Esquizofrenia &parentalidade
Esquizofrenia &parentalidade
Esquizofrenia &parentalidade
3º Ano – 1º Semestre
Orientado por:
Dra. Celeste Duque
Abreviaturas
Etc. – et cœtera (e o resto)
Pag. – Página
Prof.ª – Professora
Siglas
OMS – Organização Mundial de Saúde
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Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
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Parentalidade e Esquizofrenia Ano lectivo 2006-2007 Psicologia V
Índice
I – Introdução .................................................................................................................4
II – Conhecer a esquizofrenia...........................................................................................5
1. Aspectos históricos...................................................................................................5
6. Tratamento...............................................................................................................16
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Inexpressividade facial...................................................................................................18
Aumento de peso............................................................................................................18
Alterações hormonais.....................................................................................................18
Alterações menstruais.....................................................................................................18
Disfunção sexual.............................................................................................................18
Diminuição da libido......................................................................................................18
Impotência......................................................................................................................18
Anticolinérgicos..............................................................................................................18
Obstipação......................................................................................................................18
Visão desfocada..............................................................................................................18
Boca seca........................................................................................................................18
Dificuldade em urinar.....................................................................................................18
Sedação ou sonolência....................................................................................................18
Síndrome maligna dos neurolépticos: é uma situação bastante rara, mas de grande
gravidade. Os sintomas instalam-se habitualmente ao fim de dez dias de terapêutica com
neurolépticos e os principais sinais clínicos são: hipertermia, rigidez muscular, alteração
do estado de consciência, taquicardia, hipo ou hipertensão arterial, diaforese ou
sialorreia, tremor e incontinência dos esfíncteres. É uma situação de urgência médica e
deve ser tratada em ambiente hospitalar, de modo a reduzir as eventuais complicações
graves dela decorrentes. ..................................................................................................18
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6.2 – A electroconvulsivoterapia.............................................................................19
6.3 – Psicoterapia.....................................................................................................20
6.4 – Psicoeducação.................................................................................................21
Aspectos diagnósticos;....................................................................................................21
Prevalência da doença;...................................................................................................22
Etiologia;........................................................................................................................22
Evolução;........................................................................................................................22
Terapêutica;.....................................................................................................................22
Factores de stress;...........................................................................................................22
Recursos comunitários;...................................................................................................22
Aspectos legais;..............................................................................................................22
Sinais de recaída.............................................................................................................22
6.5 – O internamento...............................................................................................22
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Resistência à terapêutica;................................................................................................22
Perante um surto psicótico em que ocorra recusa da terapêutica ou não exista um apoio
familiar adequado............................................................................................................22
Fronteiras: quando se cresce com pais que invadem todos os aspectos da suas vidas de
maneira imprevisível e por vezes perigosa, não se consegue aprender quando dizer não
ou quando deixar de depender dos outros, etc. ...............................................................27
Aptidões sociais: quando chegam à idade adulta os filhos de pais esquizofrénicos têm
dificuldade em saber a quem e como se abrirem com outras pessoas, ou como confiar
nos próprios instintos e em geral como lidar com pessoas “normais” pois eles foram
isolados do resto do mundo tanto físico como psicológico devido aos pais...................27
Lidar com a raiva, depressão e stress: as crianças de pais esquizofrénicos têm muita
tendência para a depressão sendo que muitos têm terapeutas pessoais, estão envolvidos
em grupos de aconselhamento e suporte, ou tomam medicação para distúrbios de
depressão, ansiedade e comportamento...........................................................................27
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Lidar com a culpa: estas crianças são especialmente susceptíveis a sentir muita culpa
acerca de tudo, sendo que muitos passam por uma fase de se culparem a eles próprios
pela doença dos pais. Quase todos sentem-se angustiados por não fazer o suficiente (ou
por fazer demais) pelo progenitor, outros irmãos, ou pelo resto da família. ..................28
Ter cuidado em conservar um ritmo de sono e vigília correcto, com as necessárias horas
de sono;............................................................................................................................29
Evitar o stress;................................................................................................................29
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IV – Conclusão...............................................................................................................36
V – Bibliografia .............................................................................................................38
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I – INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é uma das doenças menos compreendidas. Para que possamos
compreender realmente esta doença devastadora, é da maior importância desfazer os
mitos que a envolvem.
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II – CONHECER A ESQUIZOFRENIA
1. ASPECTOS HISTÓRICOS
As perturbações psicóticas, particularmente a esquizofrenia, encontram-se presentes em
todas as culturas.
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São Tomás de Aquino (1225-1274) abordou este tema, considerando a doença mental
como um estado em que o homem perdia a razão, ficando fora de si (Amens), delirante,
violento e inacessível a uma relação humana (furiosus). Ficava, desta forma, reduzido a
um estado animal, perdendo a alma espiritual, sede da razão, a qual possibilitava
desligar-se do material e chegar ao conhecimento de Deus.
