Seminario V - Irpf e Irrf

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Seminario V Imposto sobre a renda pessoa fsica e regime de fonte Thiago Mendes Lino Barbosa

1. Compor a regra-matriz de incidncia de imposto sobre a renda pessoa fsica? A regra matriz de incidncia pode ser sumarizada: Antecedente Criterio Material: segundo o art. 43 do CTN (auferir renda) e o art. 2 do RIR/99 (titulares de disponibilidade econmica ou jurdica) ensejam a tributao do IRPF. Critrio Espacial: territrio brasileiro; residentes ou domiciliados no exterior (art. 3 do RIR/99) Critrio Temporal: momento da disponibilizao do acrscimo patrimonial (2 do art. 2 RIR/99) 2. Discorrer sobre a sujeio do imposto sobre a renda aos princpios da generalidade, universalidade e progressividade e a relevncia dos aludidos princpios na conformao da regra-matriz de incidncia desse imposto O princpio da generalidade implica na aplicao para todos os rendimentos independentemente da denominao. Todos devem ser tributados pelo imposto de renda, evitando assim segregaes e sonegao. A universalidade do imposto de renda abrange todas os contribuintes, independentemente de classes sociais, evitando os chamados privilgios tributrios. Por fim, a progressividade, opera na questo da seletividade, indicando os contribuintes com maior poder econmico para arcar com maior nus do imposto sobre a renda. Isso no fere a universalidade, j que, o imposto no deixou de abranger algum contribuinte, apenas separou-os em faixas de renda para a aplicao de diferenciais de alquota. 3. Existe identidade entre o IR fonte e o IR anual ou trata-se de impostos autnomos (isto , h apenas uma ou mais de uma regra-matriz de incidncia tributria)? Seria a reteno na fonte mero objeto de dever instrumental? Justifique a resposta. O IR fonte e o IR anual no so impostos autnomos. Ambos possuem intrinsecamente um vnculo obrigacional entre sujeito ativo e sujeito passivo de mesmo contedo institudo no art. 43 do CTN. No entanto, o IR fonte possui dentro Consequente Critrio Pessoal: 1. Sujeito Ativo: Fisco 2. Sujeito Passivo: Pessoa Fsica que auferir renda (ausente dos critrios de de dispensa da declarao anual) Base de clculo: valor da renda ou rendimento auferido Alquota: tabela progressiva (extrafiscalidade)

de sua regra-matriz caractersticas previstas por norma geral e abstrata distinta do IR anual, uma vez que o sujeito passivo da obrigao desdobra-se na fonte pagadora dos rendimentos. No meu entender, contudo, isso no torna o IR-fonte em uma outra categoria de imposto de renda, com hiptese de incidncia particular. Nesse sentido, o sujeito passivo encontrar-se-ia no antecedente da regra-matriz e no mais no consequente, j que, a responsabilidade pelo recolhimento no da pessoa fsica ou jurdica que, de fato, auferiu a renda. Em segundo, por si s, o fato do IR fonte no ser autnomo, to pouco o qualifica como mero dever instrumental de recolhimento da fonte pagadora. Isso porque o IR fonte est previsto em norma geral e abstrata, com a nuance de alterao da regra-matriz de incidncia tributria, cujo objetivo era facilitar a operacionalizao do Fisco no momento do recolhimento do tributo. Nesse sentido, o IR fonte no mero dever instrumental, cuja caracterstica a previso em norma individual e concreta, ao contrrio, o IR fonte um desdobramento do IR anual, mas no acessrio do principal, nos dizeres do art. 59 do Cdigo Civil. 4. Conceituar renda e proventos de qualquer natureza. O conceito de renda encontra-se definido constitucionalmente? Em quais enunciados? No h definio constitucional de renda, coube legislao infraconstitucional, encabeada pelo CTN a definio de renda. No entanto, o CTN e outros dispositivos infraconstitucionais bebem diretamente do Texto Maior, isso porque, a regra-matriz de incidncia dos tributos sobre a renda est contida no texto constitucional. Isto exposto, o conceito de renda, mesmo que implcito na constituio guarda relao com os princpios constitucionais explcitos como os da igualdade, legalidade, irretroatividade, pessoalidade, capacidade contributiva. Nesse sentido, no h hierarquia entre os princpios e os dispositivos legais implcitos. Isso o que mostra:
Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimnio, renda ou servios, uns dos outros; c) patrimnio, renda ou servios dos partidos polticos, inclusive suas fundaes, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituies de educao e de assistncia social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; Art. 153. Compete Unio instituir impostos sobre: III - renda e proventos de qualquer natureza;

Da leitura desses artigos, conclumos que o conceito de renda est atrelado ao conceito de patrimnio e proventos de qualquer natureza. Isto , a partir desses conceitos o legislador infraconstitucional pode construir normas jurdicas mais analticas sem, no entanto, fugir daquilo que o constituinte originrio definiu implicitamente.

