Terapia de Grupo

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FARAH, Ana Beatriz Azevedo Psicoterapia de grupo: reflexes sobre as mudanas no

contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

ARTIGO

Psicoterapia de grupo: reflexes sobre as mudanas no


contato entre os membros do grupo durante o processo
teraputico.

Group psychotherapy: reflections about changes in the relationships


between members of the group during therapy

Ana Beatriz Azevedo Farah


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Revista IGT na Rede, v.6, n. 11, 2009, Pgina 302 de 328


Disponvel em http://www.igt.psc.br/ojs/ ISSN 1807 - 2526

FARAH, Ana Beatriz Azevedo Psicoterapia de grupo: reflexes sobre as mudanas no


contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

RESUMO
Este trabalho consiste na reviso bibliogrfica acerca do atendimento de grupo
e as relaes estabelecidas entre os seus membros. Visando este objetivo, a
pesquisa foi estruturada de maneira a explorar, primeiro, o conceito de grupo e
suas diversas leituras atravs das lentes da Teoria de Campo, da Teoria
Organsmica e da Fenomenologia, enfocando os pontos nas quais essas
teorias aproximam-se dos pressupostos da abordagem da Gestalt-Terapia. Em
um segundo momento, a proposta foi revisar como um indivduo estabelece
relaes com outras pessoas e com o meio em que vive, e os mecanismos que
pode desenvolver. A partir da, foi visto como os membros de um grupo
teraputico interagem entre si e as mudanas que acontecem nessas relaes,
que possibilitam o trabalho teraputico em grupo. Em seqncia,
apresentado um relato de atendimento de grupo, com a finalidade de expor
como na prtica possvel observar algumas mudanas nos relacionamentos
entre os membros do grupo, com o passar do tempo. Esse estudo visa uma
reflexo sobre o atendimento em grupo e alguns dos benefcios que o cliente
pode ter a partir dessa modalidade de atendimento.
Palavra-chave: Contato; Gestalt-Terapia; Psicoterapia de Grupo.

ABSTRACT
This work consists on a biography review of group psychotherapy and the
relations established between the members. With this in mind, the research was
structured in a way to explore, at first, the concept of group and the various
readings, throw the eyes of Field Theory, Organismic Theory and
Phenomenology, focusing the on the point in which these theories approach the
perspective of Gestalt-Therapy. In a second moment, the purpose was to
review how an individual establishes relationships with other people and with
the world he lives in, as well as the mechanisms he can develop. From that
point on, it was seen how psychotherapy group members interact with each
other and the changes that occur in these relations that allows group therapy.
Later on, a report of a group psychotherapy is shown with the objective of
showing how, during the practice, it is possible to observe some changes in the
relationships between members of the group as time passes. This study tries to
lead to a reflection about group psychotherapy and the benefits that the client
can obtain with this modality of therapy.
Keywords: Contact: Gestalt-Therapy; Group Psychotherapy.

Revista IGT na Rede, v.6, n. 11, 2009, Pgina 303 de 328


Disponvel em http://www.igt.psc.br/ojs/ ISSN 1807 - 2526

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Introduo
O ser humano um ser social e est inserido em um grupo desde seu
nascimento: a famlia. Com o passar do tempo, vai sendo inserido em outros
grupos (a escola, a vizinhana, etc) nos quais vai convivendo e aprendendo,
formando seus conceitos, seus valores e construindo sua personalidade.
Nessas relaes, que a pessoa vai estabelecendo, ao longo de sua vida, ela
vai elaborando diferentes formas de colocar-se no mundo, de entrar em contato
com ela mesma e com outras pessoas. Contudo, no decorrer dos anos, a
criana, to espontnea e criativa, cede lugar a um adulto rgido, com maneiras
de relacionamentos engessados no qual a novidade parece no ter espao e
nem o encantamento da infncia. nesse cenrio que chega a maioria dos
clientes para atendimento. Muitos, por pr-conceito e/ou por falta de
conhecimento sobre a psicoterapia em grupo, optam pela terapia individual,
quando a primeira modalidade, pode ser at mais indicada em determinados
casos.
um fato, que o ser humano um ser social, que est inserido em um grupo
desde o seu nascimento at os seus ltimos suspiros. Sendo assim, se o
homem adoece, ele adoece em grupo, no contato com outras pessoas e nas
relaes, e ento, por que no utilizar essa modalidade de terapia como
curadora? Por que no fazer o caminho inverso que o levou a doena?
Se o homem encontra-se em um estado no-saudvel, originado nas relaes
com outras pessoas, ento, ser que se ele for capaz de estabelecer novas
maneiras, mais saudveis, de fazer contato, no ser esse um caminho do
restabelecimento da sade?
O grupo teraputico rene pessoas diferentes cada um com o seu jeito prprio
com seus potenciais e suas limitaes, facilidades e dificuldades. Pouco a
pouco, medida que o grupo vai acontecendo, as formas peculiares dos
membros de interagir com o mundo vo sendo reveladas.
Vale ressaltar que as devolues vo ocorrendo de forma progressiva durante
o andamento do grupo. Como a maioria dos relacionamentos, o grupo
teraputico inicia com um contato mais superficial que, com o passar do tempo,
vai se aprofundando e permitindo trocas mais freqentes e mais intensas.
Este estudo, desde sua introduo, visa refletir sobre a psicoterapia de grupo,
focando principalmente, algumas das propriedades desenvolvidas pelas
relaes estabelecidas entre os seus membros, que promovem o carter
teraputico a esse tipo de atendimento. O objetivo no de fornecer respostas
prontas e fechadas e sim poder pensar sobre ingredientes que temperam essa
modalidade de atendimento e como seus membros podem ser beneficiados.

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O primeiro captulo fala de algumas das diferentes formas de conceituar grupo,


baseando-se na teoria de campo, na teoria organsmica, na fenomenologia,
enfatizando os pontos em que essas teorias convergem com os pressupostos
da Gestalt-Terapia.
No captulo seguinte explorado como o ser humano estabelece contato com o
meio. Ele dividido em quatro partes: a primeira fala sobre o conceito de
awareness, a segunda sobre a definio de contato, a terceira sobre os
mecanismos neurticos e a quarta sobre o contato na psicoterapia de grupo.
O terceiro captulo trata-se da apresentao de um grupo atendido por mim em
co-terapia com Monica Aparecida de Oliveira Pinheiro, como parte prtica do
curso de Especializao em Psicologia Clnica Gestalt-Terapia (Indivduo,
Grupo e Famlia).
O ltimo captulo tem como objetivo apresentar as consideraes finais acerca
deste trabalho, mas no prope uma concluso dos temas tratados no mesmo
e sim uma reflexo sobre a psicoterapia de grupo.

