Medidas de Redução de Perdas de Água em Redes de Abastecimento

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Medidas de

Reduo de Perdas
de gua em Redes
de Abastecimento
Alcantaro Corra
Presidente do Sistema FIESC
Srgio Roberto Arruda
Diretor Regional do SENAISC
Antnio Jos Carradore
Diretor de Educao e Tecnologia do SENAISC
Marco Antnio Dociatti
Diretor de Desenvolvimento Organizacional do SENAISC
Medidas de
Reduo de Perdas
de gua em Redes
de Abastecimento
Blumenau/SC
2010
Confederao Nacional da Indstria
Servio Nacional de Aprendizagem Industrial
Ricardo Hbner
2010. SENAI Departamento Nacional
Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Equipe tcnica que participou da elaborao desta obra
Servio Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Regional de Santa Catarina
Rua So Paulo, 1.147
Bairro: Victor Konder
Cidade: Blumenau
Estado: SC
CEP: 89012-001
DDD: 47 FAX: 3321-9601 Telefone: 3321-9600
E-mail: [email protected]
http://www.sc.senai.br
Coordenao
Rodrigo Afonso de Bortoli
Colaborao
Ricardo Hbner
Cristvo Pereira Silva
Organizao de contedo e apoio
pedaggico
Ncleo de Educao a Distncia SENAIsc em
Florianpolis
Seleo e adequao do contedo
SENAIsc em Florianpolis
Equipe de Recursos Didticos
Design educacional, tratamento de imagens
e diagramao
SENAIsc em Florianpolis
Equipe de Recursos Didticos
Reviso Ortogrfca e Normativa
FabriCO

Ficha catalogrfica elaborada por Luciana Effting CRB 14/937 SENAI/SC Florianpolis






























H879m
Hbner, Ricardo
Medidas de reduo de perdas de gua em redes de
abastecimento / Ricardo Hbner. Braslia: SENAI/DN, 2010.
117 p. : il. color ; 28 cm.

Inclui bibliografias.

1. Saneamento. 2. gua - Conservao. 3. Meio ambiente. 4.
Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.). I. SENAI. Departamento
Nacional. II. Ttulo.

CDU 628.16
Sumrio
Apresentao do curso ................................................................................ 07
Unidade 1: Parmetros hidrulicos e gerenciais para controle de
perdas de gua em redes de abastecimento .......................................09
Unidade 2: Medidas de combate s perdas de gua em redes de
abastecimento ............................................................................................... 39
Unidade 3: Equipamentos para controle de perdas ......................... 59
Unidade 4: Seleo dimensionamento de hidrmetros ................... 91
Glossrio ....................................................................................................... 109
Sobre o autor .............................................................................................. 113
Referncias ................................................................................................... 115
7
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Apresentao
do curso
Bem vindo ao curso de Medidas de Reduo de
Perdas de gua em Redes de Abastecimento. Os
ndices de perdas de gua em redes de distribui-
o no Brasil so elevados na grande maioria das
cidades. Esse tema relevante sob vrios aspectos,
principalmente tendo em vista a necessidade do
adequado gerenciamento do uso da gua em fun-
o da tendncia de sua crescente escassez, tanto
em quantidade como em qualidade.
Este curso tem como principal objetivo propor-
cionar uma aprendizagem autnoma sobre as
principais medidas de controle de perdas de gua
em redes de abastecimento. Sero abordadas as
principais causas das perdas de gua nas redes de
distribuio, bem como as principais medidas de
controle das mesmas. Trata-se de um tema comple-
xo que exige a considerao das particularidades
inerentes a cada rede de abastecimento de gua,
como a topografa do terreno, o material e a idade
da rede, volumes transportados, dentre outros. Com
este contedo no se pretende apresentar solues
para a questo das perdas, mas sim os principais
conceitos e alternativas de controle. Portanto, uma
anlise de cada caso poder apontar as alternativas
que melhor se adaptem s situaes encontradas.
O contedo do curso est dividido em quatro uni-
dades de estudo:
Unidade 1 So tratados os principais parme-
tros hidrulicos e gerenciais para controle de
perdas de gua em redes de abastecimento.
Unidade 2 Aborda as principais medidas que
podem ser adotadas para combate das perdas
de gua em redes de abastecimento.
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Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Unidade 3 So apresentados os principais equipamentos que podem ser
instalados nas redes para auxiliar na reduo e no controle de perdas.
Unidade 4 O contedo volta-se para a questo do dimensionamento de
hidrmetros e seleo de medidores de vazo.
Para a concluso das quatro unidades de estudo, foram previstas 36 horas/aula
a distncia, e a fnalizao do curso ocorrer com um encontro de quatro horas
presenciais. Nesse encontro sero realizados uma reviso geral do contedo,
esclarecimentos de dvidas e uma avaliao fnal com cinco questes objetivas
referentes a cada unidade, totalizando 20 questes.
O benefcio esperado para os(as) alunos(as) que conclurem o curso conhe-
cer: os principais parmetros hidrulicos e gerenciais relacionados s perdas de
gua em redes de distribuio de gua; as principais causas das perdas de gua
em redes de abastecimento; as principais medidas de controle das perdas; e os
principais equipamentos utilizados para reduzi-las.
Para um melhor aproveitamento durante o curso, observe a carga horria apre-
sentada no Plano de Estudos a seguir:
Unidades Atividades
Carga
horria
Parmetros hidrulicos e gerenciais
para controle de perdas de gua em
redes de abastecimento
Atividades de passagem 12 horas
Medidas de combate das perdas de
gua em redes de abastecimento
Atividades de passagem 8 horas
Equipamentos para controle de per-
das
Atividade de passagem 8 horas
Dimensionamento de hidrmetros e
Seleo e dimensionamento de medi-
dores de vazo
Atividades de passagem 8 horas
Encontro presencial Reviso geral e avaliao 4 horas
Carga horria total 40 horas
Este material foi desenvolvido especialmente para voc. Lembre-se sempre de
que o tutor estar sua disposio, portanto, toda vez que tiver alguma dvida,
s cham-lo.
Preparado para comear? Ento vamos l!
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Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
1
Parmetros
Hidrulicos e
Gerenciais para
Controle de Perdas
de gua em Redes
de Abastecimento
Objetivos de Aprendizagem
Esta a primeira unidade de estudo. Nela voc
vai conhecer os parmetros hidrulicos e geren-
ciais que ajudam a controlar as perdas de gua.
Ao fnal desta unidade, voc ter subsdios para:
Conhecer os principais parmetros hidru-
licos e gerenciais relacionados s perdas de
gua em redes de abastecimento.
Compreender a relao entre os parmetros
hidrulico-gerenciais e a ocorrncia das per-
das de gua nas redes de distribuio.
Identifcar parmetros hidrulicos crticos que
contribuem para a ocorrncia de perdas de
gua em redes de distribuio.
Desenvolver mtodos gerenciais de contro-
le dos parmetros hidrulicos em redes de
abastecimento de gua.
Avaliar criticamente os principais parmetros
hidrulicos das redes de abastecimento de
gua com relao ocorrncia de perdas.
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Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aulas
Esta unidade est dividida em duas aulas, com os seguintes assuntos:
Aula 1: Parmetros hidrulicos para controle de perdas de gua em redes de
abastecimento.
Aula 2: Parmetros gerenciais para controle de perdas de gua em redes de
abastecimento.
Para iniciar
A gua vem se tornando um dos principais temas de discusso e inte-
resse humano. O cenrio atual aponta para a escassez e a reduo da
qualidade da gua disponvel. O crescimento rpido e contnuo das
cidades promove o aumento do consumo e a poluio da gua. Con-
forme citao feita pelo diretor-geral da Organizao Geral das Naes
Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco) e pelo secret-
rio-geral da Organizao Meteorolgica Mundial (OMM) no caderno
publicado em conjunto pelas duas organizaes, a disponibilidade de
gua doce um dos grandes problemas enfrentados hoje no mundo
(LAPORTE, 1997). Em alguns aspectos, o principal porque as difculda-
des causadas afetam a vida de milhes de pessoas.
Segundo os autores, nos prximos 50 anos os problemas relacionados
falta de gua ou contaminao de mananciais afetaro praticamen-
te todos os habitantes do planeta. Conforme a mesma publicao, o
consumo de gua aumenta numa proporo superior a duas vezes o
crescimento da populao e as aes voltadas para a preservao da
gua certamente sero cada vez mais necessrias. Um dos obstculos
para o uso efciente da gua so as perdas nos sistemas de abasteci-
mento de gua urbano.
No Brasil, de acordo com dados publicados pelo Sistema Nacional de
Informaes sobre Saneamento (SNIS), do Ministrio das Cidades, no
Diagnstico dos servios de gua e esgoto, o ndice de perdas nos siste-
mas de abastecimento de gua no ano de 2007 foi de 39,1% (BRASIL,
2009). Em 1999, o tema passou a fazer parte do Programa Nacional de
Combate ao Desperdcio de gua (PNCDA), na esfera federal, tendo por
objetivo defnir e implementar um conjunto de aes e instrumentos
tecnolgicos, normativos, econmicos e institucionais para uma efetiva
11 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
economia dos volumes de gua demandados para consumo nas reas
urbanas (SILVA; LOTUFO; GONALVES, 1998).
As perdas de gua em redes de abastecimento costumam ocorrer em
diferentes pontos do sistema, continuamente, e os locais de ocorrncia
variam muito. Portanto, as aes para reduo e controle dessas perdas
devem fazer parte de um processo sistmico, contnuo e permanente.
Costuma-se agrupar as perdas de gua em dois tipos: as fsicas ou reais
(no consumidas) e as no fsicas ou aparentes (consumidas, porm
no faturadas). Os dois grupos sero analisados separadamente, apon-
tando-se suas principais causas e medidas especfcas de combate.
Segundo o SNIS (BRASIL, 2009), 60% das perdas reais e aparentes so
recuperveis. No entanto, seu gerenciamento envolve mltiplos proces-
sos e apontar solues para evit-las uma questo bastante comple-
xa.
Neste curso sero apresentados alguns dos principais conceitos e as-
pectos essenciais que podem vir a contribuir no combate s perdas de
gua em redes de abastecimento. Pronto para comear? Ento, vamos
l!
Aula 1:
Parmetros hidrulicos
para controle de perdas
de gua em redes de
abastecimento
Introduo
De modo geral, os sistemas urbanos de abastecimento de gua so compostos
por: unidades de captao, tratamento, elevatrias de gua bruta e tratada,
aduo, reservatrios, redes de distribuio e ligaes prediais. As redes urba-
12
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
nas de distribuio so destinadas a conduzir gua em quantidade, qualidade e
presso sufcientes para o abastecimento dos diversos pontos de consumo.
Para o funcionamento adequado das redes, alm de critrios de execuo, al-
guns parmetros hidrulicos devem ser considerados nos projetos, entre eles a
presso interna nas tubulaes, que determinar a presso nominal das mes-
mas; as velocidades mximas e mnimas para o escoamento; as perdas de carga
contnuas e localizadas; e os fenmenos hidrulicos transitrios como o golpe
de arete.
A seguir voc vai conhecer e entender um pouco mais sobre esses parmetros
hidrulicos.
Presso em redes de abastecimento de gua
A presso hidrulica em uma rede de distribuio de gua um fator determi-
nante para sua efcincia, alm de repercutir no custo de implantao e ope-
rao do sistema. importante gerenciar e controlar as presses nas redes de
forma a atender s presses mnimas exigidas e limitar as presses mximas.
Nota


A NBR 12218 Projeto de Rede de Distribuio de gua para
Abastecimento Pblico (ABNT, 1994) estabelece que a presso dinmica
mnima em qualquer ponto nas tubulaes distribuidoras deve ser de 100
kPa (10 mca).
importante destacar que as presses mximas nas redes devem ser limitadas,
considerando-se que:
Trabalhando-se com alturas timas, evita-se o uso desnecessrio de energia,
reduzindo custos energticos de bombeamento.
Quanto maior a presso na rede, maior ser a presso nominal da tubulao,
envolvendo materiais de maior custo.
As possibilidades de ruptura nas tubulaes aumentam com o aumento das
presses dinmicas e estticas na rede.
As perdas fsicas de gua crescem com o aumento das presses de servio,
pois a vazo nas fssuras ou juntas dos tubos aumenta com o acrscimo da
presso.
13 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
As vazes nos pontos de consumo crescem com o aumento das presses
disponveis.
A NBR 12218 (ABNT, 1994) estabelece que a presso mxima nas tubulaes
distribuidoras deve ser de 500 kPa (kilos Pascal) ou 50 mca (metros de coluna
de gua). A mesma norma estabelece que os trechos de condutos principais,
que no abastecem consumidores ou tubulaes secundrias, no esto su-
jeitos aos limites de presso mxima e mnima. Em locais com topografa aci-
dentada, por exemplo, as redes devem ser divididas por zonas de presso para
atender aos limites de carga estabelecidos.
A diminuio das perdas fsicas de gua com a reduo das presses de opera-
o da rede de distribuio um fenmeno conhecido h muito tempo pelas
companhias de saneamento e distribuio de gua (CONEJO; LOPES; MARCKA,
1999), sendo um assunto que merece destaque.
Presses nominais dos tubos
A escolha correta dos tipos de tubo fundamental para o bom funcionamento
das tubulaes dos sistemas de distribuio de gua. Os principais fatores a se-
rem considerados so: o dimetro para atendimento da demanda e dos limites
de velocidade; o custo dos tubos; as presses de trabalho; as cargas externas
que podero atuar sobre as tubulaes; o custo de instalao; a manuteno; a
qualidade a ser transportada e as caractersticas do terreno.
As tubulaes fcam sujeitas a esforos hidrulicos internos produzidos pelas
presses dinmicas e estticas, e por possveis aumentos e redues bruscas
de presso originadas de efeitos transitrios, que so aqueles que ocorrem por
conta das perturbaes na rede como, por exemplo, manobras em registros.
Para a correta seleo das classes ou presses nominais dos tubos, a fm de se
evitarem rompimentos, necessrio conhecer os esforos hidrulicos mximos
que podero atuar nas tubulaes.
Pergunta
Voc sabia que existe presso mesmo quando a rede est em repouso?
a chamada presso esttica. Observe a seguir.
14
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
A presso esttica aquela que ocorre nas tubulaes quando a vazo nula
(rede em repouso). Ela se d nas redes que se mantm permanentemente pres-
surizadas e apresenta-se nos horrios noturnos, quando o consumo baixo.
Durante o perodo de consumo mnimo, na madrugada, as vazes transporta-
das pela maioria dos trechos sero bem menores do que as de projeto e, con-
sequentemente, as perdas de carga ao longo da rede sero muito pequenas.
Nessa situao, praticamente toda a rede estar submetida a cargas com valo-
res prximos das presses estticas mximas.
Outra situao extrema se apresenta quando a rede est em plena carga, duran-
te os horrios de pico de consumo. Nesse caso, as tubulaes estaro submeti-
das s presses dinmicas de projeto, que so as presses mnimas necessrias
para o abastecimento dos consumidores.
Relao presso x volume do vazamento
As vazes (Q) perdidas em vazamentos no sistema de distribuio de gua so
funo da raiz quadrada da carga hidrulica ou presso (H), ou seja, Q = f (H),
para o caso das tubulaes rgidas. Para as tubulaes plsticas, essa funo
praticamente linear. A aplicao da frmula citada permite uma estimativa da
ordem de grandeza das redues de perdas fsicas resultantes de redues de
presses em tubulaes rgidas: PNCDA DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA,
2003).
A tabela a seguir apresenta uma relao entre reduo de presso e reduo de
perdas fsicas de gua nas tubulaes, que calculada pela frmula:
Q = f (H)
Reduo da carga (%) Reduo da perda (%)
20 10
30 16
40 23
50 29
60 37
Tabela 1 Reduo de perda de carga em funo da reduo da presso nas tubulaes para tubos de
ferro fundido ou ao.
Fonte: PNCDA DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 2003, p. 22).
15 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
importante dar uma ateno especial ao controle de cargas hidrulicas na
rede, pois sua simples reduo leva a substanciais redues nas perdas que
ocorrem em vazamentos existentes, alm de restringir o risco de novas rupturas.
Observe a seguir um exemplo de reduo de presso:
A instalao de uma vlvula redutora de presso, dimensionada para redu-
zir as cargas em 60% (por exemplo, de 100 mca para 40 mca), em um setor
com perdas fsicas conhecidas de 50%, acarretar uma reduo de 37% nas
perdas existentes, as quais passaro de 50% para 31,5%, com uma reduo
efetiva de 18,5%.

Portanto, possvel quantifcar previamente as redues de perdas esperadas
por meio de redues de presses e, com isso, avaliar economicamente o retor-
no dos investimentos necessrios para atingir os objetivos.
Velocidades nas tubulaes
Os limites de velocidade mxima admissveis do fuxo de gua nas tubulaes
sob presso so estabelecidos com o objetivo de compatibilizar o custo dos
condutos, com a segurana das redes hidrulicas de distribuio. Para o trans-
porte por um conduto de uma determinada vazo (Q), quanto maior for a velo-
cidade de circulao de gua, menor ser o dimetro necessrio do tubo
(Q = A .V), o que conduz, a princpio, seleo de uma tubulao de menor
custo. No entanto, nem sempre assim, j que o acrscimo de velocidade acar-
reta, alm de maior perda de carga no transporte, um maior risco de danos s
tubulaes.
Os problemas produzidos pelos golpes de arete nas tubulaes, os desgastes
dos tubos, dos elementos de conexes e das peas especiais, as vibraes na
rede, as defcincias nos apoios dos tubos, entre outros, so fenmenos ha-
bituais das redes hidrulicas, que crescem com o aumento da velocidade de
circulao da gua. Por essa razo, adotam-se limites para a velocidade mxima
do escoamento nas tubulaes, em funo dos seus dimetros, dos custos dos
tubos e tambm do nvel de risco que se queira adquirir com respeito a poss-
veis avarias nos condutos.
16
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Ateno
Para que haja uma permanente circulao da gua na rede,
recomendada a velocidade mnima, evitando a deposio de partculas na
parte inferior da tubulao, como forma de no prejudicar a qualidade da
gua tratada que chega ao consumidor.
Em pequenas redes, com pequenas vazes, nem sempre possvel garantir a
velocidade mnima, tendo em vista que, por especifcao de norma tcnica, o
dimetro mnimo das tubulaes para redes de abastecimento de 50 mm.
As velocidades mximas recomendveis servem para pr- dimensionamentos de
tubulaes. Velocidades muito grandes geram perdas de carga excessivas nas
redes de abastecimento e baixam a presso dinmica.
Outros problemas causados pelo excesso de velocidade nas tubulaes so:
corroso, trepidao, rudo excessivo e golpe de arete.
Golpe de arete:
Segundo Netto et al. (1998), o caso mais importante de golpe de arete
numa linha de recalque acionada por motores eltricos o que se verif-
ca logo aps uma interrupo de fornecimento de energia eltrica. Aps
a interrupo de energia, a coluna lquida continua a subir pela linha de
recalque, at o momento em que a inrcia vencida pela ao da gravidade.
Durante esse perodo, verifca-se uma descompresso no interior da tubu-
lao. Em seguida ocorre a inverso no sentido do escoamento e a coluna
lquida retorna para as bombas, encontrando, na maioria dos casos, a vl-
vula de reteno fechada. Isso provoca o choque e a compresso do fuido,
dando origem a uma onda de sobrepresso (golpe de arete).

