BRANDAO Roberto de Oliveira Elementos de Metodologia em Nivel de Pos Graduacao Area de Letras

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

ISBN 85-7506-040-6

ITjJ
USP - UNIVERSIDADE
DE sAo PAULO
Reitor:
Pror. Dr. ]acques l\.larcovitch
Vice-Reitor:
ProL Dr. AJolpho Jose Melfi

li
"')

Roberto de Oliveira Brando

FFlCHIU$P

FFLCH - FACULDADE
LETRAS E CIENCIAS

DE FILOSOFIA,
HUMANAS

DirelOr:

ProL Dr. Francis Hl.'nrik Aubert

Vice~Drctor:

ProL Df. Renato

J3 Silva Queiro:

~~
FFLCH/USP
CONSELHO

EDITORIAL

ASSESSOR

DA HUMANITAS

Presidente:

ProL Df. l\.tilton Meira do Nascimento

!\lembros:

Prof;l. Df,l. Lourdes Sola (Ciencias Sociais)


ProL Dr. Carlos Alben) Ribeiro de

(Filosofia)
{Filosofia}

MOllf<J

ProP. Dr". Sueli Angelo Furlan (Ceografia)


Prof. Df. El;\s Thom Saliba (Histria)
ProP. Dra. Beth Brait (Letras)

DEPARTAMENTO

DE LETRAS

CLAsSICAS

Chefe:

ProL Dr. 8enFlmin

Suplente:

Pror'. Dr']. Mari.1 Vicentina

COhllssAo

E VERNAcULAS

Elementos de Metodologia

Abdala ]unior
de Paula do Amara! Dick

(""3

DE PS.GRADUAAo

Em nvel de Ps-Graduao
rea de Letras

de ECLLP)

Coordenador:

Prof. Dr. Benjamin AbJala Junior

Vice-coordenadora:

Prof'l. Dr'!. I\laria Helena Nery Garcez

Vendas
Ll\'HI\H!i\

Hl),~!A"JT ..\sDI.~Ct,'R.~l)

Av. ProL Luei<loo Gualberto,


05"5(18-900

- So

JJ

') -

Ciclo

Universitria

PiJUlo - SP - Bril.~i1

Td.: 3818-3728 /HnS3796

H\ ..~!:\t'JT:\SDj:';THlHl;IC.\O
Rua do La~o, 7 7 - Cid. Universitria
J

05508-900 - Sao Paulo - SP - Brasil


TelcLlJc.: 3S1~45iN
em.ail: pub{[email protected]
h ap:" / \\WI\'.

(fleh. 1.1sp. br /hu man

\-\~

it<lS

FFLCH/USP

ECLLP

2001
Humanitas

- FFLCH/USP

- setembro/2001

UNIVERSIDADE

DE SO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS

Copyright ZOOI da Humanitas FFLCH/USP


proibida a reproduo parcial ou integral,
sem autorizao prvia dos detentores do copyright

Sumrio
Apresentao

Servio de Biblioteca e Documentao da Faculdade de Filosofia,


Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo

B817

'"

O que a ps-graduao

09

Distines

11

entre rnestrado e doutorado

Brando, Roberto de Oliveira

Convergncias

Elementos de metodologia em nvel de ps graduao: rea


de Letras / Roberto de Oliveira Brando.-So Paulo: Humanitas / FFLCH / USP, ZOO!.

Atividades

46 p.

ISBN 85-7506-040-6
I. Metodologia de pesquisa 2. Estrutura de trabalhos cientficos 3. Ensino de ps-graduao I. Ttulo

07

Organizao

entre mestrado

e doutorado

de leitura

13
15

das leituras

19

Pesquisa e seleo dos dados

21

Bases tericas e suas implicaes histrico-culturais

25

A redao como sntese das atividades da ps-graduao

27

Linguagens

e funes da redao

29

Perspectivas

e vozes presentes no texto

33

CDD 001.42

Algumas observaes

37

Elementos

41

Organizao
e-mail: [email protected]
T elefax: 38184593
Editor Responsvel

ProL Dr. Milton Meira do Nascimento


Coordenao

Editorial e Capa

Ma. Helena G. Rodrigues - MTb n. 28.840


Projeto e Diagramao

Marcos Eriverton Vieira


Reviso

Ktia Rocini

35

Citaes e referncias
de linguagem crtica

Normas gramaticais
HUMANITAS
FFLCH/USP

prticas e teis

e coerncia do texto

dos captulos

43
45

Elementos de metodologio

o que a ps-graduao
Como toda palavra que ostenta o prefixo "ps" (ou "pr"), tambm
o termo "ps-graduao" vago e impreciso. Ancorada nas noes de
tempo (ps) e de lugar de partida (graduao), seu surgimento atendeu,
por um lado, necessidade de superar insuficincias que iam sendo percebidas na chamada "graduao" dos cursos universitrios. tendncia,
natural em todos os campos do saber que a ampliao e diversificao dose;
objetos do conhecimento dem origem setorizao dos domnios cientficos. Por outro lado, com a ps-graduao buscava-se formar os quadros
do prprio magistrio universitrio, possibilitando um ensino mais aprofundado em que se acrescentava a atividade de pesquisa como forma de
garantir no apenas a qualidade do ensino, ajustando-o s novas exigncias da realidade, mas tambm a abertura para outras reas de interesse e
aplicao do saber. No primeiro momento, entretanto, seu surgimento
representou mais um sentimento de que algo j no satisfazia e precisava
mudar, ocorrncia, alis, que tem acompanhado de longa data o processo
de desmembramento das chamadas "cincias" de seus estgios anteriores,
muitas vezes desqualificados pelos cientistas como "mitologia", por sua
tendncia de tratar os problemas de forma sincrtica e metafrica, sem
discriminar seus limites, sua especificidade e autonomia, traos exigidos
pelo avano e complexidade das novas forma de saber.
No incio, o propsito ainda impreciso de "ir alm da graduao"
recebeu vrios nomes: "extenso", "especializao", "aperfeioamento", e
outros, procurando, no prprio nome, dar uma idia de sua aplicao.
Posteriormente, l pelos anos 60, algumas instituies universitrias passaram a adotar o ttulo "Ps-Graduao" I nas duas modalidades: mestrado e doutorado.
Hoje, com algumas diferenas, a ps-graduao em Letras compre~ende basicamente atividades conjuntas de cursos, pesquisas, leituras e
9

