Ensaio Pens Urb
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1. INTRODUÇÃO
As idéias que estão sob as práticas urbanísticas inquietam não apenas os
estudiosos e os agentes gestores das cidades, mas também seus habitantes. Criadores
e executores de planos, projetos e demais decisões que dirigem cotidianamente os
rumos dos processos urbanos raríssimas vezes explicitam o pensamento que os
fizeram optar por certas alternativas, e descartar outras. Quais foram seus conceitos de
cidade, de sua estrutura e de suas funções, de problemas urbanos, de eficácia, de
desenvolvimento, de qualidade de vida e, principalmente, do que seja felicidade para os
cidadãos que fazem, das cidades, fenômenos vitais, e não entidades abstratas? Tudo
indica, porém, que os principais interessados - os usuários - pouco reivindicam essas
explicações, induzidos pela intelligentzia urbanista ao hábito de acreditar em seus
discursos e, sobretudo, a se acostumarem aos lugares que ela lhes prepara. Como os
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A CLASSIFICAÇÃO DE GALLANTAY
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a. Novas-Capitais
As novas-capitais surgem a partir de um novo Estado ou necessidade de
transferência de governo por questões de defesa, reorientação de migrações ou outras
razões políticas; além disso, podem ser justificadas por prestígio, estratégia ou magia.
Sua configuração privilegia os edifícios públicos e os lugares cívico-cerimoniais, como
estruturas simbólicas que garantem a monumentalidade do conjunto por meio de vias
com geometria simples, relacionadas monumentalmente aos edifícios públicos, os quais
alinham-se evocando procissões ao longo de grandes artérias de capitais que, não raro,
são consideradas sagradas.
Gallantay afirma que nas novas-capitais há sempre pouca sensibilidade ao
atendimento de questões sociais, pois são lugares de consolidação do poder das
classes dominantes; tais cidades enfatizam segregação de grupos, muito embora
atraiam populações pobres pelas possibilidades de emprego terciário e de sub-emprego
e, as mais abastadas, pela chance de entrar para os grupos poderosos. O processo de
projeto, produção e gestão de seu espaço foi sempre centralizado, ainda que
configurado segundo duas alternativas de planta:
- a malha ortogonal, com forte hierarquização do sistema viário por meio de diferentes
dimensões das vias ou de muros; são exemplos capitais na Mesopotâmia, Oriente
Médio e China e as cidades helenísticas.
- a malha em mandala, ou seja, em círculo perfeito e com localização segregada de
atividades; são exemplos as cidades persas e islâmicas, de sentido religioso e, séculos
mais tarde, os planos urbanos da Europa barroca.
Pode-se identificar três vertentes de construção das novas-capitais, nascidas na
antigüidade mas cuja influência veio até nossos dias. A primeira é a ausência de planos
globais, como no antigo Egito; a segunda, na China, é o modelo rígido da dinastia Chou,
com segregação por meio de retângulos concêntricos murados e que influenciou
cidades japonesas e coreanas; e a terceira, na India, são as regras urbanísticas do
Silpasastra, nunca praticadas e substituídas por um modelo Chou flexibilizado.
As primeiras novas-capitais remontam ao séc. XV a.C. e pertencem às antigas
civilizações do Oriente Médio e Ásia; nos quinze séculos antes da Era Cristã houve
construções institucionalmente planejadas de capitais no Egito (Akhetaten),
Mesopotâmia, Pérsia, China, Índia, Mundo Islâmico e Macedônia (Alexandria).
Há escassos registros de novas-capitais nos primeiros tempos da Era Cristã.
Apenas entre os séculos VIII e XIV tem-se notícia da fundação de algumas cidades com
estes fins, no oriente (Japão, Corea e a transferência de Pequim, no sec. XIII). Em tais
casos, a correspondente configuração do espaço não se alterou em relação às
alternativas da antiguidade, que permaneceram por vários séculos nos projetos
urbanísticos.
