George Vale Owen - A Vida Além Do Véu - Livro 1

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A Vida Além do Véu

Mensagens de Espíritos
recebidas e ordenadas por

Reverendo George Vale Owen

The Life Beyond the Veil


1926

LIVRO 1
Os Planos Inferiores do Céu
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 3
Conteúdo resumido

O presente volume faz parte de uma


série de obras intitulada “A Vida Além do
Véu”, cujos títulos individuais são relaciona-
dos logo em seguida a este resumo.
No todo elas constituem uma descrição
da vida no mundo espiritual, além de
mensagens e conselhos, ditados por
diferentes Espíritos ao Rev. George Vale
Owen. Seus principais colaboradores do
plano espiritual são sua mãe e o seu guia
espiritual.
O autor narra as condições da vida no
além, as diversas atividades dos seres
libertos do corpo material, a evolução do
Espírito no plano espiritual, a assistência
aos Espíritos que vivem nos planos inferio-
res, as diferentes esferas espirituais, os
trabalhos dos abnegados missionários dos
planos superiores, entre outros.
O objetivo da obra é demonstrar a reali-
dade da vida após a extinção do corpo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 4
material, a imortalidade da alma e a comu-
nicabilidade dos Espíritos com o nosso
plano de existência física.

***
Os Escritos de George Vale Owen fo-
ram publicados em cinco volumes, sob o
título geral de “A Vida Além do Véu”.
Os livros que compõem esta série se
denominam:

1 – “Os Planos Inferiores do Céu”


2 – “Os Altos Planos do Céu”
3 – “O Ministério do Céu”
4 – “Os Batalhões do Céu”
5 – “As Crianças do Céu” e
”Os Planos Exteriores do Céu”

O quinto volume, As Crianças do Céu e


Os Planos Exteriores do Céu, publicado
posteriormente e assumido por uma editora
diferente da dos outros quatro, foi omitido
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 5
nas reedições subseqüentes dos Escritos,
permanecendo, assim, destacado da série.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 6
Sumário

Notas Preliminares 7
Uma apreciação de Lord Northcliffe 12
Prefácio 14
Como vieram as mensagens 17
Introdução – por Sir Arthur Conan Doyle 21
Os Planos Inferiores do Céu
I – Os Planos Inferiores do Céu 28
II – Cenas mais brilhantes 80
III – Da treva para a luz 133
IV – A cidade e o reino de Castrel 178
V – Ministério angélico 229
VI – As mensagens de Astriel 271
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 7
Notas Preliminares

(Texto comum aos cinco livros da série)

A Associação Mundo Maior empreen-


deu a reedição dos quatro volumes que
compreendem os iluminados escritos
recebidos através da mediunidade do Rev
G. Vale Owen. Foi uma grande perda para o
Movimento que estes escritos tenham
estado sem reimpressão por tanto tempo,
pois é de concordância geral que nenhuma
outra comunicação da Esfera Espiritual teve
tão amplo interesse no mundo em geral.
Isto é devido em parte, sabemos, à extensi-
va publicidade que lhes foi dada pelo
grande jornalista Lord Northcliffe que,
ignorando o preconceito geral e o cinismo,
olhando para as possibilidades de tais
comunicações, publicou-as em série no
“The Weekly Dispatch” em 1920-21, e
gastou muito dinheiro para sua divulgação.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 8
É natural a pergunta: “Como essas
mensagens espirituais foram recebidas?” A
resposta é dada pelo próprio Vale Owen
adiante, no tópico “Como vieram as mensa-
gens”.
Aí vem a próxima pergunta: “Como era
esse clérigo?” Aqueles que não conhece-
ram Vale Owen podem bem achá-lo um
sonhador, um homem apartado das coisas
comuns da vida diária – um santo ou um
asceta. Mas embora todos os que conhece-
ram Vale Owen pessoalmente não tivessem
dúvida de sua espiritualidade, não concor-
dariam com que alguém dissesse que “vivia
nas nuvens”; ao contrário, ele foi alguém
que precisava de amor humano e da alegria
da vida física.
Estamos muito gratos, portanto, ao Re-
verendo G. Eustace Owen por dar-nos os
poucos detalhes sobre seu pai, os quais
mostram que ele foi um homem prático,
com senso de humor e uma grande tolerân-
cia pelas fraquezas dos outros, o que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 9
significa que ele foi tanto um bom compa-
nheiro quanto um bom cristão.
O Reverendo Eustace Owen escreve:
“Em seu livro Com Northcliffe na Rua
Fleet, J. A Hammerton alude ao Reverendo
Vale Owen como “aquele visionário típico
do tipo meio cristão, meio espiritualista”.
Essa visão é comum a muitos dos que o
conheceram através de seus escritos; mas
não é um retrato verdadeiro. Meu pai foi um
visionário sem ser excêntrico. Embora
tivesse uma visão clara da base espiritual
da vida, ele foi em geral prático e metódico
em todo seu modo de ser.
“Eu me lembro de quão gentilmente ele
se relacionava com outros, de quão franco
era em argumentar, de sua tolerância com
os oponentes, e de como suportava as
perseguições com imensa paciência. Muitas
vezes a espada de um oponente era
neutralizada por sua compreensão a
respeito daquele que a manejava! Entretan-
to ele podia ser severo quando necessário.
Qualquer forma de crueldade despertava
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 10
sua indignação. Aos fanfarrões e intrigan-
tes, ele transformou-se em um verdadeiro
Elias!
“Jamais conheci alguém mais direto em
seus pensamentos e palavras, ou alguém
que detestasse impostores mais que ele.
Sob sua suavidade repousava a dureza de
um bom soldado da Cruz. Ele agüentou
sem vacilar o desprezo e as perseguições.
A quietude às vezes encobre uma rara
coragem.
“No livro Ele riu na Rua Fleet, Bernard
Falk descreve um encontro entre Lord
Northcliffe e meu pai, no escritório do “The
Times”, quando aquele lhe ofereceu para
que aceitasse mil libras pela publicação de
extrato dos Escritos no “Weekly Dispatch.”
Ele continua:
“Vale Owen balançou sua cabeça. Por
esta parte de seus escritos, dizia ele, não
poderia aceitar nenhum dinheiro. Ele foi
bem pago pela publicidade que lhe foi
dirigida, e por ser capaz de cumprir a
sagrada tarefa de expor suas revelações
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 11
diante do mundo. Conhecendo bem a
pobreza de Vale Owen, fiquei genuinamente
triste ao vê-lo recusar pagamento, mas
nada o dissuadiu...”
Reverendo G. Eustace Owen acrescen-
ta:
“Toda nossa família está satisfeita por
não terem deixado os Escritos permanece-
rem em esquecimento. A nova geração
precisa, particularmente, do conforto e da
luz de sua mensagem. Estamos muito
felizes por O Mundo Maior ter empreendido
esta reedição tão compreensiva e corajo-
samente. Possa tal confiança ser justificada
e seu trabalho abençoado!”
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 12
Uma apreciação de Lord Northcliffe

(Texto comum aos cinco livros da série)

Não tive oportunidade de ler A Vida a-


lém do Véu por inteiro, mas dentre as
passagens em que percorri os olhos, muitas
são de grande beleza.
Parece-me que a personalidade do Re-
verendo G. Vale Owen é assunto de
profunda importância e deve ser considera-
da em conexão com estes documentos tão
marcantes. Durante o breve encontro que
tivemos, senti que estava na presença de
um homem com sinceridade e convicção.
Não clamava por nenhuma retribuição
material. Expressou o desejo de que a
publicidade fosse a menor possível, e
declinou qualquer emolumento que pudesse
receber como resultado do enorme interes-
se alcançado pelo público por estes Escri-
tos, no mundo inteiro.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 13
Northcliffe
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 14
Prefácio

(Texto comum aos cinco livros da série)

Estes Escritos – transmitidos por escrita


automática ou, mais corretamente, por
escrita inspirada – apresenta quatro partes
distintas, todas, entretanto, formando um
todo progressivo. Foi, bem evidentemente,
tudo planejado anteriormente por aqueles
que se incumbiram de sua transmissão.
O elo entre mãe e filho foi, sem dúvida,
considerado como a via mais desejada pela
qual se abririam as comunicações em
primeira instância. Foram, portanto, minha
mãe e um grupo de amigos que me
transmitiram a primeira parte.
Em se provando que o experimento foi
um sucesso, apresentou-se outro professor,
chamado Astriel, um dos de maior gradua-
ção, de pensamento mais filosófico e
melhor dicção. As mensagens transmitidas
pelo grupo de minha mãe e Astriel formam o
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 15
primeiro livro dos Escritos, Os Planos
Inferiores do Céu.
Tendo passado por esse teste, fui guia-
do por Zabdiel, cujas mensagens estão num
nível superior àquelas narrativas simples de
minha mãe. Estas formam Os Altos Planos
do Céu.
A fase seguinte foi O Ministério do Céu,
transmitido por aquele que identificou a si
próprio como Líder, e seu grupo. Subse-
qüentemente, ele parece ter assumido, mais
ou menos, o controle exclusivo da comuni-
cação. Aí, ele fala de si mesmo como sendo
“Arnel”. Sob este nome, sua narrativa, a
qual forma o quarto livro, Os Batalhões do
Céu, é o clímax do todo. Suas mensagens
são de uma natureza mais intensa que
qualquer outra precedente, as quais foram,
evidentemente, preparatórias.
Será óbvio que, para se obter a verda-
deira perspectiva, os livros devam ser lidos
na seqüência dada acima. De outro modo,
algumas das referências nos volumes
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 16
posteriores aos incidentes narrados anteri-
ormente podem não ficar bem claros.
No que concerne aos personagens na
transmissão das mensagens: minha mãe
passou para a vida maior em 1909, com 63
anos de idade. Astriel foi Diretor de uma
escola em Warwick nos meados do século
XVIII. Da vida terrestre de Zabdiel, sei
pouco e nada certo. Arnel dá alguma
explicação dele mesmo nos textos. Kathle-
en, que atuou como amanuense no lado
espiritual, viveu em Anfield, Liverpool. Ela
foi costureira e morreu com a idade de 28
anos, aproximadamente 3 anos antes de
minha filha Ruby, a qual é mencionada no
texto e que passou para o outro lado em
1896, com a idade de 15 meses.
Outubro, 1925
G. Vale Owen
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 17
Como vieram as mensagens

(Texto comum aos cinco livros da série)

Há uma opinião generalizada de que os


clérigos sejam pessoas muito crédulas. Mas
nosso treino no exercício das faculdades
críticas coloca-nos entre os mais difíceis de
se convencer quando alguma nova verdade
está em questão. Levou um quarto de
século para que me convencessem: dez
anos de que as comunicações espirituais
eram um fato, e quinze de que o fato era
legítimo e bom.
Desde o momento em que tomei esta
decisão, a resposta começou a aparecer.
Primeiro, minha esposa desenvolveu a
capacidade da escrita automática. Aí,
através dela, recebi ordens de que deveria
sentar silenciosamente, lápis na mão, e
externar quaisquer pensamentos que
parecessem vir à minha mente, projetados
ali por alguma personalidade exterior, e não
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 18
conseqüentes do exercício de minha própria
mente. A relutância retardou tudo por um
longo tempo, mas finalmente senti que
amigos estavam perto, e que queriam,
muito seriamente, falar comigo. De nenhum
forma sobrepuseram ou compeliram minha
vontade – isto teria resolvido o assunto
rapidamente, tanto quanto posso compre-
ender –, mas suas vontades eram mais
claras ainda.
Senti finalmente que deveria dar-lhes
uma oportunidade, porque estava tomado
pelo sentimento de que a influência era boa,
portanto, enfim, muito cheio de dúvida,
decidi me sentar em minha batina, na
sacristia, depois das vésperas.
As primeiras quatro ou cinco mensa-
gens vagaram, sem rumo certo, de um
assunto a outro. Mas gradualmente as
sentenças começaram a tomar forma
consecutiva, e finalmente obtive algumas
que eram compreensíveis. Daquele tempo
em diante, a desenvoltura melhorou com a
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 19
prática. O leitor encontrará o resultado nas
páginas seguintes.
Outono, 1925
G. Vale Owen
***
Antes de começar a escrever, o senhor
Vale Owen numerava uma quantidade de
folhas de papel, que colocava diante de si,
na mesa da sacristia. Então, usando uma
pálida luz de vela para iluminar a primeira
folha de papel, ele esperava, com o lápis
em sua mão, até sentir as influências que o
faziam escrever. Uma vez começada, a
influência mantinha-se ininterrupta até que
a mensagem daquela noite fosse concluída
pelo comunicador. As palavras da mensa-
gem vinham numa corrente que fluía e eram
postas juntas como se o escritor estivesse
tentando acompanhar o ritmo da comunica-
ção que estava sendo impressa em sua
mente. Uma reprodução de uma página dos
escritos foi dada no volume I de “A Vida
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 20
Além do Véu”, que é Os Planos Inferiores
do Céu.
H.W.E.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 21
Introdução

por Sir Arthur Conan Doyle

(Texto comum aos cinco livros da série)

A longa batalha está próxima do fim. O


futuro pode ser sondado. Pode ser retarda-
do a muitos, e a muitos ser um desaponta-
mento, mas o fim é certo.
Sempre pareceu certo àqueles que es-
tão em contato com a verdade que, se os
documentos inspirados das novas revela-
ções realmente chegassem às mãos do
público em massa, todos teriam ainda mais
certeza, por sua beleza inata e pela
racionalidade que varre para longe todas as
dúvidas e todos os preconceitos.
Agora a publicidade mundial já os está
levando a todos, tendo sido selecionados
dentre eles os mais puros, os mais eleva-
dos, os mais completos, os mais dignos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 22
provindos da fonte. Verdadeiramente, a
mão de Deus está aqui!
A narrativa está à sua frente, e pronta
para falar por si própria. Não a julgue
meramente pelo folhear das páginas,
arrogantemente como isso poderia ser, mas
note cada beleza que flui da narrativa e
firmemente vai tomando volume até alcan-
çar um nível de grandeza substancial.
Não censure por detalhes ínfimos, mas
julgue-a pela impressão geral. Evite encarar
algo indevidamente por ser tudo novo ou
estranho.
Lembre-se de que não há narrativa na
Terra, nem mesmo a mais sagrada de
todas, que não deixaria de tornar-se ridícula
pela extração de passagens de seu contex-
to e por se adensar o que é imaterial. O
efeito total em sua mente e em sua alma é
o único parâmetro para se julgar o alcance
e poder desta revelação.
Por que Deus teria selado as fontes de
inspiração de dois mil anos atrás? Que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 23
garantia temos nós, em qualquer lugar, para
uma convicção tão sobrenatural?
Não é infinitamente mais razoável que
um Deus vivo continuasse mostrando uma
força atuante, e aquele saudável socorro e
a sabedoria que emanam d’Ele para
fomentar a evolução e o poder, aumentados
em compreensão por uma natureza humana
mais receptiva, agora purificada pelo
sofrimento?
Todas essas maravilhas e prodígios,
esses acontecimentos sobrenaturais dos
últimos 70 anos, tão óbvios e notórios que
somente olhos fechados não os veriam, são
triviais por si próprios, mas são sinais que
chamaram à atenção nossas mentes
materialistas e direcionaram-nas a estas
mensagens, das quais estes escritos em
particular podem ser tidos como sendo o
mais completo exemplo.
Há muitas outras, variando em detalhes,
de acordo com a esfera descrita ou a
opacidade de seu transmissor, pois cada
um dá toques de luz para maior ou menor
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 24
intensidade, conforme vai passando a
mensagem. Somente com espírito puro será
possível que os ensinamentos sejam
recebidos absolutamente puros, e então
esta história de Céu deverá estar, podemos
pensar, tão próxima a isto quanto a nossa
condição de mortais permite.
E são subversivos às velhas crenças?
Milhares de vezes, não! Ampliam-nas
definindo-as, embelezando-as, completando
os vazios que sempre nos desnortearam,
mas também, exceto aos pedantes de
mente estreita para palavras esclarecedo-
ras e que perderam o contato com o
espiritual, são infinitamente renovadores e
iluminados.
Quantas frases efêmeras das Velhas
Escrituras têm agora sentido e formato
palpável? Não começamos a entender
aquela “Casa com muitas moradas” e
perceber de Paulo “a Casa que não é feita
por mãos”, mesmo quando captamos
algumas fugazes percepções daquela glória
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 25
que a mente humana não concebeu nem
sua boca pronunciou?
Tudo isso cessa de ser uma visão lon-
gínqua e torna-se real, sólida, garantida,
uma luz à frente enquanto singramos as
águas escuras do tempo, acrescentando
uma alegria profunda a nossas horas de
tristeza e secando a lágrima do pranto de
dor ao assegurar-nos de que não há
palavras que expressam a alegria que nos
espera se formos apenas verdadeiros
perante a Lei de Deus e nossos maiores
instintos.
Aqueles que interpretam mal as pala-
vras usadas dirão que Mr. Vale Owen
obteve tudo de seu subconsciente. Podem
tais pessoas explicar por que tantos outros
tiveram a mesma experiência, num grau
menos elevado?
Eu mesmo sintetizei em dois pequenos
volumes a descrição geral do outro mundo,
delineada por um grande número de fontes.
Foi feita tão independentemente da narrati-
va de Mr. Vale Owen quanto sua narrativa
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 26
foi independente da minha. Nenhum teve
acesso possível ao outro. E ainda agora,
enquanto leio esta, de concepção maior e
mais detalhada, não encontro nem um
simples ponto relevante no qual eu tenha
cometido alguma incorreção.
Como, então, essa concordância é pos-
sível se o esquema geral não estiver
baseado numa verdade inspirada?
O mundo precisa de uma força conduto-
ra mais poderosa. Tem sido regido por
velhas inspirações da mesma forma que um
trem anda quando a sua máquina é removi-
da. É necessário um novo impulso. Se a
religião tem sido um fator impulsor, então
ela própria deveria ter se imposto no maior
assunto de todos – os relacionamentos
entre as nações – e a recente guerra teria
sido impossível. Qual igreja há que se saia
bem neste supremo teste? Não está
manifesto que as coisas do espírito preci-
sam ser restabelecidas e religadas aos
fatos da vida?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 27
Uma nova era está começando. Aque-
les que estejam trabalhando por isto podem
ser desculpados se sentirem alguma
sensação de satisfação reverente à medida
que vêem as verdades pelas quais trabalha-
ram e testificaram ganhando atenção mais
ampla no mundo. Não é ocasião para uma
autodeclaração, pois cada homem ou
mulher que foi honrado por ter sido permiti-
do a eles trabalharem por tal causa é bem
consciente de que ele ou ela é nada mais
que um agente nas mãos das invisíveis –
mas muito reais –, amplas e dominadoras
forças. E ainda, não seríamos humanos se
não ficássemos aliviados ao vermos novas
fontes de poder, e ao percebermos que a
toda-preciosa embarcação está segura,
mais firme do que nunca, em seu curso.
Arthur Conan Doyle
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 28

Os Planos Inferiores do Céu

Capítulo I

Os Planos Inferiores do Céu

Terça, 23 de setembro de 1913.


Quem está aí? 1
Mamãe e outros amigos que vieram a-
judar. Estamos progredindo muito bem, mas
não podemos transmitir-lhe todas as
palavras que gostaríamos ainda, pois sua

11
As palavras e comentários do Rev. Vale Owen
estão em itálico.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 29
mente não está relaxada e passiva como
gostaríamos.
Diga-me alguma coisa sobre seu lar e
sua ocupação.
Nossa ocupação varia de acordo com a
necessidade daqueles a quem auxiliamos.
É variado, mas dirigido para a elevação dos
que ainda estão na vida terrena. Por
exemplo, fomos nós que sugerimos a Rose
a criação de um grupo de pessoas para
virem auxiliá-la no caso de ela sentir
qualquer perigo quando estivesse no quarto
escrevendo enquanto movíamos sua mão, e
este grupo está agora encarregado do caso
dela. Ela não sente, às vezes, a presença
deles próximos a ela? Ela deveria, porque
eles estão sempre alertas ao seu chamado.
Sobre nosso lar – É muito brilhante e
lindo, e nossos companheiros das esferas
mais altas têm sempre vindo a nós para nos
animarem a seguirmos em nosso caminho
para frente.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 30
Ocorreu um pensamento em minha
mente. Eles podem ver estes seres dos
planos mais altos, ou acontece a eles o
mesmo que conosco? Posso dizer que aqui
e ali, ao longo destes registros, o leitor
chegará a passagens que são obviamente
respostas para meus pensamentos não
expressos, usualmente começando com
“Sim” ou “Não”. Ficando isso entendido, não
haverá necessidade para que eu as indique,
a menos que alguma ilustração em particu-
lar requeira.
Sim, podemos vê-los quando desejam
que assim aconteça, mas depende do
estado de nossa evolução e do próprio
poder deles de servir a nós.
Poderia agora, por favor, descrever a
sua casa – paisagens, etc.?
A Terra aperfeiçoada. Mas é claro que
realmente existe aqui o que chamam de
quarta dimensão, de certa forma, e que nos
impede descrevê-la adequadamente.
Temos colinas, rios e lindas florestas, e
casas também, e todo o trabalho daqueles
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 31
que vieram para cá antes de nós, para
deixarem tudo pronto. Estamos agora a
trabalho, na nossa vez, construindo e
arrumando para aqueles que ainda devem
continuar sua batalha na Terra, e quando
vierem para cá encontrarão todas as coisas
prontas e a festa preparada.
Contaremos a você uma cena que pre-
senciamos não faz muito tempo. Sim, uma
cena em nosso plano. Avisaram-nos que
uma cerimônia iria acontecer numa certa
planície não muito longe de casa, à qual
deveríamos estar presentes. Era a cerimô-
nia de iniciação de alguém que havia
atravessado o portal do que chamamos
preconceito, isto é, do preconceito contra
aqueles que não eram de seu próprio modo
de entendimento, e que estava para seguir
para uma esfera mais ampla e plena de
benefícios.
Fomos para lá, conforme o convite, e
encontramos multidões chegando de todas
os lados. Alguns vieram em... por que
hesita? Estamos descrevendo literalmente o
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 32
que vimos – carruagens; chame-as de outra
forma, se quiser. Elas eram puxadas por
cavalos, e seus condutores pareciam saber
exatamente o que dizer a eles, já que não
eram guiados com arreios como são na
Terra, mas pareciam ir para onde os
condutores desejavam. Alguns chegaram a
pé e alguns através do espaço por vôo
aéreo. Não, sem asas, que não são
necessárias.
Quando estavam todos reunidos, for-
mou-se um círculo; usavam roupagem de
cor laranja, mas brilhante, não como aquele
que se adiantou, o que estava para ser
iniciado, ele usou a cor como você a
conhece; nenhuma de nossas cores é
conhecida, mas temos que lhe contar em
nossa antiga linguagem. Aquele que havia
sido seu guardião, então, levou-o pelas
mãos e colocou-o num outeiro verde no
meio do espaço aberto, e orou. E então
uma coisa linda aconteceu.
O Céu pareceu ter intensificado sua cor
– principalmente azul e dourado – e de fora
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 33
dele desceu uma nuvem semelhante a um
véu, mas que parecia ser feito de uma fina
renda, e as figuras dominantes eram
pássaros e flores – não brancos, mas todos
dourados e irradiantes. Isto lentamente se
expandiu e desceu sobre os dois, e eles
pareceram se tornar parte dele, e ele deles,
e, à medida que esvaneceu lentamente,
deixou ambos mais belos que anteriormente
– permanentemente belos, porque ambos
haviam sido elevados para uma esfera mais
alta de luz.
Então começamos a cantar, e, apesar
de que não podíamos ver instrumentos,
mesmo assim a música instrumental
misturou-se com nosso canto e uniu-se a
ele. Foi muito bonito, e serviu tanto para
galardão aos que mereceram, como
também um estímulo para os que ainda
devem marchar no caminho que estes dois
já marcharam. A música, como mais tarde
descobri, vinha de um templo instalado fora
do círculo, mas sem dúvida não parecia vir
de nenhum ponto. Esta é uma qualidade da
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 34
música por aqui. Freqüentemente parece
fazer parte da atmosfera.
Nem a jóia faltou. Quando a nuvem sa-
iu, ou dissolveu, nós a vimos na testa do
iniciado, dourada e vermelha, e seu guia,
que já tinha uma, usava a dele em seu
ombro – ombro esquerdo – e percebemos
que havia aumentado de tamanho e em
brilho. Não sei como isso acontece, mas
faço uma idéia, não o suficientemente
definida para lhe contar, entretanto, e é
difícil de explicar o que nós entendemos por
nós mesmos. Quando a cerimônia acabou,
todos nós nos separamos, indo para os
nossos trabalhos novamente. Foi mais
longa do que lhe descrevi, e teve um efeito
muito encorajador em todos nós.
Acima da colina, no lado mais distante
da planície onde estávamos, percebi uma
luz intensificar-se e apareceu-nos um
contorno lindo de uma forma humana. Não
penso que tenha sido uma aparição de
nosso Senhor, mas de algum grande Anjo
Mestre que veio para nos dar forças, e para
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 35
cumprir Sua vontade. Sem dúvida alguns ali
puderam ver mais claramente que eu,
porque conseguiam ver, e também enten-
der, na proporção do estágio de evolução
de cada um.
Não, meu menino, apenas pense por
um momento. É de sua mente ou através
dela, como dizem vocês? Quando você se
sentou para escrever, como sabe, nada
estava mais longe de seus pensamentos
que isso, porque tivemos o cuidado de não
o impressionar, e mesmo assim você saiu
rapidamente com a hipótese de que nós o
influenciamos. Não foi assim?
Sim, admito-o fracamente.
Muito bem. E agora sairemos... mas
não o deixaremos, já que estamos sempre
com você, de uma forma que não pode
compreender – mas deixaremos esta
escrita, com nossa oração e bênçãos sobre
você e os seus. Boa noite e até logo, até
amanhã.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 36
Quarta, 24 de setembro de 1913.
Suponha que quiséssemos pedir-lhe
para olhar um pouco adiante, e tentasse
imaginar o efeito de nossas comunicações,
vistas a partir de seu atual estado mental.
Pense, então, qual teria sido o resultado
dos acontecimentos, se vistos de nossa
esfera no mundo espiritual? Seria algo
parecido com o efeito da luz do sol quando
é projetada na bruma marítima, que gradu-
almente se esvai e a cena que ela envolvia
torna-se mais clara à visão, e mais bela do
que era quando foi sombriamente discerni-
da através da bruma envolvente.
Assim é que nós vemos suas mentes e,
mesmo quando o sol fugazmente ofusca e
confunde mais do que clareia a visão, você
sabe que no final será mesmo a luz, e no
fim de tudo, a Luz em Quem não há escuri-
dão jamais. Mas a luz nem sempre conduz
à paz, porém em sua passagem freqüente-
mente cria uma série de vibrações que
trazem destruição àquelas espécies de
criaturas viventes que não foram criadas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 37
para sobreviverem à luz do sol. Deixe-as
irem e, por você, siga em frente, e enquanto
seguir, seus olhos vão tornar-se acostuma-
dos à luz mais intensa, à beleza maior do
Amor de Deus, à verdadeira intensidade
dela que, misturada como está, com a
Sabedoria infinita, confunde os que não
estão pertinentes a ela.
Agora, querido filho, escute enquanto
contamos a você mais uma cena que muito
nos alegrou aqui, nestas regiões da luz de
Deus.
Estávamos passeando, pouco tempo
atrás, num local bonito, numa floresta; e
enquanto andávamos conversávamos um
pouquinho, nada mais que um pouquinho,
por causa da sensação musical que parecia
absorver tudo o mais em seu sacro silêncio.
Então, num caminho diante de nós, estava
aquele que pudemos interpretar como
sendo um anjo das esferas mais altas. Ele
ali estava olhando para nós com um sorriso
na face, mas nada dizia, então ficamos
esperando que ele entregasse alguma
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 38
mensagem para algum de nós em especial.
Era isso mesmo, já que quando paramos e
ficamos ali na expectativa, ele veio em
nossa direção e, levantando o manto que
usava – era da cor do âmbar – colocou seu
braço e rodeou meu ombro e, colocando
sua face em meu cabelo – já que ele era
muito mais alto que eu – disse suavemente,
“Minha criança, fui enviado a você por seu
Mestre, em Quem você aprendeu a crer, e a
estrada à sua frente é vista por Ele, mas
não por você. A você serão dadas as forças
necessárias para o que tiver que fazer; e
você foi escolhida para uma missão que lhe
é nova, em seu serviço aqui. Você poderá,
claro, visitar estes seus amigos se desejar,
mas agora deve deixá-los por um tempo, e
eu lhe mostrarei sua nova moradia e as
novas incumbências.”
Então os outros se aproximaram em
torno de mim, beijaram-me e seguraram
minha mão na deles. Estavam tão contentes
quanto eu – apesar de que não seja a
melhor palavra para ser usada em meu
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 39
caso, não contém a paz suficiente. Depois
de um tempo, depois que ele nos deixou
falar e imaginar o que a mensagem signifi-
caria, veio em nossa direção mais uma vez
e desta vez tomou-me pela mão e guiou-me
para fora dali.
Andamos por um tempo e então senti
meus pés deixarem o chão e seguimos pelo
ar. Não estava com medo, pois era passado
a mim um pouco de seu poder. Passamos
por cima de uma alta montanha onda havia
muitas localidades, e finalmente, depois de
uma jornada bem longa, descemos numa
cidade onde jamais tinha estado antes.
A luz não era ofuscante, mas meus o-
lhos não estavam acostumados a tal grau
de brilho. Entretanto, logo percebi que
estávamos num jardim que cercava um
amplo edifício, com degraus em toda sua
frente, até ele que estava no topo de uma
espécie de terraço. O prédio parecia todo
de uma só peça de um material de vários
matizes – rosa, azul, vermelho e amarelo –
que brilhava como ouro, mas suavemente.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 40
Subimos, e na enorme portaria, sem
nenhuma porta nela, encontramos uma
linda senhora, elegante, porém não orgu-
lhosa. Ela era o Anjo da Casa da Tristeza.
Você cogita sobre a palavra usada neste
contexto. Significa isso:
A tristeza não é dos que habitam aqui,
este é o local dos que os auxiliam. Os
tristes são os que estão na Terra, e o
encargo dos residentes nesta Casa é
mandar a eles vibrações que terão o efeito
de neutralizar as vibrações dos corações
entristecidos na Terra. Você deve entender
que aqui temos que alcançar a profundida-
de das coisas e aprender as causas de
tudo, e é um estudo muito profundo,
aprendido apenas em estágios graduais,
passo a passo. Eu, portanto, falo das
causas das coisas quando uso a palavra
“vibrações”, como sendo a palavra que você
melhor compreenderá.
Ela me recebeu muito gentilmente e
levou-me para dentro, onde mostrou-me
cada parte do lugar. Tudo era bem diferente
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 41
de qualquer coisa da Terra, por isso é
bastante difícil de descrever. Mas posso
dizer que toda a Casa parecia vibrar com
vida e responder às nossas vontades e
nossa vitalidade.
Esta é, então, minha atual e recente
fase de serviço, e muito promissora para
mim. Mas apenas acabei de começar a
entender que as orações que são trazidas a
nós aqui e registradas, e temos as visões
dos que estão em problemas – ou melhor,
elas também são registradas, e nós as
vemos ou sentimos, como aconteceram, e
enviamos nossas vibrações em retorno.
Isso com o tempo torna-se involuntário, mas
requer um grande esforço no início. Penso
que é assim. Mas mesmo o esforço tem um
abençoado reflexo sobre os que trabalham
desta forma.
Há muitos lugares por aqui, como a-
prendi, todos em contato com a Terra, o
que para mim pareceria impossível, só que,
como os efeitos são também registrados e
retornam a nós, fico sabendo de quanto
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 42
conforto e ajuda enviamos. Fico em serviço
pouco tempo de cada vez, e então saio e
vejo as vistas da cidade e sua vizinhança. E
toda ela é muito gloriosa, mais bela ainda
que minha antiga esfera, a qual também
volto a visitar, para rever meus amigos. Por
isso você pode imaginar as conversas que
temos quando nos encontramos. Dá quase
que a mesma alegria que o trabalho em si.
A Paz de Jesus nosso Senhor é a atmosfe-
ra em torno de nós. E esta é a Terra onde
não há escuridão, e quando a treva estiver
no passado, querido, você virá para cá, e
vou mostrar-lhe tudo isso – ou talvez possa
tomar-me pela mão, como ele fez, e levar-
me para ver o trabalho em sua própria
esfera. Você está pensando que sou
ambiciosa por você, querido rapaz. Bem,
sou mesmo, e esta é a maternal... fraqueza,
eu diria, ou até mesmo uma bênção?
Até logo, meu querido. Seu próprio co-
ração é testemunha de que tudo isso é real,
pois posso vê-lo brilhando feliz, e isso
também é alegria para mim, sua mãe, meu
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 43
querido filho. Boa noite então, e Deus
manterá você e os seus em paz.

Quinta, 25 de setembro de 1913.


O que mais queremos lhe dizer esta
noite é para ser entendido como uma
tentativa imperfeita de transmitir-lhe do que
é o significado daquela passagem da qual
você sempre se lembra, onde nosso Senhor
diz a São Pedro que ele é um adversário
d’Ele. Ele, como você se recordará, estava
a caminho da Cidade Santa, e esteve
dizendo a Seus Apóstolos que seria assas-
sinado ali. Agora, o que Ele evidentemente
queria passar a eles era o fato de que,
apesar de que para os homens Sua missão
parecesse terminar em falha, ainda assim
aos olhos que pudessem ver, como Ele faria
que os deles vissem, Seu fim era apenas o
começo de uma evolução muito mais
poderosa e gloriosa da missão que lhe foi
confiada pelo Pai, para a elevação do
mundo.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 44
Pedro, por sua atitude, mostrou que não
entendera isso. Está tudo claro e simples o
suficiente, pelo menos, para ser entendido.
Mas o que está freqüentemente fora da
visão é o fato de que o Cristo estava
seguindo uma linha reta de progresso, e
Sua morte foi apenas um incidente em sua
estrada progressiva, e que aquela tristeza,
como o mundo a entende, não é a antítese
da alegria, mas pode ser parte dela, porque,
se corretamente usada, torna-se o fulcro no
qual a alavanca pode se apoiar para aliviar
um peso para fora do coração daqueles que
entendem que tudo é parte de um planeja-
mento de Deus para o nosso bem. É
somente conhecendo o real “valor” da
tristeza que compreenderemos o quão
limitada é em seu efeito, enquanto nos faz
infelizes. Bem, Ele estava por infligir aos
apóstolos a maior das tristezas que Ele
poderia e, a menos que eles entendessem
isso, seriam incapazes de usarem a tristeza
para elevarem-se a si mesmos acima da
turbulência do mundo, e portanto, incapa-
zes de realizarem o trabalhão que Ele tinha
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 45
para eles cumprirem. “Sua dor deve ser
convertida em alegria,” disse-lhes Ele, e
assim aconteceu, mas apenas quando eles
aprenderam o valor científico da tristeza –
apesar de que numa medida limitada,
entretanto razoável.
Tudo isso soa muito simples quando
está escrito deste jeito, e sem dúvida é, de
certa forma, porque todos os fundamentos
da economia de Deus são simples. Mas
para nós, e agora para mim, tem uma
importância que pode não ser aparente a
vocês. Pois o problema que é principalmen-
te estudado na Casa na qual gasto a maior
parte de meu tempo é este mesmo tema,
isto é, transformar, ou converter, as vibra-
ções de tristeza em vibrações que produ-
zam alegria no coração humano. É um
estudo maravilhoso, mas muitas dúvidas
entram nele por causa das restrições
impostas a nós pelo sagrado livre arbítrio.
Nós não podemos derrogar o arbítrio de
ninguém, mas temos que trabalhar através
de suas vontades para produzirmos o efeito
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 46
desejado e ainda deixá-los livres todo o
tempo, e assim, irem merecendo, de uma
forma e em certa medida, as bênçãos
recebidas. Canso-me às vezes, mas passa,
conforme vou me fortalecendo no trabalho.
Qual é a sua pergunta? Penso que quer
formular uma.
Não, obrigado. Não tenho nenhuma
pergunta em particular em mente.
Não havia algo que queria perguntar
sobre... algo a ver com o método pelo qual
o impressionamos?
Realmente pensei em perguntar-lhe is-
so pela manhã. Mas havia esquecido.
Suponho que não haja mais nada a ser
esclarecido, não é? Eu chamaria de impres-
são mental.
Sim, é correto, tanto quanto alcance,
mas não vai muito longe. Impressão mental
é uma expressão que encobre muita coisa
que não é compreendida. Nós impressio-
namos você através destas mesmas
vibrações, algumas de natureza diversa das
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 47
outras, todas direcionadas à sua vontade.
Mas vejo que não está muito interessado
neste tema agora. Retornaremos a ele, se
quiser, em outra ocasião. Quero falar
daquelas coisas que são de seu atual
interesse.
Então conte-me mais sobre aquela sua
Casa e sobre seu novo trabalho.
Então, muito bem, tentarei fazê-lo o me-
lhor que puder. Ela é lindamente acabada,
por dentro e por fora. Internamente temos
banheiros e uma sala de música e o
aparato que nos ajuda nos registros de
nossos trabalhos. É um lugar bem amplo.
Chamei de casa, mas realmente é uma
série de casas, cada uma destinada a um
certo tipo de trabalho, progressivos como
numa série. Passamos de uma a outra
conforme aprendemos tudo o que podemos
de cada uma delas. Mas tudo é tão magnífi-
co que as pessoas não entenderiam, nem
acreditariam; portanto prefiro contar-lhe de
coisas mais simples.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 48
Os terrenos são bem amplos, e todos
têm uma espécie de relação com os
prédios, uma espécie de sensibilidade
recíproca. Por exemplo, as árvores são
árvores verdadeiras, e crescem mais do que
as árvores da Terra, e têm um relaciona-
mento com os prédios, e tipos diferentes de
árvores respondem mais a uma casa do
que outros, e ajudam no efeito e no trabalho
para os quais aquela casa em particular foi
construída. Assim é também com grupos de
árvores nos bosques, e as flores nos
canteiros dos caminhos, e os arranjos dos
regatos e cachoeiras que são encontrados
em diversas partes do local. Tudo isso foi
pensado com imensa sabedoria, e o efeito
produzido é muito belo.
A mesma coisa se obtém na Terra, mas
as vibrações lá são tão pesadas, compara-
tivamente, tanto dos que emitem quanto
dos que recebem, que o efeito é quase
invisível. Apesar disso, assim é. Por
exemplo, você sabe que algumas pessoas
conseguem plantar com sucesso mais flores
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 49
e árvores do que outras, e que as flores
permanecem vivas mais tempo em algumas
casas – e suas famílias – do que em outras;
quero dizer das flores colhidas. Tudo isso
aqui é a mesma coisa, de uma forma geral.
Aqui estas influências são mais potentes
em suas ações, e também os receptores
são mais sensíveis na percepção. E isso,
veja, é uma das coisas que nos ajudam em
diagnósticos acurados dos casos que são
registrados aqui a fim de que sejam lidados
por nós.
A atmosfera também é naturalmente
afetada pela vegetação e pelas constru-
ções, já que, deixe-me repetir, estas casas
não foram construídas meramente de forma
mecânica, mas são o desenvolvimento –
fruto, se preferir – da ação da vontade dos
mais evoluídos na hierarquia destes reinos,
e portanto de mais poderosa vontade
criativa.
A atmosfera tem também um efeito em
nossas vestimentas, e influencia as nossas
próprias personalidades por seu efeito na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 50
textura e coloração. Desta forma, se
fôssemos espiritualmente do mesmo grau,
nossa roupagem seria da mesma cor e
textura, por causa da influência atmosférica;
de fato ela é modificada na mesma gradua-
ção em que nossas características diferem
uns dos outros.
Também o matiz de nossas roupas mu-
da de acordo com a parte do terreno em
que estejamos. É muito interessante e
instrutivo, e também muito bonito, vê-las
variando de cor conforme percorremos uma
estrada onde floresce vegetação diferente,
ou onde o conjunto das várias espécies de
plantas é diferente.
A água também é muito bonita. Vocês
ouvem das ninfas das águas e sobre seres
semelhantes, na vida terrena. Bem, posso
dizer-lhe que, de certa forma, são reais.
Todo o lugar é envolvido e interpenetrado
com vida, o que significa criaturas viventes.
Eu tinha alguma idéia disso na esfera de
onde recentemente cheguei, mas aqui,
assim que me acostumei a tudo que era
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 51
estranho e novo por aqui, vejo tudo mais
amplamente e começo a imaginar o que
haverá em algumas esferas adiante. Pois o
que se imagina deste lugar parece ser o
máximo que um lugar poderia conter.
Mas, deixe estar. Ele, que é Quem nos
favorece em uma parte de Seu maravilhoso
reino, favorecer-nos-á em outra. Isto é um
conselho a você, meu filho querido, com o
qual eu o deixo agora, com minhas bên-
çãos.

