Literatura Portuguesa
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Ismael Dantas
[11] 8517-1911
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[email protected]
twitter. com/profismael
Gil Vicente
O Teatro Popular......................................................................................................... 02
Gil Vicente................................................................................................................. 02
Julgamento Crtico.................................................................................................... 03
Resumo sucinto da obra Vicentina:........................................................................ 05
Farsa de Ins Pereira ................................................................................................. 05
Auto da ndia .............................................................................................................. 18
Auto da Alma .............................................................................................................. 25
Auto da Barca do Inferno ............................................................................................ 35
Auto da Feira .............................................................................................................. 43
Farsa do Velho da Horta...............................................................................................53
Auto da Lusitnia ....................................................................................................... 60
Auto de Mofina Mendes ..............................................................................................65
Romagem de Agravados ........................................................................................... 67
O Juiz da Beira.............................................................................................................70
Quem tem Farelos?.....................................................................................................73
Textos Complementares acerca do Teatro Vicentino:............................................76
Teatro pr-vicentino.....................................................................................................76
A vida de Gil Vicente .................................................................................................. 77
Gil Vicente, a Idade Mdia e o Renascimento........................................................... 79
Crtica Social ............................................................................................................ 80
Trilogia das Barcas ..................................................................................................... 84
A Stira Social em Gil Vicente.................................................................................... 87
Caractersticas da obra vicentina................................................................................ 89
Gil Vicente, um dos escritores mais notveis do Quinhentismo Portugus............... 90
O Teatro ..................................................................................................................... 91
Atividades................................................................................................................... 95.
Fonte de Consulta ...................................................................................................100
O Teatro Popular
Teatro Popular - Durante a Idade Mdia, a atividade
teatral em Portugal se resumiu aos momos, arremedilhos e
entremezes, breves representaes de carter religioso,
satrico ou burlesco. Teatro de ndole popular, caracterizava-se
por uma linguagem, temas e forma de encenao acessveis
ao povo, e s vezes com a sua direta participao. Na origem,
constitua o teatro profano, oposto aos mistrios e milagres,
manifestaes do teatro religioso ento predominante.
(Massaud Moiss, in Literatura Portuguesa atravs dos
textos).
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Gil Vicente
Dramaturgo portugus que viveu pelos fins do sculo XV (Guimares -1465? /
Lisboa? 1536). considerado criador do Teatro Portugus pela apresentao, em 1502,
com o Monlogo do Vaqueiro (tambm conhecido como Auto da Visitao). A obra
teatral de Gil Vicente faz parte da primitiva dramaturgia pennsula, ao lado do espanhol
Juan Del Encina. Parte considervel de sua obra est escrita em lngua castelhana, a
comear por sua primeira obra, o Monlogo do Vaqueiro (1502). Gil Vicente
considero pela crtica literria a maior figura da literatura renascentista portuguesa antes
de Lus Vaz de Cames.
H dois aspectos na stira de Gil Vicente: divertir
o pblico e redimir o ser humano, conforme o lema da
comdia antiga: ridendo castigat mores (rindo, corrige os
costumes). Alguns dos seus versos valem apenas como
aforismo. Confira: Mais quero asno que me leve que
cavalo que me derrube. (Harold Ramanzini, in
Literatura Gramtica e Criatividade)
Posted by Dantas
Julgamento Crtico
De Jos Maria DAndrade Ferreira (Gil Vicente - Nossos Clssicos, vol. 105):
Gil Vicente, reagindo contra a presso clssica, funda o teatro nacional, em que o
esprito da stira zomba dos dois grandes poderes do tempo, da fidalguia e do clero,
diante do prprio rei e de sua corte. (...)
O seu teatro, como expresso literria, o espelho daqueles tempos, e os reinados
de Dom Manuel e Dom Joo III, refletem-se cheios de vida mais genuinamente em todas
as suas cenas do que nas crnicas de Garcia de Resende. A originalidade, que os
infamadores coevos tentaram negar-lhe,
o mais poderoso dote do seu talento. (...) Os chistes de que ele apimenta as falas de seus
personagens, a inteno moral que ele pe nas suas criaes, so resultados fecundos
de seus dotes criadores.
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De Carolina Michalis de Vasconcelos (Gil Vicente - Nossos Clssicos, vol. 105):
J enunciei, diversas vezes, a tese que Gil Vicente, otimamente dotado pela
natureza, vido de aprender, apto a configurar, lendo o que antes e depois de 1502 lhe
era acessvel, e tirando a cada leitura elementos para
a sua educao espiritual, se compenetrara, necessariamente, na infncia e na
mocidade, de ideias medievais, adotando uma concepo escolstica de filosofia
teologante ou teologia filosofante. Colocado nos umbrais do tempo moderno podia ser
infludo todavia na idade viril pelas correntes caudalosas das ideaes do Renascimento.
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De Fidelino Figueiredo (Gil Vicente - Nossos Clssicos, vol. 105):
... enquanto o teatro clssico ia caminhado para a concentrao dos seus efeitos
emotivos pela pratica rigorosa da disciplina das unidades de ao, de tempo e de lugar,
de limitao do nmero de personagens, de eliminao de todos os elementos
antidramticos e de unificao ou homogeneidade do seu tom o auto de Gil Vicente
caminhava para ampliao dos seus temas, para o aumento da populao do palco, para
uma durao cada vez maior da ao, no da representao, e para a mais audaciosa
justaposio dos lugares.
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De Hernani Cidade (Gil Vicente - Nossos Clssicos, vol. 105):
O que a sua obra patenteia que era homem de bem extraordinrios talentos,
altos e vrios. Ao que se depreende das cartas de D. Manuel que lhe dizem respeito, era
ele a um tempo cengrafo e msico, dramaturgo e poeta-poeta, sobretudo. (...)
Interessa em Gil Vicente o artista que soube surpreender todo o pinturesco do
espetculo da vida; o psiclogo atento intimidade das almas; o poeta capaz de
profundamente sentir e sugestivamente comunicar os sentimentos e as ideias de mais
ntima e funda ressonncia: o homem, finalmente, no mais compreensivo sentido da
palavra, em simpatia comunho com os seus contemporneos, cujas aspiraes,
entusiasmos, ideias encontram na sua obra, no apenas o eco ntido, seno tambm a
lcida conscincia diretiva.
De I.S. Rvah (Gil Vicente - Nossos Clssicos, vol. 105):
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De S. Spina (Presena da Literatura Portuguesa Era Medieval):
A sua autonomia intelectual, a ortodoxia das suas ideias religiosas e a coragem
expressa no seu teatro de crtica social, explicam o parentesco do seu iderio com o
pensamento reformista do tempo; explicam, tambm o prestgio de que gozou na corte,
onde a proteo da Rainha Velha D. Leonor, viva de D. Joo II, e logo a seguir a do
prprio rei D. Joo III, mantiveram o esplendor do teatro vicentino durante 34 anos.
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De Antnio Jos Saraiva (Histria da Cultura em Portugal vol. II Gil Vicente - Reflexo da
Crise):
Gil Vicente no faz mais do que glosar o Bem-aventurados os pobres de
esprito, porque deles o reino dos cus do Sermo da Montanha. Mas esta frase
evanglica, repelida mecanicamente por outros, parece ter nele um contedo substancial.
Ora esta utopia dos simples e ignorantes, que imaginam o Cu como uma serra farta de
gado, que no sabem rezar, que desejam aos anjos, como recompensa, um bom
casamento, em talvez algum significado. Pelo menos acentua o carter negativo da
ideologia vicentina na medida em que se ope a um mundo real de mercadores, senhores
feudais e pregadores eruditos. Aqueles que nada tm, nem terra, nem sabedoria, nem
arte de viver, so os perfeitos, esto porta do paraso e deles o reino dos cus. Uma
espcie de idade de ouro sonhada por Gil Vicente no mundo pastoril.
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De Antnio Jos Saraiva (Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval):
Gil Vicente no pode ser considerado independentemente, como um autor sem
antecedentes, um fenmeno miraculoso. Considera-o tambm um inovador que
transformou os antigos momos do Pao em comdias e tragicomdias.
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NOTAS:
coevo [] coetneo. (Coetneo que vive ou viveu na mesma poca.)
chiste dito gracioso; pilhria.
vido - que deseja com nsia, com ardor.
ideao ato ou efeito de idear; formao de ideias; idealizao.
escolstico escolar; modesto; despretensioso; relativo escolstica; diz-se do mtodo das escolas
medievais.
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A passagem que se vai ler corresponde ao delicioso dilogo em que Pero Marque
vem pedir a m de Ins em casamento.
Chega Pero Marques aonde elas esto, e diz:
Me
Pro
Ins
Me
Pero
Me
Pero
Ins
Pero
Ins
Pero
Ins
Pero
Ins
Pero
Ins
Pero
Ins
Pero
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NOTAS:
31)Pero Marques pergunta qual preo duma cadeira destas.
32)erus: herdeiros.
33)morgado: filho primognito, herdeiro por excelncia dos bens vinculados.
34)Refere-se s ltimas peras da planta.
35)Isto : segure a, Ins.
36)peias: arreios do animal (que Pero Marques levou consigo para a casa de Ins).
37)capelo: chapu.
38)chentadas: metidas.
39)canteu: quanto a mim.
40)homem de recado: prudente.
41)Entenda-se: ainda que eu seja homem estourado, no vos aborrecerei mais.
42)Isto : assim so vocs, mulheres!
43)escarnefucham: zombam.
44)Entenda-se: supnhamos que algum aparea
45)arrai: fechai.
46)siquais: quem sabe, oxal.
(*)SPINA, Segismundo. (Org.). Obras-primas do teatro vicentino. So Paulo: Difel, 1983. p.171-174
Personagens
Tipos
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Ins
Pero Marques
Me
Lianor Vaz
Familiar, descontrolada,
eptetos.
Personagens
Tipos
Escudeiro
Lato e Vidal
Moo do Escudeiro
Ermito
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Monologada, galante,
irnica, eptetos.
Mentirosos, desleal,
preguioso, ambicioso,
vaidoso, cauteloso,
gabarola, gracejador.
