Relatório Uroanálise - FINAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CINCIAS DA SADE FACULDADE DE FARMCIA DISCIPLINA: BIOQUMICA CLNICA FUNDAMENTAL

Relatrio de Uroanlise

Jaqueline de Souza Santana Karen Ventura Paiva

Rio de Janeiro 2012

I. INTRODUO

O sistema renal exerce papel fundamental na realizao de diverdas funes importantes para o organismo. O sistema urinrio consiste em rins, ureteres, bexiga e uretra. O rim irrigado por uma artria renal e drenado por uma veia renal. Sua anatomia interna evidencia medula, crtex e pelve renal. Os rins so a unidade funcional de filtrao e so os componentes fisiologicamente dinmicos do sistema, realizando muitas funes, como a regulao dos lquidos e eletrlitos e a eliminao dos resduos metablicos, que so processos essenciais homeostase corprea, incluindo a formao da urina. O rim exerce cinco funes fundamentais: 1. Regulao do balano hdrico e salino 2. Excreo de compostos nitrogenados (ex. uria, podendo ser verificada na avaliao da funo renal) 3. Regulao cido-base 4. Atividade eritropotica 5. Controle da presso arterial O nfron a unidade funcional do rim. Ele possui vrias estruturas importantes, as quais contribuem para diversos fenmenos. Em destaque est o fenmeno de filtrao. O glomrulo uma das estruturas mais importantes para tal fenmeno. Ele responsvel por filtrar as substncias que chegam ao nfron para serem excretadas na urina. O nfron responsvel por trs processos bsicos: 1. Filtrao (no glomrulo) 2. Reabsoro 3. Secreo

A filtrao capaz de separar o que permanece no sangue e o que vai para o tbulo. O glomrulo consegue reter elementos figurados do sangue, protenas, ou seja, substncias que tenham alto peso molecular ou que sejam muito carregadas negativamente. O filtrado possui uma composio muito semelhante ao plasma da arterola renal. Aps a filtrao, segue-se a migrao do filtrado para os capilares peritubulares, podendo ser reabsorvido no tbulo proximal para o sangue. As mesmas arterolas peritubulares podem secretar elementos. No tbulo coletor, a urina concentrada por um processo regulado pela liberao do hormnio ADH. A concentrao da urina importante para manter quantidade normal de lquidos no organismo. Ao longo do nfron a composio do filtrado vai sendo alterada at formar a urina que ser excretada. Dispondo destas caractersticas morfolgicas e fisiolgicas, podemos realizar diversos exames laboratoriais que avaliem a funo e integridade renal. Vrias patologias podem ser identificadas atravs do exame de urina (uroanlise), entre elas: Sndrome nefrtica aguda, Sndrome nefrtica, Glomerulonefrite rapidamente progressiva, Insuficincia renal aguda,

Insuficincia renal crnica, Infeco do trato urinrio e Nefrolitase. O diagnstico laboratorial inclui diversos tipos de exames:
Exame dos Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS); Depurao de cretinina; Dosagens bioqumicas: uria, creatinina, potssio, protenas totais; Urinocultura.

O Ritmo de Filtrao Glomerular (RFG) avaliado pela creatinina. Isso porque a creatinina livremente filtrada, no absorvida e nem secretada. Ela a substncia ideal para a medio do RFG, principalmente porque endgena. A inulina uma substncia que possui as mesmas caractersticas filtrantes da creatinina e tambm pode ser usada para se medir RFG.
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Entretanto, uma substncia exgena e pode fornecer riscos ao paciente, ao contrrio da creatinina. Na medio do clearance de creatinina, a funo hemodinmica renal avaliada. Neste exame, estima-se o risco de filtrao glomerular. Alteraes nos padres de depurao da creatinina ( RFG ), como a diminuio de sua depurao, indicam patologia renal. Reaes bioqumicas para verificar a presena de uria, creatinina, potssio e protenas totais, tambm podem ser utilizadas para a avaliao da funo renal. O aumento de azotos (produtos proticos nitrogenados) um indicativo de vrias patologias, como, por exemplo, a sndrome nefrtica aguda. O exame microbiolgico da urina geralmente realizado para a confirmao de cistite e pielonefrite. Atravs da urinocultura podemos avaliar se h infeco urinria. Geralmente, a urinocultura consiste em inocular a urina em diferentes graus de diluio em placas de petri, com meio especfico.
Urinocultura de um indivduo diagnosticado com infeco urinria. Diluio 1/100 Aula prtica de microbiologia - UFRJ

Depois, realiza-se uma contagem do nmero de colnias encontradas, realizando posteriormente um clculo de proporo para determinar o nmero real de bactrias presentes na urina. necessrio que haja um nmero de colnias maior que o valor considerado normal para se diagnosticar infeco urinria. Se este o caso normalmente realiza-se um antibiograma posterior. O

principal agente causador da infeco urinria geralmente a Escherichia Coli (enterobactrias). O EAS o exame mais comum na rotina clnica e que fornece uma gama de informaes importantes para o diagnstico do paciente. O EAS foi o tipo de exame laboratorial utilizado em nossa aula prtica, e, portanto, ser abordado com mais detalhes posteriormente.

