Direito Processual Penal-Dr Armindo Moisés Kasesa Chimuco

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Direito Processual Penal

Resumo de direito processual penal Armindo Moiss Kasesa Chimuco[1]


Baseado no Livro: Direito Processual Penal Noes Fundamentais do Prof. Vasco A. Grando Ramos. E nos apontamentos feitos das Aulas por ele ministradas no ano Lectivo 2011

Introduo
Este Trabalho surge como uma forma de gratificao ao Professor Grando Ramos. Apesar de reconhecermos a sinteticidade e a objectividade das lies de Direito Processual Penal que nos tm servido de base de estudo, entendemos ser til sintetizar ainda mais e oferecer aos estudantes do 4. ano de Direito em Angola um meio acessvel de aceder cidadela jurdica do processo penal. Este trabalho poder conter eventuais erros e como no podia deixar de ser ser peridicamente complementado e corrigido. Contudo, esperamos reao dos seres pensantes que a este texto acederem.

Captulo I Noes Gerais


Noo de Direito Processual Penal. Direito Processual Penal e Direito Penal
1.
1.1. Noo de Direito Processual Penal
O Direito Processual Penal o sistema de normas ou regras jurdicas que regulam a aplicao do direito penal aos comportamentos delituosos, submetidos a apreciao do dos tribunais. o conjunto de normas que regulam o processo penal. O processo penal o conjunto de actos e actividades que tm por fim aplicar, pela individualizao da medida penal, o direito penal substantivo, tendo em vista o restabelecimento da ordem pblica ofendida por comportamentos humanos, legalmente definidos como crimes. no processo penal que se procede investigao necessria para a verificao da existncia ou no do crime, se certos factos apurados constituem ou no crime, quem os praticou, em que circunstncias, porque e qual o grau de responsabilidade dos seus agentes. O processo penal um processo dinmico, pela sua forma (encadeamento de actos) e pela sua inteno ou finalidade: uma deciso judicial, aparecendo como sntese das posies contrrias: acusao e defesa), traduza a convico livre do Juiz formada atravs de uma actividade que se desenvolve de uma forma dialctica.

Como diz o Prof. Castanheira Neves, o processo penal a forma juridicamente vlida da jurisdio criminal. Jurisdio o poder de julgar e constitui a dimenso material do processo penal e o processo o momento ou a dimenso formal da jurisdio. O processo penal o conjunto de normas jurdicas que regulam e disciplinam o a jurisdio e o processo penais, determinando o modo preciso de actuao, em cada caso e em cada momento concreto, dos sujeitos processuais e dos restantes participantes no processo.

1.2. Direito Processual Penal e Direito Penal


O direito processual penal o instrumento de realizao do direito penal, que no um ramo de aplicao directa. Sem o direito processual penal, o direito penal no poderia realizar-se e aplicar-se aos factos concretos da vida de relao em funo da qual ou para a disciplina da qual existe. No direito penal, a pena s pode ser aplicada mediante a instaurao de um processo e por deciso jurisdicional, isto , por deciso do tribunal. A justia penal monoplio do Estado (princpio do monoplio estadual da funo jurisdicional), que a exercer exclusivamente mediante o processo penal regulado pelo direito processual penal (nulla poena sine judicio nulla poena sine processu). O monoplio estadual e da jurisdio penal e a necessidade absoluta de o fazer mediante um processo regulado so as duas dimenses do princpio da jurisdio. Direito penal e direito processual penal so ramos de direito complementares, constitudos ambos em unidade jurdica, dominada pelo mesmo fim: a proteco e a defesa dos valores fundamentais da ordem jurdico-poltica, econmica e social do Estado. O direito processual surge assim como a dimenso formal ou forma de um direito penal global, um direito formal, adjectivo, instrumental ou subordinado, enquanto o direito penal material e substantivo. O processo penal necessrio e pressuposto necessrio realizao do direito penal, conservando porm a sua autonomia, pois tem objecto, caractersticas e princpios especficos distintos do direito penal.

H normas de direito processual penal cuja natureza se discute: possuem natureza mista: simultaneamente substantiva e adjectiva e normas que esto na fronteira entre estes dois ramos de direito. Dai que o direito penal e direito processual penal se influenciem reciprocamente.

