Apostila Aspectos Jurídicos

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Ol, desejamos as boas-vindas ao curso Aspectos Jurdicos da Atuao Policial!

O curso composto por trs mdulos. A diviso dos assuntos foi elaborada para facilitar o aprendizado
e os conhecimentos sero apresentados gradativamente, mantendo correlao lgica entre as aulas e os
mdulos. A todo o instante, a proposta buscar ligao entre os aspectos jurdicos e as experincias vivenciadas
pelo aluno no cotidiano policial, possibilitando o desenvolvimento dos objetivos gerais e especficos traados.
Para que voc tenha uma ideia do caminho a ser percorrido, observe os objetivos estabelecidos para o
curso, traados de acordo com a percepo de que sua aprendizagem deve servir de base para sua atuao
profissional.

Objetivo do curso
Ao final do curso, voc ser capaz de:

Apontar os requisitos legais indispensveis realizao da abordagem pessoal, domiciliar e

Reconhecer o valor e respeitar os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, na

veicular;
atividade da Segurana Pblica;

Identificar os principais ilcitos penais correlacionados ao tema, eventualmente praticados por

pessoas abordadas pela polcia;

Identificar os principais ilcitos penais correlacionados ao tema, eventualmente cometidos por

Identificar as implicaes de ordem civil e administrativa durante uma abordagem mal sucedida;

Conhecer quais so as tendncias das principais decises do Poder Judicirio sobre a atuao

Identificar os critrios e fundamentos para realizao da abordagem policial;

Entender quais as motivaes que levam ao policial a realizar uma abordagem (preveno,

policiais;

policial;

orientao geral ao pblico, fundada suspeita, momento de atuao).

Estrutura do curso
Este curso abrange os seguintes mdulos:
Mdulo 1 Aspectos constitucionais e normas internacionais aplicados atuao policial;
Mdulo 2 Atuao policial: da preveno s aes de resgate da paz social e instruo criminal;
Mdulo 3 Implicaes penais, civis e administrativas sobre a abordagem policial: responsabilidade
do cidado e do agente policial.

MDULO

ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS


INTERNACIONAIS APLICADAS SEGURANA
PBLICA

Apresentao do mdulo
Na Constituio de 1988 se encontram os objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil,
dentre eles o de construir uma sociedade livre, justa e solidria, bem como o de promover o bem de todos.
Essa norma fundamental traa a estrutura essencial desse Estado, em especial no mbito da segurana
pblica, conferindo-lhe atribuies (ex.: preservar a ordem pblica, que consiste em manuteno e
reestabelecimento; proteger pessoas e bens), assim como metas e limites para o cumprimento de suas tarefas
e o exerccio do poder.
Dentro desse contexto, destaca-se a dignidade da pessoa humana, alm de um catlogo de
direitos e garantias fundamentais.
Ao lado disso, importante lembrar que o Brasil, nas suas relaes internacionais, segue alguns
princpios, dentre os quais destacam-se: a prevalncia dos direitos humanos, a defesa da paz e a soluo
pacfica dos conflitos e a cooperao entre os povos para o progresso da humanidade.
Normalmente essas relaes so firmadas por meio de acordos, tratados, convenes, dentre outros
atos, regulados pelo Direito Internacional.
Assim, considerando a atuao no mbito da segurana pblica, importante destacar que voc
estudar algumas normas internacionais que possuem reflexo na atuao policial, bem como garantias no
expressas na Constituio Brasileira, e que vinculam sua atividade ou recomendam a observao de algumas
medidas, podendo ser ou no adotados pelo Brasil, por seu estado ou municpio.
Neste mdulo, voc estudar as principais normas constitucionais e os atos normativos internacionais
que cuidam das atividades de preservao da ordem pblica e da proteo de pessoas e bens.

Objetivo do mdulo
Ao final do mdulo, voc ser capaz de:

Descrever o que dever da sua instituio: identificar as normas constitucionais que tratam das

aes de segurana pblica, seus rgos e atribuies;

Identificar quais normas amparam suas atribuies: identificar as normas constitucionais, bem

como os princpios relacionados aos direitos e garantias fundamentais que delimitam a atuao dos
profissionais de segurana pblica;

Compreender a necessidade de sua atuao (estatal) como instrumento de promoo da

harmonia no seio da comunidade;

Nomear as restries legais aos direitos humanos fundamentais;

Reconhecer as limitaes constitucionais da sua atuao policial e as consequncias dos desvios

desses limites na extenso da responsabilidade;

Reconhecer o poder que o Estado d a seus agentes para realizar abordagem; e,

Conhecer as normas internacionais que cuidam das aes policiais, com seus efeitos e alcance.

Estrutura do Mdulo
Este mdulo abrange as seguintes aulas:

Aula 1 Viso constitucional sobre o papel dos rgos policiais;

Aula 2 Restries constitucionais sobre a atuao policial;

Aula 3 Reflexos das normas internacionais na atividade policial.

Aula 1 Viso constitucional sobre o papel dos rgos policiais


Como profissional, voc sabe que a atividade policial integra as aes de segurana pblica, e de acordo
com os ensinamentos do professor Lazzarini (1999, p. 52), constitui-se como um aspecto da ordem pblica, ao
lado da tranquilidade e da salubridade pblica. Tudo isso concebido dentro de uma estrutura estatal para
garantir uma convivncia harmoniosa entre as pessoas.
Quem de ns, profissionais de segurana pblica, nunca disse Estou aqui para garantir a ordem
pblica!, quando na verdade nos referimos segurana pblica.

Mas, no que a ordem pblica difere de segurana pblica? No seriam a mesma coisa?
1.1 Segurana pblica e ordem pblica
Uma explicao usual diz que, em linhas gerais, a segurana pblica causa da ordem pblica, que se
traduz em um estado antidelitual, livre, portanto, da violao dos bens e valores mais importantes para a
coletividade (vida, integridade fsica, liberdade, patrimnio, etc.) e, por isso, tutelados pelas leis, que regulam o
comportamento de todos.
Nesse sentido, existe ordem pblica, e, consequentemente, segurana pblica, quando, por exemplo,
no dia-a-dia o cidado tem a liberdade para ocupar espaos pblicos, transitar nas ruas a qualquer hora, sem
sofrer qualquer tipo de prejuzo, violao ou dano (ex.: furto, roubo, sequestro, leso corporal, homicdio etc.).
5

Para enriquecer essa noo, de acordo com Meirelles (Apud LAZZARINI, 1999, 93), ordem pblica :
[] a situao de tranquilidade e normalidade que o Estado assegura ou deve
assegurar s instituies e a todos os membros da sociedade, consoante s normas
jurdicas legalmente estabelecidas [...] abrange e protege tambm os direitos
individuais e a conduta lcita de todo o cidado, para coexistncia pacfica de toda a
comunidade. Tanto ofende a violncia contra a coletividade ou contra as instituies
em geral, como os atentados aos padres ticos e legais de respeito pessoa
humana [...] situao ftica de respeito ao interesse da coletividade e aos direitos
individuais que o Estado assegura, pela Constituio e pelas leis, a todos os membros
da comunidade.

Nas palavras, de Moreira Neto (Apud LAZZARINI, 1999, P. 52) a segurana pblica resultado de um
conjunto de aes dos rgos especializados do Estado, precedido por escolhas feitas pela sociedade e
reguladas por normas jurdicas (leis), tudo com a finalidade de garantir a ordem pblica, sendo esta objeto
daquela. neste ponto em que ns, profissionais de segurana pblica, devemos amparar nossas aes.
Dentro dessa concepo, a preservao da ordem pblica feita pelos agentes pblicos de segurana,
por meio da manuteno e quando quebrada, do reestabelecimento da ordem pblica.
Importante!
O agente pblico de segurana trabalha preventivamente pela manuteno e repressivamente pelo
reestabelecimento da ordem pblica e da paz na sociedade.
Essa afirmao de Moreira Neto (1999), se consolida com a leitura do Captulo (III), Da segurana
pblica, no Ttulo V, da CF/88, que cuida Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas. Em especial, o
artigo 144 estabelece que o poder pblico, dentro de suas atribuies, tem a incumbncia de promover a
preservao da ordem pblica e garantir a incolumidade das pessoas e do patrimnio:
Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do
patrimnio, atravs dos seguintes rgos:
I - polcia federal;
II - polcia rodoviria federal;
III - polcia ferroviria federal;
IV - polcias civis;
V - polcias militares e corpos de bombeiros militares

Dito isso, no custa reforar a ideia de que as atividades desenvolvidas pelos rgos policiais so
consubstanciadas em procedimentos especficos, aptos a alcanar suas finalidades.

Importante!
As aes dos profissionais de segurana so construdas para garantir e resguardar uma situao de paz
social, um ambiente de normalidade almejada pela coletividade, protegendo os bens mais caros para a
sociedade, consoante s normas jurdicas vigentes, estabelecendo um grau adequado de coexistncia
pacfica entre as pessoas.

Saiba mais...
Considerando o objetivo de estudo desse curso, destaca-se aqui o papel de cada rgo policial citado
no artigo acima, sendo de suma importncia a leitura dos pargrafos do Art. 144. que versam sobre esta
questo.

1. Preveno e Represso
Para facilitar a compreenso do momento em que cada um dos rgos policiais, citados anteriormente,
deve agir, para preservar a ordem pblica, proteger pessoas e bens, faa o exerccio a seguir:
Imagine o momento em que ocorre um evento da natureza (emergncias, desastres, catstrofes, etc.)
ou uma conduta humana ao/omisso (crime/delito, contraveno penal, etc.).
Diante de situaes assim, o que se busca assegurar um ambiente social livre de riscos e perigos,
atravs de aes de preveno ou de represso (imediata e mediata) realizadas pelos os rgos policiais, seja
em razo dos acontecimentos da natureza, seja em funo do comportamento do ser humano.
Importante!
Dentro dessa concepo, importa salientar que o Estado o detentor do uso da fora e por isso,
quando a ordem pblica quebrada, seus agentes pblicos de segurana, protocolam aes, muitas
delas com o emprego de fora por meio da represso imediata, para o reestabelecimento da ordem.
As aes desenvolvidas pelos rgos policiais buscam promover o controle social no sentido de evitar
(prevenir) a perturbao da ordem pblica, a mcula da paz social, a violao dos bens jurdicos tutelados (vida,
integridade fsica, patrimnio, etc.).
Quando essa preveno no funciona, surgem os procedimentos de resgate da ordem pblica e da paz
social, mediante aes de represso imediata, socorrendo a vtima, isolando o local do evento, prendendo o
autor da conduta, instaurando procedimentos (ex.: inqurito policial) para esclarecer os fatos e colher elementos
preliminares (autoria, materialidade e circunstncias) para instruir eventual responsabilizao (administrativa,
civil ou penal).
A represso mediata consolida os atos complementares da colheita de informaes, seja promovendo
a oitiva do autor dos fatos, vtima ou de testemunhas, que no foram identificados no momento dos eventos,
seja realizando diligncias, percias complementares, dentre outros, a fim de instruir a persecuo penal
instaurada e/ou responsabilizao nas esferas administrativa e civil.
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O quadro, a seguir, mostra a relao dos rgos de segurana pblica com as aes de preveno e
represso, de acordo com o art.144 da CF/88

rgo

Polcia Federal

Aes de

Aes de

Represso

Represso

imediata

mediata

(1, incisos II e III)

(1, incisos I e IV)

(1, incisos I e IV)

( 2 e 3)

( 2 e 3)

___

( 4)

( 4)

Aes de Preveno

Polcia Ferroviria
Federal e Polcia
Rodoviria Federal
Polcias Civis

___

Polcias Militares

( 5)

( 5)

Quadro 1 Relao dos rgos de segurana pblica com o exerccio das aes de preveno e represso Art.
144 da CF/88
Fonte: Elaborado a partir das informaes do conteudista

As polcias militares, ao lado dos corpos de bombeiros militares, devido ao regime jurdico peculiar,
exercem ainda a atividade de polcia judiciria militar, regulada pelo Cdigo de Processo Penal Militar, com
natureza de represso imediata e mediata.
Observe que as instituies de segurana pblica recebem atribuies diversificadas, que abrangem
desde o controle social, regulando as relaes interpessoais com o emprego da fora, o socorro, assistncia
s populaes carentes, apoio s atividades comunitrias, reforo aos demais rgos nas atividades de
sade, fiscalizao tributria, sanitria, dentre outras (COSTA, 2004, p. 35-36).

E como estas aes so desempenhadas? Como se define onde os rgos de segurana pblica
atuaro?
1.2.1 Aes preventivas e repressivas
As aes preventivas e de represso imediata so desempenhadas atravs de procedimentos de
distribuio de efetivo em locais em que, aps o devido planejamento, guardem algum potencial para a
ocorrncia de fatos que venham a abalar a paz social, a ordem pblica e quando ocorrem crimes, adoo de
medidas para priso em flagrante e atos complementares (LAZZARINI, 1998). Normalmente isso ocorre com o
emprego do policiamento ostensivo, direcionado essencialmente para a realizao de procedimentos
destinados a evitar que pessoas e bens estejam em risco (SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 97), seja em razo de um
evento da natureza ou de um comportamento humano.

No mbito das aes de represso imediata e mediata, evidenciam-se as atividades de polcia judiciria,
exercidas pelas polcias federal e civil, mediante colheita de informaes sobre a autoria e materialidade de uma
infrao penal (crimes/delitos e contravenes), bem como o cumprimento de determinaes das autoridades
judicirias (juiz de 1 grau, desembargador, ministros do STJ e do STF), como no mandado de priso, na busca
e apreenso de bens, na realizao de percias, etc.
Seus atos, em regra, so documentados em inquritos policiais, Autos de Priso em Flagrante (APF) e
Termos Circunstanciados de Ocorrncia (TCO) que, uma vez encaminhados para a justia, tem por finalidade
subsidiar o exerccio da ao penal por seus titulares (na ao penal pblica, o Ministrio Pblico, atravs da
denncia; na ao penal privada, o ofendido/vtima ou representante legal, atravs da queixa-crime), ao apontar
indcios de autoria e materialidade. Portanto, tipicamente, a polcia judiciria exerce suas atribuies aps a
ocorrncia do fato-crime. De outro lado, possvel que eventualmente haja uma atuao preventiva, atravs da
orientao ao pblico em geral, ou em cumprimento a um mandado de priso/busca e apreenso, no qual a
simples presena do profissional inibe a ocorrncia de um crime.
Assim, vale ressaltar que tambm no exerccio da atividade de polcia judiciria so realizadas
aes de busca pessoal, veicular ou domiciliar, pois constituem procedimentos aptos a instruir a colheita de
informaes sobre a materialidade e autoria de uma infrao penal (crime/delito, contraveno penal), quando
instaurado um inqurito policial ou ainda para cumprir uma determinao judicial, no sentido de subsidiar uma
instruo criminal, aps a instaurao de um processo penal.
1.2.2 Aes dos Corpos de bombeiros militares, guardas municipais, rgos ou entidades
executivos de trnsito
Conforme voc estudou anteriormente, as instituies de segurana pblica recebem atribuies
diversificadas. No caso em apreo, cumpre destacar as aes de socorro, fiscalizao de trnsito, segurana
viria, assistncia s populaes, reforo aos demais rgos nas atividades de sade, fiscalizao tributria,
sanitria, dentre outras.
Os corpos de bombeiros militares exercem atividades de defesa civil, buscas, salvamento, socorros,
preveno e combate ao incndio. Tais aes so desenvolvidas em carter preventivo, repressivo imediato e
repressivo mediato, sendo estas realizadas em casos de incndio, atravs da percia.
s guardas municipais cabem a proteo de bens, servios e instalaes dos municpios, na forma da
lei (CF/88, ART. 144, 8). Em 08 de agosto de 2014 entrou em vigor a Lei n 13.022.
Saiba Mais...
A referida lei tem carter de norma geral, editada no mbito do Congresso Nacional, podendo cada
municpio, atravs de suas respectivas cmaras de vereadores, editar normas especficas, a fim de criar guardas
municipais, observando a norma geral em destaque.

Quanto fiscalizao de trnsito e segurana viria, pe-se em destaque a entrada em vigor da


Emenda Constitucional n 82/2014, conferindo preocupao do tema segurana pblica:
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Art. 144. ...


[...]
10. A segurana viria, exercida para a preservao da ordem pblica e da
incolumidade das pessoas e do seu patrimnio nas vias pblicas: (Includo pela
Emenda Constitucional n 82, de 2014)
I - compreende a educao, engenharia e fiscalizao de trnsito, alm de outras
atividades previstas em lei, que assegurem ao cidado o direito mobilidade urbana
eficiente; e (Includo pela Emenda Constitucional n 82, de 2014)
II - compete, no mbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, aos
respectivos rgos ou entidades executivos e seus agentes de trnsito, estruturados
em Carreira, na forma da lei. (Includo pela Emenda Constitucional n 82, de 2014)

Aula 2 Restries constitucionais sobre a atuao policial


Voc j deve ter ouvido bastante sobre a violncia policial. Ento, aqui vai uma pergunta: a polcia
violenta?
2.1 Autorizao social para o exerccio da violncia legtima em benefcio da paz social
Porto (apud OLIVEIRA; SANTOS E SILVA, 2001, p. 33) destaca a ideia de Max Weber (1968) no sentido
de que o Estado, por seus agentes policiais, detm o monoplio da violncia legtima.
Violncia: Do latim, violncia remete a vis, que significa fora, vigor, emprego de fora fsica, recursos
do corpo para exercer a sua fora vital, seja para dominar a natureza, outra pessoa ou grupo de pessoas
(FOUCAULT, 2004).
Para que voc possa compreender o termo violncia legtima, imagine as situaes a seguir:
Situao 1 Imagine...
...uma situao em que voc tem que efetuar uma abordagem e mesmo depois de exaustiva negociao
o autor da conduta resiste fisicamente sua legtima atuao, a ponto de querer ofender sua integridade fsica,
exigindo a priso.
Voc conseguiria cumprir sua funo sem usar a fora?
Assim, para que o Estado cumpra o papel de promover o bem comum, a violncia (uso da fora) legtima
surge como instrumento que tem o objetivo precpuo de estabelecer ou preservar uma sociedade pacificada, o
controle social. Na verdade, a conotao dada a essa violncia (uso da fora) a de que ela se legitima na
autorizao dada pelo corpo social, atravs das normas jurdicas (constituio, leis, etc.), to somente para

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impedir a livre circulao da violncia entre os indivduos e inibir sua existncia de forma difusa e/ou
privatizada pelo conjunto da sociedade.
[...] trata-se do domnio de procedimentos fundados no direito racional, guiados por
normas e regras impessoais, de carter mais universalistas. Descumpridas essas
condies, abre-se espao para se falar em violncia legtima, como caractersticas
que podem indicar, alm do mais, processos de desconcentrao e de privatizao
dessa violncia (Porto, 2000).

dentro dessas condies que se desenvolve a concretizao da atuao policial, mediante o uso
diferenciado da fora, como elemento essencial para assegurar a ordem pblica, a paz social (BITTNER, 2003,
p. 128).
Situao 2 Imagine...
Imagine a situao na qual seja irradiada pela Central de Operaes uma denncia de que trs
indivduos, em um veculo automotor, estejam praticando vrios roubos em comrcio de uma regio, mediante
uso de uma arma de fogo. Em dado momento, uma viatura se depara com um veculo com as exatas
caractersticas transmitidas pela Central.
O que voc, profissional de segurana faria? Abordaria? E como faria isso?
Agora, partindo das situaes anteriormente apresentadas, reflita sobre as questes a seguir.
Os excessos na atuao policial, frequentemente, so objetos de severas crticas que, invariavelmente,
vinculam-nos falta de preparao.
De outro lado, empregando o adgio
a polcia uma presena que incomoda, mas, principalmente, uma ausncia sentida
Sabe-se que o uso da fora, a abordagem, ou a efetivao de uma priso, constituem procedimentos
necessrios para se alcanar os objetivos dos rgos policiais, para proteger pessoas e bens, assegurando um
ambiente social livre de riscos e perigos.

Pensando na sua realidade e experincia profissional, qual sua ideia a respeito?


Voc acredita que seja possvel minimizar e at eliminar as crticas sobre a legitimidade de uma
interveno policial?
Quando alguma ao policial considerada ilegtima, fora dos parmetros do uso legtimo da fora,
tem-se como incompatvel com o estado democrtico de direito. Mas, as perguntas que voc pode querer fazer
so:

Quais seriam esses parmetros? O que legtimo e o que deixa de ser em uma atuao policial?
Como voc estudou, a Constituio Federal estabelece as normas de organizao e estruturao do
Estado, de seus poderes (Executivo, Legislativo e Judicirio) e de seus rgos, para que possam alcanar a
finalidade pblica e atender os interesses da coletividade. Tambm certamente teve a oportunidade de ver que

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a Carta Magna de 1988 traou os direitos e garantias fundamentais com o intuito de limitar a atuao estatal
evitando as arbitrariedades de quem ocupa o poder.
2.2 Natureza e distino entre direitos e garantias fundamentais
Muitas vezes, quando em atuao, os profissionais de segurana pblica escutam o seguinte
comentrio sobre direitos e garantias individuais:

Mas onde esto escritos?


Para saber identificar o que realmente direito e o que mera alegao infundada, a partir de agora
voc estudar as bases do tema direitos e garantias fundamentais. Por meio delas, espera-se criar condies
para que voc possa compreender a razo pela qual tanto se fala em limitaes constitucionais atuao policial
e o porqu de sua existncia.
Importante!
importante que voc, profissional de segurana pblica, conhea as regras que envolvem suas aes
para que ningum, alm da lei, diga o que voc deve e o que no deve fazer. A lei quem traa suas
aes.
Toda vez que voc, policial, agente aplicador da lei, for realizar algum procedimento, precisar observar
que seu comportamento se vincula ao atendimento dos limites legais.
Empregando os ensinamentos do Professor Paulo Gonet Branco (2008), bom dizer que os direitos e
garantias fundamentais constituem um ncleo, um conjunto de regras e princpios que visam proteger a
dignidade da pessoa humana.
De uma forma bem geral, pode-se dizer que:
Os direitos representam por si bens, isto , algo que pertence ao patrimnio (material ou imaterial) de
algum ou tem como objeto imediato um bem especfico da pessoa (vida, honra, liberdade, integridade fsica,
etc.).
As garantias correspondem a instrumentos postos disposio dos indivduos para assegurar os
direitos e limitar os poderes do Estado (habeas corpus, habeas data, mandado de segurana, direito de petio).

Voc conhece as regras diretamente ligadas nossa atuao? Por que no posso mais prender uma
pessoa e levar delegacia para averiguao, se a minha intuio diz que contra ela pode existir um mandado
de priso expedido? O delegado precisa do mandado de priso para recolh-la? Onde exatamente est escrito
isto? Todos sabem que aquela pessoa criminosa e cometeu ato delituoso grave em que o autor ainda no
havia sido preso. Posso abord-la na rua e lev-la para casa?
Saiba Mais...
Vrios so os dispositivos contidos no art. 5 da Constituio que comportam as definies estudadas
por voc anteriormente, sendo de suma importncia a leitura, entendimento e aplicao durante o exerccio das
aes de segurana.
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Uma curiosidade se destaca em face do contedo do caput do art. 5. Releia o trecho a seguir:
Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade
do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos
seguintes:

Observe que, em um primeiro momento, ele d a entender que os destinatrios da proteo jurdica e
material so apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Porm, bom que fique claro que os
estrangeiros em trnsito no territrio nacional tambm so beneficirios dessa tutela estatal brasileira.
Esse entendimento decorre da interpretao dada aos artigos 1, 3e 4da Constituio, de onde se destacam a
dignidade da pessoa humana, a construo de uma sociedade livre, justa e solidria, a promoo do bem
comum, sem preconceitos de origem raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao e, em
especial, a prevalncia dos direitos humanos nas suas relaes internacionais.
A existncia de direitos e garantias fundamentais na Constituio tem sua razo de ser centrada na
magnitude (dimenso) dos valores mais caros da existncia humana que, por isso, devem estar resguardados
em um documento jurdico supremo e com fora vinculante mxima, tornando-se imune aos temperamentos
ocasionais de quem ocupa o centro do poder, bem como das instabilidades polticas, religiosas, econmicas e
sociais.
E para que essa concepo seja efetiva, os direitos fundamentais na Constituio vinculam a atuao
do Estado, de seus Poderes e de seus rgos. Circunstncia que impede a interpretao de que constituem
simples limitaes dos poderes, passveis de serem alterados ou suprimidos ao talante desses, sob o mero
argumento de vigorar o interesse do Poder Pblico na consecuo de seus fins.
Ento, pode-se concluir que:
Os rgos pblicos que constituem a administrao pblica (dentre eles, os da segurana pblica) esto
vinculados s normas de direitos e garantias fundamentais, pelo que seus agentes devem agir, interpretar e
aplicar as leis segundo ao que se dita.
Em outras palavras, a atividade do poder pblico no pode deixar de respeitar os limites que lhe acenam
os direitos e garantias fundamentais. Em especial, destacam-se as atividades discricionrias da administrao,
cuja margem de liberdade abre um leque de possibilidades na atuao do agente pblico, de acordo com os
juzos de oportunidade (agora ou depois) e convenincia (bom ou ruim), como ocorre na abordagem policial,
pautada eventualmente na fundada suspeita.
2.2.1 Direito de ir, vir e permanecer
No texto de contextualizao, disponvel na apresentao, voc leu o questionamento:

certo dizer que as pessoas no podem ficar nas esquinas sem fazer nada at tarde da noite? Ser que
isso mesmo?
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Para responder a essas questes, necessrio verificar que um dos direitos fundamentais mais afetados
com a interveno estatal, em especial, por meio da atuao dos rgos de segurana pblica, durante uma
busca pessoal, no exerccio do dever-poder de polcia (vide Mdulo 2), o direito de ir, vir e permanecer.
Isso porque a CF/88 em seu art. 5, inciso XV, foi clara ao dizer que: livre a locomoo no territrio
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens. Com efeito, no havendo flagrante delito nem outra restrio legal, perfeitamente possvel a
permanncia das pessoas nas esquinas at tarde da noite.