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como um estilo de vida e não como uma doença mental. Deste modo, existia uma
dicotomia entre os doentes mentais, que eram oprimidos por um sistema totalitário, e os
opressores, que tinham como agentes os psiquiatras.
Para este movimento a doença mental não tem uma natureza biológica mas sim social,
política e legal. O doente mental é assim rotulado pela sociedade, só pelo facto de
quebrar as regras por ela imposta. O movimento “anti psiquiatria” acabou por perder
significado no final dos anos 1970, tendo contribuído para este declínio o encerramento
dos grandes hospitais psiquiátricos e o aparecimento de outras correntes de psiquiatria
mais voltadas para uma intervenção comunitária e de reabilitação, privilegiando a
reinserção socioprofissional dos doentes psiquiátricos e a sua permanência junto da
comunidade.
2. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
A esquizofrenia é uma das doenças mentais mais graves e mais importantes. Encontra-
se identificada praticamente em todo o mundo, atingindo todas as classes sociais e
raças. Em estudos epidemiológicos realizados em países industrializados observou-se
um maior número de casos em populações rurais e nas classes sociais mais
desenvolvidas.
Sendo distribuída de forma igual pelos dois sexos, manifesta-se habitualmente na parte
final da adolescência ou no início da vida adulta. O seu aparecimento para os indivíduos
do sexo masculino ocorre entre os 15 e os 25 anos de idade, no caso do sexo feminino a
doença ocorre com maior frequência um pouco mais tarde, entre os 25 e 30 anos de
idade.
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Segundo esta teoria os indivíduos sujeitos a uma gripe materna teriam um risco
aumentado de virem a sofrer de esquizofrenia. Contudo os estudos realizados não
permitiram confirmar uma relação directa entre a infecção viral e a esquizofrenia.
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O aparecimento tardio, embora raro, observa-se num maior número de casos no sexo
feminino. Este facto foi associado com o efeito antidopaminérgico dos estrogénios
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Estima-se que cerca de um terço dos casos apresentam uma forma de início lenta,
enquanto que os restantes dois terços surgem de forma aguda.
Spoerry (1964) em estudos verifica que um terço dos indivíduos que se tornam
esquizofrénicos, tem dificuldades antes dos cinco anos de idade, incluindo acidentes
perinatais, atraso da marcha, dificuldades alimentares, perturbações da linguagem e
perturbações do comportamento. Dos seis anos à puberdade, o trabalho escolar é
medíocre, em dois terços dos futuros doentes, com perturbações da linguagem,
perturbações psicomotoras, dificuldades de socialização, atraso do desenvolvimento
afectivo e ideias bizarras. Todas estas perturbações acentuam-se no momento da
puberdade, com dificuldades de inserção, conflitos familiares ou sociais e insucessos na
aprendizagem.
Um terço dos futuros doentes são considerados pelos seus professores como
desagradáveis, anti-sociais, tristes, afectivamente inadaptados, emotivos, negativistas,
egocêntricos e não terminam as tarefas iniciadas.
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5. SINTOMATOLOGIA E DIAGNÓSTICO
A esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas bastante diversificado e complexo,
sendo por vezes de difícil compreensibilidade. Estes sintomas envolvem aspectos
ligados ao pensamento, à percepção, ao rendimento cognitivo, à afectividade, a défices
interpessoais e a uma perda de contacto com a realidade.
Ao longo da história, foram feitas várias descrições dos sintomas da doença. Foram
muitos os que deram o seu contributo. Bleuler distinguiu dois tipos de sintomas
presentes nos vários quadros clínicos da doença. Os sintomas primários ou
fundamentais (ambivalência, autismo, perturbações afectivas e perturbações na
associação de ideias) que se observam em qualquer momento da evolução da doença e
os sintomas secundários ou acessórios que só se revelam em certos períodos da
esquizofrenia.
Por outro lado, Kurt Schneider (1954) tentou dar um carácter predominante clínico e
objectivo na descrição da sintomatologia dividindo-a em: sintomas de primeira ordem e
sintomas de segunda ordem. Nos sintomas de primeira ordem Kurt frisa percepções
delirantes, pensamentos audíveis, alucinações auditivo-verbais com comentários de
vozes, eco do pensamento, alucinações somáticas, sentimentos e impulsos como
provocados ou influenciados por um agente externo. Nos sintomas de segunda ordem
estão incluídas alterações da percepção, ideias delirantes repentinas ou súbitas,
perplexidade, alterações do humor depressivas ou eufóricas e sentimentos de
embotamento emocional.
Uma outra forma clínica de agrupar os sintomas foi proposta por Liddle (1987),
dividindo os sintomas da esquizofrenia em três grupos: I pobreza psicomotora (pobreza
do discurso, embotamento afectivo, diminuição espontânea dos movimentos e
diminuição da mímica facial); II desorganização (alterações da forma do pensamento e
inadequação afectiva); III distorção da realidade (alucinações e delírios).
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Os sintomas positivos estão presentes com maior visibilidade na fase aguda da doença.