Velocidades mnimas e velocidades mximas nas tubulaes
Para evitar deposies nas canalizaes, normalmente a velocidade mnima
fxada entre 0,25 e 0,40 m/s, dependendo do valor da qualidade da gua. Por
exemplo, para as guas que contm certos materiais em suspenso, a veloci-
dade no deve ser inferior a 0,50 m/s (como no caso de esgotos). A velocida-
de mnima estabelecida para os sistemas de distribuio de gua potvel pela
norma NBR 12218 de 0,60 m/s.
17 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O excesso de velocidade da gua nas tubulaes resulta em problemas como
perda de carga elevada, golpes de arete e maior risco para as tubulaes e
acessrios instalados no sistema. A NBR 12218 (ABNT, 1994) estabelece que a
velocidade mxima nas tubulaes deve ser de 3,5 m/s.
Geralmente a velocidade mxima nas tubulaes depende dos seguintes fato-
res:
condies econmicas;
condies relacionadas ao bom funcionamento dos sistemas;
nvel de risco admitido para a tubulao.
A velocidade mxima em uma tubulao pode ser determinada pela expresso
a seguir:
v mx. = 0,60 + 1,5D*
Sendo:
D = dimetro da tubulao em metros
v = velocidade do lquido em m/s
Obs.: A velocidade da gua em redes de abastecimento no pode ser supe-
rior a 3,5 m/s, conforme recomendao da norma NBR12218.
Transientes hidrulicos
Nas redes que estiverem operando em seu limite superior ou inferior de pres-
so, ou qualquer outra intermediria, ocorrem fenmenos hidrulicos transit-
rios (transientes hidrulicos), como os golpes de arete, provenientes de ajustes
do fuxo de gua em algum ponto. Esses fenmenos podem ocorrer pela ma-
nobra brusca de uma vlvula de controle, pela expulso de ar contido no inte-
rior das tubulaes, pela parada de um sistema de bombeamento, entre outros
fatores.
Os transientes hidrulicos, na maioria dos casos, decorrem de manobras inade-
quadas efetuadas na prpria rede ou em centros de reservao com a fnalidade
de se ajustarem vazes e isolar reservatrios quando se atinge o nvel de ex-
travasamento. Ocorrem tambm quando h queda do fornecimento de energia
eltrica com a parada instantnea dos conjuntos de recalque.
18
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Nota
A sistemtica de clculo dos golpes resultantes consta do item 5.7 da
NBR 12214.
Segundo Gomes (2004), a determinao das sobrepresses decorrentes dos
golpes de arete nas redes de distribuio extremamente complexa. Na prti-
ca, esses esforos determinam-se de forma indireta, superestimando as cargas
estticas ou dinmicas que atuam na rede. As presses hidrulicas mximas que
podem atuar em cada ponto das tubulaes das redes de distribuio (provoca-
das pelas presses estticas, dinmicas ou pelas sobrepresses decorrentes dos
golpes de arete) so conhecidas como presses de trabalho. Para a escolha dos
tubos a serem utilizados, deve-se considerar a situao mais desfavorvel dos
esforos hidrulicos. Os tubos que iro compor cada trecho da rede devero
possuir resistncia mecnica (caracterizada por sua presso nominal) adequada
em funo das presses de trabalho que possam atuar em seu interior.
O golpe de arete combatido, na prtica, por vrias medidas. A seguir se-
guem as medidas gerais. Confra:
a Limitao da velocidade nas tubulaes.
b Fechamento lento de registros.
c Construo de novas peas (ex.: vlvulas) que no permitam a obstruo
muito rpida das tubulaes.
d Emprego de vlvulas ou dispositivos mecnicos especiais para alvio de pres-
so.
e Fabricao de tubos com espessura acrescida, tendo em vista a sobrepresso
admitida.
f Construo de chamins de equilbrio ou tubos piezomtricos capazes de
absorver golpes, permitindo a oscilao da gua.
g Instalao de cmaras de ar comprimido que proporcionam o amortecimen-
to dos golpes (indicadas para presses e vazes no muito elevadas) (NETTO
et al. 1998).
Perda de carga ou de energia
possvel calcular a vazo de um lquido em uma tubulao utilizando a frmu-
la da continuidade:
19 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O que temos que ter sempre em mente
que a constante divulgao das
Q = A x V
Sendo:
Q = vazo em m/s
A = rea da tubulao em m
V = velocidade do escoamento em m/s
Pergunta
Como se calcula a vazo para uma tubulao de 75 mm e uma velocidade
de 0,7 m/s? Confra:
rea do tubo de 75 mm calculada em metros: (D= dimetro do tubo em me-
tros)


A = . D
2
A = . 0,075
2
A = 0,004417865m
2

4 4

Velocidade = 0,7 m/s
Q = A x V = 0,004417865 x 0,7 = 0,003092 m/s = 3,09 L/s
Para um lquido entrar em regime dinmico, necessrio haver energia no sis-
tema. Nesse regime de movimento, parte da energia se dissipa transformando-
se em calor. Essa dissipao de energia denominada de perda de carga por
atrito, perda de energia por atrito, perda de carga distribuda ou perda de carga
contnua ao longo da tubulao.
A perda de carga por atrito depende basicamente de:
caractersticas fsicas do fuido (viscosidade e massa especfca);
caractersticas geomtricas da tubulao (dimetro interno e rugosidade da
parede).
20
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
A rugosidade da tubulao um fator importante, pois ocorre ao longo de toda
a tubulao e infuenciar diretamente na demanda de energia de um sistema.
Torna-se tambm importante a devida ateno rugosidade dos tubos, consi-
derando-se que um parmetro sobre o qual pode haver controle por meio da
escolha adequada dos materiais adotados, correto dimensionamento para pre-
servao da tubulao e adequada manuteno e operao do sistema. A fgura
a seguir apresenta um pedao de tubulao incrustada, exemplifcando o au-
mento da rugosidade dos tubos de determinados materiais ao longo do tempo.
Figura 1 Tubulao com incrustao
As conexes e peas especiais (curvas, ts, registros, vlvulas etc.) existentes nas
tubulaes causam interferncias no escoamento, provocando perdas de carga
localizadas naqueles pontos. As perdas de carga localizadas dependem de di-
versos fatores de difcil determinao. Mtodos de clculo das perdas de carga
localizadas sero apresentados mais adiante neste contedo.
21 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Perdas de cargas contnuas (hp)
As perdas de carga por atrito em escoamentos permanentes e uniformes so
determinadas por frmulas empricas. Para o clculo de perda de carga em
escoamentos turbulentos
1
, que o que geralmente ocorre nas adutoras e redes
de abastecimento, so muito difundidas as frmulas empricas de Manning,
Darcy-Weissbach, Hazen-Williams e Flamant, entre outras. No entanto, as duas
frmulas mais comumente utilizadas so as de Darcy-Weissbach e Hazen-Willia-
ms, apresentadas a seguir.
Frmula de Hazen-Williams
A Frmula de Hazen-Williams indicada para dimetros maiores ou iguais a
50 mm, sendo o C da frmula um coefciente de atrito tabelado que varia em
funo do material da tubulao, que tem como principais:
C = 60 para tubos de ao novos
C = 100 para tubulaes de ferro fundido com 10 anos de uso
C = 140 para tubulaes de PVC
Os coefcientes de outros materiais podem ser encontrados em manuais de
hidrulica ou com os fabricantes dos tubos.
1 Obs.: O escoamento de um lquido no interior de uma tubulao pode ocorrer em trs tipos de
regime: laminar, turbulento ou regime de transio. No regime laminar, a velocidade do lquido dis-
tribui-se em camadas dentro da tubulao, sendo maior no centro e menor mais prximo da parede
do tubo, devido ao atrito do lquido com a mesma. No regime turbulento no possvel identifcar
as camadas de velocidade do lquido, variando do centro do tubo para as proximidades da parede.
Nesse caso, as diferentes camadas de velocidade do lquido se misturam, formando um turbilho.
O regime de transio encontra-se entre o regime turbulento e o laminar. A identifcao do tipo
de regime de escoamento pode ser realizada com o uso da frmula para o clculo do nmero de
Reynolds que ser apresentada adiante.
22
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
As frmulas utilizadas para os clculos de carga unitria, velocidade e vazo so,
respectivamente:
Perda de carga unitria J
(para cada metro de tubulao):

J = 10,643 . Q
1,85
C
1,85
. D
4,87
Velocidade:
v = 0,355.CD
0,63
.J
0,54

Vazo:
Q = 0,2785. C.D
2,63
.J
0,54
Para compreender melhor as frmulas, acompanhe a seguir o exemplo de um
clculo.
Sendo ferro fundido o material da tubulao (C = 100), o dimetro do tubo 250
mm, a vazo Q = 45l/s, calcule a perda de carga unitria J e a velocidade do
escoamento na tubulao.
J = 10,643. Q
1,85

C
1,85
. D
4,87
J = 10,643. 0,045
1,85
= 0,00587m / m
100
1,85
.0,25
4,87
v = 0,355.C.D
0,63
.J
0,54

v = 0,355.C.D
0,63
.J
0,54
23 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Frmula de Darcy-Weissbach (Frmula Universal)
Para o clculo das perdas de carga distribudas ao longo de uma tubulao,
em qualquer regime de escoamento (laminar ou turbulento), pode-se aplicar a
Frmula Universal (Frmula de Darcy-Weissbach), que serve para tubulaes
feitas de qualquer material e de qualquer dimetro:
Hp = f.l . V
2

D 2.g
Onde: hp = perda de carga
f = fator de atrito encontrado no Diagrama de Moody (apresentado a seguir)
l = comprimento da tubulao em metros
D = dimetro da tubulao em metros
V = velocidade do fuido em m/s
g = acelerao da gravidade = 9,81 m/s
Para calcular a perda de carga unitria para uma unidade de comprimento da
tubulao, tem-se:
J = Hp
l(real)
J = f.v
2

D.2g
O fator de atrito da parede da tubulao encontrado no Diagrama de Moody
apresentado a seguir.
24
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Figura 2 Diagrama de Moody
Fonte: Netto et al. (1998)
Para encontrar o fator de atrito no diagrama, necessrio encontrar antes
o nmero de Reynolds (IR) e a rugosidade relativa (e/D) da tubulao.
O nmero de Reynolds um avaliador do grau de turbulncia do esco-
amento do lquido na tubulao e determinado pela multiplicao da
velocidade do lquido em metros por segundo (m/s) pelo dimetro da tu-
bulao em metros (m). O resultado dividido pela viscosidade cinemtica
() do lquido em metros quadrados por segundo (m/s).
IR = V . D
v
Onde:
IR = nmero de Reynolds (adimensional)
V = velocidade do lquido (m/s)
= viscosidade cinemtica (m/s)
25 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Quando um nmero de Reynolds for menor que 2.000, o regime de escoamento
considerado laminar, e quando for maior do que 4.000, o regime considera-
do turbulento. Entre esses dois valores, o regime de escoamento considerado
crtico ou de transio. No Diagrama de Moody apresentado anteriormente
podem-se observar os limites dos diferentes regimes de escoamento.
A viscosidade cinemtica do lquido uma propriedade relacionada coeso
entre as molculas e varia com a temperatura. Em geral, um valor determina-
do em laboratrio e tabelado para a maioria dos lquidos. Observe, na tabela a
seguir, os valores da viscosidade cinemtica da gua para temperaturas entre
zero e 38 C com intervalos de 2 C.
Tempera-
tura
(C)
Viscosidade cinemtica
(m/s)
Tempera-
tura
(C)
Viscosidade cine-
mtica (m/s)
0 0,000001792 20 0,000001007
2 0,000001673 22 0,000000960
4 0,000001567 24 0,000000917
6 0,000001473 26 0,000000876
8 0,000001386 28 0,000000839
10 0,000001308 30 0,000000804
12 0,000001237 32 0,000000772
14 0,000001172 34 0,000000741
16 0,000001112 36 0,000000713
18 0,000001059 38 0,000000687
Tabela 2 Viscosidade da gua ()
Fonte: Gomes (2004, p. 39)
Voc pode consultar a viscosidade cinemtica de outros lquidos em tabelas de
manuais de hidrulica ou determinar em laboratrio.
Rugosidade relativa da tubulao (e/D)
A rugosidade relativa de uma tubulao a relao entre o tamanho mdio da
rugosidade da parede da tubulao, denominada de rugosidade absoluta (e), e
o dimetro da tubulao. um valor adimensional.
26
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
A rugosidade absoluta (e), apresentada abaixo, pode ser obtida com os fabri-
cantes das tubulaes ou em tabelas de manuais de hidrulica, conforme mos-
tra a tabela a seguir.
Figura 3 Rugosidade absoluta de um tubo
Onde:
e = rugosidade absoluta
e/D = rugosidade relativa
Exemplo:
Para uma tubulao que apresenta uma rugosidade absoluta e = 0,1 mm e di-
metro 250 mm, a rugosidade relativa ser:
e
=
0,1
= 0,0004
D 250
Materiais dos tubos Novos Velhos**
Ao galvanizado 0,00015 a 0,0002 0,0046
Ao rebitado 0,001 a 0,003 0,006
Ao revestido 0,0004 0,0005 a 0,0012
Ao soldado 0,00004 a 0,00006 0,0024
Chumbo lisos lisos
Cimento amianto 0,000025
Cobre ou lato lisos lisos
27 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Materiais dos tubos Novos Velhos**
Concreto bem acabado 0,0003 a 0,001
Concreto ordinrio 0,001 a 0,002
Ferro forjado 0,0004 a 0,0006 0,0024
Ferro fundido 0,00025 a 0,0005 0,003 a 0,005
Ferro fundido, com revestimento
asfltico 0,00012 0,0021
Madeira, em aduelas 0,0002 a 0,001
Manilhas cermicas 0,0006 0,003
Vidro lisos*** lisos***
Plstico lisos lisos

* Para os tubos lisos, o valor de e 0,0001 ou menos
** Dados indicados por R. W. Powell
*** Correspondem aos maiores valores D/e Tabela 3 Rugosidade absoluta (e) dos tubos (valores de e
em metros)*
Tabela 3 Rugosidade absoluta (e) dos tubos (valores de e em metros)*
Fonte: Adaptado de Azevedo Netto et al. (1998)
O valor do fator de atrito (f) obtido no Diagrama de Moody cruzando o valor
do nmero de Reynolds (IR) com a rugosidade relativa (e/D), conforme mostra a
fgura a seguir:
Figura 4 Representao do Diagrama de Moody
Perda de carga localizada (hpL)
A perda de carga localizada ocorre quando h uma queda brusca da linha de
energia, isto , quando existe um acidente na tubulao. Acidente qualquer
pea inserida na tubulao, como curvas, registros, joelhos etc. Ao passar por
28
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
essa pea, o lquido que escoa dentro de uma tubulao perde parte da energia
do movimento.
Veja na fgura a seguir a representao de uma perda de carga localizada em
registro de gaveta.
A fgura representa um trecho de tubulao no qual encontra-se instalado um
registro de gaveta (RG). A linha superior identifcada por LE (Linha de Energia)
representa a energia que movimenta o lquido na tubulao, conforme indicam
as setas. A linha que est logo abaixo, identifcada por LP (Linha de Presso),
representa a presso existente na tubulao. Observe que ambas as linhas esto
inclinadas para baixo, representando a perda de carga por atrito. Ao passar pelo
registro de gaveta, as linhas de energia e de presso sofrem uma queda pontual
(hpL) que representa a perda de carga localizada.
Figura 5 Perda de carga localizada
Onde:
LE = linha de energia do sistema (representa a energia total na tubulao
presso somada energia cintica)
LP = linha de presso ou piezomtrica (representa a presso na tubulao)
hpL = perda de carga localizada
29 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Clculo das perdas de carga localizadas (hpL)
As perdas de carga localizadas podem ser determinadas de duas maneiras:
1 Mtodo dos coefcientes K
A perda de carga localizada (hpL) em uma pea especial do conduto pode ser
avaliada como uma porcentagem da carga cintica (V/2g) que ocorre imediata-
mente jusante do ponto onde se produz a perda.

hpl = K .
V
2

2.g
Onde: K um coefciente determinado experimentalmente e varia conforme o
acidente causador da perda (pea ou alterao na tubulao). A determinao
dos valores de K complexa, considerando que existe uma variedade muito
grande de modelos de peas e de fabricantes. O K representa uma porcenta-
gem de perda de presso (ou carga) que cada pea causa e os fabricantes em
geral fornecem tabelas com os seus valores.
Confra alguns exemplos aproximados de coefcientes K na tabela a seguir:
Pea K Pea K
Ampliao gradual 0.30* Juno 0.40
Bocais 2.75 Medidor Venturi 2.50**
Comporta aberta 1.00 Reduo gradual 0.15*
Controlador de vazo 2.50 Sada da canalizao 1.00
Joelho 90 0.90 T, passagem direta 0.60
Joelho 45 0.40 T, sada de lado 1.30
Crivo 0.75 T, sada bilateral 1.80
Curva de 90 0.40 Registro de ngulo aberto 5.00
Curva de 45 0.20 Registro de gaveta aberto 0.20
Curva de 22 1/2 0.10 Registro borboleta aberta 0.30
Entrada normal em canalizao 0.50 Vlvula de p 1.75
Entrada de borda 1.00 Vlvula de reteno 2.50
Existncia de pequena derivao 0.03 Vlvula de globo aberto 10.00
Tabela 4 Valores aproximados do coefciente de perda localizada (K)
Fonte: Gomes (2004, p. 41)
*Com base na velocidade maior (seo menor).
** Relativa velocidade na canalizao.
30
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Exemplo de aplicao:
Acompanhe um exemplo de aplicao de clculo da perda de carga localizada
no trecho:
Figura 6 Trecho de tubulao com reservatrio
PEA k
1 Entrada normal 0,50
2 Registro Gaveta 0,20
4,5 Joelhos 2 x 0,90
K 2,50
Clculo da rea da tubulao:

A =
.D
2

=
.0,15
2

= 0,01767m
2

4 4
Clculo da velocidade:

Q = A.V .
.
. V =
Q
=
0,015
= 0,8489m/s

A 0,01767

Clculo da energia cintica:
V
2

=
0,8489
= 0,0367

2.g 2.9,81
31 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Clculo da perda de carga localizada (hpL)

|
|
.
|

\
|
+ + =
g 2
V
K 2
g 2
V
K
g 2
V
K hpl
2
3
2
2
2
1
|
|
.
|

\
|
=

g 2
V
K hpl
2
i
( ) 0367 , 0 50 , 2 hpl =
mca 09175 . 0 hpl =
2 Mtodo dos comprimentos equivalentes
Nesse mtodo, para efeito de clculo, as perdas localizadas causadas por peas
so substitudas por perdas causadas por pedaos de tubulao, que proporcio-
nam a mesma perda que a pea substituda proporcionaria. Os comprimentos
equivalentes dos tubos que proporcionam a mesma perda que as peas por eles
substitudas so tabelados. Na tabela a seguir, so apresentados os comprimen-
tos equivalentes das peas mais comuns.
Pea especial Comprimento equivalente
Joelho de 90 45 dimetros
Joelho de 45 20 dimetros
Curva de 90 30 dimetros
Curva de 45 15 dimetros
Entrada normal 17 dimetros
Entrada de borda 35 dimetros
Registro de gaveta aberto 8 dimetros
Sada de canalizao 35 dimetros
T passagem direta 20 dimetros
T sada lateral 65 dimetros
Vlvula de p com crivo 250 dimetros
Vlvula de reteno 100 dimetros
Tabela 5 Comprimento equivalente, em nmero de dimetros
Fonte: Pimenta (1981)
32
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O clculo da perda de carga por cada pea especial em longos trechos de
tubulaes torna-se inefcaz devido ao trabalho de diagnosticar, caso por caso,
o valor das perdas singulares das diversas peas, de diferentes fabricantes, e a
grande incerteza do resultado fnal. Desse modo, as perdas de carga localizadas
de todas as peas especiais de redes extensas so estimadas na prtica, adotan-
do-se uma porcentagem das perdas totais por atrito da rede de tubulaes.
Nessa porcentagem, que varia entre 5% e 15%, no so consideradas as perdas
localizadas por peas especiais de regulagem e controle da rede hidrulica. Tais
peas ou equipamentos (fltros, reguladores de presso, limitadores de vazo
etc.) produzem perdas acentuadas que devem ser computadas separadamente.
Exemplo:
Veja a seguir o clculo da perda distribuda do exemplo anterior pelo mtodo
dos comprimentos equivalentes, utilizando a Frmula de Hazen-Williams:
Observe o clculo:
Clculo da perda de carga unitria (por
metro de tubulao)
J =
10,643.(0,015)
1,85

