Espirais
Espirais
Espirais
Edson E. S. Sampaio
27 de Novembro de 2012
Introduo
As funes espirais encontram aplicaes em diversas reas do conhecimento. Um exemplo a espiral de Ekman (Gnanadesikan & Weller 1995) referente estrutura de correntes ou ventos prximos a uma fronteira horizontal nos quais a direo do uxo gira medida em que ele se afasta da fronteira por causa da fora de Coriolis. Um outro exemplo em projetos de antenas dispersivas de radar de banda ultralarga (Shubert & Ruck 1992), (Afsar et al. 2004). O presente ensaio trata de funes espirais. Historicamente, as mais importantes so: a espiral de Arquimedes (Arquimedes de Siracusa 287-212 AC) e a espiral Logaritmica ou spira mirabilis (Ren Descartes 1596-1650). Alm delas, que analisaremos inicialmente, abordaremos outras tambm importantes.
(1)
Se substituirmos na Equao 1 as equaes paramtricas: x = r cos() e y = r sen() podemos expressar a espiral de Arquimedes em coordenadas retangulares, como por exemplo:
y=
x2 + y 2 sen
x2 + y 2 r0 b
(2)
A espiral Logaritmica, que foi amplamente estudada por (Jacob Bernoulli 1654-1705) e por (Leonhard Euler 1707-1783), obedece seguinte equao, tambm em coordenadas polares:
r = r0 ea , r0 > 0.
(3)
(4)
Conforme observamos, as expresses algbricas em coordenadas retangulares so bem mais complicadas e no existe frmula simplicadora para ambas as funes espirais. Deste modo, empregaremos as coordenadas polares sistematicamente. Podemos expressar o comprimento do arco de uma curva por (Piskounov 1993):
2
C=
1
r2 +
dr d
d.
(5)
Deste modo, o comprimento da primeira espira da espiral de Arquimedes (aps uma rotao completa, 0 2 ), dado por:
b log 2 +
r0 b
CA1 =
+ 2 +
r0 b
r0 + 2 b 2
1+(
(6)
(7)
Quando b = a = 0, ambas as espirais se degeneram em um crculo de raio r0 e circunferncia CA1 = CL1 = 2 r0 , pois
b0
(8)
Enquanto a espiral de Arquimedes tem comportamento linear, pois para ela r( + ) r() = b , a espiral Logaritmica tem comportamento geomtrico, pois para ela r( + )/r() = ea . Os grcos das Figuras 1(a) e (b) ilustram, respectivamente, o comportamento das Espirais de Arquimedes e Logaritmica para r0 = 1, b = 0,1 e a = 0,05. 2
-5
-3
-1
-1
-5
-3
-1
-1
-3
-3
-5
-5
(a)
(a)
(b)
(b)
A espiral Logaritmica crescente com para a > 0 e decrescente com para a < 0. Em qualquer das duas condies, r 0 quando a . Formalmente, a espiral de Arquimedes deve ser crescente com quando b > 0 e decrescente com quando b < 0. Uma vez que, em qualquer dos dois casos, r = 0 quando = rb0 , o comportamento crescente ou decrescente dela, em um dado intervalo de , no sempre bvio, conforme as Figuras 2(a) e (b) ilustram. Por ltimo, vale salientar que a espiral Logaritmica tem algumas propriedades notveis que a espiral de Arquimedes no tem. Entre elas, duas so particularmente importantes.
Todo raio a partir da origem intersecta a espiral Logaritmica com o
mesmo ngulo. Por isto, ela tambm chamada de equiangular. Se o ngulo formado entre o raio vetor e a tangente a uma curva no ponto considerado, ento
cot() = 1 dr r d
(9)
-4
-1 -1
-4
-1 -1
-3
-3
-5
-5
(a)
Figura 2: Espirais de Arquimedes: r = 1 + 0,25 . Linha azul contnua: 16 rd < < 4 rd. Linha vermelha tracejada: 4 rd < < 12 rd. r = 1 0,25 . Linha vermelha tracejada: 10 rd < < 4 rd. Linha azul contnua: 4 rd < < 16 rd.
