Campo de Investigação Da Ética

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O CAMPO DA INVESTIGAO TICA

Professor Mestre Obertal Xavier Ribeiro Maio de 2011 Para compreender o campo de investigao da tica necessrio ter a sua definio. Essa definio se aproxima muito da compreenso do conceito de moral. Vamos depois de definida tica, estudar a conscincia moral e os juzos, sendo eles de fato e de valor. Funo e alcance da tica A tica ilumina a conscincia humana, sustenta e dirige as aes do homem, norteando a conduta individual e social. um produto histrico-cultural e. como tal, define o que virtude, o que bom ou mal, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada cultura e sociedade. Dessa maneira, a tica universal, enquanto estabelece um cdigo de condutas morais vlido para todos os membros de uma determinada sociedade e, ao mesmo tempo, tal cdigo relativo ao contexto scio-poltico-econmico e cultural onde vivem os sujeitos ticos e onde realizam suas aes morais. A questo do bem e do mal: A tica se fundamenta em uma teoria dos valores concernentes ao bem e ao mal e tem como objeto de reflexo as experincias morais do ser humano pautadas pelo conhecimento do que bom ou mau, certo ou errado, permitido ou proibido, justo ou injusto, honesto ou desonesto, etc., bem como os juzos de valor sobre essas experincias elaborados por uma conscincia moral. A definio de tica e moral: Muitas vezes, tica e moral so termos usados como sinnimos no linguajar cotidiano. Seguem alguns pontos de vista: 1. Do ponto de vista etimolgico tica, do grego ethos e moral, do latim ms, moris, querem dizer "costumes". 2. Alguns autores fazem a seguinte distino: a moral se refere s normas ou regras que regem (ou deveriam reger) certos aspectos da conduta humana; a tica se aplica disciplina filosfica que trata de estabelecer os fundamentos e a validade das normas morais e dos juzos de valor ou de apreciao sobre as aes humanas qualificadas de boas ou ms. 3. O dicionrio de tica e Moral nos d alguns elementos distintivos.1
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Os especialistas de filosofia moral no se entendem sobre a repartio do sentido entre os dois termos moral e tica. A etimologia, nesse caso, sem utilidade, na medida em que um dos termos vem do latim e o outro do grego, e j que ambos se referem, de uma maneira ou de outra, ao domnio comum dos costumes. Mas, se no h acordo quanto relao hierrquica ou outra, entre os dois termos, h acordo sobre a necessidade de dispor-se de dois termos. Buscando eu mesmo orientar-me nessa dificuldade, proponho tomar o conceito de moral como o termo fixo de referncia e atribuir-lhe uma dupla funo, a de designa por um lado a rea das normas, ou seja, dos princpios do permitido e do proibido, e, por outro lado, o sentimento de obrigao como face subjetiva da relao de um sujeito com as normas. Eis aqui, a meu ver, o ponto fixo, o ncleo duro. E em relao a ele que convm fixar um emprego para o termo tica. Vejo ento o conceito de tica partir-se em dois, o ramo designando o que est a montante das normas - falarei ento de tica anterior - e o outro ramo designado o que est a jusante delas - falarei ento de tica posterior. A linha geral de minha exposio consistir numa dupla demonstrao. Por um lado, gostaria de mostrar

A linha geral consiste numa dupla demonstrao. Por um lado, temos necessidade de um conceito assim clivado, cindido, disperso da tica, a tica anterior apontando para enrraizamento das normas na vida e no desejo, a tica posterior visando a inserir as normas em situaes concretas. A essa tese principal junta-se uma tese complementar, a saber, que a nica maneira de tomar posse do anterior das normas visado pela tica anterior mostrar seus contedos no plano da sabedoria prtica, que no seno o da tica posterior. Assim seria justificado o emprego de um nico termo - tica - para designar o que est a montante e o que est a jusante no reino das normas. Portanto, designamos por tica algo como uma metamoral, uma reflexo de segundo grau sobre as normas. Conscincia moral e julgamento moral O homem um ser que possui um senso tico e uma conscincia moral. Isso quer dizer que constantemente avalia e julga suas aes para saber se so boas ou ms, certas ou erradas, justas ou injustas. A essa caracterstica peculiarmente humana de discernir o justo do injusto, o que deve ser preferido do que deve ser preterido, o bem do mal, d-se o nome de conscincia moral.
A conscincia moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de lanar-se na ao. Tem a capacidade para avaliar e pesar as motivaes pessoais, as exigncias feitas pela situao, as conseqncias para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcanar fins morais impossvel), a obrigao de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou injusto) (CHUAI, 1994, p. 337).

