Felipe Borring - Juizados Especiais Civeis
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Novos Desafios
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Joo Luiz da Silva Almeida
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
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Juizados especiais cveis : novos desafios / Fernando Gama de Miranda Netto,
Felippe Borring Rocha, organizadores. - Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2010.
ISBN 978-85-375-0735-3
1. Juizados especiais cveis - Brasil. I. Miranda Netto, Fernando Gama de, 1977-.
II. Rocha, Felippe Borring, 1974-.
10-0228.
15.01.10
19.01.10
CDU: 343.197(81)
017175
Sumrio
Colaboradores ..........................................................................................................
vii
Apresentao ...........................................................................................................
Alexandre Freitas Cmara
xi
49
71
93
107
133
169
vi
Sumrio
181
209
233
247
281
vi
321
347
Colaboradores
Aluisio Gon
naalves de Caastro Men
ndes
([email protected])
Ps-Doutor em Direito pela Universidade de Regensburg, Alemanha. Doutor em
Direito pela Universidade Federal do Paran (UFPR). Mestre em Direito pela
Johann Wolfgang Goethe Universitt (Frankfurt, Alemanha). Mestre em Direito
pela Universidade Federal do Paran (UFPR). Especialista em Direito pela Universidade de Braslia (UnB). Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Estcio de S (Unesa). Juiz Federal no Rio de Janeiro.
Principais obras: Teoria Geral do Processo, Lumen Juris, 2009; Competncia Cvel
na Justia Federal, 2 ed., RT, 2006; Aes Coletivas, RT, 2002, 2 ed., 2009.
Andr daa Silvaa Ordaacggy
Doutorando em Cincias Jurdicas e Sociais em Buenos Aires (AR). Mestre
em Estado, Direito e Justia. Ps-Graduado em Direito Civil. Professor da
FESUDEPERJ (Fundao Escola Superior da Defensoria Pblica do Estado do
Rio de Janeiro) e dos cursos de Ps-Graduao da Universidade Estcio de S
UNESA Defensor Pblico da Unio, titular do Ofcio de Direitos Humanos
e Tutela Coletiva no Rio de Janeiro. Coordenador Regional Sudeste do IBAP
(Instituto Brasileiro de Advogados Pblicos).
Brun
no Gaarciaa Redon
ndo
([email protected])
Especializando em Direito Processual Civil pela PUC-Rio. Ps-Graduado em
Direito pela EMERJ e pela ESAP. Professor Auxiliar da PUC-Rio e Professor
Substituto de Direito Processual da UFF. Membro do IBDP. Advogado.
Principal obra: Penhora, Ed. Mtodo, 2007 (em co-autoria com Mrio Vitor
Suarez Lojo).
Delton
n Ricaardo Soaares Meirelles
([email protected])
Doutorando em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Professor Assistente de Direito Processual da Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador do Grupo Sociedade, Direito e Justia (UFF),
cadastrado no CNPq. Vice-coordenador de Graduao em Direito da UFF.
vii
viii
Colaboradores
Erick Lin
nhaares
([email protected])
Doutorando em Relaes Internacionais - UFRR/UnB. Coordenador do PROJUDI TJRR. Juiz de Direito. Principais obras: Manual Prtico do Juizado
Especial Cvel, 2 ed., Juru, 2007; Juizados Especiais Cveis: Comentrios aos
Enunciados do FONAJE, 3 ed., Juru, 2008.
Felippe Borrin
ng Rochaa
([email protected])
Doutorando e Mestre em Direito. Professor de ps-graduao em Direito na
Universidade Candido Mendes, na Universidade Gama Filho, na Escola da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro e na Escola Superior da Advocacia
do Rio de Janeiro. Defensor Pblico do Estado do Rio de Janeiro. Principais
obras: Juizados Especiais Cveis: Aspectos Polmicos da Lei n 9.099, de
26/9/95, 5 ed., Lumen Juris, 2009; Teoria Geral dos Recursos Cveis, Campus,
2008.
Fern
nando Gaama de Miraandaa Netto
(www.professores.uff.br/fernandogama)
Doutor em Direito pela Universidade Gama Filho (RJ), com perodo de pesquisa de um ano junto Deutsche Hochschule fr Verwaltungswissenschaften
de Speyer (Alemanha) e junto ao Max-Planck-Institut (Heidelberg) com bolsa CAPES/DAAD. Professor Adjunto de Direito Processual da UFF (2009).
Pesquisador do Grupo Observatrio da Justia Brasileira (FND/UFRJ). Advogado. Principais obras: nus da Prova no Direito Processual Pblico, Lumen
Juris, 2009; A ponderao de interesses na tutela de urgncia irreversvel,
Lumen Juris, 2005.
Gustaavo Quin
ntaanilhaa Telles de Men
nezes
([email protected])
Mestrando em Direito Processual pela Universidade do Rio de Janeiro.
Professor da Fundao Escola Superior da Defensoria Pblica do Estado do
Rio de Janeiro. Juiz de Direito no Rio de Janeiro.
Gustaavo Saantaana Noggueiraa
([email protected])
Mestrando em Direito pela UNESA/RJ. Professor licenciado de Direito
Processual Civil na UCAM/RJ. Professor da Ps-Graduao na Universidade
Federal da Bahia UFBA. Promotor de Justia no Estado do Rio de Janeiro.
Principal obra: Curso Bsico de Processo Civil: Teoria Geral do Processo,
Lumen Juris, 2004, Tomo I.
viii
Colaboradores
ix
Hum
mberto Daallaa Bern
nardin
na de Pin
nho
(www.humbertodalla.pro.br)
Ps-Doutor em Direito (University of Connecticut). Doutor e Mestre em Direito (UERJ). Professor Adjunto de Direito Processual Civil da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Estcio de S
(UNESA/RJ). Promotor de Justia Titular/RJ. Principais obras: Teoria Geral
do Processo Civil Contemporneo, 2 ed., Lumen Juris, 2009; Teoria Geral da
Mediao, organizador, Lumen Juris, 2008.
Joo Bosco Won
n Held Gon
naalves de Freitaas Filho
Advogado no Rio de Janeiro; Ex-Procurador do Municpio de Mesquita no
Estado do Rio de Janeiro; Mestre em Direito pela Universidade Estcio de S
(UNESA); Professor Auxiliar na UNESA; Professor Visitante dos Programas
de Ps-Graduao em Direito na Universidade Candido Mendes (UCAM), na
Universidade Gama Filho (UGF) e na VRB; Professor na Escola Superior de
Advocacia - ESA (OAB/RJ 24 Subseo); Professor no Centro de Estudos
Jurdicos 11 de agosto CEJ.
Jos Guilherm
me Vaasi Wern
ner
([email protected])
Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Professor da Ps-Graduao de Processo Civil da Fundao Getlio Vargas.
Juiz de Direito (Titular do XX Juizado Especial Cvel da Comarca da Capital
do Estado do Rio de Janeiro). Principal obra: A formao, o controle e a extino dos contratos de consumo, Renovar, 2006.
Maarcelo Pereiraa de Mello
Doutor em Cincia Poltica (IUPERJ). Professor Adjunto da UFF, vinculado
ao Departamento de Sociologia e ao Grupo de Pesquisa Sociedade, Direito e
Justia. Coordenador do PPGSD/UFF. Obras organizadas: Sociologia e
Direito: explorando as intersees, Niteri: PPGSD, 2007; Justia e Sociedade:
temas e perspectivas, LTr, 2001.
Maarciaa Cristin
na Xaavier de Souzaa
([email protected])
Doutora em Direito pela UGF. Professora Adjunta de Direito Processual Civil
da UCAM/Centro, da Faculdade de Direito do IBMEC/RJ e da FND/UFRJ.
ix
Colaboradores
Apresentao
xii
Apresentao
Guilherme Vasi Werner e Mrio Cunha Olinto Filho, para apresentar suas
vises, tericas e prticas, dos Juizados Especiais.
Temas tradicionais, como o sistema recursal, so abordados por talentosos processualistas, como Bruno Garcia Redondo. Temas modernssimos,
como a utilizao dos meios eletrnicos, so enfrentados com talento, como
no trabalho do juiz Erick Linhares, que apresenta para todo o Brasil a experincia do acolhedor Estado de Roraima, onde exerce sua funo de julgador.
A enumerao que fao, aqui, de autores e temas, meramente exemplificativa. O leitor saber perceber, ao percorrer as deliciosas pginas deste
livro, toda a riqueza de seu contedo.
Tudo isso se d sob a batuta de dois conhecidos e respeitados jovens
processualistas: Fernando Gama de Miranda Netto, professor universitrio,
doutor em direito, e Felippe Borring Rocha, mestre em direito, professor
universitrio e defensor pblico, os quais so, alm de organizadores do
livro, autores de textos instigantes.
A leitura de textos como os reunidos na obra que tenho a honra de
apresentar serve para mostrar que aquela conturbada relao que sempre
mantive com os Juizados Especiais pode se modificar. Para minha felicidade, essa relao, de trato sucessivo, pode ser modificada pelo surgimento de
novas circunstncias, como o aparecimento deste livro. A transformao
em realidade do que sustentam os jovens autores desta obra certamente ser
capaz de apagar no da memria, pois o esquecimento leva repetio do
que ruim mas da vista dos observadores todos os graves problemas que
os Juizados Especiais enfrentam, permitindo-lhes exercer a contento a
nobre misso para a qual foram criados: ampliar o acesso ordem jurdica
justa, algo que nos foi prometido pela Constituio da Repblica, e que precisa, urgentemente, se tornar realidade.
ALEXANDRE FREITAS CMARA
Desembargador no Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro.
Professor de direito processual civil da EMERJ
(Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro).
Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual,
da Academia Brasileira de Direito Processual Civil,
do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual
e da International Association of Procedural Law.
xii
I
Juizados Especiais Cveis:
Segurana, Eficcia e Processo Justo
1
Desmistificando os Fantasmas:
Formalismo, Idealismo e Pragmatismo
nos Juizados Especiais Cveis Estaduais
Felippe Borring Rocha
SUMRIO: 1. Introduo. 2. O panorama atual dos Juizados Especiais. 2.1. Justia injusta?.
2.2. A exceo que se tornou a regra. 3. Os fantasmas dos Juizados Especiais. 3.1. A opcionalidade do procedimento. 3.2. A reformulao estrutural da fase de conhecimento do procedimento da Lei n 9.099/95. 3.3. A necessidade de utilizao do agravo de instrumento.
3.4. A competncia para julgar o mandado de segurana contra atos dos juzes dos Juizados
Especiais. 3.5. A competncia para julgar mandado de segurana contra atos das Turmas
Recursais. 3.6. Teoria dualista: a possibilidade de tramitao de causas com valor acima de
40 salrios mnimos. 3.7. A natureza relativa da incompetncia territorial. 3.8. A inconstitucionalidade da atuao judicante do juiz leigo. 3.9. A inconstitucionalidade da dispensa
do advogado. 3.10. A amplitude da assistncia judiciria gratuita. 3.11. A natureza da interveno da Defensoria Pblica. 3.12. A possibilidade da representao das partes nas audincias. 3.13. A importncia da gravao da audincia. 3.14. A possibilidade de produo da
prova pericial. 3.15. A natureza incidental dos embargos execuo. 3.16. A rescindibilidade da coisa julgada. 4. Concluses. 5. Referncias bibliogrficas.
1. Introduo
Como se sabe, o costume uma prtica que deixa marcas muito fortes
no Direito. Tal qual pegadas num caminho, incute na conscincia do operador uma srie de concepes e comportamentos que, por vezes, so dif3
simplrias, so frustradas na suas expectativas de verem seus direitos adequadamente tutelados, seja porque no foram orientados adequadamente
quando ingressaram nos Juizados, seja porque no foram acompanhados ao
longo do procedimento. Pior: as causas nos Juizados tm durado tanto ou
mais tempo do que as aforadas nas varas cveis.
preciso com urgncia reconhecer a importncia e os riscos que esta
situao gera para o Poder Judicirio e para a sociedade de um modo geral.
De uma forma bastante resumida, pode-se dizer que estes problemas
tm quatro causas principais: a elevada e crescente demanda pelos servios
judiciais; a limitada estrutura material e humana disponvel; a falta de uma
postura instrumental legtima dos operadores do Direito; e a falta de um
controle mais rgido sobre o que feito nestes rgos.
Consoante, a liberdade propiciada pela malha principiolgica, a irrecorribilidade das decises interlocutrias, a exigncia de custas para
recorrer, a inexistncia de ao rescisria, a falta de um mecanismo de
uniformizao da jurisprudncia na seara estadual, dentre outras caractersticas, quando mal utilizadas, tm permitido a distoro do funcionamento dos Juizados.
Neste passo preciso deixar bem claro que no se est defendendo a
abolio destas e de outras caractersticas da Lei n 9.099/95, muitas delas
evidentemente positivas e necessrias ao funcionamento do sistema. Mas
preciso adotar medidas que permitam que estas caractersticas produzam os
resultados que dela se esperam e, ao mesmo tempo, minimizem os efeitos
colaterais que se tem observado. Neste contexto, algumas experincias
vm sendo implantadas por todo o Pas com resultados animadores. Eis
algumas delas: oferecer uma melhor estrutura material e humana, com
nfase no treinamento para atendimento da populao e na promoo dos
meios auto-compositivos dos conflitos (RS, MS, DF); prestao dos servios
da Defensoria Pblica junto aos Juizados (RJ); investimento macio em
informtica, preferencialmente, com a implantao dos processos eletrnicos, filmagem das audincias, atendimento via internet, leiles virtuais etc
(Juizados Especiais Federais, PR, RR); maior integrao com a sociedade
divulgao pblica das decises, debate sobre as questes que mais atingem
os jurisdicionados, interveno em universidades e escolas etc. (PR, RS, SP,
6
temas que mais causas tm gerado processos, quais os recursos que tm sido
utilizados para julg-los, quais os resultados obtidos etc. As dimenses continentais do Pas, com seus contrastes internos, tambm dificultam a fixao de diretrizes comuns, capazes de embasar concluses mais seguras.
No obstante, ainda que lanando mo de uma boa dose de subjetivismo, parece correto afirmar que os Juizados Especiais esto recebendo causas que deveriam ser direcionadas para o juzo ordinrio. Se por um lado
certo que boa parte do crescimento da procura pelos Juizados foi originado
por demandas reprimidas, que, naturalmente, possuem reduzida complexidade, por outro, o engajamento da classe mdia, aliado ao adensamento das
relaes de consumo e falta de controle pela Administrao Pblica das
atividades comerciais, trouxe s barras dos Juizados causas que teriam
melhor colocao no juzo ordinrio.1 So questes como as relativas aos
planos econmicos, s coberturas mdicas, s revises contratuais, dentre
outras, que exigem um maior aprofundamento instrutrio e acompanhamento tcnico para serem adequadamente apreciadas.2
Consoante, se as caractersticas dos Juizados so a razo para se levar as
causas para l, porque est na hora (ou j passou muito da hora) de dotar
o juzo ordinrio destas mesmas caractersticas. Em outras palavras, para
melhorar a qualidade da atividade judicial nos Juizados, evitando a sua ordinarizao, preciso implantar os seus aspectos bem-sucedidos nos demais
rgos julgadores, tornando seu acesso possvel e atrativo para a maioria da
populao.
A segunda pergunta mais fcil de responder. Com efeito, a legitimidade dos Juizados Especiais, como uma estrutura especial que , repousa
justamente na excepcionalidade das questes a eles sujeitas. A sua existncia se vincula s causas que normalmente no seriam levadas apreciao
Note-se ainda que um dos fatores que mais contribuem para o direcionamento de causas complexas aos
Juizados Especiais a iseno de encargos e nus sucumbenciais previstos na Lei n 9.099/95 (art. 54 e
55). Assim, uma forma de atenuar o problema seria promover a eliminao da obrigao de pagamento de custas e taxas ou a reduo no seu valor na esfera ordinria, alm de reverter a acentuada tendncia de rejeio dos pedidos de gratuidade de Justia legitimamente formulados, gerado pelo intento
arrecadador de alguns tribunais.
Imprescindvel destacar que as causas enumeradas no esto, ab initio, de maior complexidade, mas, via
de regra, elas se afastam do perfil necessrio para serem julgadas nos Juizados Especiais, pois envolvem
discusses jurdicas e demandam maior anlise probatria.
Esta afirmao tem que ser feita com uma srie de cautelas, dadas as peculiaridades dos sistemas judiciais estrangeiros. Existem pases, como a China, onde alguns rgos judiciais podem ter seus nomes traduzidos como juizados ou pequenas cortes, apesar de representarem estruturas mais similares s varas
judiciais brasileiras.
Horcio Wanderlei Rodrigues, Lei n 9.099/95: A Obrigatoriedade da Competncia e do Rito, e J. S.
Fagundes Cunha, A Competncia Absoluta e a Ausncia do Limite do Valor da Causa nos Juizados
Especiais Cveis.
10
te que o ingresso nos Juizados era uma faculdade do autor.5 Outros autores
assinalavam ainda que a obrigatoriedade dos Juizados decorreria da natureza da Lei n 9.099/95, que teria criado um novo componente dentro da
Justia Ordinria.6 Alguns autores, por seu turno, sustentaram posio
intermediria, segundo a qual a obrigatoriedade se limitaria s competncias ratione materiae do art. 3 da Lei (incisos II e III), por serem absolutas,
no ocorrendo o mesmo em relao s competncias ratione valoris do
mesmo dispositivo (incisos I e IV). Estas posies, entretanto, foram se
retraindo e perdendo espao para a corrente de pensamento que defendia a
faculdade do titular do direito material em ajuizar a demanda perante os
Juizados Especiais.
Atualmente, doutrina7 e jurisprudncia8 dominantes so no sentido de
que o ajuizamento da demanda nos Juizados Especiais uma opo do
autor. Os que ainda hoje refutam a possibilidade de escolha pelo ingresso
nos Juizados Especiais, aduzem, em geral, no ser possvel s partes escolherem o juzo em que vo demandar e que as normas sobre procedimentos
especiais so de ordem pblica.
Na verdade, o que est na esfera de disponibilidade das partes no a
competncia judicial, mas o procedimento mais adequado s suas pretenses. perfeitamente possvel conferir s partes esta escolha, pois ela decorre do reconhecimento de que o sistema da Lei n 9.099/95 restringe de
10
Dizia o art. 1 da Lei n 7.244/84: Os Juizados Especiais de Pequenas Causas, rgos da Justia ordinria, podero ser criados nos Estados, no Distrito Federal e nos Territrios, para processo e julgamento,
por opo do autor, das causas de reduzido valor econmico. Neste sentido, veja-se Mais refora,
ainda, o argumento da obrigatoriedade funcional, o fato de ter constado do art. 1o da revogada Lei no
7.244/84, que aqueles Juizados Especiais de Pequenas Causas seriam adotados por opo do autor, das
causas de reduzido valor econmico, o que no ocorre, sob pena de se infringir dispositivos constitucionais. Intuitivo, portanto, tenha a nova lei (Lei 9.099/95) omitido a inconstitucionalidade anterior da
facultatividade, o que faz prevalecer a regra da obrigatoriedade, atendendo o fim supremo que dela
emerge e que se ajusta aos princpios da Lei Maior (TJSP Ap. Sumria 814.776/4-SP Rel. Juiz
Antnio de Pdua F. Nogueira, j. em 28/1/1999).
Assim, Theotnio Negro, Cdigo de Processo Civil e Legislao Complementar, p. 990, Weber Martins
Batista e Luiz Fux, Juizados Especiais Cveis e Criminais e Suspenso Condicional do Processo Penal, p.
103, e Lus Felipe Salomo, Roteiro dos Juizados Especiais Cveis, p. 36.
Nesta corrente, dentre outros, temos Humberto Theodoro Jnior, Curso de Direito Processual Civil,
vol. III, p. 470, Alexandre Freitas Cmara, Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais: Uma
Abordagem Crtica, p. 27, e Joo Carlos Pestana de Aguiar, Juizados Especiais Cveis e Criminais: Teoria
e Prtica, p. 37.
Neste sentido, veja-se o Enunciado 1 do FONAJE O exerccio do direito de ao no Juizado Especial
Cvel facultativo para o autor.
11
forma marcante garantias fundamentais, tais como, a imposio da produo de todas as provas em audincia, ainda que no requeridas previamente, a limitao ao nmero de testemunhas, a percia tcnica informal, o
curto perodo em que se desenrolam as etapas, a impossibilidade de ao
rescisria, dentre outras.9 Assim, o demandante, ciente destas regras, abre
mo da segurana jurdica em nome de outros benefcios, tais como a celeridade, a iseno de custas, a concentrao dos atos etc.10
preciso lembrar, ainda, que existe nos Juizados um procedimento
para a execuo dos ttulos extrajudiciais no valor de at 40 salrios mnimos (arts. 3, 1, II, e 53) e, at o presente momento, no se tem notcia
de qualquer autor ou deciso que tenha sustentado a sua obrigatoriedade.
Nenhuma vara cvel logrou extinguir um procedimento executivo fundado
em ttulo extrajudicial at 40 salrios mnimos, por ser ele cabvel, em tese,
nos Juizados Especiais. Isso ressalta a incoerncia dos defensores da tese da
obrigatoriedade, pois, se houvesse obrigatoriedade, ela ali tambm teria que
ser aplicada.11
Outro aspecto a se destacar que, conforme a prtica forense j
demonstrou, existem casos em que a escolha pelos Juizados Especiais pode
representar uma maior demora na prestao jurisdicional. o que ocorre,
por exemplo, quando se pretende ajuizar uma demanda em face de uma
pessoa que , notria e sabidamente, especialista em fugir das citaes que
10
11
Neste sentido, veja-se Os Juizados Especiais Cveis se colocam como uma via alternativa posta disposio do autor para deduzir seu pedido, forma de facilitar o acesso Justia. A facultatividade quanto
ao uso do regime institudo pela Lei, instituidora dos Juizados Especiais Cveis, decorre da previso contida no prprio diploma, quando alude que a opo por ele implicar renncia ao crdito excedente ao
limite previsto (Lei n 9.099/95, art. 3, 3). Ademais, a faculdade de opo quanto ao autor poder
optar por regime diverso daquele normalmente previsto para a hiptese da essncia do direito processual civil brasileiro (CPC, art. 292, 2). Proposta a demanda perante o Juzo Comum, exercendo o
autor a faculdade de escolha do regime processual, no era dado ao juiz declinar da competncia em
favor do Juizado Especial Cvel, tendo-o por competente em razo da a pretenso envolver valor inferior a quarenta vezes o salrio mnimo (TJRS Conflito de Competncia 21384-3-PA Rel. Des.
Moacir Adiers, j. em 05/12/1996).
Note-se, ainda, que no direito comparado os Juizados Especiais, via de regra, so colocados como uma
opo para o autor.
A nica hiptese em que corretamente no h opcionalidade no caso do inciso I do 1 do art. 3, que
trata da competncia para executar as decises proferidas pelos Juizados. Neste caso, a competncia
absoluta e improrrogvel (competncia funcional). Assim, competentes para executar as sentenas dos
Juizados Especiais so os prprios Juizados Especiais, no apenas porque o autor j fez a sua opo quando escolheu o procedimento da Lei n 9.099/95 para deflagrar a fase cognitiva, mas tambm pelas caractersticas especiais que estas sentenas possuem (art. 38 e 52).
11
12
12
13
14
12
Neste sentido, veja-se: A Lei 9.099/95 assegura ao autor o direito de escolha pelo Juizado Especial.
Concluso, ademais, recomendada pelo fato de encontrar-se o ru em lugar incerto e no sabido, pois
no se permite a citao por edital no Juizado Especial, a teor do art. 18, 2, da Lei 9.099/95 (2
TACSP Ap. Cvel 471699 Rel. Juiz Paulo Hungria, j. em 11/12/96).
Diz o 3 do art. 3 da Lei n 10.259/01: No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua
competncia absoluta.
Exposio de motivos do projeto de lei que institui os Juizados Especiais Cveis e Criminais no mbito
da Justia Federal, elaborado no seio do Superior Tribunal de Justia, foi publicada no Dirio da Justia
da Unio de 12 de janeiro de 2001, p. 221.
13
15
Neste sentido, Eduardo Oberg, Os Juizados Especiais Cveis: Enfrentamentos e a sua Real Efetividade
com a Construo da Cidadania, in: Revista da EMERJ, vol. VII, n 25, 2004, p. 182. Na jurisprudncia,
veja-se a Ementa 222 do ETRJECERJ Audincia. Intimao. Cerceamento de defesa. Necessidade de
que se faa a intimao com antecedncia mnima de 10 dias, para que se possibilite parte r comparecimento produzindo ampla defesa, inclusive com a presena de testemunha. Aplicao analgica do
art. 277 do CPC. Art. 34 da Lei n 9099/95. Recurso provido e Cerceamento de defesa. Prazo mnimo
13
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16
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18
14
entre a data da citao e a audincia. Aplicvel o artigo 277, do CPC aos processos dos Juizados Especiais
Cveis, devendo ser observado o prazo mnimo de 10 (dez) dias. Nulidade da sentena. Provimento do
recurso (TJRJ Turmas Recursais Cveis Ap. 1999.700.005656-4, Rel. Mrio dos Santos Paulo).
Neste sentido, Eduardo Oberg, op. cit., p. 186. Na jurisprudncia, veja-se o Enunciado 10.4.1 da
Consolidao dos Enunciados Jurdicos Cveis e Administrativos em Vigor Resultantes das Discusses
dos Encontros de Juzes de Juizados Especiais Cveis e Turmas Recursais do Estado do Rio de Janeiro
CEJCA O Juiz que realizar a Audincia de Instruo e Julgamento e no proferir sentena de imediato,
dever fixar na assentada, a data da leitura de sentena, o Enunciado 95 do Encontro Nacional de
Coordenadores de Juizados Especiais do Brasil FONAJE Finda a audincia de instruo, conduzida por
Juiz Leigo, dever ser apresentada a proposta de sentena ao Juiz Togado em at dez dias, intimadas as
partes no prprio termo da audincia para a data da leitura da sentena e a Proposio 11 do 2 Encontro
de Juzes de Juizados Especiais Cveis da Capital e da Grande So Paulo EJJEEP Quando o Juiz no
prolatar a sentena na audincia dever designar dia e hora para leitura e publicao da mesma.
Por todos, Humberto Theodoro Jnior, Curso, vol. III, p. 483.
Pargrafo nico do art. 271 do CPC de 1939: Se no se julgar habilitado a decidir a causa, designar,
desde logo, outra audincia, que se realizar dentro de dez (10) dias, afim de publicar a sentena.
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Como ser exposto mais adiante (item 3.8), a atuao judicante dos juzes leigos, aos moldes do que estabelecem os arts. 37 e 40 da Lei n 9.099/95, inconstitucional.
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litando a sua prolao em audincia. Destarte, a audincia preliminar, aproveitando a presena das partes no Juizado para a conciliao, serviria como
um sistema de filtragem e preparao para o julgamento da causa.
Em terceiro lugar, deveriam ser abolidas as regras sobre a arbitragem nos
Juizados Especiais (arts. 24 a 26). Como j se sabe, a arbitragem deve ser feita
fora da esfera judicial, nos termos da Lei n 9.307/96 (Lei de Arbitragem), ou,
dentro do Poder Judicirio, atravs de rgos especializados para tanto. A
previso atual inadequada e ineficiente, como eram dos dispositivos que tratavam da arbitragem no CPC (art. 1.072 a 1.102). No por acaso, at a presente data no se tem notcia de uma nica arbitragem que tenha sido realizada
nos Juizados Especiais, seguindo os ditames da Lei n 9.099/95.
Em suma, o art. 28 deveria estabelecer que o juiz togado somente
poderia marcar data para a leitura de sentena em casos excepcionais ou
quando a AIJ tenha sido fruto de uma convolao da audincia conciliatria. Com efeito, no lgico, aps a sesso de conciliao e a citada audincia preliminar, marcar data para a realizao da AIJ e no proferir sentena naquele momento. Importante tambm que a nova redao do mencionado artigo determinasse a necessidade de constar o relatrio nas sentenas proferidas fora de audincia, excepcionando a regra contida na parte
final do art. 38.
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Importante esclarecer que a palavra agravo pode ser identificada com trs espcies diferentes de recursos na esfera cvel: o recurso contra as decises interlocutrias proferidas no primeiro grau (arts. 522 a
529 do CPC), o recurso contra a deciso que inadmite os recursos excepcionais (art. 544 do CPC) e o
recurso contra a deciso monocrtica (por exemplo, art. 557, 1, do CPC). No texto, nos limitamos a
tratar da primeira espcie de recurso, sem certo que as duas outras vm sendo admitidas na maioria dos
Juizados Especiais do Pas, como se pode vislumbrar do Enunciado 15 do FONAJE Nos Juizados
Especiais no cabvel o recurso de agravo, exceto nas hipteses dos artigos 544 e 557 do CPC.
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tema recursal, que seria composto somente pelo recurso inominado (art. 41)
e pelos embargos de declarao (arts. 48 a 50)21 e, de outro, a adoo do
princpio da oralidade (art. 2), que pressupe a irrecorribilidade das decises interlocutrias.22 Dentro desta orientao, sem um recurso para atacar
as decises interlocutrias em separado, as decises proferidas ao longo do
processo no sofrem os efeitos da precluso23 e, uma vez proferida sentena, passam a ser impugnveis pelo recurso inominado.
A questo, entretanto, tem gerado muitas controvrsias, pois, como se
sabe, existem decises interlocutrias que inegavelmente causam graves e
imediatos danos s partes, que o recurso inominado no capaz de sanar. O
problema se avolumou na mesma proporo em que a demanda pelos servios judicirios cresceu, fazendo com que os processos tivessem uma tramitao muito mais longa.
Destarte, a maioria absoluta da doutrina e jurisprudncia sempre sustentou que em face das decises interlocutrias proferidas nos Juizados
Especiais caberia o mandado de segurana,24 quando presentes os requisitos
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Advogando a tese da taxatividade dos recursos cabveis nos Juizados Especiais, por todos, veja-se Lus
Felipe Salomo, op. cit., p. 40. Da jurisprudncia prevalente, pode-se destacar o seguinte aresto:
Juizados Especiais Cveis. Agravo de instrumento. Inadmissibilidade. Recurso que no se conhece por
falta de previso na Lei n 9099/95, inadmissvel a aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Civil,
em matria recursal. Rejeio liminar (TJRJ, 1 Turma Recursal Cvel, AI 2001.700.000360-3, Rel. Ana
Maria Pereira de Oliveira).
Na doutrina, identificando a oralidade com a irrecorribilidade das decises interlocutrias, tem-se Jos
Manoel de Arruda Alvim Netto, Curso de Direito Processual Civil, vol. I, p. 27, Nelson Nery Jnior,
Princpios Fundamentais: Teoria Geral dos Recursos, p. 150, e Cndido Rangel Dinamarco, Instituies
de Direito Processual Civil Moderno, v. III, p. 811.
Sobre a questo, confira-se Frente ao sistema da Lei no 9.099/95, no h precluso da matria processual dirimida no curso do procedimento, sendo as decises interlocutrias irrecorrveis, devendo, em
qualquer caso, serem reexaminadas pela via do recurso prprio ali previsto, em face da adoo plena do
princpio da oralidade (TJSC AI 320-7 Guarami, Rel. Des. Pedro Manoel de Abreu, pub. no DJ de
03/06/96).
Com este pensamento, Lus Felipe Salomo, op. cit., p. 75, Mantovanni Colares Cavalcante, Recursos
nos Juizados Especiais, p. 59, Eduardo Oberg, op. cit., p. 184. Na jurisprudncia, merecem destaque a
Ementa 71 do Encontro de Juzes de Juizados Especiais Cveis e de Turmas Recursais do Estado do Rio
de Janeiro ETRJECERJ Mandado de segurana contra deciso concessiva de liminar. Possibilidade
diante da falta de recurso contra decises interlocutrias na Lei 9.099/95. Interpretao a contrrio
senso da smula 267 do STF. Segurana concedida para anular a deciso atacada. Inviabilidade de concesso de liminar no rito da Lei no 9.099/95 por falta de previso legal expressa a permiti-lo, a Ementa
80 do ETRJECERJ Mandado de Segurana contra ato judicial, que limitou a multa, por atraso na execuo do julgado, a 20 salrios mnimos. Provimento, bem como o Enunciado 14.1.1 da CEJCA
admissvel mandado de segurana somente contra ato ilegal e abusivo praticado por Juiz de Juizado
Especial.
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Neste sentido, veja-se o Enunciado 14.1.1 da CEJCA admissvel mandado de segurana somente contra ato ilegal e abusivo praticado por Juiz de Juizado Especial e o Enunciado 14.1.3 da CEJCA No
havendo direito liquido e certo afervel de plano na inicial do Mandado de Segurana, dever o mesmo
ser apresentado para julgamento em mesa, indeferindo-se a inicial na forma do art. 8, da Lei 1.533/51.
Referendando o dispositivo legal, temos a Smula 267 do STF: No cabe mandado de segurana contra ato judicial passvel de recurso ou correio.
Neste sentido, afirmam Weber Martins Batista e Luiz Fux, op. cit., p. 238 e Dinamarco, Instituies,
vol. III, p. 811.
Frise-se que o agravo de instrumento j vem sendo admitido em alguns Juizados, como em So Paulo,
e nos Juizados Federais, por conta da regra contida no art. 5 da Lei n 10.259/09.
Se uma das razes para inadmitir o agravo a oralidade, preciso reconhecer que a fase executiva nos
Juizados Especiais basicamente formal e escrita, galgada que no sistema executivo do CPC.
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hipteses, o agravo de instrumento poderia ser utilizado sem abalar a estrutura principiolgica do procedimento, substituindo no apenas o mandado
de segurana, mas tambm, no caso da deciso que julga os embargos execuo, o prprio recurso inominado.30
Sublinhe-se que o agravo teria que ter um cabimento restrito s situaes acima apontadas,31 submetido ao procedimento previsto no CPC, sempre firmado por advogado e dirigido s Turmas Recursais.32 As demais
situaes observadas ao longo do procedimento, entretanto, permaneceriam sujeitas ao mandado de segurana, tal qual ocorre no juzo singular.
Assim, por exemplo, se o juiz no permite a vista dos autos pelo advogado,
pode ser impetrado o writ of mandamus para sanar a ilegalidade.
Necessrio ressaltar que, alm da importncia terica dar efetividade
tutela jurisdicional pungida pelo risco de leso ao direito deduzido em
juzo o agravo cumpriria, ainda, um papel prtico muito importante: controlar a atividade judicial. Com efeito, a falta de um recurso contra as decises interlocutrias tem gerado significativa insegurana jurdica para os
Juizados Especiais, que a utilizao do mandado de segurana no tem sido
capaz de elidir.
Neste sentido, poderia ser includo um novo artigo na Lei n 9.099/95, logo
aps as regras que tratam do recurso inominado (preferencialmente, como o
art. 43-A), prevendo expressamente a utilizao do agravo de instrumento, suas
hipteses de cabimento e seu procedimento perante a Turma Recursal.
Por certo, como bem assinalam os crticos da proposta, a introduo do
agravo no sistema recursal dos Juizados Especiais trar um aumento de tra-
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No sistema dos Juizados Especiais inegvel reconhecer que os embargos execuo tm natureza de
instrumento de impugnao, incidental ao processo executrio. Sobre o tema, veja-se o item 3.15 deste
texto.
Pela sistemtica atual do CPC, o agravo de instrumento s cabvel quando a deciso for suscetvel de
causar parte leso grave e de difcil reparao, nos casos de inadmisso da apelao, nos relativos aos
efeitos em que a apelao recebida (art. 522), no julgamento da liquidao de sentena (art. 475-H) e
no julgamento da impugnao execuo (art. 475-M, 3). A lista apresentada, portanto, nada mais
do que uma adaptao das hipteses de cabimento do agravo de instrumento no CPC, excluda quela
relativa liquidao de sentena, por no ser compatvel com o regime especial da Lei n 9.099/95 (art.
38, pargrafo nico)
Dentre os autores que defendem a aplicao do agravo de instrumento nos Juizados, com base no CPC,
somente Pestana de Aguiar, op. cit., p. 38, o dirige ao Tribunal de Justia.
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sujeitos aos Tribunais de Justia, nos crimes comuns e de responsabilidade, conforme prev a Constituio Federal no inc. III do art. 96. A deciso tambm tem por base o art. 21, VI, da Lei Complementar
35/79 Lei Orgnica da Magistratura Nacional. O dispositivo prev que compete originariamente aos
tribunais julgar os Mandados de Segurana contra seus atos, os dos respectivos presidentes e os de suas
Cmaras, Turmas ou Sees (STF Pleno MS 24.318 Min. Rel. Marco Aurlio, j. em 02/08/2002).
Neste sentido, Mantovanni Colares Cavalcante, op. cit., p. 91: No vejo como possa a Turma Recursal
ter competncia para julgar mandado de segurana impetrado contra ato do juiz do juizado especial.
Primeiro, porque a lei s previu para anlise pela Turma Recursal o recurso cvel, a apelao criminal
e os embargos de declarao (...) Em segundo lugar, atente-se para o fato de que os membros das Turmas
Recursais so, tal qual os juzes dos juizados especiais, magistrados de primeiro grau. Assim, como admitir que uma autoridade (membro da Turma Recursal) tenha competncia para rever ato de outra (juiz
do juizado especial do mesmo grau? (...) Ora, sabe-se que, sendo o ato judicial originado de um juiz de
primeiro grau, a competncia para julgamento do mandado de segurana contra si atacado do
Tribunal ao qual est vinculado o juiz.
Neste sentido, Alexandre Cmara, op. cit., p. 165.
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superior (STJ ou STF), nem deve ficar confinado dentro de uma estrutura de
primeira instncia (Turmas Recursais), que no foi concebida para esse fim.
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No Rio de Janeiro, a competncia para julgar o mandado de segurana impetrado em face de ato praticado pelas Turmas Recursais de um grupo dos 5 juzes mais antigos das duas Turmas subseqentes
Turma impetrada (art. 19 da Resoluo n 07/06, do Conselho da Magistratura).
Veja-se, sobre a questo relativa competncia para julgamento do mandado de segurana, os comentrios ao item 3.4 deste texto.
Nesse sentido, veja-se: O STJ competente para dirimir conflito de competncia suscitado entre juzo
de Turma Recursal e o Tribunal local (de Justia ou de Alada), em razo de no haver vinculao jurisdicional entre esses, a despeito da inegvel hierarquia administrativo-funcional (STJ CC 38.513/MG,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/8/2003).
Nesse sentido, veja-se: Processo civil. Recurso em Mandado de Segurana. Mandamus impetrado, perante Tribunal de Justia, visando promover controle de competncia de deciso proferida por Juizado
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A quarta e ltima corrente sustenta que o mandado de segurana contra ato das Turmas Recursais deve ser julgado pelo Supremo Tribunal
Federal, a quem j cabe julgar o recurso extraordinrio contra estas decises. Na realidade, da mesma forma que no caso da terceira corrente, carece a proposio de um suporte legal. No obstante, o STF vem reiteradamente admitindo a sua competncia para julgar habeas corpus contra ato
das Turmas Recursais Criminais.41 Assim, sabendo-se que o mandado de
segurana e o habeas corpus so aes da mesma natureza, seria lgico
deduzir que ambos devessem ser julgados no mesmo tribunal. O Excelso
Pretrio, entretanto, tem inmeras decises afirmando no ser competente para julgar o mandado de segurana contra atos das Turmas Recursais.42
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Especial Cvel. Possibilidade. Ausncia de confronto com a jurisprudncia consolidada do STJ, que veda
apenas a impetrao de mandado de segurana para o controle do mrito das decises proferidas pelos
Juizados Especiais (STJ Corte Especial RMS 17524/BA rel. Min. Nancy Andrighi, j. em
02/08/2006).
Consoante, editou o Excelso Pretrio a Smula 690, com o seguinte teor: Compete ao Supremo
Tribunal Federal o julgamento do habeas corpus contra deciso de turma recursal de juizados especiais
criminais.
Neste sentido, veja-se: Competncia. Originria. Mandado de segurana. Ato judicial. Impetrao contra deciso de juiz de Colgio Recursal. Feito da competncia da turma de origem. Incompetncia absoluta do STF. Reconhecimento. Interpretao do art. 102, I, d, da CF. Precedentes. O Supremo
Tribunal Federal no competente para conhecer originariamente de mandado de segurana contra
deciso de juiz de Colgio Recursal (STF Pleno MS-AgR 24858/SP Min. Cesar Peluso, j. em
30/08/2007).
Perfilando este entendimento, Alexandre Cmara, op. cit., p. 31.
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Seguindo esta linha de pensamento temos Luiz Fux, op. cit., p. 48, Humberto Theodoro Jnior, Curso,
vol. III, p. 470, Cndido Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 777, Eduardo Arruda Alvim, Direito
Processual Civil, p. 581, e Lus Felipe Salomo, op. cit., p. 51. Na jurisprudncia, veja-se, As causas
compreendidas no art. 3, II e III, da Lei n 9.099/95, no se submetem ao limite de at 40 salrios mnimos, definido no inc. I, do mesmo preceito (oitava concluso da Seo Civil do TJSC, em face da Lei no
9.099/95). Idntico entendimento prevalecia ao tempo da vigncia da Lei estadual 1.141/93, em se tratando de causas enumeradas nos art. 275, II, do CPC. Logo inarredvel a competncia do Juizado
Especial (TJSC Ap. Cv. 632-Cricima, Rel. Juiz Jnio de Souza Machado, DJ 12/6/1996), As aes
de reparao de danos decorrente de acidente de trnsito de veculo terrestre so consideradas de
menor complexidade pela Lei n 9.099/95, independentemente do seu valor, de tal sorte que os recurso delas oriundos so da competncia das Colendas Turmas de Recursos Cveis (TJSC Ap. Cv. 52269Palhoa, Rel. Des. Carlos Prudncia, DJ 6/6/1997) e o Enunciado, 2.3.1 da CEJCA Todas as causas da
competncia dos Juizados Especiais Cveis esto limitadas a 40 salrios mnimos. Em sentido contrrio, a Ementa 179 do ETRJECERJ O Juizado Especial no tem competncia para apreciar causas em que
o valor supera o limite expresso no artigo 3 da Lei n 9.099/95 e naquelas de maior complexidade, a
exigir produo de prova incompatvel com seus princpios norteadores. Se a lide desatende a tais pressupostos, impe-se a extino do processo, sem exame do mrito.
Neste sentido, confira-se Pestana de Aguiar, op. cit., p. 10, Paulo Lcio Nogueira, Juizados Especiais
Cveis e Criminais, p. 11, Alfeu Bisaque Pereira, Juizados Especiais Cveis: Uma Escolha do Autor em
Demandas Limitadas pelo Valor do Pedido, ou da Causa, Lus Felipe Salomo, op. cit., p. 30, e Humberto Theodoro Jnior, Curso, vol. III, p. 465. Na jurisprudncia, por todos, veja-se o Enunciado 2.3.1
da CEJCA Todas as causas da competncia dos Juizados Especiais Cveis esto limitadas a 40 salrios
mnimos.
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cvel da Lei n 9.099/95 uma cpia da Lei dos Juizados de Pequenas Causas
(Lei n 7.244/84), e, na outra mo, que a interpretao conjugada do art. 3
com os art. 15, 21 e 39, serviria para sustentar que todas as causas teriam que
estar necessariamente sujeitas ao patamar de 40 salrios mnimos.
Apesar de significativos, os fundamentos apresentados pela posio
dominante tm que ser analisados de forma crtica. Efetivamente, a parte
cvel da Lei n 9.099/95 uma cpia, quase que integral, da Lei n 7.244/84.
Ocorre que, nos dispositivos referentes competncia, a Lei nova significativamente diferente. O limite valorativo saiu do caput do art. 1 da Lei
antiga para integrar o inciso I do art. 3 da Lei vigente. No obstante, cabe
indagar: por que os incisos IV do caput e II do 1, ambos do art. 3, fazem
referncia expressa ao teto de 40 salrios mnimos? por que o inciso II faz
referncia ao inciso II do art. 275 do CPC, que diz nas causas, qualquer que
seja o valor?
A resposta que o legislador fez a sua opo pelo sistema dualista.46 O
problema que no foram feitas as adaptaes necessrias no texto da Lei n
9.099/95 para diferenciar as regras dirigidas s pequenas causas, das relativas
s causas de menor complexidade. Isso, no entanto, no representa empecilho incontornvel, mas, to-somente, demanda um esforo hermenutico.
Desta forma, todas as normas relativas ao limite de 40 salrios mnimos s
deveriam ser aplicadas em relao s pequenas causas (art. 3, I e IV).
Em suma, o art. 15 (cpia do art. 16 da Lei n 7.244/84), que diz que se
houver pedidos conexos a soma de ambos no pode ultrapassar 40 salrios
mnimos, o art. 21 (cpia do art. 22 da Lei n 7.244/84), que determina que
as partes sejam alertadas sobre a possibilidade de renunciar parcela que
exceder ao teto de 40 salrios mnimos, e o art. 39 (cpia do art. 39 da Lei
n 7.244/84), que taxa de ineficaz a sentena que ultrapassar o valor de 40
salrios mnimos, devem ser direcionados exclusivamente s causas previstas nos incisos I e IV do art. 3 (pequenas causas). Para que isso ficasse claro,
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Note-se que o legislador, na Lei dos Juizados Especiais Federais, fez exatamente o contrrio, adotando
a teoria unitria. Com efeito, diz o caput do art. 3 da Lei n 10.259/01: Compete ao Juizado Especial
Federal Cvel processar, conciliar e julgar causas de competncia da Justia Federal at o valor de sessenta salrios mnimos, bem como executar as suas sentenas.
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Neste sentido, Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 784, e Eduardo Oberg, op. cit., p. 177.
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ria ser temperada, somente gerando o encerramento do procedimento quando o juzo territorialmente competente for em outra unidade da federao ou
onde no houver Juizado Especial. De modo que, havendo a incompetncia
territorial, se for possvel remeter os autos ao Juizado situado no foro competente, dentro da mesma unidade, no parece razovel por termo ao feito.
No obstante, por conta da regra contida no art. 51, III, a poro majoritria da doutrina e jurisprudencia48 tem defendido que a incompetncia
territorial no sistema da Lei n 9.099/95 gera nulidade absoluta, passvel de
reconhecimento de ofcio, em qualquer tempo ou grau de jurisdio.49
Com o devido respeito, mas o citado entendimento afigura-se como equivocado, pois as normas sobre a fixao da competncia territorial nos Juizados
Especiais so evidentemente de natureza dispositiva.50 Para comprovar isso,
basta analisar o teor do citado pargrafo nico do art. 4. O inciso I do mesmo
artigo, por sua vez, fala expressamente em critrio do autor. De forma que a
violao a tais regras s pode ser conhecida mediante provocao das partes.
Alis, no h qualquer inconveniente que uma causa de encerramento do procedimento no possa ser conhecida de ofcio. No CPC, por exemplo, a conveno de arbitragem no pode ser conhecida de ofcio, embora enseje o fim do
procedimento (arts. 267, VII, c/c 301, IX e 4). Consoante, se o ru no
arguir, na contestao, a incompetncia territorial, a questo restar superada.
