Revista Pergunte e Responderemos No. 008 - DEZEMBRO DE 1957
Revista Pergunte e Responderemos No. 008 - DEZEMBRO DE 1957
Revista Pergunte e Responderemos No. 008 - DEZEMBRO DE 1957
PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME
DEZEMBRO 1957
ÍNDICE
Páginas
i. filosofía ic religiao
1) "Jesús Cristo eleve ser considerado um ¡nárlir, mu santo,
um profeta ou uní líder/" 3
IT. DOGMÁTICA
2) "Nao terá sido erro de Jesús ofcrecer o paraíso ao bom la-
drño no iiicsino dia cm que o próprio Jesús ia morrer para
deseer aos infcri'os c ¡á passar tres dias/
R, se Cristo deseen aos infernos, nao haverá salvacdo no
inferno/" 7
3) "Que neeessidade há de purgatorio/" 9
4) "A ¡(¡reja mío transformou a confissao de pecados públi
ca, como era realizada autrora (cf. Mt 18,15), cm confis
sao sigilosa, auricular, de uní individuo a outro/ 11, fasen-
do-o. nao visara objetivos políticos/
Que nao havia cojtfissao secreta, pessoal, parece evidente
pelo que. diz S. Paulo aos Corintios: " Examinc-se o ho~
vían a si e entilo coma desse pao e beba desse cálice"
(1.a cp. 11,28)" 12
5) "Se os padres té ni o poder apostólico de perdoar os peca
dos, porque nao tciu taiubém o poder apostólico de fazer
milaijrcs/" 17
6) "Como se explica que a culpa original passe para todo
liomcm ■'" 17
III. SAGRADA ESCRITURA
7) "lint Gen 30,37-42 narro a Biblia que Jaco influencian o
tipo da prole que nasccria de sitas cabras, propondo-llws
um estimulo externo no momento do coito. Ora, segundo
a Bioloí/ia, c inipossk'cl intervir desse modo no processo
generativa. Que dizer/" 20
8) " Qucira explicar o texto de Le 22,18, em que Jesús dia
que nao beberá mais do fruto da videira a ules que tenlw
viudo o Reino de Dcus" 22
IV. HISTORIA DO CRISTIANISMO <
9) "Costaría de saber algo de mais exato sobre a lnquisiqao.
Se os "vellios lempos" Z'oltassem, a Igreja restauraría a
Inquisicdo/" 23
V. MORAL
10) ''Qitais os direitos do individuo anormal e do inonslro/" 33
11) "O hipnotismo pode acarretar algum mal/ Será licito ao
cristao deixar-se hipnotizar frcqiieiiteincnte pela inesma
pcssoa/ " ( 36
12) "Em caso de preuhez tubária, proibe a ¡greja o aborto
antes da ruptura da trompa/ Será cntao que cía nutre es
peranzas de inilagre/" ; 38
COM APROVAgAO ECLESIÁSTICA
— 2 —
Aos seus estimados correspondentes
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
N.o 8 — Dezembro de 1957
I. FILOSOFÍA E RELIGIÁO
3
os críticos mais recentes acabaram concebendo horror das teo-
rias dissecadoras do Evangelho e preferiram negar simples-
mente a existencia de Jesús. Tal é o caso do médico francés
Ccuchoud, que, nao querendo guardar a figura de um Jesús
histórico vago e monstruoso que lhe haviam consignado os
críticos seus antecessores, se tornou protagonista da tese de
"Jesus-mito" (veja-se a bibliografía indicada no fim desta ques-
tao). A experiencia, pois, parece ensinar que nao existe meio-
-térmo entre a fé no Senhor Jesús Dcus e Homem apregoado
pela Tradigáo e a fé na nao-existencia de Jesús ou fé em Jesus-
-mito.
4
(o martirio!).. Sem que se queira exagerar o valor déste tes-
terrvunho, observa-se que difícilmente milhares e milhares de
pessoas, de todas as idades, épocas e regióes, dariam 0 sangue
por algo que nao lhes parecesse mais certo e valioso do que a
própria vida. Ademáis deve'-se notar que es Apostólos, pri-
meiros arautos dá ressurreicáo, estavam táo pouco dispostos
a inventá-la (por entusiasmo visionario ou por alucinacáo)
que foram os primeiros a tomar atitude cética logo que déla
tiveram noticia (haja vista o caso de Tomé). As autoridades
e o povo de Jerusalém teriam fácilmente desmascarado a frau
de dos primeiros discípulos caso estes quisessem incutir a fé
numa falsa ressurreicáo de Cristo. Quanto ao mundo greco-
-romano, sabe-se que a perspectiva de ressurreiijáo dos corpos
o horrorizava pois nao raro concebía o corpo como cárct're da
alma. Nao obstante, judeus e pagaos foram-se convertsndo,
abracando o código de moral ardua do Evangelho; té-lo-iam
feito, se a ressurreicáo de Cristo nao fósse um fato histórico
inelutável?
— 5 —
"Ninguém conhece o Fliho scnáo o Pai, e ninguém conhece o Pai aenáo
o Filho" (Mi 11.27).
