Projecto Educativo Dos Lobitos
Projecto Educativo Dos Lobitos
Projecto Educativo Dos Lobitos
Lobitos
Manual para dirigentes
Setembro de 2008
1/86
Parte 1 — A Acção Pedagógica
A – Os destinatários da acção pedagógica
Para implementar o Projecto Educativo do Corpo Nacional de Escutas de maneira progressiva e adequada a cada
secção, é importante o Animador conhecer as características específicas de cada grupo etário. Neste processo, e ainda
que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com ritmo diferente de criança para criança, a
caracterização das várias dimensões da personalidade, constituem uma forma de o compreender. São, então,
dimensões da personalidade: o desenvolvimento físico, o desenvolvimento intelectual, o desenvolvimento do
carácter, o desenvolvimento afectivo, o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento social.
É importante que as actividades dos lobitos contemplem todas estas dimensões. No desenvolvimento integral da
criança, é também fundamental o papel da Equipa de Animação, que deve procurar conhecer como se caracterizam
globalmente as crianças desta faixa etária. No entanto, isto não é suficiente: é também necessário conhecer cada
uma delas, individualmente.
Por fim, é também importante que a Alcateia ofereça ao lobito um ambiente seguro lhe permitirá adquirir confiança nele,
nos outros e no mundo.
2/86
A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos:
- a desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e de
actividades manuais variadas;
- a consolidar hábitos de higiene (ou a criá-los, no caso de quem os não tem), promovendo a progressiva
autonomia individual;
- a usufruir de uma alimentação adequada, incutindo em cada criança hábitos alimentares salutares (como
comer a horas certas e com moderação e ingerir alimentos saudáveis e variados). Assim se evitam problemas
alimentares como a má nutrição e a obesidade.
Desenvolvimento Intelectual
A criança de seis anos apresenta uma curiosidade activa, um imenso desejo de saber e uma grande capacidade de
observação dos detalhes. É nesta fase que aprende a ler e a escrever, o que lhe dá um maior acesso à informação e
lhe permite, sozinha, descobrir mais coisas acerca de temas do seu interesse, como a vida dos animais e a natureza em
geral. É também atraída por histórias e narrações. A este nível, a sua visão do mundo é caracterizada por um
objectivismo ingénuo, que a leva a ter dificuldade em separar de forma clara o mundo real e a fantasia. Possui ainda
desejo de se expressar de múltiplas maneiras, mas este desejo é superior à sua capacidade de pôr em prática as suas
ideias.
Ao atingir novos níveis de compreensão e expressão, começa a superar a dificuldade em colocar-se no lugar do outro,
reconhecendo que ele poderá ter interesses, necessidades e sentimentos diferentes dos seus. Pouco a pouco, começa
a conseguir ter em conta pontos de vista diferentes do seu e aprende que nem sempre pode fazer as coisas segundo a
sua vontade.
Cerca dos sete anos, a inteligência intuitiva sofre uma profunda transformação. A partir daqui, a criança vai além das
aparências e das observações fortuitas, passando a reflectir e a tentar compreender a lógica dos objectos e dos
acontecimentos. Começa assim a sentir necessidade de organizar o real através das classificações, comparações,
hierarquizações. Isto revela-se, por exemplo, no seu gosto por colecções.
Depois dos oito anos, continua a curiosidade insaciável em conhecer o mundo e a criança revela grande capacidade de
memorização. Pouco a pouco acaba por se tornar autónoma num grande número de tarefas rotineiras, muitas vezes
exigindo fazê-las sozinha.
Desenvolvimento do Carácter
3/86
O carácter é a dimensão que constrói a identidade pessoal. Nesta etapa da infância, a criança começa a apurar várias
dimensões do seu carácter.
Relativamente aos adultos, a criança desta faixa etária estabelece relações de grande proximidade com os mais velhos
e pode ser muito influenciada por eles, que idealiza e vê como seus modelos. Nesta etapa, o desenvolvimento moral
constrói-se nas relações interpessoais: boa conduta é a que agrada aos outros. A criança tenta, assim, viver de acordo
com o que as pessoas próximas esperam de si, necessitando da sua aprovação.
Para além disto, desenvolve consciência crítica e o sentido de justiça. A este nível, dá valor ao que faz, gosta de ser
reconhecida pelos outros e sabe distinguir o bem e o mal, embora tendo por base as consequências das suas acções.
A estas características junta-se ainda uma grande sinceridade, que leva as crianças, sobretudo as mais novas, a não ter
pudores em revelar o que pensam.
A este nível, a vida em Alcateia deve levar os lobitos a construir a sua personalidade num percurso
coerente, progressivo e desafiante, ajudando-os:
- a desenvolver a sua consciência crítica, nomeadamente através da avaliação das actividades e dos seus
comportamentos;
- a analisar os seus actos, tomando consciência das suas consequências e da necessidade de modificar
comportamentos (através da recordação constante da Lei e Máximas, das conversas em bando e em
Conselho de Alcateia, etc.);
- a respeitar a opinião alheia, aceitando pontos de vista diferentes.
Desenvolvimento Afectivo
Ao longo do período em que se encontra na Alcateia, a necessidade de afecto e protecção da criança é imensa e
constante. De facto, a passagem de um mundo conhecido (família) para um mundo novo e inseguro pode levá-la a
atravessar uma fase de insegurança, de afirmação de si mesma e de comparação com os colegas. Nesta altura, a
criança apresenta um humor estável (por norma é muito alegre), só alterado por emoções fortes e contraditórias, que
desaparece com a mesma rapidez com que surgiu.
Entre os seis e os sete anos, a criança é muito espontânea e revela-se muito sensível à humilhação e às repreensões.
Como valoriza muito o adulto, não aprecia a sua censura e pode mesmo fazer coisas contrariada, apenas com o intuito
de agradar.
Entretanto, começa a revelar uma grande necessidade de cooperação e companheirismo. Com o crescimento, o grupo
torna-se o foco central dos seus interesses e ocupa o lugar que antes pertencia à família.
4/86
Desenvolvimento Espiritual
A dimensão espiritual está relacionada com o significado da vida. Não se desenvolve de forma independente das
relações que estabelecemos com os outros e com nós próprios; está baseada na sociabilidade, inteligência e
afectividade. Assim sendo, e porque a vida da criança, nesta altura, gira muito à volta da família, é nela que a imagem
de Deus começa a tomar forma. De facto, é ao tomar consciência das imperfeições dos pais que a criança começa a
distingui-los de Deus.
Por volta dos seis e sete anos, e porque a capacidade de abstracção ainda não está muito presente, Deus não é visto
de forma simbólica. É, sim, olhado como um homem grande e poderoso, com barbas brancas, o criador do mundo que a
criança conhece. Mais próxima é a imagem de Jesus enquanto criança, que funciona como modelo a seguir.
Depois, a partir dos oito anos, a presença divina personaliza-se. Há uma valorização moral do bem e do mal no seu
comportamento e no dos outros e surge a noção de justiça.
Desenvolvimento Social
Os seis anos de idade constituem um marco importantíssimo na vida da criança. A entrada num ambiente escolar mais
estruturado leva ao aparecimento das primeiras condutas de responsabilidade. É nesta altura que a criança começa a
integrar-se em grupos, de forma espontânea, para jogar ou realizar tarefas. Busca a aprovação do grupo e tenta muitas
vezes impor-se aos companheiros, revelando o seu egocentrismo (eu é que sei, eu é que mando). Geralmente coloca-
se do lado do educador.
A partir dos oito anos, ao superar o egocentrismo, começa a assumir importância vital a relação com o grupo, onde se
torna necessária a existência de uma hierarquia e de papéis bem definidos. Começa então a participar em jogos
colectivos, com regras já existentes e outras inventadas pelo grupo e que este faz cumprir. Esta experiência em
pequeno grupo é fundamental para a sua socialização e manter-se-á ao longo da sua vida como experiência
significativa de integração pessoal.
A criança começa, assim, a descobrir a vida em sociedade, afastando-se progressivamente do adulto: deixa de
necessitar que este estabeleça as regras, passando a criar e a fazer respeitar as regras do grupo. Diminui assim a
necessidade da protecção dos pais e, conforme tenha sido vivida esta relação parental, assim se projectará no grupo de
forma segura ou insegura.
5/86
B – O projecto educativo que oferecemos
1. Proposta Educativa do CNE
O Escutismo é um movimento de educação não-formal, que contribui para a educação dos jovens através de um
sistema de valores, tal como se expressa no documento “A Missão do Escutismo”, Durban 1999:
Isto é alcançado
envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação, num processo de
educação não-formal;
utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o principal agente do
seu próprio desenvolvimento, para se tornar uma pessoa autónoma, solidária,
A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas devem elaborar a sua Proposta Educativa, na qual
expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo que podem oferecer aos jovens de uma determinada comunidade e
por um determinado tempo.
Com a proposta educativa, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessidades educativas das
crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método escutistas. Ao mesmo tempo, a proposta pretende ser
referência para a acção continuada dos animadores adultos e também, um compromisso educativo perante a
sociedade.
Sendo um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades características do
movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de determinadas competências e características nas
crianças, nos adolescentes e nos jovens.
A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na Proposta Educativa “Educamos.
Para quê?”.
6/86
EDUCAMOS. PARA QUÊ?
7/86
A Proposta Educativa do CNE “Educamos. Para quê?” foi aprovada no Conselho Nacional
Plenário de Maio de 2003.
Este documento é um género de Bilhete de Identidade. ou cartão de visita que pode ser
usado:
Quando se recebe um novo elemento e os Pais querem perceber um pouco melhor o que
é o Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube desportivo;
Nas reuniões de Pais;
Quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo;
Numa reunião com a Autarquia;
Num pedido de apoio financeiro;
Ou ainda em:
Num momento de formação da Equipa de Animação;
Num jogo sobre valores;
Num jogo sobre as qualidades individuais;
...
8/86
Em cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades educacionais – três trilhos
educativos – que tomam em conta as necessidades e aspirações das crianças, dos adolescentes e dos jovens em
particular – os objectivos educativos. Entende-se por trilho educativo os caminhos de crescimento a trabalhar em cada
área, dos quais se definem os objectivos de crescimento a atingir no final do tempo vivido na secção.
O Movimento Escutista tem uma missão definida que passa por educar, promovendo o desenvolvimento das
crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e de serviço, de modo harmonioso com a
sua própria personalidade e com a comunidade em que vive.
Vemos assim que o Método Escutista, a partir da forma natural como as crianças, os adolescentes e os jovens se
relacionam, permite explorar diferentes opções educativas, realçando o que eles aprendem uns com os outros e
potenciando verdadeiras experiências educativas, tais como:
- Alargar horizontes: o campo de acção e de experimentação da criança/adolescente/jovem vai aumentado à
medida que cresce;
- Transportar a criança/adolescente/jovem da imaginação à realidade: os heróis e heroínas não existem só em
lendas, mas são indivíduos de carne e osso, o mundo fictício das histórias desafia a exploração do mundo real;
- Proporcionar o crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e o assumir de responsabilidades
são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura em sociedade;
10/86
- Contribuir para a interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais), ajudando a
desenvolver um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se adere;
- Incentivar a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo novas metas a alcançar;
- Arriscar num ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor pedagógico: a correcta
aplicação do método proporciona a criação de um espaço seguro onde as crianças/adolescentes/jovens
aprendem, erram e voltam a aprender numa dinâmica de crescimento;
- Construir uma relação de confiança com alguém que ajuda, prepara, apoia, encoraja, aconselha e educa.
.
Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, faltará apenas caminhar… E o caminho
possui sete características essenciais de que não podemos abdicar e que consideramos maravilhosas, por constituírem
a base do Método Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método Escutista”:
Sistema
de
Patrulhas
Sistema de Relação
progressão jovem/adulto
pessoal
Lei
e
Promessa
Vida
Aprender na
fazendo Natureza
Mística
e
Simbologia
Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo distinto, de
acordo com as características próprias de cada faixa etária e tendo em conta o grau de autonomia, de maturidade e de
responsabilidade de cada criança, adolescente ou jovem..
11/86
1 – Sistema de Bandos
O Sistema de Bandos é o principal motor do Escutismo, permitindo a cada
Escuteiro encontrar o seu lugar entre os outros
O sistema de Bandos, tal como BP o idealizou, assenta na divisão de rapazes e raparigas em pequenos grupos –
Bando/Patrulha/Equipa – , dentro dos quais estabelecem relações e são chamados a assumir diversas funções que
permitem a cada um contribuir para o bem geral. Esta divisão de tarefas incentiva, assim, a co-responsabilidade e
permite a aprendizagem da democracia e da solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a compreensão do
papel do líder e da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo.
O sistema de Bandos, na I.ª Secção, materializa-se nos Bandos, na II.ª secção materializa-se nas Patrulhas e nas III.ª e
IV.ª secções traduz-se nas Equipas.
É o Sistema de Bandos que faz das Unidades e, por conseguinte, de todo o Escutismo, um verdadeiro esforço de
cooperação. Faz dele um método de educação natural e não formal, onde cada jovem, com as suas particularidades e
curiosidades muito pessoais, cresce com os outros e entre eles. Os seus pares passam a ser por si reconhecidos pela
vivência conjunta e pela prática da Lei do Escuta.
É fomentada a ideia de que o valor individual de cada Escuteiro deverá estar sempre ao serviço do
Bando/Patrulha/Equipa e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha segundo as suas forças e
recebe segundo as suas necessidades. Assim sendo, o Bando, não é mais do que uma sociedade, um grupo de
rapazes e raparigas, unidos por ideais e objectivos comuns e regidos pela mesma lei – no caso dos Lobitos, a Lei e
Máximas da Alcateia. No Bando, as crianças poderão e deverão viver juntos experiências inesquecíveis e realizar
actividades de serviço. O Bando é uma “micro-sociedade”, onde cada lobito desempenha um papel. Ao assumir a
responsabilidade de determinadas tarefas no seio do Bando, o lobito torna-se responsável por si mesmo e... cresce!
Na vida de cada um destes pequenos grupos, no seu funcionamento regular, são promovidos valores como o da
liderança responsável, da democracia, da co-responsabilidade, da solidariedade, do trabalho em equipa, através da
divisão de tarefas.
O Sistema de Bandos proporciona ainda a perda da perspectiva egocêntrica, e permite às crianças, adolescentes e
jovens a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens. Este sistema une os jovens num ideal comum, repleto de
camaradagem, cumplicidade e amizade.
12/86
Bibliografia para aprofundar:
- O Sistema de Bandos, de Roland Philipps
- Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell
- Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France
B – Organização
Quadro-síntese:
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção
Designação
do Projecto Caçada Aventura Empreendimento Caminhada
Continua…
13/86
Quadro-síntese:
… Continuação
Especificidades do Escutismo Marítimo
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção
Designação
do Projecto
Caçada Expedição Cruzeiro Campanha
I. Constituição
a) Nome
O sistema de Bandos criado por B.-P. tem como centro a patrulha – um pequeno grupo de elementos que partilha
ideais, tradições e responsabilidades.
No caso do Lobitismo, denomina-se Alcateia a Unidade formada pela equipa de animação e por Bandos – pequenos
grupos de crianças, denominadas Lobitos, – que serão organizados segundo as suas particulares predilecções e
afinidades.
Cada um dos Bandos designa-se e distingue-se obrigatoriamente por uma das cores que o pêlo dos lobos pode ter,
14/86
tomando essa cor como nome: Branco, Cinzento, Preto, Castanho e Ruivo. Estas cores figuram no distintivo de cada
Lobito e na bandeirola de Bando.
b) Número de elementos
O género
As crianças vivem, estudam e brincam em conjunto independentemente do género a que pertençam. Assim, na
Alcateia os Bandos devem ser mistos, fazendo do pequeno grupo a imagem da sociedade a que pertencemos.
Neste âmbito, há que salvaguardar e acautelar que, em acampamento, a tenda seja vista como um espaço de intimidade
em que a privacidade dos géneros deverá ser conservada. E que num Bando nunca deve estar, de um determinado
género, um elemento sozinho.
A idade
Consideram-se verticais os Bandos constituídas por elementos de diferentes idades. Denominam-se por Bandos
horizontais as que incluem todos os elementos com a mesma idade.
