2001 Vinholiteratura

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o Vinho Madeira

A expressão artístico-literária
Alberto Vieira

o conhecimento da importância que assume um produto para uma determinada


sociedade e mercado não resulta apenas da informação dos registos de saída ou de entrada.
Estes apenas nos revelam o volume das exportações, mas pouco ou nada nos elucidam sobre
a dimensão assumida na sociedade de destino. Para que isso aconteça é necessário o recurso
a outro tipo de fontes que sejam o retrato do quotidiano. Neste sentido a informação
jornalística, nos seus múltiplos retratos da sociedade e economia, bem como os tratados de
culinária e medicina, pode ser fonte preciosa na recriação destas realidades e na definição da

- ccs
sua importância.
O Vinho é um tema que atrai a atenção de todos, cativando também poetas e literatos.
'-I O vinho Madeira é, como muitos dos licorosos, um caso singular na História e Literatura. Os
CCS
'IIIIIL...
epítetos proferidos por poetas, escritores, políticos e viajantes, que tiveram a possibilidade de
o provar e apreciar são também um caminho para a descoberta da importância social e

C ~~ económica que o mesmo assumiu.

c ) As referências literário-artísticas ao vinho Madeira estão assim circunscritas

principais espaços consumidores, em que se destacam os Estados Unidos da América e o


aos

C
. - Reino Unido. A sua referência tanto surge em textos, em prosa e verso, que descrevem

a.> épocas determinadas, ou através do testemunho de viajantes e de guias, que desde o século
XIX, que divulgam as potencialidades turísticas da ilha. Estes últimos textos permitem criar
junto do público leitor um grande interesse pelo vinho.
Uma breve digressão pela literatura portuguesa e das principais regiões de destino do
vinho Madeira revela que o mesmo mereceu cuidado destaque por parte de poetas e
prosadores. De todas a referência mais frequente e valorativa acontece na obra de
Shakespeare, o que demonstra a importância que este vinho assumiu no quotidiano
britânico, quer no meio da aristocracia, quer na agitada vida dos" pubs" londrinos.
Não raras vezes o vinho Madeira aparece referenciado na Sétima Arte, nomeadamente
nos filmes de época norte-americanos. Todavia a sua apresentação como motivo artístico por
parte de pintores nacionais ou estrangeiros não foi muito comum, a atentar nos
testemunhos que hoje dispomos.
Na Literatura Madeirense as referências ao Vinho Madeira não são extensas, deixando
para a literatura popular a mais alargada visão desta realidade. Na verdade, o vinho Madeira
foi durante muito tempo uma realidade que apenas tocou aos estrangeiros apreciadores e
ao homem rural madeirense que dependia dele para assegurar a sua subsistência. A gente
letrada urbana esteve certamente, durante muito tempo, alheia a esta realidade, preferindo
as bebidas impostas pelos britânicos. Idêntica situação sucede também ao nível nacional
-t
18

I
onde a rara referência é-nos dada por Nicolau Tolentino e por um ou outro de passagem
pelo Funchal. Será isto prova de que o vinho Madeira não tinha igual solicitação e consumo
no mercado nacional?

1. O Vinho e a literatura

Na História da Madeira o vinho é uma constante do presente e do passado. Factor


económico responsável por alguns momentos de fulgor, mas também motivo de discórdia e
violência. Amado e odiado, ele persiste através dos simples gestos rituais dos seus
apreciadores.
O vinho Madeira é considerado, desde tempos muito recuados, indispensável na
garrafeira dos apreciadores do fino rubinéctar que medra em alguns recantos do Ocidente.
Não é preciso ser escanção para apreciar as suas qualidades aromáticas e gustativas, basta
apenas um pouco de atenção no momento de o degustar. Os epítetos, recolhidos na voz dos
poetas, escritores, políticos e viajantes, que tiveram a possibilidade de o provar e apreciar,
-et:S
poderão ser um bom caminho para isso. Todos ficaram deslumbrados com aroma e trago, e
ninguém se escusou a tecer os maiores elogios.

O Vinho da Madeira na voz dos seus apreciadores e literatos


ro
....

~ ~..,
A mais antiga referência elogiosa ao vinho Madeira não surge em Shakespeare, mas sim c~
nos literatos da bacia mediterrânica já familiarizados com a bebida, o que torna mais
,
evidente a valorização. Alvise de Ca da Mosto, nome sugestivo em questão de vinhos, foi o .. .
primeiro a fazê-lo nas suas "Navegações", escritas em 1455 e que depois correram mundo
Q.)
em várias edições impressas. Este veneziano, habituado aos vinhos nobres do Mediterrâneo,
não hesita em afirmar que os da ilha eram "bons" e para que não restassem dúvidas reforça
a ideia apontando-os como "muitíssimo bons". Oitenta anos passados outro italiano, Giulio
Landi, celebra, de novo, o rubi néctar madeirenses, comparando-o" ao grego de Roma".
Quanto à malvasia refere que da colheita se extrai melhor vinho que o tão celebrado de
Cândida. Em 1567, outro italiano, Pompeo Arditi, retêm a mesma observação comparativa.
Foi a partir destes testemunhos que toda a Europa que os vinhos da ilha poderiam
rivalizar com os demais, o que lhes assegurava um espaço nobre na mesa real. Brinde em
momentos de alegria e de grande solenidade foi, também, companheiro em momentos de
aflição. O Madeira da conquista dos salões e palácios da vetusta cidade de Londres sulcou os
oceanos e firmou-se, mais uma vez, nas imponentes vivendas das colónias britânicas,
disseminadas a Ocidente e Oriente.
Em finais do século dezasseis o pároco da Ribeira Grande, Gaspar Frutuoso, que
certamente não dispensava o uso do vinho Madeira nos actos litúrgicos (vimos com
assiduidade recomendações no sentido de que este vinho fosse usado na missa), apresenta
um dos ditirambos mais elogiosos: "o vinho malvasia é o melhor que se acha no Universo".
O autor é taxativo na sua observação, não deixando margem para dúvidas.
~
19

