A Indústria Automobilística Sob Enfoque Estático e Dinâmico - Uma Análise Teórica

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A INDSTRIA AUTOMOBILSTICA SOB ENFOQUE ESTTICO E DINMICO: UMA ANLISE TERICA AUTOR ELOI MARTINS SENHORAS Universidade Estadual

de Campinas - UNICAMP [email protected] Resumo O setor automobilstico, em toda sua histria, tem sido um importante agente que influencia na organizao territorial e na criao de padres de desenvolvimento empresarial, agindo como um vetor da ordem tcnica e dos fluxos internacionais de produo vigentes em cada perodo. Frente a tais caractersticas do setor automotivo internacional e nacional, as tradicionais teorias do comrcio internacional e do desenvolvimento empresarial vem-se reduzida para explicar os crescentes movimentos de mercadorias e capitais a escala mundial. Nesse cenrio, este paper prope-se a uma teorizao mais pragmtica que destaque elementos explicativos tais como a cronologia da inovao ou brecha tecnolgica, economias de escala e formao de redes de empresas. Palavras chaves: desenvolvimento empresarial, setor automotivo, rede de empresas. Abstract The automotive sector has been overtime an influent agent, promoting changes in the organization of the territories and in the creation of patterns of business development, and representing a vector of the technical order and the international fluxes of production. Due to these characteristics, the traditional theories of international trade and business development show few arguments to explain the growing movements of goods and capital in a world scale. In this frame, this article proposes a more pragmatic theorization, to highlight theorical elements as such the innovation chronology, the technological gaps, the economy of scales and the formation of enterprise networks. Keywords: business development, automobilistic sector, networks.

1 - Introduo Considerada como um dos setores industriais mais dinmicos, a indstria automobilstica mundial composta por um oligoplio global de empresas internacionalizadas onde so grandes as barreiras econmicas e tecnolgicas entrada de novos competidores. O setor automobilstico sempre se caracterizou por empresas de grande porte, disseminando inovaes na produo e nos produtos, que influenciaram muitos outros setores da economia e a organizao dos espaos, comeando pela Ford nos EUA com o Fordismo no incio do sculo XX at a Toyota com o Toyotismo-Just-in-time na dcada de 1970. Atualmente, com o seu amplo capital empregado em inovaes e adaptaes informacionais, um dos setores da economia mais caracterstico do meio tcnico-cientfico-informacional global. Neste processo recente de reestruturao, existe intensa desverticalizao das cadeias produtivas, reduzindo os riscos para os projetos de investimentos das grandes corporaes, personalizao dos produtos, representada pelo processo just in time, ganhos de escopo e

concentrao do processo de inovao tecnolgica nas unidades produtiva das economias capitalistas centrais, determinando s filiais, localizadas nas economias perifricas, o processo de fabrico e montagem de produtos, seguindo a lgica de expanso de empresas transnacionais e conseqentemente pela internacionalizao dos mercados alm de intensa desregulamentao financeira e, a posteriori, comercial, elevando a necessidade de competitividade das empresas em nvel internacional. Com isso, a indstria automobilstica demonstra historicamente que est constantemente reformulando suas estratgias, de acordo com os lugares onde atuam, com novos acrscimos em cincia e tecnologias cada vez mais flexveis e adaptveis s oscilaes do mercado competitivo, segundo novas estruturas de governana. 2 - Caracterizao Estrutural do Setor Automotivo A dinmica de qualquer setor produtivo de uma economia, assim como as relaes de demanda e oferta, que permeiam essa dinmica, so resultados da interao existente entre o meio institucional, onde a indstria est inserida, e a estrutura produtiva da indstria. No caso da indstria automobilstica, ela construda sobre uma base bastante singular e a compreenso da suas caractersticas passa obrigatoriamente pelo entendimento das caractersticas especficas do processo de produo, comercializao e do consumo de automveis. Cada uma das etapas produtivas da indstria automotiva pode ser realizada sem que exista uma continuidade fsica entre elas, possibilitando s grandes empresas verticalizadas posicionarem estrategicamente seus recursos geograficamente, com diferentes etapas esparadas intra e interpases segundo custos, e valor agregado. O setor automotivo caracteriza-se como um oligoplio concentrado e diferenciado, segundo a formulao proposta por Labini (1986) e Possas (1985), uma vez que representado por poucos grandes grupos empresariais, com alto volume de capital, e uma elevada gama de produtos diferenciados. O processo de concentrao possui, como seu aspecto principal a criao de descontinuidade tecnolgica considervel e obteno de economias de escala, exercendo um papel importante na produo com custos decrescentes devido a uma maior eficincia tcnica de produo. Tabela I - Caracterstica Estruturais da Indstria Automobilstica
Oligoplio Concentrado+Diferenciado=Oligoplio Misto Bens durveis de consumo, cujos insumos bsicos e bens de capital Setor padronizados requerem economias de escala e de escopo. Diferenciao do As economias de escopo so to importantes quanto s economias de escala no valor final do produto. produto Alta concentrao tcnica devido: a) economia tcnica de escala; b) Economia de elevado montante de capital inicial mnimo; e c) facilidade de acesso Escala tecnologia e insumo. Combina planejamento do excesso de capacidade com a busca de diferenciao e inovao do produto, como forma de ampliar o Formatos mercado. de Estratgia A concorrncia via preo, embora no seja descartada, no habitual, Concorrencial pois alm de por em risco a estabilidade do mercado, a margem rgida faixa, por conta do esforo de vendas. Relativamente estvel, em funo de sua alta concentrao e da Estrutura de existncia de barreiras entrada. Destinado a consumidores de mdia Mercado renda e dependente da conjuntura econmica.

