Alimentacao Idade Media PDF
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Sara Seydak -
TEMTICA
2 de Maio de 2010 - As influncias na alimentao da Idade Mdia (terico) 10:00 1. Religio A trilogia do azeite, vinho e po (alimentao Ibrica vs o resto da Europa) 2. Natureza As Estaes do ano e a agricultura (os alimentos frescos vs conservados) 3. Classes sociais A carne e os legumes (Nobreza vs Povo) 4. Apresentao de vrias receitas histricas (documentos de banquetes e receitas ricas; a evoluo do paladar; como seria a alimentao no dia-a-dia?) e discusso dos alimentos que no existiam e os mais usados na Idade Mdia
12:00- A culinria na Idade Mdia (prtico) Elaborao de uma ementa de acordo com o aprendido durante a parte terica Nomeao da sopa e do prato principal Degustao do confeccionado
EMENTA Sopa Potage de legumes (nome ainda por dar) Prato principal Massas frescas com carne (nome ainda por dar) Sobremesa Bolachas de aveia
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Igualmente, o calendrio medieval estava dividido em duas partes, a das obrigaes religiosas e a dos festejos. Variava entre os dias magros e os excessos absurdos. Os dias religiosos ocupavam quase 2/3 do ano e costumavam obrigar as pessoas a dietas rigorosas sobre o que podia e no podia ser comido. Por outro lado, os festejos eram de elevada importncia para a vida do Homem medieval, j que era considerado o perodo de comunicao por excelncia. Eram perodos de distraco do mundano. Como podem observar, esta questo no directa e tinha muitas caractersticas diferentes. Iremos mais frente estudar alguns dos aspectos mais curiosos. Mas o mais importante, que o dia-a-dia medieval era pouco diferente do que hoje temos e que muitos dos nossos hbitos alimentares provm directamente deste perodo histrico.
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O Vinho Para entendermos o vinho temos que entender a gua. A gua sempre foi um objecto de desconfiana antes e durante a Idade Mdia, j que esta transmitia doenas, podendo inclusive causar morte se usada com frequncia na higiene pessoal, por exemplo, ou na lavagem dos pratos, que para isso eram limpos com areia. Por isso, o Homem inventou outros meios para saciar a sua sede. Obviamente, o aumento e desenvolvimento do cultivo e uso da vinha deu-se de acordo coma as suspeies antigas sobre a gua e at as crianas eram alimentadas a vinho. O vinho representa o sangue de Cristo, aquele que Ele derramou para nos salvar e portanto, a sua presena na mesa medieval no podia faltar. o segundo elemento da Santssima Trindade. O vinho era a bebida-rei, tal como o po era o alimento-rei. Nenhum destes dois alguma vez faltava numa casa medieval, por mais simples que fosse. E mesmo com as invases brbaras, depois da queda do Imprio Romano, a viticultura foi mantida e at desenvolvida, principalmente pelos mosteiros; a sua tecnologia quase se manteve inalterada at ao sculo XIX. Haviam, j na Idade Mdia os mesmos gneros que hoje em dia: Tinto, branco, ross, maduros, verdes, etc. E nem sempre era bebido puro; podia, e maioritariamente o era, cortado com gua (meados ou terados). Noutras partes da Europa, era a cerveja e as bebidas destiladas que substituam o vinho, devido s condies climatricas e, tambm, devido a particularidades culturais. Mas isto demonstra, mais uma vez, as facilidades de cultivo que a Pennsula Ibrica tinha e tem. O Azeite O azeite o ltimo dos elementos da Santssima Trindade, com qual luz se reconhece o caminho de Cristo e com o qual se unge aqueles que mais o merecem. Alis, o nome Cristo vem do antigo grego e significa O Ungido. O uso do azeite para a iluminao tem uma explicao fcil, pois sofria de uma lgica puramente religiosa: a iluminao a azeite representa a presena do Esprito Santo e o afastar dos demnios. As supersties faziam com que sobre a cama das pessoas havia sempre uma lamparina acesa noite. O azeite existia em abundncia no Sul da Europa e em venda nos pases que o importavam. A sua extraco dependia, obviamente, do cultivo da oliveira, que uma rvore que s subsiste em solos de clima quente, e a sua exportao implicava uma perda da sua qualidade, chegando a pases mais longe que a Frana de maneira ranosa, incolor e excessivamente caro. Os povos do Sul tinham a assim a possibilidade de se alimentarem mais saudavelmente. Porm, o azeite era, maioritariamente, usado para a iluminao e s aqueles com mais posses o podiam comprar regularmente para uso na culinria. Era a banha a gordura mais usada na confeco dos alimentos. Esta era acessvel a todos, visto ser facilmente retirada das gorduras do porco que era um animal muito criado e muito consumido e tinha a vantagem de ser menos susceptvel de se estragar to rapidamente. Por motivos financeiros, climatricos e de acesso produo que no Norte da Europa era a manteiga a que era mais usada, tal como a banha, deixando de fora o azeite e a sua importncia simblica. Em concluso, somente o po tinha igual importncia religiosa por toda a Europa. Mesmo que o vinho fosse de igual simbolismo, no era produzido no Norte e, por conseguinte, pouco consumido. Assim, a religiosidade destes 3 alimentos s funcionava na totalidade no Sul da Euorpa.