I
Em1795o Dr. Wright exclamava:"Se Homero o tivesse bebido, afirmaria que o Olimpo
renascia apesar de os deuses estarem já fora de moda". O mesmo recomenda o uso pelos
seus pacientes idosos, pois é "uma das bebidas mais úteis e eficazes para as pessoas de
idade a quem as funções físicas começavam a falhar". Daí o epíteto de "leite dos velhos".
Diz-se até que a longevidade do Conde de Canavial terá resultado do Madeira que bebia
todos os dias em jejum.
Os mercadores madeirenses ligados ao comércio do vinho, em representação de 29 de
Setembro de 1801, definiam o vinho Madeira como o resultado da combinação perfeita das
condições mesológicas com as castas e nunca resultado de quaisquer artimanhas
laboratoriais ou do mais sofisticado processo de vinificação. Esta observação e tanto mais
actual, quando hoje se fala já em vinho biológico:
"A superioridade que distingue de todos os outros, o vinho da Madeira é o resultado de
uma feliz combinação de circunstancias favoráveis, as quais, por dependerem do local,

- ca
sempre foram e continuarão a ser privativas desta ilha. O clima, a configuração da terra, e a
natureza do torrão, não dependem de contingências, nem admitem imitação pela industria
.... humana, e essas vantagens, adjuvadas de uma muito particular agricultura, e de muito

ca
....
custo, e de um trato simples, mas laborioso, conspiram produzirem o vinho da Madeira, licor
singular e inimitável, que, nem o tempo, nem o ar, nem o gelo do pólo, nem a fervura do

c5:) trópico, podem prejudicar, antes sendo a sua essência simples e imutável, as provas as mais

c ) rigorosas, e o lapso de longos anos, só servem a demonstrarem, a semelhança da verdade e

..c
sua nativa pureza"

. As qualidades profilácticas do vinho Madeira foram mais tarde reforçadas pelo Dr.
Vicente Henriques Gouveia 1 que destacou a acção bacteriológica sobre o bacilo do Erbert,

Q) enquanto Samuel Maio recomendava o uso na cura da gota. Perante as inestimáveis e


inimitáveis qualidades organolépticas e profilácticas. Warna Allen conclui que estamos
perante um vinho "imortal", que por isso mesmo não deve ser ignorado.
Em Portugal e na ilha são poucos os elogios ao vinho Madeira. Até parece que os
literatos e poetas o ignoraram, talvez porque nunca tiveram o atrevimento de o provar.
Todavia dispomos de três testemunhos, raros, é certo, mas que corroboram até à saciedade
aquilo que haviam escrito os estrangeiros.
As mais antigas referências elogiosas surge na poesia. Nicolau Tolentino de
Almeida (1741-1811)2 faz uma breve referência ao vinho Madeira, a que se junta Mário
de Sá-Carneiro (1890-1916) em o poema a "Caranguejola,,3 e Guilherme Avelino Chave
de Azevedo (1839-1882) num soneto refere um cálix de Madeira.4 Mas é na ilha que o
vinho surge com maior destaque. Francisco Álvares de Nóbrega[1772-1806]5 dedica-lhe
um soneto sob o título "à ilha da Madeira", em que dá conta da vinha como uma
esperança, ideia que já Francisco Paula de Medina e Vasconcelos augurava em 18066.
O remate acontece com o poeta popular Manuel Gonçalves[ 1858-1927] 7 que soube
captar através das quadras as vivências e aspirações populares entorno da cultura e do
produto.

20 ~

I
Em 1891 um forasteiro continental, caso raro nesta situação, J. A. Martins8 declarava
que "as mulheres como os vinhos sabem enlevar o espírito fazendo palpitar os corações",
para depois concluir que" o vinho não é uma simples combinação química; é um problema
de gosto, é um alimento e um agente terapêutico de primeira ordem".
Para os madeirenses a sua exaltação assenta na presença nas mesas nobres e, por isso, é
o embaixador capitoso da ilha. Eduardo Nunes9 recorda que ele" correu mundo- singrou
por todos os mares e rompeu todas as fronteiras", por isso" é oferecido a reis e a príncipes
regentes, a chefes de estado e a ministros, a senhores feudais e a burguesia opulenta."
O mais nobre elogio que alguém ousou ditar ao vinho Madeira é da pena do Pe. Eduardo
Pereira10, natural de C. de Lobos, uma das áreas de produção de vinho. A sua referência às
múltiplas qualidades do vinho Madeira é feita em tom epopeico: "Perfuma e alegra o solo um
vinho histórico, produto de castas primitivas, sangue de raça a perpetuar na ilha o nome de
Portugal. Foi este vinho companheiro dos colonos na rota da descoberta; postou-se de guarda à
porta de suas casa, de braços abertos, numa remada acolhedora a parentes, amigos e vizinhos;
dá-lhe vida no trabalho; vibra-lhe na alma em festas de família e todos os anos se renova no m
barril ou quartola para o aquecer no Inverno, estugar-Ihe o passo nas romarias do Verão, firmar
promessas, selar contratos, fechar negócios e ser providência económica no seu lar."
A mais completa expressão da vivência e quotidiano madeirense em torno do vinho da
ilha encontra-se em Horácio Bento de Gouveia, quer nos seus romances, quer nos ensaios e
artigos de jornal11.
O quadro completa-se com a mais recente referência por via de um conto de Maria
Aurora que leva o título significativo de "Um Cheiro a Malvasia"12.
A poesia madeirense contemporânea parece ignorar a vinha e o vinho, uma vez que a
.
referência mais destacada surge em Dalila TelesVeras13, uma madeirense que desde o Brasil
fez um canto em que releva a azáfama da vindima.
É na poesia popular que a imaginação do poeta anónimo melhor se expressa quanto ao
vinho 14. Aqui o fulcro das atenções é o vinho americano, que se tornou, desde o século XIX,
na bebida comum do lavrador madeirense. O outro, o vinho de castas europeias não tinha
assento na mesa madeirense, sendo levado para longínquas paragens. Por tudo isto as
referências ao primeiro testemunham a sua predilecção, enquanto o segundo é algo estranho.

