Arrendamento Urbano
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Cmara dos
Solicitadores
[ARRENDAMENTO URBANO]
Estes apontamentos so o resultado da ao de formao, realizada em Albufeira, que reuniu
um grupo de especialistas com o objetivo de esclarecer as questes mais pertinentes do atual
regime jurdico do arrendamento urbano - Lei 31/2012, de 14 de Agosto - e do impacto nas
prticas dos Solicitadores.
Este documento foi gentilmente elaborado pela Dr. Juza Albertina Pedroso, a quem a Cmara
dos Solicitadores agradece a colaborao incondicional que tem dado a todos os Solicitadores.
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ndice
1. A que contratos se aplicam as alteraes introduzidas pela Lei n. 31/2012, de 14 de
Agosto? ........................................................................................................................ 3
2.
Est previsto algum regime transitrio para os contratos habitacionais celebrados
antes de 1990, e para os contratos no habitacionais celebrados antes do DL n. 257/95,
de 30 de Setembro, a aplicar a partir de 1 de janeiro de 2013? ...................................... 3
3. Que tipos de contrato de arrendamento podemos encontrar na nova lei? ................. 5
4. Para a celebrao do contrato de arrendamento necessrio o cumprimento de
alguns formalismos especiais? Consequncias? ............................................................. 7
5. O que muda para os contratos de arrendamento temporrios, por exemplo para fins
tursticos? Tambm para este tipo de contratos, com prazos reduzidos, os contratos tm
que passar a ser escritos? ............................................................................................12
6. Qual a importncia da fixao de prazo nos novos contratos? ...................................13
7. A Lei 31/2012 introduz especificidades quanto ao regime de transmisso por morte do
primitivo arrendatrio, no arrendamento para a habitao, em contratos celebrados
antes da vigncia do NRAU? ........................................................................................14
9. Quanto transmisso por morte no arrendamento para fins no habitacionais que
alteraes so introduzidas pela nova lei? ....................................................................18
10. Sou arrendatrio titular de um contrato de arrendamento celebrado aps o NRAU.
Com o regime agora criado permite-se a transmisso do arrendamento para os filhos? 20
11. O elenco exemplificativo de causas de resoluo referidas no artigo 1083., n. 2, do
CC, fundamento automtico de resoluo do contrato? ............................................22
12. Pode haver resoluo do contrato com base em fundamentos que no esto
referidos no artigo 1083. do CC? ................................................................................27
13. Podem as partes estipular no contrato de arrendamento causas de resoluo?.......28
14. Como se preenchem as causas de resoluo previstas no artigo 1083., n.s 3 e 4 do
CC? .............................................................................................................................30
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partes, em princpio, no existe obstculo sua aplicao nas aces pendentes, embora tal
possa susceptvel de gerar algumas dificuldades de ordem prtica.
Basicamente tais dificuldades devem ser resolvidas luz do seguinte princpio: a
respectiva aplicabilidade no pode fazer renovar direitos cujo exerccio a parte j tivesse
deixado precludir luz do regime anterior; e no pode retirar direitos que ainda no tivesse
exercido.
Isto quanto s normas de direito adjectivo.
Mas se estiverem em causa normas de direito substantivo, como por exemplo, as
atinentes denncia ou aos fundamentos de resoluo do contrato, o julgador, em princpio,
no as poder aplicar aos casos em apreo nessas aces, antes dever considerar o regime em
vigor data da propositura da aco, pois estas respeitam a saber se, nessa data, assistia ao
autor o direito que se arroga. esse, em regra, o momento relevante para determinar se os
factos invocados tm eficcia constitutiva do direito alegado ou, no caso das excepes
peremptrias, eficcia modificativa, impeditiva ou extintiva do efeito jurdico daqueles.
Portanto, em princpio, aos factos em discusso nas aces pendentes data do incio da
vigncia do NRAU (invocados como causa de pedir ou excepo peremptria) ser de continuar
a aplicar o RAU (ou, se for caso disso, outra lei anterior aplicvel); e aos factos em discusso nas
aces pendentes data da entrada do Novssimo RAU, ser de continuar a aplicar o NRAU.
Caso contrrio, preconizando-se a aplicao do NRAU ou do novssimo RAU a estas
situaes, verificar-se-ia uma inaceitvel aplicao retroactiva da lei nova que atentaria contra o
princpio da confiana nsito no Estado de direito democrtico consagrado no art. 2. da CRP.
Como sabido, no mbito do RAU, os prdios urbanos podiam ser arrendados para
habitao, comrcio ou indstria, exerccio de profisses ou para outra aplicao lcita do prdio
(arts. 3., n. 1, 74. e ss., 110. e ss., 121. e ss. e 123. e ss. do RAU). Porm, se as partes nada
estipulassem, o arrendatrio apenas podia utilizar o prdio para habitao (art. 3., n. 2, do
RAU).
Com o Novo Regime do Arrendamento Urbano introduzido pela Lei n. 6/2006, o
arrendamento urbano passou a estar dividido em duas grandes categorias previstas no art.
1067., n. 1, do CC:
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- os arrendamentos para fins habitacionais sobre os quais regem os arts. 1092. a 1107.
do CC; e
- os arrendamentos para fins no habitacionais previstos nos arts. 1108. a 1113. do CC.
Ora, o artigo relativo ao fim do contrato no sofreu qualquer alterao com a Lei n.