Voc tem ideia da magnitude, da importncia e do relevo que contorna esse direito fundamental?
A resposta perece simples, mas na prtica no o . Perceba que com a liberdade a pessoa pode
desenvolver-se em vrias dimenses (fsica, espiritual, educacional, religiosa, poltica, etc.). E um dos aspectos
dessa liberdade o direito de locomoo (direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidado a
possibilidade de movimentar-se por todos os espaos pblicos e privados na busca de integrar-se com sua
sociedade, com sua famlia, com o poder pblico, seja para emprego, educao, sade ou lazer, dentre outros
aspectos da vida em sociedade.
Vale lembrar que isso tudo faz parte da dignidade da pessoa humana, ponto de partida desse estudo,
que na Constituio de 88, ao Estado compete proteger e estimular o seu pleno exerccio, porque para isso foi
concebido.
Dessa forma, considerando os aspectos fticos, a abordagem policial deve ser realizada no tempo
estritamente necessrio para que seja verificada eventual suspeita. Assim, caso no haja nada que vincule o
cidado abordado a algum fato considerado crime, este deve ser liberado imediatamente, desde que no haja
outra providncia a ser adotada (orientao geral, notificao de trnsito, etc.).
De outro lado, caso criana ou adolescente no estejam acompanhadas de seus pais, normalmente
aps s 22h00 (depende da deciso judicial da vara da infncia ou legislao local), devem ser
encaminhadas para as respectivas residncias e apresentadas aos pais ou responsveis e, na ausncia
destes, ao Conselho Tutelar.
2.2.2 Smula vinculante e atuao policial
Outras questes comentadas no meio policial, so as que se referem ao emprego de algemas e acesso
aos autos do inqurito policial por advogado. As questes chegaram a um nvel de discusso, ao ponto de serem
sumuladas pela Corte Mxima Brasileira, o Supremo Tribunal Federal. E a fica a indagao:

Por que tenho que cumprir a smula do STF sobre uso das algemas ou a que se refere ao acesso aos
autos de um procedimento apuratrio por advogado?
Para responder a esta pergunta, basta promover a leitura do art. 103-A da CF/88:
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poder, de ofcio ou por provocao,
mediante deciso de dois teros dos seus membros, aps reiteradas decises sobre
matria constitucional, aprovar smula que, a partir de sua publicao na imprensa
oficial, ter efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio e
administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,
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bem como proceder sua reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em


lei. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004) (Vide Lei n 11.417, de
2006).
1 A smula ter por objetivo a validade, a interpretao e a eficcia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvrsia atual entre rgos judicirios ou
entre esses e a administrao pblica que acarrete grave insegurana jurdica e
relevante multiplicao de processos sobre questo idntica. (Includo pela Emenda
Constitucional n 45, de 2004)
2 Sem prejuzo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovao, reviso ou
cancelamento de smula poder ser provocada por aqueles que podem propor a
ao direta de inconstitucionalidade. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de
2004)
3 Do ato administrativo ou deciso judicial que contrariar a smula aplicvel ou
que indevidamente a aplicar, caber reclamao ao Supremo Tribunal Federal que,
julgando-a procedente, anular o ato administrativo ou cassar a deciso judicial
reclamada, e determinar que outra seja proferida com ou sem a aplicao da
smula, conforme o caso. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)

Com especial ateno ao exerccio dos procedimentos de abordagem policial, em 13 de agosto de 2008
o STF aprovou no Plenrio o enunciado de Smula Vinculante n 11, que discorre sobre o uso de algemas:
S lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou
de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato
processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado.

Outra questo que merece ser estudada aquela que trata do acesso aos autos do inqurito policial,
conforme previsto na Smula Vinculante n 14, que diz respeito s aes de represso imediata e mediata
no mbito da polcia judiciria:
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, j documentados em procedimento investigatrio realizado por rgo
com competncia de polcia judiciria, digam respeito ao exerccio do direito de
defesa.

Como se v, cumpre destacar que esse direito dirigido apenas ao defensor, advogado inscrito na
Ordem dos Advogados do Brasil, devidamente constitudo pelo representado.
2.2.4 Relatividade dos direitos e garantias fundamentais
Lembra-se do que est previsto no caput do art. 144 da Constituio de 1988?
15

Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do
patrimnio, atravs dos seguintes rgos:

At aqui j est mais do que claro o porqu a segurana pblica ser dever do Estado. Mas, e a frase...

Responsabilidade de todos? O que isso significa dizer?


Em algum momento de seus ensinamentos durante um curso de formao, de aperfeioamento,
especializao ou em qualquer outro, voc j deve ter ouvido falar do chamado contrato social. Trata-se de
uma teoria construda por diversos pensadores (Thomas Hobbes, John Locke, Jacques Rousseau) a qual explica
os caminhos pelos quais os membros de uma sociedade se unem para formar um Estado, a fim de atingir um
bem comum.
Dentro dessa concepo so estabelecidas uma ordem, um conjunto de regras, um regime poltico
(no Brasil, a democracia), um governante, a concesso e o reconhecimento da autoridade do Estado, de seus
Poderes e de seus rgos.
Naturalmente, como em todo e qualquer contrato, em que se fixam clusulas para se alcanar uma
finalidade, as partes estabelecem direitos, deveres, encargos, obrigaes, responsabilidades. No diferente no
contrato social, firmado, geralmente atravs de uma constituio escrita e da legislao regulamentar. Assim,
para se fazer parte desse contrato social, com benefcios que lhes so assegurados, cada indivduo deve abrir
mo de certas liberdades para que o Estado ou autoridade delegada tenha condies de estabelecer a ordem
social.
Importante!
O importante que voc compreenda a relatividade dos direitos e garantias fundamentais, como parte
dos deveres, encargos, obrigaes e responsabilidades de cada indivduo que compe a sociedade,
reconhecendo e se submetendo autoridade estatal, para que seja alcanado o bem comum.
Assim, voc deve saber que os direitos e garantias fundamentais no tem feio absoluta, nem so
considerados intangveis ou intocveis a todo o momento.
Isso porque, pelo Brasil ser um Estado de Direito, todos os membros da sociedade se submetem lei,
no podendo, dessa feita, se valer de direitos e garantias fundamentais para a prtica de ilcitos, bem como se
esquivar de uma eventual responsabilidade pecuniria, civil ou penal. Do contrrio, os princpios estatudos nas
normas constitucionais estariam relevados extino material, uma verdadeira runa, de anos de evoluo da
histria humana.
Refletindo...
Pense na hiptese em que todas as pessoas no abrissem mo de suas liberdades e viessem a praticar
condutas sem limites, como conduzir veculo aonde bem quisesse ou invadir a residncia de qualquer pessoa

16

sem o consentimento do morador. Uma reao em cadeia, geraria conflitos sem precedentes, culminando com
a extino de cada pessoa.
Para o bem da humanidade, voc sabe que no assim que funciona. At hoje o ser humano existe
porque o direito impe limites na prtica de condutas, nas relaes sociais, enfim, no exerccio de direitos. A
isso Moraes (2007) chama de princpio da relatividade ou convivncia das liberdades pblicas, traduzindo, em
suma, a ideia de que os direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituio de 1988 no so
ilimitados, encontrando restries nos demais direitos estatudos nessa Lei Maior.
Da porque o Estado assume a posio de regulador de condutas em sociedade, notadamente no
campo da segurana pblica. tica, valores morais, bom senso, direitos e deveres previstos na Constituio e
nas leis.
Importante!
Aqui importa destacar o dito popular: o seu direito acaba onde comea o dos outros. Vida, liberdade,
integridade fsica, patrimnio, honra, etc. Em outras palavras, cada pessoa ao ser detentora de direitos,
deve ter a conscincia de que os exercer observando a tica, valores morais, o bom senso, em especial,
os direitos dos outros. Em Direito Constitucional chama-se a isso de eficcia horizontal dos direitos
fundamentais.

2.2.3 Dignidade da pessoa humana


Diversas vezes voc ouviu falar sobre a dignidade da pessoa humana. E lgico, j deve ter se
perguntado:

O que seria isso?


No a preocupao aqui estabelecer a exata definio dessa expresso, dignidade da pessoa
humana, devido a impreciso que os estudiosos apontam, j que existem diversas discusses sobre o tema,
com diferentes opinies e teorias. Mas, no se pode fugir da necessidade de se ter uma noo geral e comum
a seu respeito.
Trata-se de um princpio base do sistema jurdico ptrio, previsto no Pacto de So Jos da Costa Rica
(Conveno Americana de Direitos Humanos) e consagrado pela Constituio de 1988, no qual o Estado, Poderes
e rgos devem plena observncia. Em suma, sua ideia central consiste na possibilidade de se assegurar o
mnimo existencial pessoa humana, sob o aspecto moral e material.
Mas, voc deve estar se perguntando: ento, quando se considera que o princpio da dignidade da

pessoa humana respeitado?


Uma resposta aceitvel aquela em que a atuao estatal defere respeito aos valores morais e ticos,
liberdade, intimidade, proporcionando ainda a garantia de assistncia material mnima (moradia,
alimentao, educao, sade, segurana, lazer, etc.) e essencial satisfao das necessidades bsicas de
cada pessoa. Em suma, essa a ideia por trs dos direitos e garantias fundamentais contidos na Constituio
Federal de 1988.
17

A ns, profissionais de segurana pblica, cabe exatamente a parcela que diz que respeito segurana
e, nisto, temos fundamento para nossa existncia.
2.2.4 Conflito entre o cumprimento do dever e o respeito aos direitos fundamentais princpio
da proporcionalidade (ponderao de valores)
Um debate que se levanta normalmente o que diz respeito ao conflito durante o exerccio da atividade
de controle social pela polcia e a observncia dos direitos em um regime de domnio poltico do povo democracia (SKOLNICK,1994, p. 6). Ao pesquisar sobre o tema, Costa (2004, p. 37) lembra que Skolnick chamou
a isso de dilema entre a lei e a ordem.
Em outras palavras, trata-se de verdadeira tenso entre emprego da fora e respeito aos direitos
individuais e coletivos (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003, p. 23). Ou seja, um conflito entre o dever que as
polcias tm de manter estveis as relaes e o comportamento dos indivduos em sociedade, empregando o
seu poder coercitivo, e a observncia ao conjunto de leis e cdigos de conduta da instituio policial.
nesse momento que entra a discusso sobre a atuao discricionria (juzo de oportunidade e
convenincia), no cumprimento do dever de preservar a ordem, proteger pessoas e bens, em especial
durante abordagem policial, com eventual uso da fora. A questo crucial.
Refletindo...
Pense na hiptese em que duas posies defendidas pelos direitos fundamentais entram em choque.
De um lado o direito de ir e vir e de outro a incolumidade pblica. Nesse sentido, o Professor Paulo Gonet (2008)
indaga:
Pode uma prostituta invocar o direito de ir e vir para justificar pedido de salvo conduto que lhe assegure
fazer o trottoir* ?
*o caminhar que as prostitutas fazem quando ficam a espera do cliente
Tendo por base essa questo, o profissional de segurana pblica, diante de eventual conflito de
direitos fundamentais, deve promover um juzo de valor, principalmente frente a uma fundada suspeita,
ou seja, uma ponderao de valores que se assenta sobre o princpio da proporcionalidade, que abrange trs
critrios:
- A adequao exige que as medidas interventivas, adotadas pelo policial, sejam aptas a atingir os
objetivos pretendidos.
- A necessidade, tambm conhecida por exigibilidade, diz respeito escolha, dentre os vrios meios
existentes, do menos gravoso para o indivduo sujeito atuao estatal.
- A proporcionalidade em sentido estrito constitui um juzo definitivo da medida sobre o resultado
a ser alcanado, ponderando-se a interveno e os objetivos perseguidos, sobre o fundamento do equilbrio
entre um e outro. Essa anlise deve ser formulada no caso concreto. preciso verificar os fatos, suas variveis.
Para facilitar a compreenso do que voc est estudando, faa o exerccio a seguir:
18

Imagine uma situao em que um indivduo subtrai a bolsa de uma mulher. A polcia acionada e ao
chegar no local recebe informaes de que o indivduo poderia estar em um shopping center.

O que voc faria? Fecharia todo o shopping e abordaria todas as pessoas?


Volte e reflita sobre os parmetros da proporcionalidade. Agora busque aplic-los a este caso.

Lembra-se daquela ocorrncia acima irradiada pela Central de Operaes e o veculo avistado pela
guarnio? Considerando o que foi apresentado at aqui, voc j tem ideia de como responder aos
questionamentos? E a, h fundamento para a abordagem?
No restam dvidas quanto ao dever de agir, a fim de cumprir o papel constitucional de dar segurana
populao. Dentro desse contexto, ao avaliar, os acontecimentos que exijam uma interveno policial, com
todo seu rigor tcnico, o desenvolvimento das aes, mesmo que alimentado pela discricionariedade, deve ser
feita uma ponderao, isto , responder aos quesitos da necessidade, adequao e proporcionalidade. Agindo
assim, a legitimidade das atividades ser alcanada, assegurando a todos os cidados um agir eficiente do
aparato da segurana pblica, mostrando-se compatvel com a dignidade da pessoa humana, com o devido
respeito aos direitos e garantias fundamentais.
Sobre a regulao da discricionariedade no mbito dos rgos de segurana pblica, atravs da
ponderao, importante destacar o que estabelece a lei que fala sobre o emprego dos instrumentos de menor
potencial ofensivo que no art. 2 estabelece (Lei n 13.060, de 22 de dezembro de 2013):
Art. 2o

Os rgos de segurana pblica devero priorizar a utilizao dos

instrumentos de menor potencial ofensivo, desde que o seu uso no coloque em


risco a integridade fsica ou psquica dos policiais, e devero obedecer aos seguintes
princpios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
Pargrafo nico. No legtimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que no represente risco
imediato de morte ou de leso aos agentes de segurana pblica ou a terceiros; e
II - contra veculo que desrespeite bloqueio policial em via pblica, exceto quando
o ato represente risco de morte ou leso aos agentes de segurana pblica ou a
terceiros.

2.2.5 Responsabilidade do Estado decorrente da atuao policial


O profissional de segurana pblica, para agir, tem que observar todas as regras j mencionadas e ainda
assim estar sujeito a um controle do Estado.

Por que isto ocorre? Por que o ministrio pblico e as Corregedorias atuam? O que acontece se eu,
profissional de segurana pblica, ou um familiar meu for vtima de excessos de um agente do Estado, que no
entendeu ou simplesmente violou os limites de sua ao?
Em um regime democrtico, o controle sobre as atividades das polcias consentneo com suas
diretrizes, na busca de atingir um equilbrio entre o emprego da fora e o respeito aos direitos individuais e
19

coletivos. Ento, pem-se em evidncia os instrumentos de controle da atividade policial, como forma de
participao da sociedade civil nas decises sobre a maneira de atuao dos rgos de segurana pblica, de
acordo com suas necessidades e anseios.
Tais instrumentos so voltados para vigilncia, orientao e correo da atuao dos policiais, visando
confirm-la ou desfaz-la, conforme seja ou no legal, conveniente, oportuna e eficiente, seja nas ouvidorias
dos Estados, seja no mbito do Ministrio Pblico, Poder Judicirio, ou rgos de defesa dos direitos humanos,
organismos no governamentais ou nas casas legislativas (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003, p. 121).
Dentro desse contexto surge a responsabilizao, ao lado da transparncia e do controle como
mecanismos de accountability (COSTA, 2004, p. 63) da atividade policial, destinados a prevenir ou superar a
eventuais desvios praticados por seus agentes durante a atuao.
Com efeito, na atuao estatal eventualmente, o agente pblico pode exceder nos limites de
suas atribuies, causando danos s pessoas ou sociedade em geral. Nesse sentido, quando no so
observados os direitos e garantias fundamentais, quando o juzo de ponderao de valores (adequao,
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) no se cumpre, gerando danos morais e/ou materiais s
pessoas, o Estado, por seus agentes, pratica ato ilcito (CF/88, art. 37, 6; Cdigo Civil, arts. 43, 186, 187 e 927).
2.2.6 Responsabilidade do agente pblico na prtica de atos ilcitos
Das ideias discorridas anteriormente, uma indagao surge:

No seria injusto para a sociedade suportar os prejuzos de uma responsabilidade civil, quando foi o
agente pblico quem deu causa de forma intencional ou sem a observncia dos cuidados mnimos exigidos?
Sim, seria. Por isso o art. 37, 6, da CF/88, garante o direito de regresso sobre o servidor pblico, ou
seja, se ele praticou ato ilcito de forma dolosa ou culposa, resultando na responsabilidade civil do Poder Pblico,
e esse venha a arcar com os prejuzos, o Estado poder buscar as medidas cabveis para repassar esse encargo
quele que deu causa, assegurando, assim, a justia.
Cabe salientar que o direito de regresso no comporta prazo prescricional (perda da possibilidade de
se cobrar o prejuzo em face do decurso do tempo), conforme entendimento do Superior Tribunal de Justia
STJ no Resp. n 328.391 DF, julgado em 08.10.2002 e publicado no DJ de 02/12/2002.
Por fim, possvel ainda que o servidor pblico, alm de responder diante de uma ao regressiva, de
natureza cvel, venha a ser submetido a um processo por ato de improbidade, processo administrativo
disciplinar ou criminal, por ter excedido em suas atribuies, sem que isso importe em dupla punio (bis in

idem), a qual somente ocorre na mesma esfera, conforme voc estudar no Mdulo 3.

Aula 3 Reflexos das normas internacionais na atividade policial


Dentro da concepo que voc estudou at aqui, cabe dizer que o Estado brasileiro regido nas suas
relaes internacionais, dentre outros:

Pelos princpios da prevalncia dos Direitos humanos;


20

defesa da paz;

soluo pacfica dos conflitos;

repdio ao terrorismo e ao racismo;

cooperao entre os povos para o progresso da humanidade.


Assim, os direitos e garantias fundamentais expressos na Constituio no excluem outros decorrentes

do regime e dos princpios por ela adotados, ou contidos em tratados internacionais em que a Repblica
Federativa do Brasil seja parte (CF/88, art. 5, 2). Sendo possvel, ainda, os tratados e convenes internacionais
sobre

direitos

humanos,

aprovados

no

Congresso

Nacional,

assumirem

status de emendas

constitucionais, i.e., acima das demais leis, desde que observe os requisitos fixados no 3, art. 5, da CF/88.
Pesquise para prosseguir...
Voc sabe o que so: Tratados internacionais? Convenes? Atos internacionais em geral?
Antes de prosseguir, visite a pgina do Ministrios das Relaes Exteriores e busque as respostas
paras essas perguntas.
Feita a pesquisa recomendada, voc deve ter chegado concluso de que tais tratados, convenes,
dentre outros atos internacionais, devidamente aprovados passam a integrar o conjunto de normas do Brasil,
devendo, portanto, serem observados por todos, inclusive pelos profissionais de segurana pblica durante o
exerccio de suas atribuies.
Veja, a seguir, alguns desses principais documentos.

Conveno Americana de Direitos Humanos (CADH) - Pacto de So Jos da Costa Rica

A Conveno Americana de Direitos Humanos (CADH) fruto de um acordo internacional firmado em


22 de novembro de 1969 durante a Conferncia Especializada Interamericana de Direitos Humanos, entre os
pases que compem a Organizao dos Estados Americanos (OEA), da qual o Brasil faz parte. Esse acordo foi
subscrito na cidade de San Jos da Costa Rica, razo pela qual tambm conhecido por Pacto de So Jos da
Costa Rica.
Como fundamento do Sistema Interamericano de Proteo dos Direitos Humanos, a CADH entrou em
vigor em 18 de julho de 1978. Entretanto, somente em 09 de novembro de 1992 passou a integrar a ordem
jurdica brasileira, atravs do Decreto n 678, aps ter sido aprovada pelo Senado Federal em 26 de maio de
1992, atravs do Decreto-Legislativo n 27. Com efeito, o Pacto de So Jos da Costa Rica vincula as aes dos
rgos policiais no Brasil.
Ao realizar a leitura de seus 81 artigos, voc pode verificar que o Pacto de So Jos da Costa Rica
contm clusulas que reconhecem direitos fundamentais da pessoa humana, tais como o direito vida,
liberdade, dignidade, integridade pessoal e moral, educao, dentre outros de mesma natureza. Destacamse as garantias judiciais, reconhecimento da liberdade de pensamento e expresso, proibio da servido
humana, reconhecimento da liberdade de conscincia e religio, bem como da liberdade de associao e de
proteo famlia.
21

Cabe salientar que, dentro do Sistema Interamericano de Proteo dos Direitos Humanos, diante de
eventual omisso ou abusos violadores aos Direitos Humanos, o Pacto de So Jos prev que os Estados Partes
podem ser julgados e condenados perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Brasil foi condenado
nos seguintes casos:

Ximenes Lopes vs. Brasil, de 4 de julho de 2006;

Escher e outros vs. Brasil, de 6 de julho de 2009;

Garibaldi vs. Brasil, de 23 de setembro de 2009; e,

Gomes Lund e outros vs. Brasil, de 24 de novembro de 2010.

Diante disso, importante deixar claro que toda e qualquer ao praticada por um profissional de
segurana pblica, violadora dos direitos humanos, pode resultar na Condenao do Brasil, como ocorreu nos
casos acima elencados.

Documentos internacionais produzidos no mbito da ONU sobre a atuao policial

No Estado democrtico vivenciado no Brasil, atualmente possvel perceber que o povo exige muito
mais do Estado do que uma simples prestao de servios, em especial no mbito da segurana pblica. Em
outras palavras, cada pessoa espera que o Poder Pblico satisfaa suas necessidades de acordo com suas
expectativas e o faa de maneira correta, sem causar danos nem transtornos desnecessrios.
Essa questo ultrapassou as fronteiras dos pases, tendo sido objeto de ateno no mbito
internacional. Nesse sentido, destaca-se o reconhecimento das Organizaes das Naes Unidas (ONU) sobre a
natureza do trabalho policial na sociedade, no sentido de ser difcil e delicado, j que interferem em assuntos
de alta sensibilidade durante o controle social, tais como a vida, liberdade, integridade fsica, patrimnio. E por
isso expressam a preocupao com as condies de trabalho do policial e, por consequncia, com a repercusso
sobre o uso da fora.
Com efeito, a ONU considera necessria a adoo de uma srie de medidas por parte dos pases para
disponibilizar aos agentes aplicadores da lei instrumentos adequados no exerccio de suas funes, incluindo
mecanismos que controlem o emprego desnecessrio e excessivo da fora na soluo de conflitos sociais.
Dentro desse contexto, veja, a seguir, alguns Documentos internacionais produzidos pela ONU sobre a
atuao policial. Vale ressaltar que eles no tm natureza de tratado, conveno ou pacto. Na verdade,
constituem atos que elencam recomendaes sobre a atuao no campo da segurana, que podem ser adotados
pelos pases.
-

Princpios Bsicos sobre o Uso da Fora e Armas de Fogo

Em 07 de setembro de 1990, durante o 8 Congresso das Naes Unidas sobre a Preveno do Crime
e o Tratamento de Infratores, foram elaborados Princpios Bsicos sobre o Uso da Fora e Armas de Fogo.
Vale ressaltar que ele inspirou a edio da Portaria interministerial n 4.226, de 31 de dezembro de
2010, ao dispor sobre o uso diferenciado da fora no Brasil.

22

Saiba mais...
A SENASP, atravs da Rede Nacional de Ensino a Distncia (EaD), dispe em sua plataforma de um
curso que trata especificamente sobre a questo do uso da fora. Vale a pena, matricule-se no prximo ciclo e
confira. Voc voltar a estudar sobre este tema no Mdulo 2.

Cdigo de conduta para os agentes responsveis pela aplicao da lei

Quem de ns chegou a um hospital ou posto de sade e deixou de receber o tratamento que esperava
do profissional que nos atendeu?
O profissional aferiu nossa presso, ministrou os remdios necessrios, mas sempre com ntida m
vontade e grosseria em suas aes e lida com o paciente. O servio foi prestado, mas no ficamos satisfeitos
pela forma com que fomos tratados.
Assim, possvel concluir, que a forma como os servidores desenvolvem suas funes to importante
quanto o trabalho em si. Nesse sentido, no caso dos profissionais de segurana pblica, tambm essencial que
a conduta seja adequada e em conformidade com as leis e os atos que disciplinam as suas atividades.
No que diz respeito s atividades dos rgos policiais, essa questo merece especial distino, pois,
conforme j estudado nesse curso, seus profissionais possuem um alto grau de discricionariedade no exerccio
de suas tarefas (diferente do exemplo da sade acima mencionado), com destaque para a privao da liberdade
de um indivduo, atravs de uma busca pessoal, podendo ensejar o uso da fora.
Nesse cenrio, a Assembleia Geral das Naes Unidas editou um instrumento, atravs da Resoluo n
34/169, de 17 de dezembro de 1979, denominado Cdigo de conduta para os agentes responsveis pela
aplicao da Lei. Por meio desta resoluo, o Cdigo de Conduta foi transmitido aos governos com a
recomendao de que uma considerao favorvel fosse dada no que se refere sua utilizao dentro da
estrutura da legislao ou prtica nacional como um conjunto de princpios a serem observados pelos
funcionrios responsveis pela aplicao da lei. No um tratado, mas pertence categoria dos instrumentos
que proporcionam normas orientadoras aos governos sobre questes relacionadas com direitos humanos e
justia criminal. Vale a pena conferir seus artigos:
Artigo 1. Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei devem cumprir, a todo
o momento, o dever que a lei lhes impe, servindo a comunidade e protegendo
todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de
responsabilidade que a sua profisso requer.
Artigo 2. No cumprimento do seu dever, os funcionrios responsveis pela
aplicao da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos fundamentais de todas as pessoas.
Artigo 3. Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei s podem empregar a
fora quando tal se afigure estritamente necessrio e na medida exigida para o
cumprimento do seu dever.

