Inteligência Estratégica: Atividade de Inteligência e Estado Democrático de Direito. Caso Do Brasil
Inteligência Estratégica: Atividade de Inteligência e Estado Democrático de Direito. Caso Do Brasil
Inteligência Estratégica: Atividade de Inteligência e Estado Democrático de Direito. Caso Do Brasil
ENSAIO
INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA
Autores:
Coordenador:
INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA
Coordenador:
Rio de Janeiro
2009.
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Resumo
Este trabalho tem por objetivo geral identificar os óbices decorrentes dos conflitos
característicos do ambiente democrático brasileiro que impedem ou dificultam o pleno
exercício da atividade de Inteligência no Brasil, bem como propor alternativas para modificar
esta relação. Especificamente, o trabalho abordará o problema mencionado na atuação dos
órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), especialmente na
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), por tratar-se do órgão dedicado à atividade de
Inteligência em nível estratégico.
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Sumário
1 Introdução........................................................................................................... 6
6 Conclusão.......................................................................................................... 21
7 Bibliografia........................................................................................................ 22
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1 Introdução.
Este trabalho tem por objetivo geral identificar os óbices decorrentes dos conflitos
característicos do ambiente democrático brasileiro que impedem ou dificultam o pleno
exercício da atividade de Inteligência no Brasil, bem como analisar alternativas capazes de
modificar esta relação. Especificamente, o trabalho abordará o problema mencionado na
atuação dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN),
especialmente na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), por tratar-se do órgão dedicado à
atividade de Inteligência em nível estratégico.
O trabalho será limitado à experiência brasileira recente e não abordará o período
anterior à criação do SISBIN. Não é propósito deste trabalho estudar a natureza sociológica da
democracia brasileira, avaliá-la qualitativamente e nem compará-la com outros modelos de
governo. O trabalho utilizará o método dedutivo e será realizado com base na análise crítica
da literatura especializada de autores nacionais e estrangeiros, da legislação pertinente e dos
fatos contemporâneos relacionados como exemplos que serão interpretados para corroborar
posição teórica ou doutrinária da atividade de Inteligência, sem tratamento jornalístico.
A despeito da nova institucionalização do sistema de Inteligência, os órgãos do
SISBIN deparam-se, atualmente, com obstáculos de todas as naturezas que os impedem de
exercer plenamente suas atribuições no ambiente do Estado Democrático de Direito. A
legislação brasileira não dispõe de todos os mecanismos necessários para garantir o pleno
exercício da atividade de Inteligência em harmonia com a doutrina emanada para esta área. A
atividade de Inteligência, por sua vez, não é reconhecida pela sociedade brasileira como
essencial para defesa do Estado e da sociedade e goza de uma reputação que não condiz com
sua verdadeira missão e relevância.
Espera-se que este trabalho propicie uma compreensão mais ampla da natureza desses
problemas e das tensões existentes no desenvolvimento da atividade de Inteligência no Brasil.
Com isso, objetiva-se subsidiar a proposição de alternativas para legitimar a doutrina de
Inteligência através da elaboração de um contrato juridicamente perfeito que possa regular a
atividade de Inteligência e ajustá-la aos preceitos democráticos existentes, sem que para isso
precise mitigá-la.
O presente trabalho será desenvolvido analisando a tese de que é plenamente possível
conciliar as demandas democráticas de uma sociedade livre e moderna com a necessidade da
produção do Conhecimento Estratégico, alinhando os métodos de busca e coleta e o espectro
de atuação dos órgãos de Inteligência com os interesses nacionais e com as limitações
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impostas ao poder de atuação do Estado. Para tanto a Inteligência no Brasil será analisada
face aos diplomas legais existentes, aos Poderes constituídos e às propostas de alteração da
legislação pertinente, com vistas a identificar os pontos de conflito e, principalmente, as
necessidades e possibilidades de aperfeiçoamento do sistema.
Cabe esclarecer que o termo Estado Democrático de Direito traz em sua definição
dois vieses: o primeiro diz respeito ao acatamento incondicional dos princípios da democracia
propriamente dita, cuja essência fundamenta-se na exaltação do poder popular como principal
e insubstituível instância deliberativa de uma Nação; o segundo materializasse como
submissão, por parte do Estado e suas instituições, ao ordenamento jurídico pátrio. Assim,
além da persecução dos valores consubstanciados no conceito ocidental de democracia, como
liberdade e igualdade, temos que o Estado brasileiro deve submeter-se à Lei, entendida como
a vontade do povo, mais especificamente aos limites constitucionais de sua atuação.