2. Pblica
2.1.

Traos gerais da evoluo histrica da justia penal: o

perodo da Vingana e da Justia Privadas: o Perodo da Justia

O Perodo da Vingana e da Justia privadas

Nas sociedades primitivas no havia direito material em sentido tcnico-jurdico rigoroso, por conseguinte no havia regras de processo, tribunais nem justia institucionalizada como a actual. Naquela altura, a justia, sempre que o ofendido se julgava em condies de a aplicar, fazia-se por reaco instintiva, retaliao, dio ou vingana, sempre a ttulo privado em sistema de auto-tutela, era uma questo individual. Numa fase posterior, mas ainda primitiva, surgiu a justia familiar, mais tarde a do cl: os membros da famlia encontravam-se to intrinsecamente ligados por laos de solidariedade, governada por regras de trato social orais aceites tradicionalmente pelo grupo, no qual se sentiam todos iguais, com uma origem comum responsveis pela convivncia social e pela conduta de todos, destacando-se entre eles o patriarca ou chefe do cl que estabelecia o poder na base de uma autoridade tico assente no prestgio ganho a custa do seu valor pessoal, da sua destreza na guerra ou na sua identificao perfeita com a comunidade. Sendo a sociedade, do tipo comunista primitivo, a justia era uma tarefa simples, e as principais ofensas consistiam em ofensa aos interesses colectivos: aos bens comuns, a morte de um parente, etc. E as punies podiam ser a expulso com ou sem desonra do grupo, deixando o indivduo socialmente desprotegido e eventualmente com pena de morte. Usava-se naquela altura

um processo presidido pelo chefe do cl, pblico, sumrio e oral, solicitado contra o infractor regras costumeiras da comunidade, o qual passou a ser usado depois para faltas menos graves. A vingana privada, porm, em prejuzo da justia aplicada pelo chefe do cl, em funo do crescimento econmico e da sociedade em geral e da passagem a novas formas de organizao social (esclavagismo) que favoreceram o enfraquecimento do poder das pequenas comunidades e consequentemente dos seus chefes, combinado com a falta de organizao das novas potncias sociais, afirmou-se como a forma habitual de reaco s ofensas sofridas. A vingana era um direito para a vtima e a sua famlia e era um dever imperativo para com os seus. A vingana era considerada justa, natural aceite pela tica. A vingana pela morte de um familiar a qual se operava pela morte de um membro da famlia do ofensor ou do prprio ofensor, era chamada a vingana de sangue. Por solidariedade activa ou passiva a vingana tornou-se numa questo entre cls e se no satisfeita tempestivamente degenerava-se em guerras abertas (em que tudo valia mesmo os meios mais reprovveis). A vingana privada constitua uma garantia sumria de manuteno da ordem social, nas relaes entre cls, pois que o temor a vingana prevenia o cometimento de crimes ou em alguns casos os cls expulsavam o seu membro ofensor ou ainda o entregavam ao cl ofendido para que se cumpra a vingana (tida como justia). O aparecimento e a afirmao do Estado como organizao poltica associado ao desgaste provocado pelas lutas e as necessidades criadas pelo desenvolvimento econmico e social que fez recuarem a vingana privada, dando origem a novas frmulas de resoluo de conflitos: indemnizaes e resgate de castigo atravs de mercadorias e bens entre famlias e cls ofendidos e ofensores. O fortalecimento do Estado, em detrimento do poder e coeso das famlias e dos cls os quais em nmeros indeterminados passaram a integrar o Estado, permitiu ao Estado o controle

relativo da represso e a consequente passagem da fase da vingana privada para a fase da justia privada ou da represso organizada. Nesta nova fase, a vingana manteve-se, mas passou a ser controlada pelo poder: s era permitida em determinadas condies e determinados lugares (tendo sido definidos lugares de asilo), reconhecida a certas pessoas, diferindo o seu regime em funo da natureza voluntaria ou involuntria da ofensa; criaram-se mecanismos para limitar legalmente a vingana. Esta fase era ainda marcada pelas seguintes instituies: i. A composio pecuniria Passava pela entrega de dinheiro ou de bens de produo pelo ofensor ao ofendido. Era o preo acordado e pago ao vingador para renunciar a vingana. No princpio era voluntria, mas com o tempo passou a ser tarifada e antecipadamente estabelecida, sobretudo na fase da justia pblica, substituiu a werhgeld (vingana de sangue), por isso tida como uma das mais importantes instituies deste perodo. Atingia em certos casos, somas que o ofensor no podia pagar, facto que incitava a manifestao da solidariedade familiar que reunia a quantia necessria. ii. O Abandono Noxal

