada em algum. A ela experimenta a dor que causou no outro; isso provoca uma espcie de auto-repreenso, que remanesce como anseio; e esse anseio a pessoa leva consigo vida seguinte, a fim de compensar o ato durante a vida. Como tais experincias astrais ocorrem no perodo efltre a morte e o novo nascimento, os Senhores compreendero que os atos por ns vvenciados se gravem to segura e profundamente em nosso ser interior, contribuindo para a edificao da nova corporalidade. Se determinados fatos j nos podem tocar to intensamente na vida comum mormente sendo impresses do sentimento a ponto de causar um distrbio anmico, compreendemos que as impresses vividas no kamaloka, por serem muito mais intensas, possam gravar-se fortemente de modo a atuar de modo profundo na organizao do corpo fsico, numa nova encarnao. Vemos a a intensificao de um fenmeno que se revela observao mais atenta j durante a vida entre o nascimento e a morte. As representaes frente s quais a conscincia no ergue barreira alguma podero levar a anomalias mais sras na alma: neurastenia, a fenmenos neuropatolgicos, possivelmente tambm a doenas mentais. Todos esses fenmenos se nos apresentam como relaes causais entre acontecimentos anteriores e posteriores, fornecendo-nos um quadro evidente disso. Se quisermos intensificar o conceito, poderemos dizer que nossas realizaes representadas por atos durante a vida se metamorfoseiam, na vida depois da morte, numa poderosa sensao emocional; e essa sensao emocional, que agora no atenuada por qualquer representao fsica, no sendo tampouco obstruda por qualquer conscincia comum pois aqui o crebro no necessrio , e sim vivenciada pela outra forma da conscincia, de ao mais profunda, faz com que nossos atos e todo o nosso ser da vida anterior se manifestem em nossa disposio e em nosso organismo numa nova existncia. Por isso poderemos achar compreensvel que um indivduo, tendo sido muito egosta em seu modo de pensar, sentir e agir numa encarnao, fique permeado por um poderoso sentimento de repulsa em relao a seus atos anteriores ao se defrontar, depois da morte, com os frutos de seu pensar, seu sentir e seu agir egostas. Eis o que de fato ocorre. O indivduo recebe, em si, tendncias dirgidas contra sua prpria natureza. E essas tendncias, caso tenham nascido de um carter egosta na vida anterior, se manifestaro como natureza frgil na nova vida. Natureza frgil significa aqui a essncia do indivduo, e no a impresso exterior. Precisamos, pois, ter em mente que uma natureza frgil pode ser carmicamente atribuda a um comportamento egosta numa vida anterior. Prossigamos. Imaginemos um indivduo que exiba, numa vida, uma tendncia especial mentira. Este um pendor oriundo de um substrato mais profundo da alma. Ora, se uma pessoa se entregar somente ao que h de mais consciente em sua vida, realmente no mentir; somente emoes e sentimentos que atuam a partir do subconsciente induzem mentira. A temos algo situado mais profundamente. Se o indivduo tiver sido mentiroso, seus atos advindos da mentira produziro, na vida aps a morte, as mais violentas reaes
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emocionais contra a prpria pessoa, vindo a aparecer uma forte tendncia contrria mentira. A segundo nos evidencia a Cincia Espiritual o homem trar para a vida futura no apenas uma natureza frgil, mas um organismo por assim dizer irregularmente estruturado, exibindo rgos internos desordenadamente construdos na estrutura mais sutil. Nesse caso as coisas no se harmonizam de maneira correta. Isso est condicionado ao antigo pendor para a mentira. Ora, de onde veio o prprio pendor para a mentira? pois na tendncia a mentir o indivduo j possui algo que tampouco correto. Nesse caso, temos de remontar ainda mais longe. A Cincia Espiritual mostra que uma vida leviana desconhecendo dedicao e amor, uma vida superficial numa encarnao, manifesta-se na tendncia mentira na encarnao seguinte; e a tendncia mentira mostra-se, na segunda encarnao subseqente, nos rgos desordenadamente construdos. Podemos, dessa forma, acompanhar carmicamente trs encarnaes sucessivas em seus feitos: superficialidade e leviandade na primeira encarnao, tendncia a mentir na segunda e disposio fsica para doenas na terceira. A vemos o carma atuar na sade e na doena. O que acaba de ser dito o foi da maneira como os prprios fatos foram extrados da pesquisa espiritual. No se trata de apresentar teoria; so casos observados, podendo ser examinados pelos mtodos da Cincia Espiritual. Portanto, apontamos primeiramente os fatos mais corriqueiros as foras curatvas do corpo etrico nas plantas. Mostramos em seguida que o corpo etrico dos animais menos atuante devido presena do corpo astral. E vimos ainda como, pelo recebimento do eu que desenvolve uma vida individual no bem e no mal, na verdade e no erro , o corpo astral, que s inibe as foras curativas na medida da ascenso na hierarquia animal, acrescenta ao homem algo novo: as influncias crmicas patolgicas, que a ele afluem da vida individual. Na planta ainda inexistem causas patognicas interiores, porque a doena ainda est no exterior e as foras curativas do corpo etrico atuam com todo o seu vigor. Nos animais inferiores temos ainda um corpo etrico dotado de foras curativas tais que lhe faculta at mesmo a regenerao de membros; mas quanto mais acima observamos, tanto mais o corpo astral se imprime no etrico, reduzindo-lhe com isso as foras curativas. Porm como os animais no se reproduzem em reencarnaes, o que est contido no corpo etrco no se liga a quaisquer qualidades morais, intelectuais ou individuais, mas espcie. No homem, entretanto, o que ele vivencia em seu eu, entre o nascimento e a morte, atua at no corpo etrico. Por que as vivncias da infncia, nas assim chamadas impresses anmicas, manifestam-se apenas por doenas leves? Porque poderemos encontrar as causas de muito do que se manifesta como neurastenia, neurose, histeria, e assim por diante, na mesma vida. Mas as causas de doenas mais graves tero de ser procuradas numa vida anterior, pois s na passagem para um novo nascimento que as vivncias morais e intelectuais podem transplantar-se ao corpo etrico. De um modo geral, o corpo etrico do homem no pode manter incorporadas, durante uma vida, influncias mais profundas de ordem moral, embora ainda venhamos a conhecer algumas excees e at casos bastante significativos. Temos, assim, uma relao entre nossa vida no bem e no mal, na moral e no intelectual numa encarnao e nossa sade ou doena na seguinte.
19 de maio de 1910
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de pressupor que precisamente sobre os dois conceitos que constituiro o tema de nossa palestra de hoje a curabilidade e a incurabilidade de doenas reinaro idias mais claras e, pode-se dizer, mais humanitrias quando as idias de carma e de relaes crmicas na vida tiverem conquistado espao em crculos mais amplos. Pode-se dizer, a respeito dos conceitos de curabilidade e incurabilidade de doenas, que opinies as mais diversas foram difundidas nos diferentes sculos; e no preciso retroceder muito no tempo para constatar quo profundamente essas opinies se modificaram. Houve uma poca trata-se da virada entre a Idade Mdia e a Idade Moderna, mais ou menos no sculo XVI ou XVII em que se desenvolveu paulatinamente a hiptese de se poder limitar rigorosamente as formas de doenas, existindo, para a cura de cada uma delas, uma erva qualquer, uma poo qualquer, por cujo intermdio a doena em questo seria incondicionalmente curada. Essa crena perdurou, no fundo, por muito tempo, adentrando at mesmo o sculo XIX. E se, como leigos ou como pessoas que assimilaram os conceitos de hoje, quisssemos ler os relatos de tratamentos mdicos do fim do sculo XVIII ou do comeo do sculo XIX, e at de pocas adiantadas do mesmo, ficaramos pasmos com todos os remdios e paliativos que eram ento largamente empregados de chs e poes a medicamentos perigosos, sangrias e assim por diante. Mas foi justamente o sculo XIX que inverteu nos crculos mdicos em verdade, nos crculos mdicos respeitveis , essa mentalidade para o plo oposto. Posso at dizer que em minha juventude conheci muitas dessas opinies opostas, sob as mais diversas formas e nuanas. A oportunidade para tal se ofereceu quando se chegou a conhecer, por exemplo, a corrente da escola mdica nihilista, que se preparou em Viena em meados do sculo XIX e ganhou cada vez mais prestgio. O ponto de partida para uma mudana radical de opinio quanto ao conceito de curabilidade e incurabilidade de doenas foram as descobertas do famoso mdico Dietl9, relativas evoluo da pneumonia e de doenas similares. Ele havia chegado, por vrias consideraes, concluso de que no se podia notar, no fundo, qualquer influncia verdadeira deste ou daquele medicamento sobre a evoluo desta ou daquela doena. E foi justamente sob a influncia da escola de Dietl que os jovens mdicos de ento passaram a julgar o valor curativo dos medicamentos surgidos h sculos conforme o conhecido provrbio: Krht der Hahn auf dem Mist, so ndert sich das Wetter, oder es bleibt wie es ist! [Se do alto da estrumeira o galo se pe a cantar, o tempo logo muda ou ento fica como est!]. Segundo eles, era bastante indiferente, para o decurso de uma doena, ministrar ou no este ou aquele remdio. E Dietl compilou uma estatstica, bem convincente aos olhos daquela poca, segundo a qual o chamado tratamento expectante, por ele introduzido, teve como resultado que um nmero mais ou menos igual de pacientes atingidos por pneumonia sarou ou morreu, em comparao terapia tradicional com os remdios vetustos. O tratamento expectante, concebido por Dietl e levado adiante por Skoda10, consistia em conduzir os doentes a situaes exteriores de vida que os colocassem em condies de fazer o melhor uso possvel de suas foras autocurativas, buscando-as em seu organismo; e o mdico mal tinha outra funo seno a de supervisionar a evoluo da doena e estar presente caso acontecesse algo permitindo uma ajuda objetiva com recursos humanos. Afora isso, limitava-se a observar a evoluo da doena e a esperar que as foras autocuratvas proviessem do organismo, at que a febre cedesse aps algum tempo e a autocura surgisse pela via orgnica. Essa escola mdica era e ainda hoje continua sendo chamada de escola nihilista,
Joseph Dietl (18041878), mdico pneumologista, professor e escritor, foi representante de um nihilismo crasso. (Cf. N.E. orig.) 10 Joseph Skoda (18051881), mdico e professor, inaugurou a moderna diagnose com seu trabalho intitulado Sobre percusso e auscultao (1839). (Cf. N.E. orig.)
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pois baseava-se numa frase do professor Skoda que dizia mais ou menos o seguinte: Talvez possamos aprender a diagnosticar doenas, a descrev-las e, talvez, ainda a explic-las mas cur-las, isso no podemos fazer! Estou-lhes contanto coisas das quais os Senhores precisam tomar conhecimento como sendo fatos ocorridos durante o sculo XIX, podendo assim ter noo de como mudaram as idias nessa rea. Ningum creia que, se certas coisas so expressas aqui como pura narrao, seja logo preciso tomar partido neste ou naquele sentido. Obviamente, a sentena do famoso professor Skoda era algo radical, e seria fcil mostrar os limites dentro dos quais tal sentena vlida. Todavia essa opinio indicava algo, sem que na verdade se dispusesse dos meios para conscientemente fundament-las de algum modo, circunscrev-la ou formul-la em palavras nem mesmo conceb-la em pensamentos; ou seja, nos crculos em que a referida sentena fora pronunciada, nem se podia pensar em cogit-la. Fora indicada a provvel existncia, no homem, de algo que em certo sentido seria decisivo para a origem e o decurso de uma doena algo que, no fundo, ultrapassaria os limites da capacidade da ajuda humana. Portanto, indicava-se algo que transcende a ajuda humana; indo-se realmente ao fundo, essa indicao no poderia referir-se a outra coisa seno lei do carma e atuao do carma no decorrer da vida humana. Ao acompanhar o decurso de uma doena na vida humana o surgimento da doena, a germinao das foras curativas a partir do prprio organismo , ao acompanhar a evoluo da cura, seremos levados a procurar uma subordinao a leis mais profundas, principalmente quando notamos, aps um exame imparcial, como num caso sobrevm a cura enquanto em outro nenhuma cura parece possvel. Ser que essa subordinao a leis mais profundas pode ser procurada nas vidas terrenas anteriores do indivduo? Eis, para ns, a questo. Acaso se pode dizer que o indivduo j traga consigo certas condies prvias que o tornem diretamente predestinado a, num caso especfico, poder convocar no organismo suas foras de cura as quais, em outro caso, estejam de tal forma predeterminadas que ele, no obstante todos os esforos, no tenha condies de curar a doena? Lembrando o que foi exposto, principalmente ontem, os Senhores entendero que a individualidade humana recebe forcas bastante peculiares por meio dos fatos ocorridos entre a morte e o novo nascimento. Dissemos que durante o perodo do kamaloka surgem, diante da alma do indivduo, os acontecimentos de sua ltima vida, seus atos bons e maus, as qualidades de seu carter, etc.; que, pela viso de sua prpria vida, ele assimila a tendncia a remediar e compensar tudo o que nele imperfeito e se manifestou como ao incorreta, bem como a inculcar em si as qualidades que, nesta ou naquela rea, tornam-no mais perfeito. Tendo entendido isso, poderemos dizer que o homem conserva essa inteno, essa tendncia, levando-a nova vida quando nela entra por um novo nascimento. Mas o prprio indivduo quem edifica o novo corpo que o envolver e dele far parte na nova vida; e edificao na medida das foras trazidas de biografias anteriores e do perodo entre a morte e o novo nascimento. Essas foras de que est dotado, ele as entretece sua nova corporalidade. Entendemos, nesta altura, que a nova corporalidade ser fraca ou vigorosa conforme o indivduo possa entretecer a ela foras dbeis ou vigorosas. Cumpre estarmos cnscios de que surgir um certo efeito quando, por exemplo, um indivduo houver percebido, durante o perodo do kamaloka, ter cometido na ltima vida muitos atos sob a influncia de suas emoes ira, medo, repulsa, etc. Tais atos esto bem vivos ante sua alma no perodo do kamaloka, formando-se ento nessa alma o seguinte pensamento (as expresses que nos podem ocorrer com relao a essas foras so, naturalmente, cunhadas para a vida fsica!): Precisas providenciar, em ti, algo para que te tornes mais perfeito neste particular, para que no futuro no mais te inclines a
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cometer atos sob influncia de tuas paixes! Este pensamento torna-se parte da individualidade anmica humana e, durante a passagem por um novo nascimento, se gravar no corpo em formao qual uma fora. E para esse corpo flui, assim, a tendncia a realizar, em toda a natureza composta dos corpos fsico, etrico e astral, algo que agora torne impossvel ao indivduo cometer certos atos sob o impulso de suas emoes ira, dio, inveja, etc. , capacitando-o realmente a tornar-se mais perfeito nesse sentido. Isto o levar a realizar novas aes, agora capazes de compensar aes anteriores. Assim a partir de uma razo muito superior sua razo comum, o homem se deixa permear pela inteno que poder conduzi-lo a uma perfeio maior em determinada rea e compensao de determinadas aes. Considerando quo variada a vida e como o indivduo, dia aps dia, comete aes do tipo que exige tal compensao, compreende-se haver na alma grande nmero de tais pensamentos esperando por compensao, quando a alma entra na existncia atravs de um novo nascimento; e que esses mltiplos pensamentos se cruzam, conferindo aos corpos fsico e etrico uma configurao onde se acham entretecidas todas essas tendncias. Para compreender melhor, tomemos um caso particularmente caracterstico. Fao questo de realar hoje mais enfaticamente do que costumo fazer que evito falar com base em teorias ou hipteses e, ao citar exemplos, s o fao mencionando os que esto bem comprovados pela Cincia Espiritual. Suponhamos algum que tenha agido, em sua vida anterior, a partir de um egotismo 11 excessivamente fraco, a partir de um egotismo [insuficiente] que lhe tenha permitido exceder-se em dedicao ao mundo exterior, revelando uma falta de independncia ou uma autoperda imprprias para o ciclo atual da humanidade. Foi, pois, a ausncia do sentimento de si prpria que levou a pessoa a estas ou aquelas atitudes numa encarnao. Ento, durante o perodo do kamaloka, ela se defrontou com as aes decorrentes dessa falta de sentimento de si prpria. A partir disso, assimila primeiramente a tendncia a desenvolver foras que lhe elevem o egotismo, criando, na prxima encarnao, oportunidades para fortalec-lo e como que educ-lo contra a resistncia de sua corporalidade contra as foras que lhe advm dos corpos fsico, etrico e astral. Deve ser criado um novo corpo, que lhe demonstre como a disposio para um fraco sentimento de si prprio atua a partir da corporalidade! O que vier a ocorrer na encarnao seguinte encontrar pouco na conscincia, desenrolando-se mais ou menos numa regio subconsciente. O indivduo em questo procurar uma encarnao que justamente oponha a seu egotismo os mais fortes obstculos, de modo que lhe seja necessrio submeter o sentimento de si prprio a elevadas tenses. Em conseqncia disso, a pessoa em questo ser como que magnetcamente atrada para locais ou situaes que lhe oponham obstculos profundos, em que seu egotismo deva esgotar-se em oposio organizao dos trs corpos. Pode parecer estranho, mas individualidades oneradas por tal carma, que se esforam da maneira caracterizada para entrar na existncia atravs do nascimento, procuraro o acesso a oportunidades em que possam ser expostas, por exemplo, a uma epidemia
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como a de clera pois esta lhes oferece a oportunidade de encontrar os obstculos recm-descritos. A experincia anterior da luta contra a resistncia oferecida pelos trs corpos no doente pode causar, na encarnao seguinte, um crescimento considervel do egotismo. Vejamos outro caso significativo, agora oposto ao primeiro, para permitir-lhes
11 Sentimento do prprio eu. (N.E.)
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verificar a inter-relao. Um indivduo constata, no perodo do kamaloka, que cometeu uma srie de atos sob um egotismo muito forte, oriundos de uma confiana excessiva. Ele v que deve moderar-se em relao a seu sentimento de si prprio, que deve cont-lo. Precisar ento procurar uma oportunidade em que seus trs corpos lhe ofeream, na prxima encarnao, a possibilidade de o egotismo, por mais que se exceda, no encontrar na corporalidade limitao alguma, podendo ingressar no mbito do espantoso e chegar s raias do absurdo. As condies para tal produzem-se quando o indivduo em questo atrado para uma oportunidade de contrair a malria. Nesse caso os Senhores se defrontam com uma doena advinda da atuao crmica, e at mesmo com a constatao de que, no fundo, o homem conduzido a situaes onde possa desenvolver-se no decorrer de seu carma, e tudo isso conforme uma inteligncia superior que ele pode abranger com sua conscincia comum. Tendo em vista o que acaba de ser dito, os Senhores facilmente entendero o carter epidmico das doenas. Poderamos citar os mais variados exemplos de como o homem, a partir das experincias de seu perodo do kamaloka, procura francamente a oportunidade de contrair esta ou aquela doena a fim de, pela superao da mesma e pelo desenvolvimento das foras autocurativas, ganhar as energias que o conduziro adiante em seu trajeto de vida. H pouco eu disse que o indivduo, tendo atuado muito sob a influncia de emoes, no perodo do kamaloka vivencar igualmente atos realizados sob a mesma influncia. Isso lhe conferir a tendncia a vivenciar em sua nova encarnao, em sua prpria corporalidade, algo para cuja superao ele realizar atos que possam compensar certas aes de sua vida anterior. Trata-se especialmente daquela forma de doena conhecida hoje por difteria, apresentando-se em muitos casos incluindo uma complicao crmica pelo fato de o indivduo, em sua vida anterior, ter agido freqentemente sob a influncia de toda sorte de impulsos, emoes e assim por diante. No decorrer destas conferncias , ainda ouviremos muito a respeito de como esta ou aquela doena demandada. Hoje, porm, temos de investigar mais profundamente a seguinte questo: se por meio de seu carma, ao entrar na existncia pelo nascimento, uma pessoa traz a tendncia a alcanar esta ou aquela meta pela superao deste ou daquele sofrimento, como pode ocorrer de uma vez ela realmente conseguir sair vencedora, superando a doena e assimilando foras que a fazem progredir, ao passo que de outra vez sucumbe e a doena sai vencedora? Para tentar uma resposta, precisamos voltar aos princpios espirituais que, de forma geral, possibilitam ao homem ficar doente. A possibilidade de o homem adoecer e poder procurar diretamente o adoecimento at mesmo a partir de seu carma provm, em ltima anlise, dos princpios que j vrias vezes tivemos em conta nos mais variados contextos de nossas consideraes antroposficas. Sabemos que, em dado momento da evoluo terrestre, introduziram-se no desenvolvimento humano as foras que chamamos de lucifricas, pertencentes a entidades que se atrasaram na fase evolutiva da antiga Lua e que, por assim dizer, no progrediram o suficiente para alcanar o grau de desenvolvimento que lhes teria sido normal na Terra. Devido a tal fato, algo oriundo desses seres lucifricos foi implantado no corpo astral do homem antes que seu eu houvesse atingido a capacidade de atuar de acordo com sua natureza. A influncia desses seres lucifricos se exerceu, pois, principalmente sobre o nosso corpo astral, permanecendo nele durante a evoluo subseqente do homem. Essa influncia lucifrica tem, na evoluo do homem, muitos significados. Para o fim que hoje nos ocupa, importante ressaltar que, por conter em si foras lucifricas, o homem possua em seu interior uma tentao para ser menos bom do que teria sido sem a vinda da influncia de Lcifer; da mesma maneira, portanto, ele sofria a influncia para agir e julgar mais a partir de toda sorte de emoes, paixes e
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cobias do que na ausncia de tal atuao. Graas a essa influncia, a individualidade humana foi levada a ser diferente por assim dizer, a abandonar-se mais ao que po deramos chamar de mundo das paixes do que teria ocorrido de outro modo. Por isso o homem foi muito mais profundamente envolvido com o mundo fsico da Terra do que em outras circunstncias. Sob a influncia lucifrica ele penetra mais a fundo em sua corporalidade, identifica-se mais com ela pois do contrrio no sentiria a tentao de cobiar muitas coisas; passaria indiferente pelas impresses desta ou daquela tentao. A influncia de Lcifer fez nascer as tentaes do mundo sensorial exterior; o homem assimilou-as, e a individualidade, proporcionada pelo eu, ficou embebida dos efeitos emanados do princpio lucifrico. E assim aconteceu que o homem, em suas primeiras encarnaes terrenas, tambm sucumbiu s primeiras tentaes do princpio lucifrico, levando-as s suas vidas subseqentes. Em outras palavras, a maneira como o homem sucumbiu s tentaes do princpio lucifrico tornou-se parte de seu carma. Tivesse absorvido apenas esse princpio, o homem iria sucumbir cada vez mais s sedues do mundo fsico terrestre; ele teria, por assim dizer, perdido cada vez mais a perspectiva de voltar a livrar-se desse mundo fsico. Sabemos que a influncia posterior, a influncia do Cristo, atuou em sentido contrrio ao do princpio lucifrico, reconduzindo-o por assim dizer ao equilbrio, de modo que no decurso de sua evoluo o homem readquiriu meios de expulsar de si essa influncia lucifrica. Mas houve ainda outra coisa advinda dessa influncia. Tendo-a assimilado em seu corpo astral, o homem obteve, de todo o mundo exterior, uma viso bem diferente da que teria no se entregando a ela. Lcifer compelia o interior do homem. Olhando para o mundo ao redor, o homem, com Lcifer em seu interior, tinha seu olhar perturbado, e a influncia de rim imscuiu-se nas impresses exteriores do mundo terreno. Arim s pde imiscuir-se e transformar o mundo exterior em iluso porque anteriormente j havamos desenvolvido, em nosso interior, a tendncia iluso, a maya. Assim, a influncia arimnica que penetrou no mundo circundante exterior aos homens era uma conseqncia da influncia lucifrica. Podemos dizer que, contendo em si as foras lucifricas, o homem absorveu a possibilidade de enredar-se mais no mundo sensorial do que o teria feito sem a influncia de Lcifer. Com isso, no entanto, criou tambm a possibilidade de absorver, junto com todas as percepes exteriores, a influncia de Arim. E assim a influncia lucifrica vive na individualidade humana enquanto esta atravessa as diferentes encarnaes terrenas; e, como conseqncia da influncia lucifrica, vive nela tambm a influncia arimnica. Estas duas potncias esto em constante luta na individualidade humana, que se tornou, assim, o palco da luta entre Lcifer e Arim. Tambm em nossos dias o homem continua exposto, com sua conscincia comum, tanto s tentaes de Lcifer que atua a partir das paxes e emoes de seu corpo astral como tambm s tentaes de Arim, que se infiltra de fora por intermdio dos erros e iluses relativos ao mundo exterior. Enquanto o homem, vivendo numa encarnao, instalar uma barreira por meio de representaes, de modo que as influncias lucifricas e arimnicas no possam penetrar mais fundo por encontrarem nelas um obstculo enquanto isso perdurar, tudo o que o homem fizer ficar sujeito ao julgamento moral e intelectual. Enquanto, entre o nascimento e a morte, o homem pecar contra a moral seguindo Lcifer ou pecar contra a lgica e o pensar sadio seguindo rim , isso permanecer como um assunto da vida anmica consciente comum. Mas quando o homem atravessa o portal da morte cessa a vida de representaes, ligada ao instrumento do crebro. Comea ento uma outra forma de vida da conscincia. A tudo o que, na vida entre o nascimento e a morte, estava sujeito ao julgamento moral ou racional, desce efetivamente profundidade da entidade humana e intervm no que
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depois, aps o kamaloka, atua de maneira organizadora em relao existncia seguinte e se fixa nas foras plsticas que constroem a trplice corporalidade do homem. Ento, erros resultantes do fato de o indivduo se entregar a rim transformam-se em foras patolgicas que o contaminam a partir do corpo etrco; e as digresses, isto , as coisas que na vida esto sujeitas ao julgamento moral, tornam-se causas de enfermidades mais atuantes a partir do corpo astral. Vemos assim como, de fato, nossos erros, induzidos pelo elemento arimnico em ns e acrescentem-se tambm os erros conscientes, como mentiras e inverdades tornamse causas de doenas quando efetivamente no nos atemos a uma encarnao, e sim considerarmos o efeito de uma encarnao sobre a seguinte; e vemos como tambm as influncias lucifricas se transformam em causas de doenas, pelo mesmo caminho. Podemos, pois, afirmar que nossos erros no ficam impunes! Levamos a marca dos nossos erros para nossa prxima encarnao, mas fazemo-lo a partir de uma racionalidade superior de nossa vida normal a partir da racionalidade que nos induz, durante o perodo entre a morte e o novo nascimento, a nos tornarmos fortes a ponto de no nos expormos mais quelas tentaes. Assim, doenas se incorporam nossa vida at como poderosas educadoras. Considerando as doenas sob esse prisma, podemos realmente ver como influncias lucifricas ou arimnicas so atuantes em sua formao. No dia em que essas coisas forem compreendidas pelos que desejam ser terapeutas inspirados na cosmoviso da Cincia Espiritual, as influncias desses terapeutas sobre o organismo humano sero muito mais profundas do que podem ser hoje em dia. Podemos, justamente nesse sentido, discernir a essncia de certas formas de doenas. Tomemos, por exemplo, uma doena como e pneumonia. Na seqncia crmica, ela um efeito do fato de o indivduo, durante seu perodo no kamaloka, ter a viso retrospectiva de um carter dado a excessos sensuais o qual tinha, por assim dizer, necessidade de viver sensualmente. No devemos confundir o que imputado a uma conscincia anterior com o que surge na conscincia da encarnao seguinte. Nenhuma relao existe entre ambos. Em compensao, o que o indivduo v durante o perodo do kamaloka se transformar de modo a lhe serem inculcadas foras que lhe possibilitaro superar a pneumonia. Ora, justamente na superao da pneumonia, na autocura em que o indivduo empenha seus esforos que a individualidade humana se ope aos poderes lucifricos, travando com estes uma autntica guerra. Por isso, na superao da pneumonia est a oportunidade de se depor o que, numa encarnao anterior, foi um defeito de carter. Assim, o que vemos atuar de fato, na pneumonia, a luta do homem contra os poderes lucifricos. A situao outra quando vemos aparecer, na chamada tuberculose pulmonar quando as foras autocuratvas entram em ao , curiosos processos manifestos pelo fato de as influncias prejudiciais que a surgem serem cercadas, margeadas por envoltrios semelhantes a tecido conjuntivo; depois, o todo preenchido por uma substncia constituda de sais de clcio, que formam incrustaes slidas. O homem pode possuir tais incrustaes em seus pulmes, e h mais pessoas portadoras delas do que normalmente se imagina; so as pessoas cujo pulmo tuberculoso atingiu a cura. Onde isso houver ocorrido, ter havido outra luta da entidade humana interior contra a intromisso de foras arimnicas. um processo de defesa dirigido para fora, uma luta contra o que trazido pelo materialismo exterior, com a finalidade de conduzir, nesse sentido, autonomia da entidade humana. Com isto mostramos como, de fato, os dois princpios o arimnico e o lucifrico atuam, em ltima anlise, no processo patolgico. Poderamos mostrar, sob muitos aspectos, com relao a esta ou aquela enfermidade, como na verdade deveramos
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distinguir entre dois tipos de doenas: as doenas lucifricas e as arimnicas. Levando-se isto em conta, seria tambm possvel chegar aos princpios corretos para a ajuda adequada aos doentes. Ora, doenas lucifricas exigiro ajuda bem diferente do que as arimnicas. Se ainda hoje so empregadas indiscriminadamente por exemplo, em tratamentos exteriores foras contidas na atual eletroterapia, na hidroterapia, etc., cumpre dizer que a Cincia Espiritual pode esclarecer de antemo qual o mtodo a ser empregado, depois de se haver distinguido tratar-se de uma doena lucifrica ou arimnica. Ningum deveria, por exemplo, aplicar o processo de eletroterapia em doenas de origem lucifrica, mas somente em enfermidades arimnicas pois, no caso de uma doena lucifrica, jamais pode trazer ajuda algo que nada tenha a ver com a atuao de Lcifer: o caso dos princpios da eletricidade, que pertencem ao mbito dos seres arimnicos. Obviamente isto no significa que s as entidades arimnicas se sirvam das foras da eletricidade. Em compensao, uma rea preferencial de Lcifer a que se refere, grosso modo, ao frio e ao calor. Faz parte do mbito de Lcifer tudo o que se relacione com o aumento ou a queda da temperatura do organismo humano e com os efeitos do frio ou calor nele, produzidos por influncias exteriores. Quando o calor e o frio esto envolvidos, o tipo de doena lucifrico. Vemos, pois, como o carma atua no adoecimento e na superao da doena. Nesta altura no mais parecer incompreensivel que a curabilidade ou a incurabilidade de uma doena tambm esteja contida no carma. Se tivermos em mente que o objetivo crmico do adoecimento desenvolver e aperfeioar o indivduo, a premissa ser que o indivduo, pela racionalidade que traz consigo o perodo do kamaloka, tendo sido acometido por uma doena desenvolva, ao entrar em nova existncia, foras curativas que impliquem num fortalecimento de sua essncia interior e na possibilidade de um crescimento. Suponhamos que, em virtude de seu organismo e do resto de seu carma, ele tenha foras, combinadas ao que adquiriu pela doena, para progredir na prpria vida a ser percorrida. Ento a cura tem sentido e sobrevm sendo que, neste caso, o indivduo realizou o que lhe cumpria realizar, manifesto pela ocorrncia da doena. Pela superao da doena ele se colocou em condies de possuir foras perfeitas onde, anteriormente, possura foras imperfeitas. Se por seu carma ele estiver munido de tais foras e, pelas circunstncias favorveis de seu destino anterior, estiver colocado no mundo em posio de empregar as novas foras e de atuar em proveito prprio e de outros, a cura sobrevir: ele conseguir sair-se bem na doena. Suponhamos, agora, que o indivduo tenha superado a doena e desenvolvido as foras curativas, vendo-se, a partir de ento, diante de uma vida que lhe apresente exigncias impossveis de satisfazer com o grau de perfeio j adquirido por ele. A doena curada lhe teria permitido atingir algo, mas ainda no o suficiente pois seu carma restante no o permitiria para, com o que adquiriu, atuar em benefcio de outros. Neste caso, seu subconsciente mais profundo dir: Aqui no tens oportunidade de acolher toda a fora do que, em verdade, deves ter; tiveste de entrar nesta encarnao porque precisavas adquirir a medida de perfeio possvel de ser adquirida apenas no corpo fsico, pela superao de uma doena. Isto tu tinhas de alcanar, mas no consegues desenvolver-te mais alm. Tens, ento, de procurar condies em que teu corpo fsico e outras foras no te perturbem e onde possas elaborar livremente o que ganhaste na doena. Em outras palavras, essa individualidade procurar a morte para, entre a morte e o novo nascimento, continuar trabalhando o que no pde elaborar na vida entre o nascimento e a morte. Tal alma atravessa a vida entre a morte e um novo nascimento para, com as foras redobradas que adquiriu pela superao da doena, continuar a desenvolver sua entidade e, assim, poder atuar mais na nova vida. Dessa forma, a
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presena de uma doena pode efetivamente provocar uma espcie de pagamento parcial que s ser completado, no que lhe concerne, aps a passagem pela morte. Considerando o assunto sob esse ngulo, teremos de dizer que no carma surge, plenamente fundamentado, o motivo pelo qual uma doena termina com a cura e outra com a morte. Considerando as doenas dessa forma, obteremos, de um ponto de vista mais elevado e por meio do carma, uma espcie de reconciliao, uma profunda reconciliao com a vida pois sabemos que na lei do carma est contido o fato de, embora uma doena acabe em morte, o indivduo ser beneficiado; e que mesmo em tal caso a doena tem o objetivo de elevar o homem. Todavia, ningum deve concluir disto que seria conveniente desejar a morte em certos casos de doena. Ningum poderia dizer isto, pois a deciso a respeito do que deve acontecer se a cura ou a incurabilidade cabe a uma inteligncia superior que podemos abranger com nossa conscincia comum. Com nossa conscincia comum temos de restringir-nos a permanecer, em questes desse tipo, no mundo entre o nascimento e a morte. Com nossa conscincia superior podemos colocar-nos no ponto de vista de at mesmo aceitar a morte como uma ddiva das foras espirituais superiores; mas com a conscincia que deve ajudar a intervir na vida no podemos ter a pretenso de colocar-nos nesse ponto de vista superior. A poderamos facilmente incorrer em erro e intervir de maneira inconveniente em algo em que nunca poderamos intervir: na esfera da liberdade humana. Se pudermos ajudar algum para que desenvolva as foras de autocura, ou se formos em socorro da prpria natureza a fim de que a cura se realize, temos de faz-lo; e se for necessrio decidir sobre se o indivduo deve continuar a viver ou se ser mais favorecido pelo advento da morte, a deciso nunca poder ser outra seno a de ajudar no sentido da cura. Se nossa ajuda tiver essa funo, deixaremos prpria individualidade do homem usar suas foras, e a ajuda mdica no poder ser outra seno a de apoi-la nesse esforo. Ento ela no estar atuando sobre a individualidade humana. A situao seria bem diferente se favorecssemos a incurabilidade de um indivduo de maneira que ele procurasse seu progresso num outro mundo. A estaramos intervindo em sua individualidade e entregando-a a uma outra esfera de atuao. Nesse caso teramos imposto nossa vontade individualidade do outro. Tal deciso, temos de deix-la prpria individualidade. Em outras palavras: devemos fazer todo o possvel para que acontea a cura pois todas as consideraes que conduzem a uma cura emanam da conscincia justificada para a Terra; todas as outras medidas transcenderiam nossa esfera terrena, atingindo um plano onde devem intervir foras diferentes das que correspondem nossa conscincia normal. Como se v, a correta compreenso crmica da curabilidade e da incurabilidade de doenas nos leva a fazer tudo ao nosso alcance para ajudar o homem enfermo. Por outro lado, faz tambm com que aceitemos, conformados, uma outra deciso tomada em outras esferas. Com relao a essa outra deciso, nem precisamos assumir atitudes diferentes. Precisamos, sim, encontrar um critrio fazendo com que a incurabilidade de uma doena no nos deprima, como se houvesse no mundo somente o imperfeito, o mau e o nocivo. A compreenso crmca no paralisa nossa energia dedicada cura. Por outro lado, ela nos reconduzir harmonia com o mais difcil destino relativo incurabilidade desta ou daquela doena. Assim, vimos hoje como s a compreenso crmica nos permite interpretar e entender corretamente o decurso de uma doena pela compreenso de como os efeitos crmicos de nossas vidas anteriores atuam na atual. Ora, cumpre-nos distinguir entre duas formas particulares de doenas: as provenientes do interior do ser humano, parecendo especialmente trazidas pelo carma, e as doenas que nos atingem aparentemente por acaso, quando sofremos leses exteriores
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ou quando algo acontece conosco. Numa palavra, trata-se da seguinte questo: como podemos chegar a uma compreenso crmica mesmo quando, por exemplo, camos sob as rodas de um trem? Ou seja, como devemos entender enfermidades casuais luz do carma?