Roberto de Oliveira Brando


Elementos

trabalhos dirigidos, sees de orientao e elaborao de um texto final: a


dissertao, no Mestrado, ou a tese, no Doutorado, texto esse que ser
defendido publicamente diante de uma banca formada por trs professores com ttulo igualou superior ao do candidato (no Mestrado), ou quao
tro professores (no Doutorado), dos quais o orientador pode, a seu critrio, apenas presidir a seo de defesa, sem realizar argio.

de metodologia

Distines entre mestrado e doutorado


Numa tentativa de distinguir e situar os dois graus principais da
ps-graduao no conjunto da formao acadmica, podemos dizer que,
enquanto o Doutorado pressupe do ps-graduando um desempenho j
consolidado nas atividades de pesquisa, reflexo e produo de novos
conhecimentos, o Mestrado visa acima de tudo formao de hbitos de~
leitura, de estudo, de pesquisa, o domnio de uma bibliografia bsica sm
bre determinado assunto e um desempenho satisfatrio nas atividades de
organizao das informaes bem como na sua utilizao em textos redigidos de forma coerente e metodologicamente adequada.

10

II

Elementos de metodologio

Convergncias entre mestrado e doutorado


Considerada,

em princpio,

a distino entre doutorado

do, nem sempre possvel traar, na prtica, seus contornos


Nesse sentido,
quantitativas

podemos pensar em atividades


e qualitativas

ou menor experincia
que o momento
durante

e mestra-

com nitidez.

comuns cujas diferenas

sero determinadas

basicamente

pela maior

do estudioso, em especial no perodo de redao,

de selecionar, juntar e delinear as informaes

as atividades

realizadas pelo orientando,

obtidas

transformando-as

em

idias, anlises e propostas crticas ou tericas. Por outro lado, nem sempre esgotamos inteiramente
plo, fase de
pode sugerir
ou a tese que
contida num

uma etapa de atividades. Chegados, por exem-

redao do trabalho final, a prpria dinmica desse trabalho


a necessidade de novas pesquisas ou leituras. A dissertao
se vai elaborando pode despertar o interesse pela exposio
livro que j lemos ou estamos lemos, e este, por sua vez,

pode contribuir para confirmar,


nossa prpria exposio.

desautorizar

ou exigir reformulao

de

O texto que se segue procura lembrar alguns aspectos de interesse


comum a mestrandos e doutorandos, desde as fases de leitura, pesquisa e
seleo dos dados at elementos mais diretamente ligados redao do
trabalho

final do orientando,

guagem cientfica, organizao

incluindo sugestes sobre as formas de lindos captulos etc.

13

Elementos de metodologia

Atividades de leitura
Idenrificada uma obra como importante para a pesquisa, devemos
l-Ia com bastante ateno, buscando sempre ter uma idia clara de sua
contribuio para o nosso trabalho. Quando percebemos que um tpico
toca em aspectos do projeto, podemos transcrev-Io, dando-lhe um ttulo
significativol (arquivo de pesquisa), descrevendo, em nota, sua relao
com o trabalho que estamos realizando. Essa nota precisa ser elaborada'
com cuidado para que possamos us-Ia depois. O fragmento transcrito
deve estar entre aspas, com indicao de fonte (autor, obra, pgina) e ser
de fcil localizao. Arquivos displicentes, textos sem indicao de assunto e fonte, guardados em lugares diversos, sem nenhuma organizao, em
geral levam a perder ou descaracterizar
realizamos no momento de leitura.
O cuidado na elaborao

o significado das descobertas

das informaes

que

de pesquisa ser impor-

tante por dois motivos bsicos: primeiramente, porque oferece oportunidade para que o pesquisador reflita sobre o material coletado; posteriormente, como j foi lembrado h pouco, se organizados adequadamente,
os textos recolhidos,

acompanhados

das observaes

feitas pelo pesquisa-

dor, podero integrar o corpo da dissertao ou tese, no exigindo seno


pequenos

ajustes.

A leitura de uma ou mais obras, especialmente

daquelas

direta-

mente ligadas ao objeto de nossa pesquisa, deve ser feita o mais integralmente possvel, sem grandes interrupes.
de compreender
sua atmosfera
tendncia

Assim teremos oportunidade

no apenas as propostas que a obra oferece, mas tambm


e os compromissos

que ela mantm

com esta ou aquela

terica, crtica, ficcional ou relativa a um perodo histrico.

Esse ttulo pode lembrar o aspecto tratado no texto transcrito ou aquele que interessa ao tema da pesquisa. Ser bom se as duas coisas puderem ser conjugadas,

15

Roberto de Oliveira Brando

Elementos

Esses elementos so fundamentais para que possamos nos situar


criticamente diante de uma obra. Toda atitude crtica exige ao mesmo
tempo um conhecimento satisfatrio do texto (aspectos particulares) e do
contexto
situa.

(mbito histrico, crtico, terico ou criativo) em que aquele se

Em geral, ao lermos uma obra em funo de um trabalho acadmico ou a situamos como expresso de um saber atualmente

aceito ou como

um horizonte j transposto do saber, caso em que, se confirmado, poder


ter utilidade de retrospectiva histrica em relao ao tema estudado. Considerada ultrapassada uma perspectiva terica, analtica ou criativa, seu
conhecimento pode ser importante
ngulo em que vai se colocar.
preciso, contudo,

de metodologia

do de um estado de "menor" para outro de "maior" perfeio ou validade.