Nota de George Vale Owen:


Enquanto escrevia a primeira parte des-
ta mensagem, não pude perceber a linha do
argumento, que me parecia fraca e confusa.
Ao lê-la por completo, entretanto, não posso
mais dizer isso.
Tomando o que é dito das vibrações de
tristeza como sendo meramente uma
sugestão sobre os “fundamentos,” e
aplicando nisso alguns destes raciocínios
como os da teoria que é aplicada na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 52
irradiação ondulatória de luz e calor, o
resultado seria algo como:
Ao se lidar com aquela combinação de
vibrações que causam tristeza, o método
não é tanto o de substituição como o de
reajuste. Ao direcionarmos à alma triste
outras categorias de vibrações, aquelas de
tristeza são, algumas delas, neutralizadas;
e outras são modificadas e convertidas em
outras vibrações, o efeito disso é alegria ou
paz.
Vista dessa forma, a mensagem acima
parece realmente ter significação, e pode
talvez lançar alguma luz na forma pela qual
os problemas são realmente tratados na
vida. Certamente parecem ser parte de um
método divino, não que o aspecto exterior e
as circunstâncias de tristeza devessem ser
remediadas (exceto em casos extremamen-
te raros), mas que outros elementos
deveriam ser infundidos, os quais deveriam
ter o efeito de converter a tristeza em
alegria. Isto é apenas uma questão de
observação diária. Para a mente não
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 53
científica, parecerá que está se dando uma
grande volta. A outros parecerá razoável
sugerir que estas “outras vibrações” são
vibrações reais de outra categoria ou
“valores”.
A passagem referida está em João, 16,
20: “Eu vos afirmo, e esta é verdade:
chorareis e gemereis, enquanto o mundo se
alegrará. Vós estareis na tristeza; mas
vossa tristeza se converterá em alegria.”

Sexta, 26 de setembro de 1913.


Nossa última afirmação foi dada em
resposta a um pedido de alguém de nosso
grupo, para que tentássemos impressioná-
lo numa forma mais profunda que antes,
mas conseguimos apenas começar, como
aconteceu, e não acabamos nossa expla-
nação. Se a deseja, continuaremos no tema
agora.
Sim, obrigado.
Então você deve, por uns momentos,
tentar pensar conosco como se estivesse
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 54
do nosso lado do Véu. As coisas, você deve
entender, aqui tomam um aspecto muito
diferente do que elas têm quando são vistas
a partir do plano terrestre, e um aspecto,
temo, que os que ainda na Terra desejam,
pelo menos em muitos casos, que é usar
um semblante de irrealidade e romance. E
as mínimas coisas aqui são forradas com
tanta dúvida pelos que são recém-chegados
que até que eles tenham perdido o hábito
de pensar em termos tridimensionais, ficam
impedidos de progredir para longe. E isso,
creia-me, é assunto de muita dificuldade.
Agora, o termo “vibrações” deverá ser-
vir, mas está longe de ser adequado para
as coisas materiais serem entendidas, pois
tais vibrações, como estas que menciona-
mos, não são meramente mecânicas quanto
ao seu movimento e qualidade, mas têm
nelas uma essência de vitalidade, e é dessa
vitalidade que nos apropriamos e usamos.
Esta é a ligação que conecta nossas
vontades e a manifestação exterior em
vibrações, já que é realmente isso que são
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 55
todas elas. São apenas fenômenos da vida
mais profunda que nos envolve e a todas as
coisas. Com elas, como material básico,
somos capazes de executar coisas e
construir coisas que têm uma durabilidade
que o termo em si pareceria não correspon-
der.
Por exemplo, é por esse método que a
ponte sobre o abismo entre as esferas de
luz e de trevas é construída, e aquela ponte
não é toda de uma cor só. No lado mais
distante ela está imersa na escuridão e,
conforme vai emergindo gradualmente, em
direção à região de luz, assume um matiz
cada vez mais brilhante, e onde ela está
assentada nas alturas em que começam os
planos mais luminosos, é o matiz de cor de
rosa e raios de luz que a envolvem como
uma prata rara ou ainda o alabastro.
Sim, claro, há uma ponte sobre o abis-
mo. De outra forma, como poderiam sair
aqueles que venceram os caminhos acima,
através da escuridão? Verdadeiramente – e
eu havia esquecido isso – há alguns que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 56
vêm dos terríveis reinos da escuridão e
escalam as regiões deste lado do abismo.
Mas esses são poucos, e são os obstinados
que rejeitam ajuda e guia dos guardiães do
caminho que ficam parados no lado mais
distante, para mostrar a saída aos que se
qualificaram a isso.
Também, devem saber, esses guardi-
ães somente são visíveis a essas pobres
pessoas na proporção em que a luz foi
gerada em seus corações; e por isso uma
certa cota de confiança é necessária se se
entregarem à sua guarda. Essa confiança
também acontece quando atingem uma
mentalidade melhor, pela qual se tornaram,
em certo grau, capazes de discernir entre
luz e treva. Bem, as complicações do
espírito humano são múltiplas e espanto-
sas, portanto vamos a algo mais fácil de ser
colocado em palavras. Eu acabo de chamar
de ponte, mas... eu deveria ter me referido
a uma passagem, “A luz do corpo é o vosso
olhar.” Leia isso ligando a tudo, e verá que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 57
faz parte do caso, não somente na Terra,
mas dos daqui também.
Eu chamei de ponte mas, de fato, tem
pouco a ver com uma ponte na Terra. Essas
regiões são muitos vastas, e a ponte é mais
uma variação do terreno que outra coisa a
mais que eu pudesse pensar para expres-
sar a você. E lembre-se de que eu apenas
vi uma pequena parte dessas esferas, e por
isso conto a você da parte que conheço.
Sem dúvida há outros abismos e pontes –
provavelmente numerosos. Através do
precipício, ou da ponte, então, aqueles que
buscam a luz empreendem sua jornada, e a
jornada é bem lenta, e há muitas casas de
repouso onde eles podem descansar, de
vez em quando, em sua viagem progressi-
va; mudam de um para outro grupo de anjos
mantenedores, até que o último estágio
entregue-os aqui deste lado. Nosso trabalho
na casa, ou colônia, à qual agora pertenço,
é também direcionado a esses espíritos que
progrediram até aqui, tanto quanto aos da
Terra. Mas este é um departamento diferen-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 58
te do meu, atualmente. Ainda não fui tão
longe em meus estudos. É mais difícil,
porque as influências em torno dos que
estão nas trevas aqui são muito mais
danosas do que as influências na Terra,
onde boas influências estão sempre se
mesclando com as más. Somente quando
as pessoas carentes e enfraquecidas
chegam até aqui é que percebem a terrível
tarefa diante delas, e esse é o porquê de
tantos permanecerem por tanto tempo
numa condição de desesperança e deses-
pero.
Quando estão a salvo sobre a ponte,
eles são recebidos por esses nas encostas
onde a grama e as árvores crescem, e
ficam estupefatos pelo prazer, em vez de se
prepararem gradualmente. Pois ainda não
estão acostumados ao amor e sua doçura,
depois das experiências adversas lá
embaixo.
Eu disse que essa ponte se assentava
nas alturas; falava comparativamente. O
local da chegada é mais alto comparando
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 59
com as regiões de escuridão lá embaixo.
Mas, de fato, é região baixa; o plano mais
baixo sem dúvida, da região celeste.
Você está pensando na “garganta pro-
funda”, ou precipício, “descritos” na Parábo-
la. Está quase de acordo com o que lhe
descrevi, e você já teve essa explanação
em outro local. Também a razão pela qual
estes que chegam fazem isso, em vez de
atingirem este lado por viagem aérea, ou
“vôo”, como talvez você chamaria, é porque
eles não são capazes de completar a
jornada dessa forma por causa de sua fraca
espiritualidade. Se eles tentassem isso,
cairiam no vale escuro, perdendo então seu
caminho.
Não fui longe nessas regiões escuras,
mas fiz uma pequena parte do percurso, e a
miséria que vi foi mais que suficiente por
bastante tempo. Quando eu progredir no
atual trabalho e tiver por algum tempo
ajudado essas pobres almas lá do ponto
avantajado daquela casa, se tiver permis-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 60
são – e provavelmente terei –, irei mais
adiante entre eles. Mas não é para agora.
Uma coisa mais eu posso dizer – já que
por agora devemos parar. Quando eles
surgem e chegam até a outra extremidade
da ponte, devo dizer-lhe que o barulho que
é ouvido, vindo por detrás deles, é horrível,
e fagulhas vermelhas incandescentes são
vistas. O que causa isso não sou capaz de
explicar claramente, mas nos dizem que os
gritos, uivos e lamentações, e também as
fagulhas, são enviadas por aqueles que
ficaram para trás, que ficam enraivecidos
por sua impotência de recapturar o fugitivo,
ou de retê-lo em sua fuga; porque o mal é
sempre impotente diante do bem, mesmo
que o bem seja bem pequeno ao final das
contas. Mas não devo continuar mais por
agora, e o que estou dizendo agora não é o
que vi pessoalmente, mas ouvi dizer, isto é,
foi dado a você de segunda mão, mas é
verdadeiro, apesar de tudo.
Boa noite, meu querido filho, e possa o
Pai de Todos cobrir com Sua luz e paz a
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 61
você e aos seus. Possa você ver luz na Sua
luz, e o brilho daquela luz seja de uma
aurora de paz.

Sábado, 27 de setembro de 1913.


Eu pediria aos meus amigos para que
tentassem impressionar-me mais vivida-
mente...
Quase não é necessário que tenhamos
o cuidado de impressioná-lo mais vivida-
mente do que já fizemos, pois direcionamos
as mensagens da forma como as deseja-
mos para ajudá-lo a conceber alguma coisa
de nossas vidas, das condições que por
aqui prevalecem. Apenas acrescentaríamos
algo que precisa estar bem claro a você: é
que quando chegamos até aqui, não
estamos em nosso elemento próprio, mas
num elemento que é natural a você e bruma
para nós, e através dela temos que traba-
lhar o melhor que podemos.
Vocês podem me ver enquanto estou
aqui sentado escrevendo?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 62
Realmente vemos você, mas com olhos
diferentes dos seus. Nossos olhos não
estão acostumados ao efeito da luz que
vocês têm na Terra. Nossa luz é de um tipo
diferente, uma espécie de elemento inter-
penetrante pelo qual somos capazes de
discernir o mais íntimo de sua mente, e é
por ela que conversamos – com você
mesmo, e não, é claro, com os seus
ouvidos exteriores. Por isso é você mesmo
que vemos, e não seu corpo material, o
qual é apenas uma vestimenta envolvente.
Quando o tocamos, entretanto, você não
sente o toque fisicamente, mas espiritual-
mente, e se deseja apreender nosso toque,
terá que mantê-lo na mente e olhar mais
profundamente do que o corpo e o cérebro
mecânico dele.
Você gostaria de saber algo mais sobre
a forma que trabalhamos aqui e as condi-
ções em que usamos nossa vida. Não são
todos os que vêm para cá que podem
entender uma das verdades elementares
que é necessário assimilar para se progre-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 63
dir: que Deus não é mais visível aqui do que
na vida terrena. Esperam encontrá-Lo
pessoalmente, e ficam muito desapontados
quando lhes contam que esta é uma idéia
errônea sobre a forma com que Ele age
sobre nós. A vida e a beleza d’Ele são
quase aparentes na Terra para aqueles que
conseguem olhar mais profundo do que a
aparência externa. Assim é aqui também,
com esta modificação: a vida aqui é mais
tangível e mais fácil de ser percebida e
usada por aqueles que estudam sua
natureza, e em tudo em torno de nós ela
palpita, e nós, estando num estado mais
sensível, podemos senti-la mais do que
quando estivemos na vida da Terra. Ainda
mais, tendo dito isso de forma genérica, é
verdadeiro dizer que, de vez em quando,
manifestações da Presença Divina nos são
dadas, quando por algum propósito em
particular se faz necessário; e uma dessas,
passo a contar-lhe agora.
Fomos chamados a uma parte desta
região onde muitas pessoas deveriam estar
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 64
reunidas, de diferentes credos, crenças e
localidades. Quando chegamos, vimos que
um grupo de espíritos missionários havia
retornado de seu período de compromissos
numa região fronteiriça da esfera terrestre,
onde estiveram trabalhando com almas
recém-chegadas que não percebiam que
haviam atravessado a linha demarcatória
entre a Terra e o mundo espiritual. Muitos
eram luminosos, mas foram trazidos ao
local para que se encontrassem conosco
numa ação de graças, antes de seguirem
aos seus próprios planos. Eram de idade
variada, já que os velhos não haviam
progredido ainda para tornarem-se jovens e
vigorosos novamente; os jovens não haviam
atingido a idade plena. Todos estavam
reunidos com muita expectativa e, conforme
os grupos desses novos companheiros
nesta vida chegavam uns após outros, eles
observavam maravilhados suas faces e as
diferentes cores de roupagens usadas pelas
várias ordens e hierarquias.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 65
Aos poucos, ficamos todos reunidos e
então ouvimos um acorde de música que
pareceu nos invadir a todos, unindo toda
essa multidão em uma só grande família.
Então vimos uma grande cruz de luz
aparecer. Parecia estar apoiada na encosta
da grande montanha que delineava a
planície e, enquanto a observávamos, ela
começou a se desmanchar em centelhas de
luz brilhante, e em pouco tempo percebe-
mos que era uma enorme falange de anjos
de uma esfera mais alta que ficou ali,
formando uma cruz perto da montanha;
tudo em torno deles cintilava em dourado, e
podíamos sentir, mesmo à distância, suas
cálidas emanações amorosas.
Gradualmente eles foram ficando mais
nítidos para a nossa visão, conforme
tornaram-se mais presentes nesse ambien-
te inferior ao deles, e então vimos, parado
na parte onde está o cruzamento dos dois
braços da cruz, um Ser maior. Parecia que
instintivamente todos sabíamos que era Ele.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 66
Era uma manifestação do Cristo naquilo
que conhecem como Forma Presente.
Ele ficou ali, silencioso e estático, por
algum tempo, e então levantou Sua mão
direita ao alto, e vimos uma coluna de luz
descer e ficar ali enquanto Ele ali a manti-
nha. A coluna era um caminho; nele vimos
outra falange descendo e, quando chega-
ram até o braço levantado, ali pararam e
ficaram silentes com suas mãos cruzadas
sobre o peito e cabeças inclinadas. Então a
mão moveu-se até que tivesse rodeado
tudo até embaixo, os dedos apontando a
planície, e vimos a coluna estender-se em
nossa direção a meia altura, até que ligou o
espaço entre a montanha e a planície, e a
extremidade dela ficou sobre a multidão
agrupada ali.
Ao longo dessa coluna caminhou a fa-
lange que se tornara visível por último, e
pairaram sobre nós. Abriram seus braços
então, e todos vagarosamente voltaram-se
em direção à montanha, e ouvimos suave-
mente suas vozes, uma parte declamando e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 67
outra cantando um hino de devoção a Ele
que ali estava, tudo tão belo e tão sagrado
que primeiramente ficamos em silêncio.
Mas depois nós também aprendemos suas
palavras e cantamos, ou declamamos com
eles; já que, evidentemente, era esse o
propósito deles ao virem até nós. Enquanto
cantávamos, elevou-se entre nós e a
montanha uma neblina de matiz azulado
que tinha um efeito muito curioso. Parecia
agir como uma lente telescópica, trazendo a
visão d’Ele para mais perto, até que
pudemos ver a expressão de Sua face.
Aquilo agia assim também nas formas
daqueles que ficaram bem abaixo d’Ele.
Mas nós não tínhamos olhos para eles,
somente para a Sua face e forma, tão
graciosas. Não posso descrever a expres-
são. Era um misto de coisas que as pala-
vras não traduzem, a não ser em pequena
parte. Havia mesclados o amor, a piedade,
a alegria e a majestade, e eu senti que a
vida era uma coisa muito sagrada, quando
unia a Ele e a nós em um só laço. Penso
que os outros sentiram a mesma coisa
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 68
também, mas não nos falávamos, estando
toda a nossa atenção voltada para a Sua
visão.
Então, lentamente a neblina esvaneceu
na atmosfera, e vimos a cruz na montanha
e Ele como antes, apenas visto com mais
dificuldade; e os anjos que haviam se
aproximado de nós foram embora, pairando
agora sobre Ele. Então, gradualmente tudo
sumiu. Mas o efeito foi um sentimento muito
definido de Sua presença muito atuante e
perpétua. Talvez tenha sido esse o objetivo
dessa visão ser oferecida aos recém-
chegados que, apesar de não poderem ver
tão claramente como nós que estávamos
aqui há mais tempo, mesmo assim puderam
ver o suficiente para que os encorajasse e
lhes desse paz.
Ficamos ali por mais algum tempo e
então, silenciosamente, seguimos nosso
caminho, não conversando muito porque
estávamos impressionados com o que
havíamos testemunhado. E também, depois
de todas essas manifestações sempre havia
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 69
muito em que pensar. É tão glorioso que
ninguém pode captar todo seu significado
enquanto ela esteja acontecendo. Deve-se
pensar sobre ela gradualmente; e conver-
samos entre nós sobre tudo, cada um
dando suas impressões, e agrupando todas,
descobrimos que uma revelação havia sido
feita, sobre algo que não entendíamos
muito bem. Naquele momento o que mais
parecia haver nos impressionado foi o
poder que Ele tinha de falar a nós silencio-
samente. Não pronunciara uma só palavra,
mas nos pareceu estarmos ouvindo Sua voz
conversando conosco a cada movimento
que fizesse, e entendemos muito bem o que
a voz dizia, apesar de que realmente nada
falara.
Isso é tudo o que lhe posso contar por
agora, portanto, adeus, querido filho, e
possa você ver, como realmente verá, um
dia, o que nosso Senhor tem guardado para
aqueles que O amam.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 70
Segunda, 29 de setembro de 1913.
A idéia de ver as coisas do ponto de
vista de uma esfera mais elevada que a
sua, é para que se dê o verdadeiro valor
quando se lê o que acabamos de escrever.
De outra forma, você estará sempre
enganado pela aparência de incongruência
na associação das idéias que temos lhe
passado. A nós é perfeitamente normal unir
a chegada de nosso Senhor com o outro
evento da formação daquela ponte que é a
expansão da grande região do precipício. O
que lá é visto concretamente – isto é, claro,
concretamente para nós aqui – é apenas
um fenômeno do mesmo poder invisível
pelo qual o Senhor e suas legiões angélicas
cobriram a abóbada celeste entre a esfera
na qual agora nos movemos e aquelas de
onde vieram eles.
Você compreenderá que aquela mani-
festação foi, para nós, muito mais do que é
para vocês uma materialização. Foi a
ligação entre dois estados do Reino do Pai
pela união no espaço através das vibrações
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 71
mais elevadas do que as que podemos usar
nestas esferas mais baixas. Como tudo
acontece, nós apenas podemos imaginar,
mas, ao passarmos de sua esfera terrestre
para esta, a conexão entre esta e a próxima
não parece estranha.
Desejamos que você pudesse ser me-
lhor esclarecido ao observar algumas das
maravilhas de nosso plano, pois então tudo
lhe pareceria mais natural, tanto em sua
jornada na Terra, quanto também quando
vier para cá e nada soar estranho em sua
mente. A primeira coisa que veria é que a
Terra é o embrião do Céu, e que o Céu é
apenas a Terra purgada e aperfeiçoada; e
em seguida veria que as razões são bem
óbvias.
Para ajudá-lo neste assunto, portanto,
tentaremos contar-lhe de um sistema que
temos aqui para separar e discernir entre as
coisas que importam e as de menor impor-
tância. Quando estamos com alguma
dúvida – e falo apenas de nosso círculo
imediato – vamos ao topo de algum edifício,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 72
ou montanha, ou algum lugar elevado de
onde possamos avistar as terras distantes
que nos cercam. Então, expomos nossas
dificuldades, e quando acabamos de
completar o raciocínio, ficamos em silêncio
por um tempo, esforçando-nos por retratar
tudo dentro de nós, da forma como as
coisas são. Depois de algum tempo come-
çamos a ver e ouvir algum lugar mais alto
que o nosso, e vemos que as coisas
importantes são as que nos mostram, pela
visão e audição, que ainda persistem
naquele plano mais elevado, naquelas
esferas mais altas. Mas não ouvimos ou
vemos as coisas que não importam tanto, e
desta forma conseguimos separar uma
categoria de outra.
Parece tudo certo, querida, mas poderia
dar-me um caso mais específico, a fim de
exemplificar?
Penso que sim. Tivemos que lidar com
uma dúvida, e não sabíamos como agir da
melhor forma. Foi sobre uma mulher que
estava aqui por um bom tempo e não
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 73
parecia capaz de progredir muito. Não era
má pessoa, mas parecia ser insegura a
respeito de si mesma e de todos os que a
cercavam. Sua principal dúvida era sobre
os anjos – se eles eram todos de luz e
bondade, ou se alguns eram de um estado
angelical e outros da escuridão. Por algum
tempo não conseguimos ver por que isso
tanto a perturbava, já que tudo por aqui
parecia ser amoroso e brilhante. Mas
descobrimos que ela tinha alguns parentes
que haviam vindo para cá antes dela, a
quem ela não vira e cujo paradeiro não
conseguia encontrar. Quando descobrimos
o principal problema dela, discutimos entre
nós e fomos ao topo da colina, colocando
nosso desejo de ajudá-la e pedindo que nos
fosse mostrada a melhor maneira. Uma
coisa memorável aconteceu, tão inesperada
quanto útil.
Quando ficamos ajoelhados ali, todo o
topo da colina pareceu tornar-se transpa-
rente e, enquanto estávamos ajoelhados,
com as cabeças inclinadas, enxergamos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 74
diretamente através dela, e uma parte das
regiões abaixo foi trazida a nós muito
nitidamente. A cena que vimos – e todos
nós a vimos, portanto não poderia ser ilusão
– era numa planície obscura, árida e nua, e,
encostado numa rocha, estava um homem
de alta estatura. Diante dele, ajoelhada no
chão, com as faces cobertas pelas mãos,
havia uma outra pessoa. Era um homem, e
parecia estar implorando algo ao outro, que
continuava ali, com aparência de estar em
dúvida. Então, finalmente, num impulso
súbito, ele se abaixou e levantou em suas
costas aquele que estava ajoelhado e o
conduziu pela planície, em direção ao
horizonte onde refulgia a luz pálida do
crepúsculo.
Ele andou uma longa jornada com
aquela carga e então, quando chegaram a
um lugar onde a luz era mais forte, ele o
largou e apontou-lhe um caminho; então
vimos que o outro agradeceu muito e muito,
então voltou-se e correu rumo à luz. Nós o
seguimos com nossos olhos, e então vimos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 75
que lhe havia sido apontado o caminho da
ponte, da qual já lhe falei – na extremidade
que está no outro lado do precipício. Ainda
não entendíamos por que esta visão estava
sendo mostrada a nós, e continuamos
seguindo o homem até que ele alcançou o
enorme prédio que está no começo da
ponte – não para guardá-la, mas para
auxiliar os que chegam até ali, necessitando
de descanso e ajuda.
Vimos que o homem havia sido obser-
vado pelo guardião, pois um facho de luz
sinalizou-o aos que estavam embaixo,
mostrando-o ao guardião seguinte, ao longo
da ponte.
E então a colina reassumiu seu aspecto
normal de novo, e nada mais foi visto por
nós.
Estávamos perplexos, mais que antes,
e estávamos descendo a colina quando
nossa Senhora Diretora veio ao nosso
encontro, e em sua companhia estava
alguém que parecia um alto servidor de
alguma parte de nossa esfera, mas que não
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 76
havíamos conhecido ainda. Ela disse que
ele veio para nos explicar a instrução que
acabáramos de receber. Aquele homem
menor era o marido da mulher a quem
estávamos tentando ajudar, e deveríamos
dizer a ela que fosse até a ponte pois lhe
seria dado alojamento ali, onde então
poderia esperar até que seu querido
chegasse. O homem mais alto que vimos
era o que a mulher chamou de anjo das
trevas, já que ele era um dos mais podero-
sos espíritos nos planos trevosos. Mas,
conforme observamos, ele era capaz de
uma boa ação. Por que, então, pergunta-
mos, ele ainda estava nas regiões de
trevas?
O servidor sorriu e respondeu, “Meus
queridos amigos, o Reino de Deus Nosso
Pai é um lugar muito mais maravilhoso do
que podem imaginar. Vocês jamais se
defrontaram ainda com um reino ou esfera
que fosse completo por si mesmo, indepen-
dente e separado dos demais. Nem há
nenhum assim. Aquele anjo trevoso mescla
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 77
em si muitas esferas de conhecimento,
bondade e maldade. Ele permanece onde
está, primeiro por causa da maldade
remanescente nele, que o incapacita para
as regiões de luz. Permanece ali também
porque poderia progredir se quisesse, mas
mesmo assim ele não o deseja por enquan-
to, em parte por causa de sua obstinação, e
parte porque ainda odeia a luz, e acha que
os que partem para a horrível montanha
são loucos, pois a dor e as agonias são
mais intensas ali, em razão do contraste
com o que vêem entre a luz e a escuridão.
Então ele fica, e há multidões como ele, a
quem uma espécie de desespero embrute-
cedor e estonteante impede de seguirem
adiante. Também em suas horas de raiva e
loucura, ele é cruel. Ele torturou e maltratou
algumas vezes esse mesmo homem a
quem vocês viram com ele, e o fez com a
crueldade de um fanfarrão covarde. Mas,
como viram, isto foi superado e quando o
homem implorou nesta última vez, alguma
corda sensível no coração do outro vibrou
um pouquinho só, e, num impulso, temendo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 78
uma reversão em suas intenções, liberou
sua vítima que desejou empreender a
jornada, e apontou-lhe o caminho, sem
dúvida pensando, em seu coração, no
quanto ele era estúpido e contudo, talvez,
um estúpido mais inteligente do que ele,
afinal de contas.”
Isso era novidade para nós. Não perce-
bêramos antes que havia bondade naquelas
regiões de trevas; mas agora vimos que era
natural que assim fosse, ou, se todos ali
fossem totalmente ruins, nenhum deles
jamais desejaria estar conosco deste lado.
Mas o que tem a ver tudo isso com o
discernimento entre as coisas que importam
e as que têm menor importância?
Tudo que é do bem é de Deus, e a luz e
a treva, quando aplicadas aos Seus filhos,
não são, e não podem ser, absolutas. Elas
devem ser entendidas como relativas. Há,
como sabemos, muitos “anjos das trevas”
que estão na escuridão por causa de algum
desvio em seu comportamento, algum traço
de obstinação que os previne contra o que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 79
é bom dentro deles, fazendo esse efeito. E
estes, um dia, podem nos ultrapassar na
estrada das eras, e, no Reino dos Céus,
tornarem-se maiores do que nós, que hoje
somos mais abençoados do que eles.
Boa noite, meu querido filho. Pense so-
bre o que escrevemos. Tem sido uma lição
proveitosa a nós, e seria bom que muitos
em sua vida atual pudessem aprendê-la.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 80
Capítulo II

Cenas mais brilhantes

Terça, 30 de setembro de 1913.


