Crónica Do Princípe D. João Por Damião de Góis
Crónica Do Princípe D. João Por Damião de Góis
Crónica Do Princípe D. João Por Damião de Góis
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JOIAS LITERRIAS.
COLECO DA UIPI\ENSA l:lA Ul'fiVEII.SiDAOE DE COlMBRA.
CHRONICA DO
PRINIPE DOM IOAM,
REI QUE FOI DESTES R.EGNOS SEGUNDO CO NOME,
EM QUE SUMMARIAMENTE &E TRATTAM HAS COUSAS
SUSTANIA.ES QUE NELLES ACONTEERO DO DIA
DE SEU NASIMENTO ATTE HO EM QUE ELREI DOM
AFONSO SEU PAI FALEEO. CoMPOSTA DE NOVO PER
DAMIAM DE GOES, DIRIGIDA AHO MUITO MAG-
NANIMO, & PODEROSO R.Et DOM [oAM TEREIRO DO
NOME.
NOVA EDIO.
Da. A. J. GONLVEZ GUIMARIS,
lentedaUnivenidadedeCoimbra.
COIMBRA:
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
M.DCCCCV.
CHRONI
CA DO PRINCIPE DOM IOAM.REl
Q..VE FOI DESTES REGNOS SEGVNDO DO
1'10M8
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MM Q,.VE JVId4AilfAJ.IENTB SE TllATTAil
hascouf:n fufbniacs que ucllcs aconuerio do di2vclc fcu na.
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PREFCIO
DA PRESENTE EDICO.
. ~
A
DQUIRIR uma biblioteca, embora modesta, de escri ..
tores portugueses, mormente daqueles que deixaram
lugar assinalado na literatura nacional, um problema
de tal maneira escabroso e dificil, que raros sam os
que o chegam a resolver, sem dispenderem nisso quan-
tioss somas. As primeiras ediis das obras cls-
sicas sam em estremo raras, e as edii.s posteriores
sam pela maior parte deploraveis. Tem-se procedido
com os monumentos literrios com tanta irreverncia
como com as velhas pinturas, que mo inexperiente se
mete a restaurar. A ortografia tnodifica-se, remoa-se a
capricho, e depois da ortografia chega a vez morfolo-
gia, ao lxtco e sintass.e. ~ Quem que pode assim
responder pela veracidade do texto ?
,
E necessrio no esquecer que uma obra literria
como que estereotipa uma modalidade lingstica nas
formas que emprega, no modo como as emprega, na
estrutura da frase e na grafia; que essa modalidade se
relaciona intimamente com a sua poca, com o seu lugar
de origem e com o seu autor; exemplifica uma fase da
. evoluo do jdiorna ... em que foi escrita, e porisso um
.. ---
..
VI PREFCIO
documento histrico desse idioma. E estes documentos
'
sam necessrios, para sobre eles se fazer o estudo do
lxico, da gramtica e da arte literria, bem cotno
para se resolverem diferentes problemas histricos e
lingsticos, entre os quais tem lugar especial o pro-
blema ortogrfico.
,
E rro crassssimo admittir que as grafias antigas
eram menos legtimas que as de hoje, e que portanto
estamos autorizados a emend-las e reform-las a
nosso helio-prazer. Pelo contrrio, o estudo dessas
grafias, e at dalguns lapsos, que involuntriamente
. . , . , .
escaparam ao escritor ou ao revisor, e Interessanttsstmo
e dos mais instrutivos. Nestes lapsos encontram-se
muitas vezes provas ou indcios reveladores de diis,
formas de flexo ou construis, que tiveram curso na
lngua, algumas das quais j ento eram arcaicas, e no
chegaram vivas at ns; encontram-se variantes dia le-
tais, particularidades de pronunciao, tendncias fon-
ticas, etc. etc.
,
E pois manifestamente til pr ao alcance dos estu ...
diosos, pelo menor preo possivel, este precioso e
inesgotavel material de estudo.
Eis em resumo o intuito e o fim, que se prope
atingir a presente edio da CHRONICA DO PRINIPE DOM
loAM, a quarta pela sua ordem cronolgica. O texto
que nos serviu de guia o da primeira edio, publi ..
cada em 1 S67, anda em vida de Damio de Goes e
por ele prprio rubricada.
Esta nova edio, que devemos ao bom critrio e
esforos do nosso colega e amigo, Dr. Francisco Jos
de Sousa Gmez, actual administrador da Imprensa
da Universidade, ser brevemente seguida duma edio
semelhante da CHRONICA Do F:ELICISSIMO REI DOM EMA-..-
DA PRESENTE EDIO VII
NVEL, do mesmo autor, e doutras obras selectas mais
ou menos raras, se a isso no vier opr-se algum
obstculo imprevisto e insuperavel.
Conservouse com todo o cuidado a ortografia ori-
ginal, corrigindo apenas o que evidentemente era rro
tipogrfico, e modificando ou ajuntando um ou outro
sinal de pontuao, para facilitar a leitura. Conserva-
ram-se tambm propositadatnente, alm das variantes
ortogrficas que naquelle tempo se usavam, algumas
maneiras de escrever que, embora defeituosas, eram
como prometeres p. ptometereis, deues p.
deueis, notaues p. natueis, va1zda1 .. a por Bandarra
(duas vezes na pag. 168), baldes p. Vald8s (pag. 176).
,
E interessante a grafia disse, que nos aparece como
por lapso a pag. 92, I. 9 (a ortografia corrente era
dixe).
Algumas
resalvar em
texto.
vezes achmos conveniente registar ou
nota uma ou outra correcco feita no
,
Para tornar enfim mais cmoda a leitura e facilitar
a inteligncia da obra, adicionmos a esta edio um
vocabulrio geogrfico, em que guardar,
tanto quanto nos foi possivel, a categoria das dife-
rentes localidades e as divisis administrativas e pol-
ticas do tempo a que o texto refere.
Em seguida ao texto da CHRONICA reproduzem-se
as variantes que se encontram num exemplar da 1 .a
edio existente na Biblioteca Nacional de Lisba, que
parece ter servido para a censura, e bem assim uma
curiosa variante da edio de 1790.
As variantes da edio princeps fram descobertas
pelo Sr. Joaquim de Vasconcellos, e por
ele publicadas na sua ARcHEOLOGIA ARTSTICA, vol. II.,
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VIII PREFCIO
fase. X., p. 78 e segg. Julgmos porm conveniente,
para evitar algum rro que por ventura podesse ter
escapado na reviso das provas, conferi-las de novo
com o exemplar da Biblioteca de Lisba, e recor-
rmos para isso competncia e amizade do Sr. J. B.
Ea d'Almeida, professor do Liceu de Lisba. Pres-
tou-nos com efeito S. Ex.a mais este bom servio,
levando a sua dedicao ao ponto de copiar textual-
mente diferentes passagens que nos remeteu, e com
tanta felicidade, que descobriu no ndice do dito vol.
a primitiva redaco do sumrio do cap. xcviij, que
a censura tinha alterado completa.mente. Esta parti-
cularidade tinha escapado investigao, alis experi-
mentada e muito meticulosa, do Sr. J. de Vasconcellos.
Duplo motivo para o nosso reconhecimento, que igual-
mente confessamos ao erudito biblifilo, Sr. Anibal
Fernndez Thoms, o qual obsequiosamente nos em-
prestou o exemplar da ARCHEOLOGIA ARTSTICA de que
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nos servimos.
Lutmos por vezes com dificuldades, que nos custa-
ram muito tempo e penoso trabalho, no obstante as con-
sultas que em certos pontos tivemos de fazer a pessas
mais competentes do que ns em assuntos de investi-
gao histrica e bibliogrfica, e de termos nossa
I
a Biblioteca da Universidade. E pois com o
maior prazer que deixamos aqui consignado o teste-
munho do nosso reconhecimento a todas as pess&.s
que nos prestaram ausslio, alm dos dois cavalheiros
j mencionados, e dos Srs. Drs. Joaquim Mndez dos
Remdios, que est dirigindo a Biblioteca da Univer-
sidade, e Augusto Mndez Simiz de Castro, a cujas
luzes nunca se recorre debalde .
Anda assim alguns pontos ficaram que no logr-
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DA PRESENTE EDIO IX
mos decifrar. Entrava neste nmero a identificao das
ilhas de S. Denis, S. Luis, S. Thoms e Sta. Eiria,
psto que do prprio texto depreendessemos que seriam
as do Pico, Faial, Flres e Crvo, do arquiplago dos
Acres. Felizmente o ARCHIVO HISTORICo PoRTUGUEZ
veiu ainda a tempo de nos esclarecer estas dvidas
com um substancioso artigo sbre Ilhas perdidas,
inserto no tomo II, pag. 53.
Combra, outubro de 1904.
G. Guimaris.
TA VOADA DOS CAPITVLOS DA CHRONICA
DO PRINCIPE DOM IOAM.
>
CAPITVLO PRIMEIRO. Do najimento do Prinipe dom
/oanz, & doutras coufas que no mefmo attno paffa-
ram no Regno. 3
CAP. ij. De quomo bapti:{_aram ho & ho modo
que fe niffo teue. 4
CAP. iij. De quomo ho Prinipe foi Jurado pot herdeiro
legitimo do Regno. , 5
iiij. Do recado que ho Duque Phelippe de borgonha
mdou a elRei d Afonfo fobelo cafo da morte
do Infante d Pedro, & da trejladao de feus
offos. 7
CAP. v. De quomo faleeo ha Rainha dna lfabel, maim
delRei dom Ioam. 9
CAP. vj. Em que ho author fa:{ hum breue [o-
bre has nauegaes que ho Infante d Anr-rique nzan-
dou fa:{_er per a defcobrir ha viag da India. I o
CAP. vij. Das caufas que moueram ho Infante dom A11r... .
rique a querer defcobrir terras, & mares pola cofia
Dafrica, atte chegat India, & da erte:{_a que teue
peta ho mandar fa:{_er. 14
CAP. viij. Em que fummariamente fe tratta das naue-
XII TA VOADA DOS CAPITVLOS
gaes, que per mdado do Infante d Anrrique fe
fe:reram, & terras q fe ho naft-
mento do Ptintpe dom Ioam. 17
CAP. ix. Em que ho autho1,. tratta dalgas particulat .. t-
dades das ilhas dos Aores, & de ha antigualha que
fe nellas achou. 24
CAP. x. Do apet'"ebimento que elRet dom A(o1zjo fe:r
pera paffat-- em Africa a tomar ha vil/a Dalcaer
eguer ahos Mouros. - 29
CAP. xj. Da antiguidade & filio da vil la Dalcaer, & do
confelho que e/Rei teue antes de ha et'"car. 3o
CAP. xij. Do primeiro combate que deram vil/a Dq1-
caer, & do que .fe pa_ffou nelle. r3
CAP. xiij. Do .fegundo combate que elRet mandou dar
vil/a, & de quomo foi tomada a partt"do. 35
CAP. xiiij. Do que e/Rei fe:r lzo tempo que .fleue em Al-
caer, & quomo fe paffou dali a. Septa. 38
CAP. xv. Do jitio, nobre:ra, & a11tiguidq,de da t"dade de
CAP. xvj. Do que elRei dom Afon_fo fe:r ho tempo
que jleue em Septa, & de quomo .fe tornou aho
Regno. 44
CAP. xvij. Dalgas coufas que nejle tpo a/te ha tomada
Dar:rilla paffar nejles Regnos. 47
CAP. xviij. De quomo e/Rei dom determiuou
paffar em Africa, pera tomar ha idade de Tanger,
& quomo per con_felho, & pareet dos .feus ordenou
de ir fobela vil la Dar:rila. 61
CAP. xix. Quo11zo ho Prinipe dom Ioam alca1zou dei-
Rei .feu pai que ho leuar conjigo, & do modo
que niffo teue. 62
CAP. Da que houue entre ejles Regnos,
& hos Dinglaterra nejle tempo. 65
DA CHRONtCA no PRINIPE DoM loAM. xut
CAP. xxj. De quomo elRez partio de l,isba, & do que
paffou atte ancorar diante da vil/a Dar1_i/la. 68
CAP. xxij. Dofitio, & a1ztiguidade da vil/a Dartilla. 70
C ~ P . xxiij. De quomo e/Rei defentbarcou com ji1a gente,
& mdou loguo erquar ha villa. 73
CAP. xxiiij. De quomo fe conzeou ho combate, & ha villa
foz entrada fem ho e/Rei faber. 75
CAP. xxv. De quomo ha mi1_quita foz entrada, & da
braua pele.ja que job1-.e ij]o houue. 76
CAP. X.."{Vj. De quomo elRez tomou ho cqflello, & do q
fe no combate delle pa.ffou. 78
CAP. xxvij. De quomo depois de acabado ho co1nbate do
cajlello e/Rei fe foi mi'{ quita, & armou ho Prin-
ipe caualleiro. 8o
CAP. xxviij. Dalgas cousas que e/Rei fe1_, & ot-.denou
hos dias que jleue em Ar:rilla. 82
CAP. xxix. De quonzo Molei xeque veo a focorrer Ar-
{illa, & dos ce1-.tos q antre e/Rei, & elle fe fe-
1eram. 84
CAP. x.xx. Enz que (e tratta quomo lzos Mouros, que vi-
uiam em Ta11ger, deixa1am ha i,iade, & has caufas
porque, & de jita a1ztiguidade, & fitio. 85
CAP. xxxj. Do que e/Rei fe:r hos dias que jleue em
1""'a1lger, atte que .fe fe'{ a t'ela per a ho Regno. 88
CAP. xxxij. Em que breueme11te fe trattam algas cou-
fas que 11ejle a1uzo de mil, & quatro e11tos, & fel-
tenta, & hum pa_f!aram nejles Reg11os. 8g
CAP. xxxiij. Da mudana que .elReife:._ da caf'a, & jlado
da Infante donna loa1zna .fua filha. 91
CAP. xxxiiij. De quonzo ha o.ffada do Iufaute dom Fer
na11do foz 11--a'{ida de F1_, & doutt-.as coufas que fe
1lejles Regnos pa.ffaram no a111Zo de mil, & quatro
entos, & .. fettenta, & dous. g3
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XIV TA VOADA DOS CAPITVLOS
CAP. xxxv. Ent que ho aulor ja'{ hum [obre
hos varios pareeres, & opinies que em Cajlella
houue fe ha Infante do1zna Ioanna era filha delRei
dom Anrrique. g5
CAP. xxxvj. De quomo e/Rei dom Ant--rique jurar
ha Infante dna Ioanna por herdeira dos Regnos
de Cajlella, & veneo em batalha ho Infante dom
Afonfo feu irmo. 103
CAP. xxxvij. De quomo e/Rei dom Anr, .. ique perdoou
ahos que foram contra elle, & declarou ha Infante
dna Ifabel fua mea irm, per fua herdeira, &
doutras coufas que tocam ahos negoios da Rainha
dna Ioanna. 106
CAP. xxxviij. Dos cafamentos que e/Rei dom A1zrrique de
Cajlella quiferafa'{er com e/Rei dom Afonfo, & com
ho Prinipe do1n Iaam, & de quonzo ha l1ifante donna
{fabel.fe cafou com ho P1-.i11ipe dom Fernando con-
tra vontade de/Rei dom An1 .. .feu irmo. 1 I 2
CAP. xxxix. Da linhagem delRe.!._. dom Fernando, donde
Jeu real tronco pt--oede. 1 i4
CAP. xl. Dos c0;{amentos que fe trattaram da Prinefa
donna Ioanna com dom (.,yarlos duque de Guiena,
irmo de/Rei Luis de F.,rana, & aJii. com e/Rei
dont Afon.fo de Portugal. I 16
CAP. xlj. De quomo e/Rei dom Anrriquefaleeo, & das
(leclaraes q em .feu tejlanzento fe{_. I 19
CAP. xlij. Dalgas coztjas que aconteeram em Cajlella,
depois que e/Rei dom Anrrique morreo, & do re-
cado que e/Rei dom Afon.fo mandou ahos gra11des
que em Cajlella eranz da banda da donna
Ioan_na, & do que lhe refponderam. I23
- CAP. xliij. Dalgas cozifas particulares q nejle tenzpo
aconteeram 110 Regno. 126
...
_...... ..
DA CHRONICA DO PRINIPE DoM loAM. xv
CAP. xliiij. De quomo e/Rei dom Afonfo mandou Rui
de foufa a Cajlella, & Jobre que, & de quomo Je
aperebeu per guerra que queriafa'{_er. 127
CAP. xlv. De quomo e/Rei dom Afonfo mandou aper-
eber todolos fenhores, & caualleiros do Regno,
leuar munies de guerra, & co1ljas 1leeffarias
vil/a Darro11ches, & do q elRei dom Fernando, &
ha Rainha donna Ifabel jcreue1am a algis dos fe-
nhores de Cajlella q tinham ha parte da Rainha
dna lo11a. I3I
CAP. xlvj. Do que e/Rei dom Fernando fe'{ depois de
lhe Rui de Jozifa_ter declarada ha guerra. J33
CAP. xlvij. De quomo e/Rei dom Afoufo mandou dom
Alua1o dataide a Frana, & fe partio pe7"'a Arro11-
ches. I35
CAP. xlviij. De quomo elRei dom Afonfo (e'{ publica-
mente let ha patente, per q daua, & co7ledia ha
gouernana do Regno aho Prinipe dom Joam, &
das palauras que lhe dixe, & menagem que lhe
tomou. I38
CAP. xlviiij. Da noua que veo a e/Rei, do nafimento do
Infante dom Afonfo feu neto, & dalgas coufas q mais
fe'{_, & ordenou ~ o tempo qjleue em Arronches. 140
CAP. I. De quomo e/Rei dom Afonfo fe partio Darron-
ches pera Cajlella, & chegou a Plajetza. 141
CAr. lj. De quomo e/Rei dom Afonfo reebeo ha Rainha
dna Iona por fpofa, & .fe chamaram Reis de Ca-
jlella, & de Leam, & Portugal. 143
CAP. lij. Do que e/Rei dom Fernando, & ha IJ.'!-inha
donna Ifabel fe'{etam depois delRei dom Afonjo
fer Jpofado com ha Rai11ha donna loan11a. 14S
CAP. liij. De quomo e/Rei dom Afonfo fe veo Dateualo
a Touro, & do que ahi, & em amora fe'{_. 146
B
- .....
XVI TA VOADA DOS CAPlTVLOS
CAP. liiij. De quomo e/Rei dom Fernando veo [obre
Touro, & ho que hi fet. 147
CAP. I v. Do que e/Rei dom Afonfo 1efpondeo a eiRef
dom Fernando. 149
CAP. lvj. Da reprica que e/Rei dom Fernando fet
repojla de/Rei dom Afonfo, & do que fe mais paffou
nfjles & de quomo e/Rei dom Fernando
leuantou feu arraial, & fe foi pera Medina del
.. campo, & doutras particularidades. I 5 I
CAP. lvij. Do que fjles dous Reis feteram depois dtifie
negoio de Touro, profeguindo cada hum delles na
guerra q tinham comeada. I53
CAP. lviij. Dalgz7s conertos q fe comearam a trattar
entrytes dous Reis, per meo de dom Pedro de men-
dona cardeal de Cajlella, hos quaes nam houueram
effeBo. 55
CAP. lix. Do recado.que hos de Burgos mandaram a
e/Rei dom Fernando, pedindolhe foccorro ctra
loam de ejlni'ga, capitam do Cajlello da idade,
& do que Jobriffofe;. 1S9
CAP. lx. Do que e/Rei dom Fernando {e'{ depois de ter
ganhada ho & de quomo loam de ejlniga
auifou ho duque Da1eualo. & hq duque a e/Rei dom
Afonfo do trabalho, 8- aperto em q jlauam. 16I
CAP. 1xj. De quomo e/Rei dom Afonfo determinou }O-
correr ahos do Cajlello de Burgos, & do q fobriffo
CAP. lxij. De quomo e/Rei dom Afonfo partio Dareualo
pera Pna fiel, & tomou ho villa de Baltans. 164
CAP. lxiij. De quomo per fofpeita que e/Rei dom Afonfo
teue dos de amora, fe tornou de Penna fiel pera
Areualo, & de quomo tomou ha villa de Cantata-
pedra, & fe veo Da1eualo a amora. I67
I
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DA CHRONicA DO PniNCIPE DoM loAM. xv11
CAP. lxiiij." Do que ha Rainha donna (fabel fe'{ depois
que foube da tornada de/Rei dom Afon_fo pera A1 .. e-
ualo, & de quomo hos de Vcanha fe deram a e/Rei
dom Fernando. 169
CAP. lxv. De quomo ho Priuipe dom Ioanz tomou lza
villa Douguella, & da morte de Ioam da .!Ylua feu
. ,
camaretro mor. 172
CAP. lxvj. De quomo e/Rei dom Ajoujo .fcreueo aho
Printpe dom Ioam q .fe vieffe ver com elle, &
quomo fobrejleue por caufa de hia treiant que lhe
tinham ordenada na ponte de amora. 17S
CAP. lxvij. De quomo je ordenou ha treiam da ponte de
amora, & do que elRei don1 Afon,fo 1liffofe'{_. 176
CAP. lxviij. De quomo e/Rei dom cometteo lza
po1Zte de amora, & defijlio do conzbate .fem a po-
der tomar. . 1 79
CAP. lxix. Do que e/Rei dom Afon_fo je'{ em amora
depois dejle combate, & de quomo je foi ha noite
feguinte com ha Rainha fua ./Po.fa per a 1ou.ro. 181.
CAP. lxx. Do que paffou em amora ha nqite,
& dia feguinte, que .fe e/Rei dom Aforz.fo foi. I83
CAP. lxxj. Do que je nejle tempo (e'{ no erquo do ca-
jlello de Burgos, & de quomo hos ercados .f'e dera1n
a partido. 184
CAP. lxxij. Quomo e/Rei do1n Afon_fo matldou defajiar
e/Rei dom Fernando pera Batalha campal, & de
quomo hos Cajlelhanos prenderanz ho conde de Pna
macor, em hum recontro que houue com Aluaro de
mendona, entre anzo1 .. a, & Touro. 188
CAP. lxxiij. De quomo e/Rei dom Fernando determinou
de dar batalha campal a e/Rei dom &
doutras particularidades que tocam alzos negoios
do Regno. 190
XVIII . . TA VOADA DOS CAPITVLOS
CAP. tx:xiii j. DQS aperebimeJZtos que ho Prinipe dom
loam je'{ em Portugal, pera ir foccorrer e/Re-i Jeu
. pai, & de quomo entrou em Cajlella, & do que fe'{
atte chegar a Touro. 192
CAP. lxxv. De quomo elRei dom Afon_fo partio de
Touro pera amo1a, com tenam de dar batalha
a elRei dom Fe1nando, & dalgas praticas que je
pa.ffaram pera je fa'{_er pa'{, que nam houueram
eifelo. 195
CAP. lxxvj .. De quomo elRei dom Afonfo leuantou ho
erquo da ponte de "amora, a tenam de tra'{_ef
e/Rei dom Ferna1zdo a batalha. 199
CAP. lxxvij. De quomo elRei dom Fernando pa.ffou hos
portos da ferra de Touro, & fe ordenou entre
elle, & e/Rei donz Afon_fo ha batalha de Cajlro
queimado. 202
CAP. lxxviij. De quomo has batalhas romperam, & hos
Reis defempararam ho campo, .ficando ho Prinipe
dom Ioam venedor 1zelle. 2oS
CAP. lxxix. Do que ho Prinipe dom loam (e'{ depois
de/Rei dom Afon_fo feu paz, & e/Rei dom Ferna1rdo
ferem idos do campo. 2 1 o
CAP. lxxx. Do que ho Prinipe fe'{ depozs q chegou a
Touro, & de quomo mandou gente a Cajlro nunho,
com ha qual e/Rei .feu pai .fe veo per idade. 212
CAP. Ixxxj. De quomo e/Rei donz Fernando cobrou ho
cajlello de amora, & perdoou ahos que jlauam
nelle. 214
CAP. lxxxij. Quomo ho arebzj'po de Toledo pedio li-
ena a e/Rei dom Afonfo peta ir .foccorrer fitas
terras, & do que pa.ffou atte chegar a Alcala de
henares. 2 16
CAP. lxxxiij. De quomo ho Prinzpe fe tornou a Portu-
DA CHRONICA oo PRINCIPE DoM loAM. XIX
li
gal, pera prouer nas cou_fas do Regno, & com elle
lzo btfpo Deuora, & ho conde de Pene/la. 218
CAP. lxxxiiij. De quomo e/Rei dom Fernando mandou
ercar Canta/apedra, & do que fe ni.ffo pa.ffou, &
de hia ilada.que e/Rei dom Afonfo lanou a elRei
dom Fernando. 220
CAP. lxxxv. De quomo e/Rei dom Afonfo lanou ha
zlada Rainha dna Ifabel antre Madrigal, &
Medina, & do que fe ni.ffo pa.ffou. 22 I
CAP. lxxxvj. De quomo e/Rei dom Afon_fo leutou aho
conde de Benauente ho Juramto que lhe tinha feito,
& foi folto ho conde de Pna macor. 223
CAP. lxxxvij. De quomo fe leuantou ho erquo de Ca1l-
talapedra; & do jlrago que e/Rei dom Afonfo fe.'{
per toda ha comarqua de Salama11qua. 224
CAP. lxxxviij. De quomo e/Rei dom Ajo1tjo Je veo pera
Portugal com ha Rainha don11a Joanna fua fpofa. 226
CAP. lxxxix. De quomo e/Rei dom Afonfo partio pera
Frana, & do que l pa.ffou jumma1iamente. . 23o
CAP. xc. De quo1no ho Prinipe dom Ioam tomou ha
villa Dalegrete, & lzouue hos lugares de Zaga/a,
Pedra ba, Ferreira, & Noudat. 232
CAP. xcj. De quomo ha Rainha donna lfabel mdou
erquar Touro, & ho a1cebifpo de Toledo, & ho
marques de Vilhetza .fe reconiliaram com ella, &
ho cajlello de .J.\Jadril Je deu por partido. 233
CAP. xcij. De quomo hos Cajlelhanos cobraram ha i-
dade de Touro, & ho conde de Ma1-.ialua fe acolheo
com hos Jeus a Cajlto tzunho. 235
CAP. xciij. De quomo ha Rainha dna lfabel veo i-
dade de Touro, & dna Maria farmento teue ho
cajlello p.or Portugal, atte q defefperada de foc-
corro ho deu a partido. 238
,
XX TA VOADA DOS CAPITVLOS
CAP. xciiij. De quomo ha Rainha donna Ijabel [e foi
de Touro a Veles, pera impedir a eleiam do me-
jlre de Sanliago. & elRei dom Fernando veo a
Touro, & matzdou ercar Cajlro nunho, & outros
cajlellos que jlauam por Portugal. 240
CAP. xcv. De quomo e/Rei dom Fernando cobrou Ca-
jlro nunho por partido que fq com Pero de men-
danha. & da calidade de fua pe.ffoa, & outras par-
ticularidades. 243
CAP. xcvj. De quomo dom Afonfo de cardenes, comen-
dador mr de L.eam, entrou em Portugal. & cui-
dando q ho Prinipe dom /oam vinho fobrelle fe
tornou pe1a Cajlella. 247
CAP. xcvij. De quomo e/Rei dom Afoufo defeJPerado
de houer foccorro, nem ajuda de/Rei de Frana Je
tornou aho Regno. & ho Prinipe lho entregou, &
deixou ho titulo de rei que j tinha. 250
CAP. xcviij. De quomo Lopo vat de cajielbranco fe ale-
utou com ha vil/a de Moum. & ha caufa por que
hofq. 54
CAP. xcix. De quomo foi desbaratado dom Garia de
menefes, bi.JPo Deuora, em ha entrada que fet em
Cajlel/a. 256
CAP- c. De quomo e/Rei dom Afonfo mandou Pero de
mendanha por fronteiro de Barellos, & da gue,.,a
que {e{ ahos Gallegos. 259
CAP. cj. Da corifirmaam de tregoas, & p{ que e/Rei
dom Afonfo fei_ com ho duque Franifco de Bre-
tanha. 260
CAP. cij. Das honrras. & meres que e/Rei dom
Afonfo fei_ defiw a11110 de m1-l quatroentos fettell-
ta, & inquo. atte ho de OI-tenta, & hum, em que
faleeo. 262
...,_ __
~ - . . . ........ -i ... - - ~ - - .. -- - .--
r . . .
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a:._.
DA CHRONICA DO PRINCIPE DOAI IOAM. XXI
>
CAP. ciij. Em que fimariamente fe tratta das pa1_es que
Je fe{eram entre Cajlella, & Po1tugal, & do que
depozs de ferem feitas fe trattou nejles Regnos, att
ho fallezmento delRez dom Afonfo. 266
CAP. ciiij. Do falleimento de/Rei dom Afonjo. 269
'
: .
PROLOGO.
QRAUE .NEGOIO comette fereniffimo Rei, quem ou por
obrtgaam, ou por lhe mandado fe defpo a
dar nouo teftimunho dos feitos, & proezas de Reis,
& prinipes, cujos mereimentos fam taes, que ha rezam
obriga a louualos, & ha induftria a trabalhar pera com
arte, & prudia fe encomendarem fc.riptura, ma da
eterna memoria,. & pois nifto ho pefo da materia po
fpanto, ainda que ho que fe fcreue nam foffe per outros
tentado, quanto fera mais dareear fe has mefmas cou-
fas fam j compoftas, & diuulgadas per outros fcri-
pt9res, porque he coufa clara poerffe a mais
quem de vontade fcreue hiftoria, que ho que tem obri-
gaam de ho fazer : & muito mais fe tratta de feitos de
Reis, & grandes porque neftes fe requere alto
ftylo defcreuer, grde ornamento de lingoagem, fotil,
& difc_reto artifiio rhetorico, & ifto tam temperado,
que ho difcuido do fcriptor nam egue ha gloria do
que tratta, nem ho defacoftumado modo de dar .. cores
defneeffarias aho que quer dizer, faa fufpeita de pouca
f, & pare3: fer ha tal fcriptura, mais imitaam de
gedias fabulofas, fob cor de verdade, q ftylo hiftorio,
no qual fe requere erta notiia do q fe tratta, & in-
teira f no q fe conta, & grande prudenia no que fe
fcreue : polo q ha hiftoria te em fim tta mageftade,
q nella fe nam pode fofrer palaura nenha, que no lu-
gar em que fe po nam traga cfigo grauidade, honef-
tidade, & authoridade, s quaes leis, & jugo a q ho
ftylo hi.ftorico eft fugeito, & de q c rezam nam pode
fair, ahos que por obrigaam fatisfazem com feus tra-
I
PROLOGO.
balhos tudo aquillo que nelles he, effa obrigaam hos
difculpa da mr parte da culpa, em que fcreuendo po-
dem cair: mas quem fem fer chamado fe offeree a
taes perigos, & fem ter obrigaam fe auentura a trattar
de negoios. de que nam poffa dar ba conta, digno he
por erto de fer mui reprehendido, fe neffa parte nam
mofl:rar que tomou emprefa de que poffa fair com h6rra,
& acabar c louuor, & tomando eu efte rifquo, claro
he que armo laos, em que nam ha f vez, mas mui-
tas pude, & podera cair, fe has caufas que me mouer
a tomar efte trabalho nam foffem de calidade pera com
ho fauor de V. A. me poderem dar todo foccorro neef-
fario contra aquelles que quifeffem arguir, & tachar
minha tam, que he reduzir ha Chronica delRei dom
Afonfo qumto do nome, defno nafimento do Prinipe
dom Ioam feu filho, atte que elle falleeo, a milhar
modo, & ordem da em que anda diuulgada, ho que
nas mais Chronicas deftes Regnos feria tambem ne-
effario fazerffe, fe ho tempo a iffo de fun deffe Jugar,
porque nellas faltam muitas coufas, que por negligenia,
ou reeo do trabalho, hos Chroniftas paffados deixarmn
defcreuer, & affentar nos lugares em tpJe ho fio da hif-
toria da manifefto final do defcuido que nelles houue.
Ha qual hiftoria, quomo de prinipe que lhe he tam
chegado em fangue, & parentefquo, & tam conforme
em virtude, & grandeza danimo, & femelhante em ti-
tulo, nome, & dignidade, voffa Alteza reeba da mo
defte feu leal criado, & fua c.onheida feitura, com
aquella vtade, com que coftuma aeptar hos feruios
de feus vaffalos, & fauoreer, & honrrar foas coufas,
posto que fejam indignas de tamanhos premias, quomo
am, hos com que voffa Alteza fatisfaz hos trabalhos
tomados por feu feruio.
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- .....
'--
. . .
CAPITVLO PRIMEIRO-
Do nafimento do Prini'pe dom loam, & doutras
coufas que no mefmo anno paffaram 110 Regno.
E b:I d6 Afonfo quinto, filho delRei d6 Duarte, cafou
com ha Infante donna lfabel, filha do Infante d
Pedro feu tio, irmo legitimo do mefmo Rei d
da qual fenhora houue ho prinipe dom loo, Rei tre-
zeno deftes Regnos, fegundo do nome, que nafeo em
Lisba nos paos Dalcaoua ahos tres dias do mes de.
Maio de M. cccclv. E porq minha tenam he nefta Chro-
nica declarar per annos todalas coufas q no difcurfo
della poder alcanar; q fe neftes Regnos paffaro, come-
arei logo nefte primeiro a feguir ha ordem q niffo tenho.
prefupofto de leuar, no qual anno ahos XX:. dias' de Maio
fez elRei d<? Afonfo marques de villa Viofa d Ferndo
cde Darraiolos filho fegundo de d Afonfo duque de
Bragana, & deu de juro, & herdade ho lugar de Goes
a Diogo da fylueira feu fcriuo da-' puridade, & veador
mr das obras do Regno, por cafar com donna Betriz
de goes, filha de Fernam gomcz de goes fenhor defte
lugar, & idade de Coimbra deu priuilegio per que
lhe quitaua ha dizima velha do pefcado que fe pagaua
na portage, & a Ferno de moura caualleiro deu ha
jurdiam Dazambuja, c poder. de tirar, & por taba-
lies, & ahos quinze dias Dagofto defte anno armou
L
4
CHRONICA DO PRINIPE
elRei caualleiro ho Infante dom Femdo feu irmii
Lisb6a, c5 tanta folnidade q quafi ho menor ap
defta pompa foi preederem diante defie mag
auto mil tochas, das quaes leuauo quatroentas <
leiros, & has feifentas fcudeiros dos mais luzid
corte, todos veftidos de hum trajo, & libre. Alg
zem q ifto foi no anno de M. cccclvj. mas de qua
modo que foffe elle foi ho mais folne auto que
fua calidade neftes Regnos depois fez.
CAP. ii. De quomo baptitaram ho & ho
que Je nffo teue.
ELREI n AFoNso era muito inclinado aho ferui
Deos, & muim obedite ahos coftumes, & c
es da egreja Rom, pola qual rezam ainda q 1
pella de S. Mjguel dos paos Dalcaoua, ou em
quer fala, ou camara delles, podera mandar bB.J
ho Prinipe, contudo, pofto que contra opinio dt
tos que dauam rez5es que de todo no ero pe1
geitar, feu pareer foi q aao to folemne fe deuia
publicamente pera contentamCto do pouo, & aleg
toda ha polo que oito dias depois que
nha pario, que foram xj. do dito mes de Maio, ho
ipc foi leuado S com grande pompa, & nel
ptizado. Hos padrinhos fegdo Garia de resende
ho Infante, ho qual nam nomea, mas por rezam
de fer dom tio deiRei, & ho prior do
dom Vafquo dataide, madrinhas fegundo ho dito
ia de refende ha Infante donna Catherina irm d
& ha marquefa de villa Viofa, & dona Beatriz
lhena, molher de Diogo fuarez. E fegundo ho que
pos ha Chronica deiRei d Afonfo foro padrinh
r
.'.
-
I
I
'
DoM loAM. 5
duque de Bragana, & dom V afquo datai de prior do
Crato, & dna Beatriz de vilhena. Ho Infante dom
Fernando, irmo delRei, leuou ho Prinipe nos braos
atte ha S cuberto de hum palio de panno douro, ho
qualleuau dom Pedro de menefes, conde de villa Real,
& d Vafquo dataide prior do Crato, que iho diante,
& d Fernando conde Darraiolos, que dahi a poucos
dias elRei fez marques de villa Viosa, & d Fernando
feu filho maiQr, q depois foi conde de Arraiolos, que iham
detras. H o faleiro leuaua d Fernando de menefes, & ho
gomil, & baio da offerta Lionel de lima, que depois
elRei d Afonfo fez vizconde de Villa noua de erueira
c titulo de dom pera elle, & pera Ioo de lima feu filho,
guarda mr que foi do mefmo prinipe dom loo, &
qu baptizou ho prinipe no affirmo, porque ho Chro-
nifta diz q foi dom Ioo Bifpo de Septa, que depois
foi Bifpo da Guarda, & Garia de refende diz que foi
ho Arebifpo de Braga, ho qual nam nomea, & pois
eftes dous fcriptores que ambos foram quafi defte tempo
diferem entre fim, que fara quem de tam longe ha dir
bufcar has coufas que quer trattar na verdade, mas
quomo minha teno feja mais fcreuer ha_ Chronica
defte alto, & magnanimo Prinipe, que reprehender
erros alheos, paffarei a dite, deixando ho teftimunho
deftas duuidas ahos que ent for presentes.
CAP. iij. De quomo ho Prinipe foi Jurado por herdeiro
legitimo do Regno.
D
EPOIS QUE uo Prinipe foi baptizado, logo dahi a
poucos dias elRei d Afonfo fez ajuntar hos fiados
do Regno em Lisba, ahos quaes entre outras coufas
propos que fua tenam era fazer jurar ho Prinipe por
l
.
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....------ - ~ - - ...... ~ - ----
.
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---
6 CHRONICA DO PRINIPE
verdadeiro herdeiro de feus Regnos, pofto que foffe de
tam pouca idade quomo era. E porque a tam jufta pe-
tiam nam hauia coufa que fe pode fie contrariar, todos
lhe teuero em mere to ba lembrana, pedindolhe
que :foffe logo pois ali eftauam juntos pera fazer ho
que lhes fua Alteza mdaua, pera ho que feito ho apa-
rato que fe a tal negoio requeria, nam fendo ho Prin-
ipe de mais idade que de hum mes, foi folnemente
jurado por herdeiro do Regno, & dali por dite dna
lana fua irm; que atte entam fe chamaua Prinefa
deixou ho -nome q j por rezam lhe no pertetia, & fe
chamou Infante. Nas feftas q na nafena do Prinipe,
baptifmo, & juramento da fuceffam dos Regnos fe fe-
zero etn Lisba, & per todo ho Regno, no curo gaftar
tpo, ~ porque todo juizo difcreto deu e bem entender
com quta pompa, & alegria fe deui de elebrar,
prinipalmente em Regno onde hos vaffalos fam to
coftumados a quererem Rei natural, & n ftrgeiro, ho
q podera acteer. fe h Rainha n parira mais que ha
Infante dna Iona. Nefte anno de M. cccclv. fe aefquitou
elRei d Anrrique ho quarto de Caftela ~ a Infante dna
Brca, filha dei Rei d Ioo de N auarra, & fe cafou c
ha Infante dna lona, filha delRei d Duarte de Por-
tugal, irm delRei d Afonfo da qual nafeo ha In-
fante dna Iona q fe depois chamou exelte fenhora,
per cujo refpeito fuceder grandes guerras, & defc-
ertos entreftes Regnos, & hos de Caftela, quomo fe
aho dite dira.
-- .
- I
DoM loAM.
7
iiij. Do recado que ho Duque Phelippe de bo,gonha
mdou a elRei d sobeJo afo da morte do
Infante d fedro, & da trejladao de fe.us offos.
H o coRPo no INFANTE d Pedro, depois q ho mattar
na batalha da Alfarroubeira, q foi ha tera feira
xx. dias de Maio de M. ccccxlix. foi enterrado na egreja
Daluerqua, onde jouue alg tpo ha fepultura defi-
gual a fua peffoa, & mereimtos, ho q fabendo dna
lfabel fua irm, cafada c d Phelippe duque de Bor-
gonha, dalcunha ho b, al de per fuas cartas ter afpe-
ramete reprehdido elRei d Afonfo feu fob-rinho, por
cafo da defeftrada morte do lnfte feu irmo, ella fe
queixou tb .aho papa Nicolao fuplicandolhe q fob
pena de obediia .mdaffe :a e IRei d Afonfo q deffe
ahos offos do Infante ha fepultura q lhe -elRei d Io
feu pai mandara fazer no mofteiro da Batalha, & vedo
ha duquefa quomo elRei andaua perlgdo ho que lhe
pedia, f pera .iffo aproueitar amoeftaes q lhe ho
Papa a feu requerimento tinha feitas, tomou outro c-
felho, q foi mdarlhe pedir hos offos do lnfte pera lhe
dar ha fepultura q a h tal prinipe fe deuia, & pera
fe efte negoio poer c breuidade effel:o, fez c ho
.duque feu marido q mdaffe fobre iffo por Embaixador
a elRei h l. gufridius adai de V ergi, hom de muita
ftima,- & e q haia muitas letras, & prudenia, ho qual
depois de chegar-a Euora, onde elRei ftaua, ha primeira
coufa em q trabalhou foi per viuas rezes, em ha pu-
blica oraam, q per ante elle, & hos fenhores do Re-
gno fez em lingoa Latina, moftrar quta culpa elRei
teuera na morte do Infante, ddo ha mr parte della
ahos q ho mal acfelharo, efcufando neffa parte ho
milhor q pode ha pouca idade delRei, porq niffo do-
8 CHRONICA DO PRINCIPE
~
braua ha culpa dos imigos do Infante, & affi e requerer
q hos amigos, & criados do Infte, & ha Infte dna
Ifabel (filha de d Iaimes," conde Durgel) fua molher,
& filhos foff reftituidos em fuas honrras, & dignidades,
& emparados & mantidos delRei, & ahos q has fazdas
er per refpeito do Infte tomadas lhas tornaff, & q
ale de tudo ifto deffe ahos offos do Infante d Pedro
ha fepultura q de direito era fua, & n ho querendo f a ~
zer lhos deixaffe leu ar cfigo Duque.fa, per a lhes dar
Borgonha ha q merei, ho q affi propofto temdo
elRei q per rrieo do Embaixador hos amigos, & criados
do Infante furtaffem ha offada, mdou a Lopo dalmeida
q fecretamte ha leuafe ao caftelo Dabrantes, ho q elle
fez c muita diligeia. gufridius depois de ter trat-
tado ho negoio a q viera fe tornou c ha repofta dei-
Rei pera ho Duque, e Duquefa, de que ficar fatisfeitos
pola ten, & vontade q lhes per fuas cartas declarou ter
s coufas do Infante d Pedro, quomo depois moftrou,
porq mouido polas amoeftaes do Ptifie Nicolao, &
do mefmo duque Phelippe, & da duquefa dna Ifabel fua
tia, & muito mais polos rogos da Rainha fua molher,
cujo amor renouara ha nafea do Prinipe, ale de per-
doar todolos culpados no cafo do Infante d Pedro,
& declarar na mefma carta, data xx. de Iulho de
M. ccccxlv. q ne elle, n hos q com elle foram, cair em
cafo de treiam, & lhes mandar reftituir todos feus bs,
fez trazer hos offos do Infante Dabrantes aho mofteiro
da Trindade de Lisba, & dahi aho mofteiro de fanto
Eloi da mefma idade, donde com grande pompa,
acompanhados dos prinipaes fenhores do Regno, foram
trefiadados aho mofieiro da Batalha, & poftos na fepul-
tura, que elRei feu pai na fua propria capella, pera
elle, & pera todos feus filhos, a cada hum reparada-
mente mandara fazer.
~ _ ; _ - - - - ~ _ ... ;. =m -..... _ -
se
DoM loAM.
9
CAP. v. De quomo faleceo ha Rainha dtla {fabel, maim
delRei dom Joam.
N AM PODERAM tanto hos defgoftos que ha Rainha paf-
faua, & reuoluia e feu corao, per cafo da defef-
trada morte do infte d Pedro feu pai, q ella com fua
virtude, & manifefta bondade nam refiftiffe tto a tam
trabalhos atte que per fuas oraes, & lagrimas
alcanaffe de Deos duas coufas q fobre todas defejaua,
das quaes ha era deixar a e IRei feu fenhor, & marido
de feu matrimonio, filho macho, q fucedeffe na herana
deftes Regnos, ha outra alcanar delle fepultura honr-
rofa pera hos offos do Infante feu pai, has quaes duas
coufas acabadas h no, faltaua ha tereira, q era
fazer fim de ttos males, qutos fe lhe por vetura po-
deram feguir, fe muito viuera: affi que depois de parir,
& fendo j feita ha treflada dos offos do lnfte d
Pedro, logo na etrada do inuerno do mefmo no elRei ,
fe foi per idade Deuora, onde algs dias depois ha
Rainha adoeeo de fluxo de fangue, c fofpeita de lhe
tere dada peonha, porq a juizo de medicos pareia
mais doena dada, q adquerida por m difpofi, q fe
naquelle tpo e fua peffoa podeffe conheer' da qual
doena, fem hauer remedi o que lhe podeffe valer, aca-
bou fua vida ahos dous dias de Dezbro do dito no
de M. cccclv. ddo com muita paieia & humildade
fua alma nas mos do Senhor Deos, de qu ha reebera,
cuja morte foi delRei, & dos mais do Regno, muif!l
ftida, & fobre tudo daquelles q ero da criao do
Infante d Pedro, porq em ha perder perdi ho efcudo
de feu emparo : ho corpo da Rainha foi leuado aho
mofteiro da Batalha, oride c muita folnidade ho pofer
em ha capella das do cruzeiro, em fepultura per fim,
-
10 CHRONICA DO p
& acabado ho mes elRei lhe rm
lne faimento q attequelle tpo
fe neftes Regnos fezeffe a nenhi
neiro do no de M. cccdvj. No
trazer de Toledo ha offada da F
madre, de faleera, & ha fez t
pa, & folnidade aho mefmo
propria fepultura delRei dom
qual offada trouxeram configo e
ha Rainha dna Iona fua mo
Duarte, qudo fe viram c elR
no mes de Maro do mefmo no
dna Itbel foi ha q de nouo
fam Bento Denxobregas, ho me
Joo, a q chamo dos azues, &
dou q te ac-abaffe, & dotaffe de
eiRei d Afonfo feu marido dev
qual legado elle comprio inteirar
bas rendas, & heranas, da c
tpo em q corre ho anno do ft
hai mofl:eiros fe nam em ltalia
Portugal, nem em minhas long1
es hos vi em nenhiia outra pll
CAP. vj. Em que ho author fat
bre has nauegaes que ho
marzdou fater per a defcobrir
E LREI DOM loAM primeiro do
grdes proezas chamamos d
ha idade de Septa ahos mour
de mil, & quatro entos, & G
depois ho Infante dom Anrriq1
-
'
'
-- ---- -- --
..
DoM loAM. I I
mdar defcobrir mares, & terras, das quaes nauegaes
ha admirao foi ent tamanha, que por efte f refpeito
vieram a eftes Regnos muitos- h o ms letrados, & cu-
riofos, dos quaes hs vinham c teno de ir ver eftas
terras, prouinias, & nouos dos habitadores
dellas, ou pera tambe ajudare a defcobrir outras, c
fperana do proueito que fe lhes diffo podia seguir,
outros vinho fomete pera vere has coufas q deftas no-
uas prouinias hos noffos trazi, ou pera fcreuer ho q
ouuio daquelles q das taes na'uegaes tornauam: per
cuja induftria, & ftylo fe- diuulgauo ent. polo mdo
hos cafos, & aconteimtos fpantofos c q fe cada dia
ha noffa naam Portuguefa enctraua, ho q eftes homes
ftrangeiros fazi, ou de fuas proprias vontades, ou m-
dados de idades, refpublicas, & prinipes deiejofos de
fabere ha erteza de tamanhas nouidades. E pois a
eftes fomente mouia ha gloria de podere com trabalhos
alheos fatisfazer a teus -particulares defejos, de q fe lhes
feguia affignado louuor, claro he hos naturaes deftes
Regnos, q alcanaro de Deos ha graa pera poderem
fcreuer coufas tam memoraues, terem mr obrigaam
a com feu ftudo, & ftylo diuulgarem hos taes feitos:
polo que me moui a fazer ha breue digreffo nos dous
capitulas feguirites, do que pude alcanar q fe atte ho
nafimento do prinipe d loo, per meo, & induftria
do infante dom Anrrique trattou neftes nouos defcobri-
mtos, ho que me pareeo q era rez q fezeffe, pera
fe nefta Chronica, pois he de prinipe deftes Regnos,
q depois foi Rei delles, achar em fumma aquillo q
muito por extefo houuera de fer fcripto na tereira
parte da chronica delRei d Io, ho primeiro, depois da
tomada de Septa, atte feu faleimento, q foi tepo de
dezoito nos
2
dos quaes xviij. nos n vi coufa q Fern
12 CHRONICA DO PRINIPE
Iopez (q foi chronifia, & guarda da torre do Tbo, llt
cpos de nouo efta chronica delRei d loo) fcreueffe,
ha qual tereira parte eu oufaria de afirmar q elle fez,
mas quomo fe lhe efie trabalho roubou n me atreueria
a dizer por hrra dos q depois deli e fcreuer: & pofia
que Gomez eanes de zurara, q fucedeo no offiio de
chronifta, & guafda mr da torre a Fern Iopez, nos
dous liuros q fez dos feitos do cde de villa Real, d
Pedro de menefes primeiro capito de Septa (q acabou
no no do fenhor de M. cccclxiij. trita nos depois do
faleimento do dito rei d lo) tratte brevemte na fe-
gunda parte defies dous liuros, no cap. xxvj. aerqua
do anno de M. ccccxxx. algas coufas q tocam aho
negoio do Regno, ctudo neftas nouas nauegaes, q
j nefte tpo er comeadas n fala nada, nem menos
na chronica do conde de Viana d Duarte, capito
Dalcaer, q elle fcreueo depois da do cde d Pedro
de menefes feu pai, mas pode fer que ho fezeffe na
hiftoria de Guine, q elle diz q compos, de q n ha no-
tiia, & fe ho no fez nefta hifioria, n na dos condes,
creo q feria polo Ferno Iopez ter feito na hifioria ge-
ral do Regno, a q fe muitas vezes Gomez eanes refere
neftas do cde d Pedro, & d Eduarte, ha qual hifto-
ria geral Ferno Iopez continuou atte ha morte do In-
fante d Pedro, quomo mais largamte tratto na quarta
parte da Chronica delRei d Emanuel cap. xxxvij. q
cpus algis nos depois defta: & defte tpo por diante fe
pode crer q continuaffe Gomez eanes, porq viueo mui-
tos nos depois deiRei d Afonfo v. ter tomada ahos
mouros ha villa Dalcaer, onde ho mefino Rei ho m-
dou, pera ahi fcreuer hos feitos quefte cde de Viana
d Eduarte de menefes, & hos de fua cpanhia fazio
em Africa, & llie fcreuia cartas de fua propria mo,
~ - - - ~ - -
r ..
-:- . . - -- - .
DoM loAM.
affaz be fcriptas, & copiofas por fere de Rei, fauor
muim & pera hos q t cargo defcreuer tomar
cuidado de ho fazer quomo a feitos de t hllll1:anos,
& fclareidos Reis conue : & pofto que ho mefino Go-
mez eanes de zurara querdo dar a enteder q compos
efta terceira parte da chronica delRei d Io, ou ha
delRei d Duarte feu filho, dizedo no penultimo capi-
tulo da hiftoria de Septa q poria nefte liuro (qualquer
delles q foffe) muitas coufas aerca das grdes virtudes
de{le Rei, fe .n houueffe de fcreuer has fuas .hrradas
. .
exequias, c todalas outras eremonias q pertene a
fua fepultura (ha qual hiftoria acabou defcreuer em
Sylues no Regno do Algarue, no . no do fenhor de
M. ccccxl. q era j depois do tepo q comeou a regnar
elRei d Afonfo quinto. perto de xiij. annos) mas pofto
q ifto diga, elle no cpos ha tereira parte da ebro-
nica do dito rei d Ioo, n ha delRei d Duarte, mas
s. exequias elle de feito has fcreueo, porq ho
cap. v .. da Chronica delRei d Duarte h e fe1.1, & affi
todolos razoamtos que na dita chronica fam fcriptos
fobela ida de Tger, ho q fe b conhee, & v do ftylo
& ord acoftumada . do mefmo Gomez eanes, pofto q-
algas palauras, & antiguos, q elle vfaua no q
fcreuia, c razoamentos prolixos, & cheos de metapho-
ras, ou figuras q no tylo hifiorico no te lugar, ftejo
mudados em modo mais moderno de falar. Affi q por
. faltare hos aconteimetos deftas nouas nauegaes polo
$Odo q dixe, me pareeo neeffario profeguir em mi-
nha tenam, & declarar nefia hiftoria aquillo q cuinha
fer fcripto das taes nauegaes, has paffadas, porq nas
chronicas delRei d Ioo, . & delRei d Duarte feu fi-
lho, nenha coufa fe tratta do q toca a eftes defcobri-
mentos, & na delRei d Afonfo quinto feu neto em h
14 CHRONlCA DO PRINIPE
f capitulo, onde fe fcreue ho faleimto
Anrrque, cta ho chronifta breuemete
das q fe atte entam paffaram, ha qual 1
notauel defcuido me conCl:range com rezi
ho que for neeffario a feitos tam nota
gns de ferem elebrados.
CAP. vij. Das caujas que moueram ho I'lJ
rique a querer defcobrir terras, & m,
Dafrica, atte chegar Imlia, & da p
pera ho mandar fater.
Q
UATRO ANNOS depois Q eiRei d Jo1
dade de Septa ahos mouros, elles
deiRei de Grada, chamado ho ezquer
erquar no mes Dagofio, c gram po
erquo elRei d loam mandou muita
gte de feus Regnos, por cujo capito
d Anrrique feu filho. E porq alem de
rifcado caualleiro, era mui dado aho fh
prinipalmente da afirologia, & cofm(
milhar exeritar tam virtuofas artes, dep
(lo erquo de Septa efcolheo fua morad
em ha parte do Regno do Algarue, n
Viente chamado polos antiguos hifl:oric4
montorium, que em noffo vulgar PortugJ
cabo fagrado, donde fe diriuou ho corr
Sagres, que pera mais verdadeira imita
Latina, donde ha noffa. traz feu origem, fc:
mudando o G em C, Sacres, em ho qual
fundou ho Infante ha villa de nouo, a
Tera nabal, a que tambem chamam vil
Infante, & dali determinou de manch
r
-----r.-- .--
.
'
I
I
'
DoM loAM.
longuo da cofia Dafrica com tenam de chegar aho
fim de feus penfamentos, que era defcobrir deftas partes
ocidentaes ha nauegao pera ha India oriental, ha qual
fabia por erto que fora j em outros tempos achada.
E efta erteza q affi alcanou do trabalho de feu ftudo,
lhe fez cometter tamanho negoio, & nam per infpi-
raes diuinas, quotno algas peffoas dizem, & nam
fei com quanta rezam ho afirmo, porq fe fora infpi ..
raam diuina, por vetura q f tantos trabalhos quomo
teue, em fua vida alcara ho Infante ho q tanto defe-
jaua, dos quaes trabalhos eftas nauegaes nqua care-
ceram, affi em vida do Infante, quomo depois, atte de
todo ferem defcoberts, polo q he mais de crer q ha
defte negoio alcou ho Infante dos verdadeiros
authores em q continuamete ftudaua, crdo ho q fcreui
quomo coufas fcriptas per homs, & atfi has cria,
duuidaua quomo fe deue fazer a toclalas q dos homs,
& de feus juizos _proede, nas quaes c ha erteza eft
fempre j.ta ha duuida. C efta tal ho Inf)nte
comecou a mandar. defcobrir c na os armadas fua
# -
cufta, p.orq. fabia do q tinha lido, quomo depois do
erquo de. Troia, fegdo ho cta Ariftonico, q Menelao
faindo pola boca do ftreito de Gibaltar, nauegara tto
polo mr Oeano, atte chegar aho mr Roxo, ho qual,
fegdo algs cofmographos antiguo$ dizem, cont fim
h o & Perfico, c toda ha cofia. q entrelles
ambos h, & ha q paffa a diante do Perfico atte. chegar
lndia: polo qual mr Roxo fazedo Menelao feu ca-
minho fora ter India : & tambem fabia ho Infante
que H none capito dos Carthaginenfes nauegara tto
pola cofta Dafrica atte chegar quafi debaxo da linha
Equinoial, ho qual do difcurfo q deixou fcripto de feu
caminho, & finaes que deu do q vira, fe moftra clara-
l
.
J6 CHRONJCA DO PruNIPE
mte q pafou al da ferra, a q agora cl
tamb tinha por certo hc que HeroJ
author, a qu iero chama pai da_hih
nauegao q Neco Rei do Egypto ma
ertos Fenies, homs exprimentados
mr. hos quaes partindo do mr Roxo, 1
ane chegarem aho mr Auftral, & dahi
ftreito de Gibaltar, donde tomaram fe1
ho Egypto, aho qual chegaram pafl.dm
do tempo q hauia q partiram do mr l
grande teftimunho tinha outro do me
quomo per mdado delRei Xerxes na
do mr Mediterraneo, ane polo O e ~
. promontorio, ou cabo Dafrica, & que ll
lixidade do caminho, & falta de mantim.
pera ho Egypto: n menos ficou por
em Strabo de quomo no mr de Ar
efar filho de Augufio, fe acharam pt
Hifpanholas, que ali com tromenta la1
cofia, nem ho que ho mefmo Strabo, I
nepos, & Pomponio mela fcreu de 1
deftas nauegaes. Com ho Oraculo <
munhos, & doutros mais q ho Infant,
per muitas informaes que cada dia ton
Alarues, & Azenegues, praticos nas
determinou mdar defcobrir de nouo e(
de q ha memoria era j entre hos hom
quaes no capitulo feguinte trattarei com
poffiuel.
. _ _j
-
.
..
.
I
.
DoM loAM.
viij. Em que fummariamente fe traita das naue-
gaes, que per mdado do Infante d Anrrique fe
fe1eram, ti terras q fe defcobriram atte ho nafi-
. menta do Prinipe .dom loam.
TORNADO H o Infante dom Anrrique. do de Septa,
logo no mefmo anno, que foi de mil, & quatro
entos & dezanoue, mandou per duas vezes nauios a
defcobrir, hos quaes paffaram lx. legoas alem do cabo
de Nam, que era ho extremo, & ho mais lge, q fe
ent nauegaua da Europa pola cofta Dafrica : tornados
eftes nauios, h Io galuez, zarco dalcunha, & Trift
vaz teixeira pola vontade q viam no Infante, de cuja
cria er, lhe pediro .que foffe fua mere feruirffe
delles no tal negoio, do q ho Infnte houue prazer, &
lho agradeeo muito, manddo armar h nauio de
q deu ha capitania a Io gonaluez, por fer mais velho
que Trifto vaz, hos quaes com temporal lhes deu,
fem chegarem cofia Dafrica nauegaram tanto aho
pego, q acabada ha tromenta fe acharam vifta de ha
ilha pequena, & deferta, que logo foram demandar, &
pola mere que lhes Deos fezera, alem de hos faluar
de tamanha tempeftade, em lhes deparar ha tal ilha, lhe
poferam ho nome de Porto Sanao, quomo. fe agora
chama, c ha qual noua fe tornaro aho Infante, a que
logo h feu criado per nome Bertholomeu pereftrello
pedio ha capitania della, que em companhia deftes loam
gonaluez; & Triftam vaz ha foi pouoar, por fer ilha de
bs ares, & bas -agoas de fontes, & pouco tempo
depois andando Bertholomeu pereftrello no Regno,
loam gonaluez, & Triftam acordaram de em
' barcos ire demandar ha fombra de nuus q muitas
vezes vi, nam mui longe daquella ilha onde ftau,
.2
-
t8 CHRONICA DO
.
dde partir em ba hora, q c pouca. dificul-
dade lhes quis Deos deparar outra ilha tb deferta,
muito mr q ha do Porto qual por fer
cheia de bofques poferam nome da Madeira: com
efte tam profpero fuceffo fe vier aho Infante, a
aprouue em galard de tam bas nouas, lhes fazer a
ambos _mere -della, ddo ha capitania da bda do
Funchal a Io gonaluez, & da bda de Machico a
rriftam vaz, hos quaes per fim, & c fuas valias, &
fazeda comearam. a pouoar efta nobre, & rica ilha da
Madeira no anno do fenhor de M. cccc xx. hos mora-
dores da qual,. & ahos do Porto Santo, & doutras,
deu elRei dom Afonfo priuilegio per authoridade do
d Pedro fe.u tuto-r, & go'lernador, dadq no
':\.nno de M. ccccxliiij. per a de tudo ho q dellas trou-
xeffem a eftes Regnos nam pagarem dizima, nem por-
E do fobre dito no de M. cccc xx. atte ho no
mil, & quatro entos & trinta & tres, em que hum
Gil eanes natural de Lagos, criado do Infante dom
Anrrique defcobrio ho cabo do Boiador, n achei .oufa
toque a e fias nauegaes: & logo no
mdou ho Infante h Afonfo galuez baldaia feu co-
a defcobrir mais a diante, & fua capitania
bo mefmo Gil eanes, hos quaes paffar ale defte cabo
atte -onde agora fe chama ha Angra dos Ruiuos, nome
q_lhe pola grande multido q ali acharam delles,
& defte lugar por lhe j faltare mtimtos fezeram
volta pera ho Regno, fem achare gente com q podeffem
c!llunicar, faluo q naquelle lugar Dangra dos Ruiuos
flCharam r afio de camellos, . & caminhos trilhados,
. .
_-:9auam sinal de feguida de cafilas, ou recouas. E logo
ann<? feguinte de M. ccccxxxv. hos tornou ho Infante
a mandar, & paffaram defta Angra dos Ruiuos a ha
- . - - - - --- - --- - -- ..-- ._.- -.. - ........ -.- -. -- . .. --- -.,. .... ..,..,..,...,._;. ..,.. -., .. ,. .
DoM loAM.
19
. enfeada, na qual lanaro em terra dous manebos,
criados do Infante, per nome h Diogo Iopez dalmeida,
& ho outro He.lor hom, pera em dous cauallos irem
defcobrir ha terra, hos quaes encontraro com xjx. homes
baos, com que pelejaro, mas hos barbaros hos def-
pediro muim bem de fim, com muitas azagaias, &
dardos darremeffo, com has quaes armas feriro hum
delles em hum p, & affi fe recolhero praia, & dali
aho nauio, c has quaes nouas fe tornaram aho Regno,
com leixarem pofto nome a efte lugar, ha Angra dos Ca-
ualleiros. Defte anno de M.ccccxxxv. atte ho de M.ccccxl.
affi polo faleimento delRei d Duarte, que foi no de
M. ccccxxxiij. quomo polos negoios do captiueiro do
Infante d Ferndo, & tutorias delRei d Afonfo,
fobrefteue ho Infante de mandar mais nauios a efta
conquifta, ho que tambem caufou ter noua erta que
fe achaua gente armada; & defta em peleja, pera ho
qual negoio fe requeri mais nauios, & mais gente,.
polo que quis, fegundo fe pode crer, poupar eftes inquo
annos, por dantes ter feitas muitas defpefas neftas na-
uegaes, pera dali por diante profeguir mais fua
em fuas altas, & reaes emprefas. Paffado- affi
efte tpo logo no no de M. ccccxlj. mandou Antam
gonaluez, & Nuno triftam feus criados em dous na-
uios, dos quaes Nuno triftam defcobrio atte ho cabo
Brquo, a que pos efte nome, por ha terra fer alua,
& areenta: & Antam gonaluez defcobrio atte ho cabo
a que pos nome do Caualleiro, porq no dito lugar pe-
lejando quomo caualleiro, captiuou algs negros, que
foram hos primeiros que vieram a efte Regno. Deftes
lugares fe tornaram eftes dous capites cada h per
fua derrota, com cuja vinda, por refpeito da prefa que
configo trazia Antam gonaluez, foi ho Infante muito
I
1 .
.i
20 CHRONICA ))O PRINIPE
alegre, por j comear a recolher fruto de feus tra-
balhos, & defpesas, com ver aquellas almas, dantes
perdidas, ganhadas a f de noffo Saluador lefu Chrifto,
cujo baptifmo logo reeberam. Sabido quomo eftes
dous capites defcobriram terra, em que acharam gente
com que fe podia c6municar, ou foffe per via de paz,
ou de guerra, donde ho Infante dantes com varios
juizos de diuerfas peffoas era per muitos modos repre-
hendido de fazer tamanhos, & tam demafiados cufl:os,
{em ter recolhido proueito algum, que fe igualaffe com
tam grandes defpefas, comeou defde entam a fer de
todos muim louuado, dizendoffe que de hum tal Prin-
ipe, & tam prudente fe nam podia fperar coufa fe
nam de que hos Regnos houueffem de reeber proueito.
Tanto que efta noua foi diuulgada, loguo algs auen-
tureiros Portuguefes, hos mais delles do Algarue, na-
turaes de Tauilla, fe lhe offereero pers fuas proprias
cuftas ho irem feruir, & bufcar fuas auenturas, & da
b6a fortuna que lhes Deos deffe, lhe pagarem feus
direitos quomo a fenhor, a quem aquellas conquiftas
perteniam, hos quaes (paffado hum anno do defcobri-
mento que fezeram Antam gonaluez, & NUno tristam)
acabaram de armar feis carauellas, das quaes foi por
capitam um caualleiro da cafa do Infante, per nome
Lanarote, cujo fobre nome nam pude achar por fcripto.
Efte capitam Lanarote feguindo fua viagem c h e g o ~
com toda ha frota vefpora da fefta do Corpo de Deos
do anno de M. ccccxliij. ilha das Garas, onde to-
maram muitas dellas pera seu refrefco, & dali foram
ter ilha de Nar, donde & doutras vezinhas trouxeram
aho Regno ha grande prefa de negros. E logo no anno
de mil, & quatro entos & quarenta & quatro, mandou
ho Infante hum Viente de lagos a defcobrir, em cuja
r----.-- -
I
DoM loAM. 21
companhia foi hum gentil homem V enezeano, per nome
Luis de cademufto, muito curiofo de ver mundo, ho qual
Viente de lagos nauegou atte ho rio de Gambra. Nefte
mefmo no foi ter s ilhas Darguim Gonalo de fintra
capitam de ha nao do Infante, onde ho mattaram com
algs da fua companhia. Efte Luis de cademufto diz
em hum itinerario q fez, q j nefte tempo ho Infante
mandaua fazer ho caftelo Darguim, & q feguindo fua
viagem acharam no dito lugar muitos officiaes que tra-
balhauam naquella obra, q he bem aho contrario do q
dizem algas peffoas, q deftas nauegaes fcreueram,
afirmando que no anno de M. cccclxj. mdou e IRei dom
Afon_so fazer efte caftelo per hum Sueiro mendez fidalgo
de fua cafa, morador em Euora, mas paree que feria
mais mandalo acabar, que nam comear de nouo, pois
ho Infante foi ho author da tal obra. No qual tpo diz
Luis de cademufto, que hos noffos tinham nauegado atte
ho rio de Senega, a que hos da terra chamam Sonedech,
& que hauia j hum no que ho cabo Verde era defco-
berto, que he tambem contra ha opiniam deftes mefmos,
que dizem que ho cabo Verde foi primeiramte defco-
berto no no de M. ccccxlv. por hum Dinis fernandez
efcudeiro delRei dom Ioam primeiro, & que nefta pa-
ragem tomou em ha almdia algs negros que configo
trouxe, & que foram hos primeiros que vieram a Por-
tugal, do que fe moftra manifeftamte que, fe ho cabo
Verde foi defcoberto por efte Dinis fernandez, que feria
no anno de M.ccccxliij. porq nefte, & nos de M.ccccxliiij.
& de M. ccccxlv. feguintes, j no Regno hauia muitos
negros, q hos q iham defcobrir configo trouxeram. Efte
Viente de lagos, com qu iha Luis de cademufto, na-
uegando polo rio de Gambra, fe encontrou com hum
gentil homem Genoes per nome Antonieto de nolle,
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22
CHRONICA DO PRINIPE
que c lia do Infante iha tambem a defcobrir, _&
ambos jtos chegaram aho dito rio, & dali fem mais
paffarem a diante fe vieram pera ho Regno, hos quaes
c liea do Infante tornaram a fazer viagem no anno
feguinte de M. ccccxlv. em ha no, que lhes mandou
armar em Lagos, & defta vez defcobriram eftes gentis
homs has ilhas do Cabo Verde, no mefmo anno de
mil, & quatro entos, & quarenta & inquo, & no
de mil cccclxj. quomo tambem algs erradamente cui-
dam, porque no no de M.cccclx. depois do faleimto
do Infante dom Anrrique, fez elRei dom Afonso quinto
doaam dellas, & das Tereiras aho Infante dom Fer-
nando feu irmo, s quaes ilhas do Cabo verde eftes
dois gentis homs chegaram do dia que partiram qo
Regno a xvj. dias, & primeira que viro poferam
nome Boavi.fta, & outra Santiago, & fam Phelippe,
por chegarem a ella ho primeiro dia de Maio, em q
cae ha fefta deftes fantos,. & tereira a que for po-
fero nome de Maio por lembrana do mes, & dia em
q has defcobriram. Deftas ilhas foro ter aho rio Rha,
a. quem ns chamamos de Caramanfa, nome que lhe
deram, porq h o fenhor. daquella terra fe chamaua affi,
dond nauegaro atte ho cabo Vermelho, do qual fe
fezeram a vela pera ho Regno. Eftas ilhas fam per todas
onze, & em ha que elRei dom loam fegundo
fez dellas no anno de mil, & quatro entos, & oitenta
& noue a dom Emanuel duque de Beja, & de Vifeu,
que depois foi Rei muim profpero, & felie deftes
Regnos, fe chamo per orde ha primeira Sanaiago,
has outras de Maio, fam Criftouam, do Sal, ilha Braua,
fam Nicolao, fam Viente, Rafa, Branca, fanta Luzia,
& fanto Antonio. E torndo a noffas nauegaes,
nefie mefmo anno. de M. ccccxlv. Anto gonaluez, de
--- ... ---
..... -- - -
DoM loAM.
qu atras fiz meno defcobrio hum rio a q chamo
do Ouro. E no mefmo anno partiram xiiij. carauellas
juntas a defcobrir, ha capitania da qual armada ho
Infante deu aho capitam Lanarote, q com toda fua
companhia paffou varios cafos, & fortunas, antes de
chegar aho cabo Verde, pola qual caufa algs deftes
nauios fe tornaram pera ho Regno, fem poderem feguir
viagem, & elle c fs dous deu na ilha de Ti der, onde
tomou ljx. negros, com que fez volta pera ho Regrio,
& no no de M. ccccxlvj. chegou Nuno triftam atte ho
rio Grande; que he lx. legoas alem do cabo &
dali paffou xx. legoas mais auante, & entrou em- outro
rio, onde ho vier cometter hos da terra em xiij alm-
c dardos, & frechas eruadas, com q ho
mattaram, & dezoito defua companhia: hos .que_ ficaram
no nauio fe tornaram aho Regno. Por refpeito do qual
infortunio fe chama aquelle rio ho rio de Triftam.
Nefte mefmo anno Aluaro fernandez fobrinho do ca-
pitam do Funchal defcobrio ho cabo dos Maftos, &
paffou em legoas alem do cabo Verde, na qual pa-
ragem houue em terra vil:oria do fenhor della, & ho
mattou c fuas proprias mos, & defta paragem foi ter
boca do rio de Tabite, que he alem do rio de Triftam
xxxij. legoas, donde fe tornou pera ho Regno. E defte
tempo atte ho anno de M. cccclv. em q elRei dom
Ioam naseo, nam achei coufa fcripta, nem per memoria,
de calidade pera fe della fazer meo, faluo que j
nefte tempo eram defcobertas has ilhas dos Aores, ho
que fe pode afirmar per teftimunho que diffo d h
priuilegio que elRei dom Afonfo quinto deu ahos da
ilha de fam Miguel, per que lhes conedeo que nain
pagaffem dizima de tudo ho q trouxeffem a eftes
Regnos, ha qual ilha era do Infante d Pedro, & ho
<
I'
-
..
24 CHRONICA DO PRINIPE
priuilegio foi dado no anno do Senhor de mil, & cc
dous annos antes de fua morte. Affi que por
mais coufas, que atte efte tempo paffaram nefta
gaes, ferem de pouca fubftia, quomo ho
fam algas, que aqui pus mais por reprefentar
tiguidade dellas, que por ornamento que poffan
a noffa hiftoria, porei fim a efte capitulo, & d,
menta delRei dom Ioam por diante trabalh
trattar tudo ho que cumprir a eftas conquiftas,
uegaes, per fua ordem, & em feu lugar, 8
mais particularmente quiser Caber ho que fe er
ellas paffou atte ho dito anno de mil, & quatro
& inquoenta & inquo, em que eiRei d loam
lea ho que Gomez eanes de zurara, chronifta
deftes Regnos diffo fcreueo, & loam de Bairro
da cafa da lndia delle colligio, & dalgiis outros
riaes, que dftas nauegaes achou, quomo fe
hiftoria da Afia contem.