Se essa postura representou um avano em relao utopia platnica das
idias arquetpicas (unas, perfeitas, belas e eternas) em que tudo j estaria
dado de uma vez por todas, a noo de progresso constante poderia levar
a um hegelianismo radical em que cada etapa do processo dialtico do
conhecimento
(tese, anttese e sntese) propiciaria um necessrio estado
de superao da etapa anterior, em busca do momento final de perfeio
absoluta. Enquanto o primeiro colocava a perfeio na origem de tudo (as
idias), o segundo a colocava no fim (o esprito absoluto).

ao estudioso para orient-Ia sobre o

muito cuidado com as idias de "obra supera-

da" ou "anacrnica". Para chegarmos a tal opinio ser preciso ter conhecimento de causa, fundamentando
a aprovao ou a recusa de uma obra
com as causas que a motivaram, para que no exijamos de um autor uma
perspectiva que sua poca ainda no tinha elaborado j que eram outras
as condies do pensamento e da reflexo sobre determinado assunto.
Por outro lado, sabemos que as teorias tm sempre um vis histrico que as aproxima (ou afasta) de outras posies tericas, sejam passadas
ou contemporneas,
dialogando ou polemizando com elas, ou mesmo retomando-as

no todo ou em parte. Se lcito dizer que h relao entre o

nvel de conscincia sobre determinado problema e as condies gerais


(histricas, sociais, artsticas, cientficas, culturais etc.) vividas por um
autor, a anlise de sua posio precisa levar em conta essas condies, isto
, como ele se relaciona com os quadros do saber anterior,
neo ou posterior a suas prprias posies.2

contempor-

Isso no significa, entretanto, que determinado campo do saber


siga necessariamente
um desenvolvimento sempre uniforme, caminhanS quem l uma obra do passado tem condies de avaliar se quem a escreveu falava
do futuro, isto , se sua fala expressava uma "utopia" (como desejo que se ope a um
estado de coisas no presente) ou antecipava uma realidade at ento desconhecida,
mas que podia ser intuda por vestgios dispersas em seu tempo, e que sua sensibili
dade ia percebendo
antes que outros o fizessem.
.

16

17

Elementos de metodologio

Organizao das leituras


Talvez seja til dividir as leituras de acordo com a relao que elas
mantm com a pesquisa que estamos desenvolvendo.
Umas esto mais
prximas de nosso objeto de estudo, outras mais distantes. Determinadas
obras constituem

o eixo central e imediato de nossa pesquisa, seja como

material a ser analisado seja como suporte terico ou crtico cujas perspectivas fundamentam nossa leitura e interpretao. Outras obras, embora mais distantes de nosso trabalho,
oferecem um horizonte de contraste

podem ser teis na medida em que


terico, crtico ou criativo em rela-

o ao material que estamos estudando ou mostram um campo mais


abrangente, diante do qual o nosso material aparece como manifestao
particular que ganha sentido se for integrado a esse horizonte mais amplo.
importante lembrar, contudo,
pesquisas e a formao do pesquisador

que s a dinmica
podem determinar

cada leitura na economia geral do trabalho.

das leituras e
o estatuto de

De uma forma ou de outra,

necessrio que o estudioso esteja atento a esse aspecto e o demonstre


sua exposio.

em

Um ltimo lembrete: ao lermos uma obra, devemos observar se as


indicaes bibliogrficas que ela traz nos seriam teis. Em caso positivo,
seria bom consultar as respectivas obras, pois, independentemente
das
sugestes oferecidas pelo orientador sobre as pistas e caminhos a serem
seguidos, ser conveniente que o orientando
prios critrios de auto-orientao.

19

v desenvolvendo

seus pr-

Elementosde metodologia

Pesquisa e seleo dos dados


J fizemos referncia colheita dos dados durante a leitura de uma
obra. Aqui apenas sintetizaremos as idias apresentadas, alm de estendIas para outras fases da pesquisa e do trabalho de redao da dissertao
ou tese.
As leituras vo constituir

o nosso material de estudo

suportes tericos ou criticas no sentido em que apresentam

seja como; a)
categorias

de

validade geral; b) implicaes histricas, reunindo ou comparando tendncias e autores necessrios compreenso do tema ou aspecto em estudo;
c) o corpus, isto , os textos, a obra ou obras que constituiro o material a
ser analisado.
Alm desses itens formados por grupos de obras, podemos pensar
em outros critrios que organizem as informaes a partir de tpicos decorrentes dos objetivos da pesquisa: temtico, formal, lingstica, esttico,
esses aspectos podem no constituir a mathistrico etc.4 Naturalmente,
ria exclusiva desta ou daquela obra, mas cor responder a contedos parciais que o pesquisador
corpo de seu texto.

encontrar

em obras diferentes para combinar

no

Tais sugestes devem ser ajustadas a cada pesquisador e a cada


pesquisa, podendo sofrer modificaes no mbito de abrangncia de cada
item, bem como nas relaes que eles mantm com outros, conforme o
andamento das pesquisas assim o determine. importante notar que desde a escolha e a distribuio do material coletado com vistas a sua organizao, o conjunto vai-se constituindo como um sistema organizado e coerente. Vale dizer que essa fase, aparentemente preliminar, j se constitui
A noo de "leitura" pode ser estendida a aspectos da realidade: coisas, fatos, formas, falas ete., conforme a natureza e os objetivos do trabalho.
Ser tarefa do pesquisador encontrar formas de relacionamento entre esses conjuntos de informaes, de modo que um remeta ao outro.