Dificilmente você compreenderia tudo o
que sentimos quando chegamos à Terra
desta maneira, comungando com alguém
que ainda caminha em sua estrada através
do vale. Sentimos que somos mais privile-
giados, pois uma vez que sejamos capazes
de convencer as pessoas do quanto têm em
suas mãos para usarem na evolução da
raça, parece não haver fronteiras para as
possibilidades do bem e da ilustração.
Apesar disso, somos capazes de fazer
pouco, e devemos ficar felizes até que
outros venham cooperar conosco, como
você fez, sem medo, sabendo que nenhum
mal pode sobrevir àqueles que amam a
Deus, e servem-No por Seu Filho, nosso
Senhor Redentor.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 81
Para ajudar aqueles que ainda duvidam
de nós, de nossa mensagem e missão,
deixe-me dizer que não saímos de nossas
lindas casas para descer às brumas que
envolvem a Terra por nada. Temos uma
missão e um trabalho em curso, e alguém
deve cumpri-la, e nos alegramos por fazê-
lo.
Há pouco tempo atrás – se usarmos a
linguagem da Terra – fomos mandados a
uma região onde as águas eram captadas
num grande lago, ou bacia, e em torno do
lago, à alguma distância de cada lado,
foram erigidos alguns prédios enormes com
torres. Eles eram de arquitetura e projetos
variados, e não eram construídos com
apenas um material. Jardins espaçosos e
bosques circundavam-nos, alguns deles de
milhas de extensão, e plenos de lindas flora
e fauna, a maioria com espécies conheci-
das na Terra, mas também com o que seria
estranho a vocês agora, apesar de que
acho que uma parte deles já viveu um dia
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 82
na Terra. Isso são detalhes. O que quero
explicar-lhe é o propósito dessas colônias.
Elas são para nada mais que a compo-
sição de músicas e manufatura de instru-
mentos. Os que vivem ali entregam-se aos
estudos da música e suas combinações e
efeitos, e não somente ao que você conhe-
ce como som, mas também em outras
conexões. Visitamos várias das casas
maiores e encontramos faces sorridentes e
felizes a nos cumprimentar e nos mostrar o
lugar; e também para nos explicar o que
somos capazes de entender, e francamente
confesso que não era muito. Aquilo que eu
pessoalmente entendi, tentarei explicar a
você.
Uma casa – ou colégio, já que eles e-
ram mais colégios que fábricas, pelo que vi
– era devotada ao estudo do melhor método
de inspiração musical infundida aos que, na
Terra, tinham o talento para a composição;
e outra casa dava mais atenção aos que
eram aptos à música tocada, e outras à
cantada, e ainda outros faziam um estudo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 83
especial da música sacra, e outros de
concertos, e outros de composição de
óperas, e assim por diante.
Os resultados de seus estudos eram
tabulados, e ali suas funções acabam.
Esses resultados são estudados de novo
por outra classe, que considerará o melhor
método de comunicá-los aos compositores
musicais em geral, e então outro corpo fará
o real trabalho da transmissão, através do
Véu, para a esfera da Terra. Aqui são
apontados a eles os objetivos de seus
esforços, isto é, os que provam estar mais
prontos para corresponderem à sua inspira-
ção. Estes foram cuidadosamente selecio-
nados por outros que são treinados para
esta seleção. Tudo está em perfeita ordem;
dos colégios em torno do lago até a igreja,
ou o hall de concertos, ou a casa de óperas
na Terra, há uma corrente de trabalhadores
treinados que estão constantemente ativos,
dando à Terra um pequeno presente de sua
música celestial. E é assim que todas as
suas melhores músicas chegam até vocês...
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 84
Sim, você está bem certo. Muito de suas
músicas não é nosso, e muito é alterado em
sua passagem. Mas isso não é culpa dos
trabalhadores destas esferas, mas fica na
porta dos que estão do seu lado do Véu, é
destes desse lado que são de regiões
escuras, a quem o caráter do compositor
lhes permite obscurecer aquilo que vem de
nós aqui.
Para que serviam as torres?
Eu já ia lhe explicar isso.
O lago é muito extenso, e os prédios
estão a alguma distância dele, por todos os
lados. Mas algumas vezes, previamente
combinados, os trabalhadores de alguns
desses colégios, alternadamente, mandam
certos conjuntos para o alto da torre e,
quando estão reunidos, então um concerto,
literalmente digno do nome, acontece. Eles
todos ensaiam alguma coisa já previamente
combinada entre eles. Em uma torre
estarão os instrumentos de uma categoria;
em outra delas outra categoria, e na terceira
os vocalistas; em outra torre outra classe de
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 85
vocalistas; pois há muitos tipos, não
somente quatro, como é usual a vocês, mas
muitos tons de vozes. E outras torres são
destinadas a outros trabalhadores cujas
funções reais não pude entender. Pelo que
percebi, alguns deles eram especialistas em
harmonizar o todo, ou partes, do volume do
som combinado das diferentes torres.
Mas quero continuar na descrição do
fato em si – o concerto ou festival, ou seja
lá o nome que queira dar. Fomos levados a
uma ilha no meio, e ali, numa linda paisa-
gem de árvores, gramado e flores, terraços
e bosquetes de árvores, pequenos recantos
e bancos de madeira ou pedra, ali ouvimos
o festival.
Inicialmente veio um acorde, longo e
sustentado, ficando cada vez mais intenso,
até que pareceu invadir toda a paisagem e
as águas, e cada folha de cada uma das
árvores. Era o tom dado aos músicos das
várias torres. Tudo ficou imerso em silêncio
e parecia estático. Então, gradualmente,
ouvimos a orquestra. Vinha de muitas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 86
torres, mas não podíamos reparar em
nenhuma parte em separado. Estava em
harmonia perfeita, e o equilíbrio era subli-
me.
Então os cantores iniciaram sua parte.
Nem vou tentar descrever essa música das
esferas celestiais na linguagem terrena,
mas posso talvez ser capaz de dar-lhe
alguma idéia do efeito. Resumidamente,
tudo se fez mais pleno de amor – não só de
beleza, mas de amor também – pois há
uma diferença entre essas duas palavras
conforme as uso aqui. Todas as nossas
faces tomaram uma expressão e matizes de
um amor maior, e as árvores ficaram com
as cores mais profundas, e a atmosfera
lentamente ficou como num vapor de
tonalidades, como um arco-íris. Mas esse
vapor nada escondia, em vez disso parecia
aproximar tudo. A água refletia as tonalida-
des do arco-íris e nossa roupagem também
intensificou-se em suas cores. Além disso,
os animais e os pássaros sobre nós corres-
pondiam. Lembro-me especialmente de um
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 87
pássaro branco. Suas peninhas leitosas
ficaram cada vez mais brilhantes e, quando
o vi pela última vez antes que voasse para
um cantinho, brilhava como ouro cintilante,
como uma luz transparente, ou fogo. Então,
quando essa neblina esvaneceu vagarosa-
mente, todos nós, e tudo, voltamos ao
normal mais uma vez. Mas o efeito perdu-
rou, e se eu pudesse dar um nome a ele, eu
diria “paz”.
Essa, então, é uma pequena experiên-
cia que tive na Casa da Música. Aquilo que
ouvimos será novamente discutido de novo,
e de novo, por conselhos de pessoas
experientes, um pouquinho alterado aqui,
um pouquinho alterado ali, e então será
dado um uso àquela peça; talvez em algum
recital de ação de graças por aqui, ou
alguma recepção de espíritos chegados da
vida terrestre, ou alguma outra função. A
música entra em muitas fases de nossa vida
aqui e, na verdade, tudo parece musical
nestas esferas de luz – música e cores
misturadas e beleza, tudo exalando amor
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 88
entre todos, e a Ele que nos ama de uma
forma que não somos capazes de amar.
Mas Seu amor nos leva adiante e, conforme
seguimos, Ele está em tudo em torno de
nós, e devemos inspirá-lo na respiração,
assim como a beleza de Sua presença. Não
temos outra escolha, já que Ele é tudo em
tudo por aqui, e amar traz um deleite que só
entenderá quando estiver onde estamos, e
ouvir o que ouvimos, e tiver visto a beleza
de Sua presença, suspirando e cintilando
em tudo em volta, e atrás, quando apren-
demos um pouquinho mais de Seu amor.
Seja forte e viva a valente vida, já que
no final valerá a pena, conforme já soube-
mos.
Boa noite, querido rapaz, e lembre-se
que algumas vezes, durante seu sono, nós
poderemos fazer-lhe lembrar, nem que seja
um leve eco, daquela música pelo seu
ambiente espiritual, e não ficará sem o
efeito na sensação de sua mente em seu
dia seguinte, na vida e no trabalho.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 89
Quarta, 1 de outubro de 1913.
O que dissemos na última noite, relativo
à Casa de Música, foi apenas um esboço de
tudo o que ouvimos e vimos; e fomos
apenas em partes da localidade. Fomos
informados, entretanto, de que tem uma
extensão maior do que imaginamos naquela
ocasião, e estende-se distante, do lago até
as montanhas que cortam a planície onde
está o lago. Nessas montanhas há outros
colégios, tudo interligado com aqueles que
vimos através de uma telefonia sem fio, e
continuamente há um trabalho em coopera-
tiva.
Em nosso caminho de volta às nossas
casas, voltamo-nos para observar outra
novidade. Era uma plantação de árvores
muito grandes; entre elas fora construída
uma outra torre, não uma simples coluna,
mas uma série de salas e saguões, com
pináculos, torres e cúpulas de variadas
colorações. Tudo isso estava em um
edifício apenas, que era muito alto e
espaçoso. Foi-nos mostrado com muita
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 90
cortesia e bondade por um habitante dali, e
a primeira coisa que nos chamou a atenção
foi o aspecto curioso das paredes. O que
havia do lado de fora que aparecia opaco,
do lado de dentro era translúcido e, confor-
me andamos de aposento a aposento, de
saguão em saguão, percebemos que a luz
que havia em cada um era levemente
diferente no matiz do anterior – não de uma
cor diferente, já que a variação não era tão
marcante, porém apenas uma suave
nuance mais profunda ou mais iluminada.
Na maior parte dos compartimentos
menores, a luz era de um matiz definido e
delicado, mas de vez em quando, depois de
passarmos por um conjunto completo de
compartimentos, chegávamos a um enorme
saguão e nele as colorações das salas em
torno agregavam-se ali. Não estou certa se
sou exatamente correta ao dizer que todos
aqueles laboratórios menores apenas
emanavam uma coloração, mas conto-lhe
tão próximo quanto possível do que me
lembro. Foi tanta coisa que vimos que é
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 91
difícil separar em detalhes, e foi a minha
primeira visita. Por isso não me permito
nada mais que uma real descrição do plano
geral.
Um desses grandes saguões era o Sa-
guão Laranja, e nele estavam todas as
graduações daquela cor primária, desde o
mais esmaecido dourado ao mais profundo
tom da cor de laranja profundo. Em outro, o
Saguão Vermelho, os matizes estavam nos
ambientes em torno de nós, desde o rosa
pálido ao carmim das rosas e das dálias.
Outro, o Violeta, era radiante em suas
tonalidades que iam do mais delicado
heliótropo, ou ametista, ao rico matiz escuro
do amor perfeito. E agora devo dizer-lhe
que não haviam alguns mais, mas muitos
mais desses salões dedicados a essas
tonalidades que vocês nem conhecem, mas
chamam de ultravioleta e infravermelho, e
quão lindas são...
Essas irradiações não se mesclam em
apenas uma só cor, mas cada tonalidade
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 92
ficava distinta em sua graduação, apesar de
harmonizada maravilhosa e lindamente.
Você está conjeturando a respeito do
propósito desses prédios de cristal. Eles
estão ali para se estudar o efeito das cores
quando aplicadas aos diferentes departa-
mentos da vida animal, vegetal e mesmo na
vida mineral, mas principalmente as duas
primeiras, juntamente com as coberturas.
Pois tanto a textura como o matiz de nossas
vestimentas adquirem suas qualidades do
estado espiritual e do caráter daquele que a
usa. Nosso ambiente é parte de nós, assim
como de vocês, e a luz é um componente
muito importante de nosso ambiente.
Portanto é muito poderoso em seu uso, sob
certas condições, como vimos nesses
painéis.
Dizem-me que os resultados desses
estudos são levados aos que são encarre-
gados das árvores e outras partes da vida
vegetal, da Terra e de outros planetas. Mas
há outros resultados que são de tipo
refinado demais para tais aplicações no
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 93
ambiente como um todo na Terra e em
outro planeta, por isso, claro, somente uma
parte muito pequena desses estudos são
enviados para vocês.
Sinto só poder falar muito pouco mais,
em parte por causa destas mesmas limita-
ções e em parte porque é muito científico e
fora de meu alcance. Mas posso acrescen-
tar estas informações, que me foram dadas
em resposta a uma pergunta minha: Eles
não agrupam as cores primárias em um
salão, naquela colônia. Não sei o porquê.
Pode ser, como pensam alguns amigos
meus, que entendem desses assuntos mais
do que eu, que a força gerada por tal
combinação seria coletivamente intensa
demais para aquele prédio e requereria
uma construção especial, e esta, provavel-
mente, em alguma montanha distante, se
fosse possível, disseram-me eles, pois
nenhuma vegetação cresceria no raio de
uma longa distância dali. Disseram ainda
que eles duvidavam que pessoas do grau
em que nos encontramos pudessem
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 94
controlar com segurança as forças que
seriam geradas desse modo. Eles acham
que para isso é necessário que sejam
pessoas de grau e hierarquia mais eleva-
dos. Mas longe daqui, em outra esfera mais
alta pode ser, e provavelmente é, o lugar
onde isso é realizado, e o lugar está em
contato com o que vimos. Julgando pela
forma com que as coisas são ordenadas
aqui, isso é quase certeza.
Deixamos a colônia, ou universidade,
como poderia ser chamada, e quando
estávamos já a alguma distância na planí-
cie, onde poderíamos ver a cúpula central
sobre as árvores, nosso guia, que tinha
vindo conosco para nos encaminhar, pediu-
nos que parássemos e víssemos uma
pequena surpresa de despedida que o
Diretor havia prometido nos fazer. Obser-
vamos e nada vimos; depois de momentos,
olhamos para o nosso guia, questionando.
Ele sorriu, e nós olhamos de novo.
Naquela hora um do nosso grupo disse:
“De que cor era a cúpula quando paramos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 95
aqui?” Alguém disse, “Acho que era verme-
lho.” Mas ninguém tinha certeza. De
qualquer forma, estava tinta de dourado,
então dissemos que iríamos observar. Logo
ficou verde, e não havíamos percebido a
mudança, tão gradual e suave era a
passagem feita de uma cor a outra. Isso
aconteceu por algum tempo, e foi extrema-
mente lindo.
Então, subitamente a cúpula desapare-
ceu. Nosso guia disse-nos que ainda estava
lá no mesmo lugar, mas o desaparecimento
era um dos fatos que conduziram a que
acontecesse, pela combinação de certos
elementos da luz dos vários saguões.
Então, sobre a cúpula e as árvores –
estando a cúpula ainda invisível – apareceu
uma enorme rosa cor de rosa, que lenta-
mente tornou-se carmim, e por entre todas
as suas pétalas apareceram formas de
crianças brincando, e homens e mulheres
em pé, ou andando e conversando juntos,
belos, lindos e felizes; e faunos, antílopes e
pássaros, correndo, voando ou deitados
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 96
entre as pétalas, cujas formas ondulavam
como colinas, montes e paisagens. Sobre
essas ondulações, as crianças brincavam
com os animais, saltitando divertida e
alegremente. E então todos eles lentamente
desapareceram, e tudo ficou vazio. Mostra-
ram-nos vários desses quadros enquanto
estivemos lá.
Outro era uma coluna de uma luz que
brilhava verticalmente de onde sabíamos
que estava a cúpula, e permanecia ereta
nos céus. Era de uma luz branca a mais
límpida, e tão intensa que parecia sólida.
Então saiu um raio de um dos saguões e,
obliquamente, alcançou suavemente o lado
da coluna. Então veio de outro saguão outro
raio, de uma cor diferente – vermelho, azul,
verde, violeta, laranja; iluminado, sombrea-
do ou profundo, de todas as cores que você
conhece, e algumas que não são conheci-
das de vocês – e todas foram lançadas
sobre a coluna branca, bem no meio do
Céu.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 97
Então vimos as linhas oblíquas de luz
tomando forma, e elas lentamente torna-
ram-se cada uma avenida com casas,
edifícios, castelos, palácios, bosques de
árvores, templos e todas as variações
disso, tudo ao longo dos amplos caminhos.
E por eles vieram multidões de pessoas,
algumas a pé, algumas a cavalo, e outras
conduzindo carruagens. Todos em um raio
de luz estavam com uma cor única, mas em
múltiplos matizes dela. Era maravilhoso vê-
los. Eles se aproximaram da coluna e
permaneceram a uma pequena distância
em torno dela.
Então, o topo da coluna lentamente foi
se abrindo, como um lindo lírio branco, e as
pétalas começaram a se enrolar sobre si
mesmas, e mais baixo, cada vez mais
baixo, até que se espalharam pelo espaço
entre as pessoas e a coluna. Então a base
da coluna começou a fazer o mesmo, até
que formou uma plataforma de forma
circular, da coluna até os lugares distantes
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 98
que as ruas onde estavam as pessoas
alcançavam.
Aí eles puderam mover-se adiante. Mas
agora mesclaram-se, juntamente com seus
cavalos e equipamentos, cada um retendo
sua própria cor e tonalidade, mas mistura-
dos ao resto. Então percebemos que
estávamos observando uma grande multi-
dão de pessoas felizes e amáveis, reunidas
como para uma festa ou um festival, num
enorme pavilhão de luzes multicoloridas.
Seus matizes estavam agora refletidos
contra o teto e o chão, ou pavimento, e o
mais bonito era a irradiação de tudo aquilo.
Eles se acomodaram lentamente em
grupos, e percebemos que o centro da
coluna foi transformado em colunas de um
enorme órgão, e entendemos o que devía-
mos esperar.
E tudo começou logo mais – um grande
acorde musical, vocal e instrumental, um
grande Gloria in excelsis a Ele que habita
na luz que é como escuridão a Seus filhos,
da mesma forma que nossa escuridão fica
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 99
como luz quando Ele nos envia uma raio do
Seu poder presente; porque onipotente é o
Rei cuja luz é vida a Seus filhos, e cuja
glória está refletida na luz que pudermos
suportar. Cantavam algo como isso, e então
também tudo aquilo sumiu. Eu esperava
que eles voltassem sobre seus passos ao
longo dos caminhos, mas estes foram
retirados, e aparentemente não eram mais
necessários.
Seu tempo está esgotado, querido filho,
assim, com pena, devemos parar, com
nosso amor de sempre a você, meu queri-
do, e aos que o amam e aos seus, como os
amamos. Deus esteja com você, Aquele
que é luz, e em quem a escuridão não
encontra espaço para ficar.

Quinta, 2 de outubro de 1913.


“Digam aos filhos de Israel que sigam
em frente.” Esta é a mensagem que coloca-
ríamos a você agora. Não fique para trás no
caminho, porque a luz é projetada ao longo
dela para lhe mostrar o caminho e se se
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 100
mantiver firme em sua fé no Pai de todos e
em Seu querido Filho, nosso Senhor, não
deverá temer desvios.
Escrevemos isso por conta de certas
dúvidas ainda pendentes em você. Você
sente a nossa presença, sabemos, mas
nossas mensagens ganharam tal complexi-
dade que parecem mais contos de fada do
que reais. Saiba então que nenhum conto
de fada jamais escrito poderá igualar as
maravilhas desses reinos celestes, ou as
belezas neles contidas. Além disso, muitas
das descrições que você lê nos livros de
contos, sobre os cenários e construções,
não são diferentes de muitas coisas que
vimos por aqui nestas paragens maravilho-
sas. Só pudemos aprender muito pouco,
mas, por esse pouco, ficamos convencidos
de que nada que esteja na imaginação
criativa de um homem, enquanto estiver na
vida terrena, pode se igualar às glórias que
esperam por seu intelecto imaginativo
quando ele largar seu corpo terrestre, com
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 101
suas limitações, e encontrar-se livre sob a
luz do Mundo Espiritual.
Agora, o que tentamos contar-lhe esta
noite difere de nossas primeiras mensa-
gens, e tem mais ligação com a natureza
essencial das coisas do que com os
fenômenos da vida, conforme nos são
expostos para nossa instrução e prazer.
Se um homem pudesse se postar aqui,
em cima de algum dos picos elevados que
povoam nossa paisagem, ele teria visões
bem estranhas e desconhecidas. Por
exemplo, ele provavelmente observaria
primeiramente que o ar é límpido, e que a
distância tem um aspecto diferente do que
tem na Terra. Nada pareceria longe do
mesmo jeito pois, se ele desejasse deixar o
pico no qual estava, para ir a algum ponto
próximo do horizonte, ou mesmo além, ele o
faria através de sua vontade, e isso depen-
deria da qualidade daquela sua vontade, ou
de sua natureza, se ele iria rapidamente ou
não; e também de quão distante ele poderia
penetrar nas regiões que estejam além das
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 102
várias cordilheiras e cuja atmosfera –
suponho que devamos usar a palavra – é
de qualidade mais rarefeita que aquela na
qual ele atualmente habita.
É por conta disso que nós nem sempre
vemos aqueles mensageiros que vêm até
nós, vindos das altas esferas. Eles são mais
vistos por alguns do que por outros e
somente ficam realmente e definitivamente
visíveis quando condicionam seus corpos
no intuito de emergir para a visibilidade.
Agora, se andarmos bastante na direção
deles – isto é, na direção de suas casas –,
sentiremos uma exaustão que nos desgasta
ao penetrarmos muito, apesar de que
alguns podem ir mais adiante que outros.
Agora, estando naquele pico, o obser-
vador perceberia que o firmamento não é
exatamente opaco à visão, mas com uma
certa espécie de luz, porém luz de uma
qualidade que se intensifica conforme a
distância da superfície da paisagem aumen-
ta. Alguns conseguem ver mais longe do
que outros para dentro dessa luz; e vêem
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 103
ali seres e cenas acontecendo que outros
menos evoluídos não conseguem.
Também ele veria, em torno dele, habi-
tações e edifícios de espécies variadas,
alguns dos quais descrevi. Mas, para ele,
esses prédios não são meramente casas,
ou locais de trabalho, ou colégios. Em cada
estrutura ele perceberia nem tanto o caráter
dela, mas o caráter dos que a construíram e
dos que ali habitam. São permanentes, mas
não com a permanência cansativa da Terra.
Podem ser reformados, modificados e
adaptados, em suas cores, forma e materi-
al, conforme as necessidades requererem.
Elas não precisam ser demolidas para
então o material poder ser usado na
reconstrução. Lida-se com o material
enquanto o edifício está em pé. O tempo
não faz efeito em nossas construções. Elas
não ficam decrépitas ou decaídas. A sua
durabilidade depende simplesmente das
vontades de seus donos e, portanto, tanto
quanto eles desejem, o prédio ficará em pé,
e será alterado conforme sua vontade.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 104
Outra coisa que notaríamos seria ban-
dos de aves vindos de longa distância, e
indo, com precisão perfeita, a algum local
em particular. Há pássaros mensageiros
treinados na Terra, mas não como esses
são treinados. Em primeiro lugar, eles
jamais são mortos ou atacados e não têm
medo de nós. Esses pássaros são um dos
meios que usamos para enviar mensagens
de uma colônia a outra. Eles não são
realmente necessários, já que temos meios
mais rápidos e mais adequados de
comunicação. Usamo-los mais como uma
bela forma de enfeite, da mesma forma que
usamos cores e ornamentos a fim de nos
embelezarmos algumas vezes. Esses
pássaros estão sempre voando, e são
criaturas queridas e amáveis. Parecem
saber qual é a sua obrigação, e amam fazer
isso.
Por aqui há uma lenda que diz que uma
vez um desses pássaros, em sua ânsia de
sobrepujar seus companheiros, ultrapassou
os outros e se projetou na esfera terrestre.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 105
Ali ele foi visto por um clarividente que o
alvejou, e ele ficou tão transtornado – não
pelo tiro, mas pela sensação que sentiu
vinda dos pensamentos do homem –, que
ele percebeu de alguma forma que não
estava em seu elemento certo, e tão logo
percebeu isso, estava aqui de volta. O que
ele sentiu, vindo do cérebro do homem, foi
a resolução e o desejo de matar e, apesar
de saber que isso era sinistro, quando
tentou contar aos seus amigos pássaros
perdeu seu tempo, porque nada disso é
conhecido por aqui, e ele não conseguiu
descrever, da mesma forma que uma ave
deste reino não poderia descrever sua vida
a uma ave da Terra. Por isso outras aves
disseram que, se ele tinha uma historia a
contar e não conseguia, que voltasse e
encontrasse o homem e perguntasse a ele
qual palavra ele poderia usar.
Ele assim fez, e o homem, que era fa-
zendeiro, disse que “torta de pombo” seria a
melhor palavra para descrever a idéia dele.
O pássaro retornou e, como eles não
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 106
puderam traduzir a palavra em sua lingua-
gem, ou tirar qualquer significado daquilo,
deram uma solução para quando alguém
desejasse visitar a Terra no futuro: deveria
colocar-se em guarda até perguntar se
estava em sua esfera ou não.
A moral dessa história é: Mantenha-se
em sua própria tarefa, a qual você compre-
enderá e onde você será entendido por
aqueles que também são servos, compa-
nheiros seus de trabalho; e não almeje
lançar-se demais à frente de onde tem
certeza de que é seu chão, ou “atmosfera”,
ou, pensando que está seguindo em frente,
você pode se encontrar num plano que está
abaixo daquele de onde você saiu e onde
os seres mais elevados dali são menos
evoluídos, de várias formas, que o mais
baixo de seu próprio plano, e muito piores
como companhia.
Bem, esta é uma pequena história, co-
mo um pequeno interlúdio, e servirá para
mostrar-lhe que podemos rir aqui, e ser
sabiamente tolos, e tolamente sábios às
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 107
vezes, e que não somos muito maduros em
algumas coisas desde que deixamos a
Terra e viemos para cá.
Até logo, querido; mantenha seu cora-
ção feliz.

Sexta, 3 de outubro de 1913.


Quando você estiver com qualquer dú-
vida sobre a veracidade da comunicação
espiritual, pense nas mensagens que já
recebeu e verá que em tudo que escreve-
mos, nós mantivemos nelas um propósito
bem claro. É o propósito de que podemos
ajudá-lo, e através de você, a outros
também, a entender como tudo é natural
por aqui, senão maravilhoso. Algumas
vezes, quando olhamos para trás, para
nossas vidas na Terra, sentimos um desejo
de fazer mais clara a estrada dos que ainda
estão aí, e mais brilhante do que foi a
nossa, quanto aos nossos pensamentos em
direção à vida futura. Nada entendíamos, e
assim viemos com uma incerteza sobre o
que nos aguardava. Muitos, pelo que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 108
sabemos, dizem que isso é bom, mas
conforme vemos as coisas de nosso atual
ponto de vista, não podemos concordar que
a incerteza seja boa quando uma meta
definitiva deve ser atingida. Segurança, por
outro lado, dá decisão e conduz a ações
corajosas, e se a nós foi permitido infundir,
aos peregrinos da Terra, a certeza da vida e
do brilho daqui para aqueles que lutam bem
a boa luta, estaremos amplamente contem-
plados pelas nossas jornadas até aqui,
vindos de nossas próprias casas cintilantes
em luz.
Agora vejamos se podemos passar-lhe
umas poucas palavras sobre as condições
que encontramos quando chegamos aqui –
as condições, quero dizer, daqueles que
chegam aqui pela primeira vez. Eles não
estão num grau igual de evolução espiritual,
claro, e portanto requerem tratamento
diferenciado. Muitos, como você sabe, não
percebem por algum tempo o fato de
estarem mortos, como vocês chamariam,
porque encontram-se vivos e com um
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 109
corpo, e suas vagas noções anteriores do
estado de após-morte não são, por isso,
descartadas totalmente.
A primeira coisa a ser feita com eles,
então, é ajudá-los a perceberem o fato de
que não estão mais na vida terrena e, para
isso, empregamos vários métodos.
Um deles é perguntar-lhes se se lem-
bram de algum amigo ou parente, e quando
respondem que sim, mas que estes estão
mortos, tentamos esse encontro para que
vejam aquele espírito em particular que,
aparecendo vivo, convenceria o duvidoso
de que ele realmente passou para o lado de
cá. Mas não é sempre esse o caso, pois as
ilusões cravadas são obstinadas, assim
tentamos outro método.
Nós o levamos a alguma localidade da
Terra que lhe é familiar, e mostramos a ele
aqueles que ele deixou para trás e a
diferença de estado entre ele e os seus. Se
isso falhar, fazemo-lo reviver as últimas
experiências passadas antes da passagem
para cá, e lentamente o levamos ao mo-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 110
mento em que ele se sentiu sonolento, e
tentamos unir esse momento com seu
despertar por aqui.
Todas essas tentativas freqüentemente
falham – mais freqüentemente que você
imagina –, já que o caráter é moldado ano
após ano, e as idéias que concorrem para
essa construção tornam-se firmemente
imbuídas em seu caráter. Também temos
que ser muito cuidadosos para não sobre-
carregá-lo, pois retardaria sua instrução.
Algumas vezes, entretanto, no caso dos
que são mais esclarecidos, estes percebem
imediatamente que passaram para o mundo
espiritual, e então nosso trabalho fica fácil.
Uma vez fomos enviados para uma
grande cidade onde deveríamos encontrar
outros socorristas num hospital, a fim de
receber o espírito de uma mulher que
estava chegando. Estes outros estiveram
observando-a durante sua doença, e
deviam ajudá-la a sair e ter conosco.
Encontramos muitos amigos em torno de
sua cama na enfermaria, e eles estavam
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 111
com rostos que expressavam desgosto,
como se algum desastre estivesse por
acontecer à sua amiga doente. Parecia tão
estranho, já que ela era uma boa mulher, e
estava por ser conduzida para a luz, saída
de uma vida de labuta e tristezas, e,
ultimamente, de muito sofrimento na carne.
Ela se sentiu sonolenta, e o cordão vital
foi cortado por nossos atentos amigos, e
então, suavemente, eles a acordaram e ela
abriu os olhos e sorriu muito docemente
para a face bondosa que estava inclinada
sobre ela. Ficou ali, muito feliz e contente,
até que começou a pensar no porquê
desses rostos estranhos a ela estarem em
torno dela, no lugar das enfermeiras e
amigos que ela ultimamente estava vendo.
Perguntou onde estava e, quando lhe foi
dito, um olhar assustado e temeroso cobriu
sua face, e ela pediu se poderia ver os
amigos que deixara.
Isto lhe foi permitido, e ela os viu atra-
vés do Véu e balançou tristemente a
cabeça, “Se eles pudessem saber”, disse
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 112
ela, “quão livre da dor estou agora, e
confortável. Não poderiam dizer a eles?”
Tentamos fazer isso, mas apenas um deles
nos ouviu, penso eu, e apenas imperfeita-
mente, e logo afastou a idéia como se fora
imaginação.
Nós a levamos daquele lugar, e depois
de ela ter adquirido forças, foi levada a uma
escola infantil onde seu filhinho estava e,
quando ela o viu, sua alegria foi grande
demais para ser colocada em palavras. Ele
havia passado para cá alguns anos antes, e
foi posto nessa escola onde vivia desde
então. Então, a criança passou a ser o
instrutor de sua mãe, e esta cena era digna
de ser vista. Ele a levou pela escola e pelos
campos, e mostrou-lhe os diferentes
lugares e seus colegas de escola, e, todo o
tempo, sua face brilhava de alegria, assim
como a da mãe.
Nós a deixamos por um pouco, e então,
quando retornamos, encontramos aqueles
dois sentados num bosque, e ela estava
contando a ele sobre os que havia deixado
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 113
para trás, e ele estava dizendo a ela sobre
os que vieram para cá antes, e a quem ele
encontrara, e de sua vida na escola, e
fizemos muito para tirá-la de lá, prometen-
do-lhe que retornaria logo e sempre, para
rever seu menino.
Esse é um dos melhores casos, e há
muitos outros iguais, mas outros são bem
diferentes.
Enquanto esperávamos pela mãezinha
que conversava com seu filho, passeamos
pelo local e vimos as várias formas de se
ensinar a crianças. Uma, em especial,
chamou minha atenção. Era um enorme
globo de vidro, de seis ou sete pés de
diâmetro, mais ou menos. Ficava no
cruzamento de dois caminhos, e os refletia.
Mas, à medida que você olhava dentro dele,
podia ver não somente as flores, árvores e
plantas que ali cresciam, mas também as
diferentes ordens das quais derivaram em
tempos passados. Era muito mais uma aula
de botânica adiantada, como as que devem
ser dadas na Terra e deduzidas das plantas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 114
fossilizadas da geologia. Mas aqui víamos
as mesmas plantas vivas e crescendo, e
todas as espécies vindas delas, do mesmo
ramo original até o atual representante da
mesma família.
Aprendemos que a tarefa atribuída às
crianças era: considerar esse avanço
progressivo nessa planta, árvore ou flor,
crescendo de forma real naquele jardim e
refletida naquele globo, e então tentar
construir em suas mentes a evolução para
adiante das mesmas espécies. Esse é um
excelente treino para suas faculdades
mentais, mas os resultados são freqüente-
mente divertidos. É o mesmo estudo em
que os mais adiantados se empenham em
outros departamentos aqui, mas foi propos-
to por eles uma finalidade prática. Um deles
pensou que seria um método útil ajudar as
crianças a usarem suas próprias mentes, e
assim construiu a bola para esse uso
especial. Quando acabam de raciocinar
sobre as conclusões deles, eles devem
fazer um modelo da planta da forma em que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 115
ela aparecerá depois de outro período
evolutivo, e alguns desses modelos são
temerários e espantosos, e tão impossíveis
quanto estranhos.
Não devo me alongar com você, por
isso continuaremos quando puder escrever
novamente. Deus o abençoe e aos seus.
Boa noite.

Segunda, 6 de outubro de 1913.


Bem, querido, você teve uma feliz festa
pela “Ação de Graças pela Colheita”, e
estivemos com você, apesar de que não
nos viu, e esteve ocupado demais para
pensar em nós. Amamos vir e estar com
seus companheiros de culto ainda encarna-
dos, e também darmos o que podemos de
ajuda em seus cultos. Pode surpreendê-lo
saber que aqui nestes reinos de luz nós
também, de vez em quando, fazemos tais
reuniões e nos agrupamos em agradeci-
mento a nosso Pai pela colheita abundante.
Fazemos isso para a complementação da
ação de graças de nossos companheiros na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 116
Terra e também para nossa elevação. Não
temos aqui tais colheitas como as de vocês,
mas temos reuniões para rendermos graças
por outras bênçãos que são para nós o que
as colheitas são para vocês.
Por exemplo, nós agradecemos a Ele
pela beleza em torno de nós e todas as
glórias de luz e amor que nos sustentam em
vigor para nosso trabalho e progresso, e
temos ações para rendermos graças por
tais bênçãos como estas. Em tais ocasiões
usualmente nos são dadas algumas
manifestações vindas das mais altas
esferas. Uma delas vou contar-lhe agora.
Celebrávamos nossa Eucaristia num
vale, onde duas colinas elevadas ficavam
um pouco à parte, uma de cada lado, numa
das extremidades do vale. Oferecêramos
nossas preces e adoração, e estávamos
com as cabeças abaixadas, aguardando,
naquele silêncio da paz que sempre nos
preenche por essas ocasiões, pela palavra
de bênção daquele que havia sido o
ministrante principal. Ele ficou um pouco
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 117
mais no alto na colina, mas não falava, e
ficamos pensando no porquê.
Depois de instantes, todos nós eleva-
mos nossas cabeças lentamente, como se
alguém consentisse e nos impelisse através
de uma voz interior, e vimos que a colina na
qual ele estava foi coberta com uma luz
dourada que parecia repousar sobre ela
como um véu. Isto logo se encolheu e se
concentrou em torno da forma do pastor,
que estava ali, parecendo alheio a tudo em
torno dele. Então, pareceu voltar a si
novamente e, saindo da nuvem, andou em
direção a nós, dizendo-nos que deveríamos
esperar um pouquinho até que pudéssemos
ver um plano mais alto, de onde certos
anjos de lá desceram e estavam presentes.
Assim, esperamos, felizes, já que aprende-
mos que quando tais ordenanças nos são
dadas, tudo será justificado.
A nuvem então se elevou e espalhou-se
sobre o vale, cada vez mais distante, até
que cobriu todo o Céu sobre nós, e então
gradualmente desceu e nos envolveu, e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 118
estávamos num mar de luz muito mais
brilhante do que a luz de nossa própria
esfera. Não ofuscava nossos olhos, já que
era suave e doce. Aos poucos pudemos ver
mais, por causa dela, e então tivemos a
visão preparada para nós.
As duas colinas no final do vale brilha-
ram como fogo, e cada uma era a lateral ou
os braços de um trono, e sobre esse trono,
todas as cores do arco-íris estavam ali,
iridescentes, parecendo bastante com a
cena que você leu no livro de Isaías e no
livro das Revelações. Mas nós não vimos
Aquele que estava no trono, pelo menos
não na forma de um corpo. O que nós
vimos foi a manifestação d’Ele em Sua
paternidade. No terraço, que agora era o
assento do trono, vimos uma enorme
falange de anjos, todos reverentes em
adoração a um berço. No berço vimos uma
criança que lhes sorria, e finalmente ergueu
os braços em direção ao espaço aberto
sobre ele, onde uma luz parecia descer de
cima.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 119
Então, um globo desceu de lá para as
suas mãos, e ele se ergueu e o segurou
com a mão esquerda. Parecia vivo com o
brilho da vida, e cintilava, e brilhava, e ficou
mais e mais iluminado, até que mal podía-
mos perceber alguma coisa a não ser a
bola e a criança que a segurava, cujo corpo
parecia irradiar de si sua luz vívida. Então
ele a tomou em suas duas mãos e a abriu
em duas metades, e levantou-as, mostran-
do para nós os círculos abertos. Um estava
pleno de irradiação rosa e o outro de azul.
No primeiro vimos os reinos espirituais
dispostos em círculos concêntricos, cada
círculo repleto dos seres lindos e gloriosos
daqueles reinos. Mas os círculos externos
não eram tão brilhantes quanto os mais
internos, apesar de ali podermos ver mais
claramente seus habitantes, porque esta-
vam mais próximos de nosso próprio plano
do que os outros. À medida que nos
aproximávamos dos mais internos, a luz
tornava-se intensa demais para se ver
claramente o que continham. Mas o mais
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 120
externo reconhecemos como sendo o
nosso.
A outra bola de luz rósea era diferente.
Não havia círculos aparentes nela. Mas,
mesmo assim, em perfeita ordem, vimos
todas as diferentes espécies de vida animal
e vegetal, na forma em que se apresentam
nos planetas, inclusive na Terra. Mas nós
não os vimos na forma em que se apresen-
tam entre vocês, mas na forma perfeita,
desde o homem até a mais baixa forma da
vida animal, e desde a maior árvore e a
mais suculenta fruta, até a menor semente
que germina. Quando acabamos de ver
estas cenas, a criança gentilmente ajuntou
as duas metades, os Céus gloriosos e a
perfeita criação material, e quando ele as
agrupou já não era possível ver as marcas
da junção, nem dizer qual era uma metade
e qual a outra.
Mas enquanto observávamos as meta-
des da bola unidas, vimos que ela aumen-
tou e, finalmente, flutuou, saindo das mãos
da criança, e elevou-se espaço acima, e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 121
ficou lá, pairando, uma linda bola de luz.
Então ali, gradualmente apareceu, em pé
na esfera, a figura do Cristo, que, em Sua
mão esquerda segurava uma cruz, cuja
base repousava no globo e o topo ficava um
pouquinho acima de Seus ombros. Em Sua
direita Ele segurava a criança, em cuja testa
notamos um círculo dourado usado como
um diadema em sua cabeça, e em cima de
seu peito uma jóia como um grande rubi.
Então o globo começou a subir lentamente
aos céus, e quanto mais alto subia, mais
pequenino se tornava à nossa visão, até
que sumiu na distância no espaço acima,
entre as duas colinas.
Então voltamos à nossa forma antiga, e
nos sentamos para pensar no que acabá-
ramos de ver e no significado de tudo. Mas
apesar de que alguém parecesse ter um
leve relance quanto ao entendimento de
tudo, ninguém o esclareceu. Então nos
lembramos de nosso ministrante, que
primeiramente havia recebido o batismo
vindo da nuvem, e, como nos pareceu, em
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 122
grau mais intenso que para o resto de nós.
Nós o encontramos sentado ali naquela
rocha, com um cálido sorriso em sua face,
como se soubesse viríamos até ele no final,
e estava esperando que nos lembrássemos
dele. Ele nos convidou a nos sentarmos
novamente e, ainda sentado na rocha onde
podíamos vê-lo bem, falou-nos sobre a
visão.
Foi-lhe explicado em seus significados
mais óbvios, e estes ele era capaz de nos
transmitir, levando-nos a pensar em tudo e
trabalhar nossas mentes pelo ensinamento
mais profundo e elevado, cada qual com o
grau de elevação que atingiu. Isso é o que
usualmente se faz, percebi, quando ensi-
namentos nos são dados por esse caminho.
O hemisfério rosa representava a cria-
ção que era inferior à nossa esfera, e o azul
o nosso plano e os superiores a nós. Mas
não havia duas criações, apenas uma; não
havia descontinuidade entre esses dois
hemisférios ou qualquer um de seus
departamentos. A criança era a representa-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 123
ção do começo, progresso e final, o qual
não tinha fim – nosso caminho para adiante.
O rubi representa o sacrifício, e o diadema
a realização, e a ascensão do globo e do
Cristo e a criança guiaram nossas aspira-
ções aos reinos que atualmente estão além
de nosso alcance.
Mas, é claro, havia em tudo muito mais
do que esse mero esboço, e temos que,
como já disse, interpretar por nós mesmos.
Isso, de acordo com nossos costumes,
conseguiremos e em futuras reuniões
tiraremos nossas conclusões de vez em
quando, e elas serão discutidas.
Obrigado. Posso fazer-lhe uma pergun-
ta que gostariam que lhes colocasse?
Não há necessidade de colocá-la em
palavras. Podemos lê-la em sua mente, e
sabíamos dela antes que escrevesse.2 A

2
Uma pessoa da congregação de All Hallows,
Oxford, havia me dito que uns poucos dias atrás
tinha visto uma pomba pairando sobre o altar
durante a celebração da Comunhão Sagrada.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 124
pombinha que a senhorita E. viu acima do
altar de sua igreja foi uma manifestação, em
forma presente, tal qual esta que acabei de
relatar. Era para a sua congregação
invisível, e simboliza, de uma forma que
eles rapidamente entenderiam, a simplici-
dade das presenças sobre o altar, que
realmente estavam ali com amor, e prontos
para ajudar os que desejam receber seu
auxílio, e, como uma lembrança de sua
gentileza, uma pomba foi vista pairando
perto deles e sem medo; um estado mental
que os que não são muito evoluídos não
podem manter na presença dos de plano
mais elevado, cujo brilho da santidade
algumas vezes, nas mentes dos que não
conseguem julgar proporcionalmente, por
causa de suas ligações ainda imperfeitas,
eclipsa suas outras virtudes e fazem os
pobres duvidosos ficarem temerosos.

Quarta, 8 de outubro de 1913.


Por causa de certos assuntos que são
importantes aos que entenderão o que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 125
dizemos em seu sentido mais íntimo, nesta
noite decidimos nos empenhar em transmi-
tir-lhe certas instruções que serão muito
úteis e direcionais quando lidarem com o
que está abaixo da superfície das coisas, e
que geralmente não são levadas em conta
pelas mentes comuns.
Uma delas é o aspecto que os pensa-
mentos tomam quando projetados desde a
sua esfera até aqui, a nossa. Os pensamen-
tos que são bons aparecem com uma
luminosidade que não há nos de menor
santidade. Essa luz é emitida pela forma de
pensamento daquele que pensa e, através
das múltiplas irradiações de cores subdivi-
didas, podemos chegar ao conhecimento de
seu estado espiritual, não somente se seu
plano é o de luz ou trevas, e qual seria o
grau de luz, mas também os pontos nos
quais ele se supera ou tem menor alcance,
em qualquer que seja a direção. É através
disso que podemos colocar-lhe os guardi-
ães que melhor podem ajudá-lo a fomentar
o que já é bom nele e eliminar o que não é
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 126
bom ou desejável. Através de uma espécie
de sistema prismático, nós o classificamos
subdividindo suas características, e dessa
forma chegamos a nossas conclusões que
são baseadas nos resultados.
Na vida daqui, um método como esse
não é necessário, já que ele é concernente
ao corpo espiritual, e aqui, claro, este corpo
é patente a todos, e, sendo um perfeito
relato do espírito, demonstra suas caracte-
rísticas. Apenas posso dizer que as cores
das quais falei aqui se apresentam, em
forma graduada, em nossa roupagem, e as
que dominam sobre outras servem para nos
classificar dentro das mais variadas esferas
e graus. Mas os pensamentos, que são o
efeito da ação do espírito, são vistos pelo
efeito que, por sua vez, produzem no
ambiente daquele que pensa, e não são
apenas vistos, mas também sentidos, ou
sensibilizados, por nós de uma forma mais
acurada e intensa do que entre vocês.
Seguindo essa linha de raciocínio, natu-
ralmente você verá que, quando pensamos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 127
qualquer coisa muito intensamente, nossos
desejos podem produzir uma manifestação
exterior que realmente é objetiva aos que a
contemplam. Desta maneira são produzidos
muitos efeitos maravilhosos.
Pode me dar um exemplo para ilustrar?
Sim; vai ajudá-lo a perceber o que que-
remos dizer.
Um grupo de amigos meus e eu, que
havíamos sido instruídos nesse conheci-
mento, encontramo-nos para ver o quanto
havíamos progredido, e resolvemos fazer
uma experiência para isso. Selecionamos
um bosque no meio de uma linda floresta e,
como teste, todos decidimos desejar uma
coisa em particular, para vermos se sería-
mos competentes. O que escolhemos foi a
produção de um fenômeno em campo
aberto, que deveria ser sólido e permanente
para que pudéssemos examinar o resultado
depois. Deveria ser uma estátua de um
animal como um elefante, mas um pouco
diferente; um animal que temos por aqui,
mas que não habita mais na Terra.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 128
Todos nós nos sentamos em torno do
espaço aberto e concentramos nossas
vontades no objeto a ser produzido. Este
apareceu bem rapidamente e ficou ali
diante de nós. Ficamos muito surpresos
pela rapidez do resultado. Mas, do nosso
ponto de vista, havia dois defeitos. Era
grande demais, já que falhamos em não
regular a combinação de nossas vontades
numa proporção correta. Também ele
parecia muito mais um animal vivo do que
uma estátua, já que muitos de nós puseram
em suas mentes um animal vivo com sua
coloração, e então a mistura final resultou
em algo entre pedra e carne. Também
muitos pontos ficaram desproporcionais – a
cabeça grande demais e o corpo pequeno
demais, e assim por diante, mostrando que
poder demais havia sido concentrado em
algumas partes, e de menos em outras. E
assim percebemos nossas imperfeições e
aprendemos a remediá-las, em todos os
nossos estudos. Experimentamos, e então
examinamos o resultado, e tentamos de
novo. Fizemos isso nesta hora.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 129
Tirando nossos pensamentos da está-
tua produzida dessa forma e conversando
juntos, ela gradualmente desapareceu. E
então estávamos prontos e ajustados para
nossa nova tentativa. Decidimos não
selecionar o mesmo modelo de antes, ou
nossas mentes provavelmente iriam em
direção a aproximadamente o mesmo local.
Escolhemos, desta vez, uma árvore com
frutas – algo parecido com uma laranjeira,
mas não ela em si.
Tivemos mais sucesso desta vez. Os
principais pontos de falha foram que
algumas frutas estavam maduras e outras
ainda não. E as folhas não estavam da cor
correta, nem os galhos corretamente
proporcionais. E portanto tentamos uma
coisa após outra, e nos púnhamos cada vez
mais capazes a cada tentativa. Você pode
imaginar a festa em um estudo desse, e as
risadas e o bom humor que vinha dos
nossos erros. Estes, que estão próximos a
você e que pensam que nesta vida de cá
jamais fazemos piadas, e que nem mesmo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 130
rimos, um dia terão que revisar suas idéias,
ou estranharão nossas companhias – ou
talvez, nós os estranharemos. Mas logo
eles aprenderão sobre o amor destas
paragens, onde podemos ser perfeitamente
naturais e irrestritos, e sem dúvida somos
compelidos a isso, se quisermos ser aceitos
em grupos respeitáveis, como diriam vocês.
Temo que seja o contrário do que acontece
na Terra, não é? Bem, vivendo e aprenden-
do, e os que vivem nesta vida – e não
meramente existindo, ou pior – aprendem
bem rapidamente. Quanto mais aprende-
mos, mais nos maravilhamos com as forças
a nosso comando.
Astriel,3 que veio ontem – está aqui a-
gora?