Definindo grupo
A Gestalt-Terapia e Psicoterapia de grupo:
Por ser a Gestalt-Terapia uma abordagem que sofreu influncia
de diversas teorias, entre elas a teoria organsmica, a teoria de
campo, a fenomenologia e o existencialismo, busca diferentes
maneiras de definir o homem e o meio no qual ele est inserido.
A Gestalt-Terapia uma sntese coerente de vrias correntes
filosficas, metodolgicas e teraputicas, formando uma
verdadeira filosofia existencial, uma forma particular de conceber
as relaes do ser vivo com o mundo (FERRAZ, 2007, p.131).
A Gestalt-Terapia constitui-se em uma abordagem relacional, onde o contato
segundo Cardoso (2007a) matria-prima da relao humana (p. 20). Sendo
assim, a psicoterapia de grupo, bem sustentada por seus pressupostos e
vem sendo, cada vez mais, utilizada como instrumento por terapeutas que se
apiam teoricamente nessa abordagem.
Segundo Borris (2007), ela comeou com a proposta de terapia individual e s
posteriormente que estendeu seus conhecimentos para aplicao em grupos
e apresenta a importncia desse tipo de atendimento.
Sem dvida, o grupo como comunidades de aprendizagem
cooperativa no so uma panacia para todos os males.
Entretanto, so uma forma efetiva de atuao para psiclogos,
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educadores, psicoterapeutas e outros profissionais


comprometidos com a transformao social, a fim de facilitar a
essas comunidades humanas, os grupos, a conscientizao de
sua alienao e vitimao manipulao consumista e s
relaes de dominao. [...] O trabalho grupal exige toda nossa
ateno, afeto, dedicao, estudo e conhecimento acerca dos
seres humanos e dos fenmenos caractersticos aos grupos e
sua realidade scio-histrica concreta. (p.183)
O conceito de grupo parece ser um conceito bem simples de cara, mas quando
se comea a pesquisar v-se que bem mais complexo do que inicialmente
imagina-se. A seguir ser apresentado o conceito de grupo sob o espectro de
diferentes teorias.

Definio geral de grupo:


A definio de grupo, segundo o dicionrio e o senso comum : 1. Conjunto de
objetos que se vem duma vez ou se abrangem no mesmo lance de olhos. 2.
Reunio de coisas que formam um todo. 3. Reunio de pessoas. 4. Pequena
associao ou reunio de pessoas ligadas para um fim comum (FERREIRA,
1986a, p.871).
Outra definio que tambm conceitua grupo de maneira bem
ampla : Um grupo consiste de duas ou mais pessoas que
interagem e partilham objetivos comuns, possuem uma relao
estvel, so mais ou menos independentes e percebem que
fazem de fato parte de um grupo (RODRIGUES et al, 1999a,
p.371).
Entretanto, essas duas definies so bem simples e esto longe de conceituar
completamente o que um grupo. Existem vrios tipos de grupos e cada um
com caractersticas prprias, tornando-se necessrias definies mais
especficas.
A seguir, sero citados alguns tipos de grupos existentes, com a finalidade de
exemplificar as suas diferentes propriedades, e ater-se a definir mais
detalhadamente o grupo teraputico.
Definio de grupo teraputico.
A definio de grupo que se est enfocando nesse trabalho a de grupo
teraputico, apresentando suas semelhanas com os demais grupos, mas
principalmente focando as suas particularidades e diferentes vises a respeito
desse conceito.

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Ribeiro (1994a), descreve que um grupo teraputico deve transformar-se em


um grupo primrio, cuja definio a seguinte:
[...] um grupo de pessoas caracterizado por uma associao
ou cooperao face a face. Ele o resultado de um integrao
ntima e de certa fuso de individualidades em todo comum, de tal
modo que a meta e a finalidade do grupo so a vida em comum,
objetivos comuns e um sentido de pertencimento, com um
sentimento de simpatia e identidade.,( p. 33)
Rodrigues et al, (1999b) fala de um grupo psicolgico que tem uma atmosfera
prpria. Forma-se principalmente pela proximidade fsica e tambm pela
identidade de pontos de vista de seus constituintes e, medida que a interao
continua valores, objetivos, papis, normas etc vo se formando
progressivamente.

O grupo como campo:


Ribeiro (1994b) apresenta uma outra viso de grupo quando descreve o
mesmo como uma totalidade e como um campo de foras. Este conceito
proposto pela Teoria de Campo de Kurt Lewin, a qual diversos autores como
Ribeiro (1994c), Tellegen (1984) e Yontef (1998a) utilizam parte de seus
conceitos, como base, para descreverem o processo grupal.
Yontef (1998b), descreve o campo como holstico, e interativo, sendo
determinado pelas foras que nele esto presentes. Um campo determinado
fenomenologicamente e depende do que est sendo analisado. Ele possui o
tamanho e a dimenso determinados pelo investigador, podendo ser observado
no nvel das partculas subatmicas ou ser do tamanho do universo. O campo
que ser estudado relativo aos objetivos que se pretende conhecer.
O autor menciona que at esse conhecer do investigador relativo, uma vez
que o investigador vai observar atravs do seu olhar que est pautado nas
suas experincias, nas suas expectativas, na sua histria, nas suas
necessidades, entre outros fatores. Conhecer tambm um relacionamento
entre percebedor e percebido (YONTEF, 1998c, p. 186).
Assim, cada investigador vai observar nuances diferentes de um mesmo
objeto, focando o que mais lhe chama ateno, de acordo com as suas
motivaes pessoais. Um ponto de vista de um investigador no invalida o do
outro investigador, apenas representa que o mesmo objeto est sendo olhado
por espectros diferentes. Esse um ponto importante no trabalho de grupo,
preciso lembrar que o terapeuta um observador e por mais neutro que ele
tente ser, o campo por ele investigado e suas caractersticas, dependem
diretamente do seu olhar pessoal.
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Yontef (1998d), a partir do olhar da teoria de campo, descreve um campo como


uma teia sistemtica de relacionamentos, que est inserido em uma teia de
relacionamentos ainda maior. Um grupo teraputico est inserido em um
campo, com suas dimenses determinadas por um observador. Entretanto,
esse grupo teraputico pertence a sociedade que um campo maior do que
ele. Essa teia de relacionamentos organizada e integrada. H uma distino
entre o que pertence e o que est de fora.
H uma organizao dinmica j que a organizao est em constantes
transformaes, ora se desintegrando, ora buscando melhores formas.
O autor fala, tambm, de uma interligao entre os componentes do campo, j
que tudo que acontece dentro de um campo influenciado por ele da mesma
forma que todo o campo sofre influncia de tudo que acontece nele. uma
ao mtua onde as foras esto, constantemente, influenciando e sendo
influenciadas fazendo com que o campo esteja sempre sofrendo
transformaes e modificando-se.
Garcia-Roza (1972a) relata que Lewin divide essa mesma noo de
interligao entre os membros e que tanto o meio quanto os demais
participantes influenciam no comportamento dos membros do grupo.
A caracterstica essencial de um grupo no , como na classe, a
semelhana entre seus membros, mas a interdependncia
dinmica entre eles. Dizer que a essncia de um grupo a
interdependncia dinmica entre seus membros, significa que ele
concebido como um todo dinmico, e que qualquer mudana
ocorrida em uma de suas subpartes modifica o estado de todas as
outras subpartes (p.62).
Para Yontef (1998e) o campo e todos os seus membros possuem uma ligao
tal que a existncia de cada um deles inerente a existncia do outro, um no
existe sem o outro. O indivduo definido em um determinado instante dentro
do campo. O indivduo definido, num dado momento, apenas pelo campo do
qual faz parte, e o campo s pode ser definido pela experincia, ou do ponto de
vista de algum. (p.190)
Para o autor, tudo que acontece dentro de um campo est sendo influenciado
por ele como um todo. A mudana de um paciente em terapia de grupo no
poderia ser diferente e para ele resultado de uma soma de fatores que esto
presentes no campo teraputico, como a interao entre os membros do grupo,
incluindo os terapeutas, a relao dos terapeutas entre si, entre outros.

