Revista Pergunte e Responderemos No. 005 - SETEMBRO DE 1957
Revista Pergunte e Responderemos No. 005 - SETEMBRO DE 1957
Revista Pergunte e Responderemos No. 005 - SETEMBRO DE 1957
PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE
ERGUNTE
e
Responderemos
SETEMBRO 1957
BMDICC
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
II. DOGMÁTICA
III. LITURGIA
— 2 —
«I
'PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
N.° 5 — Setembro de 1957
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
1. Que é o mal?
_ 3 —
Resumindo esquemáticamente:
Todo SFR por si é um BEM.
i
4
as calamidades físicas para o homem, nunca sao tao ponderosos
que sobrepujem os auténticos motivos de alegría; no plano mo
ral, nunca o pecado marcará decisivamente o curso da histo
ria...)-
4) Onde há ser limitado, mesclado de nao-ser, há' possi-
bilidade de passar do ser para o nao-ser, da vida para a morte,.
da integridade para a mutilacao. Sómente naquele que é o Ser
simplesmente dito, que tem em si mesmo a justificacáo do sea
ser, é que nao pode haver deficiencia ou mal; isto se dá apenas
em Deus.
Na raiz de cada criatura, ao contrario, há um vazio, um
nao-ser. A criatura hoje existente nao era, foi tirada do nada;
a sua fonte e razáo de ser estáo fora déla. Por isto ela pode!
tende mesmo, a recair no nao-ser donde procede. Traz em si
um principio de deficiencia; é boa, viva, justa, bela até certo
grau apenas. Nao se identifica com a Bondade, a Vida, a Jus-
tica, a Beleza... Por conseguinte, urna criatura por si mesma
(abstracáo feita de prerrogativa concedida pelo Criador) inde
ficiente ou infalível é contradicao.
Eis brevemente o que se refere á existencia do mal. Pas-
semos agora a questáo:
5
3/1957, qu. 4). Deus chamou-o também a dar gloria ao Criador
mas de maneira consciente e espontánea. '
A producáo de urna criatura livre representava (em lin-
guagem humana) certo "perigo" ou "risco" para o Criador Nao
há dúvida, ser livre é grande perfeicáo, maior do que ser autó-
mato; e foi esta perfeicáo que Deus visou ao conceber o ho-
mem. Todavía, a liberdade de arbitrio criada, justamente por
ser criada, é falível, capaz de fraquejar na sua opcáo; represen
ta, pois, urna arma de dois gumes...
— 6 _
mem nao serviu a Deus). Nem todo sofrimento é conseqüéncia
de um pecado pessoal, mas reduz-se, em última análise, á deso
bediencia de Adáo.
— 7 —
fato fuma; o resultado contrario seria estranho, nao correspon
dería á idéia de liberdade de que goza cada qual dos passa-
geiros). ^
-8-1
do auténtico, é Deus, nao o homem (veja-se o que está dito a
S5££° d° *?ferno no fascículo «Pergunte e Responderemos"
qu. 5).
— 9 —
"A felicidade é apenas um soiho, e a dor é a reaüdade. Ha vinte e
quatro anos que o experimento. Nao sei tomar outra atitudte senfio a de
me resignar e dfcer que, assün como as moscas nasceram para ser consu
midas pelas aranhas, assim também os homens naeceram para ser devorados
pelo sofrimento".
II. DOGMÁTICA
I. M. H. (Rio de Janeiro):
— 10 —
quem transmitiu, os frutos produzidos pelo Evangelho na his
toria, etc.) ou ainda certificando-se, pela análisé dos termos,
propostos, de que os artigos de fé háo sao absurdos nem contra-
ditórios a razáo, mas antes plausíveis.