Ora, no curso do desenvolvimento de uma sociedade complexa, como a brasileira, é
natural que esses conceitos embutidos na natureza do Estado Democrático de Direito entrem
em conflito, em certas ocasiões, com os mecanismos utilizados para a consecução dos
Objetivos Nacionais, principalmente no que diz respeito às ações com vistas à manutenção da
ordem institucional e da segurança da nacional.
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negar de forma plausível a execução destas ações, a atividade de Inteligência tem que se
realizar com o conhecimento do menor número possível de autoridades e com uma quantidade
mínima de registros, que são geralmente destruídos quando a atividade é concluída
(SHULSKY e SCHMITT, 2002, p.130). Este é, pois, um ponto de confrontação clássico entre
democracia e inteligência, apesar de que devemos destacar que ações encobertas não fazem
parte do rol de atividade previstas para a ABIN.
Assim, sopesando liberdades individuais e manutenção do sigilo, podemos inferir
que cabe ao Estado a proteção de informações cuja livre divulgação do conteúdo ameace a
sociedade nos seus mais variados aspectos, tanto na manutenção de suas instituições vitais
quanto no desenvolvimento das ações de interesse geral, o que pacifica a questão.
Um correto balanceamento entre as garantias individuais, a transparência nos atos de
um governo democrático, o efetivo controle externo das atividades e a manutenção do sigilo
de informações sensíveis, assim como o empreendimento de ações com o objetivo de produzir
conhecimentos estratégicos vitais para a nação, é a meta a ser alcançada no desenvolvimento
da atividade de Inteligência na atual conjuntura nacional.
Em especial, no caso brasileiro, observa-se ainda certo preconceito e desconfiança da
sociedade em relação à atividade de Inteligência, fruto de uma visão particular de segmentos
de nossa população sobre a atuação do SNI na vigência do regime militar. Essa desconfiança
ganha contornos ainda mais dramáticos no Brasil quando consideramos que muitos dos
protagonistas da luta entre o regime militar e os movimentos contrários dividem, atualmente,
cargos estratégicos nas mais variadas instâncias dos Poderes constituídos da república. Esta
forma distorcida com a qual a realidade que envolve a Inteligência é percebida pelos atores
políticos é, talvez, o maior obstáculo na caminhada a ser trilhada na busca do equilíbrio
institucional entre esta atividade e a democracia.
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"Em julho de 2004, em discurso proferido durante a posse do novo diretor-geral da ABIN, Mauro Marcelo de Lima e Silva,
o presidente Lula destacou a necessidade de a agência superar definitivamente a herança do passado por meio do
fortalecimento da capacidade analítica coletiva e da relevância dos seus produtos, algo diretamente dependente do crescente
profissionalismo dos seus funcionários." (CEPIK, 2005, p. 92).
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Essa ruptura atingiu seu ápice quando, em 1990, Fernando Collor de Melo,
cumprindo uma promessa de campanha, extinguiu o SNI, sem criar um órgão que pudesse
cumprir o seu papel e sem se preocupar com a preservação e com a continuidade dos
processos e competências já desenvolvidos.
Esse gesto demonstrou o quanto a atividade de Inteligência era incompreendida por
parte de quem deveria ser o seu principal usuário e demandante: o Presidente da República.
Apesar da precipitação e da inconsequência do ato, o gesto foi interpretado por segmentos da
sociedade civil como um aceno à democracia e às liberdades, num processo de adesão que
muito tinha a ver com um sentimento de vingança e pouco com uma visão de Estado2.
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A esse respeito, A Analista da ABIN Cláudia Assaf Bastos Rebello afirma que “No início da década de 1990, a estrutura
de Inteligência brasileira chegou a ser extinta pelo governo Fernando Collor, atitude aplaudida por muitos à época. Afinal,
pensava-se ser o fim da estrutura inibidora de liberdade” (Rebello, 2006, p. 40).
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individuais. Como exemplo do que ocorre em boa parte dos países desenvolvidos de tradição
democrática, a Inteligência no Brasil deve ser considerada como um importante aliado na
busca dos objetivos nacionais.
noticiário nacional (CEPIK, 2005, p. 87), podemos concluir que a CCAI vem atuando
precariamente no que se refere ao controle técnico efetivo da Inteligência.