O aconselhamento pedagógico vai para a preferência pelo modelo vertical. De facto, um Bando que integra crianças de
diversas idades é encarado como o mais positivo. É certo que esta heterogeneidade poderá criar obstáculos no seio do
Bando, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade em que cada um deles se pode encontrar, mas, por
outro lado, poderá trazer também enormes benefícios, dos quais destacamos o acompanhamento dos mais novos por
parte dos mais velhos e a partilha do conhecimento. De facto, compete aos mais velhos, olhados como exemplo a
seguir, ensinar e orientar os mais novos e dar testemunho dos costumes que vão sendo construídos no seio do Bando.
15/86
Assim se estimula a solidariedade e se mantêm as tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva e a
formação de espírito de corpo ao longo da vida, mantendo-se bem presente a Educação pelos pares.
Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos da mais absoluta necessidade, é a implementação do modelo
horizontal que, por sua vez, integra crianças, adolescentes ou jovens da mesma idade e que estão todos na mesma
fase de desenvolvimento. Isto vai facilitar a integração dos elementos no Bando (uma vez que partilham interesses),
mas tem grandes desvantagens. Por um lado, quando se dá a passagem simultânea de todos os elementos para a
secção seguinte extingue-se o Bando e não houve lugar à aprendizagem colectiva. Por outro lado, nos jogos e
competições sadias, e porque não há equilíbrio de idades, os Bandos com elementos mais velhos têm mais
probabilidades de vencer os Bandos mais novos, perdendo-se os valores da solidariedade e da fraternidade. Por fim, a
estratégia do ‘irmão mais velho’, que orienta e ensina, é impossível de implementar, dado que não há diferenças
etárias.
Felizmente, as crianças criam empatias e laços de amizade com relativa facilidade, o que pode facilitar em muito a
integração de novos elementos. Deverá dar-se “espaço” à Alcateia e aos novos elementos a integrar para que
possam, de forma espontânea e informal, criar essas relações de amizade e assim, se integrarem naturalmente. Pese
embora esta “aproximação” natural que vá sendo feita, a distribuição de novos elementos pelos Bandos deverá ser,
sempre, da responsabilidade da Equipa de Animação, ouvido o Conselho de Guias.
Sugestão:
Para fazer os Bandos …
- Porque não transformar a formação dos Bandos num jogo? Observas a constituição da Alcateia e numa
folha escreves, como se fossem regras, obrigatoriedades que é preciso cumprir para fazer a equipa. Podes
pôr critérios de idade e de género… mas também de interesses, estéticos, de características físicas, etc. Até
pode ter sido a equipa de animação a fazer os Bandos, mas eles podem sempre pensar que foram eles que,
naquele jogo, o fizeram.
d) – O espírito de Bando/Alcateia
Citações:
O espírito de Bando quer dizer que cada um dos membros do Bando sente que é parte essencial de um todo
completo e uno – um corpo que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o fim de se
atingir a perfeição e plenitude do conjunto.
Roland Philipps, in O Sistema de Bandos, página 25
São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica e o que se entende por espírito de
Bando/Alcateia, ou aquilo que vulgarmente se chama de espírito de corpo – a rede de identidades, de cumplicidades,
16/86
de hábitos e tradições que dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um determinado grupo.
Pode dizer-se que um Bando se assemelha a um corpo humano: cada órgão e cada membro tem a sua função e
todos funcionam para o mesmo objectivo, mas, se um deles adoece, todo o corpo sofre com isso e deixa de funcionar
perfeitamente. São Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8) utiliza exactamente essa mesma imagem.
O mesmo se passa com um Bando que não tenha espírito de corpo: se os seus elementos não fazem ou sentem que
não fazem parte de coisa nenhuma vão desmotivar-se e o Bando vai deixar de funcionar.
Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos de acções:
• Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa que o Bando promove: a divisão de tarefas,
a democracia interna para decisão de interesses comuns, a co-responsabilização, o debate, etc. Toda a
responsabilidade individual, se for devidamente assumida, une e fortalece.
• Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos Escuteiros as ferramentas pedagógicas (objectos, símbolos e
tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que foram idealizadas com vista à distinção e promoção da
identidade do grupo (tais como o uniforme, o totem, o livro de ouro, a divisa, a bandeirola).
Apontamento adicional:
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Bando e Alcateia
- Bandeirola
Vara com bandeirola em tecido branco, debruado a amarelo com a cabeça de lobo desenhada, da cor do bando.
Este símbolo fica guardado no covil, onde deve ocupar um lugar especial no canto do Bando, e, sempre que o
bando sai em actividade, acompanha-o. A bandeirola de bando será transportada pelo guia. Sempre que este é
solicitado para outras tarefas entrega-a ao sub guia que o substitui no bando.
- Canto do Bando
Sempre que possível, deve existir no Covil um local exclusivamente reservado ao Bando e a que só ele e a
chefia podem aceder. Este canto é da responsabilidade do Bando e pode estar organizado e decorado como
ela entender. Deve, no entanto, exigir-se asseio e ordem. O canto pode incluir, entre outras coisas, espaço
para os materiais do Bando (cordas, material escolar, etc.), quadros variados (de informações, de nós, de
sinais de pista, de presenças, com colecções), decoração relacionada com a história da Selva, etc.
- Livro de Ouro
Caderno que serve para transmitir aos futuros elementos as experiências vividas, na medida em que regista
todos os feitos e acontecimentos marcantes da vida da Alcateia. Regista, assim, a sua história, os motivos de
orgulho do seu passado e os acontecimentos relevantes do presente. Guarda, também, nomes dos elementos que
passaram pela Alcateia, actividades realizadas, competências obtidas, etc., através de textos, fotografias,
desenhos. É no Livro de Ouro que se registam ainda as tradições, instrumentos fundamentais para fazer com que
a Alcateia seja única e igual a si mesma. Por ser um ‘tesouro’, só deve ser aberto de forma cerimoniosa.
17/86
Apontamento adicional:
Continuação…
- Totem pessoal
Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um totem pessoal. Trata-se
de um nome usado pelo próprio e pelos seus irmãos escuteiros, quase como uma segunda identidade,
exclusivamente escutista. O totem pessoal é um animal que personifica as características do escuteiro e com o
qual ele se identifica ou cujas capacidades gostaria de ter. É seguido de um adjectivo que deve ser uma
característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar.
A nível deste assunto, há divergências de actuação, pelo que exploraremos aqui as três estratégias que
normalmente se usam.
a) Umas alcateias optam por não utilizar o totem pessoal, deixando o seu uso para o Grupo
Explorador. Desta maneira, reforçam o imaginário da 2ª secção, permitindo que os lobitos desejem
novas experiências (BP, aliás, dizia que não se devia dar aos lobitos ferramentas próprias para
exploradores);
b) Algumas Alcateias utilizam o Totem pessoal, levando cada Lobito a escolher um animal com o qual
se identifique ou que goste particularmente, bem como, uma característica pessoal inata à criança
(ex. Lobo distraído, Golfinho Brincalhão, Pantera atento). Assim se procura levar a Alcateia
perceber que todos são diferentes, mas de uma forma positiva, ou seja, não existem
características boas nem más, mas sim diferentes.
c) Outras alcateias utilizam os chamados ‘Nomes da Selva’, o que as coloca no meio das duas
situações anteriores. Aqui, parte-se do pressuposto de que todos os Lobitos já têm um totem: são
lobos. Como tal, o que os distingue é uma característica, sempre que possível positiva, e é por
essa característica que são conhecidos na Alcateia (‘Amiga’, ‘Sorridente’, ‘Forte’, ‘Alegre’, etc.).
Desaparecem, assim, os ‘nomes de Homem’ e os Lobitos são completamente imersos no espírito
da Alcateia: são lobos e, como tal, têm nome de lobo.
- Competição Inter-bandos
Através da atribuição de pontos a todos os aspectos da vida dos Bandos na sede e das actividades –
assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento, respeito pela Lei, alegria, etc. –
é possível criar um sistema de competição entre os Bandos. A pontuação obtida por cada Bando é registada
num painel no Covil, à vista de todos e funciona como incentivo e vontade de ser (o) melhor.
A definição de pontuações, à partida, pode ser importante instrumento pedagógico. De facto, a competição é
uma ferramenta riquíssima na animação dos grupos de escuteiros e torna as tarefas mais simples ‘missões’ de
grande importância. A competição entre os Bandos, ao longo de um ano escutista, ou mesmo durante uma
Caçada, organizada com sentido de justiça, atenção e dedicação possui várias vantagens: faz crescer
substancialmente o espírito de corpo (todos são obrigados a ‘lutar pelo seu Bando’), promove o respeito pelas
regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória, desenvolve a eficiência e o gosto por ser melhor, etc.
No caso da Alcateia, pode-se optar por não utilizar pontuação numérica, mas sim visual. Um quadro que
se vai pintando, boiões que se vão enchendo de nozes, contas que se vão enfiando num fio são exemplos
de pontuações visuais que vão mostrando aos Bandos a progressão de cada um, estimulando a
competição saudável.
18/86
Bibliografia para aprofundar:
- O Sistema de Bandos, de Roland Philipps
- Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell
- Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France
- Regulamento Geral do CNE
- Mística e Simbologia no CNE
O Sistema de Bandos, tal com B.-P. o pensou, aposta amplamente na atribuição de cargos individuais. Assim se
entrega a cada Lobito a execução de uma tarefa pessoal dentro do Bando. Responsabilizado, desta forma, perante os
outros no que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável ao Bando e conquista um lugar de importância
junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança do seu Bando (em questões de material, é ao Guarda
de Material que cabe a tarefa de chefiar o Bando, etc.) e deve revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução
dos problemas.
Esta divisão de tarefas permite que as crianças aprendam progressivamente a desempenhar diversos papéis de
forma responsável e se preparem para a vida.
Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Bandos: que cada Lobito cresça consciente
do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a
fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de pilares para a
vida.
O desempenho de um cargo no seio do Bando ou de uma função na Caçada constitui uma oportunidade de ouro para
progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções privilegia o crescimento em várias áreas.
O Cargo
Dentro do Bando, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma forma de
motivar a participação do escuteiro e de desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade para o
bem-estar dos outros.
CARGO
Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável ao longo
de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.).
19/86
Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos:
Guia,
Sub-guia,
Secretário/Cronista,
Tesoureiro,
Guarda de material.
Sugestão:
A equipa de animação deverá considerar a oportunidade em organizar ateliers para cada um destes cargos,
recorrendo, por exemplo, às crianças que desempenharam esses mesmos cargos no ano anterior, a outros dirigentes,
pais, etc. As actividades da secção devem também contemplar a possibilidade de explorar as diversas tarefas
inerentes a cada cargo (podem até ser criadas actividades específicas para aprofundar cada um).
20/86
Cargos básicos
1. Guia
“O grupo ou bando é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira, quer
para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geralmente escolhido para
chefe.”
Baden-Powell, in O sistema de Bandos, p. 7 (introdução)
Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutismo, se não fosse Chefe
Mundial. Ele respondeu: “Se me permitissem escolher, escolheria o de Guia de Bando”.
Pistas para o Guia de Bando (J. Marques da Silva, Edições Flor de Lis, 1970)
O cargo de Guia é muito importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto, numa unidade onde é
correctamente implementado o sistema de Bandos, o chefe tem no guia um grande aliado na condução do grupo: ele
actua como intermediário entre a equipa de animação e os restantes escuteiros e é a ele que compete (e nunca ao
dirigente) a liderança do Bando.
Sugestão:
Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos
guias para que estes a façam chegar aos seus Bandos. Nunca deve falar para o grande grupo
como se todos fossem iguais: se o fizer, que valor dá aos guias?
Este ‘poder’ que o cargo de guia tem atrai, por norma, todos os elementos do Bando, que assim aspiram a vir a
exercer tarefas contínuas de liderança. No entanto, e pelas consequências negativas que uma má escolha acarreta,
há que ter especial atenção à sua eleição. De facto, um mau guia, incapaz de liderar, de assumir a Lei/Máximas ou de
assumir responsabilidades, dá origem a Bandos fracos.
Na medida do possível, devem ser os elementos a escolher o seu guia, embora, para isso, devam contar sempre com
21/86
indicações do chefe sobre o perfil que ele deve possuir (o perfil dado pelo chefe pode direccionar a escolha, o que até
é aconselhável, no caso dos lobitos). Este perfil não deve impedir o líder natural do Bando de ascender ao cargo.
Para evitar más lideranças, o chefe deve promover momentos de formação para os seus Guias. Estes momentos podem
passar por encontros de formação específica para Guias ou podem surgir nos Conselhos de Guias.
Nestes encontros deve ser abordado o perfil e conduta que um guia deve ter, bem como, a importância da sua acção,
para os elementos mais novos. Isto faz com que os guias se sintam também eles responsáveis pelo crescimento pleno
dos seus elementos.
Apesar disto, pode haver necessidade de destituir o Guia de Bando. Este acto deve resultar de uma decisão tomada em
Conselho de Lei e deve ser bem ponderado, mas não deve ser evitado caso se conclua que, de facto, é o melhor para o
Bando e para o elemento.
O Guia de Alcateia
Para além do guia de Bando, a Unidade ainda pode ter um guia de Alcateia, que deve ser eleito entre os Guias. O seu
mandato termina no final do ano escutista no decorrer do qual foi eleito, mas pode ser interrompido por decisão do
próprio ou por determinação do Conselho de Guias.
Apesar de a sua existência não ser obrigatória, para o Chefe de Unidade, o Guia de Grupo é uma grande mais valia,
uma vez que ele é o elo de ligação entre os Bandos e a Equipa de Animação, exercendo funções de liderança. De facto,
o Guia de Alcateia deve ser o elemento que faz a ponte entre o chefe de unidade e o grupo, aquele que orienta o grupo
sempre que o chefe de unidade assim o determina e que desempenha funções simples como organizar o grupo, ser
porta-voz, representar o grupo junto do núcleo ou da região, etc. Este elemento é a voz de todos os elementos mas
também aquele que colabora com a equipa de animação na vivência da mística da Unidade.
Por esta razão, deve ser um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no seu Progresso Pessoal.
É essencial que o Guia de Alcateia:
• Respeite os Guias de Bando, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos.
• Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a si próprio.
2. Sub-Guia
O Guia é acompanhado, na sua função de liderança, pelo Sub-guia, um elemento do Bando que o co-adjuva e,
também, o substitui em caso de ausência. Esta função reveste-se, assim, de especial importância.
Para que entre Guia e Sub-guia haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial que ambos se conheçam
bem. Por essa razão, o Sub-guia não deve resultar de uma imposição do chefe ou de uma eleição do Bando: deve ser
uma escolha pessoal do Guia (que deve, contudo, ouvir o seu Bando), que tende naturalmente para seleccionar um
amigo ou um elemento com quem tem afinidades. Assim se promove a complementaridade e interajuda.
22/86
“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá esperar
que um rapaz a desempenhe só por si. (…) O Sub-Guia é um rapaz escolhido
pelo Guia para seu ajudante. É essencial que o Guia e o Sub-Guia trabalhem em
íntima colaboração. O Chefe que escolhe os Sub-Guias comete um erro.”
Roland Philips, O sistema de Bandos, p. 14
Compete ao Sub-guia auxiliar o Guia em todas as suas tarefas, acompanhando-o de forma próxima não apenas para
o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas capacidades de chefia. Como este cargo é subsidiário, o
elemento que o desempenha pode acumulá-lo com outro cargo dentro do Bando.
3. Secretário/cronista
É o especialista do Bando na área da comunicação, escrita, oral e audiovisual. Terá como principais atribuições:
- Redigir e expedir as convocatórias do Bando;
- Arquivar os documentos do Bando;
- Tratar de toda a correspondência do Bando.
4. Tesoureiro
É o especialista do Bando na área da intervenção económica. Terá como principais atribuições:
- Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo, se assim preferir) e demais receitas do Bando e recolha das mesmas;
- Orçamentar as actividades do Bando, bem como o respectivo controlo orçamental;
- Participar, à sua medida, em campanhas de angariação de fundos.
5. Guarda de material
É o perito do Bando na conservação do seu material e equipamento. Terá como principais atribuições:
- Inventariar e catalogar o equipamento e material do Bando;
- Cuidar do equipamento e material do Bando;
- Controlar as saídas de equipamento e material do Bando bem como o seu estado de conservação;
- Prever o equipamento e material necessário à Patrulha;
- Requisitar o equipamento e material para as actividades de Bando.
Cargos complementares
a) Animador
É o guardião das tradições do Bando. Tem como principais atribuições:
- Preparar os novos elementos do Bando para as cerimónias e rituais;
- Transmitir o historial do Bando;
- Coordenar a encenação das actividades do Bando.