— 11 —
nhor, langou-se as aguas para Lhe ir ao encontró; e — coisa
inesperada — o mar o sustentou, permitindo-lhe caminhar
para Cristo. Pedro assumira o risco da fé, e tal risco era bem
sucedido... Quando, porém, se achava a meio-caminho, pós-se
a considerar o perigo que corría, mais do que a voz do Mestre;
em conseqüéncia, inspirado pela visao meramente natural das
coisas, concebeu médo e logo... comegou a afundar. Foi entao
que Jesús o tomou pela máo e disse: "Porque duvidaste, homem
de pouca fé?". A fé de Pedro conseguirá o que o cálculo huma
no veio a perder.
III. LITURGIA
— 12 —
duziram a S. Escritura e as preces da S. Missa para o eslavó-
nico, língua materna dos recém-convertidos! Alguns cristaos,
porém, duvidaram da liceidade desta praxe; alegando que o
título da cruz do Senhor fóra redigido em hebraico, grego e
latim apenas, concluiam que só estas tres línguas eram dignas
de louvar a Deus. Ao argumento respondeu em 880 o Papa
Joáo VIII:
— 13 —
No séc. 16, porém, o latim já nao era entendido senáo pelos
eruditos; principalmente os humanistas, á guisa de élite, o cul-
tivavam. Istolevou o rei Francisco I da Franca a decretar em
1536 que para o futuro todos os documentos oficiáis seriam
redigidos em francés; o latim, porém, continuou em uso ñas
Universidades, ñas casas dos eruditos e na Igreja.
Foi no mesmo século que os protestantes tentaram reme
diar á separagáo que havia entre a língua vulgar e a do culto,
propugnando a celebragáo da liturgia em vernáculo. Lutero, a
principio, hesitou bastante sobre o problema,'dada a forma-
gáo humanista de que estava imbuido; em 1923 publicou em
latim a "Formula Missae et Communionis pro Ecclesia Wittem-
bergensi"; em breve, porém, teve que ceder as tendencias dos
outros ps.-reformadores da Alemanha e da Suica (Zwingli, Cal-
vino), que desejavam total mudanga do culto.
14
a inovagáo propugnada nao logrou aceitacáo por parte da Igre-
ja. No séc. 15, os Valdenses (discípulos de Pedro Valdes). ten-
do-se unido aos tchecos Hussitas (seguidores de Joao Huss),
puseram-se também a apregoar a mudanc,a da língua do culto
sagrado; contudo esta tese era veiculada com um conjunto de
heresias, que so serviam para a desacreditar aos olhos da auto-
ridade eclesiástica.
Depois do solene pronunciamento do Concilio Tridentino,
o vernáculo foi de novo reivindicado para a liturgia, sempre,
porém, por correntes heréticas e como expressáo capciosa de
erros dogmáticos.
Tal foi, por exemplo, a atitude dos Jansenistas nos séc.
17/18; desejavam a celebragáo do culto em francés a fim de
propagar de maneira mais suave e penetrante idéias heréticas.
A artimanha désses inovadores chegava ao ponto de só pro-
pugnarem explícitamente a recitagáo do Canon (parte princi
pal) da Missa em voz alta; caso isto fósse praticado (uso que
parecía de todo inocente), esperavam que o povo em massa se
pronunciasse em favor do vernáculo na liturgia. Aconteceu
mesmo que em 1709 o Cónego Ledieu editou o "Missal Melden-
se" ou "deMeaux", com a seguinte particularidade: no Canon
da Missa as palavras da Consagrado eram seguidas do sinal
B./ (resposta) e de "Amen"; o mesmo "R/ Amen" se via no fim
de todas as preces do Canon que terminam em "Per Christum
Dominum Nostrum"; dando lugar explícito ás respostas dos
fiéis, o novo Missal coagia o celebrante a recitar o Canon em
voz alta.
— 15 —
da liturgia nao sómente nao sao proibidas, mas tém sido mais
e mais incentivadas pela autoridade da Igreja e multiplicadas
por teólogos e filólogos eminentes. Mantém-se, porém, o latim
como língua oficial da Liturgia Romana.