2. OBJETIVOS

Realizar a anlise laboratorial de uma amostra de urina da aluna Jaqueline de Souza Santana. Utilizando, como mtodo de anlise, o Exame de Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS). Faremos a exposio dos dados obtidos da anlise, justificando os resultados encontrados de acordo com conhecimentos bioqumicos, fisiolgicos e histolgicos, como tambm o conhecimento da tcnica. tambm objetivo deste relatrio fornecer, se possvel, um diagnstico apropriado, de acordo com os dados obtidos pela anlise.

3. METODOLOGIA

O Exame de elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS) um exame diagnstico que fornece uma ampla viso das condies de filtrao renais bem como da integridade da estrutura renal. Atravs deste exame podese diagnosticar desde a presena de um clculo renal at um infeco nas vias urinrias. um exame de uso corriqueiro em diagnsticos laboratoriais, relativamente barato e fcil de ser realizado atualmente.

Essa abrangncia diagnstica se deve a reunio e comparao de vrios dados bioqumicos, fsicos e fisiolgicos que devem condizer uns com os outros levando a um diagnstico mais preciso. Desarmonia entre os dados freqentemente indicam problemas com o instrumento de anlise. O EAS avaliar os parmetros fsicos e qumicos da amostra coletada, bem como a realizao de sedimentoscopia. Avaliando os aspectos fsicos, analisamos: volume, cor da urina, aspecto (turbidez), odor e densidade. Dependendo do resultado, as anormalidades

nesses aspectos podem ser um forte indicativo de doenas renais. Os parmetros considerados normais incluem: urina de cor amerelo clara, lmpida e odor prprio (sui generis). O volume da urina deve ser anotado. Os parmetros anormais incluem: urina turva ( indicativo de alta densidade), cor vermelha ou verde, ou qualquer outra fora dos padres. O odor ptrido da urina geralmente um fator comum em casos de infeco urinria. Os aspectos qumicos incluem: anlise do pH urinrio, presena de protena, glicose, corpos cetnicos, presena de nitrito e hemoglobina. Atualmente, para a avaliao desses parmetros utiliza-se uma fita indicadora projetada para aplicao manual e que determina basicamente 11 parmetros na urina. Os parmetros avaliados dependem da marca da fita. Entretanto, os mais freqentes so: pH, glicose, densidade, hemoglobina, protena e nitrito. E a escala de cor no frasco corresponde exatamente s cores presentes na reao, o que facilita a interpretao e avaliao dos resultados assegurando um diagnstico confivel. um exame basicamente qualitativo e

semiquantitativo. Na tira existem agentes muito higroscpicos, portanto a umidade pode interferir na reatividade, por isso existe um pequeno pacote de slica no recipiente com as tiras para absorver a umidade.

A sedimentoscopia a anlise de sedimentos na urina. a anlise microscpica realizada a partir do centrifugado da urina. Nela podemos encontrar clulas epiteliais descamativas, hemcias, picitos, cristais, muco e flora bacteriana. So indicativos de anomalias na sedimentoscopia: clulas epiteliais escamosas, hemcias (normal: 2,no mximo 3 por campo), cilindros hemticos (aglomerao de hemcias), leuccitos (normal: no mximo 3 por campo) pode intercampear com picito* ( pode associar resultado presena de flora bacteriana), piria macia. * leuccitos mortos que se apresentam como pus na urina. importante correlacionar todos os dados obtidos no EAS. Um exemplo a avaliao da densidade. Se no exame qumico foi constatada uma alta densidade urinria, no exame fsico a urina deve estar turva. Do contrrio o teste invlido. A presena de cristais, dependendo do caso, um indicativo de clculo renal. Outro caso: na infeco urinria geralmente encontramos uma extensa flora bacteriana na urina, geralmente a urina possui um odor ptrido. Esses fatores adicionados presena de picitos costumam confirmar o diagnstico de infeco urinria. Se a urina apresenta cor avermelhada ou amarelo escuro e o paciente for do sexo feminino, perguntar a paciente a ltima data da menstruao. Fora isso, a urina escura e a presena de hemcias indicam sangue na urina e leso renal. Se for visualizada um quantidade macia de hemcias, associar nova coleta. Da mesma maneira se for visualizado piria macia. Presena de cndida, em mulheres, geralmente acompanhada da presena de muco. No caso de homens, caso seja o primeiro jato, a urina vem acompanhada de muco acumulado, normalmente.

