PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA - Causas e Soluções
PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA - Causas e Soluções
PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA - Causas e Soluções
), 2007 65
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
As paredes de alvenaria têm merecido, nos últimos anos, uma atenção crescente, ainda que
insuficiente e com resultados pouco visíveis ao nível do seu desempenho final. São crescentes
os esforços ao nível da legislação, da certificação de produtos, da investigação e da criação de
ferramentas técnicas, mas os resultados são lentos. No campo dos materiais há sinais evidentes
do interesse por novos produtos mas ainda não foram dados passos de escala decisiva na
produção. As alvenarias vêem, assim, uma dignidade adiada, com uma evolução lenta pontuada
aqui e ali por exemplos positivos de relevo, mas também por recorrentes anomalias que não
Patologia em paredes de alvenaria: Causas e soluções 66
permitem esquecer uma tradicional conotação deste sistema construtivo com técnicas
ultrapassadas e incapazes de responder às exigências do presente e do futuro.
Optou-se, assim, numa primeira fase, por recordar a temática geral então abordada e, depois,
dar uma contribuição de maior detalhe técnico, escolhendo doze anomalias das paredes de
alvenaria (ou das fachadas onde habitualmente se integram) para ilustrar melhorias que devem
ser empreendidas.
No texto anterior já referido [1] aborda-se a influência das alterações das fachadas nas últimas
décadas no seu desempenho e identificam-se, como principais, as seguintes:
- Introdução de novos materiais;
- Modificação das características de materiais existentes;
- Aligeiramento global das paredes, acompanhando o aligeiramento da construção;
- Alterações tecnológicas, no que diz respeito à filosofia da concepção;
- Alterações tecnológicas, no que diz respeito às técnicas de execução;
- Introdução de materiais com funções complementares;
- Introdução de acessórios/componentes complementares;
- Introdução de novos tipos de revestimento;
- Evolução/alteração de revestimentos tradicionais (características dos materiais e
técnicas de aplicação).
de 2006, após o agudo desafio de 1990. Nessa data, surgiu, entre outros, o problema da
correcção das pontes térmicas que, apesar de atenuado, não está totalmente solucionado.
Todas estas preocupações merecem ser revisitadas, porque deve ser permanente a procura de
novas soluções e porque, nalguns casos, a experiência tem vindo a consolidar-se com a
aplicação em obra, nomeadamente no que diz respeito ao grampeamento de paredes pós-
construção, à utilização de armaduras de reforço e à reconstrução de cunhais. Seleccionou-se,
para reavivar a reflexão, o quadro então apresentado sobre as estratégias básicas de intervenção
em situações de anomalia não estrutural (ver Quadro 1), com exemplos de aplicação para o
caso da fissuração em paredes de alvenaria. Independentemente da limitada resposta técnica
que este pequeno exemplo consegue dar, a metodologia é relevante e merece ser ensaiada.
O Quadro 2 [3], diversas vezes discutido e agora publicado aborda a sempre complexa partilha
de responsabilidades entre o projecto e a execução das alvenarias, no que toca às situações de
patologia. A sua inclusão neste texto pretende recentrar a discussão no projecto, que deve ter
um papel decisivo mas suficientemente discreto para que as alvenarias possam desempenhar,
não só o papel principal, quando for caso disso, mas também as funções complementares,
como peças de um complexo sistema, onde, porventura possam não ser as mais determinantes.
Antes de abordar, nas secções seguintes, várias anomalias das paredes de alvenaria e das
fachadas que exigem a nossa atenção presente, reafirmam-se convicções anteriores sobre os
maiores desafios que se colocam ao sector: (i) Integrar a avaliação da qualidade das alvenarias
num sistema global de avaliação da qualidade do edifício; (ii) Sensibilizar os projectistas e
criar ferramentas de projecto; (iii) Investir na progressiva qualificação da mão-de-obra e na
organização da produção; (iv) Promover e apoiar a investigação, tendo em conta a realidade
nacional; (v) Melhorar a eficácia dos mecanismos de transferência tecnológica; (vi) Reforçar,
de forma integrada, os instrumentos formais de Certificação, Normalização, etc.; (vii)
Conhecer e controlar os materiais; (viii) Melhorar a aplicação; (ix) Construir alvenaria armada;
(x) Fabricar formatos complementares; (xi) Projectar as alvenarias.
