Apostila Neurofisiologia
Apostila Neurofisiologia
Apostila Neurofisiologia
Coordenao
Prof. Dr. Fernando Ribeiro Gomes
Realizao
Programa de
Ps-Graduao em
Fisiologia Geral
Patrocnio e apoio
SUMRIO
Apresentao .................................................................................................... 1
Regulamento ..................................................................................................... 2
Programao..................................................................................................... 5
Reostase
Paradigmas Fisiolgicos: o exemplo da Reostase ................................38
Reostase programada ..........................................................................40
Reostase reativa ...................................................................................42
Referncias bibliogrficas .....................................................................44
Neurocincia cognitiva
Neurofisiologia bsica...........................................................................46
Comunicao celular e padres de conectividade ................................48
Memria e aprendizagem .....................................................................49
Ateno ................................................................................................51
Percepo ............................................................................................52
Ao .....................................................................................................53
Deciso ................................................................................................54
Neurobiologia das emoes .................................................................55
Emoes e a tomada de deciso ..........................................................57
Neurognese ........................................................................................59
Enriquecimento ambiental e neuroplasticidade .....................................60
Neurobiologia do envelhecimento .........................................................62
Aula prtica - O mundo real aquele percebemos? ............................64
APRESENTAO
O Curso de Inverno: Tpicos em Fisiologia Comparativa uma iniciativa dos alunos da psgraduao do Departamento de Fisiologia Geral do Instituto de Biocincias da Universidade de So
Paulo. O curso voltado para alunos de graduao e recm-graduados originrios das diversas reas do
conhecimento que tenham interesse em Cincias Fisiolgicas, mais especificamente em Fisiologia
Comparativa. Seu principal objetivo promover discusses de tpicos atuais que nem sempre so
ministrados nos cursos regulares de graduao.
Tradicionalmente o curso dividido em aulas tericas e prticas que so ministradas pelos psgraduandos do Departamento de Fisiologia nas duas primeiras semanas do curso (2 a 13 de julho). Na
tentativa de sempre melhorar a qualidade das aulas e a comunicao dos ps-graduandos, a edio do
Curso de Inverno: Tpicos em Fisiologia Comparativa de 2012 est organizada em cinco mdulos. Nesta
apostila tem-se um resumo de cada uma das aulas que sero ministradas.
Ao fim das duas primeiras semanas de curso, os mdulos serviro como temas-base para os
estgios que sero realizados durante a terceira semana de curso (16 a 20 de julho). O estagirio dever
envolver-se nas atividades do laboratrio escolhido e receber suporte cientfico e tcnico adequado sobre
a linha de pesquisa do mesmo. Alm disso, o aluno participar de um projeto a ser desenvolvido durante a
semana do estgio. Para tal, vai aprender noes de como elaborar, executar e analisar um projeto de
pesquisa. Os resultados obtidos sero apresentados pelos estagirios em apresentao oral no ltimo dia
do curso.
Comisso Organizadora
IX Curso de Inverno: Tpicos em Fisiologia Comparativa
Universidade de So Paulo
2 a 20 de Julho de 2012
REGULAMENTO
ALUNOS REGULARES
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Estgio
Durante a realizao do projeto de pesquisa, o aluno dever se envolver nas atividades do
laboratrio e receber suporte cientfico e tcnico do aluno-orientador. O projeto dever obrigatoriamente
consistir de atividades de elaborao, execuo, anlise e apresentao.
Avaliao do projeto
Desenvolvimento do projeto: o orientador atribuir uma nota ao aluno de acordo com o seu
aproveitamento.
Apresentao: o projeto dever obrigatoriamente ser apresentado oralmente com slides do
PowerPoint na sexta-feira dia 20/7 a partir das 9h. A apresentao dever conter contextualizao do
problema, justificativa, objetivos, mtodos, resultados e discusso. A durao mxima ser de 10 minutos.
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Avaliao: Uma comisso avaliadora julgar os trabalhos e questionar os alunos sobre o
aprendizado adquirido ao longo do estgio.
Notas e frequncia
Ser considerado aprovado o aluno com presena de pelo menos 75% e que obtiver
aproveitamento igual ou maior que 7,0 (sete).
O aproveitamento dado pela:
(1) mdia das notas dos mdulos tericos 50%
(2) nota do orientador 25%
(3) nota da comisso avaliadora das apresentaes dos estgios 25%
Apresentao dos
painis
2-feira (09/06)
Caf da manh
Reostase
Almoo
Reostase
Horrio
8h - 9h
9h - 12h
12h-14h
14h-18h
Apresentao dos
professores
Almoo
Apresentao dos
professores
16h15-18h
12h-14h
14h-16h15
10h15-12h
Caf da manh
8h - 9h
9h - 10h15
Abertura
2-feira (02/06)
Horrio
Almoo
Neurofisiologia
cognitiva
Neurofisiologia
cognitiva
Neurofisiologia
cognitiva
Neurofisiologia
cognitiva
Almoo
Caf da manh
4-feira (11/06)
Fisiologia e ritmos
biolgicos
Almoo
Fisiologia e ritmos
biolgicos
Caf da manh
4-feira (04/06)
Caf da manh
3-feira (10/06)
Fisiologia e ritmos
biolgicos
Almoo
Fisiologia Comparativa
Caf da manh
3-feira (03/06)
Neurofisiologia
cognitiva
Almoo
Neurofisiologia
cognitiva
Caf da manh
5-feira (12/06)
A clula em cultura:
relgios perifricos
Almoo
Fisiologia e ritmos
biolgicos
Caf da manh
5-feira (05/06)
Apresentao dos
estgios
Almoo
Apresentao dos
estgios
Caf da manh
6-feira (13/06)
Fisiologia animais e
ambiente
Almoo
A clula em cultura:
relgios perifricos
Caf da manh
6-feira (06/06)
MDULOS
Resumos das aulas
FISIOLOGIA E RITMOS
BIOLGICOS
Fundamentos da Cronobiologia
Luis Henrique Teodoro
[email protected]
Para investigaes de carter cronobiolgico essencial conhecer os diferentes significados que o
tempo pode assumir.
Nas lnguas de origem latina o vocbulo tempo pode ser empregado em dois contextos diferentes,
de tal modo que tempo pode funcionar como um sinnimo de clima, mas tambm remete a assuno
fsica, que aponta o tempo como uma das sete grandezas fsicas elementares, passvel de ser quantificado
e que independe de outras grandezas para a sua definio.
Em lnguas de origem germnica, como o ingls e o alemo, no entanto, h, respectivamente, os
vocbulos weather e wetter para designar clima, enquanto time e zeit designam a grandeza elementar
tempo.
Essa grandeza elementar, segundo Refinetti (2006), pode ser definida como um contnuo noespacial no qual ocorrem eventos e/ou fenmenos sucessivos. A ocorrncia repetida e peridica de um
evento e/ou fenmeno define o conceito de ritmo (Koukkari e Sothern, 2006).
Existem diversos padres rtmicos ambientais e a capacidade de percepo de ocorrncias
rtmicas que concebe aos organismos vivos a noo de tempo (Markus e col., 2003).
Ritmos so observados em diversos organismos em todos os trs domnios Bacteria, Archea e
Eukarya , demonstrando sua prevalncia, e se relacionam diretamente com os ritmos ambientais
(Refinetti, 2006). Isto , a fim de assegurar sua homeostasia, organismos desenvolveram a capacidade de
se antecipar s variaes rtmicas ambientais, o que lhes configura uma relevante vantagem adaptativa
que foi mantida ao longo da evoluo (Bell-Pedersen e col., 2005; Smolensky e Peppas, 2007, Lemmer,
2009; Ohdo, 2010).
A cronobiologia, portanto, tem como objetivo avaliar a capacidade e o tipo de resposta de um
organismo ante as variaes rtmicas ambientais e a influncia de ritmos ambientais em relao aos ritmos
biolgicos, ou seja, o objeto de estudo da cronobiologia a organizao temporal de um organismo
(Menna-Barreto, 2003).
Relgio biolgico
Por que teriam surgido na histria da vida, estruturas capazes de
atuar como verdadeiros relgios biolgicos?
Leila Lima
[email protected]
Natali Nadia Guerrero
[email protected]
Acredita-se que os relgios biolgicos tenham surgido em resposta s presses seletivas impostas
pelas variaes cclicas ambientais. Desde ento, essas estruturas regulam uma grande variedade de
processos fisiolgicos e comportamentais em diversas formas de vida, dos organismos unicelulares aos
pluricelulares. Acredita-se que a vantagem evolutiva desses organismos consista na capacidade de
antecipao aos eventos peridicos do meio ambiente, principalmente mudanas de luz, de temperatura e
umidade, o que confere maior probabilidade de sobrevivncia de qualquer espcie.
O termo relgio biolgico uma analogia para se referir, em conjunto, a mecanismos
endgenos capazes de gerar respostas fisiolgicas e comportamentais rtmicas. Estes ritmos biolgicos
so gerados independentemente das pistas ambientais externas, j que esses mecanismos so bastante
conservados evolutivamente. As estruturas responsveis por gerar a ritmicidade destas respostas so
denominadas osciladores.