Atabalhoada, trocadilhos,
convincente, desconexa,
exclamativa, interrogativa.
Interesseiros, mentirosos,
casamenteiros, fingidos,
artificiosos.
Refilona, revoltada.
Ambgua, castelhana,
galante, persuasiva.
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Lianor Vaz no chega a ser o tipo perfeito das alcoviteiras. Ela no pretende
lucros ao arranjar o casamento para Ins. F-lo por amizade. Bem diferente das
verdadeiras alcoviteiras de Gil Vicente-Brizida Vaz, por exemplo, ou Ana Dias e Branca
Gil. Estas mulheres gozavam de grande prestigio na sociedade do tempo.
Em oposio a Lianor Vaz temos os Judeus casamenteiros que operam por
interesse. Eram igualmente bem conceituados e emprestavam dinheiro a juros.
So, pois, estes, os breves apontamentos que colhemos quanto stira social na
Farsa de Ins Pereira. (Maria Amlia Ortiz da Fonseca, in Gil Vicente Farsa de Ins
Pereira).
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NOTAS:
lide lida; canseira; combate.
campnio campons. [Campnio port. Do Brasil]
boal estpido,ignorante, rude, grosseiro.
corteso homem que freqenta a corte. Home de maneiras distintas e amveis.
sevassido - qualidade ou conduta de devasso; libertinagem. Desregramento de costumes.
clrigo pessoa que recebeu ordens sacras.
camisa pea de vesturio feminino para dormir. [Camisola - Brasil]
alferes [] antigo posto do exercito brasileiro correspondente ao atual segundotenente.
coadunar - conformar(-se), combinar-(se), harmonizar-se).
tanger - tocar (instrumento musical). Tocar (gado).
garridice qualidade do que garrido; elegncia.
roto [] - que se rompeu; feito em pedaos; quebrado.
algoz [ ou ] carrasco. Pessoa cruel, desumana.
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ESTUDO DO TEXTO
Farsa de Ins Pereira (Leia a pea na integra)
01) Provo - 2002
Como seca a velhice!
Leixai-me ouvir e folgar,
que no me hei-de contentar
de casar com parvoce.
A protagonista de Ins Pereira profere as palavras acima pa-ra justificar me a deciso
de no se casar com Pero Marques. Nas cenas finais, j viva do escudeiro autoritrio
com quem escolhera casar, a personagem decide aceitar o antigo pretendente, que lhe
parece talhado para ser marido trado. Com essa trajetria da personagem, Gil Vicente
comprova a mxima popular que tomada como mote de seu texto: mais quero asno que
me leve que cavalo que me derrube.
As consideraes acima, associadas ao contexto da obra, permitem a afirmao correta
de que o autor
(A) produziu a reviravolta no enredo da farsa humanstica como manobra para garantir a
dignidade da herona,representante dos valores sociais que emergiam.
(B) fez a protagonista viver a tragdia da inocncia, e sua humilhao final mostra a
impossibilidade da preservao do pretendido registro idealista.
(C) escolheu o gnero que lhe permitisse tratar o amor e a estrutura social como foras
fatalisticamente irreconciliveis, impondo o banimento da herona do grupo social a que
pertence.
(D)) se preocupou, como usual no gnero escolhido, em mostrar que a herona se
ajustou a uma nova situao e sociedade como um todo, recurso que permitiu a Gil
Vicente evidenciar a hipocrisia de seu tempo.
(E) deu farsa o tratamento tpico da tragdia a herona ao vencer uma srie de provas
desafia o destino recurso escolhido para criticar, pelo riso, costumes de seu tempo.
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04)Aponte a dicotomia entre Lianor Vaz e os Judeus casamenteiros
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05)Estabelea a anttese entre Ins e a Me.
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07)O dilogo final entre marido e mulher bastante elucidativo. Como Gil Vicente retrata
esse dilogo?
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08) Indique a diferena entre Pro Marques e o Escudeiro.
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09)Para responder questo, leia os versos seguintes, da famosa Farsa de Ins Pereira,
escrita por Gil Vicente:
Andar! Pero Marques seja!
Quero tomar por esposo
quem se tenha por ditoso
de cada vez que me veja.
Meu desejo eu retempero:
asno que me leve quero,
no cavalo valento:
antes lebre que leo,
antes lavrador que Nero.
Sobre a Farsa de Ins Pereira, correto afirmar que um texto de natureza:
(A) satrica, pertencente ao Humanismo portugus, em que se ridiculariza a ascenso
social de Ins Pereira por meio de um casamento de convenincias.
(B) didtico-moralizante, do Barroco portugus, no qual as contradies humanas entre a
vida terrena e a espiritual so apresentadas a partir dos casamentos complicados de Ins
Pereira.
(C) religiosa, pertencente ao Renascimento portugus, no qual se delineia o papel
moralizante, com vistas transformao do homem, a partir das situaes embaraosas
vividas por Ins Pereira.
(D) reformadora, do Renascimento portugus, com forte apelo religioso, pois se apresenta
a religio como forma de orientar e salvar as pessoas pecadoras.
(E) cmica, pertencente ao Humanismo portugus, no qual Gil Vicente, de forma sutil e
irnica, critica a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores essencialmente
materialistas.
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11)Em Farsa de Ins Pereira (1523), Gil Vicente apresenta uma donzela casadoura que
se lamenta das canseiras do trabalho domstico e imagina casar-se com um homem
discreto e elegante. O trecho a seguir a fala de Lato, um dos judeus que foi em busca
do marido ideal para Ins, dirigindo-se a ela:
"Foi a coisa de maneira,
tal frira e tal canseira,
que trago as tripas maadas;
assim me fadem boas fadas
que me soltou caganeira...
para vossa merc ver
o que nos encomendou."
frira: frieza, estado de quem est frio
maadas: surradas
fadem: predizem
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Auto da ndia
O Auto da ndia a primeira farsa de Gil
Vicente, representada em 1509 perante a Rainha
D. Leonor, viva de D. Joo II. A tentativa foi
magistralmente lograda. O poeta-ourives tomou
como tema um aspecto marginal da histria da
expanso portuguesa no Ultramar: a sua
repercusso na fidelidade conjugal. A herona do
auto aproveita a ausncia do marido (que
embarcou para a ndia) para se divertir. O que a
pe em situao embaraosa a presena
simultnea, na sua casa, de dois admiradores,
Lemos e o Castelhano fanfarro. O auto termina
com a chegada do marido, a quem a herona
descreve, de modo bem diferente da realidade, a
vida que levara na sua ausncia. (1)
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Muito embora a obra se apresente como uma pea num s ato, maneira da
poca, ela mostra nitidamente a existncia de partes. Assim, podemos ver nela trs
momentos:
1) A expectativa da partida Revela-se a toda a ansiedade da Ama e apreenso
pela demora do embarque.
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2) O adultrio Longe do marido, Constana deixa-se conquistar facilmente por
um castelhano e antigo pretendente, chamado Lemos.
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3) O regresso do marido Aproxima-se o termo da viagem e o simples anncio do
regresso do marido perturba a Ama. A chegada provoca nela certo desespero; no entanto,
disfara, alude a promessas feitas, aflio vivida durante a ausncia e at falta de
apetite.
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Entram nela estas figuras: Ama, Moa, Castelhano, Lemos, Marido. (2)
Moa
Ama
Moa
Ama
Moa
Ama
Moa
Ama
10
15
Moa
Ama
Moa
Ama
Moa
Ama
20
25
30
35
19
Moa
Ama
Moa
Ama
40
45
50
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NOTAS:
3)mal estreada: desastrada.
8)gamo: marido enganado
9)m hora: em m hora.
12)anojada: aborrecida, enfadada.
14)eram: em m hora.
16)desconcerto: disparate, desproposito.
19)Concelos: Vasconcelos.
21)vir a pelo: vir a propsito.
26)a pique: a ponto (de partir).
27)al demenos: ao menos, pelo menos.
31) sua negra canela: para a ndia.
36)beno: na poca, bno era vocbulo oxtono.
39)senfare: se aborrea.
40)Entenda-se: de um diabo como o meu (marido).
52)muitierama: em muito m hora
(1). COELHO, Jacinto do Prado (org.). Dicionrio das literaturas portuguesa, brasileira e galega. 3 ed,
Porto, Figueirinhas, 1978. p. 76.
(2)MOURA, Gilberto (Org.). Teatro de Gil Vicente. Lisboa: Ulisseia, 1991.
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Personagens
Tipos
Constana
Moa
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Popular,
proverbial,desarticulada,
crtica, objetiva, irnica.
Castelhana, disparatada,
objetiva, satrica, falsa,
galante, gabarolas, cmica,
denotativa, madrigalesca,
enftica, exagerada, teatral
Fanfarro, palrador,
manhoso, atiradio,
adulador, mentiroso,
teimoso, pretensioso,
vaidoso, cortejador.
Lemos
Megalmano, guloso,
fingido, apaixonado,
conquistador, pobre,
alegre.
Marido
Popular, comunicativa,
narrativa, objetiva, afetiva.
Ingnuo, confiante,
simples, bondoso, amigo.
Castelhano
21
22
Por outro lado, a sua casa, embora pequena, tinha o necessrio. Duas divises, a
cozinha e o quarto, mas tambm isso era vulgar na poca, nas classes mdias. Era
quanto lhe bastava para receber garbo os seus namorados!. Como era o quarto
dependncia apresentvel , a se passava tudo. A cama tinha de estar sempre presente,
por fora das circunstancias. Isso facilitava os encontros amorosos. Se repararmos nos
comparsas do Auto O Lemos e o Castelhano vinagreiro -, veremos que eles
correspondem a tipos da sociedade no tempo de Gil Vicente, o que no significa que os
no haja nos momentos presentes. O Castelhano um produto da influncia de Castela
no nosso pas, onde imperava o castelhanismo. Ambos pretendentes so pobres, embora
alardeando uma riqueza que no possuem. So um produto da poca. A stira social
est em ambos representada. O prprio Marido de Constana, que seguira viagem para a
ndia na armada de Tristo da Cunha, corresponde aos anseios do mundo que rodeava
Gil Vicente. A infidelidade conjugal est tambm presente na Farsa de Ins Pereira
embora, quanto a ns, mais atenuada. H que reparar que em ambos os casos os
maridos so ingnuos, simples, confiantes. Nem Pro Marques nem o marido de
Constana desconfiam das suas mulheres. A stira est presente em ambos os casos.