A presena de nitrito na urina geralmente indica infeco bacteriana. Isso porque o nitrito produzido por bactrias gram negativas. Essas bactrias podem acometer o trato genitourinrio feminino, principalmente. No exame qumico, a urina pode ser classificada como cida ou bsica. A urina cida quando vem acompanhada de cristais de cido rico (no comum), indicativo de clculo renal. A urina alcalina pode vir acompanhada de fosfato amorfo precipitado. Cada tipo de cristal pode apontar patologias caractersticas. A urina com fosfato amorfo no possui odor ptrido, ao contrrio da urina caracterstica de infeco urinria que possui o odor ptrido caracterstico. Outra questo importante se for acusado alto ndice de glicose na urina geralmente solicitado exame de glicose no sangue para confirmar hiperglicemia e o provvel caso de diabetes. Entretanto, se a amostra de urina no possuir odor caracterstico, for lmpida e com baixa densidade, desconfiar da amostra coletada realizar a pesquisa de creatinina. No havendo presena de creatinina provvel que a amostra recebida no seja urina. Ento, solicita-se um novo exame. A densidade definida pela habilidade renal em controlar a concentrao e diluio da urina. Esse complexo processo de reabsoro muitas vezes a primeira manifestao de uma leso renal. A densidade de uma amostra definida no s pelo nmero de partculas presentes, mas tambm por seu tamanho. E os principais responsveis por essa densidade so a uria, os cloretos e os fosfatos. Cuidados devem ser realizados no momento da coleta para se evitar diagnsticos errneos: Higienizar a genitlia antes da coleta; Utilizar um recipiente de coleta estril;
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Dispensar o primeiro jato; Conservar em geladeira ou em gelo at o momento da anlise

Esses cuidados so tomados para sejam dispensadas da amostra, a flora bacteriana local normal do trato genital. A conservao da urina resfriada impede a rpida proliferao bacteriana na urina, o que poderia levar a um diagnstico errneo de infeco urinria. Para a realizao do exame qumico, utilizamos a tira reagente Uriquest Plus da empresa Labtest Diagnstica SA. Os parmetros avaliados so: bilirrubina, urobilinognio, cetonas, cido ascrbico, glicose, protena, sangue, pH, nitrito, leuccitos e densidade. A escala de cor impressa no rtulo equivalente s cores das reas reagentes. A Leitura dos resultados pode ser realizada rapidamente. Abaixo, disponibilizamos o tipo de tira reagente utilizado, bem como o significado das cores de cada rea reagente:

Anlise da urina por EAS:


1. Primeiramente identificar o material e anotar o volume total da amostra.

2. Se possvel, obter informaes do paciente, como por exemplo, a data da ltima menstruao (mulher).

3. Em seguida verter 15ml da urina em um tubo falcon e realizar o exame

fsico (visualizar cor, se turva ou lmpida, etc.);


4. Imergir a tira reagente para o exame qumico (densidade, pH,etc) e

sec-la ligeiramente para ento, comparar aos resultados possveis no rtulo do frasco. E, anotar os resultados reacionais.
5. Comparar resultados qumicos com os aspectos fsicos encontrados,

verificando se estes so coerentes. Do contrrio, a tira reagente foi danificada e o exame no pode ser considerado vlido.
6. Centrifugar a amostra a 4000 rpm por 7 minutos e meio 7. Desprezar o sobrenadante e ressuspender o centrifugado para a

sedimentoscopia.
8. Em uma lmina, colocar 1 gota do sedimento e colocar a lamnula sobre

ela.
9. Analisar os sedimentos ao microscpio, comparando-os aos resultados

fsicos e qumicos obtidos anteriormente. Isto com a finalidade de se conseguir fornecer um diagnstico.
10. Posteriormente ao EAS, pode-se realizar a cultura da urina para

confirmar infeco urinria (caso haja picitos e flora bacteriana), identificando o tipo bacteriano presente, disponibilizando a opo de antibitico sensvel.