Éste breve esbóco histórico dá a ver que a adesáo fiel da
Santa Sé ao latim nao se deve a motivos dogmáticos, mas úni
camente á intengáo de preservar incontaminado o dogma ca
tólico, do qual a S. Liturgia é expressivo porta-voz. A historia
atesta um fato (contingente, nao há dúvida, mas real): os ino-
vadores da língua do santuario no Ocidente foram geralmente
corruptores da fé que se queriam servir da liturgia paira propa
gar o erro. Temendo éste perigo, a Santa Sé, do século 16 para
cá, renunciou ao costume de fazer coincidir o idioma do culto
com o idioma contemporáneamente falado pelo povo. O latim,
principalmente nos séc. 16/18, tornou-se a pedra de toque da
ortodoxia. Contudo pode muito bem dar-se que, urna vez cessa-
do o risco de heresia, as autoridades eclesiásticas adotem os
idiomas nacionais na liturgia. É, de resto, o aue era parte já
tem acontecido em diversos países, inclusive o Brasil: algumas
secgoes do ritual do batismo, do matrimonio e dos sacramen
táis sao ditas na língua local. Em 1920, por exempío, foi conce
dida aos católicos da Tcheco-Slováquia a celebragáo da S. Mis-
sa de certas festas em língua páleo-slávica; quanto ao idioma
vernáculo, é usado oficialmente na Tcheco-Slováquia e na
Franga por ocasiáo das Missóes solenes, para se cantar a epís
tola e o Evangelho depois que tenham sido cantados em latim.
Contudo, ao encerrar o Congresso Internacional de Litur
gia celebrado em Assis no mes de Setembro de 1956, o Santa
Padre Pió XII declarava:
"Serla supérfluo lembrar ainda urna vez que a Igreja tem graves motivos
para manter firmemente no rito latino a obrigacáo incondicional, para a
sacerdote celebrante, de usar a língua latina, e de desejar igualmente, quando
o canto gregoriano acompantoa o santo Sacrificio, que isto se faca na lin-
gua da Igreja" (o texto completo se pode encontrar na "Revista Eclesiástica
Brasileira" XVI [1956] 1004-1014).
— 16 —
imperiosa conveniencia que há em renovar, juntamente com o-
idioma da Liturgia, a fé, a formac.áo crista da sociedade con
temporánea. Aquéle empreendimento sem éste nada resolvería.
— 17 —
guém está obrigado a procriar (o preceito "Crescei e multipli-
cai-vos" se. dirige á especie humana, nao a todo e qualquer in
dividuo); aqueles, porém, que Deus chamou ao matrimonio-
sao muito especialmente incumbidos desta fungáo pelo Cria
dor, e déste recebem a graca necessária para satisfazer a tal
«encargo. Por conseguinte, nem o comodismo nem o egoísmo
covarde nem a vaidade seráo motivos válidos para que um
cónjuge ou um casal católico pense em "limitacáo de prole".
Admita-se, porém, que motivos reais existam para dissua-
dir a procriagáo; tais seriam débil saúde da esposa, perigo de
transmissáo de doencas, penuria de recursos financeiros, difi-
«uldades para educar a prole, etc. Em tais casos, os cónjuges
■católicos recorrem
a) ou á continencia total, que ao menos transitoriamente,
<em período de crise esporádica, poderá ser praticada sem gran
de dificuldade;
b) ou á continencia periódica, regrada segundo a tabela
de Ogino-Knaus ou conforme os métodos ainda mais recentes
de medicáo da temperatura ou da glicose. Ésses processos, in
dicando as fases em que a mulher é fecunda, possibilitam aos
«esposos escolher, para a realizacáo do ato matrimonial üni-
.camente os períodos de esteriiidade natural.