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Grupo pela lente da fenomenologia.


A definio, encontrada no dicionrio Aurlio, de fenomenologia :
Estudo descritivo de um fenmeno ou de um conjunto de
fenmenos em que estes se definem quer por oposio s leis
abstratas e fixas que os ordenam, quer realidade de que seriam
a manifestao. 2. Sistema de Edmund Husserl, filsofo alemo
(1859-1938), e de seus seguidores, caracterizado principalmente
pela abordagem dos problemas filosficos segundo um mtodo
que busca a volta s coisas mesmas, numa tentativa de
reencontrar a verdade nos dados originrios da experincia
(FERREIRA, 1986b, p.769).
possvel definir fenomenologia tambm como:
Fenomenologia uma busca de entendimento, baseada no que
bvio ou revelado pela situao, e no na interpretao do
observador. Os fenomenlogos referem-se a isto como dado. A
fenomenologia trabalha entrando experiencialmente na situao e
permitindo que a awareness sensorial descubra o que
bvio/dado. Isso exige disciplina, especialmente perceber o que
presente, o que , sem excluir nenhum dado a priori (YONTEF,
1998f, p. 218).
A partir dessas definies possvel dizer que a proposta da fenomenologia
encontrar a essncia do fenmeno, elucidando o que de fato est acontecendo.
A idia central da fenomenologia husserliana a de que existe
uma intuio de essncias, mas que estas so inseparveis do
fenmeno ou dos fatos. A passagem do fato essncia se
efetuar graas a um processo de reduo (epoch) que
consiste em libertar o sujeito de suas limitaes naturais. Para
tanto, necessrio que o sujeito abandone sua atitude ingnua e
a substitua por uma atitude crtica visando a prpria conscincia e
os objetos que nela se revelam (GARCIA-ROZA, 1972b, p. 42).
Como foi mencionado anteriormente, Yontef (1998g) afirma que o olhar de um
investigador direcionado pelas suas motivaes internas. Ribeiro (1985)
concorda com esse ponto de vista quando descreve que um objeto sempre
um objeto para uma conscincia, sendo sempre um objeto a partir da
referncia de um observador. , justamente por essa interferncia externa do
ponto de vista do observador, que a fenomenologia prope que o terapeuta
favorea que o cliente entre em contato com ele mesmo no momento presente
(aqui e agora), propiciando que ele torne-se mais aware, mais consciente de

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suas sensaes e sentimentos e que o prprio cliente possa ser observador de


si mesmo.
Nesse processo de autoconhecimento, de olhar para si mesmo que o cliente
pode vir a conhecer a sua prpria essncia, as suas sensaes de maneira
mais genuna e com clareza das interferncias externas. Cada ser humano
nico e dessa forma, cada um experimenta o mundo de maneira prpria e
singular. Dessa maneira, o melhor observador de cada um si mesmo, pois s
o prprio indivduo quem vai poder saber ao certo o que experimentou, e
assim, pode descrever atravs da fala ou expresso corporal, o que sentiu.
Para Cardoso (2007b) apud Fairfield (2004), no grupo, a observao de todos
vlida, no havendo uma melhor do que a outra, havendo tantas perspectivas
vlidas quanto o nmero de participantes do mesmo.
Essa concepo de grupo prioriza a dimenso processual, que
compreende o grupo como um fenmeno em constante
transformao, a partir das relaes estabelecidas entre seus
membros e entre o prprio grupo e o contexto no qual ele ocorre.
[...] Da mesma forma, as vivncias e os processos internos de
cada participante transformam a realidade do grupo como um
todo (p.22).

Grupo como Organismo


Uma outra teoria que usada para a compreenso dos grupos a Teoria
Organsmica de Kurt Goldstein. A idia central da obra de Goldstein que o
organismo deve ser tratado como um todo e no como uma soma de partes e
que o organismo deve ser visto como algo que age como um todo (RIBEIRO,
1994d, p.71).
Essa colocao diz respeito ao organismo ser um todo integrado e que
qualquer mudana em uma das suas partes, gera, necessariamente, alterao
nas demais. Essa idia bem prxima ao que foi dito em relao a teoria de
campo. Em ambas teorias, o grupo visto como um todo, onde suas partes
esto interligadas e relacionadas de tal maneira que uma pequena modificao
feita em qualquer parte, gerar interferncia nas demais.
RODRIGUES (2000), exemplifica esta viso de totalidade atravs da unidade
mente-corpo. Diversas pessoas que apresentam um sintoma em um
determinado rgo, apresentam um discurso como se apenas esse rgo
estivesse adoecido e ainda como se ele estivesse fora do seu prprio corpo.
Eu? Eu estou bem! Meus rins que esto mal (p.79).

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Esse exemplo mostra bem essa viso separada que muitas pessoas costumam
apresentar, esquecendo que os rins fazem parte do seu corpo, de uma
unidade maior e que se eles no esto funcionando bem, sinal de que o
organismo est debilitado.
Um outro exemplo que pode ajudar a clarificar ainda mais a idia de totalidade
a de um conjunto de engrenagens funcionando juntas. Caso uma dessas
engrenagens comece a no ter um encaixe perfeito, todo o conjunto ter o seu
trabalho comprometido. Da mesma maneira, que se mudar a velocidade de
apenas uma engrenagem de um conjunto que est funcionando de forma
harmoniosa, para que essa harmonia continue, faz-se necessria a mudana
de velocidade de todas as demais engrenagens.
Segundo Ribeiro (1994e) apud Goldstein o organismo possui uma sabedoria
prpria e sua tendncia auto-regular-se se baseando em dois princpios
bsicos: Goldstein afirma que o organismo se organiza em funo de dois
princpios bsicos, o de satisfazer suas necessidades por falta e o de crescer,
buscando sua nutrio de uma maneira organizada interna e externamente (p.
72).
O organismo motivado pelo seu impulso de auto-regulao e s ele capaz
de saber quais so suas reais necessidades e qual a melhor forma de
satisfazer-se. Essa caracterstica chamada de sabedoria organsmica e de
fundamental importncia para a organizao do organismo enquanto sistema.
A doena surge quando o organismo no est em equilbrio, havendo uma
necessidade de auto-regular-se para restabelecer o equilbrio e
conseqentemente, o estado saudvel.
Ribeiro (1994f) compara o grupo a um organismo na seguinte colocao:
Transportando esse conceito para o grupo, diremos que, sendo o grupo um
corpo, tambm ele deve ser visto como um todo, como algo que age como um
todo e deve ser tratado como um todo (p.71).
Para o autor, por essa possibilidade de ver o grupo como um todo, possvel
trat-lo como um organismo, que apresenta as mesmas caractersticas de
qualquer outro organismo, como j foi mencionado acima. Pode-se dizer que o
grupo vai buscar sua totalidade e sua auto-regulao.
Neste primeiro captulo, foram apresentadas algumas teorias que abordam o
conceito de grupo, com a finalidade de expor olhares diferentes acerca deste.
No prximo captulo ser exposta a definio de contato e como ele
estabelecido entre os seres humanos.

