Artigo Operação Arcanjo
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Artigo Operação Arcanjo
ANLISE
Operao Arcanjo
Em fins de novembro de 2010, a ao desafiadora do trfico de drogas fluminense motivou uma reao articulada envolvendo as polcias e as Foras Armadas que desmoralizou os criminosos no Complexo de Favelas da Leopoldina. De l para c, muita coisa aconteceu.
n VINCIUS D. CAVALCANTE
(FOTOS: SEGURANA & DEFESA)
omo a polcia no dispusesse de efetivos para ocupar toda aquela rea, em 22 de dezembro de 2010 as comunidades da regio foram ocupadas pelo Exrcito Brasileiro (EB), que se empenhou no apenas na represso criminalidade e manuteno da ordem, mas tambm em assegurar populao local que a cidadania plena, as boas prticas da convivncia legal, e uma vida melhor pudessem permanecer nas comunidades mesmo depois da retirada das tropas. Essa foi a chamada Operao Arcanjo. Nela, o EB empregou diversas unidades, algumas sediadas fora do Rio de Janeiro, que se revezaram na tarefa. O EB dispunha de militares treinados para a misso de segurana interna; porm mand-los para os morros do Rio muito mais complicado do que empreg-los sob o manto da ONU na pacificao do Haiti. Nas favelas de Porto Prncipe, qualquer cidado local sabe que deve respeitar os militares brasileiros em servio e acatar suas solicitaes. L, os inimigos sabem que esto lidando com uma tropa bem armada, investida de autoridade policial, e que no hesitar em responder com fogo aos eventuais disparos dirigidos contra seus soldados. Aqui, as Regras de Engajamento so grandemente restritivas. Um exemplo diz tudo: o emprego pelo Exrcito de panfletos solicitando que as pessoas ficassem em suas casas durante as opera-
es militares de busca Acima Muito do armamento utilizado pela FT Sampaio (precauo elogivel na ocupao era no letal diante da perspectiva (granadas de luz e som, de eventuais reaes spray de pimenta, gs lacridos bandidos e ocormogneo, etc.). rncia de tiroteios) resultou em presses na mdia para que no se cerceasse o direito da populao e se evitasse operaes dessa natureza. A rea densamente habitada, com construes irregulares (sem qualquer tipo de padronizao ou planejamento) e ruas cortadas por vielas e becos, o que dificulta sobremaneira a atividade de policiamento. Como localizar os paiis do trfico sem empreender aes de abordagem, revista de pedestres e de veculos, e inspeo em casas? Num claro descompasso com as necessidades das foras militares, a obteno dos mandatos de busca e apreenso por vezes demandava um tempo que inviabilizava a satisfao do Princpio da Oportunidade, to caro s operaes da inteligncia. E como poderiam os militares garantir a integridade fsica de civis no caso de criminosos acuados resolverem resistir bala? No raramente, muitas ponderaes ou determinaes imprprias provm de polticos, intelectuais e acadmicos que no tm o menor conhecimento de como se deve conduzir uma guerra irregular, como a travada contra o trfico naquelas comunidades. A despeito de todos os problemas, essa espinhosa misso de segurana interna, prevista na Constituio, foi assumida pelo Exrcito, que a levou a cabo com extrema competncia. A criminalidade percebeu que sua exibio de fora movera contra ela efetivos muito superiores sua capacidade de enfrentamento. A reao coordenada da polcia e Foras Armadas rendeu enormes prejuzos financeiros e
materiais para os traficantes; que absorveram o Ao lado Com batedores em moto, um Marru golpe e vm mudando seus procedimentos para com tropas do EB se sobreviver. Nas reas ocupadas pela Fora de Padesloca pelas estreitas cificao, as bocas de fumo se tornaram itinerantes e as drogas, em pequenas quantidades, ruas de uma comunidade. passaram a ser dissimuladamente transportadas em bolsas e mochilas. A segurana dos pequenos carregamentos passou a ser garantida apenas por armas curtas, que os criminosos disparavam contra as tropas apenas para cobrir sua fuga rpida. Os fuzis, apreendidos s dezenas, desapareceram de cena e, embora certamente ainda existissem escondidos, no foram empregados contra as tropas. Aes de inteligncia deram suporte constante s aes de busca de armamento escondido e priso de traficantes que continuaram atuando nas reas sob ocupao do Exrcito. Contudo, como a atuao do EB estritamente pautada na lei, sobrou muita margem de manobra para o trfico at pelo fato de que um expressivo contingente da sua mo-de-obra no possuir registro de passagem pela polcia, e s poderia ser preso no caso de flagrante delito. Os bandidos tentaram passar opinio pblica uma idia de que as tropas agiam com truculncia com os moradores, e no era bem-vinda. Embora muitas vezes se deixe levar pela desinformao dos criminosos, a sociedade fluminense (e brasileira, em geral) percebeu a manipulao