Com efeito, a partir de 1928 os médicos K. Ogino, japonés,
<e H. Knaus, austríaco, fizeram estudos que hoje em dia per-
ünitem calcular quais os dias de infecundidade da mulher. Ser- ■
Tóndo-se déste recurso por motivo serio, os cónjuges nao pe-
•cam, pois de modo nenhum mutilam a natureza para evitar a
prole (e nisto se diferenciam daqueles que separam da consu-
macáo do ato o prazer anexo a éste); praticam o comercio
sexual em pleno acordó com as leis do organismo, aproveitan-
do-se exclusivamente dos períodos de esteriiidade natural. Esta
•exclusividade nao lhes pode ser censurada desde que razoes
imperiosas o ditem; a Lei de Deus nao exige "nascimentos em
<quota máxima", nem "nascimentos sem discriminacáo".
O recurso á tabela de Ogino-Knaus foi, a principio, im
pugnado por alguns moralistas católicos que o julgavam "obra
de morte, derrogacáo ao preceito divino". Nao resta mais dú-
Tida, porém, a seu respeito, desde que o Santo Padre se pro-
nunciou numa alocucáo á Uniáo Católica Italiana das Partei-
ras em 29 de outubro de 1951. Eis oTtrecho que nos interessa:
"Podem os ídnjugos ser dispensados dessa obriga^áo positiva (de procelas)
anesmo por multo tempo, até mesmo pela duratáo inteira do matrimonio,
por motivos serlos, como os de índica?áo médica, eugénica, económica, social.
Honde se segué que a observancia das" épocas Infecundas pode ser lícita sob
<o aspecto moral, e, ñas condiedes indicadas, o é realmente. Entretanto, se
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consoante um juízo razoável e justo, nao há semelhantes motivos gravea,,
quer pessoais, quer decorrentes das circunstancias exteriores, a vontade, nos-
esposos, de evitarem habltualmente a fecundidade da sua uniao, embora
continúen» a satisfazer plenamente a sua sensualidade, só pode provir de
urna falsa apreciacáo da vida e de motivos estranhos ás regras da sá moral.
Contudo talvez insistáis agora, observando que, no exercíclo da vossa
profissáo, vos achais ás vézes diante de casos multo delicados, em que nao-
se pode exigir se corra o risco da maternidade e em que mesmo esta últi
ma deve ser absolutamente evitada, casos em que. p-r outro lado, a obser
vancia dos períodos agenésicos ou nao proporciona seguranza suficiente ou nao'
pode ser praticada por outros motivos E perguntais como é que entáo ainda
se pode falar de um apostolado a servico da maternidade.
Se segundo o vosso juizo, seguro e experiente, as condicóes requerem.
absolutamente um "nao", isto é, a exclusáo da maternidáde, seria um erro e
um mal impor ou aconselhar um "sim". De fato, trata-se aqui de fatos-
concretos e, por conseguinte, de urna questáo nao de teología, mas de medi
cina; ela é, pois, da vossa competencia... Mesmo nesses casos extremos-
toda manobra preventiva e todo atentado direto á vida e ao desenvolvi-
mento do germen sao proibidos em consciéncia e excluidos;... um só cami-
nho fica aberto: o da abstencáo de toda atividade completa da facuMade
natural. Ai o vosso apostolado obriga-vos a ter um juízo claro e seguro c uma
calma firmeza.
— 19 —
«as em que viviam os povos e propunha-se remediar ao mal
pela diminuicao do número de nascimentos; nao entendía,
porém, de modo nenhum o uso de meios anticoncepcionais
mas apenas a abstencao de relagóes sexuais anteriores ao casa
mento, a continencia por parte dos cónjuges que nao pudessem
gerar ou educar filhos sadios de corpo e alma'; Malthus chega-
va mesmo a aconselhar o celibato casto. O verdadeiro arauto e
sistematizador do controle de natividade é, antes, o filósofo e
matemático N. Caritat, marqués de Condorcet, fautor e depois
vituna da Revolucáo Francesa; a ele se deve a doutrinacáo con-
cernente ao emprégo dos meios anticoncepcionistas.