23

Artigo 4. As informaes de natureza confidencial em poder dos funcionrios


responsveis pela aplicao da lei devem ser mantidas em segredo, a no ser que o
cumprimento do dever ou as necessidades da justia estritamente exijam outro
comportamento.
Artigo 5. Nenhum funcionrio responsvel pela aplicao da lei pode infligir,
instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento
cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais
excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaa segurana nacional,
instabilidade poltica interna ou qualquer outra emergncia pblica como
justificao para torturas ou outras penas ou tratamentos cruis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 6. Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei devem assegurar a
proteo da sade das pessoas sua guarda e, em especial, devem tomar medidas
imediatas para assegurar a prestao de cuidados mdicos sempre que tal seja
necessrio.
Artigo 7. Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei no devem cometer
qualquer ato de corrupo. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater
todos os atos desta ndole.
Artigo 8. Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei devem respeitar a lei
e o presente Cdigo. Devem, tambm, na medida das suas possibilidades, evitar e
opor-se vigorosamente a quaisquer violaes da lei ou do Cdigo.
Os funcionrios responsveis pela aplicao da lei que tiverem motivos para
acreditar que se produziu ou ir produzir uma violao deste Cdigo, devem
comunicar o facto aos seus superiores e, se necessrio, a outras autoridades com
poderes de controle ou de reparao competentes.

Regras Mnimas para o Tratamento de Presos

As Regras Mnimas para o Tratamento de Presos (RMTP) foram adotadas pelo Primeiro Congresso das
Naes Unidas sobre a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Genebra em 1955,
e aprovadas pelo Conselho Econmico e Social das Naes Unidas atravs das suas resolues 663 C (XXIV), de
31 de Julho de 1957 e 2076 (LXII), de 13 de Maio de 1977, Resoluo 663 C (XXIV) do Conselho Econmico e
Social.
Trata-se de ato internacional que discorre sobre os vrios instrumentos relativos deteno de pessoas,
delimitando a atuao dos agentes responsveis pela segurana, a fim de garantir a tutela dos direitos humanos,
sem descuidar do papel de promover a ordem.

Finalizando...
Neste mdulo, voc estudou que:
24

A segurana pblica causa da ordem pblica, que se traduz em um estado antidelitual, livre,

portanto, da violao dos bens e valores mais importantes para a coletividade (vida, integridade fsica, liberdade,
patrimnio, etc.) e, por isso, tutelados pelas leis, que regulam o comportamento de todos.

As aes desenvolvidas pelos rgos policiais buscam promover o controle social no sentido de

evitar (prevenir) a perturbao da ordem pblica, a mcula da paz social, a violao dos bens jurdicos tutelados
(vida, integridade fsica, patrimnio, etc.).

Quando essa preveno no funciona, surgem os procedimentos de resgate da ordem pblica e

da paz social, mediante aes de represso imediata. A represso mediata consolida os atos complementares
da colheita de informaes.

As aes preventivas e de represso imediata so desempenhadas atravs de procedimentos de

distribuio de efetivo em locais em que, aps o devido planejamento, guardem algum potencial para a
ocorrncia de fatos que venham a abalar a paz social, a ordem pblica (LAZZARINI, 1998).

Quando alguma ao policial considerada ilegtima, fora dos parmetros do uso legtimo da

fora, tem-se como incompatvel com o estado democrtico de direito. importante que voc, profissional de
segurana pblica, conhea as regras que envolvem suas aes para que ningum, alm da lei, diga o que voc
deve e o que no deve fazer. A lei quem traa suas aes.

Os rgos pblicos que constituem a administrao pblica (dentre eles, os da segurana pblica)

esto vinculados s normas de direitos e garantias fundamentais, pelo que seus agentes devem agir, interpretar
e aplicar as leis segundo ao que se dita.

O profissional de segurana pblica, para agir, tem que observar todas as regras j mencionadas

e ainda assim estar sujeito a um controle do Estado.

o Estado brasileiro regido nas suas relaes internacionais pelos princpios da prevalncia dos

direitos humanos, defesa da paz, soluo pacfica dos conflitos, repdio ao terrorismo e ao racismo, cooperao
entre os povos para o progresso da humanidade, dentre outros.

Os tratados, convenes, dentre outros atos internacionais, devidamente aprovados passam a

integrar o conjunto de normas do Brasil, devendo, portanto, serem observados por todos, inclusive pelos
profissionais de segurana pblica durante o exerccio de suas atribuies.

Exerccios
1. De que modo os direitos e garantias fundamentais podem exercer influncia em uma atuao
policial?
2. Todos os rgos policiais, observadas as atribuies tpicas elencadas no art. 144 da
Constituio Federal, realizam atividades de represso imediata. De acordo com o previsto na CF marque
com um X no quadro abaixo, indicando se estes rgos exercem aes de preveno e/ou de represso
imediata/mediata. No campo em que o rgo no atua, preencha o espao com um trao ( - ):
25

rgos de segurana pblica

Preveno

Represso Imediata

Represso Mediata

Polcia Federal

Polcia Ferroviria Federal


Polcia Civil
Polcia Militar

3.

Tendo em vista a edio de smulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal,

considerando as aes de segurana pblica, assinale a alternativa INCORRETA:


a.

No existe nenhuma smula editada pelo STF sobre aes de segurana pblica, na medida em

que os direitos e garantias fundamentais podem ser objeto de supresso em procedimentos policiais, a fim de
garantir a preservao da ordem social.
b.

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o uso de algemas somente lcito em casos de

resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso
ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da
responsabilidade civil do Estado.
c.

direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova

que, j documentados em procedimento investigatrio realizado por rgo com competncia de polcia
judiciria, digam respeito ao exerccio do direito de defesa.
d.

A smula editada pelo STF com efeito vinculante obriga aos demais rgos do poder judicirio e

administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, a sua observncia, sob pena
de anulao do ato administrativo ou a cassao da deciso judicial.
4. Lei atentamente a notcia veiculada na mdia:
Flagrante de roubo e crcere privado: crime contra o patrimnio
A Polcia frustrou um sequestro relmpago e realizou flagrante de roubo no Setor Central. O fato
ocorreu ao meio dia de quarta-feira, prximo a uma Igreja. O Comandante da guarnio, responsvel pela
atuao da Corporao, foi informado por populares que dois adultos subtraram bens de uma senhora,
empregando de violncia. Aps empreender patrulhamento nas imediaes no local de fuga, a polcia percebeu
que os agentes privaram esta pessoa de sua liberdade, mediante sequestro e crcere privado. Os policiais
26

conseguiram fazer a interceptao dos autores da infrao penal com a cessao do crcere privado. O flagrante
foi registrado na delegacia de polcia.
a. Levando em considerao o fato que voc leu e o que estudou sobre e Direitos Humanos, Direitos e
Garantias Fundamentais, marque V para as alternativas VERDADEIRAS e F para as alternativas FALSAS:
[ ] A atuao da guarnio recaiu sobre um dos direitos humanos, relativo liberdade, direitos que
protegem o indivduo em face das arbitrariedades do poder pblico.
[ ] A privao da liberdade deve observncia ao devido processo legal. Nesse sentido, o fato deve ser
processado pela autoridade competente, assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes. A pena ser cumprida em estabelecimento distinto, de acordo com a natureza do delito, a idade
e o sexo do apenado. Caso os agentes forem do sexo feminino, s presidirias sero asseguradas condies
para que possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao.
[ ] Para assegurar a devida responsabilizao e o resgate da ordem pblica, a famlia do preso no
ser informada sobre a priso dos agentes nem do local onde eles se encontram, sob pena de prejudicar a
instruo do processo.
[ ] Os presos tem direito identificao dos responsveis por sua priso, sendo-lhes asseguradas a
assistncia da famlia e de advogado.
b. Ainda considerando o fato lido, marque a alternativa correta:
a.

No caso em apreo, considerando que houve o ingresso dos acusados com a vtima no interior

do domiclio de um deles, durante o perodo noturno, a priso efetivada pelos policiais militares somente ser
considerada legtima se houver ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente para que
efetuam a priso flagrante no interior da citada residncia.
b.

A ao regressiva de que trata o art. 37, 6, da CF/88, prescreve em 10 (dez) anos, a contar do

ato praticado pelo policial ou da deciso judicial que condena o Estado a ressarcir o cidado, nos casos de
indenizao por violncia policial.
c.

O Pacto de So Jos da Costa Rica no tem efeito nenhum sobre as aes de segurana pblica.

d.

A Lei n 13.060, de 22/12/2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial

ofensivo pelos agentes de segurana pblica, em todo o territrio nacional, traz expressamente em seu corpo
a previso de observncia ao princpio da proporcionalidade, durante as aes de segurana pblica.

27

Gabarito
1.

Orientao de resposta: O Estado, atravs de seus rgos, recebe poderes como verdadeiros

instrumentos para atingir suas finalidades, como o uso da fora, para estabelecer o controle social. Tais poderes
delegados pelo povo no so absolutos, encontrando limitaes nos direitos e garantias fundamentais. Ento,
toda vez que voc, profissional de segurana pblica, agente aplicador da lei, for realizar algum procedimento,
precisar observar que seu comportamento se vincula ao atendimento desses limites.
2. Resposta Correta:
rgos de segurana pblica

Preveno

Represso Imediata

Represso Mediata

Polcia Federal

Polcia Rodoviria Federal

Polcia Ferroviria Federal

Polcia Civil

Polcia Militar

3.

Resposta Correta: Letra A

4.

Resposta Correta: a. V-V-F-V


b. Letra D

28

MDULO

ATUAO POLICIAL: DA PREVENO S AES


DE RESGATE DA PAZ SOCIAL E INSTRUO
CRIMINAL

Apresentao do mdulo
Ao se falar em abordagem, normalmente, se pensa na interveno policial com o fim de se promover
uma busca em uma pessoa suspeita de praticar uma infrao penal.

O que ampara a realizao de uma busca pessoal durante um evento esportivo, intensificao de
policiamento ou uma manifestao, sendo que no h notcia de crime ocorrendo?
Neste mdulo voc ter a oportunidade de estudar os principais instrumentos previstos na legislao
infraconstitucional brasileira que fundamentam o procedimento da atuao policial, englobando a busca
pessoal, veicular e domiciliar.
Ao aproveitar os ensinamentos do Mdulo I, que cuidou dos aspectos constitucionais e dos atos
internacionais aplicados atuao policial, a inteno agora agregar e fazer uma ligao com os princpios e
regras de direito administrativo, de direito processual penal e legislao correlata que disciplinam as atividades
acima mencionadas, seja para preservar a ordem pblica, seja para proporcionar s pessoas um ambiente social
livre de riscos e perigos ou ainda subsidiar uma instruo criminal, com o objetivo de resgatar a paz social.

Objetivo do mdulo
Ao final do mdulo, voc ser capaz de:

Identificar as principais normas administrativas, processuais e demais atos legais que tratam das

aes de preservao da ordem pblica, incolumidade das pessoas e do patrimnio;

Compreender o sentido e o alcance do ato administrativo e de seus elementos nas aes de

segurana pblica;

Compreender o sentido e o alcance do dever-poder de polcia e de seus atributos nas aes de

segurana pblica;

Apontar os fundamentos para a realizao da atuao policial como fator de preveno,

justificando a busca pessoal e veicular, independente da existncia de uma infrao penal em concreto;

Aplicar os fundamentos objetivos da fundada suspeita, que justifiquem a realizao de uma busca

Identificar os elementos da busca veicular e domiciliar para fins de preveno e represso;

Reconhecer quando h necessidade em abordar;

pessoal;

29

Saber explicar o porqu da abordagem.

Estrutura do Mdulo
Este mdulo abrange as seguintes aulas:

Aula 1 Breves apontamentos sobre o regime de Direito Administrativo no mbito da segurana

Aula 2 O exerccio do dever-poder de polcia na segurana pblica;

Aula 3 Atuao policial como estratgia de preveno violncia urbana, resgate da paz social

pblica;

e instrumento para instruo criminal.

Aula 1 Breves apontamentos sobre o regime de Direito


Administrativo no mbito da segurana pblica
Para iniciar seus estudos, neste mdulo oportuno retomar algumas perguntas formuladas no incio
desse curso:

Est errado o policial interferir no trnsito? Ou deveria somente agir para prender bandido? O policial
pode abordar qualquer pessoa e quando quiser? Quem define quando o policial deve abordar? Segurana
pblica coisa de polcia e no caberia ao cidado dar a sua opinio?
Bem, como outra questo:

Voc sabe de onde surgiu a ideia de que a palavra do policial de trnsito vale mais do que a do
autuado?
Alm das perguntas, tambm interessante que voc resgate as noes bsicas estudadas do Mdulo
1 a respeito da finalidade do estado brasileiro, em especial quanto ao papel da segurana pblica dentro daquela
ideia de contrato social, firmado dentro da sociedade brasileira, a fim de criar a Repblica Federativa do Brasil.
Para que isso ocorra, o poder pblico se submete a um conjunto de princpios e regras, que so
alicerados em dois pilares: prerrogativas e sujeies (DI PIETRO, 2011, p. 61). Isso porque, para cuidar do
interesse pblico, o Poder Pblico no pode se valer das regras de direito privado, com primazia na igualdade
de condies entre os indivduos.
Conhea, a seguir, um pouco mais a respeito desses pilares:
O que fundamenta as prerrogativas o fato de que a supremacia do interesse pblico deve prevalecer
sobre os interesses do particular. Isso pode acontecer atravs da autoexecutoriedade, autotutela, poder de
30

expropriao, requisio de bens, ocupao temporria de bens, aplicao de sanes administrativas e, em


especial, imposio de medidas policial.
As sujeies constituem limites, como o de praticar atos desde que estejam previstos em lei
(legalidade), j que, em um estado democrtico de direito a vontade do povo expressa nesse instrumento,
respeitando ainda a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos e garantias fundamentais, a fim de
evitar abusos ou arbitrariedades. Da a ideia de interesse pblico. Nesse sentido, para que se verifique o
cumprimento dessa vontade, o ato deve ser transparente, deve ser submetido a uma prestao de contas e a
um controle, podendo ser revisto ou anulado, se no atingir o interesse pblico.
Ou seja...
A atuao policial tem que estar de acordo com essas regras para que seus agentes no cometam
abusos ou arbitrariedades e com isso a situao seja revertida contra eles, apontando responsabilidades destes
atos arbitrrios. Nesse sentido, caso isso ocorra, o policial poder responder criminalmente pela prtica de abuso
de autoridade (Lei n 4.898/1965), alm ser submetido a eventual responsabilizao na esfera disciplinar. Esse
ponto ser tratado no Mdulo 3, com maiores detalhes.
1.1 Ato administrativo (comportamento do Poder Pblico)
Fala-se, assim, no regime jurdico de direito administrativo, do qual se destaca a prtica de atos
administrativos, para o exerccio da funo administrativa, tendente a atingir o interesse pblico. Considerando
que todo profissional da rea de segurana pblica corresponde a um agente pblico e pratica atos
administrativos, sendo responsvel pelas suas consequncias, nada mais adequado do que estud-lo, entender
sua importncia e significado. Isso porque, dessa forma, voc compreender que seu comportamento
profissional tem respaldo na ordem jurdica.

E por falar nisso, o que voc entende por ato administrativo?


Ato administrativo uma manifestao de vontade (comportamento) proferida pelo Estado e
externado por agente pblico, ou por quem lhe faa s vezes, a fim de criar, modificar ou extinguir direitos,
perseguindo o interesse pblico.
Vale dizer, essa manifestao de vontade (comportamento) est sujeita ao regime jurdico pblico,
no tendo a mesma fora da lei, sendo inferior e complementar previso legal. Para aferir sua legitimidade,
pode se sujeitar ao controle do poder judicirio, no que diz respeito legalidade, o qual determina a anulao,
nos casos em que descumprido o interesse pblico.
Essa manifestao de vontade muitas vezes cumpre uma determinao legal, sendo, portanto,
vinculada. Em outras palavras, abre-se um leque de opes para se realizar a manifestao de vontade,
abarcando a discricionariedade. E dentro desse contexto, surge o exerccio do dever-poder de polcia,
conforme voc estudar mais a frente.

31

1.2 Elementos ou requisitos do ato administrativo


So elementos ou requisitos do ato administrativo:
Competncia (Sujeito): trata-se da capacidade do agente pblico de praticar o ato, conforme definido
em legislao. No havendo lei conferindo essa capacidade, o ato praticado passvel de nulidade. Nesse
sentido, destaca-se a tarefa para realizar busca pessoal durante as aes de segurana pblica. Em outras
palavras, a lei confere aos agentes policiais essa atividade, no sendo admissvel outro agente do Estado exercla.
Forma: cuida-se da exteriorizao da manifestao de vontade ou do comportamento. Em regra, por
escrito, salvo quando a lei autorizar de outra forma (ex.: gestos do agente de trnsito, gestos do policial durante
uma interveno).
Motivo: para que o ato seja aperfeioado exige-se a exposio/demonstrao dos fundamentos de
fato (acontecimentos do dia-a-dia) e de direito (conforme previsto na ordem jurdica). Dentro da ideia de
controle, o cidado precisa saber das razes em que se basearam o comportamento do agente pblico, a fim
de aferir o grau de cumprimento do interesse comum, como ocorre nas razes da realizao de uma interveno
policial, seja para abordar ou para prender. Pode ser vinculado (conforme determina a lei) ou discricionrio*.
*sobre o tema, vide: discricionariedade das aes de segurana pblica, neste mdulo.
Objeto: trata-se do contedo do ato, ou seja, aquilo sobre o que o comportamento dispe (ex.:
fiscalizao, proteo de pessoas e bens).
Finalidade: o bem jurdico objetivado pelo comportamento do agente pblico (ex.: proteo de um
bem da vida).
1.3 Atributos ou caractersticas do ato administrativo
So atributos ou caractersticas do ato administrativo:
Presuno de legitimidade: Considerando que o agente pblico tem o dever de praticar um ato
conforme determina a lei (ex.: notificao de trnsito, busca pessoal, priso), paira a presuno de legalidade,
bem como a presuno de veracidade. Essa presuno relativa porque admite prova em contrrio, a ser
demonstrada pelo destinatrio do ato (cidado), seja administrativamente (ex.: recurso contra notificao de
infrao de trnsito) ou judicialmente (ao de danos morais e materiais em funo de uma abordagem policial
ou priso).
Autoexecutoriedade: Devido a necessidade de se garantir continuidade prestao de servios em
reas essenciais (segurana, sade, educao, etc.) de forma clere e imediata, o agente pblico, para praticar
uma conduta, no tem a necessidade de provocar a manifestao do poder judicirio. Do contrrio, pense na
hiptese de se aguardar a posio da justia para a realizao das aes preventivas de segurana pblica ou
nos casos de resgate da paz social (aes de represso imediata e mediata). Mais a frente neste curso, voc
estudar sobre dever-poder de polcia e o tema voltar a ser tratado.
Imperatividade: O atendimento pelo cidado ou administrado ao ato praticado pelo agente policial
obrigatrio ou coercitivo sob pena do uso legtimo da fora. Em suma, o destinatrio deve se submeter a ele,
podendo contest-lo, de acordo com os recursos previstos em lei (reclamao, requerimento, direito de petio,
32

ao judicial, etc.). Caso contrrio, se submeter responsabilizao penal (ex.: desacato, resistncia,
desobedincia), como voc estudar Mdulo 3.
Tipicidade: O comportamento administrativo deve ser descrito na ordem jurdica, isto , as aes dos
profissionais de segurana so veiculadas na legislao para fins de aplicao (ex.: fiscalizao de ordem policial,
busca veicular, busca domiciliar, realizao de priso, etc.).
Saiba Mais...
Os temas acima foram apresentados de forma resumida. Caso tenha alguma dvida, voc pode
aprofundar os conhecimentos com uma doutrina de Direito Administrativo, pois o assunto vasto e no se
esgota com esta rpida abordagem.

Aula 2 O exerccio do dever-poder de polcia na segurana


pblica
Na aula anterior voc estudou que o poder pblico, para cumprir a tarefa de promover o bem
coletivo, pratica atos respaldado em prerrogativas e submetido a sujeies, como forma de evitar desvios
ao

interesse

pblico.

Dentro

desse

contexto,

voc

tambm

teve

oportunidade de

estudar

sobre o ato administrativo, com seus elementos e atributos.


Ao dar mais um passo no processo de construo dos fundamentos jurdicos da atuao policial,
nesta aula voc estudar o dever-poder de polcia e seus atributos (caractersticas).

2.1 O que dever-poder de polcia


Ao se deparar com o ttulo, possvel que voc tenha percebido algo diferente: dever-poder de
polcia.

Mas, no seria poder de polcia? De onde surgiu esse dever? E por que ele vem na frente do poder?
A explicao simples. A doutrina clssica fala em poder de polcia. Dentro da tendncia de
especializao e cientifizao, de acordo com Celso Antnio Bandeira de Melo (2011), o Estado, antes de tudo,
tem obrigaes, encargos e deveres. E para tanto lhes foram disponibilizados poderes (autoridade,
capacidade, domnio, faculdade, fora, meios, recursos) como instrumentos para alcanar a finalidade pblica.
dentro dessa linha de raciocnio que se funda o dever-poder de polcia, consistente na imposio de
limitaes ao exerccio da liberdade e dos elementos da propriedade (usar, gozar, fruir e reaver a posse ou
deteno Cdigo Civil, art. 1.228) para que os membros da coletividade se mantenham ajustados aos padres
compatveis com os objetivos do bem comum. Vale dizer, o Estado cumpre seu papel de defensor e propagador
dos interesses gerais, coibindo os excessos e prevenindo as perturbaes ilcitas ordem jurdico-social
(MEIRELLES, 1997, p. 115).
33

Sobre o tema, Carvalho Filho (2007, p. 37) leciona que:


O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito pblico
outorgada aos agentes do Estado. Cada um desses ter a seu encargo a execuo
de certas funes. Ora, se tais funes foram por lei cometidas aos agentes, devem
eles exerc-las, pois que seu exerccio voltado para beneficiar a coletividade. Ao
faz-lo, dentro dos limites a que a lei traou, pode dizer-se que usaram normalmente
os seus poderes.

Assim, dentro das clusulas do contrato social, o dever-poder de polcia corresponde permisso
social dada administrao pblica para restringir o exerccio de direitos individuais em benefcio de
toda a sociedade. Empregado com responsabilidade, trata-se de verdadeiro instrumento posto disposio do
poder pblico para disciplinar o exerccio desses direitos e liberdades ou ainda de cont-los, diante de eventuais
excessos ou da necessidade de se disciplinar determinadas relaes (ex.: interdio de via pblica para promoo
das aes de segurana). Lembre-se que normalmente esse dever-poder estabelece condies, ou impe
restries e limitaes.
Dentro desse contexto, muito comum os profissionais de segurana, durante a realizao de suas
atribuies exercer o dever-poder de polcia para realizar detenes, seja porque ocorreu um flagrante delito,
seja porque a justia expediu um mandado de priso decorrente de uma condenao criminal.

A voc pergunta, onde encontro esse dever-poder? Em qual lei? Em qual norma ou regulamento? Ou
no precisa estar escrito? Estaria implcito?
Vale ressaltar que voc est estudando aqui o conceito desse instrumento de maneira ampla. Assim,
para conferir clareza, preciso e ordem lgica, a matria deve ser tratada de acordo com a atribuio de cada
rgo policial. Com efeito, normalmente esse dever-poder vem descrito no ordenamento jurdico, como nos
Cdigos (de Trnsito, Penal, Processo Penal), legislao ambiental, de direito administrativo, ou ainda nas leis
que dispem sobre a organizao de cada instituio.
A ttulo de exemplo, no exerccio da atividade de policiamento ostensivo, essa previso genrica do
dever-poder de polcia estabelecida no Decreto-Lei n 667, de 02 de julho de 1969:
Art. 3 - Institudas para a manuteno da ordem pblica e segurana interna nos
Estados, nos Territrios e no Distrito Federal, compete s Polcias Militares, no
mbito de suas respectivas jurisdies: (Redao dada pelo Del n 2010, de
12.1.1983)
a) executar com exclusividade, ressalvas as misses peculiares das Foras Armadas,
o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de
assegurar o cumprimento da lei, a manuteno da ordem pblica e o exerccio dos
poderes constitudos; (Redao dada pelo Del n 2010, de 12.1.1983)

34

b) atuar de maneira preventiva, como fora de dissuaso, em locais ou reas


especficas, onde se presuma ser possvel a perturbao da ordem; (Redao dada
pelo Del n 2010, de 12.1.1983)
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbao da ordem, precedendo o
eventual emprego das Foras Armadas; (Redao dada pelo Del n 2010, de
12.1.1983)
d) atender convocao, inclusive mobilizao, do Governo Federal em caso de
guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbao da ordem ou ameaa
de sua irrupo, subordinando-se Fora Terrestre para emprego em suas
atribuies especficas de polcia militar e como participante da Defesa Interna e da
Defesa Territorial; (Redao dada pelo Del n 2010, de 12.1.1983)
[...]

