Solos e Meio Ambiente - FÃ Sica Do Solo
Solos e Meio Ambiente - FÃ Sica Do Solo
Solos e Meio Ambiente - FÃ Sica Do Solo
INTRODUO .............................................................................................................. 3 1.1. O papel da fsica do solo .................................................................................... 3 1.2. O solo como sistema trifsico disperso .............................................................. 4 1.3. Definio de fsica do solo .................................................................................. 5 2 - TEXTURA DO SOLO ............................................................................................... 5 2.1. Determinao da textura do solo ........................................................................ 7 2.2. Classificao textural ........................................................................................ 10 2.3. Importncia da textura ...................................................................................... 11 3 - RELAES DE MASSA E VOLUME DOS CONSTITUINTES DO SOLO ............. 12 3.1. Densidade de particulas - Dp............................................................................ 13 3.2. Densidade do solo - Ds .................................................................................... 14 3.3. Porosidade do solo ........................................................................................... 15 3.3.1. Distribuio de Poros por Tamanho ........................................................... 16 4 - COMPACIDADE OU COMPACTAO DO SOLO ................................................ 17 4.1. Diagnstico da compactao do solo ............................................................... 18 5 - ESTRUTURA E AGREGAO DO SOLO ............................................................ 20 5.1. Definies de estrutura do solo ........................................................................ 21 5.2. Natureza e desenvolvimento da estrutura do solo ............................................ 22 5.3. Avaliao da estrutura ...................................................................................... 25 5.3.1. Densidade Aparente .................................................................................. 25 5.3.2. Porosidade Total e Distribuio de Poros por Tamanho ............................ 26 5.3.3. Condutividade Hidrulica do Solo Saturado ............................................... 26 5.3.4. Estabilidade de Agregados ........................................................................ 27 6 - A GUA NO SOLO ................................................................................................ 28 6.1. Reteno de gua pelo solo ............................................................................. 28 6.2. Potencial total da gua no solo ......................................................................... 30 7 - DISPONIBILIDADE DE GUA DO SOLO PARA AS PLANTAS ............................ 34 7.1. Conceitos de disponibilidade de gua para as plantas ..................................... 34 7.1.1. Conceitos Clssicos ................................................................................... 34 7.1.2. Conceito Moderno de gua Disponvel ...................................................... 35 7.2. Fatores que afetam a disponibilidade de gua para as plantas ........................ 36 7.2.1. Fatores Ligados ao Solo ............................................................................ 36 7.2.2. Fatores da Planta ....................................................................................... 37 7.2.3. Fatores Ligados Atmosfera ..................................................................... 38 8 - LITERATURA CITADA ........................................................................................... 39
INTRODUO
1.1. O papel da fsica do solo O solo o substrato bsico de toda vida terrestre. O solo serve no somente como um meio para o crescimento das plantas e para a atividade microbiana "per se", mas tambm como fator de dreno e reciclagem para numerosos grupos de resduos que podem acumular e poluir nosso ambiente. Ademais, o solo suporta nossas construes e fornece material para a edificao de estruturas tais como represas e estradas. A tentativa para entender quais e como os constituintes do solo operam dentro da biosfera, que o papel essencial da Cincia do Solo, advm tanto da curiosidade como da necessidade do homem. Solo e gua so os dois recursos fundamentais da agricultura. A crescente presso populacional tem tornado esses recursos escassos ou tem abusado destes em muitas partes do mundo. A necessidade de se manejar esses recursos eficientemente numa base sustentvel, uma responsabilidade de todos. Em multas regies so encontrados exemplos chocantes onde reas ento produtivas foram completamente degradadas pela eroso ou salinizao induzidas pelo manejo inadequado do sistema solo-gua. O solo por si de extrema complexidade. Ele consiste de numerosos componentes slidos (minerais e orgnicos) arranjados em um padro geomtrico complexo, quase indefinvel. Alguns dos materiais slidos consistem de partculas cristalinas, enquanto outros consistem de matria amorfa que ao revestir os cristais, modificam seus comportamentos A fase slida interage com os fluidos, gua e ar, os quais penetram nos poros do solo. O sistema como um todo raramente se encontra em estado de equilbrio, pois se encontra alternadamente mido e seco; expandido e contrado; disperso e floculado; compacto e quebrado; troca ons; precipita e redissolve sais e ocasionalmente congela e degela. Para servir como um meio favorvel ao crescimento das plantas, o solo precisa armazenar e suprir de gua e ainda estar livre de elevadas concentraes de fatores txicos. O sistema solo-gua-planta torna-se ainda mais complicado pelo
fato de que as razes das plantas precisam respirar constantemente e que a maioria das plantas terrestres no conseguem transferir o oxignio de suas partes areas para as razes em uma taxa suficiente respirao das razes. Portanto, o solo deve ser bem aerado, para a troca de oxignio e dixido de carbono entre os poros cheios de ar e a atmosfera externa. Um solo excessivamente mido pode sufocar as razes, assim como excessivamente seco pode dessec-las. Esses so alguns dos problemas que desafiam a relativamente nova cincia Fsica do Solo. Definvel como o estudo do estado e transporte de todas as formas de matria e energia no solo, a Fsica do Solo constitui-se num assunto complexo, fato esse que tem contribudo para seu lento desenvolvimento. 1.2. O solo como sistema trifsico disperso Sistemas naturais podem consistir de uma ou mais substncias e de uma ou mais fases. Um sistema constitudo de uma simples substncia tambm monofsico se suas propriedades fsicas so uniformes. Um exemplo de tal sistema seria um volume de gua consistindo completamente de gelo. Tal sistema chamado de homogneo. Um sistema constitudo de um nico composto qumico pode tambm ser heterogneo se tal composto exibir diferentes propriedades em diferentes regies do sistema. Uma regio dentro do sistema fisicamente uniforme chamada fase. Uma mistura de gua e gelo, por exemplo, quimicamente uniforme, mas, fisicamente heterognea e inclui duas fases. As trs fases comuns na natureza so a slida, a lquida e a gasosa. Um sistema contendo vrias substncias pode ser tambm monofsico. Por exemplo, uma soluo de gua e sal constitui-se em um lquido homogneo. Um sistema de vrias substncias obviamente pode ser tambm heterogneo. Em sistemas heterogneos as propriedades diferem no somente entre uma fase e outra, mas tambm dentro de cada fase e no contorno entre fases vizinhas. Interfaces entre fases exibem fenmenos especficos resultantes da interao das fases. A importncia desses fenmenos, que incluem adsoro, tenso superficial e frico, depende da magnitude da reas interfacial por unidade de volume do sistema. Sistemas nos quais pelo menos uma das fases subdividida em numerosas partculas pequenas que juntas exibem grande rea interfacial por unidade de volume, so chamados sistemas dispersos. O solo um sistema heterogneo, particulado, disperso e poroso, onde a rea interfacial por unidade de volume pode ser muito grande. A natureza dispersa do solo e sua consequente atividade interfacial d lugar a fenmenos tais como adsoro de gua e qumicos, troca inica, adeso, expanso e contrao, dispero e floculao e capilaridade. As trs fases so representadas no solo da seguinte maneira: a fase slida constitui a matriz do solo; a fase lquida consiste na gua do solo, na qual existem substncias dissolvidas, devendo ser chamada ento de soluo de solo e a fase gasosa a atmosfera do solo. A matriz do solo inclui partculas que variam em composio qumica e mineralgica, bem como em tamanho, forma e orientao. Ela contm tambm substncias amorfas, particularmente matria orgnica que se une aos gros minerais e muitas vezes servem de ponte entre eles para formar os agregados. A organizao dos componentes slidos determina as caractersticas geomtricas do
espao poroso onde a gua e ar so retidos e transmitidos. Finalmente tem-se que tanto a gua quanto o ar do solo variam em composio tanto no tempo quanto no espao. As propores relativas das trs fases no solo variam continuamente e dependem de variveis como condies climticas, vegetao e sobretudo manejo. 1.3. Definio de fsica do solo A Fsica do Solo constitui-se no ramo da Cincia do Solo que trata das propriedades fsicas do solo, bem como da medida, predio e controle dos processos fsicos que ocorrem no solo. Assim, como a Fsica Clssica lida com as formas e interrelaes de matria e energia, a Fsica do Solo lida com o estado e movimento da matria e ainda com os fluxos e transformaes de energia no solo. De um lado o estudo fundamental da Fsica do Solo procura atingir um entendimento bsico dos mecanismos que governam o comportamento do solo e seu papel na biosfera, incluindo processos interrelacionados como a troca de energia terrestre e os cicios da gua e materiais transportveis no campo. De outro lado, a Fsica do Solo prtica procura o manejo adequado do solo atravs da irrigao, drenagem, conservao do solo e gua, preparo, aerao e controle da temperatura do solo, bem como o uso do material do solo para propsitos da engenharia. A Fsica do Solo ento considerada tanto uma cincia pura como aplicada, com uma ampla faixa de interesses, muitos dos quais participam de outros ramos da cincia do solo e de outras cincias interrelacionadas tais como ecologia, hidrologia, climatologia. geologia, sedimentologia, botnica e agronomia. A Fsica do Solo est intimamente relacionada mecnica do solo que trata o solo principalmente como material e suporte para construes. Pode-se ainda definir Fsica do Solo como sendo o estudo das caractersticas e propriedades fsicas do solo. As expresses caractersticas e propriedades so empregadas no sentido de se distinguir atributos do solo que podem ou no ser alterados com o uso e manejo do solo. Nesse sentido, entende-se por caractersticas os atributos intrnsecos ao objeto, que servem para defini-lo, independente do meio ambiente. Como exemplo podemos citar a distribuio de partculas por tamanho (textura do solo). J propriedades so atributos relativos ao comportamento do objeto, so resultantes da interao entre caractersticas e o meio ambiente. Um bom exemplo de propriedade fsica a reteno de gua pelos solos, que depende do tamanho, composio e arranjo das partculas do solo. A maior parte dos atributos do solo referem-se a propriedades.