31/2012, pelo que os tipos de contratos que podemos encontrar no novo regime continuam a
dividir-se nestes termos.
Assim, nos contratos de arrendamento para fins habitacionais, integram-se os contratos
de arrendamento para habitao permanente, e os contratos de arrendamento para habitao
no permanente ou fim especial transitrio, celebrados designadamente por motivos
profissionais, de educao e formao ou tursticos.
Relativamente a estes contratos voltaremos mais em pormenor em resposta questo n.
5, porque importante a alterao introduzida pelo novo regime.
Na categoria dos arrendamentos para fins no habitacionais cabem desde a alterao
efectuada pela Lei n. 6/2006, os tradicionais arrendamentos para comrcio ou indstria, antes
regulados nos arts. 110. a 120. do RAU; os antigos arrendamentos para exerccio de profisso
liberal, antes previstos nos arts. 121. a 122. do RAU; e ainda os arrendamentos de prdios
urbanos para outros fins no habitacionais ou outra aplicao lcita a que se referia o art.
123. do RAU.
Acresce ainda que, no regime introduzido pelo NRAU, considerando a revogao do RAU e
atendendo ao disposto no actual art. 1108. do CC, passaram a integrar esta categoria de
arrendamentos para fins no habitacionais, estando sujeitos respectiva disciplina, quer os
arrendamentos de espaos no habitveis, para afixao de publicidade, armazenagem,
parqueamento de viaturas ou outros fins limitados, anteriormente previstos no art. 5, n. 2, al.
e), do RAU; quer ainda os arrendamentos de prdios rsticos no sujeitos a regimes especiais,
isto , que no esto submetidos disciplina do arrendamento rural, a que aludia o art. 6. do
RAU.
Importa ainda salientar que do artigo 1067., n.s 2 e 3, do CC resulta que, nada
estabelecendo as partes a este respeito, o fim do arrendamento determinado pela aptido do
prdio resultante da licena de utilizao e, na falta desta, pelas caractersticas do arrendado,
valendo como habitacional se este for habitvel ou como no habitacional se no o for, isto
salvo se outro destino lhe tiver vindo a ser dado.
Ora, o n. 3 do art. 1067. deve ser conjugado com o disposto no art. 1070., ambos do
CC.
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Assim, desde logo, ter de se entender que a expresso na falta de licena de utilizao
constante daquele preceito significa, na falta de licena de utilizao, quando no exigvel,
conforme decorre do art. 1070., n. 1, in fine.
Por outro lado, existindo agora apenas duas categorias possveis de arrendamento urbano
habitacional ou no habitacional a expresso constante da parte final do n. 3, salvo se
outro destino lhe tiver vindo a ser dado s pode referir-se a um desses destinos.
Logo, nada tendo sido estipulado pelas partes e no existindo licena de utilizao (por
no ser exigvel), o arrendamento ser habitacional, se o locado for habitvel, e ser no
habitacional, se o locado no for habitvel, mas poder ainda valer como arrendamento
habitacional ou como arrendamento no habitacional consoante o destino que, na prtica, lhe
tiver vindo a ser dado.
Privilegia-se, assim, o destino efectivo atribudo ao locado, o que se compreende, pois,
como consabido, frequentemente espaos habitveis so utilizados para outras finalidades,
designadamente escritrios de profissionais liberais ou consultrios mdicos.
Por fim, o artigo 1028. do CC, prev que as partes possam estipular uma pluralidade de
fins no arrendamento urbano, o que ocorrer designadamente nos casos em que o contrato se
destine habitao do arrendatrio e ao exerccio no mesmo da sua profisso.
Nesta situao, cada um dos fins sujeitar-se- ao respectivo regime, admitindo-se, porm,
que a invalidade ou resoluo de um dos elementos possa afectar igualmente o outro no caso de
no ser possvel a discriminao ou de haver solidariedade dos diversos elementos entre si (n.s
1 e 2). No obstante, se existir um fim preponderante, aplicar-se- a ttulo principal o respectivo
regime (n. 3).
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Arrendamento nos casos em que no se mostrar pago o imposto de selo, porquanto tal motivo
de recusa do requerimento apresentado artigo 15.-C, n. 1, alnea h), da referida lei.
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Com as alteraes introduzidas ao artigo 1094. do CC, o legislador veio agora consagrar a
eliminao do denominado vinculismo, ao afastar supletivamente os contratos de durao
indeterminada, estabelecendo a durao do contrato pelo perodo de dois anos quando as
partes nada digam a tal respeito, assim reduzindo claramente o anterior prazo mnimo que era
de 5 anos (artigo 1094., n. 3, do CC).
Conjugadas estas alteraes com o regime previsto para a oposio renovao do
contrato de arrendamento, nos artigos 1097. e 1098. do CC, verificamos que a lei veio
claramente facilitar a cessao do contrato de arrendamento, reduzindo significativamente os
prazos para comunicao da oposio renovao e permitindo ao arrendatrio que receba tal
comunicao a denncia do contrato a todo o tempo, mediante a comunicao ao senhorio com
uma antecedncia mnima no inferior a 30 dias do termo pretendido do contrato (artigo
1098., n. 4, do CC).