o vinho americano
é um vinho afamado
quem não bebe destevinho
anda sempreadoentado

Em tempos houve verdelho


parreiras de terrantez,
moscatel, alicante
e cachos de malvasia

-+
21

, I
Contando a bela pinga
desta nossa terra inteira
em todo o mundo não há
vinho como o da Madeira

Por aqui se constatam duasopçõessobreo vinho Madeira, consoanteo que a emite seja
ou não madeirenses.O ilhéu exalta o vinho através do lote de consumidores, recrutados
entre as personalidades mais ilustres, não é uma bebida de consumo, mas um meio da
subsistênciae riqueza, daí o seu elogio. Os forasteiros ou não, bebedores usuais, emitem
uma opinião de causae efeito, resultante da sensaçãogustativa e olfactiva. É isso, segundo
estesdestacadosapreciadores,que distingue o vinho Madeira em relaçãoaos demais.

o Vinho Madeira na Literatura de expressão inglesa

-....
Ct:S As referênciasao vinho da Madeiraencontram-seum pouco por todo o lado na literatura
das regiões consumidoras,seja na Europa, na América ou Ásia. Por tradição é no seio da

Ct:S
....
literatura de expressão inglesa, britânica ou norte-americana, que encontrámos mais
assíduase destacadasreferências.Na Europa, excepçãofeita ao Reino Unido, é na Rússia
que estas referênciassurge com maior frequência, dando conta que o vinho estava presente
c5) nos ambientes mais requintados da sociedade.F.Dostoevsky(1821-1881)15 ou Leon Tolstói
( )
.CD
(1828-1910) são exemplo disso.
~ . No mundo de expressãoem língua inglesao vinho Madeira assumiu desde o século XV
um papel destacadoà mesa e nas tabernas, primeiro na Inglaterra e depois em todo o
mundo colonial britânico, desde o Atlântico ao, Indico. A documentação história é
reveladoradesta posição dominante do mercado inglês. Parao quotidiano londrino a obra
de Shaskespeare,nas diversasincidênciasvalorativasdo vinho madeirense,eram já o indício
seguro de que o vinho madeirenseera uma constante no quotidiano.
A vida política inglesa no século XV foi pautada por várias disputas pela posse do
ceptro real, em que seenvolveramos Lencastre,Yorks,Tudorse Angevins. Foiesta ambiência
sanguinolenta que fascinou a pena do dramaturgo, Shakespeare,que nos legou nas suas
peças uma visão impressionistadessaépoca. É neste contexto de violência que surgem as
primeiras referênciasao vinho da Madeira, para muitos a única alegria do quotidiano. Mas o
vinho também se envolveu,atravésdos apreciadores,na conturbada conjuntura política: em
1478 Eduardo IV, rei de Inglaterra, ordenou a execuçãode Jorge Plantageneta, Duque de
Clarence,irmãodo futuro rei Ricardo (1483-85) por atentar contra a sua soberania; de
111

acordo com a lenda este preferiu morrer afogado numa pipa de malvasia.Um século mais
tarde Shakespeareao dramatizar a vida de Ricardo111,
irmão do malogrado duque, retoma o
acontecimento, retratando no cenário da Torrede Londres.A par dissoo mesmo dramaturgo
coloca noutra peça-" HenriqueIV" - colocao herói destae demaispeçassuas,John Falstaff,
a render a sua alma "por um copo de Madeirae uma perna fria de capão".
-+
22

