O Espelho Do Mundo: Juquery, A História de Um Asilo.

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CUNHA, Maria Clementina Pereira.

O Espelho do Mundo: Juquery, a Histria de um Asilo.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. 217 p.
Lidiane lvares Mendes1*
As pesquisas realizadas em torno da loucura, de suas prticas e representaes, tomam flego,
a partir da nova historiografia que sob a luz da Escola dos Analles, abrem o campo histrico
para novos sujeitos. Neste contexto, Maria Clementina Cunha Pereira, em sua obra O Espelho
do Mundo: Juquery, a Histria de um Asilo, vem estrategicamente compor atravs das fontes
documentais fotografias, pronturios mdicos, relatrios, atas, cartas de ex-internos, leis e
decretos, alm de uma extensa bibliografia -

as prticas e representaes do asilo de

alienados, construdo em 1895 no municpio de Franco da Rocha em So Paulo, e literalmente


instalado para depositar loucos, que oriundos de vrios lugares e de diversos diagnsticos de
loucura, das doenas sociais ou dos preconceitos morais do perodo, eram internados no
Juquery.
As discusses realizadas por Cunha em O Espelho do Mundo foram realizadas de
forma sucinta descrevendo-nos de maneira detalhada todos os aspectos que cerceiam o
Juquery. Em suas consideraes sobre o espao fsico, desde suas paredes, aos cheiros ftidos,
dos eletrochoques, aos medicamentos, correntes, camisas de fora, rotundas, sua escrita,
revela-nos a relao de poder estabelecida entre mdico e paciente, de resistncia e
explorao. Sem meias verdades, a descrio realizada pela autora retrata de forma real e
cruel, a vida dentro do hospcio.
Atravs dos pronturios mdicos, Cunha, esmia de forma peculiar os gritos e
sussurros dos internos do Juquery, alm dos diagnsticos e formas de tratamento das
anamneses analisadas, a autora tambm estabelece uma linha tnue nos pedidos de pacientes
anexados a suas fichas, os gritos de clemncia, a lucidez verdadeira ou espordica, as
tentativas de fugas.
Em sua pesquisa, Cunha estabelece pontuadamente s concepes da medicina social,
da urbanidade, da engenharia sanitria, da arquitetura, da criminologia, das instituies
sociais, e, sobretudo, da psiquiatria que comea a ter caractersticas autnomas, e do cuidado
acrescido em cuidar no s da sade dos cidados, mas tambm da sade das cidades.
Ao analisar o Juquery, desde o ano de sua fundao em 1895, at o final da primeira
Repblica, Cunha estabelece cronologicamente o mesmo tempo usado por diversos
1 *Lidiane lvares Mendes, mestranda em Histria pela Universidade Federal do
Amazonas. UFAM. Bolsista pela Fundao de Amparo Pesquisa do Amazonas .
FAPEAM/AM

pesquisadores na construo e elaborao dentro do contexto histrico, social e urbanstico no


Brasil, perodo no qual o pas passa por transformaes que romperia com a imagem de pas
atrasado e passaria a ser visto, segundo as mentes republicanas como um pas desenvolvido,
capaz de acompanhar todos os avanos tecnolgicos advindos do Velho Mundo.
Cunha, levanta observaes importantes em relao as mulheres e homens internados
no Juquery, desde as transformaes ocorridas na fisionomia, no comportamento, nos
trabalhos de terapia como croch, pintura, marcenaria que eram desenvolvidos pelos internos,
nas estruturas familiares que se desestruturam, na medicao utilizada, na loucura moral e
social que deforma as mentes e corpos
Assim como todos os hospcios contemporneos ao Juquery, sua institucionalizao
no foi diferente dos demais, construdos para salvaguardar os vesnicos e proporcionar-lhes
tratamento e espao fsico adequado, isso em sua essncia, porm as pesquisas realizadas
mostram-nos que as teorias de saneamento do espao pblico, da eugenia, da segregao e
faxina, foram implantadas para elite intelectual, da medicina social.
O trabalho de Clementina, em seu grau de relevncia contribui de forma ampla para os
pesquisadores da histria da sade e da doena, da urbanidade, do gnero, acrescentando de
maneira concisa as discurses e abordagens do contexto histrico, sobre as experincias e
representaes acerca da construo da loucura.

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