A obra vicentina, no obstante o seu medievalismo, no deixa de inspirar-se nas
realidades do momento e de ser uma pintura viva dos costumes e dos tipos
contemporneos. Descreve e observa com realismo. Gil Vicente esteve sempre atento
sociedade que o rodeava e s realidades imediatas. O seu teatro, embora quase sempre
custico e zombeteiro, adopta uma posio dignificante perante a famlia. Naquele tempo,
muito frequentemente o casamento era imposto mulher, que nem sempre escolhia o
noivo. Os pais entregavam as filhas a maridos de que elas no gostavam. O caso de
Constana poder bem ser um deles. Sabemos quanto ela detestava o pobre marido,
chegando a desejar-lhe a morte. Ele era, como a prpria mulher afirma, um fastio. No a
satisfazia. O amor era letra morta. E essa insatisfao que decerto a atira para os
braos do Lemos e do Castelhano. No que os amasse. Mas a necessidade fsica
impunha-se-lhe, tanto mais que se sentia fermosa e jovem. (Maria Amlia Ortiz da
Fonseca, in Gil Vicente Auto da ndia);
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NOTAS:
lograr conseguir; alcanar.
entremear colocar(-se) entre duas coisas; intercalar(-se).
verosimilhana - qualidade do que verosmil.
verosmil que parece ser verdadeiro; em que no repugna acreditar; provvel.
exceptuar - fazer exceo de; excluir. [ Brasil excetuar]
nefasto que causa desgraa; funesto.
doesto [] insulto; injria. [Doestar dirigir doestos a; insultar]
solcito diligente; cuidadoso.
garbo elegncia; distino; donaire.
custico que queima; que cauteriza; [fig.] importuno; mordaz; sarcstico.
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ESTUDO DO TEXTO
Auto da ndia [Leia o texto integral]
01)A que se deve o ttulo?
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02) Caracteriza as personagens femininas Ama e Moa, fsica e psicologicamente.
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03) Estabelea dicotomia entre Lemos e o Castelhano.
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04) Quais os temas sociais que Gil Vicente expe nesta pea. Explica-os.
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05) Prove que o Auto da ndia uma Farsa e no um Auto, conforme o ttulo.
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Auto da Alma
(1518)
Do ponto de vista teolgico, o Auto da Alma a expresso dramtica do velho
tema do Peregrino paradigma do destino do Homem. A existncia humana uma
contnua luta entre as foras do bem (na pea representadas pelo o Anjo) e as
solicitaes do Mal (encarnadas na figura do Diabo.) So, pois, dois mundos que lutam
por impor a sua supremacia, articulados como esto vontade do homem (livre-arbtrio).
Do ponto de vista social, a pea de Gil Vicente, depois da acusao e o castigo dos
crimes, com penas infernais, na Trilogia das Barcas, parece propor ao homem o caminho
seguro para redimir os seus pecados e atingir assim a glria eterna. A passagem que
vamos transcrever expressa um destes momentos antinmicos em que vive a Alma,
solicitada pelas foras contrrias do Bem e do Mal. (*)
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O ANJO ALMA
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120
125
130
135
140
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NOTAS:
1)imigo: inimigo; 2)grosa: obstculos; 3)Subentende-se: continuai a ter; 4)atalaiado: acautelado; 5)as
gloriosas: isto , as almas.
25
145
150
155
160
165
Alma
Diabo
170
175
To depressa, delicada,
alva pomba, para onde isso?
Quem vos engana,
e vos leva to cansada
por estrada,
que somente no sentis, (6)
se sois humana?
No cureis de vos matar,
que ainda estais em idade
de crescer (7)
Tempo h i para folgar
e caminhar:
vivei vossa vontade
e havei prazer.
Gozai, gozai dos bens da terra,
procurai por senhorios
e haveres.
Quem da vida vos desterra
triste serra?
Quem vos fala em desvarios
Por (8) prazeres?
Esta vida descanso,
doce e manso,
no cureis doutro paraso:
Quem vos pe em vosso siso (9)
outro remanso?
No me detenhais aqui;
deixa-me ir que e al (10) me fundo. (11)
Oh! descansai neste mundo,
que todos fazem assi.
No so embalde os haveres,
no so embalde os deleites,
e fortunas;
no so debalde os prazeres
e comeres:
tudo so puros afeites (12)
das criaturas:
para os homens se criaram.
______
NOTAS:
6)Entenda-se: a ponto de no sentirdes que... ;7)crescer: engrandecer-se; 8)por: em vez de; 9)siso:
entendimento; 10)al: outra coisa; 11)me fundo: me firmo; 12)afeites: atributos
26
180
185
190
195
Anjo
200
205
210
215
______
NOTAS:
13)de hoje a mais: doravante; 14)romagem: peregrinao; 15)marteirar: martirizar; 16) to de graa: to
sem motivos; 17)Entenda-se: eu mudaria de rumo, se estivesse em seu lugar; 18) tormenta: isto , a vossa
vida; 19)imperadora: soberana, de vontade livre; 20)isenta: livre; 21)se preza: se orgulha; 22)asinha:
depressa; 23)sede esforada: tende coragem; 24)trigosa: apressada, pressurosa.
27
220
225
230
235
240
245
Anjo
Alma
Anjo 250
______
NOTAS:
25)extremos: excessos; 26)tende vida: gozai a vida; 27)Entenda-se: caminhais mui miservel; 28)de
remate: enfim; 29)brial: vestido de seda ou brocado fino; 30)chapins: sapatos elegantes, usados
antigamente pelas mulheres; 31)de parecer: digna de admirao; 32)presuntuosos: com vaidade;
33)profundo: inferno.
(*)SPINA, Segismundo. Presena da literatura portuguesa era medieval. So Paulo - Rio de Janeiro: Difel,
1977. p.165-170.
28
Personagens
Caracterizao
Tipos
Linguagem
Anjo
Conselheiro, paciente,
persistente, compreensivo,
esperanoso, preocupado,
generoso, constante,
solidrio.
Alma
Implorativa, submissa,
exclamativa, interrogativa,
confessional.
Teimosa, influencivel,
corruptvel, embaraada,
cansada, fraca, ansiosa,
inquieta, angustiada,
fantasiosa, resistente,
insegura.
Diabo
Zombeteira, atacante,
opinosa, irritante,
interrogativa, exclamativa,
aliciante, instigadora,
manipuladora, contundente.
Vulgar, exclamativa,
interrogativa, explicativa.
Conformista, resignado,
esperanoso.
2 Diabo
29
Comportamento
Personagens
Tipos
Santo Agostinho
Igreja
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Estimulante, exclamativa,
interrogativa, repreensiva,
redentora, afectiva,
doutrinaria, crist.
Hospitaleira, acolhedora,
solidria, compreensiva,
misericordiosa.
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30
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NOTAS:
chapim antigo calado de senhora; patim. [Do esp. chapn]
estalajadeira Mulher que possue ou administra estalagem.
hiertico - respeitante s coisas sagradas; religioso.[Do gr. hieratiks, sacerdotal]
brial tnica feminina, presa na cintura. Espcie de camisola que usavam os antigos cavaleiros.
31
ESTUDO DO TEXTO
Auto da Alma [Leia o texto integral]
01)Metrifique os dois versos e justifique a metrificao.
Alma
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O2) Nos versos acima h o uso incessante de sons nasais. Comente acerca desses sons:
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03)O adjetivo uma das classes morfolgicas mais utilizadas no Auto da Alma, o que se
prende com uma estratgia discursiva que , em muitos momentos, de persuaso.
Aparece quer antes, que depois do substantivo, que ainda e depois. E assume vrias
funes. Quais so essas? Vejam os exemplos:
triste carreira v.2), perigosos perigos (v.4), preciosa riqueza (v.76), pousada
verdadeira (vv. 426 e 427), Alma santa (v. 340), laos infernais (v. 134) celestes flores
olorosas (vv. 51 e 52), diablicas maldades violetas (vv. 448 e 449).
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04)Comentar acerca do uso recorrentes dos lxicos caminho, jornada, viagem,
estrada e carreira.
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05)As metforas e metonmias so recursos inseparveis da obra literria. Gil Vicente
utiliza desses recursos: este vale temeroso/e lacrimoso (v.606 e 607 metforas);
triste de Jerusal /homecida (vv.688 e 607- metonmias ).
Comente acerca dos sentidos desenvolvidos.
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32
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07)Identifique alguns verbos no presente do indicativo e no modo imperativo. E justifique o
seu emprego.
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08)Comente acerca do ponto de exclamao (!).
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09)A linguagem oscila entre o tom implorativo, exclamativo, interrogativo, apelativo
confessional e lrico. Transcreva algumas dessas linguagens no contexto.
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10)Comentar acerca do tema.
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11)Estabelecer a dicotomia entre o Anjo e o Diabo.
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13)Provar que o Auto um de moralidade
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14)Qual a crtica fundamental deste Auto?
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15)Gil Vicente mostra-se profundo conhecedor dos textos bblicos, em vrios momentos
da sua produo dramtica. O estudioso I.S. Rvah defende que esta pea teatral, Auto
da Alma, uma interpretao alegrica da parbola evanglica. Qual essa parbola?
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S o homem que viver na religio poder chegar ao Cu, onde a morte e a dor no tm lugar
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NOTAS:
alegrico: que encerra a alegoria.
alegoria: uma figura de retrica pela qual uma figura concreta representa uma idia, um conceito, uma
abstrao. Em outras palavras: exposio dum pensamento sob forma figurada.
parbola [Lit.] narrativa alegrica que envolve preceito moral: Jesus usava parbolas para ensinar certos
conceitos.
34
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35
Diabo
Comp.
Diabo
Feito, feito!
Bem est!