(a)
(b) (b)
De acordo com (Maor 1994), o signicado deste importante resultado foi descoberto por (Evangelista Torricelli 1645) a duras penas. Podemos descobr-lo facilmente com o ferramental matemtico moderno de que dispomos. Aps substituir o valor de na Equao 10, vericamos que: r = CL cos(). Portanto, a extenso da espiral Logaritmica entre o polo e um ponto P qualquer igual ao tamanho de um segmento de reta, ao longo da tangente curva no ponto P . Os limites do segmento dessa tangente esto em sua interseo com a reta que secciona, perpendicularmente, o raio vetor do ponto P ao polo e no ponto P .
(11)
mapeia o eixo real do plano complexo z = x + i y em espirais de Arquimedes no plano imagem complexo w = u + i v . Entretanto, se tomarmos z ao longo do eixo imaginrio na Equao 11, o que implica em associar (z) , concluimos que: 4
0.1
0.08
0.06
0.04
0.02
Figura 3: Representao ou da funo real, v = 0,25 u ln(u), 0 < u 1, ou da funo complexa w = e +i 0,25 e , 0 < . Representao da espira!l mista r = 0,25 e , 0 2 .
(a)
(a)
(b) (b)
u = r0 e
(12) (13)
v = b e .
Portanto, (w) representa uma espiral Logaritmica para a = 1, enquanto (w) representa uma espiral mista resultante do produto entre uma espiral de Arquimedes com r0 = 0 e uma espiral Logaritmica com r0 = 1 e a = 1. A Figura 3 se baseia nas funes das Equaes 12 e 13 e seus parmetros so: r0 = 1, b = 0,25 e valores positivos de . A curva da Figura 3 (a) tanto representa uma funo real, v = 0,25 u ln(u), como o mapeamento do semi-eixo imaginrio positivo no plano imagem complexo w = u + i v . J a Figura 3 (b) representa a espiral mista resultante do produto entre as duas espirais, aps associarmos v r na Equao 13. Esta espiral mista passa pelo polo em = 0 e + e atinge um valor mximo do raio vetor em = 1 rd.
(14)
Para z ao longo do semi-eixo real negativo, z = |z| ei . Portanto, log(z) = log(|z|) + i e f (z) = r0 |z|z ei z . (15) Se zermos = z obtemos:
f (z) = r0
ei ,
u = r0
cos()
e
v = r0
sen().
Observar que real e negativo nas Equaes 16, 17 e 18. Deste modo podemos escrever:
r() = r0
, 0.
(19)
Portanto, a Equao 19 representa uma espiral Logaritmica generalizada e podemos concluir que a funo f (z), denida pela Equao 14, mapeia o semi-eixo real negativo de z em uma espiral logaritmica generalizada no plano imagem w. A Figura 4 constitui a representao grca da Equao 19 para dois intervalos de e r0 = 1. Observamos que o raio vetor desta espiral passa por um valor mximo no intervalo 0 || 4 . Conforme prev a Equao 19, o mximo ocorre para = . Entretanto, o valor absoluto da base desta e funo cresce da mesma forma que seu expoente negativo, ao contrrio da funo da espiral Logaritmica na qual o valor da base constante. Por isto, o valor do raio vetor diminui drasticamente para || > rd 66, 22 . Este e fato mais evidente no grco da Figura 4 (b). Se tomssemos valores positivos e crescentes de na Equao 19, o raio vetor passaria por um valor mnimo para = e cresceria de forma drstica com . e
Espirais inversas
Dadas as equaes paramtricas:
x= r0 cos(t) t r0 sen(t) t
(20) (21)
e
y=
1
0.0004
0.5
0
0
-0.0004
-0.5
-0.0008
-1
-0.0012
(a)
(b) (b)
Figura 4: Grco da funo r() = , que representa a espiral Logaritmica Generalizada. 0 4 rd. 4 rd 8 rd.
