Direito Penal II

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS

António Filipe Garcez José

Punitur quia peccatum est !!!!

DIREITO PENAL I
Universidade Autónoma de Lisboa
Ano lectivo 2005/2006 2ºsemestre
Aulas teóricas: …....................................Dr. Fernando Silva
Aulas práticas:………………........................Dra. Sónia Reis
Bibliografia : Manual de Direito Penal – Doutor Figueiredo Dias
Textos dos Drs. Rui Pereira, J. A. Veloso, Claus Roxin, Sónia Reis
Dicionário de DP e DPP dos Drs. Henrique Eiras e G. Fortes

Apontamentos e resumos do curso, passíveis de eventuais erros ("errare humanum


est"), "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,

FORMAS DO CRIME
Iter criminis – Nuda cogitatio > actos preparatórios > tentativa > consumação
- actos preparatórios
Quanto às suas
-tentativa
fases
- crime consumado

- Autoria simples Autoria material


Formas Quanto aos modos Autoria mediata
ou Co-autoria
do crime graus de - Comparticipação
(s. amplo) participação Instigação
- cumplicidade Material
moral

- crime unitário - concurso aparente


(ou legal)
Quanto ao n° de - concurso de crimes
Crimes cometidos - concurso Real
- crime continuado efectivo
(ou verdadeiro) ideal
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Actos preparatórios
São actos externos que conduzem a facilitar ou preparar a
execução do crime, desde que não constituam ainda começo de
execução.

• São actos que preparam o crime mas ainda não são crimes.

• A noção de actos preparatórios interessa para se determinar


se um acto é ou não criminalmente punível.

• No caso de apenas terem sido praticados actos preparatórios


não há tentativa.

• Os actos preparatórios não são geralmente puníveis. (mas há


situações em que, por se revestirem de especial perigosidade, o legislador
determinou a punibilidade)

• Os actos preparatórios são puníveis se constituírem crimes


autónomos. (Ex: promoção ou fundação de organizações criminosas)

• Os actos preparatórios são puníveis quando a lei, em casos


especiais, determina a punibilidade. (ex: crimes de
empreendimento, em que o legislador faz recuar a tutela penal, equiparando
a tentativa à consumação – crimes de mera actividade, crimes de perigo).

• Nos crimes de perigo comum previstos nos arts. 272° e 273° é


punido quem praticar alguns dos actos preparatórios
plasmados no artigo 274°.

Tentativa (art. 22º)


É a realização incompleta do comportamento típico de um
determinado tipo de crime previsto na lei (Germano M. Silva)

• Há tentativa quando não foram praticados todos os actos de


execução (tentativa inacabada) ou quando o agente pratica
todos os actos de execução de um crime que decidiu cometer,
sem que o resultado típico se produza (tentativa acabada).

• A tentativa é um tipo ideal porque resulta da articulação entre


normas da Parte Geral do CP (arts. 22° e 23°) com as de um
dos tipos previstos na Parte Especial.

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Crime consumado
Crime em que o agente realizou todos os elementos essenciais do
tipo.

• O “iter criminis” termina com a consumação. A consumação


pode ser formal ( jurídica) e material (exaurimento) do crime.

• Há consumação formal quando foi realizado o tipo legal de


crime.

• Há consumação material (exaurimento) quando tiveram lugar


através do crime as consequências prejudiciais que o agente
se propôs.

• Os crimes consumados podem ser crimes de consumação


imediata ou crimes de consumação permanente

Autoria simples
Há autoria singular quando o autor pratica o crime por si só.

• Ao crime de autoria simples aplica-se a norma do tipo, tal


como descrito na parte especial do CP.

Comparticipação
Consiste no envolvimento de vários agentes na prática do facto
jurídico ilícito-criminal.

• a expressão comparticipantes abrange instigadores e


cúmplices.

Instigação
O instigador cria dolosamente no autor uma vontade “ex novo”,
convence outra pessoa a praticar o crime.

Cumplicidade
É uma forma de participação criminosa que consiste em prestar
auxílio ao autor do crime; a participação do cúmplice não é
determinante para gerar a resolução criminosa.

Cumplicidade material
É a prestação de uma ajuda material para a execução do crime; o
cúmplice material ajuda materialmente na prática do facto típico
e ilícito, fornecendo os meios para a execução do crime.

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Cumplicidade moral
É o auxílio moral à prática por outrém de um facto doloso (art.
27°/1). Trata-se de um conselho, um acto não determinante da
prática do facto criminoso (se for determinante é autoria).

Concurso de crimes
Acumulação de infracções que implica a punição do agente por
uma pluralidade de crimes. O concurso efectivo pode ser real ou
ideal e homogéneo ou heterogéneo.

Vários sistemas são possíveis para a determinação da pena em


caso de concurso :

- de absorção de todas as penas pela pena mais grave,


embora agravada;

- de cúmulo jurídico de penas formando uma única


pena;

- de cúmulo material das penas efectivamente aplicadas

• O regime de determinação da pena única, em caso de


concurso de crimes encontra-se regulado no artigo 77°

Concurso efectivo
Consiste na violação de várias normas jurídico-penais, devido à
prática pelo agente de diferentes acções (podendo um só facto constituir
mais de uma acção em sentido jurídico). São aplicadas diferentes normas
para valorar o comportamento do agente e todas concorrem para a
determinação da sua responsabilidade. O agente pratica dois ou
mais crimes. A um conjunto plural de acções (em sentido jurídico),
corresponde uma pluralidade de crimes.

O concurso efectivo pode ser real ou ideal

Concurso real
Se se verificar uma pluralidade de factos qualificáveis como crimes.

Concurso ideal
Se o mesmo facto é qualificável como crime por diferentes normas
incriminadoras que concorrem numa classificação plúrima; no plano
naturalístico há uma só acção que viola várias vezes a mesma ou
várias normas.

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Concurso homogéneo
Quando a mesma acção preenche um conjunto de tipos de crimes
iguais.

Concurso heterogéneo
No caso de os tipos de crime cometidos serem diferentes

Concurso aparente ou de normas


Se as normas violadas só na aparência são aplicáveis
cumulativamente, mas na verdade ou se aplica uma ou se aplica
outra.

• O concurso legal, aparente ou impuro, verifica-se quando o


comportamento do agente pode subsumir-se a várias
previsões legais mas apenas uma delas é aplicável ao facto
por esgotar inteiramente o conteúdo da sua ilcitude.

Entre as normas concorrentes podem verificar-se 3 tipos de


relações :

de especialidade
Quando a norma especial contém todos os elementos de outra e lhe
acrescenta (sem a contrariar) um ou vários elementos especializadores.
A norma especial prevalece sobre a norma geral.

de consumpção
Nos casos em que, sendo potencialmente aplicáveis duas ou mais
normas criminais, uma delas consome a protecção que a outra
visava. Só em concreto se pode decidir qual das normas vai ser aplicada e essa
será aquela que conceder maior protecção ao bem jurídico.

- consumpção pura
Quando a norma que prevê e pune o crime mais grave
consome a que prevê e pune o menos grave.

- consumpção impura
quando um crime é meio para praticar outro mas em que
se aplica a norma do crime meio, porque o crime principal
– crime resultado – é consumido pelo crime meio.

de subsidiariedade
Quando a norma só se aplica se a outra não se aplicar.

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CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRIME

Quanto ao Por acção


tipo de
Pura
conduta
Por omissão
Impura

Crimes gerais ou comuns ( 131º, 143º, 203º, 212º, 217º)


Quanto ao
agente Próprios ou puros (136º, 284º, 370º)

Crimes específicos Impróprios ou impuros (378º, 383º, 195º)

De mão própria

Praeter intencional
Quanto à
Crimes materiais De resultado cortado ou parcial
relação ou de resultado Agravado pelo resultado
entre a De omissão impura ou imprópria
conduta e o
resultado Crimes formais De mera actividade
ou de mera actividade
De omissão pura ou própria
Quanto à
Lesão efectiva ou dano
intensidade
de lesão do
bem jurídico Abstracto (292º/1)

Perigo Abstracto/concreto (292º/2)

Concreto (291º)

Quanto ao
Forma livre (131º)
Modo de
execução Forma vinculada (217º)

Quanto ao
Tipos básicos (131º)
Modo de
Qualificados (132º)
formação Tipos especiais
Privilegiados (133º)

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Crimes por acção
Têm a ver com a estrutura do comportamento do autor, sendo
aqueles que são praticados através de uma acção positiva.