O agressor era expulso da comunidade por deciso colectiva tomada pela famlia ou pelo seu chefe com o consentimento da famlia, ou entregue ao grupo social a que pertencesse o ofendido, podendo este grupo submet-lo a escravatura ou at mesmo mat-lo, livrando assim a sua famlia da vingana. iii. O Talio Tida como uma das instituies mais importantes do perodo da vingana privada, ao lado da composio pecuniria, pois surge para limitar a vingana medida da ofensa, individualizando assim a pena, facto que levou o poder a proteg-la, ainda que impondo-lhe frequentes e diversos limites.

uma instituio j citada na Bblia e no Coro, era generalizada e a podemos encontrar em muitos sistemas de justia antigos. O seu contedo traduzido na expresso olho por olho e dente por dente. iv. Os Co-jurados ou cojuradores Por esta instituio se permitia ao acusado que provasse a sua inocncia por intermdio dos amigos e familiares que juravam com ele a sua inocncia e o valor da sua palavra, sendo, entretanto varivel o nmero de jurados: no direito franco a regra era de 24, havendo casos excepcionais como o da rainha Fredegunda acusada de adultrio em que co-juraram 300 cavaleiros[2]. v. O Combate Judicirio Consistia na limitao da vingana de sangue e da guerra entre as famlias ofendida e a ofensora a um combate entre duas pessoas, representantes de cada uma delas. Deste diferem os ordlios bilaterais ou duelo judicirio. O ordlio foi um meio usado (e em alguns casos ainda usado: em meios tradicionais), por em todo o mundo que consistia na submisso do suspeito ou acusado a uma prova conhecida como juzo de Deus quase sempre de resultados aleatrios que revelaria a culpa ou a inocncia daquele que a ele fosse submetido. Os ordlios variam de poca em poca e de regio em regio. Consistiam as vezes na ingesto de bebidas venenosas ou numa prova de fogo, ou ainda pela submerso do suspeito com as mos e ps atados, e a sua inocncia era determinada pela sua sobrevivncia da submerso, ou a ingesto do veneno ou da sua cura das queimaduras.

2.2.

O Perodo Da Justia Pblica


A justia s se tornar pblica no momento em que o Estado tomar nas suas mos a direco da represso e a organizar de tal modo que ela tenha por fim a reparao do dano social e quando a parte particular for relegada a um plano to acessrio que o processo penal possa correr sem que a sua interveno seja indispensvel.[3]

O sistema da justia pblica caracterizado pelos seguintes princpios: i. Princpio Da Funo Social Da Pena

A represso criminal uma funo da sociedade e ao pena meio daquela represso, tem por objectivo a reparao do dano social causado a sociedade pelo crime que por natureza e por definio um comportamento que ofende e/ou pe em perigo interesses sociais; ii. Princpio do Monoplio do Estado

A justia atravs da qual se aplica a pena exercida obrigatoriamente pelo Estado; ningum pode fazer justia por suas prprias mos. Este princpio tem o seguinte contedo: A funo de julgar tem de ser necessariamente exercida mediante um processo

regulado por normas jurdicas, isto , s atravs do processo legtimo ao Estado fazer justia: Princpio Nulla poena sine processu.

3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS: O PROCESSO ACUSATRIO E O PROCESSO INQUISITRIO. EVOLUO DOS DOIS TIPOS DE PROCESSO. PROCESSO MISTO.O PROCESSO EM ANGOLA: AS FASES DO PROCESSO (DESCRIO SUMRIA).

3.1. Sistemas Processuais Penais: O Processo Acusatrio E O Processo Inquisitrio. Evoluo Histrica Dos Dois Tipos De Processos Com o exerccio pblico da justia penal ou com o exerccio da justia penal pelo Estado, o processo penal ganhou maior relevncia, pela importncia atingida pelas actividades de investigao, de recolha de provas, de determinao da culpa em fim de todas as actividades tendentes a verificao dos pressupostos da aplicabilidade das penas realizando nos casos concretos o direito penal substantivo.