Fonte: Elaborao prpria. Baseado em Possas (1985) e Labini (1986).

Verifica-se a formao de grupos transnacionais e que portanto possuem em si volumes de capital gigantescos, possibilitando investir no s em inovaes mas tambm em estratgias comerciais que demandem capital. Essa caracterstica tambm representa em si uma barreira entrada de novas empresas nesta indstria, j que o volume de capital necessrio torna invivel a introduo de novas empresas ao mercado, essa dificuldade possibilita tambm, por sua vez, a articulao de barreiras que geram lucros extraordinrios e, por meio destes, mantm a concorrncia distante. No entanto, no implica num controle absoluto, com o qual no seja possvel a entrada de novas empresas (desde que contenham o volume de capital adequado, o qual s encontrado em empresas multinacionais) como o caso do setor de leves, mesmo que empresas j produtoras de automveis em outras regies, o qual contou com a entrada de empresas novas e que permitiu, mesmo num perodo de tempo bastante curto, a modificao da estrutura do mercado. Dessa maneira, este segmento no estaria em equilbrio labiniano, uma vez que o nmero de empresas e os preos praticados tornam a entrada de novas empresas invivel. As inovaes so as caractersticas tpicas dessa classe de oligoplio, que amplia suas vendas e participao, atravs da introduo de inovaes tcnicas (produtos e teconologia), pois segundo uma viso neoschumpteriana o elemento propulsor dessas grandes empresas do setor de automveis a inovao, uma vez que uma das facetas para se enfrentar a concorrncia, ao contrrio do que seria caso houvesse concorrncia via preos, caracterizando na verdade uma situao de no concorrncia, portanto prejudicial a todas elas. Os gastos e riscos envolvidos nos investimentos em P&D provoca, alm da concentrao geogrfica do capital produtivo, uma importante concentrao de empresas em oligoplios que caracterizam as condies de oferta da indstria. Dada a generalizao de plantas multi-produto e a relativa difuso do padro tecnolgico entre as firmas concorrentes, um novo produto, pode ser facilmente imitado com custos baixos em um curto prazo, exigindo um padro de sunk costs, ou seja, com custos intangveis em P&D, propaganda, treinamento e qualificao da mo-de-obra. A possibilidade de no assegurar a vantagem obtida por tempo suficiente para realizar ganhos diferenciais com a inovao um fator que pode levar as firmas a se acautelarem e retardarem a inovao (POSSAS, 1997). Como resultado, surge a oportunidade, muitas vezes prefervel, de adotar uma estratgia defensiva, de espera e imitao em relao s inovaes e agressiva em marketing e propaganda, evitando os erros inevitveis aos pioneiros (FREEMAN, 1974). 3 - Modelizao da evoluo empresarial no setor automotivo O presente modelo se prope a delinear duplamente a dinmica das esferas microsocial (desenvolvimento empresarial e ciclo produtivo) e macrosocial (desempenho do balano comercial nos pases), segundo a evoluo do complexo automotivo mundial ao longo do tempo. Esta sntese destaca a cronologia do ciclo produtivo e seus impactos nos padres de comrcio atravs da evoluo empresarial em quatro estgios, explicando os processos de transnacionalizao de empresas; a industrializao em pases no avanados; o padro de diviso internacional do trabalho; e a formao de redes de empresas regionalmente e internacionalmente. O primeiro estgio retrata o surgimento do novo produto para atendimento ao mercado interno; seguido de um segundo estgio, de maturao do produto, surgimento da produo