Crimes por omissão


Têm também a ver com a estrutura do comportamento do autor,
sendo aqueles que consistem em não ter um certo comportamento
que a ordem jurídica impõe que se tenha num certo caso concreto.

Crimes de omissão pura


São aqueles crimes de omissão que consistem na violação directa
de um comando legal Ex : art. 60° C. da Estrada

Crimes de omissão impura


São aqueles crimes de omissão em que já não se trata de uma
violação directa de um comando legal, mas sim o levar a cabo,
por omissão, um resultado previsto num tipo legal desenhado em
termos de acção. Ex : o pai que deixa que o filho se afogue na praia sem o
ajudar (art.131°)

Crimes gerais ou comuns


Aqueles que podem ser cometidos por qualquer pessoa. Ex: art. 131°

Crimes específicos
São aqueles que só podem ser cometidos por certas pessoas.
O agente é definido fundamentalmente através da titularidade de
uma certa situação juridicamente definida, seja uma qualidade ou
um dever especial que sobre ele impende. Ex: crime de peculato (art.
375°), que só pode ser cometido por funcionário.

Crimes específicos próprios ou puros


As qualidades especiais do agente, ou o dever que sobre ele
impende fundamentam a sua responsabilidade. Ex: crime de
prevaricação (art. 370°) que só pode ser praticado por advogado ou solicitador.

Crimes específicos impróprios ou impuros


A qualidade do agente, ou o dever que sobre ele impende não
servem para fundamentar a responsabilidade, mas únicamente
para a agravar . Ex: O artigo 378° prevê uma pena mais grave para o crime de
violação de domicílio previsto no art. 190° quando cometido por funcionário.

A distinção entre crimes próprios e crimes impróprios tem importância no


que se refere à matéria da comparticipação (arts. 26° e 27°) eventualmente
em matéria de erro, bem como de comunicabilidade entre participantes de
“certas qualidades ou relações especiais do agente” (art. 28°)

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Crimes específicos de mão própria
Aqueles em que o tipo legal abrange como autores apenas aquelas
pessoas que levam a cabo a acção através da sua própria pessoa,
e não através de outrém, aqueles que são autores imediatos.

• Está excluída a possibilidade de co-autoria quanto aos


comparticipantes que não tenham executado o crime pelas
suas próprias mãos, não podendo verificar-se a
“comunicabilidade” do art. 28°. Ex: nos artigos 165° e 166° diz-se
que só quem pratica por si mesmo o acto sexual incriminado pode ser
considerado como autor.

Crimes materiais ou de resultado


São aqueles que, segundo o tipo desenhado na lei, pressupõem a
verificação de certo resultado, ou seja, só se dá a consumação
quando é produzido um resultado que seja espácio-temporalmente
distinto da conduta. Ex: o art. 131° pressupõe a verificação da morte de pessoa,
como resultado.

• Crimes praeter intencionais (arts.145/2º)


Aqueles em que se produz um resultado para além da
intenção do agente. Exemplo: “A” dá um estalo a “B” ; este cai, bate com a
cabeça e morre.

- Há uma conjugação entre um crime fundamental doloso


com um resultado mais grave, por negligência.

Neste crime há dois resultados da conduta do agente:

- o 1° resultado é a ofensa corporal que a vítima sofre


com a estalada.

- o 2° resultado é a própria morte.

Nos crimes praeter-intencionais há um misto de dolo + negligência

• Crimes agravados (ou qualificados) pelo resultado (art.148º°/3)


Trata-se de um crime em que também há dois resultados da
conduta do agente, mas em que o 2° resultado ( o mais grave) pode
ser imputado ao agente, desde que entre o 2° e o 1° resultado haja
um nexo de causalidade; desde que em relação à morte da vítima,
haja pelo menos negligência do agente, nos termos do art. 18° CP.

Neste crimes há um misto de negligência + negligência.

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• Crimes de resultado cortado ou parcial
São aqueles crimes em que os elementos subjectivos do tipo vão
para além dos elementos objectivos. (Ex: o furto – art. 296°- para,
objectivamente, haver furto basta que haja subtracção da coisa, mas,
subjectivamente, exige-se algo mais, ou seja, que haja intenção de apropriação)

• Crimes materiais de omissão impura ou imprópria


é uma inacção que não evita a produção do evento típico.
(Ex: crime de homicídio por omissão – art. 131° conjugado com o art. 10°/2 –
nadador-salvador que tem o dever de intervir, deixa morrer o banhista.)

Crimes formais ou de mera actividade


São aqueles em que basta uma determinada actividade tipificada na
lei independentemente de se alcançar um resultado. Ex: para haver
crime de envenenamento, basta a actividade de ministrar a substância venenosa que
pode conduzir à morte, não sendo necessário que se verifique essa morte – art.
146°/2 articulado com o 132°/2/h).

Crimes formais de mera actividade : o tipo descreve meramente


uma conduta

Crimes formais de omissão pura ou própria o tipo descreve


exclusivamente uma inactividade (art. 200°)

Crimes de dano ou de lesão efectiva


São aqueles cuja consumação depende da efectiva lesão do bem
jurídico. (Ex: crime de homicídio – art. 131°- para este crime se consumar é
necessário que a vítima morra.)

Crimes de perigo
São aqueles em que basta que o bem jurídico seja colocado em
perigo, para se consumarem. (Ex: crime de exposição ou de abandono – art.
138° - Para a consumação deste crime basta que o bem jurídico, vida, seja posto em
perigo, não sendo necessário que a vítima morra.)

A distinção entre os crimes materiais e formais atende à


existência ou inexistência de evento ou resultado típico.

A distinção entre os crimes de perigo e de dano atende à


existência ou não de dano (pode haver resultado típico que não
seja dano)

Noção de perigo - para haver perigo é necessário que haja,


possibilidade ou probabilidade de produção de um evento danoso.

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Crimes de perigo abstracto
São aqueles em que o perigo funciona como simples
pressuposto ou motivo da incriminação. (ex: art. 292°)

• Nos casos de crimes de perigo abstracto basta que o agente


tenha praticado a acção prevista no tipo de crime sem que,
casuísticamente, se tenha de provar que houve perigo.

• Crimes de perigo abstracto, são aqueles em que o legislador


descreve certa conduta presumindo, inilidivelmente, que ela é
perigosa. Há uma presunção juris et de jure de perigo.

Crimes de perigo concreto


São aqueles em que o perigo além de ser motivo ou fundamento
de incriminação, é também elemento do próprio tipo. Neles, o
perigo surge como o próprio resultado ou evento típico. (Ex: art.
138º)

• Nos casos de crime de perigo concreto, não é suficiente que


se prove que o agente expôs a vítima, é necessário provar,
para que o agente seja punido, que da sua acção resultou
efectivamente um crime ou perigo para a vida da vítima.
(art.138º/1/a).)

Crimes de perigo abstracto-concreto


São crimes em que por um lado, o fundamento é a actividade em si
que coloca em perigo os bens jurídicos em geral, mas em que, por
outro lado, revela-se perigo no caso concreto.

• Constituem um meio termo entre os crimes de perigo concreto


e de perigo abstracto. Nestes crimes o perigo é referido no
próprio tipo a propósito do modo de ser da acção típica (art.
244º/2/2ªparte)

• Por um lado, o perigo nestes crimes não é o resultado de um


evento típico

• Por outro lado, também não se limita a um mero fundamento


da incriminação

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TEORIA GERAL DA INFRACÇÃO PENAL

Categorias analíticas

- Acção
- Tipicidade
- Ilicitude
- Culpa
- Punibilidade

Acção
Segundo o Dr. Figueiredo Dias não faz sentido autonomizar a acção
da tipicidade, porque na tipicidade, um dos elementos objectivos do
tipo é a conduta, a qual pode ser por acção ou por omissão. Logo,
se a acção não é dominada pela vontade, não há conduta e por
conseguinte, não havendo conduta, falta um dos elementos
objectivos do tipo e consequentemente não está preenchida a
categoria analítica da tipicidade.
O conceito de acção assume um papel secundário, tendo apenas
uma função de delimitação ou função negativa de excluir da
tipicidade comportamentos jurídico-penalmente irrelevantes.