23/86
b) Socorrista/Botica
É o técnico de saúde do Bando. Terá como principais atribuições:
- Equipar e cuidar da farmácia do Bando;
- Tratar as pequenas feridas dos elementos do Bando, quando em actividade, sempre sob supervisão do dirigente;
- Zelar pela higiene e segurança física do Bando nas actividades.
c) Intendente
É o especialista do Bando na área gastronómica. Terá como principais atribuições:
- Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimentação do Bando, bem como a sua aquisição
e/ou requisição à Unidade;
- Distribuir, de forma equitativa, os géneros alimentícios a trazer para a actividade;
- Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico do Bando (ementas, receitas e riqueza nutritiva destas).
d) Informático
É o especialista do Bando no relacionamento com pessoas e entidades exteriores. Terá como principais atribuições:
- Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores;
- Reunir informação relativa a locais de realização de actividades (informação histórica, cultural);
- Manter informações sobre o Bando na Internet (ex:Site do Bando, Blog, Hi5, Mailing List, Etc.), sempre sob
supervisão de um adulto;
- Gerir todos os Ficheiros Informáticos usados na Patrulha (ex: Documentos, Imagens, Cartazes, Fotografias).
A Função
Durante uma Caçada específica, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organização ou de realização de
tarefas que impliquem o exercício de funções.
24/86
FUNÇÃO
Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada elemento. Assim, por
exemplo, numa Caçada que contemple um acampamento, poderá haver necessidade de existirem um ou
mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, financeiro, socorristas, etc. É possível que
cada elemento desempenhe mais do que uma função (o guarda de material pode ser também o encarregado
das construções, o animador pode ser também treinador, etc.).
Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras: secretário/cronista, repórter, financeiro, guarda do material,
animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista/botica, intendente, informático, encarregado das
construções, treinador, explorador, navegador, etc.
Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento,
podendo ser usadas como ferramentas de auxílio à progressão de cada elemento.
25/86
modo de aplicação. Sempre que não souber, mostrar
interesse em se informar e formar.
Ambienta- Social Carácter Analisar as condições ambientais do local de actividade.
lista Tratar lixos.
Verificar as condições sanitárias e de higiene.
Intendente Intelectual Carácter Ajudar a programar compras.
Físico Ajudar a ver locais de compra e preços.
Distribuir ingredientes pelos elementos do Bando.
O desempenho destas funções pode ser feito pelo detentor do cargo (tesoureiro – financeiro; secretário – repórter;
etc), mas isto não é obrigatório (o tesoureiro do Bando pode, numa actividade, ter a função de cozinheiro, por
exemplo). No entanto, o facto de o desempenho de uma determinada função (financeiro, por exemplo) ser exercido
por um lobito diferente do tesoureiro (cargo), não diminui as responsabilidades deste último nem o substitui. O
tesoureiro continua a ser responsável pela cobrança de quotas ou pelo controlo da actividade financeira do Bando, por
exemplo.
Sugestão:
Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, o dirigente pode sugerir aos seus Guias a
elaboração, nas actividades que o justificarem, a elaboração de escalas de serviço. Esta ferramenta permite
aumentar a eficácia do Bando (cada um tem noção exacta da sua responsabilidade) e ajuda a reforçar o
espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o bem do grupo.
26/86
A periodicidade do exercício da função deverá ser avaliada actividade a actividade, promovendo-se assim a rotação
de funções e valorizando as experiências que cada um pode ter ao longo do ano ou da sua vivência na secção.
Funções (lista apenas Secretário, repórter, financeiro, guarda do material, animador, saltimbanco,
ilustrativa) cozinheiro, ambientalista, socorrista, intendente, informático, encarregado
das construções, treinador, explorador, navegador, etc.
A dimensão das Equipas de Animação dependerá do efectivo da Unidade. Idealmente, e muito embora por vezes seja
difícil de satisfazer, deverão existir um chefe por cada bando mais o Àquêlá. Assim, as Equipas de Animação deverão
ser constituídas por um Chefe de Unidade (Àquêlá), um Chefe de Unidade Adjunto e Instrutores que personificarão as
outras figuras da Selva (devem existir sempre, antes dos restantes animais, um Bálu e uma Bàguirà). Os Instrutores
podem ser dirigentes, CIL ou candidatos a Dirigente.
Atendendo a que as Unidades são mistas, será fundamental e altamente recomendável que a Equipa de Animação
também o seja, não só porque, como micro-sociedade que representa, deve ter elementos de ambos os sexos, como
também porque pode criar-se algum desconforto dos elementos perante determinado tipo de situação que possa
27/86
ocorrer. Certamente haverá situações e necessidades específicas dos elementos que os farão buscar apoio no
animador do mesmo sexo, pelo que é importante que esta premissa seja salvaguardada.
É importante que na execução das suas tarefas, o Animador adulto não substitua os seus elementos, especialmente
os Guias. Há que dar espaço para que os elementos desenvolvam em pleno as suas funções, quer as inerentes ao
seu cargo no Bando quer outras mais rotineiras, como vestir/despir, arrumar saco-cama, etc. (se os Lobitos forem
muito pouco autonómos a este nível, deve fazer parte do plano educativo ensiná-los a fazer as coisas rotineiras e
simples e então depois avançar para tarefas mais escutistas), ensinando-lhes como fazer até conquistar autonomia.
O dirigente deve orientar e esclarecer os elementos relativamente às tarefas que têm para desempenhar.
A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motivação que é necessária
empreender na Unidade, dependem da boa afinidade/interacção e da capacidade de trabalho patente na Equipa de
Animação. Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e para que se tenha uma Unidade motivada,
é importante que a Equipa de Animação reúna semanalmente. É importante que não vigore o improviso, que deve
ser apenas um recurso perante uma situação inesperada (e não a regra).
Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de Animação, sendo um precioso
auxílio, uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa.
28/86
IV. Reuniões e Conselhos
A vivência escutista é feita entre os lobitos. Em actividades ao ar livre, o espaço preferencial, mas, também, na sede,
na intimidade do Bando ou entre a Alcateia. O espaço de reunião é, então, um momento importante do crescimento
escutista e deve ser valorizado e vivido com entusiasmo.
a) Reunião de Bando
Uma reunião de Bando deve ser curta (máximo 20 minutos) e deve ser utilizada para que o Guia e/ou Sub-guia
ponham o bando ao corrente de diversas situações debatidas em Conselho de Guias: promessas, actividades,
projectos, angariações de fundos, etc, podendo ter espaço para os guias ou os elementos em etapa de ouro poderem
realizar ateliers para ensinarem aos outros elementos determinada técnica ou assunto. Este espaço serve também
para a preparação do projecto do bando para a Caçada.
A reunião de Bando, enquanto momento íntimo de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da mesma. No
entanto, o dirigente deve estar presente, auxiliando o guia a coordenar os seus elementos.
b) Conselho de Guias
Este conselho é o órgão permanente que, sob a coordenação do Chefe de Unidade, orienta a vida da Alcateia. É um
órgão consultivo, e não deliberativo, mas com capacidade para fixar o critério para a escolha do Guia de Bando, o
Círculo do Conselho e o Círculo da Parada. Aqui, mais que nunca, o Guia marca a sua posição de responsável do
Bando.
Constituição
1. Constituição
A constituição do Conselho de Guias deverá ter em atenção a própria constituição da Alcateia e o número de Bandos
29/86
existente. Se o Grupo for extenso, por exemplo com 5 Bandos, poderá tornar-se demasiada a participação conjunta
de Guias e Sub-Guias e de toda a equipa de animação.
Independentemente disto, nele têm assento sempre, o Chefe de Unidade e o Adjunto (quem o preside é o Àquêlá,
mas procura que o Guia de Alcateia o auxilie) e os Guias.
É recomendável que o Conselho de Guias aconteça meia hora, por exemplo, antes ou depois da reunião da Alcateia,
para evitar que a reunião da Alcateia seja prejudicada pela ausência de dirigentes e Guias. No primeiro caso, permite
a preparação das actividades; no segundo, permite a avaliação.
2. Tarefas:
- Tratar dos assuntos gerais da Alcateia;
- Acompanhar as ideias para as actividades com os Bandos;
- Distribuir as missões do Bando;
- Escolher os ateliês necessários para realizar o projecto, sob orientação da Equipa de Animação;
- Analisar o progresso de cada elemento e o progresso dos Bandos;
- Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.
- Dar formação aos guias sobre competências específicas
- Preparar as reuniões de bando
- Motivar a preparação dos projectos para a Caçada
3. Periodicidade
A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio conselho. Todavia, sugere-se uma regularidade semanal e diária
em campo.
5 minutos Informações
30/86
5. Papel do Animador Adulto
Mais uma vez, o dirigente deverá estar ciente das suas atribuições e competências no seio do Conselho de Guias.
Muito embora lhe compita a coordenação, não deverá substituir-se ao Guia de Grupo e aos Guias. no entanto, para
garantir uma boa coordenação, deve preparar-se individualmente e/ou em equipa de animação para no Conselho para
ajudar o Guia de Grupo e os Guia a atingirem o objectivo para o qual se reuniram.
c) Conselho de Alcateia
O Conselho de Alcateia é o orgão deliberativo máximo da Alcateia. Aqui tomam- se todas as decisões da vida da Alcateia, nomeadamente,
entre outras, a escolha da Caçada. Cada Bando, através do seu representante, tem oportunidade de publicitar as vantagens
e qualidades da sua proposta, colocar-se à disposição de quaisquer dúvidas e interpelações de modo a obter a
aprovação do Grupo.
1. Constituição
- Toda a Unidade.
2. Tarefas
- Escolher a Caçada (um voto por cada lobito );
- Dar sugestões sobre os ateliers necessários e eventuais actividades que se revelaram interessantes e pertenciam a
propostas que não venceram na fase da escolha;
- Avaliar a Caçada;
- Preparar a Festa da Caçada.
- Analisar o bom funcionamento dos Bandos e o seu progresso;
- Analisar o funcionamento dos ateliers e se o trabalho de cada lobito nos mesmos, atingiu o nível técnico pretendido;
- Analisar a evolução de cada lobito;
Paralelamente é também neste Conselho que o Grupo reconhece o progresso de cada lobito realizado ao longo do
projecto, as distinções e os prémios. São discutidos aqui, perante a Equipa de Animação, as opiniões de todos os
lobitos.
3. Periodicidade
- Quando se escolhe a Caçada;
- Avaliação final da Caçada.
- Sempre que seja necessário (análise do trabalho dos Bandos, formalização da entrada de novos elementos, decisão
sobre alguma modificação a fazer, por exemplo)
31/86
4. Valores pedagógicos do Conselho de Alcateia/Grupo/Clã
- Sentido de integração na vida comunitária;
- Sentido de auto-gestão;
- Sentido de participação democrática;
- Respeito pelas ideias e opiniões alheias (saber perder).
- Visão crítica e avaliação.
Quando o Conselho reúne com o propósito de escolher a Aventura, o Animador deverá ter um papel de coordenação.
Para além disto, desempenha ainda um papel organizativo, na medida em que fará a gestão das diferentes propostas
elaboradas pelos Bandos; aquando da votação, deverá contabilizar os resultados.
Mais tarde, competir-lhe-á, em reunião da equipa de Animação, enriquecer a Caçada escolhida com as propostas que
não venceram.
Se o Conselho reúne para avaliação do progresso dos lobitos, o dirigente deverá coordenar as intervenções, ouvir as
opiniões dos Guias e restantes elementos, ajudar a delinear projectos que visem cumprir os objectivos traçados pelos
elementos relativamente ao seu progresso individual.
VII. Sede
O "território" do Bando, por excelência, é o campo, a Natureza. Todavia, como nem sempre é possível estar em
comunhão com ela, o local de reunião da Alcateia é o Covil que deverá ser, tanto quanto possível, um espaço
próprio decorado de acordo com o imaginário da História da Selva, incluindo representação dos animais da Selva.
Este ambiente de selva é fundamental, na medida em que permite o envolvimento do lobito na mística e imaginário da
Secção.
Na vida da alcateia os lugares, os espaços, os momentos devem estar associados a locais da Jangal
onde têm lugar momentos importantes da vida de Máugli, da alcateia de Seiôuni, e de todos os animais.
O Covil pode, assim, assemelhar-se a um local onde existem os diversos espaços da Selva:
- A Rocha do Conselho é o círculo que marca o espaço onde toda a alcateia se reúne para tomar as
decisões importantes. Na Rocha do Conselho posiciona-de o Àquêlá e à volta dele, em círculo de
Conselho está toda a Alcateia. É neste espaço que têm lugar as reuniões do Conselho de Alcateia, que
pode até ter o nome de Rocha do Conselho.
- A Rocha da Paz, é local de paz entre todos – pode haver na alcateia um sítio onde os lobitos vão
resolver os seus problemas uns com os outros – é o local da reconciliação).
- As Moradas Frias, local onde não há lei – pode ser o local do castigo na alcateia, aquele sítio para
onde ninguém quer ir porque é sinónimo de ser um Bândarlougue.
- A Aldeia dos Homens, o espaço exterior ao covil. É um sítio desconhecido, potencialmente perigoso a
que os lobitos vão tendo cada vez mais acesso à medida que vão crescendo.
32/86
No Covil, deve ainda haver lugar para os cantos dos Bandos, espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a chefia,
oratório, espaço comum para reuniões de conselhos Alcateia, de guias e de equipa de animação. Para além disto,
convém que tenha espaço para:
- Mastro Totem da Alcateia;
- Quadro de Progresso Individual;
- Plano anual;
- A Lei e as Máximas do Lobito;
- Rocha do Conselho;
- imagem de Baden-Powell;
- etc.
33/86
2 – Mística e simbologia
A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell, a partir da sua experiência como condutor de
homens e da meditação sobre a educação dos jovens. Tudo começou no momento em que assumiu como missão dar
um sentido à vida de tantos rapazes que mergulhavam numa existência desequilibrada de vícios e delitos. O Movimento
Escutista possui assim, na sua génese, uma intenção educativa e a sua finalidade é clara:
«o fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a próxima geração seja dotada
de bom senso num mundo insensato, e que desenvolva a mais elevada concretização do Serviço, que
é o serviço activo do Amor e do Dever para com Deus e o próximo». RF 80
Assim se sintetiza o Espírito Escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às gerações mais novas. Para o
conseguir, Baden-Powell cria um movimento baseado no Jogo, onde abundam histórias, ambientes, pessoas/heróis,
símbolos. Numa palavra: cria um Imaginário.
Entende-se por Imaginário:
Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem
próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos. Induz a um sentimento de
pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de determinados valores.
Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica, de jogo. Busca também educar. E, esta intenção educativa faz
despontar a Mística, que constitui a expressão do ideal espiritual a transmitir, sendo como que a alma do jogo, aquilo
que lhe dá sentido. Para Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e constitui o âmago do
Movimento: este existe para ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-se por cumprir a Sua vontade.
«NO MOVIMENTO não há qualquer “lado religioso”, nem a religião “entra” em lado
algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE AO ESCUTISMO.»
BP-RF 153
Neste sentido, e porque o CNE procura educar dentro dos valores da Igreja Católica, são estes que dão forma à Mística
que se procura desenvolver em cada secção.
Em sentido estrito, entende-se por Mística:
Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das secções, que
visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.
Para que toda esta vivência seja completa, está rodeada de símbolos que ajudam a transmitir e reforçar o ideal presente
no Imaginário e na Mística.
Por símbolos, entendemos:
Elementos/objectos representativos de realidades, características ou atitudes que
materializam o ideal proposto na mística de cada secção.
No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser único ou
integrado num conjunto de símbolos complementares.
34/86
O Projecto Educativo do CNE recorre ainda a patronos.
Entende-se por Patrono:
Santo ou Beato da Igreja que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os valores que se
pretendem transmitir através da Mística e do Imaginário de uma determinada secção, sendo por
isso escolhido como protector e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção.
São patronos Santa Maria, Mãe dos Escutas, S. Jorge (patrono mundial do Movimento Escutista) e Beato Nuno de
Santa Maria (patrono do CNE) e também S. Francisco de Assis (patrono dos Lobitos), São Tiago Maior (patrono dos
Exploradores), São Pedro (patrono dos Pioneiros) e S. Paulo (patrono dos Caminheiros).
Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes figuras históricas cuja vida
também é possível de encarar como um exemplo. São, por isso, referências a ter igualmente em conta.
A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana
e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que
de forma não estanque – e complementam-se (nenhuma vale por si mesma), na medida em que estão interligadas e
adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer,
constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro:
- O louvor ao Criador: o Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia;
- A descoberta da Terra Prometida: o Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida;
- A Igreja em construção: o Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo;
- A vida no Homem Novo: o Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.