velada do trfico, que buscava comprometer a imagem extremamente positiva dos soldados. Durante o tempo em que a Fora de Pacificao do EB permaneceu nas favelas da Penha e de Ramos no faltaram histrias provocaes a militares em servio, s vezes at culminando agresses fsicas e apedrejamentos. Tais ataques, em sua maioria perpetrados por velhos, mulheres e crianas, objetivavam provocar reao, criando mrtires, para estigmatizar a atuao militar como destemperada e violenta. Para se salvaguardar, bem como imagem da instituio militar a que pertence, a tropa circulou com mquinas filmadoras, registrando em vdeo suas aes. Nesse contexto de guerra de propaganda se enquadraram o atentado ocorrido na vspera da visita do prncipe britnico regio pacificada, em maro de 2012, e a histria do jovem que acusou os soldados de espancamento. Numa clara evidncia de sua mentira, ele identificou como agressores militares que nem sequer serviam no Rio de Janeiro, e que estavam comprovadamente fora do Estado na data da suposta violncia. A criminalidade adotou tticas interessantes. Luzes em postes nas localidades suspeitas de atuao do trfico piscavam intermitenteAbaixo Do alto do terrao de uma mente quando da chegada das pacasa anteriormente ocupada por lideranas do trfico, o Coronel Montrulhas. Campainhas, dispostas em tenegro d instrues aos seus postes ou residncias, eram aciocomandados, durante uma operao. nadas de forma discreta, permi-
tindo que criminosos se dispersassem antes da chegada dos soldados. No fcil levantar e coibir tais estratagemas, pois, assim como no faltam pessoas dispostas a consumir drogas, h muita gente que leva algum tipo de vantagem em decorrncia desse comrcio ilegal, e que ansiosamente esperou pela sada das tropas. O ltimo contingente militar a deixar as reas pacificadas foi a Fora-Tarefa Sampaio, composta cerca de 800 soldados do 1 Batalho de Infantaria Motorizado (ES), o Regimento Sampaio, sediado no Rio de Janeiro. Mesmo prximo do final de seu Abaixo Com regras de turno de servio, os soldados do Exrcito no esengajamento bastante moeceram. O autor pode acompanhar o deslocarestritivas, todo cuimento de efetivos da unidade em patrulha, e dado era pouco para os militares do EB. confirmar o profissionalismo dos militares que,
Ao lado Enquanto o Exrcito esteve presente, o trfico se manteve retrado. Trs semanas aps a sada do EB, ele voltou o intensificar suas aes na rea em questo.
Abaixo A imagem d uma boa idia da dificuldade que os militares tinham para progredir atravs dos becos. Durante as patrulhas, as escopetas eram municiadas com balas de borracha.
sob a inspirao de seu comando, durante todo o tempo buscavam manter um respeitoso contato com a populao das comunidades. Embora muitos dos que vivem no local ainda seguissem a Lei do Silncio prpria dos tempos do domnio do trfico, a maioria da populao dessas reas
foi simptica presena do EB, e colaborou (embora de maneira velada). Moradores confidenciaram ao autor temer que a situao de normalidade fosse comprometida depois que os soldados se retirarem. A substituio das foras do Exrcito foi paulatina, tendo comeado em meados de maro de 2012, na Fazendinha e Nova Braslia e seguido at junho, finalizando com a implantao de uma Unidade de Polcia Pacificadora da PMERJ na Vila Cruzeiro. A Polcia Militar ocupou a rea inicialmente com o BOPE, introduzindo posteriormente novos efetivos, recm-sados do curso de formao e especialmente treinados para atuar no conceito pacificador da Polcia de Proximidade. Trs semanas depois da sada do EB, o trfico voltou carga, atacando as instalaes policiais na favela Nova Braslia, resultando na morte de uma policial a tiros de fuzil. No incio de agosto, cerca de dez quilos de explosivos comercial em gel foram capturados, juntamente com armas e munies, na localidade da Fazendinha. Manter a dominao sobre a vida das populaes nas favelas uma das premissas do poder paralelo que o trfico busca exercer. preciso que os novos policiais no assumam suas funes acreditando que a atuao na favela pacificada seja algo fcil. Eles devem conciliar as atividades de relaes pblicas com a perspectiva de que podem ser envolvidos pelo combate a qualquer momento. Se vivesse hoje, o sbio chins Sun Tzu certamente diria: Quem no for precavido e fizer pouco de seus adversrios, pode acabar morrendo nas mos deles! n _____________________________________________________________ Segurana & Defesa agradece ao Cel Fernando Montenegro, comandante do 1 Batalho Abaixo Conseguir o de Infantaria Motorizado (Es) e tambm da FT respeito da populao e Sampaio. O referido oficial, e seus comandados, enconquistar sua simpatia vidaram todos os esforos para facilitar o trabalho foram tarefas que exido autor. giram muito equilbrio.