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Entrando em contato
Foi apresentado, no captulo anterior, que o ser humano um ser social
estando inserido em diversos grupos alm da sociedade, que abrange os
demais grupos. Dessa forma, o ser humano est, constantemente, fazendo
contato com outras pessoas, relacionando-se nos diversos meios em que
freqenta. Contudo, cada um possui uma maneira peculiar de fazer contato de
acordo com as suas caractersticas pessoais. Algumas pessoas apresentam
uma facilidade em se expor, em colocar seu ponto de vista, ao passo que
outras encontram maior dificuldade em dar sua opinio. No h uma maneira
certa ou errada de se relacionar, cada um apresenta um jeito nico e prprio de
colocar-se no meio.
Entretanto, h formas mais saudveis e outras menos saudveis de se fazer
contato com outras pessoas e com o ambiente.
Antes de continuar falando sobre contato, preciso falar de awareness e do
que este conceito vem a ser. Esses dois termos esto intimamente ligados e
muitos autores usam um para explicar o outro como, por exemplo, Perls,
Hefferline e Goodman (1997a) que dizem que o contato awareness da
novidade. Com o objetivo de tornar a leitura mais clara, feita a seguir, uma
breve apresentao do conceito de awareness.

O conceito de awareness
Esse termo vem da lngua inglesa derivada da palavra aware, cuja traduo
literal estar atento, vigilante, consciente. Entretanto, a palavra awareness
no apresenta uma traduo literal, o que segundo Cardoso (2007c), foi a
razo pela qual os tericos mantiveram o termo em ingls. Na literatura da
Gestalt-Terapia encontram-se diferentes maneiras de explicar este conceito,
entretanto, apenas duas formas foram selecionadas para serem apresentadas
nesse trabalho, j que a proposta no esgotar as possveis maneiras de
definir este conceito e sim expor para o leitor do que se trata este conceito.
Perls, Hefferline e Goodman (1997b) apresentam a seguinte definio para o
conceito de awareness:
A awareness caracteriza-se pelo contato, pelo sentir
(sensao/percepo), pelo excitamento e pela formao de
gestalten. [...] O contato, como tal, possvel sem awareness,
mas para a awareness o contato indispensvel. [...] o sentir
determina a natureza da awareness, quer ela seja distante (p.ex.,
acstica), prxima (p. ex., ttil) ou dentro da pele (proprioceptiva).
Na ltima expresso est includa a percepo de nossos sonhos
e pensamentos. Excitamento parece ser lingisticamente um bom
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termo: abrange a excitao fisiolgica assim como emoes


indiferenciadas. [...] A formao de gestalten sempre acompanha
a awareness. [...] A formao de gestalten completas e
abrangentes a condio da sade mental e do crescimento. S
a gestalt completada pode ser organizada como uma unidade
(reflexo) de funcionamento automtico no organismo total. Toda
gestalt incompleta representa uma situao inacabada que
clama por ateno e interfere na formao de qualquer gestalt
nova, vital. Em vez de crescimento e desenvolvimento,
encontramos estagnao e regresso (p. 33).
J Yontef (1998h) conceitua awareness: de maneira diferente, apesar de
haver alguns pontos de convergncia com a definio descrita acima. O autor
define awareness como:
Awareness uma forma de experienciar. o processo de estar
em contato vigilante com o evento mais importante do campo
indivduo/ ambiente, com total apoio sensrio-motor, emocional,
cognitivo e energtico. Um continuum e sem interrupo de
awareness leva a uma Ah!, a uma percepo imediata da unidade
bvia de elementos dspares no campo. A awareness sempre
acompanhada de formao de gestalt. Totalidades significativas
novas so criadas por contato de aware. A awareness , em si, a
integrao de um problema (p.215).
O autor fala, ainda, que a awareness pode ser incompleta e que possui trs
corolrios referentes a awareness no contexto da pessoa inteira, no seu
espao em que vive.
Os trs corolrios so:
Corolrio um: A awareness eficaz apenas quando
fundamentada e energizada pela necessidade atual dominante do
organismo. [...]
Corolrio dois: A awareness no est completa sem conhecer
diretamente a realidade da situao, e como se est na situao.
[...]
Corolrio trs: A awareness sempre aqui-e-agora e est sempre
mudando, evoluindo e se transcendendo (YONTEF, 1998i,p. 216217).
Awareness um dar-se conta em nveis mais complexos e sutis do que
meramente trazer algo conscincia. justamente, por essa complexidade do
conceito awareness, que possvel encontrar diversas formas de interpretlo, alm de entend-lo na sua essncia. Com isso, uma definio muito
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resumida do conceito em questo se dar conta, trazer para a conscincia,


entretanto, ao definir awareness dessa forma, deixa-se de lado as nuances
sutis que so inerentes ao conceito.

Retomando o conceito de contato.


Antes de conceituar awareness, o texto acima traz como o ser humano um
ser social e que est em contato quase que constante com outras pessoas. Foi
necessrio, definir awareness para facilitar o entendimento sobre o conceito
de contato.
Perls, Hefferline e Goodman (1997c), conceituam contato da seguinte maneira:
Primordialmente, o contato awareness da novidade assimilvel e
comportamento com relao a esta; e rejeio da novidade inassimilvel(p.
44).
Entretanto, para Polster (2001a), o contato a funo responsvel pela
necessidade de unio e separao e o ser humano oscila entre o equilbrio
dessas duas necessidades.
H duas possibilidades, pode-se permitir o contato ou pode-se diminuir a
capacidade de contato, o que pode levar uma pessoa solido. O contato se
faz na diferena. Trata-se da negociao entre duas partes diferentes que se
fundem para posteriormente se transformar (SILVEIRA, 2007a, p.59).
Polster (2001b) acrescenta a essa idia que todo contato gera mudana, que
independe da vontade da pessoa, ela simplesmente acontece. Perls, Hefferline
e Goodman (1997d) confirmam ao afirmar que todo contato criativo e
dinmico j que tem que enfrentar o novo, pois s esse nutritivo. Entretanto,
esse novo precisar ser assimilado fazendo com que o organismo e o ambiente
precisem se ajustar criativamente. Os autores afirmam: Bem, o que
selecionado e assimilado sempre o novo; o organismo persiste pela
assimilao do novo, pela mudana e crescimento (p.44).
Todo contato ajustamento criativo do organismo e ambiente.
[...] Contato, o trabalho que resulta em assimilao e crescimento
a formao de uma figura de interesse contra um fundo ou
contexto do campo organismo / ambiente. (PERLS,
HEFFERLINE E GOODMAN, 1997e, p. 45).
Segundo Polster (2001c), todo ser humano precisa de um espao psicolgico,
no qual ele est no comando, podendo convidar determinadas pessoas a
entrarem nesse espao, caso seja do seu interesse. Contudo, esse espao
deve ser respeitado, e uma pessoa no deve entrar sem ser autorizada.
Quando, algum faz contato com outra pessoa, este est arriscando sua
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