— 6 —
milagro da Igreja", da deu
tadora da Pa]avra
Igreja existente sempre vigorosa, por
Iuz e egtrutura J v.dagdos ^Por(
Que pensar dessa Igreja que diziam ter morrido? As temnés-
tades dos homens e das épocas se desencadearam sobre ela pa
ra traga-la. Como a arca, ela atrayessou o diluvio e, de cada
te» VcaSÍÍÍ°? "0V,as ParaSens Para ^escer mais amplamen-
te (Uardeal Suhard, Essor ou déclin de l'Eglise. París 1947,68).
BibUcana: J. Gui.lon. Jesús. Paris 19S7 (livro lamoso, que es.uda objetiva
monte as hipóleses modernas coneernentos a personalidade de
Jesús, e termina reafirmando a Tradlsáo).
H. Folder, Jesús de Nazaré. Voses de Petrópolis 1851.
K. Adam, Jésus le Christ. Mulhouse 1934.
Daniel-Rops, Jesús no seu lempo. Porto 1950.
G. Bicciotti, Vita di Gesu Cristo. Milano 1941.
II. DOGMÁTICA
— 7 —
2) A Revelagáo do Novo Testamento distingue com mais
clareza a sorte postuma dos justos e a dos pecadores. Aqueles
é atribuido o "céu", a bem-aventuranga celeste, ao passo que o
termo "inferno" (correspondente a "sheol") fica reservado para
designar o estado dos reprobos (já era esta, alias, a ten
dencia dos rabinos contemporáneos a Cristo). Note-se, porém,
que os conceitos cristáos de bem-aventuranga celeste e inferno
nao estáo presos a alguma topografía; designam primariamen
te um estado de alma, independente de determinada localiza-
gao geográfica (nao se queira elucubrar a geografía do Além).
— 8 —
logo após a morte de cruz, a sua alma estaría com a de Cristo,
indo com esta ao "seio de Abraáo" ou ao paraíso (conforme a
terminolgia dos judeus) ou aínda á mansáo dos justos de-
funtos da Antigo Testamento, a fim de aguardar a ressurrei-
cáo do Senhor e a entrada na visáo de Deus. O simples fato,
porém, de estar inseparávelmente associada a Jesús já acarre-
taria suma felicidade para o pecador agraciado: "Estar com
Cristo é viver; por isso, onde se acha Cristo, ai se acha a vida,
ai se acha o reino. — Vita est enim esse cum Christo; ideo ubi
Christus, ibi vita, ibi regnum" (S. Ambrosio, Com. in Le, ed.
Migne 15,1834).
Sobre as notóos ácima, vejase E. Beltoncourl, "A vida que cometa com
a morie", 2.a ed. AGIR. Rio de Janeiro 1958, cap. XII 5 2: "Para entender o
Antigo Testamento", ibd. 1956. 190s.
9
A pena primaria do purgatorio é a chamada pena de dif
lacao. A vida terrestre constituí o período normal em que o
homem se deve preparar para ver a Deus face a face; termi
nada a peregrinado neste mundo, a criatura deveria, segun
dó a ordem reta das coisas, entrar ¡mediatamente no gozo do
seu Senhor. Ora a alma que, ao deixar o corpo, verifique nao
estar habilitada a isto por causa de sua negligencia em com-
bater as imperfeicóes, nao pode deixar de experimentar pro
funda dor por tal motivo; chegou-lhe o tempo de se encontrar
diretamente com o Divine Amigo, e eis que ela ainda nao pode
sustentar a visao ¡mediata désse Amigo! Separada do corpo, a
alma compreende muito melhor o valor imenso da visáo de
Deus face a face, assim como a hediondez que há'em todo peca-e
dc; toda leviandade. Em conseqüéncia, ela experimenta espon
táneamente a necessidade de se purificar, repudia as suas de-
sordens com generosidade nova; separa-se de sea amor próprio
para se identificar com a justiga de Deus, sofrendo a dilacera-
qáo e a dor daí conseqüentes. Esta dor vai mais e mais pene
trando a alma, libertando-a de todo o egoísmo que o pecado
e as más inclinacóes implicam; figuradamente dir-se-ia: vai
raspando, até a mais profunda carnada, toda a ferrugem que
adere as faculdades da criatura. As almas, portanto, sofrem
o seu purgatorio voluntariamente: sequiosas de ver a Deus,
nao sao menos sequiosas de se purificar em oportuno estágio.
— 10 —
depois de perdoar a culpa do pecador, ainda lhe pediu reparasse
a ordem violada. Note-se que tal satisfago nao era, nem é, al->
go que Deus imponha arbitrariamente: já que todo pecado
consiste na. ruptura, mais ou menos violenta, da ordem reta das
coisas, ele nao pode ser cancelado, caso nao se dé a restaura-
gáo da harmonia por ele burlada. Eis os exemplos bíblicos mais
significativos:
Adáo foi certamente tirado ou absolvido do seu pecado (cf.