No percurso sugerido, procura-se que o Escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimensões, uma sobrenatural e
uma natural, e que ambas se relacionam intimamente: Cristo, Senhor da Vida, não se reduz à vivência espiritual e
mística do Homem; Ele está presente na vida do dia-a-dia e ao longo de toda a existência humana. É, por isso,
presença constante na vida de um Escuteiro.
Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro e fonte de
irradiação de sentido.
35/86
Mística das Secções:
Assim sendo, ao ver a beleza da Natureza (mares, rios, montanhas, vales, plantas, animais, etc.) e, sobretudo, a beleza
do próprio ser humano, o Lobito começa a descobrir Deus como Pai. Este, Criador de tudo quanto existe, ama muito
todos os seus filhos e quer que todos sejam felizes. Para que isso aconteça, enviou ao mundo o seu próprio Filho: o
«Menino Jesus». É a Ele a quem o Lobito reza a sua oração, a quem começa por oferecer o seu coração e pede para
que o encha de Virtudes e que o ensine a imitá-Lo.
Quando o Lobito descobre as maravilhas da Natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a
imitar em tudo o Menino Jesus, percebendo que Este o ama, aprende a louvar o Criador.
36/86
Neste processo, assume papel preponderante a figura do patrono da Primeira secção, S. Francisco de Assis.
Profundamente apaixonado por Cristo, S. Francisco aprendeu a situar a sua vida no plano do Amor de Deus pela
Humanidade. Descobriu assim que tudo é dom de Deus:
- toda a Criação fala de Deus e as mais pequenas coisas podem ser caminho para Ele;
- as nossas atitudes podem revelar a presença de Deus: «é dando que se recebe» e que é «morrendo que se ressuscita
para a vida eterna».
Para que os Lobitos aprendam com S. Francisco de Assis a louvar o Criador requer-se que:
- sejam capazes de ver em Deus Pai a origem de tudo o que existe;
- sejam capazes de se deixar encantar pela beleza da obra Criada (Natureza e Homem);
- vejam no «Menino Jesus» o maior dom de Deus à Humanidade e aprendam a viver como Ele e para Ele.
S. FRANCISCO DE ASSIS
Assis é uma pequena cidade que fica situada no norte de Itália. Foi nesta cidade que nasceu Francisco, pelo ano de 1181.
Seu pai era comerciante de tecidos e queria que o filho se dedicasse ao mesmo oficio, mas Francisco preferia divertir-se e
desfrutar do mundo. Foi uma criança alegre, tinha muitos amigos, era de trato amável, de profunda religiosidade e pureza.
Já jovem, ouviu a voz de Deus no seu coração, sentiu que Ele o chamava e convidava a um jogo maior, que duraria toda a sua
vida: procurar restaurar a Igreja de Jesus, que tinha muitos problemas. Francisco aceitou o convite, decidiu oferecer todas as
suas coisas e ser pobre, colocando toda a sua esperança em Deus a quem chamou “Pai-nosso que estais nos céus”.
Agora ele é conhecido pelo seu amor à Natureza e aos homens, e pela simplicidade e humildade com que amava e ajudava a
todos. Tinha uma maneira especial de comunicar com os animais e era muito querido por todas as crianças. Tinha sempre
mensagens de paz e um sorriso para todos os que o rodeavam.
Francisco foi o primeiro a fazer um presépio ao vivo, numa pequena povoação chamada Grécio, o que deu origem à tradição,
que ainda hoje se mantém, dos nossos presépios.
Aos 45 anos ficou muito doente e morreu na tarde do dia 3 de Outubro de 1226, em Assis. Antes de morrer deixou esta
mensagem: “Permanecei firmes no amor de Deus e n’Ele perseverai até ao fim. Bem-aventurados os que perseverarem na
obra começada!”.
Todos os anos, no dia 4 de Outubro, o mundo inteiro celebra a entrada de S. Francisco no céu.
37/86
Como modelos de vida, os Lobitos podem ainda seguir o exemplo de Santa Clara de Assis, que seguiu as pisadas de S.
Francisco na humildade e devoção a Deus, e dos Beatos Francisco e Jacinta, meninos que assumiram plenamente a
total confiança e amor a Deus.
A animação da vivência cristã deve surgir com naturalidade, fazendo parte de toda a vida da alcateia e não
de acções isoladas. Aliás esta inserção vai permitir que o lobito compreenda que o verdadeiro sentido do
catolicismo é o de ser vivido no dia-a-dia, na alcateia, na escola, em casa e vai também possibilitar ao
dirigente, aproveitando as características dessas idades, transmitir, através da sua forma de estar na
sociedade este verdadeiro sentido de Cristo.
O desenvolvimento da Mística pode fazer-se com recurso a:
- orações de louvor criadas pelos Lobitos. Estas orações podem ter temas específicos (louvor à chuva, ao
calor, às árvores, etc.), de forma a exercitar a sua capacidade de contemplação da Natureza e a
compreensão de que ela é dom de Deus;
- cânticos adequados à infância que louvem os dons de Deus;
- utilização da mística nas diversas actividades, enriquecendo-as com valores e exemplos a seguir;
- decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário da Alcateia;
- exploração de episódios da vida de Jesus e dos Beatos Francisco e Jacinta que permitam a
reflexão/interiorização de atitudes e valores e de alguns episódios da vida de S. Francisco, Santa Clara e
outros franciscanos, normalmente denominados ‘Florinhas de S. Francisco’ (a história do Lobo de Gúbio é
uma dessas Florinhas). De notar que todos os conceitos e formas de estar deverão ser apresentados aos
lobitos inseridos nestas pequenas histórias: qualquer tentativa de conversar de forma mais abstracta tende
a não dar quaisquer frutos.
A nível de símbolos, na Alcateia destaca-se a Cabeça de Lobo, que encima o Mastro Totem da Alcateia, como símbolo
máximo do grupo e de cada lobito.
Este símbolo é de especial importância, já que o imaginário da Primeira Secção gira todo à volta da história de Máugli
em “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling.
38/86
O tema da selva não é importante por si próprio: o que nele conta é o significado que lhe dão os lobitos. É um
imaginário em que se cria uma atmosfera na qual os objectivos do lobitismo são mais facilmente transmitidos. Isto
porque, na infância, a criança tende a assumir a fantasia como realidade. Assim, quando o lobito é confrontado com o
símbolo da selva, sente esse símbolo não como uma ficção, mas como um elemento que para ele tem valor de verdade
e se reveste de um significado. É por esta razão que, ao ouvir histórias, a criança se identifica com o herói e vive os
sonhos desse mesmo herói: ao conhecer a história de Máugli, “o menino lobo”, o cachorro de homem, a rãzinha, o
Lobito sente-se também um Máugli, ora corajoso ora frágil, sábio ou ignorante. E através das atitudes reveladas pelo
Menino-Lobo, começa a tomar resoluções, desenvolver valores, ultrapassar etapas e aprender a ajudar os outros.
Exemplo:
Diz-nos a história da Selva que o Cachorro de Homem desobedeceu às ordens de Bálu e se
juntou aos Bândarlougues, o que gerou grande confusão (A Caçada de Cá). Máugli acaba por se
arrepender do seu comportamento e aprende que deve ouvir os bichos da Selva.
Sempre que existir um lobito desobediente, o Àquêlá deve relembrar esta história. É mais fácil
modificar o comportamento de um Lobito usando o exemplo de Máugli (que para ele é um herói
real) do que chamá-lo para uma conversa ‘adulta’ em que se enumeram as razões por que ele
se deve portar bem.
O Àquêlá deve também incutir a ideia de que é uma grande vergonha ter comportamentos
próprios de Bândarlougue. Como encaram a história da Selva como se fosse real, os Lobitos
detestam ser apelidados de Bândarlougue.
Neste contexto, as diversas figuras que surgem no Livro da Selva revestem-se de especial importância. De facto, a
História da Selva não é mais do que é a descrição da sociedade humana: os animais simbolizam os defeitos e
qualidades dos homens e representam o contraste entre povos com estilos de vida ou formas de agir muito diferentes. E
para uma criança é bem mais fácil compreender a sociedade em que vive através de uma história. Através dela, ela
confronta-se com o Bem e o Mal e compreende mais facilmente as situações positivas e negativas com que nos
defrontamos continuamente na vida e ante as quais devemos optar.
A Alcateia de Seiôuni é uma sociedade reconhecida na Jangal pela sua capacidade de organização.
Os lobos constituem o Povo Livre: aquele que, porque cumpre as leis instituídas, não ultrapassa os seus direitos nem
prejudica ninguém. Nesta sociedade, o pequeno Máugli aprende a ser livre por meio da solidariedade para com a
alcateia e através do respeito à lei.
- É acolhido pelos seus pais (Pai Lobo e Racxa) e irmão Lobito (Irmão Cinzento) que representam todos aqueles que
são capazes de amar incondicionalmente os outros, sem preocupações sobre raças.
- É também protegido pelo Chefe da Alcateia (Àquêlá), que simboliza a liderança serena e equilibrada, que não se
atemoriza perante ameaças ou dúvidas. A sabedoria e a bondade dos velhos lobos ensinam-no a distinguir os exemplos
que deve imitar e a ter cuidado para não assumir atitudes que, na fábula, se atribuem à estupidez dos Bândarlougues ou
à maldade de Xer Cane.
De facto, em contraposição com esta sociedade organizada, cumpridora e solidária, surgem os macacos, o Povo sem
Lei: sem ordem, sem solidariedade, sem metas claras para alcançar e sem constância para chegar a elas, não se pode
ser livre, nem puro, nem bom. Ser Bândarlougue é, assim, espalhar boatos, fazer barulho, sujar tudo, destruir, sem
nunca pisar em terra firme, sem assumir uma responsabilidade ou comprometer-se com qualquer projecto.
Outros animais gravitam em torno destas duas sociedades, representando também o Bem e o Mal.
Xer Cane, o tigre, simboliza a maldade pura: ele representa aqueles seres que se regem pela crueldade, cobiça,
vaidade e frieza. Acompanha-o no Mal Tábàqui, o chacal lisonjeiro e cobarde, que ganha a vida a inventar histórias
sobre os outros: ele simboliza a hipocrisia e a tendência para o mexerico.
39/86
Os amigos e protectores de Máugli simbolizam, por sua vez, o Bem. Destacam-se, como mais importantes:
- Bàguirà, a pantera esperta e ágil, é a caçadora que ensina Máugli a reconhecer os melhores caminhos para a caça. É
símbolo de todos aqueles que, pela sua experiência de vida (muitas vezes dolorosa) nos ensinam a reflectir sobre os
caminhos a seguir.
- Balú, o urso, ensina as Leis da Selva: simboliza o conhecimento, a ponderação, a tranquilidade e a benevolência que
normalmente os sábios possuem.
- Cá, o pitão, de carácter inicialmente dúbio e esquivo, representa todos aqueles que, apesar de aparentarem não ser de
confiança, acabam por se revelar leais e amigos.
- Hati, o elefante, é o guardião das memórias. Simboliza, assim, todos os que se preocupam em conservar as histórias
passadas para retirar delas ensinamentos para o futuro.
Há outros nomes e outros símbolos associados à história de Máugli: Mangue, Íqui, Tchil, Rama, Fao, etc.
Como já vimos, a vivência em alcateia obriga à evocação constante dos acontecimentos da Jangal dando origem a
uma série de nomes e símbolos com os quais os lobitos convivem constantemente. É o caso, entre outras, das
palavras Lobito, Alcateia, Covil, Grande Uivo, Rocha do Conselho, Rocha da Paz, Caçada, Bando, Mastro de Honra,
Círculo do Conselho, Danças da Selva, Dentada (conhecimentos adquiridos pelos lobitos que contribuem para a
concretização do sistema de progresso ou insígnias de competência – usa-se a expressão: O lobito… deu uma
dentada nas pistas, por exemplo), Flor Vermelha (nome dado ao Fogo de Conselho dos Lobitos).
.
Esses nomes e símbolos que se originam da história do Povo Livre são reforçados por outros que se originaram na
tradição do Movimento Escutista, tais como o uniforme, o totem, o caderno de caça, o livro de ouro, o Conselho de
Guias, o Conselho de Alcateia, o Conselho de Honra, a divisa, a equipa de animação, o patrono, a bandeirola, e o guia
da Alcateia, por exemplo.
G – Cerimoniais
A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão concreta
nos diversos cerimoniais escutistas.
40/86
Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho pedagógico que
deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:
- estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis, exemplo de B.-P., patronos, etc.), como
a nível da elaboração (cânticos, imagens escutistas, etc.), o que implica desenvolver um ambiente místico (com recurso
a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade da mensagem. Será indicado, sempre que possível,
utilizar o espaço da Natureza para as realizar (é preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado para
todas as actividades escutistas).
- revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas: a título de exemplo, são de evitar cerimoniais de
passagem de secção que se convertam em verdadeiros atentados à Lei do Escuta, por implicarem faltas de higiene,
perigos para a saúde ou perda de dignidade dos elementos.
- possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequada à secção a que se dirigem.
- implicar uma participação activa dos escuteiros (não ficam apenas a ouvir), de forma a que se sintam integrados na
Unidade. Envolver directamente o grupo a que se destina, recorrendo ao auxílio dos elementos e a alusões sobre as
suas características, induz a que todos se sintam envolvidos e motivados. Este envolvimento deve implicar alguma
flexibilidade, para que todos se sintam à vontade para participar.
- ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, duração, ensaios), integrando-se de forma
adequada na vivência das secções e na idade dos participantes.
- ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que, de início, pode parecer que reforça a coesão
do grupo (por se tratar e uma tradição) pode acabar por se tornar antiquado e desmotivante. Convém, por isso, efectuar,
de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos usados e dos valores explorados, para que se possa
modificar o que está desactualizado, desadequado ou incoerente.
Nem sempre os cerimoniais tradicionais dos Bandos (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro)
possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o dirigente auxilie os seus
elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao
totem e ao lema do Bando e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as
fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e
validade.
41/86
3 – Lei e promessa
a) um quadro referência de valores
A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a viver em comunidade. Na Igreja,
esses valores têm por base os Mandamentos da Lei de Deus. Cada sociedade, por seu lado, incute valores
relacionados com a moral e o respeito por si mesmo, pelo outro e pela propriedade.
Também o Escutismo possui um quadro de valores que procura incutir a todos os seus elementos, de forma a ajudá-los
a progredir no sentido do Bem. Neste sentido, é portador de uma forte dimensão espiritual.
No caso dos lobitos, esses valores estão resumidos na Lei e Máximas e na Promessa e através deles o lobito é
chamado a comprometer-se livremente com ideais que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais justo e mais
solidário.
A LEI DA ALCATEIA
“A alcateia trabalha em conjunto e obedece às ordens do lobo chefe. Quando caçam uma lebre
ou um gamo, bem gostaria cada qual de o apanhar para sí e comê-lo, mas o chefe dos lobos não
o permitiria”
In “Manual do Lobito” Baden-Powell, 1979,CNE, Lisboa
No livro da Selva, aprendemos que existe um “povo sem lei”, desordeiro, preguiçoso, sujo e sem regras, que vive a
partir dos impulsos e dos interesses momentâneos. No oposto temos a vida da alcateia, onde cada lobo conhece o
seu lugar, as regras de socialização e reconhecem no velho lobo, Àquêlá, a autoridade moral para os guiar, e
proteger.
Assim deve ser a vivência das nossas alcateias. Temos de reconhecer que cada animador adulto é um velho lobo e
que compreende, vivendo o seu papel da Àquêlá.
Quando caracterizamos, psicologicamente o escalão etário dos nossos lobitos, consideramo-los “crianças” que
raciocinam sobre factos concretos vividos aqui e agora. Não lhe podemos transmitir valores sobre situações
hipotéticas que eles não entendem e ainda não viveram.
A Lei da Alcateia põe as coisas no presente:
O lobito ao repetir esta lei tão simples, memoriza-a e inconscientemente vive-a. No entanto, não deixa nunca de
atender ao comportamento dos adultos, observando como estes vivem e cumprem as regras no “grande jogo da vida”.