existncia independente, entretanto, s no contato que a percepo das


identidades pode desenvolver-se plenamente. O contato envolve
inerentemente o risco da perda da identidade ou da separao (p. 116).
Para Polster (2001d), outra caracterstica do ser humano de fazer contato a
possibilidade de entrar em contato com ele mesmo, assumindo o posto de
observador e observado. Essa caracterstica pode ser usada para um autoquestionamento, que pode gerar mudanas e conseqentemente, crescimento.
O contato sempre ocorre num limite denominado fronteira de contato. A
fronteira une e separa tornado-se mais ou menos permevel, e, dessa forma,
favorece, dificulta ou impede o contato (SILVEIRA, 2007b, p.59).
Cada indivduo possui uma fronteira, que , justamente, o que o separa do
outro. Essa fronteira apresenta uma seletividade, que interfere nas escolhas
que o indivduo faz, o que resulta em determinar com o que e com quem ele
relaciona-se ou no. O modo como uma pessoa bloqueia ou permite a
awareness e a ao na fronteira de contato a forma de manter o senso de
seus prprios limites seguros (POLSTER, 2001e, p. 122).
A fronteira do eu possui uma flexibilidade, que prpria de cada um. Essa
fronteira e sua flexibilidade sofrem transformaes constantes conforme as
experincias da pessoa no decorrer da vida. Algumas pessoas apresentam
grandes mudanas durante a sua vida, e j outras apresentam uma fronteira
mais rgida, por medo do que pode experimentar e no dar conta das
sensaes que podem surgir.
Existem algumas pessoas que incentivam os outros a explorar
sua novidade e a interagir com elas, e desse modo essas pessoas
crescem. Existem outras que permanecem fechadas, permitindo
apenas um contato mnimo nas fronteiras do eu, mantendo a
separao e no permitindo o crescimento (POLSTER, 2001f,
p.127).
Perls, Hefferline e Goodman (1997f), falam que o contato um todo processual
e apontam quatro fases principais no processo de contato que so bem
apresentadas por Silveira (2007c):
[...] pr-contato fase na qual a sensao corporal torna-se figura;
contato (na qual se destaca a ao do organismo no ambiente);
contato final (momento em que a troca ocorre pela flexibilizao
ou perda temporria das fronteiras); e ps-contato (fase da
assimilao do novo, a qual favorece o crescimento) (p. 59-60).
Assim, fazer contato uma arte de experimentar o novo, desde o despertar da
curiosidade at a absoro e assimilao deste, gerado pelo encontro com o
outro.
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Entretanto, nem sempre o indivduo capaz de realizar esse contato genuno,


por diversas razes, como por exemplo, a realidade ser difcil de enfrentar e o
indivduo optar por no encar-la.

Mecanismos Neurticos
Segundo Perls (1988a), cada homem nasce com um senso de equilbrio, de
auto-regulao e procura, dentro do possvel, satisfazer suas necessidades
para que este equilbrio mantenha-se constantemente. Contudo, quando o
indivduo no capaz de distinguir quais so as suas reais necessidades e
nem quais so as necessidades do meio, na busca de seu equilbrio, acaba
permitindo que a sociedade influencie-o mais e mais nas suas decises, e esse
indivduo, o autor chama de neurtico.
Todos os distrbios neurticos surgem da incapacidade do
indivduo encontrar e manter o equilbrio adequado entre ele e o
resto do mundo e todos tm em comum o fato de que na neurose
o social e os limites do meio sejam sentidos como se estendendo
demais sobre o indivduo (p.45).
Para Perls, Hefferline e Goodman (1997g), os comportamentos neurticos so
ajustamentos criativos de um campo onde h represso (p. 248).
Perls (1988b) fala de quatro mecanismos neurticos que apesar de serem
diferentes uns dos outros, atuam em conjunto. So eles: introjeo, projeo,
confluncia e retroflexo. Outros autores, como por exemplo Polster (2001g),
tambm falam desses mecanismos.
A introjeo ocorre quando a pessoa recebe a novidade e a absorve por inteira,
sem questionar, sem criticar, sem processar o que est sendo incorporado. A
pessoa fica com uma idia pronta que veio do meio, no investindo energia na
sua transformao. O indivduo tende a fazer-se responsvel pelo que no
dele e sim do meio.
A introjeo, pois o mecanismo neurtico pelo qual
incorporamos em ns mesmos normas, atitudes, modos de agir e
pensar, que no so verdadeiramente nossos. Na introjeo
colocamos a barreira entre ns e o resto do mundo to dentro de
ns mesmos que pouco sobra de ns (PERLS, 1988c, p.48).
A projeo o contrrio da introjeo. A pessoa coloca o que de fato seu
como se fosse de responsabilidade do meio. A barreira entre a pessoa e o
meio, fica, exageradamente, ao seu favor, sendo possvel, negar todas as
caractersticas que desagradam. A projeo pode acontecer, tambm, com
partes do prprio indivduo e com os seus prprios impulsos, medida, que o
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

mesmo atribui a responsabilidade pelo que lhe acontece a uma existncia


objetiva fora de si, para no encarar que, na verdade, o nico responsvel.
Em vez de ser um participante ativo de sua prpria vida, aquele que projeta se
torna um objeto passivo, a vtima das circunstncias (PERLS, 1988d, p.50).
A confluncia quando no h barreira entre o indivduo e o meio, assim, o
mesmo no consegue discriminar aonde ele termina e onde comeam os
outros. Dessa forma, no pode fazer um bom contato nem com outras pessoas,
nem com ele mesmo.
Tambm, no consegue no se envolver com os outros. Na confluncia, h
uma dificuldade de aceitar as diferenas, pois se no h uma separao entre
o eu e o outro, no h diferena entre o eu e o outro.
A retroflexo quando a pessoa faz a si mesma o que na verdade gostaria de
fazer a alguma coisa ou a algum. A energia, que deveria ser dirigida para o
meio, a fim de gerar uma mudana no meio e satisfazer sua necessidade, , na
verdade, dirigida para dentro. Isso no significa que todos os impulsos tenham
que ser satisfeitos, que no se possa refre-los, muito pelo contrrio, os
impulsos destrutivos, so exemplos de impulsos que devem, sim, ser
controlados, entretanto, no h necessidade de volt-los contra si mesmo.
Perls (1988e) faz um resumo bem interessante desses mecanismos:
O introjetivo faz como os outros gostariam que ele fizesse, o
projetivo faz aos outros aquilo que os acusa de lhe fazerem, o
homem em confluncia patolgica no sabe que est fazendo o
que a quem, e o retroflexor faz consigo o que gostaria de fazer
com os outros (p.54).
Polster (2001h) menciona mais um mecanismo neurtico, a deflexo, que
consiste em evitar o contato direto com outra pessoa, e para isso existem
vrias formas entre elas:
no olhar diretamente para a pessoa, fazer rodeios no indo
direto ao ponto, rir do que dito e falar demais, entre outros. A
deflexo pode ser til em algumas situaes, existem
determinadas situaes naturalmente quentes demais para se
lidar com elas, e das quais as pessoas precisam se afastar
(p.103).
H, na literatura da Gestalt-Terapia, outros mecanismos neurticos, entretanto,
os citados acima so os mais difundidos e por isso esses foram os escolhidos
para serem apresentados.