Vai ali, muitieram, (2)
e atesa aquele palanco (3)
e despeja aquele banco,
pera a gente que vir.
barca, barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir! (4)
Oh, que tempo de partir,
louvores a Berzebu!
Comp.
Diabo
Comp.
Diabo
10
Fidalgo
Diabo
Fidalgo
30
36
Diabo
Fidalgo
Diabo
Fidalgo
Diabo
Fidalgo
Diabo
Fidalgo
45
50
Embarca ! Ou embarcai!,
que haveis de ir derradeira... (8)
Mandai meter a cadeira, (9)
que assim passou vosso pai. (10)
Qu? Qu? Qu? E assim lhe vai?! (11)
Vai ou vem, embarcai prestes.
Segundo l escolhestes, (12)
assim c vos contentai.
Pois que j a morte passastes,
haveis de passar o rio.
No h aqui outro navio?
No, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me tnheis dado sinal.
Que sinal foi esse tal?
Do que vs vos contentastes. (13)
55
60
65
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NOTAS:
1)a caro: expresso enigmtica. Seria o mesmo que a carom, termo nutico, com o valor de em frente?
2)muitierama: em hora muito m.
3)Entenda-se estica a corda (para iar a vela).
4)asinha: depressa.
5)aram (ou eram): em m hora; aqui com o significado de infeliz.
6)poja: corda que serve para virar a vela; dria: corda para levantar a vela.
7)ilha perdida: inferno
8) derradeira: afinal.
9) O Fidalgo era seguido por um criado que lhe trazia uma cadeira.
10)Entenda-se: o pai do Fidalgo havia ido para o inferno nas mesmas circunstncias.
11)Isto : este o teu desejo?
12)l: na terra.
13)Quer dizer: de que vivestes uma vida de prazeres e pecados.
14)Como se dissesse: estou mal arranjado.
15)Isto : estes asnos no me entendem; pensam que falo como grou.
(*)SPINA, Segismundo (Org.) Obras-primas do teatro vicentino. So Paulo: Difel, 1983. p.107-109.
37
Personagens
Caracterizao
Tipos
Fidalgo
Onzeneiro
Parvo
Sapateiro
Frade
Alcoviteira
Judeu
Linguagem
Comportamento
Altiva, petulante.
Vaidoso, presunoso,
soberbo, opressor.
Vulgar.
Avarento, usurrio.
Chocarreira, desbragada.
Vulgar
Ladro
Exuberante
Libertino, mundano
(danarino esgrimista).
Dengosa
Inculcadeira.
Desbragada
Sacrlego.
Corregedor
Procurador
Vulgar.
Atrevido, convencido.
Enforcado
Coloquial.
Crdulo, ignorante.
Cavaleiros
Peremptria.
Decididos, seguros.
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Sem ter conseguido a sntese entre as foras opostas que se defrontavam, Gil
Vicente:
1.Exaltou a expanso ultramarina prosseguida oficialmente, na cena final do Auto
da Barca do Inferno (Cavaleiros), como na Exortao da Guerra e no Auto da Fama, mas
escreveu tambm o Auto da ndia sobre os efeitos das longas viagens na estabilidade e
moralidade da vida familiar.
2.Escreveu o Auto da Alma, de um cristianismo ortodoxo e tradicional, mas no Auto
da Barca do Inferno criticou o clero menor frades e cnegos e no Auto da Barca da
Glria a sua crtica atingiu a prpria Igreja, nas pessoas dos seus mais altos dignitrios.
3.Satirizou fortemente o Judeu no Auto da Barca do Inferno (at no smbolo que
transportava), mas numa carta a D. Joo III, sobre os frades de Santarm, defendeu os
cristos-novos de sectrias acusaes.
4.No entanto, no Auto da Barca do Inferno (e mais abertamente no Auto da Barca
da Glria) defendeu que pelas obras terrestres que cada um se salva ou se condena,
quando os protestantes afirmavam que s a F salvadora, mostrando-se assim
obediente crena oficial.
No dizer de Andr de Resende, contemporneo de Gil Vicente, este era autor e
actor muito hbil em dizer verdades disfaradas em faccias e em criticar costumes entre
leves gracejos.
Essas verdades, apreciadas anos depois, pela censura inquisitorial, foram
castigadas:
1-Com a proibio da publicao de mais de uma dezena de autos, em todo ou em
parte.
2- Com a supresso de passagens vrias.
3- Com a alterao de sentido de muitos versos. (*)
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NOTAS:
presunoso [] - que tem presuno; pretensioso; vaidoso.
simonia comrcio ilcito de objetos sagrados, indulgncia ou benefcios eclesisticos .
venalidade - qualidade do que se vende, de quem venal.
venal que se pode vender. Venenoso.
rapacidade qualidade de rapace; instinto ou gosto da rapina; [fig.] avidez.
rapace que rouba; que rapina; rapinante; vido de lucro.
inculcadeira - mulher que inculca; alcoviteira.
inculcar dar indicaes a respeito de; indicar; recomendar. Repetir com insistncia para imprimir (algo)
na mente de algum; repisar.
alcoviteiro que alcovita. Corretor de prostituta.
alcovitar servir de intermedirio em relaes amorosas; fazer intriga.
faccia - dito zombeteiro.
cnego titulo do sacerdote secular que membro de um cabido.[Cnego - Portugal]
cabido corporao dos cnegos de uma catedral ou de uma colegiada.
(*)GONALVES, Maria Jos e EUSBIO, Antnio. Gil Vivente Auto da Barca do Inferno. Lisboa:
Publicaes Europa-Amrica, 1987.
40
ESTUDO DO TEXTO
Auto da Barca do Inferno [Leia o texto na integra]
01)Provo 1998
O Auto da Barca do Inferno pertence ao movimento literrio do Humanismo, em Portugal,
porque Gil Vicente
(A)critica a Igreja pela venda indiscriminada de indulgncias e pela vida desregrada dos
padres.
(B) preocupa-se somente com a salvao do homem aps a morte, sem se voltar para os
problemas sociais da poca.
(C) equilibra a concepo crist da salvao aps a morte com a viso crtica do homem
e da sociedade do seu tempo.
(D) tem como nica preocupao criticar o homem e as mazelas sociais do momento
histrico em que est inserido.
(E) critica a Igreja, ao defender com entusiasmo os princpios reformistas disseminados
pela Reforma protestante.
02)O teatro, de suas origens ao sculo XIX, se serve do verso como forma de expresso.
Fiel tradio, Gil Vicente fez uso das mtricas mais utilizadas na poesia medieval. Faa
a escanso de alguns dos versos e classifique o tipo de verso.
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03)No Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente critica trs classes sociais. Quais so essas
classes?
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04)Indique as personagens que, no texto, representam a nobreza, o clero e o povo.
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07) Considerando a pea Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alternativa
que melhor se adapta proposta do teatro vicentino.
A) Preso aos valores cristos, Gil Vicente tem como objetivo alcanar a conscincia do
homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.
B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegricas, no estabelecem a diviso
maniquesta do mundo entre o Bem e o Mal.
C) As personagens comparecem nesta pea de Gil Vicente com o perfil que
apresentavam na terra, porm apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de
sua culpa.
D) Gil Vicente traa um quadro crtico da sociedade portuguesa da poca, porm poupa,
por questes ideolgicas e polticas, a Igreja e a Nobreza.
E) Entre as caractersticas prprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de
ele seguir rigorosamente as normas do teatro clssico.
42
Auto da Feira
Moralidade composta por Gil Vicente nas matinas do Natal, cerca de 1527. O A.
representa o mundo sob a forma duma feira em que os principais vendedores so um
Serafim e o Diabo. O primeiro fregus nem mais nem menos que Roma, smbolo do
Papado. A violncia do ataque vicentino cria romana surpreende-nos, tendo em
ateno a data aproximada do auto. As outras personagens (maridos e mulheres
queixosos dos respectivos cnjuges, campnios e camponesas, as quais oferecem as
suas mercadorias a dois compradores que lhes fazem a corte) exprimem igual desprezo
pelas virtudes que o Serafim vende. O auto acaba com uma cantiga entoada pelas
camponesas em louvor da Natividade. (Jacinto do Prado Coelho, in Dicionrio de
Literatura Portuguesa).
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Entra primeiramente Mercrio, e posto em seu assento, diz:
MERCRIO
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15
20
25
30
35
40
45
50
E porque a astronomia
anda agora mui maneira,
mal sabida e lisonjeira,
eu, honra deste dia,
vos direi a verdadeira.
Muitos presumem saber
as operaes dos cus,
e que morte ho de morrer,
e o que h de acontecer
aos anjos e a Deus.
E ao mundo e ao diabo.
E que o sabem tm por f;
e eles todos em cabo
tero um co pelo rabo,
e no sabem cujo .
E cada um sabe o que monta (3)
nas estrelas que olhou;
e ao moo que mandou,
no lhe sabe tomar conta
de um vintm que lhe entregou.
Porm, quero-vos pregar,
sem mentiras nem cautelas,
o que per curso de estrelas
se poder adivinhar,
pois no cu nasci com elas.
E se Francisco de Melo (4)
que sabe cincia avondo, (5)
diz que o cu redondo,
e o Sol sobre amarelo;
diz verdade, no lho escondo.
Que, se o cu fora quadrado,
no fora redondo, senhor.
E, se o Sol fora azulado,
d' azul fora a sua cor,
e no fora assi dourado.
E porque est governado
por seus cursos naturais,
neste mundo onde morais
nenhum homem aleijado,
se for manco e corcovado,
no corre por isso mais.
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60
65
70
75
80
85
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NOTAS:
1)partidos: expedientes; 2)o al: o mais; 3)monta: interessa, importa; 4)Francisco de Melo: clebre
matemtico da poca; 5)avondo: em abundncia; 6)cant: certamente.
(*)SPINA, Segismundo. Presena da literatura portuguesa era medieval. So Paulo: Difel, 1977. p.170-173.
