Barras e Fios de Aço para CA e CP

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Professor Jos Roberto Albuquerque Gonalves Materiais de Construo II Curso de Engenharia Civil Universidade Veiga de Almeida

Ao para Reforo das Estruturas de Concreto

Outubro / 2007

Professor Jos Roberto Albuquerque Gonalves Materiais de Construo II Curso de Engenharia Civil Universidade Veiga de Almeida

1. Histria da Siderurgia 1.1 Introduo No atual estgio de desenvolvimento da sociedade, impossvel imaginar o mundo sem o uso de ferro fundido e ao. A produo de ao um forte indicador do estgio de

desenvolvimento econmico de um pas. Seu consumo cresce proporcionalmente construo de edifcios, execuo de obras pblicas, instalao de meios de comunicao e produo de equipamentos. Esses materiais j se tornaram corriqueiros no cotidiano, mas o incio e o processo de aperfeioamento do uso do ferro representaram grandes desafios. O ao passou representa cerca de 90% de todos os metais consumidos pela civilizao industrial por causa das suas propriedades e do seu baixo custo. 1.2 A Siderurgia no Mundo 1.2.1 O incio H cerca de 4.500 anos, o ferro metlico usado pelo homem era encontrado in natura em meteoritos recolhidos pelas tribos nmades nos desertos da sia Menor. Tambm existem indcios da ocorrncia e do emprego desse material metlico em regies como, por exemplo, a Groenlndia. Por sua beleza, maleabilidade e por ser de difcil obteno, era considerado um metal precioso que se destinava, principalmente, ao adorno. Muitos defendem a hiptese de que o homem descobriu o ferro no Perodo Neoltico (Idade da Pedra Polida), por volta de 6.000 a 4.000 anos a.C. Ele teria surgido por acaso, quando pedras de minrio de ferro usadas para proteger uma fogueira, depois de aquecidas, se transformaram em bolinhas brilhantes. O fenmeno, hoje, facilmente explicvel: o calor da fogueira havia derretido e quebrado as pedras. O uso do ferro nesse perodo sempre foi algo acidental e o exemplo acima ilustra bem a situao. Embora raras, havia vezes em que o material tambm era encontrado em seu estado nativo - caso de alguns meteoritos (corpos rochosos compostos por muitos minrios, inclusive ferro, que circulam no espao e caem naturalmente na Terra). Como chegava pelo espao, muitos povos consideravam o ferro como uma ddiva dos deuses. 2

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Aos poucos, o ferro passou a ser usado com mais freqncia, a partir do momento em que se descobriu como extra-lo de seu minrio. A explorao regular de jazidas comeou em torno de 1.500 a.C., provavelmente no Oriente Mdio, de onde o metal teria sido importado por assrios e fencios. Do primeiro milnio da era crist em diante, o ferro difundiu-se por toda bacia do Mediterrneo. 1.2.2 A Idade do Ferro Segundo o sistema proposto no sculo XIX por arquelogos escandinavos, Idade da Pedra se seguiu a Idade dos Metais. Primeiro, a do Bronze e, em seguida, a do Ferro. A Idade do Bronze se desenvolveu entre os anos 4000 e 2000 a.C.. Por ser mais resistente do que o cobre, o bronze possibilitou a fabricao de armas e instrumentos mais rgidos. A Idade do Ferro considerada como o ltimo estgio tecnolgico e cultural da prhistria. Aos poucos, as armas e os utenslios feitos de bronze foram substitudos pelo ferro. Na Europa e no Oriente Mdio, a Idade do Ferro comeou por volta de 1200 a.C.. Na China, porm, ela s se iniciou em 600 a.C. O uso do ferro promoveu grandes mudanas na sociedade. A agricultura se desenvolveu com rapidez por causa dos novos utenslios fabricados. A confeco de armas mais modernas viabilizou a expanso territorial de diversos povos, o que mudou a face da Europa e de parte do mundo. A partir da observao de situaes como as das fogueiras do Perodo Neoltico, os seres humanos descobriram como extrair o ferro de seu minrio. O minrio de ferro comeou a ser aquecido em fornos primitivos (forno de lupa), abaixo do seu ponto de fuso (temperatura em que uma substncia passa do estado slido para lquido). Com isso, era possvel retirar algumas impurezas do minrio, j que elas tinham menor ponto de fuso do que a esponja de ferro. Essa esponja de ferro era trabalhada na bigorna para a confeco de ferramentas. Para fabricar um quilo de ferro em barras, eram necessrios de dois a dois quilos e meio de minrio pulverizado e quatro quilos de carvo vegetal. Os primeiros utenslios de ferro no se diferenciavam muito dos de cobre e bronze. Mas, aos poucos, novas tcnicas foram sendo descobertas, tornando o ferro mais duro e resistente corroso. Um exemplo disso foi a adio de calcrio mistura de minrio de ferro e carvo, o que possibilitava melhor absoro das impurezas do minrio. Novas 3

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tcnicas de aquecimento tambm foram sendo desenvolvidas, bem como a produo de materiais mais modernos para se trabalhar com o ferro j fundido. 1.2.3 Evoluo Aps anos de uso do forno de lupa, surgiu a forja catal (considerada o embrio dos altos-fornos utilizados na atualidade). Ela apareceu na Espanha, logo aps a queda do Imprio Romano, e foi utilizada durante toda a Idade Mdia. Era uma lareira feita de pedra e foles manuais que inflavam a forja de ar, o que aumentava a temperatura e a quantidade de ferro produzido. Tempos depois, surgiram os foles mecnicos acionados por servos ou por cavalos. No sculo XII, as rodas d'gua comearam a ser usadas. Com temperaturas maiores na forja, foi possvel obter ferro em estado lquido, e no mais em estado pastoso. Com a possibilidade de obteno de ferro no estado lquido, nasceu a tcnica de fundio de armas de fogo, balas de canho e sinos de igreja. Mais tarde, o uso do ferro se estendeu para residncias senhoriais de grandes portes e placas de lareira com desenho elaborado. Em torno de 1444, o minrio de ferro passou a ser fundido em altos-fornos, processo que usado at hoje. As temperaturas atingidas nesses fornos eram ainda maiores, o que permitia a maior absoro de carbono do carvo vegetal. Isso tornava o ferro e as ligas de ao mais duros e resistentes. Na ocasio, a produo diria do forno era de cerca de 1500 kg. A Revoluo Industrial iniciada na Inglaterra, no final do sculo XVIII, tornaria a produo de ferro ainda mais importante para a humanidade. Nesse perodo, as comunidades agrria e rural comeavam a perder fora para as sociedades urbanas e mecanizadas. A grande mudana s ocorreu, porm, em 1856, quando se descobriu como produzir ao. Isso porque o ao mais resistente que o ferro fundido e pode ser produzido em grandes quantidades, servindo de matria-prima para muitas indstrias. 1.2.4 Fatos recentes