Por outro lado, ao permitir no artigo 1096., n. 1, do CC, que as partes estipulem que o
contrato no se renova automaticamente no seu termo, permite que o mesmo termine por
caducidade nos termos do artigo 1051., alnea a), sem necessidade, portanto, de esperar pelo
prazo mnimo de comunicao da oposio renovao.
A propsito dos contratos para fins no habitacionais, em que regra geral, o arrendatrio
efectua um investimento significativo para dar incio respectiva actividade, importa considerar
que se deve privilegiar a fixao de um prazo mais alargado, o qual pode ir at ao mximo de 30
anos previsto no artigo 1095., n. 2.
De facto, com a possibilidade de denncia imotivada, operando por comunicao, o
arrendatrio ficar mais fragilizado com a celebrao de um contrato de durao indeterminada
do que com a fixao de um prazo inicial mais alargado.
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Finalmente, importa salientar que a lei n. 31/2012 integra uma norma transitria que
importa reter quanto contagem dos prazos que a mesma veio definir, com especial interesse
para a possibilidade de denncia do contrato.
Trata-se do artigo 7., do qual resulta que os novos prazos fixados na lei se contam aps a
sua entrada em vigor, sendo que aos prazos em curso aplica-se a reduo de prazos estabelecida
na lei actual, ressalvando os casos em que o perodo em falta para completar o prazo em curso
seja menor do que o tempo agora prevista para o efeito.
Em primeiro lugar, importa desde logo ter presente que o regime aplicvel transmisso
por morte se determina pela lei em vigor data em que o decesso ocorreu, porquanto este o
facto que desencadeia o direito das pessoas elencadas na lei a verem transmitido a seu favor o
contrato que, caso assim no acontecesse, caducaria por fora do preceituado no artigo 1051.
alnea d).
A transmisso por morte nos contratos de arrendamento habitacionais existentes data
de entrada em vigor da NRAU - quer tenham sido celebrados antes ou durante a vigncia do
RAU - encontra-se desde as alteraes introduzidas pela Lei n. 6/2006, sujeita disciplina
decorrente da norma transitria constante do art. 57. da referida lei. o que decorre do
disposto no artigo 26., n.s 1 e 2, da Lei n. 6/2006, que no sofreu alterao com a Lei n.
31/2012.
Estamos perante regime transitrio que difere amplamente quer daquele que o RAU
previa quer do que foi consagrado pelo NRAU para os novos contratos.
Assim, efectuando a comparao com o RAU, verifica-se a existncia duma reduo do
universo dos sujeitos beneficirios da transmisso por morte e uma alterao na sua ordem,
visando claramente facilitar a cessao dos contratos de arrendamento mais antigos.
Tal ressalta desde logo da circunstncia de o promio do n. 1 do art. 57. do RAU se
referir apenas ao primitivo arrendatrio, omitindo toda e qualquer aluso ao inquilino que no
seja o originrio (ao invs do que sucedia no RAU e que constava do art. 1106. do CC na
redaco da lei n. 6/2006, agora tambm revisto neste sentido).
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de facto h mais de dois anos, com residncia no locado h mais de um, sendo estes requisitos
cumulativos.
Acresce que, reportando-se a lei agora aos requisitos legais para que a vivncia em
comum de algum integre uma unio de facto, para que a transmisso ocorra, no devem
ainda verificar-se quaisquer dos impedimentos que obstem produo dos efeitos jurdicos
decorrentes da unio de facto, por exemplo, o facto de o primitivo arrendatrio viver em unio
de facto mas no ter dissolvido o seu casamento, salvo se tiver sido decretada a separao de
pessoas e bens (artigo 2., alnea d), da Lei n. 7/2001).
Quanto alnea c), os ascendentes ocupam o terceiro lugar na hierarquia dos
beneficirios da transmisso por morte da posio de arrendatrio, correspondendo esta alnea
a uma consagrao de ltima hora no NRAU e encerrando uma inovao relativamente ao
regime fixado quer pelo RAU, quer pelo Cdigo Civil, porquanto os ascendentes no integravam
o leque de beneficirios, preferindo agora aos filhos do primitivo arrendatrio.
A novidade introduzida pela lei n. 31/2012 prende-se com a limitao da transmisso aos
ascendentes de 1. grau que antes no se verificava.
de notar ainda que a lei exige o perodo mnimo de um ano de tempo de convivncia
efectiva do ascendente com o arrendatrio para que a transmisso do direito ocorra, tenha
aquela decorrido ou no integralmente no locado, porquanto o legislador neste caso no
distingue aqui as situaes, ao invs do que faz relativamente unio de facto.
Os filhos e os enteados do primitivo arrendatrio ocupam agora o ltimo lugar na
hierarquia dos beneficirios da transmisso por morte do direito do arrendatrio, e no tm
direito transmisso caso sejam maiores e no se encontrem a estudar no 11., 12. anos ou
ensino superior, nem tenham deficincia comprovada superior a 60%.
Efectivamente, para que o direito ao arrendamento se lhes transmita, a lei exige a
verificao de uma de vrias condies alternativas: tratar-se de filho ou enteado, com menos
de um ano de idade data do falecimento do arrendatrio [1. parte da alnea d)]; menor de
idade que conviva com o arrendatrio h mais de um ano [2. parte da alnea d)]; com idade
inferior a 26 anos que conviva com o arrendatrio h mais de um ano e frequente o 11. ou 12.
ano de escolaridade ou estabelecimento de ensino mdio ou superior [parte final da alnea d) do
n. 1]; com idade igual ou superior a 18 anos que conviva h mais de um ano com o arrendatrio
e seja portador de deficincia com grau comprovado de incapacidade superior a 60 % (1) [alnea
e) do n. 1].