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Os Lacticnios Dos animais, como as vacas, ovelhas e cabras, vinha a maior produo de leite e seus derivados, mais especificamente o queijo, quer fresco, quer curado, quer fumado, e a manteiga. Mas tambm se retirava leite da burra ou da porca e no Norte e Leste europeu do veado e do alce (ainda consumido hoje em dia em pases como a Rssia e a Sucia). O leite quase que no teve sucesso no consumo dirio medieval geral. O leite no era facilmente conservado e, logo, exposto ao ambiente azedando e podendo causar doenas. Ou era consumido na hora (principalmente o soro de leite e o leitelho ainda consumidos nalgumas regies), ou, ento, era substitudo por leite de amndoas para a culinria, ou era usado para outros fins. No Norte da Europa onde o clima era mais frio o leite e a manteiga eram mais consumidos, por permanecerem inalterados durante mais tempo. So esses outros fins que mais interessavam s pessoas na Idade Mdia: Os queijos. Estes mantinham-se inalterados durante longussimos perodos de tempo, havendo mesmo laguns que quanto mais pousavam, mais maturavam. Temos registo dos primeiros profissionais do queijo uma guilda na Frana no sculo XIII. O Acar, o Mel, as Especiarias e o Sal O acar (de cana) j vinha sendo usado desde os tempos da ocupao muulmana na Europa. Cultivada em frica, existem registos de que os romanos tambm utilizavam este condimento. Pensa-se que foi trazida para o Ocidente por um cruzado que se alimentou de um pedao de cana durante um cerco. Mas para os cristos sempre foi considerado um ingrediente de alto luxo. Por seu lado, o mel era um produto que se obtinha facilmente, quer em estado selvagem, quer atravs da apicultura e, para muitos, era a nica fonte adoante, tal como as regies no Norte europeu que no tinham tantas facilidades de importao do acar. Foi usado na culinria at ser substitudo pelo acar. Estas duas formas no s serviam para o desenvolvimento da doaria, mas tambm para conservao de alguns alimentos, como a fruta. Consumiam-se compotas, marmeladas (que vem da palavra portuguesa marmelos muito comido no perodo medieval) e a fruta cristalizada ou conservada em gua adocicada fervente, com especiarias. As especiarias que tambm eram conhecidas na Idade Mdia como cheiros ou aromas esto divididas em duas categorias: as indgenas, aquelas que chamamos ervas aromticas, como o endro, o louro e outra ervas tpicas de cada regio (os jardins eram uma parte obrigatria de cada cozinha medieval), e as exticas, que ainda hoje designamos como especiarias e provinham dos mais longnquos lugares, como a pimenta preta, pimenta longa, o aafro, a canela, etc. e serviam, Igualmente, para preservar os alimentos. Sal que tambm era conhecido como ouro branco na Idade Mdia e era catalogado como especiaria. Tinha duas origens: ou vinha do mar (ou lagos salgados) ou do subsolo. Era usado, principalmente, como fonte de conservao permitindo que o ser humano no dependesse dos alimentos frescos e tivesse acesso aos mais variados bens alimentares ao longo do ano. Em concluso, os alimentos que mais sofriam com a falta de tcnicas de preservao eram os legumes, fora alguns que eram preservados em vinagrete. Tambm a fruta seguia esta linha, mas vimos que alguma era conservada em compotas ou ento cristalizada. Podemos ento dizer que a conservao dos alimentos era uma das preocupaes centrais do Homem medievo. Sara Seydak 8
menos ricos que, na maior parte das vezes, tinham as verduras e os legumes como prato principal e no a carne e o peixe. Os legumes eram directamente opostos carne, da mesma maneira que os incultos eram aos cultos, o povo nobreza, o Sul ao Norte, os pagos Igreja. Toda uma simbologia social europeia revolvia volta dos legumes e verduras: Aqueles que viviam rodeados por bosques e que no cultivavam o solo eram, por conseguinte, incultos; aqueles que s caavam e tinham um animal como seu smbolo mximo eram sanguinrios e, como tal, pagos; os que somente tinham acesso aos legumes eram pobres ou deficientes; os que passavam a vida atrs de um arado eram diferentes dos que passavam a vida atrs de uma espada. No havia um consenso generalizado: Pecava-se por consumir e por no consumir legumes. Quem deteve o papel unificador foi, mais uma vez, a igreja crist, principalmente os monges que apregoavam uma vida baseada na simplicidade e frugalidade. Com os seus jardins e hortas, as ordens religiosas mantiveram, at ao dia de hoje, a variedade gentica destes alimentos, manipulando e cultivando novas espcies. Haviam certos legumes que detinham o primeiro lugar na alimentao bsica medieval, principalmente os farinceos e as leguminosas. Est-se a falar da fava, das ervilhas, do gro-de-bico e da lentilha, talvez por terem a capacidade de encherem mais a barriga ou de engrossarem mais o caldo. Embora tambm fossem consumidos frescas, estas leguminosas eram apreciadas pela sua capacidade de se conservarem secas. Temos, ento, exemplos mais que lgicos do consumo de legumes na Idade Mdia. Mesmo que sofressem de largas contradies, os legumes nunca foram descurados na alimentao medieval.