45
Personagens
Tipos
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Alatinada, desaticulada,
Trocista, observador,
palavroso, cmico,
galhofeira, paradoxal,
crtica, popular, materialista, conversador, conversador,
incisiva, direta, trocadilho,
Mercrio
Exortativa, solene,
explicativa, judiciosa,
teolgica,
Conselheiro, estimulante,
funcional, preocupado,
Conselheiro, crtico,
religioso, sensvel, sincero,
confiante, moralista,
Tempo
Serafim
46
Personagens
Tipos
Diabo
Roma
Caracterizao
Linguagem
Comportamento
Comparativa, ofensiva,
explicativa, arcaica,
interrogativa, dialogante,
livre, divertida, disparatada,
Judiciosa, afectada,
entusistica, opinosa,
condenvel, depreciativa,
intimativa, prepotente,
renitente, aliciante, cnica,
Comunicativo, irnico,
incrdulo, maldoso,
aliciante, negociante,
pretensioso, desonesto,
materialista, arrogante,
irresponsvel, competitivo,
malfluo, decidido, perverso,
Irritante, conflituoso,
observador,
manhoso,inclemente,
tentador, comerciante,
enganador, ruim ,
censurvel, agressivo,
impertinente, fanfarro,
persistente,
Repetitiva, confessional,
informativa, implorativa,
interrogativa, explicativa,
documental, pessimista,
reflexiva, materialista, culta,
declarativa, conscienciosa,
apelativa,invocativa,
assisada,
47
Popular, recriminativa,
insidiosa, explicativa,
crtica, referencial, atacante,
Depreciativa,
Desiludido, queixoso,
infeliz, exagerado, invejoso,
Resmungo, cruel, esperto,
Inclemente, insatisfeito,,
duro, galhoteiro, alegre,
observador, irnico,
Recriminatria,incisiva,
explicativa, referencial,
atacante, depreciativa,
reprovativa,
Popular, recriminativa,
explicativa, inclemente,
atacante, depreciativa,
impiedosa, objectiva,
autoritria, injuriosa,
exagerada, disparatada,
Dspota, insatisfeita,
revoltada, censurvel,
materialista, enrgica,
irrelevante, incisiva,
impetuosa, refilona, activa,
caturra, decidida, irascvel,
Combativa, agressiva,
cptica,
Amncio Vaz
Dinis Loureno
Branca Annes
48
Popular, simples,
conformista,
Marta Dias
Mateus
Popular,
Galhofeiros, joviais,
Conversadores, alegres,
respeitadores, ingnuos,
Popular, eptetos,
interrogativa, exagerada,
sutil, intencional, coloquial,
objectiva,
Namorador, adulador,
descontrado, galanteador,
Alegre, observador,
atrevido, arrojado,
Cortejador, galhofeiro,
adulador, atrevido,
galanteador,
namorador,alegre,
observador, malicioso,
Trs moos
Vicente
Materialista, mansa,
resignada, piedosa, crente,
conformada, calma,
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Posted by Dantas
50
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NOTAS:
apetecer causar apetite; interessar, agradar.
tolher impedir de mover-se, de agir; pr obstculos.
pcaro pequeno vaso com asa. [Var.: pcara.]
desbaratar dissipar; vender por preo baixo; derrotar; desordenar-se.
antinomia - contradio entre duas leis ou princpios. Oposio recproca de duas coisas ou pessoas. [Do
gr. antinoma, contradio nas leis.]
irremedivel que no se pode remediar; que no tem conserto ou soluo; irreparvel.
51
ESTUDO DO TEXTO
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02)Comente acerca do ponto crucial do auto.
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03)Analisar a atitude das mulheres de ambos.
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04)Para maior facilidade de estudo podemos considerar o Auto da Feira constitudo por
trs partes. Quais so essas partes?
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Velho
Moa
Velho
Moa
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho
Moa:
Velho:
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Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
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Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
(14)
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Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
Velho:
Moa:
(23)
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Velho:
Moa:
Velho:
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Ateno! Leia o texto integral...
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NOTAS:
1)Entenda-se: que se igualam a vs.
2)ratinho: designao biroa do hortelo.
3)sobre-posse: forados, artificiais.
4)posse: energia, vitalidade.
5)atende: d ateno.
6)Entenda-se: ol pudesse casar-me convosco a furto, clandestinamente.
7)Entenda-as: ou que tendes longa vida
8)pois: visto que.
9)desesperado de favor: desesperanado de correspondncia.
10)ufanas: presunosas.
11)que: porque.
12)escora: ampara.
13)conselho: reflexo.
14)avisado: ajuizado.
15)Hulos: onde.
16)desinada: livre.
17)olho mau: mau-olhado.
18)de cruzados: de dinheiro, de dotes.
19)em forte ponto: em m hora.
20)garridice: elegncia.
21)franqueza: liberalidade.
22)Entenda-se: no sou liberal com o fim de que tenhais piedade de mim.
23)sem partido: vontade;
24)asinha: depressa.
58
ESTUDO DO TEXTO
01)Faa um levantamento quanto ao aspecto formal.
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02)Comente acerca da temtica do texto
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03)Estabelea a dicotomia entre a linguagem do Velho e da Moa.
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04)Trace a caracterstica da Moa
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05)Trace a caracterstica da Alcoviteira.
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59
Auto da Lusitnia
Representada ao Rei D. Joo III em 1532, esta pea, como o prprio autor declara
a certa altura, gira em torno da origem de mitolgica de Portugal: a ninfa Lisibea, de
magnificente beleza, aps acender paixo no Sol, dele teve uma filha, Lusitnia, cuja
formosura chegara aos ouvidos de Portugal. Este, apaixonado perdidamente por ela,
desencadeia tal cime em Lisbea, que vem a falecer. Enterrada na montanha Feliz
Deserta, sobre ela se edificou uma cidade que, por causa do nome da ninfa, veio a
denominar-se Lisboa. Da lenda, Gil Vicente extrai o episdio do encontro entre Lusitnia e
Portugal, ao qual tambm concorrem Mercrio e algumas deusas, cujo capeles, Dinato
e Berzebeu, se dispem a relatar a Lcifer tudo quanto aqui se monta. O dilogo em que
ambos se desincumbem de sua misso constitui a cena que a seguir se transcreve. Notase, ainda, que a primeira parte da pea contm a descrio duma famlia judaica ao
tempo de Gil Vicente. (*)
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Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu;
e logo aps, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ningum e diz:
Ningum: Que andas tu a buscando?
Todo o Mundo:
Ningum:
Todo o Mundo:
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Ningum:
Belzebu:
Dinato:
Belzebu:
Ningum:
Todo o Mundo:
Ningum:
Belzebu:
Ningum:
Todo o Mundo:
Ningum:
E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.
Belzebu:
Dinato:
Belzebu:
Ningum:
Todo o Mundo:
Ningum:
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Belzebu:
Dinato:
Que sorte?
Belzebu:
Muito garrida:
Todo o Mundo busca a vida
e Ningum conhece a morte.
Todo o Mundo:
Ningum:
Belzebu:
Dinato:
Que escreverei?
Belzebu:
Escreve
que Todo o Mundo quer paraso
e Ningum paga o que deve.
Todo o Mundo:
Ningum:
Belzebu:
Dinato:
Qu?
Belzebu:
Ningum:
Todo o Mundo:
Lisonjear.
Ningum:
Belzebu:
Dinato:
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Belzebu:
Pe a mui declarado,
no te fique no tinteiro:
Todo o Mundo lisonjeiro,
e Ningum desenganado.
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NOTAS:
perfiando = porfiando insistindo, teimando.
perfiar = porfiar - procurar obter.
honra - respeito social.
ande la mano! mos obra!
nisto me fundo nisto me sustento; nisto me fundamento.
tope - encontre.
adio - ato de aditar, isto acrescentar uma declarao; acrescentamento.
aude ocorre.
mor bem quesse bem maior que esse; outra coisa de valor.
grado vontade.
garrida elegante; bonita. Obviamente, pura ironia de Berzebeu.
estorvar - incomodar; atrapalhar.
ma - me+a. Contrao dos pronomes pessoais oblquos, objeto indireto e direto,
respectivamente.
mo - me+o. Contrao do pronome objeto indireto me com o pronome demonstrativo
objeto direto o. Entenda-se no texto: sem ningum estorvar isto a mim.
folgo - tenho prazer, gosto.
lisonjear - elogiar.
63
ESTUDO DO TEXTO
01)Comente acerca dos aspectos formais.
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02)Comente as figuras de Todo o Mundo e Ningum, caracterizando-as.
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03)Explique a ironia presente na escolha dos nomes das personagens Todo o Mundo e
Ningum, tendo em vista o contedo de suas falas.
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04) O texto afirma que:
a)todo o mundo mentiroso.
b)Ningum mentiroso.
[ ] apstrofe
[ ] sinestesia
[ ] anttese
(*) MOISS, Massaud. A literatura portuguesa atravs dos textos. So Paulo: Cultrix, 2003. p.70-73.
64
Paio Vaz
Pessival
Mofina Mendes
Braz Carrasco
Barba Triste
Tibaldino
Anjo
[...]
Mofina:
[...]
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TUDO DO TEXTO
01)Quem narra aparentemente o texto?
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02)O texto apresenta uma espcie de devaneio da personagem principal. Quais so os
desejos revelados atravs desse devaneio?
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03)Como voc entendeu a referncia a Jesus relacionada com dinheiro grosso?
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04)Qual o verso que indica que o texto foi escrito para ser representado e cantado?
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05)A personagem principal valoriza os ideais religiosos da Idade Mdia ou valores
materiais?
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Ateno! Leia a pea na integra: Auto de Mofina Mendes
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NOTAS:
brial vestido de carmesin de precioso tecido.
atavida - enfeitada
(1)RAMOS.
Feliciano. Gil Vicente e o teatro do renascimento. In: Histria da literatura Portuguesa. Braga:
Livraria Cruz, 1967, p. 232.
