7 Alcenos
7 Alcenos
7 Alcenos
Os alcenos são hidrocarbonetos que possuem, pelo menos, uma ligação dupla
carbono-carbono. O alceno mais simples é o etileno (eteno) cuja fórmula molecular é
C2H4. A dupla ligação é representada, de acordo com a estrutura de Lewis, mediante
dois pares de electrões entre os átomos de carbono (C::C).
O comprimento da ligação C=C no etileno é de 1,33 Å, muito mais curto que a ligação
simples C-C do etano que é de 1,54 Å. O comprimento da ligação C-H no etileno é de
1,08 Å, ligeiramente menor que a ligação C-H no etano que é de 1,09 Å. Os ângulos das
ligações C-C-H e H-C-H são de 121,7º e 116,6º, respectivamente.
• As distâncias e os ângulos das ligações podem ser explicados, pelo facto dos dois
átomos de carbono que formam a ligação dupla apresentam uma hibridação do tipo sp2.
• A dupla ligação é composta por uma ligação σ e por uma ligação π. A ligação σ forma-
se por sobreposição das orbitais sp2 de cada átomo de carbono. Cada uma das ligações
C-H forma-se por sobreposição de uma orbital sp2 do carbono e uma orbital s do
hidrogénio.
A ligação π
• Para que as duas orbitais p se sobreponham eficazmente, devem as mesmas estar
orientadas paralelamente entre si e perpendicularmente à ligação σ. Para que isto
ocorra, a estrutura da ligação σ tem que ser coplanar e os seis núcleos atómicos
implicados na dupla ligação têm que estar sobre o mesmo plano. Se isto ocorrer, as
duas orbitais paralelas p estão suficientemente dispostas para que se sobreponham
lateralmente, podendo ocorrer duas situações distintas:
• Forma-se uma orbital molecular ligante π;
• Forma-se uma orbital molecular antiligante π∗.
• No caso dos alcenos, os dois electrões que formam a ligação π entre os átomos de
carbono, constituem uma orbital molecular ligante π.
• A sobreposição das orbitais p é menos eficaz que a sobreposição frontal pela qual se
ligam as orbitais σ. Por conseguinte, uma ligação π é mais débil que uma ligação σ.
• O comprimento da ligação C-H é menor no etileno que no etano por duas razões: a
ligação σ do etileno é formada por sobreposição de duas orbitais sp2 do carbono (33,3%
de carácter s), enquanto que no etano, a ligação σ é formada por sobreposição de duas
orbitais sp3 (25% de carácter s); e, a sobreposição das orbitais p que formam a ligação
π, aproxima os dois átomos de carbono.
Energia de Ligação
• As energias de ligação das ligações σ C-C e C-H são 83 kcal e 101 kcal,
respectivamente, e a energia de ligação da ligação π é de 58 kcal, conferindo uma
energia total de 140 kcal/mol.
Isomeria
Os alcenos apresentam isomeria do tipo:
planar: de esqueleto de cadeia e de esqueleto de núcleo e de posição.
espacial: geométrica e óptica.
Nomenclatura
• Determina-se o nome básico, seleccionando a cadeia mais longa que contém a dupla
ligação e mudando o nome final do alcano, de idêntico tamanho, de “ano”
ano para eno.
eno
• Determina-se a cadeia de modo a incluir ambos os carbonos da dupla ligação,
começando a numeração a partir da extremidade da cadeia que lhe fica mais próxima.
• Indica-se a localização da dupla ligação, usando o número do primeiro átomo de
Carbono que nela participa.
1 2 3 4 1 2 3 4 5 6
H2C CH CH2 CH3 H3C CH CH CH2 CH2 CH3
1-Buteno 2-Hexeno
Indica-se a localização dos grupos substituintes pelo número do átomo de Carbono
ao qual estão ligados.
CH3
1 2 3 4 5 6
H3C CH CH CH2 C CH3
CH3
5,5-Dimetil -2-hexeno
Fórmula
Fórmula estrutural Nome IUPAC Nome vulgar
molecular
H H
C2H4 C C Eteno Etileno
H H
H H
C3H6 Propeno Propileno
H3C C C H
H H
C4H8 1-Buteno α-Butileno
H3C CH2 C C H
H H
C4H8 2-Buteno β-Butileno
H3 C C C CH3
CH3
C4H8 H3C C C H 2-Metilpropeno Isobutileno
H
Por vezes, os alcenos são designados como derivados do etileno, referindo-se os
grupos ou átomos (além do Hidrogénio) ligados aos carbonos da dupla ligação.
H3C H F F
C C C C
H3C CH3 F F
Trimetiletileno Tetrafluoretileno
Métodos de obtenção
Os alcenos são raros no estado natural. A ligação etilénica, no entanto, existe no
reino vegetal, especialmente no grupo dos terpenos, como o pineno, principal
constituinte da essência de terebentina da resina do pinheiro e o limoneno, que se
encontra na essência do limão.
CH3 CH3
H3C
CH3
H3C C CH3
Pineno Limoneno
Métodos de obtenção
Os petróleos não contêm alcenos.