CAP. ix. Em que ho authr tratta algias part
dades das ilhas dos Aores & de hia antigu'
fe nellas achou.
coNSTRAGE TANTO ho tefiimunho das coufas ll
ahos fcriptores, q por dellas darem f, pc
nam faam muito a prepofito do que tratt,
vezes forados fairem nlgum tanto fora da ord
fcreuem, pera affi allumiar ho defcuido, &
menta em q ha antiguidade dos tempos has
porq eu a efta lei, & obrigaam tam honefia, ni
fugir, neceffario fera dizer algas particularida
illias dos Aores, pofto que foffem achadas a1
nafimento delRei dom loam, pera no fim dei
DoM loAM.
tulo defcobrir ha antigualha affaz antigua, que fe em
ha dellas em noffos dias achou. Eftas ilhas fe chamam
dos Aores pola muita criaam que delles hauia nellas,
quando has_ defcobriram, & ainda ha, mas nam tantos
quomo foia, ho que caufam has pouoaes q fe nellas
fezeram, hos quaes aores fam mais aluos que hos
Dirlanda, mas nam por iffo melhores, porq hos Dirlanda,
pofto q nam fejam de tam forte prefa, f mais ligeiros,
& de muito milhor rel. Eft eftas ilhas lefte oefte da
rocha de Sintra, & fam p_er todas ix. f. fam Miguel,
que foi ha primeira que fe a c h o u ~ & apos efta foi def-
coberta ha de fanaa Maria, e depois ha tereira, que
fe chama de Iefu Chriflo, & logo fam Iorge, Graiofa,
Faial, Pico, Flores, & Coruo, has quaes fam mui tem-
peradas de inuerno, & veram, & mui viofas de fontes,
& ribeiras, de muito bas agoas, & frutas , em
fpeial defpinho de toda forte : fam tam abundtes de
po, q muitas vezes recolhem hos lauradores de hum
alqueire de femeadura xx. & xxx. de que fe fazem
carregaes per a ho Regno, & outras partes: fazffe
nellas muito paftel, q fe leua pera Frandez, Inglaterra,
& outras prouinias, fam muito abaftadas de caas,
pefcados, & criaes de gado, h nellas muitas matas
de edros, loureiros, & faias, & hum po vermelho,
a que chamam fanguinho, q fe ftima muito pera obras
machetadas. Deftas ilhas ha que mais ft aho norte
he ha do Coruo, q ter ha legoa de terra, hos ma-
reantes lhe chamam ilha do Marquo, porque com ella_
(por ter ha ferra alta) fe demarqu, quando ve demandar
qualquer das outras. No cume defta ferra, da parte do
norefte, fe achou ha ftatua de pedra pofia fobre ha
lagea, q era h hom enima de hum cauallo offo,
& ho hom veftido de ha capa quomo bedem, fem
CHRONICA DO PRINIPE
barrete, com ha mo na coma do cauallo, & h(
direito ftendido, & hos dedos da mo encolhido!
ho dedo fegundo, a que hos Latinos chamam
com que apontaua contra ho ponte. Efia imag
faia maia da mena lagea mdou eiRei dom E1
tirar polo natural per hum feu criado debuxad<
fe chamaua Duarte darmas, & depois que vio
buxo mdou hum hom engenhofo, natural da
do Porto, q andara muito em Frana, & ltalia,
a efia ilha pera c aparelhos q leuou, tirar .
antigualha, ho qual qudo della tornou dixe 1
q ha achara desfeita de ha tormeta q fezera ho i
paffado. Mas ha verdade foi q ha quebrar pc
azo, & trouxeram pedaos della. f. ha cabea do
&ho brao direiroc ha mo, &ha perna, & ha
do cauallo, & ha mo que ftaua dobrada, & ;
tada, & hum pedao de hiia perna, ho q tudt
na guarda roupa delRei algiis dias, mas ho
depois fez defias coufas, ou onde fe poferam f
ho pude faber. Efta ilha do Coruo, & SanEl:antarr
de Ioam dafonfeca fcriuam da fazenda delRc
Emanuel, & deite has herdou feu filho Pero daf
fcriuo da chanelaria do mefmo Rei, & delR
Ioam tereiro feu fillio, ho qual Pero dafonf
anno de M. D. xxix. has foi ver, & foube dos mot
que na rocha, abaxo donde fteuera ha ftatua
talhadas na mefina pedra da rocha hiias letras,
ho lugar fer perigofo pera fe poder ir onde ho 1
fi, fez abaxar algiis homs per cordas bem
hos quaes imprimiram has letras, que ainda h
guidade de todo nam tinha egas, em era, qt
iffo leuaram: com tudo has que trouxeram imprc
era er j mu gaftadas, & quafi fem forma, ~
- - ~ - - -
DoM loAM.
27
por ferem taes, ou por vtura por na companhia n
hauer peffoa q teueffe conheimento mais q de letras
Latinas, & efte imperfetl:o, nenh dos q fe ali acharam
prefentes foube dar rez, nem do q has letras dizi, n
ainda poder conheer que letras foff. Efptanos tto
efta tiguiffima antigualha por fe achar no lugar em q
fe achou, que fe pode com rezam dizer ho q diz
lamo n hauer coufa que j n foffe, & que houue
outros que j fezeram ho que ns agora fazemos, &
fe has openies dalgs philofophos fe houuer de crer,
ou ahos hifioricos gtios nefl:a parte fe houuera de dar
alg credito, failmte fe podera cair em muitos erros,
fe delles nos n defenganara ha fagrada Scriptura, dos
quaes fe n pode efcufar Pomponio mela, grauiffimo
fcriptor Latino, no feu primeiro liuro, falando da
guidade dos Egypios, onde diz que tinh hifiorias
ertas de mais de treze mil annos, & ho mefmo faz
Herodoto no fegdo liuro de fua hifioria, q fcreueu
em grego, muito antes q Pomponio, & ambos diz
que depois q hos Egypios comearo a ter nome, &
fer conheidos, que ho curfo do eo fe mudara quatro
vezes, pdo[e ho foi duas no lugar onde agora nafe.
Eftrabo, q ha b mil, & quinhentos nos que fcreueu
em fingoa Grega, n fe pde fcufar doutro tal erro,
quomo foi dizer no tereiro liuro da fua geographia q
hos T urdetanos ou T urdo los, q he toda ha terra Dando-
luzia, Algarue, & Portugal, comeando dos mtes de
Gibaltar atte ho rio Lima, q foi fempre ha gte de
Hifpanha q mais foube, & mais ufou leis, & continuou
ftudos, & queftes tinh biftorias ertilfrmas de feis mil
nos atras. N deixarei de dizer aerqua defia anti-
gualha ha openi q diffo tenho, ha qual he q efta gte
q vco ter a efia ilha, & nella deixou efta memoria
28 CHRONICA DO PRINIPE
deria fer de Noruega, Gothia, Sueia, ou Ila1
porq nos tpos paffados, & muito antes q hos hal
dores deftas prouinias fofe chriftos, hauia entre
muitos cofairos, & tam poderofos, q ahos mate
faziam polo mr Oeano, & de Alemanha fe pt
mui dificultofamente refiftir, do q dam teftimunho S
gramatico tiguo fcriptor, & lones magnus go1
arebifpo de Vpfalia no- regno de Sueia, hom 1
que naquellas partes eu tiue ftreita amizade, & de]
e ltalia, de cuja vida & infortunios tratto na deplora
q em lingoa Latina cpus, da gte, & prouinia I
piana, hos quaes fcriptores ambos, nas chronica
fezeram das coufas Aquilonares tratto affaz de:
cofairos, & ho mr argumto q fe defia minha op
pode ter que todas eftas naes acoftumau fa:
talhar, & fculpir todos feus feitos, ac6teimtos, 8
anhas em rochas de pedra viua, pera mr lbra1
& perpetuidade dos cafos q lhes acteiam, qU<
naquellas prouinias todas hoje dia fe v, & ~ :
em muitas partes dellas imags, & hiftorias talha
abertas, fculpidas, & fcriptas rochedos, & ou
pedras altas, & de marauilhofa grandeza. E porq
tiguidade defta ilha do Coruo he do toque deftout
fe pode c.rer q algs deftes cofairos vieff ter e f g a n ~
da fortuna do mr a eftas ilhas, & polas achar defer
& defabitadas, quifeff deixar de ftm aquella memc
ho q fe poderia failmente tirar a limpo, fe a efta
foffe ter alga peffoa, ou ha mandaff, que foul:
has linguags defias terras, ho que fe faria com pc
difficuldade, fe hos Prinipes, & fenhores, q poffi
has prouinias, foffem to curiofos de faber, quomc
Co de hauer, & lograr hos bs, & rdas q lhes de:
refultam.
psze.x . . . .
- -
DoM loAM.
29
CAP. x. Do aperebimento que elRei dom Afonfo fe{
pera paffar em Africa a tomar ha villa Dalcaer
eguer ahos Mouros.
FOI Ho PAPA CALIXTo tereiro ho hom zelofo de b,
& defejofo de per feu meo fe reftituir ha terra
Sanla F de Chrfto, fobre ho qual negoio mdou
legados a todolos Reis Chriftos cededolhes pera iffo
Cruzada, entre hos quaes legados ho q veo a elRei d
Afonfo era bifpo de Sylues home de muita authoridade
em corte de Roma, de cujas mos e nome do Papa
elRei aeptou ha Cruzada, defejofo de niffo feruir Deos,
polo q logo fez grdes aperebimetos de nos, &
nauios, c xij. mil homes de guerra Portuguefes, afora
marinhage, & gete de feruio, pera elle em peffoa fe
achar nefta fanla emprefa. E porq, ou por incuenietes
do tpo, ou pola pouca vtade que hos outros Reis
chriftos per a iffo teuer, efte negoio nam veo a effeao,
quomo elRei era naturalmente inclinado guerra dos
mouros, determinou com efta armada, & cpanhia do-
brada paffar em Africa, a tomar alga villa ahos
i n f i e i s ~ & hauendo confelho fobriffo, determinou ir fobre
Alcaer eguer, & porq ha armada era groffa, &
naquelle tp<? Lisba ftaua tocada de pefte, embarcou
em Setuual, & ho Infante dom Anrrique no Algarue,
& ho marques de Valena foi fazer na idade do Porto
ho mais della. Quomo ha armada delRei foi preftes,
partio de Setuual a hum fabado, derradeiro de Se-
tembro de M. cccclviij. leuando em fua cpanhia ho
Infante d Fernando feu irmo, & d Pedro, filho do
Infante, d Pedro, q ho veo feruir c gte mui nobre,
& b conertada pera feito de guerra, & logo tera
feira feguinte, tres dias Dolubro dobraram ho cabo de
3o CHROMICA no PRINII'li:
fam Vite, & vieram ter a Sagres, ond
dom Anrrique ho ftaua fperando, & dali f
Lagos, onde fteue oito dias, atte q ho
Valena veo c ha armada do Porto, de}'
do qual, & doutra fuftalha, q faltaua, elRei
em ha quita feira xvij. Dotubro, leando
mil homs de peleja, & duztas & oitenta
& outros nauios de carga, & feruio, & c
partia, feguindo fua viag, pera vir aho eff
altos pfamtos, catholica, & ba tenam.
de M. cccdviij. ahos dous dias de Maio
Leanor filha do Infante dom Fernando, 8
dna Beatriz, que depois foi Rainha det
quomo fe aho diante dira.
CAP. xi. Da antiizf_idade & filio da villa Da,
confelho que e/Rei teue antes de ha er'
M ANSOR Rei, & Pontifie de Marrocos
contam hos hiftoricos Arabios, foi R ~
reiro, & q quafi t o d o l o ~ nos paffaua Dafr
da, pera dahl c6 feus exeritos fazer entra
ras dos chriftos, & porq no caminho de ~
acoftumaua vir embarcar, hauia muitos pl
tofos, & afperos, per onde feu excrito, & gi
paffar fem muito trabalho, determinou de
nouo ha villa Dalcaer eguer, a que hos Mo
Cafar ezzaghr, q quer dizer pao pequeno,
de ha edificar naquelle fitio foi por fer lu1
tado, a tres legoas de Hfpanha, & ha milbl
que h no ftreito, mais perto, & de bom po
pera ali fazer fuas armadas, & embarca
c6 muito menos trabalho que em Septa, h
J
... ..- -------
: .
DoM loAM.
polo b fitio que tinha fe pouoou logo de gte do mr,
mercadores, & outra gente, de que ha mr parte fe
fuftentaua de teer, & fazer pnos de linho muito bs,
& por fempre hauer nella homs de guerra, prinipal-
mente no negoio mr, no qual etam mui exeri-
tados, & acoftumados a fazer mal, & dno ahos chrif-
tos da Hifpanha, & a outros q nauegau per aquelle
ftreito, elRei fe a ir fobrella, naquella faz,
mais q fobre nenha outra de Barbaria, ho qual aho fa-
bado feguinte da_ quinta feira em que partio de Lagos,
achou ante manh c fua armada dite da barra de
Tger, & porque pera ir a Alcaer ho tempo lhe nam
feruio, por fer fcafo, fteue ali fperando aquelle dia por
nauios q faltau de fua frota, & ho domingo
feguinte, quomo hos penfamtos delRei eram altos,
vifta ha grdeza, &nobreza da idade de Tanger, deter-
minou de ha combatter, fe nos Infantes, & nos de feu
confelho achaffe ha mefma vontade, hos quaes fez logo
ajuntar na fua no, & lhes falou defta maneira: Nam
vos parea muda de cfelho ho pera q vos aqui fiz
vir, fe nam defejo daquerir mais honrra, & gloria
pera vs, & pera m, do que mouido vos quero def-
cobrir minha tenam, ha qual he, fe vos affi pareer,
q comettamos efta idade, porq filhandoha, aleni do
ganho que niffo fazemos, tomariam os vingana do
damno, & desbarato _q hos noffos nella reebero,
quomo. mui be todos fabeis, & por efta vingana fer
neeffaria noffa hrra, & eu ter por mui erto, tto
que hos moradores Dalcaer fober q Tanger he de
ns tomada, q fuas vtades nos vir aprefentar ha
villa, me moui a vos dar difto conta, c tudo porq
nam fei fe me ega ho defejo de tamanha viaoria, ou
me engan has rezes q vos dei per a cfirmar minha
.-.r
32 CHRONICA DO PRJ.NIPE
tenam, vos peo, & rogo q fem nenh1
vs has voffas, porque a voffos parec:
fometerei de todo meu juizo, quomo
q me tanto fio, & deuo por ba rezan
bdp elRei fua falia, ho Infante dom Ar
mais aniam, & em qu mais que nos 1
repofia, quomo feu tio, & mui fperime
fas da guerra, & experto nos cafos dt
fora prefente, lhe dixe : fenhor voffas re
de voffo inueniuel animo, & eu no du
vs efiaes poffa hauer coufa .difiil, pera
batter, & ganhar, pelo q da fortalezt
dificuldades q h em ha quererdes ent
nem tratto nada, fe nam em vos leml
Rei, & bom capitam fejaes, nam abafta
poer em obra bo que quereis fazer, por
cuam de voffa vontade, pofto que vos
der, ho qual aqui tendes em mui ba g
vos faltar por ventura ha vontade da
fem ha qual, pofto que tantas c o m p ~
quomo elRei Xerxes trouxe conftgo, qu
Greia, pouco vos aproueitaria, vifio qu
guerra confiftem mais na fora da von
corpos, & porij efia voffa gte toda p:
gal pera vos feruir no feito Dalcaer, t
q lhes deftes a entder q querieis filh.
efto todos preftes, c has vtades tan
promptas, que nam ha em voffa comr
por de pouqua efiima que feja, que em
nam tenha perfuadido fer Alcaer j de
mas fe agora fouberem que tomaes o
hauei por erto q alem de fe lhes mudar
pera ho combate defta idade, cuidandc
~ - ---::- ~ - --===--------
. . - . ~ - .. ---
. .
'
DoM loAM. 33
uerfos que ahos voffos aqui tem aconteido, que de
todo defmaiaram, & ho que fezerem fera mais com
vergonha, que por vontade, do que fe vos podera caufar
partirdes daqui com deshonrra, porque nam tomareis
Tanger quomo cuidais, & de ha combaterdes, & nam
ganhardes, vos ficar ha gente tam canfada, & deftro-
ada, que em lugar de irdes cometter Alcaer vos fera
forado, fem fazerdes feito de que poffais hauer louuor,
tornardesvos pera voffos Regnos com grande blafmo
de terdes feitas tantas defpefas, & gaftos, fem delles
tirardes frul:o que de louuar feja, polo que vos peo
fenhor em nome de todo efte voffo exerito q voffa
mere feja profeguir em fua primeira tenam, porq
pera iffo ho achareis todo mui preftes. Ho que ouuido
per elRei dixe aho Infante, & a todolos que prefentes
eftauam que em nome de Deos foffe, que faparelhaffe
loguo ha armada, & feguiffem ha via Dalcaer, pois
fua tenam era de ha irem combater.
CAP. xij. Do primeiro combate que deram villa Dal-
caer, & do que Je paffou nelle.
TANTO Q.VE FOI affentado que fe nam fezeffe muda
no negoio Dalcaer, e IRei fez dar vella, & fe-
gunda feira chegou diante da villa, no qual inftte
mandou armar hos bateis pera ha loguo ir combater;
no que houue alga detena, por ha fuftalha fer muita,
& affi ha gente que hauia de fair em terra, quomo por
ho Infante dom Anrrique nam poder chegar to afinha
onde elRei eftaua, por cafo das correntes, que ho fe-
zero ancorar bem duas legoas afaftado da no delRei,
com corenta nauios da frota, mas em chegdo pofto
que foffe j tarde, elRei fez logo remar a terra, &
3 .
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34 CHRONICA DO PRINIPE
quomo hos que hiam nos bateis cada hun
flDl ha honrra de fer ho primeiro que fa1
feita com tanta preffa, que quafi todos j
na praia, de modo que nunqua fe pode fa
qual fora ho primeiro que chegara, nc:
peffoa que faira, hos quaes nam acha
barcadouro taro fail quomo cuidau,
eftauam mais de quinhentos mouros ,
muitos de p, com tudo quomo hos noffo.
defejo de pelejar, affi quomo fairam 1
cometteram de maneira q com perda d
que alli morreram, fe comearam de rec
villa, & outros per ferra. Dos noffos al
foram muitos feridos, dos quaes morrer.
uez de Marchena, capitam dhoms de 1
reto commendador da ordem de Chrifto,
& b6s caualleiros, & na fogida dos Mot
ho alcane delles atte muito perto da ,
nandez Darca, hom nobre, & bom corte
ha pedrada de que logo caio morto. IJ
breuaio ha noite, na qual elRei mdot
todolos petrechos neceffarios pera ho cot
porq j eftaua erto polo recontro pa
que via nos mouros, que com f gen
inftrumentos de guerra ha nam poderia t,
quomo cuidaua, & lho tinham dado a e
tudo em ordem pera aho outro dia, q
fe dar ho combate, hos Mouros conhec
vidas, peffoas, & villa eftarem em mr
cuidauam, & pera remedia dellas faziar
ros, & defenfas, & has feitas fonificat
que podiam, com muita diligia, mas 1
deu tto tempo, nem lugar quto elles '
~ - - - .. --.. -
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DoM loAM. 35
que quomo todalas coufas pertenentes aho combate
foram poftas em ordem, & has ftanias repartidas, &
diftribuidos hos lugares do combate, mandou loguo to-
car has trombetas, & fazer rofto s tranqueiras da villa,
has quaes foram comettidas tam brauamente, que ainda
que hos Mouros fe defendeffem com muitas panellas de
fogo, & tiros dartilharia, quomo esforados homs, nam
podendo fofter ho pefo da peleja, fe recolheram per
villa. Hos noffos vendo fugir os imigos, fubindo per ellas
algs, & outros entrando per buracos que nellas feze-
ram, lhes feguiam ho alcane, do que fendo fabedores
hos de cauallo da cpanhia do Infante dom Anrrique,
quebraram has portas das mefmas tranqueiras, & en-
trando de tropel per ellas, foram cometter has da villa,
has quaes por ferem barradas de groffas chapas, &
laminas de ferro, nam poderam quebrar, por muito que
niffo trabalhaffem, alem do qual inconuenite tinham
outro mr, q era ha grde refiftia que hos do muro
faziam com tiros darremeo, & materiaes de fogo, que
de ima lanauam, do que com muito damno foram
conftrangidos fe afaftar leixando ho combate, atte que
fe pofeffem has mantas aho muro, & outros engenhos,
pera com menos perigo entrarem ha villa. Efte combate
durou atte foi pofto, no qual dos noffos foram muitos
feridos" & nenhum morto .
.
CAP. xiij. Do fegundo combate que elRei mandou dar
vz"lla, & de quomo foi tomada a partido.
A
NOJADO ELREI da refiftenia q achaua nos da villa,
mandou chegar has mantas; & outros engenhos de
guerra aho muro, ho que ordenado, andando fempre
em fua companhia ho Infante dom Fernando, fe foi
36 CHROfUCA DO PRINIPE
per parte da villa onde ho Infante don
dando combate, com Ceadas, que j
muro, polo que mandou loguo tocar
com ho fom das quaes quafi de nou<
todas partes ha afpera peleja, aho 1
ho grande animo deiRei, que correndo
acompanhado de fua guarda, daua ore
via de fazer, ho que tudo era mui ne
Mouros fe deiedi quomo bs cauall
aho cbate, & lando das Ceadas a b ~ :
riam fubir per ellas, ho qual negoio
noite, em q dambalas partes houue l
feridos, ho q vdo ho Infante dom A
b foldado, & pratico nas coufas da 1
nou de tomar outro caminho, pera c01
& trabalho ganhar ha villa mandan1
bombarda groffa onde lhe pareeo q
mr damno, ha qual mandou aho bomb
regaffe bem, promettendo-lhe que l h ~
com ella fezeffe entrada no muro, ho q1
vontade do Infante, porq do primeh
hum bom lano delle, & continuand
viram hos Mouros que contra ha furi1
barda nam hauia refiftenia, affi que c
que j tinham paffado, & pouca fperar
corro, & Cobre tudo hos plantas, lagr
das molheres, que hos forauam a t(
com fuas vidas dellas, & de feus filho
proprias honrras, fezeram logo de im
de paz, polo que ho Infante mandou di
& effar ho arroido da geme, pera fa1
riam, hos quaes lhe dixeram, que cc
dade, & mifericordia delRei, lhe quer
DoM loAM.
villa quomo foffe dia, a condiam de hos deixarem fair
della liuremente, fem reeberem damno, leuando coo-
figo fuas molheres, filhos, familiares, & fazenda : ho
Infante lhes refpondeo que elRei feu fenhor nam viera
ali bufcar haueres, ne thifouros, fen feruir a Deos,
polo que da fua parte lhes daua lugar pera fairem do
modo q pedi, com tto q leixaffem na villa todolos
captiuos chriftos q nella houueffe, & q pera iffo def-
fem logo arretes, hos quaes vendo q tinham impetrado
do Infante ho que requeri, lhe pedir que foffe fua
mere mdar j ho cbate effaffe, pera fazerem preftes
feu fato, & fe faire da villa, com leixarem hos captiuos.
Ho Infante lhes respondeo q tal nam faria fem primeiro
ter hos arrefes no arraial. Entam lhe pediram ha f
hora pera lhos mandare, ha qual hora de tregoa, quo.J
mo prudente, & fabio caualleiro lhes negou ho Infante,
dizedo q fe per fora hos entraua, q peffoa fe tomaria
a vida, de qualquer calidade q foffe : dos quaes con-
ertos logo elRei, que andaua c ho Infante dom Fer-
ndo, vifitdo has ftanias do arraial, foi auifado polo
Infante d Anrrique, a que refpondeo q niffo fezeffe ho
que lhe bem pareeffe. Vendo hos Mouros ha determi-
na do Infante, tomar ho confelho q lhes era mais
proueitofo, q foi mandare logo hos arrefes, por fegu-
rana da paz, hos quaes ho Infante mdou leuar tenda
delRei, & affi fe fez fim do cbate c affaz perda, &
dno de ha, & doutra parte. Aho outro dia pola ma-
nh, q era quarta feira xxiij. dias Dotubro de M.cccclviij.
defpejar hos Mouros ha villa, leudo cfigo fuas mo-
lheres, filhos, & fazeda, fem dos noffos reeberem ne-
nh agrauo, porq ho Infante dom Ferndo tomou a
cargo ha fegurana delles, & fe pos da banda do fert
com fua gete, pera defender q lhes n fotfe feito nojo,
'
I
..
38 CHRONICA DO PRINIPE
& tambem pera poer vigia q nam leuaifem configo
nh chrifto, ou chrifi captiuo, pera ho que mand
vifitar todos, por fe n cometter engano. Quomo ha v
foi defpejada, q feria a horas de meo dia, elRei ent
nella a p, & em proiffam fe foi Mizquita, & ha
confagrar, & dedicar aho nome de noifa Senhora
Cepam, onde j achou h altar pofia em ordem,. p
diante delle poder fazer oraam, quomo fez, com
que hi com elle ftauam dando muitas graas a Deos p
grande mere que lhes tinha feita. Ifto foi no no dale
gira de oito entos feffenta, & tres, conta q hos Arab:
& Mouros tC do tCpo q Mafamede, feguido de mt
gte, por cafo de fua feita fe retirou villa de med
Thenebi, que quer dizer idade do propheta, fitu;
quatro jornadas do mr Darabia, onde o dito Mafam
ft fepultado, ha qual conta dos Arabios comea va
mente, porij fazem hos annos de doze las inteiras
CAP. xiiij. Do que elRei fe:r. ho tempo que jleue em
caer. & quomo fe poffou dali a Septa.
D
EPOIS QVE ELREI tomou Alcaer, ha primeira co
q fez foi mdar fortaleer has partes dos mur
& foffados q lhe pareceo ter diifo neefiidade, &
artelharia q configo trazia mandou affentar alga J
lugares e que milhor podia feruir, no q fe traball
hos dias q ahi fteue, q for quarta, quita, fexta, faha
& . domingo, & porq ho ofiio, que elRei em todo
tCpo de fua vida c mr cuidado teue, foi fazer mer
& galardoar hos fcruios q lhe fazi, no mco deJ
trabalhos, al darmar muitos caualleiros daquelle
ho b merei, & lhes fazer muitas meres, de fua p
pria, & liberal vontade deu ha capitania, & gouem
. - - - - - , - - ~ - - ~ - -
DoM loAM. 3g
illa a dom Duarte de menefes, filho de d P e ~
nefes c6de de villa R e a ~ primeiro capitam que
ade de Septa, c ha negar a muitos, q per fim,
:0 dos Infantes, &. outras peffoas valerofas lha
_ Mas elRei lembrado dos grandes, & leaes fer-
l Duarte de menefes, & das promeffas q de
!k per feus affinados lhe tinha feitas, lhe deu
ofo cargo, com publicamente dizer, que com-
eus mereimentos com ha mere, lhe ficaua
muita diuida, pola obrigaam em q lhe era, ha
ua em Deos lhe agalardoar, & fatisfazer pelo
o tempo, das quaes palauras tam proprias
1 do fiado, & peffoa real, & mere de tanta
houue grandes inuejas entre hos nobres lj
1, com murmuraes acoftumadas em caCos
mefma enueja tem mr lugar, ha qual affi
tS feitos da honrra fempre comettem ho mais
penfamentos dos homs, affi ella quomo cha-
.go ardente, com ho fumo q de fim lana,
mais alto de todalas coufas a q pode chegar,
nftgo mefrna confundir, & apagar, fem empe-
-em fe nam a qu ha em fim mefmo gera, &
ornando a nofa hiftoria, defpois que elRei
~ ordenar todalas coufas q c pareer dos ln-
. dos de reu cfelho aftou fer neeffarias
da, & defenfa da villa, & tomar a d Duarte
~ s ha menag do cargo, & offiio de capitam,
ador Dalcaer, fe partio fegunda feira pera
-----------
40 CHRONICA DO PRINIPE
CAP. xv. 6- antiguidade da
Septa.
pms QVE FALEI da idade de Septo, nam 1
zam paffar per fua antiguidade, & m
modo q ho fez Gomes enes de zurara na
fcreueo de quomo ha elRei d Ioo ho pri
ba memoria, tomou ahos Mouros, da qu
afirmam hos fcriptores Arabios, ho prinipio, i
proede dos Romos, pofia que foffe fundac
neto de No, doztos, & trinta nos depoi
uio, fegundo afirma Abilabez fcriptor de mu
ridade entre hos Mouros, de quem ho dit
eannes faz menam no prinipio da mefma I
tomada de Septa, ha qual idade em temp,
mos, fegdo ho dizem hos mefmos fcriptore
fe chamaua Ciuitas Romanorum, que quer di
dos Romos, & ha caufa porque em tempo
tam frequentada. & pouoada, foi porq no l1
fi fituada, que he Da boca do ftreito de
legoa, & mea da ferra Ximeira, a que
chamam Abila, lhes feruia muito pera com r
balho poder paffar de Hifpanha em Africa,
naquelle lugar erta, & feguri defembarc.a
fuas armadas, tanto poJo porto fer bom, ql
paffagem fer dali a Gibaltar aho mais de inq
Nefte tempo que era dos Romos creeo tt
deza, riqueza, & nobreza de idados, q vec
bea de toda ha prouia da Mauritania. E
nefta profperidade foi ganhada dos Godos nc
paffaram em Africa, ficando femprc em fua I
poffe, com hos gouernadorcs q lhes ali hc
Godos punham, na qual dignidade continue
DoM loAM.
41
tepo em q hos Arabes, & feguidores da feita de Mafa-
mede ganhar, & aquerir pera fim toda ha Maurita-
nia, em cujo poder foi muito mais profpera, que dantes,
affi de nobreza de caualleiros, quomo de mercadores,
& gente mechanica, porq has coufas q fe nella laurauo
douro, prata, & cobre, latam, & outros metaes eram
tam perfeitas, que em artefiio, & bdade fazio auan-
tag a todo genero dobra laurada em Damafquo, de
maneira que das defta calidade, & de pannos de Iam,
& de linho, feda, tapetes, & outras coufas defte jaez,
toda ha Europa, & ha maior parte Dafrica fe prouia
daquella idade, per mercadores que nella trattauo,
ha qual eftando mui profpera no tempo q per erros
delRei dom Rodrigo, & peccados feus, .& de feus fub-
ditos, foi quafi toda Hifpanha ganhada de Mouros fe-
quazes da feita de Mafamede. Era della gouernador
dom lu liam conde Defpartaria, ou de Mcha, [ou do
lugar] t que dizem monte Aragom, ho qual conde era
de geraam dos e1res, & nam dos Godos, quomo
algs ho fcreuem, a qu elRei dom Rodrigo dera ha
gouernana defta idade, & doutras na mefma prouin-
ia. E porq elRei houue manhofamente ha filha do
. mefmo conde, q fe chamaua Caba, ou fegdo algs
dizem ha cdeffa dna Fandina fua molher, q era filha
delRei Beriza, & irm do bifpo dom Opas, ho cde
afrtado de tamanha injuria, leuou ha condeffa a Septa,
tirdoha diffimuladamente da corte, onde ella refidia,
corn fperanas falfas, que lhe elRei daua de cafar c
fua filha Caba, & depois fingindo eftar ha condeffa fua
molher muito doente, alcanou licena pera ha mefma
a As palavras entre parntesis quadrado faltam na e d i ~ o de
1567
____ ... ______ .-....- ~ ------
42 CHRONICA DO PRINIPE
fua filha ha ir vifitar, mas quomo ~ o conde
em Septa, deu logo conta da injuria que lhe
a hum Mouro b caualleiro, per nome Muza ai
que fegundo ho fcreu hos Arabios, em nome
tifie Abulet, ou Elgualid, filho de Abdulmalit,
tempo gouernaua ha parte Dafrica, que entan
Mouros na Mauritania, promettendolhe por
delRei dom Rodrigo dar maneira quomo feg1
entraffe em Hifpanha, ho que ouuido per Mu:
diffo per fuas cartas ho pontifie Elgualid,
refedia em Damafquo, do que ha repofla foi
em peffoa nam paffaffe em Hifpanha, mas li t:l
ajuda, & fauor aho conde luliam, ij lhe pediffi
affi fez, donde fe feguir tantos males, morte5
minaes da f de lefu Chrifto noffo Senhor,
das hiftorias que diffo tratt a todos he not
foi no no do fenhor de fete tos, & ix. t em
ria alehegira, & cta dos Arabios, em xcj.
qual anno hos Mouros fe fenhorearam deih
ficdo ella em fua profperidade, em que (ain&
duas vezes foffe ganhada per fora darmas.
ptifie, & rei Mum, & outra delRei de Grac
atte ho no dalehegira oito tos xviij. li he do
Senhor de mil, & quatro entos, & xv. em li h.
elRei do lo, fendo della capit, & gouern:
nome de Abuaide rei de Fz, hum hom mt
rofo, & bom caualleiro, per nome allabala.
hos Mouros li efta idade de Septa alem de
queza, poder, & exeriio de letras que nel
he em fitio, bondade dares, & frefcura da
f Na e d i ~ o de 1S67 l-se x1x.
- - - ~ - ~ -
~ .... -
- -- -- - - - ~ - - - ~ - - - - -
~ - -
I
DoM loAM.
mais vtil vida humana, que todalas outras terras da-
quella prouinia Dafrica, pola qual rezam muitas pef-
foas doutras partes vinham ali viuer, fora da qual ha
hum valle contra ha parte Dalcaer, muito fertil, em
que entam hauia ttas quitas, & cafas de folgar, que
aho longe pareia fer tudo ha grande villa, cuja fref-
cura, fegdo fe fcreue, fpantaua ha vifta de qutos ho
viam, no qual vali e hauia muitas vinhas, & parreiras que
pola cantidade fer tanta, lhe chamauo vinhes: com
tudo has outras partes do fertam fam afperas, & de terra
nam mui fertil, n proueitofa. E n ~ r e outros louuores
defta idade fe pode por efte, que eft fituada de ma-
neira q de detro, & de fora fe v_ todala ribeira de Gra-
da, coufa que acreeta muito em feu louuor, por fer mui
apraziuel ahos q nella viu. E porq pode por fpanto
ha tal idade, & to importante aho Regno de Fz
nam fer logo iocorrida, quomo rezam ho requeria, me
paree q he bem dizer has caufas donde proedeo ta-
manho defcuido, que fam has feguintes. No tempo em
que elRei dom loam ganhou efta idade ahos Mouros
regnaua em Fz Abuaide, de qu fiz menam, homem
dado a vios, & maos cuftumes, & que naquelle mefmo
tempo, que lhe deram has nouas que Septa era tomada
de chriftos, eftaua em Fz fazendo feftas, & bquetes,
nas quaes ctinuou fem fazer conta de tamanha perda,
nem mandar focorro, pera ver fe poderia cobrar coufa
tam nobre quomo tinha perdida, cuja vida foi fempre
tal, fegundo diz hos hiftoricos Arabios, que per muitos
erros a que ho cada dia feus peccados induziam, per-
metio Deos que naquelle tempo ho mattafe h feu ve-
zir, que he juftia mr, que tambem era feu fecretareo
per nome Abudaba, hom poderofo no Regno, a quem
ho dito Rei tinha feitas muitas meres, com tudo elle
-...:.__:_. __ -- -- -
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'I
I
44 CHRONICA DO 'PRINIP
ho mattou s punhaladas, porque lht
lher, & n t fOmente ho mattou a
feis filhos feus, ho que acteeo no ar
viij. entos, & xxiiij. do qual negoio
des diuifes, & defcertos no Regn<
oito annos fem Rei, tempo em j Mu
prinipal no Regno, fe leutou ctra ft
per nome Muleiaco, j fe queria faz
entre fim tta gnerra, & difenes
por em obra virem hos do Regno d1
idade de Septa, pofia que eiRei de
ho Rei ezquerdo, hom muito valer
coraam ha vieffe erquar per mr d
de Mouros de Hifpanha, quomo atrB
fim deftes viij. annos, que ho Regno.
Rei, fe defcobrio hum filho do fobredi
& de ha chrifl:, que fogira pera TUI
fendo ainda criana, quando mattari
chamou Habdulahed, ho qual depois
tempo, por tyrania, & mo gouerno n
pouo, fem deixar filho, & efte foi ho <
cafa dos verdadeiros Mars, attque
1
geraam real, quomo em Hijpanha
donde hos Reis della defendem.
CAP. xvj. Do que e/Rei dom Afonfo.
jleue em Septa. & de quomo fe to
ESTANDO ElREI EM SEI-'TA, vendo ho f
que reprefentauam has antiguida
eo quamanho feito elRei dom loam f
ganhar ha tal idade, & tam necl
fegurana
1
nam tam f O m e ~ t e de f e u ~
DoM loAM.
de Caftella, mas ainda de toda ha chriftandade, & quanto
nifto mais cuidaua, tanto feu grande, & inueniuel
animo ho atromentaua mais, com lhe poer no penfa-
mento, que em comparaam de tamanha viloria tinha
feito pouquo em ter tomada ha tam pequena villa
quomo era Alcaer, reuoluedo feu cora, q per fua
honrra n deuia tornar aho Regno, fem primeiro tomar
Tger. Anddo netes pefametos prouedo algas coufas
da idade, em q por fer prefente era neeffario q ente-
deffe, foube por erto q Mulei Abdehac rei de Fz, q
era ho mefmo q regnaua qudo hos Inftes d Anrrique
&. d Ferndo, irmos delRei d Duarte for fobre
Tger, vinha c trta mil de cauallo, & muita gente
de p ercar Alcaer, & c elle, ale doutros fenhores,
Mulei Abuaim Bentuz, grde feu priuado, & gr fe-
nhor naquelle Regno, per cujo pareer, & cfelho fe
gouernaua, & que er j chegados a fger, do que
tambe foi auifado per cartas de d Duarte, a qu logo
refpondeo, & mdou focorro de gete, & mtimetos. E
porq alem do pefameto de tomar Tanger, feu defejo
era ficar em Septa, pera dali quomo frteiro fazer
guerra ahos Mouros, teue fobre iffo cfelho, no qual
houue varios pareeres, mas ha refolu foi, q fua ida
pera ho Regno pareia mais neeffaria q ficar do modo
que queria, c tudo porq fua partida hauia de fer fubita,
por cafo da grde armada q ali tinha, ha qual n
podia fofter muitos dias, tto por caufa dos mantimtos
q lhe j comeau de faltar, quomo polas grdes, &
incportaues defpefas de foldos, & fretes, a q j fuas
rdas, n has ajudas de feus pouos podiam fuprir, q
feria bem, por hos Mouros no dizere que fogia com
medo delRei de Fz, mdalo defafiar per batalha c-
pal, ho q feguramte podia fazer, pois configo tinha
..
46 CHRONICA DO PRINIPE
gte e abaftana, & affi poderia partir c hrra,
louuor cada vez q quifeffe, ho q a elRei pareeo b
polo que logo acordou mdar a Tger Mart de tauor
& Lopo dalmeida c hUa carta de defafio pera elR
de Fz, notada c toda cortefia q a Reis conu, & '
elles mandou lrum rei darmas, pera ho defafiar, rn
ho negoio nam foedeo quomo elle quifera, porq l
bendo eiRei de Fz aho q vinho, lugar de h
ouuir, mdou tirar bbardadas ahos nauios, de manei
que lhes foi neeffario alargarenffe da praia. Mart ,
tauora vdo ha tenam delRei de Fz fe foi pera Ale
er defejofo de ganhar hrra no erquo q j comeau
ho q tamb fezero algs outros fidalgos, & caualleir'
dos q fiau em Septa, pera onde Lopo dalmeida fe te
nou c has nouas do reebimto q lhes em Tang
fezer, ho que fabido per eiRei dom Afonfo fe embll
cou, & com toda fua armada veo lar ancora di
da villa Dalcaer, ha qual fiaua j ercada pola ban
do mr, & da terra de modo que teue por efcufa,
fiar ali mais, vedo que n podia lar gte na vill
nem darlhes mais vitualhas das q j dtro tinh, q
era pera tpo de tres mefes. Ifio aletado partia lo1
pera ho Regno, & c bonana chegou a Fro, 1
regno do Algarue, dde fe foi a Euora, c ten de
peffoa tornar a [ocorrer Alcaer, ho que nam po
fazer, por lho efirouar outros negoios q lhe fuc
deram no Regno. Com tudo dos feus, & de fua ca
mandaua cada dia, atte q foube por erto fer ha vil
defercada: & porque tenho promettido no dicurfo def
hiftoria dizer per ord tudo ho que tocar has nouas n
uegaes, q fe deftes regnos faziam polo mr Oean
he bem q fe faiba quomo nefte anno de M. cccclvi
cfirmou elRei d Afonfo ha lei, & ordenaam, q I
- ~ 1
_,.._--,- _ - - - - ~ - -=========-__j_
: .
--
.
DoM loAM.
47
Infante d Anrrique fez, em q declaraua q todalas
peffoas que trattaffe do cabo de Nam por diante de
quaefquer mercadorias, & fcrauos q trouxeffem aho
Regno pagaffem ordem da cauallaria de noffo fenhor
Iefu Chrifto ha vintena, & diz ha carta q tepo
er j trezetas legoas de cofia alem dele
cabo de Nam. No mefmo no fez elRei doa aho cde
d Pedro de menefes da villa Dalmeida, c feus termos,
& rendas.
CAP. xvij. Dalgas coufas que nejle tpo atte ha tomada
Dart_illa paffar nejles Regnos.
Do QVE NESTES REcNos fucedeu depois da tomada
Dalcaer, atte q elRei d Afonfo determinou de
ir fobela villa Darzilla, ha primeira coufa foi ho erquo
que no mefmo anno de M. cccclviij. per fpao de in-
quoenta, & tres dias elRei de Fz pos villa Dalcaer,
quomo no capitulo atras fica dito, no qual foi conftran-
gido polos noffos fe partir a dous dias de laneiro do
anno feguinte de M. cccclix. no qual anno, tendo j
dom Duarte acabada ha couraa q elRei d Afonfo
lhe mdara fazer em Alcaer, tornou outra vez ho dito
Rei de Fz no comeo de Iulho, c gr poder de gte
a erquar ha villa, & ha teue ercada outros quota,
& tres dias, mas defefperado de ha poder cobrar m-
dou c muita afronta fua, & reprehefes q lhe muitos
dos feus dauam, aleuantar ho erquo, dos quaes dous
erquos n tratto aqui particularmte, por Gomez ean-
nes de zurara ho fazer na Chronica do conde de Viana,
d Duarte de menefes, capitam, & gouernador na mef-
ma villa Dalcaer, com ha fuperflua abdia, & copia
de palauras poeticas, & metaphoricas q ufou em to-
:
48 CHRONICA DO PRINlPE
dalas coufas q fcreueo. Nefte no deu
ho regimto do Regno do Algarue a do
Dodemira, com titulo de adiantado, fc
goio hos nobres, & Celhos do dito
uaram a elRei, & affi idade de Lisl
q logo no mefmo anno elRei per fua:s
lhes prometteo de no dar mais pode
do q lhe tinha dado, & per feu falei1
mais Regedor no dito Regno.
~ E no anno feguinte de M. cccclx
de menefes c5 liena delRei aho R e g ~
capitam Dalcaer d Afonfo tellez fe
qual d Duarte eiRei, em galardo d
os, fez cde de Viana de caminha. N1
& quatro entos & feffenta, no mes
em Tomar, de febres, dom Afonfo mar'
filho primogenito de d Afonfo primeir
gana, filho natural delRei dom loam '
primeiro do nome: do qual, & de dn
fu, filha de Martim afonfo de foufa, c
que era cafado a furto, :ficou hum filhc
Afonfo de portugal, que foi bifpo D
fendo ainda fecular houue de ha rn
gerao dos Maedos a dom Frani
primeiro conde do Vimiofo, a quem c
mos chamar h catam enforino, porq1
viuendo em faber, & prudenia, affi m
quomo nas da guerra, quomo nos COil
que feruio dom Emanuel, & dom loar
lho, cujo veador da fazenda foi, & ca
Prinipe dom Emanuel filho delRei do1
& depois per feu faleimento do Prirl
pai deiRei dom Sebaftio, que agora
DoM loAM.
49
profpere : ho qual cargo de feus filhos lhe deu ho dito
Rei dom loam pola gr4e cfiana q delle tinha, & bo
de veador da fazenda houue por bem que feruiffe, em
vida do dito conde, d Afonfo de portugal feu filho
mais velho, & herdeiro. Foi ho dito cde dom. Fran-
ifco de portugal cafado ha primeira vez com donna
Beatriz filha ~ e Rui t ~ l l e z de menefes, mordomo mr
da Rainha donna Maria, de que houue ha filha per
nome donna_ Guiomar, que cafou c. dom Franifco da
gama .conde da, Vidigueira, per faleimento da qual
cafou c donna loanna de Vilhena, filha de dom Aluaro,
filho de. d Ferndo primeiro duque de Brasana do
nome, q andaua no pao c muito bom trattamto, &
cafa, & era QIU eftimada delRei d Emanuel, por def-
der de feu fangue real ; da qual houue ho fobredito
dom Afonfo, que per feu faleimento fucedeo no
titulo de conde do Vimiofo, & dom loam bifpo da
Guarda, & dom Emanuel, que todos aho prefente vi-
uem. Teue ho bifpo dom Afonfo de portugal outro
filho, que fe chamou dom Martinho de portugal, que
foi arebifpo do Funchal, & primas das lndias orien-
taes, homem de altos penfamentos, & muito eftimado
na corte de Roma,. onde ftaua por embaixador de IRei
d Ioam tereiro, quando ho duque de Borbom capito
geral do Emperadot:" dom Carlos quinto, ha .comba-
teo, & foi pofia a faco, na qual corte de Roma refidio
ho dito dom Martinho muitos annos em feruio deftes
Regnos, com muito credito, & honrra, & grandes gaf-
tos, & familia, de que eu fou ba teftimunha de vifta.
Teue mais ho bifpo dom Afonfo ha filha per nome
donna Beatriz, a quem deixou muita fazenda: mas pofto
que tam riq1.:1a foffe, faleeo fem querer cafar, fendo pera
iffo muim requerida, & deixou hos bs que tinha em
4
- - - ~ - - ..
o j
J
...
5o CHROMICA DO p
morgado aho conde do Vimiofo
& a feus defendentes. No mes
de M. cccclx. confirmou eiRei
feu irmo has ilhas de Iefu Cl
lhe ho Infante dom Anrrique
adoptiuo deu, per carta dada na
a dous Dagofto do mefmo anno c
& feffenta, no qual anno aho:
Nouembro, s onze horas da nc
efte indyto Prinipe Infante d
nimo, virtuofo, de gloriofa mer
fenta, & fete annos, de cuja mor
gram fentimento: feu corpo f<
Egrej.o. de Lagos, donde no ar
dom Fernando, feu filho adoptit
mofteiro da Batalha, onde ha e
ftaua fperando, mandou poer
loam primeiro feu P . ~ i . em fua I
pultura com muita honrra, & {(
imento, per carta dada a tn
elRei fez doaam aho Infante do
pera elle, & pera feu filho, das 1
Sanfto, Deferta, fam Luis, fw
fam Thomas, fnfla Eiria, de
fam Miguel, fanfla Maria, Sana
das MaiAs, fam Chriftouam, & h
& oito dias de Nouembro, depoi!
fenhor Infante, houue eiRei por
per termo de Sylues, & porij n
entreftes Regnos, & hos duque:
I Na edio de 1S67 lE-se Halana.
..
,
DoM loAM. 51
di,rerenas, & occafies de guerra, per refpeito de fe
fazerem dha, & doutra parte grandes dnos, & re-
prefarias entre hos fugeitos, & vaffalos, eiRei dom
Afonfo quomo era valerofo, & de animo inueniuel,
nam podendo foffrer has queixas que lhe hos feus fa-
ziam dos damnos que reeberam dos Bretes, pos nif(o
tal -ordem, que ho duque de Bretanha, que entam viuia,
vedo quam mal trattados feus fugeitos eram dos Por-
tuguefes, .houll.e per b partido mandar pedir a elRei
paz, & .amizade, ha qual lhe conedeo nefte anno de
mil, & quatro entos & feffenta, & deu liena, &
priuilegio ahos fugeitos do dito duque de Bretnha pera
podere liuremte vir per mr, & per terra trattar_ a
eftes Regnos, ho que dantes nam oufauo fazer.
E no no de M. cccclxj. fez elRei dom Afonfo
pura doao a dom Pedro, filho primogenito do Infante
dom Pedro das villas de Penela, com feu caftello, villa
noua Dos, Buarcos, & da villa, & caftello de Monte-
mr ho velho, & de T entuguel, & dos reguengos de
Campores, & do Rabaal de juro, & fez doaam a dom
Fernando marques de villa filqo de d Afonfo
de Bragana, morrendo primeiro feu pai que
elle, do caftello de Melgao, Crafto leboreiro, & caf-
tello de Piconha c toda fua jurdiam. No mefino
no fez doaam aho dito dom Fernando, per faleinito
do duque feu pai, villa de Guimares, per carta
dada a feis de Dezembro, & a dom Fernando feu filho
fez mere de fronteiro mr dtre Douro, & minho, &
tr-alos montes, do modo que ho fora ho duque de Bra-
gana dom Afonfo feu auo, que faleeo nefte mes, &
anno, cujo corpo jaz fepultado em Chaues, no qual
anno deu EIRei liena aho dito dom Fernando, neto
do duque dom Afonfo, pera ho ir feruir em Alcaer
.
. .,
52 CHRONICA DO PRlNIPE
eguer, onde fteue hos mefes de Abril, Maio, &
com duzentos de cauallo, & mil de p, em que
muita honrra, affi no muito que defpdeo quo
entradas que fez per terra de Mouros, em q
vezes chegou atte has portas de Tger. Nefte
anno fe tratou cafamento da Infante d6na Ca
irm deiRei dom Afonfo, com dom Carlos, Prir
Aragam, & de Nauarra, por cujo faleimento f.
vez defpofada com dom Duarte Rei Dinilaterra
nenhum deftes cafamentos hauer effeB:o, ella fal
febres em Lisba ilo rnofteiro de CanEta Clara ahc
fete de Junho de mil, & quatro entos, & feffenta
cujo corpo eft fepultado no mofteiro de fanB:o
mefma idade, em entrdo pola Egreja na capt
da mo ezquerda, em ha fepultura de pedra
cardeal de portugal d George da cofia feu m1
capell que fora, por gratiricar em parte has rr
della reebera, lhe ali mdou fazer, ha imagem
fenhora ainda hoje em dia eft dependurada na
fepultura, pintada de cores, em ha pequem
quadrada, da qual fe moftra que foi molher
pareer.
~ No anno feguinte de M. cccdxij.t deu elRe
Pedro filho do Infante dom Pedro de juro 1
Dabiul, com ha qual doaam acabou de dar ~
dom Pedro todalas terras que eiRei dom loam p
& ha Rainha donna Phelippa fua molher, & eli
Duarie deram aho Infante dom Pedro, no qt.
daramte moftrou ho amor que tmha s coufas
Infante feu tio, & deu per carta ha gouerna d
t Nn edio primitiva est M. ccccb:iiij.
1
i
DoM loAM.
aho conde dom Pedro de menefes, fenhor Dalmeida,
com todolos direitos que rende hos dez reaes que pera
ha dita idade pagam .hos dtre Douro, & minho, &
tralos montes declarados na doaam, na qual lhe chama
primo, capitam, & gouernador da dita idade, c de-
clarao que lhe d ho tal cargo do modo q ho teueram
ho Infante dom Anrrique feu tio, & ho Infante dom
Fernando feu irmo, aho qual Infante dom Fernando
nefte anno ahos dezanoue dias de Septebro rateficou,
& confirmou doaam que lhe fezera no anno
de mil, & quatro entos, & inquoenta, & fete, das
cinquo ilhas do Cabo verde que defcobrira Antonieto
de Nole lenoes. f. de Sanliago, & fam Phelippe, das
Maias, de fam Chrifiouam, & do Sal, & de todalas
que per mandado do dito Infante foffem achadas nas
partes de Guin, que atte ent eram fete. f. ha ilha
Braua, ha de fam Nicolao, fam Viente, ha Rafa, ha.
Branca, ha de fanta Luzia, & ha de_ fanlo A-ntonio,
todas a traus. do cabo Verde, cujos nomes j atras
declarei, & lhe confirmou ha doaam que lhe fezera ho
Infante dom Anrrique rio anno de mil, & quatro en-
tos, & feffenta, das ilhas de Iefu Chrifto, & da Gra-
ciofa .
.J
, E logo no anno de M. cccclxiij. paffou elRei em
Africa no mes de Dezembro com tencam de tomar ha
> .
idade de Tanger ahos Mouros, tendo j no no atras
mandado difiimuladamte a e fie negqio dom Pedro de
menefes conde de villa Real, ha qual emprefa _lhe fuc-
edeo aho ctrairo do que cuidaua, porq perdeo muita
gte na viagem, por refpeito da afpera tormenta que
paffou no mar, & affi .polo combate que fedeu idade
ahos vinte de Janeiro de M. cccclxiiij. & em ha
entrada que elle mefmo fez polo fertam atte ha ferra
.
CHRONICA DO PRINIPE
de Benacofu, onde hos Mouros ho conde de
Viana dom Duarte de menefes, capitam, & gouer-
nador de Alcaer eguer, feqdo j ho Infante dom
Fernando feu irmo tornado pera ho Regno, & dom
Pedro filho 4o Infante dom Pedro (que fe nefta viage
achou com mui luzida, & nobre companhia) partido
pera Arago, com vontade, & prazme delRei, em duas
gals de Barelona, que hos fiados daquelle Regno lhe
mandaro recretamente pera fua embarcao, tendoho
entre fim elegido por Rei, por faleimento delRei dom
Afonfo Darag, & de Napoles, no Regno ho dito
d Pedro tinha au, por fer neto de dom Iaimes conde
de Vrgel, pai da Infante donna lfabel, mai do mefmo
dom Pedro, cafada com ho Infante dom Pedro filho
delRei dom loam da ba memoria, ho qual dom Iai-
mes conde de Vrgel era filho delRei dom Afonfo, &
irmo delRei d Pedro, & tio delRei d Ioam, & d
Martinho, reis Darago, & irmo da rainha donna Lea-
nor, molher delRei d loo de Caftella, mai do Infante
dom Fernando, q foi rei Darago, pai delRei dom Afon(o
arriba nomeado, q morreo fem leixar filho herdeiro,
ho qual Regno a efte inclyto Prinipe anteipou ha
morte c peonha q lhe deram, & jaz fepultado na S
de Barelona, onde fe lhe efte ingrato feruio fez. Nefte
tempo do erquo de Tger elRei dom Afonfo paffou
de Septa a Gibaltar, a fe ver com elRei dom Anrrique
Caftella, que de Madril fe viera a Seuilha, & de
Seuilha a Gibaltar, ha qual partida de Madril, por er
fubita, pos ho arebifpo de Toledo, & ho marques de
Vilhena em grde cfufam, & reeo de fuas peffoas,
por ha no hauer confultada com elles, polo q come-
aram loguo de conitar hos grdes do Regno contra
elRei, ho qual neftas viftas de Gibaltar trattou cafa-
'
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,
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I
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r . . . , . . . . - . ; ~ r : - - - - -
r
DoM loAM. 55
mento dentre elRei dom Afonfo, & ha Infante dna
Ifabel fua irm, & dentre ha Infante dna Ioanna fua
filha (que aho mais podia fer de idade de tres annos)
com ho Prinipe dom loam filho delRei dom Afonfo,
hos quaes cafametos foram ali jurados, & folemnizados
nas mos de dom George bifpo Deuora, que depois
foi arebifpo de Lisba, & cardeal de Portugal : com
tudo elles nam houueram effeto, quomo fe aho diante
dira, & dali fe tomou elRei a Septa. Nefte anno de
M. cccclxiij. deu elRei a d Pedro, conde de villa Real,
neto do conde dom Pedro, ha capitania, & gouerna
da mefma idade de Septa pera hum feu filho, ou pera
ha leixar a dom loam, feu irmo, & a dom Fernando,
cde de Guimares, filho do duque dom Fernando de
Bragana fez doaam de juro do caftello de Gui-
mares com todalas redas da villa faluo ha dizima,
& lhe deu ha villa, & caftello de Mforte, affi quomo
ha trazia ho dit<? duque feu pai, depois de feu falei-
mento.
~ No anno feguinte de M. cccclxiiij. elRei fe veo
aho Regno, onde depois de chegado fe foi logo em
romaria Aguadelupe, no qual caminho, no lugar da
ponte do Arebifpo fe vio com elRei dom Anrrique, &
c ha Rainha dna loanna fua irm, fobre hos mefmos
cafamentos, & no mefmo anno fez doaam do caftello,
& villa de Lagos aho Infante dom Fernando feu irmo,
& a d Fernando conde de Guimares deu todolos
padroados das egrejas, & mofteiros da dita villa, &
deu ha villa Dabiul, que era de dom Pedro feu primo,
depois delle fer ido pera Aragam, a Lopo dalboquer-
que, & declarou per dito dos mouros de Benamarim,
&. de Gaderez, & per cfelho de feus letrados, que ha
conquifta da dita prouinia pertenia a dom Pedro de
,
56 CHRONICA DO f>RINIPE
menefes, conde de villa Real, quomo Cll
uernador da idade de Septa, & no a d
menefes, conde de Viana, capitam, & g
villa Dalcaer j defunlo, ne a dom Anrr
conde de Viana, que entam era capitar
da dita villa Dalcaer: & aho dito conde d
refpeitando ahos feruios de dom Duar1
conde de Valena, & fenhor da villa de
qual dom Anrrique foi depois conde de l
~ No anno de M. cccclxv. ha Rainha
de Caftella, irm delRei, vo idade d
dirlhe {ocorro, & ajuda ctra hos que que1
a elRei dom Anrrique feu marido do R
aho Infante dom Afonfo feu irmo, que
rado por Rei de Cafiella, ha qual ajU<
effelo, por quanto ho Infante faleeo
desbaratado em batalha campal por elR
que feu irmo, quomo fe aho diante dira.
fe fez ha virtuofa conuenam entre "hos
Fernando duque c;Je Bragana, marques d
conde de Barelos, Dourem, & Darraiolos
Ioam, & dom Afonfo, & dom Aluara pro
fendo cafo que feu irmo mais velho de
conde de Guimares faleeffe antes do <
que elles todos tres defiftiam da auarr
direito podeffe ceder, de herdarem hru
nhorios do duque feu pai, mas antes
houueffem hos filhos do dito dom Ferr
elle leixaffe, & que nefta parte hos neto
ahos tios, declardo loguo que ifl:o f a z i ~
obrigaam em q eram aho dito dom
irmo, por confentir em muitas doaes
feu pai lhes tinha a elles feitas de bs e
'
~ -
-- - - --- .. - - --- - - . - ~ - - -- -- -- -- - ~
DoM loAM.
Fernando, quomo filho mais velho, per direito hauia
de fuceder, & de tudo ifto fe fez fcriptura publica,
confirmda por elRei. Nefte mefmo anno reuogou elRei
todalas doaes que tinha feitas a dom Pedro, decla-
rando que nam conuinha a bem deftes Regnos ter nelle
heranas per q deueffe reconheer vaffalagem, & obri-
gaam de ho feruir a elle, & a feus Regnos, fendo elle
dito dom Pedro Rei Daragam: no qual anno fez elRei
doacam da villa de Penella com todo feu termo a dom
~
Afonfo de vafconellos, & fez doaam a d loam cou-
tinho, hauendo refpeito ahos feruios do conde dom
Gonalo feu pai, que morrera em Tanger, do condado
de Marialua com todolos catellos, fortalezas, rendas,
& fenhorios, affi quomo hos feu pai, auos, & vifauos
teueram delRei dom Fernando, & delRei dom loam
primeiro, & delRei dom Duarte, affi per cartas quomo
per aluaraes : & ahos vinte, & feis dias Dol:ubro defte
anno fe finou em Areualo ha Infante dna Ifabel, molher
do Infante .d Ioam, filho delRei d Ioam primeiro,
onde fora vifitar ha Rainha donna Ifabel fua filha,
molher que fora delRei dom loam fegundo de Caftella.
~ No anno feguinte de M. cccclxvj. fe fezeram hos
conertos do cafamto do Prinipe dom Io com donna
Leanor filha mais velha do Infante dom Fernando feu
tio, & da Infante donna Beatriz, & ahos xij. dias de
Iunho do mefmo anno deu elRei priuilegio ahos mora-
dores da ilha de Sl:iago q he atraues do cabo Verde,
a requerimeto do Infte dom Ferndo, fenhor da dita
ilha, quomo herdeiro que era do Infante dom Anrrique,
pera podere trattar, & refgatar nas partes de Guin,
c outras liberdades contheudas no priuilegio, no qual
fc declarara que hauia j quatro annos que ho dito
Infante dom Fernando mandara pouoar efta ilha: donde
58 CHRONICA DO PruNIPE
fe claramente v que ho Infante dom An
no anno de cccclx. & nam no de ccc
ho algas peffoas fcreuem, que tb di
ilhas de Cabo verde foram achadas n
cccclxvj. fendo ellas j pouoadas, & aprt
dito anno fez eiRei mere a dom Alu
conde de Monfanflo, fenhor de Cafcaes.
mr do reguengo de Campores, que for
dro, filho do Infante dom Pedro.
~ No anno de M. cccclxvij. confirm
carta ha capitania, & gouemana da id.
a dom Pedro de menefes, conde de villa
conde dom Pedro, pera elle, & pera h
lhe aprouueffe, ou pera feu irmo dom Ioa
no mes Dagofio a Alcaer eguer Gon
.zuntra, pera fe l informar dos feitos,
conde d Duarte, & lhe fazer fua chronic
onde fteue hum anno, & ha chronica v(
Regno.
~ No anno de M. cccclxviij, paffou h<
Fernando em Africa com ha armada,
fcriptores Arabios em fuas hifiorias fazer
que iham dez mil homs, c ha qual foi
de Anf, q ns chamamos Anaf, & ha qu
truio, fem nenha refifienia, porque h(
bendo da armada, & ba gente que ho l1
ha defpejar antes que defembarcaffe, h
fante dom F emando mandou primeiro el
uam da gama, fidalgo de fua cafa, que p
mulaam foi com hum nauio carregadt
Alga rue, em modo de mercador, & pe
nheer ho fitio da villa elle mefmo em ve
rinheiro andaua com has peas de figm
1._ --- ..
--------- ------
DoM loAM. 5g
cofias, vendendohas pola villa, pera notar ho que nella
hauia, & quam forte era, & ha gte que era neeffaria
pera ha tomarem. Hos fcriptores Arabios dizem que
elRei dom Afonfo fe moueo a mandar deftroir efta
villa de Anaf entre hos Mouros mui nomeada, & ele-
brada, por refpeito das entradas que muitas vezes fa-
na cofta de Caftella, & Portugal, com gals, &
fuftas, que tinham bem armadas, de que eftes dous
Regnos continuadamente reebiam muito damno, da
fermefura da qual, & grandeza, dam teftimunho algs
edefiios que ainda hoje em dia fe ali Nefte
mefmo anno fez elRei merce a dom Sancho de noro-
.J
nha, conde Dodemira, da villa Daueiro, do modo que
ha elle tinha, pera h feu neto, que proedeffe de feu
filho dom Afonfo, & de dna Maria fua molher.
, No anno de M. cccclxix. no achei coufa q feja
per a fcreuer, faluo que nefte anno por e IRei ter mais
gofto da guerra Dafrica que dos defcobrimtos, n pro-
ueitos das coufas de Guin, arredou per inquo annos
ho tratto deftas terras defcobertas a hum Fernam gomez
idado da idade de Lixba por preo, & contia de
duzentos mil reaes brancos cadno, com condio que
elle foffe obrigado a defcobrir nefte tepo em legoas
cadno alem da ferra Leoa, q era ho extremo do que
atte entam hos .noffos tinham defcoberto.
, No anno de M. cccclxx. deu elRei per carta ha
gouerna Dalcaer a d Anrrique de menefes conde
de Valena, de Caminha, filho de dom Duarte
de menefes conde de Viana, capito que fora da mefma
villa Dalcaer, c dous milhes, & dous mil & vinta-
quatro reaes brancos, pera raes de quatroentos
homes de foldo, & em meas raes de molheres,
moos, & outras peffoas de feruio, que ordenou pera
6o CHRONICA no PRINIPE
l eftarem em guarniam, & deu nefte anno a ]
Ioureno de tauora ha alcaidaria mr da vil1a d
randa: no qual anno ahos dezoito dias do mes 1
ptembro faleeo ho Infante d Fernando em Se:
de idade de trinta, & feis annos, fendo prefentes 1
& ha Infante dna Beatriz fua molher, cujo corpc
foi enterrado no mofteiro de fam Franifco da c
uania, fituado junto da villa, donde depois feus
foram com grde folemnidade trefladados aho mo
da Conepam de Beja : ho qual Infante houu
Infte fua molher feis filhos, & duas filhas. f.
loam a quem eiRei fez doaarn de todolos bs qt
pai tinha da Coroa, ho qual faleeo moo, per
morte elRei deu tudo ho que elle tinha a feu i
fegundo, per nome dom Diogo, faluo ho mefiTa(
Santtiago, que per confentimento da Infante dna
triz mai do dito dom Diogo, deu aho Prinipe
loam, fenhor defta hifioria, ho tereiro foi d D
que faleeo moo em cafa do Prinipe, que ho cc
criaua quorno irmo, ho quarto foi dom Dini:
quinto d Simo que ambos morreram rrurito m
ho fexto foi dom Emanuel, Rei feliiffimo que foi (
Rcgnos, has filhas foram dna Leanor, com que
Prinipe dom ]oarn cafou no anno do fenhor de:
& quatro entos, & vinte & hum, ahos vinte &
dias do mes de Janeiro fendo elle de idade de de:
annos, & ella de treze, ha outra foi dna ]fabel
cafou com dom Fernando cde de Guimares,
depois foi duque de Bragana, a quem (viuendo .
ho duque dom Fcmando fcu pai) por rcfpcito
cafamento clRci dom Afonfo deu titulo de duqt
mefma villa de Guimares.
....
DoM loAM. 61
CAP. xviij. De quomo e/Rei dom Afonfo determi11ou
paffar em Afi"'ica, pe1 .. a tomar ha idade de Tanger,
& quomo pe.r confelho, & pareer dos Jeus ordenou
de ir Jobela villa
C
ONSVMADO HO MATRIMONIO -do Prihipe dom loo
c ha Princefa donna Leanor determinou elRei
,
de poer obra_h que fobre todolos outros
trazia affentado em feu corao, que era paffar em
Africa, & ir erquar Tanger, fobre ho que no anno
atras teuera confelhos, mas ho pareer dos mais
foi que por fe deuia deixar .ha idade de Tanger,
por fer .idade grande, & forte., & affi por no
(per cafo das guerras patfadas Dafrica) nam hauer di-
nheiro pera fe podere pagar has defpefas que tamanha
emprefa requeria, mas vifto ho gr_de defejo que elRei
moftraua de querer paffar em Africa, lhe foi pedido
polos fiados do Regno, que houueffe por bem de ir
fobre Arzilla, & defiftir por ento de querer tomar
Tanger. Tanto polas caufas ditas, quomo por aquella
idade eftar em pofe de hauer vitoria dos noifos, polo
que pareia bem deixala em paz, atte q ho tempo de
fim deffe occafio pera fe cometter negoio de tto
pefo, & perigo, ho q elRei conedeo de ba vontade,
porque de qualquer modo que fotfe fua tenam era
paffar em Africa, polo q com muita diligia mdou
fazer preftes per todos feus Regnos, & fora delles has
coufas neeffarias pera fua patfagem, mandando logo
Pero dalcaoua feu fcriuam da fazenda, pefoa de que
muito confiaua, & hum Viente fimes, homem muito
pratico nas coufas do mar, & experto nas daquella
cofia Dafrica, que fofem polo mais diffimulado modo
que podeffem a Arzilla, fingindo ferem mercadores,
62 CHRONICA
& lhe elpiaffem has for
mais a feu faluo podeffe dt
zeram com muita pruden
a q foram, fe tornar aho
do que acharam.
CAP. xix. Quomo ho PrinJ
Rei Jeu pai que ho quifi
que niffo teue.
H A
Regno, & com elle dom F
Bragana defte nome: ma
Prinipe em tudo paffaffe
propos loguo de hauer li
panhar em ha tam fant:a ,
dias cuidofo, por fe nam
peffoa defcobriffe fua vont1
dizer per outrem, & con
moo quomo era poderia
dade da que conuinha pe1
petrar feu requerimento,
tenam a dom Aluara de (
por fer peffoa de que elle
era muim acepto a elR
feu pareer, mandou dizer
fimuladamente que podeffe.
conta dalgas coufas que
que ho Conde affi fez, con
dizendolhe: Conde ha mu
fenhor tem de vs me d c
& vos dar de m, & de
----
DoM loAM. 63
pera me nellas aconfelhardes, & a outra pera fe vos
bem p a r e e ~ e m me ajudardes no effeto dellas, & por
efia fer de tanto -pefo quomo logo ouuireis, eu ha no
quis per mi, nem per outrem poer em obra, fperdo
que vs foffeis ho guiam de meu requerimento, ho qual
vos roguo que fe vos pareer defarrazoado, que fem
nenhum pejo me tireis do penfamto em que ando, do
qual nem de noite, nem de dia deixo de fer atrome-
tado, & por que nam efteis mais fufpenfo no p e r ~ que
vos mandei chamar, fabei que eu me acho afrontado
de me elRei meu fenhor no querer honrrar nefta viagem
que faz contra hos infieis, porque ha coufa que eu mais
defejo he ganhar hrra per minha propria mo : & por-
que vejo ho tepo difpofto, & ha emprefa tam fanta,
& tam hrrofa, vos digo q de todo eftou determinado,
per qualq1:1er modo q feja feguir elRei meu fenhor, &
acompanhalo, do que elle nam deue hauer defprazer,
& porque eu reeo por algs reipeitos que ter por
juftos, q me negue ifto, & com razes mo queira eftro-
uar, s quaes minha pouca idade, mifturada com ha
muita obdieia q lhe tenho, nam oufaria, ne faberia
replicar, vos peo, & rogo Conde que deis difto conta
a fua Alteza, & faaes tanto que delle me tragaes ho
prazme, porque fe mo elle nega, fabei de erto, que de
duas coufas fe ha ~ e feguir ha, ou q de defprazer hei
de cair em ha graue doena, ou depois de fua Alteza
partido, h o hei de feguir, & fe nam for quomo Prin-
ipe, fer quomo hum auentureiro foldado. Ho Conde
no menos attonito das viuas rezes do Prinipe; que
alegre de ver nelle to generofo animo lhe dixe : fenhor
quomo ha vontade do que me tedes dito no penda da
minha, fe nam da delRei voffo padre, nam tenho que
vos refponder, nem rezam q poffa dar aerqua do que
----- -------
tendes determinado, mas illo vos pe
j por ventura eiRei poderia altercar c
riando ho que pedis, vos praza que a
quemos, porque do difcurfo das replicas
me retoluerei nas rezes que lhe hei
inclinando a voffo requerimento: vs fe1
vnico herdeiro defies Regnos, cafado
fam tres pontos por que has leis diuin.
VOS efculam de fairdes fora de VOffa cafa.
em terras efiranhas. A efias tres rez
quarta q fobre todas fe deue reeber,
com ha ida delRei, & voffa, ficam eftes I
de legitimo herdeiro, fe ha fortuna nc:
relpondeffe aho contrairo do que cuida
que voffa ida poffa per qualquer modo
liita, & neeffaria, & que della fe deu.
bem a efies Regnos, & a todolos que
rem, mas quando ifto foffe nam poderia
fcr fe nam ficando elRei volTo padre no I
quando de vs Deus ordenaffe outra co
idade pera fe cafar, & hauer frul:o d<
ho bem, & emparo de ns outros todm
terra, mas pois elle vai em peffoa, & e
pode hauer eftoruo, eu haueria por b01
vs fenhor ficaffeis em cpanhia da Prh
lher, cuja noua idade, & matrimonio
ainda della filho, n filha, fer caufa de
voffa ida tanto defprazer, q failmente p
fcr caufa, & azo prinipal de fua mort
Prinipe ho difcreto modo q ho conde t,
a feu propofito, ctinudo no defejo q1
xe, que do q tocara aerqua dos dcfgoft
q hos homs nas coufas q lhe muito cm
I
I
J
{am homs, no deuem ter ncnha contJ
n defejos das molhcres, por ferem fcr
nadas a feus particulares apetites, & vi
b6a rezam, & honrra de fcus maridos,
fer moo, q nctfa parte lhe pareia q
caufa, porq ha arte da guerra, na qua
he ha que fe mais requere, nam fe poc
nam na moidade, & no que tocaua ha
gno, pofto que filho nam teueffc, foubel
affi ho podia dizer a elRei feu fenhor, q
heranas nunqua faltar taes herdein
ellas cuem, porij em tamanhos cafc
prouidenia tudo he prefente, kmprc
mais feu feruio, tanto pera b dos Rc{
Reis delles, ho qual per fua infinda
cargo eftes, quomo ho attc agora fcmpr
mais fpantado do replicar do Prinipe
propofera, lhe dixe que ha primeira c
feria dar cta a ciRei do j lhe fua A
& trabalharia tudo ho q nellc foffe en
repofta de feu requerimto, ho que afl
recado que ho conde deu a eiRei, & 1
elle teue, refultou haucr ho Prinipe h
defejaua.
CAP. xx. Da que ltorme erJI
& hos Di11glaterra lifd/e tempo.
E LREt noM DvARTE Dinglatcrra, feptim
meou a regnar no anno do Senhor
Na edio primitiva l-se: M.ccccbj.
,
66 CHRONICA DO PRINIP:E
ho qual teue grdes guerras c eiRei Luis de
onzeno defie nome. Eftes dous Reis tdo fuas
jtas em Picquigni por euitar mais males
ha, & doutra parte er feitos, fe conertar
do Senhor de mil, & quatrotos, & fetent.
ficdo hos Reis de Frana obrigados a paga
ahos Dinglaterra inquo'ta mil feudos do foi, pl
. q tinham no ducado de Aquitania, ou Guien
tarob chamo Gafconha. Durdo eftas gw
cofairo ingles, per nome Phoccbrix, hom n
brinho do cde de Varoique, gram fenhor e
terra, no mefmo tempo em q fe elRei d6 Afo
prefies pera ir fobre Arzilla, roubou no canal
terra doze naos portuguefas, que vinh carre
mercadorias de Fldres pera eftes Regnos,
deixar mais que hos cafcos, & mantimtos per
fua viag', do q eiRci ertificado, quomo era
& fofria mal qualquer afrta q fe lhe fezeffe,
feus, quifera mdar aquella armada toda c
Inglefes, tdo j elegido por capito delta d I
do duque de Braga, q depois foi Cdefiab1
Regnos, & marques de Montemr. Mas torn.
febre fun, c cfelho q fobre efta muda t
jufl:os refpeitos tornou a proeder em feu
propofito de paffar em Africa. Ctudo mane
feus embaixadores a Inglaterra, & recados al
Phelippe de Borgonha, cafado c madama II
tia, fobre ha reftituio defies bs, no qual c a ~
duque de Borgonha per fcus embaixadores, c
mandou a e IRei Dinglaterra, n hos e m b ~
deiRei poder acabar n alcanar defpacho r
q fe proedeu, atte q eiRei mouido da fem n
{e lhe fazia, depois q tornou Darzilla, mandou
I
DoM loAM.
& apregoar guerra geral ctra eiRei Dinglaterra, & per
carta dada em dez dias de Dezbro defte anno de
M. cccdxxj. deu liena pera que feus vaffallos, & fu-
geitos podeffcm liuremente reprefar fobelos Inglefes,
no q hos noffos teueram tam ba maneira c hos dnos
q fazi ahos Inglefes, q elRei Duarte Dinglaterra man-
dou fobre iffo a eftes Regnos feus embaixadores, dde
fe feguio refiitui dos bCs roubados, paz, & amizade
atte ho dia de hoje: mas nifio ha ha duuida, porq ho
chronifta na Chronica defie magnanimo Rei dom Afonfo
diz q fiando elle determinado mandar efta armada ctra
hos Inglefes leixou de ho fazer, por lhe vir recado q
efte Rei, que ent regnaua, era morto em batalha por
elRei Eduarte, & affi ho conde de Varoique, & q logo
per fuas embaixadas mandou requerer ha reftitui
defies bs roubados, no que ho dito chronifia fe enganou,
porq elRei Duarte feptimo, em cujo tempo fe eflas doze
naos roubar viueo, & regnou atte ho armo do Senhor
de M. cccclxxxiij. no qual faleeo ahos noue dias Dabril,
deixando entre outros hum filho herdeiro, per nome
tamb Duarte, que pouquos dias depois foi morto, fem
fer coroado, quomo loguo direi, & nefies dous Duartes
pai, & filho fe enganou ho chronifla contandohos ambos
.por hum: em vida do qual Duarte [feptimo] doze
1
annos
antes que faleeffe foi efte roubo, cuja refiituiam fe fez
loguo, por elRei dorp Afonfo lhe querer mouer guerra,
& ho rei Dinglaterra que foi morto em batalha era
irmo defte Duarte, & fe chamaua Ricardo, que foi
hom mo, & peruerfo, & fez muitos males, & cruczas,
antes, & depois que regnou, entre hos quaes foi mattar
I Na ediyio prim.i1iva l-1e: 1ette,
68 CHRONICA DO PRINIP.E:
ho Cobre dito Prinipe Duarte filho de fe
d Duarte feptimo j defuntlo, & outros fi
ficar, ho qual foi coroado por Rei no m
mil, &. quatro ctos, & oitta, & tres, ah
Julho, dous mefes, & xxvij. dias depois c
do dito Rei dom Duarte feu irmo, palas c
& outros males que fez, hos nobres, & po
fe aleuantaram ctra elle, & foi mort
Deftoque, no anno do Senhor de mil, &
& oitenta, & feis, ahos dous annos, & (
fcu regnado, per cuja morte regnou Enr
defte nome, pai delRei Enrrique oitauo,
ha Infante donna Catherina, filha delRei d,
& da Rainha donna lfabel de Caftella, &
quaes dous Prinipes fe trattara aho diar
defta Chronica.