66
Romagem de Agravados
(1523)
Como no teatro de revistas de hoje, nesta pea Gil Vicente faz desfilar um
variadssimo elenco de descontentes: duas religiosas que protestam contra as regras da
vida conventual; tipos que aspiram a ttulos nobilirquicos; frades que fingem piedade
para conseguir um bispado; meninas pretendentes a damas do Pao, e para isso tomam
lies de civilidade e etiqueta etc. Por bem - como j dissemos - o prprio gosto
petrarquista de exprimir os ardores passionais por meio de antteses, imitado pelos
poetas quinhentistas, satirizado por Gil Vicente: Colopndio um exemplo desse tipo
passional que vive estados sentimentais contraditrios gerados pelo amor. (*)
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(*)SPINA, Segismundo. Presena da literatura portuguesa - era medieval. So Paulo: Difel, s/d.
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(1491-1542)
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(3)
Beroniso
Colopndio
Bereniso
Colopndio
Eu remdio no espero
porque aquela em que me fundo
para mi que tanto a quero
tem o corao de Nero (5)
para me tirar do mundo.
Quem sofrimentos vendesse
quanto ouro ganharia
que eu por um s lhe daria
a vida se a tivesse
como quando Deus queria.
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NOTAS:
(*)SPINA, Segismundo. Presena da literatura portuguesa - era medieval. So Paulo: Difel, s/d.
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O Juiz da Beira
Figuras: Pro Marques, Porteiro, Ferreiro, Vasco Afonso, Ana Dias, Sapateiro, Escudeiro,
Moo do Escudeiro, Preguioso, Bailador, Amador, Brioso.
Esta farsa que se adiante segue o seu argumento desta maneira: diz o autor que
este Pro Marques, como foi casado com Ins Pereira, se foram morar onde ele tinha sua
fazenda, que era l na Beira, onde o fizeram juiz. E porque dava algumas sentenas
disformes por ser homem simples, foi chamado corte e mandaram-lhe que fizesse uma
audincia diante de el-rei.
Foi representada ao mui nobre e cristianssimo rei D. Joo, o terceiro em Portugal
deste nome, em Almeirim, na era do Senhor de 1525. (*)
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Passou-se c um mandado
nega por me dar canseira
que logo em toda maneira
viesse e vim emprazado
bof com fraca esmoleira.
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[...]
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NOTAS:
3 No tem papas na lngua.
4 Hei-de dizer a minha opinio.
7 Juiz contra o qual foi movida sindicncia ou processo.
9 por cajo = por causa.
10 embora = em boa hora, felizmente.
12 nega por = apenas para.
14 vim emprazado = vim com prazo fixado.
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15 bof = pronncia rstica de abof = com boa-f, isto : sinceramente. Com fraca esmoleira = com
fracas ajudas de custo.
16 Porque me tem m vontade.
17 Desembargador do Pao com funes de inspetor judicial.
19 A Ordenao era a compilao da legislao em vigor.
22 siqueiro = soalheiro. Conversa de sequeiro: conversa ociosa. No teatro de Chiado e de Prestes
encontra-se madrugo de sequeiro, no sentido de vadio. Talvez juiz de sequeiro signifique juiz sem estudos,
juiz rural.
23 paceiro = homem da corte. Que ou aquele que frequenta o pao real; palaciano; corteso.
27 minha hspeda = minha esposa (forma arcaica j no sculo XVI).
29-30 Sabe tudo quanto preciso para eu seguir carreira.
32 Soma e avonda tem o mesmo sentido: em suma, enfim.
33 34 L a parte do caderno onde se encontra a lei referente ao caso a julgar.
37 xe-me fao: arremedo da pronncia beiro, que carrega o che.
41 Todo o prego do porteiro humorstico e visa denunciar a corrupo da justia na corte.
43 antes que o lance mais puxe = antes de subir o lance. O pregoeiro tinha o dever de levar a almoeda ao
lano mais alto, mas prometia no o fazer a quem se entendesse com ele na alfndega da cortiada...
45-46 terras guardadas: terras vedadas. Que nunca foram lavradas: o cultivo dos campos de Coruche
antiqussimo. Ambas as afirmaes se destinavam, portanto, a provocar o riso.
47-49 As terras, inundadas pelas cheias do Sorraia, no se prestam para po. O aafro e a cana-deacar eram importados e no se cultivavam em nosso territrio.
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(*)SARAIVA, Maria de Lourdes (Org.). Gil Vicente stiras sociais. Lisboa: Publicao Europa-Amrica, 1988.
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(*)ANDRADA, Ernesto de Campos de (Org.). Quem tem Farelos? por Gil Vicente. Lisboa: Seara Nova,
1973.
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Vm Apario e Ordonho, moos de esporas, a buscar farelos, e diz logo:
APARIO
Quem tem farelos?
ORDONHO
Quien tiene farelos?
APARIO
Ordonho! Ordonho! espera mi.
fideputa ruim!
(ests to bem)
(que j no falas com ningum.)
ORDONHO
Como te va, compaero?
APARIO
S'eu moro c'um escudeiro,
como e pode a mi ir bem?
ORDONHO
Quien es tu amo? di, hermano? (Quem teu amo, quem a pessoa que voc serve, me
diga, meu irmo?)
APARIO
o demo que me tome!
Morremos ambos de fome
e de lazeira todo ano
ORDONHO
Con quien vive?
74
ESTUDO DO TEXTO
Quem tem farelos? [Leia a pea na integral]
Isabel
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03)Qual o esquema rimtico da estrofe?
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II)Sntese de caractersticas vicentinas.
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III)Qual a situao central da pea?
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NOTAS:
chufa - ao de chufar; zombaria.
apodar - dirigir a apodos a; motejar de; alcunhar, depreciando; comparar.
apodo [] alcunha afrontosa; motejo; zombaria.
trovar fazer ou cantar trovas; cantar em verso [Do prov. trobar, achar (as rimas)]
tanger tocar (instrumento musicais); tocar (animais).
presumido vaidoso; presunoso; afetado.
insulso sem sal; insosso; [fig.] que no tem graa; desenxabido. [Do lat. insulsu-, inspido]
increpar repreender; acusar; censura.
desdm desprezo com orgulho; desafetao.
invectivo - que tem o carcter de invectica; injurioso; agressivo.
Moos de esporas que serviam na cavalaria, para depois ascenderem na carreira.
palhada - mistura de palha, farelos e gua.
Apario forma popular de Aparcio.
75
Teatro pr-vicentino
O Teatro medieval, entre ns, revestiu sempre uma forma frustre e rudimentar. Os
jograis e jogralesas, com seus cnticos, recitativos e danas, foram os primeiros actores.
Das suas habilidades faziam parte, em alguns casos, os trejeitos, a imitao caricatural de
pessoas, as graas e ditos jocosos e chocarreiros. Arremedavam, Isto , faziam
arremedilhos, nas praas pblicas, nos templos e nos paos dos reis. Santa Rosa de
Viterbo, no Elucidrio, cita um documento do sculo XII,que alude a dois jograis, Bonamis
e Acompaniado, da corte de D. Sancho I, e aos seus arremedilhos, que tambm se
podem chamar arremedos. Os arremedos com aspectos licenciosos chegaram a
tomar cabimento nos prprios templos, o que moveu a Igreja e o Estado a intervir para
reprimir tais abusos.
Os arremedilhos, tambm designados por jogos de escarnho dada a sua
tendncia quase habitual para escarnecer e gracejar, eram ainda correntes em Portugal
nos fins do sculo XV. O rei D. Joo II, como consta de documento datado de 23 de Abril
de 1482, mandou tirar da cadeia, onde cumpria determinada pena, um escolar em artes
muito dado prtica de arremedilhos. O jovem actor sabia arremedar os ofcios
divinos e pregar em italiano para dizer inconvenincias. Dotado de bastante maleabilidade
dramtica deu uma sesso de arremedilhos, em que imitou um capelo, um rabino, um
tabelio e ainda outras personagens.
Alm dos arremedos, tiveram grande voga na Idade Mdia, os momos (por
alguns tambm denominados entremezes), espectaculosas figuraes de animais e
pessoas. Tais reprodues, de natureza profana ou religiosa, revestiam, s vezes,
aspectos desproporcionados, cmicos e carnavalescos. Exibiam animais imaginrios ou
reais, ou, por exemplo, naus e castelos. Tambm apresentavam homens sob a forma de
animais, graas ao recurso a uma apropriada indumentria animal.
Do notcias de momos reais: Rui de Pina, na Crnica de Afonso V, e Garcia de
Resende, na Crnica de D. Joo II, o primeiro cronista, ao relatar a celebrao do
casamento da Infanta D. Leonor com o imperador Frederico da Alemanha, o segundo a
propsito das festas realizadas em vora, em 1492.
O gosto por estas diverses pblicas, denominadas momos ou entremezes,
muito concorreu para o progresso cenogrfico do teatro, porquanto tinha complicadas
exigncias tcnicas e reclamava uma grande variedade de trajes.
Existiu, portanto, um teatro profano pr-vicentino, mas dele no sobreviveu
qualquer monumento literrio. Todavia, essa experincia dramtica foi continuada e
desenvolvida por Gil Vicente. (*)
______
NOTAS:
frustre de qualidade inferior; rude; escasso.
jogral artista que, na Idade Mdia, ganhava a vida declamando poemas, cantando e tocando instrumentos
musicais; trovador. Em outras palavras: artista que tocava vrios instrumentos e cantava versos alheios.
jocoso [] que provoca riso; alegre, engraado. (f. e pl.: []).
chocarreiro - aquele que diz chocarrice. [Chocarrice comentrio zombeteiro; gracejo geralmente
desrespeitoso.]
arremedar imitar grosseira ou ridiculamente. [Arremedava o teatro vicentino]
arremedilho representao teatral curta e chistosa, de carter popular; entremez, farsa.
momo representao dramtica por meio de mmica; momice; farsa satrica; ator dessa farsa; [fig.]
zombaria. Bras. Figura inspirada em momo, e que personifica o carnaval.
entremez pequena composio dramtica, jocosa ou burlesca; farsa.
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NOTAS:
Encina Juan Del Encina (1468/1529). Poeta e dramaturgo espanhol. Um dos pioneiros do teatro profano
em seu pas. Embora de inspirao religiosa, sua produo dramtica revela um esprito humanista ligado
Renascena. Autor, entre outras, das peas: Auto do Natal; Plcido e Vitoriano; Cristino e Febea (esta
ltima uma cloga). Sua obra lrica mais importante Cancioneiro (1496), coletnea de poemas.