Para solver esta discusso, deveria o inciso III do art. 51 afirmar que a
incompetncia territorial, suscitada pela parte, levaria ao encerramento do
procedimento sem resoluo do mrito quando a causa tiver como juzo
competente rgo judicial no submetido Lei n 9.099/95 ou pertencente
territorialmente outra unidade da federao.
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Neste sentido, por todos, Eduardo Oberg, op. cit., p. 175, com significativa citao jurisprudencial.
Neste sentido, Theotnio Negro, op. cit., p. 903. Na jurisprudncia, confira-se o Enunciado 2.2.4 da
CEJCA A incompetncia territorial pode ser reconhecida de ofcio no sistema dos Juizados Especiais
Cveis e o Enunciado 89 do FONAJE A incompetncia territorial pode ser reconhecida de ofcio no
sistema de juizados especiais cveis.
Neste sentido, Alexandre Cmara, op. cit., p. 45 e Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 803. Na jurisprudncia, veja-se A competncia prevista no art. 4 da Lei dos Juizados Especiais segue a regra geral, qual
seja, a do foro do domiclio do ru, seguindo os moldes tradicionais do Cdigo de Processo Civil, prorrogando-se, todavia, quando no argida incompetncia pela parte contrria. III A incompetncia relativa no pode ser declarada de oficio (Smula no 33 desta Corte). IV Conflito de competncia conhecido para declarar competente o Juzo de Direito do Juizado Especial Cvel da Comarca de Tubaro/SC, suscitado (STJ 2 Seo CC 30692-RS, Rel. Min. Antnio de Pdua Ribeiro, j. em 27/11/2002).
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O prazo exigido pelo diploma parece ser muito longo, j que a disponibilidade dos advogados para tal
exerccio, gratuito na maioria das vezes, muito maior nos primeiros anos da vida profissional. Alm
disso, via de regra, o advogado precisa de apenas 3 anos de formado para poder se tornar juiz togado.
No deixa de ser uma incoerncia que algum possa ser juiz togado e no leigo.
Defendendo a atuao dos juzes leigos, veja-se Cndido Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 811,
Alexandre Cmara, op. cit., p. 56, Nagib Slaibi Filho, Luiz Cludio Silva e William Douglas Resinente
dos Santos, Manual do Conciliador e do Juiz Leigo: Juizados Especiais Cveis, p. 6, e Felipe Machado
Caldeira, Consideraes Sobre a Funo do Juiz Leigo e a Lei (Estadual) 4.578/05: Contribuies para a
Acelerao do Processo.
No Rio de Janeiro, o entendimento que prevaleceu foi o da validade da atuao dos juzes leigos. Foi,
inclusive, rejeitada a representao por inconstitucionalidade interposta pela OAB/RJ em face da Lei
Estadual n 4.578/05, que regulamentou a atuao dos juzes leigos neste Estado (TJRJ rgo Especial
Representao por Inconstitucionalidade n 219/05 Rel. Des. Leila Mariano, j. em 17/12/07 ainda
no transitada em julgado). Bem verdade que a representao versava, to-somente, sobre o processo
seletivo dos juzes leigos, mas inegvel o apoio do Poder Judicirio fluminenses aos juzes leigos.
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Acolhendo essa posio, Vicente Greco Filho, Processo Penal, p. 138. Conforme assinala com toda propriedade Maurcio Antnio Ribeiro Lopes, Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais: Lei 9.099, de
26 de Setembro de 1995, p. 22: A previso de Juzes leigos, conquanto suas funes estejam referidas
no texto constitucional (art. 98, I), ofende ao princpio da jurisdio estabelecido ao longo da Carta de
1988 e sua constitucionalidade , no mnimo, duvidosa. Em posio intermediria, afirmando que os
juzes leigos no so capazes de tornar mais clere a tramitao do procedimento especial, veja-se
Ricardo Cunha Chimenti, Teoria e prtica dos Juizados Especiais Cveis Estaduais e federais, p. 209.
Os meios alternativos de composio dos conflitos (conciliao, mediao e arbitragem), chamados por
muitos de sucedneos da jurisdio, dependem de um ato de liberalidade das partes, que a eles se submetem. No caso do procedimento realizado por juiz leigo, as partes no so indagadas se aceitam tal
conduo, o que retira o carter de constitucionalidade da medida.
O entendimento jurisprudencial que no se aplicam ao juiz leigo as regras que envolvem a atuao do
magistrado. Neste sentido, veja-se: Indenizao. Acidente de trnsito. Princpio da identidade fsica do
juiz. No nula a sentena proferida por juiz leigo diverso daquele que presidiu a audincia de instruo, tendo em vista que no Juizado Especial Cvel o princpio da identidade fsica do juiz somente aplic-
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truo e o julgamento da causa e o juiz togado apenas leia o que foi escrito
e assine, em detrimento a tudo que foi construdo pela cincia processual
nos ltimos sculos.
Note-se, como j dito,57 que a Lei poderia atribuir ao juiz leigo outras
funes, de forma legtima e relevante, alm da realizao da conciliao e
da arbitragem. Assim, tem-se que os arts. 37 e 40 da Lei n 9.099/95 deveriam ser revogados.
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vel em relao ao juiz togado e no no que diz respeito aos juzes leigos. Prova produzida que corrobora a verso do autor, demonstrando que o ru, condutor do veculo envolvido no acidente, adentrou
demais na pista, chocando-se com o veculo do autor. Recurso desprovido (TJRS 2. Turma Recursal
Cvel Recurso Cvel 71001811264, Rel. Juiz Afif Jorge Simes Neto, j. em 18/02/2009).
Veja-se o item 3.2 deste texto.
Sobre o tema, veja-se Afastando a alegada violao ao art. 133 da CF (O advogado indispensvel
administrao da justia), o Tribunal julgou improcedente o pedido formulado em ao direta ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados e declarou a constitucionalidade da primeira parte
do art. 9o da Lei 9.099/95 (Nas causas de valor at vinte salrios mnimos, as partes comparecero pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistncia obrigatria).
Considerou-se que a assistncia compulsria dos advogados no absoluta, podendo a lei conferir s
partes, em situaes excepcionais, o exerccio do jus postulandi perante o Poder Judicirio. Precedentes
citados: ADI (MC) 1.127-DF (RTJ 178/67); RvC 4886-SP (RTJ 146/49); HC 67.390-PR (RTJ 131/610)
(STF Pleno ADI 1.539-DF, Rel. Min. Maurcio Corra, j. em 24/4/2003).
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Neste sentido, Lus Felipe Salomo, op. cit., p. 62, Humberto Theodoro Jnior, Curso, vol. III, p. 477, e
Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 785. Indo mais alm e defendendo a possibilidade de qualquer
parte, em qualquer juzo, atuar sem advogado, com ampla pesquisa doutrinria, confira Fernando
Antnio de Souza e Silva, O Direito de Litigar sem Advogado, em especial nas p. 19 e seguintes.
Neste sentido, Maurcio Antnio Ribeiro Lopes, op. cit., p. 25, e Alexandre Cmara, op. cit., p. 66.
Sobre o tema, ver, de Rubens Approbato Machado, Indispensabilidade do Advogado.
De fato, a distino reduz o espectro de efetividade de uma norma constitucional de ndole protetiva.
Sobre a busca da mxima efetividade na interpretao constitucional, Willis Santiago Guerra Filho,
Processo Constitucional e Direitos Fundamentais, p. 58.
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Ver, sobre este princpio, Carlos Roberto de Siqueira Castro, O Devido Processo Legal e a Razoabilidade
das Leis na Nova Constituio, e Luiz Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, Direito Processual
Penal em face da Constituio, p. 71.
Em alguns Estados, como em Alagoas, os juzes s fazem audincia de instruo e julgamento com a
presena de um advogado ou defensor pblico, qualquer que seja o valor da causa.
Neste sentido, confira-se a Ementa n 29 do ETRJECERJ Assistncia por advogado. Comparecendo
uma das partes audincia de instruo e julgamento, assistida por advogado, incumbe ao juiz observar o art. 9, 1, da Lei n 9.099/95.
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pio da isonomia dentro da lgica criada pelo regime de exceo dos Juizados
Especiais. Como visto, nestes rgos, as partes podem atuar sem o auxlio de
um advogado nas causas com valor at 20 salrios mnimos. Por isso, no
sendo possvel proibir que uma das partes tenha advogado, a sada foi deferir outra, que esteja desacompanhada, a assistncia judiciria gratuita. No
caso especfico da parte que litiga em face de uma firma individual ou pessoa jurdica, a assistncia judiciria tem o objetivo de atenuar a presumida
hipossuficincia existente nestes tipos de litgios. Nos demais casos, entretanto, tem prevalecido o entendimento de que a assistncia judiciria gratuita somente ser cabvel quando a parte se enquadrar na condio de
hipossuficincia econmica ou jurdica.
Esta interpretao, com o devido respeito, no parece ser a mais adequada. Com efeito, nos Juizados Especiais as partes no esto sujeitas ao
pagamento de honorrios advocatcios, exceto nos casos de litigncia de
m-f (art. 55). Desse modo, o correto que, tendo afastado a incidncia
de nus sucumbenciais para facilitar o acesso Justia, deva o Estado
suportar com os custos da atuao judicial das partes.66 Por essas razes,
resta claro que todos aqueles que podem ser autores nos Juizados Especiais
(art. 8, 1), estejam ocupando o plo ativo ou no plo passivo da demanda, independentemente da condio econmica, tm direito assistncia
judiciria gratuita. A presuno legal que as partes que possuem causas
de menor complexidade so hipossuficientes jurdicos e, por isso, merecedores da assistncia gratuita.67 Por certo, as partes que no podem ser autores nos Juizados Especiais, tais como as grandes empresas, no tero direito assistncia judiciria e tero que arcar com os custos da atuao tcnica que necessitarem.
Destarte, deveria ser modificada a redao do pargrafo primeiro do
art. 9, para que ficasse determinada a oferta de assistncia judiciria em
favor de todas as partes que, no tendo outra forma de patrocnio,
preencham os requisitos legais para serem demandantes nos Juizados
Especiais.
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Assim se posicionam Cndido Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 796, e Humberto Theodoro Jnior,
Curso, vol. III., p. 477, que diz: Para assegurar o equilbrio entre as partes, a lei d ao autor que comparece pessoalmente o direito, se esse quiser, assistncia judiciria (defensoria pblica), quando o ru
for pessoa jurdica ou firma individual.
Em sentido contrrio, defendendo que a atuao da Defensoria Pblica nos Juizados Especiais depende
da concorrncia de outras condies, tais como a hipossuficincia econmica ou a natureza consumei-
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rista da causa, temos o parecer do defensor pblico do Rio de Janeiro Carlos Martins, mencionado por
Guilherme Braga Pea de Moraes, Assistncia Jurdica, Defensoria Pblica e o Acesso Jurisdio no
Estado Democrtico de Direito, pp. XVI e XVII.
Humberto Theodoro Jnior, op. cit., p. 477, Oberg, op. cit., p. 178, Cmara, op. cit., p. 102, e Dinamarco, Instituies, vol. III, p. 806. Na jurisprudncia, veja-se o Enunciado 8.1 da CEJCA A presena das
partes pessoas fsicas e/ou pessoas jurdicas, representadas por preposto obrigatria nas audincias
de conciliao e/ou julgamento, a Ementa 48 do ETRJECERJ O comparecimento pessoal das partes
litigantes nas audincias obrigatrio, permitindo a lei especial, contudo, que o ru, sendo pessoa jurdica ou titular de firma individual, seja representado por preposto credenciado, desde que mantenha
vnculo empregatcio com a representada. Nos termos do 4 do artigo 9 da Lei n 9.099/95, o que
facultativo a representao e no o comparecimento das partes litigantes. Aplicao do artigo 20 da
Lei n 9.099/95. Improvimento do recurso.
Em sentido paliativo, veja-se a Ementa 271 do ETRJECERJ Autorizao do Juzo, com aquiescncia da
autora, para que o filho do ru represente o pai em audincia, por se encontrar aquele impossibilitado de
comparecer ao ato, de acordo com atestado mdico apresentado. Audincia vlida porque no prejudicado o direito de defesa do ru, o qual implicitamente concordou com a atuao do filho no ato judicial.
Neste sentido, Erick Linhares, Juizados Especiais Cveis: Comentrios aos Enunciados do Fonaje (Frum
Nacional de Juizados Especiais), p. 62.
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ra todos os processos, mas uma regra de exceo para casos especficos (de outra
forma, teria dito sero gravados). Realmente, seria desnecessrio, por exemplo, gravar uma audincia onde no houvesse prova oral a ser produzida e a
contestao fosse apresentada por escrito, ou uma audincia onde a questo
fosse meramente de direito. Por isso, devem as partes provocar fundamentadamente o juzo, antes do incio da AIJ ou no seu curso, a proceder gravao.
Nada impede, igualmente, que o juiz, de ofcio, determine o registro da
audincia, j que a questo est relacionada a aspectos de ordem pblica.
Apesar de sua importncia, praticamente nenhum Juizado tem cumprido a determinao de gravar as suas audincias.73 Isto poderia ser feito de
forma bastante simples e com custo reduzido, caso fosse ligada uma cmera
(webcam) ao computador do juiz. Em Tribunais como o do Rio de Janeiro,
onde todas as serventias so informatizadas e existe um sistema de intranet,
as gravaes seriam simultaneamente registradas pelo setor de informtica,
ao mesmo tempo em que ocorrem. Assim, quando a Turma Recursal fosse julgar o recurso inominado, bastaria o relator acessar a intranet do seu computador e localizar a gravao daquela audincia. A Turma pode, assim, assistir
audincia e julgar com base no que efetivamente ocorreu nela, fazendo-se
respeitar o princpio da oralidade e identidade fsica na fase recursal.
Alm da utilidade no julgamento do recurso, a mera cincia da gravao da audincia certamente faria com que todos os envolvidos no processo perante o Juizado tivessem maior comprometimento com seus escopos
fundamentais, coibindo os desvios e os abusos.
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Por certo existem diversas iniciativas no sentido de implantar a gravao das audincias nos Juizados
Especiais. Desde maro de 2004, por exemplo, todas as audincias realizadas pelo 2 Juizado Especial
Cvel de Boa Vista, Roraima, so filmadas por meio digital e podem ser acompanhadas, por meio de
acesso restrito, pela internet (Projeto de Registro Eletrnico de Audincia apresentado ao III Prmio
Innovare pelo Juiz Estadual Erick Cavalcanti Linhares Lima).
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Neste sentido, veja-se a Ementa 106 do ETRJECERJ A avaliao tcnica facultada ao Juiz pelo art. 35 da
Lei n 9.099/95 no segue a sistemtica da expertise ordinria prevista no Cdigo de Processo Civil. O
Tcnico a que se refere o aludido art. 35 designado livremente pelo Juiz, podendo as partes contraditar
as concluses do especialista, mediante pareceres de outros expertos. falta de contra-argumentao tcnica, prevalece a opinativa do especialista eleito pelo magistrado, se este ao avaliar a prova, prestigia a opinio daquele, Enunciado 9.3 da CEJCA No cabvel percia judicial tradicional em sede de Juizado
Especial. A avaliao tcnica a que se refere o Art. 35, da Lei n 9.099/95, feita por profissional da livre
escolha do Juiz, facultado s partes inquiri-lo em audincia ou no caso de concordncia das partes e o
Enunciado 12 de FONAJE A percia informal admissvel na hiptese do art. 35 da Lei 9.099/1995.
Humberto Theodoro Jnior, Curso, vol. III, p. 485, anota que alguns Juizados tm facultado s partes a
possibilidade de pagar a percia, para que a prova pericial possa ser realizada. Na sua viso, seria melhor exigir tal pagamento do que remeter s partes s vias ordinrias, onde, provavelmente, teriam que
arcar com estes e outros custos.
Alexandre Cmara, op. cit., p. 120, entretanto, entende que o juiz dever sempre suspender a AIJ quando deferir a produo da prova pericial. Assim, as partes tm condies de formular quesitos e indicarem assistentes tcnicos e o perito escolhido pelo juiz tem oportunidade de analisar o objeto da percia.
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svel julgar a causa sem a produo da prova tcnica. Alguns juzes, por
outro lado, tm nomeado funcionrios pblicos com formao tcnica para
realizar a percia e comparecer na audincia de instruo e julgamento.
Destarte, parece evidente que a prova pericial precisa, urgentemente,
ser melhor estruturada, para viabilizar a sua realizao nos Juizados especiais. Neste sentido, afigura-se que a melhor soluo foi a adotada pelos
Juizados Especiais Federais. Neles, a percia feita por escrito e apresentada at cinco dias antes da audincia (art. 12 da Lei n 10.259/01). Os honorrios periciais, por sua vez, so pagos pelo Tribunal Regional Federal, que
somente cobrar da parte r se a causa for julgada procedente ou da parte
autora, no caso de litigncia de m-f. Caso contrrio, o prprio Tribunal
arcar com o custo da percia (art. 12, 1, da Lei n 10.259/01).
Portanto, seria necessria a alterao do art. 35 da Lei n 9.099/95, para
que incorporasse as regras previstas na Lei n 10.259/01. Outra iniciativa
importante seria, como j defendido, a realizao de uma audincia preliminar com o juiz leigo, que pudesse identificar a necessidade e a viabilidade da realizao da percia informal, antes da AIJ.77
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fato, preciso reconhecer que a Lei n 9.099/95 no criou um modelo executivo prprio, mas determinou a aplicao dos modelos existentes no CPC,
com as alteraes previstas no seu art. 52. De modo que, atualmente, no h
como sustentar a manuteno da natureza autnoma dos embargos execues, pois o seu referencial legal , sem sobra de dvida, o regramento
nos art. 475-J e seguintes do CPC.80 Assim, a deciso que julga os embargos
execuo tem natureza interlocutria, impugnvel por agravo de instrumento,81 salvo se encerrar o procedimento executivo, quando passa a desafiar recurso inominado (art. 475-M, 3, do CPC).
Destarte, seria importante que o todo o inciso IX do art. 52 da Lei n
9.099/95 fosse revogado, abrindo espao para a aplicao plena dos arts.
475-L e 475-M do CPC. Aproveitando o ensejo, poderia ser alterado o pargrafo primeiro do art. 53, que trata dos embargos execuo fundada em
ttulo executivo extrajudicial, para fazer referncia ao regramento atual
(arts. 736 e seg. do CPC). Na verdade, o ideal mesmo seria que todos os
pargrafos do art. 53 fossem revogados, pois o procedimento nele previsto
ineficiente e anacrnico. Bastaria ao art. 53 dizer que a execuo dos ttulos executivos extrajudiciais, no valor de at quarenta salrios mnimos,
obedecer ao disposto no Cdigo de Processo Civil.
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Sobre o cabimento do agravo de instrumento nos Juizados Especiais, veja-se o item 3.4 deste texto.
Na maior parte do Brasil prevalece o entendimento de que, apesar de aplicvel a sistemtica do CPC aos
embargos execuo dos Juizados, o recurso cabvel contra a deciso que o julgar ser sempre o recurso inominado. Neste sentido, veja-se o Enunciado 12.2.1 da CEJCA Na execuo por ttulo judicial o
prazo para oferecimento de embargos ser de 15 (quinze) dias e fluir da intimao da penhora. Da sentena que julgar os embargos caber o recurso inominado previsto no art. 42 da Lei 9.099/95.
Neste sentido, defendendo a autonomia dos embargos execuo, dentre outros, Araken de Assis, op.
cit., p. 167, e Eduardo Oberg, op. cit., p. 193.
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diatamente imediatamente aps o trnsito em julgado o grau mximo de imutabilidade como coisa soberanamente julgada. Note-se que se a mesma deciso for levada ao STF, por meio de recurso extraordinrio, e l transitar em
julgado, no haver qualquer bice ao ajuizamento da ao rescisria naquele Tribunal, que no alcanado pela proibio contida no art. 59 da Lei.83
Por isso, a proibio prevista no art. 59 completamente absurda. Muito mais
razovel seria, por exemplo, diminuir o prazo da ao rescisria ou seu campo
de abrangncia nos Juizados Especiais, mas no suprimi-la.
Por isso, foroso reconhecer que tal dispositivo inconstitucional e
incapaz de afastar a utilizao da ao rescisria, nos termos do art. 485 do
CPC, a ser julgada pelo Tribunal de Justia.84 Com efeito, o art. 59 da Lei n
9.099/95 deveria ser revogado.
A tese da inconstitucionalidade do art. 59, entretanto, no tem encontrado eco na doutrina e jurisprudncia nacional que, como dito, tem passado ao
largo do problema. Deste modo, preciso perquirir qual seria a soluo mais
adequada para atacar as decises viciadas que tenham transitado em julgado
nos Juizados Especiais. Humberto Theodoro Jnior85 e Alexandre Cmara86
defendem a interposio de ao anulatria, para o juzo comum, quando configurada a sentena nula ipso iure ou a sentena inexistente. Esta posio,
entretanto, no parece solucionar o problema. De fato, a ao anulatria
somente ser possvel em face de atos judiciais que no dependem de sentena ou em que esta for meramente homologatria (art. 486 do CPC). Assim, os
temas relacionados ao julgador, por exemplo, permaneceriam inatacveis.
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4. Concluses
De tudo o que foi exposto, possvel concatenar algumas concluses:
a) nos ltimos anos a qualidade da tutela jurisdicional prestada nos
Juizados Especiais sofreu significativa piora causada pela elevada e crescente demanda pelos servios judiciais, pela limitada
estrutura material e humana disponvel, pela falta de uma postura instrumental legtima dos operadores do Direito; e pela falta
de um controle mais rgido sobre o que feito nestes rgos;
b) preciso adotar medidas que permitam que as qualidades
dos Juizados Especiais produzam os resultados que dela se
esperam e, ao mesmo tempo, minimizem os efeitos colaterais que se tem observado;
c) os operadores do Direito tm que assumir o compromisso de
buscar melhorar o quadro existente, atravs do debate de
idias, da articulao entre a sociedade civil e o governo, da
implantao de novas prticas que possam aprimorar a qualidade da tutela jurisdicional prestada;
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Em sentido contrrio, veja-se a Ementa 408 do ETRJECERJ Mandado de segurana. Invivel a impetrao para modificar sentena com trnsito em julgado. Inocorrncia de ilegalidade ou abuso de poder
por parte da autoridade impetrada, que indeferiu pedido para que fosse considerado como termo inicial
para incidncia da multa a data da intimao do trnsito em julgado da sentena e no a da intimao
da sentena, como determinado pelo juiz monocrtico. Denegada a ordem e Ementa 411 do ETRJECERJ O Mandado de Segurana no meio prprio para impugnar sentena, acobertada pelo manto
da coisa julgada ut Smula n 268, do Supremo Tribunal Federal.
Veja-se os comentrios ao art. 41 da Lei.
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5. Referncias bibliogrficas
A) Livros
AGUIAR, Joo Carlos Pestana de. Juizados Especiais Cveis e Criminais:
Teoria e Prtica, Rio de Janeiro: Espao Jurdico, 1997.
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Na maior parte do Brasil prevalece o entendimento de que, apesar de aplicvel a sistemtica do CPC aos
embargos execuo dos Juizados, o recurso cabvel contra a deciso que o julgar ser sempre o recurso inominado. Neste sentido, veja-se o Enunciado 12.2.1 da CEJCA Na execuo por ttulo judicial o
prazo para oferecimento de embargos ser de 15 (quinze) dias e fluir da intimao da penhora. Da sentena que julgar os embargos caber o recurso inominado previsto no art. 42 da Lei 9.099/95.
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Garantias do Processo Justo nos
Juizados Especiais Cveis
Fernando Gama de Miranda Netto
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Blindagem garantstica para o cidado. 3. Garantia da efetividade do processo para o autor. 4. Garantias do ru nos juizados especiais. 5. Procedimento
sumarssimo entre garantismo e autoritarismo. 6. Concluses. 7. Referncias bibliograficas.
8. Referncias eletrnicas.
1. Introduo
No se pode ignorar a fama alcanada pelos juizados especiais cveis
perante a populao brasileira. As razes apontadas geralmente recaem
sobre a celeridade, informalidade e gratuidade desse juzo na composio
de conflitos. Na trilha do sucesso da Lei n 9.099/95, que regula o procedimento sumarssimo na esfera estadual, editou-se a Lei n 10.259/01, com o
objetivo de cuidar de litgios no mbito federal. Tais leis formam, em conjunto, o Estatuto dos Juizados Especiais Cveis, e devem ser interpretadas
harmonicamente.1
Observe-se, no entanto, que o procedimento dos Juizados Especiais
gera a crena de que os problemas do alto custo do processo e a demora
excessiva na entrega da prestao jurisdicional so completamente afastados em relao ao procedimento ordinrio, mas, simultaneamente, esconde
os problemas gerados na busca de um processo ideal de resultados, que
melhor seria aqui denominado estatstico, em face de seu compromisso
com o esvaziamento de prateleiras, com a demonstrao pblica de que algo
est sendo feito para desafogar a justia.
CMARA, Alexandre. Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais: uma abordagem crtica, passim.
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Cf. DINAMARCO, Cndido Rangel. Os juizados especiais e os fantasmas que os assombram. In:
Fundamentos do Processo Civil Moderno, tomo II, p. 1.427 et seq.
Vittorio Denti, em Il ruolo del giudice nel processo civile tra vecchio e nuovo garantismo (in: Sistemi e
Riformi: Studi sulla Giustizia Civile), um dos autores que mais se dedicou ao tema do garantismo, j havia
consignado em 1984 que la funzione garantistica del giudice pu essere vista in due modi: um primo, che
potremmo definire vetero-garantistico, e risponde ad uma conzecione meramente formale della ugualianza delle parti nel processo; il secondo, che potremmo definire neo-garantistico, e risponde ad uma esigenza di ugualianza reale e sostanziale tra l parti stesse. [...] La definizione di vetero-garantismo non vuole
avere conotati negativi, ma soltanto essere indicativa del fatto che si tratta della concezione affermattasi
com le codificazioni ottocentesche, almeno sino alla Zivilprozessordnung austraca de 1895 (alla quale,
com noto, si ispir Chiovenda nella sua opera riformatrice). La seconda conzecione affida al giudice um
ruolo di promozione della effetiva parit delle armi nel processo [...] (p. 176).
Cf. FERRAJOLI, Luigi. Teoria do Garantismo Penal, p. 684-685.
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MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. O futuro da justia: alguns mitos. Revista Forense, vol. 352, p. 118.
THEODORO JR., Humberto. Tutela de emergncia: antecipao de tutela e medidas cautelares. In: O
processo civil brasileiro no limiar do novo sculo, p. 76.
GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. Revista Jurdica, v. 305, p. 89.
COMOGLIO, Luigi. Giurisdizione e processo nel quadro delle garanzie constituzionali, p. 1.070.
O Ato Normativo Conjunto n 1/2005 do Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro dispe sobre
a eliminao de processos nos juizados especiais cveis. Art. 1 Os autos processuais findos dos Juizados
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devem ter a seu dispor meios adequados (effetivit tecnica) para a obteno
de um resultado til (effetivit qualitativa) e suficiente para assegurar aquela determinada situao da vida reconhecida pelo ordenamento jurdico
material (effetivit oggetiva).11
H de se reconhecer que o acesso ao procedimento sumarssimo est
longe do ideal. Com efeito, o art. 51, I, da Lei n 9.099/95 exige o comparecimento pessoal do autor audincia, sob pena de extino do processo.
Para se desenvolver uma tutela efetiva nos juizados especiais, preciso relativizar esse mandamento, de modo que a pessoa fsica portadora de
deficincia fsica ou impossibilitada de locomoo12 possa se fazer representar por preposto, como ocorre nos procedimentos sumrio (art. 277, 3) e
ordinrio (art. 331, do CPC).13
No entanto, h mais razes que recomendam a permisso de que qualquer pessoa possa se fazer representar por preposto. muito comum, no
mbito dos juizados especiais estaduais, a pessoa fsica demandar em face de
pessoa jurdica. Nesse caso, a pessoa fsica litigante eventual (possui uma
ou poucas causas nos juizados especiais) e precisa paralisar todas as suas atividades do dia em funo da audincia; enquanto a pessoa jurdica que, em
regra, litigante contumaz, est preparada para indicar qualquer pessoa
para atuar como preposto.14 A justificativa para que o autor comparea pessoalmente parece estar presa ao depoimento pessoal, mas muitas vezes um
empregado do autor ou mesmo um administrador de um imvel pode
conhecer muito melhor os fatos que o prprio titular do direito. Em uma
ao de responsabilidade civil por dano a veculo, o proprietrio do bem
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Especiais Cveis sero eliminados aps o prazo de 180 dias da data do arquivamento definitivo. No
clara esta regra do arquivamento definitivo (existe o provisrio?). Pior que o risco de os autos serem
destrudos aps sentena condenatria (antes de consumado o prazo prescricional) o desinteresse estatal em conservar a histria dos processos, que poderiam ser objeto de pesquisa futuramente.
Cf. MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Efetividade do processo e tcnica processual. In: Temas de Direito
Processual, Sexta Srie, p. 17 et seq.
Estabelece o Estatuto do Idoso (L. 10.741-2003) que o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana (art. 2) e que obrigao do Poder Pblico assegurar ao idoso, com absoluta
prioridade, a efetivao de seus direitos (art. 3).
Tema bem explorado por Mrcia Cristina Xavier de Souza, em Acesso Justia e Representao das
Partes nos Juizados Especiais Cveis, in: Direito Processual e Direitos Fundamentais, p. 161 et seq.
No sentido do texto, Mrcia Cristina Xavier de Souza, op. cit., p. 181.
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Art. 10. As partes podero designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou no.
No mesmo sentido: CMARA, op. cit., p. 22-23.
Tais rgos administrativos so as juntas administrativas de recursos de infraes JARI (cf. <http://
www.denatran.gov.br/jaris.htm>).
Parece-nos que a expresso litigiosidade contida introduzida no direito ptrio por Kazuo Watanabe,
em Filosofia e Caractersticas Bsicas do Juizado Especial de Pequenas Causas (in: Juizado Especial de
Pequenas Causas, p. 2).
Tendo em vista essa possibilidade, j houve at a alterao do valor do teto dos Juizados Especiais para
os municpios pela Emenda Constitucional n 37/2002: Art. 87. Para efeito do que dispem o 3 do
art. 100 da Constituio Federal e o art. 78 deste Ato das Disposies Constitucionais Transitrias sero
considerados de pequeno valor, at que se d a publicao oficial das respectivas leis definidoras pelos
entes da Federao, observado o disposto no 4 do art. 100 da Constituio Federal, os dbitos ou obrigaes consignados em precatrio judicirio, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salriosmnimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salrios-mnimos, perante a
Fazenda dos Municpios.
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Quem vivencia os juizados especiais cveis na atualidade pode constatar a violao flagrante do princpio da igualdade. No seria exagero dizer
que o ru j entra derrotado no procedimento sumarssimo, criando-se um
verdadeiro processo civil do autor.
Jos Igncio Botelho Mesquita sustenta a inconstitucionalidade de se
atribuir somente ao autor a opo de escolher entre o procedimento da
Justia Comum e o do Juizado Especial, porque este no se submete lei
(art. 5, II, CF), nem ao devido processo legal (art. 5, LIV e LV), mas jurisdio de eqidade (art. 6, Lei n 9.099/95).20
interessante notar que Alexandre Cmara considera que, pela mesma
razo, o procedimento sumarssimo no pode ser obrigatrio para o autor.21
Cndido Rangel Dinamarco defende esta posio, ao asseverar que no se
pode impor ao demandante uma espcie processual que, se de um lado lhe
oferece vantagens, de outro impe restries cognitivas que talvez no lhe
convenham. O demandante o nico rbitro dessa convenincia.22 No
entanto, ignorado o fato de que, uma vez eleita a via pelo demandante, o
ru acaba sendo obrigado a aceit-la. Cabe perguntar: por que no se pode
impor ao demandante determinado procedimento, mas o ru deve curvarse escolha do autor?
Ou seja: o autor, ao escolher o procedimento sumarssimo, promove,
em decorrncia da lei, um verdadeiro desequilbrio de foras, j que o ru
ter algumas garantias suas desprezadas. Assim, se o ru devedor solidrio, no poder promover o chamamento ao processo dos demais co-devedores no procedimento dos Juizados Especiais (art. 10 da Lei n 9.099/95),
garantia que lhe seria assegurada se demandado pelo procedimento ordinrio (art. 77, III, CPC). Pior: impede que este mesmo devedor ajuze uma
ao cautelar de arresto, caso os demais co-devedores estejam dando sumio aos bens, j que no ter ainda fundamento legal para propor uma
demanda principal. So esclarecedoras as palavras de Joel Dias Figueira
20
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MESQUITA, Jos Igncio Botelho. O Juizado Especial em face das garantias constitucionais. Revista
Jurdica, v. 330, p. 9 e 13.
CMARA, op. cit., p. 28.
DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de Direito Processual Civil, vol. III, p. 775.
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FIGUEIRA JR., Joel Dias. Primeira Parte: Juizados Especiais Cveis. In: Comentrios Lei dos Juizados
Especiais Cveis e Criminais, p. 217.
ANDRIGHI, Ftima Nancy. Parte I: Juizados Especiais Cveis. In: Juizados Especiais Cveis e Criminais,
p. 31.
CMARA, op. cit., p. 22-23.
ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cveis, p. 84.
Tal entendimento teve por base a interpretao literal do art. 105, III, da Constituio Federal, que trata
do cabimento do recurso especial contra as decises proferidas, em nica ou ltima instncia, pelos
Tribunais Regionais e pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal. No possuindo as Turmas
Recursais status de Tribunal, cristalizou-se o entendimento na Smula n 203, do STJ: No cabe recurso especial contra deciso proferida por rgo de segundo grau dos juizados especiais. H de se mencionar a sugesto feita, com razo, por Alexandre Freitas Cmara (op. cit., p. 159), para a Lei n 9.099/95,
no sentido de ser institudo um recurso de divergncia sempre que a Turma Recursal conferir lei interpretao divergente da que lhe houver atribudo outra Turma Recursal do mesmo Estado da Federao.
Cf. http://www.fonaje.org.br/.
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JOS MARIA ROSA TESHEINER, Sobre o nus da prova, in: Estudos de Direito Processual Civil:
homenagem ao Prof. Egas Dirceu Moniz de Arago, p. 359.
Cf. MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. nus da Prova no Direito Processual Pblico, item 5.3.4.
CMARA, op. cit., p. 9-10.
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com advogado.32 J o ru, temeroso de ter algum prejuzo no caso de procedncia do pedido do autor, v-se obrigado a contratar um advogado, que
ter de ser pago, ainda que saia vitorioso em primeiro grau. Assim, ousamos
afirmar que a gratuidade dos juizados especiais s existe para o autor.33
Parece que a nica vantagem para o ru de estar no procedimento
sumarssimo refere-se ao momento de apresentar a contestao, na audincia de instruo e julgamento. Mas tal vantagem configura um privilgio
injustificvel. Ora, a apresentao da contestao na audincia de instruo
e julgamento no s dificulta que a parte autora rebata adequadamente os
argumentos da parte r, como tambm impede que o conciliador fixe os
pontos controversos j na audincia de conciliao.34 Isso parece violar
tambm a garantia do contraditrio, no que se refere congruidade dos
prazos.35 No se compreende, portanto, o porqu de o ru ter o privilgio
de meses para apresentar uma simples contestao e de o autor ter de rebat-la imediatamente aps conhecer o seu teor.
Outras garantias que o ru teria fora dos Juizados Especiais lhe foram
retiradas, como prazos diferenciados (art. 9 da Lei n 10.259-01) e remessa
necessria (art. 13), no que se refere s pessoas jurdicas de direito pblico.
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Na reportagem de Laura Antunes A m-f que est por trs de aes que chegam aos juizados especiais (O Globo, 4/5/2005, p. 21), h o relato de que um cidado acabou preso, depois de tentar processar a mesma empresa de nibus 93 vezes. Em outro caso, conta-se que o dono de um gato pediu indenizao por danos morais em face de seu condomnio, pelo fato de seu animal ter se machucado ao cair
da varanda, fundamentando que deveria haver uma rede de proteo. Encontra-se ainda na mesma
reportagem a notcia de que, no XXI Juizado Especial da cidade do Rio de Janeiro, um rapaz pedia indenizao em face do motel, em virtude de ter falhado com a namorada, constrangido ao verificar que
o local no possua todo o conforto que dizia ter na propaganda.
de se observar que alguns Estados, como o de Santa Catarina e o de Mato Grosso, estabeleceram o
recolhimento de custas para as diligncias com Oficial de Justia. O Conselho Nacional de Justia tem,
no entanto, impedido tal cobrana (http://www.conjur.com.br/2007-jun-07/cobranca_taxa_juizados_especiais_ contraria_lei, consultado em 28 de maro de 2009).
O conciliador , muitas vezes, jogado nos juizados especiais sem um mnimo de preparo, com a misso de cumprir uma estatstica pr-determinada de acordos. No Rio de Janeiro, no h um curso prvio
para o conciliador aprender como tratar as partes. O seu preparo ocorre s avessas: primeiro analisado o seu desempenho estatstico: se for bom, far jus ao curso de instruo do conciliador; se for ruim,
ser descartado. A propsito, noticia Kazuo Watanabe em Relevncia poltico-social dos Juizados
Especiais Cveis (sua finalidade maior): Os conciliadores no esto recebendo, em vrios Estados, a
formao e o aperfeioamento necessrios, atravs de cursos, treinamentos e trocas de experincias (in:
Temas Atuais de Direito Processual Civil, p. 207).
Cf. GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. In: Revista Jurdica, v.
305, p. 72.
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A compatibilidade do recurso adesivo com o processo do trabalho, no qual os juizados especiais cveis se
inspiraram, aps alguma vacilao da jurisprudncia, est pacificada pela Smula n 283, do TST: O
recurso adesivo compatvel com o processo do trabalho e cabe, no prazo de 8 (oito) dias, nas hipteses
de interposio de recurso ordinrio, de agravo de petio, de revista e de embargos, sendo desnecessrio que a matria nele veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrria.
Nos Juizados Especiais Federais do Rio de Janeiro isso no ocorre: a audincia exceo. Os autos do
processo recebem apenas uma numerao. Verificamos, em setembro de 2005, que o tempo de espera
para a petio inicial ser distribuda de quatro meses.
MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. O futuro da justia: alguns mitos. Revista Forense, v. 352, p. 117.
O preparo um pressuposto de admissibilidade recursal e consiste no pagamento prvio das despesas
relativas ao processamento do recurso e das demais custas judiciais. O preparo, segundo Alexandre
Cmara (op. cit., p. 200), inibe a classe mdia de interpor recurso, mas no o pobre (que pode recorrer
gratuitamente), nem as empresas. Isto parece ser confirmado pela pesquisa de Paulo Cezar Pinheiro
Carneiro, Acesso Justia (p. 155), que observa ser a maioria dos recursos interposta pelas pessoas jurdicas, patrocinadas por advogados.
63
minao imediata dos autos o que afronta, sem d, o princpio da informalidade.44 Deve-se insistir na pergunta: por que no se pode intimar a
parte para completar o valor faltante? Basta que o 1 do art. 42 da Lei dos
Juizados Especiais seja combinado com o 2 do art. 511 do CPC, que ,
alis, norma posterior. No se venha com a exegese formal de que a Lei n
9.099/95 especial em relao ao Cdigo.45 As turmas recursais parecem
ignorar a doutrina.
Assim, resume Leandro Ribeiro da Silva o debate:
No mbito dos Juizados, existem duas interpretaes. A
primeira reside no fato de que pago a menos, no surte os efeitos devidos e o preparo se torna inexistente, considerando-se
deserto o recurso. Essa interpretao vem sendo mantida pelo
Conselho Recursal, tendo como suporte o Enunciado n 3, de
agosto de 1997, segundo o qual o no recolhimento integral do
preparo do recurso inominado, previsto no artigo 42, pargrafo
1, da Lei 9.099/95, importa desero. De acordo com a segunda interpretao, conserva-se o recolhimento, entendendo-se
como erro material e, como tal podendo ser retificado, assinalando-se o prazo de 48 horas para que o recorrente possa complement-lo. Se no o fizer, o recurso ser considerado deserto.
Entendemos que a segunda interpretao mais coerente e
justa, vez que possibilita que a deciso seja apreciada pelo rgo
recursal, tornando-se juridicamente mais consistente. Alm
disso, encontra agasalho no artigo 511, 2, do Cdigo de
Processo Civil.46 (grifo nosso)
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O princpio da informalidade parece ser o mais maltratado nos juizados especiais. Em nossa experincia forense, no Rio de Janeiro, j nos foi exigido pelo escrevente, para ajuizar a demanda, o comprovante do endereo do autor, sob pena de indeferimento da inicial havia o comprovante do endereo do
ru, que ficava no mesmo bairro do autor! Em outro caso, o escrevente afirmou que s com a apresentao de uma petio de juntada que se poderia anexar a procurao assinada pela parte. Solicitei,
ento, que ele me fornecesse uma folha em branco e, de punho prprio, requeri a juntada...
Partilham do mesmo inconformismo do texto: Alexandre Cmara (op. cit., p. 145-146) e Felipe Borring
Rocha (op. cit., p. 185).
SILVA, Leandro Ribeiro da. Comentrios aos artigos 41 a 59. In: Lei dos Juizados Especiais Cveis e
Criminais comentada e anotada, p. 143.
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SILVA, Luiz Cludio. Os Juizados Especiais Cveis na doutrina e na prtica forense, p. 66.
Assim, quando se tentou no ano de 2005 obter informao no portal do Tribunal de Justia do Rio de
Janeiro, no item que indicava o modelo de recolhimento de custas do Recurso Inominado no Juizado
Especial, aparecia o seguinte: Nos casos de ofcios expedidos, necessrio preencher outra GRERJ,
observando o modelo citao, notificao, intimao e encaminhamento de ofcios via postal (exceto
em juizado especial). Era de se estranhar que no modelo especfico de Recurso Inominado no Juizado
Especial estivesse escrito exceto em Juizado Especial. O caminho para o arquivo, dentro do da pgina principal do tribunal, era: Dvida sobre custas <preencha o sua GRERJ> Recurso inominado no juizado especial. Disponvel em: <http://www.tj.rj.gov.br>. Acesso em 15 jun. 2005.
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6. Concluses
Nosso pequeno estudo pretendeu enfrentar as seguintes questes: a)
at que ponto a busca de efetividade, trao marcante dos juizados especiais,
pode justificar o sacrifcio das garantias processuais das partes inerentes ao
procedimento ordinrio?; b) quais as garantias renunciveis pelas partes e
quais as garantias mnimas de um processo justo?; c) h paridade de armas
nos juizados especiais cveis? d) quais os principais defeitos do microssistema dos juizados especiais? e) pode o magistrado retirar das partes garantias
processuais, alm das que o legislador expressamente subtraiu? f) A idia de
um processo garantstico incompatvel com o procedimento sumarssimo,
j que necessita ser clere?
a) exceo da imparcialidade, do contraditrio e da ampla
defesa, pode o legislador subtrair todas as garantias do autor,
j que este pode optar pelo procedimento sumarssimo. Em
relao ao ru, nenhuma garantia prevista no procedimento
ordinrio lhe pode ser subtrada, pois ele no pode escolher
um procedimento mais garantstico;
b) todas as garantias podem, em tese, ser renunciadas, a no ser
as da imparcialidade, do contraditrio e da ampla defesa, que
constituem o ncleo mnimo do processo justo;
c) o princpio da paridade de armas no respeitado nos
Juizados Especiais podendo sustentar-se a existncia de um
verdadeiro processo civil do autor;
d) o microssistema dos Juizados Especiais apresenta defeitos em
inmeros pontos, como ocorre, por exemplo, com a supresso de instrumentos processuais, como a ao rescisria (art.
59 da Lei n 9.099/95) e o recurso contra sentena definitiva
nos Juizados Especiais Federais (art. 5 da Lei n 10.259/2001);
e) os direitos processuais que no forem expressamente proibidos pelo Estatuto dos Juizados Especiais no podem ser
suprimidos pelo magistrado no procedimento sumarssimo,
sob a alegao genrica de que h incompatibilidade. A apli66
67
7. Referncias bibliograficas
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8. Referncias eletrnicas
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http://www.tj.rj.gov.br.
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3
Os Juizados Especiais, a Insegurana
Jurdica e o Direito Medieval
Gustavo Santana Nogueira
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Acesso justia. 3. Os Juizados Especiais e a insegurana jurdica. 3.1. A ausncia de controle de legalidade das decises dos Juizados. 3.2. Consequncias da falta de controle. 3.3. Os enunciados e os encontros. 4. O direito medieval. 5. Concluso. 6. Bibliografia.
ESCALO Saldastes com o cu a dvida de vossas funes e com o prisioneiro a do vosso ministrio. Tenho-me esforado a favor do pobre gentil-homem at
onde minha modstia o permite, mas o meu irmo juiz estava to severo, que me
forou concluso de que ele , de fato, o Direito.
(William Shakespeare, Medida por medida)
1. Introduo
Institudos por fora das Leis ns 9.099/951 e 10.257/01, os Juizados
Especiais Estaduais e Federais, respectivamente, foram criados como
importantes mecanismos de facilitao do acesso justia.
Em que pese a ida do cidado a um sistema judicial mais simples e
informal ter sido de fato facilitado, somos cticos a respeito do tipo de justia que o Estado entrega a esse cidado no mbito dos Juizados Especiais.
No se pretende aqui, de forma alguma, criticar a idia inicial dos Juizados
Especiais, muito menos os seus juzes, que dia-a-dia deparam-se com uma
quantidade absurda de causas, mas sim criticar a total insegurana jurdica
provocada pela atual forma de pensar o Juizado e no Juizado, a edio
No objeto deste ensaio a anlise do sistema dos Juizados Especiais antes das citadas leis, em especial,
o Juizado de Pequenas Causas da Lei n 7.244/84.
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72
72
GRECO, Leonardo. Garantias constitucionais do processo: o processo justo. <http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=429>. Acesso em 06.02.09. No mesmo sentido so as lies de
Fernando Gama de Miranda Netto: deve-se indagar at que ponto se pode, em benefcio da celeridade e da efetividade, descurar-se de outras garantias processuais, que igualmente compem o modelo
constitucional de processo justo. NETTO, Fernando Gama de Miranda. Juizados Especiais Cveis entre
autoritarismo e garantismo. Revista de Processo 165. So Paulo: RT, 2008, p. 186.
73
2. Acesso justia
Como dito, os Juizados Especiais foram criados com objetivo de ampliar o acesso justia, de garantir ao cidado comum uma Justia clere e
informal, onde ele poderia ir sem advogado dependendo do valor da causa,
poderia narrar a sua pretenso oralmente ao serventurio, e acompanhar
seu processo gratuitamente. Porm isso no o suficiente para garantir o
acesso justia e concretizar o princpio previsto no art. 5, XXXV, da
Constituio do Brasil.