Patologia em paredes de alvenaria: Causas e soluções 68
Eliminação das É a acção mais eficaz, mas frequentemente impossível ou economicamente inviável.
causas das anomalias Obriga também, em geral, à eliminação da anomalia.
Exemplos idênticos aos indicados para a “protecção contra os agentes agressivos”.
Reforço das
características Não é, em geral, aplicável às alvenarias numa fase correctiva, mas sim numa fase preventiva.
funcionais
J. Mendes da Silva, V. Abrantes 69
PROJECTO CONSTRUÇÃO
A patologia da construção deve ser sempre encarada como um passo – indesejado mas
praticamente inevitável – rumo à qualidade. Todas as correntes filosóficas da “certificação da
qualidade” – divulgadas e implantadas através das normas ISO nos últimos anos – sublinham a
necessidade da melhoria constante e o imperativo de encontrar oportunidades de melhoria em
cada experiência de insucesso (ou não-conformidade), mediante acções correctivas
formalmente definidas e posteriormente avaliadas.
A abordagem que agora se faz de erros e defeitos em paredes de fachada tem o duplo objectivo
de, por um lado, recordar periodicamente o que é conhecimento consolidado sobre estas
matérias (uma vez que os actores, as obras e as circunstâncias evoluem e assim o aconselham)
e, por outro, contribuir de forma pontual e muito direccionada para a discussão e melhoria das
condições de execução de pormenores construtivos que tendem a ser menosprezados e que
afectam o desempenho geral das fachadas.
Os casos escolhidos, num total de doze, não resultam, nem de uma análise estatística dos
defeitos mais significativos na construção de fachadas, nem da tentativa de estabelecer um
catálogo que cubra, de modo uniforme, as diferentes abordagens, materiais ou funções das
fachadas.
Esta selecção tem, tão só, a justificação de, ao longo dos últimos anos, nas experiências de
inspecção ou reabilitação acompanhadas, se terem apresentado de forma repetida mas, na
maior parte dos casos, com níveis de manifestação que indicam que a sua prevenção está ao
alcance das soluções gerais de projecto. Para outro tempo fica o retomar da filosofia geral da
patologia e reabilitação das alvenarias não estruturais, recordada nas secções anteriores.
Nos doze títulos que se seguem, e que adiante se listam, faz-se uma breve abordagem de erros
e defeitos, suas consequências e forma de manifestação, com particular preocupação com as
estratégias de prevenção. A reabilitação exige maior detalhe técnico e para ela se reservam
outros momentos. Os títulos das secções seguintes são:
- Juntas de dilatação inadequadas;
- Apoio deficiente das paredes para correcção das pontes térmicas;
- Ausência de grampeamento em paredes duplas;
- Deficiente execução da caixa-de-ar de paredes duplas;
- Erro de escolha ou colocação de isolamento térmico nas caixas-de-ar;
- Erros na utilização de barreiras pára-vapor e de pinturas impermeáveis;
- Protecção inadequada contra a humidade ascensional;
- Preparação e aplicação inadequadas de rebocos hidráulicos tradicionais;
- Aplicação inadequada de revestimentos cerâmicos;
- Execução de peitoris com geometria e materiais inadequados;
- Fissuração da alvenaria sobre suportes muito deformáveis;
- Erros frequentes em paredes de tijolo face-à-vista;
J. Mendes da Silva, V. Abrantes 71
A tensão média instalada, quando é de compressão, pode não representar o maior perigo para a
alvenaria, uma vez que esta tem, em geral, elevada resistência para este tipo de esforço.
Todavia, o facto de este ser um fenómeno marcadamente horizontal, vai provocar concentração
de tensões em vários pontos e tensões de corte elevadas na interface entre o tijolo e as juntas
horizontais de argamassa. As primeiras resultam em esmagamento e destacamento lateral e as
segundas em fissuração horizontal, com levantamento das faixas superiores da alvenaria,
menos sujeitas a cargas verticais. Quando as tensões são de tracção é praticamente inevitável a
fissuração horizontal das juntas de assentamento e a fissuração vertical na ligação a elementos
confinantes com maior rigidez. A restrição de movimentos conduz, ainda, à criação de tensões
de corte na ligação aos revestimentos rígidos, como se analisa em secção própria.