Sab 10.2); nao obstante, o Criador o quis submeter a graves
penas até o fim da vida (cf. Gen. 3,17s);
. . Moisés e Aaráo cederam á pouca fé em dado momento de
s-ua vida; por isto viram-se pelo Senhor privados de entrar na
Térra Prometida, embora nao haja dúvida de que a culpa lhes
tenha sido perdoada (cf. Núm 20,12s; 27,12-14; Dt 34,4s);
Davi, culpado de homicidio e adulterio, foi agraciado ao
reconhecer 0 delito; nao obstante, teve que sofrer a pena de
perder o. filho do adulterio (cf. 2 Sam 12,13s).
Em outros textos, o perdáo é estritamente ligado com
obras de expiado; cf. Tcb 4,lls; Dan 4,24; Jl 2,12s .
Além destas passagens, que manifestam o principio geral
segundo o qual Deus cancela o pecado, costumam-se citar
outros trechos diretamente alusivos ao purgatorio:
— 11 —
— duro castigo, porém, do qual seráo libertados depois de sa-
tisfazer á Justina.
1 Cor 3,10-16: Sao Paulo distingue entre operarios que no
reino de Deus trabalham zelosamente, produzindo a melhor
obra de que sao capazes, e outros que, sein deixar de trabalhar,
se mostram negligentes. Diz que os primeiros, no dia do juízo,
nada teráo a temer, ao passo que os outros (tipo dos homens
que Eervem a Deus ccm as tibiezas do pecado venial) se salva-
rao, mas após haver experimentado dores e penas devidas á
sua conduta imperfeita. Embora o Apostólo, como Jesús em Mt
5,25s, se sirva de expressóes figuradas, percebe-se com clareza
suficiente que sob as metáforas de Mt 5,25s e 1 Cor 3,10-15 es-
táo coñudas as idéias que definem a doutrina do purgatorio.
Vé-se destarte que o purgatorio, longe de ser invenc,áo hu
mana, é expressáo da santidade e da. misericordia de Deus,
que, mesmo fora do tempo normal, conciliando justiga e bon-
dade, sabe outorgar á criatura os meios de O possuir eterna
mente.
R. M. F. (Parnaíba):
19
20,22s). Ora o juízo a ser exercido pelo ministro de Deus su-
póe da parte déste 0 conhecimento exato da causa respectiva,
conhecimento que só pode ser obtido mediante a acusacao feita
pelo penitente; sómente por esta é que o sacerdote avalia a si-i
tuacáo e as disposigóes do pecador. — Leve-se em conta, além
disto, que Deus quis sempre, e quer, distribuir a graga aos ho-
mens mediante ministros e sinais sensíveis, pois somos por na-
tureza sociais e dependentes das coisas visíveis; a vía normal
para a tiossa santificagáo é a via dos sacramentos. No tocan
te ao sacramento da Penitencia em particular, S. Agostinho o
ilustrava propondo aos seus fiéis a seguinte alegoría: Cristo
ressuscitou a Lázaro, mas quis que os discípulos o desatassem.
de suas faixas mortuárias e o restituíssem á liberdade (cf. Jo
11,14); assim, continuava ele, é o Senhor quem perdoa os pe
cados; para fazé-lo, porém, nao quer dispensar os'oficios de
seus ministros (In ps. 101 enarr. 2,3; serm. 195,2).
— 13 —
.2. Executando a ordem do Senhcr, a Igreja desde a ge-
ragáo apostólica exerceu o poder das chaves; o rito, porém, a
que recorría, era diferente do atual .Eis o que, segundo os me-'
Inores historiadores, se depreende dos documentos dos seis pri-
meiros séculos:
— 14 —
tes e os fiéis eram intimados a se unir com os penitentes me
diante a oragáo, a fim de que agradáveis ao Senhor e frutuo-
sas se lhes tornassem as obras satisfatórias (ainda hoje no Mis-
sal Romano se encontra urna ora?áo pelos penitentes públicos;
cf. tabela, n.° 23)
— 15 —
aos poucos o costume de administrar mais vézcs o sacramento
da Penitencia sem se lhe dar o caráter público que antes tiJ
nha; o confessor (nao mais necessáriamente o bispo) concedía
a réconciliagáo ou absolvi^áo lego após a confissao, e impunha
uma satisfacáo (mais ou menos mitigada) a ser prestada pslo
penitente depois da reconciliacáo (á semelhanga do que hoje
sé dá). Tal abrandamenlo da praxe nao implicava mudanza
doutrináris nem derrogagáo á Justiga de Deus; a expiac,áo nao
prestada por imposicáo do confessor seria suprida ou pelo zélo
do penitente no decorrer desta vida ou entáo após a morte, no
purgatorio. Com esta mudanza de rito, abria-se o acesso do
sacramento a muitos fiéis que padeciam graves crises de cons-
ciéncia em virtude da praxe antiga.
— 16 —
JOAQUIM NORONHA (Salvador):
- 17 - I
1. Será que esta rodem de coisas é originaria, obra do
Autor mesmo da natureza? — Bem se poderia crer que nao,
dado o avultado número de males que afetam as criaturas (até
cerlo grau. as falhas e os desequilibrios nao chamariam a aten-
gao do filósofo, pois sao por si ine rentes á condigáo falível de
qualquer criatura). Alias, os povos primitivos ainda hoje exis
tentes costumam, em suas narrativas tradicionais, atribuir a
morte e as desgragas a urna violacáo do bem-estar inicial: os
primeiros individuos teriam desobedecido a Deus, acarretando
sobre si a triste serte que o género humano padece (vejam-se
tais narrativas no livro de E. Bettencourt, "Ciencia e Fé na his
toria dos Primordios", 3.a ed. AGIR, pág. 178-184).