CAP. xxf ne quomo elRei partia de Lis.
paffou atte ancorar diante da villa L
H A DETERMINAAM que elRei tomou fi
Prinipc configo nam foi tam fail,
depois de lhe ter dado ho prazme nam
rentes pareeres, com tudo ho Prinipe tet
& meos que fua ida fe lhe nam pode cft
afli affentado ficando ha Princfa donn
Regente, & ho duque de Bragana por
conCelho, elRei mandou com muita br
preftes fua armada, & porq fabia que c
nhores, & outras pcffoas c.alificadas, q c
hauia odios, & mal querenas polos Ql
algis dclles efcomungados, & lhes erar
tcrditlos hos facramcntos da Egrcja,
-.:. ... -_ ---------
DoM loAM.
taes ho acompanhaiTe, fem
hos com que tinha odio, ou
fezcr. Nefia viagem orden
uaiTem cauallos, por nam hll
iffo, & ter por efcufada ha
>deria fazer. Darmada q fe
u elRei cargo a dom Fen
filho do duque dom Fernd
ado com efia frota a L i s b ~
LBda de Reftello ahos quz
tnno do Senhor de mil, &
~ hum, & dous dias depc
bom tempo villa de Lagc
mada do Regno do Algarue
do dom Duarte conde de V
tindo per mandado delRei; r
os groffas, galees, gals, ft
1rga trezentas, & trinta, &
erra nobre, & foldados fen
1 gente de feruio, vinte, &
toda efia tam groffa arma'
:ra q fe veja ha muda dm
oufas, ho qual foi de ent
obras douro, fl:gdo achei 1
m Vafquo dataidc prior do
:lcnou cm Lisba, & tomou
da, quomo da vida, & na c
alcaer, de que elle tamb t
:nder ento, & quinze mi
.o, pcra ho que nam fei fe E
)Uf0
1
pera cada ha dcfias ar
creceo em todalas coufas
dos Reis. E tornando
70 CHRONICA DO PRI!'I
elRei chegou a Lagos, fem mais
outro dia depois de ouuir Miffa
fim da qual dixe publicamte c
que iha era Arzilla, onde chego
mada, ahos vinte dias do mefmo
noite.
CAP. xxij. D o j i t i o ~ ti antiguidade
pms j tranei do fitio, fundaa
Dalcaer, & da grandeza, a
& fitio da idade de Septa, rezan
coufa da antigua nobreza, & ac
defla villa Darzilla, qual hos Mot
lingoagem Azela, & dizem fegur
hifiorias que foi fundada pelos Ro11
onde agora cfi, que he na cofia 1
legoas do fireito de Gibaltar. Eft.
dos Romos fugeita nho fenhor de :
taria ahos mefmos Romos, & dep
Godos, que neUa teueram fempre
obedicia fteue atte ho anno dalc
Mouros, & Arabios de nouenta, &
annos depois da perdiam de H
fer tomada pelos Mouros, per o
forte, & poderofa efta villa era.
Mouros, & Hifpanha ganhada de
tos contra ho poder de tanta mo1
vilorias do sangue chrifto, per ta
cm poder dos quaes Mouros efic1
mas, quomo de letras, & merca
duztos, & vinte annos, atte que
Do>< loAM.
[ifpanha deendentes da geraa1
a de ha groffa armada Dingleft
le damno, & perda que fe de h:
& pala muita gente q no erqu<
quomo he gente afpera nas coul
re mal has perdas, & afrtas q
ram de todo, & mattar a fe
~ n t e que nella hauia, fem darem
k affi fteue defiroida, & defabit:
trinta annos, mas paffado efte
m Mauritania hos fenhores, &
foi de nouo per elles edificada
1rtes, & magnificos edi6ios do c
em riqueza, & grandeza, hl
ms muim letrados, & muitos r
ontinuamte faziam firagos per
lifpanha. q entam eram de chril
& de que hos fronteiros de Se1
: q for ganhadas dos Portugue
t continuas dnos. Nefta profp
a elRei dom Afonfo ganhoU, qu
:omarqua defl:a villa he muim f,
tquc1la cofia Dafrica lhe fazen
.1las, quomo de fementeiras, 1
ida. quanto he notaria ahos Pari
nella em noffo tempo efteuera
fe foltar ahos Mouros. No t1
erquar regnaua ainda em Fz
:ontra ho qual fe leutou hUll
: abra, & ho veo erquar em F
sbaratou per cfclho de hum fe1
:t, que era primo c irmo do
:i Eflerif mandado depois defia g
72 CHRONICA DO PRtNIPE
feu capitam, & conCelheiro, a Temeena apa'
aquella comarqua, que fe lhe aleuantara, Saic
tornou com oito mil de cauallo Arabios, & outra
de p, & ercou Fz ha noua, & depois de ha te
cada per fpao de hum anno, hos idados della
podendo j fofrer hos trabalhos do erquo fe con.
ram fecretamente com elle, & lha. entregaram, &
rif fe foi com toda fua familia aho Regno de T
Nefie anno em que Saic tinha erquada Fz ha
veo eiRei dom Afonfo Cobre Arzilla, & ha tom(
captiuou duas molheres de Molei xeque, gram f
antre hos Mouros, que por caufa de fe lhe leuan1
prouinia de Hnbat, que era fua, viuia cntam er
zilla, cujo fenhor era, ho qual depois foi Rei
onde nefte tempo fiaua por reipeito da guern
Saic fazia a efia idade, & Regno, & captiuou
eiRci dom Afonfo hum feu filho per nome Mafm
& ha filha mbos de idade de fette annos, (
trouxe captivos a eftes Rcgnos, onde Mafamede
fettc annos, a quem hos Mouros por faber muitc
ha lingoa Portuguefa, chamaram Molei mafamc
Portugues: ho qual fendo j Rei veo erquar du
tres vezes Arzilla com grande poder, & defejo
tomar, quomo lugar de fcu nafimcnto, & en
dellas, regnando ncftes Regnos clRei dom Err
ganhou ha villa, & hos noffos fe recolheram ah
tello, & fcgundo ho contam hos fcriptores Ar
fezeram concrto com elRei Mafamede q fe dent
dous dias lhe n vieffe focorro, que lhe entreg
ho caftelJo, faluas has vidus, & bCs, mas Dcos p
t Na edio primitiva l-se:
-.--- --- --- - - -
DoM loAM.
mifericordia n quis q coufa to importte chriftan-
dade fe tornaffe por ento a poffuir por infieis, .porq
foi focorrida dctro deftes dous dias dos noffos, & afli
dos Caftelhanos, cujo capit era Pedro nauarro, home
mui esforado, & pratico nas coufas da guerra, do q
na Chronica delRei dom Emanuel, quomo etn feu pro-
prio lugar, tratto mais per extenso. E pois tenho dito
ho q pude alcanar dos cafos, fitio, & antiguidade Dar-
zilla, tempo he (ainda q em parte anteipaffe ho fio,
& orde da hiftoria) que torne aho que elRei dom Afonfo
fez depois de ter lada ancora diante defta villa.
CAP. xxiij. De quonzo e/Rei dfembarcou com .fua ge1zte,
& mdou loguo erquar lza vil/a.
H A MESMA NOITE em que elRei chegou Arzilla com
toda fua armada, teue confelho fobre ho modo da
defembarcaam, & erquo q lhe queria poer, no qual
depois de varios pareeres foi concluido que em ama-
nhedo dom Aluaro de Crafio conde de Monfanto,
& ho conde de Marialua dom Ioam coutinho faiffem
em terra com ha gte q lhes pera iffo foi ordenada,
& q quomo chegafem praia, abalafe elRei com toda
fua companhia, & coufas neeffarias pera ho erquo,
de maneira que no mefmo dia fe affentaffe de modo
que ha villa nam podeffe fer foccorrida; nem della po-
defe fair peffoa nenha, & quomo eftes dous condes
eram pefioas de gram recado, & mui defejofos do fer-
vio delRei, ordenaram tudo tam bem, que em rom-
pendo alua com barcas, bargantins, & outros nauios
de remo chagaram praia, mas quomo ho defembar-
cadouro daquella villa fcja afpero, & tenha ms entra-
das, & perigofas, & nefte tempo com tormenta ho mr
..,,
74 CHRONI(
andaffe de leuadio, nar
remo, que has vagas dei
pofio q foffe antes do
barcou loguo com ho l
uam fperando, fazdo
breue fpao chegou aho
uam, no qual fem nenhi
panheiro, ho que vifio
peffoa que ou nos nauic
der chegar praia, ou
elRei, & affi todos pel
braueza dos ventos trab
a terra, mas ifto fe nam
fe alagou ha gal, &
que fe afogaram mais
eram fidalgos, cujos nor
ncgligcnia he muito p
daquelle tempo, porij c
de fazer fempre mam:
gs, & familias. Mas t
{embarcou, fem fperar h(
ho qual por caufa da
trazer, mandou affentar
caua, baftilhes, & out
& calidade do lugar lhe
tudo fe fez fem hos da ,
pofto que dentro hou\J
guerra quomo fe depo
deram.
DoM loAM.
CAP. xxiiij. De quomo fe comeou ho combate, & ha villa
joz entrada Jem ho e/Rei faber.
H A TORMENTA perfeuerou tanto que ho palanque fe
nam pode trazer a terra, nem mais que duas
bombardas, mas quomo elRei era apreffado em feus
negoios, prinipalmente nos da guerra (na qual ha
diligenia nam tam fmente refifie fortuna, mas ainda
ha vene) mdou loguo dar ho cbate, & tirar villa
c duas bbardas, com q derrubar deus los do
muro, fpao de tres dias ctinuos, & no feguinte,
que era em dia do Apofiolo fam Bartholameu, xxiiij.
do mes Dagofio, em amanheendo hos da companhia
de dom Aluara de Crafio conde de Monfanl:o, cuja
era ha guarda da fiania da banda do caftello, viram
Cobre has ameas de ha das torres, pofia hiia bandeira
em modo de pz, polo que ho conde mandou fazer
final ahos de dtro, pera feguramte poderem fahir, &
dizerem ho que queriam, ho q fe affi fez, dando-lhe
da parte do alcaide recado pera Cobre feguro virem
falar em conerto de pazes, no que loguo ho conde
mandou dizer a elRei, a quem refpondeo q deffe aho
nlcaide todalas feguras que lhe pediffe pera fe ver
c elle. Anddo eftes recados de hiia, & doutra parte
fe teue por fnfpeita que algs dos capites, & gente
mais inclinada viftoria mifl:urada com fgue q
paz, & concordia, tendoffe por afrtados delRei cobrar
ha villa per conerto, ha cometter com tta furia palas
partes per onde ho muro fl:aua derrubado, q fubita-
mente entrar polo alto deUe, aho que hos Mouros
(que de tal cafo efl:auam defcuidados, por caufa do
conerto q dambalas partes fe trattaua) acudiram com
muita preffa, defenddo ho muro tanto, quanto lhes ha
CHRONICA DO PRINCIPE
.11
fortuna em cafo t fubito quis ceder, mas hos noffos
quomo j teueffem prefopofto de antes morrer que tor-
nare ante elRei fem ha vitoria, que fem feu mandado
\
determinaram naquelle dia alcanar, fezeram recolher
hos Mouros pera dentro de maneira que pofto q ha
entrada a muitos delles cuftaffe ha vida, & a muitos
mais ho fangue, elles ha fezeratn franca ahos que hos
feguiam, de modo que ha villa foi entrada antes de ho
elRei faber, do que fendo ertificado pedio com gram
preffa ho capaete, porq das outras peas neeffarias
andaua fempre armado, & fazendo ho Prinipe ho
mefmo fe foram aho lugar per onde ha villa fe comet-
tera, & porque has entradas que fe fezeram no muro
nam eram tamanhas, per que bem podeffe caber tta
gente, quanta fe requeria, & ha grita, & brados er
dentro na villa tam grandes que elRei podia com rezam
cuidar fer muito neeffario acudir ahos feus, mandou
poer ahos muros algas fcadas que j eram tiradas em
terra, per q fobio muita gente, de que algs acudiram
s portas da villa, & has abrir, per onde elRei, & ho
Prinipe loguo entraram, com ho qual focorro nam
podendo hos Mouros mais refiftir aho impeto dos noffos,
fe recolheram hs mizquita, & outros aho caftello,
lugar muito forte, nos quaes pofia ba guarda elRei
com hos feus deram muitas graas a Deos por tam
bom prinipio de vitoria, pofto q foffe com perda, &
damno dos feus.
CAP. xxv. De quomo ha mi'{quita foi entrada, & da
braua pele.ja que fobre iffo houue.
DEPOIS QVE elRei ganhou ha villa, mandou aho conde
de Monfanto, a que quomo atras dixemos, era
_.... ... r-- ---
... '
i-
DoM loAM.
77
encomdada ha ftania do caftello, q teueffe gram v tgia
na porta fecreta a que chamamos da trei, de maneira
que per ella nam podeffem fair hos Mouros, & elle fe
foi ,; mizquita, que achou c has portas. &
taro bem trancadas, que pofto que hos noffos muito
trabalhaffem polas quebrar. c machados, & outros pe-
trechos, h o nam poderam fazer, h o que e IRei vendo
mandou aparelhar vaiues de tto pefo, & grandura que
com ha fora da. gente que fe a iffo pos foram loguo
rachadas em. pedaos, & derrubadas, per onde entrar
muitos. dos noffos, mas elles nam acharam ho paffo
tam fail, quomo cuidauam, porque hos Mouros, quo:-.
mo. pomes defefperados da vida, hos reeberam
modo que loguo alli mattaram algs, & feriram muitos,: .
com tudo ha peleja fe trauou de maneira que elles fo-
ram de todo confirangidos deixar ha porta, retirandoffe_
pera ho largo da mizquita, onde fe ha peleja renouou
de maneira q mal poder hos noffos crer q em gte j
venida houueffe tto efforo. V enidos affi hos Mouros:
hos q delles ficar viuos, q foram mui poucos, exepto
molheres, & mininos q ftau efcondidos polos cantos
da mizquita, mandou elRei q fe pofeffem a bom recado,
& pera maior fegurana fe leuaffem aho arraial. Entre
hos fidalgos que aqui morreram foi dom Ioam couti-
nho, conde de Marialua, cuja morte elRei, & ho Prin-
ipe com todo ho Regno fentiram muito, & com rezam,
porq elle era h dos nobres, liberaes, & efforados
caualleiros, que naquelles tempos hauia em toda ha
Hifpanha.
..._ __ -
CHRONICA no PruNIPP!
CAP. xxvj. De quomo e/Rei tomou ho cajlello, & do q
fe 110 combate delle paffou.
GANHADA ha mizquita ficaua ho caftello, lugar muim
forte, & b prouido de munies de guerra, em
que ftaua recolhida muita gente nobre, do q elRei er-
tificado polos captiuos, arreedo que lhes vieffe fo-
corro, ho mdou loguo combater, & poer has fcadas
aho muro, polas quaes a fubir tam deno-
dadamente, que hos Mouros defconfiados de fuas foras
trabalhauam de fe recolher s torres, cuidando eftar
nellas mais feguros, mas hos q entraram hos leuauam
tam fem medo diante de fim, que poucos delles, pola
.ftreiteza das portas, fe poderam acolher a ellas, ho q
tambe caufou fecharemlhas hos q ftauam de dentro, de
modo q pelejando fe trauaram de maneira que afer-
rados hs c hos outros cairam hos mais delles em
tropel polas fcadas do muro, atte virem dar no pateo
do caftello, onde ftaua ha mr fora da gente que fe
da villa dentro nelle recolhera, & alli foram tantos hos
mortos, & feridos de ha parte, & da outra qtie per
nenhum lugar do pateo fe podia dar paffo que nam
fofe fobre fangue ou corpos derrubados viuos, ou mor-
tos. Hos noffos quomo for no pateo algs delles acu-
diram s portas do caftello, & has abriram, per onde
loguo elRei, & ho Prinipe entraram, & nam foi tam
tarde q ainda n achaffem b em que entender, porque
ha peleja era t braua q diante delRei, & do Prinipe,
algs dos noffos perdendo has vidas reeberam ho
eftremo galardam de fuas hrras. Entre hos que aqui
morreram foi d Aluaro de Crafto, conde de Monfan-
lo, ho qual acudindo aho chamado de hum Mouro, q
fiaua em. h cubello, dizedo que fe ho faluaffe lhe daria
DoM loAM.
79
grande refgate, fem outro teto, ne fegurana fubio per
ha fcada, & em chegdo aho cubello, ho Mouro lhe
cortou ha cabea do primeiro golpe, cuja morte fenti-
ram hos noffos tanto q a nenh dos Mouros q fe alli
acharam -fe deu ha vida. Algs dize q fiando elle em
ha torre do caftello c ho capaete fora da cabea
que veo ha feta quomo perdida, & lhe deu na cabea,
de q loguo morreo. Seja quomo quer q for, elle fez
ho fim de feus dias no feruio de Deos, & de feu Rei.
Acabada affi efta cruel peleja, em q ho Prinipe fe
houue mui valerofamete, mais quomo foldado, q quo-
mo Prinipe vnico herdeiro, hos Mouros q ftau na
torre da menage, & em outras, defefperados de focorro,
confiados na clemeia delRei, por faluarem has vidas,
fentregaram fua mere. Ho numero dos captiuos
paffou de inquo mil, entre hos quaes foram duas mo-
Iheres de Molei xeque, & h filho, & hua filha, ambos
de idade de fette anns, quomo atras no capitulo da
defcripo Darzilla fica dito, dos quaes has molheres,
& filha, quomo fe aho diante dira for dadas por
fcaimbo dos offos do Infante d Ferndo, &- polo ref-
gate do filho dize hos fcriptores Arabios q deu Molei
xeque a elRei d Afonfo gr foma de dinheiro : c tudo
hos noflos dizem q elRei lhe mdou ho filho liuremte,
ha qual liberalidade foi caufa vnica de ho dito l\lolei
xeque deixar tam failmte ho erquo da Graiofa,
quomo fez, regnando j ho Prinipe dom loam. Dos
Mouros que fe acharam affi na villa quomo na mizquita,
& caftello morreram mais de dous mil, hos quaes com
hos que ficaram viuos nam foram oiofos em defender
fuas vidas, & moradas, polo que he de crer que dos
noffos morreram affaz nefie cbate, ho que hos chro-
niftas cuiddo de niffo acreentare ho louuor dos Por
~ - ..
.... ~ . ~ .
.
8o CHRONICA no PruNIPE!
tuguefes, por no quifer declarar, mas tan
viftoria alcada fm perda do viftoriofo,. feria
mto, & fe poderia dizer c6 rezam fer de moi
armadas, ou de homs fracos, & defarmados,
eftes nam er fe nam mui bem armados, & mu
mofos, do que fe feguio, quomo he verdade, q
dos condes de Marialua, & Mfanfto que hos I
fcriptores nomeam, morrer muitos outros na to
defia villa, dos quaes fe nomear hos q per nol
& valtia mereiam fer c. louuor declarados: d
nifo milhor cor hiftoria q fcreuer, & gr louu
familias dos q em tam notauel, & gloriofo feitc
baram fuas vidas. Acharanffe na villa inquoenta
tos captiuos, a qu efta memorauel viftoria refi
ha liberdade, q hos mais deites hauia muito tp<
tinh perdida. Ho outro defpojo foi cftimado em
de oitotas ffiil dobras douro, do qual elRei fez
franca ahos do exerito, fem diffo querer pera fim .
alga, no que bem mofirou fua grande libcralio
quomo ho fempre fez antes, & depois em rr
partes.
CAP. xxvij, De quonw depois de acabado ho comha
cajlello e/Rei fc foi mi;,quila, & a1mou ho J
fipe caualleiro.
TOMADO HO CASTELI.O elRci fe foi loguo miz<
porta da qual ho fiaua fperando ho feu c
Iam mr, & outros de fua cape lia em proifam,
tando hymnos, & pfalmos, com que foram pera de
onde acharam ho corpo de dom Ioam coutinho c
de Marialua, & fobrelle ha Cruz a que fezeram
em memoria do triumpho com que Chrifto
__ ..........-..
DoM loAM.
nella veneo . ho qempnio,. capital imigo da
geraam Feita ha oraam pareeo a elRei que
nenh lugar, nem poderia achar mais conuenite
pera armar ho Prinipe caualleiro que aquelle, polo
que proedendo algas aho tal alo neef-
farias, pondo ho Prinipe hos geolhos no elRei
lhe ha fpada da bainha, dizendolhe em alta voz,
filho, gram dom reebemos hoje do Senhor Deos, pois
ale,n de dar em noffas _mos ha tam nobre, & forte
<;leu fobre iffo azo pera poderdes diuidamete
na ordem da Cauallaria, & ferdes armado ca-
ualleiro de minha mo, voffo Rei, & voffo padre, . &
pore ante.s q ifto feja he bem q fabais q cauallaria he
virtude mif4Irada c poder hrrofo, fegundo natureza
mui neeffario per a c elle poer pz na terra,. qudo
cobia, ou -tyrania, com defejo de .regnar, inquiet hos
Regnos, refpublic.as, & peffoas ho in(lituto,
l>t regra da qual obriga hos caua.lleiros a defpor de feus
fiados hos Reis, & pripes, q nam. guard jufiia, &
poer em feus lugares outros da mefma ordem, q.ho
fa b, & verdadeiramte : tb fam obrigados a
guarc;iar lealdade a feus Reis, fenhores, & capites,.
& cfelharnos bem, porq ho caualleiro q tem ha f
obrigada, & nam cumpre c ella he quomo hom a
que Deos deu rez, & no quer vfar della. Deu fer
liberais, & no tpo da guerra feus bs ahos
outros, faluo armas, & cauallos de fuas peffoas, q eftas.
fe lhes referu pera c ellas ganhare hrra. Alem difto
fam hos caualleiros obrigados a morrer por fua lei, &
fua terra, & emparo dos defacorridos, por. afii quomo
ha ord faerdotal foi de Deos ordenada pera feu f
culto diuino, affi ha da cauallaria foi per elle inftituida,
per a fe fazer jufiia, & defender _fua lei, &_acorrer h as
CHRONICA DO PRINIPE
viuuas, orphos, pobres, & defemparados, & hos que
ifto n fezer n fe podem chamar caualleiros. E pois
v:os j tenho declarado hos grdes encargos, & obri-
gaes da ord da cauallaria, agora vos pergunto fe
c tais condies quereis entrar nella, aho q ho Prin-
ipe refpondeo q fim. Ora vifto q voffa vtade he tal,
dixe elRei, prometes vs de guardar, cumprir, & fazer
guardar ho q vos tenho dito com todolos outros bs
coftumes, foros, leis, & direitos q pertenem ordem
da. cauallaria, fim, dixe ho Prinipe. Pois affi he, ref-
pondeo elRei, eu vos armo, & fao caualleiro em
nome de Deos padre, filho, fpirito fanao, tres peffoas
.h f Deos, & tocando a cada h deftes fanl:os nomes
c ha fpada ho capaete q ho Prinipe tinha na cabea,
lhe dixe, filho, praza a Deos q haja por feu feruio
ferdes vs tam bo1p caualleiro quomo ho foi d Ioam
coutinho cde de Marialua, cujo corpo ahi vedes jazer
morto c muitas feridas, q por feruio de Deos, &
nofo hoje reebeo: & beijdo elRei ho Prinipe na
fae ho. leutou pola mo, ho qual, pondo outra vez
hos geolhos em terra lhe b_eijou ha mo c muita re-
uereia, & logo no mefmo instante elRei, & ho Prin-
ipe armar alli muitos cavalleiros, q naquelle dia ho
tinh bem mereido, ho q fe recolher ahos
apofentos q lhes no caftello j tinham conertados,
onde pafaram toda ha noite, c grande guarda, & vi-
gia, affi na villa, quomo no arraial.
CAP. xxviij. Dalgas coufas que elReife7v & ot"denou
hos dias que jleue em Ar{illa.
P
ASSADA aquella noite loguo em amanhedo mandou
,. elRei q hos corpos dos Mouros mortos fe enter-
.,
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DoM IOAM.- 83
raffem fora dos muros, & que hos chriftos fe enter ..
raffem na mizquita, & com ifto rndou q ha primeira
coufa q ha clerezia fezeffe foffe ordenar has coufas ne-
effarias pera ha confagra della, qual erimonia
elRei, & ho Prinipe for prefentes, muddo ho _nome
daquella cafa profana nome da Assump . de noffa
Senhora, per memoria do dia em. q elRei partira de
Lisba. Quomo ha mizquita foi sagrada per h dos bif-
pos q er prefentes, ho nome do qual n achei pe_r
fcripto, n dos outros q nefta viag foram, dixe ho
mefmo bifpo ha Missa de noffa Senhora em pontifica:!,
ha qual acabada fem hauer prega, por ho tepo pera
iffo n dar lugar, fe dixe outra de requie polas almas
dos defunttos c feu refponfo, & antes de hos corpos
do conde de Marialua, & Mfantlo lanare terra,
elRei fem tomar largos cfelhos, deu a d Io de Craf-
to, q ahi era prefente, ho titulo de conde de Mfantlo,
quorno ho feu pai dom Aluaro & lhe deu to-
terras, villas, & lugares, polo modo, & maneira
q foram do dito. conde : & porq d Io coutinho conde
de . Marialua n tinha filhos, por efta nobre cafa n
ficar fem herdeiro, detl tbem titulo de conde de Ma-
rialua a d Franifco coutinho feu irmo_, & lhe outor-
gou todalas terras, villas, & lugares do mefmo mod.o q
has ho cde feu irmo poffuia. Todo ho mais tempo q
elRei fteue em Arzilla fez muitas meres, entre has
quaes foi dr ha capitania daquella villa a d Anrrique
de menefes conde de V ala, filho de d Duarte de
menefes conde de Viana, capit, & gouernador q fora
Dalcaer, dos quaes atras fica feita larga
84 CHRONICA DO PRINIPE
CAP. xxix. De quomo Molei xeque JJeo a ,
t i l l a ~ & dos c6ertos q antre e l R e i ~
{_eram.
M OLEI XEQVE andaua occupado nas gu
no mefmo tpo q eiRei dom Afonfo
Arzilla, quomo arras fica dito, do que fend
partio com ha mr preffa q pode pera foc
ftauam dentro na villa, mas elle chegan4
quibir lhe der recado erto de quomo h1
tomada, & fuas molheres, & filhos capt
reebeo muito nojo, & trifteza, c tudo qu'
vdo q elRei ftaua poderofo, & q lhe J
mais dno do que lhe j tinha feito, ru
grande eftoruo pera todos feus negoios
mdar recado a elRei, fazendo-lhe Caber
era de fe ver c elle, & fer feu amigo, do
alegre lhe deu faluo condutlo, & feguro
mas Molei xeque, depois de fer jto da
ztos de cauallo q cfigo trouxe, defcfia4
q lhe eiRei dera re.eou ver!fe c elle, conl
dalgas peffoas, q pera efte negoio dbs
deputar: vier a tal certo q elRei dc:J
caffe fenhor paifico de Septa, Alcaer, l
todos feus termos, lugares, aldeas
1
& q c
fenhor reebeffe feus tributos, limitdo log
q a cada h delles pertia, & q ifto fo
de vinte annos, q antre elles haueria de tn
jurar, & confirmar, com declara q
fe ent'deri nos lugares chos, & deferca
& quanto s villas ercadas a cada h fiel
der de lhes fazer guerra, & has tomar p
has taes tregoas fe quebrar, has quaes
~ - - . . . . - - - - - - - ~ - - - ,
~ r . ,
'
DoM loAM. 85
.
condies affentadas, fcriptas, affinadas, & affelladas
por elRei, & polo Prinipe, & por Molei xeque, elle
fe tornou loguo guerra de Fz, em que (quomo j
dixe) entam andaua occupado, dde por premio de feus
trabalhos efperaua fer Rei, quomo ho depois paifica-
mente foi, & de todo ho Regno.
.
CAP. xxx. Em que se tratta quomo hos Mouros, que vi-
uiam em Tanger, deixaram ha idade, & has caufas
porque, & de fua antiguidade, & jitio.
SENDO uos DE TGER ertificados defte conerto, &
de quomo Molei xeque era tornado guerra, &
negoios da idade de Fz, em cuja ajuda, & poder
tinham pofta ha fperana do cobro Darzilla, & da fe-
gurana de fuas peffoas, bs, & idade, defefperados
de todo {ocorro, por caufa das difcordias q hauia em
todo ho Regno, tendo reeo q elRei dom Afonfo hos
foffe erquar, & executaffe nelles ha vingana de tantos
damnos, eftragos, captiueiros, & mortes, quantos na-
quelle lugar reebera ha naam Portuguefa, elles de
fuas vtades, ho mais fecretamente q lhes foi poffiuel,
defpeJaram ha idade, leudo fuas fazdas pera onde
lhes aprouue, & hos ha fortuna guiou, mas has coufas
q nam poderam Ieuar leixaram dnificadas de maneira
q per a nenh feruio for depois vtiles, guardandoffe
de poer fogo a nenha dellas, por nam ferem fentidos.
E porq efta idade he ha das que fe antre hos Mouros
tem por mais antigua da Mauritania, nam feria rezam
paffar _adiante, fem della, & de fua nobreza, & anti-
guidade fazer alg difcurfo, pois por fua cauallaria, &
fortaleza foi, antes de ha hauermos com muito dno
noffo, nam menos conheida, & ftimada, q temida.
86
CHRONICA DO PRINIPE
Efta inclyta idade de Tanger, a que hos Mouros cha-
mam Tangia, fegundo ho dizem hos fcriptores Arabios,
foi no comeco de fua fundacam edificada no mefmo
~ ~
lugar onde agora eft, que he na cofta do mr Oeano
athlantico, junto da entrada do ftreito de Gibaltar, ou
Herculeo, & fegdo opiniam dalgs deftes fcriptores
Arabios foi edificada per hum grande fenhor chamado
Sedded, filho de Had, ho qual Sedded, fegundo elles
dizem, foi fenhor de todalas prouinias de Africa, &
Europa, & dalgas de Asia, & fez edificar ha idade
de que has paredes, & muros eram de metal fino, &
hos telhados cubertos douro, & prata fem outra miftura.
Ha caufa de ter ttos thefouros era fegundo elles fcre-
uem, porque de todalas idades que lhe eram fugeitas
recolhia cadanno grdes redas, direitos, & tributos;
das quaes idades dizem eftes fcriptores q era Tanger
ha das prinipaes, mas efta opiniam reprouam outros
fcriptores hauidos antre hos Arabios, & Mouros por
mais verdadeiros, & dignos de f, hos quaes dizem
que foi de nouo edificada dos Romos no tepo q eram
fenhores de Grada, & Andaluzia, & que depois que
hos Godos fubjugaram Hifpanha, & parte de Maurita-
nia foi efta idade pofta debaixo do fenhorio de Septa,
atte que ella, & Arzilla foram ganhadas dos Mouros :
& em todos eftes tempos foi fempre muim profpera,
& abundante, & houue nella muitos collegios, & exer-
iio de letras, & muitos caualleiros mui deftros na
guerra, & cafas magnificas, & paos de grandes fe-
nhores da Mauritania. Ha comarqua della nam he
n1uito fertil, nem refpondem bem has fementeir;as, com
tudo tem valles vezinhos idade, que por cafo das
agoas q per elles co_rrem fam muito fertiles, & ab-
dantes de pafto, em que nos tpos paffados hauia mui-
DoM loAM.
tos jardins, pumares, & vinhas, ha qual idade, d d o ~
lhe ho tpo de rofio ha pos debaixo de nofo jugo, & d o ~
roinio, & aquillo que per muitos tempos, & com grande
poder de gte, & com muitos trabalhos, & perdas,
& defpefas hos Reis de Portugal nam poderam alcan-
ar lhes cedeo ha prouidenia diuina em hum f
momento, fem ferro, nem fangue, ho q aconteeo no
mefino anno dalehegira, & conta dos Mouros, & Ara-
bios de oito entos oitenta & dous, em que Arzilla
foi tomada. E tornando a no!fa hiftoria tto q fe ha
idade defpejou elRei d Afonfo foi diifo auifado per
dous Mouros, q por ganhar has aluiferas lhe logo
vieram trazer has nouas, do que eiRei nam confiado,
por faber ha fortaleza, & foras da idade lhes deu a
iifo pouca f, & hos fez poer em ba guarda, atte que
per outros Mouros q vieram apos eftes se foube fer
verdade, ho que hos primeiros dixeram, polo que fez
a todos mere. No mefmo dia q elRei ifio foube mdou
a dom loam filho do duque de Bragana, que depois
foi marques de Montemr, q fe fofe metter na idade
com alga gente de p, & de cauallo, & que elle ho
feguiria loguo, na qual entrou fem efioruo algum ahos
xxviij. dias Dagofio, quatro dias depois da tomada
Darzilla, dia em que ha Egreja Rom elebra ha me-
moria do bem auturado fanao Aurelio auguHinho
bifpo de Hipporregio. Quomo dom Ioam foi em Tan-
ger, auifou loguo elRei, & fez per toda las partes bufcar
ho defpojo que ficara, ho qual foi de pouco valor,
faluo algiis barris de poluora, & bombardas grotfas, &
meudas encrauadas, das quaes ba parte foram nofas.
EIRei quomo reebeo recado de dom Ioam, fem mais
tarda partia pera Tger com ho Prinipe, onde foi
dos que j l fiauam reebido com muita alegria, da
88
CHRONICA- DO PRINIPE
qual elRei, fegundo fe nelle via, nam daua grandes
moftras, porque quomo era de inueniuel animo, &
de altos penfamtos, lembrandolhe da prifam do In-
fante dom Ferndo feu tio, & dos damnos, & perdas
q defte tepo, & do feu, ha naam Portuguefa alli re-
eber, patee q tomaua por abatimento de fua Real
peffoa, ganhar ha tal idade, fem lhe della ficar nome
de venedor.
CAP. :xxxj. Do que. e/Rei fe{ hos dias que ejleue em
Tanger, atte que .fe fe1 a vela pera lio Regno.
H'A PRIMEIRA cOvsA que e IRei, & ho Prinip_e _fezel'am
em entrando na idade de Tanger fot Ire fazer
raam ante ha Cruz, q j na Egreja, q fora mizqui-
ta,. eftaua pofia fobre hum altar, & porq ho prior de
fam Viente de fora da idade de Lisba, conego re-
grante da ordem de fantl:o Auguftinho, era bifpo da
mefma idade de Tger, elRei lhe mandou loguo dar
ha poffe de feu bifpado, & lhe ordenou renda pera
manter honeftamente feu habito, & offiio paftoral, &
qtiomo acabou d ~ prouer efte negoio, & outras coufas
ecclefiafticas, a que elle era mui inclinado, entendeo
nas feculares, neeffarias a gouernana, & delefam da
idade, & pofpoftos hos requerimtos de muitas pef-
foas de grandes feruios, & valia, q lhe pediam ha
capitania da idade, elle ha deu c ha guernana a
Rui ~ e mello, feu guarda mr, q depois per feus me-
recimtos foi conde Doliuenca : & ali ennouou elRei
J J
ho titulo q tinha, & ordenou q em fuas cartas fe po-
feffe d Afonfo per graa de Deos Rei de Portugal, &
dos Algarues, Daquem, & Dalem mr em Africa, &
do mefmo lugar noteficou aho Papa, Reis chriftos,
~
I
-- ~
..,.,_... -- . - --
. .
DoM loAM. Sg
& s idades, & villas de feu Regno ho bom fuceffo
q lhe Deos dera em fua viagem. Depois delRei ter
prouido em todalas coufas neeffarias, fem tornar a
Arzilla, n diffo hauer neeffidade (porq de tudo ha
deixou prouida, antes q vieffe a Tger) fe embarcou
ahos dezafette. dias de Setembro c ho Prinipe, & fe
veo aho. Regno c tam bom tempo, que aho dia fe-
guinte chegaram c toda fua aho porto de
Sylues, hauendo trinta, & inquo dias q partiro de
Lisba, hos quaes Deos per' fua mifericordia lhe con-
edeo em tudo profperos, & bem fortunados, com
muita gloria, & louuor feu, & bem da chriftandade,
do que ha mr parte coube ahos pouos, villas, & i-
dades Dandaluzia, q pola muita vezinhana q com
todos eftes lugares Dafrica tem, reebi cada dia muitas
perdas, & damnos, dos quaes j pola mr parte fica-
liam feguros, polo qual refpeito fezeram grandes ale-
grias, & bom recolhimento, & gafalhado a algs Por-
tugUefes dos da armada, q per terra fe vieram a Por-
tugal : elRei, & ho Prinipe, quomo chegaram a Syl-
ues, partiram logo per mr, & com fua frota profpera,
& falua entraram no porto de Lisba, onde foram re-
ebidos com proifes, & grandes feftas, q em louuor
de Deos , & lembra de tam affmada vil:oria per
dias fe elebraram per todo ho Regno.
CAP. xxxij. Em que breuemente .fe trattam alP.,iias cou-
.fas que nejle anno de mil, & quat,-o entos, & sef-
tenta, & hum pa.ffaram nejles Regnos.
DEPOIS DELREI dom Afonfo tornar aho Regno, tendo
j dada ha gouerna das coufas Dafrica aho
Prinipe, has quaes elle c hos do feu confelho gouer
go CHRONICA DO PRINIPE
naua c muito teto, & prudenia, lhe fez doaam das
rendas da alfandega de Lisba, & dos trattos, &
rendas de Guin, com ha gouernana de tudo ho que
era atte aquelle tempo defcuberto, entrando elle j em
idade de dezaiette annos, hos quaes trattos entam tra-
zia arrendados Fernam gomez da Mina per contia de
duzentos mil reaes, quomo atras fiqua dito, & deu a
dom Ioam duque de Vifeu feu fobrinho, filho do Infante
dom Fernando, ho offiio de fronteiro mr dantre Tejo,
& Odiana, & a dom Fernando duque de Guimares,
filho de dom Fernando duque de Bragana, deu poder
pera nas fuas terras mandar per feus offiiaes guardar
hos portos, per a q nam faiffe per a Caftella ouro,
nem prata, nem outras coufas defefas. Nefte anno de
M. cccclxxj. fez e IRei dom Afonfo ha lei per que de-
fende o q fem fua lia nenha peffoa, de qualquer
calidade q foffe, trattaffe no refgate da malagueta
1
, nem
gatos dalgalea ', nem em vnicornios 3, fegundo diz ha
carta q eft regiftada nos liuros da torre do Tombo,
t Baga da Xylopia .Aethiopica, Rich. Era tambn1 conhecida
com a designao de pintenta da Etipia ou da Guine, e usou-se
muito como estomacal, tnica ou estin1ulante.
z O nome zoolgico civeta africana ( Viverra civeta,
Schreb ). Segrega uma substncia aron1tica, a que chamavam
trlgle,1, muito procurada para a composio de perfumarias, e
usada em. terapeutica con1o antispasmdica.
3 O texto refere-se provavelmente a alguma das espcies de
antlopes que habitam a Africa occidental. O rinoceronte de uma
s ponta, a que se d igualn1ente o nome de unicrnio, habita na
India e no sul da China. O 1J,trval, ou unicrnio mari11ho (Ko-
nodon monoceros, L.), encontra-se exclusivamente nos mares
rcticos.
F -.. ~ r --
!
""
I
L.-.....
DoM loAM.
donde paree que hos ha naquellas regies, pois fobre
elles elRei ordenou efta leL Fez nefte anno_ mere a
dom loam, filho de dom Fernando duque de Bragana,
da villa de Montemor ho nouo, com toda fua jurdiam,
& q fe podeffe _chamar fenhor della. E no mefmo anno
fez conde de Penella dom Afonfo de vafconellos com
todalas liberdades q preteniam a conde defendente
de fangue Real, has quaes liberdades lhe tambe,n
outorgou pera todolos q delle defendeffem. Nefte anno
mandou dom Lopo dalmeida c fua obedienia aho
papa Sixto quarto, que fucedeo na S apoftolica a
Paulo fegundo. No mefmo anno a dez de dezembro
conedeo a feus vaffalos q podeffem liuremente, polas
caufas atras tocadas, reprefar fobre hos Inglefes, de
que fe depois feguio ba paz, & concordia entre eftes
Regnos, & hos Dinglaterra, & porque elRei nam era
menos juftiiofo que caualleiro, nefte anno, por erros
que Aluaro fernandez cometteo no offiio, que feruia
de fobre juiz da cafa do iuel, lhe tirou ho offiio, &
lhe mandou confifcar toda fua fazenda, & da metade
della fez mere a dom lorge da cofia arebifpo de Lis-
ba, que depois foi cardeal de Portugal, & da outra
metade a Pero feo, fidalgo de fua cafa, caftigo que fe
hos Reis muitas vezes deffem, feriam hos offiiaes de
juftia, & de quaefquer outros offiios, mais atentados,
& fieis em feus cargos, do que ho por ventura fam.
CAP. xxxiij. Da mudana que e IRei je'{ da c aja, & fiado
da Inja1lte donna /oantza .fua filha.
ELREI DOM Afonfo houue da Rainha donna lfabel fua
molher ha Infte dna Ioanna, antes q ho Prin-
ipe dom Ioam nafeffe ( quomo atras fica dito) qual
92 CHRONICA DO PRIN
filha deu cara do mefmo modo j hl
fua maim, & porque fe ifio nam podi
defpefa, ha qual elRei polos muitc
feitos nas guerras Dafrica nam poc
nou, com feu confelho, de em hal
fiado conueniente a fua peffoa ha 1
Dodiuellas fob guarda de dna Plu
do Infante dom Pedro, ho que affi
foi vefitar com ho Prinipe, & lh
confelho fe ordenara aerqua da ord
modo do fiado de fua peffoa, polo
ha mo, dizendolhe j niffo lhe fazia
fua tenam, & vtade fora fempr1
em religiam, ho j lhe elRei louuou
dolhe j trabalharia tudo ho que ne
c Prinipe j cuieffe a fua Real p
zendo pouquo caro lhe pedio que
mdaffe leuar a Odiuellas, ou a q1
teiro j lhe bem pareeffe, do j ell
fe ordenou loguo fua ida, & em C
anno de M. cccdxxj. fendo ella en
ha leuaram aho mofieiro Dodiuellas
mudada pera ho de lefu Daueiro, o
Deos houue per feu feruio ha chan
ha fempiterna, em idade de trinta
xando de fim fingular exemplo de VI
de verdadeira, & catholica chrifi.
DoM loAM. g3
CAP. xxxiiij De quomo: ha offada do Infante dom Fer-
tzando fo_i tra1_ida de F1_, & dou(ras coufas que fe
neJI.es Regnos paffaram no anno de mil, & quatro
entos, & fettenta, & dus.
ELREI DOM Afonfo defejaua muito hauer hos offos do
d Ferndo feu tio, & fobre iffo mandou
Fz Diogo de adail mr tantas vezes, atte q
yeo a conerto de fe darem per fcaimbo das duas mo-
lheres, & filha de xeque. Ifto affentado, com
Diqgo de Bairros fazer diligenias neeffarias
pera fem engano lhe fer ha dita offad entregue, elle
ha reebeo de Molei belfaqueque fechada em ha
com dous fechos, ha qual arca fi trazida com guarda
q .elRei de Fz pera iffo mandou atie Arzilla, & por-
que elRei dom Afonfo era tal Prinipe, q toda peffoa
lhe fazer feruio, fperndo delle fuas acoftu-
madas meres, Molei belfaqueque mandou em compa-
nhia de Diogo 4e bairros, pera mais .fegurana, Mo lei
belfaa feu filho, a quem entregou ha chaue de hum
dos fechos da caixa, em que hos offos do Infante vi-
nham, porq ha outra fe deu a Diogo de .bairros.
Quando ha ofiada chegou a Arzilla, j has molheres,
& filha de Molei xeque ali ftauam, das quaes c fegu-
ra de ha, & da outra parte fe fez logo entrega : ho
que feito . Diogo de bairros com Mo lei bel(aa foram
recolhidos na villa com ha caixa da offada do Infante,
que ambos trouxeram a eftes Regnos idade de Lis-
ba no anno de M. cccclxxij. onde foi reebida com
folemne proiffam, & pregaam muim deuota, q fobre
ho captiueiro, & virtuofa vida do Infante fez meftre
Afonfo, prior do mofteiro de fam Domingos, no mof-
teiro do Saluador, onde ha offada fteue, atte q ha elRei
94
CHRONICA DO PRINtPP!
mandou leuar aho mofteiro da Batalha : polos merei-
mentos do qual Infante, fegundo fe acha per verdade,
Deos depois de feu faleimento, affi antre hos Mouros
quomo depois de fua offada fer neftes Regnos, fez
muitos, & muim euidentes milagres. Algs annos antes
q efta offada foffe trazida a eftes Regnos, ha podera
hauer ho conde dom Duarte capitam Dalcaer eguer
por dezafeis mil dobras, q lhe elRei de Fz ftando em
Tanger mandou pedir per Antam vaz alfaqueque, q
andou nefte tratto algs dias, & fe houuera por menos
fe fe niffo proedera. Nefte anno eftando elRei em Be-
ja, & ha Infante dna Beatriz, deram cafa aho Prinipe
dom Ioam, & Prinefa dna Leanor fua molher, que
dali por diante teueram 'eu fiado ambos, quomo a cada
hum cuinha, dde depois deftare algs dias em feftas
fe vieram a Lisba. Nefte mefmo tpo, & affi no anno
paffado, houue entre elRei d Afonfo, & elRei dom
Anrrique de Caftella muitos recados, & embaxadas
fobre ho cafamento da Infante donna Ioanna, q ho dito
Rei dom Anrrique defejaua cafar c elRei dom Afonfo,
depois que h o Prinipe- dom Ioam cafou c ha lnfte
donna Leanor. No qual anno de M. ccclxxij. na quo-
refma affentaro de fe vere, quomo fezero, entre El-
uas, & Badajoz, & do q ali fe fez nam trattarei nada
nefte lugar, porq ho negoio requere mais larga rela-
am da q a h f capitulo conu : & qu efta hiftoria
ler, n fe fpte fe achar no q fe fegue algas coufas
das q j tenho ditas, porq foi neeffario fazerffe ~ f f i ,
pera milhor enfiar ho proeffo deftas coufas, & ordem
que fe nellas deue ter.
-- i
--- ... -----
DoM loAM.
CAP. xxxv. Em que ho au8or ja'{ hum dicurfo }obre
hos varios pareeres, & que em Cajiella
houue fe ha lnfaJJte donna loanna era filha delRei
dom Anrrique.
D
IFIIL, & duuidofa coufa fer a todos hos que qui-
ferem falar nas guerras que houue entre elRei d
Fernando de Caftella, & Darago, & dom Afonfo Rei
de Portugal, fe primeiro fe nam foubeffe cuja foi ha
culpa de tamanhas defauenas, & qual foi ha caufa de
fe tantos males ordenarem. E porq minha tenam he
declarar efte negoio per modo que failmente fentenda
a que parte efta culpa pende, tornarei um pouquo
atras, porque doutra maneira ho q dixer career de
fundameto, & ficar ha hiftoria manqua, & efcura.
Affi q comedo de entrar nefte pego de defconertos
farei meu prinipio em elRei d Anrrique de Caftella
tereiro defte nome, aho qual por fer muito mal def-
pofto, chamauam dalcunha ho doentio. Efte Rei dom
Anrrique foi cafado com donna Catherina neta de-IRei
dom Pedro ho cru, Rei de Caftella, filha do Infte d
Ioam de Gand, duque de Lancaftre, filho delRei dom
Duarte Dinglaterra, fexto do nome. Defta Infante donna
Catherina houue elRei dom Anrrique ho Prinipe d
Ioam, que depois foi Rei de Caftella, fegundo defte no-
me, que comeou a regnar per faleimeto de feu pai de
idade de vinte mefes, & foi cafado ha primeira vez com
_ha Infante donna Maria filha do Infante dom Fernando
feu tio, irmo mais moo delRei dom Anrrique feu pai,
& della houue ho Prinipe dom Anrrique, que depois
foi Rei de Caftella, quarto defte nome, & per falei-
mento defta fenhora cafou com donna Ifabel, filha do
Infante dom Ioam, filho delRei dom Ioam de Portugal,
CHRONlCA DO PRINIPE .
primeiro defte nome : da qual Rainha dna Ifabel houue
elRei dom Ioam ho Infante dom Afonfo, & ha Infante
dna Ifabel, que depois foi Rainha de Caftella, dos
quaes a diante farei larga menam. E porq ho mais q
me fica por fcreuer atte ho faleimento delRei dom
Afonfo proede, & toma feu prinipio defte Rei d9m
Anrrique quarto defte nome, .direi delle tudo aqul\o
q conuem aho q daqui por diante fe ha de trattar. Efte_
. . .
Rei dom Anrrique, por delRei dom loam
feu pai, fucedeo no Regno Caftella
& loguo em comedo a regnar fez per vezes
ahos Mouros de Grada, & manteve feus pouos, & vaf-
fallos em paz, & concordia, & foi muim magnifico em
todas fuas coufas, em tanto que das meres q elle fez
tomaram prinipio muitas cafas dos grandes, & fenhores
de Caftella, dos quaes algs lhe foram ingratos, & def-
quomo fe aho diante ver. Efte Rei dom Anrrique
foi cafado fendo Prinipe, em vida delRei feu pai, com
ha Infante dna Branca, filha delRel dom loam de
Nauarra feu tio, que depois foi Rei Daragam, fegundo
defte nome, & dos Reis ho deimo oitauo: da qual
fenhora, pouquo tempo depois de fer Rei, hauendo j
treze annos q eram cafados, por della nam poder hauer
filhos, & fer hauida por fterile, fe defquitou,. per autho-
ridade do Papa Nicolao quinto, & fe cafou loguo c
ha Infante dna Joana filha delRei dom Duarte de
:Portugal, ha qual inquo annos depois de ferem cafados
pario ha filha, a que tamb chamaram dna loanna,
mas efte parto no foi fem varios pareeres, & opinies,
por querer affacar, per particulares refpeitos, a elRei
dom Anrrique q era inhabel pera poder gerar, fegdo
ho dizem algs fcriptores caftelhanos, antre hos quaes
de Nebriffa, q compos parte da chronica dei-.
-- .. ___ .......... - .. . . 7 'ri - ... :. .c -
I
'
I
DoM loAM.
97
Rei dom Fernando, & da Rainha donna Ifabel em
lingoa Latina, fala defte negoio muim atreuido, & nam
tam cautamente, nem com tanta honeftidade quomo a
homem graue, & letrado conuinha, dizendo no comeo
de fua hiftoria, que elRei dom Anrrique, depois de ter
feita experieia em fua peffoa com moas virges, &
com molheres moas corruptas, & outras de mr
idade, & com m'olheres folteiras publicas, & fe faber
de erto era de todo impotente, que elle mefmo
alcouitara ha Rainha dna Ioanna fua molher a h feu
priuado, do qual ella emprenhara, & parira ha Infante
dna loanna, & que por cortefia nam diz ho nome
defte priuado delRei, ho qual. ho chronifta Caftelhano
diz, q foi dom Beltram de la cueua, duque Dalbuquer-
que: no qual paffo nam vfou bem ho offiio de hifto-
riador, porque fe bom hiftorico fora, lhe abaftara falar
com honeftidade na impotenia delRei dom Anrrique,
& della induzir per palauras cortefes, & deuidas a
peffoas tam Reaes, ha fofpeita q algs tinham da Infante
donna loanna nam fer fua filha, porq defte modo, com
bom, & honefto artefiio, dera a entender fua tenam,
que era perfuadir quomo ha suceffam dos Regnos de
Caftella pertenia Infante dna Ifabel, q he ho fito
a q tam fem ponto tira, querendo moftrar ho defetlo
natural delRei dom Anrrique (fe ho nelle houue) tam
manifefto, fendo tam duuidofo, q ninguem ho pode com
verdade affirmar, & ha infamia da Rainha (fe verdadeira
foi) tam erta, quomo fe elle fora teftemunha de vifta:
. & por erto q mais prudia, & difcriam houue em
Mofem Diogo de valera, q em tempo dos mefmos
Reis dom Ferndo, & Rainha donna lfabel, & por feu
mdado dells copilou ha chronica de Hifpanha, ho
qual per nam ter azo de falar neftas infamias, poitas
7
-----
CHRONICA no
lJ
a elRei dom Anrrique, & Rainha dna loanna fua
molher, & faber qu difertes has taes opinies foram,
& quam duuidofas, & quam perjudiial era nas peffoas
& de authoridade, afirmare nada per opiniam,
fem verdadeira erteza, & quantos males deftas iner-
tezas fempre recreem, nam quis fcreuer ha hiftoria
delRei d Anrrique, & da Rainha dna Ioanna fua
molher: & efta tal prudenia, & difcreto juizo nam
alcanou Diogo de valera na efcola da gramatica, fem
outra miftura de ba criaam, fe nam na corte dos
mefmos Reis de Caftella, & doutros Prinipes de
Europa, que no difcurfo de fua vida frequentou: & ha
mefma prtideia, com muita difcriam, & tento houue
em dom Afonfo de Cartagena bifpo de Burgos, na fua
Anaephalaeofis, ou recapitulao, na qual hiftoria,
por n falar em caso to graue, & em que hauia tantos
pareeres, nam quis trattar delRei dom Anrrique mais
q atte ho tepo q fe feparou da Rainha donna Branca,
& fe cafou com ha Rainha donna loanna, & ali fez
fim de fua hifto_ria: nem foi menos fagaz nefta parte
ho difcreto baram frei Afonfo venero, da ordem de fam
Domingos, no Eucheridion que fez dos tempos, no
lugar donde fala dos reis Anrriquez de Caftella, fem
deite Anrrique quarto dizer outra coufa, fe nam q
comeou a regnar no anno do Senhor de M. ccccliiij,
& q eft fepultado no mofteiro de noffa fenhora de
Guadelupe. E ho mefmo fez Luio marineo Siculo,
na hiftoria da linhage dos Reis Darago, q compos
em lingoa Latina, na vida delRei dom loam fegundo,
de quem pouquo h q falamos, pai da Rainha donna
Branca, na qual com & honeftas palauras diz
q ella fe apartou delRei dom Anrrique, vifto ho defeito
q naturalmente nella hauia, & q fe tornou Na-
f.
t. . ' . . "'
DoM loAM.
99
uarra, onde faleeo dahi a poucos dias, fem dizer
mais outra coufa, nem ftender has velas a palauras def-
honeftas, & pouco conuenientes a peffoas dolas, &
graues : no q eftes quatro notaues bares moftraram
fere mais ircfpetos, & attentados q Antonio de Ne-
briffa, paffando diffimuladamente h tam pefado, &
perjudiial negoio quomo efte, no qual lhes fora por
ventura ho afirmar ha infamia da Rainha dna Iona,
a fuas confienias, & ho defenderlhe fua
honrra, perjudiial a fuas peffoas, & vidas. A eftes
tam cautos, & honeftos fcriptores feguio Paulo emilio
verones, na hiftoria_ q copilou em Latim dos Reis de
Frat;Ja, no lugar onde tratta da vinda delRei dom
Afonfo de Portugal aho dito Regno, no qual paffo dfz
fomente has palauras feguintes: Ha irm defte Rei
cafou c elRei d Anrrique de Caftella, & della nafeo
ha filha per nome dna Iona, ha qual dizendo d
Ferndo, filho delRei d Ioam Daragam, que era adul-
terina, fe cafou com dna lfabel, irm do dito Rei
dom Anrrique, & depois de fua morte fe empoffou do
Regno quomo de coufa fua hereditaria, ifto fem mais
outra claufula, nem declarao q toque a efte cafo, no
q fe n quis afirmar, nem tomar fobre fim tal juiz,
quomo prudente q era, porq fabia, do que tinha lido,
& ouuido, quam varios pareeres, & opinies houuera
em toda Europa fobre efte negoio, no tempo em q
todas eftas coufas paffaram: n foi menos attentado
no trattar defte negoio Phelippe de cmines, fenhor
Dargent, na chronica delRei Luis de Frana onzeno,
que compos em lingoa Franefa, em cujo tempo eftas
coufas aconteeram , declarando q ha occafiam da
guerra dentre elRei d Afonfo, & elRei d Ferndo,
& ha Rainha donna Ifabel, foi por elles dizerem q ha
.,
tOO CHRONICA DO PruNII
Prinefa donna lona, filha da Rai
molher delRei dom Anrrique, & {(
Afonfo, nam era filha do dito Rei
elle fer impotente: & diz mais ho di
ha dita Prinefa dna lona nafida d
& honellidade de tam real matrir
Reis dom Fernando, & Rainha don
maram hos Regnos de Cafiella, 8
.ella tinha auo, quomo filha herdei1
rique. Nem vfou tam deshoneftas ,
em tudo foffe parial polos Reis
& Rainha donna Ifabel, h author
fmario das coufas q paffaram em
ho qual faldo do tefiamento ij eiRe
diz affi, pero quomo aquelle auto
Anrrique j ha dita dna lona en
ueffe feito outras vezes, quomo fe le
n he de marauilhar j por encobrir
a feus criados, j ho continuaffe, aco
mos. Defte lugar fe ve b j deixou el.
declarada feu tefiamento ha Prii
por fua filha herdeira. N houue n
ho lieneado Anrrique de caftilho, c
Anrrique, do feu cfelho, & chron
chronica, ho qual no cap. xxxvij. da
mAdou elRei chamar ha Rainha j vi
ha qual vinha em andas, & polo gr
ha tomou nas ancas da fua mulla,
poufo, & defcfo traffe na villa, polo
& temida, & [tida] em grde reueri
fera afii cferuar c tpcrada honefiid1
cretamte fegdo era extremada er
todas, fem duuida mui nomeada fon
DoM loAM. 101
todas c maior gloria de fua fama, mas quomo pou-
quas vezes foi hos fenhores terreaes paffar fem aduer-
fidades, ha Rainha quomo has outras padeeo feus
infortunios. Efte chronifta n diz mais q da foltura &
defpejo da Rainha, ho q muitas vezes actee nas mo-
lheres, f fere infames, & pofto q ha Rainha tal foffe,
fe ho foi, ne por iffo fe pode affirmar que ha Prinefa
dna loanna n foffe filha delRei d Anrrique, pois
bos fe comunicauam quomo marido, & molher, &
elRei n era impotte, quomo lho falfamente poferam,
por desherdare ha Prinefa donna Iona da hera q
lhe pertenia, ho q ho mefmo Rei declarou em feu
teftameto, onde ha deixou nomeada por filha herdeira,
tedo feita ha mefma declaraam nos autos publicos em
q ha fez jurar por Prinefa de Caftella, & Leam, quo-
mo fe aho diante dir. E nos xxiij. captulos da mefma
chronica diz ho dito Anrrique de caftilho has palauras
feguintes : E pofto q ha Rainha era ha mais fermofa
do Regno, trazia mui fingulares molheres, & mui
defenuoltas, em q hauia ha q fe chamaua dna Guio-
mar de caftro, q era fingular pefoa, & de fermofo
pareer, & graiofa, c h a qual e IRei tomou pendena
damores, de q fe lhe feguio a ella affaz hrra, & pro-
ueito. Verdade he q c ho fauor tomou alga prefun-
o, mais do q ha razo queria, em ta.l guifa, q fazia
muito pouco acatamento Rainha, dde fucedeo q
vifta fua pouqua mefura, ha Rainha pos has mos nella
com muita ira, do q elRei foi mui anojado, & ha
mandou apartar da companhia da Rainha; & q fe
apoufentaffe a duas legoas da corte, & deulhe eftado
de grande fenhora, & gente de authoridade q ha fer-
uiffe, & acpanhaffe, & elRei ha iha ver muitas vezes,
& folgar c ella. Por aquefia dna Guiomar era par-
+ ' '"
CHRONICA DO PRtNIPE
Arebifpo de Seuilha, & ho marques de Vilhena
ainha, & cada h honrraua fua parialidade.
edara aqui ho chronifta q nam era elRei dom
1e impotente, pois n t fmeme andaua da-
mas gozaua delles, do qual capitulo fe ve ma-
lte q tudo ho q lhe afacar de fua impotia
>, & fingido, porque felle fora tal, n repudiara
nha dna Branc.a fua molher por fterile, a fo
o de fe cafar com molher de que podeffe hauer
ho q fez com ha Rainha dna lona, ha qual
1fame, quomo lhe algs dos fcriptores Caftelha-
amam, fabido fi q nenh delles diz q ho foi
pariffe ha Prinefa donna lona fua filha, &
d Anrrique. E porq algas peffoas poderi
) defejo de faber quem foi efta dna Guiomar
-o, ella foi filha baftarda de d Aluaro de caftro
de Moni8nflo, ho q hos Mouros manaram em
& cafou em Caftella c ho conde de Teruino,
o duque de Niara: & alem do que diz ho
ta deftes amotes delRei c dna Guiomar, coufu
oria ho dito Rei d Anrrique, antes de fer ca-
~ depois, ter muitos amores c diuerfas damas
teue amizade, & qu ha tal manha tinha, pa-
nam deuia de fer impotente: & porque fe mais
lamte conhea entre peffoas de bom, & fo
1ue ha infamia da Rainha donna Ioanna foi mui
~ a , & inerta, paree q ord de noffa hiloria
comearmos no capitulo feguinte a trattar do
1 Caftella per cafo deftes negoios aconteeo.
_j
r ~ ... - ~ ~ - - - - - - - -
L .. ~ - .....
DoM loAM. xo3
CAP. xxxvj. De quomo e/Rei dom Anrrique fe'{ Jurar
ha -Infante dna Ioan11a por herdeira dos Regnos
de Cajlella, & veneo enz batalha ho Infante dom
Afonfo Jeu irmo.
sENDO ELREI dom Anrrique auifado dos que fe doiam
d ~ fua honrra, quomo algas peffoas duuidauam
da Infante dna Iona fer fua filha, elle por de todo
confirmar nos coraes de feus vaffallos ho q nefta
parte tinha por erto, fez cortes em Madril, de perte
hos fiados do Regno declarou ha dita Infante dna
lona por fua filha legitima, hauida delle na Rainha
donna loanna fua molher, & ha fez logo jurar por
verdadeira herdeira, & fucefora de todos feus Regnos
& fenhorios, idade de dous mefes, prefentes hos In-
fantes d Afonfo, & donna lfabel, que ha juraram, &
lhe beijar ha mo por fenhora: mas dali a pouquo
tpo algs dos que for prefentes a efte juramto, &
outros q fe nelle n achar, por particulares refpeitos
fezeram liga c ho Infante d Afonfo, ineo irmo
delRei, polas muitas meres q delle cuidauo hauer,
das quaes algas lhes tinha j conedidas per feus alua-
ras, & ho alaram, & juraro por Rei de Cafiella, &
Leam na idade Dauila, no mes de I unho da era de
Chrifto de M. cccclxv. requeredo per a efta liga dom
Diogo furtado de mendona, marques de Santilhena,
conde dei Real de Mananares, q foi depois duque do
Infantado, & dom Pero ferndez de velhafquo, conde
de Haro, & dom Garia aluarez de Toledo, conde
Dalua, q depois foi duque do mefmo titolo, & dom
Pedralurez de Oforio, marques Deftorga, & dom Pe-
dro manrriquez, cde de Teruino, q depois foi duque
de Niara, & dom lfiigo Iopez de mendona, cde
104 CHRONICA DO PRtN(
de Tendilha, & Louro foarez, co
irmo, & d Pedro galuez de m
lahorra, que depois foi cardeal de C
de Toledo, & bifpo de Siguena, &
& prelados: hos quaes todos per
Pedro gonaluez de mendona, b
deixaram dentrar em tam perjudi
_liga, & teuer ha parte deiRei dom
hos q eram contra elRei lhe mand
declarandolhc q ho juramto q fez<:
Joanna, que ho tinham por nenht
fezeram per fora, & temor de fua
dolhe q per bem de feus Regnos G
juramento por nenhum, & hos quit
raffe ho Infante d Afonfo feu irm
quaes recados confirangido elRei,
defta liga, & conjuraam fiauam
quis por entam contrariar feu requ
muladamte refpondeo a algs per
q ellc tinha ho Infante d Afonfo 1
a outros mandou dizer ho mefmc
feito fe enformou, & Coube quaes
idades eram de fua parte, & quae
irmo: mas pofia q ho Infante t
do Regno por fim, determinou que
dar fim a tamanha fem rezam, &
ha fentena defie negoio, pondo l
Deos, a quem de todo, quomo a ft
teo fua jufiia, ha qual fe declarou
talha campal junto da villa de VIm
todolos q com clle foram, no qual
nifefiamentc hos grdcs, & fenho
hos q tinham ha parte delRei, qu
~ - - - - - - - ~ _ _ : : - - -
~ - - . . , . - - - ... --
~ :
r
DoM loAM. i oS
defejarem mais alonguar ha guerra, que dar batalha,
per affi debilitarem has foras dambos, & acrefen-
tarem em feus eftados,. porque tanto q ha batalha foi
rota nam fe feguio della ho alcane, polo que ho
elRei muito defejaffe, . & mandaffe fazer. H o qual In-
fante dom Afonfo depois defte desbarato viueo ainda
tres annos, em muitos trabalhos, & 'defauenas cont
elRei feu irmo, polos maus confelhos dos fenhores q
eram de fua parte, a cabo dos quaes faleeo de pefte
em idade de quatorze annos, na aldea de Cardenofo.,
tenno da idade Dauila. Hos prinipaes q teeram
efta tea foram dom Afonfo carrilho da cunha, are"''
bifpo de Toledo, & dom Ioam pacheco, marques de
Vilhena, q depois foi rrieftre de Santtiago, & dom Al--
uaro deftunhiga, conde de Plazena, j depois foi duque
Dareualo, & dom Rodrigo afonfo pimentel, conde de
Benauente, & dom Fedrique, almirante de Caftella, &
dom Pedro giram, meftre de Calatrau, marques de Vi-
lhena, & dom Gomez de Caeres;.Meftre Dalcantara,
& dom Anrrique anrriquez, conde de Paredes, & dom
Gabriel manrriquez, conde de Oforno, comendador mr
de Caftella, & outros fenhores, & prelados do Regno,
hos quaes depois do faleimento do Infte dom Afonfo,
temendo ha ira, & poder delRei dom Anrrique, deter-
minaram loguo fazer cabea na infante dna lfabel fua
mea irm, & irm inteira do Infante dom Afonfo, &
de ha alar por Rainha de Caftella, & Leam, fobelo
que fendo prefentes todolos daquella liga, na idade
Dauila, fez ho arebifpo de Toledo ha fala Infante
dna lfabel, pera lhe perfuadir q aceptaffe ha coroa
do Regno, vifto quomo elRei feu irmo nam era habil,
nem fuffiiente per a regnar, mas ha Infante pofto que
de_ pouqua idade foffe, loguo ali deu finaes de f4a
IO CHRONICA DO PRINCIPE
~
muita virtude, & difcriam, dizendolhes a todos que
pois Deos fora feruido de dar 'ho Regno a elRei d
Anrrique, & fobre isso ha vil:oria do Infante dom_
Afonfo, ambos feus irmos, que a elle era rezam que
todos obedeeffem em quanto viueffe, mas ho que lhes
a todos pedia, era que fezeffem de maneira que ha
Infante donna loanna nam ficaffe por Rainha de Caf-
tella, depois da morte delRei dqm Anrrique feu irmo,
viftas has fufpeitas q hauia della nam fer fua filha, &
que nitfo trabalhaffem tanto, que ha coroa de Caftella
nam vieffe fe nam a que de direito perteneffe, no que
alem de fazere feruio a Deos fariam aquillo q per ba
rez, affi elles, quomo hos outros eftados do Regno,
eram per juramento, & lealdade obrigados fazer.
CAP. xxxvij. De quomo e/Rei dom Anr,-ique perdoou
ahos que foram co11tra elle, & declarou ha Infante
d11a Ifabel fua mea irm, per .fua herdeira, &
doutras coufas que tocam ahos negoios da Rainha
d6na /oa11na.
sABIDA POR ESTES grandes de Castelta, & polos de
sua liga, & valia ha vontade da Infante donna ~
lfabel, & quam fora eftaua de aceptar ha coroa do
Regno em vida de feu irmo, determinaram de fe
reconiliar com elRei, & lhe pedir que per bem de
feus Regnos declaraffe por fua herdeira ha Infante
donna lfabel fua irm, & pera fe efte negoio milhor
trattar tomaram por valedor dom Afonfo dafonfequa,
arebifpo de Seuilha, & Andre cabreira, mordomo mr
delRei, q depois foi marques de Moi, por ferem
homes muim prudentes, & muim aceptos a elRei, ho
que elles fez eram com muita inftania: mas ainda que
DoM loAM.
elRei efteueffe com rezam muim anojado deftes fenho-
res, quomo era de fua natural condiam benigno, &
clemente, loguo ficou venido, quanto aho perdam dos
erros em q elles, & todolos de fua valia tinham
rido: contudo p9r ho negoio fer graue, & muito mais
ho q tocaua ha fuceffam do Regno, tomou dous dias
defpao pera lhes refponder, nos quaes hos q fauore-
iam ha parte da Rainha, & da Infte dna Iona fua
filha, quomo fabiam quam branda era ha condiam
delRei, & quam failmente fe cuertia a qualquer pa-
reer, & cfelho q lhe dauam, pofto q ctra elle foffe,
trabalhauam per eftrouar todo modo de ccordia dan-
tre elle, & ha Infante donna Ifabel fua irm, & fobre
tudo induzir elRei que per neQh modo perdoaffe a
peffoas q ho tanto tinham defferuido, hos outros polo
contrairo dizendo lhe q ho deuia fazer: entre eftes houue
alguns q ho aconfelharam q recolheffe fua irm pera
fim, & q depois de ha ter em feu ha cafaffe com
alga peffoa pouco poderofa,- porque defte modo nam
haueria quem podeffe ftrouar ha fuceffam do . Regno
Infante donna Ioanna, mas antre todos eftes ho que
mais pode na determinaam delRei foi Andre cabreira,
de quem fe mais cfiaua q de neha outra peffoa de
feus Rgnos, per cujo pareer, & confelho perdoou a
todos aquelles q contra elle teueram ha parte do In-
fante dom Afonfo feu irmo, & fe conertou c ha
Infante dna lfabel fua mea irm polo modo, & con-
dies feguintes. f. que elle ha declaraua por fua her-
deira, com tanto j nam podeffe cafar com peffoa ne-
nha fem feu pareer, & confentimento delle, & fazendo
ho contrairo hauia por nenh qualquer acordo, & con-
erto que antre elles foffe feito, & q todolos q foram
na liga, & conjuraam do Infante d Afonfo, podeffeCQ
ro8 CHRONICA DO PRINCIPE
>
liuremte vir a fua corte, & viuer feguramte em todos
feus Regnos, & fenhorios, & que dentro em quatro
mefes elRei mandaffe ha Rainha dna Iona fua mo-
lher, com ha Infante dna lona fua filha, pera Por-
tugal, & Infante. dna lfabel fua jrm deffe pera
foftentaam de fua cafa, & fiado has idades de Auila,
Huete, Molipa, Medina dei campo, Vlmedo, Scalona,
& Vbeda, com todas fuas rdas, & direitos. Antonio
de nebriffa diz nefte lugar que foi requerido e IRei,
que per via .do Papa fe apartafe da Rainha dna lona
fua molher, por quanto nos contrattos de feu cafamto
era declarado que fe atte hum erto tempo nam houueffe
della filhos, q ho cafamento fofe nenh, por quanto fe
nam fezera fe nam pera fe faber em que eftaua ho
defelo, & impotia de nam poder gerar, fe em elRei,
fe na. Rainha dna Branca fua primeira molher, & q
pois era manifefto fer ho defeto delRei, q deuia deixar
ha . Rainha dna Ioanna, & reconiliarfe. com: ha
nha dna Branca, coufa per erto indigna de fer dita
por homem graue, & de authoridade, porq fe fora affi,
feguiraffe elRei dom Afonfo de Portugal ter dada fua
irm a elRei dom Anrrique de Caftella com condiam
q fe delle nam parife, lha podefe liuremente mandar
- pera cafa cada vez que quifefe, ho que cremos que a
nenha peffoa de bom juizo, de qualquer naam que
feja, fe pofia perfuadir, polo que tamanha deshonefti-
dade de falar me far fair fora dos limites de minha
condiam, & dizer q de Antonio de nebrifa fer hom
de juizo inctante lhe veo querer affirmar coufa t
mal dita, & muito peor notada: da qual j ha infamia
nam tocaua Rainha dna Ioanna fe nam a elRei dom
Afonfo feu irmo, & a todo feu confelho, fe ha cafaram
com tam torpe, & vil condiam, elle diz. Alem
...
DoM loAM. tog
difio Nebriffa me perdoe fe ho arguir de pouquo vifto
nas. chronicas de pois fcreue, . que hos do
Regno de Caftella aconfelhau elRei dom Anrrique, q
fe tornaffe a reconciliar com ha Rainha dna Branca
,j
fua primeira molher, ha qual pouquo tpo depois. q fe
fez ho diuorio morreo no Regno. de Nauarra, quomo
hos mefmos chronifias Cafielhanos, & Daragam, & Na-
uarra dizem, & ha Rainha dna.' loanna [pario] inquo
annos depois de fer cafada com elRei dom Anrrique : &
depois de parir fe feguiram todolos defconertos que
ouuiftes, nos quaes tambem paffou bom fpao de tempo.