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Com o avano tecnolgico dos fornos e a crescente demanda por produtos feitos de ferro e ao, as indstrias siderrgicas aumentavam a produo. Isso gerava problemas, devido aos gases poluentes liberados na atmosfera pela queima de carvo vegetal. Em meados do sculo XIX, a produo diria de um alto-forno chegava a cerca de trs toneladas, o que elevava ainda mais o consumo de carvo vegetal. A partir do sculo XX, as siderrgicas foram aumentando os investimentos em tecnologia de forma a reduzir o impacto da produo no meio ambiente, reforar a segurana dos funcionrios e da comunidade, assim como produzir cada vez mais ao com menos insumos e matrias-primas. O ao hoje o produto mais reciclvel e mais reciclado do mundo. Carros, geladeiras, foges, latas, barras e arames tornam-se sucatas, que alimentam os fornos das usinas, produzindo novamente ao com a mesma qualidade. Alm disso, as empresas siderrgicas participam de acordos internacionais para preservar o meio ambiente. Na dcada de 90, a Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima estabeleceu a reduo de emisso de gases de efeito estufa, estabelecendo que os pases deveriam apresentar projetos na modalidade Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Durante a Conveno de Estocolmo, em 2004, os pases se comprometeram a fazer um plano nacional de controle de Poluentes Orgnicos Persistentes (POPs). A siderurgia est comprometida com ambas as iniciativas, alm de outras no mesmo sentido. 1.3 A Siderurgia no Brasil 1.3.1 O incio Quando as terras brasileiras foram descobertas, as prticas mercantilistas imperavam na Europa. Os portugueses chegaram ao Brasil com a esperana da extrao de metais como ouro, prata e bronze. No entanto, nenhum tipo de metal, nem mesmo ferro, foi encontrado em um primeiro momento. Os poucos ferreiros que vieram para o Brasil utilizavam o ferro originrio da Europa para produzir os instrumentos usados na lavoura.

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Em 1554, o padre jesuta Jos de Anchieta relatou, em um informe ao rei de Portugal, a existncia de depsitos de prata e minrio de ferro no interior da capitania de So Vicente (atual estado de So Paulo). Quem primeiro trabalhou na reduo desse minrio de ferro foi Afonso Sardinha. Em 1587, ele descobriu magnetita na atual regio de Sorocaba, no interior de So Paulo, e iniciou a produo de ferro a partir da reduo do minrio. a primeira fbrica de ferro que se tem notcia no Brasil. As forjas construdas por Sardinha operaram at a sua morte, em 1629. Aps essa data, a siderurgia brasileira entrou em um perodo de estagnao que durou at o sculo seguinte. 1.3.2 Desenvolvimento Foi a descoberta de ouro no atual Estado de Minas Gerais que desencadeou um novo estmulo siderurgia. Fundies foram abertas para a construo de implementos de ferro utilizados no trabalho das minas. Contudo, as mesmas prticas mercantilistas que impulsionaram a descoberta de metais em nossas terras fizeram com que a construo de uma indstria siderrgica brasileira fosse reprimida. A colnia deveria ser explorada ao mximo e comercializar apenas ouro e produtos agrcolas. Portugal chegou a proibir a construo de novas fundies e ordenou a destruio das existentes. A situao mudou com a ascenso de Dom Joo VI ao trono de Portugal. Em 1795, foi autorizada a construo de novas fundies. Em 1808, a famlia real portuguesa desembarcou fugitiva no Rio de Janeiro, temendo o avano das tropas napolonicas s terras lusitanas. Diversas indstrias siderrgicas foram construdas a partir desse perodo. Em 1815, ficou pronta a usina do Morro do Pilar, em Minas Gerais. Em 1815, a fbrica de Ipanema, nos arredores de Sorocaba, comea a produzir ferro forjado. Outras indstrias foram abertas em Congonhas do Campo, Caet e So Miguel de Piracicaba, todas em Minas Gerais. Aps esse incio de sculo XIX promissor, houve um declnio na produo de ferro. A competio com os produtos importados da Inglaterra era desigual e travava o 6

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desenvolvimento da siderurgia brasileira. Alm disso, havia escassez de mo-de-obra, j que os trabalhadores, em sua maioria, eram sugados pela lavoura do acar e, mais tarde, do caf. Mesmo assim, um marco importante para o posterior progresso da siderurgia brasileira data desse perodo: a fundao, em 1876, da Escola de Minas de Ouro Preto, que formaria engenheiros de minas, metalurgistas e gelogos. 1.3.3 O incio do sculo XX As primeiras dcadas do sculo XX foram de avanos para a siderurgia brasileira, impulsionados pelo surto industrial verificado entre 1917 e 1930. O mais importante foi a criao na cidade de Sabar (MG), da Companhia Siderrgica Mineira. Em 1921, a CSBM-Cia. Siderrgica Belgo-Mineira foi criada como resultado da associao da Companhia Siderrgica Mineira com o consrcio industrial belgo-luxemburgus ARBEdAcires Runies de Bubach-Eich-dudelange que, em 1922, associou-se a capitais belgas e se transformou na Companhia Siderrgica Belgo-Mineira. Os governos brasileiros dos primeiros 30 anos do sculo XX mais preocupados com o caf, davam pouca ateno ao crescimento da indstria nacional. A siderurgia era exceo: decretos governamentais concederam s empresas de ferro e ao diversos benefcios fiscais. Na ocasio, a produo brasileira era de apenas 36 mil toneladas anuais de gusa. A dcada de 30 registrou um grande aumento na produo siderrgica nacional, principalmente incentivada pelo crescimento da Belgo-Mineira que, em 1937, inaugurava a usina de Monlevade, com capacidade inicial de 50 mil toneladas anuais de lingotes de ao. Ainda em 1937, so constitudas a companhia siderrgica de Barra Mansa e a Companhia Metalrgica de Barbar. Apesar disso, o Brasil continuava muito dependente de aos importados. 1.3.4 Expanso O cenrio de permanente dependncia brasileira de produtos siderrgicos importados comeou a mudar nos anos 40, com a ascenso de Getlio Vargas presidncia do

