Cromatografia de Papel Taninos PDF

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Caderno de Farmcia, v. 17, n. 2, p. 117 - 120, 2001.

c aderno
f armcia

de

ISSN 0102-6593

AVALIAO CROMATOGRFICA DE
POLIFENIS PRESENTES NAS PARTES
MORFOLGICAS DE PHYLLANTHUS NIRURI*
a

LIONO, M.I. ; DE SOUZA, T.P. ; PETROVICK, P.R.


a

Bolsista CNPq; b Doutoranda; Laboratrio de Desenvolvimento Galnico; Programa de Ps-graduao em Cincias


Farmacuticas, Faculdade de Farmcia - UFRGS

RESUMO: Foram realizadas anlises por cromatografia lquida de alta eficincia (CLAE), cromatografia em camada
delgada (CCD) e cromatografia em papel (CP), para identificao e quantificao de compostos fenlicos em extratos
aquosos obtidos por decoco dos diferentes rgos vegetais de Phyllanthus niruri. Os resultados evidenciaram a
adequao dos mtodos cromatogrficos na avaliao da qualidade da droga vegetal ou de seus rgos vegetais.
Constataram-se diferenas qualitativas e quantitativas na composio de polifenis entre as partes morfolgicas.
UNITERMOS: PHYLLANTHUS NIRURI, POLIFENIS, ANLISE CROMATOGRFICA, CONTROLE DE QUALIDADE EM
MATRIAS-PRIMAS VEGETAIS.
ABSTRACT: CHROMATOGRAPHIC EVALUATION OF POLYPHENOLS IN MORPHOLOGICAL ORGANS FROM
PHYLLANTHUS NIRURI The identification and assay of phenolic compounds in aqueous extractive solutions from
different parts of Phyllanthus niruri have been accomplished through high performance liquid chromatography
(HPLC), thin layer chromatography (TLC) and paper chromatography (PC). The results showed the adequacy of the
chromatographic methods to estimate the quality of vegetal as well as its morphological parts, moreover, it has been
find out qualitative and quantitative differences in the polyphenolic composition of the tested solutions.
KEYWORDS: MORPHOLOGICAL PARTS; PHYLLANTHUS NIRURI, CHROMATOGRAPHIC ANALYSIS, POLYPHENOLS,
INTRODUO
Phyllanthus niruri (quebra-pedra) tem sido
amplamente utilizada na medicina popular,
3
principalmente sob a forma de extrato aquoso . O
decocto aquoso da planta pode ser obtido
utilizando-se as partes areas ou a planta toda,
incluindo razes. Estudos clnicos comprovam sua
atividade teraputica em afeces do aparelho
11
geniturinrio . Diversos compostos, tais como,
alcalides, flavonides, lignanas, fenis e terpenos
foram
isolados das
plantas do gnero
3
Phyllanthus . As diferenas funcionais das
distintas partes da planta, tais como folhas, galhos
e razes, acarretam em rotas metablicas, alm de
composio e quantidade de substncias qumicas
11
desiguais . No sentido de garantir a eficcia do
produto fitoterpico, tm sido realizados estudos,
objetivando estabelecer e validar mtodos de

anlise para controle de qualidade da droga


4
vegetal e de solues extrativas . Para isto, a
observao de marcadores qumicos uma etapa
importante. Os polifenis, tais como taninos e
flavonides, tm sido amplamente usados com
este objetivo. Relatos na literatura, bem como
anlises fitoqumicas prvias a este trabalho,
realizados neste laboratrio, levaram a escolha
deste grupo de substncias como alvo de estudo.
Flavonides
podem
ser
utilizados
como
marcadores taxonmicos devido, sobretudo, sua
abundncia relativa em quase todo o reino
vegetal, especificidade para algumas espcies,
relativa estabilidade e seu acmulo com menor
11
influncia do meio ambiente . Alm desta classe,
os taninos tambm so considerados bons
marcadores
qumicos.
Distinguem-se,
classicamente,
dois
grupos
de
taninos:

*
Trabalho agraciado com o 1 lugar no Concurso Acadmico de Pesquisa Cientfica, 22, In: SEMANA ACADMICA DE ESTUDOS
FARMACUTICOS, 27, Porto Alegre, 2001. Programa e Resumos. Porto Alegre: UFRGS, Faculdade de Farmcia, Diretrio
Acadmico da Faculdade, 2001. p. 26.