As novas-capitais da Europa surgiram a partir do sec. XV, quando certas regiões
passavam do Renascimento para a Época Barroca e a profissão de arquiteto assumia
feições afastadas da construção e concentradas no projeto. Gallantay remete a este
período a primeira noção de planejamento urbano explicitamente estatal, quando o
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príncipe Vespaziano Gonzaga referiu-se aos planos urbanísticos como “uma arte
governamental”. Mas a maioria das novas-capitais desta época não saem dos projetos
(é o tempo áureo das cidades ideais, como a Sforzinda de Filarete) ou são cidades-
residência (como Charleville, Richilieu, Versalhes, Karlsruhe). A Europa assimilou a
planta circular nas cidades ideais e, nas outras, os quadriláteros organizados
simetricamente; em ambas, o zoneamento funcional é rígido e há grandes distâncias
entre os edifícios principais. As ordonances e as cidades-residência são
morfologicamente clássicas: simetrias, uniformidade, harmonia, cuidadosos efeitos
perspectivos de campo amplo e, sempre, jardins; nelas, o palácio é um foco geométrico
de convergência de três avenidas que se encontram em ângulos agudos e iguais.
Paralelamente, construiam-se no oriente novas-capitais, como Fafpur-Skri na India e
Isfahan na Pérsia.
Ao final do período considerado, o surto de criação de novas-capitais na Europa
estendeu-se aos Estados Unidos (Washington), impondo-se a maneira francesa de
compor o espaço urbano a partir dos princípios clássicos das cidades-residência
(modelos de São Petersburgo e Karlsruhe, ambas no sec. XVIII).
b. Cidades-Colônia
Este tipo de cidade-nova surge de políticas de colonização interna ou no
estrangeiro, objetivando explorar recursos naturais ou humanos, ou ainda conseguir
equilíbrio demográfico, desconcentrando e reconcentrando contingentes populacionais.
Gallantay classifica as cidades-colônia em quatro tipos:
- agro-militares, com objetivo de assegurar a posse de certo território; localizam-se em
geral em fronteiras.
- entrepostos, que visam manter as comunicações; são quase sempre portos.
- centros regionais, com função de entreposto, administração ou centro de serviço; são
cidades continentais.
- cidades mineiras e industriais, que respondem, por vezes, a estratégias de pólos de
desenvolvimento.
O princípio morfológico das cidades-colônia é a malha reticulada ortogonal,
originada dos padrões agrícolas de irrigação ou da ordem das fileiras militares (a arte
do Castrametatio romano). Este sistema geométrico é bastante flexível, pois compõe-se
de segmentos retos ortogonais com dimensões variáveis, e tanto assume a forma mais
redundante (o xadrez, com segmentos do mesmo tamanho), quanto admite várias
composições (segmentos com dimensões repetidas ou diferenciadas, como no sistema
hipodâmico).
A fundação deste tipo de cidades começou no Extremo Oriente, entre o sec. XI e II
a.C., quando houve uma intensa colonização da China. Inicialmente, seu projeto seguia
os princípios da dinastia Chou e, mais tarde, mudou para o sistema de Meng-Tse,
correspondente à idéia de hierarquia social de Confúcio. Então, à divisão da terra em
quadrados idênticos envolvidos por quadriláteros concêntricos e murados, e às vias
paralelas aos pontos cardeais do sistema Chou, acrescentou-se uma outra divisão
mínima da terra conforme a casta social e uma rigorosa prefixação de tetos
populacionais. Esta última característica será retomada pelos romanos.
Divulga-se, porém, que a cidade-colônia mais antiga é Zernaki-Tepe (Assíria, sec.
VII a.C.). Até o final da Antiguidade há vários exemplos delas na Europa, como as
colônias gregas no sul da Itália e Sicília (sec. VII e VI a.C.) e as colônias macedônicas
(sec. IV e III a.C., sendo Dura-Europos a mais conhecida).
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a. Progressismo
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1º.) Em função de seu papel utilitário e para que seja rentável, a cidade deve ser
classificada, originando categorizações as quais se refletem em um espaço taylorizado:
- com separação rígida de atividades limitadas e tipificadas, onde cada função tem
papel específico;
- formado por unidades morfológicas segregadas e especializadas que são células
auto-suficientes;
- onde há interiorização da maior quantidade de atividades urbanas;
- onde a transição entre instâncias públicas e privadas é o mais indireta possível.
- onde a circulação é fundamental e separada do conjunto construído, por ter apenas
função econômica de circulação de bens e, jamais, de interação social e cultural.
2º.) Em função da busca de salubridade, a cidade deve ser arejada, o que origina um
espaço descontínuo:
- pela predominância de espaços abertos sobre os fechados;
- pelas numerosas barreiras físicas, espaços cegos e eixos pouco integrados que
restringem as possibilidades de aglomeração nas áreas livres públicas;
- pela abundância de áreas verdes, recriando-se uma natureza controlada, porque
excessivamente ordenada;
- pela negação da urbanidade por aproximação à configuração dispersa do espaço
rural.