I
A partir desta referênciaavulsae da importância que o vinho Madeira assumiu,desde o
século XV, no mercado britânico a tradição passou a associaro primeiro facto ao nosso
vinho. Por outro lado surgia nas Canárias outra opinião defensora da origem canária do
malvasia que afogou o duque de Clarence. Esta tradição parte da referência anacrónica
lavrada na obra de Shakespeareao vinho, nomeadamentenas peças" As Alegres comadres
de Windsor" e "Henrique IV"; note-se que ambas relatam acontecimentos datados de
épocas anteriores à afirmação da hegemonia castelhana em Canárias. O arquipélago das
Canárias, não obstante se ter iniciado a conquista em 1402, só em finais do século ficou
assegurada a posse pela coroa de Castela e apenas neste momento se iniciou o seu
aproveitamento económico, com socasde cana e videiraspara aí conduzidasda Madeira. A
situação anacrónica da presençado vinho de Canáriasem situaçõesanteriores ao início do
cultivo, resulta do facto de Shakespeareter misturado na sua obra ambiênciasda sua época
(viveuentre 1564-1616) com situaçõesanteriores.
Faltava-nosidêntica informação para o mundo colonial e de forma especiala América do
Norte. Aqui o vinho Madeira aportou em meadosdo séculoXVIIe rapidamente conquistou o Ct:S
exigente paladar dos colonialistas. Na segunda metade do século XVIII o movimento de
independênciada colónia veio revelaro interessee valor do vinho, que permaneceuaté hoje
pelo brinde à celebraçãoda independênciacomo pelo interessee apreciaçãode muitos dos
presidentes.Paraos norte-americanosa Madeira foi sempre definida como a ilha do vinho
tão apreciadoe, por isso,a própria documentaçãooficial identifica-a como "Wine Island".
Paraalém destaevidênciahistóricaera necessárioaprofundar a realidadee definir o papel
do vinho no quotidiano. Será que os poetas e romancistas foram cativados por esta
ambiência?Serápossívelencontrar nos retratos do quotidiano a mesmavalorizaçãodo vinho .
Madeira? Daí a razão da nossa incursão pela literatura inglesa no sentido de encontrar o
rasto do vinho Madeira.
De uma forma genérica o Vinho Madeira é conhecido de todos os letrados que fazem fé
no dom da pena, sejam poetas, romancistasou ensaístas.Também podemos afirmar que
encontramos, entre meados do séculoXVII e princípiosdo séculoXX, fervorosos adeptos e
consumidores do néctar madeirense. A constânciae valorizaçãodo Vinho Madeirana
literatura é mais uma evidencia de que era um dado adquirido na sociedadee economia
norte americana.
O Vinho Madeira chegou a este mercado a partir de meados do século XVII e cedo se
impôs o consumo nos meios aristocráticos.No séculoseguinte o processode independência
e o interesse manifesto de muitos dos presidentesfizeram com que o Vinho Madeira se
transformassenuma realidadeindelévelda sociedadee políticaamericana.
Um dado evidente destafugaz análisedo vinho na escritainglesaé a revelaçãode que o
Madeira não se resume apenas a deliciar as papilas gustativas dos apreciadores, pois
também surge com muita frequência em livrosde culinária,como em tratados de medicina.
É, aliás, na voz dos romancistase poetas que se encontram as maiores e mais elogiosas
referências ao Vinho Madeira. O Madeira não era um vinho comum ou para todos os
...
23

I
momentos, pois segundo Gabriel Furman 16 era apenas usado em ocasiões especiais, como o
nascimento de uma criança, um casamento ou funeral. Aliás, segundo Nathaniel Parker
Willis [1806-1867] em "Dashes at Life" (1845) era conhecido como "vinho de casamento".
o Madeira acabava por assumir um lugar especial até mesmo junto dos abstémios. Assim
sucedia com Philip Hone 17 que nunca bebeu qualquer outra bebida espirituosa na vida a
não ser um ou dois cálices diários de vinho Madeira.
Alguns dos textos e autores, porque clássicos, são-nos familiares mas raramente
dedicamos a nossa atenção a este particular. Todos nos recordamos e fazem parte das nossas
leituras os livrosde Alexander POPE (1688-1744)18, Jane Austin (1775-1817)19, Charles
Dickens(1812-1870)20 HermanMelville(1809-1849)21, Walter Scott (1771-1832)22, Edgar
Allan Poe (1809-1849)23, mas quem terá notado o interesse que lhes despertou o Vinho
Madeira, que é aqui uma assídua referência. Richard Penn Smith( 1799-1854) em "The
Forsaken: A tale" (1831) refere muitas pipas de bom vinho velho da Madeira, enquanto

- ccs
Robert Smith Surtees(1805-1864) em "Handley Cross"(1854) bastava uma garrafa de
malvasia da Madeira.
~ James Fenimore Cooper(1789-1851)24 em "Afloat and Ashore" (1844) refere o "East

CCS
.....
India Madeira". Este vinho era conhecido na ilha como vinho de roda e era conhecido pela
designação inglesa devido ao facto de fazer a viagem desde o Funchal às índias Orientais e o

C ~.., retorno a Londres. A dupla passagem pelos trópicos atribuía-lhe um envelhecimento


prematuro que era do agrado dos ingleses. Já em "The Ways of the Hour"(1850)0 vinho
C~
Madeira, certamente o "seco", era bebido frio ou com pedra de gelo. Existe uma tradição

..s: . britânica e beber o sercial frio que não deve ser alheia a este facto.
Da próxima vez que ler "Black House" (1853) de Charles Dickens não se esqueça que é
CD agradável beber o Vinho Madeira com pão doce e pudim.
Referência especial merece John dos Passos (1896-1970), descendente de madeirenses e
um destacado romancista norte-americano ainda hoje muito popular, que não esqueceu os
seus ancestrais e o vinho que lhes deu fama. Na sua obra o vinho é uma presença constante.
Na poesia os versos constroem-se com o aroma, cor e sabor do vinho Madeira. Também
aqui as referências são assíduas e inúmeras. Para não tornar esta referência maçadora
apresentamos apenas o poeta WilliamWordsworths (1770-1850)25, PhilipJames Bailey
(1816-1902)26, Percy Byshe Abrelley (1792-1822). A estes junta-se o escritor, filósofo e
naturalista norte-americano Henry David Thoreau (1817-1862), um dos mais conhecidos
ecologistas norte-americanos, nos seus versos também não ignora o rubinéctar
madeirense27. Silas Weir Mitchell dedicou-lhe mesmo dois poemas: "A decanter of
Madeira", "An old man to an old Madeira" 28.
Na dramaturgia dos séculos XVIII e XIX,a exemplo do que havia sucedido com
Shakespeare, o vinho Madeira é um dos adereços e referências permanentes nas inúmeras
peças de teatro. Em 1808 Charles Breck[1782-1822]na comédia "The Fox Chase"(1808) a
paixão de um personagem pelo vinho Madeiraera tanta que tomou 20 cálices de Madeira.
Aqui o vinho Madeira aparece próximo do Champagne ou do Burgundy, sempre com epítetos
~
24

l
valorativos da sua apreciação. A ele junta-se quase sempre o adjectivo bom, excelente ou
raridade. Mathews Cornelius [1817-1889] em "False Pretences" refere uma garrafa de Madeira
de 1811(1858). Já John O'Keefle [1747-1833]29 em "Wild Oats" (1792) prefere-o decantado.
Por fim Benjamin Thompson [17607-1816] em "The Indian Exiles" (1801) refere que o médico
prescreveu uma garrafa de Madeira, passando a seu inveterado apreciador.
Algumas das publicações periódicas de prestígio, do século XIXe princípios do século XX,
insistem na referência frequente ao vinho Madeira o que demonstra mais uma vez que era
um dado referencial do quotidiano que não podia ser ignorad030
O panorama de referências alarga-se a todo o tipo de publicações, que vai desde os
tratados de culinária31 aos manuais de bons costumes e etiqueta32, como aos tratados de
medicina33. Neste último caso dando razão a uma tradição de defesa das capacidades
profiláticas do vinho.
Trazemos aqui estas breves referências ao vinho Madeira na literatura inglesa, não só no