Nos mamferos, o oscilador central so os Ncleos Supraquiasmticos (NSQ), composto por
dois pequenos grupos de neurnios localizados na parte ventral do hipotlamo. A capacidade oscilatria
do NSQ decorrente da expresso rtmica de certas protenas ao longo do dia. Por este motivo, os genes
codificantes dessas protenas so designados genes do relgio (clock genes), os quais constituem a base
molecular do sistema oscilatrio interno. Dentre os genes do relgio conhecidos atualmente, os mais bem
estudados em mamferos so: per (period) 1,2 e 3, bmal 1, clk (clock), e cry 1 e 2 (cryptochromes), sendo
que, suas respectivas protenas (PER1, PER2, PER3, BMAL, CLOCK, CRY1 e CRY2) atuam como
fatores de transcrio. Na realidade, todas as clulas nucleadas do corpo apresentam os genes do relgio,
e por isso, diversos rgos podem atuar como osciladores circadianos perifricos. Estes rgos possuem
uma via aferente proveniente do NSQ, e, portanto, so passveis de serem sincronizados por este oscilador
central. Dessa maneira, a sincronia interna desde o nvel molecular at o sistmico permite que os
processos fisiolgicos e comportamentais sejam coordenados temporalmente de forma que o organismo
seja capaz de prever e antecipar as variaes cclicas ambientais.
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fisiolgicas, estando presente em vrios fludos (saliva, urina, lquor, smen, lquido amnitico e leite
materno), rgos, tecidos e compartimentos celulares alm de possuir tambm a capacidade de atravessar
todas as barreiras morfofisiolgicas. Devido s caractersticas anteriormente descritas, ela tem sido
considerada uma excelente candidata no uso teraputico em diversas patologias ou como adjuvantes de
tratamentos, tais como doenas neurodegenerativas e cardacas, em diabetes tipo 2, em distrbios do
sono, em degeneraes relacionadas ao envelhecimento, alem do cncer de mama e melanoma. Em
resumo, nesta aula abordaremos diferentes atividades da melatonina as quais a tornam um agente
multifuncional de grande importncia. A melatonina uma molcula com um passado recente intenso,
um presente significante e um futuro promissor. Acreditem!!!
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Referncias bibliogrficas
Bell-Pedersen, D., Cassone, V. M., Earnest, D. J., Golden, S. S., Hardin, P. E., Thomas, T. L. e Zoran M.
J. (2005).Circadian rhythms from multiple oscillators: lessons from diverse organisms. Nature
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Koukkari, W. L. e Sothern, R. B. (2006).Introducing biological rhythms. Saint Paul: Springer.
Lemmer, B. (2009). Discoveries of rhythms in human biological functions: a historical review.
Chronobiology International 26, 1019 -1068.
Markus, R. P., Junior, E. J. M. B., Ferreira, Z. S. (2003). Ritmos Biolgicos: entendendo as horas, os dias
e as estaes do ano. Einstein 1, 143 148.
Menna-Barreto, L. (2003). O tempo na biologia. In: Marques, N. e Menna-Barreto, L. (3 Eds.).
Cronobiologia: princpios e aplicaes. So Paulo: edusp. Pp 2529.
Ohdo, S. (2010). Chronotherapeutic strategy: rhythm monitoring, manipulation and disruption. Advanced
Drug Delivery Reviews 62, 859 875.
Refinetti, R. (2006). Circadian physiology. Boca Raton: CRC Press.
Smolensky,
M.
H.
Peppas,
N.
A.
(2007).
Chronobiology,
drug
delivery
and
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canais inicos e receptores. Os receptores podem ser definidos como elementos proteicos complexos que
funcionam como sensores no sistema de comunicaes qumicas, coordenando a funo de todas as
clulas. Segundo a estrutura molecular e a natureza do mecanismo de transmisso, os receptores so
agrupados em quatro superfamlias, a saber: (1) superfamlia tipo 1 - receptores-canal (ou ionotrpicos):
receptores de membrana que formam o prprio canal inico; (2) superfamlia tipo 2 - receptores
acoplados protena G (GPCRs ou 7-TM ou metabotrpicos): receptores de membrana acoplados a
sistemas efetores intracelulares por meio de protena G; (3) superfamlia tipo 3 - receptores quinase:
receptores de membrana com domnio intracelular de protena quinase (em geral, tirosina quinase) e, (4)
superfamlia tipo 4 - receptores reguladores da transcrio de genes (ou receptores nucleares ou
receptores intracelulares): receptores solveis no citosol ou intracelularmente.
Nesta aula sero abordados os principais mecanismos envolvidos na comunicao celular com
nfase nos receptores envolvidos no processo de ritmicidade endgena.
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Fotorrecepo
Rafael Benjamin Arajo Dias
Laboratrio de Fisiologia Comparativa da Pigmentao
[email protected]
O surgimento e a evoluo da vida na terra foram possveis graas ao desenvolvimento de
mecanismos temporais precisos capazes de ajustar os processos fisiolgicos que ocorriam no interior do
organismo com os ciclos ambientais, promovendo assim, ganhos na capacidade adaptativa e
comportamental desses indivduos (KLEIN et al., 1991).
Muito ainda se questionado com relao s presses seletivas que conduziram os diferentes
organismos necessidade de uma organizao temporal. Algumas suposies so levantadas acerca da
ocorrncia de alguns fenmenos abiticos previsveis como as mars, dias e anos que pudessem ento,
funcionar como ferramentas para demarcar temporalmente os organismos (PITTENGRIGH, 1993).
Nesse contexto os ciclos de claro e escuro, resultados da rotao da terra em torno do seu prprio
eixo, surgem como uma das principais pistas ambientais capazes de arrastar ritmos biolgicos (DUGUAY
& CERMAKIAN, 2009).
O aparecimento da luz como importante forma de ordenao tempo-espacial refutado pela teoria
da Fuga da luz que defende que a capacidade de perceber a luz estava indiretamente ligada
capacidade de perceber altas temperaturas, por sua vez, nocivas para a estabilidade de algumas enzimas e
determinante para os processos metablicos. Como as altas temperaturas coincidiam com as fases mais
claras do dia, fugir da luz seria uma forma eficiente de preservao da homeostase (PITTENDRIGH,
1993).
Uma ampla gama de fotorreceptores e fotopigmentos evoluiram no sentido de perceber essa
informao ftica fornecida pelo ambiente (FOSTER et al., 2010).
Mas, que eventos moleculares so responsveis por mediar o processamento dessa informao
ftica com destino retina?
As opsinas so os principais fotopigmentos sensores de luz dos fotorreceptores da retina, elas
contm um cromforo derivado da vitamina A, conhecido como retinal. (MENON et al., 2001).
Quando o fton de luz incide sobre o fotopigmento, o retinal se isomeriza de 11-cis-retinal para
all- trans-retinal, que inicia uma serie de mudanas conformacionais na molcula de opsina, tornando-a
ativada.
A ativao da protena G leva a uma diminuio da afinidade do GDP pela subunidade do
complexo -GDPY que ento liberado e trocado por GTP. A ligao do GTP faz com que todo o
complexo perca a afinidade pela rodopsina, bem como a subunidade perca a afinidade pelas
subunidades Y, que por sua vez so instantaneamente liberadas no citoplasma e conduzem a ativao de
uma enzima que hidroliza GMPc (fosfodiesterase de GMPc), o que leva ao fechamento dos canais de
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membrana dependentes de GMPc e uma hiperpolarizao a nvel de fotorreceptores (HARGRAVE &
MCDOWELL, 1992).
a isomerizao do cromforo na regio transmembrnica que direciona a formao do stio da
transducina na superfcie citoplasmtica (PFISTER et al. , 1985).
Essa informao transmitida para as outras clulas das outras camadas subsequentes que
formam a retina, como as clulas bipolares. Estudos de microscopia eletrnica demonstram que os
dendritos das clulas bipolares dos bastonetes, penetram nas esferas de bastonetes e sofrem uma
invaginao em seu interior, no intuito de aumentar a superfcie de contato com essas clulas. Clulas
bipolares fazem sinapse com clulas fotorreceptoras (bastonetes) na camada plexiforme externa e no
extremo oposto conectam-se com clulas amcrinas localizadas na camada plexiforme interna
(WERBLIN & DOWLING, 1969).
As clulas amcrinas apresentam um papel fascinante na modulao de informaes advindas dos
fotorreceptores ligando as vias de cones com as vias dos bastonetes (atravs de junes tipo gap),
conduzindo-as concomitantemente para um mesmo destino, as clulas ganglionares (WASSLE et al.,
1995).
Por ltimo, todavia no menos importante, as clulas ganglionares representam a porta de sada
da informao processada na retina. As caractersticas morfolgicas intrnsecas desse subtipo celular,
como o extenso dimetro de seus axnios permitem a passagem da informao eltrica da retina para
centros corticais. Essa informao transportada via nervo ptico, formado pela unio dos axnios das
clulas ganglionares (NELSON, 1993).
As fibras do nervo ptico so direcionadas ao alvo mais relevante para a percepo visual o
ncleo geniculado lateral. Dessa regio partem diversas eferncias para vrias outras reas que sero
responsveis por integrar e interpretar a informao ftica, formando a imagem, propriamente dita
(COHEN et al., 1994).