— 18 — "
rio de uma Cabeca, que era Adáo: "Omnes homines unub lió-:•'
mo", dizia S. Agostinho; o primeiro pai devia desempérihár
aos olhos de Deus o papel de compendio, no qual estava com-
preendida toda a estirpe humana e a sua respectiva sorte. Ora
Adáo recebeu do Criador a sua natureza humana ornada de
dons preternaturais e sobrenaturais, que, segundo o plano de
Deus, ele devia transmitir aos pósteros por via de gerac,áo, ca-\
so se mostrasse obediente á Palavra do Senhor (os filhos de
Adáo seriam também filhos de Deus, portadores da graca des
de o primeiro instante de sua existencia). Eis, porém, que Adáo
prtvaricou; conseqüentemente foi destituido dos privilegios pa
radisíacos; daí por .diante só podia gerar a natureza de um
pecador, natureza que, despojada dos dons de que o Criador
a revestirá, nao podia (nem pode) deixar de aparecer disfor*
me aos olhos do seu Autor. Assim todo individuo, pelo fato
mesmo de herdar a natureza de Adáo, traz em si uma nódoa,
que se chama "o pecado de origem" ou "original". Como. se. vé,
éste é um defeito que afeta primariamente a natureza huma
na como tal, mas nao deixa de ser imputado a cada individuo
em particular, visto que todos constituem com AdSo um único
corpo.
— 19 —
qual depende diretamente da nossa vontade (nao é por von
tade da máo que o homicidio é cometido); mas é voluntario
de maneira mediata, mediante a vontade de Adáo, do qual "o
Criador nos quis fazer dependentes (a máo pertence a um or
ganismo dotado de vontade, vontade que comunica seu in-.
fluxo a qualquer dos órgáos do conjunto). Conceba-se, pois,
urna no§áo de voluntario intermediario entre o voluntario pes-
soal e o nao-voluntario. De passagem, seja lícito acrescentar
que quem morre com o pecado original apenas, nao é conde
nado como quem falece com o pecado atual (os teólogos cos-
tumam distinguir entre o limbo das crianzas, em que se goza
de bem-aventuran§a natural, e o inferno dos reprobos).
— 20 —
désses ramos devia, segundo estimava Jaco, influenciar a for-
mcgáo de embriáo, produzindo prole malhada.
Tal artificio estava muito em voga entre os antigos; jul-
gavam, como ainda hoje freqüentemente imagina o nosso po-
vo que certos objetos avistados durante a concepcáo ou a ges-
tacáo acarretam notas próprias na prole. Vejam--se os leste-
munhos de Opiano, De venatione I 327s; Plínio, Hist. nat. VII
10; Hipócrates, segundo S. Agostinho, Quaest. in Heptat. I 93;
Isidoro de Sevilha; Etymologiarum liber XII I 58-60. Nos tem-
pos de S. Jerónimo (séc. V), dizia-se que os espanhóis por meio
de tais artificios sabiam variegar a cor de seus cávalos (cf. S.
Jerónimo, Liber hebraicarum quaestionum in Genesin, ed:
Migne lat. 23,985).
A oiéncia genética moderna, possuidora de mais exatos co-
nhecimentos, tende a negar a possibilidade da influencia na
tural de tais fatores sobre o processo generativo.
Como quer que seja, o texto sagrado dá a entender que
nao foi o artificio de Jaco que, simplesmente por sua própria
eficacia, deu os resultados almejados pelo Patriarca; faz-noa
ver, antes ,que ele se tornou eficiente por especial intervengáo
de Deus. Esta terá sido, em última análise, a causa do éxito
do processo que por si mesmo talvez fósse váo. O expediente
usado por Jaco pode ter sido mera ocasiáo para que Deus o
beneficiasse.
— 21 —
ANGLO-AMERICANO (Rio de Janeiro):
— 22 —
triunfante, mediante a visáo beatífica. Como se entende, Jesús
é conviva da ceia aucarística e da "ceia celeste" únicamente
por metáfora: o Cristo glorioso nao come nem bebe, mas se
entrega aos seus fiéis em uniáo íntima.
De resto, assim como os vv. 17 e 18 aludem particularmen
te ao vinho ritual judaico, pode-se crer que os vv. 15 e 16 se
referem de maneira especial ao cordeiro judaico.
Pois bem; aos símbobos o Senhor opóe, logo a seguir, a rea-
lidade simbolizada: paralelamente aos vv. 15 e 16 vem o v. 19,
segundo o qual Jesús entrega o pao eucarístico como sendo a
sua carne imolada, a carne do verdadeiro Cordeiro que tira
os pecados do mundo; paralelamente aos vv. 17 e 18 está o v.