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Brasil. Era uma das suas metas fazer com que a indstria de base brasileira crescesse e se nacionalizasse. Um dos grandes exemplos desse esforo foi a inaugurao, em 1946, no municpio de Volta Redonda (RJ), da Companhia Siderrgica Nacional (CSN) que comeou a produzir, ento, coque metalrgico. No mesmo ano, foram ativados os altos-fornos e a aciaria. As laminaes entraram em atividade em 1948 e marcaram o incio da autonomia brasileira na produo de ferro e ao. Erguida com financiamentos americanos e fundos do Governo, a gigante estatal do setor nascia para preencher um vazio econmico. O ano de 1950, quando a usina j funcionava com todas as suas linhas, pode ser tomado como marco de um novo ciclo de crescimento da siderurgia brasileira. A produo nacional de ao bruto alcanava 788 mil toneladas e tinha incio uma fase de crescimento continuado da produo de ao no Pas. Dez anos depois, a produo triplicava e passados mais dez anos, em 1970, eram entregues ao mercado 5,5 milhes de toneladas. A oferta estimulou a expanso da economia, que passou a fazer novas e crescentes exigncias s usinas. Outra conseqncia foi o acentuado aumento das importaes de ao. Foi este cenrio que deu origem, em 1971, ao Plano Siderrgico Nacional (PSN), com o objetivo de iniciar novo ciclo de expanso e quadruplicar a produo. Caberia responsabilidade maior por esta meta s empresas estatais, que ento respondiam por cerca de 70% da produo nacional e detinha exclusividade nos produtos planos. Parte da produo era para ser exportada. Em 1973, foi inaugurada, no Pas, a primeira usina integrada produtora de ao que utiliza o processo de reduo direta de minrios de ferro a base de gs natural, a Usina Siderrgica da Bahia (Usiba). No mesmo ano foi criada a Siderurgia Brasileira S.A (Siderbrs). Dez anos depois, entrou em operao, em Vitria (ES), a Companhia Siderrgica de Tubaro (CST). Em 1986 , foi a vez da Aominas comear a funcionar em operao em Ouro Branco (MG). Na dcada de 80, o mercado interno estava em retrao e a alternativa era voltar-se para o exterior. De uma hora para outra, o Brasil passava de grande importador a exportador de ao, sem ter tradio no ramo. Mas a crise que atingia a siderurgia brasileira tinha amplitude mundial. Por toda parte, os mercados se fechavam com medidas restritivas s 8

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importaes. Na poca, comearam a freqentar as pginas dos jornais termos como restries voluntrias, sobretaxas antidumping, direitos compensatrios e salvaguardas. 1.3.5 A dcada de 90 O parque siderrgico nacional iniciou a dcada de 90 contando com 43 empresas estatais e privadas, cinco delas integradas a coque, nove a carvo vegetal, duas integradas a reduo direta e 27 semi-integradas, alm de produtores independentes de ferro-gusa e carvo vegetal, que somavam cerca de 120 altos-fornos. A instalao dessas unidades produtoras se concentrou principalmente no Estado de Minas Gerais e no eixo Rio - So Paulo, devido proximidade de regies ricas em matrias-primas empregadas na fabricao do ao, ou de locais com grande potencial de consumo. Hoje, o parque produtor de ao brasileiro, um dos mais modernos do mundo, constitudo de 25 usinas, sendo 11 integradas (produo a partir de minrio de ferro) e 14 semi-integradas (produo a partir da reciclagem de sucata), administradas por sete grupos empresariais. 1.3.6 Dados de 2006: Parque produtor de ao: 25 usinas (11 integradas e 14 semi-integradas), administradas por 8 grupos empresariais; Presena em 9 estados da federao; Capacidade instalada - 37 milhes de t/ano de ao bruto; Atende a 95% da demanda interna de ao; Produo: - ao bruto: 30,9 milhes t; e - produtos siderrgicos: 29,9 milhes t. Consumo aparente: 18,5 milhes t; Faturamento lquido - r$ 54,4 bilhes (us$ 25 bilhes); Nmero de empregados (prprios e terceiros) 111.557; Saldo comercial us$ 6,9 bilhes / 15,0% do saldo comercial do pas; 10 produtor no ranking mundial; 10 exportador mundial de ao (exportaes diretas): - 3,5% das exportaes mundiais; e - 12,5 milhes de t (us$ 6,9 bilhes): o - planos: 4,3 milhes de t; o - longos: 2,5 milhes de t; e o - semi-acabados: 5,7 milhes de t. 9

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2 Processo Siderrgico 2.1 Definio Basicamente, o ao uma liga de ferro e carbono. O ferro , abundantemente, encontrado em toda crosta terrestre, fortemente associado ao oxignio, carbono e slica. O minrio de ferro um xido de ferro, misturado com areia fina, pode ser encontrado, na natureza, como: Hematita (Fe2O3), de cor cinza brilhante na fratura e vermelha marrom aps oxidao; Magnetita (Fe3O4), de cor cinza escura a preta na fratura e apresenta propriedades magnticas; Limonita (Fe2O3.nH2O), que o xido de ferro hidratado; e Siderita (FeCO3), que o carbonato de ferro. O carbono tambm relativamente abundante na natureza e pode ser encontrado sob diversas formas. Na siderurgia, usa-se carvo mineral, e em alguns casos, o carvo vegetal. O carvo exerce duplo papel na fabricao do ao. Como combustvel, permite alcanar altas temperaturas (cerca de 1.500 graus Celsius) necessrias fuso do minrio. Como redutor, associa-se ao oxignio que se desprende do minrio com a alta temperatura, deixando livre o ferro. O processo de remoo do oxignio do ferro para ligar-se ao carbono chama-se reduo e ocorre dentro de um equipamento chamado alto forno. O coque siderrgico o resultado da destilao do carvo, que, ainda, utilizado para a obteno de outros subprodutos carboqumicos. 2.2 Resumo do Processamento do Siderrgico As etapas de produo do ao podem ser, basicamente, dividida em quatro etapas: preparao da carga, reduo, refino e laminao. As matrias primas bsicas do ao so : minrio de ferro, carvo e cal. Antes das matrias primas serem levadas ao alto forno, deve passar pela etapa de preparao da carga, onde o minrio e o carvo so previamente preparados para 10