3
As mensagens de Astriel foram transmitidas em
datas variadas, as quais, entretanto, não foram
em seguida. A razão pela qual foram transmitidas
desta forma não é aparente. O efeito, porém, foi
o corte das comunicações da mãe do Sr. Vale
Owen de tal forma que interrompiam a continui-
dade das mensagens dela e também quebravam
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 131
Não esta noite. Mas estará, sem dúvida,
aqui de novo, se assim o desejar.
Obrigado. Mas espero que vocês ve-
nham e escrevam também.
Ah, sim, faremos isso, já que é prática
tanto para nós quanto para você já que, ao
impressionarmos você, estamos aprenden-
do a usar nossas vontades e poderes numa
maneira similar àquela que acabei de
descrever. Você não vê as imagens do que
estamos contando em sua mente?
Sim, algumas vezes bem vívida, mas
não tinha pensado nisso.
Ah, bem, meu menino, você agora vê
que temos um objetivo ao escrevermos o
que decidimos, não é? Todo o tempo você
esteve pensando que era bem inconsistente
(e talvez o fosse – não diremos o contrário),
e estava imaginando para que lado tenderi-
a, e, mentalmente, ficou um pouquinho

a seqüência das do próprio Astriel. Elas foram,


portanto, coletadas e postas num capítulo em
separado, no final do livro.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 132
aborrecido. Diga-me, não ficou, querido?
Bem, estivemos sorrindo todo o tempo, e
agora você entenderá que esteve interpre-
tando nossos pensamentos, mais ou
menos, enquanto os enviávamos a você, e
o objetivo era explicar-lhe como essas
cenas apareciam diante de você tão vívidas
e reais, como as descreveu.
Até logo, querido filho, e Deus o aben-
çoe e aos seus, agora e sempre.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 133
Capítulo III

Da treva para a luz

Sexta, 10 de outubro de 1913.


Se estivéssemos compelindo-o a escre-
ver sobre temas que são do nosso dia a dia,
você talvez os compararia com a sua
própria vida diária, e perceberia então que
todos, nós e vocês, estamos na escola, e
que a escola é enorme, com muitas maté-
rias, muitos instrutores, mas com um único
esquema vigorando através do curso de
instrução, e que há unidade de progresso
do simples ao complexo, e que a complexi-
dade não quer dizer dificuldade, pois,
enquanto aprendemos mais sobre a
inteligência do divino Autor de tudo, vemos
quão maravilhosamente composto é o reino
no qual Ele emana Sua vontade de amor
para que possamos, pela nossa alegria pelo
conhecimento, prestar homenagens à glória
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 134
d’Aquele que sustenta todas as coisas na
palma de Sua mão.
E assim, querido filho, mais uma vez
retomaremos nosso tema, e contaremos de
nossos afazeres daqui destes reinos de luz,
e de como o amor do Pai abrange a nós
todos como uma nuvem radiante, na qual
todas as coisas aparecem mais plenas
conforme progredimos em humildade e
amor.
Uma das coisas que importam por aqui
é que deve ser mantida uma devida propor-
ção entre sabedoria e amor. Uma não é
contrária à outra, mas são duas grandes
fases de um grande princípio. O amor está
para a sabedoria como a árvore está para
as folhas, e se o amor atua e a sabedoria
respira, então o fruto é saudável e são.
Para ilustrar isso a você, nós daremos um
exemplo concreto de como nos ensinam a
considerar adequadamente tanto o amor
quanto a sabedoria em nossos tratos entre
nós e os outros a quem nos permitem
auxiliar.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 135
Deram-nos uma tarefa a cumprir, pouco
tempo atrás, na qual um grupo nosso, de
cinco pessoas, deveria ir a uma colônia em
uma parte bem distante daqui, e ali pergun-
tar a eles qual seria o melhor meio pelo qual
a ajuda poderia ser dada aos da Terra que
estivessem com dúvidas, ou assombrados
quanto ao amor de Deus. Ficamos muitas
vezes embaraçados por nossa falta de
experiência em tratar de tais casos que,
como sabe, são muitos.
O diretor do Colégio era um homem que
na vida terrena havia sido um político de
muita competência, mas sua fama não era
tão grande, e foi somente quando veio para
cá que ele achou lugar para seus poderes,
e entendeu que a Terra não era o único
campo no qual o treinamento terrestre
poderia ser posto em prática e efetivar-se
no reino de Deus.
Apresentamos a ele o objetivo de nossa
missão, e ele foi muito cortês e bondoso,
apesar de seu cargo elevado. Suponho que
vocês o chamariam de grande anjo, e de
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 136
fato, se ele pudesse vir à Terra assumindo
visibilidade, seu brilho inspiraria devoção.
Ele é muito bonito, tanto em aparência
quanto sua face, radiante, brilhante e
luminoso seria a melhor forma de descrevê-
lo. Ele nos ouviu e nos encorajou, sempre,
com sua palavra sutil, a encararmos nossas
dificuldades, e nos esquecemos de que
estávamos com alguém de tão alto plano e
conversamos sem medo ou restrições.
Então ele disse: “Bem, meus queridos
alunos – já que são bons o bastante para o
serem por um tempo –, o que me disseram
é muito interessante, e também muito
comum no trabalho em que estão se
empenhando. Agora, se eu lhes resolvesse
todos os problemas, voltariam ao seu
trabalho com corações leves, mas achariam
que a solução, quando tivessem que decidir
por ela, estaria com muitas imperfeições na
apresentação, porque justamente esses
pontos que são mais necessários para
serem lembrados são os pequeninos fatos
que podem ser melhor aprendidos pela
experiência; e a experiência é a única coisa
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 137
que pode mostrar-lhes o quão grandiosas
são essas pequeninas coisas. Venham,
portanto, comigo, e vou ensiná-los o que é
necessário para que aprendam da melhor
maneira.”
Assim fomos com ele, e ele nos levou
para os campos que circundavam a casa, e
ali vimos que havia jardineiros que cuida-
vam das frutas e das árvores frutíferas,
fazendo o trabalho normal de um jardim. Ele
nos levou longe pelos caminhos, parando
aqui e ali, através da plantação de árvores e
arbustos, onde pássaros cantavam e
pequeninos animais peludos brincavam por
toda parte. Finalmente chegamos a um
córrego, e ao lado havia um caramanchão
de pedra que me fez lembrar uma miniatura
de um templo do Egito, e ali entramos com
ele. Sentamo-nos num local embaixo de um
emaranhado de plantas floridas de diferen-
tes cores, e ele sentou-se em outro banco,
perpendicular ao nosso.
Desenhado no chão, em traços enta-
lhados, havia uma planta, e ele apontou
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 138
para ela dizendo, “Bem, esta é a planta de
minha casa e destes campos por onde os
conduzi até aqui. Aqui está marcado este
pequeno lugar onde estamos sentados.
Andamos, como podem ver, uma longa
distância desde o portão onde os encontrei,
e vocês todos estiveram falando tanto sobre
as coisas lindas que viram enquanto
caminhavam, que nenhum de vocês prestou
atenção no caminho pelo qual vieram. Será
de boa prática, por isso, e não faltará prazer
apesar de tudo, que encontrem seu cami-
nho de volta a mim, e, quando chegarem,
talvez poderei dar-lhes alguma ajuda para
instruí-los nas dificuldades que tiverem me
apresentado.”
Dito isso, ele nos deixou, e ficamos nos
olhando, uns aos outros, e então caímos na
gargalhada, rindo de nós mesmos, por
termos sido tão ingênuos em não nos
questionarmos qual seria o propósito dele
em nos trazer a esse lugar, por caminhos
tão tortuosos. Então examinamos a planta
muitas vezes, e era toda de traços e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 139
triângulos e quadrados e círculos, e pouco
podíamos fazer a princípio.
Gradualmente, entretanto, começamos
a entender. Era o mapa de um estado, e a
clareira estava no centro, ou perto dele,
mas não mostrava a entrada, e como havia
quatro caminhos levando a ela, não sabía-
mos qual deles tomar para voltarmos. Nós,
de qualquer forma, raciocinamos que não
importava muito (já que todos pareciam
levar ao círculo exterior) porque havia
muitos caminhos entre nós e lá, e eles se
cruzavam, e cruzavam de novo, cada um
deles. Não devo contar-lhe sobre todas as
nossas tentativas de resolver esse proble-
ma, já que levaria muito tempo.
Finalmente tive uma idéia, que conside-
rei bem, e então, achando que poderia
talvez ajudar, contei aos outros. Eles
disseram que era o que eles estavam
esperando, e que gostariam de testar essa
chave para o enigma. Não era nada demais,
apenas seguir em frente e tomar cada
caminho que levasse o mais direto desde
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 140
onde partimos. Não está claro – o que
quero dizer é isto: ir pelos caminhos que
nos levassem na linha mais reta, desde o
caramanchão, em qualquer direção. Então,
quando alcançássemos o limite, que
havíamos visto pela planta que era um
círculo perfeito, poderíamos segui-lo e,
inevitavelmente, chegaríamos ao portão,
mais cedo ou mais tarde.
Partimos, e foi uma longa e prazerosa
jornada, e também não foi sem aventuras,
já que o local era amplo, com colinas, vales,
florestas e rios, e tudo tão lindo que tínha-
mos que manter muito firme o nosso
objetivo diante de nossa mente, ou nos
esqueceríamos de escolher o caminho
correto quando chegávamos a uma encruzi-
lhada.
Alcançamos o limite mais externo, en-
tretanto, apesar de que, penso eu, não
pegamos a rota melhor e a mais direta.
Essa fronteira, digo de passagem, era feita
de um amplo campo gramado, e vimos, pelo
formato de seu limite, que era circular,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 141
apesar de que não conseguíamos ver muito
dele. Então voltamo-nos para a esquerda e
então, quando seguimos, a volta da região
circular pareceu sem fim. Mesmo assim
continuamos, e eventualmente chegamos
ao portão onde encontramos nosso instrutor
pela primeira vez.
Ele nos cumprimentou encorajando, e
fomos até um terraço diante da casa, e
então contamos a ele nossas aventuras –
muitas mais do que as que narrei a você – e
ele nos escutou como da primeira vez, e
então disse:
“Bem, vocês não se saíram tão mal, já
que atingiram seu objetivo, retornaram a
este portão. E agora devo contar-lhes sobre
a lição que aprenderam.
“Antes de tudo, o primeiro ponto é ter
certeza da direção em que querem seguir; e
então o ponto seguinte é pegar, não o
caminho que pareça mais curto, mas o que
pareça dar certeza de que levará vocês
direto ao objetivo. O caminho nem sempre
será o mais rápido, e poderá levá-los à
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 142
região fronteiriça onde o infinito obscurece a
visão do reino que conhecem. Ainda,
quanto mais além das fronteiras estiverem,
mais capazes de ver a extensão e os limites
da região em que pisam, e como é apenas
uma questão de perseverança e paciência,
a meta a que almejam é quase certo que
seja atingida.
“Também, logo além dos limites entre o
local e o infinito poderão ver que, apesar de
conterem em si caminhos tortuosos e
variados, e vales e bosques de onde não
podem ver muito longe, mesmo assim, visto
como um todo, é perfeitamente geométrico
– de fato, um verdadeiro círculo, o qual,
apesar de parecer um labirinto e ser
confuso, mesmo assim, sendo círculo,
contém em si uma entidade geométrica
perfeita, simples por si mesma, considerada
como uma unidade de um ponto de vista
mais amplo; espantoso quando se ultrapas-
sa sua linha limítrofe em direção aos seus
caminhos internos.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 143
“Também perceberam que, enquanto
seguiam pela curva no lado mais externo,
foram capazes de ver somente uma peque-
na porção dela de uma só vez. Ainda,
sabendo que por seu formato ela os levaria
ao local que buscavam, ficaram contentes
ao seguirem por ela, numa fé baseada em
conclusões raciocinadas, e, suficientemente
verdadeiras. Aqui estão vocês, provando
por sua presença que seu raciocínio foi,
pelo menos no principal, seguro.
“Eu poderia seguir nesse tema conside-
ravelmente mais longe, mas tenho que levá-
los agora até alguns de meus amigos que
estão aqui comigo e que me ajudam no
trabalho, e eles vão lhes mostrar mais de
nosso lar e seus arredores, e, se quiserem,
ficarão felizes em acompanhá-los pelos
campos afora, já que por lá há muito de seu
interesse para ser mostrado. Também
poderão falar com eles sobre as lições que
fiquei feliz em poder lhes passar, e entre
vocês, verão, sem dúvida, que haverá algo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 144
mais a contarem e a perguntarem para mim
quando nos encontrarmos logo mais.”
Desta forma ele se despediu de nós, e
um grupo de pessoas alegres veio da casa
e nos levou dali. Mas, como o tempo está
esgotado para que você vá para seus
outros compromissos, devemos parar por
agora, com nosso amor e a certeza de
nosso prazer em vir neste intercâmbio com
você assim, mesmo que por esses peque-
nos momentos. Deus o abençoe, querido
filho, e a todos os nossos queridos. Mamãe
e seus amigos.

Sábado, 11 de outubro de 1913.


Na noite passada, em nossa visita, pu-
demos apenas lhe passar um resumo de
nossa visita à casa de nosso instrutor, por
causa do tempo escasso. Continuaremos
agora, e relataremos algumas de nossas
experiências naquela região. É uma região
onde há muitas daquelas instituições, e a
maioria devotada à melhor maneira de
ajudar os da Terra que estejam com
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 145
dúvidas e perplexos pelos problemas que
surgem nestes reinos além. Você poderá,
pela meditação, ampliar nossas instruções
se vir o local e nossa experiência ali, à luz
de uma parábola. Assim, passamos para
outros cenários, e os descreveremos tão
bem quanto pudermos.
Nossos guias levaram-nos a um lugar
fora dos limites da região da qual já lhe
falamos, e descobrimos que o campo
gramado é muito extenso. É uma das
planícies do Céu onde as manifestações
dos Céus mais elevados acontecem de vez
em quando. O clamor é dado e enormes
multidões agrupam-se, e então algumas das
glórias das mais altas esferas manifestam-
se, tanto quanto seja possível nestes reinos
daqui.
Percorremos esse local até que, final-
mente, começamos a subir, e encontramo-
nos num planalto onde havia vários edifícios
espalhados, uns mais amplos do que
outros. No centro havia uma construção
enorme, e nesta entramos e nos encontra-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 146
mos num amplo e espaçoso hall, o único
compartimento do lugar. Era de forma
circular, e em torno das paredes havia
gravuras entalhadas de um tipo muito
interessante. Nós as examinamos e vimos
que representavam os corpos celestes, um
deles a Terra. Mas não eram fixos, giravam
em torno de eixos, metade para dentro e
metade para fora da parede. Também havia
modelos de animais, árvores e seres
humanos, mas todos se movendo, a maioria
presos em pedestais, em nichos ou alcovas.
Perguntamos o significado de tudo e nos foi
explicado que era uma instituição puramen-
te científica.
Fomos levados a um balcão em um dos
lados do espaço circular. Ele se projetava
da parede, e assim podíamos ver a totali-
dade do local de uma só vez. Então nos
avisaram que uma pequena demonstração
seria feita para nosso benefício, a fim de
que pudéssemos ter uma idéia do uso para
o qual foram dispostas essas peças.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 147
Sentamo-nos ali esperando, e finalmen-
te uma neblina azul começou a preencher o
espaço central. Então um raio de luz
percorreu o entorno do hall e parou no
globo que representava a Terra. Conforme
ele pairou sobre ela, a esfera pareceu
absorver o raio e tornou-se luminosa e,
depois de um tempo, ao ser aquele raio
absorvido, vimos que um brilho vinha de
dentro do interior do globo terrestre. Aí um
outro raio foi projetado sobre ele, de um tipo
diferente e mais intenso, e o globo lenta-
mente deixou o pedestal, ou eixo, ou seja lá
o que fosse onde ele estava encaixado, e
começou a flutuar para fora da parede.
Conforme ele se aproximou do centro
do espaço, adentrou na neblina azulada e,
imediatamente a esse contato, começou a
crescer até que se tornou uma enorme
esfera brilhante com sua luz própria e
flutuando no espaço azul. Era maravilhosa
demais. Lentamente, bem lentamente, girou
em torno de seu eixo, evidentemente da
mesma forma que faz a Terra, e pudemos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 148
ver os continentes e oceanos. Eles eram de
forma plana como nos globos terrestres
usados na Terra. Porém, à medida que
girava, as formas começaram a assumir um
aspecto diferente.
As montanhas e as colinas começaram
a se elevar, e as águas brotaram e fluíram
torrenciais, e nessa hora vimos miniaturas
de cidades, e cada detalhe das constru-
ções. Ainda mais detalhado tornou-se esse
modelo da Terra, até que pudemos ver as
próprias pessoas, primeiramente em
multidões e depois individualmente. Será
muito difícil que você entenda que, num
globo de aproximadamente, talvez, oitenta a
cem pés de diâmetro, pudéssemos ver os
homens e os animais individualmente. Mas
isso é parte da ciência dessa instituição –
permitir que esses detalhes sejam vistos
individualmente.
Ainda mais distintas tornaram-se essas
maravilhosas cenas, e, enquanto o globo
girava, vimos homens apressados nas
cidades e outros trabalhando nos campos.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 149
Vimos os espaços amplos das campinas,
desertos, florestas e os animais rugindo
nelas. E conforme o globo girava, vimos os
oceanos e os mares, alguns muito plácidos
e outros revoltos e ruidosos, aqui e ali um
navio. E toda a vida da Terra desfilou diante
de nossos olhos.
Assistimos a isso durante muito tempo,
e nosso amigo que pertencia a esse
departamento falou conosco, estando ele
embaixo do balcão onde nos sentamos. Ele
nos contou que o que víramos era a Terra
da forma que estava naquele momento. Se
desejássemos, ele nos mostraria agora a
regressão das eras desde o presente até o
início do ser humano como um ser inteligen-
te. Respondemos que realmente ficaríamos
felizes se víssemos mais desse fenômeno
maravilhoso e belo, e ele nos deixou para ir,
suponho, até o aparelho pelo qual controla-
va essas cenas.
Devo parar por aqui para explicar um
tema que vejo presente em sua mente. O
local não era escuro, mas iluminado em
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 150
todos os lugares. Mas o globo em si
brilhava com uma intensidade extra tal que,
apesar de não ser uma sensação desagra-
dável, obscurecia tudo que fosse exterior à
nuvem azul, nuvem esta que parecia ser a
circunferência da radiação refulgente
emitida pelo globo.
Logo as cenas começaram a mudar na
esfera girando, e fomos levados de volta a
milhares de anos na vida da Terra, com as
gerações dos homens, dos animais e da
vida vegetal que existiram, desde o presen-
te até a época em que os homens acaba-
vam de sair da floresta para assentarem-se
em colônias nas planícies.
Devo explicar aqui que a história não
seguiu como os historiadores fazem. Esses
fenômenos não foram de nações ou
séculos, mas de aeons e espécies. Os
períodos geográficos desfilaram diante de
nós, e foi muito interessante observar aquilo
que os homens chamam de Idade do Ferro
e Idade da Pedra, a Glaciação, as enchen-
tes, e assim por diante. E aqueles de nós
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 151
que conheciam o suficiente para segui-las,
perceberam que essas idades foram
arbitrariamente chamadas dessa forma. A
Glaciação, por exemplo, deve descrever
corretamente o estado das coisas em uma
ou duas regiões da Terra, mas não significa
que houve gelo em todos os lugares, como
verificamos enquanto girou a esfera.
Também percebemos que muito freqüente-
mente um continente estava em uma era, e
outro em outra era, na mesma época. A
exibição terminou, entretanto, quando a
Terra já estava bem evoluída e, como já
disse, o advento do homem já era um fato
consumado.
Quando já satisfizéramos nossos olhos
por uns tempos, vendo a beleza dessa jóia
multicolorida e mutante, e percebêramos
que ela era de fato a velha Terra que
pensávamos conhecer bem e vimos que
conhecemos tão pouco, o globo gradual-
mente tornou-se menor e flutuou de volta
para o nicho da parede, e então a luz
desapareceu dentro dele e ficou como um
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 152
alabastro encravado, exatamente como
havíamos visto no começo, como um
ornamento.
Ficamos tão interessados naquilo que
havíamos visto, que questionamos nosso
bondoso guia, e ele nos contou muitas
coisas sobre esse hall. A esfera terrestre
que acabara de ser usada poderia ser
colocada para servir a outros propósitos
mais do que aquele que havíamos visto.
Mas esse uso foi selecionado por ser
pitoresco para nós que não éramos conhe-
cedores de ciências. Entre os demais usos
estava o de ilustrar a relação entre os
corpos celestes um com o outro e sua
evolução até o presente estágio. Nesse
uso, claro, o globo que acabamos de ver
funcionando desempenharia seu papel
apropriado.
Os animais nas paredes eram também
usados para um propósito semelhante.
Cada um seria vivificado por esses raios
poderosos e trazido até o centro do hall.
Quando estivesse pronto, poderia andar por
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 153
si mesmo, como um animal vivo, o que de
fato estaria, por certo tempo, e de uma
certa forma restrita. Quando ele subia numa
plataforma no espaço central, era tratado
pelos raios amplificadores – como posso
chamá-los, já que não sei o seu nome
científico – e por outros que o tornariam
transparente, e todos os órgãos internos do
animal tornavam-se plenamente visíveis aos
estudantes reunidos. Os que eram daquele
departamento disseram que era uma visão
muito bonita observar todo o âmbito dos
sistemas ativos de um animal, ou de um
homem, assim dispostos.
Também era possível promover uma
mudança no modelo vivo, para que ele
começasse a evoluir para trás – ou deveria
dizer “involuir”? – até seu estado mais
simples e primário, e assim por diante. A
história estrutural dos animais como um
todo era mostrada nesse processo ao vivo.
E freqüentemente quando o primeiro
período de sua existência como uma
criatura distinta era alcançado, o processo
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 154
revertia-se, e passava através de eras
diferentes de desenvolvimento, desta vez
em sua ordem e direção corretas, até que
chegasse novamente a ser o que é hoje em
dia. Também era possível para qualquer
estudante se encarregar disso e continuar o
desenvolvimento de acordo com suas
idéias, e isto não só com os animais, mas
com os corpos celestes e também com as
nações e povos, que são tratados em outra
ala, entretanto, adaptada especialmente
para tal estudo.
Foi um estudante de um desses estabe-
lecimentos, na mesma região, que construiu
o globo no jardim das crianças, do qual já
lhe falei.4 Mas é, claro, uma forma mais
simplificada, ou pelo menos assim nos
pareceu, depois que visitamos esta colônia
de belezas e maravilhas.
Isso tudo deverá ser suficiente por ago-
ra, apesar de haver muito mais além do que
vimos enquanto estivemos lá. Mas não

4
Veja capítulo II.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 155
recomeçarei, senão vou ocupá-lo por tempo
demais.
Você tem uma pergunta. Sim, eu estava
presente na segunda-feira em seu Círculo
de Estudos.5 Eu soube que ela me viu, mas
não consegui fazê-la ouvir-me.

5
A referência ao Círculo de Estudos pede uma
nota de explanação. Foi na segunda-feira anteri-
or. Sentei-me no Santuário, entre as grades, e os
membros encaravam-se uns aos outros nas ca-
deiras do coro. A senhorita E. sentou-se à minha
direita no final do Santuário da manjedoura. Ela
depois havia me contado que, quando eu assumi
o debate, viu minha mãe vindo do altar até che-
gar atrás de mim, com os braços abertos e o
rosto expressando uma saudade imensa e amor.
Estava bem brilhante e linda, e seu corpo parecia
tão materializado quanto o de qualquer um dos
presentes. A senhorita E. achou que ela ia me
tomar em seus braços, e estava tão vívida que
ela esqueceu, por momentos, que a forma não
era de carne e sangue, apesar de não ter sido
vista pelos outros. Ela esteve por gritar, quando
rapidamente se recompôs, tendo que disfarçar
sua exclamação. Era sobre isto que desejei fazer
uma pergunta.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 156
Boa noite, querido. Estaremos juntos
amanhã.

Segunda, 13 de outubro de 1913.


Nós tivemos mais uma experiência na-
quela colônia que eu gostaria soubesse. Foi
sobre uma coisa que era nova para mim, e
muito interessante. Estavam sendo mostra-
dos para nós os estabelecimentos diferen-
tes que formavam um completo conjunto,
quando chegamos a uma espécie de
pavilhão a céu aberto. Era composto
principalmente de um domo circular alto,
apoiado em elevados pilares, e o espaço
interior era aberto. No centro da plataforma,
à qual subimos por um lance de escadas
que estava em torno de todo o prédio, havia
uma espécie de altar quadrado, de quatro
pés de altura e três pés de aresta na base.
Ali estava uma placa, algo como um relógio
de sol, enfeitado com linhas, símbolos e
figuras geométricas diferentes.
Sobre o centro do domo havia uma a-
bertura que levava, como nos disseram, a
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 157
uma câmara onde os instrumentos ali
utilizados eram controlados.
Pediram-nos que ficássemos em torno
do mostrador (assim o chamarei) e o nosso
guia nos deixou ali e, saindo, subiu em cima
do domo, entrando no compartimento acima
de nós. Não sabíamos o que ia acontecer e
por isso ficamos encarando o disco.
Nessa hora o lugar mudou de aspecto,
o ar pareceu mudar de cor e intensidade. E
quando olhamos para cima de nós, vimos
que a abóbada desaparecera, e entre os
pilares estendeu-se o que pareceu ser uma
textura em forma de cortinados. Eles eram
de matizes variados, todos entrelaçados, e,
quando olhamos em torno, pareceu que se
separaram por cores e então tomaram
formas mais definitivas. Isto continuou até
que nos vimos numa floresta, cercados de
árvores balançando-se gentilmente pela
brisa.
Então os pássaros começaram a cantar
e vimos sua plumagem brilhante, à medida
que voavam de uma a outra árvore. Gradu-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 158
almente vimos a distância aumentar entre
as árvores e pudemos enxergar a floresta
por dentro. O domo havia sumido também,
e o Céu estava aberto sobre nós, exceto
onde as árvores cobriam-nos como um
dossel.
Voltamos ao altar e ao disco. Estavam
ainda em seus lugares, mas as figuras e os
signos do altar estavam agora brilhando
com uma luz que parecia vir de dentro dele.
Então ouvimos a voz de nosso guia di-
zendo-nos, lá de cima, que observássemos
e tentássemos ler a placa. Quase nada
pudemos fazer a princípio, mas finalmente
um do nosso grupo, que era mais inteligen-
te do que os demais, disse que os signos
eram verdadeiramente representações dos
vários elementos que compunham os
corpos animais e vegetais dos reinos
espirituais. É difícil explicar o modo pelo
qual a conexão entre os dois apareceu a
nós. Mas uma vez desvendado, tornou-se
claro que assim era.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 159
Agora nosso guia ajuntou-se a nós mais
uma vez e explicou o uso do edifício.
Pareceu que antes que os estudantes
pudessem progredir bastante na ciência da
criação, como é estudada aqui nesta região,
eles devem penetrar no conhecimento dos
elementos fundamentais com os quais
lidarão. Isto, claro, é bem natural. Esse
prédio é um dos primeiros aonde eles vêm
estudar; na mesa, ou mostrador, há uma
espécie de registro dos elementos nos
quais o estudante lá em cima, na câmara
onde os instrumentos de controle estão,
pode ver a combinação dos elementos que
fez e também a proporção de cada elemen-
to pertinente a essa combinação.
Nosso guia era bem adiantado nessa
ciência, e idealizou a cena da floresta com
muita perícia. Conforme os alunos vão
progredindo, capacitam-se gradualmente a
atingir o resultado que esperam sem o
aparato científico que no início foi necessá-
rio. Instrumento após outro são deixados
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 160
para trás até que finalmente sejam capazes
de dependerem somente de suas vontades.
Perguntamos ao nosso guia qual seria o
propósito prático aplicado quando esse
conhecimento fosse atingido. Ele nos
respondeu que o primeiro uso era treinar a
mente e a vontade do aluno. Esse treino era
excelente e muito extenuante. Quando o
aluno se tornasse perito, mudaria para outro
colégio nesta região, onde outro ramo da
ciência era ensinado, então teria que passar
por muitos outros estágios de treinamento.
O verdadeiro uso desse conhecimento não
lhe apareceria até que passasse por muitas
esferas de progresso. Na mais alta destas
esferas, ser-lhe-á permitido que acompanhe
algum grande mestre, ou arcanjo, ou
poderoso (não conheço o título correto e
exato) em uma de suas missões de serviço
na criação infinita do Pai único, e ali
testemunhará o sublime processo de
trabalho. Pensamos que poderia ser a
criação de algum novo cosmos ou sistema,
material ou espiritual. Mas esse reino é tão
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 161
acima do que estamos agora que temos
apenas uma idéia genérica das obrigações
destes seres elevados, e é para algumas
eras de progresso daqui até lá, se nossas
estradas estiverem na direção deste
sistema particular dos Céus. E as chances
indicam que, para nós cinco mulheres que
visitamos o lugar que estou descrevendo,
nosso caminho progressivo leva-nos a
outros rumos.
Mas amamos saber sobre coisas dife-
rentes sobre as esferas diferentes de
serviço, mesmo que estejamos destinadas a
nunca sermos escolhidas para eles. Não
poderemos ser criadoras dos cosmos,
suponho, e há outras coisas da mesma
forma necessárias, grandiosas e gloriosas,
sem dúvida, nesses longínquos alcances
além de nós, mais próximos do trono e da
habitação d’Ele que é tudo em tudo para
tudo.
Conforme retornamos através do amplo
campo gramado, encontramo-nos com um
grupo desses mesmos estudantes que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 162
haviam estado em outro colégio, para
estudarem outros ramos de ciências. Não
eram todos homens, alguns eram mulheres.
Perguntei a elas se seus estudos seguiam a
mesma linha que a de seus irmãos, e elas
responderam afirmativamente, mas acres-
centaram que enquanto os alunos visavam
principalmente a parte puramente criativa, a
elas era permitido somar e contornar o
trabalho com seu apelo de maternidade, e
esses dois aspectos mesclados evidencia-
vam a beleza do trabalho terminado – isto
é, terminado tanto quanto possível, condi-
cionado pelas limitações de suas esferas
atuais. Porque aqui não eram esferas de
muita perfeição nas realizações como eram,
com o progresso, essas esferas mais altas.
Nessa hora voltamos para a primeira
colônia onde encontramos nosso instrutor
da região circular.
Por que não me dá seu nome?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 163
6
Seu nome era Arnol, mas esses nomes
soam estranhamente aos ouvidos terrestres
e as pessoas estão sempre tentando
descobrir-lhe algum significado; eis o
porquê de ficarmos sempre constrangidos
ao dá-los. Os significados são na maioria
incompreensíveis a vocês, por isso diremos
apenas o nome no futuro, como você assim
deseja, e deixaremos assim.
Bem, isso economiza muito vocabulário,
não é?
Sim, e se vocês tivessem entendido as
condições sob as quais nós lhes passamos
essas narrativas, provavelmente diriam que
quanto mais longe, mais certa seria a rota.
Lembrem-se de nossa experiência e dos
ensinamentos da região de Arnol.

6
Arnol, aqui mencionado pela primeira vez,
comunicou-se eventualmente através do reve-
rendo George Vale Owen numa série de mensa-
gens que estão colocadas em O Ministério do
Céu e em Os Batalhões do Céu (Livros 3 e 4
desta série), porém ali com o nome de Arnel,
como será oportunamente explicado.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 164
O que torna tão difícil a vocês darem
seus nomes? Ouvi dizer dessa dificuldade
mais de uma vez.
Há também uma dificuldade na expla-
nação dessa dificuldade – do seu ponto de
vista um tema tão aparentemente simples.
Coloquemos desta forma: você sabe que
entre os antigos egípcios o nome de um
deus ou deusa era muito mais que um
nome, como entendido pelos duramente
materialistas anglo-saxônicos, de cuja raça
veio o questionamento: “O que há em um
nome?” Bem, do nosso ponto de vista, e
também dos antigos sábios do Egito,
baseados nos dados obtidos deste lado do
Véu, há muito em um nome. Mesmo na
mera repetição de alguns nomes há poder
real, e algumas vezes perigo. Isto sabemos
agora, o que não sabíamos na Terra. E aqui
mantemos uma reverência diante da
entidade “o Nome” que, para você, parece-
ria provavelmente boba. Todavia, é em
parte por essa razão que os nomes não
chegam a vocês tão fartamente como
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 165
muitos investigadores bem fracos gostari-
am.
Também o mero enunciar e transmitir
de alguns desses nomes é, quando esta-
mos nessa região da Terra, um fato de uma
dificuldade maior do que vocês talvez
julguem. É um tema, entretanto, que é difícil
de explicar a você, e somente alguém será
capaz de entender quando estiver familiari-
zado com a quarta dimensão que é alcan-
çada aqui – também esse termo usamos
por falta de melhor. Faremos, a título de
exemplo, a referência de dois ou três
nomes e deixaremos o assunto.
Um foi a entrega a Moisés do nome do
Grande Oficial do Supremo que o visitou.
Moisés pediu seu nome, e o obteve – e nem
ele, nem ninguém mais até os dias de hoje
foi capaz de dizer seu significado.
Aí o anjo menor que veio a Jacó. Jacó
pediu seu nome, e foi-lhe recusado. Os
anjos que vieram a Abraão e aos outros no
Velho Testamento raramente deram seus
nomes. Da mesma forma, no Novo Testa-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 166
mento a maioria dos anjos que vieram
ministrar aos moradores da Terra são
chamados assim simplesmente; e onde o
nome é dado, como no caso de Gabriel, é
pouco entendido quanto ao seu significado
mais íntimo.
Qual é o seu nome, mamãe? Quero di-
zer seu novo nome? É permitido dá-lo?
Permitido, sim, mas não prudente, que-
rido. Você sabe que o daria se pudesse.
Mas isso, por ora, devo omitir até de você,
sabendo que entenderá, meu amor, mesmo
que meu motivo não seja muito claro.
Sim, querida, você sabe o que é melhor.
Algum dia você também saberá e verá
que glórias esperam aqueles cujos nomes
estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro,
frase que vale a pena se pensar nela, já
que é uma verdade gloriosa e viva, e os que
usam esse nome tão levianamente, certa-
mente apreenderam pouco, ou quase nada.
Deus o abençoe, querido, e Rose e as
crianças, Ruby mais uma vez me pede, na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 167
sua forma tão delicada, que diga que ela
virá vê-lo logo mais e espera que possa
seguir seus comandos – esta é a palavra
que ela usou, abençoada, ela que é tão
graciosamente humilde, e amada por tantos
quantos a conheçam. Deus o abençoe,
querido. Boa noite.

Quarta, 15 de outubro de 1913.