Ao decompormos a Lei da Alcateia, encontramos em primeiro lugar “O lobito escuta a Àquêlá”, o valor da obediência e
o reconhecimento da autoridade da Àquêlá (os chefes, os pais, os professores, as catequistas, etc), reconhecimento
42/86
este que advém da capacidade que o adulto tem para ensinar, ajudar, acarinhar e proteger a criança. Depois, “O
lobito não se escuta a sí próprio” e aqui temos o valor do sentido e interesses do grupo (Alcateia) em renúncia aos
seus interesses pessoais. O lobito aprenderá que o facto de viver em Alcateia, fará com que tenha abdicar dos seus
pequenos egoísmos, fazendo grupo com todos os outros lobitos.
A simplicidade da Lei da Alcateia, encerra os valores básicos da vivência em Alcateia.
AS MÁXIMAS DA ALCATEIA
O lobito entende e consegue viver a sua lei, pois esta encerra “regras” bem simples, no entanto ele precisa de mais
algumas orientações que o guiem nas boas relações consigo próprio e com a sociedade. Daí surgirem as “Máximas”
3º O lobito é asseado
Maugli teve a experiência de viver entre “o povo sem lei”, os Banderlouges, nas “moradas frias” e ficou perturbado
com a desordem, sujidade e anarquia que se vivia naquele local. O lobito terá de cuidar da sua higiene pessoal, em
pequenos gestos; cara lavada, unhas cortadas e limpas, roupa asseada, cabelo lavado e penteado, etc. Mas o seu
“asseio”, tem também de passar pelo arrumo e limpeza do covil.
4º O lobito é verdadeiro
Depois de Maugli ser liberto do cativeiro dos Banderlouges, foi sincero contando ao Balú que toda aquela confusão
deveu-se à sua curiosidade, desrespeitando os conselhos dos mais velhos. O lobito terá de ser verdadeiro para que
os outros confiem nele.
5º O lobito é alegre
A alegria faz com que cada um de nós seja mais feliz. Rir, cantar, brincar são a receita para uma vida plena. Os
nossos lobitos têm de experienciar esta satisfação, eles serão crianças felizes e a Alcateia será um espaço desejado.
43/86
b) como viver a lei e as máximas na secção;
A Lei e as Máximas ajudam à aquisição de normas de convivência básicas e promovem a convivência equilibrada do
grupo e o enriquecimento das relações humanas. Para que tal aconteça de forma natural, pode-se recorrer a várias
estratégias para inculcar valores:
- jogos que impliquem partilha, auxílio mútuo, disciplina, lealdade, etc.;
- exemplos do dia-a-dia (retirados de histórias que podem ser contadas ou representadas pelos lobitos) que os lobitos
assumam como conhecidos;
- reflexões sobre comportamentos dos lobitos (que podem ser analisados à luz, por exemplo, do comportamento de
Máugli).
Exemplos práticos:
• Construção de uma árvore (desenhada, cartolina, ramo seco, etc), em que estejam na parte
superior as leis e um pouco mais abaixo as máximas. Sempre que os Lobitos não cumpram uma
Lei ou uma Máxima na alcateia o seu nome é colocado junto a essa Lei ou Máxima. Este jogo tem
o objectivo de lever o lobito a lembrar-se de que tem de fazer uma boa acção para que o nome
dele saia da árvore, que podemos chamar “O arbusto das moradas Frias”.
• Sempre que um Lobito não cumpra a Lei ou as Máximas, pede-se que faça uma pesquisa no
Livro da Selva sobre o momento em que também Máugli, não cumpriu. Isto pode ser completado
com um desenho. Isto para que o Lobito sinta que Maúgli também fazia traquinices e que por
vezes tinha de se sujeitar aos castigos de Bálu e Bàguirà.
• A Construção de um Quadro com as Leis e com as Máximas, pelos Lobitos, poderá também ser
uma forma de valorizar e embelezar o Covil.
• Sempre que um Lobito não cumpra as Leis ou Máximas, o animador deve incutir no Guia de
Bando que ele deve ser o primeiro a chamar-lhe atenção, para que o lobito sinta autoridade por
parte do seu Guia, respeitando-o.
• Os lobitos podem ser convidados a colocar na porta do quarto um quadro com as Leis e Máximas.
• Criar um cartão com várias boas acções diárias que o Lobito se compromete a fazer. Depois, os Pais vão assinando
essas acções à medida que o Lobito as vai cumprindo. O Lobito ao fazer estas acções vai ganhando o hábitos de
boas práticas diárias.
• O Lobito poderá também fazer um cartaz em A3 que pode levar para a sala de aula e falar disso aos colegas.
Normalmente existe mais do que um lobito na sala, pelo que podem juntar-se e explicar aos colegas o que é a
Alcateia, que tem uma Lei e umas máximas. Esta acção também pode ser feita na catequese. O animador terá
acertar estes pormenores com os outros educadores, mas de forma que o Lobito não se aperceba. Claro que
funciona caso exista um conhecimento e um bom relacionamento com as outras estruturas.
Neste processo, o dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para que, em cada lobito, se formem
valores que irão nortear a sua vida futura e que são muito mais facilmente inculcados agora do que mais tarde. Para
que isto aconteça, não nos podemos esquecer que o exemplo ocupa um lugar central na educação para os valores.
Assim sendo, é essencial que o chefe assuma como seus os valores que quer transmitir e se esforce por os cumprir,
procurando ser, realmente, um modelo a seguir. E isto não se pode fazer apenas quando os elementos estão presentes,
dado que não sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos.
De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, solidariedade para com um elemento
mais difícil ou paciência para com os desobedientes quando os dirigentes não se falam, mentem, rejeitam algum
elemento de forma ostensiva ou se descontrolam quando lidam com o grupo. Educa mais quem apresenta um
44/86
comportamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na coerência de atitudes, no encorajamento perante o erro
e o desânimo, na defesa de comportamentos saudáveis.
c) A promessa
Iniciada há já algum tempo a etapa de adesão, a data da Investidura e da Promessa estará a aproximar-se. É
importante, para não dizer fundamental, que os nossos lobitos entendam o verdadeiro significado da Promessa, que
está para lá do que é visível – a simples imposição do lenço.
“Se o ideal do lobitismo, a lei, divisa, etc., capta sobretudo a imaginação do rapaz, a promessa
faz sobretudo o apelo ao seu coração. Considerai a palavra “promessa” na sua acepção geral.
Que é que leva um homem a fazer a sua promessa? Há na promessa algo de essencialmente
generoso. Além de tudo para fazer uma promessa é necessário que haja dois.”
In “Sabedoria da Selva, Vera Barclay, CNE,1982, Lisboa
A Promessa não é mais que um compromisso assumido pelo lobito, de uma forma livre e sentida.
Podemos encarar o acto da promessa em duas vertentes. Por um lado significará o momento a partir do qual o lobito
se sente verdadeiramente mais um membro da Alcateia. Fez a sua caminhada, conhece a vida e a lei da Alcateia,
conhece os outros lobitos e os seus chefes e quer, finalmente, ser um lobito. É aqui que o cerimonial da Alcateia lhe
confere, publicamente o “estatuto de lobito”. É mais um membro da grande família mundial do escutismo. Poderá usar
o sonhado lenço, símbolo da sua integração definitiva.
Por outro lado, a Promessa reveste-se de uma importância vital, porque o lobito vai atestar perante os seus pares,
chefes e comunidade local, que quer ser lobito, que conhece a Lei da Alcateia, querendo viver com os seus amigos,
Jesus, os lobitos e todas as pessoas, compreendendo que a alegria de viver, vem da sua disponibilidade para ajudar
aos outros. Este compromisso só fará sentido, se feito publicamente, percebendo o lobito que está a dar a sua palavra
e que todos irão estar atentos ao cumprimento das suas intenções.
45/86
4 – Aprender fazendo
“A criança quer fazer coisas; então vamos encorajá-la a fazê-las, apontando-lhe o caminho certo e
permitindo-lhe fazê-las como ela quer. Deixá-la errar; é através dos erros que ela constrói a sua
experiência”.
Baden Powell
O Escutismo tem como objectivo ajudar os jovens a desenvolver as suas capacidades integralmente, para que se
tornem membros activos e responsáveis na sua comunidade. Contribui, assim, para um mundo melhor.
Para tal, o lobito não pode apenas ouvir dizer ‘como é que se deve fazer’ ou ver os outros a actuar. Para aprender é
necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico e activo.
Nos escuteiros, quando o lobito vai acampar e tem de construir as infraestruturas do seu campo, está a passar para o
campo do real o que o Dirigente lhe ensinou uma tarde na sede. Quando escolhe quais os projectos que gostaria de
realizar e, motivado pelas suas escolhas, pelo Bando e pela saudável competição, se envolve na sua realização, ele
está a aprender pela acção. Isto permite-lhe perceber a utilidade do que aprendeu (o que o motiva para aprender
mais), desenvolver as suas capacidades e descobrir habilidades e gostos que, de outro modo, provavelmente não
descobriria.
Papel do Dirigente:
“Ask the boy” dizia-nos B.-P. É dever do Dirigente ter noção das expectativas, sonhos, dificuldades, medos dos seus
escuteiros. Compete-lhe ser o orientador, o irmão mais velho, permitindo que o lobito seja o principal motor da sua
educação.
Por vezes é a opinião de que eles são muito novos, ou imaturos, que não deixa o Dirigente pôr algumas decisões ou
tarefas na mão dos lobitos. Mas, certamente, que se desafiados, eles não vão deixar de surpreender os adultos que os
acompanham nesta difícil tarefa que é crescer.
Educamos para a autonomia, por isso é necessário que eduquemos com autonomia. E isso é o aprender fazendo!
O Jogo
Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. O Ser Humano é um ser lúdico, que espontaneamente se organiza para
jogar qualquer coisa, simples ou elaborada e complexa.
Para concretizar a sua intenção educativa, o Escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no dinamismo
natural das crianças e jovens, no gosto pelo jogo e na facilidade que eles têm de criar regras sociais e se organizarem
para que o jogo funcione.
46/86
No Escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas no Bando, uma pequena sociedade, em que todos têm um
papel importante, com direitos e deveres, onde só a vontade e trabalho de todos os pode fazer atingir os objectivos
por eles delineados
O jogo estimula o desenvolvimento do lobito, quer pelas tarefas que executa, quer pelos ensinamentos que retira do
ganhar e do perder, pela aprendizagem das relações sociais, pelas regras que tem que cumprir. Isto porque quando
as crianças brincam ou os jovens cooperam, espontaneamente descobrem a necessidade de se organizar, de
respeitar regras, de colaborar entre si, de interiorizar os valores do grupo.
Assim, por meio do jogo, o lobito exercita as capacidades necessárias ao seu desenvolvimento integral, como
autodisciplina, vida em sociedade, afectividade, criatividade, valores morais e espírito de equipa.
O jogo é dos instrumentos mais importantes e poderosos que o educador tem ao seu dispor. Caracterizado pela
espontaneidade, agrada a qualquer criança, toca em várias áreas do desenvolvimento e permite conhecer cada
indivíduo, assim como a sua interacção com o grupo.
Mais uma vez, aqui o papel do Dirigente e da Equipa de animação é fundamental. Cabe-lhes orientar para que o jogo
seja mesmo motivador e motor de aprendizagem. Devem ajudar e orientar os lobitos, mas nunca resolver o problema
por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não é importante.
Os lobitos, pela idade que têm, são capazes das melhores acções e desempenhos e das maiores travessuras! São
essencialmente ávidos de aventura, de vivências diferentes, de novas descobertas!
Como dizia o nosso sábio Fundador: “Os rapazes são capazes de encontrar aventura num velho charco
imundo”, ou, “A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Escutismo ele sente-se
parente do pele-vermelha, do pioneiro e do sertanejo.”
A imaginação é o catalisador de uma Caçada, é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de um ano escutista. É
responsabilidade das Equipas de Animação não deixar esmorecer o entusiasmo e não deixar que a falta de
imaginação ou de empenho comprometam as expectativas dos rapazes e raparigas. Por isso, é fundamental que a
Equipa de Animação viva as actividades, que encarne os personagens, que seja um verdadeiro Lobito, pois, se o
entusiasmo chegar a estar em queda, saberá reerguê-lo!
Há ainda lugar para outras actividades: Conselhos de Guias, conselhos de Alcateia, acampamentos, bivaques, visitas
de estudo, festas, celebrações, etc.
47/86
A Caçada — O projecto da Alcateia
1. Pedagogia do Projecto
O que é um Projecto?
É um conjunto determinado de acções interrelacionadas que se planeiam e implementam com vista a atingir um
objectivo último num determinado prazo.
No Escutismo, é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um objectivo comum.
Um projecto escutista:
• …é um desafio colectivo;
• …tem uma meta clara e um horizonte temporal;
• …envolve 4 Fases principais;
• …está baseado no uso do Método Escutista;
• …incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem;
• …tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas;
• …procura que todos e cada lobito do Bando ou Unidade esteja comprometido no atingir do objectivo através de
esforço pessoal.
3. As Fases do projecto
Na Alcateia, dá-se o nome de Caçada ao projecto que a Alcateia prepara e desenvolve ao longo de algumas
semanas (por norma entre um a dois meses, incluindo todas as fases). É desejável que a alcateia faça uma por
trimestre.
48/86
• Apresentação (Bandos/Conselho de Alcateia) – Oportunidade de expressão
2ª Fase: Preparação
• Em Conselho de Guias, verificar:
- O que fazer?
- Como fazer?
- Quem?
- Quando?
- Onde?
- Como?
3ª Fase: Realização
Viver o projecto! Agir, acampar, jogar, visitar, construir, cantar, representar! Vamos fazer tudo aquilo que preparámos!
49/86
4ª Fase: Avaliação
• É a fase de “extrair o sumo” ao que se viveu;
• Feita pela Alcateia e Bandos;
• Usar meios criativos e adequados (não é um exame);
• Duas componentes essenciais:
Aspectos operacionais (como correu?)
Aspectos educativos (o que se adquiriu?)
• Reconhecer o progresso feito, em clima de festa (ligação com a celebração): etapas de progresso, trilhos
alcançados, insígnias de competência…
• Que pistas ficam para o futuro? (próximo Projecto?)
Em suma:
1ª Fase: ESCOLHA 2ª Fase: PREPARAÇÃO 3ª Fase: REALIZAÇÃO 4ª Fase: AVALIAÇÃO
50/86
Actividades da secção - Reuniões de Alcateia
RAP, WOSM
Podemos considerar que as actividades são um meio privilegiado para trabalhar o ‘aprender fazendo’, promovendo a
aprendizagem e o aprofundamento das experiências.
ACTIVIDADE EXPERIÊNCIA
• É a acção que se desenvolve entre • É o que se passa e é apreendido por cada pessoa;
todos; • É o que se obtém da acção desenvolvida;
• É um instrumento que gera • É o resultado que se produz no jovem ao enfrentar
diferentes situações; diferentes situações;
Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é importante, senão mesmo fundamental,
que as actividades sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas de forma adequada. O improviso pode ser
nefasto para as experiências que os jovens possam vir a adquirir de uma actividade preparada “em cima do joelho”.
Por outro lado, é importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a seguir um padrão na
sua forma de realização. Introduzamos variações, questionemo-nos se não poderemos melhorar essas actividades ou
introduzir novas componentes que as tornem mais atractivas, sob pena dessas mesmas actividades perderem o seu
valor educativo e o seu interesse por parte dos nossos lobitos. Não podemos deixar assim que a rotina se instale e
constitua uma “pedra na engrenagem”.
No caso da Alcateia, as actividades desenrolam-se sobretudo nas reuniões de Alcateia, devem ter uma duração
aproximada de uma hora e meia/duas horas.
Na sua estrutura, deve haver tempo para histórias, jogos, canções, trabalhos manuais, instrução técnica,
representações, etc. pertence à Equipa de Animação a tarefa de saber dosear a forma e o ritmo das actividades que
se propõe desenvolver.
É conveniente que as reuniões estejam sujeitas a temas. Neste caso, todas as actividades da reunião terão um elo de
ligação que é o tema e que pode ser enriquecido pelo trabalho dos Bandos.
Alguns exemplos para temas de reuniões de Alcateia:
- os animais
- o jornal
- os correios
o mercado
- o trânsito
- as plantas
51/86
Uma reunião de Alcateia pode ter seguir o esquema seguinte, por exemplo:
O esquema seguinte, não é uma “receita” para todas as reuniões mas pode servir de orientação e de “guia”:
5º Jogo 15 minutos
7º Avaliação 2 a 5 minutos
52/86
5 – Contacto com a Natureza
A utilização do contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é, de facto,
uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo valor pedagógico que
contém, como espaço, tabuleiro, do jogo escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos e capacidades
intrínsecas, como oportunidade de crescimento e de desenvolvimento da consciência crítica, como materialização,
visível, da obra do Criador, interessa, por isso, dele retirar todo o aproveitamento.