Nesse contexto, o professor Marco Cepik afirma que:
...existe um amplo leque de situações nas quais os parlamentares agem segundo
suas próprias preferências e não segundo as preferências dos eleitores. Em
especial, não existe nenhuma relação necessária e direta entre o interesse geral
dos cidadãos num governo ágil e transparente e uma atuação específica dos
parlamentares na supervisão de qualquer agência executiva que não esteja sob os
holofotes de uma crise política ou administrativa imediata. (CEPIK, 2003, p.
178)
A qualidade da supervisão congressual da atividade de Inteligência, por sua vez, será
determinada tanto pela qualidade da representação popular no parlamento como pela vontade
política e pela capacidade técnica e operacional do órgão de controle. Acima, vimos que a
qualidade da representação é insatisfatória quando o parlamentar coloca suas demandas
pessoas acima das demandas da parcela da população que representa. Em relação à
capacidade técnica e operacional, três fatores contribuem para o insucesso da empreitada da
CCAI: o desenho institucional do órgão, que alterna anualmente a sua presidência, a falta de
recursos técnicos e de pessoal e a falta de assertividade do Congresso Nacional no trato com
os componentes do SISBIN (CEPIK, 2005, p. 86).
Não há ainda uma conscientização da importância de um sistema de Inteligência no
país, que muitas vezes é visto de maneira pejorativa no meio legislativo. Alguns especialistas
da área, como Vidigal (2004, p. 144), apontam a necessidade de divulgar melhor a atividade
de Inteligência no meio legislativo como forma de proporcionar o desenvolvimento de uma
cultura de Inteligência estratégica no Congresso Nacional. Segundo Marques (2004, p. 214),
as principais hipóteses identificadas para este fato são: em primeiro lugar o elevado nível de
dedicação necessário para que um parlamentar especialize-se no tratamento de temas como as
atividades de Inteligência e o baixo retorno eleitoral desses assuntos; e segundo, a tendência
verificada à cooptação dos parlamentares para uma visão acrítica e condescendente em
relação às práticas e justificativas das agências de Inteligência do Poder Executivo.
Em que pese os problemas detectados no procedimento de controle por parte do
Legislativo sobre a atividade de Inteligência, esta esfera se apresenta como a mais legítima
para tal missão, visto seu caráter representativo da população, o que a consagra como
instância apta a fiscalizar o Estado no desenvolvimento de uma atividade que pode facilmente
colidir com os princípios democráticos sacramentados em nossa sociedade, argumento bem
defendido pelo então Diretor-Geral interino da ABIN, Dr. Wilson Roberto Trezza, em sua
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Sobre o controle da atividade de Inteligência, afirma o Professor Cepik: “...o papel do Congresso como
instituição fiscalizadora do Poder Executivo adquire centralidade justamente porque o Legislativo é considerado
o Poder mais representativo nas democracias”. (CEPIK, 2003, p. 178)
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Federal, no art. 5º, inciso XII, regulamentada pela Lei Federal no. 9.296/1996, restringe seu
uso aos casos de investigação criminal e instrução processual penal, o que restringe sua
aplicação, basicamente, às Polícias e ao Ministério Público. O emprego legal deste recurso,
todavia, é fundamental para que a Inteligência seja revestida da agilidade e poder de
penetração que um órgão que lida com as suas atribuições deve ter.
Proteção do Agente: no Brasil, não há previsão legal consistente para a proteção da
identidade dos agentes de Inteligência nem mecanismos efetivos que garantam o exercício
seguro da profissão, como a emissão de documentos de identificação com dados inverídicos.
Sob outro enfoque, tem-se observado com desconcertante frequência a exposição de agentes
da ABIN nos meios de comunicação, bem como a convocação desses profissionais para
deporem em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), o que compromete o seu
anonimato. Outros exemplos do nível de exposição a que o profissional de Inteligência está
submetido no Brasil são os processos seletivos da ABIN, realizados por meio de concursos
públicos cujas etapas são de ampla divulgação; bem como a publicação de atos
administrativos no Diário Oficial contendo o nome de servidores e a divulgação do nome do
agente suprido de verba secreta em sites do Governo.