em massa e escoamento dos produtos via exportao outros pases. Com economias dinmicas de escala e o reforo das diferenas nos custos comparativos que induzem ao comrcio internacional, as empresas se transnacionalizam, em um terceiro estgio. No quarto e contemporneo estgio, a internacionalizao da produo intensifica-se, dado pelas novas oportunidades de lucros, pela diversificao geogrfica produtiva concomitante aproximao trazida pelas tecnologias de informao e comunicao e a formao de uma rede estratgica global de plantas produtivas especializadas. Figura I - Etapas do ciclo produtivo
Legenda: Exportao Importao Pas Inovador

Estrutura de Pases

Pases Avanados

Pases menos desenvolvidos

Empresas

I Perodo de Inovao II

Perodo de Maturao

III

Perodo Estandarizado

IVespecializao das plantas produtivas transnacionais

Perodo de diversificao geogrfica e

Fonte: Elaborao prpria.

Em uma perspectiva dinmica, com a possibilidade de se obter ganhos econmicos as firmas introduzem inovaes que conduzem a redesenhos institucionais de intereo entre os agentes e a novos padres funcionais de mercado, o que tende a determinar como ocorrero os fluxos de informaes, bens e capitais entre as firmas e pases e as relaes apresentadas entre si. Assim, a evoluo empresarial torna-se funo do processo inovativo, que decorrente de uma lgica microeconmica e racional das firmas e do aumento da importncia de fatores tecnolgicos na competitividade, segundo uma dinmica cumulativa envolvendo o aprendizado e condies para se explorar as competncias internas e oportunidades de mercado (Dosi, 1988). 3.1 - Estgio I: O surgimento de um novo produto & o mercado interno Em um primeiro estgio, o conhecimento tcnico joga um rol central na gerao de novos produtos em resposta a necessidades domsticas insatisfeitas ou na criao das mesmas. Consiste em uma inovao a forma de novos produtos destinada demanda de um mercado interno.

Tabela I - Caractersticas do primeiro estgio


Produtos no estandardizados As caractersticas do produto so mais importantes que os custos Necessidade de margens de liberdade para substituir insumos, modificar ou imitar processos Baixa elasticidade-preo da demanda dada pelo temporal monoplio e mercado cativo Ateno localizao da produo para proximidade entre clientes e fornecedores Produo para destino domstico
Fonte: Elaborao Prpria.

Normalmente, para a introduo de uma inovao, as primeiras decises empresariais favorecem a localizao da produo dentro do prprio pas, onde so detectadas ou criadas as necessidades de consumo, relativizando-se desta maneira em um primeiro estgio, consideraes sobre custos de produo constitudas principalmente por gastos em mo-deobra e servios de transporte. 3.2 - Estgio II: A Maturao do produto & o papel da exportao O segundo estgio se passa quando os mercados domsticos e/ou externos se expandem, estimulando a produo em massa e a obteno de economias de escala. Esta etapa pode ser reconhecida pela maturao do produto. Ademais, se em um primeiro estgio, a disponibilidade de produtos receptculos de inovao possibilita a satisfao de uma demanda interna, em um segundo momento, agora essa demanda pode se ampliar graas a exportao at pases com requerimentos ou necessidades similares. Nesse segundo estgio, a dotao relativa de fatores produtivos e os custos comparativos so os elementos determinantes do comrcio internacional, dado que existem barreiras naturais entrada proporcionados por um perodo de aprendizagem na produo e um tempo de ajuste na inverso. Tabela II Caractersticas do estgio de maturao do produto
Crescente estandardizao, no significando homogeneizao de produtos Ponderam-se menos as caractersticas do produto e mais a questo de custos Adoo de crescente substituio de trabalho por capital Incio de produo em massa e a obteno de economias de escala Reduo das necessidades de comunicao entre os agentes econmicos envolvidos Perda do monoplio temporal e mercado cativo Possibilidade de exportao do produto
Fonte: Elaborao Prpria.