2 - TEXTURA DO SOLO
Uma vez introduzido o conceito de que o solo um sistema trifsico, o enfoque agora ser dado fase slida, que realmente caracteriza o solo, quando comparada com as demais.
A fase slida constituda de parte mineral e parte orgnica. A parte orgnica formada pela acumulao de resduos animais e vegetais com variados graus de decomposio. Submetido a constantes ataques dos microrganismos, o material orgnico acaba por constituir-se em componente transitrio do solo, em constante renovao. A matria orgnica exerce importante papel no comportamento fsico e qumico do solo, atuando em muitas propriedades deste. Contudo, ao estudo particular deste constituinte so reservados espaos em outros ramos da Cincia do Solo, tais como na Qumica do Solo, na Fertilidade do Solo e notadamente na Biologia do Solo. A parte mineral do solo constituda de partculas unitrias originadas do intemperismo das rochas, apresentando diversos tamanhos, formas e composies. A Textura do Solo constitui-se numa das caractersticas fsicas mais estveis e representa a distribuio quantitativa das partculas do solo quanto ao tamanho. A grande estabilidade faz com que a textura seja considerada elemento de grande importncia na descrio, identificao e classificao do solo. A textura confere alguma qualidade ao solo, no entanto, sua avaliao apresenta conotao prioritariamente quantitativa. Areia, Silte e Argila so as trs fraes texturais do solo que apresentam amplitudes de tamanho variveis em funo do sistema de classificao, todos baseados em critrios arbitrrios na separao dos tamanhos das diversas fraes. Contudo, dois sistemas so considerados mais importantes no campo da pedologia, so eles: Sistema Norte Americano, desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e Sistema Internacional ou Atterberg desenvolvido pela Sociedade Internacional de Cincia do Solo (ISSS). O Quadro 2.1. apresenta os dois sistemas com suas diversas fraes granulomtricas e respectivas amplitudes de tamanho.
Quadro 2.1. Fraes Granutomtricas encontradas nos Sistemas de Classificao NorteAmericano (USDA) e Internacional (ISSS). Fraes USDA Sistemas ISSS ----------------- em mm -----------------Areia Muito Grossa Areia Grossa Areia Mdia Areia Fina Areia Muito Fina Silte Argila 21 1 - 0,5 0,5 - 0,25 0,25 - 0,10 0,10 - 0,05 0,05 - 0,002 < 0,002 -----2 - 0,2 -----0,2 - 0,02 -----0,02 - 0,002 < 0,002
O conhecimento desses sistemas de classificao fundamental ao se ajustar a metodologia para determinao da textura do solo.
2.1. Determinao da textura do solo A textura do solo pode ser determinada de dois modos:
a) Teste de Campo: Neste teste procura-se correlacionar a sensibilidade ao tato com o tamanho e distribuio das partculas unitrias do solo. A areia d sensao de atrito (aspereza); o silte de sedosidade e a argila plasticidade e pegajosidade. Essa avaliao muito sujeita a erro. b) Anlise Textural: Tambm chamada anlise mecnica e granulomtrica, feita no laboratrio e tem por finalidade fornecer a distribuio quantitativa das partculas unitrias menores que 2,0 mm. Segundo MEDINA (1975) o xito da anlise textural est na dependncia de se conseguirem suspenses de solo onde suas partculas se apresentem realmente individualizadas e assim se mantenham at sua separao e quantificao. De modo geral, pode-se considerar a marcha analtica dos mtodos de anlise textural dividida em trs fases: pr-tratamento, disperso e separao das fraes do solo. b.1.) Pr-tratamento: A fase do pr-tratamento tem por finalidade eliminar os agentes cimentantes, os ons floculantes e sais solveis que podem afetar a disperso e estabilizao da suspenso do solo. So exemplos de pr-tratamentos: Remoo da Matria Orgnica: realizada em solos com teores de matria orgnica superiores a 5% atravs da oxidao com gua oxigenada (H2O2). Remoo dos xidos de Ferro e Alumnio: realizada com o uso da soluo contendo ditionito - citrato - bicarbonato de sdio, sua convenincia em solos de clima tropical questionvel. Remoo de Carbonatos: promovida com o uso de tratamentos cidos. Recomenda-se a utilizao do cido Clordrico diludo. Remoo de Sais Solveis: realizada atravs da dilise da amostra de solo. b.2.) Disperso: A fase da disperso tem por finalidade destruir os agregados do solo, transformando-os em partculas individualizadas que devero permanecer em suspenso estvel durante toda marcha analtica.
As argilas, ao se desidratarem, podem exercer considervel fora coesiva que cimenta vigorosamente os agregados do solo. Fica, neste caso, a disperso condicionada sua reidratao. Pesquisas realizadas a esse respeito mostraram que, para conseguir uma suspenso de solo efetivamente dispersa, h necessidade de substituir os ctions Ca + +, Mg + +, H + que mais frequentemente so encontrados saturando as argilas, por outros ctions monovalentes mais hidratveis, como o Li +, Na +, K + e NH4 +. A presena desses ctions mais hidratveis aumenta o potencial eltrico das partculas de argila, proporcionado assim, condies favorveis de estabilidade para as suspenses de solo. Para se obter disperso mxima das amostras de solo h necessidade de se combinar o uso de mtodos mecnicos e qumicos. Os mtodos mecnicos mais frequentemente usados so: agitao suave e demorada, agitao violenta e rpida, aquecimento e desagregao manual. Dentre os compostos qumicos mais empregados, destacam-se os compostos de ltio e sdio, por serem os mais eficientes. Apesar dos compostos de ltio serem mais ativos generalizou-se o uso do hidrxido de sdio e do calgon (hexametafosfato de sdio mais carbonato de sdio), por serem mais facilmente encontrados no comrcio e mais baratos. Embora ainda pouco utilizada no Brasil, a disperso pode tambm ser feita por meio de vibrao ultrassnica. b.3.) Separao das Fraes do Solo: Nesta fase, as partculas do solo, j previamente individualizadas, so separadas em grupos. As fraes mais grosseiras, ou seja, as areias, so separadas por tamisagem, utilizando-se peneiras diversas, conforme o sistema de classificao adotado. As fraes mais finas, Silte e Argila, so separadas por meio de sedimentao das partculas. Nessa separao utiliza-se da Lei de Stokes (equao 1), calculam-se os tempos de sedimentao das fraes, para posterior dosagem das fraes em suspenso. V = 2 . (Dp - Df) g .r2 q
Equao 1
A equao 1 descreve a velocidade de queda de uma partcula em um fluido qualquer. Considerando que V = e/t, poderemos rearranjar a equao 1 e obter a equao 2 que nos dar o tempo e queda da partcula considerada, desde que fixemos os o espao a ser percorrido pela partcula, ou seja, a altura de queda, h. t = 9 . h . 2 (Dp Df) g . r2 onde:
Equao 2
t = tempo de sedimentao - (seg) h = altura de queda (profundidade de pipetagem) - (cm) = viscosidade do fludo (poise) Dp = densidade das partculas (g x cm -3) Df = densidade do fludo (g x cm -3) g = acelerao da gravidade (cm x seg -2) r = raio da partcula (cm)
O Quadro 2.2. apresenta os tempos de sedimentao requeridos por vrias fraes do solo, calculados pela Lei de Stokes. Nota-se pelo quadro 2.2. que a utilizao da Lei de Stokes no deve ser feita tanto para as fraes grosseiras (areias) quanto para fraes muito pequenas (argila fina e ultrafina). Muitos erros metodolgicos advm da aplicao inadequada da Lei de. Stokes.