Os delírios são considerados dentro dos sintomas positivos, estes são ideias individuais
do doente que não são partilhadas por um grande grupo, a temática dos delírios pode ser
diversa, mas normalmente predominam os temas de perseguição ou de ameaça para o
doente. No delírio de roubo e divulgação do pensamento os doentes acham que é
possível alguém adivinhar as suas ideias e pensamentos. O delírio de controlo ocorre
quando o doente acredita que alguém controla os seus movimentos e emoções. É ainda
necessário não confundir comportamentos, avaliando-os apenas segundo o nosso ponto
de vista social pois o que à partida aos nossos olhos pode parecer bizarro, para certas
culturas pode ser algo com muita tradição e significado.
As alterações da percepção são usuais. Pode aqui ser dado como exemplo o facto de
uma visita cumprimentar o doente com dois beijos na face e este acreditar que lhe
estavam a fazer aquilo porque ele estava infectado com um vírus mortal.
Os afectos podem encontrar-se alterados através por exemplo de uma rigidez afectiva,
não ocorrendo uma modulação dos afectos. Noutros casos verifica-se uma discordância
afectiva, quando surge uma inadequação entre o afecto e o discurso podemos dar como
exemplo o facto de o indivíduo se rir enquanto relata uma desgraça que aconteceu na
sua vida. A ambivalência afectiva pode também surgir durante o período psicótico,
coexistindo neste caso uma sobreposição de afectos contraditórios (amo-te, odeio-te).
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O contacto visual com o interlocutor pode ser alterado, o olhar pode ser evitado ou
noutros casos demasiado fixo e vazio.
Passando agora aos sintomas negativos, podemos dizer que estes acompanham a
evolução da doença e que reflectem um estado deficitário ao nível da motivação, das
emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais.
Nalguns casos pode ser difícil distingui se estamos perante os sintomas negativos da
doença ou de uma quadro depressivo.
De um modo geral e resumido podemos dizer que dentro dos sintomas positivos
podemos incluir as ideias delirantes, as alucinações, os pensamentos e discurso
desorganizados, agitação, ansiedade e impulsos. Nos sintomas negativos podemos
incluir a falta de vontade ou de iniciativa, o isolamento social, a apatia, a indiferença
emocional e a pobreza do pensamento.
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Ao contrário de outras doenças orgânicas como, por exemplo, numa infecção urinária
em que é possível detectar o agente através de exames laboratoriais e definir logo à
partida um tratamento eficaz, na esquizofrenia o diagnóstico é mais complexo e tem que
ser feito numa perspectiva longitudinal. Este só pode ser feito pelas manifestações
clínicas da doença, uma vez que não é possível efectuá-lo através de exames
laboratoriais ou imagiológicos. O diagnóstico da esquizofrenia é complexo e faz-se,
muitas vezes, afastando hipóteses de patologias com sintomas similares, como doenças
bipolares, algumas lesões cerebrais e doenças neurológicas, metabólicas ou infecciosas.
O consumo de drogas, alguns medicamentos e intoxicações por metais pesados também
podem ter efeitos semelhantes aos da esquizofrenia. O primeiro passo para identificar o
problema é analisar a história clínica do paciente. A partir desta, é possível averiguar os
antecedentes familiares e dados do período fetal, analisar casos de consumo abusivo de
álcool ou drogas e conhecer as doenças de que o doente já padeceu e os medicamentos
que tomou. Para obter esta informação é indispensável a colaboração do paciente e dos
seus familiares. O doente poderá também ser submetido a um exame físico e uma
avaliação neuropsicológica, o médico pode ainda recomendar analises ao sangue e
exames para avaliar, por exemplo, o funcionamento renal, fígado e tiróide, no entanto
nenhum destes exames laboratoriais vai servir para afirmar que o doente é mesmo
esquizofrénico.
Por passar despercebida, o doente não recorre logo ao médico, o que atrasa o
tratamento. É ainda de frisar que existem outras situações psiquiátricas cujo diagnóstico
diferencial com a esquizofrenia deverá ser feito.
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6. TRATAMENTO
Apesar de não haver cura para a esquizofrenia, o tratamento bem sucedido com
medicações antipsicóticas pode aliviar os sintomas da doença de forma que os
indivíduos possam levar vidas bem próximas do normal e produtivas do ponto de vista
pessoal e de trabalho. O desenvolvimento de várias medicações e intervenções psico-
sociais tem melhorado muito a perspectiva de pacientes com esquizofrenia. No entanto,
o tratamento completo da esquizofrenia requer abordagens farmacológicas, psicológicas
e sociais, dependendo do estágio da doença. A administração da medicação, o apoio
psicológico e familiar, a reabilitação vocacional e a ajuda da comunidade,
desempenham juntos, um papel fundamental para um excelente cuidado às pessoas com
esquizofrenia.
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Podemos contudo considerar, em termos gerais, que a maioria dos neurolépticos atípicos
partilha um efeito antagonista a nível dos receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos.
O aparecimento destes novos neurolépticos nos últimos anos tem vindo a levantar novas
esperanças no tratamento desta doença, já que a sua utilização tem permitido uma
melhor possibilidade de intervenção reabilitativa.