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melhoria do rendimento e economia do processo. O minrio de ferro (finos) aglomerado utilizando-se cal e finos de coque, que so transformados em pelotas, chamado de sinter. Em seguida o carvo destilado e processado na coqueria, transformando-se em coque. No processo de reduo, essas matrias-primas, agora preparadas, so carregadas no alto forno. Oxignio aquecido a uma temperatura de 1000C soprado pela parte de baixo do alto forno. O carvo, em contato com o oxignio, produz calor que funde a carga metlica (ferro slido e/ou sucata de ferro e ao) e d incio ao processo de reduo do minrio de ferro em um metal lquido : o ferro gusa ou ferro de primeira fuso. O ferro gusa uma liga de ferro e carbono com um teor de carbono muito elevado. Impurezas como calcrio, slica etc. formam a escria granulada de alto forno, que matria-prima para a fabricao de cimento Portland. A etapa seguinte do processo o refino. O ferro gusa levado para a aciaria, ainda em estado lquido, para ser transformado em ao, mediante queima de impurezas e adies. O refino do ao se faz em fornos a oxignio ou eltricos. Nessa etapa parte do carbono contido no gusa removida juntamente com outras impurezas. A maior parte do ao lquido solidificada em equipamentos de lingotamento contnuo para produzir semiacabados, lingotes e blocos. Finalmente, a terceira fase clssica do processo de fabricao do ao a laminao. Os produtos siderrgicos semi-acabados de ao, como lingotes e blocos, em processo de solidificao, so deformados mecanicamente e transformados em produtos siderrgicos acabados pela indstria de transformao, como chapas grossas e finas, bobinas, vergalhes, arames, perfilados, barras etc. A Figura 1 ilustra o processo de produo dos produtos metlicos de ao.

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Figura 1 : Representao esquemtica do processo de produo de produtos metlicos de ao. 2.3 Detalhamento do Processamento Siderrgico A obteno do ao devida a uma srie de processos de transformao metalrgica e de conformao mecnica. Em ordem, as etapas so as seguintes etapas: Extrao da Matria-Prima; Reduo e Reduo Direta; Produo do Ferro-Gusa; Refinamento Ferro-Gusa e Ferro-Esponja; Lingotamento; Laminao; Trefilao; e Produto Final. A extrao da matria prima, o minrio de ferro a principal matria prima do ao, no entanto so encontrados no meio ambiente sob a forma de rochas, as quais precisam ser trituradas. Outra matria-prima o carvo vegetal ou mineral, que serve para fornecer energia trmica e qumica para a reduo do minrio de ferro.

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A reduo ocorre porque ambas as matrias primas so ricas em oxignio, o qual deve ser retirado junto com outras impurezas, cujo processamento se chama de reduo. A reduo direta uma alternativa existente ao processo de reduo, que ocorre em um reator, a uma temperatura de 950C, onde as pelotas de minrio de ferro reagem com monxido de carbono e hidrognio do carvo, transformando-se em pelotas slidas, leves e maleveis de ferro esponja (apresenta aspecto de esponja, pois perde o oxignio). O gs natural o combustvel dessa reao, liberando gua e CO2. A cal adicionada em ambos os casos de reduo, a fim de captar impurezas contidas no minrio (como silcio, alumnio, clcio e outras substncias) e para formar uma escria granulada de alto forno. A formao do ferro gusa, que ser o produto primrio para a produo do ao, ocorre em um alto forno, a mais de 1.200C, produzindo o ferro na forma lquida (ferro gusa). O combustvel do alto forno o coque, que carvo mineral destilado, ou carvo vegetal. O calcrio , tambm, adicionado aos demais (carvo e minrio de ferro), atuando como fundente (reduz a temperatura de fuso). O ferro gusa lquido transportado pela panela de transporte at o misturador, cuja funo a de estocar e carregar, com ferro gusa, o conversor, sem permitir que esfrie, mantendo-o quente e em constante movimento. O refino do ferro gusa ocorre no conversor, transformando-o em ao. Nessa etapa o ferro gusa lquido misturado outros materiais metlicos, a fim de formas as ligas de ao especficas, e recebe uma injeo de oxignio, que funciona como catalisador neste processo. O refino do ferro esponja ocorre no forno eltrico arco de fuso (e no no conversor, como no ferro gusa), transformando-o em ao. Quando for o caso, o ao pode passar por uma etapa denominada de refino secundrio, realizada no forno panela, com o objetivo de ajustar composio qumica e temperatura. O lingotamento ocorre no lingotamento contnuo, onde o ao refinado transportado e vazado em um distribuidor, que o leva diversos veios. Em cada veio o ao lquido passa por moldes de resfriamento, solidificando-se na forma de tarugos, que so cortados em pedaos convenientes para laminao (etapa seguinte). A laminao quente consiste, basicamente, no reaquecimento dos tarugos, em um forno de reaquecimento at cerca de 1.000 a 1.200C, e, posteriormente, submisso esforos mecnicos de compresso lateral e, posteriormente, diametral, em gaiolas 13

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(primeiro a gaiola de desbaste, depois em gaiolas intermedirias e, por fim, em gaiolas do acabador), transformando os tarugos paralelepipdicos em cilindros, ou na forma final do produto metlico, reduzindo, assim, gradativamente, a sua seo transversal. produto final acumulado em bobinas e so chamados de fios mquina. O

Nesta

categoria enquadram-se os aos CA 25 e CA 50 destinados a armaduras de concreto armado. A trefilao a deformao mecnica, feita frio, atravs de um procedimento de estiramento do ao, onde rolos de fios mquina so forados a passar por entre vrios anis, cujo dimetro de entrada maior que o de sada, causando uma deformao do dimetro do fio, at atingir a especificao da norma tcnica correspondente ou do cliente. Cada conjunto de anis reduz em aproximadamente 20% a seo transversal do ao. A passagem total pelo trefilador implica em 4 ou 5 redues. Alm da deformao da forma do fio, h, tambm, a deformao microestrutural, onde os cristais metlicos ficam orientados na direo da deformao. Neste caso, diz-se que o ao est encruado. Os fios podem apresentar carepa (camada de xido) da laminao, de modo que estas devem ser removidas pelo processo da decapagem. a etapa final do processo de produo dos produtos de ao, como o CA-60. Os produtos finais podem ser os rolos de fios ou barras. Os rolos so fios acumulados na forma de bobina e ser ento matria-prima na produo de produtos comerciais (arames e pregos). A fim de aumentar a ductilidade (deformabilidade) do ao trefilado a frio, que endureceu e aumentou sua resistncia, pode-se submeter estes produtos ao processo de recozimento. O recozimento o

processo de aquecimento e resfriamento controlado do produto. Caso haja interesse de aumentar a resistncia corroso, o produto deve ser submetido ao processo da galvanizao. zinco a quente. As barras laminadas quente so submetidas a deformaes nas gaiolas e, depois, introduzidas em um leito de resfriamento. O produto fornecido em rolo (fios) ou cortado no comprimento comercial e embalado (vergalhes barras - e perfis). 2.4 Classificao das Siderrgicas A galvanizao consiste na deposio de uma camada superficial de