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Em cima esquerda, a recolha de favas (Tacuinum Sanitatis, 1385). Ao lado, mulher a fazer manteiga (Facsimile de uma miniatura da Abadia de Solignae, Frana, sc. XIV). Em baixo esquerda, imagens de couve, cnhamo e cardo ( Le Livre des Simples Mdecines, 1480). Ao lado, a recolha da pimenta (Le livre des merveilles de Marco Polo, sc XV).
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Em cima esquerda, mulheres a fazerem massas (Tacuinum Sanitatis, 1385). Ao lado, imagem de gengibre (Le Livre des Simples Mdecines, 1480). Em baixo, familia a preparar queijo (Tacuinum Sanitatis, 1385).
*Imagem da capa, iluminura do sc. XIII revelando um monge a roubar e beber vinho da adega.
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Rebentos de abboara Courgettes Abbora Menina Grande maioria das abboras Tomate Feijo (carolino, Feijo rocha,) Girassol Milho-mido/ Milho-Maz Milhete/Sorgo Bananas Morango silvestres Morangos (China) Piri-piris que vinham Alguns tipos de de frica piri-piri que vinham das Amricas Frutos silvestres Kiwis Figos Roms Ameixas Alperces Psssegos de roer Cerejas Limo Laranjas Amendoins
Todo o tipo de bivalves Acelgas e crstceos Truta Atum (Mediterraneo) Enguias Salmonetes Agries Rbano Couves (galega, lombarda, etc) Lentilhas
Baleias Rodovalho Polvo Sardinhas Peixe-agulha Douradas Cao Bacalhau Espadarte Sabogas Arenques Esturjo Moreias Solhas Svel
Ervilhas Alcachofras Aipo Cenouras Alho-porro Favas Gro-de-bico Espargos Cebolas Beringelas Alho Cogumelos Trufas Porco Perdiz
Safio Pescadinhas
Salmo Vitela * Relativamente aos produtos que eram consumidos na Idade Mdia, devem-se considerar todos os que existiam c antes das Descobertas. A entrada de novos produtos deu-se com a descoberta dos Novos Mundos e, mesmo, assim, levou alguns sculos para que comeassem a ser consumidos. Ou seja, em Portugal consumia-se tudo o que os romanos e os muulmanos para c trouxeram e tudo o que naturalmente c crescia. Algumas receitas como o massapo (massa feita de amndoa ralada misturada com aucar ou com mel), maremlada, bolo-rei (bolo feito na Roma Antiga nas festas dedicadas ao deus saturno), empadas, tempura (receita associada ao Japo, mas que j era feita muito antes c passando carnes, peixes e verduras por uma massa fina de farinha e gua e depois fritando-os), etc, j eram feitas na Idade Mdia e nunca deixaram de fazer parte da nossa tradio. Abaixo alguns peomas e canes que fazem referncia a comida, cantados na Idade Mdia: Eu te untarei as minhas obras com toucinho Para que no as mordas, Gongorilla, Co dos Engenhos de Castilla, Douto em pulhices, qual vadio do caminho. Poema maldozo dedicado a um judeu chamado Luiz de Gngora, escrito por Francisco de Quevedo, fazendo referncia ao facto dos judeus no comerem carne de porco. Se as favas tivessem cornos, aravam. As favas fazem as mulheres bravas. Partes de cantigas de taberna que reflectiam a quantidade de favas consumidas na Idade Mdia e as suas capacidades de produzir flatulncia. Nisso, deasforada como uma cara de sexta-feira, que pudesse ser acelgas, entre lentilhas e arenques. Mais um poema de Francisco de Quevedo relatando o facto de se consumir lentilhas s sextas-feiras, por ser probio crist consumir carne neste dia.
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HIPPOCRAS
1L de vinho tinto doce 2 chvenas de ch de mel 1 colher se sopa de (ralado ou em p): canela cardamomo gengibre pimenta branca noz moscada cravinho erva-doce
Ferver o vinho com o mel. Retirar a espuma. Retirar do lume. Colocar as especiarias. Deixar descanar durante 24 horas. Durante este tempo via-se formar uma camada densa de especiarias no fundo do tacho que no deve ser misturada com o vinho. Ao engarrafar, deve-se passar o vinho por um coador e vrias camadas de pano e ter ateno para que o fundo no passe tambm. Preparar o Hippocras com pelo menos 1 ms de antecedncia. Quanto mais tempo tiver para amadurecer, melhor.
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