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Relativamente ao tempo que o utente deverá fazer a medicação não existe consenso.
Cada caso deverá ser avaliado individualmente pelo médico psiquiatra, devendo este
considerar o risco/benefício para o doente na continuação da terapêutica de manutenção.
A adesão a um tratamento prolongado é uma tarefa que infelizmente muitos doentes não
assumem. Umas vezes falha a persuasão médica, que não é suficientemente clara e
insistente, alertando para os riscos de uma interrupção da medicação. Poderão não ter
sido adequadamente informados sobre a necessidade e importância da mesma. Pode
também acontecer que, embora bem informado/a, o/a doente julgue que a medicação
não serve para nada, que “até faz mal”, pois não tem uma noção clara da sua doença,
que minimiza e nega. De notar que entre os sintomas de esquizofrenia conta-se a
dificuldade da pessoa em reconhecer as perturbações mentais como manifestação da
doença, vivendo-as como “verdades” que os outros não entendem, ou aceitando
passivamente o seu estado. Outras vezes são os efeitos adversos da medicação que
levam o paciente a interromper o tratamento. É possível reduzir esses efeitos ao
mínimo; cabe ao médico escolher o medicamento que melhor se ajusta a cada doente,
reduzindo, se possível, a dose, ou combinando medicamentos apropriados. De realçar
que uma dose insuficiente é causa de recaída, que pode ocorrer alguns meses mais tarde.
6.2 – A ELECTROCONVULSIVOTERAPIA
A electroconvulsivoterapia foi introduzida como técnica de tratamento da esquizofrenia,
em 1938, por Cerletti e Bini. O objectivo desta técnica é induzir, através de um estímulo
eléctrico, uma crise convulsiva no doente.
Ao longo dos anos têm sido várias as vozes que se ergueram, condenando este tipo, de
tratamento, considerando-o desumano e bárbaro. A realidade é que a
electroconvulsivoterapia, não só na data da sua introdução como ainda hoje, se revela
como uma forma de tratamento eficaz na esquizofrenia.
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6.3 – PSICOTERAPIA
A psicoterapia é um tratamento psicológico, complementar ao farmacológico e que
ajuda o doente a elaborar e a integrar a sua experiência psicótica.
Após a saída da crise, o doente adquire alguma crítica face à doença, embora, muitas
vezes, tornando-se difícil para ele compreender e explicar o período de alienação e de
delírio em que se viu envolvido. Esta fase é vivida muitas vezes pelo doente com grande
angústia, levando-o a sentir-se só e deprimido.
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6.4 – PSICOEDUCAÇÃO
A psicoeducação, no contexto do tratamento da esquizofrenia, é uma técnica que visa
melhorar a compreensão da doença pelos doentes e suas famílias e, desta forma,
melhorar o seu comportamento e atitude face à doença.
Esta técnica deve ser encarada como uma parte do tratamento, devidamente enquadrada
num projecto terapêutico. Dentro deste contexto terapêutico, o indivíduo adquire um
papel activo no tratamento da sua doença. Procura-se assim fornecer informação aos
doentes sobre vários aspectos da própria doença, de uma forma sistematizada,
englobando áreas como os sintomas da doença, as suas possíveis etiologias, o
tratamento e o curso da doença, procurando melhorar a adesão à terapêutica e o próprio
insight do doente face à doença.
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• Prevalência da doença;
• Etiologia;
• Evolução;
• Terapêutica;
• Factores de stress;
• Recursos comunitários;
• Abuso de substâncias;
• Aspectos legais;
• Sinais de recaída.
A experiência psicótica é sempre um processo individual, que pode ter um impacto
profundo na estrutura familiar e social do doente. A abordagem terapêutica deve ser
feita de uma forma suficientemente flexível, para que o doente e a sua família, tendo em
conta o seu perfil social e cultural, possam integrar as explicações dadas sobre a
experiência psicótica.
6.5 – O INTERNAMENTO
Por vezes, na fase aguda ou de crise da doença, torna-se necessário recorrer ao
internamento. Este pode durar algumas semanas ou por vezes meses. O objectivo
principal é estabilizar o doente para que seja possível o seu regresso à comunidade o
mais rapidamente possível.
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Para além das particularidades clínicas acima mencionadas, as mulheres parecem ser
mais sensíveis às medicações anti-psicóticas. As jovens mulheres esquizofrénicas
necessitariam de neurolépticos menos fortes do que os homens, mas, acima dos 40 anos
de idade, elas necessitariam de doses mais elevadas.
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Entre os riscos da gravidez da mãe esquizofrénica, além daqueles vindos das próprias
alterações psíquicas que a gestação favorece, estão os efeitos secundários dos
medicamentos usados para essa doença. Esses psicofármacos anti-psicóticos podem
afectar o feto, principalmente quando usados nos três primeiros meses de gestação.