Mas tornando a noffa hiftoria, ha Rainha dna loanna
q entendeo hos conertos, & contrattos feitos
entre e IRei feu marido, & ha Infante dna Ifabel fua
irm, & hos de fua liga determinou de fe acplher aho
vitimo remedio q lhe ficaua nos Regnos de Caftella,
ho qual era fua filha, ha Prinefa dna loanna, q efiuaa
na . villa de Buitrago fob guarda de dom Anrrique de
me11dona, conde de Tendilha, pera dali faber ha de-
terminaam q elRei feu marido queria tomar com ella,
pola qual rezatn, fem diffo dar conta aho arebifpo de
Seuilha, nem a feu fobrinho d Pedro de Caftella, a
qu elRei d Anrrique tinha dado ho cargo, & gouer-
na de fua cafa, fez faber fua tenam a Luis furtado,
filho de Rui diaz de mendona, & com elle fe foi. ho
mais fecretamte que pode a Buitrago, onde ho conde
de llendilha ha reebeo com ha honrra, & cortefia q
conuinha a fua legitima fenhora, & Rainha q e lia era:
da qual ida ho arcbifpo de Seuilha foi tam anojado,
q por efte f refpeito damnou hos negoios da Rainha
em tudo ho q pode, & foi ho mr imigo q teue : &
porque Antonio de nebriffa nefta muda da Rainha
fala nela mais deshoneftamte do que ho dantes fez
1
IIO CHRONICA DO PRINCIPE
nam fera rezo paffar a diante fem aqui poer fuas feas
palauras, & lhe refponder. a ellas, has quaes fam pon-
tualmete has feguintes : Efta hrrada, & ba fenhora,
pera q ha deshrra q fazia a elRei feu marido foffe a
todos mais notoria, namorouffe de hum manebo, do
qual poucos dias depois veo a emprenhar, & nam fendo
diffo ctente, fez com elle q de noite com cordas ha
tiraffe da cafa em q eftaua, & dahi ha leuaffe com
cauallos de pofia a quomo fez. O Deos im-
mortal, quam pouco juizo, & difcriam de palauras em
hom de q fefperaua ho contrairo. Refponda Antonio
de nebriffa a efte fraco argumto : Se ha Rainha era
prenhe, c que rofto hauia dhir prenhe, & em compa-
nhia do adultero focorrerffe prinefa dna Ioanna fua
filha, & poer[fe] em mos do cde de Tendilha, vaffallo,
criado, & feitura delRei d Anrrique, a qu efta inju-
ria fe fazia, fe affi era quomo elle diz, ho qual reco-
lhendoha fe punha a rifquo de perder ha graa delRei,
ho qual conde, quomo he notorio ha reebeo, & feruio
ali quomo a Rainha fua fenhora, & nam. quomo adul-
tera, nem infame: & fe ha Rainha fora prenhe, quomo
Nebriffa, & outros chroniftas Caftelhanos, por fazerem
bom feu partido, dizem, nam teueram aifl ella quomo
ho adultero medo de cairem em mos delRei, a quem
ambos, fe affi fora, tinham mereida ha morte, ha qual
por euitarem, teueram outros modos, & meos mais
fecretos de fe encobrirem? erto he q toda peffda dif-
creta dira que affi h o deu eram fazer, fe culpados fo-
ram, mas ha inoenia da Rainha, & pouca culpa que
tinha nos aleiues q lhe punham, por desherdarem fua
filha da herana dos Regnos de Caftella, ha fezeram
ir fem medo nenhum bufcala, pera com ella fperar
juntamente ha fim de feus negoios, quomo fez. Alem
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1
~ ~ - - ---
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DoM loAM. l I I
difto, que he argumeto mais efficaz da inoenia da
Rainha, refponda Nebriffa, & diga ho que fe fez deft2
emprenhidam da Rainha, & onde fe pos, ou criou ha
criana q pario, ou morreo, & quomo fe podia ifto
fazer fem ho faberem' ho conde de Tendilha, & fua
molher, & has d'nas q guardauam, & feruiam ha Rai-
nha, & ha Prinefa fua filha : ho q fe affi fora, erto
he que nam houuera ho conde de fofrer injuria q tanto
tocaua a elRei feu fenhor, fem ho auifar do cafo, viftos
hos termos em que hos negoios andauam, ne feruira
ha Rainha quomo a fua fenhora, nem fofrera eftar ella
em cpanhia da o Prinefa dna Iona fua filha, onde
quomo fe dira aho dite, efteue atte q fe fezeram hos
efpofouros de d Carlos duque de Aquitania, irmo
delRei Luis de Franca c ha mefma Princefa dna
~ ,
Iona, em cpanhia da qual Rainha efteue fetnpre, &
foi prefente ahos efpofouros c elRei dom Anrrique
feu marido, c muito amor, affi de h quomo do outro,
& de todolos feus : ho q tudo cfiderado podemos
dizer q has rezes de Antonio de nebriffa n fam t
fuffiientes q antre toda peffoa virtuofa, & prudete hn
hrra da Rainha dna Ioanna nam fique falua_, & te-
nha por erto q eftes aleiues, & outros q lhe em Caf-
tella aleuantaram, for mais pera dare ho Regno
Infante dna lfabel, per particular intereffe q diffo efpe-
rauam hos q nefte cafo interuinham, que nam per erros
q ha Rainha teueffe comettidos a elRei dom Anrrique
feu marido, cuja bdade, & defcuido de fua real pef-
foa, & das coufas q lhe cpriam, foram caufa de todos
eftes males, & doutros q per efte refpeito depois
acteeram, quomo fe aho diante dira.
o'
CHRONICA DO
Jll
.
CAP. xxxviij. Dos cafametztos que elRez dom Anrrique
de Cqflella quifera fa{er com elRei dom
& conz ho Prinipe dom Joanz, & de quomo ha
ltifan.te dottna Ifabel fe cafou com ho Prinipe dom
Fernando contra vontade delRei dom Anrrique feu
. -
.trmao ..
FOI HA infamia da Rainha dna lona tam erta,
. . que. elRei, a qu mais tocaua ha deshonrra della,
nam teueffe por mui- falfo tudo ho q fe della dizia, ho
qual por ter declarada : ha Infante dna
.Jfabel por fua herdeira, & mouido. de fua conienia
polo erro q nitfo fezera, c confelho do meftre
Santiago, & doutras peffoas prinipaes do .Regno,
acordou trattar de nouo ho cafamto da Infante dna
Ifabel, fua irm com e IRei dom Afonfo, & affi de cafar
ha Infante dna lona fua filha com ho Prinipe dom
loam, filho delRei dom Afonfo, dos. quaes cafamentos
j atras.fiz menam: & pera fe efte negoio effeauar,
fcreueo a e1Rei dom Afonfo q lhe enuiatfe pera iffo
feus .embaxadores, aho que logo mui honrra-
damente . dom lorge dacofta, arebifpo de Lisba, q
depois foi cardeal, ho mefmo q em Gibaltar foi
dos mefmos efpofouros, quomo atras fica dito: mas
eftes cafamtos. n deita vez poderam hauer effeto,
nem menos ho de dom Carlos duque de Berri, & de
pera ho qual nefie mefmo tempo elRei Luis
de Frana -feu irmo mandara per ho cardeal de Alui,
era um grande perlado naquelle Regno, cometter
cafamto com ha Infante dna lfabel. Ho q caufou nam
fe fazere eftes cafamentos foram muitos incuenientes
q hos grdes do Regno afeioadamente achauam, entre
hos quaes ho prinipal foi dom Afonfo carrilho are-
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!
I
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r. 4' E "-.' , - --- ..------.--
DoM loAM. tt3
bifpo de Toledo, q com fua valia, dadiuas, & poder
fobornou Goterre de Cardenes meftre da Infante donna
Ifabel, & ho induzia a lhe perfuadir q contra vontade
de feu irmo, elRei dom Anrrique, & fem lho fazer
faber, cafaffe c ho Prinipe d Fernando, filho delRei
d Ioam Daragam, ho q ella affi fez, & has vodas
foram logo elebradas em Vlledolid, fem ella, nem
hos de fua parte terem conta com elRei dom Anrrique,
q aho tal tepo eftaua em Andaluzia, caufa fufiiente
per a no fuceder na herana delRei feu c
tudo ho Prinipe dom Ferndo, & ha Infante fua
molher lhe per fuas cartas conta do q tinh
feito, has quaes lhe mdar per Moffem Pedro cabea
de vaca arages, & Diogo de ribeira, aio q fora do
Infante dom Afonfo, & Luis de antecna, a que elRei
nam deu outra repofta fe nam q falaria com hos de
feu confelho, pera determinar ho q fobre cafo tam
grau e, & tam mal tonfiderado deuia fazer, da qual
repofta verbal ho Prinipe dom Fernando, & Infante
donna Ifabel entenderam bem ho defgofto q elRei ti-
nha deite cafamento, & afii elles, quomo hos da fua
valia fe comearam de poer em ord pera fe defendere
de . qualquer offenfa q lhes elRei dom Anrrique quifeffe
fazer, porq alem do final de defgofto q deu na repofta
moftrou outro muito mr per obra, q foi mandar logo
tirar ha poffe Infante dna lfabel de todalas idades,
& terras q lhe tinha dadas per virtude dos contrattos
q tinham feitos, quomo atras fica dito.
8
!
I
114
CHRONICA DO PRINIPP!
CAP. XXXIX. Da linhagem de/Rei dom .Fernando, donde
feu real tronco proede.
pms HA fortuna trouxe elRei d Fernando a tanta
. fuceffam de Regnos, nafendo fem ter nenh, pa-
ree rezam q de hum tam bem afortunado Prinipe,
.& de feu nafimento faa nefta hiftoria algum difcurfo,
pois nella delle hei de trattar ha ba parte, & por fe
_milh.or tornarei atras, atte ho tpo. delRei
,d Ioam de .Caftella, pri!Deiro defte nome, ho qual foi
ha Infante donna Leanor, filha delRei dom
P.edro Daragam, & della houue dous filhos. f. dom
Anrrique ho dotio dalcunha, q fucedeo no Regno,
.& ho .Infante dom Fernando, aho qual dom Fernando,
por nelle hauer grandes partes de bom, & virtuofo
.Prinipe, elRei feu irmo fez muitas meres de dinheiro,
Nillas, & fortalezas em feus Regnos, aho q elle nam foi
ingrato, quomo ho conta Luio Marineo ficulo na hifto-
ria da linhagem dos reis Daragam, porq depois de fer
faleido elRei dom Anrrique, fendo todolos ftados do
juntos em Toledo, ho quiferam leutar por Rei,
mas elle entendendo ho que tinham determinado tomou
ho Prinipe dom loam, filho delRei feu irmo fobre
.hos hombros, fendo de idade de vinte mefes, & bra-
d.ando alta voz, dixe a todolos q prefentes eftau;
fenhores vedes aqui voffo Rei, efte juraremos, q ha
fuceffam dos Regnos de Caftella fua he., & no
minha, ho q loguo affi de commum acordo todos
fezeram, & fem nenha contradiam foi jurado por
Rei ho Prinipe dom loam. Efte Infante dom Fer-
ndo per faleimento delRei dom Martinho Daragam,
irmo delRei dom loam Rei do mefmo Regno, filhos
delRei dom Pedro (hos quaes irmos ambos falee
---. --- - - --- -
1
DoM loAM.
115
-
-ram fem legitimos herdeiros) foi chamado dos eftados
Daragam fuceffam do Regno, no que houue mui-
.tas . differas, & oppofies per parte . do conde de
Vrgel, mas finalmente ho Regno lhe ficou, . porq era
filho da Rainha donna Leanor , fi-Iha delRei dom
Pedro, & irm dos Reis dom loam, .& dom Martinho
j defunaos fem herdeiros.: ho qual dom Fernando era
cafado com donna -Oraca, .condeffa Dalbuquerque, fe-
nhora das terras do Infantado, que fe depois chamou
donna Leanor, & della alem doutros. filhos houue h o
-Prinipe dom Afonfo, que depois regnou em Aragam,
& foi:Rei de Napoles, & de cuja virtude, & gr-ande-za
danimo has hiftorias fam cheas, &. affi houue mais
della ho Infante dom Ioam, q cafou com donna Brca
filha herdeira delRei dom Carlos de Nauarra: & efte
dom Ioam fendo Rei de Nauarra, por feu irmo elRei
dom Afonfo faleer fem filho legitimo herdeiro, fucedeo
nos Regnos Daragam, & Siilia, & fendo j Rei de
Nauarra houue da Rainha dna Branca fua molher h
filho per nome dom Carlos, Prinipe de Vianna, &
duas filhas, das quaes ha era ha Ranha _Bran-
ca, com q e IRei dom Anrrique fez -diuori, quomo
atras fica dito, & ha outra foi donna Lean.or, q cafou
com dom GaftaJ? conde de Foix em Frana, que depois
per morte delRei dom loam feu pai foi Rainha de
Nauarra: & faleida ha Rainha donna Branca: efte
Rei dom Ioam Daragam fe cafou com donna loanna,
filha de- dom Fadrique, almirante de -Caftella, da qual
fenhora houue ho Infante dom Fernando, q foi Rei
Daragam, de quem aqui tratto, & donna Ioatina, q
-cafou com dom Fernando Rei de Napoles, filho baf-
.tardo do grande Rei dom Afonfo q atras nomeei, a
qu vivendo fez duque de Calabria, -& por feu falei-
. ... . -
JI CHRONlCA DO PRINlPg
mento lhe deixou ho Regno de Napoles. E affi fum-
mariamente tenho trattado ha alta genealogia defte
fortunado Rei dom Fernando, ho qual nafeo Infante,
& morreo Rei, & fenhor de muitos Regnos, Africa,
& Europa, alem dos quaes poffuio hos das Indias oc-
identaes, que elle mandou defcobrir, fendo j cafado,
etn v ida de IRei dom Ioam- feu pai, com ha Infante
donna lfabel, contra vontade delRei dom Anrrique de
Caftella, feu irmo, quomo j tendes ouuido. E deftes
dous b afortunados Infantes dom Fernando, & donna
Ifabel, nafidos afii hum quomo ho outro fem Regno
nenh, fam netos per linha direita, & em hum mefmo
grao, elRei dom Ioam tereiro, & ha Rainha donna
Catherina fua molher, noffos fenhores, q aho prefente
viuem. E pois vos tenho declarado efte negoio, tepo
he q torne noffa hiftoria, & vos diga ho q mais paffou
em Caftella, fobre ha fuceffam da Prinefa dna
Ioanna.
CAP. xl. Dos ca_fanzentos que fe trattaram da
don11a /oantza com dom Carlos duque de Guie11a,
irmo de/Rei Luis de Frana, & affi com elRe,
dom Afon_fo de Portugal.
DEPOIS DA Infante donna lfabcl fer cafada, logo
dahi a pouco, a inftia do meftre de SanB:iago,
& doutros fenhores do Regno, a que efte cafamento
por muitos refpeitos nam aprouue, mandou elRei Luis
de Frana por embaixador a elRei dom Anrrique ho
mefmo cardeal de Alui, que dantes viera pedir ha In-
fante donna Ifabel pera feu irmo dom Carlos duque
de Berri, & de Guiena, & per elle mdou cometter
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DoM loAM.
cafamento do mefmo dom Carlos com ha Infante
donna loanna : ho qual cardeal achou elRei em Medina
dei campo, onde entam ftaua acompanhado de muitos
fenhores do Regno, entre hos quaes eram ho meftre
de Santiago, ho arebifpo de Seuilha, ho bifpo de
Segouea, & ho de Burgos, & dom ~ o d r i g o pimentel
conde de Benauente, & outros. Propofta polo cardeal
fua embaixada, & hauido fobre iffo cfelho, hos con-
trattos do cafamento fe fezeram, & dali fe foi eiRei
com ho cardeal, & todolos outros fenhores a Buitrago,
onde ha Rainha donna Ioanna, & a Prinefa donna
Ioanna eftauam, has quaes ho vieram reeber quatro
legoas fora da villa, acpanhadas do mar=ques de San-
tilhana, & do conde de Tedilha, & doutros fenhores,
& fidalgos, & ali no campo junto de Looia fe fezeram
hos espofouros em mos do cardeal, & todos junta-
mente naquelle lugar juraram de nouo ha Infante don-
na Ioanna por legitima herdeira delRei dom Anrrique
feu pai, declardo (hos que niffo for) q mal, & quomo
nam deuiam juraram ha lnfarite donna Ifabel por her-
deira dos Regnos de Caftella, & Leam, de q tudo fe
fezeram folemnes auaos, & fe tiraram publicos eftro-
mentos, affinados per todolos grandes do Regno, &
caualleiros q fe ali achar, do qual juramento, & fo-
lemne retificaam, com ha declaraam q elRei dom
Anrrique fez em feu teftamento, quomo fe aho diante
dira,_ podem has leis failmente interpretar, a qu ho
direito deftes Regnos podia pertener, fe ha fentena
de tamanhas heranas nam fteueffe mais na fora das
armas que na execuam judiial, mas efte cafamento
nam veo a etfeto, potq dahi a poucos dias morreo ho
duque de Guiena de peonha, q lhe elRei Luis feu
irmo, dize, mdou dar, por fufpeita q tinha .delle ter
.ii
118 CHRONICA DO PluNIPE
intelligenias com hos duques de Bretanha, ~ de Bor-
gonha, com qu entam andaua em guerras. ElRei dom
Anrrique quomo foube has nouas do faleimento do
duque dom Carlos, determinou de tornar a falar nos
contrattos do cafamento delRei dom Afonfo com ha
Prinefa donna ~ o a n n a (porq quomo f i ~ a dito j nefte
tepo ho Prinipe dom Ioam era cttfado com ha Prin-
efa donna Leanor), & acabar efte negoio q eftrema-
damte defejaua: & fez tnto per fuas cartas, &
embaixadores, q- elRei dom Afonfo fe veo ver com
elle entre Eluas, & Badajoz. Ifto foi no anno do Se-
nhor de mil, quatro entos fettenta, & tres, ho que
tudo tenho atras declarado. E pofto que nefte cafa-
mento reclamaffem hos embaixadores, q quelle lugar
mandaram ho Principe dom Fernando Daragam, & ha
Prinefa donna Ifabel fua molher, elle fe conertara,
fe elRei dom Anrrique dera a elRei dom Afonfo ertos
lugares, que lhe pedio em arrefes, & fegurana de fua
peffoa, & da Prinefa donna loanna fua fobrinha: -&
por elRei dom Anrrique fe nam atreuer a lhe fazer ha
entrega deftes lugares, fe partiram fem tomarem con-
clufam, no que j tinham por acabado, do que elRei
dom Anrrique houue grande defprazer, mas conhe-
endo q elRei dom Afonfo tinha rezam de pedir ho
que pedia fe defpedio delle com lhe dar a entender q
ou em fua vida, ou depois de fua morte per todalas
vias, & modos poffiues, faria tanto q efte cafamento
vieffe em effelo, quomo ho depois em feu teftamento
deixou declarado : polas quaes rezes ditas toda peffoa
que efta Chronica ler, ter vi fio quanta rezam eu tiue
de defender ha honrra da Rainha donna Ioanna de
Caftella, & ho direito da Prinefa dna Ioanna fua
filha, & de reprender a Antonio de nebriffa fuas feas
........ ~ ~ ; -.-..- -r ..
,...-. -
DoM loAM.
119
palauras, pois tantas vezes elRei dom Anrrique decla-
rou ha Prinefa donna Ioanna por fua filh-a, & her-
deira, & tto trabalhou por lhe deixar ha herana de
feus Regnos, quomo fez, & fezera fe ha tyrania dos
mais de feus prinipaes fubditos, & vaffallos lho nam
eftrouara, mr parte dos quaes elle tinha feitas mui-
tas, & muim grandes meres.
CAP. xlj. De quomo e/Rei dom Anrriquefaleeo, & das
declaraes q em feu te.flamento je'{.
E LREI DOM NRRIQVE todo ho mais tempo q viu eu,
depois do cafamento da Infante donna Ifabel fua
irm, foi fempre com trabalho, & defejo de ha lanar
fora de feus Regnos, c ho Prinipe dom Fernando
Daragam feu marido: mas quomo elles j tinham no
Regno grande valia, & poder, & pera tudo ho q lhs
compria focorro dos Regnos Daragam, elle ho nam
pode fazer do modo que quifera, & andando j de
muitos dias mal defpofto, fe veo a Madril, onde eftando
em feu inteiro juizo fez folemne teftamto, no qual de-
clarou ha Prinefa donna loanna por fua filha legitima,
& vnica herdeira, pedindo a elRei dom Afonfo que
aceptaffe ho gouerno dos Regnos de Caftella, & hos
defendeffe, & quifeffe cafar com ha Prinefa. Hos da
parte delRei dom Fernando dizem ifto doutra maneira,
que elRei dom Anrrique nam fez outro teftamento faluo
algas palauras q dixe j no extremo da vida, has
quaes fcreueo hum feu fecretiro per nome loam de
vuedo, peffoa de quem elle confiaua muito, & ha fu-
ftania deftas palavras foi q elle daua poder aho car-
deal de Caftella, & aho marques de Vilhena, pera
120 CHRONICA DO PRINIPE
fazerem feu tetamento, & ordenarem do modo q ho
entendeffem, & q afii ho executaffem: & quanto Prin-
efa dna Ioana q elles ordenaffem della fegundo fuas
conienias, com confelho, & pareer do marques de
Santilhena, & do duque Dareualo, & do condeftabre,
& do conde de Benauente. Mas ifto no tras funda-
mento, nem fe pode crer q hum Rei q em tantos tra-
balhos andaua, & que muim bem entendia qutos
eftauam aparelhados depois de fua ~ o r t e , fe nam fezefe
teftamento em que declaraffe fua vontade, andando j
de muitos dias mal defpofto. Mas quomo quer q feja,
nam faa duuida ho que dizem hos hiftoriadores Cafte-
lhanos, q fe nam achou em Caftella ho teftamento que
elRei dom Anrrique fez, porque elles dizem verdade,
& foi defta maneira : tanto que elRei dom Anrrique
faleeo no alcaer delRei em Madril, que foi ahos onze
dias do mes de Dezembro do anno do Senhor de
M. cccclxxiiij. em idade de inquoenta annos, h o car-
deal de Caftella, & ho duque Dareualo, & ho marques
de Vilhena, & ho conde de Benauente, q elRei deixou
por feus teftamenteiros, vendo quomo elRei declaraua
em feu teftamento ha Prinefa donna Ioanna por fua
filha, & herdeira vnica de todos feus Regnos, & fe-
nhorios, & elRei dom Afonfo por gouernador delles,
com lhe pedir muito q tomafe efta gouerna a cargo,
& foffe tutor da Prinefa donna loanna, & cafaffe com
ella, no mefmo inftante per peffoas de confiana man-
daram ho teftamento a elRei dom Afonfo, q nefte tpo
ftaua em Eluas, & efta he ha caufa porque fe nam
achou em Caftella. Ho author incerto no feu fumma-
>
rio, no qual fcreueo de verbo a verbo hos teftamentos
dos Reis dom Fernando, & .donna Ifabel, finge aqui
ha grande chimera polas palauras feguintes: E IRei
DoM IOAM.
dom Anrrique faleeo em Madril domingo
fanfu Luzia, onze de Dezbm de M. ccc1
dixe que donna loanna era fua filha, & j1
fua filha, & deixou por feus teftamenteiros h
de Vilhena, ho conde de Benauente, & h
Siguena, & efte teftamento deixou loam de
poder de hum clerigo cura de fanB:a Cruz
ho qual com outras muitas coufas, & fcr
leuou em h cofre, & ho entregou a par da
meida, q he no Regno de Portugal, porqu
tomaffem. & ifto veo notiia da Rainha ca
meo de hum auifo q lhe deo ho bacharel F
mez de ferreira vezinho de Madril, que era
cura, aho qual, & aho mesmo cura fua Alteza
Medina dei campo no anno de mil quinhtos,
fiando j mal difpofta Oa doena de que morre(
lhe trouxeffem ho dito cofre com has ditas fcr
lho trouxer poucos dias antes que faleeffe,
pode com fua m difpoftam ver, & ficou tud<
do dito Fernnm gomez, & mediante ho l i e n i ~
do confelho, a quem ho dito Fernam gomez
negoio, faleida ha Rainha, ho foube elRei
que ficou por gouernador dos Regnos, & ,
ho mandou queimar: outros affirmam que
poder daquelle Iieniado apata. Dcfta tarr
fico fe pode julgar hos trattos q em todc
goios houue. Diga agora efte author inert
fe deu efte teftamento em Almeida, pois di
deu: diga porque ho nam vio elRei dom
-em vida da Rainha fua molher, diga ha ca1
ho eiRei dom Fernando mandou queimar
de meu fraco juizo refponderia, que nam <
{entregou, por nam dizer que foi a ciRei d
121
CHRONICA DO PruNIPE
recado, & que por efte refpeito ho nam
1 Fernando: & fe elRei dom Fernando
r efte teftamto, que hauia trinta annos,
:, que andaua de mo em mo, q ho fa-
faber que deixaua elRei dom Anrrique
~ q ha Prinefa dna Iona era fua filha
de feus Regnos, & fenhorios, do que
de he que foi trazido a Portugal, & en-
i dom Afonfo, ho qual teftamto foi ha
1s guerras, & defconertos que houue
tos, & hos de Caftella, porque nam ti-
n Afonfo tam mo conCelho, que per f
duzimento dos grandes, & fenhores de
10 a iffo conitaram, houueffe de comet-
ho negoio, fem pera iffo ter caufas mui
quaes todas nefte capitulo, & nos atras
~ l a r a d a s . E tornando a elRei dom Anr-
-po foi enterrado no mofteiro de fam
1 rnefma villa de Madril, & depois foi
folemnidade trefiadado aho mofteiro de
1de elle em feu teftarnento ordenou que
tura: ho qual enterramento, & treflada-
tl de Caftella ordenou fendo a tudo pre-
landou fazer fua propria cufia ho real
1 que feu corpo jaz fepultado, no que
fer ingrato ahos muitos benefiios que
-a. E1le cardeal he ho mefmo dom Pedro
de q atras fiz menam, filho de dom
le mendona, marques de Santilhana,
I de Mana.narcs, & neto de dom Diogo
ndona, almirante -de Caftella.
l
I
'
~
DoM loAM. 123
CAP. xlij. Dalgas coufas que aconteeram em C a j l e l l a ~
depois que e/Rei dom Anrrique morreo, & do re ..
cado que e/Rei dom Afon_fo mandou ahos grandes
que em Cajlella eram da banda da Prinefa do11na
Ioanna, & do que lhe refRonderam.
N o TEMPO q elRei dom Anrrique faleeo, ho Prin-
ipe dom Fernando era ido a Aragam, chamado
por elRei dom Ioam feu pai, em ajuda das guerras q
tinha com elRei Luis de Frana por caufa do condado
de Rofelhom, & ha prinefa donna Ifabel eftaua em
Segouea, onde fe foram parella algs fenhores do Re-
gno, q ha loguo juraram, & reeberam por Rainha, &
fenhora dos Regnos de Caftella, & Leam: ho qual
quomo foube da morte delRei dom Anrrique, fe veo
a Segouea, & depois de fer no Regno comeou hauer
antre elle, & ha Rainha donna lfabel fua molher algas
differenas aerca da gouernana dos ditos Regnos,
fobre ho q foram ellegidos deputados, hos quaes deter-
minaram per fentena q pertenia Rainha donna Ifa-
bel, & nam a elRei dom Fernando, & affi fe affentou
antre elles ambos. No meo tempo deftas altercaes,
por fegurarem ho marques de Vilhena (q tinha ha
Prinefa donna Ioanna em fua guarda, & fidelidade),
porq elle j em vida delRei dom Anrrique requeria ho
meftrado de Santiago, lho mandaram offereer, nam
lho podedo dar todo fem fobre iffo fuplicarem aho
Papa, por quanto aho tal tpo parte das terras delle
eram dadas aho conde de Paredes, & parte aho co-
mendador mr de Leam, & ho recado foi q fua von-
tade era fazerlhe mere do meftrado, & q pera iffo
fcreueriam logo a Roma a feus embaixadores, q impe-
traffem do Papa, q has terras do meftrado, que eram
.
-
. . .
124 CHRONICA DO PRINIPE
feparadas fe tornaffem a vnir, &. ajuntar,
darem quomo ho elle mereia, & ho
mas porij nifto fe hauia de paffar alg t,
por refpeito da Infante donna loanna p(
eder em Caftella nouidades, de
Regno reebeffe darrmo, & elles fe viffem
q ha queriam cafar com peffoa de que ell
q fua parte fauoreiam foffem contentf
entre tanto que nam cafaua, pera afoff.
Hifpanha lha quifeffe entregar, pera ha te
damente em parte onde de fu!l peffoa fe
fazer coufa de q elles nam foffem fabedor
ques, q era prudte, bem entendeo ho fi;
& ha Rainha tirau, do q auifou loguo
de Toledo, & todolos outros fenhores,
fauoreiam hos negoios defia Prinefa, '
& cfelho dos quaes fcreueo ha carta
Afonfo, da qual ha fubHania era, que j
teria vifto ho teftamento q lhe mandaram
Anrrique, & ha declaraam q nelle fezerB
efa dna lona fer fua legitima filha, he
dos feus Regnos, & fenhorios, & q a e
nenha outra peffoa tocaua ho emparo c
fua fobrinha, & affi por elRei dom Anrriq
por tutor della, & defenfor dos Regnos
& Leam: has quaes rezes ho deuiam
logo acudir fora q lhe fazia dom Ferna
Daragam, & ha prinefa donna Ifabel, q1
reito, & contra todalas leis de juftia, l
tinham j intitulados por Reis dos ditos I
deuia prouer com breuidade, & pera ter
quelle reebeffe loguo ha Prinefa por r
quanto mais edo ho fezeffe, tanto mais
-
DoM loAM.
riam pera elle outros muitos fenhores, alem dos que
j tinha de fua banda, hos quaes eram ho arebifpo
de ToleW:>, ho duque Dareualo, ho Dalbuquerque, ho
marques de Santilhena, ho meftre de Calatraua, ho
conde de Vrenha, & outros fenhores, & caualleiros,
com rodos feus parentes, & amigos, alem de quatorze
idades das prinipaes do Regno, aos quaes, quomo
fua Alteza entrafi'e em Caftella, era erto q fe hauiam
dajuntar outros muitos fenhores do Regno, villas, &
idades q com medo de dom Fernando, & donna Ifa-
bel, & dos q feguiam fua parte, fe nam oufauam de-
clarar: palas quaes rezes, & por outras muitas q fua
Alteza, & hos de feu confelho milhar poderiam enten-
der, do q lhas elle faberia dar, lhe pedia q nefte ne-
goio nam houueffe defcuido, porq na tardana efi:aua
erto ho perigo. ElRei quomo reebeo efi:a carta, con-
fultou com hos do feu confelho ho que fobre efte ne-
goio hauia de fazer, no qual houue varias pareeres,
mas em fim fe affentou q tamanha emprefa nam era
pera deixar, no q ho Prinipe dom loam mais q neha
outra pelfoa inftftio, mas efte negoio nunca pareeo
bem aho arebifpo de Lisba dom Jorge da cofia, q
depois foi cardeal de Portugal, nem a d Fernando
duque de Guimares, marques de villa Viofa, que
quomo prudentes deram muitas rezes, moftrando q
ifto nam poderia vir a bom fim: com tudo e IRei deter-
minou de mandar loguo a Caftella Lopo dalbuquerque,
feu camareiro mr, q depois foi conda de Penamacor,
com cartas pera ho arebifpo de Toledo, marques de
Vilhena, marques de Santilhana, duque Dareualo, &
ha duquefa fua molher, donna Leanor pimemel, per
cujo confelho fe gouernaua, & affi a algs dos outros,
que defejaua-n fua entrada em Caftella. Lopo dalbu
126 CHRONit
querque fez tam bem
deftes fenhores, & d01
AfontO, & autos f e i t o ~
quomo ho reebiam p
ha Prinefa donna Io1
tomou aho Regno, nc
M. cccc.lxxv. onde acho
.cado foi muito fatisfeito
CAP. xliij. Dalgas co1
aconteeram pzo Rei!,
H A PRIMEIRA coufa q r
paffaffe no Regno
brana, he q depois d
Fernando, eiRei d Af<
dores da ilha de fam 1\'
Infante conedera, lerr
podiam refgatar per c1
uereiro defte anno, &
dom Anrrique entre E
dixe, & no anno fegu
aho duque dom Diogo
dom Fernando da ilha
jurdiam, affi quomo h;
irmo. Nefte mefmo ali
hos contrattos do cafa
com ha Prinefa donna Leanor, hlha do lntante .dom
Fernando, & da Infante donna Beatriz, pofl:o que j
foffem reebidos, quomo atras fica apontado, em ajuda
do qual dote ho duque dom Diogo deu Prinefa
-donna Leanor fua irm em cafamto ha villa de Lagos
DoM loAM.
com fua fortaleza, do modo q ha elle tinha, ~
feu pai ho Infante d Fernando promettera viu
quando fe nefte cafamento comeou de falar, hc
tratto do qual fe fez ahos xvj. dias de Setemb
dito anno, & no feguinte de M. cccclxxiiij. nam I
deo coufa deftas particulares q feja pera fcreuer.
CAP. xliiij. De quomo e/Rei dom Afonfo mandoz
de foufa a Cajiella, & fobre que, & de quo.
aperebert per guerra que queriafater.
V
ISTAS POR eiRei dom Afonfo has cartas q lhe
dalbuquerque trouxe, fe comeou cum rnuit!
gia apereber pera entrar em Caftella, mas ar
fe de todo pofeffe em obra tamanho negoio, pe.
mr rezam defcufa do q ordenava, quis vfar t
comprimento com eiRei dom Fernando, & co
Rainha donna Ifabel, pofto que elle, & hos de fet.
felho ho teueffem por efcufado, & porij ho repre1
defl:a embaixada requeria muita prudenia, & co
ia danimo, fem medo, nem fpanto de theatros.
coroas reaes, ellegeo pera iffo Rui de foufa, 1
q alem de fua antiga nobreza, era muim fagaz, &
cortefam, ho qual defpedido Deuora caminhm
fuas jornadas atte chegar a Valladolid, onde elRe
Fernando, & ha Rainha donna Ifabel eftau em gr
feftas, ahos quaes quomo chegou fez faber d
vinda, de quem foi bem reebido dandolhe logu
pera dizer ho aque vinha, ho que elle fez fem nc
toruaam, dizendo a elRei, & Rainha: Senhor
Rei dom Afonfo de Portugal, meu fenhor, voffo
primo, & amiguo vos enuia fuas faudaes, & n:
CHRONICA DO PRINIPE
dizer aquillo que nam tendes rezam defcufa,
nuim bem fabeis, qJJe vos deue lembrar quo-
is Prinipes q fois quam notaria coufa he, ha
lonna loanna fer filha deiRei dom Anrrique,
ta gloria haja, hauida delle na Rainha donna
aa lidima molher, & que fendo elle ainda viuo,
1do feu bom fifo, & verdadeiro juizo natural,
antes de feu faleimento ha fez declarar, &
os fiados de feus Regnos, por fua vnica, &
1erdeira, & q pera mr firmeza defto, fabendo
n Amrique, que em feus Regnos hauia algas
tas quaes efqueidas dos grdes bes, & meres
tinha feitos, diziam -falfamente q ella nam era
& q ho juramento q lhe tinham feito fora
ho q elle vendo fer muito contra toda verdade
1 de nouo outra vez jurar por fua vnica her-
todos feus Regnos, & fenhorios, & que nam
mte viuendo ha declarara por fua filha her-
lS duas vezes, mas q ainda pera mr firmeza,
lamento reteficara fer efia fua derradeira von-
q fe affi nam fora, elle nam deixara tal de-
na hora de fua morte, da qual fendo falfa
erto fe lhe feguir damnaam eterna pera
& q agora fobre Caberdes todas efias ver-
:r via pouco jufia, nem liita diame de Deos,
homs vos fazeis chamar Reis de Caftella,
am, & Cem vos ha tal herana pertener, ha
)ffi8f
1
& vfurpar per fora Rainha donna
uja de direito he, & ha quereis lanar fora
legnos: qual fem rezam dle he obrigado
>is e i R ~ dom Anrrique ho deixou, no refia-
:: fez, nomeado por feu tutor, & gouernador
legnos, com alem difo lhe pedir, & rogar
_j
129
muito, no mefmo teftamento, q cafaffe com ella, ho q
elle tem vontade de fazer, & de ha defender de quem
lhe quifer occupar hos Regnos q per direito lhe per-
tenem, dos quaes elle polas rezes ditas, pode jufta-
mente j ~ agora tomar ha poffe, & entrar nelles, &
eftar quomo em coufa fua propria: mas quomo fua
vontade feja n fazer fora, nem eftrago em terra, &
Regno onde ha de regnar, faluo fe lha tolher quiferdes,
vos enuia pedir q antes de has coufas virem a rotura
de gnerra, vos praza poer ho gouerno deftes Regnos
em mos de peffoas de bem, fuffiientes pera ho fazer,
atte que per JUizes arbitras fe julgue a quem ha fuc-
effam delles direitamente pertene: & q fogindo vos a
tam honefta, & rezoada offerta, entam vos faz Caber q
elle p6e feu direito nas mos de Deos, & na ventura das
armas, com has quaes determina fe ajudar de fua juftia,
& bom direito. EIRei dom Fernando, & ha Rainha
donna lfabel, depois de terem ouuido Rui de foufa, lhe
dixeram q fua embaixada nam era tam fai1, a que fe
logo podeffe refponder, fem primeiro niffo bem cuida-
rem, com tudo que e1les ho defpachariam logo: aho que
lhes refpondeo, q qualquer delpacho que houueffe de
fer, foffe com breuidade, porque fua detena nam podm
fer muita. Hos Reis hauido feu confelho ho mandaram
chamar, & lhe dixcram, Rui de foufa amigo, vs po-
deis dizer a elRei dom Afonfo, noffo muito amado, &
prezado primo, q fomos mui fpantados de nos mandar
tal recado, quomo ho q nos vs de fua parte trouxef-
tes: que elle fabe bem q efl:es Regnos nam pertenem
iufante donna loanna, por muitas rez6es q vos nam
declaramos por hrra de IRei dom Anrrique noffo irmo,
& da Rainha donna Ioanna noffa prima, das quaes elle
he per ertas informa6es auifado, & fabe ho q na ver
~
1 3o CHRONJCA 1
dade nefte cafo p a f f a ~ coo
homs falfos, & defleaes q
& amizades q entre ns,
hos noffos h.. q ns tornan
& bom direito q temos, fi
noffa juftia per armas, &
dermos contr.a ha illiita
q por euitar tantas mortes,
fe podem feguir de tal gm
de nos fubmetter a juizo de
fas q julguem a quem eft
mefmo q nos elle manda I
ns deixarmos ha gouerna
tirmos da poffe em q efiam
todo auerigue, illo no efl
ns nefta parte pediifemos f
& bom Rei q he, nolo a(
nefto partido, & tam juftc
faz, & pcrfeuerando em J
guerra, q ns com ha aju
Santliago fperamos nos de
em tudo ho q podermos p1
q nos for poffiuel. Com
foofa de Valledolid, & fe
dom Afonfo ainda ftaua,
trazia.
I ..
I
DoM loAM.
CAP. xlv. De quomo e/Rei dom Afonfo ma11dou aper-
eber todolos jenho1es, & caualleiros do Regno, &
leuar munies de gue1ra, & coufas neeffarias
vi/la Darro1zches, & do q e/Rei donz Fer11ando, &
ha Rainha donna Ifabel jcreueram a algs dos fe-
nhores de Cajlella q tinham ha parte da Rainha
dna lona.
H A REPOSTA q Rui de foufa hauia de trazer de Caf-
tella era tam erta, q pofto q ho elRei dom
Afonfo l teueffe mandado, nem por iffo deixou de
ordenar todalas coufas q compriam pera tamanho ne-
goio, quomo era ho da guerra q queria fazer, & mo-
uido defta tenam, em que ftaua refo1uto, pofto q foffe
ctra vontade, & confelho dalgas peffoas, q quafi adi-
uinhauam ho em q eftas coufas hauiam de parar, elle
fcreueo loguo a todalas prinipaes pefoas, caualleiros,
&. fidalgos do Regno, declarandolhcs fua determina-
am, encomendandolhes q com ha milhar; & mais
ordenada companhia q cada h podeffe ajuntar fe vief-
em pera elle, porq determinaua de fe ir loguo Arron-
. ches, pera da1i entrar em Caficlla, a fazer guerra
a dom Fernando Prinipe Daragan1, & Prinefa
donna Ifabel fua molher, atte deixarem h os Regnos
Rainha clonna loanna fua fobrinha, a qu de direito
perteniam, com ha qual elle eftaua conertado pera
fe cafar : apos ho q ordenou q fe pofefem em ordem
todalas coufas neeffarias, mandando a feus offiiaes q
quomo fofem preftes has fezeffem leuar Arronches,
onde fperaua, Deos querdo, fer na entrada do mes de
Maio defte anno de M. cccclxxv. & quomo foube per
Rui de foufa ha determinaam delRei dom Fernando,
& da Rainha donna lfabel, loguo defpedio hum mef-
'
. ,
.. 4.1
CHRONICA DO PruNIPE:
tageiro com cartas aho arebifpo de Toledo, & aho
duque Dareualo, & aho marques de Vilhena, declar-
dolhes ho dia em q determinaua partir Darronches, &
ho caminho q hauia de leuar, pera q fe aperebeffem,
& ajuntaffem com elle em lugar erto. ElRei dom
Fernando, & ha Rainha dna lfabel, defpois q lhes
Rui de foufa deu ho recado delRei dom Afonfo, &
declarou ha guerra, loguo per fuas artas amoeftaram
ho arebifpo de Toledo, duque Dareualo, marques de
Vilhena, & todolos outros fenhores q tinham tomada
ha parte da Rainha donna Ioanna, q olhaffem bem ho
trabalho, & ventura em q punham fuas peffoas, & hos
males, damnos, & ftragos q andauam azando, rogan-
q fe quifeffem tirar de tam mao propofito, &
.
q por iffo lhes, fariam muitas meres: mas ifto nam
nada pera deixarem de feguir ha parte da
Rainha donna loanna. E affi fezeram faber a todolos
fenhores, idades, & villas q por elles ftauam, de
quomo elRei dom Afonfo lhes queria fazer guerra,
encomendandolhes muito q fe aperebeffem ho mais
afinha q podeffem, & loguo de Valledolid fe foi ha
Rainha donna lfabel a Toledo, pera prouer naquella
parte do Regno, & fe fegurar dalgas peffoas prini-
paes, q eram da liga do arebifpo, & do marques, &
de caminho fe quifera ver com ho arebifpo, g a efte
tempo eftaua em Alcal de Henares, mas por algs
refpeitos, & confelho q niffo. teue, ho nam fez, contudo
lhe mandou falar polo condeftabre, ho qual por muito
q niffo trabalhffe, nunqua ho pode tirar de feu pro-
pofito, nem menos pode acabar com elle q fe quifeffe
ver com ha Rainha.
------ -- --
DoM loAM. I33
CAP. xlvj. Do que e/Rei dom [i'ernattdo fer. depois de
lhe Rui de foufa ter declarada ha guerra.
ELREI DOM Fernando depois q defpedio Rui de foufa,
& ha Rainha donna lfabel fua molher fer ida aho
Regno de Toledo, fteue algs dias em Valledolid, pro-
uendo nas coufas q lhe eram neeffarias per guerra,
& fabendo q elRei dom Afonfo ftaua preftes pera
entrar em Caftella, logo dali fe foi a Salamca, &
dahi a amora pera fegurar hos lugares daquella co-
marca, per onde tinha fabido q elRei dom Afonfo
hauia de entrar, mas villa de Touro, pofto q foffe
vezinha a amora, fe nam atreueo ir, porq hum caual-
leiro per nome Ioam de vlhoa ha tinha pola Rainha
donna Ioanna, & ercara ho caftello da mefma villa,
de q era alcaide mr hum feu irmo mais moo, per
nome Rodrigo de vlhoa, q ha tinha polos Reis dom
Fernando, & donna Ifabel, cujo thefoureiro mr era.
Nefte tempo ha Rainha dna Ifabel acabou ha mr
p-arte dos negoios a q fora aho Regno de Toledo,
onde por fegurana de toda aquella prouinia leixou
por vie rei, & gouernador dom Rodrigo manrriquez,
conde de Paredes, q fe chamaua meftre de Santiago,
peffoa de q ella muito cfiaua. Ifto feito fe foi a V alle-
dolid, & dahi pera onde elRei dom Fernando feu ma-
rido entam andaua. Ho conde de Paredes, q era bom
caualleiro, nam efteue oiofo, porq quomo ha Rainha
partio, combateo ho caftello Dalcarraca, q ftaua polo
marques de Vilhena, & ho ganhou, fem lhe ho marques
poder valer, pofto q a iffo mandaffe focorro de gente
fua, & do meftre Dalcantara, porque hos da villa fta-
uam pola Rainha donna lfabel, hos quaes com ho
mefmo conde de Paredes tinham ercado ho caftello,
CHRONICA DO PRINIPE
de maneira q per nenha parte fe lhe podia dar fo-
corro : polo q depois de terem fofrido hos ercados
muitos combates, & padeido muita fome, & traba-
lhos, ho alcaide do cafiello fe conertou com ho conde,
& lho entregou, faluas vidas, & bes. Ho marques
de Vilhena, fiando has coufas nefies termos, fcreueo
muim aficadamente a elRei dom Afonfo, q com ha
mr breuidade que podeffe, entraffe em Cafiella, porq
quomo l foffe, & fe fezeffem hos fpofouros, muitos
fenhores, & outras petfoas q nam oufauam defcobrir
fuas tenes, fe viriam pera elle, & quanto mais tar-
daffe, tanto mais fe poderiam esfriar, & mudar has v-
tades deftes, ou per dadiuas q lhes elRei dom Fer-
nando fezeffe, ou por cuidarem q fua tardana era por
reeo da emprefa q tinha tomada. Nete tempo ftaua
ha Rainha donna loanna em Scalona, & temendo ho
marques que elRei dom Fernando, & ha Rainha donna
lfabel, q j andauam juntos ha vieffem erquar, ha
mudou dali pera ha idade de Plafena t, q entam era
do duque Dareualo, por eflar mais perto do caminho,
per onde elRei dom Afonfo hauia dentrar em Cafiella,
pera q hos fpofouros fe elebraffem loguo, porque
affi feguraua milhor todos feus negoios.
I Na edio prin1itiva l-se: Plazena. Cf. Cap. 1.
- __ ,
I .
~
I
DoM loAM. t35
CAP. xlvij. De quomo e/Rei dom Afon_fo n1andou dom
Aluaro dataide a Frana, & fe partio pera Arron-
ches.
E LREI DOM Afonfo pera milho r poder vir ao fim do
negoio em q andaua, fabendo quanto elRei Luis
de Frana, onzeno do nome, defejaua cobrar ho con-
dado de Rofelhom, q lhe tinha tomado elRei dom loam
Daragam, pai delRei dom Fernando, determinou man-
darlhe recado, pera q juntamte fezeffem guerra ahos
Reis dom loam Daragam, & dom Fernando feu filho,
q fe fazia chamar Rei de Caftella. A efte negoio por
fer de importania mdou dom Aluaro dataide, peffoa
de muita authoridade, & de que muito cfiaua : por
refpeito da qual embaixada elRei Luis, fem ter conta
com has tregoas q tinha feitas com elRci Daragarn,
lhe comeou de nouo fazer guerra, & afii a elRei dom
Fernando feu filho, & Rainha donna Ifabel fua nora:
& pera fe ifto poder milhor effcttuar, fez tregoas per
noue annos com elRei dom Duarte Dinglaterra, q na-
quelle tempo andaua em Frana fazcndolhe guerra,
por cafo dos grandes defconertos, & defauenas q
hauia entre ho dito Rei Luis, & ho duque Charles de
Borgonha: aho qual Rei Dinglaterra deu e IRei de
Frana per conerto em mil feudos douro de contado,
& cadanno inquoenta mil, por refpeito do ducado de
Guiena, quomo j tenho dito. Nefte contratto foi affen-
tado q ho Delfim cafaffe com ha filha delRei dom
Duarte Dinglaterra. Has quaes tregoas feitas, andando
j elRei dom Afonfo em Caftella, ho dito Rei Luis de
Frana entrou com groffa companhia de gente em Biz-
caia, & alem de muitos males j fez na terra teue
alguns dias ercada fonte Rabia : mas defia guerra
CHRONICA DO. PRINIPE
nam trattarei aqui particularmente, por ella fazer mais
a propofito das Chronicas de Frana, Caftella, & Dara-
gam q a efta noffa. E tornando a elRei dom Afonfo,
defpois q foi em Euora, com pareer de todalas pef-
foas prinipaes de feu confelho, ordenou q ho Prinipe
dom Ioam ficaffe .por gouernador, regedor, & defenfor
dos Regnos, & fenhorios de Portugal, ho q elle acep-
tou mais por comprazer a elRei feu pai, & por lhe
pareer q affi corrpria a bem do Regno, & vaffallos,
q por vontade q teuefe de ficar .. Contudo veneo ha
rezam, em taro juuenil idade, ho apetite, coufa q pou-
cas vezes acontee. Antes q elRei partife Deuora, fez
com hos do feu confelho ertos apontamentos, & de-
claraes do modo q ho Prinipe hauia de ter na go-
vernana do Regno, affi na adminitraam da juftia,
quomo no regimento da fazenda, & fazer ds meres:
& pafados oito 'dias Dabril de mil, & quatro entos,
& fetenta, & inquo, em q eftes apontamentos forani
feitos, & affinados, elRei fe partio loguo Deuora pera
Portalegre, & ali de nouo ratificou aho Prinipe, que
com elle ftaua, per carta patente, affinada por elle, &
afellada com fello pendente de chbo, feita no mefmo
luguar de Portalegre, ahos vinte, & inquo dias do
dito mes, & anno, todolos poderes q nos apontamentos
j ditos lhe cedera, & acreentou de nouo outros
muitos mais auantajados, porq quanto fe mais iha che-
gando ha guerra q comeaua, tanto mais lhe iha cre-
endo ha confiana que do Prinipe tinha : nem foi
falfa efta opinio, porq affi ho mofirou elle, fendo elRei
feu padre abfente deftes Regnos, & prefente nelles atte
ha: hora de fua morte : & porq fique por memoria, &
exemplo da confiana q hos pais dcuem ter dos filhos,
q lhe fam leaes, & obedites, me pareeo bem poer
i
.
---
. -
DoM loAM.
aqui has foras do que fe na dita carta contem, q em
fumma fam has feguintes : elRei lhe deixaua, &
comettia todo_ ho regimento, gouernana, & defenfam
de todos feus Regnos, daquem, & dalem mar, & q
em fua abfenia lhe daua, & outorgaua todo feu poder,.
pera elle ordenar, mdar, & fazer affi na juftia, &
perdes della, quomo na fazenda, & defenfam dos Reg-
nos, tudo ho q lhe bem pareeffe, & por b dos ditos
Regnos, & naturaes delles fentiffe fer neeffario : q po-
deffe dar, & fazer mer de dinheiro, .terras, cafiellos,
offiios, benefiios, & quaefquer outras coufas, affi
ecclefiafticas, quomo feculares, quomo ho elle mefmo
per fim poderia fazer : q hauia por firme, & ftauel, &
valiofo tudo ho q por ho dito Prinipe feu filho foffe
feito, dado, & determinado, & que mandaua a todolos
alcaides dos caftellos de feus Regnos, q ho colheffem
nelles cada vez q elle quifeffe, com gente, & fem gente,
& que nelles fezeffem tudo h o que lhes mandaffe: alm
difto que lhe daua poder pera por elle, & em feu
nome reeber has menages q quaefquer alcaides deuef-
fem fazer por cafiellos _q.lhe foffem dados, & has po-
deffe aleuantar a elles, & ahos outros q has teueffem
feitas, ou aho diante houueffem de fazer, tamb q po-
deffe fazer quaefquer leis, & ordenaes q pera be, &
proueito dos Regnos teueffe ferem neeffarias, & def-
penfar com ellas, & com has outras, q j eram feitas,
affi imperiaes, quomo fuas, & dos Reis feus anteef-
iores, quantas vezes ho por bem teueffe, & que enco-
mendaua, & mandaua a todolos grandes, & notaues
peffoas, affi ecclefiafticas, quomo feculares de feus Reg-
& a todos feus offiiaes, affi da juflia, quomo
da fazenda, & ahos fidalgos, caualleiros, idados,
& pouos delles q com toda diligeni\,
-."'
t38 CHRONICA DO PRtNIPE
& lealdade ho feruiffem, & acata
ffem em todo, & compriffem feus
ahos delle mefmo, fem nenha dit
les, & de fuas acoftumadas leald
, & cfiaua: ha qual carta por eui
~ por fcufado por aqui por extenfo.
De quomo e/Rei dom Afm!fo fe'{
r ha pate11te, per q daua, & con!
ra do Regno alzo Prilzipe dom .
1was que lhe dixe, & me11agem qrt
LEGRE fe veo eiRei Arrches no co1
Maio, onde efieue alg.s dias defp
Jmpriam aho regimento, & got.
efperando alga gente q lhe ainda
fez hum dia chamar todolos prla(
aes, & caualleiros, & com elles h(
:idades, & villas dos Regnos, q fe
o ajuntaram, & perante todos mar
ha patente, per q declaraua deixa
J Regoo aho Prinipe feu filho, I
olhou pera elle, & dixe em voz
os fe podia bem ouuir, & entende
rezam em altos penfamcntos pouc
mijr, mas quando fe concordam, p
eitos notaues, & coufas de gram p<
ha confiana com fcguro por tod'
ita, & porque eu fe foiTe fcnhor d(
de vos fem reeo, vem a fer efia
m conformes em meu penfamcnto
DoN loAM. t3g
: confentem q ponha em voffa f, & confie
:rdade, & ceda a voffa prudenia, & tref-
voffa peffoa ha defenfam, gouemo, & regi-
:es Regnos, em quanto eu for abfente delles:
>rque has leis, cuja alma ns fomos, mandam
lhantcs cafos quomo folemnes entreuenham
mtl:os, & juramentos, vs me prometeres
eues a Deos
1
& a mim quomo a voffo padre,
e fam, de hos defender, & guardar contra
a q lhes quifer fazer damno, & de manter
rezam, & verdade ho citado ecclefiaftico, &
. affi de me dardes conta, & rezam em todo
quomo vos houueftes em voffo cargo, fem
les pejo, & fobre todo me dareis voffa f, &
de em todo tempo q eu tornar a eftes Reg-
:onheerdes por voffo Rei, & fenhor natural
entregardes paificamte, quomo me elles
1
fem por vs, nem por outrem, per via erta,
ta, cuberta, ou defcuberta mo quererdes
-las quaes palauras ditas pondo ho Prinipe
os em terra, & ambalas mos jtas, entre
IS das mos delRei, dixc com rolto alegre,
fenhor cu quomo voffo filho, vniquo herdeiro,
q fam, p r o m e t o ~ & dou minha f, & mena-
ffas mos de vos fer leal per mr, & per
de em voffo nome guardar, & defender, go-
reger eftes voffos Regnos, c toda vigilia,
ealdade que obrigando fama vos manter, &
ntregar paificamente cada vez q a elles tor-
l. fe eu ho contrairo fezer, peo, & rogo a
!idos defies Regnos q me dcfobedeam. &
todos, & cada hum de per fim de me faze-
offo feruio todo ho mal, & damno q pode-
CHRONICA DO PRINCIPE
rem, porq fazedoho compriram com verdadeira f, &
e q fam obrigados guardar, & manter a voffa
Real peffoa, quomo a feu Rei, & fenhor q fos. Ho
que affi dito ho Prinipe beijou ha mo a elRei, &
ho mefino fezeram todolos q prefentes eram per ordem,
cada hum em feu grao.
CAP. xlviiij. Da noua que veo a e/Rei, do nafimel!to
do Infante dom Afonfo .feu tzeto, & dalgilas coufas
q mais je{, & orde1zou ho tempo q em Arron-
ches.
ESTANDo ELREI dom Afonfo j p'reftes pera partir
Darronches, lhe veo noua, quomo ha Prinefa
donna Leanor, fua nora parira em Lisba ho Infante
dom Afonfo, ahos xviij. dias de Maio de M. cccclxxv.
das quaes nouas elle, & ho Prinipe, com todolos q
ali ftauam houueram gram prazer, & fezeram muitas
feftas, has mais dellas a imitaam de guerra, fegdo
tempo ho requeria, & has louainhas q hos galtes
cfigo entam traziam podi fofrer: & logo elRei de-
clarou per feus editos, q fe fendo elle cafado com ha
Rainha dna loanna houuefe della filhos, & ho Prin-
ipe dom loam morreffe primeiro q elle, q em tal cafo
ho Infante d Afonfo reprefentafe ha pefoa do pai,
& houueffe ha fucefam, & herana dos Regnos de
Portugal, per morte delle feu auo : & diffo mandou
fazer eftromentos publicos afiinados de fua mo, &
affellados do fello real, jurados, & folemnizados per
todalas prinipaes pefoas do Regno, q fe acharam
prefentes. Antes q elRei partiffe. Darronches, conhe-
endo fua acoftumada liberalidade, paredolhe q de-
__ j
Dor<lo/Jd.
n Caftella, ou per gloria, & louuaminha,
do, faria largas meres de dinheiro, &
illas, & terras de feus Regnos, fez ha
-or elle, & polo Prinipe, em q declarou
res, & doaes q fezeffe, durando efta
ffaffem de dez mil reaes de renda cadan-
m valiofas, faluo fe tambem ho Prinipe
e, & affinaffe has cartas, & padres das
Eftas, & outras declaraes fez elRei
efteue em Arronches, alem das q fe con-
Ite geraL lfio acabado, & vinda ha mr
te q fperaua, ordenou fua partida pera
qual ha tardana era fofpeitofa ahos q
Rei, & fenhor ho ftau fperando.
omo elRei dom Afonfo fe patio Darron-
Cajlella, & chegou a Plafena.
r parte da gente q elRei dom Afonfo
leuar cfigo, partia Darrches, & ha pri-
i fez com feu arraial foi na Codofera , j
& dali foi ter a Pedra ba, donde fe def-
nipe, q com elle atte efte lugar fora def-
ias coufas q compriam ahos negoios do
LZenda: no qual lugar de Pedra ba fez
da gente q configo tinha, q com a q veo
) primitiva l-se: codieira (naturalmente por o
ocar com a vila portuguesa deste nome, hoje Co--
1 4 ~ CHRONIC
com dom Fernando duqu
George da cofia arebifi
galuam bifpo de Coimbn
bifpo Deuora, & dom P
com dom Franifquo cot
com Rui pereira, & out
per Caftella vieram ali te
em feu arraial inquo mil
uallo, & quartoze mil d(
uio, pages, & gte aue
feu caminho pera Plafen
ha Prinefa donna Ioanna
ordem fcguinte: diante de
de bairros adail mr do F
defcobrirem ha terra, apo
coutinho, marichal, com
cargo, q era apoufentar h
condeftabre, ou por feu
affinado lugar, aho qual
chichorro, capimm dos gi
fua batalha ordenada, jt
vanguarda, de q era ca_r
atras ella feguia ha carriaJ
ha bandeira real do Regr
em peffoa ho mais do ter
zes a ver ho exerito, c
guarda, & h page, q II
deuifa, q era ho numero
moinho com gotas dagoa,
Na retaguarda iha ho duq
deftabre do Regno, & d4::
i)lam duas alas de que era.
cie Fro, & dom Anrriqt
DoM loAM.
>m Afonfo de Vafconellos conde de Penella,
loam de crafto conde de MonfanB:o. Nefta or-
fem em todo ho caminho achar nenhum im-
:o, chegou eiRei a Plafena, q entam era do
1reualo, onde ha Rainha donna loanna ho ftaua
o, com muitos dos fenhores, & peffoas prini-
Caftella, que er da fua parte, dos quaes todos,
.o pouo, foi reebido com muitas feftas, jogos,
., c q ho viero aguardar, b.fpao fora da
De quomo e/Rei dom 4fmrfo reeheo ha Rairlha
lo11a por fpofa, & se cliamaram Reis de Caf-
& de Leam, & Porlllffal.
DELREI dom Afonfo fer em Plafena, logo
>S fenhores q prefcntes eram, & com feu pare-
Jrdenou ho dia dos efpofouros, & pera iffo fe
cadafalfo na praa da idade, armado de rica
t, & pnos douro, & feda, no qual em prefena
ho pouo, & do duque Dareualo, & do marques
1a, & do conde de V renha. & doutros fenbores,
leiros Cafielhanos, & & doutras
1 ali fe acharam, foram folcmnizados hos efpo-
ho que feito logo no mcfmo lugar foi ha Rai-
Lda de todolos q prefentes eram, & doutros
procuradores, & dali por diante fe chamaram,
laram Reis de Cafl:ella, de Leam, & Portugal,
Les lhes beijaram todos has mos. Deftes autos
1m, & tiraram logo efiromentos publicos, &
:os, que fe mandaram a muitos fenhores, &
los Regnos de Cafl:ella, Leam, & Portugal, mas
144 CHRONICA DO PR
pofio que eftes fpofouros foffen
do modo j tendes ouuido, nem 1
nelles houueffe effeao ha confur
ifto por rezam do partefco d
dna Iona era fobrinha delRei
Rainha dna Iona fua irm, & 1
ainda n era difpenfado em Rc
Fernando, & ha Rainha donna
per feus embaixadores q fobre
Papa, ha qual difpenfaam fe ho
abo diante dir. No mefmo lugar
deiRei fer fpofado, refpeitando
fervios de Lopo dalbuquerque 11
macor. E porq j tinha nouas q I
ebi pera per diuersas partes e
mandou logo dali dom loam galt
por fronteiro da comarca da BeiJ
que por capitam do Sabugal, ~
elRei fteue algs dias em Plafer
neeffarias pera hos negoios da
Rainha fua fpofa pera Areualo,
abaftado de mantimtos, ho qm
effario fazer em ba ordem, r
Dalua, j era da.parte delRei dor
terras hauia de paffar, hos caftell
elle tinha aperebidos de ba ~
elRei fez feu caminho atte Areu
q lho fioruaffe.
DoM loAM.
CAP. lij. Do que e/Rei dom Fernando, & ha Rainha
donna lfabel fe{eram depois de/Rei dom Afonfo
fer fpofado com ha Rai1zha donna loanna.
ELREI DOM FERNANDo, & ha Rainha dna lfabel, per
fuas efpias q tinham etn Plafenia, foram logo
auifados dos fpofouros delRei dom Afonfo, & da Rai-
nha donna Ioanna, & de quomo fe intitularam Reis de
Caftella, de Leam, & de Portugal, polo q fe fezeram
tambem chamar Reis de Caftella, de Leam, & Portu-
gal, & affi ho punham em fuas cartas, & nos fellos
dellas punham has armas deites tres Regnos, & loguo
mandaram ge!lte de guerra, q entrou em Portugal, da
qual alga fez feu caminho pola fronteira de Badajoz,
& tomaram ha comarca Deluas, ha Villa Douguella,
& ha de Noudar, ha a l c ~ i d a r i a da qual elRei dom Fer-
nando, & ha Rainha dna Ifabel deram a Martim de
fepulueda vintequatro de Seuilha : ha outra companhia
defta gente Caftelhana, de que era capitam dom Afonfo
de montroy
1
, craueiro da ordem Dalcantara, q fe intitu-
laua meftre da mefma ordem, entrou pola comarca de
Portalegre, & tomou ha villa Dalegrete. Nefte mefmo
tempo dom Afonfo de cardenes, comendador mr de
Leam, q fe chamaua mefire de Sanaiago, fem ho fer,
entrou em Portugal be acpanhad_o de gete, & cami-
nhou pola terra dentro xv. legoas, & fem achar refi-
ftenia nenha fe torno':! pera Caftella. Nefte tempo
entre has gentes da Galiza, & Portugal, q habitam
antre Douro, & Minho, & alem do Minho fe comeou
1 Na edio primitiva l-se: monrroy.
lO
CHRONICA DO PRINIPE
ha cruel guerra, q durou atte q has pazes fe fezeram,
q foi ha mais crua, & fem piedade q toda ha das outras
comarcas, porq nella fe fezeram muitas entradas, &
damnos de ha, & da outra parte, nas quaes entradas
Pedraluarez de fouto maior, galego de naam, tomou
ha idade de Tui, & Baiona do Minho, & as teue por
Portugal, com outros lugares vezinhos, atte fim deftas
guerras, chamandoffe vifconde de Tui, & fez continua,
& guerra ahos galegos roubando, & deftroindo
muitos lugares de toda aquella prouinia.
CAP. liij. De quomo e/Rei dom Afonfo je veo Dareualo
a Touro, & do que ahi, & em amorafe{.
E LREI DOM Afonfo fteue dias. em Areualo
onde fe vieram pera elle muitas peffoas prinipaes
de Caftella, no qual tempo lhe fcreueo Ioam de vlhoa
auifandoho q ho ftaua fperando na villa de rouro, pera
lha entregar, mas q por feu irmo Rodrigo qe vlhoa
ter ho caftello por elRei dom Fernando lhe pareia que
fua Alteza fe deuia de chegar mais perto, pera com
fua ajuda ho combater, polo q elRei fe partio logo
Dareualo, em fua ordenana atte Touro, & mandou
combater ho caftello, no qual entam nam ftaua Ro-
drigo de vlhoa, mas fua molher lho defendeo, quomo
valerofa matrona, per muitos dias: contudo acfelhada
de Ioam de vlhoa feu cunhado, & defefperada de fe
poder defender dos continuas combates q lhe cada dia
dauam, ella deu ho caftello a partido, falua fua peffoa,
& bs, & de todolos q dtro ftauam, & ho entregou
a elRei : ha alcaidaria mr do qual, & affi da villa
elRei deu a Ioam de vlhoa. Paffando affi eftas coufas
'-""""-- - -
DoM loAM.
147
elRei dom Afonfo teue taes intelligenias com loam de
porras, peffoa prinipal na idade de amora, que fe-
guio fua parte, & ha fez tambem feguir Afonfo de
valena, marichal de Caftella, feu genrro, & alcaide
mr da idade, do q fendo erto fe foi loguo l com ha
Rainha fua efpofa,onde foram reebidos folemnemente,
quomo Reis, & fenhores dos Regnos de Caftella, affi
. polo arebifpo de Toledo, que j hi eftaua, & outras
peffoas prinipaes, quomo polos gouernadores da i-
dade: ho que feito e IRei confirmou de nouo Afonfo
de valena ha alcaidaria mr da idade, & caftello, &
fez Ioam de porras veador de fua cafa, per confenti-
mento de Pero de foufa, cujo ho offiio era, q per
outras meres q lhe fez lho foltou, & deu ha capitania
da ponte de ainora a Francifquo de valdes, fobrinho
de Ioam de porras, filho de ha fua irm. Acabados
todos eftes negoios em amora elRei fe tornou com
ha Rainha pera Touro.
CAP. liiij. De quomo e/Rei dom Fernando veo fobre
Touro, & ho que hi fe'{.
E LRE1 DOM FERNANDO ftaua nefte tempo em V alledo-
lid, fazendofe preftes pera vir bufcar elRei dom
Afonfo, & lhe offreer batalha, do q moftraua ter
gram defejo, polo q jto feu exerito c ho que ha
Rainha donna lfabel fezera no Regno de Toledo, &
com hos de Segouea, & Dauila, q fe ali ajuntaram, fez
alardo, & achou que tinha cfigo quatro mil hones
darmas, b encaualgados, & oito mil ginetes, & trinta
mil homs de p. Com efte exerito repartido em xxxv.
capitanias fe partio de Valledolid pera Touro, tomando
. ,
CHRONICA DO PRINIPE
feu caminho pela parte direita aho longo do Douro,
& chegou s aenhas q fe d i z e m ~ de Ferreiros, q eram
de Pero de mendanha, alcaide de Crafto nunho, q tinha
ha parte d.a Rainha donna loanna, & has fortificara de
ha ba fortaleza, ha qual elRei dom Fernando man-
dou combater, & ha tomou per fora, & a xxx. homs
dos q ftauam dentro mandou enforcar, ho q feito fe
partio aho outro dia pera Touro, onde fteue, com toda
fua gente, em ordenana .diante da villa per efpao de
inquo horas, fperando q faiffe elRei dom Afonfo a
lhe dar batalha, ho q entam nam fez, por ter a efte
tempo fua gente efpalhada polos lugares q por elle fta-
uam. Vendo elRei dom Fernando ha determinao dei-
Rei dom Afonfo, & q da idade nam faiam fe nam
algs caualleiros a efcaramuar con1 hos do campo,
affentou feu arraial, ho q feito mdou dizer a elRei
dom Afonfo, per hum caualleiro de fua cafa, per nome
Gomez manrriquez, q fe lembraffe do recado q lhe man-
dara per Rui de foufa, & de quomo lhe refpondera q
de hum tal, & tam nobre Rei quomo elle, hauido por
tam jufto, & tam b caualleiro, fe nam podia fperar
guerra injufta, mas q pois j maos confelheiros, & de-
fejo de regnar em Regnos q lhe nam perteniam, _ho
trouxeram a fiado de fe ver pofto em erquo, lhe re-
queria da parte de Deos, & da fua pedia, quomo feu
bom parente, fe quifeffe tornar paificamente pera feu
Regno, com fua fpofa ha Infante donna loanna, qual
per nenh direito diuino, n humano podia pertener
ha fuceffam dos Regnos de Caftella, & Leo, pois
nam .era filha delRei dom Anrrique, quomo a todo ho
mundo era notorio, & fobre tudo ifto pera fua limpeza,
& defcargo de fua confienia, era contente de poer
ho juizo defie negoio mos do Papa, & daria fegu-
DoM loAM.
149
rana a eftar polo q fua fantidade ordenaffe, c tanto
q elle fezeffe ho mefmo, & q fe mouido de feu parti-
cular proueito, & cobia de acquerir herana q lhe
nam pertenia, nam aceptaffe efte partido, q elle por
euitar mortes, & damnos lhe offreia outro mais breue,
& acoftumado entre caualleiros, ho qual era de ambos
entrarem e reto, peffoa por peffoa, ou tantos por tan-
tos, & com aquelle q veneffe ficaffem liuremente hos
Regnos, & fenhorios de Caftella, & Le, & nelles
deffe h aho outro em logar de dote, & legitima, por
refpeito de fuas molheres, aquillo q peffoas de bem,
& virtuofas ordenaffem, & julgaffem fer jufto, & ho-
nefto.
CAP. lv. Do que e/Rei dom Afonfo refpondeo a e/Rei
dom Fernando.
O
VVIno POR elRei dom Afonfo ho recado delRei
dom Fernando, lhe refpondeo per Afonfo fer-
reira, fidalgo de fua cafa, q fe fpantaua muito lhe
mandar tal meffage, & tam fora de tempo, porq antes
delle entrar em Caftella fe houuera de falar em con-
erto, ho q j agora era efcufado, porq entre i ~ i g o s
armados poucas vezes fe faziam bas preitefias, ca hs
com cuidarem q tinham ha viloria erta, por ferem
mais poderofos, nam queriam aceptar fe nam partidos
auantajados, & outros pofto q fe achaffem mais fracos,
pondo fua confiana no bom direito q lhes pareia q
tinham, fe auenturauam a todo cafo de fortuna, tomando
por milhor partido morrer q aceptar condies defi-
guaes calidade de fuas peffoas : & j q lhe aprouuera
de armado lhe mandar cometter tal partido, lhe fazia
150 CHRONICA DO PRINIPE
faber q quanto aho recado q lhe mandara per I
foufa, q lho mandara quomo a primo, & amigo
elle em Valledolid em feus paffatpos com fua 11
ha prinefa donna Siilia, q era ho proprio tempc
fe feus negoios trattarem, quomo entre amig
parentes fe deue fazer, no qual fora rezam q e
[pondera mais a propofito do q ho entam fez: ~
que em tempo mais fazoado de dar batalha q de
quieto conCelho, lhe mandaua dizer q fe foffe fm
Regnos de Caftella, q ho mefmo lhe pedia q f,
& lhe affeguraria fua ida, & a todolos q com c
quifeffem ir, & q quomo ifto teueffe feito era co
de poer fua juftia, & direito mos do Papa, &
polo q julgaffe, & q quanto aho defafio de fuas pc
q diffo era muim contente, q fe effinaffe pera
trane lugar erto, mas q pera fegurana do
dor ifto fe nam podia fazer fe nam dandoffe d
& da outra parte honrrofos arreies: q eftes folE
Prinefa fua molher, & da fua ho feria ha F
donna loanna fua fpofa, per cuja caufa ambos ~
uam poftos em armas, & q fe deftas condie
foffe contente, q ftaua preftes pera lhe dar b ~
quomo fperaua em Deos fazer muim edo, em
mos punha ho juizo defte feito.
" - - - ~ - ----------------
DoM loAM.
CAP. lvj. Da repn"ca que elRei dom Fernando fet
repo}Ja delRei dom Afonfo, & do q fe mais paffou
nft!les recados, & de quomo elRei dom Fernando
leuantou feu arraial, & fe foi pera Medina dei
c a m p o ~ & doutras particularidades.
DEPOIS QVE ELREI dom Fernando ouuio a repofta dei-
Rei dom Afonfo, bauido fobrella cfelbo, lhe man-
dou dizer poJo mefmo Gomez manrriquez, q pois fua
vontade era de com elle vir a particular defafio, q effa
era ha mefma q elle tinha, q pera fe ifto poer logo em
obra, & pera fegurana dambalas partes elegeffe dous
Caftelhanos, & elle elegeria dous Portuguefes, q foffem
boms de bem, & de ss confienias, & hos Portugue-
fes q elle tomaua foffem ho duque de Guimares, & bo
conde de Villa Real, & elle efcolbeffe dos caualleiros
Caftelhanos quaes lhe pareeffe : hos quaes quatro de-
putados, com igual numero de caualleiros, lhes alfegu-
raff ho campo. E defte modo poderiam per fuas pro-
prias peffoas acabar ha contenda em q eram, fem mais
derramamento de fangue, nem outro nenhum dno de
feus fogeitos, & valfallos: & g quto era aho dar dos
arrees q nam parecia coufa juil:a querer elle cparar ha
Rainha dna Ifabel c ha Infante dna loanna, mas pera
fe ifto poder com rezam igualar, elle era contente de
poer em gaia de fegurana ba Prinefa fua filha, & da
Rainha donna lfabel, & ha filha dos mres fenhores dos
Regnos de Caftella, qual lhe a elle aprouueffe, & q elle
de fua parte, pera fegurana defte tratto, pofeffc: ha lo-
fante donna Ioanna fua fpofa. Aho q effiei dom Afonfo,
anojado da diferena q feu contrairo queria fazer na cali-
dade das pelfoas deftas duas Prinefas
1
lhe refpondeo
poJo mefino Afonfo ferreira, que nam fe fazendo ho q
I 52 CHRONICA DO PRINIPE
elle pedia, fe nam teria por feguro, nem aceptaria
fafio, fe nam ho dar da batalha. Neftes recados fe
ram tres dias, q foi ho fpao q elRei dom Fernanc
feu arraial affentado diante da idade de Touro, r
tempo Pero de mendanha, capitam de caftro nu
tinha ha parte delRei dom Afonfo, veo a Touro c<
zentos, & inquoenta de cauallo, & lhe dixe q fe 1
nha vontade de pelejar com elRei dom Fernando
lhe faria leuantar bo arraial antes de inquo di
q affi fez, porq com ha gente q tinha, & doutro
tes feus vezinhos teue tal aftuia, com q tota
tolheo nam poderem vir aho campo has vituaU
mtimentos neeffarios pera tanta multidam de
do q fe feguio tamanha, & tam fubita fome, .
dom Fernando foi cftrgido leuatarlfe de fobre r
mas ifto nam foi fem gram perigo dos capitl
grandes q com elle ftauo, porq hos foldados n
nham que aquella fobita fome, & falta de mti1
era pura treiam feita, & ordenada por e l l e ~
todos fecretamente ero da parte dos PortuJ
pondoffe em ponto de hos quererem faquear, & r
ho q de feito fezeram, fe ho mefmo Rei dom Fe1
em peffoa hos nam paificara, & lhes dera a eil
q ha culpa proedia da muita vigilania q hos
teueram em lhe vedarem hos mantimentos, & I
q elle mefmo teuera em ordenar ho q fobre iffo
uera muito antes fazer. Efta partida delRei d01
nando, & caminho q leuou atte Medina do ca
fez com tanta defordem, & defconerto dos ca
& foldados, q ha opiniam affi dos Caftelhanos
dos Portuguefes foi, q fe lhe elRei dom Afonfo
ho alcane., q naquelle dia acabara todos feus ne
& fic:ara paific:o Rei, & fenhor de Caftella, &
DoM loAM. I 53
mas paree q Deos per feus occultos mifterios nam
quis entam, nem depois permittir q ha coroa delles fe
ajtaffe de Portugal, porq feparados eftes Regnos,
feu fanao nome por cada hum delles foffe, quomo ho
cada dia he, mais conheido, exalado, & glorificado,
ho q per induftria, & trabalho dos Reis deftes dous
, Regnos, do Oriente aho Ocidente vai em tanto cre-
fimento, q fe Deos por noffos pecados nam quifer fe-
char naam Caftelhana, & Portuguefa has portas q
lhes per fua graa quis abrir, dos mares, & terras q tem
achado, fe podefe fperar q em breue tepo ho vniuerfo
feja defcuberto, & nelle ouuida, pregada, & reebida
fua fanla f.