No mbito da polcia judiciria, destaca-se o Decreto Federal n 73.332, de 19/12/1973, que define a
estrutura do Departamento de Polcia Federal:
Art. 1 Ao Departamento de Polcia Federal (DPF), com sede no Distrito Federal,
diretamente subordinado ao Ministrio da Justia e dirigido por um Diretor-Geral,
nomeado em comisso e da livre escolha do Presidente da Repblica, compete, em
todo o territrio nacional:
I - executar os servios de polcia martima, area e de fronteiras;
II - exercer a censura de diverses pblicas;
III - executar medidas assecuratrias da incolumidade fsica do Presidente da
Repblica, de diplomatas estrangeiros no territrio nacional e, quando necessrio,
dos demais representantes dos Poderes da Repblica;
IV - prevenir e reprimir:
a) crimes contra a segurana nacional e a ordem poltica e social;
b) crimes contra a organizao do trabalho ou decorrentes de greves;
c) crimes de trfico e entorpecentes e de drogas afins;
d) crimes nas condies previstas no artigo 5 do Cdigo Penal, quando ocorrer
interesse da Unio;
e) crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competncia
militar;
f) crimes contra a vida, o patrimnio e a comunidade silvcola;
g) crimes contra servidores federais no exerccio de suas funes;
h) infraes s normas de ingresso ou permanncia de estrangeiros no Pas;
i) outras infraes penais em detrimento de bens, servios e interesses da Unio ou
de suas entidades autrquicas ou empresas pblicas, assim como aquelas cuja
prtica tenha repercusso interestadual e exija represso uniforme, segundo se
dispuser em lei;
V - coordenar, interligar e centralizar os servios de identificao datiloscpica
criminal;

35

VI - selecionar, formar, treinar, especializar e aperfeioar o seu pessoal, mediante


orientao tcnica do rgo Central do Sistema de Pessoal Civil da Administrao
Federal;
VII - proceder a aquisio de material de seu exclusivo interesse;
VIII - prestar assistncia tcnica e cientfica, de natureza policial, aos Estados, Distrito
Federal e Territrios, quando solicitada;
IX - proceder a investigao de qualquer outra natureza, quando determinada pelo
Ministro da Justia;
X - integrar os Sistemas Nacional de Informaes e de Planejamento Federal.

Essa previso legal complementada com o Cdigo de Processo Penal:


Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade
policial dever:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e
conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais; (Redao dada pela Lei
n 8.862, de 28.3.1994) (Vide Lei n 5.970, de 1973)
II - apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos
peritos criminais; (Redao dada pela Lei n 8.862, de 28.3.1994)
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo
III do Ttulo VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareaes;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras percias;
VIII - ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar
e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do
crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a
apreciao do seu temperamento e carter.

Existem normas que disciplinam questes especficas envolvendo a tranquilidade pblica, segurana,
ordem, costumes, exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou autorizao do poder
pblico, ao respeito propriedade e aos direitos individuais ou coletivos, dentre outros.

36

De olho na realidade...
Realize uma pesquisa no conjunto de leis de sua cidade ou Estado a fim de identificar aquelas que
dispem sobre o exerccio do dever-poder de polcia. Como sugesto, grave todas essas normas em uma pasta
de seu computador para estudo e consulta.

Importante!
atravs do dever-poder de polcia que a lei confere a voc, profissional de segurana pblica,
mecanismos para disciplinar a conduta das pessoas em sociedade. dentro desse contexto que se
fundamenta a atuao policial, instrumento que lhe permite alcanar um grau de ordem pblica, de
paz social, que se exige no cumprimento de seu mister (ocupao profissional, trabalho ou ofcio).
Considerando essas diretrizes, no campo prtico, o dever-poder de polcia confere ao policial o
momento ideal para realizar a abordagem, bem como aquilo que ele pode ou no fazer. Para tanto, preciso
avanar nos estudos para entender como isso acontece, por meio dos atributos do dever-poder de polcia.

2.2 Atributos do Dever-Poder de Polcia


Para que o deve-poder de polcia seja plenamente exercido, de acordo com Meirelles (2011, p. 121),
preciso identificar trs atributos ou caractersticas:

a discricionariedade;

a autoexecutoriedade e

a coercibilidade.

Estude, a seguir um pouco a respeito cada um deles.


2.2.1 Discricionariedade das aes de segurana pblica
No dia-a-dia da interveno policial, considerando o juzo de quando se deve ou no empregar a fora,
realizar uma abordagem, algemar (STF, Smula Vinculante n 11) ou prender (CPP, art. 301 e 302), percebe-se
uma larga margem de medidas para se alcanar um objetivo. Pensando nisso, voc j deve ter ouvido falar ou
teve a oportunidade de constatar que, ao cumprir seu dever, nenhuma ocorrncia igual a outra, ainda que
envolva a mesma pessoa, o mesmo lugar, o mesmo horrio, dentre outros fatores. Cada caso deve ser tratado
de acordo com as circunstncias. Isso tambm ocorre durante o planejamento das aes de segurana.
Por isso que a previso legal e regulamentar do dever-poder de polcia abrangente, permitindo ao
profissional de segurana pblica escolher as medidas oportunas e convenientes para se atingir o fim pblico.
Da porque se fala em mrito do ato discricionrio, alcanado sob:

o juzo da oportunidade - elemento motivo: favorvel, tempestivo, que vem em tempo; e

37

convenincia - elemento objeto: respeita as regras, apropriado, atende as expectativas, traz benefcios
(GASPARINI, 2007, p. 893).
Como se v, discricionariedade traduz-se na liberdade de ao dentro dos limites legais para se

concretizar o interesse pblico, fundada num juzo de oportunidade e convenincia. Nesse sentido, Gasparini
(2007, p. 893) aduz que:
Todas as atividades, discricionrias ou vinculadas da Administrao Pblica esto
subordinadas lei (CF, art. 37). Sendo assim, natural que a Administrao Pblica
no possa ir alm da competncia e dos limites traados pelas normas pertinentes
a cada caso ou situao que se lhe apresente. O agir da Administrao Pblica no
se juridiciza na ausncia da lei. Ademais, h de conter-se na orientao e lindes
tracejados pela lei. Qualquer ao estatal sem o correspondente calo legal ou que
exceda o mbito demarcado pela lei injurdica e expe-se anulao.

Entretanto, essa discricionariedade objeto de severas crticas, em funo da baixa capacidade de


avaliao do policial, frente aos recursos que lhes so disponibilizados. Esse entendimento ressalta que as
decises dos policiais acerca de quando se deve ou no usar a fora no encontra meio termo, adquirindo
contornos dramticos quando se decide pelo uso letal da fora. Por isso que se considera que nem toda ao
policial compatvel com o estado democrtico de direito, estando fora dos casos de legtima defesa, estrito
cumprimento do dever legal ou exerccio regular de direito. Com efeito, constata-se, no raras vezes, o uso
indiscriminado da fora, seja em face de indivduos que praticam crimes, seja em face de pessoas consideradas
suspeitas, mas sem histrico de envolvimento em delitos (RAMOS; MUSUMECI, 2005).
Dentro dessa discusso, importante lembrar-se da aula do Mdulo 1, na qual voc estudou a respeito
dos princpios bsicos sobre o uso da fora e armas de fogo, adotados no Oitavo Congresso das Naes Unidas
sobre a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinquentes. Para relembrar, leia o item 2 das disposies
gerais do anexo:
Os governos e entidades responsveis pela aplicao da lei devero preparar uma
srie to ampla quanto possvel de meios e equipar os responsveis pela aplicao
da lei com uma variedade de tipos de armas e munies que permitam o uso
diferenciado da fora e de armas de fogo. Tais providncias devero incluir o
aperfeioamento de armas incapacitantes no-letais, para uso nas situaes
adequadas, com o propsito de limitar cada vez mais a aplicao de meios capazes
de causar morte ou ferimentos s pessoas.
Com idntica finalidade, devero equipar os encarregados da aplicao da lei com
equipamento de legtima defesa, como escudos, capacetes, coletes prova de bala
e veculos prova de bala, a fim de se reduzir a necessidade do emprego de armas
de qualquer espcie.

38

Inspirada nesse ato internacional, a Portaria Interministerial n 4.226, de 31 de dezembro de 2010,


ao dispor sobre o uso diferenciado da fora no Brasil, estabelece o emprego de armas e equipamentos de menor
potencial ofensivo.
Ao lado disso, pem-se em destaque os seguintes dispositivos da Lei n 13.060/2014, tambm
estudada no Mdulo 1:
Art. 3 Os cursos de formao e capacitao dos agentes de segurana pblica
devero incluir contedo programtico que os habilite ao uso dos instrumentos no
letais.
Art. 5 O poder pblico tem o dever de fornecer a todo agente de segurana pblica
instrumentos de menor potencial ofensivo para o uso racional da fora.

Vale lembrar-se da ponderao de valores, do emprego do princpio da proporcionalidade com seus


requisitos de adequao, necessidade e razoabilidade ou proporcionalidade em sentido estrito, conforme
tipificado no art. 2 da Lei n 13.060/2014 e estudado no Mdulo 1.
Importante!
Discricionariedade no se confunde com arbitrariedade. Discricionariedade liberdade de agir dentro
dos limites legais; arbitrariedade ao fora ou excedente da lei, com abuso ou desvio de poder. O
ato arbitrrio sempre ilegtimo e invlido, portanto nulo, passvel de responsabilizao do agente
pblico (MEIRELLES, 2011, p. 121). Vale destacar que, perante a arbitrariedade, o profissional de
segurana est passvel de ser responsabilizado, conforme j aventado anteriormente, e conforme voc
estudar no Mdulo 3 (ex.: abuso de autoridade, tortura, improbidade administrativa etc.).
2.2.2 Autoexecutoriedade da atuao policial
Autoexecutoriedade a capacidade de se praticar uma ao diretamente, por seus prprios meios, sem
o acionamento do poder judicirio. Para tanto, tendo em vista a necessidade de se atingir o fim pblico
prontamente, a ordem jurdica estabelece as medidas que os rgos de segurana devero implementar.
Assim, na hiptese em que o policial se depara com uma ocorrncia, e precisa intervir, seja para alertar,
seja para abordar, prender ou adotar outra medida prevista na legislao, com o intuito de preservar a ordem,
proteger pessoas e bens, ele o far de imediato, sem a necessidade de se dirigir a um juiz solicitando
uma deciso que fundamente sua atuao.
Cumpre ressaltar que, embora respaldado pelos atributos do ato administrativo, dentre eles o da
presuno de legalidade e de veracidade, o comportamento do poder pblico pode sofrer controle judicial, a
ser provocado pelo administrado, isto , a pessoa que foi submetida medida policial (CF/88, art. 5, XXXV).
2.2.3 Coercibilidade do dever-poder de polcia
Resgatando o fundamento do contrato social, no qual o cidado abre mo de suas liberdades para se
beneficiar da proteo estatal (mitigao do exerccio da justia com as prprias mos), a coercibilidade constitui
um elemento que integra essa relao entre o poder pblico e os indivduos. Com efeito, cada pessoa se
39

submete ao poder do Estado, em benefcio do bem comum, atravs da imposio coativa das medidas adotadas
pelos rgos estatais.
Em outras palavras, determinadas aes do poder pblico possuem carter impositivo, de observncia
obrigatria pelos destinatrios. dizer, a coercibilidade se opera com o constrangimento (legal) no sentido de
se obrigar algum a se submeter a uma determinao de ordem policial (legal, clara e objetiva), sob pena do
uso (legtimo) da fora e demais medidas cabveis (vide Mdulo 3). Com efeito, todo o ato de polcia dotado
de imperatividade, obrigatrio para seu destinatrio, admitindo at o emprego da fora (legtima) a fim de se
obter o seu cumprimento, em especial, quando resistido pelas pessoas.
Nessa linha de raciocnio, Meirelles (2011, p. 121) argumenta:
O atributo da coercibilidade do ato de polcia justifica o emprego da fora fsica
quando houver oposio do infrator, mas no legaliza a violncia desnecessria ou
desproporcional resistncia, que em tal caso pode caracterizar o excesso de poder
e abuso de autoridade nulificadores do ato praticado e ensejadores das aes civis
e criminais para reparao do dano e punio dos culpados.

Valendo-nos ainda de seus ensinamentos (MEIRELLES, 2011, p. 122), No h ato de polcia facultativo
para o particular, pois todos eles admitem a coero estatal para torn-los efetivos, e essa coero tambm
independe de autorizao judicial. Assim, o prprio policial, representante do Estado, que determina e faz
executar as medidas necessrias para se preservar a ordem e a paz social.
Uma correlao interessante aquela na qual considera que a coercibilidade indissocivel da
autoexecutoriedade. dizer, o ato de polcia s autoexecutrio porque dotado de fora coercitiva. a
necessidade de se ver as medidas adotadas pela administrao por meio dos meios de coero. Assim, sem
coero no h como se efetivar uma ao policial para proteger pessoas e bens.
Diante disso tudo, Moreira Neto (1987, p.11) arremata a abordagem a respeito do dever-poder de
polcia, dizendo que a discricionariedade, a executoriedade e a coercibilidade constituem o trip do direito
administrativo da segurana pblica.

Aula

3 Atuao policial como estratgia de preveno

violncia urbana, resgate da paz social e instrumento para instruo


criminal
Nesta aula voc estudar a atuao policial por meio da abordagem, seja para as aes de preveno,
mantendo um ambiente livre de riscos e perigos vida e aos bens (sensao de segurana), ou para aes de
represso (imediata e mediata), nos casos de resgate da paz social e de instruo de um processo criminal.
40

Talvez voc no tenha notado, mas normalmente a abordagem pode ser empregada para fins
educativos ou instrutivos, na medida em que o agente busca promover a orientao do pblico a respeito de
determinados aspectos de comportamento, de acordo com as regras de ordem pblica, seja no trnsito, em vias
pblicas, parques, praas, meio ambiente, dentre outros.
Essa atividade tem natureza estritamente preventiva. Por sua vez, Arajo (2008, p. 17) destaca que:
As pessoas podem aparecer de diferentes maneiras, ora como vtimas, ora como
agressores, ora como espectadores diretos ou indiretos, outras vezes como parceiros
ou adversrios, s vezes necessitando de auxlio e proteo, mas todos com o
objetivo de ter seus direitos resguardados pelos agentes de aplicao da lei.

As aes de polcia so desenvolvidas mediante relaes interpessoais, isto , por meio do contato com
a sociedade, em diversas situaes. Dentro desse contexto, observe as situaes a seguir.
Situao 01: Profissionais de segurana pblica planejaram aes especficas para um evento
esportivo, ocorrido nos ltimos 10 anos. Nesse perodo, houve registros de roubo, furto, leso corporal,
tentativa de homicdio e homicdio consumado. Umas das estratgias adotadas na edio atual foi a de
intensificar as atividades de busca em pessoas e veculos, em barreiras pr-determinadas, observada a mancha
criminal. Aps a realizao do evento no houve registro de homicdio, nem de tentativa de homicdio. Houve
sensvel reduo nos nmeros de roubo, furto e leso corporal.
Situao 02: Uma viatura policial recebeu informaes detalhadas, via Central de Operaes, sobre
um grupo de trs pessoas armadas com pistolas, efetuando assaltado em uma padaria no centro da cidade. Ao
chegar no local, a equipe obteve a confirmao da ocorrncia com o proprietrio do estabelecimento, o qual
forneceu novas informaes sobre os autores do fato, que se evadiram. Durante o patrulhamento, os policiais
identificaram 03 (trs) pessoas, cujas descries e comportamento indicaram uma semelhana de
caractersticas com os autores do roubo padaria, conforme informaes transmitidas pela Central de
Operaes e pela vtima.
Diante dessas distintas situaes, no restam dvidas de que voc, como agente policial, deve adotar
uma providncia, que normalmente passa pela abordagem policial. Perceba que na primeira hiptese no h a
notcia de que esteja ocorrendo um crime, diferente do que acontece na segunda hiptese.
Entretanto, considerando o aspecto jurdico...

O que justifica a interveno policial na primeira hiptese? Como obrigar o cidado a se submeter a
uma abordagem em um evento, quando no h um crime ocorrendo? E o que justifica as demais atuaes? So
os mesmos fundamentos? Pense a respeito, pois tais questes sero tratadas pontualmente mais a frente.

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Vale dizer, a resposta adequada a estas indagaes revela o preparo do profissional de segurana,
principalmente quando instado a expor os motivos de sua atuao perante os rgos de controle interno
(Corregedoria) e externo (Ministrio Pblico, Poder Judicirio, Comisso de Direitos Humanos etc.).
Importante!
O policial, representante do Estado, protetor dos bens mais caros para a sociedade, deve ter o domnio
sobre o que acontece no mundo dos fatos, a realidade das ruas. O policial deve empregar a tcnica
adequada durante sua atuao (necessria e razovel) e observar os fundamentos da ordem jurdica.
Com esse ciclo, o seu comportamento ser considerado legtimo.

3.1 Abordagem - conceito


Considerando o que foi apresentado at aqui, incluindo os estudos do Mdulo 1, voc tem condies
de explicar que, como profissional de segurana pblica, a sua tarefa consiste em oferecer sociedade a
proteo suficiente para que todos estejam livres de riscos e perigos. E, para tanto, como representante do
Estado, voc detm o dever-poder de polcia, que lhe confere a capacidade de intervir nas liberdades individuais,
respeitando os limites, sendo necessrio submeter as pessoas ao procedimento de revista pessoal, a fim de
garantir a segurana da comunidade, inclusive a da prpria pessoa.

Mas... O que seria a to falada abordagem policial? Ela somente existe em casos de crimes e de fundada
suspeita?
Como todo bom pesquisador, sempre conveniente buscar o significado das palavras em um
dicionrio.
Abordar o ato de aproximar, alcanar, chegar, estar encostado, achegar-se em uma pessoa, com o
propsito de lhe sondar a opinio ou tratar de qualquer assunto, comear a tratar de alguma coisa.
Olhando para o conceito tcnico, a abordagem policial constitui o procedimento de aproximao a
uma pessoa, ou a um grupo de pessoas, ou ainda a um veculo ou residncia, com o fim de confirmar um fato,
a evidncia de uma infrao penal, bem como investigar, orientar, advertir, prender, assistir.
3.2 Critrios para realizao da abordagem
Normalmente a busca em pessoas, veculos ou domiclios realizada em funo da necessidade de se
identificar a existncia de algum objeto que constitua corpo de delito (Cdigo de Processo Penal, art. 244). Mas,
pela definio construda anteriormente, importante deixar bem claro que essa interveno policial no
somente ocorre diante da existncia de uma infrao penal. Vale dizer, a abordagem pode ser realizada tambm
com o objetivo de orientar, advertir, assistir. Dentro dessa ideia, conforme j discutido acima, ela pode ser
empregada tambm como critrio de preveno, sem que exista fundada suspeita, como voc estudar a seguir.
Ao se debruar sobre o estudo da abordagem policial, Tnia Pinc (2007) identificou o significado de
abordagem, por meio da leitura dos trabalhos de pesquisa de Ramos e Musumeci:
42

[...] abordagem representa um encontro entre a polcia e o pblico e os


procedimentos adotados pelos policiais variam de acordo com as circunstncias e
com a avaliao feita pelo policial sobre a pessoa com quem interage, podendo estar
relacionada ao crime ou no.
Essa uma ao policial proativa, que ocorre durante as atividades de policiamento,
cujos procedimentos preveem a interceptao de pessoas e veculos na via pblica
e a realizao de busca pessoal e revista veicular, com o objetivo de localizar algum
objeto ilcito, como drogas e armas de fogo. A deciso de agir exclusiva do policial
e respaldada por lei.

Nesse contexto, cumpre destacar que a realizao dessa atividade deve adotar critrios para seleo de
pessoas, veculos e residncias, resguardados no dever-poder de polcia, incluindo a a possibilidade de escolha
pela omisso, ou seja, deixar de adotar algum procedimento, realiz-lo de forma parcial ou adiar a execuo,
conforme eventuais convenincias (GOLDSTEIM, 2003, p. 107).
Como profissional de segurana pblica voc j sabe que a abordagem adequada segue uma atuao
tcnica e ttica, de acordo com os procedimentos descritos em manuais, instrues normativas, procedimentos
operacionais padro, resolues, dentre outros. Os critrios de atuao tcnica da abordagem policial so
desenvolvidos nas corporaes, observando as normas de atribuio de cada uma delas e de acordo com cada
situao ftica.

Quem nunca ouviu os princpios da segurana, surpresa, rapidez, ao vigorosa e unidade de comando?
Dentro desse contexto, ainda destacam-se as fases da abordagem:

Motivao;

Planejamento mental;

Plano de ao;

Execuo; e

Desfecho da abordagem.

3.3 Abordagem policial para fins de preveno

Lembra-se da 1 situao descrita no incio dessa aula? Pois bem, ali no h existncia de um crime
ocorrendo. Certo?
Voltando pergunta: Qual o fundamento legal que legitima submeter algum a uma busca pessoal

naquelas condies?
Do ponto de vista ftico, ficou evidenciado, atravs da anlise criminal, a necessidade de preservar a
ordem pblica, assim como de prevenir a ocorrncia de roubos, furtos, leso corporal, tentativa de homicdio e
homicdio. Do ponto de vista jurdico, voc j deve ter pensado logo no dever-poder de polcia. E a resposta
est correta.
Mas, considerando a primazia da liberdade de locomoo em um regime democrtico, como o adotado
pelo Brasil (CF/88, art. 5) preciso haver norma legal que estabelea de forma especfica essa possibilidade. E,
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nesse caso, at em funo do histrico de violncia, o Estatuto do Torcedor, veiculado pela Lei n 10.671, de 15
de maio de 2013, prev o seguinte:
Art. 13-A. So condies de acesso e permanncia do torcedor no recinto esportivo,
sem prejuzo de outras condies previstas em lei: (Includo pela Lei n 12.299, de
2010).
[...]
II - no portar objetos, bebidas ou substncias proibidas ou suscetveis de gerar ou
possibilitar a prtica de atos de violncia; (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
III - consentir com a revista pessoal de preveno e segurana; (Includo pela Lei n
12.299, de 2010).
IV - no portar ou ostentar cartazes, bandeiras, smbolos ou outros sinais com
mensagens ofensivas, inclusive de carter racista ou xenfobo; (Includo pela Lei n
12.299, de 2010).
[...]
VI - no arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto
esportivo; (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
VII - no portar ou utilizar fogos de artifcio ou quaisquer outros engenhos
pirotcnicos ou produtores de efeitos anlogos; (Includo pela Lei n 12.299, de
2010).
[...]
X - no utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros
fins que no o da manifestao festiva e amigvel. (Includo pela Lei n 12.663, de
2012).
Pargrafo nico. O no cumprimento das condies estabelecidas neste artigo
implicar a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for
o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuzo de outras sanes
administrativas, civis ou penais eventualmente cabveis. (Includo pela Lei n 12.299,
de 2010).

Eis, ento, o fundamento legal que autoriza a busca pessoal, sem que haja a notcia de uma infrao e
uma fundada suspeita.
3.4 Fundada suspeita
Agora voc ir identificar as nuances que envolvem a sua atuao quando se deparar com uma
ocorrncia semelhante da segunda situao descrita anteriormente.

Lembra-se do assalto padaria do centro da cidade?


Leia novamente o texto e as indagaes.
Conforme j apontado, a primeira coisa que vem mente de um policial sobre a justificativa para se
realizar uma abordagem a chamada fundada suspeita. Ao se empregar os significados de um dicionrio, a
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fundada suspeita seria o juzo de valor formulado sobre o comportamento de uma pessoa, ou sobre algo, com
base (fundado) em elementos prvia e solidamente identificados, que levam a concluir sobre a existncia de um
ato irregular, ilcito e/ou criminoso. De imediato o fundamento legal citado o do Cdigo de Processo Penal:
Art. 240. A busca ser domiciliar ou pessoal.
1 Proceder-se- busca domiciliar, quando fundadas razes a autorizarem para:
[...]
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
[...]
f) apreender cartas, abertas ou no, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando
haja suspeita de que o conhecimento do seu contedo possa ser til elucidao
do fato;
[...]
h) colher qualquer elemento de convico.
2o Proceder-se- busca pessoal quando houver fundada suspeita de que algum
oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do
pargrafo anterior.

Ao analisar a expresso fundada suspeita contida nos artigos citados, Nucci (2005, p. 493) ensina:
Suspeita uma desconfiana ou suposio, algo intuitivo e frgil, por natureza, razo
pela qual a norma exige fundada suspeita, que mais concreto e seguro. [...] sendo
crucial destacar que a autoridade encarregada da investigao ou seus agentes
podem e devem revistar pessoas em busca de armas, instrumentos do crime,
objetos necessrios prova do fato delituoso, elementos de convico, entre outros,
agindo escrupulosa e fundamentadamente.

Interessante observar que esses dispositivos fazem parte no CPP do Captulo XI, que disciplina a busca
e a apreenso. Por sua vez, esse Captulo est inserido no Ttulo VII Da Prova, instrumento processual
empregado para convencer a autoridade judiciria sobre a existncia de um crime, a fim de que ele possa aplicar
a medida penal adequada.
Entretanto, a busca, como instrumento processual, tambm empregada em atos fora da instruo
criminal (ato processual praticado em juzo), tendo em vista o sentido e o alcance que decorre dos artigos
anteriormente citados, seja para as aes de preveno, seja para os procedimentos de represso imediata e em
especial para os de represso mediata, todos estudados no Mdulo 1. Como se v, o CPP no fala em
abordagem, mas em busca domiciliar ou pessoal, a qual ser realizada independentemente de mandado judicial.
Do ponto de vista legal ainda, Jlio Csar Rodrigues de Arajo (2008, p. 18) lembra que a abordagem
tambm se vale do que est contido no art. 239 do CPP, que trata dos indcios: Considera-se indcio a
circunstncia conhecida e provada, que, tendo relao com o fato, autorize, por induo, concluir-se a existncia
de outra ou outras circunstncias. Ou seja, se em um patrulhamento o profissional de segurana se depara com
uma situao que induz um ilcito penal, estar ele autorizado a promover a interveno aqui estudada.
45

Contudo, vrias so as crticas sobre a formao da fundada suspeita. Quem nunca ouviu a famosa
pergunta sobre o que seria a fundada suspeita. Aqui reside grande parte da controvrsia sobre o emprego da
discricionariedade do policial. Jlio Csar (2008, p. 19) cita a ideia formulada por Ramos:
Outro aspecto que chama a ateno na pesquisa junto PM a pobreza do discurso
sobre a suspeita. No s no conseguimos localizar um nico documento que
definisse parmetros para a constituio da fundada suspeita (expresso usada
reiteradamente por policiais, mas sem qualquer sentido preciso), como encontramos
nas falas de oficiais, antigos ou jovens, de alta ou baixa patente, uma articulao to
precria a respeito desse tema quanto a observada na cultura policial de rua
expressa pelas praas de polcia.
surpreendente, para no dizer espantoso, que a instituio no elabore de modo
explcito o que os prprios agentes definem como uma das principais ferramentas
do trabalho policial (a suspeita); que no focalize detidamente esse conceito nos
cursos de formao, nas documentaes e nos processos de qualificao, nem o
defina de modo claro e objetivo, deixando a merc do senso comum, da intuio,
da cultura informal e dos preconceitos correntes. (Ramos, 2005, p. 54).

