Método para Cálculo Do Gasto Calórico Nas Atividades de Vida Diária

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METODOLOGIAS PARA CÁLCULO DO GASTO CALÓRICO NAS ATIVIDADES DE VIDA

DIÁRIA

1. GASTO CALÓRICO MÍNIMO

1.1 Calculando a Massa Magra

Realiza-se a composição corporal do indivíduo, para que se possam obter os dados de Massa
Magra, pois o cálculo do gasto calórico mínimo se baseia no pressuposto que a mesma equivale
ao tecido corporal mais ativo. Em função disto o mínimo valor a ser calculado para a ingesta
alimentar e movimentação diária, deverá ser o suficiente para manter a Massa Magra.
Mas para chegarmos até a “Massa Magra”, necessitamos inicialmente achar qual a massa de
gordura (em quilogramas) o indivíduo possui conhecida como “Massa Isenta de Gordura”. Isto é
possível através da análise do percentual de gordura do indivíduo.

Exemplo: Para um indivíduo do sexo masculino, de 1,70 m, 70 Kg de Massa Corporal Total


(conhecido erroneamente como Peso), de 25 anos de idade e possuidor de percentual de
gordura de 15% (determinado através de qualquer modalidade válida), se pode chegar à Massa
Isenta de Gordura da seguinte forma:
100% do Indivíduo ----------------------------------- 70 kg
15% de Gordura do Indivíduo ----------------------- X kg

(15 x 70) / 100 -------------------------------------------X = 10,5 kg de Gordura


Então, se diminuirmos este valor da Massa Corporal Total teremos uma massa corpórea sem
gordura, conhecida como Massa Isenta de Gordura:

(70 kg – 10,5 kg) = 59,5 kg de Gordura (que na realidade é reserva de trialigliceróis)

Para chegarmos ao número em quilogramas correspondente à Massa Magra corporal, temos


que adicionar um valor de massa de gordura equivalente ao percentual mínimo de gordura que o
indivíduo deve possui, conhecida como “Gordura Essencial”. Para a faixa etária, e o sexo deste
indivíduo, o valor percentual desta gordura seria de 4% de acordo com a tabela de composição
corporal abaixo:
PERCENTUAL DE GORDURA X IMC (HOMENS)
Nível /Idade 18 - 25 26 - 35 36 - 45 46 - 55 56 - 65
Atlético/Risco =ou<12 kg/m2 (*) 4 a 7 % (*) 8 a 11% (*) 10 a 15% (*) 12 a 17% (*) 13 a 19%
Atlético 12.1< 18.5 kg/m2 8 a 11% 12 a 15% 16 a 18% 18 a 20% 20 a 21%
2
Ótimo 18.6< 19.9 kg/m 12 a 13% 16 a 18% 19 a 21% 21 a 23% 22 a 23%
Saudável 20< 24.9kg/m2 14 a 16% 19 a 21% 22 a 24% 24 a 25% 24 a 25%
Sobrepeso 25< 29.9 kg/m2 17 a 20% 22 a 24% 25 a 27% 26 a 27% 26 a 27%
2
Obeso Grau I 30< 34.9 kg/m 21 a 24% 25 a 27% 28 a 30% 28 a 31% 28 a 31%
Obeso Grau II 35< 39.9 kg/m2 25 a 36% 28 a 36% 31 a 39% 32 a 38% 32 a 38%
PERCENTUAL DE GORDURA X IMC (MULHERES)
Nível /Idade 18 - 25 26 - 35 36 - 45 46 - 55 56 - 65
Atlético/Risco =ou<12 kg/m2 (*) 13 a 16 % (*) 14 a 17% (*) 16 a 19% (*) 17 a 21% (*) 18 a 22%
Atlético 12.1< 18.5 kg/m2 17 a 19% 18 a 20% 20 a 23% 22 a 25% 24 a 26%
Ótimo 18.6< 19.9 kg/m2 20 a 22% 21 a 23% 24 a 26% 26 a 28% 27 a 29%
Saudável 20< 24.9kg/m2 23 a 25% 24 a 26% 27 a 29% 29 a 31% 30 a 32%
2
Sobrepeso 25< 29.9 kg/m 26 a 28% 27 a 29% 30 a 32% 32 a 34% 33 a 35%
Obeso Grau I 30< 34.9 kg/m2 29 a 31% 30 a 33% 33 a 36% 35 a 38% 36 a 38%
Obeso Grau II 35< 39.9 kg/m2 32 a 43% 34 a 49% 37 a 48% 39 a 50% 39 a 49%

Referencial: Pollock & Wilmore,1993; e OMS, 1997; adaptado por BOPP, D.S e LUCAS, R.W.C, (1999).
(*) Límite mínimo para cálculo da Taxa Metabólica de Repouso, baseada na Massa Magra (Massa Isenta de Gordura mais
gordura essencial).