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Contato na psicoterapia de grupo


No incio de um grupo teraputico, geralmente, os membros no se conhecem,
o ambiente novo e todos se renem com o objetivo de cuidar de suas
questes. Entretanto, esse um objetivo um tanto quanto delicado e falar de
coisas ntimas e pessoais em um grupo, que mal se conhece pode ser difcil. A
exposio perigosa, quer seja aos elementos, ao desdm, ou s exigncias
dos outros (POLSTER, 2001i, p.134).
Por isso, compete ao terapeuta deixar bem clara a importncia de manter
confidencial tudo que exposto no grupo, que os membros no devem
comentar nada a respeito com pessoas de fora do grupo, com a finalidade de
preservar a identidade dos demais participantes e suas histrias.
Segundo Yalom (2006a), a necessidade de pertencer caracterstica do ser
humano e quando um grupo inicia-se o que est em jogo o compartilhamento
afetivo do mundo interior de cada um e a aceitao dos outros membros do
grupo.
O fato de ser aceito pelos outros desafia a crena do paciente de
que ele basicamente repugnante, inaceitvel e detestvel. [...] O
grupo aceitar um indivduo desde que ele siga as regras de
procedimento do grupo, independentemente de experincias de
vida, transgresses ou fracassos sociais passados (p. 63).
Ribeiro (1994g) concorda com a idia de que o grupo acolhe quem quer que
seja, independente de suas vivncias.
O grupo aceita e respeita a dor, a confuso, o medo do outro.
Ainda quando o grupo parea ser desrespeitoso da intimidade e
do movimento prprio do outro, ainda aqui no quer destruir, mas
criar atmosfera de clareza, onde adjetivos no sejam necessrios
para adoar o ambiente (p. 169).
Polster (2001j) fala desse acolhimento, que o grupo pode oferecer em um
momento de descobrimento de novas formas de agir.
Uma pessoa tmida pressionada pelos outros a mover-se e
abraar algum pode sem dvida estar entrando numa nova
disposio para experienciar a intimidade. Ao mesmo tempo,
entretanto, ele pode apenas estar jogando um novo jogo,
parcialmente sem jeito, parcialmente tmido, parcialmente
intimidado, sentindo-se ridculo e suspendendo por certo tempo
sua integridade pessoal. Alguma disposio para aceitar os
momentos inautnticos e desajeitados indispensvel para o
crescimento. Algumas vezes este um dos maiores presentes
que os outros membros do grupo podem oferecer a algum que
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

est dando os passos iniciais na direo que deseja seguir (p.


137).
Yalom (2006b) relata trs estgios que o grupo teraputico passa, mas o
prprio autor destaca, que a estruturao desses estgios um esquema til
dos desenvolvimentos dos grupos, apesar de no ser uma regra para todos os
grupos, uma vez que, trata-se de relacionamentos interpessoais, com variveis
imprevisveis.
O estgio inicial de orientao, participao hesitante, busca por significado e
dependncia. Neste estgio, os participantes mostram-se preocupados em
fazer parte do grupo, em serem aceitos e de envolverem-se com os demais
membros do grupo.
O segundo estgio o de conflito, dominao, rebeldia, no qual os membros
do grupo encontram-se preocupados com o status, com o controle e o poder
que exercem ou no dentro do grupo.
O terceiro estgio o de desenvolvimento da coeso, que diz respeito aos
membros do grupo buscarem transformar o grupo em uma unidade coesa.
Para o autor, a medida em que o grupo acontece, h uma significativa
mudana na comunicao entre os membros, que passam a falar de suas
experincias mais pessoais, afetivas e menos intelectuais. Tendem a ficar mais
no aqui-agora, oferecendo feedbacks mais construtivos, sendo o grupo mais
auto-dirigido e sendo menor a participao do terapeuta.
Entretanto, Harris (1998) discorda da idia de que os grupos desenvolvam-se
em uma seqncia determinada. O autor acredita na mudana dentro dos
grupos, porm, que esta ocorre de maneira imprevisvel e que no h uma
maneira certa ou errada delas ocorrerem. Cada um muda da sua maneira e,
para ele, um gestalt-terapeuta no deve se preocupar com as etapas de
desenvolvimento do grupo e sim, acompanhar as mudanas, conforme elas
forem ocorrendo e da forma que elas se apresentarem.
Segundo Harris (2002a), os membros chegam terapia como eles so, com
sua forma de colocar-se no mundo e a sua maneira de experimentar. Essas
caractersticas foram sendo aprendidas desde a infncia e durante toda a vida
e a pessoa passa a utiliz-las nas suas adaptaes. Entretanto, essas
adaptaes, em um dado momento, foram novidade, foram formas criativas
que a pessoa encontrou em uma determinada situao para se adaptar.
Contudo, na medida em que a pessoa utiliza a mesma forma de agir vrias e
vrias vezes, ao invs de buscar novas formas, ela vai cristalizando esse
comportamento.
O autor apresenta um exemplo de um msico, que em um determinado
momento, comps uma msica nova e comeou a toc-la vrias vezes. Ao
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

invs de buscar criar uma nova composio, o msico restringe-se a tocar uma
nica msica, que depois de ser tocada repetidamente, no mais original e
sim cpia da cpia.
O mesmo continua dizendo, que alguma insatisfao em suas vidas, que fez
os clientes procurarem terapia, e talvez, eles estejam cansados de tocar a
mesma msica. Entretanto, pela msica ser to familiar, eles podem no
perceber que eles so responsveis na sua criao. Assim, o que acontece
que muitas pessoas acabam no conseguindo enxergar as suas dificuldades
como suas e acabam atribuindo essa responsabilidade aos outros.
De acordo com Harris (2002b), quando uma pessoa entra em um grupo, ela
entra como um indivduo que escolhe, ativamente, em qual meio entra, e
depois tenta transform-lo no que ela realmente deseja. A forma de realizar
esta ao tem a ver com o que est em foco e que trazido para awareness
de cada um. A terapia de grupo tem como objetivo explorar a forma que cada
um se coloca no mundo, tornando-os mais conscientes de suas sensaes e
comportamentos momento a momento. Com isso, a pessoa assume a
responsabilidade de escolher o que ela quer ser e como quer reagir no grupo (e
no mundo) o que tende a gerar mudana de comportamento.
Retomando os mecanismos neurticos, apresentados anteriormente, cada um
chega no grupo com a sua forma de funcionar e de estar no mundo,
introjetando, projetando, confluindo, retrofletindo ou defletindo. Na terapia, o
objetivo fazer com que o cliente perceba esse seu funcionamento e que ele
possa encontrar uma melhor forma de interagir.
Na terapia temos, ento, que restabelecer a capacidade do neurtico de
discriminar. [...] Temos que ajud-lo a encontrar o prprio limite entre ele e o
resto do mundo (PERLS, 1988f, p. 56).
Na terapia, o cliente percebe que responsvel por suas escolhas, desde as
menores at as de maior proporo. Segundo Yalom (2006c) os membros do
grupo comeam a se dar conta de que so responsveis, tambm, pela coeso
do grupo e que possuem uma participao ativa na manuteno do mesmo.
Isso faz com que eles percebam, que no so meros co-participantes nos
relacionamentos que estabelecem, e sim participantes principais, sendo o
resultado de cada relacionamento diretamente ligado ao seu investimento, ou
no, no mesmo. Muitos dos membros, que chegam para a terapia de grupo,
apresentam um histrico grupal pobre, sendo que eles, dificilmente, sentem-se
valorizados em grupos aos quais pertencem e para eles s o fato de poderem
ter uma experincia de grupo bem sucedida, pode ser curativa.
O grupo a vida aqui e agora, na multiplicidade de laos que cria, na
complexidade de problemas de que trata, vive e experimenta. uma proposta

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

de como a vida ocorre e se oferece nossa compreenso (RIBEIRO, 1994h,


p. 168).