Apesar de no ser explcito, o direito claramente poderia buscar de outras cincias a definio da renda. Renda, na teoria econmica, advm de duas fontes inequivocamente, o produto do trabalho ou o produto do capital. Segundo alguns economistas, a renda seria a soma algbrica da renda consumida e da renda poupada, decorrente dos valores monetrios acrescidos em seu patrimnio. 5. Diferena os conceitos de aquisio da disponibilidade jurdica e aquisio de disponibilidade econmica. Verbas indenizatrias podem ser consideradas renda. Por qu? (Anexo I) O CTN trata disponibilidade econmica ou jurdica como hiptese de incidncia do imposto de renda, portanto, a distino dos conceitos no exime alguma situao da incidncia do imposto sobre a renda. Isto exposto segue o art. 43 in verbis:
Art. 43. O imposto, de competncia da Unio, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acrscimos patrimoniais no compreendidos no inciso anterior.

A disponibilidade econmica resultante do acrscimo patrimonial que ocorre para a pessoa fsica ou jurdica no perodo de competncia em que ocorreu os fatos econmicos. A disponibilidade jurdica o poder decisrio sobre determinado volume monetrio, j tratado como renda acrscimo patrimonial e o direito sobre ele. Independe de possibilitar a aplicao dessa renda para fins financeiros. Muitas vezes apenas o direito sobre determinada renda, e no o usufruto dela j pressupe a disponibilidade jurdica. A jurisprudncia do STJ afasta a incidncia do Imposto de Renda sobre verbas indenizatrias, por ser mera reposio de patrimnio e no caracterizar portanto, acrscimo patrimonial. 6. Sinais exteriores de riqueza (art. 6 da lei 8.021/90) e os depsitos bancrios no contabilizados (art. 42 da lei 9430/96) podem ser validamente considerados renda para fins de lanamento do imposto? Sim. So fatos presumidos de jure previstos na legislao. O rendimento arbitrado usando do expediente da renda presumida. Lei n 8.021/90
Art. 6 O lanamento de ofcio, alm dos casos j especificados em lei, far-se- arbitrando-se os rendimentos com base na renda presumida, mediante utilizao dos sinais exteriores de riqueza.

1 Considera-se sinal exterior de riqueza a realizao de gastos incompatveis com a renda disponvel do contribuinte.

Lei n 9.430/96
Art. 42. Caracterizam-se tambm omisso de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depsito ou de investimento mantida junto a instituio financeira, em relao aos quais o titular, pessoa fsica ou jurdica, regularmente intimado, no comprove, mediante documentao hbil e idnea, a origem dos recursos utilizados nessas operaes.

Cabe, no entanto, ressaltar que neste ltimo caso o que se presume no renda, mas to-somente receita. No possvel averiguar os custos intrnsecos captao da receita, e portanto, determinar o lucro (renda) da operao.