Acesso justia, na concepo tradicional de Mauro Cappelletti e
Bryant Garth, implica em se ter um sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litgios sob os auspcios do Estado
que, primeiro deve ser realmente acessvel a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.3 Aps ressaltarem
que a obra limita-se ao primeiro aspecto (acessibilidade) e exporem as barreiras que impedem o acesso justia, os autores tratam das solues prticas do problema do acesso justia, propondo trs solues, que so chamadas de ondas: assistncia judiciria para os pobres (primeira onda); representao dos interesses difusos (segunda onda); e um conjunto geral de instituies e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e
mesmo prevenir disputas nas sociedades modernas (terceira onda).4
Defendem os festejados autores a criao de procedimentos especiais
para as pequenas causas (reflexo da terceira onda), mas eles tambm falam
que garantir o acesso justia significa ter um processo justo. E o que vem
a ser um processo justo? aquele onde as garantias constitucionais so respeitadas, onde h condies necessrias e suficientes para uma justa resolu-
3
4
CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso justia. Traduo e reviso: Ellen Gracie
Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998.
CAPPELLETTI e GARTH, ob. cit.
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74
5
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74
COMOGLIO, Luigi Paolo. Garanzie costituzionali e giusto processo (modelli a confronto). Revista de
Processo 90. So Paulo: RT, 1998, p. 101.
... procedural due process issues arise when an individual or group is claiming a right to a fair process
in connection with their suffering a deprivation of life, liberty, or property. CHEMERINSKY, Erwin.
Constitutional law principles and policies, 3 edio. New York: Aspen Publishers, 2006, p. 579.
Dispe a Constituio que compete ao Superior Tribunal de Justia julgar, em recurso especial, as causas decididas, em nica ou ltima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territrios.
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Constituio claro, por qu uma smula? Agora, como pode uma smula
ser possivelmente interpretada de modo a admitir a interposio de Recurso
Especial contra acrdo de Turma Recursal se a Constituio no admite
recurso contra deciso que no seja de Tribunal?
De qualquer forma a interpretao perigosa era a seguinte: como a
Smula dispe que no cabe Recurso Especial contra deciso proferida por
Turma Recursal apenas nos limites de sua competncia, quando a deciso
proferida fosse fora dos limites da sua competncia, ou seja, ilegal, ela poderia ser impugnada por Recurso Especial. Em outras palavras, se o Juizado
Especial julgasse uma causa expressamente vedada por lei, como um divrcio, e a Turma Recursal confirmasse a referida deciso, seria possvel o
Recurso Especial. Por qu? Porque a deciso no est nos limites da competncia dos Juizados Especiais.
A nova redao suprimiu a expresso nos limites de sua competncia,
com o objetivo de deixar mais claro ainda que no possvel a utilizao de
Recurso Especial contra deciso de Turma Recursal, em hiptese alguma.8
A deciso de alterar a smula foi tomada em 23 de maio de 2002 quando do
julgamento, pela Corte Especial, do AgRg no Ag 400.076/BA, que teve
como Relator o Ministro Ari Pargendler. O Agravo Regimental em tela
impugnava uma deciso monocrtica proferida em um Agravo de
Instrumento. Essa deciso monocrtica, por sua vez, no conhecia do
Agravo de Instrumento interposto contra deciso que tambm no conheceu Recurso Especial interposto contra deciso de Turma Recursal. A deciso da Turma Recursal, que deu origem a todos esses recursos, extrapolou
o mbito da competncia estabelecida pela Lei n 9.099/95, vez que se trata
de causa de grande complexidade, envolvendo direito societrio e comercial e de reflexos patrimoniais de grande e imensurvel vulto.
No voto condutor o Ministro Ari Pargendler ressaltou expressamente
a possibilidade de uma m exegese concluir pela possibilidade de interposio de Recurso Especial contra deciso de Turma Recursal fora dos limites de sua competncia, razo pela qual votou pela reviso da smula, no
Nova redao da smula 203 do STJ: no cabe recurso especial contra deciso proferida, nos limites de
sua competncia, por rgo de segundo grau dos Juizados Especiais.
75
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que foi seguido pela maioria. O voto vencido, do Ministro Jos Delgado
revela sua preocupao com o fato das decises das Turmas Recursais ficarem sem nenhum tipo de controle de legalidade. Eis a ntegra do voto, que
merece a transcrio:
Sr. Presidente, minha preocupao que estamos tentando criar alguns aspectos burocrticos, processuais e recursais
para os juizados especiais. Devemos ter o mximo de cuidado
para no fugirmos da filosofia que orientou a criao do juizado especial: celeridade, desburocratizao e acessibilidade do
constituinte para a soluo dos litgios. A smula surgiu em
boa hora apregoando que quando os juizados especiais proferem as suas decises dentro dos limites de sua competncia no
cabe recurso especial, porque a inteno foi se esgotar no mbito dos juizados especiais a discusso sobre a potencialidade econmica da demanda. Eis a questo: e se a deciso dos juizados
especiais for proferida alm dos limites de sua competncia?
Nesse caso, teramos uma situao extravagante. Na verdade,
deve-se examinar caso a caso, apreciando de acordo com a
manifestao da parte, em situao concreta.
Penso que, no momento atual, foi aventada aqui, e creio
que com bons propsitos e com boa coerncia, a possibilidade
do mandado de segurana, porque, se o juizado especial se pronunciou alm de sua competncia, da competncia fixada,
trata-se de deciso teratolgica. uma deciso inexistente.
Sabemos, hoje, que o direito processual civil configura essa
catalogao do ato processual inexistente, em decorrncia de
quem, absolutamente, profere uma deciso. No temos nada a
modificar. Devemos manter a smula, como ela se encontra,
para valorizar a funo dos juizados especiais, e aguardarmos
cada situao concreta para a sua deciso.
Sr. Presidente, dou provimento ao agravo regimental.
Voto pela manuteno da smula.
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Percebe-se que o referido Ministro defende expressamente a impetrao de mandado de segurana, em que pese no explicitar de quem seria a
competncia para o seu julgamento, porm o ponto que nos interessa exatamente este: no pode uma deciso da Turma Recursal que extrapola os
limites de sua competncia, portanto uma deciso ilegal, ficar sem nenhum
tipo de controle. O Ministro Vicente Leal foi ainda mais direto ao expor,
tambm em voto vencido, que quando o juizado especial decide fora da sua
competncia, est ferindo, literalmente, a Lei n 9.099. Nesse caso, h de
prevalecer, nessa antinomia, o sentido maior de realizao da melhor
Justia, que o de dar ao cidado a garantia de que o seu direito seja preservado. Se assim no se decidir, os juizados especiais e as turmas recursais
ficaro livres de qualquer controle, porque no haver debate sobre questo constitucional. Ora, se o tribunal prprio para apreciar o controle da
dignidade da lei federal no toma conhecimento da matria por uma exegese restritiva, o cidado ficar sem Justia.9
Posteriormente, em 2006, a Corte Especial do STJ apreciou novamente a questo. Julgou o Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana RMS
n 17524/BA em 02 de agosto do citado ano, e a concluso a que chegou a
maioria foi compatvel com a minoria do julgamento de 2002. O relatrio
traz o histrico do caso concreto: um cidado ajuizou, em um dos Juizados
Especiais de Salvador, uma ao de conhecimento em face de uma pessoa
jurdica, objetivando a resciso contratual de compromisso de compra e
venda de bens imveis e a devoluo dos valores pagos a esse ttulo. O pedido foi julgado procedente e, em sede de execuo, foram penhorados dois
imveis de outra empresa que no era parte no processo. Essa empresa props embargos de terceiro perante o Juizado Especial que processou a causa,
mas o pedido fora rejeitado.
Interps ento apelao sustentando a incompetncia do Juizado
Especial para julgar os embargos porque o valor da execuo era de R$
176.994,97 (na poca o valor correspondia a 20 vezes o teto dos Juizados
Estaduais), e requereu a remessa do recurso para o Tribunal de Justia da
Bahia, mas ao recurso foi negado provimento, de modo que a sentena dos
Ao final a smula foi mesmo revista pela Corte Especial, por 15 votos a 3.
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embargos de terceiro foi confirmada e foi ainda determinado o prosseguimento da execuo. Foi ento impetrado mandado de segurana contra o
acrdo da Turma Recursal no Tribunal de Justia da Bahia, e o Tribunal
denegou a ordem ao argumento de que falece competncia a ele para rever
decises prolatadas pelos Juizados Especiais. Essa deciso foi impugnada
com o Recurso Ordinrio, que foi relatado pela Ministra Nancy Andrighi.
Em seu voto ela distingue o caso que estava julgando dos demais que costumam/costumavam chegar ao STJ, dizendo que no pretendia o recorrente
discutir o mrito da deciso dos Juizados, mas sim a competncia dos
Juizados para apreciar a causa.10 O Superior Tribunal de Justia aceitou a
impetrao de mandado de segurana para discutir a competncia dos
Juizados, ao argumento, trazido no voto condutor, de que as decises que
fixam a competncia dos Juizados Especiais no podem restar absolutamente desprovidas de controle, seja pelos Tribunais dos Estados (ou Federais,
conforme o caso), seja por parte desta Corte. Estender o entendimento de
que no possvel o controle das decises proferidas pelos Juzes e Turmas
Recursais dos Juizados Especiais s hipteses de fixao de sua competncia
conduziria a uma situao teratolgica e extremamente perigosa. Com efeito, um Juiz, atuando no mbito do Juizado Especial, poderia, equivocadamente, considerar-se competente para julgar uma causa que escapa de sua
alada e, caso tal deciso fosse confirmada pela Turma Recursal, parte prejudicada restaria apenas a opo de discutir a questo no Supremo Tribunal
Federal, por meio de Recurso Extraordinrio. Dadas as severas restries
constitucionais e regimentais ao cabimento desse recurso, em muitos casos
a distoro no seria passvel de correo, em prejuzo de todo o sistema
jurdico-processual.
Assim, na ementa, o STJ estabeleceu que:
A autonomia dos juizados especiais, todavia, no pode
prevalecer para a deciso acerca de sua prpria competncia
para conhecer das causas que lhe so submetidas. necessrio
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Trecho do voto: ...o controle que se procura fazer no da deciso, propriamente, mas da possibilidade de ela ser proferida por um membro dos Juizados Especiais.
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1 Seo, AgRg na Rcl 2704/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 31.03.2008.
Consulte-se, por todos, o acrdo do Recurso Especial 1036589/MG, 1 Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
05.06.2008.
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STJ para controlar as decises de Juizados Estaduais sobre a aplicao de direito federal. Isso faz com que tais Juizados, no mbito da sua competncia, representem a palavra final sobre a interpretao de lei federal, mesmo quando contrria jurisprudncia do STJ, tribunal nacional com atribuio constitucional de
manter a integridade e a uniformidade do sistema normativo
federal. No mbito dos Juizados Especiais Federais foi criado
mecanismo prprio para evitar tal deformao. o incidente de
uniformizao de jurisprudncia previsto no artigo 14, 4, da
Lei 10.259/01. No mbito Estadual, todavia, enquanto no houver normatizao especfica, pode-se imaginar que soluo
semelhante seja adotada, ainda que por aplicao analgica, no
mbito dos Juizados Estaduais da Lei 10.259/01, como meio de
preservar a uniformidade da aplicao do direito federal, exigncia no apenas da segurana jurdica, mas sobretudo do postulado constitucional da igualdade de todos perante a lei.
Verifica-se claramente que a questo tormentosa, em que pese a
deciso de 2006 da Corte Especial. Neste julgado mais recente certo que
no se fez a reviso do mrito da deciso dos Juizados, mas um bvio descontentamento com a situao foi externado. Se esse desconforto vai ficar
no campo das palavras s o tempo poder dizer, e nos estreitos limites deste
trabalho no nos cabe fazer qualquer prognstico.
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gar: por qu os cidados em geral tm que pagar e uma pessoa especificamente, aquela parte no AgRg na Rcl 2704/SP, est isenta do pagamento? Os
malefcios da falta de controle vo alm, atingindo at os casos julgados
pelos prprios Juizados, sem que se faa necessria uma comparao externa (Juizados x Justia comum), para percebermos que o propagado acesso
justia vem sendo sistematicamente negado nos Juizados Especiais.
Um caso emblemtico e comum nos Juizados diz respeito multa
(astreinte), imposta para compelir o devedor a cumprir uma obrigao de
fazer. Est ela ou no sujeita ao teto de 40 salrios mnimos dos Juizados
Especiais Estaduais? Independentemente do caso concreto, da condio
econmica do credor e do devedor, da obrigao a ser cumprida, do tempo
em que a multa incidiu etc., trata-se de matria de direito. Podem mudar os
detalhes do caso concreto, mas a matria continuar sendo de direito e a
soluo a ser dada a ela, deve/deveria ser uniforme. Isso acesso justia
tambm. Infelizmente o que se v so decises completamente discrepantes, mesmo que a multa esteja prevista em lei desde 1990 (Cdigo de Defesa
do Consumidor, art. 84) e 1994 (Cdigo de Processo Civil art. 461), provocando insegurana jurdica no jurisdicionado e violao ao princpio constitucional da igualdade.
Assim, se em uma ao de obrigao de fazer a multa diria acumulada de Jos, um autor fictcio, ultrapassa o teto de 40 salrios mnimos, como
explicar para Joo, outro autor fictcio, que no seu caso o Juiz determinou a
reduo da multa que j incidiu exatamente porque ultrapassou o teto de 40
salrios mnimos? O problema que essa desigualdade de tratamento ocorre todos os dias nos diversos Juizados espalhados pelo Brasil, quando a lei
que pretende dar a resposta a essa questo federal e, portanto deve (ou
deveria) ter aplicao uniforme.
O Superior Tribunal de Justia j se pronunciou sobre a questo, decidindo que o valor da multa cominatria pode ultrapassar o valor da obrigao a ser prestada, porque a sua natureza no compensatria, no objetiva ressarcir, mas persuadir o devedor a realizar a prestao devida.13 De
fato, se a multa coercitiva, ou seja, serve para pressionar o devedor ao
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A fundamentao das decises judiciais, em que pese ser obrigatria por fora da Constituio, nem
sempre respeitada, e nas decises que fixam o valor da multa muito menos, o que lamentvel, j que
pela fundamentao que o Juiz explica a todos a razo pela qual fixou a multa em X, e no em 2X.
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E viva o no cumprimento das decises judiciais e das obrigaes! Com a complacncia desse argumento... Segundo Augusto Mario Morello no es, por ende, suficiente, para disponer del proceso justo, contar con un juez en Berln imparcial y transparente, com la debida audiencia, con el ofrecimiento y
prctica de la prueba pertinente, con la alegacin sobre su mrito, con el dictado de una sentencia adecuadamente motivada, con poder para impugnarla y, firme, llevar adelante su ejecucin. Es tambin
imprescindible que la condena, el mandato jurisdiccional, satisfaga mediante su ntegro cumplimiento
el inters especfico del litigante ganador, en un plazo razonable. La eficacia del proceso, 2 edio.
Buenos Aires: Hammurabi, 2001, pp. 48-49. Os destaques no constam do original.
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Ocorre que essa nova realidade pressupe que o juiz, individualmente, sinta-se parte da estrutura propulsora da interpretao, no seu opositor. Deve ver na deciso uniformizante uma
regra de direito para o bem da realidade jurdica e da prpria
estrutura judicial da qual faz parte, no uma camisa de fora.
.....
Isso equivale a dizer que o juiz consciente do seu papel
deve pautar suas aes de acordo com a cpula da estrutura
judicial como se obrigao houvesse, mesmo que contrrio
sua prpria convico. Isso no significa estar tolhido da sua
liberdade de decidir, e sim ter noo de que parte de uma
estrutura que deve ter uma s viso sobre determinados temas
(em que a divergncia seja infundada), sob pena de contribuir
com a desigualdade e a incerteza jurdica. Esse um reflexo do
carter pblico da jurisdio.16
A prtica, no entanto diferente, submetendo a parte a um verdadeiro e lamentvel jogo de azar, pois a deciso sobre o limite da multa diria
fica na dependncia da distribuio do caso concreto a um determinado
Juizado. Enfim, o valor da multa que j incidiu e se tornou elevado deve ou
no ser reduzido com eficcia ex tunc?
Em um caso especfico havia um credor de uma multa que, acumulada, chegou a R$ 46.204,04, em razo do descumprimento da obrigao por
parte da empresa condenada por sentena. Uma das Turmas Recursais do
Estado do Rio de Janeiro determinou a reduo do valor dessa multa para
R$ 10.000,00.17
Outro credor de uma multa que chegou a R$ 42.050,00, tambm em
razo do descumprimento da obrigao por parte da empresa r viu a
Turma Recursal reduzir seu valor para R$ 15.000,00.18
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Isso se deve ao vcuo de poder que o prprio Superior Tribunal de Justia entendeu existir. A partir
do momento em que o STJ entendeu que no dado a ele controlar a legalidade das decises dos
Juizados, algum tinha que assumir esse papel. Como no cabe recurso especial nem ao rescisria, a
soluo so os Enunciados, mas que no corrigem violaes da lei federal.
MONTEZ, Marcus Vincius Lopes e NOGUEIRA, Gustavo Santana. A smula vinculante n 10: tautologia ou inovao? Trabalho no publicado.
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4. O direito medieval
Infelizmente o que se v atualmente nos Juizados Especiais nos lembra
muito as caractersticas do direito medieval, praticado entre os sculos V e
XV d.C, poca em que inexistia o Estado, pelo menos na concepo de
Estado que temos hoje.27 A idade mdia notabilizou-se pela territorialidade
das leis, onde em cada feudo vigorava a sua prpria legislao, aplicvel a
todos os casos a acontecidos e a todas as pessoas que a estivessem, qualquer
que fosse a sua nacionalidade, vivessem ou no habitualmente no lugar.28
No vemos quadro comparativo mais adequado do que este apresentado. A realidade dos Juizados Especiais no difere muito do que se fazia na
Idade Mdia. Cada Juizado Especial, cada Turma Recursal, possui uma lei
processual prpria (uma Lei n 9.099/95 prpria), e no raro, o direito
27
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In an epoque without states, this is a strong indication how the perception of space changed, intensified and led to the concept of territory. Caspar Ehlers, Law and territory the case of Saxony in the
early middle ages. Disponvel em: http://141.2.146.53/fileadmin/downloads/rg13_abstracts.pdf. Acesso
em 01.01.2009. Consulte-se tambm: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude. Dicionrio temtico do ocidente medieval, volume I. Coordenador da traduo: Hilrio Franco Jnior. So Paulo:
EDUSC, 2002, pp. 347-349.
Walter Vieira do Nascimento. Lies de histria do direito, 13 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
138, citando Ferreira Coelho.
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5. Concluso
Calmon de Passos resumiu, com o brilho de sempre, o que tentamos
expor nesse trabalho:
... atribui-se aos magistrados com exerccio nos Juizados
Especiais o direito de desrespeitar a lei federal e de lhe dar a
interpretao que bem lhes aprouver, podendo apoiar-se em
falsa prova, ter sido peitado ou estar impedido para julgar o
feito, visto como inadmissvel a rescisria das decises transitadas em julgado.30
Os Princpios de Conduta Judicial de Bangalore, que vem a ser um projeto de Cdigo Judicial de mbito global elaborado com base em outros
cdigos e estatutos, nacionais, regionais e internacionais, sobre o tema, dentre eles a Declarao Universal dos Direitos Humanos, da ONU. Essa declarao de direitos prev um julgamento igualitrio, justo e pblico, por tri-
29
30
Alcindo Muniz de Souza. Histria medieval e moderna. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1953,
p. 67.
Jos Joaquim Calmon de Passos. A crise do poder judicirio e as reformas instrumentais: avanos e
retrocessos. Revista Dilogo Jurdico, Salvador, CAJ Centro de Atualizao Jurdica, v. I, n 4, julho,
2001. Disponvel em: http://www.direitopublico.com.br. Acesso em: 13.01.2009.
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bunal independente e imparcial, princpio de aceitao geral pelos EstadosMembros, e o responsvel por sua elaborao o Grupo de Integridade
Judicial (The Judicial Integrity Group), ligado ONU. So 6 os valores
defendidos pelo documento (independncia, imparcialidade, integridade,
idoneidade, igualdade e competncia e diligncia), e o terceiro, integridade, possui a seguinte redao:
A integridade essencial para a apropriada desincumbncia dos deveres do ofcio judical.31
Ao interpretar o valor integridade o documento taxativo ao afirmar
que quando um juiz transgride a lei, pode levar o gabinete judicial mreputao, encorajar o desrespeito lei e enfraquecer a confiana pblica
na integridade do prprio Judicirio.32 As excees do dever de respeitar a
lei previstas no documento so limitadas aos casos em que as leis so contrrias aos direitos humanos bsicos e dignidade humana, onde constam
dois exemplos: as leis do regime nazista alemo e do apartheid sul-africano.
Nada a ver com os Juizados, que no pode ser um feudo, no pode ter leis
prprias. O Juiz do Juizado no pode ser um senhor feudal. No esse o
modelo ideal de acesso justia. a nossa modesta opinio.
6. Bibliografia
CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso justia. Traduo e reviso: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris,
1998.
CHEMERINSKY, Erwin. Constitutional law principles and policies, 3 ed.
New York: Aspen Publishers, 2006.
COMOGLIO, Luigi Paolo. Garanzie costituzionali e giusto processo
(modelli a confronto). Revista de Processo. So Paulo: RT, 1998, n 90.
31
32
90
Naes Unidas (ONU). Escritrio Contra Drogas e Crimes (Unodoc). Comentrios aos Princpios de
Bangalore de Conduta Judicial. Traduo de Marlon da Silva Malha e Ariane Emlio Kloth. Braslia:
Conselho da Justia Federal, 2008, p. 87.
Idem, p. 90.
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4
Conciliao, Juzes Leigos e
Uniformizao de Jurisprudncia:
Instrumentos para o Enfrentamento
da Demanda nos
Juizados Especiais Cveis
Jos Guilherme Vasi Werner
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Os instrumentos para enfrentamento da demanda nos
Juizados Especiais Cveis. 2.1. A conciliao e a participao dos juzes leigos. 2.2. A uniformizao da jurisprudncia. 3. Concluso.
1. Introduo
A experincia dos Juizados Especiais, iniciada em carter informal e
acolhida pelo constituinte e pelo legislador ordinrio que regulamentou o
art. 98, I, da Constituio, j acumula treze anos de adaptaes, tentativas,
erros e sucessos de seus operadores. Uma grande produo doutrinria e
jurisprudencial pde ocorrer nesse perodo, com grande contribuio para
a consolidao dessa nova Justia.
Em um primeiro momento, pelo menos no mbito dos Judicirios estaduais que logo se dedicaram tarefa de implantar os novos rgos, os esforos foram concentrados na emancipao do novo procedimento das tcnicas e tradies largamente praticadas na Justia Comum, vistas como entraves ao cumprimento dos anseios do legislador e do constituinte quanto
viabilizao de uma prestao jurisdicional clere, informal e, por isso
mesmo mais eficiente.
A despeito do relativo atraso de alguns tribunais estaduais em criar e dispor tais rgos de meios materiais e institucionais para o atendimento de seus
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fins, essa primeira etapa vem sendo cumprida com o auxlio do Conselho
Nacional de Justia que, exercendo uma de suas verdadeiras atribuies, atua
no sentido de estabelecer, com base nas prticas mais bem sucedidas, normas
e procedimentos gerais para a operao dos Juizados Especiais.
O segundo momento, marcado pelo sucesso do empreendimento em
grandes centros da vida nacional, caracterizou-se pela exponenciada majorao das quantidade de aes individuais propostas, sem que o sistema estivesse capacitado para receber esse influxo, ao contrrio do que se supunha
pela exaltao das propriedades da celeridade do rito.
Em nossa viso, os Juizados Especiais Cveis vivem agora o seu terceiro momento. Circunstancialmente, ele no se distancia do segundo, j que
o volume da demanda e as deficincias das unidades mantm o sentimento
de frustrao em face do malogro das expectativas despertadas. O marco
desse tempo atual encontrado no plano subjetivo, na conscincia de que
as iniciativas mais bvias para o problema, como a criao de novos rgos
e a alocao de mais recursos humanos e materiais, no so suficientes,
sendo preciso atuar em todos os espaos e em todas as etapas do processo,
bem como na capacitao de todos os seus agentes, para que a soma dessas
intervenes possa resultar no melhor desempenho global.
Muitas e boas idias foram desenvolvidas e colocadas em prtica a partir dessa conscientizao. J tivemos oportunidade de participar do esforo
do Conselho Nacional de Justia no diagnstico dos principais problemas a
serem enfrentados, destacando-se a necessidade de padronizao de mtodos e rotinas de trabalho, a capacitao de servidores, conciliadores e juzes
leigos, sem falar do problema das instalaes e dos recursos materiais.
A partir da, a experincia e a dedicao dos Juzes serviram de base
para a criao de alguns procedimentos e mtodos de trabalho que podem
contribuir para afastar alguns dos entraves que atualmente prejudicam o
bom andamento dos processos no sistema dos Juizados Especiais Cveis.
Estamos convencidos de que no obstante todos esses mtodos e procedimentos devam ser incentivados, aprimorados e consolidados, pois de todos
eles sero extrados importantes benefcios para o aperfeioamento da prestao jurisdicional em cada uma de suas etapas, nenhum deles , pelo menos
se considerado individualmente, significativo para o tratamento mais eficaz
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Isso significa que, para evitar o congestionamento, isto , para conseguir lidar com essa demanda sem que haja uma crescente acumulao de
processos no solucionados, seria necessrio que cada um desses Juizados
solucionasse igual nmero de processos no perodo de um ms, o que implicaria na meta de 71 (setenta e um) processos por dia.
importante considerar que, por conta do rito concentrado da Lei
n 9.099/95, a soluo de um processo no Juizado Especial Cvel, na fase de
conhecimento, depende, caso no haja conciliao ou ausncia de partes
devidamente intimadas, de uma audincia de instruo e julgamento. por
isso que o procedimento bsico de um Juizado Especial Cvel para enfrentar a demanda regular consiste em ajustar o nmero de audincias designadas conforme a distribuio mensal.
Fica fcil perceber que, inexistindo conciliao, o esforo a ser aplicado em cada um desses Juizados para atender a demanda envolveria a realizao e concluso de 71 (setenta e uma) audincias de instruo e julgamento (AIJs) diariamente.
Mesmo descontada a mdia estatstica de 23% de audincias no realizadas por diversos motivos,2 ainda seriam 55 (cinquenta e cinco) audincias
de instruo e julgamento a realizar e concluir.
Ora, se um bom juiz capaz de realizar e concluir cerca de dez (10)
AIJs por dia (duzentas por ms) e um juiz realmente operoso consegue realizar quinze 15 (quinze) AIJs por dia (trezentas por ms), seria preciso, com
esses nmeros, que os responsveis pela administrao providenciassem,
para alm do espao fsico e sua estrutura mobiliria e material, pelo menos
5 (cinco) juzes e seus respectivos auxiliares para dar conta dessa meta.
Trata-se de uma tarefa, se no impossvel, absurdamente custosa para
os tribunais.
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ciliador e o juiz leigo, quando acionados e operados de forma eficaz, representam fatores divisores e multiplicadores que, atuando sobre as variveis da
frmula acima descrita interferem diretamente na sua soluo. Vejamos.
Fazendo ainda uso dos dados referentes aos Juizados Cveis do Frum
Central da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, temos que o
percentual mdio de acordos de 20% (vinte por cento).3 Havendo acordo,
com ele e a respectiva homologao por sentena do juiz encerra-se a fase
de conhecimento, dispensando-se a AIJ. Em outras palavras, com o funcionamento regular da conciliao nos juizados em exame, j h uma reduo
estatstica de 20% no nmero de AIJs necessrias para o atendimento da
demanda. De 55 (cinquenta e cinco) AIJs por dia, esse nmero cai para 44
(quarenta e quatro) AIJs dirias, o que ainda exigiria a presena de pelo
menos 3 (trs) juzes operosos para conclu-las.
Nesse ponto que entram em cena os juzes leigos. Advogados, investidos na funo de auxiliares da Justia (art. 7, Lei n 9.099/95), os juzes
leigos podem figurar como rbitros escolhidos pelas partes (art. 24, caput e
1 e 2, Lei n 9.099/95) e esto autorizados a realizar a instruo do processo, presidindo a AIJ, e a proferir deciso a ser homologada pelo juiz de
direito (art. 40, Lei n 9.099/95).
Ao realizarem a instruo do processo, substituindo os juzes togados
nas AIJs, os juzes leigos contribuem no s para a reduo do servio judicial, mas para a multiplicao desse servio. No primeiro caso, aliviam o juiz
togado do esforo de realizao de um grande nmero de AIJs que, antes
dos juzes leigos, s por eles poderiam ser realizadas. Consequentemente, se
no permitem a reduo do tempo de curso do processo, permitem pelo
menos a melhor adequao do tempo do juiz togado aos servios requisitados pela demanda regular de um Juizado Cvel. No mais, a participao dos
juzes leigos no processo enseja uma verdadeira multiplicao dos resultados da prestao da jurisdio final pelo juiz togado, ao menos no que se
refere fase de conhecimento, j que um nico entendimento do magistra-
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poderiam lidar com a demanda regular. Com os juzes leigos, 3 (trs) deles
dariam conta confortavelmente da tarefa.
No se diga que um tal ndice inalcanvel, pois durante muito
tempo um dos Juizados Especiais Cveis da Capital, situado em um dos
fruns regionais, e com o mesmo perfil de demandas dos Juizados do Frum
Central (90% de causas envolvendo relao de consumo) conseguiu atingir
essa proporo e hoje mantm um resultado de cerca de quarenta e cinco
por cento (45%) de acordos.4
De todo modo, um ndice de conciliao de cerca de 50% dos feitos
no fcil de ser alcanado dentre processos em que figuram pessoas jurdicas como rus, principalmente quando so fornecedoras de produtos e
servios que freqentam assiduamente os Juizados Especiais. Em princpio,
buscam protelar ao mximo ( claro que dentro da legalidade e sem que se
possa falar em m-f processual) o desembolso de quantias que muitas vezes
sabem que sero condenadas a pagar.
A parte r pessoa fsica, que geralmente no coincide com um litigante habitual, no costuma fazer planejamentos contbeis a ponto de se preocupar em retardar o desembolso para obter uma vantagem financeira. Quer,
no mais das vezes, resolver logo a pendenga e se livrar do processo do modo
mais fcil. Por isso tende a ser mais suscetvel ao acordo.
Mesmo assim, a maior dificuldade de celebrao de acordos com pessoas jurdicas que figuram como rus habituais, pode ser minimizada com
ateno e preparo especficos para a conciliao no tipo de conflito em que
se envolvem. Abordar esses rus da mesma forma como se aborda um ru
que seja um mero litigante eventual um erro.
Entende-se que o investimento na conciliao deve ser feito sobretudo por meio da promoo de cursos de treinamento e aprimoramento e do
acompanhamento pessoal dos conciliadores pelo juiz responsvel pelo
Juizado. No caso de Juizados com distribuio comum e situados em um
mesmo local, o ideal que a equipe de conciliadores seja uma s e que
tenham superviso nica.
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3. Concluso
Enquanto a demanda pela prestao jurisdicional nos Juizados Especiais
no d sinais de arrefecimento, a conciliao, a participao de juzes leigos
e a uniformizao de jurisprudncia que se apresentam como as formas
mais eficientes de seu tratamento. Em nosso entender, para alm do processo eletrnico um das mais promissoras ferramentas atualmente disposio do Judicirio, a interveno da administrao dos tribunais nos Juizados
Especiais deve ser concentrada nesses instrumentos e procedimentos que,
como mostram os nmeros, so aqueles que podem contribuir mais significativamente para a agilizao do processo nos Juizados Especiais Cveis.
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II
Ao e Competncia
nos Juizados Especiais Cveis
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5
Consideraes em Torno de Algumas
Questes Polmicas
no mbito dos Juizados Especiais
Aluisio Gonalves de Castro Mendes
Joo Bosco Won Held Gonalves de Freitas Filho
1. Introduo
Tornou-se lugar comum a elaborao de estudos de temas de direito
processual luz do postulado do acesso Justia,1 porquanto um dos esteios
sagrados da moderna processualstica a busca por eficazes instrumentos
(estatais ou no) que propiciem o acesso ordem jurdica justa,2 com vistas a dar ao cidado quilo que efetivamente lhe pertence, em termos de
direito substancial.
Nesse particular, esquadrinhar um sistema que, de um lado, seja menos
burocratizado e custoso para o cidado e, de outro, mais clere e prximo
do jurisdicionado, uma das facetas do movimento do acesso Justia. Sob
o ponto de vista do processo e no apenas de Justia como instituio, bus-
1
2
CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryan. Acesso justia. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002.
WATANABE, Kazuo. Acesso justia e sociedade moderna. In: Participao e processo. GRINOVER,
Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel; WATANABE, Kazuo (Coord.) So Paulo: Revista dos
Tribunais, 1988, p. 128.
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Aluisio Gonalves de Castro Mendes e Joo Bosco Won Held Gonalves de Freitas Filho
108
A expresso deformalizao do processo foi difundida no campo jurdico, no Brasil, por Ada Pellegrini
Grinover, atravs do texto intitulado deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias,
fruto do relatrio brasileiro para o tema Alternativas informais para procedimentos formais, do VII
Congresso Internacional de Direito Processual em Utrecht, em agosto de 1987. Cf. GRINOVER, Ada
Pellegrini. Deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias. Revista de Informao
Legislativa, Braslia, ano 25, n 97, 191-218, jan./mar., 1988. O texto tambm pode ser encontrado na
seguinte referncia: GRINOVER, Ada Pellegrini. Deformalizao do processo e deformalizao das
controvrsias. In: Novas tendncias do direito processual. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria,
1990. De todo modo, a deformalizao do processo implica a utilizao da (...) tcnica processual em
busca de um processo mais simples, rpido, econmico, de acesso fcil e direto, apto a solucionar com
eficincia tipos particulares de conflitos de interesses (GRINOVER, Ada Pellegrini. Deformalizao do
processo e deformalizao das controvrsias. Revista de Informao Legislativa, Braslia, ano 25, n 97,
191-218, jan./mar., 1988, p. 195).
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Aluisio Gonalves de Castro Mendes e Joo Bosco Won Held Gonalves de Freitas Filho
em 1988, no incio da dcada de oitenta do sculo passado, a sociedade brasileira conheceu a faceta mais democrtica do Judicirio, atravs da implantao concreta dos juizados de pequenas causas.
oportuno ressaltar que a institucionalizao dos juizados de pequenas causas se deve, sobretudo, pela experincia anterior dos Conselhos de
Conciliao e Arbitragem no Rio Grande do Sul, a partir de 1982. A idealizao e concretizao deste ambicioso projeto de justia coexistencial foi
capitaneada pela Associao dos Juzes do Rio Grande do Sul AJURIS, que
contou com a colaborao de inmeros atores sociais, como magistrados,
advogados e auxiliares da Justia.5
Esses Conselhos no integravam a estrutura orgnica do Poder
Judicirio, tampouco havia qualquer regra formal que regulamentasse suas
atividades.6 Da a natureza destes juzos informais de meios alternativos
de soluo de controvrsia.
De modo geral, o projeto dos juzos informais no Rio Grande do Sul e,
posteriormente, em outros estados foi exitoso. A experincia serviu para
que o Ministrio da Desburocratizao canalizasse esforos na busca da
normatizao dos juizados de pequenas causas, o que se deu atravs da Lei
n 7.244/1984.
Os juizados de pequenas causas, inspirados, em alguma medida, na
Small Claims Court do direito norte-americano, buscavam, ao menos num
110
Os conselhos de Conciliao e Arbitramento, que foram chamados popularmente de Juizado de Pequenas Causas, surgiram em Rio Grande, em 23 de julho de 1982, sob a responsabilidade do Juiz Antnio
Tanger Jardim, na poca titular de uma das Varas Cveis daquela localidade, e com o apoio da Associao dos Juzes do Rio Grande do Sul Ajuris. Tendo sido a experincia bem-sucedida tambm em
outros Estados da Federao (PINTO, Oriana Piske de Azevedo Magalhes. Abordagem histrica e
jurdica dos juizados de pequenas causas aos autuais juizados especiais cveis e criminais brasileiros.
Disponvel em: <www.tjdft.jus.br/trib/bibli/docBibli/ideias/AborHistRicaJurDica.pdf>. Acesso em 06
de maro de 2009, p. 8).
Ada Pellegrini Grinover traa um panorama do movimento: Os Conselhos ou Juizados de
Conciliao so rgos no jurisdicionais, compostos por conciliadores honorrios, recrutados entre
advogados, membros do Ministrio Pblico, advogados do Estado e juzes aposentados, todos voluntrios, mas tambm estimulados pelo fato de seu servio ser considerado de relevncia social, o que no
Brasil pode acarretar vantagens funcionais. As instalaes utilizadas so as dos tribunais, inclusive dos
foros descentralizados, localizados nos bairros da grandes cidades, em horrio noturno (aps as 18
horas), para as sesses de conciliao. Mas se estende pelo dia todo o trabalho de orientao jurdica aos
interessados que, conforme o caso, so encaminhados aos rgos competentes, inclusive da assistncia
judiciria, para a soluo de questes no afetas justia conciliativa. A estrutura administrativa dos
Juizados fornecida pelo Poder Judicirio (GRINOVER, op. cit., p. 209).
111
Conforme escreve Joo Geraldo Piquet Carneiro, que dirigiu a comisso que elaborou o anteprojeto que
deu origem Lei n 7.244/1984, (...) a preocupao central que orientou a criao de Juizados de
Pequenas Causas foi ampliar o acesso Justia mediante a criao de um sistema judicial completo, o
mais auto-suficiente possvel que no se confundisse, nem em termos processuais nem do ponto de vista
da organizao e do equipamento humano, com os demais procedimentos e rgos da Justia comum.
Adiante salienta o autor: no se cogitou, poca, de combater a morosidade e o congestionamento do
Judicirio problemas que ainda no tinham assumido a dimenso dramtica atual. Ao contrrio, o
quadro que se desenhava poca era o de litigiosidade contida, como nos lembrava Kazuo Watanabe
nas reunies da comisso que elaborou o anteprojeto de lei dos Juizados de Pequenas Causas. Bem diferente do quadro de litigiosidade explosiva que se vive hoje (CARNEIRO, Joo Geraldo Piquet.
Estratgia de aperfeioamento e consolidao dos Juizados Especiais Cveis. Revista do Advogado, So
Paulo, v. 24 , n 75, p. 34-37, abr. 2004, p. 34).
Joo Marques Brando Neto salienta que (...) os Juizados Especiais sempre existiram na seqncia histrica que vem dos visigodos at nossos dias. Mesmo sendo extintos em alguns momentos, voltaram,
ora apenas no direito, ora no direito e nos fatos. A partir de 1988 passaram a ser efetivamente implantados na prtica e a demanda se fez sentir (BRANDO NETO, Joo Marques. Juizados Especiais: a
fnix da justia ibero-brasileira. Boletim cientfico da Escola Superior do Ministrio Pblico da Unio,
Braslia, v. 4, n 16, p. 263-277, jul./set., 2005, p. 277). O articulista sustenta, ainda, que a partir do seu
ressurgimento na Constituio de 1934, os juizados de pequenas causas sempre tiveram presena marcante nos textos das Constituies subseqentes, tendo superado, inclusive, dois regimes ditatoriais, o
de 1937 e o de 1964 (Ibidem, loc. cit.).
FABRCIO, Adroaldo Furtado. A experincia brasileira dos juizados de pequenas causas. Revista de
Processo, So Paulo, n 101, p. 175-189, jan./mar., 2001
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c) contemplou mais um auxiliar da justia no mbito dos juizados, qual seja, o juiz leigo;
d) proporcionou a atividade executiva pelo prprio juizado,
vedao expressamente prevista no antigo sistema em sua
forma originria, de modo que, poca, necessrio se fazia a
execuo na justia tradicional;10
e) ampliou o espectro de atuao do juizado para as causas
cveis de menor complexidade, enquanto a Lei dos Juizados
de Pequenas Causas apenas previa a competncia para causas cveis de pequeno valor.
Com vistas a atender ao comando constitucional do inciso I do art. 98
veio a lume a previso da Lei n 9.099/1995, implementando os juizados
especiais e, por fora de sua redao, revogando a Lei n 7.244/1984, a qual
perdurou por mais de um decnio.
Em mbito cvel, a Lei n 9099/1995 seguiu, em linhas gerais, o traado da Lei n 7.244/1984, com algumas pontuais alteraes, dentre as quais
indica-se: a) o valor foi ampliado, passando a ser de quarenta vezes o salrio mnimo como limite de sua competncia, j que na Lei de 1984 o valor
de alada estava adstrito ao montante de vinte salrios; b) houve a consagrao da competncia de causas cveis de menor complexidade em ateno
determinao do texto constitucional, como, por exemplo, as que seguem
o rito sumrio e as aes de despejo para uso prprio; e c) a concretizao
do sincretismo processual, mitigando o binmio conhecimento-execuo
num sistema uno.
Dada a inexistncia de previso expressa no texto constitucional sobre
a incidncia dos juizados especiais em mbito federal, atravs de alterao
realizada pela Emenda Constitucional n 22/1999, a Constituio da
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O artigo 40 da Lei dos Juizados de Pequenas Causas, originariamente, possua a seguinte redao: A
execuo da sentena ser processada no juzo ordinrio competente. Posteriormente, a Lei n
8.640/1993, deu nova redao ao referido dispositivo, alterando o regime de execuo, passando a dispor que a execuo da sentena ser processada no juzo competente para o processo do conhecimento, aplicando-se as normas do Cdigo de Processo Civil. No obstante, ao mandar aplicar o regime do
CPC, concretizava o modelo dual de processo conhecimento versus executivo , reconhecidamente
burocrtico e demorado.
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Todavia, essas questes atradas aos juizados esto alcanando patamares surpreendentes segundo dados estatsticos,11 que pem em xeque a higidez do sistema, sobretudo o fator celeridade. Percebe-se, em linhas gerais,
que h um nmero excessivo de causas tramitando, agravado com o nmero crescente de novas demandas, gerando um aumento na taxa de congestionamento.
Embora no haja uma nica forma de olhar o tema, possvel inferir,
sem qualquer pretenso de exaustividade, alguns fatores, jurdicos ou no,
que acarretam um aumento de demandas nos juizados especiais:
a) histrico, pela prpria democratizao do pas, sendo certo
que a cultura da represso cede diante da filosofia do acesso;
b) social, a populao passa a ter mais informaes sobre os seus
direitos, sobretudo os relacionados s relaes consumeristas, que so campo frtil de competncia dos juizados;
c) a gratuidade da Justia por fora da lei em primeiro grau de
jurisdio, uma vez que os custos do processo fora do juizado alm da imperiosidade necessidade de contratao de
um advogado so altssimos;
d) ausncia de uma tradio na busca dos meios no judiciais de
soluo de conflitos;
e) deficincia no sistema de tutela coletiva, especialmente em
relao aos direitos individuais homogneos, os quais acabam desaguando, de modo atomizado, nos juizados.
Em relao ao ltimo aspecto, o processo coletivo pode exercer uma
forte influncia como instrumento de racionalizao da administrao da
Justia, porquanto, por intermdio de uma nica ao coletiva, ao invs de
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Cf. o relatrio elaborado pelo Departamento de Pesquisas Judicirias do Conselho Nacional de Justia,
intitulado Justia em nmeros 2007: breve anlise do poder judicirio, especialmente as pginas 98 e
104, que contemplam, respectivamente, os dados dos juizados federais e estaduais de 2004 a 2007.
Disponvel em <http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/relatorios/justica_em_numeros_volume_2.pdf>. Acesso em 15/03/2009.
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inmeras aes individuais, poder-se-ia otimizar o servio judicial, reduzindo-se custos, tempo, recursos humanos etc.
Nesse sentido o enunciado n 58 do FONAJE: As causas cveis enumeradas no art. 275, II, do CPC admitem condenao superior a 40 salrios mnimos e sua respectiva execuo, no prprio juizado. No obstante, no Estado do Rio de Janeiro prevalece o entendimento de que todas as causas da competncia dos
Juizados Especiais Cveis esto limitadas a 40 salrios mnimos (Enunciado n 2.3.1 dos Enunciados Jurdicos
Cveis dos Encontros de Juzes dos Juizados Especiais e das Turmas Recursais do Estado do Rio de Janeiro).
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superao do valor de alada estabelecido em 40 salrios mnimos para efeito de competncia dos juizados especiais cveis estaduais.
Por outro lado, nos juizados especiais cveis federais, irrefutavelmente, todas as causas esto adstritas ao limite de 60 salrios mnimos, por fora
do art. 3, caput, da Lei n 10.259/2001. No possvel, assim, no mbito
federal, diferentemente do que ocorre nos juizados estaduais, que o valor de
alada seja ultrapassado, sequer para efeito de conciliao, porquanto o
pargrafo nico do art. 10 da Lei n 10.259/2001 estabelece que a conciliao deve atender competncia dos juizados especiais federais, estabelecida, nesse particular, em at 60 salrios mnimos.
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Impende ainda ressaltar que em recentssimo julgado proferido pelo Egrgio Tribunal Regional Federal,
outro no foi o entendimento adotado pela Sexta Turma Especializada que, por unanimidade, firmou a
comentada posio, na lide ento composta, a teor da ementa reproduzida nas linhas a seguir: PROCESSUAL CIVIL. EXTINO DO PROCESSO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. - A Lei n 9.099/95,
aplicvel aos Juizados Federais por fora do art. 1 da Lei n 10.259/2001, em seu art. 3, 3, determina que o excesso que se verifique quanto ao valor da causa, que inicialmente importaria na incompetncia dos Juizados Especiais para seu processo e julgamento, acarretar a automtica renncia ao crdito excedente. Tendo a demandante optado por pleitear seu direito perante o Juizado Especial Federal, carece de interesse de agir para ajuizar ao pleiteando diferena entre o que foi estabelecido na sen-
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tena e o que lhe seria efetivamente devido, pois a opo pelo ajuizamento da demanda perante o Juizado Especial implica em renncia ao crdito excedente (TRF/2 Regio, Apelao Cvel n
2005.51.01.015351-9, Sexta Turma Especializada, Rel. Des. Fed. FERNANDO MARQUES, julg:
20/09/2006, DJU 06/10/2006, pginas 355/359).
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Como decidido pelo Supremo Tribunal Federal: Conflito de competncia Justia Federal Militar de
primeira instncia e Justia Federal de primeira instncia Afastamento. Na dico da ilustrada maioria, entendimento em relao ao qual divergi, na companhia do Ministro Ilmar Galvo, estando ausente, na ocasio, justificadamente, o Ministro Celso de Mello, compete ao Superior Tribunal de Justia, e
no ao Supremo Tribunal Federal, dirimir o conflito, enquanto no envolvido o Superior Tribunal
Militar (CC 7.087, Rel. Min. Marco Aurlio, DJ 31/08/01).