3º.) Em função do controle social que embasa a lógica progressista, a cidade deve ser
também controlável, assim como seu espaço:
- por meio da rigidez de organização morfológica, onde se nega o tempo, o
movimento e a metamorfose inerentes a qualquer espaço socialmente utilizado;
- por meio de barreiras físicas na estrutura urbana, que garantam segregações;
- por meio de células ou unidades monofuncionais que permitam territórios bem
delimitados;
- por meio da rigidez de um quadro predeterminado, como é entendido o projeto
urbanístico, imposto por um sistema constrangedor e repressivo, ainda que se
apresente como autoritarismo ora sob discurso democrático, ora como socialismo de
Estado, ora ainda como um sistema de valores comunitários ascéticos.
4º.) Em função de um modelo estético tão importante quanto o conceito de utilidade, a
cidade deve ser ordenada e formal mas um espetáculo cotidiano, expresso em seu
espaço:
- organizado segundo a geometria racionalista e com exclusividade da lógica
cartesiana, por meio de parcimônia de elementos e relações compositivas e sob
austeridade que elimina ornamentos;
- organizado por predominância do fundo sobre a figura, com a conseqüente
separação entre volumes, grandes distâncias e longas perspectivas;
- organizado por oposição ao pitoresco, por um classicismo de geometria elementar.
5º.) Em função de que a produção do espaço abraça a indústria, a técnica e a ciência,
a cidade deve ter a perfeição das máquinas e, para tal, seu espaço:
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b. Culturalismo
1º.) Em função de seu papel cultural, a cidade deve satisfazer necessidades espirituais
como interação social, beleza e felicidade, e seu espaço:
- possibilitar que as funções de lazer e cultura se integrem no cotidiano dos
indivíduos pela fácil acessibilidade dos lugares destinados às mesmas;
- aproximar as atividades urbanas, evitando-se o zoneamento monofuncional de uso
do solo;
- configurar-se por unidades morfológicas tradicionais e articuladas, como ruas e
praças;
- estruturar-se por circulação integrada ao conjunto construído, pois a rua é elemento
fundamental de interação social e cultural.
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c. Anti-urbanismo e Naturalismo
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d. A crítica marxista
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entre interesses de grupos sociais; por isso, essa vertente entendeu que a cidade
industrial não era uma desordem, mas uma nova ordem correspondente a um novo
tempo na história da humanidade. Desta forma, estabeleceu-se um outro paradigma no
pensamento urbanístico - o paradigma do conflito - que se opôs ao paradigma do
equilíbrio subjacente ao progressismo, culturalismo e anti-urbanismo.
A crítica marxista frutificou, por um lado, configurando a face moderna das Ciências
Sociais, para as quais estabeleceu métodos de abordagem, auxiliou na demarcação
dos respectivos objetos e concedeu lugar de destaque na Academia. Por outro lado,
embasou a prática urbanística na União Soviética logo após a Revolução de 1917 e,
nos demais países do Leste Socialista Europeu, logo após a segunda guerra mundial;
os princípios morfológicos adotados possuem, nestes casos, forte influência
progressista, por vezes flexibilizada pela intenção de reaproximar a cidade do meio
rural.
a. Utopistas ou pré-urbanistas
Choay (1980) classifica os utopistas como pré urbanistas porque desenvolveram os
pensamentos que iriam embasar a prática urbanista, não realizaram projetos
construídos e nos legaram produtos discursivos. Não se pode considerá-los “teóricos”
em função da carência de atributos como confirmação de hipóteses ou sistema
descritivo lógico em sua obra, mas denominá-los “utópicos” encampa as controvérsias
deste conceito, entre o caráter passivo de projeção de desejos estabelecido por Marx, e
a concepção ativa de Mannheim, onde a utopia opõe-se ao status quo social com idéias
transformadoras dele. A origem do termo situa-se em Aristóteles, que fala de Eutopia
(lugar agradável) e Thomas More, que sintetiza “lugar agradável” com “sem lugar” em
Otopia (cf. Choay, 1980 e Chauí, 1984).