- a::s
sentido de chamar a sua atenção para a importância que o vinho Madeira assumiu no
mundo britânico, mas também, com prova de duas situações.

2. Vinho e a Arte
rn
....
Os séculos XVIIIe XIXsão momentos de evidente aposta na valorização da arquitectura e
arte madeirenses. Apagados os momentos difíceis que sucederam a euforia açucareira dos
c5)
séculos XVe XVI,de novo a ilha está envolta em novo momento de fulgor económico desta c :>
,
. .
feita criado pelo vinho. A grande aposta na cultura da vinha e a valorização do vinho no
mercado consumidor colonial conduziram inevitavelmente a uma desusada riqueza que foi
usada em benefício próprio por todos os intervenientes. Os grandes proprietários CD
aformosearam as casas de residência. Os mercadores, nomeadamente os ingleses,
transformaram as vivendas sobradadas de cidade em lojas e escritórios de convívio, e as
casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao seu gosto e exigências de conforto.
Os artefactos ingleses invadem o mercado madeirense e dão-nos meios mais adequados
para a afirmação do conforto diário. A isso junta-se o gosto pelo clássico. A tosca e utilitária
mobília, muitas vezes feita de madeira que do Brasil transportava o açúcar para a ilha, dá
lugar ao mobiliário estilizado. A chamada mobília Chippendale e Hepplewhite - sofás e
cadeiras - dá o toque de classe e compõe o ambiente para os saraus dançantes ou o célebre
chá das cinco. Os museus da Quinta das Cruzes e Frederico de Freitas são hoje os
depositários de alguns dos exemplares mais significativos que resistiram ao uso secular.
O espaço interior é valorizado. A casa torna-se no principal centro de convívio.Daqui
resulta que os espaços interiores se transformaram. Surgem as amplas salas ou salões de
música, palcos de inúmeras festas e saraus dançantes. IsabelIa de França em meados do
século XIXdescreve-nos um dos bailes em que participou na casa do cônsul inglês. É um
entre muitos os testemunhos do luxoe exuberânciada sociedade oitocentista, gerados pela
riqueza do vinho.
-+ 25

I
o espectáculoé mais evidente no cerimonial de recepção que no baile propriamente dito.
As fileiras de carros de bois e palanquins transportam as senhoras vergadas pelos
sumptuosos vestidos. As tais "saias de balão" que deram título ao romance de Ricardo
Jardim que tem como pano de fundo outro ambiente do quotidiano da época.
Os tectos das amplas salas para os saraus dançantes ou para recepção aos convivas,
numa parte mesa são cobertas de tectos de estuque profusamente trabalhados e muitas
vezes pintados. Em muitos dos edifícios da época são evidentes a moda trazida pelos
ingleses para a ilha. As decorações alusivas às da Grécia e Pompeia criadas por Roberto e
James Adam são a principal evidência disso e tiveram na casa de capitão Eusébio Gerardo de
Freitas Barreto, hoje sede da Marconi na ilha a mais perfeita expressão nos tectos do salão de
música.

A História de muitos dos prédios que se anicham nas ruas vizinhas do cabrestante e da
alfândega são o alvo preferencial dos mercadores estrangeiros que chegam ao Funchal, no
decurso do século XVIII, atraídos pelo comércio do vinho. Muitas das pequenas casas térreas
co são demolidas para dar lugar às sobradadas servidas de amplas caves para as pipas, sobrados
-
'-I de habitação e escritórios. Uma imponente fachada ornada de cantarias e ferragens, uma
torre avista-navios dão o tom característico da arquitectura do vinho na ilha.
CO
'- Ao percorrer as Ruas da Carreira, Netos, Pretas, Mouraria, Mercês, Nova de S. Pedra,
Conceição, Aranhas, Ferreiros, João Gago o transeunte depara-se com estes prédios de
Cn
fachadas rendilhadas em cantaria negra, rasgados por inúmeras janelas servidas de varandas
c: ~
em ferro forjado. Aos que têm franqueadas as portas é possível redescobrir os tectos de
c .
.. estuque pintado.
Dos diversos imóveis que a riqueza do vinho propiciou merecem a nossa atenção: O
Q.) Palácio de S. Pedro, hoje Museu Municipal, mas que se ergueu para residência do Conde de
Carvalhal; os paços do Concelho do Funchal, conhecido também como Palácio Torre Bela. A
muitos destes imponentes palácios junta-se um elemento arquitectónico típico da ilha, isto é,
a torre avista-navios. Evidente em muitos dos edifícios da época que persistem na malha
urbana da cidade. A torre avista-navios preenche para a época uma dupla função. Como
mirante lançado sobre a baía permite saber-se da chegada e partida dos navios, daí o nome.
Todavia e também um local de convívio diário na casa. É o homónimo da casa de prazeres
das quintas madeirenses.
Se na cidade as casas térreas dão lugar aos imponentes palácios, casas de habitação,
escritórios e lojas de comércio, os arredores ganham outra animação com a proliferação das
Quintas. As quintas são uma criação madeirense, sendo a expressão volumétrica da
importância de algumas das famílias madeirenses, onde o lazer se conjuga com o sector
produtivo. A quinta não se resume apenas ao espaço agrícola e à casa de habitação, pois a
ela está indissociavelmente ligado um jardim e mata. Foi com os ingleses que elas ganharam
nova forma e animação que persistiram até aos nossos dias. Assim, perderam o carácter
rústico e transformaram-se em espaços aprazíveis servidos de amplas ruas e jardins de
inspiração oriental.