C. S. F. (Rio de Janeiro):
— 20 —
Éste nunca praticou senáo a inumagao. Até mesmo com
perigo de vida os antigos discípulos de Cristo' recolhiam os
restos moríais dos seus mártires para os sepultar. Os pagaos
por vézes se compraziam em violar os túmulos dos cristáos; em-
bora o pudessem evitar praticando a cremagáo, os fiéis nao ado-
tavam éste costume. Os perseguidores, em certas casos, manda-
vam mesmo queimar os cadáveres dos mártires e atirar suas
cinzas ás aguas ou aos ares, entendendo assim combater a fé
crista na ressurreigáo; ao que retrucavam os fiéis que nem por
ésse recurso ficaria coibida a Onipoténcia Divina, que prome-
teu ressuscitar os mortos.
Terminada a era antiga, Carlos Magno em 789 publicava
severa lei contra a cremagao ainda praticada esporádicamente
como reminiscencia do paganismo; ao transgressor seria im
posta a pena de morte.
Em plena Idade Media (séc. 13/14) tem-se noticia de cris
táos que faziam ferver os cadáveres em agua, principalmente
os de dignitários e nobres, a fim de separar carne e ossos e os
transportar mais cómodamente para a sepultura! Contra tal
uso, tachado pelo Papa Bonifacio VIII de "ímpio e cruel", a
Igreja reagiu punindo de excomunháo os que assim procedes-
sem (Extravag. com. 1. III, t. VI, Decretal." "Detestandae feri-
tatis").
Na Idade Moderna, representantes da Revolugáo France
sa, mediante urna petigáo apresentada ao Cónselho dos Qui-
nhentos no dia 21 do Brumário do ano V (11 de Novembro de
1796), tentaram implantar a cremagáo na Franca, sem encon
trar, porém, o devido apóio : Finalmente, a partir de fins do
século passado, a Magonaria, propugnando tal praxe, tem con
seguido o reconhecimento oficial da mesma por parte de
alguns governos. A campanha se abriu na Italia, onde Bru-
netti em 1872 fez algumas experiencias; em 1873 o Senado Ro
mano permitiu ás familias recorrer a tal rito. Em conseqüén-
cia, o primeiro caso de cremagao legal se registrou em Miláo
aos 22 de Janeiro de 1876. Por essa pcasiáo, fundaram-se em
Dresden, Zürich, Gotha, Londres e París, numerosas socieda
des que visavam propagar a praxe. O sucesso por elas obtido
explica a existencia, nos'nossos dias, de estabelecimentos e for-
nos crematorios na Europa, nos Estados Unidos e em outras
nágoes; contudo, fora do Japáo (onde a incineragáo parece
ser praticada sem repugnancia alguma por parte do povo), o
seu funcionamento é relativamente exiguo; os que desejam
ser incinerados ainda constituem urna excegáó.
— 21 —
E essa excegáo, por muito que se queira justificar, conti
nua sendo reprovada pela Igreja, a qual manda aos seus fiéis:
1) abstenham-se de mandar queimar os seus próprios ca
dáveres ou os de outras pessoas;
2) tenham por inválida a ordem de cremagao do próprio
cadáver expressa por outrem, quando ainda em vida;
3) os serventes e oficiáis subalternos nao colaborem em
cremagáo a nao ser que conste claramente que tal servigo, no
caso dado, nao significa reprovagáo da doutrina católica nem
profissáo de ideología acatólica;
4) nao déem seu nome a sociedades promotoras da inci-
neragáo.
Em particular, a respeito de membros (bragos, pernas,
etc.) amputados em intervengóes cirúrgicas, Religiosas que tra-
balhavam num hospital dos Estados Unidos da América, nao
sabendo como proceder, interrogaram a Santa 3é a propósito;
aos 3 de Agosto de 1897 receberam em resposta as seguintes
normas: seria desejável, ñas dependencias do hospital se reser-
vasse pequeño espago de térra, que, após a béngao do Ritual,
ficasse destinado a receber os membros extraídos de católicos;
caso, porém, esta praxe fósse difícil ou inexeqüivel, se confor-
massem aos costumes vigentes no lugar, ou sepultando em
térra profana ou, se os médicos o mandassem, recorrendo á
cremagáo.