A lei no se refere ao adoptado plena ou restritamente, mas o mesmo deve ser
considerado no quadro dos sujeitos transmissrios em igualdade de circunstncias com os filhos
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e enteados, por fora do preceituado respectivamente nos artigos 1986. e 1999. do CC, o
mesmo sucedendo com o filho nascituro, embora sob a condio do seu nascimento completo e
com vida (art. 66. do CC).
A alterao introduzida na alnea e) retirando a expresso maior de idade, nada traz de
novo porquanto se o filho fosse menor j estava abrangido pela alnea anterior.
Por seu turno o n. 2 do artigo refere-se ao modo como se d a transmisso: esta opera
pela ordem estabelecida nas alneas do n. 1 do mesmo artigo (cnjuge ou unido de facto,
ascendente, filho e enteado). Sendo vrios os ascendentes, filhos ou enteados concorrentes,
preferir aquele que for o mais velho (n. 2, in fine); e quando ao arrendatrio sobreviva mais de
um ascendente o direito transmite-se entre eles por morte do primeiro sucessor (n. 4).
O actual n. 3 constitui importante alterao porquanto impede a transmisso
relativamente a quem, estando nas condies legalmente previstas para o efeito, seja data da
morte do arrendatrio, titular doutra casa, prpria ou arrendada, na rea dos concelhos de
Lisboa ou Porto e seus limtrofes, ou no respectivo concelho quanto ao resto do pas.
Por ltimo, a introduo dos n.s 5 e 6 tambm constitui novidade introduzida pelo
novssimo regime.
Actualmente, se a posio do arrendatrio se transmitir para ascendente com idade
inferior a 65 anos data da morte daquele, o contrato fica submetido ao NRAU, aplicando-se na
falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos de prazo certo, pelo perodo de dois
anos.
O mesmo acontece se a transmisso ocorrer para filho ou enteado que no seja portador
de deficincia com grau superior a 60%, caso em que o contrato fica submetido ao NRAU
quando aquele atingir a maioridade, ou sendo estudante nos termos previstos na alnea e), na
data em que perfizer 26 anos.
Finalmente, e para terminar a anlise do art. 57. da NRAU, resta salientar a necessidade
de observncia de dois requisitos de ordem formal, mediante a aplicao do regime fixado no
art. 1107. do CC, porquanto a lei nada diz a esse respeito, quanto ao regime transitrio: assim,
impe-se a comunicao da transmisso ou da respectiva renncia ao senhorio, nos trs meses
seguintes ao decesso do arrendatrio primitivo, bem como a juno dos documentos
comprovativos do bito e da qualidade do sucessor, nomeadamente, pela juno dos assentos
de nascimento, casamento, etc.
No caso de incapacidade, a respectiva prova est sujeita ao regime institudo pelo DL n.
352/2007, de 23-10, o qual aprovou a nova Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de
Trabalho e Doenas Profissionais, atento o preceituado no respectivo artigos 2., n. 3, sendo
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que as tabelas aprovadas pelo citado Decreto-Lei aplicam-se a todas as peritagens de danos
corporais efectuadas aps a sua entrada em vigor [cfr. art. 6., n. 1, al. c), do mesmo diploma].
A transmisso em causa regista menos condicionalismos do que aqueles que a lei fixa para
os arrendamentos para fim habitacional, j o n. 1 do art. 1113. do CC, se limita a estabelecer
que o arrendamento no caduca por morte do arrendatrio, mas os sucessores podem
renunciar transmisso.
Acontece que neste preceito, apesar de estar referido como um dos artigos alterados pela
Lei n. 31/2012, no se vislumbra diferena entre as duas redaces do preceito, nem sequer
quanto ao prazo de comunicao da renncia que j era anteriormente de trs meses.
Nestes casos, a lei no fixa quaisquer limites que possam restringir o universo de
beneficirios da transmisso do direito, para alm da sua qualidade de sucessores do falecido,
portanto, serem seus herdeiros, legtimos ou legitimrios ou mesmo legatrios.
Falecendo o arrendatrio, o sucessor deste pode adoptar uma de duas condutas: pode
renunciar transferncia da posio contratual, e neste caso deve comunicar tal facto ao
senhorio no prazo de 3 meses aps o decesso do arrendatrio; em alternativa, pode pretender a
manuteno do vnculo contratual e, neste caso, dever comunicar essa sua vontade ao
senhorio, juntando para o efeito cpia dos documentos comprovativos do bito do arrendatrio
e da sua qualidade de sucessor, tudo no prazo de trs meses a contar do falecimento do
inquilino, conforme decorre do disposto no art. 1107., n. 1, do CC, e por fora da remisso
operada pelo n. 2 do art. 1113. do mesmo Cdigo .
Tanto no caso da renncia como no da continuao do contrato, a comunicao do
sucessor dever obedecer ao ritual estabelecido nos arts. 9. e segs. da NLAU.