4. RESULTADOS E DISCUSSO

Ao realizar o EAS da aluna na aula prtica, de antemo podemos enfatizar a presena de variveis em nosso resultado: A primeira o perodo do dia em que a amostra foi coletada. A urina coletada no foi a primeira urina da manh o que pode interferir. Outra varivel seria a ausncia de antispticos

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nos banheiros da universidade. Isto dificulta a realizao correta da higiene local da genitlia antes da coleta, podendo superestimar a presena de flora bacteriana local. Na tabela abaixo, reunimos os resultados dos exames fsicos, qumicos e de sedimentoscopia do EAS realizado:
Aspectos fsicos e qumicos Volume: 5,5ml Cor: amarelo claro Aspecto: semi-turvo Densidade : 1,030 Leuccitos: ausentes Bilirrubina: ausente Urobilirrubina: ausente cido ascrbico: ausente Protena: traos (no definitivo p/ diagnstico) pH: 5,0 (cido) Nitrito: ausente Odor: sui generis Glicose: ausente Corpos cetnicos:ausentes EAS Valores de referncia Por volta de 25 mL amarelo claro Lmpido 1,005 1,015 Ausentes Ausentes Ausentes Ausente Ausente 4,5 8,0 Ausente sui generis Ausente Ausente Sedimentoscopia Clulas epiteliais: mdio Hemceas: 0-1/c (raros) Picitos: 0-1/c (raros) Cristais: ausentes Muco: ausente Flora bacteriana: intensa Valores de referncia raras 0-1/c 0-1/c Ausentes Ausente ausente

Enfatizamos, em vermelho, os aspectos que apresentaram anormalidade na urina da aluna. Podemos perceber que os resultados se complementam, conferindo fidelidade ao teste. O pequeno volume de urina justificado, uma vez que a aluna urinara pouco antes de realizar o teste, por isso, o volume de urina produzido durante o perodo que compreende s micces (por volta de 15 minutos) no foi o suiciente e no sugere insuficincia urinria, inclusive porque que a aluna relatou que no possui dificuldade alguma para urinar. A urina apresentava-se semi-turva, o que nos indica a existncia de aumento de sedimentos causadores dessa turbidez. Na sedimentoscopia, foi encontrada intensa flora bacteriana e presena mediana de clulas epiteliais, o que justifica a turbidez. A urina turva indica densidade mais elevada do que o normal, pois sedimentos aumentam a densidade da urina e geram correntes de turbidez. A

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presena de flora bacteriana e picitos intensos, geralmente um forte indicativo de infeco urinria. Entretanto, a sedimentoscopia nos mostra ausncia de picitos na amostra. Esse fator dificulta o fornecimento de um diagnstico preciso e sugere contaminao durante a coleta. Abaixo mostrado o rtulo do Uriquetest Plus, com a escala de resultados possveis e ao lado, a tira utilizada no exame da aluna no tempo previsto de anlise. Importante notar na penltima rea reagente a cor amarelo escuro, e que no rtulo padro nos permitiu inferir a alta densidade da urina.
Uriquetest plus Labtest Diagnstica SA Escala de cor impressa no rtulo equivalente as cores das reas reagentes.

Normal -----------------------------------> anormal Fonte: http://www.enzipharma.com.br

Tira reagente mostrando os resultados bioqumicos obtidos da amostra de urina da aluna J.S.S. (primeiros 20 segundos aps a imerso )

5. CONCLUSO

A alta densidade da urina deve-se presena da flora bacteriana intensa e de uma quantidade mediana de clulas epiteliais. Entretanto, a densidade pode indicar incapacidade do rim filtrar elementos que no foram dosados na urina, como uria, cloretos e fosfato.

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A anormalidade mais evidente na amostra de urina da aluna foi a presena de uma flora bacteriana abundante. Esse fator poderia ser um forte indicativo de infeco urinria. Contudo, a presena de picitos se mostrou rara na urina, sugerindo contaminao durante a coleta do material. A possvel realizao de uma urinocultura auxiliaria na concluso do diagnstico. A quantidade de clulas epiteliais no sugere nenhuma anormalidade. O pequeno volume de urina tambm foi justificado pelo pouco tempo necessrio para produzir um volume de urina ideal. Faz-se necessrio a realizao de um novo exame em condies apropriadas na coleta para se confirmar os resultados.

REFERNCIAS

MOTTA, Valter T.. Bioqumica Clnica: Princpios e Interpretaes: Rim e Funo Renal. Rio de Janeiro: Educs, 2002. LABTEST. Chega ao mercado a nova tira Uriquest Plus. In:<http://www.labtest.com.br/noticia/45> Acesso: 21/06/2012 Bioinforme Srgio Franco: medicina diagnstica. Acesso em 25 de Junho de 2012. In: <http://portal.sergiofranco.com.br/bioinforme/index.aspx? cs=fluidosbiologicos&ps=elementosanormaissedimento>

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