E quais os motivos de tal atitude da Igreja?
Nao é própriamente o dogma, nem mesmo o da ressurrei-
gáo dos corpos, que a inspira; o cristáo sabe perfeitamente que
na ccnsumagáo dos tempos o Senhor poderá reconstituir o
corpo próprio a cada alma humana, independentemente da
sorte que tenha tocado ao cadáver.
Contudo a Igreja se deixa mover
1) pelo respeito á natureza. O senso cristáo reverencia as
obras de Deus; julga nao lhe ser lícito retocar o curso natural
das coisas instauradas pelo Criador; é esta urna norma geral
que se aplica ao caso da decomposigáo dos cadáveres e (com
muito mais preméncia ainda) a tudo que diz respeito á geragao
de novo ser humano;
2) pela consciéncia da dignidade sobrenatural do corpo
humano. O Filho de Deus, encarnando-se, tccou e santificou a
carne. Mais ainda: esta, pelo-batismó; é feita portadora de
Deus, templo da Santíssima Trindade; a Eucaristía a póe em
contato íntimo com o corpo santíssimo de Cristo. Sendo assim,
repugna espontáneamente ao cristáo tratar o corpo humano,
principalmente o corpo de quem pelo sacramento foi exertado
i'
— 22 —
no Cristo, como se trata urna porgáo de materia tornada inútil,
lancada ao lixo e destruida pelo fogo; a carne que* conforme
Santo Agostinho, "o Espirito Santo usou para toda obra boa"
(De cura pro mortuis gerenda 2), merece respeito, respeito que
os antigos já na pré-história tributavam aos seus mortos, em-
bora se inspirassem em motivos diferentes. Ó sepultamento ex
prime bem a fé na ressurreicao ou a idéia de que a morte é,
como diziam os antigos, um sonó; e o cemitério (koimetérion,
em grego), um dormitorio, onde os defuntos aguardam o dia de
despertar e ir ao encontró do Senhor. Se é com a morte que co-
meca a verdadeira vida, porque praticar com os cadáveres um
rito que insinúa a total dissolugáo do sujeito?
_ 23 —
to, ao contrario, sempre deixa margem a urna autopsia judi-
ciaria.
_ 25 —
adagio; o que é costumeiro perde o seu caráter interessante,
nem se nota mais; ao contrario, as novidades seduzem as mas-
sas, que pouco refletem. Nao é preciso, pois, que um católico
se inscreva na Legiáo da Boa Vontade para que tenha ocasiáo
de trabalhar em prol dos necessitados; torne-se, antes, um
católico de fibra, o qual nao se dá por satisfeito com rótulos
ou palavras apenas.
— 26 —
beneficencia, sao certos principios doutrinários (o que é a
vida, quem é o homeme qual o seu destino...); se os"preten
sos colaboradores nao sao todos iluminados pelas mesmas pro-
posigóes, assemelham-se a cegos que querem atingir em
comum o mesmo objetivo, atirando cada um conforme o seu
próprio parecer, arranjado ou improvisado. Que pode resultar
disso?
De resto, pelas afirmagoes da Legiáo da Boa Vontade ve-
rifica-se que esta sociedade nao se pode furtar a propor certas
idéias e combater outras; a tese da reencarnacao, por exemplo,
parece ser um de seus principios prediletos; e essa tese nos leva
para as regióes do espiritismo e do hinduísmo. Já se tem propa
lado mesmo que "Alziro Zarur é Elias redivivo"... talvez para
preparar o fim do mundo. Quantas idéias se váo assim incu-
tindo a quem. se chega a Legiáo da Boa Vontade! No mínimo,
o "legionario" irá formando em si um conceito relativo ou
cético de Verdade. E isto é tremendo, pois solapa totalmente o
ardor e a alegría. O homem possui tal grandeza de alma que
só se pode satisfazer dando-se Aquele que é o Absoluto; ora o
Absoluto é um só, tem urna só face, a qual fala nao sómente de
Amor, mas também de Verdade única, inconfundível.