Experincia Prtica
Este captulo aborda a experincia prtica sobre o tema pesquisado e
desenvolvido nos captulos anteriores.
Fez-se necessrio abordar, anteriormente, como o homem por ser um ser
social vive em grupos, como ele estabelece contato com o meio em que vive e
com as pessoas de sua convivncia. Tambm, so expostas algumas teorias
que oferecem maneiras diferentes de ver e entender o conceito de grupo.
O interesse em redigir este trabalho surgiu aps atendimento de grupos no
Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar (IGT) e a curiosidade que
aflorou das observaes feitas durante os atendimentos. Apesar de ter
participado do atendimento a mais grupos, foi eleito apenas um para ser
exposto nesse presente trabalho.
Este grupo foi atendido por Ana Beatriz Azevedo Farah, em co-terapia com
Monica Aparecida de Oliveira Pinheiro, que tambm pertence Turma 3 de
Especializao em Psicologia Clnica Gestalt-Terapia (Indivduo, Grupo e
Famlia), como parte prtica do curso, e com a superviso de Mrcia Estarque
Pinheiro.
Foram realizadas cinqenta e duas sesses de uma hora e meia cada, durante
o perodo de Agosto de 2006 Outubro de 2007. O grupo ocorreu na sede do
prprio IGT.
O grupo era composto de trs membros, todas mulheres, na faixa etria dos
vinte aos trinta anos. Com a finalidade de preservar a identidade das mesmas e
por no apresentar relevncia para o presente trabalho, no ser revelado
nenhum dado pessoal das participantes e nem as queixas iniciais. Este
presente trabalho tem o objetivo de focar o processo que esse grupo viveu,
tornando-se fundo o contedo abordado.
Todas as trs participantes estavam fazendo terapia de grupo pela primeira
vez. No primeiro dia, todos se apresentaram, inclusive as terapeutas.
Apresentamos a proposta do grupo, cuidamos de revisar o contrato com as
regras do grupo e as normas do IGT, alm de tirarmos quaisquer dvidas, que
elas poderiam ter e que fosse do nosso conhecimento as respostas.
Fomos orientadas pela supervisora a deixar o contrato o mais claro possvel,
pois isso ajudaria no bom andamento do grupo.

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Ressaltamos a importncia de comparecer e no caso de falta, que pudessem


avisar, quando possvel, com antecedncia, para que ns pudssemos nos
reorganizar. Tambm falamos da importncia de se despedirem, caso algum
decidisse sair do grupo.
Essa despedida consistiria em ir a mais uma sesso para poder falar sobre o
motivo da sada, com a finalidade de esclarecer para todos a razo, alm de
oferecer a oportunidade de resolver assuntos pendentes, se fosse o caso.
Explicamos que o grupo teria durao de um ano, podendo ser renovado por
mais seis meses, depois de uma avaliao. Colocamos que esse perodo era o
tempo do nosso curso de Especializao, que estvamos atendendo o grupo
como a parte prtica do curso e que teramos superviso dos atendimentos.
Feito isso, comeamos os atendimentos. No incio, todos estavam se
conhecendo, at as terapeutas, que apesar de j estarem estudando juntas h
mais de um ano, era a primeira vez que estavam atendendo juntas,
adequando-se uma ao estilo da outra.
Durante os primeiros atendimentos, ainda quando o grupo estava se
adaptando, havia mais relatos das queixas e das questes que as levaram a
fazer terapia. As participantes comearam a apresentar-se com mais detalhes,
contando o seu dia a dia com mais informaes, relatando sobre o trabalho e
sobre os relacionamentos com as pessoas em geral, principalmente, com a
famlia. O que elas compartilhavam eram mais perguntas sobre o que estava
sendo relatado, quando algum no entendia ou quando queria saber mais
alguma informao que a participante no havia compartilhado.
Pouco a pouco, ns terapeutas fomos incentivando as trocas, medida que
perguntvamos para as outras duas o que as tocam sobre o relato da
companheira. Em um primeiro momento, como resposta, comumente, tnhamos
uma comparao com um fato de sua vida ou uma experincia sua ou de
algum prximo. Contudo, aps ouvir o que elas traziam como resposta,
voltvamos a pergunta inicial e pedamos para relatar o que elas estavam
sentindo, no momento presente, sobre o que a outra participante estava
trazendo e como as tocava. As primeiras vezes que fizemos esta colocao, os
membros do grupo expressaram-se com uma cara de surpresa e de espanto, e
em seguida perguntaram: Como assim? . Diante desse questionamento, ns
procuramos explicar o que estvamos perguntando, mas com o cuidado de no
influenciar na resposta.
Orientvamos para cada uma prestar ateno em como estava se sentindo
naquele momento, quais as sensaes que estavam presentes e que
pudessem dividir com o grupo o que havia observado. Entretanto, observamos
que solicitaes eram fora do comum, fora do dia a dia das participantes, que
elas no estavam acostumadas a prestarem ateno aos seus sentimentos e
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

sensaes e muito menos a falar sobre eles compartilhando-os com outras


pessoas.
Percebendo essa caracterstica, ns terapeutas, com auxlio da superviso,
optamos em realizar alguns experimentos e vivncias com a finalidade de
favorecer o aumento de percepo das sensaes, alm de ampliar a
conscientizao corporal. O grupo respondeu bem a esse tipo de atividade, o
que nos deixou mais a vontade de realizar outras semelhantes.
medida que o grupo andava, o que nos chamava ateno era a assiduidade
e a pontualidade das participantes, apesar do horrio do grupo, que conforme
j foi dito, era no primeiro horrio s segundas-feiras. Isso no significa que
no aconteceram faltas durante o perodo do grupo, mas as que ocorreram
foram em uma porcentagem baixa e, na maioria das vezes, por motivo de
sade. Esse foi um dado bastante importante para ns, pois era o dado mais
concreto do quanto as participantes estavam investindo na terapia, alm dos
progressos que eram visveis.
Com o passar do tempo, as devolues sobre o que estavam sentindo e
percebendo do que as outras estavam falando foram se tornando mais
freqentes e com mais qualidade. Isto , no incio do grupo, essas devolues
eram sucintas, breves e com o tempo foram tornando-se mais ricas e com mais
contedo. Nem sempre, uma concordava com a outra, mas era possvel um
dilogo sobre as diferentes opinies.
Em uma superviso ns terapeutas relatamos que o grupo estava indo muito
bem e que ns quase no precisvamos mais estar pedindo para que elas
devolvessem e falassem do que estavam percebendo, que esse movimento j
estavam acontecendo naturalmente, e que ns ficvamos mais observando do
que qualquer outra coisa. Foi um acontecimento bem interessante, j que o
grupo mostrava que estava sendo capaz de caminhar mais livremente, sem
tanta interferncia das terapeutas. Fizemos essa colocao para o grupo, do
quo diferente estava a qualidade das devolues e quanto ns no estvamos
precisando interferir tanto. Elas devolveram-nos que j estavam ntimas e que
estava mais fcil de se abrir no grupo. De fato, fomos percebendo que os
assuntos abordados no grupo estavam cada vez mais ntimos e pessoais.
Outro ponto que nos chamava ateno era o quanto o grupo acolhia-se bem,
como por exemplo, quando uma delas tinha necessidade de trazer algum tema
com mais profundidade, e com isso usava mais tempo do grupo do que as
demais, sempre houve um clima de compreenso, que naquele momento
aquela pessoa precisava de um tempo maior e essa necessidade era
respeitada por todos.
Existiam particularidades entre as participantes do grupo, no que diz respeito
aos contedos divididos. Uma delas tinha mais dificuldade de estar trazendo
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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