3.3. Apoio deficiente das paredes para correcção das pontes térmicas
A correcção das pontes térmicas com forras exteriores de tijolo furado envolvendo toda a
estrutura é a técnica mais divulgada e uma das mais referidas na regulamentação em vigor
desde 1990 (RCCTE), recentemente actualizada em 2006. Esta técnica é, por vezes,
concretizada com recurso ao avanço integral do pano exterior da parede dupla, de modo a
garantir que fica saliente em relação à estrutura pelo menos 7 cm, conferindo-lhe uma
protecção térmica mínima através dos 2 alvéolos de ar (furos) do tijolo cerâmico. Para que tal
aconteça, em segurança, devem estar cumpridas 3 condições mínimas [5, 6]: (i) a parede apoia
na laje (ou suporte alternativo de resistência e rigidez adequados) em pelo menos 2/3 da sua
espessura em tosco; (ii) a estabilidade básica de cada pano de piso está verificada, tendo em
consideração a dimensão e localização do apoio efectivo, do seu peso próprio e do peso do
revestimento exterior; (iii) o pano exterior está devidamente grampeado ao pano interior com 2
a 3 grampos por metro quadrado. Nos casos em que as ligações nos topos horizontais ou
verticais são limitadas ou inexistentes, a verificação básica da estabilidade (ii) deve contemplar
a acção do vento, bem como outras que atendam à especificidade de cada caso.
Quando não se verificam as condições enunciadas, pode considerar-se que existe um apoio
deficiente da parede e é frequente observarem-se fissuras horizontais significativas junto à laje
ou a meia altura entre pisos. Nos casos mais graves pode ocorrer o deslocamento da parede e a
criação de condições de instabilidade que podem conduzir ao seu colapso total ou parcial.
Apoio reforçado com cantoneira Fissura em apoio insuficiente Apoio muito instável
As paredes duplas são concebidas, em geral, para funcionar em conjunto, somando e por vezes
aumentado os seus desempenhos individuais em aspectos relativos à estabilidade, ao
comportamento térmico, à protecção contra a humidade, etc. Para que tal aconteça, em termos
mecânicos, exige-se um grampeamento entre os 2 panos, com uma densidade de 2 a 3
grampos/m2. Para que o grampeamento seja eficaz e não acarrete anomalias inesperadas, os
grampos devem apresentar resistência e mecânica adequada e durabilidade, facilidade de
fixação e pingadeira intercalar (prevenido eventuais escorrências para o pano interior) [7].
A ausência de grampeamento é mais grave em paredes exteriores das quais se espera uma
particular resistência às acções mecânicas verticais ou horizontais (i) e quando os panos
exteriores são esbeltos ou pouco apoiados (ii). No primeiro caso, os dois panos de parede terão
tendência a apresentar um comportamento diferencial e, no segundo, os movimentos do pano
exterior – que tudo indica poderão ser significativos – não estarão limitados pelo pano interior,
em geral mais protegido, mais apoiado e, por isso, mais estável.
A utilização de grampos sem protecção contra a corrosão tem graves implicações na sua
durabilidade. Vários países da Europa, com maior tradição nesta técnica, foram obrigados a
substituir progressivamente os antigos grampos em ferro galvanizado, nalguns casos perante
situações de colapso eminente ou efectivo.
Uma das funções principais da caixa-de-ar das paredes duplas é a protecção do interior da
habitação contra a acção da água da chuva. Em complemento, contribui para a resistência
térmica da parede. Para cumprir a sua acção contra a humidade deve ter capacidade de
drenagem das águas infiltradas e da condensação resultante da migração de vapor de água do
interior para o exterior, através da parede. Uma fraca ventilação da caixa-de-ar contribui
eficazmente para a desejável secagem da parede.
A colocação incorrecta dos grampos entre os panos alvenaria e das placas de isolamento
térmico são também factores que afectam o desempenho da caixa-de-ar e, consequentemente,
da parede dupla, e são objecto de comentário em secção própria.