Nesse sentido, o entendimento reiterado do Supremo Tribunal Federal: Conflito de competncia
Tribunal Superior do Trabalho e juiz federal de primeira instncia Competncia originria do STF
para dirimir o conflito Reclamao de servidor pblico federal deduzida contra a Unio Litgio tra-
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CONFLITO NEGATIVO DE COMPETNCIA SUSCITADO PELO JUZO DE DIREITO E PELO JUIZADO ESPECIAL CVEL E CRIMINAL DE TRINDADE (GO), EM FACE DA INTERPRETAO DO
PARGRAFO NICO O ARTIGO 66 DA LEI N 9.099/95. 1. Incompetncia do Supremo Tribunal
Federal e do Superior Tribunal de Justia para processar e julgar conflito negativo de competncia entre
Juzo de Direito e Juizado Especial Cvel e Criminal (CF, artigos 102, I, o, e 105, I, d). 2. O artigo 125,
1, da Constituio Federal dispe que a competncia dos tribunais estaduais ser definida na
Constituio do Estado. Por sua vez, o artigo 46, VIII, m, da Constituio goiana estabelece que compete privativamente ao Tribunal de Justia processar e julgar, originariamente, os conflitos de competncia entre juzes. 3. Competncia do Tribunal de Justia do Estado de Gois. 4. Conflito negativo de
competncia no conhecido, CC 7.096/GO, rel. Min. Maurcio Corra, j. 01.06.00, RTJ 175/548.
Athos Gusmo Carneiro tambm entende que o referido conflito de competncia deva ser apreciado
pelo Tribunal Regional Federal (CARNEIRO, Athos Gusmo. Jurisdio e competncia. 14 ed. So
Paulo: Saraiva, 2005, p. 271).
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Como decidido pelo STJ: Nos casos de conflito de competncia entre juzes federais vinculados ao
mesmo Tribunal Regional Federal, cabe a este processual e julgar o feito, como determina o art. 108, I,
e, da Constituio Federal de 1988, 1 Seo, rel. Min. Eliana Calmon, j. 23.11.05, DJ 12.12.05, p. 253.
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Nesse sentido, tem decidido reiteradamente o STF: DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPET NCIA, ENTRE A TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE E O TRIBUNAL DE ALADA
DO ESTADO DE MINAS GERAIS. COMPET NCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA PARA
DIRIMI-LO (ART. 105, I, d, DA C.F.). E NO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ART. 102, I,
o). 1. As decises de Turma Recursal de Juizado Especial, composta por Juzes de 1 Grau, no esto
sujeitas jurisdio de Tribunais estaduais (de Alada ou de Justia). 2. Tambm as dos Tribunais de
Alada no se submetem dos Tribunais de Justia. 3. Sendo assim, havendo Conflito de Competncia,
entre Turma Recursal de Juizado Especial e Tribunal de Alada, deve ele ser dirimido pelo Superior
Tribunal de Justia, nos termos do art. 105, I, d, da C.F., segundo o qual a incumbncia lhe cabe, quando envolva tribunal e juzes a ele no vinculados. 4. Conflito no conhecido, com remessa dos autos ao
Superior Tribunal de Justia, para julg-lo, como lhe parecer de direito. 5. Plenrio. Deciso unnime
(CC 7.081/MG, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 27.9.02, p. 81). Vide tambm CC 7.106/MG, rel. Min. Ilmar
Galvo, DJ 08.11.02, p. 22 e CC 7.090/PR, rel. Min. Celso de Mello, DJ 05.9.03, p. 31.
Enunciado n 22 da Smula: No h conflito de competncia entre o Tribunal de Justia e Tribunal de
Alada do mesmo Estado-Membro.
Nessa direo: CONFLITO DE COMPET NCIA ENTRE TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL E TRIBUNAL DE ALADA. MANDADO DE SEGURANA IMPETRADO CONTRA ATO
JUDICIAL DA PRESIDENTE DA TURMA RECURSAL. COMPETNCIA DO STJ PARA DIRIMIR O
CONFLITO. COMPETNCIA DA TURMA RECURSAL PARA EXAMINAR O MANDAMUS IMPETRADO CONTRA SEU PRPRIO ATO JUDICIAL. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. O egrgio Supremo Tribunal Federal, firmou posicionamento no sentido da competncia do
STJ para o exame dos conflitos que envolvam as Turmas Recursais dos Juizados Especiais, nos termos
do art. 105, I, d, da Constituio Federal. (...), CC 41.190/MG, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j.
26.10.05, DJ 02.03.06, p. 135.
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As questes de direito material referidas pela norma podem ser questes de mrito (objeto litigioso do
processo), preliminares de mrito - como a prescrio -, ou prejudiciais de mrito.
Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformizao de Jurisprudncia dos Juizados Especiais
Federais, em vrios dispositivos, intitula o pedido de uniformizao de interpretao da lei federal de
incidente (Cf. arts. 6, caput; 7, VI; 7, VII, b; 7, IX; 7, XI; 8, IX; 8, X; 13; 15 etc.).
MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Comentrios ao cdigo de processo civil. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense,
1993, p. 207.
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8. Referncias bibliogrficas
BRANDO NETO, Joo Marques. Juizados Especiais: a fnix da justia
ibero-brasileira. Boletim cientfico da Escola Superior do Ministrio
Pblico da Unio, Braslia, v. 4, n 16, p. 263-277, jul./set., 2005.
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A Demanda no Sistema dos
Juizados Especiais Cveis:
o Pedido e a Causa de Pedir
Mario Cunha Olinto Filho
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(artigo 5, LX, da CF). Por outro lado, se insistir no rigor da lei processual
genrica atingiria de imediato outros princpios to importantes como os
acima citados e que tm igual resguardo constitucional.
Acolher-se um ou outro princpio sem a viso sistemtica implica em
evidente atentado ao bom senso e legalidade. Muito propcia a lio de
CARLOS MAXIMILIANO,2 pela qual os princpios devem ser harmonizados pois fazem parte de um todo, o Direito em si. Conclui:
Possui todo corpo rgos diversos; porm a autonomia das funes no
importa em separao; operam-se, coordenados, os movimentos, e difcil,
por isso mesmo, compreender bem um elemento sem conhecer os outros,
sem os comparar, verificar a recproca interdependncia, por mais que
primeira vista parea imperceptvel. O processo sistemtico encontra fundamento na lei da solidariedade entre os fenmenos coexistentes. No se
encontra um princpio isolado, em cincia alguma; acha-se cada um em
conexo ntima com outros. O Direito objetivo no um conglomerado
catico de preceitos; constitui vasta unidade, organismo regular, sistema,
conjunto harmnico de normas coordenadas, em interdependncia metdica, embora fixada cada uma em seu lugar prprio. De princpios jurdicos
mais ou menos gerais deduzem corolrios; uns e outros se condicionam e
restringem reciprocamente, embora se desenvolvam de modo que constituem elementos autnomos operando em campos diversos.
A primeira premissa , portanto, a coexistncia de princpios processuais gerais com os especficos da Lei n 9.099/95.
Como segunda idia, inegvel que os princpios orientadores da Lei
9.099/95, devidamente acolhidos pela ordem constitucional vigente,3 indicam claramente que o tratamento processual devido em sede de Juizados
Especiais Cveis h de ser diferenciado do ordinrio.
De fato, ao mencionar em especial a informalidade (a oralidade uma
das decorrncias de tal princpio) e a simplicidade, parece querer afastar o
rigor procedimental que se encontra nos demais ritos. E isso guarda clara
consonncia com o prprio ideal do sistema: atender a uma demanda mui-
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Acesso Justia, traduo de Ellen Gracie Northfleet., Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 31/73.
A hipossuficincia que d ensejo inverso de nus de prova em relaes de consumo, de acordo com
o artigo 6, VIII, da Lei 8.078/90 diz respeito a todos estes aspectos, em especial ao tcnico.
CNDIDO DINAMARCO, Fundamentos do Processo Civil Moderno, 5 ed., So Paulo: Malheiros, vol,
I, p. 73 salienta que a instrumentalidade do direito processual ao substancial e do processo ordem
social constitui uma diretriz a ser permanentemente lembrada pelo processualista e pelo profissional,
para que no seja subvertida a ordem das coisas, nem feitas injustias em nome do injustificvel culto
forma. A invocao desse fundamental princpio constitui seguro expediente metodolgico, apto a
conferir certeza aos resultados encontrados. Ainda o mestre, no livro A Instrumentalidade do
Processo, 11 ed., So Paulo: Editora Malheiros, p. 326/327, acrescenta: O lado negativo do princpio
da instrumentalidade corresponde ao refluxo da escalada processualista que sucedeu s grandes descobertas dos processualistas na segunda metade do sculo passado, escalada que no Brasil chegou a um
nvel de quase euforia com a vigncia do Cdigo de Processo Civil. Trata-se, assim, da instrumentalidade realada e invocada como fator de conteno de exageros e distores. A excessiva preocupao
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com os temas processuais constitui condio favorvel a essas posturas inadequadas, com o esquecimento da condio instrumental do processo. Favorece, inclusive, o formalismo no modo de empregar a tcnica processual, o que tem tambm o significado de menosprezar a advertncia de que as formas so
apenas meios preordenados aos objetivos especficos em cada momento processual.
A instrumentalidade do Processo, p. 328/329.
SILVANA CAMPOS DE MORAES, Juizado de Pequenas Causas, So Paulo: Revista dos Tribunais,
1991, p. 31, ao analisar as preposies de Cappelletti, concluiu: Estudando esse tema, Cappelletti menciona a necessidade de efetivo ingresso s vias judiciais, considerando-o como um dos mais importantes direitos, na medida em que dele dependem todos os demais. Acrescenta ainda, o autor, que de
suprema importncia para os novos direitos individuais e sociais, sendo inexpressiva a declarao dos
direitos quando desacompanhada de mecanismos concretos para sua efetiva tutela. Isso porque de nada
adiantaria o reconhecimento dos direitos, tanto individuais como sociais, se no existirem meios para
sua proteo e reinvindicao.
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Para LIEBMAN, in: Estudo Sobre o Processo Civil Brasileiro, p. 103, a lide o conflito efetivo ou virtual de pedidos contraditrios, sobre o qual o juiz convidado a decidir. Julgar a lide e julgar o mrito
seriam expresses sinnimas que se referem deciso do pedido do autor para julg-lo procedente ou
improcedente e, por conseguinte, conceder ou negar a providncia requerida.
O Novo Processo Civil Brasileiro, p. 12.
O CPC indica, a contrario sensu, que as modificaes e aditamentos s podero ocorrer em determinadas hipteses: as modificaes podem ser feitas antes da citao sem restries e aps tal ato apenas com
o consentimento do ru (artigo 264), no sendo possvel qualquer alterao aps o saneamento do processo (pargrafo nico); j o aditamento s pode ocorrer antes da citao (artigo 294).
Os pedidos so interpretados restritivamente, compreendendo-se, entretanto, no principal os juros
legais. Alm disso, o juiz no poder se pronunciar sobre questes no suscitadas, a cujo respeito a lei
exige a iniciativa da parte, devendo decidir a lide nos limites em que foi proposta, no estando autorizado a proferir sentena de natureza diversa da pedida, bem como condenar o ru em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. (artigos 128, 459 e 460 do CPC).
Artigo 290 do CPC.
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Artigo 282, do CPC: A petio inicial indicar: I o juiz ou tribunal, a que dirigida; II os nomes,
prenomes, estado civil, profisso, domiclio e residncia do autor e do ru; III o fato e fundamentos
jurdicos do pedido; IV o pedido, com suas especificaes; V o valor da causa; VI as provas com
que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII o requerimento de citao do ru.
Artigo 1 da Lei n 9.099/95, sendo certo que a oralidade tem fundamento constitucional, atravs do
artigo 98, I, da CF.
Nas causas com valor de at 20 salrios mnimos, conforme o artigo 9.
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tos na vestibular assim o permitir. Outros exemplos: No sistema dos JEs no tem lugar para formalismos processuais, bastando, para o prosseguimento do pedido, que o autor, pessoalmente, declare a sua
pretenso. Em decorrncia, a inicial no precisa preencher os requisitos no artigo 282 do CPC (RJE
16/35); Nos JEs, o processo se orienta pelo critrio da simplicidade, que permite que o pedido, deduzido oralmente pela parte, contenha de forma sucinta os fatos e fundamentos, o objeto e seu valor, alm
de dados para identificao e localizao das partes; alm disso, pelo mesmo critrio, possvel o melhor esclarecimento do pedido na audincia (RJE 16/34-35).
Como lembra HUMBERTO THEODORO JNIOR, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, 39 ed.,
p. 327, na sua generalidade, o pedido h sempre de ser certo e determinado. No se pode, por exemplo, pedir a condenao a qualquer prestao. O autor ter, assim, de pedir a condenao a entrega de
certas coisas indicadas pelo gnero ou o pagamento de uma indenizao de valor ainda no determinado. A indeterminao ficar restrita quantidade ou qualidade das coisas ou importncias pleiteadas.
Nunca poder, portanto, haver indeterminao do gnero da prestao pretendida.
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dos, o que tem relevncia ante a limitao imposta pelo artigo 3, da Lei n
9.099/95 (40 salrios-mnimos) e pelo artigo 3, da Lei n 10.259/01 (60 salrios-mnimos).
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Artigo 290, do CPC: Quando a obrigao consistir em prestaes peridicas, considerar-se-o elas
includas no pedido, independentemente de declarao expressa do autor; se o devedor, no curso do
processo, deixar de pag-las ou de consign-las, a sentena as incluir na condenao, enquanto durar
a obrigao.
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A segunda j mais complexa. Dar-se- em virtude da falta de correspondncia entre o que se requer, em relao natureza do pleito (condenatrio, constitutivo ou declaratrio) e o que realmente possvel de acolhimento, vista dos fatos apurados no curso do processo, mas pela singeleza
da sua concluso.
No se trata da hiptese de pedido juridicamente impossvel, j que o
mesmo, em tese, seria passvel de acolhimento pela ordem jurdica. O pedido
trazido na inicial no possui em si qualquer bice ao hipottico acolhimento.
E tambm no a situao a que trata o artigo 295, p.u., II, do CPC,
pela qual a inicial deveria ser indeferida por inpcia se da narrao dos fatos
no decorrer logicamente o pedido. Na descrio feita pelo autor na hiptese que se sustenta, o pedido decorrncia lgica do que narra, seja em
relao ao fato (causa de pedir remota), seja quando ao fundamento jurdico utilizado (causa de pedir prxima).
Ocorre que se verifica com as provas juntadas ou esclarecimento das prprias partes ou dentro da verdade formal do processo que na realidade o
pedido, com a natureza que fora lanado, no seria passvel de acolhimento
(logo improcedente). Mas outro, de caracterstica diversa, seria a decorrncia
natural e esperada diante da dita realidade, sem que o processo tomasse curso
lgico diverso do que seguia para aportar no pedido apontado na inicial.25
Tomemos como exemplo a seguinte situao: O autor, argindo que o
ru lhe faz cobranas indevidas, requer a devoluo dos valores que pagou,
condenando-se o segundo a tanto. H pedido de natureza condenatria,
portanto. Mas isso ocorre por um lapso do autor (ou seu patrono) j que,
apesar de receber tais cobranas, no efetuara qualquer pagamento, o que
resta cabalmente demonstrado ao longo do feito.
Por bvio, tal pedido condenatrio seria improcedente, mesmo com o
reconhecimento da veracidade dos fatos narrados na inicial. Mas a conseqncia natural de se reconhecer que as cobranas eram indevidas na hiptese do
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No Estado do Rio de Janeiro, editou-se o Enunciado 3.2 (da Consolidao dos Enunciados dos Juzes e
Turmas Recursais) que prestigia tal entendimento: Em face dos princpios constitucionais vigentes e
dos que constam da Lei n 9.099/95, o Juiz do Juizado Especial poder dar uma real e mais ampla abrangncia ao pedido inicial que contenha expresses imprecisas, como por exemplo, perdas e danos, indenizao, se a narrao dos fatos na vestibular assim o permitir.
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Importante frisar que a meno acerca da nulidade da cobrana na fundamentao da deciso no seria
eficaz, posto que a mesma no faz por si s coisa julgada, nos termos do artigo 469, I, do CPC.
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Diante das hipteses mencionadas, cremos que presente se faz a harmonia entre as severas normas da lei processual comum e a informalidade
reinante nos Juizados Especiais, de maneira a compatibilizar o afastamento
do excessivo zelo interpretao restritiva do pedido com a necessidade de
prover o ru com o seu direito ampla defesa e contraditrio.
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Leciona JOS JOAQUIM CALMON DE PASSOS, Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, volume III,
8 ed., p. 194: A sentena que venha a ser proferida ser sentena condenatria, sem oferecer qualquer
particularidade digna de nota, com relao s prestaes vencidas at a data de sua prolao, e ser sentena de condenao para o futuro, no que diz respeito s prestaes vencveis aps o momento referido. Constitui-se em favor do credor um ttulo executrio de trato sucessivo, isto , sentena condenatria que o habilita a executar o devedor no s quanto s vencidas, no que ela um ttulo executrio
idntico a todas as outras sentenas condenatrias, como, por igual, em relao s que vierem a se vencer, futuramente, se no satisfeitas no tempo e nas condies fixadas.
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Acerca do tema em sede de Juizados, RICARDO CUNHA CHIMENTI entende de forma diversa, concluindo: No vejo bice no prosseguimento do pedido contraposto mesmo que haja desistncia quanto
ao pedido principal, a exemplo do que prev o art. 317 do CPC para a reconveno (ob. cit., p. 191).
Contudo, discordamos de tal posicionamento, seja pelos motivos j elencados, seja pelo fato do artigo 317
do CPC ser regra especfica para o instituto da reconveno. Alm do mais, se o ru deseja que o seu pedido contraposto seja conhecido em havendo pleito de desistncia pelo autor, basta que no concorde com
ele, sendo certo que em qualquer hiptese o consentimento seria necessrio (artigo 267, 4, do CPC),
j que o pedido contraposto s poderia ser apresentado no prazo de resposta (com a contestao).
Em artigo publicado na Revista Dialtica de Direito Processual (nmero 9, p. 24/33), DANIEL AMORIM
ASSUMPO NEVES, Contra-ataque do Ru: Indevida Confuso entre as Diferentes Espcies
(Reconveno, Pedido Contraposto e Ao Dplice), advertiu: Apesar de ser ideal o julgamento conjunto da ao principal e da reconveno, nem sempre isso possvel, j que tanto uma quanto outra
pode ser extinta prematuramente sem julgamento de mrito. Nesse caso, inclusive, surge interessante
questo do recurso cabvel de tal deciso. A doutrina majoritria entende que se a reconveno for extinta sem o julgamento de seu mrito, a deciso ser interlocutria, cabendo contra ela o agravo de instrumento. Toma-se aqui a definio de sentena prevista pelo art. 162 do CPC, que embora bastante criticvel pelo seu manifesto carter tautolgico, determina que se o processo no chegar ao fim em razo de
pronunciamento do juiz o mesmo no ser sentena. Como o processo continuar em razo da manuteno da ao principal, o pronunciamento dito corretamente como deciso interlocutria. O mesmo
ocorre se a ao principal for extinta prematuramente, j que com a reconveno, o processo continuar, sendo tambm essa deciso considerada interlocutria, cabvel contra ela, portanto, o agravo de instrumento. Tudo decorre, segundo corretas lies de CNDIDO RANGEL DINAMARCO, da unidade do
processo, sendo que a extino da ao principal ou da reconveno meramente uma diminuio do
objeto do processo, e no sua extino. Idntico pensamento aplica-se para explicar por que a reconveno no cria um novo processo, somente alarga o objeto daquele j existente em razo da ao principal.
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qualquer exceo pessoa jurdica. Observando o princpio da segurana jurdica, as normas so norteadas com o intuito de que o destinatrio possa identificar a situao jurdica que lhe atinge, bem como
as conseqncias da mesma. No h vedao legal ao contrapedido formulado por pessoa jurdica que
dever ficar adstrito ao valor de alada do JE (RJE 19/81 e 1/92); (...) Possibilidade de a pessoa jurdica formular pedido contrapedido, pois tal no se equipara a reconveno, sendo parte integrante d contestao inaplicabilidade da vedao do art. 8 da LJE. (...) o art. 8 da LJE diz que ...somente as pessoas fsicas capazes sero admitidas a propor ao..., quando o art. 31 da mesma Lei possibilita ao ru,
na contestao, formular pedidos em seu favor, nos limites do art. 3 desta Lei, desde que fundo nos
mesmos fatos que constituem objeto da controvrsia. Ora, possibilidade de formular contrapedido difere de reconveno prevista pelo CPC, pois dever ser deduzido na contestao, no caracterizando o
pedido vedado pelo art. 8 acima citado (RJE 20/93-94).
Manual dos Juizados Cveis, 2 ed., So Paulo: Malheiros, 2001, p. 120/121.
ALVARO COURI ANTUNES, Juizados Especiais Federais Cveis: Aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei 10.259/01, Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 103/104, defende igualmente a impossibilidade:
A nosso ver, no possvel a aplicao do artigo 31 da Lei n 9.099/95 que versa sobre o pedido contraposto, pois este s seria possvel se ambas as partes pudessem figurar, em tese, nos dois lados da relao jurdica processual, ou seja, se estivessem legitimadas como autoras e rs. As entidades pblicas no
poderiam ser autoras em sede de Juizados Especiais Federais Cveis, da porque nada justificaria pudessem elas por via transversa contrariar a norma inserta no artigo 6, I, da Lei n 10.259/01, o que contraria toda a lgica do sistema.
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sem a necessidade de narrativa do fato gerador. Assim, afirmada a propriedade, v.g., seria irrelevante a indicao do ttulo aquisitivo (compra, sucesso, etc.).
Outros direitos, de cunho relativo (como os obrigacionais) do ensejo
s demandas ditas heterodeterminadas, nas quais a meno do fato constitutivo se faz necessrio.
A princpio e sem consideraes respeito da sistemtica do CPC
(artigo 282), a teoria da individualizao soa inaplicvel nas demandas
heterodeterminadas, ante a impossibilidade da real cincia quanto aos fatos,
prejudicando o contraditrio, a bilateralidade argumentativa e probatria
(contraprova) e deixando sem justificao o princpio da eventualidade. A
parte autora, apenas mencionando o fundamento jurdico, tolheria a defesa do ru, admitindo-se at que o primeiro viesse a indicar inovando no
processo fatos diversos dos apresentados ou rechaados em defesa (contestao) aps a apresentao da mesma.
J pela teoria da substanciao, no basta dizer-se o fundamento jurdico. A explicitao do porqu essencial (causa remota): da mihi factum.
Fato este que h de ser jurdico, relevante ao direito.
Alm das consideraes acerca das teorias da individualizao e substanciao, bem como das demandas auto e heterodeterminadas, importante tambm a meno acerca dos fatos principais e dos fatos secundrios.
Conforme exposio de CRUZ E TUCCI,40 os primeiros so aqueles
essenciais para configurar o objeto do processo e que constituem a causa
de pedir, ou seja, delimitam a pretenso deduzida em juzo. Fala-se aqui
em fato jurgeno (essencial) que por si s suficiente para delinear a pretenso, j que dele se extrai um efeito ou conseqncia jurdica.
Por sua vez, os secundrios ou simples seriam aqueles que sozinhos, no
delimitando uma pretenso e, portanto, incapazes de por si s sustent-la,
auxiliam na demonstrao do principal. dizer: muito embora o fato principal possa necessitar do secundrio para o xito da demanda, a causa de pedir
no se afirma sem o primeiro, sendo que a recproca no verdadeira. Em
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A Causa Petendi no Direito Processual Brasileiro, 2 ed., So Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 153.
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Percebe-se que em sede de juizados especiais, at por conta da informalidade e da baixa complexidade, a causa de pedir prxima muitas das vezes
no explorada. No raramente, limita-se o autor a indicar um dispositivo
legal (o que se afigura irrelevante, diante do princpio iura novit curia)
havendo hipteses nas quais simplesmente nenhum fundamento lanado.
E, contrariando a regra geral do CPC, em boa parte dos casos isso no
indicar qualquer problema, porquanto em nada estar prejudicada a defesa
do ru-reclamado, que perfeitamente sabe no que o autor se prende para
ligar o fato ao pedido. E tanto assim que por mais das vezes apresenta contestao atacando justamente a causa de pedir prxima, que sequer foi ventilada expressamente. o caso, v.g., do autor que, demandando em face da
loja fornecedora do produto, se limita a narrar que l comprou uma geladeira e que tal bem apresentou defeito, descongelando todos os seus alimentos,
o que resultou em um prejuzo x. E a loja, ao seu turno, sem necessariamente negar a causa de pedir remota, rejeita ter qualquer responsabilidade no
evento, sob a alegao de que, ao contrrio do fabricante, no responde pelo
fato do produto (artigo 12 do CDC). Os motivos que comporiam a causa
petendi prxima so previsveis, nsitos prpria narrativa factual.42
Contudo, mais curiosas so as hipteses em que o fato (causa de pedir
remota) ou no bem esclarecido ou se transforma, por conta de outro fato
superveniente. E aqui entra uma aplicao mais direta do princpio da individualizao, o qual para a maioria dos autores no foi acolhida (ou pelo
menos, no como regra) no nosso diploma processual, j que a exigncia da
narrativa do fato e do fundamento (artigo 282, III, do CPC) revela a realizao do princpio da substanciao.
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Mas o prprio CPC traz regras especiais que revelam uma maior
importncia do fundamento do que do fato em si. o que ocorre, v.g., nas
aes possessrias. No importante saber se o ato do ru fora realmente de
esbulho ou turbao, at porque ele pode se alterar no curso da demanda
(ou at antes da propositura da ao) mas sim que o ato que pratica, de qualquer forma, afronta o direito de que afirma ser o possuidor justo e de boaf, que pode ter o exerccio dos poderes inerentes propriedade (artigo
1.195 do CC) e se opor em face daquele que injustamente opera a violao
(artigo 1.210 do CC).
Nas cautelares tambm no parece ser de fundamental importncia o
fato esttico. Ao contrrio, diante do princpio da fungibilidade (que vai
atingir at ao pedido) pode-se conhecer das variantes fticas para se deferir
at uma medida que no foi exatamente a requerida inicialmente (sob pena
de se negar o prprio sentido e objetivo das demandas de cautela).
E ainda temos os casos jurisprudenciais, nos quais se afastando um
rigor excessivo e ilgico, admite-se que o fato, quando transmudado, no
opera problemas processuais, posto que o fundamento se mantm intacto.
o que se d, por exemplo, quando proposta uma demanda de nunciao
de obra nova, percebe-se no seu curso que a obra j foi concluda. Seria
absurdo acolher-se uma extino do processo sem resoluo de mrito (por
falta de interesse processual qualificado pela ausncia de adequao) devendo prosseguir-se como uma demolitria, j que o fundamento (direito
incolumidade fsica e patrimonial) o mesmo.
O que h de comum entre tudo isso? Seja no caso de se verificar supostos problemas na causa de pedir remota (fato) ou prxima (fundamento)
percebe-se que isso no se traduz em real dificuldade processual para o
conhecimento de mrito quando em nada se limita a ampla defesa e o contraditrio do ru. Mesmo que isso ocorra excepcionalmente, possvel
mesmo s demandas nas quais se aplicao exclusivamente o CPC. Logo,
com mais os argumentos derivados da informalidade, simplicidade e da
ausncia de complexidade material, no se pode querer que em sede de juizados no se considerem tais possibilidades. Ao contrrio: l, o que no
entendimento puro do CPC era uma profunda exceo, pode se tornar uma
conduta bem mais comum.
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No curso do processo, essa investigao ainda possvel, porque as partes ainda dependem da deciso
do juiz e devem colaborar na delimitao da coisa litigiosa, podendo o juiz tomar as providncias necessrias para elucidar a inteno da manifestao de vontade do autor (ob. cit., p. 68).
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A esse respeito, interessante a seguinte deciso proferida no STJ, no julgamento do Resp 320977/RS, 4
Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, em 2002 (disponvel no site: www.stj.gov.br): CIVIL E
PROCESSUAL. AO DE INDENIZAO. INSCRIO NO SERASA. ALTERAO DO PEDIDO
APS A CONTESTAO, EM RPLICA. INADMISSIBILIDADE. CPC, ART. 264. IMPUTAO DE
OMISSO DO RU EM COMUNICAR A INSCRIO. AJUIZAMENTO IMEDIATO DA AO.
IMPOSSIBILIDADE MATERIAL. IMPROCEDNCIA. I Pleiteada indenizao ao argumento de que
a inscrio no SERASA fora indevida por ausncia de execuo contra a autora, e verificado, em face
da contestao, que de fato havia cobrana judicial como constava do registro, defeso postulante
alterar o pedido, j em rplica, para, buscando contornar o equvoco flagrante por ela cometido mediante assertiva inverdica na inicial, requerer o ressarcimento ao argumento de que o ilcito se dera em
razo tambm da no comunicao prevista no artigo 43, pargrafo 2, do CDC (...).
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Alegar-se que a conciliao poderia ser prejudicada se revela um argumento inconsistente, j que a mesma pode ocorrer posteriormente, inclusive na prpria audincia de instruo e julgamento, com fulcro no artigo
125, IV, do CPC. E de qualquer forma, melhor soluo seria o aguardo de
nova audincia, com a soluo de todo o real conflito material entre as partes, do que se deixar brechas para a propositura de nova demanda.
Sobre o tema, a jurisprudncia vem mantendo uma linha extremamente liberal, de maneira a permitir emenda inicial para a modificao
do pedido mesmo em audincia de instruo e julgamento49 desde que
respeitado o contraditrio, muitas vezes indicando que a mesma constitui um esclarecimento do pleito inicialmente informado quando da propositura.
Mas entendemos que h de existir um limite para tanto, sob pena de
ocorrer uma inovao processual to radical que a prpria identidade da
demanda desapareceria. dizer: a emenda no pode causar uma transmudao processual, de maneira a se confundir como uma nova ao completamente diversa da proposta.
Parece-nos que a admisso da emenda em tais hipteses deva ficar condicionada ao fato de ser o novo pedido correlato com o anterior ou decorrente do mesmo, de maneira que a razo emprica (causa de pedir remota)
que lhes d origem seja comum, o que evita inclusive maiores nus para a
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Nos JEs, o processo se orienta pelo critrio da simplicidade, que permite que o pedido, deduzido
oralmente pela parte, contenha de forma sucinta os fatos e fundamentos, o objeto e seu valor, alm de
dados para identificao e localizao das partes; alm disso, pelo mesmo critrio, possvel o melhor
esclarecimento do pedido em audincia (RJE 16/34-35); Em face dos critrios que informam o procedimento do JE, quando o pedido deduzido oralmente e registrado pela secretaria de forma deficiente,
o autor pode aclar-lo na audincia, incluindo, inclusive, como no caso, solicitao de condenao em
multa por inadimplemento contratual (mesma causa de pedir) (RJE 17/46); Pedido formulado no balco do Juizado que se apresenta inepto. nus do Judicirio em relao ao consumidor que, ao abrigo
da LJE, comparece pessoalmente para propor ao, colher as informaes e registrar o pedido de forma
suficientemente clara, para que possa ser contestado e apreciado adequadamente. Verificadas omisses
que impedem o normal prosseguimento, compete ao magistrado o oportuno saneamento, evitando cerceamento de defesa e ou prejuzos prestao jurisdicional (RJE 30-31/36); Inexiste nulidade processual pelo aditamento do pedido trs dias antes da audincia. At na audincia de instruo o pedido
pode ser aditado, desde que garantido o contraditrio (RJE 18/99).A petio inicial deve atender,
somente, aos requisitos do Art. 14 da Lei n 9.099/95, ressalvando-se, em ateno aos princpios do Art.
2 do mesmo diploma, a possibilidade de emenda por termo na prpria audincia, devendo o Juiz interpretar o pedido da forma mais ampla, respeitado o contraditrio (Enunciado 3.1.1, da Consolidao dos
Enunciados dos Juzes e Turmas Recursais do Estado do Rio de Janeiro).
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Artigo 462 do CPC: Se, depois da propositura da ao, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento da lide, caber ao juiz tom-lo em considerao, de ofcio ou a
requerimento da parte, no momento de proferir a sentena.
Artigo 27 da Lei n 9.099/95: No institudo o juzo arbitral, proceder-se- imediatamente audincia
de instruo e julgamento, desde que no resulte prejuzo para a defesa. Artigo 31, p.u., da Lei n
9.099/95, que trata da hiptese de existir pedido contraposto: O autor poder responder ao pedido do
ru na prpria audincia ou requerer a designao da nova data, que ser desde logo fixada, cientes
todos os presentes.
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5. Concluses
Muitos trabalhos j existem acerca das Leis ns 9.099/95 e 10.259/01,
assim como coletneas de julgados relativos aos Juizados Especiais Cveis.
Contudo, so poucos os que se dedicaram exclusivamente, ou com
maior profundidade, s peculiaridades processuais relativas aos elementos
da ao. O assunto , por mais das vezes, tratado de forma superficial, dando
origem a classificaes e concluses equivocadas.
Chamamos a ateno para a necessidade de mitigao da rigidez tradicional trazida pelo CPC no que toca ao pedido e a causa de pedir, sem, contudo, atropelar o direito ao contraditrio e ampla defesa. O formalismo no
pode ter justificativa em si prprio, mas tambm no se pode admitir sob
a comum desculpa da aplicao dos princpios da informalidade, simplicidade e oralidade que tudo se pode fazer.
Valoriza-se aqui a dispensa da formalidade intil, sugerindo espao para
o conhecimento do que apurvel diante da existncia de pequenos erros de
narrativa factual ou de elaborao do pedido quando evidente a inteno da
parte (muitas vezes desassistida) que no raro reconhecida pela prpria narrativa presente na contestao do ru. E quando eventual modificao importa em real ampliao do objeto da demanda (desde que haja um grau de conexidade ou derivao da mesma conduta que d origem a causa de pedir) que
seja admitida a emenda e posterior manifestao do reclamado, afirmando-se
a importncia dos princpios dispositivo e da adstrio, evitando-se o perigoso entendimento quanto a possibilidade de julgamentos ultra ou extra petita.
Dentro dessa viso, cabe ao julgador especial cuidado no manejo processual, que, diante de todos os princpios mencionados, dever se interessar em conhecer o real alcance do litgio (a lide efetiva) se entrevistando
informalmente com as partes na audincia ou solicitando as informaes
que entender necessrias, para que elas acompanhem igualmente o raciocnio e os provimentos do magistrado.
6. Referncias bibliogrficas
ARAGO. Egas Dirceu Moniz de. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, v. II. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
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III
Recursos
nos Juizados Especiais Cveis
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Aspectos Relevantes do Sistema
Recursal dos Juizados Especiais
Gustavo Quintanilha Telles de Menezes
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Do sistema recursal dos Juizados Especiais. 3. Do recurso inominado e seu julgamento. 4. Do Recurso Extraordinrio e da Ao Rescisria. 5. Concluses. 6. Bibliografia.
1. Introduo
No recente em nossa histria jurdica, a demanda por uma prestao
jurisdicional mais clere, embora somente com a Emenda Constitucional n
45, de 30 de dezembro de 2004, esse anseio tenha sido alado ao nobre patamar de direito fundamental constitucional, na letra do inciso LXXVIII, que
o incluiu no extenso rol do artigo 5 da Constituio da Repblica.
A busca permanente pelo adequado cotejo entre qualidade e tempo, no
exerccio da atividade jurisdicional, passa por diversos caminhos, que se
estendem desde a sempre almejada desburocratizao do servio pblico
em geral notadamente com ampla implementao de tecnologia at o
estudo dos corretos instrumentos jurdicos, que possam saciar a pressa do
jurisdicionado, sem o deixar ao desamparo das garantias que asseguram a
legitimidade das decises judiciais.
Nesse contexto de contnuo amadurecimento do sistema processual,
visando sempre a tornar a justia mais acessvel aos cidados, coerente com
as ondas renovatrias do processo civil identificadas por CAPPELLETTI,1 a
CAPPELLETTI, Mauro. BRYANT Garth. Access to Justice: The Wordwide Movement to Make Rights
Effective A General Report. Access to Justice: A Word Survey. Mauro Cappelleti and Bryant Garth,
Eds. (Milan: Dott. A. Guiffre Editore, 1978).
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Lei n 9.099/95, de 26 de dezembro de 1995, veio cumprir o papel de reformular o procedimento de prestao jurisdicional em casos de menor complexidade, ante os limites tcnicos e estruturais da Lei n 7.244, de 7 de
novembro de 1984, que tratava dos Juizados de Pequenas Causas.
Atento, pois, ao mandamento constitucional de eficcia limitada,2 inserido no artigo 98, inciso I, da Carta Federal, a denominada Lei dos Juizados
Especiais instituiu microssistema processual prprio. Definindo um sistema
recursal particular ao menos em parte a Lei n 9.099/95 passou a merecer da doutrina e da jurisprudncia um estudo e tratamento em separado,
notadamente porque no se pode perder de vista os princpios especficos
que informam o singular sistema jurdico dos Juizados, quais sejam, a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade.3
Nesse passo, tem ensejo uma breve anlise das caractersticas peculiares da disciplina de recursos nos Juizados Especiais Cveis,4 quer para
melhor compreender a integralidade do sistema, quer para progredir no
permanente desenvolvimento dos instrumentos jurdicos ao adequado
exerccio da jurisdio.
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SILVA, Jos Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 6 ed. Malheiros: So Paulo, 2003
ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cveis, Aspectos Polmicos da Lei n 9.099, de 26/9/1995.
1 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2000, p. 14.
Da Lei n 9.099/95, aplicam-se aos Juizados Especiais Cveis somente os artigos 1 a 59 e 93 a 97, visto
que os artigos 60 a 92 tratam somente dos Juizados Especiais Criminais; neste trabalho dar-se- ateno
exclusiva aos primeiros, ficando os demais para outra oportunidade.
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O art. 47 do projeto de lei deve ser vetado, com fundamento no interesse pblico, porque a inteno que norteou a
iniciativa parlamentar foi propiciar maior agilidade processual,
o que no aconteceria com a sano deste dispositivo, visto que
ele ensejaria o aumento de recursos nos tribunais locais, em vez
de sua diminuio. Da, no mais haveria brevidade na concluso de causas, contrariando todo o esprito que moveu a proposio e que traduz o anseio de toda a sociedade brasileira..
Andou bem o Poder Executivo em vetar o artigo, tanto assim que se
poupou s partes o desgaste de mais uma etapa recursal sem qualquer pre-
Adota-se a distino entre instncia e grau de jurisdio, imputando-se quela a distino quando h
um ou mais nveis de conhecimento da causa, e este para diferenciar a hierarquia de competncias cognicveis por um magistrado juiz ou desembargador dentro de um mesmo Tribunal.
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Consolidao dos Enunciados Jurdicos Cveis, Enunciado n 11.5: Agravo De Instrumento Inadmissibilidade. No sistema de Juizados Especiais Cveis, inadmissvel a interposio de agravo contra deciso interlocutria, anterior, ou posterior sentena.
ARAGO, gas Dirceu Moniz de. A Correio Parcial. Curitiba: Ed. Ltero-Tcnica, 1958.
Vide o RE 76.909, julgado a 5.XII.73, RTJ, 70/504.
Em sentido contrrio, o Enunciado n 102, do Frum Nacional dos Juizados Especiais, aprovado no XIX
Encontro Aracaju/SE.
Consolidao dos Enunciados Jurdicos Cveis, Enunciados n 14.5.1.
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ASSIS, Araken de. Manual dos Recursos. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 590.
Idem, p. 375.
Lei n 9.099/95, Art. 41. Da sentena, excetuada a homologatria de conciliao ou laudo arbitral,
caber recurso para o prprio Juizado.
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Processo Civil. O no recolhimento integral do preparo do recurso inominado, previsto no artigo 42, 1, da Lei n 9.099/95, importa em desero,
inadmitida a complementao a destempo. Inclusive irrecorrvel a deciso monocrtica que no recebeu o recurso por desero ou intempestividade, no havendo sequer a remessa dos autos s Turmas Recursais em
qualquer hiptese.
Tambm no se admite nos Juizados Especiais, recurso adesivo em sede
de Juizados Especiais, por falta de expressa previso legal.16
Importa destacar que no se aplica ao julgamento pelas Turmas
Recursais o Princpio da Reserva de Plenrio s Turmas Recursais, previsto
no artigo 97 da Constituio da Repblica.
A toda evidncia, o artigo 98 da Constituio consubstancia exigncia
para a formao da jurisprudncia de segundo grau de jurisdio de um
Tribunal sobre a inconstitucionalidade de uma lei, o que no impede que os
rgos de primeiro grau, que no exprimem o entendimento coletivo do
Tribunal, dispensem o requisito.
As Turmas Recursais no tm competncia para exprimir (nem representar, nem vincular) a jurisprudncia do Tribunal, rgo jurisdicional de
segundo grau, sobre a inconstitucionalidade de uma lei, logo, semelhana
do que ocorre com os juzes, as Turmas Recursais, que tambm so rgos
de primeiro grau, podem declarar incidentalmente a inconstitucionalidade
de lei, sem terem que antes encaminhar a questo ao rgo Especial.
No se vislumbra nisso que as Turmas Recursais tenham mais liberdade de julgamento do que tm as Cmaras que devem remeter ao rgo
Especial a declarao incidental de inconstitucionalidade o que ocorre
que as Cmaras, rgos julgadores de segundo grau, embora rgos fracionrios, exprimem e consubstanciam a jurisprudncia do Tribunal, no limite de suas competncias.
Vale observar que no deve surpreender o fato de uma deciso de um
rgo de primeiro grau Turmas Recursais sobre a inconstitucionalidade
de uma lei, ser submetida diretamente ao Supremo Tribunal Federal, pois
nosso sistema de controle constitucional caminha, em sucessivas reformas,
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Ainda concluindo pela competncia do Juiz Presidente ou Coordenador da Turma Recursal para aferir a admissibilidade do Recurso Extraordinrio, o Enunciado n 84 do Frum Nacional dos Juizados Especiais.
A Lei n 9.099/95, em seu artigo 59, expressamente veda a possibilidade de propositura de ao rescisria, medida harmnica com os princpios
que informam o sistema dos Juizados Especiais, notadamente ante a baixa
complexidade da matria. Se os recursos j so corretamente desestimulados, com mais razo a reviso de uma deciso transitada em julgado.
Assim, com o devido respeito tese daqueles que defendem que a Ao
Rescisria no foi expressamente excluda na Lei n 10.259/01, i.e., sugerem
o cabimento da mesma no mbito dos Juizados Federais,19 no vislumbramos tal possibilidade. O sistema processual dos Juizados Federais essencialmente o mesmo dos Juizados Estaduais, no havendo, entre as pontuais
diferenas, nada que enseje o cabimento daquilo que foi expressa e coerentemente excludo.
5. Concluses
Com efeito, impe-se concluir que o sistema processual estabelecido
para os Juizados Especiais, notadamente em sua parte recursal, teve xito
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OLIVEIRA, Eduardo Fernandes de. Aes Rescisrias nos Juizados Especiais Federais. Publicado no
stio eletrnico da Escola da Advocacia Geral da Unio, Revista, Ano VII, Edio agosto 2007.
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6. Bibliografia
ARAGO, gas Dirceu Moniz de. A Correio Parcial. Curitiba: Ed. LteroTcnica, 1958.
ASSIS, Araken de. Manual dos Recursos. 2 ed. So Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008, p. 220.
CAPPELLETTI, Mauro. BRYANT Garth. Access to Justice: The Wordwide
Movement to Make Rights Effective A General Report. Access to
Justice: A Word Survey. Mauro Cappelleti and Bryant Garth, Eds.
(Milan: Dott. A. Giuffre Editore, 1978).
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. So Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2008.
179
180
MENEZES, Gustavo Quintanilha Telles de. Justia coletiva em uma sociedade de massa, publicado no Suplemento Especial de Doutrina da
Associao dos Magistrados do Estado Rio de Janeiro, Edio n 3, Rio
de Janeiro: 2008.
OLIVEIRA, Eduardo Fernandes de. Aes Rescisrias nos Juizados Especiais Federais. Publicado no stio eletrnico da Escola da Advocacia
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Lei n 9.099, de 26/9/1995. 1 ed. Rio de Janeio: Editora Lmen Jris,
2000, p. 14.
SILVA, Jos Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 6 ed.
Malheiros: So Paulo, 2003
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8
Da Recorribilidade das Decises
Interlocutrias nos Juizados Especiais
Cveis Federais e Estaduais
Bruno Garcia Redondo
1. Introduo
O Juizado Especial atualmente em dos mais importantes meios processuais para o acesso do jurisdicionado ao Poder Judicirio. As Leis ns 9.099/95
e 10.259/2001, aliadas a outros diplomas, mais voltados para o direito material (v.g., Lei n 8.078/90), tm contribudo para a ampliao tanto de Juizados
Especiais instalados pelo pas, quanto de demandas a eles submetidas.
A ainda grave crise resultante da superlotao do Poder Judicirio
acentua o questionamento de diversos pontos relativos aos Juizados Especiais, no que tange a aspectos eminentemente prticos e, principalmente,
tcnico-jurdicos que envolvem a cincia do Direito Processual Civil.
O desenvolvimento da atividade judiciria no mbito dos Juizados
Especiais gerou e permanece gerando divergncia nos planos doutrinrio e jurisprudencial, motivando, assim, o presente estudo sobre questo de
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relevncia prtica e tcnico-cientfica: a recorribilidade das decises interlocutrias proferidas no mbito dos processos em curso perante Juizados
Especiais Cveis Federais e Estaduais, especialmente daquelas capazes de
causar leso grave e de difcil reparao para a parte.
As questes de fundo trazidas por esse tema exigem consideraes preliminares, ainda que sumrias, sobre o contexto jurdico-institucional que
culminou com a criao dos Juizados Especiais Cveis e sobre os seus princpios norteadores.
O Juizado Especial de Pequenas Causas teria, assim, dentre os seus objetivos, proporcionar a resoluo do terceiro fator desse fenmeno, para que fosse
resgatada a credibilidade popular de que o Poder Judicirio seria merecedor1 e
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WATANABE, Kazuo. Filosofia e caractersticas bsicas do juizado especial de pequenas causas. In:
WATANABE, Kazuo (coord.). Juizado especial de pequenas causas: Lei 7.244, de 7 de novembro de
1984. So Paulo: RT, 1985, p. 02-03.
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facilitado o acesso Justia2 em razo de suas caractersticas principais: gratuidade em primeiro grau; desnecessidade de assistncia de advogado em
determinadas hipteses; emprego de recursos tecnolgicos para proporcionar maior celeridade na tramitao processual; e duplo grau de jurisdio.3
A Constituio Federal, promulgada em 1988, passou a prever, no inciso I de seu art. 98, a competncia da Unio e dos Estados para a criao de
Juizados Especiais providos por juzes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliao, o julgamento e a execuo de causas cveis de
menor complexidade e infraes penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumarissimo.
Posteriormente, a Lei n 9.099/95 revogou a Lei n 7.244/84 e disciplinou a criao dos chamados Juizados Especiais Cveis e Criminais no mbito da Justia Estadual.
Por seu turno, a Lei n 10.259/2001 passou a regular os Juizados Especiais Cveis e Criminais no mbito da Justia Federal.