79
Crtica Social
Os vivos aparecem frequentemente nos seus
autos. s vezes, irnico e sarcstico, como
sucede, por exemplo, no Velho da Horta, onde
verbera a fraqueza amorosa de um velho, que se
enamorou de ua moa de muito bom parecer.
Depois, num passo da mesma obra, e s para rir,
resolve santificar algumas conhecidas damas do
Pao: Maria Anriques, Joana de Mendona, Joana
Manuel, Catarina de Figueir, D. beatriz da Silva,
Violante de Lima, Maria de Atade. A todas apelida
espirituosamente de santas.
Mas assiste-se bem depressa quebra desta generosidade, pois severas
repreenses e censuras desfechou Gil Vicente contra a sociedade e contra a gente da
poca em que viveu. Na sua mordacidade crtica, houve quase sempre justia e
inteligncia. A pea, por exemplo, Romagem dos Agravados, uma stira de flagrante
realismo e uma autntica parada de descontentes. Desfila ante os espectadores uma
srie de mulheres, que se no conforma com certos desaires da fortuna. O
descontentamento apossa-se tambm de duas religiosas, Dorsia e Domiclia, as quais
protestam, com veemncia, contra a regra conventual: elas abominam o silncio, querem
falar vontade e desejam sobretudo mais liberdade. Naquele tempo, muitas raparigas
eram lamentavelmente foradas a ingressar nos conventos, embora sem vocao para a
vida religiosa. Que admira, portanto, que tais mulheres repelissem os rigores da clausura?
Ao lado do grupo feminino de insatisfeitas, figuravam os inadaptados. Sempre
houve por aqueles tempos uma grande procura de ttulos nobilirquicos. lgico,
portanto, que um tal de Cerro Venturoso, sujeito com quatro mil cruzados de renda
ambicione, pelo menos, esta coisa simples: ser conde das Berlengas. Fr. Narciso, homem
desejoso de honrarias e cheio de tartufismo, vai-se fingindo muito piedoso, de modo a
ver se alcana um bispado. Acha que lhe no escasseia a competncia, por exemplo,
para ser bispo do ilhu de Peniche. E assim Gil Vicente vai anatematizando umas
tantas pessoas que no estavam altura das aspiraes que tinham.
Na Romagem dos Agravados, perpassa ainda a interessante personagem de Fr.
Pao, senhor de boas maneiras, que usava gorra de veludo, luvas e espada dourada. Foi
este vistoso corteso que um dia examinou certo rapaz Bastio, que o pai, desgosto da
vida, destina carreira eclesistica. O exame oferece diferentes fases de imenso
interesse cmico. Comea aquele sacerdote por levar o examinando a ler uns
versozinhos, convidando-o, ao mesmo tempo, a pegar no papel na mo. Ante esta
ordem, o Bastio imagina que o assunto todo respeitante a cominhos e a aafro.
Fr. Pao mando-o, a seguir, pronunciar A, B, C, D, E, e ele, com desembarao,
repete:Arre, arre, cedo .O padre ainda insiste para que ele diga A, X, mas o mocinho
limita-se a declarar que Assis era um alfaiate, que vivia junto da S. Desalentado Fr.
Pao com este insucesso, desvia o inqurito para a lngua latina,e, dirigindo-se ao
pequeno, fala assim: Dize ora Beatus vir. O moo, sem pestanejar, repete: Vi ora trs
ratos vir. Depois da prova de latim, segue-se a de canto mas Bastio estropia tudo. Fr.
Pao conclui ento que o jovem incapaz de apreender coisa alguma. na presena do
pai que o rapaizinho submetido a todas estas provas. Aquele, posto que tenha
presenciado a insuficincia mental da criana, insiste, muito a srio, em que seu filho
pera tudo tem engenho. Nesta emergncia, a mordacidade vicentina visava a cegueira
daqueles pais, que teimam em no reconhecer a incapacidade dos filhos e ousam
destin-lo a carreiras incompatveis com as aptides que possuem.
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Apesar de ser bem maior do que a dos outros a sua culpabilidade, os tripulantes
da terceira Barca so arbitrariamente favorecidos, no padecendo mais que a tortura de
nervos. Quer dizer, medida que caminhamos da primeira barca para a terceira, a
criminalidade aumenta, enquanto que as penalidades diminuem de severidade. Gil
Vicente faz depender as penalidades da hierarquia social: complacente para os grandes
e severo para os pequenos. A parcialidade judiciria de Gil Vicente, nas condenaes que
proferiu, tornam-se bem palpveis. A complacncia vicentina no apenas louvvel
compaixo crist, mas advm da aceitao, por parte do dramaturgo, das limitaes que
lhe impunham, tacitamente, as classes dirigentes e influentes. Alm disso, os pecadores
usufruem um benefcio que conferido pelo dogma da Redeno. H lgica teolgica na
sentena proferida por Gil Vicente, mas nas duas primeiras Barcas manifesta a
desigualdade de tratamento. (*)
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NOTAS
(*)RAMOS, Feliciano. Histria da literatura portuguesa. Braga: Livraria Cruz, 1967.
desaire falta de elegncia ou distino.
nobilirquico relativo a nobiliarquia; que tem carter de nobreza.
tartufismo ou tartufice qualidade, ato ou dito de tartufo.
tartufo indivduo hipcrita; velhaco; devoto fingido. [Do it. Tartufo, antr., personagem da comdia italiana,
aproveitada por Molire]
escassear tornar menos farto; faltar.
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NOTAS:
coadunar - conformar(-se), combinar-(se), harmonizar-se).
Indulgncia - disposio para perdoar culpas ou pecados (prprios ou alheios); clemncia, perdo.
prospia linhagem; ascendncia. Vaidade; orgulho; bazfia.
aludir fazer aluso a; referir-se a; mencionar.
pelintra que no sente vergonha de seus atos condenveis; sem-vergonha.
meirinho antigo funcionrio judicial correspondente ao Oficial de Justia.
onzeneiro onzenrio. Intrigante, mexeriqueiro.
onzenrio - relativo onzena; que contm onzena. Usurrio, agiota.
onzena juro de onze por cento (11%); [fig.] juro exorbitante.
almocreve [] indivduo que tem por profisso conduzir bestas de carga; carregador.
esfuziar fazer zumbir ou sibilar. [Esfusiar ?]
Teatro Popular - Durante a Idade Mdia, a atividade teatral em Portugal se resumiu aos momos,
arremedilhos e entremezes, breves representaes de carter religioso, satrico ou burlesco. Teatro de
ndole popular, caracterizava-se por uma linguagem, temas e forma de encenao acessveis ao povo, e s
vezes com a sua direta participao. Na origem, constitua o teatro profano, oposto aos mistrios e
milagres, manifestaes do teatro religioso ento predominante. (Massaud Moiss, in A literatura
Portuguesa atravs dos textos)
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Gil Vicente, um dos escritores mais notveis do Quinhentismo Portugus
Gil Vicente, um dos escritores mais notveis do Quinhentismo portugus, foi
fundador do teatro em Portugal. Por isso tem sido cognominado o Plauto Portugus. A
sua carreira literria (teatral) vai de 1502 a 1536. Em 1502, na cmara da Rainha D. Maria
de Castela, no dia seguinte ao nascimento do futuro Rei D. Joo III, recitou o Monlogo
do Vaqueiro (ou Auto da Visitao). Era sua estreia. To brilhante, que se exigiu a
repetio da pea nas festas do Natal. Em 1536 encerrava a carreira com a
representao da Floresta de Enganos, na cidade de vora. Antes dele, Portugal s
conhecia, em matria de espetculos cnicos, certo tipo de representaes religiosas,
muito singelas, de inspirao bblica ou litrgica, ao lado de peas cmicas, estas mais
frequentes. Tudo isso improvisada, sem pretenses literrias. Assim, verdadeiramente,
e magnificamente, em G. V. que comea o teatro literrio portugus. Infelizmente a sua
obra no chegou posteridade com a pureza textual que seria de desejar. Pouco antes
de falecer, iniciou G.V. a tarefa de compilar as peas, espalhadas em folhas volantes.
Apenas teve tempo de reunir algumas (folhas volantes impressas e manuscritas), e de
escrever a dedicatria ao Rei. Coube ao filho do escritor, Lus Vicente, levar a termo a
compilao. Fez-se a impresso em 1561-2. A comparao do texto impresso com a
nica folha volante conservada evidencia a grave mutilao sofrida pelo original. O prprio
Lus Vicente confessa ter apurado os textos recolhidos... Para essa atitude h de ter
infludo preponderantemente a coao inquisitorial. Alm dessa deturpao textual, o filho
de G. V. tambm omitiu algumas peas, alterou a cronologia e confundiu a classificao;
Assim sendo, no nos possvel por julgar hoje a autntica e integral obra vicentina.
Apesar disso, na forma em que veio at ns suficiente para fazer a gloria do maior
poeta teatral em lngua portuguesa. (Celso Pedro Luft, in Dicionrio de Literatura
Portuguesa e Brasileira).
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O Teatro
O teatro. Antes do aparecimento de Gil Vicente, no
podemos falar num teatro em Portugal, no obstante podemos
respigar algumas notcias de dramaturgia religiosa durante a
Idade Mdia e alguns documentos de teatro alegrico de D.
Joo II, um teatro base de pura cenografia e em que a
palavra literria esteve quase inteiramente ausente. Henrique
da Mota, conquanto nos ajude a compreender alguma coisa da
dramaturgia vicentina, dissolve-se na vegetao da plancie,
obscurecido pela figura
imponente do criador do teatro
portugus. Sem tradio dramtica atrs de si, Gil Vicente
volta-se para a experincia espanhola de Juan del Encina
sobretudo, buscando a as sugestes iniciais para o seu teatro
pastoril da primeira fase. O gnio criador de Gil Vicente,
apoiado numa extraordinria vocao potica e numa aprecivel formao intelectual,
supera imediatamente a enformao esttica espanhola e acabar por consolidar o gnero
em Portugal com a sua fecunda produo dramtica. Vivendo em pleno Renascimento,
Gil Vicente no se deixa todavia impregnar daquela concepo horizontal da vida em
que o homem a medida de todas as coisas; no vibra o menor sopro de paganismo em
toda a sua obra, pelo contrrio: nela est evidente uma concepo crist da vida, e da
mais rigorosa ortodoxia. A stira e as peas pias esto continuamente a servio do
missionrio, preocupado na edificao do homem e na sua subordinao Providncia.