seus temas, embora sempre fizesse devolues s demais, e ns terapeutas


tnhamos cuidado de checar com ela se ela queria trazer algo ou no.
O que nos surpreende com o grupo a possibilidade dos membros estarem
trocando suas vivncias e o quanto podemos aprender com os outros
membros. Durante o grupo, uma delas resolveu trabalhar na rea de vendas,
que nada tinha a ver com o seu campo de estudo, para poder diminuir a
preocupao financeira, que era constante. Dividiu que tomou essa deciso,
pois o trabalho nessa rea de seis horas por dia e que assim, poderia
continuar estudando, sem interromper o seu objetivo futuro que atuar na sua
rea.
Depois de um tempo, outra participante que tambm estava com dificuldade de
atuar na sua rea e com problemas financeiros, decidiu fazer o mesmo e
comeou a procurar trabalho na rea telemarketing, pois j tinha experincia
nessa rea e a carga horria tambm de seis horas. No demorou muito e
ela j estava trabalhando. Lembro-me quando ela relatou que iria comear a
trabalhar porque resolveu seguir o exemplo da companheira que arranjou uma
soluo para o seu problema. Disse que pensou e que concluiu que se a outra
participante poderia conciliar o trabalho com o estudo, ela poderia conciliar o
trabalho com telemarketing com os seus atendimentos particulares sua
clientela, que at o momento, ainda era pequena.
Assim, ela resolveria uma preocupao que era a financeira, mas sem deixar
de trabalhar na rea que ela gosta. Esse recorte exemplifica bem, umas das
principais caractersticas da terapia de grupo que a possibilidade de crescer e
tentar fazer diferente, ao ver que o outro tentou e conseguiu.
Esse grupo desenvolveu uma liga bem forte, favorecendo o trabalho
teraputico e o aparecimento dos resultados, que foram ntidos. Quando o
grupo estava perto do prazo mximo de durao do grupo com essas
terapeutas (devido ao trmino da Especializao), foi avaliado junto com as
participantes se haveria interesse em manter o grupo, substituindo a dupla
teraputica.
O grupo decidiu que era melhor encerrar os atendimentos, pois duas
participantes queriam ver como seria ficar sem terapia por um tempo. Foi
orientado que caso elas tivessem interesse, no futuro, de retomar a terapia,
seriam encaminhadas a outros grupos, no prprio IGT, o que seria feito,
naquele momento, com a participante que preferiu continuar a terapia. No
ltimo dia, todas estavam sensibilizadas com o trmino do grupo, inclusive as
terapeutas, pois afinal, foi um ano e meio de convivncia e trabalho e despedirse sempre nos toca emocionalmente. Entretanto, para ns terapeutas o sabor
dessa despedida era de dever cumprido.

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Consideraes Finais
Neste trabalho, foi abordada a importncia da psicoterapia de grupo e como a
sua caracterstica relacional pode ser de grande proveito para o cliente. Nela, o
cliente pode conhecer suas caractersticas pessoais, qual a sua forma de
relacionar-se com as outras pessoas e com o meio. Caso perceba que esta sua
maneira no est surtindo os resultados desejados, ele encontra no grupo um
ambiente seguro para experimentar novas possibilidades de fazer contato, na
busca de identificar aquelas que lhe so mais satisfatrias.
Intrigou-me o que estaria por trs dessas relaes, que fariam o grupo
teraputico ter essas propriedades de favorecer o desenvolvimento dos
membros, que as difere de um grupo comum de pessoas. Foi, justamente, esse
questionamento que me instigou a refletir sobre o tema e a escolh-lo para
redigir este trabalho.
Durante o acompanhamento do grupo, que foi mencionado, tive a oportunidade
de presenciar o processo e o progresso que o mesmo, como um todo, obteve.
Pude certificar-me que um grupo teraputico promove suporte, ensina e
compartilha suas vivncias de maneira mpar, baseado nessas relaes
estabelecidas. Fui espectadora e participante dessa caminhada que, de acordo
com o seu tempo e dentro do possvel, atingiu um resultado bastante
satisfatrio.
No decorrer deste atendimento, fui tendo mais certeza de que o grupo
teraputico no o mesmo que um grupo de pessoas reunidas batendo papo e
falando sobre suas vidas.
Acontece algo muito alm do que uma simples conversa entre conhecidos,
como o desenvolvimento de uma liga, uma proximidade entre os membros.
Esta interao transforma a terapia em um territrio sagrado, no qual se
encontra um apoio e suporte para falar-se e trabalhar situaes desagradveis
vividas pelas pessoas.
Por se tratar de assuntos delicados, a maioria das pessoas apresenta
dificuldade de falar e lembrar-se do que aconteceu. Geralmente, esses relatos
so carregados de muita emoo e o terapeuta tem o cuidado de acolher e
validar esses sentimentos de maneira que a pessoa possa se sentir respeitada
e ouvida.
Na terapia de grupo, esse acolhimento ocorre no s por parte das terapeutas
como pelos demais participantes, que se tornam solidrios a experincia do
outro e participam demonstrando seu afeto, dando conselhos e, em alguns
casos, dividindo vivncias parecidas com a relatada e contando como superou
uma determinada situao.

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contato entre os membros do grupo durante o processo teraputico.

Essa possibilidade de dividir experincias e ouvir que outras pessoas j


passaram por situaes semelhantes e que superaram muito importante, e
faz diferena para ela
Esse compartilhamento algo que na terapia individual no acontece e, por
mais que o terapeuta diga que ela no a nica, que outras pessoas j
passaram por essa situao, muito diferente do que se ouvir o relato da
prpria pessoa. esse compartilhamento de experincias, na minha
perspectiva, que o grande diferencial da terapia de grupo.
Estas consideraes finais esto longe de finalizar o contedo deste trabalho,
assim como, o mesmo encontra-se distante de esgotar os temas nele
desenvolvidos. Contudo, visa possibilitar o questionamento e a reflexo de
profissionais da rea da psicologia acerca das propriedades da psicoterapia de
grupo e os seus benefcios.

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Endereo para correspondncia

Ana Beatriz Azevedo Farah


E-mail: [email protected]

Recebido em: 08/06/2008.


Aprovado em: 15/06/2009.

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