Quadro 2.2. Tempo Requerido por Partculas de Solo Sedimentando em gua a uma Distncia Vertical de 10 cm (*). Adaptado de JENNY (1980). Frao do Solo Areia Muito Grossa Areia Fina Silte Argila Argila Fina Argila Ultra fina Dimetro (Mm) 2000 (= 2 mm) 200 20 2 (= 0,002 mm) 0,02 0,002 ( = 20) Tempo de Sedimentao 0,03 seg 2,7 seg 4,5 min 7,7 h 32 dias 860 anos
b.4.) Mtodos de Anlise Textural A anlise textural pode ser efetuada basicamente por dois grupos de mtodos, segundo a tcnica utilizada na separao das fraes silte e argila: Mtodo da Pipeta - especialmente indicado para a determinao da argila, podendo determinar, tambm a frao silte. um mtodo de sedimentao utilizando pipeta para coletar uma alquota a profundidade e tempo determinados. Segundo KIEHL (1979) um aspecto curioso do mtodo da pipeta que ele foi idealizado quase que simultaneamente, por trs pesquisadores em trs pases diferentes: Jennings e colaboradores nos Estados Unidos; Robinson na Inglaterra e Kraus na Alemanha. O mtodo da pipeta reconhecido como mais preciso, porm mais demorado. Mtodo do Densmetro - conhecido tambm como mtodo do hidrmetro, foi proposto em 1926 por BOUYOUCOS que empresta tambm seu nome para o
mtodo. O mtodo baseia-se no ,princpio de que o material em suspenso (silte e argila) comunica determinada densidade ao lquido; com a ajuda de um densmetro, BOUYOUCOS relacionou as densidades com os tempos de leitura e com a temperatura, calculando com esses dados a percentagem das partculas. Segundo KIEHL (1979) o mtodo de BOUYOUCOS mais rpido, porm menos preciso. No sentido de associar rapidez e preciso CARVALHO (1985) introduziu ao mtodo de BOUYOUCOS uma proveta especial desenvolvida por FONTES (1982), que propicia uma suspenso mais homognea por ocasio da leitura com o densmetro. Esta metodologia foi adotada com sucesso na rotina do Laboratrio de Fsica do Solo da ESAL. 2.2. Classificao textural Uma vez conhecidas aspropores de areia, silte e argila atravs da anlise texural, determina-se a classificao textural do solo. Para tanto so utilizados diagramas ou tringulos texturais. Existem vrios modelos de tringulos texturais, no Brasil so usados dois tringulos: o da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo baseado no sistema de classificao do USDA (Figuras 2.1. e 2.2.) e o do Instituto Agronmico de Campinas com base no sistema de classificao da ISSS (Figura 2.3.).
Figura 2.1. Diagrama Textural adotado pela Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (MEDINA, 1975).
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Figura 2.2. Nova apresentao do Diagrama Textural adotado pela Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (adaptado de GEE & BAUDER, 1986).
Figura 2.3. Diagrama Textural adotado pelo Instituto Agronmico de Campinas (MEDINA, 1975).
2.3. Importncia da textura Conforme anotado anteriormente, a textura do solo constitui-se numa das caractersticas fsicas mais estveis e devido a isto, apresenta grande importncia tanto na identificao dos solos quanto na predio de seus comportamentos. Assim, muitas reas da cincia do solo se utilizam dos resultados da anlise textural visando o manejo
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adequado e racional dos solos. A seguir sero listados exemplos da utilizao dos dados da textura do solo em outros ramos da cincia do solo:
a) Gnese, Morfologia e Classificao de Solos A textura do solo utilizada na deteco de gradiente textural entre horizontes diagnsticos visando a classificao do solo. Ademais, existe um forte relacionamento entre textura e o material que deu origem ao solo. b) Fertilidade do Solo No manejo das adubaes a textura do solo assume papel de destaque principalmente com relao tomada de deciso quanto ao parcelamento da aplicao dos adubos, com vistas maior eficincia dos mesmos. Alm desse aspecto, a Comisso Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1989) condiciona a recomendao de adubao fosfatada e do gesso agrcola Textura do Solo. c) Conservao do Solo e gua No estabelecimento de prticas conservacionistas (terraos por exemplo) so requeridos conhecimentos do comportamento do solo em relao dinmica da gua no solo. Desse modo, na definio do tipo de prtica e ainda de sua intensidade (espaamento) de um modo geral requer-se o conhecimento da textura do solo que nesse caso servir como uma estimativa da permeabilidade do solo e resistncia eroso.
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3.1. Densidade de particulas - Dp Tambm conhecida por Densidade Real representa a relao entre massa de slidos (Ms) e o volume de slidos (Vs):
Dp = Ms Vs A Dp uma propriedade fsica bastante estvel porque depende exclusivamente da composio slida do solo. Dentro desse contexto, a Dp ser dependente tanto da proporo entre matria orgnica e parte mineral, quanto da constituio mineralgica do solo. A Dp uma Grandeza intensiva expressa pelas seguintes unidades: g/cm 3 , Mg/m 3.
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, kg/dm
Na maior parte dos solos minerais a Dp varia de 2,6 - 2,7 q/cm 3, que reflete a grande influncia da presena dominante do quartzo que apresenta peso especfico de 2,65 g/cm 3. A presena de xido de Fe e metais pesados aumente o valor de Dp, enquanto que a matria orgnica contribui para o seu abaixamento. O manejo do solo poder modificar o valor de Dp ao longo do tempo, se com esse manejo houver modificao significativa do contedo de matria orgnica. Na determinao da Dp a maior dificuldade est na determinao do volume de slidos (Vs). justamente essa determinao que define o tipo de mtodo empregado na avaliao de Dp. Os mtodos mais usados na determinao da Dp so o Mtodo do
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Picnmetro , que usa gua destilada desaerada sob vcuo e o Mtodo do Balo Volumtrico, que usa lcool etlico. Vrias so as aplicaes da Dp e dentre elas podemos citar: clculo da porosidade total do solo; clculo do tempo de sedimentao de uma partcula em um fludo; critrio auxiliar na classificao de solos e ainda em estudos mineralgicos na separao de minerais leves e minerais pesados. 3.2. Densidade do solo - Ds A Densidade do Solo tambm conhecida pelas expresses Densidade Aparente e Densidade Global e representa a relao entre a massa de slidos (Ms) e o volume total (Vt), ou seja, o volume do solo incluindo o espao ocupado pela gua (VH2O) e pelo ar (Va):
Ds = Ms VT A Ds uma propriedade fsica que reflete o arranjamento das partculas do solo, que por sua vez define as caractersticas do sistema poroso. Desta forma, todas as manifestaes que influenciarem a disposio das partculas do solo, refletiro diretamente nos valores da Ds. A exemplo da Dp a Ds tambm uma grandeza intensiva expressa pelas unidades: g/cm 3, Kg/dm 3, Mg/m 3. No existem valores caractersticos de Ds para os diferentes grupos de solos, so encontrados valores variando de 0,90 g/cm 3 a 1,5 g/cm 3 dependendo da estrutura do solo. Os valores mais baixos esto sempre associados a solos ou camadas de solos com estrutura granular, ao passo que os valores mais elevados esto associados a estrutura do tipo em blocos ou similar. Esses valores, contudo, podero ser alterados com o manejo do solo, se esse manejo alterar a disposio das partculas do solo. Assim, os solos podero ter seus valores de Ds aumentados pelo processo de compactao e diminudos pela incorporao de matria orgnica e prticas de preparo do solo. Existem inmeros mtodos de determinao da Ds que podem ser agrupados em mtodos destrutivos e no destrutivos. Os destrutivos so aqueles que dependem da retirada de uma amostra representativa do solo. Essa amostra, alm de ser representativa, deve se apresentar com mnimo possvel de perturbao, ou seja, deve refletir o solo como ele se apresenta na sua condio natural. Dentre esses mtodos mtodos podemos citar o mtodo do anel ou cilindro volumtrico (cilindro de Uhland) e o mtodo do torro impermeabilizado. No mtodo do torro, a impermeabilizao necessria para a determinao do seu volume e esta pode ser feita com parafina fundida, borracha crua dissolvida e ainda com resina saran. Os mtodos no destrutivos determinam os valores de Ds no prprio campo, atravs de tcnicas modernas envolvendo o uso da energia atmica. Dentre essas tcnicas podemos citar a da moderao de neutrons (sonda de neutrons) e a da absoro de raios gama.