No sendo efectuada a comunicao em apreo, ainda assim transmitir-se- o
arrendamento, mantendo-se com as inerentes obrigaes, mormente a do pagamento da renda,
muito embora o transmissrio fique obrigado a indemnizar o senhorio por todos os danos
resultantes de tal omisso, conforme resulta do n. 2 do art. 1107. do CC, e uma vez mais por
fora da remisso operada pelo art. 1113., n. 2, do mesmo Cdigo.
Note-se que, semelhana do que acontece quanto ao arrendamento para habitao, a
questo da transmisso por morte prevista no art. 1113. do CC no se coloca nos casos em que
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advogado instalados em local arrendado cabem na previso do art. 58., sendo possvel nesses
casos a transmisso por morte do direito ao arrendamento desde que observados os demais
requisitos legais.
Porm, o sucessor ou transmissrio deve ser herdeiro ou legatrio do de cujus (art. 2030.
do CC) que simultaneamente desenvolva uma actividade no locado antes explorado por aquele.
Esto assim excludos do universo de transmissrios todos aqueles que, no possuindo tal
qualidade sucessria, apenas tiveram, como ocupao profissional, o trabalho no
estabelecimento do arrendatrio falecido.
Finalmente, importa salientar que tambm a transmisso por morte nos contratos de
pretrito de arrendamento para fim no habitacional impe ao transmissrio o dever de
comunicao ao senhorio, nos trs meses subsequentes ao decesso do arrendatrio, da vontade
de continuar a explorao e a juno, para esse efeito, os documentos comprovativos do
falecimento do locatrio e da sua qualidade de sucessor.
Quanto inobservncia de tal dever e aos formalismos da comunicao, aplicam-se as
consideraes tecidas quanto transmisso do arrendamento habitacional.
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Assim, em vez de, como acontecia no artigo 64. do RAU, enumerar taxativamente as
causas de resoluo efectuando a seleco dos vrios tipos de incumprimento que eram
considerados suficientemente graves para a fundar, o legislador do NRAU optou pelo uso de
clusulas gerais, apontando genericamente para o incumprimento grave das obrigaes
emergentes do contrato, como justa causa de resoluo.
A gravidade do incumprimento fundador do direito resoluo do contrato h-de aferirse quer pela prpria natureza da infraco actuao/omisso substancialmente grave quer
pelas consequncias ou efeitos que provoca e que tornam o incumprimento grave quer
ainda pela reiterao da conduta violadora das obrigaes assumidas que, por essa via,
tambm qualificvel como grave de tal modo que no seja razoavelmente exigvel outra
parte a manuteno do arrendamento.
Para alm de consagrar a referida clusula geral merc da qual apenas considera
fundamento de resoluo o incumprimento que, pela sua gravidade e consequncias, torne
inexigvel a manuteno do contrato de arrendamento, na parte final do n. 2 do artigo 1083., o
legislador do NRAU veio acrescentar: designadamente, quanto resoluo pelo senhorio,
enunciando exemplificativamente vrios casos que reconduziu a cinco alneas.
A principal questo que tem sido objecto de divergncia na interpretao deste elenco
exemplificativo previsto no n. 2 do artigo 1083. do CC, a de saber se os exemplos
seleccionados pelo legislador como hipteses de incumprimento pelo arrendatrio preenchem
ou no, por si s, a clusula geral nsita na 1. parte do artigo.
Como sabido, esta tcnica dos exemplos-padro tem sido usada noutros diplomas - o
art. 30., al. a), do DL n. 178/86, de 03-07, que consagra o regime jurdico do contrato de
agncia , e o art. 396., n.s 1 e 3, do Cdigo do Trabalho quanto resoluo do contrato de
trabalho - relativamente aos quais tem sido defendido que as circunstncias exemplificativas
no so de funcionamento automtico carecendo de ser enquadradas na clusula geral .
Este o entendimento que preconizamos porque efectivamente no consideramos que
tendo o legislador optado por esta enunciao exemplificativa na sequncia da exigncia de um
incumprimento grave, por si ou pelas suas consequncias, e que por tal motivo torne inexigvel
ao senhorio a manuteno do arrendamento, a simples alegao e prova de qualquer uma das
situaes enunciadas, possa configurar o imediato preenchimento das aludidas clusulas gerais.
Se assim fosse, pense-se ento porque razo o legislador no avanou para a resoluo
extrajudicial nestes casos?
Precisamente porque em face da indispensabilidade do preenchimento do conceito geral
de justa causa, incumbir ao senhorio, autor na aco de despejo, o nus da alegao e da prova
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(cfr. art. 342. do CC) de factualidade subsumvel, no apenas nas diferentes alneas do n. 2,
mas tambm, na clusula geral constante da 1. parte do n. 2.
Na verdade, a simples alegao e prova de factos subsumveis em qualquer uma das
situaes enunciadas, pode no bastar para o imediato e indispensvel preenchimento da
clusula geral do n. 1 do artigo, at porque as causas resolutivas previstas nas diversas alneas
configuram nveis de gravidade de grau muito diferente entre si, sendo que algumas das
situaes eleitas tm objectivamente um grau de gravidade menor do que outros
fundamentos no elencados, por exemplo, as obras no autorizadas .
Por isso, merc precisamente da consagrao de exemplos de tipo muito distinto, o nus
que recai sobre a parte ser mais facilmente cumprido nalguns dos casos previstos na lei do que
noutros.