Durante algum tempo, o pas inovador desfruta de um monoplio e os demais devem importar esse bem at que aprendam a produzi-lo, pois o comrcio exterior perdura enquanto existe uma brecha de imitao. Dado que o contnuo progresso tecnolgico amplia constantemente produtos novos, este aspecto do comrcio mundial no somente permanente seno que sua importncia relativa aumenta rapidamente em relao aos tipos de manufaturas mais tradicionais, pois ainda que os bens no tenham sido imitados, mudam constantemente atravs do tempo.

3.3 - Estgio III: Transnacionalizao empresarial Se no segundo estgio, a brecha tecnolgica introduzida pelo desenvolvimento de novos produtos ou uma maneira distinta para gener-los, d lugar a um fluxo de comrcio unilateral do pas inovador para aqueles que tem um retraso ou gap tecnolgico, em um terceiro estgio, conforme a inovao imitada por outras empresas ou difundida atravs da transnacionalizao empresarial, o fluxo de comrcio modificado, podendo dar-se na direo inversa. Uma vez decidida a localizao no exterior e realizado o investimento, possvel abastecer a terceiros mercados atravs destas novas plantas, inclusive ao prprio pas inovador, do qual procede o investimento externo direto, se as vantagens obtidas nos custos, principalmente de mo-de-obra, assim permitem. O progresso tecnolgico e a experincia acumulada permitem firma o acesso s economias dinmicas de escala e ao reforo das diferenas nos custos comparativos que induzem ao comrcio internacional. Assim, agora os fluxos de comrcio que se estabelecem no s vem dados pela disponibilidade de novos produtos e inovaes, seno tambm pelo fator preo que permite competir exitosamente no interior do pas inovador, apesar da existncia de custos de transporte e tarifas, neutralizadas por diferenas de salrio ou prticas de dumping. Nessa etapa, as empresas inovadoras avaliam a convenincia de estabelecimento de novas instalaes nos pases at ento importadores, levando em considerao no somente motivos de custo e benefcio, como tambm ponderando o carter sociopoltico, o fator estratgico de algumas indstrias e as expectativas de concorrncia e protecionismo no interior desses pases. Nesse terceiro estgio, o comrcio internacional descansa essencialmente sobre o progresso tcnico resultante da experincia acumulada na produo passada ao nvel da firma inovadora e sobre as economias dinmicas de escala, dadas pela estrutura institucional da nova planta transnacionalizada de especializao, fatores produtivos e diviso do trabalho, com reflexos quantitativos e qualitativos na produo. 3.4 - Estgio IV: Diversificao geogrfica e Especializao das plantas produtivas transnacionais No quarto estgio, propiciado pela globalizao de mercados, a principal caracterstica entre as empresas passa a ser a possibilidade de acesso a todos os lugares do mundo e a articulao geogrfica de vrios segmentos da produo, buscando maior competitividade e lucratividade. A coordenao precisa e racional, das atividades produtivas distribudas, se d pela aplicao de avanadas tecnologias de transmisso de informao, instantnea e simultnea, s diversas redes geogrficas, provocando significativas alteraes na organizao e no uso dos territrios. Nesse quarto estgio, o comrcio internacional descansa essencialmente sobre a diversificao geogrfica da estrutura produtiva entre as plantas transnacionais, embasando-se na extrema racionalizao de custos e capabilities locais. Nesse estgio, o comrcio internacional dado pela extrema flexibilidade e diminuio dos custos dos fluxos de mercadorias e capitais que permitem a uma empresa transnacional a diversificao de ativos e extrema especializao de cada planta, segundo os custos comparativos e capabilities. No quarto e atual estgio de transnacionalizao da empresas iniciado nos anos 80, elas podem atuar no mercado mundial por meio dois formatos de investimentos internacionais: a) Investimentos Estrangeiros Diretos e b) Investimentos de Portflio - ou de