CAP. lvij .. Do que ejles dous Reis fe'{_eram depois dejle
negoio de Touro, profeguindo cada hum delles na
guerra q tinham comeada.
H A RAINHA donna Ifabel ftaua nefte tempo em Tor-
defilhas, ha qual quomo foube da tornada delRei
feu marido, loguo fe veo a Medina do campo, onde
quomo valerofa Prinefa, com varoil animo, & generofo
coraam, reprehedeo mui afperamete todolos capites,
& fenhores q com elRei feu marido foram, do grde
erro q tinham comettido, em tam vergonhofamte le-
uantarem ho erquo de Touro, & darem niffo feus pa-
reeres, & confelho : nem elRei mefmo ficou fem ha
fua reprehenfam, da parte que lhe bem cabia, hos quaes
depois de ferem em Medina fouber de feus contadores
mres, & thefoureiros q todo ho dinheiro, prata, &
ouro, q ficara delRei dom Anrrique no caftello de Se.-
gouea, em poder de Andr cabreira era j defpefo
2
- - ~
CnRONICA no PluNIPE
pola qual rezam quifer lanar pedido, & peita, pera
aiuda de fuas neeffidades, mas foram aconfelhados de
ho nam fazerem, por nam alhearem de fim hos cora-
es dos pouos e tempo que tinham mais neeffidade
de lhes alargar hos tributos ordinarios, q de poer ne-
hs nouos ; ho qual confelho lhes pareeo bem, & porq
ho tempo era tal q foradamente fe havia de bufcar
modo de ajuntar dinheiro, ordenaram pelos milhores
modos q poder, fem nenh fcandalo, nem fora, pe-
direm s egrejas empreftada ha metade de toda ha
prata, q nellas nam feruia ordinariamente pera ho culto
diuino, ha qual petiam lhes ho ecclefiaftico cedeo
de ba vontade, de q fezeram ha gr foma de di-
nheiro, q lhes entam veo bem a prepofito. Nefte tempo
ho conde de Paredes, q fe chamaua meftre de Sanl:iago,
per mdado delRei dom Fernando, fez guerra aho
meftre de Calatraua, & aho conde de V renha, fobrinhos
do marques de Vilhena, polo q ho meftre nam pode
vir em peffoa, nem mdar fua gete a elRei dom Afonfo,
por della ter neeffidade pera guarda de fuas terras :
& ale defta guerra feita aho meftre de Calatraua ho
conde de Paredes fez tanto damno ahos vaffallos, &
fogeitos do marques de Vilhena, q hos mais delles fe
lar da parte delRei dom Fernando, entre hos quaes
hos moradores da villa de Vilhena ercar ho caftello
da mefma villa, & ho tomar per fora com mattare,
& predere muitos dos criados do marques q dentro
ftau, & affi hos defta vila quomo algas outras do mar-
ques fe deram a elRei dom Fernando condio q ficaf-
fem logo juntos coroa de Caftella, fem nca fere
dados a outro nenh fenhor : has quaes mudanas foram
azo de nem ho marques, nem ho meftre de Calatraua,
nem ho duque Dareualo, nem ho conde de Vrenha, &
- ....... _ - - - -
-.. -
r- - .
DoM loAM. I 55
outros fenhores q eram da parte Portuguefa podere
acudir com ha gente com q eram obrigados feruir a el-
Rei dom Afonfo, fegdo forma de feus contrattos. Mas
pofto q as coufas fucedeffem defte modo, ne por iffo
deixou de mandar requerer a eftes fenhores, & a to-
doias outras peffoas, & villas q eram nefta liga, pedin-
dolhe q nam faltaffem de fe virem com has
inquo mil lanas com q eram obrigados a ho feruir,
em quanto andaffe em Caftella : com ha qual gente, &
com ha q configo tinha, determinaua ir bufar feu c-
trairo, & lhe dar batalha, aho q refponderam q efta-
uam todos preftes com ha gente que lhe tinham promet-
tida, & q ha culpa de fe nam virem parelle nam era
fua delles, fe n do tempo, quomo mui be fabia : por
cujo refpeito tinham ha mr parte della fpalhada polos
lugares, villas, & caftellos, q por elle ftauam, mas q
com ha mais q podeffem ho viriam feruir, & q diffo
foffe feguro.
CAP. lviij. Dalgs conertos q .fe comearam a trattar
entrejles dous Reis, per meo de dom Pedro de men-
cardeal de Cajlel/a, hos quaes nam houueram
e.ffelo.
H o ALEVANTAR do erquo de Touro, & tornada dei-
Rei dom Fernando pera Medina do campo, que-
brou muito hos animos de todolos q eram da fua parte,
& auiuentou hos dos q ha tinham pola Rainha donna
loanna, polo q elRei dom Fernando, com ha mr diffi-
mulaam q pode determinou, per meo de dom Pedro
de mendona, cardeal de Caftella, fazer alg b con-
erto com elRei dom Afonfo,. ho q affi affentado, h o
I 56 CHRONICA DO PruNCIPE
cardeal per h feu familiar de q muito confiaua, fcre-
ueo em gram fegredo ha carta a elRei dom Afonfo,
em q ho exortaua a todo bom conerto de paz, ifto
quomo de fim mefmo, offreedoffe a querer fer ho me-
dianeiro, c tto q foubeffe primeiro fe fua Alteza te-
ria diffo gofto, & lho reeberia em ferui_o. ElRei dom
Afonfo, & hos do feu cfelho be entenderam n vir ha
tal offerta do cardeal, fe nam delRei dom Fernando, &
da Rainha donna Ifabel, & moftrandoffe frio no cafo
refpondeo aho cardeal, q quomo ha paz foffe coufa q
Deos tanto amaua, & encomedaua, quomo elle milhor
deuia faber, por rezam de fuas letras, & dignidade, q
falandoffe nella feu nome tinha tanta fora q todo
hom por brauo, & fero q foffe ha ouuia nomear de
ba mente, & pois ifto fe achaua em peffoas de tal ca-
lidade, com rezam fe deuia muito mais defperar nos
Reis, & grandes fenhores, ahos quaes Deos dera ha
terra pera ha poffuirem, & com paz, ju-
ftia, & verdade, ho qual f refpeito ho moueria a
entender nella : mas q queria primeiro faber delle ha
vontade do Prinipe dom Fernando, & da Prinefa
donna lfabel fua molher : que quomo iffo foubeffe, &
has condies q queriam de paz, elle haueria fobre iffo
confelho, & refponderia com breuidade tudo- aquillo
que a bem della, & refguardo de fua honrra conuieffe.
Ho cardeal quomo reebeo efta carta deu conta a el-
Rei dom Fernando, & Rainha donna liabel do q
paffaua, per cujo pareer tornou outra vez a mandar
ho mefmo meffageiro a elRei dom Afonfo, c recado
que hos ditos Reis er contentes de trattar da paz, &
quto s condies della, q iffo punham em feu peito,
q elle has declaraffe, porq fendo taes q fua honrra
delles nam foffe l_llafcabada, pofto q do feu lhes cu-
. -
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- -
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DoM loAM.
ftaffe, q por feruio de Deos, & b de feus vaffallos
lhe refponderiam de maneira q n vindo a conerto,
fe faberia per todo mundo nam fer ha culpa fua delles,
fe n delle nam querer cdeender a nenh bom partido.
Sobrefta repofta teue elRei dom Afonfo confelho, no
qual houue varios pareeres, porq hos Caftelhanos q
~ o m elle ftauam per nenhUm modo queriam confentir
em fe falar nella, reeando q depois de feita, elRei
dom Fernando poderia executar nelles fua vtade: hos
Portuguefes polo ctrairo, porque defejauam de fe tor-
narem pera fuas cafas, & fazer fim defta guerra, q ha
mr parte delles feguia mais por cprazer a feu Rei,
& fenhor, q por vontade q de ha fazer teueffem : mas
tudo bem trattado, & defputado, elRei dom Afonfo
cfiderando, per b, & maduro cfelho, quantas difficul-
dades fe oppunh j a feus negoios, vifto q ho marques
de Vilhena, & todolos outros fenhores, caualleiros,
& villas q tinham tomada fua parte, conftrangidos da
guerra q lhes elRei dom Fernando fazia n podiam
cprir com ho q lhe tinham promettido, refpondeo aho
cardeal, q elle aceptaria paz, & amizade com hos
Prinipes dom Fernando, & donna lfabel polo modo
feguinte: q vifta ha auo q elle quomo fpofo da Rai-
nha dna Iona, filha delRei dom Anrrique tinha nos
Regnos de Caitella, lhe foltaffem liuremente alga parte
do fenhorio della, & q efta feria _ho Regno de Galiza
c todos feus termos, & fenhorios limitados, & has
idades de amora, & Touro, com todos feus caftellos
& termos, pera liuremente ajtar tudo coroa de Por-
tugal, fem nenha claufula de tributo, nem obrigaam
de feruio, & q alem difto lhe hauiam de pagar pera
ajuda das defpefas, q naquellas guerras tinha feitas,
ha tal foma de dinheiro, qual foffe julgada, & arbi-
I 58 CHRONICA DO PRINIPE
trada per homes de ba, & fam conienia, & q ha-
uiam . de perdoar geralmente a todolos q contrelles
foram naquellas guerras, & reftetuillos em fuas honr-
ras, & dignidades, & tornarlhes todos feus bes, afli
proprios, quomo da coroa de Caftella, q lhes confif-
cados, & tomados foffem, do qual modo . dadas dam-
balas partes has feguranas neeffarias fe tornaria pera-
Portugal : s quaes condies ou a parte dellas elRei
d Fernando, c hos do feu cfelho, fe inclinara de
ba mente, fe ha Rainha donna Ifabel a iffo n refiftira,
ha qual refpondeo a elRei dom Afonfo, per meo do
mefmo cardeal, q pofto q has coufas efteueffem t du-
uidofas quomo ftauam, q nem por iffo ella hauia de
fazer partido nenhum per q houueffe de dar villas, ne
terras da coroa de Caftella pera fe ajtarem de Por-
tugal, q do mais ella era ctente de dar pera fuprimento
das defpefas feitas tto dinheiro, quto bem pareeffe
a juizes arbitros q fe pera iffo tomari, alem do q era
contente de quomo per dote, & honrra da Infante
donna Ioanna dar em fua vida della em Caftella tantas
rendas, qutas b pareeffe, hipotecadas fobre bss
villas, & lugares com fuas jurdies, fegdo coftume
dos Regnos de Caftella, & q affi era contente de per-
doar todolos q contrella for, & lhe reftetuir honrras,
dignidades, & fazenda do modo q ho elle requeria, do
q fe nam foffe contente, ella tomaua Deos por teftimu-
nha da rezam que tinha. Eftes recados andaram per
algs dias de ha, & de outra parte, fem fe em nada
poder tomar conclufam, polo q ha guerra fe ateaua
cada vez mais, fazendoffe de ha, & da outra parte
grandes dnos, fem fe a tamanhos males poder dar
algum remedio.
e+ te . rn ,. r e e e ! " _ ~ ... -.,:k--.. ~ " " ' * - c ........_ ____ ..._.__.... ________ . .-._ - - - --- ---
DoM loAM. t5g
CAP. lix. Do recado que hos de Burgos mandaram a
elRei dom Fernando, pedindolhe foccorro ctra
loam de ejlniga, capitam do Cajlello da idade,
& do que fobriffo fe'{.
ESTANDO nos negoios neftes termos veo recado a
elRei dom Fernando dos da idade de Burgos quo-
mo Ioam de eftniga, fobrinho do duque Darevalo,c
muita gente q dentro no caftello da idade tinha lhes fa-
zia grdes males, & dnos roubandohos, mattandohos,
& captiuandohos, ahos quae.s trabalhos, q cada dia fo-
friam fe ajtaua outro mr, q era pareerlhes q pouco a
pouco h idade fe deftroiria de todo, por quanto lhes
tinha j com engenhos derribadas mais de trezentas
cafas das q eram mais chegadas aho caftello : q alem
difto lhe fazi faber quomo d Luis da cunha, bifpo
da mefma idade, c muita gte q trazia de cauallo,
fazia tanto mal pola comarca, q trabalhofamte fe lhe
poderia refiftir : polo q lhe pedi que com ha gente q
houueffe de mandar vieffe alga de cauallo. ElRei dom
Fernando, &. ha Rainha donna Ifabel for mui triftes
com efta noua, porque parte donde pendeffe ha i-
dade de Burgos quella hauia de pender ha mr parte
das outras idades, fenhores, & caualleiros do Regno
de Caftella, polo q mandar logo dom Afonfo de are-
lhano, conde Daguilar, & Pero manrriquez, & Sancho
de roias, fenhor de Cauia, & h capitam q fe chamaua
Steu de villacrues t a Burgos com ha mais gete q ent
poderi ajtar' hos quaes em chegdo poferam erquo
aho caftello, & affi mefmo egreja de fanaa Maria ha
brca, dentro da qual hauia muita gente de guerra, &
_1 Na edio paimitiva l-se : villa crees.
160 CHRONICA DO PRINCIPE
~
ha tinham toda aho redor do adro forteficada de ba-
ftilhes, & vallos mui fortes, donde hos mais dos dias
faiam contra hos da idade, & lhes faziam muito dno.
Alem difto h os do caftello pofto q fteueffem ercados,
nem por iffo deixauam de fair aho cpo, per minas q
tinham feitas, fazendo pola comarca muitos males, &
roubos, aho q nem hos do exerito, nem hos da idade
podiam refiftir : do q eftes capites mandaram recado
a elRei dom Fernando, ho qual determinou em peffoa
focorrer com ha grolfa companhia de Bifcainhos, &
Lepufcos, & Gafces q lhe entam chegaram, leuando
tambem configo d Afonfo, duque de villa Fermofa,
feu irmo baftardo, q ho veo feruir neftas guerras c
mui ba, & luzida gte, & affi ho .almirante feu tio,
com .ho condeftabre de Caftella. Quomo elRei chegou
a Burgos, mandou ercar ho caftello, & ha egreja de
noffa Senhora, & contra vallar hos vallos, & foffados
q tinham feitos doutros vallos, & cauas mui fortes,
de maneira q per nenha parte podiam fair hos de
dentro. Ifto feito teue por milhor confelho combater
primeiro ha egreja q ho caftello, porq d.epois de ga-
nhada teria menos negoio. Efte combate fe deu com
grande inftia, mas hos de dtro, q feriam quatroen-
tos, fe defenderam quomo bs caualleiros c hos mais
delles ficarem feridos, polo q por lhes faltarem j hos
mantimentos, aconfelhados dos amigos, & parentes, q
algs tinham no arraial, q fe faifem, & foffe cada h
pera onde lhe aprouueffe, vier a fazer partido faluas
vidas, & bs t. Nefte tempo veo recado a Rainha donna
t Na edio primitiva l-se: .... acselhados dos amigos, & pa-
rtes q algs tinho no arraial, q vier a fazer partido ,;;aluas vidas,
& bs, se sassem, & fosse cada bu pera onde lhe aprouuesse.
o zdbz -- - - - ~ - ~ - -- ...... -
I
L ___ -
DoM toAM. 161
Ifabel dos da idade de Leam de quomo Afonfo blanca
trattaua de entregar has torres da idade, cujo capitam
era, ahos Portuguefes, do qual recado foi mui trifte,
por ver taes duas idades quomo Burgos, & Leam,
em fiado de has poder perder, do q conftrangida fe
partio loguo de V alledolid com ha gente q pode ajtar,
& continuos de fua cafa, & mr preffa que pode fe
foi a Le, onde depois de faber ha verdade do q nefte
negoio paffaua, tirou ha capitania a Afonfo blca, &
ha deu a Sancho de Caftella, & mudados outros offi-
ios de cujos offiiaes fe tinha fufpeiam, deixdo ha
idade paifica, & hos negoios della afetados, fe tor-
nou pera Valledolid ..
CaP. lx. Do que e/Rei dom F..,ernando fe"t depois de ter
ganhada ha egre;a, & de quomo loam de e;jluniga
auisou ho duque Dareualo, & ho duque a e/Rei dom
Afonfo do trabalho, & apetto em q jtauam.
DEPOIS DELREI DOM Fernando ter ganhada ha egreja
de Burgos foube q no Caftello no hauia outra
agoa fe nam ha de hum poo muito alto q ftaua no
meo do pateo, & . porq lhes efta. agoa faltaffe, deter-
minou lha gaftar com minas, has quaes mandou fazer
c muita diligeia, mas hos q ftauam no caftello fen-
tindo ho tom da obra, fofpeitdo ho q poderia fer, fe-
zer contraminas, c que fenctraram, em que hauia
cada dia entrelles crua, & braua peleja. Stando hos
do caftello nefles trabalhos, & muito faltos de manti-
mentos, & effes q eram quafi corruptos, loam de eftu-
niga teu e tal meo, que por. expreffo meffageiro auifou
.. ~
ho duque Dareualo feu tio, fazendolhe faber ho traba-
II
CHRONICA DO PRINIPE
lho em q ftauam, & q fe detro de erto tempo limitado
hos nam focorreffe, feriam cftrangidos darefe a elRei
dom Fernando, porq j nam tinham foras, ne vitua-
lhas, ne gente pera fe defendere. Ho duque Dareualo
quomo reebeo efte recado, fcreueo logo a elRei dom
Afonfo dizendolhe que fe queria fer Rei de Caftella,
acudiffe a efte erquo, porq fe hos ctrairos ganhaffem
ho caftello de Burgos, foubeffe de erto q ha mr parte
dos Caftelhanos penderiam banda delRei dom Fer-
nando, ho q aconteendo bem podia cuidar has diffi-
culdades q fe hauiam de oppor a todos feus negoios.
CAP. lxj. De quomo e/Rei dom Afonfo determinou {o-
corre, ahos do Cajiello de Burgos, & do q fobriffo
fe1.
R EEBIDO ESTE RECADO fez loguo elRei dom Afonfo fua
gente preftes, da qual lhe faltaua ba parte, affi
por caufa das doenas, de q muitos morreram, quomo
por ferem algs delles tornados aho Regno, c tudo
c effa q tinha fe foi de Touro pera Areualo, onde ho
duque ho ftaua fperando, pera dali tomare ho caminho
de Burgos. ElRei leixou ha Rainha c fua cafa orde-
nada em Touro, & em fua guarda por feu gouernador
Lopo dalmeida, & por fua aia; & camareira mr donna
Beatriz da fylua, fua molher. Stando elRei em ~ r e u a l o
fe vieram parelle ho arebifpo de Toledo, & ho mar-
ques de Vilhena, com outros fenhores bem acompa-
nhados de gente de guerra, & na detena q fezeram,
q foi mr do q conuinha aho negoio q tinh pera aca-
bar, lhes adoeeo de frulas, & do vio da terra, &
morreo muita gente, q foi caufa de fe partirem mais
'
~
1
I
_ _j
DoM loAM. t63
edo do q ho fezeram, detidos por varios, & porlixos
confelhos, q cada dia tinham no modo de fe defercar
ho caftello de Burgos. Antes q partiffem Dareualo ra-
teficaram outra vei de nouo feus contrattos, & hos fo-
lemnizaram com todos prometterem de f elRei dom
Afonfo, & ha Rainha donna loanna fua fpofa conhe-
erem por Reis de Caftella, & Leam. Ha . Rainha
donna lfabel no tpo q elRei d Afonfo, & eftes fe-
nhores fe ajuntaram em Areualo, ftaua em V alledolid,
q fabendo fuas tenes, & ho caminho q queria tomar
determinou lhempedir hos paffos, pera ho q defpedio
logo toda ha gente de guerra que naquelle inftte podia
ajuntar, ha qual partida em tres capitanias, deu ha ha
a Goterre de cardenes feu thefoureiro mr, pera j
foffe a Medina do campo, ha outra capitania deu a dom
loam da fylua conde de ifontes, mandandolhe q fe
foffe a Vlmedo, ha tereira companhia defla gente m-
dou comarqua Dareualo, encomendandolhes q procu-
raffem quanto nelles foffe, por defenderem aquellas
terras, & fazerem de modo q hos pouos, & laurado_res
dellas com feu abrigo fe teueffem por feguros da gente
I delRei dom Afonfo, & trabalhaffem .de lhempedir ho
l-
i caminho de Burgos. Mas ho conde de ifontes, q era
I
'
I
manebo defejofo de ganhar honrra, em lugar de fe
ir a Vlmedo, fe foi caminho Dareualo, onde fe pos em
ilada jto da villa, embofcado dentro de hum alto, &
bafio fpinhal, & dali mandou algs dos feus correr atte
ho arraial delRei, que ftaua junto da villa, mas affi
do arraial quomo della lhe fairam aho alcane, atte
chegarem aho fpinhal, onde ho conde jazia em ilada,
da qual fe logo defcobrio com toda fua gente em mui ba
ordem. Contudo elle foi venido, & fogindo fe faluo
na villa de Vlmedo, ficando hos noffos no campo ven
L --
CHRONlCA DO PruNCillE
~
edores, q com muito defpojo dos imigos,- & algs
delles prefos, fe foram vitoriofos pera Areualo, onde
delRei, & dos fenhores, & caualleiros, q ali ftauo fo-
ram bem recebidos.
~
.
CAP. lxij. De quomo elRei dom Afonfo partio Dare-
ualo per a P11a .fie,, & tomou ha vil/a de Baltans.
D
EPOIS DESTE DESBARATO partio elRei dom Afonfo
Dareualo leuando.cfigo ho arebifpo de Toledo,
& ho marques de Vilhena, com hos quaes, acompa-
nhado de muitos caualleiros, & fidalguos Caftelhanos,
fe foi villa de Pena fiel, q naquelle tpo era do conde
de Vrenha, com tenam de nefte lugar fperar mais
gente, onde por efta caufa, & outros incuenientes fe
deteue alguns dias, mas ha Rainha donna Ifabel, que
em tudo era mui vigilante, quomo foube de fua partida
abalou loguo de Valledolid pera Pala, & com ella
ho. cardeal de Caftella, ho almirte de Caftella, & ho
conde de Benauente, mddo fempre diante efpias pera
faber q caminho elRei leuaua, porque fua tenam era
feguillo atte Burgos, & ir lhe fempre na regaa: & por-
que foube q elRei ftaua de vagar em Pena fiel, man-
dou efpalhar ha ba parte da fua gente polos caftellos,
& villas vezinhos aho lugar, entre hos quaes foi hum
ha villa de Baltanas, oito legoas de Pena fiel, na qual
ho conde de Benauete, contra confelho de todos feus
amigos, quis fer fronteiro a elRei dom Afonfo, com
trezentas lanas q tinha de fua cpanhia, donde man-
daua correr toda aquella comarqua, do que eiRei ano-
jado determinou ir fobrelle, & pera poer em effetl:o ho
que defejaua, mandou diante, per caminhos defuiados,
r.
ea LJIJ!I .... --:--
4
' - ~ -
. .
,.
r.
DoM loAM. 165
...
ho conde de Pena macor com alga gente de fua
guarda, & com elle Rui pereira da feira, & dom Diogo
de crafto, nas cofias dos quaes elle partia de Pena
fiel caminho direito per a Baltanas. Quafi foi . pofto, &
na vella dalua fe ajuntaram todos perto da villa, dde_
antes de fer dia mandou elRei aho conde q fe chegaffe
aho muro ho mais q podeife pera entrar em abrindo
has portas, junto das quaes jaziam j lanados algs
dos noffos de p, ho q aproueitou pouquo, porq eftes
foram fentidos, ho que fabido polo conde de Pena ma-
cor correo logo com fua gente, atte chegar junto do
muro. lfto era j na alua do dia, onde fteue fperando
q faiffe a elle ho conde de Benauente, pera trauarem
fcaramua, & ho deter nella atte q elRei chegaffe, mas
ho conde fufpeitofo q e IRei vieffe nas cofias. daquella
gente, nam quis fair dos muros a fora, mandando
apereber todos pera ho combate q fperaua. Ho conde
de Pena macor fteue diante da villa fperando elRei
tanto fpao de tempo, q fe ho conde de Benauente
faiffe a elle, failmente ho desbaratara_ c ha muita, &
ba gente, & folgada q configo tinha. ElRei chegou
com fua companhia, & munies pera dar combate
villa j duas horas de foi, qual em chegando mandotl
tocar has trombetas, & por has fcadas aho muro,
acodindo a todolos lugares neeffarios em h cauallo,
em q andaua elle f fem companhia nenha, fe nam
de alabardeiros de fua guarda, porque toda ha outra
gente ftaua p, faluo dom Troilos, filho do arebifpo
de Toledo, q ficara com alga gente darmas, & gine-
tes pera fegurana do campo. Efte combate foi mui
brauo, porq ho conde de Benauente era esforado ca-
ualleiro, & tinha C!Jnfigo mui ba gente, entre ha qual
hauia fpingardeiros, & befteiros, de q hos noffos ree-.
166 CHRONICA DO PRINIPE
biam muito dno, contudo ha villa foi entrada, & de-
pois dos noffos ferem dentro, hos lanaram fora, &
mattaram muitos delles, entre hos quaes foi d Aluaro
coutinho .filho mais velho do marichal d Fernando
coutinho, ho q elRei vendo fez de nouo tocar has
trombetas, & cometter ha villa, ifto com tanta inftania
q pofto q hos de dentro fe defendeffem animofamente,
hos noffos hos entraram outra vez, aho q ho conde de
Benauente acudindo peffoa fe trauou ha crua, &
enfangoentada peleja, em q ho mefmo conde de Bena-
ute foi ferido, contudo elles lanaram hos noffos outra
vez fora da villa. ElRei foi defte fegundo recontro
muim indignado, polo que mandou logo ajuntar toda
ha gente do arraial, pera elle mefmo em peffoa comet
ter ha villa, mas ho conde vendoffe ferido, & muita
de fua gente morta, & mal trattada, mandou aleuantar
no muro ha bandeira de paz, pondoffe mere dei-Rei,
ho q lhe benignamente conedeo. Ifto feito ho conde
fe faio da villa com todolos q dentro ftau defarmados .
ahos quaes elRei deu liberdade, faluo aho conde q re-
teue, & ho pos em guarda do conde de Penella. Eftes
combattes duraram atte hora de vefpera, nos quaes
morreo muita gente, affi dos noffos, quomo dos Cafte-
lhanos: ho q vendo elRei, & quam canfados, & mal
trattados ficaram, affi hos feus, quomo hos venidos,
teue por bem repoufar ali aquella noite, ha qual paffa-
ram todos ho milhor q poderam, comendo, falando
1
& folgando hs com hos outros, quomo amigos, atte
ho outro dia, no qual fe foi elRei pera Pena fiel a l ~ g r e
de feu venimento, & hos venidos fe foram pera onde
lhes aprouue. Defte negoio foram elRei dom Fer-
nando, & ha Rainha dna Ifabel mui triftes, prini-
palmente pola prifam do conde. de Benaute, porq
~ ~ . . , ~ - ~ - ~ ~ -
1.
i
DoM loAM.
alem de fer muito bom caualleiro, era delles be querido,
& amado.
CAP. lxiij. De quomo per fofpeita que e/Rei dom Afonfo
teue dos de amora, fe tornou de 'Penna fiel pet .. a
Areualo, & de quomo tomou ha villa de Canta/a-
pedra, & fe veo Dareualo a amora.
S
TANDO ELREI. EM Penna fiel teue cfelho fobelo ne-
goio do caftello de Burgos em que houue varios
pareeres, porq hos Caftelhanos diziam que h o foffe
focorrer qumo coufa q lhe tanto importaua, q fe ho
perdeffe tinham por coufa aueriguada feus negoios .
fucederem aho ctrairo do q cuidaua. Hos Portugue-
fes mais defejofos de verem ha fim defta guerra, q co-
biofos de ha feguirem, diziam q ho caftello de Burgos
nam importaua tanto por que houueffe de poer fua
peffoa a tamanho rifquo, & ventura, q milhor lhes pa-
reia tornarffe fua Alteza a Areualo, ou a amora, ou
a Touro, porq ali eram mais vezinhos a Portugal,
onde cada dia poderiam ter nouas dos feus, & de fuas
cafas, & hauer focorro do Regno com menos diffi.cul ...
dade, qudo lhes neeffario foffe. Paffando ho tempo
neftas contrariedades, chegou ho aueriguador, que foi
darem recado erto a elRei que hos de amora fe
queriam dar a elRei dom Fernando, & que ha coufa
ftaua em termos, q fe logo n acudifle, teueffe por
erto q ho mefmo fariam hos de Touro, polo que aba-
lou loguo de Pena fiel, & fe foi Areualo, antes de ir
a amora, onde lhe foi dito que failmte ganharia ha
villa de Cantalapedra, aho q logo mandou ho conde
de Pena macor, & Rui de mello, com outros fidalgos
--- - ~
'
..
CHRONICA DO PRINCIPE
~ .
q ha entraram, fem acharem refiftenia : qul villa
elRei foi aho outro dia, & orden_ou q ficaffe por capi-
tam della Rui de mello, mandandolhe q hos moradores,
& lauradores trattaffe muito bem, & loguo nefte dia
fe tornou pera . Areualo, onde fteue atte ter recado
erto do q paffaua em amora, que foi tal q lhe con-
ueo partirffe. loguo pera l, & de caminho paffou per
Cantalapedra, & leuou cfigo Rui de mello, deixando
por capitam da villa Pero roiz galuo vandara filho de
Rui galuo, fecretario q fora delRei dom Ioam da ba
memoria primeiro do nome, & do feu confelho, .cujos
filhos tambem foram dom Ioam gaJuam bifpo de Coim-
bra, & Duarte galuam do confelho dos Reis dom Ioam
fegundo, & dom Emanuel primeiro do nome, ho qual
Duarte galuam a cabo de muitos, & affinados feruios
que fez a eftes Regnos, morreo no. mr Darabia, na
ilha de Camaram, indo per mandado delRei dom Ema-
nuel por embaixador a Dauid Emperador, & Rei do
Abexi, cujos offos Franifco aluarez capello do dito
fenhor Rei dom Emanuel, que foi com elle nefta em-
baxada, trouxe configo. lndia, tornando da corte
defte Emperador Dauid, & Antonio galuam, capitam
das ilhas de Maluco, filho do mefmo dom Duarte gal-
uam hos trouxe da lndia a eftes Regnos, & hos fez
fepultar no mofteiro de fam Franifco Denxobregas de
Lisba. Ho fobre dito Pero galuam vandara fez da-
quelle lugar e quanto nelle fteue muitas entradas, &
eftragos em todalas terras, & villas vezinhas que ti-
nham ha parte delRei dom Fernando, & da Rainha
donna lfabel. E tornando a elRei dom Afonfo, depois
q foi em amora hauida enformaam do que paffaua,
trattou tudo ho mais diffimuladamte q pode, fem querer
executar em algas peffoas que mandara prender, has
DoM loAM.
169
penas que lhe tinham mereidas. Nefte tempo ftaua
em amora dha Leanor pimtel duquefa Dareualo,
molher de muita prudenia, & authoridade, & que
elRei dom Afonfo tinha em grande tima, ha qual fez
tanto com elle q lhe aprouue foltar ho conde de Bena ..
uente, com condiam, q elle, nem feus vaffallos nam
feruiffem elRei dom Fernando, nem ha Rainha donna
Ifabel durando aquella guerra, nem daria iffo
ajuda de dinheiro, nem doutra nenha coufa, ho que
ho conde affi fez, & manteue em quanto ella durou,
& pera fegurana, & firmeza diffo deu em arrefes feu
filho mais velho herdeiro, & hos lugares de- Maiorga
1
,
Portel, & Vilhana, nos quaes elRei dom Afonfo pos
feus capites, & gente de guerra.
CAP. lxiiij. Do que ha Raitzha donna Ifabel [e'{ depois
que foube da tornada de/Rei dom Afonfo pera Are-
ualo, & de quomo hos de Vcanha fe deram a e/Rei
dom Fetnando.
H.A RAINHA donna lfabel, que com fua gente andaua
fempre aho rafto do exerito delRei dom Afonfo,
quomo foube de fua partida, & caminho que tomaua
pera Areualo, fegura do perigo em que elRei feu ma-
rido poder a cair, fe e IRei dom Afonfo chegara a Bur-
gos, fe tornou pera Valledolid, & ha gente que configo
trazia repartio polas villas, & caftellos vezinhos, & to-
t Na edio primitiva aMajorca>>? e na linha iqunediata:
170
CHRONICA DO PluNCIPE
~
mada occafiam da tornada delRei dom Afonfo de Pena
fiel, dandolhe corde fogida, pareedolhe q per efte ref-
peito poderia atraher a fim muitos dos que tinha por
contrairos, comeou loguo com fua prudenia, & acoftu-
mada fagaidade, per modos fecretos, & diffimulados,
trattar com elles, q quifeffem feguir fua parte, ho que lhe
fucedeo bem vontade, porque hos negoios delRei
dom Afonfo comeauam de vir em menos reputaam,
affi q em pouquo fpao de tempo ha Rainha ganhou h
vontade de muitas peffoas, villas, & idades, das quaes
logo algas fe declararam por fua parte, & pouco tepo
depois hos que fe primeiro defcobrir foram hos de
V canha, que ftauam polo marques de Vilhena, que
logo auifaram ho conde de ifontes, & Ioam de ribas,
que nefte tempo ftaua em Toledo: hos quaes quomo
ordiram efte tratto lanaram fora da idade todolos
idados, & peffoas que ftauam polo marques, ho que
feito, dahi a pouco lhes chegou focorro do conde de
ifontes, com cuja ajuda, & ba vontade que tinham
de tom2r ha parte delRei dom Fernando, laram fora
da idade toda ha gente de guerra que nella tinha ho
marques, no qual tempo entrou no mefmo lugar loam
de ribas com ba companhia de Toledanos, & affi fi-
cou V canha paifica de todo obedienia delRei d
Fernando. Tto q ha Rainha dna Ifabel ifto foube,
fez mere do lugar a d Rodrigo manrriquez, meftre
de Santtiago : ho marques de Vilhena depois da perda
de V canha, com gente que lhe elRei dom Afonfo deu,
fe partio a focorrer has terras do feu marquefado,
onde depois de fer achou tudo mais deftroido do q lhe
fora dito, porq ho meftre de Santtiago lhe tinha ga-
ftada ha mr parte da terra, & tomadas muitas villas,
& caftellos, & ho que lhe deu mais nojo, & ho teue
...
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.
DoM loAM.
mais fofpenfo, foi achar muitos dos feus apartados de
feu feruio, & da criaaf? que nelles. fezera, das quaes
caufas mouido fcreueo a elRei dom Afonfo, auifandoho
q fe determinaua fer Rei de Caftella, q deuia endere-
ar fuas coufas per confelho dos que ho defejauam no
mefmo Regno, & nam polo daquelles cujo intento, &
vontade era leuaremno pera Portugal, mais defejofos
de irem folgar a fuas cafas, q cobiofos de tamanha
honrra, proueito, quomo era ho do negoio em que
andauam, ho qual fe queria trazer a bom fim com:
breuidade, lhe aconfelhaua, & pedia q logo fe partiffe
caminho de. Madril, ha qual villa elle tinha de fua mo,
cotn muita gente . de guerra, & artelharia, & outras
munies, porq quomo ] foffe tinha taes intelligenias,
q fua Alteza alcanaria tudo ho que defejaua, porq s
terras de Madril eram vezinhas has do meftre de Ca-
latraua, que todas ftauam por elle, das quaes cada vez
que quifeffe, & neefario foffe haueria toda ha ajuda
de gente, & mantimentos, & de quaefquer outras cou-
fas que lhe compriffe. Reebida efta carta elRei dom
Afonfo ha comunicou com hos do feu confelho, hos
quaes . ho defuiaram da vontade que nelle fenti-
ram de feguir ho confelho do marques, dandolhe a
entender q quem em Caftella era fenhor de Burgos,
de V alledolid, & Medina do ca1npo, effe fe tinha por
fenhor de todo ho Regno : q eftes lugares a que entam
era vezinho trabalhafe de ganhar, & nam fe quifeffe
metter tanto pola terra, quomo ftaua Madril, onde lhe
poderia mal vir foccorro de Portugal, fe lhe neeffario
foife, & q alem difto no tempo que foffe aufente fe po-
deria rebellar outra vez amora, & q ho mefmo fari-
am hos de Touro, fem has quaes duas villas poderia
mal profeguir ha guerra que comeada tinha : ho
--
CHRONICA DO PRINIPE
confelho elRei feguio, mas nam com vontade, porq fua
tenam foi deixar amora, & Touro bem prouidas, &
irffe a Madril, quomo lhe h marques fcreuera, ho
qual logo auifou do dos do feu confelho, con-
folandoho com promeffas de muitas meres, que fpe-
raua, & lhe prometia fazer affi em feus Regnos de
Portugal, quomo nos de Caftella, mas ho marques
muim trifte, & anojado de tal repofta, comeou de va-
illar no feruio delRei dom Afonfo, & modos
honeftos, & fecretos pera fe lanar da parte delRei
dom Fernando, & da Rainha donna Ifabel, quomo
logo comeou fazer, com falua de lhe ficarem todalas
terras, rendas, & fenhorios que no Regno tinha feus,
& da coroa, & com perdo do erro comettido, & de
todolos feus. lfto aconteeo no mefmo anno de mil, &
quatro entos, & fettenta, & inquo, no qual elRei
dom Afonfo palas grandes defpefas que era conftran-
gido fazer, pedia muito dinheiro empreitado a feus vaf-
fallos, & porq com toda efta ctia nam podia foftentar
tamanhos gaftos, lhe foi neeffario ajudarffe do dinheiro
dos orfos, das quaes diuidas ho Prinipe dom loam
depois de fer Rei, por defcargo dalma delRei feu pai
pagou has mais que pode.
CAP. lxv. De quomo ho Prinipe dom Ioam tomou ha
vil/a Douguella, & da morte de Ioam da fylua feu
. ,
camarezro mor.
H
o PRINIPE DOM loAM depois da partida delRei feu
pai pera Caftella, trattou todalas coufas que toca-
uam gouerna, & regimto do Regno, com tanta
prudenia, q a todos fazia fpanto em idade taro
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I
DoM loAM.
juuenil tta temperana no adminiftrar da juftia, re-
cado nas coufas da fazentla, vigilania, & aftuia nas
da guerra, no que andando occupado, & affi em softer
has partes do Regno, por onde hos imigos muitas ve-
zes entrauam, & has outras que lhe pareia diffo terem
neeffidade, lhe deram recado em Eftremoz quomo ha
villa Douguella, que tomaram hos caftelhanos ( quomo
atras fica apontado) ftaua com pouca gete, & q fail-
mente ha poderia cobrar aquella noite, por quanto ho
capito della, que era hum bom, & efforado caual-
leiro Caftelhano, que ha ganhara, per nome dom Marti
galindo, eleto meftre da cauallaria Dalcantara, faira
aquelle dia correr ha terra com ba parte da gente que
na villa tinha, & polo menos andaria l dous, ou tres
dias. Ho Prinipe quomo ifto foube, c ha gente que
com elle ftaua, & outra que dos lugares vezinhos pode
no mefmo dia ajuntar, foi aquella noite fobre ha villa,
ha qual em querendo combater, hos que nella deixara
dom Mart galindo vedo q n lhe poderiam refiftir, lha
entregaram paificamente, a condiam q hos deixaffe
fair della, & ir liuremente pera onde lhes aprouueffe,
& porque ho Prinipe nam pode fazer feu caminho
Deftremoz pera Ouguella, c tanto fegredo q ho capitam
dom Mart galindo, que andaua pola comarca, perto
deftas duas villas, ho nam foubeffe na mefma noite, ho
que fabendo fez logo volta, do que fendo ho Prinipe
auifado mandou a Ioam da fylua feu camareiro mr,
q com alga gente lhe faiffe aho caminho, do que foi
mui alegre, porq feu defejo era prouar foras, lana
por lana, com ho capitam dom Martim galindo : ho
trifte effeto do qual defejo paree q naquella hora
ftaua bem erto a ambos, pera com hos feus corpos
partirem ha contenda que fe a todos ordenaua, que foi
'
. ,.:
CHRONICA DO PRINCIPE
do modo feguinte, Ioam da fylua 4uomo lhe ho Prin
ipe dom mandou q foffe em bufca do capitam
Galindo, pofto q j era noite nam arreeou poer em
obra ho que lhe era mandado, polo que fe partio loguo
da villa, & caminhando hum pouco apartado da gente,
hia falando com ha mefma efpia dera ho auifo,
defcuidado de ho capitam dom Martim galindo poder
j fer tam perto da villa quomo era, & entrando per
hum caminho ftreito, ho mefmo dom Galindo entraua
pola outra banda do caminho h pouco adiantado da
fua gente, com tenam de tanto q faiffe daquelle paffo
ftreito ha poer em ordena pera focorrer hos que dei-
xara na villa, cuidando q fiauam ainda dentro. Adian-
tados affi eftes dous capites da gente, pofto q foffe de
noite, em chegando hum aho outro cotn ha claridade
da la fe vier a conheer, & pola vontade que ambos
tinham de prouar fuas foras, fe deram taes encontros
q fem tornarem ahos fegundos cairam ambos mortos
dos cauallos : ha gente que com elles iha. chegou aho
ponto de tamanho defaftre, ho que affi huns quomo
hos outros vendo, fpantados de hos acharem mortos,
fe recolheram cada hum delles pera fua parte, fem
quererem trauar mais briga, q aquella de que feus bs
capitaes foram aueriguadores, leuando cada h ho
corpo do feu, pera lhe dar fepultura. Ho Prinipe foi
em eftremo anojado pola morte de Io da fylua, porq
alem de fer feu camareiro mr, offiio q nam cabe fe
nam em peffoas mui aceptas ahos Prinipes, lhe tinha,
.por elle fer muim prudente, & bom caualleiro, grande
amor, & affeiam, aho que hauendo refpeito proueo
loguo do mefmo offiio Aires da fylua feu filho, que
depois foi da cafa da fuplicaam.
DoM loAM.
CAP. lxvj. De quomo e/Rei dom Afonfo fcreueo aho
Prinipe dom loam q fe vie.ffe ver com elle, &
quomo fobrejleue por caufa de ha treiam que
lh ti11ham ordenada na ponte de amora.
H o EM QVE MAIS trabalhou elRei dom Afonfo, depois
q veo a amora, foi em adquerir has vontades
dos idados, & dos capites, & foldados que na i-
dade, caftello, & torres da ponte ftauam, polo que
alem de perdoar aos que achou culpados, quomo atras
fica fcripto, affi a eftes quomo ahos que lhe eram
leaes fazia ordinariamente muitas meres, na fora
das quaes confiado, perdeo de todo ha suspeita que
dantes tinha, tendoffe por tam feguro deftes Caftelha-
nos, quomo ho era dos Portuguefes, do que confiado,
deu liena a muitos dos feus pera virem a Portugal
prouer em feus negoios, por lhe pareer q no inverno,
que j era entrado, nam teria delles neeffidade: com
ha qual confiana, & muito defejo que tinha de ver ho
Prinipe feu filho, lhe fcreueo que aforrado fe vieffe ver
com elle a amora. Ho Prinipe quomo reebeo ha carta
delRei, deu loguo ordem s coufas que lhe compriam
pera ho caminho, ho que feito fe foi a Miranda do
douro, porq quelle lugar lhe fcreueo alRei q manda-
ria gte darmas que ho acompanhafie atte ha idde
de amora. Stando ali efperando efta gente, elRei lhe
mandou dizer por V afquo mz de foufa chicharro, feu
capitam de ginetes, q nam pafaffe a diante, por quanto
tinha auifo q ho capitam da ponte de amora induzido
por elRei dom Fernando, & Rainha qonna lfabel, tinha
ordenado de ho tomar antre ambalas torres da ponte.
V afquo mz chicharro caminhou com h a mr preffa que
pode atte chegar aho rio douro, ho qual, com ho de-
'
CHRONICA DO PRINIPE
fejo que leuaua de dar efte recado aho Prinipe, paffou j
de noite a nado, a caualo, & armado, auenturandoffe ~
aho impeto, & foras das agoas de h tam largo, &pro-
fundo rio, quomo aquelle. H as quaes nouas fabidas polo
Prinipe defpedindo loguo V afquo mz chichorro, fe
veo idade da guarda, onde ho deixaremos eftar hum
pouco prouendo nas coufas do Regno, pera tornar ho
que aconteeo a elRei dom Afonfo com hos de a-
mora.
CAP. lxyij. De quomo fe ordenou ha treiam da ponte
de amora, & do que e/Rei dom Afonfo niffo fe1
H A IDADE de Camora eft fituada na riba do Douro
da qual fae ,fobelo rio ha ponte com duas torres.
Deita ponte, quomo atras fica dito, deu elRei dom
Afonfo ha capitania a Franifquo de baldes, fobrinho
de Ioam de porras, que lhe della fez preito, & mena-
gem. Efte Franifquo de baldes era da cria da Rai-
nha donna Ifabel, de cujo feruio paree que fe apar-
tou, mais por comprazer a feu tio Ioam de porras, q
por defejo q teuefe de ho fazer, quomo fe depois vio
per obra : polo q confiada ha Rainha nelle fer feu
criado, trabalhou fecretamente de ho atraher de nouo
a feu fervio fazendolhe taes promeffas, c q venido
da criaam, & fobornado da efperana determinou de
lhe entregar ha ponte, fem ter refpeito a fua honrra,
n aho juramento q della fezera a elRei dom Afonfo.
Efte tratto fe acabou de concluir entrelles quafi no
mefmo tempo que elRei dom Afonfo tinha mandado
chamar ho Prinipe dom Ioam, ho qual nam quiferam
poer logo effel:o, fperdo difiimuladamete q viefe,
1-
!
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........... ......
..... . .
DoM loAM.
17.7
pera depois de fer entre has torres da ponte ho
rem no meo, & co_m ha gente que j ha Rainha donna
Ifabel tinha preftes em Vilhalpando, que lhes hauia da-
cudir, quomo ifto fezeffem, fe da. idade.
Defta tream foi eiRei auifado polo doutor Pero de
pareia corregedor da idade, na mefma noite que hos
que ftauam em Vilhalpando eram j partidos pera fe
yirem lanar fecretamente na ponte, tendo por erto
q ho dia era ho etn que ho Prinipe dom Ioam
bauia de vir. ElRei dom Afonfo quomo foi auifado
clefta_. treiam, defpachou Vafquo mz chichorro aho
Prinipe, quomo fica dito, & no mefmo inftante deter-
minou prder Franifquo de valdes, & poer na ponte
outra guarda, mas elle tinha j feus negoios tam bem
ordenados q tudo ho que elRei dom Afonfo depois fez
aproueitou pouco, porq quomo ha Rainha donna Ifabel
ho mandou cometter, elle deu diffo conta a hum caual-
leiro per nome Pero de mazariegos vezinho de a-
mora, & feu lugar tente, hom fabio, & de q fe muito
confiaua, ho qual lhe . aconfelhou q no tam fomente
entregaffe ha ponte Rainha donna Ifabel, mas ainda q
em tudo ha feruiffe, quomo a fua fenhora. Tomado
efte confelho ho tratto foi concluido, & jurado damba-
las .partes,. aperebendoffe de tudo ho q lhes era ne-
effario, ho mais fecretamente q poderam. Ha Rainha
com feu conflho afentaram q tal negoio quomo efte
nam feria tam fail de poer em obra, & fe acabar,
quomo cuidauam, vifto q elRei dom Afonfo ftaua em
amora, & tinha ho cafiello, & mui ba gente de
guerra Portuguefa, & Caftelhana, polo q de coufa tam
importante deui com muita .diligenia auifar elRei
dom Fernando, & lhe fcreuer que dillmuladamente fe
vieffe a V alledolid, com fua vifta, & prefena
12
CHRONICA DO PRINIPE
eftes :negoos po-derem vir a milho r, & mais breue
execuam. ElRei dom Fernando quomo lhe deram
efta noua em Burgos, onde ftaua occupado no erquo
do ca-ftello da idade, fingio q fe achaua mal difpofto,
ifto por confelho da Rainha donna I f a b ~ l q lho affi
fcreueo, & quomo doente fe lanou em cama, dando
conta a poucos do feu confelho do que paffaua, ~ por
ho pareer deftes, com fe cuidar q fua doena era ver-
dadeira, fe nam deixaua vifitar, pera q aufente nam
foffe fua ida fentida, & encomendando ho erquo a
dom Afonfo duque de villa Fermofa feu irmo, & aho
almirante feu tio, & aho condeftabre de Caflella, fe
partio de Burgos mea noite com fs dous de cauallo,
que foram Rodrigo de vlhoa feu contador mr, & Fer-
nam daluarez de Toledo, feu fecretario, & aho outro
dia chegou a V alledolid, onde ha Rainha ftaua. Mas
tornando aho q fe pafou com hos da ponte de amora,
elRei dom Afonfo na mefma noite que foi ertificado
polo doutor Pareia da treiam q ftaua ordenada, man-
dou chamar Franifquo de valdes, aho que hos que
guardauam ha ponte refponderam q fe fora aquelle dia
negoear coufas q lhe compriam. ElRei com efta re-
pofta acabou de crer ho que lhe ho doutor tinha dito,
polo q mandou loguo a loam -de porras q chegaffe
ponte, & de fua parte dixefe a Pero de mazariegos q
teuefe abertas has portas da ponte, porq queria man-
dar alga gente de cauallo correr ho campo, por ver
fe podiam fazer alga prefa nos imigos, que tinha nouas
q andauam efpalhados no mui longe da idade. Pero
de mazariegos refpondeo a Ioam de porras, q fefptaua
de em tempo tam perigofo, & de tantas fofpeitas lhe
mandar q de noite abriffe has portas da ponte, ho que
fe nam atreueria fazer, prinipalmente nam fiando ahi .. :-" .---- -
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1
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DoM IOAM.
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179
Franiiquo de' valdes, cujo lugar tenente era, mas q
quomo fofle manham, elle has mandaria abrir, & faria
tudo ho qQe lhe fua Alteza mandafe. Efla repofta n
(oi muito acepta a elRei, contudo determinou efperar
atte q amanheeffe, porq nam lhe abrindo entam has
portas, fe faberia claramente fer treiam, & teria jufta
caufa de has cometter, & caftigar hos que achaffe cul-
pados.
CAP. lxviij. De quomo e/Rei dom Afonjo cometteo ha
ponte de amora, & defijlio do combate .fem ha po-
der
FRANISQVO DE VALDES, & Pero de mazariegos .viram
bem defies recados delRei que feu tratto era def-
cuberto, polo q logo auifaram ha Rainha donna Ifabel
mandandolhe pedir focorro, & porq lhes pareeo q
elRei no dia feguinte cometteri'a ha pte, toda aquella
noite paffaram em fazer ha parede de pedra, & barro,
pola banda _de dentro ctra ho muro da idade, no que
trabalharam atte ho ro"mper dalua, fem ferem fentidos
dos que roldauam, qual hora elRei dom Afonfo . ti-
nha ordenado q Ioam de porras com ginetes fe foffe
porta da torre da ponte, & mandaffe a Pero de ma-
zariegos q habriffe, quomo tinha dito, pera q em fe
,abrindo entraffe, & fe fenhoraffe della. loam de porras
em chegando mandou recado a Pero de mazariegos q
lhe abrife, pera paffar da outra bda, com ha gente
que ali tinha, a fazer ho que elRei dom Afonfo feu
fenhor mandaua. Hos que efiauam na ponte em lugar
de repofia deram ha grande grita, chamando Cafiella
Caftella viuatn hos Reis dom Ferndo, & ha Rainha
t8o CHRONICA DO . PRINCIPE
~
donna Ifabel fua molher, Reis, & fenhores de Hifpa-
nha: .& juntamente com efta grita, comearam de lan-
ar dardos, & pedras darremeffo, & tras ifto tirar com
fpingardas, & beftas contra aquella parte onde Ioam
de porras fiaua, do que elRei dom Afonfo fendo aui-
fado acodio com muita preffa mandando logo cometter
has portas da torre, & por nifio hos noffos acharem
mais refifienia da que _cuidauam, elRei lhes mandou
poer fogo, de que em pouco fpao foram queimadas,
mas ifto nam abaftou per a fe ha ponte poder gan.Jlar?
porq em fe has portas queimando, & querendo hos
noffos paffar polas chamas do fogo, defcobriram ha
parede, que fe aquella noite fezera, bem forneida de
gente, & artelharia : contudo hos noffos pofio q diante
de fim viffem tamanho perigo, nam deixaram por iffo
de ha cometter, & prouar fe per lanas, & efcadas,
& por riba das chamas do fogo, de que reebiam
muito damno, poderiam fobir fobrella, ho que tudo
aproueitom pouquo, por quto hos Caftelhanos hos fe-
riam bem a feu faluo com tiros de fpinguardas, & outros
darremeffo, com que mattauam todolos que queriam
fobir pola parede, ou chegauam a ella. Efte combate
durou defde pela manh atte horas de vefpera, & du-
rara muito mais, porq elRei eftaua tam aefo em ira
q per nenhum modo defiftira delle, fe a iffo nam aco-
dira ho arebifpo de Toledo, vendo ha muita gente
que era morta, & ho pouco que fe aprQueitaua no COD:-
tinuar daquella peleja, polo que fez tanto com elRei
per bas, & piedofas palauras, atte q ho moueo uer
d, & compaixo dos feus, & lhes mandou q leixaffem
por entam ho combate. Nefia peleja morreram, &
foranl feridos muitos fidalgqs cuios nomes fe nam
acham por fcripto, hos feridos de que fe faz menam
. -
I
I
DoM loAM.
onde de villa Real, & loam de lima, filho
~ lima, qu depois foram bifcondes de villa
rueira, & dom Rodrigo de crafto, filho do
:mfanEto; & dom loam de foufa foi lanado
a baxo, & quomo morto leuado pera cafa:
fe nam nomeam mais q dom Triftam cou-
am aluarez pereira paje de\Rei. Com ha
; dous fidalgos, & dos qne hos chroniftas
, & negligenia nam fazem menam fe aca-
;:ro, & mortfero combate, caufa de todolos
Rei dom Afonfo darem verdadeiro final do
lelles pronofticara no tempo que fe tornou
l pera Areuaio, fem querer ir focorrer hos
le Burgos.
)o que e/Rei dom Afonfo {e{ em amora
'ifle combate, & de quomo Je foi ha noite
com ha Rai11ha Jua /posa pera Touro.
AFoNSO foi pofia em vareos penfameni'os,
1 toruaam era tamanha na idade, com
fe de ha parte, & da outra dauam, di-
n treiam, & tocar dos finos, com tamanha
ido das molheres, mininm, & gente baxa,
a coraam que nam enfraqueeffe, n fifo
toruaffe, & foffe venido de medo, mifiu-
lefacordo, caufa vnica, & prinipal de
1ui efforados caualleiros darem em feme-
S de fim m<\ conta: affi que venido elRei
tos rebates, com pareer do arebifpo de
dalgs Portuguefes do feu confelho deter-
eixar a idade de amora, & irffe pera
CHRONICA DO PRINIPE
Touro, nam aproueitando dizeremlhe hos caualleiros
Caftelhanos, q mandaffe logo lar fora algas peffoas
fofpeitas, & fe nam foffe, pois ha idade, & ho caftello
ftaua por. elle, & tinha configo muita, & ba gente
-pera ha poder defender, & q da ponte nam curaffe,
porq com h muro, que fe logo podia fazer, antre ella,
& ha idade, ficariam mais feguros da ponte q hos da
ponte delles : ho qual confelho aproueitou pouco, porq
ho tempo era tam cheo de confufam, q nam daua
lugar a fe fazer ho que era mais neeffario, fe nam ho
que pareia fer por ento mais feguro, de modo q
elRei venido mais do confelho dos Portuguefes, q de
medo mandou metter no caftello ha recamara que
configo nam podia leuar, & mea noite elle com ha
Rainha fua fposa (ouuindo muitos plantos, & lamenta-
es dos que tinham fua parte, & hos nam podiam
feguir) fe partio caminho de Touro, em cuja companhia
fe foi ho arebifpo de Toledo, & todolos outros fe-
nhores, & caualleiros que ahi com elle ftauam. Do ca-
minho mandou elRei recado a Ioam de vlhoa, fazen-
dolhe faber de fua ida, fofpeitofo q ho nam quifeffe
reeber na idade, indo j determinado, fe affi foffe,
fe ir a Portugal, & deixar ha Rainha no Regno com
fua cafa ordenada, & fe tornar outra vez a Caftella a
feguir fua emprefa : mas loam de vlhoa, quomo bom,
& leal caualleiro, lhe manteue ha f, & menagem que
lhe tinha dado, reebendoho na idade quomo a feu
Rei, & fenhor. No mefmo dia que elRei entrou em
Touro, auifou ho Prinipe D. Ioam per mefageiro ex-
preffo do q paffaua, encomendandolhe per fuas cartas
q com ha mais, & milhor gente q podeffe ajtar, fe
vieffe logo parelle, q fua tenam era em batalha campal
poer ho juizo de todos feus negoios.
'
DoM loAM.
. '
CAP. lxx. Do que paffou em amora ha mefnza noite,
& dia Jeguinte que fe e IRei dom Afonfo foi.
E LREI DOM FERNANDO quomo chegou a V alledolid,
mandou logo recado a Aluaro de mendona, q
com ha gente que tinha em Vilhalpando fe foffe de
noite a amora, onde acharia recado pera ho reco-
lherem na ponte, & q elle no romper dalua fe acharia
no mefmo lugar. Ifto foi ha noite feguinte em q Deos
infpirou aho doutor Pareia reuelar a elRei dom Afonfe
ha treiam que lhe ftaua ordenada. Aluaro de men-
quomo lhe deram ho recado delRei dom Fernan-
. do, tomou feu caminho pera amora, onde chegou
mefma hora em que elRei dom Afonfo partio, ho qual
affi quomo foi dentrq na ponte, fez derribar ho muro
que Franifquo de valdes, & Pero de mazariegos feze-
ram na noite paffada, & com fua gente em ba orde-
nana paffou pola porta, em q ainda ho fogo nam era
de todo apagado, & prendeo muitos Portuguefes dos
que pola fubita partida delRei dom Afonfo fe nam po-
deram fair idade, nem menos faluar no caftello,
porq ho capitam Afonfo de valena fe nam atreueo a
lhes mandar abrir has portas a tal hora, com medo q
de volta tambem hos imigos, de que n1uitos
fe acolheram a S q ft junto. do caftello, onde hos
logo mdou ercar Aluaro de mendona, & combater
toda ha noite. ElRei dom Fernando entrou na idade
em amanheendo, com ha fermofa companhia de
gente darmas, & ginetes, & com elle ho almirante de
Caftella feu tio, que ficara no erquo do caftello de
Burgos, & ho duque Dalua, & ho conde Dalua de
lifte, & outros muitos fenhores, ho que sabendo hos
Portuguefes q ftauam ercados na egreja, _lhe manda.-
CHRONICA DO PRINIPE
ram pedir q fua merce foffe de hos leixar ir com feu
fato pera ond.e lhes aprouueffe, ho que lhes iRei,
quomo Prinipe clemente, conedeo, & fe foram todos
pera Touro, fem lhe hos Caftelhanos a iffo darem
ftoruo, mas antes pera ho fazerem foram ajudados, &
fauoreidos dalgs delles. Quomo elRei dom Fernando
foi em amora, mandou ercar ho caftello, & pera ho
milhor combater fez vir muitas bombardas; & muni-
es de guerra das villas vezihhas, com grande abas-
tana de mantimentos, propondo em fua vontade de
fe nam partir dali fem primeiro tomar ho caftello,
mandando logo confiscar hos bs do marichal Afonfo
de vala, & de loam de porras, & de todolos mais
que hos ali tinham, & feruiam elRei dom Afonfo.
CAP. lxxj. Do que .fe nejle tempo fe'{ no erquo caj-
tello de Burgos, & de quomo hos ercados fe deram
a partido.
E LREI DOM FERNANDO quomo atras fica dito, deixou
em Burgos dom Afonfo duque de villa Fermosa feu
irmo baftardo, & ho almirante feu tio, & ho condeftabre
de Caftella, depois da partida do qual, fendo j ho almi-
rante ido pera ho acompanhar no negoio de amora,
ho duque, & condeftabre defeiofos de feu feruio, &
cobiofos de tamanha honrra, quomo era ganharemlhe
coufa tam importante, apertaram hos ercados com
continuos combates, alem das munies, &
vallos que j eftauam feitos, outros com que" lhes ve ..
daram has entradas, & faidas q dantes acoftumauam
fazer, de modo q por parte nenh-Qa lhes podia vir foc-
corro de gente, nem mantimentos, recado do
-
'
DoM loAM.
termo em que has coufas delRei dom Afonfo
nas quaes tinham pofta fua efperana. Stando hos er-
cados nefte trabalho, hos do arraial, pofto q naquelle
contrairos foffem, nam deixauam de fe doer de
tam bs caualleiros, cujos partes, & muitos
delles eram, . & polos liurar do perigo em que ftauam,
& hos trazerem aho feruio delRei dom Fernando, acor-
daram de falar aho duque de villa Fermofa, & con-
deftabre pera q hos mandafem cometter, porq conftran-
gidos da neeffidade em que ftauam, podia fer q lhe
deffem ho caftello 1iuremente, no que fariam grande
feruio a elRei, a ha por lhe ganharem ho cafiello fem
perda dos feus, & a outra por darem vida quelles
que dentro ftauam, que tambem eram feus vaffallos,
& fe hauia ainda de feruir delles, pofto q jho prefente
lhe foffem ctrairos. Efte confelho pareeo bem aho
duque,_ & condeftabre, pofto q no dia feguinte man-
daram recado a Ioam de eftuniga, quomo per modo de
amizade, dizendolhe q hos negoios delRei dom Monfo
iham cada vez em pior, do qual j fe nam podia fperar
foccorro, & q elles tinham expreffa comiffam delRei
dom Fernando de fe nam partirem dali fem tomarem
aquelle caftello per fora, ou per geito, ou preitefia,
polo q lhe rogauam, & aconfelhauam, quomo a bom
parente, & amigo, cuja vida, & bem defejaum, lho
quifeffe entregar com partido, de que elles, nem elle
podeffem fer tachados, nem fuas honrras mafcabadas.
loam de eftuniga depois q lhe deram efie recado tomou
ho pareer dos prinipaes que no caftello ftauam, hos
quaes todos affentaram q era bem darffe a bom par-
tido, hauendo refpeito aho muro do caftello fiar j
derrubado per dous lugares, & q hos contrairos ftauam
tam fortes, q failmente hos poderiam tomar per com-
186 CHRONICA DO PRINIPE
bate, fe nelle quifeffem continuar quomo atte ali feze ..
-ram, contra ho que j nam tinham foras pera poderem
refiftir por ter ha mr parte da gente ferida, & outra
doente, por refpeito dos poucos, & maos mantimentos
que no caftello tinham, & ho mais darreear era efta-
rem hos negoios delRei dom Afonfo em fiado que,
ainda q quifeffe lhes nam poderia foccorrer : q pois hos
agora rogauam hos contrairos, que lhe fariam milhor
partido, & mais fauo:rauel do q podia fer q fezeffem,
fe defte conerto elles, depois de ho terem engeitado,
foffem comettedores. A Ioam de eftuniga pareeo bem
efte confelho, & pareer de todos, do q J?andou fazer
autos pubricos, & lhos fez aflinar, ho que feito ref-
pondeo aho duque, & condeftabre, q fua teno, & de
todolos calljlleiros, & foldados que no caftello ftauam,
era de lho entregar com condiam que hos deixaffem
hir pera onde lhes aprouueffe, com hos bs, & armas
que podeffem leuar. Ho duque, & condeftabre lhe ref-
ponderam q fobre partido tam auantajado lhe nam
podiam refpC?nder, fem diffo auifarem ha }\ainha donna
Ifabel, que ftaua em Valledolid, mas que atte hauerem
repofta della houueffe tregoas antre elles, pera fe po-
derem ver, falar, & cmunicar hs com hos outros,
ho que affi affentado defpacharam logo ha pofia
Rainha, ha qual fem tomar longos confelhos, nem pa-
reeres, parti o de V alledolid per a Burgos no mefmo
dia em que reebeo ho recado, & no em que chegou
conedeo a Ioam de eftuniga, & ahos que com elle
lauam ho que pediam, & fe foram p e r ~ onde lhes
aprouue: ho que feito ha Rainha deu ha alcaidaria do
caftello a Diogo da ribeira, aio que fora do infante
dom Afonfo feu irmo, & fteue algs dias em Burgos
prouendo em todalas coufas que compriam, affi i
- - - - ~ - - - --------
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l __
DoM loAM.
da de, quomo aho caftello: no qual negoio ccupada
lhe veo recado quomo elRei Luis de Frana entrara
em terras de Guia pufca ou Lepufca, c mais de co-
renta mil homes de guerra, & tinha ercado fonte
Rabia, ha qual guerra elRei de Frana fazia tanto por
comprir com ho que promettera ahos embaixadores
deiRei dom Afonfo, que lhe mandara antes dentrar em
Caftella, quomo atras fica dito, quomo por fe ajudar
do tempo, & ver fe entre tantos defconertos deftes
dous Reis podia ganhar aquella villa, nos fenhorios
de Caftella. Ha Rainha quomo ifto foube, mandou
Ioguo dom Diogo farmento conde de Salinas aho fac-
corro de fonte Rabia, com ha gente que pode ajuntar,
& fcreueo a todalas villas, conelhos, & caualleiros de
Bifcaia, Sturias, & Lepufca, q fe ajuntaffem com ho
conde, & fezeffem tudo ho que elle ordenaffe, & lhe
obedeeff quomo mefma peffoa delRei dom Fer-
nando, fe prefente foffe. E IRei de Frana, defta entrada
que fez em Lepufca, & Bifcaia, ercou duas vezes fonte
Rabia, fem ha poder tomar, & a cabo dalgs dias fez
tregoas com elRei dom Ferndo por tempo de hum
anno, & fe tornou pera Frana, has quaes tregoas
foram mui perjudiiaes a elRei dom Afonfo, & a
todos feus negoios. Ha Rainha dna Ifabel depois
de ter mandada efta gente aho foccorro de fonte
Rabia, & afentadas todalas coufas que compriam
ahos de Burgos, fe foi per a V alledolid, & dali a
Tordefilhas pera ftar mais perto delRei feu marido,
onde fe veio parella dom Pedro de uniga filho do
duque Dareualo, q fempre fora contrairo a feu pai
tomar ha parte dos Portuguefes, efcufando fua velhie,
& pouco cfelho que teuera em nefta parte feguir ho
pareer, & vontade 4a duquefa dna Leanor
188 CHRONICA DO PRINIPE .
fua madaftra, a quem de todo era fugeito, pedindo
Rainha q foffe fua mere ho querer reeber em feu fer-
uio, porq elle lhe mandaua pedir perdam do erro co-
mettido-. Ha Rainha foi mui alegre defle recado, &
perdoou aho duque mui failmente, porq efte era ho
mais erto modo que podia ter pera ganhar has vontades
de todolos que feruiam elRei dom Afonfo, & logo ali
fez mere aho duque de todalas terras que tinha da
coroa, faluo da villa Dareualo, & lhe mudou ho titulo
.de duque dareualo em duque de Palena, & per inter-
effam do mefmo dom Pedro perdoou tambem ha
Rainha aho meftre Dalcantara, & lhe deu liena q fe
.tornaffe pera feu feruio.
CAP. lxxij. Quomo elRei dom Ajo1zjo mandou desafiar
elRei dom Fernando pera Batalha campal, & de
quomo hos Cajtelhanos prenderam ho conde de Pna
macor, em hum recontro que lzouu_e com Aluaro de
mendona, entre amora, & Touro.
ELREI DOM FERNANDO depois que entrou em amora
fez combater ho caftello por muitas vezes, mas
vendo ho pouquo que ganhaua, mdou lar pregam
arredor delle, declarando q fua vontade era perdoar
a todolos ercados, & q a cada h delles fegundo ha
calidade de fuas peffoas, faria mere, & no ho fazendo
q hos declararia por tredores, & deOeaes, & por taes
fe proederia contra elles. Alem difto mandou fecreta-
1
mente cometter ho marichal Afonfo de valenca com j
muitas, & grandes meres fe lhe quifefe ho 1
caftello, mas vendo q tudo aproueitaua pouco ordenou 1
q trouxeffem de Medina do campo, & doutros
...,. I'
I
'
...
. .
... DoM loAM ..
t8.g
vezinhos algas bombardas groffas, & outros petrechos_
de guerra, per a ho milho r combater. EIRei dom Afonfo
foi auifado defte negoio, polo q faio de Touro com ha
milhor, & mais luzida gente que tinha, a tenam de
tomar eftas munies, mas fendo a quatro legoas de
Camora, foube q tudo era j recolhido na idade, do
, . . .
que anojado confiando na ba gente que configo tinha,
m_andou per hum rei darmas defafiar elRei dom Fer-
nando a batalha campal, ha qual elle quifera aceptar,
fe lho ho duque Dalua nam defaconfelhara, do que el-
Rei_ dom Afonfo defenganado, vendo q fua eftada_ ali
era de balde, fe tornou pera Touro. Ho tempo que
eftes dous Reis fteueram em amora, & Touro,_ fe fe-
zeram entre hos feus muitas fcaramuas, de que fo-
mente farei menam da que houueram ho conde de
Pena macor, & Aluaro de mendona, & foi affi. Saindo
eftes dous capites com fua gente hum de amora, &
outro de Touro, Aluaro de mendona a recolher ha
recoua de que vinham pera amora, &
ho conde a eftrouarlho, fe encontraram em h campo
entre eftes dous lugares, onde fe feriram tam braua-
mente, & per tanto efpao, q depois de quebradas has
lanas vieram s e(padas, & ahos punhaes, & hos que
hos nam tinham a punho feco : ifto durou quafi per
efpao de inquo horas; & foi tam trauada ha peleja,
q de quinhentos de cauallo, que poderiam fer hos
deftas duas morreram hos trezentos antes
de fe faber a qual das bandas pendia ha vitoria, &
outros tam mal feridos q nam fe podiam valer, nem
ajudar das foras, 11em das em fim ha vitoria
ficou com hos Caftelhanos, & ho conde de Pena macor
foi prefo com outros caualleiros Portuguefes, & !eua-
dos a amora, onde fe nam pode conheer em elRei
.s
....
190
CHRONICA DO PRINIPE
doq1 nem nos feus, fe foi mr ha trifteza que
houueram de tam . cruel vitoria, polos muitos, & no-
bres caualleiros que alli morreram, do q foi ho gofto
que leuaram de ficarem venedores.
CAP. lxxiij. De quomo elRei dom Fernando deternzinou
de dar batalha campal a elRei dom Afonfo, &
doutras particularidades que tocam ahos negoios
do Regno.
H A RAINHA dna lfabel no tempo que elRei dom
Afonfo mandou defafiar elRei dom Fernando per
batalha campal era ida de Tordefilhas a Valledolid a
negoios que lhe muito compriam, onde foube quomo
elRei feu marido nam quifera fair aho defafio que lhe
elRei dom Afonfo mandara, polo q mouida de feu
baroil, & animofo corao teue ifio por grande afronta,
por faber q fora mais por couardia dos que ftauam
com elRei, q falta que teueffem de gente, porq elRei
ha tinha muita, & mui boa configo: & reeandoffe q
ha tal afronta poderia fer muito perjudiial a feus ne ..
goios, fcreueo loguo a elRei em que affi a elle,
quomo ahos do feu confelho, daua a entender quam
mal ho fezera1n, & ho defgofi:o que diffo tinha, pedin-
dolhe q logo fe fezeffe preftes pera ir bufcar elRei
dom Afonfo a Touro, & q pera ho fazer lhe
mandaria ha mais gente que podeffe ajuntar, & logo
no feguinte dia mandou ho cardeal de CaftePa dom
Pedro de mendona com toda ha [gente] de guerra que
entam fiaua em Valledolid, & Tordellhas, & outras
villas vezinhas rogandolhe q com muita diligenia fe
foffe pera elRei, & de fua parte lhe dixeffe, q loguo fe
DoM IoAM.
19t
foffe caminho de Touro dar batalha a elRei dom Afonfo,
& q apos aquella gente, que com elle iha, mandaria
mui edo outra, que efperaua. Partido ho cardeal com
efte recado, dahi a poucos dias chegaram a V alledolid
dous mil Gallegos de p, & de cauallo, que mandaue
dom Pedraluarez oforio conde de Lemos, & apos efta
co1npanhia veo ho conde de monte Rei, com outra da
mefma prouinia, toda gente bem ordenada pera feito
de guerra, hos quaes com outra gente que mais pode
ajuntar mandou ha Rainha q fe foffem caminho de a-
mora. ElRei dom Fernando defpois de ter toda- efta
gente configo, pondo per ordem todalas coufas qe
compriam idade, & aho erco do caftello, fe partio
caminho de Touro, leuando toda fua gente em azes
ordenadas, & em chegando a quarto de mea legoa da
idade mandou per hutn rei darmas defafiar elRei dom
Afonfo, dizendolhe q era j tempo d ~ com fuas pefoas
darem fim contenda, & debate que ambos tinham,
& q pera iffo era alli vindo, mas elRei dom Afonfo
nam aceptou ho defafio, por elRei dom Fernando vir
mui bem acompanhado, & elle ter naquelle tempo.
pouca gente configo, de que hos mais affi Caftelhnos
quomo Portuguefes eram idos a fapereber per ba-
talha, que e IRei dom Afonfo. tinha determinado dar a
elRei dom Fernando, quomo ho Prinipe dom Ioam
vietfe de Portugal, ho qual cada dia efperauam, & por
iffo refpondeo aho rei darmas, q elle fe tinha por defa-
fiado, mas que nam poderia fer pera aquelle dia, q de
fua parte dixeffe aho Prinipe Daragam q lhe prometti
de ho ir bufcar n1u edo a amora. Nefte fpao que
elRei dom Fernando fieue diante de Touro, que feria
ao mais de quatro horas, affi do arraial quomo da villa
fe defmandaram algs caualleiros a fcaramuar, mas
CHRONICA DO PRINCIPE
nenhwil delles fez coufa digna de fe fcreuer, affi q
vendo elRei dom Fernaddo q fua ftada aproueitaua -por
entam pouco, fe tornou pera amora a continuar no
erquo do caftello. Ifto era j no fim do anno de
M.cccclxxv, no qual anno elRei dom Afonfo confirmou
de nouo aho duque de Vifeu d Diogo, filho do Infante
d Fernando, dez contos de-renda atte ferem idade de
xiiij. annos, polos direitos das villas de Beja, & Moura,
que foram do Infante feu pai, & aho conde de Fro
d . Afonfo deu priuilegio per a q nenhas determinais
de capitolos de cortes podeffem hauer lugar nas doa-
es, graas, & meres que delle tinha, & lhe fez
doaam da mefma villa de Fro com todas fuas ren-
das, dereitos, & affi do caftello da mefma villa, &
aho duque de Guimares dom Fernando fez doao da
villa de Larache em Africa. Eftas claufulas pus na fim
dos negoios que fe trattaram efte anno, porq no dil-
curfo delle nam veo a prepofito outro nenh lugar em
que fe podefem fcreuer, fe nam nefte.