21

Hoberto de Olivelro Brond60


Elementos de metodologlo

num valioso elemento para se ter uma idia das possibilidades


e do prprio amadurecimento
do pesquisador.
zes, o sucesso posterior da pesquisa.

da pesquisa

Dela depende,

muitas ve-

um tipo particular de personagem que possa ser postulado como cacterstico


da literatura moderna.
Os itens sugeridos acima podem, a critrio do pesquisador,

Consideradas
critrio aglutinador

vlidas as sugestes acima, cada item constituir em


de um ou vrios aspectos (obras, autores, temas, tra-

os formais, elementos tericos etc.) da pesquisa. Por exemplo, se vamos


analisar a personagem (ou personagens) de um romance moderno, podemos reunir aquelas informaes que:

a) apresentem

um quadro

histrico-crtico

relativo personagem

nos diferentes gneros (pico, trgico, lrico, contos, fbulas etc.);


ou em movimentos estticos (classicismo, romantismo, realismo
etc.); ou, ento, em perodos histricos,
(romance de cavalaria,
engajado etc.)j
b) apontem

elementos

de aventura,

construtivos

temticos
picaresco,

utilizados

ou formais
psicolgico,

para configurar

personagem em anlise, mostrando sua especificidade a partir


de aspectos como: os pontos de vista, os registros de linguagem, as
aes, as idias, os traos de personalidade,
funo

sua insero social, sua

no enredo etc.

c) reflitam sobre a personagem

no romance em estudo, comparan-

do-a com o quadro histrico apresentado no incio, aproximando-a ou afastando-a dos modelos historicamente estabelecidos a
partir de sua natureza,

seus tipos, suas relaes com o meio am-

biente e com os demais personagens


d) concluam

mostrando

es da personagem

etc.;

a relao entre as caractersticas


como tpicas da literatura

e as fun-

moderna.

bom ressaltar que tais indicaes precisam ser ajustadas (ampliadas, reduzidas ou modificadas) a cada pesquisa ou projeto, e que seus
itens devem manter uma relao de complementaridade,
no caso aludido
acima, por exemplo, partindo de uma reflexo sobre a personagem num
determinado

quadro de referncia histrico ou esttico, para se chegar a


22

ser dis-

tribudos, respectivamente, pelos captulos da dissertao ou tese. De qualquer maneira, ser importante fazer referncia na apresentao do trabalho, justificando-se a escolha.

23

Elementos de metodologia

Bases tericas e suas implicaes histrico-culturais

,
~

praxe na pesquisa acadmica que o trabalho de coleta e organizao dos dados relativos obra ou ao tema em estudo seja acompanhado
de comentrios e reflexes basicamente em dois nveis.
No primeiro, que em certos aspectos se confunde com o prprio
trabalho de coleta dos dados, compreende o levantamento das anlises j
existentes sobre o assunto, a partir das quais o pesquisador vai realizar
suas prprias reflexes. Em relao a esse referencial terico-crtico, devemos lembrar que ele deve ser o mais amplo possvel e pertinente ao assunto, respeitando-se as condies histricas, cientficas e culturais em que
foi produzido, isto , seus conceitos, seu vocabulrio tcnico, suas aplicaes especficas e as correlaes que esses elementos mantm com o quadro terico do mesmo perodo ou de outros perodos, especialmente no
caso em que o autor estudado faz um retrospecto crtico do tratamento
dispensado ao tema no passado.5
Nessa fase, pode-se dizer que o pesquisador mobiliza mais sua capacidade de compreenso e organizao das informaes disponveis sobre
determinado
assunto do que exerce sua prpria atividade reflexiva. A
escolha das bases tericas que sero utilizadas para a anlise do corpus,
especialmente quando este ainda no foi estudado, to importante quanto
a prpria atividade reflexiva sobre ele. Delas depende no apenas a possibilidade de insero do corpus numa cadeia terica, crtica ou histrica,
mas a prpria caracterizao das pesquisas e reflexes em curso como
originais e inovadoras.
Podemos imaginar trs situaes extremas: na primeira, teoria e carpas so retomados pelo pesquisador. Nesse caso. sua tarefa ser aprofundar e alargar as concluses
j obtidas. Na segunda, uma teoria aplicada a um carjJas ainda no estudado. Na
terceira, o estudo de um carpas nOvo exige a produo de bases tericas tambm
novas. Todo pesquisador dever ter conscincia do lugar ocupado por sua pesquisa
nessa escala, embora, na prtica, tais situaes sejam impensveis em estado puro.

25

Elementos de metodologia

Roberto de Oliveira Brando

Num segundo nvel de apropriao


riores, o pesquisador

das contribuies

tericas ante-

dever ajustar esse referencial sua prpria reflexo

e ao material de sua pesquisa. O ajuste pode ser realizado seja no sentido


de uma aplicao estrita dos conceitos alheios anlise de seu corpus seja
propondo-lhes modificaes ou retificaes de acordo com modelos tericos mais modernos ou mais adequados ao material em estudo.
Em ambos os nveis opera-se uma relao entre dois discursos e
duas construes tericas e crticas, da a necessidade de alguns cuidados
especiais em marcar os espaos de modo que se possa distinguir claramente o que pertence s bases tericas (idias, contexto histrico e cultural,
exemplos e objetos analisados etc.) daquilo que de responsabilidade do
pesquisador (seu prprio contexto histrico-cultural,
suas idias, exemplos, bem como o modo como incorpora, no seu discurso, as reflexes e os
discursos que o precederam.
Os modos de balizamento desses espaos entre o discurso das fontes e o do pesquisador vo desde o uso das aspas e indicao bibliogrfica
nas citaes de textos alheios (autor, obra, pgina etc.) at o ajuste das
formas de linguagem, como nas citaes e re!erncias,6 nos comentrios, nas
interpretaes ou nas posies polmicas frente ao referencial terico, critico ou criativo com que o pesquisador interage.
Devido extrema variedade dos modos possveis para indicar essa
interao, ser conveniente que, desde o incio de sua atividade, v o
pesquisador
processo.

observando

como outros pesquisadores

realizam o mesmo

A redao como sntese das atividades da


ps-graduao
Todas as atividades que formam o conjunto da ps-graduao: cursos, trabalhos dirigidos, pesquisas bibliogrficas ou de campo, reflexes e
leituras sistemticas, realizao de seminrios e entrevistas com o orientador etc., s se completam quando vo constituir adequadamente
o texto
final da dissertao (mestrado) ou da tese (doutorado) a serem defendidas
publicamente (cerimnia de defesa), de que participam, no primeiro caso,
dois examinadores (ou argidores) e o orientador, e, no segundo caso,
quatro examinadores e o orientado r.
Se cada uma dessas etapas anteriores
funo, metodologia,

ao texto concludo

tem sua

objetivos e limites prprios, na redao final que

elas entram em harmonia com o todo, atestando, assim, o desempenho


global do orientando, na medida em que d uma idia de sua experincia
no processo de sincronizao de tarefas aparentemente
to diferentes,
mas que se completam. Se uma dessas tarefas no for realizada a contento
(em extenso, aprofundamento,

adequao, linguagem crtica, fundamen-

tao terica, anlise do corpus etc.), todo o conjunto


cado.

