Livro 2010
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Comissão Organizadora
Realização
Patrocínio
Apresentação
APRESENTAÇÃO
Comissão Organizadora
VII Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa
Universidade de São Paulo
5 a 23 de Julho de 2010
MAPA CONCEITUAL
Mapa Conceitual mostrando as interligações existentes nos mais diversos temas abordados no
Departamento de Fisiologia Geral do Instituto de Biociências da USP, os quais serão
apresentados durante as aulas no Curso de Inverno: Tópicos em Fisiologia Comparativa 2010.
SUMÁRIO
Unidade 1
Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
Unidade 2
Sinalização Celular
Unidade 3
Neurociências
Unidade 4
Metabolismo
Unidade 5
Neuroendocrinologia Comparada
Unidade 6
Ecotoxicologia Aquática
Unidade 7
Fisiologia Comparada de Invertebrados Marinhos: Trocas Gasosas,
Digestão e Sistema Imune
Unidade 8
Fundamentos de Toxinologia
Unidade 9
Quantificação e Análise de Dados
Este capítulo tem três objetivos. A) Apresentar aos leitores os principais métodos usados
para gerar conhecimento científico, B) Mostrar como a fisiologia comparativa pode valer-se
de dois destes métodos: o método indutivo e o hipotético-dedutivo, C) Revisar o processo de
geração de conhecimento, desde o levantamento de perguntas científicas até a
comunicação dos resultados de um projeto de pesquisa, passando por apresentar as bases
do desenho experimental e a análise estatística. O fim último deste texto e as aulas
associadas é que os alunos tenham uma visão básica e estruturada do método científico.
Com esta visão, espero que lhes seja mais fácil aprender no futuro sobre temas mais
específicos (desenho experimental, estatística, comunicação da ciência, etc). No final do
capítulo, existe um glossário que define termos importantes em negrito. Os termos estão na
ordem em que são encontrados durante a leitura, para facilitar uma consulta inmediata.
Glossário pág. 21
Bibliografia pág. 22
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Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
O que é ciência?
Uma bonita forma de começar a preparar-nos é conhecer a etimologia da palavra
que definirá nosso trabalho, talvez pelo resto das nossas vidas. A palavra ciência provém do
latim “scientia” proveniente do verbo “scire = saber”, este está relacionado com o verbo,
também latim, “scindo = dividir”. Existem várias definições de ciência, mais ou menos
completas, seja com ênfase nos seus objetivos ou nos métodos que usam. Uma definição
bastante completa é:
“1. The systematic observation of natural events and conditions in order to discover
facts about them and to formulate laws and principles based on these facts. 2. The
organized body of knowledge that is derived from such observations and that can be verified
or tested by further investigation. 3. Any specific branch of this general body of knowledge,
such as biology, physics, geology or astronomy.” Academic Press Dictionary of Science &
Technology.
Neste módulo, seguiremos uma visão de ciência como busca e comunicação de
conhecimento, o mais confiável possível, sobre a natureza.
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
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Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
elas (Para este autor, você pode considerar “conclusões de uma teoria” sinônimo de
previsões, predições ou hipóteses). 2) Verificando a estrutura lógica da teoria, para
determinar se esta é empírica ou é uma tautologia; 3) Comparando com outras teorias
para saber se o fato de superar nossos testes suporia um avanço científico; 4) Testar
empiricamente as conclusões. Para testar as conclusões, Popper propõe testar aquelas que
vão mais de contra com a teoria e que possam ser mais severamente testadas. Um dos
problemas principais apontados a este método é que não gera crescimento da certeza
relativa nas diferentes teorias, por considerar-se que sempre existirão infinitas possíveis
teorias competindo para explicar cada fenômeno.
Outros autores tem defendido o uso da verificação para aumentar nossa certeza
sobre teorias (Ex. Sober 1999 e Lloyd 1987, citados por Lewin-koh et al. 2004). Apesar do
problema lógico apontado por Popper, vários autores baseiam-se no procedimento de
“verossemelhança máxima” popularizado por Fischer (Aldrich 1997) para defender que a
verificação de certas hipóteses em várias instâncias (ex. uma relação entre taxa de
ventilação e percentagem de O2 no fluxo sanguíneo dos pulmões foi observada em vários
vertebrados) permite obter confiança objetivamente mensurável sobre predições feitas para
novas observações (Ex. relação entre a taxa de ventilação e percentagem de O2 no torrente
sanguíneo de um novo vertebrado que ventila). A representação matemática destas
relações é comumente chamada de modelagem. Onde os modelos podem ser
considerados representações matemáticas que descrevem ou relacionam variáveis.
Em geral, podemos observar que os métodos de obtenção de conhecimento desde
Bacon valem se de concepções que representam o que pensamos do mundo real (Ex.
teorias, modelos, hipóteses) e seu contraste com observações do mesmo (também
representadas em forma de variáveis, amostras, etc). Na literatura, podemos encontrar uma
diversidade de significados para estes conceitos em função do autor e a área da ciência
(Suppes 1960). Pessoalmente, opino que para que grupos de conceitos sejam úteis e mais
facilmente ensináveis estes devem ter significados específicos e estar relacionados entre
eles de forma lógica. Por isto, neste capítulo combinei a relação entre modelo e teoria
proposta por Suppes (1960) e a relação entre modelo e hipótese proposta por Underwood
(1997). Desta forma estes conceitos ficam hierárquica e logicamente relacionados, e seus
significados são aceitáveis desde os diferentes modos de obtenção de conhecimento
(compare com Jaynes 2003, durante sua apresentação de raciocínio plausível, uma
abordagem verificacionista da obtenção de evidência). Assim, é possível inserir-los num
processo unificado de obtenção de conhecimento científico que combina teoria e
observação. O mapa de conceitos na figura 1 representa tais relações.
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explicam Sistemas
Teorias
biológicos
compostas
por representados por
relacionam ou
Modelos descrevem Variáveis
dos que se
derivam
predizem valores
sob determinadas
Hipóteses
circunstancias
(=predições)
Figura 1 - Relações lógicas entre conceitos centrais ao processo de obtenção de
conhecimento. Mapa de conceitos baseado nas propostas de Suppes (1960) e Underwood
(1997).
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metabólica com relação a morar em florestas. Para isto, poderíamos comparar espécies de
área aberta com espécies de floresta. Assim, poderíamos obter que espécies de áreas
abertas têm uma maior taxa metabólica (Fig. 2, esquerda). Entretanto, as espécies são
elementos que apresentam relações filogenéticas. Imagine que estas fossem representadas
pelo gráfico A, veríamos que as espécies de área florestada pertencem à linhagem da
esquerda e as de área aberta à linhagem da direita. Poderíamos ter certeza que é o tipo de
hábitat quem faz aumentar a taxa metabólica? Teríamos mais certeza se nossa hipótese
fosse representada por B?
sp5
taxa metabólica
sp6
sp7 A
sp1
sp8
sp2 sp6 sp2 sp8 sp4 sp5 sp1 sp7 sp2
sp3
sp4
floresta área B
aberta
Figura 2. Comparação hipotética da taxa metabólica entre espécies de lagartos de áreas de floresta e
de área aberta. Os cladogramas A e B mostram diferentes relações filogenéticas entre as espécies
comparadas. Sob a hipótese de parentesco A, as espécies de cada tratamento são aparentadas,
implicando em que a taxa metabólica mais baixa pode ser devida a viver em floresta ou a ser
simplesmente uma característica compartilhada do grupo. Sob a hipótese de parentesco B, a menor
taxa metabólica não pode mais ser explicada pelo parentesco, pois em todos os pares de espécies
mais aparentadas a que mora na mata tem a taxa metabólica mais baixa que a que mora em um
hábitat aberto.
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estender-se mais sobre este assunto, mas lhe recomendo que consulte Sober (2008) antes
de decidir-se.
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taxa metabólica
Figura 3. Exemplos de gráficos de dispersão. A) gráfico com fator categórico. B) Gráfico com
fator contínuo (modificado de Magnusson e Mourão, 2004).
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ruído
variável variável
dependente dependente variação
ruído
provocada
pelo fator
variação
provocada
pelo fator
Você pode estar-se perguntando: “para que toda esta complicação?” A resposta é a
seguinte: como normalmente só conseguimos observar uma parte da variação de nosso
sistema de estudo, é possível que o resultado de nosso experimento seja esperado pelo
acaso. Os testes estatísticos nos permitem estimar o quanto é seguro aceitar a resposta a
nossa pergunta (= houve/não houve relação; houve /não houve diferença, que hipótese
suporta melhor os dados), em função de como a variabilidade está partilhada nos dados que
representam nossas observações.
Uma forma comum de fazer isto é distribuir-se a variação encontrada em tal conjunto
de dados em variação provocada por um fator (efeito) e a variação não devida a este fator
(ruído) (Fig. 4). Neste caso, a finalidade de um experimento é avaliar se a variação
provocada pelo fator é, uma vez isolados possíveis fatores de confusão, maior do que o
ruído. Associado a este tipo de experimento, um teste falsificacionista compararia a
distribuição de freqüências observadas com a distribuição de freqüência teórica (=hipótese):
esperada no caso de que o ruído seja maior que o efeito. Um teste verificacionista
compararia a distribuição de freqüências observadas com as distribuições de freqüências
teóricas para os dois casos possíveis: que o efeito seja maior ou vice-versa.
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Magnusson e Mourão (2004), pag. 4. Parafraseando a Peters (1987): Não fazer isto “porque
você não teve tempo” facilmente acabará em que todo o esforço e dinheiro público investido
não sirvam para nada.
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Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
Pense por um segundo no momento no qual você terminará seu experimento. Foi um
caminho árduo: você teve que ler vários artigos que não entendia bem ou com os quais nem
concordava para levantar uma pergunta não respondida até agora. Passou tempo lendo,
pensando e discutindo o projeto com outras pessoas que, às vezes, não lhe entendiam bem.
Suas idéias sofreram críticas, você teve que esperar longas burocracias (licenças,
solicitação de fundos) e repetir seu experimento várias vezes, resolvendo inúmeros
problemas (animais que morrem antes de obter os dados, infra-estrutura falha, falta dinheiro,
segurança, etc.). Conseguiu imaginar? Com certeza você vai lembrar-se deste parágrafo
depois do seu mestrado...
Bom, se você não tem cuidado no que vem agora, tudo isso pode não ter servido de
nada. A valia dos cientistas se mede grandemente a través da qualidade e quantidade de
artigos científicos que publicam. Para isto, uma grande dose de experiência é necessária.
Recomendo que você a procure em seu orientador e lendo artigos nas revistas onde
pretendam publicar. Assim mesmo, busque textos (Ex. referências neste capítulo, manuais
de redação de jornais científicos) e faça cursos especializados no tema. A continuação,
veremos algumas dicas básicas para estruturar textos científicos. Estas dicas estão
baseadas no livro de Peters (1984), e você deve dominá-las desde o começo.
Repassaremos aqui as partes de um relatório de pesquisa, as relações lógicas entre elas e
alguns elementos básicos que devem conter.
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resultados de nosso trabalho. Por último, os objetivos devem aparecer da forma mais clara
possível. Concretamente, em forma de hipótese a ser testada.
O “material e métodos” deve conter uma explicação clara dos métodos empregados
para alcançar o objetivo declarado no fim da introdução. Desta forma, as técnicas, o
desenho experimental e as análises devem aparecer explicados e justificados de forma que
os leitores sejam capazes de: A) entender como alcançam o objetivo escolhido B) Repeti-lo
C) perceber possíveis fraquezas no delineamento. Se evitarmos mostrar claramente nosso
desenho experimental pode ser que rejeitem nosso relatório na revista que o queremos
publicar. Pior ainda, podemos enganar aos nossos leitores.
A seção de “resultados” deve dar toda a informação necessária para responder
nossa pergunta inicial e que outros possam avaliar se a respondemos mesmo ou não. Isto
implica em descrever as observações feitas, estabelecendo as relações que foram
estatisticamente significativas e as que não foram. Os dados, quando numerosos, devem
ser apresentados em forma de tabelas. Os gráficos devem expor a parte mais importante
dos nossos resultados (nossa pergunta e as observações que a respondem) e informar
sempre o número de repetições. Se nos nossos resultados, os gráficos não representam as
partes de nossa pergunta, a evidência gerada para respondê-la parecerá fraca a vista dos
outros (Magnusson, 1966). Tanto tabelas quanto gráficos devem ter uma legenda curta e
auto-explicativa, e serem numerados, de forma que possam ser referidos no texto. Dados
apresentados em tabelas e gráficos devem ser explicados também no texto, mas evitando
redundância.
Na discussão, devemos expor como nossos resultados se relacionam com a
hipótese que pretendíamos testar, reconhecendo as fraquezas que puderem comprometer
os resultados. Em seguida, mostrar a consistência (ou inconsistência) dos nossos resultados
com os resultados de outros trabalhos levantados na introdução, mostrando quais as
implicações dos nossos resultados sobre a lacuna de conhecimento levantada. Por último,
este é o lugar onde se deve apontar, curtamente, futuros experimentos ou hipóteses
testáveis que permitam avançar no entendimento do problema abordado.
Se o relatório tem vários objetivos, estes devem seguir a mesma ordem na
introdução, material e métodos, resultados e discussão. A fim de facilitar a interpretação do
leitor. Veja uma lista de verificação básica para identificar problemas em seu relatório de
pesquisa (Tab.1).
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Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
seu trabalho. A comunidade científica deve ajudar-se a través de visão crítica e sentido
construtivo.
Lembre-se que em ciência, tratamos com assuntos que, via de regra, são
complicados. Isto faz com que todos nós cometamos erros. Para evitar erros em seu
experimento, a melhor saída é apresentar seu projeto a pessoas com visão crítica. Se estas
pessoas conseguem entendê-lo perfeitamente, poderão julgar se foram convencidas ou não
pelos seus argumentos. Encontrar falhas nos aspectos do desenvolvimento lógico do
trabalho de um colega pode ser de grande ajuda para ele, antes que invista grande esforço
e dinheiro em um projeto mal planejado. Assim mesmo, podemos evitar que um trabalho
confunda a comunidade científica através da geração de evidências ou argumentos que
permita mostrar que este está errado.
Considerações finais.
Terminou este capítulo que pretendia mostrar-lhe um pouquinho do que vem pela
frente. A melhor forma de enfrentar os próximos anos de preparação é você que deve
planejar. A lista de referências que segue é uma seleção da literatura que fez muita
diferença na minha própria formação (alguma delas chegou um pouco tarde). Espero que
lhe ajude.
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Método Científico Aplicado a Estudos em Fisiologia Comparativa
Glossário
Etimologia: parte da gramática que estuda da história ou origem das palavras.
Lei científica: relação tão demonstrada empiricamente que é assumido que sempre vai ser
observada em determinadas condições.
Princípio científico: pode ser considerado sinônimo de lei científica
Epistemológico: relativo ao estudo do funcionamento da ciência.
Silogismos: arranjos de três proposições lógicas onde a última se deduz necessariamente
das duas anteriores
Inferência: conclusão, seja esta tomada sobre uma população, a partir de uma amostra da
mesma, ou bem tomada a partir da combinação lógica de duas premissas verdadeiras (Ex:
Se as premissas de que todos os homens tem coração e que Sócrates é um homem são
verdadeiras, então podemos inferir que Sócrates tem coração)
Casos gerais e particulares: Para Aristóteles e Bacon, são duas categorias que mostram
generalidade de aplicação de um conceito.
Indução: Raciocínio ou forma de conhecimento pelo qual passamos do particular ao
universal, do especial ao geral, do conhecimento dos fatos ao conhecimento das leis.
Probabilidade prévia: estimação subjetiva da probabilidade de um evento, prévia a um
experimento.
Verossimilhança: Dado um conjunto de dados observados, a verossimilhança valoriza a
plausibilidade de um descritor hipotético deste conjunto, sobre outro possível descritor.
verossimilhança é proporcional à probabilidade de observar os dados sendo um
determinado descritor verdadeiro.
Teoria: explicação sobre um fenômeno. Para Popper, deve ser um conjunto de enunciados.
Diferencia-se de lei porque a teoria não precisa ter sido demonstrada amplamente com
dados empíricos.
Conclusões, previsões, predições ou hipóteses: uma proposição aceitável do ponto de
vista de uma teoria ou um modelo, mas ainda não conferida.
Modelo: tem variados significados dependendo do contexto, porém a maioria pode ser
considerada como “representação simplificada”. Dentro do processo de geração de
conhecimento um modelo pode ser considerado como uma representação de relações entre
variáveis acorde com a teoria da que forma parte tal modelo.
Teoria empírica: Segundo Popper, aquela teoria que pode ser testada.
Tautologia: uma afirmação lógica onde as premissas são iguais à conclusão.
(ex. estes animais não são aquáticos, logo eles não moram na água)
Filogenia: representação de relações de parentesco entre espécies ou grupos de espécies.
Caráter ancestral: característica considerada original para um grupo de espécies.
Teste: prova, ensaio, exame.
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Bibliografia
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Unidade 2
Sinalização Celular
Bibliografia pág. 66
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Sinalização Celular
Evolução da Multicelularidade
O grande passo obtido através da evolução da unicelularidade para a
pluricelularidade certamente foi a capacidade de comunicação entre as células, por meio da
evolução a partir de uma única célula, a qual desempenhava todas as funções necessárias
para o organismo, para um conjunto de células especializadas proporcionando interações
entre elas (Ben-Shlomo e col., 2003). Os ancestrais dos organismos multicelulares seriam
simples agregados de seres unicelulares, que formavam estruturas designadas colônias.
Inicialmente todas as células da colônia desempenhavam a mesma função. Contudo, ao
longo do tempo algumas das células da colônia especializaram-se em determinadas
funções. A diferenciação celular, relacionada com a função especifica acentuou-se no
decorrer da evolução, originando os verdadeiros seres multicelulares. Neste processo foram
surgindo diferentes tipos de células, que mais tarde originaram tecidos, os quais levaram ao
aparecimento de órgãos. A especialização celular permitiu uma melhor utilização da energia,
levando a uma diminuição da taxa metabólica, além de uma maior independência em
relação ao ambiente.
Para que as células pudessem sincronizar as tarefas e perceber informações do
ambiente, foi necessária a especialização de células para percepção do ambiente
(receptores sensoriais), centros integradores dessas informações (sistema nervoso) e
efetuadores de ajustes homeostáticos (sistema muscular, endócrino e exócrino) (Isoldi e
Castrucci, 2007).
Para garantir o sucesso e a diversificação da vida, foi necessário o aparecimento de
estruturas de ligação e principalmente de comunicação entre as diferentes células. Nos
organismos multicelulares, a manutenção da homeostase é dependente de um
processamento continuo de informações através de uma complexa rede de células. Além
disso, para que o organismo responda a constantes mudanças do ambiente, sinais
intracelulares devem ser transduzidos, ampliados e finalmente convertidos para uma
resposta fisiológica adequada (Pires-da-Silva e Sommer, 2003). Muitos hormônios,
neurotransmissores, quimiocinas, mediadores locais e estímulos sensoriais exercem seus
efeitos sobre as células através de ligação a diferentes classes de receptores. Esses
transdutores altamente especializados são capazes de modular a sinalização de várias vias
que levam a diversas respostas biológicas (Cabrera-Vera e col., 2003). A maioria das
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Sinalização Celular
Interação molécula-receptor
Existe uma diferença importante entre agonistas e antagonistas. Agonistas e
antagonistas são poderosas ferramentas que permitem a caracterização de estruturas e
funções de subtipos de receptores (Squire e col, 2003). Os agonistas ativam os receptores,
enquanto os antagonistas podem se combinar com os mesmos sítios, porém sem causar
ativação desse receptor, e dessa forma bloqueando o efeito dos agonistas. A ocupação de
um receptor por uma molécula de um ligante pode ou não resultar na ativação desse
receptor. A ativação do receptor ocorre através da ligação da molécula de tal modo que
desencadeie uma resposta tecidual. A ligação e ativação representam duas etapas distintas
da geração de uma resposta mediada por um receptor, que é iniciada por um agonista. A
tendência de um ligante se ligar aos receptores é dada através de sua afinidade. Os ligantes
com alta potência geralmente apresentam alta afinidade pelos receptores e,
consequentemente, ocupam uma porcentagem significativa dos receptores, mesmo em
baixas concentrações (Rang e Dale, 2007).
Tipos de receptores
Segundo a estrutura molecular e a natureza do mecanismo de transmissão, os
receptores são agrupados em quatro superfamílias, a saber: (1) superfamília tipo 1 -
receptores-canal (ou ionotrópicos), receptores de membrana que formam o próprio canal
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Sinalização Celular
ativado, duas moléculas de acetilcolina devem se ligar a esses sítios e, dessa forma, o canal
se abre quase que instantaneamente, permitindo a passagem de íons (Rang e Dale, 2007).
Os canais controlados por voltagem abrem-se quando a membrana celular é
despolarizada. Essa abertura (ativação) induzida pela despolarização da membrana é de
curta duração, mesmo quando a despolarização é mantida. Os canais mais importantes
nesse grupo são os canais seletivos para sódio, potássio e cálcio.
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Estrutura da proteína G
A interação de hormônios, neurotransmissores ou glicoproteínas com os receptores
7TM na superfície da célula induz uma mudança conformacional do receptor que ativa a
proteína G – composta das subunidades α, β, γ – no interior da célula. No estágio inativo
GDP liga-se à subunidade Gα. (Fig. 5). Quando a proteína G é ativada, o GDP é liberado, e
o GTP liga-se à subunidade Gα e assim ocorre a dissociação do complexo Gα-GTP do
complexo Gβγ. Dessa forma tanto Gα-GTP quanto Gβγ encontram-se livres para ativar seus
efetores, como por exemplo canais iônicos ou enzimas (Pierce e col., 2002). A duração do
sinal é determinada pela taxa de hidrólise do GTP da subunidade Gα e subseqüente
reassociação de Gα-GDP com Gβγ (Hamm, 1998). A cinética da ativação da proteína G
através dos GPCRs tem sido descrita recentemente. Baseado em observações de que a
atividade GTPásica de proteínas G isoladas é mais baixa do que sob condições fisiológicas,
postulou-se a existência de mecanismos que aceleram a atividade GTPásica. Vários
efetores tem sido apontados como promotores da atividade GTPásica da subunidade α da
proteína G. Recentemente, uma família de proteínas chamadas “reguladoras da sinalização
da proteína G” (proteína RGS), capaz de aumentar a atividade GTPásica da subunidade α
da proteína G foi identificada (Wettschureck e Offermanns, 2005).
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Sinalização Celular
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tornando-as incapaz de interagir com o receptor. Dessa forma o tratamento com PTX resulta
em um desacoplamento do receptor com a proteína Gi (Wettschureck e Offermanns, 2005).
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Sinalização Celular
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Figura 9 – Receptores tirosina quinase. Via de sinalização envolvendo a participação das MAP
quinase.
Figura 10 – Via de sinalização dos receptores tirosina quinase, envolvendo a participação das
tirosinas quinases citosólicas.
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Sinalização Celular
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Figura 11 – Estrutura dos receptores nucleares. O esquema apresenta os diferentes domínios dos
receptores nucleares. Modificado de Rang e Dale, 2007.
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Sinalização Celular
Malária
Malária é uma das mais importantes infecções por protozoários no mundo causando
morte de mais de 2 milhões de pessoas anualmente (Who, 2005). A Africa subsaariana
concentra 90% dos casos, no entanto mais de 40% da população mundial está sob risco da
doença, principalmente os habitantes das regiões tropicais e subtropicais do globo (Fig. 1)
onde ocorre a distribuição geográfica do mosquito do gênero Anopheles (A. darling, no Brasil
e A. gambiae, na África), que transmite as espécies infectantes humanas P. falciparum, P.
malariae, P. vivax e P. ovale, sendo as três primeiras espécies encontradas no Brasil.
P. falciparum é o parasita que mais causa morte por malária no mundo ocorrendo em
maior incidência na África. No Brasil, a maioria dos casos é de P. vivax (Who, 2005).
É importante lembrar que a malária pode ser muito mais antiga que a humanidade e
existem quase 100 espécies de plasmódios, 22 dos quais infectam macacos e 50 parasitam
aves ou répteis (que tiveram seu apogeu nos períodos Permiano e Triássico, quando os
insetos hematófagos já existiam).
Plasmódios de roedores e aves são freqüentemente utilizados, no laboratório, como
modelos experimentais. Entender a complexa biologia do parasita é fundamental para o
desenho de novas e mais eficientes drogas e desenvolver novas estratégias para combater
a epidemia.
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Combate à malária
Nos últimos cinqüenta anos muitas pesquisas foram realizadas fomentando o
desenvolvimento de drogas sintéticas antimalaricas. A mais importante dessas foi a
cloroquina que possui baixa toxicidade, baixo custo e necessidade de ser aplicada apenas
uma vez por semana. Atualmente, no entanto, um grande problema no combate à malária
deve-se ao aumento da resistência dos parasitas a cloroquina, derivados de cloroquina e a
grande maioria de antimaláricos introduzidos (Olliaro e col., 1996). Para inibir o
aparecimento de resistência a WHO recomenda que o tratamento utilize pelo menos o
combinado de 2 anti-maláricos.
A incidência da malária, no Brasil, por exemplo, aumentou cerca de 10 vezes nos
últimos 30 anos, sendo que hoje 99% desses casos ocorrem na Amazônia Legal (FNS,
2002), área endêmica do país, composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas,
Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Nos Estados fora da
Amazônia Legal, o risco de transmissão local é pequeno ou inexistente e a quase totalidade
dos casos de malária registrada é importada da Amazônia Legal ou de outros países,
principalmente da África
Limitações da quimioterapia no controle da malária demonstram a necessidade de
novas drogas, preferencialmente contra novos alvos (McKerrow e col., 1993; Rosenthal,
1998), pois apesar de todas as pesquisas e informações adicionais o número de casos de
malária vem aumentando e uma vacina eficiente provavelmente não estará disponível no
futuro próximo (Hoffman, 1996). Além disso, os esforços para controlar o mosquito
Anopheles tiveram pouco sucesso (Alonso, 1991).
Atualmente o que pode ser feito são medidas de profilaxias para pessoas que se
dirigem a áreas de maior transmissão. O regime profilático consiste em prescrição médica
dos medicamentos antimaláricos de acordo com as espécies de Plasmodium predominantes,
grau de risco da infecção da área de destino, perfil de resistência ás drogas e avaliação dos
efeitos colaterais associados ao uso das mesmas (Farias, 2005)
A quimioprofilaxia deve ser iniciada uma semana antes da viagem, para avaliação
dos efeitos colaterais, e prolongada por quatro semanas após a saída da área endêmica, a
fim de sustentar a ausência dos parasitas na corrente sangüínea, mesmo após a sua
transição pelo estágio hepático, período de incubação que pode levar á formação de formas
latentes do parasita, responsáveis por recaídas. Contudo, apesar das medidas preventivas,
febre no período de dois meses após o curso da quimioprofilaxia ainda pode ser originada
pela infecção. Outro propósito da profilaxia se estender por um tempo depois da visita a área
de risco é para evitar que se importe doença para a origem do viajante.
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Trabalhos recentes mostram que o controle com telas mosquiteiras impregnadas com
inseticida ajuda no combate da malaria. (Chouaibou e col., 2006). A malaria caiu na década
de 50 pelo esforço combinado da cloroquina e do DTT, que combatia o mosquito!
Ciclo de vida
O Plasmodium é um parasita eucarioto unicelular, de vida intracelular obrigatória, que
mede 1,6 X 1,0 uM e pertence ao filo Apicomplexa. Possui um ciclo de vida caracterizado
pela sucessão de várias formas especializadas de desenvolvimento
Em vertebrados, a infecção se inicia pela picada do mosquito Anopheles, fêmea, que
retira 3 a 4 microlitros de sangue, enquanto injeta saliva contendo alguns esporozoitos. Uma
vez na corrente sanguínea, os esporozoitos invadem os hepatócitos e se desenvolvem para
o estágio assexuado de merozoito. Durante este período a infecção é assintomática e cada
esporozoito forma 30,000 merozoitos. Estes são liberados diretamente na corrente
sangüínea e invadem os eritrócitos (Sturn e col., 2006). Na corrente sangüínea amadurecem
passando pelos estágios de anel, trofozoito e esquizonte. Por um processo ainda
desconhecido, alguns merozoitos não invadem os eritrócitos e se diferenciam em
gametócitos, a forma infectante do mosquito (Garcia, 2001).
Para o fechamento do ciclo, o mosquito – onde ocorre o ciclo sexual do parasita -
terá que picar o vertebrado que tem gametocitos presentes na circulação. Estes, após o
ciclo no mosquito formarão os esporozoitos que migrarão até a glândula salivar e serão
transmitidos ao hospedeiro vertebrado (Fig. 2).
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Função da melatonina
A transição do estágio intraeritrocítico, bem como o processo de invasão in vivo e a
produção de gametócitos são processos altamente sincronizados (Garcia, 2001) e na
maioria mamíferos estudados seguem ciclos múltiplos de 24h (Tab. 1)
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a sincronia é perdida, um dos fenômenos que sugeriram que o hospedeiro tem papel
fundamental no estabelecimento do ritmo. (Hotta e col., 2000).
A melatonina tem um largo espectro de atuação (vertebrados, plantas e protozoários)
podendo ser sintetizada em vários tecidos, porém sua síntese rítmica é confinada
primariamente à glândula pineal. Este hormônio é sintetizado a partir de serotonina, que está
presente em grande quantidade na glândula pineal.
É interessante observar ainda que os precursores da melatonina, que são devirados
do triptofano, têm o mesmo efeito da melatonina tanto no ciclo celular do Plasmodium quanto
na mobilização de Ca2+ de estoques intracelulares (Beraldo e col., 2005).
Hotta e col., (2000) consideram que a melatonina é capaz de ativar a cascata da
fosfolipase C que, por sua vez, ativa a via de inositol 1,4,5-triposfato (IP3) e libera Ca2+ do
retículo endoplasmático (RE), nos estágios trofozoitos do Plasmodium.
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Enzimas proteolíticas
Enzimas proteolíticas possuem um importante papel no ciclo de vida de todos os
protozoários medicamente importantes como leshmania, toxoplasma, giardia e plasmodium
(Rosenthal,1999).
Várias proteases de protozoários foram identificadas e caracterizadas sendo
utilizadas pelos protozoários em diferentes funções tais como: invasão de células e tecidos
do hospedeiro, degradação de mediadores da resposta imune e hidrólise de proteínas para
suprir necessidades nutricionais do parasita (Rosenthal,1999).
As proteases podem ser classificadas em quatro classes (Neurath 1989; Barrett,
1994), sendo três delas (serine, cisteina e aspartil proteases), assim denominadas pela
existência de sítio de aminoácido chave e a metaloprotease , pela necessidade do íon
metálico para catálise.
Sabe-se ainda que para a invasão dos eritrócitos por merozoitos e ruptura pelos
esquizontes maduros, são necessárias proteases do parasita, pois durante estes eventos
proteínas do citoesqueleto do eritrócito precisam ser hidrolizadas e algumas proteínas do
parasita são proteolicamente processadas (Klemba, 2002).
Outra importante função das proteases inclui a degradação da hemoglobina que é
utilizada como uma fonte de amino ácido livre pelo parasita (Scheibel e Sherman, 1988).
O conteúdo da hemoglobina em eritrócitos infectados diminui 25-75% durante o ciclo
de vida do parasita eritrocítico (Ball e col., 1948; Groman, 1951; Roth e col., 1986), a
concentração de aminoácido livre é maior nos eritrócitos infectados do que nos não
infectados e a composição dos aminoácidos de eritrócitos infectados é semelhante à
composição de aminoácidos da hemoglobina.
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
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Maísa Costa
Laboratório de Neurotransmissão e Regulação da Pressão Arterial
[email protected]
Introdução
O termo “silenciamento gênico” refere-se a uma série de mecanismos por meio dos
quais a expressão de um ou mais genes é regulada negativamente. O silenciamento é
considerado uma modificação epigenética. Modificações epigenéticas na expressão gênica
são características herdáveis que não podem ser explicadas por alterações na seqüência de
DNA, e que podem resultar na repressão (silenciamento gênico) ou ativação (ativação
gênica) da expressão do gene (Vaucheret e col., 2001). Até o final da década de 1980,
somente modificações na estrutura da cromatina ou de proteínas eram classificadas como
epigenéticas (Lewin, 1998). Entretanto, durante a década de 1990, um grande número de
fenômenos de silenciamento gênico que ocorriam em nível transcricional e pós-
transcricional foram descritos em plantas, fungos, animais e protozoários, introduzindo o
conceito de silenciamento de RNA (RNA silencing) (Baulcombe, 2000; Matzke e col., 2001).
Logo após os primeiros estudos com plantas transgênicas resistentes a vírus (Lindbo
& Dougherty, 1992), percebeu-se que o silenciamento de RNA representava um sistema
ancestral de defesa contra vírus e retrotransposons (Lindbo e col., 1993b). Atualmente,
sabe-se que este constitui também um mecanismo eficiente de regulação gênica, que atua
principalmente no controle de genes envolvidos no desenvolvimento do organismo e na
manutenção da integridade do genoma (Denli & Hannon, 2003). O componente unificador
dos diferentes processos de silenciamento de RNA já estudados em diversos organismos é
o RNA de fita dupla (dsRNA). A presença desse tipo de molécula pode induzir a degradação
de RNAs mensageiros (mRNA) homólogos, um processo conhecido como silenciamento
gênico pós-transcricional (posttranscriptional gene silencing, PTGS) em plantas e RNA-
interferência (RNA interference, RNAi) em animais. Componentes da maquinaria de PTGS e
RNAi também estão envolvidos no processamento e funcionamento de microRNAs, uma
classe de pequenos RNAs com função regulatória, que foram originalmente identificados
como responsáveis pela repressão da tradução em Chaenorhabditis elegans (Hutvagner e
col., 2000). Descobertas recentes sugerem que o silenciamento de RNA está envolvido
em vários tipos de modificações genômicas e de cromatina, incluindo metilação do DNA
genômico (Wassenegger e col., 1994), formação de heterocromatina (Kennerdell e col.,
2002) e eliminação de DNA (Mochizuki e Gorovsky, 2004a). Estas descobertas indicam que
os mecanismos de silenciamento de RNA controlam a expressão a nível transcricional e
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Histórico
O fenômeno, atualmente denominado silenciamento de RNA, foi observado pela
primeira vez em plantas transgênicas por dois grupos independentes de pesquisadores
(Napoli e col., 1990; Van Der Krol e col., 1990). Estes pesquisadores tinham como objetivo
criar petúnias transgênicas, cujas flores apresentassem uma coloração mais intensa. A
estratégia escolhida consistia em superexpressar o gene que codifica a chalcone sintase
(CHS), uma enzima chave na biossíntese de antocianinas. Para isso foi introduzida uma
cópia extra do gene Chs sob controle do promotor 35S do Cauliflower mosaic virus (CaMV).
Entretanto, ao contrário do esperado, as diferentes linhagens transgênicas obtidas possuíam
padrões distintos de variegação floral, incluindo linhagens que apresentavam flores
totalmente brancas, ou seja, sem pigmento. A análise molecular das linhagens transgênicas
comprovou que a introdução da cópia extra havia efetivamente bloqueado a biossíntese de
antocianinas, inibindo, simultaneamente, a expressão do gene endógeno pré-existente e da
cópia introduzida. A inibição da pigmentação das flores foi diretamente correlacionada com
uma redução específica no acúmulo de mRNA do gene Chs. O fenômeno foi denominado
co-supressão, pois a introdução de um transgene levou ao silenciamento simultâneo do
próprio transgene e do gene endógeno homólogo (Napoli e col., 1990; Van Der Krol e col.,
1990). Fenômeno semelhante foi relatado no fungo N. crassa, no qual foi denominado
quelling (Cogoni e col., 1996; Romano & Macino, 1992), e em animais (Drosophila e C.
elegans), nos quais foi denominado RNAi (Fire e col., 1998).
Alguns anos após a descrição da co-supressão, um fenômeno semelhante foi
observado por pesquisadores que tentavam engenheirar plantas transgênicas resistentes a
vírus. Plantas de tabaco foram transformadas com o gene que codifica a proteína capsidial
do potyvírus Tobacco etch virus (TEV) (Goodwin e col., 1996; Lindbo e Dougherty, 1992;
Lindbo e col., 1993b) ou a replicase do potexvírus Potato X virus (PVX) (Mueller e col.,
1995). Em ambos os casos, esperava-se que o excesso de proteína viral afetaria a
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
sintéticos de 21 a 25 nt foram suficientes para induzir RNAi in vitro (Elbashir e col., 2001a) e
in vivo (Elbashir e col., 2001b), na ausência de dsRNA.
A geração dos siRNAs a partir de dsRNA foi elucidada em trabalhos com
Drosophila, onde uma ribonuclease do tipo RNAse III (endonuclease com afinidade por
dsRNA) foi parcialmente purificada em associação a fragmentos de RNA de
aproximadamente 25 nt, cuja seqüência correspondia à de dsRNA de indivíduos nos quais
RNAi encontrava-se ativo (Hammond e col., 2000). Essa RNAse III, denominada “Dicer”,
produz siRNAs a partir de moléculas relativamente curtas de dsRNA (aprox. 250 nt) em um
processo dependente de ATP, e os siRNAs servem como guia para a degradação de
mRNAs homólogos em um complexo ribonucleoprotéico denominado RISC (RNA induced
silencing complex) (Bernstein e col., 2001; Hammond e col., 2000). A enzima Dicer é
conservada evolutivamente, com homólogos presentes em fungos, plantas e animais
superiores. A conservação funcional desta família de proteínas e seu requerimento para
RNAi veio com a demonstração de que Dicer de humanos também cliva dsRNAs em siRNAs
(Bernstein e col., 2001) e que mutantes de C. elegans em ortólogos a Dicer (DCR-1) não
ativam o sistema de RNAi induzido por dsRNA (Grishok e col., 2001; Ketting e col., 2001;
Knight e Bass, 2001).
A caracterização do complexo RISC foi iniciada em Drosophila com a identificação
da proteína AGO2, pertencente à família de proteínas Argonauta (Hammond e col., 2001).
AGO2 foi co-purificada com o RISC e co-imunoprecipitada com Dicer. Estudos
subseqüentes demonstraram que proteínas Argonauta também são componentes do RISC
em mamíferos, fungos, nematóides, protozoários e plantas (Carmell e Hannon, 2004;
Martinez e col., 2002). Recentemente, foi demonstrado que AGO2 de humanos possui
atividade de RNase III, consistindo provavelmente na proteína Slicer, que media a clivagem
do mRNA alvo após sua associação ao siRNA no complexo RISC (Liu e col., 2004; Meister
e col., 2004; Okamura e col., 2004). A existência de um fator difusível dominante envolvido
na sinalização sistêmica do silenciamento foi demonstrada inicialmente em N. crassa
(Cogoni e col., 1996). Heterocárions contendo núcleos apresentando genes silenciados e
não silenciados exibiam o fenótipo silenciado. Analogamente, em C. elegans, RNAi pode
ser disparado em todo o organismo injetando-se dsRNA na cavidade bucal ou por meio da
ingestão de bactérias expressando dsRNA (Timmons e col., 2001). Este fator é dominante,
pois em cruzamentos entre indivíduos silenciados ou não, toda a progênie é silenciada
(Grishok e col., 2001). Em plantas, PTGS foi transmitido com 100 % de eficiência a partir de
porta-enxertos silenciados a enxertos não silenciados contendo o transgene homólogo, mas
não a enxertos que não possuíam o transgene homólogo, indicando que o sinal é específico
em termos de seqüência (Palauqui e col., 1997). A natureza deste sinal sistêmico ainda não
está totalmente esclarecida. Inicialmente foi proposto que, devido à especificidade de
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seqüência, este fator seria pelo menos em parte, um RNA (Vaucheret e Fagard, 2001).
Recentemente, a análise bioquímica de extrato de floema de abóbora levou à caracterização
de uma proteína que se liga seletivamente a pequenos RNAs de fita simples (Cucurbita
maxima phloem small RNA binding protein 1 - CmPSRP1). Estudos de microinjeção
forneceram evidências de que CmPRSP1 pode mediar o movimento de pequenos RNAs de
25 nt fita simples, mas não de moléculas de RNA fita dupla, apoiando a hipótese de que o
sinal sistêmico contém uma proteína de ligação a pequenos RNAs (mas não
necessariamente siRNAs) (Yoo e col., 2004).
Evidências sobre o envolvimento da maquinaria de RNAi/PTGS no desenvolvimento
de diferentes organismos vieram com a descoberta de uma nova classe de pequenos RNAs,
os micro RNAs (miRNAs). Inicialmente, foi demonstrado que o gene Lin-4, conhecido por
controlar o tempo de desenvolvimento do estágio larval de C. elegans, não codificava
nenhuma proteína, e sim um par de pequenos RNAs, um com aproximadamente 22 nt e o
outro com 16 nt (Lee e col., 1993). Estes pequenos RNAs eram complementares a várias
regiões da região 3’ não-traduzida (3’NTR) do gene Lin-14, propondo-se que eles mediam a
repressão de Lin-14 por pareamento na região 3’NTR, inibindo o processo de tradução. Sete
anos depois da descoberta de Lin-4, foi descoberto um segundo gene, Let-7, que também
codifica um pequeno RNA de 22 nt envolvido no desenvolvimento de C. elegans (Reinhart e
col., 2000; Slack e col., 2000). Devido ao papel de ambos no controle do desenvolvimento,
foram denominados de small temporal RNAs (stRNAs) (Pasquinelli e col., 2000). Pouco
tempo depois foram clonados diversos genes que codificam pequenos RNAs em
Drosophila, C. elegans, Arabidopsis e humanos (Lagos- Quintana e col., 2001; Lau e col.,
2001; Lee e Ambros, 2001; Llave e col., 2002b). Os produtos destes genes eram
estruturalmente semelhantes aos stRNAs lin-4 e let-7: possuíam aproximadamente 22 nt e
eram potencialmente processados por Dicer a partir de um precursor com capacidade de
adquirir estrutura secundária em forma de grampo. Entretanto, em plantas, diferente dos
stRNAs lin-4 e let-7, eles não interferem com o processo de tradução. Nos casos em que o
alvo desses pequenos RNAs já foi identificado, comprovou-se que ocorre pareamento entre
o pequeno RNA e a região codificadora do mRNA alvo, e que esse pareamento gera uma
região de dsRNA que é clivada pelo complexo RISC (Grishok e col., 2001). O termo
“microRNA” (miRNA) foi introduzido para se referir a todos os pequenos RNAs originados a
partir de um transcrito endógeno processados por uma RNase III tipo Dicer (Hutvagner e
col., 2001). Atualmente, acredita-se que os miRNAs possuem papel fundamental na
regulação gênica pós-transcricional, com papel em processos como a proliferação celular,
apoptose, sinalização e diferenciação. A primeira evidência de que dsRNA pode induzir
alterações na cromatina foi a observação de que a infecção de plantas por viróides levava à
metilação de seqüências endógenas que possuíam homologia com o genoma do viróide
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Figura 1- Modelo para o silenciamento de RNA, indicando as três vias atualmente conhecidas.
A. Silenciamento pós-transcricional de genes endógenos ou transgenes via siRNas. Uma molécula de
dsRNA pode ser gerada a partir da transcrição de um transgene senso, de um transgene anti-senso
ou de um transgene em repetição invertida. O dsRNA é provavelmente transportado para o
citoplasma, onde é degradado pela enzima DCL-2 (em plantas), gerando os siRNAs. Os siRNAs são
incorporados ao complexo RISC, que irá degradar os mRNAs citoplasmáticos que possuam
identidade com a seqüência do siRNA. Os vírus ativam essa via produzindo dsRNA durante sua
replicação. B. Silenciamento pós-transcricional de genes endógenos via miRNAs. Os miRNAs são
transcritos a partir de genes que produzem um RNA precursor com estrutura secundária em forma de
grampo. A enzima DCL-1 (em plantas) processa o precursor no núcleo, gerando o miRNA. O miRNA
é transportado para o citoplasma e incorporado ao complexo RISC. C. Silenciamento transcricional
via siRNAs. Essa via é ativada por meio de dsRNA produzido após a transcrição de transposons ou
de seqüências endógenas arranjadas na forma de repetições diretas. O dsRNA é processado pela
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enzima DCL-3 (em plantas), e os siRNAs resultantes são incorporados ao complexo RITS. Esse
complexo atua no DNA genômico, resultando na metilação de seqüências homólogas ao siRNA ou na
formação de heterocromatina. (Modificado de Zerbini e col., 2005).
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Kasschau e Carrington, 1998) e animais (Li e col., 2002). Além da defesa contra infecção
por vírus, o silenciamento de RNA também está envolvido na proteção contra a transposição
de DNA. Em C. elegans e Chlamydomonas reinhardtii, indivíduos com mutações em
componentes da via de RNAi apresentam uma taxa mais elevada de transposição (Ketting e
col., 1999). Outro indicativo dessa função foi a detecção de siRNAs derivados de
retrotransposons em Trypanossoma brunei, indicando que o intermediário de dsRNA
produzido durante o ciclo de transposição pode ser processado pela enzima Dicer (Djikeng e
col., 2001). A função do silenciamento de RNA na defesa contra vírus e transposons levou à
sugestão de que o mecanismo funcionaria como um “sistema imune” do genoma. De forma
análoga ao sistema imunológico presente em aves e mamíferos, o silenciamento de RNA é
específico contra elementos exógenos, a resposta pode ser amplificada e desencadeia uma
resposta massiva contra um invasor (nesse caso, uma molécula de ácido nucléico)
(Plasterk, 2002).
Apesar da falta de evidências diretas, outra função proposta para o mecanismo é a
de remoção de RNAs aberrantes não funcionais do núcleo ou do conjunto de mRNAs
celulares (Tijsterman e col., 2002).
O papel do silenciamento de RNA foi consideravelmente ampliado com a descoberta
dos miRNAs, estabelecendo-se o envolvimento do mecanismo na regulação pós-
transcricional de genes endógenos. Atuando de forma análoga aos siRNAs, os miRNAs são
processados pela Dicer (Lee e col., 2003b) e estão associados ao RISC (Martinez e col.,
2002), anelando-se ao mRNA alvo e formando uma região de dsRNA, o que leva à
degradação do mRNA e conseqüente regulação negativa da expressão gênica. A maioria
dos miRNAs já identificados em plantas possui como alvo mRNAs que codificam fatores de
transcrição, particularmente aqueles envolvidos na regulação de genes que controlam o
desenvolvimento (Kasschau e col., 2003; Rhoades e col., 2002). Em animais, os mRNAs
controlados por miRNAs estão envolvidos em uma ampla gama de processos biológicos,
incluindo o controle da apoptose (Brennecke e col., 2003), o metabolismo de lipídeos (Xu e
col., 2003), a supressão de tumores e a resistência a estresses oxidativos (Lewis e col.,
2003).
Descobertas recentes sugerem que o silenciamento de RNA está envolvido na
formação da cromatina e/ou reorganização genômica, incluindo a formação de
heterocromatina em S. pombe e a eliminação de grandes fragmentos de DNA do genoma
de Tetrahymena thermophila (Hall e col., 2002; Taverna e col., 2002; Volpe e col., 2002).
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periferia celular (Winston e col., 2002). Para determinar a função da proteína SID1, os
autores utilizaram células S2 de Drosophila, capazes de ativar normalmente o mecanismo
de silenciamento, porém incapazes de propagar o silenciamento sistemicamente. Estas
células foram transformadas com dois plasmídeos, o primeiro codificando luciferase e o
segundo codificando formas funcionais ou não funcionais de SID1. As células foram imersas
em uma solução contendo diferentes concentrações de dsRNA homólogo a luciferase por 48
horas e a atividade de luciferase foi medida. As células que expressavam SID1 funcional
apresentaram uma taxa de silenciamento 105 vezes maior de as células transfectadas com
plasmídeos expressando SID1 não funcional, mesmo na presença de altas concentrações
de dsRNA. Esse resultado indica que SID1 facilita o transporte de dsRNA para o interior da
célula. Além disso, foi demonstrado que o transporte de dsRNA mediado por SID1 não é
sensível a baixas concentrações de ATP e baixas temperaturas, sugerindo que ocorre de
forma passiva (Feinberg e Hunter, 2003). O transporte passivo poderia ocorrer nos dois
sentidos, ou seja, SID1 pode ser responsável pela saída do sinal sistêmico da célula
inicialmente silenciada.
Em plantas, acredita-se que o sinal sistêmico seja capaz de se mover célula-a-célula
via plasmodesmas (Himber e col., 2003; Lucas e col., 2001) e a longa distância via floema
(Klahre e col., 2002; Mallory e col., 2003). Entretanto, não se sabe de que forma (ativa ou
passiva) o transporte ocorre.
Uma hipótese atrativa é a de que os siRNAs fazem parte do sinal sistêmico, pois eles
possuem comprimento longo o suficiente para garantir a especificidade, estão
consistentemente associados ao silenciamento e são pequenos o suficiente para
movimentar-se célula-a-célula via plasmodesmas, além de serem suficientes para induzir o
silenciamento de RNA em Drosophila, C. elegans, e em células de mamíferos (Mlotshwa e
col., 2002). Entretanto, existem duas evidências contrárias à hipótese de que os siRNAs
estejam associados ao sinal sistêmico. Estudos com HC-Pro, uma proteína viral supressora
de silenciamento, demonstraram que em plantas onde o silenciamento foi suprimido por HC-
Pro não ocorre acúmulo de siRNAs, entretanto a capacidade de produzir ou enviar o sinal
sistêmico não é afetada (Mallory e col., 2001). Além disso, em C. elegans, indivíduos
mutantes no gene Rde-4, essencial para que o silenciamento ocorra, produzem siRNAs de
forma deficiente, porém o silenciamento sistêmico não é afetado (Parrish e col., 2000).
Trabalhos de caracterização de siRNAs produzidos durante o silenciamento de RNA
demonstraram a existência de duas classes de siRNAs em plantas transgênicas silenciadas
para GFP: uma classe de siRNAs “longos” (24-26 nt) e outra de siRNAs “curtos” (21-22 nt).
Curiosamente, os siRNAs derivados de retroelementos endógenos são exclusivamente da
classe dos siRNAs longos. Os siRNAs longos são dispensáveis para a clivagem seqüência-
específica do mRNA alvo, entretanto estão correlacionados com o silenciamento sistêmico e
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Sinalização Celular
com a metilação de DNA. Essas observações sugerem que os siRNAs curtos estão
envolvidos no processo de incorporação ao RISC e clivagem dos mRNAs alvos, enquanto
os siRNAs longos estariam envolvidos na sinalização sistêmica e na etapa nuclear de
metilação do DNA (Hamilton e col., 2002). Entretanto, essa hipótese ainda não foi
comprovada, e, dessa forma, a natureza precisa do sinal sistêmico permanece
desconhecida.
Um estudo detalhado do extrato de floema de plantas de abóbora (Cucurbita
maxima) demonstrou a presença de uma população de pequenos RNAs provavelmente
envolvidos no processo de sinalização sistêmica, pois uma análise comparativa de
seqüência identificou possíveis alvos destes pequenos RNAs. Experimentos realizados com
plantas transgênicas silenciadas e infectadas por vírus confirmaram a presença de siRNAs
derivados do transgene ou do vírus no extrato do floema. Uma análise bioquímica desse
extrato levou à identificação de uma proteína que se liga seletivamente a pequenos RNAs
de fita simples, denominada CmPSRP1 (C. maxima Phloem Small RNA Binding Protein 1),
sugerindo que esta proteína é parte da maquinaria envolvida no silenciamento sistêmico
(Yoo e col., 2004).
MicroRNAs
MicroRNAs (miRNAs) constituem uma classe de pequenos RNAs de 21-24 nt
envolvidos na regulação da expressão gênica em eucariotos. A presença de miRNAs já foi
detectada em S. pombe, Drosophila, camundongos, humanos e plantas (Lagos- Quintana
e col., 2003; Lee e Ambros, 2001; Llave e col., 2002b).
Os miRNAs atuam de forma análoga aos siRNAs regulando negativamente mRNAs
alvos, porém diferenciam-se destes pela origem e pela natureza do mRNA alvo. Os siRNAs
são derivados do próprio mRNA alvo transcrito a partir de um transgene, vírus, transposon
ou gene endógeno. Os miRNAs são processados a partir de transcritos endógenos que não
codificam proteínas e possuem como alvo mRNAs endógenos.
O número de genes que codificam miRNAs está estimado em 0,5-1% do número
total de genes do genoma em questão. C. elegans e Drosophila possuem
aproximadamente 100 a 140 genes que codificam miRNAs, enquanto seres humanos
possuem de 200 a 255. Pelo menos 0,2 % do genoma de Arabidopsis codifica miRNAs.
Esta representatividade relativa é comparável à de outras famílias gênicas envolvidas na
regulação gênica como, por exemplo, a de fatores de transcrição que se ligam a DNA
(Nakahara e Carthew, 2004). A maioria dos genes que codificam miRNAs são conservados
entre espécies relacionadas e aproximadamente 30 % são altamente conservados, com
ortólogos em vertebrados e invertebrados, sugerindo uma conservação evolutiva com base
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em sua função biológica. Embora miRNAs estejam presentes em plantas e animais, ainda
não foram descritos miRNAs ortólogos nos dois reinos (Bartel, 2004).
A maioria dos genes que codifica miRNAs se localiza em regiões intergênicas,
sugerindo que são transcritos a partir de unidades transcricionais independentes (Lau e col.,
2001; Lee e Ambros, 2001). Inicialmente acreditava-se que os miRNAs eram transcritos pela
RNA polimerase III, pois ela transcreve a maioria dos pequenos RNAs como os tRNAs e o
snRNA U6. Entretanto, diversas evidências indicam que os miRNAs não são transcritos pela
RNApol III. Os transcritos que geram miRNAs são um pouco mais longos do que os demais
RNAs transcritos pela enzima, e possuem seqüência internas com mais de quatro uracilas
seguidas, o que seria o sinal de término da transcrição para a RNApol III (Lee e col., 2002).
Além disso, um grande número de transcritos quiméricos contendo miRNAs e transcritos
adjacentes têm sido encontrado em bibliotecas de EST, e muitos destes ESTs possuem
cauda poli A e são ocasionalmente processados, sugerindo que são transcritos pela RNA
polimerase II (Smalheiser, 2003). Por fim, a inserção de elementos enhancer que
respondem à RNApol II em Drosophila induz a expressão do miRNA Bantam (Brennecke e
col., 2003). De fato, foi demonstrado que os transcritos primários (nucleares) que geram os
miRNAs (denominados pri-miRNAs) possuem estrutura de capa na extremidade 5’ e cauda
poli-A na extremidade 3’, características de transcritos de genes da classe II. Além disso, o
tratamento de células humanas com α-amanitina a concentrações que inibem a RNApol II
suprime o acúmulo de pri-miRNAs, e ensaios de imunoprecipitação de cromatina
demonstraram que a RNApol II está fisicamente associada ao promotor de alguns miRNAs
(Lee e col., 2004b).
Aproximadamente um quarto dos genes que codificam miRNAs em Drosophila
estão localizados em introns, preferencialmente na mesma orientação do mRNA, sugerindo
que são transcritos a partir do promotor do gene e processados a partir dos introns, de
forma análoga a diversos snRNAs (Aravin e col., 2003). O alvo desses miRNAs é o próprio
mRNA processado, o que sugere um cenário regulatório onde a expressão coordenada do
miRNA e de seu mRNA alvo é desejada (Lim e col., 2003a). Outros miRNAs estão
agrupados no genoma em um arranjo e padrão de expressão que produz um pri-miRNA
“policistrônico”, capaz de gerar vários miRNAs distintos após a finalização do
processamento (Fig. 2) (Lau e col., 2001). Apesar da maioria dos genes que codificam
miRNAs em plantas, C. elegans e humanos estar organizada de forma isolada (Lim e col.,
2003a; Lim e col., 2003b), mais da metade desses genes em Drosophila está organizada
em agrupamentos (Aravin e col., 2003).
Embora a presença de miRNAs em plantas e animais sugira que esta classe de
RNAs não codificantes está envolvida na regulação da expressão gênica desde pelo menos
o último ancestral comum destas linhagens (Reinhart e col., 2002), existem algumas
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vários sítios na região 3’ não traduzida de mRNAs alvos e acredita-se que atuam inibindo a
tradução. Entretanto, foi demonstrado que o miRNA mir-196 direciona a clivagem do seu
mRNA alvo, Hoxb8, em camundongos (Yekta e col., 2004).
Quando o miRNA direciona a clivagem, esta ocorre precisamente da mesma forma
que a clivagem direcionada por siRNAs, ou seja, entre o décimo e o décimo primeiro
nucleotídeo pareado do miRNA (Hutvagner e Zamore, 2002). Após a clivagem do mRNA
alvo, o miRNA permanece intacto e pode direcionar o reconhecimento e a clivagem de outro
mRNA alvo (Hutvagner e Zamore, 2002).