Quando a mãe usa psicofármacos no final da gravidez o filho pode sofrer complicações
de parto. As mulheres com esquizofrenia têm maior probabilidade de problemas,
incluindo períodos mais curtos de gestação e de baixo peso no recém-nascido.
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do seu impacto e dependerá não apenas do diagnóstico como também de uma gama de
variáveis psicológicas e sociais.
Para algumas mulheres com esquizofrenia, a maternidade resulta numa melhoria das
redes sociais, na redução do sentimento de confusão, de identidade e de estigma. Mas
para outras a maternidade está associada ao sofrimento, perda e frustração. O estigma
associado à doença mental grave parece ampliar-se quando se trata de pais com estas
doenças.
Os pais com esquizofrenia encontram-se muitas vezes, num ciclo vicioso – os stressores
do ambiente têm impacto no progenitor e na criança exacerbando os sintomas do
primeiro e os problemas de comportamento do segundo, contribuído para as
dificuldades de interacção entre ambos. Estes stressores adicionais exacerbam os
sintomas podendo conduzir ao internamento hospitalar do progenitor doente, e
consequentemente pode colocar a criança em cuidados alternativos. Isso é capaz de
causar stress no casal, podendo atrasar a recuperação do progenitor doente e criar
problemas de vinculação e de relacionamento nos membros da família. Estas famílias
geralmente enfrentam múltiplos problemas, uma vez que estão expostas a uma vasta
gama de stressores aumentando a probabilidade de disfunção familiar.
infecções do recém-nascido e também pelo seu valor nutricional. No caso das puérperas
portadoras de esquizofrenia a amamentação está formalmente contra-indicada se o
período de aleitamento coincidir com uma fase de surto. Em doentes compensados, sob
medicação e tendo em consideração que todos os anti psicóticos passam através do leito
maternos, a amamentação deve ser desaconselhada. Caso a mãe insista em amamentar
deve ser informada dos riscos da sua decisão, a qual implica a redução da posologia ao
mínimo eficaz.
O problema surge quando o marido também sofre de esquizofrenia, quer por factores
genéticos quer pelo contacto permanente com a sua mulher. Neste caso os serviços de
saúde e os familiares desempenham um papel importante para ajudar a família a atingir
o equilíbrio.
8. PARENTALIDADE E ESQUIZOFRENIA
As relações do esquizofrénico, com a sua família, têm sido exclusivamente estudadas
numa tentativa de se encontrarem padrões comportamentais e comunicacionais que
possam contribuir para a etiologia e compreensão da doença. A esquizofrenia manifesta-
se de diferentes formas no que respeita aos comportamentos e tarefas que têm de ser
desempenhados pelo pai ou pela mãe. A mãe com esquizofrenia é descrita como fria,
distante, agressiva, hiperprotectora e ansiosa relativamente aos filhos. O pai é descrito
como crítico, hostil e demasiado envolvente. Quando no sistema familiar ambos os
progenitores, ou apenas um deles possui a doença de esquizofrenia ocorre certamente,
alterações marcantes na dinâmica familiar. A existência de pais esquizofrénicos, numa
família, é altamente destabilizadora conduzindo frequentemente a alterações
comportamentais na criança (filho). Neste contexto a assistência terapêutica passa pela
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Todas estas crianças, mais novas ou mais velhas, têm sentimentos fortes em relação aos
seus pais, à sua infância e à doença que os afecta, de múltiplas maneiras ao longo das
suas vidas. Muitos vão escolher (ou já escolheram) vários mecanismos de defesa para
ajudá-los a lidar com a sua situação particular, envolvendo-se (e culpabilizando-se),
revelando tristeza e pena, negação e exclusão defensiva (indiferença). Estes esforços de
protecção podem, eventualmente, conduzir ao longo do tempo a padrões emocionais
como “ansioso e ambivalente”, “preocupação compulsiva” ou a evitar os “laços
afectivos”.
Alguns dos problemas mais comuns levantados pelas crianças filhas de pais
esquizofrénicos são:
• Fronteiras: quando se cresce com pais que invadem todos os aspectos da suas vidas de
maneira imprevisível e por vezes perigosa, não se consegue aprender quando dizer não ou
quando deixar de depender dos outros, etc.
• Problemas de lealdade: algumas vezes, especialmente, quando os pais são paranóicos, a
criança é colocada repetidamente numa situação onde precisa de provar que eles não fazem
parte dos vilões. Este é parte dos problemas de fronteiras – é um problema complexo, tentar
manter a sua sanidade enquanto tentam bloquear uma pessoa insana sendo uma criança.
• Aptidões sociais: quando chegam à idade adulta os filhos de pais esquizofrénicos têm
dificuldade em saber a quem e como se abrirem com outras pessoas, ou como confiar nos
próprios instintos e em geral como lidar com pessoas “normais” pois eles foram isolados do
resto do mundo tanto físico como psicológico devido aos pais.
• Actividades de vida: os pais esquizofrénicos, apresentam dificuldades em ensinar os filhos a
realizar as suas actividades de vida, o que vai fazer com que muitas vezes, estes mesmos
filhos não sejam capazes de cuidar de uma casa e de se tornarem independentes futuramente
tão facilmente como os filhos de pais sem doença mental.