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As usinas de ao do mundo inteiro segundo o seu processo produtivo, classificam-se: Integradas - que operam as trs fases bsicas: reduo, refino e laminao. Estas usinas so produtoras de ferro gusa (chamados guseiros); Semi-integradas - que operam duas fases: refino e laminao. Estas usinas (chamadas de relaminadores) partem de ferro gusa, ferro esponja ou sucata metlica adquiridas de terceiros para transform-los em ao em aciarias eltricas e sua posterior laminao; e No integradas - que operam apenas uma fase do processo : reduo ou laminao. No mercado produtor operam ainda unidades de pequeno porte que se dedicam exclusivamente a produzir ao para fundies. 3 Produtos Siderrgicos Podem ser divididos quanto ao tipo de ; ao; e forma geomtrica 3.1 Quanto ao tipo de ao Aos Carbono : so aos ao carbono, ou com baixo teor de liga, de composio qumica definida em faixas amplas. Aos Ligados / Especiais : so aos ligados ou de alto carbono, de composio qumica definida em estreitas faixas para todos os elementos e especificaes rgidas. - Aos construo mecnica: so aos ao carbono e de baixa liga para forjaria, rolamentos, molas, eixos, peas usinadas, etc. - Aos ferramenta: so aos de alto carbono ou de alta liga, destinados fabricao de ferramentas e matrizes, para trabalho a quente e a frio, inclusive aos rpidos. 3.2 Quanto forma geomtrica Semi-acabados : so produtos oriundos de processo de lingotamento contnuo ou de laminao de desbaste, destinados a posterior processamento de laminao ou forjamento a quente de : Placas; Blocos; e Tarugos 15

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Produtos Planos : so produtos siderrgicos, resultado de processo de laminao, cuja largura extremamente superior a espessura (L >>>E), e so comercializados na forma de chapas e bobinas de aos carbono e especiais. - No revestidos, em "aos carbono" : o Bobinas e chapas grossas do laminador de tiras a quente - LTQ (5mm < E > 12,7mm); o Bobinas e chapas grossas do laminador de chapas grossas (LCG); o Bobinas e chapas finas laminadas a quente (BQ/CFQ); e o Bobinas e chapas finas laminadas a frio (BF/CFF). - Revestidos, em "aos carbono" : o Folhas para embalagem (folhas de flandres - recobertas com estanho - e folhas cromadas); o Bobinas e chapas eletro-galvanizadas (EG - Electrolytic Galvanized); o Bobinas e chapas zincadas a quente (HDG - Hot Dipped Galvanized); o Bobinas e chapas de ligas alumnio-zinco; e o Bobinas e chapas pr-pintadas. - Em "aos especiais" : o Bobinas e chapas em aos ao silcio (chapas eltricas); o Bobinas e chapas em aos inoxidveis ; e o Bobinas e chapas em aos ao alto carbono (C >= 0,50%) e em outros aos ligados. Produtos Longos : so produtos siderrgicos, resultado de processo de laminao, cujas sees transversais tm formato poligonal e seu comprimento extremamente superior maior dimenso da seo, sendo ofertados em aos carbono e especiais. - Em aos carbono: o o o o o o o o Perfis leves (h < 80 mm) ; Perfis mdios (80 mm < h <= 150 mm); Perfis pesados (h > 150 mm) ; Vergalhes ; Fio-mquina (principalmente para arames); Barras (qualidade construo civil) ; Tubos sem costura; e Trefilados .

- Em aos ligados / especiais

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o o o o o o

- Fio-mquina (para parafusos e outros) ; - Barras em aos construo mecnica ; - Barras em aos ferramenta ; - Barras em aos inoxidveis e para vlvulas; - Tubos sem costura ; e - Trefilados .

3.3 Siderrgicas brasileiras e seus produtos Nos Quadros 1 e 2 a seguir so correlacionados os diferentes tipos de aos utilizados na indstria da construo com os respectivos fabricantes destes produtos. Quadro 1: Relao de produtos longos produzidos pelos diferentes fabricantes.
PRODUTOS LONGOS Empresas Produtos Aos Villares Lingotes, Blocos e Tarugos Ao Carbono Ao Constr. Mecnica Ligado Ao Inoxidvel/ Ao p/Ferram. e Matrizes Leves Mdios e Pesados Fio-Mquina Vergalhes Tubos sem Costura Belgo Arcelor Brasil Gerdau Siderrgica Barra Mansa V & M do Brasil Villares Metals

Quadro 2 : Relao de produtos trefilados produzidos pelos diferentes fabricantes.


TREFILADOS Empresas Produtos Aos Vilares Arames Barras BelgoMineira Gerdau Siderrgica Barra Mansa Villares Metals

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3.4 Aplicaes As aplicaes dos aos so inmeras e nos mais variados segmentos industriais, como: Utilidades domsticas; Transporte; Construo civil; Embalagens e recipientes; Energia; Agricultura; e Bens de Capital. 3.5 Na construo civil Largamente usado na construo civil, o ao pode estar presente como parte das obras ou como material principal. O sistema construtivo em ao permite liberdade no projeto de arquitetura, maior rea til, flexibilidade, compatibilidade com outros materiais, menor prazo de execuo, racionalizao de materiais e mo-de-obra, alvio de carga nas fundaes, garantia de qualidade, maior organizao nos canteiros de obras, preciso construtiva, alm de ser 100% reciclvel. 3.5.1 Barras e Fios de Ao para Concreto A ABNT NBR 7480 : 2004 estabelece as categorias, propriedades e caractersticas das barras e fios de ao utilizadas em estruturas de concreto armado. Os Quadros 3 e 4 apresentam um sumrio dos mesmos.
Tenso de Trao (valores mnimos) Categoria Resistncia Caracterstica de Escoamento (MPa) CA 25 CA 50 CA 60 250 500 600 Limite de Resistncia (MPa) 1,20 1,10 1,05 Alongamento (%) 18 8 5 Dobramento Dimetro de Pino (mm) < 20 2 4 5 20 4 6 Aderncia
Coef. de Conformao Superficial Mnimo 10mm ()

1,0 1,5 1,5

Quadro 3 : Categorias e propriedades das barras e fios de ao para concreto armado (NBR 7480). 18

