Coesao Coerencia Intertextualidade
Coesao Coerencia Intertextualidade
Coesao Coerencia Intertextualidade
A CONSTRUO DO TEXTO A noo de texto central na lingstica textual e na teoria do texto, abrangendo realizaes tanto orais quanto escritas, que tenham a extenso mnima de dois signos lingsticos, sendo que a situao pode assumir o lugar de um dos signos como em "Socorro!". (Stammerjohann, 1975). Para a construo de um texto necessria a juno de vrios fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relaes sinttico-semnticas, quanto s relaes entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situao (pragmtica). Um texto bem construdo e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar aquilo que Beaugrande e Dressier chamam de textualidade, conjunto de caractersticas que fazem, de um texto, e no uma seqncia de frases. Esses autores apontam sete aspectos que so responsveis pela textualidade de um texto bem constitudo:
FATORES LINGSTICOS Coeso Coerncia Intertextualidade FATORES EXTRALINGSTICOS Intencionalidade Aceitabilidade Informatividade Situacionalidade
Coerncia
Texto resultante do trabalho apresentado no I Simpsio de Estudos Filolgicos e Lingsticos, promovido pelo CiFEFiL e realizado na FFP(UERJ), de 3 a 7 de maro de 2008.
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o aspecto que assumem os conceitos e relaes subtextuais, em um nvel ideativo. A coerncia responsvel pelo sentido do texto, envolvendo fatores lgico-semnticos e cognitivos, j que a interpretabilidade do texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Um texto coerente quando compatvel como conhecimento de mundo do receptor. Observar a coerncia interessante, porque permite perceber que um texto no existe em si mesmo, mas sim constri-se na relao emissor-receptor-mundo. Coeso a manifestao lingstica da coerncia. Provm da forma como as relaes lgico-semnticas do texto so expressas na superfcie textual. Assim, a coeso de um texto verificada mediante a anlise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construo. Ex: "Os corvos ficaram espreita. As aves aguardaram o momento de se lanarem sobre os animais mortos." (hipernimo ) "Gosto muito de doce. Cocada, ento, eu adoro." (hipnimo) "Aonde voc foi ontem? f f casa de Paulo. f f Sozinha? No, f f com amigos." (elipse) Os elementos de coeso tambm proporcionam ao texto a progresso do fluxo informacional, para levar adiante o discurso. Ex: "Primeiro vi a moto, depois o nibus." (tempo) Embora tenha estudado muito, no passou. (contraste)
Intertextualidade Concerne aos fatores que tornam a interpretao de um texto dependente da interpretao de outros. Cada texto constri-se, no isoladamente, mas em relao a outro j dito, do qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra feio. O contexto de um texto tambm pode ser outros textos com os quais se relaciona.
Intencionalidade
Refere-se ao esforo do produtor do texto em construir uma comunicao eficiente capaz de satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto produzido dever ser compatvel com as intenes comunicativas de quem o produz.
Aceitabilidade O texto produzido tambm dever ser compatvel com a expectativa do receptor em colocar-se diante de um texto coerente, coeso, til e relevante. O contrato de cooperao estabelecido pelo produtor e pelo receptor permite que a comunicao apresente falhas de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios comunicativos. Isso se d porque o receptor esfora-se em compreender os textos produzidos.
Informatividade a medida na qual as ocorrncias de um texto so esperadas ou no, conhecidas ou no, pelo receptor. Um discurso menos previsvel tem mais informatividade. Sua recepo mais trabalhosa, porm mais interessante, envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que no poder process-lo. O ideal que o texto se mantenha num nvel mediano de informatividade, que fale de informaes que tragam novidades, mas que venham ligadas a dados conhecidos.
Situacionalidade a adequao do texto a uma situao comunicativa, ao contexto. Note-se que a situao orienta o sentido do discurso, tanto na sua produo como na sua interpretao. Por isso, muitas vezes, menos coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em determinadas situaes do que outro de configurao mais completa. importante notar que a situao comunicativa interfere na produo do texto,
assim como este tem reflexos sobre toda a situao, j que o texto no um simples reflexo do mundo real. O homem serve de mediador, com suas crenas e idias, recriando a situao. O mesmo objeto descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso. Muitos lingistas tm-se preocupado em desenvolver cada um dos fatores citados, ressaltando sua importncia na construo dos textos. A COERNCIA TEXTUAL Dos trabalhos que desenvolvem os aspectos da coerncia dos textos, o de Charolles (1978) freqentemente citado em estudos descritivos e aplicados. Partindo da noo de textualidade apresentada por Beaugrande e Dressier, Charolles tambm entende a coerncia como uma propriedade ideativa do texto e enumera as quatro meta-regras que um texto coerente deve apresentar: 1. Repetio: Diz respeito necessria retomada de elementos no decorrer do discurso. Um texto coerente tem unidade, j que nele h a permanncia de elementos constantes no seu desenvolvimento. Um texto que trate a cada passo de assuntos diferentes sem um explcito ponto comum no tem continuidade. Um texto coerente apresenta continuidade semntica na retomada de conceitos, idias. Isto fica evidente na utilizao de recursos lingsticos especficos como pronomes, repetio de palavras, sinnimos, hipnimos, hipernimos etc. Os processos coesivos de continuidade s se podem dar com elementos expressos na superfcie textual; um elemento coesivo sem referente expresso, ou com mais de um referente possvel, torna o texto mal-formado. 2. Progresso: O texto deve retomar seus elementos conceituais e formais, mas no deve limitar-se a isso. Deve, sim, apresentar novas informaes a propsito dos elementos mencionados. Os acrscimos semnticos fazem o sentido do texto progredir. No plano da coerncia, percebe-se a progresso pela soma das idias novas s que so j tratadas.