As diferentes formas de desenvolvimento, caractersticas e estrutura com que se identifica o processo penal permitem dividi-lo em dois tipos diferentes: o processo do tipo acusatrio e o processo do tipo inquisitrio. 3.1.1. O Processo Do Acusatrio assim chamado por comear com a acusao. Na sua verso primitiva, o ofendido apresentava o criminoso perante o tribunal e acusava-o de viva voz. No princpio o acusador era o ofendido, com o passar do tempo a acusao passou a ser feita pelo povo directamente ou por um representante seu. Nos tempos modernos o Estado criou um rgo para este fim: o Ministrio Pblico atribuindo-lhe a titularidade da aco penal. Deduzida a acusao, o tribunal geralmente colectivo, ouvia o acusado e recolhia as provas apresentadas por cada uma das partes: acusado e acusador estavam perante o tribunal em posio de perfeita igualdade, e o tribunal limitava-se a ouvi-las e apreciar as provas que as partes apresentavam e a decidir, como um rbitro objectivo, imparcial e justo. As partes dado o seu papel constitutivo no processo penal podiam influenciar o rumo do processo. O juiz era passivo e sem iniciativa em relao a investigao. O processo era quanto a forma regido pelos princpios da oralidade, da publicidade e da contraditoriedade. A apreciao da prova era livre e a sentena fazia caso julgado. Presumindo-se sempre a inocncia do acusado este tipo de processo, quase desconhece a priso preventiva. 3.1.2. O processo inquisitrio Comea com a fase da investigao, dirigida por um juiz, com vnculos estreitos ao Estado, o qual representava e de quem dependia. Investigao, com frequncia comeava com base numa denncia secreta, precedia a acusao deduzida pelo juiz investigante oficiosamente,

o qual, na forma mais primitiva do processo inquisitrio, sequencialmente procedia ao julgamento. Assim as funes de investigar, instruir, acusar e julgar estavam reunidas na mesma entidade. Desaparecia o direito de defesa, o ru no tem qualquer direito e no pode influenciar o rumo do processo. Quanto a forma o processo escrito e secreto. A prova era legalmente tarifada, dando-se maior relevncia probatria a confisso, tida como rainha das provas e obtida mediante torturas e a sentena no fazia caso julgado. A regra era a priso preventiva, dada a mera denuncia fazer presumir a culpa do denunciado. 3.1.3. Evoluo Histrica Dos Dois Tipos de Processo Se atentarmos bem nas caractersticas do processo acusatrio, haver que concluir ter sido ele o primeiro a surgir na histria das instituies judicirias, remontando a um perodo anterior ao da justia privada, momento em que a justia era privada, tendo o poder se limitado a estabelecer regras para a conteno e controlo da vingana privada. O processo acusatrio na fase da justia pblica, manifestou-se em Atenas, com o princpio da acusao popular e afirmou-se no direito romano, entre o fim da repblica at ao imprio, com as suas quaestiones que comearam a aplicar-se apenas a certos crimes, passando a abarcar a todos delitos pblicos, na dinastia de Augusto. Neste tipo de processo era necessrio que um cidado (acusator) em nome do povo, acusasse o arguido. As partes interessadas alegavam oral e publicamente e produziam provas. A questo era decidida por uma assembleia ou jri (quaestio perpetua), presidida pelo pretor (sem direito a voto), na base da convico de cada um dos membros, pois o voto era secreto. Era um sistema acusatrio puro, pois havia uma manifesta separao entre a acusao, a defesa e o julgador e a publicidade, a oralidade, e a igualdade entre acusador e ru perante um ju8iz imparcial, disciplinam o processo (Barreiros, ob.cit., 19). Na poca do imprio, a jurisdio