20, em que Jesús distribuí o vinho eucarístico como sendo o
seu sangue derramado para selar nova Alianza, da qual a ali
anza mosaica era mero prenuncio.
Note-se agora a estrutura da passagem, tecida pelo para
lelismo dos versículos:
vv. 15 e 16 v. 19
(cordeiro "tipo") (cordeiro "antítipo")
vv. 17 e 18 v. 20
(cálice "tipo") (cálice "antítipo")
DESCONFIADO (Petrópolis):
— 23 —
A Inquisi?áo nao foi criada de urna só vez nem proceden
sempre do mesmo modo no decorrer dos séculos. Por isto dis-
tinguem-se
1. Origens da Inquisicáo
— 24 —
cipal). Considerando a materia por si má, os cataros rejeita-
vam nao sómente a face visíwl da Igreja, mas também ins-
tituigóes básicas da vida civil — o matrimonio, a autoridade
governamental, o servigo militar — e enalteciám o suicidio.
Destarte constituiam grave ameaga nao sómente para a fé
crista, más lambém para a vida pública.
Em bandos fanáticos, ás vézes apoiados por nobres senho-
res, os cataros provocaram tumultos, ataques ás igrejas, etc.,
por todo o decorrer do séc. XI até 1150 aproximadamente, na
Franga, na Alemanha, nos Países-Baixos... O povo, com a sua
espontaneidade, e a autoridade civil se encarregaram de os re
primir com violencia: nao raro o poder regio da Franga, por
iniciativa própria e a contra-gósto des bispos, condenou á mor-
te pregadores albigenses, visto que solapavam os fundamentos
da ordem constituida. Foi o que se deu, por exemplo, em Orlé-
ans (1017) ■, onde o rei Roberto, informado de um surto de he-
reí-ia na cidade, compareceu pessoalmente, procedeu ao exame
dos herejes e os mandeu langar ao fogo; a causa da civiliza-
gáo e da ordem pública se identificava com a da fé! Entre men
tes a autoridade eclesiástica limitava-se a impor penas espi-
rituais (excomunháo, interdito, etc.) aos albigenses, pois até
entáo nenhuma das muitas heresias conhecidas havia sido
combatida por violencia física; S. Agostinho (t 430) e antigos
bispos, S. Bernardo (t 1153), S. Norberto (t 1134) e outros mes-
tres medievais eram contrarios ao uso da fórga ("Sejam os
herejes conquistados nao pelas armas, mas pe,los argumen
tos", admoestava Sao Bernardo, In Cant serm. 64).
— 25 —
Informado desta admoestagao pontificia, o rei Luís VII de
Franga, irmáo do referido arcebispo, enviou ao Papa um do
cumento em que o descontentamento e o respeito se traduziam
simultáneamente:
— 26 —
der contra a heresia onde quer que fósse. Destarte surgiu a
"Inquisigáo pontificia" ou "legatina", que a principio ainda
funcionava ao lado da episcopal, aos poucos, porém, a tornou
desnecessária. A Inquisigáo papal recebeu seu caráter defini
tivo e STia organizado básica em 1233, quando o Papa Grego
rio IX confiou aos dominicanos a missáo de Inquisidores; ha-
veria doravante, para cada nagáo ou distrito inquisitorial, um
Inquisidor-Mor, que trabalharia com a assisténcia de nume-i
roses oficiáis subalternos (consultores, jurados, notarios...),
em geral independentemente do bispo em cuja diocese esti-
vesse instalado. As normas do procedimento inquisitorial fo->
ram sendo sucessivamente ditadas por bulas pontificias e de-
cisóes de concilios.
Enfréntenles a autoridade oivil contlnuava a aqli, com zélo surpreen-
denle (!), contra os sectarios. Chama a ate.icáo, por oxetnplo, a conduta
do Imperador Frederico II. um dos mais porigosos adversarlos que o Papado
teve no béc. XIII. Em 1220 éslo monarca exlglu de lodos os oficiaos do seu
go/érno. promelessem expulsar de suas Ierras os herejes reconhecidos pela
Igreja; declarou a heresla crime de lesa-ma¡estade, ■suieito a pena de moile
e mandón dar busca aos herejes. Em 1224 publlcou decreto mais severo "do
que quaíquer das leis editadas pelos reís ou Papas anterioros: as autorida
des cívis da Loir&ardla deveriam nao sómenlo enviar ao logo quem tivesse
side comprovado hereje pelo bispo, mas aínda corlar a lingua aos sedarlos
a quem, por razóos particulares, so houvesse conservado a vida. E' possível
que Frederico II visasse ¡nterésses próprios na campanha contra a heresia;
os bons confiscados redundarían! e.n proveilo da coroa.
Nao menos típica ó a alilude de Henriaue II, rei da Inglaterra: londo
entrado em lula contra o arceblspo Tomaz Becket, primaz de Cantuárla.
e o Papa Alexandre III, foi excomungado. Nao obslanle, mostrou-se um dos
mais ardorosos repressores da heresia no seu reino: em 1185, por exemplo,
alcuns herejes da Tlfindria tendo-se refugiado na Iriglaieitoj, o monarca
maedou prendé-los) marcá-los com ierro vermelho na testa e expó-los, assim
desfigurados, ao povo: além dislo, proibia aos seus súditos lhes dessem asilo
ou Ihes prestassem o mínimo servico.