7. A atual tabela progressiva do imposto sobre a renda da pessoa fsica prev alquotas de 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%. Tal previso observa o princpio da progressividade? Qual o efeito da chamada parcela a deduzir? A tabela progressiva um dispositivo que tem a precpua funo de aplicar o princpio da progressividade efetivamente. Estabelecer faixas de renda usando o critrio objetivo de alquotas progressivas tambm um instrumento de extrafiscalidade, no sentido de promover uma melhor distribuio de renda tributando mais pesadamente os ricos. A parcela a deduzir evita que seja tributado a renda da faixa anterior a do salrio alquota mais alta. Quanto maior a alquota cobrada faixa salarial, maior ser a parcela a deduzir, isso porque, o contribuinte s paga, por exemplo, 27,5% sobre a base salarial que ultrapassar o limite da faixa anterior, no caso de 22,5%. Ou seja, cada pedao do salrio ser tributado alquota respectiva. O clculo complexo e para evitar problemas operacionais, fez-se uma mdia das faixas salarias e institui-se a parcela a deduzir. Isso exposto fica evidente a funo progressiva do procedimento. Ao se atribuir a cada valor sua respectiva faixa de alquota e evitando que aumentos de renda e o fato de se pular uma faixa enseje um valor lquido de imposto de renda a pagar, maior do que o aumento de renda efetivo. 8. Um prestador de servios, pessoa fsica, segrega, em suas cobranas encaminhadas aos clientes, os honorrios devidos e as despesas a serem reembolsadas (quilometragem, secretaria, despesas com material de escritrio, etc.) Oferece apenas os honorrios a tributao. notificado, pelo Fisco, a recolher imposto sobre o valor recebido a ttulo de reembolso de despesas. Est correto o procedimento do Fisco? Primeiramente, a maioria dos servios prestados cuja fonte pagadora pessoa jurdica existe a figura da reteno na fonte. Nesse caso, a depender da faixa da tabela progressiva que o contribuinte pessoa fsica estiver, haver imposto de renda a pagar ou a restituir.

Um segundo caso quando o tomador de servios pessoa fsica e nesse caso no a necessidade de reteno na fonte do imposto de renda. A hiptese de incidncia no critrio material do imposto de renda auferir renda, no entanto, renda no se confunde com lucro, apesar de ser, grosso modo, a interpretao mais usual. No caso da renda auferida com a prestao de servios no h como prever os custos incorridos, muitas vezes, o pagamento j ocorreu, ou ser pago em parcelas, e o servio ainda no foi prestado. Nesses casos, pelo princpio da operacionalidade no h como presumir os custos e despesas do servio, mesmo quando o contribuinte, destaca no contrato, os reembolsos de despesas a serem pagos. O Fisco, portanto, tributa nesse caso a receita, baseado no arbitramento dos custos e despesas e correto nesse procedimento. 9. A legislao ordinria federal tem promovido sucessivas redues nas espcies de dedues e abatimentos cabveis para fins de apurao da renda lquida tributvel das pessoas fsicas. Ao lado disso, tem estabelecido limites cada vez mais estreitos para as dedues e abatimentos. Pergunta-se: H parmetros constitucionais ou legais para a fixao dos abatimentos e dedues possveis e seus respectivos limites? Em caso afirmativo, quais seriam? Sim. H parmetros, sobretudo, a capacidade contributiva e o princpio da progressividade. As dedues e abatimentos da RFB para as pessoas fsicas tornaram-se estreitos pelo mal uso do expediente pelos contribuintes. As dedues, como gastos escolares e mdicos, tem um carter de abranger apenas contribuintes das classes altas e, portanto, a limitao dessas dedues beneficiariam essa classe social. As classes sociais mais baixas, no incorreriam nesse tipo de despesa, pois usam o sistema pblico de educao e sade. Essa realidade social, contudo, no mais verdadeira no Brasil atual. A capacidade contributiva e a progressividade para essas medidas como parmetros constitucionais para o estreitamento das dedues, apesar de existirem, deixaram de ter eficcia social e aplicabilidade prtica. 10. Analise os efeitos jurdicos inerentes ao contribuinte e fonte pagadora em cada um dos casos abaixo arrolados. Reteno/Fonte Recolhimento Fonte Declarao do (EMPRESA) (EMPRESA) rendimento no ajuste-anual entregue pelo contribuinte (funcionrio) em 30 de abril (FUNCIONRIO) Caso 1 Retm Recolhe Declara rendimento e reteno

Caso 2

Retm

Recolhe

No declara rendimento nem reteno Declara rendimento e reteno No declara rendimento nem reteno Declara rendimento e reteno No declara rendimento nem reteno Declara rendimento e reteno No declara rendimento nem reteno