= 0,00495m/m


1,40
1,85
.(0,15)
4,87
Clculo da perda de carga localizada:
Pea L equivalente
1 Entrada 2,8 m
2 Registro de gaveta 1,2 m
3 Joelho 2 x 5,4
14,8
hpL = 0,00495.14,8
hpL = 0,07326 mca
33 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Desafo
Muito boa esta primeira aula, no mesmo? Ento, antes de seguir
para a prxima aula, acesse o ambiente virtual e realize as atividades
que foram preparadas para voc. Se voc tiver alguma dvida, lembre-
se de que s solicitar a ajuda do seu tutor.
Aula 2:
Parmetros gerenciais
para controle das perdas
de gua em redes de
abastecimento
Na aula anterior voc acompanhou informaes sobre os parmetros hidruli-
cos para o controle das perdas de gua. Agora hora de conferir quais so os
parmetros gerenciais. Siga em frente e bons estudos!
Introduo
As perdas reais de gua em sistemas de abastecimento esto relacionadas a
parmetros hidrulicos como presso, velocidade, vazo etc. J as perdas apa-
rentes relacionam-se a parmetros gerenciais aplicados aos sistemas de abaste-
cimento, como cadastro tcnico, cadastro comercial, consumidores tpicos.
Em geral, os parmetros gerenciais vinculam-se ao volume de gua produzido e
ao volume faturado. Segundo Gomes (2005, p. 19),
no que diz respeito s perdas aparentes, as aes de combate
podem ser resumidas desta forma: melhoria no sistema de cadastro
comercial, reduo dos erros dos equipamentos de medio (macro e
micromedidores) e reduo das fraudes.
34
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Entre os principais parmetros gerenciais relacionados s perdas aparentes
podem-se destacar:
cadastro tcnico;
caractersticas do parque de medidores;
caracterstica dos consumidores;
combate s fraudes.
Confra a seguir mais informaes sobre esses parmetros gerenciais.
Cadastro tcnico
O cadastro tcnico uma ferramenta que contribui signifcativamente para o
gerenciamento dos sistemas de abastecimento de gua. Hoje percebe-se uma
tendncia informatizao do cadastro, fruto dos avanos da informtica e da
disponibilidade de equipamentos e programas de computador.
Esse cadastro consiste, fundamentalmente, de uma base de dados com infor-
maes sobre o sistema de aduo e distribuio de gua. O cadastro localiza,
numa base cartogrfca, as tubulaes de gua (adutoras, redes, vlvulas, pon-
tos de descargas etc.), indicando dimetros, extenses, materiais e conexes,
permitindo o conhecimento do sistema e o estabelecimento de regras opera-
cionais.
Para empresas que no possuem o cadastro tcnico informatizado, a imple-
mentao pode ser realizada gradualmente, iniciando-se por um projeto piloto
para que o corpo tcnico da empresa v se apropriando da nova ferramenta. O
aprimoramento contnuo e a informatizao do cadastro tcnico devem ocorrer
concomitantemente ao incremento do intercmbio de informaes entre a rea
de operao e a de manuteno, de acordo com o PNCDA DTA C3 (CONEJO,
LOPES, MARCKA, 2003).
Cadastro comercial
O conhecimento do parque dos hidrmetros instalados fundamental para o
controle e a reduo das guas no faturadas. O controle de gua no faturada
diz respeito ao gerenciamento do sistema comercial ou de faturamento. O sis-
tema comercial ou de faturamento, por sua vez, deve envolver a base de dados
sobre os consumidores, com categorias, endereos, consumos e caractersticas
35 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
dos hidrmetros, entre outras informaes. O cadastro adequado dos consu-
midores constitui um subsdio importante para a programao da manuteno
preventiva de hidrmetros.
Quando praticado de modo inefciente, o gerenciamento de consumidores (ou
gesto de clientela) um dos indutores de perdas no fsicas mais importantes.
Os seguintes tpicos merecem especial destaque:
controle de consumidores no campo e no escritrio;
poltica de gesto de consumidores tpicos;
sistema de leitura;
gesto do parque de hidrmetros instalados;
gesto de grandes consumidores;
cadastro de consumidores;
sistema informatizado utilizado;
consolidao e apresentao dos resultados.
A disponibilizao dos dados contidos nesse sistema pode fornecer informa-
es para quase todos os setores e auxiliar em aes que contribuam para a
reduo de volume de gua fornecida e no faturada. Na maioria dos casos, o
cadastro comercial o foco central para atuao e recuperao rpida e alta-
mente rentvel das perdas de faturamento nas empresas de saneamento.
Ateno
O cadastro de consumidores deve ser constantemente atualizado em
funo do rpido desenvolvimento urbano nas comunidades servidas, a
fm de que traduza felmente o que de fato ocorre no campo.
O cadastro comercial deve conter informaes como categoria do consumidor
(residencial, comercial, industrial etc.), endereo, consumo e caractersticas do
hidrmetro, data de sua instalao, entre outras. PNCDA DTA C3 (CONEJO, LO-
PES, MARCKA, 2003).
36
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Consumidores tpicos
Segundo Nielsen et al. (2003), a estratgia comercial de faturamento convencio-
nal, tradicional e usual utilizada pelos sistemas de abastecimento de gua tm
sido aplicadas conforme o seguinte modelo bsico:
Classifcao dos usurios em categorias de atividades bsicas.
Classifcao dos usurios por faixas de consumo discretas.
Matriz de tarifas crescentes discretas ou contnuas.
Conforme recomenda o PNCDA DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 2003), o
sistema de gesto comercial dever providenciar, alm das funes diretas, as
estatsticas do perfl de consumo, como segue:
distribuio do volume micromedido por faixas de consumo (histogramas);
estatstica e listagem das ligaes com consumo zero;
estatstica e listagem das ligaes com variao signifcativa;
estatstica de consumo de consumidores tpicos prestabelecidos;
capacidade e tempo de instalao de medidores.
Por meio do perfl de consumo, os clientes podem ser classifcados e agrupados
conforme caractersticas inerentes ao padro e comportamento de consumo
(curva de consumo) e ramo de atividade na qual a gua fornecida utilizada.
Essas informaes auxiliam na escolha e no pr-dimensionamento do medidor
a ser instalado na ligao.
Monitoramento
Para conhecer as perdas de gua nas redes de abastecimento necessria a
mensurao dos volumes transportados pelo sistema, desde a captao, o tra-
tamento, a aduo, reservao e distribuio at os volumes consumidos. Para a
estimativa das perdas, h que se investir em equipamentos medidores de vazo
macromedidores, associados a altos ndices de micromedio hidrmetros.
O monitoramento dos volumes transportados consumidos requer a realizao
de leituras simultneas de valores macro e micromedidos, alm de anlises peri-
dicas de dados para diagnosticar as perdas existentes em partes ou em todo o
sistema. Por consequncia, a adoo de medidas corretivas para sua reduo.
37 Unidade 1
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Segundo Nielsen et al. (2003), as companhias de abastecimento de gua devem
defnir as estratgias comercial e de faturamento, de maneira a facilitar o moni-
toramento dos clientes e dos consumos. Deve-se contemplar a anlise de con-
tas, a fm de permitir a identifcao e caracterizao de fatores que infuenciam
a demanda de gua e os padres de consumo. Destaca-se ainda a importncia
de um controle especfco dos grandes consumidores nos sistemas de abasteci-
mento de gua nos quais eles sejam expressivos.
Dica
muito importante que voc consulte o seu tutor toda vez que sentir
necessidade ou tiver alguma dvida. Ele est sempre disposio para
ajud-lo.
Desafo
Teste os seus conhecimentos realizando as atividades que foram de-
senvolvidas especialmente para voc. Preparado? Ento acesse agora
mesmo o ambiente virtual e bons estudos!
Relembrando
Agora, faa uma pausa para pensar sobre o que foi visto nesta unidade.
Voc vai relembrar os seguintes contedos:
Os principais parmetros que devem ser considerados nos projetos
de uma rede de abastecimento de gua so: a presso interna nas
tubulaes; a velocidade mxima e mnima para o escoamento; as
perdas de carga contnuas e localizadas; e os fenmenos hidrulicos
transitrios como o golpe de arete.
A presso esttica aquela que ocorre nas tubulaes quando a va-
zo nula e a presso dinmica ocorre quando h vazo no conduto.
A reduo da presso nas tubulaes leva a substanciais redues de
perda nos vazamentos existentes, alm de restringir o risco de novas
rupturas.
38
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O excesso de velocidade de gua nas tubulaes causa problemas
produzidos pelos golpes de arete, o desgaste dos tubos, dos elemen-
tos de conexo e das peas especiais, vibraes na rede, perda de
carga elevada, defcincias nos apoios dos tubos, entre outros. A NBR
12218 (ABNT, 1994) estabelece a velocidade mxima nas tubulaes.
A velocidade mnima estabelecida para os sistemas de distribuio de
gua potvel pela norma NBR 12218 de 0,60 m/s.
Nas tubulaes ocorrem dois tipos de perda de carga: a contnua (ao
longo da tubulao) e a localizada (nas peas).
As perdas aparentes se relacionam com parmetros gerenciais aplica-
dos aos sistemas de abastecimento.
Os principais parmetros gerenciais relacionados s perdas so: o
cadastro tcnico, o cadastro comercial, os consumidores tpicos e o
monitoramento do sistema.
Saiba Mais
Para saber mais sobre o assunto tratado nesta unidade voc pode
consultar o site do Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de
gua (PNCDA), do Ministrio das Cidades: <www.cidades.gov.br/secre-
tarias-nacionais/saneamento-ambiental/programas-e-acoes-1/pncda>.
39
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
2
Medidas de
Combate s
Perdas de gua
em Redes de
Abastecimento
Objetivos de Aprendizagem
Esta segunda unidade est repleta de outros co-
nhecimentos importantes para voc. Pronto para
comear?
Ao fnal desta unidade voc estar apto a:
Diferenciar os tipos de perda que ocorrem em
uma rede de abastecimento.
Conhecer as principais medidas para reduo
e controle de perdas de gua em redes de
abastecimento.
Identifcar medidas aplicveis ao combate dos
diferentes tipos de perda de gua em redes
de abastecimento.
Avaliar a efcincia de medidas adotadas para
reduo e controle de perdas.
Estruturar aes de combate s perdas de
gua nas redes de abastecimento.
40
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aulas
Esta unidade composta por quatro aulas:
Aula 1 Perdas fsicas e no fsicas
Aula 2 Setorizao de redes de abastecimento
Aula 3 Macromedio e micromedio
Aula 4 Diagnstico do parque de hidrmetros
Para iniciar
As perdas de gua ocorrem em todo o sistema de abastecimento, desde o
ponto de captao at os de consumo, passando pela estao de tratamento,
pela de bombeamento, pelos reservatrios, redes de distribuio e ligaes
prediais. Conforme o local das ocorrncias de perda, existem aes especf-
cas adequadas para seu controle e reduo.
As perdas de gua em sistemas de abastecimento podem ser classifcadas
em fsicas e no fsicas. A classifcao pelo tipo de perda facilita a identi-
fcao da medida mais adequada para seu combate. importante que se
conhea, ao menos de forma estimada, o impacto de cada perda no contexto
geral, pois isso facilita na priorizao dessas medidas.
As perdas fsicas decorrem de vazamentos, provocados por defcincias nos
equipamentos, envelhecimento das tubulaes e conexes, operao e ma-
nuteno inadequadas de todo o sistema. Por sua vez, as perdas no fsicas,
ou comerciais, decorrem de falhas nos equipamentos de medio (macro e
micromedidores), erros no cadastro e fraudes nas ligaes (GOMES, 2005).
As aes de reduo e controle de perdas no podem constituir um progra-
ma com tempo de durao limitado, mas devem ser incorporadas a um pro-
cesso contnuo e permanente, passando a fazer parte da cultura da entidade
operadora.
Conforme citado no PNCDA DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 2003), a
hierarquizao e as medidas para reduo e controle de perdas fsicas e no
fsicas nos sistemas de abastecimento de gua, devero atender a alguns
requisitos bsicos, resumidos na sequncia.
41 Unidade 2
Subdiviso do sistema:
Pode-se dividir o programa de controle de perdas nos seguintes subsistemas:
captao captao e aduo de gua bruta;
estao de tratamento de gua;
reservao;
aduo de gua tratada e instalaes de recalque;
redes de distribuio e ligaes prediais.
Essa subdiviso facilita o diagnstico das perdas e a orientao para aes
preventivas e corretivas.
Monitoramento:
No possvel o conhecimento das perdas sem mensuraes dos volumes
transportados em vrios pontos do sistema, desde a captao at os volumes
consumidos.
Assim, para a estimativa das perdas imprescindvel investir-se em equipa-
mentos medidores de vazo macromedidores, localizados em pontos estra-
tgicos, associados a altos ndices de micromedio hidrmetros. Os volu-
mes registrados na macromedio e micromedio permitiro a obteno do
volume de perdas, considerando outros possveis usos como hidrantes, usos
pblicos, descargas, etc.
Setorizao:
O maior percentual de perdas de gua geralmente ocorre na rede de distri-
buio. Conceitualmente, o sistema de distribuio deveria ocorrer a partir
de um centro de reservao e abranger uma rea de infuncia bem delimita-
da fsicamente, denominada Setor de Abastecimento, que por sua vez pode
estar dividido em subsetores. Em geral, os setores so defnidos pela topo-
grafa do terreno.
Aps essa prvia sobre o assunto desta unidade voc j est pronto para ini-
ciar as aulas. Procure manter-se atento leitura para ter o mximo de apro-
veitamento no aprendizado. Preparado? Ento vamos comear!
42
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aula 1:
Perdas fsicas e no fsicas
Introduo
Considera-se como perda fsica toda gua que subtrada do sistema e que
no consumida pelo cliente fnal.
As perdas fsicas no sistema de distribuio so, como regra, as de maior mag-
nitude e as de identifcao e soluo mais complexas.
Em geral, o controle de perdas fsicas feito por meio de quatro aes comple-
mentares:
gerenciamento de presso;
controle ativo de vazamentos;
velocidade e qualidade dos reparos; e
gerenciamento da infraestrutura.
As perdas no fsicas apresentam um leque de variao bastante amplo.
considerado o conceito de guas produzidas e consumidas, porm no rever-
tidas em faturamento, englobando, inclusive, os erros de macromedio que
geram outro tipo de problema: guas no produzidas porm computadas como
tal. Com esta conceituao as perdas no fsicas podem ser decompostas nas
seguintes causas:
ligaes clandestinas/irregulares;
ausncia de micromedio;
defcincias da micromedio;
gerenciamento inefciente de consumidores.
As perdas no fsicas podem ser signifcativas, dependendo de procedimentos
cadastrais, de faturamento, de manuteno preventiva e adequao de hidr-
metros e de monitoramento do sistema.
43 Unidade 2
Em geral as perdas no fsicas so causadas por ligaes clandestinas ou irre-
gulares, ligaes no hidrometradas, hidrmetros parados, hidrmetros que
submedem, ligaes inativas reabertas, erro de leitura, nmero de economias
errado (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999).
Perdas fsicas visveis e no visveis
Conforme citado no PNCDA no DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 2003), as
perdas fsicas podem ser classifcadas em visveis e no visveis.
As perdas fsicas visveis, como o prprio nome evidencia, so aquelas que
podem ser identifcadas visualmente, pois as fugas de gua aforam para a
superfcie do terreno por percolao pelo solo e pelo pavimento ou atravs dos
dispositivos da rede. Esse tipo de perda facilmente identifcado quando ocorre
em reas de trnsito de pessoas, que em geral alertam sobre a ocorrncia.
As perdas fsicas visveis tornam-se mais crticas quando ocorrem em reas
isoladas com pouco trnsito de pessoas e, devido baixa vazo do vazamen-
to, no chegam a alterar signifcativamente a presso da rede. Nesses casos,
a constatao do vazamento demora mais e, consequentemente, o volume de
perda de gua torna-se signifcativo.
Destacam-se ainda os vazamentos que ocorrem dentro das caixas de registro e
cuja gua perdida infltra no terreno e no afora. Na maioria dos casos, esses
vazamentos so percebidos somente pela equipe de operao e manuteno
quando da abertura da tampa da caixa para atividades de rotina.
Uma medida para auxiliar na reduo das perdas visveis a estruturao de
um histrico de vazamentos que permita identifcar reas onde sua ocorrncia
mais frequente. Identifcadas essas reas, pode-se criar um sistema de monito-
ramento com vistorias peridicas.
Pergunta
Se as perdas fsicas no visveis ocorrem onde no h trnsito de pessoas,
como podem ser detectadas? Confra agora!
As perdas fsicas no visveis so de mais difcil deteco, sendo necessrio, na
maioria dos casos o uso de equipamentos especfcos como os geofones mec-
nicos e eletrnicos, as hastes de escuta e os correlacionadores de rudos.
44
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Figura 7: Geofone
A maneira mais difundida de identifcao das perdas fsicas com a pesqui-
sa de campo. No entanto, uma pesquisa completa na rede para deteco de
vazamentos tem um custo elevado. O que pode viabilizar esse estudo uma
pesquisa amostral baseada em dados histricos da rede, como presso, idade,
material da rede e dos ramais prediais, histrico de manutenes e padro de
consumo do setor. Segundo o PNCDA DTA C3 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 2003),
recomendado que a amostra abranja entre 2% e 5% do universo em estudo.
Todas as informaes obtidas nas pesquisas de campo devem ser registradas
sistematicamente, para que se forme um banco de dados que possa subsidiar
estudos e aes gerenciais.
A avaliao das vazes das perdas fsicas poder ser efetuada diretamente ou
pelo mtodo das vazes mnimas noturnas. A vazo mnima noturna outro
indicador da ocorrncia de vazamentos no sistema, pois a proporo dos va-
zamentos em relao ao consumo legtimo (residenciais e no residenciais)
maior. Ela geralmente ocorre no perodo entre 3h e 4h da madrugada.
A perda noturna calculada pela diferena entre o valor obtido pela medio
da vazo mnima noturna e o valor devido ao consumo noturno e as perdas ine-
rentes. Para o perodo noturno em que se considera que a vazo seja constante
e de valor mnimo, a seguinte expresso pode ser escrita:
45 Unidade 2

vazo de
perda
noturna
=

vazo
mnima
noturna
-

vazo de
consumo
noturna
-
vazo de
consumo
noturna inerente
A estimativa da perda diria feita por extrapolao da perda noturna, de onde
decorre a estimativa do volume perdido em um dia.
Ateno
Sistemas que sofrem intermitncia de abastecimento no so adequados
ao uso do mtodo da vazo noturna, uma vez que, devido falta de gua
durante boa parte do dia (demanda reprimida), o consumo noturno
muito elevado, o que pode dar a falsa noo de altas perdas noturnas.
Perdas por vazamento na rede de distribuio (principais
pontos)
As perdas por vazamento na rede de distribuio so todas aquelas que tm
origem em rompimentos nas tubulaes. So mais expressivas nas adutoras e
subadutoras (tubulaes principais), pois so elas que transportam as maiores
vazes. A manuteno em redes muitas vezes requer seu esvaziamento, que
realizado atravs de descargas de rede. Os volumes das descargas so inerentes
manuteno da rede e somente podem ser considerados como perdas caso
sejam excessivos e/ou desnecessrios.
Vazamentos que ocorrem em adutoras e subadutoras costumam gerar fuxos
elevados, o que permite, na grande maioria dos casos, que sejam rapidamente
detectados e eliminados. O combate a esse tipo de perda de gua em redes de
abastecimento pode ser realizado por meio de:
manuteno preventiva da rede;
adoo de procedimentos operacionais padronizados adequadamente;
treinamento de pessoal para realizao de manobras adequadas nas redes
de abastecimento.
46
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
As manobras de rede devem ser realizadas de modo a se evitarem oscilaes
bruscas de presso. Aumentos rpidos e excessivos de presso podem causar
rompimentos em srie nas redes de distribuio.
O uso de materiais adequados, associados execuo de obra com pessoal
treinado e equipado com ferramentas compatveis com aos materiais utiliza-
dos, incluindo a realizao de testes de estanqueidade, so pr-requisitos para
baixos nveis de perdas.
Segundo experincias da Sanasa, existe um percentual ilustrativo de pontos
frequentes de vazamento em redes de distribuio. Confra no quadro a seguir:
Local de vazamento Porcentagem
Juntas 0,9%
Unio simples 1,1%
Registros 0,2%
Tubos rachados 2,3%
Tubos perfurados 12,9%
Tubos partidos 13,6%
Hidrantes 1,7%
Anis 1,1%
A fgura a seguir resume os principais tipos de perda por vazamento e as princi-
pais aes para o controle e reduo das fugas de gua.
Figura 8 Pontos de vazamento em redes de distribuio e aes para combate
Fonte: Gomes et al. (2007)
47 Unidade 2
Confra agora os percentuais ilustrativos de pontos frequentes de vazamentos
em ramais, segundo experincias da Sanasa.
Local de vazamento Porcentagem
Ferrule defeituoso 0,8%
Colar de tomada folgado 4,1%
Rosca partida no ramal 19,2%
Tubo perfurado 13,9%
Niple quebrado 0,4%
Niple folgado 1,0%
Rosca quebrada nos registros 7,3%
Rosca defeituosa nos registros 2,1%
Rosca folgada nos registros 24,7%
Registro defeituoso 1,3%
Desafo
Para completar os estudos desta aula, acesse o ambiente virtual e
realize as atividades propostas. Lembre-se sempre de que seu tutor
est sua disposio para tirar todas as suas dvidas sobre o contedo
estudado. s cham-lo!
48
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aula 2:
Setorizao de redes de
abastecimento
Introduo
Uma maneira de facilitar o controle de presso nas tubulaes a setorizao
das redes de abastecimento em reas com presses situadas em faixas prxi-
mas. Para isso, necessrio um mapeamento da presso na rede a fm de iden-
tifcar os limites das reas com diferentes faixas de presso. Um setor pode ser
totalmente abastecido por apenas um reservatrio, desde que esse reservatrio
se encontre em cota piezomtrica superior a 10 metros acima da cota mais ele-
vada da rea, de modo a garantir uma presso mnima de 10 mca, estabelecida
por norma. Em geral, um setor de abastecimento defnido por delimitaes
topogrfcas do terreno.
Ento, o que est esperando para comear esta aula? Conhea a partir de agora
um pouco mais sobre esse assunto.
Setorizao clssica
Segundo o PNCDA DTA D1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999), os setores de
abastecimento em geral so defnidos pela rea suprida por um reservatrio de
distribuio destinado a regularizar as variaes de aduo e de distribuio e
condicionar as presses na rede de distribuio. No se recomenda o abasteci-
mento de rede por derivao direta de adutora ou por recalque com bomba de
rotao fxa, ou seja, sem inversores de frequncia, pois o controle de presses
torna-se praticamente impossvel diante das grandes oscilaes de presso
decorrentes dessa situao.
Quando o reservatrio principal encontra-se dentro da delimitao de um setor
de presso, pela forma clssica de setorizao faz-se necessria a instalao de
um reservatrio elevado para limitar a presso nas cotas topogrfcas mais altas
sem condies de abastecimento pelo reservatrio principal.
49 Unidade 2
Nota
Segundo a Norma Tcnica NBR 12218 (ABNT, 1994), a presso esttica
mxima nas tubulaes distribuidoras deve ser de 500 kPa (50 mca), e a
presso dinmica mnima, de 100 kPa (10 mca). Valores fora dessa faixa
podem ser aceitos desde que justifcados tcnica e economicamente.
Entenda melhor uma confgurao clssica de setorizao de sistemas de distri-
buio de gua observando a fgura a seguir.
SISTEMA DISTRIBUIDOR
Figura 9 Setorizao de sistema de distribuio de gua
Fonte: Gonalves e Lima (2005, p. 14)
Conforme citado no PNCDA DTA D1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999), pela se-
torizao clssica, na implantao de um sistema de abastecimento a defnio
das zonas de presso feita tomando como base a limitao da presso est-
tica mxima em 50 mca no ponto mais baixo da zona de presso, e a limitao
da presso dinmica mnima em 10 mca no ponto crtico da zona de presso.
O ponto crtico, dentro da zona de presso, aquele onde se verifca a menor
presso dinmica, isto , o ponto mais elevado ou o mais distante.
Com o passar do tempo, o ponto crtico pode se deslocar devido ao aumento
de rugosidade em funo da idade da tubulao, tendendo a se localizar inicial-
50
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
mente no ponto mais alto da zona de presso e, futuramente, nos pontos mais
distantes em relao ao referencial de presso (reservatrio, booster ou vlvula
reguladora de presso). Ele utilizado para se estimar o potencial de reduo
de presso da rea, alm de ser um ponto de controle do abastecimento. A
mnima presso aceitvel nesse ponto pode variar entre as empresas de sane-
amento, entretanto, em muitas reas, a presso mnima das redes de distribui-
o, de 10 a 15 metros de carga, manter o abastecimento de forma satisfatria.
Segundo o mesmo documento, considerando-se uma regio abastecida por um
reservatrio apoiado e um elevado e uma variao de presso dinmica mxima
de 10 mca, possvel demarcar a rea de infuncia dos reservatrios por meio
das curvas de nvel que defnam presses estticas de 20 mca e 50 mca, para
ambos os reservatrios.
Verifca-se que, na setorizao clssica, o desnvel geomtrico mximo deve ser
de 50 metros. Em regies de topografa mais acidentada, necessria a utiliza-
o de um reservatrio intermedirio. Os altos custos de implantao (em reas
consolidadas, o custo do terreno torna-se muito caro) e a manuteno de reser-
vatrios (principalmente os elevados) levam utilizao de equipamentos como
bombas de rotao varivel (com inversores de frequncia) e vlvulas redutoras
de presso, para o controle de presso no setor, mantendo-se como funo b-
sica do reservatrio a regularizao de variaes horrias de demanda e reserva
de incndio em alguns casos.
Delimitao das zonas de presso
Para a delimitao das zonas de presso em setores de abastecimento reco-
mendado, preferencialmente, o uso de cap, tendo em vista que os registros
no garantem a estanqueidade do sistema e podem comprometer seu controle.
No so recomendadas ligaes prediais diretamente nas redes primrias de
gua, que, em geral, possuem dimetros maiores que 100 mm. A confgurao
mais indicada para o controle de vazo nas redes o formato de espinha de
peixe. Porm, circuitos fechados, conforme mostra a fgura 9 nos setores A e
B, permitem um melhor equilbrio das presses na rede.