Embora a percepo visual seja o resultado mais intrigante da capacidade que o nosso sistema
nervoso apresenta de captar e processar a informao luminosa, algumas funes imperceptveis so
tambm ativadas pela luz. Uma dessas funes a ao da luz na sincronizao dos ritmos biolgicos
(LENT, 2005).
Um caminho alternativo que a informao ftica toma ao deixar a retina pelas clulas
ganglionares atingir reas corticais especficas responsveis por essa sincronizao. De forma
semelhante ao nervo ptico, as clulas ganglionares formam um feixe de fibras chamado trato Retinohipotalmico (TRH) que chega at uma regio do hipotlamo chamada Nucleo Supraquiasmtico (NSQ)
responsvel, nos mamferos, pela gerao dos ritmos circadianos (LENT, 2005).
A informao ftica no posicionamento tempo-espacial dos organismos , sem dvida, o aspecto
mais apurado e sofisticado das modalidades sensoriais. Um funcionamento orquestrado desses complexos
sistemas ir garantir aos organismos ganhos adaptativos importantes que vo, em ltima instncia,
assegurar a sobrevivncia das espcies.
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mutaes de um mesmo gene do cromossomo X levavam a arritimicidade e a ritmos mais longos ou
curtos. O mecanismo molecular desse controle se d atravs de uma ala de retroalimentao de produtos
gnicos cclicos, que controlam sua prpria sntese atravs da regulao positiva e negativa de genes de
relgio e protenas. Hoje se sabe que os genes de relgio so encontrados em praticamente todos os
organismos e na maioria das clulas, e sua autorregulao impe ritmicidade funo de praticamente
todos os rgos onde se encontra. Apesar do cenrio aparentemente claro do funcionamento das estruturas
envolvidas nos ritmos biolgicos, muitas questes ainda permanecem a respeito das interaes entre o
oscilador central e o restante do organismo assim como o controle desses osciladores atravs dos genes de
relgio. Para reviso ler Mark et al, 2007 e Golombek e Rosensten 2010.
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Relgios perifricos
Maria Nathlia de Carvalho Magalhes Moraes
Laboratrio de Fisiologia Comparativa da Pigmentao
[email protected]
Nos mamferos, quase todos os aspectos da fisiologia e comportamento esto sob controle do
sistema circadiano e, portanto exibem oscilaes dirias. Relgios circadianos foram identificados em
uma variedade de tecidos e parecem estar organizados de maneira hierrquica. No topo desta hierarquia
esto os neurnios do ncleo supraquiasmtico (NSQ). Como visto anteriormente, o relgio mestre nos
NSQs recebe informaes fticas diretas via trato retino-hipotalmico (Stratmann & Schebler, 2006).
Durante muito tempo acreditou-se que os NSQs eram os nicos reguladores dos ritmos
circadianos em mamferos. Essa concluso era fundamentada em estudos de leso e transplante dos
NSQs, e em demonstraes de que os NSQs geram seus prprios ritmos de potencial de ao (Lowrey &
Takahashi 2004). O mecanismo responsvel pelas oscilaes espontneas de cada neurnio do NSQ
baseia-se num sistema molecular de retroalimentao de controle de expresso gnica (Reppert &
Weaver, 2001). Ainda, neurnios dos NSQs quando dissociados e mantidos em cultura, exibem ritmos de
disparos independentes, e apresentam fases e perodos diferentes entre si (Welsh et al 1995; Liu et al,
1997; Herzog et al, 1998).
Aps o esclarecimento de que o mecanismo molecular do relgio circadiano de mamferos
consiste de um grupo de genes denominados genes de relgio, e que estes regulam a ritmicidade
endgena por meio de alas de retro-alimentao de transcrio gnica, verificou-se que a expresso de
genes de relgio tambm ocorre fora dos NSQs, em diversas clulas e tecidos do organismo.
Inesperadamente, observou-se que at mesmo clulas imortalizadas mantidas em cultura apresentam uma
maquinaria molecular do relgio funcional (Balsalobre et al., 1998). Em organismos intactos, acredita-se
que os relgios perifricos so sincronizados pelo marcapasso central, residente no NSQ. Alm dos sinais
diretos do NSQ, outros estmulos ambientais como alimentao, comportamento social, temperatura entre
outros, parecem desempenhar um papel no ajuste dos relgios perifricos.
Foi demonstrado que os relgios perifricos ocorrem de peixes a mamferos. A ritmicidade de
expresso de genes de relgio em tecidos perifricos j foi observada em corao, rim e em linhagens
celulares embrionrias de Danio rerio (Whitmore et al., 2000; Farhat et al., 2009), e hepatcitos de
camundongos (Kornman et al., 2007). Estudos da regio promotora do gene Per de Drosophila e de
Danio rerio atravs de sondas bioluminescentes mostraram que existem osciladores perifricos
independentes em diferentes tecidos desses organismos (Whitmore et al., 2000). A partir desses estudos,
diversos outros laboratrios demonstraram a independncia dos osciladores perifricos, os quais
provavelmente devem conter elementos sincronizadores prprios. Com base nestas constataes postulou-
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se que osciladores perifricos de mamferos dependem de sinais sincronizadores neurais ou humorais do
oscilador dos NSQs para manter a homeostase do organismo (Yamazaki et al., 2000), ao contrrio do que
ocorre em tecidos perifricos de Drosophila e Danio, que so fotossensveis e capazes de se
sincronizarem at mesmo quando isolados (Whitmore et al., 2000). As primeiras evidncias de que os
relgios perifricos podem ser sincronizados por sinais humorais surgiram junto com a descoberta de que
culturas de fibroblastos de mamferos expressam genes de relgio de forma rtmica quando submetidos a
choque de soro (Balsalobre et al., 1998).
O estudo e a compreenso dos relgios perifricos vm se tornando cada vez mais importantes
para o entendimento do controle dos genes do relgio e tambm dos sinais sistmicos para o
funcionamento correto de rgos e tecidos no organismo. Pesquisas clnicas e epidemiolgicas sugerem
que disfunes circadianas so associadas a complicaes cardiovasculares e metablicas em diversos
segmentos da populao humana. Trabalhadores de turnos apresentam aumento da prevalncia de
sndrome metablica, aumento do ndice da massa corprea (IMC) e tambm de complicaes
cardiovasculares e cncer. Essas observaes levantam a possibilidade de que o desalinhamento crnico
entre os ciclos de sono-viglia, e tambm os de jejum-alimentao contribui para a progresso de quadros
de obesidade, sndrome metablica, hipertenso, diabetes (Frank et al., 2009).
Esta aula tem como objetivo mostrar como os osciladores centrais e perifricos interagem para
manter o fino equilbrio das atividades vitais e como uma desorganizao do sistema de temporizao
pode prejudicar o funcionamento do organismo ocasionando problemas de sade pblica.
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certos ambientes tais como cavernas subterrneas, o meio marinho e regies polares, essa alternncia de
luz ambiental perde importncia em detrimento de outros sinais temporais alternativos (Menna-Barreto e
Dez-Nogueira, 2022).
Teramos, portanto, ciclos de disponibilidade de alimento, ciclo de mars, ciclos lunares, ciclos
sazonais (estaes do ano), variaes de salinidade e pH (ambientes estuarinos), variao de umidade
relativa, ciclos de temperatura, ciclos biticos como florao, relaes sociais (inter e intra-especficas),
como outros potenciais zeitgebers, sempre lembrando que a importncia de cada um deles est inserida no
contexto das espcies que lhe so responsivas, isto , eles s podem recebem esse nome se foram capazes
de serem reconhecidos e se levaram ao processo de sincronizao dos ritmos biolgicos ao ambiente
(Marques, 2003; Menna-Barreto e Dez-Nogueira, 2011).
Porm, pela preponderncia do ciclo claro/escuro, facilmente os estudos acerca do seu papel
como agente arrastador dos ritmos a um perodo de 24 (vinte e quatro) horas tomaram espao nos
trabalhos cronobiolgicos e, abordando diferentes espcies de grupos animais distintos, podemos
comparar semelhanas e diferenas anatmico-fisiolgicas no sistema de percepo luminosa
(fotorrecepo), tido, nesse contexto, como uma parte constituinte do sistema circadiano, assim tambm
como na regulao dos ritmos biolgicos no organismo como um todo.
Para muitas espcies, um marca-passo central circadiano foi identificado em regies discretas em
ou prximas ao crebro, que incluem: o Ncleo Supraquiasmtico (NSQ) no hipotlamo de mamferos,
retina de moluscos marinhos (procurar fotos das espcies) e lobo ptico de baratas, grilos e moscas (estas
ltimas do gnero Drosophila). Em um peixe telesteo vulgarmente chamado de peixe-zebra, muitas
clulas e tecidos possuem relgios circadianos (temporizadores circadianos), mas um marca-passo central
ainda foi identificado (Vansteensel et al., 2008).