100% do Indivíduo ----------------------------------- 70 kg


4% de Gordura do Indivíduo ------------------------- X kg

(4 x 70) / 100 -------------------------------------------X = 2,8 kg de Gordura


Então a massa de gordura mínima que o indivíduo deve manter no corpo, para a Massa
Corporal Total que possui atualmente é de 2,8 kg de Gordura.

Desta forma, a Massa Magra será a composição da Massa Isenta de Gordura com a Massa de
Gordura Essencial.

MASSA MAGRA = MASSA ISENTA DE GORDURA + GORDURA ESSENCIAL


MASSA MAGRA = 59,5 kg + 2,8 kg
MASSA MAGRA = 62,3 kg

1.2 Calculando a Taxa Metabólica de Repouso

Partindo do princípio que o Equivalente Metabólico (MET) designa que cada quilograma de
tecido ativo consome por volta de 3,5 ml de oxigênio por minuto em repouso, temos como achar
qual o mínimo de oxigênio que o indivíduo consome em repouso durante 24 horas, para em
seguida transformar este valor para kilocalorias. Isto representaria a Taxa Metabólica de
Repouso (não basal), que é o referencial para entendermos o mínimo de consumo calórico
alimentar que este indivíduo deve fazer, e o mínimo de movimentação física ele deve
empreender para não diminuir a Massa Magra e engordar, ou seja, o mínimo de atividade para
não entrar no sedentarismo.

Como o indivíduo possui 62,3 kg de Massa Magra, devemos multiplicar este valor por 3,5 ml de
O2 por kg de Massa corporal Magra por minuto:

62,3 kg x 3,5 mlO2 kg min = 218,05 mlO2 min

Como a Taxa Metabólica de Repouso é medida em 24 horas, isto equivale a 1440 minutos,
assim se multiplicarmos o valor achado:

218,05 mlO2 min x 1440 = 313 992 mlO2 dia


Este valor é definido em mililitros (ml), para facilitar a operação convém transformar em litros,
dividindo por 1000, já que um litro possui 1000 ml:

313 992 mlO2 dia / 1000 = 313,992 litros de O2 dia

Supondo que o indivíduo esteja se alimentando com os nutrientes mínimos necessários, na


situação de repouso cada vez que ele utilizar 01 (um) litro de oxigênio, ele terá consumido por
volta de 4,686 quilocalorias. Desta forma, para transformarmos o valor em litros para
quilocalorias, multiplica-se este valor por 4,686:

313,992 litros de O2 dia x 4,686 = 1471,3665 Kcal

TAXA METABÓLICA DE REPOUSO + 1471 Kcal

Para chegar a este mesmo valor também se poderia multiplicar a Massa Magra pela constante
23,61744, que se ganharia tempo e pouparia as operações:

62,3 x 23,61744 = 1471, 3665

1.3 Calculando o gasto calórico por minuto em cada situação do dia

Para sabermos qual o consumo calórico mínimo em 24 horas de um indivíduo, podemos levar
em consideração que o seu gasto será sempre maior que a sua Taxa Metabólica de Repouso,
assim, todo o tempo que transcorrer acima desta taxa será considerado um “Fator Atividade”.
Então ao calcularmos o gasto calórico mínimo por minuto, usaremos sempre medidas
proporcionais ao mesmo, para calcular tais fatores. Se o indivíduo possui um gasto calórico
mínimo em 24 horas de 1471 quilocalorias, significa que ele consome por minuto este valor
dividido pelo número total de minutos dia, 1440:

1471 Kcal / 1440 min = 1,0215277 Kcal por minuto

É importante saber qual a Frequência Cardíaca de Repouso deste indivíduo para calcularmos a
sua relação com os batimentos cardíacos, já que existe uma relação linear entre o gasto calórico
e estes batimentos, e uma constância em relação ao seu valor em frequências cardíacas abaixo
de 60% de seu máximo. Para realizar todos os cálculos, o indivíduo deverá ser monitorado
durante 24 horas de um dia típico, orientado como fazer as anotações da freqüência cardíaca.
Se por exemplo este indivíduo possuir uma freqüência cardíaca de repouso com valores de por
volta de 65 batimentos por minuto, podemos calcular quanto o mesmo consome de calorias por
batimento:

1,0215277 Kcal por minuto / 65 batimentos por minuto = 0,0157158 Kcal por batimento

Ao manter o indivíduo com monitorização contínua da freqüência cardíaca, através de monitores


portáteis (frequencímetros), sempre que ele iniciar uma atividade acima do repouso, e acima do
repouso acordado, se deve marcar quantos minutos ele permaneceu nesta atividade diferente, e
qual foi a média de sua freqüência cardíaca durante este intervalo de tempo. Como padrão
mostraremos o seguinte esboço:
Ciclo Circadiano de Trabalho

Imaginemos que o referido indivíduo obteve as seguintes freqüências cardíacas médias nas
situações apresentadas, e em tempos em minutos:

Frequência Cardíaca Média Situação Tempo em minutos


65 Dormindo 480
73 Pré Trabalho 120
85 Trabalho Manhã 240
75 Intervalo no Trabalho 60
88 Trabalho Tarde 240
78 Pós Trabalho 300

Devemos tomar como referência o valor da freqüência cardíaca de repouso, e o valor calórico
por batimento para o cálculo proporcional para as demais situações do Ciclo Circadiano de
Trabalho:

65 bpm ---------------------------- 0,0157158 Kcal por batimento


73 bpm ---------------------------- X Kcal por batimento
85 bpm ---------------------------- Y Kcal por batimento
75 bpm ---------------------------- Z Kcal por batimento
88 bpm ---------------------------- W Kcal por batimento
78 bpm ---------------------------- Ω Kcal por batimento

Valendo-se das regras de proporcionalidade teremos:

X = 0,01765
Y = 0,0205514
Z = 0,0181336
W =0,0212767
Ω = 0,0188589
Multiplicando estes valores de quilocalorias por batimento, pela respectiva média de batimentos,
teremos os seguintes valores calóricos por minuto:

X = 0,01765 x 73 = 1,28845 Kcal por minuto


Y = 0,0205514 x 85 = 1,746869 Kcal por minuto
Z = 0,0181336 x 75 = 1,36002 Kcal por minuto
W =0,0212767 x 88 = 1,8723496 Kcal por minuto
Ω = 0,0188589 x 78 = 1,4709942 Kcal por minuto

Multiplicando os valores de quilocalorias por minuto pelo total de minutos de cada situação
teremos:

Situação Tempo em minutos x Kcal Total Parcial


Dormindo 480 x 1,0215277 490,33329
Pré Trabalho 120 x 1,28845 154,614
Trabalho Manhã 240 x 1,746869 419,24856
Intervalo no Trabalho 60 x 1,36002 81,6012
Trabalho Tarde 240 x 1,8723496 449,3639
Pós Trabalho 300 x 1,4709942 441,29826
Total de Caloria dia 2036,45921

Desta forma o gasto calórico mínimo deste indivíduo seria de por volta de 2036 Kcal.

Podemos aproveitar estes dados para verificar se o grau de movimentação deste indivíduo o
classifica como sedentário ou não. De acordo com Weiss (1990), um indivíduo sedentário tem
um consumo calórico/dia pouco abaixo do valor da Taxa Metabólica de Repouso somado a 40%
da mesma, isto é, um fator atividade de 1,4. Desta forma, multiplicando-se a Taxa Metabólica de
Repouso por 1,4 encontraremos o valor calórico mínimo para mobilidade deste indivíduo durante
24 horas:

Taxa Metabólica de Repouso x 1,4 = Limite para sedentarismo


1471 x 1,4 = 2059,4

Como o valor do Gasto Calórico/dia deste indivíduo foi 2036 Kcal, e permite-se uma faixa de
variação calórica de por volta de 10% acima ou abaixo deste, conclui-se que o indivíduo está
executando um fator atividade proporcional à sua Taxa Metabólica de Repouso. Desta forma,
como o mesmo já se encontra com percentual de gordura próprio para sua faixa etária e sexo,
podemos supor que sua atividade de trabalho e de vida diária não provoca efeitos deletérios
como o consumo de sua Massa Magra. E caso a ingesta calórica deste indivíduo permaneça por
volta deste patamar, ele possui baixo risco de engordar.
Como orientação à alimentação correta no que diz respeito à qualidade nutricional, horários e
quantidade, esta deverá possuir as seguintes características:

Qualidade – Presença de todos os seis elementos nutricionais em cada refeição (Carboidrato,


Proteinas, Gorduras, Vitaminas, Sais Minerais e Água), com os percentuais corretos entre si;
Horários – Realizar as refeições com horários regulares, compondo um quadro médio de cinco
a seis, de acordo com o tempo de repouso em relação à vigília;
Quantidade – Respeitar a sequência média de: 15% para Café da Manhã, 17,5% para o Lanche
da Manhã (colação), 25% para o Almoço, 17,5% para o Lanche da Tarde, 15% para o Jantar e
10% para eventual Ceia.
2. GASTO CALÓRICO MÉDIO

2.1 Calculando a Taxa Metabólica de Repouso

Pode se utilizar a Equação de Du Bois (1936), ou qualquer outra equação que determine a Taxa
Metabólica de Repouso com valores acima do utilizado pela metodologia do Equivalente
Metabólico (MET).
Esta equação infere qual seja a Superfície Corporal do indivíduo, e parte do pressuposto que a
Taxa Metabólica de Repouso pode ser encontrada através do produto desta Superfície Corporal
em metros quadrados por um fator de multiplicação (Lucas, 2005).
Para a aplicação prática desta fórmula, pode-se utilizar um nomograma que é capaz de indicar
qual o valor aproximado da Superfície Corporal:

NOMOGRAMA DE PREDIÇÃO DE SUPERFÍCIE


CORPORAL

Baseado na Fórmula de: Dubois, EF. Basal metabolism in health and disease. Philadelphia: Lea &
Febiger, 1936. Em McArdle, WD; Katch, FI; Katch, VL. Fisiologia do Exercício: Energia Nutrição e
Desempenho. 5 Ed. p.196. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 2003.
TAXAS METABÓLICAS BASAIS PADRONIZADAS
FATOR MULTIPLICADOR

TMB (Kcal) = FATOR MULTIPLICADOR x SUPERFÍCIE CORPORAL (m2)

SC = ESTATURA0,725 x MASSA CORPORAL TOTAL0,425 x 71,84


(Fórmula de: Dubois, EF. Basal metabolism in health and disease. Philadelphia: Lea & Febiger, 1936).

IDADE FATOR PARA FATOR PARA


HOMENS MULHERES
16 994 886
17 979 871
18 960 862
19 941 852
20 926 847
25 900 845
30 883 842
35 876 840
40 871 838
45 867 828
50 859 812
55 850 799
60 838 785
65 826 773
70 811 761
> 75 797 751
Lucas, RWC. (2005), adaptado de Fleish A. Le Metabolisme basal standard ET as determination au
moyen Du “Metabocalculator”. Helv Med Acta 1951; 18:23. Em McArdle, WD; Katch, FI; Katch, VL.
Fisiologia do Exercício: Energia Nutrição e Desempenho. 5 Ed. p.196. Guanabara Koogan, Rio de
Janeiro. 2003.

Assim, um indivíduo que possua 1,75 metros de Estatura, e 75 kg de Massa Corporal Total, pelo
nomograma ou pela fórmula possuirá uma Superfície Corporal de 1,9 m 2. E caso este indivíduo
possua 25 anos, o Fator Multiplicador será 900. Isto determina uma Taxa Metabólica de
Repouso de 1710 Kcal/dia.

Superfície Corporal x Fator Multiplicador = Taxa Metabólica de Repouso


1,9 m2 x 900 = 1710 Kcal

A sequência da metodologia de determinação do Gasto Calórico/dia é a mesma utilizada para o


cálculo de gasto calórico mínimo.
As metodologias apresentadas devem ser utilizadas de acordo com o objetivo da análise
profissional, e ambas podem ser comparadas ao padrão de excelência em análise calorimétrica,
que é a Calorimetria Indireta. Mas em função das impossibilidades técnicas e de orçamento, as
margens de erro das metodologias podem ser bem aceitas.
Ricardo W. das Chagas Lucas
CBO MtbE 2236-05

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