• Lidar com a raiva, depressão e stress: as crianças de pais esquizofrénicos têm muita
tendência para a depressão sendo que muitos têm terapeutas pessoais, estão envolvidos em
grupos de aconselhamento e suporte, ou tomam medicação para distúrbios de depressão,
ansiedade e comportamento.
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• Lidar com a culpa: estas crianças são especialmente susceptíveis a sentir muita culpa acerca
de tudo, sendo que muitos passam por uma fase de se culparem a eles próprios pela doença
dos pais. Quase todos sentem-se angustiados por não fazer o suficiente (ou por fazer demais)
pelo progenitor, outros irmãos, ou pelo resto da família.
• Medo: as crianças revelam medo de ficar doentes como o progenitor, mudando o trajecto de
vida de muitas crianças. Os filhos de pais esquizofrénicos acabam por ter filhos tarde por
medo de transmitir a doença aos filhos; casar-se tarde porque não querem ter filhos ou porque
não querem magoar alguém especial por se tornarem doentes mentais no futuro.
• Problemas em assumirem compromissos: muitos evitam compromissos, ou tornam-se
envolvidos em compromissos abusivos ou demasiado exigentes.
• Perdão: é normalmente confundido com aceitação. Aceitar a doença mental de um
progenitor é um passo importante para a auto-cura e recuperação.
Os descendentes de pais esquizofrénicos orientam-se melhor quando têm várias fontes
de apoio: relações apoiadas com o progenitor saudável (caso apenas um dos
progenitores seja esquizofrénico), nos familiares, nos amigos ou apoio dos profissionais
de saúde.
Ao contrário do humor, que não tem objecto, e do afecto que se relaciona com objectos
(pessoas significativas) previamente conhecidos, a emoção relaciona-se com a situação
presente ou futura. As reacções emotivas da esquizofrenia variam de acordo com o tipo
de esquizofrenia e a fase da doença. Nos tipos de esquizofrenia que se caracterizam com
a indiferença ao mundo exterior, o esquizofrénico mantém esta indiferença em relação
aos estímulos que habitualmente despertam emoções mais intensas na maioria das
pessoas. Por outro lado, nas fases iniciais de uma esquizofrenia paranóide, o
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Para conseguir uma maior inserção, do doente esquizofrénico na sociedade e para que
aprendam uma profissão e consigam ser independentes, é importante desenvolver
programas de reabilitação. Infelizmente, no nosso país ainda existem poucos programas
deste género. Além das intervenções dos profissionais de saúde é imprescindível o apoio
da família e amigos. Estes devem evitar envolver o paciente em ambientes hostis,
carregados de crítica, gritos e incompreensão, mas também atitudes demasiado
protectora, que os tornam dependentes. Em ambas as situações a probabilidade de
recaída é maior. O mais indicado é um ambiente tolerante, onde haja apoio, mas que
fomente a capacidade de superação e independência do paciente. Os familiares do
doente devem estar bem informados sobre a doença a fim de poderem ajudar o doente
sempre que necessário. O enfermeiro deve dar toda a informação sobre a doença de uma
forma simples e compreensível.
A esquizofrenia é uma doença que afecta profundamente a família, que leva algum
tempo até à sua aceitação. Na nossa sociedade existe um grande estigma à volta das
pessoas que sofrem de doenças mentais, não existindo grande conhecimento sobre estas.
Quando a esquizofrenia surge, no seio de uma família, esta não sabe como agir com o
seu familiar, não compreende os seus comportamentos cada vez mais anormais e não
sabe a quem deve recorrer, por este facto fica cada vez mais sujeita a grandes pressões.
Quando uma pessoa é afectada por esta doença toda a sua família sofre com isso.
Depois do diagnóstico feito é perfeitamente normal que surjam na família sentimentos
de culpa, ressentimento, raiva, vergonha e amargura. Num primeiro instante tenta-se
esconder a doença por causa de dos preconceitos sociais. Quando alguém na família
adquire esquizofrenia é necessário que esta mude e se adapte para continuar a ser feliz
apesar da dor.
É importante que a família tenha em mente que deve proporcionar uma atmosfera calma
em vez de argumentativa, com atitudes previsíveis em vez de inconscientes, com apoio
e tolerância para o doente, em vez de rejeição.
Para que a família possa caminhar ao lado do doente, e não no sentido contrário, é
imprescindível que os vários elementos da família respeitem as necessidades de cada
um, devem decidir que tipo de comportamento é inaceitável e devem ser capazes de
impor esses limites. Quando é um dos elementos do casal, é importante manter um
equilíbrio de poder entre eles, ajustar os papéis dos membros para que o doente possa
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encontrar uma área de competência que contribua para o bem estar da família e
assegurar que o outro membro do casal possa ter um tempo para si.