CAP. lxxiiij. Dos aperebime1ttos que ho Pri7li'pe dom
Ioam je'{ em Portugal, pera ir foccorrer elRei Jeu
pai, & de quomo enttou enz Cajtella, & do que {e1
atte chegar a Touto.
DEIXAMos no Ioam idade da
onde fe veo depois q V afquo mtz de foufa chtchorro
ho auifou da treiam que hos da ponte de amora lhe
tinham ordenada, & porq aho amor que tinha a elRei
feu pai fe ajuntaua ho inueniuel, & efforado animo
que lhe natureza dera, pera nam poder fofrer injurias,
nem treies, tomou tamanho defprazer defta, q antes
~ - -
. DoM loAM. -
.
de pera i[o tr recado delRei em chegand Guanda
ajuntou logo hos fiados do Regno, & com cfelho, &.
pareer de todos fe aperebeo pera entrar em Caftella
com ha mais, & milhor gente que pode : & per a hs
gafios defta emprefa, alem do dinheiro que pode bauer
das rendas do Regno, pedio particularmente empreftado
a todos. aquelles que h o podiam fazer, & vendo q ifto
nam abaftaua, per confentimento do ftado ecclefiaflico
tomou toda ha prata das egrejas que nam era fagrada,
ha qual elle quomo bom, & catholico chrifto, depois
do faleimento delRei feu pai, pagou, & quomo teue
preftes ha gente que hauia de leuar, & ordenadas has
coufas .que compriam aho Regno, cuja gouernana ficou
Prinefa fua molher, partio da idade da Guarda _
Janeiro de M.cccclxxvj. entrando em Caftella com fua
ofte mui bem ordenada, .no qual caminho tomou por
fora darmas ha villa de S. Felizes, que ftaua por el-
Rei dom Fernando, & ha mandou faquear, donde dei:-
xando nella gente que ha guardaffe, fe foi caminho de
Ledefma, h os moradores do qual lugar, & gente de
guerra que nella ftauam, quomo j fabiam has nouas
do faquo de S. Felizes, lhe mandaram recado, pedin-
dolhe q hos nam quifeffe combater, q lhe .fariam todo
ho partido que foffe honefto. Ho Prinipe que tinha -
defejo de chegar onde elRei feu pai tlaua, nam quis
delles por entam mais q mantimentos pera ho exercito,
por preo jufto, & razoado, dos quaes lhe deram t a n t ~ s
quantos lhe foram neeffarios. Dali foi ter a Touro no
mefmo mes de Ianeiro, onde foi .re.ebid.o delRei, .. &
da Rainha, & dos fenhores, & caualleiros, que na villa
.ftauam, c tanto prazer, & alegria, quomo _peffoa taro
.defejada, & em cujo foccorro tinham todos pofia fua
fperana. ElRei dom Afonfo . depois q .. ho Prinipe
a3
chegQu a Touro, YenJo j ja tinha
pr...Jer dar a c:IRei do:n
wmprimto com algs d01
Cafte!Ja, que por e:Je fteuer, que
diua'l tr.J:?laJa ba ra:te ro
Caber fua detenninaa31. peillndQ!
quife(fcm fer c e:le em peiT(Ja, pr<
do perdam dvs erros em que cair.
& nam ram t:nente fcreueo a etle
clarad(Js contra feu feruico. mas a t
fiarem ainda por elle, peialmen1
eftuniga, duque que fora Dareualv
de Plafenia, de qu fazia grau&
gundo fe prefumia nam tinha elF
tratw, & coneno que feu filho d<
fezera em Tordefilhas com ha R
mas ho duque depois de lida ha
Afonfo, refpondeo verbalmente ah
arrependido do erro que fezera, en
dom Fernando, & Rainha dru
dcros Reis, & fenhores, fe recon
ftaua em feu feruio, com bom,
por nenhum outro Rci, nem fenhm
fazer desferuio em roufa nenhum
anojar, & refiffir a todolos que
fazer, .. Y..;. q affi ho faria a elle,
querer mais profeguir naquella f
Afonfo foi affaz trifte com efte rec.
Durcualo fora ha das prinipaes
que ho mouera a fe efpofar con:
loanna, & fazer ha guerra que 1
caufaua outro mr defgofl:o andar
lhena arrufado delle, por nam ton
.
'
I
'
l ..
.
. "
.
DoM loAM.
lhe dera de fe ir a Madril, ho qual pofto q muito
defeja[e ver lanado eiRei dom Fernando do Regno,
refpondeo friamente a elRei dom Afonfo, dizendo q
deixaua de fe vir parelle, por andar occupado em fuas
terras, que lhe j tinham feus imigos deftroidas, das
quaes nam oufaria partir, por lhas nam acabarem de
tomar de todo. Contudo elRei dom Afonfo ainda q lhe
eftes fenhores, & outros faltaffem, que cuidaua ter da
fua parte, nem por iffo reeou ir bufcar elRei dqm Fer-
nando a amora, quomo fez, pera lhe dar batalha com
ha gente que tinha, & ho Prinipe dom Ioam trouxera,
& com ha do Arebispo de Toledo, que ali ftaua f,
fem. outro nenhum fenhor de Caftella, preftes
feruir elRei dom Afonfo, quomo fez ho mais tempo
que eftas defauenas duraram.
CAP. lxxv. De quomo elRei dom Afonfo partio dt
Touro pera. amora, com tenam de dar batalha
a elRei dom Fernando, & dalgas praticas que fe
, pa.ffaram pera fe Ja1er pa1, que nam houueram
e.ffecto.
ERA ELREI DOM AFoNso tam aelerado nas coufas da
guerra, q ha execuo dellas pareia quafi pre-
eder ho confelho que tomaua pera has poer em obra,
& feguindo efta fua natural inclinaam, .quomo ho
Prinipe chegou a To11ro, loguo dahi a quinze dias
determinou fe ir lanar fobre amora, com tenam de
defercar ho caftello, ou dar batalha a elRei dom Fer-
nando, ho que affentado ordenou ha gente que hauia
de ficar em Touro em guarda da idade, & feruio da
Rainha fua fpofa, & por capites deixou. dom Fernando
CHRoMtCA -DO PiuNIPE
ditque -&-dom- Pedio conde de- vill
Real: -affi.:q i:omada.conclusam neftas, & outras coufas,
elle fe :panio h dia- noite, tomando feu caminho aho
do ;rio Douroda banda- ha -ponte de a-
mora- fae aho fertam, atte chegar defronte da idade,
foi em amanheendo, onde affentou feu arraial a
par das hortas que ftam junto da ponte, fegundo ho
lugar, & fi tio da terra requeria, mandando logo fazer
val}os, cauas, -& baftilhes contra ha ponte, tamanhos,
-& tam altos, quanto era neeffario pera fegurana do
arraial, & fe defender ha faida ahos imigos
banda, da qual elle, & ho Prinipe fe loiaram no
mofteiro de fani Franifquo, onde hos Portuguefes, ou
por defprezo dos Cafielhanos, ou com pouca reuerenia
das coufas fagradas vfauam tantas fern razes, q quando
fe dali partio elRei, ha cafa ficou mais dnificada, &
do q ho podera fer, fe o_u Alafl.Jes
.heueiam apofentdos naquelle lugar, do que coube
lja parte da culpa a elRei dorri Afonfo, & "difo
foi. affaz rigurofamente polo cardeal de
caftlla dom Pedro de mendona, em ha carta que
lhe mandou sobre hos negoios defta guerra, & con-
ertos da paz. ElRei dom Fernando, & hos que com
ene . 'ftaatn teteram a mao ardil de .guerra, & pjor
virfe elRei dom Afonfo lanar daquella pa-rte,
.da qual nam podia foccorrer ahos que ftauam erquados
no que deuia fer ha caufa prinipal porq ali
vinha, . & alem difto diziam q fe vinha pera lhes dar
batalha, q fora fcufado tolherlhes ha faida da idade,
com. has munies que tinha feitas junto da ponte, affi
:.q .. h pa;reer de todos era hauer mao fundamento em
J"(ua yinda, pois nam daua azo de fim, nem pera pelejar,
<n Menos mo fira de querer defercar- ho caftello. Con-
I
- . - -
-... DoM_loAM.- _
.-
tudo elRei dom F-ernando reeofo q- pela
do ri vieffe outra gente, mandaua ter gt vigia, .a,ft
no campo, quomo na idade, & fobre tudo no caftellOi
ho qual tinha ercado de modo q per nenhum cabB fe
lhe podia dar foccorro, & -pofto q com gram prigo.
hos feus podeffem chegar s barreiras dos rtoffos,
h as mandaua cada dia cometter, do que reebeo
dno com perda de gete, que lhe de . todals
mattauam. H a Rainha dna Ifabel ftaua nefte. tempo.
em Tordefilhas, ha qual quomo foube do erco que
elRei dom Afonfo tinha pofto ponte de amora,.
reeando q fua gente gaftaffe, & defiroiffe toda aquella
comarqua, mandou ho duque de villa Fermofa
feis entas lanas a fonte Sabugo, & dom Pedro manrri-,
que, conde de Treuino, com quatro entas a -Alahejos,
duas villas fituadas quatro legoas de amora da banda
donde elRei- dom Afonfo tinha affentado ho
Stando hos negoios rteftes termos, & tam duuidofos
quomo vifto tendes; nam faltaro peffoas zelofas de
paz, & cncordia, entre hos quaes ho prinipal foi.ho
cardeal de Caftella dom Pedro de mendona, per cuj-6..
meo, & doutros -prelados, & fenhore_s .de ha, & d-e ..
outra parte fe comeou a falar fecretarrtente po modQ:
que teriam per a concordarem eftes doils Reis. Em tim-
dandoffelhe diffo conta foram contentes, -& _deram_. li:-
ena pera fe niffo falar, pera ho que da parte<lelR_ei-
dom Afonfo foram deputados dom Aluaro filho de dom
Ferndo duque de Bragana, & Rui de foufa, &.ho
doutor Antonio nunez, hom muito dotto em leis;, &
affi ho diz ho chronifta de Caftella : & da parte de.
Caftella ho almirante, & ho duque Da lua, & ho ..
de idad Rodrigo, mas ho noffo chronifta diz quefte
doutor foi ho deputado por noffa parte, fem falar em
,,
198
CHRONICA DO PRINIP2
Antonio nunez: hos quaes todos fe ajuntaram algas
em ha ilha que faz ho Douro junto da idade.
E nam fe podendo acordar, h os Reis mefmos per in-
tereffam de d Anrrique anrriquez, tio delRei dom Fer-
nando, & feu mordomo mr, fe quiferam ver naquella
ilha, mas ifto nam huue effetto, ou por fe nam fiarem
hum do outro, ne das fianas que pera fegurana de
fuas peffoas hauiam de dar, ou porq tinha cada hum
em tanto fua auo, q cuidaua, ou tinha por certo q
diffiilmente poderiam vir a conerto que foffe pera
aeptar. Sabendo ha Rainha dna Ifabel parte deftes
trat.tos, quomo muito defejofa de pz, & cfiderando
hos males que fe ainda podiam feguir defta guerra,
fcreueo logo de Tordefilhas a elRei feu marido, q tra-
balhaffe por fe conertar com elRei dom Afonfo, & q
efte negoio fe remiffe por dinheiro, pofto q houuetfe
dempenhar gratn parte de feus Regnos, & q Infante
dna Iona, fpofa delRei dom Afonfo promettetfe intei-
ramente ho dote que lhe podia caber por Infante de
Caftella, affinandolhe loguo rendas fobre bas terras,
& lugares, & alem diffo lhe prometteffe pera corregi-
mentos de fua cafa ha fomma de dinheiro que lhe bem
pareeffe, & q fatiffezeffe elRei dom Afonfo affi das
defpefas que tinha feitas na guerra, quomo no dote de
fua fpofa, mas q por nenhum modo lhe prometteffe
villas nem caftellos do Regno, pera fe fepararem da
coroa, porq ella nam hauia de confentir niffo. Mas
nenha coufa deftas aproueitou, porq elRei dom Afonfo
nam quis aeptar ho tal partido, nem por f dinheiro
de contado renuniar ha auam que ha Rainha dna
lona fua fpofa tinha nos Regnos de Caftella.
-..-....... .. --
. . . ;- ..... ,. : - -- -
DoM loAM.
CAP. lxxvj. De quomo elRei dom Afonfo leuantou l
erquo da ponte de amora, a tenam de t r a t ~
elRei dom Fernando a batalha.
EIREI DOM AFoNso fteue com feu arraial affentad
diante. da ponte de amora per fpao de quim
dias, no qual tempo recreeram muitas chuuas, frio
& neues, de que toda ha gente reebia tanto dno, P'
ftar alojada em campo rafo, li por confelho, & parec
de todolos capites, ordenou de leuantar ho erquc
Jfio affentado ha fexta feira primeiro dia de maro c
nl quatro entos fetenta, & feis, na vela dalua, cor
fua gte pofia em ba ordem fe partio pera Tour(
Hos que vigiau, & roldauam ha pte, & ha idad
em comeando ho dia a fclareer, vendo ho camp
aleuantado, ho fezeram faber a elRei dom Ferndc
que loguo mandou Cair pola ponte alga gente de c1
uallo, que foffe a geito do exerito delRei dom Afonk
hos quaes fairam tam defordenados, que com reeo C
fazerem algum defmcho mandou a Dioguo ouando d
Caeres, que com duzentos ginetes foffe apos elles, ,
hos deteueffe, & pofeffe em ordem, atte elle faber d
erto ho caminho, li elRei dom Afonfo leuaua, do qu
auifado, & de quam de vagar iha, faio logo de amor
na ordem feguinte: na vguarda iham rodo los cm
tinuos de fua cafa, & ha gente que ho conde de Leme
mandara de Galliza, & ha que mandaram hos de V
medo, Medina do campo, Valledolid, Salamanca, ~
idad Rodrigo c ha de amora, da qual toda deu 11
capitania a d Anrrique anrriquez feu mordomo m
que leuaua ha bandeira real de Caftella, & Leam. Efl
era ha batallia. Da outra gente fez dez alas, quatr
grandes, & feis menores, deftas menores que iham
CHROMICA no. PRINIPE
mo direita da b:atalha delRei, pola banda. das
fe fazem indo de amora pera Touro," por aquella
parte da ponte, er capites da primeira dom Aluaro
de mendona, que em Camora elRei dom Fernando
.
entam fezera conde de la vilha de Caftro xerez-t, na qual
ala iham Goterre de cardenes, & Rodriguo de vlhoa,
thefureiros mres de IRei : da fegunda ala eram capi-
tes dom Afonfo dafonfeca bifpo Dauila, & dom Afonfo
dafonfeca fenhor de Cota, & de Alahejos, primos com
irmos : da tereira era capito Pero de guzmam, da
quarta Bernaldo Franes, da quinta Pero de velasquo,
& da fexta V afquo de viueiro, irmo de dom Gonalo
bifpo de Salamanca. Das quatro alas grandes, da prin-
ipal era capitam ho cardeal de Caftella, & efta com
has outras tres iham mo fquerda da batalha delRei,
de que eram capites fegunda dom Garia duque
Dalua, da tereira ho almirante dom Afonfo anrrlquez
tio delRei, na qual iha dom Anrrique anrriquez conde
Dalua de Lifte tambem tio delRei, & da quarta Garia
oforio, que viera com ha gente do marques Deftorga
feu fobrinho : no meo deftas batalhas 'iha ha pionage.
Pofta efta gente affi de p, quomo de caua_llo em ordem,
elRei dom Fernando abalou caminho de Touro pera
onde lhe feus corredores dixeram q ho exerito dos
Portuguefes caminhaua. Nefte tempo que elRei dom
Fernando ordenaua fuas azes, houue tanto fpao, q
vendo elRei dom Afonfo q ho nam feguia ninguem,
paffou ha ferra q ft quafi no meo do caminho dentre
amora, & Touro, fem ver coufa por que deueffe
fperar, nem tornar atras, nem lhe pareia que elRei
t Na ediio primitiva l-se: Suuilha de Castro xerez-
. '
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lo lhe faiffe, porq fe ho Coubera, antes de
aonte fperara por elle, & tendo j pafld
gente fc: lhe comeou a defmandar polo
tmuando, & outros fe iham pera Touro,
i dom Afonfo vendo, defejofo de fater
le guerra, antes dentrar na idade, de qtie
laffem honrra, adiantouffe de todos, & fez
JUe caminhauam parella, c tenam de
tomar delles hos que lhe neeffario foffem,
"e fonte Sabugo, onde fiaua ho duque de
1 com feis entas lanas, & ver fe podia
lhar ha villa. E!Rei dom Fernando depois
amora caminhou na ordem j dita, atte
daquelle monte que fi antre efias duas
1uomo ali chegou, por fer j paffado todo
:lelRei dom Afonfo, teue confelho do qu
que ha opiniam de muitos foi li fe tornaffi
1, dizdo li pois hos Portuguefes iham fo-
feriam recolhidos a Touro, li alem diffu
pafar ha ferra t afinha, q nam fofe quafi
o exerito fer todo da outra banda, no que
a mais q dar trabalho a fim, & a todoloS
rife em perigo de lhe acteer algum de ..
tinha ganhada affaz honrra de vir atte li
gos ho oufarern defperar. Ho cardeal de
contrairo -defia opinio, dizendo q pQis
egaram tam perto dos Portuguefes, li hoS
q nam podiam affirmar ho que diziam,
a fua Alteza li ho deixaffe fobir aqllelle
lau t perto delle, pera ver ha ordem em
:.m Afonfo caminhaua, & fe ertificar f.e
10 campo, ou fe era j recolhido a Touro;
aquelles capites cuidatlam, & affirm.auam,
.
. ,
CHRONICA DO PluNCIPE
A elRei dom Fernando pareeo bem ho que lhe ho car-
deal dixe, pera ho q lhe deo liena, & alem da gente
que tinha mandou a Pedro de guzm q com toda ha
fua ho acompanhaffe, hos quaes ambos chegaram aho
mais alto do monte, & dali defcobriram ho campo att
Touro, & viram q toda ha .gente delRei dom Afonfo
ftaua afaftada da idade, algs em ordenana, & outros
fcaramuando pelo campo, & q na moftra que dauam
pareia mais terem vontade de fazerem algum feito de
guerra, q nam de fe recolherem pera dentro : com has
quaes nouas fe tornou ho cardeal a elRei dom Fer-
nando, q hos Portuguefes ho foram mais
fperando att quelle lugar onde ftauam, ll nam fogindo
com reeo de lhe aprazarem batalha, polo que lhe feria
lanado cta de couardia, pois pera Hfo tinha affaz
tempo, fe logo n paffaffe hos portos, & foffe aprefentar
batalha a elRei dom Afonfo, vifio q hos Portuguefes
ftauam no campo tam de vagar, & em tam ba ordem
de guerra, q fe podia crer q nenha outra coufa fa-
riam fenam fperallo: que fe outra vontade teueram,
failmente lhe tomaram hos paffos, & portos daquella
ferra, & lhos defenderam, mas pois lhos
francos, & defembargados, b fe podia crer q com
tenam de lhe darem batalha ho ftauam ali fperando.
CAP. lxxvij. De quomo elRei donz Fernando paffou hos
portos da .ferra de Touro, & Je ordenou entre elle,
& e/Rei dom Afonfo ha batalha de Cajlro queimado.
H o CONSELHo, & razes do cardeal dom Pedro de
mendona pareeram bem a elRei dom Fernando,
polo q mandou loguo mouer ho arraial, & quomo foi
.
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. .
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DoM loAM. 203
da outra banda da ferra pos outra vez fuas azes na
ordem em que has antes leuaua. Nefte tempo que el-
Rei dom Fernando paffaua ho monte, fendo j ba
parte da fua gente no mais alto delle, foram viftos dos
noffos, aho que muitos dos que andauam espalhados
polo campo acudiram defordenados, antre hos quaes
vinha dom Anrrique de menefes conde de Loul, com
fua companhia, & por muito que fe apreffaffem nam
poderam chegar tam afinha aho p do monte, q j
muitos dos Caftelhanos nam teueffem paffados hos
portos contra Touro, onde houue entrelles ha fcara-
mua, na qual ho conde de- Loul foi tam mal ferido,
q ho leuaram a Touro, & h ~ s Caftelhanos paffaram
todos a feu faluo. EIRei dom Afonfo, & ho Prinipe ..
quomo fouberam q elRei dom Fernando era j no mais
alto do monte, bem lhes pareeo q trazia vontade de
pelejar, que era ho mefmo que elles defejauam muitos
dias hauia, polo q com ha mr preffa que poderam or-
denaram fuas azes no modo feguinte : na vanguarda
poferam hos continu_os, & familiares da cafa delRei, &
algs caualleiros Caftelhanos, de que era capitam Rui
pereira, & loguo junto da vanguarda ho conde de
From dom Afonfo com -fua gente, & outra que lhe
elRei mais ordenou, & mo ezquerda da vanguarda
ho Prinipe dom Ioam com ha milhor gente que hauia
no exerito. A efta ala do Prinipe feguia ho bifpo
Deuora dom Garia de menefes, com ha fua, ambas
acompanhadas de muitos befteiros, & fpingardeiros_.
ElRei dom Afonfo, leuaua ha batalha com ha bandeira
real, & mo direita della iha ho arebifpo de Toledo,
com toda fua gente, a quem logo feguia parte da gente
de dom Fernando duque de Guimares, & do conde
de villa Real dom Pedro de menefes, que ficaram em
l
'
CHRObllCA... DO. PRINIPE
Touro pera guarda: da idade, & da r.etaguarda era
cpitam dom Ioam de caftro conde de Monfanao .. Ha
pionagem iha repartida em quatro partes, toda pofta
da banda do rio. Defte modo repartiram elRei, & ho
Prinipe toda fua gente de p, & de cauallo, & pouco
antes de romperem has batalhas, vio ho Prinipe q das
feis:- alas que iham mo direita da batalha delRei
dom Fernando; fe apartara ha dellas quomo pera de
acudir s outras fe lhe neeffario fotTe, polo q,
por eftas feis alas ftarem da banda donde elle hauia de
cometter ha peleja, mandou logo apartar dos da fua
algs pera fe neeffario foffe lhe tambem acudirem de
refresco, com hos quaes mandou Fernam mz mazca-
renhas feu capitam dos ginetes, c parte da fua guarda,
& lhe dixe q foffe contra ho p da ferra, & porq efta
gte :era pouca, mandou a Gonalo vaz de caftel bran-
co, & a Rui de foufa q ambos com ha fua, que era mui
ba, & luzida fe foffem ajuntar com Fernam mz, &
reeofo q fe nam auieffem bem, por j fentir nelles,
quando hos mandou, q hauia de hauer differena fobre
qual feria ho capitam, encomendou, & rogou a dom
Pedro de menefes, que depois foi conde de Cantanhede,
q fe foffe parelles, & lhes mandou dizer que fezeffem
ho que lhes elle mandafe, do que fatisfeitos fe fez de
toda efta ha ba ala. Depois que elRei dom
Afonfo teue ordenado feu exerito, prefentes todolos
capites lhes fez ha fala, dizendo-lhes entroutras pa-
lavras, q ho tempo, & feu esforo delles requeria irem
cometter antes de ferem co1nettidos, fem fe mais per-
der do dia, q fperaua em Deos que ha jufta caufa que
tinha lhe daria vitl:oria de feus imigos: ho que dito
mandou ahos capites q cada h fe fofe pera fua ala,
& elle.com batalha Real abalou loguo aho lgo do
I
'1.
- -- -------
--- - ------
DoM loAM.
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daquella parte.ftua ha batalha,.&. bande!f
.reaidelRei dom- Fernando; mas nam j fua porq
elle. por fe affegurar, & por confelho'dos feus,.depois
.ter ordenadas todalas alas do exerito, fe ein
.p queria, que per a iffo :deixou na retaguarda, acompa ..
nhado .de ba, & nobre gente, pera dali fe fa1uar; f\!. ha
fortuna lhe foffe contrara. Ho Prinipe dom loam,.
pos mo ezquerda da batalha delRei feu padre, afaf-
hutn pedao d.ella, contra .duas ds
jmigos, & hos outros capites todos fe poferam nos
lugares que lhe elRei dom Afonfo, & ho Prinip.e li-
nham ordenado. Depois de todos fiarem potos. cad
hum em fua capitania, chegou a elRei dom .Afonfo .hum
rei darmas, polo qual ho elRei dom Ferndo mandaua
.defafiar per Batalha: elRei dom Afonfo dixe aho rei
darmas, q podia dar em repofta aho Prinipe.de Siilia,
q era mais tempo de fencontrarern, -que n d0e
0
mandar defafios, & affi ho defpedio, & fe pos logo eoi
.fom de ir cometter hos im.igos, & romper com fua b;..
talha primeiro quelles.
CP. lxxviij. De quonzo has batalhas romperam, o& hos
Reis defempararam ho campo, ficando ho Pritiipe
dom loam vencedo1' nelle. '
,
'\
. . '
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D
SPEDIDO HO REI DARMAS, loguo hos trombetas deram
ho acoftumado final, que fe vfa dar aho
das taes batalhas: ifto era j depois de vefpera; andandr;>
ho dia cuberto com neuoeiros, & chuiua meuda, ho.s
quaes finaes acabados de ha, & da outra parte, ho
Prinipe dom loam feguindo ho que lhe elRei feu.
mandara, chamando todolos que com elle
206 CHRONICA DO PRINIPE
G ~ o r g e em fua ajuda, foi ferir nas inquo alas, & ho
mefmo juntamente fez dom Pedro de menefes, na fexta
que fe apartara das outras, quomo atras dixe, & ho
primeiro de todos q rompeo foi. Gonalo vaz de caftel
branco: eftas alas jham todas mo direita da batalha
real dos Caftelhanos, de que hos noffos foram reebidos
quomo desforados caualleiros, porq mui valerofamente,
chamando Santtiago, fe encontraram com hos do Prin-
ipe, cuja fora nam podendo fofrer, comearam de
fogir, mattando, & captiuando hos noffos muitos delles,
& dos q fcaparam algs fe acolheram fua bandeira,
& batalha real, q ftaua mo ezquerda deftas feis
alas, da banda do rio, entrellas, & has quatro alas
maiores que jazi aho longo delle, defronte da mefma
batalha real dos Caftelhanos : tanto q ho Prinipe co-
metteo has feis alas, abalou logo elRei dom Afonfo em
peffoa com fua batalha, & bandeira rel, feguindoho
ho conde de Fram com fua ala, na qual peleja elRei
d Afonfo quqmo esforado caualleiro andaua fempre
na dianteira dos feus, n atentando a fua real peffoa,
nem aho perigo em q fe punha, & todolos feus por
fua caufa. Eftas duas batalhas pelejaram per fpao de
ha hora, fem ha vittoria fe inclinar anha das partes,
& por eftar tanto tempo duuidofa ha fperana della,
hos capites das quatro alas maiores dos Caftelhanos
q ftauam aho longo do rio acodiram ahos feus, ho que
vendo ho arebifpo de Toledo, & ho conde de Mon-
fantto, q iham na regaa, abalaram logo com toda fua
gente, & com elles ha do duque de Guimares, & do
conde de villa Real, & ali fe comeou a ferir ha braua,
& cruel batalha, mas em fim ha fora dos acubertados,
que eram muitos, pode tanto q hos noffos fe comea-
ram a defordenar de maneira q defempararam ha ban-
DoM loAM.
primeiro q ha hos Caftelhanos tomafi'em
mos a Duarte dalmeida alferez pe-
trazia, & lhe deram tantas feridas, 4
le homem morto ha houueram, com tudo
foi leuado prefo a amora. EIRei dom
1a bandeira real no cham, & ha batalha
Jomo defefperado fe quifera lanar no
defejofo mais dachar quem ho mattaffe
defgofto, mas loam de porras, & dom
nda, prior de fam Marcos em Caftella,
bifpo de Lamego em Portugal, & dom
fouto maior conde de Caminha, que
fempre acompanharam, & outros ca-
am confentiram fazer coufa tam mal
tr feu confelho fe partio do campo ca-
>, & porij era j noite, elle, & hos que
.Iam reeofos fe folfem cometter ha
rar na idade, q poderiam achar alga
imigos, de que reebelfem damno, fe
aminho, & fe foram a Caftro nunho,
bem reebido de Pedro de mendanha,
1, & leal vaffallo, & lhe fez ho milh<r
de, & ahos q com elle iham, confolan-
erda, & fortuna, com palauras de tam
l caualleiro, quomo elle era: alem difto
tRei entrou na villa, cujas portas elle
l horas tam defacoftumadas. ho leuou
poftas has chaues de todalas portas da
l em hum baio de prata, que fua mo-
; mos, lhas aprefentou dizendolhe q
& da villa podia fazer quomo de coufa
elRei muito agradeeo, & lhas tornou
no a peffoa de quem em tudo fe podia
CHRON1CA no PRINIPE
ter .. confiana. repoufou elRe .drn Afonfo
noite; ho qual pofto q conftrangido do trabalho cor-.
parai nella tomaffe alg.um pequeno repoufo, com tudo
feu fpirito vigiaua com muita dor pola perda que
hei.a, &; ho. que mais fentia era nam fab_er ho que era
feito do Prinipe feu filho, ho qual atte ho temp.o. do
desbarato da batalha delRei feu pai, andou feguindo
ho .alcane das feis alas que tinha '.desbaratadas, mas
{abendo ho que paffaua, comeou de recolher hos. que
pemafiadamente has feguiam, no que nam podendo
.poer fe pos com hos feus em hum tefo, com
qtias, .& .. com algs que fe a elle acolheram da
batalha delRei, fez hum bom corpo de gente : hos
outros que fe pera elle nam poderam ir fe lanaram
-aho do rio, fogindo caminho de Touro, de que
muitos, com temor dos imigos, fe lanauam no Doto,
.auenturandofe a ho paffar a nado, mas poucos deftes
fcaparani que nam morrefem, & hos que fe a ifto nam
:auenturauam, mattauam ou captiuauam, & outros fe
att ponte de Touro, hos imigos nam
.oufaram de chegar, reeando q lhes faiffem_ da idade,
ou q lhes defe ho Prinipe nas cofias. Acholdfe depois,
-que deftes que affi fogiram; foram mais hos afogados
ii hos que morreram a ferro. ElRei dom Fernando,
.quomo fica dito, fe pos na regaa de todo feu exerito
ha ala pequena, mas quomo foube q ho Prinipe
dom lom desbaratara has feis alas primeiras, & ha
.ventura em q .ftaua fua batalha real, fem ha vitoria fe
moftrar por ella, nem polo delRei dom Afonfo, .rnandou
recado aho cardeal de Caftella, & aho duque
Dalua, encomendandolhes q tomafem a fazer
:todo ho que_ compriffe quelle exerito, fegundo vi(fe.m
:q a. tempo, & fazam _conuinha, & antes q hos _Por.-
fi
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D c ~ i loAM. 2og
..
tuguefes fe comeaffem a defordenar, & ir de veriida,
fe acolheo caminho de amora, acompanhado daquella
ala pequena com que fe deixara ficar atras contra ha
entrada da montanha, & ainda de noite chegou i:-
dade, fem elle, nem hos que com elle iham faberem,
fe eram venidos fe venedores. Agora tornemos aho
que fe paffou, depois que eftes dous Reis fogiram do
c.ampo. Deueis de faber .q ha bandeira real de Portugal,
que hos Caftelhanos tomaram fe pos em guarda de
Pero velafco, & de dom Peqro cabea de vaca, ha qual.
vendo h valente fcudeiro Portugues, per nome Gon-
alo pz, criado de Gonalo vaz pinto, trazer pelo
campo no tempo do desbrato, nam podendo fofrer
tamanha injuria, fe ajuntou com outros esforados
Portuguefes, que juntos remetteram a elles, & fazen-
dohos fogir, ha tomaram das mos a hum fid-algo que
ha trazia, de fobre nome Souto maior, & ho mefmo
Gonalo pirez lha tomou, & ho prendeo fobre iua f,
& trouxe ha bandeira aho Prinipe, em galardo do
qual, & tam notauel feruio, lhe fez ho mefmo Prin-
ipe dom loam, depois de fer Rei, mere de inquo
mil reaes de tena em fua vida, com que ha paffou em
ftrema pobreza, fatisfeito darmas de blafam mifturadas
com fidalguia, que lhe ho mefmo Rei dom loam con-
edeo com alcunha, & fobre nome de Bandeira, & na
mefma pobreza viueo ho alferez Duarte Dalmeida, aho
qual fe nam fez mere nha em fatisfaam de quantas
feridas reebeo, antes q lhos Caftelhanos tiraffem ha
noffa bandeira real das mos, hos quaes com ha per-
derem do fraco modo que ouuiftes, fezeram tamanho
cafo de prenderem ho al{erez pequeno, q has armas
defte pobre fcudeiro, com oito guies, & pendes q na
batalha ganharam dos noffos, leuaram a Toledo per
14
210 CHRONtCA DO PRINIPE
mandado de IRei dom. Fernando.. & da Rainha dntt
.
Ifabel, & foi tudo pofto na capella dos Reis, fituada
na egreja maior de nofla Senhora, onde atte ho pre-
fente dia ftam, em memoria do desbarato deftes dous
Reis, & em louuor do Prinipe dom Ioam, a quem ha
vittoria defte feito fe nam pode com razam negar .
.
CAP. lxxix. Do que ho Prinipe dom loam fe'{ depois
de/Rei dom Afonfo feu pai, & e/Rei dom Fernando
ferem idos do campo. :
H o PRINIPE noM loAM deipois q desbaratou has feis
alas dos Cafielhanos, & vio q ha batalha delRei
feu pai fe comaua a defordenar, & poer em fogida,
fem lhe poder dar foccorro, nem ajuda com "ha gente
4ue configo tinha, fe fez forte em ha affomad quomo
fica dito, donde com has trombetas, & atabales, que
fazia tocar a meude, & com fogos que mandou fazer,
daua final ahos que andauam fpalhados- pelo campo,
pera fe recolherem parelle, ho que affi fezeram nam
tam fomente hos que da fua ala faltauam, mas muitos
dos defiroados que fcaparam da batalha delRei, que
poderam tomar ho caminho de Touro, nem fabiam
que ventura podeffem feguir, faluo entregarenffe nas
mos de feus imigos. Com toda efta gente fez ho Prin-
ipe ha groffa, & forte batalha, co11;1 ha qual tinha de-
terminado de em amanhecendo cometter outra grande
batalha dos Caftelhanos, que fe ajuntara no campo, & fe
pofera tam perto da fua, q de ha outra fe entendia
claramente ho que falauam. Stando ho Prinipe ali lhe
trouxe dom V asco coutinho, que depois foi conde de
Borba, prefo dom Anrrique anrriquez conde Dalua de
__ -=---- . ._
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j
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J
1
DoM loAM. 211
----- _io deiRei dom Fernando, com que fe encontrara
andando ambos reconheendo ho campo, & no tempo
que ho trouxe prefo andaua ho Prinipe rodeando fua
batalha, & deu de rofto nelles, & em paffando tocou
aho conde com ho couto da lana nas cofias, dizendo
a dom Vafco, olhae bem por elle, nam fe v pera hos
feus, & lembrandolhe depois quem ho conde era lhe
pedio perdam: ho conde lhe refponde, fenhor nam
vos de paixam ho que fezeftes, porq niffo eu nam perdi
nada da honrra que ganhei em tres batalhas campaes
em que j fui, ha qual me vs nam podes tirar com
fetenta annos que tenho de meu, nem eu a vs de ho
terdes hoje feito mais valerofamente do que ho nunca
fez Prinipe, nem Rei, que no mundo houueffe. Sendo
j paffada gram parte da noite, fabendo hos Cafie-
lhanos que ftauam naquella batalha, junto da do Prin-
ipe dom Ioam, quomo elRei dom Fernando fe acolhera
pera amora, reeofos de no dia feguinte lhes dar ho
Prinipe batalha, poucos, & poucos fe partiram do
campo, tomando ho caminho da ferra, & dali pera
onde lhes milhar pareeo, fem ho cardeal de Caftella,
nem ho duque Dalua niffo poderem poer ord, hos
quaes vendo quomo fe lhes ha gente toda acolhia, c
ha que lhes ficou fe foram pera amora ho mais cala-
.damCte que poderam, & pofto q fua ida foffe fentida
do Prinipe, ha noite era tam fcura, cuberta de nuus,
& neuoeiros, mifturados com chuiua, q ho Prinipe
nam quis abalar tras elles, nem mouer fua hofte do
lugar donde ftaua ane q nam foffe dia, & affi lho
aconfelharam ho arebifpo de Toledo, & todolos outros
fenhores, & capites que ali ftauam, a ha por ho
tempo fer tal, & a outra reeofos q foffe ardil de
guerra, mas ho negoio nam fe trattaua entam da
212 CHRONlCA DO PRINCIPE
~
parte dos Catlelhanos a effe- fim, porq em amanhe:
endo nenhum delles fe vio no campo, nem nas mon-
tanhas, q de noite has passaram todas, ficando ho Prin-
ipe dom Ioam vitoriofo, com toda fua gente pofia
em ordem, pera dar batalha, fe achara com quem pe-
lejar: ho qual quomo foi dia fez leuar todolos feridos,
& prefos a Touro, & mandou na ~ e f m a noite muitos
homes per ha, & outra parte faber nouas delRei feu
pai, fem fe mudar do lugar onde ftaua, com tenam
deft.ar no campo tres dias naturaes, quomo venedor,
ho que lhe ho arebifpo de Toledo defaconfelhou,
moftrandolhe por razes q em coftume de cauallaria
fezera a(faz em paffar ha tal noite quomo pafara,
quanto mais q tres horas em femelhante cafo fe podiam
tomar por tres dias naturaes, dando muitas razes que
-pareciam ter fundamento, com ha fora das quaes,
mifturada com fua dignidade, authoridade, & prudenia
pode tanto, que fem ho Prinipe ter pera iffo vontade,
ho fez abalar do campo, & dali a bandeiras defpre-
gadas fe foi caminho de Touro, guardando em todo ho
caminho ha ordem que hos venedores em tal cafo
acoftumam ter, fegundo lei, & vfo da cauallaria.
CAP. lxxx.' Do que ho Prinipe fe{ depois q chegou a
Touro, & de quonzo mandou gente a Cajiro nu11ho,
com ha qual e/Rei seu pai fe veo per idade.
Q
uoMo ATRAS fica dito, quando elRei dom Afonfo
foi poer erquo ponte de amora, deixou em
Touro dom Fernando duque de Guimares, & dom
_Pedro de menefes conde de villa Real, hos quaes fa-
.bendo ho que paffaua no campo polos que j de noite
I
j
DoM loAM. 213
fe acolhiam nam fomente lhes nam quiferam
mandar abrir has portas, pofto q muitos delles vieffem
feridos, & mal trattados da peleja, mas antes hos man-
daram afaftar dos qturos, com lhe dizerem q fe ho
nam fezeffem lhes mandariam tirar s bombardas, de-
fenganandohos q att que nam foffe manh nam hauia
dentrar na idade ninguem, fe nam foffe com ha peffoa
delRei, ou do Prinipe, de que lhe elles nam dauam
tam ba conta quomo a bs criados, & vaffallos c-
uinha : alem difto temendo q houueffe treiam poferam
mais gente de guarda nas p_ortas da idade, & polos
muros com toda aquella noite fiarem em armas, fem
terem erteza nha do que era feito das peffoas dei-
Rei, & d Prinjpe, porq hos que fe ali acolheram do
campo nhas outras. nouas lhe fabiam dar fe nam q
vinham desbaratados, & q affi ho deuia fer todo h
mais do exerito. Nefte trabalho, .& cuidado fteueram
atte ho dia feguinte, no qual em amanheendo fouberam
ha verdade do que aconteera ahos dous Reis, & de
quomo ho Prinipe vinha vitoriofo, & em fua com-
panhia ho arebifpo de Toledo: contudo elles nam
quiferam maridar abrir has portas da idade, re-
colher peffoa nha dentro, atte verem ho Prinipe, &
ferem ertos, & feguros do que lhe diziam, mas ha-
vendo refpeito ahos feridos polo poftigo da porta da
ponte lhes mandauam dar tudo ho que lhes era neef-
fario pera remedio de fuas chagas, & feridas. Sendo
j paffado b fpao do dia ho Prinipe chegou a Touro
com ha bandeira real defpregada, aho qual quomo. foi
conheido ho duque, & ho conde vieram abrir h as .
portas da idade, & foi reebido nella affi da Rainha
donna Ioanna quomo de todalas mais peffoas com affaz
trifteza, por atte entam nam t.erem .nouas nhas do
214
CHRONICA DO PRINIPE
que era feito delRei dom Afonfo, & prinipalmente
ho duque de Guimares, que depois do Prinipe fer
em feu apofento, perante elle, & de todolos que com
elle ftauam, depenando has barbas, & hos cabellos da
cabea, fez grandes plantos, & lamentaes pregtando
ahos que fogiram da batalha com muitas lagrimas por
elRei dom Afonfo, dizendolhes q mal fe poderiam cha-
mar caualleiros, pois nam fabiam dar conta, nem re-
cado de feu Rei, fenhor, & c apitam, no que paffou
hum bom pedao, fem ho ninguem poder acalentar,
faluo ho Prinipe (pofto q teueffe mr dor, & trifteza
que nenh dos da companhia) que com palauras pru-
dentes fez tto q ho duque effou de fe queixar mais
do q ho j tinha feito. Stando todqs nefte trabalho
chegou noua aho Prinipe delRei, per meffageiro ex-
preffo, que lhe mandou de Caftro nunho, com que foi
tamanha ha fefta, & aluoroo em toda ha idade, &
tanto repicar de finos, & tocar de trbetas, & atabales,
q toda ha perda da batalha fe teue por nada, em com-
paraam de fer falua ha peffoa delRei. Ho Prinipe
lhe mandou loguo tanta gente darmas, quanta foi ne-
effaria, com ha qual fe veo pera Touro, onde foi re-
ebido da Rainha, & do Prinipe, & de todolos fenhores,
caualleiros, & gente popular, com dobrado prazer, &
alegria, do q ho fora todalas outras vezes, que naquella
idade entrara.
CAP. lxxxj. De quomo elRei dom Fer'nando cobrou ho
cajiello de amora, & perdoou ahos quejlauam nelle.
ELREI DOM FERNANDO defpois q fe acolheo da batalha
a amora, mandou per muitas vezes, & mui a
meude combater ho caftello da idade, & lanar outra
11
DoM IOAM.
5
vez preges em redor delle, que fe ho quifefi'em entre
gar paificamante, q .a todos outorgaua has vidas, &
bs, affi proprios quomo da coroa, quelles que hos te
uefi'em, & q fazendo ho contrairo proederia contrelles
quomo ctra tredores, & reus a feu Rei, do que ho
capitam Afonfo de valena fazendo pouco cafo refeftia
ahos cbates que lhe dauam com muito esfor.o. EIRei
defejaua muito cobrar aquelle caftello, & vendo que
per aquella via n ganhaua nada acordou de cometter
Afonfo de valena pela do cardeal dom Pedro de m.en
dona, cujo parente era mui chegado, & fobrifi'o lhe
falou c mui gram fegredo: ho cardeal quomo era
hum dos prudentes, & difcretos homs que naquelle
tempo hauia em toda Hifpanha, fez tto per modos,
& meos que pera iffo teue, com muita dillimulaam, q
ho mefrno Afonfo de -xalena (vendo quam mal jham
hos negoios delRei dom Afonfo) lhe mandou de fua
propria vOntade dizer, q defejaua falarlhe, & darlhe
conta de fim, & de fua tenam, quom.o a parente de
qu fe em tudo podia fiar. Ho cardeal que nenhila outra
coufa mais defejaua, deu diffo conta a elRei, & ambos
acordaram ho modo que fe nifi'o hauia de ter. H o car-
deal fe vio com Afonfo de valena, & logo da primeira
vifta foi acordado, q queria entregar ho caftello a elRei,
com condiam q defi'e has vidas, & bs a todolos que
dentro ftauam, & lhes perdoafi'e hos erros que contrelle,
& contra ha Rainha donna lfabel tinham comettidos,
& ahos que teuefi'em bs da coroa lhos outorgaffe, &
confinnaffe de nouo, & a elle particularmente fezefi'e
ha m.ere que lhe aprouueffe, por tamanho, & tam
affinado feruio quomo era darlhe ha tal fortaleza,
fem derramamento de fangue, ha qual mere leixava
J!O peito, & vontade de fua Alteza. Defte conerto fe
CHRONICA DO PRINIPE
zeram feus apontamentos, hos quaes ho cardeal leuou
a elRei, que hos confirmou de mui ba vontade, ho
que affi concluido, elRei entrou no caftello, & deu ha
alcaidaria delle a dom Sancho de Caftella, no qual fe
acharam muitas arcas da recamara delRei dom Afonfo,
& da Rainha donna loanna fua fpofa, em que hauia
mui ricas joias, & veftidos de fuas peffoas, & baxellas
de prata, & outros arreos de fua cafa, & pofto q foffem
logo ali pedidos a elRei dom Fernando per muitos
caualleiros dos que ftauam prefentes, elle ho nam .quis
fazer, mas antes lhas mandou todas a Touro em pre-
fente, com muitas palauras damizade, fe ha delle qui-
feffem aeptar. Ifto feito elRei fe partio de amora
pera Medina do campo, & ali fperou ha Rainha dna
lfabel, que ftaua em Tordefilhas, onde ho condeftabre
de Caftella acabou de recciliar ho meftre de Cala-
..
traua, & ho conde de Vrenha feu irmo com elRei, &
com ha Rainha, & affi ficaram de todo em feu feruio,
deixando ho delRei dom Afonfo, a quem per m u i t a ~ s
promeffas, juramentos, & eftromentos pubricos eram
obrigados a guardar f, &: lealdade.
CAP. lxxxij. Quomo hJ arebzfpo de Toledo pedio li-
ena a e/Rei dom Afo1ifo pera ir foccorrer fuas
terras, & do que pa.ffou atte chegar a Alcala de
henares.
DOM AFONSO arebifpo de Toledo foi h dos fenhores
de Caftella em que elRei dom Afonfo achou mais
f, & lealdade, porq enquanto pode fepre f9i de fua
parte, fem nca vailar em feu feruio, atte q nam
podendo foprir com ho defejo que tinha, nem t.er j
--
,
'
L.
DoM loAM. 217
foras pera refiftir aho poder delRei dom J.""ernando,
foi conftrangido, & forado, con!ra fua vontade, fe re-
coniliar com elle, & com ha donna lfabel :
nem fez efta mudana fe nam depois delRei dom
Afonfo fer defenganado em Frana da ajuda que foi
pedir em peffoa a Luis, quomo fe aho diante
dir, aho qual arebifpo fiando em Touro, depois do
deftroo da batalha, veo recado quomo per mandado
delRei dom Fernando fe faziam em todas fuas terras
grandes roubos, & ftragos, ahos quaes dnos querendo
acudir, quomo era razo, pedio liena a elRei, & aho
Prinipe, ha qual lhe deram, pofto q delle, & de fua
ajuda, & confelho tal tempo teueffem muita neef-
fidade, & porq fe nam achaua com tta gte, quta
conuinha, pera fem perigo poder fazer aquelle caminho
atte entrar em fuas terras, ordenar elRei, & ho Prin-
ipe q ho acompanhaffe d Garia de menefes bifpo
Deuora com toda fua gente, & outra que lhe mais
deram, com ha qual fe partio, & fendo j no caminho,
foi diffo auifado elRei do1n Fernando, que logo, muito
defejofo de ho hauer s mos, mandou tras elle dom
_Pedro anrrique cde de Treuino com ha groffa com-
panhia de gete de cauallo, mas ho arebifpo fendo diffo
auifado fez feu caminho de maneira que chegou a AI-
cala de henares, fem ho conde ho alcanar, do que
elRei dom Fernando teue grande defgofto, polo defejo
que tinha de ho acolher mo, & tomar delle vin-
gana. Algs dos chroniftas Caftelhanos dizem q ho
Prinipe dom 1oam (ho mefmo dia que fe recolheo em
Touro depois do desbarato das batalhas) teue algas
fufpeitas de ho arebifpo de Toledo ter modos, & intel-
ligenias fecretas com elRei d Fernando, pera fe lan-
ar da fua parte, ho q paree fer aho ontrairo, vifto
__ __..,
'
218 CHRONICA DO PRINCIPE
- ~
quomo ho arebifpo fe nam atreueo a partir de Touro
tem groffa companhia pera guarda de fua peffoa, & affi
elRei dom Fernando aefejofo de ho hauer s mos lhe
mdou tomar ho caminho polo conde de Treuino, porq
fentrelles houuera intelligenia, elRei dom Fernando lhe
nam mandara deftroir fuas terras, nem elle partira de
Touro tam reeofo. Nefte tempo em que foi ha batalha
de Crafio queimado, a que cmmente chamam de
Touro, ganharam hos Caftelhanos hos caftellos, &
villas de Atena, Carraena, & Senico ', que eram de
Ioam de toar, h bom fidalgo, que has tinha por elRei
dom Afonfo, has quaes tomou per ardil hum caualleiro
chamado Garia brauo, de q houue ricos defpojos, &
fometteo toda aquella comarca aho feruio dos Reis
dom Fernando, & Rainha dna Ifabel.
CAP. lxxxiij. De quomo ho Prinipe se tornou a Por-
tugal, pera prouer nas cousas do Reg1'lo, & com
elle ho bzfpo Deuo1--a, & ho co11de de Pene/la.
D
EPOIS q ho bifpo Deuora dom Garia de menefes
tornou de acompanhar ho arebifpo de Toledo,
fabendo elRei dom Afonfo quomo hos Caftelhanos fa-
ziam muitas entradas em Portugal, fem acharem reftif-
tenia, acordou com feu confelho q era neeffario tor-
narffe ho Prinipe pera ho Regno. Ifto affentado, fe fez
logo preftes, & com elle mandou ho mefmo bifpo Deuora
1 Encontra-se assim escrito na ed. de 1S67, mas provaveln1ente
rro tip. por Fresno, Freixo ou Fre.xo, como antigamente se
escrevia. Vej. o Voe. Geog. s. v. Frexo.
- ~ , . . . . . _ _ __ - - - ~ - ----
DoM loAM.
219
por fronteiro mr de riba da Guadiann, & dom AfonfQ
de vafconcellos conde de Pen"'n ............ ....... r,,..,..,\-., "'"' f' ... .
confelho: . ho Prinipe fe de1
fanla com affaz pouca genl
luzida ficaua com elRei. De
a Cafiro nunho, onde Pero de
reebimento, & logo aho ot
fua gente ho rio onde chama
fefta de Pafcoa a Mirda do
ho bifpo Deuora pera bas te
fe foi a Guarda, onde ha 1
molher ho fiaua efperando: deJ
foi correr todolos lugares fro1
ho que lhe pareia neeffario fi
Ha gente que no Regno fies
muita de p, fe vinha cada di
villas fronteiras, porq eftes t
lugares em que fiauam, &
diftribuia pelas comarcas a ~
effaria. Neftas, & outras 1
Regno andou bo Prinipe oc
Rei feu pai depois fteue Cal
tanto tento, & prudenia, q
tauam feus naturaes hauer m
coufas da guerra, mas hos me
& Rainha donna Ifabel afir
pratica, q mr cafo faziam d
Prinipe dom loam, q do
esforo delRei dom Afonfo f1
220 CHRONICA DO PRINCIPE
CAP. lxxxiiij. De quomo e/Rei dom Fernando mandou
ercar Canta/apedra, & do que fe 11ijfo pa.ffou, &
de ha ilada que e/Rei dom Afonfo lanou a elRei
dom Ferna11do.
Q
uoMo ATRAS fica dito elRei dom Afonfo que
tomou ha villa d Baltanas fe veo a Areualo,
onde fteue depois algs dias, no qual tempo tomou ha
villa de Cantalapedra, deixando nella por capito Pero
roiz galuam vandara, & forteficou has villas de Caftro
nunho, Couilhas, Sete egrejas, villa Alfonfo, la Mota ,
Portilho, Villalua, Majorga, nas quaes pos guarniam
de gente tie p, & de cauallo, com que fazia continua-
damente crua, & afpera guerra a todolos que naquellas
comarcas tinh ha parte delRei dom Fernando, & da
Rainha dna Ifabel, do mouidos ordenaram (fendo
j ho Prinipe partido pera Portugal) mandar ercar
eftes caftellos, & tomalos hum, & hum, & porq Can-
talapedra era lugar mui -importante, determinaram q a
efte fe pofeffe primeiro erquo : hos capites da gente
que a ifto mandaram foram ho duque de villa Fermofa,
& ho conde de Treuino, que combateram per muitas
vezes ha villa fem ha poderem ganhar, porq ho capitam
V andara, & hos que com elle ftauam fe defendiam mui
esforadamente, com ajuda dalgs fidalgos, & cauallei-
ros Portuguefes que fe lanaram na villa : durando efte
erquo elRei dom Fernando, & ha Rainha faziam cor-
tes em Madrigal, & dali vinha elRei muitas vezes aho
campo, do que sendo auifado elRei dom Afonfo lhe
lanou, no dia que teue ho auifo, ha ilada com muita
t Na ed. primitiva est Camota.
- -- - - -- -- -- ------
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loAM. 221
gente de cauallo, & pera milhor poder vir aho effeto
do que queria fazer, depois de pofta ha ilada mandou
algs ginetes correr atte ho dos imigos, a quem
depois q foram viftos fairam muitos caualleiros Cafte-
. lhanos, hos . quaes vinham tam defmandados, & hos
corredores Portuguefes hos traziam tam egos no al-
cane, q fe ho duque de Guimares fe nam apreffara
a fair da ilada em que apartado da delRei, hos
noffos fezeram hum grande, & notavel feito, mas hos
Caftelhanos vendo ho que era fe recolheram com mais
prefa da com que vinham, fem reeberem damno
nenhum dos noffos, nem hos noffos delles. ElRei fe
tornou defgoftofo, por lhe efcapar das mos efta caual-
gada, na qual podera fer q ho mefmo Rei dom Fer-
nando fora prefo, fe faira, ho que elle nam fez naquelle
dia, ou impedido de negoios, ou por ter auifo do que
paffaua, & fe nam atreuer a fair por cafo da pouqua
gente que configuo entam tinha em Madrigal.
CAP. lxxxv. De quonzo e/Rei dom Afon_fo lanou ha
ilada Rai1iha dna Ifabel autre Madrigal, &
Medina, & do que fe niffo paffou. .
E LREI DOM AFoNso pofto q lhe ha fortuna j clara-
mente daua de rofto em todos feus negoios, nem
por ifo deixaua de ter em Caftella muitos amigos, que
ftremadamte defejau ver fuas coufas poftas em bom
eftado, hos quaes per modos, & meos fecretos, que
pera iffo com elles tinha, ho auifauam, affi das coufas
que fabiam do confelh9 delRei dom Fernando, quomo
doutras, que lhes pareia importantes aho tempo,
& negoios em que andaua, & pouco tepo defta
- -.o
222 CHRONICA DO PRIN'CIPE
~
ilada que lanou a elRe"i dom Fernando, foube dfies
feus amigos quomo h Rainha dna Ifabel fe fazia fe-
cretamente preftes, pera ir aforrada da villa de Ma-
drigal a Medina do campo, ho qual auifo quomo elRei
dom Afonfo teue, determinou de em pe{oa lhe ir lan-
ar ha ilada, & ver fe h a podia prender, per a ho que ..
fe fez preftes com fos mil de cauallo, dos milhores que
configo trazia, & fem. leuar nenha carriagem fe foi de
Touro ho mais fecretamente q pode a Caftro nunho,
donde partindo de noite, fe foi lanar em hum valle
efcuso, per junto do qual h a Rainha hauia de ir, mas I
quomo ella tambem nam efteuefe fero ter na corte ~
delRei dom Afonfo quem ha auifalfe do que lhe com-
pria, paree q teue recado do que paffaua, porq depois
da mr parte da gente que com ella iha fer j alongada
h b pedao de Madrigal, fem ter vifta, nem fofpeita
da noffa, fe comeou a recolher fogindo pera ha v i l l a ~
& eftes primeiros fezeram tornar hos outros que vinham
tras elles, ho que fezer por recado que lhes ha Rainha
mandou naquelle ponto, em que recebera ho auifo, ho
qual recado fe mais tardara ha hora, ha Rainha fe
achara naquelle dia bem alcanada, & fem lhe fer feito
aparato do banquete que a fua real peffoa conuinha,
fora recebida em Touro da Rainha dna Ioanna com
J
mais alegria do q fe dali partio pouco tempo depois
per a Portugal: contudo elRei dom Afonfo fendo auifado,
na ilada em que jazia, da preffa com que ha gente da
Rainha donna lfabel fe recolhia pera Madrigal, lhes
mandou correr atte has portas, mas todos eram j tam
perto da villa, q lhes nam poderam fazer nojo, donde
fe tornou pera Touro afaz trifrc, por n poder alcan-
ar ha tam ba ventura, quomo ha que lhe ftaua na-
quelle dia ordenada, fe has cortes dos Prinipes nam
DoM loAM.
foifem emparamentadas de tantas, & tam f
cheas datreioada peonha, debaxo de fin
quomo ho fempre foram, & feram, fe I
nouar ho mundo, & ho veftir doutra lil
da que attgora trouxe.
CAP. lxxxvj. De quomo e/Rei dom Afonfl
cm1de de Benavente ho juramto que lh
& foi folto ho conde de Pna macor.
S
TANDO ELREI EM ToURO defpois Q lhel
mos has duas ernprefas de que r
atras trattei, per rneo de dom Afonfo cor
fe comeou a trattar fobre ho juramto '
de Benate tinha feito quando ho prend
tanas, & affi febre ha prifarn do conde de
& depois de fobriffo fe paffarem muito
ha & da outra parte, fe conertaram p
guinte: Que elRei dom Afonfo leuantaffe
Benauente ho juramento que lhe tinha
feruir elRei dom Fernando, nem ha R
Ifabel durando has guerras que entrelles
tornaffern hos lugares que dera pera fegu
promeffa, & q elRei dom Fernando mand
conde de Pena macor. Affentados affi efi
& dadas has feguranas neeffarias, ho cc
macor veo a Touro b acompanhado d
a quem elRei dom Afonfo fez bom gafalha
COf!l q fe todos tornaram mui contentes,
acoftumada liberalidade, & cortefia. Depo
ertos fe fezeram outros, por razam dos
caram muitos fidalgos, & caualleiros Pon
224
CHRONlCA DO
..
eftauam prcfos em Caftella, por outros caualleiros; &
fidalgos Caftelhanos, que eftauam em poder dos Portu-
guefes, & dos Caftelhanos que tinham por Portugal,
nos quaes trattos, & entregas fe comeaua j de en-
tender em elRei . dom Afonfo ha fecreta tencam com
que ho fazia, que era tornar pera ho Re.gno, quomo
loguo dahi a poucos dias fez, mas em todas eftas tro-
cas, & entregas nam entrou dom Luis filho do conde
de Benauente, porq efte foi entregue depois q fe has
pazes ft!zeram.
CAP. lxxxvij. De quomo fe leua11fou ho erquo de Can-
ta/apedra, & do jirago que e/Rei dom Afonfo fe{
per toda ha comarqua de Salamanqua.
H
o ERQUO DE CANTALAPEDRA continuaua cada dia
com mais asperos combates, & pera fe efta villa
ganhar, mandaua elRei dom Fernando tanta gente de
refrefco, & munies de guerra, quanta lhe ho duque
ele villa Fermofa, & ho conde de Treuino fcreuiam q
era neefario. Ifto continuou per muitos dias, nos quaes
hos do arraial receberam muito damno dos noffos,
porq ho capito Pero roiz galuam vndara, quomo era
esforado caualleiro, com hos Portuguefes que na villa
eftauam, nam tam fomente fe defendiam delles muim
denodadamente, mas antes faiam muitas vezes de noite
a dar no arraial, & afii poucos quomo eram punham
hos Caftelhanos en1 tanto trabalho, q j canfados, &
defefperados de poderem tomar ha villa, vieram fala
com ho capitam V andara, pedindo lhe ha villa, & q ho
deixariam fair com toda ha gente, quer foffe Caftelhana,
quer Portuguefa, & q cada hum leuaffe todolos bs, &
-- - - - .
.
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~ - ~ ~ .... "l
'
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I
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OoM loAM.
armas que na Villa tueffe; mas V andara poflo q j lhe
comeaffem a faltar hos mantimetjtos, nunqua quis en-
tender em tal partido, antes refpondia ahos meffageiros,
j teueffem por certo q elles nam haueriam aquella villa,
fe elRei dom Afonfo, a quem della tinha feito preito,
& menagem, lha nam mandaffe entregar, q por fora
fe podeffem, ha hauiam de hauer, mas q ifto nam feria-
fe nam depois de ho mattarem, com todolos que -com
elle dentro eftauam, aho qual termo antes q chegaffem
podiam be_m crer q nam feria fem cuftar ha vida a
muitos _ daquelles q11e h os vieffem cometter. Andando
neftes traaos veo recado delRei dom Fernando aho
duque, & conde q fezeffem ho milhor partido que po-
deffem com hos ercados, & mudaffem ho arraial
contra ha comarqua de Salamanca, por quanto elRei
dom ~ f o n f o andaua em pe[oa deftroindo, & ftragando
toda aquella terra, com ha qual noua mandaram de
nouo cometter partido aho capitam Pero roz vandara,
dizendolhe q por euitar mais dnos, & mortes das que
j eram feitas naquelle erquo, elles ho queriam ale-
vantar, com tal condiam q em fpao de hm anno,
elle nem hos que com elle ftauam, nem qualquer outra
companhia de gente, que lhe vieffe, fezeffem guerra
naquella comarqua, & teuefem todo aquelle tempo de
paz, no qual fperauam em Deos q fe faria algum bom
conerto entre elRei dotn Fernando, & elRei dom
Afonfo. Pero roz, por ho conerto fer honrrofo, &
hos mantimentos lhe faltarem, fem lhe poderem vir de
parte nha, aeptou ho partido, polo q dadas fuas
feguranas ho erquo fe leuantou : ho duque, & conde,
fegundo lhes era mandado per elRei dom Fernando,
fe foram com todo aquelle exerito pera has terras de
Salamanca, has quaes acharam deftroidas, com muitos
,s
CHRONICA DO PRINCIPE
.JI
caftellos, & lugares arrafados, & queimados. ElRei
dom Afonfo depois q naquella comarqua fez has exe-
cues que lhe bem pareeo, fez volta pera Touro,
onde lhe trouxeram recado quomo efta gente, com
outra mais que elRei dom Fernando mandara aho
duque de villa Fermofa, ho iha bufcar, do que houue
gram defprazer, porq fua tenam fora darlhes batalha,
fe [fe] com elles encontrara. Tornado e IRei dom Afonfo
a Touro, ho mais do tempo que ali fteue nunqua deixou
de fazer caualgadas, & entradas pola terra, mais quomo
capitam fronteiro, que nam quomo Rei, nem quomo a
fua real peffoa conuinha, do que todo feu confelho ho
nam podia defuiar, nem neffa parte queria ~ o r n a r ho
pareer de ninguem.
CP. lxxxviij. De quomo e/Rei dom Afonfo Je veo pera
Portugal com ha Rainha donna loanna fua fpofa.
TENDO DOM ALVARO dataide acabados hos negoios a
que ho elRei d Afonfo mandara a Frana, fe tor-
nou aho Regno, & dali veo ter a Touro, onde lhe deu
recado, & cartas delRei Luis cheas de muitos offre
imentos, & grandes promeffas dajuda , has quaes
quomo fe depois vio, eram mais pera fe valer delle,
q nam pera ho ajudar, porq eiRei Luis tinha guerra
com elRei dom loam Daragam, pai delRei dom Fer
ndo, fobre ho condado de Rofelhom, quomo j fica
dito, & defejaua dacreentar defconertos entre elRei
dom Afonfo, & elRei dom :F'ernando, pera q nam po-
deffe dar ajuda, nem foccorro a elRei feu pai, & pofto
q eiRei Luis fe partiffe do erquo de fonte Rabia, &
fezeffe tregoas com elRei dom Fernando, quomo atras
-
DoM loAM.
22-7
fica apontado, nem por iffo elRei dom. Afonfo deixou
de dar f s cartas que lhe mandou per dom Aluaro
dataide, & s palauras que de fua parte lhe dixe, has
quaes eram cheas de falfidade, & engano, porq efte
Rei Luis, por fer diffimulado, & abaftado em
fas, & palauras sem effelo, chamauam ho Rapofo
dalcunha : com tudo pode tanto ho voluntariofo apetite
em elRei dom Afonfo, q depois da partida do Prinipe
dom Ioam pera Portugal determinou de fe ir a Frana
pedir foccorro a efte Rei Luis, fem querer pefar ta-
manha mudana, a que ho tb em parte moueo outra
mais inerta fperana, de lhe pareer q poderia trattar
amizades, & conertos antre elle, & ho duque Charles
de Borgonha, feu primo c irmo, filho de madama
lfabel fua tia, irm delRei dom Duarte feu pai, com ho
qual elRei Luis ftaua em fecreta difcordia por refpeito
da guerra que fazia aho duque Rene de Lorraina, de
quem efte duque Charles foi desbaratado, & morto
em batalha campal; com ajuda dos Soios & Alemes,
que ftauam a foldo do duque de Lorraina, pera ajuda
do _qual foldo lhe elRei Luis mandara corenta mil
francos em dinheiro de contado, & embaxadores ahos
Soios, pera q ho ajudafem, tudo ifto diffimuladamente,
por naquelle tempo terem feitas tregoas efte Rei Luis,
& ho duque Charles, & alem deftas ajudas, & outras
muitas mandou elRei Luis a monfieur de Cram, feu
lugar tente no condado de Champagne, q fe foffe
alojar com oitoentas lanas, & outra companhia de
archeiros francos no ducado de Barroes, fenhoria do
mefmo duque de Lorrraina, pera alli tarem mais perto
delle, & ho ajudarem, fe foffe neeffario, contra ho
duque Charles, ho qual jz fepultado na villa de Nani,
que elle tinha ercada, onde foi efta cruel batalha, em
CHRONICA DO PRINIPE
que morreo: aho qual lugar fe foi elRei dom Afonfo
ver cotn elle, -confiando q podeffe fazer algas bas
auenas entre eftes Prinipes, & impetrar delRei de
Frana, & do mefmo duque Charles foccorro contra
. elRei dom Fernando, qual fiuza ordenou logo fua
partida pera Frana, a que fobre tudo ho moueo hum
ctratto de ligua, & amizades, que dom Aluaro dataide
fez com elRei Luis affinado pelo mefmo Rei Luis, &
per dom Aluaro dataide, quomo procurador abaftante
delRei dom Afonfo, do qual fe fezeram duas fcripturas
de hum theor, de que ha foi lanada na torre do
Tombo de Frana, que fe chama ha torre de Chartres:
fobela qual ma teria, & ida delRei dom Afonfo a Frana,
falando Phelippe de Cmines fenhor Dargentom, que
com muita prudenia fcreueo ha .Chronica defte Rei Luis
de Fr.ana, diz has palauras feguintes: Hos Reis, & Prin-
ipes deuem muito bem olhar que .homes mandam por
embaxadores, porq fe eftes que ca vieram fazer has
alianas delRei de Portugal (s quaes eu fui prefente,
& hum dos deputados por elRei Luis) foram h o m e ~
mais expertos, elles fe informaram milhor das coufas
da . Frana, & 11am aconfelharam feu fenhor a fazer
ha tal viagem, de que fe lhe refultou tanto damno,
perda, & trabalhos: hos quaes (tornando a noffa hi-
iloria) quomo fe depois vio, lhe acreentaram muito
ahos defgoftos que dantes tinha, & anteiparam ha
morte, & erto q hos Reis ham muito de euitar viftas,
por muito vezinhos q fejam, & fobre tudo per nhum
modo devem fair de feus Regnos a peffoalmente pedir
foccorro, & ajuda ahos outros, porq poucas vezes ti-
ram difo frutl:o, & pola mr parte ficam em defprezo
de feus fugeitos, & vezinhos, & dos mefmos Reis a
que fe vam foccorrer, ahos quaes auifos, & pareeres
- e-d - -- '11"' . - - . - __....a_.. ---L ____.it__ - -.
' I'
DoM loAM.
229
i mais a vela, por tornar a elRei dom
ual effes dias que mais fieue em Touro,
ntou de fe ir a Frana, proueo todalas
e por elle fiauam
7
de gente, mantimentos,
le guerra, & em Cantalapedra leixou por
O perez de viueiro, cafado com dona Miia
1ma Portuguefa, & ho capitam Pero van-
Jnfigo. Em Caftro nunho ficou Pera de
ffoa de que elle tinha firemada confiana,
1 de vlhoa era j falleido, & hos filhos
am muito moos pera poderem ter cargo
~ u e r r a , por mofirar ha vontade: & defejo
fatisfazer a feus feruios cafou ha fua
ionna Maria farmento fua molhe r, per
de vlhoa, com dom Franifco coutinho
rialua, & ho deixou por capitam, & go-
idade de Touro. Ino affi feito fe partia
o mes de Junho de M.cccclxxvj. c ha
t loanna fua fpofa de Touro pera Cafiro
lram bem feftejados de Pero de mdnnha:
ho vieram ter ha fefia do Corpo de Deos
Douro, no qual lugar eiRei dom Afonfo
)rantes Lopo dalmeida, feu veador da fa-
que elRei foi em Miranda ordenou j ha
,ofa fe fuffe idade da Guarda, & com
n dabreu bifpo de Vifeu, & ho conde dt
mteiro mr daquella comarqua, donde
1u j fe vieffe a Coimbra, & com ella ho
u, onde ha veo vifitar ho Prinipe dom
Jr ordenana deiRei foi com ella atte
)e ha lcixou, & fe foi aho Porto pera el-
hou ordenando has coufas que compriam
1am, & paffagem em Frana, ~ qnal i-
230 CHRONICA DO PRINIPE
dade tambem ha Infante dna Beatriz ho veo vifitar,
& hos mais dos fenhores, & prelados do Regno : dali
do Porto mandou elRei Pero de foufa a Frana, com
recado a elRei Luis, fazendolhe faber fua determina-
am, ha qual era irlhe em peffoa dar conta de feus
negoios, & lhe pedir fobrelles confelho, ajuda, & fauor.
CAP. lxxxix. De quomo e/Rei dom Afonfo partio pera
f.,rana, & do que l paffou jummariame1zte.
DEPOIS q fe na idade do Porto ajui:ttaram com el-
Rei ho Prinipe dom loam, Infante donna Beatriz,
& muitos dos fenhores, prelados, caualleiros, & fidal-
gos do Regno houue fobre fua viagem varios pareeres,
mas ho delRei nunca fe mudou per onfelho, nem re-
zam, que lhe fobre iffo deffem, pola qual caufa depois
q partio de foufa pera Frana, per confelho, &
pareer de todos affentou elRei q era milho r, & mais
feguro fazer efta viagem pelo mr de Leuante, q pelo
de Ponente, polo que fe veio a Lisb_a, onde com muita
breuidade mandou aparelhar dezafeis naos, & inquo
carauellas, & tornar a foldo dous mil, & dozentos foi-
dados, pera guarda darmada, afora quatroentos fe-
tenta fidalgos, & continuos de fua cafa, que leuou pera
feruio de fua peffoa, que c elle hauiam de ficar em
Frana. Quomo ha armada foi preftes, elRei fe em-
barcou em Relello, & dali foi furgir a Cafcaes, onde
ho fe defpedio delle, & ho primeiro porto que
tomou foi ho de Lagos, no Algarue, donde veo ter a
Septa, & de Septa nauegou pera Marfelha, porq fua
tenam era ir defembarcar quella idade, mas por lhe
h<? vento efcaffo to_mol:l ho d<? Coliure, _onde
mr.c . - - - ---- ._. ... --...... .._ -- . .,..._ __ _.-...,.- ..,....._ --
I
I
..
___ I
.DoM loAM.
hum capitam delRei de Frana, que era gouernador
da villa, ho veo vifitar nao, & ho reeeo na villa
com grandes feftas, prouendo em todalas coufas que
forarrr neeffarias, afii per gente de p quomo de ca-
vallo. Depois delRei repoufar alguns dias, & ter defpe-
dida ha frota, & gente darmas que com elle viera, de
que tornou por capitam Rui figueira, na mefma nao
em que elRei fora, elle fe partio de Coliure pera
Perpinham, & dali mandou dom Franifco dalmeida .
pela pola a elRei de Frana, pera faber onde era fua
vontade q fe foffe ver com elle, ho qual lhe trouxe
recado q em Tours em Touraina, ho que fabendo el-
Rei dom Afonfo fe partia loguo de Perpinharn, no qual
affi quomo em todalas villas per de paffou atte chegar
a Tours lhe foram feitos reebimentos, & feftas, quomo
fe fora ha mefma pefoa delRei Luis ~ tanto q elRei
chegou a Tours em Touraina, elRei de Frana ho veo
vifitar a fua poufada, fem nqua querer q ho elRei dom
Afonfo foffe ver fua, ( ~ lhe fez grandes offreimentos,
que todos arrebentaram em falfidades, & enganos, &
porq todolos negoios que elRei dom Afonfo tralou
em Frana ficam quafi apontados atras fmariamente,
hos quaes per extenfo pertenem mais a fua Chronica
q a efta do Prinipe dom loam feu filho, porei filenio
no que l paffou, atte tornar aho Regno, & falarei
nos de Caftella, quomo . mais importantes, pois nefta
viagem elRei nam alcanou outro frulo de feus tra-
balhos, & grandes defpefas, que ha difpenfaam do
Papa Sixto quarto pera poder cafar com ha Rainha
donna loanna fua fpofa, & fobrinha, ha qual difpen-
faam elle podera bem hauer fiando em Portugal, fem
fazer tam defneeffario caminho, quomo foi ho defta
fua ida a_ Frana.
\
CHRONICA DO PRINCIPE
CAP. xc. De quomo ho Prinipe dom Ioam tomou ha
villa Dalegrete, & houue hos lugares da Zagala,
Pedra ba, Ferreira, & Noudar.