20 de maio de 1910
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autocura, uma pessoa que refletisse sobre o assunto deveria concluir: no processo patolgico despertado, portanto, algo que leva superao da doena! E isto deveria ter levado a uma investigao das causas mais ocultas da evoluo da doena. Ora, tentamos expor como tal relao crmica com o decurso da doena pode ser procurada no contexto do desenvolvimento da humanidade. Mostramos que, sem dvida, as realizaes do indivduo em sua vida normal representadas por atos bons e maus, sensatos e absurdos , suas vivncias em julgamentos corretos e incorretos, nada disto penetra muito fundo nas bases da natureza humana. E evidenciamos a razo pela qual o que, na vida comum, est sujeito ao julgamento moral, intelectual e sentimental permanece s na superfcie da vida comum, nao estando sujeito lei que pudemos apontar no outro caso e que visa a influir sobre as foras mais profundas da natureza humana. Mostramos que existe uma espcie de obstculo penetrao da imoralidade nas foras mais profundas do organismo. E essa resistncia contra a penetrao, nas foras do nosso organismo, daquilo que fazemos e pensamos, reside no fato de acompanharmos nossas aes, realizadas entre o nascimento e a morte, com nossas representaes mentais conscientes. Ao acompanharmos uma ao ou outra vivncia com uma representao consciente, criamos uma barreira contra a possibilidade de o resultado de nossos atos retroagir sobre nosso organismo. Em seguida apontamos o significado cabvel s vivncias que foram irremediavelmente esquecidas. Neste caso, no mais existe a possibilidade de faz-las ascender de volta ao nvel da vida mental consciente; a respeito de tais vivncias, teramos de dizer que, como lhes falta a barreira da representao mental, de certa maneira elas penetram em nossa organizao interior, podendo ali atuar junto s foras plasmadoras do nosso organismo. E pudemos mencionar as formas de doenas que se situam ainda mais na superfcie: neurose, neurastenia e outras semelhantes; at mesmo estados histricos encontram a uma elucidao. Dissemos que se deve procurar as causas de tais estados nas representaes esquecidas, que se desprenderam do complexo da conscincia e mergulharam no ntimo e, qual incrustaes em nossa vida anmica, fazemse valer como doenas. Apontamos a enorme importncia do perodo decorrido entre o nascimento e o ponto que o homem consegue alcanar na recordao retroativa de suas vivncias passadas; e evidenciamos como o que foi anteriormente esquecido continua atuando no organismo vivo enquanto, por assim dizer, une-se s foras orgnicas mais profundas, influenciando, a partir da, nossa entidade. Portanto, antes de poder atuar sobre ela, um conjunto de representaes, uma srie de vivncias deve mergulhar nas camadas mais profundas do nosso ser. Em seguida mostramos que esse mergulho mais profundo quando o homem j atravessou o portal da morte e est percorrendo a existncia entre a morte e o novo nascimento. A todas as vivncias, em suas qualidades, metamorfoseiam-se nas foras que agora atuam de maneira organizadora. E o que o homem percebeu e sentiu na poca entre a morte e o novo nascimento, ele o integra s foras plasmadoras que participam da nova construo do corpo quando o indivduo, agora, penetra numa nova existncia. A ele tem, contido nas foras plasmadoras, o resultado do que antes ainda se achava em sua vida anmica, qui at mesmo em sua vida consciente de representaes mentais. E ento pudemos mostrar que o homem, com sua vida de representaes mentais permeada pelo eu, oscila entre duas influncias: a lucifrica e a arimnica. Quando o indivduo comete um erro provocado por atributos de seu corpo astral por paixes perniciosas, ira e coisas semelhantes , ele impelido a agir por poderes lucifricos. Quando, depois, esses atos seguem o caminho que acaba de ser descrito e se transformam em foras formativas, temo-las nas foras plasmadoras que, a partir de ento,
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permanecem na base da nova corporalidade como causas de doenas lucifricas. Vimos, tambm, como o homem sujeito s forcas arimnicas, que atuam mais de fora para dentro. E dissemos tambm, das influncias arimnicas, que estas se transformam em foras formativas, foras plasmadoras do novo organismo que surge quando o indivduo entra na existncia atravs do nascimento. E, medida que influncias de rim se misturam s foras plasmadoras, podemos falar de disposies para doenas de carter arimnico. Vimos, em seguida, exemplos de como atuam as foras assim formadas. Dei exemplos radicais de sua atuao, pois nestes a idia se manifesta de maneira mais ntida. Falei do indivduo que em sua vida anterior s realizou atos possveis de lev-lo a um sentimento de si prprio e a uma autoconfiana bem escassos, tendo preparado seu eu de maneira a fazer pouco caso de si mesmo, ficando sempre em generalidades e assim por diante. Tal indivduo assume, aps a morte, a tendncia a superar aquela resistncia e a acolher foras que o capacitaro mais tarde, no decurso da encarnao, a fortalecer e aperfeioar seu eu. Isto atua de tal maneira que ele ento procurar situaes propcias luta contra aquilo a que seja bom opor-se com um fraco sentimento de si prprio, de modo que este possa fortalecer-se no obstculo. E verdade que uma tendncia desse tipo faz com que o indivduo procure, por assim dizer, oportunidades para infeccionar-se com a clera pois nela se lhe apresenta algo que lhe oferece a oportunidade de superar aquelas resistncias. E nessa superao reside o que, na prxima encarnao ou tambm pela cura surgida na mesma encarnao, pode levar a um sentimento mais forte de si prprio ou a foras que o faro amadurecer pouco a pouco por meio da auto-educao. Tambm dissemos como, numa doena como a malria, dada a oportunidade de compensar algo que, numa vida anterior, a alma desenvolveu como um excessivo sentimento de si prpria, por meip de seus atos e sentimentos. Aqueles, dentre os presentes, que participaram de consideraes anteriores sobre nossa vida antroposfica podem ter uma noo mais clara do que a ocorre. Sempre dissemos que o eu do homem encontra sua expresso fsica no sangue. Ora, as duas doenas mencionadas relacionam-se com o sangue e suas leis; essa relao tal que, no caso da clera, ocorre um adensamento do sangue: esse adensamento que deve ser considerado como a resistncia pela qual o fraco sentimento de si prprio deve passar e na qual deseja educar-se. Da mesma maneira, uma espcie de desintegrao do sangue ocorre na malria: um sentimento de si prprio excessivamente forte precisa da possibilidade de ser levado ao absurdo de, na desintegrao do sangue, um eu excessivamente forte ser conduzido, em sua exausto, nulidade. Isto oferecido pela desintegrao do sangue. Naturalmente as coisas, no organismo, tm uma interligao extremamente ntima; mas observando-as mais de perto chegaremos a entend-las melhor. De tudo isso resultou-nos o seguinte: quando temos um organismo formado por uma alma tendente a superar este ou aquele aspecto numa ou noutra direo, essa tendncia leva o homem a cunhar em si prprio a possibilidade da doena, mas tambm a possibilidade de lutar contra ela, pois a doena no suscitada por qualquer outra razo que no a de ter a possibilidade da cura. E a cura ocorrer quando o indivduo, em conformidade com seu carma total, pela superao da doena em questo adquirir foras tais que possa realmente evoluir, no restante da vida at morte, por seu trabalho no plano fsico. Ou seja: se as foras a serem despertadas forem bastante intensas para, no plano fsico, o indivduo tambm poder alcanar o que provocou o aparecimento da doena, ele continuar trabalhando justamente com as foras aumentadas que lhe afluram do processo de cura, as quais ele antes no possua. Porm a situao de seu
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carma geral pode ser tal que ele haja tencionado configurar seu organismo de modo a, pela superao da doena em questo, adquirir foras que o levem ao aperfeioamento; mas, pela multiplicidade das coisas, pode ser que ele haja simultaneamente deixado o organismo enfraquecer-se em outro sentido: ento poder surgir o caso em que as foras despendidas e empregadas pelo indivduo no processo de cura o fortaleam, porm no altura dos trabalhos que dele se esperam no plano fsico. Ento ele usar a parte j adquirida por no ser ela utilizvel no plano fsico quando atravessar o portal da morte, procurando acrescentar s suas foras o que no conseguiu acrescentar no plano fsico, a fim de usar essas foras na configurao do prximo corpo, ao voltar a nascer. Resta-nos ainda falar das formas de doenas que no levam nem a uma cura total nem morte, mas a estados crnicos, a uma espcie de estado doentio ou coisa semelhante. Reside a algo cujo conhecimento, no sentido mais elevado, de grande importncia para a maioria das pessoas. Nesses casos ocorre que, pelo processo de cura, sem dvida o que penetrou nos envoltrios do corpo humano foi suficiente apenas para, em certo sentido, superar a doena. Em outro sentido, porm, ela no foi superada; isto significa que o necessrio equilbrio entre o corpo etrico e o corpo fsico foi, com efeito, alcanado, porm no o equilbrio do que era desarmnico entre o corpo etrico e o corpo astral. Isto permaneceu, e o indivduo oscila entre a tentativa de curar-se e a incapacidade de consegui-lo. Em tal caso, sempre de suma importncia que ele tire o melhor proveito possvel do resultado obtido em termos de cura verdadeira. E isto o que menos acontece na vida, pois justamente no caso de doenas que se tornam crnicas o homem se encontra num verdadeiro crculo vicioso. Se em tal caso o indivduo estivesse em condies de isolar a parte de sua organizao que experimentou uma certa cura, fazendo-a por assim dizer viver por si; e se pudesse retirar dela o que ain da rumoreja e no est em ordem e que, neste caso, habitualmente se contrape mais ao anmico interior , muito faria em ajuda prpria. Contra isso, porm, atuam as coisas mais variadas, mormente o fato de o homem, aps passar por uma doena qualquer que haja deixado um estado patolgico crnico, viver continuamente sob as influncias desse estado e se que posso expressar-me rudemente nunca conseguir esquec-lo por completo, nunca conseguir chegar concretamente ao ponto de isolar o que nele ainda no est sadio, de retir-lo dessa condio e trat-lo por si; ao contrrio: pensando constantemente na outra parte de sua entidade, volta como que a levar sua parte sadia a algum tipo de relao com a parte antes doente, irritando-a de novo. Trata-se de um processo todo peculiar. Para torn-lo mais claro, vou descrever os fatos do ponto de vista da Cincia Espiritual, tal como a conscincia clarividente os v quando algum atravessou urna doena e reteve algo que se pode descrever como sendo crnico. Alis, o mesmo tambm ocorre quando, no tendo havido urna enfermidade particularmente aguda, algo crnico aparece sem que algo agudo haja sido percebido em particular. Pode-se ento ver de fato, na maior parte dos casos, que um certo equilbrio instvel se evidencia entre os corpos fsico e etrico, um vaivm indevido de foras, mas com o qual possvel viver. Durante essa oscilao de foras do corpo etrico e do corpo fsico, o indivduo fica constantemente irritado e, por isso,imerso em estados permanentes de excitao. A conscincia clarividente v esses estados de excitao emergir continuamente do corpo astral e penetrar incessantemente na parte meio doente e meio s do organismo, produzindo dessa forma um equilbrio que no estvel, mas lbil. Por meio dessa penetrao dos estados astrais de excitao, a condio humana, que de outra forma poderia ser muito melhor, torna-se de fato muito agravada. Neste caso, peo-lhes considerar que a atividade do astral no coincide com a conscincia, e sim de preferncia com as excitaes anmicas interiores, cuja existncia o paciente no quer reconhecer.
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Como, neste caso, o efeito obstrutivo das representaes mentais no existe, esses estados e emoes, os abalos de alma, os constantes estados de aborrecimento, de descontentamento e tdio no atuam sempre corno foras conscientes,mas corno foras vitais e plasmadoras que se localizam nas profundezas da essncia humana e irritam constantemente a parte meio sadia e meio doente. Se o paciente em questo tivesse a fora de vontade e a cultura anmica necessria para realmente esquecer seu estado pelo menos durante algum tempo, criaria tal satisfao que, a partir dela, poderia buscar a fora para prosseguir. Se pudesse esquecer seu estado e resolver decididamente no levlo em conta, se pudesse empregar as foras anmicas assim liberadas em contedos espirituais, em algo que o elevasse e o satisfizesse interiormente em sua alma, se pudesse libertar essas foras que, de outro modo, esto sempre ocupadas na vivncia dos sentimentos de dor, de opresso, de pontadas e tudo o mais, isto lhe proporcionaria uma grande satisfao. Ora, quando no experimentamos esses sentimentos, temos as foras livres elas ficam disponveis. Obviamente no adianta muito simplesmente dizermos que no queremos mais dar ateno a essa opresso, a essas pontadas e assim por diante; pois se no empregarmos as foras assim liberadas em algo espiritual, os mal-estares anteriores logo estaro de volta. Mas se empregarmos essas foras em um contedo espiritual que absorva completamente nossa alma, constataremos estarmos atingindo, por um caminho complicado, o que de outro modo nosso prprio organismo conseguiria sem nossa interveno, pela superao do processo patolgico. claro que o paciente deve ter o cuidado de no preencher sua alma justamente de uma maneira diretamente relacionada com sua doena. Por exemplo, se algum sofre de um enfraquecimento da viso e, para no pensar na fraqueza de seus olhos, procurar assimilar foras espirituais por meio da leitura, isso obviamente no o conduzir ao resultado desejado. Nem preciso ir muito longe para buscar pequenas provas. Cada um pode notar em si prprio que, no caso de uma leve indisposio, muito o ajuda esquec-la, especialmente quando o esquecimento causado por uma atividade dedicada a outro assunto. Trata-se de um esquecimento positivo, sadio! Temos a uma indicao de que no somos completamente impotentes contra os efeitos crmicos de erros cometidos no decurso de vidas anteriores, manifestos sob forma de doenas. Com efeito, temos de admitir o seguinte: se reconhecemos que o ocorrido na vida entre os nascimento e a morte, estando sujeito a um julgamento moral, sentimental e intelectual, no pode, numa vida, penetrar to fundo a ponto de causar uma doena orgnica, mas no perodo entre a morte e o nascimento pode aprofundar-se suficientemente para provocar enfermidade, ento deveria haver tambm a possibilidade de reverter esse processo para um processo consciente! A questo pode tambm ser colocada da seguinte maneira: se doenas ocorrem como efeito crmico de vivncias espirituais ou outras, provocadas pela alma ou experimentadas por ela se, portanto, as doenas so metamorfoses dessas causas , acaso no poderamos imaginar ou constatar por experincia espiritual que a doena, o produto da metamorfose, evitvel medida que substitumos o processo de cura, o que buscado nas regies orgnicas e trazido sob forma de doena para nossa educao, pela contrapartida espiritual, por seu equivalente espiritual? Que, se formos bastante sbios, a doena poder ser metarnorfoseada num processo espiritual, e a auto-educao, que devemos realizar por meio da doena, seria realizada pelas foras de nossa alma? Desejo novamente ilustrar, por meio de um exemplo, que tal alternativa faz parte do mundo real. E mais uma vez quero frisar que s trago exemplos investigados pela Cincia Espiritual; no se trata de apresentaes hipotticas, mas de casos. Por isso no me peam logo uma lista completa, pois no apresento hipteses, mas casos que devem ser tomados como tais. Imaginemos que uma pessoa seja acometida de sarampo, j em idade
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adulta, e que queiramos procurar a relao crmica desse caso. Verificamos, ento, que o sarampo ocorreu como efeito crmico de acontecimentos numa vida passada, os quais podemos descrever da seguinte maneira: Numa vida anterior, a individualidade em questo no mostrou muito interesse pelo mundo externo estava ocupada consigo mesma, embora no de uma maneira grosseiramente egosta; uma pessoa, portanto, que refletiu e estudou muito, porm no a respeito dos fatos do mundo exterior, e sim permanecendo confinada em sua prpria vida anmica. Hoje tambm existem muitas pessoas que acreditam poder resolver os problemas do mundo pelo ensimesmar-se, pela cisma. Na individualidade a que me refiro, reinava o anseio de lidar com a vida cismando sobre a melhor maneira de se comportar nesta ou naquela situao. A fraqueza de alma da resultante no decurso da vida fez com que, na vida entre a morte e o novo nascimento, fossem geradas foras que vieram expor o organismo, numa idade relativamente avanada, a um ataque de sarampo. Nesta altura cabe uma pergunta: temos, de um lado, o ataque de sarampo, efeito crmico fsico de uma vida anterior; mas como se apresenta o estado anmico, j que a vida anterior produz, como efeito crmco, tambm um determinado estado anmico? Ele se apresenta da seguinte maneira: Na vida em que tambm ocorreu o ataque de sarampo, a pessoa estava repetidarnente sujeita a iluses. Essas iluses devem ser consideradas como conseqncia crmico-anmica dessa vida anterior, e o surgimento do sarampo como conseqncia crmico-fsica dessa vida. Imaginemos agora que essa pessoa, antes de ter o acesso de sarampo, houvesse conseguido fazer algo para aprimorar-se totalmente, isto , adquirir tamanha fora anmica que no ficasse mais sujeita a qualquer espcie de iluses. A a fora anmica assim educada teria impedido a ocorrncia do sarampo, pois o que j havia provocado pela formao dessa natureza humana teria encontrado sua compensao mediante as foras anmicas mais intensas, desenvolvidas pela auto-educao. No posso, naturalmente, falar durante meio ano sobre essas coisas; mas se os Senhores olharem amplamente para a vida e considerarem sob este prisma as particularidades que se apresentam como experincias, iro sempre descobrir que o conhecimento exterior confirma, at nos detalhes, as afirmaes feitas aqui. E o que acabo de dizer a respeito do sarampo pode esclarecer por que essa doena faz parte justamente das doenas infantis corriqueiras. Ora, as caractersticas a que me referi ocorrem em muitas vidas. Especialmente em determinadas pocas, grassaram em muitas vidas. E quando tal personalidade penetrar na existncia, procurar corrigir-se o quanto antes nesse aspecto; no perodo entre o nascimento e a poca normal do surgimento das doenas infantis, passar pelo sarampo com o intuito de exercer uma auto-educao orgnica pois, via de regra, nessa idade ainda no pode tratar-se de uma educao anmica. Disso se conclui o seguinte: podemos realmente dizer que, em certo sentido, a doena pode ser revertida para um processo espiritual. H nisso algo sumamente importante: se esse processo for assimilado pela alma como mxima de vida, produzir uma concepo que atuar sobre a alma de modo teraputico. No de admirar que, em nossa poca, possamos atuar to pouco sobre as almas. E quem hoje compreender a poca, do ponto de vista da Cincia Espiritual, entender por que tantos mdicos podem ser materialistas, desesperando-se ante uma influncia anmica. Ora, a maioria das pessoas no se dedica a algo que contenha uma fora frutfera. Toda as bobagens que hoje preenchem a literatura comum nao tm qualquer fora frutfera para as almas. Por isso o indivduo que deseja atuar em prol da Cincia Espiritual sentir, em sua atividade antroposfica, tambm algo eminentemente teraputico, pois os conhecimentos espirituais da humanidade podem, por seu lado, trazer algo capaz de fluir para a alma de
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modo que a mesma seja afastada do quadro formado pela organizao corprea. Apenas no se deve confundir o que se apresenta no incio desse movimento com o que pode ser realmente o mo vimento. Para dentro do movimento antroposfico so trazidas, efetivamente, coisas que tambm grassam no mundo exterior; ou seja: ao tornar-se antropsofos, muitas vezes os homens levam ao encontro da Antroposofia exatamente os mesmos interesses que possuem pelas coisas l de fora, inclusive todos os maus costumes que l fora adotam. Muita coisa dos lados sombrios do nosso tempo levada para dentro dela; mas quando algum desses lados sombrios se manifesta, muita gente afirma que efeito da Antroposofia e essa uma explicao bastante gratuita! Vendo o fio crmico estender-se de uma encarnao a outra, na realidade captamos s um lado da verdade. Haver ainda, para quem souber discernir como o fio crmico se estende atravs das encarnaes, muitas perguntas que sero abordadas no decurso destas palestras. Em primeiro lugar, temos de aludir seguinte questo: como podemos diferenciar entre uma doena para a qual podemos indicar causas exteriores e outra, fixada de tal modo na prpria organizao humana que se justifique afirmar ter advindo por si, no havendo uma causa exterior? As coisas no so exatamente assim. Mas de certo lado se justifica afirmar que surgem doenas para as quais o homem, em seu interior, est particularmente predisposto. Para numerosas manifestaes patolgicas ser possvel indicar causas exteriores. Temos de invocar causas exteriores, naturalmente no para tudo, mas para muitas coisas que nos sucedem de fora; se, por exemplo, quebrarmos uma perna, teremos de atribu-lo a causas exteriores. Tambm temos de acrescentar s causas exteriores o que acontece por meio do clima, e igualmente os inmeros casos patolgicos cujas causas devem ser buscadas nas ms habitaes urbanas. A novamente se nos abre um campo enorme. E para quem v o mundo com certa experincia, tambm explicvel que a atual tendncia da medicina seja buscar as causas das doenas em influncias exteriores, principalmente nos bacilos, a cujo respeito um cavalheiro cheio de esprito 12 disse, no sem razo, que hoje em dia as doenas vm dos bacilos tal qual antigamente se dizia que vinham de Deus ou do Diabo. No sculo XIII se afirmava que as doenas vm de Deus, e no sculo XV que vm do Diabo; mais tarde se dizia que vinham dos humores, e hoje que vm dos bacilos. Essas so as opinies que se revezaram no decorrer dos tempos. Temos, pois, de falar em causas exteriores da doena ou da sade humana. E a o homem contemporneo pode ser facilmente tentado a empregar uma palavra que, no fundo, muito apropriada para trazer desordem a toda a nossa viso do mundo. Se algum perfeitamente sadio entrar numa regio infestada pela gripe ou pela difteria e depois adoecer, sendo um homem de hoje ele estar, muito certamente, propenso a dizer que recebeu o germe da doena por ter ido quela regio; ento usar facilmente o termo acaso. Hoje em dia fala-se facilmente em influncias casuais. A palavra acaso uma verdadeira cruz para qualquer cosmoviso. E enquanto no se fizer uma tentativa de ter bem claro em mente o que se designa com tanta facilidade como acaso, tampouco se poder avanar no sentido de uma cosmoviso razoavelmente satisfatria. Portanto estamos, agora, no ponto de partida do captulo intitulado Doenas naturais e casuais do homem. No podemos prosseguir de outra forma seno tentando introdutoriamente, lanar um pouco de luz sobre a palavra acaso. No seria o prprio acaso algo que nos devesse trazer desconfiana em relao ao que o homem entende hoje to facilmente por esse termo? Em certa ocasio j chamei a ateno para o que um
12 Aluso a Frederik Troels-Lund (1840-1921), historiador dinamarqus, professor da Academia Militar em
Copenhage, cujo livro Gesundheit und Krankheit in der Anschauung alter Zeiten (Leipzig, 1901) contm todo um captulo sobre a origem das doenas. (Cf. N.E. orig.)
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homem espirituoso do sculo XVIII disse certa vez, no sem razo, referindo-se ao costume de se erguerem monumentos a grandes inventores, descobridores, etc.: Se considerarmos objetivamente o decurso da Histria, a grande maioria dos monumentos deveria ser erguida em homenagem ao acaso! Estranhamente, ao estudar Histria podemos fazer descobertas notveis acerca do que se esconde por detrs do acaso. J lhes contei que a descoberta do telescpio devida a brincadeiras de crianas com vidros ticos, numa oficina tica; disso resultou um contexto que levou algum a construir o telescpio. Poderamos tambm citar a famosa lmpada na catedral de Pisa, que vista de milhares de pessoas j havia anteriormente realizado suas oscilaes com a mesma regularidade com que o fez diante de Galileu. 13 Mas foi s Galileu quem examinou a relao entre as oscilaes e o andamento de sua circulao sangnea, descobrindo dessa forma as leis do pndulo. Sem as leis do pndulo, toda a nossa vida cultural teria um aspecto diferente. Procurem descobrir um sentido na evoluo da humanidade, e depois vejam se ainda se sentem inclinados a dizer que na situao de Galileu, por exemplo, s reinou o acaso, levando-o a essa descoberta to importante. Tomemos, porm, um outro caso. Pensemos no que significa a traduo da Bblia, feita por Lutero 14, para todo o mundo da cultura europa; pensemos na profunda influncia que ela exerceu sobre o sentimento e o pensamento religioso e, de outro lado, sobre a formao do que chamamos de lngua alem escrita. Quero s apresentar o fato sem interpret-lo, frisando apenas a profunda influncia que exerceu. Os Senhores, porm, precisam tentar ver um sentido naquela educao da humanidade que se realizou no decorrer de vrios sculos graas traduo da Bblia feita por Lutero. Ao tentarem ver um sentido nisso, considerem justamente com o que, o mais inteligentemente possvel, podem dizer a respeito do sentido da evoluo desde os sculos XVI e XVII o seguinte fato: At certo momento de sua vida, Lutero dedicou-se intensamente a tudo o que, pela leitura da Bblia, pudesse conduzir sua prpria personalidade a uma espcie de filiao a Deus. Ele havia passado do hbito dos agostinianos de ler preferencialmente os pais da Igreja para o prazer de ler a prpria Bblia. Tudo passou a favorecer que, em sua alma, o sentimento de filiao divina se inflamasse, tornando-se um sentimento abrangente. Foi nesse contexto que ele se dedicou ao seu magistrio teolgico no primeiro perodo de Wittenberg. O fato que desejo agora realar o de que Lutero tinha uma certa averso obteno do ttulo de doutor em Teologia. Mas numa conversa casual, ao sentar-se com um antigo amigo do convento dos agostinianos em Erfurt, ele foi realmente persuadido a conquistar o barrete de doutor em Teologia. Isto, porm, significou-lhe voltar uma vez mais ao estudo da Bblia. Portanto, o fato fortuito de haver reencontrado o amigo levou-o a um novo estudo da Bblia e ao resultado disso. Procurem ligar o sentido da evoluo dos ltimos sculos ao fato de Lutero se haver sentado com esse amigo e se haver deixado persuadir a conquistar o barrete de doutor em Teologia: os Senhores sero ento forados a fazer uma combinao notoriamente estranha entre o sentido da evoluo e o evento casual. Com base no que foi dito, os Senhores chegaro concluso de que talvez o acaso pudesse ter um significado diferente do que normalmente se pensa. Normalmente se imagina que o acaso seja algo que, por assim dizer, no se deixa explicar inteiramente pelas leis da natureza, pelas leis da vida, transcendendo o que passvel de explicao. Ao que foi dito adicionemos o fato que j vrias vezes nos ajudou a compreender tantos aspectos da vida: o fato de o homem, a partir de sua existncia na Terra, ter estado sujeito, em sua individualidade, s foras dos princpios lucifricos e arimnicos. Essas
13 Galileu Galilei (15641642), fsico, matemtico e astrnomo italiano. (N.E. orig.) 14 Martinho Lutero (14831546), inaugurador da Reforma Alem. (Cf. N.E. orig.)
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foras e princpios interferem constantemente na existncia humana: as foras lucifricas atuam mais apoderando-se do interior do corpo astral humano, enquanto as foras arimnicas atuam mais por meio do que o homem acolhe como impresses exteriores. Naquilo que acolhemos do mundo exterior, residem as foras arimnicas; e naquilo que surge na alma e atua nela como desejo e desinteresse, como paixo e assim por diante, residem as foras lucifricas. Ora, tanto o princpio lucifrico como o arimnico nos induzem a iluses; o princpio lucifrico faz com que nos iludamos acerca do nosso prprio interior, faz com que possamos julg-lo erradamente, vendo nele uma iluso. Considerando a vida racionalmente, os Senhores no tero dificuldade em avistar essa maya em sua prpria vida anmica. Tentem considerar quo freqentemente o homem procura convencer-se de que faz isto ou aquilo por esta ou aquela razo. Normalmente, porm, ele o faz por uma razo bem diversa, essencialmente mais profunda; mas em sua conscincia superior explica a si mesmo, de uma maneira bem diferente, a ao a que compelido por ira ou paixo. Em verdade, procura decretar a inexistncia daquilo que o mundo no aprecia. E quando impelido a algo por motivos bem egostas, o indivduo esconder seus impulsos grosseiramente egostas sob uma fantasia no egosta, explicando por que a ao teve de ser cometida. Via de regra, ele prprio no sabe que procede dessa maneira. Quando o sabe, surge habitualmente o comeo de uma mudana para melhor, com um certo sentimento de vergonha. O pior que ele impelido a um ato a partir das profundezas de sua alma, inventado depois um motivo que o teria determinado a agir assim. Isso at os psiclogos modernos j perceberam. Mas s por haver to pouca formao psicolgica em nosso dias que as verdades assumem formas to grotescas como no caso dos psiclogos materialistas de hoje. Eles chegam a interpretaes deveras peculiares da vida. Quem, como pesquisador espiritual, se aperceber de tal fato discernir, naturalmente, seu verdadeiro significado e notar a caracterstica dos elementos agindo juntos: a conscincia e o que atua abaixo de seu limiar como causas mais profundas. Defrontando-se, porm, com os mesmos fatos, um psiclogo materialista proceder de maneira diferente; ir logo excogtar uma teoria sobre a diferena entre o pretexto que o indivduo adota para uma ao e o verdadeiro motivo. Tomando, por exemplo, os suicdios de estudantes, hoje to notrios, o psiclogo dir que o pretexto invocado no o verdadeiro motivo; os verdadeiros motivos estariam situados bem mais profundamente: na maioria das vezes residiriam numa vida sexual transviada. Esses motivos seriam transformados e chegariam conscincia como causas falazes. Essa interpretao pode at ser correta, em muitos casos; mas o observador dotado de um pensamento psicolgico realmente mais profundo nunca far dela uma teoria geral. Uma teoria dessas pode ser facilmente refutada, pois seu defensor deveria lembrar o seguinte: se, de fato, o caso se apresentar de modo que o pretexto seja nada e o motivo seja tudo, poder-se-ia aplicar isto ao prprio psiclogo, dizendo-lhe: Tambm em teu caso, o que aqui apresentas e desenvolves como teoria no passa de pretexto; procurandose causas mais profundas, aquelas indicadas por ti talvez sejam de idntica natureza. Se tal psiclogo tivesse aprendido seriamente por que impossvel um julgamento erigido sobre uma concluso do tipo Todos os cretenses so mentirosos sendo um julgamento desse tipo equivocado se emitido por um prprio cretense, ele teria aprendido a razo de ser das coisas, e tambm por que surgem estranhos crculos viciosos quando, em certas reas, as afirmaes podem retroagir sobre quem as emitiu. Em todos os mbitos de nossa literatura, porm, a formao verdadeiramente mais profunda s existe em escala muito reduzida. Portanto, normalmente as pessoas no se apercebem, de modo algum, do que esto fazendo. Por isso absolutamente necessrio, justamente para a Cincia Espiritual,
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que tais confuses lgicas sejam evitadas em todos os sentidos. Quem menos evita essas confuses lgicas so os filsofos modernos que se ocupam com psicologia. Nosso exemplo foi um caso tpico. Vemos a como as influncias lucifricas pregam peas ao homem, transformando sua vida anmica em maya e dando-lhe a iluso de motivos bem diferentes dos que verdadeiramente reinam em seu interior. Neste mbito, o homem deveria tentar dispor de uma autoeducao mais severa. Hoje em dia, em geral, maneja-se a palavra muito facilmente. Porm essa palavra tambm um terrvel sedutor. Basta soar bem e deixar uma leve impresso de que uma sentena representa uma ao benfazeja, e logo o tom melodioso da sentena induzir as pessoas a acreditar que o motivo alegado esteja na alma quando, na realidade, o princpio egosta pode estar por detrs, no precisando o indivduo dar-se conta dele porque nem sequer tem vontade de desenvolver o verdadeiro autoconhecimento. Vemos assim, de um lado, Lcifer atuando. Como que atua rim, de outro? rim o princpio que se mescla em nossas percepes e, a partir de fora, se instala em ns. Ele exerce atuao mais forte nos casos em que temos a seguinte sensao: Aqui no consegues mais acompanhar com teu pensar; neste caso, chegaste com ele a um ponto crtico, onde ele comea a se emaranhar. A o princpio arimnico aproveita a oportunidade para penetrar em ns como se o fizesse atravs de uma fenda do mundo exterior. Se seguirmos o curso dos acontecimentos mundiais e considerarmos aqueles mais relevantes tomando, por exemplo, a fsica de hoje e remontando at o momento em que Galileu estava sentado no interior da catedral de Pisa, sob a lmpada que oscilava poderemos tecer, acerca de todos os fatos, uma rede de pensamentos que facilmente nos esclarecer sobre o assunto; em todos os momentos as coisas sero claras; mas quando chegarmos ao ponto da lmpada que oscila, nossos pensamentos se embaralharo. Esta a janela pela qual as foras arimnicas penetram em ns mais intensamente, quando ento nosso raciocnio cessa de captar, nos acontecimentos, o que poderia trazer razo e compreenso ao assunto. Mas a tambm se situa aquilo a que chamamos acaso. Situa-se onde rim se torna mais perigoso, pois o homem chama de casuais os fenmenos em que ele pode mais facilmente ser iludido pela influncia arimnica. Assim o homem aprender a compreender que o que eventualmente chama de acaso no reside na natureza dos fatos, mas nele mesmo, em sua evoluo. E dever paulatinamente aprender a discernir entre maya e iluso, isto , a discernir as coisas em que rm atua mais intensamente. sob esse prisma que deveremos abordar os fenmenos ao pretendermos falar sobre importantes causas de doenas e sobre a evoluo de algumas delas. Precisaremos, primeiro, procurar entender at que ponto no se trata de acaso quando uma pessoa toma precisamente o trem que pode conduzi-la morte, ou como se dispem as coisas pelas quais a pessoa, justamente em determinada idade, expe-se a um germe patognico ou a outra doena. E se nos ocuparmos das coisas com uma percepo aguada, estaremos em condies de compreender ainda mais profundamente a essncia e todo o significado do estado de doena e do estado de sade para a vida humana. Hoje tive de mostrar mais detalhadamente como, no interior do homem, Lcifer conduz iluso e rm se mescla s percepes exteriores, levando a maya; como Lcifer atua quando o homem cria para si a iluso de um falso motivo, e como a falsa hiptese frente ao mundo das manifestaes a iluso por meio de Arim leva-nos hiptese de um acaso. Tive de elaborar esse fundamento antes de poder mostrar como os acontecimentos crmicos, os resultados da vida anterior, tambm atuam no homem, esclarecendo tambm as manifestaes onde causas exteriores aparentemente fortuitas levam produo de doenas.