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Dimetro Nominal (mm) Fios 2.4 3.4 3.8 4.2 4.6 5.0 5.5 6.0 6.3 6.4 7.0 8.0 9.5 10.0 10.0 12.5 16.0 20.0 22.0 25.0 32.0 40.0 8.0 5.0 Barras

Massa por Unidade de Comprimento (Kg/m) Tolerncia 6% 0.036 0.071 0.089 0.109 0.130 0.154 0.187 0.222 0.245 0.253 0.302 0.395 0.558 0.617 0.963 1.578 2.466 2.984 3.853 6.313 9.865

Valores Nominais da rea da Seo Transversal (mm2 ) 4.5 9.1 11.3 13.9 16.6 19.6 13.8 28.3 31.2 32.2 38.5 50.3 70.9 78.5 122.7 201.1 314.2 380.1 490.9 804.2 1256.6

Quadro 4 : Massa e bitolas, em geral, dos aos para concreto armado. O Quadro 3 mostra que h trs categorias de aos para concreto armado. denominao da categoria da seguinte forma: A

CA XX
Concreto Armado Tenso Carac. de Escoamento Mnima

3.5.1.1 Propriedades e Caractersticas

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3.5.1.1.1 Propriedades Mecnicas A resistncia caracterstica de escoamento (fy,carac) (ou tenso de escoamento) uma propriedade mais interessante para os Engenheiros Civis que a resistncia caracterstica de ruptura trao (ou tenso de ruptura), tendo em vista que a tenso de escoamento que define a tenso limite de utilizao das estruturas de concreto armado. A tenso de escoamento o limite a partir do qual as barras e fios de ao passaro do regime elstico para o plstico e, consequentemente, aparecero deformaes permanentes na estrutura de concreto armado, que provocaram fissuras permanentes. O limite mnimo da

resistncia caracterstica trao definido como sendo de 5 20% alm da tenso de escoamento, a fim de que, caso a armadura de reforo de ao passe a trabalhar no regime plstico de deformaes, a presena de fissuras permanentes indique (avise) que a estrutura de concreto armado est prxima ruptura, ou seja ao colapso estrutural. Se um esforo crescente de trao for aplicado em um material, este sofrer uma deformao progressiva. A relao entre a tenso aplicada (fora por rea de aplicao) e a deformao linear especfica pode ser traduzida em diagramas tenso-deformao. A Figura 2 mostra o grfico tenso de trao versus deformao em um corpo-de-prova metlico, com todas as tenses e deformaes de interesse.

Figura 2 : Diagrama Tenso versus Deformao de um material metlico. 20

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O tipo de tratamento, no qual submetida armadura de ao, pode influenciar no desenvolvimento do grfico tenso de trao versus deformao. A Figura 3 mostra o grfico de um produto metlico submetido a um tratamento quente (nas gaiolas), apresentando um patamar para a tenso de escoamento definido. J a Figura 04

mostra o grfico de um produto metlico submetido a um tratamento frio (no trefilador). Neste caso, no h patamar de escoamento definido.

Ao Tratado Quente

Ao Tratado Frio

Figura 3 : Diagrama Tenso versus Deformao de um ao laminado quente, mostrando o patamar da tenso de escoamento, claramente, definido.

Figura 4 : Diagrama Tenso versus Deformao de um ao trefilado frio, sem o patamar da tenso de escoamento.

A antiga NBR 7480 definia que havia os aos para concreto armados uma categoria A para os aos tratados quente e B para os tratados frio. Assim, os aos para

concreto armado podiam apresentar a seguinte nomenclatura para a categoria : CA 50 A e CA 60 B, onde A e B indicavam o tipo de tratamento trmico ao qual foi submetido o produto. As barras e fios de ao devem, tambm, apresentar um percentual mximo de deformao longitudinal ou alongamento, que limita a deformao da estrutura (as flechas) e o nmero e tamanho da abertura das fissuras. 3.5.1.1.2 Configurao Geomtrica das Barras As barras de ao devem apresentar uma superfcie com uma geometria que facilite e promova a transmisso (ancoragem) de tenses entre o concreto e a barra de ao (vide Figura 5). A nervura nas barras de ao tem esta funo. A ABNT NBR 7480 estabelece, 21

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detalhadamente, as suas dimenses e desenho (vide Figura 6). Os fios de ao no apresentam nervuras.

Figura 5 : Ilustrao das nervuras da barra de ao, que melhoram a ancoragem da barra ao concreto, facilitando, assim, a transmisso de tenses.

Figura 6 : Ilustrao mostrando alguns detalhes geomtricos das nervuras nas barra de ao.

3.5.1.1.3 Resumo Em geral as barras de ao para concreto apresentam: Laminao quente; Patamar de escoamento definido; Superfcie lisa (CA 25) ou com nervuras ou salincias transversais e oblquas (CA 50); Dimetro de 5 40mm; e Categoria CA 25 e 50. 22

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J os fios de ao para concreto armado apresentam: Trefilao frio; Sem patamar de escoamento definido; Superfcie lisa ou com mossas; Dimetro de 2,4 10mm; e Categoria CA 60. 3.5.1.2 Caractersticas e Aplicaes As barras laminadas a quente de ao lisas de CA 25 podem ser fornecidas em feixes de at 12 metros e so utilizadas nos seguintes servios na construo civil: Fabricao de portes; Grades; Portinholas; e Serralheria em geral. As barras laminadas quente com nervuradas de CA 50 podem ser fornecidas em rolos de 1.800 kg nas bitolas at 12.5mm, mas geralmente so comercializados em barras retas com comprimento de 12 metros, em feixes amarrados de 1.000kg e 2.500kg, nas sees transversais de at 16mm. As suas principais aplicaes na construo civil so : Armadura longitudinal de pilares; Armadura longitudinal de vigas; Armadura de sapatas; e Armadura de fundaes. Os fios trefilados frio lisos ou com mossas de CA 60 so fornecidos em rolos com peso de 150kg a 180kg, em feixes de barras retas de 1.000 kg e 2.500 kg e em feixes de barras dobradas de 1.000 kg com subfeixes de 250 kg. As principais aplicaes so : Armadura transversal de estribos; Armadura de tubos de concreto; Armaduras de lajes treliadas; e Armaduras de estruturas pr-moldadas de pequena espessura.