São sobejamente conhecidas as funções da caixa-de-ar de paredes duplas, o modo como deve
ser executada e as consequências nefastas que advêm do não cumprimento destes princípios.
No entanto, continua a verificar-se a sua deficiente execução, em particular no que diz respeito
à drenagem e ventilação. A capacidade de eliminação controlada, por esta via, de pequenas
quantidades de água que afluem à caixa de forma permanente, sobretudo no período de
Inverno, por infiltração exterior ou migração de vapor de água do interior, não deve ser
desprezada. A ventilação da caixa-de-ar, desde que limitada aos tubos de drenagem, não afecta
negativamente a sua contribuição para a resistência térmica da fachada. Para que a sua
contribuição se situe dentro dos valores correntes, é habitual aceitar-se que a sua largura não
deve ser inferior a 20 mm nem superior a 50 mm.
A utilização das paredes duplas de alvenaria de tijolo em fachadas pressupõe, para os tipos de
tijolo usados em Portugal, a utilização de isolamento térmico complementar. Desde 1990, com
a entrada em vigor da 1ª versão do RCCTE, tal condição passou a ser exigida em zonas de
Inverno mais rigoroso, para panos de alvenaria relativamente finos (em geral com 11 ou 15 cm,
apesar da sua insuficiente inércia térmica) mas generalizou-se às outras regiões.
A solução mais utilizada em Portugal é a que recorre a placas rígidas de isolamento térmico
sintético, em geral polistireno extrudido ou expandido, utilizando-se também aglomerado negro
de cortiça, poliuretano e lãs minerais aglomeradas com resinas. Estas placas rígidas, apesar de
pequenas diferenças de condutibilidade térmica, de resistência à acção da água, de resistência
mecânica e de impacte ambiental, partilham as mesmas técnicas de aplicação e o seu
desempenho geral pode ser considerado equivalente. Devem ser aplicadas adossadas à face
exterior do pano interior, deixando livre uma caixa-de-ar junto à face interior do pano exterior,
com largura não inferior a 20 mm. Esta condição é particularmente relevante para os materiais
de isolamento com elevada absorção de água. É da maior importância que não existam folgas
entre placas ou entre estas e a parede interior e que a sua verticalidade fique garantida a longo
prazo. Além do humedecimento e deterioração dos materiais, o desrespeito pelas regras
enunciadas conduz a pontes térmicas localizadas, com a criação de fungos e bolores,
frequentemente atribuídos (de forma errónea) a alegadas infiltrações pelo pano exterior. A
colocação destas placas rígidas deve ser feita após a construção do pano exterior, utilizando
espaçadores para garantir a caixa-de-ar livre. Para esse efeito podem mesmo ser usados os
grampos de ligação da parede dupla, furando pontualmente o isolante.
O recurso a isolantes projectados sobre a face exterior do pano interior, com posterior
construção do pano exterior, também é adequado desde que seja garantida a uniformidade do
sistema (quer nas características do material, quer na sua espessura efectiva). O recurso a
isolantes flexíveis (por exemplo mantas de lã mineral) exige a construção posterior do pano
exterior e um cuidado redobrado na fixação, para prevenir desalinhamentos, deformação
posterior ou perda de verticalidade ou, ainda, contacto com o pano exterior de alvenaria.
Deve recordar-se que, no Inverno, a temperatura tende a ser superior no interior dos edifícios e,
com a contribuição da sua ocupação e uso, também é maior a pressão de vapor de água no ar.
Uma vez que existe um diferencial de pressão com o exterior, o vapor tem tendência a migrar
nesse sentido, mas à medida que a parede vai arrefecendo o valor da pressão de saturação
também baixa e, no ponto onde iguala a pressão instalada, ocorrem as condensações.
O princípio de referência para a colocação de barreiras pára-vapor é que elas se devem situar
sempre do lado quente do isolante. Deste modo, atendendo ao gradiente de temperatura da
parede, é pouco provável que haja condensação sobre a barreira e também não haverá no
eventual isolante da caixa-de-ar, uma vez que o vapor não o atingirá. A situação mais favorável
à não ocorrência de condensações no seio da parede é a colocação de isolamento térmico pelo
exterior da parede (ETICS, revestimento independente, etc.).