Suas peas do-nos a sensao de quem escreve num
inteiro -vontade, com a mais franca autonomia. Gozando
naturalmente de uma liberdade de esprito na corte em que
vive, explica-se que Gil Vicente fustigue de forma impiedosa
toda a sociedade de seu tempo, desde o papa, o rei e o alto
clero, at mais baixa classe social: feiticeiros, alcoviteira e
agiotas. A galeria de tipos riqussima e variada; os vcios
da poca so incontveis e de toda espcie: ridiculariza a
impercia dos mdicos (fsicos) na Farsa dos Fsicos; as
prticas da feitiaria no Auto das Fadas; a bazfia
nobilirquia na Comdia Sobre a Divisa da Cidade de
Coimbra, na Farsa do Escudeiro e na Farsa dos Almocreves; o relaxamento dos
costumes clericais no Clrigo da Beira, no Auto da Barca do Inferno, na Ins Pereira; a
simonia no Auto da Feira e na Barca da Glria; a corrupo no seio da famlia no Auto
da ndia; a nobreza a viver na sua fatuidade e custa do trabalho alheio na Farsa dos
Almocreves; os adeptos da astrologia na figura de Mercrio, logo no incio do Auto da
Feira. Esta pea, alis, uma condenao total da degradao moral do Renascimento,
da poca em que o Cu e Deus perdem o respeito e o temor dos homens, e em que o
dinheiro se torna a mola mestra da vida. Gil Vicente no perdoou tambm a galantaria
cortes, e o prprio gosto petrarquista das antteses foi por ele ridicularizada, na figura de
Colopndio, que na Romagem de Agravados expressa os seus desencontrados estados
sentimentais ocasionados pelo ardor passional.
O que torna imorredouro o seu teatro , no s esta viso total de uma poca
complexa e grande na histria da cultura ocidental, mas o tratamento de temas universais
e a presena dominante de um lirismo carregado dos valores mais legtimos da inspirao
potica. Foi a ausncia desse lirismo e a consequente insistncia nos aspectos cmicos
e grosseiros da representao, que levaram ao declnio o teatro que procurou seguir as
pegadas de Gil Vicente.
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Vicente procura exprimir as misrias da vida, o homem na sua pequenez, o homem preso
s realidades terrenas, o homem que precisa purificar-se para a salvao de sua alma. O
que os aproxima o sentimento cristo no pico, expresso pela conscincia de cruzada a
que se destina seu povo na dilatao da f; no dramaturgo, subentendido no efeito
purificador de sua arte,a ensinar a renncia e propor o caminho que leva salvao.
Se Gil Vicente procura, pois retratar ao vivo a sociedade de seu tempo, as misrias
morais e polticas de ento, perfeitamente explicvel que, dentro deste programa
previamente traado para o seu teatro, no se ajustava muito bem o elogio do homem
renascentista, a exaltao dos valores picos, do herosmo embriagador dos homens de
Quinhentos. Matria dessa ordem brigava com a ndole de seu teatro, pois Gil Vicente
trazia presente no esprito a funo purgadora da dramaturgia. Isto no impediu,
entretanto, que chegasse a escrever o Auto da Fama, onde exalta os efeitos portugueses;
todavia, no prlogo mesmo est bem manifestado o esprito vicentino na exaltao da
fama lusitana: principalmente plo infinito dano que os mouros, imigos da nossa f,
recebem dos portugueses na ndica navegao. (S. Spina, in Presena da Literatura
Portuguesa Era Medieval p. 84-88).
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NOTAS:
enformao ato ou efeito de enformar.
enformar dar forma a; tomar forma, corpo; encorpar; desenvolver-se. Meter na frma ou no molde.
Renascena (ou renascimento) perodo de renovao cientfica, literria e artstica, vulgarmente
considerado como iniciado no sculo XIV e prolongado atravs dos sculos XV e Xvi, e que se realizou, no
plano esttico, com base na imitao dos modelos da Antiguidade clssica greco-romana.
paganismo - conjunto das ideias, costumes e cultos dos pagos.
pago que no foi batizado. Que no pertence a nenhuma das religies monotestas (crist, judia e
mulumana).
ortodoxia [ks] qualidade e condio do que ortodoxo. Doutrina religiosa considerada legitima.
pio que tem piedade; piedoso, devoto.
fustigar bater repetidamente; aoitar. Castigar por qualquer modo, fsico ou moral; maltratar.
bazfia - vaidade, ostentao, presuno. [Cheio de bazfia, discordava de tudo e de todos].
simonia comrcio ilcito de objetos sagrados, indulgncias ou benefcios eclesisticos.
fatuidade qualidade de quem ftuo; presuno; vaidade.
Galantaria ou galanteria arte de galantear; galanteio. Fineza, graa, gracejo, delicadeza. [Do fr. galanterie
(galantri) ]
imorredouro - que no morredouro; que no acaba; imperecvel; imortal; eterno.
Velho de Restelo - personagem criada por Lus de Cames no canto IV da sua obra Os Lusadas. O Velho
de Restelo simboliza os pessimistas, os conservadores e os reacionrios que no acreditavam no sucesso
da epopeia dos descobrimentos portugueses.
foro [] uso ou privlegio garantido pelo tempo ou pela lei. Tribunal [Sin. , neta acep.: frum.]
prosaico relativo ou pertencente prosa. Trivial, comum; banal.
quixotesco [] - relativo a Dom Quixote, personagem de Cervantes.
intuir perceber ou apreender (algo) por intuio, sem interveno do raciocnio; deduzi, concluir.
msalliance [mzalian] casamento desigual.
camiliano - relativo ao escritor portugus Camilo Castelo Branco, 1825-1890, ou sua obra. (Amor de
Perdio, Amor de Salvao entre outras).
fuso utenslio para fiar a roca. Pea onde se enrola a corda do relgio.
roca [] instrumento que serve par afiar.
ufania - vaidade desmedida.
gesta
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Atividades
01)Estudo do texto
Oh! Deus te salve, Maria,
cheia de graa graciosa,
dos pecadores abrigo!
Goza-te com alegria,
humana e divina rosa,
porque o Senhor contigo.
Virgem, se ouvir me queres,
mais te quero inda dizer:
benta s tu em mereceres
mais que todas as mulheres,
nascidas e por nascer.
O fragmento acima pertence pea:
[a] Farsa de Ins Pereira
02)A obra tem como tema o ditado popular "Mais quero asno que me carregue do que
cavalo que me derrube" e trata da questo do casamento por interesse, alm de fornecer
um retrato fiel dos costumes da poca, criticando seus valores superficiais e vazios.
O fragmento acima pertence pea:
[a] Farsa de Ins Pereira
b] O Velho da Horta
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07)Qual a principal caracterstica da obra de Gil Vicente?
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08)Qual a primeira obra de Gil Vicente?
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09)Estudo do texto
- Para que envelhecer
esperando pelo vento?
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Partiu em Maio daqui
Quando o sangue novo atia.
Parece-te que justia?
O fragmento acima pertence pea:
[A] Farsa de Ins Pereira
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10)Nas peas religiosas o autor coloca sempre em relevo a oposio dos dois mundos:
material e sobrenatural, profano e divino, trevas e luzes.
Assinala alternativa que justifica o enunciado acima:
[A] Auto da ndia
11)A Farsa de Ins Pereira glosada a partir do provrbio Antes burro que me leve que
cavalo que me derrube. Comente metaforicamente acerca desse provrbio.
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12)O texto denuncia a revolta da jovem confinada aos servios domsticos, o que confere
atualidade obra.Essa afirmao se refere pea?
[A] Farsa de Ins Pereira
13)Qual a pea de Gil Vicente que tem por tema uma das conseqncias das viagens dos
descobrimentos: o adultrio?
[A] O Velho da Horta
14) Qual a pea que Gil Vicente termina a sua carreira dramtica?
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15)A stira de Gil Vicente abrange as trs classes sociais. Quais so essas?
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19)Assinales alternativas corretas e some os valores:
01)O seu teatro apenas um viso da sociedade de seu tem p em todos os pormenores.
02)Gil Vicente intuiu situaes, motivos e temas de interesse universal a ser explorados
mais tarde pela literatura dos sculos XIII, XVIII e XIX.
04)Gil Vicente preferiu o retrato vivo da sociedade de seu tempo, atravs das suas
misrias, mas em todos os seus recantos.
08)Gil Vicente realiza com certa mestria a arte de ridicularizar baixas crendices.
16)A stira tem uma inteno moralizadora. Mete a ridculo pessoas, instituies,
ideologias ou a prpria sociedade, censurando vcios e defeitos, apontando erros e
incoerncias
32) Gil, autor e tambm actor, elequente e muito hbil em dizer verdades entre gracejos;
Gil Vicente, no era habituado a censurar maus costumes entre leves gracejos.
64)Gil Vicente no poupou, igualmente, as profisses liberais: o juiz, o corregedor, o
procurador, o meirinho e o oficial de justia.
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20)Caracterize as trs fases do teatro vicentino.
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FONTE DE CONSULTA
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SIMES, Manuel. Auto da ndia de Gil Vicente. Lisboa: Editorial Comunicao, 1991.
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NOTAS IMPORTANTES:
1)Leia todas as peas na integra.
2)Alm dos textos complementares, pesquise outros textos que esto citados na
fonte de consulta.
3)Os textos complementares no foram fotocopiados, foram digitados. Entretanto,
poder haver alguns deslizes ortogrficos.
4)Espero que esse resumo sucinto do teatro vincetino, traga-lhe conhecimento do
teatro portugus da Idade Mdia.
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