carteira. Ademais, aceleraram-se, no ciclo recente, as operaes de Fuses & Aquisies (F&As) em relao ao chamado greenfield investment dos primeiros estgios de internacionalizao. No mundo atual, globalizado, a internacionalizao da produo foi intensificada, pois novas oportunidades de lucros surgiram para as ETs que passaram a atuar em novas reas, quer seja para explorar seus mercados locais ou para racionalizar sua produo, integrando suas subsidirias uma rede estratgica global da empresa. Assim as redes se tornam geogrficas, pois como pilares de uma particular reorganizao do espao concentram grande parte da produo que hoje acontece em escala mundial, atravs de empresas mundiais que competem e cooperam entre si organizadas em redes que ativam e articulam de maneira funcional e flexvel os espaos mais interessantes economicamente. Com a acelerao no desenvolvimento tecnolgico e da modernizao de redes tcnicas (por meio da ciberntica, da informtica, da eletrnica e da difuso de meios de transporte mais rpidos e seguros), foi possvel o alastramento e interconexo de milhares de redes pelos territrios, impulsionando uma crescente fluidez de mercadorias e informaes pelo mundo. Dessa forma, nenhum lugar se explica mais por si s, h uma conjugao entre o local e aes de diferentes vetores externos. Box I - As empresas transnacionais no quarto estgio de desenvolvimento
Diante do novo contexto internacional de adoo das reformas estruturais, que facilitaram a expanso do sistema capitalista e de suas estruturas dominantes, as empresas transnacionais foram obrigadas a se reestruturar para enfrentar os novos movimentos concorrenciais. A mundializao gerou novas modalidades de organizao da produo em escala mundial, que introduziram uma dissociao entre a unidade de produo e os circuitos de criao e apropriao da riqueza, resultando em uma diminuio da autonomia das economias perifricas semi-industrializadas. Tornou-se mais difcil entrar em novos setores, uma vez que as escalas de produo e comercializao passaram a ser mundiais. A empresa global agora uma massa de capital que atua em diversas reas e que no pode ser criada apenas por um espao nacional, enquanto que as empresas locais so relegadas a segundo plano. Formam-se verdadeiros oligoplios globais, onde as maiores empresas transnacionais tm uma grande estrutura e so altamente internacionalizadas, com um controle representativo do estoque total de investimento externo direto no mundo e com um faturamento superior em muitos casos ao PIB de pases de mdio porte como o Chile.
Fonte: Elaborao Prpria. Baseado em Unctad (2001).

Na economia globalizada o crescimento da internacionalizao intensificou a necessidade da reorganizao dos fatores produtivos e dos modos de gesto empresarial. A mudana nos sistemas produtivos tende a ocasionar uma reestruturao nas organizaes. Esta reestruturao provoca alteraes na forma de produzir, administrar, comprar e distribuir, por isso no quarto estgio do desenvolvimento empresarial de produtos, os estgios I, II e III podem acontecer simultaneamente e surgirem independentemente da lgica existente em uma empresa tradicional que comeara pequena e se torna um conglomerado internacional. 4 - Estrutura de Governana e Redes Modulares no Setor Automotivo A evoluo da indstria automobilstica perpassa por constantes mudanas estruturais nas relaes organizacionais, internacionais e no paradigma tecnolgico, ao introduzir inovaes que em muitos casos expande-se para novos mercados e indstrias, gerando, dentre outros fatos, um maior nvel de cooperao entre os agentes do mercado, neste caso montadoras e fornecedores. Dessa forma, as redes de firmas tratam-se de um fenmeno peculiar do IV estgio de desenvolvimento empresarial, podendo ser compreendidas como arranjos interorganizacionais