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O conhecimento da Ds um importante indicativo das condies de manejo do solo. Conforme apontamos no incio dessa seco, o valor de Ds refletir, em ltima anlise, as caractersticas do sistema poroso do solo. Como se sabe as razes das plantas se desenvolvem nos poros do solo e estes por sua vez podero se constituir numa restrio a esse desenvolvimento. Neste sentido, a determinao da Ds poder servir de importante balizador na tomada de deciso quanto ao sistema de manejo do solo a ser adotado. O valor da Ds correlaciona-se inversamente com a permeabilidade do solo e como tal constitui-se em importante indicativo da auxiliando ainda na determinao de prticas de conservao do solo e da gua.. 3.3. Porosidade do solo A Porosidade do Solo ou Volume Total de Poros (VTP) representa a poro do solo em volume no ocupada por slidos: VTP = VP = Va + VH2O Vt Vt O arranjamento ou a geometria das partculas do solo determinam a quantidade e a natureza dos poros existentes. Como as partculas variam em tamanho, forma, regularidade e tendncia de expanso pela gua, os poros diferem consideravelmente quanto forma, comprimento, largura e tortuosidade. A Porosidade do Solo normalmente expressa em % e acredita-se que entre os solos ela varie de 30 a 60%, em funo da textura e estrutura dos mesmos. A porosidade tambm uma propriedade fsica muito alterada pelo manejo do solo. Caracterizaes dos sistemas porosos so importantes em estudos envolvendo armazenamento e movimento de gua e gases; em estudos do desenvolvimento do sistema radicular das plantas; em problemas relativos ao fluxo e reteno de calor e nas investigaes da resistncia mecnica dos solos. Contudo, para tais propsitos a simples determinao da Porosidade Total fornece informaes de utilidade limitada, sendo fundamental o conhecimento da Distribuio do Tamanho dos Poros. Os mtodos usados para a determinao da Porosidade Total se baseiam em um princpio muito simples: o volume total ocupado por uma massa de solo pode ser dividido em vrios espaos. Consideremos inicialmente o volume total do solo seco em uma estufa a 105C at peso constante. A massa em gramas do volume total equivalente a 1 cm 3 pode ser considerada como a Densidade do Solo (item 3.2. deste captulo). A densidade do Solo assim obtida consideravelmente mais baixa que a Densidade das Partculas (item 3.1). Isto significa que somente parte do volume total do solo ocupado pelas partculas slidas, o volume remanescente ocupado por material mais leve, no caso presente esse material o ar, pois o solo seco em estufa (Figura 3.1.). O clculo da Porosidade Total a partir das densidades envolve simplesmente a converso de dados densidades para volume. Nesse contexto VOMOCIL (1965) apresenta a seguinte expresso para determinao do Volume Total de Poros (VTP):
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VTP (%) = ( 1 - Ds ) x 100 Dp 3.3.1. Distribuio de Poros por Tamanho De acordo com KIEHL (1979) em 1860 Schumacher classificou a Porosidade do Solo em Porosidade Capilar denominada atualmente Microporosidade e Porosidade No Capilar ou Macroporosidade. Os poros grandes ou Macroporos so importantes para a aerao do solo e infiltrao da gua, enquanto que os pequenos ou Microporos garantem a reteno e o armazenamento de gua para as plantas. A importncia relativa destes conjuntos de poros depende do tipo de cultivo, condies climticas, posio do lenol fretico, possibilidade de irrigao, controle ambiental, etc. Num determinado solo a Distribuio de Poros por Tamanho ser funo tanto da Textura quanto da Estrutura do Solo. O Quadro 3.1., mostra a Distribuio de Poros por Tamanho de alguns Latossolos do Brasil. Todos os solos so argilosos ou muito argilosos, com a Porosidade Total variando de 41 a 66%. Em termos proporcionais os Latossolos Amarelo e variao Una so aqueles com menor Macroporosidade, ao passo que o Latossolo Vermelho-Escuro embora com 78% de argila apresenta a maior Macroporosidade. A explicao para esses resultados est nos tipos de estruturas desses solos. Este aspecto ser discutido com mais detalhes no captulo relativo Estrutura do Solo. Ao se comparar solos arenosos com solos argilosos verifica-se que os arenosos, por no apresentarem agregados, apresentam predominantemente macroporos. Contudo, a anlise deve ser sempre realizada com cautela, observando simultaneamente os dois aspectos Textura e Estrutura do Solo, generalizaes so sempre perigosas.
Quadro 3.1. Distribuio de Poros por Tamanho do Horizonte B de Latossolos Brasileiros, Fonte: FERREIRA (1988). Solo Estrutura Porosidade Macro- MicroTotal poros poros ------------------------- % ---------------------54 51 50 78 63 66 59 41 66 58 19 22 13 29 17 47 37 28 37 41 Argila
Latossolo Roxo Latossolo Vermelho-Amarelo Latossolo Amarelo Latossolo Vermelho-escuro Latossolo Variao Una
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A Distribuio de Poros por Tamanho obtida por meio de mtodos baseados na reteno de gua em tubos capilares (Fenmeno da Capilaridade): h = 2 cos gr
onde,
h = altura de ascenso da gua no tubo capilar = Tenso superficial da gua ngulo de contato da gua e as paredes do capilar densidade da gua g acelerao da gravidade r raio do tubo capilar Assumindo-se como constantes alguns fatores, a equao anterior poder ser reescrita da seguinte maneira:
onde,
Os valores limites de dimetro entre Macro e Microporos so arbitrrios e por isso mesmo variam nos diferentes estudos, entretanto existe uma tendncia de se adotar o dimetro de 0,05 mm para essa separao. Assim substituindo na equao acima d por 0,05 mm (0,05 cm) chega-se ao valor de h de 60 cm, ou seja, deveremos utilizar uma altura suco de 60 cm, para eliminara gua dos poros maiores que 0,05 mm (Macroporos) de uma amostra de solo com estrutura natural previamente saturada com gua. Esta a metodologia empregada nos laboratrios para a determinao da Distribuio de Poros por Tamanho de um solo.
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Compactada empregada para caracterizar a camada cuja compacidade decorre do uso intensivo do solo. As camadas adensadas quando presentes, se caracterizam por apresentarem atributos morfolgicos (ex. Estrutura), fsicos (ex. Textura) ou qumicos (ex. Teores de xidos, Matria Orgnica, Carbonatos) bem diferenciados daqueles das camadas a elas adjacentes. Desse modo, seu diagnstico no solo se constitui em importante critrio na classificao do solo. O horizonte B textural, que define alguns grupos particulares de solos, representa um tipo de camada adesnsada, cuja origem o acmulo de argila iluvial. So exemplos ainda de camadas adensadas os horizontes Fragipans, Duripans, rstein, Crosta latertica e Caliche. O diagnstico da camada adensada, sua caracterizao e implicaes quanto ao uso e manejo do solo, so objeto de estudo dos profissionais da rea de gnese, morfologia e classificao de solos. Assim sendo, nesse captulo a nfase ser dada caracterizao da Camada Compactada, A compactao do solo agrcola de grande importncia pois vai provocar alteraes em seu interior, modificando assim, boa parte do ambiente fsico no qual se desenvolve a cultura. Nos ltimos anos, com o despertar de uma agricultura intensiva, estabelecida em cronogramas de trabalho bem definidos e apertados, tem-se observado uma intensa movimentao de mquinas e equipamentos agrcolas para o manejo do solo e plantio das culturas. Tambm tem-se verificado um acrscimo indiscriminado de peso e potncia dos tratores utilizados, devido falta de um critrio no dimensionamento e na seleo dos implementos por parte dos agricultores quando da sua aquisio. Tais situaes tm contribudo para um aumento de rea com problemas de compactao. 4.1. Diagnstico da compactao do solo De acordo com JORGE (1986) no difcil reconhecer no campo os sintomas de compactao dos solos. Estes sinais aparecem tanto no prprio, solo como nas plantas que se desenvolvem sobre ele. Entretanto, deve haver cuidado para no confundir os sintomas similares causados por seca, deficincias nutricionais, toxidez de alumnio ou mangans, nematides, etc. Dos sintomas observados diretamente nos solos compactados, destacam-se: a) formao de crostas; b) trincas nos sulcos de rodagem dos tratores; c) zonas endurecidas abaixo da superfcie; d) empoamento de gua; e) eroso pluvial excessiva; f) necessidade de maior potncia nas mquinas de cultivo; g) presena de resduos vegetais parcialmente decompostos muitos meses aps sua incorporao.