A TRAS FICA DITO quomo dom Afonfo de montroi cra-
ueiro da ordem Dalcantara, que fe chamaua me-
ftre da mefma ordem, tomou ha villa Dalegrete, aho
que fe logo nam pode foccorrer por refpeito doutras
coufas mais importantes, em que entam ho Prinipe
andaua occupado, mas quomo elle de fua natural con-
dio fofria mal qualquer afronta que lhe fezeffem, porq
efta villa fora tomada depois delRei feu padre andar
em Caftella, ficando elle por regente do Regno, tomou
ifto muito fobre fim, quomo injuria feita a fua propria
pefoa, polo que depois delRei dom Afonfo fer em
Frana mdou ajuntar gte, lanando fama que queria
vifitar has villas fronteiras dantre Tejo, & Odiana, &
no mes de laneiro de mil quatroentos fetenta, & fete,
partio . de Lisba, & corrdo ha comarqua Daltejo,
veo de fubito poer erquo Alegrete, mandandoho c-
bater per vezes, em que houue muita perda, & dno,
affi de fua gente, quomo dos que ftauam dentro na villa,
em fim vendoffe hos ercados em eftremo perigo lha
entregaram, a cdiam q hos deixaffe fair faluas vidas,
armas, cauallos, & hos bs que configo podeffem leuar.
Nefte mefmo tempo, hum caualleiro Caftelhano per
nome Pero pantoia entregou aho Prinipe has forta
lezas de Zagala, Pedra ba, & Ferreira, em fatisfaam
do qual feruio lhe deu ho Prinipe em Portugal ha
villa de Sanl:iago de caem, & ha Zagala, & Pedra
ba, com outros bs em Portugal, deu a d Afonfo de
montroi, por deixar ho feruio delRei d Fernando, &
fe vir pera ho delRei d Afonfo feu pai, ho qual dom
r .
DoM ToAM.
Afonfo de montroi teue eftas villas por P
q fezeram has pazes, com em todo efie
eftremados feruios a eftes Regnos. No m
Martim de fepulueda vintequatro de Seui
elRei dom Fernando dera ha alcaidaria
que hos Cafielhanos ganharam no anno
quatroentos, & fetenta, & inquo, entrf
villa aho Prinipe, tomando ha parte
polo qual feruio lhe deraf!l ha villa de E
. rendas, & jurdio. Depois da tomada D;
ho Prinipe dom loam cortes em Montem
nas quaes lhe outorgaram ha ba cant
nheiro pera ajuda das derpcfas que orC
fazia.
CAP. xcj. De quonro ha Rainha dmma .{;
erquar Touro, & ho arebifpo de 1
marques de Vilhe11a fe recorziliaram
ha cajlello de Je deu por parlil
s TANOO HA RAINHA donna Jfabel, n
M.cccdxxvij, em Tordefilhas, foi aui
idade de Touro poderia hauer a todo ml
homs de guerra Portuguefes, ho que fa
dolhe q failmente ha cobraria, lhe mand
quo c ha groffa companhia de gente, '
capites ho almirte dom Afonfo anrriqut
dom Fernando, & dom Rodrigo afoto pir
de Benauente. A cidade foi combatida
vezes, dos quaes ho derrade1
deram durou per fpao de feis horas, m1
dade mattaram, & feriram ttos dos Caftell
CHRONICA DO PRINCIPE
~
oufaram de ha cometter mais, & hos capites fe tor-
naram pera Tordefilhas, & por fe euitar q hos da i-
dade nam fezeffem mais males naquella comarqua 4os
que j tinham feitos, ha Rainha donna Ifabel mandou
poer gente de guarniam aho redor della, em fam
Romam de Ornija, & por capitam Pero de velafquo,
& dom Fedrique anrriquez na aldea de Pedrofa, &
V afquo de viueiro, & Ioam de biedma em Betabes, &
dom Pedro dafonfequa, natural de Touro, bifpo de
Auila., & Afonfo dafonfequa ambos em Alahejos; mas
fendo ho P_rinipe dom Ioam auifado do erquo de
Touro, fez com muita diligenia gente pera lhe foc-
correr, de que deu h a capitania a Lopo vaz dazeuedo
almirante deftes Regnos, & a Fernam martz mafca-
renhas feu capitam dos ginetes, ahos quaes, em che-
gando villa de Pinhel deram nouas ertas do grande
poder com que hos Caftelhanos tinham erquado Touro,
polo que, confiderando ha pouca gente que leuauam,
auifaram ho Prinipe, pera faberem fe era fua vontade
q paffaffem a diante, aho que hauendo refpeito lhes
mandou q fe viefem parlle : nefte comenos ho are-
bifpo de Toledo vendo quam fraqua parte era ha fua,
pera refiftir aho poder delRei dom Fernando (fabdo
j quam mao defpacho elRei dom Afonfo achara em
Frana) per intereffam delRei dom Ioam Daragam,
pai delRei dom Fernando, & dalgs fenhores de Ca-
ftella, afii elle quomo ho marques de Vilhena, fe recon-
iliaram c elRei dom Fernando, & com ha Rainha
donna Ifabel, & ho caftello de Madril, fobre quem
ainda tinha poilo erquo ho duque ~ o Infantado, fe
deu por partido.
i
i.._
DoM loAM. 235
CAP. xcij. De quonzo hos Cajlelhanos cob,--aram ha i-
dade de Touro, & ho conde de Marialua fe acolheo
com hos .feus a Cajlro nunho.
A TRAS FICA DITO quomo elRei d Afonfo deixou por
gouernador, & capitam da idade de Touro dom
Franifquo coutinho conde de Marialua, & porq ho
defcuido do chronifta que copilou ha chronica do mefmo
Rei dom Afonfo foi demaziado em nam fcreuer por que
modo efta tam leal idade coroa de Portugal foi ga-
nhada dos Caftelhanos, he bem q ho digamos, pois
meree fazerffe della menam, ho qual negoio acon-
teeo polo modo feguinte. Hum paftor, per nome
Bartholomeu, natural da mefma idade, criado nella,
homem cobiofo dalcanar honrra, & adquerir per fua
industria com que podeffe viuer ifento dos trabalhos
de feu offiio, tendo bem na memoria quam afpero he
ho fitio da idade per ha parte, pola qual fe nam pode
ir a ella fe nam com muita dificuldade, elle
mefmo, fem outra companhia, de fubir de noite per
aquellas afperezas, & chegar atte hos muros, & ver
fe daquella parte fe vigiaua ha idade, ho que fez tantas
vezes, atte q fe afegurou de nam hauer ali guarda,
nem roida, do que loguo deu fecretamente conta a
dom Pedro dafonfequa bifpo Dauila, que entam eftaua
em Alahejos em guarniam, dizendolhe q fe lhe elRei
dom Fernando fezefe honrra, & mere, & elle pro-
metteffe da fua parte, lhe daria modo de tomar ha i-
dade de Touro, com pouco perigo, & menos defpefa.
H o bifpo, que fabia quanto ilo importaua, lhe prometteo
dalcanar delRei ha honrra, & merce, que por tal cafo
era rezam q lhe fezeffe, & q alem difo elle tambem
da .. fua parte h9 faria, com hQ que quis tirar delle ho
CHRONICA DO PRINCIPE
>
modo q fe nefte negoio hauia de ter: ho paftor que era
fagaz lhe refpondeu, fenhor nam te.ndes q me pre-
guntar, daime gente q eu vos darei Touro nas mos:
ho bifpo reeofo q podefe nifo hauer engano nam
oufou fiar delle por entam ha gente que era neeffaria
pera tal feito, contudo tomou dez homs de confiana,
ahos quaes perante ho paftor encomendou q por fer-
vio delRei feu fenhor fofem com elle, a ver fe ho que
dezia era coufa que podefe vir em effeao. Ho paftor
Bartholomeu partiu com feus dez con1panheiros de
noite, hos quaes chegando junto da idade, guiou per
h lugar tam afpero, q nam podiam ir per elle fe nam
gatinhas, & ali catninharam atte aho p do
muro, ho qual naquella parte era tam baxo, q fem tra-
balho entraram dentro na erqua, f ferem fentidos,
& depois q viram bem fua vontade ho fitio, pouca
guarda, & vigia, que fe naquella parte da idade man-
daua fazer, tornaram a fair leuando recado aho bifpo
do que acharam, com ho que elle foi mui alegre, polo
que fem mais tardana, defa gente que configo tinha,
& doutra que diffimuladamente ajuntou das guarnies
dos lugares vezinhos, fez feis entos homs, de que deu
ha capitania a Pero velafquo, & a Vafquo de viueiro,
hos quaes partiram de noite leuando ho mefmo paftor
Bartholomeu por guia, & fendo j perto da idade,
algs dos da companhia lhe dixeram q pareia aquillo
mais treiam que ardil, porq nam podia fer q houueffe
tam mao recado en1 ha idade tam fronteira, quomo
ho aquella entam era, & que tam pouquo hauia q fora
erquada, & q nam tomarem hos dez que ali eftauam
prefentes, que ho bifpo mandara primeiro com ho
pafior, fora diliinulaatn dos Portuguefes, pera acolhe-
rem todos hos que depois tornaffem, & com ifto fe
---------- ----- --
'
DoM loAM.
comearam hos mais daluoroar, dizendo q ho milhor
confelho er.a tornarenffe fem irem cometter coufa,
que ho perigo ftaua mais erto q ha viaoria, aho que
lhes refpondeo Pero velafco com manfidam, & pru-
denia, q elles aquillo, nam era fe nam de
peffoas bem olhadas, mas vifto camanha
lhes feria irenffe dali fem poerem em obra ho que iham
fazer, q teria por milhor partido ho da morte q tornar
atras, pedindolhes q nam reeaffem pafar a diante,
porq elle efperaua em Deos q hauiam de ganhar todos
muita honrra, ho qne ouuindo Antonio dafonfequa,
manebo mui esforado, & animofo, que depois foi
contador mr de Caftella, tomou ho paftor pola mo
encaminhando c elle per montanha, & lhe dixe,
companheiro, tu, & eu iremos hoje por ha bandeira
de Cafi:ella fobre ho muro de Touro. Pero velafquo,
& Vafquo de viueiro, que nam defejauam outra coufa,
feguiram tras elles, ho que afii fezeram todolos outros,
hos quaes guiados polo paftor Bartholomeu vieram atte
ho p da montanha, & na orde1n em que iham chega-
ram efpereza della, n1as dali por diante foram em ps,
& mQs atte fereLn juntos aho muro, per onde entra-
ram fem hos ningue1n fentir, & quomo foram dentro
Pero de velafquo, com ha mr parte da gente, enca-
minhou per praa, & V afquo de viveiro acodio a ha
das portas pera ha abrir, & dar entrada a outra gente
que ho bifpo mandara nas coftas delles, de que era
capitam dom Fedrique manrrique: hos que roldauam
ha idade, fentindo gente defacoftumada, nam f fa-
bendo detertninar em cafo tam fubito, fe
logo aho caftello, cuidando q era treiam ordenada por
algs dos Cafielhanos que morauam na idade, que
fe tinha fofpeita. Ho conde de Marialua, que fiaua no
,.
..
238 CHRONICA DO PRINCIPE
caftello, vendo tamanho defacordo dos feus, fem lhe
faberem dar razam do que era, fe pos loguo em armas,
mas querendo fair lhe dixeram outros, tJ.Ue vinham fo-
gindo tras hos primeiros, q ha idade era entrada, &
has portas della abertas, & ha praa chea de gente
dos imigos, que comeaua j fazer rofto pera
onde elle ftaua: com ho qual recado, & gram defacordo
que via em todos, fem tomar mais confelho, leixou ho
caftello, & fe acolheo a Caftro c toda ha gente
que fe com eH e quis ir, onde h os Pero de mendanha
reebeo, & teue hos mais delles a foldo, & raam,
atte que fe com elle vieram pera Portugal, quando
per mandado delRei dom Afonfo deixou ha villa
Caftelhanos, quomo fe aho diante dira.
CAP. xciij. De quomo ha Ratnha dna {fabel veo i-
dade de Touro, & dJZa Maria farmento teue Iro
cajiello por Po_rtugual, atte q defefperada de Joccorro
ho deu a partt.do.
pERO DE VELASQvo, & Vafquo de viueiro quomo te-
veram ganhada ha idade de Touro, auifaram ho
bifpo de Auila, ho qual com muito contentamento por
. fer author de tam affinado feruio, defpachou logo hum
feu parente pola pofia com has nouas Rainha donna
lfabel, que nefte tetnpo ftaua etn Medina do campo,
porq elRei dom Fernando era ido a Bifcaia prouer em
coufrls que lhe compriam, has quaes nouas ella reebeo
cotn tanto prazer, quanto era rezam q teueffe por ha
tal, & tam paifica vitl:oria, mas reeofa q hos de Ca-
ftro nunho, & Cantalapedra fe vieffem lanar no ca-
ftello em fauor de donna Maria farmento, que fe delle
I
1
I
I
'I
DoM loAM.
1is fair, na mefina hora que lhe chegou ho meffa.
o bifpo, fe partio de Medina com toda ha gente
rra que afi tinha, & doutros lugares vezinhos
o de Touro, onde chegou j bem noite, ha qual
de fer na idade, cuidando q donna Maria far-
foffe molher menos baroil, & anirnofa quella,
mdou per brandas, & does palauras pe'tlir ho
, com promeffa de muitas meres, mas donna
que era molher de animo generofo, refpondeo
ha, q ella ficara naquelle cafiello com ha mefma
;am que ho teuera loam de vlhoa, feu marido,
nam era ella ha peOOa a quem ho fua A. hauia
ular pedir, fe nam a e IRei dom Afonfo, em cujo
ho ella tinha. Ha Rainha dna lfabel efpantada
1 caualheirofa repofta, defejando de ha veoer
m, & amor, lhe mandou per muitas vezes re-
fem nenhum delles aproueitar, do que anojada
;o dar muitos, & afperos combates aho cafiello,
e da ha, & outra parte morreram muitos, &
.ualleiros, fem aquella valerofa donna querer
r nenhum partido, efperando foccorro dos Por-
:s, ho qual lhe nam veo, porq ho caftello ftaua
o de maneira q per parte nenha fe lhe podia
, affi q durando illo per fpao de muitos dias,
.e comearem a faltar hos mantimentos, & ter
o ba parte da gente, defefperada de foccorro,
Uadida de confelhos que lhe feu irmo dom Diogo
o conde de Salinas cada dia mandaua, & daua
vezes que per mandado da Rainha lhe iha falar,
de dar ho cafiello a partido, & c condiam q
rnaffem todalas terras, rdas, tas, & meres
u marido tinha da coroa, & a todolos que com
ornaram parte por Portugal, com hos bs patri-
240 CHRONICA DO
moniaes que lhes per efte cafo er cfifcados, & fofie1
todos reftetuidos em feus offiios, & honrras, & q ell
fe podeife ir pera onde lhe aprouueife. Feitos elh
contraltos, & affinados pola Rainha dna Ifabel, dn
Maria {p.rmento lhe entregou ho da qual fi
nhora, & affi deiRei dom Fernando feu marido reebe
depois- muitas meres: nem menos foram fqueidc
fazer ho mefmo aho paftor Bartholomeu, a qu derar
privilegio de hom nobre, pera elle, & feus defer
dentes, & rendas, com que fe defpois fofteue honrn
damte.
CAP. xciiij. De quomo ha Rai11ha domza Ifabel je fi
de Tou,.o a Veles, pera impedir ha eleiam do mt
jlre de SanEliago, & e/Rei dom Fernarulo Peo
Tou,.o, & marulou en:ar Cajlro mmlw. & outrt
cajlellos que jlauam por Portugal.
DEI'OIS DA RAINHA donna lfabel ter cobrado ho
Helio de Touro. fiando ainda na idade lhe ve
recado quomo era falleido dom Rodrigo manrrique2
conde de Paredes, que fe chamaua mefire de Santliagc
& quomo dom Afonfo de cardenes, comendador m
de Leam, que fempre competira com ho conde fobr
ho titulo de mefire, era ido com muita gente de guerr
a V eles, cabea do mefirado, & fezera ajuntar os trez
elelores pcra ho elegerem por meftre, do que reeof
fe foi logo a V eles, & fez com dom Afonfo de
ij deftiffe da auo que cuidaua ter, & affi com hc
treze ele:ores q de fuas proprias vontades fupplicaffer
ao Papa q hos Reis de Cafiella foifem per fuceff
mefires de Sanliago, ho que lhes ho papa failment
_j
.........
DoM loAM.
conedeo, do qual tempo por diante ficou 1
de Santliago anexo Coroa de Caftella, c
Rei dom Fernando, & ha Rainha donm
deram depois aho mefmo dom Afonfo d
hauendo refpeito ahos muitos feruios qu
feitos, com lhe poerem tres ctos de r e ~
pera has defpefas que faziam nas villas,
fronteiros aho Regno de Grada. Efta mer
raro no anno de M.cccclxxviij. Stando aff
donna Ifadel em V eles traEtando eftes n e g o ~
ainda eJRei dom Fernando em Bizcaia r e ~
de Frana dar foccorro a elRei dom Af
entrar gente de guerra per aquella pari
depois de deixar ordenado ho que pera ii
fe partia pera Madril, & dali veo a Medi11l
& depois a Touro, com ter affentado de I
poer erquo a Caftro nunho, Cantalapedr.
& fepte Egrejas, pera ho que ajuntou ha
panhia de gente, com que em hum mefmc
eftas quatro villas, dos quaes erquos deu
de villa Fermofa, feu irmo bafiardo, cargo I
Egrejas, & a Pero de Guzmam do de I
aho bifpo de Auila, & a Vafquo de viueirc
dafonfeca, & a dom Sancho de Caftella
1
d
lapedra, & a dom Luis filho do conde de
a dom Fedrique manrciquez, do de Ca
dando elle fempce de hum ecquo aho
uendo no que era neeffario: hos da vi
Egrejas, depois do duque de villa Fermofa
muitas vezes combatidos, & pofios em gran
dous mefes depois de ferem ercados fe de1
delRei, que logo mandou arrafur aquella
que foram tomados em fcaramuas mand'
6
. .
CHRONCA DO PRINCtPE
. ~
Hos de Cantalapedra, tres mefes depois do erquo,
vendo q fe nam podiam per nhum modo defender,
fezeram partido com elRei dom Fernando, q hos
deixaffe fair da villa com tudo ho que podeffem leuar,
& lhes defe guia, & faluo conduto pera fe irem a
Portugal, ho que feito mandou egar has cauas, & der-
ribar todalas torres, & muros da villa, & afli ha man-
dou reftetuir aho _bifpo de Salamanca, cuja era. Ifto
feito elRei deixou toda ha gente deftes erquos no de
Caftro nunho, & Couilhas, & por capites ho duque
de villa Fermofa, & ho conde de Haro condeftabre de
Caftella, indoffe logo pera Medina do campo, & dali
a Seuilha, onde ho ha Rainha donna lfabel ftaua fpe-
rando, & de Seuilha fe foram pera V canha prouer
coufas que lhes compriam, & de V canha a Madril,
onde lhe der nouas quomo ho Prinipe dom Ioam
mandara dous exeritos em Caftella, dos quaes hun1
entrara per lladajoz, & outro per idad Rodriguo, do
que aquellas comarquas reebiam muito damno, polo
que fcreueram logo aho comendador mr de Leam,
dom Afonfo de cardenes, q com toda fua gente, &
qualquer outra mais que podeffe ajtar foccorreffe
aquellas partes, ho que elle fez com ha mr diligenia
que pode. Efla guerra foi ha mais cruel, & mais braua
que fe atte entam fez entre Caftella, & Portugal, porq
a nha coufa fe pode poer fogo a que fe nam pofeffe,
n [fe] perdoaua a coufa viua, ilo com mais odio, &
crueza, do q fe podera fazer ctra infieis, & fucedeo
efta guerra com tanta auantagem dos noffos, q foram
conftrangidos elRei dom Fernando, & ha Rainha dona
lfabel, de ern peffoa acudirem a eftes males, & fe fa ..
zerem fronteiros daquellas partes per onde efta guerra
continuaua, mandando dom Afonfo de cardenes q fe
., .. ..
.DoM loAM.
foffe per comarca d-e idad Rodrigo : elRei fe tornou
aho erquo de Caftro nu.nho, & ha Rainha donna
Ifabel fe veo a Badajoz, donde mandauam fazer
tradas em Portugal, de que ho Regno reebeo muitas
perdas, & damnos, com ftragos, & mortes de muita
gente, nas quaes entradas hos Caftelhanos, por fe vin-
garem dos males que. h os noffos tinham. em Ca-
fteUa, nam achauam edifiio que nam queimaffem, nem
dauam vida a coufa que pode[em mattar. Defte .modo
caftigaua DEos eftes dous Regnos, per mo_ de- dous
Reis, cuja cobia .tinha mais conta com regnar, q com
deixar poffuir hum aho outro aquillo que per direita
fucefam lhe nelles podia caber.
CAP. XCV. De quomo e/Rei do1n:Fernando cobrou ca-
jlro 1zutzho po1 partido que (e'{ conz Pero de nte1z-
danha, & da calidade de .fua peffoa, & out1--as par
ticularidades.
H A cousA QUE elRei doffi Fernando fobre todas defe-
. jaua era cobrar ha villa de Caftro nunho, porq
continuamente Pero de 1nendanha fazia dali muitos
males a todolos comarquos que tinham fua parte, da
qual paixam mouido ha mandou combater per muitas
vezes, fem ha poder tomar, & tendo niflo paffado bom .
fpao de tempo, vendo q hos do arraial comeauam a
murmurar, & dizer q era por demais p.erder temp9
naquelle erquo, reeofo q fe amotinaffen1, quQmo j
em outros lugares fezeram, determinou de mandar
Pero de mendanha, com prome[as de grandes
meres, mas quomo elle era bom caualleiro, & muim
attentado em feus negoios, antes de deixar entrar ho
-
'
244
CHRONICA DO PRINIPE
meffageiro na villa deu auifo a todolos moradores q do
trigo que tinham cozido pera dar ahos cauallos, por
falta de euada, lanaffem nas pias em que comiam
hos porquos, & hos trouxeffem a comer nellas no
tempo que aquelle fidalgo Caftelhano entraffe, ho que
ordenado, mdou q lhe abriffem ha porta da villa : ho
qual depois de dar feu recado, fe tornou a elRei dom
Fernando, com defengano de Pero de mendanha per
nh modo querer aceptar feu feruio, dizendolhe
quomo vira dar trigo na villa ahos porcos em lugar de
do que elRei fptado quifera mdar leuantar
ho erquo, mas per confelho dos feus perfeuerou nelle,
& affi no de Couilhas, & fazedoffe de ha parte a outra
crua guerra, fe comeou trattar certo per meo
dalgs partes, & amigos que Pero de mdanha tinha
no arraial, no qual elle entendeo por ter j muita
gente morta, ferida, & dote, c grde falta de manti-
mentos. Ho conerto foi defte modo, q defpachaffem
meffageiro a elRei dom Afonfo, que ainda andaua em
Frana, & fe lhe elle mandaffe entregar has villas de
Couilhas, & Caftro nunho, & leuantaffe ha menag
que lhe dellas tinha feita has entregaria, pagandolhe
elRei dom Fernando dous contos de reis por hos ga-
ftos, & defpefas que tinha feitas nellas, das quaes
hauia de fair a bandeiras defpregadas, & caminhar
affi com ellas per Caftella, atte chegar villa de Mi-
rda do douro em Portugal, leudo configo toda fua
cafa, & todolos que ftauam neftas villas, com fuas
armas, cauallos, & bs que podeffem leuar, tudo a
cufta delRei dom Fernando, atte ferem em Miranda,
& q depois q foffem em Portugal, fe fe quifeffem tornar
pera Caftella, lhe foffem reftetuidos todos feus bes.
Sobre eftes tratlos fe fezeram vinte, & dous capitulo! r----.
DoM loAM .
affaz honrrofos pera hum caualleiro fem titulo, quomo
era Pero de mendanha, hos quaes eu vi, & ftam em
poder de Pero de medanha, & Luis de mdanha, feus
netos, filhos de Franifco de mendanha, fcriptos em
lingoage caftelhana, affinados da mo delRei dom Fer ..
nando. lfto affi affentado defpacharam ha pofta. com
eftes aptametos aho Prinipe dom Ioam pera tomare
feu pareer, aho que refpondeo, q fe fezeffe h o que
elRei feu pai fobriffo ordenaffe. Com efta repofta do
Prinipe defpachou Pero de mendanha hum feu parente
pela pofta a elRei dom Afonfo, c fua carta de crena,
a que elRei logo refpondeu, vifto quomo se ha idade
de Touro perdera, que era ho mais importante que
lhe em Caftella ficara, q elle lhe aleuantaua ha mena-
gem q lhe tinha feita, pera poder entregar has villas
de Caftro nunho, & Couilhas a elRei dom Fernando,
polo modo que tinha conertado, & q affi ho fezeffe,
pois q ent lhas n podia defender. Defta maneira foram
eftas villas entregues a elRei dom Fernando no mes
de Iulho de M.cccclxxvij, & Pero de mendanha faio
com has bdeiras de Portugal tedidas, & defpregadas
per meo do arraial delRei dom Fernando, & per to-
dolos lugares de Caftella, per onde paffou atte chegar
a Miranda do douro, ficando ambas has fortalezas por
elle em poder, & f de Rodrigo de vlhoa, atte fer com
toda sua companhia na villa de Miranda, onde ho conde
Dalua de lifte, d Anrrique, que atte entam fteuera
prefo em Portugal, depois de ter feito feu refgate, ftaua
por ordenana delRei dom Fernando em arrefes, &
fegurana da peffoa de Pero de mendanha, & fteue
atte que entrou na villa com toda fua cafa, familia, &
companhia, ho que feito ho conde fe foi pera Caftella,
onde fempre dixe grdes bes, & louuores do P r i n ~ i p e
.
.-
-
-l
I
t
..
'
~
CHRONICA DO PRINCIPE
~
d Ioam, & -da ba companhia qtie delle, & de todolos
fenhores, & fidalgos de Portugal reebera. E pois j
comeei de falar nefte valerofo, & esforado caualleiro
Pero- de mendanha, rezam he q fe faiba donde teu e feu
prinipio, & per que modo veo aho fiado que teue, &
foi affi. Elle era natural de Padinas, cafado com donna
Ines de benauides, filha de Fernam vrio de benauides,
da cafa do marichal de Frmifta t, que fe chamaua de
benauides. A efte Pero de mendanha deu dom Ioam
de valeuela, prior da ordem de fam Ioam, pola muita
confiana que delle tinha, ha alcaidaria de Caftro nu-
nho, de cuja ordem ha villa era, ho qual no tempo em
que elRei dom Anrrique andaua em defauenas com
ho Infante dom Afonfo feu irmo, vendo ha defpofiam
dos negoios lhe feruir, quomo era homem fabedor,
aftuto, & esforado, determinou fazer feu partido bom,
recolhendo naquella villa de Caftro nunho muitos ho-
mns de guerra, & homiziados, com que tomou logo
per fora has villas de Couilhas, & fette Egrejas, que
tinham ha parte do Infante dom Afonfo, por quanto
elle feruia e IRei dom Anrrique, & tinha delle mui bas
tenas, & ordenados, cujos padres eu vi, has quaes
villas fortaleeo, & abafteeo de mantimentos fua
cufta, & affi dellas quomo de Caftro nunho fazia guerra
a quem nam queria fua amizade, ftragdo toda aquella
comarqua, partindo das caualgadas mui liberalmente
com eftes homs, & andando ho Regno neftas diuifes
tomou ha villa de Tordefilhas, & ha teue per fpao de
tempo, & tomou Medina do campo, & teue ha Mota
ercada, & pofia em grande aperto, do qual modo cre-
t Na ed. primitiva est.fronesta.
__ I
DoM loAM..
247
eo tanto em foras, poder, & riquezas, q hll's idades
de Burgos, Auila, Salamca, Segouea, Valledolid, &
Medina do campo, & muitas villas comarqus, lhe da-
uam cadanno, quomo por tributo, erta contia de pam,
vinho, carnes, & marauedis, por hauerem delle feguro.
Alem defte ordinario lhes fazia outros petitorios de
gados, dinheiro, & outras cufas que lhe outorgauam,
de maneira que chegou a tanto, & a fer tam rico q
pagaua fua cufta fo1do a trezentos, & quatroentos
homs de cauallo, & muitos de p, com todolos fe-
nhores do Regno, que tinham terras naquella comar-
qua, ho temerem, & lhe darem dadiuas, por lhas nam
damnificar, do que tudo veo a fer tam poderofo quomo
tenho dito, & a ter muitos, & bs criados fidalgos, &
com hos quaes, & com fua fazda feruiQ el-
Rei dom Afonfo nas guerras que teue em Caftella, atte
q fe veo pera Portugal_
CAP. xcvj- De quomo dom AfollSo de comell-
dador mr de Leam, entrou em Portugal, & cui-
dando q ho Prinipe dom loam Pinha sobrelle _{e
tornou pera Cqflella-
DOM AFoNso de cardenes_ comendador mr de Le
(a qu algs fcriptores chamam commente meftre
de Sanliago fem ho ainda fer, & h o foi depois defies
negoios) era peffoa de que elRei dom Fernando, &
Rainha dna Ifabel fazi gr fundamento, & que em
todalas guerras qe teueram com eiRei dom Afonfo,
lhes fez muitos, & nffinados fervios, no mais do tempo
das quaes foi fronteiro das terras dantre Tejo, & O dia-
na, per onde nefie tempo fez entrada em Portugal
acompanhado de duas mil lanas, com que chegou atte
CHRONICA DO PRINCIPE
>
ha ribeira do pigebe, onde repoufou ha noite, c pre-
pofito de em amanhecendo correr ha terra: ho Prinipe,
que entam viera ter Deluas a Euora aforrado, foi mui
trifte com has taes nouas, por fe achar fem companhia
pera hos ir cometter, porque na idade hauia entam
muito pouca gente de guerra, mas reuoluendo no pen-
famento quomo poderia pr manha dar a entender ahos
Caftelhanos q feu defejo era comettelos, mdou na
mefma noite Diogo da sylua de menefes, que depois
elRei dom Emanuel fez conde de Portalegre de juro,
& dom loam de foufa, com trinta de cauallo, pelos
quaes mandou dizer a dom Afonfo de cardenes quomo
chegara aquelle mefmo dia a Euora, em que lhe fora
dito de fua vinda, & lugar em que ftaua apoufentado,
com tenam de quomo foffe dia correr s portas da i-
dade, & porq deuia de vir canfado do caminho, lhe ro-
gaua q ho fperaffe ali fem tomar mais trabalho, porq
elle ho iria bufcar, antes q h a alua rompeffe: alem. difto
lhes mandou q toda aquella noite em indo, & vindo
fezefem gr trilha, andando pela terra de. ha, & da
outra parte, q pareeffe aho outro dia q fairam da i-
dade de noite muitos de cauallo. Defpedidos do Prin-
ipe Diogo da fylua, & dom Ioam, chegar ribeira
onde hos Caftelhanos ftau lojados, & deram ho recado
aho comdador mr, que hos reebeo be, & lhes dixe
q de fua parte podiam dizer aho Prinipe, q elle no
fabia q fua Alteza ftaua em Euora, mas P<?is j diffo
tinha erteza, q fua obrigaam era illo bufcar, quomo
a Prinipe tam alto, & tam exellente, & a que toda
peffoa com rezam deuia fervir, ho qual fervio lhe que-
ria ~ a z e r em amanheendo, polo tirar de trabalho, q
pedia a fua Alteza q nam faltaffe de lhe aprazar bata-
lha, porq naquelle dia fperaua de ganhar muita honrra:
_ _I
DoM IOAM.
249
com has quaes palauras, & outras de muita cortefta
fe defpediram Diogo da fylua, & dom loam de foufa
de dom Afoufo de cardenes, & chegaram a Euora s
duas horas depois de mea noite, onde acharam ho Prin-
ipe preftes pera fair ahos imigos, com efa gente que
na idade hauia, tendo j defpedido ho bifpo dom Garia
de menefes com trezentos de cauallo de fua guarniam
contra onde hos Cafielhanos jaziam, dizendolhe que
polo caminho de ha parte, & doutra trabalhaffe taro-
bem por fazer ha mr trilha de cauallos que podeffe.
Ho biipo chegou em querendo romper ha alua junto
do arraial dos Cafielhanos, onde fe lanou em hum valle
efcufo: dom Afonfo de cardenes reeofo q com ho
Prinipe faife da idade muita gente, & q poderia fer
deabaratado, quomo fe delle defpediram Diogo da fylua \
de menefes, & dom loam de foufa, mandou q todos
hos que teueffem carriagem ha ordenaffem, & man-
daffem pelo caminho que trouxeram, & em amanhe-
endo com toda fua gente bem ordenada encaminhou
pera Euora, com tenam de dar batalha aho Prinipe,
mas depois q comeou de amanheer, tendo j andado
hum bom pedao, veo dar na trilha que hos cauallos
de Diogo da fylua, [de] dom loam, & do bifpo tinham
feita, na qual quanto mais entraua, lhe pareia maior,
ftimandoha por trilha de mil cauallos polo menos, &
contyderando quefies lhe hauiam j de ficar nas cofias
em ilada, & q paffando adite ho Prinipe lhe fairia
de rofto com fua batalha, que deuia fer de muita, & ba
gente, dos quaes tomado no meo fi:aua erto fer des-
baratado, houue por bom confelho fazer volta, & tor-
narffe pera Cafiella, ifi:o com tanto medo, prefa, &
defordem q paffando pelo porto de Mouro, faio a elle
dom Diogo de crafto com ento, & inquoenta lanas,
.-
,.
250 CHRONICA DO PRINCIPE
,
de que era capifam, & deu na regaa dos Caftelhanos,
& hos desbaratou, & captiuou mais de ento de ca-
uallo. Ho Prinipe fiando pera fair da idade, com efa
gente que tinha, a hos cometter, chegoulhe recado
quotno eram idos, do que leuou muito contentamto,
polo perigo em que podera cair, vifto ha pouca gente
que configo tinha, & grande afronta que reebera em
chegando hos imigos a vifta da idade de Euora fiando
elle prefente, ho qual fe lhe dobrou depois q foube
quomo dom Diogo de crafto lhes desbaratara ha re-
guarda, & fez n1uitas n1eres a hutn caualleiro per
nome Rui cafquo, per cujo confelho dom Diogo de
crafto deu nos Caftelhanos, & ho honrrou fempre muito
com palauras, & fauores, por lembrana de tam affi-
nado feruico.
)
CAP. xcvij. De quomo e/Rei dom de_fefperado
de hauer .foccot--ro, nenz a1uda de/Rei de Frana fe
tornou aho Regno, & ho P1inipe lho entregou, &
ho titulo de Rei que J. tinha.
Q
voMo ATRAS fica apontado, minha tenam foi nam
trattar particularmente das coufas que elRei dom
Afonfo pafou em Frana, onde defpendeo mais de hum
no de tempo, fe nam dizer aquillo que toca aho Prin-
ipe dom loam, ho qual per muitas vezes ho mandou
vifitar, & quomo bom, & obedite filho lhe mandaua
fempre relaatn das coufas que paffauam no Regno, &
pera has que hauia de fazer, pedir feu pareer, & con-
felho, & hum dos derradeiros meffageiros que mdou
com eftes negoios foi Antam de faria feu camareiro,
pefoa de que muito confiaua, ho qual achou elRei fus-
...
- .
DoM loAM.
peitofo de ho elRei Luis querer prender, & entregar
prefo a elRei dom Fernando, & a Rainha donna Ifabel,
com ha qual fufpeita, & temor, defefperado j das
coufas de Franca, determinou de ir a Hierufalem fer-
,
uir Deos, & de todo deixar has coufas do mundo, ho
que affi affentado alem das inftrues que deu a Antam
de faria, icreueo de fua mo aho Prinipe pedindolhe,
& mandando lhe, q logo fe fezefe jurar por Rei: alem
defta carta fcreueo outra de fua mo ahos fiados do
Regno encomendandolhes q natn pofefem duuida a
jurar ho Prinipe por feu Rei, & fenhor, q fua tenam
era trocar has coufas do mundo polas de Deos, & ho
ir feruir na idade de Hierufalem, coufa que elle tinha
<:"le muitos dias cuidada, & affentada configo depois do
falleimto da Rainha fua 1nolher, & q por ha nam ter
comprida, quomo ha promettera, & votara, lhe fairam
aho contrairo todolos negoios que comettera contra
feu voto, fqueendolhe ho feruio de Deos, & faude de
fua alma, polo vo, & inutil .defejo de regnar, pondo
tanto fogo, & tanta guerra entre Chriftos, das quaes
culpas, & peccados queria antes q morreffe comear
de dar conta a Deos, & dellas fazer emmda, pera de-
pois de fua morte vir ante feu diuino juizo com menos
carga do que ho faria morrendo nas vagas, & ondas
das vaidades do mundo, em que atte entam andara
enuolto. lfto que elRei fcreueo aho Prinipe, & ahos
fiados do Regno n foi fingido, porq defpedido delle
Antam de faria, elRei fe partia fcondido dos feus, fem
leuar configo mais q Sueiro vaz, & Pero peffoa, feus
moos . da camara, & Steuam mz feu capello, & h
moo defporas, mas quomo elRei Luis foube de fua
ida, mandou muitos gtis homs de fua cafa pela pofta
em bufca delle per diuerfos caminhos, dos quaes ho
CHRONICA DO PRINCIPE
.
achou hum Normo, per nome Robinet lebeuf, em ha
aldea, j de noite repoufando do trabalho do caminho,
do qual lugar fe tornou elRei a Normdia, donde par-
tira, acompanhado de muitos gtis homs Franefes,
& feus, que fe loguo foram parelle, onde fteue atte q
partio pera Portugal. Ho Prinipe depois que leo ha
carta delRei feu pai ficou quomo fora de fim, & depois
de com muita trifteza cuidar nefte negoio per fpao
de dous ou tres dias, fem difo querer dar conta a. peffoa
nenha, mandou chamar algs daquelles de que muito
contiaua, & quomo em confiffam lhes deu particular-
mente a cada hum conta do que elRei feu pai fcreuia,
pedindolhes feus pareeres, hos quaes todos lhe dixe-
ram q coufa de tanto pefo deuia de tralar com hos do
feu ho que affi fez. E viftas per todos has
cartas delRei dom Afonfo, foi concluido q fem mais
tardana fe fezeffe jurar por Rei, polos defejos que
algs feus priuados tinham de ho verem Rei, houue
nifto tanta prfa, q mandaram loguo hum cada-
falfo no alpdere de fam Franifco de Sanlarem, onde
ho Prinipe entam ftaua, & has cartas fe leram publi-
camente, & foi jurado por Rei, fem niffo ferem pre-
fentes outros prelados, n fenhores, fe nam hos que fe
entam acharam na corte : ho qual auto fe fez ahos dez
de Nouembro de mil quatroentos fettenta, & fette
annos, mas logo dali a quatro dias lhe veo recado quo-
mo elRei feu pai partira de Frana pera ho Regno,
onde chegou dahi a poucos dias aho porto de Cafcaes,
acotnpanhado de ha ba frota de naos, & nauios que
fretara, & outros que lhe elRei Luis dera, de que vi-
nha por capitam meffire George legier, com ha qual
companhia partira do porto de Honfleur, no ducado de
Normdia, no mes Dotubro. Na mefma hora que ho
.l
I
I
j
--J
DoM loAM. 253
Prinipe foube da vinda delRei feu pai fe foi pera elle,
ho qual achou j em Oeiras, onde com hos jeolhos
em terra, & deuida obedienia de filho a pai lhe beijou
ha mo, & logo perte todolos que fe ali acharam re-
nuniou ho nome de Rei, pedindo muito por mere a
eiRei q nam cuidaffe q era c6trafeito ho que fazia, fe
nam de b6, verdadeiro, & leal cora, ho que lhe foi
tido a gro virtude: n por muito q lhe elRei depois
rogaffe q teueffe ha gouernana do Regno, c6 nome de
Rei, elle ho nam quis nunqua fazer, polo que vendo
eiRei nelle hiia t ftremada, & defacoftumada virtude,
lhe cometteo per muitas vezes q ficaffe com ha gouer-
nana do Regno de Portugal, & lhe deixaffe ho do
Algame, & cquifta dos lugares Dafrica, pera dali
fazer guerra ahos Mouros por feruio de Deos, ho que
ho Prinipe nunca quis fazer. De Oeiras fe veo elRei
a Lisba, onde ho reeberam com folemne proiffam,
com q ho leuaram a S & dali fe foi ahos Paos Dal-
caoua, ho que fabendo ha Prinefa dna Leonor fua
nora, que entam ftaua em Sanflarem, ho veo logo vi-
fitar, & ho mefmo fezeram ho & duquefa de
Bragana, com todolos outros fenhores, fi-
dalgos, & caualleiros do Regno. De Lisba fe foi eiRei
a Monte mr, & dali a Euora, no qual tempo comeou
de nouo traEtar avenas com algiis fenhores de Caftella,
ddolhes conta da difpenfaam que configo trazia, pera
poder cafar com ha Rainha dna Iona fua fpofa, com
tenam dentrar outra vez em Caftella, mas ho Prinipe
fabendo hos euganos que nifto hauia de hauer, julgan-
dohos polos paliados, ftrouou efta entrada, & liga, &
affi ho cafamento da Rainha donna Iona, polos muitos
dnos, & males que de nouo podiam recreer a eftes
Regnos.
CHRONICA DO PRINCIPE
Jl
CAP. xcviij. De quomo Lopo va{ de cajlelbranco fe ale-
utou com ha villa de Mou, .. a, & ha por que
ho fe'{.
NvNo VAZ DE filho de Lopo vaz de ca-
ftelbranco, foi almirante deftes Regnos, & mon-
teiro mr delRei dom Afonfo quinto, & alcaide mr
de Moura: foi cafado c donna Phelippa dataide, filha
de loam dataide fenhor de Pena coua, da qual houue
filhos, & filhas, de que ho maior foi Lopo vaz de cafte.l-
brco, dalcunha ho torro, muito bom caualleiro, pofto
q affomado, & muito feito a fua vontade, do que lhe
vinha fer brigofo : em tanlo q. anddo feruindo elRei
dom Afonfo neftas guerras de Caftella, pedindolhe ho
Prinipe dom loam h gauiam que tinha muito bom,
lhe dixe q j q lho nam podia negar, q foffe elle mefmo
h o caador, aho que Afonfo vaz caador mr do Prin-
ipe fe atrauefou dizendo q pois daua ho gaui a fua
A. q fofe fem condies, ho que Lopo vaz tomou tam
mal, q faltou com elle de prepofito na ponte de Touro,
& ho affrontou, pelo qual cafo ho mandou elRei dom
Afonfo log prender, & h o Prinipe lhe teu e por i[o
fempre m vtade, & pera Lopo vaz acreetar mais
aho odio que lhe tinha ho Prinipe, induzido de fua
propria, & natural cdi, pera fe a fua vontade vingar
de muitos in1igos que tinha em teue intelligias
com dotn Afonfo de cardenes meftre de Stl:iago, q
fe vieffe lanar con1 fua gente jto da villa, ho que fa-
zendo lha entregaria, en1 h erto dia limitado. Efta
v da fecreta do mcftre fc comeou de deuulgar, polo
que Lopo vaz, fe1n feus in1igos fe reearetn, teue occa-
fiam de a fua vontade, dcbaxo de cor de foccorro,
metter na vi lia todolos a '11igos que tinha naquella co-
.. .- ... .. -- -
J
..
DoM loAM.
marqua, & quomo ho meftre chegou com fua gente,
fe fez chamar conde de Moura, & juntamente debaixo
daquelle titulo comeou de tomar vingana daquelles
a que queria mal, affi homs quomo molheres, ddo a
cada hum 118 pena, & cafl:igo j lhe vinha a vontade,
ho que fabido por feus parentes, & amigos acodir a
iffo muitos delles em peffoa, hos quaes ho diuertiram
failmentc do erro que comettera em fe aleuantar, de-
clarando q fua tenam nqua fora de trocar ho feruio
delRei feu natural fenhor polo dos Reis de Cafiella, &
j ho que f:zera fora pera fe vingar de feus imigos,
p.Jlo q lhe deuia fua A. de perdoar, a cuja mere fe
punha. Com efie recado fe tornaram efies feus pa-
rentes, & amigos, & fezeram com eiRei j lhe per-
doaffe, & tornaffe a dar de nouo ha alcaidaria mr de
Moura, mas ho Prinipe dom loam, que fofria de m
vontade taes affrontas, jta cfia aho odio que j tinha
a Lopo vaz, & pouquo fatisfeito de lhe elRei perdoar
tam failmente, & fobre tudo de lhe fazer de nouo
mere da alcaidaria mr, determinou de ho mandar
mattar, encomdando ha execuam deil:e negoio a lo
palha, M' pnlha, Pera palha, & Bras palha, irmos,
& a Diogo gil, & Rui gil, tambem irmos, dalcunha
magros, naturaes Deuora, todos primos, & caualleiros
de {ua cafa, ahos quaes declarou em gro fcgredo fua
tenam, encomdandolhes muito j bufcaffem modo, &
meo de ha por' em obra, q por iffo lhes faria a todos
muitas meres, do que mouidos ordenaram dahi a
poucos dias fua briga feitia, per refpeito da qual,
quomo temorizados da jufiia, fe acolheram a Moura,
onde foram bem reebidos, & agafalhados de Lopo
vaz, ho que lhe elles pagaram na pior moeda que
poderam. mattandoho hum dia entre outros, que com
256 CHRONJCA DO PRINIPE
elle. fairam fora da villa a caar, & folgar. Ho Prin-
ipe quomo foube da morte de Lopo vaz, fe foi logo
a Moura pela pofta, & mdou entregar ha villa com
ho caftello Infante donna Beatriz, quomo ha tutora
que era do duque de Vifeu dom Diogo feu filho, cuja
era per doaam que lhe elRei dom Afonfo feu tio ti-
nha feita della, per falleimento do Infante dom Fer-
nando feu pai, irmo delRei.
..
CAP. xcix. De quonzo foi desbaratado dom Garia de
nzenefes, bifpo Deuora, em hia entrada que fe{_ em
Cajtella.
D
EPOIS DO AREBISPO de Toledo, & ho marques de
Vilhena ferem recciljados com eJRei dom Fer-
,
nando, & Rainha dna Ifabel, nhas outras peffoas
de titulo ficau em Caftella que fteueffem por Portugal,
faluo dom Afonfo de montroy, craueiro -Dalcantara,
que deixou ho feruio dos Reis de Caftella, por lhe nam
quererem dar ho meftrado, fendo elelo meftre, & dna
Beatriz pacheca, cdeffa de Medelhim, irm do marques
de Vilhena, filha baftarda . ~ o meftre d ~ Santliago d
loam pacheco, molher viuua, de grandes, & altos pen-
famentos, ha qual nam quis tomar ha parte dos Reis,
por. lhe nam querere:n dar em fua vida ha villa de Me-
rida, que era do meftrado de SanB:iago, de que ella
per fora fempoffara, & affi mefmo ha villa de Mede-
lhim, que era de feu filho dom Pedro porto carreiro,
que ella, por refpeito de lha querer tomar, teue prefo
inquo annos. Efta condeffa de Medelhim continuou no
feruio delRei dom Afonfo atte q fe fez_eram has pazes
antre efies dous Regnos, & porq ha fua gente de
.......... __
-- . -
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.
- ~ J
DoM loAM.
miftura com hos Porfuguefes, faziam muitas entradas
per aquella comarqua, mandou elRei dom Fernando
gte fobrella, de que era captam dom Afonfo de car-
denes, do que fendo auifada mdou pedir foccorro a
elRei dom Afonfo, pera ho que fez logo ajtar gte,
de que deu ha capitania a dom Garia de : menefes
bifpo Deuora, com qu foram dom Ioam de menefes
feu irmo, Diogo Iopez de foufa, Afonfo tellez, &
outros fidalgos, caualleiros, & fcudeiros, entre hos
quaes iham dozentos homs darmas Caftelhanos dos
que fairam de Cantalapedra, Couilhas, fepte Egrejas,
& Caftro nunho, de que hos prinipaes eram ho adian-
tado Pero de pareia; Afonfo perez de viueiro, Gonalo
nunez de caftanheda, Rodrigo de anhaia, Pero de
anhaia feu irmo, Aluaro de lima, Ioam farmto, Chri-
ftou bermudez fenhor de Telhez, hos quaes todos,
entre Caftelhanos, & Portuguefes, feriam fetteentos
de cauallo, afora hos de p. Com efta companhia en-
trou ho bifpo em Caftella no comeo do vero do aQnO
de M. cccclxxix, att junto de Merida, fem achar quem
lho ftrouaffe, mas dom Afonfo de cardenes, que na-
quelle tempo ftaua na villa de Lob, & hauia j muitos
dias q tinha auifo da vida do bifpo, & da gete que tra-
zia, fabendo quo pouca era ho veo fperar jto de Me-
rida, com mil, & trezentos de cauallo, & tres mil de
p, onde lhe offreeo batalha, mddoho defafiar pera
iffo, & leuar ahos feus cada h feu ramo de giefta.por
deuifa. Sobre efte recado teue ho bifpo cfelho, & ho
pareer dos mais foi q nam deuia pelejar, vifto ha
pouca gte que tinha, ctudo feu pareer, & vontade
foi q deuiam aeptar ha batalha, dizendo q mr aba-
timento, & afrta feria fua delle, & dos que c elle
ih, n aeptarem ho defafio, q perderem h a batalha:
17
~
I
258 CHRONICA DO PRINCIPE
~
ifto affi affentado refpondeo aho meftre pelo mefmo
meffageiro, q fe tinha ba vontade de pelejar, q muito
milhor ha trazia elle. Sobreftes recados ordenaram
ambos fuas batalhas, nas quaes da ha, & da outra
parte houue muitos mortos, & feridos, em fim foram
hos noffos desbaratados, & muitos prefos, tre hos
quaes foi ho mefmo bifpo Deuora prefo por h fcu-
deiro Caftelhano, c ho qual fe logo fecretamte con-
ertou, c grdes dadiuas que lhe prometteu, das
quaes veido ho fcudeiro ho leuou a Merida, de de
nouo fe refez da gente que da batalha fe ali acolheo,
& a Medelhim, & c alga outra que lhe depois veo de
Portugal fez continua, & cruel guerra per toda aquella
comarca, atte q fe has pazes fezeram. Morreram pele-
jando ho adiantado Pero de pareia, Gonalo nunez, &
hos mais dos Caftelhanos, que todos pelejaram quomo
homes que fabiam q fe hos prendelfem ftau a rifquo
de perderem has vidas, hos captiuos for Chriftov
bermudez, Aluaro de lima, Rodrigo danhaia : ho meftre
foi ferido de duas feridas, & d Rodrigo de cardenes
feu primo de muitas q era ha fegda peffoa do exerito.
Chriftouo bermudez foi degolado per mandado dos
Reis na villa de Lob, por cafo dos dnos, & ftragos
que fezera em Caftella em cpanhia de Pero de men-
danha, & a dom Afonfo de cardenes, que j era meftre
de Sanl:iago, polo fervio que fez nefta batalha; qui-
taram hos Reis hos tres contos de reaes que lhe po-
ferrwn de pcnfan1 qudo lhe der ho meflrado.
~
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I
I
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DoM loAM.
:. De quomo e/Rei dom Afonfl
ndanha por fronteiro de Barf'
~ fe;. ahos Gallegos .
. EI DOM AFONSO confiaua mutc
anha, & com rezam, porij el
os de Caftelln que ho mais fiel
eis q foi no Regno fez femprc
encarregou em muitas coufas,
do por fronteiro de Barellos
1 de g&e, pera rlali fazer gue1
te elle fez affinados feitos, & @
s em Galiza, & has teue por
porij elRei trazia ainda openi
tfl:ella, ho mandou chamar, pera
& lhe fcreueo q aquellas quati
!lho conde de Caminha, porij aJ
), ho que Pero de mendanha 1
do qual entam, & dantes,
s, & affi do Prinipe dom loa
pois de regnar, mas fe ellas fc
ls, diffo podem dar teftlmunho
., & meres que feus netos all
1 deftes Regnos, porij fe ahos '
em fcreuer ha verdade do que
q mui poucas peffoas mere
o mais, nem mres meres q I
~ u e ho feruio nas guerras de (
a fua propria cufte, com d02
continuadamte, & algas v
s de p, afora outra gente que
do elRei dom Fernando ercadc
ouro, quomo atras fica dito, el
CHR:ONICA DO PRINIPE
I
no a r r a i a ~ ; per fome,.. & fobre tudo vindo e IRei . dom
Afonfo desbaratado a Caftro nunho, ho recolheo, &
confolou, & lhe foi tam leal, q tendoho em fua mo
ho nam entregou a elRei dom Fernando, de quem he
erto q houuera de.hauer, por hum tal feruio, grandes
- meres, polo .li elle has mereeo muito mres Coroa
do Regno de Portugal, porq nunca Rei fe perdeo an-
dando a caa, que foffe ter a cafa de hum laurador,
que polo bom gafalhado lhe nam fezeffe affinada mer-
e, quanto mais onde ho gafalhado foi tal, q faluou ha
peffoa delRei dom Afonfo de muitos perigos que lhe
entam poderam aconteer, per cujo feruio mattaram
a Pero de mendanha neftas guerras mais de dozentos
partes, criados, & chegados, & hum feu irmo, com
perda de doztos, & inquoenta cauallos cprados, &
.Pagos fua cufia, dos quaes feruios, quomo dignos
de muito louuor, me pareeo q era rezam fazer efta
lembrana, por honrra de hum tam nobre caualleiro,
& dos que delle defendem, pera q afli inflamados
defta gloria, trabalhem por fazerem a , eftes Regnos
outros taes feruios, & tam mereedores de perpetua
fama, quomo ho elle fez em quanto viueo.
CAP. cj. Da confirmaam de tregoas, & p{ que e/Rei
dom Afonfo fe'{ com ho duque Franisco de Breta-
nha.
A TRAS FICA DITO quomo nO no do Senhor de mil qua-
troentos, & fetenta, elRei dom Afonfo por ter
feitas tregoas com ho duque Franifco de Bretanha,
dera lia geral ahos Bretes, pera liuremente poderem
vir tratar, viuer, & morar n'eftes Regnos. Efta tregoa fe
DoM loAM 26!
.z no dito anno, porij hauia muitos arras q hos Portu-
Jefes, & hos Bretes fe roubaualll: & pilhauam hs ahoS
Jtros per mr, cada hum ho milhor q podia, & depois
!fias tregoas feitas eftas duas naes fe comunicaram
Jremente quomo amigos, fegundo ho dantes teueram
1rcuftume fazer, & porQ hos Bretes naturalmente fam
clinados, & acuftumados no mr lanarem mam da
1upa dos vizinhos, & de qualquer outra naamcom que
nccmtram nauegando, fem terem refpeito, nem faze-
:m differena entre amigos, & imigos, paree q duran-
1 has tregoas, vidos de feu ordinario cuftume, come-
Iram a fazer prefas nos Portugoefes, que feguramente
:megauam pera Frana, Flandes, Inglaterra, Bretanha,
~ outras prouinias, ho que Cabendo effiei dom Afonfo,
~ ho Prinipe dom toam, armaram fobrelles, & deram
ena a feus vaffalos q podeffem reprefar em toda fa-
:nda que foffe dos fugeitos do duque de Bretanh, ho
ual negoio fe traflou de calidade q hos Bretes nam
ufauam fahir aho mr, nem ctinuar no que dantes
LZiam, per cujo refpeito ho duque perdia muito de
-us direitos, c dnos, & ftrago de feus vaffallos, polo
ue mandou embaxadores a elRei dom Afonfo, pedin-
:Jlhe q de nouo quifeffe ratificar has pazes que entrel-
.s dantes foram traaadas, ho que eiRei dom Afonfo,
t ho Prinipe fezeram, & por nam hauer differenas,
:m demandas, & proeffos, por reipeito das reprefa-
as que eram feitas de ha, & da outra parte, vifto q
!I.S fatisfaes deftes roubos nunca fe fariam legitima-
tente, & fazendoffe feria com tanto trabalho, & perda
: tempo, q has defpefas importariam mais q ho prin-
pal, foi ordenado q nas tais reprefarias fe nam falaffe,
~ q cada hm fe foffreffe com ho damno, & perda
ue. tinha reebida. Com eftes apontamentos mandou
CHRONICA DO PRINCIPE
elRei dom Afonfo a Bretanha hum feu rei darmas dai-
cunha Pelicano, pera hos ho Duque confirmar, quomo
fez com muito gofto, & ctentamento delRei, & ho Prin-
ipe confentirem nefte acordo, & a Pelicano fez mer-
es, quomo Prinipe magnifico que era, ho qual trouxe
ha patente deftas pazes; affinada da propria mam do
Duque com feu fello pendente, dada na villa de Rodom
ahos vinte noue dias Dagosto de mil quatroentos fet-
teta, & feis, em lingoa Franefa,- que aho pre-
fente ainda ft na torre do tombo, guardada com outras,
onde deuem fiar todalas que pertenem Coroa, & ne-
goios do Regno, fe niffo fe teueffe ho modo que hum
tal negoio requere.
CAP. cij. Das honrras, & meres que e/Rei dom Afonjo
.ft;'{ a11no de mil quatroentos .fette1lta, & i1l-
quo, atte ho de oitenta, & hunz, em que falleeo.
No coMEO DESTA OBRA prometti de fazer nella fuc-
effiuamente relaam das coufas que aconteeram
neftes Regnos, & porq has meres que elRei dom Afonfo
fez fam tmbem da mefma conta, dixe j dellas ho que
pude alcanar, & agora nefte capitulo, que he quafi ho
penultimo defte liuro, direi fmariamente has que fez
att ho tempo em que falleeo, remettendome no demais
que fe neftes annos paffou no Regno fua propria Chro-
nica. Affi comeando no anno de M.cccclxxv, porq
dos -atras tenho j trattado, nefte fez mere aho doaor
Ioam fernandez da fylueira, do feu confelho, do titulo
de baro Daluito de juro com todas fuas honrras, pri-
uilegios, & liberdades, com outorga, & confentimento
do Prinipe dom loam, per_ carta dada em Portalegre
, __ -
'
I
..
,
t
DoM loAM. 263
ahos xxvij, dias Dabril defte anno de mil quatroentos
fettenta, & inquo, & no de fettenta, & feis fez mere
a Gonalo vaz de caftelbranco, em fua vida, da villa
de Villa noua de portimam, no Regno do Algarue, &
ifio polos muitos feruios que delle tinha reebidos, &
por fer ho primeiro q rompeo ha batalha que elle des
baratou em Caftro queimado. ,-r Aho duque de Bra-
gana dom Fernando, marques de villa Viofa, Dourem,
Darraiolos, & fenhor de Monforte, conedeo q em to
dalas fuas terras nam houueffe outro fronteiro mr fe
nam elle. ~ Outro tanto aho conde de Fram d Afonfo,
com doaam da vaga, & aprefentaam de todolos offi
ios de fuas terras, & ha mefma liberdade deu con
deffa fua molher. ,-r E por dom Pedro de rnello, filho
do conde Datalaia, fenhor Daeieira, fer inabel, fez
mere 2. dom Aluara dataide, cafado com ha filha mais
velha do dito conde, q por falleimento de feu fogro,
lhe ficaffem todalas terras que tinha da Coroa. Efte
conde Datalaia era regedor da cafa do iuel. ,-r Conedeo
aho conde de Loul dom Anrrique de menefes has vil-
las Darzilla, & Dalcaer pera qualquer de feus filhos
que elle quifeffe depois de fua morte. ,-r Fez doaam
a dom Franifco coutinho conde de Marialua de tod.alas
villas, & terras que tinha da Coroa, & morgados, &
depois de fua morte pera feus filhos, & n hos hauendo
pera qualquer de feus irmos que nomeaffe, & nam no
meando, pera feu irmo dom Gaftam. ~ F e z Lionel
de lima vifconde de villa noua de erueira, com titulo
de dom, pera elle, & pera feu filho Ioam de lima, que
era guarda mr do Prinipe dom loam, declarando por
extenffo na carta ha antigua linhagem dos Limas, &
hos muitos feruios que tinham feitos Coroa deftes
Regnos. ,-r Aho duque de Guimares dom Fernando
CHHONICA DO. PR NCIPE
~
deu. quatroentos mil res de tena, att lhe vir ha he-
rana do duque dom Fernando de Bragana feu pai.
~ A dom Pedro de menefes conde de villa Real, fez
doaam, & aforamento das fuas cafas em Lisba, onde
agora chamam ho bairro do marques, c hos priuile-
gios, que ainda vfam, & tem feus defendentes. , A
dom Aluaro, filho de dom Fernando duque de Guima-
r.es, deu Tentugal, & ha Pouoa, com fua jurdiam,
& redas, & Buarcos, Rabaal, villa nova Danos, ha -
Nobra, & Pereira, per fcaimbo de Torres nouas, pera
elle, & pera hum feu filho, ficandolhe tambem Aluaia-
zer, & Torres nouas deu elRei aho Prinipe dom Ioam.
~ A dom Rodrigo de mello cde Doliua fez doa
do caftello da dita villa pera hum de feus grros. , Aho
cde de Pena macor dom Lopo dalbuquerque fez mere
das rdas daldea da Memoa, termo da mefma villa, &
do caftello della, c fuas rdas, & mere dos bs Dal-
uaro de caftro alcaide que fora daquelle caftello. ~ No
anno de M.cccclxxvij, fez doaam a dom Rodrigo de
mello conde Doliua da jurdio, iuel, & crime da
dita villa, & padroados. ~ Aho duque de Guimares
fez doaam da jurdiam dos: lugares de Melgao, Ca-
ftro leboreiro em fua vida, & lhe fez doaam pera feu
filho maior da villa de Mforte, caftello, lugar, rdas,
& jurdi. , Aho Prinipe fez mere, de todalas rendas
da alfandega de Lisba, & por ella lhe tirou quatro
ctos que tinha de feu affentamento. , Fez mere no
anno de M.iiij tos lxxviij, a dom Afonfo conde de
Fr das penfes dos tabalies da idade de Sylues.
, No anno de M.iiij entos lxxix, fez doaam a dom
Franifquo coutinho cde de marialua da jurdi do
lugar da Moreira, & feu termo. Aho cde de Penella
dom Afonfo fez mere do . offiio de regedor da cafa
.
t
j
O I
,
i
I
DoM loAM.
do iue1. ~ A d Emanuel feu fobrinhc:
fante dom Ferndo, que depois foi Rei d
deu quinhentos mil res cadno pera fua m
ho mais que delle tinha, ifto e quto fteue
em Caftella, por caufa das terarias, a1
idade de xiiij annos. ~ Aho conde de Fr,
fez doaam da dizima do pefcado da ,
& Fr. A dom Aluara, irmo de dom Fe
de Bragana confirmou ha doaam que 11
irmo fezera da quita de V aluerde, em
tlar. ~ A donna lfabel, filha de dom Fe
de Bragana, confirmou ha doaam que ll
nando feu irmo duque de Bragana da '
luz e termo de Lisba. No anno de M. qu11
nam achamos coufa que feja de calidade
fazer men. No anno de M.cccclxxxj, fe
de vafconellos conde de Penella, per fa
conde dom Afonfo feu pai, tendolhe j f
mefma villa. ~ A dom Fernando duque
& de Guimares fez doaam do padrol
leboreiro, & das dizimas das fentenas
que fe deffem em fuas terras. ~ Aho 1
rialua fez mere das penfes dos tabali
de Vifeu, & e dez dias Dagofto do m
M. quatroentos lxxxj, fez doaam a d
primo, duque de Beja, & de Vifeu, da
c:om feu caftello, fortaleza, termos, entra'
com toda jurdiam alta, & baxa, mero, &
& da ilha da Madeira, com todos feus port
direitos, jurdiam, iuel, & crime, mero, .
rio, do modo que ha tinha ho Infante '
feu tio, tudo de juro, & herdade pera elle,
feus defendentes bares per linha direita:
CHRONICA. DO PRINCIPE
~
& mes falleeo elRei dom Afonfo, quomo fe a dite
dir, & porq pode pareer a alga peffoa j em hifto-
ria graue n er neeffarias eftas miudezas, faibam q
duas razes me moueram a dizello, ha por moftrar
quanta obrigaam todos eftes fenhores tinham de feruir
bem, & lealmente elRei dom Afonfo, & ho Prinipe
d Io feu filho, ha outra pera q fe veia em qutos
trabalhos ha guerra poem hos Prinipes, porq fe elRei
don1 Afonfo n teuera has que houue celRei d Fer-
nando, alem de n cair em tantos infortunios, quomo
caio, n fora cftrangido fazer tantas meres do the-
fouro da Coroa defles Regnos, quomo fez, ho que ho
mefmo Regno, & hos Reis que depois delle regnaram,
fentem att ho prefente dia.
CAP. ciij. Em que Jimarianze1lte se tt--atta das pa1._es que
Je fe{era.m entre Cqflella, & Pot--tugal, & do que
depois de .ferem .. feitas fe trattou 1zejles Regnos, att
lzo falleimento de/Rei dom Afonfo.
EM NENHVA das Chronicas que li, nem em qutos
memoriaes ajuntei pera collegir ell:a, fe acha q ho
Papa Sixto, que ent prefedia na. egreja de Roma, m-
daffe nios, nem legados, nem outros meffageiros a el-
Rei dom Afonfo, nem a elRei dom f.,ernando, pera dar
algum remedio a tantos males, mortes, & roubos,
quantos de hum Regno aho outro fe cada dia fazi, ho
que na verdade fe n deve crer, nem he de cuidar q
tamanho negoio paffaffe por defcuido a h tal Ponti-
fie, & aho collegio dos cardeaes, & fe affi foi, feria
por occulto myfterio diuino, mas Deos que por fua
fma bondade apos hos caftigos que nos d, manda ho
t
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DoM IOAM.
io delles, nam fe quis de t,
.s, & no tempo em que as c
& e que quafi de nouo fe
1ttos, & intelligias entre ~
fenhores de CaRella, contra
e fe ha guerra houuera dai
~ o , nefie tempo houue por i
)fta de peffoas virtuofas,
e donna Beatriz, tia da R
tr ha fanfta paz, d que el1e
'"entada, & concluida no lt
mdoffe logo apregoar per te
lades dambolos Regnos, n
fe trattaram cafamentos do
io Prinipe dom Ioam, c t
ha mais velha deiRei dom l
onna Ifabel, que depois f ~
elebrados, & confumados
ho chronifia que fez ha d
l fcreue affaz per extenfo
& cafamentos me paree
nais delles, q ha trifie muda
,, de feu real fiado a freira
fta Clara de Coimbra, vida
aienia, quto foi ho defj
l feu fpofo teue de lhe ve
ha mudana, da qual ho a1
oam, polo que fe pode crer
L c tta trifieza, quta teu
morte de filho legitimo her
.tjo refpeito ordenou efia pr
dom Afonfo a confentir em
1te fe conheeo lhe anteipa
268 CHRONICA DO PRINCIPE
III
tomou hos limites da vida. Efta profiffam da Rainha
dna Iona fe fez em Nouembro do anno do Senhor de
mil quatroentos, & oitenta, no qual. tempo ha mr
parte do Regno era tocada de pefte ': contudo depois
q ho Prinipe dom loam rgnou lhe permittio q viuefie
fora da religio, & teue neftes regnos, att q morreo,
cafa, & fiado de Rainha. Nefte anno mdar elRei dom
Afonfo, & ho Prinipe, George correa comedador do
Pinheiro, & Mepalha, bs, & esforados caualleiros,
correr ha cofia de Guin, cada hum em fua capitania,
hos quaes juntos n ~ parage da Mina desbaratar trinta,
& inquo nos, & nauios de Caftella, de que era ca-
pitam Pedro de couides, que do tpo da guerra l an-
daua refgatdo per mandado de IRei dom FernaQdo, &
da Rainha donna lfabel, & trouxeram ~ o d a s eftas nos,
& gente a efte Regno, com muito ouro que j tinham
refgatado, mas por refpeito das capitulaes das pazes
foram logo foltos, & has nos, & n a u ~ os entregues: da
mr parte do qual ouro fez ho Prinipe mere ahos
embaxadores de Caftella, & a outros fenhores, que
entam andauam na corte. No mefmo a:nno mndou el-
Rei dom Afonfo ho bifpo Deuora dom Garia de me-
nefes foccorrer ha idade de Hotreto, que hos Turcos
entam tomram, fituada na prouinia de Apulha, mas
pela grande detena que fez em Roma, & em outros
1 A infeliz Princesa to1nou prin1eiro o hbito de religiosa no
convento de Santa Clara de Santarm, mas, por motivo da peste
que ento invadiu o reino, mandaram-na retirar para o convento
d'Evora e pouco depois sucessivamente para o do Vimioso e Santa
Clara de Coimbra, onde a final professou a 1S de noven1bro de
148o. Cf. Alberto Pimentel, Ranha sem Reino; e as Chronicas de
D. Afonso V, escritas por Duarte Nnez do Leio e Rui de Pina.
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DoM loAM.
269
>s de ltalia, n chegou a efta idade, por no ca-
to lhe dar recado erto, q dom Afonfo duque de
bria, filho delRei dom Fernando de Napoles, ha
. cobrada, per partido que fez com hos Turcos,
q fe tornou aho Regno, fem fazer coufa digna de
toria, n que de coptar feja.
~ A ~ . diij. Do falleimenfo delRei dom Afonfo.
' MVITA TRISTEZA que elRei dom Afonfo tomou, por
refpeito de tamanha mudana, quomo ha que fe-
fazer per fora Rainha donna loanna fua fpofa,
itulo de Rainha de Caftella, Leam, & Portugal, a
a da ord de fanla Clara, impremio tanto em fua
a, com tamanha dor, q logo em Coimbra adoeeo
mra malconia, de que fteue a ponto de morte,
dali por diante fe fentio mais nelle gofto, n con-
unto de coufa que fezeffe, nem viffe fazer, andando
,re f, apartado, fogindo de todo genero de com-
lia, com verdadeiro propofito de fe recolher abo
eiro de fam Franifco de Varatoio, que de nouo
ara, em termo de Torres vedras, pera nelle feruir
~ s em habito fecular: contudo antes de tomar efte
tofo modo de vida, no vero do anno de M.cccclxxxj,
i a Beja c ho Prinipe feu filho, que ahi ftaua com
'rinefa donna Leanor fua molher, com tenam de
nar cortes geraes, pera deixar aho Prinipe ho go-
o do Regno, ho que ambos affentaram q foffe em
moz, por Lisba, & Euora fiarem impididas de
:. De Beja fe foi elRei na entrada do mes Dagofto
ntra, pera ali "fiar att ho tempo das cortes, onde
a poucos dias adoeeo de febres, has quaes jnntas
.
-
'
270
CHRONICA DO PRINCIPE
ahos defgoftos com que j viuia deram nelle finaes de
morte, do que fendo ho Prinipe auifado fe veo logo a
Sintra, onde achou ainda elRei em todo feu entendi-
mento, & juizo natural, pofto q defefperado dos me-
dicos, de cuja vinda elRei reebeo muita cfolaam, &
lhe dixe muitas palauras cheas de bs, & paternaes
cfelhos, encomendandolhe ha gouernana do Regno,
& ha orfindade da Rainha donna loanna fua fpofa, &
com eftas, & outras palauras de catholico thrifto,
tendo j feito, & aprouado feu teftamento, & reebidos
hos facramtos da Egreja, deu alma a Deos, ahos vinte,
. & oito dias domes Dagofto de M .. cccclxxxj, na mefma
cafa em que nafeo, em idade de quarenta,. & noue
annos, dos quaes regnou quarenta, & tres. De Sintra
foi leuado feu corpo aho mofreiro da Batalha, acompa-
nhado polo conde de Monfanl:o, dom loam de Caftro,
& por outras pefoas prinipaes, onde foi fepultado na
cafa do cabido do mefrno mo1teiro. Nefte mes Dagolo,
em dia de fantl:a Clara nafeo em Abrantes dom George,
filho bafiardo do Prinipe dom loam, que houue de ha
dama da cafa da Rainha dna loanna, fpofa delRei dom
Afonfo, per nome donna Anna de. mendona, filha de
Nuno furtado de menda, que foi mr
delRei dom Afonfo, & de donna Leanor da fylua, filha
de Fernam mz de berredo, alcaide mr de Tauira,
ho qual dom George foi neftes Regnos metre da ordem
da cauallaria de Santiago, & de Auis, duque de Coim-
bra, & fenhor de muitas villas, & calellos, & trouxe
fempre grde cafa de fidalgos, & outras peffoas, a
que deu rendas, ordenados, & moradias, em que fe
mantinh muim honrradamente : foi cafado com donna
Beatriz de Vilhena, filha de dom Aluaro, irmo de dom
Fernando, fegundo duque de Bragana defte nome, da
------- - ...__ --- __ ,...__ - -
.
i
i
..
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ti
'
1
I
--- J
DoN loAM.
:nhora houue dom loam doque Daueiro, marques
rres nouas, & dom Afonfo, & dom Luis, & dom
~ bifpo de Septa, & donna Helena comendadeira
nlos, & outras tres filhas freiras profeffas, que
aho prefente viuem, ramo nefies Rcgnos da nobre
e Lancatlre, proedente do real tronco dos Reis
Lterra, mas por efl:e fer de tam longe, pofto q de
paree q lhes caberia com mr auam ho appe-
~ loanne, por fer de mais perto, & proeder per
mafculina de hum tal Rei, quomo ho foi elRei
oam auo de todos efl:es fenhores.
F'IM DESTA CHRONICA DO PRINIPE DOM JoAM.
VARIANTES
,.
VARIANTES
DA 1.' EDIO DA oCHRONICA.
P. 3, I. 8 [Foi. 1
1
col. r
defies Regnos, fegdo defte no[]
tenam he nefta Chronica declara
4 rS [1 ''" 9
ou em qualquer fala, ou "cama r
mandar baptizar ho Prinipe, ...
21.32 (8. I. 21)
hum gentil homem Ienoes per norr
que c liena do Infante iha tarr
46. 6 f 17. 2. zS]
pera defafiar elRei, mas ho negc
porque Cabendo elle aho que v i n ~
:08. 3o[zr v.u 2. r
foi la com hum nauio carregad
Algarue, em modo de mercador,
599 [21. v.oz.;
da qual fermofura, & grdeza da
S9. 3o r21. v.u z. ~
com dous milhes, & 2724 rcaes
tio. 24 [22 v.o z.:
cafou no no do fenhor de 1\'l.ccc
VARIANTES.
62. 30 [ 23. I. 20 ].
me d oufadia fazer ho mefino, ..
63. 3 [23. I. 27].
quomo logo ouuires, eu ha nam quis
63. 9 (23. I. 37]
& porque nam eils mais fufpenfo ..
6t. 4 (23 V.
0
I. 14].
do difcurfo das repricas que teuermos aprehenderei
has rezes que ....
64. 35 [ 24. 1. 141
nas coufas que lhe muito compriam, fe defeao eram
homes, nam deuiam ter nenha conta com has tenes,
nem defejos das molheres, has quaes eram fempre
mais inclinadas a feus particulares apetites, & von-
tades, que .
67. 4 [24 v.o 2. 5].
Ingrefes, no q hos noffos teu eram ...
246. 3 [91. 2. t8].
comecei de falar defte esforcado caualleiro Pero de
~ ~
medanha, ..
254 I [94. 2. 10].
O ex. da Biblioteca Nacional tem um bocado desta folha cor-
tado tesoura, faltando-lhe por este motivo uma parte importante
do cap. xcviij, inclusive a epgrafe, a qual se pode ainda ler no
ndice do volume, embora a mesmo fsse riscada a tinta. A parte
do texto que escapou encontra-se tambem toda riscada a tinta at
ao fim do captulo. Faltam 23 linhas na 2. col. de fi. 94 e outras
tantas no v. o, e pode ser que esta falta fsse afectar o .final doca-
~
'
..
