1) O documento discute o populismo penal e como ele tem influenciado a legislação penal brasileira nas últimas décadas, levando a um aumento das penas de forma desproporcional.
2) O autor realizou pesquisas no legislativo brasileiro e encontrou evidências de apelos emocionais e retóricos, ao invés de critérios de proporcionalidade, na aprovação de novas leis criminais.
3) Projetos de lei frequentemente não apresentam dados empíricos que sustentem a necessidade de p
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Atenção Ao Populismo Penal - Luís Wanderley Gazoto
1) O documento discute o populismo penal e como ele tem influenciado a legislação penal brasileira nas últimas décadas, levando a um aumento das penas de forma desproporcional.
2) O autor realizou pesquisas no legislativo brasileiro e encontrou evidências de apelos emocionais e retóricos, ao invés de critérios de proporcionalidade, na aprovação de novas leis criminais.
3) Projetos de lei frequentemente não apresentam dados empíricos que sustentem a necessidade de p
Título original
Atenção ao Populismo Penal - Luís Wanderley Gazoto
1) O documento discute o populismo penal e como ele tem influenciado a legislação penal brasileira nas últimas décadas, levando a um aumento das penas de forma desproporcional.
2) O autor realizou pesquisas no legislativo brasileiro e encontrou evidências de apelos emocionais e retóricos, ao invés de critérios de proporcionalidade, na aprovação de novas leis criminais.
3) Projetos de lei frequentemente não apresentam dados empíricos que sustentem a necessidade de p
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Atenção Ao Populismo Penal - Luís Wanderley Gazoto
1) O documento discute o populismo penal e como ele tem influenciado a legislação penal brasileira nas últimas décadas, levando a um aumento das penas de forma desproporcional.
2) O autor realizou pesquisas no legislativo brasileiro e encontrou evidências de apelos emocionais e retóricos, ao invés de critérios de proporcionalidade, na aprovação de novas leis criminais.
3) Projetos de lei frequentemente não apresentam dados empíricos que sustentem a necessidade de p
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Luís Wanderley Gazoto
Procurador Regional da República
Mestre em Direito (UnB), doutorando em Sociologia (UnB), Criminologia e Direito Penal (UPO-Sevilha) gazoto@prr1.mpf.gov.br
Atenção ao Populismo Penal
Se realizarmos um estudo histórico-evolutivo da legislação penal brasileira, veremos que, não obstante as particularidades do nosso «quase-liberalismo», o sistema penal que foi criado no Brasil com o Código Criminal de 1830 representou, relativamente à arcaica legislação portuguesa das Ordenações Filipinas, um grande avanço na direção de um direito penal justo e racional. Sessenta anos mais tarde, com a proclamação da República, muito embora tenha sido forte a influência das ideias do positivismo comteano no Governo, o Código Penal republicano (1890), discutido e aprovado pelo Congresso Nacional, preservando o caráter liberal do nosso direito penal, manteve a tendência de diminuição do rigor das penas, relativamente à legislação revogada. Entretanto, essa tendência se inverteu com o Código Penal do Estado Novo (1940), aprovado sem discussão parlamentar, por um governo ditatorial, influenciado por algumas ideias do positivismo criminológico. Ultrapassado o período da ditadura militar (1964-1985), era de se esperar que fosse retomado o processo de abrandamento e humanização das penas, porém, mesmo após a Constituição Federal de 1988, as sanções estão, cada vez mais e mais, rigorosas: algumas penas de reclusão dobraram, octuplicaram, duodecuplicaram …
Pesquisas dão conta de que esse fenômeno punitivista vem ocorrendo em
todo mundo ocidental. Perguntadas as razões, surgem algumas teses, dentre elas: 1) “nada mais normal” – alguns diriam –, pois, se o povo é punitivista (e também há pesquisas que o comprovam), e o Poder Legislativo deve representar o pensamento popular, leis mais duras seriam consequência da democracia (Democracy at Work); ou 2) pode ser que seja uma resposta às complexidades trazidas pelas rápidas mudanças do mundo contemporâneo e seus «perigos». Tais teses são bastante discutidas e podem ser fortemente refutadas – o povo não tem boa percepção dos riscos reais, pode ser facilmente manipulado ou influenciado, pesquisas de opinião podem ser mal formuladas ou dirigidas etc. –, mas uma terceira hipótese merece maior aproximação: o populismo penal. Atualmente, denomina-se «populista» todo o movimento ou doutrina que faz apelo de maneira exclusiva (ou quase) ao «povo» ou às «massas». Nesse contexto, se insere o «populismo penal», que é o emprego do populismo dentro do direito penal, mediante ações governamentais irracionais, puramente emotivas, de apelo popular, muitas vezes falaciosas, outras tantas maliciosas, as quais supostamente pretendem atender à consciência coletiva. O populismo penal tem como referência ético-política as representações sociais punitivas, que podem influenciar o poder legislativo, por duas maneiras principais: uma, na qual o parlamento pode estar, sinceramente, envolvido pela ideia punitiva – a isso denomino «populismo penal radical»; outra, na qual parlamentares podem estar se aproveitando de uma situação momentânea de clamor público por maior rigor penal, para angariar notoriedade, prestígio ou obter outros créditos políticos – situação a que denomino «populismo penal falacioso ou oportunista».
Em pesquisa que realizei no Poder Legislativo brasileiro, mormente das leis
criminais aprovadas no período de 1940 a junho de 2009, bem como dos projetos de leis criminais mais recentes do Congresso Nacional, encontrei: 1) o apelo exagerado, puramente retórico, do valor ético-moral da proteção estatal ao interesse em questão, mas sem nenhuma referência a critérios de proporcionalidade; 2) exposições dos motivos (manifestos) dos projetos de leis que quase sempre trazem como argumento a necessidade da repressão, justificada pela superveniência da gravidade do fato, e a utilidade da pena, como meio dissuasório/preventivo; não obstante, sem a apresentação de dados empíricos que possam sustentar suas posições; 3) não poucas vezes, os parlamentares deixaram expresso que suas preocupações decorrem de leituras de jornais e influência da mídia, em geral; 4) em projetos que envolvem o tema proteção de menores, mulheres, idosos e minorias é prática comum a criação de medidas extrapenais meramente programáticas, provavelmente ineficazes, mas que, concretamente, somente aumentam penas e incidências de aplicação de leis penais; tais projetos têm tido como autoras indiretas entidades e associações representativas de interesses desses segmentos sociais, tais como o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher e o Fórum de Entidades Negras do Rio Grande do Sul; 5) mais recentemente, houve uma maior focalização nos temas dos crimes praticados na direção de veículo automotor – mormente quando há embriaguez –, bem como na pedofilia, corrupção e infrações de menores; fatos que sempre ocorreram, mas que tiveram forte presença na mídia dos últimos anos; 6) vários (muitos) projetos penalizantes são de autoria de parlamentares oriundos de profissões ligadas à repressão criminal: policiais civis e militares e membros do Ministério Público.
Por isso, considerando a realidade histórica das últimas sete décadas, é
possível a conclusão de que entramos em uma espiral punitiva que não encontra freios nos princípios mais caros ao direito penal – proporcionalidade e racionalidade –, preteridos em nome de uma política penal populista/funcionalista, com a qual se esvazia quase todo o conteúdo ético do magistério punitivo do Estado.