— 27 —
Aquéle que pensa "dois e dois sao quatro", tendo a evidencia
de estar com a verdade, preferirá dispensar a colaborado dos
dois colegas, pois sabe que esta só poderá ser nociva, acarre-
tando falhas e vicios na obra. Alias, é o próprio bem comum
que pede que o engenheiro possuidor da verdade nao queira fa-
zer como se estivesse no erro. Quanto áquele que julga que "dois
e dois sao cinco", pelo fato de se achar no erro, nao estará se
guro na sua posigáo (o erro nunca é evidente por si mesmo);
por conseguinte, nao terá dificuldade em proceder como se
"dois e dois fóssem tres"; a fusao com as opinioes de outros
pode ser vantajosa para quem está no erro. É isto que nao se
dá com quem está na verdade; sabe que, para empreender urna
a?áo comum fecunda, deve haver entré os colaboradores con
cordia baseada sobre a VERDADE.
Tal caso explica bem a situagáo dos católicos perante a
chamada Legiao da Boa Vontade. Esta, por estar no erro (é de
fundo espirita ou meramente liberal), pode propor aos cató
licos, esquecam na prática as verdades que diferencian! o seu
credo dos outros credos e procedam como se nao pensassem de
outro modo... A Igreja responde que um tal nivelamento é
ilusorio; comprometería o sucesso da agao, pois o BEM está
fundado na VERDADE. Só aquéle que afirma "dois e dois sao
quatro" é capaz de conceber e executar urna ponte sólida; se
ele se comportar como se "dois e dois fóssem cinco" para satis-
fazer ao seu companheiro, ele deixará de ser amigo désse com-
panheiro e o Bem Comum protestará, porque será violado.
Assim se entende porque os católicos, embora amem (e
justamente porque amam) profundamente a qualquer protes
tante ou espirita, nao podem aceitar a "irmanacáo das reli-
gióes"; tém que afirmar a verdade inteira, sem dissimular o
que ela possa apresentar de alheio as crengas de outrem, por
que, do contrario, estariam pondo o candieiro debaixo da mesa
e prejudicando a todos. Sómente em pontos que nao impliquem
desdita aos grandes principios doutrinários da Verdade ( como
o combate ao materialismo e ao bolchevismo), pode haver ac.So
comum entre católicos e náo-católicos.
Ainda se deve notar quao confusa é a expressáo "religioes
irmanadas". Dá a entender que cada religiáo é produto do bom
senso de um povo ou de um grupo de homens e que cada indi
viduo escolhe a sua religiáo segundo a sua boa vontade. Longe
disto, porém, está a verdade.
"Religiáo" significa "ligagáo, intercambio entre Deus e os
homens". Neste intercambio é Deus quem tem a primazia,.
— 28 —
pois, por definigáo, Ele é o Senhor do homem. Por conseguinte,
é Deus quem dita o modo como a criatura O deve procurar e
atingir, é Deus quem revela a religiáo; nao toca aos homens a
tarefa de conceber a religiáo ideal. Ora, já que a religiáo é di-
tada por Deus, e Deus é um só para todos os homens, so pode
haver urna Religiáo; os outros cultos ou credos sao sistemas
humanos que nao merecem ser chamados "Religiáo", muito
menos irmanados com esta.
GAUCHO (Cachambi):
— 29 _
<dor de pó; faz excelentes pastéis, guisados e spaghetti; sabe costurar, bardar,
«te.; é. decoradora, nadadora e ciclista; nao fuma; danga com moderac&o;
nao tem interésse especial pelos automóveis; nao lé historias em quadrí-
nhos; está sempre de bom humor e goza de perfeita saúde".
D. Esteváo Bettencourt — O. S. B.
30 —
ERRATA
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