I
I
'
!
.
j
VARIANTES.
277
ptulo anterior, porque a ltima palavra que ficou, embora seja a
mesma que termina o cap. no ex. da Biblioteca da Universidade,
atinge no ex. de Lisba exactamente o final da linha, e no se-
guida de ponto final. A do cap. xcviij, tal como a encon-
tramos no ndice deste ltimo ex., diz assim :
CAP. xcviij. De quomo Iopo va-t de cajlelbrco, alcaide
mr de moura tomou ha pa1 .. te cajlella.
A parte do texto que se l desde o princpio da 1. col. de
fl. 94 v.o at ao corte de tesoura do teor seguinte:
Rei dom Ferndo, no Anno de Mil quatro entos fe-
tenta, & oito, fendo ja elRei dom Afonfo no Regno,
do q feus & amigos afrontados, bufcar mo-:
dos, & meos de ho fazere tornar aho feruio delRei
d Afonfo, feu natural Rei, & fenhor, ficando por
alcaide mr quomo ho dantes era, mas ho Prinipe
d loam, que fetnpre fofreo ffial negoios defta cali-
dade, ficou mui defcontente delRei feu pai tornar a
reftetuir em fua hrra que lhe tanto que
deter-
Depois do corte continua:
onde foram bem reebidos, & agafalhados de Lopo
vaz, ho q lhe elles pagaram na pior moeda que po
deram, mattandoho hum dia entre outros, que com elle
fairam fora da villa a caar, & folgar, efte foi ho pre-
. mio que Lopo vaz houue do titulo que tomou de conde,
& do erro em que caio contra feu Rei, & fenhor. Sa-
bido ifio polo Prinipe dom Ioam, fe foi logo a Moura ....
[O resto como no ex. da Bibl. da Univ., que reproduzimos,
p. 2S6, 1. 3.]
2S7. II (g5. 2 22].
que fairam de Cantalapedra, Couilhas, & Cafto nunho,
de que hos eram ..
VARIANTES.
VARIANTE
DA a. EDIAO DA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
( 1790)
.
Nefle ternpo no mez de Agoilo faleeo em Thomar de
febres D. Affonfo, Marquez de Valena, filho primoge-
nito de D. ~ t f o n f o Duque de Bragana, fem cafar, nem
deyxar mais que hum filho natural, pQr nome D. Affonfo,
que foy Bifpo de Evora, que elle houve de Dona Beatriz
filha de Martim Affonfo de Soufa. Defte D. Affonfo
Bifpo de Evora ficra dous filhos, a faber, D. Fran-
cifco, primeyro onde de Vimiozo, a quem com raza
podemos chamar outro Cata Cenforino no faber, e
prudencia,. porque tal o foy elle vivendo, affim nas
coufas da paz, como da guerra, como no confelho dos
Reys, ~ fervia, D. Manoel, e D. Joa terceyro feu
filho, cujo Veador da fazenda foy, do qual Conde he
filho herdeyro mais velho D. Affonfo, que hoje vive
tambem Conde do mefmo titQlo do Vimiozo, e V eador
da faz':!nda; o fegundo D. Martinho Arcebifpo do Fun-
.chal, homem de altos penfamentos, e grande cortefa
na Corte de Roma, onde muytos annos refidio em fer-
_vio deftes Reynos com muyta honra, e grande familia,
do que eu fou boa teftemunha de vifta. No mez de
Setembro confirmou ElRey ao Infante D. Fernando
fer (sic) irma .... [Daqui por deante continua como na pre-
sente ed p. 5o. 1. 4 e segg J
On1itianos, por n5o teretn importncia, muitas outras variantes
da ed. de 1790, que evidenten1ente resultam de rro de cpia, n1
interpretao do texto ou propositadas modificaes ortogrficas .
..
I
.
t
I
~
I
~
1
VOCABULRIO G
VOCABULRIO GE
Ahai, Ahuim ou Ahyania, que),
ant. reino do oriente da frica, nholl
ao S. do Egypto, confinando a cbes.
E. com o glfo Arbico. Os Ale
abexins pertencem A raa eti6- Al-ca
pica, e professam geralmente o pequ
catolicismo. do 4
Allila (I. Abyla, ar. jebel-al- frent
Mina), uma das duas colunas de Ale
Hrcules, a do lado da frica. el-gu
A outra coluna fica do lado do cid.
norte do estreito de Gibriltar, S.E.
a 23 km. de distncia, e corre- A11
spondia antigamente ao mome com
Colpe (crro da Gibrltar). V. AL
Berra IimeirL d'v
Abinl, v. da com. de Tomar. Ale
Abraldu,v.dacom.deTomar. plutu
Aceioeira, lug. da com. de Guad
Tomar. de M
Acobu de ferreiros (esp. Ale
Acelas lk Herreros), lug. da Estr'
margem dir. do rio Douro eo.tre gem
Tordesilhas e Valhadolid.
Asuifar, v. d'Elt,p. siL na mar- Foi r
sem dir. do rio Alhama, a 41) de 11
km. N.E. de Sria. Castc
AlaJHo (esp. v. d'Aic
d'Esp. a 3o km. S.E. de Touro. instit
AlafnL V. lloure1 Alarvu. 4o P
Ale
.s
'
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'
I
t
t
I
'
I
;
I
..
..
'
'
I
t
'li'
'
VocABULRIO
AI-Carrach ou Al-Carar), cid. Alverca, lug. da com d'Ala
d'Esp. na prov. da Mancha, a quer (hoje Alenquer) a 7 km.
6o- km. S.W. de Albacete e a de Villa Franca de Xira.
uns 1 S km, .S.E. das nascentes . Alri ou Albi (1. Al!liga, Alba
do Guadiaba. ' . . Augusta), cid. arquiepiscopal da
Alegrete, v. da com. de Por- ant. prov. francsa da Guiena
talegre. - -sbre a margem esq. do Tam,
.llfaiat.ea, v. da com. de a N.E. de Tolosa.
Pinhel. Alvito, v. da com. d'vora .
... .llfarouheira ou Alfarrobeira, Alvor, v. da com .. de Lagos .
lug. a 1 km.- N. de Lisba e . Anafe ou. Anf Dar,.el-
2,5 km. S.W. de Alverca. Beida =casa branca), ant. cid.
.llgar.Ye, a provncia mais me- do reino Fz sbre a costa
ridional do continente portu- do Atlntico a 33 37' lat. N.
gus. :Era .. antigamente reino, .lnoa (Villa nova de), v. da
acabado de conquistar aos com; de Coimbra.
ros em 12So por D. Afonso 111. Andaluzia, ant. prov. d'Esp.,
Em virtude dos pret#ndidos di- que no tempo do domnio rabe
feitos de D. Afonso X de Cas- compreendia os reinos de Se-
tela os por.tuguses; s vieram vilha, Crdova, Jaen e Granada.
a adquirir a posse efectiva em Angra dos cavalleiros, reio-
fevereiro .. de t7b].. trncia da costa do Saara (frica
Almeida, v. da con1. de Pinhel. ocidental), a N. do Rio do Ouro.
. ..Ya (de Tarmes) ( esp . . Alba de . Angra dos ruivos, reintrncia
Torntes), v. d'Esp. na margent entre a Angra dos Cavaleiros e o
di r. do rio Torlnes a 2'0 km. S. E. cabo do Bojador. Nos mapas mo-
de Salamanca. dernos tem o nome de Garnet-
. Alva de Liste (esp. Albtz de bay ou Gurnet-bay, que sim-
Liste), territrio d'Esp. junto do plezmente a traduo inglsa do
rio Liste (hoje Aliste), a N.W. nome portugus.
de amora. Foi dado por D. Ant.re Douro e Minho, nome
Henrique. IV a ttulo de con- dun1a das 6 prov.. em que se
dado- a D. Henrique Henrquez, dividia o reino de Portugal.
aln1irante de Castela, pelos ser- Antre Tejo e Odiana, nome
que este lhe havia pre-. que se dava a todo o territrio
stado. Sucedeu-lhe seu filho D. situado entre os rios Tejo e
Afonso Henrquez, fiel ser,idor Guadiana, para o S. da serra de
dos Reis Catlicos. Portalegre. A parte mais meri-
Alvaizer ou Alvaizere, .v. da dional a prov .. (ant. reino)
om. de Tomar. do Algarve. A parte. septentrio-
I
-..... _,... -- ......___ ---- __.,__ - 1---....
j
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I
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1
'
GEOGRFICd
f3]
nal tinha j no sec. XVI o nine
prov. do Alentejo, e compre ...
endia 5 ,comarcas, a saber:
talegre, Estremoz,. Elvas, vora
e Beja.
. -A pulha ou Aplia, ant. prov.
d'Itlia, a S.E. e ao lorigo do
Adritico, entre o rio de Trento
e o cabo de lapygiuna.
'. Aquonar, adj., que perte'oce
ou diz respeito aos pases do
Norte ou Aquilo.
.lquitnia, regio do S.W. da
Frana. No tempo de J. Csar
era limitada pelo Garona,. pelos
Pireneos e pelo Oceano. Em
877 foi elevada, a ducadp,- esten-
dendo-se ento por toda a parte
meridiooalda Frana entre o
Oceano, o Rdano e a margem
esq. do Loire at embocadura.
Compreendia o pas dos: ant.
Pltolles ( Poitiers ), Bituriges
(Bourt!es), Sa11tones (SaintoBge),
Lemovices {Limoges) e Arverni
( Auvergile). A Gasconha ou Vas ..
c6nia era o pas dos Gascis ou
Vasconos, e correspondia.pouco
mais ou menos ao que no tempo
de Csar tinha prpriantente o
non1e de Aquitnia. A parte
se estendia para o nort'e
que mais particularmente tinh-a
o nome de Guiena ou Guyena.,
considerando-se este nome como
corruo de Aquitnia. Mas a
histria destes pases encon-
trase intimamente relacionada
desde pocas muito .remotas,
at que definitivamente fn1n1 in-
(:orporados na cora ae
- Arbioa, os povos da' Arbia
e. seus descenden ta. . . ' : .
.. Aragam ou Arago,. ant. reino
d'Esp ... ao S. dos Pireneo_& e- E,
de Navarra e das duas Cnstelas.
Cap .. aragoa, na margem
do .-
Arvalo,: v. em Caste ..
la-a-Velha, a .S. E. e
Medina-do-Can1po e 66 km. S.
de Valhadolid. : i. .. . . . _
Argenton, v.: de
parte meridional da unt. pro\'.
de -Berri sbre a margem esq.
do Creuse. ..... . '
Argoim, lugar d-a costa oci
I
dental. da Afr:ica a 2.027' lat.
N., .onde os portuguses:ti.ver.am
uma . : ... : 1 ..
Arraiolos, v. da. com.
Arronches, v . da conl.: de.l?or-
talegre ..
Arzilla ou Azela (ar. Afel), "
\ I
da costa ocidental da Africa,. no
reino de Fz,.- a 4S kn1 . s,..w .. de
Tnger. .
Astorga ou Eatorga ( ant. Astu-
rica Augusta), cid. do reino de
Leo, a 46 km. S.W. da Cltpital.
Astrias ou (.ant. As-
tures), prov. d'Esp. com. ttulo
de principado, ao N.
pelo mar Caa-tbrico, Q S. plos
montes Cantbricos, a ;E. pQr
Castela-a Velha e a \V .... pela
Galiza. uma das regiis
fragosas d'Esp. Os seus habi-
tantes, sepultados em profundos
vales e cercados de n1ontanbas
.VOCABCLRIO
iaaceisivis, que os separam dos
outros povos da pennsula, vive-
ram por muitos sculos isolados
e desconhecidos, mas em com-
pensao seguros e
com a sua sorte, sem apetece-
rem a glria e a prosperidade
alheia, nem suscitarem invejas
ou ambiis aos povos, que
deles tinham apenas uma ida
confusa.
Atalaia, v. da com. de Tomar.
Ataua (esp. Atienra), v. d'Esp.
em CasteJ.a ... a-Nova, a 2S km.
.N.W. de SigUena e 7S km.
N.N.E. de Guadaljara. Est edi-
ficada na falda dum crro em
cujo cimo existem anda as
runas do seu antigo castelo.
Aveiro, v. e cab. de com. da
prov. da Beira.
rila, cid. d'Esp. em Caste-
la-a-Velha, e cap. de prov. Dista
121 km. E.N.W . .de Madrid.
A ria, v. da com. de Estremoz.
Azagala ou Zagala (esp. la
Aragala), lug. da Estremadura
esp. a N.N.E. de Albuquerque
e prssimo das nascentes do rio
Albarragena.
Azambuja,,, da com. de San-
tarm.
Azela. V. Arzila.
Azeaagues. V. Mouros Azene-
pes.
Badajoz, cid. d'Esp. na mar-
gem esq. do Rio Guadiana, a 2
km. da fronteira portugusa.
Baiona do Minho (ou melhor
Baiona da Galira), v. da Galiza
a E. do cabo .de Silbeiro, a S. da
entrada da ria de Vigo. Dista 20
km. da cid. de Tui e 27 da foz
do rio Minho.
Baltana, v. d'Esp. em .Caste-
la-a-Velha, a 46 km. N.E. de
Valhadolid e 26 de Palocia ..
Barcelona ( ant.- .Barci11o), cap.
da prov. e principado da Cata-
lunha, oa encosta dam pequeno
monte, sbre a margem medi-
terrnea, entre os rios de los
Besos e Lhobregat, a 41 2a
1
lat. N.
Barcelos, v. da com. de Viana
de foz de Lima.
Baroique. V. Varoique.
Barroea (fr. Barrois), ant. du-
cado de Frana a N.E. da Cham-
pagne. Cap. Bar.
Batalha, v. da com. de Leiria.
Beja, v. e cab. de com. da
prov. do Alentejo.
Beira, uma dos 6 prov. em
que se dividia o reino de Por-
tugal. Compreendia toda a rea
hoje pertencente s duas Beiras
e ainda os actuais distritos de
Coimbra, Aveiro e a parte do
do Porto que se estende a S. do
Douro.
Benamerim. Parece estar p.
Benan1eji, cuja situao na
Esp meridional, a 27 km. N. de
Antequera e 83 de Granada.
Benavente, v. d'Esp. na mar.
gem esq. do rio rbigo, a 31 km.
N. de amora.
Berheria ou Barbaria, desig-
nao geral de toda a parte
I
I
l
1
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t.
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~
~
I
GEOGRFICO.
[5]
,
septentrional da Africa a o c i ~
dente do Egypto e N. da Ni-
grcia:. o pas dos brberos.
Compreende, de ocidente para
oriente, os territri<>s de Mar-
rocos, Fz, Argel, Tniz, Tr-
pole e Barca ..
Berri, ant. prov. do centro da
Frana, dividida quase a meio
pelo rio Cher, que vae desaguar
na margem esq. do Loire, na
prssimidade de Tours. Cap.
Bourges.
Betahes. Parece estar por Be-
rames ou Aberames, lugar das
prssimidades de Touro, de que
dista uns 1 o km.
Biscaia ou melhor Bizcaia
(esp. Vi-rcaya), uma das tres pro v.
Vascongadas ou Bascas. Cap.
Bilbao. As outras duas sam Gui-
puzca ou Guipzcoa a E. e Alava
a S., as quais confinam pelo
nascente com a Navarra.
Biscanhos ou Bizcainhos, os
habitantes da Bizcaia.
Bondia ( esp. Bue11dia), v.-
d'Esp. em Castela-a-Nova, a 87
km. E. de Madrid.
Borba, v. da com. d'Estremoz.
Borgonha (1. Burgundia), ant.
prov. de Frana; a oriente, entre
a Champagne e o I.. yonnais. Cap.
Dijon.
Braga, cid. da com. de Gui-
mares, ant. capital da Galiza
no tempo dos Suevos, e hoje
cap. da pro v. do Minho.
Bragan9a, cid. da com. de
Miranda.
Bretanha (I. &ilannia), ant.
prov. do noroeste da 'Frana,
vizinha dl - Normndia, Maine.
Anjou e Poitou. Cap. Rennes . . ~
Bretes (1. Britones), os hab.
da Bretanha.
Buarcoa, v. da com. de Com.
bra.
Buitrago, v. d'Esp. situada na
falda da serra de Guadarrama,
na estrada real que vae de
Madrid para Burgos. Dista 6o
km. de Madrid.
Burgos (ant. Cauca ou DeoiJri-
gula), cid. de Esp., cap. de Cas
tela- a-Velha. Est edificada
sbre a margem esq. do tio
Arlanom (tributrio do Pi-
sorga, afl. do Douro), e dista
2 18 km. de Madrid ..
. Cabo Dfrica. V. Promontrio
ou-.
Cabo do Bojador ou Boiaclor,
,
sit. na costa ocidental da Africa,
a 26 7' lat. N.
Cabo Branco, sit. na costaoci-
,
dental da Africa, a 20 46
1
lat. N.
Cabo do Cavalleiro, sit. na
,
costa ocidental da Africa, ao N.
do cabo Branco, segundo- se de-
preende do texto da uChronica.
provavelmente o mesmo- que .
as cartas dos sec. XVI, XVII e
X VIII designam -por c. Carvo-
nero ou Carvoeiro, e que as
cartas modernas denominam c.
Co1-veiro. Numa carta do sec.
XV, que vem reproduzida no
Atias do Vizconde de Santa-
rm, encontra-se pr.ossimamente
i
....
J/OCA6UI.RIO
[6}
de Cidade Real, prssimo da
MJIM CIJI'alrer
9
o margem esq. do Guadiana. Para
;:s;.::, confirmar a nossa
sit. na costa rar "dos cavuleiros de Calatran
1
!la 5eneg6mbia
1
a S. do cabo que l tiveram um castelo mag
Verde, a 14"'13
1
lat. N. . n6co, actualmente em tuinas.
clho do lfam, sit. no estremo C..miDba, v. da com. de Viana,
.W. da cordilheira do Atlas, prov. de Anrre Douro-e-Minho.
s8 39' lat. N., defronte do ar- Foi elevada a coru:!ado por D
1iplago das Canrias. AfottS() V, que conferiu este 11
Cabo llz:o ou Vermelho, sit. tulo a D. Pedro lvarez de Sou
> estrumo da Guine portu- tomaior.
1esa
1
a 122S'lat. N. amora, cid. d'Esp. na mar
Cabo Sagrado ou de S. Vi- gem dir. do Douro, a 40 km. da
1nte, sit. no estremo S.W. da fronteira porrugusa.
>sta do Algarve, no prolonga- Canal Dinglaterra tingi. Eng-
aento da Serra do Espinhao lish Channel), brao de mar
> Co. que separa a costa meridional
Cabo Verde, situado .na costa da Inglaterra da costa noroeste
l Senegmbia
1
a 14"'4!
1
lat. N. da Frana. Hoje mais conhe-
a ponta mais ocidental da cido entre ns por Canal da
frica. Mancha ou Mar da Mancha,
Coeree, cid. da Estremadura denominais introduzidas pelos
a 48 km. N.E. de Badajoz. autores francses.
outrora A Lusitnia, e Cantalapedra, v. d'Esp. a 4S
4 uma das c:id. mais importan- km. N.E. de Salamanca.
s da penlnsu1a. Cantanhede, v. da com. de
Calria, ant. prov. d'ltMia na Coimbra. .
tremidade S.W. da pennsula. Cardenbo1a, lug. e freguesia
Calahorra (I. CalagurriJ Na- do termo de vila (Esp.), de
cid. de Castala-a-Velha na que dista 2 lgoas.
argem dir. de Ebro, a 43 km. Carracena ou Caracena, v.
sanre de Logronho e 210 km. d'Esp. a S. doDouro
1
a 100 km.
de Burgos. Presume-se tar N.E. de Segvia.
lSCidoafoc:lebreQuintiliano, Cartagena, cid. d'Esp. na
-ofessor de retrica em Roma costa da prov. de Mrcia, a
gramti.-::o muito .autorizado. 3r 36
1
5
11
lat. N. Foi colnia ro-
Calatran (a Velha), ant. cid. mana com o titulo de V. L N. K.
Esp.naprov.daMancha,aN.E. (Victrix lulia Noua Kartlrago).
GEOGRFICO.
[7]
com.deAilm-
;rio central da
ica, levantado
:ado aoN. pelo
prov. V-ascon-
Astrias,Leo
;panhola, a E.
1rra
1
Arago,
u:ia. A
usitana, cuja
mamas serras
dos Gred'os,
1 regiis naru-
trional, que e
cap. Burgos, e
1
que Cas-
. Madrid. A
-a-Velha COf
entalmente ao
astela com .a
reino de Leo
!l parte que se
;_w.Estalti-
hlentalemais.
! Todelo veiu
r. da Estrema ..
ue a oriental,
central da pe-
titundo outra
nao de Cas-
>edro Gona-
bispo de Ca-
de Sigllena
o chanceler e
1 em 1473, em
1e lV, emse-
Sevilha(.f74)
l). Por morte
guiuopartido
da irm deste mon.1rca
1
coatra
a princesa D. Joana, e tomou
parte octivanabacalhadeTbuto
1
que deu a vitria aos Rei1 Cat-
licos, a qUem prestou ainda
grandes servios na guerra con-
tra os mouros de Granada. '
Caltro'(ou Cruto) lehoreiro,
pov. da com. de Viafla de For
de Lima.
Cast.ro (ou CrtfM) n'ClJlhe'{esp
CJStronuiio), pot. da prov. de
amora sbre a margem esq.
do Douro, na falda orielltal dum
elevado crro, a 20 km. S.E. de
Touro.
Castro (ou Cruto) queimado
(esp pov. da
prov. de amora pross. da mar-
gem dir. -do Douro, na falda dos
montes ainda hoje denominados
de las Contien4as, a S: do ca-
minho de amora para Touro.
Castro zero ou Cutrourm
(hoje Castrogerif), v. d"Esp:
entre os rios Odra e Carban
zuelo, a 38 km. W.S.W. de>
Burgos. Era cabea de condado,
que em tempo dO$ ReiS CatQli-
cos pertenceu a D. Alvaro
tado de Mendoa.
Cavia (esp. Cabia), v. realenga
do telmo de Burgos, donde dista
2
1
Sigoas.
Cerveira (Villa nnva do), v. da
com. de Viana de Foz de Unia.
Champagne, N.E.
da Frana, assim denominade
pelas suas vastas e frteis cam-
pinas.
(8]
VocABULRio
CJaaYII, v. da com. de Vila
Real, prov. de Tralos montes.
Cidad 1\odriga (1. Rodericum),
cid. d'Esp. na prov. de Sala-
manca1 a 11 km. E. de Vilar
Formoso..
Cifontea ( esp. Cifuentes), v.
d'Esp. em Castelaa-Nova, si-
tuada ao N. do Tejo, a 3o km:
S. de SigUen a.
Codoaera, v. da Estremadura
esp. a 59 km. N.E. da nossa v.
d' Arronches.
Coimbra, cid. c cab. de com.
na prov. da Beira.
Coliure (fr. Colioure), prto
da costa meridional de Frana
sbre o glfo de Lion, a E. dos
Pireneos Orientais. Pertencia ao
ant. condado do Roselhom.
Crdova ( eSJl". Crdoba), cid.
cap. dum dos antigos reinos da
Espanha meridional, sit. numa
vasta plancie, na falda do sul
dos montes Marianas ou serra
Morena, sbre a margem dir. do
Guadalquivir, 1 18 km. a mon-
tante de Sevilha.
Connha (Ba), cid. da costa
N.W. da Galiza, a 4322
1
33
11
.
lat. N. e 826
1
42" W. de Green-
wich.
Cot (Sam Martim da), lug. e
freg. do termo de I .. ugo, na Ga-
liza.
Corilbaa ou CuYilhaa ( esp. Cu ...
billas), lug. do ant. reino de
Leo, a 10 km. E. de Touro,
slxe um crro elevado, que do-
mina o rio Douro.
Crato, v. da com. de Porta-
legre.
namuco, cid. da Sria a 85
km. E.S.E. de Beirut, que o
seu p6rto de comrcio.
Egypto, ant. monarquia do
,
N.E. da Africa, limitada ao N.
pelo Mediterrneo, a E. pela
Arbia Petrea e pelo gffo Ar-
bico, a S. pelos reinos da Nbia e
Abexi, e a W. pelos desertos da
Barca e da Lbia.
EIYas, cid. e cab. de com. na
prov. do Alentej_o.
Enxohregas (hoje Xabregas',
lug. dos subrbios de Lisba,
sbre a margem dir. do Tejo.
Escalona, ant. cid. d'Esp. na
margem dir. do rio Alberche, a
41 km. N.E. de Talavera da
Rainha, e 48 km. N.W. de To-
ledo.
Espartria (1. Spartaria), cog-
nome da Nova Cartago ou Car-
tagena. V. Cartagena.
Estoque. provavelmente=
Stoke Golding, pov. do conda-
do de Leicester (Inglaterra) ao
N. de Hinckley, anda que a opi-
nio hoje corrente de ter o rei
Ricardo III (a que Damio de
Goes se refere) sido morto na
batalha de Bosworth, ao N. de
Stoke Golding.
Bstorga. V. Aatorga.
Estreito de Gihaltar ou Es-
treito hercoleo, brao de mar
que liga o Medlte 1 ' J ao
Oceaa.u ileje-- m z ~ s e Estreito de
Gibrltar, m ~ antigamente o
- - ____ j
'
GEOGRFICO.
[9]
acento tnico era na ltima si- csa, cap. dum ant. condado a
laba. V. Abila. E. da Gasconha e N. de An-
Estremoz, v. e cab. de com.
na prov. do Alentejo.
latriaa. v.- Astrias.
8vora, cid. e cab. de com. na
pro v. do Alentejo.
From, Fraa ou Frio (hoje
Faro}, v. do Algarve "na com. de
Ta vila ou Tavira. actualmente
a capital.
Fanicas (I. Phoenices), os hab.
d'l ant. reino da Fencia ou Phe-
, .
ntcta.
Ferreira ( esp. Herrera), v.
d'Esp. na prov. da Estremadura,
a 3 km. S. do Tejo e a S. S. E.
de Castelo Branco.
Fz ou Feez, cid. interior da
Mauritria e cap. do reino do
mesmo nome. Fica sit. a 19S km.
S. de Tnger prssimamente no
centro da depresso que existe
entre a serra do Rife e a gran-
de cordilheira do Atlas, a
3o'
1
lat. N. e 4 4-B' 5'
1
long.
W. de Greenwich. Foi edificada
,
por Mulei Idrice no anno de 177
da hegira ou 793 da era crist.
Fz ha Nova, lug. cit. a 1 km.
ou l,5 km. a S. W. da prece-
dente, que porisso algumas vezes
se denominava Pr ha Velha.
Fia._. ou Frandes (hoje
Pfandre$), ant. regio do N. da
Europa compeendida entre o
mar do Norte, o baixo Escalde,
Brabante, Hannegau, Cambresis,
Artois e Guines. Cap. Gand.
Foa (1. Fuxium ), cid. fran-
dorra.
Fonte Bahia (1. Fons ),
cid. martima sit. no vrtice do
glfo de Bizcaia, a 16 kni. E. de
San-Sebastio.
Fonte Sahugo ( esp. Fuente-el
Saco), v. do ant. reino de Leo
a 34 km. S. de Touro.
Fre%0 (esp. Fre1no), v. d'Esp.
em Castelaa-Nova, a 6 km. N.
de Carracena.
Frmiata, v. d'Esp. em Cas-
tela-a-Velha, a 66 km. W. de
Burgos.
Punchal, cid. da costa meri-
dional da ilha da Madeira, cap.
de todo o arquiplago.
Gdorez (hoje Gd>r), v.
d'Esp. na margem dir, do rio
d'Almeria, a 14 km. N.N.W.
d'Almeria.
, Galliza ou Galiza (1. Gallae--
cia), ant. prov. d'Esp. no estremo
N.W. da ponfnsula, a W. das
Astrias e do ant. reift de Leo.
Gaud (flam. Gent, 1. Ganda),
ant. cap. de Frandes, ou Flan-
dres, st. na confiuncia dos rios
l...is e Escalde, a 322 km. N N.E.
de Paris.
Gascea, os hab. da Gasconha.
Gasconha (1. Vasconia). V.
Aqui tania.
Gibaltr (hoje Gibrltar), pra-
a forte do estremo 01eridiooal
da pennsula, defronte de Septa
ou Ceuta. A denominaio GOr-
ruo do ar. je.e/. al TIV"
1
,
VocABULRio
(moitte de Tarec), do nome do
primeiro mouro que a se diz
ter apartado, no anno de 92 da
hegra ou 710 da era crist,
quando o conde Julio, gover-
nador de Scpta, e l). Oppas, ar-
cebispo de To ledo, reclamaram
o nussHio dos n1uulmanos con-
tra R'od.erico, rei dos visigodos;
Godos (I. Gotlzi), ant. p.vo que
j no 3: sculo a. C-.. ocupava
todo o s: da Escandinvia e uma
grande parte do N. da Germnia ..
Pelo andar do tempo adquiriram
um alto grau de espanso, e di-
vidiram se em godos ocidentais
ou visigodos, godos orientais ou
Ostrogodos, e gepidas, que a
principio habitaram as n1argens
do Bltico e depois a vertente
N. dos Carpatos, na rea das
nascentes do Vstula. V. Gthia.
Qoes, lug. da com. de Coim-
bra.
Golfo Arbico ou da Arbia
( 1. si nus Arabicus), pl'olonga-
,
menta do n1ar das Indias entre
as costas ocidental da Arbia e
'
oriental da Africa, limitado a S.
pelo estreito- de Bab-el-Mandeb.
V. Mar Rxo.
Golfo Prsico (1. sinus Persi-
cus) prolongamento do mar das
'
lndias entre a Prsia e a .Arbia,
comunicando com o mar das
,
Indias pelo estreito de Ormuz.
Gthia, pro v. da
Escandin1via entre o Cattegat e
o Bltico, pr.a o S. dos lagos
Wenern . e Wettern. Perten-
ciam-lhe tambm as duas gran-
des ilhas do Bltico, Gothlanda
e Oelanda. V. Godos.
Graciosa, v. mandada .edificar
por D. Joo II no rio de Larache,
no reino de Fz. (Cf. Garcia de
Resende, Chronica dtiRei don1
loam 11-. cap. 81 ) ..
Grada, Graada ou
ant. reino na parte meridional
da pennsula, o ltimo que os
mouros sustentaram na Europa.
Cap. a cid. do mesmo nome, sit.
quase no sop da vertente sep-
tentrional da serra Nevada, na
abertura duma veiga de 7 lgoas
de circunferncia, semeada dum
grande nmero de povoaizi-
nhas e irrigada por diferentes
rios e entre os quais o
Darro, que depois de atravessar
a cid. vae desembocar no rio
Genil, afluente da margem esq.
do Guadalquivir ..
Guadelupe, v. da Estremadura
esp. na falda da sena do mesmo.
nome, a 54 km. E. de Trujilho.
Guarda, cid. e cab. de co1n.
da prov. da Beira.
Guia pusca. V. Guipusca ou
Lepusca.
Guiena ou Guyena, regio da
Frana tneridional. V. Aquitania.
Guimares, v. e cab. de com.
na prov. de Antre -Douro-e
Minho.
,
. Guin, parte da Africa oci-
dental compreendida entre os
paralelos de 10 lat N. e 00 3o'.
lat. S., desde a serra da Lea at
I
GEOGRFICO.
[ r]
ae Gctbo, com uma estenso
de costas de n1nis de 3ooo km.
Alguns gegrafos generalizam
ota dnominao aos pases .vi-
zinhos para o N. e para o S., com'
preendendo'o territrio dos rei-
nos .de Loango; Congo, Angola
e -Benguela, e chamam a todo
este prolongamento meridional
Guin inferior ou Baz'xa Guin,
para a Guin pr-
piamente dita a designao de
Guin suptirior ou Alta Guin.
Guipusca, Lepusca C'u n1elhor
Gtlipuzca (hoje Guiprcoa), uma.
das tres prov. Vascongadas ou
Bascas. Cap. San-Sebastio. V.
Biscaia.
Guipuscos, Lepuscos ou me-
lhor Guipuzcos, os hab. da Gui-
puzca ou Guipzcoa.
Bahat, prv. do reino de Fz,
em que est compreendida a cid.'
de Tnger. O reino dividi-se
ao todo em 7 prov., a saber:
Fz, Afgar e Ten1ecena, para o
lado do Atlntico; Hbat sbre
o estreito .de Gibrltar; E r ris e
Garet, sbre o Mediterrneo, e
finalmen.te Cus, a n1ais estensa
de todas, na parte central do
'
pats.
Ranobra, Ra nobra ou Nobra
(hoje Anobra), lug. e freg. da
com. de Coimbra, a 6 km. N.W.
de Condetxa-a-Nova.
Haro, v. d'Esp na n1mgen1 dir.
do Ebro,-37 km. a montante de
I .ogronho.
Bierusalm ou Jerusalm'
(corruo do nome hebreu Je-
= viso da paz), cid.
cap. da Palestina, santurio do
judasmo e bero do cristianis ...
mo. Est sit. na parte meridional
do pas, entre o Mediterrneo e
o mar Motto, a 3 1 o 46' lat. N.
Hippo rgio ou Hippona (I.
Hippo regius), ant. cid. da Nu-.
mdia, no loc'al onde hoje se en .. ;
contra a cid. de Bne, quase no
estren1o oriental da costa da
Atglia.
Hontleur, prto da Nonnndia
shre a margem esq. da .embo ..
cadura do rio Sena, a 1 1 km.
S.E. do Havte.
Hotrento (ital. Otranto), cid.
d'ltlia a S. E. da costa da A pulha
ou Aplia.
Huete, cid. d'Esp. a 91
E.S.E. de Madrid.
Ilha da Ba Vista, a mais
oriental das de barlavento do
arquiplago de Caho Verde.
Ilha Branca
1
uma das menores
de barlavento do arquiplagde
Cabo Verde, a S.E. da ilha de
Sta. Luzia.
Ilha Brava, a mais
e meridional das de sotavento
.
do arquiplago de Cabo Verde.
Ilha de Camaram (nas cartas
modernas Kamar .. 1n), no golfo
Arbico, a t5 t3' lat. N., prss.
da costa da Arbia. Os ingises
desde t858 por
causa do seu excelente ancOTa ...
douro.
Ilha do Corvo, a mais
.,
[ 1 ~ ] VocABULRIO
trional e mais pequena do arqui-
plago dos Aores. Forma com
a ilha das Flores o grupo oci-
dental do arquiplago.
Ilha Deaerta, a principal dum
pequeno grupo do arquiplago
da Madeira. acompanhada
doutra ilha pequena para o S.
(ilha do Bugio), e dum ilhu
para o N. (ilhu Cho), o con-
junto das tres constitue o grupo
das Desertas ..
Ilha do Faial, uma das do ar ...
quipla86 dos Aores, a n1ais
ocidental das cinco que formam
f7 grupo central.
Ilha du Flores, a maior do
grupo ocidental dos Aores, ao
S. da ilha do Corvo.
Dha do Fgo, a segunda das
de sotavento do arquiplago de
Cabo Verde (no sentido de W.
para E.).
Ilha das Garas, junto da costa
,
ocidental da Africa, a S. das
ilhas d' Arguim.
Ilha Graciosa, a mais septen-
trional e menor do grupo cen-
tral dos Aores.
Ilha Baiana, uma das ilhas
perdidas, a qual os antigos iden-
tificaram com a ilha do Sal
(Cabo Verde).
Ilha de lesu Christo. V. Ilha
Terceira.
Ilha da Madeira, a principal
do arquiplago deste nome a
32 4S' lat. N. e 17 long. W. de
Greenwich.
Ilha de Maio ou das Maias, a
quarta e mais oriental das de
sotavento do arquiplago de
Cabo Verdf. .
Ilha M arco. V. Dha do
Co"o;
llla de lfar (ou lfaar), junto
da costa ocidental da frica, a
N. e prss. da ilha das Garas.
Dha do Pico, a mais meridional
do grupo central dos Aores.
Dha de Porto santo, sit. a N.E.
da ilha da Madeira, da qual dista
crca de 3o milhas geogrficas.
Ilha Rasa, uma das menores
de barlavento do arquiplago de
Cabo Verde, a E.S.E. da ilha
Branca.
Ilha do Sal, uma das de bar-
lavento do arquiplago de Cabo
Verde, a N. da ilha da B ~ a
Vista.
Ilha de S. ChristoYam. V. Ilha
da Ba Vista.
Ilha de S. Denis. V. Ilha do
Pico:
Ilha de S. Jorge, uma das do
grupo centrai dos Aores, a S.
da ilha Graciosa.
Ilha de S. Luis. V. Ilha do
Faial.
Ilha de S. Miguel, a maior e
mais importante do arquiplago
dos Aores. Forma com a de
Sta. Maria o grupo oriental.
Ilha de S. Nicolau, uma das
de barlavento do arquiplago
de Cabo Verde, a E. da ilha
Rasa.
Ilha de S. Phelippe. V. Dha do
Pgo.
...
r
GEOGRFICO. [t3]
Dha de_S. Tboms. V.Dhadas
Piores.
Dha de S. Vicente, uma das
de barlavento do arquiplago de
Cabo Verde, a E.S.E. da ilha
deSto.Andm.
Dha de Sta. Biria. V. Dha de
CorYO.
Dba de Sta. Luzia, uma das
de barlavento do arquiplago de
Cabo Verde, a terceira no sen-
tido de W. para E.
nha de Sta. Maria, a mais
meridional do arquiplago dos
Aores.
Ilha de Santiago ou 8. Tiago,
a maior das de sotavento do
arquiplago de Cabo Verde
1
enlre as do Fgo e de Milio.
JlhadeSto. AD.mouADtnio,
a mais ocidenml das de barla-
vento do arquiplago de Cabo
Verde.
Ilha Terceira, a mais ocidental
do grupo central dos Aores.
Ilha de Tider ou Tidre, na
costa ocidental da rrica, a S.
da ilha das Garas.
llhas dos.l.orea ouTerceira1,
arquiplago sit. ell(re 36<' 5o' e
3944' lat. N., a 100 milhas da
costa de Portugal.
Dhaa Darguim (=- d'Argaim),
l entreda da baa de:ste nome, a
S.E. do cabo Branco.
Dhaa de Cabo Verde, arqui
plago fronteiro costa da Se-
negmbia, en1re os paralelos de
1 4 4 ~
1
e t:f'3o
1
lat. N.
Dhaa de Maluco ou Malucas,
arquiplago sit. a N. da Austrlia
eo1re a ilha dos Celebes e a
Nova Guin, Os gewafos es.-
tranjeiros e, por imitaio destes,
os prprios portugusea t'em
corrompido o nome destas ilhas
em Molucas.
tndi11., em sentido restrito,
apenas o JndosJo ou pas dos
ndios, isto , a parte da sia
meridional compreendide entre
o Indo e o Ganges. Em sentido
mais lato, abrange ainda a parte
meridional da sia que se es-
tende para llm do Ganges,
inclusive o sistema de ilhas que
ligam a sia li Austrlia
lltimo sentido emprega
rm de preferncia a
lndias, no plural. Os ant
vidiam a vasta regio con1
da ndia em duas partes
das pelo Ganges., a sa
india Citerior ou de
Ganges (Cisgcmptica),e
Ulterior ou de alm-
(Transganglica).
tndias occidentaea, no
os antigos davam ao
Mundo, isto , l Amric1
se contrape ao de ndia
tais ou ndias prbpri
ditas. Mas os autores mo
tendem a restringir estt
da lndias ocide11rais ao
de ilhas que se interpe
Fl6rido. e Venezuela, nL
reco mdia N.W.-S.E
a das ndias orientais.
lofant.ado, territrio [
,
}
VocABULRIO
trora pertenia aos "Infantes d'Es- esq. da .embocadura do rio de
panha, e compreendia as vilas de Cus.
Alcocr, Salmern e Val-de..: Leam ou Leo, cid. d'Esp.,
Olibas, a oriente de Madrid. cap .. do ant. reino do mesmo
Irlanda (ingl.lreland, 1. Hiber- nome, stt. na margem dum dos
nia), uma das ilhas Britnicas, a afluentes do Esla, o rio Bernes ....
mais ocidental do Reino Unido. ga, logo cima. do ponto em que
Cap. Dublin, cid .. martima .da nele ven1 desembocar a rib. de
costa o,riental, banhada pelo Trio, a 160 .km. E.N.W. de
mar da Irlanda. Burgos. O nome deriva do I. /e-
lslanda ( din-. lsland
1
ingl. Ice- gionem, por haver sido fundada
land), grande ilha do oceano pela 7 legio das tropas roma-
Glacial rtico entte a Groen- . nas, que a teve o seu quartel.
landa e a Escandinvia. Hoje Ledesma, v. d'Esp .. sbre a
est mais en1 uso dizer lslndia, tnargen1 esq. do Torn1es, a .25
como. tan1bm dizemos Groen.:. kn1. S..S.W. de amora ...
lndia, Jutlndia, Finlndia, etc. ; Lemos (Monforte de). v. da
antigamente estes non1es Galiza 58 kn1. S. de l.ugo. Era
terminavatn todos em -/anda, cabea do condado e jurisdio
como anda conservam en1 Ir- do tnesmo non1e. O vale de: L'-
landa e Rol/anda. inquestio- mos, um dos n1ais povoados e
navel que a forn1a antiga pre- ricos da Galiza,, compreende
ferivel. todo o terreno dentro do ngulo
Lagos, v. e cab. de com .. no forn1ado pela confluncia do rio
ant. reino ou pro v. do Algarve. Sil con1 o Minho, e ainda limi-
Lamego, cid. e cab. de com. ta do por uma reta que .partindo
na prov. da Beira. da barca de Poncelo, na fregue
4
Lancastre ou Lancster, cid. sia de S. segue por cima
d'lnglaterra prss. da en1boca- de Villacaiz,, cruzando a jurisdi-
dura do rio L una a 54 3' lat. o de Paradela, descendo de
N. Foi residncia habitual dos Cerbela e continuando na mes-
duques .do mesmo nome.
Lapnia, regio do norte da
Europa abrangendo a parte sep-
tentrional da Escandinvia e a
parte adjacente da Rssia at
ao Mar Branco.
. Larache (ar. EJ-Ar.ich), cid.
da costa ocidental do reino de
Fz, a 12' lat. N , na annrgen1
ma dh:ecco at ao rio.
Lepusca ou melhor -Lepuzca.
V. Guipusca.
Lepuscos ou melhor Lepuzcos.
V. Guipuscos.
Lisba ou Lixba (hoje Lis-
ba ), cid. da pro v. da. Esttenla-
dura, cap. do teino de Portugal.
As coordenadas geogrficas do
..
GEOGRFICO.
ant. observatrio do C41stelo sam
38 42
1
7'' lat. N. C 9 7' 31 '',8
long. W. do observatrio de
Greenwich.
Lobom, v .. d'Esp. nas alturas
da margem esq. do Guadiana, a
km. S,W. de Mrida e 32 km.
E- de Badajoz.
. : Looia ou -Losoia, pov. de
Castela-a-Nov_a no . sop meri ..
dional da sert'n de Guadarran1a,
a 13 km. S.W. de Buitrago.
Lorraina (ai. Lotllringen, I.
.. t, fr. ant. Loheraigne,
r... med. e mod .. LorTaine), ant.
ducado a N.E. da. Frnn-a, ao N.
do Franco-condado, entre a
Champagne e a Alscia; Cap.
Nancy.
Loul, v. da com.- de Tavila
ou Tavira.
Machico, v. da. costa .S. E. da
ilha da Madeira.
Kadrigal, v. d'Esp. a 2S km.
W.N.W. de Arvalo.
adril (hoje Madrid), cid. sit.
na mat'ge.m esq. do Mananares,
cap. de Castela-a-Nova e do
reino d'Esp. As suas coorde-
nadns geogrficas sa m 40 24'18
11
lat. N. e 3o 4S' 42
11
long. W. de
Ga!'eenwich.
ajorga, v. d'Esp. a 75 ktn.
N.W. de Valhadolid. na estrada
real que vae desta cidade para
Leo.
ancha, ant. prov. d'Esp. a
S. E. de Castela
Kar Arbico. V. Golfo.Arbico.
ar Austral, o q uc banha as
terras pla banda do s.; ou mais
particularmente o que se esten-
de o trpico de capricr-.
riio o crculo antrtico.
de. Levante, o Mediter-
rneo.
ar editerrneo (Ir. mar.e
Mediterraneum,. mare l11ternum,
ntare Magnum), o que separa a
I
Europa .da Africa, comunicando
com o Oceano pelo estreito de
Gibrltar e com o n1a1
pelo estreito dos Dar.danelos,
mar de Mrmara e Bsforo. .
ar Oceano ( l. 111are Ocea ...
7tum), segundo os antigos ro-
deava toda a terra como un1 rio
colossal; .en1 sentido mais re-
strito que hoje cha-
n1an1os Oceano Atlntico.
Bar Prsico-. V. Gelfo Prsico.
ar de Ponente, o Atl.ntico.
ar Rxo, em sentido restr.ito,
o 1nesmo que mar Arbico ou
golfo Arbico, n1as os ant ge-
grafos estendiam a mesn1a deno-
minao (I. 1nare 1nare
Erythraeum) a todo o mar que
circunda a Arbia e se prolonga
,
at India.
Marialva, v. da com. de Pi-
nhel. Foi cab. de condado insti ..
tudo por.D. Af0n-so V;- e elevada
depois a marquesado. por D.
Afonso VI.
araelha ( 1.. Massilia),. cid.
francsa da Provena, a. E. da
bcas do Rdano e a 6o kru.
N.W. de Toulon.
I
auritnia, regio .da Aftic
,
.....
-------......,
VocABuLRIO
septentrional que compreendia
os reinos de Marrocos, F z e
Argel. V. KoureL
edelhim ( espa Mahln, L
Metellinum), v. d'Esp. na mar-
gem esq. do Guadiana, a 27 km.
E. de Mrida.
diDa do Campo, cid. d'Esp.
a 45 km. S. de Valhadolid.
Medina 'l'hanehi (ar. Medinet-
el-Nabi== a cidade do Profeta}, a
Yatrippa de Ptolomeu, a segun-
da cidade do islamismo, por ser
nela que se guarda o tmulo
de Mafoma. a 11
ias de jornada para o N. de
MecL
eJpp, v. da com. de Viana
de Foz-de-Lima.
ma (hoje MeniiDa), alda
do termo de Penamacor.
mda (1. Emerita Augusta),
ant. cap. da Lusitnia, sita na
margem dir .. do Guadiana, a 55
km. E. de Badajoz. Pertenceu
ao mestrado da ordem de San-
tiago, por doao feita por D.
Afonso XJ de Leo.
llina (Coat.a. da), a parte da
costa da Guin compreendida
a ponta mais oriental do
cabo das Tres-Pontas e o cabo
dA S. Paulo, .muna. de
aaais de 35o km.
ira, v. da com. de Coimbra.
Miranda Alo Corvo, v. da con1.
4e Coimbra.
. lllraada do Douro, cid. e cab.
tle com. na prov. de Tralos-
lleotes. Est sit. na margem dir.
do Douro, naraia do.ant. reino
de Leo.
Mol, pov. fortificada na prOY.
de Castela-a-Nova, a 65 km.
E.S.E. de Cuenca.
oliDa (se. dos Condes, boje
Molina de Arago), cid. d'Esp.
em Castelaa-Nova, na margem
do rio Gallo (afl. do Tejo), a
16o kn1. E.N.E. de Madrid.
. .
Monforte, v: da com. de Por-
talegre.
Monsanct.o, v. da com. de Cas-
telo-Branco.
Monte J.ragom, lug. d'Esp. a
3 km. do Tejo e 5 km. E. de
Tala v era.
onte mr ho novo, v. da com.
d'Evora.
Monte mor ho Telho, v. da
com. de Combra.
Monta Rei, v. da Galiza junto
da margem di r. do rio T n1ega,
a 23 kn1. N. de Chaves.
Moreira lhoje A.Jnoreira), lug.
do termo de Monforte.
ota (La), v. d'Esp. no ant.
reino de Leo, a 23 kn1. J'l.E. de
Touro.
Moura, v. da com. _de Beja.
Mouro, v. da com. d'Elvas.
ouros (1. Mauri), os povos
da Mauritnia, isto , dos terri-
trios de Marrocos, F z e Argel;
mas este nome aplicava- se em
geral a todos os povos da Ber-
beria e ainda a outros da ntesma
famllia rabe .
Mouros alarvea, mouros
do deserto ou bedunos.
,.
0
\'
. ,_
14
1
"' , ...
id'L
r,.
KL .
..
'
"'*'
.
GEOGRFICO.
[17]
. .
Mouros azenegues, os dare- inclundo
gio do Senegal,
Jliar.a: ou Mijara .(l1oje N-
jera) . v. d'Esp. em Castelaa-=
Velha, a 24 km. W. de Logro-
nho.. . . .
. . . . -...
Nanci (fr. Nancy),. c.id. cap!
da Lourraina, si t. na margem
e$q. do M.osela de
Metz. V. Lorraina. . . ...
Npoles (Reino de); abrangia
a S.E. da pennsula d'ltlia
pesde os estados da. Igre.ja at
ao: mar Jnio.
Navarra, ant. reino da Hisp ..
.nia, que teve por ncleo as. terras
conquistadas aos rabes . por
Carlos Magno nas .duas ver-
tentes dos declarado
independente na dieta de Tribur,
em 887 da era crist.
Nobra. _
Normftos (hoje Nornzandos),
os hab. da Normndia.
Normndia, ant. prov. do nor
oeste de Frana, entre Pi-
crdia e a Bretanha. As suas
principais cidades e vilas eratn:
Ruo, Caen, Coutances, Gisors,
E.vreux e. Alenon. .
Nondar, v. da com. d'Elvas.
Oc.anha ou Ucanha, v.
a 46 km. E.N.E. de Toledo.
Odemira, v. da con1. de -Beja.
O diana. V. Rio Guadiana.
Odivelas, lug. a 1 o kn1. N.
de Lisba, notavel pelo seu
grande n1osteiro de religiosas de
S. Bernardo, onde chegaran1 a
residir de 6oo n1olheres,
vidoras. .
Oeiras, lug, sit. Qa
esq. da ribeira da Lage,
da .mar.gem dit:. Tejo,.a
W. de. Lisba. Foi elevado ca-
. . .
tegoria. de .vila por D .. Jo:S I>
Olivena, v. .. d'Ehrns,
actuahnente incorporada, ..
pro v .. de . ,.. . .. . :
Olmedo_ ou Ulmedo., cid.
no ant. reino de Leo, a. 38 Jun.
S. de Valhadolid. f :.
Osorno . (se. Mayor);1 v.
d'Esp. em Castela-a-Velha a
km. N.N.E. de Palncit .... . !
Ouguela,. v. da con1. d'Elvas.
Our.m, .v. da con1. de Tomar-.
Padinas (por Paradinasf.)
Palena ou Palncia, _cid.
d'Esp. em Castela-a-Velha,-
48_ kn1. S. W. de Burgos! . , ,
Palestina ou Terra .
ant. pas dos hebreus, redu.zidq
a pro v. ron1ana por. n1o.rte.
Herodes Agrippa, . e depois de
vrias 'icissitudes conquistada
pelos rabes, que a
at 1 5 17 .. V. Bierusalm. . .
Paradinas, v. do ant. reino q
Leo, a 37 km. S.W. de
manca ..
Paredes (se. de Nava},:
d'Esp. a 22 km. N.W. de Pa-
lncia. Fo.i cabea de
Pedra ba (esp. Piedrab.ueua),
alda Estren1adura esp. a 35
kn1. N. de aadttjoz, e
ao norte de .
I ' -'
Pedrosa .(se . del. Rey)
1
alda
...... _...
VOCULRio
do
0
-tlftt. reino de Leio a 16 km.
N.E. de Touro.
o Y. da com. de Cofm-
bnl. o
.: PeBila lei, (etp. v.
d'Esp. na margem esq. do Douro,
a S2 E. de Valhadolid.
: Peuna coTa, v. da com. de
Combra. .
Penna macor, v. da com. de
Castelo-Branco.
Pereira, v. da com. de Coimbra.
Perpinham. V. Roaelhom.
o Piconha (hoje Picanlla), pov.
da com. de Ponte de Lin1a.
OPicquigni, pov. do norte da
Frana, sit. na margem esq. do
rio Somma, a N.W. de Amiens.
Pinheiro (se. Grande), lug. e
freg. do termo da Chamusca,
com. de Santarm. A ordem de
Cristo tinha a uma comenda.
Pinhel, v. e cab. de com. na
prov. de Tralos-Montes. Esta
prov. prolongava-se antigamente
muito para o sul do Douro at
serra das Mesas, a S. da v.
d' Alfaiates.
Plasena ou Plasencia, cid.
d'Esp. na prov. da Estremadura,
sit. na n1argem dir. do rio Jerte,
a 23 km. da margen1 dir. do
Tejo.
Ponte do Arcebispo (esp. Puen
te dei Arrobispo ), lug. da mar-
gem dir. do Tejo, a 38 km. S.W.
de Tnlavera, na estrada que vae
de Madrid para Guadelupe.
Portalegre, v. e cab. de com.
na prov. do Alentejo,
Portei, lug. de tenDo de Sria,
em Castela-a-VeltJ..
Pordmo (Tilla aon >,
v. da com. de Lagos, no Al-
Portilho ( esp. Portillo), ,.
d'Esp. a 21 km. S.S.E. de Valha-
dol;d. o
Prto, cid. e C(tb. de com._ na
prov. de Antre-Douro-e-MinhO.
PToa (se. da Sioga), )ug. a
9 km. E.N.W. de Coimbra. '
Promontrio, ou cabo Dfrica,
. , .
1. e, o estremo, a parte ma1s re-
,
mota da Africa.
Provncia Lapiana. V. La-
ponta. o
Quinta Dandaluz, sit. no ter-
mo de Lisba.
Quinta de Valverde, sit. no
termo de Santarm ..
Rabaal, lug. da com. de
Combra, a 5 km. W. de Pe-
nela.
Real de Kananarea (El) (hoje
Manranares- e l-Real), pov. de
Castela-a-Nova, sit. na margem
esq. do alto Mananares, a 35
km. N.N.W. de Madrid.
Reguengo de Campo Rea
(leia-se Cantpo Reis), lug. da
com. de Leiria .. Pertence actual-
mente ao cone. de Pombal,
freg. da Almagreira.
Restelo ou Rasteio, praia junto
de Belm.
o Riba da Gudiana, i. , regio
adjacente s margens do rio
Guadiana.
Ribeira de Dijebe ou Dejehe,
----- ----- --
GEOGlWlco.
afl. da margem dir. do Guadi8118t
onde vae desaguar depois dum
percurso de 7S km. Nasce na
freg. de S. Bento do Mato, a
S.S. W. d'vora-monte.
Rico Yao ( esp. Ricobayo ), lug.
sit. na margem dir. do rio Esla,
a 18 km. E.N.W. de amora.
Rio de Cara maasa ou Casa
mansa, a N. da Guin portu
gusa. Desemboca na costa oci-
, .
dental da Afr1ca a 12 33
1
lat. N.,
entre o rio de Gambra, ao N., e
o de Cacheu, ao S. Na mar-
gen1 esq .. deste rio, a 66 kn1. da
costa, encontra-se o presdio de
Zeguichor.
Rio Douro ( esp. Duero, 1. Du-
rius ), um dos mais estensos da
Hispnia. Nasce numa da
serra d'Urbin e, depois de atra-
vessar quase toda a Castela-a-
Velha e todo o ant. reino de
Leo, alcana o estremo orien-
tal da nossa prov. de Tra-
los-Montes prss. da villa de
Paradela, costeia a raia desta
pro v. at Barca d' Alva, e en-
trando a definitivamente em
terra pottugusa, segue caminho
de E. para W. at ao Oceano
desembocando em S. Joo da
Foz. Os seus principais a fi. sam:
na margem dir., os rios Pisorga,
Seguilho, Esla, Sabor, Tua e T-
.
mega; e na n1argem esq. os rtos
Riana, Duranton1, Cega, Adaja,
Trabancos, Tormes, Agueda,
Ca, Teja. Trto, Tvora e
Paiva.
Rio Dro (L lk,.,), o airo
dos grandes rios da
que descae para
no vale de Reinosa, . na parto
meridional da prov. de Sancaq.
dr e, dirigindo-se en1 geral para
E.S.E., termina no Mediterrneo
por um estenso delta a 3o km.
E.S.E. de Tortosa. Os seus prin-
cipais afl. sam : na margem d'ir.
os Omino, Tirom, lregua,
Cdacos, Alama, Queiles, Jalom,
Huerva, Aguas, Martim, Guade-
lupe e Matarranha; e na margem
esq. os rios Nela, Losa; Baias,
adorra, Odron1, Ega. Arago,
Arba, Galego e Segre-Cinca.
Rio de Gambra ou Gmhia,
nasce nos montes do FutJalom
e, rodeando a distncia a Guin
portugusa, v&e desembocar no
Atlntico a S.S.E. d-o cabo
Verde, depois dum percurso de
crccl de 1700 km.
Rio Grande ou rio dos Nals,
nasce na regio do Fut-Jalom,
e vae desen1bocar a S. de Bola-
ma, na Guin portugusa, a 6o
lgoas do cabo Verde.
Rio (ar. Uade-al-
quebir-==rio grande, ant. Baetis),
o mais n1eridional dos 5 grandes
rios da Hispnia. Nasce na serra
de Cao ria prss. do lin1_ite
oriental do ant. reino de Jaen
e, di1igindo-se en1 geral para
S.W., vae passai" junto de Se-
vilha, que banha do lado oci-
dental, e entra no Oceano em
SanLcar de Barrameda. Um
VoCBULiUO
pouco abaixo de Sevilha, erca
de 13 km., emite de cada lado
um brao, que se incurva for-
_mando direita e esquerda as
duas ilhas respectivamente de-
nominadas Js/a Mayor e Is/a
Me1or. Os princip-ais: afl.'
sam:- na margem tHr., os rios
Guadalimar, '-Jndula; Guadiato,
Beh1bar, Via r e e na
margem esq. os rios Guadiana
Menor, Gnadajoz:, Genil, Carbo-
nes e Guadara.
Rio Guadiana ( ant. Odiana, do
ar. Uade-An .. 1), um dos 5 maiores
rios da Hispnia. Nasce nas fa-
1
mosas lagas de Ru"idera, que
se estendcn1 pelo tneio da Man-
cha tia direco de S E -N. w .. ;
depois dalgumas lgoas _de
ecto por entre plancies
vez mais baixas e pantanosas;
deminuindo cada vez mais de
volume, perde-se finalmente no
solo por entre juncos e cana-
viais, nas prssin1idades de To
meloso, e vae reaparecer mais
adeante entr-e Villa Harta e Dai-
miei, no stio denon1inado Olhos
do Guadiana.- Daqui por deante
segue o seu curso regular, at
que desemboca no Oceano entre
a cidade de Ayamonte e Vila
Real de Santo Antnio. Os seus
principis afi. sam: na margem
os rios ucara-Xigliela,
Bulhaque; Estena, Guadelupc'jo'
Rocas, Xvora, e as rib. de Caia,
e 1erges-Cobres; e na
margem esq. os rios Jabalon1,
jat, Matachei, Guadajira,
rib. de Guadaln1 e os rios Ar-
dila e Chana. V. Alcarraa.
Rio Lima ( ant. Limia), nasce
nas serranias da pro v, de Orense,
na Galiza, dirige-se para S.W.,
atravessando a fronteira portu-
gusa perto do Cgstelo de
so,. e vem desembocar em Viana
de Foz-de-Lima ou Viana de Ca-
minha (hoje- Viana do Castelo).
Rio Minho (1. Minius), nasce
na Galiza, nas serras de Meira
e Louren, a N.E. de Lugo;
desce para o S. e inflete-se
depois para S. W. at desembocar
em Can1inha. Os seus aft. Sam
em geral de pouca in1portncia,
exceptuando apenas o rio Sil,
que nasce no ant. reino de Leo,
no complicado macio da ver-
tente meridional dos montes
Cantbricos, e vem incorpo-
rar-se no Minho a 20 km. -S.W.
da vila de Monforte de Lemos.
V. Lemos.
Rio de Nuno Tristam, nasce
na regio do Fut-Jalom, Guin
francsa, e desemboca a 20
leg. S.E. do rio Grande. Nas
cartas modernas encontra-se de
ordinrio com o nome de rio
Nuier.
Rio do Ouro, na costa do
Saara, a 23 26
1
la t. N. prpria-
mente uma baa, com 2 km. de
largura, cheia de restingas, em
cujo fundo vem desaguar uma
ribeira, que apenas tem agua na
estao das chuvas.
L_ __ _
--------
GEOGRFICO. [2t]
Rio Rha. V. Rio de Cara
mansa.
Rio 'de Seneg, Ceneg ou
Zanag (hoje Senegal),. un1 dos
grandes rios da frica ocidental.
Nasce a E. do macio de .Fut
Jnlotn en1 dois pontos diferentes,
formando dois cursos d'agua, o
Bafing e o Baco, que se retinem
a S. do paralelo do cabo Verd.
Corre da numa direcco n1dia
I
de S. E.- N. W. infletindose
pouco a pouco para o Atlntic6,
aonde vae a 175 ktn.
de distncia N.E. do cabo V crde.
O curso total pode calcular se
nuns t6oo km., dos quais n1ais de
6oo sam navegaveis. As n1ars so-
bem at 3oo ]{m. da en1bocadura.
Rio de Tabite ou Tamite, na
Guin francsa, dese1nbocando
a crca de 1 oo krr.. S.E. do rio
do Pichei (hoje rio Pongo),
ou 32 lgoas do rio de Nuno
Tristo.
Rio Tejo (esp. Tajo, 1. Tctgus),
un1 dos 5 maiores rios da His-
pnia e de todos o mais clebre.
Nasce na serra de Albarrazin1,
na vertente N.E. do crro de
San- Filipe; atravessa a pennsula
no sentido geral de E. para W.,
e vem formar en1 1 .isba un1
dos melhores e n1ais forn1osos
portos do mundo. Os seus prin.:.
c i pais afl. san1 : na n1argcm di r.
o rio Gallo, Jaran1a, Guadar-
rama, Alberche, Titar, Alagon1,
Erjas, Ponsul, Ocreza, Zzere,
Amonda-e AI viela; e na margem
esq. os rios Guadiela, Salor, Sor-
raia, e a rib. d' Almanor.
Rocha de Sintra, a parte da
serra de Sintra que defronta
com o Oceano e termina no
cabo da Roca.
Rodom (1. Rotonem, hoje Re
don), prto fluvial da Bretanha
si t. na margen1 d i1._ do rio Vil-
lane, a 62 kn1. N.W. de Nantes.
Roma, cid. cap. dos Estados
da Igreja at ao tempo da anexa
o destes ao resto da Itlia, no
reinado de Victor Manuel.
Romos ou Romanos, os hab.
de Ron1a ou dos pases de que
Ron1a tem sido a capital.
Roselhom ou Roselham (fr.
Roussillon), ant. condado do S.E.
da Frana, ao N. e E. dos Pi ..
reneos. Cap. Perpinhan1. V.
Coliure.
Sabugal, v. da con1. de Cas-
telo-Branco.
Sacrum promontorium. V
Cabo de S. Vicente.
Sagres, v. da costa de barla
vento do .Algarve, a E. do cabo
de S. Vicente. Pertencia, con1o
ainda hoje, con1. de Lagos.
Salqmanca ( 1. Salmantica),
cid. d'Esp. no ant. reino de Leo,
sit. na margem esq. do rio
Tormes, a 82 km. do seu ponto
de afluncia na margem tambm
esq. do !)ouro.
Salinas, v. d'Esp. a 18 km.
N.N.E. da cid. de Vitria, na es-
trada real que vae de Madrid
para Frana ..
,. .
VOCABULRIO
laacWiaa ou lotanila, v. e
cab. de com. na prov. da Estre-
madura.
Snctiago ou Santiago, ant.
cap. da Galiza e uma das cida-
des mais clebres da pennsula,
pela sua grandiosa catedral,
onde repousa o crpo do aps ..
tolo Sant 'lago ou San-Tiago,
padroeiro d'Espanha. Est sit.
a 35 km. N.N.E. da ria de Arosa,
e 55 km. S. da Corunha. Era a
cab. da ordem dos cavaleiros de
Santiago.
Sanctiago (ou Santiago) de
Cacm, v. da com. de Beja.
S. Felizes ( esp. San Felices de
. los Gallegos), v. d'Esp. no ant.
reino de Leo, a 32 km. N. W.
de Cidade Rodrigo, e 8 da raia
A
portuguesa.
S. Marcos, priorato da ordem
de Santiago, a que pertencia un1
vasto territrio conquistado aos
lllOuros pelos cavaleiros desta
ordem, entre Cceres e o ant.
reino de Sevilha, incorporado
mais tarde na cora d'Esp. A
sde do priorato era na cid. de
Leo.
S. Romam de Omija, v. d'Esp.
na margem dir da rib. da Ornija
(ou Hor11ija), a 11 km. S.E. de
Touro.
Santilhana (se. de Canzpos),
v. d'Esp. en1 Castela-a- V c lha, a
21 Juu. E.N.E. de Carrion1 dos
Condes e 44 km. N.N.E. de
Palncia.
Scalona. V. Escalona.
Segna, cid. episcopal d'Esp.
a N.W. da serra de Guadarrama,
na estrada real que vae de
Madrid para Medina do Campo
ou Valhadolid. Dista 70 km. de
Madrid .
.
Septa (ar. Cebta, donde port.
Ceuta), cid. africana do es-
treito de Gibrltar, entrada do
Mediterrneo.
Serra de Benacofu, a que corre
sobranceira cid. de Tnger, na
direco de N.W.-S.E.
,
Serra Lea (ou da Lea), na
Africa ocidental entre os para-
lelos de 10., e 6 55'.N., ocupando
ao longo da costa uma estenso
de 640 km .
Serra Ximeira, serra de Xi-
meira ou serra Ximena, ao lado
da cid de Septa ou Ceuta, na
S.N.E.-W.S.W. As suas
principais elevais sam Aln1ina
e Acho. A designao de Ximeira
ou Ximena no talvez seno
a corruo do ar.jebel-al-J.\Iiua,
sendo neste caso sinnima de
Almina e de Abila: V. Ahila.
,
Sete egrejas ( esp. Siete Igl-
sias), v. d'Esp. na n1argen1 esq.
do rio Trabancos, a 5o kn1. S.W.
de Valhadolid.
Setuval (hoje Setubal), v. e
cab. de com. na prov. da Estre-
madura.
Sevilha, c a p. do ant. reino do
mesn1o nome, sit. na margen1
esq. do Guadalquivir, a 76 kn1.
do Oceano.
Siclia, ilha do Mediterrneo,
'
GEOGRFICO.
a S.W. d'ltlia, da qual est se
parada pelo estreito de Messina.
Sigeua (1. Segontia), cid.
d'Esp. em Castela-a-
Nova, a 67 km. N-.:._E. de Guada-
ljara.
Soios, os hab. da Soa
(ant. Helvetia). Hoje escreve-se
Sulos e Sua respectivnn1ente.
A grafia com ss em vez de
,
erronea.
Spartria. V. Espartria.
Stoque. V. Estoque.
Storga. V. As torga.
Stretto de Gihaltar. V. Es-
treito de Gihaltar.
Stremoz. V. Estremoz.
Strias. V. Astrias.
Sylves (hoje Silves), cid. da
com. de Lagos, no Algarve.
Tnger ou Tngere (ar. Tan-
jia), cid. da costa septentdonal
da Berberia, a 23 km. E. do cabo
d'Espartel.
Tavila, Tavilla ou Tavira, v.,
e cab. de com. na pro v. do Al-
garve.
Temecena ou Tremecem, prov.
do reino de F z, a n1ais meri-
dional das que deitam para o
Atlntico. V. Habat ..
Tendilha, v. d'Esp. em Caste-
la-a-Nova, a 20 km. E.S.E. de
Guadaljara e a S.W. de Cifon-
tes. Foi cab. de condado.
Tentguel ou Tentgal, v. da
com. de Coimbra.
_ Tera nabal (ou naval). V.
Sagres.
Terra sancta. V. Palestina.
Toledo (1. Toletum, ar. Toli-
tala), cid. d'Esp. na margem
dir. do Tejo, a 73 km. S.S.W.
de Madrid. Capital de
no tempo dos romanos, foi no
tempo dos rabes (to3J a Jo85)
cap. dum reino independente, e
depois de conquistada por Afon-
so VI, rei de Leo e de Castela,
passou a ser a ca p. de toda a
Espanha, at que em J5oo Fi-
lipe II a despojou deste ttulo
em benefcio de Madrid. V. Cal
tela.
Tomar, v. e cab. de com. na
prov. da Estremadura.
Tordesilhas, v. d'Esp .. na mar-
gem dir. do Douro, a 35 km. S.W.
de Valhadolid.
Torres novas, v. da com. de
Santarm.
Torres vedras, v. da com.
d' Alanquer.
Touraina ou Toraina (1. Turo-
1Jia), ant. prov. do centro da
Frana, a W. do Berri e no curso
do rio Loire. Cap. Tours ou
Tors, na n1argem esq. daquele
.
TIO.
Tralos montes (hoje Tras-os ...
Mo1ztes), un1a das 6 pro v. em
que se dividia o reino de Por-
tugal.
Trevino ( esp. Trevino ), v.
d'Esp. em Castela-a-Velha, a
12 kn1. N.E. de Burgos. Foi ca-
beca de condado.
,
Troia, ant. cid. da Asia menor
prss. da costa do Helesponto
Tnez ou Tniz, cid. cap. do
e--
'
. .
-
VocABULRIO
estado do mesmo nome, na
,
Africa septentrional, a S. da
Sardenha e S.W. da Siclia .. Est
edificada sbre o istmo que se-
para un1 do outro .os lagos
Cedjumi, a W., e Bogaz, E.;
este ltin1o con1unica com o
Mediterrneo pelo prto da Go-
lta, ao N. do qual era a cid.
de Cartago.
- Turcos,. povos da grande fa-
mlia trtaro-fnnica. O texto
refere-:-se a um
dos ramos desta fan1., os turcos
ptomano&, ton1.aran1 a. cid.
d'Otrento. etn 1480.
Turdetanos, povos que anti-
gamente oc1;1paran1 a parte S.W.
da Hispnia, desqe a costa oci-
dental e de Portugal
at s prossin1idades Mlaga,
assin1 o da Lusi-
tnia e grande da Anda-
luzia. F ram subjugados pelos
rotnanos en1 19S a. C.
Trdulos, povos vizinhos dos
Turdetanos para o N.E. Alguns
historiadores consideran1 estes
dois- povos idnticos entre si.
r Valenado Douro, v. da con1.
de Pinhel.
. Valena do Minho, v. da con1.
de Viana de Foz de Lin1a.
Valhedolid ou Valhadolid ( esp.
Valladolid), cid. d'Esp. na mar-
gcnl dir. do Douro, a 242 kn1.
N.N.W. de 1\iadrid. Pertencia ao
ant. reino de Ijeo.
Varatoio .ou Varatojo, lug. do
termo de Torres Vedras.
. Varoique ou Baroique, _ (ingl,
U"a,wick), cid. do centro
glaterra, a N.W. de
Foi cab. de condado.
Vbeda ou beda, cid. d'Esp.
na Andaluzia, a 41 km. de
Jaen.
Vcanha ou U:canha. V. Ocanha.
Vcls ou Ucls, v. d'Esp. em
Castela !-Nova, a S7 km. E. de
Ocanha e 102 de Toledo. Foi
cabe_a de n1estradQ_ da orden1
militar de Snti.ago.
Vergi, castelo da circun-
scrio de l)ijon. V. Borgonha.
Viana (hoje Viena, al. ll"ien),
,
cid. cap._ do arquiducado d'Aus-
tria e hoje do austro-
hngaro. Sit. na dir. do
Danbio, a 4812' lat. N. e 1623'
long. E. de Greenwich.
Viana de Caminha ou Viana
de Foz de Lima (hoje Viana do
Castelo), v. e cab. de con1. na
pro v. de
Viana Dalvito ou Viana a par
Dvora (hoje Viana do Alentejo),
,
v. da con1. d'Evora.
Vidigueira, v. da com. de Beja.
Vilha de Castro xerez {La) ..
V. Castro xerez.
Vilhacruces ou Villacruces,
v. d'Esp. no ant.. reino de l .. ept
a 10 leg. de Valhadolid.
Vilhalpando ( esp. Villalpando)
1
v. d'Esp. no ant. reino de Leo,
a 3H km. N. de Touro.
.. Vilhana ( esp. Vil1 .. 1n ), lug.
d'Esp. no ant. reino de Leo, a
4 leg. de Tordesilhas.
GEOGRFICO.
Vilhena (esp. Vitleua), cid. Vla Viosa,
d'Esp. no ant. reino de Mrcia, tremoz.
a 46 km. N.W. de Alicante. Foi Vimio110. v. d
eriside em marquesado em 144S. randa.
V.Ua Alfonso ou VilhaHonso Visen, cid. e '
( esp. Villa Al(ol1!lo ou Vil/a prov. da Beira .
.Aionso), v. d'Esp. no aru:. reino Vlmedo ou UID
de Leo, n :a leg. de Touro. Vpsia ou Vp
Villalva (csp. Vdlalba)
1
v. 'Opsala, cid. no
d'Esp. a 26 km. N.N.W. deVa a 66 km. N.W
lhadolid. Possue uma um
Vill:a Permosa (esp. ViHa Her bre, fundada en
mosal, v. d'Esp. nn prov. da professor Cario
Mancha, a 100 km. E.S.E. da regeu a cadeira
Cidade Real. rante 37 anos.
Villa d.o Infante. V. Sagres. Vranh ou or,
Villa nova Danas. V. Anos. ii.l), territrio d<
Villa nova da Ce"eira. V. miei, partido d'
Ce"eira. da Mancha.
Villa 1lOT8 d.o Portimo. V. Vrgel ou Org1
Portimo. d'Esp. na mars
Villa Real, v. e cab. de com. Segre, a 114 km
na prov. de TraJos Montes. Zagala. V. Azl
JOIAS LITERRIAS.
Coleco da lntprensa da Unive1sidade de Combra.
I. CHRONIC:A DO PRINIPE DOM loAM, por Da miam de Goes.
1 vol. En1 papel comum. . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Soo
Exemplares nun1erados, em papel de linho .... : . . . . . . 1 ;f/.>oco
NO PRELO:
CANJONEIRO GERAL, de Garia de Resende.
~
EM PREPARACAO:
..
CaRONICA oo FEUISSIMO REI noM EMANVEI.., por Da miam de. Goes.
VIDA DE CHRISTO SEGUNDO HA HYSTORIA EVANGELICAL . Composta pelo
venerauel meestre Ludolfo prior do moesteyro muy honrrado
de Argentina, da ordem n1uy exellente da Cartuxa: mandada
tresladar de Latym em lingoag Portugues pela muyto alta
Prinessa Infanta dna Isabel duquesa de Coymbra, & senhora
de Monte moor aho dom Abade do moesteyro de sam Paullo.
(Obra rarssima).
A Imprensa da Universidade de Coimbra satisfaz, sem agrava-
nlento de custo, qualquer pedido de exemplares das obras publi-
cadas que venha acompanhado da respectiva importancia.