Tipicidade
É a descrição da conduta que preenche o ilícito criminal. É o
preenchimento de um tipo de crime.
No tipo distingue-se entre a tipicidade objectiva, ou elementos
objectivos do tipo e a tipicidade subjectiva, ou elementos
subjectivos do tipo.

- tipicidade objectiva
O preenchimento da tipicidade objectiva de um crime
consiste no estabelecimento do nexo de causalidade (ou
de causalidade potencial) entre a conduta e o resultado.

- tipicidade subjectiva
O preenchimento da tipicidade subjectiva consiste na
imputação do facto ao agente. Essa imputação é
normalmente feita a título de dolo; A actuação negligente
também pode preencher a tipicidade subjectiva, mas só
nos casos especialmente previstos na lei.

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Ilicitude
Qualidade do que é ilícito. Quando o tipo está preenchido, tanto do
ponto de vista objectivo como subjectivo, diz-se que está indiciada a
Ilicitude. Quando a conduta do agente é típica, a consequência que
daí se tira é que a conduta é ilícita. O tipo indicia a ilcitude.

Ilicitude formal (art.31°/1)


É a contrariedade à ordem jurídica. É a violação de deveres
penalmente sancionáveis. Pode tratar-se da violação do dever de
ter uma certa conduta praticando um facto ou de violação do dever
de não ter determinada conduta, através da omissão de um
comportamento devido.

Ilicitude material (escola neo-clássica)


Consiste na graduação da danosidade do facto ilícito praticado.
Este conceito permite identificar as causas de exclusão da Ilicitude
e graduar a pena consoante o desvalor do acto que lesa o bem
jurídico e a sua gravidade. Trata-se de um conceito trazido pela
escola neo-clássica.

conteúdo do ilícito
é composto pelo desvalor da acção e o desvalor do resultado
(quando não há desvalor do resultado estamos perante uma tentativa).

tipo de ilícito
é a reunião de todos os elementos que fundamentam o conteúdo
material do ilícito.

Culpa
No juízo de culpabilidade é apreciada a formação da vontade do
agente e se ela se deveu a uma atitude defeituosa diante do
Direito.

• O juízo da ilicitude do facto deve preceder o juízo da


culpabilidade, pois não faz sentido falar em culpa
relativamente a factos lícitos, mas já faz sentido falar em actos
ilícitos sem que haja culpa.

• O que está em causa na culpa é saber se numa dada


situação concreta, do ponto de vista de política criminal, é ou
não necessário punir uma pessoa. Se, num caso concreto,
os fins de prevenção – geral ou especial - exigirem que uma
pessoa seja punida, pode dizer-se que ela tem culpa.

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Mas podem ocorrer ...

causas que excluem a culpa:

- inimputabilidade (em razão da idade ou de anomalia


psíquica, arts. 19° e 20°/1)

- estado de necessidade desculpante, (art.35°)

- obediência indevida desculpante, (art.37°)

- excesso de legítima defesa por medo desculpável.


(art. 33°/2)

• No caso de prática de um crime em comparticipação cada um


dos agentes é punido segundo a sua culpa (art. 29°) .

!!!! A culpa é individual !!!

Punibilidade
É o conjunto de condições de que depende a punição do
agente. Um facto só será punível se for típico, ilícito e culposo.
Mas, em certos casos, para que o facto seja punível é ainda
necessário que se verifiquem elementos exteriores ao tipo que são
os pressupostos de punibilidade.

Pressupostos gerais de punibilidade

Alguém só será punido se cometer um facto típico, ilícito e culposo

Em sentido amplo os pressupostos gerais de punibilidade são:

- a ilicitude

- a culpabilidade

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Pressupostos especiais da punibilidade

De Dt°. Processual
Penal
- Excepções à punibilidade

Subjectivos
Pressupostos
- Causas pessoais de
Especiais de levantamento da pena
punibilidade
De Dt° Penal
Material

Próprios
Objectivos
Impróprios

Pressupostos especiais de punibilidade de Dt° Penal material

Pressupostos subjectivos

- excepções pessoais à punibilidade – ocorrem no


momento da prática do facto (ex: imunidade dos deputados)

- Causas pessoais de levantamento da pena – são


supervenientes , ocorrem após a prática do facto
(ex: a desistência voluntária)

Pressupostos objectivos
Trata-se de circunstâncias intimamente associadas ao facto típico,
mas que são extrínsecas ao tipo de ilícito e ao tipo de culpa

- Condições objectivas de punibilidade próprias –


estas condições são extrínsecas ao facto típico, mas a
punição do agente depende da sua efectiva verificação
(ex: art. 5° /1/c) – II)

- Condições objectivas de punibilidade impróprias –


casos em a responsabilidade do agente é agravada pela
verificação de uma certa circunstância em relação à
qual não se exige nexo de imputação subjectiva
(ex: incitamento ou ajuda ao suicídio – art. 135°)

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TIPICIDADE

Tipicidade
É a descrição da conduta que preenche o ilícito criminal.

No tipo distingue-se entre os elementos objectivos e os


elementos subjectivos :

Elementos objectivos
Através destes elementos a questão é de saber se podemos
imputar objectivamente ao agente a prática de determinado crime.

Elementos escritos (fácticos e normativos)


Elementos que estão descritos no tipo de ilícito.

a. Elementos descritivos (de facto)


Aqueles para cuja determinação não é necessário fazer
qualquer valoração jurídica, não são conceitos jurídicos
mas sim da linguagem corrente.

- Agente
- Conduta
- Objecto da acção
- Resultado ( só nos crimes de resultado)

b. Elementos normativos (de direito)


São expressões que o CP utiliza e que traduzem
elementos de direito que vão ser concretizados por outras
fontes. Estes elementos pressupõem uma valoração que
pode ser jurídica ou cultural (ex: honra, alheio, documento, móvel )

Elementos não escritos


Bem jurídico
Nexo de causalidade (só no caso de crimes de resultado)

Elementos subjectivos

- Dolo
- Elementos subjectivos especiais
- Negligência

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Imputação objectiva
Imputação
É o nexo que liga o crime ao seu autor. É a causa do crime.

Imputação objectiva
Consiste em estabelecer o nexo de causalidade entre a acção e o
resultado.

• É a questão de determinar como é que se atribui à conduta do


agente o resultado de que depende a consumação do crime.

• É a possibilidade de atribuir a responsabilidade a alguém pelo


evento, através do estabelecimento de um nexo de relação
entre o facto e o resultado.

• Trata-se de um conceito mais amplo do que o de causalidade


porque o conceito de causalidade não explica as situações de
omissão.

• Em direito penal o problema da imputação objectiva é distinto


do problema da causalidade , mas a causalidade tem de ser
a base de qualquer teoria da imputação objectiva.

Acerca da imputação objectiva é importante referir o seguinte...

1. O resultado há-de ter ocorrido, não sendo bastante que a


causa seja adequada a produzi-lo
.
2. Depois de se estabelecer o nexo de ligação entre a causa e o
efeito é preciso apurar se aquela causa geraria,
possivelmente, aquele resultado.

3. É necessário fazer a imputação objectiva relativamente a


todas as causas

4. Na tentativa não há lugar a imputação objectiva do resultado ,


porque aí não há resultado.

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Encontram-se na doutrina várias teorias para explicar a imputação
objectiva, designadamente :

- Teoria da “conditio sine qua non”


- Teoria da causalidade adequada
- A teoria da relevância
- Teoria do risco

Teoria da “conditio sine qua non”


(Teoria da equivalência das condições)

Teoria da “conditio sine qua non”


Para esta teoria a causa de um evento é qualquer condição,
qualquer evento ou circunstância, sem a qual o resultado não se
produziria;

• Para se apurar se determinado comportamento foi ou não


relevante utiliza-se um processo de eliminação.

• A teoria da ”conditio sine qua non” deverá ser formulada,


tomando em consideração as circunstâncias do caso
concreto. Então a questão a formular será a seguinte:

- Se aquele comportamento não tivesse tido lugar, nas


mesmas circunstâncias de tempo, lugar e modo, ter-se-
ia verificado o resultado?

Críticas a esta teoria

• Esta teoria pressupõe um número infinito de causas para


cada fenómeno.

Exemplo:
Se A mata B com um tiro, também é possível considerar uma condição da morte de B
o facto de os pais de A o terem concebido.

• Esta teoria permite a responsabilização objectiva em


Direito penal, designadamente no caso dos crimes agravados
pelo resultado

Exemplo
A provoca um arranhão a B, que é hemofílico, provocando-lhe a morte.