~
26

I
Ligado a isto está o aparecimento da "casa de Prazeres", isto é, um pequeno pavilhãono
canto do jardim que serve para ver a "vista", sendo espaço de convívio das senhoras nas
tardes solarengas. Ainda hoje é evidente a presença em inúmeras quintas e casas. A Casa da
Calçada, hoje Museu Frederico de Freitas, ostenta ainda a Casa de Prazeres. A "Casa de
Prazeres" é mais uma aportação inglesa indo buscar as origens à "house of pleasure", isto é
os sumptuosos pavilhões orientais que na Madeira se adapta a esta especial condição de
mirante, em locais onde não havia a torre avista-navios.
Muitas das quintas madeirenses mudaram de mãos no decurso do século XVIII.Os
ingleses, enriquecidos com o comércio do vinho, fazem investimentos fundiários na ilha, com
especial destaque para as quintas e serrados de vinhas. Alguns adquiram as habitações já
existentes e transformam-nas em amplas quintas ajardinadas à moda da época. Outros do
espaço arável ou de pascigo fazem erguer imponentes casas. Estão neste último caso a
Quinta do Vale Paraíso na Camacha de John Halloway, a Quinta do Jardim da Serra, Calaça e
do Santo da Serra de Henry Veitch, a Quinta do Monte de James David Gordon. Das demais
- m
ro
adquiridas por ingleses podemos salientar: a Quinta do Til de James Gordon desde 1745 e
que passou à família Miles em 1933; a Quinta da Achada que foi desde inícios do século XIX
pertença da família Penfeld e que em 1881 ficou na posse da família Hinton; a Quinta do
Palheiro do 1° Conde de Carvalhal que foi adquirida em 1885 por J. B. Blandy. ~
Os séculos XVIII e XIXsão marcados por profundas mudanças na arquitectura civil e c: »
religiosa. Os templos estão degradados e são incapazes de dar acolhimento aos cada vez
mais numerosos. As habitações de salas acanhadas não servem às exigências de conforto e
( :>
de vida portas adentro. Perante isto e a existência de meios financeiros capazes de dar corpo ~ .
a esta mudança foi fácil ver o camartelo avançar sobre a cidade e a erguerem-se amplas
....
casas sobradas, servidas de torres avista-navios, e novas igrejas. Q.)
Para além disso algumas contingências tornaram inadiável a euforia de remodelação
arquitectónica. O terramoto de 1746 e na cidade as aluviões de 1803 e 1842, com elevados
prejuízos nos imóveis tornaram urgente a intervenção. Os resultados desta transfiguração são
evidentes na cidade e no meio rural. Enquanto nas casas de habitação o novo ergue-se dos
escombros do velho, nas igrejas ele alia-se de modo perfeito, ficando a testemunhar uma
evolução e adequação aos padrões de cada época. Deste modo os elementos arquitectónicos e
decorativos que marcaram a opulência açucareira passam a conviver com os novos gerados
pelos excedentes e riqueza do vinho. O que terá levado alguns a definir impropriamente como
a arquitectura do vinho. Esta a existir estará nas grandes casas servidas de amplos terreiros onde
repousam as pipas e armazéns e oficinas de tanoaria como foi o caso de Cossart Gordon & CO
na Rua dos Netos, ornados de latadas e de serrados de vinhedos nos arredores da cidade.
Destes últimos refere Henry Vizetellyem 1880 de em S. João de W. Leacock.
Através do texto de HenryVizetelly(Factsabout Portand Madeira.Londres,1880) e das
gravuras que adicionou de Ernest A. Vizetelly podemos visitar algumas construções que
apresentam as expressões arquitectónicas geradas pela cultura da vinha e comércio do seu
néctar. Aqui são descritas as instalações das mais importantes firmas inglesas: Cossart,
-+
27

I
Gordon and (O, Krohn Borthers & (O, Blandy Brothers, Leacock and (ompany, Henry Drury,
Henriques and Lawton, Mrs. Welsh, R. Donaldson and (O, Meyrelles Sobrinho e (ia,
Henrique J. M. (a macho, Augusto C. Bianchi, Sr. (unha e Leal Irmãos e (ia.
Em todos é evidente a mesma distribuição do espaço. Uma fachada imponente que dá
entrada para um grande pátio coberto de latada que serve de logradouro comum às diversas
arrecadações: as lojas de fermentação e envelhecimento do vinho, a oficina de tanoaria, a
estufa. O bom gosto com que alguns souberam combinar e o cuidado que lhes atribuíam
não passaram despercebidos ao olhar atento de Henry Vizetelly que na casa de Blandy
Brothers leva-o a afirmar que estava perante um "verdadeiro museu de vinho".
A arte religiosa dos séculos XVIII e XIX é também testemunha e consequência da riqueza
gerada pela economia viti-vinicola. Os templos existentes ganham nova vida e riqueza e a
depor-se as contemporâneas exigências do culto os novos seguem uma nova geometria e
gramática decorativa.
Em 1714 a Alfândega do Funchal ficou servida com uma capela do orago de Santo

- et:S António. O estado de ruína do edifício de alfândega e a necessidade de o ajustar ao


.... movimento marítimo de então levaram a diversas transformações no decurso dos séculos

et:S
'-
XVIII e XIX.