Para um escuteiro o contacto com a natureza é, por isso, condição imprescindível para um crescimento pessoal e
colectivo
Q – Valor pedagógico
a) Um laboratório
O contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos
naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte
dessa mesma comunidade.
Assim, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o
adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura — em relação aos
seus pares, mas também aos mais velhos, que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial.
Porquê um laboratório?
— Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as importantes;
— Porque o jovem pode adquirir a consciência de que é passageiro, e não dono, o único proprietário do
planeta;
— Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual;
— Porque permite a aquisição de conceitos como o da Ecologia e o do desenvolvimento sustentável;
— Papel do dirigente: Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir
comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor
meio de educação.
— Boas práticas:
- Incentivo à separação de lixos
- Reaproveitamento e reutilização de alguns objectos (reciclagem)
- Compostagem
- Iluminação com baterias recarregáveis por painel solar
- Drenagem e filtragem das águas de lavagem
- Monitorização das águas de algum curso de água
- Contacto com centros de investigação e conservação da Natureza (ICN)
- Investigar que forma de cozinhar causa mais impacto e consciencializar o Grupo
— Anotações:
- Carta do índio Seattle
53/86
- Papalagui
- Princípios Escutistas vs. Educação Ambiental
- Desenvolvimento Sustentável
- Eco (casa) + logia
b) Um clube
O espaço natural é o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. Lembrar-nos-íamos,
imediatamente, do acampamento, mas convém salientar que todo o jogo escutista tem como território ideal o
ar livre e a Natureza. É a partir da sua observação e da vivência, individual e colectiva que a criança, o
adolescente e o jovem recolhem o conjunto das regras primárias e instintivas que presidem à natureza
humana e às regras sociais elementares, por exemplo.
Porquê um clube?
— Porque permite o confronto com um espaço menos confortável que leva os escuteiros a superar as suas
dificuldades e incentiva o respeito pela natureza;
— Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e
obstáculos;
— Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento do seu próprio corpo e do
ambiente que o rodeia;
— Papel do dirigente: Compete ao dirigente, a este nível, desenvolve, sempre que possível, actividades
de relação com a Natureza que permitam o crescimento saudável e harmonioso dos escuteiros.
— Boas práticas:
- Identificação de diferentes espécies de Avifauna (procurar panfletos de avifauna local e tentar a
partir deles identificar as especiais que vão aparecendo durante uma pista ou raid)
- Criação de Herbários
- Recolha de Pegadas de Gesso e elaboração dos seus positivos
- Identificação de espécies protegidas e não danificação da vegetação durante a montagem do
campo
- Limpeza de matos com o cuidado de não danificar
- Jogos com o contacto com os elementos naturais, explicando a importância de cada um deles
- Visionamento de documentários em vídeo sobre o animal Totem do Bando
c) Um templo
A natureza é, para o jovem, também, um espaço de contemplação e de deslumbramento. É a arena mais
limpa e clara de toda a obra da Criação. O jovem é convidado a descobrir nela as mais elementares
intenções de sã convivência, mas também de livre arbítrio dado por Deus ao Homem. A criança, o
adolescente e o jovem têm na Natureza o espaço de contemplação, de deslumbramento, a montra
privilegiada para vivenciar Deus.
54/86
Porquê um templo?
— Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de
que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”;
— Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de todos os sentidos e da
própria natureza da pessoa;
— Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica, a intervenção quase
directa do Espírito Santo na pessoa.
— Papel do dirigente: Incentivar, sempre que possível, atitudes de contemplação e de reflexão sobre as
maravilhas da Criação, auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus.
— Boas práticas:
- Oração de contemplação daquilo que o rodeia o Homem (vegetação, estrelas, rios, etc.),
incentivando cada um a agradecer a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do sol (no
fundo aquilo que torna especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja).
- Jogos e contemplação: ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros uns
para os outros ao acordar; ao anoitecer tentar perceber o que desejariam os animais ali à volta.
6 – Progresso pessoal
Introdução
O Sistema de Progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem três características
principais:
- está centrado no indivíduo;
- considera as capacidades de cada um;
- é baseado num conjunto de objectivos educativos.
Permite assim atingir os objectivos educativos da Secção (adquirir conhecimentos, competências e atitudes), sendo um
factor de motivação para o jovem (ser e fazer melhor). Para além disso, guia-o no seu percurso de desenvolvimento,
sendo uma oportunidade de aprofundamento de habilidades próprias, valorização pessoal ou até mesmo de descoberta
55/86
vocacional. O sistema de progresso impulsiona o jovem a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da sua vida.
A passagem da criança pela secção é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivência. Durante a integração,
o Lobito faz a sua adesão. Durante a vivência, ele evolui nas etapas de progresso.
Diagnóstico inicial
Todas as crianças que entram para a Alcateia são diferentes em diversos aspectos: idade, contextos
familiares e escolares, níveis de desenvolvimento, aptidões e dificuldades. Desta forma, poderão estar em
estádios de desenvolvimento diferentes e a equipa de animação deverá ter por missão promover – a partir
de pontos de partida diferenciados – um desenvolvimento pessoal harmonioso, que idealmente os levará a
atingir em pleno os objectivos educativos da secção.
No âmbito de um sistema de progresso orientado por objectivos torna-se, pois, imprescindível conhecer
a criança que chega à Alcateia – a isto chamamos diagnóstico inicial.
O diagnóstico inicial deve ser feito pelo Chefe de Alcateia através de uma conversa informal com os Pais, com a
própria criança e a partir da observação desta durante as primeiras actividades. A equipa de animação poderá ainda
recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito.
Esta fase será crucial para a posterior escolha dos trilhos, uma vez que esta escolha deve ter em consideração as
necessidades de desenvolvimento da criança.
No caso de ser um aspirante com idade igual ao 2º ou 3º ano na Secção (7 ou 8 anos), este diagnóstico formal deverá
incluir outros organismos e irá servir para reconhecer – depois da sua fase de adesão – em que etapa de progresso o
aspirante se encontra, ou seja, que objectivos educativos ele já detém e que equivalência será atribuída em termos de
etapa de progresso. Assim, no reconhecimento do progresso pessoal:
56/86
- até 1 trilho de cada área de desenvolvimento alcançado – etapa 1
Ex:
a) o aspirante só completa uma etapa se tiver 1 trilho de cada área de desenvolvimento pessoal. Assim, caso tenha 2
trilhos da área de desenvolvimento físico, 2 da área de desenvolvimento intelectual e 1 da área de desenvolvimento
social ainda tem de alcançar 1 trilho de cada uma das outras 3 áreas (espiritual, afectiva e de carácter) antes de
fechar a primeira etapa.
b) caso tenha 7 trilhos alcançados (em percursos diferentes) está na 2ª etapa e escolhe mais 5 trilhos para a
completar.
Estudo de caso:
No caso de a Alcateia receber um aspirante com 9 anos, a equipa de animação deverá realizar um
diagnóstico formal e, caso seja necessário, recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito
(preferencialmente na presença de dois dirigentes da Unidade). Após o diagnóstico surgem 2 hipóteses:
- Cumpre todos os trilhos educativos dos lobitos e passa a ser aspirante nos Exploradores. Esta opção
tem de ser muito bem equacionada, já que pode ser traumático para o aspirante ir para os exploradores
se tiver todos os amigos na Alcateia e se encontrar no 4º ano de escolaridade.
- Não cumpre todos os trilhos educativos dos lobitos e fica como aspirante na Alcateia, inicia a sua
adesão e após a promessa será colocado na etapa de progresso de acordo com os trilhos já
alcançados (tal como explicado acima no reconhecimento do progresso pessoal).
Se não alcançou todos os trilhos da Alcateia, é provável que o aspirante já não tenha tempo para o
conseguir antes de passar de Secção. Nesse sentido, o Chefe de Alcateia deverá informar o Chefe do
Grupo Explorador das necessidades de desenvolvimento em áreas específicas. Na nova Secção o Chefe
deverá ter em consideração estas necessidades no percurso individual do adolescente. Atenção que os
trilhos não alcançados nos lobitos não transitam e acumulam com os trilhos dos Exploradores – apenas
são tidas em consideração as necessidades na escolha dos primeiros trilhos no Grupo Explorador.
1- Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes de cada sessão – Pode também ser
usada como diagnóstico (Ver Anexo 3 a-b).
Poderá ser preenchida (na totalidade ou parcialmente) com os pais, catequista, professor, etc. Poderá inclusive
valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e atitudes que
sirvam de exemplo. Se todos os intervenientes, ou a maioria (e em especial o próprio), considerar aquele trilho
57/86
adquirido, poderá ser validado, sem receio de ter de voltar a ele no próximo ano, se se reconhecer essa
necessidade.
2- A entrevista com o Chefe de Unidade ou Adjunto é um momento de reflexão, conhecimento e crescimento
muito importante, aumentando essa importância à medida que aumenta a idade do lobito. Para o dirigente, é
uma oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele lobito. Para a criança é uma experiência única de
se conhecer melhor e ver reconhecido o seu valor. É uma oportunidade para validar trilhos, mas também para
definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas de os implementar.
3- O Jogo: os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiências de aprendizagem activa, constituem
oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer (ver recursos no site do CNE, por
exemplo).
Esquema resumo
Transição
Não; é aspirante Sim
entre sistemas
de progresso
?
Diagnóstico com
base no
Não Idade igual à Sim conhecimento
de entrada na adquirido
secção?
Diagnóstico formal
Sem diagnóstico
junto dos pais.
inicial formal.
Adesão.
Adesão
Observação
directa ao longo
da adesão.
Não
Pelo menos Sim
1 trilho de cada
área?
Etapa 1
Não
Pelo menos Sim
2 trilhos de
cada área?
Etapa 2 Etapa 3
Não
Aspirante tem Sim
9 anos e tem
18 trilhos?
Passa para os
Fica na Alcateia
exploradores
Adesão
No caso dos Lobitos, o aspirante recebe uma insígnia de adesão no seu início e passa a chamar-se “Pata-tenra”.
O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do aspirante sobre como funciona a unidade,
como se vive o dia-a-dia das actividades típicas, qual é a mística e a simbologia e quais são os compromissos que se
espera de um lobito. É com base nessa tomada de consciência individual que cada aspirante toma, por si, a decisão de
aderir à alcateia ou não.
58/86
O aspirante deve, durante a adesão, conhecer a organização da alcateia e dos bandos, a sua mística e a sua
simbologia. Deve conhecer o patrono, o seu percurso de vida e o exemplo que ele constitui para o lobito.
Durante a adesão, o aspirante deve participar no quotidiano do bando e da alcateia. Deve ainda participar activamente
numa caçada, com duração entre um e dois meses. O objectivo é que conviva de perto com a aplicação do método a
uma actividade típica da secção.
Para além disto, é durante a adesão que o aspirante toma conhecimento das áreas de desenvolvimento (“os Bichos da
Selva que lhe vão ensinar coisas”) e dos trilhos educativos (“trilhos da Selva por onde ele vai andar”). Nos Lobitos, as
áreas de desenvolvimento e os trilhos educativos estão recodificadas por forma a estarem mais próximos do imaginário
dos Lobitos. A cada área está associado um personagem do livro da selva. Cada trilho está convertido numa acção que
esse animal desempenha, como segue:
Durante a fase de integração, cada lobito irá viver esta nova experiência de forma muito pessoal – a adaptação a novas
pessoas e a novas regras podem, por isso, resultar em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados. Por esta
razão, a duração da adesão deverá ser adaptada ao aspirante (cada indivíduo necessitará de tempo diferenciado para
tomar a sua decisão de aderir). No entanto, sugere-se que não ultrapasse os 4 meses.
Pretende-se, nesta fase de adesão, que o aspirante não apenas apreenda alguns conhecimentos básicos, mas também
que contacte e reflicta sobre o compromisso que deverá assumir formalmente na sua Promessa. Com base em
dinâmicas propostas, deverá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a
sua decisão de aderir ou não à Alcateia.
Sempre com o objectivo de colocar a criança no centro da acção pedagógica, deverá ser em primeiro lugar a criança a
reconhecer que gosta de estar na Alcateia e que quer fazer a sua promessa, assumindo o seu compromisso perante a
Alcateia.
Validação da Promessa
A validação do andamento da adesão dos aspirantes deve ser feita nos conselhos de guias, nomeadamente no que
toca à vivência no bando, na alcateia e nas actividades típicas. A alcateia deve também validar a decisão de fazer a
promessa do aspirante, com base em proposta dos guias em Conselho de Alcateia.
59/86
Relação educativa
Nesta vertente foi reforçado o papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos guias e do Conselho
de Guias no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos, de uma forma
muito simples e orientada.
O Conselho de Guias será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas com o
progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de progresso.
Esta abordagem implicará naturalmente o suporte e a orientação por parte da equipa de animação tendo
em conta a autonomia limitada dos lobitos, não devendo no entanto substituí-los nas tomadas de decisão,
mas sim ajudá-los a emitir opiniões e a tomar decisões em conjunto.
A promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser
individualizada e marcada durante os 2 meses seguintes ao da decisão de adesão. Os aspirantes podem assumir o seu
compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação da alcateia.
Será também nesta fase que o lobito irá conhecer o que se espera dele quando aderir formalmente à Alcateia. Através
do diálogo, e tendo em conta o diagnóstico inicial, a equipa de animação terá de ajudar o lobito a escolher o seu
primeiro percurso de progresso.
Em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de compromisso pessoal, a insígnia
de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa, tal como vem sucedendo actualmente. Corresponde ao
compromisso assumido pelo lobito em procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a
atingir os objectivos educativos da Secção
No caso dos Lobitos, os nomes propostos para as etapas de progresso são “Lobo Valente”, “Lobo Cortês” e “Lobo
Amigo”. A insígnia deve ir acumulando os nomes das insígnias anteriores; assim, à medida que o lobito vai
progredindo, não se vai esquecendo do valor que deve procurar atingir nem se esquece dos anteriores. Tal como as
áreas de desenvolvimento, as etapas também estão associadas ao imaginário da secção.
Assim, utilizou-se linguagem concreta e com uma simbologia própria (Pata-Tenra, por exemplo), valores (como a
Amizade) e ensinamentos presentes na História da Selva.
“Coração valente e língua cortês – disse –, levar-te-ão longe através da Selva, homenzinho.”
O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 73
60/86
Etapa do Lobo Valente
O início de uma nova pista arrasta consigo, por norma, o medo do desconhecido. Na idade dos lobitos, este
desconhecido toma diversas formas: são os chefes que não conhecem, as primeiras noites de acampamento, um grupo
de crianças desconhecido, espaços novos, etc. Máugli, que representa todos os lobitos, encara pela primeira vez a
Selva com toda a sua coragem. Assim, não manifesta nenhum medo, antes enfrenta de cabeça erguida a nova
realidade
“– Que pequenino! Que nuzinho e que ousado! – disse brandamente Mãe Loba. (…) –
Eia! Está a comer com os outros. Este é então um cachorro de homem. (…) Chegou
nu, de noite, só e esfomeado; todavia, não tinha medo!”
O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 16, 19
O distintivo de progresso da secção será ser tripartido, correspondendo cada parte a uma das etapas depois da Adesão.
Em cada parte encontra-se uma qualidade do lobito. Unidas, as três partes permitem a construção de uma cabeça de
lobo, símbolo da secção. Nesta etapa, o distintivo revela a parte de cima da cabeça do lobo, onde está o cérebro e
consequentemente onde se controla o medo e onde se trabalha o auto-domínio.
O distintivo desta etapa revela o focinho do lobo, onde está a boca, com a qual temos de ter cuidado para não
faltarmos ao respeito a ninguém.
61/86
“Uma mulher – era Messua – atravessou a correr para a manada e gritou: - Ó filho, filho!
Dizem que és bruxo, que podes tornar-te em qualquer bicho que queiras. Não acredito, mas
vai-te daqui, senão matam-te (…).
- Volta para aqui, Messua! – clamava a turba. – Volta, senão matamos-te à pedrada.
Máugli soltou um riso breve e desdenhoso porque uma pedra lhe acertara. – (…) Não sou
bruxo nenhum, Messua. Adeus. (…)
Girou com os calcanhares e afastou-se com o Lobo Solitário, e, olhando para as estrelas
sentiu-se contente. – Para mim acabou-se o dormir dentro de armadilhas, Àquêlà.