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21 de maio de 1910
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tendo sido, portanto, herdadas caractersticas dos antepassados, sendo que o indivduo, justamente por tais caractersticas estarem disponveis, transforma em talentos musicais certas qualidades trazidas de encarnaes anteriores, justamente porque os diversos fatores estariam presentes. Na realidade, porm, a coisa bem diferente. Suponhamos que numa vida entre o nascimento e a morte algum tivesse a oportunidade de receber um grande nmero de impresses musicais. Entretanto, essas impresses musicais teriam passado por ele, durante a vida, sem causar-lhe marcas, pela simples razo de ele no possuir um ouvido musical. Outras impresses de sua vida no lhe passam da mesma forma, porque ele tem rgos construdos de maneira a possibilitar-lhe transformar em aptides prprias as vivncias e impresses recebidas. Da podermos dizer que um indivduo tem, na vida, impresses que conseguiu transformar em aptides e talentos por meio da disposico recebida em seu ltimo nascimento; outras impresses ele as deve a seu carma, por no haver recebido deste a disposio adequada nem poder transform-las em aptides correspondentes. Essas impresses permanecem, porm, disponveis; permanecem armazenadas e transformam-se, entre a morte e o novo nascimento, na especial tendncia a realizar-se na prxima encarnao. E essa tendncia leva o indivduo a buscar, na prxima existncia, sua corporalidade justamente numa famlia que lhe possa dar as disposies adequadas. Portanto, se algum recebeu muitas impresses musicais e no pde transform-las em aptides ou prazeres musicais por causa de um ouvido no-musical, justamente essa incapacidade que lhe produzir na alma a tendncia a ingressar numa famlia capaz de legar-lhe um ouvido musical. Assim, podemos compreender que se em determinada famlia se transmite a construo do ouvido da mesma maneira como a forma exterior do nariz, nela se juntaro todas as individualidades que anseiam como conseqncia de sua encarnao anterior justamente pela posse de um ouvido musical. Vemos, pois, que de fato o homem no herdou por acaso, numa encarnao qualquer, o ouvido musical ou coisa semelhante, e sim procurou essas caractersticas hereditrias realmente as procurou. Ao observarmos, agora, tal indivduo a partir de seu nascimento, seu ouvido musical nos parecer algo interior nele, uma qualidade em seu interior; mas se nossas consideraes remontassem a antes de seu nascimento, verificaramos como o ouvido musical procurado por ele algo advindo de fora. Antes do nascimento ou da concepo, o ouvido musical no lhe era inerente; nele havia apenas a tendncia a ser atrado para um tal ouvido. Ento a pessoa atraiu para si algo exterior. Antes da reencarnao, a caracterstica que depois chamamos de herdada era algo exterior; tendo-se aproximado do indivduo, este foi ao seu encontro. Com a encarnao ela se torna algo interior, surgido no ntimo desse indivduo. Portanto, ao falarmos de disposies hereditrias incorremos uma vez mais numa iluso, no considerando no momento em que ainda era exterior algo que s agora est interiorizado. Perguntemo-nos ento: porventura o mesmo que ocorreu no caso recm-mencionado no poderia ocorrer tambm com acontecimentos exteriores surgidos durante nossa vida entre o nascimento e a morte, de modo que tambm a algo exterior pudesse transformarse em algo interior? No poderamos responder a essa pergunta sem penetrar, ainda mais profundamente do que at agora, na essncia da doena e da sade. J mencionei muitos aspectos para caracterizar doena e sade e os Senhores sabem que no costumo definir, e sim tento descrever as coisas, juntando aos poucos mais aspectos para que gradualmente se tornem compreensveis; acrescentemos, por conseguinte, mais alguns aspectos ao resultado j obtido. Devemos comparar doena e sade com algo que ocorra na vida normal; sendo assim, encontraremos algo ainda mais profundo na comparao com sono e viglia. O que
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acontece no ser humano quando os estados dirios de viglia e sono se alternam? Sabemos que durante o adormecer os corpos fsico e etrico so deixados para trs, no leito, retirando-se deles o corpo astral e o eu. Portanto, para ns o adormecer uma sada do eu e do corpo astral para fora dos corpos fsico e etrico; contrariamente, o acordar uma reentrada do corpo astral e do eu nos corpos fsico e etrico. Portanto, a cada manh, ao despertar, o homem mergulha em seus corpos fsico e etrico com o que o caracteriza como homem interior com o corpo astral e o eu. Ora, o que ocorre com o que se desenrola na essncia humana como vivncia durante o adormecer e o despertar? Ao considerarmos o momento do adormecer, este nos evidencia que todas as vivncias que agitam nossa vida da manh noite principalmente as vivncias anmicas de prazer e sofrimento, alegria e dor, paixes, representaes mentais, etc. aprofundam-se em nosso inconsciente. Ns mesmos, em nossa vida normal, enquanto dormimos estamos entregues inconsciencia. Por que nos tornamos inconscientes ao adormecer? Sabemos que durante o estado de sono estamos circundados por um mundo espiritual, assim como no estado de viglia estamos circundados pelo objetos e fatos do mundo fsico-sensorial. Por que no enxergamos esse mundo espiritual? Na vida normal, no vemos as coisas espirituais e os fatos espirituais situados ao nosso redor porque tal viso, no atual grau de maturidade do homem entre o adormecer e o despertar, seria altamente perigosa para ns. No instante em que o homem, hoje, passasse conscientemente ao mundo que o envolve entre o adormecer e o despertar, seu corpo astral, cuja formao foi completamente realizada durante a poca da Antiga Lua, se espalharia no mundo espiritual; mas tal no seria possvel ao eu, que s deve desenvolverse durante o ciclo da Terra, devendo estar plenamente desenvolvido no trmino desse ciclo. O eu ainda no est to plenamente evoludo que possa desenvolver sua completa atividade desde o adormecer at o despertar. Com respeito ao eu, para possibilitar uma comparao com o estado que o homem alcanaria se pudesse dormir em estado consciente, podemos dizer o seguinte: Suponhamos que, num tanque com gua, dlussemos uma gotinha de um lquido colorido; ento nada mais se perceberia da cor da gotinha, pois esta se teria espalhado por toda a massa de gua. Algo semelhante tambm ocorre quando o homem, ao adormecer, sai de seus corpos fsico e etrico. So os corpos fsico e etrico que mantm coesa toda a entidade humana. No instante em que abandonam estes corpos inferiores, o corpo astral e o eu empreendem um esforo no sentido de separar-se para todos os lados, num exclusivo anseio de contnua expanso. Portanto, ocorreria que o eu seria dissolvido e o homem teria, sem dvida, diante de si as imagens do mundo espiritual, no sendo porm capaz de observ-las com as foras que s o eu pode desenvolver pois este estaria dissolvido , ou se com critrios, capacidade de compreenso, etc.; enfim, com a mesma conscincia com a qual observa as condies do cotidiano. O homem estaria fora de si, puxado para todos os lados, flutuando sem rumo no mar das impresses astrais. Por no estar ainda suficientemente forte no estado normal do homem, o eu retroagir sobre o corpo astral, impedindo-o de entrar conscientemente em sua verdadeira ptria o mundo espiritual , at que ele prprio, o eu, seja capaz de acompanh-lo por toda parte onde o corpo astral queira penetrar. Tem, portanto, um bom sentido o fato de perdermos a conscincia ao dormir: no conseguiramos manter nosso eu. S seremos capazes de mant-lo de maneira satisfatria quando do desenvolvimento da Terra houver chegado a seu trmino. Por esse motivo, tampouco nos dado desenvolver nosso corpo astral no tocante sua capacidade de conscincia. Exatamente o contrrio acontece quando o homem desperta. Ao despertar e mergulhar nos corpos fsico e etrico, na verdade ele deveria vivenciar o interior desses
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dois corpos; contudo, no o faz. No instante em que acorda, o homem impedido de olhar para o interior de sua corporalidade, pois a sua ateno logo dirigida s vivncias exteriores. Ento sua capacidade visual e sua capacidade cognitiva no so dirigidas a discernir seu interior, e sim desviadas para o mundo exterior. Se o homem se detivesse em seu interior, aconteceria exatamente o oposto do que ocorreria se ele penetrasse de maneira consciente no mundo espiritual ao dormir. Tudo o que o homem j houvesse conquistado de espiritual, no decorrer da vida terrena, se concentraria e atuaria sobre ele com toda a fora depois do mergulho nos corpos fsico e etrico. Isto teria por conseqncia que toda e qualquer qualidade egosta se desenvolveria poderosamente. O homem imergiria com seu eu e em cada bocado imerso consigo derramaria suas paixes, cobias e impulsos, num egosmo cada vez mais intenso. Todo o egosmo fluiria para sua vida de instintos. Para que isso no acontea, somos desviados para o mundo exterior e no podemos entrar em nosso interior com nossa conscincia. A confirmao disso pode tambm ser deduzida dos relatos dos que, na qualidade de msticos, tentaram realmente penetrar no interior humano. Consultem Mestre Eckhart, Johannes Tauler e outros msticos da Idade Mdia que realmente empreenderam incurses ao ntimo humano. A os Senhores tm msticos que se abandonaram a um estado de total desvio da ateno ao que poderia interess-los no mundo exterior, para poderem descer ao seu prprio interior. Basta ler as biografias dos santos ou dos msticos que procuraram faz-lo. O que experimentaram eles? Tentaes, sedues, etc., que descrevem em vivas cores. Era o que se fazia valer como uma fora adversa desprendida do corpo astral e do eu, comprimidos. Por isso aqueles que, como msticos, queriam por assim dizer descer ao seu prprio interior sem ser molestados, insistiram com todas as foras em que, na mesma medida de sua descida, o eu fosse extinto. Mestre Eckhart encontrou at mesmo um bonito termo para designar essa descida para dentro da prpria corporalidade. Ele fala em deixar de ser, isto , na extino do eu. Leiam na Deutsche Theologie (Teologia alem)16 como o Autor descreve o percurso mstico no interior humano, como insiste em que, desejando descer para dentro da corporalidade, a pessoa no mais atua a partir de seu eu, mas nela atua o Cristo, com o qual ela se permeou totalmente. Tais msticos queriam ex tinguir seu eu. No so eles que devem pensar, sentir e querer; o Cristo neles que deve pensar, sentir e querer para que no emerjam as paixes, os impulsos e cobias existentes neles, e sim o que, na qualidade de Cristo, se derrama neles. Por isso Paulo diz: No eu, mas o Cristo em mim!17 Tal a origem profunda dessas palavras. Podemos, assim, caracterizar o despertar e o adormecer como vivncias ntimas da entidade humana: o despertar, como um mergulho do eu, comprimido, na corporalidade do homem; o adormecer como um libertar-se da conscincia, porque a pessoa ainda no est madura para enxergar naquele mundo em que tem de penetrar ao adormecer. Por isso compreendemos o sono e a viglia no sentido em que precisamos compreender muitos outros fatos da vida: como a interpenetrao dos diversos membros da entidade humana. Considerando, desse ponto de vista, um indivduo desperto, diremos que no homem desperto esto encaixados quatro membros da entidade humana o corpo fsico, o corpo etrico, o corpo astral e o eu ,os quais, por sua vez,encaixam-se entre si de maneira definida. O que resulta disso? Justamente o estado de viglia! Pois o homem no poderia estar desperto se no se aprofundasse em sua corporalidade de modo a ter sua ateno
Mestre Eckhart (12501327), frei dominicano e importante pensador da mstica alem; Johannes Tauler (e. 13001361), dominicano, discpulo de Mestre Eckhart. (Cf. N.E. orig.) 16 Manuscrito medieval editado posteriormente por Franz Pfeiffer (uma 2 edio aprimorada, traduzida para o alemo moderno, data de 1855). (Cf. N.E. orig.) 17 Glatas 2, 20: J no sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim. Em A Bblia de Jerusalm (2. ed. So Paulo: Paulinas, 1987). (N.E.)
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atrada pelo mundo exterior. O fato de ele acordar depende justamente de uma interpenetrao bem determinada entre seus quatro membros. E, novamente, o fato de ele dormir depende de uma separao correta entre esses membros. No basta sabermos que o homem composto dos corpos fsico, etrico e astral, mais o eu; ns s o compreendemos ao saber de que maneira os diversos membros esto interligados em determinado estado, como esto encaixados uns nos outros. Isto o essencial para o conhecimento da natureza humana. Consideremos, agora, a interpenetrao dos quatro membros do homem, tal qual se nos apresenta no ser humano acordado, como sendo a situao normal. Partamos, ento, desta premissa: considerar como sendo o normal o estado do homem desperto. A maior parte dos Senhores se lembrar de que a conscincia possuda por ns, homens terrenos, entre o nascimento e a morte apenas uma de vrias formas possveis de conscincia. Se os Senhores estudarem, por exemplo, meu livro A cincia oculta ou os antigos ensaios intitulados Da Crnica do Akasha, vero que a conscincia atual um dentre sete diferentes graus de conscincia, tendo-se desenvolvido de trs estados anteriores e devendo transformar-se, mais tarde, em trs outras formas subseqentes de conscincia. Quando o homem ainda era um homem lunar, no possua um eu. O eu uniuse a ele somente durante o ciclo terrestre. Por isso o homem tambm s podia vir a possuir o tipo atual de conscincia durante este ciclo. Uma conscincia tal como a possumos hoje entre o nascimento e a morte pressupe que o eu atue em conjunto com os outros corpos, exatamente como acontece hoje, sendo ainda o mais elevado dentre os quatro membros da entidade humana. Antes de ser fecundado pelo eu, o homem consistia apenas nos corpos fsico, etrco e astral. Ento o corpo astral era seu membro mais elevado, sendo tal seu estado de conscincia que hoje poderamos compar-lo, no mximo tomando algo da vida normal , ao que o homem conservou como antiga herana: a conscincia de sonho. Porm os Senhores no devem imaginar a conscincia onrica atual, e sim uma conscincia que reproduza realidades nas imagens do sonho. Se estudarmos o sonho atual, encontraremos muitos elementos caticos nas diversas imagens, pois a atual conscincia onrica uma antiga herana. Mas se analisarmos a conscincia que antecedeu atual, descobriremos que em sua epoca a mesma no teria visto objetos exteriores como, por exemplo, plantas. Portanto, uma impresso externa causada sobre o homem teria sido impossvel. Se algo se houvesse aproximado de um ser humano, teramos recebido uma impresso desviada, por sobre a imagem de sonho, para dentro do interior humano portanto, uma imagem sensorial que, todavia, teria correspondido a um certo objeto e impresso exterior. Antes da conscincia ligada ao eu, tivemos, portanto, uma conscincia ligada ao corpo astral, o membro mais elevado na poca; a conscincia astral era abafada e crepuscular, faltando-lhe a iluminao pela luz do eu. Essa conscincia astral foi sobrepujada pela conscincia ligada ao eu quando o homem se tornou um ser terreno. Ora, o corpo astral continua em ns, e poderamos perguntar: como se tornou possvel a superao da conscincia astral pela conscincia ligada ao eu? Como pde esta entrar no lugar daquela? Isto se tornou possvel porque o lao interior, existente entre os corpos etrico e astral, tornou-se muito mais frouxo mediante a fecundao do homem pelo eu. Por assim dizer, a ligao ntima, anteriormente existente, ficou mais solta. Havia, pois, antes da conscincia ligada ao eu, uma ligao muito mais ntima entre o corpo astral e os corpos inferiores da entidade humana. O corpo astral penetrava muito mais nos demais membros do que ocorre hoje. Ele foi, de certa forma, arrebatado aos corpos etrico e fsico. Precisamos agora tornar bem claro esse processo, por assim dizer, de sada parcial,
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de desprendimento do corpo astral em relao aos corpos etrico e fsico. Ento nos perguntaremos: acaso existe ainda hoje, no obstante nossa conscincia ligada ao eu, a possibilidade de estabelecer algo semelhante quela antiga ligao? Seria possvel acontecer ainda hoje, na vida humana, de o corpo astral querer penetrar nos demais membros mais profundamente do que deve, impregnando-se com elementos estranhos em escala maior do que lhe convm? A interpenetrao do corpo astral com os corpos fisco e etrico necessria, em certas medidas normais. Ora, suponhamos que essas medidas normais sejam ultrapassadas num sentido qualquer. Neste caso,um distrbio ter de manifestar-se em todo o organismo humano; pois aquilo que o homem hoje depende da existncia dessa relao definida entre os diferentes membros essenciais, a qual se nos apresenta no homem acordado. No instante em que o corpo astral se comporta incorretamente, penetrando mais profundamente nos corpos fsico e etrico, tem de surgir uma perturbao. Ora, em nossas ltimas consideraes vimos que isso ocorre de fato; s que apresentamos todo o processo de um outro lado. Quando que isso acontece? Isso acontece quando numa vida anterior o indivduo fixou em seu corpo astral algo que, em relao a essa vida anterior, devemos considerar como falta moral ou intelectual. Isso se gravou no corpo astral. E agora, tendo o indivduo retornado vida, passou a ser algo que, de fato, poder levar o corpo astral a procurar uma outra relao com os corpos fsico e etrico, uma relao diferente da que teria procurado caso no houvesse fixado em si a referida falta em sua vida anterior. So, portanto, as nossas faltas, cometidas sob a influncia de Lcifer e Arim e transformadas em foras organizadoras, que na nova vida levam o corpo astral a colocar-se numa relao, com os corpos fsico e etrico, diferente da que teria sem a penetrao de tais foras. Vemos, assim, como justamente os efeitos de pensamentos e sentimentos anteriores levam o corpo astral ao que provoca desordem na organizao humana. O que surge quando tal desordem suscitada? Quando o corpo astral penetra nos corpos fsico e etrico mais do que deveria no homem normal, faz algo semelhante ao que fazemos de manh no momento de acordar, ao mergulharmos com nosso eu em nossos dois corpos. Acordar consiste no mergulhar do eu nos corpos fsico e etrico. Em que consiste, ento, a atuao do corpo astral quando, levado por vivncias anteriores, ele penetra mais do que deveria nos corpos fsico e etrico? Aquilo que normalmente acontece quando, com o eu e o corpo astral, mergulhamos nos corpos fsico e etrico ao acordarmos pela manh, tendo percepes, mostra-se precisamente no fato de despertarmos. Assim como todo estado de viglia conseqncia do mergulho do eu nos corpos fsico e etrico, agora deve surgir algo provocado pelo corpo astral, isto , algo que de outro modo acontece sob a ao do eu. Ele mergulha nos corpos etrico e fsico. Portanto, quando temos diante de ns um indivduo cujo corpo astral tenha assimilado a tendncia a unir-se mais aos corpos etrico e fsico do que normalmente deveria fazer, temos ento diante de ns, quanto ao corpo astral, o mesmo fenmeno que normalmente temos quanto ao eu ao acordarmos. O que , ento, essa penetrao excessiva do corpo astral nos corpos fsico e etrico? algo que normalmente podemos qualificar como a essncia da doena. Quando nosso corpo astral faz o mesmo que normalmente fazemos ao acordar, ou seja, penetra nos corpos fsico e etrico; quando ele, que normalmente no deveria desenvolver conscincia alguma de nosso ser, se esfora por uma conscincia nos corpos fsico e etrico; quando, enfim, ele quer acordar em ns, ento ficamos doentes. Doena um estado anormal de viglia do nosso corpo astral. O que fazemos, de fato, quando nos encontramos em estado normal de bem-estar, quando vivemos em nosso estado normal de viglia? Acordamos para a vida normal. Mas para poder possuir a conscincia normal de viglia, precisamos, anterior-
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mente, ter levado o corpo astral a uma outra ligao. Precisamos t-lo levado a dormir. Quando possumos nossa conscincia diurna ligada ao eu, o corpo astral tem de dormir; ns s podemos ter sade quando nosso corpo astral dorme em ns. Por conseguinte, podemos agora compreender a essncia da sade e da doena da seguinte maneira: doena um acordar anormal do corpo astral no homem, e sade o estado dormente normal do corpo astral. Qual , ento, a conscincia desse corpo astral? Se realmente a doena fosse o despertar do corpo astral, algo como uma conscincia deveria manifestar-se nele. Ele desperta de maneira anormal portanto, poderamos esperar uma conscincia anormal; mas teria de haver uma conscincia. Ao cairmos doentes, deveria aparecer algo semelhante ao que normalmente se manifesta pela manh, quando acordamos. Nossa vivncia deveria ser desviada para qualquer coisa diferente. Pela manh, quando acordamos normalmente aflora nossa conscincia normal. E quando adoecemos, acaso aflora uma conscincia? Sim, aflora uma conscincia que o homem conhece muito bem. E que conscincia essa? Uma conscincia expressa em vivncias! A conscincia que a aflora expressa-se no que chamamos de dor-de-cabea, que no nos acomete na condio de bem-estar do estado normal de viglia, pois nesse caso nosso corpo astral est dormindo. O adormecimento do corpo astral significa que ele se encontra em relao regular com os corpos fsico e etrico significa ausncia de dor. A dor a expresso do fato de o corpo astral se comprimir de maneira excessiva para dentro dos corpos fsico e etrico, tornando-se consciente. nisso que consiste a dor. Devemos agora ter o cuidado de no extrapolar desmedidamente o que acaba de ser dito. Em matria de Cincia Espiritual, sempre preciso observar os limites dentro dos quais uma afirmao vlida. Foi dito que quando nosso corpo astral acorda surge uma conscincia permeada de dor. No podemos, porm, depreender disso que dor e doena sempre coincidam. verdade que toda penetrao forada do corpo astral nos corpos etrico e fsico um estado de doena; mas, inversamente, o fato de nem toda doena consistir nisso, podendo o estar doente ter tambm outro carter, pode ser entendido pela razo de muitas doenas no serem acompanhadas de dores. A maior parte das pessoas s no se do conta disto por que geralmente no se esforam em estar sadias, mas em no ter dores; e quando no tm dores, elas acham que esto sadias. Nem sempre assim, mas em muitos casos o indivduo acredita estar em boa sade quando no tem dores. Cairamos num enorme engano se acreditssemos que a sensao de dor e o estado de doena fossem coincidentes. O fgado de uma pessoa pode estar totalmente deteriorado; se no houver, por exemplo, uma afeco do diafragma, nenhuma dor se manifestar. Uma pessoa pode ser portadora de um processo patolgico que no se manifesta em dores. Isto pode ocorrer em muitos casos. Ante uma avaliao mais objetiva, essas doenas so at mesmo as piores, pois ao sentir dores o paciente procura livrar-se delas; no tendo dor alguma, no se esfora muito para livrar-se da doena. Como devemos, ento, entender a manifestao de doenas desacompanhadas de dores? O que fizemos ns, nesse caso? Basta lembrar que nos desenvolvemos pouco a pouco at sermos realmente os seres humanos que somos hoje; que, durante o ciclo da Terra, acrescentamos o eu aos corpos astral, etrico e fsico. Mas em determinada poca tambm fomos um ser humano que s possua os corpos fsico e etrico. Um ser que s possui os corpos fsico e etrico como uma planta atual. Tal ser possui um terceiro grau de conscincia, uma conscincia muito mais apagada, que no chega sequer ao grau de lucidez da atual conscincia de sonho. um erro profundo supor que o homem no tenha conscincia alguma quando dorme. Ele tem uma conscincia, s que apagada a ponto de ele no conseguir cham-la recordao em seu eu. Tambm a planta possui tal
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conscincia. uma espcie de conscincia de sono portanto, ainda mais profunda do que a conscincia astral. Neste caso, descemos a uma conscincia ainda mais profunda do homem. Suponhamos agora que, por vivncias em encarnaes anteriores, o homem tenha introduzido em seu ser uma desordem tal que no somente o corpo astral se veja levado a mergulhar de maneira irregular nos corpos fsico e etrico; tambm o corpo etrico ser motivado a forar sua penetrao irregular no corpo fsico. Pode perfeitamente surgir uma condio em que tambm a ligao entre os corpos fsico e etrico no seja aquela normal para o homem de hoje; pode ser que o corpo etrico penetre em demasia no fsico. O corpo astral, digamos, nem ter participado desse processo; o que, nesse caso, foi fixado numa vida anterior produz no organismo humano uma unio, entre os corpos fsico e etrico, mais estreita do que normalmente deveria ser. Neste caso temos, no corpo etrico, o mesmo que no corpo astral durante a conscincia da dor. Quando o corpo etrico, por seu lado, penetra excessivamente no corpo fsico, aflora uma conscincia semelhante conscincia humana do sono ou conscincia do vegetal. No de admirar, portanto, que se trate tambm de um estado do qual o homem no se apercebe. Tal como no tem sensaes enquanto dorme, ele tampouco sente este estado. Mesmo assim, um despertar! Assim como nosso corpo astral desperta de maneira anormal quando mergulha demais nos corpos fsico e etrco, tambm o corpo etrico acorda de maneira anormal quando penetra demais no corpo fsico. S que o homem no pode perceb-lo porque esse despertar gera uma conscincia ainda mais abafada do que a conscincia da dor. Suponhamos, todavia, que numa vida anterior o indivduo tenha realmente feito algo que, na vida entre a morte e o novo nascimento, se metamorfoseie de forma a fazer com que o corpo etrico desperte por si, ou seja, tome posse intensa do corpo fsico. Neste caso, origina-se na pessoa uma conscincia profunda, que no entanto no pode ser percebida como o so as demais vivncias da alma humana. Mas ser que ela no atua por no ser percebida? Procuremos compreender qual tendncia caracterstica uma conscincia recebe quando comea a situar-se um nvel abaixo. Uma impresso exterior, como por exemplo a de uma queimadura, produz a dor. Para que a dor possa surgir, a conscincia deve possuir ao menos o grau de conscincia do corpo astral. Uma dor tem de viver no corpo astral. Portanto, sempre que surge dor na alma humana existe um fato no corpo astral. Suponhamos que ocorra algo no ligado dor, mas que provoque um estmulo, uma impresso exterior. Se uma coisa qualquer voa em direo ao nosso olho, produz uma reao exterior; o olho fecha-se. A dor no est ligada a isto. Mas o que provocou a reao? Foi um movimento. Eis algo semelhante a um leve toque na planta do p; no h dor, mas o p estremece. Existem, pois, no homem impresses que no so acompanhadas de dor, mas que no obstante provocam uma reao, um movimento. O homem no sabe pois no consegue penetrar neste grau profundo da conscincia como pode ocorrer o fato de a uma sensao se seguir um movimento. Se os Senhores sentirem dor e por isso rejeitarem algo, ter sido, portanto, a dor que lhes ter chamado a ateno para o que rejeitam. Pode, todavia, surgir algo que os impulsione a um movimento interior, a um movimento reflexo. Neste caso a conscincia no desce at o nvel em que o estmulo se transforma em movimento. Temos a um grau de conscincia que no entra nas vivncias astrais, que no vivenciado conscientemente, decorrendo numa espcie de esfera de conscincia onrica e nem por isso deixando de levar a certos acontecimentos. Quando ocorre uma tal penetrao mais profunda do corpo etrico no corpo fsico, isso causa o aparecimento de uma conscincia que no uma conscincia de dor porque o corpo astral no toma parte no processo , mas to apagada que o homem no a percebe. Com isto no estamos dizendo que nessa conscincia o homem no
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consiga realizar ao alguma, que no consiga fazer algo condizente com o estado de coisas. Afinal, normalmente ele tambm realiza atos em que no h participao de sua conscincia. Basta os Senhores considerarem a situao em que a conscincia diurna normal est apagada e o indivduo, na qualidade de sonmbulo, realiza toda sorte de atos. No se trata, neste caso, de no existir conscincia alguma, mas sim de haver a participao de uma conscincia que o indivduo no consegue perceber, pelo fato de s poder vivenciar as duas formas mais elevadas de conscincia: a conscincia astral (como prazer, sofrimento, etc.) e a conscincia ligada ao eu (como julgamento e como conscincia diurna normal). Isto no significa, porm, que o indivduo no possa agir a partir dessa conscincia de sono. Portanto, possumos tambm essa conscincia to profunda que o homem no mais pode alcan-la quando o corpo etrico desce para dentro do corpo fsico. Suponhamos que ele queira fazer algo a cujo respeito nada saiba na vida normal e que, de algum modo, se relacione com a situao; neste caso, ele o far sem nada saber sobre isso. O ato se realizar por si, sem que o prprio indivduo tenha conhecimento dele. Consideremos agora um indivduo que, por meio de acontecimentos quaisquer em sua vida anterior, haja estabelecido em si prprio causas que, no perodo entre a morte e o novo nascimento, atuem de maneira a provocar uma penetrao mais profunda do corpo etrico no corpo fsico. Disso resultaro, depois, atos conduzindo ecloso de processos patolgicos situados mais profundamente. Neste caso, o indivduo poder ser impelido a procurar causas exteriores para doenas. Pode parecer estranho que isso no se manifeste de ma neira clara conscincia normal ligada ao eu; mas o indivduo em questo nunca cometeria tal ato a partir dessa conscincia: nunca ordenaria a si prprio, a partir dessa sua conscincia normal, penetrar num foco de bacilos. Suponhamos, porm, que a conscincia mais apagada ache necessrio produzir um dano exterior, podendo desenrolarse o que ontem chamamos de sentido pleno do estado de doena. E ento essa conscincia, que penetra no corpo fsico, procura a causa da doena. E a prpria entidade do indivduo que procura a causa da doena, a fim de alcanar o que ontem chamamos de processo patolgico. Assim se pode compreender, pela essncia profunda da doena, a possibilidade de aparecerem efeitos contrrios, mesmo no surgindo dores. E tambm quando estas se fazem sentir, possvel ocorrer o que se pode caracterizar como uma procura de causas patognicas exteriores atravs de camadas mais profundas da conscincia, bastando que o corpo etrico penetre excessivamente no corpo fsico. Pode parecer grotesco, mas verdade: procuramos causas exteriores para nossas doenas com um outro grau de conscincia da mesma maneira como ocorre com as qualidades recebidas por hereditariedade quando precisamos dessas doenas. O que acaba de ser dito s vlido dentro dos limites do tema exposto hoje. Hoje tratamos, em primeira linha, de deixar claro que o homem pode estar em condies de procurar a doena, produzindo um estado de conscincia anormal porm profundo, sem poder acompanha-lo com os graus de conscincia que lhe so conhecidos. A inteno foi mostrar o fato de a doena implicar num despertar de estados de conscincia que ns, homens, j superamos h muito tempo. Pelo fato de nos havermos carregado de erros durante uma vida anterior, demos causa gerao de graus de conscincia mais profundos do que convm nossa vida atual. E o que fazemos sob os impulsos desses graus de conscincia influencia o decurso do processo patolgico, bem como o processo que levou doena. Vemos a que nos estados anormais afloram antigos graus de conscincia, desde h muito superados pelo indivduo. Observando, um pouco que seja, os fatos do dia-a-dia, j podemos compreender algo do que foi dito hoje. Por meio de suas dores de certo modo o
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homem desce mais profundamente em seu ser. Os Senhores devem conhecer o ditado que diz: a pessoa s sabe que possui um rgo quando este comea a doer. um ditado popular, mas no to tolo assim. Por que o homem ignora isso em sua conscincia normal? Porque em condies normais sua conscincia dorme to bem que no mergulha com suficiente intensidade no corpo astral. Porm quando mergulha fundo surge a dor, e graas a ela o homem vem a saber que possui o rgo em questo. H muitas verdades em ditados da vida comum, porque estes so heranas dos estados de conscincia anteriores nos quais o homem, por observar o mundo espiritual, sabia muitas coisas que hoje precisamos buscar a duras penas. Se entendermos que o homem pode vivenciar camadas mais profundas da conscincia, poderemos tambm compreender que ele pode buscar no s causas patognicas exteriores, mas tambm golpes exteriores do destino que ele no pode considerar como racionais, mas cuja razo atua de modo a tocar as camadas mais profundas da conscincia. Assim, pode at parecer plausvel que o indivduo no v, por dscernimento normal, postar-se num lugar onde um raio possa atingi-lo. Com a conscincia superior, ele o evitar. Porm uma conscincia localizada muito mais profundamente do que a conscincia superior poderia atuar levando-o justamente ao lugar em que o raio possa atingi-lo, com uma previso de que a conscincia superior no dispe; portanto, trata-se de uma conscincia que deseja o golpe do raio, e deste modo o homem procura diretamente o acidente. Entendemos hoje que, devido a efeitos crmicos, acidentes e causas externas de doenas so procurados. Ainda iremos estudar como isso acontece em cada caso como atuam no homem as foras situadas em camadas mais profundas da conscincia e se porventura permitido nossa conscincia normal evitar tais acidentes. Assim como podemos entender que quando o indivduo vai a uma regio onde pode ser vitimado por uma infeo atue nele um certo grau de conscincia que o impulsiona para aquela regio, devemos tambm poder entender como que acontece de o indivduo tomar medidas no sentido de tais infeces poderem atuar cada vez menos portanto, para que por meio de medidas higinicas, tomadas com a conscincia superior, as coisas possam ser afastadas. Podemos tambm entender a possibilidade de desviar esse efeito graas conscincia superior; e cumpre dizer que seria um grande absurdo a conscincia inferior poder procurar causas de doenas se, por outro lado, estas no pudessem ser evitadas pela conscincia superior. Veremos que razovel buscar as causas patognicas, sendo igualmente razovel que a conscincia superior tome medidas higinicas contra a penetrao de substncias infecciosas para, com isso, evitar as causas de doenas.