Como começaríamos a explicar a al-
guém, que tenha uma pálida idéia de um
mundo espiritual acima dele, a verdade da
vivência além do túmulo, a realidade desta
vida, e todo o seu amor e beleza? A
princípio, você provavelmente iria torná-lo
ambientado ao fato de sua atual e verdadei-
ra existência como um ser imortal. Então,
quando ele tivesse realmente captado a
significação disto, de como afeta seu futuro,
talvez estivesse aberto a umas poucas
palavras descritivas sobre a vida em que
ele se encontrará inserido e posto em
contato, quando puser de lado o véu e
emergir na grande luz do Além.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 168
Assim pensamos que se os homens
pudessem apenas entender que a vida que
agora vivem é vida sem dúvida, e não uma
efêmera existência, eles ficariam mais
inclinados em levar mais em conta as
palavras dos que provaram por eles mes-
mos a realidade desta vida eterna e indivi-
dual, e também a bênção que espera pelos
que na Terra são capazes de lutar e
superar.
Bem, não é pouco querer que os ho-
mens vivessem suas vidas na Terra de tal
forma que, quando atravessassem o limiar
para o plano maior e mais livre, se soer-
guessem e continuassem seu serviço no
Reino, sem delongas maiores ou menores
em seu progresso. Vimos já a história de
muitos, como é vista como extensão da de
seu lado, e sentimos que não podemos
enfatizar muito a importância da preparação
e do autotreinamento quando a oportunida-
de aparece. Muitos deixam de lado as
considerações sérias sobre isso, com a
idéia de que quando chegarem aqui reco-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 169
meçarão, e quando aqui chegam vêem que
não haviam percebido no que implicava em
recomeçar tudo.
Quem está escrevendo?
Ainda é sua mãe e seus amigos. Astriel
não está aqui esta noite, mas estará
conosco em outra ocasião. Faremos com
que saiba quando for ele e seu grupo se
comunicando.
Bem, continuemos. Já lhe falamos so-
bre a ponte e o abismo...
Sim. Mas o que mais sobre sua experi-
ência nos domínios de Arnol, e sobre seu
retorno à sua própria esfera? Não tem mais
nada para me contar daquele episódio?
Nada mais a não ser que aprendemos
muito, fizemos muitos amigos, vimos muitas
coisas mais e agora transmitimos, e visita-
remos o lugar novamente em breve. Agora,
continuemos naquilo que gostaríamos de
abordar e que será talvez mais útil que se
continuássemos em nossa descrição da
Colônia daquela região.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 170
O precipício e a ponte – traga de volta à
sua mente o que já lhe falamos deles.
Queremos relatar-lhe um episódio que
testemunhamos naquele lugar onde a ponte
– como continuarei chamando aquele lugar
– emerge para os planos mais elevados de
vida e de luz.
Ali fomos enviadas para recebermos
uma mulher que tinha sua chegada espera-
da, tendo já travado sua luta naquelas
regiões apavorantes e escuras que ficam
debaixo da ponte. Ela não viera pela grande
estrada, mas através dos horrores da
escuridão e da depressão daquelas regiões
inferiores. Conosco viera um alto anjo de
uma esfera acima da nossa, que estava
especialmente comissionado para esta
tarefa. Era uma das irmãs angélicas que
organizam nossos lares quando os socorri-
dos são recolhidos.
Pode dar-me seu nome?
Bearn... não, não conseguimos transmi-
tir-lhe. Deixe assim, e pode ser que consi-
gamos conforme continuamos.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 171
Quando lá chegamos, vimos que uma
luz brilhava um pouquinho ali em baixo do
caminho de pedra que descia para o vale, e
soubemos que algum anjo estava ali
observando. Aos poucos tornou-se mais
escuro, e percebemos que estava afastan-
do-se de nós, lá embaixo. Depois, passado
algum tempo, vimos uma faísca distante no
vale, e a ela houve uma resposta imediata
através de um facho de luz de uma das
torres da ponte. Não é diferente do que
você conhece como farolete, e de fato
respondeu a um propósito similar. Foi
direcionado para baixo e permaneceu
aceso. Então Bea... – nossa irmã angelical
– pediu-nos que ficássemos onde estáva-
mos por um tempo, e seguiu pelo ar ao topo
da torre.
Nós a perdemos na luz, mas uma das
minhas companheiras disse que pensava
tê-la visto voando ao longo do raio de luz
direcionado para aqueles departamentos.
Eu não a vi, mas depois vi que ela estava
certa.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 172
Devo parar por aqui para explicar que a
luz não era para permitir que os espíritos
vissem (já que podiam fazê-lo com seus
próprios poderes), mas para dar força para
o trabalho e proteção contra as influências
maléficas que predominam nas regiões
inferiores. Foi por essa razão que o primeiro
anjo enviou seu sinal, e foi compreendido
pelos observadores na ponte e respondido
da maneira que lhe descrevi. O raio de luz
é, de uma maneira que eu ainda não
entendo, impregnado com poder de vida e
força – é a melhor descrição que sou capaz
de dar – e foi enviado para ajudar aquele
em quem estava a vontade de ajudar.
Aos poucos vimos os dois retornando.
Ele era um anjo forte, mas parecia fatigado,
e soubemos depois que ele encontrara um
grupo de espíritos muito malignos que
fizeram o que podiam para retomarem a
mulher de volta entre eles. Eis o porquê de
ele ter precisado de ajuda. Ele andava de
um lado e ela andava do outro lado da
pobre alma torturada e judiada, a meio
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 173
caminho de desfalecer. Por causa dela
vinham vindo bem devagar, andando no
raio de luz a caminho da torre da ponte.
Nunca havíamos visto tal coisa antes,
exceto uma vez, e eu lhe contei o caso.
Estou falando do pavilhão de luz e a
reunião de pessoas de cores muito variadas
nas roupagens. Mas aqui, de certa forma,
foi muito mais solene; havia angústia em
meio à alegria, e lá, apenas alegria. Eles
alcançaram a ponte, e a socorrida foi levada
a uma das casas e atendida, e ali ficou até
que tivesse se recuperado para ser levada
aos nossos cuidados.
Bem, há diversos pontos nessa narrati-
va que nos trouxeram novos conhecimen-
tos, e alguns que confirmaram o que antes
eu meramente supunha naquele tempo
desta experiência. Alguns deles passo a
relatar.
É um erro pensar que anjos, mesmo do
nível desses dois que foram para lá a fim de
socorrer aquela pobre mulher, são incapa-
zes de sofrer. Eles sofrem realmente, e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 174
freqüentemente. E é possível aos malicio-
sos feri-los quando estes se aventuram na
região daqueles. Teoricamente não vejo por
que os malignos prevaleceriam até tê-los
sob seu poder. De tal intensidade, entretan-
to, são os poderes da luz e tão bem organi-
zados, e tão bem vigilantes, que não ouvi
que essa catástrofe tenha realmente
acontecido. Mas a luta deles foi uma luta
real, e fatigante também. Este é o segundo
ponto. Mesmo esses elevados anjos ficam
cansados. Mas não se importam nem pelo
sofrimento nem pela canseira. Pode soar
como paradoxo, mas apesar disso é
verdadeiro que seja uma alegria a eles
terem sofrido quando alguma alma sofredo-
ra estava batalhando por ser salva.
Também aquele raio de luz – ou talvez
eu poderia dizer “raio de poder e vitalidade”
– era tão forte que se eles não tivessem
protegido a mulher através de uma certa
cobertura de influência negativa, o raio teria
machucado, porque seria um choque
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 175
grande demais para alguém despreparado
como ela.
Outro ponto é este. Aquele raio foi visto
bem distante na região de treva, e ouvimos
um murmúrio se aproximando, como se
parecesse, de centenas de milhas de
distância, vindos através do vale. Foi uma
experiência estranha, já que o som foi o de
muitas vozes, e algumas de raiva e ódio, e
outras de desespero, e outras gritavam por
socorro e clemência. E estes e outros gritos
diferentes pareciam agrupar-se cada um em
uma localidade particular, vindo de diferen-
tes direções. Nós apenas podíamos enten-
der um pouquinho, mas apesar disso,
enquanto esperávamos pela socorrida,
perguntamos para Beanix (temo não poder
fazer melhor que isso, por isso assim ficará;
nós a chamaremos de Beanix, mas não
parece correto quando acabo de escrever)
sobre essas lamentações e de onde
vinham. Ela disse não saber, mas que havia
provisão para seus registros, tanto coleti-
vamente quanto individualmente, para
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 176
serem analisados, e poderiam ser tratados
cientificamente na ciência do amor, e então
o socorro seria enviado segundo o mereci-
mento dos que se lamentavam, e também
da melhor forma que fosse necessária.
Cada lamentação era uma evidência do
bem ou mal em alguma alma humana
naquela região, e receberia sua resposta
apropriada.
Quando a mulher nos foi encaminhada,
primeiramente a deixamos descansar e a
circundamos com uma influência repousan-
te e silenciosa, e então, quando ficou
fortalecida o suficiente, nós a levamos a
uma casa onde está sendo cuidada e
atendida.
Não fizemos perguntas quaisquer, mas
deixamos que ela falasse o pouco que
pôde. Mas descobri que a pobre coitada
tinha estado nas trevas por mais de vinte
anos. Sua história de vida na Terra eu já
havia lido parcialmente, mas não o suficien-
te para fazer uma narrativa conexa. E não é
bom relembrar tão vividamente aos que ela
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 177
deixou na Terra tanto tempo atrás. Eles
usualmente têm que se esforçar para
voltarem ao presente, vindos de experiência
na vida espiritual, para entenderem-na e a
relação com o todo – causa e efeito,
semeadura e colheita – tudo explicado.
Isto é o que basta por agora. Boa noite,
querido, e as bênçãos de Deus e nossas
orações estarão contigo. Possa Ele mantê-
lo em Sua paz. Amém.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 178
Capítulo IV

A cidade e o reino de Castrel

Sexta, 17 de outubro de 1913.


Quando chegamos à casa aonde fomos
encarregadas de levar nossa pobre irmã,
agora tão abençoada, fomos avisadas de
outra missão determinada para nós. Fomos
convidadas a irmos para outro distrito em
direção ao leste... Você hesita novamente,
mas é a palavra que queremos. Por Leste
queremos dizer a direção de onde a luz
brilhante é vista sobre as montanhas que
bordejam a planície onde a visão do Cristo
e da cruz foi-nos apresentada. Nós sempre
nos referimos a essa direção como sendo
leste, porque nos lembra da aurora.
Saímos, nós cinco, todas mulheres, e
mantivemos diante de nós a descrição que
recebêramos do lugar que estávamos agora
buscando. Devíamos ir a uma grande
cidade entre as montanhas, com uma
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 179
grande cúpula dourada no meio dela, e a
cidade em si é rodeada por uma colunata
num terraço que cerca a cidade por todos
os lados. Andamos pela planície e depois
fomos pelo ar, que requer mais esforço,
mas é mais rápido, e, num caso como o
nosso, mais conveniente porque nos
permitiu ter uma visão da região.
Avistamos a cidade e descemos diante
do pórtico principal, por onde adentramos
na principal via de acesso. Ela cortava reto
por toda a cidade e terminava em outra
avenida no outro lado. Em cada lado dessa
ampla rua havia casas enormes, ou palá-
cios, em amplos terrenos, residências dos
principais oficiais daquele distrito do qual
esta mesma cidade é a capital.
À medida que caminhamos em direção
à cidade, havíamos visto pessoas traba-
lhando nos campos, e muitos edifícios,
evidentemente não residenciais, mas
erigidos para algum outro propósito útil. E
agora que estávamos dentro dos muros da
cidade podíamos ver a perfeição dos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 180
edifícios e da jardinagem. Cada edifício
tinha um jardim típico para combinar com
suas cores e forma. Seguimos adiante,
esperando por alguma sinalização quanto
ao nosso destino e a nossa missão, já que
nessas ocasiões uma mensagem é sempre
enviada na frente, assim os visitantes são
esperados.
Quando andamos um bom trecho, en-
tramos numa praça bem grande onde
cresciam lindas árvores em campos da mais
verde das gramas, e fontes compunham em
harmonia o conjunto; isto é só para dizer
que havia talvez umas doze fontes, cada
uma em seu tom, cada um delas composta
de pequeninos jatos d’água dando sua nota.
Elas eram manipuladas, em certas ocasi-
ões, de tal forma que uma complicada peça
musical poderia ser tocada com o efeito
semelhante ao que é produzido por um
órgão com muitos foles. Nestas ocasiões há
grande quantidade de pessoas reunidas
naquela praça, ou parque, como posso
chamá-lo, tanto de cidadãos quanto daque-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 181
les que habitam fora dali, entre as colinas e
pastos. Mas quando chegamos, as fontes
estavam tocando uma simples série de
acordes, em perfeita harmonia, com um
efeito delicioso.
Aqui permanecemos por um tempo, já
que era muito lindo e repousante. Sentamo-
nos ou deitamo-nos na grama, e nessa hora
veio um homem em nossa direção, o qual
sorria enquanto se aproximava, e soubemos
que era aquele que nos aguardava. Levan-
tamo-nos e postamo-nos diante dele em
silêncio, já que não nos sentíamos à
vontade para uma conversação, pois
percebemos que ele era um anjo de um
grau considerável acima de nós.
Por favor, descreva-o e dê seu nome,
se possível.
Tudo a seu tempo, querido. Aprende-
mos a eliminar a impaciência por aqui,
como sendo uma coisa que nos confunde
sem acrescentar ímpeto ao tema em pauta.
Ele era alto – mais alto que a média
humana na Terra. Eu diria que ele teria sete
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 182
pés e meio na medida terrestre. Eu estou
consideravelmente mais alta do que quando
estava com vocês, e ele era muito mais alto
do que eu. Usava uma túnica da cor creme,
quase até seus joelhos, pernas e braços
nus, e sem sandálias. Veja que estou
respondendo o que você está questionando
em sua mente. Não, ele não tinha nada na
cabeça, a não ser a linda cobertura de
cabelos castanhos e macios, partidos ao
meio e ondulados em torno da face e do
pescoço. Usava um largo filete de ouro, no
centro e nas laterais estavam engastadas
três pedras azuis enormes. Ele usava um
cinto de prata mesclado com um metal
rosado, e seus membros cintilavam com um
suave brilho. E estas características, junto a
outras, diziam-nos de sua alta hierarquia.
Havia também uma calma benevolência
e poder em seu semblante firme mas
bondoso, que nos transmitia paz e confian-
ça enquanto estávamos diante dele, mas
também nos induzia a uma reverência que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 183
nos alegrávamos em prestar a quem
realmente merecia, como ele.
Ele finalmente falou, silenciosamente,
modulando sua voz para o nosso caso,
como instintivamente soubemos. Pudemos,
apesar disso, detectar seu poder reverbe-
rando naquela tonalidade. Ele disse, “Meu
nome é Cast... “ Desculpe. Esses nomes
parecem ser a minha fraqueza. Eles sempre
me deixam perplexa quando eu tento
reproduzi-los aqui em baixo. Mas não
importa seu nome por enquanto. “Eu sou C.
– disse ele –. Vocês já escutaram seus
superiores falarem de mim, e agora nos
encontramos pessoalmente. Agora, minhas
cinco irmãs, venham comigo, e eu contarei
o porquê de terem sido enviadas até esta
cidade e a mim.” Então o seguimos, e no
caminho conversamos bastante e ficamos
bem à vontade em sua presença.
Ele nos conduziu por uma avenida per-
pendicular à praça, e então saímos numa
outra praça; mas logo percebemos que esta
era particular, e aquele grande palácio, que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 184
ficava no meio do parque e em torno dele,
era a residência de algum grande senhor.
Fomos levados através do parque até que
nos aproximamos do grande prédio que
ficava, como um grande templo grego, num
platô que tinha um lance de escadarias em
todas as suas laterais.
O prédio era imenso e estendia-se dian-
te de nós, para a esquerda e para a direita,
e tinha grandes arcos, entradas e pórticos,
tudo recoberto por uma grande cúpula. Era
a marca que vimos quando nos aproxima-
mos da cidade, somente que vimos que não
era toda de ouro, mas dourada e azul.
Perguntamos quem morava ali e ele
respondeu, “Oh, esta é a minha casa: isto é,
minha casa da cidade, já que tenho também
outras casas nas paragens campestres,
aonde vou de vez em quando para visitar
meus amigos cujas funções estão naqueles
distritos. Entrem, e receberão as boas
vindas que merecem, vocês que vieram de
tão longe para nos ver.”
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 185
Ele falava bem simples. Vim a saber
que a simplicidade aqui é uma das caracte-
rísticas de grande poder. Alguém pensaria
que a maneira apropriada de anunciar
alguém na presença de um grande nobre
seria mandar servos para nos conduzir pelo
palácio, e então ele nos receberia em seu
status. Mas aqui se encaram as coisas de
modo diferente. Não haveria propósito em
tal cerimonial por aqui, portanto foi dispen-
sado. Nos casos em que o cerimonial é
esperado ou desejado, ele é mantido, e
algumas vezes com muita grandiosidade.
Quando não é necessário, não é usado.
E foi assim que viemos até a casa de
Castrel, – agora você já tem seu nome tão
bem quanto eu posso transmitir; e de quem
falaremos mais em outra ocasião. Agora
você tem que sair, portanto boa noite,
querido, e todas as bênçãos a você e aos
seus, destes lindos e brilhantes reinos.
Querido filho, boa noite.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 186
Sábado, 18 de outubro de 1913.
Assim ele nos fez entrar, e descobrimos
que o interior da casa era alto e magnífico.
O saguão de entrada, no qual paramos, era
circular, de formato e aberto acima para a
grande cúpula, a qual não ficava no centro
da construção, mas um pouco recuada do
pórtico da entrada. A rotunda era ricamente
cravejada com pedrarias de cores variadas
e cortinados de textura semelhante à da
seda, a maioria da cor carmim profundo.
Portarias levavam a longas passagens à
nossa frente e também em nossos lados.
Pombos esvoaçavam sob a cúpula, tinham
evidentemente como entrar e sair. O
material de que era feita a arcada do teto
dessa cúpula era de uma espécie de pedra
semi-opaca, que permitia que a luz pene-
trasse filtrando uma nuance de um brilho
suave. Quando olhamos por instantes
acima de nós, descobrimos que estávamos
a sós, já que Castrel havia nos deixado.
Aos poucos, de uma passagem em
nossa direita, escutamos gargalhadas e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 187
vozes alegres, e dali naquela hora saiu um
grupo de mulheres com algumas crianças
entre elas. Totalizavam umas vinte pesso-
as, e vieram até nós, e pegando nossas
mãos em cumprimento de boas vindas,
beijaram nossas faces, sorriram para nós e
assim ficamos mais contentes do que antes,
se fosse possível. Então elas se afastaram,
ficando a uma pequena distância, exceto
uma delas que ficou ali. Ela veio em nossa
direção e nos mostrou um recanto da
parede, onde poderíamos nos sentar.
Então, ficando em pé diante de nós, ela
dirigiu-se a cada uma de nós saudando-nos
pelos nossos nomes, e disse, “Devem estar
imaginando o porquê de terem vindo até
aqui, e que cidade e que lugar seria este a
que foram enviadas. Esta casa onde agora
estão é o palácio de Castrel, como, sem
dúvida, já sabem. Ele é o governador deste
amplo distrito, onde têm lugar muitas
ocupações, e muitos estudos podem estar
em curso. Ouvi dizer que vocês já foram até
a colônia da Música, e mais ainda, para
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 188
outros departamentos, onde são estudados
outros ramos da ciência. Nós estamos em
contato com todos eles e recebemos
constantemente seus relatórios quanto ao
progresso neste ou naquele ramo da
ciência. Esses relatórios são estudados por
Castrel e seus auxiliares, do ponto de vista
da harmonia, como vocês chamariam.
Coordenação expressaria melhor, entretan-
to, o que quero dizer.
“Por exemplo, um relatório chegará da
Universidade da Música, e outro da Luz, e
outro do estabelecimento onde a faculdade
criativa é estudada, e de outros ramos de
serviços. Todos eles serão muito cuidado-
samente examinados, analisados e tabula-
dos e, quando houver necessidade, os
resultados serão testados aqui, em um ou
outro laboratório relacionado a esta cidade.
Vocês já viram alguns deles à medida que
se aproximaram daqui. Eles estão espalha-
dos sobre o campo, até uma grande
distância. Estes não são tão detalhadamen-
te completos como os que já visitaram em
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 189
outras localidades, mas, quando algum
novo aparato torna-se necessário, uma
missão é despachada para inquirir sobre
sua construção, e eles retornam e constro-
em no local mais apropriado em relação aos
outros departamentos deste distrito; ou
talvez é acrescentado a outros aparatos
que já existem em um ou outro dos prédios.
“Vocês entenderão, portanto, que um
super governador como ele, que controla
uma combinação de conhecimento tão
variada, deve ser evoluído em sabedoria, e
também é muito ocupado em seu trabalho.
Este é o trabalho a que foram enviadas
para verem, e, enquanto ficam conosco,
terão grandes oportunidades de visitarem
nossas estações externas. Não entenderão
tudo, claro, ou talvez não muito, do lado
científico do trabalho, mas será mostrado o
suficiente para ajudá-las em seu trabalho
futuro. Agora venham, e vou mostrar-lhes
esta casa, se quiserem.”
Respondemos que sim, e agradecemos
pela gentileza. Então percorremos as partes
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 190
principais daquela moradia magnificente. É
a única palavra que encontro para ela. Em
todos os lugares as cores mesclavam-se a
outras, nítidas mas harmoniosas, e de tal
forma que, em vez de serem fulgurantes,
tinham algumas vezes um efeito estimulante
e algumas vezes um suave efeito repousan-
te. Jóias e metais preciosos e lindos
ornamentos, vasos e pedestais e pilares –
alguns erigidos apenas para enfeite, uns
solitários, outros em grupos –, pendentes
de material cintilante que, quando atraves-
sávamos algum pórtico, voltavam ao lugar
emitindo um murmúrio musical, fontes com
peixes, pátios a céu aberto, nos quais
cresciam grama, as mais belas árvores e
arbustos floridos, de cores que não são
conhecidas na Terra.
Então subimos ao teto, e aqui havia no-
vamente um jardim, mas de grande exten-
são, com grama, bosquetes, arbustos e
fontes novamente. Era daqui que a maioria
das mensagens e mensageiros eram
avistados; e também havia aparatos para se
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 191
manter correspondência com regiões
distantes por uma espécie do que vocês
talvez chamassem de telégrafo sem fio,
mas realmente é diferente, já que as
mensagens chegam na maioria de forma
visível, e não em palavras.
Permanecemos nessa mansão por um
período considerável, e visitamos a cidade
e também seus distritos em torno, distritos
esses que na Terra teriam milhares de
milhas, mas todos em contato constante
com a cidade e suas estações de comuni-
cação, e com o palácio central por si
mesmo. Não teríamos tempo para contar-
lhe tudo. Por isso vou lhe transmitir apenas
alguns detalhes, e deixarei que imagine o
restante que, entretanto, sei que não
conseguirá.
A primeira coisa que me confundiu foi a
presença das crianças, porque eu pensava
que todas as crianças estavam recolhidas
em casas especiais destinadas a elas. A
senhora que nos recebeu era a mamãe do
local, e aquelas que a atendiam eram
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 192
algumas de suas ajudantes. Eu perguntei a
uma delas sobre essas crianças que
pareciam tão felizes e bonitas, e tão à
vontade num local tão grandioso. Ela me
explicou que essas eram crianças natimor-
tas, que jamais haviam respirado a atmosfe-
ra terrestre. Por essa razão, elas tinham
características diferentes das que nasceram
vivas, mesmo das que sobreviveram
apenas alguns minutos. Elas também
requeriam tratamento diferenciado e eram
capazes muito mais cedo de se imbuírem
do conhecimento destas esferas. Então
eram enviadas a alguma casa como esta e
treinadas até que tenham progredido na
mente e evolução de tal hierarquia, de tal
forma que possam começar seu novo curso
de conhecimento. Então, fortes na pureza
celeste e em sabedoria, são levadas até as
professoras que estão em contato com a
Terra, e aprenderão o que não puderam
aprender antes.
Isso me interessava muito, e então co-
mecei a ver que uma razão pela qual fui
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 193
mandada para cá era a de aprender essas
coisas, para que pudesse ser despertada
em mim a consciência do desejo de saber
de minha filha que tinha passado para este
lado dessa forma, e por quem eu não
esperava ser chamada de mamãe. Ah, a
grande e dulcíssima emoção que se
apoderou de mim quando percebi isso. Não
ficarei neste assunto, mas confesso que por
uns tempos lágrimas de alegria indescritível
embaçaram meus olhos por mais esta
bênção acrescentada às muitas já recebi-
das. Sentei-me na grama diante de uma
árvore, e cobri minha face com as mãos,
inclinando minha cabeça sobre meus
joelhos, e ali fiquei desamparada, pelo
estranho enlevo que vibrou e preencheu
todo o meu ser, até tomá-lo por inteiro.
Minha querida amiga não falou comigo, mas
sentou-se ao meu lado e colocou seus
braços em torno de meus ombros, e deixou
que extravasasse minha alegria.
Então, quando me recobrei, ela disse
gentilmente, “Querida, eu também sou mãe,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 194
a mãe de um, da mesma forma que você
encontrará aqui a sua. Por isso sei o que
vai em seu coração neste momento, porque
já passei por esta sua alegria de agora.”
Então levantei meus olhos para ver sua
face, e ela leu a pergunta que não pude
fazer, e, levando-me pelas mãos, conduziu-
me, ainda com seus braços em meus
ombros, a um bosque onde ouviam-se
crianças brincando, seus gritos alegres e
risadas vindos por entre as árvores – e
estava tão abalada por toda aquela alegria
que me preencheu, como eu conseguiria
me sustentar diante da alegria maior que
viria?
Querido, não faz muito tempo que isso
aconteceu, e ainda está tão claro em mim
que acho difícil escrever através de você
com a clareza que gostaria. Mas você deve
perdoar-me se pareço tão prolixa, ou tão
desconexa em minhas palavras. Eu não
conhecia essas verdades, e quando me
foram reveladas tão repentinamente, e todo
significado para mim – tremendo de tudo –,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 195
bem, devo deixá-lo tentar entender. Basta
dizer que encontrei naquele bosque aquilo
que eu não sabia que possuía, e por esses
lugares dádivas como essa são ofertadas
mais rapidamente do que somos capazes
de nos controlar para recebê-las.
Devo acrescentar, antes que termine-
mos, o que deveria ter dito antes, mas
estive sendo levada por minhas lembranças
daquele momento tão doce. É isso: Quando
crianças pequeninas chegam aqui, primei-
ramente elas são ensinadas nesta vida, e
depois têm que aprender a experiência que
lhes faltou na Terra. Quanto mais treina-
mento tiverem na vida terrena, mais cedo
são enviadas para completarem tudo. Os
que são natimortos não tiveram treinamento
terrestre nenhum. Apesar disso, são
crianças da Terra e, como tais, devem
retornar e adquiri-lo. Não antes da hora em
que seja seguro fazê-lo, entretanto, e
apenas sob a guarda apropriada até que
sejam competentes para seguirem sozi-
nhos. O retorno deles às vizinhanças da
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 196
esfera terrestre é conseqüentemente adiada
por mais tempo, e alguém que tenha vivido
uma vida longa e ocupada na Terra tem
menos o que aprender da vida terrena
quando chegar até aqui, e por isso passa
para outros estudos mais elevados.
Claro, estes são os amplos princípios
gerais e, aplicando-se aos indivíduos, tem
que se levar em conta suas características
pessoais, e a regra será modificada e
adaptada se o caso particular requer ou
merece.
Mas tudo está bem para os que vivem e
amam, e os que amam mais vivem a vida
mais amorosa. Isto soa repetitivo, mas
deixe assim, porque é a verdade. Deus o
abençoe, querido. Boa noite.

Segunda, 20 de outubro de 1913.


Estávamos caminhando pela avenida
principal daquela linda cidade numa viagem
de inspeção. Queríamos entender por que
estava disposta em tantas quadras e qual
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 197
seria a utilidade de alguns daqueles
edifícios que percebêramos nos dois lados
daquela ampla avenida. Quando chegamos
à rua mais distante, vimos que a cidade
estava acima das planícies vizinhas. Nossa
guia explicou que a razão para isso é que a
visão daquelas torres deveria alcançar o
mais distante possível, e também serem
vistas pelos que estavam nos assentamen-
tos mais distantes daquela região. Esta era
a cidade capital daquela região, e todos os
fatos que aconteciam tinham seu foco aqui.
Em nosso caminho de volta visitamos
vários desses prédios e fomos gentilmente
recebidas. Encontramos poucas crianças,
outras que não as que estão na casa de
Castrel. Aqui e ali havia, entretanto, grupos
nas praças, onde as fontes tocavam e eram
circundadas por espelhos d’água que
recolhiam as águas que caíam. Elas eram
coletadas numa corrente maior que partia
de um lado da cidade e caía na planície
abaixo, uma cascata brilhante de muitas
colorações e de um brilho cintilante. Ela
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 198
continua atravessando a planície, uma
correnteza bem larga suavemente fluindo
sobre as areias, e vimos, aqui e ali, algu-
mas crianças banhando-se nelas, jogando
água em seus corpos lindos com imensa
alegria. Não pensei muito nisso até que
minha guia fez com que notássemos que
essas crianças eram encorajadas a banha-
rem-se nessas águas por serem elas
carregadas eletricamente e darem força às
crianças, pois muitas delas vem para cá
bem fraquinhas, requerendo esse tipo de
nutrição.
Expressei minha surpresa diante disso,
e ela replicou, “Mas o que queria? Você
sabe que, apesar de não serem de carne e
sangue, mesmo assim nossos corpos são
sólidos e verdadeiros como os que deixa-
mos para trás. E você sabe que estes
corpos do nosso estado atual correspondem
ao espírito intimamente, muito mais acura-
damente do que os outros antes. Agora
esses pequenos espíritos estão, na maioria,
apenas começando a desenvolver e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 199
necessitam de nutrição corporal para ajudar
nisso. Por que não?”
Por que não, sem dúvida! Evidentemen-
te, eu era lenta para aprender tudo que a
frase que eu já lhe transmiti implicava,
“Terra aperfeiçoada.” Temo que muitos de
vocês, quando vierem para cá, ficarão muito
chocados ao verem quão naturais são todas
as coisas, mesmo que mais bonitas do que
as da Terra. Pois muitos esperam encontrar
um mundo vago e sombrio por aqui,
totalmente diverso da Terra em todas as
formas possíveis. E ainda assim, pense
nisto, e com bom senso, o que traria de
bom para nós um mundo como esse? Não
significaria um progresso gradual para nós,
mas uma transição brusca, e este não é o
caminho de Deus.
As coisas por aqui, logo que chegamos,
estão certamente muito diferentes de
quando eram os velhos tempos, mas não
tão diferentes para nos fazerem ficar
pasmos de tão estranhas. De fato, aqueles
que vêm para cá, depois de terem vivido na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 200
Terra uma vida sem progresso, vão para
uma esfera de características tão grosseiras
que se torna, para eles, impossível de se
diferenciar da própria Terra. Esta é uma das
razões pelas quais não conseguem perce-
ber que mudaram de estado. Conforme se
progride das esferas mais baixas em
direção às mais elevadas, essas caracterís-
ticas gradualmente dão lugar a condições
mais sublimadas, e quanto mais alto se
sobe, mais sublime é o ambiente. Mas
poucos, ou nenhum, passam para aquelas
esferas onde não se vê nenhum traço
terreno, ou onde não há nenhuma seme-
lhança com a vida na Terra. Duvido que,
como regra, alguém o faça. Mas a respeito
disso não comentarei nada dogmaticamen-
te, porque por mim mesma ainda não lá
cheguei, nem visitei, a uma esfera onde não
haja absolutamente nenhuma semelhança
com a maravilhosa Terra de Deus. Pois ela
é linda, e temos que aprender sobre suas
belezas e maravilhas por aqui, como parte
de nosso treino. E, aprendendo isso, vemos
que a Terra é apenas uma manifestação
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 201
exterior de nossa própria esfera, e em
sintonia conosco e nosso atual ambiente,
em várias formas bem íntimas. Se não
fosse assim, não poderíamos estar nos
comunicando com você neste momento.
Também – e eu meramente falo da for-
ma que tudo aparece diante de mim, que
não sou muito aprofundada nestes temas –
não vejo como as pessoas que passam
para cá vindas da Terra poderiam chegar
aqui se houvesse um enorme hiato entre
nós, um gigantesco vácuo. Como poderiam
atravessá-lo? Mas é simplesmente um
raciocínio meu, e ele pode não conter nada.
Somente de uma coisa tenho certeza: se as
pessoas mantivessem em mente a unidade
de Deus e Seu reino, e o progresso gradual
que, por Sua inteligência, Ele ordenou que
assim fosse para nós, então poderiam
entender muito melhor o que é a morte e o
que há além. Seria, posteriormente, absur-
do para muitos, se lhes falassem que aqui
nós temos verdadeiras casas sólidas, ruas,
montanhas, árvores e animais e pássaros; e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 202
que os animais aqui não são apenas para
ornamento, mas também têm sua utilidade;
e que os cavalos, bois e outros animais são
utilizados. Mas estes gostam do trabalho de
uma forma que ficamos felizes ao observá-
los. Observei um cavalo e seu cavaleiro que
estavam caminhando pela rua certa vez, e
imaginei qual dos dois estaria gostando
mais da cavalgada. Mas temo que muitos
não aceitem isso, então mudarei de tema.
Um dos prédios na ampla avenida era
uma biblioteca, onde se mantinham os
registros de estações externas. Outro era
um laboratório onde alguns dos registros
poderiam ser testados num experimento
real. Outro era um saguão de conferências
onde os mestres apresentavam os resulta-
dos aos que são do mesmo ramo de ciência
e a outros. Outro ainda tinha uma história
curiosa.
Ficava bem afastado da rua e era cons-
truído em madeira. Parecia mogno polido,
com fios de ouro no cerne. Foi erigido há
muito tempo, para ser uma Câmara de
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 203
Conselho para o diretor daquela época,
bem antes de Castrel assumir o posto. Aqui
costumavam reunir-se os estudantes, para
que cada um pudesse demonstrar seus
conhecimentos de forma prática.
Um jovem levantou-se, numa ocasião,
e, indo ao centro do auditório, ficou ali e
estendeu seus braços, encarando o presi-
dente. Enquanto permanecia ali, suas
formas pareciam mudar e tornarem-se mais
radiantes e translúcidas, até que ficou
completamente envolto num largo halo de
luz, e ali foram vistos muitos anjos das mais
altas esferas. Seu sorriso era enigmático, e
nele o príncipe estava tentando ler algo,
mas não conseguia. Quando ele (o príncipe
ou chefe) estava quase falando algo, entrou
pela porta aberta um menino, e olhou
surpreso em torno da grande platéia.
Ele parou na beira do círculo e olhou
para a multidão de faces dos que ali
estavam sentados em fileiras, uma após
outra, em torno do círculo, e parecia
abatido. Ele estava se voltando para ir
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 204
embora novamente, quando viu aquele que
estava no centro, agora cintilando em luz e
glória. Imediatamente o pequeno garoto
esqueceu todos à sua volta e, correndo
tanto quanto puderam suas pernas, seguiu
diretamente ao centro do círculo com
braços abertos e um olhar de alegria em
sua face.
Aquele que estava ali abaixou, então,
seus braços e, abaixando-se, tomou o
pequeno e o acomodou em seus ombros, e
então, aproximando-se do príncipe, gentil-
mente colocou o pequeno companheiro em
seu colo e começou a andar para trás, em
direção ao lugar onde estava anteriormente.
Mas enquanto o fazia, sua forma começou a
esmaecer e, antes que alcançasse o lugar
que havia deixado, tornou-se quase invisí-
vel, e todo o espaço ficou vazio. Mas o
menino ficou no colo do príncipe, e olhou
para sua face – era uma linda face – e
sorriu.
Então o príncipe levantou-se e, segu-
rando a criança em seu braço esquerdo,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 205
reverentemente colocou a mão direita sobre
sua cabeça, dizendo, “Meus irmãos, está
escrito: Uma criança os conduzirá, e estas
palavras vieram à minha mente agora. O
que vimos é uma manifestação de nosso
Senhor, o Cristo, e este pequeno é dos que
são do Reino, como Ele disse. Que mensa-
gem Ele lhe transmitiu, criança, enquanto
esteve em Seus braços, e Ele o trouxe aos
meus?”
Então, pela primeira vez o menino falou,
e disse, com um toque infantil, e ainda
muito tímido pela platéia enorme, “Se quer
saber, príncipe, devo ser bom e fazer o que
me ensinar, e então Ele vai me mostrar, de
vez em quando, coisas novas para sua
cidade e Reino. Mas não sei o que signifi-
ca.”
Nem o príncipe sabia, menos ainda os
alunos. Mas ele os dispensou e levou o
pequeno para a sua própria casa e pensou
no assunto. Chegou à conclusão de que
eram Elias e Samuel novamente, sem
maiores comentários. De certa maneira,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 206
conforme raciocinou sobre tudo, ele inter-
pretara corretamente. À criança foi permiti-
do que brincasse nos laboratórios e nas
escolas científicas, e que observasse e
ouvisse. Ele nunca estava no caminho, nem
aborrecia questionando ninguém. Mas às
vezes, quando alguma tarefa de dificuldade
extraordinária estava sendo levada a termo,
aí então ele fazia algum apontamento, e
quando o fazia, era sempre a chave da
solução da questão. Também – e foi
considerado, quando o tempo passava, o
principal objetivo que Ele tinha ao dar
aquela manifestação – os estudantes
aprenderam a simplicidade; isto é, que a
solução mais simples que pudessem achar
para algum problema em particular seria a
que melhor serviria ao plano geral, em
outras soluções.
Houve muitas outras lições que eles
aprenderam da própria visão; por exemplo,
o fato de a Sua presença estar sempre
entre eles, e que a qualquer hora Ele
poderia se tornar visível, pois, quando viera
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 207
naquela época, Ele andara entre a assem-
bléia dos estudantes. Também, os braços
abertos lhes deram uma lembrança do auto-
sacrifício, mesmo naqueles reinos felizes
onde as glórias brilhavam sobre eles, como
brilhou sobre Sua forma enquanto esteve
ali. Mas quanto à criança, ele cresceu como
crescera Seu Divino Protetor, em sabedoria
e estatura, e quando o príncipe daquele
tempo foi elevado a uma esfera mais alta,
ele o sucedeu naquele alto escalão.
Bem, tudo isso foi há muito tempo atrás,
e ainda está lá o antigo saguão. É mantido
cuidadosamente e ornamentado interna e
externamente com flores. Mas não é mais
usado para conferências ou debates, mas
para o serviço de reverência. Um dos
artistas da cidade fez uma pintura da cena,
e ela foi posta atrás do altar, como muitos
na Terra. E de vez em quando são rendidas
graças ao grande Pai de tudo, na santifica-
da presença de Seu ungido Filho, e, em
algumas ocasiões, o príncipe, que ali esteve
quando aquela visão apareceu, descia das
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 208
esferas mais altas com o menino, agora um
grande Anjo-Senhor, e outros que estiveram
no cargo desde aquele tempo; e os que ali
se reúnem agora sabem que alguma grande
bênção e uma manifestação será dada. Mas
apenas os que se ajustam por sua evolução
estão presentes nessas ocasiões, já que a
manifestação poderia não ser visível aos
que não alcançaram um certo estágio de
progresso.
As esferas de Deus são maravilhosas
por sua beleza de luz e glória, mas mais
maravilhoso de tudo é a presença de Seu
espírito através desses infinitos e eternida-
des, e Seu suave amor a todos, tão sábio e
simples; e a você e a mim, querido, naquilo
que Ele ordenou dessa forma de coopera-
ção entre os diferentes estados em Seu
reino, para que possamos conversar juntos
desta forma, você e eu, querido, através
deste tênue véu que pende entre nós.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 209
Terça, 21 de outubro de 1913.
Sobre aquela cidade eu poderia contar-
lhe muito mais do que fiz. Mas tenho outros
temas a tratar, entretanto vou transmitir-lhe
apenas um item a mais de nossa estadia
ali, e então passarei para outros fatos.
Estávamos habitando num chalé dentro
dos campos do palácio aonde as crianças
sempre vinham nos ver, a minha pequenina
entre eles. Eles pareciam ficar alegres ao
nos visitar e ver a mãe de sua pequenina
amiga e suas amigas visitantes, e jamais se
cansavam de ouvir sobre outros lugares
que visitáramos, especialmente as casas de
crianças e escolas. Eles teciam guirlandas
de flores e traziam para nós de presente,
com o desejo escondido em suas mentes
de que em retorno nós nos juntássemos a
eles em algum jogo deles. Sempre fazíamos
isso, e você facilmente imaginará o quanto
eu gostava dessas travessuras com essas
queridas crianças daquele lugar calmo e
feliz.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 210
Estávamos uma vez jogando com eles
um jogo que eles mesmos haviam inventa-
do, uma espécie do joguinho Jolly Hooper
que você brincava, e nós ganhamos de
quase todos, quando os poucos que
restavam em frente a nós repentinamente
pararam de cantar e ficaram quietos,
olhando para trás de nós. Todas nós nos
viramos, e ali, parado na entrada de uma
ampla alameda de árvores na entrada do
bosque, estava nada menos que Castrel.
Ele ali estava, sorrindo para nós, e, a-
pesar de seu aspecto tão majestoso, ali se
estampava tanta bondade e humildade se
mesclando com seu poder e força, que era
adorável de se ver, e de se estar perto.
Lentamente ele se aproximou de nós e as
crianças correram até ele, e ele acarinhou
uma ou outra na cabeça, enquanto vinha
vindo. Então falou a nós. “Vocês vêem –
disse ele –, eu sabia onde poderia encon-
trá-las, e por isso não precisei de guia.
Agora sou obrigado a cortar seu intervalo
de brincadeiras, minhas irmãs visitantes,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 211
pois há uma cerimônia programada e vocês
devem estar presentes. Por isso, meus
pequenos, vocês devem continuar seus
jogos sozinhos, enquanto estas crianças
adultas vêm comigo.”
Então elas correram até nós e nos bei-
jaram alegremente, e nos prometeram vir
para continuarmos nossos jogos tão cedo
quanto nos liberassem.
Assim seguimos o príncipe Castrel ao
longo da avenida arborizada que formava
um túnel de folhas sobre nossas cabeças.
Andamos até o fim, e saímos em campo
aberto, e aqui nosso guia parou e disse,
“Agora quero que olhem para adiante e
digam o que vêem!”
Nós, uma por uma das cinco, dissemos
a ele que víamos uma planície ampla e
ondulada, com muitos prédios aqui e ali, e,
além, o que parecia ser uma longa cadeia
de montanhas.
“Nada mais?” perguntou ele.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 212
Respondemos que não víamos nada
mais de importante, e ele continuou, “Não,
suponho que esteja acima de suas visões
por ora. Mas minha visão, vejam, é mais
desenvolvida que a de vocês, e posso ver
além dessas montanhas. Agora ouçam, e
vou contar o que vejo. Além daquela
cordilheira, vejo outras montanhas ainda
mais altas e, além delas, há picos ainda
mais elevados. Em alguns deles há prédios,
outros são nus. Estive também naquela
região, e sei que entre essas montanhas
que deste ponto são vistas com esforço,
estão planícies e trechos de terreno tão
imensos como este onde a cidade é a
capital.
“Agora estou observando a encosta de
uma montanha, não no horizonte que vejo,
mas além do alcance de sua visão, e vejo
uma grande e gloriosa cidade, muito mais
rica, muito maior e mais magnífica que esta.
A principal avenida está de frente para esta
direção, e diante dela há um amplo local
aberto. Através dessa avenida estão
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 213
passando cavalos e carruagens com seus
condutores, e outros cavalos com seus
cavaleiros. Estão agora reunidos e vão
começar. Agora o líder deles sai da multi-
dão e vem para a frente. Dá uma ordem e a
multidão de cidadãos levanta suas mãos e
acena uma despedida. O príncipe deles
move-se em direção ao topo da rocha onde
a cidade foi construída. Sai dali e continua
num vôo aéreo. A carruagem dele lidera o
caminho e os outros o seguem. E eles vêm
vindo – disse ele num sorriso – nesta
direção. Agora nós vamos a outro lugar, e
testemunharemos a chegada deles.”
Nenhuma de nós perguntou a razão da
visita deles. Não era porque tínhamos medo
de fazê-lo. Penso que poderíamos pergun-
tar a ele o que quiséssemos. Mas de
alguma forma sentimos que, se tudo aquilo
fosse para ser sabido por nós, teríamos
sido informadas, e assim ficamos contentes
em esperar. Mas ele disse, “Estão curiosas
para saber a razão de sua chegada. Logo
mais será permitido que vejam.” Então
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 214
fomos com ele à muralha da cidade e
ficamos ali olhando sobre a planície na
direção das montanhas. Ainda não conse-
guíamos ver nada além do que já tínhamos
dito.
“Digam-me – disse ele –, qual de vocês
será a primeira a vê-los.”
Olhamos distante e ansiosas, mas nada
podíamos ver. Finalmente pareceu-me ver
uma estrela começar a cintilar sobre as
montanhas distantes, na profundeza do
espaço. Justamente naquele momento uma
companheira exclamou, “Penso, meu
senhor, que aquela estrela não estava lá
assim que chegamos.”
“Sim – respondeu ele –, estava lá, mas
não visível a vocês. Então você é a primeira
a vê-la?”
Eu não ia dizer que já havia visto tam-
bém. Devia ter dito antes. Mas ele continu-
ou, “Penso que há mais alguém que vê
aquela estrela. Não é verdade?” e ele virou-
se para mim, sorrindo. Temo ter enrubesci-
do e murmurado algo ininteligível. “Bem –
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 215
disse ele –, observem. As demais também
poderão ver logo mais. Neste momento está
distante várias esferas, e não espero que a
visão de nenhuma de vocês consiga
alcançar aquela região.” Então, virando
para nós duas, inclinou-se cortesmente, e
disse, “Senhoras, congratulo-me por sua
evolução. Avançaram rapidamente a um
grau mais elevado, e, se continuarem, sua
esfera de serviços cedo será ampliada,
acreditem-me.” Nós ambas ficamos felizes
por essa declaração.
Agora a estrela brilhava consideravel-
mente, e à medida que observávamos,
parecia ampliar-se e expandir-se, e isto
continuou por um longo espaço de tempo.
Então percebi que não era mais um disco
redondo, mas assumia gradualmente outra
forma e, finalmente, pude ver que forma
tinha. Era uma harpa de luz, algo em forma
de lira, parecia ser como uma jóia cravejada
de muitos brilhantes. Mas conforme chega-
va cada vez mais perto, pudemos ver que
era composta de cavalos e carruagens e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 216
homens, ordenados desta forma, cavalgan-
do através do espaço em nossa direção.
Já podíamos ouvir as saudações de
boas vindas das populações de outras
paragens da cidade e soubemos que eles
também os tinham visto.
“Agora sabem a natureza da ocupação
deles naquela cidade.”
“Música,” sugeri.
“Sim” – ele respondeu –, tem a ver com
música. É o principal motivo da visita, de
qualquer forma.”
Conforme se aproximaram, pudemos
perceber que o grupo era de centenas de
pessoas. Era lindo de se ver. Passaram
pelos caminhos do Céu, cavalos e carrua-
gens de fogo – você conhece a frase
familiar; acredite-me, não é bem entendida
– com cavaleiros irradiando sua glória até
muito longe deles, à proporção que cruza-
vam os caminhos nos céus. Oh, os cida-
dãos dos reinos superiores são todos
maravilhosos demais para que possamos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 217
descrevê-los a você. O menos elevado em
graduação de todos eles, era do mesmo
nível que Castrel. Mas a sua própria glória
era constrita e escondida, para que pudes-
se ser o príncipe da cidade e também um
cidadão. Mas, conforme seus companheiros
e pares aproximavam-se, percebemos que
também ele começou a mudar. Sua face e
formas brilharam com uma radiação cada
vez mais cintilante até que, finalmente,
brilhava com o brilho dos que vieram pelo
céu. Eu podia entender, quando mais tarde
pensei nisso, porque era necessário que ele
se condicionasse para as esferas mais
baixas onde trabalhávamos. Pois, se ele
ficasse diante de nós agora, apesar de não
ter atingido a intensidade plena de seu
brilho natural, nenhuma de nós ousaria se
aproximar dele, mas manteríamos uma
distância, e deixaríamos que ficasse
sozinho. Não teríamos medo, mas estaría-
mos desacostumadas – é a melhor forma
que tenho para colocar tudo a você.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 218
Os membros da jóia em forma de harpa
cintilante finalmente sobrevoavam nossa
região, e quando chegaram na metade do
caminho entre nós e as cadeias de monta-
nhas, diminuíram a velocidade e gradual-
mente mudaram a formação. Nessa hora o
grupo parecia ter a forma de um ... . Então,
descendo, chegaram ao chão no espaço
diante do portão principal da cidade.
Castrel deixou-nos por instantes e,
quando desceram, nós o vimos indo a pé ao
portão da cidade, seguido por seus princi-
pais homens. Ele estava vestido de luz – é
quase tudo o que podia ver. Mas o diadema
que ele usava brilhava mais intensamente
do que jamais eu havia visto; assim como o
cinturão. Ele se aproximou do líder e se
ajoelhou diante dele. Esse anjo era ainda
mais brilhante que Castrel. Desceu de sua
carruagem e alcançou nosso príncipe,
levantou-o e o abraçou. O gesto era cheio
de graciosidade e também de amor, e,
pelos segundos que eles estiveram juntos
houve um completo silêncio dentro das
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 219
muralhas. Mas quando se completou o
abraço e as palavras de bênçãos foram
pronunciadas – numa linguagem que não
entendemos –, Castrel inclinou sua cabeça
diante do outro e então, levantando-se,
olhou para as muralhas da cidade e elevou
sua mãos, e a música e as vozes irrompe-
ram num glorioso hino. Eu já havia lhe
contado sobre a música em outra região.
Esta era muito mais sublime, já que o plano
destes era mais evoluído que o outro.
Então, eles também entraram na cidade,
seguidos pelos outros visitantes, cercados
das saudações da população e o toque dos
sinos e acordes da música instrumental e
do cantar dos milhares sobre os muros.
Desta forma passaram pelo caminho
que vai ao palácio e, conforme entraram na
alameda que saía da avenida principal, o
anjo príncipe, nosso visitante, parou e, em
pé em sua carruagem, voltou-se e, levan-
tando sua mãos, abençoou as pessoas em
sua língua própria, e então voltou ao
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 220
caminho e ficou, com seus iluminados
atendentes, fora de nossa visão.
Querido, tentei fazer o meu melhor para
lhe passar uma pálida descrição daquele
evento. Falhei miseravelmente. Foi muito
mais glorioso do que pude descrever.
Gastei tempo na descrição dessa cena de
chegada porque isso eu pude entender
melhor do que a missão a que vieram. Isto
é acima de mim, e concernente aos profes-
sores da cidade e os grandes homens da
região. Tudo o que pude saber foi que
principalmente era concernente aos estudos
mais avançados daquela colônia ligados à
música e à faculdade criativa. Não pude
entender mais que isso. Mas talvez outros
possam dizer mais do que eu sobre isso.
Aquela palavra que não pude transmitir
era “planeta” – a segunda formação, quero
dizer – não “planeta”, mas “sistemas
planetários”. Não se era o sistema solar, do
qual a Terra é uma unidade, ou outro –
algum outro sistema pensando melhor, mas
não sei.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 221
Isto é tudo, querido, por hoje. Está es-
perando por nossas bênçãos? Deus o
abençoe, querido filho. Eleve seu olhar e
mantenha seu ideais brilhantes, e creia que
a glória mais gloriosa que possa imaginar
está para as glórias reais e verdadeiras
desta nossa vida, assim como a luz da vela
está para a luz do Sol.