Peguemos na pele de Xer Cane e vamo-nos. Não, não faremos mal à aldeia, porque
Messua foi boa para mim.”
O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, pp. 103-104
O distintivo desta etapa revela o pescoço do lobo, que liga a cabeça ao coração: é neste encontro entre a vontade e os
sentimentos que os lobitos são capazes de ser amigos de todos, ajudando-os em todas as ocasiões.
No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objectivos definidos para os trilhos e
estes para as áreas de desenvolvimento.
A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com base das 3 vertentes do saber: o
saber saber, o saber fazer e o saber ser.
Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar o nível de conhecimentos, competências e atitudes
que a criança já dominava.
Exemplificando: nesta proposta, pretende-se, num dos objectivos, que o rapaz ou a rapariga
sejam capazes de jogar um jogo em equipa. Se o rapaz ou a rapariga já praticam regularmente
um desporto de equipa, o objectivo está cumprido. O progresso será então tentar desenvolver
outras atitudes que levem a atingir outros objectivos, porque este está cumprido.
Cada uma das 3 etapas de progresso será variável e compõe-se da seguinte forma:
- Tem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual e social.
- Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos.
- Cada trilho educativo contém 1 ou mais objectivos educativos.
Cada lobito constrói a sua etapa de progresso, seleccionando 1 trilho de cada uma das diferentes áreas de
desenvolvimento
Por exemplo: um lobito, após a sua adesão, pode seleccionar os seguintes trilhos: sensibilidade e
relacionamento (área afectiva), autonomia (área do carácter), vivência (área espiritual), desempenho
(área física), procura do saber (área intelectual) e exercício activo da cidadania (área social). Para
ele, a combinação destes 6 trilhos e respectivos objectivos educativos constitui a sua primeira etapa,
a etapa do Lobo Valente. Um outro lobito, que já vai para a 2ª etapa, pode querer seleccionar estes
mesmos trilhos, mas, no seu caso, eles constituirão a etapa do Lobo Cortês.
62/86
A liberdade de escolha compete ao lobito. No entanto, o Àquêlá desempenha aqui um papel importante, a 2 níveis:
- No diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o lobito já detém e que o ajudam a seleccionar os
trilhos educativos que irão constituir as suas etapas;
- Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos
educativos como atingidos.
Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhados no seio da alcateia e do bando no desenrolar do dia-a-dia
e das fases da vivência das caçadas, como se exemplifica no Anexo 4.
As oportunidades educativas
Para atingir os objectivos de cada etapa, o lobito tem de fazer algumas actividades que lhe permitam crescer e
desenvolver-se. A essas actividades chamamos oportunidades educativas. Elas permitem que cada criança viva
experiências enriquecedoras e conduzem ao desenvolvimento pessoal.
Estas oportunidades não surgem apenas na sede: os lobitos podem ainda adquirir conhecimentos, competências e
atitudes na sua vivência escolar, catequética, nos clubes a que pertença, equipas de outros organismos, etc. A ideia é
o chefe de unidade verificar esses conhecimentos, competências e atitudes, sem que o lobito tenha que as repetir,
necessariamente.
O progresso faz-se, assim, através de oportunidades educativas que o nosso método, com as suas 7 maravilhas,
oferece. Deixam assim de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem. Passa a
fazer sentido dizer-se que “o lobito deu provas de” (porque isso foi observado em conhecimentos, competências e
atitudes) em vez de “o lobito prestou provas” (porque realizou uma determinada acção prevista num sistema de
progresso com provas especificadas).
As oportunidades educativas contribuem para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e
progressiva. Isto significa que não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade e o alcançar de
um objectivo educativo. Mediante a avaliação do desenvolvimento da criança – e não da realização ou não da
oportunidade educativa – poderá ser necessário escolher novas oportunidades educativas e insistir na aquisição de
novos conhecimentos, competências ou atitudes.
Na realidade, tudo o que os lobitos fazem dentro e fora da Alcateia são oportunidades educativas, na medida em que
os ajuda a alcançar os objectivos educativos da Secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento
pessoal.
Para auxiliar os dirigentes a encontrar a melhor forma de levar os lobitos a atingir os seus objectivos educativos, foram
associadas algumas oportunidades educativas a cada objectivo educativo. Trata-se de meras sugestões que podem
ser adaptadas e “negociadas” com os lobitos. Pretende-se assim criar condições para acolher novas propostas e
sugestões de oportunidades educativas, potenciando desta forma a participação das crianças no processo.
No Anexo 7 podem encontrar os quadros com a lista das oportunidades educativas propostas para cada
objectivo educativo da I Secção.
Cargos e funções
O desempenho de um cargo no seio do bando ou de uma função na caçada constitui uma oportunidade educativa
para progredir. Isto porque esse exercício de cargos e funções privilegiam o crescimento em determinadas áreas de
desenvolvimento, como pode ser ilustrado no seguinte quadro e no Anexo 5.
63/86
Quadro ilustrativo de cargos e de funções
A descrição das tarefas e responsabilidades em cada um destes cargos está apresentada nos Cadernos de Função e
no Caderno do Guia.
Competências
Avaliação
Tal como no diagnóstico inicial, a avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes nos lobitos passa igualmente
por uma ligação mais estreita entre os chefes e os pais, no sentido de fazer uso da observação em casa feita por
estes. Novos “agentes” foram considerados, assim, na fase de avaliação do progresso pessoal. Partindo do
pressuposto que tudo o que os lobitos fazem dentro e fora da Alcateia contribui para o seu desenvolvimento e que
existem oportunidades educativas a ser concretizados em outros “ambientes educativos” tal como a família, a escola,
o clube desportivo, etc., em alguns casos a avaliação do seu progresso pessoal poderá ser feita também pelos pais,
professores, etc.
Esta avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos
concluídos deve ser feita de forma contínua, ao longo da vivência escutista da criança. Nos lobitos, ela deverá ser
feita pelo chefe, que vai questionando o lobito sobre os conhecimentos, competências e atitudes que este adquiriu,
verificando se eles são uma indicação de que um determinado objectivo educativo está concluído ou se, pelo
64/86
contrário, o lobito deverá esforçar-se mais para concluir o objectivo. Ver Anexo 3 a-b.
Esta situação, aliada ao facto de o novo sistema de progresso se basear numa escolha individualizada de percursos,
irá implicar uma relação mais personalizada de cada um dos elementos da equipa de animação com um determinado
número de lobitos (preferencialmente 1 por bando, ficando o Àquêlá de fora), de modo a poder acompanhar
devidamente o seu desenvolvimento pessoal.
Avaliação
Num sistema orientado por objectivos educativos os mesmos não podem ser controlados como se fossem
“provas” ou “exames”. Os objectivos educativos avaliam-se mediante a observação do progresso das
crianças durante um percurso prolongado de tempo.
Neste sentido foram identificados no quadro em Anexo 2 os conhecimentos, competências e atitudes que
devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos lobitos. Quando estes forem
observados na criança e avaliados pela própria, pelos “pares” e pela equipa de animação, o Conselho de
Guias poderá reconhecer que o lobito alcançou aquele objectivo educativo.
De forma a ajudar a equipa de animação a conservar um registo de observação dos conhecimentos,
competências e atitudes de cada um dos lobitos foi criada uma ferramenta de suporte, que podem
encontrar no Anexo 3 a-b.
Reconhecimento
O reconhecimento de que um trilho ou uma etapa de progresso foram concluídos deve ser feito na fase da celebração
das actividades típicas.
Este reconhecimento não será registado num cartão de progresso, mas sim no caderno de caça do lobito (um caderno
que tanto é de suporte ao progresso como um “diário” de vivências pessoais na alcateia), que conterá uma página
central com uma ilustração relacionada com a história da Selva e contendo as personagens associadas às áreas
educativas. À medida que os lobitos concluam os objectivos de um determinado trilho, é-lhes entregue um autocolante
para que seja colado nessa página central.
Quando o lobito terminar a sua última etapa, ou seja, quando completar todos os objectivos educativos definidos para a
I Secção, irá receber uma anilha com o símbolo da Secção, de forma a ser reconhecido que completou a totalidade do
percurso educativo proposto aos lobitos. A anilha poderá ser usada até receber a 1ª insígnia de progresso enquanto
explorador.
Passagem de Secção
Para os lobitos mais velhos o último trimestre do seu último ano na Alcateia será já um período de adesão informal aos
exploradores, como será apresentado mais à frente.
Como em qualquer processo de transição, este pode ser assustador para o lobito, mas não é isso que se quer. O que
se pretende é que seja ao mesmo tempo suave e desafiante. Para que isto aconteça, é necessária uma conversa entre
o Chefe de Alcateia e o Chefe do Grupo Explorador aquando do diagnóstico inicial, no sentido de identificar algumas
áreas em que o noviço tenha mais dificuldades e de compreender as particularidades de cada lobito que vai passar. A
adesão informal aos exploradores também pode ajudar a suavizar o processo. O objectivo é promover uma
aproximação aos exploradores, que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a colocar os lobitos que passam para os
exploradores mais à-vontade, promovendo uma integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do
início da adesão formal.
65/86
Adesão informal aos exploradores
A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista na Alcateia. Neste último trimestre, o
lobito continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da alcateia, mas deve-se ir familiarizando, de forma
informal, com o grupo de exploradores. Para que isto aconteça, os guias do grupo explorador devem convidar o lobito a
participar numa ou duas actividades de uma Aventura, de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do
grupo explorador, conhecer as patrulhas, os seus guias, os chefes e a cabana. Tudo informalmente, sem pressões. A
ideia é ir observando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.
A Passagem
Depois, no início do ano escutista seguinte, o lobito passará para o Grupo Explorador. O momento da passagem nem
sempre é de festa para os lobitos: muitos há que temem deixar a Família Feliz. A expectativa é grande e o receio do que
vão encontrar é algum. Por essa razão, a cerimónia de passagem pode ser de grande importância: a forma como o
elemento vai ser recebido na Secção seguinte pode marcar positiva ou negativamente a sua integração (mesmo que já
tenha havido uma adesão informal) e consequentemente a sua progressão.
Será então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando esta data um momento marcante na
vida de um escuteiro. No caso dos lobitos, será interessante criar um cerimonial de passagem de secção, onde esteja
patente o seu imaginário. Por exemplo, na passagem da I para a II, porque não criar um cerimonial que assente na ida
de Maugli para a Aldeia dos Homens? Neste processo, o trabalho conjunto das Equipas de Animação intervenientes é
fundamental!
“Bálu interrompeu-os:
- Eu ensinei-te a Lei. Compete-me falar – disse – e, embora não possa agora ver
os Rochedos à minha frente, vejo longe. Rãzinha, segue a tua própria pista, faz o
teu covil com o teu próprio Sangue, a tua Alcateia, a tua Gente. Mas quando
houver necessidade de pata, dente, e olho ou de recado levado rapidamente de
noite, lembra-te, Senhor da Selva, a Selva está às tuas ordens.”
O Segundo Livro da Selva, Correrias da Primavera, pp. 202
Nota: Ao integrar-se na segunda Secção, o lobito não usa qualquer insígnia de ligação.
7 – A Relação Educativa
“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do
chefe e do modo como ele os aplica.”
A presença do Adulto constitui elemento essencial de qualquer comunidade, pedagogia ou metodologia educativa,
pois não há educação sem a presença do Adulto. Já Fernando Savater dizia que, para se “funcionar
educativamente, (…) é imprescindível que alguém (…) se resigne a ser adulto” [in O Valor de Educar].
66/86
No Escutismo, o Adulto é o garante da educação integral dos jovens da sua Unidade; a sua missão não é mais do que
educar, e educar através da aplicação do Método criado por Baden-Powell para os valores por ele propostos. No caso
particular do Corpo Nacional de Escutas, esta aplicação do Método e a vivência dos valores decorre à luz do
Evangelho de Jesus Cristo, sendo o testemunho cristão do Adulto elemento fundamental.
Os Animadores responsáveis pela implementação do programa educativo asseguram que cada criança e jovem tem
oportunidades para se desenvolver nas diversas áreas da sua personalidade (física, intelectual, social, espiritual,
afectiva e carácter). Tal ocorre por via da organização de actividades adaptadas às necessidades, aspirações e
capacidades dos jovens de cada idade, determinando objectivos educativos relevantes e estabelecendo relações de
suporte entre os adultos e os jovens, assim como entre estes.
in RAP – User’s Guide, p125
A intervenção do Adulto no Escutismo é, porém, por princípio subsidiária; ou seja, a acção pedagógica – para além de
voltada para o jovem – deve estar centrada no próprio jovem, chamado a ser, pela vivência do ‘Jogo Escutista’,
protagonista do seu auto-desenvolvimento. O Adulto, na medida da idade e maturidade dos jovens, é chamado a
recuar na intervenção, competindo-lhe, no entanto, sempre assegurar a existência de um ambiente seguro e propício
a uma aprendizagem do tipo aprender-fazendo, bem como da conformidade da vida da Unidade com os ideais e
valores com que o Escutismo se identifica e se propõe promover. Cabe, assim, ao Adulto, a humilde postura de João
Baptista: “Ele é que deve crescer, e eu diminuir” (Jo, 3, 30).
Ausência Pedagógica
Se a presença do Adulto é fundamental no Escutismo, a ausência também o é. O Adulto tem de dar espaço aos
jovens para que estes possam crescer e desenvolver a sua autonomia.
Ausências – mesmo físicas, não apenas das reuniões mas também das próprias actividades – que devem estar de
acordo com a idade e maturidade dos jovens: se com os Lobitos pode ser o jogo de pista vigiado à distância, com os
Exploradores já são as etapas do raid ou uma actividade de angariação de fundos; nos Pioneiros alarga-se o âmbito
da autonomia e nos Caminheiros pode até – se assim for considerado adequado – ser a total ausência (mas não
desconhecimento ou falta de informação) do Dirigente no hike ou no acampamento da equipa.
Ausências que não são vazio, mas expressão de uma intencionalidade pedagógica.
–O Adulto no Escutismo
Ser Adulto no Escutismo não pode resultar apenas de um – ainda que bem-intencionado – voluntarismo, nem ser
encarado como algo apenas acessível a um pretenso escol de super-homens, ou super-mulheres, com critérios
externos ao Movimento.
Ser Adulto no Escutismo deve resultar de um encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o cumprimento de
requisitos – o Perfil – estabelecidos pela associação, encontro que terá de se consubstanciar num compromisso
subsequente a uma formação inicial, formação a que deverá ser dada continuidade ao longo do ciclo de vida na
associação.
67/86
Em termos gerais...
68/86
Face ao Método escutista…
O Dirigente do CNE é um Adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de trabalhar na implementação e
desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquanto Educador. Ao assumir este compromisso, assume-se uma
Missão de Serviço com as devidas implicações – em termos de responsabilidades e de deveres – daí resultantes.
A Missão do Dirigente tem contornos e conteúdos definidos, e procedimentos próprios, os quais importa explicitar;
assim, a Missão do Dirigente desdobra-se em atribuições [conteúdos] e concretiza-se segundo determinadas formas
69/86
de actuação [métodos].
ARQUITECTAR
Organizar a Unidade garantindo a integração e funcionamento de todos os elementos do método;
Adaptar a aplicação do método à realidade sócio-cultural local;
Ajustar a organização ao enquadramento comunitário, designadamente paroquial;
Dotar os guias e chefes de equipa de competências e espaço para o exercício pleno da sua actividade,
remetendo-se para um papel supervisor e subsidiário;
Garantir a gestão de equilíbrios na organização e composição das subunidades, designadamente nos momentos
de entrada e saída de elementos.
GUARDAR A MISSÃO
Garantir o regular funcionamento dos elementos do método;
Gerar e garantir condições de funcionamento da vida de grupo;
Ser exemplo e modelo de vida.
ADMINISTRAR A VISÃO
Lançar desafios de desenvolvimento da Unidade;
Fazer convergir horizontes e perspectivas pessoais e das subunidades;
Promover a adesão e a perseverança em torno do caminho.
MOTIVAR
Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada jovem;
Promover, de forma autêntica e não manipulativa, o entusiasmo;
Sugerir vias de exploração e de busca de soluções.
GERAR COMPROMISSOS
Incentivar a autonomia na tomada de decisões;
Promover consciência e consistência na tomada de decisões;
Apelar ao sentido das opções e à coerência para com as mesmas;
Manifestar reciprocidade nos compromissos.
70/86
EDUCAR
Estimular a pró-actividade dos jovens;
Ajudar a explorar criativa e realisticamente a tensão entre os sonhos e a realidade;
Fomentar uma cultura de progressão e superação pessoal.