22 de maio de 1910
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encarar doena e dor como algo correlato. Precisamos ter em mente que, quando a dor est ligada a uma doena, deve haver outra coisa atuando alm do mero estado patolgico. J chamamos ateno para o fato de que, no processo decorrido na passagem de uma encarnao a outra, onde vivncias de encarnaes anteriores se transformam em causas de doenas, intervm, de um lado, o princpio lucifrico e, de outro, o princpio arimnico. De que modo o homem coloca em si a causa de processos patolgicos? Por que assimila a tendncia a ficar doente? O que faz com que prepare, ente a morte e o novo nascimento j caracterizamos como essa a poca que rene as foras causadoras da doena foras que na vida seguinte se realizam na doena? O que leva a isto , de um lado, a possibilidade de entregar-se tentao da potncia lucifrica e, de outro, tentao da potncia arimnica. J sabemos o que significa sucumbir potncia lucifrica. Tudo o que atua em ns como cobias, como caractersticas de egosmo, de ambio, de orgulho, de vaidade isto , todas as caractersticas que se relacionam com uma espcie de supervaloriz ao do nosso eu , tudo isso est relacionado com a tentao dos poderes lucifricos em ns. Em outras palavras, sucumbimos s foras que atuam em nosso corpo astral e que se exprimem ao sentirmos cobia e paixes egostas e cometermos atos que, na encarnao em causa, resultam da seduo de Lcifer. E ento, no perodo entre a morte e o novo nascimento, vemos os resultados de tais aes influenciadas por Lcifer e assimilamos a tendncia a encarnar-nos de modo a passar por um processo patolgico capaz de nos ajudar, caso o superemos, a libertar-nos dos tentculos desses poderes lucifricos. Portanto, se os poderes lucifricos no estivessem presentes, no teramos a possibilidade de sucumbir s tentaes que nos levam a assimilar tais foras. Se nada mais existisse na vida alm da influncia de Lcifer, que nos induz a desenvolver impulsos e paixes egostas, em verdade nunca poderamos livrar-nos das tentaes lucifricas. Tampouco conseguiramos livrar-nos delas atravs das encarnaes sucessivas, pois sempre sucumbiramos a elas novamente. Se, por exemplo, durante a evoluo terrestre tivssemos sido simplesmente entregues a ns prprios, tendo a influncia lucifrica estado presente, teramos numa encarnao as tentaes lucifricas e, aps a morte, percebendo at onde elas nos teriam levado, provocaramos um processo de adoecimento; porm, se verdadeiramente nada acontecesse alm disso, esse processo patolgico no nos levaria a qualquer melhora especfica na vida em que se realizasse. Ele s nos conduz a uma melhora quando as potncias das quais Lcifer adversrio acrescentam algo ao processo todo. Portanto, quando de um lado sucumbimos aos poderes lucifricos, logo se impem como reao os poderes que lhe so adversos, procurando, ento, desenvolver uma fora contrria por cujo intermdio a influncia lucifrica possa verdadeiramente ser expulsa de ns. E esses poderes cujo opositor , portanto, o poder lucifrico acrescentam, ao processo desencadeado sob a influncia de Lcifer, a dor. Assim, precisamos considerar a dor como algo que se chamarmos os poderes lucifricos de poderes maus nos trazido pelos poderes bons, a fim de que, justamente por meio da dor, possamos arrebatar-nos aos tentculos dos poderes maus, no sucumbindo novamente a eles. Se no processo patolgico resultante de sermos presas dos poderes lucifricos no sobreviesse a dor, opinaramos que no to ruim assim sucumbir aos poderes de Lcifer! E nada teramos, em ns, que nos levasse a empregar nossas foras para arrebatar-nos aos poderes lucifricos. A dor, que a conscientizao do despertar incorreto do corpo astral, ao mesmo tempo o que nos pode dissuadir de continuar sempre sucumbindo aos poderes lucifricos, nesse contexto em que j sucumbimos a eles. Assim, a dor torna-se nossa educadora no que tange s tentaes dos poderes lucifricos.
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Ora, no digam: como pode a dor nos educar, se apenas a sentimos como dor e no percebemos sua fora benfica? O fato de no percebermos essa fora benfica apenas uma conseqncia de nossa conscincia ligada ao eu. na conscincia que descrevi como subjacente conscincia prpria do eu que o processo se desenrola, mesmo que o homem, com a conscincia diurna, nada saiba a respeito e no possa concluir: Agora estou sofrendo uma dor; ela o resultado do suplemento conferido pelos bons poderes s minhas falhas! Esta uma fora, no subconsciente, atuando verdadeiramente como realizao crmica, como um impulso para no se sucumbir mais s aes, impulsos e cobias que provocaram justamente essa doena. Vemos assim como atua o carma, como sucumbimos aos poderes lucifricos e como esses poderes nos trazem uma doena que levada a uma encarnao seguinte; e vemos como poderes benficos acrescentam a dor mera leso dos nossos rgos para que tenhamos, na dor, um meio educativo subjacente superfcie de nossa conscincia. Por isso podemos dizer o seguinte: sempre que surgir dor numa doena, ter sido um poder lucifrico que causou essa doena. A dor decididamente um sinal da subjacncia do poder lucifrico. Pessoas que gostam de classificar sentiro a necessidade de distinguir entre doenas baseadas em influncias exclusvamente lucifricas e as que resultam exclusivamente de uma influncia arimnica; pois em todas as ocupaes tericas o mais cmodo classificar, esquematizar, acreditando-se com isso ter compreendido muita coisa. Porm na realidade as coisas nao se comportam de modo a podermos capt-las por esses meios cmodos; elas esto continuamente se cruzando e intercalando. E tambm poderemos facilmente compreender, quando em presena de um real processo patolgico, que uma parte possa ter sua causa na influncia lucifrica isto , em coisas a serem procuradas mais nas caractersticas do nosso corpo astral e outra, ao mesmo tempo, em coisas a serem procuradas na influncia arimnica. Assim, ningum deve pensar, ao sentir uma dor qualquer, que s possa atribu-la influncia lucifrica. A dor indica a parte da doena decorrente da influncia lucifrica; mas ns compreenderemos isso mais facilmente perguntando-nos: de onde vem a influncia arimnica? Os homens no se entregariam de modo algum influncia arimnica se antes no se houvessem entregue de Lcifer. Pelo fato de os homens terem assimilado a influncia de Lcifer, sobreveio entre os quatro membros do ser humano os corpos fsico, etrico, astral e o eu uma ligao que no teria ocorrido caso no houvesse atuado Lcifer, mas apenas os poderes que lhe so adversos. Neste caso, o homem se haveria desenvolvido de outra maneira. Portanto, no que diz respeito ao interior humano, o princpio lucifrico provocou uma perturbao. Ora, a maneira como o homem permite ao mundo exterior comunicar-se com ele depende do interior humano. E, exatamente como no caso de um olho que no pode ver corretamente o mundo exterior devido a um defeito interno, tampouco o homem consegue ver, atravs da influncia lucifrica, o mundo exterior tal qual ele . Tendo-lhe sido dada uma razo para no ver o mundo exterior tal qual , a influncia arimnica conseguiu imiscuir-se na imagem incorreta do mundo exterior, de modo que a comunicao de Arim com o homem s pde ocorrer devido prvia influncia lucifrica. A influncia arimnica teve como conseqncia no s o fato de o homem poder continuar a entregar-se ao egosmo sob forma de paixes, instintos, cobias, vaidade, orgulho, etc., mas tambm o fato de agora, num organismo humano onde o egosmo atuou dessa maneira, terem-se formado rgos aos quais coube ver o mundo de modo enviesado e incorreto. Foi desse modo que Arim conseguiu mesclar-se s imagens incorretas do mundo exterior. Ele se acercou, e por isso o homem ficou exposto a outra influncia, de modo a poder no s entregar-se s tentaes interiores, mas tambm ao engano no julgamento e nos relatos acerca do mundo exterior e mentira. Portanto,
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Arim atua de fora, mas fomos ns que primeiro lhe demos a possibilidade de poder acercar-se de ns. Dessa maneira, em verdade as influncias de Lcifer e de Arim nunca atuam somente por si. Elas sempre atuam uma aps a outra, mantendo, de certa forma, o equilbrio. De dentro, Lcifer impele para fora; de fora, Arim atua para dentro e, de permeio, forma-se a imagem do mundo. Quando, numa encarnao qualquer, o interior do homem se torna mais forte, quando ele est mais exposto s influncias interiores, sendo mais atrado por orgulho, vaidade e assim por diante, ele se entrega mais influncia de Lcifer. Numa encarnao em que, por seu carma global, o homem menos condicionado a ceder s influncias interiores, ele pode entregar-se mais facilmente aos erros e tentaes de Arim. assim que acontece de fato em nossa vida. medida que percorremos nossa vida diariamente, s vezes somos mais vtimas das tentaes de Lcifer, s vezes mais das de Arim. Oscilamos entre ambas que nos levam, por um lado, a inflarnos em nosso interior e, por outro, a deixar-nos enganar por iluses do mundo exterior. Neste ponto deve ser mencionado por ser extraordinariamente importante que s tentaes de ambos os lados deve resistir especialmente quem, por um desenvolvimento superior, procure penetrar no mundo superior, seja penetrando at o esprito situado atrs das manifestaes do mundo exterior, seja descendo ao prprio interior por caminhos msticos. Ao penetrar no mundo espiritual exterior, situado atrs do mundo fsico, ele se defronta sempre com as imagens ilusrias simuladas por Arim; quando deseja descer misticamente ao interior da prpria alma, est sempre consideravelmente exposto s sedues de Lcifer. Quando se torna mstico e desce com xito, sem antes haver tomado, mediante sua formao de carter, medidas contra o orgulho, a vaidade, etc. quando, pois, consegue viver como mstico sem uma cultura moral em particular , ele pode tanto mais facilmente sucumbir s tentaes de Lcifer, que atua na alma a partir do ntimo. Por isso, no tendo passado por uma educao moral, ao conseguir penetrar um pouco em seu interior o mstico pode correr o grande perigo de conclamar, ainda mais fortemente do que at ento, a fora reativa da influncia de Lcifer, tornando-se mais vaidoso e orgulhoso do que antes. Por esse motivo to necessrio que, por meio da formao de carter, nos preocupemos em desenvolver previamente um antdoto contra as sedues que se acercam de ns sob forma de vaidade, megalomania e orgulho. Nunca ser demais cultivarmos as qualidades que nos levam modstia e humildade. Isto sumamente necessrio ao lado do nosso desenvolvimento superior que chamamos de lado mstico. De outro lado, necessrio que o homem se proteja contra as alucinaes de Arim ao procurar chegar origem espiritual das coisas por um desenvolvimento que o conduza por detrs das manifestaes do mundo exterior. Caso ele no tente alcanar uma formao de carter que o torne interiormente robusto e forte, firmemente edificado em seu interior, poder facilmente ocorrer e justamente se tiver sucesso em sua sortida ao mundo espiritual de ele se entregar rim e este o enganar com iluses e alucinaes cada vez maiores. muito comum acontecer de as pessoas, em certo sentido, tomarem algum ao p da letra. Por ter sido tantas vezes enfatizado que o desenvolvimento superior, procurando transcender as manifestaes do mundo exterior, deve estar sempre ligado plena conscincia, acontece que certas pessoas sempre voltam a trazer-nos indivduos meio sonmbulos que afirmam: Sim, eu percebo o mundo espiritual, e com plena conscincia! A s se pode dizer que seria muito mais sensato elas no terem essa conscincia! Ora, as pessoas se iludem a respeito dessa conscincia. Trata-se de uma mera conscincia imaginativa, de uma conscincia astral; pois se essas pessoas no estivessem num grau de
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subconscincia, no teriam essas percepes. A ocorre que, ao se penetrar no mundo espiritual, preciso manter coesa a conscincia ligada ao eu. Com essa conscincia, porm, est relacionado o juzo prprio e uma ntida faculdade de discernimento! Estes, contudo, as pessoas no possuem quanto s configuraes que vem no mundo espiritual. O fato de termos uma conscincia nada significa de prodigioso; mas a conscincia ligada ao cultivo do nosso eu essa, sim, precisamos ter. Porisso, num processo evolutivo para a viso dos mundos superiores no se insiste em que os homens cheguem o mais rapidamente possvel a um mundo superior, vendo toda sorte de figuras ou, talvez, at ouvindo toda sorte de vozes; insiste-se, sim, no fato de que a entrada no mundo espiritual s pode ser til e benfica quando se agua a conscincia, a faculdade de discernir e o juzo prprio. E para isso nada melhor do que o estudo das verdades da Cincia Espiritual. Por isso enfatizamos que o estudo das verdades da Cincia Espiritual uma proteo contra a suposta viso de toda sorte de figuras, sobre a qual no se pode estender qualquer julgamento. Quem estiver realmente treinado a esse respeito no identificar qualquer manifestao como sendo isto ou aquilo, mas saber principalmente discernir entre realidade e imagem nebulosa, sabendo sobretudo que ter de ser particularmente cauteloso com as coisas que surgem como percepes auditivas pois uma percepo auditiva nunca poder ser correta se o indivduo no houver passado pela esfera do silncio absoluto. E quem no houver primeiramente experimentado a absoluta calma e silncio do mundo espiritual poder dizer a si prprio, com segurana, que as imagens percebidas so iluses, embora estas lhe comuniquem algo inteligente. S conseguir proteger-se contra imagens ilusrias quem se houver esforado para aguar seu juzo prprio justamente tentando compreender as verdades dos mundos superiores. Para isso os recursos da cincia exterior so insuficientes. A cincia exterior no proporciona critrio to vigoroso e aguado como necessrio para realmente se discernir num mundo espiritual. Da podermos dizer realmente o seguinte: quando pessoas que no se ocuparam previamente em aguar esmeradamente seu juzo o que possvel, particularmente pelo estudo da Cincia Espiritual relatam algo dos mundos superiores, tais relatos sempre so altamente discutveis, e deveriam ao menos ser previamente controlados com os mtodos obtidos sob a premissa do verdadeiro aprendizado. S existe um poder frente ao qual Lcifer recua: a moralidade algo que queima Lcifer qual um fogo terrvel. E no existe outro meio que surta efeito contra Arim seno o juzo prprio e a faculdade de discernir, exercitados na Cincia Espiritual; pois o que adquirimos aqui na Terra como juzo sadio algo de que rim foge assustado. No fundo, nada h que ele mais repudie do que nossas conquistas mediante um treino sadio de nossa conscincia ligada ao eu. Ora, como veremos, rim pertence a uma regio totalmente diferente, muito distante daquilo que desenvolvemos como nosso juzo sadio. Ao depararse com o que, em nossa existncia na Terra, conquistamos como juzo sadio, ele leva um grande susto, pois isso lhe totalmente desconhecido e inspira-lhe um grande temor. Quanto mais nos esforamos em aperfeioar o que, na vida entre o nascimento e a morte, pode existir como juzo sadio, tanto mais estaremos trabalhando contra Arim. Isso se revela, em particular, em toda espcie de indivduos que so trazidos nossa presena e nos contam maravilhas de todos os mundos espirituais que eles juram por todos os santos ter visto. E quando se faz a menor tentativa de dar a essas pessoas alguns esclarecimentos, de ensinar-lhes compreenso e capacidade de discernir, habitualmente rim os prende de tal modo em suas garras que eles mal conseguem admitir tal coisa; e isso se torna tanto mais intenso quanto mais as tentaes de Arim se manifestam acusticamente. Existem mais meios contra o que se revela em imagens visionrias do que contra o que se revela acusticamente, como vozes, etc. Tais pessoas tm uma grande
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averso por aprender algo que deve ser conquistado, entre o nascimento e a morte, para a conscincia ligada ao eu. Elas no desejam isso. No so, porm, elas prprias quem no o deseja; so os poderes arimnicos que as afastam disso. Contudo, se conseguirmos levar tal indivduo a desenvolver um juzo sadio, e se ele consentir em assimilar ensinamentos, logo depois se evidenciar o seguinte: as vozes e alucinaes cessaro, por no passarem de imagens arimnicas nebulosas e pelo fato de Arim ficar tomado de um medo terrvel ao constatar que dali, do ser humano, advm um juzo sadio! Assim, o melhor meio contra esses adoecimentos particularmente prejudiciais ao homem as vises e audies alucinatrias provocadas por rim o seguinte: por todos os meios disponveis, levar a pessoa a conquistar um juzo sadio e racional. Para algumas pessoas isto extremamente difcil, pois em seu caso o outro poder lhes torna as coisas muito confortveis esse outro poder as guia. Quem quiser expulsar esse poder no poder acomodar-se. Ento ser bem difcil abordar essas pessoas, pois elas afirmaro que as privamos do que antes as conduzia ao mundo espiritual, quando, em verdade, ns a teremos tornado sadias e impedido que aqueles poderes as dominassem cada vez mais. Vimos, portanto, que os poderes lucifricos e arimnicos tm uma considervel averso a certas coisas. Humildade, modstia, no ter de si uma opinio maior do que um julgamento sadio justifique, eis coisas que no agradam absolutamente a Lcifer. Em contrapartida, ele se comporta como moscas numa sala suja quando, em algum lugar, as caractersticas da ambio e da vaidade querem manifestar-se. Tudo isso e, em especial, as coisas que se baseiam em idias falsas a respeito de ns prprios agem de modo a colocar-nos tambm disposio de Arim. Contra Arm, nada protege melhor do que o verdadeiro esforo em pensar sadiamente, tal como nos ensina a vida entre o nascimento e a morte. E so justamente os que se identificam com a Cincia Espiritual que tm ocasio de sempre tornar a enfatizar, o mais intensamente possvel, o fato de no convir a ns, homens terrenos, deixar de levar em conta o que nos deve ser dado justamente pela vida terrena. Os homens que desdenham a possibilidade de adquirir um julgamento sadio e uma faculdade de discernimento racional, pretendendo facilmente chegar sem eles a um mundo espiritual, querem, no fundo, alienar-se da vida terrena. Eles querem pairar acima dela; acham, em verdade, que lhes seria uma atividade trivial demais dedicar-se a toda sorte de coisas que pudessem conduzir a uma compreenso da vida terrena. Julgam-se um tanto melhores. No entanto, justamente uma sensao assim que produz o orgulho. Por isso podemos ver que pessoas com pendores ao fanatismo, a um no-envolvimento com as coisas e a vida terrenas por j estarem por dentro de tudo, no querem associar-se a uma corrente como a nossa. Tais pessoas dizem: no mundo espiritual que a humanidade deve entrar! Muito bem, mas s existe um caminho sadio, que o da moralidade no mais elevado sentido, conquistada na Terra, e que no nos deixa supervalorizar-nos, no nos leva a um juzo errneo a nosso prprio respeito nem tampouco nos deixa ficar dependentes de nossos instintos, cobias e paixoes; de outro lado, e uma diligente e sadia participao nas circunstncias da vida terrena, e no um querer pairar acima da realidade dessa mesma vida. Com isso extramos das profundezas do carma algo relacionado com as profundezas da vida espiritual. Isto pode ser de muito valor, mas nada ter valor para a evoluo do homem e de sua individualidade se buscado no mundo espiritual sem um juzo sadio; tampouco ter valor o que for buscado sem moralidade. Pode-se compreender isto pelos fatos expostos aqui ontem e hoje. E, compreendendo-o, podemos perguntar-nos: por que a influncia lucifrica, justamente por atuar h mais tempo e por se haver transformado em doena, sendo compensada pela dor, no poderia como que atrair para si a influncia
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arimnica? E por que a influncia arimnica no pode, justamente como conseqncia da influncia lucifrica, participar da etapa que nos prepara a dor e nos denuncia o curso lucifrico de uma doena? Como, afinal, atua a influncia arimnica? Como as tentaes de rim se transformam em causas de doenas? Como isso se manifesta numa encarnao posterior? O que se atribui influncia arimnica deve sempre reconduzir diretamente a Lcifer; mas quando a influncia lucifrica forte a ponto de provocar a influncia arimnica, a influncia arimnica mais prfida. Ela situa-se mais abaixo, no s nas falhas do corpo astral mas tambm do corpo etrico. Numa conscincia situada abaixo da conscincia da dor, surge a influncia arimnica com uma leso no necessariamente acompanhada de dor, mas que leva a uma inaptido do rgo onde se manifesta. Suponhamos que em determinada encarnao tenha ocorrido uma influncia arimnica, provocando o que esse tipo de influncia pode provocar. O indivduo atravessa a poca entre a morte e o novo nascimento e volta a encarnar-se. Evidencia-se, ento, que um rgo qualquer est tomado pela influncia arimnca; em outras palavras: o corpo etrico penetra muito mais profundamente nesse rgo do que deveria o rgo est muito mais fortemente permeado pelo corpo etrico do que deveria estar. Em tal caso, o indivduo ser induzido, em razo do rgo defeituoso, a emaranhar-se ainda mais profundamente no erro naquilo que Arim realiza no mundo. Se quisesse vivenciar todo esse processo com o rgo para cujo interior o corpo etrico se deslocou to profundamente lesado pela influncia arimnica, o indivduo se emaranharia mais profundamente no que Arim pode causar: em maya. Porm como tudo o que o mundo exterior produz como maya no pode ser levado para o mundo espiritual, disso resulta que o mundo espiritual se afasta cada vez mais de ns. Ora, no mundo espiritual s existe verdade, e no iluso! Portanto, quanto mais nos emaranharmos na iluso provocada por Arim, tanto mais seremos impelidos a transpor-nos justamente ao mundo sensorial exterior e iluso do fsico-sensorial mais do que faramos sem tal rgo defeituoso. Aqui, porm, surge igualmente um efeito contrrio, tal qual a dor surge como efeito contrrio no caso da influncia lucifrica. Esse efeito contrrio surge do seguinte modo: no momento em que corremos o risco de nos acorrentarmos excessivamente ao mundo fsico-sensorial e, com isso, roubarmos demais daquilo que nos poderia conduzir ao mundo espiritual, nesse momento o rgo destrudo, ficando paralisado ou muito fraco para atuar. Surge, pois, um processo de destruio. Vemos, portanto, que um rgo destrudo, mas preciso entender que em verdade devemos agradecer isso a poderes benficos: o rgo tomado a fim de podermos encontrar o caminho de volta ao mundo espiritual. O fato que rgos so destrudos por certos poderes se isso no ocorrer de outra maneira , ou ento somos dotados de rgos doentes, para no sermos lanados profundamente demais na iluso. Quando, por exemplo, algum tem uma doena heptica que, como tal, no acompanhada de sensaes dolorosas, estamos em presena do efeito de uma influncia arimnica anterior, que levou leso do fgado pois se o indivduo no fosse privado deste rgo, as foras relacionadas com a penetrao maior do corpo etrico o conduziriam profundamente demais a maya. As lendas e os mitos sempre conheceram a sabedoria mais profunda, expressando-a em si. O fgado justamente um bom exemplo disso, por ser um rgo que mais facilmente pode atuar no deslize do homem para dentro do mundo fsico ilusrio. Ao mesmo tempo, o fgado o rgo que nos acorrenta Terra. Com essa verdade est relacionado o seguinte fato: no caso daquela entidade que, segundo a lenda a lenda de Prometeu , proporcionou aos homens a fora capaz de conduzi-los vida terrena e a
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torn-los muito atuantes, um abutre bica justamente o fgado. Um abutre bica o fgado no porque deva provocar em Prometeu uma dor particularmente forte, pois neste caso a lenda no coincidiria com fatos reais. Porm as lendas sempre coincidem com os fatos fisiolgicos! O abutre bica o fgado justamente porque este no di! Ora, o que deveria ser mostrado que Prometeu levava humanidade algo que poderia emaranh-la ainda mais profundamente no elemento arimnico caso no pudesse ocorrer o efeito oposto, compensador! Os documentos ocultos sempre esto em consonncia com as verdades anunciadas pela Cincia Espiritual. Hoje eu lhes mostrei, puramente a partir dos fatos, que so os poderes bons que infligem ao homem a dor para contrabalanar a influncia de Lcifer. Relacionemos isto com os documentos do Velho Testamento. 18 Depois de acontecer a influncia de Lcifer, tal como nos simbolizada pela serpente que seduziu Eva, os adversrios de Lcifer tinham de infligir a dor ao que este pretendia trazer aos homens. A potncia qual Lcifer se ope devia agora chegar e declarar que, a partir de ento, a dor sobreviria huma nidade. o que faz Jav ou Jeov ao pronunciar as palavras: Com dores dars luz teus filhos! Via de regra, no se sabe como interpretar tais coisas nos documentos ocultos enquanto no se dispe das explicaes da Cincia Espiritual. Depois de obt-las se descobre, ento, como tais documentos so profundos. Por isso, no me peam que a partir do nada isto , sem os pressupostos adequados eu explique as coisas sem mais nem menos. Para ser inteiramente possvel falar sobre o trecho Com dores dars luz teus filhos!, as consideraes sobre o carma devem vir antes; pois a explicao s poder ser dada em seu contexto adequado. Por isso no adianta muito querer receber explicaes sobre um ou outro contedo de documentos ocultos antes que se tenha chegado ao ponto correspondente na evoluo oculta. sempre um tanto melindroso perguntar O que significa isso?, O que significa aquilo?. A pessoa precisa sempre esperar e ter pacincia at que se tenha chegado ao ponto em questo; apenas com explicaes nada se alcanaria. Vemos, pois, atuar em nossa vida os poderes lucifricos, de um lado, e os poderes de que Lcifer adversrio, de outro. Quando os poderes arimnicos atuam em nossa vida, devemos ter em mente que os poderes que inutilizam nossos rgos ao cairmos sob influncia arimnica so poderes bons, aos quais rim se ope. Tomando como ponto de partida tudo o que acaba de ser dito, os Senhores podero olhar profundamente para o complexo mecanismo da natureza humana e concluir: os poderes lucifricos so aqueles que ficaram para trs durante o perodo da Antiga Lua; hoje eles atuam na vida humana, em nosso ciclo da Terra, com as foras que em verdade so foras tipicamente lunares, no podendo exercer, durante nosso ciclo evolutivo terrestre, um papel, por exemplo, no plano csmico correspondente apenas aos poderes cujo adversrio Lcifer. Assim Lcifer interfere no plano de uma outra entidade. Podemos, contudo, remontar a pocas ainda mais remotas da evoluo. Ao vermos, de um lado, que seres se atrasaram em seu desenvolvimento na Lua para intervir na vida humana na Terra, podemos achar explicvel ter havido, tambm no antigo Sol, seres que ficaram para trs e que na Antiga Lua desempenharam um papel semelhante aos dos seres lucifricos na Terra. Temos atualmente, na entidade humana, algo que podemos caracterizar como uma luta: a luta desenrolada entre os poderes lucifricos, que se instalam em nosso corpo astral, e os poderes atuantes em ns por intermdio do nosso eu, mediante nossas conquistas na Terra. Ora, os poderes cujo adversrio Lcifer s podem atuar em ns por intermdio do nosso eu. Se quisermos
18 Gnesis, 3. (N.E.)
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ganhar clareza a respeito de ns mesmos, fazendo uma auto-avaliao correta, s poderemos t-la com a ajuda dos poderes que atuam em nosso eu. Para isso temos de utilizar-nos desse eu. Podemos, pois, dizer o seguinte: ao mesmo tempo em que nosso eu se insurge contra os poderes lucifricos, Jav ou Jeov luta em ns contra Lcifer; temos, ento, a luta daquele que cuida do plano csmico bom contra aquele que, por seu mrito exclusivo, se revolta contra esse plano csmico sendo que nos situamos, com o mais ntimo do nosso ser, em meio a essa luta de Lcifer com outras entidades. Somos o palco dessa luta. E, por sermos o palco dessa luta, somos atrados para o carma, embora apenas indiretamente, pelo fato de essa luta acontecer contra Lcifer. Contrariamente, quando dirigimos o olhar para fora, somos atrados para os poderes arimnicos. Neste caso ocorre algo vindo de fora, e ento rim penetra em ns. Ora, sabemos que na Antiga Lua viveram seres que do mesmo modo, naquela poca, passaram por seu estgio humano tal qual estamos passando no decorrer do ciclo da Terra. Em meus livros A Crnica do Akasha e A Cincia Oculta, esses seres so chamados de Anjos, Angeloi, Dhyanis no importa o nome. No interior desses seres desenrolava-se ento uma luta semelhante lucifrica em nosso ser. Esses seres eram, na Antiga Lua, o palco de uma luta provocada pelas entidades que haviam ficado para trs, no Sol. Essa luta, no ciclo da Lua, nada tem a ver com nosso eu interior, pois ento ns ainda no o possuamos. Ela se realizou fora do mbito do nosso eu; ocorreu, na Antiga Lua, no seio dos Anjos. Assim, essas entidades tornaram-se algo que s foi possvel sob a influncia de outras, retardatrias em relao ao ciclo do Sol e que, na poca, desempenharam para os Anjos o mesmo papel que os seres lucifricos desempenham hoje para ns. Eram os seres arimnicos, que se atrasaram durante a evoluo solar da mesma maneira como os seres lucifricos se atrasaram na evoluo lunar. Por isso, s podemos chegar a essas entidades de modo indireto. rim era, por assim dizer, o tentador no corao dos Anjos, e por sua atuao dentro deles as Anjos vieram a ser o que so, trazendo em si tanto o que passaram a ser sob a influncia arimnica quanto o que alcanaram de bom. O que de bom recebemos de Lcifer a possibilidade de distinguir entre o bem e o mal, de desenvolver o livre-arbtrio, de conquistar a vontade livre. S podemos alcanar tudo isso por meio de Lcifer. Essas entidades, porm, adquiriram algo e o trouxeram existncia da Terra; da podermos dizer o seguinte: o modo como os Anjos nos rodeam na condio de seres espirituais foi preparado para sua existncia atual pela luta arimnica em sua alma, na poca evolutiva da Antiga Lua. O que esses seres experimentaram, bem como o que conservaram disso como efeitos, no nos toca no mais ntimo do nosso eu; ns no participamos disso com nosso eu. Veremos ainda que h um vnculo indireto, pois a influncia arimnica acaba atuando em ns. O que essas entidades conquistaram sob a influncia de rim so certos efeitos cujas causas elas assimilaram durante seu ciclo lunar. Por meio da influncia arimnica, portanto, essas entidades assimilaram, durante a existncia lunar, algo que trouxeram para nossa existncia terrestre. Procuremos descobrir, em nossa existncia da Terra, algo que nos possa parecer um efeito da luta arimnica daquele tempo. Se na Antiga Lua no houvesse ocorrido essa luta arimnica, tais entidades no poderiam trazer para nossa existncia na Terra o que pertencia antiga existncia lunar pois tudo isso teria deixado de existir quando a Antiga Lua sucumbisse. Por terem assimilado a influncia arimnica, os Angeloi se emaranharam na existncia lunar, da mesma maneira como, pela influncia lucifrica, ns nos emaranhamos na existncia da Terra. Eles assimilaram o elemento lunar no mago do seu ser e o trouxeram nossa existncia na Terra. Com isso capacitaram-se a suscitar, em nossa existncia terrestre, precisamente o necessrio para que a Terra no caia totalmente sob a influncia de
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Lcifer. Nossa Terra teria de sucumbir por inteiro influncia de Lcifer caso no fosse trazido, nossa existncia terrestre, esse fato que corresponde luta dos Anjos com rim, na Lua. Quais so afinal, na existncia da Terra, os processos que caracterizamos como normais? Quando o nosso atual sistema solar se havia adequado aos objetivos da Terra, surgiu o que vemos como os movimentos regulares do Sol, da Terra e dos planetas, bem como as conseqncias desses movimentos: o fato de termos dia e noite, a seqncia regular das estaes, o fato de termos luz solar e chuva, de nossas frutas se desenvolverem nos campos, etc. So disposies que sempre se repetem de acordo com o ritmo do Cosmo, formado para o nosso atual ciclo da Terra depois que a existncia lunar desapareceu no crepsculo. Contudo, dentro da existncia da Terra atua Lcifer. Veremos que ele ainda atua mais do que simplesmente no mbito ao qual j pudemos segui-lo: atua no prprio ser humano, onde, alis, decidiu ter seu palco mais importante. Mas mesmo que Lcifer estivesse presente somente dentro do contexto da existncia da Terra, j por meio das disposies surgidas pela rbita regular dos planetas ao redor do Sol, pela alternncia entre vero e inverno, chuva e sol, etc., os homens cairiam no que podemos chamar de tentao lucifrica. Se fosse proporcionado aos homens tudo o que lhes possvel ser graas s leis vigentes no Cosmo, graas a tudo o que gerado pelos movimentos regulares e rtmicos do sistema solar, se s reinassem as leis apropriadas ao nosso Cosmo atual, o homem sucumbiria influncia lucifrica preferiria o bem-viver ao que deve obter para o seu bem csmico; preferiria o andamento regular das coisas ao que deve ser conquistado com esforo. Por isso tiveram de ser criadas foras contrrias. Foi preciso atuarem foras surgidas do fato de se haverem imiscudo, nos processos csmicos regulares da nossa vida na Terra, processos que na Antiga Lua eram altamente benficos e normais mas que hoje, ao atuar em nossa vida terrestre, so anormais e pem em perigo o andamento terrestre regular. Essas influncias se apresentam, de certo modo, colocando nos eixos o que, caso existisse apenas o ritmo, surgiria como inclinao para a boa vida, a comodidade e a opulncia; tais foras se revelam, por exemplo, na tempestuosidade da chuva de granizo. E, no caso de ocorrer a destruio do que normalmente seria criado pelas foras regulares da Terra, operada uma correo que atua beneficamente sobre o todo, embora o homem, de incio, no se aperceba disso; pois existe uma razo superior quela que o homem entende. Quando o granizo assalta os campos, podemos dizer o seguinte: as foras que atacam na chuva de granizo eram, na Antiga Lua, to benficas como as que hoje atuam beneficamente na chuva e na luz do sol. Hoje em dia elas atacam tempestuosamente para compensar o que normalmente a influncia lucifrica provocaria. E quando o andamento regular se adianta, elas atacam de maneira mais tempestuosa, para incrementar a correo. Tudo o que leva ao desenvolvimento regular pertence s foras da prpria Terra. Mas quando um vulco ejeta lava, atuam ali foras tpicas de foras atrasadas da Antiga Lua, a fim de exercer uma ao corretiva na vida da Terra. isso o que se d com os terremotos e acontecimentos elementares19 em geral. Podemos ver que muita coisa proveniente de fora encontra sua justificativa racional no andamento geral da evoluo. Ainda veremos como isso se relaciona com a conscincia humana ligada ao eu e, desse modo, o que parece insatisfatrio nesta palestra se harmonizar amanh. Precisamos ter conscincia de que tudo isso representa apenas um lado da existncia terrena e csmica, em geral. E se, por um lado, dizemos que quando um rgo nosso destrudo trata-se da atuao benfica de poderes espirituais, e tendo verificado hoje que at mesmo todo o andamento da evoluo da Terra precisa ser corrigido por foras da
19 Ligados aos elementos da natureza. (N.E.)
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antiga existncia lunar, cumpre-nos perguntar: como ento que, por outro lado, na qualidade de homens terrenos, precisamos gerar correes para as influncias nocivas das antigas foras lunares? Com efeito, devemos presumir que, como homens terrenos, no devemos ansiar por ocorrerem terremotos e erupes vulcnicas, nem destruir deliberadamente rgos para apoiar a atuao benfica de poderes espirituais. De outro lado, devemos reconhecer como legtima a seguinte afirmao: quando uma epidemia irrompe em algum lugar, com ela trazido algo que o homem decididamente procura para compensar alguma coisa em si prprio. E podemos admitir que ele introduzido em determinadas situaes a fim de sofrer uma leso para, superando-a, aproximar-se da perfeio. E como ficam as medidas higinicas e sanitrias? No caberia perguntar se as epidemias, portanto, podem atuar beneficamente? Nesse caso, no ser errado reduzir a possibilidade de ocorrerem essas boas influncias por meio de toda sorte de instituies sanitrias e medidas profilticas? Algum poderia concluir que nada se deveria fazer para amenizar catstrofes elementares e invocar justificativas extradas de nossas consideraes de ontem e de hoje. Veremos que tal no o caso,mas no o apenas sob certas premissas. Em verdade, s agora estamos preparados de maneira correta para, na prxima considerao das situaes, de um lado entender como influncias benficas causam diretamente a leso de um rgo para impedir que sejamos dominados por maya, e, de outro lado, para ficarmos conscientes do efeito que suscitamos ao subtrair-nos, a ns prprios, de tais influncias benficas, intervindo com medidas sanitrias e higinicas contra as doenas. Veremos que aqui estamos num ponto onde o homem se encontra to freqentemente: quando uma aparente contradio aflora e toda a fora da contradio o agita, ele est prximo ao ponto em que as foras arimnicas podem exercer grande influncia sobre ele. Nunca a possibilidade de nos entregarmos a enganos to iminente como ao entrarmos em tal dilema. E bom termos chegado a ele: so poderes benficos que tornam um rgo imprestvel em ns, pois trata-se de uma reao contra rim; portanto, deveriam ser considerados elementos perniciosos humanidade aqueles que no incentivam essas reaes benficas contra os poderes arimnicos pois medidas higinicas e coisas semelhantes limitariam essa reao benfica. Estamos num dilema. E bom termos sido levados a essa contradio para podermos refletir sobre o fato de tais contradies serem possveis, consistindo at mesmo num bom exerccio para o nosso esprito. Pois quando tivermos visto de que maneira podemos livrarnos desse dilema, teremos feito, a partir de ns prprios, algo capaz de dar-nos fora para nos esquivarmos dos enganos de Arim.