O vinho tem expressão plástica particular no cadeirado da Sé do Funchal do século XVI


onde são visíveis os borracheiros e os bebedores de vinho, evidências que testemunham já a
C ~-:>
importância da cultura nesta época. Os cachos e parras fazem parte da gramática decorativa
c :> do barroco. Estes motivos de talha dourada são evidentes na Igreja do (olégio, obra de Brás

s: Fernandes, construída pelos Jesuítasno decurso do século XVII. A talha com o recurso a
. - elementos indicadores do vinho só vamos encontrar de novo num conjunto de mobília de

CD sala existente nos escritórios da Madeira Wine (ompany à Rua dos Ferreiros.
No decurso dos séculos XVIII e XIX o quotidiano do vinho é retratado pela pena de
diversos pintores e desenhadores europeus, nomeadamente ingleses, que tiveram
oportunidade de passar pela ilha. Parte significativa delas serviu para ilustrar livros sobre a
ilha ou com capítulos a ela dedicados. Os principais motivos retratados incidem sobre os
lagares, os borracheiros, e as balseiras. Os dois últimos elementos são os mais abundantes
em toda esta iconografia visível hoje no Museu Frederico de Freitas no Funchal.
Depois, disso só vamos encontrar expressão em Max R6mer (1878-1960), um alemão
refugiado na Madeira em 1922 que se rendeu à evidências do meio. Nalgumas encomendas
realizadas para a Madeira Wine (O e H. M. Borges & (O deixou plasmadas as impressões
num retrato impressionista da faina viti-vinicola.

3. Personalidades históricas e o Vinho Madeira

Os mais assíduos elogios são ditados no século dezoito, época nobre para o vinho
Madeira. Neste momento ganhou inúmeros apreciadoresque teimavam em exaltar as suas
propriedadese a preferi-lo a todos os outros ou demais bebidasalcoólicas,que começam a

~
28

l
concorrer. Esta loucura pelo Madeira foi grande nos Estados Unidos da América do Norte.
George Washington e convivas regalaram-se com ele na sua boda em Maio de 1759,
enquanto John Adams exclamava, com alegria no seu diário, que sempre bebeu" grande
porção de Madeira", não vendo "nenhum inconveniente nisso". Ademais, segundo
constatou o último estadista, ele é diferente de todos os outros, pois mantém-se "salutar e
agradável no calor de Verão ou no frio do Inverno".
Thomas Jefferson não atraiçoou a preferência dos predecessores, pelo que mesmo em
Paris não prescindia do Madeira, pois era" de superior qualidade e o melhor". Foi
certamente com a inspiração do seu aroma, que se formou o grande empório. Com ele se
celebrou a independência, acto que é anualmente recordado da mesma forma.
Os europeus, levados por esta exaltação dos políticos americanos, despertaram de novo
para o vinho Madeira. Deste modo choveram elogios em catadupa.
O vinho da Madeira não foi apenas companheiro dos grandes momentos festivos e de

-m
euforia, pois também se postou de guarda nas dificuldades e solidão, como sucedeu com
Napoleão Bonaparte. O deposto imperador recebeu do cônsul britânico uma pipa de
Madeira, que foi sua companheira no exílio de santa Helena, até à morte. '-I
O general, talvez receoso de segundas intenções da oferta, nunca provou o vinho e à sua
morte em 1820, o cônsul solicitou a sua devolução, o que ocorreu passados dois anos. Com
m
'-
este vinho da volta fez-se uma importante garrafeira para gáudio dos coleccionadores, sob o
C ~-:>
título de "Battle of Waterloo". W. Churcill, quando em 1850 fez férias na Madeira, teve
oportunidade de apreciar o vinho que Napoleão nunca bebeu.
C~
~
.. .
O quadro aqui apresentado das referências literárias ao vinho Madeira reforça a ideia da
importância que o mesmo assumiu na economia e sociedade dos mercados consumidores.
De uma forma genérica a presença é sempre no sentido da exaltação, por força da CJ.)
experiência pessoal ou testemunho de outros e tradição de destacadas personalidades.
A História não pode resumir-se apenas às fontes oficiais disponíveis nos arquivos, pois se
quisermos reconstituir o quotidiano de uma época ou determinada região temos de ir ao
encontro de outro tipo de registos, como é o caso da Literatura. Esta permite, não só,
reforçar determinadas realidades com esclarecer o ambiente que rodeia os eventos e épocas
históricas em que o vinho Madeira está presente.

INSTRUMENTOS DE TRABALHO

A maior parte das referências da literatura norte-americana e inglesa só foi possível com
o acesso a algumas bases de dados disponíveis na Internet. Destas merece destaque a de
Chadwyck-Healey, por ser a mais completa e exaustiva na informação apresentada. Aqui
foram encontrados 360 registos, sendo 130 de poesia, 84 de drama e 146 de prosa.
A esta pesquisa junta-se a consulta da informação bibliográfica da Madeira,
nomeadamente os núcleos de literatura de viagens e científica da Biblioteca Municipal do
Funchal e do Arquivo Regional da Madeira.

-.
29

J
1. Acção Bactericida do Vinho Madeira, (Verdelho) sobre o bacilo de Erberth(Estudo Experimental),
Funchal, 1938.

2. Diz o poeta: Das escumas da Madeira/vejo nascer a alegria;lcom as asas afugenta/a minha

melancolia//O tal Horácio enganou-se/não conheceu a parreira;lnão se chamava Falerno;lse era


bom era Madeira.