Bolsas de água sob pintura Platibanda sem capeamento Bolsa de água junto à platibanda
Quando as paredes de alvenaria ou betão contactam com solos húmidos, de forma directa ou
através de elementos construtivos porosos, ocorre um fenómeno de ascensão capilar da água.
Este fenómeno tem consequências conhecidas e de difícil solução: (i) acumulação de sais
visíveis na superfície da parede; (ii) degradação da tinta e dos revestimentos (rebocos ou
estuques) numa faixa de altura variável, em geral, junto à base das paredes do piso térreo; (iii)
manchas nos revestimentos interiores na faixa referida; (iv) descolamento de revestimentos
cerâmicos ou equivalentes.
Para que tal fenómeno ocorra é necessário que se verifiquem, em simultâneo, três condições: a
presença da água, a existência de materiais com porosidade “capilar” e a possibilidade de
comunicação entre a primeira e os segundos. Deste modo, todas as acções preventivas passam
por actuar sobre um ou mais destes factores: (i) afastar a água através da drenagem do terreno;
(ii) usar materiais com porosidade de dimensão “não capilar” em contacto com as zonas
húmidas (por exemplo, enrocamentos de brita sem “finos”) ou colmatar os poros dos cerâmicos
e betões com produtos hidrófugos; (iii) criar barreiras hígricas, por impermeabilização exterior
das fundações e outros elementos em contacto com o solo ou com a colocação de faixas
horizontais de impermeabilização numa das primeiras fiadas de alvenaria elevada, conhecida
na gíria inglesa como DPC (“damp proof course”) [8, 9].
Embora de duração limitada, não deve ser desprezada a contribuição positiva das argamassas
macro-porosas actualmente existentes no mercado que, nos casos em que foram concebidas
para tal, permitem a retenção dos sais no interior da parede durante um período significativo.
Parede exterior Parede em contacto com varanda Parede sobre pavimento térreo
A cura das argamassas – mediante protecção contra a secagem precoce por acção do vento ou
do sol e eventual humedecimento – constitui uma peça chave para a prevenção da fissuração
por retracção hidráulica, uma vez que, apesar de não diminuir o valor final da retracção, esta
ocorre num período em que as argamassas já têm resistência mecânica suficiente.
Prevenir o descolamento (quando não provocado pela fissuração) exige cuidados especiais na
preparação do suporte, na selecção do cimento-cola e no correcto planeamento das juntas de
assentamento, esquartelamento e dilatação, em particular em panos extensos e com materiais
cerâmicos de elevada porosidade ou expansão irreversível. É fundamental respeitar as
condições de amassadura e aplicação dos cimentos-cola, nomeadamente através de um rigoroso
controlo do seu tempo de abertura.
As paredes de alvenaria mais vulgares são pontuadas por vãos, muitos dos quais sob a forma de
janelas, mais ou menos tradicionais. Para além das outras especificidades de tais elementos (os
vãos e as janelas), as paredes têm que responder a um novo problema: a existência de
superfícies horizontais expostas: os peitoris. A situação tem grandes semelhanças com o que
acontece nos topos superiores, junto às coberturas (platibandas) e em em zonas de alteração do
alinhamento vertical da fachada por motivos arquitectónicos. Em todos os casos, a parede
apresenta uma superfície horizontal particularmente exposta e vulnerável à acção da água.
As soluções mais frequentes são a utilização de pedra de peitoril ou peitoril metálico (embora
este último tenha uma aplicação em Portugal mais reduzida do que na Europa do Norte e esteja
remetido, sobretudo, para situações de reabilitação). Este elemento tem como função principal
evitar a infiltração pelo topo do pano de peito (superfície horizontal junto a uma janela), mas
também contribui para afastar a água da interface com o caixilho e da própria fachada. Para
que tal aconteça, devem ser constituídos por materiais resistentes à água e pouco porosos. Para
um desempenho adequado devem ser inclinados para o exterior e ser projectados em relação ao
plano da parede (terminando com pingadeira) para afastarem eficazmente a água da face
exterior da parede subjacente [13].