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De acordo com esta teoria, se A não tivesse arranhado o B, este não teria morrido,
logo a imputação objectiva neste caso é fácil de estabelecer. Portanto A seria punido
por um crime de homicídio, consequência que seria particularmente grave na medida
em que levaria ao reconhecimento da existência da responsabilidade objectiva em
Direito Penal, a qual é afastada , como já se sabe, pelo princípio da culpa.

O art. 18° exige a existência de um nexo subjectivo entre o agente e o resultado mais grave

• Esta teoria nega a imputação subjectiva em situações de


causalidade hipotética ou de causalidade cumulativa

Em conclusão

A teoria da “conditio sine qua non” é criticada...

1. Porque permitindo sempre outras causas anteriores, permite o


encadeamento infinito.

2. Pressupõe que o nexo de causalidade está estabelecido, sem


o definir

3. Pode gerar situações de responsabilidade objectiva.

4. não distingue entre causas relevantes e causas irrelevantes

5. Não explica os casos de causalidade hipotética , nem os de


causalidade cumulativa.

Teoria da adequação ou da causalidade adequada


• Esta teoria não rejeita a teoria da “conditio sine qua non “, só
pretende constituir um aperfeiçoamento desta.

• Esta teoria parte da teoria da “conditio sine qua non”,


apontando um critério para verificar que só a acção adequada
seria relevante para efeitos de Direito Penal.

• Para verificar se a causa é ou não adequada a produzir


determinado resultado penalmente desvalioso, utiliza-se um
juizo de previsão feito “a posteriori” mas reportado ao
momento em que o agente actuou (teoria da prognose
objectiva póstuma)

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António Filipe Garcez José
Teoria da prognose objectiva póstuma

É um juizo de previsão (prognose) feito “a posteriori” (póstumo),


mas reportado ao momento “ex ante”, de que se serve a teoria da
causalidade adequada, para fazer a imputação objectiva do
resultado.

Esta teoria decompõe-se em 2 elementos:

- juizo de prognose póstuma


O julgador coloca-se nas circunstâncias, em que se
encontrava o agente, que conduziram à actuação ou
omissão e interroga-se se naquelas circunstâncias seria
ou não previsível que actuasse daquela forma,,
produzindo aquele resultado.

- juizo de prognose objectiva


A prognose é objectiva porque é feita atendendo ao
padrão de homem médio, mas tomando em
consideração os conhecimentos específicos e as
capacidades do agente em causa.

Formula-se a seguinte questão:

- era ou não previsível para o homem médio, idealmente colocado


no lugar do agente e munido dos particulares conhecimentos deste,
que se produzisse aquele resultado?

- Se o homem médio podia prever aquele resultado, a


causa é adequada.

• A prognose é póstuma, porque é um juizo de previsão feito


“a posteriori”.

• A questão da causalidade adequada pode ser colocada


através de 3 proposições :

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

Dolo
É o elemento subjectivo do tipo de crime que consiste no
conhecimento dos elementos objectivos essenciais desse tipo
(elemento intelectual) e na vontade de praticar um certo acto ou,
nos crimes materiais, de atingir um certo resultado (elemento
volitivo)

Elemento intelectual
Consiste, em o agente representar o facto que preenche
um tipo de crime, isto é, no conhecimento de todos os
elementos da factualidade típica.

- Elemento volitivo
É o querer, é a intenção de praticar o acto.

O Professor Figueiredo Dias acrescenta um terceiro elemento:

- Elemento emocional
Consiste na consciência da ilicitude
.
Elemento intelectual

Não há qualquer norma no CP que nos diga directamente que o


dolo é o conhecimento da realização do facto típico, no seu
elemento intelectual. Mas há preceitos que nos dizem isso pela
negativa; aqueles que contêm o regime do erro, em particular o art.
16°/1.

Artigo 16º

Erro sobre as circunstâncias do facto

1 - O erro sobre elementos de facto ou de direito de um tipo de


crime, ou sobre proibições cujo conhecimento for razoavelmente
indispensável para que o agente possa tomar consciência da
ilicitude do facto, exclui o dolo.
2 - O preceituado no número anterior abrange o erro sobre um estado de coisas que, a
existir, excluiria a ilicitude do facto ou a culpa do agente.

3 - Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos gerais.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Deste preceito concluímos que ...

• não há dolo quando não houver conhecimento dos


elementos da factualidade típica.

• Se houver erro o dolo é excluído. O agente apenas poderá ser


punível a título de negligência (art. 16°/3)

No artigo 16°/1 prevê-se outro tipo de erro que exclui o dolo ...

• O erro sobre proibições cujo conhecimento seja razoavelmente


indispensável para que o agente possa tomar consciência da ilicitude do facto.

O regime para os dois tipos de erro não é o mesmo ...

• O erro de desconhecimento dos elementos essenciais da


factualidade típica exclui sempre o dolo.

• O erro sobre as proibições apenas exclui o dolo em alguns


casos, isto é, sobre algumas proibições.

Quais são essas proibições ?

• São aquelas que têm um carácter axiológicamente neutral,


isto é, aquelas proibições cujo conhecimento é razoavelmente
indispensável para o agente tomar consciência da ilicitude do
facto.

Suponhamos que ...

... é proibido ter em casa dinheiro em moeda estrangeira.

• Ora esta proibição é axiológicamente neutral; é impossível


ao agente, se não souber dessa proibição, chegar a essa
conclusão no plano ético, por causa das suas valorações
morais.

Ao contrário, suponhamos agora que ...

... o agente dispara um tiro contra a vítima para a matar, mas ignora
que em Portugal, por absurdo que seja, o homicídio é um crime

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
• A falta deste conhecimento de modo algum exclui que o
agente seja punível por um crime de homicídio doloso nos
termos do art. 131°,

porque...

A proíbição do homicídio não é neutral no plano dos valores

O artigo 17°, sem qualquer exclusão do dolo, é que prevê a


falta de consciência da ilicitude nos casos em que não estão
em causa, proibições axiológicamente neutrais.

Modalidades de dolo
Dolo directo(art. 14°/1)
O dolo é directo quando o fim subjectivo do agente é o próprio facto
tipicamente ilícito; O facto representado é o facto querido e o agente
actua com vontade de realizar esse mesmo facto. No dolo directo a
vontade, a intenção de praticar o acto prevalece sobre o seu
conhecimento

• É através do elemento volitivo que se define esta


modalidade de dolo.

• Basta que o agente queira, isto é, que tenha a intenção de


realizar o facto típico.

Exemplo:
O agente decide matar a vítima através de um tiro disparado a grande distância,
sabendo que é provável que não lhe acerte; ainda assim o agente actua em dolo
directo

Dolo necessário (art. 14°/2)


Existe dolo necessário quando o facto tipicamente ilícito é
consequência necessária da realização pelo agente do fim que se
propõe, algo que é inevitável em consequência da sua conduta.
O agente conhece o facto, sabe que vai realizar-se, sabe que vai
acontecer necessariamente, não o quer, mas actua.
Para a realização do fim que se propõe, representa, como
consequência necessária da sua conduta, a perpetração de um
facto tipicamente ilícito, mas essa representação não o impede de
agir.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
• O elemento intelectual é que é decisivo para a sua
caracterização.

• Do art. 14º/2 não se conclui que a previsão do agente seja


correcta: o que é indispensável é que a realização do facto seja
inevitável na sua cabeça, de acordo com a sua representação.

Exemplo: Se o agente dispara um tiro contra a cabeça da vítima


sabendo que a vai matar, não é necessário averiguar,
autonomamente, se existe elemento volitivo do dolo. É impossível
que não exista porque o agente prevê a realização do facto típico
precisamente como consequência indispensável da sua conduta.

Qual a diferença entre dolo directo e dolo necessário ?


A diferença reside especialmente no elemento volitivo, pois que a
realização do facto típico não é, no dolo necessário, o fim subjectivo
que o agente se propõe, mas a consequência necessária para a
sua realização (Prof. Germano M. Silva)

Dolo eventual (art. 14°/3)


É a previsão da possibilidade de realização do facto típico e
conformação com ela.
O agente aceita como possível a realização do facto que
preenche o tipo e conforma-se com essa realização. Com a sua
conduta prevê o resultado nocivo, não se importando se este se
concretizará ou não. No dolo directo e no dolo necessário há
prevalência de um dos elementos, no dolo eventual há paridade.