Existe atualmente um grande número de miRNAs identificados em plantas e animais
(Rhoades e Bartel, 2004; Llave e col., 2002b; Rhoades e col., 2002). Em vários casos, os
alvos desses miRNAs foram identificados e comprovados por meio de análises
computacionais (Rhoades e col., 2002). Entretanto, a validação definitiva de um mRNA alvo
requer estudos nos quais sua suposta seqüência de reconhecimento seja alterada de modo
a impedir o anelamento do miRNA, verificando-se um subseqüente aumento na
concentração do mRNA alvo (Baulcombe, 2004). A identificação dos mRNAs alvos dessa
forma demonstrou que os miRNAs estão predominantemente envolvidos na regulação de
genes relacionados ao desenvolvimento de órgãos e tecidos, incluindo diversos fatores de
transcrição (Bartel, 2004). Alguns exemplos incluem o miRNA-JAW, que regula a expressão
do fator de transcrição TCP envolvido na morfogênese de folhas (Palatnik e col., 2003), o
miRNA159, que regula a expressão do fator de transcrição MYB33 envolvido no balanço de
reguladores de crescimento (Palatnik e col., 2003), o miRNA 165/166 que regula a
expressão de três fatores de transcrição da classe envolvidos na diferenciação das faces
adaxial e abaxial de folhas (Emery e col., 2003), o miRNA172, que regula a expressão do
fator de transcrição APETALA2 envolvido na morfogênese floral (Aukerman e Sakai, 2003;
Chen, 2004), e o miRNA164, que regula a expressão de vários fatores de transcrição da
classe NAC, envolvidos em diversos aspectos da diferenciação de órgãos vegetativos e
reprodutivos (Mallory e col., 2004). Além disso, a expressão de genes relacionados com a
própria maquinaria do silenciamento de RNA, como AGO1 (Vaucheret e col., 2004) e DCL-1
(Xie e col., 2003) é regulada por miRNAs.
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Unidade 3
Neurociências
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Neurociências
História da Neurociência
Introdução
Como pensamos? Como interpretamos a nossa realidade? De que forma situamo-
nos no mundo e desenvolvemos nossa identidade, nossas relações, crenças e loucuras?
Como nos emocionamos, sonhamos e experienciamos consciência? Como foi possível
desenvolvermos filosofia, ciência e artes? Haveria uma chave para entender os mistérios da
vida mental?
Atualmente, nosso conhecimento entende o cérebro como órgão responsável pelo
comportamento e pelas faculdades mentais. Também aprendemos que fenômenos
eletroquímicos são os responsáveis pelo funcionamento do sistema nervoso. No entanto,
esses conhecimentos são relativamente recentes e durante muitos séculos as crenças sobre
a maneira de funcionar do cérebro foram radicalmente diferentes das professadas hoje.
Investigar o tratamento histórico dessas questões permite vislumbrar de que
maneiras a humanidade vem formulando perguntas fundamentais sobre os aspectos daquilo
que tradicionalmente identificamos como mente: sua existência, essência, localização,
estrutura e função. Todos os passos, dos mais intuitivos aos mais rigorosos do ponto de
vista experimental, constituem juntos os alicerces do conhecimento que hoje relacionamos à
neurociência.
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
(2000 a.C. – 900 d.C.) realizavam esse tipo de procedimento em pessoas acordadas,
provavelmente acreditando que espíritos maus existentes no interior da cabeça seriam os
responsáveis por patologias tais como epilepsia e o estado de coma e, uma vez feitas essas
aberturas, os espíritos poderiam escapar, o que promoveria a recuperação e cura. Crânios
com perfurações feitas em vida foram encontrados em sítios que datam de até 10.000 anos.
Pela cicatrização, há indícios de que as pessoas sobreviviam a esse procedimento.
Ora, alguns casos de coma eram devidos a um aumento da pressão intracraniana e essa
cirurgia realmente promove alívio da hipertensão intracraniana podendo, em alguns casos,
ter até valor terapêutico. Cadáveres dessa forma foram encontrados em quase todas as
civilizações do mundo e, mesmo povos modernos, como os da Oceania, ainda praticam
essa laboriosa e arriscada cirurgia.
Uma segunda questão tão intrigante quanto a localização diz respeito à forma como
mente e corpo viriam a se influenciar. Se uma mente existe e se ela está no corpo, qual o
mecanismo de interação dessa mente com esse corpo?
Um outro indício, documental, de que há muito se associava o cérebro à mente é o
Papiro Cirúrgico de Edwin Smith, americano que adquiriu a relíquia em 1862. Considerada o
tratado científico mais antigo conhecido, foi escrito no Egito e data, embora não haja
consenso, de 1600 a.C. Lá estão descritos 30 casos de referências diretas ao cérebro.
Descrições anatômicas, traumatológicas e clínicas, com detalhes sobre o que acontecia com
um trauma de guerra, provocando epilepsia, convulsões, paralisia, problemas sensoriais e
até alteração do sistema nervoso autônomo nas pessoas que haviam sido vítimas dessas
lesões.
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Neurociências
cérebro. Para eles, a constituição interna dos nervos era oca e seriam estas as estruturas
responsáveis por transmitir uma espécie de fluido vital, chamado espírito animal, base da
mente, da alma e até da alma imortal.
Na filosofia ocidental dois nomes entraram em intenso debate. Hipócrates - o pai da
medicina - e Aristóteles, pai das ciências do conhecimento natural, cujas idéias foram
propagadas até a idade moderna.
Hipócrates (460-379 a.C.) acreditava que o cérebro era a sede da mente, dos
sentimentos e das emoções; ele seria a estrutura responsável pelos sonhos, terrores
noturnos e problemas mentais. "Deveria ser sabido que ele é a fonte do nosso prazer,
alegria, riso e diversão, assim como nosso pesar, dor, ansiedade e lágrimas, e nenhum
outro que não o cérebro. Na época não havia conhecimento sistematizado sobre a anatomia
cerebral, pois não se praticavam dissecações. As declarações hipocráticas eram, portanto,
fruto de intuições filosóficas baseadas na observação clínica de que o cérebro seria a sede
de tudo o que hoje se acredita que seja (juízo, emoções, sentimentos etc.)
Porém, esse conhecimento dos hipocráticos sofreu uma regressão com Aristóteles,
(384 a.C. - 322 a.C)., para quem a sede dos referidos fenômenos estava no coração. Seus
argumentos eram simples: o coração hospeda a razão por ser quente e ativo, enquanto o
cérebro serve para resfriar o sangue, por ser frio e inerte. Ora, quando se experiencia uma
emoção forte, ela é sentida no coração, pela ativação simpática. Diz-se que o coração está
pesado, que se gosta de alguém “de coração” ou até mesmo que se sabe algo de cor; do
latim, decorado. Acreditava-se, inclusive, que até a memória estaria no coração.
Na época, associou-se erradamente o efeito à causa, quer dizer, a emoção está no
cérebro, a sua expressão está no coração. Porém, Aristóteles não era experimentador, era
um filósofo, pensava essencialmente de acordo com a lógica.
O médico romano Galeno (130-200) foi importante na história da neurociência
porque foi o primeiro a refutar o que disse Aristóteles. Para aquele, não haveria sentido em
afirmar que o cérebro tivesse a função de esfriar as paixões do coração. Pela dissecação de
animais ele destinou muita atenção às meninges e às cavidades encefálicas (contrastantes
com a massa, amorfa, cerebral) fazendo com que se buscasse relacionar os ventrículos com
a mente.
Os ventrículos pareciam ser estruturas-chave na procura pela sede da mente por
serem espaços destacados, cheios de líquidos, e, uma vez que ainda era forte a idéia vinda
dos gregos de que a mente seria intermediada pelo espírito animal, várias pistas indicavam
que aqueles ventrículos cheios de fluido fossem a sua sede.
Esse conceito de Galeno foi apropriado durante toda a Idade Média pela ciência
médica. Acreditava-se, por especulação puramente teórica, que havia três células dos
ventrículos no cérebro. A primeira célula (anterior) seria responsável pela sensação e
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
percepção (nervos ligando os órgãos dos sentidos ao ventrículo 1). A segunda célula seria a
responsável pelo juízo, pensamento e razão (ventrículos laterais; faculdades nobres, fluido
resfriado e o refugo seria filtrado pelo sangue). Já a terceira seria a responsável pela
memória, e utilizada pelos outros dois ventrículos para o funcionamento cerebral. Leonardo
da Vinci, grande anatomista, também fez desenhos dos ventrículos cerebrais.
Até aqui, tem-se uma teoria da mente que, embora não se baseasse na fisiologia,
não deixava de apresentar uma certa consistência interna. A idéia dos fluidos vigeu durante
muitos séculos.
Foi apenas a partir da Renascença que houve mudanças mais pronunciadas, pelo
conhecimento mais detalhado sobre a anatomia do cérebro. (Consenza, 2002). O
anatomista Vesalius, (1514-1564) escreveu o livro “Da Estrutura do Corpo Humano” em que
ele, através das dissecções que realizava em seres humanos e em outros animais, notou
que estes (inclusive asnos e jumentos) também tinham ventrículos. Observou-se que o
espaço ventricular nos homens e em outros primatas era praticamente do mesmo tamanho,
ao contrário do restante do cérebro que, no homem, mostrava diferenças. Dessa forma,
seria lógico pensar que os aspectos intelectuais superiores, tão peculiares a nós, estariam
não nos ventrículos, mas em outras partes do cérebro.
Contudo, continuou-se a acreditar que os ventrículos cerebrais eram um local de
armazenamento dos espíritos animais, de onde eles partiriam para, através dos nervos,
atingir os órgãos sensoriais ou de movimento. Assim, a teoria da localização ventricular
perdurou por muito tempo.
Descartes e o mecanicismo
No século XVII, o filósofo, matemático e naturalista René Descartes (1596-1650)
especulava sobre a natureza do sistema nervoso, sobre de que maneira ele funcionaria
como a base da mente. Ele propôs o mecanismo da ação reflexa, fenômeno que ocorre
quando, ao encostar-se num estímulo nocivo, como o fogo, retira-se o membro de forma
rápida e involuntária.
Descartes propôs que o estímulo, ao atingir o pé, seria transmitido pelos nervos até o
cérebro, sendo que essa transmissão seria conduzida de forma hidráulica. Assim, o
aquecimento provocaria um aumento do fluxo do fluido (espírito animal) para o cérebro, que
iria aos ventrículos, até a glândula pineal, (reguladora desse fluxo), voltando até o nervo
motor, de forma a inchar o músculo tal qual um fole que promoveria, finalmente, o
movimento do membro. (Consenza, 2002).
Note-se que o modelo físico do cérebro na época era hidráulico, seguindo a
tecnologia disponível na época. Descartes comparou as fontes do jardim de Versailles, da
realeza francesa, cujos mecanismos eram hidráulicos, com a própria complexidade do
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Neurociências
sistema nervoso.
Descartes fez uma série de desenhos, puramente especulativos, mostrando a
estrutura fibrosa do cérebro humano; e ele especulava que a glândula pineal regulava o
fluxo do espírito animal dentro do cérebro como se fosse uma válvula. Há desenhos do
encéfalo inflado e desinflado; correspondendo ao estado de vigília e de sono. Ele
argumentava que os fluxos iriam se acumulando durante o dia e inchando o cérebro e, à
noite, a pineal (válvula) entrava em funcionamento e isso promovia o sono.
Nessa época almejava-se chegar ao conhecimento pela via da razão pura, da
dialética, do exame da lógica das palavras e do conhecimento, em detrimento da
experimentação.
No final do século XVIII, Luigi Galvani (1737-1798) notou que, ao amarrar as pernas
de um sapo a uma grade metálica, submetendo-as a uma descarga, as pernas se
contraíam. Na época, os modelos físicos também estavam em transformação. Uma hipótese
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
seria a de que a eletricidade pudesse ser o fluido animal, a base do espírito vital. Aliado a
essa descoberta, o magnetismo fez com que o paradigma hidráulico fosse banido da
neurociência, que gradativamente passou a adotar o modelo elétrico. Galvani fez uma série
de experimentos elegantes, demonstrando que a origem da eletricidade não era externa,
mas interna, do próprio tecido animal. A partir daí foram conduzidos os estudos sobre as
propriedades de comunicação no sistema nervoso.
Os conceitos fundamentais sobre o papel do tecido cerebral para as funções
nervosas também se desenvolveram no século XIX. Theodor Schwann (1810-1882), que
descreveu a bainha de mielina, foi quem primeiro propôs que todo o corpo seria formado por
células. Sua teoria teve ampla aceitação para todos os tecidos, com exceção do sistema
nervoso, em relação ao qual se acreditava que as células eram contínuas, formando um
grande sincício. Somente com a descoberta das técnicas de impregnação das estruturas
nervosas pela prata (método de Golgi) foi possível uma observação mais acurada,
resultando nos trabalhos de Santiago Ramón y Cajal (1852-1934) que, já em 1889,
argumentava que as células nervosas eram elementos isolados. Em 1891 Wilhelm von
Waldeyer (1836-1921) cunhou o termo “neurônio” para designar a unidade anatômica e
funcional do sistema nervoso.(Consenza, 2002).
Finalmente veio a descoberta, por Charles Scott Sherrington (1857-1952), dos
espaços existentes nas junções entre células nervosas ou entre estas e as células
musculares. Sherrington chamou essas estruturas de “sinapses”.
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Neurociências
pela linguagem falada. Ele estudou um paciente afásico (capaz de emitir somente o som de
uma palavra) e, quando da morte desse paciente, pela realização de necrópsia, foi
descoberta uma lesão, originada pela sífilis, numa área muito pequena, restrita ao
hemisfério esquerdo. Chegou-se à conclusão de que aquela área era a responsável
exclusiva da elaboração da linguagem. Essa idéia foi a primeira comprovação científica de
que tal mapeamento pudesse realmente existir.
Novos Paradigmas
Na esteira de transformações, toda a ciência sofreu o impacto da revolução
paradigmática proposta por Darwin, pesquisador que violou conceitos profundos na época;
até então Deus teria criado o ser humano de maneira exclusiva, à parte do Reino Animal,
sendo que não fazíamos parte dessa cadeia por sermos nobres, superiores. Darwin mostrou
que éramos parte desse ambiente em evolução e, mais ainda, que à medida que os
organismos têm necessidade de se adaptar às mudanças no ambiente, eles desenvolvem
tecidos (cerebrais e não cerebrais) para se adaptar àquela circunstância. A existência de
vários fenômenos naturais, inclusive o papel do sistema nervoso, passa a ser considerada
resultado da evolução pela seleção natural.
Ainda um conceito fundamental na época é o de homeostase. Claude Bernard, um
fisiologista francês da segunda metade do século, propôs um conceito do meio interno: a
estabilidade, a temperatura corporal, a quantidade de determinados elementos sangüíneos,
fluidos corporais ou intracelulares, tudo deve se manter constante para que seja possível a
vida. Assim, os organismos desenvolveram formas extremamente sofisticadas (hormonais e
neurais) de manter esse equilíbrio interno a despeito de mudanças no ambiente. O cérebro,
o sistema endócrino, o sistema imune, funcionavam como isoladores do organismo em
relação ao ambiente, a exemplo do processo regulatório da homeotermia.
De forma análoga os próprios fenômenos mentais fariam igualmente parte dos
mecanismos de homeostasia, indicando que até os comportamentos sofisticados como os
das faculdades da mente humana fossem vistos como resultados da evolução, como táticas
selecionadas para manter o equilíbrio. Por exemplo, no frio, os mecanismos bioquímicos
promotores da homeotermia podem não ser suficientes, o que nos leva a desenvolver
roupas, casas, ou migrar para clima mais quente (utilização de faculdades mentais).
Finalmente a doutrina neuronal foi proposta/adaptada por dois cientistas: Ramón y
Cajal (espanhol) e Camilo Golgi (italiano), que estudaram com grande detalhe a estrutura
microscópica interna do sistema nervoso e descobriram que essas células pareciam se
comunicar entre si através de processos fibrosos (axônios e dendritos) e que não havia
continuidade entre elas. O conceito de sinapse foi desenvolvido posteriormente, como visto,
por Sherrington.
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Neurociências
A mente é uma definição que tenta resgatar a essência do ser humano. A essência
de uma pessoa emerge da existência de funções mentais que nos permitem pensar e
perceber, amar e odiar, aprender e lembrar, resolver problemas, comunicar, criar e destruir
civilizações. Essas expressões são intrinsecamente relacionadas ao funcionamento
cerebral. Além disso, sem o cérebro, a mente não pode existir; sem a manifestação do
comportamento, a mente não pode ser expressa.
A evolução humana é notável na medida em que foi marcada por vários pontos de
viragem cultural. Exemplos disso foram as peculiares descobertas do fogo, do abrigo, das
ferramentas, da linguagem, que exigia uma combinação de fatores genéticos e mudanças
culturais. Com o surgimento da consciência, incluindo um sentido de si mesmo e uma
sensação de continuidade com o passado e futuro, o homem começou a olhar sobre seus
próprios ombros e a questionar acerca das suas próprias origens. Quem sou? De onde vim?
Para onde vou?
As revoluções científicas transformam nossa visão de mundo. Ironicamente, apesar
do conhecimento detalhado de quase tudo no universo, em todas as escalas imagináveis (o
sistema solar, galáxias distantes, os buracos negros, os átomos, moléculas, a teoria das
cordas, DNA, hereditariedade, os mecanismos da vida etc.), ainda não sabemos quase nada
sobre o órgão que fez todas essas descobertas. O conhecimento das funções do cérebro
permanece tão primitivo como o nosso conhecimento do resto do corpo humano um ou dois
séculos atrás. Como podemos propor a consciência ambiental, a higiene do meio, o
equilíbrio do ambiente; se não cultivamos a nossa própria vida interior"?
Apesar do acúmulo de grandes quantidades de conhecimento sobre o cérebro (cerca
de 10.000 documentos são apresentados a cada ano na Sociedade para reuniões de
Neurociência), mesmo as perguntas mais básicas sobre nossas mentes permanecem sem
resposta. O que é a vontade? Quem é o “eu”? Como explicar o sentimento de uma única
pessoa que perdura no tempo e no espaço? O que é a consciência? (Ramachandram,
2003).
Apesar de vislumbrarmos as correntes de pensamentos, percebemos que, ao longo
do tempo, a integração entre as idéias pode ser árida. A ciência da mente depende da
conversa integrada entre experimentos controlados e o esforço teórico, articulados
criticamente. O entendimento atual sobre origem, funcionamento e capacidade do sistema
nervoso é resultado do esforço de múltiplas áreas do conhecimento, denominadas
genericamente por neurociências.
A neurociência cognitiva assume o conceito de modularidade do funcionamento do
sistema nervoso, investigando funções como percepção, atenção, memória, emoção, ação
etc, por essa ser considerada uma estratégia de abordagem coerente, além de didática.
“Não mais estamos restritos a inferir sobre as funções mentais simplesmente a partir da
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para fora do circuito em questão), são chamadas de neurônios eferentes. Células nervosas
que participam somente no aspecto local do circuito são chamadas de interneurônios. Estas
três classes – neurônios aferentes, neurônios eferentes e os interneurônios – são os
constituintes básicos de todos os circuitos neurais.
De modo geral, podemos classificar os circuitos como:
Convergentes: aqueles nos quais um grupo de neurônios recebe uma aferência
(entrada) de um neurônio pré-sináptico e o circuito tende a se tornar concentrado.
Para demonstrar este tipo de circuito, imagine que tenhamos os neurônios A, B e C e
que cada um deles possua uma entrada diferente. Estes neurônios se projetam para
um neurônio D e este se projeta para outro neurônio E, realizando uma eferência
(saída). Circuitos convergentes são responsáveis, por exemplo, pela interpretação
dos estímulos sensoriais (Fig. 2, à esquerda).
Divergentes: são os circuitos que funcionam de maneira oposta aos circuitos
convergentes. Em vez de concentrar as aferências, estas se projetam
separadamente para diferentes neurônios. No caso do circuito divergente, o neurônio
A possui uma aferência e se projeta para os neurônios B, C e D. A característica
básica de um circuito divergente é o fato de que um único neurônio iniciará respostas
de maneira crescente em outros neurônios. Tais circuitos são encontrados nos
sistema motores e sensoriais (Fig. 2, centro).
Reverberantes: o sinal de aferência é transmitido ao longo de uma série de
neurônios e cada um destes fará sinapses com neurônios de uma porção da via
previamente percorrida. O impulso reverbera sendo enviado ao longo do circuito
continuamente até que um neurônio seja inibido. Então, uma aferência no neurônio A
se projeta para o neurônio B, que se projeta para o neurônio C e então para o D e
este se projeta de volta para o neurônio A (ou para o B) e o ciclo se repete até que
um neurônio (que pode ser tanto A, quanto B, C ou D) seja inibido. Circuitos
reverberantes estão envolvidos no ciclo de sono-vigília, atividades motoras,
memórias de longa duração, etc (Fig. 2, à direita).
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Além disto, Hebb hipotetiza uma função específica para esta “sinapse hebbiana”: a
conversão da memória de curta duração em memória de longa duração pela estabilização
de padrões de atividade reverberante. Uma vez que este padrão de atividade foi
armazenado nas conexões sinápticas, ele pode ser resgatado repetidamente a partir da
excitação de neurônios sensoriais ou a partir de outros padrões de atividade reverberante.
A hipótese de Hebb foi verificada décadas depois com a descoberta da potenciação
de longa duração, LTP (do inglês, long-term potentiation) (Fig. 3). A LTP é um estreitamento
da conexão entre dois neurônios que resulta de uma estimulação simultânea de ambos e
pode ser induzida experimentalmente aplicando-se uma seqüência de pequenos estímulos
de alta freqüência na célula nervosa. Este estreitamento pode durar de minutos a horas (in
vitro) ou de horas a dias ou meses (in vivo).
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em www.braincampaign.org - 09/06/2009).
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pedirmos para uma pessoa listar todos os animais de que se recorda, não raro a lista
conterá animais agrupados por categorias de similaridade, ou seja, quadrúpedes, aves,
animais aquáticos, invertebrados etc. O mesmo ocorre em relação a alimentos; a
recordação também será categórica (frutas, verduras, legumes, carnes etc.). Isso ocorre
porque o aumento de atividade eletrofisiológica em determinados circuitos neurais (que
levam à recordação de uma dada informação) tende a estimular a atividade em circuitos
relacionados. Assim, quando aprendemos que determinado estímulo se refere a um
determinado conceito, estamos na verdade fazendo associações com conceitos que já
conhecemos (associando nós de uma rede com outros). Então, quando visualizamos a
imagem de uma maçã caindo, integramos todas as informações disponíveis (cor, forma,
contexto, movimento) com os circuitos já consolidados previamente e que em algum
momento foram associados ao conceito “maçã”. O mesmo vale para uma outra modalidade
de estímulo, ou seja, um som específico que atribuímos como característico de um
determinado animal, o cheiro de uma comida que está intimamente ligado com o seu sabor
etc.
Integração entre Circuitos II: Ação e Percepção
Todas as formas de comportamento adaptativo requerem o processamento de um
fluxo de informação sensorial e sua transdução em uma série de ações direcionadas a um
objetivo. Desde a mais primitiva espécie animal, todo o processo é regulado por feedbacks
externos (ambiente) e internos (Fig.4). Esse padrão de funcionamento torna o organismo
apto a forragear, fugir de predadores, lutar e reproduzir-se.
Figura 4. Uma das finalidades da percepção é permitir uma interação com o ambiente. Interações
podem incluir andar de um lugar para outro, pegar um objeto, conversar com uma pessoa ou dirigir
um carro. De modo circular, tais ações afetam diretamente nossa percepção do mundo. Esta
interdependência entre ação e percepção é ilustrada pelo “Ciclo Percepção-Ação” da figura acima. A
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Neurociências
visão que temos na integração sensório-motora é que em vários aspectos do comportamento, ações
motoras e processos sensoriais estão conectados inseparavelmente e, desta forma, precisam ser
estudados juntos.
O sistema nervoso evoluiu, sobretudo nos mamíferos, de tal forma que uma grande
complexidade estrutural e funcional foi alcançada não tanto pelas vias aferentes,
responsáveis por canalizar as informações sensoriais, ou pelas vias eferentes, responsáveis
por emitir as respostas motoras, mas por circuitos neurais que intermedeiam essas vias de
entrada e saída. Os complexos circuitos neurais que se localizam entre as vias sensoriais e
motoras são os principais responsáveis pela riqueza, flexibilidade e plasticidade de
comportamentos observados. Isso se manifesta na enorme diversidade de estímulos que
podem ser reconhecidos pelos sistemas sensoriais, na multiplicidade de graus de liberdade
com que ações são organizadas pelos sistemas motores e, sobretudo, pela rica e plástica
relação que se estabelece entre esses dois conjuntos.
A progressiva elaboração dos circuitos neurais pode ser entendida como uma
conseqüência da seleção de ações mais vantajosas (organizadas por circuitos “pré-
motores”) em resposta à identificação seletiva de estímulos específicos (realizada por
circuitos “perceptivos”), provavelmente pressionada por fatores ambientais. Podemos supor
então que, ao tornar-se cada vez mais complexo, o funcionamento dos circuitos neurais que
organizam a integração sensório-motora expressa aquilo que chamamos de “percepção”,
“atenção”, “aprendizado”, “memória”, “ação” e, por fim, “consciência”. Esses rótulos estão
longe, em sua maioria, de uma definição completa e consensual. Eles são, mais
provavelmente, o resultado das limitações que ainda temos em compreender a essência do
funcionamento do sistema nervoso, não se constituindo em entidades separadas e
independentes da função neural.
Desta forma, se considerarmos que a percepção do mundo, onde “perceber” algo,
derivado do latim, significa “apoderar-se” dele, logo veremos que não há percepção sem que
alguma forma de atenção esteja em jogo. E é só por meio da percepção atenta que temos
de um estímulo que sentimos, de um evento que presenciamos ou de uma resposta que
emitimos, que poderemos mais tarde nos lembrar desse objeto, desse evento ou dessa
resposta, resgatando uma memória arquivada por meio de um processo de aprendizado. E,
de forma um tanto óbvia, todo trabalho investido em se “apoderar” do mundo, “arquivá-lo” e
“resgatá-lo”, seria inútil e sem sentido se não usássemos essa informação na organização e
emissão de uma ação sobre o mundo, com ele interagindo de forma contínua e coerente,
permitindo nossa permanência nesse mesmo mundo, apesar de seus constantes desafios.
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Perceber algo geralmente requer alguma ação por parte de quem esta percebendo.
Freqüentemente temos que olhar (direcionar os olhos) para ver, fazendo uma varredura
visual do ambiente até que o objeto de desejo seja encontrado. Da mesma forma, para um
som ser audível, temos que direcionar nossos ouvidos em sua direção. Quando tocamos um
objeto, ele é mais facilmente identificado se for explorado pelos nossos dedos.
Todos estes exemplos demonstram que a percepção é um processo ativo que
funciona para direcionar e otimizar o comportamento através do seu refinamento. Além
disso, uma vez que um objeto tenha sido percebido, podemos decidir se iremos nos
aproximar ou nos afastar. Ao ouvir um barulho podemos responder a ele ou ficar quieto. Ao
identificar um objeto pelo toque podemos descartá-lo ou mantê-lo conosco. Em cada um
destes casos nosso comportamento depende do que é percebido.
A orientação da percepção por meio de uma ação induz uma distinção interessante
entre os vários sentidos que tem a ver com a proximidade do observador em relação ao
objeto percebido. Tocar e saborear algo requer um contato direto entre o observador e a
fonte de estimulação. Cheirar também é um certo contato com a fonte de estímulação;
substâncias químicas voláteis são diluídas conforme a distância da fonte aumenta; desta
forma, o cheirar funciona mais eficientemente para substâncias que estão próximas. Em
contraste, ver e ouvir,não dependem tanto deste contato. Os olhos e os ouvidos podem
capturar a informação originária de fontes remotas, neste sentido eles funcionam como um
radar. Eles permitem que o indivíduo faça contato perceptual com um objeto que não está
próximo, eles estendem a percepção para um mundo além dos limites dos dedos e do nariz.
Estes dois sentidos substituem o deslocamento até a fonte de estímulo, permitindo que o
indivíduo explore a vizinhança.
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Para garantir as interações entre as duas hierarquias corticais, longas fibras cortico-
corticais conectam recíproca e topologicamente as áreas da hierarquia perceptual com as
áreas equivalentes executivas. Assim, áreas pré-motoras se conectam com áreas sensoriais
associativas relativamente inferiores (áreas inferiores de ambas as hierarquias), enquanto
áreas frontais anteriores se conectam com áreas associativas superiores do córtex posterior
(áreas superiores). Do mesmo modo, há evidências anatômicas de conexões ordenadas
descendentes do córtex frontal anterior ao córtex pré-motor e deste para o córtex motor. Em
cada estágio deste processo em cascata na hierarquia executiva, a próxima ação de uma
seqüência é determinada por dois tipos de influências: 1) o processamento dos aspectos
globais da seqüência nas áreas frontais superiores e 2) os sinais sensoriais que estão
ocorrendo naquele momento. A ativação progressiva de áreas frontais inferiores que
processam a ação é cumulativa. Da mesma forma, as entradas sensoriais associativas do
córtex posterior são progressivamente mais concretas e mais dependentes de um contexto
espacial e temporal imediato. Sinais que necessitam ser processados em um contexto
temporal mais amplo (episódico) requerem ações que dependem de uma integração
temporal em graus mais elevados. Estes sinais são processados no córtex posterior e
concomitantemente nas áreas superiores do córtex frontal anterior (rostral). Em ambos os
córtices, os sinais são integrados simultaneamente com as informações prévias (as regras
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
execução da ação observada; de acordo com esta concepção, embora nenhum movimento
efetivo seja executado, a representação motora evocada pela observação permitiria o
reconhecimento do significado do que é visto. Com a descoberta de que há ativação de
neurônios na região do córtex pré-motor durante a observação de ações, os assim
denominados “neurônios espelho”, e considerando que esta hipótese não exclui a
possibilidade de que outro processo cognitivo, baseado na descrição do objeto e do
movimento, possa participar desta função, esta hipótese motora vem ganhando cada vez
mais adeptos. Todavia, tem sido proposto que os neurônios espelho formam um sistema
que combina observação e execução – percepção e ação.
Neurônios espelho são um grupo particular de neurônios cuja atividade aumenta
durante a execução de uma ação motora particular ou da observação da mesma ação
desempenhada por outro indivíduo. Sua descoberta ocorreu durante experimentos com
macacos envolvendo o controle motor de ações desempenhadas com as mãos, como por
exemplo, pegar/manipular um objeto ou alimento. Os descobridores destes neurônios, entre
eles Giacomo Rizzolatti, implantaram eletrodos no córtex frontal inferior de macacos (área
F5) e registraram a atividade dos neurônios individualmente enquanto os animais
alcançavam pedaços de alimentos. Eles observaram que alguns destes neurônios (situados
no setor superior da área F5), disparavam não somente quando o macaco pegava o
alimento, como também quando ele observava outro indivíduo (macaco ou humano)
desempenhando esta ação, como se a mesma tivesse sido “refletida” no seu córtex motor
(Fig. 6). Estudos posteriores mostraram que pelo menos 10% dos neurônios envolvidos no
controle motor de ações desempenhadas com as mãos são “neurônios espelho”.
Estes estudos mostram que além do reconhecimento da ação motora por meio de
informações visuais, o sistema de neurônios espelho lida com informações mais abstratas, a
fim de reconhecer o objetivo final da ação. Esta resposta, baseada também em outras
modalidades, isto é, auditiva, sugere que a atividade espelho depende da riqueza das
experiências próprias do observador e de ações presentes em seu repertório motor
(memória de planos motores). Entretanto, aparentemente, o reconhecimento do objetivo
final de uma ação baseado em exposição prévia do observador só parece possível se
houver dicas suficientes no ambiente acerca da intenção desse outro indivíduo. Isto é, uma
ação implica em um agente e um objetivo. Conseqüentemente, o reconhecimento de uma
ação implica no reconhecimento de um objetivo e, em outra perspectiva, o entendimento da
intenção do agente: “João vê Maria pegando uma maça”. Vendo sua mão movimentando-se
em direção à maça, ele reconhece o que Maria fará (pegará algo), e também reconhece que
Maria quer pegar uma maça, isto é, o estímulo é ligado à intenção do agente.
Fisiologia Sensorial
Introdução
O sistema nervoso de qualquer organismo pode ser modelado em sua forma mais
simples como um sistema que possui entrada de dados (células receptoras), nenhum ou
algum processamento do sinal (interneurônios) e um sistema de saída (células efetoras)
(Fig. 1).
O arranjo mais simples possível é chamado arcorreflexo, em que uma única célula
recebe o estímulo em um ponto do organismo e diretamente atua como uma célula efetora.
Esse arranjo já permite uma série de respostas comportamentais úteis à sobrevivência.
Eventualmente, modificou-se para um arranjo com duas células: uma receptora e outra
efetora, formando um arcorreflexo monossináptico (e.g. reflexo patelar). Ressalta-se que a
comunicação entre as duas células já poderia representar uma forma de modulação do sinal
e, portanto, flexibilizar o comportamento (Eckert, 1983).
Há ainda o arcorreflexo polissináptico, com pelo menos um interneurônio entre as
células receptora e efetora. A existência do interneurônio nessa interface deu origem aos
gânglios – acúmulos de corpos celulares no organismo. Em última instância, nosso cérebro
é um gânglio (ou um grande conjunto deles). O mais complexo que se tem conhecimento.
A rede neural mais simples em organismos vivos é aquela encontrada nos
Celenterados. O arranjo das células nervosas é difuso, com cruzamentos desordenados de
axônios, e sem preferência de direção do estímulo conduzido. Em alguns Celenterados há
um início de organização em direção a arcos-reflexo monossinápticos, que é presente em
todos os outros organismos multicelulares (com tecido verdadeiro). Apesar disso, os arcos-
reflexo polissinápticos são mais comuns.
As células receptoras, de agora em diante chamadas receptores sensoriais, são
responsáveis por transduzir (isto é, transformar uma forma de energia em outra) o estímulo
ambiental em um sinal elétrico que possa ser processado pelo encéfalo. Os receptores
tendem a ser muito específicos e, em conjunto com o arranjo no qual estão dispostos em um
órgão no animal, respondem preferencialmente a um tipo de estímulo.
A luz parece ser a melhor forma de energia para se localizar e locomover no espaço
– seu desenvolvimento se deu independentemente em diversos grupos animais. Ela tem
excelentes propriedades direcionais e a maior velocidade de deslocamento conhecida,
sendo muito fiel para retratar mudanças no ambiente; portanto, útil a presas e predadores.
Por outro lado, animais com hábitos noturnos tiveram favorecimento de outros
sistemas sensoriais, como, por exemplo, a ecolocalização de morcegos. Aqueles que
dependem do sistema visual têm mecanismos de compensação das condições mínimas de
luz. Gatos possuem um tecido refletivo na retina (chamado Tapetum lucidum), que faz com
que a luz passe duas vezes por ela. Outros mamíferos, como os Tarsius, têm globos
oculares extremamente grandes.
É importante ressaltar que não há sistemas mais ou menos evoluídos, mas apenas
aqueles mais adequados para um determinado ambiente. Nesse sentido, há animais que
tem visão e audição pobres, sendo dependentes dos sentidos químicos para encontrarem
presas (e.g.: cobras). Olfato e gustação parecem extremamente adaptativos para algumas
funções, pois persistem em diversos grupos.
Visão
A faixa de luz visível pelos animais compreende-se do infravermelho até o
ultravioleta (Fig. 2).
pela estimulação luminosa, para que possamos enxergar, precisamos formar uma imagem
representativa do ambiente que nos rodeia. Isso só é possível nos organismos
multicelulares e na presença de olhos – órgãos especializados para captação de luz – os
quais surgiram independentemente em diversos grupos animais.
Apesar das diferenças no formato e no funcionamento, o mecanismo básico envolve
a captação da luz e a estimulação de fotorreceptores específicos. A molécula fundamental
para esse processo é uma combinação entre opsina (uma proteína) e um carotenóide. Todo
fotorreceptor possui essa combinação em suas membranas. A combinação mais
encontrada, tanto em vertebrados como em invertebrados, é entre opsina e Retinal (uma
molécula derivada da Vitamina A).
Essas moléculas se encontram em abundância nas dobras de membrana do receptor
(uma a cada 5 nm em alguns receptores) e mudam sua conformação com a estimulação
luminosa, provocando uma cascata bioquímica no interior da célula. Em última instância, há
uma alteração da atividade eletrofisiológica do receptor, que é transmitida até o Sistema
Nervoso Central (SNC).
Os invertebrados mais bem estudados com respeito
ao sistema visual são os insetos. Eles possuem olhos
compostos por unidades individuais chamadas omatídeos,
cada qual com um receptor sensorial. Este é formado por
um dendrito central de uma célula chamada excêntrica,
rodeado por 6 a 12 células retinulares, as quais enviam
uma densa profusão de microvilos em direção ao dendrito
da célula excêntrica, formando o rabdômero (Fig.3).
A formação de imagem nesse tipo de olho se dá
pela composição das diversas partes do campo visual
captadas pelos diversos omatídeos, formando um
mosaico. A quantidade de pigmentos visuais é bastante
Figura 3 – Representação de um variável, com alguns crustáceos apresentando até oito
omatídeo do olho composto de
invertebrado. Modificado de diferentes pigmentos em seu sistema visual (Cronin, 2006).
Eckert (1983). Os vertebrados reúnem todos os receptores em um
mesmo local (a retina, Fig. 4A), abrigados por uma câmara com entrada de luz controlada e
intermediada por uma lente, um arranjo que permite a projeção de uma imagem invertida
sobre a retina. A maioria dos grupos possui dois tipos de receptores: cones e bastonetes
(Fig. 4B). Poucas generalizações podem ser feitas quanto ao envolvimento desses
receptores na visão de cores e outras propriedades de uma imagem (e.g. brilho), dado que
as variações entre os grupos são grandes. O comprimento de onda que será absorvido em
cada receptor é também bastante variável. A maioria dos primatas possui na retina dois
tipos de cones (cada um com um pigmento) mais bastonetes (Casagrande e col., 2006).
Alguns têm três tipos de cones, incluindo os humanos, e todos os primatas têm os cones
concentrados na porção central da retina (fóvea), uma depressão formada pelo afastamento
das camadas celulares superiores (Fig. 4B).
A fóvea é o ponto de maior acuidade visual, sendo processado por quase 50% do
córtex visual primário (V1) (Fig. 5), ainda que responda por menos de 1% do campo visual.
Essa discrepância de valores é resultado da extrema fidelidade com a qual as imagens
desse ponto do campo visual são tratadas. Conforme se afasta do centro da retina em
direção à periferia, menos cones e mais bastonetes são encontrados, com virtualmente
nenhum cone nas regiões mais periféricas, o inverso do centro da fóvea.
Os bastonetes são mais sensíveis à luz do que os cones (podendo responder a
apenas um fóton – o equivalente à luz de uma vela a 1 km de distância). Eles são
extremamente importantes para a detecção de bordas e movimento. Semelhantemente, é
pela maior acuidade visual dessas células que tendemos a enxergar imagens acinzentadas
(ou simplesmente sem cor) em condições de pouca luz, como em um quarto escuro. A
percepção de cores através dos cones se dá pela interação da estimulação dos três tipos de
pigmento a todo instante, constituindo todas as tonalidades de cores que enxergamos.
Neurônios com axônios longos, as células ganglionares (Fig. 4B), formam o nervo
óptico que transmite a alteração da atividade eletrofisiológica resultante da estimulação dos
fotorreceptores em direção ao V1 (Fig. 5).
Esse caminho, porém, não é direto. Há um cruzamento de parte das fibras que se
dirigem ao SNC (Fig. 6). As células ganglionares do hemicampo temporal em ambos os
lados não se cruzam e seguem ipsilateralmente. As fibras do hemicampo nasal se cruzam
no quiasma óptico e seguem para o lado contralateral. Dessa forma, toda a estimulação do
lado direito irá para o córtex esquerdo e vice-versa.
Figura 5 - Córtex visual primário (V1), em vermelho, no córtex occipital do homem, do gato e do rato.
Encéfalos fora de escala. Modificado de Bear e col. (1996).
Note que há uma extensa área de sobreposição dos campos esquerdo e direito (Fig.
6). É ela quem permite a visão binocular, responsável pela visão em profundidade e criada
pela proximidade entre os dois globos oculares (voltados, portanto, para um mesmo lado da
cabeça), algo constante em animais carnívoros. Herbívoros, por outro lado, tem os olhos em
lados opostos da cabeça, o que reduz sensivelmente a visão binocular, mas potencializa a
visão em todas as direções, permitindo que esses animais percebam a aproximação de
predadores independentemente do local para o qual eles estejam direcionados.
Após o cruzamento no quiasma óptico, todas as fibras passarão pelo Tálamo, mais
especificamente pelo Núcleo Geniculado Lateral (NGL). Esse núcleo tem seis regiões
citoarquitetônicas muito bem definidas nos primatas. As duas camadas mais inferiores
possuem neurônios com corpos celulares grandes e trazem as informações vindas dos
bastonetes: é a camada magnocelular. As outras quatro camadas, chamadas
parvocelulares, têm neurônios com corpo celulares pequenos e trazem informações vindas
dos cones com pigmentos sensíveis à luz vermelha e verde. Entremeado nessas camadas,
há células chamadas koniocelulares que trazem informações dos cones sensíveis ao azul.
Após o estímulo passar pelo NGL, ele se dirige à V1, no córtex occipital, que tem um
mapa retinotópico, isto é, tem uma região cortical para cada região na retina atendida por
uma célula ganglionar. Lembrando que a região compreendida pela fóvea corresponde a
quase 50% de V1, fica claro que a fidelidade entre célula ganglionar e receptor sensorial
deve ser altíssima na fóvea (ou pelo menos na fóvea central – algo como 1:1) e que esse
número deve ser bem reduzido nas regiões periféricas da retina, com cada vez mais células
receptoras para cada célula ganglionar. Esse fato introduz o conceito de Campo Receptivo:
a área da retina para qual uma célula ganglionar responde é maior quanto mais nos
afastamos do centro da retina.
Audição
A cóclea é uma estrutura tubular enrolada sobre si mesmo com três câmaras
internas chamadas escalas, preenchidas por líquidos de composições específicas (Fig. 7)
(Carlson, 2005).
orelha externa (Fig. 7). Essa energia, com todas as suas características de frequência e
intensidade, é transmitida pelo tímpano aos ossículos da orelha média (martelo, bigorna e
estribo), que farão a transmissão para a janela oval na cóclea, integrantes da orelha interna.
A interação existente entre os três ossículos causa uma amplificação de até 1,6x na energia
sonora que recebemos e a diferença de área entre o tímpano e a janela oval outra de 20x,
resultando em um ganho em amplitude de 32x aproximadamente.
A vibração transmitida à janela oval é então transferida para os líquidos internos da
cóclea e para a membrana basilar. Como a cóclea é um tubo inextensível, a Janela
Redonda funciona como uma válvula de escape, permitindo a movimentação dos líquidos
internos e vibração nas membranas.
Diferentes regiões da membrana basilar são mais sensíveis a freqüências distintas.
Sons agudos – altas freqüências – são melhores percebidos no início dela. Sons médios, no
meio, e sons graves – baixas freqüências – no final da cóclea. Tais constatações não
significam que um som fará com que só aquela região vibre. Pelo contrário, todo som
causará vibração por toda a membrana basilar, mas ela será muito pequena fora do ponto
de ressonância, não alterando a atividade eletrofisiológica em outros pontos da membrana.
O órgão de Corti é o responsável pela transdução da energia sonora em impulsos
nervosos. Nele se encontram os receptores sensoriais (mecanorreceptores) que iniciam a
despolarização que será conduzida ao córtex cerebral, inicialmente pelo nervo coclear (Fig.
8).
A membrana tectorial no órgão de Corti é uma estrutura rígida e fixa. A vibração da
membrana basilar acaba causando o deslocamento de todo esse órgão; os cílios dos
mecanorreceptores, no entanto, não se deslocam por estarem imersos e fixos na membrana
tectorial, movimentando-se em relação à célula e causando abertura ou fechamento de
canais pelo estiramento da membrana celular e influxo de potássio e cálcio. Isso resultará
em despolarização ou hiperpolarização dos receptores e a mensagem transmitida pelos
neurônios bipolares que integram o nervo coclear será maior ou menor freqüência de
disparos.
Sistema Vestibular
Associado às estruturas que permitem a
audição, todos os vertebrados contam também com o
sistema vestibular, com o qual podem perceber
Figura 9 – Trajeto percorrido pelos fenômenos de aceleração e postura corporal.
impulsos nervosos provenientes da
cóclea até o córtex auditivo primário Raramente mencionado, esse sistema deve ser
no cérebro. Modificado de Lent (2006). considerado um sexto sentido dos organismos, tendo
íntima relação com o sistema motor, permitindo correções posturais reflexas a estimulações
bruscas e estabilização do olho durante a movimentação corporal (Graf, 2006).
O sistema é composto na maioria dos vertebrados por três canais semicirculares
para percepção de acelerações angulares (rotações) e os otólitos (sáculo e utrículo), para
acelerações lineares (Graf, 2006) (Fig. 10). A presença de três canais semicirculares surge
nos gnastomados, pela adição do canal horizontal, ausente nos agnatas.
Somestesia
O sistema somatossensorial permite perceber estímulos na pele através de uma
diversidade de receptores sensoriais especializados: modificações nas terminações de
neurônios unipolares que alteram sua atividade eletrofisiológica pela pressão, temperatura
ou dor. Esses neurônios fazem conexões diretas com neurônios motores para permitir
reflexos e evitar eventuais danos à pele (em última instância, ao organismo) – um
arcorreflexo monossináptico como o reflexo patelar.
As vibrissas de ratos e camundongos são também um órgão tátil, utilizado para se
localizarem no ambiente e mais importantes do que os olhos, já que estes têm hábitos
noturnos. Os estímulos somestésicos também são levados ao córtex cerebral via tálamo,
formando um mapa somatotópico do organismo. Assim como na visão, algumas regiões são
mais privilegiadas do que outras, como a ponta dos dedos, lábios e língua tendo os menores
campos receptivos do sistema (e, portanto, as maiores áreas de processamento). O córtex
somatossensorial faz parte do lobo parietal do cérebro humano, no giro pós-central (Fig. 5).
Sentidos químicos
Olfação
As conexões neurais da via olfativa até o córtex sugerem que esse é um dos
sistemas sensoriais mais antigos dos animais. É o único sistema que faz conexões diretas
com o córtex cerebral (córtex olfatório), embora outras conexões neurais conduzam os
estímulos recebidos também ao tálamo, além de conexões com o lobo frontal do neocórtex
e o sistema límbico. São as conexões com o lobo frontal que provavelmente nos permitem
ter consciência dos cheiros ao nosso redor e as conexões com o sistema límbico, os
comportamentos ligados à homeostase e às emoções (Lent, 2006).
O sistema olfativo é um bom exemplo de como o sistema sensorial mais importante a
uma espécie dependerá das pressões seletivas. Cachorros não são capazes de enxergar
em cores como nós enxergamos; por outro lado, são detentores de um olfato apuradíssimo,
frequentemente sendo vistos farejando o chão atrás de algo que lhes interessa. Treinados,
são hoje largamente utilizados para encontrar drogas em bagagens e pessoas soterradas
em terremotos, sendo melhores que os humanos fazendo tais buscas visualmente.
Tubarões também são fantásticos na detecção de odores, podendo perceber uma gota de
sangue em dezenas de litros de água. O caso mais surpreendente, porém, é o das
mariposas: os machos de algumas espécies são capazes de detectar concentrações de
apenas uma molécula do feromônio de atração sexual da fêmea para até 1017 moléculas de
ar. Isso se traduz em conseguir perceber uma fêmea a milhas de distância.
Feromônios são moléculas intraespecíficas que servem à comunicação entre
gêneros – resultando, em última instância, no acasalamento – e também à demarcação de
território entre indivíduos. Fatos como a coincidência do ciclo menstrual entre mulheres que
moram juntas (Weller e Weller, 1995), o reconhecimento do próprio odor em relação ao de
outros indivíduos (Porter e col., 1986 apud Martins e col., 2005) e a preferência por odores
do sexo oposto (Martins, 2005) trazem indícios fortes de que esse mecanismo também
exista em humanos. Alguns desses exemplos nos mostram que nem sempre precisamos
estar conscientes de um estímulo para responder ao mesmo.
Gustação
A gustação está presente na maioria dos vertebrados e depende de receptores
específicos na língua, que detectam cinco qualidades: amargor, acidez, doçura, salinidade e
umami. Há claras razões adaptativas para a seleção de tais receptores. Curiosamente,
felinos não possuem receptores para doçura (Carlson, 2005).
Os animais tendem a ingerir rapidamente tudo o que é doce ou salgado; doçura
indica presença de açúcares, claramente um alimento. Já receptores para sal, indicam a
presença de cloreto de sódio, extremamente importante para o equilíbrio eletroquímico do
organismo. Por outro lado, substâncias amargas ou azedas serão evitadas. Acidez é um
indicativo de decomposição, resultado da ação bacteriana. Já o amargor é um excelente
indicativo da presença de alcalóides potencialmente venenosos produzidos por plantas.
Umami é um sabor relacionado à presença de glutamato monossódico, substância
naturalmente presente em carnes, queijos e alguns vegetais. Um sexto tipo de receptor
poderia também detectar a presença de ácidos-graxos nos alimentos; de fato, trabalhos
recentes indicam respostas celulares causadas pela presença de ácidos-graxos específicos
(Gilbertson e col., 1997 apud Carlson, 2005).
As vias neurais da gustação se dão através do núcleo posteromedial ventral do
tálamo para a base do córtex frontal e para o córtex insular. Outras projeções se dão para a
amígdala e hipotálamo. Sugere-se que a via hipotalâmica sirva para mediar efeitos
reforçadores de sabores doces e salgados.
Outros sentidos
O repertório de estimulações físicas que servem à orientação não se limita àquelas
que podemos perceber. Insetos conseguem se guiar pelo Sol mesmo quando há nuvens no
céu impedindo luz direta. Isso é possível pelo arranjo dos microvilos no rabdômero do
omatídeo (Fig. 3), formando um ângulo de 90° uns com os outros. A estimulação pela luz é
até seis vezes maior nos microvilos que estão paralelos à orientação do vetor de polarização
da luz.
Alguns peixes têm células eletrorreceptoras que são modificações de células ciliadas
da linha lateral. Essas células podem captar correntes elétricas produzidas por tecidos
ativos de outros peixes próximos (e.g., coração) mesmo que eles estejam enterrados sob a
areia do fundo do lago ou oceano, um mecanismo frequentemente utilizado por
elasmobrânquios. Outros peixes são capazes de produzir uma corrente elétrica fraca,
através de uma série de despolarizações sincronizadas das células de seu órgão elétrico. A
corrente gerada flui da parte posterior para a anterior do peixe e qualquer material próximo
que tenha uma condutividade diferente daquela da água causará uma alteração no campo
elétrico, sendo detectado.
A própria linha lateral de peixes e anfíbios é um órgão sensorial. Ela está ausente
nos grupos superiores de vertebrados e é extremamente adaptativa ao ambiente em que
esses organismos vivem. Por outro lado, o mecanismo receptor presente ao longo da linha
lateral é uma célula ciliada como aquela descrita para os órgãos de audição e equilíbrio,
sendo homólogo entre todos os grupos (Graf, 2006). Mais do que isso, as interrelações com
outros mecanorreceptores podem ser traçadas até o nemátoda Caenorhabiditis elegans,
passando pelas drosófilas e apontando para um desenvolvimento evolutivamente precoce
desses receptores (Graf, 2006).
Termorreceptores são extremamente importantes tanto em mamíferos, que precisam
manter sua temperatura regulada, quanto em outros animais que dependem desse tipo de
receptor para capturar presas. Cobras dos gêneros Crotalus e Sistrurus têm
termorreceptores com altíssima sensibilidade, sendo capazes de detectar aumentos de
temperatura tão pequenos quanto 0,002 °C, isto é, detectar um camundongo distante 40 cm
se ele estiver 10°C acima da temperatura ambiente.
O campo magnético terrestre também parece ser um estímulo utilizado por alguns
animais para orientação e deslocamentos de longa distância; entre eles: aves migratórias,
pombos-correio (uma variação do pombo-comum) e as tartarugas-marinhas. Há críticas à
existência da magnetorrecepção, mas os experimentos que a refutam parecem apenas
falhar em detectá-la e não invalidam a existência do mecanismo. Além disso, de fato, tais
animais possuem partículas de magnetita inervadas na região do osso etmóide (crânio)
(Freake e col., 2006). Eckert (1983) relata evidências de que ele possa existir em
salamandras, enguias e até mesmo bactérias.
Conclusões
Os mecanismos sensoriais empregados pelos organismos são os mais diversos
possíveis e produto das pressões seletivas que um ambiente pode gerar. Não há melhores
órgãos e sistemas, mas apenas aqueles mais bem adaptados. A comparação entre grupos
revela que algumas soluções são muito semelhantes, ainda que elas sejam análogas entre
espécies. Estímulos como a luz, disponível na superfície terrestre globalmente, tornaram
possível o desenvolvimento independente de órgãos receptores nos mais diversos grupos.
É provável que outras formas de percepção de estímulos existam. A forma como
percebemos o mundo também não é, necessariamente, a forma como outros animais com
órgãos análogos ou mesmo homólogos o percebem, dado que a área cortical dedicada a um
determinado sistema pode variar imensamente (Catania, 2006). Em última instância,
qualquer observação comportamental merece uma postura cautelosa na busca de quais
estímulos estão moldando um determinado comportamento.
Neurofisiologia da visão
Introdução
Desde a formação da Terra há bilhões de anos atrás a luz, provavelmente, tem
exercido uma potente força de seleção sobre os organismos vivos. Os milhares de
amanheceres e pores-do-sol desde o início da vida têm levado a evolução dos olhos que
usam a luz para visão e outros fins, incluindo a navegação e noção de tempo. Um pássaro
em uma manhã de primavera ouvindo o canto de outros machos competidores em busca de
uma fêmea para acasalar, um lagarto do deserto buscando abrigo do sol escaldante, ou
uma águia em seu vôo em busca de uma presa - em todos os exemplos, estes animais
precisam de uma acurada informação sobre o que ocorre ao seu redor para decidirem o que
fazer em seguida. A sua decisão poderá ser apropriada somente se a informação oferecida
pelo meio ambiente for corretamente codificada e transformada em sinais que possam ser
processados pelo sistema nervoso central.
Origens evolutivos
No caso da “visão”, embora os olhos apresentem uma variedade de formas,
tamanhos, desenhos ópticos e localização corporal, todos eles fornecem informações
similares a respeito de ondas e intensidade de suas fontes. Logicamente, os olhos podem
ter uma origem monofilética, ou seja, de um único ancestral comum, ou podem ter uma
origem polifilética, surgido mais de uma vez durante a evolução.
Estudos filogenéticos relevaram que olhos evoluíram independentemente em
diferentes grupos sistemáticos, o que nos leva a tentar compreender quais as soluções
encontradas por cada grupo de animais durante o processo de evolução no qual resulta
essa enorme diversidade ( Halder, 1995; Salviani-Plawen e Mayr, 1977).
Estas estruturas (ex. ocelos, olhos compostos, olhos em câmara) que
asseguraram aos organismos “captarem estímulos luminosos”, nos levam a relembrar
Darwin em “como a seleção natural... pode produzir um órgão tão maravilhoso como o olho”
(Darwin, 1859). Os olhos são suscetíveis de coletar o sinal luminoso e focar com lentes em
células fotorreceptoras especializadas para converter fótons em sinais neurais. Existem
alguns olhos sem pupila ou lentes (Nautilus), mas, por definição, todos os olhos requerem
células especializadas para fototransdução.
Três filos emergem do período Cambriano com olhos funcionais: Mollusca,
Arthropoda e Chordata. Estas linhagens produziram essencialmente oito soluções ópticas
para coletar e focar a luz. (Fig.1). Duas dessas soluções aparecem em Chordata, e uma
delas é nominalmente usada como gradiente para um indíce de refração para produção de
lentes.
Fotorreceptores
As unidades básicas do olho, as células fotorreceptoras, podem ser divididas em
duas grandes classes, uma ciliar (conjunto de cílios sensíveis a luz) e um tipo microvilar
(rabdomérico) o qual é constituído por um conjunto de células receptoras de luz, paralelas
umas às outras, o exemplo mais comum é em olhos compostos de insetos que são
formados por omatídeos (um pequeno sensor que distingue a claridade da escuridão) e este
é formado de uma lente e um rabdoma (Halder, 1995).
