Autismo
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Autismo
pt
Orientadora:
Ms. Kléria Isolde Hirschfeld
Correspondência para:
[email protected]
RESUMO
O presente estudo refere-se a uma pesquisa de caráter qualitativo e teve por objetivo
investigar se é possível desenvolver habilidades sociais em crianças com diagnóstico de autismo,
através da Metodologia TEACCH. Para isso, foi utilizado um comparativo entre o instrumento de
avaliação utilizado no início do tratamento das crianças e um atual, o Perfil Psicoeducacional
Revisado (PEP-R), que serve para avaliar a idade de desenvolvimento de crianças com autismo
ou com outros transtornos da comunicação, dados retirados do prontuário dos pacientes,
buscando informações de suas características e também foi observado pela pesquisadora, durante
um ano e meio, a rotina das crianças na Clínica que frequentam, o Espaço TEACCH Novo
Horizonte. Ainda no estudo discuto sobre a Atenção Compartilhada e a falha da existência de
uma Teoria da Mente nos autistas, mostrando um importante indicador no diagnóstico de
autismo. Pode-se observar no resultado da pesquisa o desenvolvimento destas crianças e como
adequam-se a uma vida organizada e com rotinas de trabalho, respondendo positivamente ao
Método TEACCH.
Introdução
O autismo é uma doença congênita, não temos o poder de criar filhos autistas, eles nascem
com esta deficiência, que pode se manifestar desde seu nascimento (sendo o autismo clássico)
ou até o dois anos de idade (regressivo).
De acordo com o DSM IV-TR (2002) este transtorno de desenvolvimento afeta 1:1000
crianças, tendo incidência maior no sexo masculino (3:1/4:1).
Infelizmente não existe ainda um exame de sangue ou um teste que possa ser feito para se
diagnosticar o autismo durante a gestação ou após o nascimento. Então, este diagnóstico sim é
comportamental, a causa não (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1980). Seus
maiores déficits apresentam-se nas áreas de socialização, comunicação e imaginação
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1980), e sabemos que quanto antes
diagnosticada, há muito mais chances de progressos. A doença manifesta-se geralmente durante
os três primeiros anos de vida. (DSM IV-TR, 2002).
MESSER, 1997). Sendo assim, Cleonice Bosa (2002) conclui, considerando este fator como um
importante indicador precoce do autismo.
Outra área de grande comprometimento no autismo são as habilidades sociais, que são
determinadas dentro de um contexto cultural (WILKINSON & CANTER, 1982 apud
CABALLO, 2003). É um conjunto de comportamentos emitidos em um contexto, que
expressam sentimentos, opiniões do indivíduo, de modo adequado á situação (CABALLO,
2003).
Metodologia
Resultados
A.R.M
É uma menina e tem hoje 7 anos. Está em tratamento desde março de 2003. Com dois anos
os pais buscaram auxílio médico. Apresentava atrasos na linguagem, falava muito pouco. Não
brincava com outras crianças, preferia estar só. Ignorava o que lhe era dito quando não a
interessava. Fixava-se em detalhes de objetos, mastigava e comia o que não devia. Parecia não
sentir dor. Às vezes andava e corria na ponta dos pés. Alterava-se diante de mudanças,
preferindo rotinas. Distraía-se com facilidade. Tem o diagnóstico de Transtorno Global do
Desenvolvimento – Autismo, desde os 4 anos.
Conforme a tabela (em anexo) podemos perceber que em 2003 apresentava idade
cronológica de 5 anos e 1 mês, de desenvolvimento de 1 ano e 11 meses e idade de
desenvolvimento emergente de 2 anos e 11 meses. Encontrava-se no período sensório –motor.
(RAPPAPORT,1981)
Hoje tem idade cronológica de 6 anos e 1 mês, com idade desenvolvimento de 2 anos e 6
meses e desenvolvimento emergente de 3 anos e 5 meses. Ainda encontra-se no período pré-
operacional. (RAPPAPORT,1981)
Atualmente mostra-se familiarizada com suas rotinas e as faz, seguindo seu roteiro diário.
Ainda apresenta dificuldades para esperar os colegas, mas, quando chamada atenção obedece de
imediato.
Tem muito interesse no uso do computador, sabe fazer jogos em dupla. Tem uma fala bem
estereotipada, de um modo que só ela entende, mas quando insiste-se pra que ela fale direito ela
tem um bom vocabulário. É mais quieta, o que falta é aquela interação consistente mesmo com
outras crianças, um brincar que tenha significado.
A.R.M. não apresenta uma teoria da Mente, mas há atenção Compartilhada (mais tarde do
que o normal, mas há). Quando ela quer algo nos leva até o local e mostra-nos ou coloca nossa
mão.
N.T.
É um menino que tem 6 anos de idade. Está em tratamento desde 03 de janeiro de 2003.