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3.5.2 Telas Soldadas de Ao A tela de ao uma armadura pr-fabricada destinada a armadura concreto, apresenta a forma de rede de malhas retangulares, constitudas de fios, nervurados (acima de 4,2mm) ou no, de CA 60 longitudinais e transversais, sobrepostos e soldados, em todos os pontos de contato (ns), por resistncia eltrica (caldeamento). As telas devem atender aos requisitos da ABNT NBR 7481, cuja armadura de ao deve atender a ABNT NBR 7480 (anteriormente citada). As telas podem ser fornecidas em rolos ou painis (vide Figura 7). As telas sero

fornecidas em painis ou em rolos quando o dimetro dos fios longitudinais menor ou igual 4,2mm. Quando o dimetro for maior que 4,2mm, as telas so fornecidas,

somente, em painis. As telas podem ser tipificadas em funo da rea da seo longitudinal e transversal de ao, em Q, L e T. O tipo Q, ou quadrado, cuja seo de ao por metro da armadura longitudinal igual seo por metro da armadura transversal, apresentando, portanto, uma malha quadrada de fios de CA 60. O tipo T, ou retangular transversal, cuja seo de ao por metro da armadura transversal maior ou igual a trs vezes a seo por metro da armadura longitudinal, apresentando, portanto, uma malha retangular de fios de CA 60. O tipo L, ou retangular longitudinal, cuja seo de ao por metro da armadura longitudinal maior ou igual a trs vezes a seo por metro da armadura transversal, apresentando, portanto, malha retangular de fios de CA 60. H, ainda, os tipos M e R de telas de ao com malhas retangulares e longitudinais de fios de CA 60. O tipo M que apresenta seo de ao por metro da armadura longitudinal igual ao dobro da seo por metro da armadura transversal e o tipo R que apresenta seo de ao por metro da armadura longitudinal igual a uma vez e meia a seo por metro da armadura transversal. A Figura 8 tipifica e exemplifica os diferentes tipos e detalhes executivos das telas de ao.

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Legenda: Ast = rea da seo dos fios transversais, por metro de tela Asl = rea da seo dos fios longitudinais, por metro de tela.

Figura 8 : Detalhes executivos dos diferentes tipos de telas de ao especificadas na NBR 7481.

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Figura 7 : No alto esquerda, pode-se ver o transporte de uma tela soldada longitudinal plana de ao. No alto direita, pode-se ver uma tela soldada fornecida em rolo. Em baixo esquerda, podese ver o procedimento de colocao da tela soldada sobre tela na forma de uma laje de concreto. Em baixo direita, pode-se ver, em detalhe, telas soldadas nervuradas. 26

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3.5.2.1 Vantagens So as seguintes vantagens tcnicas e econmicas do uso das telas soldadas Uniformidade dos dimetros (ao trefilado); Espaamento uniforme dos fios; Aderncia ao concreto atravs das juntas soldadas; Segurana na ancoragem; Facilidade de inspeo pelo engenheiro fiscal; Posicionamento adequado nas frmas; Controle de qualidade; No h perdas por desbitolamento; No h perdas por corte e sobras de pontas; Dispensa o uso do arame de amarrao; Trespasse menor que a armadura convencional; Largura de at 2,75 metros; Quantificada e utilizada por metro quadrado; Racionaliza o recebimento e armazenagem; Reduz cortes e dobramentos; Facilita a montagem; e Torna mais rpida a liberao para concretagem. 3.5.2.2 Aplicaes So vrias as aplicaes das telas soldadas na construo civil. A seguir seguem

algumas das aplicaes consagradas do ponto de vista tcnico e econmico: Lajes (macias, nervuradas, pr-moldadas, cogumelo e protendidas); Pisos industriais; Pavimentos de concreto armado (estradas); Pr-moldados; Vigas e pilares; Pontes e viadutos; Bueiros tubulares e celulares; Piscinas; Fundaes em geral; 27

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Canais; Paredes diafragma; Revestimentos de tneis; Caixas dgua; Moures; Paredes autoportantes (tilt-up); Revestimentos de tubos submarinos; e Conteno de encostas (concreto projetado). 3.5.3 Fios e Cordoalhas de Ao para Concreto Protendido Conceitualmente, a diferena das estruturas de concreto protendido e de concreto armado reside no fato de que nos elementos estruturais de concreto protendido aplicada uma contra-fecha no elemento estrutural. Esta contra-flecha obtida pela aplicao de carga de trao (com equipamentos hidrulicos, como macacos Figura 9) em fios e cordoalhas de ao (ou cabos vide Figuras 10 e 11), que so ancorados, externamente, no elemento estrutural, por meio de cunhas (em cabeas de ancoragem vide Figura 12). A tenso de trao na armadura de ao transmitida ao concreto atravs desta ancoragem, de modo que o elemento de concreto protendido apresenta maior resistncia trao. Estes fios e cordoalhas atravessam o elemento estrutural (viga, laje ou muro) por dentro de bainhas (vide Figura 13), ao longo da seo longitudinal do elemento, e so, criteriosamente, posicionadas de acordo com o projeto (vide Figura 14). Assim, por

ocasio do carregamento do elemento estrutural, a flecha tende a ser prxima zero. Diferentemente do que ocorre nos elementos de concreto armado, onde a flecha sempre estar presente e, em conseqncia, acompanhada de fissuras. A Figura 15 apresenta uma ilustrao da diferena na concepo estrutural entre os concretos protendido e armado, e mostra o pioneiro nesta metodologia estrutural, o Engenheiro francs Eugne Frayssinet. Como j fora citado, h um aumento na resistncia trao do elemento estrutural protendido em relao ao armado, de modo que as estruturas protendidas so, sensivelmente, mais esbeltas que as armadas (vide Figura 16).

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Figura 9 : Vista geral do mao hidrulico aplicando protenso nas cordoalhas de ao.

Figura 12 : Vista geral das cordoalhas de ao ancoradas por meio de cunhas.

Figura 10 : Vista geral do fio de ao.

Figura 11 : Vista geral da cordoalha com 7 fios de ao.

Figura 13 : Vista geral das bainhas, que so tubos nos quais as cordoalhas so passadas.

Figura 14 : Vista geral, de uma laje, com as bainhas, as quais ficaro embutidas no concreto, criteriosamente dispostas, ao longo do elemento estrutural de concreto protendido.

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CONCRETO PROTENDIDO

CONCRETO ARMADO

Figura 15 : Ilustrao, mostrando a diferena, no ponto de vista estrutural, na concepo do co concreto protendido e armado. Ao alto direita, mostrada a foto do pioneiro no concreto protendido.

Figura 16 : Vista geral de uma estrutura de uma edificao, onde as lajes so de concreto protendido. Destacam-se, a pequena espessura das lajes e os grandes vos entre os pilares.