A estrutura ancestral que poderia ser chamada de precursora do olho – “foto-olho” –
não tem bem esclarecido o seu surgimento na árvore evolutiva. Alguns pesquisadores
argumentam que o foto-olho poderia ter surgido como duas pequenas estruturas compostas
Em sua origem, o olho simples (ex. protozoário Euglena possui pequenas vesículas
sensíveis a luz “eyes spot”) poderia ter realizado alguma forma primitiva de visão a qual teria
a função de detectar a direção da luz para fototaxia e, além disso, poderia ter uma forma
primitiva de relógio circadiano, que permitisse a oscilação do animal entre ciclos de claro e
escuro (Gehring e Rosbash, 2003).
Especializado, este órgão fotorreceptor primitivo providencia uma discreta
informação à célula dermal sensível a luz. A localização de fotorreceptores em pequenas
vesículas ou bolsas com pigmentos sensíveis a luz proporciona informação adicional como
observado em Euglena, existem células sensíveis a luz no citoplasma que contém um
pigmento vermelho-alaranjado responsável por essa percepção da luz.
Alguns estudos sugerem que o olho do tipo ciliar é comum a vertebrados e o do tipo
microvilar mais predominante em invertebrados (Land,1992; Fernald, 2000). Entretanto
novas descobertas relacionando o gene “controlador principal” - homeobox, genes
estruturais responsáveis por determinar qual a posição de determinadas estruturas dentro
do organismo - têm revelado um terreno comum aos olhos de praticamente todos os animais
multicelulares (Arendt, 2003).
Durante a evolução do olho, tipos adicionais de células foram surgindo entre elas
células dermais fotossensíveis. Aquelas que compõem as estruturas sensíveis à luz
atingiram sua diversidade máxima na estrutura “olho em câmara” de vertebrados e
cefalópodes, assim como nos olhos compostos de artrópodes (Arendt e Wittbrodt.,2001).
olho composto
olho de vertebrados
Figura 3 – Representação da formação da imagem no (A) olho composto e no (B) olho em câmara.
Conclusão
As diferenças fundamentais de morfologia, desenvolvimento e estrutura dos
fotorreceptores de diversos tipos de olhos encontrados no reino animal sugerem que os
olhos surgiram independentemente pelo menos 40 vezes, especialmente ao compararmos
as camadas da célula da retina que compõem o olho em câmara dos vertebrados
(ganglionar, plexiforme interna, nuclear interna, plexiforme externa, nuclear externa, externa,
epitélio pigmentar) (Fig. 4 do capítulo anterior). Os sistemas de transdução, por outro lado,
são muito parecidos, desempenhando operações de detecção, amplificação e transmissão
(Randall,1997).
As evidências aqui levantadas nos mostram que existem relações importantes entre
as estruturas básicas dos fotorreceptores e nos levam a refletir sobre o processo de
evolução, onde cada grupo animal enfrentando pressões seletivas nos mais variados
ambientes desenvolveu uma grande diversidade de tipos de olhos, cada um com sua
peculiaridade, atendendo a condições necessárias a sobrevivência do indivíduo e,
conseqüentemente, da espécie.
Causa e Função
Pedro Leite Ribeiro
Laboratório de Ecofisiologia Evolutiva
[email protected]
estudante pode hesitar quando se depara com o conceito de função. Contudo, é preciso
entender que a Ciência pode adotar termos de uso corrente sem trazer suas conotações e
implicações. A descoberta de que o canto do tico-tico tem a função de proteger seu território
e seduzir as fêmeas não significa que ele tenha de seu comportamento a mesma
consciência que tem um ser humano em situações análogas. Assim como não há erro
conceitual em descrever as peças de um automóvel dizendo qual é o objetivo de cada uma
delas, ou dizer que um robô procura e usa a tomada para recarregar, ou com o objetivo de
recarregar sua bateria, assim também não há teleologia em reconhecer que a evolução
criou organismos dotados de recursos que dão conta de sua manutenção e reprodução
agindo como se estivessem sendo controlados pelas conseqüências de suas ações.
O controle de suas ações, no entanto, aquilo que os leva a fazer o que fazem a cada
momento, constitui um outro tipo de fenômeno, que devemos chamar de causas do
comportamento. O que leva a içá a fazer cada um de seus movimentos são os estímulos do
ambiente e de seu próprio corpo, seus hormônios e as programações de seu sistema
nervoso. Portanto, a pergunta "por que a içá alimenta as larvas?" tem duas respostas, uma
funcional e outra causal. A observação de que as larvas de formigas são inertes, incapazes
de se alimentarem sozinhas, terá valor no plano funcional. Já a indagação "será que as
larvas dão algum sinal de suas necessidades, ou a produção de ovos de alimentação
obedece a um programa que independe do estado das larvas?" cabe no plano causal.
Investigar se a quantidade de testosterona afeta a freqüência ou a intensidade do canto do
tico-tico é um estudo causal. Já o efeito do canto sobre a preservação do território é uma
questão funcional. Note-se que esse mesmo canto deve também ser entendido como
estímulo que atinge os ouvidos dos machos rivais. Examinado dessa forma, em busca de
como ele controla as ações dos rivais, por exemplo, fazendo-os mais ou menos agressivos,
o canto está dentro de um estudo causal. Essa aparência de que funções se desenvolveram
“para resolver determinados problemas” está relacionada ao fato de que o ambiente
funciona de forma relativamente regular, possibilitando a seleção de programas genéticos,
moldados ao longo de uma prolongada história adaptativa; embora presentemente gerem a
sensação de finalidade na sua construção, podem ser explicados como fruto do acaso
submetido à seleção, portanto, obra da adaptação.
Niko Tinbergen, prêmio Nobel de 1973, organizou o estudo do comportamento em
quatro tipos de resposta à pergunta por quê. A resposta causal, que tem, na maioria das
vezes, o seu entendimento feito através de estudos de fisiologia, a funcional, cujo estudo é
normalmente associado a questões relacionadas com ecologia, e mais duas que não serão
aqui examinadas. Filogênese: por que esta espécie tem esse comportamento? Como
evoluiu? Como se comportavam seus ancestrais? Quais foram as pressões seletivas que o
moldaram? Ontogênese: o repertório comportamental de uma espécie não surge todo no
plano funcional, é uma causa dos comportamentos da mãe. Pode-se fazer uma analogia
com o comportamento de busca de algo perdido, que muitos animais são capazes de fazer.
Uma fêmea que se perca de seu filhote e saia a procurá-lo também constitui um caso em
que a distinção entre causa e função fica reduzida ou anulada. A memória e a capacidade
cognitiva permitem que um animal se comporte em relação a um objeto do qual não recebe
qualquer estimulação. O comportamento nesse caso tem a função de encontrar o objeto que
é também parte de suas causas.
Em nós, humanos, a cultura trouxe alterações importantes tanto ao plano causal quanto ao
funcional. Ela não destruiu os sistemas que operavam antes de sua origem. Ela os
transformou em algo que ainda não conseguimos entender. Curiosamente, a cultura criou os
recursos que nos permitem organizar o pensamento científico e com ele progredir no
entendimento do que fazem os outros animais, mas não se revela facilmente a si mesma. As
próprias causas e funções de seu desenvolvimento constituem um desafio difícil que ainda é
objeto de debate entre os que se dedicam a elucidá-las. Com métodos de observação e
experimentação cada vez mais refinados, biólogos e psicólogos vêm progredindo de modo
acelerado no estudo do comportamento animal e humano. A pergunta "Por que esse animal
está se comportando desse modo?" recebe respostas cada vez mais amplas e
convincentes. Quando trocamos animal por ser humano nessa indagação, as respostas são
mais hesitantes, porém o progresso é indiscutível, e as próximas décadas deverão
proporcionar descobertas fascinantes (Lorenz, 1981).
Percepção
Felipe Viegas Rodrigues
Laboratório de Neurociência e Comportamento
[email protected]
cortado em uma floresta e imediatamente pensar: “Que bom! Um banco para descansar!”.
O interesse pelos mecanismos de percepção veio a partir de casos clínicos de
lesões cerebrais, em geral por acidentes vasculares cerebrais (AVC), em que os pacientes
tiveram comprometimento da percepção. Tais pessoas se tornaram incapazes de
reconhecer objetos ou pessoas que antes lhes eram muito familiares. Uma investigação
minuciosa evidencia que tais pessoas podem descrever em detalhes o que lhes é pedido, o
que descarta problemas de memória. Mais do que isso, a estimulação por outra modalidade
sensorial resulta em imediata identificação do objeto ou pessoa em questão, levando ao
entendimento de que o problema é perceptual e, em geral, associado a apenas uma
modalidade sensorial. Ao conjunto de sintomas de incapacidade de percepção é dado o
nome agnosia.
Vias perceptuais
As lesões cerebrais que levam a problemas de percepção frequentemente são
aquelas que ocorrem em áreas dos córtices parietal posterior, temporal inferior ou face
lateral do córtex occipital. Essas regiões encontram-se na confluência das áreas sensoriais
e, como já mencionado, são parte dos chamados córtices associativos, pois recebem
aferências corticais das regiões sensoriais e integram aferências múltiplas para
desempenhar funções cognitivas supramodais e comportamentais específicas. Algumas
dessas regiões são neoformações em primatas e elas constituem a maior parte do córtex
cerebral, particularmente no caso da espécie humana (Preuss, 2006).
Visão
O sistema visual é a modalidade mais estudada de todos os sistemas sensoriais
conhecidos. No capítulo sobre fisiologia sensorial foi possível entender como se dá o
processo de transdução do estímulo luminoso em sinal elétrico e como essa informação é
levada até o córtex. Vamos elucidar agora como essa informação é manipulada e integrada
com informações de outras regiões corticais para, de fato, entender como percebemos.
A informação que chega até o córtex visual não para em V1, pelo contrário, essa
informação continua avançando por diferentes regiões, adentrando os córtices temporal
inferior e parietal posterior, passando por populações de neurônios especializadas no
processamento de características específicas de um estímulo visual. Uma particularidade
desse sistema sequencial é que a cada conjunto de sinapses que são realizadas a partir de
V1, mais fibras vão convergindo na rede neural. Com esse arranjo, quanto mais adiante na
sequência esteja uma população de neurônios, mais específica é sua função no
processamento visual: enquanto aquelas no início da cadeia de processamento disparam
para simples estímulos em forma de barra (com populações específicas para as diversas
angulações possíveis dessa barra), há neurônios mais adiante nessa cadeia que só
Figura 3 – Vias paralelas de processamento do estímulo visual: via dorsal (córtex parietal posterior),
para processamento de informações sobre localização espacial e movimento, e uma via ventral
(córtex temporal inferior), para processamento de informações como cor e forma do objeto em
questão. Retirado de Kandel e col. (2000).
Evidências clínicas, mais uma vez, não deixam dúvidas de que essas vias
colaboram de forma independente para a percepção de um objeto qualquer. Um paciente
com lesão em regiões da via ventral poderá afirmar não existir uma caneta (objeto) sobre
uma mesa diante dele. Apesar disso, se ele for instruído a imaginar um objeto sobre a mesa
e demonstrar como seria o movimento para pegar esse objeto, esse indivíduo faria o
movimento correto e até mesmo poderia pegar a caneta. A ativação de todas as regiões
corticais é necessária para que possamos ter a “correta” percepção de um objeto à nossa
frente; o uso de aspas justifica-se porque, falando-se em percepção, simplesmente não há
“correto”, mas sim uma experiência pessoal que é fortemente influenciada pelas nossas
memórias, emoções e a atenção deslocada a um dado estímulo do ambiente. Falaremos
mais sobre isso nos tópicos seguintes.
Audição
O sistema auditório e seus córtices associativos adjacentes têm sido mais bem
estudados nos últimos anos. Novos experimentos têm trazido evidências de que o
processamento de diferentes características do som também ocorre em diferentes regiões
corticais. Semelhantemente ao sistema visual, existem duas vias de saída para os córtices
associativos: uma anteroventral, relacionada à percepção de características do som como
timbre e tonalidade; e outra posterodorsal para a percepção de características espaciais e
localização do estímulo.
De fato, Bendor e Wang (2005) encontraram no córtex auditivo de saguis-comuns
(na região anteroventral) neurônios capazes de perceber tons, isto é, que disparam para
uma determinada frequência e também para seus múltiplos. Essa relação entre frequências
é exatamente aquela encontrada entre duas oitavas musicais. Essa população de neurônios
provavelmente existe também em outras espécies de primatas, incluindo os humanos. É
possivelmente pelo disparo desses neurônios que identificamos as notas semelhantes entre
dois instrumentos musicais diferentes. Como no carro da Figura 1, é a constância perceptual
para estímulos sonoros.
Por outro lado (ou, melhor dizendo, por outra via...), morcegos são um exemplo
brilhante do funcionamento da via posterodorsal e a capacidade de localização por
estímulos sonoros. Acredita-se que eles sejam capazes de estabelecer um mapa do
ambiente por onde se locomovem tão preciso quanto aquele que estabelecemos pela
estimulação visual. Tentar imaginar algo como isso é quase impossível, mas, novamente,
isto é apenas um reflexo da forma como percebemos o mundo. Seria como tentar imaginar
como um cego (de nascença) percebe o mundo. Embora você provavelmente tenha
pensado em fechar seus olhos e prestar atenção aos sons, cheiros e pressões (táteis) ao
seu redor, isto não é o que um cego percebe do mundo. Para ele a estimulação visual nunca
existiu, logo, perceber o mundo não é “ver” uma imagem preta e atentar às outras
sensações. Para ele, são apenas as outras sensações.
Há casos bem documentados de pessoas que conseguiram desenvolver a
capacidade de se ecolocalizar (como os morcegos) para se locomover. Essas pessoas
parecem criar mapas rudimentares do ambiente, precisos o suficiente para se locomoverem
sem maiores problemas.
terão muita importância quando estiver dirigindo para algum lugar. Essas diferenças sutis
naquilo que percebemos são produto de ativação de circuitos de atenção e das memórias
que acumulamos ao longo da vida.
(A) (B)
Nosso treino para perceber formas geométricas nos faz enxergá-las até mesmo
onde elas não existem. A Fig. 5 sugere o formato de um triângulo, mas sem todas as suas
bordas esperadas, de fato. A figura é conhecida como Triângulo de Kanisa. Algumas
pessoas chegam a dizer que ele é mais branco que as áreas em volta! A explicação direta é
que nos acostumamos a enxergar com mais luz algo que está em primeiro plano.
As ilusões de óptica não se resumem apenas a fenômenos mnemônicos (que
dizem respeito à memória). Há também efeitos causados pelos próprios receptores
sensoriais. Você provavelmente já se deparou com imagens como as que estão na Fig. 6. A
estimulação de um determinado receptor retiniano para cor por um período prolongado leva
à percepção da cor complementar correspondente, o que faz com que, ao olhar para um
fundo neutro (branco, preto ou qualquer tom de cinza), perceba-se cores trocadas na
imagem.
Figura 6 – Efeito de pós-imagem. Uma ilusão criada pelos receptores sensoriais quando
superestimulados por uma determinada cor. Olhe fixamente por cerca de 30 segundos
para qualquer um dos pontos pretos nas imagens e, em seguida, para uma parede
branca. O que você vê?
Figura 7 - Os quadrados “A” e “B” da figura são diferentes na cor? Não! Os quadrados não são
diferentes!
Sinestesia
A sinestesia é um caso muito específico de percepção em que uma
determinada modalidade sensorial gera a
percepção de outra modalidade. Um dos
eventos mais frequentes é a percepção
secundária de cores após a estimulação
primária por um grafema, seja um número ou
uma letra (ou até mesmo palavras). A
percepção induzida pelo estímulo primário é
sempre muito específica e unidirecional (a
estimulação pelo percepto induzido não gera
a percepção do estímulo indutor pareado,
isto é, se a palavra “casa” induz a percepção
da cor amarela, o contrário não acontecerá).
Um sinesteta pode repetir mais de centenas
Figura 9 – O que você vê nesse quadro?
de pares de percepções com pouco ou
nenhum erro.
Frequentemente a percepção induzida é a de cores, seja por grafemas,
como dito acima, ou por sons (palavras em geral); mas há relatos bem
Figura 10 - Modelos de Sinestesia. Os modelos diferem na rota proposta de ativação cruzada (direta
ou indireta) entre as regiões indutora e concorrente e nas diferenças subjacentes ao sinesteta
(estruturais ou funcionais). Regiões em amarelo estão ativas (começando pela região indutora) e, em
azul, inativas. Conexões excitatórias são mostradas como flechas e inibitórias como pontas em traço.
Linhas pontilhadas representam conexões presentes estruturalmente, mas funcionalmente inativas.
Modificado de Bargary e Mitchell (2008).
Mitchell, 2008). Vale ressaltar que diferentes possuidores de uma mesma sinestesia
(tons para cores, por exemplo) podem reportar associações diferentes para a cor
induzida. Se um deles disser que um dó maior é azul, o outro poderá dizer: “Isto está
errado!”. Não se sabe por que a indução de cores é muito mais frequente que a
indução de outras percepções.
Diferenças na manifestação da sinestesia ainda levaram à sugestão de
uma classificação em dois tipos de sinestetas: (1) de ordem baixa e (2) de ordem
alta (Ramachandran e Hubbard, 2003). Essa divisão leva em consideração o estágio
de processamento em que ocorre o fenômeno perceptual. Sinestetas de ordem
baixa tendem a ter o efeito de indução apenas com estímulos muito específicos, por
exemplo: números escritos na língua de origem. Já os sinestetas de ordem alta têm
o efeito de indução toda vez que o conceito que um determinado indutor sugere está
presente. Tomando por base o exemplo anterior, nos sinestetas de ordem alta
mesmo algarismos escritos em números romanos (que nada mais são do que letras)
poderiam gerar a percepção induzida.
A incidência da sinestesia na população mundial é de algo entre 1% e 4%
(Simner e colaboradores, 2006), um valor bem diferente dos 0,05% anteriormente
sugeridos. Estudos em primatas dão indícios de que essas conexões “anormais”
estão naturalmente presentes no organismo durante a fase fetal e o período de
lactância, mas após esse período essa hiperconectividade de regiões sensoriais
tende a ser removida do cérebro. Isto ainda não fora comprovado em recém-
nascidos humanos, mas observações comportamentais levam à sugestão de que há
uma “confusão sinestésica” nas primeiras semanas de vida. A plena maturação
perceptual e a segregação dos sentidos viriam apenas após alguns poucos meses
de vida, portanto. De qualquer forma, não ouse afirmar que um sinesteta tem
sentidos menos maduros ou perguntar a ele “como é viver assim?”. A resposta
sempre presente após essa pergunta é: “Como você vive assim?!”.
Concluir é um problema
Uma das maiores questões ainda não respondidas com respeito à
percepção é como geramos um percepto único das estimulações constantes à
nossa frente se aspectos diferentes de um estímulo são processados em regiões
distintas do córtex cerebral (e.g. cor, forma, movimento, etc., no caso da visão). É o
chamado binding problem.
possui certa regularidade, a seleção natural pode favorecer indivíduos que sejam capazes
de gerar “previsões” de tal ambiente e responder de maneira antecipatória. Neste caso
esses indivíduos estariam então mais aptos para tal ambiente. Se, no entanto, a
complexidade de tal ambiente aumentar, a imprevisibilidade pode tornar-se um problema.
Indivíduos que tiverem um sistema mais flexível, capaz de obter e armazenar o máximo de
informações relevantes sobre o ambiente, estarão mais aptos a reagirem prontamente a
estímulos ambientais. Assim sendo, serão capazes de solucionarem problemas de maneira
antecipatória quando um padrão regular puder ser identificado.
O comportamento antecipatório baseia-se na combinação de informações temporais
e espaciais. A habilidade de adquirir e armazenar tais conhecimentos pode favorecer a
previsão de eventos e suas conseqüências que necessariamente determinam uma ação
(resposta a esse evento). Uma vez gerada a previsão de um evento, artifícios antecipatórios
possibilitam que planos de ação sejam elaborados antes mesmo da ocorrência desse
evento. Em outras palavras, além de planejar uma ação antes de sua execução, fazendo
uso de processos antecipatórios, o individuo pode responder a um estímulo de maneira
antecipada. Do ponto de vista evolutivo, isso pode ser altamente vantajoso, pois isso
possibilita avaliar consequências futuras de ações correntes, sem comprometer de algum
modo a integridade do sistema no desempenho da ação.
A evolução do sistema nervoso, sobretudo dos processos de memória, parece estar
relacionada com a idéia do desenvolvimento de sistemas seletivos capazes de lidar com
diferentes demandas ambientais que surgem ao longo vida do individuo. Tais demandas
sugerem a existência de diferentes sistemas de memória, que podem ser caracterizados
como especializações adaptativas que lidam com problemas específicos do animal no seu
ambiente. Eventualmente adaptações que servem para a resolução de um dado problema,
podem não ser tão efetivas assim para outros problemas também presentes no ambiente.
No entanto, o surgimento de diferentes sistemas de memória, com regras de operações
essencialmente diferentes, faz com que indivíduos possam lidar com uma grande variedade
de problemas.
Indivíduos capazes de identificar estímulos, prever o ambiente e gerar as
“inferências” e respostas mais adequadas, se beneficiarão; estarão mais aptos para
determinado ambiente. Portanto, a resolução de problemas e a emissão de comportamentos
antecipatórios, ações essas baseadas em experiências anteriores, conferem ao repertório
comportamental do organismo alto valor adaptativo. Uma vez que a emissão de
determinados comportamentos diante de algumas situações traz ganhos adaptativos,
parece razoável considerar que a memória seja um dos resultados de maior sucesso ao
longo da evolução biológica.
Suporte aos sistemas de memória
o flutuador for removido e recolocado três dias depois, os animais realizam a tarefa mais
rapidamente; i.e., os peixes retornam à posição normal em apenas 15 minutos, o que indica
que eles aprenderam e retiveram a solução desse desafio (Fig. 2, curva azul) (para detalhes
sobre esses experimentos, ver Helene e Xavier, 2007). Em outro teste, Shashoua (1985)
injetou valina marcada com hidrogênio radioativo (valina-H*) no ventrículo encefálico de
animais que ficaram por 4h com o flutuador, e valina marcada com carbono radioativo
(valina-C*) no ventrículo de animais que não foram treinados. Os encéfalos dos animais dos
dois grupos foram homogeneizados conjuntamente e as proteínas foram separadas por
peso molecular. A maioria das proteínas presentes estava marcada tanto com valina-H*
quando com valina-C*; porém, algumas delas estavam mais marcadas com valina-H*,
indicando que elas foram incorporadas no cérebro dos animais que aprenderam a tarefa;
essas proteínas foram denominadas ependiminas. Num terceiro teste, as ependiminas
foram isoladas e injetadas em coelhos para produção de anticorpos específicos contra as
ependiminas. Então, os anticorpos foram injetados no ventrículo encefálico de peixes que
tinham acabado de aprender a tarefa de nadar com o flutuador; no teste de memória
realizado 3 dias depois, esses peixes demoraram cerca de 3h para voltar à posição normal
(Fig. 2, curva vermelha). Ou seja, esses animais comportaram-se como se nunca tivessem
sido submetidos ao treinamento. Atualmente, as ependiminas são denominadas “moléculas
de adesão celular” e estão diretamente relacionadas com o fortalecimento e formação de
sinapses.
Plasticidade neural
O sistema nervoso possui a capacidade de se modificar estruturalmente e
funcionalmente em decorrência de estímulos que de algum modo incidem sobre ele. Tal
fenômeno denomina-se neuroplasticidade ou, simplesmente, plasticidade. Inerente ao
funcionamento do sistema nervoso, a neuroplasticidade é uma característica marcante e
constante da função neural. Muito dos processos cognitivos depende de tal propriedade.
Parece haver dois tipos básicos de plasticidade sináptica, uma de curta duração e a
outra de longa duração. A plasticidade sináptica de curta duração pode ser induzida
rapidamente; parece não requerer síntese proteica e mantém-se por, no máximo, algumas
horas. Esse tipo de plasticidade reflete alterações na força de sinapses pré-existentes, pela
modificação de proteínas pré e pós-sinápticas. Diferentemente, a plasticidade sináptica de
longa duração (que parece ter sido a modalidade principal investigada nos estudos de
Shashoua) dura dias, meses ou anos, envolve processos de transcrição gênica e síntese de
novas proteínas; esse tipo de plasticidade sináptica parece envolver a remodelação de
sinapses existentes ou a formação de novas sinapses.
Com base nessas e em outras características do sistema nervoso apresentadas até
aqui, percebe-se que além de aumentar a capacidade de comunicação entre as diversas
populações de neurônios, sua estrutura e funcionamento possibilitam a formação de
memórias em decorrência de experiências vividas. As diferentes modalidades de
arquivamento parecem envolver alguns tipos de alterações no sistema: (1) alterações
transitórias na atividade eletrofisiológica (taxa de disparos) de populações de neurônios, que
estariam ligadas ao arquivamento por curtos períodos de tempo; (2) alteração na facilidade
com que a atividade eletrofisiológica é transmitida entre neurônios, relacionada com o
arquivamento por períodos intermediários de tempo (que pode durar de minutos até meses);
(3) alterações estruturais permanentes na conectividade neuronal que levam à formação de
circuitos neurais, ou redes nervosas, cuja atividade representaria informações mantidas por
um longo período de tempo, anos ou até mesmo uma vida inteira.
ativados, excitariam ou inibiriam outros nós numa rica e complexa rede de conexões, de
forma que representações seriam mantidas enquanto houvesse reverberação da atividade
nervosa correspondente ao estímulo inicial.
Nessa rede, uma dada população de nós disparando, provavelmente com níveis de
atividade diferentes em várias regiões nervosas, representa uma determinada informação,
enquanto a malha representa as ligações associativas das relações entre os nós; essas
ligações podem variar em intensidade. Nesse sentido, um mesmo nó pode estar envolvido
em representações distintas, já que a informação é representada pelo conjunto de disparos
dos nós a ela relacionados e não por um nó individual. Isso nos sugere que processos de
memória estariam baseados em um funcionamento sistêmico de determinadas populações
de neurônios.
Hebb (1949) propõe algumas previsões sobre o funcionamento da memória. Por
exemplo, parece plausível pensar que estimulações parciais correspondentes à experiência
original sejam capazes de regenerar a atividade em toda a rede, contribuindo para a
lembrança completa da experiência original. Além disso, se dois eventos forem pareados no
tempo supõe-se que haja a formação de redes tais que a estimulação da atividade do
primeiro evento gera o padrão de atividade eletrofisiológica associada ao segundo evento,
levando à sua previsão.
Figura 3 - Esquema representativo de redes neurais de Hebb. Os pontos pretos são os neurônios e
as linhas são as conexões. A rede tem uma organização inicial como representado em (A); ao
receber um estímulo, é ativada (B); esse estímulo pode ser apresentado repetidas vezes, ou pode ter
reverberado nessa rede, de modo que as conexões entre os neurônios são fortalecidas (C e D);
então, um estímulo mais fraco ou mesmo incompleto, mas que mantenha algumas das características
do inicial (D) é capaz de ativar a rede fortalecida (E). Modificado de Bear, 2002, e de Helene e Xavier,
2007.
O autor sugere que haveria apenas três aspectos centrais que determinariam o
funcionamento de um sistema neuronal: (1) a conexão entre neurônios é mais eficaz quanto
maior for o grau de relação entre as porções pré e pós-sináptica; (2) grupos de neurônios
que tendem a disparar conjuntamente irão formar agrupamentos celulares cuja atividade se
mantém expressa mesmo após o fim do estímulo que gerou a atividade e; (3) cognição
deriva da atividade sequencial destes agrupamentos celulares facilitados.
Modelos de memória
Baseados em estudos envolvendo duplas dissociações, Cohen (1984) e Squire e
Zola-Morgan (1991) propuseram uma distinção para os sistemas de memória de longa
duração segundo a qual haveria uma memória declarativa (ou explícita), usualmente
prejudicada em pacientes amnésicos e preservada em pacientes cerebelares ou com
disfunções nos gânglios da base, e uma memória de procedimentos (ou implícita),
usualmente preservada nos pacientes amnésicos, mas prejudicada nos pacientes
cerebelares ou com danos nos gânglios da base (Fig. 4). Em outras palavras, memórias que
atualmente são denominadas memórias implícitas correspondem ao “saber como” (o que faz
bastante sentido, pois é muito difícil declarar como se anda de bicicleta) e “saber que” são
denominadas memórias explícitas.
Paciente c/ doença de
Parkinson - PRESERVADO
MEMÓRIA DE
LONGO
PRAZO
Paciente H.M - amnésico
PRESERVADO
SABER
COMO
Paciente c/ doença de
Parkinson - PREJUÍZO
Í
Memória operacional
Baddeley e Hitch (1974) conceberam um modelo de memória denominado "memória
operacional". Tal modelo refere-se a um arquivamento temporário e gerenciamento de
informações para o desempenho de uma diversidade de tarefas cognitivas. Segundo os
autores, memória operacional compreende um sistema de controle de atenção, a central
executiva, auxiliado por dois sistemas de suporte responsáveis pelo arquivamento
temporário e manipulação de informações, um de natureza vísuo-espacial e outro de
natureza fonológica.
Posteriormente, para lidar com a associação entre as informações mantidas nesses
sistemas de apoio e promover sua integração com informações da memória de longa
duração, Baddeley inseriu um quarto componente no modelo, denominado de retentor
episódico, que corresponderia a um sistema de capacidade limitada no qual a informação
evocada da memória declarativa tornar-se-ia consciente. A central executiva proporcionaria
a conexão entre os sistemas de suporte e a memória de longa duração e seria o
responsável pela seleção de estratégias e planos; sua atividade estaria relacionada ao
funcionamento do lobo frontal, que teria a função de supervisionar informações a serem
codificadas, armazenadas e evocadas concomitantemente ao seu ingresso no sistema (Fig.
6).
Figura 6 - Modelo de memória operacional: três componentes propostos inicialmente por Baddeley e
Hitch (1974). A área central executiva se refere ao componente de gerencia-mento atencional (a
central executiva), enquanto as áreas laterais da figura representam as alças de manutenção de
informações por curto período de tempo (adaptado de Baddeley, 1982).
Considerações finais
Em conclusão, a evolução filogenética teria atuado na seleção de sistemas neurais
capazes de modificar-se gradualmente pelo desempenho de ações repetitivas (o exemplo
mais típico seria o caso de habilidades motoras e perceptuais) de sistemas capazes de
arquivar informações depois de uma única experiência, e de sistemas capazes de reter
informações temporariamente, enquanto úteis. É provável que a seleção desses sistemas,
com propriedades distintas, esteja relacionada ao fato de que memórias são especializações
adaptativas que proporcionam vantagens seletivas para a solução de determinados tipos de
problema; as propriedades que tornam um sistema eficiente para a solução de determinados
tipos de problema (e.g., aquisição após uma única experiência de treino) o tornam
incompatíveis com a solução de um problema de natureza diversa (e.g., aquisição de
conhecimento pela mudança cumulativa e gradual de experiências). Assim, do ponto de
vista evolutivo, a organização do sistema nervoso, inclusive dos diferentes módulos de
memória, teria derivado da interação do organismo com demandas ambientais específicas,
resultando em especializações adaptativas que permitem ao organismo lidar com problemas
específicos.
Navegação Espacial
Cyrus Villas-Boas
Laboratório de Neurociência e Comportamento
[email protected]
Figura 1 – corte coronal do encéfalo de rato corado com cresil violeta, mostrando o giro denteado
(DG) e o hipocampo (CA1 e CA3). Adaptado de Paxinos e Watson (2004).
No rato, o hipocampo se localiza logo abaixo do córtex parietal, o que torna sua parte
dorsal facilmente acessível por eletrodos e cânulas de infusão de drogas. Dois aspectos
chave levaram o hipocampo a ser uma das estruturas mais estudadas da Neurociência:
1. Em ratos. Quando o animal se move livremente, as células piramidais do
hipocampo apresentam uma correlação com o local em que o animal se encontra (O’Keefe e
Dostrovsky, 1971). Essas células são chamadas de células de localização (place cells) e
apresentam atividade em uma parte específica do ambiente, como veremos a seguir em
detalhes. Centenas, se não milhares de experimentos, já analisaram a influência de
diversos tipos de manipulações nas place cells.
2. Em primatas. Lesões do hipocampo e áreas corticais adjacentes em primatas
(particularmente em humanos) causam uma profunda amnésia anterógrada, ou seja, a
perda da capacidade de formar novas memórias a partir do momento em que houve a lesão
(Scoville e Milner, 1957; Cohen e Eichenbaum, 1993). Entre os anos de 1953, quando fez
uma operação experimental no lobo temporal, e 2008, ano de sua morte, o paciente H.M.
não conseguia se lembrar (formar memórias do tipo declarativa) de nada o que havia
acontecido, nem mesmo dos nomes dos médicos que encontrava diariamente (Cohen e
Eichenbaum, 1993).
Cada um desses efeitos observados no hipocampo vieram a formar uma teoria: (1)
que o hipocampo guarda um mapa cognitivo do ambiente utilizado para navegação (O’Keefe
e Nadel, 1978) (Fig. 2), e (2) que o hipocampo guarda memórias de eventos (do tipo
episódicas) temporariamente até seu armazenamento no córtex (Cohen e Eichenbaum,
1993).
Tipos de navegação
Vamos começar nossa discussão sobre navegação espacial com a tarefa mais
tradicional: o labirinto aquático de Morris (1981) (Fig. 3). Esse teste consiste de uma piscina
cheia de água morna misturada com leite ou outra substância que torne a água opaca. Em
algum lugar da piscina há uma plataforma na qual o rato pode subir para sair da água. Há
várias versões desse teste, que incluem a plataforma visível ou, outras vezes, com uma
pista que indica onde a plataforma está. Devido à sua simplicidade, esse teste é uma das
ferramentas mais utilizadas para estudos de navegação e memória espacial. O labirinto de
Morris é usado, entre outros, para estudos de lesões, infusões de drogas ou, em outras
vezes, versões modificadas são utilizadas para o registro unitário da atividade neuronal de
place cells, como veremos mais adiante.
Figura 3 – Labirinto aquático de Morris. O círculo indica a plataforma escondida ou não. O gráfico
mostra o tempo despendido no labirinto para que o animal encontre a plataforma. O teste probe-
memory não contém plataforma e o probe-sensorimotor é um teste de habilidade motora. Adaptado
de Rodriguiz e Wetsel (2006).
Há cinco possíveis estratégias que o animal pode utilizar para navegar no ambiente
e, nesse caso, encontrar a plataforma escondida (O’Keefe e Nadel, 1978; Whishaw e
Mittleman, 1986). São elas:
Navegação randômica. Se o animal não tem informação prévia de onde a
plataforma está, ele deve explorar o ambiente de forma randômica, aleatória.
Navegação táxica. O animal pode achar uma pista em uma direção na qual
possa sempre nadar.
Navegação práxica. O animal pode executar um programa motor constante. Se,
por exemplo, o animal inicia cada tentativa no mesmo local e a patforma também
está no mesmo local, ele pode simplesmente utilizar-se desse tipo de navegação
para chegar à plataforma.
Navegação por rota. O animal pode aprender a associar uma direção a uma
pista encontrada. Diz-se que a navegação por rota é uma junção das
navegações táxica e práxica.
Navegação por local. O animal pode aprender a localização da plataforma
baseado em um conjunto de pistas. Ele pode aprender um mapa no qual a
localização da plataforma é conhecida.
Julho/2010 Pág. 155
VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Outros modelos foram propostos, porém são todos parecidos no que diz respeito às
funções dos sistemas, ou seja, alguns modelos são simplesmente a fusão de dois ou mais
tipos de navegação supracitados.
Gallistel (1990) propõe um modelo no qual dois componentes são utilizados para que
o animal se localize no ambiente: Piloting e Dead Reckoning. O piloting é um processo pelo
qual o animal determina sua posição através de pistas externas, enquanto o dead reckoning
é um mecanismo que utiliza pistas internas, como direção de movimento e velocidade, para
atualizar a representação de acordo com essas pistas. Dessa forma, esse sistema permite
que sejam usadas pistas internas e externas. Pistas externas são identificadas e usadas
para traçar um mapa de acordo com algum conhecimento do ambiente, porém sem
perceber a posição; as pistas internas permitem que o animal calcule sua posição em um
tempo t de acordo com uma posição conhecida em t-to sem precisar de conhecimento sobre
o ambiente.
Spikes/s
Figura 4 – Em cima, atividade neuronal em spikes/s de uma place cell enquanto um macaco se
movimenta num espaço virtual. VR(W), VR e VR(N) são diferentes tamanhos de ambientes similares.
VR(W) e VR têm pistas distais iguais, porém em posições diferentes. VR(N) é um ambiente similar a
VR, porem com menor tamanho. mesmas posições. Embaixo, as rotas que os animais faziam para
passar pelos pontos demarcados. Adaptado de Hori e col. (2005).
Estudos mais recentes realizados com macacos mostram que, apesar de estruturas
homólogas não terem necessariamente as mesmas propriedades em diferentes espécies,
no caso do hipocampo parece haver alguma similaridade nas funções relacionadas à
navegação. No entanto, os estudos com place cells em macacos são geralmente realizados
quando o animal se encontra preso a uma cadeira para macacos e, dessa forma, imóveis
(Hori e col., 2005; Furuya e col., 2007). Em outros estudos, o animal é colocado em uma
cadeira móvel (Ono e col., 1991), mas muitas vezes esse paradigma é substituído por uma
forma de navegação espacial virtual similar a um water maze, no qual o animal controla um
joystick para se movimentar no ambiente (Furuya e col., 2007). Nesse paradigma, no
entanto, são as pistas que se movem em relação ao animal, e não o contrario. Porém,
mesmo nesses experimentos pode-se ver uma clara atividade diferencial das place cells de
acordo com o local em que o animal se encontra no ambiente virtual.
Maguire e col. (2000) estudaram as propriedades espaciais do hipocampo em
taxistas em Londres. Foi verificado que os taxistas, em relação ao grupo controle de não-
taxistas, apresentavam maior atividade no hipocampo, além de uma parte posterior
aumentada em relação à do grupo controle.
quantidade, nos córtices parietal posterior e cingulado (PPC e PCC; McNaughton e col.,
1994).
As head direction cells apresentam uma única direção preferida de ativação, na qual
sua atividade é máxima, diminuindo à medida em que o animal move a cabeça
progressivamente para longe desse ponto. As taxas de disparo dessas células não são
correlacionadas ao ângulo entre a cabeça e o corpo, mas sim à orientação da cabeça em
relação ao ambiente. Como a direção preferida de ativação não se altera, a célula não pode
codificar informações egocêntricas em relação a uma pista, mas sim informações
alocêntricas em relação a uma direção de referência. As head direction cells geralmente são
sensíveis à rotação de pistas distais (Taube, 1995), evidenciado pela alteração simultânea
de duas ou mais células registradas simultaneamente.
Alguns autores propõem uma forma de se interpretar as head direction cells como
estando dispostas em um círculo, ou seja, em um arranjo de 360º. Cada região, ou cada
população de células, agiria de forma a integrar a informação advinda das head direction
cells vizinhas, sendo, dessa forma, esquematizadas em um anel de ativações. Esse sistema
seria auxiliado por células intermediárias que recebem informações do sistema vestibular
(Fig. 6).
Muitas das áreas que contêm as head direction cells estão anatomicamente
conectadas. O núcleo anterior dorsal do tálamo (AD) e o PoS estão diretamente conectados;
PoS envia uma projeção ao LMN, que, por sua vez, se projeta para o AD. O LDN também se
conecta com o PoS. O PPC recebe projeções do LDN e manda projeções para o PoS e para
o córtex cingulado, enquanto o PCC se conecta diretamente com o ATN e PoS.
Grid cells
Como uma interface entre o hipocampo e o neocórtex, o córtex entorrinal apresenta
também alguma atividade relacionada a memória e a localização. Estudos recentes
mostram que o córtex entorrinal medial também apresenta neurônios com atividade
relacionada a posicionamento (Fyhn e col., 2004). Essas células, denominadas grid cells,
são assim chamadas por apresentarem um padrão de ativação independente de pistas do
ambiente. Sua ativação se dá em diversos lugares do mesmo ambiente, diferentemente das
place cells, seguindo um padrão triangular, ou seja, a célula dispara quando a posição do
animal coincide com vértices de um grid triangular periódico que cobre toda a superfície do
ambiente, com células diferentes tendo coordenadas de ativação diferentes ao longo do grid
(McNaughton e col., 2006).
Figura 6 – Modelo unidimensional de integração de sinal de acordo com a direção da cabeça do rato
e a sua velocidade angular. a. Head direction cells arranjadas em círculo, para fins didáticos, de
acordo com sua posição preferencial de disparo. Cada célula se conecta com as adjacentes. A
influência de uma célua sobre a outra decresce como uma função da distância (linhas vermelhas e
cinza), cores quentes representando maior taxa de disparos. b. A rotação nos sentidos horário ou
anti-horário pode ser detectada por um grupo intermediário de células que recebe informações
tantodo sistema vestibular quanto da orientação da cabeça por células imediatamente superiores a
elas. Na ausência de movimento, as células das outras camadas estariam com ativação abaixo do
limiar. Adaptado de McNaughton e col, 2006.
O sistema de grid cells, por ser menos específico do que o sistema de place cells, é
tido como uma etapa anteiror à formação dos place fields no hipocampo propriamente dito,
como se a informação final fosse passada ao hipocampo para a representação do ambiente.
Dessa forma, acredita-se que o córtex entorrinal medial seja, junto com o sistema de head
direction, um dos componentes principais para o processo de integração de rotas (dead
reckoning), que é definida como a habilidade de retornar a um local de origem mesmo após
ter feito um caminho tortuoso ou mesmo no escuro (Redish, 1997) (Fig. 7). Esse sistema
não depende do uso de pistas externas do ambiente. No entanto, sabe-se que esse sistema
acumula erros e imprecisões durante uma trajetória feita do escuro ou sob baixas condições
de visibilidade. Os vários componentes desse sistema seriam utilizados para atualizar essas
coordenadas antes de passar a informação para o hipocampo, onde a integração e
utilização de pistas distais seria utilizada (Einevol e col., 2006) (Fig. 8).
Figura 8 – Modelo para a formação de place fields. (A) conexão entre grid cells do córtex entorrinal
medial e place cells do hipocampo. Todas as place cells que contém um place field naquele ambiente
recebem informação das grid cells com ativação similar. Place cells com campos de ativação
menores (verde) recebem projeções da parte dorsal do córtex entorrinal, enquanto place cells com
campos maiores (amarelo) são inervadas por células mais ventrais do cortex entorrinal.
Interneurônios (vermelho) auxiliam na inibição e controle do sinal. As cores dentro dos place fields
simbolizam as taxas de disparo. Cores quentes indicam altas taxas. (B) Os grids são construídos de
acordo com três funções sinusóides com 120º de diferença entre eles. Adaptado de Einevoll (2006).
Bárbara Onishi
Laboratório de Neurociência e Comportamento
[email protected]
O que é emoção?
Medo, raiva, alegria, vergonha, tristeza e frustração são todos exemplos de
emoções. De forma geral, emoção se refere a um estado mental associado a alterações
fisiológicas e comportamentais eliciado por um evento externo ou interno de significância
para o organismo.
Uma das primeiras teorias sobre as emoções foi a levantada pelo psicólogo William
James em 1884, em um artigo intitulado O que é a Emoção?. James sustentou a idéia de
que as emoções são o resultado da percepção das alterações fisiológicas disparadas por
eventos significativos. Por exemplo, ao nos defrontarmos com uma serpente numa mata
apresentamos uma resposta de fuga, que é acompanhada por diversas alterações
fisiológicas tal como aumento da pressão sanguínea e dos batimentos cardíacos, contração
de diferentes músculos, aumento da sudorese, etc. Para James, essas sensações são as
emoções. Se essas sensações pudessem ser eliminadas, as emoções não ocorreriam. Ou
seja, segundo James, sentimos medo porque fugimos e não fujimos porque sentimos medo.
A teoria de James ganhou destaque até meados de 1920, quando foi questionada
pelos estudos do fisiologista Walter Cannon. Cannon sugeriu que as reações fisiológicas
resultantes de emoções distintas podiam ser as mesmas. Por exemplo, alterações
fisiológicas como aumento dos batimentos cardíacos e da sudorese e inibição da digestão
estão presentes tanto num estado de medo quanto num estado de raiva. Portanto, se a
teoria de James estivesse correta, duas emoções diferentes não poderiam estar associadas
às mesmas reações fisiológicas. Ademais, Cannon observou que as alterações fisiológicas
ocorrem, em geral, mais lentamente que as sensações de um estado emocional, i.e., em
geral, sentimos as emoções antes mesmo de as mudanças fisiológicas a elas associadas
ocorrerem. Estudos posteriores demonstraram que Cannon estava errado ao afirmar que o
medo e a raiva compartilham as mesmas reações fisiológicas.
Com o surgimento do pensamento behaviorista, por volta de 1910, o estudo da
mente e, por conseguinte, o estudo das emoções, começou a ser considerado como não-
científico. De fato, emoção era um típico exemplo dado pelos behavioristas de um tópico
obscuro que deveria ser rejeitado pela comunidade científica.
Por volta de 1950, a revolução cognitivista retomou a concepção de mente e surgiu,
então, a ciência da cognição. Estudos sobre os mecanismos das emoções foram, então,
retomados. Pesquisadores como Magda Arnold, Caroll Izard, Jaak Panksepp, Paul Ekman,
Jeffrey Gray, Antonio Damasio, Richard Davidson, Edmund Rolls, entre outros contribuíram
e têm contribuído com formulações teóricas sobre os mecanismos das emoções, mas a
questão central levantada por James, O que é a Emoção?, ainda não tem uma resposta
consensual.
Por exemplo, Rolls e Gray propõem que emoções são estados eliciados por
recompensas e punições. Quando um organismo emite respostas para a obtenção de um
dado estímulo, nos referimos a este estímulo como recompensa. Quando, por outro lado,
um organismo emite respostas de esquiva a um dado estímulo, nos referimos a este
estímulo como punição. A codificação de um estímulo como recompensa ou punição seria
um mecanismo do sistema nervoso na interface entre a percepção do estímulo e a produção
de comportamentos e respostas autonômicas frente a ele. Esse mecanismo de atribuição de
valor a estímulos do meio ambiente teria um valor adaptativo numa perspectiva evolutiva:
respostas que garantem a obtenção de recompensas ou respostas que garantem a esquiva
e eliminação de punições tendem a aumentar a chance de sobrevivência e o sucesso
reprodutivo do indivíduo.
Paul Rozin apresenta uma visão um tanto diferente, que não privilegia as respostas
de aproximação e esquiva na definição de emoção. Para ele, emoções seriam estados
mentais positivos ou negativos associados com alterações fisiológicas e comportamentais
eliciados por estímulos com significância para o indivíduo. Segundo essa concepção, um
organismo trabalha para manter ou aumentar um estado emocional positivo, e por outro
lado, trabalha para reduzir, eliminar ou evitar um estado emocional negativo. Um bom
exemplo que ilustra a diferença entre as visões “positivo-negativo” e “aproximação-esquiva”
é a raiva, que apesar de ser um estado emocional negativo, está associada com uma
resposta de aproximação, e não de esquiva.
Apesar das fortes evidências contra a teoria de James, i.e., contra o papel das
reações fisiológicas na produção das emoções, Damasio recentemente propôs uma
hipótese bastante parecida com a teoria de James: a hipótese dos marcadores somáticos.
Esse autor defende que depois que um estímulo com significância para um organismo é
percebido, uma reação fisiológica (marcador somático) ocorre, a qual resulta numa
sensação. Essa sensação é avaliada pelo organismo, contribuindo para a tomada de uma
decisão, i.e., para a escolha de uma resposta frente ao estímulo.
Esses foram alguns exemplos de hipóteses levantadas sobre os processos
subjacentes às emoções. Apesar das diferenças entre elas, parece haver um consenso de
que as emoções operam no sistema nervoso através de um mecanismo de atribuição de
valor, seja a estímulos do meio ambiente ou às próprias sensações inerentes ao estado
emocional. As emoções, de uma forma geral, são processos que facilitam a emissão de
respostas apropriadas a eventos significativos ambientais e internos. Por exemplo, reações
emocionais são críticas para a emissão de respostas tais como evitar predadores e outras
fontes de perigo, encontrar alimento e parceiros sexuais, apresentar cuidado parental, e
engajar em comportamentos sociais adequados. Assim, também é consenso que as
emoções são funções do sistema nervoso com alto valor adaptativo numa perspectiva
evolutiva, atuantes para a sobrevivência do indivíduo e da espécie.
valor adaptativo.
John Watson demonstrou experimentalmente esse tipo de aprendizagem em 1920 –
o que veio a ser conhecido como o caso do pequeno Albert e o rato. Watson observou que
um som alto e estridente induzido por uma martelada numa haste de metal eliciava choro no
bebê Albert – o bebê apresentava um medo natural àquele tipo de som. Watson, em
seguida, colocou um rato albino diante do bebê e observou que Albert tentava tocar no rato,
não apresentando medo pelo animal. Imediatamente depois que o bebê tocou o rato, o
pesquisador produziu um som estridente próximo ao bebê. Depois de alguns pareamentos
entre o rato e o som, Watson observou que Albert passou a chorar na presença do rato. O
bebê passou a sentir medo pelo rato, algo que não sentia antes. Watson demonstrou
experimentalmente que reações emocionais são passíveis de aprendizado: indivíduos
podem aprender a emitir respostas emocionais a novos estímulos.
O medo aprendido (ou medo condicionado) tem sido uma das reações emocionais
mais amplamente estudadas pela neurociência. Sua investigação se faz comumente através
do procedimento de condicionamento clássico aversivo. Nesta situação, a apresentação de
um estímulo inicialmente neutro, por exemplo um estímulo sonoro, é pareado algumas
vezes a um evento aversivo, geralmente um choque nas patas do animal. O som passa a
eliciar respostas que tipicamente ocorrem na presença de perigo, como comportamentos
defensivos (e.g., respostas de congelamento), respostas autonômicas (e.g., mudança de
pressão arterial e batimentos cardíacos), respostas neuroendócrinas (e.g., liberação de
hormônios das glândulas adrenais e da pituitária), entre outras. Em geral, toma-se a
resposta de congelamento (ou “freezing”) como medida de medo condicionado em roedores.
Os comportamentos relacionados ao condicionamento Pavloviano são chamados de
comportamentos respondentes. Um comportamento respondente é aquele que é eliciado
por um evento significativo do ambiente (e.g., o choro do bebê Albert perante ao rato albino,
e o congelamento diante do estímulo sonoro condicionado), e prepara o organismo para
enfrentar o evento em questão. Diferentemente, quando um organismo emite um
comportamento para produzir uma consequência, chamamos este comportamento de
operante. Por exemplo, o choro de um bebê para obter a atenção de seus pais é um
comportamento operante: o bebê chora para a obtenção ou manutenção de um estímulo
que lhe causa reações emocionais positivas – a atenção de seus pais. A estímulos desta
natureza nos referimos como recompensas. A resposta de fuga de um animal para escapar
de um predador também é um comportamento operante; neste caso, o animal emite uma
têm sido utilizadas em numerosos estudos que empregam a ferramenta de produzir reações
emocionais em indíviduos. Algumas dessas cenas são mostradas na Fig. 3.
Bases Neurais
Em 1878, o neurologista Paul Broca cunhou o termo “lobo límbico” para um conjunto
de estruturas nervosas localizadas ao redor do corpo caloso, incluindo o córtex cingulado, o
córtex na superfície medial do lobo temporal e o hipocampo, como mostra a Fig. 4.
Figura 4. Lobo límbico definido por Broca. Modificado a partir de Bear et al. (2002).
Mais tarde, em 1937, o neurologista James Papez propôs que as emoções seriam
processadas por uma rede de circuitos neurais no cérebro que incluia o hipotálamo, o
tálamo anterior, o córtex cingulado e o hipocampo (Fig. 5). Para Papez, a experiência
emocional seria determinada pela atividade do córtex cingulado, e a expressão emocional
pelo hipotálamo. Papez propôs que o córtex cingulado e o hipotálamo manteriam conexões
bidirecionais indiretas entre si através do hipocampo e do tálamo anterior, de modo que a
experiência emocional e a expressão emocional se relacionariam.
Figura 5. Circuito proposto por Papez. Modificado a partir de Bear et al. (2002).
levavam à boca objetos não comestíveis, tentavam copular com indivíduos do mesmo sexo
ou de outras espécies, e perdiam o medo por cobras e pessoas. Mais tarde, outros estudos
tentaram determinar que regiões específicas do lobo temporal tinham maior relevância na
síndrome, e nesse sentido, o trabalho de Weiskrantz (1956) foi marcante por demonstrar
que a ablação bilateral da amígdala em macacos levou a uma série de mudanças
comportamentais que incluia mansidão, perda de responsividade emocional, exame
excessivo de objetos, consumo de itens alimentares previamente rejeitados e aproximação
de objetos previamente relacionados ao medo, que em muito se assemelhavam aos
comportamentos observados por Klüver e Bucy. Weiskrantz (1956) também reportou que a
ablação bilateral da amígdala em macacos resultou em prejuízo na aprendizagem da tarefa
de esquiva ativa, em que o animal deve produzir uma resposta operante (de esquiva) na
presença de um estímulo que sinaliza a pendência de um choque. Baseado nessas e em
outras observações, Weiskrantz (1956) foi um dos primeiros a sugerir que a amígdala seria
fundamental para que as representações de estímulos preditivos fossem associadas às
propriedades afetivas de estímulos biologicamente significativos – idéia que é sustentada
até hoje por numerosas evidências. Mais tarde, Jones e Mishkin (1972) sugeriram que
muitos dos sintomas da síndrome de Klüver-Bucy seriam decorrentes do prejuízo neste tipo
de aprendizagem (ver Rolls, 1992). Consistentes com esses achados e com essa
interpretação estão os relatos do envolvimento da amígdala no medo condicionado (descrito
acima), onde um estímulo (e.g., um som) prediz a ocorrência de um estímulo aversivo (e.g.
um choque). Humanos e animais não-humanos com danos na amígdala não aprendem a
apresentar medo diante do estímulo preditivo, diferente de indivíduos normais. De fato, do
ponto de vista hodológico, a amígdala encontra-se em condições de associar
representações sensoriais de um dado estímulo com as propriedades afetivas de um
estímulo significativo. Depois de processadas e associadas na amígdala, essas informações
podem modificar respostas autonômicas, endócrinas, somáticas e comportamentais por
meio das diferentes áreas de projeção da amígdala.
Estudos com seres humanos têm demonstrado que a amígdala exerce um papel
fundamental no reconhecimento de expressões faciais de medo. Este envolvimento da
amígdala se dá especialmente em se tratando de expressões faciais de medo, e não de
outros tipos. Por exemplo, se solicitarmos a um paciente com dano amigdalar classificar
uma expressão facial de medo numa escala de 1 (sem medo) a 6 (amedrontada), ele dirá 2
ou 3, ao passo que um indivíduo normal dirá 5 ou 6. O mesmo não ocorre para uma
expressão facial alegre: ambos os sujeitos classificarão essa expressão dentro da mesma
escala. Em seres humanos, a amígdala parece ser fundamental para a avaliação de
somente poucos tipos de expressões faciais, e não parece importante para produzir
expressões faciais apropriadamente. De fato, danos amigdalares em seres humanos
provocam fracos prejuízos na interação social, o que não ocorre em animais não-humanos.
Macacos com danos na amígdala, por exemplo, mostram graves prejuízos em responder a
estímulos sociais e, em geral, são isolados do convívio social pelos outros indivíduos do
grupo.
Outra estrutura nervosa que tem sido sistematicamente descrita como envolvida em
processamento emocional é o córtex orbitofrontal. Uma das primeiras evidências disso
surgiu do famoso caso Phineas Gage. Phineas Gage, aos 25 anos, era o contramestre de
uma equipe que trabalhava na construção de uma estrada de ferro. O trabalho de Phineas
Gage era preparar dinamites para a explosão das rochas do terreno. Em setembro de 1848,
um trágico acidente acometeu Gage. Uma explosão inesperada produzida por um erro no
preparo de uma dinamite fez com que uma barra de ferro penetrasse pela bochecha de
Gage saindo pelo topo frontal de sua cabeça. Gage se recuperou dos ferimentos produzidos
pelo acidente, mas mostrou mudanças acentuadas em seu comportamento e personalidade.