25 de maio de 1910
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potncias lucifricas em nosso corpo astral: pela tentao dessas potncias somos levados a manifestaes sentimentais, instintivas e passionas que nos tornam, de certa maneira, mais imperfeitos do que normalmente seramos. Ao atuar sobre ns, as influncias lucifricas despertam, por outro lado, as influncias arimnicas aquelas foras que no atuam de dentro para fora, mas atuam sobre ns a partir do exterior, em intercmbio com o mundo, agindo de entremeio ao que, de fora, vem ao nosso encontro. No fundo, Arim quem provocado por Lcifer, e ns, homens, estamos de fato colocados no meio da dis puta entre ambos esses princpios. E, na vida, ao cairmos nos tentculos de Lcifer ou de rim, precisamos tentar progredir justamente procurando meios e caminhos para elevarnos, pela superao do que nos foi causado. Poderemos, porm, ver bem nitidamente como, de fato, esse jogo entre os poderes lucifricos e arimnicos tem lugar ao redor de nossa pessoa se focalizarmos uma vez mais, de forma um tanto diferente, o caso j mencionado da ltima vez: o do indivduo que sucumbe s influncias arimnicas de modo a vivenciar toda sorte de miragens e iluses, acreditando receber especiais revelaes neste ou naquele mbito ou impresses neste ou naquele sentido, ao passo que outra pes soa, tendo conservado seu juzo sadio, facilmente reconhece ter o indivduo em questo sucumbido a erros e iluses. Da ltima vez falamos de casos em que algum fica sujeito a enganos clarividentes porm clarividentes no mau sentido sobre o mundo espiritual. Dissemos expressamente que tais enganos so provocados por foras arimnicas. E vimos que, contra esses enganos provocados por clarividncia incorreta, no h outro meio ou meio melhor do que o juzo sadio adquirido na vida fsica entre o nascimento e a morte. O que foi dito na ltima conferncia algo significativo e essencial ao se tratar de erros de clarividncia; pois no caso de uma clarividncia que no tenha sido alcanada por urna disciplina regular e exerccios sistemticos, orientados de maneira correta e rigorosa, e sim manifestando-se por meio de caractersticas antiquadas, herdadas como imagens ou impresses sonoras e coisas semelhantes , sempre podemos verificar que tal clarividncia incorreta diminui ou at cessa quando a pessoa envolvida tem a possibilidade e o desejo de fazer estudos antroposficos, de verdadeiramente assimilar conhecimentos ou at submeter-se a um treino verdadeiramente adequado, apropriado ao assunto. Portanto, nos casos em que se trate de aberraes do conhecimento supra-sensvel podemos dizer que as verdadeiras fontes, quando o indivduo acessvel a elas, tambm lhe serviro sempre de ajuda para lev-lo ao caminho acertado. Contra isso no se pode alegar algo que, na realidade, no passa de uma verdade trivial, conhecida por todos. Todo mundo sabe que quando algum, devido a complicaes crmicas, desenvolve estados que o levam aos sintomas de mania de perseguio, mania de grandeza, edifica em sua alma um sistema de idias paranicas, s quais d fundamentao to lgica quando possvel, mas que no passam de idias paranicas. Pode acontecer, por exemplo, que uma pessoa raciocine correta e logicamente em outras reas da vida e, contudo, tenha a idia fixa de ser perseguida por toda parte, devido a esta ou aquela causa. Ento, onde quer que chegue estar pronta a fazer combinaes inteligentes dos menores acontecimentos para dizer que existe, mais uma vez, um grupo que s quer prejudic-la! E demonstrar, da maneira mais inteligente, quo fundamentada sua suspeita. Assim, algum pode ter uma cabea muito lgica e, no entanto, apresentar certos sintomas de demncia. Neste caso, ser totalmente impossvel refutar tal indivduo com argumentos lgicos. Ao contrrio, se em tal caso chegarmos com argumentos lgicos, pode acontecer de as idias paranicas, que jazem no interior do indivduo, serem ento provocadas e procurarem provas ainda mais apuradas para o que ele valida como contedo de sua mania de perseguio.
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Quando falamos no sentido da Cincia Espiritual, as coisas devem ser tratadas com a maior preciso. Se tanto hoje como da ltima vez frisamos que os conhecimentos da Cincia Espiritual, aos quais algum se dedica com todo o esforo e mesmo por um treino sistemtico, possui um poder contrrio a uma aberrao das foras clarvidentes, referimo-nos com isso a um caso totalmente diverso daquele que acaba de ser caracterizado. Agora no se trata de levar, ao indivduo em questo, conhecimentos da Cincia Espiritual. Via de regra, deseja-se levar a ele argumentos do mbito do raciocnio usual. A estes, porm, tal indivduo mostra-se absolutamente inacessvel. Por qu? Quando surge um quadro patolgico manifesto pelos sintomas descritos, nesse caso o indivduo revela uma causa crmica de encarnaes anteriores, de aberraes anteriores. O que deve ser considerado uma aberrao do ntimo no se situa nem pode, neste caso, situar-se na encarnao atual, mas numa encarnao precedente. Ora, imaginemos como algo vem de uma encarnao anterior para a atual. Para isso temos de considerar como decorre, de fato, o desenvolvimento de nossa alma. Como homem exterior, cada um de ns constitudo pelos corpos fsico, etrico e astral; e com o passar do tempo construmos dentro desses invlucros, pelo trabalho do eu, a alma da sensao no corpo das sensaes, a alma do intelecto ou da ndole no corpo etrco e a alma da conscincia no corpo fsico. O que desenvolvemos em nosso interior como sendo os trs membros anmicos, ns o construmos dentro dos trs envoltrios onde atualmente vivem esses membros. Imaginemos agora que numa encarnao qualquer sejamos to seduzidos pela influncia de Lcifer portanto, desenvolvendo impulsos egostas ou outros atribudos influncia lucifrica, como cobias, instintos que carreguemos falhas em nossa alma. Essas falhas podem estar na alma da sensao, na alma do intelecto ou da ndole ou, ainda, na alma da conscincia. Esta ento a causa que, numa encarnao seguinte qualquer, vem a existir num dos trs membros da alma. Suponhamos tratar-se de uma falha que repouse particularmente nas foras da alma do intelecto. Essa falha ser depois, na situao entre a morte e o novo nascimen to, transformada a tal ponto que, por exemplo, o que a alma da razo cometeu se revela, em seu efeito, no corpo etrico. Durante a passagem da morte ao novo nascimento, isso ter sido incorporado no corpo etrico. Na nova encarnao, deparamos ento com um efeito, no corpo etrico, decorrente de uma causa situada na alma do intelecto numa encarnao anterior. Ora, a alma do intelecto da encarnao seguinte volta a trabalhar autonoma mente; haver, ento, uma diferena conforme o indivduo tenha ou no cometido aquela falha anteriormente. Em caso afirmativo, ele ter uma falha, em seu corpo etrico, situada mais profundamente no na alma do intelecto, mas no corpo etrico. Contudo, o que o homem pode adquirir no plano fsico como intelignca, como racionalidade, s atua em sua alma do intelecto, porm no no que esta fez numa encarnao anterior, j incorporado agora ao corpo etrico. Por isso pode acontecer que as foras da alma do intelecto, tal como aparecem agora em determinado indivduo, trabalhem lgica e integralmente, estando desse modo totalmente ntegro o interior de tal indivduo; entretanto, pelo trabalho conjunto entre a alma do intelecto e a parte doente do corpo etrico, projetado, a partir desse corpo etrico, um erro em certa direo. Ento, com argumentos cabveis no plano fsico, pode-se atuar sobre a alma do intelecto, mas no diretamente sobre o corpo etrico. Por isso que nada se pode conseguir mediante lgica ou persuaso, como tampouco se pode fazer algo com lgica colocando um indivduo diante de um espelho convexo de modo que ele veja de si uma imagem dstorcida , querendo ento demonstra-lhe ser injusto ele ver a imagem nessa condio. Ora, ele v uma imagem distorcida. Sendo assim, tampouco depende dele se, de maneira doentia, ele compreende algo erradamente pois sua lgica, correta em si, no espelhada de
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maneira sadia pelo corpo etrco. Dessa maneira, podemos carregar em nossa natureza mais profunda o efeito crmico de encarnaes anteriores. E podemos at apontar como em certa parte dela como aqui, em nosso corpo etrico a leso est presente. Vemos a o que, pela in fluncia lucifrica, provocamos numa encarnao anterior e depois transformamos. E no intermdio entre a morte e o novo nascimento realizada a transformao de algo interior em algo exterior; ento rim atua em ns a partir do nosso prprio corpo etrico. Isto nos mostra como Arim atrado, por meio de Lcifer, ao nosso prprio corpo etrico. A falta anterior era lucifrica, mas as transformao tal que a quitao para a mesma como que apresentada por rim na encarnao seguinte. Depois, dever do homem eliminar essa leso de seu corpo etrico o que s poder ocorrer por uma interferncia mais profunda, em sua natureza, do que seria possvel numa encarnao com os recursos de nossa inteligncia comum. Quem passar por algo como, por exemplo, sucumbir aos sintomas da mania de perseguio em determinada encarnao, ao atravessar novamente o portal da morte ter diante de si todos os fatos que tiver cometido em conseqncia de sua leso arimnica, e os ter em toda a sua forma absurda. Para o indivduo, essa ser a fora que ir cur-lo totalmente em sua encarnao seguinte pois ele s poder ser curado se o que consumou sob influncia dos aludidos sintomas lhe parecer, no mundo exterior, conseqncia do absurdo. Isso pode indicar-lhes o que podemos fazer para tal cura. Se algum sofre de tais idias paranicas, argumentos lgicos sero o meio menos indicado para afast-lo delas; s serviro para provocar seu desacordo. Mas algo poder ser alcanado, principalmente quando tal fenmeno se manifesta na juventude, se levarmos o indivduo a situaes em que as conseqncias de seus sintomas lhe paream flagrantemente absurdas se o colocarmos diante de fatos, por ele provocados, que recaiam sobre ele como absurdos flagrantes. Com isso poderemos, de certa maneira, provocar uma cura. Os Senhores tambm podero atuar curativamente se estiverem to compenetrados das verdades da Cincia Espiritual que estas tenham passado a formar um cabedal interior de sua alma. Tendo-se apropriado delas a ponto de se identificarem com as mesmas com toda a sua personalidade, os Senhores as tero como a f mais forte imaginvel; neste caso, toda a sua personalidade irradiar essas verdades da Cincia Espiritual. Essas verdades que fluem para dentro da vida entre o nascimento e a morte e a preenchem, ao mesmo tempo transcendendo-a, so conhecimentos do mundo supra-sensvel, e com elas obteremos efeitos mais profundos do que com verdades do intelecto exterior. Enquanto nada podemos conseguir com argumentos lgicos exteriores, o emprego de verdades da Cincia Espiritual durante um tempo suficiente e em situao apropriada nos permitir exercer sobre o indivduo em questo impulsos tais que, por assim dizer, venhamos a conseguir numa encarnao o que normalmente s pode ocorrer na passagem de uma encarnao a outra: atuar, a partir da alma do intelecto, sobre o corpo etrico. Ora, as verdades do plano fsico no esto, de modo algum, em condies de transpor o abismo entre a alma da sensao e o corpo das sensaes, entre a alma do intelecto e o corpo etrico, ou mesmo entre a alma da conscincia e o corpo fsico. Por esse motivo, sempre constataremos que, seja qual for a quantidade de sabedoria que algum possa assimilar a respeito do mundo sensorial, tal sabedoria estar em relao muito diminuta com seu mundo de sentimentos, ou seja, com o que chamamos de corpo das sensaes permeado de impulsos e paixes correspondentes. Por isso, pode ocorrer de algum ser um superintelectual, ter um grande conhecimento terico sobre coisas do mundo fsico, ter-se tornado um velho catedrtico e, em seu ntimo, no ter levado a uma transformao seus
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impulsos, sensaes e paixes que vivem no corpo das sensaes. No fundo, ele pode saber muito a respeito do mundo fsico e ser um egosta crasso, por haver assimilado os impulsos para isso em sua juventude. Naturalmente, podem muito bem transcorrer lado a lado a cincia fsica exterior e a formao do corpo das sensaes e do corpo astral a partir do ntimo. Da mesma forma, o homem pode assimilar verdades intelectuais e muitas outras que se deixam assimilar como foras da alma do sentimento em relao ao plano fsico, mas no consegue transpor aquele abismo entre a alma do intelecto e o corpo etrico. Em outras palavras, os Senhores podem sempre tornar a constatar o seguinte: quando algum assimila verdades exteriores, por mais que aprenda raramente ficar patente que o contedo aprendido possa realmente atuar sobre as foras plasmadoras de seu corpo. No caso de um indivduo em que as verdades atuam de modo a apoderar-se de todo o seu ser, os Senhores podero constatar que a fisionomia muda no decorrer de dez anos 20; na testa podero discernir o quanto ele lutou, por exemplo, contra certas dvidas em seu corao. Ou ento em seus gestos os Senhores podero tambm notar quando, por exemplo, por seu prprio comportamento ele se tornou uma pessoa calma. A algo penetra nas foras plasmadoras do organismo, apossando-se de suas partes mais sutis. Neste caso, o que tal indivduo assimilou espiritualmente penetra nessas partes mais sutis de sua natureza. Se o que comove a alma no se refere apenas ao plano fsico, o indivduo tambm ser outro ao cabo de dez anos. Porm a mudana se d no sentido normal, tal como, na vida normal, as disposies se desenvolvem e mudam. Pode-se, talvez, ganhar uma nova expresso facial no decorrer de dez anos; mas se interiormente no se houver transposto o abismo, isso ter ocorrido por influncias exteriores. A no se trata de fora alguma que, do ntimo, se haja apossado do homem, modificando-o. Nisto podemos ver que somente o espiritual, ligando-se ntimamente ao cerne do homem, est em condies de, j na poca entre o nascimento e a morte, atuar de maneira a transformar as foras plasmadoras; todavia, essa transposio do abismo ocorre seguramente durante a atuao crmica entre a morte e o novo nascimento. Se, por exemplo, a vivncia experimentada pela alma da sensao mergulhada nos mundos que atravessamos no intermdio entre a morte e o novo nascimento, na encarnao seguinte ela seguramente se far valer como fora formativa, plasmadora. Dessa forma, viemos a entender a interao entre rim e Lcifer. E ento nos perguntamos: como se apresenta essa interao quando as coisas se situam maior distncia quando, por exemplo, na qualidade de influncia lucifrica, elas no precisam apenas transpor o abismo entre a alma do intelecto e o corpo etrico, mas tm de percorrer um caminho mais longo? Suponhamos que, numa vida, tenhamos sofrido a influncia de Lcifer de maneira particularmente intensa. Em tal caso, todo o nosso ser interior se tornou mais imperfeito do que antes; e durante o perodo do kamaloka, damo-nos conta de precisarmos fazer um poderoso esforo para compensar essa imperfeio. Por conseguinte, assimilamos essa tendncia e, com o que agora se transformou em foras plasmadoras, configuramos na prxima encarnao, ou numa de nossas prximas encarnaes, nosso novo organismo de forma e conferir-lhe a tendncia a criar a compensao para a vivncia anterior. Suponhamos, porm, que o elemento provocador da influncia lucifrica tenha sido causado por algo exterior, tenha sido uma cobia exterior. Neste caso Lcifer deve ter estado novamente presente como influncia. A causa exterior no teria podido agir sobre
20 Vide tambm, a esse respeito, as indicaes de Steiner sobre a relao entre os conceitos e a fisionomia na
palestra de 30.8.1919 em A arte da educao [3 vols.], vol. 1: O estudo geral do homem, uma base para a pedagogia, trad. Rudolf Lanz e Jacira Cardoso (2. ed. So Paulo: Antroposfica, 1995). (N.E.)
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ns se antes Lcifer no tivesse agido. Temos, portanto, em ns a tendncia a voltar a compensar o que viemos a ser sob influncia lucifrica. Vimos, porm, que a influncia lucifrica numa encarnao provoca numa encarnao seguinte a influncia arimnica, atra-da de modo que ambas fiquem em completa interao. Porm a influncia lucifrica tal que poderamos dizer o seguinte: ela se nos manifesta na conscincia, ou seja, ainda podemos chegar com nossa conscincia, embora de maneira imperfeita, at nosso corpo astral. Dissemos que quando as dores nos chegam conscincia trata-se de uma influncia lucifrica. No podemos, porm, descer aos mbitos que designamos por conscincia do nosso corpo etrico e do nosso corpo fsico. verdade que tambm durante o sono sem sonhos possumos uma conscincia, mas em grau to baixo que o homem, na vida normal, no se encontra em condies de saber coisa alguma a seu respeito. Isto, porm, no significa que nada faamos nesse estado de conscincia. A planta, por exemplo, constituda apenas de um corpo fsico e um corpo etrico, possui normalmente essa conscincia. A planta vive continuamente num estado de sono sem sonhos. Nossa conscincia do corpo etrico e do corpo fsico tambm existe durante o estado de viglia, mas no conseguimos descer at ela. Porm o fato de essa conscincia poder agir constatado por ns, por exemplo, ao realizarmos durante o sono atos sonmbulos dos quais nada sabemos. E a conscincia de sono sem sonhos que realiza esses atos. A conscincia normal do eu e a conscincia astral no descem ao plano em que, por exemplo, os atos de um sonmbulo so executados. Contudo, por vivermos durante o dia na conscincia do eu e na conscincia astral, no devemos pensar que os outros tipos de conscincia no vivam conosco. Ocorre apenas que nada sabemos deles. Suponhamos termos provocado, mediante uma influncia lucifrica numa encarnao anterior, uma forte influncia arimnica, que ento no poder atuar sobre nossa conscincia comum. No entanto ela se apossar da conscincia sediada em nosso corpo etrico, e esta nos poder levar no s a uma certa organizao desse corpo, mas at a atos de tal ordem que a conscincia do corpo etrico nos dir: S agora poders eliminar de ti o que a influncia lucifrica, qual te entregaste to intensamente na encarnao anterior, colocou em ti; e podes conseguir isso cometendo um ato que seja exatamente oposto falha lucifrica anterior! Suponhamos que uma influncia lucifrica nos tenha levado, a partir de um ponto de vista religioso ou espiritualista precedente, a um outro em que declaremos Agora quero gozar a vida!, dando, portanto, um salto poderoso para a sensualidade. Tal situao provocaria a influncia arimnica de maneira a causar um acontecimento exatamente oposto. Pode ento ocorrer de a pessoa em questo procurar, no caminho de sua vida, um ponto em que possa voltar, de um salto, da vida sensual espiritual. Uma vez tendo-se entregue de um salto sensualidade, agora ela quer voltar, de um salto, vida espiritual. A conscincia superior no percebe isso; mas a misteriosa subconscincia, vinculada aos corpos fsico e etrico, impele o indivduo a procurar um lugar onde se possa aguardar o fim de um temporal, onde esteja um carvalho, embaixo dele um banco e eis que o raio cai justamente nesse lugar! A a subconscincia faz o homem compensar o que havia feito numa encarnao anterior. Temos a o inverso. Assim, percebemos um efeito sob a influncia lucifrica numa vida anterior e, como conseqncia, uma influncia de rim na vida atual. rim tem de colaborar aqui para excluir a conscincia superior at o ponto em que o indivduo segue apenas a conscincia do corpo etrico ou do corpo fsico. Dessa maneira entendemos muitas outras coisas que acontecem na vida. Mas no devemos explicar dessa forma todos os casos em que algum morre ou sofre ferimentos graves. Essa seria uma concepo muito estreita do carma. Existem correntes, mesmo em nosso movimento antroposfico, que concebem o carma de uma forma muito estreita; elas
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acreditam ter no carma algo que conduz a um ponto de vista mais elevado mas na realidade no o conhecem. Consideram o carma de tal maneira que se realmente ocorresse como pensam toda a ordem universal deveria estar sempre especialmente direcionada para cada ser humano individual, a fim de servir ao decurso harmonioso e compensao de cada vida humana sendo, portanto, as circunstncias sempre combinadas numa vida para proporcionar a exata compensao de toda e qualquer ocorrncia numa vida anterior. Esse ponto de vista, porm, no sustentvel. Como seria, ento, se algum se colocasse diante de uma vtima de um acidente e lhe dissesse: Esse o teu carma, a conseqncia crmica de uma vida anterior; foste tu o culpado! mas, quando o outro vivesse um momento de sorte, a mesma pessoa dissesse: Isso foi motivado por um bem que fizeste no passado!? Para que tais afirmaes tenham um real valor, quem as faz deveria primeiro verificar o que, na vida anterior, aconteceu para causar tal efeito. Caso se tivesse colocado no mbito da vida anterior, ele teria visto as causas oriundas dessa vida, devendo ento olhar para a encarnao seguinte ao querer divisar os efeitos. De tudo isso decorre, porm, uma conseqncia lgica: em cada encarnao surgem fatos representando acontecimentos ocorridos pela primeira vez na vida de cada indivduo atravs das encarnaes, e esses fatos tero sua compensao crmica na prxima vida. Ao se considerarem os efeitos na vida seguinte, podem-se visualizar as causas. Quando, porm, acontece uma desgraa sem que para isso se encontre, por todos os meios, uma causa na vida anterior, cumpre admitir que haver uma compensao na vida seguinte. Carma no fado! De cada vida levado algo para as vidas seguintes. Compreendendo isso, tambm entenderemos que o homem possa encontrar, de maneira coerente e significativa, novos acontecimentos em sua vida. Lembremos que os grandes eventos da evoluo da humanidade s podem realizar-se por serem empreendidos por determinados indivduos. Certas pessoas tm, em dado momento, de assumir os intentos da evoluo. Pensem como teria decorrido a evoluo na Idade Mdia se Carlos Magno21 no houvesse interferido em certa poca; ou como teria sido a vida cultural de pocas antigas se, em dado momento, Aristteles 22 no houvesse atuado. Pensem que, se quisermos compreender o andamento da evoluo da humanidade, teremos de considerar Arstteles no contexto da poca em que viveu pois sem ele muita coisa posterior teria sido diferente. Vemos, portanto, que personalidades como Carlos Magno, Aristteles, Lutero, etc. tiveram de viver, em seu tempo, no por sua prpria causa, mas por causa do mundo. Seus destinos pessoais eram intmamente entretecidos ao que aconteceu no mundo. Contudo, acaso podemos dizer, por isso, que sua atuao estivesse vinculada ao que haviam feito de meritrio ou de culposo antes? Tomemos o caso de Lutero: no podemos contabilizar em sua conta crmica tudo o que ele experimentou e padeceu; preciso ter em mente o seguinte: o que deve acontecer em dado momento da evoluo da humanidade acontece pela interveno de certas individualidades. Essas individualidades tm de ser conduzidas a descer do mundo espiritual Terra, no importando se esto bastante evoludas para tal, pois elas descero para servir aos fins da evoluo da humanidade. Talvez um caminho crmico tenha de ser prematuramente interrompido ou alongado a fim de que as personalidades em questo possam ser colocadas na vida em determinado momento. A esto infligidos, a certas pessoas, destinos sem qualquer relao com o carma antecedente. Entretanto, se uma pessoa foi colocada dessa maneira na vida, tendo feito o que possvel fazer entre o
21 Carlos Magno (742814), rei dos francos e imperador romano. (N.E. orig.). 22 Aristteles (384322), filsofo discpulo de Plato e preceptor de Alexandre Magno. Fundamentais para a
evoluo cultural e cientfica do Ocidente foram, principalmente, suas obras sobre lgica. (N.E. orig.)
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nascimento e a morte, isto configura causas crmicas. Se verdade que um Lutero foi conduzido existncia por causa da humanidade, passando por destinos totalmente desvinculados de seu carma anterior, tambm verdade que suas realizaes de ento se ligaro a seu carma futuro. O carma uma lei universal qual cada um est sujeito; mas no devemos entend-lo olhando apenas para encarnaes anteriores, e sim olhando tambm para o futuro. Por isso nos lcito dizer o seguinte: desse ponto de vista, uma vida posterior s pode justificar encarnaes precedentes na medida em que nos tocam coisas no situadas, de modo algum, em nossa linha crmica. Tomemos o caso seguinte, efetivamente acontecido: Certo nmero de pessoas morreu numa catstrofe natural. (No devemos supor ter sido seu carma morrerem todos juntos; essa seria uma suposio bastante gratuita. No , de modo algum, necessrio sempre atribuir tais fatos a culpabilidades anteriores.) Nesse caso, devidamente investigado, pessoas morreram juntas numa catstrofe natural. Isso teve por conseqncia o fato de essas pessoas se sentirem unidas numa poca posterior, mostrando-se fortalecidas, pelo destino comum, para realizar um empreendimento comum no mundo. Por meio daquela catstrofe formou-se a causa para que, na vida posterior, elas deixassem radicalmente de ater-se apenas matria, trazendo ento consigo uma atitude interior que as levou espiritualidade. O que ocorreu, nesse caso? Remontando vida anterior, constatamos que a morte conjunta surgiu como um acontecimento especial, num terremoto: ali se colocou diante de suas almas, no momento do terremoto, o desvalor das coisas materiais, nascendo ento o pendor para o espiritual. Vemos, por esse exemplo, como pessoas que tinham de trazer ao mundo algo espiritual haviam sido preparadas por circunstncias que testemunham a sabedoria da evoluo. Esse caso aconteceu realmente, tendo sido investigado pela Cincia Espiritual. Desse modo pudemos mostrar que vemos acontecimentos se apresentarem pela primeira vez na vida humana e tambm que, pela morte de um ou mais indivduos numa catstrofe ou acidente, nem sempre devemos atribuir a morte prematura de um indivduo a uma culpa anterior pois algo assim pode surgir como primeira causa, a ser compensada na prxima vida. Existem, porm, ainda outros casos possveis. Pode acontecer que algum tenha de morrer prematuramente em duas ou trs encarnaes consecutivas. Isso pode ocorrer pelo fato de essa individualidade ser chamada a levar humanidade, durante trs encarnaes, algo que s pode ser levado quando se vive, no mundo fsico, com foras oriundas de um corpo em transformao. bem diferente viver num corpo que se desenvolve at a idade dos 35 anos ou num corpo de idade avanada. Ora, at os 35 anos o homem envia sua fora para dentro da corporalidade, de modo a desenvolv-la de dentro para fora. A partir do 35 ano, porm, inicia-se uma vida em que o homem s progride no ntimo, tendo de atacar continuamente, com suas foras vitais, as foras exteriores. Considerando-se a natureza interior, essas duas metades da vida so fundamentalmente diferentes entre si. Suponhamos que, de acordo com a sabedoria da evoluo da humanidade, sejam necessrios indivduos que s possam desenvolver-se caso no precisem atacar o que investe contra todos ns na segunda metade da vida; neste caso, talvez as encarnaes sejam prematuramente interrompidas. Tais casos existem. J mencionamos, inclusive em nossas reunies, uma individualidade que apareceu sucessivamente como grande profeta, pintor significativo e grande poeta, tendo sempre encerrado sua vida com uma morte prematura, pois o que tinha de realizar em trs encarnaes s seria possvel pela interrupo das encarnaes antes de uma vivncia interior na segunda metade da vida. 23
23 Aluso a Novalis (Friedrich Novalis, 17721801), escritor, pensador e poeta romntico alemo. (N.E.)
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Temos a a peculiaridade do entretecimento do carma individual com o carma geral da humanidade. Podemos aprofundar-nos ainda mais e procurar, no carma geral da humanidade, certas causas cujos efeitos aparecem depois, em pocas posteriores; a o ser humano individual precisa ver-se novamente inserido no carma da humanidade. Se tomarmos em considerao a evoluo ps-atlntica, teremos no meio o perodo greco-latino, precedido pela poca egipto-caldaica e seguido por nossa quinta poca. Nossa poca ser seguida por um sexto e um stimo perodos culturais. Em outras ocasies j me referi ao fato de, sob alguns aspectos, haver um ciclo formado pela seqncia das diferentes culturas: a civilizao greco-latina representa por si algo especial, ao passo que a poca egiptocaldaica se repete na nossa. J salientei tambm, numa de nossas palestras, como Kepler viveu em nossa poca e como a mesma individualidade viveu outrora num corpo egpcio, tendo podido naquela ocasio, sob a influncia dos sbios sacerdotes egpcios, dirigir o olhar abbada celeste tendo assim o mistrio das estrelas como que sido revelado a ela do alto. Isso a trouxe novamente tona em sua encarnao como Kepler, inserida no ponto em que a quinta poca reproduz, de certa maneira, a terceira. Tudo, porm, prossegue. Partindo da Cincia Espiritual, podemos verdadeiramente afirmar que o desenvolvimento csmico e a vida humana so vislumbrados ainda hoje, pela maioria dos homens, de maneira bem cega. At nos detalhes possvel acompanhar essas correspondncias, essas repeties, essa vida em ciclos. Se tomarmos um certo momento na evoluo da humanidade, incidindo por volta de 747 a.C., teremos ali uma espcie de ponto zero, havendo um correspondncia bem determinada entre o que se situa antes e depois desse momento. Podemos remontar a um momento do desenvolvimento egpcio e ali encontrar certas leis cerimoniais que apareciam como mandamentos dos deuses. Elas o eram, tambm. Eram mandamentos recomendando, por exemplo, que o egpcio executasse certas ablues conforme regras rituais e cerimoniais. Dizia-se ao egpcio que ele s podia viver de acordo com a vontade dos deuses se em certos dias fizesse determinado nmero de ablues. Tratava-se de um mandamento divino que se manifestava sob forma de certas prticas de asseio. Passando depois a uma poca intermediria um pouco menos asseada e voltando a encontrar agora, em nossa poca, medidas de higiene como as que so dadas humanidade por motivos materialistas, vemos reproduzir-se entre ns algo que cessou no Egito numa poca correspondente. de maneira bem notria que se apresenta a realizao do acontecimento anterior no carma geral. S que o carter geral sempre outro. Em sua encarnao egpcia, Kepler dirigira o olhar ao cu estrelado, e o que essa individualidade vira l exprimia-se nas grandes verdades espirituais da astrologia egpcia. Em sua reencarnao na poca qual coube a vocao para o materialismo, a mesma individualidade cunhou esses fatos de conformidade com nossa poca nas trs leis de Kepler, de cunho materialista. No antigo Egito, as leis da abluo eram leis reveladas pelos deuses. O egpcio acreditava s poder cumprir seu dever para com a humanidade cuidando rigorosamente de seu asseio em qualquer ocasio. Isso reaparece hoje, mas tingido por uma mentalidade totalmente materialista. Ao observar tais preceitos, o homem de hoje no pensa realizar um servio divino; pensa apenas servir a si prprio. Mas, mesmo assim, o passado que ressurge. Assim tudo se cumpre no mundo e, em certo sentido, bem ciclicamente. Nesta altura, os Senhores sentiro que os fatos formulados da ltima vez como uma contradio no se aplicam to simplesmente, como muitas vezes se supe. Se em determinada poca os homens no estavam em condies de tomar certas medidas contra epidemias, naquela poca no podiam faz-lo porque as epidemias devia atuar de acordo com o sbio plano
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universal do Cosmo, para que as almas humanas encontrassem oportunidade de compensar os resultados da influncia arimnica e de certas influncias lucifricas anteriores. E se hoje as condies so outras, isto igualmente obedece a grandes leis crmicas bem definidas. Podemos depreender da que, em verdade, no podemos considerar essas questes superficialmente. Ora, como coadunar esses dois fatos? Dissemos que, quando o indivduo procura a oportunidade de contrair uma epidemia ou uma infeco, trata-se da reao necessria a uma causa crmica anterior. Ser que ento podemos tomar medidas higinicas ou outras contra isso? A questo profunda, e para respond-la precisamos primeiramente juntar o material apropriado. Precisamos ter em mente que onde os princpios lucifricos e arimnicos atuam seja simultaneamente ou em perodos mais longos em ao conjunta ou oposta, aparecem certas complicaes na vida humana. E essas complicaes atuam de modo a se nos apresentarem das mais diversas maneiras, de modo a no vermos dois casos iguais. Estudando, porm, a vida humana, viremos a orientar-nos da seguinte forma: ao procurar a ao conjunta de Lcifer e rim em cada caso individual, sempre encontraremos um fio para atravessar essa relao. Teremos, porm, de fazer uma clara distino entre o homem interior e o homem exterior. Hoje j tivemos de distinguir claramente entre o que ocorre na alma do intelecto o que se exibe no corpo etrico como efeito dessa alma. Precisamos considerar o caminho evolutivo em que o carma se realiza, tendo ao mesmo tempo em mente o fato de contarmos novamente com a possibilidade de, graas a influncias crmicas apropriadas, atuar sobre o ntimo; desse modo, por intermdio do ntimo uma outra compensao crmica preparada no futuro. Pode ento acontecer o seguinte: Um indivduo pode ter passado, numa vida anterior, por sensaes, sentimentos, etc. que o tenham feito assumir, com relao a seus prximos, uma atitude de desamor. Suponhamos, por exemplo, que ele tenha passado por algo e que, por efeito crmico, tenha assimilado o desamor. Pode perfeitamente acontecer que algum, seguindo uma linha declinante, produza o mal; que, portanto, ande primeiramente por um caminho descendente para que a energia oposta seja devolvida e, depois, ele volte a subir. Suponhamos portanto que um indivduo, entregando-se a certas influncias, tenha-se inclinado a um certo desamor; depois esse desamor aparece numa vida seguinte, como efeito crmico, configurando foras interiores em sua natureza. A podemos atuar de duas maneiras: conscentemente ou nconscientemente, pois nossa cultura ainda no est bastante adiantada para faz-lo conscientemente. No caso de um indivduo assim, poderemos tomar providncias para que as qualidades de sua natureza advindas da falta de amor sejam eliminadas. Podemos fazer algo que seja um antdoto contra esse efeito que, em sua natureza externa, se mostra como desamor; com isso, porm, no ser suprimido todo o desamor da alma, mas apenas removido o rgo externo do desamor. Se nada mais fizermos, teremos feito apenas metade do trabalho ou, possivelmente, nada. Talvez tenhamos dado quele indivduo uma ajuda exterior, fsica; mas no o teremos ajudado animicamente. Tirando-se de sua corporalidade externa o rgo ligado ao desamor, ele no poder pratic-lo; ter de conserv-lo em sua organizao interior para uma encarnao seguinte. Suponhamos que certo nmero de pessoas, devido sua falta de amor ao prximo, sentisse a tendncia a assimilar certas substncias infecciosas a fim de sucumbir a uma epidemia. Suponhamos ainda que se possa fazer algo contra essa epidemia. Impediramos, nesse caso, a corporaldade externa de exprimir o desamor, mas ainda no teramos eliminado a tendncia interior nesse sentido. Imaginemos, todavia, o mesmo caso da
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maneira seguinte: Ao eliminar o rgo externo do desamor, assumimos o compromisso de atuar sobre a alma de forma a tambm livr-la da tendncia a esse desamor. O rgo do desamor extirpado, corporalmente, pela vacinao antivarilica. Eis a um fenmeno que foi investigado pela Cincia Espiritual: a varola surgiu num perodo cultural em que reinava entre os homens a tendncia geral a desenvolver em escala maior o egosmo, o desamor. Ento surgiu algo tambm na estrutura exterior: a varola; foi o que aconteceu. Na Antroposofia temos o compromisso de dizer a verdade. Podemos agora compreender que tenha surgido, em nossa poca, a proteo pela vacina. Mas tambm podemos compreender que, entre os melhores espritos de nossa poca, existisse algo como uma relutncia contra a vacinao. Isto corresponde a algo interior, o aspecto externo de algo interno. E agora podemos dizer o seguinte: se por um lado eliminamos o rgo, em contrapartida deveramos ter tambm a obrigao de configurar diferentemente o carter materialista dessa pessoa por meio de uma educao espiritual adequada. Esta teria de ser a contrapartida necessria. Normalmente, realizamos apenas meio trabalho. De fato, efetuamos apenas um trabalho para o qual a prpria pessoa, de uma maneira qualquer, ter de criar a contrapartida quando possuir em si o veneno da varola e houver eliminado de seu ntimo a caracterstica pela qual se procura francamente contrair varola. Tendo-se removido a predisposio varola, considerou-se apenas o aspecto exterior da atuao crmica. Se de um lado praticamos a higiene, de outro devemos sentir a obrigao de tambm dar algo alma da pessoa cujo organismo transformamos. A vacinao no prejudicar pessoa alguma que receba depois da vacinao, mais adiante na vida, uma educao espiritual. Fazemos baixar excessivamente um prato da balana tendo apenas um lado em mira e no dando valor ao outro. isso o que, no fundo, se sente nos crculos onde se afirma o seguinte: quando as medidas de higiene vo longe demais, geram-se apenas naturezas fracas. Isto realmente no se justifica; mas os Senhores esto vendo: o essencial que no se deve assumir uma tarefa sem a outra. Com isso chegamos a uma importante lei da evoluo da humanidade: sempre um lado exterior e um lado interior tm de manter-se em equilbrio, sendo que no se deve simplesmente considerar um deles o outro no pode ser esquecido. Ento se descortina para ns um panorama importante, sendo que e ainda no chegamos a tratar da seguinte questo: como se inter-relacionam higiene e carma? Os Senhores vero que a resposta a essa pergunta nos levar a aprofundar-nos ainda mais na questo do carma. Veremos tambm que existem relaes crmicas entre o nascimento e a morte; estudaremos a maneira como outras personalidades intervm numa vida humana e como o livre-arbtrio do homem e o carma se encontram em harmonia.