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Nesse sentido, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro. Acesso justia: juizados especiais cveis e ao civil
pblica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 117-119.
Assim leciona Kazuo Watanabe: O JEPC atende, em suma, ao justo anseio de todo cidado em ser ouvido em seus problemas jurdicos. a Justia do cidado comum, que lesado nas compras que faz, nos
servios que contrata, nos acidentes que sofre, enfim do cidado que se v envolvido em conflitos de
pequena expresso econmica, que ocorrem diariamente aos milhares, sem que saiba a quem recorrer
para solucion-los de forma pronta, eficaz e sem muito gasto. Essas idias todas esto contidas na Lei
7.244/84. O modo, a forma e a mentalidade com que for implantado o Juizado Especial de Pequenas
Causas, podero viabiliz-las plenamente, ou compromet-las de modo irremedivel (Op. cit., p. 07).
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Ada Pellegrini Grinover utiliza o conceito de deformalizao em dois sentidos (deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias) e explica a diferena do seguinte modo: (...) de um lado, a
deformalizao do prprio processo, utilizando-se a tcnica processual em busca de um processo mais
simples, rpido, econmico, de acesso fcil e direto, apto a solucionar com eficincia tipos particulares
de conflitos de interesses. De outro lado, a deformalizao das controvrsias, buscando para elas, de
acordo com sua natureza, equivalentes jurisdicionais, como vias alternativas ao processo, capazes de
evit-lo, para solucion-las mediante intrumentos institucionalizados de mediao. A deformalizao
do processo insere-se, portanto, no filo jurisdicional, enquanto a deformalizao das controvrsias utiliza-se de meios extrajudiciais (Deformalizao do processo e deformalizao das controvrsias. In:
Novas tendncias do direito processual. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1990, p. 179. Artigo
tambm publicado na Revista de Processo RePro, So Paulo: RT, n 46, p. 60-82, abr./jun. 1987).
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que o processo seja o mais clere possvel, para que demore apenas o tempo
estritamente necessrio produo de um resultado justo. A tcnica processual utilizada pelo Estatuto dos Juizados foi, essencialmente, a supresso e a
abreviao de certas fases e etapas, e a concentrao de atos processuais.
Finalmente, a autocomposio revela-se como uma das caractersticas
peculiares dos Juizados Especiais Cveis, j que, nestes, deve ser preeminentemente buscada, como forma de contribuir para a pacificao social.5 O
esforo no sentido da autocomposio , assim, mais acentuado nos Juizados
Especiais do que no processo civil comum.6
Dessa forma, Cndido Rangel Dinamarco: E o art. 2 proclama tambm a conciliao, como mola-mestra que h de informar e impulsionar todo o processo das pequenas causas numa clara recomendao
aos aplicadores do novo sistema, no sentido de darem o melhor do seu empenho para a obteno da autocomposio dos conflitos pelas prprias partes. (Princpios e critrios no processo das pequenas causas.
In: WATANABE, Kazuo (coord.). Op. cit., p. 105). Em outra obra, o mesmo autor assim se manifesta: O
legislador teve conscincia, tambm, a partir de experincias brasileiras anteriores (esp., Constituio do
Imprio: v. seu at. 161) e modelos processuais estrangeiros, de que a conciliao constitui poderosssima
arma de pacificao social, dada a natural tendncia das pessoas a aceitar e cumprir as solues que elas
prprias elaboraram ou cujo preparo aceitaram voluntariamente. O valor social da conciliao foi tambm posto em destaque no art. 2 da Lei das Pequenas Causas, onde so programados os princpios e critrios do novo processo institudo (Manual das pequenas causas. So Paulo: RT, 1986, p. 03).
Ao analisar estatstica dos anos de 1992 e 1993 do Rio Grande do Sul, Geisa de Assis Rodrigues conclui
que o xito na conduo de solues negociadas uma marca dos Juizados Especiais Cveis, obtendose um grau de acomodao do dissenso bem razovel. (Juizados especiais cveis e aes coletivas. Rio
de Janeiro: Forense, 1997, p. 63). Por seu turno, como resultado de pesquisa desenvolvida nos anos de
2004 a 2006 pelo Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais CEBEPEJ, sob a orientao do
Prof. Kazuo Watanabe, Pierpaolo Cruz Bottini observou que no que concerne aos resultados dos
Juizados, verifica-se um percentual de acordo de 34,5%, ndice que certamente poderia ser ampliado
com polticas de qualificao de conciliadores e de capacitao dos agentes da sociedade civil competentes para buscar uma soluo consensual para os litgios apresentados (Cf. Pesquisa Nacional sobre
os Juizados Especiais Cveis, p. 09. Disponvel em: <http://www.cebepej.org.br>. Acesso em: 13 jan.
2009).
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entre o juiz e a fonte da prova oral; (iv) identidade fsica do juiz; (v) irrecorribilidade das decises interlocutrias em separado.7
A prevalncia da palavra falada sobre a escrita, primeiro postulado da
oralidade, no exige a excluso absoluta da escrita no processo, j que esta,
como meio aperfeioado, que , de exprimir o pensamento e de conservarlhe duradouramente a expresso, no pode deixar de ocupar no processo o
lugar, que ocupa em qualquer relao da vida.8 Por certo, no processo oral
tambm existe palavra escrita, mas o uso da palavra falada deve predominar
em relao quela.
Apesar de a prtica de atos processuais de modo verbal revelar-se cada
vez mais rara, importante observar que a prpria Lei dos Juizados
Especiais admite a realizao de diversos atos de forma oral, tais como: propositura da demanda (art. 14 da Lei n 9.099/95); outorga de poderes gerais
ao advogado ( 3 do art. 9); oferecimento de resposta (art. 30); interposio de embargos de declarao (art. 49); e requerimento de execuo (inciso IV do art. 52).
A concentrao do atos processuais em audincia, segundo postulado
fundamental da oralidade, impe que todos os atos processuais sejam praticados em uma s oportunidade, isto , na audincia. Sendo necessrio realizar mais de uma audincia, ou adiar a anteriormente designada, deve a
prxima audincia ser realizada com o menor intervalo de tempo possvel
em relao anterior, o que contribuir, inclusive, para manter a imediatidade entre o juiz e a fonte da prova oral. Segundo Chiovenda, a diferena
entre o processo oral e o escrito fica evidente nesse ponto:
E aqui melhor se manifesta a diferena entre o processo oral
e o escrito: que, ao passo que o oral tende necessariamente a restringir-se a uma ou poucas audincias prximas, nas quais se
desenvolvem tdas as atividades processuais, o processo escrito, ao
contrrio, difunde-se numa srie indefinida de fases, pouco
importando que uma atividade se desenvolva mesmo a grande dis-
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CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de direito processual civil. Trad. bras. J. Guimares Menegale. 3.
ed. So Paulo: Saraiva, 1969, v. 3, p. 50-55.
CHIOVENDA, Giuseppe. Op. cit., p. 51.
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tncia de outra, de vez que apoiado nos atos escritos que o remoto juiz ter, um dia, de julgar.9
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Assim leciona Giuseppe Chiovenda: Proclama, esta, verdade, que no podem concorrer na deliberao
da sentena seno os juzes que assistiram discusso da causa (art. 375, Cd. Proc. Civil) (Op. cit., p. 53).
Nesse sentido, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 12 e 144. Em sentido contrrio, Felippe Borring
Rocha. Juizados especiais cveis: aspectos polmicos da Lei n 9.099, de 26.9.1995. 5. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2009, p. 143.
CHIOVENDA, Giuseppe. Op. cit., p. 53-54.
CHIOVENDA, Giuseppe. Op. cit., p. 55.
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Igualmente, Cndido Rangel Dinamarco. Op. cit., p. 99-100; Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 152153; e Felippe Borring Rocha. Op. cit., p. 145.
Desse modo, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 15, 151-154.
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Nesse sentido, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 245; Joel Dias Figueira Jnior e Fernando da Costa
Tourinho Neto. Juizados especiais federais cveis e criminais. 2 ed. So Paulo: RT, 2007, p. 221; e
Guilherme Bollorini Pereira. Juizados especiais federais cveis: questes de processo e de procedimento no contexto do acesso justia. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 157. De forma semelhante, Enunciado n 26 do FONAJE: So cabveis a tutela acautelatria e a antecipatria nos Juizados
Especiais Cveis. (redao aprovada no XXIV Frum Nacional de Juizados Especiais, realizado em
Florianpolis SC nos dias 12 a 14 de novembro de 2008). Igualmente, Enunciado n 14 das Turmas
Recursais dos Juizados Especiais Federais da Seo Judiciria do Rio de Janeiro: Sendo possvel a concesso de antecipao dos efeitos da tutela no mbito do JEF, ser vedado o ajuizamento de ao cautelar autnoma, ressalvada a possibilidade de pedido incidental cautelar (art. 4 da L. 10.259/2001), desde
que o Juizado seja competente para apreciar o pedido principal. (redao aprovada na Sesso Conjunta
realizada em 10.10.2002, DOERJ 19.09.2003).
De modo contrrio, Disney de Melo Ramos combina o art. 2 da Lei n 9.494/97 com o art. 1 da Lei n
8.437/92 e conclui que, como regra, no seria possvel a tutela antecipada nos Juizados Federais, mas
apenas a cautelar. Entretanto, o autor reconhece a necessidade da anlise objetiva de cada caso especfico, para que seja verificado se, excepcionalmente, teria cabimento a tutela antecipada na situao sob
exame (Manual prtico do juizado especial na justia federal. Rio de Janeiro; Forense, 2009, p. 110).
Apesar de o presente estudo no ser o mbito prprio para o desenvolvimento deste ponto, convm afastar-nos, momentaneamente, do tema central deste trabalho para que o leitor possa compreender nossa afirmativa. A observao necessria porque compartilhamos do entendimento que admite o deferimento, de
ofcio pelo magistrado, de qualquer espcie de tutela de urgncia, seja cautelar, seja satisfativa (conhecida
por tutela antecipada). Em que pese se tratar de posicionamento minoritrio em doutrina, este o que se
revela o mais adequado, j que, sendo a tutela de urgncia cautelar e a tutela de urgncia satisfativa duas
espcies do mesmo gnero, o regime jurdico das tutelas de urgncia deve ser unificado e, portanto, sistemtica a interpretao de todos os dispositivos do CPC a ele referentes. Inafastvel, assim, a concluso de
que a interpretao conjunta do art. 273 e dos arts. 797 a 799 do CPC revela que o juiz pode, excepcionalmente, deferir medidas de urgncia ex officio. por essa razo que afirmamos que a interpretao adequada do art. 4 da Lei n 10.259/2001 a que permite ao magistrado deferir, de ofcio, qualquer espcie de
tutela de urgncia, seja cautelar, seja satisfativa. Em sentido semelhante, George Marmelstein Lima.
Antecipao da tutela de ofcio? Revista do Tribunal Regional Federal da 5 Regio, v. 4, p. 17-20, 2002;
Guilherme Bollorini Pereira. Op. cit., p. 157-158; TRF, 1. R., 2. T., AC 2002.37.00.008775-9/MA, Rel. Des.
Fed. Francisco de Assis Betti, j. 24.09.2008, e-DJF1 26.01.2009, p. 36; e TRF, 3. R., 7. T., AC
2006.03.99.013118-0, Rel. Des. Fed. Walter do Amaral, j. 01.12.2008, e-DJF3 21.01.2009, p. 800.
O Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais CEBEPEJ desenvolveu, sob a orientao do Prof.
Kazuo Watanabe, no perodo compreendido entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2006, pesquisa inti-
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Por seu turno, o art. 5 da Lei n 10.259/2001, em redao tambm criticvel, estabelece que,exceto nos casos do art. 4, somente ser admitido
recurso de sentena definitiva.
Diversas falhas podem ser apontadas no texto legal: (i) remisso ao art.
4, que se refere apenas ao deferimento de medidas cautelares; (ii) afirmao de que, como regra, somente seria cabvel recurso contra sentena definitiva; e (iii) no que tange hiptese excepcional, no identificado qual o
recurso cabvel contra deciso interlocutria, nem o prazo para sua interposio, tampouco as regras de seu processamento.
Quanto ao primeiro aspecto, no se deve entender que seria cabvel
recurso apenas contra deciso que defere medida cautelar, por 02 (dois)
fundamentos:
(i)
tulada Avaliao dos Juizados Especiais Cveis, na qual foram examinados os processos distribudos
no ano de 2002. Essa pesquisa analisou dados colhidos de forma emprica junto a alguns dentre
os diversos Juizados Especiais instalados em 09 (nove) cidades: Rio de Janeiro, So Paulo, Porto
Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Goinia, Fortaleza, Belm e Macap. Como resultado da pesquisa,
verificou-se que aproximadamente 15% (quinze por cento) das peties iniciais distribudas aos
Juizados, em 2002, continham pedido liminar de tutela antecipada ou cautelar (Cf. Pesquisa Nacional
sobre os Juizados Especiais Cveis, p. 29. Disponvel em: <http://www.cebepej.org.br>. Acesso em: 13
jan. 2009).
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Nesse sentido, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 245; Joel Dias Figueira Jnior e Fernando da
Costa Tourinho Neto. Op. cit., p. 288-292; e Guilherme Bollorini Pereira. Op. cit., p. 193-194. De
forma semelhante, Enunciado n 13 das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais da Seo
Judiciria do Rio de Janeiro: Somente caber recurso de deciso do deferimento ou indeferimento de liminar. (redao aprovada na Sesso Conjunta realizada em 04.06.2002, DOERJ 19.09.2003)
Enunciado n 10 das Turmas Recursais do Juizado Especial Federal de So Paulo SP: de 10 (dez)
dias o prazo para interposio de recurso contra medida cautelar prevista no art. 4 da Lei n
10.259/2001 (DOESP 07.06.2004).
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Igualmente, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 245; Joel Dias Figueira Jnior e Fernando da Costa
Tourinho Neto. Op. cit., p. 290; Guilherme Bollorini Pereira. Op. cit., p. 193-194; e Ricardo Cunha
Chimenti. Teoria e prtica dos juizados especiais cveis estaduais e federais. 10 ed. So Paulo: Saraiva,
2008, p. 202.
Em sentido contrrio, Mantovanni Colares Cavalcante defende a recorribilidade imediata das decises
interlocutrias nos Juizados Federais por meio de recurso inominado, que no deveria observar os
rigores do agravo de instrumento previsto no CPC: seu prazo seria o de 10 dias (analogia ao art. 42 da
Lei n 9.099/95), no haveria de ser observado o art. 526 do CPC e sua interposio deveria ocorrer
perante a Turma Recursal (Recursos nos juizados especiais. 2 ed. So Paulo: Dialtica, 2007, p. 110112). Por seu turno, Patrcia Trunfo Teixeira sustenta que dito recurso inominado deveria ser interposto perante o prprio juiz da causa, prolator da deciso (Aspectos cveis e a aplicao subsidiria da Lei
n 9.099/95 nos Juizados Especiais da Justia Federal. In: GUEDES, Jefferson Cars (coord.). Juizados
especiais federais. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 461).
Desse modo, Weber Martins Batista e Luiz Fux. Juizados especiais cveis e criminais e suspenso condicional do processo penal. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 238; e Alexandre Freitas Cmara. Op. cit.,
p. 244. Em sentido contrrio, entendendo que o recurso contra a sentena nos Juizados no a apelao, Cndido Rangel Dinamarco. Op. cit., p. 98.
Dessa forma, Guilherme Bollorini Pereira. Op. cit., p. 191-193. Em sentido contrrio, sustentando o
cabimento de recurso apenas contra sentena definitiva, Disney de Melo Ramos. Op. cit., p. 44.
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ocorre nos seguintes casos: (i) deciso cujo contedo acarrete risco de leso
grave e de difcil reparao parte; (ii) deciso que deixa de receber o
recurso contra a sentena (apelao); (iii) deciso que atribui os efeitos
apelao; e (iv) deciso proferida no curso da execuo.
Esse posicionamento, apesar de ainda minoritrio, o que se mostra
mais adequado, sendo possvel invocar 05 (cinco) fundamentos jurdicos
capazes de amparar o cabimento do recurso por meio de agravo de instrumento nos Juizados Especiais Cveis Estaduais.
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Em segundo lugar, deve o operador do Direito buscar, sempre que possvel, a interpretao sistemtica dos dispositivos, tanto aqueles previstos em
um mesmo diploma legal, quanto os estabelecidos em leis diferentes. Por essa
razo, deve-se reconhecer que as Leis ns 9.099/95 e 10.259/2001 relacionamse e complementam-se em todos os pontos nos quais no conflitarem.
Mais ainda, deve-se reconhecer que as Leis ns 9.099/95 e 10.259/2001
formam, conjuntamente, o Estatuto dos Juizados Especiais, que estabelece
um sistema processual distinto daquele criado pelo Cdigo de Processo Civil,
apesar de o sistema previsto nesse diploma geral ser aplicvel, subsidiariamente, ao dos Juizados Especiais, como se ver oportunamente.
Desse modo, estando positivada, no Estatuto dos Juizados Especiais, a
possibilidade de interposio de agravo de instrumento contra deciso
interlocutria capaz de causar leso grave e de difcil reparao para a parte
(art. 5 da Lei n 10.259/2001), essa regra aplicvel tanto aos Juizados
Federais, quando aos Juizados Estaduais.30
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Dessa forma, Alexandre Freitas Cmara: O mesmo se d em relao ao Estatuto dos Juizados Especiais.
Este cria um sistema processual prprio, distinto do sistema criado pelo Cdigo de Processo Civil. Tratase do sistema processual adequado para as causas cveis de menor complexidade (e, como se ver
adiante, tambm para as pequenas causas, cf. infra n 4). (...) preciso, porm, que se deixe desde logo
um ponto bem claro: a meu juzo, a Lei n 9.099/95 e a Lei n 10.259/01, conforme venho dizendo, compem um s estatuto. certo, por um lado, que a Lei dos Juizados Federais afirma, expressamente, que
a Lei dos Juizados Estaduais lhe subsidiariamente aplicvel. A recproca, porm, embora no seja
expressa, tambm verdadeira. No h qualquer razo para que no se possa aplicar nos Juizados
Estaduais as conquistas e inovaes contidas na Lei dos Juizados Federais, sempre que entre os dois
diplomas no haja qualquer incompatibilidade. Isto permitir, inclusive, a soluo de problemas de
outro modo insolveis (Op. cit., p. 04).
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52, que trata da execuo de ttulo judicial. Surge, assim, outra questo controvertida, sobre se o Cdigo de Processo Civil aplicvel subsidiariamente Lei n 9.099/95 apenas no procedimento de execuo, ou tambm ao
longo da fase de conhecimento do processo.
De acordo com o posicionamento dominante nos planos doutrinrio e
jurisprudencial, o Cdigo de Processo Civil seria subsidiariamente aplicvel
Lei n 9.099/95 apenas durante o procedimento de execuo, em razo da
interpretao literal do art. 52 do referido diploma o nico a trazer essa
regra que se refere exclusivamente execuo de ttulo judicial nos
Juizados Estaduais. Por decorrer de mera interpretao literal, esse no se
revela o melhor entendimento.
Mais adequado, portanto, o posicionamento que reconhece a aplicabilidade do Cdigo de Processo Civil inclusive fase de conhecimento do
processo submetido ao Juizado Estadual, j que esta fase regulada em
meros 51 artigos, que, evidentemente, precisam ser complementados pelas
normas gerais do sistema processual civil comum.
Diversos exemplos podem ser invocados para comprovar a aplicabilidade subsidiria do Diploma Processual Civil Lei n 9.099/95 tambm no
que se refere fase cognitiva do processo, uma vez que, na lei dos Juizados
Estaduais: (i) no h referncia aos deveres das partes e de seus procuradores (arts. 14 a 35 do CPC); (ii) no h previso do cabimento de litisconsrcio (arts. 46 a 49 do CPC); (iii) no h previso de julgamento com resoluo do mrito (art. 269 do CPC); (iv) no h referncia formao de coisa
julgada (arts. 467 a 474 do CPC); e (v) no h previso de cabimento de
recurso extraordinrio, tampouco o estabelecimento das regras de seu processamento (arts. 508, 541 a 546 do CPC).
Apesar do silncio legal quanto a essas questes, no h operador do
Direito que duvide que, nos Juizados Estaduais, as partes tm deveres processuais; que possvel o litisconsrcio; que o magistrado pode apreciar o
pedido resolvendo o mrito da causa; que a sentena, transitada em julgado, forma coisa julgada; e que cabe recurso extraordinrio no prazo de 15
(quinze) dias.
Inegvel, portanto, a seguinte concluso: os dispositivos do Cdigo de
Processo Civil so subsidiariamente aplicveis ao sistema processual dos
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Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais no que com ele no conflitarem. As normas do CPC, portanto, complementam as omisses das Leis ns
9.099/95 e 10.259/2001 durante o desenvolvimento do procedimento, seja
na fase de conhecimento, seja na de execuo.31
Polmica semelhante existiu, durante muitos anos, em relao ao
recurso cabvel contra a deciso que se manifestava sobre o pedido de liminar em mandado de segurana, j que a Lei n 1.533/51 no traz, de forma
expressa, a previso de cabimento do agravo de instrumento.
Uma linha de entendimento, ao sustentar o no cabimento do agravo de
instrumento,32 defende a impetrao de mandado de segurana em face da
deciso que aprecia o pedido de liminar em mandado de segurana, j que,
inexistindo previso expressa de recurso cabvel na Lei n 1.533/51, deveria
ser aplicado o Enunciado n 26733 da Smula do Supremo Tribunal Federal.
Por seu turno, destacou-se a corrente que, de forma mais adequada,
sustenta o cabimento de agravo de instrumento contra a deciso que se
manifesta sobre o pedido de liminar formulado em mandado de segurana, em razo tanto da aplicao subsidiria do Cdigo de Processo Civil
Lei n 1.533/51, quanto do 6 do art. 4 da Lei n 8.437/92, aplicvel ao
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Nesse sentido, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 04, 152-153; Fernando da Costa Tourinho Neto e
Joel Dias Figueira Jnior. Op. cit., p. 293; e Ricardo Cunha Chimenti. Op. cit., p. 201.
Por todos, ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 2 ed. So Paulo: RT, 2008, p. 487-489.
Enunciado n 267 da Smula do STF: No cabe mandado de segurana contra ato judicial passvel de
recurso ou correio.
Desse modo, BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos. Recorribilidade das decises interlocutrias em mandado de segurana. Temas de direito processual: 6 srie. So Paulo: Saraiva, 1996, p. 211-224; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 4 ed. So Paulo: RT, 2006, p. 606-612;
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Jos Carneiro. Curso de direito processual civil. 7 ed. Salvador:
JusPodivm, 2009, v. 3, p. 180-181; SCARPINELLA BUENO, Cassio. Mandado de segurana. 5 ed. So
Paulo: Saraiva, 2009, p. 104-111; ALVIM, Eduardo Arruda; SCARPINELLA BUENO, Cassio. Agravo de
instrumento contra decises proferidas em mandado de segurana. Execuo provisria. Revista de processo REPRO, So Paulo: RT, n 95, p. 235-238; CINTRA GONALVES, Jos Horcio. O agravo no
direito brasileiro. So Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 29-30.
199
35
STJ, CE, EREsp 471.513/MG, rel. p. ac. Min. Gilson Dipp, j. 02.02.2005, DJ 07.08.2006, p. 196; STJ, 2.
T., REsp 817.403/MG, rel. Min. Castro Meira, j. 21.08.2008, DJe 23.09.2008; STJ, 1. T., REsp
705.892/PE, rel. Min. Teori Albino Zavascki, j. 26.04.2005, DJ 09.05.2005, p. 313; STJ, 5. T., REsp.
593.529/PA, rel. Min. Jos Arnaldo da Fonseca, j. 07.04.2005, DJ 09.05.2005, p. 458.
199
200
Em que pese tratar-se de corrente ainda majoritria, no h como consider-la adequada, por 02 (dois) fundamentos distintos.
A interposio de agravo de instrumento contra deciso interlocutria
potencialmente danosa, proferida no curso do procedimento, em nada atrasa o curso processual. Pelo contrrio, a interposio de um simples recurso
(agravo de instrumento) chega a ser mais benfica oralidade e celeridade do que a impetrao de uma demanda judicial (mandado de segurana).
Por seu turno, o descabimento do recurso de agravo de instrumento
implica a indevida utilizao do mandado de segurana como sucedneo
recursal, desvirtuando-se, assim, os objetos aos quais cada um desses institutos se destina.36 A funo constitucional de rgo revisor, que a garantia
do duplo grau de jurisdio impe Turma Recursal, demonstra que muito
mais tcnico e razovel ser v-la julgando simples recursos, interpostos
contra meras decises interlocutrias, do que demandas de mandados de
segurana impetrados contra atos judiciais.
Por esses fundamentos, o recurso por meio de agravo de instrumento,
alm de preservar a oralidade e a simplicidade do procedimento, tambm
contribui para evitar a indevida utilizao do mandado de segurana como
sucedneo recursal.
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Igualmente, Alexandre Freitas Cmara. Op. cit., p. 153; e Felippe Borring Rocha. Op. cit., p. 147.
201
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38
Segundo estatstica de mbito nacional, divulgada pelo CNJ em 2006, dividindo-se o nmero de processos distribudos aos Juizados Especiais apenas no ano de 2006 pelo nmero de magistrados atuantes em
Juizados, tem-se o resultado de 4.652 causas novas para cada juiz. Tambm em proporo nacional,
somando-se as causas novas (2006) s antigas (distribudas antes de 2006) e dividindo-se o resultado pelo nmero de magistrados em atuao em Juizados pelo pas, tem-se o nmero de 8.651 processos
ativos (em andamento) para cada juiz de Juizado Especial (Cf. Relatrio Justia em nmeros: indicadores estatsticos do Poder Judicirio Ano 2006, p. 199 e 207. Disponvel em: <http://www.cnj.gov.
br>. Acesso em: 13 jan. 2009).
Como resultado de pesquisa realizada pelo CNJ em 2007, foi apurado que determinados Juizados
Especiais Cveis situados na Bahia estavam designando audincias de conciliao para 2011, isto , para
04 (quatro) anos aps a data da distribuio da demanda (Advogados reclamam: juizados da BA marcam audincia para 2011. Revista Consultor Jurdico, So Paulo, 01 abr. 2007. Disponvel em:
<http://www.conjur.com.br/2007-abr-01/audiencias_juizados_bahia_sao_marcadas_2011>. Acesso em:
13 jan. 2009).
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202
Dessa forma, a perda da caracterstica da oralidade, em razo da consagrao prtica de um procedimento cada vez mais cartorrio e burocrtico, torna possvel e, por isso, justifica plenamente a recorribilidade imediata, por meio de agravo de instrumento, de determinadas decises interlocutrias, sempre que proferidas em momento anterior ao da prolao da
sentena e passveis de causar, parte, leso grave e de difcil reparao.
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Desse modo, Alexandre Freitas Cmara: Os princpios enumerados no art. 2 da Lei n 9.099/95 so,
pois, os princpios gerais, informativos do microssistema dos Juizados Especiais Cveis. Sua generalidade os torna vetores hermenuticos, o que significa dizer que toda a interpretao do Estatuto dos
Juizados Especiais Cveis s ser legtima se levar em conta tais princpios (Op. cit., p. 07).
Igualmente, Alexandre Freitas Cmara: Sendo, assim, para que um desses princpios seja afastado em
alguma situao preciso que haja regra expressa excepcionando sua incidncia, ou que haja algum
conflito entre dois princpios, caso em que apenas um deles o que proteger o interesse mais relevante no caso sub judice poder incidir (Op. cit., p. 07).
203
jurisdio, para que seja permitido o recurso por meio de agravo de instrumento contra deciso interlocutria capaz de causar dano grave parte. A
defesa da irrecorribilidade desse tipo de deciso, alm de no proporcionar
maior celeridade do processo, prestigia interesse inequivocamente menos
relevante.
7. Concluso
Os Juizados Especiais Cveis so orientados por diversos princpios,
entre eles, o da oralidade, sendo esta formada por 05 (cinco) postulados fundamentais. Enquanto existir efetiva concentrao de atos processuais em
audincia, a irrecorribilidade das decises interlocutrias em separado continuar contribuindo para a celeridade do processo.
Entretanto, a partir do momento em que o procedimento dos Juizados
Especiais Cveis vem-se tornando cada vez mais fracionado e alongado,
sendo maior o distanciamento entre as etapas processuais, fica mitigado e
descaracterizado o postulado da concentrao de atos processuais em
audincia, no mais persistindo fundamento jurdico para a observncia
absoluta do postulado da irrecorribilidade das decises interlocutrias em
separado.
Importante observar que a recorribilidade imediata de determinadas
decises interlocutrias por meio agravo de instrumento no decorre apenas da descaracterizao prtica da oralidade nos processos em curso nos
Juizados.
Pelo contrrio, essa possibilidade resulta tambm da aplicao de 02
(dois) dispositivos legais: o art. 5 da Lei n 10.259/02, aplicvel tanto aos
Juizados Federais, quanto aos Estaduais; e o art. 522 do Cdigo de Processo
Civil, subsidiariamente aplicvel ao sistema processual dos Juizados Especiais.
O agravo de instrumento cabvel, portanto, sempre que a excepcional recorribilidade imediata da deciso interlocutria revelar-se um imperativo, o que ocorre, sobretudo, nos seguintes casos:
(i)
204
8. Referncias bibliogrficas
ALVIM, Eduardo Arruda; SCARPINELLA BUENO, Cassio. Agravo de instrumento contra decises proferidas em mandado de segurana. Execuo provisria. Revista de processo REPRO, So Paulo: RT, n 95.
ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 2 ed. So Paulo: RT, 2008.
BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos. Recorribilidade das decises interlocutrias em mandado de segurana. Temas de direito processual: 6 srie.
So Paulo: Saraiva, 1996.
BATISTA, Weber Martins; FUX, Luiz. Juizados especiais cveis e criminais
e suspenso condicional do processo penal. Rio de Janeiro: Forense,
2002.
CMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cveis estaduais e federais:
uma abordagem crtica. 4 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso justia: juizados especiais
cveis e ao civil pblica. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
CAVALCANTE, Mantovanni Colares. Recursos nos juizados especiais. 2
ed. So Paulo: Dialtica, 2007.
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prtica dos juizados especiais cveis
estaduais e federais. 10 ed. So Paulo: Saraiva, 2008.
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de direito processual civil. Trad.
bras. J. Guimares Menegale. 3 ed. So Paulo: Saraiva, 1969, v. 3.
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IV
Processo Eletrnico
nos Juizados Especiais Cveis
9
Os Juizados Especiais Cveis
e o E-Process: O Exame das Garantias
Processuais na Esfera Virtual
Humberto Dalla Bernardina de Pinho
Mrcia Michele Garcia Duarte
SUMRIO: 1. Consideraes iniciais. 2. Fundamentos constitucionais do princpio do acesso justia. 3. Celeridade: dos tempos remotos contemporaneidade. 4. Processo virtual e
as garantias processuais. 5. Consideraes finais. 6. Referncias bibliogrficas. 7. Referncias eletrnicas.
1. Consideraes iniciais
A pacificao dos conflitos sociais por meio de uma justia clere foi
idealizada desde os povos antigos,1 passando por diversas influncias e modificaes, alcanando o que hoje denominamos de juizados especiais (Jecs).
O Jecs so uma realidade tanto na esfera estadual como na federal e
foram criados com o propsito de atender s demandas menos complexas, a
partir de determinao imposta pelo Texto Constituinte de 1988. Antes
desse novo mecanismo, porm, existiram os denominados juizados de
pequenas causas, cuja nomenclatura, a nosso ver, era equivocada, posto
que causas menos complexas no seriam, necessariamente, pequenas.
Os juizados especiais consagram um seguimento do Poder Judicirio destinado a oferecer prestao jurisdicional em demandas de pouca monta e so
Destaca-se que o Cdigo de Hamurabi que j mencionava ferramentas semelhantes s que atualmente
so denominadas de substitutos ou equivalentes jurisdicionais autodefesa, autocomposio e mediao. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Teoria Geral do Processo Civil Contemporneo. 2 ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 09.
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aspecto to relevante e ainda to pouco discutido, por meio do qual avaliaremos at que ponto as ferramentas virtuais consagram uma manifestao
judiciria clere, econmica, justa, equnime, efetiva e razovel.
Em uma de suas mais felizes passagens, pontifica o Mestre: o recente despertar de interesse em torno
do acesso efetivo Justia levou a trs posies bsicas, pelo menos nos pases do mundo Ocidental.
Tendo incio em 1965, estes posicionamentos emergiram mais ou menos em seqncia cronolgica.
Podemos afirmar que a primeira soluo para o acesso - a primeira onda desse movimento novo - foi
a assistncia judiciria; a segunda dizia respeito s reformas tendentes a proporcionar representao
jurdica para os interesses difusos, especialmente nas reas da proteo ambiental e do consumidor; e
o terceiro - e mais recente - o que nos propomos a chamar simplesmente enfoque de acesso justia porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito alm deles, representando, dessa forma,
uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e compreensivo. CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant [traduo de Ellen Gracie Northfleet]. Acesso Justia. Porto Alegre:
Srgio Antonio Fabris, 1988, p. 31 e ss.
A propsito, diz Cappelletti, no preciso ser socilogo de profisso para reconhecer que a sociedade
(poderemos usar a ambiciosa palavra: civilizao?) na qual vivemos uma sociedade ou civilizao de
produo em massa, de troca e de consumo de massa, bem como de conflitos ou conflitualidades de
massa. (...) Da deriva que tambm as situaes de vida, que o Direito deve regular, so tornadas sempre mais complexas, enquanto por sua vez, a tutela jurisdicional a Justia ser invocada no mais
somente contra violaes de carter individual, mas sempre mais freqente contra violaes de carter
essencialmente coletivo, enquanto envolvem grupos, classes e coletividades. Trata-se, em outras palavras, de violaes de massa. CAPPELLETTI, Mauro. Formaes Sociais e Interesses Coletivos Diante
da Justia Civil. In Revista de Processo, vol. 5, separata.
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CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso justia: Juizados Especiais Cveis e Ao Civil Pblica:
Uma Nova Sistematizao da Teoria Geral do Processo, 2 ed., rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 63 e ss.
213
Diante da transformao da concepo de direito, no h mais como sustentar as antigas teorias da jurisdio, que reservavam ao juiz a funo de declarar o direito ou de criar a norma individual, submetidas
que eram ao princpio da supremacia da lei e ao positivismo acrtico. O Estado constitucional inverteu os
papis da lei e da Constituio, deixando claro que a legislao deve ser compreendida a partir dos princpios constitucionais de justia e dos direitos fundamentais. Expresso concreta disso so os deveres de o
juiz interpretar a lei de acordo com a Constituio, de controlar a constitucionalidade da lei, especialmente atribuindo-lhe novo sentido para evitar a declarao de inconstitucionalidade, e de suprir a omisso
legal que impede a proteo de um direito fundamental. (...) O direito fundamental tutela jurisdicional,
alm de ter como corolrio o direito ao meio executivo adequado, exige que os procedimentos e a tcnica processual sejam estruturados pelo legislador segundo as necessidades do direito material e compreendidos pelo juiz de acordo com o modo como essas necessidades se revelam no caso concreto. (...) O juiz
tem o dever de encontrar na legislao processual o procedimento e a tcnica idnea efetiva tutela do
direito material. Para isso deve interpretar a regra processual de acordo, trat-la com base nas tcnicas da
interpretao conforme e da declarao parcial de nulidade sem reduo de texto e suprir a omisso legal
que, ao inviabilizar a tutela das necessidades concretas, impede a realizao do direito fundamental tutela jurisdicional. MARINONI, Luiz Guilherme. A Jurisdio no Estado Contemporneo. In Estudos de
Direito Processual Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 13-66.
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cirio, marcada pelo denominado Pacto de Estado em favor de um Judicirio mais rpido e republicano.10
Mobilizaram-se os Trs Poderes com o fito de se chegar a uma soluo
que atendesse aos anseios sociais em relao justia. As propostas inseridas naquele Documento determinaram a priorizao na apreciao de projetos de lei, cujos textos se destinassem a conferir ampliao ao acesso justia e maior rapidez na resposta jurisdicional.11
O referido acordo entre os Trs Poderes gerou impactos no ordenamento jurdico por meio de importantes modificaes, como por exemplo,
a alterao de diversos dispositivos do trintenrio Cdigo de Processo Civil.
Explanou-se que haveria um compromisso de implementao da reforma
constitucional do Judicirio bem como a reforma do sistema recursal e dos
procedimentos, alm da determinao para que a agenda parlamentar
inclusse os projetos de lei que objetivassem a regular e a incentivar a informatizao dos processos (e-process).
Essa preocupao governamental em criar mecanismos que conferissem prestao jurisdicional de modo mais clere j foi objeto de discusses
em perodos histricos anteriores. Desde os tempos dos visigodos,12 com a
criao do Cdigo Visigtico, inicialmente denominado Lex Roamana
Visigotorum, que foi a primeira legislao a vigorar na Pennsula Ibrica
aps o Domnio Romano, j havia a preocupao com a morosidade da
Justia. Aquele Cdigo distinguia duas formas de demandas. Eram os chamados pleito de grandes coisas e pleito de pequenas coisas.
No Sculo XIV, o Reinado Portugus demonstrou que as demandas
que no se resolvessem num prazo razovel acarretariam prejuzos s par-
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A respeito dos juizados nos tempos dos visigodos e da era monrquica portuguesa: BRANDO NETO,
Joo Marques. Juizados Especiais: a Fnix da Justia Ibero-Brasileira. In Revista Boletim Cientfico.
Juizados Especiais: a Fnix da Justia Ibero-Brasileira. Escola Superior do MPU. V. 4, n 16, jul./set. de
2005.
Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliao, no se comear Processo
algum. Art. 162. Para este fim haver juizes de Paz, os quaes sero electivos pelo mesmo tempo, e
maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuies, e Districtos sero regulados
por Lei. Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiao24.htm>.
Acesso em 29/12/2008.
TTULO II. Da Justia dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios. Art. 104 - Compete aos
Estados legislar sobre a sua diviso e organizao judicirias e prover os respectivos cargos, observados
os preceitos dos arts. 64 a 72 da Constituio, mesmo quanto requisio de fora federal, ainda os princpios seguintes: (...) f) competncia privativa da Corte de Apelao para o processo e julgamento dos
Juzes inferiores, nos crimes comuns e nos de responsabilidade. (...) 7 - Os Estados pediro criar Juzes
com investidura limitada a certo tempo e competncia para julgamento das causas de pequeno valor,
preparo das excedentes da sua alada e substituio dos Juzes vitalcios.
Art. 104 - Os Estados podero criar a Justia de Paz eletiva, fixando-lhe a competncia, com a ressalva do recurso das suas decises para a Justia togada. (...) Art. 106 - Os Estados podero criar Juzes com
investidura limitada no tempo e competncia para julgamento das causas de pequeno valor, preparo das
que excederem da sua alada e substituio dos Juzes vitalcios.
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atos previstos em lei, em atribuio judiciria de substituio. Para a apreciao dos casos de pequeno valor, o legislador determinou a criao de cargos de
Juzes togados com limitao temporal da investidura, mas revestido de competncia para substituir os Juzes vitalcios.17 A Constituio seguinte, aprovada em tempos de ditadura militar, dispunha da mesma forma.18
A partir de 1984, por meio da Lei n 7.244/84, o Brasil, pela primeira
vez, disciplinou em Lei prpria como se processariam os feitos e qual seria
a competncia para a apreciao de pequenas demandas. Eram os chamados juizados de pequenas causas,19 limitando a matria de competncia
funcional s demandas cveis e facultava a presena de advogado.20
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Art. 124 - Os Estados organizaro a sua Justia, com observncia dos arts. 95 a 97 e tambm dos seguintes princpios: (...) X - poder ser instituda a Justia de Paz temporria, com atribuio judiciria de
substituio, exceto para julgamentos finais ou recorrveis, e competncia para a habilitao e celebrao de casamentos o outros atos previstos em lei; XI - podero ser criados cargos de Juzes togados com
investidura limitada a certo tempo, e competncia para julgamento das causas de pequeno valor. Esses
Juzes podero substituir os Juzes vitalcios.
Constituio de 1967 - SEO VIII. Da Justia dos Estados. Art 136 - Os Estados organizaro a sua
Justia, observados os arts. 108 a 112 desta Constituio e os dispositivos seguintes: (...) 1 - A lei poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia: a) Tribunais inferiores de segunda instncia, com
alada em causas de valor limitado, ou de espcies, ou de umas e outras; b) Juzes togados com investidura limitada no tempo, os quais tero competncia para julgamento de causas de pequeno valor e
podero substituir Juzes vitalcios; c) Justia de Paz temporria, competente para habilitao e celebrao de casamentos e outros atos previstos em lei e com atribuio judiciria de substituio, exceto para
julgamentos finais ou irrecorrveis.
Aps longo debate, temos afinal aprovada a Lei do Juizado Especial de Pequenas Causas (JEPC). Tomou
ela o n 7.244/84, sendo sancionada a 7.11.84 e publicada no dia seguinte. As controvrsias surgidas
giraram em torno de alguns aspectos secundrios da proposta, como por exemplo a faculdade de patrocnio da causa por advogado. Quanto idia-matriz, porm, que de facilitar o acesso Justia, pouca
voz discordante se ouviu. Algumas pessoas procuraram substituir a idia de criao do Juizado Especial
de Pequenas Causas pela proposta de aperfeioamento do procedimento sumarssimo, no se dando
conta de que no se tratava de mera formulao de um novo tipo de procedimento, e sim de um conjunto de inovaes, que vo desde a nova filosofia e estratgia no tratamento dos conflitos de interesses at tcnicas de abreviao e simplificao procedimental. WATANABE, Kazuo; GRINOVER, Ada
Pellegrini; CARNEIRO, Joo Geraldo Piquet; LAGRASTA NETO, Caetano; DINAMARCO, Candido
Rangel. V.FRONTINI, Paulo Salvador. Juizado Especial de Pequenas Causas. So Paulo: Revista dos
Tribunais, 1985, p. 1.
Os juizados de pequenas causas, que consagraram no ordenamento ptrio a matriz de uma prestao
jurisdicional mais ampla, rpida e desburocratizada, j eram regidos por princpios, denominados por
aquela lei de critrios da simplicidade, oralidade, economia processual, gratuidade, celeridade e de
conciliao. Nas palavras de Kazuo Watanabe: Fala o art. 2, v.g., do critrio da simplicidade, que, bem
pensado, uma expresso dinmica dos princpios da liberdade das formas processuais e da sua instrumentalidade, em sua projeo sobre um processo que pretende ser acessvel e muito gil. Fala da oralidade, conspcua diretriz do processo moderno, de tradicionais razes romanas, mas que aqui, talvez pela
primeira vez entre ns, levada aos extremos do verdadeiro e integral dilogo falado entre o juiz as partes e as testemunhas. Fala da economia processual e a ela adiciona a gratuidade da justia em primeiro
grau de jurisdio (art. 51), porque seu manifesto intuito a abertura da via de acesso ao Poder Judici-
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rio para o completo cumprimento da promessa do servio jurisdicional, constitucionalmente apresentada de forma solene (Const., art. 153, 4). Fala da celeridade e institui um procedimento obstinadamente concentrado, sem oportunidades para dilaes que o aluguem, nem para incidentes que protelem a consumao do julgamento do mrito. O artigo 2. Proclama tambm a conciliao, como molamestra que h de informar e impulsionar todo o processo das pequenas causas numa clara recomendao aos aplicadores do novo sistema , no sentido de darem o melhor do seu empenho para a obteno da autocomposio dos conflitos pelas prprias partes. Juizado Especial de Pequenas Causas. So
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1985, p. 105.
Art. 98. A Unio, no Distrito Federal e nos Territrios, e os Estados criaro: I - juizados especiais, providos por juzes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliao, o julgamento e a execuo
de causas cveis de menor complexidade e infraes penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumarissimo, permitidos, nas hipteses previstas em lei, a transao e o julgamento de recursos por turmas de juzes de primeiro grau; II - justia de paz, remunerada, composta de cidados eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competncia para, na
forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofcio ou em face de impugnao apresentada, o processo de habilitao e exercer atribuies conciliatrias, sem carter jurisdicional, alm de outras previstas
na legislao. 1 Lei federal dispor sobre a criao de juizados especiais no mbito da Justia Federal.
Para demandas menos complexas, o direito estrangeiro tambm guarda procedimento diferenciado. A
Inglaterra, na segunda metade do sculo XX, instituiu a criao de trs tribunais independentes, j
extintos, mas que eram custeados naquela oportunidade por instituies privadas ligadas a advogados e
que buscavam a conciliao, facultando a representao processual por profissional habilitado. No atual
direito ingls, existem juizados para tratar de causas de menor complexidade, um oficial e outro extraoficial. Nos Estados Unidos da Amrica, que adota o sistema common Law, desde a dcada de 30, existem as denominadas Small Claims Court, Na Alemanha, para dirimir causas de menor complexidade,
existem as justias especializadas para tratar de matrias comerciais (Kammer fr Handelssachen), laborais (Arbeitsgerichte), administrativas (Verwaltungsgerichte), previdencirias (Sozialgerichte).
O artigo 2 da Lei n 9.099/95.
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Neste momento do estudo, devemos destacar que no Estado do Rio de Janeiro a atuao da Polcia
Judiciria j pode ser provocada por meio da ferramenta virtual. Conferir no site: www.delegaciavirtual.rj.gov.br.
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Desta forma esto sendo realizadas as assinaturas digitais no STF desde junho de 2006, por meio do convnio celebrado digitalmente entre aquele Tribunal e a CEF, que ser responsvel pela certificao digital, conforme Acordo de Cooperao Tcnica n. 6/2006. Disponvel em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=67295&caixaBusca=N. Acesso em 29/12/2008.
Resoluo n 287, de 14 de abril de 2004.
Acordo de Cooperao Tcnica n 6/2006 para a ampliao e incremento da prestao de servios de
Certificao Digital no mbito do STF. Disponvel em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticia
Detalhe.asp?idConteudo=67295&caixaBusca=N. Acesso em 29/12/2008.
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As excees correspondem aos casos em que, por fora de lei, deva se processar pela via da intimao
ou vista pessoal, nos termos do pargrafo segundo do artigo 4 da Lei n 11.419/06.
Em mdio prazo, acreditamos que a medida trar grande economia ao Poder Pblico, que custeia o
armazenamento dos atos processuais. A curto prazo, no entanto, j se vislumbra a economia que ser
repassada as partes, tendo em vista que o tempo gasto com inmeros procedimentos ser substitudo dos
processos por um simples toque de boto. Investimentos devero ocorrer para que a justia brasileira se
torne modelo para o mundo. O processo tradicional no ser subtrado de nossos fruns, mas com o
tempo deixar de ser a via escolhida pelos litigantes. O tempo mais uma vez marca a reforma do processo. Sem dvida alguma, a implementao do processo eletrnico trar ainda mais transparncia ao
Judicirio e, sobretudo, contribuir para a efetividade do princpio da durao razovel do processo
inserido em nossa Magna Carta pela Emenda Constitucional n 45/2004. (...) O processo virtual, como
j dito, representar a incluso digital do Judicirio, com a utilizao da tecnologia j disponvel na
maioria dos rgos jurisdicionais de nosso pas, tornando a prtica dos atos processuais mais rpida,
garantindo que o resultado final seja efetivo. BARBOSA, Hugo Leonardo Pena. Lei n 11.419/2006:
o processo eletrnico como garantia de um Judicirio efetivo. In Revista Dialtica de Direito
Processual, n 49, So Paulo: Oliveira Rocha, 2007, p. 79-94.