Caso 3 Caso 4

Retm

No recolhe

Retm

No recolhe

Caso 5 Caso 6

No retm

Recolhe

No retm

Recolhe

Caso 7 Caso 8

No retm

No recolhe

No retm

No recolhe

Caso 1: o caso em que todas as obrigaes tributrias, principal e acessria, foram cumpridas. A obrigao tributria conforme previsto (no nico do art. 45 do CTN) foi adimplida e devidamente retida do contribuinte que recebeu valor lquido e declarou na declarao de ajuste anual, podendo, a depender das dedues a ter direito a restituio de imposto de renda. Alm da reteno o adimplemento do IR fonte foi cumprido pela empresa em DARF, portanto, quando se cruzar a declarao do contribuinte com a DIRF da fonte pagadora, a RFB no ter problemas em validar as informaes na declarao do contribuinte. Caso 2: Quando o contribuinte no declara rendimento, ressalvada a hiptese de que ele no se enquadrou no limite de rendimento anual para a obrigatoriedade da entrega da declarao, os efeitos jurdicos dar-se-o em uma provvel fiscalizao do contribuinte pela RFB. Isso porque, quando a empresa, fonte pagadora, declarar em DIRF suas retenes e declarar no CAGED sua folha de pagamento, o confronto com a declarao de rendimentos do contribuinte ensejar ateno por parte das autoridades fiscais. Caso 3: A empresa, fonte pagadora, nesse caso, incorreu em crime. Houve apropriao indbita do imposto pago pelo contribuinte, o qual, ela apenas tinha o dever da reteno e respectivo recolhimento. O valor informado na DIRF no cruzar com os DARFs recolhidos pela empresa. Quando o contribuinte declarar o imposto de renda devido anualmente, a RFB pode no validar uma possvel restituio, pois os recolhimentos das retenes no

foram feitos. Contudo, a empresa pode se valer do pagamento do imposto sobre a renda do contribuinte para provar o adimplemento do imposto e eximirse da culpabilidade penal. A legislao, contudo, dispe que caber a ela a multa e juros pelo no cumprimento da obrigao dever instrumental no prazo. Caso 4: A empresa, da mesma forma que no caso 3, pratica apropriao indbita de imposto do contribuinte. No entanto, do lado do contribuinte no haver restituio de imposto de renda, pois o contribuinte omitiu seus rendimentos na declarao anual (provavelmente quando acredita que no haver restituio de IR). O fato gerador do tributo, o rendimento, aconteceu e pode ser percebido pela DIRF da fonte pagadora. A empresa ser responsabilizada penalmente, pois cometeu crime contra a ordem tributria, e o contribuinte no cumpriu com o adimplemento do imposto em sua declarao. Caso 5: Neste caso haver um problema de informaes discrepantes entre a DIRF da fonte pagadora e a declarao do contribuinte. Houve um problema de base de clculo pois o rendimento do contribuinte declarado liquido. J o pago pela empresa e recolhido, foi pelo bruto. A empresa dever refazer o clculo tendo em vista que no reteve o IR fonte e o contribuinte declarou o valor do rendimento lquido e a empresa dever recolher pelo valor do rendimento bruto. O resultado desse reclculo em bases maiores torna a fonte pagadora o contribuinte de fato do IR. Caso 6: Assim como no caso 5, o contribuinte no foi o contribuinte de fato da relao jurdica, apesar dele ser efetivamente o sujeito passivo da obrigao tributria. Ao no prestar informaes de rendimentos, na declarao de ajuste anual, o cruzamento das informaes na RFB causar problemas para o contribuinte. A RFB no ter subsdios para exigir o reclculo pelo valor bruto do rendimento. Ademais, caso na declarao no caiba restituio, o contribuinte estar em um caso de sonegao. Caso 7: O contribuinte declarar o que no foi pago remonta ao caso 3, no qual, houve apropriao indbita do IR devido pelo contribuinte. Como no caso 3, a empresa o contribuinte ao declarar que houve a reteno ter problemas na declarao pois o IR no foi recolhido e no ter direito a restituio. Contudo, nesse caso h um agravante pois, no houve nem a reteno, ou seja, a base de clculo do IR fonte no ser oriunda do lquido salarial, mas do bruto e o contribuinte incorrer em multa, em uma eventual fiscalizao pela RFB. Caso 8: Nesse caso, houve sonegao, pois foi desconsiderado a hiptese de incidncia. Em uma eventual fiscalizao da RFB, baseada no patrimnio e nos sinais exteriores de riqueza apresentado pelo contribuinte ser constatado a omisso da hiptese de incidncia e do rendimento, sendo aplicado para empresa e contribuinte, multa.

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