No entanto, o Conselheiro Pinto Furtado considera que se trata de casos tpicos de
resoluo, no meras presunes ilidveis da inexigibilidade da manuteno do arrendamento
pelo senhorio e que provados tais factos, nenhum juzo de valor se tem de lhe acrescentar
para se constituir ou afastar o direito resoluo por parte do senhorio , entendimento que
mereceu acolhimento, por exemplo, nos Acs. TRL de 08-10-2009, processo n.1957/08-2; e de
11-02-2010, processo n. 2154/07.6TJLSB.L1-2, disponveis em www.dgsi.pt.
Porm, no tem sido este o entendimento maioritariamente defendido na doutrina , nem
noutra jurisprudncia dos Tribunais da Relao conforme pode ver-se dos Ac. RP de 17-042008, Proc. N. JTRP00041081, Ac. RP de 27-11-2008, Proc. N. JTRP00041081Ac. RL de 09-122008, Proc. N. 8726/2008-6; Ac. RL de 27-05-2010, processo n. 707/08.4YXLSB.L1-6; e Ac. RL
de 15-10-2009, processo n. 613/08.2TBALM.L1-2 - e na jurisprudncia do STJ Ac. de 02-102007, revista 2496/07, que expressamente o referiu quanto falta de residncia permanente
aduzindo que a mesma no hoje, por si s, fundamento do contrato. preciso que se
demonstre que o incumprimento pela sua gravidade torne inexigvel outra parte a manuteno
do arrendamento. Portanto, largamente maioritrio o entendimento que temos defendido a
este respeito.
Ora, a proposta aprovada no introduz quanto ao promio deste artigo 1083., n. 2,
qualquer alterao pelo que, mantm-se a este respeito as divergncias doutrinrias e
jurisprudenciais, estas eventualmente a sanar por via da uniformizao de jurisprudncia.
Porm, consideramos que as alteraes introduzidas nas alneas deste nmero dois,
vieram reforar este entendimento.
Seno vejamos:
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Quanto alnea a), a alterao agora prevista retirou a referncia violao reiterada e
grave deixando de se mencionar que a violao, para alm de grave, tenha ainda que ser
reiterada, isto , regular ou frequente.
De facto, como se poderia configurar que, caso no fosse necessrio demonstrar a
gravidade da violao, a simples violao de uma regra de boa vizinhana emisso de rudo,
fumos, etc. pudesse automaticamente determinar a resoluo do contrato enquanto a
realizao de obras no arrendado careceria de ser fundamentada quanto sua gravidade?
Parece-nos evidente que aquilo que determinou a alterao foi o legislador ter
considerado uma redundncia a meno gravidade e reiterao em face da necessidade de
preenchimento da clusula geral, para cujo efeito j necessrio avaliar da gravidade do
comportamento que, evidentemente, pode ser expressa pela sua reiterao.
Tambm quanto ao uso do prdio para fim diverso daquele a que se destina, previsto na
alnea c) foi agora tambm alterado aditando-se o segmento: ainda que a alterao do uso no
implique maior desgaste ou desvalorizao para o prdio, o que apenas se compreende se for
possvel avaliar da gravidade que o uso do prdio possa configurar.
De facto, aalterao ora introduzida visa salientar que neste caso, ainda que a alterao
do uso a que o prdio contratualmente se destina no provoque maior desgaste no imvel, tal
no impede que o senhorio alegue e prove os factos dos quais se possa concluir que houve
utilizao do prdio para fim diverso daquele para o qual ambas as partes haviam acordado
destin-lo, e os demais necessrios para avaliar se a gravidade ou as consequncias da violao
tornam inexigvel ao senhorio a manuteno do arrendamento.
Com interesse para o enquadramento desta alnea, atente-se que no NRAU, quer a
hospedagem em violao do disposto no artigo 1093., n.s 1, al. b), e 3, do CC, quer a existncia
de indstrias domsticas em violao do disposto no art. 1092., n. 2, podem integrar a
previso desta al. c) do n. 2 do artigo 1083..
Efectivamente, a Lei 6/2006 veio operar duas importantes modificaes de regime no
tocante possibilidade de existncia de indstrias domsticas no uso residencial do prdio
arrendado: tal possibilidade tem agora natureza supletiva salvo clusula em contrrio, e desde
que a mesma seja explorada na residncia do arrendatrio e no ocupe mais de trs
assalariados, no se impe que seja o prprio arrendatrio a explor-la, podendo a indstria
domstica ser prosseguida por todos os demais que residam com ele no arrendado em
economia comum.
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J quanto ao no uso do locado por mais de um ano, salvo nos casos previstos no n. 2 do
artigo 1072., apesar de no ter sido directamente alterado, foi operada importante modificao
no artigo para que remete.
Este mais um dos exemplos que ilustra como no NRAU assume particular relevncia a
estipulao contratual sobre o tipo de uso do arrendado, porquanto necessrio determinar
previamente se o arrendamento foi celebrado para habitao permanente, j que os
arrendamentos para habitao no permanente tambm esto sujeitos disciplina do NRAU,
sendo certo que apenas ser fundamento de resoluo o no uso do prdio arrendado para
habitao permanente.