Uma vez proposta a ADIn, em abril de 2007 foi deferido pelo STF o ingresso, na qualidade de amicus
curiae do Instituto Brasileiro de Direito Eletrnico. Conferir em: http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3880&processo=3880. Acesso em 01/12/2008.
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Nesse aspecto, contudo, no h muito a se fazer. Realmente, a necessidade de proteger o meio ambiente e de economizar os recursos naturais do planeta impem um uso mais racional do papel. Uma soluo provisria seria disponibilizar equipamentos para apressar a incluso digital e dessa tarefa devem
participar todos os rgos da sociedade, a comear pela prpria OAB, que deve incentivar e subsidiar
os advogados.
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Lembramos que essa soluo que apontamos contraria a previso legal. Segundo a Lei dos processos virtuais, o credenciamento junto ao Poder Judicirio dever ocorrer por meio de procedimento em que
exigida a identificao presencial do interessado. (Artigo 2, 1, da Lei n 11.419/06). Como uma alternativa a solucionar esse impasse, verificamos que na ADIn proposta pela OAB destaca a existncia do
ICP-OAB, que seria a Autoridade Certificadora da OAB, e que poder emitir os certificados eletrnicos para os inscritos assinarem digitalmente processos virtuais.
Lei n 11.419/06: Artigo 11. (...) Pargrafo 6 Os documentos digitalizados juntados em processo eletrnico somente estaro disponveis para acesso por meio de rede externa para suas respectivas partes
processuais e para o Ministrio Pblico, respeitado o disposto em lei para as situaes de sigilo e de
segredo de Justia.
Artigo 5 LX, da Constituio Federal. Comentamos: pense-se, por exemplo, num indivduo que ajuza
ao indenizatria porque sofreu dano esttico; ou num outro que deseja saber quem seu pai; ou ainda
naquele que deseja se divorciar por ter descoberto o adultrio da parceira. So questes ntimas. Essas
pessoas tm o direito de ter suas informaes processuais devidamente resguardadas pelo Poder
Judicirio. Se elas, de incio, souberem que toda a qualquer pessoa poder acessar aquele processo virtual, ler o seu contedo e divulg-lo, provavelmente no procurar a via jurisdicional.
223
35
36
223
224
Outro ponto que vislumbramos o de que devam ser pensadas medidas de segurana quanto ao acesso aos autos virtuais por pessoas estranhas
ao processo, caso o texto legislativo que o restringe seja revisto. Para solucionar isso, pensamos na criao de um sistema capaz de rastrear e de registrar todas as pessoas que acessaram o histrico de cada processo. No caso de
divulgao indevida, fica muito mais fcil descobrir quem foi responsvel
pela utilizao imprpria da informao ou do documento.
Nos processos fsicos, os autos so acessados no balco cartorrio. Caso
os autos sejam retirados para fotocpia, por exemplo, a identificao e o
registro de quem os retira poder ser feita num Livro prprio. Nesses casos,
em ocorrendo a hiptese de uso indevido de informaes e documentos, a
identificao daqueles que manusearam os autos processuais fica mais fcil.
Por outro lado, na via da justia virtual, esse controle resta quase
improvvel, posto que, com o crescimento desenfreado e desregrado de lan
house, i. e., alm do uso inapropriado de ferramentas de Internet, saber-se
de onde foi feito o acesso e/ou quem foi o consulente inoportuno dos autos
virtuais, se tornar cada vez mais difcil.
Diante dessa hiptese, apontamos que h possveis solues para que
os acessos sejam controlados e monitorados, resguardando-se com isso os
princpios da publicidade, mas tambm o da intimidade. Vejam-nas abaixo.
Tomamos como exemplo as instituies bancrias, que oferecem medidas protetivas para a utilizao pelos correntistas da Internet quando da
realizao dos servios e transaes financeiras. Uma dessas medidas refere-se ao fato de que os acessos so realizados por meio de computadores
cadastrados junto ao sistema do banco, mediante o uso de senhas, bem
como que os acessos limitam-se ao uso daquela mquina cadastrada para tal
finalidade. Essa seria uma opo relevante e segura.
De toda sorte, pensemos que os Tribunais complementem os meios de
consultas aos autos virtuais na medida em que tambm passem a oferecer
espaos com mquinas disponveis e cadastradas no formato para o acesso
seguro, conforme sugerido acima, para que o pblico possa fazer consulta
virtual aos autos, mas que, para tanto, dever identificar-se perante um servidor pblico.
224
225
A mquina cadastrada monitoraria quais processos virtuais foram acessados, por quem, a que horas e quais documentos foram consultados. Isso
poder parecer, primeira vista, uma medida ditatorial e burocrtica.
Porm, olhando-se por outro ngulo, os autos processuais, embora possam
em sua maioria ser consultados publicamente, o sero feito de maneira prudente. Por outro lado, em no sendo aplicadas essas medidas preventivas,
poder ocorrer a banalizao do interesse e do direito dos atores do processo, e, com isso, da sociedade como um todo.
Contudo, ainda que fixados esses parmetros, preciso reconhecer que
persiste outro grande entrave a obstaculizar e limitar o acesso das pessoas
ao juzo virtual. Esse comprometimento fruto dos deficientes nveis de
desenvovimento econmico-social, que so uma realidade no Brasil.
Agrava-se a questo quando atentamos para o fato de que, no custa
lembrar, nos juizados especiais pode haver o contato direto da parte interessada com o juzo competente, sem a intermediao do advogado (nas
hipteses cuja causa no exceda 20 salrios mnimos, no mbito estadual e
60 salrios mnimos na esfera federal).
Veja-se que sem a assitncia do causdico, portanto, sem o conhecimento tcnico adequado, e sem conhecer as ferramentas para o uso da
Internet e dos editores de texto, dificulta-se bastante a situao da parte na
esfera virtual. Isso pode mitigar perigosamente o princpio do acesso efetivo justia, maculando-o de forma irreversvel.
Observando mais esse vis negativo da discusso proposta, vejamos os
fundamentos a seguir.
Inicialmente, preciso dizer que, segundo pesquisas realizadas no ano de
2007 por meio de Estudos intitulados Governo Eletrnico e Habilidades
com Computador e Internet, realizados pelo Centro de Estudos sobre as
Tecnologias da Informao e da Comunicao (CETIC.br),37 constatou-se que:
a) Quanto ao acesso: apenas 25% da populao brasileira, maiores de dezesseis anos, utilizaram a internet para interagir
37
225
226
38
226
BARROSO, Luis Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. Rio de Janeiro:
Renovar, 1990, p. 76 e ss.
227
5. Consideraes finais
Propusemos uma anlise da preservao das garantias processuais no
processo virtual. Para isso, passamos brevemente pelos movimentos de acesso justia, pelo histrico da busca por mecanismos mais cleres de conferir
justia, notadamente em matrias menos complexas, pela criao dos juizados, suas peculiaridades e pioneirismo no processo virtual na esfera nacional,
pelas argumentaes quanto constitucionalidade da Lei n 11.419/06, chegando grande indagao quanto s garantias processuais na esfera virtual.
Pois bem. A celeridade tem sido o grande objeto propulsor das modificaes legislativas. Foram muitas lei reformadoras desde 1973, quando o
nosso Cdigo de Ritos entrou em vigor. Considerando a legislao extravagante, foram mais de sessenta alteraes cuidando de procedimentos diversos, conquanto no prprio corpo do CPC, no mesmo ano de sua edio,
foram alterados setenta e dois artigos.39
Dessa data at a promulgao da Constituio de 1988, houve a alterao de vinte dois artigos, seguindo-se a Reforma do Judicirio instituda
pela Emenda Constitucional 45/04. Com isso, alguns dispositivos chegaram
a ser alterados mais de uma vez.40
Mencionamos esses dados para levar o leitor a refletir sobre a plausibilidade das alteraes, necessrias sim, sobretudo em razo dos novos conflitos em escala de massa, mas que demandam cautela e prudncia do legislador, para que no se comprometa a integridade do sistema processual diante de tantos remendos. Concordamos que as reformas sejam necessrias,
assim, como os juizados so o grande passo para desafogar a justia e conferir prestao jurisdicional da forma mais rpida, acessvel e justa possvel.
Modificar a legislao, inovar, adequar-se s novidades tecnolgicas e
utilizar-se dessas ferramentas a fim de que o Direito seja conferido e assegurado a quem o detm de fato so atitudes louvveis. Porm, como profissionais do direito, devemos analisar e exercer nossa contribuio social ao
39
40
Lei n 5.925/73.
Veja-se o caso do agravo, alterado pelas Leis n 9.139, n 10.352/01 e Lei n 11.187/05.
227
228
apontarmos em que aspecto possa haver conflito entre a celeridade proposta pelo legislador infraconstitucional e as garantias processuais.
Isso porque devemos nos preocupar com a preservao da integridade
e da coerncia do sistema, ponderando-o previamente com os setores doutrinrios e judiciais quanto viabilidade das modificaes. E, com isso, destacamos que os juizados especiais tambm esto subordinados observncia dos princpios do contraditrio e do devido processo legal, bem como
aos demais princpios fundamentais e do direito processual.
Os juizados especiais, regidos pelos princpios da informalidade, simplicidade, em que se admite at mesmo ao jurisdicionado dispensar a representao processual,41 bem como figurando como verdadeiro desbravador
ao reunir atividade judicante e tecnologia possibilitando o e-process, dever ser observado tambm sob a tica das garantias processuais, como a isonomia e o acesso justia.
A justia igualitria aquela que permite s partes a igualdade de
armas diante do Poder Judicirio. Caso contrrio acarretar um desequilbrio dentro da relao jurdica processual, principalmente, como visto
acima, em casos em que a parte acessa diretamente o Poder Judicirio, sem
a assistncia do advogado. Se a lei resolveu criar tal hiptese, deve assumir
a responsabilidade de viabiliz-la de forma adequada.
Visto isso, consideramos que, quando a temtica celeridade, notadamente para este estudo do processo virtual, aspectos importantes devem ser
ponderados para se compreender o que contribuio social e o que est se
mostrando nocivo sociedade. Isso, claro, sem deixarmos de concordar e
destacar que a informatizao do processo gera sim muitos benefcios sociais.
Benefcio maior ainda poder ser alcanado com os processos virtuais
se forem considerados e respeitados os limites do desenvolvimento econ41
228
229
mico, social e estrutural de nosso pas, lembrando que uma grande mudana deve ser efetivada de forma planejada, equilibrada e racionalizada. De
nada adianta buscar solues instantneas, milagrosas e com forte apelo de
mdia, quando todos ns sabemos que o processo virtual precisa de um
perodo de maturao, e no deve extinguir completamente o processo de
papel, pelo menos no em curto prazo.
6. Referncias bibliogrficas
ARONNE, Bruno. Processo digital. Informatizao da Justia exige empenho e cautela. Fonte: http://conjur.estadao.com.br/static/text/65929.
Acesso em 22/01/2009.
BARACHO, Jos Alfredo de Oliveira. Direito Processual Constitucional.
Belo Horizonte: Frum, 2006.
BARBOSA, Hugo Leonardo Pena. Lei n 11.419/2006: o processo eletrnico como garantia de um Judicirio efetivo. In Revista Dialtica de
Direito Processual. N 49, So Paulo: Oliveira Rocha, 2007, p. 79-94.
BARROSO, Luis Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas
Normas. Rio de Janeiro: Renovar, 1990.
BRANDO NETO, Joo Marques. Juizados Especiais: a Fnix da Justia IberoBrasileira. In Revista Boletim Cientfico. Juizados Especiais: a Fnix da Justia Ibero-Brasileira. Escola Superior do MPU. V. 4, n 16, jul./set. de 2005.
BRASIL/ Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia/DF, 1988.
BRASIL/ Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia/DF, 1967.
BRASIL/ Constituio dos Estados Unidos do Brasil. 1946.
BRASIL/ Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil. 1937.
BRASIL/ Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil. 1934.
BRASIL/ Constituio Poltica do Imprio do Brazil. 1824.
BRASIL/ Congresso Nacional. Lei n 11.419. Dispe sobre a informatizao
do processo judicial; altera a Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973
Cdigo de Processo Civil; e d outras providncias. Braslia/DF, 2006.
______. Lei n 11.187. Altera a Lei n 5.869, de 11 de janeiro de 1973
Cdigo de Processo Civil, para conferir nova disciplina ao cabimento
229
230
231
7. Referncias eletrnicas
http://www.ag.gov.bc.ca/courts/civil/smallclaims/guides/what_is_small_claims
http://www.ajufe.org.br
http://www.cetic.br
http://www.delegaciavirtual.rj.gov.br
http://www.jfrj.gov.br
http://www.mj.gov.br
http://www.planalto.gov.br
http://www.priberam.pt
http://www.stf.jus.br
231
10
Reflexes sobre o Processo Eletrnico
nos Juizados Especiais Cveis
Erick Linhares
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Desafios e resultados. 2.1. Software livre. 2.2. Benefcios. 2.3. Acesso justia. 2.4. Economia de recursos. 3. Pressupostos para implantao. 3.1. Treinamento.
3.2. Equipamento. 3.3. Unicidade do sistema. 3.4. Processos fsicos anteriores. 3.5. Responsabilidade pela insero de dados e integralidade do meio eletrnico. 3.6. Protocolo e
tempestividade. 3.7. Digitalizao invivel de documentos. 3.8. Materializao de autos virtuais. 3.9. Formato dos documentos. 3.10. Comunicaes processuais. 3.11. Defesa. 3.12. Oficiais de justia. 3.13. Sade laboral. 4. Concluso. 5. Bibliografia.
1. Introduo
A informtica mais que uma tecnologia, uma revoluo que condiciona nosso presente. Sua ampla utilizao no mundo jurdico ainda desconhecida pela maior parte dos tribunais.
O objetivo deste artigo expor, com informaes prticas, as vantagens da substituio do papel pelo registro eletrnico de autos, com base na
experincia da Justia de Roraima que, em janeiro de 2009, completou dois
anos de implantao do processo eletrnico em todos os Juizados Especiais
Cveis de sua capital.
2. Desafios e resultados
Em 2005, o Tribunal de Justia de Roraima definiu alguns pressupostos para a virtualizao de autos:
1) o software deveria ser livre;
2) a nova tecnologia deveria apresentar benefcios para o Poder
Judicirio, para os advogados, para o Ministrio Pblico e
para os cidados;
233
234
Erick Linhares
235
2.2. Benefcios
Muitos precisaram ser convencidos que o processo eletrnico no era
apenas outro brinquedo tecnolgico, mas uma escolha racional que contribuiria para melhorar a Justia, pelos seguintes motivos:
1)
2)
3)
4)
5)
ecologicamente correto;
reduz custos para o Poder Judicirio;
simplifica a comunicao processual (intimaes e citaes);
torna a Justia funcional vinte e quatro horas por dia;
apresenta comodidades: permite que o advogado peticione e
que o juiz decida de qualquer lugar do planeta;
6) elimina o tempo morto na tramitao do processo;
7) inviabiliza subtrao ou desaparecimento de autos; e
8) facilita o acesso do cidado Justia.
235
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Erick Linhares
237
7000
6550
N DE AES
6000
5000
4881
4000
3000
2299
2000
1377
1000
0
1153
1753
1274
1803
1776
2706
2603
3569
2784
214
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
ANO
237
238
Erick Linhares
238
a)
b)
c)
d)
239
3.2. Equipamento
A implantao do processo eletrnico pressupe a prvia instalao de
equipamentos de auto-atendimento ( 3 do art. 10 da Lei n 11.419/2006).
239
240
Erick Linhares
241
Perdidos so processos que ficam invisveis para o usurio, no obstante permaneam na base de
dados; exigindo-se consulta manual nesta para sua localizao.
241
242
Erick Linhares
243
3.11. Defesa
A resposta do requerido apresentada em audincia de instruo e julgamento, podendo o juiz determinar a insero eletrnica dos documentos
que reputar relevantes, ou determinar que seja certificado em ata resumidamente o seu contedo e, em qualquer dos casos, os documentos so restitudos parte que os apresentou, ao final da audincia.
4. Concluso
O processo eletrnico, diante de seu potencial de transformao da
Justia e de sua prtica, rompe com o status quo de sculos. uma grande
oportunidade e um imenso risco. Tudo depende de seu gerenciamento, que
243
244
Erick Linhares
5. Bibliografia
TRIBUNAL DE JUSTIA DE RORAIMA. Coordenadoria dos Juizados
Especiais. Boa Vista: 2009.
_____. Coordenadoria do PROJUDI. Boa Vista: 2009.
244
V
Direito do Consumidor
e Juizados Especiais Cveis
11
Tutela do Consumidor: Por que os
Juizados Especiais?
Delton Ricardo Soares Meirelles
Marcelo Pereira de Mello
1. Introduo
A proteo do consumidor e os juizados especiais demonstram ser dois
dos mais importantes instrumentos de acesso ao direito na atualidade.
Ambos so vistos associados, sendo os conflitos de consumo protagonistas
dos processos nos juizados especiais. Neste artigo ser questionada esta preferncia, haja vista a possibilidade da utilizao das agncias reguladoras
como instncia alternativa, nos conflitos envolvendo empresas concessionrias de servios pblicos.
Para tanto, ser abordado como os juizados especiais incorporaram a
judicializao das relaes de consumo, analisados num contexto de redemocratizao e reformas do Estado brasileiro. Em seguida, verificar-se- se
as agncias reguladoras poderiam ser utilizadas como rgo extrajudicial
para resoluo dos conflitos envolvendo concessionrias de servios pblicos. Por fim, buscar-se-o os motivos que induzem o consumidor a buscar
imediatamente a tutela jurisdicional estatal.
A pesquisa, alm de conter reviso literria necessria, inclui a anlise
de diversos julgados e dados estatsticos oficiais sobre o tema.
247
248
1
2
3
248
CAPPELLETTI, Mauro. & GARTH, Bryant. Acesso Justia. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988.
CAPPELLETTI, Mauro O problema de reforma do processo civil nas sociedades contemporneas in
O Processo Civil Contemporneo, p. 16.
Complementando seu pensamento, afirma que a anlise das primeiras produes brasileiras revela que
a principal questo naquele momento, diferentemente do que ocorria nos demais pases, sobretudo nos
pases centrais, no era a expanso do welfare state e a necessidade de se tornarem efetivos os novos
direitos conquistados principalmente a partir dos anos 60 pelas minorias tnicas e sexuais, mas sim a
prpria necessidade de se expandirem para o conjunto da populao direitos bsicos aos quais a maioria no tinha acesso tanto em funo da tradio liberal-individualista do ordenamento jurdico brasileiro, como em razo da histrica marginalizao scio-econmica dos setores subalternizados e da
excluso poltico-jurdica provocada pelo regime ps-64 (JUNQUEIRA, Eliane Botelho. Acesso
Justia: um olhar retrospectivo in Revista Estudos Histricos, n 18, 1996, p. 01, disponvel em
<http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/201.pdf>).
249
Sobre o poder corporativo dos magistrados brasileiros nas reformas judicirias, ver MELLO, Marcelo
Pereira de & MEIRELLES, Delton R. S. A reforma da Justia do Trabalho e o embate Judicirio X Legislativo, in Revista de direito da Universidade Municipal de So Caetano do Sul, n 14, jan./jul. 2008.
VIANNA, Luiz Werneck, CARVALHO, Maria Alice Resende de, MELO, Manuel Palcios Cunha &
BURGOS, Marcelo Baumann. A judicializao da poltica e das relaes sociais no Brasil. RJ: Revan,
1999, p. 167. Estes pesquisadores, mais a frente, afirmam que por motivaes distintas, ambos os universos o do associativismo dos magistrados gachos e o do Executivo Federal - convergiram na preocupao em reformar as prticas e as instituies do Poder Judicirio; no primeiro caso, atendendo s
presses sociais por direitos e visando criar um espao institucional onde a litigiosidade presente na
sociedade brasileira pudesse ser explicitada; no segundo caso, orientando-se por uma rationale tecnocrtica, coerente com os objetivos de simplificao e de modernizao do aparelho de Estado (...).
Assim, embora informada por uma perspectiva quase oposta, a que talvez no fosse estranha a contribuio terica de M. Cappelletti sobre a democratizao do acesso Justia, a experincia reformadora
ensaiada pelos juzes do Rio Grande do Sul acabaria tendo influncia sobre a agenda de modernizao
institucional concebida pelo executivo. (op. cit., p. 170)
CUNHA, Luciana Gross. Juizado Especial: criao, instalao, funcionamento e a democratizao do
acesso justia. 1 ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2007, p. 31.
249
250
250
Como destaca LEONARDO GRECO, Sem dvida o ltimo pressuposto do acesso ao Direito o acesso
Justia, no sentido de acesso a um tribunal estatal imparcial, previamente institudo como competente, para a soluo de qualquer litgio a respeito de interesse que se afirme juridicamente protegido ou
para a prtica de qualquer ato que a lei subordine aprovao, autorizao ou homologao judicial
(O acesso ao direito e Justia, in Estudos de Direito Processual. Campos dos Goytacazes: Faculdade
de Direito de Campos, 2005, p. 205).
WATANABE, KAZUO. Filosofia e caractersticas bsicas do Juizado Especial de Pequenas Causas in
Juizado Especial de Pequenas Causas (Coord. Kazuo Watanabe). So Paulo: Revista dos Tribunais, 1985,
p. 02.
251
O movimento de defesa do consumidor, no Brasil, iniciouse em fins da dcada de 70 em decorrncia da crescente conscientizao da sociedade sobre prticas abusivas de produo e
comercializao de bens e servios, sob a complacncia dos
poderes pblicos.
O nmero de propostas sobre o assunto encaminhadas a
esta Subcomisso bem demonstra a necessidade de se estabelecer princpios constitucionais que venham a orientar a formulao de um Cdigo do Consumidor.
(...) Os objetivos gerais do referido cdigo voltam-se para
assegurar aos cidados a defesa de seus interesses e, ao mesmo
tempo, concorrer para o aprimoramento da atividade econmica como um todo.9
Ressalte-se que este processo no foi exclusivo do Brasil, e sim se insere num cenrio global de acesso Justia e novos direitos.10 Entretanto,
importante destacar como os juizados especiais e a defesa do consumidor
foram constitucionalizados e regulamentados concomitantemente,11 no
sendo raro associ-los como grandes representantes de um modelo jurdico
democrtico e cidado,12 ainda que proporcionalmente pouco utilizados
pela populao.
Duas pesquisas de campo demonstram isto. No municpio de Niteri
(RJ), 81,3% dos entrevistados identificaram os juizados como rgos jurisdicionais (ndice superior ao da Justia do Trabalho 78%; e do TRE
9
10
11
12
BRASIL. Assemblia Nacional Constituinte. Relatrio e Anteprojeto da subcomisso dos direitos polticos, dos direitos coletivos e garantias. Disponvel em: <www.mj.gov.br>.
No surpreendente, portanto, que o direito ao acesso efetivo justia tenha ganho particular ateno na medida em que as reformas do welfare state tm procurado armar os indivduos de novos direitos substantivos em sua qualidade de consumidores (CAPPELLETTI, Mauro. & GARTH, Bryant.
Acesso Justia. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988, p. 10).
Os juizados especiais encontram-se previstos na Constituio (art. 95, I) e nas Leis ns 9.099/95 e
10.259/01; ao passo que a tutela do consumo tornou-se garantia constitucional (art. 5, XXXII) e merecedora de cdigo prprio (Lei n 8.078/90)
Pode-se incluir tambm a tutela coletiva do consumo, com a previso expressa da Lei n 7.347/85, a qual
garante a proteo do consumidor (art. 1, II) e conseqente extenso da legitimidade extraordinria.
Mais tarde, a Lei n 8.078/90 (Cdigo de Defesa do Consumidor) passa a regular especialmente a matria a partir de seu art. 81.
251
252
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14
15
252
MELLO, Marcelo Pereira de & MEIRELLES, Delton R. S. A Cultura Legal do Cidado de Niteri, in
Cadernos CEDES/IUPERJ, n 03.
Destaque-se o art. 6, VII: So direitos bsicos do consumidor: (...) o acesso aos rgos judicirios e
administrativos com vistas preveno ou reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteo Jurdica, administrativa e tcnica aos necessitados.
BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados
Especiais Cveis. Disponvel em www.mj.gov.br, 2006. Merece nota o trabalho pioneiro de PAULO
CEZAR PINHEIRO CARNEIRO, cuja pesquisa sobre acesso Justia no Rio de Janeiro aponta que
em todos os juizados pesquisados, pelo menos 50% das causas tm por base relaes de consumo
(Acesso Justia: juizados especiais. cveis e ao civil pblica. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003,
p. 144).
253
roienses julgaram 22.211 processos, dos quais 12.794 (58%) eram referentes
a direito do consumidor.16
Com relao ao Estado do Rio de Janeiro, seu Tribunal de Justia apresenta estatstica parcial de 2008 (atualizada at agosto17), revelando que 30
empresas respondem por 86% dos processos nos juizados especiais, todas
referentes direta ou indiretamente a relaes de consumo. Dentre elas, destacam-se as empresas de telefonia (2 Telemar/Oi telefonia fixa; 5 Vivo; 8 TIM; 9 Oi celular; 11 Claro e 24 Embratel/Livre/Vsper),
energia eltrica (3 Light e 4 AMPLA) e gua (14 CEDAE). No caso
de servios de telecomunicaes, dados do Ministrio da Justia mostram
que mais de um tero (33,6%) dos processos nos juizados especiais envolvem litgios de consumo envolvendo empresas de telefonia (na mdia das
capitais pesquisadas, o ndice menor: 22,8%).18
A empresa Telemar/Oi, a propsito, tem o ttulo nada honroso de
empresa mais acionada desde o incio do servio estatstico no Rio de
Janeiro.19 Uma das medidas para atenuar sua participao foi o acordo entre
a concessionria e o Judicirio fluminense em 1999, instituindo-se o projeto Expressinho, como uma instncia conciliatria prvia aos juizados.
interessante a observao de uma pesquisadora do projeto de diagnstico
dos juizados especiais brasileiros:
De qualquer sorte, nossa impresso pessoal de que a
TELEMAR tem uma atuao diferenciada no Rio de Janeiro: h
maior volume de celebrao de acordos (mesmo em se tratando
de indenizao por dano moral), h mutires, nos quais a
empresa desiste do recurso interposto e paga, de pronto, o valor
determinado na sentena. Contudo, enquanto no restante do
16
17
18
19
MELLO, Marcelo Pereira de & MEIRELLES, Delton R. S. Legitimidade judicial versus comunitria:
efeitos da atuao dos juzes leigos nos conflitos de vizinhana, in Anais do 6 Encontro da Associao
Brasileira de Cincia Poltica, 2008, Campinas.
Dados disponveis em: <http://www.tj.rj.gov.br/cgj/servicos/estatisticas/top30.html>.
BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais
Cveis. Disponvel em: <www.mj.gov.br>, 2006.
Se somarmos as causas envolvendo a TELEMAR NORTE LESTE S/A (OI telefonia fixa) e TNL PCS
S.A. (OI - telefonia celular), esta empresa foi acionada em 170.359 (16% do total de 1.049.265 processos nos juizados especiais fluminenses entre janeiro/2005 e agosto/2008).
253
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21
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23
24
254
FERRAZ, Leslie Shrida. Relatrio pesquisa juizados especiais cveis Rio de Janeiro in BRASIL
(Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais Cveis.
Disponvel em: <www.mj.gov.br>, 2006, p. 80.
Considerados por CAPPELLETTI & GARTH como litigantes habituais, os quais gozam de diversas vantagens em relao aos consumidores, geralmente litigantes eventuais (Acesso Justia. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 1988, p. 24).
Estes litgios de massa poderiam ser compostos coletivamente pelos procedimentos prprios, como j
defendiam CAPPELLETTI & GARTH. Vale aqui a observao de PAULO CEZAR PINHEIRO CARNEIRO, para quem existem vrias situaes comuns nas diversas aes nas quais figuram como rus as
pessoas antes mencionadas que, em tese, poderiam configurar direitos individuais homogneos, protegidos por ao civil pblica, no juzo competente (Acesso Justia: juizados especiais. cveis e ao civil
pblica. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 145). Frise-se que tais aes coletivas no poderiam ser
conhecidas pelos juizados, conforme entendimento consolidado no enunciado n 32 do FONAJE
(Frum Nacional dos Juizados Especiais).
Uma das solues adotadas no Rio de Janeiro foi a implementao de juzes leigos, auxiliares do juiz
togado. Entretanto, a burocratizao e a ausncia de legitimidade social e preparo tcnico acarretaram
a perda de credibilidade destes agentes. Esta curiosa passagem d a dimenso deste problema:
Interessante notar a postura do Magistrado em relao ao juiz leigo. Ele um pouco avesso idia,
entendendo que a administrao da pauta dos novos julgadores vai atrapalhar sua rotina. Ademais,
disse que os juzes leigos querem desfrutar do mesmo prestgio que os togados. Segundo ele, numa
festa da alta sociedade carioca, uma juza leiga deu a entender que era Magistrada, e os demais
magistrados ficaram perguntando em qual concurso ela havia sido admitida, at que, depois de
muito apert-la, ela revelou que era uma mera juza leiga (FERRAZ, Leslie Shrida. Relatrio
pesquisa juizados especiais cveis Rio de Janeiro in BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de
Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais Cveis. Disponvel em www.mj.gov.br,
2006, p. 82/83).
Sobre o tema, MEIRELLES, Delton R. S. Juzes leigos comunitrios: acesso Justia nas cidades in Ab
Initio (Revista da faculdade de direito da Universidade Federal Fluminense), n 01.
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H um importante depoimento coletado na pesquisa nacional sobre os juizados: Para o Dr. Marco, a
mudana mais importante para os JECs cariocas seria a criao de Varas especializadas em Direito do
Consumidor, apartando-as das demais demandas. Segundo o Magistrado, enquanto as aes dessa natureza tm um desfecho rpido, as brigas de vizinhos, ex-casais, familiares, etc. tomam um tempo enorme na pauta e nada solucionam, pois as partes buscam mesmo o litgio, no querem a pacificao.(FERRAZ, Leslie Shrida. Relatrio pesquisa juizados especiais cveis Rio de Janeiro in BRASIL
(Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais Cveis.
Disponvel em: <www.mj.gov.br>, 2006, p. 83.
BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Judicirio e economia. Disponvel
em: <www.mj.gov.br>, 2006, p. 06.
PINHEIRO, Armando Castelar. Impacto sobre o crescimento: uma anlise conceitual, in Judicirio e
Economia no Brasil. So Paulo: Sumar, 2000, p. 26.
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CAPPELLETTI, Mauro. & GARTH, Bryant. Acesso Justia. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988,
p. 52. Esta preocupao tambm se encontra presente em ALEXANDRE SANTOS DE ARAGO, quando
diz que o risco de contaminao parcial das agncias certamente no especfico das agncias reguladoras, ocorrendo, em maior ou menor grau, em toda a administrao pblica, aqui e alhures. Todavia, quando um ordenamento setorizado, os seus dirigentes, inclusive pela formao tcnico-profissional especializada no setor, tendem a ter um contato mais estreito e frequente com os agentes econmicos regulados,
o que, se por um lado positivo, por outro, se no forem criados os instrumentos necessrios, poder levar
parcialidade das agncias (Agncias reguladoras. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 366/367).
MEIRELLES, Delton R. S. Meios alternativos de resoluo de conflitos: justia coexistencial ou eficincia administrativa?, in Revista Eletrnica de Direito Processual n 01. Disponvel em: <http://www.
revistaprocessual.com/REDP_1a_30dezembro2007_RJ.pdf>.
Mesmo se tratando de sociedade de economia mista, no h empecilho para a utilizao de arbitragem,
conforme precedentes do STF (SE n 5206 AgR/EP, rel. Min. Seplveda Pertence; AI n 52.191, Rel.
Min. Bilac Pinto) e do STJ (AgRg no MS 11308 / DF, rel, Min. Luiz Fux).
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260
MOISS, Jos lvaro. Cidadania, confiana e instituies democrticas, in Lua Nova n 65: 71-94,
2005.
WEBER, Max. Economia y sociedad. Ciudad del Mexico: Fondo de Cultura Econmica, 1999.
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41
FERRAZ, Srgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo Administrativo. 1 ed. So Paulo: Malheiros
Editores, 2002, p. 21.
Idem, ibid.
FAGUNDES, Miguel Seabra. O controle dos atos administrativos pelo Poder Judicirio. 5 ed., Rio de
Janeiro, Forense, 1979, p. 282.
Justamente o que distingue a jurisdio da administrao esse desinteresse objetivo, essa indiferena
do Estado-juiz em que o resultado da sua atividade seja este ou aquele, enquanto o administrador sempre parte, agindo sempre no interesse do Estado ou da coisa pblica. GRECO, Leonardo. Garantias
fundamentais do processo: o processo justo, in Estudos de Direito Processual. Campos dos Goytacazes:
Faculdade de Direito de Campos, 2005, p. 231.
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CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de Direito Processual Civil (traduo por J. Guimares Menegale
e notas por Enrico Tullio Liebman). So Paulo: Ed. Saraiva, 1942, p. 23
Histricamente la cualidad preponderante que aparece inseparable de la idea misma del juez, desde su
primera aparicin en los albores de la civilizacin, es la IMPARCIALID. El juez es un tercero extrao
a la contienda que no comparte los intereses o las pasiones de las partes que combaten entre s, y que
desde el exterior examina el litigio con serenidad y con despego; es un tercero inter partes, o mejor an,
supra partes. Lo que lo impulsa a juzgar no es un inters personal, egosta, que se encuentre en contraste o en connivencia o amistad con uno o con otro de los egosmos en conflicto. El inters que lo mueve
es un inters superior, de orden colectivo, el inters de que la contienda se resuelva civil y pacificamente, ne cives ad arma veniant, para mantener la paz social. Es por esto que debe ser extrao e indiferente a las solicitaciones de las partes y al objeto de la lite, nemo iudex in re propria (CALAMANDREI,
Piero. Proceso y Democracia [traduo por Hector Fix Zamudio]. Buenos Aires: Ediciones Juridicas
Europa-America, 1960, p. 60).
Como se depreende no art. 37/CRFB: (A administrao pblica [...] obedecer aos princpios de [...]
impessoalidade [...]); art. 38, Lei n 9.472/97 (A atividade da Agncia ser juridicamente condicionada
pelos princpios da [...] impessoalidade [...]), art. 2, nico, III, da Lei n 9.784/99 (Nos processos administrativos sero observados, entre outros, os critrios de [...] objetividade no atendimento do interesse
pblico [...]); e os casos de impedimento (art. 18) e suspeio (art. 20) regulados pela Lei n 9.784/99.
O art. 11 da Lei n 9.784/99, p. ex., autoriza a delegao (arts. 12 a 14) e avocao (art. 15) de competncia.
Ainda que o art. 35 da Lei n 9.099/95 admita a percia (quando a prova do fato exigir, o Juiz poder inquirir tcnicos de sua confiana, permitida s partes a apresentao de parecer tcnico), mesmo informal
(enunciado n 15 do Frum Nacional de Juizados Especiais FONAJE), muitos juzes deixam de conhecer
da ao por uma suposta complexidade da prova tcnica. Isto se deve, no caso do Rio de Janeiro, a uma
indevida interpretao do conceito de causa cvel de menor complexidade (enumeradas ex lege pelo art.
3 da Lei n 9.099/95) e deste enunciado do TJ/RJ: No cabvel percia judicial tradicional em sede de
Juizado Especial. A avaliao tcnica a que se refere o Art. 35, da Lei n 9.099/95, feita por profissional da
livre escolha do Juiz, facultado s partes inquiri-lo em audincia ou no caso de concordncia das partes.
263
garantiria um maior grau de confiabilidade tcnica ao processo administrativo, como ressalta ALEXANDRE SANTOS DE ARAGO:
Em relao ao Poder Judicirio, a independncia dos rgos e entidades dos ordenamentos setoriais no pode, pelo
menos em sistemas que, como o nosso (art. 5, XXXV, C.F.),
adotam a unidade de jurisdio, ser afirmada plenamente. Em
tese, sempre ser possvel o acionamento do Judicirio contra as
suas decises. Todavia, em razo da ampla discricionariedade
conferida pela lei e ao carter tcnico-especializado do seu
exerccio, prevalece, na dvida, a deciso do rgo ou entidade
reguladora, at porque, pela natureza da matria, ela acabaria
deixando de ser decidida pela agncia, para, na prtica, passar a
ser decidida pelo perito tcnico do Judicirio.
O Poder Judicirio acaba, portanto, em razo de uma salutar autolimitao, tendo pouca ingerncia material nas decises
das agncias, limitando-se, na maioria das vezes, como imposio do Estado de Direito, aos aspectos procedimentais assecuratrios do devido processo legal e da participao dos direta ou
indiretamente interessados no objeto da regulao.47
A jurisprudncia extremamente cautelosa quanto ao judicial review
nos conflitos envolvendo as agncias reguladoras. Mais do que respeito
garantia de independncia entre as funes estatais, o Judicirio reconhece
sua limitao ao decidir sobre questes eminentemente tcnicas. Neste sentido, a 2 Turma do Superior Tribunal de Justia, no julgamento do recurso
especial n 872.584/RS (rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 20/11/2007)
em que o consumidor ajuizara ao anulatria com pedido de restituio de
indbito em face da BRASIL TELECOM S/A, referente cobrana indevida de assinatura bsica residencial, decidiu que
47
ARAGO, Alexandre Santos de. As agncias reguladoras independentes e a separao de poderes: uma
contribuio da teoria dos ordenamentos setoriais. Revista Dilogo Jurdico, Salvador, CAJ Centro de
Atualizao Jurdica, n 13, abr./maio, 2002, p. 30. Disponvel em: <http://www.direitopublico.com.br>.
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Vale destacar que, neste caso, o STJ inclinou-se pela regulao administrativa em detrimento do direito do consumidor. Conforme o voto do rel. Min. Humberto Gomes de Barros, no meu sentir, o ponto
de salincia deste recurso a opo do Superior Tribunal de Justia entre manter o modelo regulatrio
das telecomunicaes no Brasil, da forma como foi estruturado na Constituio de 1988, aps a Emenda
n 8/1995, ou abrir, em definitivo, o campo destinado regulao aos influxos do processo de judicializao da vida.
Ora, modelo regulatrio, em todos os pases que adotaram o modelo anglo-americano, a frmula sntese entre os extremos anteriormente experimentados nas sociedades industriais: o absentesmo estatal
e o regime de monoplio-oligoplio do Estado nas atividades econmicas de infra-estrutura. [...] H,
neste Tribunal e em diversos juzos brasileiros, uma pletora de aes sobre o problema do tensionamento das regras de Direito do Consumidor e das regras de outras provncias jurdicas, como o Direito
Administrativo ou o Direito Civil.
No campo da regulao de servios de telecomunicaes, a questo assume contornos ainda mais perturbadores. [...] Ora, se essa matria fosse analisada com o rigorismo cientfico, no se chegaria ao
absurdo de se confrontar as normas de Direito do Consumidor com as regras fundadas no Direito das
Telecomunicaes, como as ora debatidas neste recurso especial. A cobrana de assinatura bsica tema
alheio s relaes de consumo, quando se observa que seu fundamento o regime tarifrio advindo da
delegao normativa Anatel, por fora da Constituio, e concretizado em regulamentos, editais de
licitao e em contratos de concesso. A empresa operadora do STFC Servio de Telefonia Fixa
Comutada no exige esses quantitativos com base em direito seu, mas, como decorrncia da equao
econmico-financeira que lastreia seu vnculo com a Administrao Pblica.
O Direito do Consumidor qualifica as relaes jurdicas entre usurios e operadoras naquilo que no for
objeto de regulao ou quando a regulao extrapolar os limites cientficos do Direito das
Telecomunicaes e passar a invadir a rbita daquela provncia. A cobrana indevida de ligaes no
efetuadas questo nitidamente consumerista. A exigncia da assinatura bsica, por seu turno, tema
especfico da regulao dos servios de telecomunicaes (STJ. 2 T. REsp 872584/RS, j. 20/11/07).
STJ. 2 Turma. REsp 572070/PR, rel. Min. Joo Otvio de Noronha, j. 16/03/2004. Nos termos do voto do
relator, no caso presente, observo que a deciso hostilizada, embora reconhecendo que as chamadas
reas locais devam ser fixadas, nos termos da legislao de regncia, com base em critrios de natureza
predominantemente tcnica, acabou por adentrar no mrito das normas e procedimentos regulatrios que
inspiraram a atual configurao dessas reas, invadindo seara alheia na qual no deve se imiscuir o Poder
Judicirio. Ao intervir na relao jurdica para alterar essas regras, estar o Judicirio, na melhor das hipteses, criando embaraos que podem comprometer a qualidade dos servios prestados pela concessionria. Alm disso, no concebo como se possa interferir de forma to radical em um setor de tamanha complexidade e sensibilidade como o das comunicaes com base em mera presuno de que prestadora de
servios dispe, na rea questionada, de uma adequada engenharia de rede de telecomunicaes.
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A 8 Turma do TRF/2 Regio tambm se posicionou neste sentido, no julgamento da Apelao Civel n
397032 (rel. Des. Fed. Marcelo Pereira. j. 01/07/2008): A atuao do Poder Judicirio interferindo na
determinao das reas que ensejam cobrana de tarifa local mostra-se indevida no s por configurar
intromisso na seara de discricionria regulamentao da Agncia, mas tambm por no deter o
Magistrado as informaes tcnicas necessrias a aferir os critrios para melhor prestao do servio de
telefonia.
MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Dois cientistas polticos, trs economistas e a Justia brasileira, in
Temas de Direito Processual: 7 srie. Rio de Janeiro: Saraiva, 2001, p. 403. Aps analisar este ensaio, o
processualista faz uma dura crtica, afirmando que (...)os trs economistas no apresentaram provas da
propenso da Justia brasileira para favorecer os devedores; utilizaram, para repetir a frmula j recordada, argumento emprico sem apoio emprico. Mas a verdade nua e crua que, caso examinassem a
legislao em vigor, encontrariam nela alguma base para sustentar que, em certa medida insisto: em
certa medida , tal propenso recomendada aos juzes. Quer dizer: conforme as circunstncias, se eles
esto mesmo favorecendo devedores, nem sempre fazem mais do que aplicar, como lhes cumpre, o
direito vigente (op. cit., p. 412).
Um sistema de resoluo de conflitos caracteriza-se como justo quando a probabilidade de vitria
prxima a um para o lado certo e a zero para o lado errado. A parcialidade claramente ruim, e difere
da imprevisibilidade porque distorce o sentido de justia de uma forma intencional e deterministra. Os
tribunais podem ser tendenciosos devido corrupo, por serem politizados (favorecendo a certas classes de litigantes como membros da elite, trabalhadores, devedores, residentes etc.), ou por no gozarem
de independncia em relao ao Estado, curvando-se sua vontade quando o governo parte na disputa. PINHEIRO, Armando Castelar. Impacto sobre o crescimento: uma anlise conceitual, in
Judicirio e Economia no Brasil. So Paulo: Sumar, 2000, p. 29.
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mercado. Com efeito, uma sbia poltica de proteo dos consumidores tende a restabelecer o equilbrio perdido, restituindo
ao consumidor aquela efetiva capacidade de escolha que serve,
precisamente, de guia e de estmulo para o produtor, assegurando assim, no interesse comum, a eficincia da economia.52
Os juizados especiais se tornaram um campo propcio a esta insegurana jurdica. De fato, h uma confuso corriqueira entre princpio da informalidade e casusmo procedimental, permitindo ao juiz conduzir o processo arbitrariamente, muitas vezes em desrespeito garantia do devido processo legal.53 Alm disso, nos juizados especiais estaduais ainda no h um
sistema claro de harmonizao de seus julgados, em virtude da incompetncia do Superior Tribunal de Justia em conhecer de recursos especiais contra as decises das turmas recursais.54
Assim, quanto menos o Judicirio intervier, melhor ser para a
Economia. No de se estranhar que, diante da afirmao os empresrios
costumam dizer que sempre melhor fazer um mau acordo do que recorrer Justia, 36,9% dos entrevistados concordaram totalmente e 51,3%
concordaram parcialmente (total 88,2%).55
Face ao exposto, tem-se que no h razes suficientes para se afirmar
que uma deciso tomada em sede de juizado especial seja mais segura ou
confivel que um julgamento administrativo pelas agncias reguladoras.
Muito pelo contrrio, a especializao administrativa, aliada ao desinteresse das agncias, permitiriam um julgamento mais previsvel e tcnico do
que possibilitaria o juizado especial.
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CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de direito processual civil (trad. J. Guimares Menegale). Vol. I.
So Paulo: Saraiva, 1943, 12, p. 84
BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais
Cveis. Disponvel em: <www.mj.gov.br>, 2006.
H uma varivel importante, que causa distoro no sistema dos juizados. Se, de um lado, algumas
empresas conscientemente violam direitos de consumidores (forando-os a defender seus interesses
administrativa ou judicialmente), por outro lado no so raros os casos de aventureiros ou litigantes
profissionais. Como o art. 54 da Lei n 9.099/95 dispensa o recolhimento de custas em primeiro grau de
jurisdio, isto estimula o demandismo, que dificilmente reprimido devido a ineficcia dos mecanismos de conteno de abusos processuais (como a litigncia de m-f do art. 55 desta lei).
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Art. 30. Havendo interrupo do acesso ao STFC na modalidade local, a prestadora deve conceder crdito ao assinante prejudicado.
1 No devido crdito se a interrupo for causada pelo prprio assinante.
2 O crdito deve ser proporcional ao valor da tarifa ou preo de assinatura considerando-se todo o
perodo de interrupo.
3 O crdito relativo interrupo superior a 30 (trinta) minutos a cada perodo de 24 (vinte e quatro)
horas deve corresponder, no mnimo, a 1/30 (um trinta avos) do valor da tarifa ou preo de assinatura.
4 O crdito a assinante na forma de pagamento ps-pago deve ser efetuado no prximo documento
de cobrana de prestao de servio, que deve especificar os motivos de sua concesso e apresentar a
frmula de clculo.
5 O crdito a assinante de terminal a que est vinculado crdito pr-pago deve ser ativado e comunicado ao assinante em at 5 (cinco) dias, contados do restabelecimento do servio.
6 O recebimento do crdito, pelo assinante, no o impede de buscar o ressarcimento que ainda entenda devido, pelas vias prprias.
7 A concesso do crdito no exime a prestadora das sanes previstas no PGMQ-STFC, no contrato de concesso ou de permisso, ou no termo de autorizao.