Estes dois episodios, que nao sao únicos no seu género, bem mostram
que o proceder violento conira os herejes, longe do 1er sido serop'ré inspira
do pola suprema autorldado da Igroja, foi nao raro desencadeado indopen-
dentemente desta, por poderes que esiavam om confuto com a' própria Igiela.
A Inquisicáo. em toda a sua historia, se ressentiu dessa usurpacáo de direitos
ou da demasiada ingerencia den autoridades civis em questóes qus dependem
primariamente do loro eclesiástico.
— 27 —
2. Alguns dos procedimcntos da Inquisicáo
"O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zélo pelo verdade
religiosa, pela |ialva;áo das almas e pela extirpa;áo da» hereslas. Em meio
as diiiculdadcs permanecerá calmo, nunca cederá a cólera nem a Indigna-
gao... Nos casos duvidosos. ee\a circunspecto, nao de fácil crédito ao que
parece provável e mullas véies nao é verdade; tamben» nao rejeile obstina
damente a opiniáo contraria, pois o que parece impcovávol ireqüentemenle
acaba por ser comprovado como verdade... O' amor da verdade o a piedade,
que devem residir no coracero de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim do
que, suas decisóes lamáis pnssam parecer ditada? pela cupidez e a cruelda-
de" (Pratica VI p... ed. Douis 232s).
— 28 —
delito. Certos povos germánicos também a praticavam. Em
866, porém, dirigindo-se aos búlgaros, o Papa Nicolau I a. conT
denou formalmente. «,
Nao obstante, a tortura foi de novo adotada pelos tribu-
nais civis da Idade Media nos inicios do séc. XIII, dado o re-
nascimento de Direito Romano. Nos processos inquisitoriais,!
o Papa Inocencio IV acabou por introduzí-la em 1252, com a
cláusula: "Nao haja mutilacáo de membro nem perigo de mor-
te" para o réu. O Pontífice, permitindo tal praxe, dizia confoH
mar-se aos costumes vigentes em seu tempo (Bullarum am-
plissima collectio II 326).
Os Papas subseqüentes, assim como os Manuais dos In
quisidores, procuraram restringir a aplicaQáo da tortura: só
seria lícita depois de esgotados os outros recursos para inves
tigar a culpa e apenas nos casos em que já houvesse meia-pro-
va do delito oa, como dizia a linguagem técnica, dois "índices
veementes" déste, a saber: o depoimento de testemunhas fi
dedignas, de um lado, e, de outro lado, a má fama, os maus cos-(
turnes ou tentativas de fuga do réu. O concilio de Viena (Fran
ca) em 1311 mandou outrossim que os Inquisidores só recor-
ressem á tortura depois que urna comissáo julgadora e o bispo
diocesano a houvessem aprovado para cada caso em particular.
— Apesar de tudo que a tortura apresenta de horroroso,
ela tem sido conciliada com á mentalidade do mundo moder
no...: ainda esta va oficialmente em uso na Franga do séc.
XVIII e tem sido aplicada até mesmo em nosscs dias...
Quanto á pena de morte, reconhecida pelo antigo Direito
Romano, estava em vigor na jurisprudencia civil da Idade Me
dia. Sabe-se, porém, que as autoridades eclesiásticas eram con1
trárias á sua aplicagáo em casos de lesa-religiáo. Contudo, após
o üurto do catarismo (séc. XII), alguns canonistas comsgaram
a julgá-la oportuna, apelando para o exemplo do Imperador
Justiniano, que no sécr VI a infligirá aos maniqueus. Em 1199
o Papa Inocencio III dirigia-se aos magistrados de Viterbo nos
seguintes termos:
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Como se vé, o Sumo Pontífice com essas palavras desejava
apenas justificar a excomunháo e a confiscacáo de bens dos
herejes; estabelecia, porém, urna comparacáo que daría oca-
silo a nova praxe... O Imperador Frederico II soube deduzir-
-lhe as últimas conseqüéncias: tendo lembrado numa constitui-
gáo de 1220 a frase final de Inocencio III, o monarca, em 1224,
decretava francamente para a Lombardia a pena de morte con
tra os herejes e, já que o Direito antigo assinalava o fogo em
tais casos, o Imperador os condenava a ser queimadcs vivos.
Em 1230 o dominicano Guala, tendo subido á cátedra'episco
pal de Bréscia (Italia), fez aplicacáo da lei imperial na su a
diocesse. Por fim, o Papa Gregorio IX, que tinha intercambio
freqüente com Guala, adotou o modo de ver déste bispo: trans-
creveu em 1230 ou 1231 a constituido imperial de 1224 para
o Registre das cartas pontificias e em breve editcu urna lei pela
qual mandava que os herejes reconhecidos pela Inquisigáo fós-
sem abandonados ao poder civil, para receber o devido castigo,
castigo que, segundo a legislado de Frederico II, seria a morte
pelo fogo.