que compatibilizam o recebimento de estmulos exgenos do mercado os quais se refletiriam na evoluo dos preos relativos dos fatores - com a gerao de estmulos endgenos de tipo administrativo que surgem de aes deliberadas e autnomas dos agentes responsveis pelo processo de coordenao. A teoria dos custos de transao tradicionalmente concebe as redes de firmas como formas intermedirias ou hbridas de governana, localizadas no meio termo entre a firma integrada e o mercado atomizado (Williamson, 1991). Desse modo, as redes permitem a realizao de adaptaes de carter autnomo e de adaptaes que demandam a coordenao de diferentes funes produtivas, as quais so repartidas entre seus componentes. Quanto aos mecanismos de coordenao das decises estratgicas dos agentes no interior dessas redes, importante ter claro qual a natureza especfica das aes conjuntas (joint-actions) adotadas pelos seus membros sistematizada por: a) seu carter bilateral ou multilateral, associado ao nmero de partes envolvidas; e b) seu carter horizontal ou vertical, baseado na distribuio de tarefas ao longo da cadeia produtiva (Humphrey e Schimitz, 1996). Tabela II - Fundamentos para a montagem de redes de firmas
Produo de sistemas de produo flexveis e a agilizao dos fluxos de transao entre agentes Repartio de irreversibilidades associadas a investimentos de maior porte, com conseqente reduo de sunk-costs para os agentes individuais Adequao a atributos da demanda baseados em preferncias volteis, por meio da incorporao de princpios de compatibilidade entre produtos e componentes Reduo de incertezas mercadolgicas, associadas ao comportamento da demanda, e de incertezas tecnolgicas, associadas s configuraes dos sistemas produtivos Possibilidade dos agentes, atravs desses arranjos, coordenarem suas aes em perodos de desacelerao cclica ou de maior turbulncia econmica Possibilidade dos agentes compatibilizarem suas estruturas organizacionais, estilos gerenciais e estratgias de conduta, sem que isto implique necessariamente a realizao de fuses entre eles Possibilidade de superar-se limitaes que impedem a formalizao de contratos entre os agentes, decorrentes do carter no transparente dos fatores transacionados ou de dificuldades na codificao de informaes e conhecimentos
Fonte: Elaborao Prpria.

O processo de produo em massa, baseado em uma arquitetura modular de componentes e subsistemas, o esquema bsico de uma complexa hierarquia de componentes que necessitam ser integrados ao nvel de rede. O complexo automotivo atual est associado a este tipo de arranjo. Nesse esquema, os ganhos competitivos gerados envolvem no apenas a reduo do custo e o aumento da performance dos componentes, mas tambm o aumento da variabilidade do mix de produtos gerados, devido possibilidade de ampliao e diversificao da linha de produtos e de incorporao de inovaes incrementais, a partir de mudanas nos componentes integrados atravs de uma arquitetura modular. A estrutura de governana associada a este tipo de arranjo baseia-se no papel central desempenhado por uma firma montadora que opera como vrtice central da rede. tambm comum a hierarquizao de fornecedores de subsistemas e componentes em diferentes nveis fornecedores de primeiro nvel, fornecedores de segundo nvel, etc. - em funo de suas competncias tcnicas e do grau de interao dos mesmos com a firma montadora que coordena os fluxos internos da rede. Quanto mais prximo estiver um fornecedor da firma montadora que ocupa a posio central na estrutura de governana do arranjo, mais intenso e

multidimensional tende a ser o processo de coordenao e o intercmbio de informaes associado. Por isso, os mecanismos de operao das redes de firmas so condicionados por caractersticas especficas das tecnologias que necessitam ser mobilizadas para tornar factvel a produo com nveis satisfatrios de eficincia nos respectivos ambientes industriais. Para uma grande firma que opere como ncleo central desse tipo de rede, a montagem de tal arranjo resulta em custos de coordenao, gesto operacional, normalizao tcnica e na compatibilizao dos avanos tecnolgicos realizados a partir de articulaes com outros agentes. Para minimizar estes custos, trs estratgias costumam ser utilizadas no complexo automotivo. Tabela I - Tipificao de Estratgias em uma rede de arquitetura modular Reduo do nmero de empresas participantes da rede direta de subcontratao das empresas montadoras, de maneira a garantir um maior grau de interatividade nestes relacionamentos. Estruturao hierrquica das relaes de subcontratao, atravs da qual cada firma subcontratada se compromete a organizar e gerir uma nova rede composta pelos fabricantes de insumos que ela vier a adquirir. Utilizao de novas tecnologias de informao e telecomunicao (EDI, por exemplo) visando agilizar o intercmbio de informaes entre os agentes.
Fonte: Elaborao Prpria.