Identificam-se em peixes, anfbios e rpteis osciladores circadianos oculares, com as propriedades
descritas para invertebrados, como moluscos e crustceos. Ento, poderamos inferir que as modificaes
dos padres anatmicos tomaram rumos bastante paralelos nos dois grupos zoolgicos. Em ambos
observa-se uma tendncia interiorizao dos osciladores, que em grupos anteriores ocupam uma posio
bastante perifrica, em geral, junto aos olhos, ou ento, so estruturais visuais, como clulas retinianas,
que admitem funo de osciladores (Golombek e Aguilar-Roblero, 2003).
Em vertebrados no-mamferos, a retina e a pineal so tidas como osciladores hierarquizados,
enquanto que em mamferos o NSQ ainda tido como o oscilador central e, a respeito da origem dele em
mamferos, tem-se identificado em certos peixes, anfbios e nos rpteis, especialmente nos lagartos, um
conjunto de neurnios hipotalmicos osciladores, que poderiam ser considerados os precursores dos
neurnios supraquiasmticos de mamferos (Golombek e Aguilar-Roblero, 2003). Entretanto, o
pensarmos em um sistema circadiano, seria razovel imaginar uma ampliao do sinal transmitido por
osciladores centrais ao organismo como um todo, assim como a necessidade uma retroalimentao
(feedback) por parte do organismo para este relgio central, a fim de que houvesse uma sincronizao
entre todos os ritmos, havendo, portanto, o estabelecimento de relao de fases estveis. Sendo assim, um
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sistema de temporizao poderia contar com outros osciladores espalhados pelo organismo que pudessem
auxiliar o processo de sincronizao de todos os ritmos biolgicos, com algum grau de independncia.
Esses seriam os relgios perifricos, que hoje recebem ateno nos estudos cronobiolgicos tambm.
27
Referncias bibliogrficas
Balsalobre A, Damiola F, Schibler U. (1998). A serum shock induces circadian gene expression in
mammalian tissue culture cells. Cell v. 93, p. 929-937.
Ben-Shlomo I, Yu Hsu S, Rauch R, Kowalski WH, Hsueh AJ. (2003) Signaling Receptome: A genomic
and evolutionary perspective of plasma membrane receptor involved in signal transduction.
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1.
Disponvel
em:
<
FISIOLOGIA: ANIMAIS E
AMBIENTE
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31
meses e no possuem um padro sazonal de variao. Na pton, durante a fase entre as refeies, todos os
processos metablicos so mantidos utilizando reservas energticas endgenas e a reduo da taxa
metablica padro, associada atrofia de alguns rgos, contribui para o aumento do tempo de
sobrevivncia com base nestas reservas e aumenta as chances de sobrevivncia at a prxima refeio.
Aps a ingesto de uma presa, a taxa metablica se eleva muito e ocorrem mudanas abrangentes e muito
rpidas da massa intestinal e das taxas de transporte de nutrientes aps a alimentao alm de um
aumento de expressivo da massa ventricular. Estes e outros impressionantes ajustes da massa de rgos e
da taxa metablica que acompanham os ciclos de jejum-alimentao em ptons fazem com que estes
animais sejam considerados modelos de regulao fisiolgica extrema.
A resposta dos organismos s variaes ambientais alvo de estudos h vrias dcadas, mas
recentemente tem recebido maior ateno devido s mudanas climticas em curso no nosso planeta. Ao
longo do sculo passado a temperatura da superfcie da Terra aumentou 0,74C e estima-se um aumento
de cerca de 3C nos prximos 100 anos, juntamente a um aumento da frequncia, intensidade e durao
de eventos climticos extremos, tais como secas, e ondas de calor. O aumento da frequncia e
intensidade de eventos climticos extremos provavelmente impem presses seletivas diferentes daquelas
impostas por um aumento gradual da temperatura e acredita-se que ser a principal causa da extino de
espcies no prximo sculo. Diversos estudos tm demonstrado que as mudanas climticas globais que
ocorreram nas ltimas dcadas tiveram grande impacto na migrao, comportamento reprodutivo e outros
aspectos do ciclo de vida dos organismos e tem se tornado cada vez mais claro que os fisiologistas
comparativos possuem um importante papel na compreenso dos impactos destas mudanas na fisiologia
dos organismos.
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33
Alm do comportamento de corte, outros aspectos do fentipo dos hospedeiros so remodelados
devido interao com parasitas, afetando potencialmente seu valor adaptativo, como por exemplo, taxa
de crescimento, desempenho locomotor e anorexia (Goater e Ward, 1992; Goater e col. 1993)
encontraram que parasitas pulmonares tambm reduzem o desempenho locomotor em Bufondeos, taxa
de crescimento que leva reduo de tamanho corpreo e tambm diminuir o ndice de sobrevivncia dos
indivduos. Assim, possvel observar como os parasitas podem afetar diversos aspectos de vida dos
indivduos de forma a diminuir substancialmente o valor adaptativo dos hospedeiros.
34
35
diminuio deste componente do zooplncton tem forte efeito na disponibilidade de AGs aos peixes,
tendo uma potencial ao na fluidez das membranas nesses animais e em seus predadores.
Do mesmo modo, a mudana na alimentao do homem nos ltimos 20 anos, principalmente em
decorrncia do aumento da ingesto de alimentos industrializados, ricos em PUFAs mega 6, tem
causado efeitos deletrios para a sade, como desenvolvimento de doenas cardiovasculares, hipertenso,
diabetes melito e obesidade. Assim, a razo entre a ingesto diria de alimentos ricos em AGs mega 6 e
3 assume grande importncia tambm na nutrio humana.
36
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REOSTASE
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39
central de controle, e um sistema de resposta variao ambiental percebida. A implicao da homeostase
como modelo de regulao a existncia de um valor defendido pelo organismos atravs do sistema de
retroalimentao. Um exemplo didtico a manuteno de temperatura corprea em humanos: quando
levados para ambientes com temperaturas diferentes da temperatura corprea tpica, o corpo gasta energia
exibindo resposta que provoque aumento (p.e. tremor, busca por local protegido ou aquecido) ou
diminuio da temperatura corprea (p.e. transpirao). O acmulo de informaes e da constatao da
variabilidade fisiolgica presente no mundo consequente do advento da Fisiologia Comparativa tem feito
os fisilogos repensarem seus modelos tericos que foram inicialmente pensados com base nos
mamferos como modelos experimentais. Atualmente sabemos que o valor defendido pode no ser
nico e nem mesmo constante ao longo do ano, ou nas diferentes situaes enfrentadas pelos animais, e
uma reformulao do conceito de homeostase para comportar a variabilidade e mudana ambiental foi
proposta sob o nome de Reostase. A Reostase prope a existncia de mais de um valor defendido
acionado conforme o contexto. As respostas previstas para este modelo de regulao podem ser de dois
tipos: reativa e programada. A Reostase Reativa uma mudana de valor defendido mais rpido
ocasionado por alguma alterao inesperada no organismo. A Reostase Programada uma mudana
antecipatria do valor defendido frente a uma mudana ambiental regular. O objetivo do presente
mdulo apresentar este modelo terico da fisiologia, os fenmenos que ele ajuda a compreender e os
limites das generalizaes propostas.
40
Reostase programada
Danilo E. F. L. Flres
[email protected]
Aps a apresentao do contexto histrico e conceitual da reostase na aula introdutria, vamos
agora conhecer mais de perto uma das suas vertentes: a reostase programada. Em seu livro, Nicholas
Mrosovsky (1990) define a reostase programada como mudanas no valor defendido (set-point) de uma
varivel fisiolgica, em resposta a eventos previsveis do ambiente ou em uma fase especfica da vida do
organismo. Dentro dessa ideia de eventos previsveis, esto includos tanto os ciclos ambientais (dirios e
sazonais), quanto, por exemplo, as mudanas na fisiologia durante alguma fase do ciclo reprodutivo. A
aula ir apresentar alguns exemplos de mudanas programadas de set-point observadas nessas
condies.
A massa corprea um exemplo ilustrativo de uma varivel fisiolgica que muda ao longo do
tempo de forma previsvel. Por exemplo, quando as galinhas banquiva chocam seus ovos, elas devem
permanecer sobre eles quase constantemente, no tendo muitas oportunidades de se alimentar. Nessa
ocasio, as galinhas diminuem sua massa corprea. primeira vista, deduzimos que elas emagrecem
porque no podem abandonar os ovos por muito tempo e, por isso, acabam diminuindo sua ingesto de
alimentos.
Porm, Sherry e col. (1980) mostraram que a diminuio da massa corprea no uma simples
consequncia da impossibilidade de se alimentar. Mesmo em uma situao em que a comida est
disponvel ao seu alcance, as galinhas banquiva na poca do choco no aumentam sua ingesto de
alimento e, portanto, continuam perdendo peso normalmente. Ou seja, parece haver uma regulao no
apetite, que sustenta a condio de emagrecimento.
H ainda outra evidncia de que aqueles valores decrescentes de massa corprea esto sendo
ativamente regulados nas galinhas banquiva durante o choco. Quando elas so completamente impedidas
de comer por alguns dias, diminuem sua massa corprea, como esperado; assim que o alimento
novamente disponibilizado, as galinhas adquirem um grande apetite e comem bastante, elevando
novamente a massa. Entretanto, sua massa corprea aumenta somente at atingir o valor de referncia,
voltando ento a decair, conforme as galinhas controle. Conclumos, portanto, que h uma regulao ativa
para que a massa corprea se mantenha nos nveis observados; parece, de fato, que o valor defendido de
massa corprea ativamente diminudo ao longo do processo de choca dos ovos.