Com esta alnea relaciona-se directamente o artigo 1072. (uso efectivo do locado n. 1
o arrendatrio deve usar efectivamente a coisa para o fim contratado, no deixando de a utilizar
por mais dum ano), a cujo n. 2 o no uso pelo arrendatrio lcito, a reforma vem aditar mais
uma alnea:
d) Se a ausncia se dever prestao de apoios continuados a pessoas com deficincia
com grau de incapacidade superior a 60% incluindo familiares, ficando abrangidos por esta
clusula todos os contratos de arrendamento independentemente da data em que tenham sido
celebrados.
A nova alnea no tem correspondncia na fonte da redaco anterior que era o n. 2 do
artigo 64. do RAU, visando salvaguardar situaes de ausncia que no estavam previstas
directamente e que se mostram claramente justificadas mas que, em bom rigor, nos parece que
sempre podiam ser enquadrveis na alnea a) caso de fora maior ou de doena. No entanto,
assim ficam explicitamente salvaguardadas estas situaes sem necessidade de se estar a
discutir se o caso se enquadra ou no na excepo, uma vez que ficam abrangidas pela previso
todas as situaes que aqui se enquadrem, independentemente da data em que o contrato se
iniciou.
J quanto cesso, total ou parcial, temporria ou permanente e onerosa ou gratuita, do
gozo do prdio, quando ilcita, invlida ou ineficaz perante o senhorio, prevista na alnea e), a
alterao efectuada apenas aditou o segmento do gozo do prdio, vindo assim clarificar o que
se pretendia aqui incluir, no sentido que tambm j havamos defendido antes.
Note-se que o legislador usou apenas o termo cesso e no cesso da posio do
arrendatrio. Por isso, conjugando este preceito com as obrigaes previstas para o locatrio no
art. 1038., als. f) e g), devemos concluir que a cesso considerada na norma tambm se refere
ao gozo do locado, abrangendo na respectiva previso quer o subarrendamento quer o
comodato efectuados sem o consentimento do senhorio.
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Pode seguramente uma vez que o elenco de causas de resoluo agora meramente
exemplificativo, podendo, portanto, haver lugar resoluo por qualquer outra causa cuja
gravidade implique a inexigibilidade de manuteno da relao contratual.
Exemplos de outras causas de resoluo no previstas no elenco exemplificativo do n. 2
do art. 1083. e que, pela sua gravidade ou consequncias podem tornar inexigvel a
manuteno do arrendamento, so desde logo, as situaes que antes integravam o elenco
taxativo de causas de resoluo previstas no RAU.
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Cumpre, com interesse a este respeito, aduzir ainda que, sendo a enumerao dos
fundamentos de resoluo meramente exemplificativa, tudo indica que no NRAU, apesar da
imperatividade estabelecida no artigo 1080. do CC relativamente s causas e modo de cessao
do contrato de arrendamento urbano, as estipulaes contratuais sero, nalguns casos,
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determinantes para avaliar se existe ou no incumprimento grave que torne inexigvel outra
parte a manuteno do arrendamento.
Note-se que, com isto no estamos a afirmar a validade de clusulas contratuais de
resoluo do contrato que possam funcionar automaticamente, por exemplo, por comunicao
outra parte, ou que acordando as partes em que a violao de determinada clusula torna
inexigvel a manuteno do contrato tal signifique uma espcie de confisso de um
incumprimento grave determinando o preenchimento automtico do conceito de inexigibilidade
da manuteno do contrato, porquanto a tal obsta expressamente a imperatividade das normas
sobre a resoluo que o artigo 1080. - apesar da alterao de redaco ora efectuada
continua a manter .
O que pretendemos salientar que com o NRAU nada obsta a que se estabeleam
clusulas contratuais das quais resultem obrigaes ou proibies que, no sendo contrrias
lei, aos bons costumes ou ordem pblica, permitam melhor concretizar a clusula geral do n.
2, do artigo 1083. levando a concluir que do respectivo incumprimento, consequncias ou
reiterao decorre a inexigibilidade da manuteno do contrato de arrendamento.
Pensamos que tal poder acontecer, com vantagem, por exemplo quanto realizao de
obras que alterem a estrutura do edifcio, quanto ao pagamento dos encargos ou despesas,
quanto ao nmero de pessoas que possam estabelecer residncia no arrendado, quanto
proibio de hspedes, ou da existncia de indstria domstica, quanto proibio de animais
de companhia ou limitao do seu nmero, enfim, pelo menos em todas as obrigaes legais em
que o Cdigo Civil salvaguarda a possibilidade de estabelecer clusula diversa do regime
supletivo.
Porm, na respectiva apreciao no podemos olvidar que so razes de interesse e
ordem pblica as que determinam a imperatividade do regime estabelecido para a cessao do
contrato de arrendamento urbano para fim habitacional, razo pela qual no admissvel que as
partes, por si, estabeleam clusulas que o derroguem, determinando uma automtica
inexigibilidade da manuteno do contrato onde o legislador no a previu, conforme
defendido pelo Cons. Pinto Furtado.
De facto, os nicos casos de inexigibilidade automtica de manuteno do contrato de
arrendamento, so os que permitem a resoluo extrajudicial do contrato de arrendamento pelo
senhorio e pelo arrendatrio, previstos no n. 3 e agora no n. 4 do artigo 1083., casos esses
que o legislador reputou integrarem, pela sua simples verificao e atenta a sua objectiva
gravidade na vida do contrato, atenta a quebra no sinalagma que, por si s, representam, os
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Ora, foi precisamente esta expresso corram por conta do arrendatrio que o legislador
veio usar. No foi uma escolha feliz para clarificar a questo porque por fora do disposto no
artigo 1078., n. 2, os encargos e despesas correntes respeitantes ao fornecimento de bens ou
servios relativos ao local arrendado correm por conta do arrendatrio, significando
precisamente que estes so da sua responsabilidade de pagamento mas no perante o senhorio.