Antes do acidente ele era uma pessoa responsável e admirada pela eficiência, paciência e
bom gerenciamento em seu trabalho e vida pessoal. Depois, tornou-se irresponsável,
impaciente e grosseiro. Também não conseguia planejar ações para o futuro e executá-las;
logo se perdia em outros planejamentos, que sempre abandonava. No entanto, ele não
apresentava sinais de prejuízos de outras naturezas, tais como perda de inteligência,
deficiências motoras ou de percepção. Gage parece ter perdido a habilidade de controlar
suas respostas emocionais. Parece ter perdido também a habilidade de avaliar o significado
dos eventos e tomar decisões apropriadas diante deles. O resultado disso foi que Gage logo
foi demitido de seu emprego e seguiu uma vida sem direcionamento até sua morte, que se
deu 13 anos mais tarde, fruto de uma forte crise epiléptica. O crânio de Phineas Gage e a
barra de ferro que produziu o acidente foram preservados, e muitos anos mais tarde,
Damasio e colaboradores (1994) reconstruíram a lesão de Gage com técnicas de
neuroimagem confirmando o dano da porção ventromedial do córtex pré-frontal, como
mostra a Fig. 6.
A região acometida em Phineas Gage corresponde a uma parte do córtex
orbitofrontal. O córtex orbitofrontal equivale à porção mais ventral do córtex pré-frontal e
recebe este nome por estar posicionado imediatamente acima das órbitas. O córtex
orbitofrontal é particularmente bem desenvolvido em primatas, incluindo seres humanos, e
pouco desenvolvido em outros animais, tais como os roedores. Em seres humanos, lesão do
córtex orbitofrontal resulta em euforia, irresponsabilidade e perda de afeto. Essas alterações
se refletem na tendência a responder a determinados estímulos quando responder é
inapropriado. Esta característica é evidente também em primatas não-humanos e em
roedores com danos na mesma região. Por exemplo, macacos e ratos com lesão do córtex
orbitofrontal exibem desempenho prejudicado em um teste comportamental denominado
O núcleo accumbens, por sua vez, está envolvido com os estados afetivos ligados a
recompensas prazerosas. Por exemplo, estudos eletrofisiológicos mostram que a ativação
Neurofisiologia da Linguagem
Rodrigo Collino
Laboratório de Neurociência e Comportamento
[email protected]
Introdução
Dentro das ciências cognitivas, o estudo da linguagem tem ganhado grande
atenção nas últimas décadas. É uma área que envolve diversos detalhes e grande
complexidade, dado o emprego de técnicas desenvolvidas apenas recentemente (a partir da
metade do séc. XX) em estudos neurocientíficos. Anteriormente a este período, as
conclusões de médicos acerca da neurofisiologia da linguagem eram abstraídas somente
através da análise da casos clínicos, advindos de acidentes que causassem danos a áreas
específicas do cérebro, e que acabavam por desenvolver sequelas de cunho linguístico – na
compreensão da fala, ou na produção de mesma, por exemplo. Retrocedendo mais ainda no
tempo, pensava-se na Grécia Antiga que o controle da linguagem estivesse concentrado
totalmente na língua do indivíduo. Assim, ao encontrar um indivíduo que, provavelmente
devido a um acidende vascular cerebral (AVC), apresentasse dificuldades na dicção, era
comum oferecer-lhe tratamento através de massagens em sua língua, na esperança de
recobrar-lhe a fala. Atualmente, estudiosos da neurociência contam com instrumentos
aguçados de avaliação da atividade cerebral, tais como fMRI, MEG, PET e ERP, a fim de
correlacionar características da linguagem e regiões cerebrais específicas e seus
respectivos padrões de ativação neuronal.
Neste capítulo, vamos explorar algumas das maravilhas da linguagem produzidas
pelo cérebro humano: o que a torna tão particular da espécie humana, sua lateralização e
modularidade cerebral, distúrbios ocasionados pela falha em alguns de seus mecanismos, e
como é possível o cérebro aprender e utilizar mais de uma língua para nossa comunicação.
mas até que ponto esta forma de comunicação pode ser equiparada à nossa? Será que
alguma outra espécie poderia aprender a “linguagem dos homens”?
Neste sentido, vários experimentos têm sido realizados, especialmente com
chipanzés. Em um deles, tentou-se ensiná-los a aprender palavras em Inglês de elementos
presentes em seu ambiente, e esperar que falassem ou ao menos entendessem o que lhes
fora apresentado. Um dos resultados mais significativos deste experimento foi perceber que
tais primatas possuem um sistema fonador diferenciado do nosso, o que limita
enormemente a produção de nuances dos sons que podem ser emitidos pela espécie
humana, e também que conseguiam compreender apenas 400 palavras aos 2,5 anos. Em
outra tentativa de ensinar um chipanzé a comunicar-se, optou-se pela Linguagem de Sinais
(ASL), e chegou-se à seguinte conclusão: até os 4 anos de idade, o chipanzé havia
aprendido a sinalizar 160 palavras, e chegou até mesmo a produzir a composição “water
bird” ao ver um cisne em um lago. Pois bem, comparando-se com crianças de nossa
espécie, aos 4 anos de idade, elas já possuem um vocabulário de aproximadamente 3.000
palavras. Além disso, não é possível saber com certeza se a produção de “water bird” por
aquele chipanzé representava uma alegoria ao cisne ou se, simplesmente, eram duas
mensagens separadas – uma indicando a água em si, e a outra indicando o cisne.
De modo muito diferente, a espécie humana parece ter sido selecionada com esta
característica inata à linguagem: atualmente, no planeta, contam-se 10.000 idiomas e
dialetos dentre todos os povos da raça humana. Além disso, casos de indivíduos que
cresceram em total isolamento com a sociedade relatam o desenvolvimento de formas
próprias de comunicação. Por fim, há algumas características que diferem a comunicação
humana daquela encontrada em qualquer outra espécie animal. São elas:
criatividade: a capacidade de gerar novas associações de palavras – ou até
mesmo criar um novo dialeto;
forma: uso de fonemas e sílabas para compor palavras, e emprego de regras
sintáticas bem definidas para compor sentenças, tudo isso sem a necessidade de
intrução formal, mas da aprendizagem implícita – experienciada em nosso dia-dia;
conteúdo: não só as palavras, mas também gestos, expressões faciais e a
entonação utilizadas carregam significado na comunicação humana.
uso: a língua serve o propósito de meio de comunicação social e também para
identidade própria (expressa nossos pensamentos e emoções).
Assim, podemos dizer que nossa forma de comunicação é única e complexa
dentre os seres vivos de nosso planeta. Surgem também algumas questões, de discussão
atual no meio científico: esta capacidade única do ser humano reflete algum ajuste fino do
cérebro primata para o propósito específico da linguagem? Ou tal capacidade dever-se-ia ao
desenvolvimento de uma arquitetura neural completamente nova? Para melhor nos ajudar
na busca por respostas a estas perguntas, vamos agora olhar para dentro do centro da
linguagem: o cérebro humano.
Neuroanatomia da Linguagem
Todos os aspectos da linguagem são comandados pelo cérebro: a captação de
ondas sonoras provenientes da conversa entre duas pessoas é levada ao sistema nervoso
central pelo nosso sistema auditivo; a produção da fala, envolvendo a articulação dos lábios
e língua, também tem seu controle motor coordenado pelo cérebro; a leitura e a escrita, e
até mesmo nossa linguagem corporal, intermediados pelos sistemas visual e motor, são
orquestrados pelos 1,5 quilo de massa cinzenta que se encontra dentro de nossa caixa
craniana.
Cada uma destas funções linguísticas encontra-se sob responsabilidade de áreas
neuroanatômicas bem definidas e localizadas, que serão ilustradas na Fig. 1 e Tab. 1:
O Cérebro Bilíngue
Comunicar-se, portanto, parece pertencer ao acervo biológico do homem, herdado
geneticamente de nossos ancestrais; em nossa espécie, há um instinto para o
desenvolvimento da linguagem – apesar dos possíveis problemas ou deficiências no
decorrer do percurso. E quanto à comunicação em duas línguas? Como está preparado o
nosso cérebro para aprender dois ou mais idiomas, e processá-los a nível neural? Existem
populações neurais específicas para cada idioma, ou que se complementam no
processamento de mais de um idioma? Aqui, devido à modularidade cerebral - já conhecida
não apenas para diferentes funções cognitivas do ser humano (como memória, motricidade,
visão, olfato), mas também para diferentes características linguísticas, temos novamente
que discernir entre as várias habilidades envolvidas também na comunicação bilíngue:
percepção de fonemas estrangeiros, aquisição de um léxico e de estruturas próprias da
língua em questão, articulação da fala e compreensão auditiva a uma velocidade adequada
para interação com nativos daquela língua, entre outras.
Experimentos em eletrofisiologia têm privilegiado as questões linguísticas que
envolvem aquisição e uso do léxico e da gramática em uma ou mais línguas (Perani &
Abutalebi, 2005), enquanto outros se propuseram a abordar a percepção fonêmica,
destacando-se entre estes Kuhl (2000), Stager & Werker (1997) e Rivera-Gaxola . (2001),
apontando para padrões de organização neural no córtex auditivo primário de crianças e
adultos.
A plasticidade neural particularmente em crianças é algo notável e aceito tanto
pela comunidade científica como pela sociedade leiga em geral, a qual percebe a facilidade
Figura 3 – Resultados de fMRI mostrando centros de ativação da linguagem para a fala em dois
idiomas, em dois indivíduos adultos, sendo o da esquerda uma situação de aprendizado tardio do
idioma, e o da direita, de aprendizado simultâneo de duas línguas. Retirado de Kim , 1997.
Outro importante estudo neste campo provou que não somente a idade, mas
também o nível de proficiência (ou domínio) do idioma influi na representação cerebral.
Estudos com fMRI encontraram maior densidade de massa cinzenta na região temporo-
parietal esquerda do cérebro daquelas pessoas que haviam aprendido mais precocemente
duas línguas e que possuíam maior grau de proficiência. (Mechelli, 2004). Isto equivale a
dizer que quanto mais cedo alguém é exposto a um idioma estrangeiro, maior a quantidade
de conexões entre neurônios naquela região cerebral específica envolvida no
processamento daqueles idiomas.
De fato, tomado de um ponto de vista neurobiológico, nascemos prontos para
aprender qualquer idioma. Uma criança que nasce na Coréia vai aprender coreano tão bem
quanto uma criança que aprende italiano por ter nascido na Itália, embora estas duas
línguas possuam sotaques e alguns sons de vogais e consoantes próprios, diferentes entre
elas. Nosso cérebro, nos primeiros anos da infância, não faz distinção entre japonês e
inglês, português e alemão, ou quaisquer outras línguas entre si. É somente após alguns
meses de vida que nosso sistema nervoso central começa a privilegiar os sons mais
freqüentes ao nosso meio, e por consequência, a não mais reconhecer fonemas
estrangeiros que não fazem parte do sistema de sons a que a criança está sendo exposta
(Fig. 4). Daí vem a dificuldade que muitos adultos encontram em, primeiro, perceber
auditivamente e, depois, em pronunciar determinados fonemas estrangeiros – como nas
palavras bad e bed, em inglês, para os brasileiros, ou como nas palavras avô e avó, em
português, para os povos de língua espanhola.
Figura 4 – Linha do
tempo para percepção
de sons da fala em
bebês, de 0 a 12 meses
de idade. Retirado de
Kuhl, 2004.
Conclusão e Perspectivas
O campo da neurociência se abre cada vez mais para estudos da linguagem.
Processos que envolvem desde a aquisição de uma língua, passando pelo seu
processamento, distúrbios, anomalias, codificação gênica, representação mental, e
chegando até o fenômeno do bilinguismo, todos ainda reservam perguntas que têm ajudado
em nossa construção do conhecimento acerca desta fascinante área.
Podemos apontar como perspectivas para o futuro algumas linhas de estudo:
Interação entre linguagem e sistemas de memória;
Ontogenia, prevenção e reabilitação de afasias e dislexias;
Melhor compreensão do papel de estruturas subcorticais no processamento linguístico;
Organização do léxico de duas ou mais línguas na memória;
Neurofisiologia da aquisição e processamento de duas ou mais línguas em diferentes idades
e níveis de proficiência.
Neurofisiologia da música
Introdução
A música é uma forma de arte e expressão humana presente mundialmente
(Hauser e McDermott, 2003; Gray e col., 2001; Tramo, 2001), irrestrito a gênero, classe
social, língua ou idade. Freqüentemente tratada apenas como uma manifestação cultural,
um alvo de pesquisa “não-essencial” (Zatorre, 2003), essa distribuição global gera indícios
de que a música é mais do que isso. Ainda assim, não há uma explicação clara e
consensual de suas vantagens adaptativas (Pinker, 1998).
Wright e col., 2000; Pinker, 1998; Clark, 1879, Darwin, 1874; para citar alguns) e não há
consenso nas respostas.
O autor Steven Pinker estabelece uma proposta bem abrangente, baseada em
seis pontos principais, para tentar responder à questão. Ele ousa dizer: “Eu suspeito que a
música seja um ‘bolo de queijo’ auditivo, uma confecção rara artesanalmente construída
para agradar os pontos sensíveis de pelo menos seis de nossas faculdades mentais”
(Pinker, 1998 - pág. 534). O primeiro aspecto levantado por Pinker é a própria fala. O autor
defende que a letra presente nas músicas faz com que ela ative circuitos neurais
“emprestados”, em particular, da prosódia. Achados mais recentes, relacionando música e
linguagem, serão apresentados mais adiante neste texto.
O segundo aspecto refere-se ao circuito neural relacionado à análise auditiva do
ambiente. Pinker compara a audição à visão, dizendo que assim como recebemos uma
série de estímulos luminosos que precisam ser diferenciados e separados (uma pessoa de
um fundo de árvores, por exemplo), precisamos distinguir os diversos estímulos sonoros que
nos são apresentados, por exemplo, separar um solista de uma orquestra, uma voz em um
ambiente cheio de ruídos, uma vocalização animal em meio a uma floresta cheia de ruídos.
O autor defende que nosso ouvido detecta cada freqüência e envia cada uma delas ao
sistema nervoso, que as associa, percebendo-as como um tom complexo.
“Presumivelmente o cérebro as associa para construir nossa percepção da realidade do
som” – pág. 535. Isto é, a interpretação em tons complexos provavelmente se dá pelo fato
de que sons naturais não ocorrem em freqüências puras, mas como tons complexos; logo, o
sistema nervoso associa novamente as diferentes freqüências que constituem um som
oriundo de um mesmo ponto no espaço e ao mesmo tempo porque são, em verdade, uma
mesma fonte sonora. Nesse sentido, “melodias são agradáveis ao ouvido pela mesma razão
que linhas simétricas, regulares, paralelas ou repetitivas são agradáveis aos olhos”. O
sistema nervoso, então, se utiliza desse circuito neural para fazer a interpretação das
melodias e harmonias presentes na música.
O terceiro aspecto defendido por Pinker é a emoção trazida pela música.
Baseando-se na sugestão de Darwin de que a música surgiu no homem devido às
chamadas de acasalamento de nossos ancestrais, o autor defende que uma série de
“chamadas emocionais” (como murmurar, chorar, rir, resmungar, gritar) tem um apelo
acústico próprio; “é provável que melodias evoquem fortes emoções porque sua estrutura
assemelha-se a chamadas emocionais de nossa espécie”. A música, então, traria diversos
sentimentos à tona semelhantemente a essas expressões emocionais. É interessante notar
que, segundo tal proposta de Darwin, a música poderia ser até anterior à fala.
Outro aspecto apontado por Pinker é a seleção de habitat. Fazendo mais uma
comparação entre o campo visual e auditivo, o autor ressalta que prestamos atenção a uma
A música também interferiria com tais circuitos neurais, de tal forma que ela altera
nossas emoções e nossa noção de segurança ou insegurança.
O quinto aspecto ressaltado por Pinker é o controle motor. O ritmo é um
componente universal da música e até mesmo único em algumas culturas. Tal ritmicidade
que nos faz dançar, bater palmas, balançar, e acompanhar a música, certamente estimula
nosso sistema motor.
O último aspecto defendido pelo autor é um “algo a mais” sem explicação
conhecida e que ele coloca como sendo, possivelmente, desde um acidente do
funcionamento conjunto de diversos circuitos neurais até uma ressonância entre disparos
neuronais e ondas sonoras.
As sobreposições entre música e linguagem vão muito além do relatado por
Pinker (1998) em seu livro. Patel (2003a) faz uma revisão da sobreposição existente no
processamento da sintaxe. Música também possui sintaxe e circuitos neurais que fazem o
processamento dessa característica musical parecem ser os mesmos utilizados para a fala.
A evidência vem de ambos os processos gerarem um potencial evocado P600,
significativamente indistinto em amplitude e distribuição no escalpo, após a apresentação de
sentenças verbais ou seqüências de acordes musicais com incongruências de sintaxe
(baseadas em regras de estrutura verbal para os estímulos verbais e regras harmônicas
para os estímulos sonoros). O processamento sintático ocorre em regiões do lobo frontal
anterior.
Koelsch e col. (2004) testaram a capacidade da música para representar
significados. Eles apresentaram palavras aleatórias a voluntários após eles terem ouvido ou
uma frase ou um trecho musical (apenas instrumental). Um eletroencefalograma com
registro de potenciais evocados mostrou a expressão de um componente N400 para a
apresentação de palavras não relacionadas ao estímulo inicial, independente deste ser uma
frase ou um trecho musical, o qual não variou em latência, distribuição no escalpo, fontes
neurais e amplitude. O componente N400 já havia sido descrito em experimentos de
semântica, aparecendo após a apresentação de palavras não relacionadas com o contexto
prévio. Diante dos resultados, os autores concluíram que “a música pode não apenas
influenciar o processamento de palavras, mas ela pode também pré-ativar representações
de conceitos, sejam eles abstratos ou concretos, independente do conteúdo emocional
desses conceitos”; em outras palavras, assim como a linguagem, a música pode facilitar a
compreensão de significados (em palavras e, provavelmente, também contextos).
Há ainda mais: paralelos entre a rítmica da linguagem e a da música (Patel,
2003b). A análise do ritmo da linguagem e da música em subcomponentes e a comparação
entre os domínios revelam que o agrupamento rítmico é semelhante na linguagem e na
música, mas não sua estrutura periódica (que é mais organizada na música). Novas
evidências ainda sugerem que a rítmica de linguagem de uma cultura deixa impressões na
sua rítmica musical. Isto é, diferenças na rítmica da linguagem refletem-se na rítmica
musical nas diferentes culturas. Esses achados reforçam a noção de que a música possui
tanto sintaxe quanto semântica e seja, possivelmente, como a linguagem, relativamente
inerente ao homem e não um simples produto da cultura. Novos estudos transculturais
permitirão afirmar se essas evidências se confirmam.
Fica claro, portanto, que a música tem estreitas e importantes relações com o
funcionamento de diversos circuitos neurais. Estes não foram selecionados por vantagens
adaptativas trazidas pela música, mas permitem, em última instância, sua criação e
percepção. A própria capacidade de discriminação de timbres seguramente não é produto
da necessidade de reconhecimento de diferentes instrumentos musicais. O reconhecimento
de sons complexos com freqüência fundamental definida é importante também para
diferenciar diferentes vocalizações de animais na natureza, além da própria comunicação
entre indivíduos; eles seriam uma boa indicação para distinguir as vocalizações de ruídos de
fundo (Zatorre, 2005). As tonalidades e o timbre certamente serviriam também à
identificação de vozes (lembrem-se dos bebês reconhecendo a voz da mãe). A percepção
de sons complexos evoluiu ao ponto de tornar a percepção de dois sons muito consonantes
como iguais, não só em humanos (Wright e col., 2000). Essa percepção, provavelmente deu
vantagem adaptativa aos seus possuidores. Qual ou quais vantagens é algo ainda incerto.
(Pinker, 1998).
Origens da musicalidade
Se de fato a música tem envolvimento com tantos circuitos neurais, essa
propriedade não pode ser uma exclusividade apenas da espécie humana, mas deve estar
presente no cérebro de outros animais também. A capacidade para interpretar música, de
uma forma diferente de outros sons quaisquer (também chamados sons não musicais) ou,
até mesmo, produzi-la, deve estar presente pelo menos em outras espécies de mamíferos.
O primeiro grupo lembrado quando se fala de música em animais, no entanto, são
os pássaros. Desde o século retrasado (Clark, 1879) tal grupo é investigado. As razões são
óbvias, percebidas por qualquer pessoa que já tenha entrado em contato com a natureza (e
escutado o som dos pássaros). Estudos recentes sobre o assunto (Baptista e keister, 2000)
apontam semelhanças entre a melodia do canto dos pássaros e as melodias produzidas
pelo homem. Segundo os autores, os pássaros “frequentemente usam as mesmas
variações rítmicas, relações tonais, permutações e combinações de notas que os
compositores humanos”. Detalhes presentes nas músicas produzidas pelo homem são
também notadas nas melodias usadas pelos pássaros, como inversões de intervalo,
relações harmônicas simples e retenção de uma determinada melodia com a troca de
registro (tonalidade) usado. O caso mais atípico e impressionante, talvez, seja da espécie
Probosciger aterrimus, a Cacatua-Negra, uma espécie de papagaio do extremo norte da
Austrália e Nova Guiné, que molda gravetos para que se assemelhem a baquetas (de
bateria) e batucam em diversos troncos até que achem um com ressonância agradável e,
então, o utilizam para produzir sons como parte de seu ritual de acasalamento.
Mas voltando aos mamíferos, Wright e col. (2000), trabalhando com macacos-
rhesus, mostraram que os mesmos são capazes de reconhecer como semelhantes melodias
idênticas tocadas em oitavas diferentes, mas não em tons diferentes. Ainda, tal
reconhecimento positivo aconteceu para melodias tonais, mas não para melodias atonais.
Estes resultados são consistentes com o achado de Bendor e Wang (2005), já descrito. O
experimento de Wright e colegas, porém, pode ter sido afetado pela exposição prévia dos
animais a música. Freqüentemente tais animais ficam em ambientes com televisões ligadas
para os mesmos (Hauser e McDermott, 2003), portanto, expostos a música e melodias
diversas.
É provável que o caso mais conhecido e consistente de musicalidade nos
mamíferos esteja nas baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae). Há décadas que se
conhece o “canto” dessas baleias e estudos recentes (Payne, 2000) também apontam para
semelhanças estreitas com as regras de construção musical utilizadas pelo homem. A
despeito de poderem produzir sons sem ritmicidade ou tonalidade, as baleias optam por
produzir sons rítmicos, de forma semelhante a composições humanas e com tonalidade
definida. Mais do que isso:
- O canto produzido por elas é composto de fraseados de tamanho semelhante às
frases na música composta por homens e, assim como nós, elas exploram diversos
fraseados dentro de um mesmo tema antes de partir para um tema diferente. Da mesma
forma, são freqüentes composições que exploram um tema, partem para uma seção mais
elaborada e, depois, retornam ao tema inicial (semelhante ao nosso formato de composição:
estrofe – refrão – estrofe);
- O tamanho total de um canto (uma música?) assemelha-se ao tamanho médio
de músicas produzidas pelo homem, possivelmente pelo fato de que o tamanho de seu
córtex permite uma capacidade atencional semelhante à nossa;
- Ainda que elas tenham uma extensão tonal que alcança sete oitavas musicais,
as baleias preferem compor músicas com intervalo entre notas também semelhantes às
nossas composições (que raramente explora toda essa extensão em uma única
composição);
- Elementos percussivos são incorporados à música e intercalados com tons
puros numa taxa semelhante àquela encontrada em composições humanas;
- Algumas repetições encontradas são semelhantes a rimas, indicando que as
baleias possam usar desse artefato tanto quanto os humanos usam: um recurso mnemônico
para lembrar-se de composições complexas.
Tantos elementos comuns entre os sons musicais produzidos por essas diferentes
espécies apontam para o fato de que a música não possa ser apenas um produto cultural
humano. Nas palavras de Gray e col., 2001:
“O fato de que a música das baleias e dos homens tem tanto em comum, mesmo
com nossos caminhos evolucionários não tendo se cruzado em 60 milhões de
anos, sugere que a música deve ‘predar’ os humanos, ao invés de sermos os
inventores dela. Nós somos adeptos tardios do ambiente musical.” – pág. 53
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Metabolismo
A taxa metabólica varia com o tipo e a intensidade dos processos que estão
ocorrendo. Esses processos incluem o crescimento e o preparo de tecidos; o trabalho
interno químico, osmótico, elétrico e mecânico; e o trabalho externo para a locomoção e
comunicação. Desta forma, a energia ingerida pode seguir diferentes caminhos, sendo que
uma parte desta será utilizada para realização de diferentes trabalhos como os descritos
acima e também liberada na forma de calor (Fig. 2) (Randall e col., 2000).
Para conhecer a taxa metabólica de um organismo, é necessário analisar
primeiramente a taxa metabólica basal ou padrão (TMB), que consiste na menor taxa
metabólica ou no mínimo de energia que o organismo necessita para viver (Hochachka e
Somero, 2002). Com a TMB é possível calcular o quanto da taxa metabólica deste
organismo foi alterada para realizar algum trabalho.
Em mamíferos, para que a TMB seja validada deve ser levado em consideração as
seguintes condições:
a análise deve ser no estágio de desenvolvimento adulto;
o organismo não deve ingerir alimentos (geralmente sendo utilizada uma noite em
jejum para humanos);
as condições de temperatura devem ser “normais” para aquela espécie;
não deve haver condições estressantes;
o animal deve estar em repouso.
A TMB deve ser medida diretamente através da produção de calor, ou indiretamente
pela medição do consumo de oxigênio (VO2 - volume de oxigênio por Kg por minuto). É
possível também calcular a taxa metabólica de repouso (TMR), que é similar a TMB, mas
neste caso o organismo não precisa estar em jejum (Hochachka e Somero, 2002). As
técnicas para medidas do metabolismo energético serão abordados mais detalhadamente
no próximo capítulo.
É importante mencionar que a TMB é tecido especifico (Rolfe e Brown, 1997). Em
humanos, por exemplo, o relativo tamanho do fígado, trato gastrointestinal, rim, pulmão,
sistema nervoso, coração e músculos são 2; 2; 0,5; 0,9; 2; 0,4; e 42%, respectivamente, e a
soma de todos estes tecidos representa 50% da massa total do organismo. Entretanto, a
contribuição de cada tecido na TMB é de 17; 10; 6; 4; 20; 11 e 25% respectivamente,
representando 90% da TMB em humanos (Hochachka e Somero, 2002).
Como foi dito acima, a TMB pode variar devido a diferentes fatores, entre eles a
temperatura. Por isso, é necessário medir o equivalente da taxa metabólica basal, na qual o
animal não está gastando energia metabólica adicional para se aquecer ou resfriar. Por essa
razão, a taxa metabólica padrão (TMP), é definida como o metabolismo do animal em
repouso em jejum em certa temperatura corporal. Para alguns ectotérmicos, a TMP
depende do histórico de sua temperatura prévia, em virtude da compensação metabólica ou
da aclimatação térmica (Randall e col., 2000).
Conceitos
Serão apresentados abaixo os conceitos de energia e temperatura necessários para o
entendimento dos tópicos abordados neste capítulo:
a energia está relacionada à realização de trabalho, como a energia associada
ao movimento (energia cinética). Existem outras formas de energia como a
química provinda, por exemplo, através do ATP (Ferrano e Soares, 1998);
Para a compreensão de como a temperatura pode interferir nos processos
metabólicos é necessário compreender que, quando há um aumento da energia em uma
molécula, a movimentação dos seus átomos é elevada, fazendo com que as mesmas se
choquem com maior intensidade umas com as outras, tal processo é chamando de energia
cinética molecular (Ferrano e Soares, 1998).
temperatura é a grandeza que mede a intensidade da agitação térmica
(Ferrano e Soares, 1998);
calor é a energia em trânsito determinada pela diferença de temperatura entre
os sistemas envolvidos (Ferrano e Soares, 1998).
Endotermia e Ectotermia
A velocidade das reações químicas aumenta com a temperatura, devido a isso, a
atividade metabólica de um animal está relacionada diretamente com a sua temperatura
corporal: animais com temperaturas corporais baixas apresentam taxas metabólicas
reduzidas. Sendo assim, é possível utilizar a temperatura corporal, mais especificamente
sua estabilidade, nos organismos para classificar os processos termorregulatórios corporais
(Randall e col., 2000).
Metabolismo e Temperatura
que a expressão da avUCP foi aumentada quando os animais foram aclimatados ao frio
(Raimanbalt e col., 2001).
Tais resultados experimentais para aves e os já conhecidos estudos prévios para
mamíferos demonstram que a avUCP e a UCP1, respectivamente, são um dos
responsáveis pela regulação térmica desses grupos que os permitem serem classificados
como endototérmicos.
Q10 = (k1/k2)10/(t1-t2)
população, mas também, que a energia daquele sistema é maior que a média de energia
para que ocorra a reação, com isso podemos explicar porque os valores de Q10 ficam em
torno de 2 mesmo com a elevação de 10° da temperatura (Hochachka e Somero, 2002).
Este capítulo foi baseado no livro Measuring Metabolic Rates de John R.B. Lighton (2008).
extingue o fogo. Percebeu, ainda, que o gás que não sustenta mais a chama, em parte
dissolve em água e é semelhante ao gás da fermentação da cevada. Além disso, ele
descobriu que ao jogar óleo de vitriol sobre giz ele conseguia produzir este mesmo gás que
ele chamou de “fixed-air”. Havia, uma terceira fração desse ar que sobrava após a chama se
apagar que não sustentava mais a chama e nem dissolvia em água. Prietley pensou ter
descoberto o flogisto. Hoje conhecemos essa substância como nitrogênio. Ele percebeu
ainda que parte do ar que sobrava na jarra após o camundongo morrer também era “fixed
air”. Propôs ainda que o “fixed air” seria retirado do ar pelas plantas permitindo que o ar
sustentasse a vida e a combustão novamente. O “fixed air” nada mais é que o nosso gás
carbônico. Priestley produziu, ainda, um outro gás ao aquecer óxido de mercúrio.
Incrivelmente, este gás sustentava a chama de velas de forma mais intensa e por mais
tempo do que o próprio ar. Neste momento ficamos tentados a antever o próximo passo e
dizer que Priestley descobre o oxigênio e derruba a teoria do flogisto. Entretanto, como dito
no início deste texto, a ciência percorre caminhos tortuosos e, por mais contraditório que
pareça, Priestley foi um dos mais ardorosos defensores do flogisto e interpretou todos os
seus incríveis resultados segundo este paradigma. De fato foi a partir desta perspectiva que
ele descreveu o experimento em que o óxido de mercúrio é aquecido, atribuindo
erroneamente o efeito ao processo de deflogisticamento do ar.
A teoria do flogisto só é derrubada após um acúmulo massivo de experimentos e
evidências produzidos por Antoine Lavoisier (1743–1794) e os anti-flogistianos que
estabeleceram que era mais parcimonioso assumir que o flogisto era um gás o qual
Lavoisier chamou de oxigênio. Apesar da controvérsia entre flogistianos e anti-flogistianos,
ambos aceitavam as similaridades entre o processo de combustão e a manutenção da vida
na presença de ar. Com os estudos de nutrição e taxa metabólica, Lavoisier juntou todos os
elementos necessários para solidificar o conceito de metabolismo energético como uma
combustão lenta dos alimentos realizada pelos organismos e tecidos vivos. O
desenvolvimento dos paradigmas, a partir de então, acompanharam o desenvolvimento
tecnológico dos equipamentos de medida. Deste modo, a seguir farei uma rápida descrição
das principais técnicas respirométricas: calorímetro de gelo, manômetros e respirometria
fechada, a coulorimetria e a respirometria aberta.
gelo. Usando o conceito de calor latente1 proposto por Joseph Black e sabendo que o calor
latente de derretimento do gelo é 0.334kJ/g, calcularam pela primeira vez, através da
quantidade de água produzida por esse
derretimento, a energia perdida por um animal
ajustando o metabolismo para 0ºC. Chegaram
ao valor de 270kJ/h ou 75W de energia,
aproximadamente o mesmo que uma vela
queimando. Daí advém o nome de
calorimetria à técnica e de caloria à unidade
de medida que adotamos nos estudos de
metabolismo energético.
Dentre as muitas descobertas
científicas que o casal é responsável,
somente na área de metabolismo energético
eles realizaram uma série de medidas que
estabeleceram conceitos básicos que ainda
estão sendo desvendados nos dias de hoje.
Medindo humanos e animais estabeleceram
que o consumo de oxigênio aumenta com o
tamanho dos animais e com o exercício,
Figura 2 - Ilustração do primeiro calorímetro descobriram a termogênese induzida por
de gelo usado em 1782 e 1783 por Antoine dieta, inventaram o método de calorimetria
Lavoisier, Marie-Anne Paulze e Pierre-
indireta que mede a taxa metabólica através
Simon Laplace para medir o calor envolvido
do consumo de oxigênio e a calorimetria
em diversos tipos de reações químicas,
direta (calorímetro de gelo). Contudo, o
baseados no conceito de calor latente de
trabalho intelectual do casal Antoine Lavoisier
Joseph Black. Além de inaugurar os
estudos da termoquímica, realizam a e Marie-Anne Paulze é bruscamente
primeira medida de metabolismo energético interrompido com o advento da Revolução
ao medir um porquinho-da-índia no Francesa, momento em que ambos são
calorímetro de gelo (Modificado de decapitados. Somente um século após a
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Ice- morte do casal avanços em instrumentos
calorimeter.jpg.) manométricos proporcionam novidades
técnicas no campo das medidas metabólicas.
1
Energia absorvida por uma substância enquanto muda de estado, sem mudança de temperatura. Os
mais comuns são o calor latente de fusão (estado sólido para líquido) e de ebulição (líquido para
gasoso).
Pa – Po = H.g.ρ
O2=h [( Vf [ 273.15 / T ] + Vq x b ) / P ]
(consumo em µL O2)
Cálculos:
O2=( µL x PB x 273.15 ) / ( 101.325 x T )
(consumo em µLO2)
onde µL é o volume de ar que diminuiu no sistema, PB é a pressão barométrica em
kilopascals e T é temperatura em Kelvin.
apresenta mudança de volume inicial versus final. Parece que o animal não respira porque o
consumo de oxigênio compensa a produção de gás carbônico. Podemos usar esta
característica para obter o QR usando a fórmula:
QR = (MR-MRap)/MR
Respirometria Coulométrica
A respirometria coulorimétrica foi descrita pela primeira vez por N. T. Werthessen em
1937. Ela baseia-se, como na respirometria fechada, no princípio de constância de volume
e pressão do gás encerrado em um recipiente respirométrico, associado à produção
eletrolítica de oxigênio. Esse sistema de grande precisão resolve o problema de alterações
nas condições do ar interno á câmara respirométrica, porém é pouco utilizada.
O funcionamento é simples: oar de uma câmara respirométrica fica ligado a um
recipiente que contém solução saturada de sulfato cúprico. Como na respirometria fechada,
o gás carbônico produzido pelo organismo medido é absorvido do ar por ascarite ou solução
de KOH. Conforme o volume de ar da câmara diminui, a solução de sulfato cúprico sobe e
encosta no anodo, fechando o circuito. Assim que a eletrólise vai liberando oxigênio,
restabelece a concentrações de oxigênio, o volume de ar da câmara aumenta e empurra a
solução de sulfato cúprico para baixo, desligando o circuito novamente (Fig. 8).
Usando o montante de eletricidade liberada ou consumida, medido em coulombs,
desta reação de eletrólise obtemos a produção de oxigênio em quantidades muito precisas.
Através da fórmula:
nLO2 = Q[Vm/(4F)]
Respirometria de fluxo
O próximo avanço nas técnicas respirométricas não vem no sentido de facilitar as
medidas, muito pelo contrário, a grande desvantagem das técnicas de respirometria de fluxo
é a complexidade do equipamento. Enquanto a respirometria fechada é até certo ponto
intuitiva e passível de ser feita de modo artesanal, como descrito acima, a respirometria de
fluxo passa a se valer de equipamentos mais sofisticados e que exigem um conhecimento
técnico mais apurado para que sejam devidamente manejados e as medidas válidas sejam
obtidas. A seu favor, a respirometria de fluxo traz uma significativa expansão das fronteiras
do que é possível de ser medido e do que se pode conhecer do metabolismo dos
organismos, limites estes os quais ainda estamos explorando. Com o equipamento
adequado, montado de maneira eficiente, já podemos obter medidas de consumo de
oxigênio de uma única drosófila em tempo real (Lighton e Schilman, 2007).
Esta respirometria usa um sistema de fluxo criado por bombas de ar à vácuo
associado a analisadores de gases compostos de sensores de oxigênio e gás carbônico.
Enquanto a respirometria fechada baseia-se na medida de consumo de oxigênio, a
respirometria de fluxo permite o registro tanto do consumo de oxigênio quanto do gás
carbônico produzido, isoladamente ou associados no mesmo sistema respirométrico. Ela
tem expandido as possibilidades de medição de fenômenos fisiológicos mais dinâmicos e
ligados a ajustes dos organismos a diferentes contextos biológicos. Uma característica
marcante é a possibilidade de medidas dos animais executando atividades diferentes, com
grande precisão no registro de gasto energético. A respirometria de fluxo teve um impacto
direto na maneira como lidamos com a fisiologia. Seu uso na medicina, na melhoria do
desempenho de atletas, ou na veterinária, no desempenho de animais de corrida, já nos é
cotidiano. Toda a fisiologia do esporte, dos ajustes rápidos realizados pelo corpo durante os
diferentes tipos de práticas esportivas só puderam ser investigadas diante destes avanços
nas técnicas de respirometria, que permitiram obter medidas de gasto energético em tempo
real.
Se em um extremo temos a possibilidade de medir fenômenos fisiológicos mais
dinâmicos e de ajustes rápidos, no outro extremo temos a possibilidade de acompanhar
ajustes de animais diminutos e de baixo metabolismo. Papel de destaque no
desenvolvimento de novos equipamentos e técnicas encontra-se na figura de John R. B.
Lighton (Sable Systems International).
O enorme panorama de desenhos experimentais, de montagem dos equipamentos
(exemplo, Fig. 9) e mesmo de empresas que oferecem soluções para as diferentes
necessidades de pesquisadores e outros profissionais que usam respirometria, tornam o
assunto inesgotável e difícil de sintetizar de maneira satisfatória em um texto introdutório.
Sendo assim, o que irei explorar a seguir são algumas características necessárias para
guiar a escolha do tipo de medida mais adequado à pergunta que se deseja responder,
assim como as vantagens e desvantagens de cada tipo de medida. Para mais detalhes
técnicos, dicas de equipamentos e soluções para possíveis problemas, recomendo o livro
Measuring Metabolic Rates de John R. B. Lighton de 2008.
Figura 9 – Esquema de uma das maneiras de montar um sistema respirométrico de fluxo com
equipamento da Sable Systems International. 1. bomba de ar; 2. câmara para manter estabilidade de
pressão do ar; 3. fluxímetro; 4.controlador de umidade relativa do ar (UR%); 5. controlador de
abertura e fechamento das câmaras respirométricas; câmara respirométrica com animal; 7.
absorvedor de umidade do ar e gás carbônico; analisador de oxigênio; 9. programa que registra os
dados do analisador.
que cada sensor responde de uma maneira às perturbações que ocorrem ao redor do
equipamento. Para alguns aparelhos que são sensíveis à vibração, por exemplo, colocar
uma bomba de ar vibrando na mesma mesa pode ser um desastre. Além disso, medir o
consumo de oxigênio demanda tempo e paciência, já que a instabilidade do sistema é uma
grande desvantagem a ser considerada, efeito especialmente sentido na medida de animais
muito pequenos e/ou de metabolismo baixo. A vantagem da medida de consumo de
oxigênio é a sua correspondência direta com o metabolismo energético do organismo (ver
Analisador de CO2).
Fluxo de ar: a escolha do fluxo de ar a ser usado depende do fenômeno a ser medido.
Animais com metabolismo alto pedem fluxos de ar alto, tanto para evitar hipóxia e
hipercapnia, em um sistema de lavagem de câmaras, ou mesmo em um sistema de
máscara, em que não há perigo de hipóxia e hipercapnia, para que a dinâmica do consumo
registrado acompanhe as mudanças metabólicas na mesma velocidade em que elas
acontecem. Se a captação da amostra de ar pela máscara acontece em uma velocidade
menor do que as mudanças que se deseja acompanhar do organismo, a lentidão do registro
passa a não captar o fenômeno. Por outro lado, animais que apresentam baixo metabolismo
e/ou pequeno tamanho corpóreo, imprimem baixas trocas gasosas, alterando pouco a
composição do ar que passa pelo sistema. Nestes casos, diminuir o fluxo permite que haja
alteração na composição do ar suficiente para que esta alteração seja sentida pelo sensor
presente no analisador. Porém, fluxos muito baixos causam uma defasagem entre a
atividade observada no animal e o registro do analisador, aspecto que precisa ser
considerado na hora de decidir o fluxo de ar usado.
influência direta neste tipo de medida devido ao fato do gás carbônico ser mais pesado que
os demais gases presentes no ar e tender a se depositar na parte inferior da câmara. Isto
cria, no melhor dos casos, defasagens de medidas e, no pior dos casos, alterações na
dinâmicas imprevisíveis na lavagem da câmara. Esta alteração na dinâmica de lavagem
pode criar registros no sensor que não tem relação direta com as trocas de gases realizadas
pelo animal medido, mas sim, com lavagens ineficientes, incompletas e irregulares das
câmaras respirométricas. Os melhores desenhos de câmaras respirométricas são câmaras
sem cantos e irregularidades onde o gás carbônico não tenha a possibilidade de ficar retido,
e de tamanho próximo ao tamanho do animal. Por outro lado, o formato e tamanho da
câmara tem impacto direto no comportamento do animal que está sendo confinado e
características do comportamento deste precisam ser considerados para que se evite
fatores de estresse quando não se quer medi-los. Por exemplo, de maneira geral, recintos
sem cantos ou sem irregularidades (exemplo extremo são recintos perfeitamente esféricos)
são altamente perturbadores e podem ser um fator de estresse para o animal, apesar de ser
o melhor formato de câmara sob o aspecto de lavagem.
Absorvedores de água: a presença de vapor de água no ar que passa pelos sensores dos
analisadores de gases altera a medida diminuindo o sinal, ou seja, o valor registrado é
menor do que o registrado por um fluxo de ar seco passando pelo sensor. Em animais que
realizam grandes volumes de trocas de gases, como mamíferos e aves, esse efeito é menor
não afetando de modo impeditivo o registro. Entretanto, quando lidamos com animais de
metabolismo mais baixo, como anfíbios, répteis e artrópodes, o vapor de água causa efeitos
significativos nas medidas. Para lidar com o vapor de água presente no fluxo de ar
normalmente usamos uma sustância que retira essa água do ar (p.e. sílica-gel, drierita ou
perclorato de magnésio).
Absorvedores de gás carbônico: o ponto no sistema onde o gás carbônico será retirado
da corrente de ar muda conforme a montagem do equipamento, como visto acima. Ele pode
ser usado para filtrar o ar inicial que entra no sistema. Se o analisador de oxigênio for o
equipamento escolhido para a medida, o ar precisa passar por um absorvedor de gás
carbônico antes de entrar no aparelho. As substâncias mais usadas em equipamentos
respirométricos são o Ascarite II, o KOH e cal sodada.
Figura 11- Exemplo de registro de respirometria aberta de uma formiga forrageando. Produção de
CO2 da formiga antes de beber uma solução aquosa de açúcar 30% (flecha da esquerda), enquanto
estava bebendo (registro entre as flechas) e depois de beber (registro após flecha da direita)
(Modificado de Schilman e Roces, 2006).
Considerações finais
Muitas vezes pensamos que a fronteira do conhecimento científico está delimitada
pelo o que podemos realizar tecnologicamente em determinado momento histórico.
Contudo, a história da ciência e dos cientistas mostra que o mundo científico é feito também
de muita criatividade e ousadia em questionar velhos modelos. Neste contexto, é
emblemático o exemplo do embate de Priestley (representando os flogistianos) e o casal
Lavoisier (representando os anti-flogistianos). É inegável a qualidade de Priestley como
cientista e investigador de propriedades da matéria, porém, sua visão de mundo molda a
interpretação de seus resultados, e mesmo possuindo evidências suficientes para superar o
velho modelo flogistiano, molda a interpretação de seus resultados conforme o paradigma
vigente. Coube a Lavoisier mudar a forma de pensar sobre o ar, a vida e a combustão,
imprimindo uma longeva mudança de perspectiva ao mundo.
Todo este histórico permitiu o desenvolvimento das novas técnicas e dos novos
materiais disponíveis apresentados, como as câmaras respirométricas transparentes e
detectores de movimento, que possibilitaram a medição da determinação das relações
energéticas envolvidas em fenômenos fisiológicos e comportamentais mais dinâmicos.
Estas medidas têm sido carro-chefe de novidades recentes na fisiologia como a endotermia
de insetos, medidas precisas de gasto energético de organismos em estado reprodutivo,
auxiliando também na melhoria de técnicas de criação, medidas de desempenho animal
com implicações em interpretações evolutivas e ecológicas, entre outros. Alguns destes
processos fisiológicos e comportamentais que envolvem alterações no metabolismo
energético de animais ectotérmicos e endotérmicos são apresentados nos cap. seguintes.
Transferência de energia
Para que um corpo ou animal mantenha uma temperatura constante, a perda de energia
deve ser igual ao ganho. Uma compreensão dos mecanismos fisiológicos envolvidos nas
trocas de energia que afetam a temperatura dos animais requer o conhecimento de alguns
princípios físicos. Como já mencionado na presente unidade, o calor, por exemplo, é a
transferência de energia entre corpos que diferem em temperatura, e tal transferência
acontece via quatro diferentes formas que são: condução, convecção, irradiação e
evaporação (Schmidt-Nielsen e Duke,1996).
Condução
A condução ocorre entre corpos físicos que estão em contato entre si, sejam sólidos,
líquidos ou gases.
Convecção
A transferência de energia que ocorre em fluidos em geral e ocorre devido às
diferenças de densidade das partes envolvidas.
Radiação
A transferência de energia que ocorre na ausência de um contato direto com um
objeto - é dessa forma que todos os dias o Sol aquece a Terra.
Evaporação
Energia perdida através da água e o resultado é o resfriamento da superfície
corporal.
Os animais ectotérmicos, utilizam esses mecanismos na regulação da temperatura, por
exemplo: condução (seleção do substrato), a convecção (posições em relação ao sol), a
radiação (comportamento e pigmentação da pele) e a evaporação através do ofego (Fig.1).
Figura 1 - Representação da troca de energia por condução, convecção, radiação e evaporação para
um réptil em um ambiente terrestre (De Heatwole e Taylor, 1987, Modificado de Withers, 1992).
Ectotérmicos
Vamos primeiramente examinar as relações termais de animais ectotérmicos
aquáticos. Os animais de hábitos noturnos geralmente não apresentam uma significativa
troca de energia com o meio, portanto, são termoconformadores, já os de hábitos diurnos
fazem a termorregulação por migrações verticais e horizontais. Em seguida, vamos
examinar os animais ectotérmicos terrestres, os de hábitos noturnos podem evitar
temperaturas extremas, são, portanto termoconformadores, já os diurnos termorregulam por
heliotermia e seleção de substrato (Withers, 1992). No final será abordada a influência da
temperatura sobre a locomoção de vertebrados terrestres e a influência da mesma nas
respostas comportamentais defensivas.
Ectotérmicos Aquáticos
A água tem uma condutividade relativamente baixa de energia e um calor específico
alto, e, por conseguinte leva um longo tempo, tanto para aquecer como para esfriar. Por
causa disto, rápidas flutuações de temperatura do ar fora da água se transformam em
pequenas e lentas mudanças dentro dela. O ar é rapidamente aquecido ou resfriado e
conseqüentemente foram entre os animais terrestres que se desenvolveram as maiores
adaptações a temperaturas extremas (Withers, 1992).
A dissipação de energia através das brânquias é tão eficaz para a maioria dos
animais aquáticos que a produção metabólica de energia não tem nenhum significado
térmico e a temperatura do corpo é semelhante à temperatura da água. Muitos animais
ectotérmicos aquáticos são capazes de termorregulação precisamente a uma temperatura
de preferência (Tpref). Esta regulação da temperatura de preferência é realizada através do
comportamento por uma água de temperatura adequada, ao invés da termorregulação por
meio fisiológico (Withers, 1992).
Ectotérmicos terrestres
Muitos ectotérmicos terrestres apresentam uma considerável capacidade para a
termorregulação comportamental e fisiológica. O ar tem baixa condutância e uma menor
capacidade de energia do que a água, desta forma é mais fácil para um ectotérmico
terrestre manter o gradiente termal entre Tc e Ta. A taxa de aquecimento ou resfriamento de
um objeto ou animal, em ambientes frios ou quentes é determinada pela temperatura
diferencial, pela propriedade da superfície e pela propriedade termal do meio (condutividade
e calor específico) (Withers, 1992).
Muitas variáveis afetam a condutância dos animais. A mais importante é o tamanho
corpóreo, presença de isolamento e a natureza do meio (ar ou água). A massa corporal é de
suma importância uma vez que a relação área de superfície/massa corpórea do animal
determina inércia termal, ou seja, a tendência a mudar a temperatura do corpo em
decorrência das mudanças na temperatura ambiente. Animais grandes têm uma menor área
superfície/massa que os pequenos animais, e desta forma resfriam ou aquecem mais
vagarosamente (Withers, 1992).
A inversa relação entre condutância termal e massa do corpo tem profundo
significado ecológico. Animais pequenos possuem considerável dificuldade para a
manutenção da temperatura, por exemplo, uma abelha que tem 20 gramas de massa irá
perder temperatura em um ambiente frio em poucos minutos. O isolamento térmico também
pode afetar a condutância, por exemplo, as abelhas que possui os pelos do corpo removido
têm uma maior condutividade que as abelhas que possuem os pêlos (May, 1976). Em
animais geralmente o ganho é mais rápido do que a perda de energia, isto é particularmente
evidente em lagartos e crocodilianos. Existem também mudanças no batimento cardíaco
(mais rápido durante o aquecimento), desta forma os ajustes cardiovasculares e metabólicos
provavelmente facilitam o aquecimento e retardam o resfriamento (Fig.2) (Withers, 1992).
Figura 3- Adaptações posturais da libélula para maximizar o ganho de energia (i) por heliotermia ou
(ii) para minimizar o ganho de energia (May,1976 – Modificado de Withers, 1992).
Coloração
A coloração tem importante efeito na termorregulação, pois 50% da energia radiante
vêm do sol e é no espectro visível. Conseqüentemente a refletância visual (cor) influencia no
ganho de energia. As superfícies pretas refletem menos energia radiante que as superfícies
brancas. Por exemplo, nos animais que apresentam coloração preta é esperado que
absorvam mais radiação e assim apresentem uma temperatura corpórea maior que os
animais de coloração branca (Fig.4) (Withers, 1992).
Lagartos noturnos não possuem nenhuma fonte de radiação solar (embora alguns aqueçam
durante o dia enquanto estão inativos), muitos lagartos que habitam as florestas não podem
se aquecer porque eles habitam ambientes sombreados. O lagarto tropical Anolis cristatellus
é um oportunista termal; ele é termoconformador em áreas sombreadas, mas é
termorregulador em áreas abertas. Alguns lagartos absorvem energia através do contato do
ventre com uma superfície ou substrato de energia, por exemplo, em rochas aquecidas.
Esses lagartos são chamados de tigmotermos porque seu maior ganho de energia é através
da condução em vez da radiação (Withers, 1992).
A maioria dos lagartos diurnos se aquece em luz solar e são chamados de
termorreguladores com temperatura de preferência do corpo de aproximadamente 35 a
40°C. Esses lagartos heliotérmicos manipulam a troca de energia através de vias
comportamentais e fisiológicas. Assim, o controle comportamental inclui: mudança na
orientação do corpo em relação ao sol, alterações do contorno do corpo, mudança na
coloração (componente fisiológico) e também o controle fisiológico através das alterações
na circulação periférica. Lagartos heliotérmicos têm uma estreita faixa de temperatura de
preferência, a faixa de tolerância termal é o intervalo de temperatura com o qual o animal
pode sobreviver sem comprometer o sistema fisiológico. A faixa de sobrevivência termal é
definida como a temperatura crítica mínima e a temperatura crítica máxima. A temperatura
“ótima” é um intervalo que seria o ideal para muitas funções bioquímicas e fisiológicas, com
um aumento chegando a um platô e depois decaindo em altas temperaturas, isso ocorre por
causa da instabilidade termal das estruturas e funções das proteínas, como já discutido em
capítulos anteriores (Withers, 1992).
Na caatinga brasileira os sapos Pleurodema diplolistris passam os 10 ou 11 meses
anuais de seca enterrados na areia sem água e sem alimento, quando a chuva chega, os
machos emergem cantando em uníssono e logo saltam para a lagoa mais próxima. Atraídas
pela cantoria, as fêmeas escolhem seus pares e liberam dezenas de óvulos. Em um ou no
máximo dois meses, quando as chuvas cessam e os rios desaparecem os sapos recém-
nascidos precisam estar completamente formados e prontos para se enterrarem na areia
(Carvalho e col., 2010).
Adaptações ao Frio
Muitos ectotérmicos estão bioquímica e fisiologicamente adaptados para sobreviver e
até mesmo funcionar normalmente em baixas temperaturas ambientais. Entretanto,
temperaturas que são frias o suficiente para congelar os tecidos do animal são
potencialmente letais e devem ser evitadas ou requerer adaptações específicas para a
sobrevivência. Muitos ectotérmicos simplesmente evitam condições congelantes por
migrações ou buscando por microclimas mais quentes, mas alguns ocasionalmente têm
Estratégias anti-congelamento
Vários ectotérmicos, tais como os artrópodes polares e o peixe icefish, evitam se
congelar diminuindo o ponto de congelamento dos fluidos do seu corpo abaixo da
temperatura média do ambiente, ou permitindo que os fluidos super-resfriem abaixo do
ponto de congelamento normal (Withers, 1992).
Super-resfriamento
Um animal pode ficar exposto a uma temperatura consideravelmente abaixo do ponto no
qual seus líquidos corpóreos possivelmente congelariam, todavia, permanecem super-
resfriados, a menos que a formação de gelo se inicie por meio da nucleação. Por exemplo,
se um pedaço de água congelada a −1,9° C for colocada próxima ao peixe, o estado de
super-resfriamento é destruído, e o peixe congela e morre. Desta forma, o super-
resfriamento será uma boa estratégia apenas quando o risco de entrar em contato com
agentes nucleadores for muito baixo. Tal super-resfriamento é de fato de grande importância
para a sobrevivência de muitos animais. Durante uma noite ocasionalmente fria, por
exemplo, o super-resfriamento pode ser essencial para os animais intolerantes ao
congelamento que não conseguem buscar um refúgio mais quente. Répteis e anfíbios, cujos
fluidos corpóreos, se nucleados, começariam a congelar a -0,6°C foram super-resfriados até
-8°C, sem que congelassem (Lowe e col., 1971). Isso pode significar a diferença entre a vida
e a morte para um animal que fica inesperadamente exposto a uma noite muito fria, antes
de encontrar um esconderijo para proteção contra os rigores do inverno. (Schmidt-Nielsen e
Duke, 1996).
Um componente particularmente efetivo na redução do ponto de congelamento e
também do de super-resfriamento é o glicerol. O glicerol freqüentemente ocorre em alta
concentração em insetos hibernantes e é muito eficaz no aumento da tolerância ao frio
(Schmidt-Nielsen e Duke, 1996).
Proteínas anti-congelamento
A substância responsável pela redução no ponto de congelamento tornou-se
conhecida como uma substancia "anticongelativa". Ela foi originariamente identificada e sua
composição elucidada no sangue de um peixe antártico, Trematomus (DeVries, 1970). É
uma glicoproteína que atua impedindo a adição de moléculas de água à matriz de cristais de
gelo e, portanto, o seu desenvolvimento. O anticongelativo impede a adição de moléculas de
água ao cristal, pois se liga a superfície do mesmo e assim bloqueia o seu subseqüente
crescimento (DeVries, 1982).
Tolerância ao congelamento
Embora uma tolerância natural ao congelamento e a formação de gelo sejam
fundamentais para a sobrevivência de muitos insetos no inverno, somente alguns
vertebrados suportam a formação pronunciada de gelo. Os peixes parecem incapazes de
suportá-la e a maior parte dos vertebrados superiores não tolera o congelamento sob
condições naturais (Schmidt-Nielsen e Duke, 1996).