Um segundo exemplo caracterstico de reostase programada so as mudanas da temperatura
corporal em animais hibernantes. A hibernao uma estratgia que permite sobreviver no inverno
rigoroso sem um consumo alto de energia, visto que, ao baixar sua temperatura, o organismo diminui seus
gastos com metabolismo e termognese. Assim como no caso das galinhas banquiva, tambm intuitivo
41
pensar que a diminuio na temperatura uma submisso s temperaturas baixas do ambiente no inverno.
A hipotermia seria uma ausncia de regulao ou uma regulao deficiente da temperatura.
Essa era a viso inicial dos pesquisadores que comearam os estudos na rea. Para verificar se o
sistema de controle da temperatura corporal de fato deficiente durante a hibernao, foram feitos
estudos de interferncia na rea pr-ptica do hipotlamo: uma regio do crebro que regula a
temperatura corporal. Os estudos revelaram que as baixas temperaturas so ativamente defendidas pelo
sistema regulatrio, e no decorrem simplesmente da impossibilidade de se esquentar. Logo, do ponto de
vista da reostase, os animais hibernantes modificam o valor defendido da temperatura corporal durante o
inverno.
Nos dois exemplos apresentados, as mudanas de set-point parecem ter um papel essencial para
a sobrevivncia dos animais. A defesa de um valor baixo de massa corprea pode ser uma estratgia
importante para que as galinhas banquiva no precisem buscar comida frequentemente enquanto chocam
seus ovos. Da mesma forma, a regulao ativa de um valor baixo de temperatura corporal na hibernao
pode ser mais vantajosa que um simples desligamento do sistema de regulao, visto que o animal pode
garantir que, no caso de uma queda extrema da temperatura ambiental, o corpo no ir se esfriar at
atingir temperaturas letais.
Em concluso, o conceito original da homeostase traz a ideia de que as variveis fisiolgicas so
mantidas em valores defendidos fixos, mesmo que o ambiente mude. Segundo a reformulao, na reostase
programada, os organismos podem ter seus valores defendidos reprogramados, frente a mudanas
regulares do ambiente externo ou interno, como uma forma de preparao fisiolgica a esses desafios
previsveis.
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Reostase reativa
Patricia Tachinardi
[email protected]
Por mais estvel e previsvel que um determinado habitat possa parecer, os animais que nele
vivem sempre esto sujeitos ocorrncia de eventos imprevisveis. Esses eventos compreendem desde
mudanas no prprio ambiente, como uma escassez de alimento inesperada, at alteraes que ocorrem
no prprio corpo do animal, como infeces ou ferimentos. Frente a essas situaes, o organismo reage
atravs do ajuste de diversas variveis fisiolgicas. Muitos desses ajustes fisiolgicos se do pela
mudana nos valores defendidos (setpoints) das variveis. Isso significa que os centros regulatrios
transmitem informaes ao organismo para que os ajustes fisiolgicos necessrios sejam feitos e a
varivel passe a ser mantida em um novo nvel. A essa alterao nos valores defendidos em reao a um
evento imprevisvel damos o nome de reostase reativa.
O processo de mudana no valor defendido pode ser ilustrado pela elevao da temperatura
corporal durante a febre, um exemplo clssico de reostase reativa. A febre caracterizada pelo aumento
da temperatura corporal que geralmente ocorre quando h infeces por determinados tipos de patgenos.
Embora esse aumento de temperatura costume afligir as pessoas, que buscam rapidamente uma forma de
baix-la, a febre mais do que uma mera consequncia desagradvel de uma infeco e pode, inclusive,
ser uma importante arma do organismo no combate ao patgeno. A elevao da temperatura corporal que
ocorre durante a febre um processo regulado, no qual o organismo passa a defender um valor de
temperatura corporal mais alto do que o normal. Dessa forma, so ativados mecanismos
termorregulatrios que favoream a manuteno de valores mais altos de temperatura. Humanos, por
exemplo, tremem e buscam manter-se aquecidos utilizando roupas e cobertas.
A febre no um fenmeno exclusivo de mamferos. Animais ectotrmicos, cuja temperatura
corporal varia de acordo com a temperatura ambiental, tambm apresentam febre. Isso foi demonstrado
pela primeira vez em um experimento realizado com iguanas de deserto (Dipsosaurus dorsalis). Esses
rpteis eram alojados em um local no qual podiam escolher a temperatura ambiental a qual se expunham,
regulando, comportamentalmente, sua temperatura corporal. Quando eram injetadas com um patgeno,
essas iguanas escolhiam temperaturas mais altas, ou seja, regulavam sua temperatura corporal a um valor
mais alto. Interessantemente, quando esses animais eram impedidos de defender um valor mais alto de
temperatura, a mortalidade decorrente da infeco aumentou. Esse fato, que tambm foi observado em
gafanhotos e mamferos, sugere que a mudana no valor defendido de temperatura corporal pode
favorecer o combate infeco.
Mudanas nos valores defendidos de temperatura corporal tambm so observadas como reao a
outros eventos imprevisveis. Valores mais baixos de temperatura podem ser defendidos, por exemplo, no
43
caso de escassez de alimentos, o que pode ser vantajoso para o animal devido economia de energia com
termorregulao.
Alm da temperatura corporal, podemos encontrar casos de reostase reativa no ajuste de outras
variveis fisiolgicas. Por exemplo, as funes reprodutivas so suspensas em casos de perda excessiva
de peso e/ou desnutrio. Exemplos de reostase reativa ainda podem ser encontrados em ajustes dos
valores defendidos da presso arterial, do pH do sangue, de nveis de hormnios, dentre outros. Embora
os mecanismos envolvidos nesses ajustes sejam diferentes em cada caso, importante salientar que, em
geral, a reostase reativa confere ao organismo a flexibilidade fisiolgica necessria para sua sobrevivncia
frente a eventos imprevisveis.
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NEUROCINCIA COGNITIVA
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Neurofisiologia bsica
Sergio Marinho da Silva
Esta aula tem por objetivo explicar para os alunos a importncia de se estudar o sistema nervoso
atravs de trs diferentes formas: estudo do seu desenvolvimento desde o embrio at o indivduo adulto,
anlise macroscpica de suas principais subdivises e funes e a sua evoluo ao longo da filogenia dos
vertebrados. Desta forma, o aluno observa que o sistema nervoso no est apenas integrado com o
organismo, mas que este se desenvolve junto com o indivduo e que, dentre os animais, as variaes em
sua forma, tamanho e desenvolvimento de cada uma de suas partes esto relacionadas com o grupo de que
fazem parte e com o seu estilo de vida.
A parte introdutria da aula ser sobre o porqu de estudarmos o sistema nervoso e qual o
interesse do pblico acadmico sobre este assunto. Mostraremos que, muito mais do que pela sua
importncia para a manuteno da sade, bem estar e funcionamento adequado do organismo, ns nos
interessamos pela forma como formada a memria, como e o que a conscincia, como aprendemos, e
como nosso sistema nervoso se desenvolve.
Em seguida, a origem do sistema nervoso ser mostrada para os alunos ao longo da ontogenia, ou
seja, desde formao do zigoto at o adulto. As principais conexes do sistema nervoso com os rgos
sensoriais sero mostradas no surgimento destes rgos. No final deste tpico, os alunos tero uma vista
completa das partes que formam o sistema nervoso central e as suas conexes com o organismo,
facilitando a compreenso da fisiologia do sistema nervoso.
No terceiro tpico da aula, os alunos tero uma viso superficial de cada uma das partes do
sistema nervoso, caminhando desde as partes e funes mais rostrais do crtex at a poro final da
medula vertebral. Ao longo deste trajeto, os alunos sero informados de pesquisas que so realizadas,
tanto pelo nosso departamento quanto por laboratrios mundo afora, em cada uma destas partes. Este
tpico ser finalizado com a diferenciao entre sistema nervoso somtico e sistema nervoso autnomo, a
importncia do sistema nervoso simptico e parassimptico e a importncia do sistema nervoso perifrico.
Aps os alunos terem uma noo bsica da importncia de cada uma das partes do sistema
nervoso, eles observaro diferentes partes do sistema nervoso de vertebrados. Eles observaro, por
exemplo, que o cerebelo de organismos que se movimentam pouco menor do que o cerebelo de
organismos que se movimentam bastante. Principalmente, eles observaro o quanto o crtex se modifica
em diferentes vertebrados, em tamanho e forma, especialmente em mamferos.
Finalizaremos a aula retornando ao assunto inicial: o porqu de estudarmos neurocincia. Este
retorno dar uma chance aos alunos refletirem sobre a importncia do sistema nervoso a partir da
informao nova que recebero e conseguir pensar sobre a interao da neurocincia com o organismo, o
meio, com o desenvolvimento ontogentico e com a filogenia.