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Diante da divergncia feita pelo Min. Nelson Jobim, para quem esta apreenso caracteriza tipicamente o exerccio do poder de polcia, restrito ao seu mister, ou seja, aquele que tiver exercido ilegalmente a sua atividade ter os bens apreendidos. A discusso, depois, da ilegalidade ou no desse ato ser no
Poder Judicirio; o Min. Seplveda Pertence alega que com essa amplitude eu diria quase ilimitada,
dada a extenso do mundo das telecomunicaes em que vivemos , o dispositivo efetivamente traz,
pelo menos, riscos serissimos de violao do princpio do devido processo legal.
STJ. 1 Turma. REsp 951892/CE, rel. Min. Francisco Falco, j. 16/08/2007; STJ. 1 Turma. REsp
635884/CE, rel. Min. Denise Arruda, j. 04/04/2006; STJ. 1 Turma. REsp 551525/CE, rel. Min. Denise
Arruda, j. 23/08/2005; STJ. 2 Turma. REsp 696135/CE, rel. Min. Franciulli Netto, j. 15/03/2005 STJ. 1
Turma. REsp 628287/CE, rel. Min. Francisco Falco, j. 18/11/2004; STJ. 1 Turma. REsp 643357/CE, rel.
Min. Luiz Fux, j. 09/11/2004; STJ. 2 Turma. REsp 626774/CE, rel. Min. Eliana Calmon, j. 17/06/2004.
STF. Pleno. Rcl 5310/MT, rel. Min. Crmen Lcia, j. 03/04/2008.
269
270
52), sejam de tutela especfica, seja de atos de penhora. Ocorre que tais vantagens so extensveis ao acordo mediado pela agncia reguladora, j que os
juizados especiais tambm so competentes para a execuo de ttulos executivos extrajudiciais, no valor de at quarenta vezes o salrio mnimo (Lei
n 9.099/95, art. 3, 1, II, c/c art. 53), como a conciliao reduzida a termo
e subscrita pelas partes (art. 585, II/CPC) e a deciso arbitral pela agncia
reguladora (art. 475-N/CPC). Em verdade, deve-se observar a singularidade da condenao estatal face s vias alternativas, e no no procedimento
executivo.63
A durao do processo judicial um fator de extrema relevncia. O volume excessivo de causas, a mentalidade cartorria do Judicirio e a cultura litigiosa contribuem para compreender a demora endmica dos conflitos levados
aos Juizados. Conforme se observa da pesquisa da Secretaria de Reforma do
Poder Judicirio,64 mesmo com uma poltica agressiva de estmulo conciliao,65 pouco mais de um tero dos processos encerrado com acordo em
audincia de conciliao. Ainda assim, esta composio leva em mdia 70 dias
para ocorrer nos juizados especiais das capitais analisadas. Se houver instruo
e recurso da sentena, o prazo se estende para cerca de seis meses e meio.
Ato processual
Percentual
Durao mdia
de conciliao
34,5%
070 dias
Acordo em AIJ
20,9%
189 dias
Sentena
33,4%
193 dias
Recurso
08,9%
199 dias
Execuo
15,3%
300 dias
Acordo em audincia
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Certamente que esta observao restringe-se ao desenvolvimento da hiptese, haja vista as constantes
reformas da execuo, desde a tutela especfica do art. 84 do Cdigo de Defesa do Consumidor, at as
recentes Leis ns 11.232/05 e 11.382/06.
BRASIL (Ministrio da Justia/Secretaria de Reforma do Judicirio). Diagnstico dos Juizados Especiais
Cveis. Disponvel em: <www.mj.gov.br>, 2006
Destacando-se o movimento Conciliar legal, em que o Conselho Nacional de Justia organiza a
Semana Nacional de Conciliao, alm de oferecer suporte operacional e outros estmulos s instituies judicirias brasileiras.
271
Ainda que sem maiores dados estatsticos sobre o tempo mdio que se
leva para ser processada a reclamao administrativa, no restam dvidas
que sua informalidade garantiria um prazo bem menos longo que a realidade dos juizados. Mesmo a conciliao administrativa ou um eventual procedimento arbitral, caso fossem utilizados, dificilmente demoraria mais que
o processo jurisdicional.
Se no h diferenas substanciais entre a execuo da sentena do juizado especial e do ttulo extrajudicial composto em sede de agncia reguladora, ser que esta ofereceria alguma vantagem a mais para o consumidor?
Tendo em vista sua natureza regulatria, a agncia reguladora pode
disciplinar o mercado por meio de sanes administrativas. O art. 173 da
Lei n 9.472/97, p.ex., prev advertncia, multa,66 suspenso temporria,
caducidade e declarao de inidoneidade; respeitando-se sempre a prvia e
ampla defesa (art. 175). Tais medidas, assim com as de execuo indireta,67
podem se revelar mais efetivas do que a simples recomposio pecuniria
do dano, p. ex. Afinal de contas, as concessionrias devem cumprir metas
de qualidade perante a agncia reguladora, e quanto mais os consumidores
reclamam, maior ser a fiscalizao administrativa.
Lamentavelmente, ambas as instncias (jurisdicional e administrativa)
ainda no se mostraram completamente eficazes no controle das concessionrias de servios pblicos. De fato, estas empresas presentes na lista dos
juizados especiais fluminenses tambm so freqentes nas estatsticas das
agncias reguladoras, como vemos neste comparativo entre juizados especiais do Rio de Janeiro e ANATEL:68
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68
Lei n 9.472/97, art. 179: A multa poder ser imposta isoladamente ou em conjunto com outra sano,
no devendo ser superior a R$ 50.000.000,00 (cinqenta milhes de reais) para cada infrao cometida.
1 Na aplicao de multa sero considerados a condio econmica do infrator e o princpio da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sano.
Em monografia sobre o tema, MARCELO LIMA GUERRA diferencia as execues direta (forada) e
indireta, afirmando que naquela as medidas empregadas pelo juiz realizam, elas mesmas, a tutela executiva (vale dizer, a satisfao coativa do credor), enquanto na execuo indireta a tutela realiza-se sempre com o cumprimento pelo prprio devedor da obrigao; embora induzido pela imposio de medidas coercitivas (Execuo indireta. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 28).
Destaque-se que as estatsticas levam em considerao a proporo nmero de usurios X nmero de
reclamaes, tomando por base o universo de 1.000 consumidores. Dados retirados de <http://www.
anatel.gov.br/Portal/documentos/217453.pdf?numeroPublicacao=217453&assuntoPublicacao
=Ranking%20SMP%20-%20Agosto%20de%202008&caminhoRel=Cidadao>.
271
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Empresa
Agncia reguladora
Telemar/(fixo)
0,600/1.000 (5 lugar)
Vivo
0,218/1.000 (7 lugar)
TIM
0,402/1.000 (1 lugar)
OI
0,386/1.000 (3 lugar)
CLARO ATL
0,255/1.000 (4 lugar)
71
272
Princpios do processo civil na Constituio Federal. 7 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 106.
Como previam os artigos 94 da Constituio de 1937 ( vedado ao Poder Judicirio conhecer de questes exclusivamente polticas) e 11 do Ato Institucional n 05/1968 (excluem-se de qualquer apreciao judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares,
bem como os respectivos efeitos), o qual foi acolhido pelo art. 182 da Emenda Constitucional n
01/1969 (continuam em vigor o Ato Institucional n 5, de 13 de dezembro de 1968, e os demais Atos
posteriormente baixados) e reforado pelo seu art. 181 (ficam aprovados e excludos de apreciao
judicial os atos praticados pelo Comando Supremo da Revoluo de 31 de maro de 1964).
Conforme estipulava o art. 153, 4, da EC n 01/69, com a redao dada pela EC n 07/77: O ingresso
em juzo poder ser condicionado a que se exauram previamente as vias administrativas, desde que no
exigida garantia de instncia, nem ultrapassado o prazo de cento e oitenta dias para a deciso sobre o
273
Diante deste trauma ps-regime de exceo, a atual constituio apenas exige expressamente o exaurimento das vias administrativas nas aes
relativas disciplina e s competies desportivas (art. 217, 1). Com base
nisto, autores como FREDIE DIDIER JR rejeitam a constitucionalidade de
lei ordinria que, abstratamente, estabelea tal condio:
(...) no se justifica, constitucionalmente, luz do direito fundamental inafastabilidade (art. 5, XXXV, da CF/88), qualquer
regra legal que condicione o exerccio do direito de agir a um
prvio esgotamento de instncias extrajudiciais, a pretexto de
demonstrao do interesse de agir. No se pode, a priori, definir se h ou no interesse de agir. O legislador no tem esse
poder de abstrao. Utilidade e necessidade da tutela jurisdicional no podem ser examinadas em tese, independentemente
das circunstncias do caso concreto.72
No entanto, mesmo o Supremo Tribunal Federal j admite que lei ordinria pode estabelecer condies para o exerccio do direito de ao, como
o faz o Cdigo de Processo Civil. Como observa NELSON NERY JR., a
caracterstica que diferencia o direito de petio do direito de ao a
necessidade, neste ltimo, de se vir a juzo pleitear a tutela jurisdicional,
porque se trata de direito pessoal. Em outras palavras, preciso preencher
a condio da ao interesse processual.73
72
73
pedido. Neste contexto insere-se, p. ex., o processo administrativo fiscal disciplinado pelo Decreto n
70.235/72 (regulando o Decreto-lei n 822/69).
Ainda que seja possvel identificar uma relao muito prxima entre poltica e regras processuais, tornase importante destacar a observao de JOS CARLOS BARBOSA MOREIRA, para quem constitui exagero de simplificao conceber essa relao guisa de vnculo rgido, automtico e inflexvel, para considerar que, se determinada lei (processual ou qualquer outra) surgiu sob governo autoritrio, essa contingncia cronolgica fatalmente lhe imprime o mesmo carter e a torna incompatvel com o respeito s
garantias democrticas. A realidade sempre algo mais complexa do que a imagem que dela propem
interpretaes assim lineares, para no dizer simplrias (MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Privatizao
do processo?, in Temas de Direito Processual: 7 srie. Rio de Janeiro: Saraiva, 2001, p. 88/89.)
Pressupostos processuais e condies da ao: o juzo de admissibilidade do processo. So Paulo: Saraiva,
2005, p. 279.
Princpios do processo civil na Constituio Federal. 7 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.
101/102.
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acidentes de trabalho,80 militares81 e para tipificao dos crimes de sonegao e apropriao indbita previdenciria.82 Por outro lado, tambm corrente a dispensa de prvio esgotamento em questes previdencirias,83
repetio de indbito,84 indenizao por adeso a plano de aposentadoria
incentivada,85 vencimentos de servidor pblico86 e militares.87
Pode-se supor que este discurso do acesso Justia como preliminar ao
acesso ao direito seja conveniente para o Judicirio. Ao absorver uma quan80
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9. Concluso
Pelo que se observou, a composio administrativa dos conflitos entre
consumidores e concessionrias, mediada pelas agncias reguladoras, seria
mais benfico para as partes envolvidas e para a economia. Informalidade,
rapidez, conhecimento tcnico e possibilidade de execuo judicial posterior so apenas alguns dos argumentos que poderiam ser utilizados para se
reconhecer a vantagem deste meio alternativo aos juizados especiais.
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Pode-se especular, sem maiores dados empricos, que um dos principais motivos para o pouco uso da via administrativa seja o desconhecimento deste papel das agncias reguladoras (e a desconfiana por ser um rgo
administrativo), em oposio popularizao dos juizados especiais. Outra
razo seria o protagonismo poltico do Judicirio, visto como o grande
defensor dos consumidores em seus litgios com as grandes empresas. Por
fim, a patrimonializao destes conflitos, estimulada pela cultura reparatria e pela expectativa de indenizao pecuniria, tambm merece destaque
como explicao racional para a atitude dos consumidores.
De qualquer forma, vive-se numa realidade de solues particulares e
individualistas. De fato, as agncias reguladoras em tese seriam uma forma
mais pblica de controle, tomando-se o conceito de pblico no-estatal de
Bresser Pereira. No entanto, sem uma atuao mais incisiva, resta ao consumidor as solues judicantes, que acaba sendo mais demorada (em virtude do excessivo nmero de processos nos cartrios) e pontual. E como as
decises dos juizados no tm eficcia erga omnes, limitando-se a respostas
isoladas e dependentes da provocao individual de cada lesado.
Como j alertava Cappelletti, sinal de melhor acesso Justia um sistema de soluo extrajudicial de conflitos, pela chamada justia coexistencial e conciliatria. Este deveria ser o papel das agncias reguladoras, por
meio de processos administrativos eficazes e democrticos, e no se manterem omissas diante de sucessivos danos causados pelas empresas que deveriam ser fiscalizadas.
Assim, melhor que aplaudir os juizados como grandes reguladores dos
abusos das concessionrias, seria nos orgulharmos de um sistema pleno de
fiscalizao administrativa, de natureza preventiva e extrajudicial, deixando ao Judicirio apenas o julgamento excepcional de vcios de processos
administrativos ou questes de mbito mais coletivo.
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12
Tutela do Consumidor Superendividado
no mbito dos Juizados Especiais
Cveis Estaduais e Federais
Roberta Barcellos Danemberg
1. Introduo
O tema do superendividamento no novo, pois o instituto da insolvncia civil deveras antigo no Direito. A novidade nesse campo est relacionada poltica de proteo pessoa que se encontra com excesso de dvidas, trazendo prejuzo no s para si mesma e para o comrcio, mas muitas
vezes para a sua famlia e a sociedade.
de se observar, inicialmente, que a democratizao do crdito, longe
de trazer a to esperada felicidade, pode levar o ser humano prpria runa
financeira, com srias conseqncias psicolgicas. A facilidade de acesso ao
crdito, criada pela open credit society (sociedade aberta ao crdito), de
matriz norte-americana, capaz de seduzir muitas pessoas tomadas pelo
desejo de adquirir bens imediatamente.
Contrair um emprstimo no significa receber um favor, mas autntico direito; uma situao natural e necessria para aquelas pessoas que que281
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rem possuir bens que no podem ser comprados vista. Vale dizer, ser
devedor no mais motivo de vergonha, de modo que se endividar, assumindo prestaes para o pagamento de um carro ou imvel, uma conduta absolutamente comum, podendo-se afirmar que vivemos em uma economia do endividamento. O que gera preocupao o endividamento excessivo, isto , o superendividamento.
A propaganda tem sido agressiva, criando tentaes praticamente irresistveis atravs das diversas mdias, como jornal, televiso, rdio, internet,
alm de abordagens diretas na rua, com slogans como Crdito Fcil e
Comece a Pagar Ano que Vem.
Diante de tais anncios muitas pessoas parecem ficar embriagadas pelo
consumo, o que gera imensa chance de comprometerem-se com gastos
acima de sua realidade econmico-financeira, sobretudo se ocorrerem fatos
inesperados, como doena na famlia ou perda de emprego.
Para que as pessoas faam parte de relaes jurdicas, torna-se imperativo o respeito boa-f e confiana das partes contratantes, devendo
haver o fornecimento de informao adequada sobre riscos e custos do
negcio. O mercado deve constituir um local seguro, na medida em que o
contrato hoje est subordinado idia de funo social.
Ademais, preciso reconhecer que o superendividamento deve ser
evitado e erigido como autntica poltica estatal se quisermos um pas com
menos desigualdades e pessoas mais felizes.
2. O que superendividamento
Neste tpico sero lanadas consideraes sobre o conceito de superendividamento, seus requisitos e, por fim, a classificao que pode ser
encontrada em doutrina.
2.1. Conceito
O tema do superendividamento vem ganhando cada vez mais espao
no cenrio internacional. Nos pases de lngua inglesa conhecido como
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1
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Cf. MARIA MANUEL LEITO MARQUES et alii, O endividamento dos consumidores, passim.
Cf. IVN JESS TRUJILLO DEZ, El sobreendeudamiento de los consumidores, passim.
Segundo PAULO NADER, Curso de Direito Civil, vol. II, p. 510, inadimplemento descumprimento,
total ou parcial, de uma obrigao de dar, fazer ou no fazer; o no pagamento de dvida nas condies fixadas em negcio jurdico.
Para ARAKEN DE ASSIS, Resoluo do contrato por inadimplemento, p. 102, o inadimplemento absoluto se refere obrigao no cumprida e que nem poder s-la, traduzindo uma situao irrecupervel. O autor inclui a insolvncia, ao lado de outros casos como exemplo de inadimplemento absoluto.
Sugestes para uma lei sobre o tratamento do superendividamento de pessoas fsicas em contratos de
crdito ao consumo: proposies com base em pesquisa emprica de 100 casos no Rio Grande do Sul,
in: Revista de Direito do Consumidor, vol. 55, p. 12.
MARIA MANUEL LEITO MARQUES et alii, O endividamento dos consumidores, p. 235.
283
284
2.2. Requisitos
Em razo da ausncia de um tipo legal definindo claramente as hipteses de superendividamento e os seus requisitos, faz-se mister uma investigao luz do direito comparado, notadamente o francs, que tem uma
boa disciplina do instituto.
No sistema francs, o art. 331 do Code de la Consomation (L. 93/949
de 1993) institui um procedimento amigvel perante uma comisso de
acordo entre credores e o consumidor sobre as condies de pagamento,
exigindo os seguintes requisitos para que se configure o superendividamento: a) que o consumidor seja pessoa fsica domiciliada na Frana (ou francesa domiciliada no estrangeiro); b) que sejam dvidas de consumo (no relacionadas atividade profissional); c) boa-f do consumidor; d) impossibilidade manifesta do devedor de honrar com seus compromissos financeiros.10
Presume-se a boa-f do devedor independente do valor devido ou de
quantos so seus credores.11 Vale destacar os julgados da Corte de Cassao
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Idem, p. 251.
Idem, p. 251.
Idem, p. 265.
Cf. REINALDO LIMA LOPES, Crdito ao Consumidor e Superendividamento Uma problemtica
geral, in: Revista de Direito do Consumidor, vol. 17, p. 60; GERALDO DE FARIA MARTINS DA
COSTA, Superendividamento, p. 115-6.
GILLES PAISANT, El tratamiento del sobreendeudamiento de los consumidores em derecho francs,
in: Revista de Direito do Consumidor, vol. 42, p. 13, explica que tal presuno foi estabelecida pela
Corte de Cassao francesa, em virtude do silncio legal.
285
2.3. Classificao
Os superendividados so classificados pela doutrina em dois tipos: passivos e ativos. So considerados passivos aqueles que se tornam devedores
no por vontade prpria, mas por situaes que no puderam evitar, tais
como: falecimento de um parente prximo, desemprego ou divrcio.
J os superendividados ativos so aqueles que gastam muito por simplesmente no terem controle de suas finanas, sem que para isso tenha
ocorrido uma situao nova, o que no significa, contudo, a ausncia de
boa-f.14 Neste caso, o indivduo, na busca de manter um padro de dignidade que ele mesmo se impe, se endivida em demasia. Na maioria das
vezes, o consumidor at detecta o endividamento antes de contratar, porm
contrata impelido pela necessidade. Seja necessidade real ou necessidade
criada pelos costumes ou pela mdia.15
Tal classificao revela-se importante na medida em que rgos de
proteo do superendividado, como a Defensoria Pblica do Estado do Rio
de Janeiro, limitam a sua atuao ao superendividado passivo.16 Entretanto,
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CLAUDIA LIMA MARQUES, Sugestes para uma lei sobre o tratamento do superendividamento de
pessoas fsicas em contratos de crdito ao consumo: proposies com base em pesquisa emprica de 100
casos no Rio Grande do Sul, in: Revista de Direito do Consumidor, vol. 55, p. 46.
Cf. http:arquivoglobo.globo.com/pesquisa/texto_gratis.asp?codigo=2434687 (acessado em 30.11.2005).
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4. Causas do superendividamento
O desemprego tem sido apontado como um dos principais motivos
para o superendividamento entre os pesquisados no Rio Grande do Sul e no
Rio de Janeiro. Com a recente crise econmica mundial o nmero de
desempregados tende a crescer como apontam os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
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e Estatstica (IBGE) em maro de 2009: a taxa de desocupao em fevereiro foi de 8,5%, 0,3 ponto acima do dado de janeiro.26 Vale ressaltar que o
tempo mdio despendido na procura de trabalho chegava, em outubro de
2008, a 9 meses em So Paulo e 14 meses no Distrito Federal,27 o que demonstra a frgil situao do trabalhador que adquire uma dvida para pagamento a longo prazo. Pesquisa encomendada pela Confederao Nacional
da Indstria (CNI) ao Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica
(IBOPE) e divulgada em maro de 2009 revelou que o desemprego a
principal preocupao dos brasileiros para os prximos seis meses.28
possvel dividirmos os consumidores em dois tipos: os privilegiados
e os desfavorecidos.29 Ambos so vulnerveis tcnica e juridicamente, mas
os primeiros conseguem ter mais acesso ao crdito e bens, constituindo o
que se chama vulgarmente de classe mdia ou classe alta. Os desfavorecidos
constituem a classe baixa que tem como necessidade de consumo objetos
bsicos da vida urbana, como eletrodomsticos, que s lhes so acessveis
atravs da concesso de crdito. No Brasil, metade da populao constituda por consumidores desfavorecidos.30
No bastassem sua natural vulnerabilidade e o imenso nmero de
potenciais consumidores sedentos por comprar a prazo, a populao h
muito tempo exposta oferta de crdito fcil, nas mais diversas formas. O
crdito anunciado como um sonho, em todos os horrios e locais, pode ser
na rua, atravs de panfletos, ou durante um programa televisivo em que o
prprio apresentador torna-se o garoto propaganda.31
A criao do emprstimo consignado em folha de pagamento em 2003
para os trabalhadores da ativa e em 2004 para os aposentados e pensionis-
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tas, que tem como grande atrativo taxa de juros menor, fez crescer ainda
mais a oferta de crdito.32
A Previdncia Social informou, em seu portal, que at 4 de outubro de
2005, em um universo de 18.871.718 de aposentados e pensionistas,
4.974.416 de operaes de emprstimo consignado entre bancos conveniados
com INSS haviam sido realizadas, estando ativas 4.778.700 (descontados os
emprstimos cancelados e os j pagos pelos segurados). Deste universo de
operaes ativas, 49,89% referiam-se a aposentados e pensionistas com renda
de at um salrio mnimo.33 No perodo compreendido entre 2 de junho e 11
de julho de 2005 a mdia diria de operaes de crdito foi de 22,3 mil.34
J entre junho e agosto de 2008, foram feitas mais de 193 mil operaes
por aposentados e pensionistas, somando no final de agosto 14,83 milhes
de operaes ainda ativas.35 Note-se que nesta poca a crise econmica
mundial ainda no havia se instalado no pas.
A Instruo normativa do INSS n 33, de 05 de novembro de 2008,36
estabeleceu critrios e procedimentos operacionais relativos consignao
de descontos para pagamento de emprstimos e carto de crdito, contrados nos benefcios da Previdncia Social. O INSS buscou, desse modo,
reduzir os juros praticados nesses emprstimos consignados, alm de proporcionar maior proteo aos beneficirios, obrigando, por exemplo, as instituies financeiras a informarem previamente, ao titular do benefcio, o
valor total financiado, a taxa mensal e anual de juros, acrscimos remuneratrios, moratrios e tributrios, o valor, nmero e periodicidade das prestaes e a soma total a pagar por emprstimo. Limitou, ainda, o nmero de
60 parcelas e a margem consignvel a 30% do valor da aposentadoria ou
penso recebida, sendo 20% da renda para emprstimos consignados e
10% exclusivamente para o carto de crdito.37
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Como destaca a professora AMLIA SOARES DA ROCHA38 a seduo do crdito fcil leva facilmente ao superendividamento, o que compromete o prprio primado da vida digna.
Alm da grande oferta de crdito, deve ser destacado o fato de que em apenas 10% dos casos pesquisados pela Defensoria Pblica do Rio de Janeiro havia
sido exigido algum tipo de garantia. Percentual baixo tambm foi encontrado
pela Defensoria do Rio Grande do Sul (22%), na pesquisa j citada.
A liberao de qualquer garantia por parte do devedor funciona como
um verdadeiro chamariz, uma vez que a concesso do crdito fica muito
mais fcil de acontecer. Tal atitude talvez possa ajudar a explicar o acelerado crescimento do superendividamento no pas. Afinal, no de hoje que
se oferecem parcelamentos para praticamente todo o tipo de compra, em
um claro estmulo ao endividamento.
A renda do brasileiro est apertada, as pessoas esto endividadas.
preciso estmulo para as compras. Este o pensamento de JOO CARLOS
OLIVEIRA, presidente da Associao Brasileira de Supermercados (Abras),
que defende ser o parcelamento uma forma de negociao to vlida quanto o preo baixo.39
CLUDIO FELISONI, do Programa de Administrao do Varejo
(Provar) da Fundao Instituto de Administrao (FIA) informa que em pesquisa realizada pela entidade e o Canal Varejo foi constatado que 26,5% das
pessoas com renda de at trs salrios-mnimos parcelam compras no supermercado. E alerta: Crdito para comprar alimentos? Algo est errado.40
Diversamente pensa JOO GOMES, da Fecomrcio-RJ sobre a concesso de crdito pelos supermercados: uma forma de tornar o cliente mais
fiel. E est longe de mostrar um consumidor endividado: os nmeros da
inadimplncia esto estveis.41
Muitos brasileiros para satisfazerem seus sonhos de consumo esto
endividando-se e comprometendo parte significativa de seus rendimentos
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em longas parcelas. Ao elevar o prazo para pagamento o risco de inadimplncia muitas vezes aumenta, pois, conforme comenta JOS ANTNIO
PRAXEDES NETO, vice-presidente da Telecheque, o brasileiro imediatista, no espera para fazer suas compras vista ou em menos parcelas. (...)
Por isso, a inadimplncia no caso do celular, por exemplo, atingiu taxa de
8,3% no ano. bem mais que a taxa mdia do varejo, de 2,8%.42
Um caso que retrata bem essa realidade o de um auxiliar administrativo, com salrio de R$ 800, que se comprometeu a pagar oito parcelas de R$
200 por um aparelho celular que tira fotos, filma, tem visor colorido e fininho, porque acredita ser possvel tirar uma onda com o novo aparelho.43
Sobre o tema, a pesquisadora CECLIA MATOSO, da Escola de
Superior de Propaganda e Marketing, explica: Status o que os consumidores buscam ao comprar um produto acima de sua capacidade financeira.
Como todas as classes tm carto de crdito fica mais fcil cair na tentao
das compras a prazo.44
No direito aliengena so apontadas outras causas para o superendividamento, como a doena, o aumento do custo de vida, acidente e separao ou divrcio.45 A propsito, a crise no regime matrimonial pode deixar completamente desamparado aquele cnjuge que era economicamente dependente do outro.46
preciso, portanto, encontrar um ponto de equilbrio para que o sonho
de acesso ao crdito no se transforme no pesadelo do superendividamento.
De outro lado, no se pode criar uma restrio tal que impea os desfavorecidos de tambm usufrurem do sistema. Eis a questo que requer debate e reflexo, com severa observao das formas de preveno do superendividamento.
292
FABIANA RIBEIRO, s vsperas do Natal, sonhos comprados a prazo, in: O Globo, 11.12.2005, p. 51.
Ibidem.
Ibidem.
Cf. MARIA MANUEL LEITO MARQUES et alii, O endividamento dos consumidores, p. 156.
IVN JESS TRUJILLO DEZ, El sobreendeudamiento de los consumidores, p. 15, p. 75-78.
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Tal harmonizao no se restringe ao tratamento das partes envolvidas, mas alcana, igualmente, critrios de ordem prtica, consubstanciados em dois grandes instrumentos: 1) marketing de defesa do
consumidor (ex.: contato telefnico); 2) conveno coletiva de consumo sobre preo, qualidade, quantidade e garantia de produtos e servios, bem como reclamao e composio de conflitos (JOS
GERALDO BRITO FILOMENO, Comentrios aos arts. 4 e 5, in: Cdigo Brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, p. 61).
Cf. Recursos Inominados ns. 2008.700.021081-8, 2009.700.010025-0 e 2009.700.000037-1, julgados,
respectivamente, em 02/06/2008, 10/03/2009 e 14/01/2009.
GUSTAVO PEREIRA LEITE RIBEIRO, O conceito jurdico de consumidor, in: Revista Trimestral de
Direito Civil, vol. 18, p. 26. Alguns autores tentam distinguir vulnerabilidade de hipossuficincia, ressaltando que esta o aspecto processual da vulnerabilidade.
JOS GERALDO BRITO FILOMENO, Comentrios aos arts. 4 e 5, in: Cdigo Brasileiro de defesa do
consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, 6 ed., p. 55.
Contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor, p. 741.
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A eqidade no Cdigo Civil brasileiro, in: Aspectos controvertidos do novo Cdigo Civil (Escritos em
Homenagem ao Ministro Jos Carlos Moreira Alves), p. 207-208.
Idem, p. 208.
Equilibrio Normativo e principio di proporzionalit nei conttratti, in: Revista Trimestral de Direito
Civil, vol. 12, p. 139.
A Resoluo do Conselho Monetrio Nacional de n 3.517, de 6 de dezembro de 2007, dispe sobre a
informao e a divulgao do custo efetivo total (CET) correspondente a todos os encargos e despesas
de operaes de crdito e de arrendamento mercantil financeiro, contratadas ou ofertadas a pessoas
fsicas.
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A lei consumerista determina que as clusulas contratuais incompatveis com a boa-f sero tidas como abusivas e nulas,59 o que confere ao
magistrado certa discricionariedade para identificar os limites liberdade
contratual.60
interessante mencionar projeto de lei portugus 291/IX/1, de 15 de
maio de 2003, que, de acordo com o art. 3, 2: Presume-se a boa f das pessoas cujo sobreendividamento ocorra na seqncia de: a) desemprego; b)
emprego temporrio ou precrio; c) incapacidade temporria ou permanente; d) separao, divrcio ou falecimento do cnjuge ou equiparado.61
O projeto portugus presume a boa-f do superendividado passivo
sem, contudo, esgotar as hipteses. No se pode esquecer que a existncia
de boa-f pode se apresentar na situao de superendividamento ativo.
Segundo HUMBERTO THEODORO JR., a funo social do contrato
cuida da liberdade contratual e seus efeitos sobre a sociedade (terceiros),
enquanto o princpio da boa-f fica restrito ao relacionamento tico dos
sujeitos do negcio jurdico (partes contratantes).62 Mas nem por isso tais
clusulas gerais deixam de se relacionar. O art. 421 do Cdigo Civil (CC)
estabelece que a liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da funo social do contrato.
GUSTAVO TEPEDINO define a funo social do contrato como o
dever imposto aos contratantes de atender - ao lado dos prprios interesses
individuais perseguidos pelo regulamento contratual - a interesses extracontratuais socialmente relevantes, dignos de tutela jurdica que se relacionam
com o contrato ou so por ele atingidos.63 Para o autor, possvel associar
a funo social do contrato (art. 421 do CC) boa-f objetiva que, como
princpio interpretativo (art. 113 do CC) ou como princpio fundamental do
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regime contratual (art. 422 do CC), estabelece o dever de interpretar o negcio de modo a preservar o contedo econmico e social perseguido pelas
partes, alcanando as fases pr-contratual, contratual e ps-contratual. Com
isso, rompe-se a lgica individualista para alcanar interesses que so atingidos pelo contrato, como o consumerista, ambiental e trabalhista.64
LVARO VILLAA AZEVEDO explica que o art. 421 do Cdigo Civil
amplia ainda mais a capacidade de o juiz proteger o mais fraco na contratao que, por exemplo, possa estar sofrendo os efeitos de clusulas abusivas
ou de publicidade enganosa.65 Como princpio geral dos contratos, evidente que a idia de funo social do contrato se aplica s relaes de consumo.66 Isto constitui, a nosso ver, fundamento suficiente para a proteo
tambm do superendividado ativo.
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Idem, p. XXXII-XXXIII.
O novo Cdigo Civil Brasileiro: tramitao, funo social do contrato; boa-f objetiva; teoria da impreviso e, em especial, onerosidade excessiva (laesio enormis), in: Aspectos controvertidos do novo
Cdigo Civil (Escritos em Homenagem ao Ministro Jos Carlos Moreira Alves), p. 34.
Por todos: PAULO NEVES SOTO, Novos perfis do direito contratual, in: Dilogos sobre o Direito
Civil, p. 255-258.
Art. 52. No fornecimento de produtos ou servios que envolva outorga de crdito ou concesso de
financiamento ao consumidor, o fornecedor dever, entre outros requisitos, inform-lo prvia e adequadamente sobre: I - preo do produto ou servio em moeda corrente nacional; II - montante dos juros
de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acrscimos legalmente previstos; IV - nmero e periodicidade das prestaes; V - soma total a pagar, com e sem financiamento. 1 As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigaes no seu termo no podero ser superiores a dois por cento do
valor da prestao. 2 assegurado ao consumidor a liquidao antecipada do dbito, total ou parcialmente, mediante reduo proporcional dos juros e demais acrscimos.
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EDUARDO ARRUDA ALVIM, Comentrios aos arts. 39-80, in: Cdigo do Consumidor Comentado, p. 259.
Idem, p. 258-259.
Comentrios aos arts. 46 a 54, in: Cdigo Brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores
do anteprojeto, p. 473.
Nova redao do 3 do art. 54 do CDC: Os contratos de adeso escritos sero redigidos em termos
claros e com caracteres ostensivos e legveis, cujo tamanho da fonte no ser inferior ao corpo doze, de
modo a facilitar sua compreenso pelo consumidor. (grifo nosso)
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74
Idem, p. 468.
CLAUDIA LIMA MARQUES, Contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor, p. 758.
HELOSA CARPENA e ROSNGELA LUNARDELLI CAVALAZZI, Superendividamento: proposta para um estudo emprico e perspectiva de regulao, in: Revista Direito do Consumidor, vol. 55,
p. 124.
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Estado (NUDECON). Tal comisso composta pelos Defensores em exerccio nesse ncleo.75
funo de o Defensor Pblico verificar em quais casos, entre os assistidos, h o superendividamento, atravs de perguntas a respeito de sua
renda mensal, suas dvidas e contas regulares.
Uma vez constatado o superendividamento, caber Comisso marcar
uma audincia especial de conciliao entre o consumidor e seus credores.
Nesta oportunidade o Defensor ir explicar o sentido tcnico de superendividamento para que depois o assistido superendividado narre os motivos
que o levaram a tal situao. Por fim, sero os credores convidados a retornarem em data posterior para uma nova audincia de conciliao individual, ocasio em que podero propor um acordo j conhecendo a real situao do devedor. Poder-se-, ento, oferecer tanto um parcelamento mais
longo como um abatimento no montante do dbito. Na hiptese de haver
acordo, o mesmo ser firmado em ata de audincia com a assinatura do
Defensor Pblico.
O primeiro caso concreto examinado pela Comisso de Defesa do
Consumidor Superendividado da Defensoria Pblica do Estado do Rio de
Janeiro foi o de uma assistida que, aps trs anos de tratamento de um parente com grave doena, viu-se endividada com quinze instituies financeiras
no montante de R$ 100.000, apesar de sua renda mensal de R$ 6.800.76
Atravs de audincias de conciliao foi possvel firmar acordos com dez dos
credores, que viabilizaram os pagamentos por meio de parcelamento das
dvidas com um prazo compatvel com a realidade da consumidora.
A Defensora Pblica MARCELLA OLIBONI, em entrevista publicada
no jornal O Globo em dia 5 de abril de 2009, informou que a procura no
NUDECON aumentou 37,32% aps passarem a atender os consumidores
superendividados,77 o que demonstra a existncia de um nmero significati-
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Cf. MARCELLA LOPES DE CARVALHO PESSANHA OLIBONI, O superendividamento do consumidor brasileiro e o papel da Defensoria Pblica: criao da Comisso de Defesa do Consumidor
Superendividado, in: Revista de Direito do Consumidor, vol. 55, p. 174-176.
Idem, p. 175.
Tbua de Salvao para os superendividados, Jornal O GLOBO.
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O PROCON-SP informa em seu site que tendo em vista, o grande nmero de pessoas que acessaram
esta pgina, em dezembro de 2006, o atendimento est provisoriamente suspenso, http://www.procon.sp.gov.br (acessado em 02/04/2009).
Cf. http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=2219 (acessado em 01/04/2009).
Em 13/04/2009 foi assinado pelos Presidentes da Repblica, Senado Federal, Cmara dos Deputados e
Supremo Tribunal, o II Pacto Republicano de Estado, que a fim de garantir maior celeridade e efetividade prestao jurisdicional prev a Atualizao do Cdigo de Defesa do Consumidor, com o objetivo de conferir eficcia executiva aos acordos e decises dos PROCONs, quanto aos direitos dos consumidores, o que sem dvida representar um avano na defesa do consumidor, que ter a sua disposio um rgo fortalecido. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=106058
(acessado em 14/04/2009)
ALFREDO BUZAID, Do Concurso de Credores no Processo de Execuo, p. 101.
HUMBERTO THEODORO JR., Insolvncia civil, p. 12.
o que noticia LEONARDO GRECO, Processo de Execuo, vol. 2, p. 547.
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Significativo o texto do art. 646 do Cdigo de Processo Civil: A execuo por quantia certa tem por
objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor.
IVN JESS TRUJILLO DEZ, El sobreendeudamiento de los consumidores, p. 15, informa que na
Espanha falta uma poltica estatal orientada para o superendividamento dos consumidores que so tratados como devedores insolventes.
Art. 83: Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Cdigo so admissveis todas as espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
ALEXANDRE CMARA, Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica, p.
207-8, destaca interessante aspecto a respeito da criao dos Juizados Especiais Federais, que tambm
pode ser estendido aos Juizados Especiais estaduais: (...) no se pode deixar de observar que a existncia dos Juizados Especiais Cveis federais serviu tambm para diminuir a quantidade de processos dirigidos aos juzes federais comuns. Com isso, tambm nas Varas Federais comuns, em que se observa o
sistema processual comum, regido basicamente pelo Cdigo de Processo Civil, se consegue obter mais
rapidamente o resultado do processo, j que tais juzos j no esto mais assoberbados como anteriormente estavam. Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica, p. 207-8.
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No caso dos Juizados Especiais Cveis o autor somente poder estar desacompanhado de um advogado
se o valor da causa no ultrapassar 20 salrios-mnimos, conforme art. 9 da Lei n 9.099/95.
FELIPPE BORRING ROCHA, Juizados Especiais Cveis Aspectos Polmicos da Lei n 9.099, de
26/9/1995, p. 63, ao abordar o tema afirma tratar-se de aplicao do principio da isonomia dentro da
lgica criada pelo regime de exceo dos Juizados Especiais. (...) Por isso, no sendo possvel proibir que
uma das partes tenha advogado, a sada foi deferir outra, que esteja desacompanhada, a assistncia
judiciria.
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7.2. Competncia
O critrio para se definir o Juizado Especial competente ser o mesmo
adotado para a definio da competncia de justia (Justia Estadual ou
Justia Federal?), mas dever observar regras especiais para a competncia
de foro (art. 4 da Lei n 9.099/95) e para a competncia de juzo (art. 3 da
Lei 9.099/1995 e art. 3 da Lei n 10.259/2001).93
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Interessante abordagem sobre o tema foi feita por MARCIA CRISTINA XAVIER DE SOUZA em seu
artigo Acesso Justia e Representao das Partes nos Juizados Especiais Cveis, in: Direito Processual
e Direitos Fundamentais, p. 177 e segs.
MARCELO DA FONSECA GUERREIRO, Como postular nos Juizados Especiais Cveis Federais, p. 79,
informa que O atendimento inicial aos jurisdicionados que pretendam ingressar com demandas perante os Juizados Especiais Federais da 2 Regio, sem patrocnio de advogado, ocorrer na forma prevista
no Provimento 2/2001.
Fluxogramas e Notas Explicativas sobre o Atendimento e Distribuio nos Juizados Especiais da 2
Regio. http://www.trf2.gov.br/juizados/atendimento1.pdf (acessado em 16/04/2009)
Sobre o tema, consulte-se MARINONI, Luiz Guilherme. Processo de Conhecimento (Curso de Processo
Civil v. 2), 7 ed. rev. e atual., So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
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FONAJE, Enunciado n 50: Para efeito de alada, em sede de Juizados Especiais, tomar-se- como base
o salrio mnimo nacional.
99 FONAJEF, Enunciado n 15: Na aferio do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salrio
mnimo em vigor na data da propositura da ao.
100 Cf. ORLANDO GOMES, Transformaes gerais do direito das obrigaes, p. 95-96.
101 CDC, art. 6: So direitos bsicos do consumidor: V - a modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou sua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas.
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102 Neste sentido: ALINNE ARQUETTE LEITE NOVAIS, Os novos paradigmas da teoria contratual: o
princpio da boa-f objetiva e o princpio da tutela do hipossuficiente, in: Problemas de direito civilconstitucional, p. 47-48; FABIANA RODRIGUES BARLETTA, A reviso contratual por excessiva onerosidade superveniente contratao positivada no Cdigo do Consumidor, sob a perspectiva civilconstitucional, in: Problemas de direito civil-constitucional, p. 298-302.
103 A funo social dos contratos no novo Cdigo Civil, in: Revista dos Tribunais, vol. 815, p. 29.
104 Extino dos contratos por incumprimento do devedor, p. 154.
105 CDC, art. 83: Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Cdigo so admissveis todas as
espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
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FONAJE: As aes nas quais se discute a ilegalidade de juros no so complexas para o fim de fixao da competncia dos Juizados Especiais.
importante destacar tais enunciados, porque vrios consumidores
deparam-se com dvidas muitas vezes impagveis, que crescem de forma
acelerada em razo de contratos abusivos, aplicao imprpria de juros,
insero de multas, comisso de permanncia cumulada com correo
monetria, alm de acertos extrajudiciais onde o devedor assina confisses de dvida com novas condies desfavorveis ao consumidor.
Somem-se ainda os inmeros casos em que as instituies financeiras
efetuam descontos diretamente na conta corrente do devedor, ultrapassando at mesmo o valor do rendimento mensal do consumidor.
Exemplo dessa situao encontrado na deciso do recurso
2009.700.010025-0, julgado em 10/03/2009, pelo Conselho Recursal dos
Juizados Cveis do Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro: consumidor aposentado e doente aps ter feito dois emprstimos consignados, fez
mais 08 emprstimos no caixa eletrnico. O Ita descontava mensalmente
valor superior ao rendimento do cliente, deixando sua conta mensalmente
negativa. Foi aplicada pela Turma a Tese do superendividamento acolhida
pelos Tribunais para limitar os descontos mensais, por analogia da lei do
emprstimo consignado, em 30% (trinta por cento) da renda. Sendo impenhorvel o salrio, no pode a instituio financeira se valer do contrato de
adeso para legitimar a apreenso do integral saldo da conta corrente bancria para pagamento de dvida. responsabilidade de o credor aferir as
condies de solvabilidade de quem vai tomar o emprstimo.106
No julgamento do recurso n 2008.700.021081-8,107 ocorrido em
02/06/2008, tambm pelo Conselho Recursal dos Juizados Cveis do
Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro, limitou-se o desconto em
folha em 30%,108 com relevo para o seguinte trecho da deciso: A autora
106 Conselho Recursal dos Juizados Cveis do Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro, Recurso n
2009.700.010025-0, Juza Relatora Juza Carla Silva Corra.
107 Conselho Recursal dos Juizados Estaduais Cveis do Rio de Janeiro, Recurso n 2008.700.021081-8, Juza
Relatora Karenina David Campos de Souza e Silva.
108 Enunciado 59, do FONAJE: Admite-se o pagamento do dbito por meio de desconto em folha de pagamento, aps anuncia expressa do devedor e em percentual que reconhea no afetar sua subsistncia
e a de sua famlia, atendendo sua comodidade e convenincia pessoal.
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deve e quer pagar, mas os fatos reais de sua vida a impedem de cumprir o
inicialmente contratado, j que mais da metade do valor que recebe a ttulo de salrio est sendo retido pelo ru. No presente caso, foram aplicados
os artigos 6, inciso V e 51, 1, inciso III, da Lei n 8.078/90, por entender
o magistrado ser esta lei de ordem pblica e interesse social (art. 1), conferindo-lhe o poder de rever o contrato afastando o pacta sunt servanda, e
fazendo prevalecer o princpio do equilbrio contratual mais de acordo com
a moderna funo social dos contratos (art. 421, CC).
Esses julgamentos apontam para a possibilidade de se tutelar o superendividado no mbito dos Juizados Especiais Cveis, sendo frgil a tese que
sustenta haver complexidade da causa.109
Felizmente, na ao revisional, ter o consumidor oportunidade de
questionar as situaes acima expostas tanto em contrato vigente, quanto
no j extinto ou que tenha sido objeto de novao.110
Destarte, fica aberta a possibilidade de o consumidor superendividado
formular pedido para: 1) renegociar as suas dvidas; 2) propor novo parcelamento com maior prazo; 3) obter um perodo de carncia que lhe permita retomar o pagamento das dividas; 4) reduzir os encargos. Em alguns
casos, o credor pode at perdoar parcialmente o dbito.
Entretanto, quando o consumidor superendividado possuir diversos
credores a ao revisional ter alcance reduzido, pois a demanda proposta
ficar restrita ao(s) contrato(s) firmado(s) somente com um deles. O que,
apesar de no ser impeditivo para a continuidade da ao, no proporcionar oportunidade para uma negociao to ampla como poderia ser se feita
em conjunto com os demais credores.
Tal realidade reafirma a importncia de se definir tratamento diferenciado ao consumidor superendividado, preferencialmente com a criao de
109 Sem razo a deciso do Conselho Recursal dos Juizados Estaduais Cveis do Rio de Janeiro, ao julgar o
Recurso n 2009.700.010905-8, em 12/03/2009, reformou a sentena que havia limitado o desconto a
30% do salrio do autor, por entender que a causa incompatvel com a estrutura sistmica dos juizados especiais cveis, pois no desdobramento lgico da sentena impor uma forma executria que
incompatvel com o sistema da Lei n 9.099/95.
110 O STJ reafirmou seu posicionamento sobre o tema ao julgar o Recurso Especial n 947.587 em 18/12/08,
DJe 04/02/2009: pacfica a jurisprudncia desta Corte no sentido da possibilidade de reviso judicial
de contratos j extintos pelo pagamento ou objeto de novao.
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310
Juizados Especiais especficos para cuidar das situaes de superendividamento, com estmulo conciliao e com condies de promover audincias conjuntas entre o consumidor e seus credores. Alm de possuir um
corpo multidisciplinar de profissionais das reas jurdica, financeira e comportamental, para oferecer suporte amplo quele que se sente, muitas vezes,
excludo e envergonhado diante da sua situao de superendividamento,
conforme se constatou no Projeto-piloto: tratamento das situaes de
superendividamento do consumidor.111
Por tais razes, a proposta de Juizados especializados em superendividamento mostra-se cada vez mais urgente e necessria.
8. Consideraes finais
A tutela do superendividado constitui direito fundamental (art. 5,
XXXII, CRFB) e encontra na dignidade humana o seu fundamento. Apesar
de o Cdigo de Defesa do Consumidor no conter regras especficas sobre o
superendividamento, possvel fazer uso de inmeras normas para defender o consumidor superendividado, como as que tratam da presuno de
vulnerabilidade, boa-f, direito informao etc.