3. Últimos Poemas, Paris, Novembro 1915


4. A Alma Nova (1874).

5. Vida e Obra de Francisco Álvares de Nóbrega, Funchal, 1958.

6. Zargueida, Lisboa, 1806, canto IX, estrofes XXIII e XXIV


7. Versos de Manuel Gonçalves(Feiticeiro do Norte), Funchal, 1956

8. Madeira, Cabo Verde e Guiné, Lisboa, 1951, pp.39-41

9. Porque me orgulho de ser madeirense, Lisboa, 1951, pp.27-29


10 Ilhas de Zargo, Funchal, 1967, vol. I, p.558-559

11. Veja-se Canhenhos da Ilha, Funchal, s.d., A Canga, Funchal, 1975.

-m 12. O conto foi vencedor do Prémio Contos organizado pelo Instituto do Vinho da Madeira por

.... ocasião do décimo aniversário. Foi publicado no Diário de Notícias a 21 de Janeiro de 1990.

m
~
13. Madeirado Vinhoà Saudade, Funchal,
14.
1989.

PESTANA,E.A, Ilhada Madeira.I. FolcloreMadeirense,Funchal, 1965, SANTOS,Carlos M, Trovas


e Bailados da Ilha. Estudo do Folclore Musical da Madeira, Funchal, 1942, TAVARES,José,
C :>-:> Subsídiosparao Estudoda Vinhae do Vinhona Regiãoda Madeira,Funchal, 1953,

C~~ 15. Em" crime e Castigo" (1917) lamenta-se a pouca variedade de vinhos e a falta imperdoável do
"Madeira" .
~
. - 16. Antiquities of Long Island, N. York, 1874, p.160

<D 17.

18.
Philip Hone, The Diary of Philip Hone 1828-1851, vol. I, N. York, 1889.

The Works of Alexander Pope, Philedelphia, 1864, p.490


19. Emma(1816), Mansfield Park(1814).

20. O vinho da Madeira surge em: Bleak House(1853), Dombey and Son(1848), The Life and

Adventures(1844), Little Oorrit(1857), Our Mutual Friend(1865), The Postumous Papers(1837).


21. Em: White-Jacket(1850)

22. Em: TheAntiquary(1815)

23. Em: The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket(1838).

24. As referências ao vinho Madeira surgem ainda em: The Chainbearer(1845), The Deerslayer(1841),
Homeward Bound(1838), Lionel Lincoln(1824), The Pioneers(1823), Precaution(1820), The

Redskins(1846), Satanstoe(1845), The Spy(1821) The Ways of the Hour(1850), Elinor


Wyllys( 1 846)

25. Complete Poetical Works(1888)


26. Em Festus(1877)

27. Collected Poems(1964)

28. Publ. Por Edmund Clarence Stedman(ed.), An American Anthology, 1787-1900(1900).

29. Maisreferênciasem: TheDeadAlive(1783), TheSon-in-Iaw(1783),TheWorld in a village(1793).


30. Magazine of Domestic Economy(1927-39), The New england Magazine(1892), Putman's Montly

~
30

J
Magazine(1854), The Bay State Montly(1885),Harpers New Montly Magazine(1852, 1854, 1878),
New England Angale Review(1860), The Century Popular Quartely(1885), The Living Age(1857),

The Atlantic Montly(1884, 1872), Harpers New Magazine(1356), The New England

Magazine(1900), The North American Review(1824).

31. Grace Clergue Harrison: Allied Cookery(1916),

32. A Manual of Politeness(1837), Sophie Orne Johnson: A Manual of Etiquette(1873), Clara S.J.
Bloomfield-Moore, Sensible Etiquette(1878), William A. Alcott: The Young Housekeeper(1846)
33. Edward Parrish, A Treatise on Pharmacy, Philadelphia, 1865p.819; H. Beasley, The Oruggist

General Receipt Book, Philadelphia, 1857, p.193;Joseph H. Pulte, Homeopatic domestic

Physician, N. York, 1856, p.52.


34. As referências são feitas de acordo com as regras de citação dos documentos da Internet. Ver:
VIEIRA, Alberto, Como citar um documento da Internet, Funchal, 2000, [disponível na Internet via

Www. URL: http://www.ceha-madeira.net/internet/regrascitar.htm ] Arquivo capturado em 17 de

-m
Agosto de 2001.

Bibliografia fundamental

ARAGÃO, António, O Museu da Quinta das Cruzes, Funchal, Junta Geral, 1970.
rn
....

-" Alguns Tópicos para a ClassificaçãoUrbanísticada Madeira", in Islenha, 1991, N.o 9,


C ~..,
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!: "
..
FERNANDES, Cidades e Casas da Macaronésia, Lisboa, FAUP Publicações, 1996.

PESTANA,E. A, Ilha da Madeira. I. Folclore Madeirense, Funchal, 1965,


CD
SAINZ-TRUEVA, José de, Heráldica de Prestígio em Rótulos de Vinho Madeira, in Islenha,
9, 1991, pp.62-69

SANTOS,Carlos M, Trovase Bailadosda Ilha. Estudo do Folclore Musical da Madeira,


Funchal, 1942

TAVARES, José, Subsidias para o Estudo da Vinha e do Vinho na Região da Madeira,


Funchal, 1953,

VIEIRA, Alberto, O Vinho da Madeira{breve resenha Histórica), Angra do Heroísmo, 1983,

História do Vinho da Madeira-Documentos e Textos, Funchal, 1993

Enciclopédia dos Vinhos de portugal- O Vinho Madeira, Lisboa, 1998,

-.
31

I
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nOs. 31-32, 2000, pp.60-80.

VIEIRA, Dr. Elmano, "A Madeira nas estampas da primeirametade do século XIX",1950,
Das Artes e da História da Madeira, Vol. I, N° 2, pp. 28-30

WILHELM, Eberhard Axel, "Max Rbmer (postais madeirenses percorrem o mundo)",


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Bases de dados disponíveis na Internet34

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33
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