26 de maio de 1910
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crmicas que ele prprio incorporou em si. Ele pode ser impelido a procurar a oportunidade, por exemplo, de contrair uma doena infecciosa, para nela procurar os efeitos compensadores de uma causa crmica incorporada em si; e at mesmo quanto ao que se pode chamar de acidentes da vida, ao provoc-los o homem pode estar sendo impelido a procurar uma compensao. O que acontece ento com o decurso do carma quando, por meio de medidas quaisquer, estamos em condies de impedir o indivduo de procurar essa compensao? Suponhamos que, por meio de certas medidas higinicas, atuemos no sentido de impedir que certas causas, certas coisas para as quais o indivduo deva ter inclinao em virtude de suas relaes crmicas, possam existir. Imaginemos termos conseguido, graas a uma medida higinica, combater certos agentes patognicos em determinada rea. J vimos que no reside, de modo algum, no arbtrio dos homens tomar tais medidas. Vimos como em determinada poca, por exemplo, surgiu o pendor para regras de asseio simplesmente porque esse pendor, que entrementes havia desaparecido, voltou a aflorar na evoluo, repetindo-se em sentido inverso. Vimos, a partir disso, que nas grandes leis do carma da humanidade esto contidas as razes pelas quais, em determinados momentos, o homem chega a tomar uma ou outra medida. Podemos tambm compreender facilmente que, numa poca mais antiga, o homem no tenha chegado ao ponto de tomar medidas dessa espcie, porque a humanidade de ento precisava das epidemias que hoje so eliminadas do mundo por medidas higinicas. No que se refere s grandes disposies da vida, o desenvolvimento da humanidade est verdadeiramente sujeito a leis bem definidas, e antes que algo possa ser de significao e proveito para o desenvolvimento da humanidade como um todo, a possibilidade de se tomarem tais medidas nem sequer ocorre. Ora, essas medidas no provm da vida plenamente consciente, racional e inteligente que o homem leva entre o nascimento e a morte; elas provm do esprito global da humanidade. Basta os Senhores lembrarem como uma ou outra inveno ou descoberta s surge quando a humanidade est verdadeiramente madura para tal. Uma pequena vista de olhos sobre a histria do desenvolvimento da humanidade na Terra poder proporcionar-lhes muito a esse respeito. Pensem apenas que nossos antepassados isto , nossas prprias almas viviam, no antigo continente atlntico em corpos de configuraes bem diferentes dos atuais corpos humanos; que depois esse continente submergiu e que as disposies existentes hoje s se formaram no mbito dos nossos continentes atuais. Foi s numa poca bem determinada que os habitantes de uma das metades da Terra foram levados a encontrar os habitantes da outra. Foi s pouco tempo atrs, num passado no muito remoto, que os povos da Europa puderam alcanar as regies desmembradas em direo ao outro lado do continente atlntico. Em tais assuntos, realmente vigoram leis de extrema amplitude. No depende da opinio ou da arbitrariedade do homem a possibilidade de umas ou outras coisas serem descobertas, ou de serem tomadas medidas que possibilitem intervir carmicamente neste ou naquele sentido; tudo isso surge quando necessrio. No obstante, quando removemos certas causas que, de outra forma, teriam existido e seriam procuradas por certas pessoas mediante suas complicaes crmicas, podemos influir no carma do homem. Essa influncia, porm, no significa que eliminamos o carma, mas que o dirigimos em outro rumo. Imaginemos o caso em que um nmero de pessoas, impelidas por complicao crmca, procurem certas influncias que configurem uma compensao crmica. Por meio de medidas higinicas, essas influncias ou circunstncias esto temporariamente removidas e no podem mais ser procuradas pelas pessoas. Por isso tais pessoas no sero libertadas do que provocado nelas como efeito crmico, mas sero impelidas a procurar
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outros efeitos. O homem no escapa ao seu carma. As referidas medidas no o dispensam do que ele normalmente teria procurado. Disso os Senhores podem inferir que, para uma compensao crmica que de um lado estaramos em condies de remover, deveria surgir uma compensao noutro sentido. Quando removemos influncias quaisquer, criamos apenas a necessidade de se buscarem outras oportunidades e influncias. Suponhamos que muitas epidemias ou causas de doenas genricas sejam simplesmente conseqncias do desejo das pessoas que procuram suas causas patognicas no sentido de eliminar o que inculcaram carmicamente em si prprias no caso de epidemias de varola, por exemplo, seriam os rgos do desamor. Se consegussemos eliminar esses rgos, a causa do desamor permaneceria e as almas em questo deveriam procurar a compensao apropriada, nesta ou naquela encarnao, de outra maneira. Podemos compreender o que a ocorre referindo-nos a algo com que certamente devemos contar, e que o seguinte: Hoje em dia so, de fato, removidas muitas influncias e causas exteriores que normalmente teriam sido procuradas para compensar certas coisas crmicas que a humanidade se imps em pocas anteriores. Dessa maneira, porm, s eliminada a possibilidade de o homem ficar sujeito a influncias exteriores. Ns tornamos sua vida exterior mais agradvel ou tambm mais sadia. Com isso, no entanto, conseguimos apenas fazer com que o fato a ser procurado pelo homem na condio patolgica correspondente, como compensao, tenha de ser procurado por outro caminho. As almas que, desta maneira, hoje em dia se salvam em matria de sade so, portanto, condenadas a procurar essa compensao crmica de outra maneira e tero de procur-la em muitos casos como os que foram descrtos. Uma vez que, mediante uma vida mais sadia, lhes preparada uma comodidade fsica maior, uma vez que a vida fsica lhes tornada mais fcil, sua alma influenciada de maneira oposta e de modo que pouco a pouco venha a sentir um certo vazio, uma insatisfao, uma frustrao. E se as coisas continuassem assim, tornando-se a vida exterior mais agradvel e cada vez mais sadia, tal como se pode t-la de acordo com as idias generalizadas na vida puramente material, tais almas teriam cada vez menos estmulo em si prprias para progredir. Em certo sentido, ocorreria paralelamente uma obliterao das almas. Quem observa mais acuradamente a vida j pode notar isso hoje em dia. Dificilmente houve pocas com tantos homens vivendo em condies exteriores to agradveis, porm com as almas vazias e frustradas, como hoje o caso. Por isso essas pessoas correm de uma sensao a outra; e quando as finanas o permitem, viajam de cidade em cidade a fim de ver algo ou, quando tm de permanecer na mesma cidade, correm, a cada noite, de um a outro prazer. Com isso, no entanto, a alma fica vazia e acaba, ela prpria, no sabendo o que procurar no mundo a fim de receber um contedo. Em verdade, uma vida puramente em condies de bem-estar exterior, fsico, produzir a tendncia a pensar s em coisas fsicas. E se esse pendor para dedicar-se exclusivamente a coisas fsicas no existisse j h tanto tempo, tampouco o pendor para o materialismo terico se teria tornado to intenso como acontece em nossa poca. Sendo assim, as almas tornam-se mais enfermas enquanto a vida exterior se torna mais saudvel. Quem menos deve queixar-se dessa situao o antropsofo, porque a Antroposofia sempre nos traz a compreenso das coisas e, com isso, um insight para identificar a compensao. As almas s podem ficar vazias at certo grau; depois, so ricocheteadas para o lado oposto, como que pelo efeito da prpria elasticidade. Procuram, ento, um contedo que seja afim s suas prprias profundezas, vindo ento a compreender quo necessrio , para elas, chegar a uma cosmovso antroposfica. Vemos, pois, como o que emana das concepes materialistas da vida certamente
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facilita a vida exterior, mas cria para a vida interior dificuldades que, a partir do sofrimento da alma, levam procura do contedo de uma cosmovso espiritual. A cosmoviso espiritual, manifestando-se hoje como Antroposofia, vem ao encontro das almas que ficam insatisfeitas com o vazio e com as impresses que a vida exterior lhes pode proporcionar, por agradvel que esta seja. As almas procuraro reiteradamente assimilar novas vivncias at que a tenso elstica do outro lado atue to fortemente que elas venham a ligar-se ao que se pode chamar de vida espiritual. Existe, portanto, uma relao entre a higiene e as esperanas futuras de uma cosmoviso da Cincia Espiritual. Isso j pode ser observado hoje, em escala reduzida. Hoje existem almas que a outras superficialidades acrescentam uma nova: elas comeam a interessar-se pela cosmoviso antroposfica, que assimilam como uma nova sensao. Eis algo que aparece em toda corrente na evoluo da humanidade: o que tem um significado interior profundo atua tambm como moda, como sensao. Porm as almas verdadeiramente preparadas para a Antroposofia so as que ou esto insatisfeitas com as sensaes exteriores ou tambm constatam que a cincia exterior, com todas as sua explicaes, no capaz de explicar os fatos. Trata-se de almas que, por seu carma global, esto preparadas a ponto de poderem unir-se Antroposofia com o componentes mais ntimos de sua vida anmica. A Cincia Espiritual tambm faz parte do carma global da humanidade e, como tal, nele se entrosar. Podemos, pois, levar o carma dos homens para um ou outro lado, num ou noutro sentido; no podemos, porm eliminar a retroao sobre o homem: de uma ou de outra maneira, retorna o que o prprio homem preparou para si em vidas anteriores. O modo como o carma atua corretamente no Universo pode ser melhor ensinado ao se considerar que ele o faz, por assim dizer, ainda sem conotao moral, sem relacionar-se em nada com o que, a partir da alma, o homem desenvolve em impulsos morais e que, depois, leva a aes morais ou imorais. Queremos colocar diante de ns uma rea do carma em que a moral ainda no desempenha papel algum, mas onde algo neutro se apresenta como encadeamento crmico. Suponhamos uma mulher que viva em determinada encarnao. Ningum contestar que a mulher, pelo simples fato de ser mulher, deve ter vivncias diferentes das de um homem; e que tais vivncias no se relacionam apenas com acontecimentos anmicos, mas tambm, em larga escala, com acontecimentos exteriores, com situaes de vida que ela experimenta somente pelo fato de ser mulher e que retroagem sobre todo o estado e disposio anmicos. Por isso podemos dizer que a mulher levada a certos atos intimamente relacionados com sua existncia feminina. O nivelamento entre homem e mulher se d apenas no campo da vida espiritual em comum. Quanto mais nos aprofundamos no campo meramente anmico e no aspecto exterior do ser humano, tanto maior se torna a diferena entre homem e mulher com respeito s suas vidas. E assim podemos afirmar que a mulher diferente do homem em certas qualidades da alma, possuindo maior pendor para as qualidades anmicas que levam a impulsos emocionais; tambm a consideramos mais predisposta do que o homem a ter vivncias fsicas. Em compensao, o intelectualismo e o materialismo aquilo, portanto, que veio ao mundo por meio do homem esto mais vontade na vida deste, exercendo isso uma grande influncia sobre a vida anmica. Aspectos psquicos e emocionais da mulher, momentos intelectuais e materialistas no homem: assim ambos so determinados diretamente por sua natureza. Portanto, tambm a mulher tem certas nuanas na vida anmica pelo fato de ser mulher. Ora, j expliquei que o que vivenciamos como qualidades anmicas entre a morte e o novo nascimento penetra em nossa prxima organizao corprea. Aquilo que mais fortemente psquico, mas fortemente emocional, interiorizando-se mais na alma durante a
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vida entre o nascimento e a morte, possui tambm especial pendor para intervir mais profundamente no organismo, para impregn-lo de modo muito mais intenso. Pelo fato de receber impresses relacionadas com o psiquismo e com a emotividade, a mulher leva as experincias da vida para as regies mais profundas da alma. Talvez o homem tenha experincias mais ricas e mais cientficas; nele, porm, as experincias no penetram to profundamente na vida anmica como no caso da mulher. Nela, todo o mundo das experincias grava-se profundamente na alma. Por isso as experincias tendem mais fortemente a atuar em sua natureza, a cingi-la mais fortemente no futuro. E assim uma vida feminina assume a tendncia a, numa encarnao, intervir profundamente no organismo por meio de suas vivncias, configurando com isso o prprio organismo na encarnao seguinte. Trabalhar mais profundamente, elaborar mais profundamente o organismo significa produzir um organismo masculino. Um organismo masculino produzido quando as foras da alma querem fixar-se mais profundamente na matria. Disso constatamos que das vivncias femininas de uma encarnao procede o efeito que produzir um organismo masculino na encarnao seguinte. Temos a, dada pela prpria natureza do ocultismo, uma relao situada alm da moral. Por isso, no ocultismo costuma-se dizer o seguinte: o homem o carma da mulher. De fato: o organismo masculino numa encarnao posterior o resultado das experincias e vivncias de uma encarnao feminina precedente. Preciso expor esses fatos muito objetivamente, mesmo correndo o risco de provocar pensamentos antipticos em alguns dos Senhores pois muitas vezes os homens de hoje encaram com grande susto a perspectiva de virem a reencarnar-se como mulheres. E como o caso das vivncias masculinas? Ns as compreenderemos melhor partindo logo do que acaba de ser exposto. Na natureza masculina, o ser interior entrosou-se mais profundamente na matria, abraando-a mais intensamente do que no caso da mulher. Em seu elemento incorpreo, a mulher conserva algo mais do espiritual; ela no vive to profundamente no mbito material, e sua corporalidade se mantm mais malevel. Ela no se afasta tanto do espiritual. A caracterstica da natureza feminina guardar em escala maior uma espiritualidade livre e, por isso, penetrar menos profundamente na matria, principalmente mantendo o crebro mais flexvel. No de admirar que as mulheres tenham mais inclinao particular para coisas novas, especialmente no campo espiritual pois elas mantm seu lado espiritual mais aberto e opem menos resistncia. No constitui, pois, acaso algum e, sim, obedece a leis profundas o fato de, num movimento ligado por natureza mais ao espiritual, se encontrar um nmero maior de mulheres do que de homens. E quem homem sabe que difcil instrumento , em geral, o crebro masculino. Ele cria obstculos terrveis quando se quer utiliz-lo para trajetos mais maleveis de pensamento; ele no quer acompanh-los, tendo de ser primeiramente educado com todos os meios possveis para libertar-se de sua rigidez. Esta pode ser uma vivncias pessoal da experincia masculina. A natureza masculina , pois, mais condensada, mais concentrada; foi mais comprimida, tornada mais rgida, dura, pelo ser interior do homem tornou-se mais material. Ora, um crebro mais rgido , antes de tudo, um instrumento mais para o intelectual e menos para o psquico pois o intelectual algo que se relaciona muito mais com o plano fsico. O que qualificado como intelectualismo do homem origina-se de seu crebro mais endurecido, mais solidificado. Poderamos falar, nesse caso, de um certo grau de congelamento do crebro. Ele precisar primeiramente descongelar caso tenha de percorrer caminhos mais sutis de pensamento. Por isso o homem levado a captar mais as exterioridades e a assimilar menos as vivncias ligadas s profundezas da vida anmica. O que ele assimila tampouco se aprofunda. Uma prova exterior disso quo pouco a
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cincia exterior se aprofunda nas coisas, com quo pouca profundidade os fatos so captados o modo como, de fato, os fatos so sempre pensados em largo mbito, mas pouco profundamente. Quem, pela prpria autodisciplina do pensar, se v forado a concatenar os fatos, muitas vezes sente repulsa diante da maneira como a cincia exterior no hesita em alinhar os fatos lado a lado. A se pode ver a pouca profundidade das coisas. Eis um exemplo de quo superficial pode ser o procedimento da cincia atual: Imaginemos um jovem assistindo a uma aula ministrada por um adepto fervoroso do darwinismo; o estudante poderia ouvir, desse representante da teoria da seleo natural, coisas do tipo: De onde vm as lindas cores, de cintilao azulada, das penas do galo? Isso deve ser atribudo seleo natural; pois o galo atrai as galinhas pelas cores e elas vo escolher, entre os galos, os que possuem penas com cintilao azulada. Os outros ficam para trs e, em conseqncia, forma-se uma espcie. Isto uma evoluo superior, isto seleo natural! E o estudante fica alegre por saber como pode ocorrer uma evoluo ascendente. Da passa aula seguinte, onde se trata, digamos, da rea da fisiologia dos sentidos. Agora pode acontecer de nosso estudante ouvir, nesta segunda aula, algo como o seguinte: Fizeram-se testes mostrando quo diferentemente as cores do espectro atuam sobre os diferentes seres. Pode-se comprovar, por exemplo, que as galinhas no percebem, dentro do conjunto cromtico do espectro, as cores pertencentes ao azul e ao violeta, e sim s o que vai do verde ao alaranjado, ao vermelho e ao infravermelho! Se quiser coadunar essas duas informaes que ele hoje em dia pode realmente receber , nosso estudante ser orientado para tomar as coisas superficialmente. Toda a teoria da seleo est baseada no fato de as galinhas provavelmente verem no galo, em termos de cores, algo que lhes deve trazer um regozijo especial, mas que em realidade elas no vem, pois lhes parece negro como breu. Este s um exemplo. Mas passo a passo as coisas vm ao encontro de quem se esfora em investigar de modo realmente cientfico. Como os Senhores vem, a intelectualidade no penetra to profundamente na vida, mas fica parada na superfcie. Escolho propositadamente os exemplos crassos. No se desejar admitir to facilmente que a intelectualidade se desenvolve mais no exterior, no intervindo na vida anmica e pouco afetando o interior do ser humano. E a mentalidade materialista ainda menos capaz de afetar a vida anmica. A conseqncia disso que, a partir de tal encarnao em que ele pouco atuou na alma no perodo entre o nascimento e morte, o homem assimila a tendncia a penetrar menos em seu organismo na encarnao seguinte. Ora, ele assimilou menos a fora para faz-lo; por isso essa fora agora atua de modo a que o homem impregne menos sua corporalidade. Da nasce a tendncia a formar, na encarnao seguinte, um corpo de mulher. Mais uma vez, constatamos o acerto deste ditado do ocultismo: a mulher o carma do homem! Neste campo moralmente neutro, vemos de que maneira o que o indivduo prepara para si, numa encarnao, organiza sua corporalidade na encarnao seguinte. E como essas coisas afetam profundamente no s nossa vida interior, mas tambm nossas vivncias exteriores e nossos atos, devemos dizer que tendo, numa encarnao, vivncias de homem ou de mulher, na encarnao seguinte o ser humano ter seu comportamento exterior determinado de uma maneira ou de outra, pois pelas vivncias femininas tender a formar uma organizao masculina e, contrariamente, pelas vivncias de homem, um a organizao feminina. Somente em casos raros repete-se a mesma encarnao sexual; esta pode repetir-se no mximo sete vezes. A regra que toda organizao masculina aspira a ser feminina na encarnao seguinte, e vice-versa. E a este respeito de nada adiantam as antipatias, pois no importa o que se deseja no mundo fsico, e sim as inclinaes que
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temos entre a morte e o novo nascimento, as quais so determinadas por razes mais sensatas do que o horror de algum, numa encarnao masculina, a encarnar-se como mulher na encarnao seguinte. Estamos vendo como a vida posterior determinada carmicamente pela anterior e, tambm, como os atos da vida posterior podem ser determinados. Temos, agora, de aprender a discernr mais uma relao crmica da qual ainda necessitaremos para aclarar melhor nossas importantes consideraes destes prximos dias. Dirijamos o olhar retrospectivo a um ponto situado bem remotamente na evoluo humana: ao momento em que comearam, na Terra, as encarnaes do homem. Isso aconteceu na poca da antiga Lemria. Naquele tempo, atuou primeiramente e de maneira incisiva sobre o homem a influncia lucifrica, provocando em seguida a influncia de Arim. Procuremos formar uma imagem de como a influncia lucifrica atuou exteriormente na vida humana. Pelo fato de o homem haver estado em condies de, naqueles tempos antigos, assimilar a influncia lucifrica, isto , permear com ela seu corpo astral, este se inclinou a intervir muito mais profundamente no organismo, a descer mais profundamente no elemento material do corpo fsico e, sobretudo, de maneira diferente do que teria ocorrido sem a referida influncia. Por meio desta, o homem tornou-se mais material. Caso a influncia lucifrica no houvesse atuado, teria surgido nele uma tendncia muito menor a descer ao mundo da matria; o homem, como tal, ter-se-ia mantido em regies mais elevadas da existncia. Ocorreu, portanto, uma penetrao muito mais forte do homem exterior e do homem interior do que teria sido o caso sem a influncia lucifrica. Essa penetrao era, de incio, a razo pela qual o homem, por sua ligao mais intensa com o elemento material do corpo exterior, perdeu a viso retrospectiva dos acontecimentos que precederam sua incorporao. Ele passou a entrar na existncia atravs de um tipo de nascimento que lhe propiciou ligar-se profundamente ao material, apagando assim a viso retrospectiva das vivncias anteriores. Caso contrrio, o homem teria guardado a recordao do que vivencou no espiritual antes de nascer. Pela influncia lucifrica, o nascimento transformou-se num ato pelo qual o homem estabelece ligaes to intensas entre seu ser interior e o exterior que se apaga sua vivncia anterior no mundo espiritual. Por meio da influncia lucifrica, foram roubadas ao homem suas recordaes das vivncias espirituais precedentes. A ligao com a corporalidade exterior faz com que ele no possa olhar retrospectivamente para o mundo de antes. Por isso, durante sua vida o homem est instrudo a sempre buscar apenas no mundo exterior suas experincias e vivncias. Seria totalmente errneo acreditar que s atuam sobre o homem as rudes substncias exteriores que ele assimila. Nele no atuam apenas os alimentos e suas foras, mas tambm todas as demais experincias que ele faz, inclusive as coisas que afluem para dentro dele pelos sentidos. Contudo, mediante a ligao mais rstica com a matria os alimentos tambm atuam de uma maneira diferente. Imaginem, Senhores, se a influncia lucifrica no estivesse presente: tudo atuaria sobre o homem de maneira muito mais delicada, desde os alimentos at as impresses sensoriais. Ele permearia tudo o que vivencia pela interao com o mundo exterior com o que vivenciou entre a morte e o novo nascimento. Por ter configurado a materialidade mais densamente, o homem tende tambm a assimilar coisas muito mais densas. A influncia lucifrica faz, portanto, com que o homem, pelo adensamento da matria, tambm atraia do mundo exterior substncias muito mais densas do que teria atrado normalmente. Mas o que ele atrai de mais denso, do exterior, totalmente
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diferente do menos denso. O menos denso teria mantido as recordaes da vida anterior; tambm teria atuado no sentido de dar ao homem a certeza de que tudo o que ele vivencia, entre o nascimento e a morte, estenderia seus efeitos a um perodo ilimitado. O homem iria saber que a morte exterior de fato sobrevm, mas tudo o que acontece continua atuando. Tendo de assimilar matria mais densa, o homem cria, desde seu nascimento, uma forte interao entre sua prpria natureza corprea e o mundo exterior. Ora, qual a conseqncia dessa interao? O mundo espiritual est apagado desde o nascimento. Para o homem poder viver no espiritual e despertar no mundo do esprito, precisa voltar a entrar naquele estado onde lhe tirado tudo o que penetra nele de fora como materialidade mais densa. Por havermos adquirido uma materialidade mais densa, para voltarmos a entrar no plano espiritual devemos esperar pelo momento em que a corporalidade material exterior nos tomada. O que penetra em ns como a materialidade mais densa destri, pedao a pedao, nossa corporalidade humanas a partir do nosso nascimento. O que flui para dentro de ns algo que destri nossa corporalidade cada vez mais, at acabar por destru-la totalmente e ela no mais poder subsistir. A comear pelo nascimento, assimilamos uma materialidade mais densa do que teramos assimilado sem a influncia lucifrica, de modo a aniquilar lentamente nossa corporalidade at que, com o advento da morte, ela se haja tornado totalmente imprestvel. Vemos, pois, como a influncia lucifrica a causa crmica da morte humana. Se no houvesse essa maneira de nascer, tampouco existiria esse tipo de morte para o ser humano. No fora assim, o homem estaria diante da morte com uma viso clara do porvir. A morte a conseqncia crmca do nascimento; nascimento e morte esto carmicamente relacionados. Sem nascimento, tal como o homem o vivencia hoje, no haveria morte, tal como a experimentada por ele. J vimos anteriormente que no caso do animal no se pode falar de carma no mesmo sentido que no caso do homem. Se algum dissesse que tambm no animal nascimento e morte esto carmicamente relacionados, demonstraria ignorar que nascimento e morte so, para o homem, algo bem diverso do que so para o animal. O que exteriormente se parece no , interiormente, a mesma coisa; no nascimento e na morte no se trata de construo exterior, mas da vivncia interior. No caso do animal, s a alma da espcie, a alma grupal, tem vivncias. A morte do animal significa, para a alma de grupo, mais ou menos o que os Senhores experimentam quando, ao aproximar-se o vero, mandam cortar os cabelos, que depois voltam a crescer lentamente. A alma de grupo de uma espcie animal sente a morte de um animal como o perecimento de um membro que pouco a pouco se substitui. Portanto, a alma da espcie algo que podemos comparar ao eu humano. Ele no conhece nascimento e morte, enxergando constantemente o que precede o nascimento e o que se segue morte. Falar, no caso do animal, de nascimento e morte como se fala em relao ao homem um contra-senso, j que as causas precedentes so completamente diversas. Nega-se a atividade interior do esprito ao acreditar que a igualdade exterior seja produzida por causas iguais. A igualdade de processos exteriores nunca indica, com segurana, causas iguais. Ao nascimento do homem subjazem causas totalmente diversas do que ao nascimento do animal, e, da mesma forma, o homem morre por causas bem diferentes do que o animal. Se refletssemos um pouco sobre como o exterior pode apresentar-se bem igual, sem que o interior vivencie a mais remota semelhana, at metodologicamente verificaramos que assim ocorre. Podemos descobrir, at pelos meios mais simples, que a aparncia sensorial exterior no testemunho algum da vida interior. Imaginemos duas pessoas; s nove horas passamos por determinado lugar e vemo-las ambas, uma ao lado da outra. As
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trs horas voltamos ao mesmo lugar depois de, nesse meio tempo, no termos estado l. E l esto, no mesmo lugar, as duas pessoas. A poderemos concluir: A e B esto no mesmo lugar em que j se encontravam s nove horas. Se fssemos verificar o que os dois indivduos fizeram no intervalo, talvez constatssemos que um ficou parado no mesmo lugar enquanto o outro deu uma grande volta, tendo ficado bem cansado. Eis dois processos bem diferentes. Assim como, reencontrando as duas pessoas s trs horas no mesmo lugar, seria absurdo dizer que no ntimo delas houvessem ocorrido as mesmas coisas, se acaso encontrssemos duas clulas de configuraes iguais seria igualmente absurdo querer concluir, a partir de suas estruturas idnticas, que ambas tivessem interiormente o mesmo significado. preciso conhecer todo o contexto dos fatos que levaram uma das clulas ao lugar em questo. Por isso a moderna fisiologia celular, partindo da pesquisa da estrutura interior das clulas, est num caminho totalmente errado. O que se oferece exteriormente aos sentidos nunca pode ser decisivo para a essncia interior das coisas. preciso refletir sobre algo assim quando se quer compreender como tais coisas se apresentam ao ocultista com base em suas observaes ocultas; como, por exemplo, nascer e morrer significam, no homem, algo bem diferente do que nos mamferos ou nos pssaros. O estudo dessas coisas s ser possvel se as pessoas tornarem a interessar-se pelo que a pesquisa espiritual tem a dizer. At que venham a interessar-se, a cincia comum, que se atm s aparncias e aos fatos exteriores, apresentar fatos at muito bonitos; nessas condies, porm, tudo o que os homens possam considerar acerca desses fatos nunca contribuir para a realidade. Por isso, tudo o que hoje constitui cincia terica o produto fantstico resultante do fato de se combinarem ocorrncias exteriores conforme a aparncia exterior. Em muitos campos, os fatos exteriores clamam por uma interpretao correta; mas, com as opinies em voga atualmente, no se chega a tal. Enfocamos, hoje, duas reas neutras no campo das leis crmicas; elas constituiro um fundamento para nossas consideraes seguintes. Vimos que a natureza feminina a conseqncia crmica das vivncias masculinas, e a natureza masculina uma conseqncia crmica das vivncias femininas; e vimos, por fim, que morte um efeito crmico do nascimento na vida humana. Isto algo que, se tentarmos compreend-lo pouco a pouco, poder levar-nos a penetrar profundamente nas relaes crmicas da vida humana.