51 Unidade 2
Conforme a NBR 12218 (ABNT, 1994), a velocidade mnima nas tubulaes
deve ser de 0,6 m/s, e a mxima, de 3,5 m/s. O limite mximo de 3,5 m/s
pode resultar em perda de carga relativamente alta na rede de distribuio
primria, caso ela seja extensa. Considera-se que uma velocidade mxima
em torno de 2 m/s deva ser utilizada para a rede primria, o que permitir
operar o sistema com presses mais estveis.
De acordo com o PNCDA DTA D1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999, p. 22), a ru-
gosidade da tubulao o fator crtico em relao s perdas de carga distribu-
das. Valores de coefciente C de Hazen-Williams entre 90 e 140 so aceitveis,
conforme a idade e o material da tubulao. Na prtica, considerando o dime-
tro nominal da tubulao, podem ser encontrados valores de C menores que 50,
ou seja, a incrustao to grande que h signifcativa alterao no dimetro
interno da tubulao. Isso ocorre com certa frequncia em tubulaes de ferro
fundido com idade superior a 40 anos. Principalmente na rede primria, valores
baixos demandam a substituio desses trechos ou um reforo da rede.
De acordo com o mesmo documento, as tubulaes de material plstico (PVC,
PEAD) tm sido largamente utilizadas pelas vantagens nos custos de aquisi-
o e execuo, alm de no serem suscetveis corroso nem formao de
depsitos de slidos com a mesma intensidade que em tubulaes de outros
materiais. Entretanto, a vida til desse material pode ser muito reduzida, prin-
cipalmente com relao ao PEAD, que est sujeito a aes trmicas (estoque
inadequado) e aes dinmicas que levam fadiga do material (mo de obra
no especializada aliada ao uso de ferramentas inadequadas).
Para esses materiais, o limite de resistncia signifcativamente reduzido pelas
tenses dinmicas cclicas originadas pelas oscilaes de presso associadas
a variaes de demanda. Nas redes com esse tipo de material, o controle de
presso extremamente importante, para se manterem baixas oscilaes de
presso. Caso contrrio, depois de um curto espao de tempo, o nmero de
vazamentos ser to grande que a rede dever ser substituda.
Viu s como a setorizao pode facilitar o controle de presso nas tubulaes?
Na prxima aula voc vai conhecer um pouco sobre macromedio e microme-
dio. Continue atento!
52
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Desafo
Antes de seguir para a prxima aula, importante que voc acesse o
ambiente virtual e realize as atividades sobre o assunto que voc aca-
bou de estudar. Em caso de dvidas, j sabe: consulte o seu tutor!
Aula 3:
Macromedio e
micromedio
Os sistemas de medio so indispensveis operao efcaz dos sistemas de
abastecimento. Confra nesta aula os sistemas de macromedio e de microme-
dio.
Introduo
De acordo com o PNCDA DTA C1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999), o conceito
bsico de macromedio compreende a correta avaliao dos volumes pro-
duzidos e dos volumes entregues a setores de abastecimento ou subsetores,
quando se trata de sistemas de maior porte. Dessa maneira, possvel o con-
trole das perdas por regies individualizadas.
Segundo a Agncia Nacional de guas ANA (2010), a macromedio consis-
te na tcnica de medio de grandes vazes e de volumes de gua aportados.
Pode ser empregada na verifcao da conformidade das instalaes de cada
usurio de gua e permite, ainda, a confrontao do volume medido por micro-
medidores de usurios com o volume medido em campo por um macromedi-
dor, entre outras aplicaes.
Um adequado sistema de macromedio obtido por meio de um correto
projeto de localizao dos macromedidores, com a precisa especifcao dos
elementos primrios e secundrios (componentes do medidor) e dos dispositi-
vos e meios de calibrao. A correta obteno de dados de campo e sua conso-
lidao em relatrios gerenciais para a formatao do sistema de informaes
gerenciais complementa o processo para a adequada manuteno preventiva e
corretiva dos macromedidores.
53 Unidade 2
Por micromedio entende-se a medio realizada no ponto de entrada de
abastecimento de um usurio. Normalmente, a micromedio feita por meio
de hidrmetros instalados nos ramais de entrada das edifcaes.
Acompanhe a seguir mais detalhes sobre esses dois tipos de medio.
Macromedio
Macromedio o conjunto de medies realizadas em pontos estratgicos dos
sistemas de abastecimento de gua, desde a captao da gua bruta at o fnal
das redes de distribuio.
Os macromedidores geralmente so equipamentos para grandes vazes, e os
principais tipos so os eletromagnticos, os ultrassnicos e o tipo Woltmann.
Para o gerenciamento das perdas de gua em redes de distribuio, muito im-
portante que os macromedidores estejam adequadamente localizados, posicio-
nados e dimensionados. Ao se estabelecer o local de instalao desses medido-
res, necessrio considerar a possibilidade de arraste de ar e as condies de
acesso para manuteno preventiva e corretiva, at mesmo para a retirada dos
equipamentos.
A fgura a seguir apresenta um modelo de medidor ultrassnico instalado em
uma tubulao para realizao de macromedio.
Figura 10 Macromedio com medidor ultrassnico
54
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
A macromedio realizada, em geral, com medidores de maior porte do que
os utilizados na micromedio, embora, em alguns casos, seja necessrio utilizar
grandes medidores em micromedio devido ao grande volume consumido por
um determinado usurio.
Micromedio
Entende-se por micromedio a medio do consumo realizada no ponto de
abastecimento de um determinado usurio, independente de sua categoria ou
faixa de consumo. Basicamente, a micromedio compreende a medio pe-
ridica do volume consumido por meio de hidrmetros. Os hidrmetros para
micromedio so classifcados conforme a vazo e a classe de preciso.
O sistema de micromedio apresenta os seguintes fatores indutores de per-
das no fsicas:
perdas inerentes do sistema (ou incompressveis);
hidrmetros inclinados;
hidrmetros com problemas diversos;
hidrmetros mal dimensionados.
As perdas inerentes ao sistema de micromedio so aquelas que no podem
ser eliminadas e, por isso, denominam-se incompressveis. A existncia de re-
servatrio domiciliar (caixa-dgua) e boia para controle de nvel de gua nas
residncias faz com que ocorra uma submedio, principalmente na fase fnal
de enchimento, quando a vazo situa-se aqum da vazo de transio do me-
didor. Alm desse fato, o prprio hidrmetro, mesmo que bem dimensionado e
calibrado, apresentar na maioria dos casos um percentual de erro, proporcio-
nando uma medio menor do que os volumes efetivamente fornecidos.
55 Unidade 2
A fgura a seguir apresenta o visor de um hidrmetro.
Figura 11 Visor de hidrmetro
A instalao do hidrmetro com inclinao superior a 15 em relao ao seu
prprio eixo faz com que ocorra submedio dos volumes. A submedio devi-
da inclinao dos hidrmetros varivel com o grau de inclinao dos mes-
mos, podendo chegar a 50%. Em termos mdios, experincias mostraram um
incremento de 20% entre os volumes micromedidos antes e depois da correo
da inclinao.
Muitos erros de medio so provocados por problemas nos hidrmetros me-
didores parados, com a cpula riscada ou opaca (o que induz a erros de leitura)
e hidrmetros com o tempo de instalao acima do recomendado, acarretando
submedies superiores s normais.
Por fm, salientam-se as perdas no fsicas representadas pela submedio de
hidrmetros mal dimensionados para as vazes fornecidas, em especial aqueles
com capacidade superior aos volumes medidos, que j na sua instalao apre-
sentam um custo adicional desnecessrio e, durante sua vida operacional, por
seu superdimensionamento, induziro a perdas de faturamento.
56
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Desafo
Hora de concluir mais um desafo, acessando o ambiente virtual e reali-
zando a atividade. Se tiver alguma dvida, j sabe, consulte o seu tutor!
Aula 4:
Diagnstico do parque de
hidrmetros
Para iniciar a gesto de um parque de hidrmetros, uma das primeiras aes
a realizar o seu diagnstico, que fornecer informaes seguras qualitativa e
quantitativamente, para a recomendao de ajustes nos procedimentos. Na es-
timativa das perdas de gua ocorridas em funo de problemas relacionados
micromedio, todos os parmetros que podem contribuir para sua ocorrncia
devem ser analisados.
Destaca-se para o diagnstico a importncia da verifcao do ndice de cober-
tura de micromedio, o tempo de uso e as condies de funcionamento dos
hidrmetros instalados.
Os hidrmetros destinados medio de volume de gua fria so regulamenta-
dos pelo Regulamento Tcnico Metrolgico aprovado pela portaria do Inmetro
n 246, de 17 de outubro de 2000. Segundo a portaria, os hidrmetros devem
ser verifcados quanto preciso na medio em intervalos no superiores a
cinco anos. Existem muitos estudos que mostram a ocorrncia de perda signi-
fcativa na medio registrada por um hidrmetro em uso por um tempo bem
maior que aquele estipulado pela Portaria n 246.
O diagnstico deve avaliar tambm as condies de instalao dos hidrmetros,
que deve seguir as recomendaes do fabricante do equipamento, e, ainda,a
compatibilidade da classe de vazo dos hidrmetros com o padro de consumo
que esto atendendo.
Sistematizadas, as informaes obtidas em campo, considerando-se as reco-
mendaes tcnicas, fornecero as informaes necessrias para um adequado
plano de ao no parque de medidores.
57 Unidade 2
Desafo
Antes de seguir para a prxima unidade, lembre-se de realizar a ativi-
dade no ambiente virtual. Bons estudos!
Relembrando
Voc est chegando ao fnal de mais uma etapa do seu curso. Que tal
relembrar o que foi estudado nesta unidade?
Toda gua que subtrada do sistema e que no consumida pelo
cliente fnal chamada de perda fsica.
Perdas no fsicas so as guas produzidas e consumidas, porm
no revertidas em faturamento.
As perdas fsicas visveis so aquelas que podem ser identifca-
das visualmente, pois as fugas de gua aforam para a superfcie do
terreno por percolao pelo solo e pelo pavimento ou atravs dos
dispositivos da rede.
As perdas fsicas no visveis so aquelas nas quais as fugas de
gua no aforam. So de mais difcil deteco, sendo necessrio,
na maioria dos casos, o uso de equipamentos especfcos como os
geofones mecnicos e eletrnicos, hastes de escuta e os correlacio-
nadores de rudos.
Entre as principais medidas estratgicas para reduo e controle de
perdas fsicas e no fsicas nos sistemas de abastecimento de gua
destacam-se: subdiviso do sistema, monitoramento e setorizao.
Em geral, o controle de perdas fsicas feito por meio de quatro ati-
vidades complementares: gerenciamento de presso, controle ativo
de vazamentos, velocidade e qualidade dos reparos e gerenciamento
da infraestrutura.
O conceito bsico de macromedio compreende a correta avalia-
o dos volumes produzidos e dos volumes entregues a setores de
abastecimento ou sub-regies.
A micromedio a medio do consumo realizada no ponto de
abastecimento de um determinado usurio, independentemente de
sua categoria ou faixa de consumo.
Existem perdas inerentes ao sistema de medio que no podem ser
eliminadas e perdas causadas por mal dimensionamento e/ou insta-
lao do medidor.
59
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
3
Equipamentos
para Controle de
Perdas
Voc est iniciando mais uma etapa do seu cur-
so. Confra a seguir os objetivos de aprendiza-
gem para esta unidade.
Objetivos de Aprendizagem
Ao fnal desta unidade, voc ter subsdios para:
Conhecer os principais equipamentos que
auxiliam na reduo de perdas de gua em
redes de abastecimento.
Identifcar a necessidade de instalao de
equipamentos que podem contribuir para a
reduo das perdas.
Conhecer os princpios de funcionamento dos
principais equipamentos aplicados em com-
bate s perdas.
Conhecer as principais recomendaes e
cuidados com os equipamentos utilizados no
controle de perdas.
60
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aulas
Esta unidade est dividida da seguinte maneira:
Aula 1: Vlvulas redutoras de presso
Aula 2: Ventosas
Aula 3: Medidores de vazo
Aula 4: Medidores de presso
Lembre-se sempre de que este material foi desenvolvido especialmente para
voc, e caso voc fque em dvida em qualquer parte do contedo, s con-
sultar o tutor. Pronto para seguir em frente? Ento vamos l!
Para iniciar
A perda de gua em sistemas de distribuio a diferena entre o volume
de gua produzido nas Estaes de Tratamento (ETA) e o total dos volumes
medidos nos hidrmetros. A perda diretamente proporcional presso na
rede. Desta forma, percebe-se quais equipamentos de medio desses par-
metros so necessrios para seu gerenciamento.
Conforme o PNCDA DTA A2 (MARCKA, 2004), as perdas de gua em redes de
abastecimento podem ser divididas em: perdas na aduo de gua tratada
perdas na rede de distribuio e perdas nos ramais prediais.
As perdas na aduo de gua tratada so as perdas por vazamentos e rom-
pimentos nas tubulaes das adutoras e subadutoras, que transportam va-
zes elevadas para serem distribudas pela rede de distribuio. Outra forma
de perda fsica na aduo de gua tratada o caso das descargas, seja para
esvaziar a tubulao para reparos e manutenes diversas, seja para melhorar
a qualidade da gua.
Nesses casos, apenas sero consideradas perdidas em sentido estrito as
vazes excedentes do necessrio para a correta operao do sistema. O volu-
me de gua descartado em descargas deve ser computados como consumo
operacional.
No caso de vazamentos, pelo fato de as vazes veiculadas serem elevadas,
esses so geralmente localizados e prontamente reparados. importante res-
saltar que se tais rompimentos no forem detectados e controlados em curto
prazo, grandes danos materiais podem ocorrer devido ao seu alto poder
erosivo e destrutivo.
61 Unidade 3
A falta de instalao ou manuteno de ventosas pode ser um importan-
te fator que propicia a ocorrncia de transientes de presso e consequente
rompimento de adutoras, devendo merecer especial ateno.
Em sistemas pressurizados por bombeamento, tambm se deve prestar espe-
cial ateno instalao de elementos aliviadores de presses, em casos de
paradas de funcionamento da bomba. A magnitude das perdas pode variar
signifcativamente em funo do estado das tubulaes, das presses e da
efcincia operacional.
Segundo o PNCDA DTA A2 (MARCKA, 2004), as perdas fsicas que ocorrem
nas redes de distribuio, incluindo os ramais prediais, so, muitas vezes,
elevadas, mas esto dispersas, fazendo com que as aes corretivas sejam
complexas, onerosas e de retorno duvidoso se no forem realizadas com
critrios e controles tcnicos rgidos.
Como medida mais abrangente para a reduo das perdas em redes de
distribuio, destaca-se o controle da presso, uma vez que o volume dos
vazamentos diretamente proporcional mesma. Para o controle de presso,
tanto em redes de distribuio como em adutoras, recomendvel o uso de
vlvulas reguladoras de presso (VRPs).
Para os sistemas j implantados, as aes apontam para a priorizao da
reduo de presses na rede de distribuio, para que haja uma reduo de
perdas. Dessa forma, deve ser dada ateno especial ao controle de cargas
hidrulicas na rede, pois sua simples reduo diminui as perdas nos vaza-
mentos existentes, alm de restringir o risco de novas rupturas.
Como voc pode ver, o controle de perdas est relacionado ao uso de equi-
pamentos especfcos, destacando-se equipamentos para controle de presso
e ventosas. Esses equipamentos permitem condicionar os parmetros hidru-
licos s caractersticas tcnicas das tubulaes, evitando rompimentos.
Alm desses equipamentos, os medidores de vazo tambm contribuem
para a reduo das perdas, pois permitem anlises de balanos hdricos e
incentivam o no desperdcio por parte dos consumidores, que evitam gastos
excessivos de gua quando ela medida e cobrada.
Cabe lembrar que o bom estado de conservao das redes de abastecimento
fundamental para os baixos ndices de perdas.
Continue prestando ateno e siga em frente nos estudos!
62
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aula 1:
Vlvulas redutoras de
presso (VRPs)
Introduo
O controle de presso, atravs de Vlvulas Redutoras de Presso (VRP), apre-
senta-se como uma das ferramentas mais importantes no controle e reduo de
perdas, sendo recomendado o seu uso nos sistemas de abastecimento de gua.
Segundo o PNCDA DTA G4 (GONALVES; LIMA, 2005), em um sistema de gua
com alta presso os vazamentos ocorrem em maior frequncia e quantidade. As
VRPs permitem a regulagem da presso de sada, mantendo constante este pa-
rmetro na tubulao a jusante das mesmas. So indicadas para locais nos quais
a presso ultrapassa o limite recomendado por norma nas tubulaes, que de
50 mca. Desta forma, as VRPs contribuem para a proteo da rede reduzindo
a quantidade de vazamentos, alm de contribuir para a reduo do consumo
de gua. Um uso muito comum para as VRPs so os ramais que requerem uma
presso inferior presso da rede principal.
Nos locais onde a perda de carga causa oscilaes signifcativas de presso
pode ser recomendvel o uso de controladores eletrnicos. Esses equipamen-
tos, abastecidos por bateria, possuem circuito eletrnico com armazenadores de
dados e vlvulas solenides. Esse tipo de equipamento ajustvel s variaes
de presso da rede, mantendo estvel esse parmetro mesmo quando ocorrem
variaes signifcativas no interior das tubulaes.
A partir de agora, confra mais informaes sobre o controle de presso.
63 Unidade 3
Sobre o controle de presso
Segundo o PNCDA DTA G4 (GONALVES; LIMA, 2005) h trs tipos bsicos de
controle de presso com utilizao de VRP:
Presso de sada fxa (VRP sem controlador): usada quando o sistema a
ser controlado no tem mudanas signifcativas de demanda ou tem perdas
de carga relativamente pequenas (menores do que 10mca, sob quaisquer
condies de operao).
Modulao por tempo: usada para controlar um sistema que apresenta
grande perda de carga (superior a 10mca), porm de perfl regular de consu-
mo. Assim, a vlvula ir trabalhar com patamares de presso de sada, ajus-
tados no tempo.
Modulao por vazo: usada para controle em sistemas que apresentam
grande perda de carga (grandes reas) e mudanas no perfl de consumo,
que podem ser no tipo de uso, na sazonalidade ou na populao (como no
caso de cidades tursticas). Apesar de ser o tipo de controle mais efciente,
necessita de um controlador mais caro, alm de um medidor de pulso de
vazo.
Conforme visto, as vlvulas redutoras de presso podem trazer diversas van-
tagens para as redes de abastecimento. O PNCDA DTA G4 (GONALVES; LIMA,
2005) destaca as seguintes possibilidades de aplicao para as vlvulas reduto-
ras de presso:
Reduzir o volume perdido em vazamentos, economizando recursos de gua
e custos associados.
Reduzir a frequncia de rompimentos de tubulaes e consequentes danos
que tm reparos onerosos, minimizando tambm as interrupes de forneci-
mento e os perigos causados ao pblico usurio de ruas e estradas.
Prover um servio com presses mais estabilizadas ao consumidor, dimi-
nuindo a ocorrncia de danos s instalaes internas dos usurios at a
caixa-dgua (tubulaes, registros e bias).
Reduzir os consumos relacionados com a presso da rede, como por exem-
plo, a rega de jardins.
64
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Critrios de escolha das vlvulas redutoras de presso
Para dimensionar uma vlvula redutora de presso necessrio o monitora-
mento prvio da presso. O monitoramento das presses na rede permite a
visualizao das presses em um determinado ponto ao longo das horas do
dia, possibilitando o conhecimento das presses mdias, mnimas e mximas.
Dessa forma, podem-se comparar os valores de presso na rede com os valores
permitidos em Norma e, ento, defnir as estratgias de adequao de rede,
como, por exemplo, a reduo de presses com o uso de VRP ou substituio
de trechos de rede com incrustao.
A especifcao de vlvulas redutoras de presso e sua correta instalao so
fundamentais para o seu bom funcionamento. A vlvula redutora de presso
um elemento fsico e mecnico que age sobre o escoamento do lquido, pro-
porcionando, atravs de seu mecanismo, a perda de carga desejada para man-
ter a presso no interior das tubulaes dentro de limites projetados.
So requeridos cuidados especiais quanto aos aspectos de resistncia estrutu-
ral, qumica e de desempenho hidrulico a que a vlvula redutora de presso
possa ser submetida.
Especifcar uma vlvula signifca pormenorizar as caractersticas que este equi-
pamento deve ter. Uma boa especifcao deve comear pelo dimensionamento
adequado e pela abordagem de aspectos relacionados condio de trabalho.
Os principais parmetros a serem considerados para a especifcao de uma
vlvula redutora de presso so:
vazes mximas e mnimas;
presses de trabalho;
presso de regulagem;
caractersticas qumicas da gua;
comportamento da presso dinmica do setor a ser controlado;
material da vlvula;
tipo de fltro;
tipo de conexo.
O modo mais prtico de dimensionamento de vlvulas redutoras de presso
utilizar as tabelas fornecidas pelos fabricantes, onde so mostradas as vazes
mnimas e mximas para cada dimetro, bem como a perda de carga gerada. A
fgura a seguir mostra dois modelos de vlvulas redutoras de presso. Na parte
frontal da vlvula h manmetros indicadores de presso.
65 Unidade 3
Figura 12 Vlvulas redutoras de presso
Os principais problemas relacionados ao dimensionamento das VRPs evidencia-
dos na prtica so:
1 Subdimensionamento:
Ocorrncia de presses negativas a jusante da vlvula;
Falta dgua em pontos do setor controlado;
Cavitao por excesso de velocidade do fuxo;
Impossibilidade de regulagem da vlvula.
2 Superdimensionamento:
Excesso de presso a jusante da vlvula;
Abertura e fechamento constante da vlvula, gerando golpes de arete inter-
mitentes;
Danifcao do diafragma e demais componentes internos da vlvula;
Impossibilidade de regulagem da vlvula.
66
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Instalao, operao e manuteno das VRPs
A instalao, a operao e a manuteno das vlvulas redutoras de presso de-
vem ser realizadas seguindo os critrios tcnicos especifcados pelos fabrican-
tes. Um programa deve ser criado para a realizao adequada dos servios que
envolvem esses equipamentos.
Uma forma precisa de controle das VRPs que possibilita detectar em tempo real
qualquer alterao signifcativa no sistema o controle a distncia atravs de
telemetria. Porm, este sistema somente se torna vivel economicamente quan-
do h uma quantidade grande desses equipamentos instalados na rede.
Como o consumo de gua em um trecho de rede pode variar muito em funo
de mudana nos perfs de consumo e considerando, ainda, que a rugosidade
da tubulao se altera com o passar do tempo, o controle da presso deve ser
realizado atravs de um processo contnuo, buscando as inovaes tecnolgicas
cabveis para o sistema.
Desafo
Agora, fnalize esta aula acessando o ambiente virtual e realizando as
atividades propostas.
Na prxima aula voc vai conhecer os dispositivos de funcionamento automti-
co para admisso e expulso de ar das tubulaes. Continue atento!
Aula 2:
Ventosas
O que so ventosas
Quando as redes de abastecimento de gua so esvaziadas para manutenes
ou quando a vazo insufciente por consumo excessivo de gua, em alguns
pontos podem surgir presses negativas (depresses) que podem causar colap-
so na tubulao. Quando a tubulao preenchida com gua novamente, o ar
67 Unidade 3
tende a se acumular nos pontos mais altos, fcando comprimido pela presso
do bombeamento. O ar acumulado e comprimido causa presses elevadas e
pode causar rompimentos da rede de abastecimento. Nesses pontos a forma-
o de bolses de ar causa a reduo da seo de escoamento (diminuio da
rea disponvel para escoamento dentro da tubulao) de gua, uma vez que
ela escoar pela parte no preenchida pelo ar.
Para permitir a entrada de ar nas redes de abastecimento quando as mesmas
so esvaziadas, e tambm a expulso do ar que se acumula nos pontos mais
altos da tubulao durante o seu preenchimento com gua, so instalados nas
tubulaes dispositivos denominados ventosas.
As ventosas so dispositivos que atuam na proteo contra as depresses e
sobrepresses nas redes de abastecimento, uma vez que permitem a entrada
e sada de ar nas tubulaes atravs de um orifcio localizado na parte supe-
rior da mesma. Dessa forma, o valor da depresso fca limitado ao da presso
atmosfrica e a presso no ultrapassa o valor estabelecido pelo bombeamento.
Segundo Netto et al. (1998), as ventosas so dispositivos de funcionamento
automtico para admisso e expulso de ar das tubulaes sob presso. Sua
necessidade evidente para fns de enchimento e esvaziamento de tubulaes
com perfl sinuoso, e devem se localizar nos pontos altos e antes ou depois de
vlvulas de seccionamento da linha.
Durante o funcionamento da rede de distribuio de gua as ventosas atuam
de duas formas: expulsando o ar que se acumula nos pontos altos da rede; e
permitindo a rpida entrada de ar em condies de subpresso, evitando o
esmagamento dos tubos pela presso atmosfrica.
Segundo o PNCDA DTA C1 (CONEJO, LOPES, MARCKA, 1999), os sistemas de
proteo por ventosas devem ser muito bem dimensionados, para se evitar
problemas como os que ocorrem quando h interrupo do abastecimento para
reparos. A ausncia de ventosas provoca o aparecimento de presses negativas
que iro causar o esmagamento das tubulaes. A repetio desse processo
provocar a fadiga do material e o seu rompimento, alm do deslocamento dos
anis das juntas (item 5.10.3 da NBR 12218).
Conforme Netto et al. (1998), os fabricante classifcam as vlvulas ventosas em
trs tipos:
a ventosa simples;
b ventosa dupla de pequeno e grande orifcio;
c ventosa de admisso.
68
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Alguns fabricantes chamam suas vlvulas de expulso de ar de ventosas de du-
plo efeito porm, no h ventosa de nico efeito , e as com orifcio grande e
pequeno de ventosa de duplo efeito e trplice funo o que nada mais quer
dizer que essa vlvula permite o ar entrar e sair (duplo efeito) e tem as funes
de encher, esvaziar e operar.
A seguir apresentada uma vlvula ventosa de trplice funo.
Figura 13 Vlvula ventosa de trplice funo
Funcionamento da ventosa
No compartimento principal da vlvula se aloja um futuador que permanece
no fundo do compartimento quando este no est preenchido por gua, per-
mitindo, dessa forma, a sada do ar por um orifcio que se encontra na tampa,
na parte superior do equipamento. Desse modo, todo o ar deslocado durante
o enchimento da rede ser expelido pela sada, que se encontra aberta nesta
situao.
No momento em que o ar for eliminado, a gua alcanar o futuador, deslo-
cando-o para cima, de encontro abertura, fechando-a automaticamente. Des-
sa forma, o trecho da adutora fca sob a presso da gua, mantendo o futuador
contra a abertura e impedindo a passagem da gua.
No caso de drenagem da adutora, falta de gua ou reduo da presso inter-
na, o futuador desce e permite a entrada de ar, evitando uma subpresso e o
esmagamento da tubulao por ao da presso atmosfrica.
69 Unidade 3
Quando a sada principal da vlvula encontra-se fechada (adutora em carga)
no h possibilidade de sada do ar que porventura venha a se acumular nos