Os teólogos e canonistas da época se empenharam por jus
tificar a nova praxe; eis cerno o fazia S. Tomaz de Aquino:
"E" mullo mais grave corrompor a lé. que é a vida da alma, do que ial-
ilflcar a moeda, que é um meló de piover á vida temporal. Se. pois. os fal
sificadores de moedas e oulros malieilores sao. a bom direilo. condenados
a moría peles príncipes seculares, com .multo mais raías os .herejes.' desde
que sejam comprovados tais, podem nao sámente ser excomungados, mai
lambém em toda justica ser condenados a morte" (Suma Teológica II/I1 11,3c).
— 30 —
Nao se poderia negar, porém, que houve injusticas e abu
sos da autoridade por parte dos juízes inquisitoriais. Tais ma
les se devem á conduta de pessoas que, em virtude da fraque-1
za humana, nao foram sempre fiéis cumpridoras da sua mis-
sáo. Os Inquisidores trabalhavam a distancias mais ou menos
consideráveis de Roma, numa época em que, dada a precarie-
dade de correios e comunicac.óes, nao podiam ser asiduamen
te controlados pela suprema autoridade da Igreja. Esta, porém,
nao deixava de os censurar devidamente, quando recebia no
ticia de algum desmando verificado em tal ou tal regiáo .
Conclusáo
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acha muito atenuada). Táo grande era o amor á fé (esteio da
vida espiritual) que se considerava a deturpac,áo da fé pela
heresia como um dos maiores crimes que'o homem pudesse
cometer (notem-se os textos de S. Tomaz e do Imperador Fre-
derico I ácima citados); essa fé era táo viva e espontánea que
difícilmente se admitiría viesse alguém a negar com boas m-
tencóes um só dos artigos do credo.
V. MORAL
M. L. S. P. (Rio de Janeiro):
— 33 —
sao as da inteligencia e da vontade), caso nao receba do corpo
ou dos sentidos os objetos ou o "material" a serem elaborados
pelo intelecto. "Nada há no intelecto que nao tenha estado
primeiramente nos sentidos", já dizia o filósofo grego Aristó
teles. E note-se que neste adagio nao se trata apenas dos sen
tidos externos (olhar, audicáo, gósto, olfato, tato), mas tam-
bém dos internos (a memoria sensitiva, a fantasía ou imagi-
nacáo, a estimativa e o sentido comum). Ora os sentidos estáo
localizados em determinado órgáo corpóreo e funcionam todos
em relac,áo direta ou indireta cora o cerebro. Disto se segué que,
quando o cerebro do individuo é afetado por alguma molestia
ou lesáo, a vida sensitiva sofre daño total ou parcial — o que
impede ou dificulta o exercício da inteligencia humana. Acon
tece entáo que o doente, embora possua verdadeira alma espi
ritual ou intelectiva, nao a possa manifestar; jamáis raciocina
ou só raciocina com intermitencia e imperfeitamente. E' o ca-«
so das pessoas que nascem psíquicamente taradas e em idade
alguma chegam ao pleno uso da razáo, assim como o daque-
las que, em virtude de doengas, perdem o uso normal da razáo;
ésses anormais vivem como se nao tivessem inteligencia, quan
do de fato a tém, mas nao a podem exprimir, porque o corpo
nao lhes fornece os dados necessários ao seu funcionamento. ■ —
Note-se que a criancinha sadia se acha em condicoes análogas,
enquanto os seus órgáos sensitivos nao estáo suficientemente
desenvolvidos, ou seja, até a chamada "idade da razáo".
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üsmo, como o feto e a criancinha normáis o tém, direito ao
qual corresponde da parte da sociedade o dever de prover ao
batismo, a fim de que a alma existente no individuo irrespon-
sável seja salva.
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a doutrina tradicional da Igreja, inculcou nos seguintes ter
mos:
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O Dr. Julio Camino (Como se hipnotiza. Madrid), médico
que tem a experiencia de milhares de casos de hipnotismo, afir
ma categóricamente que o hipnotizador pode induzir o pacien
te a crimes gravíssimos. Cita, por exemplo, o caso de urna se-»
nhora hipnotizada a quem ele sugeriu que no dia seguinte en-
venenasse toda a sua familia, lanzando na respectiva comida
um pó que o hipnotizador Ihe consignou (e que naturalmente
era inofensivo). Pois bem; chegada a hora prevista, a senhora,
já libsrta da hipnose, julgandc que ninguém a vía, atirou nos
alimentos de seus familiares o presumido veneno; entrementcn
os interessados e o médico as ocultas a espreitavam! — Nao
todos os autores sao do parecer do Dr. Camino; há quem asse-
gure que o ccnflito psíquico provocado no paciente por urna
ordem imoral pode chegar a despestá-lo do sonó hipnótico.
Contado a tese de Camino parece demais comprovada pelos
fatos para que déla se possa duvidar.