Exceções são encontradas entre alguns anfíbios que enfrentam o inverno no solo. A
rã, Hyla versicolor, apresenta um congelamento parcial e controlado, além disso, há toda
uma preparação para o inverno. Nesta estação esses animais apresentam 3% de glicerol
em seus fluidos corpóreos - possivelmente se o animal estivesse no verão ele seria muito
menos tolerante ao congelamento; mas, por outro lado, em rãs que não toleram o
congelamento, tais como a rã leopardo comum, Rana pipiens, o glicerol encontra-se
ausente. Essa rã suporta o inverno em um habitat aquático, ao passo que a rã no solo tem
contato com temperaturas que rapidamente declinam abaixo de zero. Outras rãs tolerantes
Considerações finais
Desta forma podemos observar que nos animais ectotérmicos, a maioria das
atividades fisiológicas são depende da temperatura do corpo, sendo que a mesma está
diretamente relacionada com a temperatura do ambiente. Muitos processos bioquímicos e
fisiológicos são a base do padrão comportamental e são dependentes da temperatura
(Bartholomew, 1982). Sabemos que vários fatores (abióticos e bióticos) podem influenciar
nos padrões de comportamentos nos animais. Entre os fatores abióticos, a temperatura
pode influenciar diretamente o seu metabolismo e conseqüentemente na sua atividade
(Lillywhite 1987). De acordo com Shine e col. (2000), a temperatura do corpo pode ser uma
das mais importantes influências no comportamento anti-predador em vertebrados
ectotérmicos, pois a temperatura irá determinar a habilidade do animal para detectar, repelir
ou escapar do predador.
Termorregulação em endotérmicos:
febre e anapirexia. “Ana” o quê?
Estados térmicos
Os endotérmicos podem apresentar cinco estados térmicos: eutermia, hipertermia,
hipotermia, febre e anapirexia (Gordon, 2001). Quando o animal apresenta uma Tc
considerada típica para sua espécie, diz-se que ele está em eutermia. Para a manutenção
da eutermia, o animal pode ou não empregar energia além daquela já consumida pelo
metabolismo basal. Quando a eutermia é mantida apenas por meio do metabolismo basal,
isto é, quando nem os mecanismos de produção nem os de perda de energia térmica são
ativados, diz-se que o animal está dentro da zona termoneutra (ZTN) ou zona de conforto
térmico da sua espécie. Dessa forma, ZTN é a faixa de Ta na qual não há gasto extra de
energia para que a eutermia seja mantida. Por exemplo, a Tc em eutermia para humanos é
aproximadamente 37ºC (lembrando que esse valor muda ao longo de 24 horas) e,
geralmente, a ZTN para humanos adultos nus, encontra-se entre 28 e 30ºC (Blatteis, 1998).
Assim, quando a Ta ultrapassa pouco o limite crítico inferior ou superior da ZTN, a energia
extra é empregada para manter a eutermia. Entretando, se a Ta aumenta ou reduz
extremamente, nem mesmo a ativação dos mecanismos de perda ou de produção de
energia térmica é suficiente para a manutenção da eutermia e a Tc acaba acompanhando
tais alterações, resultando nos estados de hiper ou hipotermia, respectivamente, que são
consequências de falhas do sistema termorregulador em manter a eutermia (Fig. 3).
Figura 3- Esquema de três estados térmicos: eutermia, hipotermia e hipertermia. A linha tracejada
·
representa as ·variações de VO2 em relação à Ta. A linha contínua representa as variações da Tc em
relação à Ta. VO2, consumo de O2; TCI, temperatura crítica inferior; TCS, temperatura crítica superior;
Tc: temperatura corporal.
Febre
A febre, como mencionado anteriormente, é um aumento regulado da Tc, pois é
controlada por sinais encefálicos que ativam os mecanismos de ganho de energia térmica,
diferentemente do que ocorre na hipertermia que também é um aumento da Tc, porém
devido a falhas no sistema termorregulador. Para o desenvolvimento da febre em um
ambiente com Ta baixa, é necessária intensa produção de energia térmica além de redução
na sua perda, enquanto em um ambiente com Ta alta, apenas uma diminuição da perda de
energia térmica pode ser suficiente para elevar a Tc aos níveis febris. A hipertermia, por
outro lado, é mais dependente da Ta: em uma Ta baixa a hipertermia dificilmente ocorrerá.
Deve ser lembrado que valores de Tc muito altos e por muito tempo não são
benéficos, pois podem causar desidratação, delírio, lesões no encéfalo, convulsões, dentre
outros prejuízos. O aumento na produção de energia térmica, em decorrência do
desenvolvimento da febre, implica no aumento da taxa metabólica e isso pode representar
um perigo extra para indivíduos com substratos metabólicos limitados como recém-
nascidos, idosos e subnutridos. O limiar da Tc a partir do qual a febre é considerada
perigosa para a sobrevivência do indivíduo ainda é algo muito discutível entre os
pesquisadores: alguns consideram 39ºC, enquanto outros afirmam que febres de até 41ºC
não são perigosas para humanos (Branco e col., 2005).
A resposta febril é uma reação complexa, geralmente resultante do contato com
agentes inflamatórios ou infecciosos, chamados de pirogênios exógenos e tem sido descrita
em todos os grupos de vertebrados: mamíferos (Kluger, 1991), aves (D'Alecy e Kluger,1975;
Macari e col., 1993; Maloney e Gray, 1998), répteis (Hallman e col., 1990; Don e col., 1994),
anfíbios (Kluger, 1977; Bicego-Nahas e col., 2000) e peixes (Reynolds e col., 1976), além de
A ampla ocorrência da febre sugere que ela surgiu há muito tempo na escala
filogenética e, que por ser conservada ao longo de tantos anos, deve conferir benefícios aos
organismos (Kluger, 1991; Kluger e col., 1998). De fato, muitos estudos apontam o aumento
da atividade do sistema imune (Fig. 5) e a queda na sobrevida dos agentes patogênicos
como alguns dos benefícios do aumento regulado da Tc (Kluger, 1991; Marnila e col., 1995;
Kluger e col., 1998).
Anapirexia
Anapirexia, segundo o “Glossário de termos para Fisiologia Térmica”, é uma
condição patológica na qual há um decréscimo regulado da Tc devido à ativação de
mecanismos de perda de energia térmica, diferentemente da hipotermia que ativa
mecanismos de ganho de energia. Essa nomenclatura (anapirexia), apesar de bem definida,
ainda gera alguns conflitos quanto ao seu uso (Romanovsky 2004), mas particularmente
neste capítulo estas divergências não serão levadas em conta.
O oxigênio (O2) é crucial para o metabolismo oxidativo e, consequentemente, para a
produção de energia na forma de ATP. Sendo assim, é evidente que um aporte adequado
de O2 é essencial para a sobrevivência dos animais e que um déficit de O2, mesmo que
localizado e passageiro, pode causar prejuízos irreversíveis (López-Barneo e col., 2001). No
entanto, alguns animais enfrentam condições de hipóxia (baixa pressão parcial de O2) ao
longo da vida, seja por exposição ambiental (tocas, altas atitudes, etc) ou por insuficiências
cardíacas, respiratórias e/ou metabólicas, traumatismos cranianos, acidentes vasculares
encefálicos, dentre outros (Bao e col., 1997; Reissmann e col., 2000; Gordon, 2001).
Então, como os animais sobrevivem a tais situações? Uma das respostas
adaptativas mais conhecidas parece ser a queda regulada da Tc, ou anapirexia, que é
observada ao longo de toda a escala filogenética dos vertebrados e em organismos
unicelulares, como é o caso do Paramecium caudatum (Steiner e Branco, 2002). Durante a
anapirexia, ocorre atenuação da hiperventilação e do débito cardíaco causados pela hipóxia
e inibição da termogênese, além de aumento na afinidade da hemoglobina pelo O2, o que
facilita a captação desse gás na superfície respiratória (Mortola e Gautier, 1995; Wood,
1995; Gautier, 1996; Barros e col., 2001; Steiner e Branco, 2002). Todas essas respostas
associadas à anapirexia conferem benefícios ao animal hipóxico, pois diminuem respostas
altamente custosas, contribuindo para uma depressão no metabolismo e facilitando a
captação de O2 nos pulmões. Dessa forma, um aumento na sobrevida de ratos,
camundongos, lagartos e até mesmo no Paramecium é observado quando tais organismos
são expostos à hipóxia e têm suas Tcs reduzidas (Artru e Michenfelder, 1981; Hicks e
Wood, 1985; Malvin e Wood, 1992; Wood, 1995; Wood e Stabenau, 1998). De modo
semelhante ao que ocorre na febre comportamental, a queda da Tc pode ser evidenciada
quando ectotérmicos hipóxicos são colocados em um gradiente de temperatura e
selecionam regiões mais frias do que selecionariam em situações de normóxia (Hicks e
Wood, 1985; Gordon e Fogelson, 1991; Malvin e Wood, 1992).
Com todos esses benefícios associados à queda da Tc, seria de se esperar que
reduzir a Tc de um paciente em situações nas quais o O2 constitui um fator limitante, como
em casos de hemorragia, anemia, isquemia, envenenamento, cirurgias cardíacas e traumas
cranianos, contribuiria para minimizar os efeitos da hipóxia, facilitando assim a recuperação
do indivíduo. De fato, isso vem sendo aplicado na clínica (Schwab e col., 1997; Holzer e col.,
1997, Gordon, 2001; Kline e col., 2004), entretanto, a forma usada para diminuir a Tc do
paciente é a hipotermia forçada que também proporciona benefícios, mas apresenta uma
desvantagem em relação à anapireixa, que é o aumento da resposta metabólica do paciente
por meio da ativação dos mecanismos de ganho de energia térmica, os quais são altamente
custosos e que não é desejável numa situação hipóxica (Gordon, 2001).
Apesar da vasta observação da anapirexia hipóxica nos vertebrados e no
Paramecium caudatum e da sua importância clínica, os mecanismos envolvidos nesta
resposta ainda são pouco conhecidos e apenas nas últimas décadas alguns de seus
mediadores/modularores foram descritos. Dentre estes estão a dopamina, a serotonina, o
óxido nítrico e os receptores opióides kappa atuando especificamente na APO induzindo a
queda da Tc (Steiner e col., 2002a; Gargaglioni e col., 2005; Scarpellini e col., 2009). Por
outro lado, os receptores mi e delta, também na APO, estão envolvidos no retorno da Tc ao
estado eutérmico após o término da hipóxia (Scarpellini e col., 2009). Ainda, a adenosina e o
monóxido de carbono (Barros e Branco, 2000; Paro e col., 2001) parecem atuar em alguma
outra região no SNC para induzir e inibir, respectivamente, a anapirexia. Como pode ser
notado, a anapirexia parece ser resultado de um balanço entre agentes indutores e
inibidores da queda da Tc, assim como acontece na febre.
Steiner e col. (2002a) propuseram um modelo para a indução da anapirexia
dependente dos sistemas intracelulares de segundos mensageiros, GMP cíclico (GMPc) e
AMP cíclico (AMPc). O modelo sugere que os agentes indutores da anapirexia (óxido
nítrico, serotonina, dopamina e talvez os agonistas endógenos dos receptores opióides
kappa) atuem nos neurônios sensíveis ao aumento de temperatura da APO, aumentando os
níveis intracelulares de GMPc e AMPc, induzindo uma menor produção de energia térmica e
uma maior perda desta, levando à queda da Tc. É interessante ressaltar que a redução dos
níveis de GMPc e AMPc, na APO, ou seja, o efeito contrário ao que acontece na indução da
anapirexia, ocorre no desenvolvimento da febre (Steiner e col., 2002b).
A hipóxia é o estímulo anapirético mais estudado, mas uma queda regulada da
temperatura corporal também é observada em animais que apresentam o fenômeno de
depressão metabólica durante a dormência sazonal. Entretanto, nestes animais a queda da
Tc não é induzida por uma diminuição da disponibilidade de oxigênio ambiental, mas parece
ocorrer como parte de uma inibição coordenada de todas as variáveis fisiológicas
contribuindo assim, para a economia energética e para o aumento da sobrevivência dos
animais frente a condições ambientais desfavoráveis (Carey e col., 2003).
Em suma, é importante ressaltar que os animais podem apresentar Tcs diferentes
(febre e anapirexia) do estado de eutermia sem que isso represente um descontrole ou uma
falha nos sistemas controladores. E, geralmente tais alterações na Tc conferem benefícios
aos animais, contribuindo para um aumento da sua sobrevivência durante determinadas
situações, tais como infecção e hipóxia. Deve ser lembrado, evidentemente, que essas
alterações, para serem benéficas, devem ocorrer dentro de limites em que o animal não
sofra com extremos das duas condições.
Ciclo Anual
Julho/2010 Pág. 257
VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Antecipação
Um dos aspectos mais característicos da dormência sazonal é a antecipação do
fenômeno. Meses antes do estresse ambiental, os animais iniciam uma série de ajustes
comportamentais e fisiológicos que possibilitam, dentre outras respostas, o armazenamento
de substratos, seja na forma de alimento em suas tocas ou tornando-se obesos, ou ambos.
Quando a oferta de O2 no ambiente não é limitante, como na maioria dos casos de
hibernação e estivação, a energia é estocada principalmente na forma de lipídios, uma
forma de estocagem vantajosa do ponto de vista energético uma vez que a oxidação de
ácidos graxos fornece mais energia por grama de substrato que carboidratos. Esquilos, por
exemplo, dobram sua massa corpórea e triplicam a massa adiposa durante a fase de
preparação para a dormência (Dark, 2005).
Os eventos de deposição/mobilização de lipídios, que resultam em
aumento/diminuição da massa adiposa, da taxa metabólica basal e da ingestão de alimentos
estão ligeiramente dessincronizados. A diminuição da ingestão alimentar ocorre bem antes
que a massa corpórea atinja seu máximo. E uma diminuição da TMB já no meio do verão,
antes que a ingestão de alimentos diminua, possibilita um aumento da massa corpórea dado
pelo acúmulo de gordura. A massa corpórea máxima é atingida no final do verão ou início do
outono, quando a secreção de insulina (hormônio lipogênico) também é máxima e os níveis
de absorção de glicose são mínimos, indicando uma possível insensibilidade à insulina nos
adipócitos (Dark, 2005). Tais fenômenos são bem caracterizados em mamíferos, mas ciclos
semelhantes de deposição/mobilização de lipídios ocorrem em ectotérmicos (Souza e col.,
2004).
As alterações da adiposidade em animais hibernantes não são simplesmente
resultado de aumento da ingestão alimentar e/ou diminuição da taxa metabólica, mas
principalmente de uma mudança programada do nível ideal de adiposidade (Dark, 2005).
Lesões cerebrais que produzem obesidade em ratos de laboratório também aumentam a
massa corpórea em hibernantes, mas o ciclo anual de deposição de gordura persiste
(Barnes e Mrosovsky, 1974), fornecendo um indício da robustez desta resposta sazonal.
Desta maneira, estes ciclos parecem ser rigidamente controlados, provavelmente por um
mecanismo central, que deve utilizar-se de um sinal proveniente do tecido adiposo branco
(TAB) que informa a quantidade total de reservas e, desta forma, possibilita o ajuste da
adiposidade do animal ao momento de seu ciclo anual de atividades.
Tem sido proposto que este sinal é dado principalmente pela leptina, um hormônio
peptídico amplamente conhecido por sua atuação no controle da adiposidade em mamíferos
não hibernantes (Ahima e Flier, 2000; Dark, 2005). A leptina é produzida principalmente
pelo TAB e sua concentração plasmática é normalmente correlacionada ao nível de
Dormência
Quando o nível de adiposidade adequado é atingido e o animal está pronto para
iniciar a fase de hibernação ele progressivamente diminui a atividade e procura seu abrigo
onde permanecerá até a primavera. A entrada em hibernação é caracterizada por uma
rápida e acentuada diminuição da taxa metabólica, das frequências cardíaca e respiratória,
acompanhadas por uma diminuição da temperatura corpórea. Em endotérmicos, a
temperatura corpórea cai a valores tão baixos quanto 0ºC e os animais ingressam em um
estado de hipotermia voluntária, enquanto que não hibernantes expostos a temperaturas
entre 10 e 25°C tipicamente sofrem falência cardíaca (Driedzic e Gesser, 1994; Ruf e
Arnold, 200).
O efeito letal da hipotermia nas células de mamíferos não hibernantes deve-se, em
grande parte, ao efeito assimétrico da temperatura nas taxas das reações, que resulta em
um desacoplamento entre a produção e o consumo de energia. Dado que a manutenção do
gradiente de íons através das membranas é um processo dependente de energia, que supre
a atividade de enzimas como a Na+,K+-ATPase, um maior consumo em relação à produção
de ATP resulta em despolarização de membranas e em uma cascata de eventos que
culminam na morte celular. Curiosamente, hibernantes durante a fase ativa são tão
suscetíveis a estes efeitos quanto não hibernantes, o que sugere que os mecanismos
celulares de resposta ao estresse são semelhantes em hibernantes e não hibernantes e,
portanto, reforça a importância dos ajustes que ocorrem antes da fase de hibernação
(Storey, 2004). Esta semelhança, somada à constatação de que a habilidade de hibernar é
amplamente observada nos mamíferos e pode ser considerada uma característica ancestral
e uma propriedade básica da sua fisiologia, sugerem que o fenótipo hibernante não seria
resultado da expressão de genes exclusivos de hibernantes, mas sim da expressão
diferenciada de genes comuns a todos os mamíferos (Heldmaier e col., 2004; Storey, 2004).
Com base neste pressuposto, bastaria encontrar um mecanismo para a ativação da
expressão deste conjunto de genes para que a indução do hipometabolismo em não
hibernantes se tornasse possível (Quadro 1).
Durante a depressão metabólica, alguns processos fisiológicos diminuem, enquanto
outros são totalmente interrompidos. Durante toda fase de dormência o coração deve
continuar a bombear sangue, embora, muitas vezes, a uma temperatura corpórea muito
menor e contra uma resistência periférica maior do que durante a fase ativa do animal
(Fahlman e col., 2000). Pequenos mamíferos em torpor reduzem a freqüência cardíaca de
200-300 para 3-5 batimentos por minuto. Diferentemente da função cardíaca, o fluxo
sanguíneo renal, a taxa de filtração glomerular e a formação de urina são muito reduzidos
ou cessam completamente durante o hipometabolismo. Nos mamíferos, estes processos
são retomados durante os despertares periódicos, de maneira que poucas alterações são
observadas na osmolaridade e na concentração de eletrólitos no plasma (Carey e col.,
2003). Outros animais encontraram soluções diferentes para lidar com resíduos: formação
de produtos finais voláteis, estocagem de lactato nas carapaças de tartarugas e acúmulo da
uréia resultante do catabolismo de proteínas a fim de aumentar a resistência à dissecação
durante a estivação (Storey e Storey, 2007).
Mark B. Roth
Fred Hutchinson Cancer
Research Center, Seattle
a b
Figura 1- a) Lagarto teiú Tupinambis merianae; b) Primata lêmure Microcebus murinus.
Figura 2– Registro contínuo da taxa metabólica (TM) e da temperatura corpórea (Tc) na marmota
(Marmota marmota), evidenciando o hipometabolismo e hipotermia durante a entrada em hibernação
(1), a manutenção do hipometabolismo durante a hibernação (2), o rápido reaquecimento durante o
despertar (3), e a eutermia (4). A ventilação é reduzida em uníssono com a queda da taxa metabólica
e assume um padrão episódico, com ventilações seguidas por períodos de apnéia que podem durar
de alguns minutos a uma hora ou mais (à direita). Ta representa temperatura ambiente. (Modificado
de Heldmaier e col., 2004).
Despertar
O armazenamento de lipídios é crítico não somente para a sobrevivência do animal
durante a fase de dormência, mas também para que o despertar seja bem sucedido. Na
primavera, quando os animais despertam da fase de dormência, a taxa metabólica eleva-se
antes que a ingestão de alimentos seja restabelecida e ocorre uma diminuição da massa
corpórea mesmo após o início da alimentação (Dark, 2005). Em alguns mamíferos
hibernantes, a elevação da temperatura corpórea envolve o aumento da produção de calor
no tecido adiposo marrom através da oxidação de ácidos graxos e ciclagem fútil de elétrons
através de proteínas desacopladoras (UCPs) da membrana mitocondrial interna, como visto
em capítulos anteriores. Neste momento, as reservas remanescentes de carboidratos são
utilizadas e algum grau de oxidação de proteínas faz-se necessário, provendo aminoácidos
para a síntese de glicose, essencial ao aumento de atividade metabólica dos tecidos
dependentes de glicose (Carey e col., 2003; Souza e col., 2004).
Fosforilação reversível
Os mecanismos moleculares de depressão metabólica devem ser reversíveis,
possibilitando o rápido restabelecimento das funções metabólicas no despertar. Um
mecanismo bastante conservado filogeneticamente e que parece ser responsável por
grande parte dos ajustes na depressão metabólica é a fosforilação reversível, que consiste
na ligação de grupos fosfato a resíduos de aminoácidos específicos de uma proteína,
catalisada por proteínas quinases, e na remoção desses grupos, catalisada por proteínas
fosfatases. Quando o aminoácido modificado está localizado em uma região da proteína que
é crítica para a sua estrutura tridimensional, ocorrem efeitos marcantes que modificam
algumas de suas propriedades ou a sua interação com outras proteínas ou estruturas sub-
celulares. Em diversas condições fisiológicas, várias enzimas glicolíticas, receptores e
transportadores de membrana, proteínas responsáveis pela transcrição gênica, síntese e
Expressão Gênica
A mudança do tipo de substrato preferencial é regulada, em parte, no nível da
expressão gênica. Para ilustrar como esta regulação acontece, vejamos o que acontece no
coração de esquilos terrícolas durante a hibernação (Fig.3). Durante a fase de dormência,
há um aumento da expressão e síntese da isoforma 4 da PDK (PDK4), o que resulta em
uma diminuição da porcentagem ativa da PDH e, consequentemente, da formação de acetil-
CoA a partir de piruvato. Estes ajustes favorecem: a diminuição do uso de carboidratos,
preservados para utilização pelo cérebro, um tecido dependente de glicose; uma ênfase na
utilização de ácidos graxos e a diminuição da taxa metabólica do animal. Curiosamente,
ratos submetidos a jejum apresentam maior expressão da PDK4 em diversos tecidos,
sugerindo que a resposta observada em animais hibernantes pode ser padrão em
mamíferos, levando à supressão da oxidação de carboidratos em uma condição onde a
carboidratos para ácidos graxos, durante a hibernação em mamíferos. Foram indicados os efeitos da
concentração plasmática de insulina e ácidos graxos (AG) na expressão gênica da isoforma 4 da
enzima piruvato quinase desidrogenase (PDK4) e na oxidação de carboidratos e ácidos graxos no
coração dos animais durante a atividade de outono e dormência de inverno. As linhas com cabeça de
seta indicam ativação e as linhas terminadas em elipse indicam inibição; linhas sólidas indicam a
regulação predominante e as linhas pontilhadas indicam vias menos atuantes. As setas em vermelho
indicam aumento ou diminuição na concentração ou atividade e o ajuste correspondente nas taxas de
oxidação de AG e de carboidratos. PPARα é um receptor nuclear, ativado por ácidos graxos, que
funciona como fator de transcrição de genes envolvidos no metabolismo de lipídios. TG, triglicerídeos;
HSL, lípase hormônio sensível (Modificado de Carey e col., 2003).
Considerações Finais
A depressão metabólica não se manifesta com a mesma magnitude em todos os
mecanismos e processos no interior das células ou em todos os órgãos e tecidos do animal.
Acredita-se que exista uma ‘hierarquia’ entre os processos consumidores de energia nas
células de mamíferos, com a síntese de proteínas e RNA sendo mais sensíveis a variações
no suprimento de energia do que no bombeamento de íons, o que evidencia a importância
da manutenção do gradiente iônico através das membranas (Buttgereit e Brand, 1995).
Adicionalmente, o grau de inibição em diferentes órgãos e tecidos parece ser variável. Por
exemplo, a atividade da Na+,K+-ATPase no tecido cardíaco de esquilos mantém-se
inalterada durante a hibernação, embora esteja significativamente reduzida no músculo
esquelético, rins e fígado (Balaban e Bader, 1984; MacDonald e Storey, 1999). No conjunto,
a inibição destes vários processos, cuja atividade é mais intensamente deprimida no estado
dormente, resulta na diminuição do gasto energético e da velocidade de utilização das
reservas de substratos endógenos, possibilitando a sobrevivência dos animais durante a
fase de dormência.
Introdução
Além dos processos fisiológicos e comportamentais apresentados até aqui
(termorregulação, febre, anapirexia, hibernação e dormência), o processo reprodutivo
também ocasiona alterações no metabolismo energético dos animais. Como já discutido, as
células requerem um contínuo fornecimento de energia para biossíntese e metabolismo,
mas a disponibilidade de alimento e a demanda energética flutuam na maioria dos habitats,
e grande parte dos organismos cessa a alimentação quando iniciam os comportamentos
que perpetuam a espécie. Neste período em que o trato digestório está vazio, o organismo
depende das fontes internas (tecido adiposo) e externas (estoques de alimentos) de
nutrientes. Durante a evolução dos animais, a habilidade de armazenar quantidades
significativas de energia no organismo e mecanismos que inibem o comportamento de
ingestão devem ter permitido aos animais a realização de outras atividades que garantissem
o sucesso reprodutivo (Scheneider, 2004).
Essa habilidade para controlar a disponibilidade de energia interna e externa parece ser
central para a ligação entre a reprodução e o balanço energético, e permite que os animais
priorizem suas opções comportamentais de acordo com as flutuações nas condições
energéticas e reprodutivas (Scheneider, 2004). Sendo assim, quando o alimento é
abundante e o requerimento energético é baixo, a energia é disponível para todos os
processos necessários para sobrevivência do indivíduo e da população, incluindo
crescimento, manutenção, termorregulação e reprodução (Fig. 1a). Desta forma, os
comportamentos relacionados à defesa territorial, corte, cópula e cuidado parental recebem
uma alta prioridade, e a energia excedente é armazenada (Scheneider, 2004).
Por outro lado, quando a energia é escassa, os mecanismos fisiológicos tendem a
favorecer aqueles processos que garantem apenas a sobrevivência do indivíduo. Assim, os
processos fisiológicos que promovem os comportamentos de forrageamento,
armazenamento e ingestão recebem prioridade (Fig.1b), pois a reprodução é muito custosa
energeticamente e pode ser retardada quando a sobrevivência do indivíduo está em risco
(Scheneider, 2004). Deste modo, os mecanismos que controlam o balanço energético são
integrados com aqueles que controlam a reprodução, sendo importante entender a ligação
entre a fisiologia do balanço energético e o sucesso reprodutivo.
Crescimentoo
A
Alimento
abundante + Baixa demanda
energética = ↑Energia
Manutenção
Reprodução
B
Crescimento
Alimento Alta demanda
escasso + energética = ↓Energia
Manutenção
Custos da reprodução
Os processos envolvidos na reprodução que contribuem para o aumento da
demanda energética incluem: esteroidogênese; desenvolvimento gonadal (vitelogênese e
espermatogênese/espermiogênese); comportamentos reprodutivos (defesa de território,
corte, acasalamento, migração) e cuidado parental. Deste modo, para que haja um sucesso
reprodutivo, os animais precisam estar preparados fisiologicamente, e para isso é
necessário que acumulem grande quantidade de reservas energéticas.
Em geral, a reprodução é energeticamente custosa para ambos os sexos, mas a
magnitude do gasto e sua relação com o sucesso reprodutivo diferem entre machos e
fêmeas. Os machos alocam relativamente pouca energia para a produção de gametas e,
então podem se reproduzir com sucesso com um investimento de energia menor, que é
direcionado para corte e cópula. Em contraste, as fêmeas de muitas espécies apresentam
altos custos na atividade reprodutiva independente da fecundidade (como migração, cuidado
parental), e necessitam de uma reserva energética substancial antes de iniciar a atividade
reprodutiva (Aubret e col., 2002).
Diferentes padrões da relação entre a captação de reservas energéticas e a
reprodução podem ser observados entre os vertebrados. Os peixes, principalmente
migratórios como o salmão, não se alimentam durante a migração reprodutiva, assim toda a
energia necessária para o desenvolvimento gonadal e para atividade de natação são
provenientes das reservas energéticas obtidas anteriormente ao período reprodutivo (Lucas
e Baras, 2001).
Ovário Estradiol
C. gordurosos
Fígado
Músculo
Músculo
% de lipídios
no tecido seco
Figura 3: Alocação de lipídios dos órgãos de reserva em machos e fêmeas pré e pós-reprodutivos
(NRM e NRF, respectivamente) e machos e fêmeas reprodutivos (RM e RF, respectivamente) de
serpentes viperinas Natriz maura (Modificadode Santos e Llorente, 2004).
Ácidos graxos
Os lipídios, em sua maioria, são compostos por ácidos graxos (AG), que são ácidos
carboxílicos com cadeias hidrocarbonadas de 4 a 36 átomos de carbono. Em alguns, esta
cadeia é totalmente saturada e em outros contém uma insaturação (monoinsaturado; MUFA)
ou mais insaturações (polinsaturado; PUFA) (Nelson e Cox, 2005). De modo geral, os
lipídios podem ser classificados em neutros (triacilgliceróis - TG) e polares (fosfolipídios -
FL). Sabe-se que 90% da composição dos triacilgliceróis, principal substrato energético,
Pág. 274 Julho/2010
Metablismo
Ovíparos x Vivíparos
Os lipídios que compõem o vitelo são compostos principalmente por fosfolipídios e
triacilgliceróis, e a sua proporção pode variar entre as espécies. Fêmeas de lagartos
ovíparos possuem de 26 a 34% de lipídios no vitelo (Speake e Thompson, 2000).
Proporções similares de lipídios (20%) são encontradas na composição da vitelogenina de
peixes (Yaron e Sivan, 2006). Contudo, o vitelo de aves é composto por 40 a 65% de lipídios
(Jones e col., 1998).
A maioria dos fosfolipídios presentes no vitelo são ricos em PUFAs e suportam o
crescimento tecidual dos embriões, enquanto os triacilgliceróis são utilizados como reserva
energética para o desenvolvimento embrionário (Yaron e Sivan, 2006). O perfil de PUFAs do
vitelo pode ser afetado pela composição da dieta materna, e também é dependente de
fatores metabólicos, os quais diferem entre as espécies (Speake e Thompson, 2000). Os
ovos colocados pelas espécies ovíparas devem conter todos os nutrientes requeridos para
sustentar o desenvolvimento completo do embrião até a eclosão. Contudo, a evolução da
viviparidade, apresentou a oportunidade para as mães reduzirem o investimento no ovo,
como um abastecimento compensatório de nutrientes ao embrião via placenta durante a
gestação. Sendo assim, os ovos de espécies ovíparas de aves, tartarugas e jacarés
possuem altas proporções de triacilglicerol (80-86%) e apenas 9-12% de fosfolipídios.
Contrariamente a isso, os ovos de espécies vivíparas possuem uma proporção de TG de 65-
70%, considerando que a proporção de fosfolipídos é de 18-23% (Speake e Thompson,
2000).
Há uma clara distinção no perfil das classes de lipídios do vitelo entre espécies
ovíparas e vivíparas. Esta reorganização do perfil de lipídios do vitelo contribui para uma
redução no investimento materno de energia durante a maturação oocitária (Speake e
Thompson, 2000). Espécies vivíparas possuem menos triacilgliceróis no vitelo que espécies
ovíparas, pois a energia, presumivelmente na forma de ácidos graxos livres, pode ser
provida para o embrião através da placenta durante o desenvolvimento, uma vez que todo o
requerimento lipídico para espécies ovíparas deve estar contido no vitelo do ovo no tempo
da ovulação (Thompson e Speake, 2006).
Fecundidade
A composição de ácidos graxos dos ovários é altamente afetada pelo conteúdo de
ácidos graxos da dieta, o qual influencia significativamente a qualidade dos ovos. A
porcentagem de PUFAs aumenta com o aumento desses AGs na dieta dos reprodutores
(Izquierdo e col., 2001). Estudos realizados com uma espécie de peixe, Siganus guttatus,
mostraram que a elevação do conteúdo lipídico na dieta dos reprodutores resultou em um
aumento na fecundidade e eclosão das larvas (Duray e col., 1994). Altas porcentagens
importantes de PUFAs (como ácido eicosapentanóico, EPA-C20:5n3 e ácido araquidônico,
AA-C20:4n6) são encontradas também nos ovos de anuros e lagartos insetívoros, refletindo
a importância da dieta dos reprodutores (Huang e col., 2003).
Fertilização
Dietas contendo concentrações de EPA e DHA (C22:6n3, ácido docosahexanóico)
mostram uma correlação com a reprodução de algumas espécie de peixes (Fernández-
Palacios e col., 1997). A composição de ácidos graxos dos espermatozóides depende do
conteúdo de AGs essenciais na dieta dos reprodutores de espécies de truta arco-íris
(Watanabe e col., 1984) e seabass (Asturiano, 2001). É possível que a motilidade dos
espermatozóides durante a fertilização seja afetada. Particularmente em salmonídeos, em
que a criopreservação dos espermatozóides é utilizada, a composição de ácidos graxos nos
espermatozóides pode ser um fator que determina a integridade da membrana após o
descongelamento (Izquierdo e col., 2001).
A alta porcentagem de DHA encontrada nos testículos de peixes é similar aos
espermatozóides de humanos e, assim como nos mamíferos, a concentração de DHA em
peixes pode ser positivamente correlacionada com a densidade, número de
espermatozóides móveis e a motilidade (Jeong e col., 2002). O comportamento de
membrana pode ser importante no controle da fusão dos espermatozóides com o óvulo (Bell
e col., 1999).
Esteroidogênese
Os PUFAs são importantes também na síntese de eicosanóides (prostaglandinas,
tromboxanos e leucotrienos), podendo interferir na esteroidogênese gonadal em peixes
(Izquierdo e col., 2001) e mamíferos (Wathes e col., 2007). O EPA é conhecido por ser o
precursor das prostaglandinas (PG) da série III, considerando que o AA é o precursor das
prostaglandinas da série II. In vitro, o AA estimula a produção de testosterona no testículo
de goldfish através da conversão a PGE2. Ao contrário, o EPA e DHA bloqueiam a ação
esteroidogênica do AA e PGE2 (Wade e col., 1994). Assim, o tempo de espermiação pode
ser retardado e subsequentemente a taxa de fertilização reduzida pela depressão da
esteroidogênese causada pela deficiência de AG. Adicionalmente, o AA pode regular a
transcrição do gene que expressa a proteína Star, responsável pelo transporte do colesterol
da membrana externa da mitocôndria para a interna, onde se localizam a maioria das
enzimas envolvidas na esteroidogênese (Wang e col., 2000). Além disso, algumas PGs
produzidas por fêmeas de golfish parecem estimular o comportamento sexual dos machos e
sincronizar machos e fêmeas para a desova (Sorensen e col., 1988).
Conclusão
Como visto até agora, a estreita relação entre o balanço energético dos animais e os
processos fisiológicos, nesse caso a reprodução, garante a sobrevivência dos indivíduos e a
perpetuação da espécie. Contudo, alterações do habitat podem resultar em diminuição ou
eliminação de muitos recursos alimentares para os animais, alterando assim, toda a
composição de lipídios, e ácidos graxos, o que pode resultar em uma redução na qualidade
dos gametas dos pais e da sua prole. Dentro do cenário global das mudanças ambientais
ocasionadas por ações antrópicas, é fundamental que estudos de conservação sejam feitos,
envolvendo a influência do balanço energético nos processos fisiológicos, principalmente no
funcionamento do sistema reprodutivo, para garantir a sobrevivência das espécies.
Lye Otani
Laboratório de Ecofisiologia e Fisiologia Evolutiva
[email protected]
atividades envolvidas com o dispêndio de energia, que são importantes para estabelecer o
papel do animal no ecossistema (Karasov, 1990).
Os processos e mecanismos relacionados ao despêndio de energia são importantes
na determinação da sobrevivência e sucesso reprodutivo dos animais dentro do seu
contexto ecológico.
Como visto nos capítulos anteriores, as diversas atividades que contribuem para o
gasto energético (e.g. reprodução, termorregulação, forrageamento, locomoção, estresse,
produção de tecidos, entre outros) estão extremamente ligados aos diversos fatores
ambientais, tanto bióticos como abióticos que compõe o ecossistema ao qual o animal está
inserido (Weiner, 1992, McNab, 1992). Toda essa cadeia de relações envolvidas no
orçamento energético animal determina o potencial dos diferentes grupos sistemáticos para
produzir ajustes comportamentais, morfológicos e/ou fisiológicos para a manutenção do seu
equilíbrio energético, ao longo de gradientes ecológicos espaciais e temporais. Assim, a
diversidade e os padrões de distribuição dos diversos táxons de animais estão relacionados
com esse potencial de ajuste, no entanto, qualquer alteração dentro dessa grande cadeia
pode mudar drasticamente esse cenário (Bennett, 1987; Feder, 1987; Spicer e Gaston,
1999). De fato, constantes mudanças ambientais, sejam naturais ou causadas pelo homem,
afetam as relações energéticas do ecossistema, possibilitando a evolução e extinção das
espécies.
Figura 2 - Panorama geral das extinções em massa ao longo da história geológica de nosso planeta
(Modificado de Otani e Patrício, 2010).
A vulnerabilidade das comunidades e o crescente surgimento de novas patologias
evidenciam o desequilíbrio energético do ecossistema. Essa vulnerabilidade dos
ecossistemas, por sua vez, também pode ser potencializada pela introdução de poluentes
resultantes das diversas atividades antrópicas. Esses poluentes podem contaminar a água o
solo e o ar, sendo prejudicial a saúde pública e ambiental. A poluição da água, por exemplo,
é resultante da liberação de produtos químicos tóxicos e esgotos urbanos. Tais poluentes
comprometem fontes de alimento e água potável, essenciais para qualquer organismo vivo,
além de desencadear um desequilíbrio neste ecossistema. Alguns desses compostos
propiciam a proliferação de determinadas espécies, as quais modificam outras
características da água, como por exemplo, a incidência de luz e a concentração de gases
(Primack e Rodrigues, 2001). No ar, os poluentes podem promover a formação de ácidos,
que por sua vez, alteram o pH do solo e de corpos d’água, reduzindo e até dizimando
populações de animais (Beebee e col., 1990; Blaustein e Wake, 1995; France e Collins,
1993) e plantas (Hinrichsen, 1987; Mackenzie e El-Ashry, 1988).
No Brasil, a produção de lixo por ano chega a cerca de 90 milhões de toneladas
(IBGE, 2009), e a principal fonte de CO2 é proveniente das mudanças no uso do solo e da
terra e, também, das queimadas (Sampaio e col., 2008). Entre os anos de 1970 a 2004
houve um aumento na emissão anual de CO2 de aproximadamente 80%, atingindo 38
gigatoneladas em 2004 (IPCC, 2007 – AR4). Como conseqüências dessas ações,
observamos a elevação de 0,75% da temperatura média no Brasil (Marengo, 2007; Sampaio
e col., 2008). Além de alterações na temperatura, podemos observar um aumento da
precipitação nas regiões sudeste e centro-oeste do Brasil e o aumento do nível relativo do
mar, da ordem de 4 mm nos últimos 50 anos (Marengo, 2007; Sampaio e col., 2008).
As respostas climáticas frente à degradação ambiental podem acarretar em
alterações e redistribuição dos grandes biomas brasileiros (Sampaio e col., 2008). Essa
reestruturação radical dos biomas terá conseqüências dramáticas nas comunidades
biológicas, favorecendo, mais uma vez, aquelas espécies capazes de se adaptar às novas
condições (Bazzaz e Fajer, 1992; Buckeridge, 2008). É provável que as espécies de
distribuição mais restrita e de pouca habilidade de dispersão sejam mais afetadas por essas
mudanças, podendo ser extintas. É valido ressaltar que essas alterações não afetarão
apenas os organismos terrestres, comunidades marinhas são afetadas pela alteração da
temperatura e da elevação do nível do mar. Tais conseqüências já podem ser observadas
em algumas espécies de corais que necessitam de uma determinada luminosidade,
temperatura e correntes de água (Carey, 2005).
Diante desse cenário, fica evidente que a fisiologia comparada tem um papel
fundamental dentro da Biologia da Conservação, ao estabelecer os limites ambientais que
garantem o equilíbrio energético dos indivíduos. Tal equilíbrio é, por conseguinte,
indispensável para a eficiência reprodutiva das espécies, bem como a viabilidade das
populações em um determinado ambiente. A análise integrada da variação fisiológica, em
diferentes níveis de abordagem, e de suas relações com as pressões de seleção torna-se
essencial para se compreender os padrões atuais de distribuição da diversidade animal
(Pough, 1989; Mangum e Hochachka, 1998, Wells, 2001; Angilletta e col., 2002).
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Neuroendocrinologia
comparada
Lista de abreviações
His – histidina
IGF – fator de crescimento insulínico
IL– interleucina
Ile – isoleucina
IST – isotocina
kiss1/GPR54 – kisspeptina/receptor acoplado à proteína G (54)
Leu – leucina
LH – hormônio luteinizante
LPH – lipotropinas
LPS – lipopolissacarideos
Lys – lisina
MCH – hormônio concentrador de melanina
ME – eminência média
Met – metionina
mGHRH – hormônio liberador de hormônio de crescimento de mamíferos
mGnRH – hormônio liberador de gonadotropinas de mamíferos
MIS – hormônio indutor da maturação final e ovulação
MSH – hormônio melanotrópico
MST – mesotocina
NH – neuro-hipófise
NO – óxido nítrico
NSQ – núcleo supraquiasmático
OC – quiasma óptico
PD – pars distalis
Phe – fenilalanina
PI – pars intermedia
PIF – fator inibidor da prolactina
pjGnRH – hormônio liberador de gonadotropinas de peixe rei
PN – pars nervosa
POA – area pré-óptica
POMC – proopiomelanocortina
PPD – proximal pars distalis
PRF – fator liberador de prolactina
PRL – prolactina
Pro – prolina
PT – pars tuberalis
PVN – núcleo paraventricular
Neuroendocrinologia em mamíferos
O conceito de que o encéfalo coordena às funções hipofisárias em mamíferos está
bem descrito na literatura especializada (Revisões: Withers, 1992; Guyton e Hall, 2006;
Berne e Levy, 1998; Norris, 2007). Neste sentido, forneceremos uma visão geral sobre as
principais características do eixo hipotálamo-hipófise (H-H) em mamíferos, pois, este eixo
pode ser considerado o componente mais complexo e, em alguns casos, o mais dominante
de todo o sistema neuroendócrino.
De uma forma geral, as relações anatômicas e fisiológicas deste eixo são
elaboradas e sutis. Anatomicamente, o encéfalo de mamíferos compreende às seguintes
regiões: cérebro, que pode ser subdividido em: telencéfalo e diencéfalo; cerebelo; e tronco
encefálico, que também pode ser subdividido em: bulbo (localizado mais caudalmente),
mesencéfalo (localizado mais cranialmente) e ponte (localizado entre ambos, bulbo e
mesencáfalo) (Hansen e Koeppen, 2002). Fisiologicamente, um dos principais núcleos
responsável pela coordenação da glândula hipofisária, é o hipotálamo (Withers, 1992;
Guyton e Hall, 2006; Norris, 2007). Em relação à hipófise, esta pode ser dividida em:
hipófise anterior, ou adeno-hipófise (AH); e hipófise posterior, ou neuro-hipófise (NH).
Fisiologicamente, numerosos hormônios são sintetizados, armazenados e liberados pela
hipófise (Berne e Levy, 1998; Norris, 2007). Para melhor compreensão do eixo H-H, a seguir
cada parte deste eixo é considerada separadamente.
Hipotálamo em mamíferos
O hipotálamo desempenha um papel fundamental na regulação da hipófise e pode
ser considerado como uma estação central de transmissão, atuando na recepção,
integração e no redirecionamento de sinais. Nas diferentes regiões (núcleos) hipotalâmicos
(GPR54), ambos são regulados pelos esteróides gonadais, e também estão diretamente
relacionado com a secreção de GnRH (Colledge, 2008). E ainda no ano 2000, foi
identificado um novo dodecapeptídeo hipotalâmico que age diretamente sobre a hipófise,
inibindo a liberação de GtHs, denominado de hormônio inibidor de gonadotropinas (GnIH)
(Tsutsui e Osugi, 2009). Estes são alguns exemplos de interações fisiológicas observadas
nos animais.
A proposta desta introdução foi mostrar o histórico dos hormônios hipotalâmicos,
i.e. quando foram descobertos, a sua natureza química, as diferentes formas (quando for
aplicado), as possíveis células alvos, o mecanismo de ação, o mecanismo de modulação
(inibição e/ou estimulação) e suas interações fisiológicas com outros eixos biológicos. Desta
forma, foi discutida resumidamente, a complexidade fisiológica observada nos neurônios
hipotalâmicos, e agora, veremos como agem estas substâncias quando são liberadas no
sistema porta hipofisário (presente em mamíferos e ausente em peixes teleósteos), sistema
este, de grande importância para a regulação das funções hipofisárias, pois através deste
sistema, os neuro-hormônios sintetizados no hipotálamo podem ser levados diretamente a
AH, controlando as funções de suas células.
Hipófise em mamíferos
Como dito anteriormente, a hipófise pode ser dividida em duas porções distintas, a
adeno-hipófise (AH), ou hipófise anterior, a neuro-hipófise (NH), ou hipófise posterior, e
entre essas duas partes, há uma zona intermediária, chamado de pars intermedia (Guyton e
Hall, 2006; Berne e Levy, 1998). Esta zona intermediária é pouco desenvolvida em
mamíferos (humanos), sendo maior e mais funcional em outros vertebrados.
Embriologicamente, a NH, se origina do assoalho do diencéfalo e constitui a porção nervosa
da hipófise e a AH se origina do ectoderma do teto da cavidade oral primitiva (Junqueira e
Carneiro, 2004). Desta forma, dois hormônios são sintetizados por neurônios no hipotálamo,
e são armazenados e liberados pela NH, são eles: o hormônio antidiurético (ADH) e a
ocitocina. Já na AH, cinco tipos celulares são possíveis de identificar: as células
corticotrópicas, que sintetizam a adrenocorticotropina (ACTH) e a β-lipotropina; as células
tireotrópicas, que produzem a tireotropina (TSH); as células gonadotrópicas que sintetizam o
hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH); as células
somatotrópicas que produzem o hormônio de crescimento (GH) e as células lactotrópicas,
que sintetizam a prolactina (PRL) (Guyton e Hall, 2006). A tabela 3 fornece uma lista de
hormônios hipofisários atualmente conhecidos.
Os hormônios hipofisários em mamíferos, como observado para os hormônios
hipotalâmicos, são bem conhecidos na literatura especializada (Revisões: Withers, 1992;
Guyton e Hall, 2006; Berne e Levy, 1998; Norris, 2007). Em geral, as funções dos hormônios
hipofisários podem ser sintetizadas da seguinte forma: o ADH, também conhecido como
arginina-vasopressina, formado primariamente nos núcleos supra-ópticos (são
polipeptídeos), tem a função primária de conservar a água corporal e regular a tonicidade de
líquidos corporais, ou seja, a ausência de ADH impede a reabsorção significativa de água
pelos ductos coletores (excreção diminuída de água pelos rins) e na presença de ADH, a
permeabilidade dos ductos à água aumenta muito, conservando assim a água no corpo e
produzindo uma urina muito concentrada. Já a ocitocina, é formada primariamente nos
núcleos paraventriculares (são polipeptídeos) e o papel principal consiste em ejetar o leite
da glândula mamária no processo de lactação, mas também apresenta um papel nas
contrações do útero, especialmente ao final da gestação (Guyton e Hall, 2006; Berne e
Levy, 1998).
Neuroendocrinologia em peixes
Em geral, a neuroendocrinologia em peixes, é um assunto recente se compararmos
este tema com os mamíferos. Neste caso, uma abordagem geral em peixes se faz
Hipotálamo em peixes
O conceito de que o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH) é um
neuropeptídeo hipotalâmico essencial na cascata de hormônios que coordena a fisiologia
Hipófise em peixes
A hipófise em peixes, assim como em mamíferos, é dividida em duas regiões
distintas: a adeno-hipófise (tecido glandular endócrino) e a neuro-hipófise (origem nervosa),
identificadas de acordo com os diferentes tipos celulares, e provavelmente, possuem a
mesma origem embriológica que os mamíferos (Junqueira e Carneiro, 2004; Weltzien e col.,
2004). Em relação aos hormônios hipofisários, na região da NH, são encontradas as
terminações axonais dos neurônios hipotalâmicos, sendo que, em geral, nos teleósteos
nessa região são liberadas os neuro-hormônios, como por exemplo, a arginina – vasotocina
(AVT), a isotocina (IST) e o hormônio concentrador de melanina (MCH), entre outros
neuropeptídeos (Acher, 1996; Batten e col., 1999; Duarte e col., 2001; Weltzien e col., 2004;
Kawauchi, 2006). Apesar de a NH estar diretamente relacionada com a reprodução, os
estudos sobre o controle neuroendócrino das funções hipofisárias em teleósteos requerem o
conhecimento da morfologia da hipófise, inervação dessa hipófise e a identificação e
localização dos diferentes tipos celulares encontradas na região da AH (Weltzien e col.,
2004).
Em geral, a AH em peixes é subdividida em três regiões distintas, no que diz
respeito ao arranjo e localização topográfica das células, características tintoriais dessas
células e distribuição dos ramos da NH (Laiz-Carrión e col., 2003; Cala e col., 2003;
Weltzien e col., 2004; Kawauchi e Sower, 2006; Cinquetti e Dramis, 2006). Essas regiões
são denominadas de: “pars intermedia” (PI), “rostral pars distalis” (RPD) e “proximal pars
distalis” (PPD). Na PI encontram-se as células produtoras de melanotropina (MSH) e as
células produtoras de somatolactina (SL); na PPD localizam-se as células produtoras de
gonadotropinas (GtHs), comumente chamadas de FSH (hormônio folículo estimulante) e de
LH (folículo luteinizante). As células produtoras de tireotropina (TSH) e as células produtoras
de hormônio de crescimento (GH), conhecidas como células somatotrópicas, também são
identificadas na região PPD. Já a RPD contém as células produtoras de prolactina (PRL) e
as células produtoras de hormônio adrenocorticotrópico (ACTH). Adicionalmente, segundo
Kawauchi e Sower (2006), os hormônios adeno-hipofisários podem ser agrupados conforme
sua similaridade estrutural e funcional em 3 famílias: a família derivada de
proopiomelanocortina, que abrange a adrenocorticotropina (ACTH) e a melanotropina
(MSH); a família prolactina/somatotropina, que inclui prolactina (PRL), hormônio de
crescimento (GH) e somatolactina (SL); e a família dos hormônios glicoprotéicos, que
contém gonadotropinas (GtH) e tireotropina (TSH) (Agulleiro e col., 2006; Takei e Loretz,
2006; Kawauchi e Sower, 2006).
É importante salientar, que todos esses hormônios, exceto a somatolactina, estão
presentes nos outros vertebrados (Ono e col., 1990; Kaneko, 1996). Neste caso, as funções
fisiológicas dos hormônios hipofisários são semelhantes ao apresentado para mamíferos e,
portanto, serão discutidas apenas as diferenças observadas entre estes dois grupos de
vertebrados. Proopiomelanocortina (POMC) é um precursor protéico de vários hormônios,
como por exemplo, a adrenocoticotropina (ACTH), melanotropina (MSH) e β-endorfina
(Kawauchi e Sower, 2006). O papel fisiológico de ACTH é estimular a síntese e liberação de
cortisol no tecido inter-renal de teleósteos (Segura-Noguera e col., 2000), sendo que, em
teleósteos, o principal hormônio desta glândula é o cortisol, e em peixes, este hormônio atua
em vários processos fisiológicos, como por exemplo, no metabolismo, nos aspecto
Em anfíbios, a pars tuberalis aparece pela primeira vez na filogenia dos vertebrados
e a pars intermedia, neste grupo, é pouco vascularizada apresentando inervações diretas
por neurônios dos núcleos hipotalâmicos. Os répteis ocupam uma posição central na
evolução dos tetrápodes, e por isso a hipófise deste grupo de vertebrados apresenta grande
diversidade anatômica, podendo ser encontrados animais com características anatômicas
similares a anfíbios e também similares a aves e mamíferos. De forma, geral pode-se dizer
que não é encontrada inervação direta do hipotálamo na adenohipófise sendo esta
característica mantida para os grupos derivados, aves e mamíferos. A pars tuberalis é bem
desenvolvida em Rhynchocephalia, Chelonia e Crocodilia, mas é bem reduzida e algumas
vezes ausente em lagartos. Em serpentes adultas, a PT é completamente ausente. Ainda
não há uma explicação para o desaparecimento da PT nos Squamatas. Ao contrário,
enquanto a pars intermedia é bem desenvolvida em quelônios e crocodilos e em algumas
cobras, a PI é reduzida ou ausente em lagartos e algumas cobras. Nas aves, diferentemente
de todos os tetrápodes, a pars intermedia é ausente em todos os indivíduos adultos de
todas as espécies. Em algumas aves, como os pombos e o pardal de coroa branca, a
eminência média é separada em anterior e posterior sendo que cada uma destas regiões
possui seu próprio sistema porta com a PD. Não se sabe ao certo quão frequente este
sistema duplo é encontrado em outras aves, entretanto, é discutido que este sistema de
regionalização da ME e PD poderia representar um mecanismo mais eficiente de entrega
dos neuro-hormônios hipotalâmicos a específicos tipos celulares na PD (Norris, 2007).
Fatores ambientais
Feed back
alça longa
Encéfalo
Arginina- Hipotálamo
vasotocina
(AVT) Eminência média
Mesotocina (MST)
Pars intermedia
Pars nervosa
Feed back
alça curta
Pars distalis
AVT MST
Hormônios
Somatotrópico (GH) e Hormônio
Hormônios Trópicos (TSH, melanotrópico
Prolactina (PRL)
LH, FSH, ACTH, GH) (MSH)
Tecidos
Efeito alvos
Hormônios da tireóide
Os hormônios da tireóide são derivados de duas moléculas de tirosina iodadas.
Primeiramente, a tirosina é incorporada por uma proteína conhecida por tiroglobulina (Tgb) e
então iodada pela enzima tireóide peroxidase (TPO). Uma tirosina iodada tem 2 iodetos
ligados nas posições 3 e 5 do anel fenólico, respectivamente. Essa molécula é chamada de
3,5 diiodotirosina, ou DIT. Duas DITs são unidas pela TPO removendo o anel fenólico de
uma DIT e ligando um grupo hidroxila de um grupo fenólico de outra DIT. O resultado desta
estrutura química é uma tironina com 4 iodetos ligados, resultando na molécula chamada de
T4. A tiroglobulina acoplada a molécula T4 é hidrolizada na tireóide e o hormônio T4 é
liberado na corrente sanguínea. Normalmente, nos vertebrados, o T4 é a tironina mais
circulante e é convertida a T3 com a remoção de um iodeto de seu anel externo pela tireóide
deiodinase antes de ser liberada da glândula tireóide (Norris, 2007). Os hormônios
tireoidianos são hidrofóbicos e, portanto, pouco solúveis em água, e da mesma forma como
os esteróides, atravessam facilmente as membranas celulares. No entanto, mesmo com
esta natureza existe um mecanismo de transporte específico para melhorar a circulação
destes hormônios da tireóide pelas membranas celulares. Na circulação os hormônios da
tireóide são transportados ligados a proteínas plasmáticas sendo estas ligações facilmente
reversíveis. Assim, que esta ligação é desfeita pela entrada do hormônio na célula, outras
moléculas do mesmo hormônio são ligadas nas proteínas plasmáticas. Várias e diferentes
proteínas séricas são capazes de se ligar e transportar os hormônios da tireóide, e somente
aproximadamente 1% destes hormônios são transportados livremente no plasma podendo
entrar no tecido alvo, por difusão ou por transporte mediado por carreador, ser
metabolizados no fígado e rins.
O mecanismo molecular da ação dos hormônios da tireóide é similar ao mecanismo
de ação descrito para estrógenos. Os hormônios da tireóide entram na célula alvo onde
migram para o núcleo e se ligam a receptores específicos. O dímero, formado pelo hormônio
e o receptor nuclear, promove o início da transcrição gênica resultando na síntese de
proteínas (Guyton e Hall, 2006). Receptores nucleares para os hormônios da tireóide têm
sido isolados e caracterizados em todos os grupos de vertebrados (Helbing e col.; 2006;
Brown e Cai, 2007). Normalmente, os receptores têm maior afinidade para o T3 do que para
os T4 (Fig. 3), apoiando a hipótese de que a conversão de T4 para T3 é requisito para a ação
do hormônio da tireóide, o T3 é mais ativo, mais relevante na fisiologia dos vertebrados
(Gross e Pitt-Rivers, 1952; Kistler e col., 1975; Norris, 2007; Sechman e col., 2009).
Adicionalmente, as células-alvo para os hormônios tireoidianos estão equipadas com uma
enzima específica, conhecida como deiodinase, que realiza essa conversão (Brown, 2005).