Em arranjos mais estruturados, as interaes no se limitam definio unilateral pelas montadoras dos padres tcnicos e das inovaes a serem incorporadas produtivamente. Ao contrrio, observa-se uma forte interatividade nas relaes cliente-fornecedor, com as empresas montadoras atuando em dois sentidos principais: (i) na definio de especificaes gerais de componentes, a serem aperfeioadas e alteradas pelos fornecedores em funo do processo de desenvolvimento tecnolgico; (ii) na identificao de determinados requerimentos de performance a serem considerados, que orientam a realizao de um trabalho conjunto de desenvolvimento com os fornecedores. Nestas redes, os mecanismos mobilizados no intuito de coordenar as aes das firmas participantes do arranjo (montadoras e fornecedores) costumam ser bastante complexos. Na rbita produtiva, estes mecanismos envolvem mtodos sofisticados de planejamento da produo, bem como o uso amplo de protocolos orientadores das articulaes entre empresas, baseados em princpios do sistema just-in-time. Os mecanismos de coordenao dos fluxos internos rede envolvem tambm projetos especficos orientados ao co-desenvolvimento de componentes e subsistemas entre montadoras e fornecedores, bem como a adaptao da arquitetura modular do produto, para propiciar a obteno de uma maior variedade de produtos. Em termos do arcabouo contratual utilizado, esta coordenao est geralmente baseada em contratos de longo prazo, incorporando mecanismos de incentivo especficos que visam estimular o aumento da produtividade e qualidade dos componentes gerados. No apenas possvel observar a disseminao de contratos de longo prazo neste tipo de arranjo, como tambm uma expectativa de que os relacionamentos empresariais perduraro alm do perodo estabelecido nos contratos, devido confiana mtua que nortearia aqueles relacionamentos. A busca contnua da melhor performance, maior qualidade/nvel tecnolgico e menor custo de peas e componentes faz com que os contratos de longo prazo que norteiam os relacionamentos intra-rede sejam pouco amarrados do ponto de vista formal, permitindo a adaptao dos mesmos em funo dos resultados obtidos. Algumas evidncias tambm sugerem que uma importante forma de coordenao das relaes cliente-fornecedor nesse tipo

de arranjo diz respeito participao do principal cliente na estrutura acionria dos fornecedores. 5 - ltimas Consideraes: A Formao de redes automotivas em um transnacionalizado mundo de empresas de IV estgio A rede transnacional do setor automotivo gera efeitos de encadeamento para trs (fornecedores) e para frente (distribuidores), alm da transferncia de know-how e dos efeitos sobre a formao de recursos humanos, por meio das atividades de treinamento da mo-de-obra e do processo de aprendizado junto atividade produtiva. O resultado desse nova estrutura de governana um maior dinamismo no comrcio internacional, pois elas tm uma propenso maior a importar e a exportar, uma possibilidade de formao de alianas cooperativas internacionais, sistemas tecnolgicos e networking interfirmas, alm da formao de clusters (economias de aglomerao). Portanto, fica evidente que a formao de redes depende dos atributos do pas receptor, como tamanho do mercado, estgio de desenvolvimento econmico, estrutura industrial, grau de interdependncia econmica com o resto do mundo e distancia em relao aos pases investidores. Por isso, os pases que oferecem um melhor ambiente de negcios tendem a atrair mais recursos, o que justifica toda a discusso da Unctad (2001) centrada em polticas de atrao de Investimento Externo Direto (IED) que incorporem o estabelecimento de fortes linkages em uma rede que envolva empresas locais e empresas transnacionais. O IED no setor automotivo, atualmente tem sido conduzido pelas ETs que esto crescentemente perseguindo estratgias de produo internacional integrada e que o market seeking horizontal de IED tem sido substitudo por uma verticalizao atravs de outsourcing, na qual os fluxos de IED substituem estruturas de produo multi-domsticas por estruturas globalmente integradas de produo das ETs. As bases fundamentais dessa estrutura de governana continuam na centralidade das montadores no gerenciamento de estoques mnimos - Just-in-time aliado ao Just-in-place - voltados demanda e com grande diversificao dos produtos para nichos especficos de mercado. A maior parte da produo se desintegra verticalmente em uma rede de empresas distribudas geograficamente. Os fornecedores assumem as normas da empresa atravs de um contrato que exige a entrega de peas ou equipamentos no local certo e no exato momento da solicitao vinda da empresa contratante, com garantia de qualidade total e um nvel tendente a zero de defeitos nos mesmos. Com isso a empresa se livra dos custos com estocagem, corta muitos funcionrios, diminui a rea de suas plantas e o mais importante: agiliza a produo final com qualidade e preciso. Para coordenar essas grandes redes de produo at os pontos de venda so introduzidos sistemas de comunicao eficientes tanto para o fluxo de informaes como para o de produtos. Devido disponibilidade dessas tecnologias que a integrao em redes tornou-se uma estratgia chave da flexibilidade organizacional, do desempenho empresarial e que tambm, de acordo com Harvey (1992), possibilitou comprimir a relao espao-tempo entre os pontos das redes. Dessa forma, os sistemas recentes de transmisso de informaes permitem maior flexibilidade e articulao em reas mais extensas de atuao, utilizando cadeias menores de comando nas regies geradoras de maior densidade de informaes e fluxos materiais. Essa reestruturao continua mantendo a centralizao do controle de toda a rede na sede, mas com uma desconcentrao de responsabilidades e de execuo de determinadas atividades de gerenciamento que antes eram exclusivas do poder central. Mas apesar da possibilidade de convergncia dos momentos de diversas localidades, o espao geogrfico no homogneo e, portanto, essas redes automotivas so heterogneas, podendo utilizar vrios tipos de tecnologias de informao dependendo das infra-estruturas j instaladas nos lugares