passou para o imperador que a exercia directamente ou por representantes seus sem quaisquer limites: tendo os magistrados sido equipados com poderes de instruo, com a tortura como prtica usual e geral. O processo penal romano evoluiu assim para um processo do tipo inquisitrio, cuja vigncia foi suspensa aquando da conquista do imprio pelos povos brbaros (germanos, brbaros, franceses visigodos, dentre tantos) os quais tinham um processo penal com caractersticas acentuadamente acusatrias. Todavia, a suspenso foi em momentos posteriores a conquista levantada, tendo o processo do tipo inquisitrio se governado de modo absoluto o auge da idade mdia europeia ( sc. XVII e XVIII) e aos alvores do sculo XIX, por influncia da igreja Catlica e do direito cannico, o qual definia um processo penal essencialmente inquisitrio, ao qual se denominava inquisio, contemplando no incio uma srie de regras que constituam uma relativa garantia para os acusados. Durante o Pontificado de Bonifcio VIII se transformou num processo inquisitrio puro. O processo comeava com um denncia geralmente annima, ou rumor pblico oficiosamente. O processo era secreto e escrito. O arguido era totalmente desinformado em matria relativa ao contedo da sua infraco, a identidade dos denunciante e testemunhas, sendo obrigado a se defender s cegas. A confisso era a rainha das provas e era geralmente obtida sob tortura extrema. O julgamento era secreto e ao ru no se reconhecia o direito de defesa, sendo obrigado a aceitar o defensor fantoche que lhe era oferecido pelo tribunal. Presumia-se a culpa do acusado o que permite a sua salvao da condenao apenas pela impossvel prova da sua inocncia. Este tipo de processo influenciou decisivamente o processo penal e serviu magnificamente aos monarcas absolutos para defenderem os seus omnmodos poderes, como diz Prieto Morales. O processo do tipo inquisitrio ligado ao despotismo poltico e ao fanatismo religioso. Este tipo de processo reinou ao servio do poder central e absoluto dos reis, mantendo as suas caractersticas inalteradas: predomnio da investigao, e acusao oficiosas, acumulao das funes de investigar e de julgar no mesmo magistrado, instruo escrita, sobrevalorizao

da confisso como meio de prova, controlo estadual da prova, uso da tortura, uso e abuso das presunes e das provas legais, na Europa at nos finais do sc. XVIII, com excepo da Inglaterra, onde o processo apresentava e apresenta caractersticas do processo do tipo acusatrio[4]. Foi este processo que os precursores da revoluo francesa propuseram como o modelo de justia democrtica. 3.2. O processo misto O Acusatrio, porm, muito cedo, manifestou-se como excessivamente liberal para os revolucionrios, e inadequado proteco dos interesses do nascente Estado burgus, sendo acusado de favorecer excessivamente os criminosos e estar na origem do alarmante aumento da criminalidade. Entenderam, por isso, adoptar um sistema que, sem grave diminuio das garantias individuais do acusado, maxime do direito de defesa, repelisse com xitos as investidas contra os interesses e valores fundamentais da nova sociedade, reduzindo o ndice da criminalidade. Surgiu, assim, incorporado no Code de Instruction criminelle de Frana em 1811, o sistema misto, tambm denominado sistema napolenico. Este processo era caracterizado por ser um processo do tipo inquisitrio na fase da instruo preparatria, secreta, escrita e acusatrio na fase de julgamento, pblica, oral e contraditria. E as duas fases no so presididas pela mesma entidade. hoje o sistema dominante em quase todo mundo, incluindo em pases socialistas, verbi gratia: Cuba, como em cuba sendo apenas de realar que nestes pela participao popular na administrao os tribunais so todos colectivos, sendo compostos por um juzes juristas e leigos.[5] A evoluo do processo penal est intimamente ligada ao reforo ou diminuio da autoridade do Estado e a importncia reconhecida aos cidados dentro do Estado. Quanto mais a

autoridade do Estado se reforo maior a tendncia inquisitria do processo penal. E, quanto maior a importncia do cidado para o Estado, maior ser a tendncia acusatria do processo penal. Contudo, o processo do tipo inquisitrio um instrumento perfeito para a defesa dos interesses do Estado autoritrio e totalitrio, em prejuzo dos direitos processuais do acusado. E o processo do tipo acusatrio um processo virado a proteco dos direitos tanto ofendido como do ofensor, assegurando a igualdade processual, a realizao da justia material. E, as formas de processo misto reflectem tambm, a maneira como o Estado se organiza, e o papel que os cidados desempenham dentro dele. Variando o seu predomnio de acusatrio a inquisitrio consoante se atribua maior relevncia para os interesses totalitrios do Estado ou aos direitos fundamentais do cidado. Com a democratizao do mundo, nas ltimas dcadas, h uma tendncia cada vez maior, da adopo de sistemas mistos com tendncia acusatria, mas com largos poderes de investigao concedidos quer na fase inicial aos agentes de instruo, quer aos juzes da causa, na fase de julgamento. 3.3. O Processo Penal em Angola. Fases do processo: descrio sumria. misto o tipo de processo institudo pela legislao penal angolana: Uma fase de investigao e recolha de prova (instruo), chamada fase de pr-processo da instruo preparatria, ou ainda da formao do corpo de delito, complementada por uma subfase de instruo contraditria. Uma fase de julgamento, presidida pelo Juiz, a que corresponde o processo principal, na qual se procede a aplicao do direito substantivo, pela imposio da pena ao autor do crime. E, uma fase da execuo da pena cominada pela sentena condenatria. Na fase de instruo preparatria, presidida pelo Ministrio pblico (), secreta, escrita. A execuo das penas da competncia exclusiva dos rgos de administrao penitenciria, integrada no Ministrio do interior (Lei n 12/78), salvo no que toca a resoluo de questes