Porm, em face das questes antes levantadas e da expressa tomada de posio do
legislador na equiparao deste fundamento falta de pagamento de rendas, parece-nos
evidente que a mesma deve ser interpretada neste preceito precisamente ao contrrio do
sentido que lhe foi conferido no artigo 1078., n. 2, referindo-se aqui apenas aos encargos e
despesas que, por via do contrato de arrendamento, sejam da responsabilidade do arrendatrio
perante o senhorio. Tem sempre de tratar-se de encargos ou despesas que se repercutam no
mbito da relao contratual de arrendamento.
Finalmente, quanto ao fundamento de resoluo consistente na oposio pelo
arrendatrio realizao de obra ordenada por autoridade pblica.
Quanto a este fundamento de resoluo importa ter presente que ao invs do que
acontecia no RAU, a matria do regime jurdico das obras em prdios arrendados est agora
prevista genericamente no artigo 1074. do CC, mas encontra-se desenvolvidamente regulada
no DL n. 157/2006, de 08-08, actualmente com a redaco introduzida pela Lei n. 30/2012 que
rege sobre as obras por iniciativa do senhorio; do municpio e do prprio inquilino.
Note-se que em todos estes casos estamos perante a consagrao legal de fundamentos
de resoluo que pela sua simples verificao constituem um incumprimento considerado pela
lei como objectivamente grave, e que torna inexigvel ao senhorio a manuteno da relao
contratual, sendo dispensvel o recurso aco de despejo e operando por comunicao
contraparte onde se invoque a obrigao incumprida, sendo que, aps a sua recepo, o
arrendatrio pode fazer cessar a mora, no prazo de um ms, ficando a resoluo sem efeito,
faculdade que agora s pode usar uma nica vez, com referncia a cada contrato artigo
1084., n.s 2 a 4 do CC.
Este modo de operar a resoluo tem sido um dos pontos mais controvertidos da Reforma
de 2006, dividindo, em traos gerais, quem entende que actualmente os senhorios no podem
recorrer a Tribunal pedindo o despejo do arrendado por falta de pagamento de rendas, sendo
obrigatria a formao pelo senhorio do ttulo extrajudicial; e quem considera que se trata de
uma nova faculdade que o legislador veio conceder aos senhorios, nada impedindo que
continuem a recorrer aco judicial.
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seu vencimento, dispondo desse prazo para purgar a mora sem que da advenha qualquer
consequncia pelo incumprimento do pagamento pontual da renda no dia do respectivo
vencimento.
S depois de decorrido este prazo, ou seja, a partir do 9. dia aps a data do vencimento
que o arrendatrio entra em mora relevante.
Portanto, entendemos que este primeiro segmento do artigo 1083., n. 4, do CPC,
quando se refere mora superior a 8 dias se reporta mora relevante e assim deve ser
interpretado, no nos parecendo curial que os 8 dias a que alude sejam contados aps os tais 8
dias em que pode purgar a mora sem qualquer consequncia.
Avancemos.
Diz-nos ainda o artigo 1041., n. 1, que se o locatrio se constituir em mora, leia-se
relevante em face do que dispe o seu n. 2, o locador tem o direito de exigir, alm das rendas
em atraso, uma indemnizao igual a 50% do que for devido, salvo se o contrato for resolvido
com base na falta de pagamento.
Como entender ento, em face do referido normativo, o segmento deste preceito quando
refere a final no sendo aplicvel o disposto nos n.s 3 e 4 do artigo seguinte, ou seja, no
permitindo que, nestes casos, o arrendatrio possa pr fim mora no prazo de um ms,
pagando a renda e a indemnizao?
De facto, em face do que dispem os n.s 3 e 4 do artigo 1041., torna-se difcil entender
o respectivo alcance porquanto segundo estes, quando o arrendatrio se constitui em mora
relevante, o senhorio tem o direito de recusar o recebimento das rendas seguintes, mas se as
receber tal no o priva do direito resoluo do contrato ou indemnizao referida.
Porm, tem de optar: ou resolve o contrato e tem direito ao pagamento das rendas em
singelo ou recebe a indemnizao e tal no lhe d lugar sano para o incumprimento que
constitui a possibilidade de resolver o contrato.
Ora, no preceito ora introduzido o legislador impede o arrendatrio de purgar a mora
nestes casos artigo 1083., n. 4, in fine, que afasta a aplicao do artigo 1084., n. 3, do CC.
Pensamos que a interpretao mais adequada s pode ser a seguinte:
- este fundamento de resoluo verifica-se, sem dvida, nos casos em que o arrendatrio
se constituiu em mora nos termos do preceito, e a renda foi recebida em singelo pelo senhorio,
porquanto a recepo de novas rendas no priva o locador do direito resoluo do contrato de
arrendamento artigo 1041., n. 4;
- nos casos em que o arrendatrio se constituiu em mora relevante por mais de 4 vezes
seguidas ou interpoladas, deve entender-se que o legislador considera que tal constitui um
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