Os utopistas marcaram uma importante passagem no pensamento da era pré-
industrial ao da era industrial; ainda que não tenham realizado investigação com testes,
assumiram uma atitude de relexão sistematizada. A eles importavam conceituações e
não, diretamente, as soluções.
A abordagem do espaço urbano deu-se, nessa fase, multidisciplinarmente, reunindo
médicos, sanitaristas, filósofos, escritores, arquitetos e, inclusive, empresários (como
Owen), que conceberam global e politicamente a cidade, onde o espaço seria mera
conseqüência do processo social, sem interação explícita com suas demais instâncias.
Por isso, as utopias urbanísticas de então pressupunham transformações sociais
prévias e preparavam o espaço para uma sociedade virtual, quase sempre gerada por
mudanças radicais. Tal atitude é considerada por Choay (1980) aderente ao imaginário
e afastada da realidade concreta, mas é coerente à ausência de pesquisa; os utopistas
realizaram conhecimento de adesão a idéias e, não, conhecimento científico (Demo,
1987; Kohlsdorf, 1996). Suas abordagens podem ser classificadas em quatro grupos,
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b. Urbanistas
Embora seja corrente o uso desta expressão para designar o profissional do projeto
ou planejamento de cidades, para Choay (1969, 1980) seu sentido restringe-se a certas
atitudes em relação à questão urbana, que podem, ainda hoje, serem encontradas em
diversos casos:
1ª.) Ao contrário do enfoque multidisciplinar dos utopistas, o urbanismo é unidisciplinar,
especializado e limitado ao espaço físico da cidade, reunindo de início apenas
arquitetos e, mais tarde, também engenheiros.
2ª.) Os urbanistas têm pretensões explicitamente científicas, no sentido de uma ciência
positivista (descritiva, classificatória e quantitativa).
3ª.) O urbanismo é despolitizado, contrapondo-se ao engajamento dos utopistas, mas é
difícil ignorar opção ideológica em Le Corbusier, o papel de Gropius na Bauhaus e a
militância socialista de Morris e Howard.
4ª.) Os urbanistas são práticos, pois sempre executam planos e projetos que,
freqüentemente, são construídos, sejam frações urbanas, bairros ou cidades-novas.
A ausência de pesquisa permanece no pensamento e na prática dos urbanistas,
substituída pela ideologia das três vertentes mencionadas, ainda que os modelos
urbanos sejam, por vezes, ambíguos, como é o caso das new towns inglesas. A
expressão dessas vertentes no urbanismo é, porém, bastante marcada por dois pólos
que ambientam as discussões neste último século: o determinismo ambiental e o
“reflexismo” sociológico. As vertentes não são mais manifestos, mas testes dos
respectivos ideários, os quais se radicalizam.
O progressismo está na base da origem francesa do urbanismo; tornou-se a
corrente dominante na Europa, polemizou com os culturalistas ingleses, austríacos e
alemães e difundiu-se nas Américas e no norte da África. Afirmou-se a partir da
Primeira Guerra Mundial por meio do movimento racionalista na arquitetura que,
influenciado pelo cubismo, posicionou-se contra o Art Nouveau e a decoração e a favor
das formas puras, da otimização tecnológica e da industrialização. Este foi o momento
da primeira geração de arquitetos racionalistas, como Tony Garnier e Bénoit-Lévy. A
segunda geração racionalista internacionalizou-se e fundamentou os Congrèsses
Internationaux d’Architecture Moderne (CIAM), cujo mais conhecido criou a Carta de
Atenas, em 1933; marcou o urbanismo progressista, com Le Corbusier e Walter
Gropius, pela união ente a arquitetura e o urbanismo e pelo international style, ao
mesmo tempo que os construtivistas russos e Oud, Rietvelt e Van Eesteren, nos Países
Baixos, realizavam a transição para o planejamento urbano. A terceira geração
racionalista surgiu na segunda metade do século XX, na “tecnotopia” e no “futurismo”,
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b.1 Novas-capitais
b.2 Cidades-colônia
b.3 Cidades-industriais
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5. A IDEOLOGIA DO PLANNING
O pré-urbanismo e o urbanismo contribuíram ao estabelecimento do pensamento
urbanístico por iniciarem uma sistematização de conceitos, exercitarem uma prática
refletida e incentivarem a discussão sobre o espaço. Mas o caráter idealista de suas
principais vertentes comprometeu a fixação de conceitos e a pesquisa não se
desenvolveu, permanecendo as representações ideologizadas da realidade na base de
suas afirmações.