Embora haja essa discusso, bom que se diga que o problema no reside no suposto grau de
discricionariedade ou na ausncia de definies sobre o que seria a expresso fundada suspeita. Mas, na
maioria das vezes, o problema encontra-se na correta aplicao das normas aqui discorridas, ou a dificuldade
de se interpretar os fatos e o uso da tcnica adequada ao caso concreto.
Conforme j demonstrado, a vida em sociedade dinmica, e disciplinar toda essa complexa malha
de interao entre os indivduos em uma norma legal seria invivel e no caso da abordagem, torna-se
impossvel e imprprio enumerar todas as possibilidades autorizadoras de uma busca (NUCCI, 2005, p. 493),
razo pela qual o legislador prev determinadas clusulas gerais que devem ser complementadas por normas e
atos regulamentares*, destinadas a detalhar as aes a serem desenvolvidas no dia-a-dia pelo agente pblico,
observando a os critrios de proporcionalidade e atingimento do interesse pblico.
*lembra-se do ato administrativo que complementa a lei, conforme estudado nesse Mdulo?

Assim, para que seja assegurada uma convivncia harmoniosa, um ambiente livre de riscos e perigos,
o legislador conferiu aos policiais, independente de autorizao judicial, a possibilidade de se realizar
abordagens em pessoas, veculos e domiclios, bastando indcio associado fundada suspeita de que a
pessoa esteja portando um objeto que esteja vinculado a uma infrao penal. Da surgem os manuais, os
procedimentos operacionais, instrues, resolues, que buscam detalhar e definir os critrios de atuao do
profissional, isto , complementando a clusula geral da lei sobre indcios e fundada suspeita.
Nesse sentido, a Polcia Militar do Estado de So Paulo estabeleceu os seguintes critrios para orientar
a atuao de seus integrantes (PINC, 2006, p. 33):

46

Atitude(s) suspeita(s): todo comportamento anormal ou incompatvel com o horrio


e o ambiente considerados, praticado por pessoa(s), com a finalidade de encobrir
ao ou inteno de prtica delituosa. Alguns exemplos: a. Pessoa que desvia o olhar
ou o seu itinerrio, bruscamente quando reconhece ou avista um policial; b.
condutor ou ocupantes de um veculo que olha(m) firmemente para frente na
condio de rigidez, evitando olhar para os lados, para o policial ou para a viatura,
que naturalmente chamam a ateno do pblico em geral;
c. pessoa(s) que, ao ver(em) ou reconhecer(em) um policial ou uma viatura, iniciam
um processo de fuga, como correr, desviar caminho abruptamente etc.; d. pessoa(s)
parada(s) defronte a estabelecimentos comerciais, bancrios, escolas, filas etc., por
tempo demasiado e sem motivo aparente; e. pessoa que mantm seu veculo parado
e em funcionamento defronte a estabelecimentos bancrios, demonstrando
agitao, nervosismo, ansiedade etc.; f. veculo excessivamente lotado, cujos
ocupantes demonstram temeridade em seu comportamento; g. txi ocupado por
passageiro, contudo, apresentando luminoso aceso; h. uso de vestes incompatveis
com o clima, possibilitando ocultar porte ilegal de armas ou objetos ilegais.

Assim, de vital importncia que voc tenha fcil acesso ao manual de sua corporao. Faa uma detida
leitura. Se voc achar interessante, participe e contribua com seu aperfeioamento. Vale ressaltar que, anos de
atuao na atividade operacional, acrescentado do contato com atos de controle interno e externo, bem
como das atividades de ensino e da constante pesquisa acadmica, conferem uma carga de experincia aos
profissionais de segurana pblica, permitindo-lhes criar habilidades suficientes para identificar irregularidades
num simples olhar sobre o comportamento de uma pessoa, veculo ou ambiente. Normalmente chamam a isso
de tirocnio policial. Com efeito, essa capacidade constitui elemento de grande importncia na rea de
segurana pblica, em especial quanto atualizao das tcnicas e critrios de abordagem.
Entretanto, a experincia do policial no pode servir de nico elemento que justifique uma abordagem.
Na atuao diria, necessria a identificao de dados concretos sobre a existncia de um ilcito, de um crime,
conforme se verifica na doutrina ptria:
Suspeita uma desconfiana ou suposio, algo intuitivo e frgil, por natureza, razo
pela qual a norma exige fundada suspeita, que mais concreto e seguro. Assim,
quando um policial desconfiar de algum, no poder valer-se, unicamente, de sua
experincia ou pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpvel, como a
denncia feita por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o
cometimento do delito, bem como pode ele mesmo visualizar uma salincia sob a
blusa do sujeito, dando ntida impresso de se tratar de um revlver (NUCCI, 2005,
p. 493).
Pode ser realizada por qualquer PM com ou sem o respectivo mandado. Isto no
significa que seja lcito ao PM revistar indiscriminadamente todo cidado, o que
caracteriza uma atitude despropositada, alm de ilegal, considerando que cada
cidado tem o direito de ir e vir sem ser molestado. [] Postulamos que a fundada
47

suspeita no pode encontrar morada apenas na presuno, mas exige algo alm,
como um comportamento suspeito (acelerar o veculo ao avistar o policial militar
em servio, desviar o olhar, executar manobra de modo a no passar por bloqueio
etc.). (ASSIS, 2006, p. 50-51)

No mesmo sentido, o poder judicirio manifestou-se conforme os seguintes precedentes:


EMENTA: HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRNCIA
LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A SER SUBMETIDO A BUSCA PESSOAL.
JUSTA CAUSA PARA A AO PENAL RECONHECIDA POR TURMA RECURSAL DE
JUIZADO ESPECIAL. [...] A fundada suspeita, prevista no art. 244 do CPP, no pode
fundar-se em parmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que
indiquem a necessidade da revista, em face do constrangimento que causa.
Ausncia, no caso, de elementos dessa natureza, que no se pode ter por
configurados na alegao de que trajava, o paciente, um bluso suscetvel de
esconder uma arma, sob risco de referendo a condutas arbitrrias ofensivas a direitos
e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder. Habeas corpus
deferido para determinar-se o arquivamento do Termo. (STF, HC 81305,
Relator(a): Min. ILMAR GALVO, Primeira Turma, julgado em 13/11/2001, DJ 22-022002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284) (sem
grifos no original)

PROCESSUAL PENAL. BUSCA PESSOAL. ARTS. 240, 2, E 244, CPP. AUSNCIA DE FUNDADA
SUSPEITA. NECESSIDADE DE DEMONSTRAO DE CRITRIO OBJETIVO JUSTIFICADOR DO ATO. PRISO
EM FLAGRANTE DECORRENTE DA BUSCA PESSOAL. ILEGALIDADE. ARBITRARIEDADE. DIREITOS E GARANTIAS
INDIVIDUAIS DESRESPEITADOS. 1. Fundada suspeita requisito essencial e indispensvel para a realizao da
busca pessoal, consistente na revista do indivduo (Guilherme de Souza Nucci). 2. A busca pessoal sem mandado
deve assentar-se em critrio objetivo que a justifique.
Do contrrio, dar-se- azo arbitrariedade e ao desrespeito aos direitos e garantias individuais. 3. A
suspeita no pode basear-se em parmetros unicamente subjetivos, discricionrios do policial, exigindo, ao
revs, elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, mormente quando notrio o
constrangimento dela decorrente (STF HC 81.305-4/GO, Rel. Ministro Ilmar Galvo). 4. Recurso em sentido
estrito no provido. (TRF 1. 3 Turma. RCCR 200733000111970, Rel.: Des. Federal Tourinho Neto, 04/07/2008).
(sem grifos no original)

Saiba Mais...
Antes de prosseguir, recomenda-se aprofundar esse estudo com a leitura do artigo aspectos jurdicos
da busca pessoal
Disponvel em: http://jus.com.br/artigos/9491/aspectos-juridicos-da-busca-pessoal
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3.5 Abordagem policial durante intensificao de policiamento


Um aspecto de grande importncia diz respeito ao emprego da abordagem policial realizada durante
a intensificao de policiamento, com o objetivo de reduzir os ndices criminais. Em princpio, aqui no h a
notcia de que uma infrao penal tenha ocorrido imediatamente, mas, conforme descrito na situao n 01,
h um histrico de violncia urbana em determinado local, envolvendo alguns tipos penais, subsidiando a
identificao de uma mancha criminal, que precisa ser diluda mediante aes de preveno.
Conforme alerta Chiba (1998, p. 53), os dispositivos do Cdigo de Processo Penal anteriormente citados
so insuficientes para legitimar a realizao de abordagem em situaes em que no h fundada suspeita aps
a ocorrncia imediata de um crime. dizer, as aes de preveno transcendem ao que estabelecem os artigos
240 e 244 do CPP.
Durante essa intensificao de policiamento, regulado por ordem de misso, ordem de servio, dentre
outros, normalmente se estabelecem pontos de bloqueio ou um itinerrio para que equipes de policiais
percorram realizando busca pessoal ou veicular, a fim de evitar a ocorrncia de determinados tipos penais. Sobre
essa atuao no pode pairar nenhuma arbitrariedade, abuso de poder ou excesso de discricionariedade.
Trata-se de cumprir o texto constitucional (art. 144) no sentido de oferecer segurana populao.
Repita-se, um ambiente livre de riscos e perigos. O fundamento ento comea com esse dispositivo
constitucional, associado ao exerccio do dever-poder de polcia, com seus atributos e previso legal (conforme
estudado nesse Mdulo) e, no caso concreto, a existncia dos fenmenos criminais que alimentam a violncia
urbana, perturbadora da paz social. A isso, associam-se os critrios tcnicos veiculados nos manuais,
procedimentos operacionais padro (POPs), resolues, dentre outros atos regulamentares, como o do Estado
de So Paulo.
Nesse sentido, cita-se o seguinte precedente do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais:
EMENTA: Constitucional. Processo Penal. Direito de livre locomoo. Busca forada.
Revista. Possibilidade, quando no interesse da segurana coletiva. O direito
individual liberdade deve ser combinado com medidas preventivas de defesa da
incolumidade pblica e da paz social. A revista, ante suspeita sria de irregularidade
que possa causar distrbio vida, sade ou segurana das pessoas, defensvel
quando efetivada em estado de necessidade coletiva. (TJMG. Processo n
1.0000.00.283122-0/000(1).

Relator:

ALMEIDA

MELO

Data

do

Julgamento: 27/11/2002. Data da Publicao: 14/02/2003).

Saiba Mais...
Leia o relevante artigo A busca pessoal e as suas classificaes, que nos traz uma discusso sobre
o tema. Faa a leitura e reflita a respeito do que apresentado.
Munido dessas informaes, associando-as ao conhecimento tcnico e ao constante treinamento,
voc, profissional de segurana pblica, estar apto a desenvolver suas atribuies nas ruas com qualidade e
eficincia, destacando-se positivamente perante a comunidade em que servir, proporcionando-lhes um servio

49

digno, conforme preceituado no contrato social citado no Mdulo 1, a Constituio da Repblica Federativa do
Brasil.
3.6 Busca pessoal em mulheres
No demais lembrar que o CPP, em seu artigo 249, estabelece A busca em mulher ser feita por
outra mulher, se no importar retardamento ou prejuzo da diligncia.
Assim, recomenda-se que a busca em mulher seja realizada por uma agente policial e, no sendo
possvel, o policial do sexo masculino poder faz-lo, dentro dos critrios j trabalhados at aqui. Pense no
seguinte exemplo: h uma forte suspeita de que uma mulher esteja portando arma de fogo sob suas vestes.
Entretanto, no turno de servio no h equipe composta por policial feminina. Nesse caso, perfeitamente vivel
a realizao da abordagem por policial masculino. importante que isso seja devidamente registrado na
ocorrncia e feita de maneira profissional, sem qualquer nfase de brincadeira ou de desrespeito mulher
abordada.
Fazendo nova leitura do artigo citado, no se identifica restrio quanto busca feita por policial
feminina em homens, porm essa medida deve ser analisada com bom senso, em especial, quanto aos aspectos
da tcnica de abordagem no caso concreto.
3.7 Busca domiciliar
Do catlogo de direitos e garantias fundamentais, que voc estudou no Mdulo 1, importa destacar a
inviolabilidade de domiclio, contida no inciso XI do art. 5 da CF/88: a casa asilo inviolvel do indivduo,
ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial.
Para as medidas de abordagem, perceba que essa inviolabilidade pode ser superada nos casos de:

Consentimento do morador, noite ou durante o dia;

Em caso de flagrante delito, noite ou durante o dia;

Mediante mandado, isto , ordem escrita do juiz competente, durante o dia.

Em uma concepo de dignidade da pessoa humana, o termo casa muito abrangente. O legislador
teve a inteno de tutelar um ambiente espacial privado, um compartimento no aberto ao pblico, no qual
determinada pessoa tem a garantia de desenvolver os seus direitos essenciais, buscar segurana, descanso, um
mnimo existencial, manter uma relao familiar. Aqui tambm cabe a noo de que a pessoa pode exercer sua
profisso ou atividade.
Essa proteo realizada pelo Cdigo Penal, que considera crime a invaso de domiclio. Aqui
oportuno verificar o que considerado casa:
Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tcita
de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependncias:
[...]
50

4 A expresso "casa" compreende:


I - Qualquer compartimento habitado;
II Aposento ocupado de habitao coletiva; e
III - Compartimento no aberto ao pblico, onde algum exerce profisso ou
atividade
5 - No se compreendem na expresso "casa":
I Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitao coletiva, enquanto aberta,
salvo a restrio do n II do pargrafo anterior; e
II Taverna, casa de jogo e outras do mesmo gnero.

No caso de um hotel, os quartos so utilizados como moradia, logo, tambm merecem a proteo
anteriormente citada. De outro lado, os corredores e o saguo no so abrangidos por essa tutela. O domiclio
que se exige aqui no o fixo, que exige nimo de residncia. Nesse sentido, destaca-se o seguinte julgado:
EMENTA:

Prova

Penal.

Banimento

constitucional

das

provas

ilcitas.[] Busca e apreenso de materiais e equipamentos realizada, sem mandado


judicial, em quarto de hotel ainda ocupado. Impossibilidade. Qualificao jurdica de
espao privado (quarto de hotel, desde que ocupado) como casa, para efeito da
tutela constitucional da inviolabilidade domiciliar. Garantia que traduz limitao
constitucional ao poder do Estado e tema de persecuo penal, mesmo em sua fase
pr-processual.
Conceito de casa para efeito da proteo constitucional (CF, art. 5, XI e CP, art.
150, 4, II). Amplitude dessa noo conceitual, que tambm compreende os
aposentos de habitao coletiva (por exemplo, os quartos de hotel, penso, motel e
hospedaria, desde que ocupados): necessidade em tal hiptese, de mandado judicial
(CF, art. 5, XI). Impossibilidade de utilizao pelo Ministrio Pblico, de prova obtida
com transgresso inviolabilidade domiciliar. Prova ilcita. Idoneidade jurdica.
Recurso ordinrio provido [] (STF, 2 Turma, RHC n 90.376/RJ. Rel.: Min. Celso de
Melo. Julgado em 03 abr. 2007).

A busca domiciliar realizada durante o dia, com determinao judicial, exige o cumprimento de
determinados protocolos, previstos na legislao, como o de se ler o contedo do mandado, sob pena de
nulidade dos atos. Havendo resistncia e quando a diligncia importar risco aos agentes policiais, o uso da fora
ser empregado para que a medida judicial seja cumprida. Nesses casos, o policial apresentar e ler o mandado,
logo que for possvel.
A lei autoriza o arrombamento da porta em caso de desobedincia. Na hiptese de ausncia dos
moradores, caber a voc acionar um dos vizinhos para acompanhar a revista do domiclio. Cabe alertar que, ao
concluir essa medida, voc dever fechar e lacrar o imvel.
interessante que sempre haja duas testemunhas no policiais (maiores e capaz) para que
acompanhem a diligncia, agindo assim estar dando maior lisura ao seu ato.

51

Outro ponto que merece ateno, principalmente para evitar constrangimentos, o procedimento de
solicitar que o morador e/ou testemunha acompanhe a diligncia em cada cmodo da residncia, juntamente
com os policiais.
Ao concluir as buscas, o policial que cumprir o mandado far relatrio contendo todos os detalhes,
registrando, inclusive, algo de ilcito que foi encontrado, precisando em qual lugar do imvel estava. O relatrio
tem que ser assinado pelo agente, pelo morador e pelas testemunhas.
Importante!
Recomenda-se que seja mencionado no relatrio a preservao de bens e da residncia submetida
busca, e, se houver dano, descrever o motivo, bem como se foi necessrio o uso da fora ou outra
medida adotada. Por fim, o relatrio ser encaminhado autoridade competente que determinou o
procedimento.

Mas... Seria extenso do termo casa? E o carro? Seria ele acobertado pela inviolabilidade
constitucional?
3.8 Busca veicular
Existem hipteses em que o veculo pode ser considerado a extenso do lar e, portanto, atrai a
inviolabilidade domiciliar prevista na CF/88, por exemplo:

Quando o carro estiver na garagem da casa;

Quando for um veculo tipo trailer, enquanto parado;

Quando for uma embarcao; e

Eventualmente a cabine de um caminho, no qual, assim como nos dois casos citados

anteriormente, o proprietrio se estabelea com nimo de moradia.


Com efeito, fora dessas hipteses, o veculo no considerado extenso do domiclio, no atraindo a
tutela constitucional, conforme j se manifestou o Superior Tribunal de Justia - STJ:
EMENTA HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ARMA ENCONTRADA
NO INTERIOR DE CAMINHO. PLEITO DE DESCLASSIFICAO PARA O DELITO DE
POSSE ILEGAL DE ARMA. IMPOSSIBILIDADE. ABOLITIO CRIMINIS. INAPLICABILIDADE.
PLEITO SUPERADO. ORDEM DENEGADA. 1. No se pode confundir o delito de posse
irregular de arma de fogo com o de porte irregular de arma de fogo. 2. Caracterizase o delito de posse irregular de arma de fogo quando ela estiver guardada no
interior da residncia (ou dependncia desta) ou no trabalho do acusado,
evidenciado o porte ilegal se a apreenso ocorrer em local diverso. 3. O caminho,
ainda que seja instrumento de trabalho do motorista, no pode ser considerado
extenso de sua residncia, nem local de seu trabalho, mas apenas instrumento de
trabalho. 4. In casu, o paciente foi surpreendido com a arma "em sua cintura", e no
guardada no interior do caminho. Assim sendo, medida que a arma estava presa
cintura do paciente fica evidente que ele portava, efetivamente, a arma de fogo,
52

que estava ao seu alcance, possibilitando a utilizao imediata. 5. Ante a


impossibilidade de desclassificao do crime de porte de arma para o delito de
posse, est superada a irresignao no tocante incidncia de abolitio criminis
temporria, situao que ocorre apenas quanto conduta relacionada ao crime de
posse de arma de fogo, acessrios e munio. 6. Ordem denegada. (STJ. 5 Turma.
Habeas Corpus N 172.525 MG. Rel.: Min. Adilson Vieira Macabu. Julgado em 12
jun. 2012).

Assim, vale ressaltar que lcita a abordagem em veculos, desde que preenchidos os requisitos para
essa atividade, conforme estudado acima, ainda que o condutor no permita.
3.9 Direitos, garantias e prerrogativas decorrentes do exerccio da profisso ou funo
Uma questo interessante a que trata sobre a atuao policial em face das pessoas que exercem a
profisso de advocacia. Para tanto, o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n
8.906/1994) estabelece um conjunto de direitos, do qual cumpre promover a leitura dos seguintes dispositivos:
Art. 7 So direitos do advogado:
[...]
II a inviolabilidade de seu escritrio ou local de trabalho, bem como de seus
instrumentos de trabalho, de sua correspondncia escrita, eletrnica, telefnica e
telemtica, desde que relativas ao exerccio da advocacia; (Redao dada pela Lei n
11.767, de 2008)
[...]
IV - ter a presena de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo
ligado ao exerccio da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de
nulidade e, nos demais casos, a comunicao expressa seccional da OAB;
V - no ser recolhido preso, antes de sentena transitada em julgado, seno em sala
de Estado Maior, com instalaes e comodidades condignas, assim reconhecidas
pela OAB, e, na sua falta, em priso domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8)
2 O advogado tem imunidade profissional, no constituindo injria, difamao ou
desacato punveis qualquer manifestao de sua parte, no exerccio de sua atividade,
em juzo ou fora dele, sem prejuzo das sanes disciplinares perante a OAB, pelos
excessos que cometer. (Vide ADIN 1.127-8)
3 O advogado somente poder ser preso em flagrante, por motivo de exerccio
da profisso, em caso de crime inafianvel, observado o disposto no inciso IV deste
artigo. 6o Presentes indcios de autoria e materialidade da prtica de crime por
parte de advogado, a autoridade judiciria competente poder decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em deciso motivada,
expedindo mandado de busca e apreenso, especfico e pormenorizado, a ser
cumprido na presena de representante da OAB, sendo, em qualquer hiptese,
vedada a utilizao dos documentos, das mdias e dos objetos pertencentes a

53

clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho


que contenham informaes sobre clientes. (Includo pela Lei n 11.767, de 2008)
7o A ressalva constante do 6o deste artigo no se estende a clientes do advogado
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partcipes ou
coautores pela prtica do mesmo crime que deu causa quebra da
inviolabilidade. (Includo pela Lei n 11.767, de 2008)

Com efeito, fora do exerccio de sua profisso o advogado se submeter s regras gerais sobre a
atuao policial, conforme apresentado nos Mdulos 1, 2 e 3.
Tambm de suma importncia identificar e conhecer sobre os direitos, garantias e prerrogativas dos
membros do ministrio pblico (art. 18 da Lei Complementar n 75/1993; arts. 40 e 41 da Lei n 8.625/1993),
magistrados (art. 33 da Lei Complementar n 35/1993), parlamentares (CF/88, art. 53; 1 do art. 27; inciso VIII
do art. 29), diplomatas (arts. 27, 29 a 41 da Conveno de Viena sobre Relaes Diplomticas, promulgada pelo
Decreto n 56.435/1965) e cnsules (arts. 34-36; 41 a 45 da Conveno de Viena sobre Relaes Consulares,
promulgada pelo Decreto n 60.078/1967).
Nesse contexto, considerando outras autoridades ou pessoas (Ministros e Secretrios de Estado,
sacerdotes, etc.), vale destacar que direitos, prerrogativas e garantias so disciplinadas na ordem jurdica. Vale a
pena conferir. Alm disso, leia os dispositivos em tela e compartilhe sua experincia profissional com seus
colegas e com o tutor.
Finalizando...
Neste Mdulo, voc estudou que...

O poder pblico, para cumprir a tarefa de promover o bem coletivo, pratica atos respaldado em

prerrogativas e submetido a sujeies, como forma de evitar desvios ao interesse pblico.

O ato administrativo uma manifestao de vontade (comportamento) proferida pelo Estado e

externado por agente pblico, ou por quem lhe faa s vezes, a fim de criar, modificar ou extinguir direitos,
perseguindo o interesse pblico.

O dever-poder de polcia corresponde permisso social dada administrao pblica para

restringir o exerccio de direitos individuais em benefcio de toda a sociedade.

O dever-poder de polcia confere ao policial o momento ideal para realizar a abordagem, bem

como aquilo que ele pode ou no fazer. Para tanto, preciso avanar nos estudos para entender como isso
acontece, atravs dos atributos do dever-poder de polcia.

Para que o dever-poder de polcia seja plenamente exercido, de acordo com Meirelles (2011, p.

121), preciso identificar trs atributos ou caractersticas: a discricionariedade; a autoexecutoriedade e a


coercibilidade.

O policial, representante do Estado, protetor dos bens mais caros para a sociedade, deve ter o

domnio sobre o que acontece no mundo dos fatos, a realidade das ruas. O policial deve empregar a tcnica
54

adequada durante sua atuao (necessria e razovel) e observar os fundamentos da ordem jurdica. Com esse
ciclo, o seu comportamento ser considerado legtimo.

A abordagem policial constitui o procedimento de aproximao ... ou ainda a interveno a um

veculo ou ingresso em uma residncia, com o fim de confirmar um fato, a evidncia de uma infrao penal, bem
como investigar, orientar, advertir, prender, assistir.

Como profissional de segurana pblica voc j sabe que a abordagem adequada segue uma

atuao tcnica e ttica, de acordo com os procedimentos descritos em manuais, instrues normativas,
procedimentos operacionais padro, resolues, dentre outros. Os critrios de atuao tcnica da abordagem
policial desenvolvida nas corporaes, observando as normas de atribuio de cada uma delas e de acordo
com cada situao ftica.