que se deseja acessar e da disponibilidade dos diversos agentes. As NTI's garantem a hegemonia no mercado global, onde a fluidez e competitividade so diretamente proporcionais. Essa organizao permite que a empresa comande melhor sua rede, com a finalidade de promover a difuso de informaes mais sistemticas e atualizadas de cada lugar. Trata-se de uma separao territorial entre o poder, a responsabilidade e a execuo de certas atividades, que so unificadas pelas telecomunicaes, podendo gerar vrias implicaes geogrficas e organizacionais nas regies onde essas empresas atuam (Dias, 2003). Atravs dessas redes organizadas em circuitos e apoiados na transmisso simultnea e instantnea de informaes, as grandes empresas montadoras exercem uma poltica voltada s estratgias de competitividade descomedida sobre os territrios onde atuam. Assim, vlido ressaltar que, de acordo com o atual paradigma produtivo, a tecnologia e a informao so ferramentas decisivas para a apropriao de fatias do mercado e tambm d contornos a uma nova geografia que, aos poucos, sobrepe-se a antigas formas de uso e conhecimento do territrio (Castillo, 1999). 6 - Referncias Bibliogrficas BNDES. Desempenho do setor de autopeas. BNDES Setorial, n 12, setembro. Braslia: BNDES, 1997. CARNEIRO, R. M. Desenvolvimento em crise. So Paulo: Editora Unesp, 2002. CASTILLO, R. Sistemas orbitais e uso do territrio: integrao eletrnica e conhecimento digital do territrio. Tese de Doutorado. So Paulo: FFLCH-USP, 1999. DIAS, J. M. Tecnologias de informao e poltica territorial da montadora fiat e suas concessionrias automobilsticas no Brasil. Iniciao Cientfica CNPq/PIBIC. Campinas: Ige-Unicamp, 2003. DOSI, G. The nature of the innovative process. In: DOSI et aii. Technical change and economic theory. London: Pinter Publishers, 1988. FREEMAN, C. The Economics of Industrial Innovation. Pequim: Harmondsworth, 1974. HARVEY, D. A transformao poltico-econmica do capitalismo no final do sculo XX. A Condio Ps-Moderna. So Paulo: Loyola, 1992. HUMPHREY, J. & SCHMITZ, H. Trust and economic development. Discussion Paper of the Institute of Development Studies, 355, august, 1996. LABINI, P. S. Oligoplio e progresso tcnico. So Paulo: Editora Nova Cultural, 1986. POSSAS, M. L. Estruturas de mercado em oligoplio. So Paulo: Editora Hucitec, 1985. POSSAS, M. S. Concorrncia e Competitividade - Notas sobre a estratgia e dinmica seletiva na economia capitalista. Dissertao de doutorado. Campinas: Ie-Unicamp, 1997. ROSANDISKI, E.N. Modernizao produtiva e estrutura do emprego formal nos anos 90. Campinas: Ie-Unicamp, 2002 (mimeo). UNCTAD. World Investment Report - Foreign Direct Investment and the Challenge of Development. Overview. Geneva/New York: United Nations, 1999. ________. World Investment Report - Promoting Linkages. Overview. Geneva/New York: United Nations, 2001. WILLIAMSON, O. E. Hierarchies, markets ans power in the economy: an economic perspective. Industrial and Corporate Change, Volume 4, no 1, 1995.

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