Quarta, 22 de outubro de 1913.


Se todo o mundo fosse um grande dia-
mante ou pérola refletindo ou irradiando a
luz do sol e das estrelas distantes, quão
brilhantes seriam seus arredores. Mas
numa certa medida ele o faz, mas somente
num grau bem limitado, por causa da falta
de brilho de sua superfície. E conforme a
capacidade de refletir da Terra seja como o
mais perfeito espelho que uma pérola pode
ser, assim é a vida da Terra para a nossa
daqui nestes reinos de luz e belezas, o
eterno presente de Deus.
À medida que olhamos sobre as vastas
planícies e vales das terras celestes, mal
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 222
podemos lembrar do efeito da atmosfera da
Terra na relação que tinha com a nossa
visão das coisas terrestres. Mas de fato
lembramos de certas qualidades que aqui
estão ausentes. A distância não é obscure-
cida, por exemplo. Ela fica esmaecida.
Árvores e plantas não surgem só numa
estação para depois morrerem. Elas
desabrocham perpetuamente, e então,
quando colhidas, ficam frescas por muito
tempo, mas não murcham nem secam.
Também elas, esmaecem ou desaparecem
na atmosfera. Esta mesma atmosfera não é
sempre branca. Nas vizinhanças da cidade
do príncipe Castrel sente-se que há um
brilho do sol dourado em tudo. Não é uma
névoa, nem tolda, mas banha tudo com sua
irradiação dourada sem invadir as variadas
cores. Em outros lugares ela é de um rosa
claro ou azul. E cada região tem seu matiz
particular, ou sentido, na coloração, de
acordo com a natureza das pessoas, seu
trabalho e inclinação mental.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 223
O matiz da atmosfera parece ser regido
por esse princípio, mas também é reflexo
em sua ação sobre as pessoas. Especial-
mente, é este caso dos visitantes de outras
regiões. Os mais elevados em evolução, ao
virem a um novo trecho da região, são
capazes de dizerem, só por isso, a caracte-
rística geral e ocupação das pessoas dali. A
influência, entretanto, muito rapidamente se
estende a eles. Não os muda nas caracte-
rísticas, claro, mas realmente afeta seus
sentidos, e é quase instantaneamente
percebido pela mudança de tonalidade de
suas roupagens.
Dessa forma, quando alguém visita um
distrito estranho, bem rapidamente começa
a sentir, interna e externamente, aquela
sensação de irmandade e fraternidade que
é uma das mais deliciosas bênçãos que
encontrei. A todo lugar que se vá, encontra-
se irmãos e irmãs. Tente pensar nisso e
veja o que seria se fosse assim na Terra.
Então a saudação de paz e boa vontade do
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 224
anjo sem dúvida seria realidade, e a Terra
seria a antecâmara da casa celestial.
Voltamos daquela cidade perguntando a
nós mesmos sobre a diferença que essa
visita fez a nós mesmas, e o que aprendê-
ramos. De minha parte, não era difícil de se
ver que o fato real de minha garotinha era o
suficiente. Ela é a dádiva que eu não
esperava. Mas quando retornamos lenta-
mente pela planície, vimos que recebêra-
mos, cada uma, uma bênção especial.
Nós nos aproximamos da cidade pelo
ar, preferimos agora ir a pé através da
planície até alcançarmos as montanhas.
Enquanto caminhamos, conversávamos
sobre o que presenciamos. Agora, eu
poderia preencher muitas páginas com
aquela conversa, e asseguro-lhe seria
interessante. Mas o tempo e o espaço são
para você, e aos editores, e mais valem
para nós, e por isso vamos nos apressar
naquilo que devo contar-lhe.
Nós chegamos em nosso plano exata-
mente quando nossa mamãe anjo também
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 225
havia retornado de uma jornada à ponte da
qual já lhe falei. Ela dessa vez trouxe
consigo alguém que você conhece.
O nome, por favor!
Senhorita S. Ela atravessou uma expe-
riência bem dura. Logo que chegou até
aqui, foi levada a um lugar onde deveria
progredir rapidamente. O caso dela causa-
va perplexidade, porque tinha traços tão
misturados que era muito difícil localizá-la
com exatidão. Assim foi dada a ela uma
chance e assistência de todas as maneiras.
Mas, você sabe, livre arbítrio e a personali-
dade são coisas muito importantes por aqui,
e jamais são derrogadas quando a ajuda
está sendo oferecida. Logo ela ficou
inquieta, e foi visto que ela deveria seguir
por si mesma. Então ela foi advertida e
aconselhada e então levada à saída dos
caminhos para que escolhesse sua própria
estrada, como desejasse. Um guardião foi
destacado para manter guarda constante
para que, se precisasse de ajuda, a qual-
quer hora recebesse.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 226
Bem, ela não pareceu saber aonde ir ou
o que fazer, para achar o que queria – paz.
Então vagou e ficou um bom período nas
vizinhanças da ponte. Somente quando
aprendeu por si mesma que seus próprios
desejos levavam de novo e de novo para os
lugares onde a escuridão aumentava, e as
pessoas, paisagens e sons eram de uma
espécie que não emanava felicidade, mas
terror, foi que finalmente vagou ao longo
dos limites e, aos poucos, virou-se um
pouquinho em direção à luz e foi gradual-
mente ajudada a retornar à casa que havia
deixado. Agora está progredindo lentamen-
te, para ter certeza; mas com um coração
suavizado, mais humilde e confiante, e ela
conseguirá vencer a seu tempo. É por isso
que a vi tão pouco, e fui tão pouco útil a ela.
Mas posso ajudá-la agora e depois, quando
o tempo for passando. Talvez seja o porquê
de ter sido trazida ao lugar onde estou, para
passar um período mais ou menos extenso
de serviço. Eu não a conheci na Terra,
exceto através de você, e sua amizade com
seus filhos pode ser a ligação que poderá
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 227
ajudá-la a receber a pequenina ajuda que
eu puder dar.
Você vê, tudo aqui é levado em conta,
mesmo as coisas que parecem tão casuais
e transitórias na vida da Terra. Tudo é
registrado e vistoriado na relação de umas
às outras, todas as conversas aparente-
mente casuais ou encontros fortuitos; um
livro lido; um aperto de mão na rua, o
primeiro e podendo nunca mais haver outro;
um encontro com poucos amigos, da
mesma forma, numa casa de amigos
comuns e depois nunca mais um outro –
tudo e cada item é registrado, considerado,
coordenado e então usado quando, e se, a
ocasião permitir. E assim pode ser este
caso.
Seja, portanto, jamais omisso em pesar
bem tudo o que faz e cada palavra que
profere, não com ansiedade, mas pelo
cultivo do hábito do desejar fazer o bem,
sempre e em todos os lugares irradiando
bondade do coração, pois no Reino isso
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 228
tem muito peso, e teça roupagens brilhan-
tes para corpos radiantes.
Assim, querido, boa noite mais uma vez
– um desejo que tem muita significação a
você, diferentemente para nós, já que aqui
tudo está bem para quem ama bondosa-
mente, e a noite se ausenta sempre onde a
verdadeira luz brilha sempre, e tudo é paz.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 229
Capítulo V

Ministério angélico

Quinta, 23 de outubro de 1913.


Talvez, se contássemos a você sobre
nossos progressos nestas esferas celestes,
nós o aborreceríamos, porque muitos
detalhes devem ser tratados, e nada é
passado para trás, nem pequenos fatos.
Mas pode ser útil se completarmos o que
escrevemos nesse tema da última noite ao
dar-lhe agora uns exemplos para ilustrar
esse ponto.
Recebemos, há pouco tempo atrás,
uma mensagem da chegada de uma irmã
na ponte, que havia vindo do outro lado
onde estão as regiões de treva, e eu e outra
fomos mandadas para conduzi-la até esta
casa. Fomos rapidamente e encontramos
nossa guardada nos esperando. Ela estava
sozinha, já que seus atendentes a deixaram
assim para que pudesse ter um período de
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 230
meditação e reflexão antes de começar
seus progressos para frente.
Estava sentada numa elevação com
grama, debaixo de uma árvore cujos galhos
se espalhavam como um dossel sobre ela.
Seus olhos estavam fechados, e ficamos
diante dela, esperando. Quando ela os
abriu, olhou para nós durante um certo
tempo, de forma inquiridora. Como nada
falasse, finalmente disse a ela, “Irmã.”
Depois desta palavra, ela olhou para nós
hesitando, então seus olhos encheram-se
de lágrimas, cobriu seu rosto com as mãos,
encostou sua cabeça nos joelhos e chorou
amargamente.
Fui até ela e impus minhas mãos sobre
sua cabeça e disse, “Agora você é nossa
irmã, querida, e como não choramos,
também você não precisa chorar.”
“Como vocês sabem quem, ou o quê,
eu sou?” replicou ela, e levantou sua face e
tentou reprimir as lágrimas, havendo um
toque de desconfiança em sua voz.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 231
“Não sabemos quem é – respondi –.
Sabemos quem foi. Sabemos que sempre
foi uma filha do nosso Pai, e portanto,
sempre foi nossa irmã. Agora você é uma
irmã nossa no sentido mais pleno. O
demais, cabe a você. Você também é
alguém que tem a face voltada para o brilho
do sol de Sua presença, ou alguém que,
temendo a tarefa diante de você naquela
direção, voltará de novo pela ponte.”
Ela ficou quieta por instantes, e então
disse, “Não vou. Tudo é terrível demais por
lá.”
“Mas – continuei – você deve escolher,
porque não pode continuar onde está. E vai
vir pelo caminho ascendente – não vai? – e
nós lhe daremos uma mãozinha fraterna, e
daremos nosso amor de irmãs ao ajudá-la
pelo caminho.”
“Oh, imagino o quanto conhecem do
que está adiante.” – disse ela, e havia
agonia em sua voz. “Lá chamaram-me de
irmã também; chamaram-me de irmã
ironizando, enquanto lançavam infâmias e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 232
torturas e... oh, não devo pensar mais
nisso, ou ficarei louca de novo. Mas não sei
como proceder, estou tão maculada, tão
fraca e desprezível.”
Então vi que isso não ajudaria, então
cortei sua fala. Contei-lhe que por ora ela
devia tentar esquecer essas experiências,
até que a tivéssemos socorrido, então
haveria tempo suficiente para enfrentar sua
tarefa com seriedade. Eu sabia que a tarefa
seria pesada e amarga; mas há somente
um caminho para adiante, nada pode
obstar; tudo deve ser visto e entendido
como sendo exatamente o que é – cada
atitude e palavra até o presente momento –
a Justiça de Deus reconhecida, e o Amor de
Deus em tudo – e este é o único caminho
para frente e para o alto. Mas isto deve ficar
um pouco de lado até que ela seja capaz de
dar conta de tudo. E assim a reconfortamos
e devagar a conduzimos.
Enquanto andávamos, ela começou a
olhar em torno e perguntar sobre as coisas
que via, e sobre que espécie de região
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 233
havia adiante, e que tipo de casa era esta
aonde ela estava sendo levada, e assim por
diante. Contamos a ela tudo o que ela
poderia entender. Falamos de nossa
mamãe angelical que era encarregada do
lugar, e das nossas companheiras de
trabalho ali. No meio de nossa conversação
ela parou repentinamente e disse que
sentia que não poderia seguir mais adiante.
“Por quê? – perguntamos – Está cansada?”
E ela respondeu, “Não, estou com medo.”
Vimos que alguma coisa estava em sua
mente, mas não entendíamos bem como
um todo. Havia alguma coisa que não
conseguíamos captar. Então deixamos que
ela falasse de si mesma, e depois compre-
endemos a dificuldade.
Parece que quando o guardião da outra
extremidade da ponte ouviu-a gritar por
socorro, lá longe na escuridão, ele rapida-
mente direcionou um raio de sua luz na
direção, e enviou um mensageiro para
ajudá-la. Este espírito encontrou-a
desmaiando ao lado de um rio lodoso cujas
águas estavam quentes e fedidas, e trouxe-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 234
estavam quentes e fedidas, e trouxe-a até a
casa da ponte. Aqui ela foi atendida,
reanimada e trazida pela ponte até ao lugar
onde a encontramos.
Parece que quando esse trabalhador
espiritual encontrou-a, ela sentiu sua
presença mas não pôde ver ninguém por
perto. Então ela gritou alto, “Maldito seja se
me tocar!” pensando que fosse um dos
antigos atormentadores e companhias da
escuridão. Então ela não se lembrou mais
de nada até que recuperou os sentidos de
novo na casa da ponte. Enquanto andamos
e conversamos sobre os trabalhadores
destes reinos, a memória desse incidente
voltou repentinamente em sua mente. Ela
havia amaldiçoado um dos ministros de
Deus, e estava com medo da luz, porque as
palavras foram malignas. Verdadeiramente,
ela não sabia a quem amaldiçoara, mas
uma maldição é uma maldição seja lá
contra quem for, e isso estava em seu
coração.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 235
Meus companheiros e eu nos consulta-
mos rapidamente e chegamos à conclusão
de que devíamos voltar. Os outros pecados
desta pobre alma deviam ser tratados em
outra hora. Este, entretanto, era contra um
de nossos trabalhadores dos reinos de luz e
amor, e vimos que ela não descansaria
entre nós, e nossos serviços pouco adianta-
riam a ela até que esse erro pudesse ser
acertado. Por isso, voltamos à ponte, e
diretamente à casa na outra extremidade.
Ali encontramos o espírito trabalhador
que a havia trazido até aquele lugar, e ela
pediu, e obteve, seu perdão. De fato, ele
estava esperando por nós; pois era mais
forte e mais evoluído do que nós, e era
maior em sabedoria, e soube que ela faria
tudo para retornar. Assim, à medida que
nos aproximamos, ele veio a pé do caminho
onde estava, vendo-nos chegar pela
estrada e, quando ela viu sua face bondosa
e o sorriso de perdão, ela logo soube que
era a ele que buscava e, caindo de joelhos,
obteve sua bênção.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 236
Temo que a mensagem desta noite não
seja muito excitante. Eu a transmiti para
mostrar-lhe como mesmo as coisas aparen-
temente simples devem ser consideradas
aqui. De fato, acredito que alguma inteli-
gência superior à nossa estava nos contro-
lando todo o tempo; pois aquele pequeno
incidente promoveu uma importante etapa
no progresso daquela pobre mulher pecado-
ra. Foi uma longa jornada de volta, e
através da ponte, estando ela muito fraca e
desgastada. Mas quando ela viu o rosto
daquele contra quem ela havia pecado, e
ouviu suas palavras de amor e perdão, isso
mostrou a ela, pela primeira vez, que seja lá
o que ela tiver de enfrentar no futuro, será
doce no final, e cada tarefa realizada trará
em si sua própria bênção. E isso não é
pouco para alguém como ela que teve muito
para encarar, arrepender-se e envergonhar-
se, angustiada pela lembrança do grande
amor de Deus que ela havia insultado e
negado.
O que ela está fazendo agora?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 237
Isto não faz muito tempo, e ela está
progredindo, mas vagarosamente. Há muito
o que a prende lá atrás. Mas ela progride,
apesar de tudo. Ela está em nossa casa,
mas não lhe foi dado nenhum trabalho
especial para fazer pelos outros. Ela será
colocada eventualmente, mas não falta
muito.
O pecado pode ser negativo em suas
partes essenciais, mas é uma negação do
amor e da paternidade de Deus, e é uma
coisa mais terrível que a mera ofensa
contra um mandamento. É a contaminação
da verdadeira natureza e emanação da
nossa vida espiritual interior, do santuário
do Espírito de Deus. E a limpeza de um
santuário poluído é mais do que a limpeza
de uma casa simplesmente. A intensidade
da luz da presença neste estado espiritual
mostra cada ponto ou mancha, e felizes são
os que mantém o santuário limpo e brilhan-
te, porque estes sabem o quão doce é viver
e amar n’Ele.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 238
Segunda, 27 de outubro de 1913.
Mais uma vez retomaremos nossa his-
tória da vida celeste, e esperamos poder
contar a você um pouco mais do amor e das
bênçãos que experimentamos nestes reinos
brilhantes. Nossa casa está situada na
encosta de uma colina muito arborizada,
numa clareira, e nossos pacientes – porque
realmente o são – são cuidados aqui por
nós em paz e no silêncio, depois das
experiências estressantes em uma ou outra
parte daqueles planos onde a luz é difusa, e
a escuridão parece verdadeiramente
penetrar em suas almas. Eles chegam aqui
mais ou menos exauridos e fracos, e só
lhes é permitido seguir adiante quando se
fortalecerem o suficiente para o caminho.
Você talvez gostaria de saber algo de
nossos métodos por aqui. Principalmente,
eles podem ser resumidos em uma palavra,
amor. Este é o princípio guia de todos os
trabalhos. Alguns ficam tão felizes quando
percebem o fato de que não procuramos
julgar e punir, mas somente queremos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 239
ajudá-los, que ficam, por isso, desconcerta-
dos por não se sentirem familiarizados com
o fato.
Uma de nossas pobres irmãs encontrou
nossa mamãe angelical certo tempo atrás
no jardim, e estava dando uma volta por
uma alameda lateral para evitar o encontro
com ela, não por medo, mas por reverência.
Mas nosso anjo brilhante foi até ela e
conversou bondosamente com ela, e
quando viu que já tinha uma certa liberdade
para falar, fez então uma pergunta. “Onde
está o Juiz – perguntou – e quando aconte-
cerá o julgamento? Tremo só de pensar
nisso, porque sei que minha punição será
terrível, e gostaria de saber logo o pior e
acabar logo com isso.”
A isso, nossa mamãe respondeu: “Mi-
nha criança, seu julgamento acontecerá
quando desejar, e por suas próprias
palavras posso dizer que já começou.
Porque por si mesma sabe que seu passa-
do é passível de punição e esse é o primei-
ro passo de seu julgamento. Quanto ao
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 240
Juiz, bem, está aqui, já que você mesma é
a juíza, e determinará a si mesma a puni-
ção. Fará isso por si mesma, por seu livre
arbítrio, revendo toda sua vida vivida e,
como já confessou corajosamente um
pecado após outro, desta forma progredirá.
Muito de sua punição você mesma já infligiu
a si mesma, naquelas regiões trevosas de
onde acaba de sair. Aquela punição, sem
dúvida, foi terrível. Mas já se foi e acabou, e
o que tem a enfrentar agora não vai ser
mais terrível. Tudo isso é passado. Doloro-
so, profundamente doloroso, temo que será.
Mas através de tudo você sentirá que Ele a
está conduzindo; e isto cada vez mais e
mais, conforme você siga o caminho certo.”
“Mas – continuou a inquiridora – estou
perplexa porque não vejo o trono do grande
Juiz que perdoará alguns e punirá outros.”
“Você verá, sem dúvida, aquele trono,
mas não ainda. O julgamento no qual pensa
é muito diferente do que imagina. Mas você
não deveria ter medo e, à medida que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 241
progredir, aprenderá mais, e entenderá
mais, sobre o amor de Deus.”
Isso é o que espanta muitos que che-
gam até aqui. Eles esperam encontrar tudo
arrumado para serem despachados da Sua
presença para a tortura, e não conseguem
entender as coisas como elas são.
Outros, que cultivaram uma opinião boa
sobre si mesmos, ficam muito desaponta-
dos quando lhes é destinado um lugar
inferior, às vezes um bem inferior, e não
foram imediatamente levados à presença do
Cristo Entronado para ser aclamado com o
Seu dizer: “Fizeste tudo certo.” Oh, acredi-
te-me, querido filho, há muitas surpresas
esperando por aqueles que chegam aqui,
algumas muito felizes, e outras ao contrário.
Há pouco vi um escritor muito culto, que
publicara muitos livros, conversando com
um garoto, que na vida terrena foi um
alimentador das fornalhas num gasômetro,
e sendo instruído por ele. Ele estava feliz
em estudar também, pois já havia aprendi-
do a parte sobre a humildade; e era curioso
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 242
que ele preferia se sentar aos pés deste
jovem espírito a sair com seus velhos
amigos aqui e confessar seus erros e sua
vaidade intelectual em sua vida passada.
Isto, entretanto, ele terá que fazer, mais
cedo ou mais tarde, e o jovem o está
preparando para a tarefa. É extravagante
para nós vermos que ele ainda carrega seu
velho orgulho, quando sabemos tudo sobre
ele, e seu estado passado e atual, sendo
que o passado é inferior, e todo o tempo ele
está tentando se convencer que esconde
seus pensamentos de nós. Com esses tais
os instrutores têm de exercitar muito suas
paciências, o que é também um treino muito
bom a eles.
E agora vejamos se podemos explicar
uma dificuldade que está deixando perple-
xos muitos pesquisadores nas matérias da
psique. Quero dizer da dificuldade que eles
têm em entender porque não lhes damos as
informações que desejam sobre um tema
ou outro que tenham em mente.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 243
Você deve perceber que quando che-
gamos aqui embaixo, não estamos em
nosso elemento próprio, e somos cercados
com limitações que agora nos são estra-
nhas. Por exemplo, temos de trabalhar de
acordo com as leis em voga no reino da
Terra, ou não poderíamos fazê-lo entender
o que queremos fazer ou dizer. Freqüente-
mente, quando achamos alguém que tem
sua mente fixa em alguma pessoa em
particular, a quem ele deseja falar ou ouvir,
ou algum tema especial sobre o qual ele
deseja perguntar, nós somos limitados
pelos meios restritos de que dispomos.
Outros reservatórios de poder naquele
inquiridor fecham-se, e somente são
abertos a nós os que ele próprio deseja que
estejam abertos. E estes freqüentemente
não são suficientes para que trabalhemos
com eles.
Então, novamente, a atividade de sua
vontade encontra a nossa atividade no meio
do caminho, como se houvesse, e há, um
choque, e o resultado será ou confusão, ou
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 244
nada. Quase sempre é melhor que nos
permitam trabalhar do nosso jeito, confian-
do, e depois examinar criticamente o que foi
transmitido. Se é desejada uma informação
sobre algum ponto em particular, deixe que
este ponto esteja em sua mente enquanto
fluem suas ocupações diárias. Nós o
veremos e daremos conta disto, e se for
possível, útil e legal, acharemos uma
oportunidade e meios, mais cedo ou mais
tarde, de responder a ele. Se você faz uma
pergunta enquanto estamos nos manifes-
tando de uma maneira ou outra, não a
pronuncie, apenas exponha seus pensa-
mentos diante de nós, e deixe conosco,
faremos o que pudermos. Não insista.
Tenha a certeza de que se seu desejo for
ajudar, faremos tudo o que pudermos.
E agora neste caso específico. Você
esteve querendo saber sobre Ruby e
outros. Você não insistiu e, por isso,
pudemos usar livremente as condições e
podemos dar-lhe algumas informações.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 245
Ruby está feliz como sempre, e melho-
rando muito no trabalho que está fazendo.
Eu a vi apenas recentemente e ela disse
que poderá vir para falar a você ou Rose
brevemente. Agora você está imaginando
por que ela não teria vindo esta noite. Ela
tem outros compromissos, e também temos
que cumprir os nossos, de acordo com o
planejamento. Uma das coisas que ela
disse foi: “Diga ao querido papai que suas
palavras às pessoas são transmitidas aqui,
e algumas das coisas que ele diz a todos
são discutidas entre nós, porque falam
sobre aquilo que não aprendemos na vida
terrena.”
Isto me parece bem impossível. Trans-
miti direito?
Aí vem você, vê? O que pensa que es-
tes queridos anjos crianças são, para que
fale desta forma? Não entende que os
estudos destes que vêm para cá bem
jovens são principalmente sobre a vida e as
condições de sua nova morada, e que
somente pouco a pouco lhes é permitido
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 246
completar seu conhecimento sobre a Terra
e a vida lá que, apesar de tudo, deve ser
aprendida conforme eles vão progredindo?
Então todos os meios são usados, com
discrição, para ensiná-los. E que meio seria
melhor, ou mais adequado, dos que você
poderia usar, do que permitir que o pai seja
o instrutor de sua própria criança? Não vou
falar mais nada sobre isso. É suficiente.
Pense nisto com bom senso e talvez
esclarecerá mais a sua mente.
Bem, mas se o que diz é verdade, sem-
pre temos que ter medo de se instruir as
pessoas. Não se aborreça.
Querido filho, não, não me aborreço.
Gratifica-me, pelo menos, ver em você um
certo esclarecimento sobre as condições
desta vida e de sua naturalidade, e surge
uma daquelas suas tolas idéias nebulosas
bem no meio de sua mente.
Você está certo, entretanto, ao pensar
que devia ser cuidadoso em como dar
instruções. Mas isso se aplica não só a
você, mas a todos; e a todos os pensamen-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 247
tos, palavras e atos de todos. Tudo é sabido
aqui. Uma migalha de conforto você pode
ter, entretanto. Esteja certo de que quando
algo injusto ou indigno é pensado ou falado,
nunca é permitido que encontre caminho
até uma esfera como a que Ruby está. Por
isso fique à vontade, meu querido, e não
tema expor suas idéias; porque algumas
vezes o silêncio é menos bem vindo que um
ensinamento errôneo, quando tal ensina-
mento for sincero.
E agora, boa noite, e nosso grande a-
mor a todos. Deus o abençoe, querido filho,
e mantenha-se verdadeiro e destemido.

Terça, 28 de outubro de 1913.