Exerccio
1.

Considerando o contedo abordado neste mdulo, responda:

a. Para cumprir seu papel no sentido de proporcionar o bem comum, o Estado se vale de prerrogativas
e sujeies. Diante disso, discorra sobre o exerccio do dever-poder de polcia como instrumento destinado
preservao da ordem pblica e garantia de um ambiente livre de riscos e perigos comunidade.
b. Quando voc se depara com uma ocorrncia, qual o atributo do dever-poder de polcia que lhe
autoriza exercer uma interveno sem a necessidade de provocar o poder judicirio? Justifique.
c. A coercibilidade, ao lado da discricionariedade e da autoexecutoridade, constitui o trip do deverpoder de polcia. Justifique a existncia da coercibilidade nas aes de segurana pblica.
d. O que justifica a realizao de uma abordagem nos casos de intensificao de policiamento?
e. possvel realizar uma busca pessoal em eventos esportivos, sem que haja a existncia de uma
infrao penal? Justifique.
2. Considerando os atributos ou caractersticas do ato administrativo, correlacione a primeira
coluna com a segunda:
(1) Presuno de legitimidade
(2) Autoexecutoriedade
(3) Imperatividade
(4) Tipicidade
( ) o atendimento pelo cidado ou administrado ao ato praticado pelo agente policial obrigatrio ou
coercitivo sob pena do uso legtimo da fora. Em suma, o destinatrio deve se submeter a ele, podendo
contest-lo, de acordo com os recursos previstos em lei (reclamao, requerimento, direito de petio, ao
judicial, etc.). Caso contrrio, se submeter responsabilizao penal (ex.: desacato, resistncia, desobedincia).
55

( ) considerando que o agente pblico tem o dever de praticar um ato conforme determina a lei (ex.:
notificao de trnsito, busca pessoal, priso), paira a presuno de legalidade, bem como a presuno de
veracidade. Essa presuno relativa porque admite prova em contrrio, a ser demonstrada pelo destinatrio
do ato (cidado), seja administrativamente (ex.: recurso contra notificao de infrao de trnsito) ou
judicialmente (ao de danos morais e materiais em funo de uma abordagem policial ou priso).
(

) o comportamento administrativo deve ser descrito na ordem jurdica, isto , as aes dos

profissionais de segurana so veiculadas na legislao para fins de aplicao (ex.: fiscalizao de ordem policial,
busca veicular, busca domiciliar, realizao de priso, etc.).
( ) devido a necessidade de se garantir continuidade prestao de servios em reas essenciais
(segurana, sade, educao, etc.) de forma clere e imediata, o agente pblico, para praticar uma conduta, no
tem a necessidade de provocar a manifestao do poder judicirio. Do contrrio, pense na hiptese de se
aguardar a posio da justia para a realizao das aes preventivas de segurana pblica ou nos casos de
resgate da paz social (aes de represso imediata e mediata).
3. Leia atentamente os seguintes casos:
Situao n 01: A Central de Operaes acionou uma equipe de policiais para averiguar uma ocorrncia
de roubo a um estabelecimento comercial da periferia da cidade, praticado por um grupo de trs pessoas
armadas. Ao chegar no local a equipe obteve

a confirmao da ocorrncia com o proprietrio do

estabelecimento, o qual forneceu novas informaes sobre os autores do fato, que se evadiram. Durante o
patrulhamento, os policiais identificaram algumas pessoas, cujas descries e comportamento indicaram uma
semelhana com os autores do roubo. Ao avistarem a viatura policial 02 (duas) pessoas correram e entraram em
uma residncia.
Situao n 02: Grandes eventos esportivos sero realizados na cidade: campeonato de vlei, futebol e
futsal. A Secretaria de Segurana Pblica acionou os rgos para realizar aes de preveno com o objetivo de
proporcionar aos torcedores espetculos seguros.
Agora, considerando as situaes apresentadas, marque V para as alternativas VERDADEIRAS e
F para as alternativas FALSAS:
a.

A abordagem ao grupo de pessoas pode ser baseada exclusivamente no tirocnio policial, na

experincia de ocorrncias semelhantes, principalmente quando os indivduos trajam um kit peba.


b.

A fundada suspeita, prevista no art. 244 do CPP, no pode fundar-se em parmetros unicamente

subjetivos (tirocnio policial, baseado na experincia), exigindo elementos concretos que indiquem a
necessidade da revista.
c.

So condies de acesso e permanncia do torcedor em evento esportivo, sem prejuzo de outras

condies previstas em lei, o consentimento da realizao de revista pessoal de preveno e segurana.

56

d.

O dever-poder de polcia corresponde permisso social dada Administrao Pblica para

restringir o exerccio de direitos individuais em benefcio de toda a sociedade. Empregado com


responsabilidade, trata-se de verdadeiro instrumento posto disposio do Poder Pblico para disciplinar o
exerccio desses direitos e liberdades ou ainda de cont-los, diante de eventuais excessos ou da necessidade de
se disciplinar determinadas relaes (ex.: interdio de via pblica para promoo das aes de segurana).

57

Gabarito
1.

Orientao de resposta:

a.

Durante as aes de segurana pblica algumas medidas interventivas so realizadas no sentido

de limitar as liberdades individuais, como o direito de ir e vir, durante a abordagem policial (busca pessoa ou
veicular). Nesse contexto, o dever-poder de polcia constitui instrumento necessrio para que seja
proporcionado populao um ambiente social livre de riscos e perigos.
b.

As aes de segurana pblica envolvem os bens mais caros para a sociedade (vida, liberdade,

integridade fsica, patrimnio, etc.). Diante disso, considerando o atributo da autoexecutoriedade, o agente
policial deve praticar as aes necessrias para promover a ordem pblica e a proteo de pessoas e bens, sem
a necessidade de se aguardar uma posio do Judicirio, sob pena de se perder as condies necessrias para
cumprir aquela finalidade.
c.

Na coercibilidade registra-se a possibilidade de se obrigar uma pessoa a cumprir a determinao

do policial, sob pena do uso da fora, dentre outras medidas policiais (ex.: priso). Trata-se de instrumento
necessrio para a promoo da segurana da comunidade, posto que em determinadas situaes,
inevitavelmente a fora o nico meio para proteger pessoas e bens.
d.

Embora no haja notcia concreta de que um crime esteja ocorrendo, a abordagem policial

realizada durante a intensificao de policiamento se justifica em funo da necessidade de se prevenir a


ocorrncia de crimes em determinados locais, cujo registro estatstico e anlise criminal, apontam a necessidade
de se promover aes de segurana pblica, como forma de garantir um ambiente social livre de riscos e perigos.
Dentro desse contexto, juridicamente falando, o dever-poder de polcia fundamenta esta ao, na medida em
que as limitaes aos direitos so levadas a efeito em benefcio do bem comum.
e.

O Estatuto do Torcedor, art. 13-A, estabelece uma srie de aes para garantir ao torcedor a

segurana no mbito de um evento esportivo, como a busca pessoal, ainda que no haja a notcia de que um
crime esteja ocorrendo. A ideia de que, com essa medida, haja um ambiente livre de riscos e perigos.
2.

Resposta Correta: 3-1-4-2

3.

Resposta Correta: F-V-V-V

58

MDULO

IMPLICAES PENAIS, CIVIS E ADMINISTRATIVAS


SOBRE A ABORDAGEM POLICIAL:
RESPONSABILIDADE DO CIDADO E DO AGENTE
POLICIAL

Apresentao do mdulo
Todo profissional de segurana pblica, j disse ou j ouviu algum colega dizer: Fui xingado e no

admito. Isto desacato! E ainda resistiu minha ordem legal de entrar na viatura estando preso por desacato.
Ento, prendi por desacato, desobedincia e resistncia.
Mas, ser que este desdobramento de uma abordagem pode trazer consequncias penais para o
abordado e/ou para o profissional de segurana pblica?
A resposta certamente positiva, no precisando de qualquer auxlio tcnico para isto. Por esse motivo,
que neste mdulo, voc estudar as implicaes penais em funo do comportamento das pessoas
submetidas a uma abordagem policial (desobedincia, desacato, resistncia, etc.), bem como as
consequncias penais que podem recair sobre o agente policial em razo da eventual inobservncia das
regras e limites jurdicos (constrangimento ilegal, violao de domiclio, abuso de autoridade, tortura etc.).
Alm disso, ao final do Mdulo sero abordados alguns aspectos de processo disciplinar e improbidade
administrativa, ligados a eventuais responsabilizaes nestas esferas em razo da atuao policial.

Objetivo do mdulo
Ao final do mdulo, voc ser capaz de:

Identificar as implicaes penais relacionadas ao comportamento das pessoas submetidas a uma

abordagem policial (desobedincia, desacato, resistncia, etc.);

Reconhecer as consequncias penais que podem recair sobre o profissional de agente policial em

razo da eventual inobservncia das regras e limites jurdicos (constrangimento ilegal, violao de domiclio,
abuso de autoridade, tortura etc.).

59

Estrutura do Mdulo
Este mdulo contempla as seguintes aulas:

Aula 01 Da responsabilidade penal do cidado frente a uma atuao policial

Aula 02 Da responsabilidade penal dos agentes policiais na realizao de uma abordagem

Aula 03 Implicaes de ordem disciplinar ao policial

Aula 04 Da responsabilizao por ato de improbidade administrativa ao policial

Aula 1 Da responsabilidade penal do cidado frente a uma


atuao policial
1.1 Breve introduo sobre a razo da tutela dos bens jurdicos pelo Direito Penal
Voc estudou que para a existncia de um Estado necessrio que os integrantes da sociedade firmem
um contrato social, abrindo mo de suas liberdades para obter benefcios e proteo do Poder Pblico. Para
tanto, nesse ambiente, as pessoas se submetem autoridade estatal, que estabelece um conjunto de regras, as
quais ordenam as relaes em sociedade para atingir o bem comum. Dentro desse cenrio, considerando a
segurana, destaca-se o dever do Estado de preservar a ordem pblica e promover um ambiente social livre de
riscos e perigos, seja em funo da hostilidade da natureza ou do comportamento lesivo de outras pessoas.
Nessa relao entre os indivduos que compem a sociedade e o poder pblico, como forma de garantir
o seu perfeito funcionamento, algumas regras so impostas para regular a interao entre uns e outros. Vale
dizer, que os indivduos cumprem sua parte ao respeitar e cumprir o conjunto de regras impostas pelo poder
pblico, sob pena de se submeterem responsabilizao nas esferas cvel, administrativa ou penal, conforme o
caso.
Em termos penais, encontra-se a afirmao de que a norma penal tutela valores fundamentais para a
subsistncia do corpo social, tais como a vida, a sade, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens
jurdicos (CAPEZ, 2011, p. 19). Normalmente as regras de Direito Penal surgem como tbua de salvao, na
medida em que os demais ramos do Direito no foram suficientes para proteger esses bens, isso porque a
resposta penal costuma ser mais severa, recaindo sobre a liberdade e os bens do autor de uma infrao, dentre
outras medidas.
Assim, para resgatar equilbrio na sociedade (paz social), quando uma pessoa, com seu comportamento,
ofende a um bem jurdico penalmente tutelado, instaura-se o que se chama de persecuo penal (jus puniendi).
Em outras palavras, quando algum pratica uma infrao penal (crime/delito ou contraveno penal), seja em
flagrante delito (CPP, arts. 301 e 302 ou CPPM, arts. 243 e 244), seja aps o indiciamento decorrente de inqurito
policial comum ou militar ou em um termo circunstanciado (art. 69 da Lei n 9.099/1995), o Estado exercer o
direito de punir (jus puniendi), aps o devido processo legal (CF/88, art. 5, LV)
60

Boa parte das persecues penais se origina durante a atuao dos profissionais de segurana pblica,
abrangendo a o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.

Lembra-se daquela operao em que voc teve que realizar uma abordagem, oportunidade em que
encontrou armas de fogo, entorpecentes, objetos oriundos de roubo e furto, dentre outros?
dela que estamos falando!
Vale dizer, vrias so as ocorrncias em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas
reagem atuao do agente policial. Dentre elas destacam-se:
Desobedincia: quando o indivduo no cumpre ou no atende determinao legal;
Desacato: quando o indivduo desrespeita, desprestigia ou ofende o policial;
Resistncia: quando o indivduo se ope execuo de ato legal, mediante violncia ou ameaa;
Corrupo ativa: quando o indivduo oferece ou promete vantagem indevida a fim de provocar a
omisso ou retardamento de ato de ofcio;
Contraveno penal: quando o indivduo se recusa a fornecer dados sobre a prpria identidade ou
qualificao.
Importante!
Vale lembrar tambm que o profissional, aplicando as tcnicas adequadas, respaldado nos aspectos
jurdicos desse procedimento (vide Mdulos 1 e 2), passa a refletir sobre as eventuais providncias a
serem adotadas em face desse comportamento.

Estude a seguir cada uma das infraes penais apresentadas anteriormente.


1.1 Da desobedincia
O Cdigo Penal CP estabelece em seu artigo 330 o seguinte:
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionrio pblico:
Pena deteno, de quinze dias a seis meses, e multa.

De acordo com a doutrina (LENZA, 2011, p. 749), trata-se de comportamento intencional (doloso) em
que a pessoa deixa de cumprir ou no atende ordem (legal) do policial.
Da leitura desse dispositivo, depreende-se que, para a configurao do crime, indispensvel que
sejam preenchidos os seguintes requisitos:
Existncia de uma ordem
Significa determinao, mandamento. Assim, quando a pessoa deixa de atender um simples pedido ou
uma solicitao no h o crime.

61

Legalidade da ordem
Pelo princpio da legalidade (CF/88, art. 37, caput), a determinao dada pelo agente deve estar
prevista em uma norma. Se no houver regra que determine a pessoa a fazer ou deixar de fazer algo (CF/88,
art. 5, inciso II), no h o crime em tela, principalmente em se tratando da imposio de restrio de direitos e
garantias fundamentais. Qualquer do povo pode prender, o policial deve!
Profissional de segurana pblica com competncia para a prtica do ato
Um dos elementos para que o ato administrativo seja aperfeioado a competncia do servidor para
prtica do ato, conforme previso legal (ex.: notificao de trnsito, abordagem policial).
Tais requisitos costumam ser citados no mbito da justia, como ocorreu no seguinte precedente:
Para a configurao do delito de desobedincia, imprescindvel se faz a cumulao
de trs requisitos, quais sejam, desatendimento de uma ordem, que essa ordem seja
legal e que emane de funcionrio pblico. No h norma jurdica que determine que
a conduta mencionada no art. 330 do CP somente possa ser praticada por particular.
Recurso provido. (STJ. 5 Turma. Resp. 491.212- RS. Rel. Min. Jos Arnaldo da
Fonseca. Julgado em 07 out 2003, DJU 10.11.2003, p. 205.)

Em termos prticos, o exemplo que se pode construir o das condies de acesso e permanncia do
torcedor no recinto esportivo, conforme citado no Mdulo 2 (Lei 10.671/2003 - Dispe sobre o Estatuto de
Defesa do Torcedor, art. 13-A):
Art. 13-A. So condies de acesso e permanncia do torcedor no recinto esportivo,
sem prejuzo de outras condies previstas em lei: (Includo pela Lei n 12.299, de
2010).
I - estar na posse de ingresso vlido; (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
II - no portar objetos, bebidas ou substncias proibidas ou suscetveis de gerar ou
possibilitar a prtica de atos de violncia; (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
III - consentir com a revista pessoal de preveno e segurana; (Includo pela Lei n
12.299, de 2010).
IV - no portar ou ostentar cartazes, bandeiras, smbolos ou outros sinais com
mensagens ofensivas, inclusive de carter racista ou xenfobo; (Includo pela Lei n
12.299, de 2010).
V - no entoar cnticos discriminatrios, racistas ou xenfobos; (Includo pela Lei n
12.299, de 2010).
VI - no arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto
esportivo; (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
VII - no portar ou utilizar fogos de artifcio ou quaisquer outros engenhos
pirotcnicos ou produtores de efeitos anlogos; (Includo pela Lei n 12.299, de
2010).
62

VIII - no incitar e no praticar atos de violncia no estdio, qualquer que seja a sua
natureza; e (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
IX - no invadir e no incitar a invaso, de qualquer forma, da rea restrita aos
competidores. (Includo pela Lei n 12.299, de 2010).
X - no utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros
fins que no o da manifestao festiva e amigvel. (Includo pela Lei n 12.663, de
2012).
Pargrafo nico. O no cumprimento das condies estabelecidas neste artigo
implicar a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for
o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuzo de outras sanes
administrativas, civis ou penais eventualmente cabveis. (Includo pela Lei n 12.299,
de 2010).

Observaes:
- Pela leitura da norma penal secundria do crime de desobedincia (sano penal de deteno, de
quinze dias a seis meses, e multa), na forma do art. 61 da Lei n 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais) , o
delito de menor potencial ofensivo, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os
requisitos do art. 69 dessa lei.
- Configura resistncia se a recusa do agente for realizada com violncia ou ameaa contra o policial.
- A recusa no fornecimento de identificao caracteriza a contraveno do art. 68 da Lei das
Contravenes Penais Decreto-Lei n 3.688, de 03/10/1941.
- Prefeitos que, imotivadamente, no cumprem ordem de autoridade judiciria praticam o crime de
desobedincia contido no art. 1, XIV, do Decreto-Lei n 201/67*.
*Dispe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e d outras providncias.)

- Alguns precedentes judiciais consideram que, se uma norma civil ou administrativa fixar punio para
um ato de mesma natureza (desobedecer), e no prever a cumulao com a sano penal, no restar
configurado o crime em apreo (ex.: o art. 195 do Cdigo de Trnsito Brasileiro prev multa queles que
desrespeitam ordens dos agentes de trnsito - de parada, por exemplo, mas no ressalva a aplicao autnoma
do crime de desobedincia (STF. 2 Turma. HC 88.452-1-RS. Rel. Min. Eros Grau. Julgado em 02 mai. 2006, DJU
19 mai. 2006, p. 43.)
1.2 Do desacato
Esse tipo est previsto no artigo 331 do Cdigo Penal:
Art. 331. Desacatar funcionrio pblico no exerccio da funo ou em razo dela:
Pena deteno, de seis meses a dois anos, e multa.

Trata-se de conduta dolosa, na qual o agente ofende, desprestigia ou desrespeita o profissional de


segurana pblica. A prtica pode ser efetivada por qualquer meio de execuo: vias de fato, palavras, gestos,
dentre outros. So casos comuns os sinais ofensivos de empurro ou de xingamentos ao policial durante uma
63

abordagem. H ainda a reao de amassar, rasgar e jogar no cho um mandado de intimao. Tocar
ofensivamente o rosto do policial com a mo ou retirar-lhe a cobertura. Jogar lata de cerveja no policial.
O desacato pode ser praticado quando dirigido ao policial de servio (escalado), ou quando estando
de folga, se referir s suas atribuies. importante que fique claro o meio de execuo empregado para
desacatar, realizado na presena do profissional de segurana, constando inclusive o emprego de palavras
obscenas e grosseiras no momento de sua prtica. Caracteriza o crime mesmo que o servidor no se julgue
ofendido, na medida em que a norma penal tem o fim de tutelar o cargo e no a pessoa.
Observaes:
- Considerando que a sano penal de deteno, de seis meses a dois anos e multa, o delito de
menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que
preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.
- Caso a ofensa seja realizada na ausncia do servidor, haver o crime de injria qualificada (CP, art.
140, combinado com o art. 141, II).
- No se exige que o ofensor e o policial estejam cara a cara, podendo estar em recintos diferentes,
mas prximos, sendo possvel o prprio profissional de segurana ouvir o comentrio ou perceber a reao.
- A divulgao no requisito do crime, razo pela qual restar configurado mesmo se no for
presenciado por outras pessoas.
- Ser resistncia, e no desacato, se a agresso tiver o objetivo de impedir o cumprimento de um
procedimento policial.

1.3 Da resistncia
O crime de resistncia est previsto no art. 329 do CP, com o seguinte contedo:
Art. 329 - Opor-se execuo de ato legal, mediante violncia ou ameaa a
funcionrio competente para execut-lo ou a quem lhe esteja prestando auxlio:
Pena - deteno, de dois meses a dois anos.
1 - Se o ato, em razo da resistncia, no se executa:
Pena - recluso, de um a trs anos.
2 - As penas deste artigo so aplicveis sem prejuzo das correspondentes
violncia.

Como se pode ver, o delito citado existir quando uma pessoa utilizar de violncia ou ameaa (no
precisa ser grave) para impedir ou obstruir um procedimento legal, realizado pelo profissional de segurana
pblica competente, por exemplo, para evitar uma priso ou uma reintegrao de posse.

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Observaes:
- O crime previsto no caput de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n 9.099/1995), porquanto a
sano penal de deteno, de dois meses a dois anos, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que
preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei. O que no ocorre com o 1, na medida em que a pena de
recluso, de um a trs anos.
- A violncia tem significado de uso da fora fsica, um ato indevido de agresso fsica. Tem que ser
dirigida contra a pessoa do policial ou do terceiro que o auxilia (Ex.: investigador de polcia vai cumprir mandado
de priso e ajudado por algum que acaba agredido). Se a violncia for dirigida contra uma coisa (ex.: viatura
policial, poste de iluminao, porta, parede, etc.), pode configurar o delito de dano qualificado.
- No haver o crime se a resistncia for passiva, isto , aquela em que no h emprego de violncia
ou ameaa. Lembre-se do clssico exemplo da pessoa que se segura em um poste para no ser levado
delegacia. Ou ainda sai correndo ou se joga no cho para no ser detido: A simples fuga do infrator, ao ser
preso, no configura o delito de resistncia, que exige para sua caracterizao a presena dos requisitos da
violncia ou ameaa contra funcionrio. (TJSP. Tacrim-SP. Rel.: Mattos Faria, Jutacrim 10/249.)
- A ameaa pode ser escrita ou verbal, no precisando ser grave. O procedimento praticado pelo policial
deve ser legal quanto ao contedo e forma (modo de execuo). Sendo ordem ilegal, a violncia ou ameaa
empregada contra ela no configura a resistncia, como ocorre nos casos de deteno para averiguao: Um
dos elementos caracterizadores da resistncia a oposio a uma ordem legal. Ora, se esta abusiva, portanto,
antijurdica, no se pode falar na existncia do delito em questo. (TJSP. Tacrim-SP. Rel.: Camargo Aranha. RT
461/378.)
- A resistncia s ocorre se a violncia ou a ameaa forem empregadas contra a prtica do
procedimento policial. Assim se empregadas aps a priso ou a reintegrao, no h o crime de resistncia, mas
o delito de leso corporal (art. 129) ou de ameaa (art. 147).
- Se a violncia for empregada para proporcionar um ato de fuga, aps a priso ter sido realizada, no
haver resistncia, mas o crime de evaso mediante violncia contra a pessoa (CP, art. 352).
- No h resistncia se o agente policial for incompetente para determinar a ordem ou realizar o
procedimento, por exemplo, para que a pessoa desocupe terreno invadido, mas no tem documento judicial
ordenando a retirada.
1.4 Da corrupo ativa
O art. 333 do Cdigo Penal veicula o crime de corrupo passiva nos seguintes termos:
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionrio pblico, para
determin-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofcio:
Pena recluso, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redao dada pela Lei n
10.763, de 12.11.2003)
Pargrafo nico - A pena aumentada de um tero, se, em razo da vantagem ou
promessa, o funcionrio retarda ou omite ato de ofcio, ou o pratica infringindo
dever funcional.

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Na maioria das vezes essa infrao penal cometida de forma oral. Contudo, possvel que a oferta
ou a promessa de vantagem indevida sejam feitas por escrito ou com gestos (estender o dinheiro ou abrir um
talo de cheques). Como se v, a norma penal busca sancionar a iniciativa do particular de praticar essas
condutas, a fim de obter benefcios com a ao ou omisso de um policial. Ao oferecer, o agente disponibiliza
imediatamente dinheiro ou valores ao profissional de segurana pblica (ex.: para evitar notificao de trnsito,
uma pessoa entrega furtivamente ao policial uma quantia em dinheiro). Ao prometer, o cidado garante a
entrega de uma vantagem ao policial.
Sobre esse delito, a doutrina construiu as seguintes variaes:

Conduta do Agente

Conduta do Policial

Delito Configurado

Oferece a vantagem indevida

Recusa-se

Corrupo ativa

Oferece a vantagem indevida

Recebe

Corrupo ativa e corrupo


passiva

Promete a vantagem indevida

No aceita

Corrupo ativa

Promete a vantagem indevida

Aceita

Corrupo ativa e tambm


passiva

Concorda ou no

Solicita a vantagem

Corrupo passiva

Quadro 1 Variaes de Corrupo Ativa


Fonte: LENZA, 2011, p. 759

Na corrupo ativa, o autor da oferta ou promessa visa o seguinte:


- Para que um delegado de polcia demore a concluir um inqurito policial, para que acontea a
prescrio.
- Para que o policial preencha a notificao de trnsito.
- Autoridade de trnsito emite Carteira de Habilitao a quem no passou no exame (nesse caso, h
tambm crime de falsidade ideolgica).
Observaes:
- Se a pessoa se dirige insistentemente verbalizando ao policial para dar um jeitinho ou quebrar o
galho, no h a corrupo ativa, porque no houve a oferta nem a promessa de vantagem indevida. De outro
lado, caso o policial d o jeitinho e no pratica o ato que deveria, responder por corrupo passiva
privilegiada (CP, art. 317, 2 ), tendo o particular como partcipe, em razo do induzimento. Agora, caso o
funcionrio pblico no d o jeitinho, o fato atpico.
- No h crime de corrupo ativa se o particular oferece a vantagem para evitar que o profissional de
segurana pratique contra ele algum ato ilegal.
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- No perodo eleitoral, a corrupo praticada para obter voto configura o delito previsto no art. 299 do
Cdigo Eleitoral (Lei n. 4.737/65).
- A corrupo ativa de testemunhas, peritos, tradutores ou intrpretes, no oficiais, constitui o crime do
art. 343 do Cdigo Penal.
1.5 Recusa de dados sobre prpria identidade ou qualificao
Trata-se de contraveno penal, tipificada no art. 68 do Decreto-Lei n 3.688, de 03/10/1941:
Art. 68. Recusar autoridade, quando por esta justificadamente solicitados ou
exigidos, dados ou indicaes concernentes prpria identidade, estado, profisso,
domiclio e residncia:
Pena multa.
Pargrafo nico. Incorre na pena de priso simples, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e
multa, se o fato no constitui infrao penal mais grave, quem, nas mesmas
circunstncias, faz declaraes inverdicas a respeito de sua identidade pessoal,
estado, profisso, domiclio e residncia.