• Trata-se da modalidade de dolo mais problemática e com maior


alcance prático:

- por um lado
é problemática na medida em que é definida paredes meias com a
negligência consciente a que se refere o art. 15º/a).

- por outro lado


as consequências práticas derivam do facto de se tratar de uma
modalidade de dolo.

• O elemento intelectual do dolo eventual e o da


negligência consciente é comum : a representação da
realização do facto típico como consequência possível do
comportamento do agente

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Mas, o elemento volitivo varia:

- no dolo eventual
o agente prevê a realização do facto típico como possível e
conforma-se com essa realização.

Na negligência consciente
o agente prevê a realização do facto típico como possível,
mas não se conforma com essa realização.

Fórmula positiva de Franck


Trata-se de uma fórmula perfeitamente compatível com o critério de
distinção adoptado pelo legislador no art. 14º/3, o critério da
conformação

• Se o agente, ao actuar, previu como possível a realização de


um facto típico e pensar: aconteça o que acontecer, eu actuo.
Então, se actuar, fá-lo-á com dolo eventual.

• Este critério do legislador exige a identificação no dolo


eventual, de dois elementos: o elemento intelectual e o
elemento volitivo

Exemplo :
Um automobilista está a conduzir em excesso de velocidade, tem
pressa de chegar a casa e o piso está molhado

Atitude de dolo eventual


“eu posso matar alguém, mas como tenho pressa de chegar a casa
continuo a conduzir deste modo” (conforma-se com a realização do facto)

atitude de negligência consciente


“ eu posso matar alguém, mas como sou bom condutor consigo
evitar essa morte “ (não se conforma com a realização do facto)

Erro sobre a factualidade típica – classificação


• Erro sobre o objecto
• Erro sobre o processo causal
• Erro sobre circunstâncias qualificadoras ou priviligiantes
• Erro sobre elementos descritivos e normativos do tipo

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Erro sobre o objecto

Podemos distinguir 2 situações ...

• Quando os objectos são tipicamente idênticos

• Quando não há identidade típica dos objectos

Objectos tipicamente idênticos

Exemplo:
A quer matar B, mas confunde-o com C e este é que acaba por ser
morto.

• Nestes casos, de acordo com a doutrina dominante, o erro é


irrelevante, pois o agente sabe que está a matar uma pessoa
e quer de facto mata-la, pelo que o agente é punido por um
crime de homicídio doloso consumado.

Objectos tipicamente não idênticos

Exemplo 1 :
O agente A pensa que está a disparar para uma peça de caça e
acerta numa pessoa.

• Aqui o agente não pode ser punido por um crime de homicídio


doloso pois actuou sem dolo, já que não pretendeu matar
nenhuma pessoa. Logo só será eventualmente punido por um
crime de homicídio negligente

Exemplo 2 :
A pretende matar o cão do vizinho, mas acaba por matar o próprio
vizinho, a quem confunde com o cão.

• Neste caso o agente será punível em concurso por uma


tentativa e por um crime negligente consumado.

• Aqui há um erro sobre a factualidade típica do disposto no


art. 16°/1 : o agente não conhece nem quer a morte de um
ser humano – apenas pretende matar o cão do vizinho

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
• Será punível por tentativa, se a tentativa for punível.
Ao tentar abater o cão o agente estaria a praticar um crime de
dano tentado. Simplesmente o dano é punível com prisão até
3 anos e a tentativa só é punível quando ao crime consumado
corresponder uma pena superior a 3 anos (art. 23°/1) , logo,
nesta situação o agente não é punido pela tentativa de dano,
mas apenas por crime de homicídio negligente consumado.

• Será punível por crime negligente se houver negligência.


O agente pode ter atingido um objecto que tipicamente não é
idêntico, sem ter actuado com negligência.

Exemplo: O agente dispara, para matar um cão, contra a casota


desse cão. Extravagantemente quem está lá dentro da casota .é o
dono do cão que morre.

• Neste caso, e atendendo só aos dados da hipótese,


dever-se-ia concluir que o agente não seria punível por um
crime de homicídio negligente consumado, pois não era
previsível que o agente fora atingir uma pessoa dentro da
casota do cão.

Articulação com os tipos qualificados e privilegiados

• Quando se está em face de um dos tipos qualificados ou


privilegiados não se pode dizer que o objecto seja tipicamente
idêntico.

Com tipos qualificados

Exemplo 1: O agente pretende matar o seu pai, mas confunde-o,


no escuro, com uma outra pessoa sendo esta que é morta.

• A solução aqui é a de concurso em que o agente é punível por


um crime de homicídio qualificado tentado (art. 132°/2), com
pena especialmente atenuada (art. 72°) e por homicídio
negligente consumado (art. 137°)

Exemplo 2 : o agente pretende matar uma pessoa qualquer e


mata o pai.
• só é punível por um crime de homicídio doloso consumado,
porque o objecto é tipicamente o mesmo, uma pessoa.

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Com tipos privilegiados

Exemplo 1 : O agente a pedido instante, consciente, livre e


expresso da vítima, decide matá-la, mas engana-se, pois supõe
que é a vítima que está num sítio de pouca visibilidade e mata outra
pessoa.

• O crime de homicídio a pedido da vítima, é um crime de


homicídio privilegiado previsto no art. 134°.

• Neste caso também o agente deve ser punível pela prática de


um crime de homicídio tentado a pedido da vítima, pela
conjugação dos arts. 134° e 72°em concurso com o crime de
homicídio negligente consumado, nos termos do art. 137°.

Exemplo 2: O agente do crime é surdo. A vítima pede instante,


livre, consciente e expressamente que a matem, mas não lhe vale
de nada pois o agente não ouve o pedido. O surdo ignora que
existe esse pedido mas, mesmo assim, mata-a.

• Numa situação destas o Dr. Rui Pereira defende que o agente


seria punível nos termos do art. 131°. É certo que ele ignorava
o pedido da vítima, mas a sua responsabilidade seria
atenuada, pois, na determinação da medida da pena deveria
ser tido em conta que existia um pedido da vítima que a
matassem, embora o agente do crime o tenha ignorado.

ABERRATIO ICTUS
Exemplo: A quer matar B. Dispara contra ele mas, por falta de
pontaria, acaba por matar C que se encontrava próximo de B.

• Não estamos perante uma situação de erro, mas de execução


defeituosa: A não está em erro sobre coisa alguma, mas quer
matar B, reconhece-o, identifica-o correctamente, só que a
execução é defeituosa.

• Aqui, quer haja identidade ou não de objectos, a solução é


sempre invariável: O agente do crime será punível pelo
concurso entre um crime doloso de homicídio na forma
tentada (contra B) e um crime de homicídio negligente na
forma consumada. (contra C)

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António Filipe Garcez José

Erro sobre o processo causal


Desvio essencial no processo causal

• Dá-se este desvio quando a consumação do crime não é a


concretização da perigosidade trazida pela acção do
agente.

• Só nestes casos é que é relevante o erro sobre o processo


causal.

Exemplo:
O agente esfaqueia a vítima sucessivamente deixando-a prostrada
no chão. No entanto, antes de a vítima morrer, cai-lhe um raio e a
vítima vem a morrer em consequência disso.

• Nesta situação, o desvio do processo causal é essencial e


relevante, e o agente só é punível por crime de homicídio
doloso tentado, mesmo que se prove que a vítima morria de
qualquer maneira.

• A causa virtual ou hipotética não é relevante em Direito


Penal.

Desvio não essencial no processo causal

• Quando o desvio não é essencial, o agente é punível só por


um crime doloso consumado.

Exemplo:
O agente lança a vítima de uma ponte abaixo com o intuito de a
matar por afogamento. Simplesmente a vítima bate com a cabeça
na estrutura da ponte e morre.

• Este desvio do processo causal é irrelevante. A morte da


vítima traduziu-se na concretização da perigosidade que a
acção do agente encerrava.

• Como há condições para atribuir ao agente objectiva e


subjectivamente a morte da vítima, este é punível pelo crime
de homicídio doloso consumado.

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Dolus generalis

• Trata-se também de um desvio irrelevante do processo


causal.

• São exemplos paradigmáticos destas situações as de


encobrimento posterior à suposta prática do crime
consumado.

Exemplo:
O agente do crime esfaqueia sucessivamente a vítima e pensa tê-la
matado. A seguir atira-a da ponte abaixo para se desfazer do
cadáver. Mas a vítima não tinha morrido, acabando por morrer por
ter sido atirada da ponte abaixo.