Conscincia moral: A faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdio de se praticarem determinados atos, e a aprovao ou o remorso por hav-los praticado. A conscincia moral consiste, pois, na apreciao espontnea e imediata que o homem faz de sua prpria conduta, ao reconhecer o valor moral dos diferentes modos de proceder, bem como ao enunciar juzos de valor acerca do seu agir. A partir das afirmaes que seguem e de tantas outras afirmaes, percebemos o inquestionvel e evidente, e o que so da interpretao e avaliao do comportamento. Os juzos de fato e juzos valor. 1. Todo homem mortal. 2. O homem um animal racional. 3. Pedro um homem formidvel. 4. Rosana uma mulher boa, justa e honesta.

que temos necessidade de um conceito assim clivado, cindido, disperso da tica, a tica anterior apontando para enrraizamento das normas na vida e no desejo, a tica posterior visando a inserir as normas em situaes concretas. A essa tese principal juntarei uma tese complementar, a saber, que a nica maneira de tomar posse do anterior das normas visado pela tica anterior mostrar seus contedos no plano da sabedoria prtica, que no seno o da tica posterior. Assim seria justificado o emprego de um nico termo - tica - para designar o que est a montante e o que est a jusante no reino das normas. Portanto, no seria por acaso que ora designamos por tica algo como uma metamoral, uma reflexo de segundo grau sobre as normas, ora os dispositivos prticos que convidam a colocar a palavra "tica" no plural e a acompanhar o termo de um complemento, como quando falamos de tica mdica, de tica jurdica, de tica dos negcios etc. O curioso, com efeito, que esse uso, s vezes abusivo e puramente retrico do termo "tica" para designar ticas especficas, no consegue abolir o sentido nobre do termo, reservado para o que poderamos chamar de as ticas fundamentais, como a tica a Nicmaco de Aristteles ou a tica de Spinoza. Dicionrio de tica e Filosofia Moral, Editora Unisinos, vol 1, p.591.

As duas primeiras referem-se constatao de fatos inquestionveis e evidentes: a morte e a racionalidade so atributos do ser humano e o caracterizam como tal. Enunciam, portanto, aquilo que , explicam como as coisas, os fatos e os seres so e por que so. Trata se dos juzos de realidade ou juzos de fato, presentes na vida cotidiana, bem como no mbito das cincias e da filosofia. As duas ltimas afirmaes dizem respeito interpretao e avaliao do comportamento de Pedro e Rosana. So juzos de valor, que resultam da apreciao que se faz das coisas, dos fatos e dos indivduos e esto presentes na moral, nas artes, na poltica e na religio: ''Juzos de valor avaliam coisas, pessoas, aes, experincias, acontecimentos, sentimentos, estados de esprito, intenes e decises como bons ou maus, desejveis ou indesejveis" (Chaui). O julgamento das aes: Na perspectiva da tica ou da moral, todo e qualquer ser humano julga constantemente suas prprias aes bem como as dos outros, interpreta e avalia situaes e acontecimentos, a partir de um quadro referencial de valores que indicam aquilo que deve ser. Assim, os juzos de valor so normativos, isto , prescrevem as maneiras de agir, as regras e normas do comportamento, a partir do que tido como certo ou errado, bom ou mau:
Os juzos ticos de valor so tambm normativos, isto , enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. So juzos que enunciam obrigaes e avaliam intenes e aes segundo o critrio do correto e do incorreto. Os juzos ticos de valor nos dizem o que so o bem, o mal, a felicidade. Os juzos ticos normativos nos dizem que sentimentos, intenes, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcanarmos o bem e a felicidade [...]. Enunciam tambm que atos, sentimentos, intenes e comportamentos so condenveis ou incorretos do ponto de vista moral (Chau).

Juzos de fato, juzos de valor: Os juzos de fato enunciam aquilo que . Os juzos de valor enunciam aquilo que deve ser. Os juzos de valor resultam do exerccio da conscincia moral que, por sua vez, pressupe responsabilidade, liberdade e autonomia. O sujeito tico ou moral deve responder pelos seus atos, isto , deve avaliar os efeitos e as conseqncias de suas aes, atravs da conscincia moral, responsabilizando-se por elas e seus resultados. Tal sujeito s responsvel pelo que faz quando age isento de qualquer forma de coao e constrangimento, ou seja, quando age livremente. A possibilidade de autodeterminao das regras de conduta a serem seguidas, a deciso entre o bem e o mal, caracterizam o sujeito tico como um ser livre, capaz, ento, de se responsabilizar por suas condutas. Dessa maneira, reconhece-se a autonomia do sujeito moral, enquanto pessoa que decide e assume aquilo que quer e o que faz por si mesma, sem se subordinar nem se submeter a nada e a ningum.2 REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS: CHAUI, Marilena. Convite filosofia. So Paulo: tica, 1994. SPERBER-CANTO. Monique (org.) Dicionrio de tica e Filosofia Moral, So Leopoldo RS, Editora Unisinos, 2003, vol. 1, p.591. SOUZA, Sonia Maria Ribeiro de. Um outro olhar - Filosofia. So Paulo: FTD, 1995
Autnomo - do grego autos (eu mesmo, si mesmo) e nomos (lei, norma, regra). Aquele que tem o poder para dar a si a regra, a norma, a lei autnomo e goza de autonomia ou liberdade. Autonomia significa autodeterminao. Quem no tem a capacidade racional para a autonomia heternomo. Heternomo - do grego hetero (outro) e nomos, receber de um outro a norma, a regra ou a lei.
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