Uso de Verba Secreta: o uso de verba secreta na atividade da ABIN, assim como
em outros órgãos do SISBIN, é visto com desconfiança pela sociedade brasileira. Este assunto
tem sido explorado sucessivamente pela mídia devido à falta de transparência necessária a
este processo. Se por um lado, a utilização de verba secreta é essencial para garantir a
segurança e o êxito de ações que requerem sigilo, a falta de regulamentação e fiscalização por
parte da CCAI torna nebulosa a atmosfera que envolve este assunto.
Não bastasse a legislação impeditiva já consolidada, recentemente os agentes
públicos que operam no âmbito do SISBIN têm sido acossados com a apresentação de
Projetos de Lei e outras medidas tomadas com vistas a tolher ainda mais a atividade de
Inteligência e tornar ineficazes os mecanismos de investigação já existentes, especialmente
depois do desgaste provocado pela deflagração e divulgação de operações policiais contra os
chamados crimes do colarinho branco.
Como exemplo, podemos citar a Resolução nº 59, de 09 de setembro de 2008, do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Resolução nº 36, de 06 de abril de 2009, do Conselho
Nacional do Ministério Público. Estes diplomas estabelecem normas mais restritivas para a
formulação, deferimento, prorrogação e controle das interceptações telefônicas. Em que pese
a cautela necessária nas medidas que permitam a intrusão na intimidade das pessoas, tais
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Resoluções podem ser consideradas excessivas, visto a interceptação já estar bem disciplinada
pela Lei nº 9.296, de 24 de julho de l996 e pela normatização infralegal decorrente.
Na esfera legislativa, inúmeros projetos de Lei recentemente apresentados no
Congresso Nacional versam sobre o cerco à capacidade investigativa e ao desenvolvimento da
atividade de Inteligência. Numa rápida pesquisa, foram localizados oito projetos de Lei
tramitando na Câmara dos Deputados e um no Senado Federal que versam sobre interceptação
telefônica, apresentados entre 1º de agosto de 2008, data da deflagração da Operação
Satiagraha pela Polícia Federal, e 03 de junho de 2009. A maioria desses projetos tem por
objetivo limitar a interceptação telemática e criar empecilhos burocráticos para a sua
execução, além de estabelecer penas mais rigorosas do que as já existentes para o
descumprimento das normas sobre o assunto.
Podemos destacar, para análise, o artigo 9º-A do Projeto de Lei 327/2008, de 04 de
setembro de 2009, de proposição do Senador Álvaro Dias:
Art. 9º-A. Na hipótese de as investigações não resultarem em prova contra o
cidadão que foi alvo da interceptação telefônica, esse deverá ser notificado para
tomar conhecimento do teor das acusações ou suspeitas alegadas contra ele, bem
como para tomar conhecimento de todo o conteúdo das gravações feitas em seu
telefone e se pronunciar, perante o conselho de que trata o § 1º do art. 3º, na
presença da autoridade que houver solicitado a medida.
Fonte:http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp?
p_cod_mate=87250 (em 03/07/2009).
Nota-se, no caso acima, uma medida que, se posta em prática, poderia causar sérios
prejuízos às investigações e uma exposição desnecessária da técnica operacional ao público
em geral. É fato que pessoas interceptadas e não indiciadas em um determinado inquérito, por
falta de provas ou incapacidade operacional da equipe de investigação, podem vir a ser objeto
de outras diligências, como decorrência do aprofundamento ou desdobramento dos trabalhos.
Esse procedimento, que possibilitou a realização de grandes operações por parte da Polícia
Federal e seus parceiros institucionais, seria seriamente comprometido caso o Projeto de Lei
acima viesse a ser aprovado com o texto atual.
Já o Projeto de Lei 5285/2009, proposto pela Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) com a finalidade de investigar escutas telefônicas clandestinas, instalada em dezembro
de 2007, sentencia em um de seus artigos:
Art. 15. O sigilo que recai sobre as informações obtidas por meio de
interceptação judicial só será compartilhado entre órgãos policiais com
competência investigativa, nacionais ou estrangeiros, o Ministério Público e as
comissões parlamentares de inquérito, mediante autorização do juiz competente.
medida em que o país avance sobre interesses alheios e ocupe mercados globalmente
cobiçados.
Mark Lowenthal (2007, Cap. II, p. 1) afirma que os EUA só vieram a desenvolver
um sistema de Inteligência organizado na década de 1940, quase 170 anos após sua
independência, em 1776. Tal medida só tornou-se necessária quando o país alcançou status de
potência mundial, envolvendo-se em assuntos internacionais relevantes. Guardadas as devidas
proporções, tal é o desafio do Brasil na perspectiva atual.