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Quanto aos sintomas visuais mais frequentemente notados nas plantas, podem ser citados os seguintes: a) baixo ndice de emergncia das plantas; b) grande variao no tamanho das plantas; c) folhas amarelecidas; d) sistema radicular pouco profundo; e) razes mal formadas.
De acordo com CAMARGO (1983) esses sintomas traduzem uma maneira prtica, rpida e fcil de se estimar a compactao. Entretanto, h necessidade de se avaliar a compactao quantitativamente e isso pode ser feito por meio da determinao da Densidade do Solo, Porosidade, Infiltrao de gua e Resistncia ao Penetrmetro. Pode-se afirmar com bastante segurana que a determinao da Densidade do Solo se constitui no melhor mtodo de avaliao da compactao do solo, tanto pela excelente correlao que esta apresenta com a resposta da planta, quanto pela simplicidade de determinao. A literatura repleta de estudos mostrando essa associao. A Figura 4. l., mostra o comportamento de mudas de eucalipto frente a vrios nveis de compactao do solo. Observa-se que medida que se aumenta o valor da Densidade do Solo as mudas diminuem seus tamanhos, ficam mais raquticas e produzem menores quantidades de matria seca tanto da parte area quanto do sistema radicular. A resistncia do solo penetrao de um penetrmetro um indicador secundrio da compactao, no sendo uma medio fsica direta de qualquer condio do solo. De acordo com CAMARGO (1983) uma srie de cuidados devem ser tomados, quando utiliza-se o penetrmetro e lista alguns itens que se observados podero evitar problemas: a umidade do solo pode mascarar diferenas de densidades; a resistncia ao penetrmetro influenciada pela textura; a utilidade do penetrmetro na medida da compactao do solo limitada a medidas feitas para o mesmo solo mesma umidade; a maioria dos penetrmetros tm dimetro maior do que as pores das razes que esto se alongando; a ponta das razes tem normalmente camadas de mucilagem que reduzem o coeficiente de frico na superfcie de contato com o solo comparado ao do penetrmetro; a raiz se deforma facilmente enquanto que a ponta do penetrmetro rgida; deve-se tomar cuidado ao usar penetrmetro em solos pedregosos e, penetrmetros diferentes, em solos iguais, do medidas diferentes da resistncia do solo.
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Figura 4.1. Efeitos de nveis de compactao do solo sobre parmetros indicativos do desenvolvimento de mudas de Eucalyptus citridora (ALVES & FERREIRA, no prelo).
O solo como meio para o crescimento das plantas dependente no somente da presena de nutrientes minerais, mas tambm do estado e movimento da gua e ar e de atributos mecnicos. Isto significa dizer que em adio fertilidade qumica, o solo deve tambm possuir a "fertilidade fsica", ambos atributos de igual essencialidade para a produtividade dos solos. A Compactao do Solo, tanto na superfcie como no subsolo, pode reduzir a produtividade e o lucro. Um dos aspectos lamentveis deste problema que poucos agricultores esto conscientes dos efeitos da Compactao e de como diagnostic-la.
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nas relaes solo-planta. Solos bem agregados possuem maior porosidade do que solos pobres em agregao, o que resulta numa mais rpida penetrao e percolao da gua da chuva, alm de favorecer a troca gasosa entre o solo e a atmosfera. Alm de exercer grande controle sobre o ambiente fsico do solo, a atividade biolgica substancialmente influenciada pela estrutura. No geral, solos bem agregados conferem melhores condies para o desenvolvimento das plantas. Tais solos oferecem menores restries mecnicas ao desenvolvimento da raiz e emergncia da planta. A atividade microbiana, incluindo nitrificao, aumentada e a fauna do solo mais variada e numerosa. Todavia, nessas relaes solo-planta no significativo o fato de um determinado solo apresentar estrutura em blocos, prismtica ou colunar; a significao est na distribuio e tamanho dos poros, devido ao arranjo das partculas slidas do solo. Evidentemente, uma vez conhecido o efeito da disposio das partculas do solo, preciso determinar a sua permanncia. Em outras palavras, equivale a dizer conhecer a estabilidade de uma determinada disposio das partculas slidas do solo. H solos que, embora apresentando estruturao semelhante tm propriedades distintas. A diversidade da natureza das partculas texturais e da composio dos agregados destes solos pode explicar este Comportamento. , portanto, importante que a avaliao das propriedades do solo, devidas sua estrutura, seja conduzia sob um ponto de vista definido; que os efeitos da estruturao sejam medidos numericamente e que a natureza e composio das partculas que o compem, sejam determinadas. 5.1. Definies de estrutura do solo
a) "Estrutura do solo refere-se agregao das partculas primrias do solo em unidades compostas ou agrupamentos de partculas primrias, que so separadas de agregados adjacentes por superfcies de fraca resistncia" (Soil Survey Manual, 1951). b) "Estrutura do solo o arranjamento das partculas do solo e do espao poroso entre elas; incluindo ainda o tamanho, forma e arranjamento dos agregados formados quando partculas primrias se agrupam, em unidades separveis" (Marshall, 1962).
A definio de Estrutura do Solo apresentada na letra (a) de sentido morfolgico e gentico, com conotao puramente descritiva. Esta a maneira como estudiosos da rea de gnese, morfologia e classificao visualizam a estrutura do solo, sendo necessria ainda uma melhor definio da forma geomtrica dos agregados (grnulos, blocos, prismas, lminas, etc.). No h nesse caso qualquer preocupao de associao da estrutura ao comportamento do solo como meio de crescimento das plantas. J na definio apresentada na letra (b) o sentido da estruturao do solo tende para um aspecto funcional da estrutura, no estabelecimento do sistema poroso do solo. Alm desse aspecto, est embutido na definio da letra (b) um carter dinmico da estrutura,
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no sentido de que esta pode ser modificada, caso haja alterao na disposio das partculas do solo. 5.2. Natureza e desenvolvimento da estrutura do solo A formao da estrutura do solo envolve processos diferentes, porm complementares. O pr-requisito para a agregao que a argila esteja floculada. Entretanto, a floculao uma condio necessria mas no suficiente. A coerncia das partculas em unidades estruturais ou agregados requer a presena de substncias cimentantes, contudo, esses dois fatores (floculao e cimentao) no explicam o aparecimento dos variados tipos de estruturas existentes. O tipo de estrutura particular de determinado solo conseqncia dos processos gerais de desenvolvimento do mesmo. Assim sendo, os fatores de formao do solo material de origem, clima, organismos e relevo - podem todos influenciar o aparecimento de uma dada estrutura. Para HILLEL (1982), a estrutura do solo fortemente afetada por mudanas no clima, atividade biolgica e prticas de manejo do solo, sendo ainda vulnervel a foras de natureza mecnica e fsico-qumica. Devido a isto, acrescenta o autor, no existe um mtodo objetivo ou universal aplicvel para se avaliar a estrutura do solo propriamente dita, denotando o termo um conceito qualitativo, ao contrrio de uma propriedade diretamente quantificvel. De acordo com MARCOS (1968) embora, no estudo da estruturao do solo, os agregados sejam separados, sua estabilidade avaliada e sua formao extensamente estudada, no h conhecimento de alguma lei ou princpio comandando a sua formao, tamanho e composio. Um dos modelos de agregao existentes e que tem aceitao universal aquele proposto por EMERSON (1959), Figura 5.1. Neste modelo gros de quartzo, "domnio argiloso" e matria orgnica se arranjam de vrias maneiras formando um agregado de solo. Considerando-se as variaes da natureza tanto do "domnio argiloso" quanto da matria orgnica, pode-se perceber a multiplicidade de interaes e situaes que podero surgir. Este fato dificulta o surgimento de uma, teoria nica a respeito de formao de um tipo particular de estrutura. Em que pese a incontestvel reputao do modelo de EMERSON (1959), a sua aceitao para os solos brasileiros, notadamente para os latossolos, requer algumas modificaes.