Os hormônios da tireóide, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), têm sua produção estimulada
pelo TSH produzido na adenohipófise sob influência do hormônio hipotalâmico TRH (Guyton
e Hall, 2006; Norris, 2007).
Alguns estudos têm mostrado que o hormônio CRH também age como o TSH
estimulando a produção de tireotropinas em vertebrados não mamíferos (Groef e col., 2006).
Em vertebrados, as tireotropinas têm atuação no desenvolvimento embrionário, na formação
do sistema nervoso, na regulação do metabolismo (Norris, 2007). Em anfíbios,
desempenham função importante na metamorfose, sendo extensivamente estudadas neste
contexto biológico, estando envolvidas no aparecimento de membros e desaparecimento da
cauda (Nishikawa e Yoshizato, 1986; Yaoita e Nakajima, 1997; Nakajima e Yaoita, 2003;
Brown e col., 2005), bem como na reestruturação de órgãos, reorganizando a pele
(Yoshizato, 1996), o sistema respiratório, o fígado, o trato digestório, desenvolvendo as
criptas viliais, o encéfalo e a medula espinhal, o sistema imune (Rollins-Smith, 1998), o
sistema hematopoiético, entre outros trabalhos. Shi (2000) escreveu um livro dedicado
exclusivamente a metamorfose em anfíbios. O primeiro experimento em anfíbios foi
realizado por Gross e Pitt-Rivers em 1925 quando a glândula tireóide de um girino foi
retirada e a metamorfose foi inibida. Desde então, tem sido identificados cada vez mais
mecanismos e relações de influência destes hormônios tireoidianos no desenvolvimento de
vertebrados (Brown e Cai, 2007).
Nos répteis e aves os hormônios T3 e T4 possuem importante papel na troca de
escamas e penas, além da influência no metabolismo. Em frangos, o TRH pode estimular a
produção e liberação de TSH bem como de GH, e o efeito do TRH nos dois hormônios
trópicos é inibido por outro hormônio hipotalâmico, a somatostatina (SS). A liberação do
TSH em anfíbios, répteis e aves é menos específica que o observado para mamíferos, uma
vez que sua liberação tem sido estimulada inclusive por hormônios exógenos como mGnRH
(hormônio liberador de gonadotropina de mamíferos), mGHRH (hormônio liberador de
hormônio de crescimento de mamíferos), e peptídeos como CRH-like (similar ao hormônio
liberador de corticotropina), sauvagina e urotensina I (Norris, 2007). Sechman e
colaboradores (2009) mostraram em estudos realizados com galinhas que hormônios da
tireóide estão envolvidos na regulação do eixo H-H-G nos processos associados com o
crescimento e maturação do folículo ovariano. É bem estabelecido que em aves que se
reproduzem sazonalmente os hormônios T3 e T4 desempenhem um importante papel na
regulação das mudanças gonadais fotoperiódicas (Follet e Nicholls, 1988; Wilson e Reinert,
1999, Sechman e col., 2009). Neste processo vários estudos têm evidenciado o aumento da
concentração dos hormônios sexuais no plasma e a diminuição da concentração de T3,
sendo estabelecida uma relação negativa entre a concentração plasmática do hormônio
tireóideano e a função ovariana durante a maturação sexual (Sechman e col., 2000).
Hormônios hipofisários
As gonadotropinas (FSH e LH) e tireotropina (TSH) são hormônios glicoprotéicos
compostos por duas subunidades a α (alfa) e a β (beta), sendo a subunidade α comum para
estes três hormônios e a β específica. O FSH promove a produção do óvulo e a secreção de
estrógenos nas fêmeas e nos machos auxilia na produção dos espermatozóides. O LH induz
a ovulação, produzindo os esteróides sexuais femininos: a progesterona e o estrogênio. O
LH, nos machos, promove a produção dos esteróides sexuais masculinos, primeiramente
testosterona. Estes três hormônios são encontrados em anfíbios, répteis, com exceção dos
Squamatas que foi encontrado somente o hormônio FSH, e aves. Foi visto que o LH de
sapo-boi estimula a tireóide de aves e répteis, destacando a similaridade destas moléculas e
suas ações, mantendo também sua influência no eixo gonadal (Norris, 2007).
produzido nas células da pars distalis das aves já que o lobo intermediário é ausente, mas
sua função fisiológica neste grupo ainda é incerta. A coloração nesta classe de vertebrados
parece estar sob a influência e/ou controle de fatores vindos do eixo reprodutivo (GtHs e
esteróides gonadais), e da tireóide. O MSH e o ACTH são derivados de uma molécula
precursora que é transcrita e traduzida a partir de um único gene, a proopiomelanocortina
(POMC) (Norris, 2007).
Os dois hormônios sintetizados na pars nervosa são a mesotocina e a arginina-
vasotocina, são muito semelhantes quimicamente, pois sendo compostos por nove
aminoácidos diferenciam-se por apenas dois. Estes hormônios são, respectivamente,
homólogos à ocitocina e a arginina-vasopressina encontrados em mamíferos. Estes
hormônios estão entre os de ação mais rápida, pois são capazes de produzir uma resposta,
segundos após a sua liberação (Licht e col., 1984; Choy e Watkins, 1986; Nojiri e col., 1987;
Acher e col., 1995; Acher, 1996).
Entre estes dois os hormônios da PN, a arginina-vasotocina tem a distribuição
filogenética mais ampla, acreditando-se ser ele o hormônio original a partir do qual os
demais nonapeptídeos evoluíram (Tab. 1).
Conclusão
O que foi exposto evidencia que a complexidade do sistema neuroendócrino nos
vertebrados e a diversidade de respostas fisiológicas e seus efeitos em um organismo é
reflexo da integração de todos os sistemas fisiológicos, tendo o hipotálamo e a hipófise
como mediadores fundamentais. Além disso, mais estudos a respeito dos efeitos destes
hormônios hipotalâmicos e hipofisários nestes grupos de vertebrados são necessários para
que as modulações de respostas fisiológicas sejam mais bem elucidadas também do ponto
de vista evolutivo.
Sistema neuroimunoendócrino
Marina Marçola
Laboratório de Cronofarmacologia
[email protected]
Os primeiros passos
Os antigos anciões gregos acreditavam na influência do cérebro sob a integridade
do organismo, dizendo que o estado da mente interferia no decurso da doença. Essa crença
perdurou por séculos até a descoberta dos antibióticos, quando se dizia que o tratamento da
doença se resumia na eliminação do ‘corpo estranho’ causador da infecção ou inflamação.
Porém, ultimamente tem-se retornado aos princípios antigos, e novas descobertas abrem
precedentes que comprovam a integração do sistema nervoso e endócrino com a efetivação
e eficiência da resposta imune (Sternberg e Gold, 1997).
Já na década de 1970, Besedovsky e Sorkin, (1977) mostram que durante a
montagem de uma resposta imune são observadas mudanças no decurso temporal de
secreção de alguns hormônios (Fig. 1A) e na atividade elétrica de neurônios da porção
ventromedial do hipotálamo de ratos (Fig. 1B), sugerindo uma comunicação entre esses
sistemas.
Figura 1. (A) A injeção de 4x109 células vermelhas de ovelhas em ratos aumentou a secreção de
corticosterona a partir do quinto dia após o tratamento. Animais controles, injetados com glóbulos
vermelhos de ratos, não apresentaram mudanças significativas na secreção de corticosterona (barras
brancas). (B) A injeção de 5x109 células vermelhas de ovelha aumentou os disparos de neurônios do
hipotálamo no quinto dia após o tratamento com o antígeno. Animais tratados com salina (barras
brancas) não sofreram alterações (Modificado de Besedovsky e Sorkin, 1977).
também células de outros tecidos e sistemas. Por ser um sistema difuso, células e
mediadores do sistema imune são capazes de sinalizar para diversas regiões do organismo,
seja via sanguínea ou linfática.
Até recentemente acreditava-se que o sistema nervoso central (SNC) era provido
de um privilégio que não permitia o recebimento e reconhecimento de sinalizações
imunológicas. De fato, a barreira hematoencefálica, além de outros mecanismos, garante
um grau de privilégio ao SNC, no entanto esse privilégio não acontece de maneira absoluta
(Galea e col., 2006). Fisiologicamente, essa barreira impede a passagem de certas
substâncias da corrente sanguínea para estruturas do SNC, porém, durante um processo
inflamatório ela se torna mais acessível, permitindo uma maior comunicação entre
elementos da periferia com elementos centrais. Assim, citocinas produzidas pelo sistema
imune são capazes de sinalizar diretamente células do SNC (Sternberg e Gold, 1997;
Chesnokova e Melmed, 2002; Galea e col., 2006).
Além desse contato direto, essas citocinas são capazes de estimular outras células
que estejam fora do SNC e próximas à barreira, como as células endoteliais, que revestem o
vaso sanguíneo, a produzirem mediadores que atingem facilmente o SNC, tais como
prostanglandinas e óxido nítrico (NO) (Fig. 2).
Figura 4. Frente a um estímulo inflamatório, células imunes produzem citocinas que agem na
tentativa de solucionar o problema. Essas citocinas estimulam neurônios aferentes do nervo
vago que sinalizam o SNC. Este, por meio de um reflexo eferente modula a função imune,
impedindo uma exacerbação da resposta e conseqüente dano tecidual. Tal comunicação é
denominada via colinérgica anti-inflamatória (A; modificado de Rosas-Ballina e Tracey, 2009).
As células imunes são reguladas a partir do reconhecimento de acetilcolina (Ach) pelos
receptores (α7nAchR). Essa sinalização leva a inibição de fatores de transcrição responsáveis
pela síntese de citocinas pró-inflamatórias (B; modificado de: Pavlov e Tracey, 2006).
Figura 5. O eixo H-H-A está associado aos processos de estresse, mas também é um
dos principais comunicadores entre o sistema neuroendócrino e o sistema imune. O
hipotálamo quando estimulado, libera CRH que estimula a produção de ACTH pela
glândula pituitária. Este age sobre a glândula adrenal a qual produz coricosterona
(cortisol). Como uma resposta de feedback negativo, a corticosterona inibe a produção de
CRH pelo hipotálamo. Além de principal mediador do estresse, classicamente, a
corticosterona age sobre a resposta imune como um mediador anti-inflamatório
(modificado de Sternberg e Gold, 1997).
recebe a informação fótica provinda da retina e funciona como um relógio central. A partir
dele, projeções são lançadas para outros osciladores periféricos, tais como a glândula
pineal. Dentre suas propriedades cronobiológicas, a melatonina é sinalizadora da
intensidade e duração do escuro, sendo responsável, portanto pela sinalização de ritmos
sazonais e circadianos (Simmoneaux e Ribelayga, 2003).
Existe também a produção extra-pineal de melatonina. Essa produção ocorre de
forma não rítmica ao longo do dia em medula óssea (Tan e col., 1999), trato gastrintestinal
de ratos (Bubenik e col., 1992), fígado, rim e baço de roedores e primatas (Menendez-
Pelaez e col., 1993), placenta humana (Lanoix e col., 2008) e células imunocompetentes,
como macrófagos da cavidade peritoneal (Martins e col., 2004), linfócitos humanos (Carrilo-
Vicco e col., 2004) e células do colostro humano (Pontes e col., 2006, 2007).
O ritmo diário de melatonina no sangue, onde é observado um aumento de cerca
de 100 vezes durante a noite, ocorre exclusivamente devido ao ritmo de produção da
glândula pineal (Markus e col., 2007). As demais fontes de produção estão envolvidas em
ações locais e sua produção tônica pode elevar de forma indiscriminada os níveis
plasmáticos tanto de dia quanto de noite.
Estudos recentes demonstram que a melatonina é capaz de agir sobre alguns
aspectos imunológicos, sobretudo na camada endotelial, em concentrações compatíveis
com sua produção noturna: reduz a adesão de neutrófilos e o aumento de permeabilidade
vascular induzido por leucotrieno B4 (Lotufo e col., 2006), o rolamento e adesão de
neutrófilos à camada endotelial (Lotufo e col., 2001) e a atividade da sintase de óxido nítrico
constitutiva (Silva e col., 2007).
Fisiologicamente, leucócitos circulantes estão equipados para agir caso necessário.
Porém a integridade vascular, sobretudo da camada endotelial, é mantida por diversos
mediadores que impedem a transmigração desnecessária desses leucócitos para o tecido. A
melatonina noturna e a corticosterona podem estar agindo nesse conjunto de mediadores.
Levando em consideração a produção rítmica desses hormônios, é importante que o
organismo tenha um mecanismo de resposta imune que não dependa das variações
rítmicas. Assim, durante a fase inicial da montagem de uma resposta inflamatória, o
organismo deve responder prontamente independente da hora do dia.
Considerando o paradigma acima, Markus e colaboradores, (2007) descreveram o
chamado eixo imune-pineal, que consiste na ação endócrina e parácrina da melatonina
sobre a resposta inflamatória. Durante a montagem da resposta inflamatória, a produção de
melatonina pela glândula pineal é inibida por mediadores pró-inflamatórios, tais como TNF,
permitindo a montagem de uma resposta rápida e eficiente (Markus e col., 2007). Hoje já se
sabe que a glândula pineal está equipada para o reconhecimento desta citocina (Cruz-
Machado e col., no prelo). No entanto, como dito anteriormente, a resposta inflamatória deve
ser controlada para que não haja danos teciduais. Em um segundo momento, células
imunocompetentes localizadas próximo ao local da injúria são capazes de produzir
melatonina em altas concentrações agindo de forma parácrina nas células das proximidades
e colaborando com uma montagem anti-inflamatória da resposta (Fig. 6; Markus e col.,
2007). Estudos in vitro, demonstraram que a produção extra-pineal de melatonina
desempenha um papel protetor contra danos teciduais, visto que é capaz de reduzir a
síntese de NO (Tamura e col., 2009). Além do mais, existe uma alça que interliga as
glândulas adrenal e pineal. A corticosterona é capaz de aumentar a síntese de melatonina,
visando uma resposta mais apropriada frente a uma injúria (Fernandes e col., 2009).
correto é necessário que haja uma supressão do sistema imune para que o feto não seja
rejeitado antes do tempo, caso isso não ocorra, a probabilidade de um aborto é aumentada.
Estudos têm relacionado a participação da progesterona na regulação da resposta imune
durante a gestação (Morale e col., 2001).
Figura 7. Durante uma resposta inflamatória as atividade reprodutivas são inibidas devido a
diminuição nos níveis de GnRH e LH. Ainda não está muito esclarecido com é feito essa
inibição. Estudos indicam que o reconhecimento de citocinas como IL-1β por estruturas do
SNC é o responsável. Por outro lado, a ação de opióides, catecolamindas, GABA, óxido
nítrico (NO) e prostaglandinas, assim como o reconhecimento do estímulo inflamatório
(LPS) diretamente pelo SNC podem estar associados à modulação dos hormônios sexuais,
porém ainda não estão muito bem descritos (modificado de Tomaszewska-Zaremba e
Herman, 2009).
Concluindo
Vimos que para a manutenção da integridade do organismo é necessário que os
sistemas estejam interligados entre si garantindo uma regulação recíproca que visa a
continuidade do equilíbrio homeostático. Quando essa harmonia é rompida é importante que
todo o organismo esteja apto a reconhecer os sinais e respondê-los de maneira organizada
e eficiente. Neste contexto vimos que os sistemas Nervoso, Endócrino e Imune se
organizam e comunicam mutuamente para garantir o perfeito funcionamento do organismo.
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Ecotoxicologia Aquática
Priscila Ortega
Laboratório de Fisiologia Comparada
[email protected]
O cádmio
Os metais, de maneira geral, são distinguidos entre essenciais e não essenciais.
Metais essenciais, como o cobre e zinco, estão associados com mecanismos bioquímicos,
que, dentro de limites, tendem a assegurar uma concentração fixa do metal dentro de um
tecido particular. Os metais não essenciais, como o cádmio e o mercúrio, por sua vez, não
são regulados, então, a concentração interna varia de tecido para tecido de acordo com a
exposição (Turoczy e col., 2001).
O cádmio é um poluente ambiental que aumentou sua importância nos últimos anos
devido a industrialização, ao fumo e à falta efetiva de terapias para a contaminação por
cádmio. Em geral, a população é contaminada por este metal através da exposição a águas
e alimentos contaminados (Jeong e col., 2000). Ele é um dos metais que frequentemente
ocorre combinado com o zinco em uma taxa de zinco/cádmio de 1 para 100, sendo um raro
elemento que pode ser encontrado acumulado no corpo, principalmente no fígado e rins,
onde apresentam entre 50-75% do total de acúmulo do metal, devido aos seus processos de
detoxificação (Fasset, 1975). Por isso, animais terrestres, marinhos e animais de água doce
apresentam a maioria do cádmio acumulado em fígado, rim e glândulas digestivas.
Suas características típicas são uma coloração branco ou acinzentado, dúctil à
temperatura ambiente. É um bom condutor de calor e eletricidade, não reagindo com o
oxigênio do ar e, geralmente, está associado ao zinco. Sua massa atômica é de 112,40
gramas e número atômico 48, possuindo distribuição eletrônica terminada em 5s2 4d10.
Dessa forma, o cádmio é considerado um metal de transição devido à sua distribuição
eletrônica, apesar de muitos autores descrevê-lo como um metal pesado, levando em
consideração sua massa atômica e todos os seus efeitos nocivos nas células e tecidos em
que pode se acumular (http://www.tabela.oxigenio.com, acessado em 02/05/2010).
Este metal é tóxico, sendo encontrado em pilhas e baterias, além de dejetos industriais
descartados no meio ambiente, não possuindo uma função fisiológica conhecida. Ele pode
atingir cursos de água e até mesmo manguezais, onde o descarte de lixo vem crescendo a
cada ano.
Os crustáceos
Os crustáceos pertencem a um grupo diversificado de organismo, estando presentes
em diversos hábitats: estuarino, marinho, dulcícola e terrestre. Ao longo da evolução destes
organismos, surgiram adaptações especializadas das células epiteliais encontradas nas
brânquias, tegumento, hepatopâncreas e glândula antenal (análogo ao rim), para a
regulação e passagem de moléculas e íons entre o meio externo e a hemolinfa (Ahearn e
col., 1999; Monteilh-Zoller e col., 1999). Isso faz com que esse grupo apresente sucesso
adaptativo em ambientes tão diversos, mesmo em ambientes com contaminação por metais
pesados.
Assim, os crustáceos possuem uma variedade de formas de detoxificação celular que
reduzem a concentração de metais potencialmente tóxicos encontrados no ambiente. Essas
formas incluem: (1) mecanismos fisiológicos regulatórios que equilibram taxas de excreção e
ingestão de metais do ambiente (Ahearn e col., 1999); (2) mecanismos de sequestro
intracelular de metais que envolvem locais de união de alta afinidade com proteínas de
baixo peso molecular conhecidas como metalotioneínas, seguida por sua eliminação pela
Transporte de cádmio
Poucos estudos foram realizados com as células do hepatopâncreas de crustáceos,
por isso, assim como em células de brânquias, a interação do cádmio com as células ainda
é pouco conhecida. Acredita-se que o contato com o metal se dá através da alimentação e
da entrada de água. Vários estudos mostram que altas concentrações de cádmio podem ser
letais para vários animais, principalmente crustáceos, possibilitando a ocorrência de efeitos
fisiológicos adversos, especialmente na respiração e osmoregulação. Assim, as brânquias,
como órgão responsável pela respiração, regulação ácido-base, regulação osmótica e
iônica, ao entrar em contato com altas concentrações do metal, podem sofrer danos
morfológicos resultando em deficiência respiratória e osmoregulatória.
Estudos focam na retirada de cádmio do meio aquático e sua acumulação, mas pouco
se sabe sobre seu transporte celular. As respostas tóxicas dos metais geralmente envolvem
aspectos geoquímicos, pois a competição e a complexação desses metais pode interferir
com a quantidade de metal livre disponível na água, afetando a biodisponibilidade para os
animais expostos (Matsuo, e col., 2005).
Em resumo, o cádmio parece entrar em células de crustáceos e peixes via canais para
cálcio, trocadores Na/Ca e via Ca-ATPase, embora não haja estudos em nível celular para o
transporte de cádmio utilizando-se de inibidores específicos para cada tipo de transportador.
resultados não foram confirmados já que outras pesquisas evidenciaram que o cádmio
poderia não participar da hipertensão, pois isto poderia estar relacionado com o fumo, a
idade, o sexo e patologias renais (Fasset, 1975).
Outro aspecto relacionado com a patologia renal é a proteinúria. Ela é considerada por
ser o primeiro sinal de disfunção nos túbulos renais, quando níveis de cádmio acumulado no
córtex renal alcançam taxas de 200 ppm (Fasset, 1975). Atualmente, o principais danos nos
rins se dão nos túbulos renais associados com numerosos tumores em animais de
laboratórios e humanos (Jeong, e col.., 2000).
O fígado é um dos principais órgãos alvos da toxicidade do cádmio. Os danos
causados no fígado através da exposição aguda ao cádmio são caracterizados por apoptose
e necrose. Os danos morfológicos refletem nos altos níveis de enzimas serosas do fígado
como: alanina aminotransferase (ALT) aspartato aminotransferase (AST) e sorbitol
dehidrogenase (SDH). Já os efeitos crônicos da toxicidade por cádmio manifestam
primeiramente como inflamações granulomatoses, proliferação celular, hiperplasia nodular e
apoptose (Jeong, e col.., 2000).
No fígado, assim, o cádmio pode induzir uma disfunção na homeostase tecidual, ou
seja, uma modificação na proliferação e morte celular. Isso indica que as junções gap são
alteradas ou inibidas pelo acúmulo de cádmio. As junções gap são comunicações
intercelulares que regulam a homeostase celular através da passagem de moléculas
solúveis em água de baixo peso molecular. Elas consistem na reunião de proteínas
conhecidas como conexinas, sendo importantes na regulação da proliferação celular,
diferenciação e morte, desenvolvimento embriônico e carcinogênese (Jeong, e col.., 2000).
Assim, o cádmio induz a morte celular (apoptose e necrose) e a proliferação celular
(regeneração celular) através da exposição aguda. A exposição crônica de cádmio também
induz a morte celular (apoptose) e a proliferação celular (regeneração celular e hiperplasia
nodular). O rompimento da homeostase do tecido pelo cádmio sugere que as junções gap
são alteradas pelo cádmio (Jeong e col.., 2000).
Essa alteração ou até mesmo inibição das junções gap pode acarretar o
desenvolvimento de tumores. Além disso, o cádmio pode causar o rompimento da actina do
citoesqueleto, que forma a rede de microfilamentos das células e são altamente associadas
com as junções gap. Isto resulta na mudança estrutural das junções intercelulares,
destruição das junções ou até mesmo na sua internalização (Jeong e col., 2000).
Marina Granado
Laboratório de Fisiologia Comparada de Crustáceos
[email protected]
Introdução
Durante a evolução, organismos aquáticos e terrestres desenvolveram diversas
estratégias para manutenção do equilíbrio das relações de íons de metais presentes e
viáveis no meio ambiente. As células selecionam íons necessários para o desenvolvimento
e excluem aqueles que não o são e posteriormente mantém a concentração interna dos íons
em situação ótima (Perales-Vela e col., 2006).
Metais são tomados e acumulados por organismos aquáticos, tanto através do meio
em que vivem, quanto através da dieta. Muitos metais traço atuam como metais essenciais
no metabolismo, mas todos eles possuem potencial para causar efeitos ecotoxicológicos
(Rainbow, 2000). Foi concluído que metais traço dissolvidos podem também ser tomados de
acordo com o habitat e por último, depende do grau de adaptação de animais aquáticos à
água salgada, salobra ou doce (Rainbow, 2000). Metais traço acumulados requerem
detoxificação fisiológica, tipicamente pela ligação com grânulos inorgânicos de alta
afinidade, frequentemente com base fosfato, ou por ligação com uma proteína
detoxificadora, como metalotioneína ou ferritina (Rainbow, 2000).
Nas águas não poluidas, os animais obtêm muito do cobre necessário pela absorção
através da alimentação e consequentemente a tomada de cobre pelas brânquias é a de
menor contribuição para o total de cobre presente no organismo como um todo (Campbell e
col., 1999). No entanto, a situação é muito diferente em águas poluídas com cobre, onde as
brânquias de truta arco íris podem apresentar aumento de 10% no acúmulo de cobre em
intervalo de poucas horas de exposição e simultaneamente há registro de aumento da
concentração de cobre no sangue destes animais (Campbell e col., 1999).
Metais traço, incluindo os definidos como metais pesados, oriundos da atividade
industrial e mineira são descartados nas águas costeiras e estuarinas em diversos locais.
Os derivados descartados antropogenicamente podem acumular em sedimentos locais (até
5 vezes mais do que na água) e os invertebrados que habitam tais sedimentos estão
potencialmente expostos às altas concentrações de metais (Harris e Santos, 2000).
Metais de transição (Cu, Zn, Fe, Co, Se, Mn) são essenciais para a saúde da maioria
dos organismos, formando componentes integrantes de proteínas envolvidas em todos os
aspectos das funções biológicas. Sua ubiqüidade é “governada” por suas habilidades de
formar uma gama grande de coordenadas geométricas e estados de redox, que permitem a
Hepatopâncreas
O hepatopâncreas está envolvido numa variedade de processos fisiológicos que
incluem secreção de suco digestivo, absorção e estoque de alimento como tambem
detoxificação e estoque de metais pesados. Possui ainda a capacidade de concentrar
metais oriundos da hemolinfa e do trato digestório e estocá-los em vacúolos intracelulares
das células F e R e este é o maior órgão de detoxificação ao lado da glândula antenal, que é
análoga aos rins (Alcorlo e col., 2006).
Brânquias
Membrana celular
A membrana celular é uma bicamada de lipídeos, com grupos hidrofóbicos
direcionados para o lado interno e grupo hidrofílico para o lado externo da camada. A
membrana celular também contem diversas proteínas e estas são essenciais para
passagem através da membrana de moléculas hidrofóbicas e íons, incluindo metais traço
(Rainbow, 2000).
Figura 2: Desenho esquemático de um filamento branquial de crustáceo. Modificado de: Freire e col.,
2008.
Várias possibilidades de rotas têm sido propostas para o transporte de metais traço
através da membrana citoplasmática. São 4 rotas principais: (a) transporte mediado por
carreadores onde o metal se liga à membrana que possui uma proteína e é transportado
através da membrana. Já no citosol, o metal se liga a uma proteína e é carreado
cineticamente; (b) transporte através de canais de proteínas onde os íons de metal são
transportados por gradientes hidrofílicos; (c) difusão passiva do metal lipossolúvel (não
polar) através da bicamada lipídica; (d) endocitose, onde há o engolfamento de partículas e
sua transferência para vesículas intracelulares. Essas duas últimas rotas são
provavelmente de menor importância para a tomada típica de metais pesados da solução
(Rainbow, 2000).
Fora da membrana apical, o ion metal precisa ser apropriado quimicamente para entrar
pelo canal da membrana ou ligado em proteínas da membrana. Geralmente são
considerados biodisponíveis quando estão na forma livre e na forma hidratada. Não entendi
bem aqui!
Diversos estudos com tecido epitelial indicaram que a membrana plasmática,
mitocondrial e lisossomal possuem proteínas que atuam no transporte de cálcio e de metais
pesados como zinco, cádmio e cobre, tanto quanto atuam no transporte de cálcio. Desse
modo existem mecanismos regulatórios da atividade intracelular que pode ser interrompida
ou até mesmo abolida na presença de concentração significativa de metais pesados
(Mandal e col., 2005).
Cobre
A natureza redox do cobre é utilizada em um grande número de processos
enzimáticos, incluindo a catalização pelo citocromo c mitocondrial, o qual faz do cobre um
elemento essencial para as células aeróbicas dos organismos. No entanto, as propriedades
redox do cobre podem causar rapidamente a geração de oxigênio reativo quando os níveis
celulares de cobre são elevados (Grosell e Wood,2002). O cobre é um dos nutrientes
essenciais necessários para a síntese de hemocianina nos crustáceos. O cobre é requerido
para funções biológicas normais de diversas proteínas, incluindo muitas das enzimas
necessárias para o crescimento e desenvolvimento. No entanto, o excesso de cobre é
toxico e causa efeitos biológicos adversos em níveis molecular, celular e tecidual (Yang e
col., 2007).
A tomada de cobre pelas brânquias envolve diversas etapas: (a) ligação inicial do
cobre com a superfície branquial; (b) movimento do cobre através da membrana apical e
entrada nas células branquiais; (c) “trafego” intracelular de cobre para a membrana
basolateral; (d) movimentação do cobre vindo das células para o sangue (Campbell e col.,
1999).
Em sistemas de mamíferos o cobre é transportado por subfamílias P-ATPases e a Cu-
ATPase tem uma sequência de ligantes de metal que é análoga entre bactérias e seres
humanos, implicando desse modo que seja a mesma sequência conservada para os peixes
Zinco
O zinco é homeostaticamente regulado, talvez em um nível mais preciso do que o
cobre. Os mecanismos de regulação do zinco são aparentemente diferentes, como acúmulo
interno negligenciável, o que reflete a redução da tomada branquial de zinco identificado
como parte importante do mecanismo de aclimatação (McGerr e col., 2000). Por ser um
micronutriente importante para os organismos aquáticos incluindo os peixes, mas pode ser
tóxico por interferir na tomada de cálcio e no seu metabolismo quando o zinco estiver em
concentrações que excedam o normal (Rodriguez e col., 2007).
O transporte de zinco e cálcio através das brânquias ocorre através de uma
competição simples e há correlação evidente de que as células cloreto participam da
tomada de zinco. Ainda é desconhecido onde esta competição ocorre: nos canais apicais,
ATPase basolateral ou em ambos (Wood,1992). De todas as concentrações testadas de
metais essenciais, cobre e zinco produzem hipercalcemia. De acordo com o tempo de
exposição, em todos os casos, a glicemia atingiu pico após 3 horas do inicio da exposição,
retornando ao normal após 8 horas na maioria dos casos (Rodriguez e col., 2007).
Em peixes, o zinco pode ser assimilado através da fase aquosa ou da dieta. Para a
fase aquosa do zinco, as brânquias e o intestino são os melhores “pontos” de absorção
(Zhang e Wang,2005). Estudos anteriores mostram que a tomada de zinco através da dieta
é a rota predominante de acúmulo do metal oriundo do ambiente em peixes marinhos
(Zhang e Wang,2005).
Em ambientes poluídos, os peixes são continuadamente expostos ao ambiente rico em
zinco, tanto pela água quanto pela dieta. Diversos estudos recentes em truta cor de arco íris
tem indicado que as mudanças nas tomadas de metal e nos processos fisiológicos ocorrem
após exposição ao zinco (Zhang e Wang,2005).
O metabolismo de zinco nas lagostas e no siri azul são similares e aparentam ser
regulados, mas se as lagostas forem alimentadas com altas concentrações de zinco através
das ostras, poderão acumular quantidades significativas de zinco e este será retido com o
passar do tempo. O zinco também é abundante nos sedimentos, onde as lagostas utilizam
como habitat (Engel e col., 2001).
Embora em algumas espécies possam ocorrer altas concentrações de metal e ainda
manter continuo e funcional o processo fisiológico pode ocorrer uma alteração nos
processos de excreção e formas de detoxificação (Harris e Santos, 2000).
A Na/K-ATPase branquial demonstra a redução sugerida da exposição aguda ao cobre
em Carcinus maenas e esta redução é acompanhada por uma severa depleção do sódio na
hemolinfa (Harris e Santos, 2000).
A água contaminada com cobre e zinco também interfere na função respiratória das
brânquias dos crustáceos, resultando na redução da transferência de gases e na sua
eficiência, e assim na diminuição da performance respiratória. Foi observado também a
redução do consumo de oxigênio e performance cardíaca. É nítido que animais que
habitam áreas cronicamente poluídas fazem ajustes em seus processos regulatórios para
contra-atacar esses efeitos dos metais e assim manter a homeostase (Harris e Santos,
2000).
Existe um custo fisiológico para reestabelecer as condições normais, incluindo
reparação dos danos celulares, aumento da quantidade de células para repor células
efetoras e para que haja processo de detoxificação. Tudo isso gera custo substancial e
essencial para a sobrevivência do animal. Já a longo prazo, mudanças compensatórias,
incluindo controle do fluxo metabólico, indução da supressão de enzimas e seleção natural
das enzimas variantes, consistem num processo de competição entre as espécies para que
haja continuidade na reprodução e desenvolvimento no ambiente contaminado (Harris e
Santos, 2000).
A alta disponibilidade de comida proveniente de esgoto pode ser uma razão para a
presença de espécies bênticas (tais como moluscos e lagostas) e presença de peixes nos
sedimentos. Estes organismos podem “captar” metais do sedimento onde habitam e da
dieta que consomem (Perales-Vela e col., 2006).
A lagosta, por exemplo, é uma espécie que apresenta diversos caminhos/rotas para
bioacumulação de metais e outros poluentes, absorvendo pela superfície branquial, ingestão
de água e sedimentos e o consumo de organismos já com acúmulo de metais (Morales-
Hernandéz e col., 2004).
Alsop e Wood (1999) demonstraram que o cálcio presente na água reduz a tomada de
zinco (em 3 horas) e isso também foi demonstrado por Barrom e Albeke (2000) em trutas
(Niyogi e Wood, 2006).
É razoável assumir que o aumento do influxo de zinco branquial ocorra devido ao
aumento do influxo do cálcio, desde que utilizem a mesma via de tomada (Niyogi e Wood,
2006).
Na membrana basolateral, o zinco não aparenta ser transportados pela Ca-ATPase
porque a inibição é tanto competitiva quanto não competitiva e o zinco também não é
transportado por mecanismos dependentes de sódio (Marshall, 2002).
Além disso, é comum encontrar altos níveis de metais no exoesqueleto, mas tem sido
postulado que este fato é principalmente relacionado mais com adsorção do que bioacúmulo
(Alcorlo e col., 2006). A tomada em nível da membrana celular é governada por um
transportador específico, transporte por canais de proteínas, difusão passiva de metais
lipossolúveis e endocitose (Alcorlo e col., 2006).
(Depledge e Fossi, 1994), porém os efeitos deletérios sobre as populações, muitas vezes,
são difíceis de detectar dado que muitos desses efeitos tendem a se manifestar apenas
após longos períodos de tempo e quando finalmente tornar-se claro, o efeito pode ter ido
além do ponto onde possa ser revertido através de ações de correção ou redução dos riscos
(Oost e col., 2003). Neste capítulo veremos alguns dos metais que se tornam tóxicos
quando em excesso e os efeitos dessa toxicidade observados em alguns grupos de animais
aquáticos.
Metais
Os metais, normalmente, estão presentes em baixa concentrações nos ambientes
aquáticos (Ash e Stone, 2003), no litoral e rios próximos a centros urbanos, os metais
podem ser encontrados em concentrações muito mais elevadas, provavelmente devido à
entrada de sistemas fluviais (Morillo e col., 2004) e à poluição, associada a efluentes
líquidos de origem doméstica e industrial que muitas vezes não recebem o tratamento
adequado. (Chen e col., 2005; Wannaz e col., 2006).
Alguns metais, em baixas concentrações, são importantes no metabolismo,
participando de processos fisiológicos, são os chamados metais essenciais, e são
frequentemente transportados ativamente através das membranas (Tamás e Wysocki 2001,
Van Ho e col., 2002) mas, em elevadas concentrações podem se tornar tóxicos. Nessa
classe destacam-se os metais ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu) e manganês (Mn), por outro
lado, existem metais como chumbo (Pb), cádmio (Cd) e mercúrio (Hg), que não são
essenciais aos organismos e podem alterar o estado fisiológico, além disso, muitos fatores
afetam os efeitos dos metais pesados, tais como sua forma química, via de entrada no
organismo, duração da exposição, idade e espécie do animal (Kostial e col., 1978; Madsen-
Moller, 1991)
Cobre
O cobre é um metal de transição, considerado micronutriente essencial. Órgãos como
fígado, cérebro e coração contêm quantidades consideráveis de cobre (Watanabe e col.,
1997), ele é um fator requerido para a função celular (Karan e col., 1998; McGeer e col.,
2000) atuando como cofator enzimático em vários processos biológicos, além de estar
envolvido no processo de transferência de elétrons na cadeia respiratória (Watanabe e col.,
1997, Camakaris e col., 1999; Celik e Oehlenschager, 2004) em reações redox em enzimas
tais como citocromo, oxidase e superóxido dismutase (Watanabe e col., 1997, Camakaris e
col., 1999). Apesar disso, em altas concentrações pode vir a ser prejudicial ao organismo.
Mangânes
O manganês, em seu estado divalente, tem papel fundamental em vários processos
biológicos como no metabolismo de aminoácidos, lipídios, proteínas e carboidratos, além
disso, há muitas enzimas que são manganês-dependente incluindo as oxidoredutases,
transferases, hidrolases, liases, isomerases e ligases. Alguns autores citam a participação
deste metal na função das metaloenzimas como arginase, glutamina sintetase,
fosfoenolpiruvato, descarboxilase e manganês superóxido desmutase. Além desta
importante função como co-fator enzimático o manganês também está envolvido na função
do sistema imune, regulação de glicose no sangue e energia celular, reprodução, digestão e
mecanismos de defesa contra radicais livres (Keen e col.,1999; Freeland-Graves e
Llanes,1994). Após ser transportado nas células e oxidado intracelularmente por reação
com superóxidos a um estado trivalente, este metal mostra-se altamente tóxico
principalmente ao sistema nervoso (Archibald e Tyree, 1987).
Zinco
O zinco participa do metabolismo de ácidos nucléicos, replicação celular e do reparo e
crescimento dos tecidos (Murakami e Hirano, 2008). Em baixas concentrações são
importantes no processo de neurotransmissão e ainda participam da estrutura de
receptores excitatórios de glutamato, no entanto são tóxicos quando em altas concentrações
(Smart, 2004).
Ferro
O ferro faz parte de muitos processos enzimáticos de óxido-redução, dos citocromos,
catalases e peroxidades, age também como transportador de oxigênio na hemoglobina
(Maham e Arlin, 1995), no entanto, seu excesso pode ocasionar aumento na produção de
radicais livres (Schuartsman, 1985).
Alumínio
O alumínio é um metal não essencial e muito tóxico ao organismo, apesar de ser um
dos mais abundantes na crosta terrestre, as concentrações deste metal em águas doces
são notavelmente baixas. O alumínio não é muito solúvel em água, mas em associação com
outros compostos como, por exemplo, F-, OH-, SO-, PO-, H, Si, O, pode acarretar na sua
solubilização e capacidade de se ligar a diversas macromoléculas (Lydersen, 1990;
Lydersen, 1990a). Segundo Teien (2006) o pH tem um forte controle na especiação de
Cádmio
O cádmio é um metal não essencial e geralmente tóxico para os organismos, este
metal afeta a estrutura de ácidos nucléicos e atividade de muitas enzimas e
neurotransmissores (Cooper e Manalis, 1984).
Chumbo
As concentrações de chumbo geralmente são baixas em águas continentais, este
metal se acumula nos rins, fígado e cérebro e geralmente seu grau de toxicidade varia com
o tempo de exposição a que o organismo é submetido (Bastos e Nefussi, 1986).
Mercúrio
O mercúrio é um dos metais mais tóxicos aos seres vivos, pode ser encontrado em
três formas: elementar, inorgânico e orgânico, cada uma com seu grau de toxicidade (Guzzi
e La Porta, 2008). A forma inorgânica é a fonte mais significativa de contaminação aquática
e seus efeitos estão diretamente relacionados a respostas adversas do sistema nervoso
central (Senger e col., 2006).
Peroxidação de lipídios
Os fosfolipídios de membrana de organismos aeróbios estão continuamente sujeitos a
oxidação por fontes tanto endógenas quanto exógenas, mas a própria célula contém
mecanismos antioxidantes para prevenção da peroxidação e uma variedade de mecanismos
que mantém a integridade da membrana e a homeostase (Vigo-Pelfrey, 1990; Dix e
Aikens,1993). O processo de peroxidação é uma reação em cadeia especialmente para os
ácidos graxos polinsaturados que são mais sensíveis a ação de ROS devido à dupla ligação
de carbonos. Membranas peroxidadas tornam-se rígidas e perdem a permeabilidade e os
produtos resultantes podem provocar mutações no DNA e alterações nos padrões de
expressão gênica (Marnett, 1999) e os efeitos acumulativos deste processo podem implicar
em numerosas condições patológicas (Steinberg, 1997).
O processo é iniciado principalmente por radicais hidroxil, especialmente reações
catalisadas por metais de transição. Os metais, como os sais de ferro, na presença de
peróxido de hidrogênio pode produzir HO (Schaich, 1992): Fe2+ + H2O2 Fe3+ + HO- +
HO . Metais e seus complexos implicam na peroxidação de lipídios e subsequentemente na
promoção da carcinogênese. (Sole e col., 1990; Kasprzak, 1995).
Fitoplâncton
Algas são os organismos aquáticos que acumulam metais mais facilmente, estudos
recentes com Ulva laetevirens and Gracilaria verrucosa tem demonstrado uma alta afinidade
por bioacumular Cd, Cu e Zn (Roncarati, 2003), além da ocorrência natural e abundante,
esses organismos fotossintetizantes estão sendo utilizados para programas de
biomonitoramento de xenobióticos (Conti and Cecchetti, 2003; Conti e col., 2007).
Macroalgas (Conti and Cecchetti, 2003) e microalgas (Tripathi e col., 2006) são ferramentas
importantes para monitorar mudanças fisiológicas na presença de metais pesados, estes,
são frequentemente transportados ativamente pelas membranas (Tamás e Wysocki, 2001;
Van Ho e col.., 2002) e esses transportadores podem ser portas de entrada para metais
tóxicos (Zalups e Ahmad, 2003) . As Microalgas empregam uma variedade de estratégias
bioquímicas para reduzir a toxicidade de metais e para manter a homeostase no citoplasma
(Perales-Vela e col., 2006), uma destas estratégias é o aminoácido cisteína que contém um
grupo sulfidril que se liga ao sítio ativo do metal, esse grupamento contém peptídeos como a
glutationa que são responsáveis pelo seqüestro do metal nas células, e outra alternativa são
as metalotioneínas (Klaassen e col.., 1999)
Diante destas características as algas absorvem os poluentes do ambiente aquático
e biotransformam em compostos orgânicos tornando-os menos tóxicos, não permitindo que
cheguem a níveis tróficos superiores (Pflugmacher e col., 1999). Adicionalmente a isto,
estes organismos tem sido utilizados como biorremediadores no tratamento de metais
pesados e poluentes orgânicos (Munoz e col., 2006) e sugere-se a utilização destas algas
como bioindicadores de poluição aquática e de respostas fisiológicas a xenobióticos (Witton
and Kelly, 1995).
Invertebrados
Peixes
Os peixes são amplamente utilizados no biomonitoramento da poluição aquática (Zhou
e col., 2008) e a contaminação em peixes por metais tóxicos deve ser considerada muito
relevante, pois estes animais estão no topo da cadeia alimentar e servem de alimentos para
outros animais. Neste grupo a faringe é o principal sítio pelo qual os poluentes aquáticos
entram, e as brânquias são freqüentemente afetadas por estas substâncias devido a grande
área da sua superfície e espessura deste tecido (Mallat, 1985). Há numerosos estudos que
indicam mudanças estruturais induzidas por toxicantes e outros poluentes presente na água
(Ferguson e col., 1992; Partearroyo e col., 1992).
Estudos demonstraram que efeitos adversos foram observados em peixes expostos ao
cobre, por exemplo, podem-se citar alterações nas funções respiratórias e ionoregulatórias
devido aos danos em órgãos alvos como as brânquias, como conseqüência, houve um
aumento no metabolismo aeróbico, no consumo de oxigênio que por sua vez, reduziu o
desempenho natatório (McGeer e col., 2000; Handy, 2003). Além disso, McGeer e col.
(2000) demonstraram que a exposição crônica ao cobre aumentou a atividade da Na+K+-
ATPase branquial, implicando em um maior custo energético para a osmorregulação.
Pelgrom e col. (1995) expuseram exemplares de Oreochromis mossambicus a diferentes
concentrações de Cu e observaram um aumento no número de células de cloreto conforme
se aumentava a concentração do metal. Neste estudo também foi observado um diâmetro
aumentado destas células e um aumento das concentrações de cobre nas brânquias e no
plasma. Além disso, altos níveis de cobre diminuem o crescimento e prejudicam a
conversão alimentar em peixes (Marr e col., 1996; Schlenk & Benson, 2001).
O alumínio, por sua vez, provoca acidose plasmática, hipóxia e hipercapnia, perda de
eletrólitos, principalmente Na+ e Cl- (Howells e col., 1990; Rosseland e col., 1990). Vários
autores observaram ainda nas brânquias, inflamação (edema e inchaço) e em alguns casos
(Brodeur e col., 1997 a,b; 1998), os metais podem alterar o mecanismo de sinalização deste
sistema e ainda alterar a síntese de esteróides pelas células interrenais (Girard e col., 1998).
Em adição, os metais têm demonstrado alterar outros sistemas hormonais tais como
os tiroidianos e os hormônios de crescimento (Comeau e col., 2001; Devlin e col., 2001).
Trutas arco-íris submetidas a toxicidade por Cádmio durante o desenvolvimento,
apresentaram modificações na expressão de mRNA do hormônio de crescimento até os
últimos estágios do desenvolvimento larval (Jones e col., 2001). Exposição a vários
poluentes metálicos alteraram os níveis de triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) no plasma de
espécies de peixes em ensaios agudos (Sinha e col., 1991) e crônico (Hontela e col., 1995).
Anfíbios
Segundo Pough (1976) de 30 a 50% das espécies de salamandras e anuros utilizam
lagoas temporárias (que aparecem na primavera e secam no verão) para porem seus ovos e
esse processo ocorre em tempo suficiente para ocorrer a metamorfose até a lagoa secar.
Um dos grandes problemas enfrentados nestes pequenos ambientes, que são dependentes
principalmente de água da chuva, é a acidificação devido ao pequeno volume e como
conseqüência a biodisponibilização de alumínio (Freda e col., 1991). Já em pântanos ocorre
uma ambiente naturalmente ácido devido a crescimento denso de musgo de sphagnum e
altas concentrações de ácidos orgânicos (Gorham e col., 1985), níveis elevados de metais
podem estar presentes nestas águas porque ácidos orgânicos têm uma alta afinidade por
metais (Reuter & Perdue, 1977).
A toxicidade por alumínio é totalmente dependente do pH da água, em muitas
espécies este metal só é tóxico em pH abaixo de 5, mas há situações que ele se torna
biodisponível em pH alto. O íons de hidrogênio e o alumínio podem inibir a enzima de
eclosão presente na membrana vitelínica dos ovos de anfíbios, inibindo a ação desta enzima
a membrana se torna resistente para o processo de eclosão e impermeável a água e íons
(Yoshizaki, 1978).
O alumínio divalente age como o Ca e Mg na célula (Freda & Dunson, 1985a),
reduzindo a permeabilidade da membrana podendo bloquear a passagem de Na+ e Cl-
(Gordon & Sauerheber, 1982), a perda destes eletrólitos é a causa primária de morte de
anfíbios (Freda & Dunson, 1984; Freda & McDonald, 1990).
Larvas de Pleurodeles waltl (anfíbio urodela) expostos a cádmio não sofreram
modificações nos primeiros passos do desenvolvimento, mas tiveram a metamorfose inibida
assim como a diferenciação e desenvolvimento gonadal (Flament e col., 2003). O cádmio
induz a síntese de HSP (Ait-Aissa e col.., 2000) e estas proteínas interagem com os
receptores estrogênicos ou androgênicos e pode alterar os padrões de ação destes
hormônios (Pratt and Toft, 1997).
Répteis
Há poucos estudos com metais em répteis, há trabalhos com concentração de metal
pesado em tecidos de tartaruga (Godley e col., 1998, 1999; Sakai e col., 2000 a,b), mas
nenhuma informação em efeitos ou limiar de concentração toxicológicos estão disponíveis.
O impacto de metais em tartarugas pode ser medido pelo acúmulo destes nos tecidos e
Franzellitti e col. (2004) quantificaram as concentrações de Cd, Cu, Fe, Mn, Ni, e Zn no
fígado, pulmão, músculo e tecido adiposo de Caretta caretta, encontradas mortas, da região
do noroeste da Itália. A escolha destes metais pesados foi realizada com base em estudos
prévios que mostraram níveis particularmente altos de Ni, Cu e Zn em sedimentos, Cd e Ni
na água e Mn e Fe em bivalves conhecidos por serem base alimentar de C. caretta (Dinelli
e col., 1996; Dinelli e Lucchini, 1999; Tankere e col., 2000; Fagioli e col., 1994) e
encontraram concentrações altamente significativas de Ni, Mn, Cd e Cu no pulmão, músculo
e tecido adiposo e de Mn e Ni no fígado, valores estes comparados a tartarugas de outras
áreas não contaminadas, sugerindo a toxicidade por metais como causa da morte.
Xu e col. (2006), encontraram altas concentrações de metais pesados na casca,
membrana e no conteúdo de ovos de crocodilo (Alligator sinensis) e comparou com outros
estudos (Burger e Gochfeld 1991; Burger 1994) e sugere que as altas concentrações de
metais presentes nos ovos é um meio que as fêmeas encontraram para tentar reduzir a
carga corporal de substâncias tóxicas através da transferência para os ovos,
semelhantemente ao que ocorre com outras espécies de répteis já analisadas, incluindo
tartarugas (Caretta caretta, Chelonia mydas e Trachemys scripta (Sakai e col., 1995, 2000;
Burger e Gibbons, 1998). E ainda, para completar, estudos com ovos de tartarugas e
crocodilos demonstraram que de forma similar que a presença de altos níveis de metais
aumentam a mortalidade de embriões (Nagle e col., 2001, Manolis e col., 2002b),
Conclusão
A presença de substâncias poluentes nos corpos aquáticos quando modificam as
características do meio alteram toda a cadeia trófica, a sociedade ainda não percebeu a
importância do meio ambiente para sua sobrevivência. As causas das agressões ao meio
ambiente são de ordem política, econômica e cultural, não pode haver proteção do ambiente
enquanto houver desigualdades sociais. Os países ricos consomem os recursos naturais de
forma exagerada e são que mais poluem enquanto que os países pobres também mostram
uma parcela de culpa por falta de oportunidades. A ciência busca minimizar esses efeitos
adversos a biodiversidade tentando identificar os problemas antes que o compartimento
ambiental como um todo seja afetado. Se muitas das alterações forem observadas com uma
certa antecedência, talvez seja possível minimizar os efeitos deletérios causados ao meio
ambiente ao se elaborar medidas mitigadoras e de proteção a estes ambientes. A utilização
de bioindicadores de poluição ambiental constitui uma ferramenta eficiente para avaliação
de risco de impacto ambiental, porém cabe ressaltar que este monitoramento requer
conhecimentos profundos da fisiologia dos organismos utilizados.
Desreguladores endócrinos
Grande parte dos ecossistemas aquáticos encontra-se contaminado por inúmeros
poluentes, os quais podem causar os mais diversos tipos de impactos. Nesse contexto,
pode-se destacar uma classe de poluente capaz de alterar as funções endócrinas, não
apenas na fauna aquática, mas também sobre toda a cadeia trófica associada. Essa classe
de poluentes tornou-se conhecida por desreguladores endócrinos, ou ainda “disruptores”
endócrinos, (do inglês, endocrine disruptor compound, ou EDC). É importante destacar que
a palavra disruptor não existe na língua portuguesa, sendo, portanto um neologismo
(fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na
atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente) e é comumente utilizada na
literatura, principalmente na ecotoxicologia.
Observações dos efeitos da exposição aos desreguladores endócrinos (DE) em
peixes e outras espécies aquáticas, como por exemplo, invertebrados e anfíbios, têm
contribuído para um esforço global na tentativa de estabelecer métodos para a detecção dos
efeitos destes compostos sobre populações e para avaliação dos riscos ecológicos (Owen e
col., 2008). Os DE podem ser desde compostos químicos sintéticos tais como pesticidas e
fertilizantes a xenoestrógenos, fitoestrógenos e metais. Biologicamente podem ter ação
sobre os receptores dos hormônios esteróides (nos tecidos alvo) como agonistas ou
antagonistas, resultando em estímulo ou redução/bloqueio, respectivamente, nos processos
de síntese hormonal (Matthiessen e Johnson, 2007).
Há um consenso de que em sua grande maioria esses compostos antropogênicos
interferem sobre a afinidade hormônio-receptor, especialmente os envolvidos na
reprodução, pois esses parecem ser mais vulneráveis a pertubarções. Dessa forma, são
freqüentes em mamíferos as alterações gonadais, má formação do trato genital, infertilidade
e tumores; inibição da reprodução e alterações no comportamento de corte em aves e
anormalidades nos órgãos reprodutivos em crocodilianos (Depledge, 1999).
Figura 1- Controle endócrino da reprodução em crustáceos - XO: órgão X, SG: glândula do seio, MO:
órgão mandibular, B: cérebro, TG: gânglio torácico, HEP: hepatopâncreas, OV: ovario, T: testiculo,
AG: glândula androgênica, A.Gl.: glândula antenal, GIH: hormônio inibidor gonadal, GSH: hormônio
estimulador gonadal, MOIH: hormônio inibidor do órgão mandibular, CHH: hormônio hiperglicemiante,
MF: methyl farnesoato, OH: hormônio ovariano, AGH: hormônio da glândula androgênica e VITELL:
vitelogenina. (Modificado de Rodrigues e col., 2007).
poluentes e seu sistema endócrino é pouco conhecido, por outro lado, decápodes são
relativamente resistentes a muitos poluentes, mas enquanto seu sistema endócrino é o mais
extensivamente estudado entre os crustáceos, seu ciclo de vida é relativamente longo e o
manejo em laboratório nem sempre é uma tarefa fácil. Portanto, a seleção de crustáceos
sentinela que ocorram no mesmo ambiente poderá requerer mais de uma espécie para o
monitoramento ambiental (Rodriguéz e col., 2007).
cisplatina, Bi, sais de ouro (Au)) e a ingestão acidental de inseticidas e raticidas contendo As
ou sais de tálio (Ti) (Manzo, 2007).
A exposição crônica a certos metais tem sido relacionada a fisiopatologia de algumas
doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, e a
esclerose amiotrófica; no entanto, os dados ainda são controversos (Manzo, 2007). Pb, Al e
Mn são muitas vezes (mas não sempre) encontrados em excesso na autópsia do sistema
nervoso obtidos de vítimas dessas desordens neurológicas; entretanto, doenças do sistema
nervoso também podem ser induzidas pela deficiência de metais, logo Zn, Cu e Mn são
exemplos de elementos essenciais ao organismo, cuja deficiência pode levar a distúrbios
neurológicos. Essa deficiência pode resultar da ingestão inadequada de alimentos, efeitos
de drogas e outras situações em que as perdas corpóreas do metal são aumentadas
(Manzo, 2007).
Neurodegeneração Neurodegeneração
Metais neurotóxicos
associada a metais associada a deficiências de
acumulados no cérebro metais essenciais
Chumbo (Pb)
Mercúrio (Hg) Chumbo (Pb) Manganês (Mn)
Lítio (Li) Mercúrio (Hg) Cobre (Cu)
Manganês (Mn) Manganês (Mn) Zinco (Zn)
Tálio (Ti) Alumínio (Al)
Arsênio (As) Cobre (Cu)
Bismuto (Bi)
Sais de ouro (Au)
Manganês
O manganês é encontrado em todos os tecidos e é fundamental para muitos
processos fisiológicos, como por exemplo, na regulação dos processos reprodutivos, no
metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e como co-fator de várias enzimas
(Prestifilippo e col., 2007), por exemplo, a SOD manganês (superóxido dismutase), e
glutamina sintetase (enzima que sintetiza glutamina do neurotransmissor glutamato). Na
verdade, cerca de 80% do manganês no cérebro está contido nesta enzima (Quintanar,
2008); como também para as metaloenzimas (manganoproteínas) envolvidas no
metabolismo do oxigênio e do nitrogênio (Morello e col., 2007) e enzimas relacionadas ao
DNA e neurotransmissores (Lima e col., 2008).
Alumínio
A exposição às altas concentrações de Al, assim como de Mn, resulta em efeitos
neurotóxicos sobre o sistema nervoso central (SNC) de mamíferos. No caso do alumínio,
não se conhece um papel fisiológico no organismo (Nayak, 2002), desta forma este metal
pode produzir efeitos fisiológicos adversos, entre os quais estão alterações bioquímicas,
imunológicas respiratórias cardiovasculares, endócrinas (Campbell & Bondy, 2001),
neurológicas, esqueléticas, hematológicas, insuficiência renal avançada (Zatta e col., 2003),
entre outras. Aparentemente o efeito mais pronunciado ocorre sobre o SNC, com sintomas
similares aos que ocorrem na doença de Alzheimer.