pode ficar prejudi-

Deve-se considerar ainda que nem a dissertao de mestrado

nem a

tese de doutorado valem somente como produo de um saber que se


socializa (embora essa funo seja muito importante), mas tambm como
aprendizado e amadurecimento cientfico e humano do prprio pesquisador cuja experincia dever ser transmitida, posteriormente,
tanto em
suas atividades
Nas citaes, o ajuste operado pelo pesquisador ocorre fora do texto citado, com o
objetivo de criar um contexto de pensamento e de discurso nos quais se integrem as
citaes, que devem vir entre aspas. Nas referncias, o pesquisador pode.terferir
na
prpria formulao do texto e/ou pensamento referidos.

26

no magistrio e na orientao

quanto em suas comunicaes


congressos.

de novos ps-graduandos

cientficas em livros, revistas, seminrios

27

Elementos de metodologia

Linguagens e funes da redao

o termo

genrico "redao" aplicado dissertao ou tese precisa

ser discutido mais detalhadamente,


tendo em vista que, no texto final
elaborado pelo ps-graduando perpassam, ao mesmo tempo, vrias formas de linguagem que marcam seu relacionamento
com outros textos.
Embora seja muito difcil estabelecer um esquema rgido de modalidades
de linguagem tpicas do trabalho acadmico, podemos pensar o problema
de acordo com a funo que cada uma dessas modalidades exercem na!
organizao geral do texto.
Num plano mais geral, a linguagem da dissertao ou da tese constitui um processo que vai da constatao, contextualizao
e descrio
dos fatos a serem estudados (temas, estruturas, formas lingsticas etc.)
at sua anlise detalhada, implicando, neste estgio, os modelos tericos
que organizam os dados em unidades coerentes, e, por fim, suas concluses. Nesse sentido, podemos dizer que a linguagem do trabalho acadmico se caracteriza por:
Uma linguagem expositiva que "descreve, apresenta, d a conhecer" (Aurlio) alguma coisa, englobando os objetivos do trabalho, sua
abrangncia temporal elou geogrfica, seus fundamentos
corpus, temas ou processos construtivos a serem estudados
lembrar, contudo,

tericos, seu
etc. Devemos

que nem sempre a linguagem expositiva aparece isola-

da numa nica parte da dissertao ou tese, embora, pela sua prpria


funo, costume ocupar a introduo elou o primeiro captulo, bem como
sempre que um novo item introduzido.
Como forma de apresentao
o exige especialmente

de um tema ou problema,

a exposi-

uma linguagem objetiva, na medida em que serve

ao pesquisador para "expor" teorias, quadros histricos ou estticos, procedimentos lingsticas ou criativos etc., isto , aqueles elementos que ele
toma emprestados

de autores, obras, textos ou mesmo da realidade emp29

Elementos de metodologia

Roberto de Oliveira Brando

rica. Essa funo "objetiva" no impede, entretanto, que seja permeada


de elementos analticos, argumentativos ou crticos. Em verdade, a participao do pesquisador se concretiza - o que no pouco - desde a seleo do material, isto , quando faz os recortes tericos, criativos ou crticos incorporados em seu texto e no modo como distingue esses dados
"objetivos" das suas prprias interpretaes sobre eles. Embora, rigorosamente falando, no exista em estado "puro", podemos chamar de "objetiva" aquela linguagem que procura apreender os fatos ou outra linguagem
em seus prprios elementos constitutivos, independentes de interpretao do pesquisador e, "subjetiva", aquela linguagem que expressa reflexes pessoais, opinies ou propostas do pesquisador devidamente fundamentadas, e no confundidas com afirmaes que apenas denunciam
reaes afetivas de agrado ou desagrado.
Uma linguagem analtica capaz de "decompor [um todo] em suas
partes componentes" (Aurlio) encarregada de explicitar tanto os elementos de sentido ou formais que se encontram superfcie das expresses
como aqueles que esto implcitos e que revelam suas relaes e compromissos (conscientes ou no) com outros autores, textos, teorias, contextos
histricos ou culturais. A "objetividade" da linguagem analtica se manifesta especialmente na pertinncia lgica da relao estabelecida pelo pesquisador entre os diferentes elementos situados nos dois nveis acima referidos: o manifesto e o implcito. Nesse sentido, a linguagem analtica exige
no apenas uma aguda compreenso dos elementos manifestos, mas tambm um amplo conhecimento, repitamos, de "autores, textos, teorias, contextos histricos e culturais", com que, na abordagem do pesquisador,
aqueles elementos manifestos interagem.

Como dissemos em relao linguagem expositiva,

tambm a linguagem

analtica pode permear todas as partes da dissertao ou da tese, embora


no
deva se concentrar no estudo do corpus e do tema (compreendidos
ttulo do trabalho)

para os quais todas as outras partes convergem.

Uma linguagem

crtica

el

como "arte ou faculdade de examinar

ou julgar as obras do esprito"

(Aurlio) pela qual o estudioso,

aps

pesquisas e anlises exaustivas referentes a seu objeto de estudo, emite


suas prprias opinies e concluses sobre ele. Essas opinies podem manifestar-se nas formas de uma proposta analtica nova, a aplicao de teorias j existentes ou a formulao
tualizao

dos materiais estudados,

de outro patamar
a retificao

terico, a recontex-

das anlises anteriores

etc. pela linguagem crtica que o estudioso pode efetivamente


buir para o avano das idias em relao a determinado
apresentando

contri-

campo do saber,

reflexes originais, nascidas seja de novos enquadramentos

a partir dos elementos j conhecidos seja aprofundando ou ampliando os


referenciais de pesquisa para aspectos ou setores ainda no considerados.