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TIPOS DE LIGAES: (A) QUARTZO - MATRIA ORGNICA QUARTZO (B) QUARTZO MATRIA ORGNICA DOMNIO ARGILOSO (C) DOMNIO MAT;ERIA ORGGNICA DOMNIO (D) DOMNIO LADO DOMNIO - FACE
Figuras 5.1. Arranjamentos possveis de partculas de quartzo, "domnio argiloso" e matria orgnica num agregado de solo, segundo EMERSON (1959).
Evidncias de campo associadas a resultados analticos no especficos, convergem para o modelo de estruturao proposto por RESENDE (1982). Segundo esse modelo, os xidos de Fe e Al, notadamente goethita, hematita e gibbsita, tendem a desorganizar as partculas ao nvel microscpico. Assim, ao maior teor destes constituintes, corresponder um maior grau de desorganizao e consequentemente, uma estrutura mais prxima do tipo granular. luz do conhecimento atual, parece no haver dvidas quanto validade desta proposta, contudo h necessidade de se promover uma melhor estratificao com respeito participao de cada um destes componentes. Associando os modelos de EMERSON (1959) e RESENDE (1982) e ainda com o desenvolvimento de estudos especficos, envolvendo inclusive a rea de micromorfologia, FERREIRA (1988) props dois modelos distintos para a estruturao dos latossolos brasileiros, representados pelas Figuras 5.2. e 5.3. A Figura 5.2., apresenta os arranjamentos de partculas na formao de um agregado de um latossolo com predomnio de gibbsita na sua frao argila. Estudos micromorfolgicos revelam que a distribuio dos gros de quartzo em relao ao plasma segue o padro "agglutinic", ou seja, apresenta desenvolvimento de microestrutura com predomnio de poros de empacotamento compostos. Esse modelo para latossolo gibbstico implica no surgimento de estrutura do tipo granular.
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A GIBBSITA B XIDO DE Fe
GOETHITA HEMATITA
Figura 5.2. Arranjamentos de partculas de Quartzo, Gibbsita e xidos de Fe num agregado de material latosslico
GOETHITA HEMATITA
Figura 5.3. Arranjamentos de Quartzo, Caulinita, xidos de Fe e Matria Orgnica num agregado de material latosslico
A Figura 5.3., apresenta o modelo de estruturao de um latossolo com predomnio de caulinita na sua frao argila. A avaliao micromorfolgica revela que a distribuio dos gros de quartzo em relao ao plasma eminentemente porfirogrnica, isto , os
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gros esto envoltos num plasma denso, contnuo, com pouca tendncia ao desenvolvimento de microestrutura. O modelo caulintico implica no surgimento de estrutura em blocos. 5.3. Avaliao da estrutura A literatura farta de trabalhos relatando tentativas de caracterizao da estrutura pela anlise de agregados. O objetivo principal desses estudos o relacionamento entre eroso e distribuio e estabilidade dos agregados do solo. Entretanto, o que se buscar a seguir a avaliao indireta da estrutura do solo por meio do comportamento de algumas propriedades fsicas. Para tanto, necessrio se fixar nos modelos propostos por FERREIRA (1988). 5.3.1. Densidade Aparente
Conforme explicitado no modelo para os latossolos caulinticos, a medida que se elevam os teores deste constituinte o plasma do solo se torna mais denso, contnuo e sem evidncias do desenvolvimento de microestrutura. Consequentemente, a medida que se aumenta o teor de caulinita, a densidade aparente do solo se modifica na mesma direo (Figura 5.4.). Esse comportamento afetar a distribuio de poros por tamanho, a dinmica da gua no perfil e conseqentemente poder, em casos mais extremos, restringir o desenvolvimento do sistema radicular de plantas mais sensveis.
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5.3.2. Porosidade Total e Distribuio de Poros por Tamanho Conforme apontado no captulo 3, o conhecimento da porosidade total pouca informao oferece em termos de comportamento do solo, principalmente quando esta calculada ao invs de determinada experimentalmente. Por outro lado, o importante o conhecimento da distribuio de poros por tamanho. Dentro deste conceito, a decomposio do tamanho de poros em latossolos com diferentes constituies mineralgicas revela que a medida que se aumenta o teor de gibbsita aumenta-se a quantidade de macroporos. O inverso acontece para latossolos caulinticos. 5.3.3. Condutividade Hidrulica do Solo Saturado A condutividade hidrulica do solo saturado ou permeabilidade, funo da distribuio de poros por tamanho, variando diretamente com o contedo de macroporos. Para os latossolos brasileiros, conforme anotado anteriormente, o teor de macroporos covaria co o teor qibbsita. Assim, os latossolos gibbsticos so os que apresentam os maiores valores de condutividade hidrulica. Situao inversa ocorre para os latossolos caulinticos (Figura 5.5.). Deve-se ressaltar que essas duas situaes so contempladas no modelo de estrutura proposto por FERREIRA (1988) sendo as mesmas funo do arranjamento micromorfolgico dos constituintes da frao slida do solo.
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5.3.4. Estabilidade de Agregados Desde h muito, percebeu-se que a impossibilidade da avaliao da estrutura quantitativamente poderia ser contornada pela chamada anlise de agregados. Esta anlise, para a qual a diversos mtodos, resume-se na mensurao da distribuio de agregados agrupados em classes de dimetros arbitrrias e segundo um critrio varivel de estabilidade. Dentre os vrios mtodos, o mais divulgado o de TIULIN, modificado por YODER. Quando se analisa a estabilidade dos agregados pelo mtodo do peneiramento em gua observa-se que os latossolos caulinticos, embora mais coesos em condio de campo, apresentam relativamente baixa estabilidade de agregados. A massa de agregados se desfaz completamente, refletindo uma elevada erodibilidade do solo (Figura 5.6.). Ao contrrio, os latossolos gibbsticos apresentam seus agregados mais estveis em gua. Estas evidncias parecem apresentar validade universal para o conjunto de latossolos brasileiros.
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6 - A GUA NO SOLO
A gua uma das mais. importantes substncias da natureza. Essa importncia comea a se evidenciar j na prpria origem do solo, pelo fato de ser um dos mais ativos agentes do intemperismo das rochas e minerais. De acordo com REICHARDT (1978) a gua fator fundamental na produo vegetal. Sua falta ou seu excesso afetam de maneira decisiva o desenvolvimento das plantas e, devido a isto, seu manejo racional fundamental na maximizao da produo agrcola. Qualquer cultura, durante seu ciclo de desenvolvimento, consome um enorme volume de gua, sendo que cerca de 98% deste volume apenas passa pela planta, perdendo-se posteriormente na atmosfera pelo processo de transpirao. Este fluxo de gua , porm, necessrio para o desenvolvimento vegetal e por este motivo sua taxa deve ser mantida dentro de limites timos para cada cultura. O reservatrio desta gua o solo que temporariamente armazena gua, podendo fornec-la s plantas medida de suas necessidades. Como a recarga natural deste reservatrio (chuva) descontnua, o volume disponvel s plantas varivel. Quando as chuvas so excessivas sua capacidade de armazenamento superada e grandes perdas podem ocorrer. Estas perdas podem ser por escorrimento superficial, provocando ainda a eroso do solo ou por percolao profunda, indo se perder no lenol fretico. Esta gua percolada perdida do ponto de vista da planta, mas ganha do ponto de vista dos aquferos subterrneos. 6.1. Reteno de gua pelo solo A propriedade do solo de atrair e reter a gua no estado lquido em forma de vapor o resultado da ao conjunta e complexa de uma srie de fatores. O fato de a molcula de gua se constituir em um dipolo eltrico e a partcula do solo ser eletricamente carregada, faz com que a gua se oriente para ser retida. Nesta interao solo-gua verifica-se a influncia das foras de Adsoro do solo, ou seja, a adeso e coeso. A pelcula mais fina de gua que est em ntimo contato com a partcula slida retida por adeso, enquanto que as demais pelculas de gua a partir dessa mais fina so retidas por coeso. Alm da adsoro, deve-se lembrar ainda que, no solo, o espao poroso bastante semelhante a tubos capilares, surgindo tambm no fenmeno de reteno de gua pelo solo a ao dos fenmenos de Capilaridade, A Figura 6.1., ilustra esses dois mecanismos responsveis pela reteno de gua p[elo solo A capilaridade atua na, reteno de gua dos solos na faixa mida, querido os poros se apresentam razoavelmente cheios de gua. Quando o solo se seca, os poros se esvaziam e filmes de gua recobrem as partculas slidas. Nestas condies, o fenmeno de adsoro passa a dominar a reteno de gua. A energia de reteno de gua nessas condies muito elevada, sendo difcil a retirada- da gua do solo. Segundo REICHARDT (1987) muitos fatores afetam a reteno da gua em um solo. Segundo o autor, o principal deles a textura do solo, pois ela, diretamente determina a rea de contato entre as partculas slidas e a gua e determina as
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propores de poros de diferentes tamanhos. A estrutura tambm afeta a reteno de gua, pois ela determina o arranjo das partculas, que por sua vez vai determinar a distribuio de poros. A textura refere-se apenas a tamanho de partcula e, alm de tamanho, tambm de grande importncia na reteno de gua a Qualidade do material, principalmente das argilas. Existem argilas que, devido s suas caractersticas cristalogrficas, tm timas propriedades de reteno de gua. Alguns exemplos so a montmorilonita, a vermiculita e a ilita. Outras argilas, como a caulinita e a gibbsita, j no apresentam boas propriedades de reteno de gua. A matria orgnica tambm fundamental na reteno de gua pelo solo.