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condensados e hidrolisveis, que diferem pela sua
2
estrutura e origem biogentica . Metodologias de
identificao e quantificao de compostos
qumicos presentes na soluo extrativa de P.
niruri
permitem
o
acompanhamento
da
estabilidade da planta e dos produtos a partir dela
obtidos. Os mtodos cromatogrficos distinguemse entre diversos mtodos de anlise de matrizes
complexas, pois permitem um nmero elevado de
variaes das condies tcnicas e resultados
quantitativos e qualitativos.
MATERIAIS E MTODOS
A matria-prima vegetal foi adquirida da
empresa Quimer (SP). As folhas, os galhos e as
razes foram separados, secados e modos. Foram
preparadas solues extrativas aquosas por
decoco das folhas, dos galhos, das razes e da
mistura das partes areas, sendo utilizada a
relao droga:solvente (7,5:100 m/V). Em seguida,
tendo em vista a determinao do perfil
cromatogrfico e a quantificao de polifenis
presentes nas partes morfolgicas de Phyllanthus
niruri, partiu-se para a anlise das solues.
Diferentes sistemas para cromatografia em
camada delgada (CCD) e cromatografia em papel
(CP) foram testados (tab. 1). Na cromatografia
lquida de alta eficincia (CLAE), em fase reversa,
estudou-se a adequao da utilizao dos
solventes orgnicos acetonitrila e metanol, com
cido fosfrico, em sistema isocrtico e gradiente,
utilizando coluna Merck, RP 18 (250 x 4 mm) e
detector UV em 275 nm. As anlises foram
desenvolvidas
em
cromatgrafo
Shimadzu
composto por bomba (LC-10 AD), controlador
automtico de gradiente (FCV-10 AL), amostrador
automtico (SIL-10 A ) e detector UV/VIS (SPD-10
A), controlado por programa Class LC-10. Para
avaliao dos espectros dos picos foi utilizado
cromatgrafo lquido de alta eficincia Waters
composto por mdulo de separao 2690, detector
com arranjo de fotodiodos 996 e programa de
gerenciamento e avaliao Millennium
Para as CP e CCD foram empregados,
como substncias referncia rutina, quercitrina e
isoquercitrina, na anlise de flavonides, e na
avaliao dos taninos, cido elgico, cido tnico,
(+)-catequina e (-)-epicatequina.

Caderno de Farmcia, v. 17, n. 2, p. 117 - 120, 2001.

RESULTADOS E DISCUSSES
A anlise dos cromatogramas em papel,
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aps revelao com Reagente Natural A e
visualizao sob luz ultravioleta, utilizada na
deteco de flavonides, demonstrou diferenas
entre os perfis apresentados pelas amostras das
diferentes partes da planta, alm disso, os
padres testados no foram detectados nas
amostras. O resultado da CCD para taninos, aps
revelao com FeCl3 leva suposio da
presena de cido glico (Rf = 0,63) tanto nas
solues de folhas quanto de galhos e razes.
Pde-se distinguir, tambm, a presena de uma
mancha (Rf = 0,66), com colorao azul escuro,
aps revelao com FeCl3, a qual se verifica
apenas na amostra de razes.
Previamente, em CLAE, foram injetadas
amostras dos decoctos das folhas, galhos e razes
de iguais concentraes (20 g/ml). Isto resultou
em cromatogramas no comparveis, uma vez
que, o perfil referente soluo extrativa das
folhas mostrou picos muito maiores do que
aqueles obtidos dos decoctos de galhos e razes
(fig. 1). Isto se deve s diferentes concentraes
das substncias pesquisadas nas amostras
avaliadas. Para possibilitar a anlise em conjunto
dos trs cromatogramas, foram injetadas amostras
com diferentes concentraes, sendo: folhas 4,8
g/ml, galhos 40 g/ml e razes 100 g/ml. Da
avaliao comparativa dos cromatogramas,
observou-se a superposio de picos dos extratos
de folhas, galhos e razes, alm da presena de
picos que aparecem unicamente no decocoto das
razes. Os cromatogramas apresentaram quatro
picos (P1, P2, P3 e P4), os trs primeiros,
presentes em todas as amostras, com boa
resoluo (RsP1-P2 = 1,61; RsP2-P1 = 1,61; RsP3-P2 =
2,66). A anlise do espectro de varredura destes
(fig. 2) permitiu a identificao do pico 1, com
tempo de reteno (TR) em torno de 6,8 min,
como sendo o cido glico (AG) e a indicao de
serem, os picos P2 (TR 20,9 min) e P3 (TR
22,0 min), respectivamente, uma flavanona e um
derivado do cido glico.
A partir destas constataes, construiu-se a
curva de calibrao do cido glico, obtendo-se
parmetros que atestam sua linearidade (tab. 2).