Pode-se dizer que grande parte da contribuio original do pesquisador consiste exatamente na percepo de interaes pertinentes, mas
no detectadas antes dele. A esse respeito, podemos lembrar a classificao dos escritores proposta por Ezra Pound em: "inventores, mestres, diluidores, bons escritores sem qualidades salientes, beletristas e lanadores
de moda", conforme sua funo na produo e difuso da literatura.7
Ver: POUND, Ezra. Abc da literatura. Organizao e apresentao de Augusto de
Campos. Traduo de Augusto de Campos e Jos Paulo Paes. So Paulo, Cultrix,
1970, p. 42.

30

A expresso "obras do esprito" deve ser entendida em relao produo humana


enquanto o esprito mobiliza, em tudo que faz, todas as esferas da experincia: razo,
emoo, sentidos, fantasia etc.
31

Elementos de metodologlo

Perspectivas e vozes presentes no texto


Sob outro ngulo, devemos considerar que a dissertao ou a tese
representam, na verdade, o cruzamento de perspectivas e vozes distintas:
a do pesquisador, a do material em estudo, a da teoria ou teorias utilizadas para anlise, a de outros estudiosos que, em pocas, lugares e sob
interesses e motivaes diferentes, j trataram

do assunto. Ser importan-

te que essas vrias perspectivas e vozes sejam assinaladas para que no


percam suas determinaes prprias, embora estejam a servio do pesquisador, que as coordena e responde por sua pertinncia,
monia no contexto de sua pesquisa.

adequao

e har-

Vejamos algumas dessas perspectivas mais comuns do trabalho


dmico com suas respectivas funes:
A perspectiva

aca-

do pesquisador
transparece desde a escolha de seu
e anlises que faz sobre o material estudado,

corpus at os comentrios

ressaltando detalhes de sentido, de linguagem, da realidade emprica ou


do contexto histrico e cultural. Ela revela ainda as coordenadas tericas,
cientficas ou sociais com que enfoca os problemas
entre eles. Funcionando

e estabelece relaes

ao mesmo tempo como centro de deciso, orga-

nizador dos materiais e redator de sua dissertao ou tese, o pesquisador


responsvel pela harmonia, clareza, preciso e adequao dos conceitos,
sejam estes emprestados ou produzidos por ele.
A perspectiva

do material

em estudo se manifesta na tentativa

de

apresentao de seu contexto e significados de origem (perodo histrico,


motivaes de sua produo, autoria, relaes intertextuais, estado do
saber na poca de sua produo

etc.). Exige do pesquisador

esforo de

compreenso e, sobretudo, iseno de nimo e cultural para no impor


suas prprias idias e impresses nem as de sua poca como se fossem
inerentes aos fenmenos e problemas que analisa. No se esquea, contudo, que a tarefa de recuperao de objetos e contextos que se situam fora
33

Roberto de Oliveira Brando


Elementos de metodologia

do perodo em que vive e pensa o pesquisador no simples, pois tambm


a "percepo" e a "compreenso" de outros mundos essencialmente um
ato de "interpretao" e "construo" de significados e valores. Tal esforo de recuperao, entretanto, no pode impedir que o pesquisador tome
a liberdade de ajustar os materiais em estudo a sua prpria perspectiva e
aos seus valores, contanto que no os confunda nem leve o leitor a confundi-los, por inexperincia, interesses ou outros motivos. A distino
entre os dois contextos (o do objeto pesquisado e o do pesquisador) se
manifesta no apenas no teor das idias, dos conceitos e significados atribudos s idias, aos objetos e materiais de origem, mas especialmente no
aparato retrico que os representa, isto , nas formas da linguagem utilizada, no vocabulrio, no uso dos tempos e modos verbais etc., que marcam as distncias e as diferenas entre os pontos de vista.

Algumas observaes prticos e teis


Num plano mais metodolgico que conceitual, devemos lembrar
ainda dois aspectos da linguagem da dissertao ou da tese. O primeiro
diz respeito s citaes e referncias responsveis pela apresentao das bases tericas mobilizadas; o segundo linguagem crtica que, de certa forma,
ocupariam o espao tradicionalmente dedicado aos conceitos de corre .
o, clareza e adequao da linguagem.

A perspectiva da teoria utilizada se revela nos fundamentos, nos


valores, nos esquemas e no prprio vocabulrio que lhe especfico. Cada
sistema terico possui seus termos tcnicos que correspondem aos conceitos e s idias que lhe do sustentao. Do mesmo modo, os sistemas
tericos representam diferentes recortes do mundo emprico ou conceitual,
mantendo com eles uma solidariedade histrica, tica e esttica. A relao de compromisso existente entre conceitos e termos tcnicos exige do
estudoso muito cuidado quando trabalha com diferentes sistemas tericos. O uso inadequado ou sem explicao de um termo tcnico fora de
seu contexto de origem pode provocar confuso entre o texto que analisa
e o texto ou textos analisados. preciso lembrar mais uma vez que o
trabalho do pesquisador deve distinguir os diferentes elementos das teorias que utiliza, adequando-os sua prpria atividade reflexiva.
A perspectiva de outros estudiosos que j trataram do assunto se
manifesta seja na referncia a seus estudos seja na utilizao de seus conceitos ou textos para as anlises e reflexes do pesquisador. Tomando o
cuidado de sinalizar as peculiaridades (tendncia terica, contexto cultural e histrico etc.) que distinguem o pensamento de diferentes estudiosos, o pesquisador poder adapt-los sua prpria anlise e reflexo.