A gua retida pelo solo pode ser medida, e o resultado a umidade do solo. A umidade pode ser medida base de peso ou base de volume. Umidade base de peso "U":
U% =
x 100
x 100
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Em algumas situaes h necessidade de se expressar a umidade do solo de um modo em particular assim, para converso dos resultados podemos utilizar a seguinte expresso: % = U % x Ds, onde Ds representa a Densidade do solo
6.2. Potencial total da gua no solo O estudo da gua do solo conforme apresentado foi de natureza capacitiva (quantitativa) apenas. Segundo REICHARDT (1978) estes conceitos capacitivos so conceitos estticos que fornecem apenas uma viso parcial do problema. So conceitos necessrios, muito teis, mas no suficientes. Alm do conhecimento destas grandezas capacitivas, de fundamental importncia conhecer o estado termodinmico da gua, ou seja, saber se ela se encontra em equilbrio ou se movendo em determinada direo segundo determinada taxa. Para isto, torna-se necessrio o conhecimento do estado de energia da gua. A Fsica clssica reconhece duas formas principais de energia, a cintica e a potencial. A energia cintica, que proporcional ao quadrado da velocidade, geralmente desprezvel para o caso da gua no solo que se move a velocidades baixssimas, da ordem de alguns cm por dia. Por outro uma funo da posio e condio interna da gua, de primordial importncia na caracterizao de seu estado de energia. O potencial total da gua uma medida de sua energia potencial. A energia da gua em dado ponto no solo dada pela diferena entre este estado e o estado padro. Como estado padro, tem-se a gua pura e livre, submetida a condies normais de temperatura e presso. Seria o caso do estado da gua contida em um copo, vasilha ou mesmo represa desde que suficientemente pura. Para este estado atribuiu-se arbitrariamente o valor de sua energia como nulo. T (padro) = 0
Geralmente no solo, na planta e na atmosfera, a energia da gua menor que no estado padro e seus potenciais so negativos. Diferenas de energia entre dois estados so medidos atravs do trabalho que realizado quando se passa de um estado para outro. Assim, o Potencial total (T) da gua tambm definido como sendo o trabalho necessrio para levar a gua do estado padro ao estado considerado no solo. Ele, geralmente, o resultado de uma srie de
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fenmenos ligados interao entre a gua e o solo. Este trabalho, ento, separado em diversos componentes: T = g + p + m + os + ...
sendo: g = componente gravitacional p = componente de presso m = componente matricial os = componente osmtica Componente Gravitacional (g): A componente gravitacional refere-se a trabalhos gravitacionais que sempre esto presentes quando se transporta gua dentro de nosso campo gravitacional. Sua determinao feita medindo-se uma altura a partir de um referencial arbitrrio escolhido antecipadamente. Geralmente toma-se como referencial a superfcie do solo. Seu sinal ser positivo (+) se o ponto estiver acima do referencial (gua folha de uma planta) e negativo (-) abaixo do referencial (gua no interior do solo). Componente de Presso (p): A componente de presso refere-se a trabalhos realizados contra presses diferentes da presso do estado padro, ou seja, diferentes da presso atmosfrica. Seu valor ser sempre positivo. Por exemplo, gua no seio lquido de uma barragem encontra-se sob presses positivas, isto , est submetida a uma carga hidrulica (h). Assim, p = h. Imaginemos agora um solo saturado com uma carga de 20 cm de gua, como o caso tpico de uma cultura de arroz por inundao. Um ponto situado a 50 cm de profundidade a partir da superfcie do solo teria uma componente de presso igual carga total que atua sobre ele, isto , 20 + 50 cm: p = 70 cm H2O Componente Matricial (m): A componente matricial frequentemente denominada de potencial capilar, potencial de tenso, suco ou presso negativa. A componente ou potencial matricial o resultado de foras capilares e de adsoro que surgem devido interao entre a gua e as partculas slidas, isto ,
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matriz do solo. Estas foras atraem e "fixam" a gua no solo, diminuindo sua energia potencial com relao gua livre. Devido sua complexidade, a componente matricial no pode ser determinada facilmente como g e p. Sua medida feita experimentalmente por meio de tensimetros, extratores de membrana ou placa porosa e funil de placa porosa. Seu valor sempre negativo e ser nulo quando o solo estiver saturado. A Figura 6.2., ilustra esquematicamente um tensimetro com manmetro de mercrio. A determinao da componente matricial usando esse tensimetro obtida pela expresso: m = -12,6 h + h1 + h2 , onde: h, h1 e h2 so alturas em cm. O valor de m ser encontrado na unidade cm H2O.
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Para cada amostra de um solo homogneo, m tem um valor caracterstico para cada teor de umidade. O grfico de m em funo de (umidade em volume) , ento, uma caracterstica da amostra e comumente denominada "Curva Caracterstica da Umidade do Solo" ou simplesmente, "Curva de Reteno", (Figura 6.3.) Para altos teores de umidade, nos quais fenmenos capilares so de importncia na determinao de m, a curva caracterstica depende da geometria da amostra, isto , do arranjo e das dimenses dos poros. Ela passa, ento, a ser funo da densidade do solo o da porosidade. Para baixos teores de umidade, o potencial matricial praticamente independe de fatores, geomtricos, sendo importante a capacidade de adsoro do solo.
Figura 6.3.Curvas Caractersticas da Umidade do Solo Conhecendo-se a curva caracterstica de um solo, pode-se estimar m conhecendo-se ou vice-versa. Na prtica, a determinao de bem mais simples, de tal forma que medido e m estimado pela curva de reteno. Desde que a geometria do sistema no varie com o tempo, a curva caracterstica nica e no precisa ser determinada em cada experimento. Componente Osmtica (os): A componente osmtica refere-se a trabalhos qumicos, isto , a energias ligadas interao solvente (gua) e soluto (sais minerais do solo). O valor de os idntico presso osmtica da soluo.
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No caso da gua no solo, torna-se necessria a extrao da soluo do solo e a medida de sua concentrao salina. Este procedimento tem suas falhas, mais o mais prtico existente. Atravs da concentrao salina mdia da soluo do solo (mol/l) podese estimar os pela equao de Vant Hoff: os = - RTC
As unidades utilizadas para se expressar o potencial total da gua no solo apresentam as seguintes relaes:
7.1.1. Conceitos Clssicos Segundo critrios estabelecidos classicamente, a expresso gua Disponvel" foi definida como sendo o intervalo de umidade compreendido entre a Capacidade de Campo (CC) e o Ponto de Murchamento Permanente (PMP), respectivamente os limites superior e inferior de disponibilidade. De acordo com HILLEL (1982), o conceito de disponibilidade de gua no solo foi durante muitos anos motivo de controvrsia entre os seguidores de diferentes escolas. VEIHMEYER & HENDRICKSON (1927) afirmavam que a umidade do solo igualmente disponvel desde o correspondente Capacidade de Campo at o correspondente ao Ponto de Murchamento Permanente, e que as funes da planta prosseguem normalmente enquanto a umidade do solo permanece acima do PMP. Segundo tal ponto de vista, somente quando o PMP alcanado que a atividade da planta decresce, em geral abruptamente. Outros investigadores entretanto, notadamente Richards & Wadleigh citados por HILLEL (1982), discordam deste ponto de vista e afirmam que a disponibilidade de gua
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diminui gradualmente com o decrscimo do teor de gua no solo, podendo as plantas sofrerem "stress" muito antes de comearem a murchar, Outros investigadores procuram uma posio intermediria apresentando uma faixa de umidade "prontamente disponvel" separada, por um "ponto crtico", da faixa de umidade "decrescentemente disponvel. A Figura 7.l., sumariza as diferentes hipteses apresentadas para o comportamento da "gua Disponvel".