O planeamento dos cuidados à doente esquizofrénica deve ser centrado nos seguintes
aspectos: na independência da mãe, na vinculação à criança, na integração familiar, nas
competências parentais e cuidados à criança e na manutenção da gestão doméstica. É
vital que o plano de alta seja cuidadosamente desenvolvido com a colaboração da
família/equipa de saúde.
Nos cuidados à mulher com esquizofrenia o enfermeiro deve considerar os seus efeitos
na família: se a mãe não se sente bem, é incapaz de se adaptar a si própria ou à criança,
isola-se ou está tão fatigada que a família é inevitavelmente afectada. Os factores de
stress são agravados o que pode resultar no isolamento da mãe, alteração do
relacionamento com o companheiro ou impacto negativo na parentalidade. O
enfermeiro deve estar alerta para estes sinais de disfunção e preparado para promover a
vinculação mãe/filho indicando à família fontes de suporte e aconselhamento.
Visto que na doença abordada o doente, muitas das vezes, tem uma percepção diferente
da realidade por vezes acontece que a mãe se convence de que alguém lhe quer tirar o
bebé e agarra-se a este como forma de protecção, pode também acreditar que a criança
vai morrer, que tem alguma anomalia ou que Deus cuida dela e por isso não necessita de
cuidados.
O enfermeiro deve estar atento aos sintomas da doença presentes no doente. Estes
podem manifestar-se através da agitação psicomotora, alterações nos padrões de
sono/repouso, perda de interesse, pensamento lento ou concentração alterada e possível
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O plano de alta feito pelo o enfermeiro tem por objectivo responder às necessidades da
criança enquanto a mãe está a integrar a sua experiência. Durante o internamento o
enfermeiro deve observar a mulher para verificar o comportamento de vinculação e
pertença. Os comportamentos de vinculação são demonstrados através de certos gestos
como: acarinhar, falar com a criança, chama-la pelo nome, olhar olho no olho, contactar
fisicamente, tocar, bem como iniciar os cuidados necessário quando apropriados (por
exemplo: mudar a fralda do bebé sempre que seja necessário).
Torna-se assim necessário treinar um conjunto de aptidões sociais que podem passar
pelo simples contacto com o olhar, a forma de iniciar uma conversa mantendo um
volume de voz adequado, seleccionar os tópicos adequados para mantê-la e saber como
terminá-la.
O treino de aptidões sociais pode ser dirigido quer aos comportamentos mais simples,
quer a outros mais complexos. Habitualmente, este tipo de intervenção terapêutica é
realizado com pequenos grupos de doentes, procurando-se, através da repetição,
promover a retenção de informação. São utilizadas com frequência nestas sessões
exercícios de role-playing, em que são simuladas várias situações práticas,
proporcionando, deste modo, aos doentes uma participação activa e directa no seu
processo terapêutico-reabilitativo.
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Nasce a Sara, e retomo a minha vida: trabalho, bebé, marido. Estava feliz! Mas más
notícias aguardavam-me. Minha querida avó falecera. Foi o choque. Nova recaída.
Achava que o espírito dela estava comigo, perseguia-me, por todo o lado, não para me
fazer mal, mas sim para me proteger e à minha filha.
Depois de 4 anos de união, separo-me. Vou para casa da minha (falecida) mãe. Foi
uma fase difícil, pois tinha que trabalhar, noite e dia para criar a minha filhota. Para
além dos sintomas já citados, sentia-me, triste, angustiada, vazia, pois a vida não me
sorria, parecia que o azar me perseguia. Fartava-me de trabalhar e nada tinha.
Relacionamentos falhados, excesso de trabalho, a incompreensão por parte dos meus
pais (achavam que estava metida na droga). Fui ao fundo do poço, julgava adivinhar o
futuro dos "meus amigos", tirei cartas, tinha visões de figuras bíblicas (incluindo
Jesus). Eu achava que era um "ser especial". Até conhecer o pai do meu filho. Estava
feliz (novamente) tinha uma casa, um bom ordenado, e mais abençoada com o meu
segundo filho. Tudo piorou 2 anos depois. Estava desequilibrada! Não conhecia
ninguém, não comia, não dormia, não cuidava da casa, faltava constantemente ao
trabalho. Só queria estar em Igrejas pois pensava, que era "solo sagrado" estando lá,
os espíritos largavam-me. Mas na realidade era bem diferente!
Humilhou-me, tirou a minha dignidade, o meu filho, o meu dinheiro, a minha casa…
finalmente fui internada. Comecei a ter consciência do que estava a acontecer.
Nos primeiros 15 dias, continuava a viver no mundo da ilusão. Tinha medo… medo de
não ser boa pessoa, boa esposa, boa mãe, boa filha, boa irmã…
Mas graças ao médico que me assiste, a quem devo a minha gratidão tenho esperança
de um dia poder contar, principalmente aos meus filhos, o porquê do meu sofrimento,
meu, e de quem gosta de mim.
Presentemente, não tenho tido recaídas. Mas não me sinto como há 10 anos atrás. Era
uma rapariga alegre e desinibida.