34

3S

Elementosde metodologlo

Citaes e referncias
Um dos traos mais caractersticos

do trabalho

acadmico

ca de fundamentao

das hipteses e anlises apresentadas

dor. Da a constante

relao entre suas propostas

a bus-

pelo pesquisa-

e as de outros autores

cujos textos (tericos ou criativos) servem para dar-lhe respaldo por serem
reconhecidos

e conceituados

dentro de suas respectivas reas. Funcionan-

do como argumentos de autoridade, as citaes (textos de outros autores


transcritos pelo pesquisador) e as referncias (aluses, comentrios, termos
tcnicos, obras, autores etc.) servem para indicar que uma reflexo, constatao ou anlise se situa num plano de validade mais ampla, conceitual,
criativa ou concernente
Considerando-se

a uma observao ou experincia emprica.


a necessria integrao do trabalho

individual

de

pesquisa no contexto do pensamento cientfico em determinada rea, as


citaes e referncias precisam, entretanto, passar por um processo de
ajuste conceitual e retrico.9 Isso se faz necessrio na medida em que todo
trabalho

de absoro e avano do saber implica sempre na realizao de

recortes e transposies de idias, enfoques tericos, fragmentos textuais


ou formas de expresso ou representao de um contexto histrico-cultural para outro, muitas vezes distante do primeiro. Desse modo, o pesquisador precisa, por exemplo, adaptar os modos e tempos verbais, as referncias a perodos histricos,
conceituais

a pessoas, locais ou a aspectos e enfoques

etc., para marcar a diferena entre sua formulao dos proble-

mas e a dos que o precederam ou lhe so contemporneos.


Poderamos
falar tambm em dilogo ou polmica entre um estado anterior (ou atual)

J tratados na nota 4. O ajuste conceptual e retrico possibilita que idias e textos

antigos se integrem, no discurso do pesquisador, ao presente de forma orgnica. A


noo de "anacronismo", por exemplo, resume-se ausncia de tal ajuste, caso em
que um pensamento ou um discurso so repetidos sem nenhuma modificao, parecendo desfocados em relao ao presente da leitura.

37

Elementos de metodologia

Roberto de Oliveira8rando

les ("a arte imita a natureza"), embora hoje se reconhea hoje


que sua formulao precisa ser discutida, ou em Horcio ("a arte
imita as obras modelares"), para ficar em dois casos apenas, o
estudioso, ao utilizar o conceito, precisa esclarecer a que concepo se refere, se aristotlica ou horaciana.lo

da produo intelectual ou artstica e aquela que levada a cabo pelo


pesquisador. Apenas para se ter uma idia do problema, vejamos alguns
casos dessa transposio do contexto retrico e conceitual de origem para
sua retomada posterior:
a) se um autor do sculo XIX, por exemplo, diz "hoje", a referncia
do pesquisador precisa mudar essa formulao para "naquele
tempo", "no sculo XIX", ou outras formas equivalentes.

i) se o pesquisador cita algum, deve indicar sua fonte, tendo o


cuidado de esclarecer se a citao feita a partir de uma fonte
intermediria, indicada (em nota ou no prprio texto) por "apud"
ou "segundo", ou ainda: "in" ou "em", seguidos da publicao de
onde o pesquisador transcreveu a citao. Tal distino serve
para mostrar se as citaes so diretas da obra analisada ou de
outro autor, que a citou antes.11

b) se um falante diz "eu", a referncia do pesquisador deve transformar (ou traduzir) esse pronome em primeira pessoa para "ele",
"o autor", "seu nome prprio", "a personagem" ou outra forma,
conforme parea mais adequada a quem faz a referncia.
c) se algum diz "aqui" (ou expresso equivalente), a reproduo
posterior operada no discurso do pesquisador deve transformar
tal referncia em "l" ou "nome do lugar" etc.
d) se um autor "a" fazuma formulao e, a partir dela, o pesquisador
"p" emite sua prpria opinio, a referncia do pesquisador deve
assumir, aproximadamente, a seguinte formulao: "Levando-se
em conta o que afirma 'a', podemos dizer (ou propor) que..."

Finalmente, no ser demais ressaltar que as citaes de outros


autores, bem como as referncias feitas a eles, no eximem quem escreve
de expor suas prprias idias, que mantero com aquelas uma relao de
afinidade, reformulao ou de recusa. Isso significa que as citaes e as referncias s sero pertinentes quando puderem contribuir para a reflexo
do pesquisador e, conseqentemente, ampliar a discusso relativa ao problema tratado.

e) se um autor "aI" se refere ao que diz outro autor "al" e, a partir


dessa referncia, emite suas prprias opinies (de "a I"), a interveno do pesquisador precisa assumir, aproximadamente, a
seguinte forma: 'aI', referindo-se ao conceito de..., proposto
por 'al', diz que ...; ou ento: "retomando o conceito de... , proposto por 'al', 'aI' afirma que ...".
f) se um autor "aI" se refere ao que diz outro autor "al", sem emitir sua prpria opinio (de "aI"), devemos dizer aproximadamente: "'aI' lembra que 'al' dizia que ...",
g) se um autor "a" do passado diz "afirmo que", a referncia do
pesquisador precisa ser modificada para" 'aI' afirmava que", ou
expresso equivalente.
h) se um autor utiliza determinado conceito que, posteriormente,
ou mesmo em sua poca, recebeu duas ou mais formulaes diferentes, por exemplo, no caso da noo de mimese em Aristte38

10

11

Observa-se, portanto, que o ajuste retrico e conceirual exige do pesquisador o domnio histrico referente aos conceitos de que trata.
Convm, sempre que possvel, que as citaes sejam feitas a partir do original (fonte
prmria).

39

Elementos de metodologio

Elementos de linguagem crtico


Com razes na retrica clssica, noes como correo, clareza e adequao da linguagem continuam

sendo preocupaes vlidas como instrumentos do pesquisador, especialmente se pensarmos, no propriamente


nas implicaes que tais conceitos tinham no pensamento tradicional,
comprometido com uma ortodoxia idiomtica, gramatical ou ideolgica,
mas enquanto elementos que conferem ao pensamento flexibilidade, preciso e capacidade de anlise dos fenmenos. Vejamos, em seg1l1ida, algu ns
aspectos mais comuns.