A ttulo de exemplo, imagine aquela situao na qual o cidado impe algumas dificuldades para a
realizao da abordagem policial, dentre elas a de no informar nome, local de residncia, identidade, profisso
etc. Sabe-se que no h nenhuma norma que obrigue as pessoas a portarem carteira de identidade, razo
pela qual voc no poder exigi-la da pessoa (CF/88, art. 5, II), sob pena de incorrer em abuso de autoridade
ou constrangimento ilegal, conforme o caso. Mas a pessoa deve lhe dizer os dados solicitados, ou incorrer na
contraveno do art. 68 da LCP.
Como se v, o tipo penal tem o objetivo de proibir condutas que criem obstculos identificao ou
qualificao das pessoas pelas autoridades (judiciria, policial ou administrativa). A identidade o conjunto de
dados que tornam uma pessoa diferente das demais. Identidade civil: nome, data e lugar de nascimento, filiao
etc. Identidade fsica: estatura, cor, sexo etc. (DAMSIO, 2010, p. 133).
No caso em que o abordado esteja sem qualquer identificao, contudo informa seus dados sem
apresentar documento para confirmar, o policial pode conduzi-lo at a delegacia pela contraveno?
Seria possvel ao policial ao menos conduzir a pessoa at a delegacia para confirmar seus dados?
Ou o policial incorreria em abuso de autoridade?
Observaes:
- Em razo das penas cominadas, trata-se de infrao penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei
n 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69
dessa lei.
- A contraveno s existe se o policial estiver no exerccio de suas atribuies por ocasio da solicitao
ou exigncia, do contrrio, o fato atpico.
- Se a pessoa abordada se recusa num primeiro momento e em seguida presta as informaes sua
identidade, no haver a contraveno penal.
67

- Se houver o crime de uso de documento falso, a contraveno de recusa de identificao fica


absorvida (RF, 317:328 e 309:235).

Voc sabe apontar a diferena entre o art. 307 do Cdigo Penal e o art. 68 da Lei das Contravenes
Penais?
No art. 307 do CP, ao recusar o fornecimento de dados identificadores, o autor do crime busca
vantagem para si. Por exemplo, seria o caso daquele que, por constar como procurado da Justia, fornece ao
policial documento de seu irmo, passando-se por ele, para no ser preso.
J na contraveno penal a recusa no traz benefcio algum para o sujeito passivo. Lembre-se, no h
lei que obrigue as pessoas a portarem documento que as identifique. Entretanto, h obrigao para que se a
fornea os dados que possibilitem a identificao de algum.
De outro lado, cabe reforar que, de acordo com o 1 do art. 159 do Cdigo de Trnsito Brasileiro
CTB, se algum estiver na direo de um veculo automotor, obrigatrio portar a Carteira Nacional de
Habilitao ou a Permisso para Dirigir.
Como se v, verifica-se que, ao realizar uma abordagem legtima, voc sabe que diante da recusa do
cidado em identificar-se, no mnimo existe uma contraveno penal.
At aqui foram abordados os tipos penais mais comuns ocorridos durante uma abordagem policial,
que podem ser praticados por qualquer pessoa. Assim, a depender da conduta, possvel que outros crimes
existam, exigindo de voc a adoo de providncias cabveis.

Aula 2 Da responsabilidade penal dos agentes policiais na


realizao de uma abordagem
No exerccio das atribuies o agente policial eventualmente pode se exceder nos limites do uso da
fora, e seu comportamento pode caracterizar um ilcito penal. Dentro desse contexto, voc ter a
oportunidade de identificar os tipos penais de maior ocorrncia durante uma abordagem policial, na qual o
profissional poder ser responsabilizado.

Quando voc iniciou os estudos desse curso, algumas perguntas foram lanadas. Lembra-se? A
abordagem policial somente pode ser realizada diante de uma fundada suspeita? certo dizer que as pessoas
no podem ficar nas esquinas sem fazer nada at tarde da noite? Quem define quando o policial deve
abordar? O policial pode abordar qualquer pessoa e quando quiser? Para garantir a segurana de todos, o
policial pode fazer o que quiser?
Tendo em vista o que estudamos nos dois primeiros mdulos, a essa altura voc j teve ter condies
de discutir sobre cada uma dessas perguntas.
68

No Mdulo 01 voc estudou sobre o papel do Estado no mbito da segurana pblica, vrias vezes
repetidas durante o curso, assim como os direitos e garantias fundamentais e as convenes internacionais
com reflexo na atividade policial. Percebeu no Mdulo 02 que, para cumprir esse papel, o poder pblico
recebe prerrogativas, atravs do uso legtimo da fora, concretizado principalmente atravs do exerccio do
dever-poder de polcia. Entretanto, a fim de evitar os desvios, abusos e as arbitrariedades no uso desse poder,
existem limites, estipulados. Num primeiro momento, atravs dos direitos e garantias fundamentais (Mdulo
01), num segundo momento, atravs das sujeies (Mdulo 02 - prestao de contas, atendimento do
interesse pblico, proporcionalidade das aes, etc.).
Mas, e se...

O policial intervier de forma equivocada, cerceando a liberdade de uma pessoa de maneira indevida?
E se ele ingressar em um domiclio desrespeitando o que estabelece o texto constitucional? E se ele atentar
indevidamente contra a integridade fsica de algum? Qual a consequncia?
2.2 Analisando o abuso de autoridade
2.2.1 Aspectos gerais
Ao tratar do tema, Silvio Maciel (2010, p. 15) faz meno lio de Montesquieu, no sentido de que
todo homem tem a tendncia de abusar do poder que detm. E isso ficou comprovado com a histria
humana. De outro lado, para evitar os desvios no uso desse poder, algumas regras foram definidas para limitlo (direitos e garantias fundamentais - vide Mdulo 1, art. 5 da CF/88).
Assim, uma das normas que busca garantir o cumprimento dos direitos e garantias fundamentais a
Lei n 4.898/1965, objeto de nosso estudo, que regula o Direito de Representao e o processo de
Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade. Nela se evidencia que o ato
do abuso de autoridade enseja uma responsabilizao em trs esferas: administrativa (disciplinar), civil
(danos morais e materiais) e penal, sem prejuzo da responsabilizao do Estado (CF/88, art. 37, 6).
Normalmente o abuso de autoridade noticiado atravs de uma representao realizada pela pessoa
interessada (vtima/ofendido, representante legal, etc.), seguindo os requisitos do art. 2 da Lei n 4.898/1965.
Essa representao pode ser dirigida autoridade administrativa superior do agente policial, assim como
registrada em uma delegacia ou direcionada ao ministrio pblico.

Agora e se no houver representao? O crime pode deixar de ser apurado e o autor do fato ficar
impune?
De acordo com a Lei n 5.249, de 9 de dezembro de 1967, a falta de representao do ofendido, nos
casos de abuso previstos na Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, no obsta a iniciativa ou o curso de ao
pblica. Portanto, tomando conhecimento sobre a ocorrncia do fato, a autoridade competente dever
adotar as medidas necessrias para sua apurao. At porque se trata de ao penal pblica incondicionada,
na forma do art. 12 da Lei n 4.898/1965.

69

Nesse sentido, a apurao da conduta pode ser realizada por procedimento administrativo em geral,
sindicncia, inqurito policial, procedimento administrativo no mbito do ministrio pblico, etc. Da advm a
responsabilizao nas esferas acima citadas.
De um lado, a Lei tem por objetivo proteger o normal funcionamento da administrao pblica,
tomada em sentido amplo. Em outras palavras, busca garantir que o servio pblico seja prestado em
condies de regularidade, continuidade, eficincia, segurana, atualidade, generalidade. De outro lado, a
norma tem por fim tutelar os direitos e garantias fundamentais.
Nesse mbito, tanto o Estado quanto a pessoa submetida interveno abusiva so sujeitos passivos
(vtimas/ofendidos). Se a vtima do abuso for uma criana ou adolescente, o autor da conduta responder na
forma do Estatuto da Criana do Adolescente, art. 230 e seguintes da Lei n 8.069/1990.
O autor do fato (sujeito ativo), para a Lei, aquele que exerce cargo, emprego ou funo pblica, de
natureza civil ou militar, mesmo que de maneira temporria e sem receber remunerao (art. 5). o que a
doutrina chama de crime prprio, isto , exige-se especial condio de quem pratica a conduta criminosa.
Importante!
Fique atento! Existem situaes em que o autor do abuso, mesmo no estando no exerccio de suas
funes, comete o crime em tela. Isso ocorre quando o funcionrio, apesar de no estar escalado,
cumprindo suas atribuies, pratica um ato invocando a condio de autoridade de que investido,
conforme j decidiu o Supremo Tribunal Federal:

Crime de abuso de autoridade. Comete-o o miliciano que, embora, sem farda e fora
do efetivo exerccio de sua funo, age, evocando a autoridade de que e investido.
Exegese do art. 5 da lei n. 4.898/65. Competente, todavia, para o processo e
julgamento, e a justia comum estadual, eis que inexistente crime militar. "habeas
corpus" indeferido SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Segunda Turma. HC 59676,
Relator(a): Min. DJACI FALCAO, julgado em 16/04/1982, DJ 07-05-1982 PP-04269
EMENT VOL-01253-01 PP-00114.

O delito de abuso de autoridade punido a ttulo de dolo (inteno de praticar o ato), ou seja, o autor
da conduta tem conscincia de que esteja exorbitando do poder.
Saiba mais...
Uma pessoa no enquadrada no conceito de autoridade, na forma do art. 5, pode responder pelo
crime em lide, desde que seja na condio de partcipe, conforme estabelece o art. 29 do Cdigo Penal. Com
efeito, responde aquela pessoa que estiver acompanhada de um policial, sabendo de suas intenes, e o auxilia
de alguma forma para que o crime acontea. Isso ocorre, por exemplo, na hiptese em que o indivduo fornece
instrumentos para a prtica do ato, ou quando conduz o profissional de segurana para o local onde se encontra
a vtima.
70

2.3 Tipos penais


Agora que voc j estudou sobre alguns aspectos gerais da Lei do abuso de autoridade, seria
interessante olhar para cada conduta que pode caracterizar esse tipo penal. Lembre-se que o objeto do estudo
dessa norma est relacionado abordagem policial. Diante disso, d uma ateno aos artigos 3 e 4 da Lei e
identifique o tratamento dado aos seguintes temas:

Liberdade de locomoo;

Inviolabilidade de domiclio;

Sigilo de correspondncia;

Liberdade de conscincia e de crena;

Direitos e garantias legais assegurados ao exerccio do voto;

Direito de reunio;

Incolumidade fsica do indivduo;

Direitos e garantias legais assegurados ao exerccio profissional;

Ordenar ou executar medida privativa de liberdade, sem as formalidades legais ou com abuso

de poder;

Submeter pessoa sob sua guarda ou custdia a vexame ou a constrangimento no autorizado

Ato lesivo da honra ou do patrimnio de pessoa natural ou jurdica, quando praticado com abuso

por lei;
ou desvio de poder, ou sem competncia legal.
As condutas elencadas no art. 3 no admitem a modalidade tentada, na medida em que a lei pune o
simples atentado como delito consumado - crimes de atentado (CAPEZ, 2012, p. 24).
A seguir, voc estudar alguns dos tipos mais comuns envolvendo a atuao policial, que
merecem sua ateno.
2.3.1 Atentado liberdade de locomoo (art. 3, alnea a)
O direito liberdade de locomoo encontra seu fundamento no primeiro inciso XV, art. 5, da CF/88,
que diz: livre a locomoo no territrio nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. A simples leitura do texto permite inferir que, a contrario

sensu, em tempo de guerra, limitaes podero ser impostas a esse direito, quando houver questes de
segurana nacional.
Jos Afonso da Silva (1999, p. 240) ensina que a liberdade de locomoo a principal forma de
expresso da liberdade da pessoa fsica, conceituada essa liberdade como a possibilidade que se reconhece a
todas as pessoas de serem senhoras de sua prpria vontade e de locomoverem-se desembaraadamente dentro
do territrio nacional.

71

O direito liberdade de locomoo engloba o acesso, ingresso e sada do territrio nacional, bem
como a permanncia e deslocamento, direito de ir, vir, dentro dele. O referido direito toca tanto os brasileiros
como os estrangeiros, sejam ou no residentes no Brasil.

Uma pergunta: a abordagem policial, por limitar o direito de ir e vir do cidado, mesmo que
temporariamente, constitui abuso de autoridade, como sugerem algumas pessoas?
Resgatando os ensinamentos do Mdulo 2, a abordagem policial representa autntico desempenho
das atribuies da polcia para preservar a ordem pblica e assegurar um ambiente social livre de riscos e
perigos, seja para promover uma orientao de carter geral, seja para verificar e assegurar a normalidade de
um local, seja para identificar uma pessoa que tenha eventualmente praticado um delito. Entretanto, e conforme
j ficou assentando naquele mdulo, tal medida deve seguir os critrios de proporcionalidade, dentre outros
requisitos j estudados (volte ao mdulo para relembrar). Com efeito, dentro dessas condies, no h que se
falar em abuso de autoridade, posto que medida consentnea com o estado democrtico de direito. Nesse
sentido, destaca-se a posio de Fernando Capez (2012, p. 26):
Com base no art. 244 do CPP, possvel a interceptao de um veculo ou de um
transeunte sempre que haja suspeita de que transporte ou esteja na posse de arma
proibida ou de objetos ou papis que constituam corpo de delito. Da mesma forma,
com base no poder de polcia, no haver atentado liberdade de locomoo, por
exemplo, na hiptese em que a autoridade, realizando barreira policial, vistoria
veculos e realiza a identificao dos seus condutores, ou quando concretiza blitz em
boates com o fim de apreender substncias entorpecentes. que, no caso, agem as
autoridades no intuito de prevenir e reprimir a prtica de crimes, hiptese em que
est configurado o estrito cumprimento do dever legal. Obviamente que elas devem
agir dentro dos rgidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece essa
excludente da ilicitude. Os excessos cometidos podero constituir crime de abuso
de autoridade.

2.3.2 Atentado inviolabilidade de domiclio (art. 3, alnea b)


Voc j estudou no Mdulo 2 as principais questes referentes garantia constitucional para preservar
a inviolabilidade do domiclio (CF/88, art. 5, inciso XI a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela
podendo penetrar sem consentimento do morador...; CP, art. 150), inclusive sobre o que entende por casa.
Nesse sentido, pratica abuso de autoridade, por incidncia na letra b, do art. 3, o policial que, no
exerccio de suas funes ou a pretexto de exerc-las, entre ou permanece em casa alheia ou em suas
dependncias, sem o consentimento de seu morador. Mesmo as autoridades policiais esto sujeitas ao fiel
observncia do princpio da inviolabilidade de domiclio.
Lembre-se, a Constituio de 1988 autoriza o ingresso no domiclio para os seguintes casos:

com consentimento do morador, noite ou durante o dia;

em caso de flagrante delito, noite ou durante o dia;

para prestar socorro, noite ou durante o dia;

em caso de desastre, noite ou durante o dia;


72

mediante mandado, isto , ordem escrita do juiz competente durante o dia.

Com efeito, no h que se falar em abuso de autoridade nessas hipteses.


Observaes:
- Havendo consentimento do morador, o ingresso permitido em qualquer momento, seja de dia ou
noite;
- Inexistindo consentimento, o ingresso a qualquer hora do dia ou da noite, somente pode ocorrer em
caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro;
- A expresso dia compreende o perodo entre a aurora e o crepsculo; alguns sustentam que seja no
perodo que vai das seis s dezoito horas;
- O mandado judicial no poder ser cumprido no perodo noturno, a no ser que o morador concorde.
Assim, no resta outra opo seno a de se aguardar at o amanhecer. Do contrrio, pratica-se abuso de
autoridade.
2.3.3. Atentado ao sigilo da correspondncia (art. 3, alnea c)
Voc j viu nesse curso que o sigilo da correspondncia abarcado pela proteo constitucional (art.
5, XII). De acordo com Capez (2012, p. 28), Correspondncia por carta, ou epistolar, a comunicao por meio
de cartas ou qualquer outro instrumento de comunicao escrita.. Admite-se a restrio desse direito
constitucional quando envolver coliso de direitos fundamentais. Nesse sentido, Capez (apud, 2012, p. 29) cita
a lio de J.J Gomes Canotilho:
De fato, no se justifica o sigilo absoluto em todos os casos. Ao invs, sua quebra
necessria para evitar a tutela oblqua de condutas ilcitas ou prticas contra legem.
A doutrina constitucional moderna cedia nesse sentido, porque as garantias
fundamentais do homem no podem servir de apangio desordem, ao caos,
subverso da ordem pblica. Realmente, nenhuma liberdade individual absoluta.
Comporta excees para preservar o ditame da legalidade. Portanto, afigura-se
possvel, observados os requisitos constitucionais e legais, a interceptao das
correspondncias e das comunicaes telegrficas e de dados, sempre que as
liberdades pblicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de
prticas ilcitas.

Da porque, por exemplo, durante uma busca domiciliar, seja cabvel apreender cartas, abertas ou no,
destinadas a algum acusado de praticar delito ou que estejam em seu poder e que o seu contedo sirva de
elemento para esclarecer um delito, conforme preceitua o art. 240, 1, f, do CPP. Ainda define o art. 243, 2,
desse Cdigo que cabvel a apreenso de documento em poder do defensor do acusado, quando constituir
elemento do corpo de delito. Nesse ponto, vale a leitura do art. 7, 6 e 7, do Estatuto da OAB Lei n
8.906/1994:

73

6o Presentes indcios de autoria e materialidade da prtica de crime por parte de


advogado, a autoridade judiciria competente poder decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em deciso motivada,
expedindo mandado de busca e apreenso, especfico e pormenorizado, a ser
cumprido na presena de representante da OAB, sendo, em qualquer hiptese,
vedada a utilizao dos documentos, das mdias e dos objetos pertencentes a
clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho
que contenham informaes sobre clientes. (Includo pela Lei n 11.767, de 2008)
7o A ressalva constante do 6o deste artigo no se estende a clientes do advogado
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partcipes ou
coautores pela prtica do mesmo crime que deu causa quebra da inviolabilidade.
(Includo pela Lei n 11.767, de 2008)

Vale destacar a relevncia do tema que trata do sigilo de correspondncia epistolar do preso no
mbito do sistema penitencirio, quando h notcias de que este instrumento de comunicao esteja servindo
de base para planejamento e execuo de atos criminosos. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal decidiu
que:
A administrao penitenciria, com fundamento em razes de segurana pblica,
pode, excepcionalmente, proceder interceptao da correspondncia remetida
pelos sentenciados, eis que a clusula da inviolabilidade do sigilo epistolar no pode
constituir instrumento de salvaguarda de prticas ilcitas.

De outro lado, caracterizado o abuso, ou seja, a ausncia de justificativa para proceder na violao do
direito aqui estudado, o agente policial incorrer no delito previsto no art. 3, c, da Lei n. 4.898/65. Capez (2012,
p. 31) salienta que estando a carta aberta no h que se falar em sigilo, somente quando estiver fechada.
2.3.4 Do Atentado liberdade de conscincia e de crena e ao livre exerccio do culto religioso
(art. 3, alnea e)
Esse direito est previsto no art. 5, VI, da CF: inviolvel a liberdade de conscincia e de crena,
sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais
de culto e s suas liturgias. Com efeito, incorre em abuso de autoridade o profissional de segurana pblica
que praticar abordagem com o intuito de coibir o exerccio legtimo desse direito, sem que haja motivo para a
interveno policial.
De outro lado, possvel impedir a realizao de cultos que atentem contra a moral ou ponha em risco
a ordem pblica, assim como reprimir a prtica de curandeirismo, sacrifcio de animais ou excesso de som.
2.3.5 Direito de reunio (art. 3, alnea h)
O art. 5, inciso XVI, da Constituio estabelece que: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente.
74

Lembre-se que vivenciamos um regime poltico no qual a vontade do povo deve ser respeitada. A reunio
constitui uma maneira de exercer o domnio popular, pois por meio dela que a sociedade registra suas
pretenses, insatisfaes e apoio quilo que lhe convm.
Assim, os excessos violentos cometidos por agncias policiais, coibindo abusivamente esse direito,
enseja a responsabilizao na forma da Lei do abuso de autoridade.
De outro lado, os excessos cometidos no exerccio desse direito tambm podem e devem ser coibidos.
No se admitem, ento, passeatas violentas, manifestaes que prejudiquem o direito de outras pessoas. Da
porque, por razes de segurana pblica, os espaos para a realizao dessas reunies podem sofrer
delimitaes, como na frente de um hospital, escolas durante as aulas, logradouros que no comportam a
atividade em anlise, etc. (MACIEL, 2010, p. 28).
2.3.6 Atentado incolumidade fsica do indivduo (art. 3, alnea i)
O abuso de autoridade contido na letra i do art. 3 consiste em toda ofensa fsica concretizada pelo
policial, quando no exerccio de suas funes. irrelevante que a conduta tenha deixado vestgio, pois a violncia
exigida se caracteriza pelo emprego da fora fsica, maus-tratos ou vias de fato. Nesse sentido, foi o que
reconheceu o Judicirio no seguinte precedente:
Abuso de autoridade. Vias de fato. Delitos caracterizados. Procede com abuso de
autoridade o agente policial que, sob pretexto de averiguar uma briga ocorrida
anteriormente, leva vrias pessoas delegacia de polcia e agride arbitrariamente
um menor, com tapas no rosto, na presena do pai. (TJSC. Jur. Catarinense 26/466)

Importante!
Por certo, nem toda violncia cometida por agente pblico deve ser levada condio de abuso de
autoridade. H situaes em que o recurso da violncia permitido e necessrio, inserindo-se no
estrito cumprimento de dever legal, como exemplo, a violncia (fora legtima) utilizada por policiais
para prender algum em flagrante ou em virtude de mandado judicial, quando houver resistncia ou
tentativa de fuga (sobre a questo do uso da violncia legtima, vide Mdulo 1).
Lembre-se do que estudamos no Mdulo 2, o uso da fora s ser considerado, conforme o direito,
se estiver pautado na necessidade e proporcionalidade. Nesse contexto, embora tenha opo por adotar
diversas medidas (discricionariedade), o agente policial deve agir de maneira a atingir o fim a que precisa
chegar (prevenir crimes, tutelar bens, resgatar a paz social), com adequao, necessidade e proporcionalidade
em sentido estrito.

Por fim, no que pertinente ao atentado incolumidade fsica do indivduo, voc sabia que um
agente policial pode responder por dois crimes decorrentes de um mesmo fato?
Isso ocorre com os policiais militares que respondem por leso corporal perante a justia militar
(estadual) e por abuso de autoridade no mbito da justia comum.
75

Observaes:
- Se a violncia praticada pelo profissional de segurana for cometida com o fim de obter informao,
declarao ou confisso, ou, ainda, para provocar ao ou omisso de natureza criminosa, o crime ser o de
tortura, conforme os termos da Lei n 9.455/1997.
- A Smula 172 do Superior Tribunal de Justia prev que: Compete Justia comum processar e
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que em servio.
2.3.7 Constrangimento ilegal
CP, art. 146. Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistncia, a no fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela no manda:
Pena deteno, de trs meses a um ano, ou multa.
A CF/88 garante s pessoas a liberdade de fazer ou no fazer o que bem lhes aprouver (art. 5, II), desde
que observados os limites da ordem jurdica ptria.
No delito em comento, o agente constrange, obriga ou coage uma pessoa a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa, empregando, para tanto, a violncia ou grave ameaa. A doutrina lembra que:
Para a tipificao do crime de constrangimento ilegal, , ainda, necessrio
que o agente force a vtima a realizar ou deixar de realizar a conduta pelo
emprego de violncia, grave ameaa ou qualquer outro meio que lhe reduza
a capacidade de resistncia. (LENZA, 2011, p. 267)
Para exemplificar, possvel verificar as seguintes situaes:
- Obrigar uma pessoa a fazer algo
Policial determina para que uma pessoa passe a correr na via pblica. Na jurisprudncia: Pratica crime
de constrangimento ilegal o agente que, empunhando arma, procura obrigar moas a entrarem em automvel,
para dar-lhes, contra a vontade delas, uma carona. ( TJSP. Tacrim-SP. Rel. Adauto Suannes. RT 592/351)
- Obrigar algum a deixar de fazer algo
Policial impe a uma pessoa que no fume em local sabidamente permitido. Ou ainda, policial
determina que um grupo de adultos no permanea na esquina de uma rua s 03h00.
Violncia X Grave Ameaa
A violncia constitui o emprego de fora fsica ou agresses sobre algum (tapas, pontaps, socos,
etc.). Nessa hiptese, h o constrangimento ilegal quando o agente desfere sucessivos socos na vtima at que
ela salte contra sua vontade em uma piscina gelada, ou ainda, esse agente agarra e empurra a vtima fora
nessa piscina (LENZA, 2011, p. 267).
76

A grave ameaa constitui a promessa de mal grave a ser praticado contra a vtima ou parente prximo.
Ex.: agente com porte fsico de atleta determina vtima franzina a trocar de lugar em um show, sob pena de
agresso fsica.
Observaes:
- Constrangimento ilegal e tortura: Na Lei n. 9.455/97, o art. 1, inciso I, alnea b, passou a prever
delito especfico, que constitui prtica de tortura: constranger algum com emprego de violncia ou grave
ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental, para provocar ao ou omisso de natureza criminosa.
- H constrangimento ilegal se a violncia ou grave ameaa empregada para evitar que uma pessoa
realize um ato imoral (prostituio). Isso porque o tipo penal fala em conduta no proibida por lei e no existe
lei que proba a venda do corpo, apenas a explorao dela por outrem (LENZA, 2011, p. 271).
2.3.8 Violao de domiclio
CP, art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
vontade expressa ou tcita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependncias:
Pena deteno, de um a trs meses, ou multa.