Seja lá o que for que tenhamos conse-
guido transmitir-lhe nestas mensagens, foi
passado a você impressionando sua mente
com nossos pensamentos e palavras. Ao
fazermos isso, nós tomamos e fazemos uso
do que vemos por aí, assim podemos
colocar mais facilmente nossos pensamen-
tos. Freqüentemente, entretanto, somos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 248
obrigados, por necessidade, a tirarmos seu
espírito das vizinhanças da Terra e ofere-
cermos uma visão dos lugares que estamos
descrevendo, e você descreve o que viu.
Não, realmente não tiramos você fora
do corpo, porque você ficou consciente todo
o tempo. O que fizemos foi prender e
absorver sua atenção para que pudesse
infundir poder à sua visão interior – a visão
de seu corpo espiritual – e naqueles
momentos você esteve bem pouco consci-
ente de seu entorno. Você o esqueceu e
ficou alheio a ele, então fomos capazes de
transmitir-lhe, até certo ponto, o poder da
visão à distância; e a isso acrescentamos
os acontecimentos que testemunhamos nós
mesmos.
Por exemplo, quando descrevemos a
chegada da harpa de luz à cidade de
Castrel, mostramos a você como é a
cidade, mas reconstruímos o acontecimento
da multidão nas muralhas e o encontro fora
dos portões, e todas as partes da cerimônia
que quisemos que transmitisse. Isso é o
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 249
que foi feito. Como foi feito, algum dia você
entenderá, quando vier para cá.
Agora estamos tentando mostrar-lhe
outra cena. E aqui podemos dizer que
usamos a palavra “tentar” porque, apesar
de que com um bom tema não falhamos,
nós não somos onipotentes, e há muitas
coisas que podem intervir para barrar
nossos esforços e impedir o nosso sucesso.
Bem, dê-nos sua atenção por um pou-
co, e contaremos a você sobre uma cerimô-
nia que testemunhamos quando um grupo
de pessoas veio visitar nossa colônia para
aprender sobre nosso trabalho. Você deve
entender que nós visitamos as casas dos
outros e aprendemos sobre seus modos de
vida, e ficamos sabendo o que podemos
sobre os vários aspectos do trabalho que
está acontecendo nas diferentes paragens.
Estávamos em pé perto do topo da coli-
na, atrás dessa casa, observando sua
chegada. Finalmente os vimos bem alto no
céu, e bem distante sobre a planície. O céu
atrás deles estava listado com linhas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 250
horizontais em cor de carmim, dourado e
verde; e através disto soubemos de onde
vieram e o tipo de seu trabalho. Eram
estudantes de um estabelecimento distante,
cujo principal ramo de conhecimento era o
próprio uso de cerimonial e rituais, e seus
efeitos sobre aqueles que participam.
Nós os observamos chegando através
do caminho celeste, e então um grupo dos
nossos, que estava esperando na planície,
elevou-se no ar e foi ao encontro dos
visitantes. Foi muito interessante vê-los se
encontrando no ar. Bem alto nos céus, eles
se aproximaram uns dos outros, e quando
ficaram a uma curta distância, nosso grupo
fez soar as boas vindas pelas trombetas, e
então outros tocaram outros instrumentos e,
enquanto tocaram, os demais cantaram
uma canção de recepção.
Pararam, e então vimos que atrás deles
estava uma carruagem e dois cavalos. Era
bem parecida com as carruagens dos
velhos tempos. Não há razão pela qual não
devamos usar carruagens de construção
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 251
moderna; mas não é necessário, os antigos
carros abertos persistiram até hoje em dia.
Os visitantes pararam ao se aproximarem, e
então os dois grupos ficaram frente a frente,
pairando no ar. Tente imaginar isto. Parece-
rá estranho a você, mas um dia você verá
que é muito natural em nosso estado atual
e, se estivermos evoluídos o suficiente,
podemos não só ficar em pé, mas também
ajoelhar, deitar ou andar em pleno espaço,
como se fora na sólida Terra.
Então, o líder de nosso grupo e o chefe
dos visitantes aproximaram-se, adiantando-
se aos demais. Cumprimentaram-se
apertando-se as duas mãos, e beijaram-se
nas faces e na testa. Aí, nosso líder tomou
a mão esquerda do visitante na sua mão
direita e o conduziu até a carruagem,
quando então nosso grupo dividiu-se para
dar passagem, curvando-se respeitosamen-
te enquanto passavam. Quando os dois
chefes entraram na carruagem, seus
seguidores também vieram de mãos
estendidas e saudaram alegremente uns
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 252
aos outros, como antes acontecera. E,
então, todos voltaram-se em nossa direção
e vieram numa caminhada lenta, descendo
a pé até a base da colina.
Não posso fazê-lo ver o efeito de uma
aproximação pelo ar. Tentei fazê-lo mais de
uma vez, mas está fora do alcance de sua
imaginação. Por isso posso apenas dizer
que é muito lindo de se ver. O movimento
desses espíritos elevados, como Castrel e
Arnol, e outros de suas legiões, quando
andam sobre o chão, não é apenas muito
gracioso, mas é fascinante na beleza do
movimento e seu porte. Mas no ar é mais
que isso. A ação suave, graciosa, e
deslizante, cheia de quietude, dignidade
gentil, força e poder, é nobre e angelical.
Assim esses dois vieram a nós.
Desceram e caminharam num caminho
sinuoso até a casa do chefe. Ele governa
aqui com nossa mamãe anjo, e não creio
que haja muita diferença em seu tamanho
ou evolução. Exceto num questionamento
direto, o qual hesitamos em fazer, não é
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 253
fácil dizer qual dos dois excederia o outro
em pequeno grau, entre estes tão próximos,
se não iguais em evolução. Tão grande é o
amor e a harmonia entre eles, que o
comando e a obediência parecem se fundir
num empenho de servir risonho e cheio de
graça, e às vezes não podemos distinguir a
hierarquia dos dois, tão altamente evoluídos
como eles são.
A residência do chefe forçosamente re-
lembraria a você um castelo medieval,
construído no meio de uma encosta de uma
montanha rochosa, circundado por árvores
farfalhantes com folhagens multicoloridas –
verdes, vermelhas, marrons e douradas – e
infindas flores e gramados verdes.
Passaram sob o pórtico e, estando eles
já lá dentro, não os vimos mais. Percebe-
mos que a presença daquela legião radian-
te, estando ali dentro, iluminava as janelas
do castelo como se repentinamente milha-
res de lâmpadas elétricas fossem acesas. E
as luzes coloridas que víamos eram mais
lindas ainda, já que não se misturavam
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 254
formando uma só tonalidade mas, estando
juntas, cada uma preservava seu matiz
próprio, emanando através das frestas
muitos fachos nas cores do arco íris.
Tenho mencionado freqüentemente os
pórticos, mas observe que não falei de
portões. Até aqui ainda não vi nenhum
portão em nenhuma das aberturas que
observei por aqui. Você leu no Livro das
Revelações sobre a Cidade Sagrada e seus
portais, mas pensei nisto porque me lembrei
deles por causa destes portais que são,
evidentemente, de cidades similares àquela
que São João viu em forma presente, e
duvido que aquela cidade tenha portões em
seus pórticos. E isto pode ser o que ele
queria dizer quando menciona que as
portas não serão fechadas durante o dia e –
relembrando que nas cidades que ele
conhecera na Terra, os portões não se
fechavam durante o dia exceto em tempos
de guerra, mas normalmente eram fechados
durante a noite – ele acrescenta, a fim de
explicar, que não há noite aqui neste
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 255
mundo. Estes são apenas pensamentos
meus, e podem não estar corretos, mas
você pode reler esta passagem, refrescar a
memória e decidir por si mesmo.
Não estive presente no festival dentro
do castelo, por isso não vou descrevê-lo, já
que apenas escutei de outros, e prefiro
contar-lhe sobre coisas que eu mesma
presenciei, as quais posso transmitir mais
vividamente. Foi um evento muito glorioso,
entretanto, como se pode crer que acontece
quando se agrupam tantos espíritos eleva-
dos com suas glórias.
Ah, bem, meu querido filho, você as ve-
rá todas, algum dia em breve, quando você
e seus entes queridos estiverem aqui na
boa Terra de Deus, na qual Seu amor e
Suas bênçãos caem como orvalho nas
suaves pradarias, com a fragrância ao
redor. Seria estranho se nós, que aprende-
mos que é mais abençoado dar do que
receber, procurássemos assoprar um pouco
desta doçura através do véu, para que os
do seu lado possam aspirá-la também, e
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 256
experimentar quão doce e gracioso é o
Senhor, e quanto abençoados são os que
n’Ele repousam? Invoco Suas bênçãos a
você e aos seus, agora e sempre. Amém.

Quinta, 30 de outubro de 1913.


Apóie sua cabeça na mão e perceberá
que assim ficamos mais aptos a falar mais
prontamente, ficando você mais capacitado
a entender.
Deste jeito?
Sim. Ajuda tanto a você quanto a nós.
Como?
Porque há uma corrente magnética que
vem de nós até você, e procedendo desta
forma que sugerimos ela não se dissipa tão
rapidamente.
Não entendo uma só palavra de tudo
isso.
Pode ser que não. Há muitas coisas
que ainda tem que aprender, querido, e o
que dizemos agora é uma delas, pequenina
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 257
por si, mas grande no contexto. Freqüente-
mente é com essas pequenas coisinhas que
alcançamos o sucesso.
Agora, já que não estamos ansiosos
demais para explicar os métodos que
empregamos na transmissão dessas
mensagens, porque apenas podemos fazê-
lo entender imperfeitamente, mesmo assim
diremos isto: o poder que usamos pode ser
melhor descrito como magnetismo e,
através dele, estas vibrações de nossas
mentes são direcionadas à sua. Sua mão
colocada desta forma serve tanto como uma
espécie de magneto, como reservatório, e
nos auxilia. Mas não continuaremos nisto,
iremos para algo que possamos ilustrar a
você.
Em nossa vida no Eterno Presente nos
esforçamos a ajudar tanto os que vêm a
nós como também seus amigos ainda na
Terra. Indubitavelmente, as duas fases de
serviço são inseparáveis, pois os que vêm
para cá estão sempre tensos e por isso
mesmo incapazes de progredirem até que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 258
saibam que os que deixaram para trás
estão sendo ajudados por este lado. Assim,
freqüentemente fazemos incursões ao plano
terrestre por causa disso.
Na semana passada recebemos uma
mulher que havia deixado seu marido e três
crianças pequenas, e ela implorava para ir
ver como eles estavam passando em casa.
Ela estava tão ansiosa que finalmente a
levamos, e chegamos exatamente na hora
do jantar, quando todos estavam sentados
para comer. O homem tinha acabado de
chegar do trabalho e ia comer sua refeição
antes de colocá-los na cama. As crianças
eram duas garotas, de cinco e sete anos de
idade, e um garotinho de dois anos. Esta-
vam todos sentados em torno da mesa na
cozinha, um aposento bem confortável, e o
pai convidou a mais velha para render as
graças. Isto foi o que ela disse, “Deus, por
Jesus, abençoe-nos a todos, e a mamãe.
Amém.”
A mulher foi até a menina e colocou sua
mão sobre a cabeça dela, falando com ela,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 259
mas não conseguiu fazê-la a ouvir. Ficou
perturbada com isto, e pedimos que ela
esperasse e observasse. Aos poucos, a
garota falou, depois de um longo silêncio,
durante o qual ela e seu pai estiveram
pensando naquela que havia passado para
cá, e disse, “Papai, você acha que a mami
sabe de nós agora, e da tia Lizzie?”
“Não sei – respondeu ele –, mas penso
que sim, porque me senti bem triste nos
últimos dias, como se ela estivesse muito
preocupada com alguma coisa; e pode ser
sobre a tia Lizzie.”
“Bem – disse a criança –, então não nos
deixe ir. A senhorita ... cuidará do bebê, e
posso ajudar quando chego em casa depois
da escola, e então não precisaremos ir.”
“Vocês não querem ir? – disse ele.
“Eu não – respondeu a criança –. Bebê
e Sissi iriam, mas eu não quero ir.”
“Bem, pensarei nisto – disse ele –, por
isso, não se preocupe. Aposto que nos
arranjaremos bem.”
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 260
“E mamãe ajudará, e os anjos – persis-
tiu a pequena menina –, porque ela agora
pode falar com eles, e eles nos ajudarão se
ela pedir.”
Nesta hora o pai nada mais acrescen-
tou, mas pudemos ver seu pensamento, e
lemos nele que se a pequena criança tinha
tanta fé, ele deveria ter pelo menos uma fé
igual, e aos poucos ele refez suas idéias
para tentar mudar e ver como as coisas
ficariam. A partida de seus filhos não estava
em sua mente, e ele ficou feliz em achar
uma desculpa para mantê-los consigo.
Não posso dizer que a mãe ficou muito
confortada com a visita dela. Mas no nosso
caminho de volta conversamos sobre a fé
daquela criança, e como se ela, reforçada
pela do pai, formaria um poderoso meio de
ajudar, ou estaríamos muito enganados.
Ao retornarmos, reportamos tudo à
mamãe anjo, e imediatamente foram
tomadas medidas para que essa família não
se desfizesse, e a mãe foi levada a come-
çar a sua evolução para que pudesse
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 261
ajudar também. Então, uma mudança
ocorreu com ela. Ela começou a trabalhar
com muita vontade, e logo será permitido
que ela pertença aos grupos que vão em
jornadas em direção à Terra de vez em
quando, acrescentando o pequenino
esforço dela ao serviço maior.
Mas agora devemos deixar este caso e
contar-lhe outro. Pouco tempo atrás, um
homem veio até a nossa colônia,
recentemente vindo para este lado. Ele
estava vagando, buscando algum lugar que
lhe conviesse, e pensou que este
estabelecimento parecia com o que ele
queria. Você não pense que ele estava
sozinho. Acompanhava-o, mas à distância,
um guardião pronto a ajudá-lo se fosse
necessário. O homem era de uma destas
misturas curiosas que aparecem de vez em
quando. Havia uma considerável luz e
bondade nele, mas não podia ser usada
para sua evolução para adiante, por causa
de outras características que o tolhiam e
detinham, e que ele não conseguia mudar.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 262
Ele foi encontrado num caminho algo
distante da colina onde fica nossa casa, por
um dos trabalhadores de outra casa, e mais
tarde foi parado e questionado, porque foi
percebido um ar estranho e espantado em
sua face. Quando foi parado, recebeu um
sinal do guardião que estava a alguma
distância, e que foi informado do problema,
e por isso, tudo instantaneamente, foi
equipado para lidar com tudo. Ele falou
bondosamente, e a conversação seguiu
assim:
A- Você não parece estar familiarizado
com esta região. Posso ajudá-lo de alguma
forma?
B- Não creio, apesar de ser muito gentil
em se oferecer.
A- Sua dificuldade é tal que podemos
lidar com ela por aqui, mas não tão comple-
tamente como gostaríamos.
B- Temo que você não saiba a dificul-
dade que tenho.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 263
A- Bem, parcialmente, sim. Você está
espantado porque não encontrou nenhum
de seus amigos por aqui, e imagina o
porquê.
B- Certamente, é isso.
A- Mas eles o encontraram.
B- Não os vi; estive vagando por aqui
para encontrá-los. Parece tão estranho...
Sempre pensei que nossos amigos fossem
os primeiros que viessem nos encontrar
quando desencarnamos, e não consigo
entender tudo.
A- Mas eles realmente o encontraram.
B- Não vi ninguém a quem conheci.
A- Isso está quase certo. Eles o encon-
traram e você não os reconheceu – não
pôde reconhecê-los.
B- Não entendo.
A- Veja o que quero dizer. Quando você
chegou aqui, imediatamente foi guardado
por seus amigos. Mas seu coração, bom por
um lado, e mesmo iluminado, estava
endurecido e cegamente obstinado por
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 264
outro. Esta é a razão de não ter reconheci-
do a sua presença.
O homem olhou longa e duvidosamente
para seu interlocutor, e ao final indagou.
B- O que está errado comigo, então?
Todos que encontro estão felizes e são
gentis, e mesmo assim não pareço conse-
guir me agrupar em nenhum lugar, nem
mesmo achar meu próprio lugar. Que está
errado comigo?”
A- A primeira coisa que deve aprender é
que suas opiniões podem não estar corre-
tas. Falarei de uma que não é certa, para
começar. Este mundo não é, como você
tenta imaginar, um lugar onde as pessoas
são todas boas ou todas más. Elas são bem
como eram na Terra. Outra coisa: sua
esposa, que veio para cá alguns anos atrás,
está numa esfera mais elevada que esta em
que você será colocado, quando finalmente
atingir a verdadeira perspectiva das coisas.
Ela não era mentalmente igual a você na
Terra, e não é assim agora. Mas você está
num plano mais baixo que o dela, em linhas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 265
gerais e tudo sendo considerado. Esta é a
segunda coisa que deve aceitar, e aceitar
ex animo. Você não aceita isso, podemos
ver em seu rosto. Mas terá de fazê-lo antes
de poder progredir. Quando tiver aceitado,
então provavelmente haverá permissão de
se comunicar com ela. Agora não é possí-
vel.
Os olhos do homem ficaram toldados
pelas lágrimas, mas ele sorriu bem doce e
tristemente, enquanto colocou, ”Senhor,
percebo que o senhor é um profeta.”
A- Bem correto, e isto me leva à terceira
coisa que terá que aceitar, que é esta. Há
um guardião sempre com você, sempre ao
seu lado para ajudá-lo. Ele é um profeta, ou
melhor, um vidente, como eu; e foi ele
quem colocou esta frase em sua mente,
para que a repetisse para mim.
Nesse instante a face do forasteiro ficou
grave e pensativa. Ele estava tentando
obter a visão correta e verdadeira das
coisas. Perguntou, “Então é a vaidade,
portanto, a minha falha?”
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 266
A- Sim, mas a vaidade de uma espécie
bem difícil. Em muitas coisas você é doce e
humilde, e não sem amor, que é o poder
maior de todos. Mas há uma certa dureza
em sua mente, mais do que em seu cora-
ção, que deve ser suavizada. Você tem uma
rotina mental, e deve se livrar dela e olhar
mais adiante, ou andará como um cego que
pode ver – uma contradição e um paradoxo.
Há fatos que você pode ver bastante
claramente, e para outras você é totalmente
cego. Aprenda que mudar de opinião diante
das evidências não é fraqueza ou retroces-
so, mas um sinal de mente honesta. Digo-
lhe mais isto, se seu coração fosse tão duro
quanto sua mente, provavelmente não teria
vagado até aqui, nos campos ensolarados
de Deus, mas até as regiões mais trevosas,
mais além destas colinas, longe, além
delas. Agora expliquei, tão bem quanto
pude, seu caso bem complicado, amigo. O
resto, compete a outro fazer.
B- Quem?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 267
A- Aquele de quem já lhe falei; aquele
que é encarregado de você.
B- Onde está ele?
A- Um minuto, e ele estará aqui.
A mensagem foi enviada, e o guardião
postou-se ao lado de seu guardado que,
entretanto, não era capaz de vê-lo.
A- Bem, ele está aqui. Diga-lhe o que
quiser.
B. Olhou cheio de dúvida e ansiedade,
e então disse, “Diga-me, meu amigo, se ele
está aqui, por que não posso vê-lo?
A- Porque nesta fase de atividade de
sua mente você está cego. Esta é a primei-
ra coisa que você tem que se aperceber.
Você acredita em mim quando digo que
você é, de alguma forma, cego.
B- Posso ver muito bem, e vejo plena-
mente as coisas, e o campo bem natural e
lindo. Não sou cego por este lado. Mas
estou começando a pensar que pode haver
outras coisas tão reais como estas, e que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 268
não posso ver, mas verei um dia talvez,
mas...
A- Agora, pare aqui, e deixe este “mas”
aí. E agora olhe, enquanto pego na mão de
seu guia.
Ele então pegou a mão direita do anjo
guardião em sua própria, dizendo a B. que
olhasse intensamente, e contasse se viu
alguma coisa. Ele não tinha certeza,
entretanto. Ele pensou que viu alguma
forma transparente que podia ou não ser
real, mas não estava certo disso.
A- Então pegue a mão dele nas suas.
Pegue-a de mim.
O homem segurou sua mão e tomou a
mão do guardião das mãos de A., e come-
çou a chorar.
Se ele não tivesse progredido tanto pa-
ra fazer esta ação, ele não teria visto seu
guia, nem teria sido capaz de sentir seu
toque. O fato de ter tomado suas mãos ao
comando de A. mostrava que ele progredira
durante a conversação deles, e imediata-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 269
mente recebera a sua paga. O outro
segurou sua mão num aperto firme por
algum tempo, e durante este tempo B. o via
e sentia-o mais firme e mais claramente.
Então A. deixou-os juntos. Logo B. poderia
ver e ouvir seu guardião, e sem dúvida ele
iria em frente agora, de progresso em
progresso.
Isto lhe mostrará os casos difíceis com
que às vezes temos que lidar. Luz e treva
densa, humildade e dureza, orgulho obsti-
nado, tudo misturado junto, e difícil de ser
separado ou tratado com sucesso. Mas tais
problemas são interessantes e, quando
superados, dão muita alegria aos trabalha-
dores.
Ruby 7 manda seu amor e esta mensa-
gem a seus pais:
“Acreditem-me, meus queridos, a práti-
ca de uma boa e bondosa ação, e o pen-

7
Esta mensagem de Ruby parece se referir às
caixas de flores que enviamos para nossa filha,
que estava longe, na escola. G. V. O.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 270
samento e a pronúncia de palavras bondo-
sas por aqueles a quem amamos na Terra
são imediatamente telegrafados para cá, e
nós as usamos para enfeitar nossos
quartos, como Rene enfeita seus quartos
com suas flores.”
Deus o abençoe, querido filho. Boa noi-
te.
Nota: Com esta mensagem, as comuni-
cações com a mãe do Senhor Vale Owen
cessaram, e as mensagens continuaram por
uma entidade espiritual chamada Zabdiel.
Elas estão no Livro 2, Os Altos Planos do
Céu.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 271
Capítulo VI

As mensagens de Astriel

Terça, 7 de outubro de 1913.


Pela ajuda de outros, que agora estão
aqui conosco pela primeira vez, vamos
tentar transmitir-lhe um pouco de instrução
sobre as verdades da Fé, como elas
aparecem a nós, neste lado do véu.
Quanto às verdades que os homens
incorporaram nos credos, temos pouco o
que dizer, pois muito já foi falado, e mesmo
que seja desmentido mais uma vez, os
homens estão mal preparados para receber
o que deveríamos dizer. Nós, portanto,
preferimos, por agora, deixar que espiem
por si mesmos essas verdades como as
vêem por aqui, meramente observando,
como de passagem, que todos os artigos
são verdadeiros se interpretados
corretamente.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 272
Seguiremos, portanto, tratando de falar
sobre as coisas que os homens não
consideram muito atualmente. Tudo isso
prenderá mais a atenção deles quando
acabarem suas discussões sobre os
aspectos da verdade que, afinal, são
meramente aspectos, não a verdade
fundamental em si. Se eles se dispusessem
a ver as coisas na proporção correta, então
muitos daqueles temas que absorvem tanto
seu tempo ficariam entre as coisas que
menos importam, e então ficariam mais
capacitados para devotarem suas atenções
às verdades mais profundas que estão
estabelecidas tanto aqui quanto entre vocês
na Terra.
Uma coisa que seria bom perceber é a
eficácia da oração e a meditação. Você já
recebeu alguma instrução a esse respeito, e
agora acrescentaremos algo.
Uma oração não é meramente um pedi-
do de alguma coisa que se queira obter. É
muito mais que isso, e, por ser assim,
deveria receber mais cuidados do que tem
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 273
recebido até então. O que vocês têm a
fazer, para transformarem uma oração em
poder, é deixar de lado o que é temporal e
dirigir sua mente e espírito ao que é eterno.
Quando se faz isto, vê-se que muitos dos
itens que incluiriam na sua oração são
excluídos pela incongruência de sua
presença nela, e resultados maiores e mais
profundos tornam-se o foco de seu poder
criativo. Uma oração é realmente criativa,
assim como o exercício da vontade, con-
forme foi visto nos milagres de nosso
Senhor, tal como o alimento dos cinco mil.
E quando uma oração é oferecida com essa
convicção, então o objeto é criado, e a
oração é respondida. Em outras palavras, o
objetivo responde ao subjetivo de tal forma
que uma criação real acontece.
Isso não acontece quando a oração foi
dirigida de forma errada. Então a projeção
da vontade sai pela tangente, e o efeito
será proporcional aos poucos raios pelos
quais o objetivo será tocado. Também,
quando a oração está mesclada com
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 274
pedidos indignos, ela será proporcionalmen-
te enfraquecida, e também encontrará o
desejo oposto ou regulador deste lado,
como o caso requeira, e por isso o efeito
não é obtido como se desejou.
Agora, isto pode soar bem vago, mas
de forma alguma é vago para nós. Você
deve saber que aqui há guardiães dispostos
para as orações, e sua responsabilidade é
analisar e selecionar as orações oferecidas
pelos da Terra, e separá-las em divisões e
departamentos, e passá-las para serem
examinadas por outros, e lidadas de acordo
com seu mérito e poder.
Para que isto seja cumprido perfeita-
mente, é necessário que estudemos as
vibrações da oração da mesma forma que
seus cientistas estudam as vibrações do
som ou da luz. Como eles são capazes de
analisar, separar e classificar os raios de
luz, também nós somos capazes de lidar
com as suas orações. Da mesma forma que
existem raios de luz que eles confessam
não saber lidar com eles, assim também
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 275
muitas orações trazem para nós aqueles
matizes mais profundos que estão além do
nosso alcance de estudo e conhecimento.
Estas são passadas para os de maior
hierarquia, para serem tratadas com sua
maior sabedoria. E não pense que estas
serão sempre encontradas entre as orações
dos cultos. Elas estão entre as orações das
crianças, cujas petições e visões são
cuidadosamente consideradas aqui, da
mesma forma que as das nações.
“Vossas orações e vossos donativos
sobem como um memorial diante de Deus.”
Você se recordará destas palavras pronun-
ciadas pelo anjo a Cornélio. Elas freqüen-
temente passam sem serem entendidas
pela descrição literal dessas orações e
donativos, como eles aparecem ao anjo e
são repassadas adiante, provavelmente por
ele mesmo e seus companheiros de
trabalho, para os reinos superiores. É como
se ele dissesse, “Suas orações e donativos
chegaram até minha legião, e foram
conscienciosamente consideradas pelos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 276
seus méritos. Nós as repassamos como
merecedoras, e recebemos a notificação
dos oficiais acima de nós de que elas têm
um mérito excepcional, e requerem trata-
mento especial. Por isso fui comissionado
para vir até você.” Estamos tentando
colocar este caso tão enfaticamente quanto
pudermos na linguagem de negociações
oficiais para ajudá-lo a entender o quanto
puder sobre as condições encontradas por
aqui.
Se você examinar outros exemplos de
oração na Bíblia à luz do mencionado,
poderá ter relances da realidade como ela é
vista por nós aqui, em nosso próprio plano.
E o que se aplica às orações pode também
ser aplicado ao exercício da vontade, em
direções não tão legítimas. Ódio, imoralida-
de, cobiça e outros pecados do espírito e da
mente tomam aqui uma solidez que não é
vista ou percebida em sua esfera; e eles
também são lidados de acordo com seus
méritos. E, ai!, estes que dizem que os
anjos não podem se entristecer, pouco
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 277
sabem de nosso amor por nossos compa-
nheiros que ainda estão batalhando na
Terra. Se pudessem nos ver lidando com
alguns desses maus usos das maiores
dádivas de Deus, eles provavelmente nos
amariam mais e nos exaltariam menos.
Agora nós vamos deixá-lo considerando
este tema por si só, se achar que vale a
pena, e, quando virmos que deseja continu-
ar, entraremos em outro tema que pode ser
de interesse e muito útil a você.
No topo da torre de sua igreja há um
cata-vento em forma de galo. Você pensará
que foi você mesmo quem decidiu a forma
que ele teria. Não é assim?
Eu tinha me esquecido completamente
dele até que você me relembrou. Entretan-
to, está certo. O arquiteto perguntou-me
sobre isso, e eu hesitei entre um peixe e um
galo, e eventualmente me decidi pelo
último. Fico imaginando, portanto, o que
teria a dizer sobre isso.
Sem dúvida. Veja, essas coisas são
fúteis a você, mas há poucas coisas que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 278
são fúteis para nós. Agora, o fato da
escolha de um galo para estar em cima de
sua torre é conseqüência direta de certas
atividades que estavam em sua mente há
cinco anos atrás. Isto é um caso de criação.
Muitos ririam disso, mas não nos importa-
mos, pois nós também podemos rir, e
algumas de nossas risadas deixariam vocês
espantados, eu lhe asseguro.
O significado que você tinha em mente
quando da sua escolha, aparentemente não
muito importante, surgiu para que todos
pudessem relembrar que São Pedro negou
seu Senhor. Suponho que você queria
expor como um aviso para que não se
repetisse tal ofensa nos dias de hoje. Mas
você não percebeu que aquela decisão
aparentemente trivial foi registrada aqui e
lidada com bastante seriedade.
Devo dizer-lhe que o prédio de uma no-
va igreja é um evento que causa muita
atividade aqui. Há oficiais que são destaca-
dos para atender nos serviços e na guarda
do prédio, e toda uma hoste de espíritos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 279
ministrantes são convocados dos diversos
departamentos para um compromisso
ligado com o novo local de reverência. Seus
amigos clarividentes já viram alguns deles,
mas, comparativamente, muito poucos.
Cada detalhe é levado em consideração,
não somente a respeito do caráter do
ministro, da congregação, do coro e assim
por diante, e o melhor dentre nós, isto é, o
que mais se qualifica é escolhido para
ajudá-lo de acordo com as características
que observamos; não somente estas
coisas, mas a estrutura e os detalhes
estruturais são considerados minuciosa-
mente, especialmente onde entra o simbo-
lismo, já que tem uma importância que não
é sentida entre vocês como é entre nós.
Assim aconteceu que o cata-vento foi
considerado também, e eu o escolhi como
exemplo porque a aparência trivial mostra-
lhe que nada é esquecido.
Foi decidido que, como o galo foi esco-
lhido preferencialmente aos outros símbo-
los, nós responderíamos a esta escolha, de
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 280
acordo com o nosso costume, dando à
igreja uma oferta especial apropriada em
troca. E esta oferta foi o sino da igreja, pelo
qual o menino do coro recolheu o dinheiro.
Vocês não tinham o sino quando a igreja foi
consagrada. A ave estava lá em cima, mas
não podia soar sua advertência, como o
original fez com São Pedro. E então nós lhe
demos voz, e seu sino hoje soa – como fez
esta noite. Ficamos felizes ao vermos que
aquele que escolheu um, faz o outro falar
dia após dia, pois ele é com certeza
adequado.
Você acha que temos nossas fantasias
aqui? Bem, talvez seja assim, e vocês
ficaram muito gratos pelo sino, não ficaram,
bom amigo?
Com certeza ficamos. E agradeço a vo-
cê por sua mensagem gentil. Poderia saber
quem é, por favor?
Somos ministros espirituais de uma es-
fera onde seus próprios amigos e sua mãe
visitam de vez em quando, e ela nos contou
sobre você e disse do quanto gostaria que
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 281
nós o conhecêssemos pessoalmente e, se
possível, transmitir-lhe alguma mensagem.
Ela e seus amigos vêm até nós para serem
instruídos. Falando de meu próprio plano,
alguns membros de lá estão aqui comigo,
eu diria que estamos felizes de virmos e por
conhecê-lo. Mas conhecíamos você e sua
igreja antes que sua mãe nos contasse.
Obrigado por sua gentileza. Seria
permitido que eu perguntasse seu nome?
Permitido, sim, mas temo que não o
conheça, nem o entenda.
Apesar disso, senhor, diga-me, se o
desejar.
Astriel, que o deixa com suas bên-
çãos. † 8

8
Astriel sempre concluía suas comunicações com
o sinal da cruz.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 282
Quinta, 9 de outubro de 1913.
Viemos novamente para cá, a pedido de
sua mãe, e estamos felizes por termos mais
esta oportunidade de falarmos a vocês
desde este lado. Nunca imagine que
ficamos atribulados ao virmos para a esfera
terrestre, porque apesar de significar uma
experiência de brilho ambiental menos
intenso que no nosso plano, mesmo assim
é um privilégio que contrabalança tudo, e
mais.
Se nós nos esforçarmos para ilustrá-lo
sobre a química dos corpos celestes, talvez
pudesse ser interessante e útil a vocês. Não
queremos dizer o aspecto físico da ciência,
como é entendida pelos cientistas astrôno-
mos, mas o estudo mais profundo de sua
constituição.
Cada estrela, como sabe, é por si mes-
ma um centro de um sistema que abrange
nele não somente os planetas em revolução
em torno desta estrela, mas também as
partículas de matéria que se espalham
naquele sistema, mas que são sublimadas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 283
demais para serem conhecidas por qual-
quer sistema de química possível aos que
habitam em corpos físicos, e em suas
pesquisas são compelidos a usarem
instrumentos materiais e cérebros materiais.
Essas partículas estão entre o puramente
material e o espiritual, e sem dúvida pode
ser usado nos âmbitos material e espiritual.
Porque os dois são meramente duas das
muitas fases de um âmbito progressivo, e
atuam e reagem uns nos outros, como o sol
e seus planetas.
A gravitação é aplicável a essas partícu-
las também nos dois lados, e é por meio
dessa força – como a chamaremos, por ser
um nome conhecido, e também pouco
entendido – que nós mantemos coesas
essas partículas juntas e podemos, de vez
em quando, vestir nossos corpos espiritu-
ais, ou tornarmo-nos visíveis à chapa
fotográfica, e algumas vezes ao olho
humano. Mas fazemos mais que isso, e
num campo mais amplo. Se não fossem
essas partículas, todo o espaço seria
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 284
escuro, isto é, nenhuma luz poderia ser
transmitida de um planeta, ou do sol, ou de
uma estrela para a Terra, pois é por causa
da reflexão e da refração deles que os raios
são visíveis. Não que sejam transmitidos,
pois sua transmissão e a passagem depen-
dem de outros elementos dos quais diremos
apenas isto: não é o raio de luz, nem é a
chamada onda de luz que são visíveis ao
olho humano, mas a sua ação nessas
partículas minúsculas que, ao impacto dos
referidos raios, tornam-se visíveis em
ondas.
Seus cientistas têm muito a aprender
ainda neste campo, e não é de nossa conta
compartilhar aquilo que os homens podem
aprender através dos poderes que possu-
em. Se o fizéssemos, então o benefício
derivado de sua escolaridade terrestre seria
diminuído materialmente, e este é o porquê
de sermos muito cuidadosos ao transmitir-
mos apenas o que os ajudará a progredir
sem neutralizar os bons efeitos dos esfor-
ços pessoais e coletivos. Mantenha isto em
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 285
mente, e talvez isto será tido como pertinen-
te a qualquer coisa que julguemos conveni-
ente explicar a você através de mensagens
como esta.
As estrelas, então, emanam sua luz.
Mas para que a emanem, primeiramente
devem tê-la em si. E como não são perso-
nalidades auto constituídas, para que isso
tenham, a elas deve ser dado. Quem o faz,
e como é feito?
Bem, claro, é fácil responder “Deus,
pois Ele é a fonte de tudo.” Isto é verdade o
suficiente, mas, como sabe, Ele emprega
Seus ministros, e eles são inúmeros, e cada
um com sua tarefa determinada.
As estrelas recebem seu poder de
transmitir luz pela presença de miríades de
seres espirituais sobre elas, todos ordena-
dos e regulados em suas esferas, e todos
trabalhando em conjunção. Estes têm a
estrela a seu encargo, e é deles que a
energia procede, a qual permite a estrela
desempenhar seu papel determinado.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 286
O que queremos que entenda é que
não há coisas como forças inconscientes ou
cegas em todo o reino da criação de Deus.
Nem um raio de luz, nem um impulso de
calor, nem uma onda elétrica procede de
seu Sol, ou de outra estrela, mas são
efeitos de uma causa, e aquela causa é
uma causa consciente; é a vontade de
seres conscientes energizando numa
direção certa e positiva. Esses seres são de
muitos graus e de muitas espécies. Não são
todos da mesma ordem, nem todos da
mesma forma. Mas seu trabalho é controla-
do pelos que lhes são superiores, e estes
são controlados por poderes de um grau
ainda mais elevado e sublimado.
E assim, essas grandiosas bolas de ma-
téria, tanto gasosas, líquidas ou sólidas,
tanto estrelas como planetas, são todas
mantidas juntas, e suas forças energizadas
e fazendo o efeito, não através da operação
de alguma lei mecânica, mas pela consci-
ência de seres viventes por trás disso,
trabalhando através destas leis. Nós
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 287
usamos a palavra “conscientes” preferivel-
mente a “inteligentes”, porque o último
termo não descreveria acuradamente todos
os ministros do Criador. Como vocês
entendem a palavra, sem dúvida descreve-
ria apenas um número bem limitado. E
poderia surpreendê-lo saber que aqueles a
quem vocês aplicariam o termo estão entre
os mais elevados e os mais baixos. Pois
enquanto os trabalhadores mais baixos não
são realmente seres inteligentes, os mais
elevados são mais sublimes do que o termo
implicaria.
Entre os dois há esferas de seres que
poderíamos continuar descrevendo como
seres inteligentes. Repare bem que não
estou falando agora nos termos que
usamos aqui, e que vocês usarão quando
chegarem aqui e estudarem, de alguma
forma, as condições daqui. Estou usando a
linguagem da Terra, e fazendo empenho
para colocar o tema sob o seu ponto de
vista.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 288
Agora você poderá, a partir do que já
escrevi, ver quanto é íntima a relação entre
o espírito e a matéria, e quando na outra
noite falamos de sua própria igreja e da
colocação de guardiães e trabalhadores,
entre outras coisas, para o cuidado do
edifício material, estávamos apenas falando
a você sobre o mesmo princípio regente,
numa escala diminuta. Apesar disso, é
exatamente o mesmo princípio. O esquema
que provê a manutenção de todos aqueles
milhões de sóis e de seus planetas, também
teve lugar no arranjo de certos grupos de
átomos – alguns em forma de pedra, outros
de madeira ou tijolo – que resultaram
naquela entidade nova que chamaram de
igreja. Eles foram mantidos próximos, cada
átomo em seu lugar, pela emanação do
poder da vontade. Eles não são colocados
ali e deixados a sós. Se fosse assim, o
edifício logo ruiria, caindo em pedaços.
E agora, à luz do que acabamos de es-
crever, pense naquilo que as pessoas
chamam de “diferença de sensação” ao
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 289
entrarem na igreja, ou num teatro, ou numa
habitação, ou qualquer edifício. Cada um
tem suas emanações apropriadas, e elas
são conseqüência desse mesmo princípio
regente que tentamos descrever. É espírito
falando a espírito – os espíritos de traba-
lhadores desencarnados falando, através
de um médium de partículas materiais e seu
arranjo e propósito, aos espíritos dos que
entram naquele lugar.
Você ficou cansado, e achamos difícil
impressionar você, por isso, com nossas
bênçãos, deixaremos você agora, e se
desejar, viremos novamente. Deus esteja
com você, seus queridos e seu pessoal, em
todas as coisas, e todos os dias.
Astriel. †

Quinta, 16 de outubro de 1913.