H muitos recursos capazes de conferir seqenciao a um texto. 3. No-contradio: um texto precisa respeitar princpios lgicos elementares. No pode afirmar A e o contrrio de A . Suas ocorrncias no podem se contradizer, devem ser compatveis entre si e com o mundo a que se referem, j que o mundo textual tem que ser compatvel com o mundo que representa. Esta no-contradio expressa-se nos elementos lingsticos, no uso do vocabulrio, por exemplo. Em redaes escolares, costuma-se encontrar significantes que no condizem com os significados pretendidos. Isso resulta do desconhecimento, por parte do emissor, do vocabulrio a que recorreu. 4. Relao: um texto articulado coerentemente possui relaes estabelecidas, firmemente, entre suas informaes, e essas tm a ver umas com as outras. A relao em um texto refere-se forma como seus conceitos se encadeiam, como se organizam, que papeis exercem uns em relao aos outros. As relaes entre os fatos tm que estar presentes e ser pertinentes.
A COESO TEXTUAL Um texto, seja oral ou escrito, est longe de ser um mero conjunto aleatrio de elementos isolados, mas, sim, deve apresentar-se como uma totalidade semntica, em que os componentes estabelecem, entre si, relaes de significao. Contudo, ser uma unidade semntica no basta para que um tal. Essa unidade deve revestir-se de um valor intersubjetivo e pragmtico, isto , deve ser capaz de representar uma ao entre interlocutores, dentro de um padro particular de produo. A capacidade de um texto possuir um valor intersubjetivo e pragmtico est no nvel argumentativo das produes lingsticas, mas a sua totalidade semntica decorre de valores internos estrutura de um texto e se chama coeso textual. (Pcora, 1987, p. 47) Assim, estudar os elementos coesivos de um texto nada mais que avaliar os componentes textuais cuja significao depende de outros dentro do mesmo texto ou no mesmo contexto situacional. Os processos de coeso textual so eminentemente semnticos, e ocorrem quando a interpretao de um elemento no discurso depende da interpretao de outro elemento. Embora seja uma relao semntica, a coeso envolve todos os componentes do sistema lxico-gramatical. Portanto h formas de coeso realizadas atravs da gramtica, e outra atravs do lxico. Deve-se ter em mente que a coeso no condio necessria nem suficiente para a existncia do texto. Podemos encontrar textualidade em textos que no apresentam recursos coesivos; em contrapartida a coeso no suficiente para que um texto tenha textualidade. Segundo Halliday & Hasan, h cinco diferentes mecanismos de coeso: 1. Referncia: elementos referenciais so os que no podem ser interpretados por si prprios, mas tm que ser relacionados a outros elementos no discurso para serem compreendidos. H dois tipos de referncia: a situacional (exofrica ) feita a algum elemento da situao e a textual (endofrica)
Ex: Voc no se arrepender de ler este anncio. exofrica Paulo e Jos so advogados. Eles se formaram na PUC. endofrica 2. Substituio: colocao de um item no lugar de outro no texto, seja este outro uma palavra, seja uma orao inteira. Ex: Pedro comprou um carro e Jos tambm. O professor acha que os alunos esto preparados, mas eu no penso assim.