Tabela 1. Sistemas cromatogrficos para cromatografia em camada delgada (CCD) e cromatografia em papel (CP)
Composio eluente (v/v)
suporte
flavonides
taninos
Acetato de etila: acetona: cido actico: gua
(60:20:10:10)
CCD
Acetato de etila: cido frmico: gua
Acetato de etila: cido frmico: isopropanol: gua
gel de
(95:5:5)
(50:4:2:7) 14
slica F254
Butanol: cido actico: gua
(30:10:10)15
cido actico: cido clordrico: gua (30:3:10) 9
CP
cido actico 15%10
cido actico 6% 9

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folhas

galhos

razes

Figura 1. Cromatogramas dos extratos aquosos


das diferentes estruturas morfolgicas de P.
niruri de mesma concentrao (20 g/ml)

proporcionalidade entre as reas destes e a rea


do pico 1. Para o clculo das concentraes de
cido glico (P1) utilizou-se a equao obtida pela
curva de calibrao. Os resultados de
quantificao de polifenis (tab. 3) comprovam
que, nas solues de folhas e galhos, as
concentraes das substncias referentes a P2 e
P3 foram maiores do que P1. Observou-se que, a
amostra de folhas, apesar de estar em
concentrao aproximadamente oito vezes menor
do que a de galhos, apresentou maior
concentrao das substncias estudadas. No foi
possvel quantificar as os picos 2 e 3 em relao
ao AG, na amostra de razes, pois o pico 1 no
apresentou resoluo adequada para o clculo
das reas. A relao entre as reas de P3 para P2
foi de 0,5, diferentemente das relaes obtidas
para os mesmos picos nas amostras das folhas e
dos galhos, demonstrando que a substncia
contida em P3 distribui-se, majoritariamente nas
folhas.
Tabela 3. Quantificao do cido glico e das duas
substncias majoritrias nos decoctos
Parte da planta
Concentrao (mg/ml))
cido glico
P2
P3
Folhas
17,7
42,4
53,4
Galhos
1,4
1,75
1,6
CONCLUSES

Figura 2. Varreduras dos picos 1, 2 e 3 por


detector de arranjo de diodos
Tabela 2. Parmetros de regresso para a curva de
calibrao do cido glico
Parmetro
Valor
Limite de confiana
F
4960,33*
Desvio da
0,5391
linearidade
2
r
0,9997 (0,09%)
a
-1837,98
-4959 a 1283,88
b
95638,38
92465 a 98811,42
significativo = 0,05

Como base para os clculos das


concentraes das substncias referenciadas
pelos P2 e P3 foram utilizadas as relaes de

Os mtodos cromatogrficos utilizados para


verificar a constituio polifenlica das solues
extrativas dos diferentes rgos vegetais se
mostraram
viveis
e
adequados.
Foram
evidenciadas
diferenas
quantitativas
e
qualitativas na composio de polifenis entre
partes morfolgicas de Phyllanthus niruri. A
quantidade de cido glico e das substncias
analisadas foi sensivelmente maior nas folhas do
que nas outras partes vegetais. Nas razes foi
verificada a presena de uma substncia que no
ocorre nas folhas e nos galhos.
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Caderno de Farmcia, v. 17, n. 2, p. 117 - 120, 2001.

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Endereo para correspondncia:
Prof. Dr. Pedro Ros Petrovick
Faculdade de Farmcia da UFRGS
Av. Ipiranga, 2752
90610-000 - Porto Alegre RS
[e-mail: [email protected]]

nd

Recebido em: 10.10.2001


Aceito em: 19.10.2001
Reviso final: 25.11.2001

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