pontos altos da adutora. Para retir-lo, h no interior da vlvula um compar-
timento auxiliar (n 2 da fgura a seguir) com um futuador cujo peso suf-
ciente para que a presso no o mantenha contra o pequeno orifcio do niple
de descarga. Dessa forma, a menor quantidade de ar que venha a se acumular
no interior da ventosa ser rapidamente eliminada. A fgura que segue mostra
esquematicamente o funcionamento da vlvula.
Figura 14 Esquema de funcionamento da vlvula ventosa
Critrios de seleo e localizao das ventosas
A localizao das ventosas deve ser defnida em funo de um estudo do perfl
da tubulao.
Segundo Netto et al. (1998), os seguintes pontos devem ser examinados para
verifcar a necessidade de instalao de ventosas:
Todos os pontos altos;
Os pontos de mudana acentuada de inclinao em trechos ascendentes;
Os pontos de mudana acentuada de inclinao em trechos descendentes;
Os pontos intermedirios de trechos ascendentes muito longos;
Os pontos intermedirios de trechos horizontais muito longos;
Os pontos intermedirios de trechos descendentes muito longos;
Os pontos iniciais e fnais de trechos horizontais;
Os pontos iniciais e fnais de trechos paralelos linha piezomtrica.
70
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O dimensionamento das ventosas feito em funo da vazo de ar a ser expul-
sa ou admitida em determinado tempo e sob determinada presso ou sub-
presso em relao presso atmosfrica local. Os elementos bsicos para o
dimensionamento so: a vazo de enchimento da tubulao para as ventosas
de eliminao de ar (ou tempo de enchimento desejado) e a vazo de entrada,
alm da geometria da vlvula de cada fabricante (cada uma tem sua curva for-
necida pelo fabricante).
Dica
Lembre-se que durante todo o curso o tutor estar a sua disposio.
Consulte-o sempre que surgirem dvidas.
Desafo
Realize a atividade no ambiente virtual para fnalizar esta aula. Depois,
d continuidade ao seu estudo seguindo para a aula 3 desta unidade.
Aula 3:
Medidores de Vazo
Nos sistemas de abastecimento de gua a medio de vazo uma necessida-
de fundamental, sem a qual difcilmente os mesmos podem ser controlados ou
operados de forma segura e efciente.
Preparado para comear esse assunto? Ento, vamos l!
Introduo
A medio de vazo um assunto abordado por grandes nomes na Histria.
Leonardo da Vinci foi provavelmente a primeira pessoa a ter constatado que
um determinado volume de gua que fua em um rio durante uma unidade de
tempo, era igual em todo o trecho que no recebia nenhuma contribuio ou
reduo da vazo.
71 Unidade 3
O desenvolvimento de mtodos prticos e equipamentos de medio ocorre-
ram somente aps o trabalho de pesquisadores como Bernoulli e Pitot, entre
outros.
Aps o incio da era industrial as tecnologias se desenvolveram muito e hoje h
uma grande quantidade de diferentes tipos de medidores que podem ser apli-
cados em vrias condies diferenciadas de fudos, condutores, necessidade de
preciso e confabilidade da medio, entre outras.
Neste contedo so apresentados princpios de operao e caractersticas de
alguns tipos usuais.
Em termos de medio de vazo em conduto fechado, os principais medidores
de vazo podem ser divididos em quatro categorias:
Medidores tipo turbina ou velocimtricos;
Medidores volumtricos;
Medidores estticos ou eletrnicos, com seus respectivos subtipos;
Medidores por diferencial de presso.
Conhea mais detalhadamente cada uma das quatro categorias de medidores
de vazo.
Medidores velocimtricos
Os medidores tipo turbina, ou de velocidade, so hoje quase a totalidade dos
medidores instalados no pas. Seu funcionamento se baseia na movimentao
de uma turbina ou rotor, introduzido no escoamento de gua, que gira propor-
cionalmente vazo que o atravessa. A fgura a seguir mostra o interior de um
hidrmetro velocimtrico.
Figura 15 Corte em hidrmetro velocimtrico
72
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Existem diversos modelos construtivos atualmente no mercado, mas os mais
conhecidos so os hidrmetros tipo multijato, os monojato e os hlice ou
Woltmann. O aparecimento desses medidores remonta ao incio do sculo, mas
seu uso s comeou a ser difundido a partir dos anos 50 com a melhoria dos
processos de fabricao e advento de compostos plsticos mais resistentes.
Atualmente j se encontram modelos com classes metrolgicas prximas aos
medidores volumtricos e opes de sadas eletrnicas diversas. O medidor tipo
multijato o medidor mais tradicional no Brasil, onde fabricado desde a dca-
da de 20. Consiste de uma carcaa em liga de bronze ou lato que acomoda um
conjunto medidor (tambm conhecido como kit), constitudo de uma cmara
de medio, uma turbina ou rotor, uma placa separadora e uma relojoaria ou
totalizador.
A relojoaria, ou totalizador, constitui-se de um trem de engrenagens plsticas
que reduz a rotao da turbina at a indicao dos roletes, ou seja, conta o
nmero de voltas da turbina e multiplica pelo volume cclico, apresentando no
indicador o volume total de gua que passa por ele. As partes de um hidrme-
tro podem ser observadas na fgura a seguir.
Figura 16 Partes de um hidrmetro
Fonte: PNCDA DTA D3 Micromedio
73 Unidade 3
A concepo do medidor de transmisso magntica, tambm chamado de seco,
permite menor sensibilidade s partculas em suspenso na gua e por esse
motivo passou a ser praticamente o padro em instalaes brasileiras.
Os medidores tipo Woltmann so medidores de turbina em que a turbina, por
seu formato helicoidal, gira numa rotao proporcional vazo. Apesar de esta-
rem progressivamente sendo substitudos por medidores eletrnicos estticos,
so medidores tradicionais em macromedio, sendo hoje fabricado em dime-
tros de at 1.000mm, inclusive no Brasil.
So mais resistentes que os monojatos ou multijatos e adequados a vazes ele-
vadas com grandes variaes, podendo tambm ser utilizados com gua bruta,
desde que com concentrao no muito elevada de partculas pesadas. Nesse
caso, deve-se prever a instalao de fltro de entrada.
Os medidores tipo Woltmann so fabricados em dois modelos: vertical (a turbi-
na trabalha na vertical) e axial (eixo da turbina paralelo ao eixo da tubulao).
Figura 17 Medidor tipo Woltmann
Fonte: BMeters water meters
Em macromedio utilizam-se principalmente os medidores axiais devido
menor perda de carga e resistncia a vazes de pico. Quase todos os medidores
mais modernos possuem dispositivos opcionais para leitura remota e ligao
em coletores de dados e integradores de volume. Os medidores tipo Woltmann
so tambm utilizados em micromedio de grandes consumos.
As normas de referncia para esse tipo de medidor so as mesmas aplicadas a
medidores monojatos e multijatos. Em princpio, sendo um medidor com peas
mveis, importante aplicar um plano adequado de manuteno e verifcaes
peridicas em bancada.
74
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Nota
Uma caracterstica importante relativa aos medidores tipo Woltmann
sua grande sensibilidade a perfs irregulares de escoamento e a
escoamentos com rotao, que podem acelerar ou retardar a rotao
da turbina provocando erros de medio. Tais escoamentos podem
ser provocados por bombas e instalaes que apresentam curvas no
coplanares a montante dos medidores.
Por esse motivo, recomenda-se uma extenso superior a 10 dimetros
de trecho reto a montante de sua instalao e, em casos extremos, a
instalao de retifcadores de fuxo. Os fabricantes em geral orientam
quanto a esses tipos de requisitos nas especifcaes e catlogos de
instrumentos.
A fgura a seguir apresenta hidrmetros de diferentes princpios de funciona-
mento e diferentes classes metrolgicas e de vazo.
Figura 18 Diferentes tipos de hidrmetros
Fonte: LAO Indstria
Medidores volumtricos
Atualmente, dois tipos de medidores volumtricos so mais utilizados mundial-
mente: os medidores tipo pisto rotativo e os de disco nutante.
75 Unidade 3
No medidor de pisto rotativo, um cilindro gira excentricamente dentro de
uma cmara, tambm cilndrica, deslocando volumes bem defnidos de gua
a cada rotao de um eixo central. So medidores compactos, sendo normal-
mente fabricados em bitolas menores (de 10 mm ou 3/8 a 25 mm ou 1), muito
embora ainda se encontrem medidores de 50 mm (2) e at 80 mm (3), princi-
palmente nos EUA e Gr Bretanha, onde o uso desse tipo de medidor genera-
lizado.
A principal caracterstica desses medidores seu funcionamento efciente em
vazes muito baixas (medidores volumtricos so normalmente produzidos
para classes metrolgicas C e D) e a virtual insensibilidade s condies de
instalao.
Os medidores do tipo volumtricos permitem tambm a instalao de dispo-
sitivos acessrios (emissores de pulsos, encoders de leitura remota) sem que
haja alterao na qualidade de medio do hidrmetro, sendo, por isso, muito
utilizados em levantamentos e trabalhos de levantamento de perfl de vazes
em consumidores.
A grande desvantagem desses medidores reside no fato de que o pisto rotati-
vo e a cmara trabalham com folgas muito controladas (o pisto muitas vezes
retifcado), o que sujeita o medidor a travamentos frequentes caso a gua medi-
da possua slidos em suspenso.
Tal problema particularmente preocupante em sistemas muito grandes ou
com recursos limitados de manuteno, pois o travamento do medidor provo-
ca o corte do suprimento de gua na instalao, exigindo uma ao rpida do
prestador de servios.
Alguns fabricantes norte-americanos lanaram recentemente modelos mais
resistentes aos slidos em suspenso, mas esse problema ainda continua sendo
relevante.
Outra desvantagem desses medidores que seu custo, devido tecnologia
empregada, e se for usada carcaa em liga de cobre, bem mais alto que um
medidor de turbina tradicional.
O medidor de disco nutante foi um desenvolvimento dos medidores volum-
tricos aplicado mais em medidores de dimetros maiores. Os prs e contras so
os mesmos que os medidores de pisto.
Esses medidores possuem uma cmara com formato de setor esfrico, com
duas aberturas laterais separadas por uma parede divisria. O seu interior
constitudo por um disco que se movimenta com a passagem de gua. O regis-
tro do volume de gua no medidor realizado pela transmisso, do movimento
circular do pino localizado na parte central do disco.
76
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
No Brasil, o uso desses medidores foi relativamente difundido at a dcada de
60, e alguns modelos chegaram a ser fabricados no Brasil. Atualmente, esses
medidores tm utilizao restrita a aplicaes especiais que exijam posio de
montagem vertical ou grande exatido de medio em vazes baixas.
Os medidores volumtricos ainda no so normalizados no Brasil e a regula-
mentao nacional no considera medidores que seguem normas americanas
(AWWA), o que torna a sua utilizao, de forma abrangente, ainda difcil.
Medidores eletrnicos
Embora existam medidores com outros princpios de funcionamento, os dois
tipos de medidores eletrnicos mais difundidos em medio de gua so os
eletromagnticos e os ultrassnicos.
Ultrassnico
Esses medidores so tambm denominados medidores estticos, pois no
possuem peas mveis. Eles medem a vazo a partir de propriedades do escoa-
mento, como a induo magntica e transmisso de ondas sonoras.
Devido s suas caractersticas, possuem processadores e dispositivos eletrni-
cos, motivo pelo qual so genericamente denominados de medidores eletrni-
cos.
Os medidores eletrnicos, que, atravs da induo eltrica do escoamento
(eletromagnticos de efeito Faraday) ou da propagao de ondas sonoras no
escoamento (ultrassnicos de efeito Doppler ou tempo de trnsito), medem a
velocidade mdia em um trecho de tubulao de dimenses conhecidas.
Os medidores eletrnicos apresentam a vantagem de no necessitarem formas
geomtricas especiais. Podem ser aplicados em trechos de tubulao de dimen-
ses comercialmente disponveis, desde que respeitados trechos retos mnimos
a montante e jusante para evitar escoamentos com perfl muito anmalo, que
diminuem a exatido da medida.
Um cuidado especial com o uso desses medidores reside na necessidade de
se ter bem conhecidas as dimenses da seo sob medio. Acmulo de sedi-
mentos no fundo, corpos estranhos e mesmo deformaes no conduto podem
provocar erros na determinao da seo molhada e, por conseguinte, da vazo
total.
77 Unidade 3
Conhea um pouco mais sobre os medidores eletromagnticos e os ultrassnicos.
a Medidores eletromagnticos
Os medidores eletromagnticos so baseados no fato de que a gua potvel
um fuido condutor de eletricidade, podendo ser induzida uma corrente eltrica.
Nesses medidores, uma bobina, denominada bobina primria, excitada por uma
corrente alternada ou pulsante, induz uma corrente no escoamento de gua.
Como a gua est em movimento, essa corrente induzida pode ser captada por
uma bobina secundria, obtendo-se um sinal proporcional vazo.
A exatido e a sensibilidade desse tipo de medidor dependem, portanto, da
corrente induzida pela bobina primria e da capacidade da bobina secundria
em captar essa corrente.
Como a gua um fuido pouco condutor, os primeiros medidores eletromag-
nticos necessitavam de grandes bobinas primrias, consumindo muita potn-
cia e relegando tais medidores quase exclusivamente a dimetros elevados em
locais com disponibilidade de alimentao eltrica externa.
Alguns fabricantes esto apresentando medidores eletromagnticos que ope-
ram com baterias de longa durao, superando a ltima grande barreira para o
uso generalizado desse medidor em saneamento.
Os preos dos medidores eletromagnticos esto caindo rapidamente, poden-
do-se prever que no futuro prximo devero substituir totalmente os medidores
tipo Woltmann em macromedio.
Os medidores eletromagnticos, por suas caractersticas, necessitam que um
trecho de tubo por onde escoa a gua seja totalmente isolado do tubo metli-
co, caso contrrio, o prprio tubo aterraria o sinal induzido, impedindo a medi-
o.
Devido a isso, os medidores eletromagnticos so comercializados com um
trecho de tubulao j revestido com resinas plsticas (usualmente PTFE, EVA
ou borracha ntrica) ou cermica. Como medem, a priori, a velocidade mdia
do escoamento, a determinao exata da rea da seo de medio muito
importante para a preciso da medio, o que tambm garantido por meio
da comercializao de medidores com um trecho de tubulao que incorpora o
medidor.
78
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
A fgura que segue apresenta um medidor eletromagntico.
Figura 19 Medidor de Vazo eletromagntico
Como normas de referncia para o seu uso, pode-se citar:
ISO 6817: Measurement of fuid fow in closed conduits Method using elec-
tromagnetic fowmeters;
ISO 9104: Measurement of fuid fow in closed conduits Methods of evalua-
ting the performance of electromagnetic fowmeters for liquids.
No Brasil, como em muitos outros pases, os medidores eletromagnticos ainda
no possuem regulamentao prpria para uso em transferncia de custdia
(venda de gua por atacado), motivo pelo qual devem ser vistos com cuidado
quando for esse o seu uso, sendo importante a anuncia prvia das partes.
Os medidores eletromagnticos, por medirem velocidade mdia, so tambm
sensveis a perfs de escoamento rotativos (turbilhonados) e irregulares, embora
no tanto quando os medidores tipo Woltmann axiais. Recomenda-se, portanto,
prever um trecho reto mnimo de 10 dimetros a montante de sua instalao.
No recomendado o uso de retifcadores de fuxo para esses medidores.
Os procedimentos de calibrao e manuteno so os normais para a instru-
mentao: manuteno preventiva com limpeza interna (particular ateno aos
eletrodos); verifcao dos secundrios, conexes e limpeza do local de insta-
lao; manuteno preditiva avaliando o comportamento das medies com o
tempo; e manuteno corretiva, eventualmente com sua troca. Necessitam tam-
bm de um plano de verifcao peridica, tanto em bancada como verifcao
in loco com uso de pitometria.
79 Unidade 3
Sendo medidores com secundrio eletrnico, praticamente todos os modelos
possuem opes de sada para leitura remota, registro de volumes e vazes,
alm de possibilitarem alarmes diversos para picos de vazo, tubo vazio e fuxo
inverso, entre outros. So tambm, via de regra, bidirecionais, podendo medir
nas duas direes indistintamente.
b Medidores ultrassnicos
Os medidores ultrassnicos podem ter dois princpios de funcionamento: medi-
dores de tempo de trnsito e efeito Doppler.
Para aqueles que utilizam o princpio de tempo de trnsito, dois eletrodos so
colocados em posies opostas da tubulao, deslocados de certa distncia,
sendo que um emite um sinal ultrassnico e o outro recebe.
Pelo tempo de chegada do sinal ao receptor, comparado com o tempo com
o lquido estacionrio, pode-se inferir a velocidade mdia do escoamento na
seo que o sinal cruzou. Variaes de tempo de trnsito permitem a instalao
de sensores do mesmo lado do tubo, usando como receptor o sinal refetido na
parede oposta da tubulao.
O medidor efeito Doppler possui os eletrodos sensor e receptor, um ao lado do
outro, sendo que o receptor determina a velocidade mdia do escoamento pela
variao da frequncia do sinal ultrassnico refetido nas partculas em suspen-
so presentes na gua.
Para se obter uma velocidade mdia, o medidor repete a medida diversas vezes
por segundo sobre partculas diferentes no escoamento.
Pergunta
Em que casos usar o medidor ultrassnico por tempo de trnsito ou o
medidor de efeito Dopper? Saiba agora!
O medidor ultrassnico por tempo de trnsito indicado para escoamento de
gua limpa ou com pequenas concentraes de slidos em suspenso, en-
quanto o medidor de efeito Doppler s consegue medir escoamentos com uma
concentrao mnima de partculas que possam refetir o sinal de ultrassom.
A principal vantagem dos medidores ultrassnicos reside no fato de que eles
no necessitam de trechos de tubos isolados, como os medidores eletromagn-
80
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
ticos, podendo at mesmo ser instalados na parte externa das tubulaes (me-
didores no invasivos) substituindo tubos de Pitot em avaliaes pitomtricas, e
reduzindo os custos de instalao de macromedidores.
A grande desvantagem dos medidores ultrassnicos reside em sua calibrao.
Como eles medem, na prtica, a velocidade mdia, qualquer erro ou inexatido
na determinao da seo de medio pode acarretar erros grosseiros.
Por esse motivo, os medidores que so produzidos tendo em vista uma maior
exatido, j so fornecidos de modo solidrio a um trecho de tubulao de
dimenses bem defnidas, com o qual so calibrados.
Medidores do tipo de fxao externa so normalmente calibrados apenas es-
taticamente, e sua incerteza de medio s pode ser garantida se a calibrao
for executada em bancada, em um trecho de tubulao idntico aquele onde o
medidor ser instalado.
Uma prtica comum na instalao externa de medidores acompanhar as
medies pitomtricas da vazo como calibrao, garantindo as redues de
incertezas de determinao da vazo por mapeamento com medidor tipo Pitot.
A estimativa da incerteza de medio, e mesmo a calibrao dos medidores de
efeito Doppler, ainda mais crtica. Como a medida de vazo depende da velo-
cidade das partculas em suspenso, essa pode ser bastante varivel, dependen-
do da concentrao de slidos presentes na gua e do seu deslocamento.
Por exemplo, os medidores ultrassnicos de efeito Doppler no so recomen-
dados para aplicao em tubulaes verticais, pois nesse tipo de instalao
comum que partculas se desloquem em velocidades diferentes do escoamento,
sejam elas pesadas ou leves. Por esse motivo, as calibraes em bancada ain-
da no tm procedimentos plenamente estabelecidos e, consequentemente, o
estabelecimento das incertezas de medio difcil.
Recomenda-se o uso desse tipo de medidor apenas para verifcao da ordem
da grandeza da vazo e no como instrumento de controle de macromedio.
Como referncia para o uso de medidores tipo ultrassnicos, cita-se a norma
ISO 12765 Measurement of fuid fow in closed conduits Methods using transit
time ultrassonic fowmeters.
Como prtica de manuteno de medidores ultrassnicos, devem ser seguidos,
em linhas gerais, os mesmos procedimentos aplicveis a outros medidores, com
planos de manuteno preventiva e preditiva, quando possvel.
Sendo de concepo relativamente nova, sugere-se seguir as recomendaes
do fabricante quanto aos procedimentos de manuteno e calibrao peridica.
81 Unidade 3
O sistema de medio ultrassnico dotado de um transdutor snico em sepa-
rado e um transdutor de temperatura que no requer perfuraes ou cortes nas
tubulaes, para que seu fuxmetro fornea as vazes de tubulaes de dime-
tros e materiais variados. Seu tamanho reduzido e sua praticidade permitem a
realizao de medies sem interromper ou interferir no abastecimento.
A medio feita atando-se um conjunto de sensores tubulao, realizando-
se, aps, a confgurao do instrumento. O medidor possui vrios modelos no
mercado e pode ser usado em qualquer tubulao de at dois metros de di-
metro interno, aproximadamente.
A fgura a seguir ilustra um medidor ultrassnico instalado em uma tubulao.
Figura 20 Medidor de vazo ultrassnico
A realizao de medies requer que a parede da tubulao seja limpa e livre
de escamas, tintas ou ferrugem, e o lquido sufcientemente limpo, de modo
que permita os sinais ultrassnicos se propagarem totalmente, cruzando a
tubulao. Ar ou materiais slidos podem, sob condies severas, impedir a
transmisso ao lado oposto da tubulao, e podem, portanto, impedir o equi-
pamento de funcionar.
Para um fuxmetro porttil a transmisso de sinais deve ser aplicada atravs da
parede da tubulao por transdutores facilmente removveis. Os feixes ultrass-
nicos refrataro ao se propagarem atravs do transdutor, da parede do tubo e
das interfaces lquidas.
Isto similar refrao da luz quando entra na gua presente em um meio
como o ar. O ngulo exato determinado conforme a lei de Snell, e pode ser
corretamente calculado usando as relaes de velocidade do som dentro de
vrios materiais.
O fuxmetro tem a capacidade de medir a velocidade do som no lquido pela
transmisso de sinais atravs de uma trajetria perpendicular que cruza a
82
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
tubulao. Os sinais refetidos so recebidos aps um tempo de retardo e esta
informao usada para computar a verdadeira velocidade da propagao do
fudo.
Temperatura e outras variveis no interferem, j que o sistema Flight Time
considera estes efeitos.
Medidores por diferencial de presso
A medio de vazo em condutos fechados pode ser feita medindo-se um dife-
rencial provocado por um obstculo ou alterao na seo de escoamento.
Em conduto fechado, no entanto, mede-se a diferena da presso a montante e
a jusante do escoamento em vez da diferena de nvel. Em condutos fechados
as respectivas sees so defnidas pelas dimenses fsicas do medidor.
Os medidores que utilizam o princpio do diferencial de presso tem como van-
tagem, no caso da medio de vazo, no depender do dimetro da tubulao,
uma vez que o que muda o elemento primrio (placa de orifcio, bocal, Ventu-
ri) e seus respectivos elementos de fxao (fanges).
Trs tipos principais de medidores podem ser includos nessa categoria: tubos
de venturi, bocais e placas de orifcio. O primeiro tem sua aplicao mais difun-
dida para escoamento em grandes dimetros e vazes, pois tem perda de carga
menor, enquanto que os bocais e a placa de orifcio so mais restritos a tubos
de dimetros menores e vazes mais baixas.
O princpio de funcionamento baseado na equao de Bernoulli. Para um
medidor instalado na posio horizontal e fudo de propriedades constantes,
tem-se:
Q = KDH1/2
Onde :
Q = vazo em m/s;
K = constante do medidor; e
DH = diferena de presso medida no instrumento em kgf/m.
A constante K depende, basicamente, do medidor e pode ser obtida atravs de
calibrao ou, ento, a partir de normas ou literatura tcnica quando o medidor
utilizado possui dimenses conhecidas e est instalado de forma adequada.
Dependendo do instrumento, o fator K de calibrao pode ainda ser desmem-
brado em fatores geomtricos e um coefciente Cd, tambm conhecido como
83 Unidade 3
coefciente de descarga. A fgura que segue apresenta um medidor de vazo
por diferencial de presso instalado em tubulao.
Outro equipamento utilizado para medir vazo por diferena de presso o
tubo de Pitot. um instrumento que permite medir a presso de estagnao
no ponto onde introduzido. A diferena entre a presso de estagnao e a
presso esttica (componente piezomtrica) na tubulao pode ser diretamente
relacionada com a velocidade no ponto de medida.
Figura 21 Medidor de vazo por diferencial de presso (Pitot)
Como referncia para esse tipo de medidor recomenda-se utilizar a seguinte
norma:
NBR/ISO 5167 Medio de vazo de fuidos por meio de instrumentos de
presso Parte 1: Placas de orifcio, bocais e tubos de Venturi instalados em
seo transversal circular de condutos forados.
Do mesmo modo que, para os canais abertos, a calibrao dos medidores por
diferencial de presso para condutos forados consiste basicamente na manu-
teno das condies de limpeza e calibrao do sensor de presso (que pode
ter sada eletrnica para leitura remota e integrao para obteno do volume),
podem tambm ser feitas verifcaes peridicas com auxlio de pitometria.
Desafo
Muito bem! Falta apenas uma aula para concluir este mdulo. Mas
antes de inici-la, acesse o ambiente virtual e realize a atividade prepa-
rada especialmente sobre o assunto desta aula.
84
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Aula 4:
Medidores de Presso
Continuando com o assunto sobre equipamentos para controle de perdas, che-
gou a hora dos medidores de presso. Vamos em frente?
Introduo
O princpio de medio de um parmetro de processo fundamentado nos
princpios fsicos ou qumicos e nas alteraes que ocorrem nas substncias
quando expostas s condies criadas por esse parmetro.
Os medidores de presso, denominados manmetros. So equipamentos usa-
dos para as aes de controle de presses de distribuio, fator importante nos
controles de vazamentos. No setor do saneamento, trs tipos de manmetros
so mais comumente utilizados: de coluna lquida, metlicos (ou tipo Bourdon)
e eletrnicos (ou transdutores de presso).
Detalhando o assunto sobre Medidores de Presso
Em geral, os medidores de presso so compostos por trs partes, podendo ser
adicionados a conversores denominados transmissores de presso.
As trs partes principais que compem os medidores de presso so:
1 Componente de recepo: a parte do medidor que tem contato direto
com a presso existente dentro de um conduto forado. Este elemento rece-
be a presso do interior do conduto, provocando o deslocamento de partes
internas do medidor ou convertendo-a em fora.
2 Componente de transferncia: a parte do medidor de presso que tem
como funo ampliar a fora ou o deslocamento que ocorrem no compo-
nente de recepo ou transform-los em sinal de transmisso eltrica ou
pneumtica. Esse sinal transmitido ao elemento de indicao, que pode ser
um link mecnico, um rel piloto ou um amplifcador operacional.
3 Componente de indicao: o elemento para o qual o componente de
transferncia envia seus sinais. Nele indicada e/ou registrada a presso
atravs de ponteiros ou displays.