Ainda sobre esse assunto, respondendo à pergunta "Por que o Brasil necessita da
atividade de Inteligência?", Cláudia Assaf Bastos Rebello afirma:
A crescente inserção do Brasil nas relações internacionais decorre,
principalmente, da capacidade de o País se adaptar às transformações por que o
mundo passa na era de acelerada globalização. As tecnologias brasileiras de
ponta, a soberania alimentar, o conhecimento tradicional de populações nativas,
as formas alternativas de produção de energia e, ainda, as riquezas naturais
abundantes e cada vez mais valorizadas, como água doce, minérios estratégicos,
biodiversidade, entre outras, vêm despertando a atenção de vários países e a
cobiça de transnacionais.
O Brasil destaca-se em áreas de interesse das comunidades científicas
internacionais, das empresas que as financiam e, sobretudo, dos Estados.
Detemos tecnologias de ponta diversas: prospecção de petróleo em águas
profundas e em áreas florestais; domínio do ciclo completo do urânio;
desenvolvimento de espécies híbridas que melhor se adaptam ao complexo
clima-solo; sistemas bancários de informática; urnas seguras para eleições;
tecnologia aeroespacial e para construção de satélites. Trata-se de exemplos que
tornam a proteção do conhecimento desenvolvido e difundido pela Abin alta
prioridade na pauta de segurança nacional. (Rebello, 2006, p. 43).
Tal projeção desejada somente será possível caso o país construa um sistema de
Inteligência que seja forte, estruturado e dotado de prerrogativas legais e institucionais que
garantam o perfeito cumprimento de sua missão, de maneira com que os objetivos nacionais
sejam plenamente alcançados e que os óbices e antagonismos sejam devidamente, e
tempestivamente, detectados, prevenidos, obstruídos e neutralizados.
Sob outra ótica, a atividade de Inteligência em um país que assume papel de
complexidade no cenário externo torna-se imperativa em função do nível e da qualidade das
informações que deve ter o Presidente da República, cada vez mais instado a se pronunciar
sobre assuntos de toda natureza. Como o mandato presidencial brasileiro tem curta duração,
atualmente quatro anos, e as esferas intermediárias de poder costumam a serem substituídas
em menos tempo ainda, impera que haja uma instituição apartidária, independente, confiável e
permanente que acumule e produza o conhecimento necessário para subsidiar a formulação da
política nacional (LOWENTHAL, 2007, Cap I, p. 3). É justamente este espaço que o órgão de
Inteligência deve ocupar.
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6 Conclusão.
A importância da atividade de Inteligência Estratégica para o Brasil resta
demonstrada nesse trabalho. É importante destacar que há, em algumas correntes de
pensamento, a aceitação da falsa premissa de que o pleno desenvolvimento desta tão nobre e
necessária atividade se confronta de maneira inexorável com os princípios consagrados de
nossa democracia e as garantias individuais e coletivas conquistadas.
Pelo contrário. Fica evidente, diante de uma análise desapaixonada, que a
Inteligência é um instrumento que, quando corretamente utilizado, concorre para a proteção
de todos os cidadão e o desenvolvimento da sociedade em geral, no caminho por ela mesmo
definido.
Assim, torna-se urgente a reforma de nosso arcabouço jurídico e a efetiva
implementação dos controles externos que permeiam os entes componentes do SISBIN para
que a Inteligência possa servir à sociedade com eficácia e eficiência, ao mesmo tempo em que
possa ser acompanhada de perto por equipes técnicas compostas por legítimos representantes
populares.
Para isso, como visto, velhas contendas e antigos preconceitos há muito arraigados
em nosso país devem ser superados, seja através da valorização da atividade de Inteligência
pelos usuários do sistema como pela produção de conhecimentos cada vez mais úteis, precisos
e tempestivos. É este o árduo desafio que se apresenta aos integrantes do SISBIN.
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7 Bibliografia.
FELIX, Jorge A. “Afinal, o que faz a Abin?”; Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo,
São Paulo, em 14 de agosto de 2005. Disponível na internet em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1408200509.htm>. Acessado em:
20/04/2009.
RANSON, Harry Rowe; "Central Intelligence and National Security", Havard University
Press, Cambridge, Massachusetts, 1958.