• Nesta situação o agente deve ser punível por um só crime de


homicídio doloso consumado.

• Trata-se de uma situação de dolo geral, dolo genérico que


abarca todo o processo causal, não havendo qualquer desvio
desse processo causal.

Erro sobre circunstâncias qualificadoras


ou privilegiantes típicas
exemplo
O agente dispara contra B, sabendo que é ele, mas ignorando que
B é o seu pai.

• Não podemos dizer que houve dolo de homicídio qualificado


no sentido do art. 132°, porque o agente ignorava que a
pessoa que estava a matar era o seu pai.

• Neste caso o dolo é excluído ao abrigo do art. 16°/1, e o


agente só pode ser punível pelo crime simples (art. 131°)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

Elementos subjectivos especiais


São factos subjectivos que interessam à valoração objectiva do tipo.
Especial intenção que se autonomiza do dolo. Estes elementos
constituem uma especial atitude interna do agente.

Nos crimes de intenção

• Nestes crimes para além do dolo é necessário que haja uma


certa intenção.

crimes de resultado cortado ou parcial


Aqueles em que o tipo subjectivo ultrapassa, em extensão, o tipo
objectivo.

• São exemplos de crimes de resultado cortado ou parcial:

- o furto (art.203°)

- a burla (art.217°°)

Artigo 203º Objecto do crime


Furto agente
conduta Elemento subjectivo especial

1 - Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para


outra pessoa, subtrair coisa móvel alheia, é punido com pena de
prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - A tentativa é punível.

3 - O procedimento criminal depende de queixa.

• Objectivamente não é necessário haver apropriação para se


consumar um crime de furto, mas, subjectivamente, exige-se
algo mais que ultrapassa o tipo objectivo: a intenção de
apropriação.

• No crime de burla (art. 217°) o elemento subjectivo especial


é a intenção de enriquecimento.

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Nos crimes de tendência

São crimes em que a acção típica tem que ser dominada por uma
certa direcção da vontade do agente.

Exemplos:

- o crime de injúria (art. 181°)

- O crime de difamação (art. 180°)

• Nestes crimes, para além de ser requerido o dolo, é também


requerido a intenção de injuriar ou difamar

Nos crimes sexuais

• Nestes crimes para além do dolo é comum a doutrina exigir


como elemento subjectivo especial do tipo ou da ilicitude o
“animus lubricus”

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António Filipe Garcez José

ILICITUDE

Causas de exclusão da ilicitude


Normas proibitivas
O tipo pressupõe uma norma proibitiva e, como tal indicia a
existência da ilicitude, quanto ao comportamento que violar tal
norma. Estas normas são a regra.

Normas permissivas
São aquelas que prevêem as causas de justificação ou de exclusão
da ilicitude. Estas normas são a excepção.

• Tal significa que nem todos os factos típicos são ilícitos.

Exemplo:
Se A dispara um tiro contra a cabeça de B porque este o quer
matar, então A está a actuar em legítima defesa.

• O facto de A é típico, isto é, subsumível no art. 131°, mas não


é ilícito.

O artigo 31° e as causas de exclusão de ilicitude


Artigo 31º

Exclusão da ilicitude

1 - O facto não é punível quando a sua ilicitude for excluída pela


ordem jurídica considerada na sua totalidade.

2 - Nomeadamente, não é ilícito o facto praticado:

a) Em legítima defesa;

b) No exercício de um direito;

c) No cumprimento de um dever imposto por lei ou por ordem


legítima da autoridade; ou

d) Com o consentimento do titular do interesse jurídico lesado.

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António Filipe Garcez José
Art. 31°/1

• Consagra-se neste preceito o princípio de que o ordenamento


jurídico deve ser encarado no seu conjunto, de modo que as
normas de outros ramos que estabelecem a licitude de uma
conduta têm reflexo no direito penal.

Exemplo: artigo 336° C. Civil

Art.31°/2

• Esta enumeração não é taxativa, mas meramente


exemplificativa.

• Há causas de exclusão supra-legais, não previstas em


qualquer norma, mas que são de admitir tendo em conta os
princípios justificadores.

A LEGÍTIMA DEFESA
Artigo 32º
2° requisito “animus defendendi”
1° requisito
Legítima defesa

Constitui legítima defesa o facto praticado como meio necessário


para repelir a agressão actual e ilícita de interesses
juridicamente protegidos do agente ou de terceiro.
1° pressuposto 2° pressuposto

• Não há coincidência com a legítima defesa prevista no Código


Civil, pois, no Código Penal repudia-se a ponderação de
interesses, ao contrário do que acontece no Código civil;

Pressupostos
Circunstâncias de facto que revelem uma situação de legítima
defesa, por outras palavras, são os elementos extrínsecos à
causa de justificação e sem a verificação dos quais não é
admissível a legítima defesa.

Requisitos
Elementos intrínsecos à causa de justificação sem cuja verificação
o exercício da defesa não é legítimo, embora seja possível.

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Pressupostos

A existência de interesses juridicamente protegidos

• A titularidade desses interesses pode ser do agente que age


em legítima defesa, ou de terceiro.

• O bem jurídico a proteger deve possuir um carácter


perfeitamente individualizado.

• Não é possível a legítima defesa dos bens jurídicos do Estado


quando a agressão põe em causa a ordem jurídica no seu
conjunto (ex: manifestação não autorizada)

• Tratando-se de um crime dirigido à colectividade como um


todo, se a agressão afectar imediatamente um particular, é
admissível a legítima defesa. ( crime de exibicionismo – art. 171°)

A existência de uma agressão actual e ilícita

• Para que haja uma agressão, é necessário que haja acção, no


sentido do Direito Penal, isto é, uma acção definível como
comportamento dominado ou dominável pela vontade.

• A agressão não tem que ser dolosa ou culposa

• É permitida a legítima defesa em relação a uma acção


negligente.

• É permitida a legítima defesa em relação a um


comportamento desculpável (acção praticada por um louco ou por uma
criança)

• A agressão tem de ser actual, o que significa estar já em


execução, ou ser iminente, prestes a ser desencadeada.

• Por isso não é admissível a legítima defesa contra a agressão


já consumada ou contra a agressão futura ainda não iminente.

• Além de actual, a agressão deve ser ilícita, isto é,


objectivamente contrária ao Direito.

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Requisitos
São os elementos intrínsecos à causa de justificação e sem cuja
verificação o exercício da defesa não é legítimo, embora seja
possível.

Necessidade de defesa

• Que não seja possível recorrer à força pública.

• Que o agente utilize o meio necessário de defesa que


implique as consequências menos gravosas para o agressor,
de entre aqueles meios que tiver à sua disposição.

• A necessidade do meio não obriga a que, aquele que suporta


a agressão, tenha de fugir

“Animus defendendi”

• É o elemento subjectivo da legítima defesa.

• Quem actuar numa situação objectiva de defesa, mas sem o


elemento subjectivo, deve ser punido por crime consumado e
não se deve aplicar o art. 38°/4.

• Não há legítima defesa nos casos de provocação pré-


ordenada.

O “animus defendendi” tem duas componentes :

- Intelectual
É necessário conhecer-se a agressão que é
pressuposto do exercício da legítima defesa.

- volitivo
Ter vontade de repelir a agressão.

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EXCESSO DE LEGÍTIMA DEFESA

Artigo 33º

Excesso de legítima defesa

1 - Se houver excesso dos meios empregados em legítima defesa,


o facto é ilícito mas a pena pode ser especialmente atenuada.

2 - O agente não é punido se o excesso resultar de perturbação,


medo ou susto, não censuráveis.

No preceito n°1
deste artigo prevê-se uma situação em que o agente utiliza como
meio de repelir a agressão, um meio mais grave que outro menos
grave que tinha à sua disposição.

Exemplo:
O agente que para repelir a agressão de quem lhe vai dar uma
bofetada, dá um tiro no agressor, quando podia ter repelido a
agressão com um murro.

• Aqui não há legítima defesa. Se do tiro resultou a morte do


agressor, o gente será punível pelo crime de homicídio,
podendo a pena ser especialmente atenuada.

No preceito n°2
Trata-se do excesso resultante de medo, perturbação ou susto não
censuráveis.