Figura 7.1. Hipteses clssicas sobre disponibilidade de gua no solo para as plantas.
De acordo com HILLEL (1970) nenhuma das escolas mencionadas foi capaz de basear sua hiptese em uma estrutura teoricamente compreensvel, que pudesse levar em considerao o conjunto de fatores que afetam o regime hidrulico do sistema solo planta - atmosfera como um todo. Devido a estas controvrsias, RANDO (1981) resolveu propor a utilizao da expresso gua para Irrigao para representar a gua retida entre as umidades correspondentes Capacidade de Campo e ao Ponto de Murchamento Permanente. 7.1.2. Conceito Moderno de gua Disponvel Segundo HILLEL (1970), nas duas ltimas dcadas ocorreu uma mudana fundamental na concepo das interrelaes do sistema solo planta - gua. Foi aberto o caminho para uma abordagem mais bsica do problema, graas ao desenvolvimento da compreenso terica do estado e do movimento da gua no solo, na planta e na atmosfera; e ao gradual desenvolvimento de tcnicas experimentais que possibilitaram fosse realizada a medio mais precisa das interrelaes de potencial, condutividade hidrulica, contedo e fluxo de gua tanto no solo como na planta. Tais progressos conduziram ao abandono do conceito clssico de "guas disponvel" em seu sentido original. Atualmente a disponibilidade de gua do solo s plantas vista de maneira dinmica, podendo variar de situao para situao, para o mesmo solo e a mesma
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planta. GARDER (1960). Dentro do contexto atua, REICHARDT (1978) define a disponibilidade de gua da seguinte maneira: "toda vez que o fluxo de gua do solo para a raiz for de uma intensidade tal que supre a demanda de gua da planta e da atmosfera, a gua disponvel. Este conceito de disponibilidade de gua bastante amplo. Ele mostra que qualquer fator que afeta a mobilidade da gua, afeta sua disponibilidade. Estes fatores podem ser do solo, da planta e da atmosfera. 7.2. Fatores que afetam a disponibilidade de gua para as plantas Conforme mencionado anteriormente, nos dias atuais a disponibilidade de gua afetada por fatores ligados ao solo, atmosfera e prpria planta. Esquematicamente pode-se lanar mo do modelo proposto por REICHARDT (1978), que mostra a interrelao do sistema solo - planta - atmosfera, no conceito de disponibilidade de gua s culturas, (Figura 7.2.).
7.2.1. Fatores Ligados ao Solo No solo, o movimento da gua de A para B (Figura 7.2.) regido pela equao de Darcy:
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De acordo com esta equao a gua move-se sempre que existirem diferenas de potencial total () da gua nos diferentes pontos do sistema. Este movimento d-se no sentido do decrscimo do potencial (), isto , a gua sempre se movimenta de pontos de maior potencial para pontos de menor potencial. Desta feita, o movimento de A para B depende de inmeros fatores tais como: umidade, textura, porosidade, densidade do solo, etc., e todas as suas variaes nos horizontes do perfil. Neste particular, as avaliaes so mais acuradas estudando-se as curvas caractersticas reteno de umidade do solo. Segundo FREIRE (1975) as curvas caractersticas so especficas para cada solo, podendo ocorrer variaes entre horizontes de um mesmo perfil de solo. Acrescenta ainda que, a representao em curva, da reteno de umidade, permite uma avaliao precisa e rpida da disponibilidade de umidade dos solos para as plantas. Um fator da planta que tambm afeta a quantidade de gua que chega at s razes e a forma, o tamanho e a distribuio do sistema radicular. 7.2.2. Fatores da Planta Na Figura 7.2., o movimento da gua de B para C, no interior da planta, varia pouco para uma mesma cultura, segundo REICHARDT (1978). Doenas fngicas, viroses, etc., podem afetar as propriedades de conduo de gua do xilema. A Figura 7.3., apresenta diagramaticamente a resistncia oferecida pela planta passagem da gua do solo atmosfera. RUSSELL (1977) aponta que a transpirao em condies normais, domina o processo, mas esta no o nico fator responsvel pelo movimento da gua nas plantas. Acrescente ainda que em plantas mantidas em atmosfera mida, o movimento da gua no cessa e em algumas espcies h perda de gua atravs do fenmeno de gutao. esta ocorrncia atribui-se a existncia de um gradiente de potencial criado por foras osmticas. Por outro lado, GARDNER (1973) afirma que quando o potencial da gua no solo se encontra na faixa de 0 a 1 bar, a condutncia estomtica mais profundamente influenciada pela taxa de transpirao do que pelo potencial da gua no solo. Segundo seu raciocnio, aumentando-se a taxa de transpirao, diminui-se a resistncia estomtica. Se estes estmatos limitarem a absoro de CO2, a taxa de crescimento diminui. Neste caso particular, a separao da evapotranspirao em transpirao das
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folhas e evaporao atravs da superfcie do solo pode facilitar o entendimento do balano hdrico dentro de uma comunidade vegetal.
Figura 7.3.Resistncias do sistema solo - planta - atmosfera passagem da gua (REICHARDT, 1979)
O relacionamento entre gua disponvel e a taxa de evapotranspirao e drenagem foi feita por MILLER & AARSTAU (1971). Segundo esses autores, em condies normais, com a evapotranspirao reduzida e ocorrendo drenagem profunda livre, pode-se obter uma estimativa razovel da gua disponvel a partir dos dados da capacidade de campo convencional. Os mesmos autores observaram em 1973, que o aumento da disponibilidade de gua atravs do decrscimo da taxa de evapotranspirao, relativamente maior em solos arenosos que em solos de textura fina. 7.2.3. Fatores Ligados Atmosfera Na atmosfera, o movimento da gua de C para D (Figura 7.2.), d-se na fase de vapor e sensivelmente afetado pelas condies atmosfricas. A radiao solar fornece a energia para o processo de evaporao e o vento e a umidade relativa afetam diretamente o transporte do vapor dgua da folha para a atmosfera (REICHARDT,1978). Embora a transferncia de gua da planta at atmosfera requeira para seu entendimento bom embasamento termodinmico, grosseiramente pode-se associar este
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mecanismo com o processo de transpirao das plantas. Trabalhos nesta direo tomaram impulso a partir dos estudos de PENMAN citado por RUSSELL (1977). A transpirao vem a ser a perda de gua pelas plantas, atravs de sua parte area, na forma de vapor. Assim, alm dos fatores j mencionados, ela consequncia da arquitetura das folhas e da conformao da parte area da maioria das plantas. Uma folha isolada pode ser considerada como uma superfcie de clulas fisiologicamente ativas, em contato com um reservatrio de gua (o solo) atravs de um sistema vascular. As clulas midas do mesfilo transferem gua por evaporao para os espaos intercelulares. O vapor dgua, por difuso, alcana as cmaras subestomticas e os estmatos, por onde passa para a atmosfera externa. Sob condies de alta umidade relativa e na ausncia do vento, o processo de difuso lento e a perda de gua pequena. Sob condies de baixa umidade relativa, presena de ar em turbulncia, o vapor d'gua rapidamente removido da rea que envolve a folha, a difuso aumentada, assim como aumenta acentuadamente a taxa de transpirao. Fatores tais como luz, teor de dixido de carbono, absoro de solutos (principalmente potssio) determinam a turgidez das clulas estomticas e a abertura dos estmatos tanto maior, quanto mais trgidas estiverem as clulas, (REICHARDT, 1979). Conforme pode ser observado, a avaliao da disponibilidade de gua para as culturas constitui-se tarefa das mais laboriosas. De um lado tem-se a avaliao embasada nas determinaes da Capacidade de Campo e Ponto de Murchamento Permanente, tidos como constantes da gua do solo, mas cuja validade dos mesmos tem sofrido severas crticas por parte dos estudiosos da dinmica da gua no solo. De outra parte, encontrasse a disponibilidade como funo complexa da transferncia da gua dentro do sistema solo plante atmosfera. Desta feita, percebe-se que este sistema permite um infinito nmero de combinaes, o que dificulta que se tenha uma avaliao precisa e definitiva da quantidade de gua que realmente se encontra disponvel para as plantas.
8 - LITERATURA CITADA
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