Apesar da previso legal da Poltica Nacional de Relaes de Consumo112 o governo no parece preocupado em promov-la com a eficcia
necessria, deixando de colocar em execuo projetos educacionais que
poderiam reduzir o nvel de endividamento da populao.
111 KREN RICK DANILEVICZ BERTONCELLO e CLARISSA COSTA DE LIMA, Adeso ao Projeto
Conciliar Legal CNJ, Projeto-piloto: tratamento das situaes de superendividamento do consumidor, in:http://www.escoladamagistratura.com.br/superendividamento/projeto_piloto/Artigo%
20Berlim%20Projeto %20Piloto%20-%20portugues (acessado em 16/04/2009).
... a primeira dificuldade enfrentada na sua execuo est ligada ao estigma sofrido pelo consumidor
superendividado, que no raras vezes demonstrava grande constrangimento em assumir as dificuldades
de pagamento, bem como em declarar a totalidade de seus credores e o respectivo montante das dvidas. Houve casos, por exemplo, em que o consumidor declarou apenas um credor, no momento que
preencheu o formulrio, encorajando-se somente na semana posterior a retornar ao Frum para a
incluso dos demais credores que havia omitido. Frente a situaes como estas, identificamos a necessidade do atendimento ser prestado individualmente em ambiente separado a fim de preservar a intimidade dos relatos.
112 CDC, arts. 4 e 5.
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Como notrio, os consumidores so atrados cada vez mais pelas facilidades de crdito, incentivados pelo prprio governo que, mesmo diante de
uma crise econmica de proporo mundial, promove campanha publicitria para incentivar o consumo de bens e servios no mercado interno,
cujo mote o mundo aprendeu a respeitar o Brasil e o Brasil confia nos
brasileiros. A premissa adotada a de que se cada um que tem emprego e
renda deixar de consumir por medo do futuro, a crise de fato se instalar
com mais fora na economia brasileira.
Sobre as notcias econmicas negativas, que vm ocupando os jornais,
o atual Presidente da Republica, Luiz Incio Lula da Silva, foi incisivo: No
leiam, o Brasil no vai parar, garantiu o presidente aos 36 ministros presentes na reunio ministerial.113
Nesta linha, no se pode negar a importncia do trabalho destinado a
orientar juridicamente e prevenir a formao de novos consumidores superendividados. Imprescindvel a realizao de um projeto que socorra os
consumidores que j se encontram na situao de superendividamento,
quer seja da iniciativa do Poder Executivo Federal embora demonstre
estar mais interessado em incitar o crdito , quer seja da iniciativa dos
outros Poderes, que podero, talvez em conjunto, elaborar um modelo de
Juizado Especial dedicado a promover a proteo do superendividado atravs da preservao da dignidade da pessoa humana (princpio fundamental
previsto na Constituio Federal) e cumprimento efetivo das normas de
defesa do consumidor.
Por fim, a proposta de um atendimento especializado poder proporcionar maior celeridade e efetividade, com profissionais envolvidos no
tema e com o mesmo propsito.
9. Referncias bibliogrficas
AGUIAR JNIOR, Ruy Rosado de. Extino dos contratos por incumprimento do devedor, Rio de Janeiro: AIDE, 2004.
113 Reportagem de Leonardo Attuch e Denize Bacoccina, Abriram o guarda-chuva, in: Revista Isto Dinheiro (http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/583/imprime117743.htm, acessado em 16/04/09).
311
312
ALVIM, Eduardo Arruda. Comentrios aos arts. 39-80, in: Cdigo do Consu-
313
314
KREN RICK DANILEVICZ BERTONCELLO e CLARISSA COSTA DE LIMA, Adeso ao Projeto Conciliar Legal CNJ, Projeto-piloto: tratamento das situaes de superendividamento do consumidor, in: http://
www.escoladamagistratura.com.br/superendividamento/projeto_ piloto/
Artigo%20Berlim%20Projeto%20Piloto%20-%20portugues (acessado em
16/04/2009).
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317
VI
Juizados Especiais Cveis
e o Poder Pblico
13
Da Criao de Juizados Especiais para
as Causas que Envolvam Estados,
Distrito Federal e Municpios
Marcia Cristina Xavier de Souza
SUMRIO: 1. Introduo. 2. Da competncia privativa e concorrente dos Estados para legislar sobre Juizados Especiais. 3. Da necessidade de norma especfica. 4. Da ausncia de
norma emanada do Poder Legislativo. 4.1. Da ausncia de norma nacional. 4.2. Da ausncia de norma estadual. 5. Da ausncia de norma emanada pelo Poder Judicirio. 6. Concluso. 7. Referncias bibliogrficas.
1. Introduo
Os Juizados Especiais Cveis e Criminais, criados pela Lei n 9.099/1995,
trouxeram, a uma parcela da populao alijada da soluo de conflitos, a
possibilidade de sua resoluo por meios cleres e gratuitos, informais. Com
o advento dos Juizados Especiais Federais, atravs da Lei n 10.259/2001,
essa possibilidade se estendeu s questes que envolviam os entes federais.
Contudo, questes que envolvem os entes pblicos estaduais, distritais
e municipais ainda so levadas soluo pelos meios tradicionalmente previstos no direito processual comum, criando desigualdades no s entre os
jurisdicionados, mas entre os entes pblicos.
Mais do que discutir eventual necessidade de criao de rgos especficos para a soluo de tais conflitos, o objetivo desse trabalho , a partir das
experincias dos dois rgos j existentes e da competncia legislativa prevista na Constituio Federal, analisar qual ente federado seria o competente para sua criao.
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322
Para uma anlise mais detalhada da competncia legislativa da Unio, Estados e Municpios, ver Marcia
Cristina Xavier de Souza. A competncia constitucional para legislar sobre processo e procedimentos,
in Revista da Faculdade de Direito Candido Mendes, n 13, 2008, p. 119-138.
323
sas cujo valor limitava-se aos 20 (vinte) salrios mnimos, envolvendo questes de direito patrimonial disponvel. Esta lei definiu regras de legitimidade ativa e passiva, at mesmo em contrariedade Lei n 7.244/1984, a qual
fazia meno.2
O Estado do Cear criou, atravs das Leis n 11.898/1991 e 11.934/1992,
Juizados Especiais de Pequenas Causas, cuja competncia era definida na
Lei n 7.244/1984.3 O mesmo se deu no Estado do Tocantins, que, atravs
da Lei n 38/1989, criou os Juizados de Pequenas Causas com competncia
para causas elencadas na mesma lei federal.4
O Estado da Paraba, pela Lei n 5.466/1991, criou Juizados Especiais
de Pequenas Causas, aos quais denominou de Juizados Especiais Cveis, com
competncia para o julgamento e a execuo das causas previstas no art.
275, do Cd. de Proc. Civil (em sua redao original).5
No Estado do Sergipe, a Lei n 2.900/1990, criou os Juizados Especiais
de Pequenas Causas, na forma prevista no art. 98, inc. I, da Constituio
Federal e na Lei n 7.244/1984.6
A Lei n 9.442/1991, do Estado do Rio Grande do Sul, instituiu Juizados
Especiais e de Pequenas Causas Cveis, para as causas cveis de menor complexidade, sem, contudo, defini-las.7
A Lei n 1.071/1990 instituiu, no Estado do Mato Grosso do Sul, os
Juizados Especiais Cveis e Criminais, com competncia para julgar e exe-
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MATO GROSSO DO SUL. Assemblia Legislativa. Lei n 1.071/1990. Disponvel em: <http://www.
tj.ms.gov.br/legislacao/juizados.asp> Acesso em 26/04/2008. A lei tambm instituiu Juizados Especiais
Criminais e, por ter definido os crimes a serem julgados pelo rgo, teve a inconstitucionalidade de seu
art. 69 declarada pelo Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, atravs do HC 74298-0, rel. Min.
Maurcio Correa, j. em 27/09/1996 (disponvel em: <http://www.stf.gov.br> Acesso em 24/04/2008).
PIAU. Tribunal de Justia. Lei n 4.376/1991. Disponvel em: <http://www.tjpi.jus.br/tjpi/uploads/leis/ordinarias/lo_4376.pdf>. Acesso em 20/06/2008.
MATO GROSSO. Tribunal de Justia. Lei n 6.176/1993, alterada pela Lei n 6.490/1994. Disponvel
em: <http://www.tj.mt.gov.br>. Acesso em 26/04/2008.
O paciente fora condenado ao pagamento de prestaes alimentcias, sendo determinada sua priso no
curso da execuo da sentena. Apesar de a lei ser anterior Lei n 9.099/1995, entenderam os
Ministros pela inconstitucionalidade do dispositivo que concedia aos Juizados Especiais matogrossenses
competncia para questes alimentares (art. 9, inc. IV, da Lei n 6.176/1993), no s por violao da
competncia legislativa da Unio, mas porque mesmo a Lei n 7.244/1984 (que poca da condenao
ainda vigia) no continha tal competncia (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 75.308-6 MT,
Tribunal Pleno. Rel. Min. Sydney Sanches, j. 18/12/1997, disponvel em: <http://www.stf.gov.br>.
Acesso em 03/05/2008).
325
ADI. Em regra, as leis catarinenses foram as mais detalhadas, no s na definio de procedimentos, mas, at mesmo de regras de direito processual.
Pela Lei catarinense n 8.151/1990 foram institudos os Juizados
Especiais de Causas Cveis.12 As matrias de sua competncia abrangiam as
causas que seguiam o procedimento sumrio, de acordo com a redao original do art. 275, inc. II, do Cd. de Proc. Civil (observe-se que no havia
valor mximo definido para as causas), entre outras, bem como procedimentos cautelares de natureza no jurisdicional. Contudo, este rol no era
taxativo, pois tinha o Tribunal de Justia poder para ampli-lo ou reduzi-lo.
Tanto o processo como o procedimento previstos nessa lei se destacavam em relao Lei n 7.244/1984 e ao Cd. de Proc. Civil. Por tal motivo, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil moveu uma
Ao Direta de Inconstitucionalidade, em que solicitava a suspenso da eficcia de alguns dos artigos da lei catarinense.
Em seu voto o relator, Min. Paulo Brossard, afirmou que apesar da
questo ser da maior relevncia, havia que se considerar que: a) no estava
de todo configurado o limite da competncia de cada ente federado, tanto
mais quanto versa sobre matria que, desde 1934, foi imputada Unio e s
a ela; b) por outro lado, preciso considerar que a Constituio de 88
abriu uma fresta que no havia a partir de 34 at 88, do Estado poder dispor sobre a forma de medidas de carter procedimental, temas que eram
confiados totalmente ao legislador federal.13
Em 1993, foi promulgada a Lei Complementar n 77, que revogou a Lei
n 8.151/1990.14 Por esta lei foram criados os Juizados de Pequenas Causas,
competentes para causas de valor entre 05 (cinco) e 20 (vinte) salrios mnimos, questes individuais sobre direito do consumidor e execuo de ttulos extrajudiciais dentro do valor acima. Tambm foram criados os Juizados
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AI-AgR 253518-9 SC, 2 Turma. Rel. Min. Marco Aurlio, j.
09/05/2000, disponvel em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em 19/04/2008.
SANTA CATARINA. Tribunal de Justia. Lei n 1.411/1993. Disponvel em: <http://www.tj.sc.gov.br/
jur/legis.htm>. Acesso em 26/04/2008.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI-MC 1035-2 SC, Tribunal Pleno. Rel. Min. Paulo Brossard, j.
01/08/1994, disponvel em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em 19/04/2008.
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Em outras palavras, a Constituio Federal teria criado Juizados de Pequenas Causas cuja instituio
seria obrigatria, mas denominando-os Juizados Especiais.
ADI-MC DF, n 1.127-8, j. em 29/06/2001. Disponvel em: <www.stf.gov.br>, acessado em 10/04/2008.
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com seu valor, os segundos tm no valor da causa seu parmetro, ainda que
as causas apresentem alguma complexidade.
Ento, nada impede que os Estados, exercendo sua competncia legislativa supletiva, regulamentem integralmente a criao, o processo e o funcionamento dos Juizados de Pequenas Causas, uma vez que inexiste lei
nacional a respeito, que trate das respectivas normas gerais e desde que no
tenham a mesma competncia e procedimento dos j existentes Juizados
Especiais Cveis.
E, como da competncia dos Estados a organizao de sua Justia
(Constituio Federal, art. 125, caput), podem os mesmos manter as duas instituies simultaneamente,20 como tentou fazer o Estado de Santa Catarina,
atravs da Lei n 1.141/1993.
O Supremo Tribunal Federal nunca enfrentou diretamente o problema da eventual inconstitucionalidade das leis estaduais, salvo nos casos criminais. Na nica oportunidade em que declarou inconstitucional norma
civil, f-lo incidentemente, no curso do julgamento de um Habeas
Corpus.21 A Corte firmou jurisprudncia no sentido de que fica prejudicada qualquer ao de inconstitucionalidade se, para o julgamento de seu
mrito, houver necessidade de comparar normas infraconstitucionais.
importante a reproduo da deciso proferida na ADI-AgR 1035-2,
de relatoria do Min. Carlos Velloso:
A lei nova, Lei Federal 9.099, de 1995, revogou a Lei 7.244/84,
afastando, tambm, as normas estaduais que, no tema, dispunham de forma contrria. A presente ao, portanto, est prejudicada, dado que, repete-se, as disposies da lei objeto da
ao, que esteja em desacordo com nova lei federal, esto afas-
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Jos Eduardo Carreira Alvim, in Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho (org.). Lei dos Juizados
Especiais Cveis e Criminais comentada e anotada, p. 10.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 75.308-6 MT, Tribunal Pleno. Rel. Min. Sydney Sanches. j.
18/12/1997. Disponvel em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em 03/05/2008. O paciente, condenado
ao pagamento de alimentos, no cumpriu a deciso, pelo que, em execuo de sentena, foi determinada a sua priso. Ao impetrar Habeas Corpus atacando a deciso, alegou, incidentemente, a inconstitucionalidade do inc. IV do art. 9 da Lei n 6.173/1993, que instituiu os Juizados Especiais no Estado do
Mato Grosso com competncia para julgar aes alimentares.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI-AgR 1035-2 SC, Tribunal Pleno. Rel. Min. Carlos Velloso, j.
26/05/1997, disponvel em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em 19/04/2008. Nem mesmo a argumentao posterior da entidade autora, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que reiterou, em Agravo Regimental, o pedido de julgamento da inconstitucionalidade da lei, foi suficiente para
modificar o entendimento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Veja-se a deciso do RE 273.899-9 SC, j. 29/03/2001, cujo relator Min. Seplveda Pertence afirmou: ao
menos quando se trate de tais causas [definidas pelo valor], inequvoco que a lei federal unificou o
tratamento das duas instituies, de modo a admitir, em igual medida, a legislao complementar estadual com relao ao respectivo processo (disponvel em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em
28/04/2008).
Repristinatrio diz propriamente respeito eficcia de certa regra, j posta margem, e que se revigorou, direta ou indiretamente. (De Plcido e Silva. Vocabulrio Jurdico, vol. III e IV. Verbete: repristinatrio, p. 106).
Art. 3 da Lei n 7.244/1984.
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Lus Felipe Salomo. Algumas observaes quanto aos reflexos cveis da Lei dos Juizados Especiais
Federais sobre a Lei n 9.099/95, in Revista da EMERJ, n 26, p. 275.
lvaro Couri Antunes Sousa. Acesso justia e a participao das pessoas jurdicas de direito pblico
nos Juizados Especiais, in Fbio Costa Soares. Acesso justia: segunda srie, p. 27-29.
Conforme o projeto de Lei n 1.003/2003, do Deputado Carlos Nader, ou o projeto de Lei n 2.521/2007
(BRASIL. Cmara dos Deputados. Disponvel em: http://www.camara.gov.br. Acesso em 01/06/2008).
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De acordo com o projeto de Lei n 3.763/2000, do Deputado Ricardo Fiza. (BRASIL. Cmara dos
Deputados. Disponvel em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em 01/06/2008).
Existem fortes argumentos para justificar os privilgios da Fazenda Pblica em juzo, mas sua manuteno fere a garantia da isonomia frente a outras pessoas no processo. Se a Unio, nos Juizados Especiais,
no conta com tais privilgios, mas so mantidos para os Estados, o Distrito Federal e os Municpios em
rgos idnticos, troca-se uma violao de isonomia por outra.
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No se pode esquecer, tambm, da igualdade das partes: se aquele que litiga em face da Unio, nos
Juizados Especiais Federais, pode receber seu crdito sem ter que se submeter fila dos precatrios, por
que a pessoa que for vitoriosa em litgio em face do Estado, do Distrito Federal e do Municpio dever
ser tratada de maneira diferente?
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Por outro lado, se forem criados Juizados Especiais Cveis para causas
de menor complexidade cvel, sem limite de valor, o pagamento de quantia
ao qual for condenada a Fazenda Pblica Estadual, Distrital e Municipal
poder ultrapassar o limite constitucional, impossibilitando a rpida soluo da causa.
Ento, eventual diferena entre os Juizados de Pequenas Causas e os
Juizados Especiais Cveis est em que naqueles o valor da causa o ponto
determinante de sua competncia, enquanto nestes a menor complexidade das causas. E a posio que se adota neste trabalho a da distino entre
os dois rgos, como j ficou exposto anteriormente.
Porm, no a denominao o que importa na estruturao dos
Juizados de que trata o presente trabalho, posto ser indubitvel a necessidade da criao do rgo que envolva as matrias que tenham por partes a
Fazenda Pblica Estadual, Distrital ou Municipal, sejam elas de pequeno
valor ou de menor complexidade. No entanto, a definio da espcie de
rgo importante, na medida em que poder definir se a competncia para
sua instituio da Unio ou dos Estados e do Distrito Federal.
Se forem Juizados Especiais, incumbe Unio legislar privativamente
sobre o seu processo e sobre as normas gerais de seu procedimento, enquanto os Estados e o Distrito Federal legislaro sobre os procedimentos, no que
toca s suas peculiaridades locais (conforme art. 98, inc. I, art. 22, inc. I, e
art. 24, inc. X, da Constituio). Caso sejam Juizados de Pequenas Causas,
incumbe Unio legislar sobre as normas gerais sobre o processo e o procedimento, restando aos demais entes federados a legislao sobre os mesmos temas, mas dentro de suas peculiaridades (art. 24, inc. XI).
Destarte, cumpre verificar a quem incumbiria creditar a ausncia de
tal norma? Ao Congresso Nacional ou s respectivas Assemblias Legislativas? E como se poderia suprir a lacuna?
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Destarte, a proposta de Emenda Constituio apresentada pelo Deputado Dcio Lima, em 2007, portanto, , no mnimo, desproporcional em relao aos fins que deseja alcanar (vide Anexo 01).
Outro no o entendimento de Celso Ribeiro Bastos, uma vez que uma eventual lacuna constitucional
pode configurar apenas uma opo do constituinte, ao deixar a questo para que o legislador infraconstitucional dela se incumba (Hermenutica e interpretao constitucional, p. 55).
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Estados, o Distrito Federal, os Municpios e outras pessoas tambm no possam ser consideradas de menor complexidade para fins de soluo pelos
Juizados. Em verdade, a no criao dos referidos Juizados demonstra a violao da garantia da isonomia (conforme o item 1.1.3.).
O principal obstculo foi superado com a criao dos Juizados Especiais Federais: a impossibilidade de o ente pblico transacionar.37 Ultrapassado tambm foi o bice relativo forma de pagamento dos dbitos da
Fazenda Pblica, posto que, em sendo de pequeno valor, o pagamento farse- diretamente, sem necessidade de precatrios.38
Como a regulamentao dos Juizados Especiais, seja de Pequenas Causas ou Especial Cvel, envolve legislar sobre direito processual, incumbe
Unio definir o processo dos Juizados da Fazenda Pblica Estadual, Distrital
e Municipal (art. 22, inc. I, da Constituio Federal). Como se ver no prximo captulo, as regras do Cd. de Proc. Civil e das duas leis que atualmente regem os Juizados, Estaduais e Federais, devem ser aproveitadas (ainda
que no integralmente), no s que se refere ao direito processual. Tambm
devem ser aproveitadas as regras gerais para o procedimento a ser eventualmente observado (art. 24, inc. XI, da Carta Magna).
E, por fora da tradio constitucional brasileira, que sempre incumbiu ao Congresso Nacional a tarefa de legislar sobre praticamente quase
todas as matrias, mesmo quando no fossem de interesse apenas nacional
ou federal, e pelas razes acima expendidas, os senadores e deputados vm
apresentando projetos de lei para que sejam criados os Juizados da Fazenda
Pblica Estadual, Distrital e Municipal.39
Com isto, fica afastada eventual alegao de mora do legislador nacional, uma vez que a competncia para legislar sobre processo, seja dos Juizados Especiais ou dos Juizados de Pequenas Causas, da Unio, sendo necessrio compatibilizarem-se as duas normas reguladoras do processo no sistema dos Juizados Especiais Cveis.
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Os Juizados Especiais Cveis e Criminais, que a Constituio de 1988 determinou serem criados pela
Unio e pelos Estados, somente vieram a lume em 1995. J os Juizados Federais, cuja criao foi determinada atravs da Emenda Constitucional n 22/1999, somente foram institudos em 2001.
Para que fique caracterizada a inrcia legislativa, necessrio que haja imposio constitucional, desde
que definida em norma certa e determinada (CLMERSON MERLIN CLVE. A fiscalizao abstrata
de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 220-221).
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caput do art. 8, da Lei n 9.099/1995, a fim de permitir que pessoas jurdicas de direito pblico possam ser partes nos Juizados Especiais Cveis.
Em resumo, apesar de incumbir Unio a competncia de legislar
sobre o processo dos Juizados da Fazenda Pblica Estadual, Distrital e
Municipal, esta omisso j se encontra suprida pelas regras processuais existentes nas Leis ns 9.099/1995 e 10.259/2001. E, ad argumentadum, se as
atuais normas porventura ainda se apresentarem como insuficientes para o
satisfatrio cumprimento do comando constitucional, a atuao do legislador infraconstitucional, que vem deliberando sobre o tema, impede qualquer manifestao judicial no sentido de compeli-lo a tal.45
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Mesmo porque a deciso em eventual ao direta de inconstitucionalidade por omisso somente serviria para declarao da mora do rgo legiferante. Ainda que contenha carter mandamental, a deciso
no compele o rgo desidioso a cumprir com seu dever e tampouco tem uma eficcia que se substituiria ao ato no praticado (Gilmar Ferreira Mendes. Jurisdio Constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e na Alemanha, p. 290). Neste sentido, a deciso na ADI 3682-MT, relator Min. Gilmar
Mendes, j. 09/05/2007, em que o Supremo Tribunal Federal, reconhecendo a mora legislativa, imps
um prazo de 18 (dezoito) meses para seu suprimento sem, contudo, determinar sano para seu descumprimento ou alternativa para o jurisdicionado em caso de persistncia da mora (disponvel em:
<http://www.stf.gov.br>. Acesso em 26/03/2008).
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oportunidade de fazerem valer a novidade constitucional, que a sua competncia legislativa concorrente e a supletiva.
Com relao aos Juizados da Fazenda Pblica Estadual, Distrital e
Municipal, por se tratarem de rgos com competncia para pequenas causas, ainda que se d especial nfase na diminuio da complexidade do processo, para garantir a sua durao razovel, no h qualquer diferena no
que toca competncia concorrente para sobre eles legislar: o processo e os
procedimentos devem ser genericamente regulamentados pela Unio e
especificamente por cada Estado-membro e pelo Distrito Federal.
No momento em que a Unio no cria os Juizados Especiais da Fazenda
Pblica Estadual, Distrital e Municipal, devem os Estados criar as normas
procedimentais especficas que serviro como normas gerais at que seja
suprida a omisso legislativa com a edio de lei nacional. O processo dos
referidos Juizados, como visto, j est regulado pelas normas das Leis ns
9.099/1995 e 10.259/2001.
Algumas questes de ordem jurdica e prtica, contudo, exsurgem a
partir das assertivas acima: a lei, estadual, instituidora dos Juizados para a
Fazenda Pblica Estadual, Distrital e Municipal, no poderia ferir a competncia legislativa municipal para definir os valores mximos a serem pagos
sem necessidade de precatrio. Caso infringisse essa competncia, sua
inconstitucionalidade seria flagrante.50
Como os Municpios no dispem de um Poder Judicirio prprio,51-52
a lei estadual deve atentar para as realidades de cada municipalidade, notadamente no que se refere a sua capacidade financeira.
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O art. 87, inc. II, do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias permite aos Municpios, atravs
de lei de iniciativa de sua Cmara de Vereadores, determinar esse valor mximo.
Gabriel de Oliveira Zfiro sugeriu que fosse criada uma justia municipal, formada por juzes eleitos,
com competncia para questes de vizinhana, consumidor e trnsito, desde que limitados ao teto de
40 (quarenta) salrios mnimos e ausentes a produo de provas e a alta indagao jurdica (Juizados
Especiais Municipais com juzes eleitos uma proposta. Revista da EMERJ, n 14, p. 100-102).
Em 2004 foi apresentado projeto de Emenda Constitucional, de iniciativa do Deputado Carlos Mota, que,
acrescentando um inciso III ao art. 98, criava os Juizados Municipais, providos por juizes togados, ou
togados e leigos, eleitos por voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competncia
para, na forma da lei, conciliar, julgar e executar as causas cveis decorrentes das aplicaes da legislao
municipal, da prestao de servios pblicos da municipalidade. Tambm o art. 92 seria alterado, com a
introduo do inc. VIII, que criaria os Juizados Municipais. A proposta foi posteriormente arquivada.
(BRASIL. Cmara dos Deputados. Disponvel em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em 29/03/2008).
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Esta questo remete a outra de maior abrangncia, e no menor importncia: em relao aos Municpios, eventual lei estadual regulamentando os
procedimentos dos Juizados Especiais da Fazenda Pblica Estadual,
Distrital e Municipal seriam equiparados a normas gerais para aqueles entes
federados. Considerando-se que eles tm peculiaridades, mas tambm considerando-se que, at o presente momento, as normas estaduais no atentaram para estas questes municipais, seria este o momento de faz-lo ou
manter-se a tradio jurdica brasileira?53
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6. Concluso
H necessidade da criao de Juizados Especiais para a soluo de questes que envolvam os entes pblicos estaduais, distritais e municipais.
Enquanto os cidados que litigam em face da Unio tm acesso a uma justia gratuita, clere, informal, os demais tm que buscar a justia comum
quando, em causas semelhantes, tm como adversrios o Estado, o Distrito
Federal ou o Municpio.
Essa situao tambm cria uma desigualdade entre os entes federados:
enquanto a Unio soluciona mais rapidamente seus conflitos, abrindo mo
de seus privilgios processuais, como o prazos processuais diferenciados,
reexame necessrio de decises que lhe so desfavorveis, impossibilidade
de transao por seus procuradores ou pagamento de suas dvidas sem precatrios, os outros entes ainda deles se beneficiam em causas idnticas.
Por tais motivos, urge que tais Juizados sejam criados. Entretanto, no
h que se descuidar das normas constitucionais que determinam a competncia legislativa dos Estados e do Distrito Federal para tanto. hora de se
abandonar a tradio legislativa brasileira que concentrava no Congresso
Nacional a edio de todas as leis, ainda que no federais, sob pena de se
editarem leis inconstitucionais, por invaso de competncia legislativa.
7. Referncias bibliogrficas
ALVIM, Jos Eduardo Carreira, in CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti
Castanho de (org.). Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais
comentada e anotada. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.
BASTOS, Celso Ribeiro. Hermenutica e interpretao constitucional. 2
ed. So Paulo: Celso Bastos Editor, 1999.
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346
14
Os Juizados Especiais Federais Cveis
sob a tica do Acesso Justia
Andr da Silva Ordacgy
SUMRIO: 1. Premissas bsicas sobre o Acesso Justia. 2. O Acesso Justia nos Juizados
Especiais Federais. 3. Caractersticas dos Juizados Especiais Federais Cveis e alguns Aspectos Polmicos da Lei n 10.259/01. 4. Referncias Bibliogrficas.
A expresso acesso Justia reconhecidamente de difcil definio, mas serve para determinar duas finalidades bsicas do sistema jurdico o sistema pelo qual as pessoas podem
reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litgios sob os auspcios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessvel a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam
individual e socialmente justos (...). Sem dvida, uma premissa
CAPPELLETTI, Mauro & GARTH, Bryant. Acesso Justia. Traduo de Ellen Gracie Northfleet.
Porto Alegre: Srgio Antonio Fabris Editor, 1988, p. 08.
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bsica ser a de que a justia social, tal como desejada por nossas sociedades modernas, pressupe o acesso efetivo.
Avanando na conceituao de Acesso Justia, que recebe tratamento constitucional como clusula ptrea positivada no inc. XXXV, do art. 5,
da CR/1988, tem-se a preciosa lio de Kazuo Watanabe, reproduzida por
GRINOVER:2
A idia de acesso justia no mais se limita ao mero acesso aos tribunais. Nas palavras lapidares de Kazuo Watanabe, no
se trata apenas de possibilitar o acesso justia enquanto instituio estatal, e sim de viabilizar o acesso ordem jurdica justa.
E, segundo o mesmo autor, so dados elementares desse direito:
o direito informao; o direito adequao entre a ordem jurdica e a realidade scio econmica do pas; o direito de acesso a
uma justia adequadamente organizada e formada por juzes
inseridos na realidade social e comprometidos com o objetivo de
realizao da ordem jurdica justa; o direito a pr-ordenao dos
instrumentos processuais capazes de promover a objetiva tutela
dos direitos; o direito remoo dos obstculos que se anteponham ao acesso efetivo justia com tais caractersticas.
O acesso justia, portanto, deve levar em considerao o entendimento do carter coletivo que deve direcionar o ordenamento jurdico, de
forma a assegurar um sistema processual em que seja garantida a maior
igualdade possvel entre os litigantes (grau mximo de oportunidades para
ambos litigantes), no se considerando quaisquer fatores extrajurdicos que
possam gerar vcios na prestao da tutela jurisdicional (desigualdades econmicas, de cor, de sexo, de nacionalidade, dentre outras).
A realidade vivenciada pelos Juizados Especiais Cveis, sob o procedimento sumarssimo institudo pelas Leis ns 9.099/95 e 10.259/01, exige uma
nova mentalidade sobre os conceitos jurdicos de efetividade e instrumentali-
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GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo em evoluo. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1990, p. 115.
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dos crimes de menor potencial ofensivo (arts. 60 e 61), a suspenso condicional do processo (art. 89 e ), a composio dos danos civis em matria
penal (art. 72 e ss.) e a proposta de transao penal (art. 76 e ), dentre
outros institutos jurdicos criminais inovadores.
Outrossim, no foram de menor relevncia as alteraes introduzidas
pela Lei n 9.099/95 no campo do direito processual civil, de forma que os
Juizados Especiais Estaduais passaram a concretizar a ideologia de uma justia rpida e efetiva, mediante procedimento oral e sumarssimo, de fcil
acesso e voltada para a defesa dos direitos e interesses do cidado comum,
orientada pelos critrios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando sempre que possvel a conciliao ou
a transao (art. 2), permitido ainda o julgamento de recursos por turmas
de juzes de 1 grau (art. 41, 1), o que desafoga os tribunais hoje to assoberbados de processos e assegura o direito fundamental do indivduo de
acesso Justia (art. 5, XXXV).
A Lei n 9.099/95 alterou o conceito de causa cvel de menor valor econmico, ao alterar o critrio quantitativo (valor da causa) determinante da
fixao de competncia, que nos extintos Juizados de Pequenas Causas era
de vinte salrios mnimos, elevando-o para quarenta salrios mnimos (art.
3, I), alm de promover significativa modificao no critrio qualitativo de
fixao de competncia (ex.: os atuais Juizados tm competncia para a ao
de despejo do locatrio, para uso prprio do locador, independente do valor
da causa art. 3, III).
Associe-se a essas modificaes no campo cvel, outros fatores de grande importncia dos juizados especiais da Lei n 9.099/95, que proporcionaram adequado acesso justia em favor do cidado: a dispensa do pagamento de custas, taxas ou despesas processuais em primeiro grau de jurisdio,
salvo em caso de recurso ou de litigncia de m-f (art. 54 e seu p.u. c/c o
art. 55); e a faculdade de ser ou no assistido por advogado, nas causas de
valor at vinte salrios mnimos (art. 9, caput).
Posteriormente, a Emenda Constitucional n 22/1999 acrescentou o
pargrafo nico ao art. 98 da CRFB/1988, estabelecendo que vindoura lei
federal disporia sobre a criao de juizados especiais no mbito da Justia
Federal, encerrando assim uma sria divergncia existente sobre a aplicabi351
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Neste posicionamento, citem-se, por todos, Joo Carlos Pestana de Aguiar, Juizados Especiais Cveis e
Criminais Teoria e Prtica, Rio de Janeiro: Espao Jurdico, 1998, p. 43; e o saudoso Jlio Fabrini
Mirabete, Juizados Especiais Criminais, 3 ed. So Paulo: Atlas, 1998, p. 17.
353
MENDES, Gilmar Ferreira. Juizados Especiais Federais: o resgate de uma dvida social. Revista Jurdica
Consulex, Braslia, DF, ano V, n 114, out./2001, p. 66.
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354
Por todos, o oportuno artigo de Felippe Borring Rocha, Notas Introdutrias sobre os Juizados Especiais
Federais Cveis. JurisPoiesis Revista dos Cursos de Direito da Universidade Estcio de S, Rio de
Janeiro, ano 4, n 5, 2002, p. 164.
A Lei n 10.259/01 pode ser considerada uma lei pequena, visto que contm somente vinte e sete artigos, dos quais os arts. 18 e 19, bem como os cinco ltimos, tratam, praticamente, do atendimento s
necessidades de organizao dos servios judicirios ou administrativos (instalao dos juizados; regulamentao da funo de conciliador; limitao de competncia em funo dos interesses administrativos; promoo de cursos de aperfeioamento; dotao de infra-estrutura administrativa pelos Tribunais
Regionais Federais; prazo de vacatio legis).
J o processualista Alexandre Freitas Cmara entende pela interpretao integrada dos referidos diplomas legais, como se fossem uma s lei, defendendo a idia de um Estatuto dos Juizados Especiais Cveis
(in Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007, p. 208).
355
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em sede de juizados, bem como a produo de provas, razo pela qual a submisso do jurisdicionado a este rito sumarssimo deve ser espontnea.9 Esta
a lio de LEONARDO GRECO: 10
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Alexandre Freitas Cmara entende pela inconstitucionalidade desse dispositivo (in Juizados Especiais
Cveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 216).
GRECO, Leonardo. O Acesso ao Direito e Justia. JurisPoiesis Revista dos Cursos de Direito da
Universidade Estcio de S, Rio de Janeiro, ano 7, n 6, 2004, p. 65.
Em que pese a existncia dessa controvrsia, na prtica a medida cautelar j vinha sendo adotada no procedimento dos juizados estaduais, mesmo sem expressa previso da Lei n 9.099/95. Cabe, igualmente,
antecipao dos efeitos da tutela nos juizados especiais, por aplicao do princpio da fungibilidade.
Nos juizados federais da Seo Judiciria do Rio de Janeiro, a terminologia utilizada pedido de reviso de deciso.
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tivo da oralidade nos juizados, haja vista todas as demais decises interlocutrias continuarem irrecorrveis, devendo prevalecer, in casu, o princpio
mais amplo do acesso justia. Por exemplo, imagine-se o caso em que o
magistrado indefira a liminar para imediato restabelecimento de benefcio
previdencirio bloqueado injustamente pela autarquia previdenciria
(INSS) e que consista na nica fonte de subsistncia do segurado. Seria
extremamente injusto e penoso para o jurisdicionado que este aguardasse
at o final do processo para recorrer, devendo-se ressaltar, ainda, que o julgamento final de mrito pode ocorrer aps mais de ano, devido volumosa sobrecarga de feitos atualmente em trmite nos juizados federais.
Portanto, o legislador acabou, sim, por prestigiar a oralidade (irrecorribilidade das decises interlocutrias e concentrao dos atos processuais),
quando estabeleceu apenas uma nica hiptese de interposio de recurso
inominado em face de deciso interlocutria, evitando inclusive o desvirtuamento do nobre instituto do mandado de segurana, o qual vem sendo
usado de maneira descabida na prtica dos juizados estaduais.
Ao procurar privilegiar os princpios informativos da economia processual e da celeridade do procedimento, o art. 5 (in fine) termina por
suprimir o acesso justia quando dispe que somente se admite recurso de
sentena definitiva, o que exclui as sentenas terminativas (extino do
processo sem resoluo do mrito). Embora a sentena terminativa no
obste o ajuizamento de nova ao nos juizados, a experincia prtica tem
demonstrado os graves prejuzos temporais e econmicos sofridos pelo
jurisdicionado quando da ocorrncia de evidente erro judicial ou nos casos
de sentena terminativa que indiretamente discuta o mrito, nem sempre
corrigveis pela via dos embargos declaratrios. Na prtica forense, a jurisprudncia vem procurando corrigir essas distores.
Quanto possibilidade de recurso adesivo, a Coordenadoria dos Juizados
Especiais Federais no Estado do Rio de Janeiro emitiu o Provimento n
05/2002, que veda expressamente essa possibilidade no 4, do seu art. 8. As
razes que fundamentam esse posicionamento esto ancoradas no princpio
da taxatividade (no h previso legal para a sua interposio) e na ofensa ao
princpio da celeridade (constituiria, em tese, no retardo ou morosidade do
processo). Entretanto, MARCELO DA FONSECA GUERREIRO, enfrenta
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GUERREIRO, Marcelo da Fonseca. Como Postular nos Juizados Especiais Federais Cveis. Niteri-RJ:
Impetus, 2007, pp. 125-128.
SANTOS, William Douglas Resinende dos. Juizados Especiais Federais beira do fracasso.
Informativo ADV, Boletim Semanal n 31, agosto/1999, p. 501.
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Neste sentido, a clara redao do Enunciado n 4 das Turmas Recursais dos Juizados Federais do Rio de
Janeiro: possvel o litisconsrcio passivo necessrio dos entes enunciados no art. 6, II da L.
10.259/2001, com pessoa jurdica de direito privado e pessoa fsica.
Microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas em lei (Lei n 9.317/96).
Vide arts. 3 e 4 do Novo Cdigo Civil (2002).
A participao do incapaz nos plos ativo e passivo da demanda j uma realidade nos juizados federais, inclusive com a edio de enunciado: Os incapazes podem ser parte no JEF, sendo obrigatrias a
assistncia por advogado e a intimao do MPF, podendo haver conciliao (Enunciado n 5 das
Turmas Recursais dos Juizados Federais do Rio de Janeiro).
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importante que a parte conserve a documentao original, para o caso de argio de eventual incidente de falsidade do documento ou similar, quando haver necessidade de apresentao do original
para a devida comprovao de sua autenticidade.
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que o principal ganho a celeridade do processo em favor do jurisdicionado, que ver a sua causa sendo julgada com maior rapidez e efetividade.20
Entretanto, cumpre fazer algumas ressalvas ao procedimento inteiramente eletrnico (autos virtuais), porque no se pode conceber privilegiar a celeridade e a economia processual sem fazer uma ponderao de
interesses com os relevantes princpios constitucionais do acesso justia,
do contraditrio e da ampla defesa.
A primeira ressalva, naturalmente, diz respeito segurana das informaes transmitidas por meio eletrnico, seja contra falhas de comunicao no sistema, ou de armazenamento das informaes (da a necessidade
de um completo sistema de backup cpias de segurana), ou contra atos
de hackers, que cada vez mais se aprimoram na invaso de sistemas eletrnicos, mesmo os ditos fechados (o sistema eletrnico permite o envio de
peas e documentos via internet). Para tanto, preciso dotar os juizados
federais eletrnicos de um sistema moderno e inteiramente seguro, conforme leciona CARVALHO:21
... Assim, desde que resguardada a segurana da informao digital, tanto quanto deve ser preservada a segurana da
correspondncia tradicionalmente entregue pelo carteiro, tm
ambas a mesma credibilidade para veicular comunicaes processuais, inclusive intimaes.
A segunda observao que se faz, agora de contedo scio-econmico,
diz respeito carncia estrutural da justia e principalmente dos rgos
pblicos que nela atuam (defensoria e procuradorias), bem como o despreparo da populao em geral para o uso dos modernos meios eletrnicos.
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Somente para se ter uma idia do ganho de tempo no processo virtual, o sistema praticamente elimina
o prazo sucessivo para manifestao processual, visto que os autos estaro disponveis virtualmente,
ao mesmo tempo, para ambas as partes. Na prtica, grande parte dos prazos transformam-se em prazo
comum.
CARVALHO, Ivan Lira de. Os Juizados Especiais Federais e as comunicaes processuais eletrnicas.
Aspectos da Lei 10.259/01. Revista Doutrina. Rio de Janeiro: Instituto de Direito, 2002, p. 132.
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Art. 188 do CPC: Computar-se- em qudruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pblica ou o Ministrio Pblico.
Guilherme Bollorini Pereira entende que o art. 191 do CPC, que prev prazo em dobro para a hiptese de
litisconsrcio em que as partes tm procuradores diferentes, tambm no aplicvel aos juizados especiais
federais, sob pena de ofensa ao princpio da celeridade (in Juizados Especiais Federais Cveis Questes de
Processo e de Procedimento no contexto do Acesso Justia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 71).
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ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Federais. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 02.
Art. 134. A Defensoria Pblica instituio essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindolhe a orientao jurdica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5, LXXIV.
Art. 44, inc. I: receber intimao pessoal em qualquer processo e grau de jurisdio, contando-se-lhe
em dobro todos os prazos.
Marcelo da Fonseca Guerreiro aponta a necessidade de realizao de concursos pblicos constantes para
o devido aparelhamento da Defensoria Pblica da Unio, de modo a propiciar melhoria no Judicirio e
no acesso justia (in Como Postular nos Juizados Especiais Federais Cveis. Niteri-RJ: Impetus, 2007,
pp. 7-8).
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SANTOS, William Douglas Resinende dos. Juizados Especiais Federais beira do fracasso. Informativo ADV, Boletim Semanal n 31, agosto/1999, p. 501.
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A AGU Advocacia Geral da Unio edita smulas administrativas dirigidas aos advogados da Unio,
aos procuradores federais autrquicos e da Fazenda Nacional, retirando dos mesmos qualquer independncia funcional.
Como uma espcie de caa s bruxas, ao repique das influncias polticas.
TOURINHO NETO, Fernando Costa. Juizados Especiais Federais. Jus Navigandi, Teresina, a. 5, n 51,
out. 2001. Disponvel em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2230. Acesso em: 26 set. 2004.
A inquirio tcnica do art. 35 da Lei n 9.099/95 (juizados estaduais) no tem a magnitude da previso
relativa prova pericial nos juizados federais (Lei n 10.259/01).
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William Douglas R. dos Santos atribui ao pedido de uniformizao dos juizados federais a natureza jurdica de verdadeiro recurso, visto que objetiva a modificao do julgado (in Manual do Conciliador e do
Juiz Leigo Juizados Especiais Cveis. SILVA, Luiz Cludio; SLAIBI FILHO, Nagib; & SANTOS,
William Douglas Resinende dos. Niteri-RJ: Impetus, 2006, p. 196-197). O Conselho da Justia Federal,
ante a omisso da Lei n 10.259/01 quanto ao prazo de interposio do pedido de uniformizao, estipulou em 10 dias, a contar da cincia do acrdo (art. 3 da Resoluo n 273/02).
Alexandre Freitas Cmara aponta como nica hiptese de cabimento de ao rescisria em sede de juizados, os processos que tenham sido conhecidos pelo Supremo Tribunal Federal, no mrito, via recurso extraordinrio, na forma do disposto no art. 102, I, j, da CRFB/88. Entende, ainda, o citado doutrinador processual que a nica soluo possvel para desconstituir sentena transitada em julgado no
microssistema dos juizados especiais seria atravs da querella nullitatis (in Juizados Especiais Cveis
Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, pp. 162-163).
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Vale destacar que o Anteprojeto Costa Leite (que resultou na Lei n 10.259/01) previa, originalmente, em sua redao, a possibilidade de ao rescisria.
SALOMO, Luis Felipe. Roteiro dos Juizados Especiais Cveis. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Destaque,
2003, p. 65. No mesmo sentido: CARVALHO, Ivan Lira de. Ob. cit., p. 130: ..., a Lei 9.099/95 foi tomada como locomotiva de um moderno sistema de processo, de procedimento e de prestao jurisdicional
mais gil, malgrado os defeitos que o tempo j cuida de apontar, a exemplo dos equvocos do processo de
execuo de sentena. Grifo nosso. Entretanto, essa realidade vem mudando em sede dos juizados estaduais, principalmente com a utilizao da denominada penhora on line ou penhora eletrnica.
GRECO, Leonardo. Ob. cit., pp. 55-56.
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A Emenda Constitucional n 37/2002, que acrescentou o 4 ao art. 100 da CRFB/88, supultou de vez
essa discusso, visto que repetiu a injusta redao do 3 do art. 17, da Lei n 10.259/01.
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4. Referncias Bibliogrficas
AGUIAR, Joo Carlos Pestana de. Juizados Especiais Cveis e Criminais
Teoria e Prtica, Rio de Janeiro: Espao Jurdico, 1998.
ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Federais. Rio de Janeiro: Forense,
2003.
CMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crtica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
CAPPELLETTI, Mauro & GARTH, Bryant. Acesso Justia. Traduo de
Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Srgio Antonio Fabris Editor,
1988.
CARVALHO, Ivan Lira de. Os Juizados Especiais Federais e as comunicaes processuais eletrnicas. Aspectos da Lei 10.259/01. Revista
Doutrina. Rio de Janeiro: ID, 2002.
GRECO, Leonardo. O Acesso ao Direito e Justia. JurisPoiesis Revista
dos Cursos de Direito da Universidade Estcio de S, Rio de Janeiro,
ano 7, n 6, 2004.
GRINOVER, Ada Pellegrini. O Processo em evoluo. Rio de Janeiro:
Forense Universitria, 1990.
GUERREIRO, Marcelo da Fonseca. Como Postular nos Juizados Especiais
Federais Cveis. Niteri-RJ: Impetus, 2007.
MENDES, Gilmar Ferreira. Juizados Especiais Federais: o resgate de uma
dvida social. Revista Jurdica Consulex, Braslia, DF, ano V, n. 114,
out./2001.
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A Defensoria Pblica da Unio desenvolveu valioso projeto de assistncia jurdica integral e gratuita
nesse sentido, denominado DPU Itinerante, no qual, isolada ou em conjunto com o Judicirio, alcana as mais distantes reas do Pas, seja de barco, de automvel ou de avio. Marcelo da Fonseca
Guerreiro elenca algumas experincias interessantes de realizao de juizados itinerantes em sua obra
(in Como Postular nos Juizados Especiais Federais Cveis. Niteri-RJ: Impetus, 2007, p. 45).
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