A norma penal tem por finalidade concretizar a previso constitucional de que a casa asilo inviolvel
do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador (art. 5, XI).

Nota
Sobre o conceito de casa, leia novamente a aula 3, do Mdulo 2.

A violao de domiclio fica configurada quando, contra a vontade expressa ou tcita do morador,
o policial ingressa na residncia ou permanece em casa alheia ou em suas dependncias. A permanncia fator
indispensvel para que se verifique a ocorrncia do delito.
Importante!
importante lembrar das hipteses autorizativas de ingresso no domiclio, mencionadas na aula 3, do
Mdulo 2.
Observaes:
- Trata-se de infrao penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n 9.099/1995), exigindo
lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.
- Consentimento do morador: a pessoa que tem a capacidade de manifestar-se no sentido autorizar
ou permitir o ingresso de algum em sua casa. Aqui no importa se ele o proprietrio, possuidor legtimo,
77

arrendatrio etc. Ademais, havendo vrios moradores, o esposo e a esposa so os titulares desse direito de
consentimento, em que prevalece a sua autoridade em relao dos demais habitantes da casa, mas bom
lembrar que os demais (filhos, netos, sobrinhos, empregador, etc.) podem admitir ou excluir algum nas
dependncias que lhes so destinadas, mas mesmo assim, caso ocorra a discordncia entre estas pessoas,
prevalecer a proibio dos titulares de direito (esposo e esposa), assim caracterizando o ilcito penal, constante
do Art. 150 do CP.
- Cabe salientar que no configura o delito de violao de domiclio a entrada ou permanncia em casa
alheia desabitada, mas o crime de usurpao (art. 161 do CP). De outro lado, quando ausente os moradores,
subsiste o crime de violao de domiclio (JESUS, 2007, p. 530).
- Sendo servidor pblico (ex.: policial), o sujeito ativo poder incorrer no art. 150 aqui citado, ou
responder por abuso de autoridade, se confirmado ou no o exerccio da funo. Com efeito, estando o policial
escalado, caracteriza o abuso de autoridade. De outro lado, estando de folga, responde por violao de
domiclio. Nesse sentido, Nucci (2007, p. 646) assevera que o 2 do art. 150 no se aplica, mas o art. 3, alnea
a, da Lei n 4.898/65, empregando o direito intertemporal (lei posterior revoga anterior), bem como em funo
do princpio da especialidade.
2.4 Tortura
Aps a 2 Guerra Mundial a comunidade internacional se mobilizou e fez nascer um movimento de
repdio prtica da tortura, principalmente como instrumento para se obter informaes.
A CF/88, em seu art. 5, inciso III, estabelece que ningum ser submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante.
Voc deve lembrar que no 1 Mdulo desse curso foi dito que no existem direitos e nem garantias
absolutas, ou seja, juridicamente se trabalha com a relativizao das liberdades pblicas. At porque nem a vida
absoluta, na medida em que se tolera a legtima defesa para ceifar esse bem jurdico de primeira grandeza.
Ademais, em caso de guerra, o Brasil admite, excepcionalmente, a pena de morte.
Importante!
O repdio tortura foi adotado no Brasil e esta garantia absoluta! Quando diz que ningum ser
submetido tortura e nem a tratamento desumano degradante uma garantia que no admite
exceo! Vale dizer, e a doutrina costuma lembrar que, excepcionalmente, esta garantia absoluta.

Na ordem infraconstitucional, em 1997 finalmente entrou em vigor uma lei especfica que trata da
tortura, a Lei n 9.455. Vale dizer, durante nove anos punia-se a tortura com tipos penais comuns, homicdio,
leso, constrangimento ilegal, abuso de autoridade, etc. Salvo no caso do Estatuto da Criana e do Adolescente
(Lei n 8.069/1990), que previa uma tortura especfica para proteger crianas e adolescentes, conforme contido
no art. 233, hoje revogado pela Lei n 9.455/1977.

78

No Brasil o crime de tortura comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (autor do crime),
pode ser praticado por qualquer indivduo, no se exige qualidade ou condio especial do agente. Ento tanto
o policial quanto o particular (ex.: credor, que exige dvida do devedor), podem praticar este crime.
O art. 1 da Lei n 9.455/1997 no traz a definio de tortura, apenas elenca os comportamentos que
configuram a prtica da tortura:
Art. 1 Constitui crime de tortura:
I - constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe
sofrimento fsico ou mental:
a) com o fim de obter informao, declarao ou confisso da vtima ou de terceira
pessoa;
b) para provocar ao ou omisso de natureza criminosa;
c) em razo de discriminao racial ou religiosa;
II - submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violncia ou grave ameaa, a intenso sofrimento fsico ou mental, como forma de
aplicar castigo pessoal ou medida de carter preventivo.
Pena - recluso, de dois a oito anos.
1 Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurana a sofrimento fsico ou mental, por intermdio da prtica de ato no
previsto em lei ou no resultante de medida legal.
2 Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitlas ou apur-las, incorre na pena de deteno de um a quatro anos.
3 Se resulta leso corporal de natureza grave ou gravssima, a pena de recluso
de quatro a dez anos; se resulta morte, a recluso de oito a dezesseis anos.
4 Aumenta-se a pena de um sexto at um tero:
I - se o crime cometido por agente pblico;
II se o crime cometido contra criana, gestante, portador de deficincia,
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redao dada pela Lei n 10.741, de
2003)
III - se o crime cometido mediante sequestro.
5 A condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a
interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
6 O crime de tortura inafianvel e insuscetvel de graa ou anistia.
7 O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hiptese do 2, iniciar o
cumprimento da pena em regime fechado.

De forma didtica, o Professor Rogrio Sanches (2010) explica os trs delitos contidos nessa Lei por
meio de um quadro:

SUJEITOS

Art. 1, I

Art. 1, II

79

Constranger algum
- Sujeito ativo comum
- Sujeito passivo
comum
Submeter algum sob
sua guarda poder ou
autoridade.
S.A. Prprio
(autoridade)

MODO DE
EXECUO
Com emprego de
violncia ou grave
ameaa.

RESULTADO
Causando-lhe
sofrimento fsico
ou mental.
Consumao

Com emprego de
violncia ou grave
ameaa.

Causando-lhe
INTENSO
sofrimento fsico
ou mental.

FINALIDADE
a) Com o fim de obter informao
(tortura-prova);
b) Para provocar ao criminosa
(tortura para ao criminosa)
c) Discriminao
(tortura-discriminao)
Aplicar castigo pessoal ou medida
de carter preventivo.
(tortura-castigo)

Consumao

Art. 1,
1

S.P. Prprio
(sob a
autoridade)

Submeter pessoa
presa ou sujeita a
medida de segurana
- S.Ativo Comum
- S. Passivo Prprio

Mediante
comportamento
ilegal
Causando-lhe
no
sofrimento fsico
necessariamente
ou mental.
violncia,
no
necessariamente
grave ameaa.
Quadro 2 Tipos penais da Lei da Tortura

XXXXXXX

O art. 1, inciso I trata da tortura prova.

O que tortura prova?


Constranger algum, com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou
mental com o fim de obter informao.
Exemplo: policial que tortura o suspeito para confessar um crime. Ou ainda, o policial que, mediante
violncia ou grave ameaa, causa sofrimento fsico ou mental para obter a confisso de um crime.

O que tortura para ao criminosa?


Algum sendo torturado, com emprego de violncia ou grave ameaa, sofrendo consequncias fsicas
e mentais para provocar ao criminosa.
Exemplo: ru que tortura a testemunha presencial para mentir em juzo. Imaginem um acusado de
homicdio que sabe quem a testemunha presencial, passa a tortur-la para que ela minta em juzo. Nesta
situao h algum torturando uma pessoa, com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe
sofrimento fsico ou mental para provocar falso testemunho.

O que tortura-preconceito?
Algum constrangendo outrem, com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento
fsico ou mental por discriminao.
Exemplo: A pessoa torturada simplesmente por ser discriminada em razo da sua raa ou da sua
religio
Observaes:
- O crime de tortura se consuma com a provocao do sofrimento fsico ou mental, independentemente
da finalidade visada.

80

- A doutrina entende que, no caso do 1, abrange o preso definitivo (com condenao) e o provisrio
(flagrante, preventiva e temporria). Tambm abrange o menor infrator sujeito medida scio educativa. Sujeito
medida de segurana, inimputvel ou semi-imputvel, submetido a internao ou tratamento ambulatorial.
- No inciso II do art. 1, que traz a tortura-castigo, importante que fique evidenciado o intenso
sofrimento fsico ou mental causado na vtima. O delegado tem que apurar a intensidade no seu inqurito. Caso
contrrio, fica configurado o crime de maus tratos (CP, art. 136).
- No 1 a vtima do crime somente pode ser pessoa presa ou sujeita a medida de segurana.
2.4.1 Tortura omisso (art. 1, 2)

Voc j ouviu falar de algum que presenciou tortura e nada fez? Voc acredita que se o fato de no
praticar qualquer ato na tortura, somente presenciando, o agente estar imune uma responsabilizao pela
prtica de tortura?
Ateno!
Voc, policial, pode responder pela tortura omisso. Isso ocorre na hiptese em que, estando
acompanhado por outro policial, a quem se imputa o crime de tortura ao, voc nada faz.
O 2 do art. 1 da Lei de Tortura define que Aquele que se omite em face dessas condutas, quando
tinha o dever de evit-las ou apur-las, incorre na pena de deteno de um a quatro anos. Como se v, o
dispositivo em apreo traz dois comportamentos omissivos.
Omisso imprpria: Quando tinha o dever de evitar. Sujeito ativo: garante (garantidor), o que tem o
dever de evitar. Rol de garantes: pai, me, curador, tutor, policial, mdico, professor etc. Ex.: delegado percebe
que um agente criminoso est sendo levado para uma sala, onde ser torturado, e nada faz. Cuida-se de tortura
omisso.
Omisso prpria: Nessa h o dever de apurar e a autoridade se omite, nada fazendo. A tortura j
aconteceu. O sujeito ativo a autoridade que tem o dever de apurar, mas no adota nenhuma providncia,
ficando inerte. O sujeito passivo qualquer pessoa.
2.4.2 Efeitos da condenao da tortura (Art. 1, 5)

Voc sabe o que acontece com o profissional de segurana pblica condenado por tortura?
O 5 do art. 1 define que A condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e
a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Pergunta: Este efeito automtico ou precisa constar claramente na sentena, com uma
fundamentao?
A Doutrina e a Jurisprudncia majoritrias entendem que na Lei 9.455/1997 a perda do cargo
automtica com a condenao, dispensada a fundamentao na sentena (STJ, HC 92247).

81

Aula 3 Implicaes de ordem disciplinar ao policial


3.1 Do dever-poder disciplinar
No exerccio de atividades para gerir a coisa pblica, os bens e os interesses no se acham entregues
livre disposio da vontade do administrador ou do servidor (MELO, 2010). Nesse sentido, A administrao
atividade do que no senhor (Ruy Cirne Lima).
Dentro desse contexto, exsurge o regime jurdico dos servidores pblicos, veiculado atravs de lei (ex.:
Lei n 8.112/1990), que estabelece direitos e deveres. Nesse cenrio, existem determinadas regras que regulam
o comportamento do agente pblico. Com efeito, a fim de assegurar a regularidade administrativa, havendo
notcia de transgresso da disciplina, a autoridade deve exercer o dever-poder disciplinar, adotando
providncias para apurar os fatos e eventualmente impor sano disciplinar.
Vale ressaltar que, a administrao pblica no tem liberdade de escolha para apurar ou deixar de
apurar, punir ou deixar de punir. dizer, o exerccio do dever-poder disciplinar ato vinculado, em
benefcio do bem comum. Tomando conhecimento da falta praticada, cumpre instaurar procedimento
adequado para esclarecer os fatos e eventualmente aplicar a sano, aps o devido processo legal, com
resguardo da ampla defesa e contraditrio. No observando essa determinao, o superior hierrquico estar
passvel de responder por condescendncia criminosa, infrao administrativa e civil (improbidade Lei 8429/92,
art. 11, II).
3.2 Independncia entre as esferas administrativa, civil e disciplinar

Uma pergunta para voc: Com uma conduta s, pode o servidor se ver responsabilizado em diferentes
esferas?
Sim. Considerando a independncia das instncias (CF, art. 2), uma s conduta pode ensejar a
instaurao de distintos processos ou procedimentos (penal, civil, disciplinar), sem que configure o bis in idem,
com imposio de punio, respeitados o devido processo legal, ampla defesa e contraditrio.
Ademais, possvel que haja absolvio em uma esfera e condenao em outra, sem comunicao
entre elas. Entretanto, excepcionalmente, poder ocorrer a comunicao entre os processos, quando provada a
inexistncia do fato ou a negativa de autoria no processo penal. Por exemplo, se ficar comprovado no processo
penal que o servidor no se beneficiou pecuniariamente, ou ainda, se realmente o fato no existiu, de forma
vinculada, as demais instncias sero atingidas. o que se pode concluir com a leitura desses dispositivos:
- Lei 8.112. Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor ser afastada no caso de absolvio
criminal que negue a existncia do fato ou sua autoria.
- Cdigo Civil. Art. 935. A responsabilidade civil independente da criminal, no se podendo
questionar mais sobre a existncia do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questes se acharem
decididas no juzo criminal.

82

- CPP, Art. 66. No obstante a sentena absolutria no juzo criminal, a ao civil poder ser proposta
quando no tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistncia material do fato.
bom deixar evidente ainda que processos que tramitam nas diferentes instncias no precisam
aguardar o desfecho do processo penal, sob pena de se operar a prescrio, caso no haja hipteses legais de
interrupo e suspenso.
Com efeito, no exerccio das atribuies, durante a realizao de uma abordagem policial, o
profissional de segurana pblica que praticar desvio de conduta, ultrapassando os limites discorridos nos
Mdulos 1 e 2, poder se ver responsabilizado em diferentes esferas (disciplinar, civil ou penal), sem que
haja bis in idem. Assim j decidiu o Superior Tribunal de Justia:
EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO MILITAR. EXCLUSO EX-OFFICIO A
BEM DA DISCIPLINA. FALTA GRAVE. PROCESSO ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE.
INOCORRNCIA

INDEPENDNCIA

ENTRE

AS

INSTNCIAS

PENAL

ADMINISTRATIVA. I legal a excluso, a bem da disciplina, de militar que foi


considerado incapaz de permanecer nos quadros da Corporao da Polcia Militar,
pela prtica de falta grave apurada em procedimento administrativo (Conselho de
Disciplina), com base no art. 3, inciso III, alneas "a" e "c", do Decreto n 4.713/96. II
A independncia entre as instncias penal e administrativa, consagrada na
doutrina e na jurisprudncia, permite Administrao impor punio
disciplinar ao servidor faltoso revelia de anterior julgamento no mbito
criminal, mesmo que a conduta imputada configure crime em tese.
(Precedentes do STF e do STJ.) (grifo nosso) Recurso desprovido. (Acrdo: ROMS
15628/GO: Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana 2002/0157331-7.).

Aula 4 Da responsabilizao por ato de improbidade


administrativa ao policial
Voc j ouviu falar sobre crime de improbidade administrativa?
Saiba que esta afirmao est errada, pois no existe tal crime especfico.
Vamos descobrir esta estria juntos!
4.1 Conceito e natureza

Voc sabe o que significa probidade administrativa? Lembra-se do art. 37, caput, da CF/88 que elenca
a moralidade como um dos princpios a serem observados pela administrao pblica?
A palavra-chave honestidade.
Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retido, honradez. O servidor pblico probo
leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-f, com retido de conduta, obedecendo aos
83

princpios ticos, os princpios morais. Com efeito, se o agente pblico no observa essas exigncias, estar
agindo com improbidade administrativa. Assim, se probidade honestidade, improbidade desonestidade.
A Constituio Federal trata do tema no art. 37, 4. Vale a pena fazer uma leitura cuidadosa:
Art. 37. .................................................................................................
4 Os atos de improbidade administrativa importaro a suspenso dos direitos
polticos, a perda da funo pblica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao errio, na forma e gradao previstas em lei, sem prejuzo da ao penal cabvel.

Da leitura desse dispositivo, a primeira coisa que tem que ficar claro para voc que o ato de
improbidade administrativa no crime. Assim, no existe crime de improbidade administrativa, na medida
em que a parte final do 4 fala sem prejuzo da ao penal cabvel.
A lei que regula essa previso constitucional a Lei n 8.429, de 02 de junho de 1992. Esta norma de
leitura obrigatria para todo servidor pblico. Nela, vrias condutas so descritas como improbidade. Voc tem
na lista de improbidade, por exemplo, o desvio de dinheiro, o desvio de equipamento (ex.: o policial que
usa viatura para fazer as compras de casa), o engavetamento de processo, a lenincia do servidor, o servidor
que no aparece para trabalhar.
muito comum, no exerccio das atribuies, se ouvir o chamado exerccio nocivo da funo pblica.
Basta lembrar-se do QRU, da carteirada no cinema, de uma paquerada ou uma contribuio para a caixinha
de natal do agente para que ele no preencha um formulrio de notificao de trnsito. importante dizer ainda
que, muitas vezes o profissional acha equivocadamente que no pratica a improbidade porque no se
enriqueceu, no obteve nenhuma vantagem. Contudo, de alguma forma causou dano ao errio, no observou
os princpios e regras.
4.2 Modalidades de ato de improbidade
A lei estabelece 03 (trs) espcies distintas de ato de improbidade, conforme prev os arts. 9 a 11.
Ateno!
Voc tem que ter cuidado com essas listas porque elas so meramente exemplificativas. O rol de incisos
enorme e um rol exemplificativo.
O ato de improbidade pode ser subdividido em trs modalidades diferentes:
- Ato de improbidade que gera enriquecimento ilcito (art. 9)
Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:
Art. 9 Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento
ilcito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razo do exerccio
de cargo, mandato, funo, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no
art. 1 desta lei, e notadamente:
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I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem mvel ou imvel, ou qualquer


outra vantagem econmica, direta ou indireta, a ttulo de comisso, percentagem,
gratificao ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ao ou omisso decorrente das atribuies do agente
pblico;
[...]
V - receber vantagem econmica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
tolerar a explorao ou a prtica de jogos de azar, de lenocnio, de narcotrfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilcita, ou aceitar promessa de
tal vantagem;
[...]
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exerccio de mandato, cargo, emprego ou
funo pblica, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional
evoluo do patrimnio ou renda do agente pblico;
[...]
X - receber vantagem econmica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,
para omitir ato de ofcio, providncia ou declarao a que esteja obrigado;

- Ato de improbidade que gera dano ao errio (art. 10, da Lei de Improbidade)
Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa leso ao errio
qualquer ao ou omisso, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriao, malbaratamento ou dilapidao dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1 desta lei, e notadamente:
[...]
II - permitir ou concorrer para que pessoa fsica ou jurdica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1 desta lei, sem a observncia das formalidades legais ou
regulamentares aplicveis espcie;
VII - conceder benefcio administrativo ou fiscal sem a observncia das formalidades
legais ou regulamentares aplicveis espcie;
[...]
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriquea ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou servio particular, veculos, mquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou disposio de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1 desta lei, bem como o trabalho de
servidor pblico, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

- Ato de improbidade que gera violao a princpio da administrao (art. 11, da Lei de
Improbidade)
Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:
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Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princpios
da administrao pblica qualquer ao ou omisso que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade s instituies, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competncia;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofcio;
III - revelar fato ou circunstncia de que tem cincia em razo das atribuies e que
deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;

Saiba mais...
A Escola Superior do Ministrio Pblico da Unio ESMPU editou uma obra intitulada Cem Perguntas
e Respostas sobre Improbidade Administrativa Incidncia e aplicao da Lei n. 8.429/1992 (Braslia, 2008).
Leia!!
Finalizando...
Neste mdulo, voc estudou que:

Boa parte das persecues penais se originam durante a atuao dos profissionais de segurana

pblica, abrangendo a o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.

Vrias so as ocorrncias em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas reagem

atuao do agente policial. Dentre elas destacam-se: a desobedincia; o desacato; a resistncia, a corrupo
ativa e a contraveno penal.

a Lei n 4.898/1965, objeto de nosso estudo, que regula o Direito de Representao e o processo

de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade

O delito de abuso de autoridade punido a ttulo de dolo (inteno de praticar o ato), ou seja, o

autor da conduta tem conscincia de que esteja exorbitando do poder.

No exerccio de atividades para gerir a coisa pblica, os bens e os interesses no se acham

entregues livre disposio da vontade do administrador ou do servidor (MELO, 2010). Nesse sentido, A
administrao atividade do que no senhor (Ruy Cirne Lima).

Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retido, honradez. O servidor pblico

probo leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-f, com retido de conduta, obedecendo aos
princpios ticos, os princpios morais. Com efeito, se o agente pblico no observa essas exigncias, estar
agindo com improbidade administrativa.

O ato de improbidade pode ser subdividido em trs modalidades diferentes: Ato de improbidade

que gera enriquecimento ilcito (art. 9); Ato de improbidade que gera dano ao errio e Ato de improbidade que
gera violao a princpio da administrao (art. 11, da Lei de Improbidade).

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Exerccios
1. Levando em considerao o que voc estudou neste mdulo, marque V para as alternativas
VERDADEIRAS e F para as alternativas FALSAS:
a.

Para a configurao do crime de desobedincia, indispensvel a existncia de uma ordem,

prevista em lei e emitida por profissional de segurana pblica com competncia para a prtica do ato.
b.

No desacato no se exige que o ofensor e o policial estejam cara a cara, podendo estar em

recintos diferentes, mas prximos, sendo possvel o prprio profissional de segurana ouvir o comentrio ou
perceber a reao.
c.

Haver resistncia quando algum se utilizar de violncia ou ameaa (no precisa ser grave) para

obstruir um procedimento policial, ainda que realizado por profissional incompetente.


d.

Se a pessoa se dirige insistentemente verbalizando ao policial para dar um jeitinho ou quebrar

o galho, no h a corrupo ativa, porque no houve a oferta nem a promessa de vantagem indevida. De outro
lado, caso o policial d o jeitinho e no pratica o ato que deveria, responder por corrupo passiva
privilegiada (CP, art. 317, 2 ), tendo o particular como partcipe, em razo do induzimento. Agora, caso o
funcionrio pblico no d o jeitinho, o fato atpico.
e.

No pratica abuso de autoridade o policial militar que, embora, sem uniforme e de folga, age, se

valendo da autoridade que lhe investida.


2. De acordo com o que estudou, analise as sentenas a seguir e marque as alternativas corretas:
a.

A recusa de dados sobre prpria identidade ou qualificao prevista no art. 68 do Decreto-Lei n

3.688, de 03/10/1941 (Lei das Contravenes Penais) s existe se o policial estiver no exerccio de suas
atribuies por ocasio da solicitao ou exigncia, do contrrio, o fato atpico.
b.

No existe constrangimento ilegal se a violncia ou grave ameaa empregada para evitar que

uma pessoa realize um ato imoral (prostituio).


c.

Investigador que tortura suspeito para confessar um crime incorre na prtica do crime de tortura

prova, posto que constrange algum, com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento
fsico ou mental com o fim de obter uma informao para ajudar na apurao de um delito.
d.

Mesmo estando o agente em situao de flagrante delito, tornam-se necessrios para acesso ao

seu domiclio, o mandado de busca e apreenso judicialmente autorizado, bem como o consentimento do
morador.
3. As sentenas a seguir esto corretas, Exceto:
a.

A violao de domiclio fica configurada quando, contra a vontade expressa ou tcita do morador,

o invasor ingressa na residncia ou permanea em casa alheia ou em suas dependncias. A permanncia fator
indispensvel para que se verifique a ocorrncia do delito.

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b.

Considerando a independncia das instncias (CF, art. 2), existe possibilidade de uma deciso

no processo penal, que reconhece a inexistncia de autoria de um delito, vincular um processo de natureza
disciplinar.
c.

Investigador que tortura suspeito para confessar um crime incorre na prtica do crime de tortura

prova, posto que constrange algum, com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento
fsico ou mental com o fim de obter uma informao para ajudar na apurao de um delito.
d.

A doutrina diz que enquanto designativo tcnico para corrupo administrativa, a improbidade

se caracteriza como o desvirtuamento da funo pblica. Em outras palavras, o que o servidor pratica, ao no
observar as diretrizes e as exigncias do exerccio da funo pblica, o desrespeito ordem jurdica. Com esse
comportamento, o agente pblico incorre em duas coisas: desrespeito funo pblica e violao legalidade,
portanto, ordem jurdica.

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Gabarito

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1.

Resposta Correta: V-V-F-V-F

2.

Resposta Correta: Letra A e C

3.

Resposta Correta: Letra B

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