41

Elementos de metodologia

Normas gramaticais e coerncia do texto


Embora seja bvio, devemos relembrar que a linguagem do trabalho cientfico deve estar dentro dos padres normativos da lngua em que
escrito, exceo, claro, quando houver uma razo para no seguir tais
padres.

Do mesmo modo, necessrio que a exposio, na medida em

que representa o cruzamento ou o acmulo de informaes de natureza e


de fontes diversas, precisa passar por um trabalho de ordenao da frase,
dos perodos e do discurso como um todo. Vejamos algumas ocorrncias
bem conhecidas na prtica cotidiana de todo orientador. Elas podem servir de alerta, especialmente aos pesquisadores iniciantes.
a) o caso, por exemplo, das preposies requeridas pelos verbos
transitivos indiretos ("atender a", "gostar de" etc.) ou do uso, em
uma mesma frase, de dois verbos que pedem, respectivamente,
objetos direto e indireto,

o que exigiria: ou presena das duas

preposies, ou mudana da frase, de modo que se respeitasse a


especificidade de cada regncia verbal.
b) o caso das vrgulas, em especial nas frases intercaladas e nos
apostas. Quando muito freqente, a falta ou a colocao inadequada das vrgulas tendem a deixar o texto confuso e de difcil
compreenso.
c) o caso de frases ou perodos muito longos, com elementos intercalados que contribuem para que a ateno se disperse no
ato de leitura, impedindo a compreenso do pensamento expos-

to.
d) o caso de partes muito extensas que tratam de aspectos diversos e que ficariam mais compreensveis se fossem divididas em
partes menores, com ttulos e subttulos como meios de ordenar
e distinguir os vrios enfoques do tema ou do material em estu-

do.
43

Elementos de metodologio

Organizao dos captulos


Embora seja difcil dizer de quantas partes ou captulos deva compor-se uma dissertao de mestrado ou tese de doutorado, podemos, entretanto, esboar alguns parmetros que possam ajudar o orientando.
Pensemos, por exemplo, nas funes que cada parte (captulo) poderia ter
no conjunto de texto:

Introduo: embora no constitua geralmente


troduo

importante

para baliza r o trabalho,

um captulo, a inindicando seu tema, as

condies em que foi realizado, suas motivaes, abrangncia,

limites tem-

porais, temticos e tericos, indicaes sobre a prpria estruturao


dissertao ou tese etc.

da

Primeiro captulo: em geral contm uma exposio dos pressupostos tericos e crticos que serviro de base anlise dos textos, procurando-se comentar e/ou detalhar seus aspectos mais importantes, alm de
justific-Ios como adequados ao corpus escolhido. Obras utilizadas como
apoio terico podem ser referidas, citadas e analisadas, mostrando-se, com
isso, no apenas conhecimento do repertrio terico, mas tambm domnio no seu emprego na anlise de determinado corpus.
Segundo captulo: poder ser formado por uma exposio do corpus
(obra ou obras) do autor a ser estudado, situando-o histrica e esteticamente no perodo em que escreveu, no grupo e na tendncia esttica a
que pertence, o lugar ocupado pelo autor no grupo - se foi iniciador, mais
importante

do grupo, to importante

quanto outros ou epgono etc. Essa

exposio dever ser mais abrangente possvel, mesmo que algumas das
produes do autor no constituam o objeto central da anlise. Tais informaes resultaro, naturalmente,
no apenas das pesquisas realizadas pelo estudioso, mas tambm da fortuna crtica do autor ou da obra,
isto , das opinies emitidas pela crtica, que o pesquisador dever integrar adequadamente
em seu prprio discurso, concordando
ou polemi45

Roberto de Oliveira Brando

zando com elas, sem esquecer de indicar as razes para uma ou outra
posio.
Terceiro captulo: estudo detalhado do aspecto central da proposta de dissertao ou de tese, fazendo confluir a descrio dos procedimentos criativos e dos temas bem como sua anlise minuciosa a partir da(s)
perspectiva(s) terica(s) escolhida(s). Ressalte-se que a relao entre o
material estudado e as teorias que fornecem os esquemas e critrios de
anlise precisa passar pelo crivo pessoal do pesquisador, que ser responsvel pela sua adequao e pertinncia. Cuidado especial dever ser tomadu para que no se confunda "anlise" com "parfrase" referentes aos
textos do corpus. Embora esta ltima seja til, e muitas vezes necessria
para marcar um aspecto da obra em estudo, s a anlise poder dar conta
das relaes entre o texto criativo e o substrato terico ou crtico que
"explicam" o funcionamento de sua estrutura.
Concluso: lugar onde o pesquisador emitir suas opinies sobre
a(s) obra(s) analisada(s), a partir dos elementos apresentados nas partes
anteriores, estabelecendo relaes e acrescentando aspectos apenas aludidos antes ou pouco explorados, mas que o pesquisador julga necessrios
compreenso das obras e da anlise feita.
Essas indicaes sobre a distribuio das partes da dissertao ou
da tese tm apenas a finalidade de oferecer uma idia de como organizar
os vrios aspectos do tema, mas pode apresentar outras configuraes
(tanto no nmero dos captulos quanto nos elementos que o compem),
de acordo com as opes pessoais do pesquisador. Ser sempre necessrio,
entretanto, que haja uma relao harmoniosa entre as diversas partes,
para que nem a obra analisada seja mero pretexto para a exposio da
teoria nem esta funcione como camisa de fora impedindo a compreenso
dos aspectos originais e complexos da obra.

Ficha Tcnica

Divulgao

Humanitas

Livraria

Mancha

11,5 x [9 cm

Formato

[6 x 22 cm

Tipologia
Papel

Goudy

Old Style

Off-set 75 g/m2
e verg diamante

Montagem
Impresso e acabamento

Charles

Tiragem

46

(miolo)
180 g/m2 (capa)

de Oliveira/Marcelo

Grfica FFLCH/USP

Nmero de jJginas 48
500

- FFLCH/USP

Domingues

Você também pode gostar