85 Unidade 3
As presses medidas em tubulaes pressurizadas podem ser classifcadas em
dois tipos, conforme o princpio de funcionamento do equipamento utilizado
para a medio:
Presso manomtrica: a presso medida em relao presso atmosfri-
ca existente no local, podendo ser positiva ou negativa.
Presso diferencial: o resultado da diferena de duas presses medidas.
Os manmetros so utilizados principalmente para medio instantnea de
presso. Podem ser acoplados em torneiras ou bocais com registros ligados
diretamente tubulao na qual se deseja conhecer a presso interna. Esses
medidores podem ser classifcados em dois tipos principais, de acordo com o
seu princpio de funcionamento: manmetros de lquido, ou de coluna, e man-
metros elsticos. A seguir sero apresentados mais detalhes destes aparelhos.
Acompanhe.
Manmetros de coluna
Os manmetros de lquido, ou de coluna, so de construo mais simples, de
baixo custo e foram muito utilizados no incio da instrumentalizao. Os man-
metros de lquido conhecidos so os de coluna reta vertical, coluna reta incli-
nada e o tubo em U. Hoje os manmetros de lquido (ou coluna) foram quase
totalmente substitudos por tecnologias que oferecem facilidades e segurana
de medio, com leituras programadas, remotas, com armazenadores de dados
e outras.
Este equipamento permite a medio da presso atravs de um lquido (lquido
manomtrico) no interior de um tubo de vidro de seo transversal constante,
fxo em uma escala graduada e suportado por uma estrutura de sustentao.
A relao entre a altura da coluna lquida e o peso especfco do lquido per-
mite o conhecimento da presso na tubulao. A leitura da altura da coluna de
lquido deslocado no interior do tubo do manmetro, em funo da intensidade
da presso existente na tubulao qual o medidor estiver acoplado, permitir
conhecer a presso atuante.
A construo desse equipamento, indicado para baixas presses, simples e o
custo relativamente baixo. O manmetro de coluna mais utilizado o Tubo
em U. constitudo de um tubo de vidro curvado com formato de U e fxo
sobre uma escala graduada, conforme pode ser observado na fgura que segue.
86
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Figura 22 Tubo em U
O zero da escala do manmetro fca posicionado no ponto em que a coluna
possui o mesmo nvel nos dois lados, ou seja, onde indica quando a presso
igual nos dois lados do tubo.
Quando um lado do tubo conectado a uma tubulao pressurizada, o lquido
do seu interior desce no lado que recebe a presso provinda do tubo e sobe
no lado em que a presso mais baixa. A presso obtida atravs de leitura
realizada na escala de fundo, registrando-se a quantidade de lquido deslocada
a partir do zero nos lados de alta e baixa presso.