Para Halliday & Hasan, a distino entre referncia e substituio, est em que, na ocorrncia desta, h uma readaptao sinttica a novos sujeitos ou novas especificaes. Ex: Pedro comprou uma camisa vermelha, mas eu preferi uma verde. (h alterao de uma camisa vermelha para uma camisa verde.) 3. Elipse: substituio por f : omisso de um item, de uma palavra, um sintagma, ou uma frase: Voc vai Faculdade hoje? f Nof f f. Conjuno: este tipo de coeso permite estabelecer relaes significativas entre elementos e palavras do texto. Realiza-se atravs de conectores como e, mas, depois etc. H elementos meramente continuativos: agora ( abre um novo estgio na comunicao, um novo ponto de argumentao, ou atitude tomada ou considerada pelo falante ); bem ( significa "eu sei de que trata a questo e vou dar uma resposta ") Coeso lexical: obtida atravs de dois mecanismos: repetio de um mesmo item lexical, ou sinnimos, pronomes, hipnimos, ou heternimos. Ex: O Presidente foi ao cinema ver Tropa de elite. Ele levou a esposa. Vi ontem um menino de rua correndo pelo asfalto. O moleque parecia assustado. Assisti ontem a um documentrio sobre papagaios mergulhadores. Esses pssaros podem nadar a razoveis profundidades. Colocao: Uso de termos pertencentes a um mesmo campo semntico. Ex: Houve um grande acidente na
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estrada. Dezenas de ambulncias transportaram os feridos para o hospital mais prximo. Koch, tomando por base os mecanismos coesivos na construo do texto, estabelece a existncia de duas modalidades de coeso: 1. coeso referencial: existe coeso entre dois elementos de um texto, quando um deles para ser interpretado semanticamente, exige a considerao do outro, que pode aparecer depois ou antes do primeiro ( catfora e anfora, respectivamente ) Ele era to bom, o meu marido! (catfora) O homem subiu as escadas correndo. L em cima ele bateu furiosamente uma porta. (anfora). A forma retomada pelo elemento coesivo chama-se referente. O elemento, cuja interpretao necessita do referente, chama-se forma remissiva. O referente tanto pode ser um nome, um sintagma, um fragmento de orao, uma orao, ou todo um enunciado. Ex: A mulher criticava duramente todas as suas decises. Isso o aborrecia profundamente. (orao) Perto da estao havia uma pequena estalagem. L reuniam-se os trabalhadores da ferrovia.(sintagma nominal) No quintal, as crianas brincavam. O prdio vizinho estava em construo. Os carros passavam buzinando. Tudo isso tirava-me a concentrao. (enunciado) Elementos de vrias categorias diferentes podem servir de formas remissivas: pronomes possessivos Joana vendeu a casa. Depois que seus pais morreram, ela no quis ficar l. pronomes relativos esta a rvore cuja sombra sentam-se os viajantes. advrbios Antnio acha que a desonestidade no compensa, mas nem todos pensam assim. nomes ou grupos nominais Imagina-se que existam outros planetas habitados. Essa hiptese se confirma pelo grande nmero de OVNIs avistados.
2. coeso seqencial: conjunto de procedimentos lingsticos que relacionam o que foi dito ao que vai ser dito, estabelecendo relaes semnticas e/ou pragmticas medida que faz o texto progredir. Os elementos que marcam a coeso seqencial so chamados relatores e podem estabelecer uma srie de relaes: a) implicao entre um antecedente e um conseqente: se etc.
b) restrio, oposio, contraste: ainda que, mas, no entanto etc c) soma de argumentos a favor de uma concluso: e, bem como, tambm etc.
d) justificativa, explicao do ato de fala: pois etc. e) f) introduo de exemplificao seja...seja, como etc. alternativa (disjuno ): ou etc. ou especificao:
g) extenso, amplificao: alis, tambm etc. h) correo: isto , ou melhor etc. E mais as relaes estabelecidas por outras conjunes coordenadas e subordinadas.
CONCEITO DE TPICO Na conversao, parte-se geralmente de uma noo conhecida pelo interlocutor, para a desconhecida que se lhe quer comunicar. Essa noo pode estar disponvel na situao, sendo supostamente conhecida pelo ouvinte, ou pode ser um dado a ser ativado em sua memria. A noo j conhecida que serve de ponto de partida do enunciado o tpico. A noo desconhecida chama-se comentrio. A definio tradicional de sujeito "ser sobre o qual se declara alguma coisa " mais bem aplicada noo de tpico. Ex: Essa mquina, ela reproduz cem cpias por minuto. As construes de tpico so normalmente caractersticas do discurso coloquial e do
dilogo em que o falante escolhe como ponto de partida de seu enunciado um elemento qualquer que julga se objeto de ateno de seu interlocutor. Na escrita, o tpico tambm est presente, e serve de ponte entre dois perodos seqencializados no texto. O processo de topicalizao consiste em fazer de um constituinte da frase o tpico, cujo comentrio o restante da frase. Na assero, a topicalizao faz do sintagma-nominal-sujeito o tpico da frase, embora o sintagma-nominal-objeto e o sintagma-preposicional faam parte do sintagma-verbal. Ex: Os sinos, j no h quem os dobre. A Braslia, s irei na prxima semana. Na anlise da conversao, o tpico tambm o assunto tratado pelos interlocutores. Uma mesma conversao pode conter vrios tpicos.
BIBLIOGRAFIA2 AZEREDO, J. C. Iniciao sintaxe do portugus. Rio: Jorge Zahar, 1993. KOCH, Ingedore. Coeso e coerncia textual. S. Paulo: tica, srie Princpios.
EXERCCIOS 1. Qual a ambigidade nas frases? Como poderia ser desfeita? a) Mando-lhe uma cadelinha pela minha criada que tem as orelhas cortadas. b) Vi o ladro da janela. c) Comprei o retrato do menino. 2. Qual o efeito da inverso nos exemplos? a) Gostou do pudim? O pudim eu no comi. b) Conheceu o noivo da sua prima? Conheci. Alto, ele . 3. Complete a seu gosto: Estes so os olhos aos quais __________________________________ _________________________________________________ ________ Estes so os olhos cujo ______________________________________ _________________________________________________ ________ Estes so os olhos pelos quais ________________________________ _________________________________________________ ________ Estes so os olhos onde _____________________________________ _________________________________________________ ________