O Al presente nestes rios e lagos não têm sua fonte diretamente relacionada a
efluentes antrópicos, pois originalmente está presente em constituintes geológicos naturais
do solo, sendo mobilizado para a coluna d’água principalmente por intermédio de eventos de
precipitação ácida (Bjerknes e col., 2003). Entretanto, este metal, em sua forma sulfatada
(alum) é amplamente utilizado em estações de tratamento de água como coagulante de
partículas sólidas e o resultante desta combinação é descartado para cursos d’água
adjacentes (Hullebusch e col., 2002).
O Al não é encontrado em seu estado puro na natureza (Constantino e col., 2002),
mas sim sob a forma mineral, sendo o mesmo observado para o Mn (Lima e col., 2008). A
solubilidade e a disponibilidade biológica de metais dependem não apenas da concentração,
mas também das formas físico-químicas nas quais podem vir a ocorrer (Kalembiekiewics e
col., 2008). Este metal não é muito solúvel em água, entretanto a chuva ácida (formando
ácidos inorgânicos) pode solubilizar parte deste metal produzindo uma diversidade de
complexos e formas físico-químicas, desde simples formas iônicas a polímeros, colóides e
partículas. O principal fator abiótico que influencia as diferentes espécies químicas
apresentadas por este metal é o pH (Teien, 2007). De maneira geral, pode-se dizer que o
pH tem um forte controle na especiação de metais, pois influencia a hidrólise metálica, a
polimerização, a agregação, a precipitação e a competição de prótons por locais de ligação
disponíveis (Smith, 1996).
As condições em que o Al torna-se mais tóxico para os organismos aquáticos e mais
facilmente absorvido ocorre em pH ácido; íons de Al e de H+ podem interferir sobre a
atividade de hormônios esteróides, desde alterações nos processos de síntese nas gônadas
(Mount e col., 1988; Kime, 1995; Tam e col., 1987; Tam & Zang, 1996), alterações sobre a
vitelogênese (Mugyia & Tanahashi, 1998; Hwang e col., 2000, Berg e col., 2004), alterações
sobre a síntese e atividade gonadotrópica (Kime, 1995) e alterações na maturação e desova
de oócitos (Vuorinen & Vuorinen, 1991; Vuorinen e col., 2003).
Atualmente, apenas alguns poucos estudos apontam as conseqüências endócrinas da
exposição ao Al em teleósteos, pois a maior parte dos estudos refere-se a
neurodegeneração em humanos. Nesse caso, é conhecido para Oreochromis niloticus
(tilápia) que o Al possui um efeito anti-esteroidogênico, pois esse metal em pH 5,5 foi capaz
de reduzir a concentração plasmática de 17 α – OHP , após exposição aguda (96 h); porém,
os mecanismos bioquímicos pelos quais o Al causa essa desregulação endócrina ainda são
desconhecidos (Correia e col., 2010).
Sabe-se que os progestágenos são produzidos sob o controle do LH (Young e col.,
2005), portanto a diminuição na concentração de 17 OHP de O. niloticus poderia estar
relacionada a um efeito tóxico na hipófise suprimindo a síntese, ou a expressão do LH, ou
ainda um efeito tóxico sobre o hipotálamo em que a síntese/expressão do GnRH tenha sido
suprimida/reduzida. No entanto, devido aos conhecidos efeitos do Al e de outros metais
sobre a atividade enzimática, a possibilidade de este metal ter estimulado a atividade da
enzima 20β-hidroxiesteróide desidrogenase (20β HSD), responsável pela conversão da 17
OHP em 17 α, 20 β-diidroxi-4-pregnen – 3 - one (17,20 P), também conhecida por MIS (do
inglês, maturation induction steroid) não pode ser excluída (Young e col., 2005).
Como nos mamíferos, o controle da síntese de esteróides nos ovários de peixes é
mediado pelo FSH e LH, sendo esta uma via que envolve pelo menos parcialmente,
proteínas quinases (PK) (Méndez e col., 2003) e cAMP nas camadas foliculares (Planas e
col., 1997). Substâncias que promovem o aumento do cAMP intracelular também podem
estimular a esteroidogênese (Kanamori e Nagahama, 1988). Antagonistas de cAMP podem
bloquear parcialmente a ação esteroidogênica das gonadotropinas (Planas e col., 1997). Na
verdade, o efeito estimulante do LH na síntese de esteróides está relacionado à ativação de
PKA/cAMP (Méndez e col., 2003). Portanto, o conhecido efeito do Al sobre a fosforilação
anormal na ativação da PK dependente de cAMP pode ser a causa dos níveis plasmáticos
alterados de 17 OHP em resposta à ação do LH após a exposição ao Al (Correia e col.,
2010). Nesse contexto, é importante notar que Morrissey e col. (1983) observaram que o Al
reprimiu a síntese do hormônio da paratireóide devido a uma diminuição dos níveis de
cAMP.
Sabe-se também que o Al em teleósteos é capaz de inibir a síntese e/ou exportação
de vitelogenina (VTG) do fígado para o plasma, no entanto o exato mecanismo pelo qual
este metal inibe a síntese de VTG não é bem compreendido. Como mencionado acima, o Al
é conhecido por induzir ou inibir fosforilações anômalas pela ativação das proteínas
quinases dependentes de cAMP (Johnson & Jope, 1987). O Al pode interferir sobre a
fosforilação da VTG, que em sua constituição normal contém um grupo altamente
fosforilado, a fosvitina (Mugyia e col., 1998).
Outro efeito do Al está na sua capacidade de impedir a transcrição do RNAm da VTG
(Hwang e col., 2000), pois também é possível que os íons de Al possam atuar sobre os
receptores de E2, impedindo a formação do complexo ER-E2, inibindo dessa forma a
ativação do gene da VTG pelo E2. Este mecanismo foi sugerido para o Al, pois foi observado
para o Zn e Cu (Yeo e col., 1997), cujos efeitos sobre a vitelogênese da mesma forma que o
Al, são reversíveis. Hwang e col. (2000) sugerem que a influência do alumínio sobre os
níveis transcricionais do RNAm da VTG depende da concentração deste metal, e a VTG
quando transportada no plasma, liga-se a íons metálicos, como o Zn, Ca e Mg (Falchuk &
Montorzi, 2001).Sugere-se que o Al, quando em altas concentrações no plasma também
seja capaz de se ligar a VTG, possivelmente nos mesmos locais que os íons essenciais
ligam-se nesta molécula.
quinase G) e finalmente, no aumento da liberação de LHRH (Lee e col., 2007; Pine e col.,
2005). Globalmente, estes resultados sugerem que, embora este metal possa facilitar a
secreção de LHRH. existem importantes diferenças quanto à sensibilidade entre sexos e o
estágio de maturação (Prestifilippo e col., 2007).
Paralelamente aos mecanismos bioquímicos envolvidos na liberação do LHRH acima
mencionados, o GLU e as catecolaminas são importantes neurotransmissores envolvidos na
liberação deste neurohormônio (Cheng, 2005). O GLU estimula os terminais neuronais
noradrenérgicos resultando na liberação de norepinefrina (NE); que por sua vez, ativa
receptores α 1 - adrenérgicos localizados em neurônios nitridérgicos, assim, aumentando o
cálcio intracelular (Ca2+). Este ativa a ONS e leva a produção de ON (Rettori e col., 1993).
Além disso, o Mn (na forma MnCl2) é capaz de estimular a secreção de DA e a atividade da
NOS. Foi demonstrado que a DA pode induzir ONS / ON (Melis e col., 1994, 1996), e com
base no importante papel do ON no controle da LHRH (Rettori e col., 1993), sugere-se que a
ativação de DA / ON pode mediar a estimulação e a secreção de LHRH (Quintanar, 2007).
Os conhecidos efeitos do Mn na estimulação do controle hipotalâmico na secreção de
gonadotropinas, como por exemplo, na relação LHRH/LH e na alteração/elevação dos níveis
séricos de LH, FSH e E2 gonadal (Lee e col, 2007) deixa evidente seu potencial em impactar
a reprodução em mamíferos (Pine e col., 2005). Efeitos similares são esperados para os
demais vertebrados, embora dados na literatura a este respeito sejam escassos ou
praticamente inexistentes.
A exposição ao Mn (roedores machos) diminui a concentração plasmática de
testosterona (T); estes dados sugerem que as células de Leydig podem ser um alvo para o
Mn nos testículos (Cheng e col., 2003). No início da esteroidogênese gonadal, o transporte
de colesterol nas células é mediado pela proteína StAR (steroidogenic acute regulatory),
sendo esta uma proteína da família das fosfoproteínas mitocondriais expressas nos tecidos
adrenal e gonadal por estimulação dos hormônios ACTH, LH e FSH (Stocco e Clark, 1996);
Após isso, o colesterol é convertido em pregnenolona através da atividade do complexo
enzimático localizado na membrana interna das mitocôndrias, o citocromo P450scc (side
chain clivage), que promove a clivagem da cadeia lateral do colesterol (Martyniuk e col.,
2006).
Experimentos conduzidos por Chang e col, (2005) demonstraram que o Mn é capaz de
suprimir a expressão da proteína StAR, impedindo que o colesterol chegue como substrato
para a enzima P450scc, bloqueando a esteroidogênese nas células de Leydig. Tal fato é
possível pois este metal interrompe o gradiente eletroquímico através da membrana
mitocondrial interna (Walsh e col., 2000).
Muito pouco é conhecido sobre a relação entre o Mn e os hormônios da tireóide.
Postula-se que o Mn pode afetar a homeostase dos hormônios tireoidianos agindo
diretamente sobre glândula tiróide e seus respectivos hormônios (T3 e T4), ou indiretamente
através de alterações no controle dopaminérgico da glândula tireóide (Soldin e Aschner,
2007). A dopamina é um modulador na secreção do TSH e os efeitos prejudiciais de
manganês para os neurônios dopaminérgicos podem resultar em efeitos profundos sobre a
síntese de hormônios tireoidianos. Os poucos dados disponíveis atualmente sugerem que o
Mn pode afetar diretamente os hormônios tireoidianos, alterando a enzimas deiodinases
(Soldin e Aschner, 2007).
A concentração plasmática de prolactina (PRL) foi utilizada como biomarcador no
índice de exposição biológica ao Mn em alguns casos específicos, como por exemplo, para
trabalhadores (soldadores) no qual foi constatada uma elevação da concentração deste
hormônio (Kim e col., 2007). Embora a PRL seja um dos hormônios que são
produzidos/controlados pela hipófise, não existem estudos que expliquem a relação dos
hormônios que controlam a secreção de PRL, tais como a DA e o hormônio estimulante da
tiróide (TRH) com a exposição ao Mn (Ellingsen e col., 2003).
Devido à complexidade das mudanças hormonais no sistema endócrino, ainda não se
dispõe de uma ferramenta eficaz para a avaliação integrada das respostas e da interação
entre os hormônios e os contaminantes metálicos.
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50.
Patrícia Lacouth
Lab. de Biologia celular de invertebrados marinhos
[email protected]
Introdução
O modelo de trocas gasosas em organismos com respiração aérea ou aquática é
determinado por características anatômicas e circulatórias e por propriedades físicas do
meio respiratório, especificamente com relação à solubilidade e à difusibilidade do oxigênio
na água e no ar (Weibel, 1984; Bicudo e Weibel, 1987).
Suprir com O2 as células metabolicamente ativas do interior do corpo dos indivíduos
e retirar eficientemente o CO2 é um dos problemas fundamentais para a sobrevivência de
todos os organismos (Schmidt-Nielsen, 2002). Os problemas são diferentes na água e no ar
por duas razões principais: (1) o ar é rico em oxigênio enquanto que em uma mesma
pressão parcial o conteúdo de oxigênio na água é 30 vezes menor por causa da sua baixa
solubilidade; (2) o oxigênio se difunde 300 000 vezes mais rápido através do ar do que
através da água (Tab. 1) (Schimidt-Nielsen, 2002). Por esses motivos os invertebrados
marinhos desenvolveram estratégias e órgãos respiratórios diferentes para se adaptarem as
peculiaridades exigidas pelo meio que habitam (Bicudo e Weibel, 1987).
propriedades estruturais que serão discutidas a seguir. Entretanto, as trocas gasosas entre
a água ou o ar e o sangue são determinadas por três princípios básicos: a) quanto maior for
a área da superfície da troca gasosa maior é sua eficiência; b) quanto menor for a
espessura das barreiras de tecido que separa o capilar e o meio respiratório maior será a
taxa de troca e; c) quanto maior o número de capilares sanguíneos expostos água ou ao ar
mais melhor será a difusão dos gases (Meban, 1980).
Figura 1. Troca gasosa entre o interior do corpo e o meio respiratório via difusão simples.
Modificado de http://www.uic.edu/classes/bios/bios100/summer2002/lect17.htm (09/05/2010).
Figura 2. Estrutura branquial mostrando fluxo laminar de água passando pelas fendas branquiais
onde estão evidenciados os capilares sanguíneos e as trocas gasosas que ocorrem nessas
estruturas. Modificado de http://www.biologyreference.com/Fo-Gr/Gas-Exchange.html (09/05/2010).
Figura 3. Estrutura secundária (filamentos branquiais adicionais) e terciária (lamelas) que são
formadas quando os organismos requerem maiores demandas respiratórias. Modificado de
http://www.revisionworld.com/country.php (10/05/2010).
Figura 7. Morfologia interna de holotúria, enfatizando a ampla estrutura da árvore respiratória, que é o
órgão responsável pelas trocas gasosas nesses organismos. http://www.tolweb.org/Holothuroidea
(11/05/2010).
Todos os filos animais evoluíram no mar, um habitat muito estável e uniforme, a não
ser nas zonas costeiras e entre-marés. As espécies marinhas necessitam então, de dois
requisitos principais para a sobrevivência – ambos relacionados com a alimentação. Elas
devem obter alimento em quantidade suficiente e evitar transformar-se em alimento de
outros organismos. A forma de obtenção do alimento e a otimização de seus nutrientes
entre os invertebrados marinhos é bastante diversa e uma abordagem dos processos que
ocorrem em esponjas, cnidários, moluscos, crustáceos e equinodermos são abordadas
neste capítulo.
Poríferos
Quase todas as esponjas dependem da digestão intracelular, e, portanto, da
fagocitose e pinocitose como captura de alimento. Para que estes processos ocorram nas
esponjas, a circulação da água é feita de forma orientada. Ao entrar a água traz partículas
alimentares; ao sair, remove excretas nitrogenadas. Esponjas são consumidoras seletivas
em relação ao tamanho das partículas, com tamanhos de poros variando na maioria das
espécies entre 5 e 50 µm. (Bergquist, 1978; Simpson, 1984) Cerca de 80% da matéria
orgânica absorvida por demosponjas tinham tamanho menor do que o observável por
microscopia ótica e 20% são bactérias e dinoflagelados (Reiswig 1970). A água penetra na
esponja pelos poros inalantes, percorre os canais do corpo e alcança uma grande cavidade
central — o átrio ou espongiocele (Fig. 2). Os coanócitos revestem o átrio ou, na maioria dos
casos, pequenas câmaras que ficam no trajeto dos canais. O agitar dos flagelos dessas
células provoca um fluxo de circulação da água, puxando-a de fora para dentro do corpo.
Ondulações nos colares dos coanócitos movem as partículas alimentares capturadas em
direção ao corpo celular destas células, onde são ingeridas por pinocitose ou fagocitose.
Esponjas não possuem cavidade digestiva específica, e todo processo alimentar é
intracelular. Os coanócitos digerem as partículas parcialmente e passam diretamente para
outra célula no interior da matriz para a digestão final. A fagocitose também pode ser
realizada diretamente pelos arqueócitos, com a formação de vacúolos digestivos (Bergquist,
1978; Simpson, 1984).
Embora a maioria possua a filtração como modo de alimentação, algumas esponjas
marinhas são conhecidas por abrigar organismos fotossintetizantes. Esses simbiontes,
cianobatérias e dinoflagelados, produzem compostos utilizados pela esponja, e a utilizam
como substrato.
Cnidários
Diferentemente das esponjas, os cnidários apresentam uma cavidade digestiva, a
cavidade gastrovascular ou celêntero, vindo dai o nome do grupo (gastro= estômago; cele =
oco; êntero= intestino) (Fig. 4). No entanto, não possuem uma abertura anal, o que
caracteriza um tubo digestivo incompleto. A gastroderme possui células glandulares que
produzem enzimas digestivas e atacam o alimento no celêntero (digestão extracelular), e
células que fazem a digestão intracelular dos fragmentos alimentares parcialmente
digeridos. Os resíduos são expulsos pela boca.
Cnidários são bem conhecidos por sua ampla predação em ovos de peixes, sendo
uma importante fonte de recursos para muitas espécies. Por exemplo, a espécie Aurelia
aurita tem de 2 a 5 % de seu alimento diário constituído por ovos de arenque (Moller 1980).
Outro estudo calculou que Rhizophysa eysenhardti consumiu 28% das larvas de peixe
disponíveis a cada dia, e Purcell (1984c) estima que 60% de larvas de peixes poderiam ter
sido consumidos por Physalia physalis em um único local.
Moluscos
Moluscos marinhos podem ser predadores (herbívoros ou carnívoros) ou
suspensívoros. Possuem tubo digestivo completo no qual a boca conduz à cavidade bucal,
que em muitos organismos contém várias glândulas salivares secretoras de enzimas. Com
exceção dos bivalves, a maioria apresenta a rádula, uma estrutura exclusiva dos moluscos e
que se modificou entre as espécies dependendo da presa potencial.
O aparelho radular é constituído por uma faixa de tecido conjuntivo, repleto de
dentes e esticado sobre uma haste cartilaginosa. A rádula é composta de uma esteira de
dentes quitinosos recurvados, podendo ser simples, serrilhados ou modificados de outras
maneiras (Fig. 7b). O aparelho chamado rádula, é composto por duas partes: a base
cartilaginosa, com o músculo protrator da rádula e o músculo retrator da rádula; e a rádula
propriamente dita, com suas fileiras longitudinais de dentes quitinosos recurvos. A base
cartilaginosa se move para fora e para dentro da boca do animal por intermédio dos
músculos protratores e retratores, e a rádula se movimenta (Fig. 7a ). Através desses
movimentos os dentes da rádula se erguem e raspam a superfície, cortando e recolhendo
partículas de alimento que são conduzidas ao esôfago.
Os dentes são recobertos por muco (secretado por uma glândula salivar), que facilita
o recolhimento e a ingestão da comida. À medida que se desgastam são substituídos por
novos dentes que são continuamente produzidos na parte posterior da cavidade bucal, no
saco radular. O número, a forma e o arranjo dos dentes variam e são adaptados ao tipo de
alimentação, sendo usados para identificar as várias espécies. Em geral, os herbívoros
possuem mais dentes, e nos carnívoros estes são menores. O maior número de dentes na
rádula é encontrado em um gastrópode, Pleurotomaria, com cerca de 200 dentes por fileira.
Certos gastrópodes usam a rádula para caçar outros gastrópodes e bivalves, ralando e
ingerindo as partes macias. Alguns possuem uma rádula formada por um único dente que
pode ser atirado como um arpão contra a presa, liberando uma neurotoxina (Fig. 7d) (Hill e
col., 2008).
A digestão extracelular é efetuada por enzimas e ocorre principalmente no estômago
e nos cecos digestivos, enquanto a absorção e digestão intracelular ocorrem nas paredes
dos cecos e intestino. Na maioria dos moluscos, a digestão é intracelular, na qual as
partículas alimentares são fagocitadas por células da parede de dutos alimentares. No
entanto, em grupos mais derivados como os cefalópodes predomina a digestão extracelular.
As enzimas secretadas principalmente pelos cecos e estômago, digerem o alimento e a
absorção ocorre no estômago, nos cecos e no intestino.
Bivalves são animais ecologicamente importantes, e um exemplo interessante de
quão diferentes dos vertebrados alguns animais podem ser, em relação a seus processos
digestivos e de absorção dos nutrientes. Nesta classe não existe a rádula, e estes são
Geralmente, a relação entre estes moluscos e sua presa é muito estreita, e é comum
que cada espécie se alimente apenas de alguns tipos específicos de presa. Nudibrânquios
aeolíeos possuem uma reputação devido ao seu modo particular de obter alimento, no qual
porções do corpo dos cnidários que constituem suas presas são agarradas pelas
mandíbulas acionadas por músculos, enquanto a rádula arranca pedaços para ingestão.
Algo impressionante neste sistema, é que muitos nudibrânquios ingerem os nematocistos da
presa sem que este seja disparado. Os nematocistos são deslocados ao longo do tubo
digestivo do nudibrânquio, mas como isto acontece sem que eles sejam disparados não é
bem documentado. Possivelmente as secreções mucosas do nudibrânquio limitam as
descargas desses nematocistos e ocorra uma inativação temporária. Muitas vezes os
nematocistos são armazenados em estruturas chamadas cnidossacos no interior dos
ceratos dorsais. Este armazenamento foi mostrado em diversos trabalhos e
presumivelmente ajudam na defesa do nudibrânquio. Outras espécies de nudibrânquios
também utilizam suas presas não apenas para obtenção de energia, mas também para
obter compostos químicos. As “dançarinas espanholas”, Hexabranchus sanguineus, utilizam
para sua própria defesa um composto químico obtido da esponja que se alimenta (Conklin &
Mariscal 1977).
Dentre os moluscos, entretanto, são os cefalópodes aqueles predadores mais
vorazes no ambiente marinho. Estes animais são bem adaptados a uma alimentação
predatória e uma dieta carnívora. A presa é localizada pelos olhos bem desenvolvidos e a
captura efetuada pelos tentáculos ou braços. Nos cefalópodes as rádulas são muito fortes e
em forma de bico, cuja função é perfurar e rasgar grandes pedaços de tecidos das presas.
Crustáceos
Crustáceos exploram diversas dietas e estratégias de alimentação. Alguns
representantes deste filo assumiram hábitos bentônicos, e determinados apêndices
tornaram-se mais fortes e adaptados para o rastejamento e a escavação. As ações de
apêndices adaptaram-se para o consumo de suspensão, a predação ou a coleta de
alimento, e as maxilas e a mandíbula funcionam na preensão, na mordedura e no
direcionamento do alimento para a boca.
O trato digestivo dos crustáceos é quase sempre reto, composto por uma boca
ventral, seguida por um esôfago tubular e um estômago. Condições ácidas são criados no
estômago durante a digestão, mas não tão os ácidas como na digestão humana. Nos
crustáceos o pH é em torno de 4, ao contrário de 2 ou 1 em muitos mamíferos. O estômago
é dividido em duas câmaras. A câmara anterior é chamada estômago cardíaco e é bastante
muscular, e muitas vezes especializada para além de armazenar, também triturar o
alimento. Esta trituração é auxiliada com a adição de enzimas digestivas que chegam ao
estômago anterior por movimentos retrógrados do intestino. A segunda parte do estômago
é chamada de estômago pilórico, sendo este menor que o primeiro. Seu revestimento
cuticular frequentemente tem cerdas singulares, que agem coletivamente, como uma
peneira, impedindo as partículas de alimento de deixarem o estômago antes que sejam
reduzidas para um tamanho pequeno.
O intestino médio de crustáceos varia em complexidade, sendo um tubo
relativamente simples em algumas espécies ou partes elaboradas com divertículos
anteriores e posteriores (cecos) em outros. A digestão química acontece principalmente com
o auxílio de grandes glândulas digestivas esponjosas chamadas de hepatopâncreas. Este é
um órgão que consiste de numerosos túbulos cegos, conectado a parte anterior do sistema
digestivo por dutos. Cada túbulo é composto de células que funcionam na secreção
enzimática, na endocitose e na digestão intracelular do alimento particulado, na absorção e
armazenamento de nutrientes, além de participar da remoção de detritos.
Como os crustáceos são primariamente aquáticos há um grande número de
crustáceos filtradores e nestes, a filtração envolve cerdas em vez de cílios. O pente de
cerdas localiza-se em um ou vários pares de apêndices, mas a localização varia de um
grupo de crustáceos para outro. As cerdas finas funcionam como filtros na coleta de
partículas alimentares, e é possível que o espaçamento das cerdas determine o tamanho da
partícula coletada. Este mecanismo é realizado através de um processo em que a corrente
hídrica é produzida por batimento de apêndices filtradores. As partículas coletadas são
removidas das cerdas do filtro por outras cerdas em forma de pente e transportadas para as
partes bucais pelos apêndices.
Figura 11: Crustáceo com numerosas cerdas utilizadas para coletar algas
unicelulares e pequenos animais. Estas cerdas são extensões do exoesqueleto.
60% das partículas menores e 100% das partículas maiores, evidenciando que este
processo de coleta não é uma triagem simples. É um mecanismo em a captura se dá pela
atração das cargas opostas entre as partículas e a superfície do filtro. (Higler 1961).
a b
Figura 12: a. Cérdulas coletoras de partículas da pulga d´água Daphnia. b. Dois
tamanhos de partículas de poliestireno coletadas pelas cérdulas ilustradas em a.
a b
Figura 13- a. Craca com mecanismo filtrador; b. Esquema de sistema digestório da craca.
As muitas espécies que incluem moluscos em sua dieta têm quelipodes, apêndices
em forma de pinças, dimórficos. A forte garra direita possui dentes proximais nos dedos e é
usada para esmagar; a garra esquerda é mais delgada e adaptada para cortar. Caranguejos
do gênero Calappa, possuem um dente grande no dátilo e um par de protuberâncias no
quelípodo direito (Fig. 16) Com essas modificações e um padrão de comportamento
associados, estes caranguejos podem ser eficazes para abrir conchas de gastrópodes e
outros moluscos e, portanto, se alimentam de partes moles ou fechados ermitões.
Figura 15: Caranguejo do gênero Callapa abrindo a concha de um molusco (Brusca e col., 2007).
Equinodermos
Figura 17. Estrutura de um crinóide. A. Lírio do mar com parte da haste. B. Vista oral do cálice dos
crinóides (Hill e col 2008).
Figura 18: Lanterna de Aristóteles, um complexo mecanismo utilizado pelo ouriço-do-mar para
mastigar seu alimento. Cinco pares de músculos retratores extraem os dentes e a lanterna para fora
e, cinco pares de prolongadores empurram a lanterna para baixo e expõem os dentes. Outros
músculos produzem uma variedade de movimentos. Apenas partes maiores do esqueleto e os
músculos são mostrados neste diagrama (Hickman e col., 2001).
Estrelas do mar usam seus braços para conseguir alimento. A parte inferior, ou a
superfície ventral de cada braço contém inúmeros pequenos pés ambulacrais localizados
em um sulco e com poder adesivo. Quando o disco de sucção do pé ambulacral entra em
contato com a superfície, ele adere a essa superfície. Músculos auxiliam a captura puxando
o alimento até próximo a boca.
Estrelas-do-mar consomem uma ampla variedade de alimentos, mas mostram
preferências particulares. Muitas são carnívoras e se alimentam de moluscos, crustáceos,
poliquetas, equinodermos, outros invertebrados, e, por vezes, pequenos peixes. Alguns
Patrícia Lacouth
[email protected]
Laboratório de Biologia celular de invertebrados marinhos
Histórico
Em dezembro de 1882 um zoológo russo chamado Élie Metchnikoff, durante um
passeio pela praia encontrou uma larva de uma estrela-do-mar comum na região. Espetou o
espinho de uma roseira na larva e depois de 24 horas observou que havia diminutas células
cobrindo o espinho, tentando encapsulá-
lo. Metchnikoff imediatamente reconheceu
a importância desta observação – as
células estavam tentando defender a larva
ingerindo o invasor, e deu a este processo
o nome de fagocitose.
O fenômeno da fagocitose já era
conhecido quando certas células humanas
especializadas encontravam e englobavam
bactérias ou leveduras. É um mecanismo
fundamental através do qual diferentes
representantes do reino animal se
defendem contra invasores.
Com esta perspicaz descoberta, Élie Metchnikoff criou a disciplina “Imunologia Celular”. Foi
também por este trabalho pioneiro que ele dividiu o prêmio Nobel de Medicina com Paul
Ehrlich, que propôs a importância de outro componente fundamental do sistema imune,
conhecido como imunidade humoral.
Tão impressionante como a descoberta deste zoólogo russo é o seu objeto experimental, a
estrela-do-mar. Trata-se de um grupo que sofreu poucas adaptações desde o seu
surgimento a mais de 600 milhões de anos atrás. Este fenômeno que ele observou não
deveria ser diferente do mesmo fenômeno a dez milhões de anos nos oceanos, antes do
surgimento dos vertebrados. Metchnikoff era ciente disto e seus estudos eventualmente
mostrariam que o sistema de defesa, contra elementos invasores, de todos os animais
modernos tem suas origens em organismos que povoaram o planeta desde o inicio da vida
na terra.
Moléculas de reconhecimento
Na presença de compostos microbianos as proteínas de reconhecimento presentes
no plasma têm a função de ampliar a resposta imune celular (Rendón e Balcázar, 2003).
A proteína de ligação de β-1-3-glucana (βGBP) reconhece a β-glucanas, presentes
na parede celular de leveduras, induzindo a degranulação dos hemócitos e a ativação do
sistema proPO (Vargas-Albores, 2000; Rendón e Balcázar, 2003).
A proteína de ligação de lipopolissacarídeo (LPSBP) reconhece lipopolissacarídeos
(LPS) presentes na parede celular de bactérias gram-negativas. Esta proteína funciona
como uma aglutinina, pois se une às células fagocíticas e estimula a fagocitose (Rendón E
Balcázar, 2003).
Lectinas
Um dos mecanismos de defesa da imunidade humoral é mediada pelas lectinas e/ou
aglutininas. Estas são proteínas ou glicoproteínas, dissolvidas no plasma, que se ligam a
carboidratos específicos expressos na superfície de diferentes células, promovendo sua
aglutinação. Além disso, podem atuar como opsoninas facilitando a fagocitose, promovem
adesão celular e formação de nódulos (Cominetti et al., 2002).
Devido a sua propriedade de reconhecer o não próprio, aglutinar células e da
possibilidade de atuar como opsonina, as lectinas foram inicialmente consideradas análogas
funcionais dos anticorpos. No entanto, sabe-se que as lectinas são estruturais e
funcionalmente diferentes das imunoglobulinas (Marques e Barracco, 2000).
Porifera
No início do século XX pesquisadores observaram a notável capacidade das células
de esponjas de reagregarem após terem sido dissociadas. Este comportamento
extremamente complexo envolve inúmeras moléculas e vias de sinalização. Adesão em
esponjas envolve moléculas como galectina, integrina, fibronectina e colágeno (Muller e col.,
1999). Em algumas espécies de Demosponjas estudadas, revelou-se que íons cálcio atuam
como mensageiros intracelulares na resposta ao estimulo de acoplamento durante a
agregação de células. Sabendo desta capacidade de auto-reconhecimento presente nesses
organismos, rejeições alogênicas possuem componentes celulares envolvidos. Interações
entre esponjas de diferentes espécies ativam pinacócitos e várias células do mesohilo, que
muitas vezes possuem metabólitos secundários que participam do processo de rejeição.
Entre as células que compõe as esponjas são encontrados os Arqueócitos, células
amebóides capazes de se diferenciar em qualquer tipo celular presente nas esponjas. São
células fagocíticas que desempenham funções como digestão, transporte de alimento e
defesa. Atuando como macrófagos primitivos, não são seletivas no que fagocitam, portanto
não possuem especificidade imune. Todavia, a digestão intracelular é um poderoso
componente do sistema imune de esponjas, por exemplo, Lisozimas são secretadas por
células do mesohilo quando essas células são expostas a peptideoglicanos presentes na
parede celular de bactérias gram-positivas
Esponjas também aparentam apresentar uma memória imune primitiva, quando
expostas várias vezes a um enxerto de espécie diferente o tempo de reação é diminuído. De
fato, embora as esponjas não possuam um sistema circulatório, a memória imunológica se
espalha rapidamente através do corpo da esponja e permanece por várias semanas. Mas na
Cnidaria
Cnidários possuem células mais especializadas do que as encontradas em esponjas,
também possuem tecidos organizados e especializados, incluindo o sistema nervoso. São
invertebrados sésseis, coloniais. Possuem uma grande capacidade de distinguir o que é
próprio e o que não é próprio como espécies competidoras e microorganismos (Hidaka,
1985).
Do ponto de vista de defesas, pouco se sabe sobre reações imunes nestes
organismos. Mas como primeira linha de defesa contra parasitas, predadores é a presença
de muco na epiderme e de cnidócitos ou nematocistos, que também são funcionais na
captura de presas.
Assim como as esponjas, cnidários possuem células fagocíticas móveis, chamadas
amebócitos. Gorgônias além de realizarem a fagocitose, amebócitos ajudam na cicatrização
e reorganização dos tecidos. E também reagem a infecções por fungos através do processo
de melanização (uma barreira física formada de quinonas polimerizadas) localizada ao
redor da lesão causada pelo fungo assim como a formação de nódulos (Mullen e col., 2004).
A imunidade humoral nestes organismos é composta apenas pelas lectinas.
Molusca
O sistema imune dos moluscos, assim como dos outros invertebrados, consiste
apenas da imunidade inata. Esta é considerada freqüentemente como uma forma de
imunidade mais primitiva do que as repostas adaptativas vistas em vertebrados. Mas na
verdade é surpreendentemente uma complexa e eficiente forma de proteção contra muitos
parasitas encontrada pelos moluscos. O sucesso adaptativo dos moluscos e a habilidade de
colonizar uma grande quantidade de habitats claramente mostram a eficiência destes
animais de combater infecções e invasões de parasitas.
Barreiras externas, como epitélio, muco e conchas, constituem a primeira linha de
defesa contra patógenos e parasitas. Quando essas barreiras são violadas, a segunda linha
de defesa interna envolve a ação de componentes celulares e humorais presentes na
hemolinfa destes animais.
Os componentes humorais dos moluscos contêm enzimas lisossomais, lectinas
incluindo aglutininas, proteínas relacionadas ao fibrinogênio, peptídeos antimicrobianos que
ajudam no reconhecimento de patógenos e parasitas marcando-os para destruição via
opsonização e também são responsáveis pelo alto grau de especificidade mostrado pelo
sistema imune inato de moluscos (Vasta e Ahmed, 2008).
Arthropoda (Crustacea)
O filo Arthropoda compreende animais celomados com uma grande diversidade de
forma, tamanho e hábitos de vida. Crustáceos, incluindo caranguejos, lagostas e camarões,
Célula Hialina
Fagocitose
Célula Semi-granular
Nodulação/Encapsulação
Célula granular
Melanização
Figura 3 - As funções dos hemócitos de artrópodes. Hemócitos hialinos funcionam como células
fagocíticas. Hemócitos semi-granulares são responsáveis pela formação de nódulos e
encapsulamento. Hemócitos granulares estocam os componentes que desencadeiam a melanização
(Modificado de Rendón e Balcázar, 2003).
Echinodermata
Este filo é composto por animais celomados deuterostômios que possuem um
sistema de canais preenchidos por fluido e celomócitos.
As respostas imunológicas que ocorrem em equinodermos são o reconhecimento de
material não próprio que tenha invadido o corpo, a expulsão deste material ou tornando-o
inofensivo e a cicatrização. Esses mecanismos chave de defesa são mediados por
respostas celulares e humorais.
As respostas celulares são efetuadas por vários tipos celulares, chamados
celomócito, que circulam pelo fluido celômico e que constituem o sistema imune celular, e
pelas respostas humorais, as quais dependem de moléculas presentes no fluido celômico.
Os celomócito de echinodermos produzem uma série de fatores humorais, incluindo
lectinas, aglutininas, lisinas e outros (Gross e col., 1999).
Infecções na cavidade corpórea dos equinodermos por microorganismos ou
parasitas, ou o transplante de enxertos induzem um processo que envolve moléculas
humorais que reconhecem e atacam o corpo estranho ou estimulam a proliferação dos
celomócitos.
Nos equinodermos, celomócitos podem ser definidos como as células efetoras do
sistema imune, são a primeira linha de defesa contra infecções e injúrias. Encontrados no
fluido celômico e nos sistemas hemal e aquafaringeal e a principal fonte dessas células é o
órgão axial, o qual pode representar um ancestral primário da glândula linfóide (Leclerc,
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Fundamentos de Toxinologia
Bruno Madio
Laboratório de Produtos Naturais Marinhos
[email protected]
Capítulo 37 Produtos naturais e sua função como defesa química pág. 483
Suélen Felix
Revisado pelo Dr. Márcio Reis Custódio
Bruno Madio
Laboratório de Produtos Naturais Marinhos
[email protected]
Introdução
A biodiversidade de animais e plantas também resulta em uma grande diversidade
de peçonhas e venenos naturais. Essas, contêm toxinas altamente ativas que representam
uma grande variedade de compostos químicos que variam de pequenas moléculas, como as
aminas até grandes e complexas proteínas. Estas toxinas podem variar consideravelmente
em estrutura e função entre indivíduos, espécies, gêneros ou famílias (Brodie, 1991).
Os venenos naturais e peçonhas constituem um arsenal químico resultante de um
longo processo de co-evolução de espécies que compartilham um mesmo nicho ecológico.
As pressões de seleção que conduziram a uma modificação em venenos naturais e toxinas
foram fundamentalmente diferentes para outras proteínas, e resultaram em algo com uma
dinâmica evolutiva diferente (Brodie e Brodie, 1999).
Toxinas naturais podem ser encontradas em praticamente todos os grupos de
organismos como mamíferos, répteis, insetos, cnidários, fungos, bactérias. Alguns
organismos parecem possuir apenas um único composto tóxico, enquanto outros produzem
um coquetel de compostos com diferentes alvos e efeitos. Alguns compostos são
encontrados de forma idêntica em até cinco filos diferentes, sendo que esses surgiram em
cada filo independentemente, mostrando uma convergência adaptativa (Fry e col., 2009).
Animais adquirem toxicidade por síntese metabólica de toxinas (metabólitos
secundários), pela expressão de genes de toxinas ou pela captação, armazenamento e
sequestro de toxinas produzidas por outros organismos, ou seja, os micróbios, plantas ou
outros animais. Toxinas, embora contando com um número limitado de estrutura, muitas
vezes exibem uma considerável hipervariabilidade estrutural. O ritmo acelerado da evolução
na estrutura do gene da toxina (introns conservados, mas alta taxa de substituição nos
exons) conduz à diversidade funcional destes peptídeos ou proteínas. As forças seletivas
que podem conduzir a evolução da toxina ainda são desconhecidas. Ser peçonhento ou
venenoso pode ser essencial para a sobrevivência, mas a vantagem da biossíntese de
toxinas também pode ser de menor importância ou perdida durante a evolução.
Função
Toxinas e venenos possuem uma variedade de funções. Os três usos mais comuns
são a aquisição de recurso ou predação, defesa e redução da competição. As
Forrageamento
A maioria das peçonhas parecem ter evoluído para atuar como adaptação de
forrageamento, com funções específicas que influenciam nas peculiaridades dos compostos
e sua forma de inoculação. A imobilização da presa pode ser crucial para reduzir o risco de
injúrias para o predador e para velocidade e sucesso de captura da presa. Isto é
especialmente importante para as espécies de forrageamento de presas grandes, ou presas
com defesas significativas. A seleção para imobilização favoreceu peçonhas que agem
rapidamente e influenciam diretamente na mobilidade e coordenação. Por esta razão,
muitas peçonhas possuem um componente neurotóxico que interrompe a transferência de
informação nos nervos ou músculos. Um exemplo notável de convergência funcional são as
peçonhas de serpentes e moluscos do gênero Conus (Oliveira e col., 1990). Essas
evoluíram componentes neurotóxicos, conhecidos como alfa-neurotoxinas, que excitam os
receptores nicotínicos de acetilcolina no músculo esquelético. Esta classe de toxinas inclui
muitos compostos diferentes com diferentes sítios de ligação, mas o efeito geral é o mesmo
- a transferência de informação pós-sináptica é bloqueada, resultando em uma rápida
paralisia. Outros predadores alcançaram o mesmo efeito através do bloqueamento de
potenciais de ação nos nervos, geralmente visando os canais iônicos voltagem-
dependentes.
Mambas, serpentes do gênero Dendroaspis, imobilizam a presa através de
bloqueadores de canais de potássio, denominadas “dendrotoxinas”. Escorpiões, aranhas,
anêmonas do mar, himenópteros e conus produzem diferentes compostos que têm o
Pág. 474 Julho/2010
Fundamentos de Toxinologia
Defesa
Toxinas com função de defesa abrangem uma série de categorias químicas e
atividades fisiológicas, incluindo neurotoxinas bloqueadoras de canais, alcalóides que
quebram a sinalização neuronal, terpenos e quinonas que “irritam” membrana, inibidores de
protease que impedem a digestão, e uma variedade de compostos que causam uma maior
ou menor injúria ao seu alvo.
Alguns compostos provocam comportamentos específicos em predadores, como os
peptídeos no muco da pele de rãs Xenopus que estimulam um incontrolável bocejo e
abertura da boca, o que permite que os sapos se arrastem para fora da boca de cobras. A
diversidade de compostos e efeitos resultam de um cenário seletivo bastante simples que
direcionou sua evolução - um composto que impede, atrasa ou repele ataques.
As toxinas encontradas em qualquer linhagem particular têm mais a ver com a
história evolutiva de um determinado grupo, ou fontes de toxinas do meio ambiente, do que
com os efeitos específicos que elas produzem. Em geral, a convergência evolutiva é menos
comum entre os compostos de defesa do que entre as peçonhas.
Um dos paradoxos mais intrigantes na evolução dos venenos é porque os
organismos evoluem para ser mortíferos - ao contrário das peçonhas, que têm uma clara
vantagem possuindo efeitos mortíferos. Extrema toxicidade ocorre repetidamente, a partir de
lagartas saturniidae até rãs da família Dendrobatidae. A seleção favorece os indivíduos com
adaptações, e esses devem ser os que evitaram a predação. Matando um único indivíduo
predador não lhes dá uma vantagem sobre aqueles que simplesmente o afastam,
especialmente se a vítima tem que ser manuseada ou comida por um predador para o
Julho/2010 Pág. 475
VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
veneno ter efeito. Como, então, podemos explicar a evolução da toxicidade mortal? Em
certo sentido, venenos mortais são acidentais - doses pequenas de cogumelos “cicuta
verde” (Amanita phalloides) são letais para os seres humanos, mas amatoxinas certamente
não evoluiram para evitar os seres humanos. A resposta pode estar relacionada com a
corrida armamentista entre predadores e presas que direcionaram a exagerada evolução de
toxicidade, em geral, sem resultar em consequências fatais para o principal agente
selecionado. Por exemplo, algumas serpentes do gênero Thamnophis são resistentes à
tetrodotoxina, bloqueador de canal de sódio, encontrada na pele de salamandras (Taricha
granulosa) e outros organismos. Coevolução com estes predadores resistentes tem
direcionado a quantidade de tetrodotoxina em salamandras Taricha granulosa em alguns
lugares a um nível suficiente para matar seres humanos ou 10-20 mil camudongos. Ao
mesmo tempo, este nível de toxicidade mal prejudica serpentes do gênero Thamnophis.
As peçonhas algumas vezes desempenham um papel defensivo, mas acredita-se
que esta função seja secundária. Apesar do conhecimento popular ser contrário, cobras
peçonhentas muitas vezes mordem defensivamente sem injetar sua peçonha, o ataque ou
mordida por si só é suficiente para desencorajar o predador.
Muitas peçonhas que evoluíram como imobilizadores de presas também causam
dor imediata e intensa por causa do seu efeito sobre a comunicação neuronal. Esses
compostos, comum em himenópteros, escorpiões e água-viva, tem uma vantagem óbvia
como mecanismos anti-predação.
A seleção para aumentar a função defensiva pode ter modificado alguns
componentes da mistura da peçonha para provocar dor. Tal processo pode explicar porque
alguns peptídeos produzidos por escorpiões da família Buthidae são seletivamente
excitatórios de canais de sódio em nervos periféricos, causando dor intensa, mas não
imobilidade (Possani, 1984; Froy e col., 1999). Alguns organismos podem ter desenvolvido
secundariamente a capacidade de colocar a peçonha de forma mais ativa (o que melhor
encaixa na definição de peçonha), como acontece com os pêlos urticantes das lagartas
Lonomia que “levam” peçonha hemorrágica que, às vezes, resultam em insuficiência renal e
morte.
Competição
A vantagem ecológica de muitos compostos produzidos por bactérias, fungos e
plantas envolvem a exclusão competitiva. Os produtos químicos alelopático de plantas são
um exemplo bem conhecido de toxinas que reduzem competição. Juglone produzido pela
noz preta inibe a respiração de muitas plantas, deixando a área em torno de nogueiras
relativamente livre de outros potenciais competidores. A maioria das toxinas produzidas por
bactérias são perigosas para os seres humanos, incluindo a toxina botulínica. Acredita-se
Pág. 476 Julho/2010
Fundamentos de Toxinologia
que essas toxinas tenham função como inibidores de outras bactérias que crescem em
diversas comunidades
tetrodotoxina devem ter evoluído uma resistência para o efeitos do bloqueio de canal
causado pela tetrodotoxina, por isso, é claro que a convergência evolutiva aconteceu em
algum nível.
Diversidade de Toxinas
A diversidade das toxinas aumentou drásticamente através do aumento do pool de
genes para codificação de proteínas ou peptídeos tóxicos. As mutações pontuais,
duplicações e recombinação de genes e modificações pós-traducional do produto do gene
levam a uma grande variedade de peptídeos e proteínas toxicas. Acredita-se que a seleção
natural foi a responsável por “excluir” genes inadequado e ineficiente.
A variabilidade na composição da peçonha ocorre praticamente em todos os níveis:
dentro de famíias, gêneros e inter e intra espécies (Chippaux e col., 1991). Dados
acumulados mostram que este alto grau de variação da peçonha está sob controle genético.
Padrões evolutivos
Existem dois principais, aparentemente contraditórios, temas na evolução de
venenos e peçonhas: por um lado, a convergência evolutiva de ambas é generalizada, por
outro lado, as peçonhas podem apresentar algumas das mais rápidas divergências
evolutivas e variabilidade de qualquer categoria de proteínas.
A convergência é o exemplo perfeito da evolução encontrando soluções similares
para os desafios seletivos. Este tema se desenrola em todos os aspectos da biologia de
venenos e peçonhas, desde a aquisição e produção até estrutura química e ação
farmacológica. No entanto, observando o mesmo composto em diversas linhagens não
implicam sempre em uma convergência evolutiva.
Peçonhas, mais do que os venenos, exibem um grau de convergência estrutural
através de profundas lacunas filogenética, o que sugere que estas evoluíram com um grau
de comprometimento funcional ou com uma produção restrita. Muitas das classes de
proteínas comum em peçonhas de répteis também foram recrutadas em diversas peçonhas
de cefalópodes. Estas proteínas incluem uma ampla variedade de estruturas e mecanismos
de ação, mas algumas famílias de proteínas são visivelmente inexistentes das peçonhas,
incluindo enzimas globulares, transmembrana e proteínas intracelulares. Ainda não esta
claro se esta convergência na estrutura química surgiu devido a restrições seletivas na
atividade farmacológica da peçonha, ou a partir de limitações genéticas que limitam a
diversidade de classes produzidas ou recrutadas através da evolução. Ao mesmo tempo, a
rápida divergência evolutiva e variabilidade é a marca da evolução das peçonhas.
Conus são moluscos predadores que disparam um arpão peçonhento que quase
instantaneamente imobiliza a presa-alvo. Os dardos carregam uma mistura de neurotoxinas,
surpreendentemente diversificadas, que bloqueiam os canais iônicos ou receptores
neuronais. Análises genética demonstram que estes compostos estão sob forte seleção
para diversificação. A taxa de evolução da proteína e genes de conotoxinas é de três a cinco
vezes maior do que as maiores taxas observadas para outras proteínas. Há evidências de
duplicação e diversificação de genes conduzindo à uma radiação das formas das toxinas
(Duda e Palumbi, 2000).
Conus tendem a alimentar-se em um intervalo relativamente limitado dentro de
populações de presas, mas o grupo como um todo se alimenta de muitos grupos de
invertebrados e vertebrados. Conus que se alimentam de diferentes tipos de presas
divergem em suas misturas de peçonha, mas a bioquímica de conotoxinas é muito mais
diversificada do que sua dieta (um indivíduo pode ter 50-200 componentes tóxicos distintos)
(Duda e Palumbi, 2000).
Semelhantemente, a rápida diversificação também é observada para as proteínas
da peçonha de serpente . Em ambos os casos, supõe-se que a forte seleção para subjugar
a presa é direcionada à uma evolução rápida.
Alguns viperídeos apresentam diferenças na composição da peçonha de acordo
com a variação geográfica. Isso pode ser relacionada à diferenças em sua dieta (Daltry, e
col., 1996). Entre as espécies de elapídios (cobras e seus familiares), as neurotoxinas
diversificam rapidamente de acordo com a dieta dos produtores de veneno
Todos esses exemplos sugerem que uma corrida armamentista relacionando
toxicidade e resistência entre predador e presa direcionam a diversificação das peçonhas.
No entanto, análises funcionais que confirmam mais solidamente a existência desse
processo ainda não foram realizadas.
Organização genômica
É um fenômeno paradoxal que animais peçonhentos podem ter em comum: a parte
não-codificantes dos genes de sua toxina, os íntrons, representam elementos estruturais
altamente conservados, enquanto que as peças de codificação, os exons, apresentam uma
alta taxa de variabilidade, o que geralmente é o inverso para outros genes. Isso tem sido
observado para os genes de toxinas de conus e serpentes, e tem sido sugerido como uma
explicação para a hipermutação e diversificação de parte do gene da toxina (Craig e col,
1999). Os exons das toxinas, bem como as enzimas são consideradas como "hot-spots" da
evolução (John e col., 1996).
Conclusão
Os compostos que reconhecemos como venenos e peçonhas abrangem uma
enorme diversidade de funções farmacológicas e ecológica. As pressões de seleção que
conduziram a modificação de peçonhas e venenos são fundamentalmente diferentes das de
outras proteínas, e resultaram em algo com uma dinâmica evolutiva diferente.
Venenos muitas vezes aparecem convergentes porque compostos externos
disponíveis são usados para defesa, enquanto peçonhas parecem evoluir para uma melhora
em alguns conjuntos de alvos de funções e classes de compostos. Ao mesmo tempo, as
peçonhas dentro das linhagens diversificam, pelo menos, tão rápido quanto qualquer outro
grupo de proteínas conhecidas.
Com mais ferramentas experimentais para mais grupos de organismos, iremos
começar a descobrir que, em geral pressões evolutivas e restrições moldaram o perfil de
venenos e peçonhas.
Suélen Felix
Laboratório de Biologia Celular de Invertebrados Marinhos
[email protected]
Introdução
A vida baseia-se em processos químicos que são utilizados para múltiplos
propósitos e o conjunto desses processos é denominado metabolismo (Harper e col., 2001).
Entende-se por metabolismo primário as vias de síntese (anabolismo) e de degradação
(catabolismo) de compostos químicos mediados por enzimas que ocorre em todos os seres
vivos. Essas vias de síntese são altamente conservadas ao longo de todos os reinos e dão
origem a substâncias químicas essenciais para os organismos. Os principais metabólitos
primários são os monossacarídeos, aminoácidos, ácidos graxos, ácidos nucléicos e
polímeros derivados destes (polissacarídeos, proteínas, lipídios, ADN, e ARN dentre outros)
(Mann, 1978).
A maior parte dos organismos produz por via metabólica secundária, compostos
que normalmente não possuem qualquer função aparente (Mann, 1978). Esses metabólitos
secundários são também denominados Produtos Naturais por serem compostos químicos
de origem biogênica cujos potenciais vem sendo amplamente explorados por diversas áreas
das ciências aplicadas (Fig. 1a, b) (Maschek e Baker, 2008).
Figura 1. a) Estrutura química da Penicilina que é um produto natural sintetizado por fungos da
espécie Penicillium notatum e vem sendo amplamente explorado com antibiótico. b) Estrutura
química da Briostatina, um produto natural sintetizado por briozoários da espécie Bugula neritina e
muito utilizado no tratamento de diversos tipos de tumores.
Figura 2. Principais vias metabólicas secundárias, enfatizando a via do acetato (Acetil coenzima A),
precursora de florotaninos, polifenóis e poliacetilenos; a via do Ácido chiquímico precursora de
compostos aromáticos e de hidroquinonas preniladas; a via de aminoácidos aromáticos, precursora
de alcalóides; e a via do Mevalonato, precursora de terpenóides. (Modificado de Maschek e Baker,
2008).
a ativação pode ocorrer dentro de segundos após o dano causado pelo predador (Fig. 4b)
(Paul e Van Alstyne, 1992).
Figura 4. a) Indução (0.5 – 6 dias) na produção de oroidina por esponjas da espécie Agelas conífera
(Modificado de Richelle-Maurer e col., 2003). b) Ativação (15 – 60 segundos) na produção de
psammplina A por esponjas da espécie Aplysinella rhax (Modificado de Thoms e Schupp, 2008).
estímulo. Quarto, existem compostos que tem funções alternativas dentro de um organismo
ou que servem como precursores para vários produtos biogênicos - um dos quais uma
defesa ativada. Se a ativação ocorre com pouca freqüência, o metabólito pode ser usado em
outras funções dentro do organismo, ou desviado para sintetizar produtos diferentes
enquanto o organismo não estiver sendo atacado (Prusak, 2004).
A ativação de defesas químicas pode acontecer por pelo menos três mecanismos:
1) quando o organismo for danificado fisicamente, pela conversão de algum tipo de
composto deterrente em um composto mais deterrente ainda (Fig. 5). Na esponja marinha
Aplysinella rhax o composto menos deterrente sulfato de psammaplina A considerado
constitutivo (Tabudravu e col., 2002) é convertido no composto mais deterrente
psammaplina A em um intervalo de poucos segundos após a lesão causada pelo predador
(Thoms e Schupp, 2008); 2) pela produção de um composto deterrente a partir de
precursores não deterrentes. Após o contato com fungos, as diatomáceas Thalassiosira
rotula e Asterionella formosa oxidam os ácidos graxos eicosanóides rapidamente nos
aldeídos insaturados C-10 e C-12 respectivamente (Pohnert, 2000); 3) pelo aumento na
concentração de um metabólito deterente que normalmente é expresso em níveis muito
baixos. Quando esponjas da espécie Aplysilla glacialis são expostas a algum tipo de
distúrbio, aumentam rapidamente a produção de esteróides endoperóxidos que começam a
ser secretados externamente junto com o muco (Bobzin e Faulkner, 1992). Devido à
ativação de defesas envolver mudanças metabólicas que ocorrem em intervalos de poucos
segundos (Paul e Van Alstyne, 1992; Cetrulo e Hay, 2000) é provável que precursores
metabólicos e enzimas já estejam presentes antes do ataque, pois a transcrição e tradução
de enzimas leva em torno de 40 segundos (Mathews e col., 1999), tempo maior que o
necessário para um predador lesar seriamente sua presa.
Figura 5. Uso dos alcalóides isoxazolínicos brominados aerofobina-2 (1), aplisinamisina-1 (2) e da
isofistularina-3 (3) como precursores para a ativação dos metabólitos mais deterentes aeroplisinina-1
(5) e dienona (6) nos tecidos de Aplysina aerophoba. (Modificado de Thoms e col., 2006).
mecanismo efetivo na obtenção desta proteção (Paul e Van Alstyne, 1988; Rogers e Paul,
1991). O seqüestro de defesas químicas ocorre quando organismos (especialistas)
conseguem se alimentar de presas quimicamente defendidas sem sofrerem danos e, além
disso, acumulam essas defesas químicas nas suas formas ativas em seus tecidos e órgãos,
usando-as contra seus próprios predadores (Pawlik, 1988; Thoms e col., 2003).
Nos ambientes marinhos os principais organismos conhecidos por seqüestrarem
defesas químicas de suas presas são gastrópodes opistobrânquios (nudibrâquios e
sacoglossos). São raramente atacados pelos consumidores generalistas com os quais
coexistem, mesmo não apresentando concha de proteção como a maior parte dos
gastrópodes (Fig. 6a, b) (Cronin e col., 1995). Evidências evolutivas presumem que a perda
da concha foi atribuída ao seqüestro de defesas químicas a partir da alimentação (Faulkner
e Ghiselin, 1983). Os opistobrânquios carnívoros – os nudibrânquios – se especializaram em
invertebrados, seqüestrando os metabólitos secundários (Faulkner, 1992) ou mesmo
nematocistos funcionais das suas presas. Já os seus homólogos herbívoros – os
sacoglossos – se especializaram em algas, das quais seqüestram suas defesas químicas e
cloroplastos funcionais (Cronin e col., 1995). Em alguns casos os organismos que
seqüestram as defesas químicas podem modificá-las, usando-as como precursoras para
produzirem outras defesas, para detoxificá-las (por serem muito tóxicas para serem
armazenadas) ou para torná-las mais eficientes contra seus predadores (Cimino e col.,
1993).