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Esta aula ter nfase em aspectos funcionais e comparativos, sendo o objeto de comparao final
sempre o ser humano adulto. Desta forma, o desenvolvimento ontogentico buscar mostrar como uma
estrutura se origina e como ficar no adulto, a parte funcional mostrar como cada parte do sistema
nervoso do humano adulto funciona e a aula sobre filogenia mostrar como os diversos grupos diferem
em relao ao humano. Esta escolha foi feita para manter o interesse dos alunos e para que o tempo da
aula seja o suficiente.
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Memria e aprendizagem
Lvia Clemente Motta Teixeira
O que nos faz lembrar-se de uma detalhada histria ocorrida no passado? Como deixamos fluir
naturalmente as frases complicadas de longas canes? Por que nunca nos esquecemos de como se dirige
um automvel? Por que nunca nos esquecemos do primeiro beijo?
Nestes exemplos, a memria surge como um processo de reteno de informaes no qual nossas
experincias so arquivadas e recuperadas quando as evocamos. O termo memria tem sua origem
etimolgica no latim e significa a faculdade de reter e /ou readquirir ideias, imagens, expresses e
conhecimentos adquiridos anteriormente reportando-se s lembranas, reminiscncias. O conceito
fisiolgico do que memria to complexo como a tentativa de descrever seus processos de formao e
consolidao. A memria pode ser definida como o trao duradouro deixado por uma experincia
comportamental no crebro de um animal. Para que tal fenmeno ocorra, necessrio um aprendizado
prvio (aquisio) contato com uma nova situao ou estmulo que leva a alteraes em circuitos neurais
existentes. A consolidao das informaes adquiridas o passo seguinte na formao da memria, uma
fase instvel e sujeita a modulaes. O armazenamento constitui a fase final da memria, o registro no
sistema nervoso central das experincias vividas, quando realmente ocorre a internalizao do trao. A
fase final a evocao da memria que corresponde ao ato de lembrar ou acessar memrias quando se faz
necessrio, a prova de que o aprendizado realmente ocorreu, e as informaes foram estocadas.
Nossas memrias so formadas e armazenadas em redes neurais. Existem diferentes redes neurais
para diferentes tipos de memria, redes estas localizadas em estruturas neurais distintas e com neurnios
que utilizam mecanismos celulares distintos. Diversas abordagens moleculares, eletrofisiolgicas e
comportamentais so utilizadas para tentar-se compreender os processos que levam a reteno de
informaes por curtos perodos de tempo ou durante toda a vida do indivduo. Nossas memrias formam
a base de nosso conhecimento, estando envolvidas com nossa orientao no tempo e no espao e nossas
habilidades intelectuais e motoras. Fundamentalmente, a memria representa uma mudana em quem ns
somos. Nossos hbitos, as nossas ideologias, nossas esperanas e medos so todos influenciados por
aquilo que nos lembramos do nosso passado. No nvel mais bsico, lembramos porque h mudanas entre
conexes de neurnios, cada experincia serve de preparo para uma prxima experincia, de modo ns
somos reflexos de nossa histria assim como montanhas refletem eras geolgicas. A memria tambm
representa uma mudana em quem ns somos, pois preditiva de quem nos tornaremos. Lembramos
coisas mais facilmente, se formos expostos a coisas semelhantes antes, dessa forma o que nos lembramos
do passado tem muito a ver com o que iremos aprender no futuro. Somos aquilo que lembramos. A
essncia do indivduo baseia-se em uma parte do que ele capaz de lembrar, fazendo com que a
combinao das suas experincias e constituio gentica torne cada indivduo impar, sendo segundo essa
50
tica a base fsica da individualidade. Nessa aula vamos explorar como as experincias tornam-se
memrias, como elas so criadas e armazenadas e quais so as abordagens experimentais que nos
permitem estudar esses processos.
51
Ateno
Leopoldo Francisco Barletta Marchelli
A todo instante uma grande quantidade de estmulos ambientais so captados simultaneamente
por nossos rgos sensoriais. Diante da incapacidade do sistema nervoso processar plenamente todas
essas informaes, em determinadas situaes alguns desses estmulos acabam se tornando mais
relevantes para o desempenho de um comportamento em detrimento de outros. Consequentemente tais
estmulos acabam sendo processados preferencialmente por meio do direcionamento da ateno.
Manifestando-se tanto no domnio motor quanto nos aspectos perceptuais do comportamento, a ateno
participa da maioria das funes cognitivas.
Teorias sobre ateno admitem que a seleo de determinados estmulos, paralelamente rejeio
de outros, faculta um processamento mais eficiente dos estmulos selecionados do que seria possvel caso
o sistema nervoso processasse todos os estmulos presentes simultaneamente. Do ponto de vista
neurofisiolgico, o direcionamento atencional gera processos preparatrios que pr-ativam certas
estruturas do sistema nervoso central de maneira a favorecer o processamento de algumas informaes;
paralelamente, h inibio de estruturas nervosas cujos contedos, naquele momento, seriam menos
relevantes.
A orientao da ateno em seres humanos vem sendo classificada em (1) orientao manifesta
da ateno, (2) orientao encoberta da ateno, (3) automtica (ou exgena) ou (4) controlada (ou
endgena). Esta aula almeja apresentar aos participantes conhecimentos tericos e prticos sobre a
ateno, focalizando principalmente na fenomenologia desta funo cognitiva. Ao longo da aula tambm
sero apresentados aspectos histricos e alguns trabalhos que contriburam para o estudo da ateno.
52
Percepo
Fbio Moraes Gois
[email protected]
O que perceber um estmulo? Seria diferente de sentir um estmulo? Abordar o tema percepo
em neurocincia uma tarefa complexa, pois h muito mais na percepo de um estmulo do que sua
simples sensao. Roberto Lent a define como a capacidade de associar as informaes sensoriais
memria e cognio de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre ns mesmos e orientar o nosso
comportamento.. Contudo, essa definio est longe de ser um consenso e o estudo da percepo pode
ser feito em diversas esferas e com diferentes abordagens.
Nesta aula trataremos de percepo em uma abordagem neurobiolgica seguindo, em partes, a
definio dada por Roberto Lent: um processo complexo que envolve diversos aspectos cognitivos e
dependentes, diretamente, das informaes sensoriais. Assim sendo, a compreenso dos sistemas
sensoriais fundamental para a abordagem fisiolgica do fenmeno perceptivo.
Mostraremos que cada sistema sensorial possui clulas modificadas (receptores) capazes de
receber estmulos de diferentes formas (luz, molculas qumicas, fora mecnica) e transform-los em
sinais eltricos interpretveis pelo sistema nervoso. Esses receptores, ento, seriam a porta de entrada dos
estmulos externos para o indivduo. Assim, aspectos relacionados a eles como seus campos receptivos e a
habituao so importantes para a compreenso de como os processos de percepo ocorrero em nveis
mais superiores do sistema nervoso.
Compreendida a base dos processos sensoriais mais perifricos, abordaremos as vias ascendentes
sensoriais rumo a estruturas corticais, bem como a organizao dessas e sua participao nos processos
sensitivos. Observamos que existem regies definidas no crtex para o processamento de cada categoria
sensorial e, em algumas regies, a preservao das relaes espaciais das entradas dos receptores, os
chamados mapas neurais, so importantes na formao do percepto.
Apesar de existirem inmeros estudos neurobiolgicos da percepo ainda h muitas dvidas no
esclarecidas. Para ilustrar a complexidade dos processos sensitivos na percepo de estmulos trataremos
de evidncias clnicas de pacientes com leses em diferentes regies corticais que tiveram sua percepo
ambiental afetada. Os casos mais conhecidos so de agnosia visual, que constitui a perda de
conhecimento de diferentes aspectos da viso como profundidade, cor, e foram primeiramente
documentados por Sigmund Freud no final do sculo XIX.
Ao expor aos alunos essas informaes pretendemos conduzi-los a um debate sobre a nossa
percepo do mundo. Podemos dizer que percebemos o mundo realmente como ele ? Ser que o que
uma pessoa sente e interpreta como o mundo o mesmo que a outra pessoa?
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Ao
Marina Faveri de Oliveira
[email protected]
O comportamento motor o substrato de todos os comportamentos humanos, pois somente pela
ao que podemos procurar comida, expressar nossas emoes, nos comunicar verbalmente, nos
locomovermos, etc. O objetivo principal da aula mostrar como o comportamento motor emerge das
diversas conexes neurais que culminam na ativao/inibio coordenada de unidades motoras.
Em nossa abordagem apresentaremos inicialmente o rgo efetor (msculo estriado esqueltico) e
sua inervao. Eles so a via final comum do sistema motor, j que todo movimento s executado
quando h a ativao dessa via.
Os reflexos medulares sero abordados sob o ponto de vista de sua participao no controle motor
como organizadores das sinergias entre grupos musculares agonistas e antagonistas em uma mesma
articulao. Dois reflexos sero estudados: o de estiramento, fundamental para a manuteno da postura
ereta; e o de retirada, fundamental no somente nas respostas a estmulos nocivos, mas tambm na
organizao da marcha.
O tronco cerebral participa de forma ainda mais importante na postura, dado que ele integra
informaes visuais, do labirinto e cinestsicas. Suas projees para a medula permitem respostas rpidas
de equilbrio, assim como preparam o corpo para desequilbrios gerados pelo prprio movimento. Os
reflexos do tronco so estereotipados at o fim do primeiro ano de vida, quando termina a mielinizao de
suas vias, mas eles so fundamentais e continuam presentes (de forma devidamente modulada) em
indivduos adultos.