sobre o incio, durao, suspenso da pena, extino da responsabilidade penal e converso da pena de priso, que so da competncia do juiz (artigos 625 e 628 do CPP). Em alguns casos surge a necessidade de reapreciao da pena, em funo da perigosidade social e criminal, visando agravar ou reduzir a pena, em processos de segurana e processos de libertao condicional ( arts. 43 e 44 da Lei n 20/88 de 31 de Dezembro). A fase da instruo do processo pode ser dividida em duas sub-fases: fase da instruo preparatria ou corpo de delito e a fase da instruo contraditria. O processo penal comea com a notcia ou conhecimento da infraco. Conhecimento que se basta com a simples suspeita da existncia da infraco. Sendo assim, este conhecimento, a base de um Juzo de suspeita, de que se cometeu um crime e de certa pessoa o cometeu. O Juzo de suspeita preside a instruo preparatria, caracterizada por um conjunto de actividades, oficiosas, realizadas no sentido de confirmar a suspeita inicial e reunir provas sobre a existncia do crime e a identidade do seu agente e a sua forma de participao no crime. Se a por falta ou insuficincia de prova a suspeita no se confirma, o processo fica a aguardar pela produo de melhor prova ou arquivado. Com a confirmao da suspeita, na fase da instruo preparatria, o Ministrio pblico, deduz a acusao. Acusao esta, que uma manifestao de um juzo de probabilidade. Atravs dela o processo introduzido em juzo e assume a natureza de processo judicial, to logo o juiz confirme o juzo de probabilidade, pronunciando o acusado. O despacho de pronncia a confirmao pelo juiz do juzo de probabilidade sobre a existncia real do crime e da pessoa do arguido e pe termo a fase da instruo (art. 365 CPP). Havendo necessidade de se proceder a novas diligencias de provas e de complementar a investigao e a instruo dirigida pelo Ministrio publico, abre-se, oficiosamente, a requerimento da acusao ou a requerimento da defesa, uma nova fase, chamada instruo

contraditria, presidida pelo Juiz (), sendo estruturalmente uma fase de partes, semipblica, tendo o arguido contra o Ministrio Pblico, na realizao das diligncias e recolha de provas. Com o despacho de pronncia definitivo, isto depois da instruo contraditria, quando tiver lugar, comea a fase do julgamento pela qual se transformar o juzo de probabilidade em juzo de certeza, atravs de uma deciso, que considerando a verificao ou no da infraco penal, aplique ao ru a sano prevista na lei. A essa deciso pode se recorrer para uma instncia judicial superior, gerando uma nova fase, a fase dos recursos.

[1] Estudante do 4 Ano da FDUAN. [2] V. Dr. Jos A. Barreiros, in Processo Penal I fls 24 [3] Palavras de G. Stefani , G. Levasser e B. Bouloc [4] O processo penal ingls, possui duas partes, uma de cada lado, em situao de absoluta igualdade, que discutem contraditoriamente a lide perante um juiz passivo, mas atento. A aco penal do povo, sendo exercida pela polcia, agindo como um simples particular. Mesmo se passa nos Estados Unidos de Amrica , sendo apenas de realar que naquele pas , a aco penal pblica, sendo exercida pelos attorneys, que representam o Estado (A. Barreiros, Ob. Cit. Pgina 104 e Seguintes. [5] Para maiores desenvolvimentos sobre o sistema do tipo socialista vide Direito Processual Penal Noes Fundamentais, Grando Ramos, Pgina 32).

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