27 de maio de 1910
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ocorre ento, e como se comporta tal fato diante dos conceitos mais profundos da lei do carma? Quero observar desde j o seguinte: para melhor esclarecer essa questo, ser preciso tratar de coisas bem distantes da cincia moderna e do modo de pensar do homem atual, coisas que tambm, por assim dizer, s poderiam ser discutidas entre antropsofos que j se houvessem preparado para tal, tendo assimilado certas verdades relativas s bases mais profundas da existncia e tambm adquirido uma percepo de como certos fatos que hoje s nos cabe insinuar podem, de fato, ser plenamente fundamentados. Contudo, nesta oportunidade desejo ainda formular um pedido: o que necessito dizer acerca das bases mais profundas da existncia na Terra, esforando-me para expressa-lo da forma mais precisa e que se tornaria falso to logo fosse repetido em outro contexto ou sem contexto algum, dando assim ensejo a mal-entendidos , desejo pedir que no seja tratado de outra maneira que no ser pura e simplesmente assimilado. Tambm devo insistir em que ningum o considere como material possvel de ser ensinado ou transmitido a outrem, porque s o contexto justifica tal exposio e porque tal exposio s justificada quando a ela subjaz a conscincia de como cunhar as palavras a fim de expressar tal assunto em pensamentos. O que realmente est em jogo a questo quanto essncia mais profunda da existncia material, de um lado, e quanto vida anmica, de outro. Hoje teremos de adquirir uma concepo mais profunda do anmico e do material, e isso por uma razo bem determinada: por havermos mencionado, nas conferncias passadas, que o anmico humano pode penetrar ora mais, ora menos profundamente no material. De fato, ontem pudemos caracterizar a essncia do elemento masculino dizendo que no homem o anmico penetra mais profundamente no material, enquanto na mulher, de certa forma, se retrai mais, adquirindo antes uma existncia independente diante do material. Vimos, assim, que muito da vida crmica depende de como o anmico e o material se interpenetram. Vimos tambm como determinado processo patolgico, surgido numa encarnao, apresenta-se como a conseqncia crmica de falhas cometidas pela alma em encarnaes anteriores, tendo ela ento elaborado em si mesma seus feitos, impulsos e vivncias e assimilado depois, no caminho entre a morte e o novo nascimento, a tendncia a incutir no corpo, na matria, o que antes havia decorrido meramente como uma caracterstica, uma influncia anmica. E medida que a entidade humana impregnada de um elemento anmico que assimilou a influncia lucifrica ou arimnica, o elemento material humano arruinado justamente por isso. A reside o decurso da doena. Podemos, pois, dizer que num corpo enfermo est contido um elemento anmico arruinado, que sofreu uma influncia imprpria, uma influncia lucifrica ou arimnica; no instante em que consegussemos retirar da alma as influncias lucifrica ou arimnica, teria lugar a correta interpenetrao entre alma e corpo, isto , surgiria a sade. Temos, pois de perguntar: o que sucede com esses dois membros essenciais da existncia humana que se nos apresentam, ou seja, com a matria e o elemento anmico? O que so eles, em sua essncia mais profunda? Ao ser levantada essa questo, o homem atual costuma opinar que a resposta s perguntas O que matria? e O que alma? deveria ser a mesma em qualquer parte do mundo. No creio poder algum admitir facilmente que a resposta s perguntas O que matria?, O que alma? tenha de ser muito diferente para seres que viveram na Antiga Lua e para seres que vivem na Terra. Contudo, a existncia est em evoluo a ponto de se transformarem at mesmo as idias que um ser possa fazer a respeito das bases mais profundas de sua prpria natureza. Muda, portanto, a resposta que deve ser dada s citadas perguntas. As respostas que sero dadas aqui quero frisar isto de an-
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temo so tais que s o homem terreno pode d-las, e tm significado apenas para ele. De incio o homem julgar a matria pelos diferentes objetos e entidades que se antepem a seus olhos no mundo exterior e, de uma maneira qualquer, produzem uma impresso nele. Descobrir ento que existem vrios tipos de matria; no preciso estender-me sobre isso, pois o que teria de ser dito a respeito, caso dispusssemos de mais tempo, os Senhores podem encontrar em todos os textos comuns sobre o assunto. Por ora suficiente dizer que a matria se apresenta de diferentes maneiras ao homem medida que ele v os diferentes metais ouro, cobre, chumbo, etc. ou aquilo que no faz parte da srie dos metais. Os Senhores sabem que a qumica reduziu pouco a pouco essas substncias a certos componentes bsicos denominados elementos. Esses elementos eram considerados, ainda no sculo XIX, como matria impossvel de ser ainda mais fracionada. Enquanto podemos tomar uma substncia qualquer que se nos apresente como matria como, por exemplo, gua e separ-la em oxignio e hidrognio, temos, no oxignio e no hidrognio, as matrias que, segundo a opinio da qumica do sculo XIX, no podiam ser decompostas em algo menor. Diferenciaram-se at setenta elementos desse tipo. Como os Senhores certamente sabem, o conceito de elemento foi abalado diversas vezes por fenmenos ligados a alguns elementos particulares, como por exemplo o rdio; ou que tambm, com relao a vrios fenmenos da teoria da eletricidade, chegou-se opinio de que os aproximadamente setenta elementos conhecidos eram apenas um limite provisrio da matria, podendo o fracionamento continuar at se chegar a uma nica matria fundamental, especializando-se esta, somente por suas combinaes interiores e por sua essncia intrnseca, ora em ouro, ora em potssio, clcio, etc. Essas so teorias cientficas mutveis. E da mesma maneira como as teorias cientficas mudaram no perodo de cinqenta anos no sculo XIX, e como aquilo que devia ser matria certos fsicos viam como algo a ser caracterizado por entidades e essncias tomadas do campo da eletricidade, como o atualmente a teoria inica essas so modas cientficas , tampouco demorar muito tempo e haver outras modas cientficas, vindose a ter uma idia diferente sobre a constituio da matria. Eis os fatos. As opinies cientficas so mutveis e tm mesmo de s-lo, pois dependem totalmente de fatos que atuam de maneira particular-mente significativa em determinada poca. Em contrapartida, a Cincia Espiritual, durante todas as pocas e medida que tm existido culturas na Terra e a Cincia Espiritual perdurar enquanto houver uma cultura terrestre , sempre teve uma concepo uniforme e igual a respeito da essncia da existncia material, a respeito da matria. A fim de familiariz-los com o que a Cincia Espirtual considera a essncia da matria, do material, desejo dizer o seguinte: Os Senhores conhecem o processo bem trivial do gelo: quando temos gelo, trata-se de um corpo slido, de uma matria slida. Essa matria no slida por sua prpria essncia, mas devido a circunstncias exteriores. Ela deixar prontamente de ser matria slida se elevarmos a temperatura de maneira apropriada; ento ela se tornar matria lquida. A maneira como uma matria se manifesta no mundo exterior no depende, pois, do que lhe inerente, mas de todas as circunstncias do universo circundante. Podemos continuar a aquecer essa matria, e a partir de certo ponto a gua se transforma em vapor. Temos ento o gelo, a gua e o vapor; pela elevao da temperatura ambiente produzimos o que se pode designar por matria em vrios estados. Assim, na matria tal como se nos apresenta temos de distinguir no segundo sua natureza intrnseca e constitutiva, e sim tendo em mente que a maneira como a matria se nos apresenta depende da constituio geral do Universo, no se podendo destacar coisa alguma, como matria isolada, de todo do Universo. Os mtodos da cincia atual no conseguem chegar at onde chega a Cincia
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Espiritual. Com seus recursos a cincia moderna nunca poder levar a matria que, sob forma de um pedao de gelo, pode transformar-se em lquido e em vapor pela elevao da temperatura ao ltimo estado ao qual possvel levar a matria na Terra. No possvel produzir hoje, por meios cientficos, condies em que se pudesse evidenciar o seguinte: diluindo-se ouro cada vez mais, at o ponto em que a diluio atinja o grau mximo alcanvel na Terra, por fim se chegar a este ou aquele estado; fazendo-se o mesmo com prata, o resultado ser igual; com o cobre tambm, etc. A Cincia Espiritual capaz de chegar a esse ponto, pois baseia-se em mtodos clarividentes de pesquisa. Isto a capacita a observar como nos intervalos entre nossas matrias sempre se encontra algo igual que, de fato, constitui o ltimo limite aonde a matria pode ser levada, seja ela qual for! Existe, realmente, um estado de diluio de todas as matrias, acessvel pesquisa clarividente, no qual todas as matrias se apresentam como algo idntico; s que o que ento aparece no constitui mais matria, e sim algo situado alm de todas matrias especializadas que nos circundam. E cada matria individual se nos apresenta como algo condensado, densificado a partir dessa matria primordial que, na realidade, no mais matria; isso se d com o ouro, a prata ou qualquer tipo de matria. Existe uma essncia bsica para nossa existncia terrestre material, da qual todas as matrias derivaram apenas por condensao. E pergunta Qual , ento, a matria bsica de nossa existncia terrestre?, a Cincia Espiritual responde: toda matria na Terra luz condensada! Nada, na existncia material, outra coisa seno luz condensada de uma forma qualquer. Como se v, para quem conhece os fatos no cabe criar uma teoria como a teoria ondulatria do sculo XIX, na qual se procurava explicar a luz por meios mais densos que a luz. No possvel reduzir a luz a qualquer outra coisa materialmente existente. Contudo, onde quer que se pegue e apalpe uma matria tem-se luz condensada, comprimida. Em sua essncia, a matria luz. Com isto apontamos, do ponto de vista da Cincia Espiritual, um aspecto do assunto. Temos, portanto, de ver na luz o fundamento de tudo o que existe materialmente. E se observarmos o corpo humano material, tambm ele, na medida em que material, tecido de luz. Enquanto ser material, o homem tecido de luz. Tomemos agora a outra pergunta: qual a essncia do anmico? Se, por meio da Cincia Espiritual, investigssemos de modo anlogo o elemento substancial, a verdadeira base essencial do anmico, descobriramos da mesma forma como tudo o que matria apenas luz comprimida que todos os fenmenos anmicos na Terra constituem modificaes e transformaes mltiplas do que devemos chamar de amor tomando a palavra em seu significado mais profundo. Toda emoo de carter anmico, seja qual for o lugar onde se manifesta, amor, modificado de algum modo. Considerando o interior e o exterior do ser humano como que encaixados entre si, a corporalidade exterior tecida de luz e seu elemento anmico interior tecido, de maneira espiritualizada, de amor. Amor e luz esto, de fato, espiritualmente entretecidos em todas as manifestaes de nossa existncia terrena. Quem pretende compreender as coisas pela Cincia Espiritual pergunta em primeira instncia: como que amor e luz se acham entretecidos num grau qualquer? Amor e luz so os dois elementos, os dois componentes que permeiam toda existncia terrena: amor como existncia terrena anmica, luz como existncia terrena material. Surge, nesta altura, o que deve existir como um mediador entre os elementos luz e amor, que sem isso estariam colocados lado a lado no grande processo da evoluo universal um mediador que entretece um ao outro elemento, que entretece a luz ao amor. Esse deve ser um poder que, por assim dizer, no possua um interesse particular pelo amor, introduzindo, portanto, a luz no elemento do amor; que s tenha interesse em
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dar a maior difuso possvel luz, fazendo, pois, irradiar a luz para dentro do elemento do amor. Tal poder no pode ser um poder terreno, pois a Terra justamente o Cosmo do Amor. A Terra tem a misso de entretecer tudo com amor. Tudo o que est intimamente vinculado existncia da Terra no tem interesse algum que no seja, de algum modo, tocado pelo amor. So, no entanto, as entidades lucifricas que possuem tal interesse; elas permaneceram no ciclo da Lua, no Cosmo da Sabedoria. Elas, sim, tm particular interesse em entretecer a luz ao amor. Por isso os seres lucifricos esto, de fato, atuando em toda parte onde nosso interior, que em verdade tecido de amor, entra de algum modo em relao com a luz onde quer que esta, sob qualquer forma, esteja disponvel; e a luz vem justamente ao nosso encontro em tudo o que tem existncia material. Basta entrarmos, de algum modo, em relao com a luz, e logo surgem os seres lucifricos; o lucifrico se entretece ao amor. Foi assim que o homem penetrou no elemento lucifrico no decorrer das encarnaes: Lcifer se entreteceu ao elemento do amor. O elemento lucifrico fora sua penetrao naquilo que tecido pelo amor; s a influncia lucifrica pode trazer-nos o que impede o amor de ser uma dedicao plena, impregnando-o com sabedoria, de modo que o amor venha a ser ntimamente permeado por ela. Ora, de outro modo sem essa sabedoria o amor seria uma fora natural pela qual o homem no poderia ser responsvel. Assim, porm, o amor transforma-se em autntica fora do eu, qual entretecido o elemento lucifrico que antes s se situava exteriormente, na matria. S por este meio se torna possvel o fato de nosso interior ao qual deveria caber, na existncia terrena, a caracterstica do amor em toda a sua abrangncia ser impregnado por tudo o que podemos qualificar como atuao lucifrica e que conduz, sob esse aspecto, a uma impregnao das coisas materiais exteriores; desse modo, o amor no s entretecdo pelo que tecido de luz: surge um tipo de amor impregnado por Lcifer. Ao absorver o elemento lucifrico, o homem entretece a existncia material, de sua prpria corporalidade, a um elemento anmico que de fato tecido de amor, mas tambm impregnado pelo elemento lucifrico. O amor permeado pelo elemento lucifrico, impregnando o material, a causa de doenas que atuam de dentro para fora. Em ligao com tudo o que j dissemos antes a respeito das conseqncias necessrias da doena oriunda do elemento lucifrico, podemos agora dizer o seguinte: o que devemos ver na dor, como uma dessas conseqncias e ns vimos como a dor uma conseqncia do elemento lucifrico , -nos mostrado pela atuao da lei crmica, de maneira que o efeito de uma ao ou tentao imputvel a Lcifer se traduz carmicamente, exprimindose na dor aquilo que deve levar superao do efeito em questo. Como fica, agora, a questo de podermos ou no ajudar num caso desses? Ser isso possvel aqui? Ser permitido afastar, de uma maneira qualquer, tudo o que se haja infiltrado de lucifrico, com todas as suas conseqncias de dor? Depois da resposta questo sobre a essncia do anmico, torna-se evidentemente necessrio o fato de s nos ser permitido faz-lo caso encontremos os meios para expulsar, adequadamente, o elemento lucifrico do indivduo que o possua em si como causa patolgica. Qual meio, ento, deve atuar mais intensamente a fim de extirpar o elemento lucifrico de maneira correta? O que veio a ser maculado pelo elemento lucifrico na Terra? O amor! Por isso, somente infundindo amor que poderemos ter a verdadeira assistncia para o elemento crmico se desenrolar de forma correta. E assim, em ltima anlise temos de ver, em tudo o que nesse sentido se torna causa de doena no elemento do amor que, no mbito anmico, foi prejudicado pelo elemento lucifrico ,
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algo em que precisamos infundir alguma coisa. Precisamos infundir amor para possibilitar que o ato amoroso se constitua numa ajuda. Este carter de amor infundido pertence a todas as aes curativas que se apiam, em maior ou menor escala, no que se pode chamar de processos de terapia psquica. De alguma forma, o que empregado nos processos de terapia psquica se relaciona com a doao de amor. O amor aquilo que instilamos em outras pessoas como blsamo. Em ltima anlise, isso deve poder ter sua razo no amor, e deve realmente t-la. Deve poder ter sua razo no amor quando colocamos simples fatores psquicos em movimento, quando levamos outra pessoa simplesmente a harmonizar seu estado de alma deprimido. Tudo isso deve ter seu impulso no amor, desde processos teraputicos simples at aquilo que hoje, de maneira leiga, se chama freqentemente de magnetizar.24 O que realmente transmitido, pelo agente curador, pessoa que deve ser curada? Usando um termo da Fsica, podemos dizer que aqui se trata de uma permuta de tenses. Algo que vive na pessoa curadora em particular, determinados processos em seu corpo etrico , por entrar em certa relao com aquele que deve ser curado, proporcionado a ele numa espcie de polaridade. A polaridade provocada da mesma forma como, num sentido mais abstrato, ns a provocamos ao produzir um tipo de eletricidade, a positiva, e a negativa correspondente aparece. Polaridades so provocadas e isso deve ser compreendido, no sentido mais elevado, como um ato de sacrifcio. De fato, provocamos em ns mesmos um processo que no se destina a ter relevncia apenas em ns seno provocaramos apenas um processo; nesse caso, este destina-se a provocar na outra pessoa uma polaridade em relao ao primeiro processo. Tal polaridade que naturalmente depende do fato de a pessoa curadora e o paciente terem sido levados a uma relao em qualquer sentido , o fato de se provocar esse outro processo na outra pessoa , no sentido mais elevado, o sacrifcio de uma fora que nada seno de amor transformada, ou seja, um ato de amor sob uma forma qualquer. O que realmente atua em tais curas psquicas a fora de amor transformada de alguma forma. Devemos ter bem claro que sem a fora de amor subjacente o processo sempre ter algo incapaz de levar a bom termo. Ora, processos de amor no precisam necessariamente decorrer sempre de modo que o homem tenha deles plena conscincia diurna; eles tambm ocorrem em nveis subconscientes. Mesmo no que se pode considerar como tcnica de processos curativos, mesmo na maneira como se fazem, por exemplo, toques lineares com as mos, reunidos tecnicamente num sistema, mesmo nisso j reside o fato de eles serem uma imagem de um ato de sacrifcio.25 Portanto, mesmo quando no discernimos diretamente a relao num processo curativo, onde no vemos o que se faz, existe um ato de amor, ainda que totalmente transformado em tcnica. Vemos assim que, pelo fato de o elemento anmico consistir essencialmente em amor, podemos intervir com fatores psicoteraputicos que aparentemente podem ser processos situados bem na periferia do ser humano; e que, por meio de tais fatores teraputicos, o que em essncia amor se enriquece com o amor de que necessita. Vemos a, de um lado, a ajuda que nos permitido prestar por termos de auxiliar a pessoa para que ela, depois de haver cado nos tentculos de Lcifer, tambm possa livrar-se deles. Como a essncia do anmico o amor, -nos permitido influenciar muito bem o carma nessa direo. De outro lado, perguntamos: o que aconteceu quele material tecido de luz, no qual est inserido o anmico? O que aconteceu parte material do homem, tecida de luz? Consideremos a corporalidade exterior de uma pessoa, o homem exterior em sua
24 Ou hipnotizar. (N.E.)
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Tal aluso seria aplicvel massagem rtmica e quirofontica, terapias antroposficas desenvolvidas posteriormente. (N. E.)
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corporalidade material. Se, a partir do anmico, o processo crmico no houvesse incutido na matria uma substncia de amor impregnada por Lcifer ou rim, se houvesse fludo para essa matria apenas uma substncia de amor pura, no poderamos ter, a respeito desta substncia de amor, a sensao de que ela macula e deteriora a matria tecida de luz. Se aflusse apenas amor para dentro da matria, ele adentraria de tal modo a corporalidade humana que esta no poderia ser deteriorada; somente por ter podido afluir-lhe amor impregnado de foras lucifricas ou arimnicas que a matria tecida de luz pde tornar-se pior do que originalmente teria sido. Portanto, s pode advir de prejuzos lucifricos ou arimnicos afludos aos homens durante as sucessivas encarnaes o fato de nos defrontarmos, no organismo humano, com algo que no como deveria ser. Caso o fosse, representaria a matria sadia do homem; porm, tendo assimilado os efeitos de Arim e de Lcifer, pode consistir num corpo doente. Como podemos extrair, de fora, as respectivas influncias que adentraram atravs de um anmico imperfeito, atravs de uma substncia de amor imperfeita? O que acontece com o corpo, ao afluir para ele algo imperfeito? Para a Cincia Espiritual, isso faz com que algo tecido de luz produza, de algum modo, seu oposto. A luz tem seu oposto em algum tipo de escurido. Por estranho que parea, tudo o que em realidade se apresenta como a poluio do que tecido de luz uma escurido entretecida pela influncia arimnica ou lucifrica. Vemos, assim, escurido entretecida materialidade humana. Essa escurido, porm, s foi entretecida pelo fato de essa corporalidade humana se haver tornado portadora daquilo que, denominado eu, atravessa as encarnaes. Este no se encontrava presente antes. S um elemento corporal humano pode ter justamente essas deterioraes especficas, antes ausentes daquilo que a luz teceu. Ora, hoje o homem toma a base da materialidade daquilo que, pouco a pouco, foi segregando de si no decorrer da evoluo: dos remos animal, vegetal e mineral. Estes tambm contm as diversas matrias,ou seja, o que tecido de luz para o ciclo da Terra. Mas dentro de todas essa matrias ainda no est o que, no decurso do carma humano, conseguiu penetrar na existncia material do homem, vindo de seu interior. Temos, pois, nos trs remos que nos circundam, algo que o homem por si, por sua influncia lucifrica ou arimnica, nunca conseguiu macular ao atuar a partir de sua substncia do amor. L dentro nada h dele que pudesse espalhar-se na pureza reinante nada que, em relao a essa pureza, esteja maculado no homem. Se, por exemplo, temos no mundo exterior uma matria mineral um sal ou outra qualquer , essa uma matria que o homem tambm contm ou pode conter em si; nele, porm, ela est entretecida pelo que podemos chamar de substncia do amor maculada por rim ou Lcifer. L fora, contudo, ela pura. Assim, toda matria diferencia-se, no mundo exterior, daquilo que o homem carrega em si como substncia. L fora esta sempre diferente do que dentro do homem pelo fato de, nele, estar entretecida pela influncia arimnica e lucifrica. Esta a razo pela qual, para tudo o que o homem pode deteriorar ora mais, ora menos em sua substancialidade exterior, deve ser encontrado exteriormente algo que represente o elemento correspondente em estado puro, sem conter a danificao humana. O que existe no mundo sem danificao o remdio exterior para o elemento danificado correspondente. Ministrando-o corretamente entidade humana, temos o remdio especfico para a correspondente leso. A temos, bem objetivamente, o que ministrar ao corpo humano como remdio. Temos a leso como escurido especificada e o que ainda no escuro como luz pura entretecida exteriormente e vemos por que a escurido presente no homem, como matria escura, pode ser suprimida quando podemos ministrar-lhe a matria pura, tecida de luz. Temos assim na matria pura, tecida de luz, um remdio especfico contra a leso.
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Seria mesquinho negar e tenho chamado muitas vezes a ateno no sentido de que nesse erro a Antroposofia no deveria cair a existncia, em tais casos, de remdios especficos que podem atuar eficazmente sobre este ou aquele rgo em caso de determinadas leses. Foi dito freqentemente que o organismo possui as foras para ajudar a si mesmo; porm, mesmo sendo correto o que a escola vienense de terapia nihilista validou dar incio ao processo de cura mediante mobilizaes das foras contrrias , ainda assim podemos ir ao encontro do processo de cura por meio de remdios especficos. Vemos reinar aqui um paralelismo que podemos descrever com base na Cincia Espiritual. Pelo que eu disse, por exemplo, acerca da difteria, os Senhores podem inferir tratarse de algo que atingiu o corpo astral de maneira bem especial na causa crmica. Descobrimos, agora, que o elemento mais afim a esse corpo astral no ambiente que rodeia o homem situa-se no reino animal. Por isso os Senhores vero que, no caso das doenas muito prximas do corpo astral, a cincia mdica sempre tem procurado inconscientemente, como por instinto, remdios oriundos do reino animal. Para as doenas cuja causa se situa no corpo etrico, a cincia mdica escolhe remdios no reino vegetal. Nesta altura poderia ser feita uma palestra interessante, por exemplo, sobre a relao entre Digitalis purpurea e certas doenas cardacas. Estas so coisas que, por basear-se na realidade, no valem apenas por cinco anos para depois comear a tornar-se erradas como disse certa vez um mdico e como, de fato, ocorre quando se tiram concluses sobre sintomas exteriores. Existe, contudo, um certo patrimnio de remdios originalmente relacionados com a Cincia Espiritual e transmitidos de gerao em gerao, sem que as pessoas soubessem algo de sua origem. Assim como os astrnomos de hoje ignoram que a teoria de Kant e Laplace provm das escolas secretas da Idade Mdia, muitas vezes as pessoas desconhecem a origem dos patrimnios medicinais. E, por fim, causas de doenas relacionadas com a entidade do corpo fsico levam ao uso de remdios extrados do reino mineral. At mesmo por meio dessas concepes anlogas pode-se dar um indcio para o assunto. Por isso existe para o homem, pela relao com o mundo circundante, a possibilidade de ser ajudado de dois lados: quando lhe proporcionado, de um lado, amor transformado pelos processos psicoteraputicos, ou, de outro, luz modificada das mais variadas maneiras, por meio dos processos relacionadas de algum modo com os processos teraputicos exteriores. Tudo o que pode ser feito empreendido seja por meios psquicos interiores, isto , com amor, seja por meios exteriores, isto , com luz condensada de alguma forma. E quando a cincia estiver bastante avanada para acreditar no suprasensvel e na sentena A matria luz condensada de alguma forma, esse princpio lanar luz espiritual sobre a busca sistemtica da possibilidade de ajudar o homem por remdios exteriores. Disso se v que no foi por mera tolice que as escolas de mistrios do antigo Egito e da Grcia pouco a pouco enriqueceram, durante longas pocas, o patrimnio dos remdios; nessas coisas sempre havia uma essncia sadia. A Antroposofia no deseja tomar partido, afirmando tratar-se de uma corrente que ministra venenos ao homem! A palavra veneno tem, hoje em dia, um efeito sugestivo, e as pessoas no tm conscincia de quo relativo esse termo. O que , em verdade, veneno? Qualquer substncia pode ser um veneno; depende apenas do tipo de cura e da quantidade ingerida de uma s vez. A gua um forte veneno quando se bebem dez litros de uma vez. Este efeito, considerado sob o prisma de uma qumica interior, nem muito diferente das conseqncias do consumo de qualquer outra substncia. Depende sempre da quantidade, pois todos esses conceitos so relativos. Como resultado de tudo o que vimos hoje, podemos afirmar o seguinte: podemos
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ficar contentes pelo fato de, mesmo para as leses que o homem possa incorporar em si, encontrar-se em toda a natureza que nos cerca tal como agora encaramos o processo csmico o meio de cura que lhe possibilitar superar a leso. Este tambm um belo sentimento que podemos nutrir diante do mundo exterior: podemos alegrar-nos acerca do mundo exterior, no s pelas flores que ele nos d e pelas montanhas que nos faz ver no esplendor da luz do sol, mas tambm pelo fato de haver uma relao to ntima entre tudo o que nos circunda e o que, dentro do homem, pode ser chamado de bem e de mal. Podemos alegrar-nos, na natureza, no s pelo que nos diz respeito de imediato, mas tambm porque quanto mais profundamente penetrarmos naquilo que se densificou at existncia material exterior, tanto mais verificaremos o seguinte: essa natureza que nos alegra contm, ao mesmo tempo, o poderoso fator curativo para todo prejuzo que o homem possa causar a si prprio; de algum modo, h um elemento curativo escondido na natureza. Trata-se no s de compreender a linguagem desse fator curativo, mas tambm de obedecer a ela e realmente realiz-la. Mas hoje, na maioria dos casos, no temos a possibilidade de obedecer linguagem da natureza curativa porque o desconhecimento da luz, porque as trevas que tambm se intrometeram em nossa cognio, causaram, em muitos aspectos, situaes que no permitem seguir a linguagem pura da natureza. Para ns deve ser bem claro: se em determinado caso no h ajuda, se um sofrimento no pode ser aliviado devido a relaes crmicas, isto no significa, absolutamente, que no exista possibilidade de amenizao. Voltamos a ver, tambm aqui, a existncia de uma relao curiosa que nos faz ver todo o grande mundo, inclusive o homem, como um ser. Na frase Matria luz tecida e o anmico amor diludo de alguma maneira est a chave para inmeros segre dos da existncia na Terra. Esta chave vlida somente para a existncia terrestre, e para nenhuma outra regio da existncia do Universo. Com isto mostramos nada menos que, ao imprimirmos ao carma uma mudana de rumo qualquer, ligamo-nos, num ou noutro caso, justamente aos elementos que compem nossa existncia na Terra: de um lado, luz tornada matria e, de outro, ao amor tornado elemento anmico. Retiramos o remdio do meio circundante, sob forma de luz densificada, ou de nossa prpria alma, sob forma de ato de amor curativo, ato de sacrifcio; e, neste ltimo caso, curamos com a fora anmica extrada do amor. Ns nos ligamos ao que, na Terra, essencialmente legtimo unindo-nos, de um lado, luz e, de outro, ao amor. Todos os estados na Terra so, de uma maneira ou de outra, estados de equilbrio entre a luz e o amor. Uma perturbao desse equilbrio entre luz e amor mals. Se o distrbio reside no amor, a ajuda que podemos dar resulta do desdobramento da fora do amor em ns; se o distrbio reside na luz, podemos ajudar conseguindo no Universo, de uma maneira qualquer, aquela luz que pode suprimir as trevas em ns. Temos a os elementos bsicos da ajuda humana. Eles mostram como tudo, na existncia terrena, depende de condies de equilbrio entre elementos opostos ou confrontantes. Luz e amor so, em verdade, elementos que se confrontam; mas de seu entretecimento depende, em ltima anlise, tudo o que ocorre material e animicamente em nossa vida terrena. No de admirar, pois, que a evoluo de poca em poca ocorra, em todas as reas da vida humana, de modo tal que a posio de equilbrio como que oscile especialmente para um lado, tentando-se depois corrigi-la para o outro ou seja, que nosso desenvolvimento decorra de modo semelhante a uma ondulao. De fato, nosso desenvolvimento assemelha-se a uma espcie de ondulao: ele sobe e desce, sendo que o equilbrio perturbado sempre compensado por uma oscilao do pndulo em sentido contrrio, a qual, por sua vez, ultrapassa a posio de equilbrio. Se os Senhores concordarem que na vida humana tudo diz respeito a distrbios do equilbrio num ou noutro
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sentido, constataro como, por esse meio, podero esclarecer at mesmo os processos culturais mais ntimos. Se considerarem uma poca em que certos danos penetraram no desenvolvimento humano pelo fato de os homens terem dirigido a ateno somente ao interior como por exemplo na Idade Mdia, quando, pelo intenso florescimento da mstica, o exterior permaneceu desconsiderado, levando a mal-entendidos no s no conhecer, mas tambm no agir , vero ento, por outro lado, seguir-se uma poca em que no se tolera a mstica, dirigindo-se a ateno ao mundo exterior e fazendo-se tudo para que o pndulo oscile para o outro lado. Os Senhores tm a transies entre a Idade Mdia e a poca moderna, e podero encontrar tais distrbios do equilbrio sob os mais variados aspectos. A esse respeito eu gostaria de acrescentar que, em pocas como a nossa, muitas pessoas apresentam como caracterstica uma perda total de qualquer conscincia de um mundo supra-sensorial. Isso siginifica que em nossa poca existe um grande nmero de pessoas completamente desatentas existncia de um mundo espiritual, rejeitando pensamentos a esse respeito. Em tal poca ou melhor, em tais pocas tambm sempre existe, sob alguns aspectos, a contra-imagem disso. Quero caracteriz-la de um modo bem simples. Quando, no plano fsico, existem pessoas que se enredam no fsico a ponto de esquecer-se do espiritual, por outro lado os que vivem no mundo espiritual, entre a morte e o novo nascimento, possuem a tendncia oposta, provocada como que por um carma atuando do plano fsico para o plano espiritual: a tendncia a ocupar-se com coisas que exercem uma influncia do mundo espiritual sobre o fsico. Esta , de fato, a razo para muitas influncias exercidas, no mundo fsico, por indivduos que esto no perodo precedente ao novo nascimento. Esses indivduos atuam sobre o mundo fsico, de acordo com as possibilidades, por intermdio de pessoas altamente acessveis a tais influncias do mundo superior. Se quisermos ter clareza a respeito desta rea, teremos de rejeitar muito do que narrado sobre revelaes do mundo espiritual feitas por indivduos que se acham entre a morte e o novo nascimento. E poderemos selecionar bem os casos caractersticos em que os mortos para fazer o pndulo oscilar para o outro lado empenham-se intensamente em mostrar com clareza aos homens: existe, de fato um mundo espiritual! Compensando o fato de existirem em nossa poca pessoas totalmente obtusas, tendo entretecido seu esprito a tanta escurido que no querem ouvir falar de um mundo espiritual, existem mortos que sentem, a partir dessa deficincia, o impulso de atuar sobre o mundo fsico. Na maioria das vezes essas coisas ocorrem quando os homens , no plano fsico, nada fazem a respeito. E so mais caractersticas as coisas que se oferecem sem experincias artificiais, surgindo, por assim dizer, como manifestaes do mundo espiritual. Da a relao entre indivduos no campo material, de um lado, e o impulso instrutivo advindo do mundo espiritual, de outro. Os Senhores encontraro muitas referncias a esse respeito no livro Das Mysterium des Menschen (O mistrio do homem), de nosso amigo Ludwig Deinhard 26, onde se acha compilado e sistematizado muito do que necessitam, hoje to espalhado na literatura cientfica que nem todo mundo tem a possibilidade de junt-lo. Por isso muito bom que possam dispor, nesse livro, de uma compilao justamente desse aspecto dos fatos cientfico-espirituais que, como se v, so eminentemente caractersticos de nossa era. Nesse livro se encontra, em particular, o caso tpico de um cientista, o falecido Frederik
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Ludwig Deinhard (18471917), engenheiro e industrial, foi um ativo membro da Sociedade Teosfica, tendo pertencido sua diretoria de 1902 a 1908. Muito ligado a Rudolf Steiner, seu livro Das Mysterium des Menschen im Lichte der psychischen Forschung. Eine Einfhrung in den Okkultismus (Berlim, 1910) foi bastante elogiado por este ltimo. (Cf. N.E. orig.)
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Myers27, que em sua vida terrena tentou todas as possibilidades para, pelo caminho do mtodo materialista, chegar prova do mundo espiritual, tendo depois sentido, aps sua morte, um forte impulso de mostrar aos homens, por meio de radiaes do mundo espiritual, o que almejara aqui na Terra. Isto deveria ser uma ilustrao para o princpio de que no mundo e na existncia universal lidamos com contnuas perturbaes de equilbrios e, novamente, com a busca destes. Na existncia terrena temos, como elementos mais profundos desse equilbrio incessantemente perturbado e restabelecido, a luz e o amor. E no carma humano esses dois elementos a luz e o amor atuam, de encarnao em encarnao, de modo compensatrio sobre os equilbrios perturbados. Ora, no fundo ns temos, no carma que atravessa todas as encarnaes, situaes de equilbrios perturbados; na luz e no amor, por sua vez, temos a tentativa constante de restabelecer o equilbrio. At que, num futuro remoto, depois de atravessar suas encarnaes, o homem tenha finalmente chegado a preparar um ltimo estado de equilbrio atingvel na Terra; isto significar que a humanidade ter realizado sua misso terrena e que a existncia terrestre desenvolver, para si, uma nova forma planetria. Procurei expor algo sem o qual impossvel uma fundamentao mais profunda das relaes e leis crmicas. No receei, por esse motivo, tratar de bases ocultas para as quais nossa cincia atual est longe de ser madura: a matria, em verdade, luz entretecida e o anmico , em qualquer aspecto, amor diludo. Estas so antigas sentenas ocultas, porm sentenas que permanecero verdadeiras para todas as pocas vindouras e se revelaro frutferas, no desenvolvimento da humanidade, no s para o conhecimento, mas tambm para a atuao e a ao humanas.
28 de maio de 1910
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Frederick XV. H. Myers (18431901), poeta, espiritista e escritor, um dos fundadores da Society for Psyichical Research em Londres. (Cf. N.E. orig.)
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a relao entre o que os homens fazem em sua vida conjunta, como comunidade humana, e o que chamamos de carma individual de cada um? J tratamos desta questo de outro ponto de vista. Se enfocarmos qualquer evento histrico por exemplo, as guerras prsicas28 , ser impossvel acreditar que esse evento, considerado do ponto de vista grego, represente algo possvel de ser inscrito somente no livro do destino de cada indivduo participante dele no plano fsico exterior. Pensem em todos os dirigentes das guerras prsicas e em todos os ndivduos que ento se sacrificaram, pensem em tudo o que foi feito pelo exrcito grego, desde os dirigentes at o simples soldado: avaliando um acontecimento como esse luz da razo, acaso poderamos lanar os efeitos de cada um somente na conta corrente crmica dessas personalidades individuais? Ser impossvel fazlo. impossvel imaginar que, no caso de acontecimentos relativos a um povo inteiro ou a uma grande parte da humanidade civilizada, no ocorra outra coisa seno o carma individual realizado por cada uma das individualidades envolvidas. No decurso da evoluo histrica, temos de ir de um fato a outro; e veremos que encontraremos sentido e significado dentro do prprio desenvolvimento da humanidade, no podendo tais acontecimentos confundir-se com o carma individual de cada um. Podemos refletir sobre uma questo como as guerras prsicas e depois perguntar: qual seu significado na evoluo da humanidade? Havia-se desenvolvido uma certa cultura no Oriente, com grandiosos aspectos favorveis. Mas assim como toda luz traz suas sombras, precisamos tambm ter conscincia de que toda a cultura do Oriente s pde ser alcanada pela humanidade porque vrios aspectos negativos, que no podiam ter continuidade na evoluo humana, penetraram naquela cultura. Uma dessas sombras era, sobretudo, o pendor que o Oriente tinha para engrandecer-se cada vez mais mediante elementos exteriores de poder, advindos puramente do plano fsico. Se no houvesse surgido esse impulso para o engrandecimento, naturalmente no teria nascido a cultura oriental. Um no pode ser pensado sem o outro. Mas para que a humanidade pudesse continuar a evoluir, tinha de desenvolver-se, por exemplo, a partir de pressupostos bem diferentes, a cultura grega. Esta, contudo, no podia iniciar-se espontaneamente; precisava receber certos pressupostos de outra parte e, de fato, tomou importantes pressupostos da cultura oriental. Diferentes lendas de heris, que da Grcia se transladaram para o Oriente, nada mais representam seno o seguinte: discpulos de certas escolas gregas haviam-se mudado para o Oriente e trazido para os gregos aqueles bens acessveis apenas no mbito da cultura oriental, mas que tambm, depois, podiam continuar a ser tratados e transformados pelo carter, pelo talento popular grego. Para tal, no entanto, era mister eliminar, desses bens trazidos do Oriente, seu lado sombrio: o impulso de expandir-se em direo ao Ocidente por puros meios exteriores de poder. A civilizao romana, posterior grega, e tudo o que vieram a ser os demais pressupostos para a evoluo seguinte da humanidade europia, no teriam podido formar-se caso os gregos no houvessem criado por si o livre espao para a continuidade evolutiva da cultura oriental, caso no houvessem rechaado tudo o que lhes era afim. Vencidos os povos asiticos, tornou-se possvel filtrar o que a sia havia criado. Muitos acontecimentos do desenvolvimento universal devem ser considerados por esse prisma, e isso nos propicia uma imagem curiosa. Se pudssemos desenvolver essa idia num ciclo de palestras com durao de trs a quatro anos, limitando-nos aos documentos histricos da humanidade transmitidos at ns, obteramos algo que se poderia chamar de plano da evoluo humana. Analisando tal plano, diramos: isto teria de ser conquistado; aquilo tem um aspecto sombrio que precisaria ser eliminado; o bem conquistado precisaria ser transmitido a outros e ser aperfeioado por eles.