O crtex cerebral est envolvido na elaborao de movimentos voluntrios. Veremos como sua
organizao somatotpica e como essa representatividade est relacionada ao refinamento dos
movimentos de cada segmento corporal. A codificao neural da direo e da fora do movimento
tambm sero estudadas em detalhe.
O cerebelo e os ncleos da base so estruturas que formam alas paralelas regulatrias do
movimento. Suas vias so extremamente complexas e sero abordadas de um ponto de vista mais geral,
com nfase em sua funo.
Alm da fisiologia da execuo do movimento, abordaremos tambm a imaginao motora e suas
possveis aplicaes no desenvolvimento de interfaces crebro-mquina.
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Deciso
Marcelo Arruda
As decises so determinantes sobre os comportamentos subsequentes, e uma vez que as
consequncias das aes adotadas envolvem a concretizao ou no dos eventos previstos as decises
assumem um papel crucial no desempenho final objetivado pelo comportamento. Partindo desse princpio, a
tomada de decises pode ser vista como um processo que envolve a sucesso de algumas etapas que partem da
avaliao das condies presentes e se sucedem at a avaliao dos resultados da ao desempenhada.
Tanto no caso de um comportamento em que a necessidade de deciso por uma das alternativas
disponveis bastante clara como em situaes em que aparentemente s h uma possvel reao a um
estmulo externo, alguma etapa do processo de tomada de deciso se faz presente. Dessa forma, a diversidade
de situaes em que a tomada de deciso pode se estender desde um comportamento muito simples, como o
controle de um reflexo, at contextos muito elaborados como a escolha de um parceiro para reproduo, ou
ainda, a escolha de por um alimento em detrimento de outros, em razo de preferncia individual. Sendo
assim, as decises determinam aes que podem ser de grande importncia para a sobrevivncia e reproduo
de um indivduo, ou mesmo aes que pouco afetam um indivduo seno em sua satisfao momentnea.
Na tentativa de poder alcanar explicaes comuns para situaes e contextos to variados h tempos
tem se buscado um conhecimento que possa explicar a deciso em sua forma geral. Esse esforo compreende
desde os trabalhos de tericos matemticos de sculos passados at os mais recentes estudos de neuroimagem.
Enquanto os primeiros buscavam abordagens capazes de descrever o comportamento de pessoas em jogos de
azar, os ltimos buscam no crebro animal correlatos antomo funcionais em situaes de deciso diante de
incerteza. Ao longo desse esforo interdisciplinar, uma das caractersticas comuns entre as diversas reas foi a
de tentar compreender as etapas envolvidas no processo de tomada de deciso.
A deciso sob incerteza ocorre em contextos em que se faz necessria alguma representao do grau
de conhecimento da situao atual do agente decisor, e diante da seleo de possveis aes a serem adotadas o
agente decisor pode gerar previses em relao aos possveis resultados dessas aes. Diante dos resultados de
fato, o agente decisor pode ento reavaliar a qualidade das suas previses e incorporar essa nova experincia
em seu processo decisrio. No h necessariamente uma correspondncia entre cada etapa descrita e uma
estrutura enceflica especfica. No entanto, conhecido o papel de vrias vias neurais em processos
relacionados s etapas do processo de deciso.
O objetivo da aula apresentar a formulao de um problema de deciso, e posteriormente apresentar
alguns mecanismos neurais que atuam em etapas especficas do processo decisrio, na perspectiva de integrar
esses conhecimentos em discusses sobre diversos aspectos comportamentais.
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Alm de entender a neurobiologia relacionada s emoes tambm importante compreender
como elas se relacionam com outras funes cognitivas. Quando tentamos entender as emoes tambm
devemos levar em conta que vrios outros processos cognitivos tambm ocorrem juntamente com o
processamento das emoes. Por exemplo, um indivduo em uma situao de perigo vai experienciar e a
expressar reaes emocionais, porm processos atencionais, de memria e tomada de decises tambm
ocorrem para possibilitar sua fuga ou defesa. Essa relao de fato ocorre e, apesar de tratarmos
separadamente para fins didticos, devemos sempre entender as funes cognitivas como um todo que
sempre se relacionam e se influenciam.
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somticos e o adiciona teoria de James e Lange.
Os marcadores somticos, segundo Damsio, seriam respostas fisiolgicas viscerais
desencadeadas por mecanismos autonmicos em resposta a determinadas situaes auxiliando na
marcao dessas situaes como positivas ou negativas em diversos graus de intensidade. Durante um
processo de tomada de deciso, esses marcadores atuariam anteriormente aos mecanismos conscientes e
racionais, eliminando alternativas que estivessem marcadas como negativas por remeterem a quadros de
resposta emocional marcados negativamente na histria de cada indivduo. Dessa forma, o nmero de
alternativas a serem analisadas racionalmente seria muito menor do que o nmero de alternativas
existentes, uma vez que muitas nem chegariam a nveis conscientes.
Para ilustrar a abordagem dos marcadores somticos, ser feita uma anlise dos dados obtidos por
Damsio em seu experimento denominado Iowa Gambling Task, que simula uma situao real de
tomada de deciso ao mesmo tempo em que monitora algumas condies fisiolgicas do indivduo (como
batimentos cardacos, condutncia galvnica da pele e dilatao da pupila), e as pareia com um
questionrio sobre as sensaes individuais sobre a tarefa executada. Esse experimento constitui o pilar
principal da hiptese dos marcadores somticos de Damsio, e foi replicado diversas vezes e em situaes
distintas. Contudo, a hiptese dos marcadores somticos est longe de ser unanimidade entre a
comunidade cientfica, no sendo difcil encontrar artigos questionando o Iowa Gambling Task como
um mtodo seguro que possa sustentar essa hiptese. Os principais argumentos contrrios hiptese dos
marcadores somticos sero apresentados no momento final da aula, junto a outras abordagens sobre a
influncia das emoes na tomada de deciso e nos processos racionais a fim de levantar uma discusso
com a participao dos alunos sobre o tema.
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Neurognese
Carolina de Souza Goulart
Essa aula ser a respeito da Neurognese, um assunto que vem sendo estudado intensamente
desde a sua descoberta.
Primeiramente ser abordado um breve histrico sobre o incio e a evoluo dos estudos desse
assunto para ento apresentar os principais pontos relacionados neurognese, como os locais onde ela
ocorre, o processo de maturao desses novos neurnios, fatores ambientes que regulam o seu
desenvolvimento e suas possveis funes.
A neurognese uma sequncia de eventos caracterizada pela gerao de novos neurnios. Esse
processo ocorre continuamente ao longo da vida, porm, a taxa de nascimento de novos neurnios tende a
diminuir diretamente proporcional idade. At o momento, a neurognese s foi comprovada em apenas
duas regies muito especficas do encfalo: na zona subventricular (ZSV), localizada nas paredes dos
ventrculos laterais, e na zona subgranular (ZSG) do giro denteado.
Os novos neurnios da ZSV, ainda imaturos, migram rostralmente em direo ao bulbo olfatrio,
local onde se tornam maduras e integram-se na circuitaria neural j existente. J na neurognese
hipocampal, as novas clulas migram para a camada molecular do giro denteado e, depois de maduras,
passam a fazer parte da circuitaria hipocampal.
Aps essa introduo sero comentados alguns fatores ambientais que a regulam, finalizando com
as suas possveis funes no sistema nervoso central.
O exerccio fsico, o ambiente enriquecido e o aprendizado esto associados ao aumento da taxa
de neurognese, sejam atuando na proliferao ou na sobrevivncia dessas novas clulas. Nesse momento
sero mostrados alguns experimentos que fazemos em laboratrio para estudar essa influncia.
Em seguida, sero comentados sobre os principais fatores que contribuem para a queda da
neurognese como o estresse e o envelhecimento.
Tudo que foi tratado at o momento diz a respeito ao processo da neurognese, porm,
interessante ressaltar que a funcionalidade dos novos neurnios pode ser considerada determinante para
sua sobrevivncia aps o perodo de maturao e integrao na circuitaria neural.
A funo da neurognese o assunto que mais intriga os pesquisadores. Como a neurognese
acontece em duas regies especficas, provvel que sua funo esteja relacionada com a funo dessas
reas. Muitos estudos apontam que a neurognese participa do aprendizado e memria relacionados ao
hipocampo e tambm na memria olfativa e na discriminao de odores no bulbo olfatrio.
Apesar da grande quantidade de estudos a respeito do assunto, existem muitos pontos que
necessitam de maior esclarecimento.