As atitudes do urbanismo foram criticadas a partir de sua própria prática, desde as
primeiras décadas deste século; são considerados precursores do planejamento urbano
Patrick Geddes e os planos desenvolvidos na União Soviética logo após a revolução
comunista de 1917. Ao final da década de 1930, os trabalhos de Lewis Munford
introduziram as principais posturas do planejamento urbano, em contraposição ao
urbanismo:
- contato direto com a realidade, mesmo nos estudos teóricos, os quais devem objetivar
abastecer a prática;
- conceito de tempo e história como criações permanentes e contínuas;
- necessidade de controle dos processos urbanos, que são o ponto crítico das relações
humanas atualmente.
O epicentro do planejamento urbano localizou-se nos países anglo-saxônicos, onde
os modelos progressistas se haviam materializado mais intensamente; pode-se
caracterizá-lo pelos seguintes paradigmas:
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1º.) Definição do contexto urbano a partir de uma realidade histórica: contra a ruptura
temporal do progressismo e o historicismo nostálgico do culturalismo, propôs-se
considerar a cidade como uma etapa do processo histórico ligada à era pré-industrial e
ao futuro. Ela seria definida pelo momento presente, o qual é irreversível e produto de
transformações do passado. Conseqüentemente, negou-se a tipificação dos atributos
humanos e urbanos e conceituou-se modelo como uma representação conscientemente
simplificada da realidade.
2º.) Visão processual da questão urbana: a idéia de continuidade histórica conduziu a
uma visão da cidade como processo e não mais como fenômeno rígido. Isto permitiu a
crítica à idolatria do progresso e a reavaliação da cidade pré-industrial, revelando sua
melhor adaptação cultural do que as metrópoles industriais.
3º.) Reintegração da questão urbana no seu contexto global: contra a especialização do
Urbanismo, propôs-se considerar o papel da cidade na nova organização social imposta
pela Revolução Industrial.
4º.) Definição do contexto urbano a partir de seus diversos aspectos: ao invés de
domínio exclusivo de arquitetos e engenheiros, propôs-se que a cidade fosse objeto
multidisciplinar.
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a.1 Novas-capitais
a.2 Cidades-colônias
a.3 Cidades-industriais
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6. TENDÊNCIAS
A Ideologia do Planning pode ser considerada principalmente prática e estratégia
políticas, comprometedora dos objetivos do pensamento urbanístico acadêmico. Mas
sua crítica partiu da própria Academia, que passou a instrumentar os incipientes
movimentos sociais urbanos e organizações de grupos da sociedade civil após o
término da Segunda Guerra Mundial. Por localizar-se em época muito recente, não
existem sistematizações consagradas e as colocações que se seguem são, mais do
que as anteriores, hipotéticas.
Da literatura consultada podemos extrair duas tendências significativas até o
momento: a Crítica Humanista (Choay, 1980; Kohlsdorf, 1979, 1985; Correa, s/d) e o
Desenho Urbano (Del Rio, 1990; Kohlsdorf, ibid.), ambas configurando um paradigma
psico-comportamental para o pensamento urbanístico (cf. Farret, 1985.).
As contradições do Urbanismo e da Ideologia do Planning foram inicialmente
levantadas por disciplinas menos engajadas nos mesmos, como é o caso da Psicologia,
da Filosofia, da Lingüística e de certas correntes da Sociologia, da Economia, da
Antropologia e da Geografia. Na raiz dessas contestações encontram-se os trabalhos
de Patrick Geddes e Lewis Munford, de impressionante contemporaneidade, e as
inúmeras experiências progressistas, notadamente os conjuntos habitacionais ingleses,
as prisões e os hospícios, considerados fábricas de neuroses e perversões. Críticas e
estudos evoluiram de uma postura fortemente determinista e comportamentalista, nos
anos cinqüenta e sessenta, para outras mais relativistas, como o probabilismo, o
estruturalismo e variedades marxistas, pragmáticas e fenomenológicas.
Numerosos ensaios a partir dos anos cinqüenta colocaram o problema dos agentes
de programação e gestão urbanas e dos correspondentes projetos físico-espaciais,
encaminhando uma abordagem da cidade por meio das relações entre ela e seus
usuários, observando seja o comportamento social gerado nesta relação, sejam as
dimensões psico-sociais da mesma.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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