Manmetros mecnicos ou elsticos ou metlicos
De acordo com Trierweiler (2009), manmetros mecnicos ou metlicos so
medidores com ponteiro sobre mostrador redondo. So muito utilizados em
medio instantnea de presso e em monitoramento local de sistemas, como
sadas de bombas, por exemplo. Esses instrumentos so considerados de baixa
preciso e sofrem frequentes descalibraes, principalmente quando sujeitos a
vibraes e presses pulsantes. Utiliza o princpio da deformao de um ma-
terial elstico, transferindo a deformao para um mecanismo de leitura da
presso (visor). Esse princpio fundamenta-se na Lei de Hook (estabelecida por
Robert Hook em 1676), que relaciona a deformao de um determinado mate-
rial com a fora qual estiver submetido. Segundo a Lei de Hook, a deformao
87 Unidade 3
de um material proporcional ao mdulo da fora que a provoca. No caso dos
manmetros elsticos, a presso do interior de uma tubulao transmitida
para um receptor de presso elstico. O receptor deforma-se proporcionalmen-
te intensidade da presso recebida. Essa deformao transmitida mecnica,
eltrica ou eletronicamente para um visor de leitura, no qual se obtm a pres-
so atuante. A fgura a seguir apresenta o visor e o interior de um manmetro
metlico.
Figura 23 Mecanismo e visor de manmetro elstico ou metlico
Fonte: Trierweiler (2009)
Medidores de presso eletrnicos
Segundo Trierweiler (2009), os transdutores ou manmetros eletrnicos tm
sua aplicao cada vez mais difundida em saneamento, porm seu custo ainda
elevado. Embora existam diversos tipos de medidores, pode-se destacar dois
como principais: os medidores piezoeltricos, para medies da componente
piezomtrica da presso nas linhas, e os medidores capacitivos, para medio
de presso diferencial em Venturis, tubos de Pitot e outros instrumentos do
tipo.
Os medidores de presso eletrnicos so equipamentos indicados para medio
de presso em redes de distribuio, monitoramento de pontos crticos, mape-
amento de presso para estudos de setorizao e de implantao de vlvulas
redutoras de presso, e no controle de elevatrias e reservatrios. Os equipa-
mentos devem possuir caractersticas fundamentais para essas aplicaes em
campo na rea de saneamento, como robustez, preciso, facilidade de manu-
seio, intervalos de leitura confgurveis, display, bateria para tempo prolon-
gado e memria compatvel com a necessidade de armazenamento de dados
para pesquisas. A fgura a seguir apresenta um data logger, que tambm tem a
funo de manmetro eletrnico e permite a leitura instantnea da presso no
display.
88
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Figura 24 Medidor de presso eletrnico
Desafo
Parabns! Voc acaba de concluir mais uma unidade do curso. impor-
tante que voc acesse o ambiente virtual e realize a atividade antes de
seguir para a ltima unidade e, caso tenha fcado com alguma dvida,
j sabe: consulte o seu tutor!
Relembrando
Nesta unidade voc conferiu os equipamentos para controle de perdas.
Voc viu que:
Os principais equipamentos utilizados para combate s perdas so os
medidores de vazo, medidores de presso, vlvulas de controle de
presso e ventosas.
Os medidores de vazo podem ser classifcados em: medidores tipo
turbina, velocimtricos ou taquimtricos; medidores tipo hlice ou
Woltmann; medidores volumtricos; medidores estticos ou eletrni-
cos, com seus respectivos subtipos, e medidores de vazo por dife-
rencial de presso.
89 Unidade 3
Os medidores velocimtricos podem ser classifcados em monojato,
multijato e Woltmann.
Os tipos de medidores volumtricos mais utilizados so os medidores
tipo pisto rotativo e os de disco nutante.
Os medidores eletrnicos ou estticos mais difundidos em medio
de gua so os eletromagnticos e os ultrassnicos.
No setor do saneamento, trs tipos de manmetros so mais comu-
mente utilizados: de coluna lquida, metlicos ou do tipo Bourdon e
eletrnicos ou transdutores de presso.
Saiba Mais
Para mais informaes sobre o tema abordado nesta aula, voc pode
acessar o site:
<http://www.arcweb.com/Research/Studies/Pages/Flowmeters-Ultrasonic.aspx>
91
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
4
Seleo
Dimensionamento
de Hidrmetros
Voc est chegando ltima unidade do cur-
so. Nela voc ir conferir informaes sobre o
dimensionamento e a seleo de hidrmetros.
Antes de iniciar, confra os objetivos de aprendi-
zagem.
Objetivos de Aprendizagem
Ao fnal desta unidade, voc estar apto a:
Conhecer critrios de seleo de hidrmetros;
Conhecer as principais caractersticas dos
hidrmetros;
Avaliar o funcionamento dos hidrmetros,
considerando suas limitaes;
Conhecer mtodos de dimensionamento de
hidrmetros;
Diagnosticar problemas relacionados ao di-
mensionamento de hidrmetros.
Aulas
Esta unidade est dividida em duas aulas, com os
seguintes assuntos:
Aula 1: Critrios de seleo de hidrmetros
Aula 2: Dimensionamento
92
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Para Iniciar
O hidrmetro um equipamento destinado a indicar e totalizar continua-
mente o volume de gua que o atravessa. Normalmente a preocupao na
operao da micromedio est no superdimensionamento do medidor, de-
vido ao seu custo mais elevado e instalao, e pela tendncia submedio
de vazes mais baixas, principalmente em instalaes com caixas-dgua. Isso
levou inclusive ao desenvolvimento de medidores de vazes nominais meno-
res, como o monojato de 0,75 m3/h, hoje generalizado em muitas instalaes
no pas, e o monojato de vazo nominal 0,6 m/h.
O subdimensionamento do medidor, no entanto, igualmente prejudicial,
pois um medidor sujeito frequentemente a vazes acima daquela para a qual
foi projetado para suportar termina por sofrer danos e desgastes prematuros.
Como consequncia, pode provocar submedio maior do que aquela que se
queria evitar ao instalar um medidor menor.
O advento de medidores cada vez mais sensveis a baixas vazes permite que
esse problema seja visto de outra forma, no sendo mais necessrio compro-
meter a vida til do medidor. O dimensionamento correto de um hidrme-
tro para uma instalao baseia-se, ento, em duas informaes principais: a
caracterstica e limitaes do instrumento e a demanda de gua do ponto de
consumo. A infuncia de outros fatores, como presso da linha, temperatura
e condies de instalao embora tambm importantes na seleo do tipo
do medidor infuenciam em menor grau o seu dimensionamento.
Aula 1:
Critrios de Seleo de
Hidrmetros
Introduo
As diferentes condies de abastecimento encontradas na prtica, como varia-
es de vazo requerida, presso na rede, perfl de consumidor de gua (envol-
vendo vazes mximas e mnimas), entre outras, fzeram surgir no mercado uma
grande quantidade de tipos de hidrmetros. Os fabricantes buscam adequar os
93 Unidade 4
medidores s condies prticas encontradas, na tentativa de aumentar a vida
til desses equipamentos e evitar perdas de gua por submedio. O cruzamen-
to das caractersticas dos medidores com as condies da rede encontradas no
ponto de abastecimento e o perfl do consumo possibilitam identifcar qual o
tipo de hidrmetro mais indicado para uma determinada ligao.
Vrias metodologias foram desenvolvidas para essa identifcao. A relativa
complexidade do dimensionamento requer o conhecimento de diversos pa-
rmetros necessrios para possibilitar o uso de uma metodologia existente. O
bom desempenho do medidor depender da preciso das informaes e da
metodologia aplicada no seu dimensionamento. Por todas essas questes, h
difculdade para o desenvolvimento de um medidor de alta preciso e de baixo
custo. A relao custo-benefcio sempre deve ser levada em considerao na
seleo dos hidrmetros.
O hidrmetro caractersticas de operao, limitaes e
normas
Os hidrmetros podem ser caracterizados quanto s classes de vazo e metro-
lgica. As classes de vazo so as de incio de trabalho, mnima, de transio,
nominal e mxima. Conforme Rech (1992), a classe de vazo determina qual a
indicada para o funcionamento do hidrmetro. A letra Q o smbolo que re-
presenta a vazo. Sempre que for referida a simbologia Qmax estar sendo dito
vazo mxima, assim como Qmin representar vazo mnima e Qn, a vazo
nominal.
A vazo de incio de trabalho aquela que sufciente para vencer a inrcia das
peas mveis internas do medidor, ou seja, a partir da qual a turbina interna
do hidrmetro comea a se movimentar. No entanto, essa vazo no garante
preciso na medio, o que s ocorre a partir da vazo mnima especifcada por
norma.
A partir da vazo mnima, o medidor deve proporcionar a preciso determinada
pela norma NBR NM 212, proporcionando um erro mximo de 5% para hidr-
metros novos. Em uma condio ideal, o hidrmetro no deve operar abaixo
dessa vazo, pois a preci- so da medio no garantida. De acordo com
Rech (1992), a vazo mnima aquela a partir da qual o hidrmetro comea a
indicar volumes dentro da faixa de medio. a menor vazo de trabalho do
medidor, com indicao dentro dos erros admitidos por normas tcnicas ou
pela legislao vigente. A partir da vazo mnima e acima dela, o registro feito
pela relojoaria est dentro dos erros tolerados.
94
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Acima da vazo mnima encontra-se a de transio. Segundo Rech (1992), a
vazo de transio aquela que separa a faixa inferior da faixa superior de me-
dio e corresponde a 5% da vazo mxima. Portanto, no hidrmetro de vazo
mxima igual a 3 m/h, ou 3.000 l/h, a vazo de transio de 150 l/h.
Acima da vazo de transio encontra-se a nominal (Qn). Corresponde meta-
de da vazo mxima. aceita como vazo normal de trabalho, na qual o medi-
dor deve operar em condio ideal. Um medidor que trabalhe nessa vazo no
deveria apresentar desgastes e variaes capazes de infuir signifcativamente
no seu desempenho, nem no erro absoluto de um registro. Porm, h quem de-
fenda que a vazo ideal de trabalho de um hidrmetro seja a metade da vazo
nominal, isto , um quarto da vazo mxima. Foi constatado que os desgastes
encontrados na vazo nominal so ainda muito grandes e altamente infuenci-
veis no erro de registro do medidor.
A vazo nominal designada pelas letras X, Y, A, B, C, D, E, e F, e as respectivas
vazes nominais so estabelecidas em metro cbico por hora (m3/h): 0,6 - 0,75
1,5 2,5 3,5 6,0 10 15.
Acima da vazo nominal encontra-se a vazo mxima. Essa a vazo at a qual
o hidrmetro pode funcionar, de forma satisfatria e por curto perodo, sem
danifcar-se. O valor o dobro do verifcado para a vazo nominal do medidor.
A vazo mxima erroneamente confundida com a capacidade do hidrmetro.
Quanto aos erros de medio tolerveis para hidrmetros, a vazo dividida
em duas faixas, a inferior e a superior de medio. A faixa inferior composta
pelas vazes que vo da mnima at a de transio, ou seja, so as vazes que,
partindo da menor vazo de trabalho com preciso de erro, atingem a vazo
de transio. Nessas vazes o erro admissvel em hidrmetros novos de 5%
para mais ou para menos. So vazes muito pequenas, nas quais o medidor
apresenta mais erros de indicao.
Denomina-se faixa superior de medio aquela que, partindo da vazo de tran-
sio, chega at a mxima. nessa faixa que se situam as vazes de trabalho do
medidor. O hidrmetro tem melhor desempenho acima da vazo de transio.
O erro permitido nessa faixa de medio de 2%. A vazo de transio separa
as faixas inferior e superior de medio. Abaixo dela, o erro permitido de mais
ou menos 5%. Acima, a margem de erro de mais ou menos 2%.
HIDRMETRO FAIXA INFERIOR DE
MEDIO
FAIXA SUPERIOR DE
MEDIO
Taquimtrico +/- 5,0% +/- 2,0%
Volumtrico +/- 3,5% +/- 2,0%
Tabela 6 Erros de indicao do hidrmetro
Fonte: Rech (1992).
95 Unidade 4
De acordo com PNCDA DTA D3 (ALVES, et AL., 2004), os hidrmetros tambm
so classifcados pela sua classe metrolgica. A NBR NM 212/99 estabelece
trs classes: A, B e C. Elas correspondem, nessa ordem, capacidade de medir,
com exatido, dentro de limites estabelecidos a vazes mnimas e de transio
de menor valor. Portanto, hidrmetros classe C permitem medir com exatido
vazes mais baixas que os hidrmetros B e esse, por sua vez, maiores que os de
classe A.
A fgura que segue apresenta a relojoaria de um hidrmetro e suas principais
funes.
Figura 25 Relojoaria de hidrmetro
A tabela a seguir apresenta um resumo das principais normas a serem observa-
das para esses medidores de gua.
96
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT
NBR 8009
Hidrmetro taquimtrico para gua fria at 15 m/h de vazo nominal
Terminologia ABNT, 1997.
NBR 15538
Hidrmetro para gua fria Ensaios para avaliao de desempenho de
hidrmetros em alta e baixa vazes em hidrmetros de at 2,5 m/h de
vazo nominal para gua fria.
NBR 8194
Hidrmetro taquimtrico para gua fria at 15 m/h de vazo nominal
Padronizao ABNT, 1997.
NBR NM 212 Medidores velocimtricos de gua fria at 15 m/h Norma Mercosul.
NBR 14005
Medidores velocimtricos de gua fria de vazo nominal de 15 m/h at
1500 m/h ABNT, 1998.
Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial INMETRO
Portaria
246/00
Estabelece os aspectos construtivos e metrolgicos dos medidores de
gua.
Tabela 7 Regulamentao bsica para hidrmetros
A tabela a seguir apresenta os valores caractersticos para os hidrmetros velo-
cimtricos de classe metrolgica A, B e C, de acordo com as vazes nominais.
Pode ser observado na tabela a seguir que, em um hidrmetro de determinada
classe de vazo, a vazo mnima reduz signifcativamente conforme muda a
classe de vazo.
CLASSE METROLGICA E DE VAZO (Unidade l/h)
Classe
Metrolgica
Classe
de vazo
X Y A B C D E F
Vazo
Nominal
(m/h)
0,6 0,75 1,5 2,5 3,5 6,0/5,0 10 15
A
Qmin 24 30 40 100 140 200 400 600
Qt 60 75 150 250 350 500 1000 1500
Q mx 1200 1500 3000 5000 7000 12000/10000 20000 30000
B
Qmin 12 15 30 50 70 100 200 300
Qt 48 60 120 200 280 400 800 1200
Q mx 1200 1500 3000 5000 7000 12000/10000 20000 30000
C
Qmin 6 7,5 15 25 35 50 100 150
Qt 9 11 22,5 37,5 52,5 75 150 225
Q mx 1200 1500 3000 5000 7000 12000/10000 20000 30000
Tabela 8 Classifcao de hidrmetros por classe metrolgica e de vazo
Fonte: Adaptado de PNCDA DTA D3 Micromedio (ALVES, et al, 2004)
97 Unidade 4
Tipos de hidrmetros
Os principais tipos de hidrmetros utilizados em sistemas de distribuio de
gua so:
Medidores volumtricos
tipo pisto rotativo
tipo disco nutante
Medidores tipo turbina ou
velocimtricos
multijato
monojato
medidores tipo hlice ou Woltmann
Medidores com confgurao
especial
proteo contra fraude
confgurao para leitura frontal
Segundo Sanchez (2005), no Brasil, a absoluta maioria dos medidores utilizados
so do tipo turbina vertical, os conhecidos hidrmetros taquimtricos, especif-
cados pela norma NBR 212 e previstos pela legislao metrolgica em vigor.
De acordo com PNCDA DTA D3 (ALVES, et al, 2004), a maioria dos medidores
instalados no Brasil do tipo turbina, seja multijato, monojato ou de hlice tipo
Woltmann.
A seguir sero apresentadas as principais caractersticas de cada tipo de medi-
dor.
Medidores tipo volumtrico
Segundo Rech (1992), nos hidrmetros volumtricos no existe uma turbina
acionada pela velocidade do jato de gua, e sim uma cmara de medida e um
mbolo anular ou anel.
De acordo com o PNCDA DTA D3 (ALVES, et al, 2004), os dois tipos mais utiliza-
dos so os medidores tipo pisto rotativo e o tipo disco nutante.
No medidor volumtrico de pisto rotativo, a medio ocorre por meio do giro
excntrico de um cilindro dentro de uma cmara tambm cilndrica, permitindo
a passagem de volumes conhecidos de gua a cada rotao do eixo. Sua princi-
pal vantagem a efcincia na medio de vazes muito baixas.
98
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Nota
A principal desvantagem desse medidor, alm do custo mais elevado,
a facilidade de seu travamento por ao de partculas suspensas na
gua. Esse travamento impede a passagem da gua atravs do medidor,
interrompendo o fornecimento.
O medidor de disco nutante possui uma cmara com formato de setor esfrico,
com duas aberturas laterais separadas por uma parede divisria. Em seu interior
fca alojado um disco que se movimenta com a passagem da gua. O registro
no medidor ocorre pela transmisso do movimento circular do pino existente
na parte central do disco ao mecanismo de transmisso. aplicado principal-
mente em medidores de bitolas maiores. Os fatores positivos e negativos da
sua utilizao so os mesmos do medidor de pisto.
Medidores tipo turbina, taquimtrico ou velocimtrico
De acordo com Rech (1992), medidor velocimtrico aquele cujo mecanismo
acionado pela ao da velocidade da gua sobre um componente mvel, que
pode ser turbina, hlice, palheta, etc.
Conforme Sanchez (2005), o hidrmetro taquimtrico, tanto do tipo monojato
como do multijato, um instrumento relativamente simples e bem conhecido,
pois tem sido usado h mais de 100 anos sem modifcaes substanciais em
seu princpio de funcionamento. Por possuir peas mveis, esse instrumento
tem limitaes na vazo mxima, acima da qual a rotao excessiva da turbina
pode gerar danos, bem como na vazo mnima, abaixo da qual os atritos inter-
nos passam a afetar sensivelmente o movimento do mecanismo, interferindo na
medio.
Segundo o PNCDA DTA D3 (ALVES, et al, 2004), seu funcionamento baseia-se na
movimentao de um rotor introduzido no local de passagem da gua, no inte-
rior do medidor. Os mais conhecidos so os muitijato, monojato e tipo hlice ou
Woltmann. No Brasil, o medidor mais tradicional o multijato.
99 Unidade 4
Nota
O medidor multijato composto por uma carcaa de liga de cobre
que acomoda um conjunto medidor constitudo de uma cmara de
medio, uma turbina ou rotor, uma placa separadora e uma relojoaria
ou totalizador. A cmara de medio dotada de uma srie de fendas,
que direcionam o fuxo de gua de forma tangencial s ps da turbina,
fazendo-a girar. Esse medidor denominado multijato porque a rotao
da turbina mantm uma relao constante com o volume que passa por
ela.
O principal ponto positivo do medidor multijato pelo fato da qualidade da
medio ser pouco afetada pela carcaa. Em geral os medidores multijato so
mais resistentes que os monojato, em funo da robustez da sua carcaa e do
equilbrio interno da turbina, que evita desgastes.
Os pontos negativos do medidor multijato so o custo mais elevado em relao
ao monojato e a maior sensibilidade ao funcionamento com o medidor inclinado.
O medidor monojato ou unijato, concebido para medio de baixas vazes,
possui um sistema mais simples, sem cmara de medio e a turbina acionada
por um jato nico de gua (monojato), produzido por um orifcio usinado na
entrada da prpria carcaa.
Segundo Rech (1992), nos hidrmetros multijato o mecanismo medidor
acionado por vrios jatos de gua, formando, tangencialmente, pares de foras
binrias que equilibram a turbina em rotao. No monojato, a turbina recebe
um nico jato de um s lado, sendo comprimida lateralmente contra o eixo
de rotao que a sustenta. Isso provoca grandes desgastes laterais no eixo, no
piv e na parte interna da turbina, afetando consideravelmente a sensibilidade
do medidor, o que no ocorre nos hidrmetros multijato. Por esses motivos, os
hidrmetros unijato, concebidos para vazes menores e que apresentam maior
sensibilidade, tendem a apresentar reduo da sensibilidade em funo do des-
gaste sofrido. Salienta-se a importncia do uso desses medidores somente para
baixas vazes, o que geralmente ocorre no abastecimento indireto de pequenos
consumidores.
Os medidores tipo Woltmann so providos de turbina com ps helicoidais que
no necessitam de cmara de medio ou jatos tangenciais, utilizados em di-
metros acima de 50 mm (2). Tm como principais caractersticas a baixa perda
de carga e a maior resistncia ao funcionamento em vazes elevadas, pois a
turbina trabalha mais equilibrada, evitando o desgaste dos mancais. So muito
utilizados em macromedio.
100
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
De acordo com Nielsen et al. (2003), os medidores tipo Woltmann necessitam
de boas condies de instalao, trechos retos de tubulao na montante e na
jusante do medidor e boas condies de aproximao do fuxo de gua.
Medidores com confgurao especial
Para atender demandas especfcas vm surgindo no mercado hidrmetros com
diferentes confguraes e dispositivos, destacando-se os recursos de proteo
contra fraudes, com confgurao especial para leitura frontal.
De acordo com o PNCDA DTA D3 (ALVES, et. al, 2004), entre os principais dispo-
sitivos contra fraudes podem ser citados:
proteo contra perfurao externa;
proteo com anel de vedao em volta da relojoaria;
medidores com relojoaria inserida no corpo do medidor;
relojoaria com corpo metlico e vidro;
proteo contra inverso do medidor;
vlvula de reteno incorporada ao medidor;
roscas diferenciadas na entrada e na sada;
medidores com entrada e sada no coaxoais.
As principais confguraes para adequao do hidrmetro leitura frontal so
medidores que permitem a montagem na vertical e totalizadores com visor
inclinado ou vertical.
Desafo
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101 Unidade 4
Aula 2:
Dimensionamento de
Hidrmetros
Introduo
Segundo Neto (2002), os hidrmetros so aparelhos destinados medio da
quantidade de gua que escoa em intervalos de tempo relativamente longos.
Sanchez (2005) defne hidrmetro como um instrumento que funciona continu-
amente, ou seja, mede vazo e totaliza o volume. Isso acontece por meio de um
sistema que integra o valor instantneo, detectado pela rotao da turbina com