Hoje sinto-me mais retraída, mais apática, por vezes com falta de iniciativa,
complexada (engordei 40 Kg) por vezes triste, pois quem eu julgava ser meu amigo,
simplesmente ignorava-me, achando que sou doida. Mas apesar de tudo isto, tomei
consciência da realidade e do meu problema, e tudo farei, dentro das minhas
limitações, para conquistar o meu amor próprio e o respeito por mim mesma e
simplesmente aceitar a minha actual condição.
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Faço-o por mim, pelos meus filhos e irmãos. (Tenho um irmão que sofre da mesma
doença.)”
Paula Santos
IV – CONCLUSÃO
A esquizofrenia foi durante muitos anos sinónimo de exclusão social. Estes doentes
eram, até há algum tempo atrás, frequentemente colocados em hospitais psiquiátricos ou
asilos para doentes mentais, ficando nestes locais durante muitos anos ou até o resto das
suas vidas.
O nome não deve assustar. Maior problema está em não diagnosticar a tempo para evitar
uma maior deterioração ou minimizar a doença. Ou não fazer a terapêutica certa para
evitar recaídas e o consequente agravamento. A pessoa com esquizofrenia é uma pessoa.
Pensa, sente, avalia, age, tem as suas ideias sobre o que se passa consigo próprio. Tem
desejos, poderá ter projectos. Assim que lhe criem as condições de apoio para o seu
tratamento e recuperação para uma vida social activa. A pessoa pode e deve ser, com
todo o tacto, no momento certo, levada a saber sobre a doença, sobre os sintomas e
como evitá-los, sobre os tratamentos, etc. Deve poder aprender a queixar-se, a saber
avaliar os efeitos do tratamento, deve saber reivindicar os seus direitos, pode e deve
“desalienar-se” numa interacção aberta com os outros.
Por sua vez, o público em geral tem ainda muito que aprender sobre as doenças
psiquiátricas: são as doenças que mais dizem sobre a natureza humana, um livro por
abrir sobre os nossos limites e fragilidades.
A pessoa fala, tem direito à palavra, tem direito a ser ouvida, tem direito a ser
respeitada, mesmo no seu desacerto temporário ou persistente. Tem direito a saber mais,
a aprender, a ser reconhecida. Mas mal iríamos se, num grande salto para o erro, a
doença fosse subestimada, considerada nada, como se não existisse já, como se a
pessoa, por ter estatuto igual, pudesse ser sujeita ao mesmo stress, às agruras da vida,
sem protecção, sem apoio, sem a primazia do direito à saúde mental, só possível através
do conveniente tratamento psiquiátrico, incluindo uma necessária hospitalização ou vida
apoiada.
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Mal seria que não se desse a devida atenção aos limites e às possibilidades de cada um,
num voluntarismo desajustado, apenas válido para ensaios políticos e bonitos currículos
sem contacto real com pessoas portadoras de esquizofrenia. A dimensão da saúde
mental não se mede pelo rendimento da pessoa. Poderá medir-se pela aceitação do que
melhor se ajusta a cada pessoa sem prejudicar a saúde e o equilíbrio.
Fingir que a pessoa portadora de esquizofrenia não tem dificuldades e limitações é uma
normalização fictícia, inconsciente da realidade da doença e ignorante dos princípios
humanistas.
Eticamente, não se pode proibir que as pacientes psicóticas engravidem. Caso isso
aconteça, as atenções pré-natais devem ser redobradas, valendo-se de um psiquiatra
juntamente com o obstetra e com o apoio da família é possível que os pais
esquizofrénicos consigam educar os seus filhos.
Como já referimos a família tem um lugar essencial, sendo que quase sempre os
familiares são os maiores conhecedores das verdadeiras necessidades dos utentes,
necessidades assistenciais, reabilitativas, ocupacionais, habitacionais, jurídicas,
patrimoniais, etc… Uma família saudável, abnegada, dedicada, cria condições para uma
recuperação mais conseguida. Por outro lado um tecido familiar destruído, com
carências, pobreza, discórdia, terreno fértil para a pessoa doente ser mais um mal para
os outros e para o próprio.
Em suma podemos concluir que a esquizofrenia, pelas suas características, requer uma
abordagem terapêutica abrangente. É por isso necessário intervir não só ao nível
farmacológico, controlando os sintomas da doença, como também é importante intervir
ao nível social, psicoterapêutico, psicoeducativo, familiar e ocupacional… para que
serve controlarmos os sintomas da doença se não apoiamos o doente na sua reintegração
social? É importante para estes doentes sentirem que podem voltar a ter uma
oportunidade em desempenharem um papel activo na sociedade. E nós, como futuros
enfermeiros, vamos ter um papel essencial… é necessário acabar com esta
discriminação!
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V – BIBLIOGRAFIA
AFONSO, Pedro – Esquizofrenia: Conhecer a Doença. 2ª Edição; Lisboa; Climepsi
Editores; 2002
Sites Consultados
http://www.aeape.pt
http://www.openthedoors.com/
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