(a)
Podemos considerar que o parmetro t igual coordenada nas Equaes 20 e 21. Portanto: r0 r= . (22)
A Equao 22 representa uma funo espiral inversa. Entretanto, seu raio vetor diverge para = 0. Calculemos o comprimento de um arco da funo 22.
2
CI = r0
1
1 + 2 d. 2
(23)
CI
= r0
1
= r0
log tan(
.
1
(24)
Como lim = o comprimento do arco desta espiral inversa entre um 2 ponto qualquer e o polo innito. Para evitar a divergncia que ocorre para = 0 na Equao 22, tomemos duas outras equaes paramtricas:
x= r0 (1 cos(t)) t r0 sen(t) . t
(25) (26)
e
y=
1.2
1.2
0.8
0.8
0.4
0.4
(a)
Figura 5: Grco das funes espirais Inversas. cos() 8 rd. r = 22 , 4 rd 4 rd.
(b)
(a) r = 1 , /4 rd
(b)
Se substituirmos x = r cos() e y = r sen(), nas Equaes 25 e 26 e desenvolvermos o resultado, vericamos que t = 2 e que portanto: sen(t) = sen(2 ) e cos(t) = cos(2 ). Consequentemente:
r= 2 r0 cos() , 2
(27)
que tambm uma funo espiral inversa. A Equao 27 no diverge, respectivamente, para t = 0 ou para = /2. De fato, o valor global mximo dessa funo, r = r0 , ocorre para = /2. Os outros pontos de mximo e mnimo ocorrem para 2 tan() = . (28)
2
Concluso
Analisamos, de forma comparativa, seis tipos de espirais: a de Arquimedes; a Logaritmica; uma mista resultante do produto destas duas; uma logaritmica generalizada de base varivel; uma inversa divergente na origem e uma inversa convergente na origem. Em determinados tipos de anlise, a representao sob a forma de uma funo de varivel complexa apresenta vantagens, pois incorpora as propriedades das funes analticas. Por isto, tambm efetuamos uma anlise comparativa, para a espiral de Arquimedes, entre sua representao sob a 8
forma de uma funo real em coordenadas polares e uma representao sob a forma de uma funo de varivel complexa. O procedimento de anlise no plano complexo originou uma espiral mista e uma espiral logaritmica generalizada. Ambas no tm a equiangularidade da spira mirabilis. Entretanto, a espiral mista analisada tem as caractersticas de decair mais lentamente com . Isto pode ser diagnstico de determinados fenmenos: passar pelo polo, respectivamente, para = 0 e para + e passar por um valor mximo do raio vetor para = 1 rd. Ao contrrio da espiral mista, a espiral logaritmica generalizada diminui ou aumenta rapidamente com || > , a depender do sinal do expoente, e no passa pelo polo para = 0. Tambm a depender do sinal do expoente, seu raio vetor apresenta um valor mximo ou mnimo no intervalo 0 < || < . As espirais inversas tendem ao polo em . Porm, os dois ramos da divergente so descontnuos. A convergente contnua e passa um nmero innito de vezes pelo polo. Esta ltima pode representar, por si s, dois vrtices ou duas bobinas de polaridades opostas em um nico uxo de corrente.
Referncias
Afsar MN, Yong W & Cheung R 2004. Gnanadesikan A & Weller RA 1995.
Press, Princeton, USA.
Analysis and measurement of a broadband spiral antenna. Antennas and Propagation Magazine, IEEE, 46(1), 59-64.
Maor E 1994. e: The Story of a Number. 9a. edio. Princeton University Piskounov N 1993.
Clculo Diferencial e Integral, Volume 1. Traduzido do Russo por: AEP Teixeira e MJP Teixeira. 16a. edio em lngua portuguesa, Edies Lopes da Silva, Porto, Portugal. Canonical representation of the radar range equation in the time domain. SPIE Proc. of the International Society for Optical Engineering on Ultrawideband Impulse Radar, Los Angeles, USA, SPIE 1631, 2-12.
Structure and instability of the Ekman spiral in the presence of surface gravity waves. Journal of Physical Oceanography, 25(12), 3148-3171.