Se, por acaso, dissermos algo que pu-
der parecer estranho e irreal sobre esta vida
nas esferas espirituais, você manterá em
sua mente que há poderes e condições as
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 290
quais na Terra são apartados do conheci-
mento exterior dos homens. Esses poderes
não estão totalmente ausentes de seu
ambiente, mas são na maioria mais profun-
dos do que o cérebro físico consegue
penetrar. Podem ser sentidos ou pressenti-
dos em algum grau pelos que são mais
evoluídos espiritualmente – nada mais que
isso. Pois os que se elevam espiritualmente
acima do nível geral tocam os limites das
esferas que agora são supranormais ao
cômputo humano. E nenhuma medida de
capacidade mental ou de conhecimento
pode atingir essa exaltação de espírito,
porque tais coisas são discernidas espiritu-
almente, e somente assim.
Nós, que agora estamos presentes com
você nesta noite, viemos a convite de sua
mãe mais uma vez, para falar a você de seu
trabalho e da vida como se apresenta a
nós, e de como somos privilegiados por
conhecê-lo. Isto, até o ponto que pudermos.
Quanto ao restante, contamos a você de
nossas limitações ao transmitirmos tais
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 291
conhecimentos, os quais, por esta razão,
acabam ficando incompletos.
Você é Astriel?
Astriel e outros amigos.
Primeiramente, meu irmão, nós o sau-
damos na paz e no amor em nosso comum
Salvador e Senhor. Ele é aqui, por nós, e
Ele é aí, por vocês. Mas entendemos,
agora, mais daquilo que não estava claro
quando andávamos entre as brumas da
Terra. E isto poderíamos dizer com toda a
solenidade; deixe os que hoje em dia
caminham entre vocês buscando o signifi-
cado de Sua divindade e a relação dela
com a Sua humanidade, que o façam sem
medo e reverentemente. Pois que eles são
guiados, mais do que pensam, a partir
destes reinos. E que esteja sempre na
mente dos que são sinceros, que eles não
sejam irreverentes a Ele, que é a verdade,
ao inquirir o que é a verdade, da forma que
Ele a revelou.
Apesar disso, amigo, vamos contar-lhe,
com esse mesmo destemor, e também com
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 292
uma grande reverência, que aquilo que
acontece sob o nome de ortodoxia entre os
cristãos na Igreja da Terra não é uma
apresentação justa e verdadeira, sob muitas
formas, da verdade, como viemos a conhe-
cê-la aqui. Também vemos entre vocês
muito despreparo para seguirem adiante, e
falta coragem e fé na providência de Deus,
que os guiará, se os homens seguirem,
cada vez mais para uma luz mais intensa, a
radiante luz cintilante, a que envolve os
bravos para mostrar-lhes o certo e o
sagrado caminho em direção ao Seu trono.
Deixe que isto relembre a você que o trono
somente será compartilhado pelos bravos
que forem fortes para persistirem, e estes
são os que foram valentes para cumprirem
e suportarem, exemplificando aos que são
seus companheiros menos corajosos e
menos iluminados.
Agora continuaremos nossa instrução, e
você a receberá até onde alcançar. Aquilo
que sentir que não é capaz de receber,
deixe, e talvez, conforme continuar em seu
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 293
caminho, verá que tudo vai se encaixando
pouco a pouco, até que entenda tudo.
Estivemos lhe contando principalmente
sobre os corpos celestes e sua correlação
uns aos outros. Agora falaremos alguma
coisa sobre sua criação e sobre o aspecto
que eles têm para nós, conforme os vemos
pelo lado espiritual. Você entenderá que
cada estrela ou planeta, e tudo que é
material, tem sua contrapartida espiritual.
Você realmente entende isto, sabemos, e
vamos colocar o que temos que dizer sobre
esse conhecimento.
Os corpos celestes são a expressão
material de idéias originárias dentre aqueles
mais hierarquizados nas esferas celestes
do poder criativo. Todos eles e cada um
deles são efeitos dos pensamentos e dos
impulsos procedentes destas esferas.
Quando um mundo está em processo de
criação, aqueles seres elevados energizam
constantemente e projetam para a matéria
que se forma a sua influência espiritual e,
digamos assim, seu caráter. Dessa forma,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 294
apesar de os planetas de seu sistema
serem todos conformes a um grande
esquema de unidade, eles são diversos em
suas características individuais. Essas
características correspondem ao caráter
dos grandes senhores em cujo encargo elas
geralmente estão. Os astrônomos estão
certos quando dizem que certos elementos
que formam a Terra são encontrados em,
digamos, Marte e Júpiter, e no próprio Sol.
Mas eles errariam se dissessem que são
encontrados na mesma proporção, ou numa
combinação similar. Cada planeta difere,
nesses fatores, de seus companheiros, mas
estão todos em conformidade com um
projeto mais amplo, que os governa como
um sistema. O que é dito aqui pode ser
aplicado num âmbito mais amplo de coisas.
Considerando o reino solar como uma
unidade, ele não é idêntico, nem em
composição de elementos nem na constitui-
ção planetária, aos outros sistemas. Cada
um difere de seus pares também.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 295
Agora, já explicamos a razão para tanto.
Vem da mente individual do senhor Diretor
do sistema em particular. Abaixo dele estão
outros grandes senhores que trabalham em
uníssono com sua idéia regente única. Mas
estes também têm liberdade naquilo que
está a seu encargo, e assim por diante, até
coisas mínimas da criação – as flores,
árvores, animais e a formação da face do
planeta. É por causa dessa variação na
criação e no controle que vocês têm tanta
diversidade nos detalhes; e é por causa dos
limites da restrição ao exercício daquela
individualidade livre que vocês têm a
unidade que encontram interpenetrada em
cada departamento e sub-departamento da
criação.
Abaixo destes supervisores há miríades
de ministros menores, de diferentes graus
decrescentes, até que algumas das mais
baixas ordens mal podem ser chamadas de
pessoas, já que se inserem nas espécies
mais baixas de vida, que vocês denominari-
am sensitivas, para distingui-las dos que,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 296
como nós, possuem não só inteligência,
mas também a independência de julgamen-
to que conhecemos como livre arbítrio.
Você está falando de fadas, gnomos e
elementais em geral, dos quais alguns
autores nos contam?
Sim, eles são reais e, na maioria, bene-
volentes; mas estão longe, abaixo na esfera
humana, e por isso são menos conhecidos
que os mais elevados graus de ministério,
como os espíritos dos homens, e os que
atingiram o grau angélico.
Agora, um pouco mais sobre a Terra em
si. Os geólogos contam como algumas
rochas em sua formação são aluviais e
outras ígneas, assim por diante. Mas se
você examinar cuidadosamente algumas
delas, verá que elas exalam um certo vapor,
alguém diria uma influência magnética.
Esse é o efeito da inspiração original delas,
a partir daqueles que a formaram original-
mente. E essas características são merece-
doras de estudos mais profundos do que
tiveram até então. A composição química
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 297
tem sido, mais ou menos, averiguada. Mas
as influências mais sutis procedentes das
partículas eternamente vibrantes têm sido
negligenciadas. Mesmo assim, quando se
relembra que nenhum pedaço de rocha ou
pedra está inerte, pois todas as suas
partículas estão em movimento ordenado e
constante, damos apenas um passo adiante
para então perceber-se que, para que esse
movimento seja mantido, deve estar
presente uma grande força e, por trás
dessa força, a personalidade daquele de
onde isto é a expressão.
Isto é verdade, e a influência maligna
que algumas gemas realmente exercem
naqueles cujos sentimentos em direção a
elas não são bem governados é uma
evidência disso. Por outro lado, você ouviu
falar de gemas da sorte, que é uma expres-
são que demonstra uma vaga noção da
verdade fundamental. Elimine toda a idéia
de acaso desses temas e substitua por um
sistema ordenado de causa e efeito, e
lembre-se da conseqüência da ignorância
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 298
ao se transgredir todas as leis naturais, e
você verá que pode haver algo naquilo que
estamos tentando explicar.
Para dar mais ênfase, limitamos nossas
considerações à criação mineral, mas a
mesma verdade pode ser adaptada ao reino
vegetal e também ao animal. E disto não
falaremos nesta noite. O que dissemos foi
dito com o objetivo de mostrar que há um
campo para os que têm mente científica, e
para os que não temem seguir mais adiante
do que os cientistas se permitiram até aqui.
O todo pode ser resumido em poucas
palavras; se aceitas, então a conclusão a
que levamos deve, necessariamente, ser
aceita também. Toda a criação material não
é nada em si e por si. É apenas a expres-
são, num plano mais baixo, das personali-
dades de planos mais elevados; os efeitos
dos quais suas vontades são as causas.
Como um homem deixa impresso o seu
caráter em seu trabalho do dia a dia, assim
os grandes senhores criativos e seus
ministros deixaram as impressões de suas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 299
personalidades nesses fenômenos materi-
ais.
Nada está parado, tudo se move cons-
tantemente. Esse movimento é controlado e
ordenado, e isso é uma garantia da energi-
zação constante da personalidade. Como
os graus menos elevados de serviço são
dependentes dos senhores mais elevados
para sua existência e continuidade, assim
estes últimos são dependentes dos de
maior grau de sublimidade, assim como
eles são da Energia Suprema Única, o Ser
de Existência Própria, cuja Vontade é a
nossa vida, e cuja Sabedoria é mais
maravilhosa do que podemos expressar em
palavras ou pensamentos. Reverenciemos
Àquele onde tudo é, reverência de nós que,
em Cristo nosso Senhor e Salvador,
habitamos n’Ele, e Ele em nós. Amém. †

Sexta, 24 de outubro de 1913.


Viemos esta noite com nossos amigos,
sua mãe e as companhias dela, a convite
dela novamente, para transmitirmos a você
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 300
uma mensagem de ajuda amiga e de
conselho. E pensando sobre o que mais
poderia lhe interessar, concluímos que se
fosse para dizermos algo a você sobre os
poderes que velam pelo mundo, devería-
mos, talvez, levá-lo, e os que estão queren-
do segui-lo, um pouquinho mais adiante, em
direção ao grande corpo de conhecimento
que aguarda a sua pesquisa, quando
tiverem deixado de lado aqueles entraves
da vida terrena, ficando livres ao progresso
em direção às glórias maiores do reino do
espírito.
Quem está escrevendo isto, por favor?
Somos os que já estivemos aqui antes,
amigo; Astriel, como você me conhece, e
meus companheiros de trabalho da décima
esfera de evolução. Podemos continuar,
então?
Por favor, e agradeço pela sua cortesia
em descerem até aqui, até este reino
escuro, como lhes parece.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 301
Você diz, “descer até aqui,” e isso ex-
pressa muito bem a condição das coisas do
seu ponto de vista, apesar de não ser
completo, nem perfeito. Pois se o planeta
no qual você vive sua vida atual é depen-
dente de espaço, então “cima” e “baixo” são
termos que devem ser bem restritos em seu
significado. Você já anotou isso em sua
escrita, ou, aliás, foi pressionado a anotar.
Quando dizemos “os poderes que zelam
o mundo”, não queríamos, claro, localizar
esses poderes em um lado do planeta, mas
implica em um envolvimento total da guarda
que os poderes celestiais mantêm sobre
esta esfera que é chamada de Terra. Esses
poderes são residentes nas zonas das
quais a Terra em si é o centro, e elas estão
em círculos concêntricos em torno dela. As
zonas inferiores são as próximas da
superfície do planeta, e progridem em poder
e glória à medida que a distância aumenta.
Mas, o “espaço” deve ter seu significado
ampliado quando se aplica a essas esferas,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 302
pois a distância não tem o sentido obstruti-
vo para nós, como tem para vocês.
Por exemplo, quando estou na décima
dessas zonas, minha cognição é limitada,
mais ou menos, pela décima zona, quanto
aos seus limites exteriores ou superiores.
Posso, às vezes e com permissão, visitar a
décima primeira zona, ou mesmo ir mais
alto, mas residir naquelas regiões superio-
res não me é permitido. Por outro lado, as
regiões inferiores à décima não são impos-
síveis para mim, já que a zona onde habito,
sendo uma esfera, inclui dentro dela,
mesmo sendo considerada geometricamen-
te, todas as nove esferas inferiores. Assim,
podemos, para ilustrar e entender, colocar
desta forma: A Terra é o centro sobre o qual
muitas esferas estão, e está incluída nessas
esferas todas. E os residentes da vida
terrestre estão potencialmente em contato
com todas as esferas, e realmente estão,
na proporção de sua altitude considerada
espiritualmente – espiritualmente, porque
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 303
essas esferas são espirituais, e não materi-
ais.
Mesmo a esfera material da Terra é
somente assim fenomenicamente, pois é a
manifestação em matéria de todas essas
zonas de poder espiritual que a envolvem, e
de outras também, de outro grau que a
interpenetram. Deixe isto de lado, pelo
menos por agora, e considere o tema da
forma que o descrevemos.
Você vai agora ter uma idéia do que
significam aspiração, oração e culto. Eles
são os meios de comunhão com o Criador e
os que são elevados e sagrados e que
habitam na mais alta, ou mais externa,
dessas esferas (para se colocar numa
forma que você entenda), e incluindo dentro
d’Ele e d’Estes todas as zonas inseridas na
zona mais elevada, ou esfera.
E assim a Terra é envolta, inclusa e afe-
tada por poderes espirituais, de variados
graus e espécies, confiados pelo Criador –
Deus – a todos esses ministros de todas as
esferas que estão em torno dela.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 304
Mas conforme se progride para adiante,
alcança-se um estágio complicado de
compromissos. Pois não somente a Terra,
mas cada planeta no sistema solar tem
como um complemento de zonas espirituais
ou esferas. Assim, à medida que se afasta
cada vez mais da Terra, chega-se a um
reino onde as esferas da Terra e dos
planetas mais próximos interagem uns com
os outros. Como cada planeta funciona com
um assessoramento semelhante, então a
complexidade torna-se multiplicada, e você
começará a ver que o estudo dessas
esferas não é tão simples como algumas
boas pessoas entre vocês pensam que é, e
que demandam de nós as informações
quanto ao significado de tudo.
Desenhe um diagrama do sistema solar,
com o Sol no centro, e os planetas aproxi-
madamente em seus respectivos lugares
em torno dele.. Então comece com a Terra
e circunde-a com, digamos, uns cem
círculos. Faça o mesmo com Júpiter, Marte,
Vênus e os outros, e trato do Sol da mesma
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 305
forma, e terá uma pálida idéia de nosso
trabalho e de seu interesse empolgante,
mas de profundas variações de significado,
que incluem em nossos estudos as Esferas
de Deus.
Nós ainda nem alcançamos o limite de
nosso problema. Porque o que se aplica ao
sistema solar deve ser aplicado também a
cada estrela e seus planetas. Então, cada
sistema, tendo sido considerado em
separado, cada um e todos devem ser
estudados em sua correlação com os
demais. Pense nisto uns instantes e
entenderá, penso eu, que não haverá falta
de uso para as suas energias mentais
quando chegar aqui.
Agora, algumas vezes nos perguntam
quantas esferas há. Bem, tendo explicado o
que acabamos de explicar, não entenderei
se você nos questionar dessa forma. Se
tivesse feito a pergunta, nós, que somos
apenas da décima dessas esferas, teríamos
que responder: Não sabemos, e temos
muita dúvida se nossa resposta a você
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 306
seria diferente se tivesse feito a mesma
pergunta a um milhão de milhões de aeons
adiante desta nossa época, e tendo nós
progredido todo esse tempo.
E agora, amigo e espírito companheiro,
desejaríamos pedir que considere um outro
aspecto deste tema. Dissemos que essas
esferas são esferas de poder espiritual.
Bem, dois mundos afetam-se entre si
através do que seus cientistas chamam de
gravitação. Também, duas esferas de poder
espiritual, entrando em contato, não deixam
de agir e reagir umas às outras. Referindo-
nos ao seu diagrama mental do sistema
solar, você verá que a Terra é, necessaria-
mente, atuada por um enorme número de
esferas, e que um grande número delas são
do Sol e de outros planetas.
Sim, amigo, há, afinal de contas, um
fundo na idéia astrológica, e talvez seus
cientistas façam bem em ficar bem distan-
tes disso, porque pode não ser bem enten-
dido, e poderia se tornar perigoso, quanto
aos que não entendem o que é poder
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 307
espiritual. É real e tremendo, e cada esfera
dessas é reforçada ou modificada pelas
outras. O estudo disso deveria ser encetado
com a maior reverência e devoção, porque
esses são reinos aonde os anjos de mais
alta hierarquia vão tranqüilamente, e nós de
hierarquia menor olhamos e imaginamos a
sublimidade daquele Ser que unifica tudo
isso em Si, e que não tem nome que possa
ser transmitido a nós, que somente pode-
mos ir até uma pequena parte do caminho e
então nossos braços nos são encurtados,
nós que apenas podemos ver um pouqui-
nho do caminho e, aí, a luz adiante fica
escura, tal é a intensidade dela.
Mas testificamos a vocês, amigo, e aos
que pensarão reverentemente nas coisas
que não podem entender, que se a admira-
ção nos dá um tempo de pausa e, quando
continuamos novamente, não perdemos a
sensação da presença d’Aquele cuja
respiração é amor, e cujo incentivo é tão
gentil quanto o toque de uma mamãe em
seu pequenino bebê. Assim nós, como
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 308
vocês, tomamos a Sua mão e não teme-
mos, e a música das esferas nos envolve
conforme saímos de uma glória para as
outras adiante. Siga sempre este caminho,
nosso irmão n’Ele. Não esmoreça nem
enfraqueça na estrada, porque as brumas
se esvaem à medida que se avança, e a luz
se intensifica naquela luz mais adiante, que
nos impele para o desconhecido, e que
jamais é temida. Assim caminhamos gentil e
humildemente, como fazem as criancinhas,
entre as glórias dos planetas e dos céus
dos sóis, das esferas e do amor de Deus!
Amigo e irmão, dizemos boa noite a vo-
cê, e agradecemos por permitir cumprirmos
esta tarefa. Que ela seja útil, muito ou
pouco, para poucos ou muitos que buscam
a verdade. Boa noite mais uma vez, e
esteja certo de nossa abençoada ajuda. †

Sábado, 25 de outubro de 1913.


Continuaremos, se permitir, nossa men-
sagem de ontem sobre aquelas esferas de
poder que afetam a Terra.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 309
Ainda concernente ao sistema solar,
diremos que, se considerando o que já
dissemos, verá que não mencionamos
ainda todas as complicações que entram no
estudo dessas esferas. Pois não somente
as zonas em círculos concêntricos sobre
todos os planetas e o sol misturam-se com
todo o resto, mas também a combinação
relativa está continuamente mudando, ao
mudarem as posições desses corpos, e
com sua conseqüente proximidade, ou
distanciamento, uns dos outros. Por isso é
bem correto literalmente dizer que em dois
segundos quaisquer do tempo a influência
deles imposta sobre a superfície da Terra
não é a mesma.
Nem é idêntica qualquer combinação de
suas influências em seu efeito ou intensida-
de sobre toda a Terra ao mesmo tempo,
porém difere nas diferentes localidades.
Deve ser levado em consideração em
nossos cálculos a corrente de irradiação
chegando a este sistema solar vinda dos
sistemas de outras estrelas. Todas essas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 310
coisas devem ser consideradas, porque
está na mente ainda que estamos falando
de zonas e esferas de seres espirituais
cujos poderes estão energizando continua-
mente, e cuja vigilância não falha.
Isto, então, é um simples esboço das
condições que se obtêm entre os sistemas
planetários cuja manifestação exterior é
visível ao olho e ao telescópio do astrôno-
mo. Mas o que se observa desta forma é
apenas uma pequenina partícula quando
comparada com o todo. É apenas um
chuvisco que refresca o viajante, quando
ele se põe na proa do navio, e espalha em
gotinhas de névoa em torno dele. Ele vê as
minúsculas gotas de água flutuando e
refletindo a luz em torno delas, e diz que
são inúmeras. Mas se fossem, que diremos
do oceano de onde elas vieram, onde estão
e aonde retornarão?
O que aquela pequena nuvem de orva-
lho é para o oceano, o céu recoberto de
estrelas, da forma que é visto da superfície
da Terra, é para o todo. Da mesma forma
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 311
que as profundezas do oceano se apresen-
tam aos olhos daquele que olha do lado da
amurada do navio, assim mesmo são as
profundezas do espaço, e tudo que o
espaço contém, para a inteligência humana.
Agora raciocinemos um pouquinho mais
adiante. Espaço, em si, é apenas um termo
usado para descrever o indescritível. Ele
não tem, portanto, um significado definido.
Um de seus poetas começou um poema
sobre o espaço e desistiu, desesperado.
Prudente, porque se ele desejasse fazer
justiça ao tema, continuaria aquele poema
para sempre.
Por que, o que é o espaço, e onde es-
tão os limites dele? É ilimitado? Se é, não
há centro. Onde, então, habita Deus? Ele
disse estar no centro de toda a criação. Mas
o que é a criação? Uma criação que tem
relação com o espaço, ou uma criação que
é invisível?
Agora, é inútil, para todos os propósitos
práticos, especular coisas que não enten-
demos. É bom raciocinarmos sobre estas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 312
coisas algumas vezes, para que descubra-
mos nossas próprias limitações. Feito isso,
falemos de coisas que, de certa forma,
podemos entender.
Todas essas zonas das quais acaba-
mos de falar são habitadas por seres de
acordo com sua evolução, que progridem
de uma esfera para outra mais elevada, à
medida que acumulam, em si mesmos,
conhecimento. A partir do que já escreve-
mos, você verá que, conforme se avança
das mais baixas para as mais elevadas
esferas, chega-se a uma região de esferas
que são interplanetárias, visto que contém
em sua circunferência mais de um planeta.
Avançando ainda, chega-se a um estado
onde as esferas são de tal diâmetro que
são interestelares, isto é, abarcam em sua
circunferência não apenas mais de um
planeta, mas mais de uma estrela, ou sóis.
Todos eles são cheios de seres, de acordo
com seu grau de sublimidade, de santidade
e de poder, cuja influência se estende a
todos, tanto espirituais quanto materiais,
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 313
dentro da esfera ao qual se atêm. Nós
apenas avançamos, veja, de planeta para
estrela, e de estrela para estrelas agrupa-
das. Além disso estão esferas ainda mais
colossais, e mais tremendas. Mas delas,
nós, nesta décima esfera, sabemos muito
pouco ainda, e nada certo.
Mas você poderá perceber levemente,
por um enorme esforço de seus poderes
imaginativos, o significado que tínhamos em
mente quando escrevemos na última noite
sobre Ele, cujo nome não é conhecido e
impossível de se conhecer. Assim, quando
veneram o Criador, vocês não têm, supo-
nho, uma idéia definida da ordem do
Criador que pretendem. É fácil dizer que
significa o Criador de tudo. Mas o que
querem dizer com tudo?
Agora, saibam disto – porque até aqui,
pelo menos, progredimos para saber –
vocês acertam ao venerar o Criador e Pai
de tudo, seja lá o que signifique – se
querem dizer que é alguma coisa definida
por esta palavra tão inclusiva. Ainda, sua
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 314
reverência passa primeiro pelas esferas
mais baixas, e através delas para as mais
altas, e algumas venerações vão mais além,
nas esferas mais altas que as outras
venerações vão, de acordo com o mereci-
mento e poder inerente. E algumas vão
muito longe de fato. Longe, acima de nós,
está a esfera Crística de gloriosa intensida-
de de luz e beleza incalculável. Sua reve-
rência, então, vai a Deus através d’Ele, isto
é, através d’Aquele que veio para a Terra e
manifestou o Cristo aos homens.
Agora, tudo o que dissemos é verdade,
mesmo que expressa inadequadamente por
causa das limitações, nossas, dos que
estamos falando com você, e suas, pelo
seu estado terreno. Pois você entenderá
que quando falamos de passagens através
dessas esferas, estamos realmente usando
frases de caráter local, como de uma
jornada de uma localidade através de outra
em direção a uma terceira. E temo, meu
amigo, que posso fazer muito pouco agora,
a não ser relembrá-lo que esses estados
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 315
dos quais estivemos pensando são melhor
descritos como esferas, não como zonas.
Pois, repito, as mais elevadas incluem nelas
mesmas todas as inferiores, e aquele que
se move em qualquer uma delas está
presente em todas as inferiores à dele. Por
esta razão, não é sem alguma verdade que
falamos d’Ele que é tudo, e em tudo, e
através de tudo; e da onipresença de Deus.
Agora, achamos que trabalhamos este
tema por muito tempo e devemos parar de
nos esforçar em colocar no pequeno cálice
do conhecimento e sabedoria terrestre para
entendam a vindima desses amplos parrei-
rais dos céus. Uma coisa basta que saiba-
mos, vocês e nós: o Agricultor e o Viticultor,
ambos, estão certos de seu poder e de sua
sabedoria ao lidarem conosco. Nossa
jornada é em direção a Eles, e devemos
fazer o que temos pela frente, completa-
mente, e bem acabado, e então alcançar-
mos a próxima tarefa, na ordem. Quando
esta estiver bem terminada, então outra
estará esperando por nós. Jamais devemos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 316
achar que chegamos ao fim, penso. Pois
quando se progride, chega-se a se sentir
mais e mais a possibilidade de ser verda-
deira a frase “para sempre”, “mundo sem
fim.” Mas duvidamos que você já o fez,
amigo, e pronunciamos isso muito
cortesmente.
E agora nós os abençoamos e o deixa-
mos na esperança de podermos voltar,
porque é bom, e há doçura nisto, inclinar-
mo-nos para sussurrar em ouvidos desejo-
sos de algumas das glórias menores dos
reinos celestiais. Esteja certo, amigo – e
conte a outros que ouvirão – que esta vida
que os espera não é meramente um sonho
incorpóreo numa região do crepúsculo, em
algum lugar além do limite do real e verda-
deiro. Não, é extenuante e intensa, esta
nossa vida. Ela é cheia de serviços e
esforços coroados, um após outro, com
sucesso; de impulso paciente para frente, e
de desejos indômitos sintonizados uns aos
outros num serviço fraterno pelo Senhor do
Amor, cuja vida sentimos e inspiramos, mas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 317
a quem não vemos, e cuja residência é
sublime demais para que a conheçamos.
Lançamo-nos à frente, e freqüentemen-
te tomamos a mão de alguém um pouqui-
nho atrás de nós, e com a outra seguramos
a roupagem de alguém um pouquinho mais
à frente. E assim seguimos, meu irmão; e
também vocês, e outros que trabalham com
você. E se estamos um pouquinho à frente,
bem, há muitos que se arrastam lá atrás.
Tomem as mãos deles nas suas, e gentil-
mente, lembrando de sua própria relativa
fraqueza, e se a tarefa for pesada demais
para você, não solte aquela mão que
segura, mas alcance outra lá em cima – e
aqui está a minha e a de muitos outros
conosco. Você não falhará, por isso mante-
nha puras e brilhantes a sua própria visão e
a sua vida. Não somente isso, aquela Visão
ficará mais gloriosa, pois não está escrito,
amigo, que os que são puros de coração
verão a Deus?
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 318
Sexta, 31 de outubro de 1913.
Os que dizem que viemos à Terra para
ajudar estão corretos. Mas os que esperam
que ajudemos num grau tal que seus
esforços próprios não sejam necessários,
estes estão errados. Não nos é permitido
ajudá-los diminuindo o valor da escolarida-
de da Terra. E apesar de parecer tão
razoável que quase chega a ser uma
verdade banal, mesmo assim há muitos que
esperam que façamos o que eles mesmos
podem fazer, e isso não numa medida
ordinária, mas quase, como se fosse,
miraculosamente.
Quem está escrevendo, por favor?
Estamos com sua mãe – Astriel e seus
amigos.
Obrigado. Reparei que o vocabulário
não era como o de minha mãe e de suas
companhias.
Não, suponho que não seja. Em parte,
claro, porque temos características diferen-
tes, diferentes esferas, e também sexos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 319
diferentes, que não deixa de ter sua
característica peculiar aqui, da mesma
forma que aí. E em parte, também, porque
somos de um período diferente do de sua
mãe e de suas amigas.
Você quer dizer que viveu na Terra há
bastante tempo atrás?
Sim, amigo, na Inglaterra, quando Ge-
orge, o Primeiro, era o rei, e alguns de nós
antes disso ainda.
Sobre si mesmo, Astriel – que é, supo-
nho, o líder de seu grupo – poderia por
gentileza dizer-me alguma coisa?
Certamente. Mas você não percebe que
é mais confuso dar-lhe estes detalhes
terrenos do que parece. Direi o que posso,
entretanto. Vivi em Warwick, e fui professor
numa escola ali – diretor. Não posso
precisar o ano exato em que passei para
cá, a menos que o procure, e realmente não
tem muita significação.
Agora poderemos falar sobre o que está
em nossas mentes? Podemos ajudar, mas
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 320
discretamente. Quando as pessoas supõem
que devamos ajudá-las na investigação
científica, por exemplo, elas certamente se
esquecem de que Deus deu-lhes as mentes
próprias para serem usadas a Seu serviço.
E para esse fim elas são deixadas a
tentarem seu caminho natural, e quando
tiverem realizado o que puderam, nós
sempre apontamos o caminho para adiante
e os ajudamos no conhecimento adiantado.
Poderia dar-me um exemplo deste pon-
to?
Lembro-me de que uma vez eu estava
impressionando um homem que investigava
as leis da psicologia quanto às visões e
sonhos. Ele queria descobrir qual era a
causa de certos sonhos serem proféticos –
a conexão entre o sonho em si e o incidente
que é profetizado. Ele apelou por mim, e eu
disse-lhe que deveria continuar suas
investigações e usar sua própria mente, e,
se tudo estivesse bem, ser-lhe-ia dado o
entendimento.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 321
Naquela noite eu o encontrei, quando
ele adormeceu, e o conduzi a um de nossos
observatórios onde fazíamos experiências
com o objetivo de retratar, em forma visível,
os eventos que aconteciam naquele
momento, isto é, eventos que aconteceram
pouco tempo antes, e os que acontecerão
logo mais, no futuro. Não podemos seguir
longe para trás nem longe para frente
naquele estabelecimento em particular. Isto
é feito pelos que estão nas esferas mais
elevadas.
Acertamos os instrumentos para lançar
numa tela uma paisagem da vizinhança do
lugar em que ele vivia, e pedimos que ele
observasse intensamente. Um item particu-
lar era a chegada na cidade de algum
personagem importante com um grande
séquito. Quando a demonstração acabou,
ele nos agradeceu e nós o conduzimos de
volta aos seu corpo terrestre novamente.
Ele acordou nessa manhã com uma
sensação de que havia estado em compa-
nhia de certos homens que faziam experi-
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 322
ências em algum ramo da ciência, mas não
conseguia rememorar o que acontecera.
Mas à medida que continuou seu trabalho
naquela manhã, a face do homem que ele
vira na projeção veio à sua mente, vivida-
mente, e ele então relembrou vários trechos
de sua experiência sonhada.
Ao abrir os jornais alguns dias depois,
ele viu uma notícia sobre uma visita daque-
le personagem programada para esta
cidade e para o mesmo distrito. Então ele
começou a raciocinar sobre os fatos por si
mesmo.
Ele não se lembrou do observatório,
nem das figuras na tela que havíamos
mostrado a ele. Mas lembrou o rosto e o
séquito. Então raciocinou desta forma:
quando os corpos dormem, nós mesmos,
pelo menos algumas vezes, vamos à esfera
de quatro dimensões. É essa quarta
dimensão que permite aos que ali habitam
ver o futuro. Mas retornando a este reino de
três dimensões, não podemos carregar de
volta conosco tudo o que experimentamos
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 323
quando estivemos nos reinos das quatro.
Apesar disso, realmente conseguimos
manter alguns itens que sejam naturais
nestes reinos mais baixos, como a face de
um habitante terrestre e um séquito em
procissão.
A conexão, então, entre um sonho pre-
monitório e os eventos por si mesmos é a
relação de um estado de quatro dimensões
e um estado de três. E o primeiro, sendo de
maior capacidade que o último, cobre a
qualquer momento um âmbito mais amplo
de visão, quanto ao tempo e a seqüência
dos eventos, do que o último cobre.
Agora, através desse uso de suas pró-
prias faculdades mentais, ele atingiu um
avanço em conhecimento tão grande
quanto o que eu teria dado diretamente, e
assim fazendo, ele também avançou em
treino mental e poderes. Porque apesar de
que sua conclusão não foi das que passari-
am por aqui sem retificação em vários
pontos, mesmo assim estava amplamente
correta, e de muita ajuda para todos os
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 324
propósitos intelectualmente práticos. Eu não
teria infundido nele mais do que ele achou
por si mesmo.
Este, então, é o método de nosso traba-
lho, e quando as pessoas acham que é
falho e impacientemente que seja este
método alterado para se adequar às idéias
deles sobre o que seria a maneira correta,
bem, nós os deixamos por si mesmos e,
quando suas mentes ficarem mais humildes
e receptivas, retornamos e continuamos.
E agora, amigo, deixe-nos contar-lhe o
procedimento imediato em seu próprio caso.
Você algumas vezes imagina por que não
fazemos estas mensagens mais vívidas,
como assim você mesmo coloca, para que
você não tivesse dúvidas ou dificuldades
em acreditar que vêm de nós a você. Bem,
pense em tudo à luz do que dissemos, e
verá que, de vez em quando, transmitimos a
você apenas o que é necessário para
ajudar você a se ajudar. Seu treinamento,
lembre-se, ainda continua, você ainda não
chegou ao fim, nem vai, enquanto estiver na
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 325
vida terrestre. Mas se continuar confiante e
esperançoso, verá as coisas mais plena-
mente esclarecidas. Aceite o que não é
contraditório em si mesmo. Não procure
tanto provar ou não comprovar, mas busque
mais a consistência dessas mensagens.
Nós não transmitimos a você coisas
demais, mas tudo o que necessita para
ajudá-lo. Seja crítico, certamente, mas não
descontrolado. Há muito mais verdades que
mentiras em torno de você e sua vida.
Busque mais a verdade e a encontrará.
Previna-se contra o falso, mas não seja
supersticiosamente temeroso. Quando você
toma um caminho numa montanha, sua
mente está alerta em duas direções – para
o caminho certo e a salvo, e contra os
lugares perigosos. Mesmo assim, você dá
mais atenção ao positivo que ao negativo, e
corretamente, ou seguiria muito vagarosa-
mente em sua jornada. Então caminhe sem
escorregar, mas também siga em frente
sem medo, porque são os que temem que
perdem a lucidez, e mais freqüentemente se
acidentam.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 326
Deus esteja com você, amigo. Sua pre-
sença é gloriosa aqui, e brilha através das
brumas que envolvem a Terra, e essa
radiação pode ser vista por todos – exceto
os cegos, e estes não podem ver.
Nota: o leitor provavelmente sentirá que
o término desta série é abrupta. Eu também
achei, e quando da sessão seguinte
Zabdiel 9 assumiu o relato, questionei
quanto a isso. Sobre isso, a conversação
seguiu assim:
O que aconteceu com as mensagens
que recebia de minha mãe e de suas
amigas? Acabaram? Elas estão incompletas
– não há uma conclusão apropriada para
elas.

9
Estas mensagens continuaram mais adiante. A
segunda parte foi transmitida por Zabdiel (da
mesma esfera de Astriel), e são mais ou menos
do mesmo tamanho que a primeira parte. Foi
publicada em Os Altos Planos do Céu.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 327
Sim, elas ficarão muito bem como foram
dadas a você. Lembre-se de que elas não
tinham que ter uma forma de história
completa, ou uma novela. São fragmenta-
das, mas não de pouca utilidade aos que as
lerem com mente correta.
Confesso que estou um pouco desapon-
tado no final. Foi abrupto. Ultimamente foi
dito algo sobre a publicação. É seu desejo
que elas sigam como estão?
Isto deixaremos por sua vontade. Pes-
soalmente, não vejo por que não deveriam.
Posso dizer-lhe, entretanto, que esses
escritos que ultimamente fez, como os
primeiros escritos que recebeu de nós, são
preparatórios para um avanço para adiante
– o qual agora proponho a você.
Esta foi toda a satisfação que obtive.
Assim pareceu não haver alternativas,
apenas cuidar do recebido como preliminar
para futuras mensagens. G. V. O.

FIM
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 328
REVERENDO GEORGE VALE OWEN

A VIDA ALÉM DO VÉU

A obra George Vale Owen contou com a


colaboração de sua mãe desencarnada e de
outros espíritos na transmissão das mensa-
gens além túmulo que ajudaram a fundirem
os seus escritos em um único volume que
ficou conhecido na Inglaterra por "Escrituras
de Owen".
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 329
As comunicações recebidas por Owen são
de suma importância, pois estabelece
circunstanciada e completamente, as
condições da outra vida, como ainda não
haviam sido publicadas.

O livro coloca-nos em face do universo


espiritual, de inconcebível beleza e imensi-
dade, adentrando-se em outras esferas
pelos reinos de luz, os quais se desdobram
pela amplidão do infinito.

Descreve casas, jardins, cores, sonoridades


musicais e a suave luz que envolve toda a
atmosfera espiritual.

Cita o intercâmbio dos superiores com os


mais inferiores, a jovialidade perene dos
bons espíritos, as condições das regiões de
luz e de trevas, o poder do pensamento e da
vontade na ideoplastia ... enaltece e confir-
ma a perenidade da vida. Owen jamais
aceitou qualquer retribuição pela publicação
dos escritos.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 330
Reconhecia-se como simples instrumento na
transmissão das mensagens, embora
houvesse despendido grande esforço para
escrevê-las e ordená-las. Homem amado em
sua paróquia pelo bem que fazia, jamais
mediu esforços para desempenhar sua
missão terrena.

Com suas mensagens do além, os espíritas


puderam obter maiores detalhes sobre a
vida espiritual, o cotidiano, as artes, o
pensamento, a luz eterna que brilha malgra-
do a indiferença de alguns homens.

Os seus escritos trazem o cunho do obser-


vador fiel situado em campo neutro, pois que
foi lúcido o bastante para evitar que o
fanatismo lhe armasse com idéias pré-
elaboradas contra aquela situação que para
muitos era engendrada pelo demônio.
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 331
Comentário

Essa obra de Vale Owen é uma tentativa de


mostrar a nós, seres encarnados, um
resumo do panorama estético do plano
espiritual. Em outras palavras, a obra enfoca
a aparência dos seres e das coisas. Apre-
senta, de forma minuciosa, os detalhes de
uma paisagem ou construção, suas cores,
dimensões, etc. Em relação aos espíritos,
faz também descrições extremamente
detalhadas sobre sua fisionomia, olhos,
cabelos, roupas, etc.

Resumindo: apesar de ser uma importante


obra no sentido histórico, é uma narrativa
essencialmente voltada para o lado externo,
visual, dos seres e das coisas, apesar de
abordar, em alguns momentos, as atitudes e
sentimentos dos seres do mundo espiritual.

Mas é importante lembrar que, no sentido


doutrinário, as obras de André Luiz, da série
George Owen – A Vida Além do Véu – Livro 1 332
“A Vida no Mundo Espiritual”, psicografadas
por Chico Xavier, são infinitamente superio-
res. Nestas obras, em um total de 13
volumes, André Luiz narra, de forma clara e
objetiva, todas as belezas e dificuldades do
processo de evolução espiritual. A obra nos
mostra o trabalho dos professores, dos
médicos nos hospitais, dos estudantes nas
faculdades, dos sacerdotes, dos artistas, dos
missionários em suas heróicas missões junto
aos planos inferiores, a assistência invisível
dos missionários às famílias dos encarna-
dos, as alegrias ou frustrações daqueles que
acabam de retornar ao mundo espiritual,
entre outros inúmeros assuntos de extrema
importância, que não caberiam nesta
observação. É uma obra que não deve
jamais ser negligenciada pelo espírita
estudioso.

"O verdadeiro Espírita não é aquele que crê


nas manifestações, mas aquele que aprovei-
ta o ensinamento dado pelos Espíritos."

(Allan Kardec)

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