• Nestes casos o agente não será punido

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O DIREITO DE NECESSIDADE
( objectivo ou justificando)

Artigo 34º

Direito de necessidade

Não é ilícito o facto praticado como meio adequado para afastar um


perigo actual que ameace interesses juridicamente protegidos do
agente ou de terceiro, quando se verificarem os seguintes
requisitos:

a) Não ter sido voluntariamente criada pelo agente a situação de


perigo, salvo tratando-se de proteger o interesse de terceiro;

b) Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar


relativamente ao interesse sacrificado; e

c) Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em


atenção à natureza ou ao valor do interesse ameaçado.

Pressupostos do direito de necessidade


1. existência de interesses juridicamente protegidos do
agente ou de terceiro.

2. Existência de um perigo actual que ameace esses interesses

3. Que a situação de perigo não tenha sido criada pelo


próprio agente.

4. Existência de uma sensível superioridade do interesse a


salvaguardar, relativamente ao interesse sacrificado.

Exemplo:
O agente está confrontado com um incêndio e a sua vida está em
perigo. Para se salvar do incêndio tem de arrombar a porta da casa
do vizinho.

• Nessa situação ele está a defender um bem jurídico - a vida –


consideravelmente superior à coisa alheia que é propriedade
do vizinho em relação à qual comete tipicamente um crime de
dano que é justificável pelo exercício do dt° de necessidade.

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Requisitos do direito de necessidade


1. A razoabilidade da imposição do sacrifício que resulta do
exercício do dt° de necessidade. (porque estamos perante bens
jurídicos essenciais, conexos com o princípio da dignidade humana)

2. A necessidade ou adequação do meio utilizado pelo agente


que actua em estado de necessidade.

3. o conhecimento da situação de perigo para o interesse


juridicamente protegido (elemento subjectivo)

Razoabilidade da imposição do sacrifício

• O princípio justificador do direito de necessidade é o


princípio da ponderação dos interesses ou bens
jurídicos que se encontram numa situação de conflito

Requisito da adequação

• A acção praticada no exercício do direito de necessidade só


será lícita se for adequada a afastar o perigo.

• Tem de haver uma relação causal entre essa acção e o


afastamento do perigo.

• Que o agente deve utilizar o meio menos gravoso que tenha


ao seu alcance para repelir a situação de perigo.

Elemento subjectivo

• Este elemento subjectivo tem um carácter exclusivamente


intelectual, não se exige qualquer postura volitiva do agente.

• Porque o elemento subjectivo é de carácter estritamente


intelectual, na sua ausência devemos aqui aplicar
analogicamente o art. 38°/4 e o agente será punido apenas
por tentativa.

Exemplo:
Se o agente arrombar a porta do vizinho ignorando que existe um
incêndio, salvará a sua vida mas deverá ser punível por tentativa de
dano e não por crime de dano consumado.

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CAUSAS DE EXCLUSÃO SUPRA-LEGAIS


Legítima defesa preventiva

Exemplo:
Uma senhora encontra-se retida num quarto, à janela, e sem a
menor hipótese de se deslocar porque é paralítica dos membros
inferiores .Não tem acesso ao telefone e não pode pedir socorro a
ninguém. Ela sabe de ciência certa que um homem que esta na rua
a vai matar dentro de meia hora. Ela tem junto de si uma arma e
mata-o visando-o na rua.

• Na legítima defesa preventiva exigem-se todos os requisitos


e pressupostos da legítima defesa excepto a actualidade da
agressão.

Estado de necessidade defensiva


Exemplo:
Durante uma das suas crises um sonâmbulo coloca em perigo a
vida de alguém, sem que exista uma agressão no sentido requerido
pela legítima defesa.

• Trata-se de um estado de necessidade que num plano


estritamente objectivo, é constituído por algo que é uma
agressão.

• No estado de necessidade defensiva é de exigir a


verificação de todos os pressupostos e requisitos do estado
de necessidade justificante (direito de necessidade - art. 34°)
com excepção da existência da própria agressão.

• Nestas situações, de legítima defesa preventiva e de


estado de necessidade defensivo, será lícito ao agente
danificar bens jurídicos de valor pelo menos igual àqueles que
ele pretende salvaguardar.

• Trata-se de criar uma situação intermédia entre a legítima


defesa e o estado de necessidade justificante.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
• Em ambos os casos é de exigir, nos termos gerais, a
presença de elementos subjectivos, simultaneamente, de
carácter intelectual e volitivo.

• Faltando os elementos subjectivos, e porque têm aquele duplo


carácter intelectual e volitivo, não haverá lugar à aplicação
analógica do art. 38°/4, pelo que o agente do crime deverá
ser punível por crime consumado e não apenas por tentativa.

ERRO SOBRE OS PRESSUPOSTOS DE FACTO

DE UMA CAUSA DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE


Legítima defesa putativa
A situação de erro neste caso, é aquela em que existem os
elementos subjectivos de uma causa de justificação, mas ...
faltam os seus elementos objectivos

Exemplo:
B aproxima-se de A
A pensa que B o vai agredir
A “defende-se” de B

• Nesta hipótese não existe o pressuposto objectivo da legítima


defesa: a agressão ilícita e actual,

• mas existe o elemento subjectivo: o “animus defendendi”

• A actua em erro sobre os pressupostos de facto de uma


causa de justificação (legítima defesa) e actua convencido que
esse pressuposto se verifica.

Consentimento do ofendido putativo


O agente pensa que a vítima consentiu num crime de ofensas
corporais simples.

• O agente está em erro sobre os pressupostos de facto desta


causa de justificação.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

Posição do Código Penal (art. 16°/2)


Artigo 16º - Erro sobre as circunstâncias do facto
1 - O erro sobre elementos de facto ou de direito de um tipo de crime, ou sobre
proibições cujo conhecimento for razoavelmente indispensável para que o agente
possa tomar consciência da ilicitude do facto, exclui o dolo.

2 - O preceituado no número anterior abrange o erro sobre um


estado de coisas que, a existir, excluiria a ilicitude do facto ou a
culpa do agente.
3 - Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos gerais.

• Este artigo é incompatível com a teoria rigorosa da culpa.

• Em situação de erro sobre os pressupostos de facto de causa


de justificação, o agente não é punível pelo crime doloso, mas
apenas pelo crime negligente (art. 16°/3)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

ERRO SOBRE A EXISTËNCIA OU LIMITES DAS

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE


• Trata- se agora de um erro distinto do erro sobre os
pressupostos de facto de uma causa de justificação (art.16°/2

Este erro está previsto no art. 17°

Artigo 17º

Erro sobre a ilicitude

1 - Age sem culpa quem actuar sem consciência da ilicitude do


facto, se o erro lhe não for censurável.

2 - Se o erro lhe for censurável, o agente é punido com a pena


aplicável ao crime doloso respectivo, a qual pode ser especialmente
atenuada.

Exemplo:
Suponhamos que na Suécia existe uma causa de justificação do
aborto que se refere às condições sociais em que vive a mulher que
o pratica, isto é, o aborto será justificado quando a mulher não tiver
condições materiais ou sociais para sustentar ou criar um filho.
Ora em Portugal tal situação não é causa de justificação.
Suponhamos ainda que uma cidadã sueca vive em Portugal e
realiza um aborto por não ter condições para criar o filho. Ao
mesmo tempo está convencida que a legislação portuguesa, tal
como a sueca, prevê uma causa de justificação.

• Esta cidadão sueca estará em erro sobre a existência de uma


causa de justificação.
• A relevância deste erro deve ser julgado mediante a avaliação
do carácter censurável ou não do erro, conforme o regime
distinto previsto no art. 17°/1/2.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

CULPA

• O princípio da culpa é um princípio implícito do sistema


jurídico- constitucional, pois deriva do princípio da essencial
dignidade da pessoa humana, consagrado no art. 1° da CRP.

Princípio da culpa
O princípio da culpa significa, por um lado, que uma pessoa só
pode ser responsabilizada criminalmente se tiver agido com dolo ou
negligência; por outro, que a pessoa que praticou um acto ilícito
há-de ser imputável, isto é, há-de ter liberdade de entendimento e
de decisão para que lhe possa ser atribuída responsabilidade.

Deste princípio resulta ...

- o afastamento da responsabilidade objectiva em direito


penal.

- que não pode haver pena sem culpa

- Que a medida da pena não pode em caso algum


ultrapassar a medida da culpa. (art. 40°/2)

• O princípio da culpa tem uma génese retributiva, baseada nas


teorias absolutas

Para estas teorias ...