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O fio ao para concreto protendido deve atender a especificao estabelecida na ABNT NBR 7482 : 2008 Fios de ao para concreto protendido e as cordoalhas, compostas por dois, trs ou sete fios, deve atender a ABNT NBR 7483 : 2008 Cordoalhas de ao para concreto protendido Requisitos. Conforme a normalizao especfica, os fios podem ser classificados em duas categorias: pelo dimetro nominal; e pelo comportamento na relaxao, no caso o de relaxao normal (RN) e o de relaxao baixa (RB). Os fios de ao utilizados para concreto protendido so fornecidos em rolos de 700 kg (vide Figura 17) e devem receber a designao conforme se segue: Relaxao Normal (RN); ou Baixa (RB) Fio para Concreto Protendido

CP XXX RX X
Dimetro Nominal do Fio (como, 7 mm) Tenso Nominal de Ruptura (por exemplo : 150; 160; e 170 kgf/mm2)

Figura 17 : Vista geral dos rolos de fios de ao utilizados para protenso.

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A cordoalha utilizada para protenso, tambm, fornecida em rolo (como os fios de ao), com dimetro interno no inferior a 600 mm e compostos por lances, apresentando comprimentos superiores a 600 metros. Pode ser fornecida em carretel, com dimetro do ncleo no inferior a 600 mm. Cada rolo ou carretel pesa cerca de 2800 kg e deve conter uma etiqueta com as seguintes informaes: Nmero de Fios x Dimetro Nominal do Fio (como, 3 x 3,0) Cordoalha para Concreto Protendido Relaxao : RB

CP XXX RX X

ou

XxX

Nmero de Fios da Cordoalha (como 2; 3; ou 7) Tenso Nominal de Ruptura (como, 190 (kgf/mm2) A cordoalha de concreto protendido pode ser classificada conforme o nmero de fios, em: sete fios; ou dois e trs fios. A de sete fios composta de seis fios de mesmo dimetro nominal, encordoados juntos, em forma helicoidal, com um passo uniforme, em torno de um fio central. A de dois e trs fios composta de dois ou trs fios do mesmo dimetro nominal, encordoados juntos, em forma helicoidal, com um passo uniforme. Em relao trao, as cordoalhas de sete fios classificam-se nas categorias : CP 175; e CP 190. J para as cordoalhas de dois e de trs fios h, apenas, a categoria CP 180.

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Conforme o comportamento na relaxao, as cordoalhas podem ser classificadas em : no caso da cordoalha de sete fios, em RN e RB; e no caso das cordoalhas de dois e trs fios, em RN. 3.5.3.1 Aplicaes As inmeras vantagens oferecidas pelo concreto protendido vm tornando cada vez mais rotineira sua aplicao, superando os demais tipos de estruturas. Em lajes e vigas de edifcios residenciais e comerciais, a protenso em ps-trao largamente aplicada. No caso de lajes planas sem vigas (tipo cogumelo) ou com vigas de borda, possvel obter tetos lisos que proporcionam estruturas limpas, fceis, econmicas e rpidas (pode-se executar uma laje de concreto protendido a cada 4 dias). A proteno proporciona peas leves e econmicas, fceis de transportar e manusear, alm de vencer grandes vos, permitido assim maior rea til por pavimento. Outras aplicaes dos fios e cordoalhas so: Barragens; Pontes; Viadutos; e Tirantes de conteno provisrias. 4 Normalizao Segue a relao de normas, atualmente, vigentes no Brasil, relacionadas barras e fios de ao para concreto armado e protendido: ABNT NBR 5916 : 1990 Junta de tela de ao soldada para armadura de concreto Ensaio de resistncia ao cisalhamento; ABNT NBR 6349 1991 Fios, barras e cordoalhas de ao para armaduras de protenso - Ensaio de trao; ABNT NBR 7480 : 2008 Ao destinado a armaduras para estruturas de concreto armado Especificao; ABNT NBR 7481 1990 Tela de ao soldada - Armadura para concreto; 33

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ABNT NBR 7482 : 2008 Fios de ao para concreto protendido; ABNT NBR 7483 : 2008 Cordoalhas de ao para concreto protendido Requisitos; ABNT NBR 7484 : 1991 Fios, barras e cordoalhas de ao destinados a armaduras de protenso - Ensaios de relaxao isotrmica; ABNT NBR 8548 : 1984 Barras de ao destinadas a armaduras para concreto armado com emenda mecnica ou por solda - Determinao da resistncia trao; e ABNT NBR 8965 : 1985 Barras de ao CA 42 S com caractersticas de soldabilidade destinadas a armaduras para concreto armado. 5 Certificao As barras e fios de ao para concreto armado so produtos de certificao compulsria, conforme estabelecido pela Portaria INMETRO / MDIC nmero 56 de 28/03/2005. Isto significa que todos estes produtos comercializados no Brasil devem, obrigatoriamente, ser e apresentar a identificao da certificao. A identificao da certificao feita atravs da etiqueta contemplando o logo do INMETRO e do organismo certificador acreditado pelo INMETRO para tal (vide Figura 18).

Figura 18 : Vista, em detalhe, do formato que deve apresentar o logo do INMETRO e do organismo certificador acreditado pelo prprio INMETRO, e que deve estar na etiqueta de identificao dos lotes dos produtos de certificao compulsria : barras e fios de ao para concreto armado. Esta etiqueta deve apresentar as seguintes informaes (vide Figura 19): Nome do fabricante/importador; Categoria do Ao; Dimetro Nominal; Corrida ou lote; 34

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Identificao da fbrica; Depsito da fbrica;

Figura 19 : Vista, em detalhe, da etiqueta de identificao que devem estar junto aos lotes de barras e fios de ao para concreto armado, mostrando, entre outras informaes, o logo do INMETRO e do organismo certificador acreditado pelo prprio INMETRO, e o nmero do lote de fabricao (corrida). O fabricante ou importador das barras e fios de ao para concreto armado deve, tambm, gravar, em relevo, na superfcie do produto (vide Figura 20): o logo da sua marca; a categoria do ao; e o dimetro nominal, com exceo das barras e fios lisos.

Figura 20 : Ilustrao, mostrando, em auto relevo na barra de ao, os logos da marca do produto (BELGO), a tenso de escoamento (50 ou 500 MPa ) e o dimetro nominal (20mm). 35

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6 Bibliografia www.gerdau.com.br www.belgomineira.com.br www.ibs.org.br www.abnt.org.br

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