A enorme diversidade de configurações geométricas das lajes e dos seus apoios, bem como da
disposição das paredes interiores conduz a um tão grande número de combinações de
deformação que praticamente impossibilita a previsão do modelo de fissuração para cada caso.
As medidas gerais de prevenção passam pela limitação da flecha das lajes, em particular da
componente diferida no tempo, pelo aumento da resistência das paredes (por ex. com a
introdução criteriosa de armaduras de junta horizontais) e com a interposição de materiais de
apoio com resiliência adequada. Esta última técnica obriga a uma cuidada avaliação do integral
cumprimento de outras exigências, nomeadamente acústicas, de protecção contra a humidade e
contra a propagação de incêndios.
Tais objectivos estão ao alcance da alvenaria de tijolo face-à-vista e são conhecidos muitos
casos de sucesso. No entanto, em Portugal, é ainda significativo o número de acidentes e
anomalias que urge erradicar e que se traduzem em: (i) fissuração (em geral inclinada ou
horizontal); (ii) esmagamento das juntas de dilatação; (iii) fissuração vertical de cunhais com
deslocamento transversal; (iv) fenómenos de instabilidade (com ruína parcial de panos mal
apoiados); (v) infiltrações; (vi) eflorescências; (vii) degradação por acção do gelo.
As causas destes fenómenos estão associadas a erros recorrentes, tais como, entre outros, os
seguintes: tijolos com elevada expansão irreversível, panos excessivamente compridos e juntas
de dilatação mal dimensionadas, tijolos ou argamassas com elevado teor de sais solúveis, apoio
deficiente das paredes (apoio parcial nas lajes ou apoio sobre o terreno com lintel de rigidez
insuficiente); paredes muito esbeltas (por exemplo em fachadas cortina sem apoio ao nível
cada piso); ausência de armaduras e reforços nos cunhais; tijolo excessivamente poroso; perfil
e material inadequado para a face exterior das juntas de assentamento.
O tratamento final das juntas é frequentemente negligenciado, o que afecta o desempenho das
paredes. Na fase final, as juntas exteriores devem apresentar um perfil ligeiramente recuado em
relação ao plano exterior da parede e uma forma que facilite a projecção da água para o
exterior. Entre as várias técnicas conhecidas para o efeito, têm particular destaque as seguintes:
(i) a conformação da parte exterior da junta com ferro de formato próprio antes da fase de presa
final; (ii) rebaixamento da junta já executada cerca de 1 a 1,5 cm e posterior preenchimento
com argamassa mais adequada, utilizando ferro semelhante ao já referido, para criar o perfil
geométrico pretendido. A argamassa de fecho pode ser específica para o efeito ou apenas uma
argamassa mais rica (e gorda) para garantir boa resistência, impermeabilidade, mas também
excelente trabalhabilidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“As paredes de alvenaria não estruturais podem desempenhar, cada vez mais, um papel de
relevo na construção nacional, acompanhando a evolução tecnológica e arquitectónica. Para
que tal possa acontecer com uma aceitável expectativa de sucesso, é fundamental continuar a
investir na melhoria dos produtos de construção e seus acessórios, criando sistemas
integrados e coerentes.
Rumo à garantia da qualidade das alvenarias, são também importantes o desenvolvimento dos
processos de certificação e normalização, bem como o investimento nos mecanismos de
transferência tecnológica e na criação de documentos de apoio ao projecto e à obra.
Nem tudo mudou desde então, mas é inequívoca a maior difusão do conhecimento tecnológico,
a dignificação crescente das alvenarias e a maior interacção e comunicação entre a investigação
e a produção. A consciência das exigências ambientais e de sustentabilidade é hoje mais
partilhada. Este quadro, apesar de optimista, não pode ignorar a necessidade de uma constante
atenção ao projecto e do reforço da qualidade de execução técnica, evidenciadas nos casos
escolhidos para análise nesta comunicação. Urge, também, reforçar a consciência de que
muitas das acções futuras no sector da construção passarão pela actividade de reabilitação,
contemplando muitos dos edifícios onde as alvenarias desempenharam a sua função e precisam
de ser preparadas para um futuro mais exigente.
5. REFERÊNCIAS