• A essência da pena criminal reside na retribuição, expiação,


reparação ou compensação do mal do crime.

• Para estas teorias a essência da pena criminal é ...

- função exclusiva do facto que se cometeu


- a justa paga do mal que com o crime se realizou
- o justo equivalente do dano do facto
- o justo equivalente da culpa do agente

• Pune-se porque se pecou; “punitur quia peccatum est ” (já lá dizia


o velho Platão)
• A pena é vista como um castigo e uma expiação do mal do
crime.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Qual o mérito das doutrinas absolutas ?

- O mérito irrecusável de terem erigido o princípio da culpa em


princípio absoluto de toda a aplicação da pena.

O direito penal é um direito penal da culpa

Culpa
O termo culpa é usado com diferentes sentidos:

a) Como imputação dos factos ao agente, com exclusão da


responsabilidade objectiva.

b) Como limite da pena, significado que se encontra na


afirmação que “a pena deve ser proporcional à gravidade do
facto e à culpa do agente.

c) Como categoria analítica, a culpa como juízo penal de


tipicidade e ilicitude.

Evolução da noção de culpa

Teoria clássica do crime (Beling e Van Lizst)

Para os clássicos, pelo conceito psicológico da culpa, esta era...

- a ligação psicológica entre o agente e o facto, que


poderia ser de dolo ou de negligência;

- o conjunto de fenómenos psicológicos que se


desenrolavam no interior do agente;

daí que ...

- a imputabilidade, seria pressuposto de culpa.

- o dolo e a negligência, seriam formas de culpa.

- O estado de necessidade, seria causa de exclusão da


culpa.

- A consciência da ilicitude, seria um elemento da culpa

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Teoria neo-clássica do crime (Frank)

A escola Neo-Clássica, através de Frank propôs um conceito


normativo da culpa. Para o conceito normativo de culpa, esta era
definida externamente através da ideia de censurabilidade.

A culpa é a censurabilidade, da qual fazem parte:

- a constituição psíquica normal do agente

- o dolo ou a negligência

- as circunstâncias em que o agente actuou

Teoria finalista do crime (Welzel)


Welzel elaborou o conceito de acção final, tomando por base uma
perspectiva ontológica.

• Só a acção humana representa um curso causal evidente, isto


é, o homem é o único ser capaz de antecipar mentalmente
fins, de escolher os meios de acção necessários para os
atingir.

• Welzel identificou a finalidade como dolo e integrou-o no tipo


de ilícito, separando-o da culpa.

• O Dolo e a negligência, constituem o elemento subjectivo do


tipo

• A consciência da ilicitude é vista como um problema de culpa

• Para Welzel no que toca ao erro sobre os pressupostos de


facto de causas de justificação, devíamos distinguir duas
situações:

- se o erro fosse inevitável, excluiria a culpa

- Se o erro fosse evitável, não excluiria a culpa e o


agente seria punido pelo crime doloso de homicídio,
embora a pena pudesse ser atenuada.

Esta teoria de Welzel, é chamada a teoria rigorosa da culpa

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A Teoria rigorosa da culpa de Welzel não mereceu consagração
legislativa no nosso Código Penal, como resulta do art. 16°

Culpa em sentido formal


Abarca o conjunto de elementos psíquicos do facto e que, num
determinado ordenamento jurídico, constituem os pressupostos de
imputação subjectiva.

Culpa em sentido material


Tem a ver com as condições que importa reunir para fundar a
imputação subjectiva com base num determinado comportamento
psíquico.

Culpa pelo facto


É a culpa que se manifesta estritamente no facto praticado pelo
agente

Só o direito penal que acolhe a culpa do facto é


compatível com o princípio da necessidade da pena ! !

Objecto do juízo de culpa


É o facto ilícito, visto na perspectiva da atitude interna do agente

Qual o critério do juízo de culpa ?

- o critério a adoptar deverá colocar-se na resposta à seguinte


questão...

- Se uma outra pessoa, colocada no lugar do agente,


poderia ter ou não actuado de outro modo?

• Trata-se de um critério decisivo ao qual se faz apelo para


saber se há exclusão da culpa na situação de excesso de
defesa ou se há estado de necessidade desculpante.

Elementos da culpa

a) Imputabilidade

b) Consciência da ilicitude

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IMPUTABILIDADE

a) Inimputabilidade em razão da idade (art. 19°)

b) Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica (art. 20°)

FALTA DE CONSCIËNCIA DA ILICITUDE

Esta matéria está tratada nos arts. 16°/1 e 17°

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPA

1. Estado de necessidade desculpante (art. 35°/1) – refere-se


exclusivamente à defesa do conjunto limitado de bens
jurídicos mencionados na norma :

- a vida
- a integridade física
- a honra
- a liberdade

2. Excesso de legítima defesa (art. 33°)

3. Obediência indevida desculpante

4. conflito de deveres (art. 36°)

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A COMPARTICIPAÇÃO
Comparticipação
Consiste no envolvimento de vários agentes na prática do facto
jurídico ilícito-criminal

Autor material
Autores Autor mediato
Co-autores

comparticipantes
Instigador
Participantes
Material
cúmplice moral

AUTORIA
Autor (teoria do domínio do facto – Klaus Roxin, Welzer )
Aquele que tem o domínio do facto. Quem tem o poder de
conduzir o processo até ao fim e de o fazer parar a qualquer
momento. Quem tem em seu poder o sucesso da acção ilícita.

• O autor tem o domínio do processo causal, quer positivo,


porque é dele que depende a prática de actos de execução,
quer negativo, porque pode fazer parar a execução do crime.

Autor material ou imediato (art. 26°, 1ª parte)


Aquele que pratica actos de execução do crime por si mesmo. Tem
o domínio positivo do facto, tem o domínio da acção.

Autor mediato (art. 26°, 2ª parte)


Aquele que pratica o crime através de outrem, Aquele que
determina directamente a realização de um crime utilizando, ou
fazendo actuar, outro por si. Têm o domínio do facto, pois têm o
domínio da vontade do autor material, aquele que vai executar o
crime.

• A determinação pode ser por conselho, ameaça, violência,


ordem pedido etc.

• A responsabilidade do autor mediato não é afastada pelo facto


do executante ser inimputável.

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Situações em que há autoria mediata

1. Sempre que é o autor mediato que tem o domínio da acção

2. Quando o autor imediato actua sem dolo

3. Quando o autor imediato é mero instrumento do crime.

Situações típicas de domínio da vontade (K. Roxin)

4. Indução em erro relevante (arts. 16°/1, 16°/2 e 17°)

5. Domínio de vontades débeis (art. 19°)

6. domínio de um aparelho organizado de poder a alto nível

7. coacção psicológica irresistível (art.35°)

Coautor (art.26°, 3ª parte)


É co-autor aquele que conheceu da actividade dos outros e
colaborou conscientemente nela, executando parcialmente o crime
e por isso é responsável por toda a actividade.

• Na co-autoria, basta provar a adesão de vontades de cada


um à execução do crime.

• Co-autores são os agentes do crime que têm o domínio do


facto e cuja actuação pode, a todo o momento, evitar que o
facto seja praticado.

Para haver co-autoria exige-se que haja...

1. uma decisão conjunta

ou no mínimo ...

2. uma acção concertada

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PARTICIPAÇÃO
Comparticipação
Consiste no envolvimento de vários agentes na prática do facto
jurídico ilícito-criminal.

• a expressão comparticipantes abrange os participantes , ou


seja, os instigadores e cúmplices.

Instigação
O instigador cria dolosamente no autor uma vontade “ex novo”,
convence outra pessoa a praticar o crime.

Cumplicidade
É uma forma de participação criminosa que consiste em prestar
auxílio ao autor do crime; a participação do cúmplice não é
determinante para gerar a resolução criminosa.

Cumplicidade material
É a prestação de uma ajuda material para a execução do crime; o
cúmplice material ajuda materialmente na prática do facto típico e
ilícito, fornecendo os meios para a execução do crime.

Cumplicidade moral
É o auxílio moral à prática por outrém de um facto doloso (art.
27°/1). Trata-se de um conselho, um acto não determinante da
prática do facto criminoso (se for determinante é autoria).

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António Filipe Garcez José

Não estejam tão tristes,


porque p’ró ano há
mais ! ... e com mais
sangue . Ciao ! Boas
férias !

Tonybrussel

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