Os alcenos podem preparar-se, quer a partir de compostos saturados, por reacções
de eliminação, quer a partir de compostos menos saturados, por uma reacção de
adição.
eliminação eliminação
C C C C C C
adição adição
XC CX C C
C C C C
CH3-C≡CH + H2 → CH3-CH=CH2
2) Obtenção Industrial
Propriedades Químicas
De modo sucinto, os alcenos são susceptíveis de sofrer reacções de: Combustão,
Oxidação, Isomerização, Adição e Polimerização.
Veja-se, em seguida, estas propriedades de um modo mais aprofundado.
• Os alcenos sofrem reacções
de combustão, quer podem ser
completas ou incompletas.
Estas reacções libertam, para
além de CO2, CO, C e H2O, calor.
Diversos modos de
oxidação são possíveis
para os alcenos e
conduzem a resultados
muito diferentes,
ilustrando, por vezes, a
influência determinante
das condições
experimentais com certa
reacção.
A ozonólise consiste no
processo de destruição da
função alceno, por
intermédio do ozono.
• A isomerização pode ser
de dois tipos: passagem
de cadeia linear a
ramificada ou mudança da
posição da dupla ligação.
• A saturação da ligação dupla pelo
hidrogénio, conduz ao alcano
correspondente. Esta reacção só se
produz em presença de um
catalisador, possível por vezes à
pressão atmosférica, poderá
necessitar do emprego de pressões
de hidrogénio elevadas e de uma
elevação de temperatura. Os
catalisadores de hidrogenação são
metais (Níquel, Platina) finamente
divididos; na realidade, intervêm por
uma acção de superfície,
efectuando-se a reacção entre
moléculas fixadas (“adsorvidas”) à
superfície do metal. Nesse estado
de adsorção, as ligações H-H e π,
que tenham de sofrer ruptura para
que se realize a reacção, encontram-
se extraordinariamente
enfraquecidas, de modo que a
energia de activação da reacção é
muito menor, e esta torna-se muito
mais rápida.
• Cl2, Br2, I2 fixam-se às
ligações duplas, dando
um derivado di-
halogenado, em que os
dois halogéneos estão
ligados a dois carbonos
vizinhos.
• O Cloro e o Bromo
adicionam-se por si só,
e muito facilmente; mas
o Iodo apenas se pode
adicionar
indirectamente, em
presença de
catalisadores.
• A adição dos dois
átomos de halogéneo,
não é simultânea, mas
sucessiva, fixando-se os
dois átomos de um lado
e de outro da molécula
(Adição em trans).
HCl, HBr e HI fixam-se
directamente às ligações
duplas, obtendo-se um
derivado mono-
halogenado saturado.
Trata-se de uma
adição “não-simétrica”
(Regra de Markovnikov).
A adição de água sobre um
alceno, conduz a um álcool.
A fixação directa da água,
porém, possível, visto que esta
não é um átomo suficientemente
forte para “protonar” a ligação
dupla; a reacção só se produz na
presença de um ácido forte
(H2SO4), que desempenha papel
catalítico.
1.ª etapa: fixação de um protão
do ácido sulfúrico e formação de
um carbocatião.
2.ª etapa: intervenção da água,
não já como ácido, mas como
reagente nucleófilo que dispõe de
dubletos, e que pode reagir com o
carbocatião.
3.ª etapa: eliminação de um
protão, facilitada pela criação de
uma deficiência electrónica no
Oxigénio.
As adições que normalmente
que normalmente se fazem de
acordo com a regra de
Markovnikov, deixam de a
seguir se a reacção se efectuar
na presença de um composto
susceptível de produzir
radicais com facilidade
(peróxidos com a forma de R-
CO-O-O-CO-R); isso constitui o
que se designa por “efeito
Karasch” ou “efeito peróxido”.
A explicação reside no facto
de que neste caso, a reacção
deixa de ser um mecanismo
heterolítico para se tornar
homolítico e em cadeia: a)
produção dos radicais
iniciadores; b) início da
reacção; c) propagação da
reacção em cadeia.
• A polimerização é
uma reacção em que
as moléculas de um
composto se soldam
umas às outras, por
vezes, em grande
número, sem nenhuma
eliminação, para dar
origem a uma
substância (polímero)
cujo peso molecular é
um múltiplo inteiro do
do composto inicial
(monómero).
• O etileno, assim
como diversos
compostos da forma
R-CH=CH2, podem
polimerizar-se,
originando cadeias
saturadas muito
compridas.
• O polímero
(polietileno) pode ter
um peso molecular da
ordem de 25000.
• Os polímeros relativamente leves
(peso molecular da ordem de poucos
milhares) são líquidos, mais ou menos,
viscosos utilizados como lubrificantes;
os mais pesados são sólidos
susceptíveis de amolecerem com o
calor, permitindo o fabrico de objectos
por moldagem (termoplásticos).
Formados por ligações saturadas, são
quimicamente muito inertes.
• Estes diversos polímeros compõem
as numerosas matérias plásticas que
actualmente se utilizam; podem
também constituir fibras têxteis
sintéticas (poliacrilonitrilo).
• Exceptuando o emprego de
catalisadores especiais, estas
polimerizações efectuam-se segundo
um mecanismo simples de tipo
radicalar ou iónico.
• A polimerização do isobuteno, para
dar um “elastómero”, isto é, um
produto semelhante à borracha,
constitui um exemplo de um
mecanismo diferente: a polimerização
catiónica em meio ácido.