Promover, simultaneamente, a integração na comunidade e a autonomia pessoal;
Educar é, assim, a atribuição nobre de um Dirigente; contudo não pode a mesma ser levada a bom porto
isoladamente, sem o concurso das demais.
CONHECER OS JOVENS
Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da Secção onde presta serviço;
Conhecer cada jovem, a sua personalidade e a sua realidade.
71/86
AJUDAR OS OUTROS A CRECER
Levar os jovens no estabelecimento de objectivos pessoais;
Levar os jovens a perseverar face aos desafios e aos objectivos pessoais;
Levar os jovens a conhecer e gerir as respectivas limitações;
Levar os jovens a potenciar os respectivos talentos e capacidades;
Levar os jovens a aprender a ultrapassar os erros e falhanços;
Levar os jovens a partilhar consigo o seu desenvolvimento pessoal.
TRABALHAR EM EQUIPA
Aceitar e promover a partilha de tarefas;
Aceitar partilhar capacidades e resultados;
Aceitar e valorizar as diferenças dos outros;
Aceitar e valorizar a decisão colegial;
Aceitar compromissos que conduzam à convergência de pontos de vista.
TER TEMPO
Para estar com os jovens;
Para corresponder às exigências da função;
Para acompanhar semanalmente a Unidade;
Para comprometer-se por períodos plurianuais.
De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do Dirigente podem ser esquematizadas, como um
72/86
“8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão – se perspectiva quer do ponto de vista das suas
atribuições – “o quê…” – como das suas formas de actuação – “como”.
ADMINISTRAR A VISÃO
MOTIVAR
GUARDAR A MISSÃO
O QUÊ…
EDUCA
PERCEPCIONAR E
CONHECER OS JOVENS CONTROLAR O RISCO
COMO…
QUERER APRENDER E
CRESCER COMO PESSOA TRABALHAR EM EQUIPA
AJUDAR OUTROS A
CRESCER
73/86
B – Interacção Educativa
Relação Adulto / Jovem
“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa alavanca para o
seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa sobre ele uma grande
responsabilidade. Os rapazes estão sempre prontos a apanhar as menores
manifestações da sua maneira de ser, sejam elas virtudes ou defeitos. O seu estilo
torna-se o deles; a afabilidade ou a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo
impaciente, o domínio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à
moral, não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.”
Aquilo que cada um é e como é, a maneira como age e lida com os assuntos, a postura perante a vida e a sociedade,
são tudo elementos comportamentais seguramente observados e registados, com minúcia e perspicácia, pelos jovens
Escuteiros.
A tendência normal é o comportamento do Dirigente influenciar, seja pela positiva seja pela negativa, o
comportamento dos jovens, pelo que este deve ter ser presente que lhes serve de exemplo.
É fundamental que o Dirigente se adapte à Secção ao serviço da qual se encontra, devendo o seu comportamento ser
modelado de acordo com a idade e maturidade dos elementos da Secção, dos jovens com quem interage.
ENVOLVIMENTO DO ADULTO
AUTONOMIA DO JOVEM
A finalidade do Escutismo é que o jovem se desenvolva em autonomia, logo o papel do Dirigente não pode ser senão
o da promoção dessa autonomia, sendo que esta relação entre a autonomia do jovem e o envolvimento, ou a
74/86
intervenção, do Dirigente deve perspectivar-se de uma forma dinâmica, progressivamente decrescente e
qualitativamente diferenciada, ao longo do percurso educativo do jovem através das Secções.
Dependendo da Secção, há maior ou menor necessidade de “espaço”, mais ou menos graus de liberdade, formas
diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. Mas em todas as Secções é fundamental a
permanência e a sensação de presença do Dirigente, que transmite segurança, que “está lá” sempre que for preciso e
para o que for preciso, que está com eles e com eles caminha nos bons (incentivando) e nos maus (orientando)
momentos.
Para que o Dirigente consiga atingir estes objectivos, é necessário que conheça os seus elementos, que crie com eles
relações de proximidade e afinidade. Interessa ser amigo e não ser “o chefe”, o General, aquele que apenas ordena.
Mas ser amigo não representa nem implica qualquer demissão da sua dimensão adulta e educativa. O Dirigente não é
o amigalhaço do jovem, o amigo da sua idade, é o seu amigo adulto.
No Escutismo, o Dirigente tem de saber misturar-se com os jovens, sem nunca se deixar confundir com os mesmos,
equilíbrio que é a chave de ouro da relação educativa escutista entre jovens e adultos.
Estilo de Animação
O estilo de animação de um Dirigente, isto é a forma como interage com os jovens, não pode ser abordado de uma
forma meramente individual, mas tem de ser visto na perspectiva da missão que quis, quer, abraçar. O estilo indvidual
de animação é um ponto de partida, não uma mera constatação, pois o Escutismo – e neste a relação educativa
adulto / jovem – não se compadece com o exercício reiterado de qualquer estilo de animação, isto é há um estilo de
animação próprio intrínseco à relação educativa adulto / jovem no Escutismo.
E esse estilo de animação é o democrático ou participativo, em que o Dirigente deixa aos jovens o máximo de espaço
75/86
para imaginar, decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar, isto é, faculta aos jovens o espaço / ambiente
necessário para que estes possam viver e jogar o jogo escutista.
Assim, deixar aos jovens o máximo de espaço significa, por um lado, que o Dirigente não pode ser autoritário,
directivo ou super-protector, não deixando aos jovens espaço e liberdade para jogar. Uma estrutura rígida pré-
determinada e uma atitude dirigista impossibilitam a existência de oportunidade para que os jovens exerçam a sua
liberdade e desenvolvam a sua autonomia – o jogo escutista não é, assim, possível.
Por outro lado, o máximo não significa todo o espaço, pois a imensidão de espaço e – consequente – falta de
enquadramento e de referências que constitui uma atitude libertária do estilo laissez-faire, impede igualmente o jogo,
pois não há jogo sem enquadramento, não há jogo sem regras. O desenvolvimento da autonomia responsável ocorre
no encontro – e confronto – dos dinamismos do indivíduo com uma realidade; a inexistência desta sob uma forma
estruturada impede tal desenvolvimento.
Ou seja, o Dirigente tem de garantir aos jovens um espaço de liberdade e iniciativa, mas um espaço onde existem um
enquadramento e regras; só um espaço com todas estas características – que se consubstanciam nos elementos do
método escutista atrás apresentadas – permite jogar o jogo escutista.
76/86
Em conclusão, o papel do Dirigente na relação educativa escutista é o de garante da presença e regular
funcionamento dos elementos constituintes do método escutista, o garante de enquadramento e ambiente para o jogo
escutista.
O papel do Animador é animar as actividades, enriquecê-las pedagogicamente, nunca esquecendo que da forma e da
profundidade desse enriquecimento depende não só a satisfação dos jovens, mas também o seu desenvolvimento.
Para isso, deve o Animador procurar alargar o mais possível os horizontes da actividade, pois quanto mais alargados
forem os objectivos e maior for a adesão e motivação dos jovens, maiores oportunidades educativas lhes são
proporcionadas.
Antes de mais importa relembrar que as actividades escutistas são um meio e não um fim em si mesmo. O fim é o
auto-desenvolvimento do jovem e a sua identificação com os valores próprios do Escutismo, fim esse que é alcançado
pela vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas. É precisamente no enriquecimento das
actividades que se aplica a função motivadora do Animador.
Despertar a imaginação;
Valorizar a actividade na sua globalidade, “Soprar” ideias;
nunca alterando a sua ideia central; Sugerir iniciativas;
“limar arestas” (organização e Espicaçar o entusiasmo;
planificação) para aumentar as garantias Procurar a dose certa de
de êxito. atracção, aventura e emoção.
77/86
Impregnar a actividade com valores
escutistas, com a Mística da Secção e
com o imaginário do Projecto que se
quer.
78/86
“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa”
Ecl 3, 1a
Há que ter sempre presente que as actividades devem ser adequadas às idades, estando-lhes
subjacente um percurso evolutivo em matéria de esforço e exigência, e até de apreensão, avaliação e
gestão do risco que lhes está subjacente.
Assim, deve o Dirigente deve saber adequar a ‘fasquia’ da tipologia e da ousadia que se atribui às
actividades, sob pena até de se distorcer e confundir – perante o jovem – a identidade pedagógica
das secções.
O Adulto Animador da Fé
No Corpo Nacional de Escutas, a Animação da Fé faz-se, em paralelo com o percurso catequético de cada criança e
jovem, pela promoção de um ambiente de convivência e partilha, de momentos de descoberta e contemplação, de
oportunidades de formação e de acção caritativa, de vivência eucarística e sacramental, de oração. Tudo isto, de uma
79/86
forma escutista, integrada no processo educativo, num prisma de desenvolvimento pessoal e num ambiente de
vivência comunitária.
A Animação da Fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos o Assistente, com um papel
preponderante na orientação pastoral e na promoção da eclesialidade, a quem cumpre ser o guia, o garante, o
‘facilitador’; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa medida da sua idade e maturidade, participa, procura,
explora, e se compromete.
Entre estes, está o Dirigente, a quem cumpre ser aquele que quotidianamente propõe, que convida a caminhar
conjuntamente, que testemunha.
Mas, para que tal aconteça com autenticidade e sentido, terá ele também de ser aquele que procura – ele próprio –
crescer no caminho, que procura – ele próprio – crescer na fé, e isso não acontece sem formação, sem vivência
eucarística e sacramental, sem acção caritativa, sem oração.
O testemunho autêntico de vida cristã é a mais pedagógica das ferramentas ao serviço do Dirigente do CNE enquanto
Animador da Fé.
Na Unidade, ao Dirigente cumpre garantir que em todas as iniciativas e actividades são cumpridas as normas de
segurança legais ou em vigor na Associação, bem como excluídos comportamentos e opções que acarretam riscos
irrazoáveis e/ou não devidamente acautelados.
Neste âmbito, cumpre realçar que, em termos de responsabilidade jurídica, os jovens se encontram confiados aos
adultos que os acompanham, competindo a estes a permanente avaliação e gestão do risco inerente à prática de
actividades. O grau de segurança de uma actividade, para além de eventuais preceitos legais, deve acautelar de
forma adequada – isto é, sem negligência facilitista nem asfixiante excesso de zelo – os riscos a esta intrínsecos.
81/86
Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos jovens nestes aspectos é crucial no sentido
da respectiva formação pessoal em termos de autonomia e responsabilidade, incluindo a avaliação e gestão do risco,
devendo ocorrer – naturalmente – de acordo com a idade e maturidade dos jovens, sendo que é do Dirigente –
independentemente de idades e maturidades – a palavra e responsabilidade últimas.
A segurança nas actividades não é um espartilho ou um impedimento, é – e assim deve ser encarada – uma
excelente oportunidade educativa.
Concomitantemente com a segurança, cumpre igualmente ao Dirigente estar atento ao bem-estar físico, psicológico e
anímico dos jovens que lhe estão confiados, tomando ou providenciando, sempre que se justifique, as necessárias
medidas preventivas ou restabelecedoras. Um olhar observador e uma intervenção formativa devem sempre recair
sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso ou a saúde, devendo o Dirigente proporcionar formas de
reflexão, análise e prevenção que sejam, progressivamente, protagonizados pelos próprios jovens.
82/86
o Dirigente, e deve ser encarado sem aventureirismos, insensibilidade ou pieguice.
D - Coeducação
A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando se começou a falar de
coeducação apenas se considerasse as diferenças de género, hoje em dia, a coeducação contempla outro tipo de
heterogeneidade: idade, nível sócio-económico, condição física, cultura, etc. Assim, podemos considerar a coeducação
como a educação em conjunto de indivíduos distintos.
Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo deve visar a heterogeneidade e
o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se encontra não a desigualdade mas sim a verdadeira riqueza
do mundo.
A prática da coeducação promove a complementaridade, a integração, a inclusão e a não discriminação servindo de
alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção, cooperação e respeito mútuo.
A coeducação tem em atenção o escuteiro em si e o modo deste se relacionar com os outros, porque promover a
igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos indiferenciadamente, mas sim dar a cada um o que lhe
faz falta.
Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escutismo tem o papel importante de
esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar novas competências que enriquecem o escuteiro individualmente
e, em consequência, contribuem para uma nova sociedade com valores globais e não globalizantes.
Todas as crianças e jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o Escutismo deve ir.
As unidades devem ser coeducativas desde os escuteiros que a compõem até às Equipas de Animação. Devem estar
preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível do género, da cultura, da forma física ou outra,
proporcionando educação com vista à construção de uma sociedade mais multicultural e tolerante.
Ao utilizarmos a Coeducação na Alcateia, estamos a permitir que cada Lobito cresça de forma equilibrada,
compreenda a riqueza humana que o rodeia e aceite, pela sua própria experiência pessoal, as diferenças,
respeitando-as de forma integral, independentemente das imagens estereotipadas que já lhe foram inculcadas nos
primeiros anos de vida.
Assim, coeducar na Alcateia permite que cada Lobito:
84/86
• desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo que o respeito e a aceitação devem nortear o
relacionamento afectivo;
• estabeleça relações equilibradas com os outros, independentemente do sexo, idade, condição social…,
baseadas na ajuda e na partilha de todas as tarefas, para diluir os estereótipos que a sociedade impõe;
• aprenda a desenvolver atitudes de confiança, compreensão, aceitação e respeito de si mesmo e dos outros,
compreendendo que eventuais diferenças são motivo de riqueza e não de desprezo;
• desenvolva uma visão natural da diferença;
• escolha actividades baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social.
Os Dirigentes dos Lobitos sabem que a relação entre os sexos e a compreensão da diferença, nesta faixa etária, nem
sempre é fácil.
De facto, rapazes e raparigas apresentam, por norma, algumas características diferentes. Assim, por exemplo, as
meninas têm tendência para actividades mais estáticas (brincar com bonecas, pintar) e são psicologicamente mais
maduras, enquanto os meninos preferem actividades mais activas (jogar à bola, lutar) e gostam de se destacar, o que
os leva a serem muitas vezes considerados pelas meninas como agressivos, palermas e aldrabões. Nestas idades, as
crianças gostam de gozar e são, muitas vezes, cruéis perante a diferença.
Ora, esta situação facilmente provoca a rejeição entre sexos: é frequente meninos e meninas não gostarem uns dos
outros e preferirem relacionar-se apenas com crianças do seu sexo; afastamento de crianças de nível económico e
social diferente, porque não tem os mesmos brinquedos para trocar, ou porque não acompanham as conversas…
Este comportamento levanta alguns problemas na hora da aplicação da Coeducação. De facto, não é fácil desfazer
estereótipos quando há uma rejeição do que é diferente. No entanto, e porque a infância é um momento crucial para o
desenvolvimento da socialização, é importante que nesta fase as crianças compreendam que a partilha de actividades
entre todos só enriquece a sua vida.
A este nível, há algumas estratégias que podem ajudar os dirigentes a pôr em prática a Coeducação. São elas:
• Realizar com todos jogos variados que promovam o conhecimento pessoal, do outro sexo, de outras
realidades, da deficiência e que estimulem a solidariedade e a partilha:
- jogos que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impliquem minúcia manual (assim, as
meninas são incentivadas a serem mais activas e os meninos aprendem a desenvolver a paciência e a
perfeição);
- jogos e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis;
- jogos em que fiquem privados de um dos sentidos
- jogos em que fiquem a conhecer outras culturas
• Partilhar todas as tarefas, não em função do sexo, mas em função das habilidades pessoais;
• Permitir que todos assumam rotativamente os cargos dentro do bando;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, pobres e ricos, rurais e citadinos, que incutam valores
positivos;
85/86
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito e cooperação entre todos (reforço
positivo);
• Participar em actividades de serviço à comunidade (boa-acção do bando);
• Promover o mais possível, através da Lei e Máximas, valores como o respeito, a amizade, a solidariedade;
• Desenvolver a imagem das figuras do Livro da Selva femininas, em especial Racxa (a Mãe Loba) e Báguirà,
cujos papéis não são os que tradicionalmente se associam às mulheres: Racxa defende a família perante
Xer-Cane (por norma, o papel de defensor a família é do homem) e Báguirà tem um papel educativo activo
(ensina Máugli a caçar – o ensino mais passivo, das Leis da Selva, é reservado a Balu); ver que os animais
da selva são de espécies diferentes, mas são amigos e cooperam entre si;
• Desenvolver a imagem do Menino Jesus como exemplo de solidariedade, amizade e cooperação.
86/86