Com dois anos os pais começaram a perceber anormalidades, mas só procuraram auxílio
profissional quando N.T. já tinha 3 anos e meio. Relataram que N.T. gritava e ria sem razão,
lambia objetos; parecia não sentir dor; saltava muito com os dois pés, caía muito, mordia-se,
girava-se sobre si mesmo e girava objetos, alterava-se quando havia mudanças, preferia rotina,
era muito ativo. Ficava agressivo quando contrariado, distraía-se facilmente. Tinha dificuldades
em conciliar o sono, dificuldades com o domínio das tarefas higiênicas, excessiva ingestão de
líquidos, fazia caminhadas freqüentes durante a noite, tinha ausência de temor a perigos reais,
apresentava rituais compulsivos e perseverantes, as palavras apareciam e desapareciam de seu
vocabulário. Tem diagnóstico de autismo desde 04 de junho de 2002.
De acordo com a tabela (em anexo), em 2003 tinha idade cronológica de 4 anos e 5 meses,
de desenvolvimento de 2 anos e 4 meses e idade de desenvolvimento emergente de 2 anos e 8
meses.
Atualmente apresenta idade cronológica de 6 anos e 4 meses, com idade de
desenvolvimento de 2 anos e 6 meses e desenvolvimento emergente de 3 anos e 3 meses.
Encontra-se no período pré-operacional. (RAPPAPORT,1981)
V.M.
É uma menina de 9 anos, que está em tratamento desde o início de 1998. A queixa de seus
pais era de que V.M. não tinha linguagem gestual. Quando queria alguma coisa chorava, as
pessoas tentavam adivinhar o que era, mas nem sempre conseguiam. Não se relacionava com
outras crianças. Era enjoada com certas texturas, tinha nojo, mas não admitia. Não brincava,
tinha rituais. Não demonstrava vontade para controlar esfincters, não gostava que a limpassem,
não demonstrava incômodo em fazer cocô e não se limpar, levantava e saía andando. Não
gostava da água no chuveiro, só tomava banho de banheira. Não tinha apego a nenhum
brinquedo. Chorava quando via pessoas idosas e roupas escuras, escondia o rosto e fazia beiço.
Como mostra-nos a tabela (em anexo), em 2000 tinha idade cronológica de 4 anos e 11
meses, de desenvolvimento de 3 anos e 2 meses e idade de desenvolvimento emergente de 4
anos.
Está mais desenvolvida na percepção, menos na imitação, e em um ano a área que mais
desenvolveu-se foi na comunicação verbal.
Conclusões
O que pode-se notar mesmo nestas tabelas, é que anualmente, sempre houve algum
crescimento no desenvolvimento das crianças. O aprendizado adquirido não se perde mais.
Ficou claro que é fundamental a estimulação destas crianças; deve haver uma rotina de
trabalho, mas o mundo não deve adaptar-se a eles, e sim, eles ao mundo; é necessário fazer
enfrentamento com situações que lhes pareçam difíceis, para que não haja agravamento na área
social.
Não há cura para o autismo, mas, através do Método TEACCH pode-se minimizar os
sintomas e fazer com que a criança consiga lidar com mais tolerância as atividades que antes lhe
pareciam confusas. Desta forma, existe a possibilidade de mudar tendências inatas do
comportamento.
O que se observa é que é possível desenvolver habilidades sociais para que o indivíduo
autista possa interagir, de forma aceitável, nesta sociedade.
Cada criança deve ser analisada individualmente, para que seu programa de tratamento
também seja feito de maneira individual. Não é porque as crianças têm o mesmo diagnóstico que
apresentam as mesmas dificuldades. Esta metodologia mostra-nos exatamente isto. Todos são
diferentes e suas rotinas e atividades devem ser estudadas de acordo com a necessidade
especifica de cada um, o que é constatado através do PEP-R.
Referências bibliográficas
BOSA, Cleonice & Callias, Maria. Autismo: breve revisão de diferentes abordagens.
Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v.13, p.167-177, 2000.
PREMACK, David & WOODRUFF, G. Does the Chimpanzee have a “theory of mind”?
Behavioural and brain sciences, v. 4, p. 515-526, 1978.
CAIXETA, Leonardo & NITRINI, Ricardo. Teoria da Mente: uma revisão com enfoque na
sua incorporação pela psicologia médica. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v.15, p.
105-112, 2002.
MESSER, David. Referential Communication: making sense of the social and physical
worlds. In: Bremmer, G., Slater, A. & Butterworth, G. (orgs.). Infant Development: recent
advances. East Sussex: Psychology Press, p. 291-306, 1997.
MUNDY, Paul. & SIGMAN, Marian, UNGERER, J.A. & SHERMAN, T. Defining the
Social Deficits of Autism: the contribution of nonverbal communication measures. Journal of
Child Psychology and Psychiatry, v. 27, p. 657-669.
LEON, Viviane & LEWIS, Soni. Grupos com autista. In: ZIMERMAN, David & OSORIO,
Luis Carlos (orgs.). Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997.
ANEXOS
Tabela Comparativa A.R.M.
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mai/03
3
abr/04
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