Considerações finais
Os produtos naturais ja foram considerados detritos com estruturas químicas
interessantes, porém inúteis (Mann, 1978). No entanto, cada vez mais se observa que
possuem funções importantíssimas para os organismos que os produzem. Atualmente já é
conhecido que muitos desses metabólitos secundários possuem papéis vitais, pois medeiam
interações ecológicas. Ou seja, possuem a função de assegurar a sobrevivência em um
ambiente hostil onde muitos organismos competem uns com os outros pelos mesmos
recursos.
O estudo dos metabólitos secudários com função de defesas químicas é um campo
de estudo amplo e multidisciplinar, englobando a química e todos os aspectos biológicos.
Apesar dos maiores esforços ainda serem voltados para a descoberta de novos produtos
com potencial farmacêutico e industrial, muito tem sido feito a fim de se descobrir qual a
importância dessas substâncias para os organismos que as produzem. Mesmo que alguns
experimentos não consigam demonstrar a real função de um metabólito secundário, não
significa que este papel não exista, portanto não é prudente argumentar contra sua
relevância ecológica e fisiológica.
Introdução
Há muito tempo postula-se que a vida tenha surgido nos oceanos, assim não é de
se surpreender que esse ambiente continue a abrigar uma enorme diversidade de animais,
o que inclui uma grande variedade de invertebrados (Brusca, r. c.; Brusca, g. j., 2007).
Alguns grupos como os cnidários e os equinodermos, são completamente ou em grande
parte marinhos. Essa tremenda variedade e abundância de invertebrados nos oceanos de
todo mundo é o resultado de vários números de fatores, muitos dos quais estão
relacionados a condições de redução de estresse químico e físico nas atividades diárias dos
organismos (Brusca, r. c.; Brusca, g. j., 1990).
Em um ambiente com grandes pressões seletivas e uma enorme variedade de
organismos, as interações intra e interespecíficas tem um papel determinante na evolução
desses organismos. Muitas dessas interações são mediadas pela liberação de substâncias
biologicamente ativas e podem ser classificadas de acordo com seu papel ecológico (Burks
e Lodge, 2002; Ruther, e col, 2002): feromônios são substâncias que atuam na
comunicação entre membros da mesma espécie; cairomônios atuam na comunicação entre
membros de espécies diferentes com vantagens para a espécie receptora; e alomônios,
substâncias químicas defensivas e ofensivas com vantagens adaptativas para a espécie que
libera a substância no meio. Nesse contexto alomônios ofensivos são substâncias
empregadas por organismos predadores, para paralisar e subjugar sua presa, enquanto
alomônios defensivos são utilizados para deterem inimigos (predadores ou competidores)
(Sher e col., 2005). O uso de alomônios já foi amplamente registrado nos diversos táxons do
reino Metazoa, mas nesse capítulo nos concentraremos nos invertebrados.
Invertebrados venenosos ou peçonhentos são comumente encontrados em
Poríferos, Cnidários, Moluscos e Artrópodes. Porém, alguns dinoflagelados também
produzem toxinas extremamente potentes e também serão abordados a seguir.
Dinoflagelados
Os dinoflagelados são um dos grupos mais abundantes no plâncton marinho e,
como em sua maioria são autotróficos, têm um importante papel na produção primaria do
globo. No entanto esses organismos são também os principais responsáveis pelo fenômeno
conhecido como proliferação nociva de algas (HABs), ou popularmente, maré vermelha.
Normalmente as espécies que produzem substâncias tóxicas estão presentes em baixas
Porífera
O filo Porífera é constituído por animais extremamente simples e popularmente
conhecidos como esponjas. São os mais primitivos animais entre os multicelulares, não
possuem órgãos, mas tem tecido conjuntivo desenvolvido. Seu esqueleto pode ser formado
por espículas calcárias, espículas silicosas, fibras de espongina protéicas ou uma
combinação dessas duas últimas (ruppert e barnes, 1994).
Vários animais se alimentam de esponjas, embora o dano causado por estes
predadores seja geralmente pequeno. Alguns moluscos, ouriços e estrelas-do-mar, além de
peixes tropicais (donzelas, peixes-borboleta) e tartarugas, comem esponjas. Muitas
espécies são totalmente expostas aos predadores, e na impossibilidade de “bater em
retirada” apresentam mecanismos alternativos de defesa contra a predação excessiva. O
mecanismo primário de defesa das esponjas é de natureza química. As esponjas produzem
ou acumulam uma ampla gama de compostos tóxicos, alguns bastante potentes e que
podem ser expelidos por poros presentes na superfície externa desses animais
(www.poriferabrasil.mn.ufrj.br).
Cnidários
Um dos grupos que mais vem ganhando destaque no quadro internacional quando
o assunto é toxina, são os cnidários. Os cnidários possuem células urticantes características
presentes em todos os representantes do filo. Essas células produzem organelas
especializadas denominadas nematocistos, que contém um bulbo venoso e um filete
eversível capaz de injetar toxinas. A peçonha contida nos nematocistos desses animais
contém uma grande variedade de toxinas provocando efeitos dos mais diversos quando
injetado na presa ou no predador.
Extensivos estudos têm sido realizados nesse grupo devido aos vários relatos de
contato desses animais, principalmente das classes Cubozoa e Sciphozoa, com humanos,
com resultados potencialmente fatais.
As classes Cubozoa e Sciphozoa são representadas pelas conhecidas medusas,
onde se destacam os cubozoários Chironex fleckri, tido como o animal mais peçonhento do
mundo (Turk; Kem, 2009), e Carukia barnesi, conhecido por causar a “síndrome de
Irukandji” (forte hipertensão que pode resultar em edema pulmonar, hemorragia intracerebral
e infarto agudo) (Suput, 2009) e os cifozoários Cyanea capillata e Chrysaora quinquecirrha.
De maneira geral, as fatalidades observadas em humanos e animais de laboratório
se devem aos efeitos cardiotóxicos gerados pela peçonha. A entrada de cálcio através de
poros formados nas células, a liberação de substâncias endógenas como epinefrina e
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Moluscos e crustáceos
Dentro do grupo dos moluscos, os animais mais estudados são os pertencentes à
família Conidae. Todas as 500 espécies conhecidas são predadoras e se alimentam de
outros moluscos, vermes e peixes. A imobilização da presa é resultado da ação da peçonha
relativamente complexa desses animais que é injetada na vítima através de uma
modificação da rádula semelhante a um arpão. A peçonha de cada espécie contém mais de
200 compostos farmacologicamente ativos, e os mais estudados são compostos de origem
peptídica (Becker e Teriau, 2008).
Os alvos dos conopeptídeos são geralmente canais dependentes de voltagem e
dependente de ligantes. Uma característica marcante dessas toxinas é sua propriedade
farmacológica: conopeptídeos são conhecidos por serem extremamente potentes e
altamente específicos. A -conotoxina, por exemplo, especificamente se liga a canais de
cálcio do tipo N (Cav 2.2) e possui baixa afinidade por outros subtipos de canais de cálcio.
Como os canais de cálcio do tipo N são encontrados nos espaços pré-sinápticos, a ação da
-conotoxina resulta no bloqueio da transmissão sináptica (Becker e Teriau, 2008). Existem
ainda outros tipos de conotoxinas bem conhecidas, como a -conotoxina, que inibe
receptores nicotínicos de acetilcolina nos nervos e músculos; a -conotoxina, que inibe a
inativação dos canais de sódio dependentes de voltagem; -conotoxina que inibe as
correntes de sódio dependentes de voltagem; e a -conotoxina, que interage com canais de
potássio. Dessa maneira, com relação a toda a peçonha produzida por esses animais, cada
peptídeo representa um “especialista” otimizado para cada alvo (Becker e Teriau, 2008),
fazendo dessa peçonha, se não a mais potente, uma das mais potentes do reino animal.
Existem relatos de acidentes fatais decorrentes do contato de seres humanos com
esses animais, porém, devido ao habito noturno dos conídeos, esse número seja bastante
limitado
Os crustáceos venenosos normalmente concentram as toxinas em seu interior por
se alimentarem de algas que as produzem. Ao serem ingeridos por seres humanos, podem
apresentar ação tóxica e muitas vezes letal. O estômago desses animais normalmente é
impermeável a essas toxinas e, portanto, são resistentes a ela. O Lophozosimus pictur, por
exemplo, sintetiza uma proteína capaz de inativar a tetrodotoxina, além de acumular
palitoxina em seu interior (www.psiconeuroendocrinologia.com.br).
Outros exemplos podem ser citados: o Actaeodes tomentosus, do Japão, é
concentrador de toxinas da Jania sp, tendo provocado incidentes fatais entre seres
humanos; o Zosimus aeneus, da Ilha Ishigaki (Japão), o Portunus pelagicus, da Malásia,
que recebe as toxinas da Pyrodinium bahamense; o Cancer magister, dos EUA, que recebe
toxinas da Gonyaulax tamarensis (assim como o Cancer irroratus, o Cancer productus e o
Cancer borealis). Algumas espécies de lagostas, também são capazes de concentrar
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Mecanismos de ação
Palitoxina
Palitoxina é uma das toxinas mais potentes existentes e foi isolada primeiramente
de zoantharios (Hexacorallia) do gênero Palytoa. Hoje, a palitoxina e vários dos seus
análogos são encontrados em uma grande variedade de organismos marinhos, incluindo
anêmonas, poliquetos, dinoflagelados, algas, caranguejos e peixes (Chau H. Wu, 2009).
A palitoxina demonstrou ser 200 vezes mais potente do que a tetrodotoxina quando
injetada intraperitonialmente em camundongos. Essa toxina atuou em todas as células
animais testadas, provocando violentas contrações de músculos lisos, estriados e cardíacos,
induzindo secreção massiva de células secretoras e despolarizando todo tecido excitável
investigado (Chau H. Wu, 2009).
Devido ao seu mecanismo não usual de ação, aos inúmeros tipos de células
afetadas e ao mascaramento do seu mecanismo, devido aos efeitos secundários gerados,
muitas conclusões erradas foram feitas a respeito do seu mecanismo de ação. Após anos
de investigação e discussão finalmente foi descoberto o mecanismo de ação dessa toxina.
Essa possui um mecanismo único que transforma a bomba de Na+/K+ em um canal iônico
não especifico para íons monovalentes. Esse canal permite o influxo de sódio e o efluxo de
Ordem Lepidoptera
Os lepidópteros estão descritos no Reino Metazoa, Filo Arthropoda, Subfilo
Hexapoda, Classe Insecta, Subclasse Pterygota, Ordem Lepidoptera (Brusca e Brusca,
2007). Essa ordem possui mais de 150 mil espécies descritas e inclui todo o grupo de
borboletas e mariposas (Funasa, 2001).
Os adultos alimentam-se primariamente de néctar e muitos são importantes
polinizadores, e alguns dos mais conhecidos pertencem à família Sphingidae. As lagartas ou
larvas são herbívoras (Ruppert e col, 2005). A alimentação das lagartas de importância
médica está baseada em folhas de árvores frutíferas comestíveis, como abacateiro,
ameixeira, pessegueiro ou mesmo em árvores nativas dentro das matas.
O ciclo de vida dos lepidópteros engloba as seguintes etapas: ovo, larva (lagarta),
pupa (crisálida) e a fase adulta (imago). Os períodos larvais mudam de acordo com a
espécie, mas a forma como ocorrem é semelhante. Depois da eclosão dos ovos, as lagartas
estão no que se chama de 1º instar e se alimentarão continuamente até atingirem o
tamanho máximo desta fase. Antes de passarem para o próximo instar, cessam sua
alimentação e tornam-se imóveis por um tempo devido a formação do novo tegumento que
é maior e mais colorido. Esse processo é chamado de ecdise ou muda. A fase larval é
constituída de 6 a 7 mudas, sendo que podem atingir até 7 cm de comprimento no último
instar. As glândulas salivares produzem seda que pode ser usada, entre outras finalidades,
na construção de um casulo dentro do qual a larva de último instar empupa (Moraes, 2009).
Os lepidópteros adultos apresentam corpo mole com as asas, corpo e apêndices
recobertos por escamas pigmentadas coloridas ou cerdas em forma de pêlo.
O corpo das lagartas urticantes é ornamentado dorsolateralmente por estruturas
pontiagudas, chamadas de cerdas, setas, ou pêlos e que contem glândulas secretoras de
toxinas (Moraes, 2009).
As borboletas e as mariposas estão entre os mais bem conhecidos e mais coloridos
de todos os insetos. As borboletas podem ser distinguidas das mariposas por duas
características: suas antenas são sempre longas e afiladas, terminando em um nódulo (as
antenas das mariposas nunca apresentam um botão na ponta), e suas asas são tipicamente
mantidas juntas sobre o corpo em repouso (as mariposas nunca mantêm suas asas nessa
posição) Mais de 80% das espécies descritas de Lepidoptera são mariposas (Brusca e
Brusca, 2007).
A grande maioria dos lepidópteros não apresenta riscos ao homem, como o bicho
da seda que é a lagarta da mariposa Bombix mori que desencadeou um grande
desenvolvimento econômico na produção do tecido (sericultura). Já outros lepidópteros
causam prejuízos às lavouras, onde as lagartas devoram o cultivo inteiro.
A Ordem Lepidoptera possui importância em saúde pública devido aos efeitos
danosos causados ao homem, pelo contato das cerdas de algumas espécies de lagartas
que contêm toxinas. Das famílias que compõem o grupo, as que apresentam interesse por
causarem acidentes no Brasil são a Megalopygidae, Saturniidae, Limacodidae e Arctiidae
(Moraes, 2009).
Denomina-se eruscismo as intoxicações causadas pelo contato com a lagarta de
diferentes famílias de lepidópteros. De acordo com a Tabela 1 podemos observar que
existem elevados números de acidentes ocorridos com lagartas, mas que o sistema de
notificação desses casos não restringe a família ou espécie por dificuldade de identificação
do animal pelos profissionais da saúde e também, em muitos casos, por não levar o animal
até a unidade de saúde.
Tabela 1 - Notificações de acidentes ocorridos com lagartas entre os anos de 2007 a 2009.
Tipo de 2 2 2 T
acidente 007 008 009 otal
Lagarta 3 3 3 1
.305 .907 .286 0.498
Megalopygidae
Os megalopigídeos que merecem destaque por sua toxina é do gênero Podalia sp.
(Figura 1B). Possuem longas cerdas sedosas, recobrindo as cerdas pontiagudas que são
menores e inseridas no tegumento onde contêm as glândulas produtoras de veneno
(Moraes, 2009). São popularmente conhecidos pelos nomes de taturana-gatinho, taturana-
cachorrinho ou lagarta-de-fogo. O colorido dessas lagartas é variado, sendo as mais
comuns de cor marrons ou castanhas (Moraes, 2007). Por serem lentas e de aspecto
atraente, não aparentando agressividade, aguçam a curiosidade de crianças.
Saturniidae
A família Saturniidae possui cerdas venenosas em forma de espinhos aparentes,
chamado de scolus, são projetadas do tegumento e se assemelham a pequenos “pinheiros”.
A coloração normalmente é verde com desenhos variados no tegumento. Apresentam
hábitos gregários, vivendo em grupos com muitos indivíduos. Na família Saturniidae,
existem várias espécies que são de importância médica como a Automeris naranja,
Automeris leucanela, Dirphia sabina, Dirphia multicolor, sendo que as do gênero Hylesia
(Hylesia paulex, Hylesia nigricans) e do gênero Lonomia (Lonomia obliqua, Lonomia
achelous) são as que merecem destaque e serão descritas a seguir:
Hylesia sp.
Os acidentes desencadeados pelo contato com as formas adultas aladas de
mariposas são escassos, ao contrário dos acidentes pelas formas larvárias que são muito
comuns.
No caso particular de uma espécie de mariposa pertencente ao gênero Hylesia,
Fig.2A, da família Saturniidae, apresenta destaque para estudos já que o contato com suas
cerdas desenvolvem manifestações clínicas. Chama-se lepidopterismo o acidente
provocado pelo contato com as formas adultas (mariposas) desses artrópodes.
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VII Curso de Inverno: “Tópicos em Fisiologia Comparativa”
Lonomia sp.
Lonomia obliqua (Figura 3A) é geralmente encontrada nas regiões Sul e Sudeste do
Brasil. Os adultos vivem em média 15 dias e não se alimentam, pois seu aparelho bucal é
atrofiado. Após a cópula, fazem posturas dos ovos nas folhas e galhos de plantas nativas
como Alchornia (tapiá), porém pode se adaptar facilmente às frutíferas domiciliares. Depois
de 25 dias em média, as larvas eclodem dos ovos passando a se alimentar das folhas da
planta durante a noite. São gregárias, ou seja, vivem em grupos e podem ser vistas nos
troncos das árvores durante o dia (Figura 3B). Após a última ecdise, elas se transformam
em pupas, alojando-se na base das árvores, sob o húmus, pois a temperatura é mais alta.
Esta fase é muito importante no desenvolvimento do lepidóptero devido às mudanças
morfológicas e fisiológicas que ocorrem. Depois desse período de pupa formam os adultos,
reiniciando o ciclo biológico.
O aumento significativo da população de Lonomia gerou várias hipóteses, sem
contudo, terem sido explicadas em estudos mais aprofundados. Basicamente, alguns
aspectos sempre foram comentados como, por exemplo, a possível falta de inimigos
naturais devido à excessiva utilização de agrotóxicos e o desmatamento contínuo de
grandes áreas para diversos fins. (Moraes, 2002)
Apenas duas espécies do gênero Lonomia apresentam sintomas de alteração na
coagulação sanguínea e a morte de pessoas pelo contato acidental. Os primeiros registros
de acidentes hemorrágicos com vítimas fatais ocorreram na Venezuela com a lagarta
Lonomia achelous (Arocha-Pinango e Layrisse, 1969). Os primeiros relatos de acidentes no
Brasil com vários óbitos causados pela mesma espécie ocorreram no Estado do Amapá
(Fraiha Neto e col., 1985). A situação se repetiu em 1989 no Rio Grande do Sul e em Santa
Catarina, com L. obliqua, onde foram registrados quatro óbitos (Duarte e col., 1990).
Sempre que se aproxima o período quente, como as estações de primavera e verão
nos estados de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, aumenta a preocupação das
pessoas que vivem no meio rural e próximas de matas. Até nas áreas urbanas as pessoas
não estão livres desses insetos, pois já foram encontradas colônias em locais muito
próximos às residências (Lorini, 1999). Já foi relatada a presença de L. obliqua em
municípios dos estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio grande do Sul (Lemaire, 2002).
Na tabela 2 podemos observar o elevado número de acidentes por lagarta nos
estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apesar
de não apresentar o gênero e espécie do animal causador do acidente podemos considerar
que essa região é de predominância da L. obliqua, a qual apresenta quadros mais graves e
provavelmente mais internações em hospitais.
Os desmatamentos ocorridos nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
bem como o cultivo de monoculturas, provavelmente forçaram a adaptação de L. obliqua as
plantas próximas às residências. A utilização de agrotóxicos nas grandes culturas pode ter
diminuido os inimigos naturais, ainda desconhecidos, desequilibrando o controle natural da
lagarta. Sabe-se que a Moreiria wiedemanni, Lespesia affinis e a Belvosia sp. pertencentes
a Ordem Diptera e a Enicospilus sp. da Ordem Hymenoptera são inimigos naturais de L.
obliqua. O poliedrovírus LoobMNPV (Lonomia obliqua Multiplo Nucleopolyhedrovirus) é um
agente exterminador de colônias de L. obliqua (Moraes, 2002).
Tabela 2 - Notificações de acidentes ocorridos com lagartas nos Estados do Brasil em 2009.
UF notificação Lagarta
Paraná 906
Minas Gerais 794
São Paulo 433
Santa Catarina 364
Rio Grande do Sul 249
Tocantins 157
Amazonas 50
Alagoas 44
Bahia 42
Espírito Santo 34
Goiás 34
Mato Grosso do Sul 27
Rio Grande do Norte 24
Distrito Federal 20
Pará 20
Maranhão 16
Piauí 16
Rondônia 14
Mato Grosso 13
Pernambuco 12
Acre 9
Sergipe 4
Ceará 4
Rio de Janeiro 4
Paraíba 3
Amapá 2
Roraima 2
Total 3.297
Fonte: Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Ministério da Saúde).
detectada imediatamente após o acidente, mas depois de algumas horas ou até 24 horas. O
número de plaquetas não se mostram alteradas (Wen e Duarte, 2009).
Segundo o Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais
peçonhentos da Funasa (2001) de acordo com a intensidade dos distúrbios hemostáticos, o
acidente pode ser classificado em:
a) Leve: paciente com alteração local e sem alteração da coagulação ou
sangramentos até 48 horas após o acidente, confirmado com a identificação do agente;
b) Moderado: paciente com alteração local, alteração da coagulação somente ou
manifestações hemorrágicas na pele e/ou em mucosas (gengivorragia, equimose,
hematoma), hematúria e sem alteração hemodinâmica (hipotensão, taquicardia ou choque);
c) Grave: paciente com alteração da coagulação, manifestações hemorrágicas em
vísceras (hematêmese, hipermenorragia, sangramento pulmonar, hemorragia intracraniana),
e com alterações hemodinâmicas e/ou falência de múltiplos órgãos ou sistemas.
Em 1994 foi registrado um avanço no bloqueio da toxina e na recuperação de
vítimas com acidentes envolvendo a L. obliqua, a partir da produção do soro antilonômico,
pelo Instituto Butantan em São Paulo. A partir das cerdas das lagartas foi preparado um
extrato contendo o veneno para inoculação em cavalos, seguindo esquema de imunização
análogo ao dos demais soros antipeçonhentos. As recomendações para administração do
soro antilonômico (SALon) são estabelecidas de acordo com a gravidade do acidente
(Tabela 3).
Limacodidae
Na família Limacodidae, a lagarta que merece destaque é a Sibine sp. (Figura 4).
Esses lepidópteros são lentos e pequenos com aproximadamente 20 mm, tem grande parte
do dorso nu e as cerdas de veneno ficam restritas à região cefálica e anal em aglomerados,
bem visíveis e distintos. Possuem coloração verde no dorso, amarelo no ventre e sua
principal característica é a ausência de falsas pernas. Geralmente são encontradas em
limoeiros (Moraes, 2009).
Introdução
Classificação taxonômica
As raias são cordados pertencentes à classe Chondrichthyes, a qual se divide em
duas subclasses, a Elasmobranchii e a Holocephali. Este grupo é composto por vertebrados
aquáticos caracterizados por apresentarem esqueleto cartilaginoso, o qual pode possuir
regiões calcificadas, conferindo maior rigidez e resistência aos membros. Os representantes
da subclasse Holocephali são as quimeras, animais muito primitivos, e a subclasse
Elasmobranchii é composta pelos tubarões e raias (Nelson, 1994).
As raias são agrupadas em diversas ordens, dentre elas a Myliobatiformes, a qual
agrupa as famílias de raias conhecidas como raias-de-ferrão, ou “stingrays” no inglês, por
possuírem um ou mais ferrões em sua cauda, com exceção da família Mobulidae. As raias-
de-ferrão estão agrupadas em cinco diferentes famílias, constituídas por animais marinhos
(Gymnuridae, Dasyatidae, Myliobatidae, Rhinopteridae e Urolophidae) e somente uma
família é restrita a rios de água doce da América do Sul (Potamotrygonidae) (Garrone;
Haddad Jr., 2009).
As raias pertencentes à família Gymnuridae, conhecidas como raias-borboletas
(“butterfly rays”), apresentam cauda curta e uma grande envergadura (Figura 1A). Estão
amplamente distribuídas pelos mares tropicais. Já as raias da família Dasyatidae são
popularmente conhecidas como raias-com-cauda-de-chicote, do inglês “whiptail stingrays”
(Figura 1B) e estão distribuídas por todo o Oceano Atlântico e alguns exemplares aparecem
também no Mar Mediterrâneo.
A família Rhinopteridae é composta por exemplares popularmente conhecidos
como raias-com-nariz-de-vaca (“cownose rays”) (Figura 1C) e apresentam uma distribuição
ampla pelos oceanos, assim como as raias da família Urolophidae (Figura 1D) e da família
Myliobatidae (“eagle rays”) (Figura 1E), porém estas últimas costumam apresentar-se em
bandos.
As únicas raias-de-ferrão que habitam rios de água doce na América do Sul
pertencem à família Potamotrygonidae e estão localizadas tanto nos sistemas de rios da
Bacia Araguaia-Tocantins como nos rios da Bacia Paraná-Paraguai, no Brasil, existindo até
mesmo uma espécie endêmica de um único rio (Potamotrygon leopoldi) (Carvalho e col.,
2003).
A B
C D
E F
Morfologia
Geralmente, as raias apresentam corpo achatado dorsiventralmente, com
avantajadas nadadeiras peitorais fusionadas à cabeça, e uma cauda terminal. Possuem de
5 a 7 pares de fendas branquiais e, na maioria dos exemplares, o corpo é coberto por
escamas placóides (dentículos dérmicos). Em algumas espécies também aparecem
nadadeiras caudais e dorsais, mas nenhum destes elasmobrânquios apresenta nadadeira
anal, diferindo-se da maioria dos tubarões.
Como a maior parte das raias possui hábito bentônico, elas permanecem por algum
tempo enterradas em areia ou lodo, deixando à mostra apenas os olhos, os espiráculos e a
cauda (Meyer, 1997; Garrone Neto; Haddad Jr., 2009). Os espiráculos, os quais se
localizam próximo aos olhos, permitem o fluxo contínuo de água e oxigenação das
brânquias, o que normalmente acontece quando o animal está em movimento. Além disso,
algumas espécies apresentam certos acessórios, como espinhos dorsais, órgão elétrico ou
ferrões na cauda, presentes nas espécies da ordem Myliobatiformes, exceto a família
Mobulidae, como dito anteriormente. Estes ferrões podem se posicionar tanto na porção
proximal, mediana, ou ainda na porção distal na cauda (Figura 2), sendo que esta última
localização facilita ainda mais a ocorrência dos acidentes.
Figura 2: Diferentes posicionamentos dos ferrões nas caudas das raias, o que pode interferir na
incidência de acidentes pelas espécies. Fonte: Garrone Neto e Haddad Jr., 2010.
Biologia
As raias são animais de ambientes bentopelágicos. Geralmente, encontram-se
enterradas em covas rasas na areia ou lodo, o que dificulta sua visualização (Pardal, 2003),
ou podem ainda viver em cardumes. Sua alimentação é variada, sendo à base de pequenos
crustáceos, vermes e moluscos (Acott; Meier, 1995; Meyer, 1997) (Figura 3A). São animais
que se reproduzem, na maioria das vezes, de forma ovovivípara, com fecundação interna.
Para tanto, durante o acasalamento, os machos se utilizam de um órgão acessório
exclusivo, o clásper, o qual é introduzido na cloaca da fêmea no momento da fecundação
(Figura 3B). Os clásperes são modificações das nadadeiras pélvicas, responsáveis pelo
dimorfismo sexual presente nos elasmobrânquios em geral (Figura 4).
A B
Figura 3: Exemplar de raia marinha alimentado-se de um molusco (A) e o acasalamento entre raias
da família Urolophidae (B). Fonte: www.compfight.com e www.elasmodiver.com
Figura 4: Dimorfismo sexual entre raias pela presença do clásper (setas) no macho à direita da foto.
Fonte: www.fao.org.
A B
Figura 5: Espécie de Potamotrygon falkneri (A) e a presença de dois ferrões em sua cauda (B).
Ferrão
O ferrão presente nas raias-de-ferrão é uma estrutura mineralizada recoberto por
camadas de células epidérmicas ricas em conteúdo protéico. Por não apresentarem uma
glândula específica produtora de toxinas, as raias são classificadas como animais
venenosos, e o extrato obtido da raspagem do tecido que recobre o ferrão é o que
chamamos de “veneno”.
Pedroso e colaboradores (2007) analisaram histologicamente o ferrão de algumas
espécies de raias dulcícolas e marinhas e verificaram algumas diferenças entre eles. O
ferrão das raias marinhas Dasyatis guttata e Aetobatus narinari apresentaram células
especializadas, ricas em material protéico, apenas ao redor ou nos sulcos do ferrão (Figura
7A). Em contrapartida, nos ferrões das espécies de água doce Potamotrygon falkneri, P.
orbignyi e P. leopoldi, um grande número dessas células encontravam-se organizadas em
uma camada epidérmica intermediária que cobria todo o ferrão (Figura 7B). Segundo os
autores, a variabilidade observada na distribuição e na quantidade dessas células
especializadas poderia influenciar no quadro clínico observado nos envenenamentos por
raias fluviais que, usualmente, são mais graves e apresentam maior porcentagem de
necrose quando comparados aos acidentes por raias marinhas.
Peçonha
O veneno das raias é constituído por muitos componentes tóxicos e/ou enzimáticos.
Barbaro e colaboradores (2007) compararam as atividades dos venenos da raia marinha D.
guttata e da raia dulcícola P. falkneri em modelo murino. Os autores verificaram que ambos
os venenos foram capazes de induzir nocicepção e edema em resposta à injúria no tecido,
embora o veneno de P. falkneri demonstrou induzir maior nocicepção. Porém, somente o
veneno de P. falkneri causou atividade miotóxica, letal, inflamação local intensa e necrose,
corroborando com dados anteriores que relatam que a injúria do envenenamento por raias
de água doce em seres humanos é mais severa quando comparada à induzida por raias
marinhas (Haddad Jr, 2000; Haddad Jr e col., 2004).
Certos componentes presentes nos venenos de raias já foram descritos. Alguns
deles com atividades proteolítica e hialuronidásica presentes no veneno da Dasyatis guttata
(marinha) e da Potamotrygon falkneri (dulcícola) foram identificados (Barbaro e col., 2007).
Além disso, o veneno da raia fluvial Potamotrygon motoro apresenta fosfolipases, fosfatases
ácidas, gelatinases, proteases e elastases (Magalhães, 2001), bem como a enzima
hialuronidase, já isolada e caracterizada (Magalhães e col., 2008). Outros componentes
também foram isolados, como o peptídeo vasoconstritor, denominado Orpotrin, e um
peptídeo bioativo, chamado de Porflan, ambos isolados do veneno da raia Potamotrygon
orbignyi (Conceição e col., 2006, 2009). Este último induz o rolamento de leucócitos pelo
endotélio. Porém, até o momento, são poucos os estudos sobre componentes isolados e
caracterizados dos venenos de raias, no geral.
registros de morte em consequência de acidentes por raias, embora casos fatais envolvendo
espécies marinhas em decorrência de perfurações torácicas e abdominais são descritos na
literatura internacional (Halstead e col., 1990; Pardal, 2003; Haddad Jr.e col., 2004).
Figura 8: Acidente com arraia fluvial Presidente Epitácio - SP, o qual apresentou necrose superficial
instalada após 48 horas do acidente (A) e escara enegrecida resultante do tecido necrosado após 8
dias. Fonte: Garrone Neto e Haddad Jr., 2010.
Introdução
As serpentes são os representantes da subordem Ophidia, que juntamente com a
Subordem Sáuria e Amphisbaenia, compõem a Ordem Squamata, o mais moderno e
numeroso grupo dos répteis viventes (Melgarejo, 2003; Cubas e col., 2007). No Brasil,
Ophidia é representada por nove famílias, 75 gêneros e 321 espécies (Franco, 2003; Cubas
e col. 2007).
Algumas das características diagnósticas que definem o grupo das serpentes são o
corpo extremamente alongado, sem apêndices locomotores e cintura escapular, o
fechamento lateral da parede da caixa craniana, a substituição da sutura óssea das
hemimandíbulas por um ligamento elástico, e a perda de pálpebras móveis (Franco, 2003).
Apesar da ausência de membros locomotores, características singulares
relacionadas aos órgãos sensoriais permitiram às serpentes explorar os ecossistemas de
que fazem parte. Estes animais tem o sentido da audição relacionada à sensibilidade a
vibrações no substrato (Schimidt-Nielsen, 2002) uma vez que o sistema auditivo não seria
tão sensível ao som quanto a vibrações sentidas por mecanorreceptores presentes ao longo
do corpo e na região da cabeça (Hartline, 1971). A visão está mais vinculada à detecção de
movimentos que de formas (Melgarejo, 2003). Funcionalmente, as serpentes são lagartos
ápodes extremamente especializados. Diferenças entre os olhos de lagartos e de serpentes
são interpretados como uma evidência da transição de um ambiente de superfície para um
ambiente fossorial (de escavação subterrânea). Nos lagartos, os olhos são focalizados pela
distorção das lentes, modificando assim seu raio de curvatura, enquanto nas serpentes, as
lentes são movimentadas em relação à retina, colocando o objeto em foco. Existem
diferenças também na própria morfologia da retina. As serpentes não possuem fóvea
central, suas células retinianas não possuem gotículas coloridas de óleo e existe um único
cone duplo, exclusivo desse grupo de répteis. Essas diferenças podem indicar que os
ancestrais das serpentes passaram por um estágio no qual eram tão especializados para a
escavação que os olhos haviam quase sido perdidos. Entre as serpentes e os lagartos
escavadores mais especializados, os olhos são muito reduzidos e provavelmente capazes
de distinguir somente estágios de luz ou escuridão. De acordo com essa hipótese, o olho
evoluiu novamente quando as serpentes reocuparam a superfície (Melgarejo, 2003; Pough e
col., 1999). Já o sentido do olfato não estaria vinculado à presença de epitélio nas fossas
nasais, mas sim a um mecanismo de varredura de partículas suspensas no ar. A partir da
que foi mordido por ela, de trilhas deixadas por ratos que não foram atacados (Pough e col.,
1999).
Distribuição geográfica
As serpentes têm ampla distribuição e ocupam praticamente todos os tipos de
ambientes disponíveis, desde os terrestres, subterrâneos (fossoriais) e arborícolas, até
águas continentais e oceânicas. Porém, por se tratarem de animais ectotérmicos,
encontram-se normalmente ausentes em regiões de frio intenso (Schmidt-Nielsen, 2002;
Franco, 2003; Marques e Sazima, 2003; Cubas e col., 2007). Diversas espécies de
serpentes peçonhentas brasileiras, como a grande maioria das representantes do gênero
Micrurus, a maioria das Bothrops e todas as Lachesis, necessitam de sombra e umidade,
sendo então dependentes de áreas florestadas. A exceção no gênero Micrurus é a Micrurus
ibiboboca, que habita ambientes abertos de Caatinga, no gênero Bothrops as espécies dos
grupos neuwiedi e alternatus, que vivem em áreas abertas, e a espécie Bothrops moojeni,
que é típica de áreas de Cerrado, mas vive associada às Matas ciliares que margeiam os
rios. O gênero Crotalus é típico de áreas abertas. Observa-se que sua distribuição
geográfica está em expansão por conta de desmatamentos e aumento da área destinada à
pecuária (Marques e Sazima, 2003).
Veremos a seguir ilustrações do padrão de distribuição geográfica das principais
espécies de Micrurus, Bothrops, Lachesis e Crotalus, juntamente com informações mais
detalhadas de cada um destes gêneros de serpentes peçonhentas que ocorrem no Brasil.
Famílias e Gêneros
Figura 9: Distribuição geográfica do complexo Crotalus durissus (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 10: Distribuição geográfica de Lachesis muta (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 11: Distribuição geográfica de Micrurus corallinus (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 12: Distribuição geográfica de Micrurus lemniscatus (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 13: Distribuição geográfica de Micrurus spixii (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 14: Distribuição geográfica de Micrurus surinamensis (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 15: Distribuição geográfica de Micrurus frontalis (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Figura 16: Distribuição geográfica de Micrurus ibiboboca (Modificado de Cardoso e col., 2003).
Epidemiologia
No Brasil, os acidentes ofídicos representam um grave problema de Saúde Pública.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, no ano de 2009 foram notificados 21.618
casos de acidentes por serpentes em todo território nacional (SINAM, 2010). Parte destes
casos é decorrente de acidentes por serpentes não peçonhentas (4%). Em relação ás
serpentes peçonhentas, observa-se um predomínio absoluto de acidentes por Bothrops,
com 74%, seguidos por acidentes por Crotalus (7%), Lachesis (3%) e Micrurus com apenas
1% (fig. 17). Ao se excluir o número de casos “Ignorados/brancos” e os referentes a
serpentes não peçonhentas da análise, esse padrão fica mais evidente (fig. 18). Deve-se
ressaltar que apesar da grande melhora nos serviços de notificação, infelizmente, grande
parte da informação sobre o gênero de serpentes envolvido no acidente acaba se perdendo.
Este fato se torna evidente ao se observar a grande quantidade de Ignorados/brancos”
(11%), que se referem a casos em que o gênero da serpente não foi informado (fig. 17).
9% 1% 4%
86%
Figura 17: Distribuição percentual de casos de acidentes ofídicos no Brasil no ano de 2009, de acordo
com o gênero da serpente (SINAM, 2010).
3% 11%
4%
1%
7%
74%
Figura 18: Distribuição percentual de casos de acidentes ofídicos no ano de 2009, de acordo com o
gênero da serpente, e condição (peçonhenta e não peçonhenta) (SINAM, 2010).
Com relação à distribuição dos casos por região do país, pode-se observar na
figura 19 que a maioria dos acidentes foram registrados nas regiões Norte (31%), nordeste
(29%) e sudeste (21%). Nas regiões Sul e Centro-Oeste observa-se um menor número de
notificações, de 9 e 10%, respectivamente. Estes dados contrastam com referentes ao
período de 1990-1993, publicados no “Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por
animais peçonhentos” da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2001), onde se observa
um predomínio das regiões Sudeste e Sul. Este fato pode indicar uma melhora na qualidade
da informação na região Nordeste e, principalmente, na região Norte, onde a subnotificação
sempre foi muito alta por conta da dificuldade de acesso aos serviços de saúde e
contrastava com a grande abundância de espécies de serpentes peçonhentas.
10%
9% 31%
21%
29%
Figura 19: Distribuição percentual de casos de acidentes ofídicos no ano de 2009 de acordo com a
região do país (SINAM, 2010).
Sabe-se que os acidentes ofídicos estão, em geral, relacionados a fatores
climáticos e aumento da atividade humana nos trabalhos de campo. Sendo assim, é
possível observar um padrão sazonal para a ocorrência de acidentes. Normalmente, há um
aumento dos acidentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste no período de setembro a
março, e na região Nordeste no período de janeiro a maio. Não se observa padrão sazonal
definido na região Norte .
Em relação as característica dos indivíduos acometidos, existe um predomínio
marcante nas faixas etária de 15 a 19, 20 a 39, e 40 a 59 anos, que correspondem ao grupo
onde se concentra a força de trabalho (fig. 20), além de uma clara preponderância de
indivíduos do sexo masculino (fig. 21).
40.0
35.0
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
0.0
co
4
9
<1
>
-1
-1
-3
-5
-6
-6
-7
1-
5-
80
an
10
15
20
40
60
65
70
br
g/
In
Figura 20: Distribuição de casos de acidentes ofídicos por faixa etária da população brasileira no ano
de 2009 (SINAM, 2010).
7000
6500
6000
5500
5000
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
co
14
19
39
59
64
69
79
<1
>
1-
5-
80
-
an
10
15
20
40
60
65
70
br
g/
In
Homens Mulheres
Figura 21: Distribuição de casos de acidentes ofídicos por gênero da população brasileira no ano de
2009 (SINAM, 2010).
Tabela 1: Evolução de caso de acidente ofídico de acordo com o gênero de serpente, em 2009 (SINAM 2010).
Caso Gênero
Não Total
Classificação final Bothrops Crotalus Micrurus Lachesis Ing/branco
peçonhenta
Ign/Branco 1035 102 14 40 44 341 1576
Leve 7923 691 71 236 750 1407 11078
Moderado 5999 626 26 344 27 598 7620
Grave 986 202 35 35 2 84 1344
Total 15943 1621 146 655 823 2430 21618
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Quantificação e Análise
de Dados
Quantificação e amostragem
O processo de quantificação é um aspecto comumente negligenciado durante a
produção de conhecimento científico. Por “quantificação” entendemos qualquer espécie de
processo que nos permita representar simbolicamente um evento natural observado.
Durante tal processo podemos nos valer de qualquer forma de expressão simbólica. Por
exemplo, taxônomos comumente se valem de minuciosas descrições das estruturas
anatômicas enquanto etólogos computam complexos fluxogramas comportamentais
(“etogramas”) para fornecer uma representação detalhada do comportamento animal.
Ambos os exemplos citados podem ser entendidos como “quantificação”. Entretanto, essa
palavra costuma ter uma conotação mais restrita em ciências exatas, como física e química,
e é utilizada para denotar processos que “de fato produzem numeros” (Kuhn, 1961). Neste
contexto a quantificação seria um processo objetivo de mensuração de dada característica
de um sistema, expressando-o de forma objetiva e numérica, e estaria diretamente ligado ao
processo histórico científico, permitindo a avaliação do paradigma vigente à luz das
evidencias (Kuhn, 1962). Por esse motivo faremos uma breve digressão sobre o método
científico.
Método Científico
Como já visto anteriormente, uma característica geral de toda empreitada científica
está na utilização de um arcabouço conceitual de regras e procedimentos que permitem
avaliar e justificar o conhecimento. Tal arcabouço é chamado de método científico (ver
capítulo I) e uma de suas principais funções é nos proporcionar a capacidade de distinguir
entre crenças racionalmente justificadas e crenças irracionais (injustificadas). O
procedimento exato pelo qual isso se dá é questão de intenso debate (Popper, 1959; Kuhn,
1962; Lakatos, 1978; Sokal e Bricmont 1999). Apesar disso, é geralmente aceito que o
processo de geração de conhecimento cientifico necessita do confronto entre previsões
teóricas e observações (Kuhn, 1962). Para ilustrar podemos recorrer à metáfora do “Moedor
de Carne de Kuhn” (Fig. 1). No moedor temos à esquerda um conjunto de teorias a respeito
do sistema em estudo que entram no moedor. O moedor em si representa as manipulações
lógicas e matemáticas dessas teorias com a finalidade de prever os resultados que
podemos obter. Na esquerda temos os produtos dessas manipulações, que são as
previsões teóricas, podendo estar em valores numéricos, resultados qualitativos e outros
apenas que você mantenha um protocolo experimental que possa ser explorado mais a
fundo no futuro (variando o grau de saciedade do animal, por exemplo), mas principalmente
que seus pares (outros pesquisadores) avaliem sua metodologia atrás de possíveis erros
(seja em uma banca examinadora, seja durante o processo de revisão de um artigo). Isso
também permite que outros reproduzam o seu experimento para conferir seus resultados ou
mesmo aplicá-lo em outros grupos. A transcrição do processo de medição é um aspecto
essencial de qualquer documento científico, e compõem o que costuma ser uma porção
substancial da seção dos Materiais e Métodos
Uma segunda requisição básica do processo de medição é que o resultado seja
reprodutível. Isto significa que, tendo em mãos um processo operacionalmente bem
definido, o que se espera é que, dado o mesmo equipamento e as mesmas condições
iniciais, o resultado seja o mesmo em diferentes repetições do processo, seja pelo mesmo
individuo, seja por pesquisadores diferentes. Em fisiologia comparada a questão de
reprodutibilidade (ou precisão) é mais complexa do que em outros ramos da biologia, como
morfologia. Ao passo que podemos perfeitamente pegar o mesmo paquímetro e medir o
mesmo animal diversas vezes e pedir para que outros façam o mesmo (obtendo resultados
similares), o mesmo não é possível para muitos fenômenos fisiológicos; não se espera que
a medição do metabolismo de repouso de um animal realizado em um dia seja equivalente à
medição realizada em outra hora desse dia, quiçá em outros dias. Isso ocorre pelo caráter
complexo e temporalmente restrito de muitos destes fenômenos e a interação desses
fenômenos com outros sistemas biológicos, um ponto que será melhor explorado mais
abaixo.
Um terceiro fator é o que chamaremos de validade, e refere-se à capacidade de
dada medida de estimar os valores “verdadeiros” da variável sob avaliação. Tal
característica, apesar de poder estar fortemente associada à reprodutibilidade, não deve ser
confundida com esta última e, apesar de uma alta validade e uma alta reprodutibilidade
serem muito importantes para uma medida, esses fatores revelam características distintas
sobre o processo de medição. Para ilustrar o ponto podemos imaginar dois soldados com
um alvo na sua frente (Fig. 2). Ambos são exímios franco-atiradores e são capazes de
acertar no centro do alvo quase que 100% das vezes. O fato de eles acertarem no mesmo
ponto, ou pelo menos quase no mesmo ponto, indica um alto grau de reprodutibilidade das
suas habilidades. Porém, se a mira de ambos estiver levemente deslocada no mesmo
sentido, isso pode significar que ambos os atiradores conseguirão repetir o procedimento
com um alto grau de reprodução, acertando em pontos similares, porém errando o alvo
“real”, que é o centro (2B). Uma alta validade só seria atingida quando ambos conseguissem
acertar não apenas no mesmo ponto, mas também no alvo designado (2A). Essa pode
parecer uma distinção pouco lógica, porém o problema se torna óbvio quando recorremos a
qualquer medição que necessita de calibração: sem a calibração o equipamento pode ser
igualmente preciso, no sentido de que os resultados são reprodutíveis, porem o valor obtido
não reflete a realidade, tornando o procedimento como um todo inválido. Podemos ainda
conceber medidas com reprodutibilidade reduzida e alta validade (2C). Um caso trivial de
uma medição deste tipo é o uso de uma simples régua para medir o tamanho de um objeto.
Réguas costumam apresentar uma precisão em termos de casas decimais, o que diminui a
reprodutibilidade da medida, uma vez que medidores diferentes podem arredondar as
medidas de forma distinta. Adicionalmente cada medidor varia, mesmo que levemente, em
seu estilo de medida, introduzindo assim um erro de medição que, adicionado ao
arredondamento, diminui a reprodutibilidade ainda mais. Entretanto a validade da medida
em si é inalterada, uma vez que sabemos que há uma estrutura a ser medida e que uma
régua reflete, de certa forma, a realidade dessa grandeza. A validade da medida só seria
alterada, por exemplo, se a distancia entre as marcas da régua não fossem equivalentes ao
que se espera.
Figura 2. Representação da reprodutibilidade e
da validade de uma medição como tiro ao alvo. A)
Procedimento com alta reprodutibilidade e alta
validade B) Procedimento com baixa validade,
porém alta reprodutibilidade. C) Procedimento
com alta validade, porém com reprodutibilidade
reduzida. D) Procedimento com reprodutibilidade
baixíssima, dificultando o grau de validade.
Figura 3. Exemplo da investigação entre a relação do estresse em lobos-guará (C. brachyurus) e área
de vida e a influencia de baixa amostragem na corroboração ou falseamento de hipóteses.
indivíduos. Isso fica nítido em casos mais extremos, como a tentativa de se estimar o gasto
energético médio de duas espécies de anuros, sendo que agrupamos girinos e sapos
adultos em uma mesma amostra. Isso não faz sentido uma vez que sabemos da existência
de um fator (metamorfose) que diferencia esses organismos em duas categorias distintas.
Para solucionar possíveis problemas, uma possibilidade é tentar comparar estágios
ontogenéticos similares entre os grupos sob estudo. Apesar disso não ser tão apropriado
quanto, digamos, registrar a idade de cada indivíduo, é uma abordagem prática que
costuma ser bem aceita, e viabiliza o estudo de animais coletados em campo, sobre a idade
dos quais não possuímos informação exata.
própria entrada na Wikipédia em inglês, assim como seus dois maiores proponentes: Joseph
Felsestein e Theodore Garland, Jr. Não iremos nos alongar nesse tópico devido a sua
complexidade e extensão (ver capítulo o livro do Curso de Inverno 2008 sobre métodos
comparativos disponível na página do Curso de Inverno), mas é bom que o aluno tenha em
mente que a estrutura da variação filogenética é um fator de variação que deve ser
considerado nas análises. Aos interessados fica a sugestão de consultar não apenas o
capítulo e as entradas na Wikipédia, mas também os artigos de Garland Jr. e col. (2005) e
Freckleton e Jetz (2008) para algumas revisões completas sobre o assunto.
É importante notar que os quatro fatores citados podem agir em conjunção
adicionando variabilidade em nossas amostras. Ou seja, mesmo que consigamos controlá-
los de alguma forma, sempre esperamos o surgimento de variação não explicada, dado o
numero de interações possíveis entre os diversos componentes dos sistemas biológicos.
Animais podem diferir em fenótipo, por exemplo, exatamente pela maturação diferencial de
diferentes sistemas do organismo, causada por bases genéticas ou ambientais. Esse
desenvolvimento diferencial, por sua vez, afeta outros sistemas de forma imprevisível (dada
a complexidade do organismo) e que todas estas mudanças se estruturam
filogeneticamente. Uma prática essencial para a avaliação das origens e efeitos das
variações biológicas é a identificação e agrupamento de entidades em classes equivalentes
(agregação). Ao planejamento e execução desse procedimento damos o nome de desenho
amostral.
Desenho amostral
Podemos subdividir os tipos de pesquisas científicas em dois grandes grupos: os
experimentos controlados, que permitem o controle experimental das variáveis, e
experimentos não-controlados, que normalmente não permitem a intervenção do
pesquisador no sistema de interesse (Manly, 1991). Gradações entre essas categorias são
possíveis, como no caso da ecologia experimental, onde a grande maioria dos efeitos são
gerados por fatores que não podem ser controlados, mas mesmo assim o pesquisador se
vale de algum tipo de manipulação para responder sua pergunta (Hurlbert, 1984). Em
fisiologia comparada, entretanto, os experimentos costumam ser realizados em laboratório,
propiciando um alto grau de controle, simplificando os protocolos experimentais e amostrais.
Discutiremos a seguir brevemente três conceitos centrais para a elaboração de um
experimento fisiológico: réplicas, pseudoréplicas e tratamentos.
Réplicas são as diversas observações independentes obtidas através do processo
de mensuração. O conceito de “replicações” remete, novamente, à idéia da existência de
valores reais a serem observados na natureza, e que diferentes repetições (réplicas) do
procedimento de mensuração nos dão informação sobre estes valores. Um ponto central
desse conceito é que tais observações precisam ser independentes entre si. O motivo disso
é que se as observações apresentam algum tipo de dependência, seus valores tenderão a
ser similares, o que pode dificultar a avaliação da relação entre as variáveis de interesse
escolhidas. Quando isso ocorre, dizemos que nossas medições não são réplicas reais, mas
sim pseudoréplicas. A existência de pseudoreplicação é extremamente comum em
investigações fisiológicas e normalmente decorrem da falta de controle de alguma fonte de
variação biológica, como as descritas previamente. A falta de controle experimental,
entretanto, não necessariamente causa a introdução de pseudoréplicas (apesar de
necessariamente diminuir a reprodutibilidade das observações). Isso só ocorre quando há
estruturação da variação não controlada.
Quando falamos de tratamentos imediatamente evocamos imagens de cientistas
ministrando diferentes substâncias em cobaias de laboratório, a fim de verificar o efeito da
substancia na fisiologia do animal. Apesar de esta imagem não estar incorreta, ela é
limitada: um tratamento é toda e qualquer alteração do estado original dos objetos sob
investigação, podendo ou não ser diretamente causada pelo pesquisador. Sendo assim,
essa definição abrange não apenas variações manipuladas pelo pesquisador, como aquelas
introduzidas por fontes de variações naturais, como por exemplo milhões de anos de
evolução, estágios ontogenéticos etc. Nesse contexto a problemática das pseudoréplicas se
torna clara, pois se suas observações são influenciadas por uma fonte de variação não
controlada que se correlaciona com seu tratamento, a identificação de um sinal não significa
necessariamente que seu tratamento causou alguma alteração nas medições, uma vez que
o sinal pode ter sido causado pelo fator não controlado. No exemplo do lobo-guará da figura
3, caso o tamanho da área de vida (tratamento) fosse diretamente relacionado com a
densidade de lobos-guará na região, não saberíamos se os animais estão mais estressados
pela diminuição da área de vida ou se o stress é causado pelo freqüente confronto com con-
específicos. Uma forma de minimizar efeitos indesejados é a utilização de controles
(administração de um tratamento com efeito nulo) e a aleatorização dos tratamentos
(alocação aleatória de tratamentos às unidades experimentais).
As armadilhas de um desenho experimental mal construído são diversas e a
literatura sobre o assunto é extensa. Não existem receitas únicas para esses problemas, o
que acaba complicando sua avaliação (ver Manly, 1991). De fato a publicação de trabalhos
com erros metodológicos não é um evento raro (Hurlbert, 1984), e é sempre importante
mantermos em aberto a possibilidade de revermos nossos métodos. A construção de uma
metodologia coesa e bem estruturada é uma das premissas essenciais para a utilização de
testes estatísticos na investigação científica.
Testes estatísticos
Como vimos anteriormente, os sistemas biológicos apresentam múltiplas fontes de
variação. Na prática, essa variabilidade dificulta a inferência de padrões e processos
fisiológicos, uma vez que as variações naturais dos indivíduos podem se confundir com os
efeitos dos tratamentos. Na figura 5 temos o exemplo da investigação da taxa de consumo
de alimentos de duas variedades de uma população natural de roedores. Hipotetizou-se que
a variedade melânica estaria melhor adaptada a ambientes de baixa incidência solar,
gastando menos energia para a termorregulação, necessitando consumir menos alimento. A
simples inspeção do padrão de variação das medições não é o suficiente para inferir se há,
de fato, uma diferença entre as populações, uma vez que, apesar dd os animais não-
melânicos aparentemente apresentarem uma tendência para valores maiores, alguns
animais melânicos apresentam valores tão altos quanto, ou até mais altos que os não-
melânicos. Esse padrão de distribuição de dados é muito comum em sistemas biológicos e é
uma das principais motivações para o emprego de testes estatísticos em nossas pesquisas.
Figura 5. Consumo de alimento diário em gramas de alimento por 100 gramas de peso do animal por
dia em dois morfótipos de uma espécie de roedores. Como saber se existe diferença significativa
entre os grupos?
Por exemplo, voltando ao exemplo da figura 5 poderíamos dizer que temos uma
hipótese científica: a cor da pelagem (tratamento) influencia no consumo de alimentos. Para
testar a diferença entre os grupos, poderíamos obter estatísticas que expressem essa
diferença, como por exemplo a diferença entre as médias. Sabemos, entretanto, que nem
sempre uma média é estimada com perfeição, uma vez que existem fatores que podem
influenciar nessa estimativa (problemas de medição, variação biológica, baixa amostragem,
etc). Como saber, então, se tais grupos são diferentes?
sendo XD a média das diferenças entre os grupos, sD o desvio padrão das diferenças, 0 o
valor da diferença na hipótese nula (normalmente 0) e n o número de observações. Dessa
fórmula podemos inferir que quando a média das diferenças tende a 0, o valor da
estatística tende à zero também. De forma análoga, quando a variação dessas diferenças
tende a valores altos, t tende a diminuir. Isso significa que valores baixos de t indicam que o
tratamento ou não está afetando as médias da variável, ou que não está afetando os
indivíduos de maneira uniforme.
sendo s12 a variância da medida entre os grupos (variância entre as médias dos grupos) e
s22 a variância intra-grupo (variância interna a cada grupo). Sendo assim, ao usar a
estatística F para avaliar a diferença entre os grupos nós levamos em conta a variação
interna desses grupos como fator de normalização.
A figura 9 apresenta a representação gráfica de um teste ANOVA. Note que as
observações devem ser independentes e podem estar distribuídas por um número grande
de tratamentos. Esse tipo de teste pode ser aplicado em experimentos mais complexos
onde há a avaliação de diversos tratamentos distintos sobre uma mesma variável,
normalmente com a introdução de um grupo controle. Um dos reveses deste tipo de
abordagem é que ele não permite a identificação de quais grupos são diferentes entre si,
par-a-par. Ou seja, apesar do teste permitir a avaliação de experimentos complexos, há uma
perda de informação que deve ser levada em conta quando se opta por esse teste.
Figura 10. Representação gráfica de uma análise de regressão. A linha tracejada representa a
equação escrita no canto inferior direito da figura e mostra a relação entre a variável dependente (y) e
a independente (x). A estatística F apresenta valor significativo, o que indica que podemos rejeitar a
hipótese nula de não correlação entre as variáveis. Entretanto é importante notar que esse resultado
não indica que a reta estimada apresenta a real relação, ou que ela pode ser usada para obter
valores não observados da variável dependente a partir da variável independente, uma vez que a
dispersão das observações no entorno da reta pode ser muito grande. Outros parâmetros, como
estatísticas de ajuste podem ser utilizados para avaliar se esse tipo de extrapolação é possível.
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