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de demonstrar e influncia do Enriquecimento Ambiental ( E.A.) como fator estimulador de
neuroplasticidade, principalmente no que diz respeito neurognese. Enriquecimento Ambiental se refere
a uma tcnica de manejo que visa ampliar o bem-estar e prevenir que situaes estressantes possam
acarretar em algum prejuzo, seja ele cognitivo, comportamental ou puramente fisiolgico. Aplicado em
animais de cativeiro, ajuda a prevenir comportamentos anormais quantitativos e qualitativos
(estereotipias), reduzem expresso de medo e agressividade, auxilia na manuteno de funes
reprodutivas e a expresso dos comportamentos normais de cada espcie, levando a benefcios tanto para
o animal quanto para o criador/mantenedor. Essa tcnica tem por princpio fornecer estmulos diversos ao
animal de maneira que ele tenha condies de interagir mais ativamente com o ambiente e colocando em
uso suas capacidades e habilidades que compem seu repertrio comportamental. Esse princpio, no
entanto, no se aplica apenas a animais de cativeiro. Ao estimular um beb humano em desenvolvimento
com cores, sons, cheiros, texturas, jogos e desafios, o que se est fazendo, em ltima anlise, ministrar
enriquecimento ambiental.
Na dcada de 40, mais de dois sculos depois dos experimentos de Malacarne, Donald Olding
Hebb, demonstrou que ratos criados em ambientes enriquecidos eram menos ansiosos e aprendiam mais
rpido que os animais do grupo controle. Desde ento inmeras descobertas foram feitas no que diz
respeito a E.A. e neuroplasticidade, desde alteraes na presena e densidade de espinhos dendrticos no
hipocampo em neurnios piramidais do crtex somatosenssorial, alteraes estruturais e bioqumicas no
crtex, alteraes de peso enceflico e taxas metablicas de acetilcolina at aumento de sinaptofisina e
PSD-95 (protenas relacionadas a locais de sinapse) no crtex pr-frontal, hipocampo, tlamo e
hipotlamo.
Os efeitos dessa neuroplasticidade so verificados em testes comportamentais de memria,
aprendizagem, ateno, ansiedade, em experimentos envolvendo supresso sensorial e tambm anlise
neuroendcrina, principalmente quando relacionado estresse.
O mais interessante, talvez, que a tcnica de E.A. no surte efeito apenas em animais ou
crianas em desenvolvimento, sendo seus efeitos observveis em qualquer idade, como demonstrado em
pacientes com Alzheimer que receberam enriquecimento ambiental.
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Neurobiologia do envelhecimento
Aline Vilar Machado Nils
O envelhecimento definido pela fisiologia como declnio progressivo funcional, ou uma
deteriorao gradual das funes fisiolgicas, o processo relacionado com a idade, tendo irreversvel
perda de viabilidade e aumento da vulnerabilidade. Parece que os mecanismos intrnsecos celulares
desempenham um papel no envelhecimento, embora estes possam ser modulada por fatores
extracelulares, como os hormonais.
Existem dois principais tipos de teorias sobre o envelhecimento: as baseadas em danos e as que
defendem um envelhecimento programado. As teorias baseadas em danos, como o nome indica,
defendem que os resultados do envelhecimento ocorrem a partir de um processo contnuo de acumulao
de danos ao longo da vida originrios de subprodutos do metabolismo. Tipicamente, este dano um
subproduto de processos celulares normais, ou uma consequncia dos sistemas de reparao ineficientes.
Por outro lado, as teorias do envelhecimento programado argumentam que o envelhecimento no um
resultado do processo de amostragem ou estocstica, mas sim impulsionado por processos regulados
geneticamente.
Com a idade ficamos mais susceptveis e vulnerveis a certas doenas e tambm nos tornamos
mais propensos a morrer. O processo de envelhecimento uma srie de alteraes fisiolgicas que no
necessariamente desencadeiam patologias. Porm, muitas patologias atingem predominantemente essa
populao etria, ou seja, no se define o processo de envelhecimento por um conjunto de doenas.
A questo entre o envelhecimento normal e o patolgico de certa forma, determinada pela
prpria sociedade no sentido de que ela que geralmente determina o que normal e o que patolgico,
mas podemos afirmar que o envelhecimento patolgico aquele que torna o idoso parcialmente
incapacitado. Esta incapacidade faz, muitas vezes, com que eles se isolem e se tornem dependentes dos
cuidados dos terceiros, ou seja, perdem a sua autonomia.
Conseguir quantificar o processo de envelhecimento um desafio complexo e controverso, pois
diferentes organismos apresentam velocidades diferentes do processo de envelhecimento. Existem teorias
distintas sobre o porque alguns organismos vivem muitos anos, enquanto outros entram rapidamente em
senescncia, essas diferentes teorias fazem relaes alomtricas do tempo de vida dos organismos com
diferentes caractersticas, como tamanho corpreo, taxa metablica e massa enceflica.
O envelhecimento do crebro caracterizado por uma diminuio demonstrvel em peso e
volume, em humanos particularmente aps os 50 anos de idade. Esta atrofia, presume-se em uma perda de
neurnios e axnios mielinizados, bem como diminuio no nmero de sinapses. As clulas da glia, por
outro lado, parecem aumentar no crebro em envelhecimento. Especula-se sobre vrios mecanismos
propostos para o envelhecimento diferencial do crebro, incluindo sistemas de neurotransmissores, stress
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e corticosterides, alteraes microvasculares e hormonais, homeostase do clcio, e desmielinizao, que
geram alteraes em diversas funes fisiolgicas e cognitivas mesmo em um envelhecimento bem
sucedido.
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A percepo do mundo vai alm da sensao dos estmulos externos pelos sistemas sensoriais. O
processamento dessas informaes externas influenciado por outras capacidades cognitivas como a
ateno e a memria que tornam possveis diferentes interpretaes do mundo. Alm disso, devemos
levar em conta que os sistemas sensoriais foram selecionados de forma a atender nossa demanda de
adaptao ao ambiente em que vivemos. Por isso, devemos entender que nem todos os estmulos que
chegam ao nosso corpo so processados integralmente.
Para compreender melhor sobre nossa concepo sensorial do mundo resolvemos elaborar uma
aula onde possamos testar as nossas percepes. Ser que percebemos o mundo como ele realmente ? E
ser que, entre ns, percebemos igualmente?
Somatossensorial:
Experimento 1- Em grupos de 3 pessoas, com um paqumetro ser realizada a coleta da distncia mnima
de dois pontos para que eles sejam percebidos separadamente. Para isso, sero coletados dados no dedo
indicador, mdio, no brao, na perna e nas costas. Inicia-se como o paqumetro fechado (distncia zero) e
vai aumentando o tamanho a cada 1 ou 2 mm at a pessoa relatar que percebe dois pontos de presso
separados. A distncia dever ser anotada na tabela abaixo.
dedo
dedo
indicador
mdio
polegar
palma
brao
perna
costas
da mo
Abertura do
paqumetro
Neste experimento necessria a compreenso de que h uma relao indireta entre a densidade
de receptores sensoriais presentes em uma regio e o tamanho do campo receptor. Ou seja, quanto mais
receptores de toque na pele, menores so os seus campos receptivos e melhor ser a percepo de dois
pontos.
Gustatrio e Olfatrio:
Experimento 2- Voluntrios tero que colocar um papel coberto com a substncia PTC e relatar o que
sentiram.
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Neste experimento poderemos observar a diferena na percepo gustativa entre cada indivduo.
Temos que a presena de receptores gustativos para essa substncia no ocorre em todos os indivduos.
Isso nos leva a pensar que nossas percepes de algo no so sempre as mesmas.
Experimento 3- Voluntrios iro tomar suco de laranja com essncia de abacaxi. Com os olhos vendados
tero que adivinhar qual o suco sem sentir o cheiro e depois com o cheiro.
Neste experimento podemos observar a influncia de um sistema sensorial em outro. O paladar e
o olfato esto extremamente ligados. A percepo de que voc est comendo algo no depende
simplesmente do paladar, temos o olfato o influenciando continuamente.
Audio e equilbrio:
Experimento 4- Teste do estalo do dedo. Uma pessoa ter que adivinhar de onde vem o estmulo sonoro.
Neste experimento observaremos quais outras informaes, alm da percepo sonora, o sistema
auditrio pode processar. Por que existem duas orelhas externas se elas so to feias? importante para
ns ouvir um barulho, mas tambm importante saber de onde ele vem. Assim, a presena de 2 orelhas
possibilita a recepo diferenciada do estmulo sonoro e, assim, a localizao da fonte sonora no plano
horizontal.
Viso:
Experimento 6- O ponto cego.
Neste experimento observaremos que algumas informaes visuais colocadas em nossa frente no
so processadas. O ponto cego corresponde ao local do nervo ptico na retina. Como neste local no h
presena de receptores, no h processamento da informao que cai neste ponto. Porm, normalmente,
no vemos nenhum ponto preto nossa frente. Isso porque temos campos visuais sobrepondo-se, pois so
processados pelos dois olhos. E, mesmo fechando um olho, difcil encontrar o ponto cego, pois h uma
tendncia do processamento visual a completar a imagem processada.
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Experimento 7- O castelo, a bandeira.
Neste experimento percebemos que nossos receptores passam por um processo de habituao que
pode acarretar na mudana de percepo de cor. Aps a exposio prolongada dos cones por alguns
comprimentos de onda, temos que, quando nos apresentado algo branco, ou seja, que emita todos os
comprimentos de onda, os cones deixam de responder quelas ondas apresentadas anteriormente e passam
a responder somente s outras ondas produzindo a percepo de outras cores.