28 Ocorridas entre 490 e 449 a.C. entre persas e gregos. (N.E.) 102
Obteramos, desse modo, um plano de evoluo da humanidade e, ao discuti-lo, nunca poderamos conceber a seguinte idia: como pde acontecer de Xerxes, Miltades ou Lenidas29 terem possudo este ou aquele carma individual? Precisamos considerar esse carma individual como algo que precisa ser decidido por si e entretecido ao plano da evoluo da humanidade. No possvel compreender a situao de outro modo. Essa , tambm, a maneira de ver da Cincia Espiritual. E, sendo esse o caminho, temos de dizer o seguinte: neste curso sistemtico da evoluo da humanidade teremos de ver algo coerente em si, da mesma forma como o so os acontecimentos crmicos na vida humana individual. Depois podemos perguntar: que tipo de relao tem um tal plano de evoluo global da humanidade com o carma individual do homem? Consideremos primeiro o que se poderia chamar de sina na prpria evoluo humana. Ao nosso olhar retrospectivo aparece uma civilizao aps outra, um povo aps outro. Vemos mais: vemos como um povo aps outro produz isto ou aquilo novamente; como algo imperecvel permanece da cultura de cada povo; vemos tambm como os povos precisam morrer para salvar o patrimnio popular e suas conquistas, para as correspondentes pocas posteriores da evoluo da humanidade. Ento se nos torna compreensvel a afirmao da Cincia Espiritual de que, neste andamento progressivo da evoluo da humanidade, preciso, em primeira instncia, distinguir exatamente duas correntes. Considerem, no andamento global da evoluo da humanidade, o que se pode considerar como corrente contnua e, dentro desta, ondas que se desenvolvem uma aps outra, sendo que os bens conquistados pela onda antecedente permanecem conservados para a subseqente. Teramos uma imagem a esse respeito ao olhar para a primeira cultura da era ps-atlntica, para o que esta produziu de grandioso na antiga ndia. Mas se compararmos essa grandiosidade com a fraca reminiscncia que, a esse respeito, ficou contida nos Vedas os quais, ainda assim, so dignos de admirao, embora no passem de um fraco reflexo do que foi realizado pelo Rishis e da grande contribuio cultural dos hindus, da qual nos relata a Cincia Espiritual , devemos dizer o seguinte: a grandeza original do que esse povo tinha de produzir para a humanidade j estava em declnio quando se passou a conservar esse patrimnio cultural dos homens naquelas maravilhosas representaes poticas. No entanto, o que a cultura hindu tinha a produzir em primeira instncia flui para o andamento global da evoluo humana. E foi somente sob esta premissa que, posteriormente, pde desenvolver-se, por sua vez, o necessrio a um povo jovem e no a um povo que se tornara velho. Primeiramente os hindus tinham de ser rechaados para a pennsula meridional, desenvolvendo-se ento a cosmoviso de Zaratustra na Prsia. Quo grandiosa era essa cosmoviso, na poca em que nasceu e quo relativamente rpido foi seu declnio no povo que a criara! Temos, depois, o mesmo processo nas culturas egpcia e caldaica. Depois vemos a passagem da sabedoria oriental para a Grcia e o modo como os gregos rechaam o elemento oriental para o plano fsico exterior. Vemos tambm como o contedo produzido por todo o Oriente acolhido no seio da cultura grega, sendo entretecido a muitas das realizaes efetuadas at ento em outras regies europias. A partir da criado um novo contexto cultural que, por muitos caminhos, tornou-se capacitado a receber o impulso do cristianismo e propag-lo para o Ocidente. E assim encontraramos, tambm mais tarde, uma corrente cultural contnua em que poderamos juntar um elo a outro; e cada um nos pareceria a continuao do precedente, sempre como algo novo que teve de ser dado humanidade. Onde, porm, teve de brotar aquilo que, desse modo, prossegue evoluindo de poca em poca?
29 Xerxes (c. 520465), rei dos persas, filho de Drio; Miltades, comandante ateniense, venceu os persas em
490 a.c.; Lenidas (fal. 480 a.C.), rei de Esparta, caiu na luta com o rei persa Xerxes junto ao desfiladeiro das Termpilas. (Cf. N.E. orig.)
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Pensem em tudo o que cada povo vivencia em sua rea cultural! Pensem em tudo o que deve ter ocorrido em cada povo como uma soma de sensaes e sentimentos de inmeras pessoas, de desejos e entusiasmos pelo que deve parecer o supremo bem desejvel, devendo dar-se, justamente nesta rea, como um impacto cultural! Pensem em como as almas dos indivduos tinham de estar inteiramente presentes, em seus desejos e anseios, em cada um desses impactos! E alm disso era necessrio, atravs de inmeros sculos da evoluo da humanidade, que, ao desenvolver cada um dos impactos culturais subseqentes, os povos vivessem sempre numa espcie de iluso na iluso de considerar justamente o patrimnio cultural elaborado por eles prprios como algo eterno e imperecvel, que nunca mais lhes poderia ser tirado. O trabalho abnegado de cada povo, em relao cultura, s foi possvel pelo fato de sempre ter ressurgido a iluso de que o produto de sua criao, com tudo o que lhe fosse pertinente, teria uma existncia eterna. Tambm em nossos dias existe essa iluso; e mesmo que no nos entreguemos mais a ela positivamente, no falando da eternidade desta ou daquela cultura, temo-la presente no fato de no se pensar no fim nem em pequena nem em grande escala , no lhe dedicando, por assim dizer, qualquer ateno. A esto duas coisas de que as culturas dos vrios povos necessitam e que, no fundo, somente nesta nossa poca comeam a experimentar uma espcie de mudana. Ora, a primeira rea da vida espiritual humana em que tais iluses basicamente no mais medraro a vida espiritual antroposfica pois seria um grave mal-entendido se algum, firmemente situado em nosso movimentos espiritual, quisesse acreditar que as formas nas quais vazamos nossos conhecimentos, as exposies de idias possveis hoje o que atualmente podemos dar a partir do nosso pensar, sentir e querer antroposficos tivesse uma existncia eterna. Seria prova de grande miopia afirmar que dentro de trs milnios haver homens falando das verdades antroposficas exatamente da maneira como o fazemos hoje. Sabemos que, pelas condies de nossa poca, somos obrigados a vazar nas formas contemporneas algo do produto contnuo da evoluo, e que nossos descendentes tero de expressar essas coisas por meio de formas vivenciais totalmente diferentes. Por que acontece assim? Por um motivo semelhante ao que fez a humanidade evoluir, durante sculos e milnios, de maneira que os indivduos tivessem muitas vivncias nas sucessivas culturas dos povos, a fim de a contribuio poder formar-se a partir do desenvolvimento global de um povo. Pensem nas inmeras vivncias experimentadas na antiga Grcia, e considerem o extrato que disso resultou para a humanidade inteira! Ento os Senhores reconhecero estar a contido muito mais do que apenas as correntes individuais. Muitas coisas acontecem por causa dessa corrente central. Por isso temos de levar em conta duas coisas: primeiro algo que deve nascer e perecer, para que desse todo a segunda parte quantitativamente, a menor possa perdurar como remanescente. S compreenderemos o processo evolutivo da humanidade sabendo que desde o surgimento do carma humano individual atuam nesse processo dois poderes, Lcifer e Arim. Ora, o plano da evoluo da humanidade implica tambm que no fim, tendo a Terra alcanado seu objetivo, os resultados de cada cultura incorporados pouco a pouco ao desenvolvimento global da humanidade se tornaro frutferos para todos os indivduos, seja qual for o destino que hajam atravessado. Esta meta, ns s a vislumbramos ao enfocarmos a evoluo universal luz da Antroposofia. Que ningum se iluda: esta meta s se apresentar clara e nitidamente a quem haja passado por um cultivo antroposfico da alma a maneira correta de conceb-la implica a plena conservao da individualidade humana, sem que esta se dissolva numa unidade pantesta nebulosa; a individualidade deve permanecer intacta, e a ela deve fluir o que a
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humanidade conquistou em grande escala. Olhando para trs, para culturas antigas, pode-se dizer de antemo o seguinte: desde que individualidades humanas passaram a encarnar-se, Lcifer e Arim so participantes da evoluo da humanidade. Lcifer participa procurando sempre tomar parte na corrente cultural contnua, ao aninhar-se nos corpos astrais humanos e impregn-los com o impulso lucifrico. Eis o que Lcifer realiza no curso da evoluo da humanidade: atuar no interior dos corpos astrais humanos. O que os homens recebem de Lcifer, eles nunca poderiam simplesmente receber dos poderes que realizam a corrente cultural contnua. Se os Senhores separarem esta corrente cultural de todo o progresso da humanidade, tero o que os seres espirituais em progresso normal fazem fluir das Hierarquias para a humanidade qual uma riqueza sempre renovada. Ao elevar o olhar para as Hierarquias, temos de dizer o seguinte: os seres espirituais que perfazem seu desenvolvimento normal deram cultura terrena o que permanente na humanidade e que, embora tenha sido transformado mais tarde, ainda assim permaneceu sendo patrimnio permanente dos homens. como quando temos uma rvore e, dentro dela, o cerne. Ganhamos, assim, uma viva e contnua corrente da cultura contnua. Por meio desses poderes, que por si perfazem uma evoluo normal, poderia ter acontecido de o homem preencher cada vez mais seu eu com esse enriquecimento progressivo do desenvolvimento humano. De tempos em tempos afluiria o que faz o homem avanar; ele iria preencher-se cada vez mais com as ddivas do mundo espiritual, e por fim, tendo a Terra alcanado sua meta, seria inequvoco que o homem teria em si tudo o que houvesse sido dado pelos mundos espirituais. Uma coisa, porm, no seria possvel: que o homem desenvolvesse um fervor sagrado, intrnseco, nem dedicao e entusiasmo, por aquilo que criado de uma para outra poca cultural. Do mesmo fundamento do qual nascem todos os desejos e cobias nasce tambm o anseio de altos ideais, a nsia de tornar os homens felizes e de criar obras de arte nas consecutivas pocas culturais humanas. Do mesmo fundamento, do manancial das perniciosas cobias dirigidas para o mal, nascem tambm os empenhos pelo que de mais elevado pode ser produzido na Terra. E no existiria, na alma, o entusiasmo pelo bem supremo se no fosse possvel, de outro lado, que o mesmo entusiasmo pudesse mergulhar tambm no vcio e no mal. A existncia desta possibilidade no desenvolvimento da humanidade devida aos espritos lucifricos. Assim, no devemos ignorar que os espritos lucifricos tenham trazido aos homens a liberdade, simultaneamente possibilidade do mal e livre receptividade para o que, de outra forma, apenas afluiria alma humana. No entanto, vimos tambm que tudo o que Lcifer provoca encontra sua resposta por intermdio de rim. Vimos Lcifer, com todo o seu exrcito, atuar no elemento que depois daria, em termos concretos, a contribuio da cultura grega evoluo humana geral: nos heris gregos, em seus lutadores e artistas. Lcifer penetra nos corpos astrais e faz com que estes se inflamem pelos mais elevados objetos de venerao. Assim, aquilo que deveria afluir para a evoluo com a cultura grega torna-se, ao mesmo tempo, entusiasmo da alma do povo. Justamente a est envolvido Lcifer. E como Lcifer deve sua fora ao ciclo da Lua, e no ao da Terra, provoca rim; enquanto Lcifer desenvolve sua atividade de poca em poca, Arim junta-se a ele e destri, parte por parte, o que Lcifer realizou na Terra. A evoluo universal do homem consiste numa constante atuao entre Lcifer e rim. Se Lcifer no atuasse na humanidade, faltaria o fervor e o entusiasmo corrente contnua da evoluo humana; se no estivesse presente rim, que novamente destri, de povo em povo, o que provm no da corrente contnua, e sim do impacto lucifrico, Lcifer desejaria perpetuar cada uma das culturas. Deste modo, vemos aqui Lcifer conjurar seu prprio carma, que uma conseqncia necessria da evoluo
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da antiga Lua. E a conseqncia ter Arim continuamente em seu encalo. Arim a realizao crmica de Lcifer. O exemplo dos seres lucifricos e arimnicos abre-nos uma viso do carma das entidades superiores. L no alto tambm existe carma. Em toda parte onde existem eus, existe carma. Lcifer e rim abrigam, naturalmente, eus em si; por isso os efeitos de suas aes podem retroagir sobre eles prprios. Muitos desses mistrios s podero ser tratados no vero vindouro, no ciclo sobre a histria bblica da Criao30; desejo mencionar aqui somente um trecho, que lhes poder revelar quo infinitamente profunda cada palavra nos verdadeiros documentos ocultos. Acaso os Senhores j refletiram por que, na histria bblica da Criao, ao fim de cada dia da Criao consta a sentena E os Elohim olharam para sua obra e viram que era boa, que era a melhor possvel ? 31 So palavras cheias de significado. Por que figuram ali? A prpria frase demonstra ser citada como uma caracterstica dos Elohim, que na Lua tiveram um desenvolvimento normal e cujo adversrio Lcifer. Pertence caracterstica dos Elohirn o fato de eles terem constatado, aps cada dia da Criao, que sua obra era a melhor possvel. Tal meno feita porque este grau era a conquista dos Elohim. Na Lua eles s podiam enxergar sua obra enquanto a produzissem, no lhes sendo possvel ter dela uma conscincia posterior. A condio de, a posteriori, poder olhar retrospectivamente para o trabalho graas ao pensamento reflexivo constitui um grau especial na conscincia dos Elohim. Isso s foi possvel na Terra; e o carter mais ntimo dos Elohim evidencia-se no fato de o elemento volitivo jorrar de seu ser de modo tal que, ao observarem eles sua obra, esta lhes parecia a melhor possvel. Foram os Elohim que, depois de terminado seu trabalho na Lua, olhando para a Terra puderam dizer: Pode ficar como est, esse o melhor possvel! Para isso, contudo, a evoluo na antiga Lua tinha de estar terminada. O que ocorreu com as entidades lucifricas, ou seja, com as entidades que no haviam terminado sua evoluo na Lua? Elas tambm tero de tentar, na Terra, olhar a posteriori para sua obra por exemplo, para sua contribuio cultura grega com seu fogo e entusiasmo. E ento percebero como rim despedaou sua obra parte por parte! E por no a haverem terminado, tero de dizer que, ao olharem para sua obra, viram que ela no a melhor possvel, devendo ser apagada! essa a grande decepo dos espritos lucifricos: eles tentam realizar sempre de novo sua obra, desejando dar ao pndulo um impulso em determinada direo mas sempre a vem destruda por rim. Os Senhores devem pensar que na evoluo da humanidade ocorre uma ondulao ascendente e descendente, um constante atiar de novas foras efetuado por entidades superiores a ns, e que essas entidades sofrem constantemente decepes. Isto est contido nas vivncias dos espritos lucifricos na evoluo da Terra. E esse carma, a humanidade teve de assimil-lo porque s por esse meio o homem podia chegar verdadeira liberdade. S pode brotar liberdade quando o homem confere a si prprio o contedo mais elevado de seu eu terrestre. No pode ser livre o eu que o homem possuiria se todos os objetivos lhe fossem dados de presente no fim da evoluo terrestre; pois j estava de antemo determinado fazer penetrar nos homens todos os bens da evoluo da Terra. O homem s pde tornar-se livre acrescentando a esse eu um outro eu capaz de errar, sempre capaz de oscilar para o lado do bem ou para o lado do mal, mas tambm de sempre aspirar ao que constitui o contedo de toda a evoluo terrestre. O eu inferior tinha de ser acrescentado ao homem por Lcifer,
Die Geheimnisse der biblischen Schopfungsgeschichte, GA-Nr. 122 (Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1976). (N.E.) 31 Primeiro livro de Moiss (Gnesis), 1. (N.E. orig.)
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para que o esforo do homem para elevar-se ao Eu Superior pudesse ser uma ao fundamentalmente sua. S dessa maneira a vontade livre tambm possvel na humanidade. Vontade livre algo que o homem pode conquistar passo a passo, pois o ser humano est disposto de forma que na vida a vontade livre, para ele, paira como um ideal. Quando, afinal, est livre a vontade humana num estgio mediano da evoluo? Ela nunca livre, porque a qualquer instante pode sucumbir ao elemento lucifrico e arimnico; no livre porque todo homem, depois de haver passado pelo portal da morte, encontrando-se na poca ascendente da purificao possivelmente durante decnios ,tem uma impresso bem definida. O essencial da vida no kamaloka a viso que temos do grau de nossa prpria imperfeio por causa de tudo o que fizemos de imperfeito no mundo a viso, parte por parte, da maneira pela qual nos tornamos imperfeitos. Origina-se a a determinao de eliminar tudo o que fizemos de imperfeito. A vida no kamaloka consiste em juntar inteno por inteno e tomar a deciso global: Tens de consertar tudo o que pensaste e fizeste e que te arrastou para baixo! O que o homem ento sente imprime-se em sua vida posterior e, com essa inteno, entra na existncia pelo nascimento carregando, com isso, seu carma. Portanto, no podemos dizer que possumos uma vontade livre ao entrar na existncia pelo nascimento. S podemos dizer que nos estamos aproximando de uma vontade livre na medida em que conseguimos dominar as influncias de Lcifer e Arim; e s conseguimos dominar as influncias lucifricas e arimnicas por meio do conhecimento primeiro pelo autoconhecimento, tornando-nos cada vez mais capazes, tambm na vida entre o nascimento e a morte, de conhecer nossas fraquezas nas trs caractersticas anmicas: pensar, sentir e querer. Esforando-nos cada vez mais para no nos entregarmos a iluso alguma, cresce ento, em nosso eu, a fora para conseguirmos dispensar a influncia lucifrica; tornamo-nos assim cada vez mais capazes de decidir quanta dedicao merecem os bens da humanidade, pouco a pouco conquistados. Em segundo lugar, dominamos as citadas influncias pelo conhecimento do mundo exterior, que precisa ser complementado pelo autoconhecimento; ambos devem atuar em conjunto. Precisamos unificar, com nosso ser, o conhecimento do mundo exterior e o autoconhecimento; ento estaremos em condies de adquirir uma relao clara com Lcifer. A caracterstica do que adquirimos como conhecimento antroposfico consiste em sabermos o quanto Lcifer e rim participam de cada ato, tendncia e paixo humanos. Neste ciclo de conferncias, no temos feito outra coisa seno esclarecer-nos sobre a maneira de atuar, imensamente variada, de Lcifer e rim em nossas vidas! Em nossa poca, porm, pode ter incio o esclarecimento sobre as foras lucifricas e arimnicas. E o homem deve ser esclarecido, caso realmente queira contribuir com algo para se alcanar a meta da humanidade na Terra. Para onde quer que os Senhores dirijam o olhar, vero que em toda parte onde existem sentimentos e pensamentos humanos os homens esto longe de um autntico e verdadeiro conhecimento sobre as influncias de Lcifer e Arim. E vero que a maior parte da humanidade nem sequer deseja esse conhecimento. Vero uma grande parte dos homens cair num certo egosmo religioso: o de querer chegar, com sua alma, quele estado de maior bem-estar imaginvel. um egosmo em que podem intrometer-se as maiores cobias, sem que os homens tenham conscincia disso. Em nenhuma outra circunstncias Lcifer se imiscu mais em nossos sentimentos do que quando os homens aspiram ao divino, a partir de suas paixes e cobias, sem que o divino se lhes tenha tornado claro pela luz do conhecimento. Acaso os Senhores no acreditam que Lcifer atue muitas vezes justamente quando os homens crem estar ansiando pelas coisas mais sublimes? Porm as formas assim almejadas tero igualmente de fazer parte das
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decepes de Lcifer. E aqueles que acreditam poder alcanar qualquer tipo de cultura espiritual baseando-se em cobias desordenadas, pregando sempre que a Antroposofia ruim por acreditar em algo novo, deveriam considerar que no depende da vontade humana o fato de Arim seguir no encalo de Lcifer. As formas que se desenvolveram no decorrer da evoluo tambm voltaro a perecer por meio de Lcifer devido intromisso de rim. S se salvar a corrente contnua da evoluo da humanidade. Remontemos, portanto, a uma fase evolutiva passada, quando certos seres ficaram para trs, sacrificando-se por ns! Sabemos, agora, que esses seres precisam realizar seu carma por nossa causa, para que possamos concretizar normalmente o que eles podem infundir em ns. Sim, de fato, originalmente Jav infundiu no homem a aptido para o eu, mediante o sopro divino; mas caso houvesse advindo apenas o sopro divino, que pulsa no sangue humano, no acompanhado do elemento capaz de desviar-se daquilo que o sopro de Jav pode dar, caso no trabalhassem em seu interior tanto impulsos lucifricos como arimnicos, o homem poderia alcanar o o qu [o contedo] da ddiva de Jav, mas no o como [o modo], percebendo-a com seu eu livre e autoconsciente. Assim, de fato coincide com o sentido da evoluo universal o fato de certas entidades terem ficado para trs, na Antiga Lua. Vivemos hoje numa poca que, de fato, nos permite olhar retrospectivamente para muitas desiluses de Lcifer; mas ela tambm nos possibilita olhar para um futuro no qual aprenderemos a compreender, cada vez mais, em qu consiste a corrente contnua da evoluo, para podermos postar-nos sempre mais conscientemente perante as influncias lucifricas tornando-nos progressivamente aptos a reconhecer impulsos lucifricos em ns mesmos e aproveit-los conscientemente, de maneira correta e proveitosa, para o desenvolvimento da humanidade, ao passo que anteriormente esses impulsos atuaram nela como uma presso obscura da qual o homem no tinha conscincia. E o mesmo ocorre em relao s influncias arimnicas. Eis aqui uma das reas onde se pode chamar a ateno para a circunstncia de justamente na atualidade termos, por assim dizer, uma importante poca evolutiva da humanidade, isto , a poca em que, em certo sentido, as foras se invertem. J foi explicado a muitos dentre os Senhores o fato de estarmos diante de uma poca em que certos indivduos iro desenvolver capacidades anmicas diferentes daquelas vlidas hoje. O que hoje, por exemplo, a Antroposofia revela a partir dos acontecimentos da pesquisa espiritual que o homem possui um corpo etrico alm do corpo fsico coisa sabida apenas, mediante observao, por quem fez um treino metdico. Mas ainda antes de decorrida metade do sculo XX conforme sabemos pela leitura da Crnica do Akasha haver indivduos com um desenvolvimento natural para uma clarividncia etrica; estes percebero o corpo etrico permeando o corpo fsico e ultrapassando-o no contorno, pelo fato de humanidade ter chegado ao momento em que essas coisas se desenvolvero como dom natural. Assim como o homem, em seu desenvolvimento, desceu de uma viso do mundo espiritual para a atual percepo apenas exterior e fsica, bem como para a compreenso racional do mundo, agora ele comea pouco a pouco a desenvolver capacidades novas, porm conscientes. Essas novas capacidades se juntaro s antigas, e uma capacidade especial ser a seguinte, que posso caracterizar do seguinte modo: Haver pessoas inicialmente umas poucas, pois esta capacidade s se desenvolver para um nmero maior no decurso dos prximos dois ou trs milnios, sendo que os primeiros precursores existiro antes de decorrida a primeira metade do sculo XX para as quais surgir algo como o seguinte: elas tero vivenciado um ato qualquer e sero tentadas a recuar, um tanto, do ato. Em seguida tero diante de si uma imagem do referido ato. De incio elas no a reconhecero, no encontrando relao alguma com o
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que fizeram; mas depois, j tendo ouvido falar da Cincia Espiritual, chegaro a saber que a imagem, manifestando-se a elas como uma espcie de imagem onrica, consciente, a contra-imagem de sua prpria ao, ou seja, a imagem do ato que deve acontecer para o ato recm-realizado encontrar sua realizao crmica. A humanidade encontra-se, efetivamente, diante de uma poca em que comear no s a compreender o carma de acordo com os ensinamentos e explicaes da Cincia Espiritual, mas a ter, aos poucos, uma viso dele. Enquanto at agora o carma tem sido, para os homens, um impulso obscuro que s podia realizarse na vida seguinte, que s na vida entre a morte e o novo nascimento podia ser transformado em inteno, os homens esto desenvolvendo-se gradualmente rumo capacidade de perceber conscientemente as criaes de Lcifer e o modo como se apresentaro em seus efeitos. verdade que s sabero lidar com essa clarividncia etrica os indivduos que se tiverem esforado para ter o conhecimento e o autoconhecimento. Cada vez mais os homens tero diante de si, em estado normal, as imagens crmicas de seus atos. Isso lhes ser benfico, pois assim eles sabero o quando ainda devem ao mundo, qual a dvida em sua conta corrente crmica. justamente a ignorncia do quanto ainda est devendo ao mundo o que torna o homem no-livre. Sendo assim, no se pode falar algo de vontade livre ao discorrer sobre o carma. O termo vontade livre j , por si, falso pois o homem s se torna livre por seu conhecimento cada vez mais abrangente e ao elevar-se e integrar-se cada vez mais ao mundo espiritual. Com isto se preenche sempre mais com o contedo desse mundo espiritual, tornando-se progressivamente um ser que determina sua vontade. No a vontade que pode tornar-se livre, e sim o homem como tal, ao permear-se com o que pode conhecer no mbito espiritualizado da existncia universal. Considerando as desiluses de Lcifer e seus atos, podemos dizer que h milnios est assentada a base sobre a qual nos postamos pois caso no nos situssemos onde estamos, no poderamos desenvolver-nos no sentido da liberdade. Porm, tendo conseguido esclarecer-nos acerca de Lcifer e Arim, poderemos adquirir uma outra relao para com essas foras; poderemos colher frutos do que foi feito e assumir, por assim dizer, o trabalho de Lcifer e Arim. verdade que as aes de Lcifer, efetuadas por ele e tendo continuamente levado a desiluses, tm de inverter-se para seu oposto ao serem realizadas por ns. As aes de Lcifer tinham de despertar cobias, tinham de conduzir o homem a situaes que pudessem desembocar no mal. J vimos qual tipo de fora oposta necessria para atuar contra Lcifer: se formos ns mesmos quem deve opor-se a Lcifer, se tivermos de encarregar-nos futuramente de seus encargos, s o amor poder, em ns, tomar o lugar das aes lucifricas mas ao amor isso ser possvel. Entretanto, poder igualmente tomar esse lugar aquilo que tambm nos aflui do mundo externo, medida que removermos a escurido entretecida por ns matria exterior. Se removermos cada vez mais essa escurido, quando ela desaparecer e, assim, conseguirmos superar completamente a influncia arimnica, estaremos em condies de conhecer o mundo tal como este realmente , qual mundo terreno. Ento, paulatinamente nos aproximaremos de um conhecimento que ainda hoje est reservado Cincia Espiritual: penetraremos at ao que verdadeiramente matria, at natureza da luz. Hoje em dia, a prpria cincia ainda se entrega maior variedade de iluses acerca da natureza da luz. H quem acredite que se veja a luz com olhos fsicos. Isto no correto. Com olhos fsicos no vemos luz, mas apenas objetos iluminados; vemos cores nos corpos. No se v luz; vse por meio da luz. Todos os enganos desse tipo sero removidos. Graas a isso, a imagem do mundo, necessariamente entretecida de erros sob a influncia de rim, se transformar e se impregnar com o contedo da sabedoria. Achegando-se luz, o homem desenvolver por si a contra-imagem anmica da luz. E a contra-imagem anmica da luz a
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sabedoria. Com isso, amor e sabedoria penetraro na alma humana. Amor e sabedoria sero a fora prtica, o autntico impulso de vida que dever resultar da cosmoviso antroposfica. A sabedoria, que a contra-imagem interior da luz e pode unir-se ao amor, e o amor, que se impregna com sabedoria, encontraro o caminho direto para atuar, por sua vez, sobre o que est imerso na sabedoria do mundo exterior. Se quisermos tornar-nos gradualmente partcpes da outra metade da evoluo, para voltar a superar Lcifer e Arim, teremos de permear-nos com sabedoria e amor. Desenvolvendo sabedoria e amor estaremos desenvolvendo os elementos que, por sua vez, fluiro de nossas prprias almas como ddivas para os que, na primeira metade da evoluo terrestre, sacrificaram-se como poderes lucifricos e arimnicos para proporcionar-nos o que necessitamos para a conquista de nossa liberdade. Teremos de doar a esses poderes a sabedoria e o amor que assim iremos desenvolver. Todavia, teremos de ter conscincia de que, por precisar existir vida no mundo, devemos adotar culturas que sejam meios de expresso para essa vida. Queremos dedicar-nos com alegria e amor a uma cultura antroposfica que no ser eterna, mas queremos acolh-la com entusiasmo e criar, com amor, aquilo a que anteriormente fomos impelidos pela influncia de Lcifer. Pelo fato de agora reconhecermos que por amor teremos de criar aquilo a que, anteriormente, tivemos de ser impelidos tanto pela influncia lucifrica como por cobias e paixes, desenvolveremos agora, depois de tudo isso, um excedente tanto maior de amor. Se apenas desenvolvssemos o amor necessrio, no chegaramos a desenvolver uma cultura aps a outra. A Antroposofia h de ser algo que satisfar, com dedicao e amor, qualquer exigncia de sua poca; e o far com entusiasmo igual quele que fez agir os homens, em pocas anteriores, sob a influncia de Lcifer. No mais teremos a iluso de durao eterna daquilo que fazemos; mas ao criar, com amor cada vez mais intenso, uma cultura aps a outra, criaremos um excedente de amor. Este beneficiar Lcifer, e com isto sero tambm reparadas suas desiluses. Depender de ns o fato de poderem ser reparadas, em Lcifer, as desiluses que ele teve de sofrer; para isso teremos de devolver o que foi empreendido a nosso favor. A outra parte do carma das entidades superiores consiste no fato de desenvolvermos um amor que no permanea apenas no mbito da humanidade, mas que seja chamado a penetrar no Cosmo. Seremos capazes de fazer afluir o amor para entidades superiores a ns, e estas iro senti-lo como sacrifcio um sacrifcio anmico. O sacrifcio anmico ascender aos que outrora derramaram suas ddivas da mesma maneira como outrora a fumaa dos sacrifcios se elevava aos espritos, em pocas em que os homens ainda possuam os bens espirituais. Naquele tempo, os homens s podiam enviar aos deuses os sacrifcios simblicos. No futuro eles enviaro aos espritos correntes de amor, e desses sa crifcios de amor, por sua vez, fluir algo para os homens: foras superiores que, dirigidas pelo espiritual, interferiro em nosso mundo fsico com poder cada vez maior. Sero, no verdadeiro sentido da palavra, foras mgicas. Vemos, dessa forma, o carma da humanidade e dos seres superiores realizar-se no decorrer da evoluo humana. Compreendemos tambm, nesta altura, como o plano da evoluo se posiciona em relao ao carma humano individual. Suponhamos que uma individualidade supra-humana houvesse exercido, em 1910, uma atuao qualquer que, depois, tenha sido realizada no plano fsico por um ser humano; teria havido, assim, um contato entre aquela individualidade supra-humana e o homem. O homem teria sido ento entretecido ao carma das entidades superiores. Trata-se de uma correspondncia perfeita. Mas ento lhe aflui, dos mundos superiores, uma corrente que introduz algo em sua vida; ele tem um novo encargo, que acrescentado ao seu carma e confere a inclinao para
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um ou outro lado. Desse modo o carma humano fecundado pelo carma geral que flui atravs do mundo. Consideremos, por exemplo, Miltades ou qualquer outra personalidade: eles tinham de ocupar seu lugar no grande plano da histria de seu povo; certas coisas eram determinadas pelo carma dos poderes superiores e ei-los colocados em seu posto! Para a conta de seu carma individual fluiu algo que deveria caber humanidade inteira. E na medida em que eles o realizavam, juntando-lhe atos e realizaes, esse se tornou seu carma individual. Dessa forma, ns tambm vivemos no macrocosmo com nosso carma individual qual um mundo pequeno, um microcosmo. Com isto estamos no fim do curso, embora no no fim do assunto. Contudo, no pode ser de outra maneira. Desejo apenas acrescentar que proferi esta srie de conferncias do fundo de minha alma, por me ter sido possvel tratar das questes humanas que to profundamente comovem o corao e que, por outro lado, relacionam-se com o destino, mesmo de entidades superiores; estou contente pela possibilidade de ter falado sobre essas coisas num ramo32antroposfico, entre amigos antropsofos que acorreram de todos os lados para dedicar-se a consideraes sobre tais questes. Os que vierem a ter oportunidade de assistir a outros cursos vero serem respondidas muitas das perguntas que alguns ainda carregaro consigo ao trmino deste ciclo. Mas tambm os que no puderem vir assistir aos cursos de vero tero, mais tarde, o ensejo de conversar comigo sobre o assunto. E nesta oportunidade eu gostaria de voltar a dizer que os pontos tratados no devem ser considerados meros conhecimentos abstratos; devem transpor-se a todo o nosso pensar, sentir e querer, para toda a nossa vida de modo a se poder ver, nos antropsofos do mundo todo, exemplos e imagens daquilo que se pode denominar como as mais profundas verdades antroposficas. Procuremos fazer de ns tais exemplos e imagens; s ento teremos, neste mundo, uma corrente espiritual antroposfica. Em nosso crculo restrito, esta corrente espiritual antroposfica precisa consistir, de incio, em observao do conhecimento espiritual. Mas depois inicialmente, s em nossos crculos de membros esses conhecimentos precisam tornar-se disposio anmica e, como tal, defrontar-se com o mundo. E aos poucos o mundo compreender no ter sido em vo que na virada do sculo XX tenham existido antropsofos retos e honestos, pessoas que reta e honestamente acreditaram no poder dos seres espirituais. E por terem acreditado, foram, elas prprias, permeadas por aquele poder para atuar em seu sentido. A cultura entrar cada vez mais depressa em nossa vida se os Senhores mesmos transformarem o que ouvem em convico, atuao e atos. No, porm, convencendo as pessoas! Para isto a cultura contempornea pouco adequada. S sero verdadeiramente convencidos os que se acercarem da Antroposofia a partir de um profundo impulso do corao; os outros no ficaro convencdos. Temos tambm esse carma, em crculos espirituais, como algo que o materialismo teve de provocar, e precisamos considerar esse prejuzo como algo perante o qu a Cincia Espiritual dever comprovar-se como um poder espiritual. Deste modo, o que pudermos dar ao mundo deveremos d-lo com disposio anmica. Todo aquele que tiver feito da Antroposofia a vida ntima de sua alma ser uma fonte espiritual de foras. E quem acredita no supra-sensorial pode estar convencido de que nossos conhecimentos e sentimentos antroposficos atuam espiritualmente, ou seja, expandem-se sobre o mundo de modo invisvel, desde que realmente faamos de ns um instrumento consciente, permeado pela vida antroposfica.
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