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conhecida por declaracóes do Santo Oficio promulgadas em
1840, 1847 e 1899, as quais ao mesmo tempo nao deixavam de
chamar a atencáo para os perigos da dita praxe. O Santo Pa
dre Pió XII, aos 24 de fevereiro de 1957, num discurso dirigido
a médicos, pronunciou-se sobre a anestesia em geral, conside
rando explícitamente a hipnose; eis um dos trechos que aquí
nos interessam:
"Pretendo-se obter urna baixa da consciéncia e, por mcio déla, das la-
cuidados superiores, de maneira que se paralísem os mecanismos psíquicos
de dominio utilizados constantemente pelo homem para se governar e dirigir;
éste abandonase enlao sem resistencia ao iógo das associacóes de idéias.
dos sentimentos e impulsos volitivos. Os perigos de tal estado sao evidentes:
pode acontecer que se libertem assim impulsos instintivos imorais... Suspen
der os dispositivos de dominio lomase especialmente perigoso, quando se
choga a provocar a revelacáo dos segredos da vida privada, pessoal ou faroi-
liat, e da vida social. .. Há certos segredos que se nao deven» revelar a nin-
guém, nem sequer. como diz urca lórmula técnica, uní viro prudenü o! silontii
ter.cci... Por isto nao se pode deixar de aprovar o uso de narcóticos na mí-
dicacao pré-operalória, para evitar tais inconvenientes. .,
Nao queremos que se estenda pura e simplesmente a hipnose em geral
o que diiemos da hipnose a servico do médico. Corr. eieito. esta, como objeto
de investigacáo científica, nao pode ser esludada por quem quer que soja, mas
só por um sabio serio e dentro dos limites moráis que valem para toda ati-
vidode cisntílica. Nao é éste o caso de qualquer círculo de leigos ou eclesiás
ticos oue ce pratieassem como coisa intotessante, a título de pura experiencia
ou mesmo por simples passa-tempo" (texto transcrito da "Revista Eclesiástica
Brasíleira" XVII [1957] 477s).
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penderá da posigáo precisa do embriáo (quanto mais próximo
estiver do útero, tanto menos provável será a sua subsistencia).
Está claro que, se a prole crescer até atingir o seu sexto mes,
poderá ser extraída mediante intervencáo cirurgica, salvando-
-se entáo tanto a vida materna quanto a do pequenino. O mé
dico Dr. Clement no seu estudo "Derecho del niño a nascer",
pág. 61 nota 41, refere os seguintes dados estatísticos colhidos
entre especialistas: Orillard registrou 61 casos de embaraces
ectópicos em que o feto chegou a bom termo; Brown, alguns
mais; Lecene, urna centena; Werder, 148.
Diante disto, a Moral crista costuma hoje recomendar o
seguinte procedimento:
Quandc o médico verifica um caso de gravidez tubária tal
que nao se preveja perigo próximo para a gestante, proporcio
ne a esta vigilancia médica serr. operagáo cirurgica imediata,
a fim de tentar, de um lado, salvar o feto, e, de outro lado,
poder intervir imediatamente em caso de ruptura da trompa, ■
garantindo assim a sobrevivencia da gestante.
Caso, porém, o feto nao se aprésente de modo algum viá-
vel ou nao haja possibilidade de colocar a máe sob inspecáo
médica, nao é ilícita a intervencáo cirurgica: o operador po
derá extrair a trompa como extrai um órgáo doente a fim de
salvar a vida da paciente (nao negligenciando, porém, a obri-
gacáo de batizar o feto). A intervencáo em tais casos nao visa
diretamente eliminar o embriáo (como nos casos de aborto),
mas visa remover um órgáo que, por estar mórbido, se tornou
pernicioso ou fatal. Nao há dúvida, tal órgáo é portador de um
feto que, em conseqüéncia da intervengáo, perecerá; a morte
do pequenino, porém, nao é o objetivo intencionado pelo ci-
rurgiáo. mas apenas efeito permitido ou tolerado. Equipara-se
assim o caso ao de um útero canceroso, que é sempre lícito
extrair a fim de preservar a vida materna.
Com efeito. a trompa sujeita a hemorragias e ruptura por
corrosáo de suas paredes pede muito bem ser considerada um
órgáo doente. E' éste o ponto preciso sobre o qual se apoia a
declarado de que a operac,áo em tais casos é lícita. Tal ponto
nao era táo nítidamente ponderado em fins do século passa-
do ou no inicio do presente, de sorte que muitos moralistas
equiparavam a intervengo cirurgica em casos de gravidez tu
bária a um aborto — o que nao é exato: ao passo que no aborto
nao há própriamente órgáo doente a ameagar a vida da mu-
lher (cf. "Pergunte e Responderemos" 6/1957, qu. 9, onde se
trata do chamado "aborto terapéutico"), no caso da prenhez
tubária existe tal elemento. Esta distingo fci nos últimos de
cenios propugnada com aprovac.áo eclesiástica por obra prin-
i
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cipalmente do Pe. Lincoln Buscaren S. J., cujo tratado "Ethics
of Ectopic Operaticn" saiu em segunda edigáo no ano de 1944
(Editora "The Bruce Publishing Compagny", Milwaukee Wis-
consin, U. S. A.) •
Observe-se, porém, que, para extrair a trompa aoente, o
médico deverá ter razóes serias que o levem a julgar grave o
perigo de morte para a gestante em caso de náo-intervencáo
cirúrgica...
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