o tempo, e o apresenta na forma de um indicador em volume totalizado. Porm,
para o dimensionamento do hidrmetro, no o volume que passa por ele que
ir determinar o tipo de medidor, e sim a vazo. A vazo mxima do hidrme-
tro, tampouco a nominal, no devem ser ultrapassadas por longos perodos,
evitando desgastes acelerados. Tambm importante que a vazo que passa
pelo medidor no fque abaixo da vazo mnima, para evitar a submedio. A
condio ideal aquela na qual a vazo permanece a maior parte do tempo na
faixa superior de medio (acima da vazo de transio e abaixo da nominal).
Segundo o PNCDA DTA D3 (ALVES, et. al, 2004), o dimensionamento de um me-
didor consiste em determinar o tamanho, ou a vazo nominal, do aparelho que
dever ser instalado numa ligao especfca. Isso necessrio para instalar um
medidor em uma nova ligao ou verifcar, em uma ligao existente, se houve
dimensionamento inadequado ou ocorreram mudanas no perfl de consumo
originalmente estimado. O dimensionamento baseado nas limitaes dos hi-
drmetros utilizados e deve ser realizado em funo dos seguintes parmetros:
vazo mxima, vazo nominal ou permanente e vazo mnima.
102
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Avaliao da vazo de trabalho (dimensionamento por
demanda ou vazo estimada)
Para o dimensionamento de um hidrmetro por meio da demanda de consumo,
alm da vazo mxima de trabalho determinada pela demanda do consumidor,
necessrio conhecer a vazo mnima na qual se prev que o sistema ir operar
e que o medidor dever registrar corretamente. Isso vai caracterizar a classe de
preciso necessria ao medidor (A, B ou C).
Outro fator que deve ser levado em conta a perda de carga do medidor. Pelas
normas e regulamentaes em vigor, o medidor no deve ultrapassar 0,1 MPa
(cerca de 10 metros de coluna de gua) de perda de carga quando operando na
vazo mxima e, considerando-se ainda que a perda de carga aumente pro-
porcionalmente ao quadrado da vazo, esse fator pode levar necessidade de
instalao de medidores de dimetros maiores, principalmente em locais com
pouca presso disponvel na rede.
Conforme Sanchez (2005), a vazo de operao de um sistema de abastecimen-
to de gua (demanda de um consumidor) pode ser estimada utilizando-se os
procedimentos tradicionais de dimensionamento de instalaes prediais, como
os citados na NBR 5626 e em livros e manuais usados por projetistas prediais.
Desconsiderando mtodos empricos baseados na experincia ou no bom
senso, a maior parte dos mtodos de dimensionamento de instalaes prediais
baseiam-se em procedimentos estatsticos aplicados em paralelo, com verifca-
es experimentais que tipifcam o consumidor e o uso dos diversos aparelhos
ou mquinas instaladas na unidade consumidora medida.
Ateno
Apesar de toda gua que serve uma determinada edifcao passar pela
tubulao na qual deve existir um hidrmetro instalado, o mtodo de
clculo no deve ser o mesmo para os dois. Isso quer dizer que, nem
sempre, o dimetro de um hidrmetro ser o mesmo do ramal no qual
ele est inserido.
Segundo o autor supracitado, o que difere o mtodo de dimensionamento da
linha de alimentao de um ramal predial e a seleo de um hidrmetro reside
na determinao do fator de simultaneidade de uso dos aparelhos de consumo
de gua na edifcao (chuveiros, torneiras etc.). Nas tubulaes que abastecem
edifcaes, as vazes so estimadas com folga para evitar falta de gua nos
picos de consumo. Na seleo do hidrmetro, a preocupao deve ser com os
103 Unidade 4
limites das faixas de trabalho do medidor que no devem ser ultrapassadas. O
hidrmetro deve trabalhar em uma faixa de vazo que no cause desgaste de
suas partes internas e no resulte em erros de medio que ultrapasse a faixa
admissvel por norma.
No PNCDA DTA D3 (ALVES, et. al, 2004), essa metodologia separa duas catego-
rias de instalaes para o dimensionamento por demanda: ligao predial com
abastecimento direto (sem reservatrio de gua) e ligao predial com abaste-
cimento misto (parte passando por reservatrio e parte diretamente da rede de
abastecimento).
De maneira geral, o mtodo aplicado em ligaes de abastecimento direto con-
siste em verifcar a vazo mxima da instalao com o uso simultneo de todos
os aparelhos da instalao, e a vazo mnima com o uso do aparelho de menor
consumo ligado. Essas vazes so obtidas com o auxlio de tabelas encontradas
em manuais de hidrulica para dimensionamento dos ramais de entrada. En-
contradas essas vazes, busca-se o hidrmetro que melhor se ajusta a elas sem
ultrapassar a faixa de vazo recomendvel para o seu funcionamento ideal.
O mtodo aplicado em ligaes de abastecimento misto para aparelhos ligados
diretamente ao ramal de entrada o mesmo. Porm, para os aparelhos ligados
ao reservatrio superior, so necessrios cuidados devido interferncia da tor-
neira boia. Faz-se necessria uma avaliao das vazes, considerando a torneira
boia para defnir qual o hidrmetro ideal.
Dimensionamento por consumo estimado
Por esse mtodo, o dimensionamento do medidor estimado em funo do
consumo mensal ou dirio.
Em funo da difculdade do dimensionamento pelo levantamento da demanda
(mtodo apresentado anteriormente), difundiu-se no Brasil o mtodo por con-
sumo estimado. um mtodo mais simples, porm bastante impreciso. Baseia-
se na estimativa de volumes dirios ou mensais acumulados nos medidores
durante o perodo. Os volumes so obtidos por meio de tabelas (principalmen-
te as fornecidas por fabricantes de hidrmetros), que especifcam a classe de
vazo do medidor em funo de consumos mensais ou dirios. Os volumes so
obtidos atravs de estimativas de consumo para consumidores tipo, como, por
exemplo, condomnio residencial, escritrio e fbrica de papel. Os consumos
estimados para cada tipo de consumidor podem ser encontrados em diversas
literaturas de instalaes hidrulicas. Veja a seguir um exemplo de tabela utili-
zada para o dimensionamento de hidrmetros por consumo estimado.
104
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Consumo estimado Hidrmetro adequado
(m3/ms) (m3/dia) Q max (m/h)
0 90 0 3 1,5
0 180 0 6 3
120 250 4 8 5
210 350 6 -12 7
300 540 9 18 10
430 900 14 30 20
750 1500 25 50 30
1200 4500 40 120 30,0 Woltmann 2
1800 7500 90 250 50,0 Woltmann 2 .
4500 13000 180 500 80,0 Woltmann 3
Tabela 10 Capacidade do medidor em funo do consumo estimado
Fonte: Sanchez (2005)
As tabelas de consumo so obtidas atravs do uso de consumos padro m-
dio, que tentam aproximar da realidade o volume consumido em um intervalo
de tempo em um determinado tipo de edifcao. Esses padres de consumo
podem variar muito, gerando erros no dimensionamento. Segundo Sanchez
(2005), o problema ainda mais crtico para situaes comerciais ou industriais.
Dependendo do equipamento instalado e da intermitncia de uso, pode ser
impossvel dimensionar o medidor apenas pelo consumo. Apesar disso, sendo
os dados de consumo um dos parmetros que se tem mais controle em um
sistema de distribuio, seria muito conveniente que se pudesse relacionar esse
consumo com a vazo de operao e outras caractersticas do consumo.
Um dos mtodos mais efcientes de dimensionamento por meio da anlise
de trao.
Perfl do consumo anlise de trao
De acordo com o PNCDA DTA D3 (ALVES, et. al, 2004), no dimensionamento
pelo levantamento direto do perfl de consumo instala-se na entrada de abaste-
cimento do usurio um medidor com sada de registro, ligada a um registrador
contnuo de vazo em funo do tempo. A anlise da vazo registrada possi-
bilita determinar o hidrmetro adequado para a ligao com boa margem de
segurana.
105 Unidade 4
Segundo Sanchez (2005), denomina-se trao de vazo a expresso grfca na
forma de um trao contnuo do comportamento da vazo de entrada de um
ponto de consumo por perodos caractersticos de tempo (horas, dias ou sema-
nas) e pocas do ano. A anlise desse trao e o cruzamento do mesmo pa-
rmetro referente aos hidrmetros gera informaes importantes, que podem
basear um critrio particular de dimensionamento de medidores e linhas de
abastecimento mais adequado realidade do local.
Sanchez (2005) ressalta que a anlise de trao de vazo tem ainda uma
utilidade muito grande em levantamento e parametrizao de consumos em
pontos comerciais e industriais. Os consumos desses estabelecimentos so
muito difceis de avaliar pelos mtodos de dimensionamento tradicionais, pois
os parmetros de relao so questionveis e mudam mais rapidamente com o
desenvolvimento de novas tecnologias e aparelhos que consomem gua.
O levantamento da curva de perfl de consumo realizado por meio do uso de
equipamentos conversores de pulsos magnticos em pulsos digitais instala-
dos diretamente nos hidrmetros avaliados e os dados armazenados em data
logger. O equipamento deve permanecer instalado por pelo menos sete dias em
cada medidor, considerando que a curva de consumo varia conforme o dia da
semana. Os grfcos gerados por meio dos equipamentos instalados nos medi-
dores so confrontados com as suas vazes crticas, que so vazo mnima, de
transio, nominal e mxima de trabalho. Tambm so avaliadas a vazo inferior
de trabalho (Qit), que se encontra 20% acima da vazo de transio, e a vazo
superior de trabalho (Qst), que se encontra 50% abaixo da vazo nominal.
Nota
O medidor deve operar dentro dessa faixa de vazo, segundo Rech
(1992), uma vez que, acima da vazo de transio, o fabricante de
hidrmetros j deve assegurar um erro no superior a 5% no volume
registrado para medidores em uso. Operando com 50% da vazo
nominal, o desgaste do medidor ser bastante reduzido, aumentando a
sua vida til.
Os perfs de consumo exprimem de forma grfca o comportamento da
vazo de entrada de uma unidade consumidora. Logo mais teremos um exem-
plo de grfco que mostra o perfl de consumo de um condomnio residencial.
Os dados de consumo foram obtidos por meio da instalao, diretamente no
hidrmetro, de um sensor que capta sinais do medidor de vazo e envia para
um armazenador de dados (data logger) que, por sua vez, foram transportados
para um microcomputador. O grfco obtido mostra o consumo de gua regis-
106
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
trado a cada 15 minutos. As curvas dos grfcos permitem, alm da avaliao do
perfl de consumo, a comparao dos dados obtidos com as vazes crticas dos
medidores.
As vazes crticas consideradas nessa comparao so vazo de incio de fun-
cionamento, mnima, de transio, nominal, mxima e, ainda, as vazes inferior
e superior de trabalho, sugeridas por Rech (1992). A fgura a seguir apresenta
um grfco com o perfl de consumo de um edifcio residencial com 60 eco-
nomias obtido por meio da instalao de um conversor de pulsos magnticos
digitais diretamente no hidrmetro.
Figura 26 Perfl de consumo de condomnio residencial
A forma mais segura de dimensionamento de hidrmetros o levantamento
do perfl de consumo que permite verifcar se a vazo registrada encontra-se
dentro da faixa recomendada para o medidor. Dessa forma pode-se verifcar, de
forma segura, se o hidrmetro est dimensionado corretamente ou se neces-
srio o redimensionamento.
Dimensionamento por categoria de consumo
Outra forma utilizada para dimensionamento de hidrmetros por meio de ca-
tegorias de consumo. Conforme citado no PNCDA DTA D3 (ALVES, et al., 2004),
dividindo-se as categorias dos usurios em residencial, comercial e industrial,
pode-se estabelecer uma faixa de consumo usual para cada uma delas. Dessa
maneira torna-se possvel determinar os hidrmetros mais adequados, j que os
tipos de medidores a serem utilizados so limitados pelas faixas de consumo.
107 Unidade 4
Vrios estudos j foram realizados para a diviso dos usurios em categorias de
consumo (industrial, residencial, comercial, escolas etc.). Porm, como os perfs
de consumo das categorias podem mudar com o passar do tempo, esse mto-
do no garante um funcionamento com bom desempenho ao longo dos anos.
Cabe ressaltar que, quanto mais detalhadas e subdividas as categorias de con-
sumo, melhor ser o resultado obtido na medio da gua consumida. Histri-
cos de consumo devem ser mantidos atualizados e utilizados como fundamento
para a aplicao da metodologia.
Redimensionamento
Aps a instalao de um hidrmetro em uma determinada ligao, necessrio
fazer um monitoramento do seu desempenho. Caso seja verifcado algum fato
inesperado, como por exemplo a quebra do hidrmetro; registro de volume
totalizado excessivo ou abaixo do esperado para o medidor, ou a mudana de
perfl de consumo de gua, importante fazer uma reavaliao do dimensiona-
mento. Uma prtica recomendvel para o redimensionamento de hidrmetros
a prtica da manuteno preventiva (acompanhamento das leituras mensais e
verifcao da ocorrncia de consumos muito abaixo do esperado). A manuten-
o corretiva tambm importante, detectando de forma rpida quais hidr-
metros pararam de funcionar e providenciando imediatamente a reavaliao do
dimensionamento e a troca do medidor.
Desafo
hora de mostrar que aprendeu tudo direitinho. Acesse o ambiente
virtual e realize a atividade desta aula. Aproveite tambm para interagir
com o seu tutor e trocar ideias.
Relembrando
Nesta quarta unidade voc recebeu vrias informaes importantes
sobre dimensionamentos e seleo de hidrmetros. Vamos relembrar?
Normalmente a preocupao na operao da micromedio est no
superdimensionamento do medidor, devido ao seu alto custo e da
instalao, e pela tendncia submedio de vazes mais baixas.
108
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
O subdimensionamento do medidor igualmente prejudicial, pois
causa danos e desgastes prematuros ao medidor, podendo provocar
uma submedio maior do que se buscava evitar ao instalar um medi-
dor menor.
Os hidrmetros podem ser caracterizados quanto classe de vazo e
classe metrolgica.
As vazes caractersticas que designam a classe de vazo so: vazo
de incio de trabalho, vazo mnima, vazo de transio, vazo nomi-
nal e vazo mxima.
O dimensionamento de um medidor consiste em determinar o tama-
nho, ou vazo nominal, do aparelho que dever ser instalado numa
ligao especfca.
No Brasil, a absoluta maioria de medidores utilizados do tipo turbi-
na vertical. So os conhecidos hidrmetros taquimtricos, especifca-
dos pela norma NBR 212 e previstos pela legislao metrolgica em
vigor.
O dimensionamento dos hidrmetros pode ser feito por diferentes
mtodos. Os mais difundidos so o dimensionamento por demanda
de consumo estimado, perfl de consumo, categoria de consumo e
redimensionamento.
109
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Glossrio
Abastecimento direto forma de fornecimento de
gua onde no existe reservatrio, ou seja, o abas-
tecimento feito diretamente nos pontos de consu-
mo que, ao serem acionados, geram vazes mdias
e altas.
Abastecimento indireto o volume de gua
conduzido ao reservatrio, que posteriormente ali-
menta os pontos de consumo. Essa forma de abas-
tecimento favorece a ocorrncia de vazes mdias e
baixas, dependendo das dimenses do reservatrio.
Abastecimento misto situao que engloba os
dois casos anteriores, em que existe um reservat-
rio de gua com alguns pontos abastecidos dire-
tamente pela presso da rede (torneira de jardim,
mquina de lavar, tanque etc.).
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas.
ANA Agncia Nacional de gua.
Classe metrolgica parmetros prestabelecidos
que defnem os limites metrolgicos de um medi-
dor, especialmente em baixas vazes. Legalmente as
vazes de transio e mnima so as que determi-
nam a classe metrolgica de um medidor.
Data logger equipamento destinado aquisio
e armazenamento automtico de dados durante
um perodo de tempo sem a necessidade de um
operador durante a coleta. Os dados so fornecidos
por sensores ou equipamentos externos, dos quais
desejamos obter um histrico de monitoramento.
110
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Dimensionamento ato de adequar um medidor, em funo de suas caracte-
rsticas metrolgicas, ao regime de trabalho em que o equipamento vai operar.
Golpe de arete o nome dados s variaes de presso decorrentes de
variaes da vazo, que podem ser causadas por alguma perturbao volunt-
ria ou involuntria na tubulao, como operaes de abertura ou fechamento
de vlvulas, falhas mecnicas de dispositivos de proteo e controle, parada
de turbinas hidrulicas ou de bombas. Com o golpe de arete a presso poder
atingir nveis indesejveis e acarretar srios danos ao conduto ou avarias nos
dispositivos nele instalados. Alguns exemplos so a ruptura de tubulaes por
sobrepresso ou por vcuo e avarias em bombas e vlvulas.
Hidrmetro instrumento destinado a indicar e totalizar continuamente o vo-
lume de gua que o atravessa.
(mca) metro de coluna de gua Unidade de presso do Sistema Tcnico de
Unidades, e equivale presso exercida por uma coluna de gua pura de um
metro de altura. 1 m.c.a. = 0,1 kg/cm = 9,81 kPa (Kilopascal).
Medidor de gua ver hidrmetro.
Multijato tipo de medidor cujo mecanismo acionado pela incidncia de
vrios jatos tangenciais de gua.
Parque de medidores conjunto dos medidores instalados em uma regio
defnida, englobando todas as suas caractersticas: idade, dimetro, faixa de
consumo, classe metrolgica etc.
Perfl de consumo grfco que representa os hbitos de consumo de gua de
pessoas ou entidades, em que o perodo aparece no eixo das abcissas e a vazo
no eixo das ordenadas.
PNCDA Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de gua.
(Qif) Vazo de incio de funcionamento vazo acima da qual o medidor
sai da inrcia, iniciando o movimento, e comea a dar indicao de volume, sem
submisso aos erros admissveis.
(Qmax) Vazo mxima maior vazo na qual o medidor pode operar satisfa-
toriamente por curto perodo de tempo, dentro dos seus erros mximos ad-
missveis, mantendo seu desempenho metrolgico quando posteriormente for
empregado dentro de suas condies de uso.
(Qmin) Vazo mnima vazo acima da qual o medidor, aps iniciado seu
movimento, deve apresentar erros dentro das tolerncias admissveis.
111 Glossrio
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
(Qn) Vazo nominal maior vazo nas condies de utilizao, que corres-
ponde a 50% da vazo mxima. a vazo que designa o medidor, devendo ser
adotada como limite superior ao dimensionar o equipamento.
(Qt) Vazo de transio vazo em escoamento uniforme, que defne a se-
parao dos campos de medio inferior e superior.
Quilopascal (kPa) o Pascal (smbolo Pa) a unidade padro de presso e
tenso no Sistema internacional. Um quilopascal corresponde a 1.000 pascals.
Equivale fora de 1 N (Newton) aplicada uniformemente sobre uma superfcie
de 1 m
2
ou 0,1 mca (metro de coluna de gua).
Rendimento de medidores nmero que traduz o desempenho de um parque
de medidores, servindo como parmetro de controle e planejamento.
Seleo de medidores ato de escolher o medidor adequado a cada aplicao,
fundamentado em testes, experimentos e informaes de fabricantes.
Superdimensionamento (sobredimensionamento) ato de recomendar ou
instalar equipamento com caractersticas de performance a que realmente ser
submetido.
Subdimensionamento ato de recomendar ou instalar equipamento com ca-
ractersticas de performance inferiores s que realmente ser submetido.
Submedio situao de medio inefcaz, causada principalmente por super-
dimensionamento de um medidor ou por fator externo, provocando perda de
sensibilidade e totalizao menor de volume efetivamente escoado.
Totalizador componente do medidor de gua que acumula o volume escoa-
do, indicando-o por meio de roletes numerados ou de forma digital.
Transmisso magntica tipo de transmisso onde os movimentos do ele-
mento mvel so transferidos por meio da placa separadora por dois elementos
magnticos (ms), sendo um propulsor e outro propelido.
Transmisso mecnica tipo de transmisso onde os movimentos do elemen-
to mvel so transferidos mecanicamente por um eixo que atravessa uma placa
separadora.
Unijato (monojato) tipo de medidor cujo mecanismo acionado pela inci-
dncia de um nico jato pela tangencial de gua.
Velocimtrico tambm denominado de taquimtrico, o medidor cujo meca-
nismo utiliza elemento mvel (turbina, hlice etc.) que, acionado pelo fuxo da
gua, adquire velocidade proporcional ao volume medido.
112
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Volumtrico medidor cujo mecanismo dotado de elemento mvel no inte-
rior de uma cmara de medida, que enche e esvazia alternadamente, deixando
passar a cada volta ou oscilao um volume cclico especfco.
113
Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento Medidas de Reduo de Perdas de gua em Redes de Abastecimento
Ricardo Hbner
Engenheiro Civil com mestrado em Engenharia
Ambiental pela UFSC, especializao em Gesto
Ambiental com nfase em Organizaes Produtivas
pela UNIVALI; formao em auditor lder ambiental.
Atuou em obras de saneamento, projetos de contro-
le e reduo de perdas em redes de abastecimento
de gua e em projetos de otimizao do uso de gua
em indstrias. Experincia na realizao de diagns-
tico ambiental, assessoria em sistemas de gesto
ambiental e licenciamento ambiental em empresas
de diversos segmentos. Experincia em ensino nos
cursos Tcnico em Saneamento e de Controle Am-
biental na Faculdade de Tecnologia do SENAI e no
Curso Superior de Gesto Ambiental no Centro Uni-
versitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI.
Sobre o autor
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